universidade federal de goiÁs regional catalÃo …
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAacuteS
REGIONAL CATALAtildeO
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO STRICTO SENSU
MESTRADO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM
CLEBER CEZAR DA SILVA
OS CURSOS DrsquoAacuteGUA DE PIRES DO RIO ANAacuteLISE DAS MOTIVACcedilOtildeES
TOPONIacuteMICAS
CATALAtildeO (GO)
2017
CLEBER CEZAR DA SILVA
OS CURSOS DrsquoAacuteGUA DE PIRES DO RIO ANAacuteLISE DAS MOTIVACcedilOtildeES
TOPONIacuteMICAS
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-
Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem ndash niacutevel de
Mestrado - da Universidade Federal de Goiaacutes ndash
Regional Catalatildeo como requisito parcial de
creacuteditos para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em
Estudos da Linguagem
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Linguagem Cultura e
Identidade
Linha de Pesquisa Liacutengua Linguagem e
Cultura
Orientadora Dra Kecircnia Mara de Freitas
Siqueira
CATALAtildeO (GO)
2017
CLEBER CEZAR DA SILVA
OS CURSOS DrsquoAacuteGUA DE PIRES DO RIO ANAacuteLISE DAS MOTIVACcedilOtildeES
TOPONIacuteMICAS
Aprovado por
__________________________________________
Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Universidade Estadual de Goiaacutes ndash Cacircmpus Pires do Rio
Orientadora
__________________________________________
Vanessa Regina Duarte Xavier
Universidade Federal de Goiaacutes ndash Regional Catalatildeo
__________________________________________
Karylleila dos Santos Andrade
Universidade Federal do Tocantins ndash Cacircmpus Palmas
Catalatildeo-GO 20 de Janeiro de 2017
Decido este trabalho a Deus aos eternos amantes
da Toponiacutemia e agravequela que desde sempre eacute meu
alicerce e a maior incentivadora minha matildee
Nelica Antocircnia Pereira da Silva
AGRADECIMENTOS
ldquoE agora eis o que diz o Senhor aquele que te criou Jacoacute e te formou Israel nada
temas pois eu te resgato eu te chamo pelo nome eacutes meurdquo (ISAIacuteAS 431) Senhor de Israel
foi por chamar-me pelo nome eacute que constitui esta graccedila sem o Seu amor e graccedila eu nada seria
pois colocou-me em peacute quando pensava natildeo mais conseguir caminhar e de amparo me enviaste
o Espiacuterito Santo e a Virgem Maria graccedilas rendo agrave Santiacutessima Trindade e agrave Virgem por
caminharem comigo e natildeo me deixar perder no caminho
ldquoOs filhos satildeo heranccedila do Senhor uma recompensa que ele daacute Como flechas nas matildeos
do guerreiro satildeo os filhos nascidos na juventude Como eacute feliz o homem que tem a sua aljava
cheia deles Natildeo seraacute humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunalrdquo (SALMO 1273-
5) Famiacutelia o que seria de mim sem vocecircs nada Matildee e pai sempre com amor mesmo que
velado souberam educar seus dois filhos na dignidade para que se constituiacutessem verdadeiros
homens e de bem Mesmo com as dificuldades da vida em momento algum se abateram foram
fieacuteis agrave missatildeo designada de serem pais a vocecircs minha eterna gratidatildeo e se hoje concretizo esta
fase em minha vida ela eacute tatildeo minha quanto de vocecircs muito obrigado Amo vocecircs
As relaccedilotildees de afeto e cuidado sempre foram o nosso maior elo a vocecircs que sempre
torceram por mim e a cada conquista vibraram intensamente obrigado meu irmatildeo cunhada
sobrinha afilhados tios primos padrinhos e a matriarca de nossa famiacutelia minha adorada avoacute
Que Deus continue fazendo de noacutes uma famiacutelia de princiacutepios e sempre grata a Ele por tudo
ldquoO amigo ama em todos os momentos eacute um irmatildeo na adversidaderdquo (PROVEacuteRBIOS
1717) Amigos famiacutelia que a vida me deu de presente mencionar nomes aqui seria muito
injusto cada um com seu jeito e adversidade me ensinaram que a vida natildeo se resume apenas
em bons momentos pois estiveram comigo em momentos nada agradaacuteveis souberam respeitar
o meu silecircncio minhas ausecircncias e o melhor vibraram comigo todos os momentos desta
conquista a vocecircs meus ldquoirmatildeos na adversidaderdquo muito obrigado
Aos colegas e amigos do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem
Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo nos encontros da vida sempre tecircm surpresas
a melhor de todas foi poder construir com muitos de vocecircs verdadeiros laccedilos de amizade que
iratildeo perpetuar para todo sempre soacute posso neste momento agradecer pelos momentos de troca
de experiecircncias e conhecimento e desejar sucesso a todos
ldquoO ensino dos saacutebios eacute fonte de vida e afasta o homem das armadilhas da morterdquo
(PROVEacuteRBIOS 1314) Ensinar eis o dom com tanta dedicaccedilatildeo e carinho muitos mestres
conduziram-me ateacute aqui e foi com a graccedila do ensino dos saacutebios eacute que natildeo caiacute nas armadilhas
pois tambeacutem me tornei saacutebio Professora doutora eterna orientadora Kecircnia Mara de Freitas
Siqueira nenhuma palavra eacute capaz de expressar a gratidatildeo que tenho por vocecirc foram anos de
ensinamentos e agora se concretizam com mais esta fase sou e serei eternamente grato por me
apresentar a Toponiacutemia pois ela me levaraacute a mais um degrau no meio acadecircmico Obrigado
por tudo Deus lhe pague
Aos professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem
Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo que muito contribuiacuteram para a construccedilatildeo
desta pesquisa Fabiacuteola Aparecida Sartin Dutra Parreira Almeida Maria Helena de Paula e
Vanessa Regina Duarte Xavier A professora Vivian Regina Orsi Galdino de Souza do
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio
de Mesquita Filhordquo cacircmpus Satildeo Joseacute do Rio Preto-SP obrigado pelos seus vastos ensinamentos
e por permitir que cursasse a disciplina ldquoIntroduccedilatildeo aos Estudos Lexicograacuteficosrdquo Mestres
obrigado pelos ensinamentos e momentos de descontraccedilatildeo e alegria vocecircs foram capazes de
mostrar que o universo da pesquisa tambeacutem se constitui na felicidade e prazer
ldquoTodo trabalho aacuterduo traz proveito mas o soacute falar leva agrave pobrezardquo (PROVEacuteRBIOS
1423) O trabalho dignifica o homem palavras estas do livro da vida a biacuteblia sagrada Minha
vida desde a infacircncia foi pautada no estudo e no trabalho assim todos os trabalhos que tive me
possibilitaram crescer enquanto ser humano e profissional Registro aqui os meus mais sinceros
agradecimentos aos colegas e amigos do Coleacutegio Estadual Professor Ivan Ferreira minha eterna
casa pois foi laacute que tive o prazer em estudar e depois retornar como profissional inclusive ser
gestor deste honrado estabelecimento de ensino Aos colegas e amigos do Instituto Federal
Goiano ndash Campus Urutaiacute obrigado por permitirem dividir com vocecircs este espaccedilo de
conhecimento e aprendizado
A banca examinadora deste trabalho professores Karylleila dos Santos Andrade
Vanessa Regina Duarte Xavier e Alexandre Antoacutenio Timbane registro os meus mais sinceros
agradecimentos pelas valorosas contribuiccedilotildees no Exame de Qualificaccedilatildeo e agora na defesa deste
trabalho Deus lhes pague
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de
Goiaacutes Regional Catalatildeo na pessoa da coordenadora Luciana Borges obrigado por dar
possiblidades que novos pesquisadores se formem no acircmbito dos estudos da linguagem
Enfim sozinho natildeo sou nada sempre necessitarei de outros por isso a todos os que
foram meu alicerce para a concretizaccedilatildeo de mais esta etapa em minha vida algo sonhado haacute
muito tempo receba o meu muito obrigado e Deus lhes pague
ldquoO nome eacute um certo sentido a proacutepria coisa dar
nome agraves coisas eacute conhececirc-las e apropriar-se
delas a denominaccedilatildeo eacute o ato da posse espiritualrdquo
(MIGUEL UNAMUNO)
RESUMO
Esta pesquisa centra-se nos estudos toponiacutemicos e tem como objetivo descrever e analisar a
origemetimologia morfoloacutegica e semanticamente dos topocircnimos da hidrografia da cidade de
Pires do Rio-GO para identificar as relaccedilotildees entre esses designativos de lugares e respectivos
fatores contextuais que por ventura possam conter indiacutecios da motivaccedilatildeo toponiacutemica O
levantamento dos topocircnimos foi feito por meio de documentos oficiais mapas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Instituto Mauro Borges (IBM) numa escala de
1100000 e das cartas topograacuteficas A pesquisa eacute de base documental numa abordagem
qualiquantitativa O meacutetodo da pesquisa eacute o onomasioloacutegico e indutivo parte-se de casos
particulares para uma verdade geral combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica de
estudo das designaccedilotildees com o objetivo de analisar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito
A anaacutelise do corpus da pesquisa deu-se apoacutes o levantamento dos 46 topocircnimos dos cursos
drsquoaacutegua dentre os quais 15 satildeo analisados neste estudo Nesse sentido parte-se do princiacutepio de
que o signo toponiacutemico eacute motivado pois fatores extralinguiacutesticos influenciam o nomeador no
ato de nomear na perspectiva de que a liacutengua recorta a realidade agrave sua maneira (Sapir-Whorf)
sendo que a proacutepria liacutengua eacute um depositaacuterio de cultura assim os topocircnimos revelam fatores
soacutecio-histoacuterico-culturais do lugar que o nomeia A histoacuteria e a geografia do municiacutepio de Pires
do Rio-GO foram fundantes para as anaacutelises que nas bases onomasioloacutegicas e indutivas
evidenciam que o local e suas caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais influenciam o nomeador no ato
do batismo do topocircnimo Perceber as relaccedilotildees de nomeaccedilatildeo e nomeador satildeo fatores que por
meio das classificaccedilotildees taxionocircmicas satildeo revelados sem deixar de perceber tambeacutem que a
origem dos nomes e sua estrutura morfoloacutegica evidencia os fatores contextuais a que da liacutengua
cultura e ambiente estatildeo impregnados no topocircnimo isso tudo agrave vista de quem o designou
Palavras-Chave Toponiacutemia Liacutengua Cultura Pires do Rio Hidrografia
ABSTRACT
This research focuses on the toponymic studies and aims to describe and analyze the origin of
the names morphological and semantic of designatory toponyms of the hydrography of Pires
do Rio-GO city to identify the relations between these designative places and their respective
contextual factors which may by chance contain indications of toponymic motivation The
research of the toponyms was done by means of official documents maps of the Brazilian
Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Mauro Borges Institute (IBM) on a scale of
1 100000 and topographic maps The research is documentary based in a qualitative and
quantitative approach the research method is the onomasiological method combined with other
methods which consists of the study of designations with the purpose of studying the various
names attributed to a concept The analysis of this researchrsquos corpus took place after the survey
of the 46 toponyms of the watercourses from which 15 are analyzed in this study In this sense
it is assumed that the toponymic sign is motivated once extralinguistic factors influence the
nominator in the act of naming in the perspective that the language outlines reality in its own
way (Sapir-Whorf) and the language itself is a depository of culture thus toponyms reveal
socio-historical-cultural factors of the place that names it The history and geography of Pires
do Rio-GO city was the basis for the analyzes which on the onomasiological bases show that
the place and its physical and social characteristics influence the nominator in the moment of
the toponym baptism To perceive naming and nominator relationships are factors that are
revealed through the taxonomic classifications noticing at the same time that the origin of the
names and their morphological structure reveals the contextual factors that are impregnated in
the toponymy of the language culture environment aspects from the point of view of who
appointed it
Keywords Toponymy Language Culture Pires do Rio Hydrography
LISTA DE ABREVIATURAS
ATEGO ndash Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes
ATB ndash Atlas Toponiacutemico Brasileiro
DSG ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito
ETE ndash Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto
FCA ndash Ferrovia Centro Atlacircntica
GO ndash Goiaacutes
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IBM ndash Instituto Mauro Borges
IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano
M ndash Municiacutepio
PEA ndash Populaccedilatildeo Economicamente Ativa
RFFSA ndash Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima
SD ndash Sem data
SE ndash Secccedilatildeo
LISTA DE FICHAS
Ficha 01 ndash Pires do Riohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip67
Ficha 02 ndash Coacuterrego Laranjal89
Ficha 03 ndash Ribeiratildeo Taquaralhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip90
Ficha 04 ndash Ribeiratildeo Cachoeirahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip91
Ficha 05 ndash Coacuterrego Barreiro93
Ficha 06 ndash Coacuterrego Terra Vermelha94
Ficha 07 ndash Coacuterrego Itauacutebi96
Ficha 08 ndash Ribeiratildeo Brumado96
Ficha 09 ndash Rio Corumbaacute98
Ficha 10 ndash Rio do Peixe98
Ficha 11 ndash Rio Piracanjuba99
Ficha 12 ndash Ribeiratildeo Sampaio101
Ficha 13 ndash Ribeiratildeo Bauacute104
Ficha 14 ndash Ribeiratildeo Caiapoacute105
Ficha 15 ndash Ribeiratildeo Marataacute105
Ficha 16 ndash Ribeiratildeo Mucambo106
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 ndash Natureza das Taxionomias87
Graacutefico 2 ndash Taxionomias de Natureza Fiacutesica88
Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural101
Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos108
Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos111
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 ndash Pires do Rio(GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio(GO)74
Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)83
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo44
Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos57
Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Recenseamento 76
Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Contagem 76
Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio(GO) 77
Quadro 6 ndash Os cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO) 78
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO20
I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO 25
11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear 25
12 Liacutengua e Cultura 33
13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes 39
14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica 43
15 Linguiacutestica Histoacuterica 47
II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS 51
21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos 51
212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica 53
22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia 57
III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO 66
31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte 66
32 Pires do Rio geograacutefico 74
33 Os cursos daacutegua 78
IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR81
41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural 84
42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos daacutegua de Pires do Rio-GO 87
421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos88
4211 Fitotopocircnimos89
4212 Hidrotopocircnimos91
4213 Litotopocircnimos93
4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos94
4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos95
4216 Meteorotopocircnimos96
4217 Zootopocircnimos97
422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos100
4221 Antropotopocircnimos101
4222 Ergotopocircnimos103
4223 Etnotopocircnimos104
4224 Sociotopocircnimos106
43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos107
44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos111
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS113
REFEREcircNCIAS 116
20
INTRODUCcedilAtildeO
Ao dar nome a seres e objetos o homem tambeacutem os categoriza jaacute que eacute o ato de nomear
que daacute existecircncia a algo ou algueacutem Eacute por meio do nome que haacute identificaccedilatildeo e principalmente
a diferenciaccedilatildeo dos seres e dos objetos No ato da nomeaccedilatildeo diversos aspectos extralinguiacutesticos
podem influenciar o nomeador isso pode caracterizar especificamente a motivaccedilatildeo que subjaz
a qualquer signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica A motivaccedilatildeo por sua vez eacute reveladora de
inuacutemeros aspectos que estatildeo na base da inter-relaccedilatildeo liacutengua cultura e ambiente pois o nome
proacuteprio de lugar como fato da liacutengua identifica e guarda uma significaccedilatildeo precisa oriunda de
aspectos fiacutesicos ou culturais Desta forma busca-se mediante o estudo dos designativos dos
cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO descrever essa relaccedilatildeo (liacutengua cultura e
ambiente) Entende-se assim que um rio um riacho um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que
uma vez nomeados passam a carregar as inuacutemeras memoacuterias do lugar
Em decorrecircncia disso abrem-se possibilidades de inter-relacionar aacutereas do saber
humano com vista a estabelecer algum viacutenculo epistemoloacutegico a fim de proporcionar novos
olhares sobre um objeto jaacute descrito e analisado por outra aacuterea do conhecimento a geografia
mas restrito a um uacutenico niacutevel de anaacutelise linguiacutestica Isso leva a considerar os aspectos da
linguagem dentro de uma visatildeo interdisciplinar que pode trazer entre tantas contribuiccedilotildees o
fato de entendecirc-los na totalidade como em uma rede de relaccedilotildees Em outras palavras oferece
a possibilidade de analisar os fatos linguiacutesticos de maneira holiacutestica uma vez que os fatores
envolvidos na interaccedilatildeo devem ser concebidos como um todo formado por componentes que se
relacionam entre si
Entrecruzar as aacutereas de geografia e da linguiacutestica eacute um trabalho que jaacute se tem feito e
alguns estudiosos como eacute o caso de Menezes e Santos (2007 apud Menezes Santos Santos
2010) tratam a toponiacutemia na geografia como geoniacutemia Para Andrade (2010 p 105-106)
Natildeo se pode pensar em toponiacutemia desvinculada de outras ciecircncias como
histoacuteria geografia antropologia cartografia psicologia e a proacutepria
linguiacutestica Deve ser pensada como um complexo linguiacutestico-cultural um fato
do sistema das liacutenguas humanas Faz parte de uma ciecircncia maior que se
subdivide em toponiacutemia e antroponiacutemia
Assim esta pesquisa eacute relevante para a aacuterea dos estudos da linguagemlinguiacutesticos como
para a geografia sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo histoacuterico-cultural sobre a cidade de
Pires do Rio-GO e levado a conhecimento puacuteblico
21
Fazer esse estudo acerca da hidrografia da cidade de Pires do Rio eacute elementar elencando
natildeo soacute estudos semacircnticos lexicais origemetimologia dos termos mas tambeacutem soacutecio-
histoacuterico-culturais de um povo Algo ainda se faz pertinente na definiccedilatildeo do problema pois foi
assim que surgiu o interesse por este estudo em conversas informais com pessoas da cidade
obtive respostas que aguccedilaram esta pesquisa pois proacuteximo de Pires do Rio-GO cerca de uns
3 km da cidade haacute um determinado ribeiratildeo o qual a comunidade local denomina de Pedro
Teixeira mas na verdade esse nome eacute dado agrave ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo e foi construiacuteda
pelo fazendeiro Sr Pedro Teixeira embora o nome que se apresenta na carta topograacutefica seja
ribeiratildeo Sampaio
Diante da problematizaccedilatildeo qual a origemetimologia dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da
cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do
lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo A partir disso centra-se o
nosso estudo em descrever e analisar a origemetimologia dos termos a morfologia e a
semacircntica investigando e verificando os topocircnimos e as relaccedilotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo
de Pires do Rio-GO
Preliminarmente trabalha-se com a seguinte hipoacutetese de pesquisa pelo seu caraacuteter
motivado o signo toponiacutemico possibilita reconhecer fatores vinculados agrave motivaccedilatildeo que subjaz
agrave escolha dos nomes de lugares o que pode possibilitar o levantamento de fatores soacutecio-
histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua
como iacutendice da estreita relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura A toponiacutemia dos cursos drsquoaacutegua de Pires
do Rio-GO incorpora caracteriacutesticas sociais linguiacutesticas e culturais da regiatildeo a que pertence
Este eacute um dos embates fundantes de nosso estudo assim espera-se com esta pesquisa
cartografar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO com base na
metodologia do ATB (Atlas Toponiacutemico Brasileiro) como sugerido por Dick (1990 2004)
Posto isso ao final responderemos agraves perguntas de pesquisa jaacute mencionadas
anteriormente e ainda contribuiremos com as pesquisas na aacuterea da Onomaacutestica que estatildeo
desenvolvendo-se em Goiaacutes Conveacutem mencionar tambeacutem que uma das contribuiccedilotildees desta
pesquisa aleacutem de revisitar a histoacuteria e a cultura de uma regiatildeo eacute a de auxiliar na construccedilatildeo do
Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes ndash ATEGO
Assim o objetivo da pesquisa constitui-se basicamente em descrever e analisar os
topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua e de outros elementos hidrograacuteficos da regiatildeo do
municiacutepio de Pires do Rio-GO observando noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de
natureza fiacutesica e de natureza antropocultural Para tanto eacute necessaacuterio evidenciar os fatores que
constituem a motivaccedilatildeo que subjaz agrave escolha do nome do lugar o que requer a identificaccedilatildeo de
22
fatos sociais culturais histoacutericos elementos geograacuteficos (quando pertinente) e outras
motivaccedilotildees de diferentes naturezas
De uma maneira peculiar os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo i) remapear os
cursos hiacutedricos mediante o elenco de seus topocircnimos para cartografar os mapas da bacia
hidrograacutefica e dos topocircnimos seguindo a metodologia do Projeto ATB ii) verificar mediante
a anaacutelise linguiacutestica dos topocircnimos a motivaccedilatildeo referente agrave cultura e agrave histoacuteria e
principalmente aos aspectos fiacutesicos dos lugares que iniciaram o processo de nomeaccedilatildeo dos rios
coacuterregos ribeirotildees e quedas drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO (evidenciando o viacutenculo
liacutengua ambiente e cultura) iii) de alguma forma contribuir para o desenvolvimento dos estudos
toponiacutemicos em Goiaacutes
A metodologia consiste de uma pesquisa de natureza documental de abordagem
qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites
e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos puacuteblicos (mapas e cartas
topograacuteficas) e o meacutetodo da pesquisa eacute o de induccedilatildeo com ecircnfase para a observaccedilatildeo do fazer
onomasioloacutegico combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica especialmente o Woumlrter
und Sachen (palavras e coisas) O meacutetodo onomasioloacutegico e indutivo se constitui do estudo das
designaccedilotildees com o objetivo de estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Usando
esse meacutetodo pode-se investigar toda ou pelo menos parte da cultura popular de um local e
priorizar aspectos sincrocircnicos ou histoacutericos se necessaacuterio for Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os
aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos lugares
Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de dissertaccedilatildeo de Mestrado sobre Os
cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio anaacutelise das motivaccedilotildees toponiacutemicas produzida no acircmbito do
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem Universidade Federal de Goiaacutes ndash
Regional Catalatildeo que focaliza os topocircnimos hiacutedricos do municiacutepio de Pires do Rio
Desta maneira este trabalho se estrutura em quatro capiacutetulos organizados de forma a
abranger os resultados desta pesquisa que articula por meio da linguagem quesitos histoacutericos
geograacuteficos e culturais
Assim no capiacutetulo I O nome e a atividade de nomeaccedilatildeo satildeo apresentadas
consideraccedilotildees referentes ao nome e ao ato de nomear no sentido de reformular questotildees teoacutericas
necessaacuterias ao levantamento de dados e agrave construccedilatildeo do corpus bem como agrave descriccedilatildeo dos
topocircnimos que designam os elementos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas drsquoaacutegua) do municiacutepio
de Pires do Rio-GO Para tanto o capiacutetulo traz uma revisatildeo dos conceitos de nome (comum
proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes tanto no sistema linguiacutestico
como em relaccedilatildeo agrave cultura e estabelecendo as relaccedilotildees de liacutengua e cultura pois a liacutengua
23
transporta a cultura no tempo e recorta agrave realidade agrave sua maneira Eacute necessaacuterio aqui trazer as
discussotildees teoacutericas acerca da toponiacutemia e do signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica que
sustentam a nossa pesquisa Ainda fazemos uma retomada do surgimento e desdobramento da
Linguiacutestica Histoacuterica pois eacute a partir dela que satildeo criados os meacutetodos de pesquisa os quais
contribuem para a aacuterea de estudo
O capiacutetulo II A metodologia da pesquisa e seus desdobramentos eacute praticamente uma
extensatildeo do primeiro porque procura reavaliar alguns meacutetodos usados em pesquisa onomaacutestica
com o objetivo de coadunar teoria meacutetodo e procedimentos de pesquisa
Neste capiacutetulo eacute possiacutevel rever algumas questotildees sobre os meacutetodos da linguiacutestica o
meacutetodo onomasioloacutegico que investiga as relaccedilotildees de significado e referecircncias partindo das
designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Ainda eacute
apresentada uma siacutentese do comparativismo e do meacutetodo Woumlrter und Sachen de Hugo
Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) pois de acordo com Bassetto (2001)
pode-se verificar pontos em comum que compartilham com o meacutetodo onomasioloacutegico Ao
enfatizar questotildees de ordem semacircntica das palavras ressalta-se a realidade que elas designam
para esses autores a verdadeira etimologia da palavra estaacute no conhecimento dessa realidade
Busca-se assim instruir sobre a necessidade de conhecer se possiacutevel o objeto designado por
um nome para que o significado possa ser explicitado adequadamente
Dados histoacutericos e geograacuteficos referentes agrave capital da estrada de ferro Pires do Rio
compotildeem o terceiro capiacutetulo A capital da estrada de ferro Pires do Rio de modo a traccedilar em
linhas gerais a histoacuteria da fundaccedilatildeo do municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XX em decorrecircncia da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz e da Estaccedilatildeo Feacuterrea Pires do Rio em 09 de novembro de
1922 A importacircncia deste municiacutepio se deve agrave estrada de ferro e obviamente aos primeiros
habitantes que para caacute acorreram acreditando no desenvolvimento da antiga ldquoTeteia do
Corumbaacuterdquo
No capiacutetulo quarto A toponiacutemia e suas relaccedilotildees com o lugar apresentamos a anaacutelise
dos dados as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural e as fichas lexicograacuteficas-
toponiacutemicas dos 15 topocircnimos analisados de acordo com os estudos de Dick (1992)
juntamente com a origem das liacutenguas e estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos daiacute procedemos
agraves anaacutelises das classificaccedilotildees toponiacutemicas que estatildeo presentes nos designativos dos cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO estabelecendo as relaccedilotildees motivacionais e semacircnticas
do topocircnimo com o local nomeado
Na sequecircncia satildeo apresentadas as Consideraccedilotildees Finais que retomam os resultados
obtidos ao teacutermino da pesquisa pautados nos objetivos e perguntas que orientaram este estudo
24
E por fim seguem as Referecircncias que sustentaram a parte teoacuterica e a construccedilatildeo do corpus
coletado
25
I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO
O conhecimento dos nomes natildeo eacute negoacutecio de
importacircncia somenos
(PLATAtildeO 2001)
Este capiacutetulo tem o objetivo de tecer de forma mais geral consideraccedilotildees acerca do nome
e do ato de nomear para reformular questotildees teoacutericas necessaacuterias ao levantamento de dados
para a construccedilatildeo do corpus e descriccedilatildeo dos hidrocircnimos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas
drsquoaacutegua) do municiacutepio de Pires do Rio-GO Para tanto os itens a seguir trazem uma revisatildeo dos
conceitos de nome (comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes
tanto no sistema linguiacutestico como em relaccedilatildeo agrave cultura jaacute que representam inuacutemeros aspectos
que culminam em certos criteacuterios para a nomeaccedilatildeo ou nominaccedilatildeo revelando em certo sentido
especificidades dessa cultura que satildeo evidenciadas na nomeaccedilatildeo Ao dar um nome a um objeto
ou a um lugar natildeo se reduz apenas a indicar mas a classificar situar identificar e sobretudo
uma vez categorizado inscreve-se tambeacutem em um sistema cognitivo permeado por essa mesma
cultura
11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear
O nome eacute a parte que caracteriza a existecircncia de algo ou algueacutem sem a especificidade
do nome o objeto ou a pessoa natildeo eacute identificada Aliaacutes em muitas situaccedilotildees o nome consolida
a existecircncia do objeto que passa a ldquoexistirrdquo como tal em decorrecircncia de ter um nome ou seja
o falante pode perceber no mundo apenas aquilo que conhece pelo nome O nome estaacute presente
em todas as esferas do desenvolvimento da humanidade Eacute parte constitutiva do proacuteprio ser
humano que se reconhece e se afirma face ao nome que carrega eacute tambeacutem o nome que lhe
rompe o anonimato e lhe confere de certa forma uma identidade
Segundo Silva (2000) eacute o nome que diferencia os seres e os objetos do mundo
Identidade e diferenccedila ocorrem simultaneamente como produto de um mesmo processo o da
identificaccedilatildeo Pode-se afirmar que depois de nomeado o objeto passa a ser identificado
tambeacutem pelas diferenccedilas que possui em relaccedilatildeo agravequilo que natildeo eacute ou melhor eacute diferenciado
face aos demais elementos do mundo extralinguiacutestico conferindo-lhe existecircncia Tem um nome
porque existe tornou-se conhecido e eacute reconhecido como elemento cultural importante para a
continuidade de uma populaccedilatildeo como um dos milhares de traccedilos que a caracteriza e desta
26
forma ldquoo processo de nomeaccedilatildeo eacute uma forma pela qual a sociedade cria os seus membros agrave sua
imagemrdquo (CABRAL 2007 p 85)
E em Craacutetilo Platatildeo narra um diaacutelogo entre Demoacutestenes e Craacutetilo acerca da justeza dos
nomes debates no qual Soacutecrates aponta para ambas as possibilidades isto eacute para os socraacuteticos
tanto se pode entender os nomes como vinculados agrave coisa como podem ser vistos como
inteiramente sem elo com as coisas do mundo Platatildeo (2001 p 48) justifica que o ato de nomear
era visto como uma pressuposiccedilatildeo da existecircncia de algo assim ldquoas coisas devem ser nomeadas
como lhes pertence por natureza serem nomeadas e por meio do que devem secirc-lo e natildeo como
noacutes queremos e assim faremos e nomearemos melhor mas de outra maneira natildeordquo
A nomeaccedilatildeo eacute assim uma atividade bastante significativa para o ser humano e se
constitui de uma accedilatildeo complementar do modo como determinada populaccedilatildeo entende o meio em
que vive essa eacute a linha de pensamento tanto de Dick (1990) como de outros estudiosos como
Basso (1988) Langacker (2002) Weisgerber (1977) Wierzbicka (1997) e Worf (1971) dos
fatos da linguagem como evidencia a assertiva que segue
Apreensatildeocompreensatildeo e transmissatildeoparticipaccedilatildeo de um dado qualquer do
saber humano satildeo atuantes de uma mesma e complexa evidecircncia relacional ndash
o ato comunicativo ndash que corporifica em sua expressividade um aglomerado
de situaccedilotildees liacutenguo-soacutecio-psiacutequicas Nele estaacute manifesto ainda que de modo
impliacutecito o registro pelo qual se concretizou a ldquoassimilaccedilatildeo do
mundordquo atraveacutes do coacutedigo de linguagem vivenciado por determinada
comunidade linguiacutestica (DICK 1990 p 29)
Natildeo eacute equivocado afirmar que o nome corporifica aquilo que determinada comunidade
assimilou de seu meio circundante mediante relaccedilotildees estabelecidas entre a liacutengua que
possibilita a representaccedilatildeo daquilo que foi evidenciado e as impressotildees sociopsiacutequicas oriundas
dos objetos do mundo que se tornaram salientes aos olhos do nomeador Assim recebe um
nome tudo aquilo que de uma forma ou de outra tornou-se um item da cultura seja um acidente
fiacutesico-natural (um rio uma espeacutecie botacircnica) ou um item criado culturalmente Em todas as
sociedades conhecidas haacute referecircncia aos nomes e consequentemente agrave accedilatildeo de nomear Muitas
vezes essa atividade humana eacute revestida de mitos e rituais que conferem ao nome poderes
maacutegicos ou sobre-humanos
Nas sociedades primitivas de acordo com Cunha (2004) um nome pode valorar o
sagrado ou o ritual isso pode ocorrer quando acontece a mudanccedila de nome (candombleacute e igreja
catoacutelica) desta forma ao nomear algueacutem eacute tocar-se na personalidade da pessoa e ateacute as partes
da escrita que compotildeem o nome satildeo carregadas de simbologia e forccedilas sobrenaturais Cunha
27
(2004 p 220) ainda acrescenta que ldquonas mais diversas culturas natildeo ter nome eacute natildeo existir
nomear eacute instituirrdquo
Nesse processo de instituir dos rituais de passagem eacute possiacutevel entender que a atividade
de nomeaccedilatildeo adveacutem de fatores que propiciam uma motivaccedilatildeo que resulta na escolha de um
nome No ritual de escolha de um novo Papa (igreja catoacutelica) ou de um novo membro do
candombleacute o indiviacuteduo fica recluso por alguns dias e no momento do ritual apresenta seu
novo nome agrave comunidade fato esse que reside de alguma forma na escolha do novo nome
Desta forma o nome eacute escolhido de acordo com suas caracteriacutesticas psicofiacutesicas e tambeacutem com
as que ele deseja ter a partir do momento de escolha do novo nome
Conforme Biderman (1998) muitas satildeo as culturas que acreditam que o nome estaacute
ligado agrave essecircncia da pessoa Nas culturas arcaicas em geral os nomes atribuiacutedos agraves pessoas
tinham um significado que indicava agraves vezes a vocaccedilatildeo ou o destino do indiviacuteduo o que
corrobora a justeza dos nomes nos rituais de passagem e em outras atividades de nomeaccedilatildeo
O ato de nomear se constitui tambeacutem como algo divino Para Biderman (1998 p 85)
ldquoo gesto criador de Deus identifica-se com esta palavra ontoloacutegica essencialmente divina O
que noacutes homens somos e o que sabemos nasce dessa revelaccedilatildeo primordial da palavra criadora
do gesto divino de dizerrdquo Cunha (2004) evidencia que a palavra jaacute eacute reveladora do poder desde
a antiguidade e isso se expressa de forma clara por meio da biacuteblia sagrada que em vaacuterios textos
conclama que o poder eacute revelado por meio da palavra como percebe-se no livro de Gecircnesis
capiacutetulo I versiacuteculos 19 e 20
19 Tendo pois o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos
e todas as aves dos ceacuteus levou-os ao homem para ver como ele os havia de
chamar e todo o nome que o homem pocircs aos animais vivos esse eacute o seu nome
verdadeiro 20 O homem pocircs nomes a todos os animais a todas as aves dos
ceacuteus e a todos os animais dos campos mas natildeo se achava para ele uma ajuda
que lhe fosse adequada (BIacuteBLIA 1995 p 51)
Dessa forma o cristianismo explica a atividade humana de nomeaccedilatildeo Isso evidencia
que todos os objetos recebem um nome (comum) mediante uma accedilatildeo deliberada de escolha
individual (como em Gecircnesis) ou coletiva Esse nome recebe uma funccedilatildeo de significaccedilatildeo ou
melhor passa a significar algo no mundo sua referecircncia A nomeaccedilatildeo configura-se como um
processo operacional de conhecer e denominar coisas Conforme De Lastra e Garcia (sd apud
DICK 1990) para ser denominado o mundo externo deve antes passar a ser interno (iacutentimo)
Na relaccedilatildeo das praacuteticas de nomeaccedilatildeo segundo Loacutepez (2013) ocorrem fatores internos
e externos da seguinte forma i mudanccedilas internas quando elementos do sistema toponiacutemico
28
que designa lugares passam para o sistema antroponiacutemico que designa pessoas ii mudanccedilas
externas ou forccediladas como as que ocorreram na Europa entre os seacuteculos XVIII e XIX e
obrigaram os judeus a adotarem nomes cristatildeos e abandonarem os seus de origem hebraica
Para os judeus assim como para muitos povos perder o nome eacute o mesmo que perder a histoacuteria
a identidade e a famiacutelia Desta forma as autoridades europeias acreditavam que os judeus
deixariam (perderiam) as suas identidades e constituiriam uma nova uma identidade europeia
Conveacutem ressaltar que o referente1 nem sempre figurou entre os elementos constitutivos
do signo linguiacutestico No Curso de Linguiacutestica Geral Ferdinand Saussure (2008) define o signo
linguiacutestico como a junccedilatildeo de uma imagem acuacutestica (significante) a um (ou vaacuterios) conceitos
(significado) Saussure natildeo inclui nessa definiccedilatildeo a coisa nomeada o objeto do mundo ou em
outros termos o referente
Dito de outro modo os gestos epistemoloacutegicos de Saussure (2008) ao definirem a
liacutengua como objeto proacuteprio de estudo e tambeacutem no sentido de imprimirem cientificidade aos
estudos linguiacutesticos excluem o referente construindo assim um domiacutenio especiacutefico para a
Linguiacutestica diferente de outras aacutereas que tambeacutem se atecircm aos estudos da linguagem humana
A liacutengua para o mestre suiacuteccedilo eacute um sistema de signos que por sua vez abarca entidades
psiacutequicas constituiacutedas por duas faces significante e significado Essas duas faces do signo
linguiacutestico natildeo guardam poreacutem entre si qualquer relaccedilatildeo loacutegica nenhum viacutenculo ou melhor
a relaccedilatildeo entre significante e significado eacute marcada pelo seu caraacuteter imotivado arbitraacuterio para
usar os termos saussurianos Desta forma Kristeva (2007 p 24) afirma que ldquoa palavra
lsquoarbitraacuteriorsquo significa mais exatamente lsquoimotivadorsquo quer dizer que natildeo haacute nenhuma necessidade
natural ou real que ligue o significante e o significadordquo
O nome sempre suscitou uma questatildeo ontoloacutegica2 ou melhor uma questatildeo de
existecircncia A nomeaccedilatildeo eacute apenas uma das funccedilotildees da linguagem mas tem um papel importante
pois o significado dos nomes organiza e classifica as formas de perceber a realidade aleacutem de
estar ligado diretamente a uma cultura ou comunidade Assim para Sapir (1980) a liacutengua
recorta a realidade agrave sua maneira eacute por meio dela que se evidencia a relaccedilatildeo linguagem
pensamento e cultura Desta forma ldquoas palavras da liacutengua significam ao funcionarem no
acontecimento Este funcionamento recorta politicamente o realrdquo (GUIMARAtildeES 2005 p 82)
Nessa perspectiva eacute possiacutevel dizer que a nomeaccedilatildeo ganha relevo quando o assunto eacute a relaccedilatildeo
linguagem e realidade
1 Em um sistema triaacutedico significante significado e o referente 2 Ontoloacutegico ldquoAdj 1 relativo a Ontologia 2 que trata do ser humano na sua essecircncia na sua globalidaderdquo Verbete
inscrito em (BORBA 2004 p 992)
29
Guiraud (1986) chama atenccedilatildeo para a forccedila criadora da linguagem que resulta em uma
funccedilatildeo semacircntica dinacircmica e volaacutetil orientada principalmente por fatores especiacuteficos de uma
dada cultura Assim
[] a motivaccedilatildeo eacute uma forccedila criadora inerente agrave linguagem social que eacute um
organismo vivo de origem empiacuterica somente depois que a palavra eacute criada e
motivada (naturalmente ou intralinguisticamente) eacute que as exigecircncias da
funccedilatildeo semacircntica acarretam um obscurecimento dessa motivaccedilatildeo etimoloacutegica
que pode aliaacutes ao se apagar trazer uma alteraccedilatildeo de sentido (GUIRAUD
1986 p 31)
Motivaccedilatildeo esta que com o decorrer do tempo pode vir a se tornar obscura pelo
distanciamento temporal do fato que lhe deu origem Pode inclusive o nome sofrer inuacutemeras
alteraccedilotildees de sentido sem nenhum viacutenculo semacircntico com o significado original nem com o
fenocircmeno de sua ocorrecircncia primeira No entanto eacute forccediloso ressaltar mais uma vez que o ato
de nomear eacute motivado conforme Guiraud (1986) a nomeaccedilatildeo eacute inerente agrave linguagem e decorre
da relaccedilatildeo entre homem e ambiente ao reconhecer os objetos do mundo extralinguiacutestico
No que tange agrave motivaccedilatildeo Biderman (1998) reafirma a noccedilatildeo de que o nome natildeo eacute
arbitraacuterio ele tem um viacutenculo de essecircncia com a coisa ou o objeto que designa Assim o homem
primitivo acredita que seu nome tem parte vital com o seu ser Nas histoacuterias que nos satildeo
relatadas dos povos primitivos em relaccedilatildeo aos nomes podemos observar que para alguns
quando se sabia o nome da pessoa o inimigo poderia fazer magia negra com ele Essas relaccedilotildees
culturais com os nomes satildeo recorrentes em vaacuterios paiacuteses e histoacuterias da antiguidade claacutessica
De acordo com Frazer (1951) em vaacuterias tribos primitivas o nome era considerado como
uma realidade e natildeo uma convenccedilatildeo artificial podendo servir de intermeacutedio para fazer atuar a
magia sobre a pessoa como se fosse parte do indiviacuteduo como cabelo unha ou qualquer outra
parte fiacutesica Essas crendices ou mitos acerca do nome se estendem por vaacuterias partes do mundo
como para os iacutendios da Ameacuterica do Norte o nome eacute como uma parte de seu corpo e o mau
tratamento (uso) dele pode trazer ferimento fiacutesico Assim o nome natildeo deve ser pronunciado
podendo no ato de sua pronunciaccedilatildeomaterializaccedilatildeo revelar as propriedades reais da pessoa que
o usa e assim tornaacute-la vulneraacutevel perante os seus inimigos
Nas narrativas das sociedades relatadas por Frazer (1951) o homem do povo esquimoacute
recebe um novo nome ao chegar agrave velhice na Aacutefrica as pessoas podem ateacute receber uma duacutezia
de nomes no decorrer de sua vida e em alguns casos no iniacutecio de sua vida recebem dois nomes
um nome de preto usado em casa e junto agrave famiacutelia e outro nome de branco usado na escola e
na sociedade os egiacutepcios tambeacutem recebiam dois nomes um nome pequeno que era bom e
30
usado em famiacutelia e um nome grande que era mau e dissimulado julgamos esse uacuteltimo ser
usado na sociedade
Segundo Frazer (1951) para os Celtas o nome era sinocircnimo da alma e da respiraccedilatildeo
Entre os Yuiacutens (sul da Austraacutelia) e outros povos o pai revela o nome ao filho no momento da
iniciaccedilatildeo e poucas pessoas o conhecem Tambeacutem na Austraacutelia as pessoas deixam de usar o
nome e passam a chamar um ao outro de primo tio sobrinho ou irmatildeo Nessas relaccedilotildees as
historietas dos nomes vatildeo estar sempre entrelaccediladas aos fatores culturais das comunidades
Em muitas culturas Frazer (1951) relata que a natildeo pronunciaccedilatildeo de nomes era tabu
como em Cafres onde as mulheres natildeo podiam pronunciar o nome de seus maridos ou sogros
nem qualquer palavra que se assemelhasse aos nomes Tambeacutem natildeo era permitido pronunciar
nomes de animais plantas reis deuses personagens sagrados considerados perigosos pois isso
seria como invocar o proacuteprio perigo
Frazer (1951) revela uma histoacuteria ocorrida no Egito com o deus Raacute que tinha vaacuterios
nomes mas o seu verdadeiro nome que lhe dava poder sobre os outros deuses natildeo era conhecido
e ao ser enfeiticcedilado pela invejosa deusa Iacutesis ndash picado por uma serpente ndash cujo veneno soacute seria
retirado de seu corpo no momento em que ele revelasse o seu verdadeiro nome Raacute lamenta-se
ldquoEu sou aquele que tem muitos nomes e muitas formas O meu pai e minha matildee disseram-me
o meu nome estaacute escondido no meu corpo desde o meu nascimento para que natildeo se possa dar
nenhum poder maacutegico a algueacutem que me queira lanccedilar uma maldiccedilatildeordquo (FRAZER 1951 apud
KRISTEVA 2007 p 64) O veneno tomou conta do corpo de Raacute e jaacute natildeo conseguia andar Iacutesis
continuou a atormentar o deus e o veneno foi penetrando profundamente e queimava seu corpo
Entatildeo Raacute consentiu que Isis buscasse o seu verdadeiro nome no iacutentimo do seu ser assim ela
fez arrebatou-lhe o verdadeiro nome e ordenou que o veneno que o queimava caiacutesse por terra
e libertasse o deus pois o que ela queria jaacute havia conseguido Acreditava-se assim que quem
conhecesse o verdadeiro nome de um deus (algueacutem) possuiria a sua essecircncia o seu verdadeiro
ser e ateacute o seu poder
Segundo Loacutepez (2013) os nomes variam conforme o momento e o local em que satildeo
escolhidos a pessoa que os escolhe e as normas para o uso Podem indicar gecircnero filiaccedilatildeo
origem geograacutefica religiatildeo e etnia Haacute tambeacutem inuacutemeras crenccedilas de que existe uma relaccedilatildeo
entre a pessoa seu nome e o significado deste inclusive muitos nomes satildeo uacutenicos
Segundo Cunha (2004 p 226) ldquoO nome proacuteprio topocircnimo ou antropocircnimo participa
da literariedade do texto podendo consequentemente enriquecer-se de valores semacircnticos
denotativos e conotativos da mesma forma que as outras palavras que o estruturamrdquo jaacute que
31
quando nomeamos atribuiacutemos simultaneamente um predicado um complemento ao nome uma
caracteriacutestica um adjetivo
Em Guimaratildees (2005) o ato de dar nome eacute tambeacutem um ato de identificar um indiviacuteduo
bioloacutegico como tal para o Estado e para a sociedade e tornaacute-lo sujeito De acordo com esse
ponto de vista ganha interesse o funcionamento determinativo da construccedilatildeo do nome proacuteprio
da pessoa no qual segundo Guimaratildees (2005 p 52) ldquohaacute uma relaccedilatildeo particular entre a
nomeaccedilatildeo e o objeto nomeado que se apresenta por uma materialidade histoacuterica e natildeo fiacutesicardquo
A nomeaccedilatildeo eacute por causa da predicaccedilatildeo um ato que diferencia sendo tambeacutem um ato
que identifica De acordo com Lima (2007 p 51)
o acto (sic) de nomear eacute um dos primeiros momentos de inserccedilatildeo da pessoa
numa categoria social de geacutenero Mas ainda mostra-nos que neste contexto
social nomear eacute uma das formas mais importantes de construir geacutenero e
pessoa dentro da famiacutelia
A inserccedilatildeo da pessoa na sociedade por meio de seu nome eacute uma relaccedilatildeo hierarquizada
construiacuteda agrave luz de valores tanto sociais como familiares Como jaacute sabemos o nome eacute uma
forma de identidade de revelar o que o outro natildeo eacute assim nomear eacute um aspecto crucial da
conversatildeo de qualquer um em algueacutem de acordo com Geertz (1973)
Na conversatildeo mencionada Parkin (1989) justifica que nomear pode ser uma forma de
atribuir direitos3 que daacute autoridade tanto ao nomeado quanto ao nomeador ou uma forma de
objetivaccedilatildeo por meio da escolha de um nome em particular que estabeleccedila controle sobre o
nomeado Nessas situaccedilotildees pode ocorrer que as pessoas antecipem essas consequecircncias
escolhendo ou controlando a atribuiccedilatildeo do seu proacuteprio nome ou em alguns casos como
acontece de o nome possuir uma carga negativa perante a sociedade e a pessoa recorre ao poder
judiciaacuterio para requerer a troca de seu nome
Enfim nomear eacute se apropriar do real eacute nessa perspectiva de nomear e apoderar fato
este que se daacute por meio da linguagem e de acordo com isso Kristeva (2007 p 17) pontua que
Se a linguagem eacute mateacuteria do pensamento eacute tambeacutem o proacuteprio elemento da
comunicaccedilatildeo social Natildeo haacute sociedade sem linguagem tal como natildeo haacute
sociedade sem comunicaccedilatildeo Tudo o que se produz como linguagem tem lugar
na troca social para ser comunicado
3 Livre traduccedilatildeo para Entitling
32
Eacute nessa troca social que acontece por meio da linguagem a nomeaccedilatildeo Assim eacute
necessaacuterio destacar que os nomes proacuteprios de lugares ndash topocircnimos ndash passam a estabelecer
relaccedilotildees materializadas por meio do uso da linguagem Sabe-se que o nome designado eacute
construiacutedo simbolicamente isso porque a linguagem que o constroacutei funciona por estar exposta
ao real e constituiacuteda materialmente pela histoacuteria local a qual motiva o leacutexico topocircnimo e eacute
nesse momento que ele nasce e se institui naquele lugar
De acordo com Biderman (1998) eacute por meio da palavra que as entidades da realidade
passam a ser conhecidas nomeadas e identificadas Essa realidade cria o seu acircmbito
significativo que nos eacute revelado pela linguagem que tambeacutem eacute a responsaacutevel por elencar os
fatores soacutecio-histoacuterico-cultural que permeiam a realidade Aqui no nosso caso esses fatores
satildeo trazidos por meio do leacutexico topocircnimo mais especificamente no ato de nomear um
designativo de lugar
Conforme Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares seja
em homenagem a algueacutem como eacute o caso da cidade de Pires do Rio que recebeu o nome o
patroniacutemico4 do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas (1919-1922) do governo de Epitaacutecio
Pessoa Dr Joseacute Pires do Rio Haacute lugares que recebem o nome em razatildeo de caracteriacutesticas
geograacuteficas Alguns nomes satildeo opacos conceito de Piel (1979) em contraposiccedilatildeo aos
transparentes pois natildeo apresentam relaccedilatildeo alguma com o referente nesse caso haacute de se fazer
uma busca histoacuterica para chegar agrave relaccedilatildeo motivacional
O homem tem a capacidade de associar palavras a conceitos E no ato de nomear
acontece a motivaccedilatildeo que estaacute ligada aos fatores cognitivos Assim o leacutexico que a ele eacute
determinado por meio do uso da linguagem se transporta no tempo sendo capaz de revelar os
fatores culturais e motivacionais que estatildeo nesse nomeleacutexico toponiacutemico (BIDERMAN 1998)
O nome comum no ato de nomeaccedilatildeo de um lugar impregna-se de significaccedilotildees vaacuterias
sejam de fatores histoacutericos culturais sociais econocircmicos Segundo Guimaratildees (2005 p 83)
ldquoo modo de significar os espaccedilos da cidade mostra que eles satildeo espaccedilos poliacuteticos O espaccedilo que
se daacute como objeto por uma descriccedilatildeo (referecircncias) atende a objetividade do discurso
administrativo que nomeia oficialmente os espaccedilos da cidaderdquo Assim o nome cifra a narrativa
histoacuterica local perpassando por fatores ou designativos memoraacuteveis
Essa atividade de nomeaccedilatildeo ou praacutetica de nomeaccedilatildeo eacute especificamente da espeacutecie
humana e resulta do processo de categorizaccedilatildeo inerente ao ser humano De acordo com
Biderman (1998 p 89)
4 De acordo com Cabral (2007) patroniacutemico eacute sobrenome
33
O processo de categorizaccedilatildeo subjaz agrave semacircntica de uma liacutengua natural Os
criteacuterios de classificaccedilatildeo usados para classificar os objetos satildeo muito
diferenciados e variados Agraves vezes o criteacuterio eacute o uso que o homem faz de um
dado objeto agraves vezes eacute um determinado aspecto do objeto que fundamenta a
classificaccedilatildeo agraves vezes eacute um determinado aspecto emocional que um objeto
pode provocar em quem o vecirc e assim por diante
Entatildeo o processo de categorizaccedilatildeo que por via das vezes pode se tornar um legislador
ndash nomeador Essas discussotildees acerca das histoacuterias do ato de nomear revelam formas de
organizaccedilatildeo social e mudanccedilas linguiacutesticas poliacuteticas e culturais Eacute pois por meio do nome que
as pessoas ou lugares permanecem vivos na memoacuteria coletiva de sua linhagem
E nesse processo de nomeaccedilatildeo categorizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo nos estudos na aacuterea da
Onomaacutestica mais precisamente na subaacuterea dos Estudos Toponiacutemicos ndash temaacutetica de nossa
pesquisa ndash natildeo tem como desvencilhar a liacutengua e cultura Assim para Sapir-Whorf a liacutengua
retrata o mundo e a realidade social agrave sua volta expressos por categorias lexicais como os
topocircnimos
12 Liacutengua e Cultura
A liacutengua no contexto soacutecio-histoacuterico-cultural nada mais eacute que o resultado de um
processo histoacuterico um produto revelador da cultura de uma dada comunidade (CAcircMARA JR
1955) Nessas bases inter-relacionar liacutengua e cultura eacute justificar que estatildeo intrinsecamente
interligadas pois a liacutengua revela a visatildeo de mundo e eacute tambeacutem a manifestaccedilatildeo de uma cultura
cultura esta que lhe daacute suporte a liacutengua tambeacutem eacute suporte da cultura
Em seus estudos Paula (2007) menciona que a liacutengua eacute um metassistema ela ldquonatildeo eacute soacute
objeto ela eacute nas relaccedilotildees sociais mais diversamente possiacuteveis tambeacutem instrumento de
investigaccedilatildeo distinto que ajuda a entender os outros sistemas sociaisrdquo (PAULA 2007 p 90)
Nesse contexto eacute possiacutevel evidenciar que por meio da liacutengua satildeo reeditadas e reconfiguradas
as praacuteticas culturais de uma dada comunidade
Posto isso conveacutem rever alguns conceitos que remetem agrave face social da liacutengua seu
caraacuteter eminentemente social mais condizente com o recorte epistemoloacutegico feito por Saussure
(2008 p 17)
Mas o que eacute a liacutengua Para noacutes ela natildeo se confunde com a linguagem eacute
somente uma parte determinada essencial dela indubitavelmente Eacute ao
mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto
34
de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo corpo social para permitir o
exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos Tomada em seu todo a linguagem
eacute multiforme e heteroacuteclita o cavaleiro de diferentes domiacutenios ao mesmo
tempo fiacutesica fisioloacutegica e psiacutequica ela pertence aleacutem disso ao domiacutenio
individual e ao domiacutenio social natildeo se deixa classificar em nenhuma categoria
de fatos humanos pois natildeo se sabe como inferir sua unidade
De acordo com Fiorin (2013 p 17) ldquoA liacutengua natildeo eacute um sistema de mostraccedilatildeo de
objetos porque permite falar do que estaacute presente e do que estaacute ausente do que existe e do que
natildeo existe porque possibilita ateacute criar novas realidades mundos natildeo existentesrdquo A liacutengua eacute um
produto social e por meio dela se criam e recriam realidades podendo entatildeo se justificar as
praacuteticas culturais por meio de atos linguiacutesticos
Com esse movimento epistemoloacutegico ou melhor ao eleger a liacutengua e natildeo a linguagem
nem a fala como objeto de estudo da Linguiacutestica Saussure possibilitou a instituiccedilatildeo da ciecircncia
linguiacutestica e consequentemente seus inuacutemeros desdobramentos posteriores
Sapir (1980) ressalta a estreita ligaccedilatildeo entre liacutengua e cultura jaacute que para o autor
Toda liacutengua tem uma sede O povo que a fala pertence a uma raccedila (ou a certo
nuacutemero de raccedilas) isto eacute a um grupo de homens que se destaca de outros
grupos por caracteres fiacutesicos Por outro lado a liacutengua natildeo existe isolada de
uma cultura isto eacute de um conjunto socialmente herdado por praacuteticas e crenccedilas
que determinam a trama das nossas vidas (SAPIR 1980 p 165)
Nesta perspectiva reafirmando que liacutengua se difere de linguagem mas se entrecruza
com ela ou dela faz parte como uma das inuacutemeras formas de linguagem e ainda considerando-
a um dos fatores de identidade de um povo e que natildeo existe isolada da cultura eacute que se torna
objeto de estudos o que envolve fatores soacutecio-histoacuterico-culturais das comunidades
O autor desta forma ainda nos revela que ldquotoda liacutengua estaacute de tal modo construiacuteda
que diante de tudo que um falante deseje comunicar por mais original ou bizarra que seja a sua
ideia ou a sua fantasia a liacutengua estaacute em condiccedilotildees de satisfazecirc-lorsquo (SAPIR 1969 p 33) Eacute
nessas condiccedilotildees de satisfazer ao falante ou agrave comunidade que ele pertence que a liacutengua se
justifica como um meio de interaccedilatildeo social e revelador da cultura jaacute que ela se configura no
tempo e eacute capaz de transmitir de geraccedilotildees a geraccedilotildees atraveacutes de atos linguiacutesticos as
manifestaccedilotildees culturais Conveacutem ressaltar que
Tudo que ateacute aqui verificamos ser verdade a respeito das liacutenguas indica que
se trata da obra mais notaacutevel colossal que o espiacuterito humano jamais
desenvolveu nada menos do que uma forma completa de expressatildeo para toda
a experiecircncia comunicaacutevel Essa forma pode ser variada de inuacutemeras maneiras
pelo indiviacuteduo sem perder com isso os seus contornos distintivos e estaacute
35
constantemente remodelando-se como sucede com toda arte A liacutengua eacute a arte
mais ampla e maciccedila que se nos depara cuacutemulo anocircnimo do trabalho
inconsciente das geraccedilotildees (SAPIR 1980 p 172)
De acordo com Cacircmara Jr (1955) a liacutengua eacute uma parte da cultura mas ela pode ser
estudada na sua relaccedilatildeo com a cultura ou sem considerar essa inter-relaccedilatildeo Segundo o autor
com essa perspectiva o linguista se destaca do antropoacutelogo Porque os estudos linguiacutesticos
podem prescindir do exame da inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura ou melhor pode-se estudar a
liacutengua em sua imanecircncia ou a relaccedilatildeo da linguagem com outras aacutereas do conhecimento humano
A liacutengua aleacutem de inter-relacionar a cultura nada sociedade atua para que a proacutepria
cultura seja conhecida e levada agrave geraccedilotildees futuras seja por meio de festas religiosas cantigas
e outros fatores que a divulguem Jaacute que na mesma base teoacuterica a liacutengua se justifica como um
fato de cultura assim como qualquer outro e neste iacutenterim integra-se agrave cultura
Cacircmara Jr (1955) reconhece que a liacutengua funciona na sociedade para a comunicaccedilatildeo e
interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e tambeacutem que ela se torna o resultado de uma cultura global pois a
liacutengua depende de toda cultura jaacute que a expressa a todo o momento
assim a liacutengua em face do resto da cultura eacute ndash o resultado dessa cultura ou
sua suacutemula eacute o meio para ela operar eacute a condiccedilatildeo para ela subsistir E mais
ainda soacute existe funcionalmente para tanto englobar a cultura comunicaacute-la e
transmiti-la (CAcircMARA JR 1955 p 54)
Considerada a inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura pode-se ressaltar mais uma vez que a
cultura se manifesta linguisticamente sejam elas integrantes de manifestaccedilotildees da cultura
popular ou da erudita
De modo geral a cultura eacute pensada numa visatildeo polarizante como sendo
cultura popular ou cultura erudita Conveacutem dizer poreacutem que ambas satildeo
formas e conteuacutedos diferentes de expressatildeo de uma dada realidade social e
histoacuterica Entatildeo natildeo devem ser vistas como opostas ou excludentes mas como
maneiras especiacuteficas de ver sentir e expressar a realidade conforme se situam
seus atores na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo do poder (PAULA 2007 p 75)
Neste processo Sapir (1969) menciona que o leacutexico eacute o niacutevel linguiacutestico em que mais
intimamente se interligam liacutengua e cultura Zavaglia (2012) por sua vez reconhece que o leacutexico
estaacute vinculado agrave cultura de um povo de uma naccedilatildeo agrave sua histoacuteria
Para Zavaglia (2012) o leacutexico estaacute relacionado com a memoacuteria humana e se configura
no ato de nomeaccedilatildeo diante do processo em que houve a necessidade de o homem por meio de
36
palavras nomear tudo que o circundava e assim categorizar o que estava a seu redor Pautados
na autora observamos a grandeza do leacutexico pois
Eacute o leacutexico em forma de palavras e por meio da linguagem que ldquocontardquo a
histoacuteria milenar de povo para povo eacute o leacutexico que transmite os elementos
culturais de um conjunto de indiviacuteduos eacute o leacutexico que ldquoeducardquo ou ldquodeseducardquo
eacute o leacutexico que permite a manifestaccedilatildeo dos sentimentos humanos de suas
afeiccedilotildees ou desagrados via oral ou via escrita Eacute o leacutexico que registra o
desencadear das accedilotildees de uma sociedade suas mudanccedilas seu progresso ou
regresso Condivido com Biderman quando diz que o leacutexico eacute o tesouro
vocabular de forma codificada da memoacuteria do indiviacuteduo restando ali estocado
ateacute que seja ativado quando necessaacuterio para que o homem possa expressar ou
se comunicar Eacute ainda por meio do leacutexico que conceitos condutas e costumes
satildeo transmitidos de geraccedilotildees a geraccedilotildees e herdados por elas ldquoEacute o leacutexico que
fisionomiza a culturardquo (ZAVAGLIA 2012 p 233)
O leacutexico eacute o fio condutor da cultura jaacute que a transporta para geraccedilotildees futuras eacute por meio
dele que se registra a histoacuteria e a vida de uma sociedade Para Sapir (1969) a cultura estaacute
nitidamente no leacutexico da liacutengua e este pode ser considerado como todo o conjunto de ideias
interesses e ocupaccedilotildees que abrangem a atenccedilatildeo da comunidade Neste contexto
O estudo cuidadoso de um dado leacutexico conduz a inferecircncias sobre o ambiente
fiacutesico e social daqueles que o empregam e ainda mais que o aspecto
relativamente transparente ou natildeo-transparente do proacuteprio leacutexico nos permite
deduzir o grau de familiaridade que se tem adquirido com os vaacuterios elementos
do ambiente (SAPIR 1969 p 49)
Eacute possiacutevel ressaltar que o leacutexico da liacutengua conteacutem um recorte da realidade feito agrave sua
maneira que revela visotildees de mundo Os elementos culturais que matizam datildeo o colorido de
significaccedilatildeo ao leacutexico mostram de diferentes maneiras as relaccedilotildees que ambas liacutengua e cultura
tecircm com o ambiente seja fiacutesico ou social pois toda complexidade dessa inter-relaccedilatildeo pode ser
anunciada e enunciada no uso da linguagem
Vale entatildeo ressaltar
Que o leacutexico assim reflita em alto grau a complexidade da cultura eacute
praticamente um fato de evidecircncia imediata pois o leacutexico ou seja o assunto
de uma liacutengua destina-se em qualquer eacutepoca a funcionar como um conjunto
de siacutembolos referentes ao quadro cultural do grupo Se por complexidade de
uma liacutengua se entende a seacuterie de interesses impliacutecitos em seu leacutexico natildeo eacute
preciso dizer que haacute uma correlaccedilatildeo constante entre a complexidade
linguiacutestica e cultural (SAPIR 1969 p 51)
37
O conjunto de signos da liacutengua ultrapassa as fronteiras do tempo trazendo para a
atualidade siacutembolos tambeacutem culturais que satildeo revelados por meio de praacuteticas culturais que se
interseccionam com as praacuteticas linguiacutesticas Assim
Natildeo soacute as palavras da liacutengua passam a servir de siacutembolos culturais dispersos
como sucede nas liacutenguas em qualquer periacuteodo de desenvolvimento mas se
pode supor que as proacuteprias categorias e processos gramaticais simbolizariam
tipos correspondentes de pensamento e atividade de significaccedilatildeo cultural Ateacute
certo ponto pode se conceber portanto a cultura e a liacutengua em constante
estado de interaccedilatildeo e em associaccedilatildeo definida por um largo lapso de tempo
Mas tal estado de correlaccedilatildeo natildeo pode continuar indefinidamente (SAPIR
1969 p 60)
Segundo Sapir (1969) a linguagem possui o papel de produzir e organizar o mundo
mediante o processo de simbolizaccedilatildeo Contudo a realidade eacute mostrada por meio da linguagem
o que significa dizer que natildeo haacute mundos iguais visto que natildeo haacute liacutenguas iguais De acordo com
estas observaccedilotildees cabe ressaltar o relativismo linguiacutestico ldquoHipoacutetese de Sapir-Whorfrdquo a
linguagem determina a forma de ver o mundo e consequentemente de se relacionar com esse
mundo
O relativismo linguiacutestico pode ser entendido como a relaccedilatildeo linguagem e pensamento
mediada pela cultura desta forma linguagem pensamento e cultura estatildeo conectados Sapir-
Whorf observam que a realidade social eacute produto linguiacutestico tratando assim as relaccedilotildees de
linguagemcultura e linguagempensamento a cultura pode ser considerada como
conhecimento adquirido socialmente por meio das praacuteticas linguiacutesticas
De maneira geral diz-se que a cultura eacute o conhecimento que as pessoas detecircm acerca de
uma comunidade seja em seus acircmbitos popular ou cientiacutefico os quais ultrapassam o tempo
por meio da liacutengua jaacute que ldquoA cultura eacute o conjunto do que o homem criou na base das suas
faculdades humanas abrange o mundo humano em contraste com o mundo fiacutesico e o mundo
bioloacutegicordquo (CAcircMARA JR 1955 p 51)
Em outras palavras
Cultura eacute o conjunto de praacuteticas sociais situadas historicamente que se
referem a uma sociedade e que a fazem diferente de outra Baseia-se na
construccedilatildeo social de sentidos a accedilotildees crenccedilas haacutebitos objetos que passam a
simbolizar aspectos da vivecircncia humana em coletividade (PAULA 2007 p
74)
A diversidade tambeacutem se reflete na cultura pois de acordo com Bosi
38
[] natildeo existe uma cultura brasileira homogecircnea matriz de nossos
comportamentos e dos nossos discursos Ao contraacuterio a admissatildeo do seu
caraacuteter plural eacute um passo decisivo para compreendecirc-la como um ldquoefeito de
sentidordquo resultado de um processo de muacuteltiplas interaccedilotildees e oposiccedilotildees no
tempo e no espaccedilo (BOSI 1987 p 7)
Neste sentido a cultura se constroacutei a partir das vivecircncias e significados que lhe satildeo
atribuiacutedos pela proacutepria sociedade em suas praacuteticas sociais e constituindo-se tambeacutem em
diferenccedila Para Bosi (1987 p 11) o fundamento da cultura popular ldquoeacute o retorno de situaccedilotildees e
atos que a memoacuteria grupal reforccedila atribuindo-lhes valorrdquo Isso satildeo as marcas identitaacuterias da
comunidade que satildeo deixadas e vivenciadas (ou vivificadas) tempos depois A cultura popular
eacute revelada por meio de praacuteticas culturais e linguiacutesticas que levam a puacuteblico as relaccedilotildees soacutecio-
histoacuterica-culturais de determinadas comunidades
A cultura se constroacutei com base nos valores atribuiacutedos pelos sujeitos agraves relaccedilotildees
cotidianas e nas relaccedilotildees de poder Organiza-se como popular eou erudita Nesse sentido natildeo
existe cultura melhor nem pior cada uma eacute expressa pelo seu grupo social pois cada indiviacuteduo
tem uma forma de ver o mundo modos de vestir de comer os meios para se curar os remeacutedios
os modos de plantar de cultivar e colher os modos de nomear e categorizar os elementos da
natureza e outros tantos mais Desta forma ldquoconforme as pessoas entendem que participam de
uma cultura esforccedilam-se para agir dentro do que julgam ser pertinente a elardquo (PAULA 2007
p 75)
Cultura liacutengua e identidade natildeo satildeo algo fixo pronto e acabado estando sempre em
constituiccedilatildeo uma vez que satildeo produzidas por seres sociais que se encontram em processo de
interaccedilatildeo aprendizado conhecimento e estatildeo inseridos em contextos sociais que passam por
transformaccedilotildees O leacutexico eacute o meio pelo qual a cultura e a identidade se constroem e se
disseminam
Na visatildeo de Paula (2007 p 89) a memoacuteria eacute o depositaacuterio tanto da cultura como da
liacutengua visto que
O modo como se estrutura poliacutetica e economicamente uma sociedade diz
muito de suas estruturas culturais estas por sua vez soacute se fazem possiacuteveis
graccedilas agrave elaboraccedilatildeo cotidiana do arcabouccedilo de memoacuteria coletiva ao modo
como eacute concebida e ao estatuto que lhe eacute dado Expressando estas inter-
relaccedilotildees servindo a elas no cotidiano da comunicaccedilatildeo humana e carregando
em seu funcionamento muito do modo como a sociedade se faz e se refaz estaacute
a liacutengua
39
Os processos culturais que satildeo construiacutedos por meio de atos linguiacutesticos satildeo uma forma
identitaacuteria de dada comunidade que eacute expressa por relaccedilotildees sociais como forma de conduzir e
expressar-se perante as demais comunidades sejam elas internacionais nacionais ou regionais
sabemos que a cultura eacute a miscigenaccedilatildeo de outras culturas
13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes
Embora faccedila parte do cotidiano das pessoas portanto estreitamente ligado agrave cultura natildeo
haacute muita discussatildeo referente ao nome proacuteprio e aos motivos de algueacutem ou um lugar ter o nome
que tem Entretanto conforme Carvalhinhos (2002) jaacute no seacuteculo II aC com o gramaacutetico
Dioniacutesio Traacutecia o estudo sobre o nome jaacute tinha sido pensado e formulado Esses estudos
propiciaram por sua vez o surgimento da Onomaacutestica a ciecircncia que se ocupa dos estudos da
origem e alteraccedilotildees (na forma e no significado) dos nomes proacuteprios A Onomaacutestica eacute um ramo
das ciecircncias linguiacutesticas que pode-se efetuar em duas vertentes a toponiacutemia (estudo do
topocircnimo ou nome de lugar) e a antroponiacutemia (estudo do nome pessoal)
Conforme Dubois (2004) e Houaiss (2004) a Onomaacutestica eacute um ramo da lexicologia e
seu meacutetodo de trabalho deve-se desenvolver em linha documental mediante a observaccedilatildeo de
dados oficiais como mapas listas de nomes ou outros documentos de valor historiograacutefico e
lexicograacutefico Isso possibilita a junccedilatildeo da histoacuteria da nomenclatura com momentos histoacutericos e
sociais mais amplos
No entanto mesmo pertencendo agrave ciecircncia da linguagem a Onomaacutestica se estabelece por
meio do suporte de outras aacutereas do conhecimento como a Antropologia a Etnografia a
Botacircnica a Geografia e a Histoacuteria Neste sentido natildeo eacute equivocado salientar que a Onomaacutestica
eacute um campo de amplo caraacuteter interdisciplinar
Assim a Onomaacutestica ou Onomasiologia eacute o ramo da ciecircncia linguiacutestica que tem o nome
proacuteprio como objeto de estudo e se constroacutei em relaccedilatildeo a outros campos do saber Contudo ao
relacionar o seu conhecimento aos de outras aacutereas ela natildeo os confunde nem os nega
De acordo com Ramos e Bastos (2010) a Onomaacutestica assume uma perspectiva
integralizadora de meacutetodos e demanda um consideraacutevel nuacutemero de conhecimentos de campos
diversos de maneira direta ou indireta e vertical ou horizontal destacando-se a linguiacutestica com
valoraccedilatildeo da pesquisa etimoloacutegica
Conforme dito a Onomaacutestica para efeito de estudo pode ser dividida em dois eixos a
Antroponiacutemia e a Toponiacutemia Estas por sua vez podem apresentar subdivisotildees dependendo
de algumas consideraccedilotildees acerca das caracteriacutesticas que cada uma agrave sua maneira apresenta
40
A Toponiacutemia conforme Piel (1979) de acordo com o objeto de denominaccedilatildeo pode
denominar-se tambeacutem como astroniacutemia hidroniacutemia litoniacutemia odoniacutemia oroniacutemia para citar
apenas alguns termos que correspondem a objetos que constituem ou satildeo constituiacutedos por
formaccedilotildees aquosas astros formaccedilotildees peacutetreas serras vias ou caminhos
Jaacute a Antroponiacutemia volta sua atenccedilatildeo para o estudo dos nomes de batismo dos
sobrenomes patroniacutemicos (ou matroniacutemicos) e ainda das alcunhas dos apelidos e de nomes
diminutivos A Antroponiacutemia agrave semelhanccedila da Toponiacutemia natildeo se constitui de forma
homogecircnea jaacute que haacute uma seacuterie de tradiccedilotildees conforme os povos ou culturas que desenvolveram
esses sistemas antroponiacutemicos Por outro lado eacute consenso afirmar que os nomes pessoais satildeo
um aspecto comum ou universal nas liacutenguas porque as pessoas recebem um nome em algum
momento de suas vidas em todas as sociedades conhecidas do mundo
De acordo com Dick (1992) as intenccedilotildees e as motivaccedilotildees que subjazem agrave escolha dos
nomes em cada sociedade variam bastante Os estudos dos sistemas onomaacutesticos vecircm confirmar
isso porque os nomes existem e satildeo controlados pelas necessidades e praacuteticas sociais as quais
podem variar de acordo com a visatildeo de mundo de um determinado povo
Posto isso conveacutem conceber a Onomaacutestica como uma disciplina que deve focar como
objeto de estudo os sistemas de denominaccedilatildeo que justifiquem os processos de atribuiccedilatildeo de
nomes de uma maneira geral
Em Soliacutes (1997) os nomes satildeo o resultado de algo que os provoca isto eacute o sistema
denominativo elaborado pelas culturas para atribuir nomes agraves coisas apreendidas por sua
atividade cognitiva
Devido ao fato de a Onomaacutestica estender-se a um amplo campo de estudo ou seja que
se volta tanto para o estudo dos nomes proacuteprios de pessoas como agraves designaccedilotildees dos lugares eacute
imperioso delimitar para este estudo apenas o sistema onomaacutestico voltado para os nomes de
lugar isto eacute para a toponiacutemia caracterizando como objeto de estudo os nomes dos cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio
A despeito de incorrer em lugar comum conveacutem rever os constituintes da palavra
toponiacutemia cujo significado etimoloacutegico pode ser assim expresso do grego topos (lugar) e
onoma (nome) A Toponiacutemia se ocupa dos locativos (tambeacutem componentes do leacutexico da liacutengua)
com o fito de estudar a origem as significaccedilotildees e as transformaccedilotildees por que passam ou
passaram esses nomes A Toponiacutemia se dedica ao estudo natildeo apenas dos nomes de comunidades
humanas (cidades povoados vilas) como tambeacutem elementos geograacuteficos a exemplo os cursos
drsquoaacuteguas
41
Os estudos toponiacutemicos propiciam a percepccedilatildeo da relaccedilatildeo entre povo liacutengua e territoacuterio
considerando que esse territoacuterio pode ser fiacutesico eou imaginaacuterio jaacute que as entidades do mundo
que precisam ser nomeadas podem ser pessoas entidades geograacuteficas que fazem parte do
ambiente em que vive determinado povo e que sobretudo tenham importacircncia para esse povo
pois se natildeo tem importacircncia natildeo haacute em contrapartida necessidade de ser nomeado Conveacutem
no entanto ressaltar que nem todas as nomeaccedilotildees ocorrem pela necessidade espontacircnea de
identificaccedilatildeo uma vez que muitas delas refletem a imposiccedilatildeo de forccedilas ideoloacutegicas poliacuteticas e
sociais
Neste sentido surge a necessidade de reconhecer os objetos geograacuteficos da natureza
tais como rios mares lagoas ilhas continentes serras e outros mas haacute outros que precisam
ser denominados tambeacutem principalmente os objetos da cultura aqueles criados pelo homem
dentre os quais podem ser citados os povoados represas moradias (habitaccedilatildeo) ruas
circunscriccedilotildees poliacutetico-territoriais que se situam em algum lugar do universo fiacutesico
Natildeo se pode omitir aqueles lugares cujo universo foi criado pela cultura imaterial o
mundo natildeo fiacutesico Sejam do universo real ou imaginaacuterio as entidades geograacuteficas satildeo os
referentes dos topocircnimos que por sua vez integram a visatildeo de mundo de um povo Isso
constitui uma dificuldade em especificar que referentes existem no mundo fiacutesico ou cultural
em parte porque para isso eacute necessaacuterio considerar uma cultura determinada Em resposta a isso
haacute o reconhecimento da visatildeo de mundo que eacute peculiar a cada cultura
Muitos povos concebem o universo real como um mundo que tem seu correlato miacutetico
com outros mundos e fazem assim surgir universos de nomes toponiacutemicos de variada riqueza
toponomaacutestica porque tecircm lugares para nomear no espaccedilo fictiacutecio criado nesse mundo Assim
aleacutem de serem componentes linguiacutesticos como tal os nomes que compotildeem um sistema de
denominaccedilatildeo satildeo ainda criaccedilotildees socioculturais
Entatildeo cabe agrave Toponiacutemia estudar tanto os nomes de lugares (os topocircnimos) como
componentes de uma liacutengua que satildeo como tambeacutem o sistema de denominaccedilatildeo organizado pelas
sociedades para nomear os objetos fiacutesicos ou imaginaacuterios da sua cultura Devido agraves diferentes
visotildees de mundo tecircm-se diferentes formas de nomear essas entidades Aleacutem da visatildeo de mundo
em sociedades como a brasileira podem contribuir para a formaccedilatildeo de um sistema de nomeaccedilatildeo
os movimentos sociais como forccedila impulsionadora de mudanccedila social Em relaccedilatildeo agrave realidade
brasileira podem-se mencionar as poliacuteticas que vecircm acontecendo durante os mais de 500 anos
de histoacuteria brasileira que tambeacutem resultou em inuacutemeras formaccedilotildees e mudanccedilas de designaccedilatildeo
toponiacutemica no Brasil
42
Cabe reiterar que a toponiacutemia refere-se a nomes de lugares habitados ou natildeo Daiacute uma
definiccedilatildeo apropriada para o termo ldquotopocircnimordquo eacute um nome de qualquer ponto localizaacutevel no
espaccedilo terrestre que tenha recebido denominaccedilatildeo Definiccedilatildeo essa que pode ser estendida para o
nome de qualquer ponto localizaacutevel no mundo real ou em mundos imaginados pelas culturas
em outras palavras daqueles universos que existem por meio da atividade ideacional dos
homens
Assim eacute por meio da relaccedilatildeo povo-territoacuterio que os nomes de lugar satildeo estabelecidos
Inicialmente pela posse do territoacuterio uma vez que segundo Couto (2007) o territoacuterio eacute uma
das primeiras referecircncias para que um agrupamento de pessoas possa receber o status de
comunidade e todo territoacuterio entendido como tal tem de ter um nome um topocircnimo Desta
forma recortam-se os aspectos do meio ambiente mais salientes aos olhos do povo como uma
espeacutecie de acordo que permite a vivecircncia e a convivecircncia em sociedade no territoacuterio apossado
Eacute possiacutevel afirmar que a nomeaccedilatildeo dos lugares surgiu com a proacutepria humanidade Os
registros antigos da histoacuteria da civilizaccedilatildeo ratificam essa accedilatildeo do homem sobre o lugar que
habita ou jaacute habitou satildeo fatores que sugerem uma espeacutecie de posse ou de domiacutenio sobre o lugar
por meio da significaccedilatildeo da organizaccedilatildeo e da orientaccedilatildeo pelo espaccedilo ocupado ou apenas
conhecido Em contrapartida o ato de nomeaccedilatildeo se manifesta como a accedilatildeo do meio fiacutesico e
sociocultural sobre o homem
Eacute nesta perspectiva que se podem considerar os estudos toponiacutemicos em seu acircmbito
interdisciplinar porque congregam vaacuterias aacutereas do conhecimento humano Os nomes de um
lugar satildeo enfocados conforme a observaccedilatildeo dos aspectos fiacutesicos socioculturais mentais e
histoacutericos interligados ou em separados
Assim natildeo eacute equiacutevoco conceber a Toponiacutemia como objeto de estudo da Antropologia
da Geografia da Histoacuteria ou ainda da Psicologia Social para citar apenas algumas disciplinas
Eacute possiacutevel segundo Dick (1992) realizar anaacutelises do fenocircmeno toponiacutemico em
consonacircncia teoacuterica com qualquer uma dessas aacutereas mas para a autora nenhuma delas tomada
isoladamente ou com exclusivismo alcanccedilaria a plenitude do fenocircmeno toponiacutemico Em termos
linguiacutesticos a Toponiacutemia recorre aos conhecimentos da Semacircntica da Lexicologia da
Etnolinguiacutestica da Dialetologia e da Linguiacutestica Histoacuterica
Mais recentemente uma linha de anaacutelise que tem oferecido contribuiccedilotildees importantes
aos estudos dos nomes de lugares eacute a Linguiacutestica Cognitiva Suas pesquisas vecircm enfatizando
natildeo soacute os modelos cognitivos mas tambeacutem os processos de categorizaccedilatildeo principalmente os
processos de analogia e contiguidade proacuteprios da metaacutefora e da metoniacutemia Entendecirc-los eacute
43
essencial para compreender os sistemas de nomeaccedilatildeo como resultados da experiecircncia e da
cogniccedilatildeo humana com o corpo em relevo
Esta perspectiva de anaacutelise coaduna estudos que procuram reconhecer processos
cognitivos expressos na accedilatildeo de denominar a realidade e para tanto fundamentam-se no corpo
Eacute uma forma de nomear os lugares fiacutesicos ou culturais mediante a percepccedilatildeo do denominador
na interaccedilatildeo com meio ambiente fiacutesico e cultural
14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica
Para realizar qualquer estudo onomaacutestico eacute necessaacuterio inicialmente buscar na teoria
linguiacutestica os recursos para se explicar como uma forma linguiacutestica se amaacutelgama a um lugar
configurando uma relaccedilatildeo entre esse lugar suas caracteriacutesticas e o signo linguiacutestico que passa
a designaacute-lo Em outras palavras eacute necessaacuterio buscar conceitos que estejam em consonacircncia
com os preceitos5 onomaacutestico-toponiacutemicos
Eacute por meio da liacutengua que se daacute a interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e a mesma constitui-se de
signos linguiacutesticos Em outras palavras o mundo humano a realidade extralinguiacutestica e a
cultura constituem-se de signos Calcados nas ideias de Charles Sanders Pierce (2005) tem-se
o conceito geral de que o signo eacute ldquoalgo que estaacute por algo para algueacutemrdquo Conveacutem salientar que
ldquoestar porrdquo eacute uma noccedilatildeo bastante ampla pois pode significar uma seacuterie de coisas como
representar caracterizar fazer agraves vezes de indicar entre outros Para Pierce (2005 p 46)
um signo ou representamem eacute algo que sob certo aspecto ou de algum modo
representa alguma coisa para algueacutem Dirige-se a algueacutem isto eacute cria na mente
dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido
Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo
representa alguma coisa seu objeto Representa esse objeto natildeo em todos os
aspectos mas com referecircncia a um tipo de ideia que eu por vezes denominei
fundamento do representamem (Grifos do autor)
Assim seguindo a concepccedilatildeo de Pierce (2005) sobre signo pode-se formular que eacute a
representaccedilatildeo de alguma coisa para algueacutem estaacute no lugar da coisa que ele representa e natildeo eacute a
coisa em si Tem ainda a condiccedilatildeo de perturbar a mente do interpretante i eacute daquele que vecirc
lecirc ou ouve o signo na tentativa de atribuir-lhe um significado Dessa forma eacute possiacutevel verificar
uma relaccedilatildeo de interdependecircncia entre pelo menos trecircs extremos i) a face perceptiacutevel do
5 No capiacutetulo 2 satildeo apresentados os meacutetodos usados na pesquisa
44
signo o representamem ou significante ii) o que ele representa o objeto ou referente e iii) o
que ele significa interpretante ou significado
Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo
Fonte Adaptado a partir do original de Ogden-Richards (1972)
Para Pierce (2005) os signos satildeo elementos tricotocircmicos6 e apresentam trecircs divisotildees
amplas (i) iacutecone (ii) iacutendice e (iii) siacutembolo A despeito de serem conceitos mais pertinentes a
um estudo semioacutetico em grande parte a motivaccedilatildeo que subjaz ao designativo de lugar imprime
caraacuteter icocircnico indicial ou simboacutelico ao nome do lugar o que acarreta uma dada categorizaccedilatildeo
Para Pierce (2005) (i) iacutecones satildeo os signos que apresentam as caracteriacutesticas
especiacuteficas proacuteprias por analogia formam-se pela primeira impressatildeopercepccedilatildeo que o
inteacuterprete tem sobre as coisas do mundo real Eacute um signo que guarda semelhanccedilas entre o
significante e o significado Em outras palavras um iacutecone eacute uma representaccedilatildeo - auditiva visual
ou de outra espeacutecie ndash de alguma coisa Uma fotografia uma pintura as imagens diagramas satildeo
exemplos de iacutecones por evidenciar semelhanccedila com o objeto representado A semelhanccedila tem
de ser estabelecida de forma quase que consciente por quem observa No entanto a semelhanccedila
com o objeto representado pode ser extraordinaacuteria como quando se observam as imagens sacras
ou iacutecones menores aqueles que aparecem na tela do computador ou pode ser mais abstrata
como a que acontece com as placas de sinais em geral
Em relaccedilatildeo aos (ii) iacutendices Pierce (2005) estabelece que satildeo signos que estatildeo numa
relaccedilatildeo direta entre o representamem e o objeto Um iacutendice (ou signo indexical) tem a funccedilatildeo
de indicar o que estaacute nas suas proximidades Nos iacutendices a forma e o significado estatildeo
interligados satildeo contiacuteguos ou seja caracteriza-se pela relaccedilatildeo de contiguidade ou associaccedilatildeo
com aquilo que representa Aquilo que atrai a atenccedilatildeo em um objeto eacute seu iacutendice Apresentam
6 O que difere das caracteriacutesticas dicotocircmicas do signo linguiacutestico para Saussure
Conceito
(Significado)
Palavra Referente
(significante) (elementos da realidade)
45
traccedilos de decirciticos jaacute que os interlocutores podem recuperar o referente por meio de lembranccedilas
de detalhes do objeto
Encontram-se muito difundidos nos sistemas de comunicaccedilatildeo (verbal ou natildeo) Satildeo
amplamente empregados na linguagem miacutemica e gestual no coacutedigo de tracircnsito Os decirciticos satildeo
signos indiciais imprescindiacuteveis pois referem demonstrativamente indicam a pessoa do
discurso o lugar a proximidade7 de espaccedilo e tempo entre outros (iii) Jaacute os siacutembolos satildeo signos
que se referem ao objeto em funccedilatildeo de uma convenccedilatildeo de uma lei ou de associaccedilatildeo geral de
ideias ou melhor por natildeo haver uma relaccedilatildeo de semelhanccedila e nem contiguidade entre o
significante e o significado ela eacute estabelecida por convenccedilatildeo de forma intencional e aprendida
nas relaccedilotildees sociais Os siacutembolos satildeo considerados os signos genuiacutenos estatildeo reservados aos
seres humanos porque as necessidades comunicativas exigem muito mais que indicaccedilotildees
indexicais ou imitaccedilotildees icocircnicas O sistema mais elaborado de signos simboacutelicos certamente
eacute o das liacutenguas naturais na modalidade falada e na escrita tambeacutem sendo que a palavra eacute o
siacutembolo por excelecircncia
Por se constituiacuterem de duas coisas que se encontram em prolongamento uma da outra
i eacute contiacuteguas os signos indexicais podem se substituir mutuamente Tambeacutem os signos
icocircnicos podem tomar o lugar do objeto real Jaacute os simboacutelicos satildeo superiores por permitirem
aos seres humanos ultrapassar os limites de contiguidade e semelhanccedila porque estabelecem uma
relaccedilatildeo simboacutelica entre determinada forma e determinado significado Todas essas relaccedilotildees ndash
icocircnica indexical e simboacutelica ndash estatildeo na base dos sistemas de linguagem
Os signos linguiacutesticos se vinculam agrave noccedilatildeo de siacutembolo uma vez que a relaccedilatildeo com o
objeto referido eacute construiacuteda arbitrariamente em uma espeacutecie de acordo entre os membros de
uma comunidade de fala Para Saussure (2008) o signo linguiacutestico eacute o resultado da associaccedilatildeo
convencional entre o significante e o significado acertada entre os falantes Eacute convencional
porque natildeo haacute nenhum viacutenculo sugestivo entre os dois elementos Essa eacute a noccedilatildeo de
arbitrariedade descrita por Saussure (2008) em relaccedilatildeo aos viacutenculos entre significante e
significado Por outro lado haacute de se considerar situaccedilotildees em que os signos linguiacutesticos
apresentam motivaccedilotildees que podem ser de natureza foneacutetica morfoloacutegica ou semacircntica
Quanto agrave estrutura um topocircnimo pode ser um nome simples ou composto e segue
evidentemente as mesmas regras de formaccedilatildeo de palavras da liacutengua portuguesa Um nome em
funccedilatildeo toponiacutemica pode tambeacutem ser constituiacutedo por frases e oraccedilotildees seguem assim a sintaxe
da liacutengua em que se insere
7 O ldquoeurdquo a pessoa com quem se fala o ldquoeste aquirdquo ldquoesse aiacuterdquo ldquoaquele alirdquo ldquoneste tempordquo ldquonaquele tempordquo
46
Segundo Dick (1992) o signo topocircnimo vincula-se por diversos fatores ao elemento
geograacutefico do qual eacute o referente estabelecendo com ele um conjunto que por sua vez pode ser
separado em partes menores para se distinguirem os seus elementos formadores
Morfologicamente dois elementos baacutesicos podem ser depreendidos dessa relaccedilatildeo um o termo
ou elemento geneacuterico que se relaciona agrave entidade geograacutefica que recebe a denominaccedilatildeo e o
outro o elemento ou termo especiacutefico o topocircnimo propriamente dito que carrega em si mesmo
a noccedilatildeo espacial que identificaraacute e singularizaraacute a entidade denominada das outras semelhantes
Esses elementos ou termos se justapotildeem no sintagma toponiacutemico (Coacuterrego do Ouro) ou se
aglutinam (Rialma) conforme a estrutura da liacutengua em questatildeo
Para Dick (1992) em relaccedilatildeo agrave morfologia os topocircnimos podem apresentar trecircs
diferentes formas (i) topocircnimo ou elemento especiacutefico simples eacute aquele determinado por um
soacute formante que pode apresentar-se acompanhado tambeacutem de sufixaccedilatildeo diminutiva
aumentativa ou de outras origens linguiacutesticas
Eacute comum na formaccedilatildeo de muitos topocircnimos brasileiros a junccedilatildeo de um designativo agraves
terminaccedilotildees -lacircndia em -poacutelis e ndashburgo (normalmente segundo elemento da formaccedilatildeo) Essa
formaccedilatildeo embora apresente dois formantes (de liacutenguas diferentes) satildeo considerados nomes
simples e natildeo compostos pode-se no entanto dizer que em algumas designaccedilotildees satildeo tambeacutem
hiacutebridos jaacute que provecircm de liacutenguas diferentes a saber Maurilacircndia (Maurilo do latim Maurilius
lsquomorenorsquo + lacircndia elemento de origem inglesa) Buritinoacutepolis (Buriti(no) elemento tupi + polis
elemento grego) mas em Friburgo8 natildeo haacute hibridismo
Segundo Siqueira (2012) pode-se ainda indicar a terminaccedilatildeo -(a) nia variaccedilatildeo do sufixo
nominal do latino -anus -ana que se documentam em nomes e modificadores com as noccedilotildees
de proveniecircncia origem entre outras em lembranccedila dos primeiros habitantes da regiatildeo Em
Goiaacutes eacute expressiva a quantidade de topocircnimos que se formaram jungidos a esse elemento
Caiapocircnia Cromiacutenia Goiacircnia Joviacircnia Luziacircnia Silvacircnia (ii) topocircnimo composto ou
elemento especiacutefico composto aquele formado por mais de um elemento de origens diversas
entre si do ponto de vista do conteuacutedo (iii) topocircnimo (composto) hiacutebrido ou elemento
especiacutefico hiacutebrido formado por elementos linguiacutesticos de diferentes procedecircncias
Sobre o caraacuteter imotivado dos signos linguiacutesticos cabe salientar conforme Saussure
(2008) que o viacutenculo que une o significante ao significado eacute arbitraacuterio natildeo haacute relaccedilatildeo loacutegica
ente as duas faces do signo A associaccedilatildeo entre ambos (significante e significado) eacute de natureza
8 Cidades da Alemanha e da Suiacuteccedila no Brasil conforme Machado (2003) haacute uma ldquoFriburgordquo no Amazonas e no
Rio de Janeiro ldquoNova Friburgordquo este sim um hiacutebrido em Minas Gerais haacute tambeacutem o hiacutebrido ldquoCordisburgordquo
cordis do latim lsquocoraccedilatildeorsquo + burgo do alematildeo lsquocidadersquo
47
convencional natildeo natural Assim todo estudo toponiacutemico tem no caraacuteter motivado do signo
toponiacutemico seu ponto de partida ou seja os estudos sobre os topocircnimos se baseiam na
motivaccedilatildeo que subjaz para analisar todas as relaccedilotildees circunscritas a ela
15 Linguiacutestica Histoacuterica
Consideradas como realidades histoacutericas e sociais as liacutenguas satildeo dinacircmicas estatildeo em
contiacutenua transformaccedilatildeo o que leva a afirmar que a liacutengua de hoje natildeo eacute a mesma de ontem
nem se manteraacute idecircntica amanhatilde Posto isso pode-se verificar que o conhecimento mais amplo
da estrutura do leacutexico da semacircntica e ateacute da ortografia pode requerer um estudo linguiacutestico
com perspectivas histoacutericas No acircmbito da linguiacutestica geral destaca-se a Linguiacutestica Histoacuterica
aacuterea cujo interesse recai sobre o que como e por que muda nas liacutenguas no decorrer do tempo
Os estudos acerca da linguagem foram primeiramente postulados pelos filoacutesofos
anteriores ao seacuteculo XIX como Platatildeo e Aristoacuteteles9 que se ativeram ao estudo da linguagem
mediante a anaacutelise da relaccedilatildeo entre som e sentido ignorando qualquer tipo de variaccedilatildeo
linguiacutestica Jaacute a opccedilatildeo filoloacutegica representada principalmente pelos gramaacuteticos alexandrinos
natildeo ignorava a variaccedilatildeo linguiacutestica mas a colocava como desvio configurando-se
possivelmente como a primeira perspectiva normativaprescritiva na histoacuteria dos estudos da
linguagem (MAURER JR 1967)
Por sua vez a linguiacutestica histoacuterica conforme Maurer Jr (1967) estabeleceu relaccedilotildees
culturais entre os povos tornando-se um precioso auxiacutelio para a Histoacuteria e a Antropologia A
linguiacutestica histoacuterica natildeo revela apenas as relaccedilotildees entre duas ou mais liacutenguas mas consegue
tambeacutem evidenciar com facilidade o que eacute herdado de um berccedilo linguiacutestico comum e o que eacute
oriundo de empreacutestimo de outra liacutengua
Consoante estudos recorrentes a linguiacutestica histoacuterica teve seu surgimento no final do
seacuteculo XVIII momento em que se comeccedilava a dar um cunho cientiacutefico agrave mudanccedila linguiacutestica
Natildeo se pode afirmar entretanto que natildeo houvesse uma preocupaccedilatildeo com a linguagem antes
desse periacuteodo haja vista que a criaccedilatildeo da biblioteca de Alexandria por exemplo demonstra
certo interesse pelo assunto pois indica que ao fazer a compilaccedilatildeo das obras antigas da literatura
grega Homero apresentava certa preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura e do passado de
uma eacutepoca
9 Para Aristoacuteteles a linguagem eacute definidora das relaccedilotildees humanas
48
No entanto foi no seacuteculo XVI com a Renascenccedila que houve um acentuado interesse
dos estudiosos pela histoacuteria cultural particularmente pela filologia momento da origem da
histoacuteria literaacuteria No Ocidente renascia o interesse pelo passado que remetia agrave antiguidade
greco-latina
A linguiacutestica histoacuterica consiste segundo Faraco (2006 p 13) em ldquoestudar as mudanccedilas
que ocorrem nas liacutenguas humanas agrave medida que o tempo passardquo A mudanccedila eacute definida como
processo pelo qual a liacutengua viva natildeo fica estagnada mas evolui acompanhando o
desenvolvimento da sociedade que a utiliza como instrumento de comunicaccedilatildeo pois ldquoonde haacute
mudanccedila deve haver histoacuteria do contraacuterio nosso conhecimento do fato permanece incompletordquo
(MAURER JR 1967 p 20)
Nesse contexto estabelece-se o que eacute mais natural a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade
porque uma acaba interferindo na mudanccedila da outra visto que
[] as liacutenguas humanas natildeo constituem realidades estaacuteticas ao contraacuterio sua
configuraccedilatildeo estrutural se altera continuamente no tempo E eacute essa dinacircmica
que constitui o objeto de estudo da linguiacutestica histoacuterica [] as liacutenguas mudam
mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos
necessaacuterios para a circulaccedilatildeo dos significados (FARACO 2006 p 14)
As mudanccedilas natildeo satildeo apenas de ordem lexicais por certo as estruturas gramaticais o
modo de produzir os sons e o significado das palavras se alteram com o tempo bem como novas
palavras surgem para expressar objetos e coisas que satildeo criados Eacute possiacutevel observar ainda que
palavras caem em desuso provocando consequentemente alteraccedilotildees no leacutexico de dada liacutengua
jaacute que
Os estudos de Linguiacutestica Histoacuterica comprovam que as liacutenguas humanas se
transformam no fluxo do tempo ou seja palavras e estruturas que existiam
antes deixam de existir ou sofrem modificaccedilotildees na forma na funccedilatildeo eou no
significado Apesar das transformaccedilotildees sofridas as liacutenguas mudam mas
continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos necessaacuterios
que garantem uma comunicaccedilatildeo eficaz pois as mudanccedilas ocorrem em partes
e natildeo no todo das liacutenguas num processo de mutaccedilatildeo e permanecircncia
(SIQUEIRA AGUIAR 2011 p 385 grifos das autoras)
A linguiacutestica histoacuterica pode ser estudada em duas fases a de 1800 e a poacutes 1900 No
seacuteculo XIX surgiram meacutetodos de abordagem para se estudar as liacutenguas suas combinaccedilotildees
identidade (gecircnese) diferenccedilas (mudanccedilas) Segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 18) ldquoa tradiccedilatildeo
oitocentista portanto recorta descreve e explica os fenocircmenos da linguagem do ponto de vista
do binocircmio gecircnese-evoluccedilatildeordquo
49
O poacutes 1900 partiu da observaccedilatildeo da diacronia e sincronia Com o advento do
estruturalismo de Ferdinand Saussure (2008) no seacuteculo XX a linguiacutestica moderna trouxe como
proposta que o objeto da linguiacutestica ndash a liacutengua ndash pudesse ser estudado separadamente do efeito
tempo (PAIXAtildeO DE SOUSA 2006) Como divisor desse momento na segunda metade poacutes
1900 o objeto da linguiacutestica eacute de ordem bioloacutegica ndash a diacronia estaacute imanente agrave liacutengua pois
de acordo com esta corrente linguiacutestica eacute na liacutengua que reside a heterogeneidade a mudanccedila e
a variaccedilatildeo
Segundo Faraco (2006 p 91) as liacutenguas estatildeo inseridas em um processo de fluxo
temporal de mutabilidade ldquoaparecimentosrdquo e ldquodesaparecimentosrdquo ldquoconservaccedilatildeordquo e
ldquoinovaccedilatildeordquo As liacutenguas tecircm histoacuteria revelam e constituem a todo tempo a realidade e as
transformaccedilotildees ocorridas comno tempo Em relaccedilatildeo a isso
Humboldt convencia-se de que toda liacutengua reflete a psique do povo que a fala
Eacute o resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal
de fala Ele acha por outro lado que a liacutengua de um povo eacute o canal natural
pelo qual aquele povo chega a uma compreensatildeo do universo que circunda o
homem E conclui que existe uma profunda influecircncia de uma liacutengua na
maneira pela qual seus falantes veem e organizam o mundo dos objetos em
torno deles e de sua vida espiritual (CAMARA JR 1975 p 38-39)
A liacutengua eacute um ldquoinstrumentordquo social e estaacute carregada de significaccedilatildeo e considerados
espaccedilo e tempo eacute capaz de revelar o mundo a outros mundos Faraco (2006) faz ainda referecircncia
ao estudo do leacutexico ao reafirmar que a composiccedilatildeo deste pode ser estudada historicamente na
sua origem bem como os empreacutestimos que satildeo feitos de outras liacutenguas Necessaacuterio se faz
reconhecer que o leacutexico eacute uma unidade carregada da histoacuteria cultural de dada comunidade
linguiacutestica natildeo esquecendo conforme Faraco (2006 p 42) que ldquoeacute um dos pontos em que mais
claramente se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e culturardquo
Com o advento estruturalista de Saussure (2008) haacute uma mudanccedila de perspectiva a
visatildeo diacrocircnica dos fatos linguiacutesticos daacute lugar ao enfoque sincrocircnico dos fenocircmenos da
linguagem Eacute preciso observar que consoante a diretriz saussuriana a anaacutelise sincrocircnica
precede a diacrocircnica sendo possiacutevel fazer comparaccedilatildeo entre elas no momento em que tiver a
descriccedilatildeo de pelo menos dois estados da liacutengua Daiacute reforccedilar-se o objetivo do estudo em
descrever sincronicamente um dado especiacutefico da histoacuteria da liacutengua Faraco (2006 p 120)
afirma que ldquoo estudioso se fixa num momento do passado e tomando-o estaticamente
descreve-o com base nos documentos escritos de que se dispotildee criando assim condiccedilotildees para
um posterior estudo diacrocircnicordquo
50
A par disso conveacutem mencionar que nos seacuteculos XVII e XVIII estudos linguiacutesticos
hegemocircnicos observavam a liacutengua como uma realidade estaacutevel diferentemente do pensamento
linguiacutestico do seacuteculo XIX que considerava a liacutengua como uma realidade em transformaccedilatildeo
Desta forma Saussure (2008) estabeleceu duas dimensotildees uma histoacuterica (chamada diacrocircnica)
que tem como centro de suas atenccedilotildees as mudanccedilas porque passa a liacutengua no tempo ou seja a
mutabilidade da liacutengua no tempo a outra eacute estaacutetica (chamada sincrocircnica) que entende a liacutengua
como um sistema estaacutevel num espaccedilo de tempo aparentemente fixo isto eacute a sua imutabilidade
Mas
Diante dos termos sincroniadiacronia natildeo basta apenas entender por alto a
que se referem Eacute preciso antes perceber que essa divisatildeo pressupotildee tambeacutem
na sua origem uma concepccedilatildeo homogeneizante da liacutengua que ndash apesar de sua
indiscutiacutevel funcionalidade e fertilidade para a linguiacutestica contemporacircnea ndash eacute
para muitos estudiosos uma idealizaccedilatildeo excessiva por criar um objeto de
estudo demasiadamente afastado da heterogeneidade linguiacutestica do real
(FARACO 2006 p 106 grifos do autor)
Segundo Faraco (2006) Coseriu em seu livro Sincronia diacronia e histoacuteria de 1973
posiciona-se de forma contraacuteria agrave formulaccedilatildeo de Saussure (2008) (visatildeo estaacutetica de sistema)
pois para ele a liacutengua deve ser vista em permanente sistematizaccedilatildeo em movimento Coseriu
rejeita a ideia de que a descriccedilatildeo (sincronia) e a histoacuteria (diacronia) sejam estudos diferenciados
mas assume a visatildeo de que as liacutenguas satildeo objetos histoacutericos e devem ser estudadas de forma
integrada envolvendo descriccedilatildeo e histoacuteria
Para Rocha Galvatildeo e Gonccedilalves (2011 p 30) ldquoestabelecer a presenccedila ou a viagem das
palavras eacute acompanhar o envolver das proacuteprias comunidades pelo tempo aforardquo Um recorte
sincrocircnico natildeo deve desprezar a interpretaccedilatildeo diacrocircnica o interesse cientiacutefico natildeo estaacute presente
somente num espaccedilo-tempo assim como a representatividade histoacuterica necessita admitir pontos
exatos na representaccedilatildeo da vivecircncia humana
No segundo capiacutetulo apresenta-se uma breve revisatildeo dos meacutetodos de pesquisa que
podem ser combinados com a teoria onomaacutestico-toponiacutemica a fim de compor um quadro
ilustrativo das caracteriacutesticas do meio da cultura dos fatos histoacutericos e dos estados anteriores
da liacutengua que estatildeo de alguma forma impressos na motivaccedilatildeo que subjaz aos topocircnimos em
questatildeo
51
II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS
O povo ldquosenhor dos espaccedilos puacuteblicosrdquo por vezes
adota criteacuterio proacuteprio ao conferir nomes aos
lugares
(IBGE 2008)
A linguagem humana eacute sobretudo interaccedilatildeo e natildeo pode pois ser explicada apenas em
termos de sua estrutura semacircntica e formal mas tambeacutem deve-se analisaacute-la em sua funccedilatildeo
social Desta forma o desenvolvimento linguiacutestico e intelectual do indiviacuteduo caminham juntos
pois ambos satildeo a base da abstraccedilatildeo e categorizaccedilatildeo pois ldquotoda liacutengua reflete as condiccedilotildees da
sociedade e do ciacuterculo cultural que se falardquo (ANDRADE 2010 p 99)
Aspectos linguiacutesticos de diversas ordens satildeo fundamentais para o estudo toponiacutemico jaacute
que eacute por mecanismos linguiacutesticos que o signo comum transmuta-se em designativo de lugar
revelando a identidade do nomeador coletivo ou natildeo Desta maneira ldquoo topocircnimo eacute o resultado
da accedilatildeo do nomeador ao realizar um recorte no plano das significaccedilotildees representaccedilotildees ou seja
praticar um papel de registro no momento vivido pela comunidaderdquo (ANDRADE 2010 p
106)
Acolher uma orientaccedilatildeo ou outra acarreta outrossim na escolha do meacutetodo a ser utilizado
para a pesquisa linguiacutestico-histoacuterica Para situar a escolha por um meacutetodo este capiacutetulo faz uma
breve exposiccedilatildeo de alguns meacutetodos que tecircm sido empregados em pesquisas de abordagem
similar a esta em especial descrevemos detalhadamente os que satildeo usados nesta pesquisa os
quais consideram natildeo somente os aspectos linguiacutesticos bem como os histoacutericos e socioculturais
do lugar indo ao encontro da perspectiva adotada para este trabalho
21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos
Natildeo se deve confundir metodologia com meacutetodo de pesquisa Segundo Silva e Silveira
(2007 p 145) a metodologia consiste de um conjunto de criteacuterios usados para se construir um
conhecimento vaacutelido seguro e de certa forma verdadeiro Jaacute os meacutetodos de pesquisa podem
ser definidos como ldquoprinciacutepios e procedimentos aplicados para construccedilatildeo do saberrdquo Os autores
salientam que se torna mais difiacutecil ficar preso a um uacutenico meacutetodo quando se pode lanccedilar matildeo
do ldquopluralismo metodoloacutegicordquo Deste modo considerando as especificidades de um estudo
toponiacutemico eacute possiacutevel conjugar meacutetodos de forma ordenada e loacutegica Isto quer dizer que se
52
podem utilizar meacutetodos de abordagem (indutivo dedutivo dialeacutetico) em consonacircncia com os
preceitos de um ou mais meacutetodos de procedimento (funcionalista comparativo
fenomenoloacutegico estruturalista)
Uma perspectiva histoacuterica por exemplo abre um amplo espectro de possibilidades de
se estudar um determinado fato linguiacutestico Podem ser citadas diversas maneiras para se tomar
os fenocircmenos linguiacutesticos do ponto de vista histoacuterico tais como a filologia centrada nos
aspectos histoacutericos das transformaccedilotildees a linguiacutestica comparada que aborda os fatos por meio
de comparaccedilotildees entre as liacutenguas de grupos linguiacutesticos relacionados e a etimologia a qual
busca desvendar o significado de origem das palavras aqui centra-se o nosso objeto de estudo
que eacute descrever e analisar a origemetimologia dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua de Pires do
Rio-GO
Os meacutetodos linguiacutesticos podem ainda estudar as transformaccedilotildees linguiacutesticas
correlacionando-as ao contexto sociocultural o que tem contribuiacutedo grandemente para uma
renovaccedilatildeo das abordagens do fenocircmeno da mudanccedila linguiacutestica resultando em inuacutemeras outras
orientaccedilotildees teoacutericas que em certo sentido podem ser vistas como herdeiras dos primeiros
criacuteticos dos estudos comparativos
A linguiacutestica tem a liacutengua como seu principal objeto de estudo a qual eacute produto da
experiecircncia acumulada historicamente na cultura de uma sociedade A liacutengua eacute um fenocircmeno
social pois eacute produzida e determinada socialmente ademais eacute um importante siacutembolo da
identidade de um grupo E eacute no comportamento linguiacutestico de uma dada comunidade que se
reflete a busca de aprovaccedilatildeo social ou a acentuaccedilatildeo de diferenccedilas (COSERIU 1977) Eacute por
meio dela enfim que um indiviacuteduo adquire a cultura do lugar em que vive jaacute que
A funccedilatildeo baacutesica da Linguiacutestica eacute o estudo direto da lsquoliacutengua viva e faladarsquo por
observaccedilatildeo e anaacutelise objetiva de seus fenocircmenos postas de lado todas as
forccedilas e influecircncias que se manifestem muitas vezes atraveacutes dela e todos os
antecedentes que possam ter dado origem ao estado atual (MAURER JR
1967 p 30)
Observa-se na Linguiacutestica Geral de acordo com Maurer Jr (1967) a divisatildeo em dois
setores distintos poreacutem essenciais para compreensatildeo da linguagem a Linguiacutestica Descritiva
(sincrocircnica) que segundo o autor deve ser a base de todo estudo cientiacutefico porque eacute a partir
dela que aprendemos a linguagem em sua funccedilatildeo uacutenica e peculiar e a Linguiacutestica Histoacuterica
(diacrocircnica) que complementa e explica os fatos da primeira e tem uma funccedilatildeo importante no
estudo desse rico patrimocircnio cultural e humano a liacutengua
53
212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica
Para alguns estudiosos a linguiacutestica histoacuterica teve seu apogeu no seacuteculo XIX embora
outros afirmem que tenha ocorrido haacute tempos no Renascimento De acordo com Paixatildeo de
Sousa (2006 p 14)
[] a reflexatildeo linguiacutestica dos 1800 representa um marco divisor na histoacuteria
das histoacuterias do tempo e da linguagem por inaugurar uma concepccedilatildeo
inteiramente nova dos condicionantes dessa relaccedilatildeo e construir um novo
plano para sua anaacutelise Eacute antes de tudo na tentativa de se combinar a esfera
documental com a esfera experimental que aparecem os desdobramentos mais
interessantes dos estudos histoacutericos da liacutengua ao longo do seacuteculo XIX eles
buscaratildeo articular as duas esferas em um mesmo plano de anaacutelise construindo
a abordagem histoacuterico-comparada
Assim a linguiacutestica histoacuterica apoacutes o seacuteculo XIX cria um meacutetodo que permite
ldquocategorizar e justificar a identidade geneacutetica e a evoluccedilatildeo paralela de cada idioma em um grupo
aparentadordquo segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 16) O meacutetodo comparativo segundo Maurer
Jr (1967) busca comparar cuidadosamente formas apresentadas entre si de um grupo
distinguir a origem e estudar a diversificaccedilatildeo das liacutenguas para desvendar e recontar a histoacuteria
de cada liacutengua Ressalte-se que para Faraco (2006 p 125) esse meacutetodo teve sua estruturaccedilatildeo
ldquoao dar um tratamento sistemaacutetico agraves observadas semelhanccedilas entre liacutenguas distantes no espaccedilo
como o latim e o sacircnscritordquo E ainda
constitui um recurso inteligente e racional para a reconstruccedilatildeo de fatos que
dependem de testemunho em todo o terreno Tal como a Paleontologia a
Histoacuteria da Cultura e ateacute na investigaccedilatildeo do crime na Justiccedila esse meacutetodo
submete o testemunho a um estudo preliminar para avaliar seu isolamento sua
coerecircncia etc (MAURER JR 1967 p 31)
O meacutetodo comparativo se baseia na experimentaccedilatildeo (induccedilatildeo) procura descrever os
estaacutegios da liacutengua que natildeo deixaram registros (documentos) como eacute o caso do latim vulgar No
entanto se difere do histoacuterico-comparativo o qual usa documentos histoacutericos para fazer as suas
reconstruccedilotildees acerca da liacutengua Poreacutem ambos os meacutetodos buscam recuperar a histoacuteria da liacutengua
de forma cronoloacutegica
De acordo com Faraco (2006 p 134)
O meacutetodo comparativo eacute o procedimento central nos estudos de linguiacutestica
histoacuterica Eacute por meio dele que se estabelece o parentesco entre liacutenguas O
pressuposto de base eacute que entre elementos de liacutenguas aparentadas existem
54
correspondecircncias sistemaacuteticas (e natildeo apenas aleatoacuterias ou casuais) em termos
de estrutura gramatical correspondecircncias estas passiacuteveis de serem
estabelecidas por meio duma cuidadosa comparaccedilatildeo Com isso podemos natildeo
soacute explicitar o parentesco entre liacutenguas (isto eacute dizer se uma liacutengua pertence
ou natildeo a uma determinada famiacutelia) como tambeacutem determinar por inferecircncia
caracteriacutesticas da liacutengua ascendente comum de um certo conjunto de liacutenguas
No decorrer dos anos vaacuterios satildeo os estudiosos que contribuiacuteram com a formaccedilatildeo e o
aprimoramento do meacutetodo comparativo dentre eles destacamos Bopp (1791-1867) que
buscava estabelecer o parentesco entre as liacutenguas mas natildeo o percurso histoacuterico de um anterior
para um posterior Grimm (1785-1863) que ao estudar o ramo germacircnico das liacutenguas indo-
europeias pocircde estabelecer a sucessatildeo histoacuterica por meio de comparaccedilatildeo ndash comparativo
histoacuterico Rask (1787-1832) tambeacutem desenvolveu trabalhos comparativos importantes para o
momento envolvendo as liacutenguas noacuterdicas as demais liacutenguas germacircnicas o grego o latim o
lituano o eslavo e o armecircnio Foi a partir desses estudiosos que surgiu a ldquofilologia (ou
linguiacutestica) romacircnica nome que se deu ao estudo histoacuterico-comparativo das liacutenguas oriundas
do latimrdquo (FARACO 2006 p 137)
De tal modo da siacutentese que foi apresentada eacute possiacutevel tecer as seguintes consideraccedilotildees
o meacutetodo histoacuterico-comparativo em seu apogeu foi e ainda hoje eacute uacutetil aos estudos da Linguiacutestica
Histoacuterica principalmente no que concerne natildeo soacute agrave reconstruccedilatildeo de fases anteriores das liacutenguas
como tambeacutem eacute bastante indicado para estudos que objetivam a reconstruccedilatildeo interna de uma
liacutengua Esse meacutetodo cumpriu papel importante para o desvelamento de inuacutemeras questotildees
linguiacutesticas das liacutenguas antigas grego latim sacircnscrito
Jaacute os estudos dos neogramaacuteticos possibilitaram o aprimoramento do meacutetodo histoacuterico-
comparativo mediante a verificaccedilatildeo de que muitas mudanccedilas ocorridas nas liacutenguas em
momentos anteriores e registrados em documentos podem ser explicitadas por meio da
explanaccedilatildeo de mudanccedilas ldquosincrocircnicasrdquo sucedidas nas liacutenguas conforme as leis foneacuteticas e a
analogia
Conforme Cacircmara Jr (1975) Gaston Paris traccedilou mapas das linhas isogloacutessicas dando
os primeiros passos para a geografia linguiacutestica a qual na verdade foi efetivamente criada por
seu disciacutepulo suiacuteccedilo Jules Gillieacuteron que dedicou-se agrave dialetologia e no doutoramento em 1879
defendeu a tese sobre o dialeto de Vionnaz Essa nova teacutecnica ldquoteve como base teoacuterica o
conceito de dialeto como uma abstraccedilatildeo essa a razatildeo de focalizar cada mudanccedila linguiacutestica per
se como o verdadeiro dado linguiacutesticordquo (CAcircMARA JR 1975 p 121)
55
A geografia linguiacutestica10 segundo Cacircmara Jr (1975) eacute importante como uma nova
abordagem para o estudo histoacuterico-comparativo pois em vez de recorrer a textos antigos o
pesquisador busca apenas os aspectos contemporacircneos da liacutengua absorvendo as bases
linguiacutesticas no intercacircmbio oral Desta forma
Obteacutem-se uma corrente evolucionaacuteria pela comparaccedilatildeo das muitas variantes
de cada forma cuja distribuiccedilatildeo no espaccedilo pode ser traduzida numa
distribuiccedilatildeo atraveacutes do tempo de acordo com regras metodoloacutegicas O aspecto
foneacutetico da variante ou sua existecircncia num patois relativamente moderno ou
notaacutevel por traccedilos arcaicos constituem a chave para esta investigaccedilatildeo
histoacuterica Por essa razatildeo eacute que atraveacutes da geografia linguiacutestica uma nova
teacutecnica para o estudo histoacuterico da linguagem foi imaginada sob o tiacutetulo de
ldquoreconstruccedilatildeo internardquo (CAcircMARA JR 1975 p 125 grifos do autor)
Essa nova abordagem vem corroborar com os estudos da liacutengua porque de forma
efecircmera reconstroacutei a histoacuteria de uma dada liacutengua contribuindo com a contemporaneidade uma
vez que nos eacute necessaacuterio conhecer a base etimoloacutegica das palavras e depois justificar o seu uso
ou evoluccedilatildeo
Segundo Cacircmara Jr (1975) apoacutes observar que Gaston Paris traccedilou mapas das linhas
isogloacutessicas e Gillieacuterion criou a geografia linguiacutestica muitos anos depois os linguistas italianos
Giulio Bertoni e Matteo Bartoli criaram o meacutetodo de linguiacutestica areal cujo objetivo era
classificar aacutereas linguiacutesticas ndash de uma liacutengua ou grupo de liacutenguas ndash como forma de
representaccedilatildeo da contemporaneidade e do estaacutegio linguiacutestico de desenvolvimento Os
linguistas consoante Cacircmara Jr (1975 p 126) ldquodividiram um territoacuterio linguiacutestico em aacutereas
isoladas aacutereas laterais aacutereas principais e aacutereas desaparecidas (isto eacute aacutereas homogecircneas que
desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)rdquo e desta forma
difundiam mais um meacutetodo linguiacutestico
Destaca ainda que a linguiacutestica histoacuterica compreende dois momentos de exatidatildeo o
primeiro de 1786 a 1878 periacuteodo de formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do meacutetodo comparativo o qual
finalizou com o movimento dos neogramaacuteticos o segundo vai desde 1878 ateacute a
contemporaneidade periacuteodo de tensatildeo entre duas linhas interpretativas uma imanentista ndash
neogramaacutetico estruturalismo e gerativismo que vecirc a mudanccedila como acontecimento interno da
liacutengua e pela proacutepria liacutengua e a outra integrativa ndash primeiros criacuteticos neogramaacuteticos dialetologia
e sociolinguiacutestica cuja mudanccedila da liacutengua estaacute condicionada a fatores contextuais nos quais o
falante estaacute inserido
10 No Brasil a Geografia Linguiacutestica concretizou-se com a produccedilatildeo de Atlas Linguiacutesticos em diferentes Estados
brasileiros
56
Entre os seacuteculos XVIII e XIX ocorreram momentos de grande relevacircncia para a
linguiacutestica histoacuterica Um deles eacute a fundaccedilatildeo da Escola de Estudos Orientais em Paris
(importante centro de investigaccedilatildeo) no ano de 1975 onde estudaram os linguistas alematildees
Friedrich Schlegel (1772-1829) e Franz Bopp (1791-1867) os quais mais tarde desenvolveram
a chamada gramaacutetica comparativa
Assim em 1808 Friedrich Schlegel publicou um texto sobre a liacutengua e sabedoria dos
povos hindus que de acordo com Faraco (2006) eacute considerado o ponto de partida do
comparativismo alematildeo No texto o autor ratifica sobre o parentesco das liacutenguas sacircnscrita com
a latina grega germacircnica e persa
Cabe ainda salientar que os estudos histoacuterico-comparativos antes da uacuteltima metade do
seacuteculo XIX conheceram a obra de August Scheilcher (1821-1868) Sua teoria tomava a liacutengua
como um organismo vivo com existecircncia fora de seus falantes sendo sua histoacuteria vista como
natural devido agraves orientaccedilotildees naturalistas do linguista como sua formaccedilatildeo em botacircnica e
influenciado pela teoria evolucionista de Darwin (FARACO 2006)
Jaacute no seacuteculo XIX as investigaccedilotildees no campo da linguagem eram dominadas por ideias
positivistas que se desenvolviam conforme meacutetodos histoacuterico-comparativos eacutepoca em que se
formaliza o estudo sistemaacutetico das variaccedilotildees sobretudo as de natureza geograacutefica Surge o
interesse pelos dialetos considerados como fontes de conhecimento do modo como se teriam
operado as transformaccedilotildees em fases anteriores das liacutenguas A Geografia Linguiacutestica eacute uma
consequecircncia do interesse pelos estudos dialetais levados a cabo de iniacutecio por vaacuterios estudiosos
europeus Segundo Coseriu (1982) surge um meacutetodo dialetoloacutegico e comparativo que
pressupotildee o registro em mapas especiais de um nuacutemero relativamente elevado de formas
linguiacutesticas (focircnicas lexicais ou gramaticais) recolhidas mediante pesquisa direta e unitaacuteria
numa rede de pontos distribuiacuteda em determinado territoacuterio
Deste modo eacute necessaacuterio compreender que
A linguagem eacute inegavelmente uma heranccedila social cuja histoacuteria se estende
por seacuteculos Uma visatildeo completa um conhecimento detalhado de seu
mecanismo de sua estrutura de sua semacircntica e ateacute de sua ortografia soacute
podem ser obtidos atraveacutes da pesquisa diacrocircnica Os meacutetodos expostos
acima em suas linhas essenciais natildeo deixam duacutevida de que a filologia
romacircnica se desenvolveu com o meacutetodo histoacuterico-comparativo adotado com
mais ecircxito aqui do que no campo para o qual havia sido criado As possiacuteveis
deficiecircncias desse meacutetodo foram sendo corrigidas depois pela geografia
linguiacutestica e pelos outros meacutetodos derivados como a onomasiologia Woumlrter
und Sachen linguiacutestica espacial etc Enquanto o meacutetodo histoacuterico-
comparativo procura as ligaccedilotildees entre o ldquoterminus a quordquo e o ldquoterminus ad
quemrdquo o latim vulgar e as liacutenguas romacircnicas respectivamente os outros
57
meacutetodos tecircm como objeto especificamente o ldquoterminus ad quemrdquo pois
investigam sincronicamente aspectos atuais dessas mesmas liacutenguas cujas
explicaccedilotildees poreacutem devem ser buscadas diacronicamente (BASSETTO
2001 p 85 grifos do autor)
Para Faraco (2006 p 106) ldquooptar por uns ou por outros eacute que vai orientar nossa forma
de entender a mudanccedila linguiacutestica nossa seleccedilatildeo de dados nossas categorias e procedimentos
de anaacutelise nosso processo argumentativordquo Ou seja ao assumirmos uma concepccedilatildeo de base
correlata eacute o que iraacute definir o nosso meacutetodo de trabalho
22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia
Segundo Silva (2010) a onomasiologia eacute um meacutetodo que se constitui do estudo das
designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Pode ser
investigada toda a cultura popular de um local podendo-se priorizar os aspectos sincrocircnicos ou
histoacutericos Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores do que
subjaz agrave nomeaccedilatildeo dos lugares
Pode-se para efeito deste estudo traccedilar o esquema a seguir o qual demonstra as
possibilidades temaacuteticas que esse tipo de pesquisa pode apresentar
Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos
Onomaacutestica
Toponiacutemia Antroponiacutemia
Modalidades Coleta
Imagens mapas cartas e plantas
Documental Texto iacutendicesrepertoacuterio de nomes
Ficcional Natildeo ficcional
Pesquisa de campo Entrevistas etnografia
Mista Documental e Pesquisa de campo
Fonte Adaptado de material da USP ndash Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas 2016
58
A onomasiologia eacute o resultado das tendecircncias mais significativas da evoluccedilatildeo linguiacutestica
na transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX em que a centralidade das investigaccedilotildees passam
do som (foneacutetica) para a palavra (lexicologia) O seu triunfo se deu a partir do desenvolvimento
da Geografia Linguiacutestica pois com o aparecimento de inuacutemeros termos regionais recolhidos
pelos inqueacuteritos linguiacutesticos surgiu a necessidade de um novo meacutetodo que auxiliasse os
dialetoacutelogos a compreenderem o homem regional em sua amplitude por meio da linguagem
Apoacutes a publicaccedilatildeo dos atlas linguiacutesticos a onomasiologia comeccedila a ser utilizada em
vaacuterios estudos jaacute que pelo seu uso eacute possiacutevel caracterizar as atividades de uma regiatildeo e situaacute-
las no tempo Segundo Couto (2012 p 186) ldquoa onomasiologia vecirc a questatildeo da referecircncia para
usar um termo semioacutetico partindo da coisa e indo na direccedilatildeo do nome que ela receberdquo Desta
forma ldquoo meacutetodo onomasioloacutegico permite ver a cultura do povo cuja liacutengua se estuda
costumes ocupaccedilotildees instrumental crenccedilas e crendices moradia enfim sua mundividecircncia
Permite sentir a linguagem viva traduzindo a vivecircncia cultural do povordquo (BASSETO 2001 p
77)
Ressalta-se que
Com pontos em comum com a Geografia Linguiacutestica e ldquoPalavras e Coisasrdquo o
meacutetodo onomasioloacutegico tambeacutem conhecido como onomasiologia isto eacute o
estudo das denominaccedilotildees se propotildee investigar os vaacuterios nomes atribuiacutedos a
um objeto animal planta conceito etc individualmente ou em grupo dentro
de um ou vaacuterios domiacutenios linguiacutesticos Seus objetivos satildeo portanto
semacircnticos e lexicoloacutegicos buscando descobrir os aspectos vivos e as forccedilas
criadoras da linguagem (BASSETO 2001 p 76)
O meacutetodo onomasioloacutegico natildeo ficou a cargo apenas de um pesquisador mas de vaacuterios
pois seus princiacutepios se desenvolveram aos poucos Conforme Bassetto (2001) temos como
predecessores da onomasiologia moderna F Brinkmann (1872) Luigi Morandi (1883)
Friedrich Diez (1875) Fr Pott (1853) Jakob Grimm (1853) e F Miklosich (1868) Todavia o
princiacutepio da onomasiologia cientiacutefica deu-se com Carlo Salvioni (1858-1920) quando estudou
sobre as denominaccedilotildees italianas do vaga-lume (1892) e com Ernest Toppolet (1870-1939) que
referendou em seus estudos o parentesco dos nomes romacircnicos por ele denominados de
ldquolexicologia cientiacuteficardquo
As pesquisas desenvolvidas na aacuterea da onomaacutestica se constituem em uma linha
documental ou de campo seguindo um meacutetodo pelo qual se selecionam observam registram
classificam analisam e interpretam os dados de acordo com a identificaccedilatildeo dos fatores
59
determinantes agrave configuraccedilatildeo dos corpora Essas anaacutelises de dados satildeo baseadas em trecircs
categorias linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica que satildeo reveladas pelo meacutetodo onomasioloacutegico
Segundo Ramos e Bastos (2010) as trecircs perspectivas ndash linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica
ndash satildeo cruciais para revelar as seguintes caracteriacutesticas a) a determinaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica das
diferentes liacutenguas que tenham existido ou existentes num determinado territoacuterio b) o estudo
das terminaccedilotildees caracteriacutesticas de cada palavra c) o estudo das formas gramaticais d) o estudo
da foneacutetica histoacuterica e) a verificaccedilatildeo das formas documentadas as quais se subdividem em ndash
comparaccedilatildeo semacircntica a abordagem dos dados geograacuteficos e a abordagem dos dados histoacutericos
Cabe ainda indicar em linhas gerais algumas concepccedilotildees do meacutetodo Woumlrter und
Sachen de Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) o qual conforme
Bassetto (2001) tem pontos em comum que compartilha com o meacutetodo onomasioloacutegico Visa
ao estudo das questotildees semacircnticas das palavras enfatizando a realidade que elas designam
porque para os estudiosos dessa linha de pensamento a verdadeira etimologia da palavra
encontra-se no conhecimento dessa realidade Procura instruir sobre a necessidade de conhecer
sempre que possiacutevel o objeto designado por um termo para que o significado possa ser
devidamente explicitado Quando se conhece a realidade a natureza a forma o uso as medidas
das coisas do mundo eacute possiacutevel estabelecer a origem e a histoacuteria das palavras com que esses
mesmos objetos foram designados
Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) foram precursores desse
meacutetodo ao considerarem que as coisas existem antes de serem denominadas ou seja as coisas
preexistem agraves suas designaccedilotildees podendo ateacute existir sem que sejam nomeadas Em
contrapartida as palavras dependem das ldquocoisasrdquo estatildeo ligadas a elas Com essa perspectiva
Schuchardt (mais do que Meringer) remete ao meacutetodo Woumlrter und Sachen ldquoPalavras e Coisasrdquo
cujo tiacutetulo instituiu o nome do meacutetodo
No entanto conveacutem salientar que jaacute na gramaacutetica grega estava impliacutecita a ideia de que
as coisas precedem as palavras Em outros termos quando se conhece em profundidade a
ldquocoisardquo chega-se ao ldquoeacutetimordquo da palavra que a nomeia alcanccedila-se o significado com que a coisa
foi primeiramente designada Menciona-se que para Schuchardt (apud BASSETO 2013)
Sachen (coisa) significava qualquer realidade i eacute ldquoSachenrdquo podia se referir tanto a
acontecimentos e estados como a objetos ao real e ao irreal ao tangiacutevel11 e ao intangiacutevel ou
em outras palavras tanto a coisas do mundo sensiacutevel como do insensiacutevel
11 ldquoTangiacutevelrdquo do latim tangere tangens lsquotocar aquilo que tocarsquo do mesmo eacutetimo de attingere lsquoaproximar-se e
tocarrsquo
60
O meacutetodo Woumlrter und Sachen (Palavras e Coisas) segundo Campbell (2004) relaciona-
se agraves inferecircncias histoacuterico-culturais que podem ser reveladas por meio da investigaccedilatildeo das
palavras pautadas na sua analisabilidade Campbell (2004) assume que as palavras que satildeo
analisadas em partes transparentes (vaacuterios morfemas) podem ser de criaccedilatildeo mais recente (na
liacutengua) em relaccedilatildeo agraves palavras que natildeo apresentam essa transparecircncia morfecircmica
Essa teacutecnica contribui sobremaneira para traccedilar uma cronologia aproximativa dos
vocabulaacuterios Dias (2016 p31) acentua que
Sobretudo supotildee-se que itens culturais denominados por termos analisaacuteveis
satildeo tambeacutem adquiridos mais recentemente pelos falantes e aqueles que satildeo
expressos por palavras natildeo analisaacuteveis representam itens mais velhos e
instituiccedilotildees Outra estrateacutegia desse meacutetodo envolve fazer inferecircncias por meio
de informaccedilotildees de itens culturais de quem os nomes sofreram visivelmente
mudanccedila de significado
E para Crowly (2003) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo pode ser usado para fazer
reconstruccedilatildeo cultural e chegar ao conteuacutedo de uma protocultura por exemplo jaacute que se eacute
possiacutevel reconstruir uma palavra designativa de alguma coisa na protoliacutengua eacute possiacutevel tambeacutem
supor que a coisa a que ela se refere provavelmente foi de importacircncia cultural na vida dos
seus falantes ou que foi ambientalmente marcante Segundo o autor o meacutetodo pode tambeacutem
dizer muito sobre a terra natal de uma famiacutelia linguiacutestica pode-se ainda por meio do referido
meacutetodo fazer suposiccedilotildees sobre as rotas legiacutetimas seguidas pelos povos para se chegar aos
lugares onde se encontram atualmente12
Destarte segundo Bassetto (2013) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo deu destaque agrave
semacircntica ao estabelecer a etimologia e ateacute a biografia das palavras aleacutem de tornar os estudos
filoloacutegicos mais objetivos Posto isso eacute possiacutevel verificar que o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo
pode ser usado nos estudos semacircnticos lexicais onomaacutesticos toponiacutemicos Quando se busca
relacionar a histoacuteria do nome com a histoacuteria do lugar vincula-se a palavra (o nome) agrave coisa (o
lugar) Nesse sentido pode-se de alguma maneira realizar o estudo natildeo apenas pautado no
meacutetodo onomasioloacutegico mas tambeacutem considerando as intrincadas relaccedilotildees entre nomes e as
coisas do mundo
Cabe ressaltar
Assim como procedimento metodoloacutegico seguido nos estudos
toponomaacutesticos buscamos definir o jaacute definido ou seja o objeto de estudo da
disciplina o seu campo de trabalho especiacuteficos a natureza linguiacutestica da
12 Por exemplo os caminhos que levaram (trouxeram) os bandeirantes agraves terras do iacutendio goyaacute
61
anaacutelise em termos de vinculaccedilatildeo a uma aacuterea do conhecimento Partindo-se da
definiccedilatildeo etimoloacutegica dos elementos gramaticais de origem grega enunciados
por Dioniacutesio de Traacutecia no seacuteculo II a C a Toponiacutemia ficou-se como propocircs
Leite de Vasconcelos (1887) no entendimento dos nomes proacuteprios de lugares
distintos dos nomes comuns delimitados pela teoria da linguagem (DICK
2006 p 96)
A toponomaacutestica entatildeo fundamenta-se nos estudos dos nomes proacuteprios de lugares
estabelecendo relaccedilotildees da liacutengua com o ambiente sendo de extrema necessidade observar os
viacutenculos do nomeador com a coisa nomeada a motivaccedilatildeo que subjaz ao topocircnimo
O meacutetodo da Geografia Linguiacutestica com a concepccedilatildeo basilar de que a distribuiccedilatildeo
geograacutefica dos aglomerados populacionais se reflete na diferenciaccedilatildeo linguiacutestica trouxe grande
contribuiccedilatildeo para o estudo dos nomes em geral pois pode refletir tendecircncias que orientaram o
ato de nomeaccedilatildeo tanto de pessoas como de lugares
Sobre o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo cabe apenas repetir que por enfatizar o aspecto
semacircntico das palavras vinculado agrave realidade que elas denominam contribui com o estudo dos
nomes jaacute que parte do princiacutepio de que as palavras se acham ligadas agraves coisas que elas
designam Uma vez conhecendo a natureza das coisas chega-se na verdadeira etimologia da
palavra contribuiccedilatildeo essa que valoriza a cultura e a histoacuteria das comunidades vendo no ser
humano o sujeito das transformaccedilotildees que ocorrem nas liacutenguas e na cultura
Posto isso considera-se mais uma vez que a onomasiologia busca investigar como uma
noccedilatildeo ou conceito eacute nomeado na liacutengua tendo sempre em mente que quem daacute nome agraves coisas
satildeo os falantes e o fazem em decorrecircncia da cosmovisatildeo de seu grupo O meacutetodo
onomasioloacutegico permite que a cultura do povo pesquisado seja revelada
Entretanto a despeito das contribuiccedilotildees que cada um trouxe para os estudos linguiacutesticos
nenhum desses meacutetodos foi suficiente teoricamente para deslindar os inuacutemeros aspectos que
permeiam o ato de nomeaccedilatildeo o que implica dizer que o mais sensato eacute combinar o que cada
meacutetodo apresenta de mais satisfatoacuterio referentemente ao problema que se pretende resolver o
que requer tambeacutem adaptaccedilotildees e revisotildees constantes de um ou de outro ou ainda da combinaccedilatildeo
deles
Considera-se entatildeo
os aspectos pelos quais entendemos a disciplina como conhecimento
cientiacutefico saber construiacutedo como objeto campo de trabalho e pesquisa
demarcados apesar disto manteacutem-se em intersecccedilatildeo a outros campos sem
perder sua identidade A metodologia que emprega em seus levantamentos eacute
de origem indutivo-dedutiva de acordo com os procedimentos
62
onomasioloacutegico-semasioloacutegicos caracteriacutesticos da pesquisa do leacutexico (DICK
2006 p 98)
E no que tange agrave metodologia aos procedimentos de pesquisa propriamente ditos
segundo Dick (1996) que podem ser aplicados nos estudos toponiacutemicos devem se estabelecer
da seguinte forma a) seleccedilatildeo de fontes primaacuterias (cartas geograacuteficas editadas por oacutergatildeos oficiais
estaduais e municipais em escalas de 150000 ou 1100000 ou listas toponiacutemicas oficiais) e
complementaccedilatildeo a partir de fontes secundaacuterias (trabalhos historiograacuteficos da proacutepria
comunidade acerca do local onde vivem) b) registro dos dados em fichas lexicograacuteficas
padronizadas com a identificaccedilatildeo dos nomes do pesquisador e do revisor fontes e data de
coleta c) anaacutelise de dados que inclui a quantificaccedilatildeo dos nomes e das taxonomias analisando
a maior ou menor frequecircncia de classes ou itens lexicais e do estudo dos nomes a partir de um
enfoque puramente linguiacutestico (etimoloacutegico e estrutural) linguiacutestico-histoacuterico e variacionista
Desta forma a metodologia para este trabalho baseia-se em Dick (1996 2006) e por
conseguinte estabelece relaccedilotildees com as demais pesquisas na aacuterea da toponomaacutestica De acordo
com a autora ldquoTrata-se de modelo semacircntico-motivador das ocorrecircncias toponomaacutesticas que
conformam a realidade designativa da nomenclatura geograacutefica oficial do paiacutesrdquo (Dick 2006 p
104) As taxionomias satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise linguiacutestica do topocircnimo e hoje
se dividem em vinte sete taxes pela importacircncia na ldquoanaacutelise linguiacutestica ou casual dos motivos
determinantes das designaccedilotildees integram as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas em um campo
funcional especiacuteficordquo (Dick 2006 p 106) E a partir destas fichas busca-se a identificaccedilatildeo do
topocircnimo e computar as categorizaccedilotildees motivadoras do designativo
A metodologia de pesquisa aqui proposta se caracteriza por ser de natureza documental
(documentos analoacutegicos eou digitais como as cartas topograacuteficas e levantamento histoacuterico
geograacutefico por meio do Instituto Mauro Borges IBGE e de mapas do municiacutepio de Pires do
Rio-GO) e de abordagem qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a
constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos
puacuteblicos e no levantamento histoacuterico-geograacutefico Os procedimentos consistem na
sistematizaccedilatildeo de leituras documentais e de investigaccedilatildeo de campo o que os vincula agrave induccedilatildeo
e seguem os meacutetodos etnolinguiacutesticos
O percurso apresentado por Dick (1990) isto eacute pautado na induccedilatildeo desenvolveu-se por
meio do plano onomasioloacutegico de investigaccedilatildeo em que a partir de um conceito geneacuterico se
identificam as variaacuteveis possiacuteveis das fontes consultadas Nos registros municipais constam os
63
nomes atuais e os nomes anteriores (quando houve mudanccedilas) dos lugares de toda regiatildeo
municipal Estes e os mapas constituem as fontes primaacuterias desta pesquisa pois
O percurso do fazer onomasioloacutegico e o percurso da produccedilatildeo de significaccedilatildeo
se inserem em direccedilotildees diferentes o fazer interpretativo perfaz um processo
semasioloacutegico por outro lado o fazer onomasioloacutegico eacute uma unidade
conceitual enquanto a definiccedilatildeo eacute o percurso do fazer lexicograacutefico
Entretanto ao conceituar eacute necessaacuterio construir um modelo mental que em
primeira instacircncia corresponda a um recorte cultural para a escolha da
estrutura lexical que melhor pode manifestar a percepccedilatildeo bioloacutegica do fato
que se completa ao analisar e descrever o semema linguiacutestico para reconstruir
esse modelo mental a partir de uma estrutura linguiacutestica manifestada
Ressalta-se o caraacuteter pluridisciplinar do signo toponiacutemico jaacute que por meio
dele pode-se conhecer a histoacuteria dos grupos humanos que viveram (e vivem)
nos limites geograacuteficos de Goiaacutes as especificidades da cultura e do ambiente
do povo o denominador as relaccedilotildees estabelecidas entre os aglomerados
humanos e o ecossistema as caracteriacutesticas fiacutesico geograacuteficas da regiatildeo
(geomorfologia) estratos linguiacutesticos de origem diferente do uso hodierno da
liacutengua ou mesmo de liacutenguas jaacute desaparecidas para se conhecer as motivaccedilotildees
subjacentes aos respectivos topocircnimos (SIQUEIRA 2015 mimeografado)
Para este estudo utilizaram-se inicialmente as Folhas Topograacuteficas editadas pela DSG
(Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito) na escala de 1100 000 Folhas Pires do Rio
SE-22-X-D-III Ipameri SE-22-X-D-VI e Cristianoacutepolis SE-22-X-D-II de 1973 para
identificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio juntamente com o mapa da rede hidrograacutefica do
municiacutepio de Pires do Rio-GO pois satildeo ldquoinstrumentos metodoloacutegicos haacutebeis para o estudo
onomaacutestico a documentaccedilatildeo cartograacutefica referida e a arquivologia que se posicionam como fontes
idocircneas para o estabelecimento das etapas relativas agrave desconstruccedilatildeo e agrave recriaccedilatildeo dos proacuteprios dadosrdquo
(DICK 1999 p 11)
O uso de mapas torna o trabalho relevante jaacute que eles satildeo elementos de comunicaccedilatildeo
visual os quais pertencem agrave linguagem Eles contemplam ainda a aacuterea tecnoloacutegica pois a sua
construccedilatildeo se daacute por meio da utilizaccedilatildeo de equipamentos programas e sites os quais tambeacutem
satildeo utilizados por noacutes para cartografar mapas juntamente com as taxes dos topocircnimos dos
cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO assim
Tomar o mapa como corpus permite tomar tambeacutem a questatildeo da relaccedilatildeo dos
nomes no seu conjunto e sua distribuiccedilatildeo no espaccedilo urbano Pode-se entatildeo
refletir como algo proacuteprio do corpus em anaacutelise sobre a questatildeo da nomeaccedilatildeo
dos espaccedilos da cidade bem como o modo de distribuiccedilatildeo dos nomes pelos
espaccedilos historicamente constituiacutedos (GUIMARAtildeES 2005 p 43)
Tradicionalmente entendidos como uma representaccedilatildeo simboacutelica dos contornos de uma
paisagem fiacutesica ou urbana os mapas se caracterizam por permitirem dois planos de
64
interpretaccedilatildeo o ldquoverbalrdquo expresso nos nomes dos elementos e o ldquonatildeo-verbalrdquo caracterizado
por siacutembolos convencionais distintos segundo a natureza do elemento mapeado (cursos drsquoaacutegua
caminhos serras rodovias estradas vicinais ferrovias vilas povoados cidades)
A propoacutesito
Se o meacutetodo empregado na Toponiacutemia como dissemos eacute aquele da
investigaccedilatildeo do pormenor toacutepico-nominal apreendido no registro das cartas
geograacuteficas (base documental) ou como variaccedilatildeo no exame do terreno ou do
objeto pelo proacuteprio pesquisador o material resultante na maioria das vezes
eacute de origem descontiacutenua e fragmentaacuteria A sequecircncia loacutegica dos termos areais
deve ser buscada o que exige cuidados de intepretaccedilatildeo e reflexatildeo para que
todo esse organismo construiacutedo coletiva ou individualmente em momentos
histoacutericos distintos venha a se construir em material de anaacutelise vaacutelido do
ponto de vista linguiacutestico (DICK 2006 p 99-100)
Desta forma dos 46 (quarenta e seis) topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de
Pires do Rio-GO (coacuterregos ribeirotildees rios e quedas drsquoaacutegua) por noacutes elencados na pesquisa
apenas 15 topocircnimos ndash por razotildees especiacuteficas que seratildeo relatadas no quarto capiacutetulo ndash seratildeo
catalogados em fichas conforme modelo desenvolvido por Dick (2004) Posteriormente
realizaremos as anaacutelises morfoloacutegicas e a classificaccedilatildeo semacircntico-motivacional e toponiacutemica
propriamente dita
O preenchimento das fichas lexicograacuteficas ndash que identificam o elemento designado as
entradas lexicais o pesquisador o revisor e as fontes da coleta ndash eacute a etapa inicial de um conjunto
de fases posteriores que integram o projeto
As etapas da pesquisa foram dividas da seguinte forma a) levantamento dos dados para
construir o corpus e a aquisiccedilatildeo das cartas Topograacuteficas do municiacutepio de Pires do Rio-GO b)
levantamento dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua registrados nas folhas topograacuteficas c) anaacutelise
e reconhecimento dos aspectos ambientais culturais dos designativos nos diferentes topocircnimos
observados e posteriormente cartografados d) investigaccedilatildeo dos provaacuteveis fatores
motivacionais inerentes aos sintagmas toponiacutemicos e) classificaccedilatildeo das taxionomias a partir do
recorte epistemoloacutegico dos dados coletados f) distribuiccedilatildeo quantitativa dos topocircnimos de
acordo com a natureza toponiacutemica (fiacutesica ou antropocultural) g) estudo linguiacutestico dos
sintagmas toponiacutemicos ndash origemetimologia estruturas semacircntica e morfoloacutegica
Por meio da categorizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico
histoacuterico-criacutetico que foi o norte de nossa pesquisa de certa forma revela-se que o topocircnimo foi
determinado pela populaccedilatildeo anterior ou pela presenccedila de imigrados no local o que faz-nos
perceber que as palavras natildeo apenas comunicam o que se quer dizer mas acusam a Histoacuteria
daquilo que foi dito por necessidades dinacircmicas das pessoas repassadas pela tradiccedilatildeo cultural
65
O proacuteximo capiacutetulo apresenta em linhas gerais um pouco da histoacuteria desse lugar que
abriga 46 cursos drsquoaacutegua e inclusive teve seu primeiro nome devido agrave exuberacircncia do reflexo da
lua cheia nas aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute A ldquoTeteia do Corumbaacuterdquo de antes deu lugar ao
municiacutepio nascido dos caminhos abertos pelos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz laacute pelos idos
de 1922
66
III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO
A cidade eacute por si mesma depositaacuteria de
histoacuteria
(ROSSI 1998)
Este capiacutetulo traz uma apresentaccedilatildeo dos dados histoacutericos referentes agrave fundaccedilatildeo e ao
posterior desenvolvimento social e urbano do municiacutepio de Pires do Rio-GO criado em
decorrecircncia da expansatildeo da Estrada de Ferro Goyaz pelo cerrado goiano As informaccedilotildees aqui
revisitadas integram obras de estudiosos como Siqueira (2006) Ferreira (1999) Borges
(1990) Soares (1988) que se detiveram por alguma razatildeo no esclarecimento de controveacutersia
acerca principalmente do verdadeiro fundador do municiacutepio e de fatos que antecederam a
inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo feacuterrea no ano de 1922
31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte
No iniacutecio do seacuteculo XX a Estrada de Ferro Goyaz avanccedilou sobre o territoacuterio de Goiaacutes
e com isso comeccedilaram a surgir vilas arraiais e distritos que com o progresso e passar dos
anos se elevariam a cidades A entatildeo chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no interior do
estado mais precisamente na regiatildeo Sudeste Goiana fez com que no ano de 1922 surgisse a
Estaccedilatildeo Pires do Rio e que se elevaria tatildeo logo a cidade
A estrada de ferro traria progresso agraves cidades e ao estado No entanto de acordo com
Borges (1990) alguns coroneacuteis adversos a qualquer tipo de mudanccedila de caraacuteter progressista
natildeo aceitavam a instalaccedilatildeo da estrada de ferro pois ela representaria uma forccedila nova de
transformaccedilatildeo que poderia ameaccedilar o poder constituiacutedo dos coroneacuteis Mas na formaccedilatildeo de
Pires do Rio-GO a chegada da Estrada de Ferro Goyaz foi aceita pelo coronel Lino Teixeira de
Sampaio e inclusive foi doado o terreno para a construccedilatildeo de uma estaccedilatildeo feacuterrea
Vale ressaltar que
a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro de Goiaacutes resultou primeiro do empenho
poliacutetico de uma fraccedilatildeo da classe dominante ligada a novos grupos oligaacuterquicos
que despontavam como forccedila poliacutetica no Estado a qual contou com apoio do
capital financeiro internacional Em segundo lugar como a ferrovia servia
inteiramente aos interesses da economia capitalista ou seja agrave nova ordem
econocircmica com expansatildeo no Paiacutes este fator direta ou indiretamente
67
pressionaria o Governo Federal a apoiar a construccedilatildeo da linha (BORGES
1990 p 55-56)
O avanccedilo da estrada de ferro na regiatildeo Sudeste do estado de Goiaacutes foi fundamental para
o surgimento da cidade de Pires do Rio-GO Ambas as histoacuterias se entrecruzam e revelam
acontecimentos que corroboraram com a construccedilatildeo de uma cidade promissora Para
(re)escrever esta histoacuteria eacute fundante mostrar a ficha lexicograacutefica-toponiacutemica jaacute que o objeto
desta pesquisa satildeo os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua pertencentes a cidade de Pires do Rio-GO
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 01
Topocircnimo Pires do Rio Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Antropocircnimo
Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Pires + do Rio ndash sobrenome)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Cidade sede do distrito do municiacutepio do termo e comarca de
igual nome Na regiatildeo oriental do municiacutepio entre o ribeiratildeo Sampaio e o Monteiro afluentes
do rio Corumbaacute com estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goiaacutes
Fonte Siqueira (2012) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Como jaacute observando no capiacutetulo I os estudos toponiacutemicos revelam fatores soacutecio-
histoacuterico-culturais de uma dada comunidade e Pires do Rio-GO nos revela isso de forma
peculiar como podemos observar na ficha acima a caracterizaccedilatildeo do topocircnimo em que a
taxionomia eacute de natureza antropocultural antropotopocircnimo relativo a nomes proacuteprios e de
famiacutelia (sobrenome do ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas Dr Joseacute Pires do Rio) A base
etimoloacutegica eacute antropocircnimo a estrutura morfoloacutegica eacute de nome composto e as informaccedilotildees
enciclopeacutedias vecircm ratificar informaccedilotildees jaacute expressas na ficha Essas informaccedilotildees nos satildeo
precisas e no decorrer (re)editaremos partes relevantes da histoacuteria desta cidade
Observar o surgimento do municiacutepio de Pires do Rio eacute reviver a construccedilatildeo da linha
feacuterrea na regiatildeo Sudeste e para tal ato buscamos em algumas literaturas reconstruir em partes
a histoacuteria da cidade de Pires do Rio-GO que carinhosamente foi apelidada de ldquoTeteia do
68
Corumbaacuterdquo devido ao reluzir sobre as aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute a exuberacircncia da lua
cheia
Na histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade haacute controveacutersias pois alguns dizem ter sido o Coronel
Lino Teixeira de Sampaio o fundador mas Wilson Cavalcanti Nogueira filho do Sr Manoel
Cavalcanti Nogueira o primeiro Intendente da cidade em seus estudos revela que o fundador
de Pires do Rio foi o Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida diretor da Estrada de Ferro Goyaz
Nos estudos de Jacy Siqueira (2006) piresino historiador cujo livro Um contrato
singular e outros ensaios de histoacuteria de Goiaacutes descreve a origem da cidade de Pires do Rio
com base em documentos oficiais o autor citado presume a veracidade dos fatos que
contribuem para exposiccedilatildeo histoacuterica deste capiacutetulo jaacute que ldquoo tempo eacute agente terriacutevel a tudo
colhe separa peneira depura e evidencia ndash verdade ou mentira ndash com a forccedila e a violecircncia
decorrentes do pesado braccedilo da Histoacuteria de quem eacute o servidor fiel e mestre implacaacutevelrdquo
(SIQUEIRA 2006 p 65)
Em relaccedilatildeo aos fatos que marcam o iniacutecio da fundaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidade de Pires
do Rio os historiadores remetem a inuacutemeras controveacutersias sobre a fundaccedilatildeo e os reais
fundadores e tambeacutem sobre a existecircncia de um povoado que competia com o Roncador em
1921 que mais tarde nos arquivos seria o Bairro do Fogo hoje Santa Ceciacutelia O local Rua do
Fogo eacute toda a parte situada do outro lado da linha feacuterrea
Rua do Fogo na descriccedilatildeo de Nogueira se formou pela atraccedilatildeo de pessoas de
diversas regiotildees com o intuito de negociar e prestar serviccedilos diversificados
aos operaacuterios da Estrada eram lavadeiras curandeiro sapateiro padeiro
professor primaacuterio fotoacutegrafo meretrizes e aventureiros Configurando um
povoamento tiacutepico do pioneirismo cada dia mais pessoas chegavam
predominantemente aventureiros muitos deles ateacute mesmo com passado
criminal As casas sendo erguidas raacutepidas e improvisadamente perfilaram-se
em ambos lados ao longo de uma rua irregular que era cenaacuterio de constantes
desordens e violecircncias ganhando por isso o nome de Rua do Fogo A
constante chegada de pessoas levou o povoado a competir em dimensatildeo com
a vizinha Roncador jaacute em 1921 (FERREIRA 1999 p 100)
O Porto do Roncador em 24 de agosto de 1921 recebe a visita do Ministro da Viaccedilatildeo
e Obras Puacuteblicas Engenheiro Sr Joseacute Pires do Rio que na qualidade anterior de Inspetor Geral
das Estradas de Ferro havia se posicionado contraacuterio ao prolongamento da ferrovia no Estado
de Goiaacutes Na ocasiatildeo ficou resolvido que a ponte sobre o rio Corumbaacute deveria se chamar Ponte
Pires do Rio e a primeira estaccedilatildeo a seguir Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio Pessoa mas ocorreu o
contraacuterio Essa informaccedilatildeo foi publicada inclusive nos meios de comunicaccedilatildeo da eacutepoca
69
A Informaccedilatildeo Goyana revista fundada por Henrique Silva que se edita no
Rio de Janeiro na sua ediccedilatildeo de agosto de 1921 (Ano V Vol V n ordm 1 p 1)
traz a reportagem ldquoO Ministro de Viaccedilatildeo Visita o Estado de Goiaacutesrdquo Destaca-
se dela
Tem-se resolvido que a primeira estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz aleacutem
Roncador se denomine ndash Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio
A ponte do Corumbaacute segundo solicitaccedilatildeo dos que tomaram parte na recepccedilatildeo
do Sr ministro da Viaccedilatildeo seraacute denominada ndash Ponte Pires do Rio (SIQUEIRA
2006 p 44 grifos do autor)
As obras estavam a todo vapor e enquanto aguardavam a conclusatildeo da ponte sobre o
rio Corumbaacute os serviccedilos de movimentaccedilatildeo de terra eram feitos aleacutem da outra margem do rio
tendo jaacute avanccedilado ateacute Tavares quilocircmetro 303 da ferrovia distante 84 quilocircmetros de
Roncador O local da estaccedilatildeo de Pires do Rio situa-se no quilocircmetro 218 pouco distante do rio
na Comarca de Santa Cruz em terras da Fazenda do Brejo ou do Sampaio de propriedade do
fazendeiro local coronel Lino Teixeira de Sampaio
No dia 13 de julho de 1922 no momento de inauguraccedilatildeo da ponte metaacutelica construiacuteda
sobre o rio Corumbaacute fez-se a inversatildeo do que o Senhor Ministro havia solicitado pois ela
recebeu o nome do presidente da repuacuteblica (Epitaacutecio Pessoa) troca esta feita pelo diretor da
Estrada de Ferro Goyaz o engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida
A execuccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa significou a integraccedilatildeo das demais regiotildees goianas
no desenvolvimento econocircmico uma vez que o rio Corumbaacute representava uma onerosa barreira
econocircmica para a produccedilatildeo dessas regiotildees Pires do Rio primeira estaccedilatildeo na outra margem do
Corumbaacute prometia ser um entreposto regional devido agrave sua possiacutevel ligaccedilatildeo por terra com
antigos e promissores municiacutepios isolados pelo rio e que natildeo foram contemplados com a
ferrovia Santa Cruz de Goiaacutes Bela Vista Piracanjuba Caldas Novas e Morrinhos O que veio
concretizar essa possibilidade foi a disposiccedilatildeo do coronel Lino Teixeira de Sampaio em doar
terras agrave Estrada de Ferro Goyaz para juntamente com a estaccedilatildeo fundar no local uma cidade
Nesse aspecto seu empenho foi aacutegil e eficiente dois planos urbanos que vieram garantir para
os pioneiros a certeza da existecircncia de uma cidade no local (FERREIRA 1999)
Nas bases da histoacuteria da rede feacuterrea segundo Ferreira (1999) quando da inauguraccedilatildeo
da estaccedilatildeo Pires do Rio foi tambeacutem decretada a fundaccedilatildeo da cidade registrada em obelisco
erguido no largo de frente agrave estaccedilatildeo hoje a praccedila do mercado municipal considerando-se como
fundador o engenheiro da ferrovia Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida e designando a cidade
pelo nome (uma homenagem) do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas engenheiro Joseacute
Pires do Rio
70
Houve tambeacutem a intenccedilatildeo por parte do Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida em deixar a
estaccedilatildeo de Pires do Rio como ponta de linha para que se desenvolvesse rapidamente Finda a
raacutepida inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo seguiu tambeacutem o engenheiro no ldquotrem Inauguralrdquo rumo a
Tapiocanga ndash a proacutexima estaccedilatildeo depois de Pires do Rio ndash para inaugurar sua estaccedilatildeo
improvisada em um simples vagatildeo pois era um local onde natildeo havia nenhuma edificaccedilatildeo
passando mesmo assim a ser a ponta de linha
No dia 9 de novembro de 1922 eacute inaugurado o obelisco a cerca de 50 metros da estaccedilatildeo
ferroviaacuteria jaacute edificada considerada a pedra fundamental da cidade de Pires do Rio Encontra-
se grafado no monumento em alto-relevo que o Engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida na
eacutepoca diretor da Estrada de Ferro de Goyaz era o fundador da cidade de Pires do Rio uma
ldquofraserdquo que tem gerado algumas controveacutersias acerca do verdadeiro fundador da cidade
(SIQUEIRA 2006)
Enquanto alguns escritores piresinos e familiares alimentam a disputa ideoloacutegica no
niacutevel da influecircncia poliacutetica do coronel Lino Teixeira de Sampaio corroborada pela doaccedilatildeo de
um terreno para a construccedilatildeo da cidade outros tecircm se debruccedilado sobre as criacuteticas advindas do
meio acadecircmico local uma vez que o aniversaacuterio da cidade natildeo coincide com a data da escritura
de doaccedilatildeo das terras 05 de julho de 1922 mas com a data oficial inscrita na pedra fundacional
feita pelo Diretor da Estrada de Ferro Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida 09 de novembro de
1922
Siqueira (2006) eacute um dos estudiosos que argumentam a favor da tese de que o fundador
da cidade eacute o coronel Lino Teixeira de Sampaio Desta forma para corroborar o ato de doaccedilatildeo
da gleba de terra Siqueira (2006) recorreu aos livros de registros do Cartoacuterio de Imoacuteveis da
Comarca de Santa Cruz de Goiaacutes onde se encontra a escritura puacuteblica lavrada no dia 5 de julho
de 1922 pois na eacutepoca as terras pertenciam a este referido municiacutepio a qual nos informa que
por eles [Lino e Rozalina] foi dito que de suas livres e espontacircneas vontades
e sem coaccedilatildeo alguma doam agrave Estrada de Ferro de Goyaz com (4) alqueires
de terreno de campo divididos e demarcados nesta fazenda do ldquoBrejordquo
conforme consta na planta confeccionada pela dita Estrada de Ferro e bem
assim a aacutegua necessaacuteria ao abastecimento da Estaccedilatildeo jaacute edificada dentro destes
quatros alqueires Declaram mais os doadores que fazem a doaccedilatildeo dos
referidos terrenos agrave Estrada de Ferro de Goyaz sem que a mesma Estrada tenha
obrigaccedilatildeo de espeacutecie alguma cabendo-lhe apenas Dividir o terreno doado em
pequenos lotes para que seja dado iniacutecio agrave edificaccedilatildeo de uma pequena Cidade
excluindo o referido a faixa necessaacuteria agrave Estaccedilatildeo arrendar os lotes e aplicar
as rendas em melhoramentos da futura Cidade e edificaccedilatildeo de um Grupo
Escolar natildeo admitir seja construiacutedo preacutedio algum sem que seja previamente
aprovada pela diretoria da Estrada a respectiva planta (SIQUEIRA 2006 p
29)
71
Entretanto os fatos histoacutericos remetem agrave data de 09 de novembro como sendo de
fundaccedilatildeo da cidade jaacute que essa data se justifica pela inauguraccedilatildeo (documentada) da estaccedilatildeo
ferroviaacuteria Pires do Rio embora para Siqueira (2006) a data de fundaccedilatildeo da cidade seja o dia
05 de julho de 1922 data que coincide com a da escritura puacuteblica de doaccedilatildeo das terras agrave Estrada
de Ferro Goyaz
Siqueira (2006) ainda acrescenta as suas consideraccedilotildees acerca do fato de que o coronel
Lino Teixeira de Sampaio aleacutem de doar os quatro alqueires de terra accedilatildeo que outros
fazendeiros das estaccedilotildees seguintes natildeo tiveram apresentou um projeto urbano (planta) da
cidade a ser erguida nas proximidades da estaccedilatildeo projeto este de autoria de um engenheiro da
Estrada Aacutelvaro Pacca que foi apresentado e aprovado pela direccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz
em 1ordm de janeiro de 1922
De acordo com Ferreira (1999) acredita-se que no local definitivo da estaccedilatildeo por volta
do ano de 1923 apresentou-se outro projeto para a construccedilatildeo da cidade desta vez solicitado
ao topoacutegrafo da Estrada de Ferro Moacir de Camargo A cidade de Pires do Rio ficaria sendo
entatildeo a primeira cidade do Centro-Oeste a nascer com planejamento preacutevio antes de Goiacircnia
ou Brasiacutelia
O momento em que a cidade comeccedila a surgir de acordo com Nogueira (sd) fez com
que a populaccedilatildeo do Roncador migrasse toda para laacute carregando tudo aquilo que lhes pertencia
inclusive o material de construccedilatildeo das casas que foram demolidas construindo novas moradias
no local escolhido para tal fim Esse fato de mudar de um arraial para outro segundo Ferreira
(1999) veio a constituir o fenocircmeno por ele denominado de fagocitose pois para a formaccedilatildeo
da cidade Pires do Rio o arraial do Roncador extinguiu-se para vigorar a nascente cidade como
se observa nos dizeres abaixo
Pires do Rio crescia em terras de Santa Cruz municiacutepio de projeccedilatildeo
econocircmica e poliacutetica no Estado que dominou todo o sudeste e parte do sul de
Goiaacutes O arraial de origem fundado em 1729 teve seu valor econocircmico
firmado na extraccedilatildeo auriacutefera passando agrave Julgado de Santa Cruz em 1809 com
seu territoacuterio de influecircncia sobre uma extensa aacuterea Emancipou-se agrave Vila em
1833 quando Goiaacutes foi dividido em quatro Comarcas sendo Santa Cruz uma
delas Terminado o ciclo do ouro sua economia voltou-se durante o seacuteculo
XIX para a pecuaacuteria extensiva a agricultura e primitivo processamento da
produccedilatildeo agriacutecola sobrepondo-se agraves outras cidades de economia auriacutefera em
estagnaccedilatildeo A emancipaccedilatildeo de seus distritos ao longo do seacuteculo XIX foi-lhe
tirando a extensatildeo de seu poder territorial e de jurisdiccedilatildeo mas natildeo seu poder
econocircmico e poliacutetico no Estado Essa situaccedilatildeo veio a se alterar com a chegada
da Estrada de Ferro Goiaacutes (FERREIRA 1999 p 136)
72
As construccedilotildees jaacute haviam se iniciado e comeccedilara a chegar os novos moradores oriundos
de vaacuterias partes do paiacutes e do mundo que solidificariam a comunidade piresina Os baianos e os
aacuterabes foram os primeiros migrantes a chegarem e fixarem-se acreditando na futura cidade Os
baianos e outros nordestinos foram atraiacutedos pela frente de trabalho criada pela construccedilatildeo da
ferrovia Os italianos e espanhoacuteis tambeacutem se fizeram presentes na comunidade local No
entanto a maioria dos migrantes foram mesmo paulistas e mineiros Os estrangeiros tais como
italianos espanhoacuteis e principalmente aacuterabes foram partes integrantes da elite dominante
(FERREIRA 1999)
Pires do Rio se elevou a distrito do Municiacutepio de Santa Cruz em 23 de agosto de 1924
pela Lei nordm 66 E em 7 de julho de 1930 pela Lei nordm 903 foi criado o municiacutepio de Pires do
Rio E tatildeo logo pelo Decreto de ndeg 522 de 8 de janeiro de 1931 publicado no Correio Officcial
ndeg 1819 paacutegina 3 de 19 de abril do mesmo ano (SIQUEIRA 2006) oficializou a transferecircncia
da Comarca de Santa Cruz para a cidade de Pires do Rio
Na deacutecada de 30 estabelecia-se o comeacutercio na cidade de Pires do Rio natildeo tinha um
centro comercial propriamente dito mas algumas casas de comeacutercio espalhadas pela cidade
(FERREIRA 1999) A instalaccedilatildeo da energia eleacutetrica em 1934 deu um impulso agrave agroinduacutestria
local iniciada com a charqueada em 1924 e logo apoacutes por uma maacutequina beneficiadora de arroz
serraria faacutebrica de manteiga padarias curtume e outros pequenos centros de produccedilatildeo com
isso a necessidade de matildeo-de-obra impulsionava o crescimento da populaccedilatildeo jaacute que muitos
eram empregados pela via feacuterrea desta forma a vinda de imigrantes a nova cidade era
necessaacuterio Com o crescimento da cidade e da sua populaccedilatildeo foram necessaacuterias benfeitorias
que foram ocorrendo no decorrer dos anos
De acordo com Siqueira (2006) Pires do Rio se desenvolveu de forma diferenciada das
centenaacuterias cidades de Goiaacutes visto que a maioria se formou por tradicionais enraizados e
familiocratas grupos poliacuteticos ou simplesmente ldquooligarquiasrdquo o que permitiu uma abertura e
receptividade ao novo e ao desconhecido como paracircmetro coerente para a construccedilatildeo de uma
comunidade nascente No periacuteodo de 1921 a 1940 correspondentemente agrave cidade em sua
afirmaccedilatildeo poliacutetica e urbana foi composta por migrantes e imigrantes que se estabeleciam na
prestaccedilatildeo de serviccedilo agroinduacutestria e comeacutercio tudo isso oriundo da formaccedilatildeo da cidade pela
Estrada de Ferro Goyaz
Um fato ainda natildeo informado eacute que no ano de 1933 o municiacutepio era constituiacutedo de dois
distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Jaacute no decreto-lei nordm 5200 de 08 de dezembro de 1934
Pires do Rio eacute ldquorebaixadordquo agrave categoria de distrito do municiacutepio de Santa Cruz haja vista que
73
em divisotildees territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937 Pires do Rio figura como distrito
de Santa Cruz (IBGE 2016)
Em 03 de marccedilo de 1938 pelo Decreto-lei nordm 557 Pires do Rio retorna agrave categoria de
municiacutepio e Santa Cruz agrave de distrito No periacuteodo de 1939-1943 o municiacutepio aparece constituiacutedo
de trecircs distritos Pires do Rio Santa Cruz e Cristianoacutepolis O distrito de Santa Cruz pelo
Decreto-lei nordm 8305 de 31 de dezembro de 1943 passou a denominar-se Corumbalina Mas
pelo Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias de 20 de julho de 1947 Artigo 61
desmembrou-se do municiacutepio de Pires do Rio e foi elevado agrave categoria de municiacutepio com a
denominaccedilatildeo de Santa Cruz de Goiaacutes (IBGE 2016)
Em divisatildeo territorial datada de 1 de julho de 1950 o municiacutepio eacute constituiacutedo de dois
distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Depois pela lei municipal nordm 221 de 15 de julho 1953
eacute criado o distrito de Palmelo e anexado ao municiacutepio de Pires do Rio A lei estadual nordm 739 de
23 de junho de 1953 desmembra do municiacutepio de Pires do Rio o distrito de Cristianoacutepolis
elevado entatildeo agrave categoria de municiacutepio Rapidamente o distrito de Palmelo pela lei estadual
nordm 908 de 13 de novembro de 1953 eacute desmembrado do municiacutepio de Pires do Rio e elevado agrave
categoria de municiacutepio (IBGE 2016)
A ferrovia foi um marco na histoacuteria de Pires do Rio uma vez que o transporte ferroviaacuterio
era utilizado para escoar a produccedilatildeo Aleacutem disso a instalaccedilatildeo do Frigoriacutefico Brasil Central
estimulou a produccedilatildeo da pecuaacuteria de corte Nas deacutecadas de 1950 e 1960 destacou-se por
exportar o charque e pela produccedilatildeo de cerveja Jaacute com a construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 e a
implantaccedilatildeo das rodovias favoreceu-se a sua interligaccedilatildeo aos outros municiacutepios goianos
O fluxo de cargas e pessoas pela via ferroviaacuteria entre os anos de 1940 a 1950 apresentava
regularidade mas devido agrave construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 de 1965 a 1970 apresentou uma
queda gradativa por deficiecircncia teacutecnica das linhas falta de manutenccedilatildeo delas e dos
equipamentos lentidatildeo do transporte o que provocou em 1970 a desativaccedilatildeo do transporte de
passageiros A Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima (RFFSA) foi privatizada em 1996
e a Ferrovia Centro Atlacircntica (FCA) adquiriu 7080 km de extensatildeo operando 685 km em
Goiaacutes tendo adotado uma nova poliacutetica investindo dois milhotildees de reais na ferrovia
desativando vaacuterias estaccedilotildees (NOVAIS 2014) Na Estaccedilatildeo Pires do Rio ficou funcionando
apenas o escritoacuterio da FCA e o Museu Ferroviaacuterio e na Estaccedilatildeo Roncador uma oficina de
manutenccedilatildeo de vagotildees
Segundo Novais (2014) a ferrovia enquanto elemento modernizador do Sudeste
Goiano e instrumento capaz de aumentar as aglomeraccedilotildees urbanas e dinamizar o progresso da
regiatildeo de acordo com os novos interesses dominantes sempre esteve sob o controle do poder
74
econocircmico estatal ou de grupos Sua expansatildeo justificou-se em detrimento dos interesses
capitalistas e imperialistas Portanto a estrada de ferro eacute um produto da induacutestria capitalista da
Primeira Revoluccedilatildeo Industrial colocada a serviccedilo do capital e resultante das transformaccedilotildees
ocorridas no processo de expansatildeo do capitalismo no Brasil e no mundo (BORGES 1990) O
Estado de Goiaacutes ao inserir-se na dinacircmica capitalista e implantar a via feacuterrea em seu territoacuterio
conseguiu integrar-se ao mercado brasileiro aleacutem de mitigar anos de atraso e isolamento
econocircmico
32 Pires do Rio geograacutefico
O municiacutepio de Pires do Rio localiza-se na Microrregiatildeo do Sudeste Goiano inserida
na Mesorregiatildeo Sul Goiano A Microrregiatildeo eacute reconhecida como a regiatildeo da Estrada de Ferro
Limita-se com os municiacutepios goianos de Orizona Vianoacutepolis Urutaiacute Caldas Novas Satildeo
Miguel do Passa Quatro Santa Cruz de Goiaacutes Palmelo Cristianoacutepolis e Ipameri A aacuterea da
unidade territorial (kmsup2) eacute de 1073361 com uma altitude meacutedia de 75886 O municiacutepio
encontra-se entre as seguintes coordenadas geograacuteficas
Mapa 1 ndash Pires do Rio (GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio (GO)
75
A cidade de Pires do Rio eacute constituiacuteda por riquezas naturais do bioma Cerrado o qual
apresenta uma heterogeneidade na sua fisionomia pois engloba desde formaccedilotildees florestais
como as Matas Ciliares (vegetaccedilatildeo que fica nas margens dos rios) e Cerradatildeo aleacutem do Cerrado
restrito (eacute o Cerrado tiacutepico formado por vegetaccedilotildees arboacutereas de casca grossa e troncos
retorcidos) com formaccedilotildees vegetais ou herbaacuteceas (campo sujo e limpo)
Uma das caracteriacutesticas marcantes do Cerrado eacute sua riqueza em recursos hiacutedricos e Pires
do Rio natildeo foge agrave regra Servindo de fronteiras naturais para o municiacutepio tem-se o rio do Peixe
na parte norte A parte sul do municiacutepio desagua no rio Corumbaacute que tambeacutem eacute utilizado como
fronteira natural e eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio Aleacutem destes tem o rio Piracanjuba
que devido agrave sua estrutura rochosa e seu volume de aacutegua foi palco da construccedilatildeo de uma usina
hidreleacutetrica em meados do seacuteculo XX que abastecia a cidade embora hoje encontre-se em
ruiacutenas
Aleacutem dos trecircs rios o municiacutepio possui ao longo de todo seu o territoacuterio vaacuterias
nascentes coacuterregos ribeirotildees quedas drsquoaacutegua os quais satildeo todos afluentes do rio Corumbaacute
Vale ressaltar que a maioria dos cursos drsquoagua satildeo perenes ou seja tem aacutegua o ano todo por
isso muitos deles tem o nome da regiatildeo em que se encontra pois satildeo objetos marcantes na
paisagem
Segundo o IBGE (1957) a populaccedilatildeo piresina no Recenseamento de 1950 era de
12946 habitantes (inclusive a populaccedilatildeo dos atuais municiacutepios de Cristianoacutepolis e Palmelo ndash
na eacutepoca distritos de Pires do Rio) apresentando quadro urbano e suburbano com uma
populaccedilatildeo de 4836 habitantes sendo 2282 homens e 2554 mulheres A densidade
demograacutefica era de 12 habitantes por quilocircmetro quadrado verificando-se que 53 da
populaccedilatildeo localizava-se no quadro rural
Na deacutecada de 50 o municiacutepio de Pires do Rio tinha um nuacutecleo populacional que era o
povoado de Marataacute aleacutem da sede (como jaacute mencionado no ano de 1953 os distritos de
Cristianoacutepolis e Palmelo satildeo elevados a municiacutepio) Mas com o passar dos anos ele deixa de
existir ficando apenas a Igreja de Satildeo Sebastiatildeo As atividades econocircmicas do municiacutepio eram
predominantemente a produccedilatildeo agriacutecola e pecuaacuteria O municiacutepio apresentava-se como um local
de atraccedilatildeo recreativa pela sua beleza paisagiacutestica a qual pode ser observada na cachoeira do
Salto no rio Piracanjuba jaacute mencionado onde foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica que forneceu
energia agrave cidade ateacute meados do seacuteculo XX
A populaccedilatildeo em 2010 era de 28762 habitantes sendo 14105 homens e 14657
mulheres Predominantemente urbana com 27094 pessoas e apenas 1668 no meio rural Pires
do Rio apresenta uma aacuterea de 1073361 km2 e uma densidade demograacutefica de 2680 habkmsup2
76
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) do municiacutepio eacute de 0744 A Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa (PEA) eacute de 8717 homens e 6128 mulheres (IBGE 2016)
De acordo com os dados populacionais desde o Recenseamento da deacutecada de 50 (dados
jaacute mostrados anteriormente) a cidade teve um crescimento consideraacutevel como pode ser
observado nos quadros abaixo
Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo recenseamento
Populaccedilatildeo Censitaacuteria
1980 1991 2000 2010
Total de habitantes 19258 22131 26229 28762
Urbano 16670 20537 24473 27094
Zona Rural 2588 1594 1756 1668
Masculino 9498 10904 12948 14105
Feminino 9760 11227 13281 14657
Urbano Masculino 8098 10027 11966 13208
Urbano Feminino 8572 10510 12507 13886
Zona Rural Masculino 1400 877 982 897
Zona Rural Feminino 1188 717 774 771
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Nos dados que satildeo apresentados pelo IBGE (populaccedilatildeo estimada) entre os anos 2001 e
2004 ocorreu uma queda no crescimento populacional em relaccedilatildeo ao ano de 1999 que foi de
28631 e nos demais anos segue 2001 26600 2002 27091 2003 27491 2004 28332 A
respeito desta queda natildeo conseguimos informaccedilotildees Em duas datas especiacuteficas houve uma
contagem da populaccedilatildeo seguem os dados abaixo
Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo contagem
Populaccedilatildeo Contagem
1996 2007
Total de habitantes 25094 26857
Masculino 12403 13232
Feminino 12691 13574
Urbano 23766 25031
77
Zona Rural 1328 1826
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Os dados inseridos no quadro 3 satildeo uma estimativa da populaccedilatildeo informada pelo IMB
e IBGE
Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio (GO)
Populaccedilatildeo Estimada
2011 2012 2013 2014 2015
28956 29145 30232 30469 30703
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Para entreter a populaccedilatildeo o turismo do municiacutepio estaacute relacionado agraves edificaccedilotildees com
relevacircncia arquitetocircnica e cultural como a Ponte Epitaacutecio Pessoa o antigo Frigoriacutefico Brasil
Central as igrejas Satildeo Sebastiatildeo (Patrimocircnio do Marataacute) Satildeo Benedito (Igreja dos Congos) a
Ferrovia Centro Atlacircntica e o Museu Ferroviaacuterio O patrimocircnio material eacute representado pelo
centro histoacuterico principalmente a Igreja Matriz Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus coreto e chafariz da
Praccedila Gaudecircncio Rincon Segoacutevia o Mercado Municipal a Biblioteca Municipal a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria e a casa do Maneco (hoje em ruiacutenas) que formam um conjunto arquitetocircnico
singular como tambeacutem as belezas naturais das Serras da Caverna e das Flores a cachoeira do
Marataacute e Prainha (as margens do rio Corumbaacute)
De acordo com Novais (2014) nos anos de 1980 o municiacutepio conheceu a expansatildeo da
fronteira agriacutecola com a introduccedilatildeo do cultivo da soja logo apoacutes em 1993 atraiu investimentos
com a implantaccedilatildeo do complexo agroindustrial aviacutecola e a industrializaccedilatildeo do setor
contribuindo para o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que perpassou a regiatildeo do Sudeste
Goiano Atualmente a economia piresina eacute voltada para as atividades agriacutecolas como a
produccedilatildeo de soja milho sorgo arroz feijatildeo e mandioca
O comeacutercio a infraestrutura e serviccedilos (sauacutede educaccedilatildeo comeacutercio e prestaccedilatildeo de
serviccedilos) exercem funccedilatildeo de polo atrativo para moradores dos municiacutepios vizinhos Toda a
importacircncia do municiacutepio para a regiatildeo o estado e o paiacutes se deve agrave instalaccedilatildeo da Estrada de
Ferro Goyaz e aos que acreditaram no crescimento de Pires do Rio e investiram em seu
territoacuterio Por esta razatildeo que parte de nossa pesquisa busca reviver fragmentos da histoacuteria desta
cidade que se faz importante para uma regiatildeo estado e paiacutes
78
33 Os cursos drsquoaacutegua
No quadro abaixo apresentamos os nomes dos cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio
levantamento realizado de acordo com os mapas cartas topograacuteficas e vocabulaacuterio do IBGE
(1957)
Quadro 6 ndash Cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO)
Vocabulaacuterio Geograacutefico ndash IBGE (1957)
Rio ndash 3 Paacutegi
na
Descriccedilatildeo Municiacutepio de
Nasceste
Rio Corumbaacute 75 Rio nasce nos arredores de Pirineus
atravessa o municiacutepio como o de Santa
Luzia depois de servir em pequeno trecho
de divisa a Bonfim Adiante separa Ipameri
e Corumbaiacuteba de um lado e Campo
Formoso Pires do Rio Caldas Novas Buriti
Alegre do outro ateacute desaguar no rio
Paranaiacuteba pela margem direita
Corumbaacute
Rio do Peixe 165 Rio nasce na regiatildeo sul-oriental do
municiacutepio que separa dos de Campo
Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio
e o de Caldas Novas desemboca no rio
Corumbaacute pela margem direita
Silvacircnia
Rio Piracanjuba 171 (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce
na serra de Passa Quatro e atravessa o
municiacutepio bem como o de Pouso Alto
Adiante separa Caldas Novas de Morrinhos
e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio
Corumbaacute pela margem direita
Bela Vista
Coacuterrego ndash 34
Coacuterrego Areias 15 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Pires do Rio
Coacuterrego Barreiro - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia
Coacuterrego do
Barreiro
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Piracanjuba
Coacuterrego dos Batista - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Bauzinho 29 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Bauacute
Orizona
Coacuterrego da Braga 37 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Santa Maria
Luziacircnia
79
Coacuterrego Boa Vista 32 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Buracatildeo 40 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Buriti 42 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio dos Bois
Pires do Rio
Coacuterrego Cachoeira 47 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Piracanjuba
Silvacircnia
Coacuterrego Capoeira
Grande
60 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Cachoeira
Orizona
Coacuterrego Carvalho - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego da Caverna 66 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio dos Peixes (M de Pires do Rio)
Pires do Rio
Coacuterrego Corrente - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Domingo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego da Estiva 88 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Brumado
Pires do Rio
Coacuterrego Fundatildeo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Cocalzinho de
Goiaacutes
Coacuterrego Guaraacute 106 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Itauacutebi - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Juca - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Lajinha 124 Coacuterrego afluente da margem direita do
coacuterrego Taperatildeo
Orizona
Coacuterrego Laranjal 126 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Bauacute
Pires do Rio
Coacuterrego Limeira 128 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Ipameri
Coacuterrego Marreco 136 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Bauacute
Orizona
Coacuterrego Mata
Dentro
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego do
Mocambo
144 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
das Antas
Silvacircnia
Coacuterrego Olho
drsquoaacutegua
152 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Piracanjuba
Orizona
Coacuterrego do Pico 168 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Brumado
Pires do Rio
Coacuterrego
Piracanjuba
171 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
igual nome
Morrinhos
Coacuterrego Posse 177 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
coacuterrego do Fundo
Orizona
80
Coacuterrego Satildeo
Jerocircnimo
202 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Caiapoacute
Pires do Rio
Coacuterrego Saltador 193 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute proacuteximo a barra do rio
Alagado
Luziacircnia
Coacuterrego Taquaral 217 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute (M de Pires do Rio)
Pires do Rio
Coacuterrego da Terra
Vermelha
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia
Ribeiratildeo ndash 8
Ribeiratildeo Bauacute 29 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Piracanjuba na divisa do municiacutepio de Pires
do Rio
Orizona
Ribeiratildeo Brumado 33 Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do
rio dos Peixes
Santa Cruz de
Goiaacutes
Ribeiratildeo Cachoeira 47 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Piracanjuba
Orizona
Ribeiratildeo Caiapoacute 50 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Urutaiacute
Ribeiratildeo Marataacute - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Ribeiratildeo Mucambo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Ribeiratildeo Sampaio 194 Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da
margem direita do rio Corumbaacute (M de
Pires do Rio)
Pires do Rio
Ribeiratildeo Taquaral - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Orizona
Quedas drsquoaacutegua ndash 1
Cachoeira do
Marataacute
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Fonte Vocabulaacuterio Geograacutefico IBGE 1957
O quarto capiacutetulo apresenta a descriccedilatildeo e anaacutelise de quinze dos 46 topocircnimos (escolha
esta pela relaccedilatildeo de representaccedilatildeo para a cidade de Pires do Rio-GO) de acordo com os aportes
teoacutericos revisados no primeiro capiacutetulo e em consonacircncia com os meacutetodos apresentados e
discutidos no segundo capiacutetulo apresenta ainda algumas questotildees teoacutericas suscitadas pelas
especificidades dos dados escolhidos
81
IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR
O signo toponiacutemico natildeo abre apenas o nome de
um lugar mas o lugar como um todo tudo que estaacute
relacionado a ele de uma forma ou de outra
(SIQUEIRA 2015)
Nos colocar a serviccedilo desta pesquisa foi o mesmo que redescobrir a cidade de Pires do
Rio-GO Conhecer a sua histoacuteria e poder reeditaacute-la remapear os seus cursos drsquoaacutegua e por fim
buscar na Toponiacutemia as relaccedilotildees de poder que os topocircnimos tecircm sobre cada espaccedilo nomeado
assim tomamos posse do que esta pesquisa nos proporcionou e aqui estaacute o aacutepice dela os dados
e suas anaacutelises
Segundo Dias (2008) o municiacutepio de Pires do Rio-GO tem como principais cursos
drsquoaacutegua o rio Corumbaacute situado na parte sudeste o rio Piracanjuba no nordeste e rio do Peixe
na parte sul os quais correm em direccedilatildeo agrave calha do rio Paranaiacuteba (uma das quatro bacias
hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes) ao sul Os rios do Peixe e Piracanjuba desaguam no
Corumbaacute sendo limites de fronteiras do municiacutepio Aleacutem desses rios a rede hidrograacutefica eacute
formada por vaacuterios ribeirotildees e coacuterregos
Para proceder com as devidas anaacutelises dos topocircnimos nos eacute necessaacuterio partir de algumas
definiccedilotildees de nomenclaturas da aacuterea da geografia mas natildeo tivemos acesso a nenhum dicionaacuterio
terminoloacutegico da aacuterea especiacutefica devido agrave dificuldade de encontrar em bibliotecas puacuteblicas e
na internet desta forma recorremos aos dicionaacuterios Aulete (2011) Borba (2004) e Houaiss et
al (2004 2009) para assim proceder com a definiccedilatildeo de palavras (termos) que satildeo recorrentes
em nossa pesquisa a) curso drsquoaacutegua eacute qualquer corpo de aacutegua fluente b) coacuterrego um rio
pequeno com pouco volume de aacutegua que passa por vaacuterios lugares e sempre desagua em um
curso drsquoaacutegua (coacuterrego ribeiratildeo ou rio) c) queda drsquoaacutegua torrente de aacutegua que cai do alto
cachoeiracascata que satildeo formaccedilotildees geomorfoloacutegicas nas quais os cursos drsquoaacutegua correm por
cima de uma rocha de composiccedilatildeo resistente agrave erosatildeo formando uma suacutebita quebra na vertical
d) ribeiratildeo curso drsquoaacutegua maior que o riacho e menor que o rio afluente de um rio e) rio ou
fluacutemen eacute uma corrente natural de aacutegua que flui continuamente Possui um caudal consideraacutevel
e desemboca no mar num lago ou noutro rio e em tal caso denomina-se afluente Pode
apresentar vaacuterias redes de drenagem
Proceder com estas observaccedilotildees eacute elementar para esta pesquisa pois dos 46 topocircnimos
elencados no municiacutepio de Pires do Rio-GO analisaremos apenas 15 visto que analisar todos
82
os topocircnimos seria uma tarefa aacuterdua e que demandaria mais tempo registramos aqui o que nos
motivou agrave escolha dos cursos drsquoaacutegua para anaacutelise Como satildeo apenas 03 rios eacute viaacutevel e de bom
senso analisaacute-los jaacute que satildeo as maiores bacias e que datildeo destaque agrave regiatildeo os ribeirotildees satildeo
especificamente 08 os quais seratildeo analisados inclusive alguns nomes se repetem aos coacuterregos
tambeacutem 01 queda drsquoaacutegua cachoeira do Marataacute que natildeo seraacute analisada devido ao nome ser o
mesmo de um ribeiratildeo dos 34 coacuterregos analisaremos apenas 04 (Barreiro Itauacutebi Laranjal e da
Terra Vermelha) devido ao grau de importacircncia para a cidade pois os coacuterregos Itauacutebi (nascente)
e Laranjal satildeo os que abastecem a cidade de Pires do Rio-GO Quanto ao Barreiro este estaacute
localizado na regiatildeo do Morro do Cruzeiro localidade que tem o maior nuacutemero populacional
na zona rural do municiacutepio O coacuterrego da Terra Vermelha eacute uma aacuterea que haacute muito tempo foi
espaccedilo de olaria e dela saiacuteram grandes quantidades de tijolos que foram utilizados nas
construccedilotildees de casas na cidade e tambeacutem pertence a uma localidade onde existiu o povoado do
Marataacute na deacutecada de 50
No mapa 2 apresentamos os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do
Rio-GO bem como aparecem em destaque os 15 topocircnimos que analisaremos a seguir os quais
estatildeo catalogados em fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas que estatildeo inseridas neste capiacutetulo
83
Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)
84
41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural
Os modelos das taxionomias foram elaborados por Dick (1992) a fim de possibilitar ao
pesquisador descobrir o significado dos topocircnimos sem ter que retomar especificamente a
passado histoacuterico Os modelos subdividem-se em 11 taxes de natureza fiacutesica e 16 de natureza
antropocultural Assim podemos verificar se o nomeador recorreu a elementos de natureza
fiacutesico ou socioculturais como motivaccedilatildeo no ato da nomeaccedilatildeo Abaixo apresentamos as 27
taxes subdivididas em suas naturezas e devidas especificaccedilotildees exemplificadas com alguns
topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO nos casos de natildeo ter
recorremos a outros topocircnimos
a) Taxionomias de natureza fiacutesica
1 Astrotopocircnimos topocircnimos que se referem aos corpos celestes cidade Estrela do Norte-
GO
2 Cardinotopocircnimos topocircnimos referentes agraves posiccedilotildees geograacuteficas cidade Alvorada do
Norte-GO
3 Cromotopocircnimos topocircnimos relativos agrave escala cromaacutetica coacuterrego da Terra Vermelha (Pires
do Rio-GO)
4 Dimensiotopocircnimos topocircnimos referentes agraves caracteriacutesticas dimensionais dos acidentes
geograacuteficos como extensatildeo comprimento largura espessura altura profundidade coacuterrego
Fundatildeo (Pires do Rio-GO)
5 Fitotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de vegetais rio Corumbaacute (Pires do Rio-
GO)
6 Geomorfotopocircnimos topocircnimos referentes agraves formas topograacuteficas elevaccedilotildees ou depressotildees
do terreno coacuterrego do Pico (Pires do Rio-GO)
7 Hidrotopocircnimos topocircnimos originados de acidentes hidrograacuteficos ribeiratildeo Cachoeira
(Pires do Rio-GO)
8 Litotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de minerais e de nomes relativos agrave
constituiccedilatildeo do solo coacuterrego Barreiro (Pires do Rio-GO)
9 Meteorotopocircnimos topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos ribeiratildeo Brumado
(Pires do Rio-GO)
10 Morfotopocircnimos topocircnimos que refletem o sentido de forma geomeacutetrica cidade Volta
Redonda-RJ
11 Zootopocircnimos topocircnimos de iacutendole animal rio do Peixe (Pires do Rio-GO)
b) Taxionomias de natureza antropocultural
85
1 Animotopocircnimos ou Nootopocircnimos topocircnimos relativos agrave vida psiacutequica e agrave cultura
espiritual coacuterrego Boa Vista (Pires do Rio-GO)
2 Antropotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais ribeiratildeo Sampaio
(Pires do Rio-GO)
3 Axiotopocircnimos topocircnimos que se referem a tiacutetulos e a dignidades que acompanham os
nomes proacuteprios individuais cidade Senador Canedo-GO
4 Corotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes de cidades paiacuteses estados regiotildees e
continentes coacuterrego Posse (Pires do Rio-GO)
5 Cronotopocircnimos topocircnimos que encerram indicadores cronoloacutegicos como novonova
velhovelha cidade Nova Aurora-GO
6 Ecotopocircnimos topocircnimos que fazem referecircncia agraves habitaccedilotildees de um modo geral cidade
Castelacircndia-GO
7 Ergotopocircnimos topocircnimos relacionados aos elementos da cultura material ribeiratildeo Bauacute
(Pires do Rio-GO)
8 Etnotopocircnimos topocircnimos relativos aos elementos eacutetnicos tribos isolados ou natildeo ribeiratildeo
Caiapoacute (Pires do Rio-GO)
9 Dirrematotopocircnimos topocircnimos construiacutedos por meio de frases ou enunciados linguiacutesticos
cidade Aparecida do Rio Doce-GO
10 Hierotopocircnimos topocircnimos referentes aos nomes sagrados agraves efemeridades religiosas aos
locais de culto cidade Cristianoacutepolis-GO Podem apresentar duas subdivisotildees i)
hagiotopocircnimos topocircnimos que se referem aos santos e agraves santas do hagioloacutegio romano
coacuterrego Satildeo Jerocircnimo (Pires do Rio-GO) ii) mitotopocircnimos topocircnimos referentes agraves
entidades mitoloacutegicas cidade Anhanguera-GO
11 Historiotopocircnimos topocircnimos que se referem a movimentos de cunho histoacuterico-social aos
seus membros ou ainda agraves datas correspondentes cidade Ipiranga de Goiaacutes-GO
12 Hodotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves vias de comunicaccedilatildeo coacuterrego Corrente (Pires
do Rio-GO)
13 Numerotopocircnimos topocircnimos que dizem respeito aos adjetivos numerais cidade Trecircs
Ranchos-GO
14 Poliotopocircnimos topocircnimos constituiacutedos pelos vocaacutebulos vila aldeia cidade povoaccedilatildeo
arraial bairro Vila Nova (Pires do Rio-GO)
15 Sociotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais de trabalho
e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade ribeiratildeo Mucambo (Pires do Rio-
GO)
86
16 Somatotopocircnimos topocircnimos com relaccedilatildeo metafoacuterica agraves partes do corpo humano ou do
animal coacuterrego Olho drsquoaacutegua (Pires do Rio-GO)
Essas classificaccedilotildees taxonocircmicas funcionam como auxiliares no processo de verificaccedilatildeo
que subjaz o topocircnimo sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo da origem e motivaccedilatildeo que
levaram agrave efetivaccedilatildeo de determinado topocircnimo
Aleacutem do mais uma anaacutelise toponiacutemica pressupotildee a busca de particularidades
que natildeo podem ficar apenas nas caracteriacutesticas mais evidentes apresentadas
pelo nome deve-se procurar tanto quanto possiacutevel ou seja tanto quanto as
fontes ou a documentaccedilatildeo o permitirem as origens mais remotas do
denominativo objetivando as eventuais substituiccedilotildees experimentadas e a sua
razatildeo determinante de modo que se possa tentar um equacionamento da
nomenclatura em periacuteodos ou estaacutegios onomaacutesticos ndash senatildeo de toda ela pelo
menos em alguns nomes ndash que talvez reflitam momentos distintivos do pensar
da eacutepoca analisada (DICK 1996 p 15-16)
O leacutexico toponiacutemico eacute carregado de marcas de expressatildeo histoacuterica social cultural
poliacutetica e religiosa de dada comunidade e eacute representativo para o nomeador e seu grupo Desta
forma se determinado local ou coisa passou por vaacuterias nomeaccedilotildees no decorrer dos tempos isso
justifica que cada nomeador observou novas caracteriacutesticas que classificavam ou referenciavam
o topocircnimo de forma precisa e motivada
De acordo com Dick (1990) as vaacuterias facetas significativas que datildeo realce ao nome do
lugar e as inuacutemeras informaccedilotildees que podem ser elencadas dele tornariam no material de um
grande armazenamento de dados e fatos culturais em larga extensatildeo Assim observamos em
Andrade (2010 p 103) que
Os estudos toponiacutemicos dentro do alcance pluridisciplinar de seu objeto de
estudo constituem um caminho possiacutevel para o conhecimento do modus
vivendi das comunidades linguiacutesticas que ocupam ou ocuparam um
determinado espaccedilo Quando um indiviacuteduo ou comunidade linguiacutestica atribui
um nome a um acidente humano ou fiacutesico revelam-se aiacute tendecircncias sociais
poliacuteticas religiosas culturais (Grifos da autora)
Satildeo nessas caracteriacutesticas em que reside a motivaccedilatildeo do topocircnimo e por meio delas nos
satildeo reveladas a histoacuteria e cultura de uma dada comunidade por isso vemos o quanto os estudos
toponiacutemicos satildeo de extrema relevacircncia natildeo soacute para a aacuterea dos estudos da
linguagemlinguiacutesticos mas tambeacutem para as outras aacutereas do conhecimento jaacute que o topocircnimo
eacute plurissignificativo tendo assim um alcance pluridisciplinar
87
Posto isto pode-se evidenciar os estudos toponiacutemicos como um eixo norteador para se
verificar as relaccedilotildees soacutecio-histoacuterico-culturais de um povo jaacute que o topocircnimo estaacute intimamente
vinculado agrave cultura de um povo uma naccedilatildeo e portanto agrave sua histoacuteria Assim tomaremos por
anaacutelise os graacuteficos que se seguem e as taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua
do municiacutepio de Pires do Rio-GO
42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO
Nesta pesquisa os 15 topocircnimos analisados baseados na classificaccedilatildeo enquadram-se
na divisatildeo das naturezas fiacutesica e antropocultural Em alguns topocircnimos eacute possiacutevel ainda
evidenciar mais de uma categoria classificatoacuteria por exemplo o coacuterrego da Terra Vermelha
que se classifica como litotopocircnimo e cromotopocircnimo
Nos graacuteficos abaixo apresentamos e analisamos em base qualiquantitivas as naturezas
das taxionomias fiacutesicas e antropoculturais e a origemetimologia dos topocircnimos estratos
linguiacutesticos
Grafico1 Natureza das Taxionomias
As taxionomias nos permitiram analisar e interpretar os designativos de lugares com
maior precisatildeo e seguranccedila do ponto de vista semacircntico sendo estudados enquanto formas de
liacutengua e de acordo com a causa de seu emprego O produto resultante aqui no nosso caso os
88
topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO ganham vida proacutepria passando
a ter caraacuteter motivado e natildeo apenas arbitraacuterio
As taxes encontradas nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO que tiveram maior proporccedilatildeo foram as de natureza fiacutesica assim o nomeador caracterizou
os fatores fiacutesicos do ambiente ou que chamaram sua atenccedilatildeo Desta forma as nomeaccedilotildees satildeo
motivadas e estabelecem relaccedilotildees com o nomeador e o lugar nomeado
421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos
Os principais topocircnimos analisados neste trabalho confirmaram uma tendecircncia da
toponiacutemia brasileira em geral ou seja a predominacircncia de topocircnimos classificados de acordo
com as taxionomias de natureza fiacutesica uma vez que na nomenclatura onomaacutestica dos
elementos fiacutesicos da regiatildeo analisada haacute um percentual de 67 (10 topocircnimos) que satildeo
classificados como taxes de natureza fiacutesica e 33 (05 topocircnimos) que se enquadram nas taxes
de natureza antropocultural
Graacutefico 2 Taxionomias de Natureza Fiacutesica
O graacutefico apresentado nos revelam que a incidecircncia em sua maioria das taxionomias
de natureza fiacutesica evidencia a influecircncia do ambiente fiacutesico no ato de nomeaccedilatildeo percebe-se
entatildeo que no ato do batismo os povos recorreram a elementos e caracteriacutesticas circundantes
aos lugares nomeados demonstrando que o meio ambiente exerce grande influecircncia no homem
no ato de nomear os lugares
0
05
1
15
2
25
3
Taxionomias de Natureza Fiacutesica
89
Ao atribuir topocircnimos agraves taxionomias de natureza fiacutesica eacute possiacutevel comprovar a forccedila
de elementos fiacutesicos como motivadores no ato de nomear os lugares O que eacute observaacutevel no
graacutefico II os topocircnimos com maior incidecircncia nos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO sendo eles fitotopocircnimos hidrotopocircnimos litotopocircnimos litotopocircnimos e
cromotopocircnimos litotopocircnimos e fitotopocircnimos meteorotopocircnimos e zootopocircnimos que no
decorrer desse trabalho seratildeo analisados
4211 Fitotopocircnimos
De acordo com o observado a taxionomia de origem fitotoponiacutemica (originada de
nomes de vegetais) atingiu em segundo lugar o maior nuacutemero de frequecircncia dentre os
topocircnimos de natureza fiacutesica 20 (02 topocircnimos) satildeo eles coacuterrego Laranjal e ribeiratildeo
Taquaral Eacute observaacutevel que a flora foi uma das grandes motivaccedilotildees para os designativos dos
cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO E segundo Dick (1990 p 146)
O importante talvez seria natildeo perder de vista que a vegetaccedilatildeo eacute parte
integrante de um conjunto natural em que o relevo constituiccedilatildeo do solo
acidentes geograacuteficos regimes climaacuteticos compotildeem um verdadeiro
biossistema imprescindiacutevel ao homem e agrave qualidade de vida que nele pretenda
instalar ou pelo menos usufruir
Eacute nessas relaccedilotildees de importacircncia para o homem que podemos compreender a nomeaccedilatildeo
destes elementos fiacutesicos fazendo referecircncia a aspectos que chamaram a sua atenccedilatildeo e
motivaram a nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua Isso se revela pelo caraacuteter de necessidade agrave vida
humana tanto do nome como do que por ele foi nomeado essa relaccedilatildeo nomeador-objeto-nome
eacute que ressalta a importacircncia da vegetaccedilatildeo no meio social local do vivente Assim tambeacutem
justifica Pereira (2009 p 143) que ldquopossivelmente seja esse o motivo de o
denominadorenunciador registrar as caracteriacutesticas locais de uma regiatildeo na nomeaccedilatildeo dos
acidentes geograacuteficos por meio do topocircnimordquo
Ao trazer as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas eacute perceptiacutevel a motivaccedilatildeo que subjaz
cada topocircnimo como observamos abaixo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 02
Topocircnimo Coacuterrego Laranjal Localizaccedilatildeo Pires do Rio
90
Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia la-ran-jal Sm plantaccedilatildeo ou pomar de laranjas (p827)
Laranja sf lsquofruto da laranjeira planta da fam das rutaacuteceasrsquo XIV Do aacuter nāranğa deriv do
persa nāranğ laranjAL -gal XVI (p382)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino laranja- + -al sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Coacuterrego afluente da margem direita do ribeiratildeo Bauacute (M de
Pires do Rio)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 03
Topocircnimo Ribeiratildeo Taquaral Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ta-qua-ral Sm 1 plantaccedilatildeo de taquara tabocal 2 terreno onde crescem
taquaras (p1337)
Taquara sf lsquoplanta da fam das gramiacuteneas taboca bambursquo 1627 tacoara c 1584 etc
tacoaacutera 1817 Do tupi takṷara taquarAL 1783 (p623)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino taquara- + -al sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ao observar as informaccedilotildees trazidas nas fichas apresentadas dos fitotopocircnimos
possivelmente as motivaccedilotildees que influenciaram o nomeador satildeo perspicazes as referecircncias
locais que de acordo com cada topocircnimo relacionamos i coacuterrego Laranjal evidentemente em
sua localidade apresentava no momento de nomeaccedilatildeo a plantaccedilatildeo de laranjas e tambeacutem o
coacuterrego favorecia a essas plantaccedilotildees ii ribeiratildeo Taquaral assim como analisado o topocircnimo
91
anterior o que tenha influenciado ao nomeador deve estar relacionado com o a quantidade de
taquaras na regiatildeo em se encontra o determinado ribeiratildeo
A ocorrecircncia dos topocircnimos de iacutendole vegetal ora pesquisados pode ter a sua
justificativa pela relevacircncia que as plantas tecircm junto a vida humana bem como necessaacuterias para
a conservaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua e suas nascentes assim justificamos a tendecircncia de valoraccedilatildeo
do vegetal no processo de batismo dos elementos fiacutesicos
4212 Hidrotopocircnimos
O topocircnimo de equivalecircncia hidroniacutemica (originado de acidentes hidrograacuteficos) aparece
no em ribeiratildeo Cachoeira Sabe-se que a aacutegua eacute de fundamental importacircncia para a vida
humana por isso a tendecircncia de o nomeador no ato de batismo do topocircnimo valer-se do nome
relacionado ao elemento aacutegua para designar o lugar
E de acordo com Dick (1990 p 196) ldquoO aparecimento de topocircnimos nos mais
diferentes ambientes revestindo uma natureza hidroniacutemica propriamente dita vincula-se agrave
importacircncia dos cursos drsquoaacutegua para as condiccedilotildees humanas de vidardquo Possivelmente o nomeador
a considera o elemento aacutegua vital para a sua existecircncia ainda sabemos que os cursos drsquoaacutegua
em muitas ocasiotildees servem de caminhos para comeacutercio como tambeacutem foi por meio deles que
se configuraram na histoacuteria do Brasil o achamento e a colonizaccedilatildeo do paiacutes pelos portugueses
Nas ficha abaixo trazemos informaccedilotildees relevantes para anaacutelise dos topocircnimos de origem
hidrograacutefica
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 04
Topocircnimo Ribeiratildeo Cachoeira Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Hidrotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ca-cho-ei-ra Sf 1queda drsquoaacutegua em rio ou ribeiratildeo cujo leito apresenta
forte declive cascata 2 trecho de rio onde as aacuteguas correm raacutepido devido agrave inclinaccedilatildeo do
terreno corredeira (p213)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba (M
de Campo Formoso)
Referecircncias Borba (2004) IBGE (1957)
92
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Por mais que apenas 10 (01) dos topocircnimos de natureza fiacutesica tenham referecircncia agrave
iacutendole hidroniacutemica a regiatildeo de Pires do Rio-GO tem seus limites poliacutetico e fiacutesico (geograacuteficos)
feita por rios sem mencionar a grande importacircncia que esses cursos exercem nas atividades da
regiatildeo
Ainda observamos em Dick (1990 p 197) que
Agraves vezes poreacutem rompe-se o equiliacutebrio que ela [a aacutegua] representa em
qualquer meio desprendendo-se de suas possibilidades de aproximar culturas
distintas e assumindo papel um tanto oposto ao se transformar em ldquoobstaacuteculordquo
agrave difusatildeo dos interesses coletivos Circunscrevendo o homem em seu proacuteprio
espaccedilo quando o transcurso se torna difiacutecil impede os contatos entre grupos
vizinhos Se o isolamento por um lado tende a manter tanto quanto possiacutevel
inalterados os valores comuns preservando por isso a tradiccedilatildeo socioloacutegica
do homem ao retardar a dinacircmica da comunidade em favor de uma estaacutetica
desestimulante e viciosa
A par desta citaccedilatildeo observamos que foi o que aconteceu a cidade de Pires do Rio-GO
a partir do rio Corumbaacute o principal para o municiacutepio que ateacute a deacutecada de 1920 era isolado dos
demais municiacutepios por falta de uma ponte que estabelecesse tal ligaccedilatildeo Com a vinda da Estrada
de Ferro Goyaz e a construccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa surgem as primeiras casas e a
efetivaccedilatildeo do municiacutepio bem como a ligaccedilatildeo com as principais cidades da regiatildeo e as relaccedilotildees
econocircmicas e poliacuteticas que auxiliaram no crescimento do municiacutepio e da regiatildeo
Observamos ainda no contexto do municiacutepio de Pires do Rio-GO que a aacutegua em suas
potencialidades eacute de grande relevacircncia e meio de sobrevivecircncia para a vida humana pois
Na parte sul encontra-se o rio Corumbaacute que eacute maior curso drsquoaacutegua do
municiacutepio Nele eacute feito a extraccedilatildeo de areia para construccedilatildeo civil suas ilhas
servem de pontos de recreaccedilatildeo para vaacuterios moradores e as suas margens satildeo
praticamente ocupadas pelas pequenas propriedades (DIAS 2008 p 84)
Posto isso no efetivar do topocircnimo a partir da importacircncia da aacutegua o nomeador
diferencia o elemento geograacutefico dos demais auxiliando na orientaccedilatildeo do homem no espaccedilo
que o cerca proporcionando subsiacutedios para um melhor (re)conhecimento do local Assim
hipoteticamente acreditamos que o topocircnimo ndash ribeiratildeo Cachoeira ndash no contexto estudado
93
pode ter a sua motivaccedilatildeo pelo proacuteprio ambiente fiacutesico uma vez recupera caracteriacutesticas
hidroniacutemicas do lugar
4213 Litotopocircnimos
Notando-se as relaccedilotildees dos topocircnimos de origem mineral os litotopocircnimos coacuterrego
Barreiro representam o percentual de 10 (01 topocircnimo) dos analisados Cabe mencionar que
os minerais foram um dos principais atrativos dos colonizadores portugueses nas terras
brasileiras E de acordo com Dick (1990) os topocircnimos de origem mineral estatildeo relacionados
tanto a caracteriacutesticas do solo quanto do terreno e assim estabelecem duas relaccedilotildees fiacutesicas que
estatildeo ligadas agraves regiotildees da terra neste caso satildeo areia barro lama pedra terra E outro fator
satildeo os histoacutericos que podem ser evidenciados no processo de colonizaccedilatildeo do Brasil por meio
das relaccedilotildees entre solo flora e relevo que satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de uma nova
sociedade
O litotopocircnimo apresentado abaixo por meio de descriccedilatildeo e anaacutelise revela a influecircncia
do local sobre o ato de nomear
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 05
Topocircnimo Coacuterrego Barreiro Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia bar-rei-ro Sm terra alagada lamaccedilal (p164)
Barreira -eirar -eiro ejar rarr BARRO
Barro sm lsquotipo de argilarsquo lsquosubstacircncia utilizada no assentamento da alvenaria de tijolo em
obras provisoacuterias obtida pela mistura de argila com aacuteguarsquo XIV De origem preacute-romana
Relaciona-se neste verbete uma seacuterie de vocaacutebulos etimologicamente correlacionados com
o radical barr- de origem preacute-romana barrEIRA sf lsquoargileirarsquo lsquoparapeitorsquo 1500 barrEIRmiddotAR
bareyrar XV barrEIRO XVIII (p82)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino barro- + ndasheiro sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
94
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Observando Sapir (1969) podemos trazer a reflexatildeo acerca da relaccedilatildeo entre liacutengua e
ambiente que vale a compreensatildeo dos fatores fiacutesicos neste caso os aspectos geograacuteficos
incluindo aleacutem dos elementos fauna e flora os recursos minerais Assim o litotopocircnimo
coacuterrego Barreiro estabelece relaccedilotildees com o local quando foi nomeado ainda compreende-se
que a localidade era de lamaccedilalbarro um dos motivadores por determinado coacuterrego ser
batizado com o referido topocircnimo
Assim como observado em Dick (1990 p 125) os referidos topocircnimos de origem
mineral se referem ao primeiro caso que eacute o de ldquoiacutendole geneacutericardquo aspectos fiacutesicos e especiacuteficos
agraves regiotildees da terra revelando assim caracteriacutesticas minerais da regiatildeo em que estaacute localizado
determinado coacuterrego
4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos
No conjunto dos topocircnimos analisados em um percentual de 10 (01 topocircnimo) do
total encontramos um topocircnimo de estrutura composta mas natildeo hiacutebrido pois eacute formado por
duas palavras de origem latina a saber coacuterrego da Terra Vermelha litotopocircnimo (origem de
nomes de minerais e de nomes relativos agrave constituiccedilatildeo do solo) e cromotopocircnimo (relativo agrave
escala cromaacutetica) E que de acordo com Isquerdo e Seabra (2010 p 91) ldquo[] a motivaccedilatildeo dos
hidrotopocircnimos de estrutura composta normalmente valoriza mais de uma caracteriacutestica do
meio ambiente como foco denominativordquo O mesmo se estabelece com o topocircnimo ora
analisado como descreve na ficha abaixo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 06
Topocircnimo Coacuterrego da Terra Vermelha Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo e
Cromotopocircnimo
Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ter-ra Sf i elemento da superfiacutecie terrestre que misturado com aacutegua
transforma-se em barro ii parte soacutelida da superfiacutecie terrestre chatildeo firme (p1351)
Terra sf lsquoterritoacuterio regiatildeorsquo lsquosolo chatildeorsquo XIII Do lat tĕrra (p631)
95
Vermelho adj lsquoda cor do sanguersquo XIII Do lat vĕrmῐcŭlus (p674)
Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Substantivo Feminino + Adjetivo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Segundo Dias (2008 p 119-122) na maior parte da regiatildeo do municiacutepio de Pires do
Rio-GO o solo eacute ldquoLatossolos Vermelhosrdquo ou ldquoLatossolos Vermelho Amareladordquo assim
hipoteticamente uma das motivaccedilotildees fundamentais para a denominaccedilatildeo do topocircnimo estaacute
ligado a caracteriacutesticas do local o que influenciou o denominador a fazer referecircncia agrave Terra
juntamente com a cor vermelha
E ainda Dias (2008 p 117) justifica que ldquoas caracteriacutesticas da vegetaccedilatildeo natural
muitas das vezes tecircm como fator determinante o tipo de solo porque eacute dele que elas retiram a
maioria dos elementos que precisam para sua nutriccedilatildeordquo Nesta regiatildeo tem a predominacircncia da
agricultura e agropecuaacuteria influecircncias do solo que contribui para tais praacuteticas
Contudo o batismo do coacuterrego com o topocircnimo Terra Vermelha traz em sua motivaccedilatildeo
as caracteriacutesticas que satildeo observadas na localidade e que de certa forma influenciaram o
nomeador Aleacutem do coacuterrego uma regiatildeo rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tambeacutem eacute
conhecida pelo referido nome
4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos
O topocircnimo coacuterrego Itauacutebi eacute um nome composto litotopocircnimo (de origem mineral) e
fitotopocircnimo (de origem vegetal) e representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos
analisados Sua estrutura morfoloacutegica segundo Dick (1992) eacute um topocircnimo composto formado
por ita- (pedra) + -ubi (palmeira) ambos de origem tupi na formaccedilatildeo de palavras se constitui
em uma composiccedilatildeo por justaposiccedilatildeo E hipoteticamente a regiatildeo em que se encontra o
coacuterrego eacute de um terreno pedregulho ou pode ser que o proacuteprio coacuterrego tenha em sua calda um
acuacutemulo maior de pedras que o normal E consequentemente uma regiatildeo em que a vegetaccedilatildeo
tenha ou lembre uma localidade com plantaccedilotildees de palmeiras
96
Assim a ficha lexicograacutefica-toponiacutemia abaixo nos auxiliou na descriccedilatildeo e anaacutelise do
topocircnimo coacuterrego Itauacutebi aclarando para um efetiva interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo do corpus desta
pesquisa
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 07
Topocircnimo Coacuterrego Itauacutebi Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo e Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia Ita ndash pedra eacute o termo mais comum nos topocircnimos brasileiros algumas
vezes aparece sem o i inicial Ta-nhenga (ilha do Rio de Janeiro) Ta-ratatilde (localidade da
Bahia) (p 174)
Ubi ndash nome comum a vaacuterias palmeias dos gecircneros Genoma Bactris e Calyptrogyne (p 190)
Estrutura morfoloacutegica Nome composto (ita- substantivo feminino + -ubi substantivo
feminino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Tibiriccedila (1985)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Segundo Dias (2008) o coacuterrego Itauacutebi eacute um dos afluentes do ribeiratildeo Marataacute e tambeacutem
um dos coacuterregos que abaste ao municiacutepio de Pires do Rio-GO juntamente com o coacuterrego
Laranjal Assim eacute possiacutevel notar a importacircncia deste curso drsquoaacutegua para o municiacutepio e a sua
relevacircncia em anaacutelise para a nossa pesquisa
4216 Meteorotopocircnimos
A meteorotoponiacutemia refere-se a topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos e no
contexto pesquisado representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos analisados sendo
ribeiratildeo Brumado que proveacutem do termo latino bruma lsquoinvernorsquo especificando como nevoeiro
neblina e cerraccedilatildeo (CUNHA 2010) Dados esses especificados abaixo na ficha lexicograacutefica-
toponiacutemica que nos auxiliou na interpretaccedilatildeo e anaacutelise do topocircnimo
97
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 08
Topocircnimo Ribeiratildeo Brumado Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Meteorotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia Bruma bru-ma Sf nevoeiro neblina cerraccedilatildeo (p203)
Bruma sf lsquonevoeiro neblina cerraccedilatildeorsquo XVI Do lat bruma lsquoinvernorsquo (p103)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino bruma- + sufixo ndashado)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do rio dos Peixes (M
de Pires do Rio)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ao observarmos em Sapir (1969) em que o leacutexico de uma liacutengua reflete claramente o
ambiente fiacutesico e social do falantes provavelmente o que influenciou o nomeador em recorrer
ao batismo do topocircnimo Brumado em determinado ribeiratildeo pode ter sido devido a ocorrer na
localidade neblinanevoeiro na estaccedilatildeo do ano inverno jaacute que a proacutepria raiz da palavra bruma
faz referecircncia ao ldquoinvernordquo
Nas leituras realizadas em alguns pesquisadores da aacuterea da toponiacutemia como Almeida
(2012) Carvalhinhos (2002 2003) Dick (1990 1992 1996 1999 2000 2001 2004 2006)
Isquerdo e Seabra (2010) Pereira (2009) Siqueira (2012 2015) natildeo foi recorrente
encontrarmos algum meteorotopocircnimo analisado ou que nos desse qualquer sustentaccedilatildeo ou
informaccedilotildees para proceder com algum confrontamento de dados mediante a isso
subentendemos que os topocircnimos de iacutendole dos fenocircmenos atmosfeacutericos natildeo tenham uma certa
frequecircncia como os demais
4217 Zootopocircnimos
Nas denominaccedilotildees de iacutendole animal zootopocircnimos no estudo corrente referem ao
percentual de 30 (03 topocircnimos) dos extratos pesquisados ndash rio Corumbaacute rio do Peixe e rio
Piracanjuba Precisamente em dois topocircnimos o fator motivador foi o animal peixe que
possivelmente influenciou o nomeador A saber que a caccedila e pesca era o meio de sobrevivecircncia
98
da comunidade primitiva desta forma possivelmente a comunidade que habitava nos referidos
locais tambeacutem foi influenciada por essas razotildees e daiacute batizando ambos os rios com os referidos
topocircnimos
Ao observamos os topocircnimos de iacutendole animal aqui presentes vamos contrapor ao que
Dauzat (1922 apud DICK 1990) constatou ter uma menor frequecircncia dos zootopocircnimos em
relaccedilatildeo a outras categorias na toponiacutemia francesa bem como agrave perspectiva de Backheuser
(1952 apud DICK 1990) de que na toponiacutemia brasileira os nomes de animais satildeo menos
recorrentes
As relaccedilotildees de denominaccedilatildeo toponiacutemica de uma dada regiatildeo pode ser diferente de outra
de acordo com isso as relaccedilotildees de motivaccedilotildees estatildeo estritamente ligadas ao nomeador pois
cada qual atribui a caracteriacutesticas inerentes ao local a que faz referecircncia Assim as fichas
lexicograacuteficas-toponiacutemicas abaixo evidenciam em suas descriccedilotildees e nos auxiliam a proceder
com a anaacutelise toponiacutemica dos designativos bem como a quantificar que os zootopocircnimos foram
os de maior frequecircncia em nossas anaacutelises
Nordm de ordem 09
Topocircnimo Rio Corumbaacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia cid Mato Grosso do Sul de corumbaacute caacutegado (p44) Origem Tupi
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio nasce nos arredores de Pirineus atravessa o municiacutepio
como o de Santa Luzia depois de servir em pequeno trecho de divisa a Bonfim Adiante
separa Ipameri e Corumbaiacuteba de um lado e Campo Formoso Pires do Rio Caldas Novas
Buriti Alegre do outro ateacute desaguar no rio Paranaiacuteba pela margem direita (M de Corumbaacute)
Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 10
Topocircnimo Rio do Peixe Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
99
OrigemEtimologia pei-xe Sm (Zool) 1 espeacutecime de classe animal vertebrado que nasce e
vive na aacutegua respira por guelras e se locomove por meio de barbatanas (p1048)
sm lsquo(Zool) animal cordado gnastomado aquaacutetico com nadadeiras com pele geralmente
coberta de escamas que respira por bracircnquiasrsquo XIII Do lat piscis -is peixADA XX
peixARIA XX peixeiro peyxero XIII Cp pescar piscatoacuterio (p485)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio (do) nasce na regiatildeo sul-oriental do municiacutepio que separa
os de Campo Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio e o de Caldas Novas desemboca
no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bonfim)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) (IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 11
Topocircnimo Rio Piracanjuba Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia cid de Goiaacutes de piracanjuba uma var de peixe de rio etim piraacute-
acatilde-juba peixe de cabeccedila amarela (p97) Origem Tupi
piraacute sm lsquodesignaccedilatildeo geneacuterica de peixe em tupirsquo piracanjuva sf lsquoespeacutecie de douradorsquo 1792
Do tupi pirakaᶇlsquoḭuṷa (p498)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce na serra de Passa
Quatro e atravessa o municiacutepio bem como o de Pouso Alto Adiante separa Caldas Novas de
Morrinhos e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bela
Vista)
Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
100
Segundo Dias (2008) o rio Corumbaacute eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio dele se extrai
areia para a construccedilatildeo civil e suas ilhas e margens servem para abrigar pequenas propriedades
inclusive para a recreaccedilatildeo e turismo O rio do Peixe eacute um dos trecircs maiores cursos drsquoaacutegua e
fronteiriccedilo na regiatildeo sul entre Pires do Rio Cristianoacutepolis Vianoacutepolis e Satildeo Miguel do Passa
Quatro tem como principal afluente o ribeiratildeo Brumado e tambeacutem eacute o principal afluente do
rio Corumbaacute O rio Piracanjuba tambeacutem estaacute entre os principais do municiacutepio na regiatildeo norte
faz fronteira entre Pires do Rio Orizona Urutaiacute e Ipameri sua principal relevacircncia foi na
deacutecada de 1950 por aiacute ter funcionado uma usina hidreleacutetrica que abastecia o municiacutepio de Pires
do Rio-GO
A anaacutelise zootoponiacutemica na localidade pesquisada evidenciou a valorizaccedilatildeo da fauna
local pois ao utilizar o nome de animais recuperou-os para nomear lugares como os rios
Observamos que os nomes de animais que estabelecem a sua origem nas liacutengua tupi
(Piracanjuba e Corumbaacute) e latina (Peixe) motivaram a nomeaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e
de alguma forma estatildeo vinculados agrave vida do nomeador estabelecendo assim relaccedilotildees
extralinguiacutesticas com os topocircnimos pesquisados E segundo Theodoro Sampaio (1914 apud
DICK 1990) dificilmente o nome do animal estaria desvinculado de sua existecircncia na
localidade
Os elementos de natureza fiacutesica mais evidentes na motivaccedilatildeo que subjazem aos
topocircnimos ora analisados foram os de origem vegetal mineral e animal (peixe) Percebemos
assim que o nomeador teve influecircncia das caracteriacutesticas do local para designar o referido
topocircnimo A partir desta anaacutelise nos eacute pertinente ao proacuteximo subtoacutepico proceder com as
anaacutelises das taxionomias de natureza antropocultural
422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos
Os topocircnimos de natureza antropocultural representam 33 (05 topocircnimos) do corpus
analisado destacando-se os antropotopocircnimos ergotopocircnimos etnotopocircnimos e
sociotopocircnimos O nomeador obteve suas motivaccedilotildees de iacutendole antropocultural fazendo
homenagem a pessoas importantes da cidade recuperando elementos da cultura material do
povo revelando elementos eacutetnicos isolados ou natildeo e por fim referenciando a atividades
profissionais ou pontos de encontro de pessoas da comunidade Assim identificando a
influecircncia do homem no meio em que se encontra
101
Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural
O graacutefico 3 nos traz em sua amplitude os topocircnimos de origem antropocultural e a partir
dele eacute que procederemos com as anaacutelises no decorrer do texto observando as regecircncias e
distintas influecircncias do nomeador no ato do batismo
4221 Antropotopocircnimos
Dentre os topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais em nossa pesquisa foi
encontrado apenas o ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo correspondendo ao percentual de
20 (01) dos topocircnimos de natureza antropocultural analisados Na toponiacutemia brasileira eacute
recorrente encontrarmos antropotopocircnimos especialmente lugares como cidades praccedilas ruas
e outros acabam recebendo nomes proacuteprios em homenagem a algueacutem A ficha lexicograacutefica-
toponiacutemica 12 em sua amplitude nos auxilia a perceber a influecircncia do antrotopocircnimo
analisado pois refere-se a uma figura puacuteblica da comunidade piresina
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 12
Topocircnimo Ribeiratildeo Sampaio Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia sm ldquomarinhordquo Sampaio eacute um sobrenome presente na onomaacutestica
portuguesa atraveacutes de raiacutezes tipicamente toponiacutemicas devido ao nome de uma vila localizada
0
02
04
06
08
1
12
14
16
18
2
ANTROPOTOPOcircNIMO ERGOTOPOcircNIMO ETNOTOPOcircNIMOS SOCIOTOPOcircNIMO
Taxionomias de Natureza Antropocultural
102
em Traacutes-os-Montes em Portugal e que teria sido adotado como sobrenome pelos senhores
deste local Alguns etimologistas acreditam que o nome Sampaio tenha surgido a partir do
latim Sanctus Pelagius (traduzido como ldquosanto marinhordquo) que significa Santo Pelagius e
com o passar do tempo tenha sofrido alteraccedilotildees na grafia passando para Sam Peaio Satildeo
Payo e por fim Sampaio Origem hebraica
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Proacuteprio ndash sobrenome)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da margem direita
do rio Corumbaacute (M de Pires do Rio)
Referecircncias Dicionaacuterio online de Nomes Proacuteprios (sd) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Este antropotopocircnimo foi o norteador motivacional para esta pesquisa pois o ribeiratildeo
Sampaio em um de seus limites por boa parte da populaccedilatildeo (inclusive eu) eacute conhecido como
Pedro Teixeira (que na verdade eacute o nome da ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo) soacute tempos depois
conheci o seu verdadeiro nome
E Dick (1990 p 286) assegura que
Os aspectos semacircnticos que podem ser encontrados nos nomes de pessoas
ligam-se portanto ao papel que exercem de verdadeiras manifestaccedilotildees
culturais dos povos e onde transparecem os mais diversos motivos
determinantes de sua escolha Talvez a proacutepria maneira pela qual se concebia
o nome em eacutepocas remotas como uma substacircncia revestida de poderes
miacutesticos seja a responsaacutevel pela variedade das motivaccedilotildees em uma ou em
outras sociedades
Os aspectos motivacionais para o topocircnimo em estudo eacute uma homenagem ao coronel
Lino Teixeira de Sampaio neste caso de acordo com Cabral (2007) eacute um patroniacutemico
sobrenome e faz referecircncia ao doador das terras em que fundou-se a cidade de Pires do Rio-
GO Segundo Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares ou
homenagem ou ateacute mesmo por caracteriacutesticas geograacuteficas inerentes ao local Em alguns casos
os nomes satildeo opacos pois natildeo apresentam nenhuma relaccedilatildeo com o referente nesta situaccedilatildeo haacute
de se fazer uma busca histoacuterica para chegar as relaccedilotildees motivacionais que natildeo eacute o nosso caso
Observando em estudos acerca dos topocircnimos de iacutendole de nomes proacuteprios individuais
constatamos que
103
Nomes proacuteprios de pessoas satildeo obscurecidos em seu conteuacutedo leacutexico-
semacircntico pela opacidade do proacuteprio signo que os conforma distanciados na
maioria das ocorrecircncias do foco original Integram o inventaacuterio mais fechado
da linguagem cuja origem remonta no Brasil aos primeiros nomes de
famiacutelias portuguesas para aqui imigradas (DICK 2001 p 83)
Assim foi possiacutevel observar que o patroniacutemico Sampaio ratifica a citaccedilatildeo de Dick
(2001) pois ele estaacute presente na onomaacutestica portuguesa evidenciado nas raiacutezes tipicamente
toponiacutemicas relacionado ao nome de uma vila localizada em Traacutes-os-Montes em Portugal que
supostamente teria sido adotado como sobrenome pelos senhores deste local (DICIONAacuteRIO
DE NOMES PROacutePRIOS sd)
A importacircncia desse referido ribeiratildeo para o municiacutepio de Pires do Rio-GO justifica-se
desde a sua nomeaccedilatildeo pela razatildeo de sua nascente ser em terras que eram de propriedade do
coronel Lino Teixeira de Sampaio e tambeacutem pelo motivo de
O ribeiratildeo Sampaio eacute utilizado como um dos limiacutetrofes das aacutereas urbana e
rural tambeacutem depositaacuterio da Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE)
consequentemente recebendo a aacutegua do esgoto depois de feito seu devido
tratamento Neste ribeiratildeo encontram-se os menores pontos altimeacutetricos da
aacuterea urbana o que favoreceu a construccedilatildeo da ETE (DIAS 2008 p 84)
Neste contexto eacute evidente que a motivaccedilatildeo para o topocircnimo Sampaio eacute uma
homenagem a uma pessoa que tem uma importacircncia para o local a cidade de Pires do Rio-GO
E assim podemos evidenciar que o ato de nomear aqui institui as relaccedilotildees de poder
possivelmente a de coacuterrego do senhor coronel Lino Teixeira de Sampaio estabelecendo as
relaccedilotildees de poder que o proacuteprio coronel mantinha sobre o local a cidade
4222 Ergotopocircnimos
Os topocircnimos referente a elementos da cultura material ergotopocircnimos nas anaacutelises
desta pesquisa tiveram um percentual de 20 (01) dos topocircnimos analisados ribeiratildeo Bauacute
assim observamos que o denominador foi motivado pelas relaccedilotildees da cultura material que o
cerca Jaacute observado em Sapir (1969) pois no leacutexico toponiacutemico reflete o ambiente social do
falante assim o topocircnimo no qual o objeto bauacute eacute de origem da cultura material e de uso
humano possivelmente as caracteriacutesticas do objeto como fundura largura e formato do bauacute
foram vitais para a nomeaccedilatildeo do ribeiratildeo
104
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 13
Topocircnimo Ribeiratildeo Bauacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Ergotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia ba-uacute (fr) Sm (Co) 1 mala de madeira recoberta de couro com tampa
conversa 2 moacutevel em forma de caixa de folha ou madeira onde se guardam roupas e demais
objetos (p169)
sm lsquotipo de caixa ou mala com tampa convexa na parte externarsquo baul XVI bau XVII bahu
Do ant baul deriv do a fr bahur (hoje bahut) de origem obscura (p84) 1805
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba na
divisa do municiacutepio de Pires do Rio (M de Campo Formoso)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Desta forma ldquoa lsquoescolharsquo do nome se daacute segundo um agenciamento enunciativo
especiacutefico este acontecimento de nomear recorta como memoraacuteveis os nomes disponiacuteveis
como contemporacircneos proacuteprios de sua eacutepocardquo (GUIMARAtildeES 2005 p 36-37) Eacute necessaacuterio
observar na citaccedilatildeo de Guimaratildees (2005) que no ato do batismo o nomeador faz referecircncia ao
contemporacircneo ou proacuteprio de sua eacutepoca no caso de uso do termo bauacute configura-se como essa
afirmaccedilatildeo eacute relativa a algo realmente usado em determinada eacutepoca
Eacute evidente que o topocircnimo apresentou como fonte motivacional a relaccedilatildeo existente entre
a cultura material e seu nomeador ou seja uma motivaccedilatildeo toponiacutemica de ordem
antropocultural assim essas designaccedilotildees que recuperam elementos da cultura material do
povo da localidade identifica a influecircncia do homem no meio em que se vive
4223 Etnotopocircnimos
Uma das taxionomias de natureza antropocultural de maior ocorrecircncia nesta pesquisa
com o percentual de 40 (02) topocircnimos dos analisados foram os etnotopocircnimos topocircnimos
105
relativos a elementos eacutetnicos isolados ou natildeo sendo o ribeiratildeo Caiapoacute e ribeiratildeo Marataacute que
no decorrer satildeo apresentados nas fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 14
Topocircnimo Ribeiratildeo Caiapoacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia rio do E de Goiaacutes nome de uma tribo fam linguiacutestica Jecirc que habitou
a regiatildeo (p34)
cai-a-poacute (Tupi) S 1 indiviacuteduo de um povo indiacutegena de Mato Grosso Sm [Pl] 2 esse povo
(p217)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Corumbaacute (M de
Pires do Rio)
Referecircncias Tibiriccedila (1985) Borba (2004) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 15
Topocircnimo Ribeiratildeo Marataacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Marata ndash sm 1 indiviacuteduo dos maratas 2 liacutengua indo-europeia do ramo
indo-iraniano sub-ramo indo-aacuterico falada no Oeste e Centro da Iacutendia esp no Estado de
Maharashtra por aprox 50 milhotildees de pessoas Eacute uma das liacutenguas oficiais da Iacutendia Sacircnsc
mahaacuteraacutestra o grande reino pelo hind marhatta id
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas afluente da margem direita do ribeiratildeo Caiapoacute (M de Pires
do Rio)
Referecircncias Houaiss (2009) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
106
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Na justeza dos nomes podemos evidenciar que ao batizar o ribeiratildeo Caiapoacute o nomeador
se valeu de fatores antropoculturais em relaccedilatildeo aos iacutendios caiapoacutes lsquokayapoacutersquo que segundo fatos
da histoacuteria estiveram em terras goianas desta forma ao se valer do uso do topocircnimo a
motivaccedilatildeo para tal ato de batismo pode ser referente a esses povos terem influecircncias de alguma
forma sobre o nomeador no ato do batismo do topocircnimo
Jaacute o topocircnimo ribeiratildeo Marataacute traz em sua bases semacircnticas como i ldquoliacutengua indo-
europeiardquo ii ldquoindiviacuteduos dos maratasrdquo segundo Houaiss et al (2009) E possivelmente a
motivaccedilatildeo do designativo foi a influecircncia de grupos europeus que tambeacutem passaram por estas
terras jaacute que o paiacutes foi colonizado por Portugal e na formaccedilatildeo da sociedade goiano e piresina
terem a presenccedila de vaacuterias etnias inclusive europeia
Desta forma eacute evidente que os etnotopocircnimos estatildeo relacionados agrave presenccedila e influecircncia
de grupos de distintas etnias no Brasil visto que a histoacuteria local e nacional revelam a presenccedila
de vaacuterios povos na formaccedilatildeo do sociedade brasileira
4224 Sociotopocircnimos
Tomando por anaacutelise os topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais
de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma dada comunidade dentre os
sociotopocircnimos numa frequecircncia de 20 (01) dos topocircnimos analisados foi encontrado o
designativo ribeiratildeo Mucambo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 16
Topocircnimo Ribeiratildeo Mucambo Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Sociotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Mocambo sm lsquoesconderijo refuacutegio dos negros (escravos) fugidorsquo
1535 mocano Do quimb mursquokamu lsquoescondrijorsquo Embora se documente em vaacuterios textos
quinhentistas relativos aos antigos domiacutenios portugueses na Aacutefrica foi no Brasil que o voc
Se difundiu intensamente desde o periacuteodo colonial em decorrecircncia do intenso conviacutevio dos
brancos com os negros escravos da africanos (p431)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
107
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
O topocircnimo tem sua origem no termo mocambo que se refere a esconderijo de escravos
fugidos (CUNHA 2010) Possivelmente assim como jaacute observado nos fatores motivacionais
de outros topocircnimos a relaccedilatildeo de grupos eacutetnicos terem passado ou habitado na regiatildeo pode ter
influenciado na nomeaccedilatildeo do designativo Na regiatildeo observada viveram escravos negros que
formaram um comunidade rural desta forma podem ter influenciado o nomeador no ato do
batismo do ribeiratildeo Mucambo
A partir do sociotopocircnimo analisado observamos em Carvalhinhos (2003 p 172) que
Os atuais estudos onomaacutesticos no Brasil vecircm justamente resgatando a histoacuteria
social contida nos nomes de uma determinada regiatildeo partindo da etimologia
para reconstruir os significados e posteriormente traccedilar um panorama
motivacional da regiatildeo em questatildeo como um resgate ideoloacutegico do
denominador e preservaccedilatildeo do fundo de memoacuteria
Desta forma ao traccedilar um panorama dos topocircnimos analisados eacute elementar que o
nomeador ao longo das nomeaccedilotildees buscou em suas bases motivacionais preservar a memoacuteria
local seja nos fatores fiacutesicos e ou sociais Para configurar tais dados no proacuteximo subtoacutepico
analisaremos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados
43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos
Analisar as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos estratos linguiacutesticos antes de mais
nada eacute perceber as influecircncias das etnias que povoaram o nosso paiacutes e regiatildeo Sabemos que no
iniacutecio do seacuteculo XVI quando os povos lusoacutefonos chegaram em terras brasileiras os iacutendios jaacute
as habitavam embora fossem os donos da terra tatildeo logo os portugueses se instalaram e se
fizeram os novos donos Mas no decorrer dos seacuteculos outros povos foram chegando e tambeacutem
se instalando no local daiacute retiramos a origem dos estratos linguiacutesticos dos topocircnimos analisados
nesta pesquisa
De acordo com Dick (1992 p 81)
108
a formaccedilatildeo etno-histoacuterica do Brasil acusa a existecircncia de estratos
populacionais diversos como os ameriacutendios distribuiacutedos em vaacuterios troncos e
famiacutelias Os portugueses os africanos e os de procedecircncia estrangeira jaacute em
eacutepoca posterior agrave colonizaccedilatildeo propriamente dita Essa origem heterogecircnea
deixou reflexos diferenciados na liacutengua nos usos e costumes nas tradiccedilotildees
regionais e consequentemente na toponiacutemia do paiacutes
Perceber essa heterogeneidade linguiacutestica na formaccedilatildeo dos topocircnimos eacute fundamental
visto que dos 15 topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO a sua maioria
eacute de origem indiacutegena isso revela que apesar do processo de colonizaccedilatildeo e imposiccedilatildeo da liacutengua
portuguesa a liacutengua dos nativos ainda prevaleceu ao menos na designaccedilatildeo toponiacutemica E no
graacutefico abaixo apresentamos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados
Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos
Analisar as origens dos topocircnimos eacute reconhecer segundo Dick (2006) que a Toponiacutemia
pode conviver com dois movimentos vivenciados de linguagem i) a nativa (linguagem
indiacutegena) e ii) a advena ou seja de iacutendole civilizatoacuteria pois ambas colaboraram para a
formaccedilatildeo dos brasileirismos e regionalismos mas natildeo apenas presentes na liacutengua Podemos
assim constatar em nossas anaacutelises que o vivenciado de acordo com a linguagem ldquonativardquo foi
a que teve maior frequecircncia neste estudo
Observamos no graacutefico IV a frequecircncia das liacutenguas que deram origem aos 15 topocircnimos
dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO e no que se segue procedemos com as
anaacutelises e logo apoacutes a estrutura morfoloacutegica
005
115
225
335
445
5
OrigemEtimologia dos Topocircnimos
109
O topocircnimo coacuterrego Laranjal eacute de origem Aacuterabe a influecircncia dessa liacutengua em nossa
regiatildeo nos eacute evidenciada no iniacutecio do seacuteculo XX com a fundaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio-
GO os aacuterabes foram um dos primeiros imigrantes que aqui chegaram bem como tiveram um
destaque na aacuterea comercial possivelmente este topocircnimo tenha relaccedilotildees com esse fato No que
tange agrave frequecircncia a liacutengua Aacuterabe (esta liacutengua influenciou imensamente o leacutexico da Liacutengua
Portuguesa) corresponde a 7 (01) dos topocircnimos analisados
Ainda contatamos outras liacutenguas como a Hebraica ndash ribeiratildeo Sampaio Preacute-romana ndash
coacuterrego Barreiro Sacircnscrito ndash ribeiratildeo Marataacute e ainda de Origem Obscura ndash ribeiratildeo Bauacute
Cada uma dessas liacutenguas correspondem agrave frequecircncia de 7 (01) dos topocircnimos analisados
provavelmente as devidas nomeaccedilotildees se devem ao fato da vinda de pessoas de outros
continentes em busca de melhores condiccedilotildees de vida e assim contribuiacuterem com a formaccedilatildeo
dos designativos dos cursos drsquoaacutegua
Os dados da toponiacutemia brasileira em relaccedilatildeo agrave origem dos topocircnimos satildeo de origem da
Liacutengua Portuguesa devido a colonizaccedilatildeo jaacute que os povos lusoacutefonos aqui chegaram e segundo
Dick (1995 p 60)
os primeiros topocircnimos funcionavam portanto como verdadeiros ldquosign-
postsrdquo ou marcas semioacuteticas de identificaccedilatildeo dos lugares usadas com a
finalidade de distinguir as caracteriacutesticas de espaccedilos semelhantes uma forma
uma silueta o perfil de uma paisagem se apresentando como recortes de uma
corografia maior a ser detalhada
Os povos lusoacutefonos nomeavam os lugares de acordo com caracteriacutesticas do lugar
Assim os topocircnimos por nograves analisados ndash coacuterrego Brumado coacuterrego da Terra Vermelha
ribeiratildeo Cachoeira e rio do Peixe ndash satildeo de origem latina liacutengua que deu origem agrave Liacutengua
Portuguesa e entre os topocircnimos estudados referem ao percentual de 29 (04 topocircnimos) dos
analisados
No processo de colonizaccedilatildeo do Brasil os portugueses necessitavam de matildeo-de-obra
mas como natildeo tiveram ecircxito com os iacutendios entatildeo foi necessaacuterio a busca de outros povos com
isso trouxeram os escravos E no processo de nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de
Pires do Rio-GO a Liacutengua Portuguesa (Aacutefrica) um percentual de 7 (01) dos topocircnimos ndash
ribeiratildeo Mucambo ndash que eacute especificado como o local esconderijo de escravos fugitivos Haacute
relatos de que na regiatildeo da zona rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tem uma localidade
que foi constituiacuteda em sua maioria populacional por escravos provavelmente pode esse
topocircnimo ter sido influenciado por tal fato
110
Em sua maioria 36 (05) dos topocircnimos analisados satildeo de origem Tupi ndash coacuterrego
Caiapoacute coacuterrego Itauacutebi ribeiratildeo Taquaral rio Corumbaacute e rio Piracanjuba ndash e segundo Bearzoti
Filho (2002 p 43) ao tratar das designaccedilotildees de origem tupi assinala que ldquoem grande parte
trata-se de topocircnimos atribuiacutedos natildeo por iacutendios mas por bandeirantes que como jaacute vimos
utilizavam a liacutengua geral como idioma de comunicaccedilatildeo ordinaacuteria em suas expediccedilotildeesrdquo
E de acordo com Sampaio (1928 p 02)
ao europeu poreacutem ou aos seus descendentes cruzados que realizaram as
conquistas dos sertotildees eacute que se deve a maior expansatildeo do tupi como liacutengua
geral dentro das raias atuais do Brasil As levas que partiam do litoral a
fazerem descobrimentos falavam no geral o tupi pelo tupi designavam os
novos descobertos os rios as montanhas os proacuteprios povoados que fundavam
e que eram outras tantas colocircnias espalhadas nos sertotildees falando tambeacutem o
tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo
Ao firmar o ato de nomeaccedilatildeo das localidades constatamos que o tupi liacutengua de origem
do maior nuacutemero de topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO
possivelmente deve-se agrave influecircncia das seguintes relaccedilotildees a internalizaccedilatildeo de nomes de origem
tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para Goiaacutes e a presenccedila de iacutendios como jaacute
mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo viveram regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da
colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)
Ainda consoante Pereira (2009 p 27) observamos que
A toponiacutemia brasileira como um todo reuacutene uma grande quantidade de nomes
de base indiacutegena na nomeaccedilatildeo de acidentes geograacuteficos que evidenciam
marcas da presenccedila de vaacuterias etnias na nomenclatura geograacutefica brasileira Um
estudo toponiacutemico numa dimensatildeo etnolinguiacutestica analisa desde a origem
dos nomes ateacute as influecircncias socioculturais da populaccedilatildeo que habita o espaccedilo
geograacutefico em estudo na forma de nomear os acidentes fiacutesicos verificando se
no momento da designaccedilatildeo de um lugar o designador apropriou-se de nomes
cuja origem procedeu de estratos linguiacutesticos de base portuguesa ou de outras
liacutenguas que influenciaram a formaccedilatildeo do leacutexico do portuguecircs brasileiro
principalmente as liacutenguas indiacutegenas e africanas
Ao analisarmos os topocircnimos dos cursos drsquoagua do municiacutepio de Pires do Rio-GO
podemos constatar que em sua maioria as liacutenguas que lhe deram origem foram as indiacutegenas e a
latina as outras que representaram um percentual menor possivelmente estatildeo ligadas agrave vinda
de outras etnias que ajudaram na formaccedilatildeo populacional do Brasil e de Goiaacutes
111
44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos
Com vistas nos paracircmetros teoacuterico-metodoloacutegicos da pesquisa seguindo o que eacute
estabelecido por Dick (1992) ao que se refere a estrutura morfoloacutegica o topocircnimo pode ser
classificado como simples composto e composto hiacutebrido que de acordo Dick (1992 p 14)
ldquotopocircnimo que em sua estrutura haacute a presenccedila de duas bases linguiacutesticas distintas por exemplo
tupi + portuguecircsrdquo mas natildeo encontrado em nossa pesquisa A partir disto tomamos o graacutefico V
para procedermos com a anaacutelise
Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos
Dos 15 sintagmas toponiacutemicos catalogados uma representaccedilatildeo de 87 (13 topocircnimos)
satildeo de estrutura simples que no processo de nomeaccedilatildeo o nomeador utilizou apenas um
formante ou seja um elemento designativo Jaacute os compostos aparecem em um percentual de
13 (02 topocircnimos) formados por mais de um formante lexical
Ao trazermos essas informaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos topocircnimos observamos que
como uso de substantivos e adjetivos o denominador acaba por trazer caracteriacutesticas do local
onde nomes comuns passam a formar nomes proacuteprios e segundo Dick (2006 p 108)
o topocircnimo integraraacute natildeo uma categoria descritiva de nomes nem um iacutendice
cromaacutetico desvinculado de outras consideraccedilotildees culturais e sim o que
chamamos na teoria de nomes transplantados deslocados ou transferidos de
seu lugar de origem para outros pontos distantes formando uma nova
sequecircncia nominal
0
2
4
6
8
10
12
14
SIMPLES COMPOSTO
Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos
112
No processo de nomeaccedilatildeo o nomeador faz uso de designativos que aleacutem de sofrer
certos deslocamentos como jaacute mencionado de nome comum para nome proacuteprio haacute tambeacutem
casos de alguns topocircnimos sofrerem alteraccedilotildees em suas estruturas morfoloacutegicas como o caso
do designativo ribeiratildeo Mucambo que em suas origens traz a grafia de mocambo
No decorrer deste estudo e anaacutelises foi possiacutevel perceber que os topocircnimos aleacutem de
servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais da sociedade a
que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e costumes da sociedade E ao final foi
notoacuterio perceber nas liacutenguas que deram origem aos topocircnimos a estreita relaccedilatildeo com o
ambiente pois de alguma forma o nomeador obteve motivaccedilatildeo tanto do espaccedilo meio ambiente
como da liacutengua propriamente dita
113
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Ao propormos estudar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO tomamos por base caracterizar o ato de nomear e dele reiteramos e pode ser observado em
sua totalidade a relaccedilatildeo de poder pois nomear eacute instituir E eacute por meio do batismo do topocircnimo
que ele se instaura e revela as relaccedilotildees do meio ambiente com o homem eou do homem com
meio que o circunda As consideraccedilotildees finais ora apresentadas referem-se aos estudos
toponiacutemicos relacionados apenas ao contexto local desta pesquisa mas muito ainda haacute de ser
estudado na aacuterea em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia em Goiaacutes
Os objetivos da pesquisa constituem-se basicamente em descrever e analisar os
topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO observando
noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural Assim em
sua maioria os elementos fiacutesicos sobressaiacuteram sobre os demais pois no total de 15 topocircnimos
analisados um percentual de 67 (10 topocircnimos) foram motivados pelos aspectos fiacutesicos
sendo que os de origem vegetal fitotopocircnimos e animal zootopocircnimos tiveram maior
recorrecircncia Assim concretizamos que o ambiente influenciou o nomeador no ato do batismo
estabelecendo as relaccedilotildees entre liacutengua e ambiente inclusive com os aspectos extralinguiacutesticos
A maior incidecircncia de taxionomias de natureza fiacutesica nesta pesquisa demonstra a
tendecircncia do denominador de nomear os lugares com nomes dos elementos fiacutesicos da natureza
circundante numa constataccedilatildeo de que o meio ambiente exerce grande influecircncia sobre o
homem refletindo-se tambeacutem no processo de nomeaccedilatildeo dos lugares
Jaacute no que tange agraves taxionomias de natureza antropocultural em nossas anaacutelises com um
percentual de 33 (05 topocircnimos) os etnotopocircnimos que fazem referecircncia a elementos eacutetnicos
foram os com maior frequecircncia Observamos nas taxes de natureza antropocultural que os
fatores culturais foram os motivadores para a designaccedilatildeo dos topocircnimos analisados
evidenciando as relaccedilotildees do homem com o ambiente que o cerca Para tanto foi necessaacuterio
identificar os fatores que constituem a motivaccedilatildeo que subjazem agrave escolha do nome do lugar
que foi possibilitado por meio da caracterizaccedilatildeo de fatores sociais culturais histoacutericos que nos
auxiliaram nas anaacutelises dos topocircnimos
A hipoacutetese inicial da pesquisa foi de que pelo caraacuteter motivado o signo toponiacutemico
possibilita reconhecer fatores vinculados ao que subjaz agrave escolha dos nomes de lugares e assim
nos possibilitou o levantamento de fatores soacutecio-histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave
anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua como iacutendice de estreita relaccedilatildeo entre
liacutenguaambiente e cultura E pudemos observar que os topocircnimos estabelecem relaccedilotildees da
114
liacutengua e meio ambiente no que concerne agrave anaacutelise das taxionomias de natureza fiacutesica e a
posteriori as relaccedilotildees de liacutengua e cultura que foram evidenciadas nas taxionomias de natureza
antropocultural Nas taxes analisadas foi possiacutevel detectar que o ambiente e o contexto satildeo
fundantes nas motivaccedilotildees que subjazem aos topocircnimos analisados Desta forma entende-se que
um rio um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que uma vez nomeados passam a carregar as
inuacutemeras memoacuterias do lugar
Os fatores soacutecio-histoacutericos-culturais do municiacutepio de Pires do Rio-GO foram
imprescindiacuteveis no processo de anaacutelise dos designativos dos lugares pois no caso do topocircnimo
ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo ficou evidente que o fato motivador foi a relaccedilatildeo de poder
do nome devido ao ribeiratildeo ter sua nascente em terras que eram do coronel Lino Teixeira de
Sampaio e tambeacutem por ter sido ele o doador das terras em que surgiu o referido municiacutepio
Ao levantar as perguntas de pesquisa qual a origem dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da
cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do
lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo Apoacutes ter analisado os 15
topocircnimos fica evidente que todos os nomes estatildeo registrados nas cartas topograacuteficas e satildeo
oficializados pelo IBGE mas provavelmente os nomes foram dados pela comunidade que
habitou nas localidades ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas que foram levantadas nos designativos
fazendo referecircncia ao local
Por meio da caracterizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico
onomasioloacutegico que foi o norte da pesquisa combinado com outros meacutetodos como o Woumlrter
und Sachen (palavras e coisas) numa abordagem qualiquantitativa foi evidente na relaccedilatildeo da
toponiacutemia que os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos
lugares Nesse iacutenterim nos foi possiacutevel quantificar os topocircnimos em relaccedilatildeo as taxionomias
origem e estrutura morfoloacutegica percebendo as ocorrecircncias em maior frequecircncia
A anaacutelise do ponto de vista etnolinguiacutestico demonstrou a predominacircncia de topocircnimos
originaacuterios da liacutengua indiacutegena um percentual de 36 essa recorrecircncia eacute supostamente devido
agrave internalizaccedilatildeo de nomes de origem tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para
Goiaacutes e agrave presenccedila de iacutendios como jaacute mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo
viveram na regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e
consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)
A liacutengua latina que deu origem agrave liacutengua portuguesa aparece e 29 dos topocircnimos
analisados isso devido aos povos lusoacutefonos que nomeavam os lugares com as caracteriacutesticas
que se estabeleciam com os referidos locais por eles percorridos e habitados E tambeacutem outras
liacutenguas tiveram uma menor frequecircncia como a aacuterabe hebraica preacute-romana sacircnscrito e
115
tambeacutem um topocircnimo de origem obscura fica evidente que outras etnias influenciaram na
nomeaccedilatildeo dos lugares Pode ser pelo fato de o nomeador pertencer a etnia ou ter alguma relaccedilatildeo
indireta
Quanto agrave estrutura morfoloacutegica do toacutepico de acordo com Dick (1992) dos analisados
87 satildeo de formaccedilatildeo simples tendo apenas um formante e 13 satildeo compostos com dois
formantes lexicais assim os compostos revelam mais de uma caracteriacutestica do local nomeado
e caracteriza mais de uma taxionomia
De forma peculiar esta pesquisa aleacutem de proceder com as anaacutelises de classificaccedilatildeo
origemetimologia morfoloacutegica e semacircntico-toponiacutemicas remapeou e cartografou os cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO sem mencionar no revisitar da formaccedilatildeo histoacuterica
deste municiacutepio e da contribuiccedilatildeo com os estudos toponiacutemicos no estado de Goiaacutes
Os topocircnimos aleacutem de servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas
fiacutesicas e sociais da sociedade a que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e
costumes dessa sociedade E ao perceber essas relaccedilotildees de liacutenguaambiente e cultura na
designaccedilatildeo do topocircnimo eacute que propomos para discussatildeo futura doutorado a partir da
ecolinguiacutestica e da toponiacutemia proceder com a anaacutelise da relaccedilatildeo de liacutengua e meio ambiente nos
hidrocircnimos das bacias hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes
116
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Karylleila dos Santos Atlas toponiacutemico de origem indiacutegena do estado do
Tocantins ATITO Goiacircnia-GO Ed PUC Goiaacutes 2010
ALMEIDA Lana Cristina Santana de O leacutexico toponiacutemico das comunidades rurais de Santo
Antocircnio de Jesus uma anaacutelise semacircntica e sociocultural 2012 188f Dissertaccedilatildeo (Mestrado
em Liacutengua e Cultura) ndash Universidade Federal da Bahia Salvador-BA 2012
AULETE Caldas Dicionaacuterio escolar da liacutengua portuguesa 3ordf ed Rio de Janeiro-RJ
Lexikon 2011
BASSETTO Bruno Fregni Elementos de Filologia Romacircnica histoacuteria Externa das Liacutenguas
Romacircnicas V1 2ed Satildeo Paulo-SP EDUSP 2013
______ Elementos de filologia romacircnica histoacuteria externa das liacutenguas Satildeo Paulo-SP Editora
da Universidade de Satildeo Paulo 2001
BEARZOTI FILHO Paulo Formaccedilatildeo linguiacutestica do Brasil Curitiba-PR Nova Didaacutetica
2002
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia Sagrada Traduccedilatildeo Centro Biacuteblico Catoacutelico 100ordf ed rev Satildeo
Paulo-SP Ave Maria 1995
BIDERMAN Maria Tereza Camargo Dimensotildees da palavra Filologia e Linguiacutestica
Portuguesa Araraquara-SP n 2 p 81-118 1998
BORBA Francisco da Silva (Org) Dicionaacuterio UNESP do portuguecircs contemporacircneo Satildeo
Paulo-SP UNESP 2004
BORGES Barsanufo Gomides O despertar dos dormentes estudo sobre a Estrada de
Ferro de Goiaacutes e seu papel nas transformaccedilotildees das estruturas regionais 1909-1922
Goiacircnia-GO Cegraf 1990
BOSI Alfredo Plural mas natildeo caoacutetico In ______ (Org) Cultura Brasileira temas e
situaccedilotildees Satildeo Paulo-SP Editora Aacutetica 1987 p 7-15
BRASIL Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Pires do Rio-GO folha SE-22-X-III Escala 1100 000 1973
______ Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Ipameri-GO folha SE-22-X-VI Escala 1100 000 1973
______ Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Cristianoacutepolis-GO folha SE-22-X-II Escala 1100 000 1973
CABRAL Joatildeo de Pina Matildees pais e nomes no baixo sul (Bahia Brasil) In ______ VIEGAS
Susana de Matos Nomes geacutenero etnicidade e famiacutelia Coimbra-Portugal Almedina 2007 p
63-87
117
CAcircMARA JR Joaquim Mattoso Histoacuteria da Linguiacutestica 6ordf ediccedilatildeo Petroacutepolis-RJ Editora
Vozes LTDA 1975
______ Liacutengua e cultura Revista Letras Londrina-PR v 4 p 50 - 59 1955 Disponiacutevel em
lthttpojsc3slufprbrojsindexphpletrasarticleview2004613227gt Acesso em 30 set
2015
CAMPBELL Lyle Historical Linguistics An Introduction 2 ed Cambrige-EUA MIT
2004
CARVALHINHOS Patriacutecia de Jesus Onomaacutestica e lexicologia o leacutexico como catalisador de
fundo de memoacuteria Estudo de caso os sociotopocircnimos de Aveiro (Portugal) Revista USP Satildeo
Paulo-SP n 56 p 172-179 2003 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevistasuspbrrevusparticleview33819gt Acesso em 13 jan 2016
______ Antroponiacutemia Um velho caminho um novo instrumental de anaacutelise linguiacutestico-
literaacuteria Revista Aacutelvares Penteado Satildeo Paulo-SP v 4 n 8 p 115-135 2002
COSERIU Eugecircnio O homem e sua linguagem Trad Carlos Alberto da Fonseca e Maacuterio
Ferreira Satildeo Paulo-SP Edusp 1982
______ Princiacutepios de semaacutentica estructural Madrid-Espanha Gredos 1977
COUTO Hildo Honoacuterio do Onomasiologia e semasiologia revisitadas pela
ecolinguiacutestica Revista de Estudos da Linguagem Belo Horizonte-MG v 20 n 2 p 183-
210 2012 Disponiacutevel em
lthttpperiodicosletrasufmgbrindexphprelinarticleview2748gt Acesso em 13 jan 2016
______ Ecolinguiacutestica - estudo das relaccedilotildees entre liacutengua e meio ambiente Brasiacutelia-DF
Thesaurus 2007
CROWLEY Terry An Introduction to Historical Linguistics 3 ed Oxford-EUA Oxford
University 2003
CRYSTAL David Pequeno tratado da linguagem humana Traduccedilatildeo Gabriel Perisseacute Satildeo
Paulo-SP Saraiva 2012
CUNHA Antocircnio Geraldo da Dicionaacuterio etimoloacutegico da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro-
RJ Lexikon 2010
CUNHA Celso A magia da palavra In ______ Sob a pele das palavras Rio de Janeiro-RJ
Nova Fronteira Academia Brasileira de Letras 2004 p 217-233
DIAS Ana Lourdes Cardoso Toponiacutemia dos antigos arraiais tocantinense 2016 207f Tese
(Doutorado em Letras e Linguiacutestica) ndash Universidade Federal de Goiacircnia Faculdade de Letras
Goiacircnia-GO 2016
DIAS Cristiane Mapeamento do municiacutepio de Pires do Rio-GO usando teacutecnicas de
geoprocessamento 2008 187f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Federal
de Uberlacircndia Uberlacircndia-MG 2008
118
Dicionaacuterio de nomes proacuteprios Significado dos nomes sd Disponiacutevel em
lthttpswwwdicionariodenomesproprioscombrsampaiogt Acesso em 06 jul 2016
DICK Maria Vicentina de Paula do Amaral Fundamentos teoacutericos da Toponiacutemia Estudo de
caso O Projeto ATEMIG ndash Atlas Toponiacutemico do Estado de Minas Gerais (variante regional do
Atlas Toponiacutemico do Brasil) In SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa (Org) O leacutexico
em estudo Belo Horizonte-MG Faculdade de Letras da UFMG 2006 p 91-117
______ Rede de conhecimento e campo lexical hidrocircnimos e hidrotopocircnimos na onomaacutestica
brasileira In ISQUERDO Aparecida Negri KRIEGER Maria da Graccedila As ciecircncias do
leacutexico lexicologia lexicografia e terminologia Vol II Campo Grande-MT Editora da UFMS
2004 p 121-130
______ O sistema onomaacutestico bases lexicais e terminoloacutegicas produccedilatildeo e frequecircncia In
OLIVEIRA Ana Maria Pinto Pires ISQUERDO Aparecida Negri (orgs) As ciecircncias do
leacutexico lexicologia lexicografia terminologia 2 ed Campo Grande-MS UFMS 2001 p 77-
88
______ A Investigaccedilatildeo Linguiacutestica na Onomaacutestica Brasileira Estudos de Gramaacutetica
Portuguesa III Frankfurt am Main Volume III 2000 p 217-239
______ Meacutetodos e questotildees terminoloacutegicas na onomaacutestica Estudo de caso o Atlas
Toponiacutemico do Estado de Satildeo Paulo Investigaccedilotildees Linguiacutestica e Teoria Literaacuteria Recife-PE
v 9 p 119-148 1999
______ A dinacircmica dos nomes da cidade de Satildeo Paulo 1554-1987 Satildeo Paulo-SP
ANNABLUME 1996
______ O leacutexico toponiacutemico marcadores e recorrecircncias linguiacutesticas (Um estudo de caso a
toponiacutemia do Maranhatildeo) Revista Brasileira de Linguiacutestica Satildeo Paulo-SP editora Plecirciade v
8 ndash n 1 p 59-68 1995
______ Toponiacutemia e Antroponiacutemia no Brasil Coletacircnea de Estudos Satildeo Paulo-SP Serviccedilo
de Artes GraacuteficasFFLCHUSP 1992
______ A Motivaccedilatildeo Toponiacutemica e a Realidade Brasileira Satildeo Paulo-SP Ediccedilotildees Arquivo
do Estado 1990
DUBOIS Jean et al Dicionaacuterio de linguiacutestica Satildeo Paulo-SP Cultrix 2004
FARACO Carlos Alberto Linguiacutestica Histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo da histoacuteria das
liacutenguas Satildeo Paulo-SP Paraacutebola Editorial 2006
FERREIRA Aroldo Maacutercio Urbanizaccedilatildeo e arquitetura na regiatildeo da estrada de ferro Goiaacutes
ndash E F Goiaacutes cidade de Pires do Rio um exemplar em estudo 1999 278f Dissertaccedilatildeo
(Mestrado em Histoacuteria das Sociedades Agraacuterias) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Faculdade
de Ciecircncias Humanas e Filosofia Goiacircnia-GO 1999
119
FIORIN Joseacute Luiz A linguagem humana do mito agrave ciecircncia In ______ Linguiacutestica Que eacute
isso Satildeo Paulo-SP Contexto 2013 p 13-43
FRAZER James George The golden bough 3 ed Nova Iorque-USA The MacMillan
Company 1951
GEERTZ Clifford A interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro-RJ Zahar 1973
GUIMARAtildeES Eduardo Semacircntica do acontecimento um estudo enunciativo da designaccedilatildeo
2ordf ed Campinas-SP Pontes 2005
GUIRAUD Pierre A semacircntica Rio de Janeiro-RJ Bertrand Brasil 1986
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello
Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro-RJ Objetiva Versatildeo
monousuaacuterio 30 1 [CD-ROM] 2009
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles Dicionaacuterio Houaiss da liacutengua portuguesa
Rio de Janeiro-RJ Objetivo 2004
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521740ampidtema=16ampsear
ch=goias|pires-do-rio|sintese-das-informacoesgt Acesso em 27 maio 2016
______ Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros Vol II Rio de Janeiro-RJ 1957
IMB ndash Instituto Mauro Borges de estatiacutesticas e estudos socioeconocircmicos Disponiacutevel em
ltwwwimbgogovbrgt Acesso em 29 maio 2016
ISQUERDO Aparecida Negri SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Apontamentos
sobre hidroniacutemia e hidrotoponiacutemia na fronteira entre Mato Grosso do Sul e Minas Gerais In
ISQUERDO Aparecida Negri (Org) As Ciecircncias do Leacutexico Lexicologia Lexicografia
Terminologia Campo Grande-MS Ed UFMS 2010 p 79-98
KRISTEVA Julia Histoacuteria da linguagem Traduccedilatildeo Margarida Barahona Lisboa-Portugal
Ediccedilotildees 70 Lda 2007
LIMA Antoacutenia Pedroso de Intencionalidade afecto e distinccedilatildeo as escolhas de nomes em
famiacutelias de elite de Lisboa In CABRAL Joatildeo de Pina VIEGAS Susana de Matos Nomes
geacutenero etnicidade e famiacutelia Coimbra-Portugal Almedina 2007 p 39-61
LOacutePEZ Laura Aacutelvarez Nomes pessoais e praacuteticas de nomeaccedilatildeo agrave sombra da escravidatildeo In
BORBA Lilian do Rocio LEITE Cacircndida Mara Brito (Orgs) Diaacutelogos entre liacutengua cultura
e sociedade Campinas-SP Mercado das Letras 2013 p 139-171
MAURER JR Theodoro Henrique Linguiacutestica Histoacuterica Alfa Revista de Linguiacutestica Satildeo
Joseacute do Rio Preto-SP v 11 p 19-42 1967
MENEZES Paulo Maacutercio Leal SANTOS Claacuteudio Joatildeo Barreto dos SANTOS Beatriz
Cristina Pereira dos Geoniacutemia e a cartografia histoacuterica um estudo sobre os nomes da
120
hidrografia Fluminense In III SIMPOacuteSIOBRASILEIRO DE CIEcircNCIAS GEODEacuteSICAS
E TECNOLOGIAS DA GEOINFORMACcedilAtildeO 2010 Recife-PE 2010 p 1-8
NOGUEIRA Wilson Cavalcanti Incidente em Pires do Rio Goiacircnia-GO Kelps sd
NOVAIS Simone Francisca de Avicultura Industrial e Reestruturaccedilatildeo Produtiva os
produtores integrados no municiacutepio de Pires do Rio (GO) 2014 150f Dissertaccedilatildeo (Mestrado
em Geografia) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo Catalatildeo-GO 2014
OGDEN Charles Kay RICHARDS Ivor Armstrong O significado do significado um estudo
da influecircncia da linguagem sobre o pensamento e sobre a ciecircncia do simbolismo Rio de Janeiro-
RJ Zahar 1972
PAIXAtildeO DE SOUSA Maria Clara Linguiacutestica Histoacuterica In NUNES Joseacute Horta PFEIFFER
Claudia (Orgs) Introduccedilatildeo agraves Ciecircncias das Linguagens Linguagem Histoacuteria e
Conhecimento Campinas-SP Pontes 2006 p 11-48
PARKIN David The politicx of naming among the Giriama Sociological Review
Monograph 36 p 61-89 1989
PAULA Maria Helena de Rastros de velhos falares leacutexico e cultura no vernaacuteculo catalano
2007 521f Tese (Doutorado em Linguiacutestica e Liacutengua Portuguesa) ndash Universidade Estadual
Paulista Faculdade de Ciecircncias e Letras Campus de Araraquara Araraquara-SP 2007
PEREIRA Renato Rodrigues A toponiacutemia de Goiaacutes em busca da descriccedilatildeo de nomes de
lugares de municiacutepios do sul goiano 2009 204f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Estudos da
Linguagem) ndash Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Centro de Ciecircncias Humanas e
Sociais Campo Grande-MS 2009
PIEL Joseph Consideraccedilotildees gerais sobre toponiacutemia e antroponiacutemia galegas Verba sl v 6
p 5-11 1979 Disponiacutevel em ltdspaceuscesbitstream1034735561pg_007-014_verba6gt
Acesso em 23 mar 2016
PIERCE Charles Sanders Semioacutetica Traduccedilatildeo Joseacute Teixeira Neto Satildeo Paulo-SP
Perspectiva 2005
PLATAtildeO Craacutetilo Lisboa-Portugal Instituto Piaget 2001
RAMOS Ricardo Tupiniquim BASTOS Gleyce Ramos Onomaacutestica e possibilidades de
releitura da histoacuteria Revista Augustus Rio de Janeiro-RJ ano 15 n30 p 86-92 2010
ROCHA Juacutelio Ceacutesar Barreto GALVAtildeO Elis Monique Vasconcelos GONCcedilALVES
Mauriacutecio Costa Onomaacutestica uma ciecircncia para a autoidentificaccedilatildeo de Rondocircnia Revista
Pesquisa amp Criaccedilatildeo (UNIR) Porto Velho-RO v 10 n 1 p 25-34 janjun 2011 Disponiacutevel
em lthttpwwwperiodicosunirbrindexphppropesqarticleviewFile405440gt Acesso em
10 jun 2016
SAMPAIO Theodoro O Tupi na geografia nacional Salvador-BA Secccedilatildeo Graphica da
Escola de Aprendizes Artificies 1928
121
______ O Tupi na Geographia Nacional Memoria lida no Instituto Histoacuterico e Geographico
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo-SP Typ da Casa Eclectica 1901
SAPIR Edward A Linguagem Satildeo Paulo-SP Perspectiva 1980
______ Linguiacutestica como ciecircncia Rio de Janeiro-RJ Livraria Acadecircmica 1969
SAUSSURE Ferdinand de Curso de Linguiacutestica Geral 30ordf ed Satildeo Paulo-SP Cultrix 2008
SIQUEIRA Gisele Martins AGUIAR Maria Sueliacute de Linguiacutestica histoacuterica comparativa e
formaccedilatildeo do leacutexico da liacutengua portuguesa In II Simpoacutesio Nacional de Letras e Linguiacutestica I
Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica Linguagens Histoacuteria e Memoacuteria (25 anos
do curso de Letras Campus Catalatildeo) Catalatildeo-GO p 381-394 2011
______ Campos leacutexicos dos falares rurais de Goiaacutes Mato Grosso Minas Gerais e Satildeo
Paulo sd Disponiacutevel em
lthttpwwwsbpcnetorgbrlivro63raconpeexmestradotrabalhos-mestradomestrado-gisele-
martinspdfgt Acesso em 01 fev 2016
SIQUEIRA Jacy Um contrato singular e outros ensaios de Histoacuterias de Goiaacutes Goiacircnia-
GO Kelps 2006
SIQUEIRA Kecircnia Mara de Freitas O leacutexico tupi na nomeaccedilatildeo dos lugares goianos 2015
Mimeografado
______ Toponiacutemia Kalunga aspectos da inter-relaccedilatildeo liacutengua povo e territoacuterio Via Litterae
Anaacutepolis-GO n 7 v 1 p 61-75 janjun 2015 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevistauegbrindexphpvialitteraegt Acesso em 15 set 2016
______ Nos trilhos da estrada de ferro reminiscecircncias de motivaccedilotildees toponiacutemicas Revista da
ANPOLL Satildeo Paulo-SP v 1 n 32 p 150-170 2012 Disponiacutevel em
ltwwwanpollorgbrrevistagt Acesso em 10 jun 2015
SILVA Antocircnio Moreira da Dossiecirc de Goiaacutes ndash Enciclopeacutedia Regional um compecircndio de
informaccedilotildees sobre Goiaacutes sua histoacuteria e sua gente Rio de Janeiro-RJ Sindicato Nacional dos
Editores de Livros 2001
SILVA Augusto Soares da Palavras significados e conceitos o significado lexical na mente
na cultura e na sociedade Cadernos de Letras da UFF Dossiecirc Letras e cogniccedilatildeo n 41 p 27-
53 2010 Disponiacutevel em ltwwwuffbrcadernosdeletrasuff41artigo1pdfgt Acesso em 06
maio 2015
SILVA Joseacute Maria da SILVEIRA Emerson Sena da Apresentaccedilatildeo de trabalhos
acadecircmicos 2 ed Petroacutepolis-RJ Vozes 2007
SILVA Tomaz Tadeu da Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais
Petroacutepolis-RJ Vozes 2000
SOARES Francisco Accioli Martins Pontos Histoacutericos de Pires do Rio Goiacircnia-GO Graacutefica
e Editora Piloto 1988
122
SOLIacuteS Gustavo Fonseca La gente pasa los nombres quedan Introduccioacuten en la Toponiacutemia
Lima-Peru Ed Lengua e Sociedad 1997
TIBIRICcedilA Luiz Caldas Dicionaacuterio de topocircnimos brasileiros de origem tupi Santos-SP
Traccedilo Editora 1985
TRASK Robert Lawrence Dicionaacuterio de Linguagem e Linguiacutestica Traduccedilatildeo Rodolfo Ilari
Satildeo Paulo-SP Contexto 2006
WHORF Benjamin Lee Lenguage Pensamiento y Realidad Barcelona-Espanha Barral
Editores 1971
ZAVAGLIA Claacuteudia Metodologia em Ciecircncias da Linguagem Lexicografia In
GONCcedilALVES Adair Vieira GOacuteIS Marcos Luacutecio de Sousa (Orgs) Ciecircncias da linguagem
o fazer cientiacutefico Campinas-SP Mercado das Letras 2012 p 231-264
CLEBER CEZAR DA SILVA
OS CURSOS DrsquoAacuteGUA DE PIRES DO RIO ANAacuteLISE DAS MOTIVACcedilOtildeES
TOPONIacuteMICAS
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-
Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem ndash niacutevel de
Mestrado - da Universidade Federal de Goiaacutes ndash
Regional Catalatildeo como requisito parcial de
creacuteditos para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em
Estudos da Linguagem
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Linguagem Cultura e
Identidade
Linha de Pesquisa Liacutengua Linguagem e
Cultura
Orientadora Dra Kecircnia Mara de Freitas
Siqueira
CATALAtildeO (GO)
2017
CLEBER CEZAR DA SILVA
OS CURSOS DrsquoAacuteGUA DE PIRES DO RIO ANAacuteLISE DAS MOTIVACcedilOtildeES
TOPONIacuteMICAS
Aprovado por
__________________________________________
Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Universidade Estadual de Goiaacutes ndash Cacircmpus Pires do Rio
Orientadora
__________________________________________
Vanessa Regina Duarte Xavier
Universidade Federal de Goiaacutes ndash Regional Catalatildeo
__________________________________________
Karylleila dos Santos Andrade
Universidade Federal do Tocantins ndash Cacircmpus Palmas
Catalatildeo-GO 20 de Janeiro de 2017
Decido este trabalho a Deus aos eternos amantes
da Toponiacutemia e agravequela que desde sempre eacute meu
alicerce e a maior incentivadora minha matildee
Nelica Antocircnia Pereira da Silva
AGRADECIMENTOS
ldquoE agora eis o que diz o Senhor aquele que te criou Jacoacute e te formou Israel nada
temas pois eu te resgato eu te chamo pelo nome eacutes meurdquo (ISAIacuteAS 431) Senhor de Israel
foi por chamar-me pelo nome eacute que constitui esta graccedila sem o Seu amor e graccedila eu nada seria
pois colocou-me em peacute quando pensava natildeo mais conseguir caminhar e de amparo me enviaste
o Espiacuterito Santo e a Virgem Maria graccedilas rendo agrave Santiacutessima Trindade e agrave Virgem por
caminharem comigo e natildeo me deixar perder no caminho
ldquoOs filhos satildeo heranccedila do Senhor uma recompensa que ele daacute Como flechas nas matildeos
do guerreiro satildeo os filhos nascidos na juventude Como eacute feliz o homem que tem a sua aljava
cheia deles Natildeo seraacute humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunalrdquo (SALMO 1273-
5) Famiacutelia o que seria de mim sem vocecircs nada Matildee e pai sempre com amor mesmo que
velado souberam educar seus dois filhos na dignidade para que se constituiacutessem verdadeiros
homens e de bem Mesmo com as dificuldades da vida em momento algum se abateram foram
fieacuteis agrave missatildeo designada de serem pais a vocecircs minha eterna gratidatildeo e se hoje concretizo esta
fase em minha vida ela eacute tatildeo minha quanto de vocecircs muito obrigado Amo vocecircs
As relaccedilotildees de afeto e cuidado sempre foram o nosso maior elo a vocecircs que sempre
torceram por mim e a cada conquista vibraram intensamente obrigado meu irmatildeo cunhada
sobrinha afilhados tios primos padrinhos e a matriarca de nossa famiacutelia minha adorada avoacute
Que Deus continue fazendo de noacutes uma famiacutelia de princiacutepios e sempre grata a Ele por tudo
ldquoO amigo ama em todos os momentos eacute um irmatildeo na adversidaderdquo (PROVEacuteRBIOS
1717) Amigos famiacutelia que a vida me deu de presente mencionar nomes aqui seria muito
injusto cada um com seu jeito e adversidade me ensinaram que a vida natildeo se resume apenas
em bons momentos pois estiveram comigo em momentos nada agradaacuteveis souberam respeitar
o meu silecircncio minhas ausecircncias e o melhor vibraram comigo todos os momentos desta
conquista a vocecircs meus ldquoirmatildeos na adversidaderdquo muito obrigado
Aos colegas e amigos do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem
Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo nos encontros da vida sempre tecircm surpresas
a melhor de todas foi poder construir com muitos de vocecircs verdadeiros laccedilos de amizade que
iratildeo perpetuar para todo sempre soacute posso neste momento agradecer pelos momentos de troca
de experiecircncias e conhecimento e desejar sucesso a todos
ldquoO ensino dos saacutebios eacute fonte de vida e afasta o homem das armadilhas da morterdquo
(PROVEacuteRBIOS 1314) Ensinar eis o dom com tanta dedicaccedilatildeo e carinho muitos mestres
conduziram-me ateacute aqui e foi com a graccedila do ensino dos saacutebios eacute que natildeo caiacute nas armadilhas
pois tambeacutem me tornei saacutebio Professora doutora eterna orientadora Kecircnia Mara de Freitas
Siqueira nenhuma palavra eacute capaz de expressar a gratidatildeo que tenho por vocecirc foram anos de
ensinamentos e agora se concretizam com mais esta fase sou e serei eternamente grato por me
apresentar a Toponiacutemia pois ela me levaraacute a mais um degrau no meio acadecircmico Obrigado
por tudo Deus lhe pague
Aos professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem
Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo que muito contribuiacuteram para a construccedilatildeo
desta pesquisa Fabiacuteola Aparecida Sartin Dutra Parreira Almeida Maria Helena de Paula e
Vanessa Regina Duarte Xavier A professora Vivian Regina Orsi Galdino de Souza do
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio
de Mesquita Filhordquo cacircmpus Satildeo Joseacute do Rio Preto-SP obrigado pelos seus vastos ensinamentos
e por permitir que cursasse a disciplina ldquoIntroduccedilatildeo aos Estudos Lexicograacuteficosrdquo Mestres
obrigado pelos ensinamentos e momentos de descontraccedilatildeo e alegria vocecircs foram capazes de
mostrar que o universo da pesquisa tambeacutem se constitui na felicidade e prazer
ldquoTodo trabalho aacuterduo traz proveito mas o soacute falar leva agrave pobrezardquo (PROVEacuteRBIOS
1423) O trabalho dignifica o homem palavras estas do livro da vida a biacuteblia sagrada Minha
vida desde a infacircncia foi pautada no estudo e no trabalho assim todos os trabalhos que tive me
possibilitaram crescer enquanto ser humano e profissional Registro aqui os meus mais sinceros
agradecimentos aos colegas e amigos do Coleacutegio Estadual Professor Ivan Ferreira minha eterna
casa pois foi laacute que tive o prazer em estudar e depois retornar como profissional inclusive ser
gestor deste honrado estabelecimento de ensino Aos colegas e amigos do Instituto Federal
Goiano ndash Campus Urutaiacute obrigado por permitirem dividir com vocecircs este espaccedilo de
conhecimento e aprendizado
A banca examinadora deste trabalho professores Karylleila dos Santos Andrade
Vanessa Regina Duarte Xavier e Alexandre Antoacutenio Timbane registro os meus mais sinceros
agradecimentos pelas valorosas contribuiccedilotildees no Exame de Qualificaccedilatildeo e agora na defesa deste
trabalho Deus lhes pague
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de
Goiaacutes Regional Catalatildeo na pessoa da coordenadora Luciana Borges obrigado por dar
possiblidades que novos pesquisadores se formem no acircmbito dos estudos da linguagem
Enfim sozinho natildeo sou nada sempre necessitarei de outros por isso a todos os que
foram meu alicerce para a concretizaccedilatildeo de mais esta etapa em minha vida algo sonhado haacute
muito tempo receba o meu muito obrigado e Deus lhes pague
ldquoO nome eacute um certo sentido a proacutepria coisa dar
nome agraves coisas eacute conhececirc-las e apropriar-se
delas a denominaccedilatildeo eacute o ato da posse espiritualrdquo
(MIGUEL UNAMUNO)
RESUMO
Esta pesquisa centra-se nos estudos toponiacutemicos e tem como objetivo descrever e analisar a
origemetimologia morfoloacutegica e semanticamente dos topocircnimos da hidrografia da cidade de
Pires do Rio-GO para identificar as relaccedilotildees entre esses designativos de lugares e respectivos
fatores contextuais que por ventura possam conter indiacutecios da motivaccedilatildeo toponiacutemica O
levantamento dos topocircnimos foi feito por meio de documentos oficiais mapas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Instituto Mauro Borges (IBM) numa escala de
1100000 e das cartas topograacuteficas A pesquisa eacute de base documental numa abordagem
qualiquantitativa O meacutetodo da pesquisa eacute o onomasioloacutegico e indutivo parte-se de casos
particulares para uma verdade geral combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica de
estudo das designaccedilotildees com o objetivo de analisar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito
A anaacutelise do corpus da pesquisa deu-se apoacutes o levantamento dos 46 topocircnimos dos cursos
drsquoaacutegua dentre os quais 15 satildeo analisados neste estudo Nesse sentido parte-se do princiacutepio de
que o signo toponiacutemico eacute motivado pois fatores extralinguiacutesticos influenciam o nomeador no
ato de nomear na perspectiva de que a liacutengua recorta a realidade agrave sua maneira (Sapir-Whorf)
sendo que a proacutepria liacutengua eacute um depositaacuterio de cultura assim os topocircnimos revelam fatores
soacutecio-histoacuterico-culturais do lugar que o nomeia A histoacuteria e a geografia do municiacutepio de Pires
do Rio-GO foram fundantes para as anaacutelises que nas bases onomasioloacutegicas e indutivas
evidenciam que o local e suas caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais influenciam o nomeador no ato
do batismo do topocircnimo Perceber as relaccedilotildees de nomeaccedilatildeo e nomeador satildeo fatores que por
meio das classificaccedilotildees taxionocircmicas satildeo revelados sem deixar de perceber tambeacutem que a
origem dos nomes e sua estrutura morfoloacutegica evidencia os fatores contextuais a que da liacutengua
cultura e ambiente estatildeo impregnados no topocircnimo isso tudo agrave vista de quem o designou
Palavras-Chave Toponiacutemia Liacutengua Cultura Pires do Rio Hidrografia
ABSTRACT
This research focuses on the toponymic studies and aims to describe and analyze the origin of
the names morphological and semantic of designatory toponyms of the hydrography of Pires
do Rio-GO city to identify the relations between these designative places and their respective
contextual factors which may by chance contain indications of toponymic motivation The
research of the toponyms was done by means of official documents maps of the Brazilian
Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Mauro Borges Institute (IBM) on a scale of
1 100000 and topographic maps The research is documentary based in a qualitative and
quantitative approach the research method is the onomasiological method combined with other
methods which consists of the study of designations with the purpose of studying the various
names attributed to a concept The analysis of this researchrsquos corpus took place after the survey
of the 46 toponyms of the watercourses from which 15 are analyzed in this study In this sense
it is assumed that the toponymic sign is motivated once extralinguistic factors influence the
nominator in the act of naming in the perspective that the language outlines reality in its own
way (Sapir-Whorf) and the language itself is a depository of culture thus toponyms reveal
socio-historical-cultural factors of the place that names it The history and geography of Pires
do Rio-GO city was the basis for the analyzes which on the onomasiological bases show that
the place and its physical and social characteristics influence the nominator in the moment of
the toponym baptism To perceive naming and nominator relationships are factors that are
revealed through the taxonomic classifications noticing at the same time that the origin of the
names and their morphological structure reveals the contextual factors that are impregnated in
the toponymy of the language culture environment aspects from the point of view of who
appointed it
Keywords Toponymy Language Culture Pires do Rio Hydrography
LISTA DE ABREVIATURAS
ATEGO ndash Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes
ATB ndash Atlas Toponiacutemico Brasileiro
DSG ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito
ETE ndash Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto
FCA ndash Ferrovia Centro Atlacircntica
GO ndash Goiaacutes
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IBM ndash Instituto Mauro Borges
IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano
M ndash Municiacutepio
PEA ndash Populaccedilatildeo Economicamente Ativa
RFFSA ndash Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima
SD ndash Sem data
SE ndash Secccedilatildeo
LISTA DE FICHAS
Ficha 01 ndash Pires do Riohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip67
Ficha 02 ndash Coacuterrego Laranjal89
Ficha 03 ndash Ribeiratildeo Taquaralhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip90
Ficha 04 ndash Ribeiratildeo Cachoeirahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip91
Ficha 05 ndash Coacuterrego Barreiro93
Ficha 06 ndash Coacuterrego Terra Vermelha94
Ficha 07 ndash Coacuterrego Itauacutebi96
Ficha 08 ndash Ribeiratildeo Brumado96
Ficha 09 ndash Rio Corumbaacute98
Ficha 10 ndash Rio do Peixe98
Ficha 11 ndash Rio Piracanjuba99
Ficha 12 ndash Ribeiratildeo Sampaio101
Ficha 13 ndash Ribeiratildeo Bauacute104
Ficha 14 ndash Ribeiratildeo Caiapoacute105
Ficha 15 ndash Ribeiratildeo Marataacute105
Ficha 16 ndash Ribeiratildeo Mucambo106
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 ndash Natureza das Taxionomias87
Graacutefico 2 ndash Taxionomias de Natureza Fiacutesica88
Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural101
Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos108
Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos111
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 ndash Pires do Rio(GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio(GO)74
Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)83
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo44
Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos57
Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Recenseamento 76
Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Contagem 76
Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio(GO) 77
Quadro 6 ndash Os cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO) 78
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO20
I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO 25
11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear 25
12 Liacutengua e Cultura 33
13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes 39
14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica 43
15 Linguiacutestica Histoacuterica 47
II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS 51
21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos 51
212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica 53
22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia 57
III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO 66
31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte 66
32 Pires do Rio geograacutefico 74
33 Os cursos daacutegua 78
IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR81
41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural 84
42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos daacutegua de Pires do Rio-GO 87
421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos88
4211 Fitotopocircnimos89
4212 Hidrotopocircnimos91
4213 Litotopocircnimos93
4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos94
4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos95
4216 Meteorotopocircnimos96
4217 Zootopocircnimos97
422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos100
4221 Antropotopocircnimos101
4222 Ergotopocircnimos103
4223 Etnotopocircnimos104
4224 Sociotopocircnimos106
43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos107
44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos111
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS113
REFEREcircNCIAS 116
20
INTRODUCcedilAtildeO
Ao dar nome a seres e objetos o homem tambeacutem os categoriza jaacute que eacute o ato de nomear
que daacute existecircncia a algo ou algueacutem Eacute por meio do nome que haacute identificaccedilatildeo e principalmente
a diferenciaccedilatildeo dos seres e dos objetos No ato da nomeaccedilatildeo diversos aspectos extralinguiacutesticos
podem influenciar o nomeador isso pode caracterizar especificamente a motivaccedilatildeo que subjaz
a qualquer signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica A motivaccedilatildeo por sua vez eacute reveladora de
inuacutemeros aspectos que estatildeo na base da inter-relaccedilatildeo liacutengua cultura e ambiente pois o nome
proacuteprio de lugar como fato da liacutengua identifica e guarda uma significaccedilatildeo precisa oriunda de
aspectos fiacutesicos ou culturais Desta forma busca-se mediante o estudo dos designativos dos
cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO descrever essa relaccedilatildeo (liacutengua cultura e
ambiente) Entende-se assim que um rio um riacho um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que
uma vez nomeados passam a carregar as inuacutemeras memoacuterias do lugar
Em decorrecircncia disso abrem-se possibilidades de inter-relacionar aacutereas do saber
humano com vista a estabelecer algum viacutenculo epistemoloacutegico a fim de proporcionar novos
olhares sobre um objeto jaacute descrito e analisado por outra aacuterea do conhecimento a geografia
mas restrito a um uacutenico niacutevel de anaacutelise linguiacutestica Isso leva a considerar os aspectos da
linguagem dentro de uma visatildeo interdisciplinar que pode trazer entre tantas contribuiccedilotildees o
fato de entendecirc-los na totalidade como em uma rede de relaccedilotildees Em outras palavras oferece
a possibilidade de analisar os fatos linguiacutesticos de maneira holiacutestica uma vez que os fatores
envolvidos na interaccedilatildeo devem ser concebidos como um todo formado por componentes que se
relacionam entre si
Entrecruzar as aacutereas de geografia e da linguiacutestica eacute um trabalho que jaacute se tem feito e
alguns estudiosos como eacute o caso de Menezes e Santos (2007 apud Menezes Santos Santos
2010) tratam a toponiacutemia na geografia como geoniacutemia Para Andrade (2010 p 105-106)
Natildeo se pode pensar em toponiacutemia desvinculada de outras ciecircncias como
histoacuteria geografia antropologia cartografia psicologia e a proacutepria
linguiacutestica Deve ser pensada como um complexo linguiacutestico-cultural um fato
do sistema das liacutenguas humanas Faz parte de uma ciecircncia maior que se
subdivide em toponiacutemia e antroponiacutemia
Assim esta pesquisa eacute relevante para a aacuterea dos estudos da linguagemlinguiacutesticos como
para a geografia sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo histoacuterico-cultural sobre a cidade de
Pires do Rio-GO e levado a conhecimento puacuteblico
21
Fazer esse estudo acerca da hidrografia da cidade de Pires do Rio eacute elementar elencando
natildeo soacute estudos semacircnticos lexicais origemetimologia dos termos mas tambeacutem soacutecio-
histoacuterico-culturais de um povo Algo ainda se faz pertinente na definiccedilatildeo do problema pois foi
assim que surgiu o interesse por este estudo em conversas informais com pessoas da cidade
obtive respostas que aguccedilaram esta pesquisa pois proacuteximo de Pires do Rio-GO cerca de uns
3 km da cidade haacute um determinado ribeiratildeo o qual a comunidade local denomina de Pedro
Teixeira mas na verdade esse nome eacute dado agrave ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo e foi construiacuteda
pelo fazendeiro Sr Pedro Teixeira embora o nome que se apresenta na carta topograacutefica seja
ribeiratildeo Sampaio
Diante da problematizaccedilatildeo qual a origemetimologia dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da
cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do
lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo A partir disso centra-se o
nosso estudo em descrever e analisar a origemetimologia dos termos a morfologia e a
semacircntica investigando e verificando os topocircnimos e as relaccedilotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo
de Pires do Rio-GO
Preliminarmente trabalha-se com a seguinte hipoacutetese de pesquisa pelo seu caraacuteter
motivado o signo toponiacutemico possibilita reconhecer fatores vinculados agrave motivaccedilatildeo que subjaz
agrave escolha dos nomes de lugares o que pode possibilitar o levantamento de fatores soacutecio-
histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua
como iacutendice da estreita relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura A toponiacutemia dos cursos drsquoaacutegua de Pires
do Rio-GO incorpora caracteriacutesticas sociais linguiacutesticas e culturais da regiatildeo a que pertence
Este eacute um dos embates fundantes de nosso estudo assim espera-se com esta pesquisa
cartografar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO com base na
metodologia do ATB (Atlas Toponiacutemico Brasileiro) como sugerido por Dick (1990 2004)
Posto isso ao final responderemos agraves perguntas de pesquisa jaacute mencionadas
anteriormente e ainda contribuiremos com as pesquisas na aacuterea da Onomaacutestica que estatildeo
desenvolvendo-se em Goiaacutes Conveacutem mencionar tambeacutem que uma das contribuiccedilotildees desta
pesquisa aleacutem de revisitar a histoacuteria e a cultura de uma regiatildeo eacute a de auxiliar na construccedilatildeo do
Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes ndash ATEGO
Assim o objetivo da pesquisa constitui-se basicamente em descrever e analisar os
topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua e de outros elementos hidrograacuteficos da regiatildeo do
municiacutepio de Pires do Rio-GO observando noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de
natureza fiacutesica e de natureza antropocultural Para tanto eacute necessaacuterio evidenciar os fatores que
constituem a motivaccedilatildeo que subjaz agrave escolha do nome do lugar o que requer a identificaccedilatildeo de
22
fatos sociais culturais histoacutericos elementos geograacuteficos (quando pertinente) e outras
motivaccedilotildees de diferentes naturezas
De uma maneira peculiar os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo i) remapear os
cursos hiacutedricos mediante o elenco de seus topocircnimos para cartografar os mapas da bacia
hidrograacutefica e dos topocircnimos seguindo a metodologia do Projeto ATB ii) verificar mediante
a anaacutelise linguiacutestica dos topocircnimos a motivaccedilatildeo referente agrave cultura e agrave histoacuteria e
principalmente aos aspectos fiacutesicos dos lugares que iniciaram o processo de nomeaccedilatildeo dos rios
coacuterregos ribeirotildees e quedas drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO (evidenciando o viacutenculo
liacutengua ambiente e cultura) iii) de alguma forma contribuir para o desenvolvimento dos estudos
toponiacutemicos em Goiaacutes
A metodologia consiste de uma pesquisa de natureza documental de abordagem
qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites
e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos puacuteblicos (mapas e cartas
topograacuteficas) e o meacutetodo da pesquisa eacute o de induccedilatildeo com ecircnfase para a observaccedilatildeo do fazer
onomasioloacutegico combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica especialmente o Woumlrter
und Sachen (palavras e coisas) O meacutetodo onomasioloacutegico e indutivo se constitui do estudo das
designaccedilotildees com o objetivo de estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Usando
esse meacutetodo pode-se investigar toda ou pelo menos parte da cultura popular de um local e
priorizar aspectos sincrocircnicos ou histoacutericos se necessaacuterio for Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os
aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos lugares
Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de dissertaccedilatildeo de Mestrado sobre Os
cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio anaacutelise das motivaccedilotildees toponiacutemicas produzida no acircmbito do
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem Universidade Federal de Goiaacutes ndash
Regional Catalatildeo que focaliza os topocircnimos hiacutedricos do municiacutepio de Pires do Rio
Desta maneira este trabalho se estrutura em quatro capiacutetulos organizados de forma a
abranger os resultados desta pesquisa que articula por meio da linguagem quesitos histoacutericos
geograacuteficos e culturais
Assim no capiacutetulo I O nome e a atividade de nomeaccedilatildeo satildeo apresentadas
consideraccedilotildees referentes ao nome e ao ato de nomear no sentido de reformular questotildees teoacutericas
necessaacuterias ao levantamento de dados e agrave construccedilatildeo do corpus bem como agrave descriccedilatildeo dos
topocircnimos que designam os elementos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas drsquoaacutegua) do municiacutepio
de Pires do Rio-GO Para tanto o capiacutetulo traz uma revisatildeo dos conceitos de nome (comum
proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes tanto no sistema linguiacutestico
como em relaccedilatildeo agrave cultura e estabelecendo as relaccedilotildees de liacutengua e cultura pois a liacutengua
23
transporta a cultura no tempo e recorta agrave realidade agrave sua maneira Eacute necessaacuterio aqui trazer as
discussotildees teoacutericas acerca da toponiacutemia e do signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica que
sustentam a nossa pesquisa Ainda fazemos uma retomada do surgimento e desdobramento da
Linguiacutestica Histoacuterica pois eacute a partir dela que satildeo criados os meacutetodos de pesquisa os quais
contribuem para a aacuterea de estudo
O capiacutetulo II A metodologia da pesquisa e seus desdobramentos eacute praticamente uma
extensatildeo do primeiro porque procura reavaliar alguns meacutetodos usados em pesquisa onomaacutestica
com o objetivo de coadunar teoria meacutetodo e procedimentos de pesquisa
Neste capiacutetulo eacute possiacutevel rever algumas questotildees sobre os meacutetodos da linguiacutestica o
meacutetodo onomasioloacutegico que investiga as relaccedilotildees de significado e referecircncias partindo das
designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Ainda eacute
apresentada uma siacutentese do comparativismo e do meacutetodo Woumlrter und Sachen de Hugo
Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) pois de acordo com Bassetto (2001)
pode-se verificar pontos em comum que compartilham com o meacutetodo onomasioloacutegico Ao
enfatizar questotildees de ordem semacircntica das palavras ressalta-se a realidade que elas designam
para esses autores a verdadeira etimologia da palavra estaacute no conhecimento dessa realidade
Busca-se assim instruir sobre a necessidade de conhecer se possiacutevel o objeto designado por
um nome para que o significado possa ser explicitado adequadamente
Dados histoacutericos e geograacuteficos referentes agrave capital da estrada de ferro Pires do Rio
compotildeem o terceiro capiacutetulo A capital da estrada de ferro Pires do Rio de modo a traccedilar em
linhas gerais a histoacuteria da fundaccedilatildeo do municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XX em decorrecircncia da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz e da Estaccedilatildeo Feacuterrea Pires do Rio em 09 de novembro de
1922 A importacircncia deste municiacutepio se deve agrave estrada de ferro e obviamente aos primeiros
habitantes que para caacute acorreram acreditando no desenvolvimento da antiga ldquoTeteia do
Corumbaacuterdquo
No capiacutetulo quarto A toponiacutemia e suas relaccedilotildees com o lugar apresentamos a anaacutelise
dos dados as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural e as fichas lexicograacuteficas-
toponiacutemicas dos 15 topocircnimos analisados de acordo com os estudos de Dick (1992)
juntamente com a origem das liacutenguas e estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos daiacute procedemos
agraves anaacutelises das classificaccedilotildees toponiacutemicas que estatildeo presentes nos designativos dos cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO estabelecendo as relaccedilotildees motivacionais e semacircnticas
do topocircnimo com o local nomeado
Na sequecircncia satildeo apresentadas as Consideraccedilotildees Finais que retomam os resultados
obtidos ao teacutermino da pesquisa pautados nos objetivos e perguntas que orientaram este estudo
24
E por fim seguem as Referecircncias que sustentaram a parte teoacuterica e a construccedilatildeo do corpus
coletado
25
I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO
O conhecimento dos nomes natildeo eacute negoacutecio de
importacircncia somenos
(PLATAtildeO 2001)
Este capiacutetulo tem o objetivo de tecer de forma mais geral consideraccedilotildees acerca do nome
e do ato de nomear para reformular questotildees teoacutericas necessaacuterias ao levantamento de dados
para a construccedilatildeo do corpus e descriccedilatildeo dos hidrocircnimos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas
drsquoaacutegua) do municiacutepio de Pires do Rio-GO Para tanto os itens a seguir trazem uma revisatildeo dos
conceitos de nome (comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes
tanto no sistema linguiacutestico como em relaccedilatildeo agrave cultura jaacute que representam inuacutemeros aspectos
que culminam em certos criteacuterios para a nomeaccedilatildeo ou nominaccedilatildeo revelando em certo sentido
especificidades dessa cultura que satildeo evidenciadas na nomeaccedilatildeo Ao dar um nome a um objeto
ou a um lugar natildeo se reduz apenas a indicar mas a classificar situar identificar e sobretudo
uma vez categorizado inscreve-se tambeacutem em um sistema cognitivo permeado por essa mesma
cultura
11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear
O nome eacute a parte que caracteriza a existecircncia de algo ou algueacutem sem a especificidade
do nome o objeto ou a pessoa natildeo eacute identificada Aliaacutes em muitas situaccedilotildees o nome consolida
a existecircncia do objeto que passa a ldquoexistirrdquo como tal em decorrecircncia de ter um nome ou seja
o falante pode perceber no mundo apenas aquilo que conhece pelo nome O nome estaacute presente
em todas as esferas do desenvolvimento da humanidade Eacute parte constitutiva do proacuteprio ser
humano que se reconhece e se afirma face ao nome que carrega eacute tambeacutem o nome que lhe
rompe o anonimato e lhe confere de certa forma uma identidade
Segundo Silva (2000) eacute o nome que diferencia os seres e os objetos do mundo
Identidade e diferenccedila ocorrem simultaneamente como produto de um mesmo processo o da
identificaccedilatildeo Pode-se afirmar que depois de nomeado o objeto passa a ser identificado
tambeacutem pelas diferenccedilas que possui em relaccedilatildeo agravequilo que natildeo eacute ou melhor eacute diferenciado
face aos demais elementos do mundo extralinguiacutestico conferindo-lhe existecircncia Tem um nome
porque existe tornou-se conhecido e eacute reconhecido como elemento cultural importante para a
continuidade de uma populaccedilatildeo como um dos milhares de traccedilos que a caracteriza e desta
26
forma ldquoo processo de nomeaccedilatildeo eacute uma forma pela qual a sociedade cria os seus membros agrave sua
imagemrdquo (CABRAL 2007 p 85)
E em Craacutetilo Platatildeo narra um diaacutelogo entre Demoacutestenes e Craacutetilo acerca da justeza dos
nomes debates no qual Soacutecrates aponta para ambas as possibilidades isto eacute para os socraacuteticos
tanto se pode entender os nomes como vinculados agrave coisa como podem ser vistos como
inteiramente sem elo com as coisas do mundo Platatildeo (2001 p 48) justifica que o ato de nomear
era visto como uma pressuposiccedilatildeo da existecircncia de algo assim ldquoas coisas devem ser nomeadas
como lhes pertence por natureza serem nomeadas e por meio do que devem secirc-lo e natildeo como
noacutes queremos e assim faremos e nomearemos melhor mas de outra maneira natildeordquo
A nomeaccedilatildeo eacute assim uma atividade bastante significativa para o ser humano e se
constitui de uma accedilatildeo complementar do modo como determinada populaccedilatildeo entende o meio em
que vive essa eacute a linha de pensamento tanto de Dick (1990) como de outros estudiosos como
Basso (1988) Langacker (2002) Weisgerber (1977) Wierzbicka (1997) e Worf (1971) dos
fatos da linguagem como evidencia a assertiva que segue
Apreensatildeocompreensatildeo e transmissatildeoparticipaccedilatildeo de um dado qualquer do
saber humano satildeo atuantes de uma mesma e complexa evidecircncia relacional ndash
o ato comunicativo ndash que corporifica em sua expressividade um aglomerado
de situaccedilotildees liacutenguo-soacutecio-psiacutequicas Nele estaacute manifesto ainda que de modo
impliacutecito o registro pelo qual se concretizou a ldquoassimilaccedilatildeo do
mundordquo atraveacutes do coacutedigo de linguagem vivenciado por determinada
comunidade linguiacutestica (DICK 1990 p 29)
Natildeo eacute equivocado afirmar que o nome corporifica aquilo que determinada comunidade
assimilou de seu meio circundante mediante relaccedilotildees estabelecidas entre a liacutengua que
possibilita a representaccedilatildeo daquilo que foi evidenciado e as impressotildees sociopsiacutequicas oriundas
dos objetos do mundo que se tornaram salientes aos olhos do nomeador Assim recebe um
nome tudo aquilo que de uma forma ou de outra tornou-se um item da cultura seja um acidente
fiacutesico-natural (um rio uma espeacutecie botacircnica) ou um item criado culturalmente Em todas as
sociedades conhecidas haacute referecircncia aos nomes e consequentemente agrave accedilatildeo de nomear Muitas
vezes essa atividade humana eacute revestida de mitos e rituais que conferem ao nome poderes
maacutegicos ou sobre-humanos
Nas sociedades primitivas de acordo com Cunha (2004) um nome pode valorar o
sagrado ou o ritual isso pode ocorrer quando acontece a mudanccedila de nome (candombleacute e igreja
catoacutelica) desta forma ao nomear algueacutem eacute tocar-se na personalidade da pessoa e ateacute as partes
da escrita que compotildeem o nome satildeo carregadas de simbologia e forccedilas sobrenaturais Cunha
27
(2004 p 220) ainda acrescenta que ldquonas mais diversas culturas natildeo ter nome eacute natildeo existir
nomear eacute instituirrdquo
Nesse processo de instituir dos rituais de passagem eacute possiacutevel entender que a atividade
de nomeaccedilatildeo adveacutem de fatores que propiciam uma motivaccedilatildeo que resulta na escolha de um
nome No ritual de escolha de um novo Papa (igreja catoacutelica) ou de um novo membro do
candombleacute o indiviacuteduo fica recluso por alguns dias e no momento do ritual apresenta seu
novo nome agrave comunidade fato esse que reside de alguma forma na escolha do novo nome
Desta forma o nome eacute escolhido de acordo com suas caracteriacutesticas psicofiacutesicas e tambeacutem com
as que ele deseja ter a partir do momento de escolha do novo nome
Conforme Biderman (1998) muitas satildeo as culturas que acreditam que o nome estaacute
ligado agrave essecircncia da pessoa Nas culturas arcaicas em geral os nomes atribuiacutedos agraves pessoas
tinham um significado que indicava agraves vezes a vocaccedilatildeo ou o destino do indiviacuteduo o que
corrobora a justeza dos nomes nos rituais de passagem e em outras atividades de nomeaccedilatildeo
O ato de nomear se constitui tambeacutem como algo divino Para Biderman (1998 p 85)
ldquoo gesto criador de Deus identifica-se com esta palavra ontoloacutegica essencialmente divina O
que noacutes homens somos e o que sabemos nasce dessa revelaccedilatildeo primordial da palavra criadora
do gesto divino de dizerrdquo Cunha (2004) evidencia que a palavra jaacute eacute reveladora do poder desde
a antiguidade e isso se expressa de forma clara por meio da biacuteblia sagrada que em vaacuterios textos
conclama que o poder eacute revelado por meio da palavra como percebe-se no livro de Gecircnesis
capiacutetulo I versiacuteculos 19 e 20
19 Tendo pois o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos
e todas as aves dos ceacuteus levou-os ao homem para ver como ele os havia de
chamar e todo o nome que o homem pocircs aos animais vivos esse eacute o seu nome
verdadeiro 20 O homem pocircs nomes a todos os animais a todas as aves dos
ceacuteus e a todos os animais dos campos mas natildeo se achava para ele uma ajuda
que lhe fosse adequada (BIacuteBLIA 1995 p 51)
Dessa forma o cristianismo explica a atividade humana de nomeaccedilatildeo Isso evidencia
que todos os objetos recebem um nome (comum) mediante uma accedilatildeo deliberada de escolha
individual (como em Gecircnesis) ou coletiva Esse nome recebe uma funccedilatildeo de significaccedilatildeo ou
melhor passa a significar algo no mundo sua referecircncia A nomeaccedilatildeo configura-se como um
processo operacional de conhecer e denominar coisas Conforme De Lastra e Garcia (sd apud
DICK 1990) para ser denominado o mundo externo deve antes passar a ser interno (iacutentimo)
Na relaccedilatildeo das praacuteticas de nomeaccedilatildeo segundo Loacutepez (2013) ocorrem fatores internos
e externos da seguinte forma i mudanccedilas internas quando elementos do sistema toponiacutemico
28
que designa lugares passam para o sistema antroponiacutemico que designa pessoas ii mudanccedilas
externas ou forccediladas como as que ocorreram na Europa entre os seacuteculos XVIII e XIX e
obrigaram os judeus a adotarem nomes cristatildeos e abandonarem os seus de origem hebraica
Para os judeus assim como para muitos povos perder o nome eacute o mesmo que perder a histoacuteria
a identidade e a famiacutelia Desta forma as autoridades europeias acreditavam que os judeus
deixariam (perderiam) as suas identidades e constituiriam uma nova uma identidade europeia
Conveacutem ressaltar que o referente1 nem sempre figurou entre os elementos constitutivos
do signo linguiacutestico No Curso de Linguiacutestica Geral Ferdinand Saussure (2008) define o signo
linguiacutestico como a junccedilatildeo de uma imagem acuacutestica (significante) a um (ou vaacuterios) conceitos
(significado) Saussure natildeo inclui nessa definiccedilatildeo a coisa nomeada o objeto do mundo ou em
outros termos o referente
Dito de outro modo os gestos epistemoloacutegicos de Saussure (2008) ao definirem a
liacutengua como objeto proacuteprio de estudo e tambeacutem no sentido de imprimirem cientificidade aos
estudos linguiacutesticos excluem o referente construindo assim um domiacutenio especiacutefico para a
Linguiacutestica diferente de outras aacutereas que tambeacutem se atecircm aos estudos da linguagem humana
A liacutengua para o mestre suiacuteccedilo eacute um sistema de signos que por sua vez abarca entidades
psiacutequicas constituiacutedas por duas faces significante e significado Essas duas faces do signo
linguiacutestico natildeo guardam poreacutem entre si qualquer relaccedilatildeo loacutegica nenhum viacutenculo ou melhor
a relaccedilatildeo entre significante e significado eacute marcada pelo seu caraacuteter imotivado arbitraacuterio para
usar os termos saussurianos Desta forma Kristeva (2007 p 24) afirma que ldquoa palavra
lsquoarbitraacuteriorsquo significa mais exatamente lsquoimotivadorsquo quer dizer que natildeo haacute nenhuma necessidade
natural ou real que ligue o significante e o significadordquo
O nome sempre suscitou uma questatildeo ontoloacutegica2 ou melhor uma questatildeo de
existecircncia A nomeaccedilatildeo eacute apenas uma das funccedilotildees da linguagem mas tem um papel importante
pois o significado dos nomes organiza e classifica as formas de perceber a realidade aleacutem de
estar ligado diretamente a uma cultura ou comunidade Assim para Sapir (1980) a liacutengua
recorta a realidade agrave sua maneira eacute por meio dela que se evidencia a relaccedilatildeo linguagem
pensamento e cultura Desta forma ldquoas palavras da liacutengua significam ao funcionarem no
acontecimento Este funcionamento recorta politicamente o realrdquo (GUIMARAtildeES 2005 p 82)
Nessa perspectiva eacute possiacutevel dizer que a nomeaccedilatildeo ganha relevo quando o assunto eacute a relaccedilatildeo
linguagem e realidade
1 Em um sistema triaacutedico significante significado e o referente 2 Ontoloacutegico ldquoAdj 1 relativo a Ontologia 2 que trata do ser humano na sua essecircncia na sua globalidaderdquo Verbete
inscrito em (BORBA 2004 p 992)
29
Guiraud (1986) chama atenccedilatildeo para a forccedila criadora da linguagem que resulta em uma
funccedilatildeo semacircntica dinacircmica e volaacutetil orientada principalmente por fatores especiacuteficos de uma
dada cultura Assim
[] a motivaccedilatildeo eacute uma forccedila criadora inerente agrave linguagem social que eacute um
organismo vivo de origem empiacuterica somente depois que a palavra eacute criada e
motivada (naturalmente ou intralinguisticamente) eacute que as exigecircncias da
funccedilatildeo semacircntica acarretam um obscurecimento dessa motivaccedilatildeo etimoloacutegica
que pode aliaacutes ao se apagar trazer uma alteraccedilatildeo de sentido (GUIRAUD
1986 p 31)
Motivaccedilatildeo esta que com o decorrer do tempo pode vir a se tornar obscura pelo
distanciamento temporal do fato que lhe deu origem Pode inclusive o nome sofrer inuacutemeras
alteraccedilotildees de sentido sem nenhum viacutenculo semacircntico com o significado original nem com o
fenocircmeno de sua ocorrecircncia primeira No entanto eacute forccediloso ressaltar mais uma vez que o ato
de nomear eacute motivado conforme Guiraud (1986) a nomeaccedilatildeo eacute inerente agrave linguagem e decorre
da relaccedilatildeo entre homem e ambiente ao reconhecer os objetos do mundo extralinguiacutestico
No que tange agrave motivaccedilatildeo Biderman (1998) reafirma a noccedilatildeo de que o nome natildeo eacute
arbitraacuterio ele tem um viacutenculo de essecircncia com a coisa ou o objeto que designa Assim o homem
primitivo acredita que seu nome tem parte vital com o seu ser Nas histoacuterias que nos satildeo
relatadas dos povos primitivos em relaccedilatildeo aos nomes podemos observar que para alguns
quando se sabia o nome da pessoa o inimigo poderia fazer magia negra com ele Essas relaccedilotildees
culturais com os nomes satildeo recorrentes em vaacuterios paiacuteses e histoacuterias da antiguidade claacutessica
De acordo com Frazer (1951) em vaacuterias tribos primitivas o nome era considerado como
uma realidade e natildeo uma convenccedilatildeo artificial podendo servir de intermeacutedio para fazer atuar a
magia sobre a pessoa como se fosse parte do indiviacuteduo como cabelo unha ou qualquer outra
parte fiacutesica Essas crendices ou mitos acerca do nome se estendem por vaacuterias partes do mundo
como para os iacutendios da Ameacuterica do Norte o nome eacute como uma parte de seu corpo e o mau
tratamento (uso) dele pode trazer ferimento fiacutesico Assim o nome natildeo deve ser pronunciado
podendo no ato de sua pronunciaccedilatildeomaterializaccedilatildeo revelar as propriedades reais da pessoa que
o usa e assim tornaacute-la vulneraacutevel perante os seus inimigos
Nas narrativas das sociedades relatadas por Frazer (1951) o homem do povo esquimoacute
recebe um novo nome ao chegar agrave velhice na Aacutefrica as pessoas podem ateacute receber uma duacutezia
de nomes no decorrer de sua vida e em alguns casos no iniacutecio de sua vida recebem dois nomes
um nome de preto usado em casa e junto agrave famiacutelia e outro nome de branco usado na escola e
na sociedade os egiacutepcios tambeacutem recebiam dois nomes um nome pequeno que era bom e
30
usado em famiacutelia e um nome grande que era mau e dissimulado julgamos esse uacuteltimo ser
usado na sociedade
Segundo Frazer (1951) para os Celtas o nome era sinocircnimo da alma e da respiraccedilatildeo
Entre os Yuiacutens (sul da Austraacutelia) e outros povos o pai revela o nome ao filho no momento da
iniciaccedilatildeo e poucas pessoas o conhecem Tambeacutem na Austraacutelia as pessoas deixam de usar o
nome e passam a chamar um ao outro de primo tio sobrinho ou irmatildeo Nessas relaccedilotildees as
historietas dos nomes vatildeo estar sempre entrelaccediladas aos fatores culturais das comunidades
Em muitas culturas Frazer (1951) relata que a natildeo pronunciaccedilatildeo de nomes era tabu
como em Cafres onde as mulheres natildeo podiam pronunciar o nome de seus maridos ou sogros
nem qualquer palavra que se assemelhasse aos nomes Tambeacutem natildeo era permitido pronunciar
nomes de animais plantas reis deuses personagens sagrados considerados perigosos pois isso
seria como invocar o proacuteprio perigo
Frazer (1951) revela uma histoacuteria ocorrida no Egito com o deus Raacute que tinha vaacuterios
nomes mas o seu verdadeiro nome que lhe dava poder sobre os outros deuses natildeo era conhecido
e ao ser enfeiticcedilado pela invejosa deusa Iacutesis ndash picado por uma serpente ndash cujo veneno soacute seria
retirado de seu corpo no momento em que ele revelasse o seu verdadeiro nome Raacute lamenta-se
ldquoEu sou aquele que tem muitos nomes e muitas formas O meu pai e minha matildee disseram-me
o meu nome estaacute escondido no meu corpo desde o meu nascimento para que natildeo se possa dar
nenhum poder maacutegico a algueacutem que me queira lanccedilar uma maldiccedilatildeordquo (FRAZER 1951 apud
KRISTEVA 2007 p 64) O veneno tomou conta do corpo de Raacute e jaacute natildeo conseguia andar Iacutesis
continuou a atormentar o deus e o veneno foi penetrando profundamente e queimava seu corpo
Entatildeo Raacute consentiu que Isis buscasse o seu verdadeiro nome no iacutentimo do seu ser assim ela
fez arrebatou-lhe o verdadeiro nome e ordenou que o veneno que o queimava caiacutesse por terra
e libertasse o deus pois o que ela queria jaacute havia conseguido Acreditava-se assim que quem
conhecesse o verdadeiro nome de um deus (algueacutem) possuiria a sua essecircncia o seu verdadeiro
ser e ateacute o seu poder
Segundo Loacutepez (2013) os nomes variam conforme o momento e o local em que satildeo
escolhidos a pessoa que os escolhe e as normas para o uso Podem indicar gecircnero filiaccedilatildeo
origem geograacutefica religiatildeo e etnia Haacute tambeacutem inuacutemeras crenccedilas de que existe uma relaccedilatildeo
entre a pessoa seu nome e o significado deste inclusive muitos nomes satildeo uacutenicos
Segundo Cunha (2004 p 226) ldquoO nome proacuteprio topocircnimo ou antropocircnimo participa
da literariedade do texto podendo consequentemente enriquecer-se de valores semacircnticos
denotativos e conotativos da mesma forma que as outras palavras que o estruturamrdquo jaacute que
31
quando nomeamos atribuiacutemos simultaneamente um predicado um complemento ao nome uma
caracteriacutestica um adjetivo
Em Guimaratildees (2005) o ato de dar nome eacute tambeacutem um ato de identificar um indiviacuteduo
bioloacutegico como tal para o Estado e para a sociedade e tornaacute-lo sujeito De acordo com esse
ponto de vista ganha interesse o funcionamento determinativo da construccedilatildeo do nome proacuteprio
da pessoa no qual segundo Guimaratildees (2005 p 52) ldquohaacute uma relaccedilatildeo particular entre a
nomeaccedilatildeo e o objeto nomeado que se apresenta por uma materialidade histoacuterica e natildeo fiacutesicardquo
A nomeaccedilatildeo eacute por causa da predicaccedilatildeo um ato que diferencia sendo tambeacutem um ato
que identifica De acordo com Lima (2007 p 51)
o acto (sic) de nomear eacute um dos primeiros momentos de inserccedilatildeo da pessoa
numa categoria social de geacutenero Mas ainda mostra-nos que neste contexto
social nomear eacute uma das formas mais importantes de construir geacutenero e
pessoa dentro da famiacutelia
A inserccedilatildeo da pessoa na sociedade por meio de seu nome eacute uma relaccedilatildeo hierarquizada
construiacuteda agrave luz de valores tanto sociais como familiares Como jaacute sabemos o nome eacute uma
forma de identidade de revelar o que o outro natildeo eacute assim nomear eacute um aspecto crucial da
conversatildeo de qualquer um em algueacutem de acordo com Geertz (1973)
Na conversatildeo mencionada Parkin (1989) justifica que nomear pode ser uma forma de
atribuir direitos3 que daacute autoridade tanto ao nomeado quanto ao nomeador ou uma forma de
objetivaccedilatildeo por meio da escolha de um nome em particular que estabeleccedila controle sobre o
nomeado Nessas situaccedilotildees pode ocorrer que as pessoas antecipem essas consequecircncias
escolhendo ou controlando a atribuiccedilatildeo do seu proacuteprio nome ou em alguns casos como
acontece de o nome possuir uma carga negativa perante a sociedade e a pessoa recorre ao poder
judiciaacuterio para requerer a troca de seu nome
Enfim nomear eacute se apropriar do real eacute nessa perspectiva de nomear e apoderar fato
este que se daacute por meio da linguagem e de acordo com isso Kristeva (2007 p 17) pontua que
Se a linguagem eacute mateacuteria do pensamento eacute tambeacutem o proacuteprio elemento da
comunicaccedilatildeo social Natildeo haacute sociedade sem linguagem tal como natildeo haacute
sociedade sem comunicaccedilatildeo Tudo o que se produz como linguagem tem lugar
na troca social para ser comunicado
3 Livre traduccedilatildeo para Entitling
32
Eacute nessa troca social que acontece por meio da linguagem a nomeaccedilatildeo Assim eacute
necessaacuterio destacar que os nomes proacuteprios de lugares ndash topocircnimos ndash passam a estabelecer
relaccedilotildees materializadas por meio do uso da linguagem Sabe-se que o nome designado eacute
construiacutedo simbolicamente isso porque a linguagem que o constroacutei funciona por estar exposta
ao real e constituiacuteda materialmente pela histoacuteria local a qual motiva o leacutexico topocircnimo e eacute
nesse momento que ele nasce e se institui naquele lugar
De acordo com Biderman (1998) eacute por meio da palavra que as entidades da realidade
passam a ser conhecidas nomeadas e identificadas Essa realidade cria o seu acircmbito
significativo que nos eacute revelado pela linguagem que tambeacutem eacute a responsaacutevel por elencar os
fatores soacutecio-histoacuterico-cultural que permeiam a realidade Aqui no nosso caso esses fatores
satildeo trazidos por meio do leacutexico topocircnimo mais especificamente no ato de nomear um
designativo de lugar
Conforme Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares seja
em homenagem a algueacutem como eacute o caso da cidade de Pires do Rio que recebeu o nome o
patroniacutemico4 do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas (1919-1922) do governo de Epitaacutecio
Pessoa Dr Joseacute Pires do Rio Haacute lugares que recebem o nome em razatildeo de caracteriacutesticas
geograacuteficas Alguns nomes satildeo opacos conceito de Piel (1979) em contraposiccedilatildeo aos
transparentes pois natildeo apresentam relaccedilatildeo alguma com o referente nesse caso haacute de se fazer
uma busca histoacuterica para chegar agrave relaccedilatildeo motivacional
O homem tem a capacidade de associar palavras a conceitos E no ato de nomear
acontece a motivaccedilatildeo que estaacute ligada aos fatores cognitivos Assim o leacutexico que a ele eacute
determinado por meio do uso da linguagem se transporta no tempo sendo capaz de revelar os
fatores culturais e motivacionais que estatildeo nesse nomeleacutexico toponiacutemico (BIDERMAN 1998)
O nome comum no ato de nomeaccedilatildeo de um lugar impregna-se de significaccedilotildees vaacuterias
sejam de fatores histoacutericos culturais sociais econocircmicos Segundo Guimaratildees (2005 p 83)
ldquoo modo de significar os espaccedilos da cidade mostra que eles satildeo espaccedilos poliacuteticos O espaccedilo que
se daacute como objeto por uma descriccedilatildeo (referecircncias) atende a objetividade do discurso
administrativo que nomeia oficialmente os espaccedilos da cidaderdquo Assim o nome cifra a narrativa
histoacuterica local perpassando por fatores ou designativos memoraacuteveis
Essa atividade de nomeaccedilatildeo ou praacutetica de nomeaccedilatildeo eacute especificamente da espeacutecie
humana e resulta do processo de categorizaccedilatildeo inerente ao ser humano De acordo com
Biderman (1998 p 89)
4 De acordo com Cabral (2007) patroniacutemico eacute sobrenome
33
O processo de categorizaccedilatildeo subjaz agrave semacircntica de uma liacutengua natural Os
criteacuterios de classificaccedilatildeo usados para classificar os objetos satildeo muito
diferenciados e variados Agraves vezes o criteacuterio eacute o uso que o homem faz de um
dado objeto agraves vezes eacute um determinado aspecto do objeto que fundamenta a
classificaccedilatildeo agraves vezes eacute um determinado aspecto emocional que um objeto
pode provocar em quem o vecirc e assim por diante
Entatildeo o processo de categorizaccedilatildeo que por via das vezes pode se tornar um legislador
ndash nomeador Essas discussotildees acerca das histoacuterias do ato de nomear revelam formas de
organizaccedilatildeo social e mudanccedilas linguiacutesticas poliacuteticas e culturais Eacute pois por meio do nome que
as pessoas ou lugares permanecem vivos na memoacuteria coletiva de sua linhagem
E nesse processo de nomeaccedilatildeo categorizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo nos estudos na aacuterea da
Onomaacutestica mais precisamente na subaacuterea dos Estudos Toponiacutemicos ndash temaacutetica de nossa
pesquisa ndash natildeo tem como desvencilhar a liacutengua e cultura Assim para Sapir-Whorf a liacutengua
retrata o mundo e a realidade social agrave sua volta expressos por categorias lexicais como os
topocircnimos
12 Liacutengua e Cultura
A liacutengua no contexto soacutecio-histoacuterico-cultural nada mais eacute que o resultado de um
processo histoacuterico um produto revelador da cultura de uma dada comunidade (CAcircMARA JR
1955) Nessas bases inter-relacionar liacutengua e cultura eacute justificar que estatildeo intrinsecamente
interligadas pois a liacutengua revela a visatildeo de mundo e eacute tambeacutem a manifestaccedilatildeo de uma cultura
cultura esta que lhe daacute suporte a liacutengua tambeacutem eacute suporte da cultura
Em seus estudos Paula (2007) menciona que a liacutengua eacute um metassistema ela ldquonatildeo eacute soacute
objeto ela eacute nas relaccedilotildees sociais mais diversamente possiacuteveis tambeacutem instrumento de
investigaccedilatildeo distinto que ajuda a entender os outros sistemas sociaisrdquo (PAULA 2007 p 90)
Nesse contexto eacute possiacutevel evidenciar que por meio da liacutengua satildeo reeditadas e reconfiguradas
as praacuteticas culturais de uma dada comunidade
Posto isso conveacutem rever alguns conceitos que remetem agrave face social da liacutengua seu
caraacuteter eminentemente social mais condizente com o recorte epistemoloacutegico feito por Saussure
(2008 p 17)
Mas o que eacute a liacutengua Para noacutes ela natildeo se confunde com a linguagem eacute
somente uma parte determinada essencial dela indubitavelmente Eacute ao
mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto
34
de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo corpo social para permitir o
exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos Tomada em seu todo a linguagem
eacute multiforme e heteroacuteclita o cavaleiro de diferentes domiacutenios ao mesmo
tempo fiacutesica fisioloacutegica e psiacutequica ela pertence aleacutem disso ao domiacutenio
individual e ao domiacutenio social natildeo se deixa classificar em nenhuma categoria
de fatos humanos pois natildeo se sabe como inferir sua unidade
De acordo com Fiorin (2013 p 17) ldquoA liacutengua natildeo eacute um sistema de mostraccedilatildeo de
objetos porque permite falar do que estaacute presente e do que estaacute ausente do que existe e do que
natildeo existe porque possibilita ateacute criar novas realidades mundos natildeo existentesrdquo A liacutengua eacute um
produto social e por meio dela se criam e recriam realidades podendo entatildeo se justificar as
praacuteticas culturais por meio de atos linguiacutesticos
Com esse movimento epistemoloacutegico ou melhor ao eleger a liacutengua e natildeo a linguagem
nem a fala como objeto de estudo da Linguiacutestica Saussure possibilitou a instituiccedilatildeo da ciecircncia
linguiacutestica e consequentemente seus inuacutemeros desdobramentos posteriores
Sapir (1980) ressalta a estreita ligaccedilatildeo entre liacutengua e cultura jaacute que para o autor
Toda liacutengua tem uma sede O povo que a fala pertence a uma raccedila (ou a certo
nuacutemero de raccedilas) isto eacute a um grupo de homens que se destaca de outros
grupos por caracteres fiacutesicos Por outro lado a liacutengua natildeo existe isolada de
uma cultura isto eacute de um conjunto socialmente herdado por praacuteticas e crenccedilas
que determinam a trama das nossas vidas (SAPIR 1980 p 165)
Nesta perspectiva reafirmando que liacutengua se difere de linguagem mas se entrecruza
com ela ou dela faz parte como uma das inuacutemeras formas de linguagem e ainda considerando-
a um dos fatores de identidade de um povo e que natildeo existe isolada da cultura eacute que se torna
objeto de estudos o que envolve fatores soacutecio-histoacuterico-culturais das comunidades
O autor desta forma ainda nos revela que ldquotoda liacutengua estaacute de tal modo construiacuteda
que diante de tudo que um falante deseje comunicar por mais original ou bizarra que seja a sua
ideia ou a sua fantasia a liacutengua estaacute em condiccedilotildees de satisfazecirc-lorsquo (SAPIR 1969 p 33) Eacute
nessas condiccedilotildees de satisfazer ao falante ou agrave comunidade que ele pertence que a liacutengua se
justifica como um meio de interaccedilatildeo social e revelador da cultura jaacute que ela se configura no
tempo e eacute capaz de transmitir de geraccedilotildees a geraccedilotildees atraveacutes de atos linguiacutesticos as
manifestaccedilotildees culturais Conveacutem ressaltar que
Tudo que ateacute aqui verificamos ser verdade a respeito das liacutenguas indica que
se trata da obra mais notaacutevel colossal que o espiacuterito humano jamais
desenvolveu nada menos do que uma forma completa de expressatildeo para toda
a experiecircncia comunicaacutevel Essa forma pode ser variada de inuacutemeras maneiras
pelo indiviacuteduo sem perder com isso os seus contornos distintivos e estaacute
35
constantemente remodelando-se como sucede com toda arte A liacutengua eacute a arte
mais ampla e maciccedila que se nos depara cuacutemulo anocircnimo do trabalho
inconsciente das geraccedilotildees (SAPIR 1980 p 172)
De acordo com Cacircmara Jr (1955) a liacutengua eacute uma parte da cultura mas ela pode ser
estudada na sua relaccedilatildeo com a cultura ou sem considerar essa inter-relaccedilatildeo Segundo o autor
com essa perspectiva o linguista se destaca do antropoacutelogo Porque os estudos linguiacutesticos
podem prescindir do exame da inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura ou melhor pode-se estudar a
liacutengua em sua imanecircncia ou a relaccedilatildeo da linguagem com outras aacutereas do conhecimento humano
A liacutengua aleacutem de inter-relacionar a cultura nada sociedade atua para que a proacutepria
cultura seja conhecida e levada agrave geraccedilotildees futuras seja por meio de festas religiosas cantigas
e outros fatores que a divulguem Jaacute que na mesma base teoacuterica a liacutengua se justifica como um
fato de cultura assim como qualquer outro e neste iacutenterim integra-se agrave cultura
Cacircmara Jr (1955) reconhece que a liacutengua funciona na sociedade para a comunicaccedilatildeo e
interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e tambeacutem que ela se torna o resultado de uma cultura global pois a
liacutengua depende de toda cultura jaacute que a expressa a todo o momento
assim a liacutengua em face do resto da cultura eacute ndash o resultado dessa cultura ou
sua suacutemula eacute o meio para ela operar eacute a condiccedilatildeo para ela subsistir E mais
ainda soacute existe funcionalmente para tanto englobar a cultura comunicaacute-la e
transmiti-la (CAcircMARA JR 1955 p 54)
Considerada a inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura pode-se ressaltar mais uma vez que a
cultura se manifesta linguisticamente sejam elas integrantes de manifestaccedilotildees da cultura
popular ou da erudita
De modo geral a cultura eacute pensada numa visatildeo polarizante como sendo
cultura popular ou cultura erudita Conveacutem dizer poreacutem que ambas satildeo
formas e conteuacutedos diferentes de expressatildeo de uma dada realidade social e
histoacuterica Entatildeo natildeo devem ser vistas como opostas ou excludentes mas como
maneiras especiacuteficas de ver sentir e expressar a realidade conforme se situam
seus atores na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo do poder (PAULA 2007 p 75)
Neste processo Sapir (1969) menciona que o leacutexico eacute o niacutevel linguiacutestico em que mais
intimamente se interligam liacutengua e cultura Zavaglia (2012) por sua vez reconhece que o leacutexico
estaacute vinculado agrave cultura de um povo de uma naccedilatildeo agrave sua histoacuteria
Para Zavaglia (2012) o leacutexico estaacute relacionado com a memoacuteria humana e se configura
no ato de nomeaccedilatildeo diante do processo em que houve a necessidade de o homem por meio de
36
palavras nomear tudo que o circundava e assim categorizar o que estava a seu redor Pautados
na autora observamos a grandeza do leacutexico pois
Eacute o leacutexico em forma de palavras e por meio da linguagem que ldquocontardquo a
histoacuteria milenar de povo para povo eacute o leacutexico que transmite os elementos
culturais de um conjunto de indiviacuteduos eacute o leacutexico que ldquoeducardquo ou ldquodeseducardquo
eacute o leacutexico que permite a manifestaccedilatildeo dos sentimentos humanos de suas
afeiccedilotildees ou desagrados via oral ou via escrita Eacute o leacutexico que registra o
desencadear das accedilotildees de uma sociedade suas mudanccedilas seu progresso ou
regresso Condivido com Biderman quando diz que o leacutexico eacute o tesouro
vocabular de forma codificada da memoacuteria do indiviacuteduo restando ali estocado
ateacute que seja ativado quando necessaacuterio para que o homem possa expressar ou
se comunicar Eacute ainda por meio do leacutexico que conceitos condutas e costumes
satildeo transmitidos de geraccedilotildees a geraccedilotildees e herdados por elas ldquoEacute o leacutexico que
fisionomiza a culturardquo (ZAVAGLIA 2012 p 233)
O leacutexico eacute o fio condutor da cultura jaacute que a transporta para geraccedilotildees futuras eacute por meio
dele que se registra a histoacuteria e a vida de uma sociedade Para Sapir (1969) a cultura estaacute
nitidamente no leacutexico da liacutengua e este pode ser considerado como todo o conjunto de ideias
interesses e ocupaccedilotildees que abrangem a atenccedilatildeo da comunidade Neste contexto
O estudo cuidadoso de um dado leacutexico conduz a inferecircncias sobre o ambiente
fiacutesico e social daqueles que o empregam e ainda mais que o aspecto
relativamente transparente ou natildeo-transparente do proacuteprio leacutexico nos permite
deduzir o grau de familiaridade que se tem adquirido com os vaacuterios elementos
do ambiente (SAPIR 1969 p 49)
Eacute possiacutevel ressaltar que o leacutexico da liacutengua conteacutem um recorte da realidade feito agrave sua
maneira que revela visotildees de mundo Os elementos culturais que matizam datildeo o colorido de
significaccedilatildeo ao leacutexico mostram de diferentes maneiras as relaccedilotildees que ambas liacutengua e cultura
tecircm com o ambiente seja fiacutesico ou social pois toda complexidade dessa inter-relaccedilatildeo pode ser
anunciada e enunciada no uso da linguagem
Vale entatildeo ressaltar
Que o leacutexico assim reflita em alto grau a complexidade da cultura eacute
praticamente um fato de evidecircncia imediata pois o leacutexico ou seja o assunto
de uma liacutengua destina-se em qualquer eacutepoca a funcionar como um conjunto
de siacutembolos referentes ao quadro cultural do grupo Se por complexidade de
uma liacutengua se entende a seacuterie de interesses impliacutecitos em seu leacutexico natildeo eacute
preciso dizer que haacute uma correlaccedilatildeo constante entre a complexidade
linguiacutestica e cultural (SAPIR 1969 p 51)
37
O conjunto de signos da liacutengua ultrapassa as fronteiras do tempo trazendo para a
atualidade siacutembolos tambeacutem culturais que satildeo revelados por meio de praacuteticas culturais que se
interseccionam com as praacuteticas linguiacutesticas Assim
Natildeo soacute as palavras da liacutengua passam a servir de siacutembolos culturais dispersos
como sucede nas liacutenguas em qualquer periacuteodo de desenvolvimento mas se
pode supor que as proacuteprias categorias e processos gramaticais simbolizariam
tipos correspondentes de pensamento e atividade de significaccedilatildeo cultural Ateacute
certo ponto pode se conceber portanto a cultura e a liacutengua em constante
estado de interaccedilatildeo e em associaccedilatildeo definida por um largo lapso de tempo
Mas tal estado de correlaccedilatildeo natildeo pode continuar indefinidamente (SAPIR
1969 p 60)
Segundo Sapir (1969) a linguagem possui o papel de produzir e organizar o mundo
mediante o processo de simbolizaccedilatildeo Contudo a realidade eacute mostrada por meio da linguagem
o que significa dizer que natildeo haacute mundos iguais visto que natildeo haacute liacutenguas iguais De acordo com
estas observaccedilotildees cabe ressaltar o relativismo linguiacutestico ldquoHipoacutetese de Sapir-Whorfrdquo a
linguagem determina a forma de ver o mundo e consequentemente de se relacionar com esse
mundo
O relativismo linguiacutestico pode ser entendido como a relaccedilatildeo linguagem e pensamento
mediada pela cultura desta forma linguagem pensamento e cultura estatildeo conectados Sapir-
Whorf observam que a realidade social eacute produto linguiacutestico tratando assim as relaccedilotildees de
linguagemcultura e linguagempensamento a cultura pode ser considerada como
conhecimento adquirido socialmente por meio das praacuteticas linguiacutesticas
De maneira geral diz-se que a cultura eacute o conhecimento que as pessoas detecircm acerca de
uma comunidade seja em seus acircmbitos popular ou cientiacutefico os quais ultrapassam o tempo
por meio da liacutengua jaacute que ldquoA cultura eacute o conjunto do que o homem criou na base das suas
faculdades humanas abrange o mundo humano em contraste com o mundo fiacutesico e o mundo
bioloacutegicordquo (CAcircMARA JR 1955 p 51)
Em outras palavras
Cultura eacute o conjunto de praacuteticas sociais situadas historicamente que se
referem a uma sociedade e que a fazem diferente de outra Baseia-se na
construccedilatildeo social de sentidos a accedilotildees crenccedilas haacutebitos objetos que passam a
simbolizar aspectos da vivecircncia humana em coletividade (PAULA 2007 p
74)
A diversidade tambeacutem se reflete na cultura pois de acordo com Bosi
38
[] natildeo existe uma cultura brasileira homogecircnea matriz de nossos
comportamentos e dos nossos discursos Ao contraacuterio a admissatildeo do seu
caraacuteter plural eacute um passo decisivo para compreendecirc-la como um ldquoefeito de
sentidordquo resultado de um processo de muacuteltiplas interaccedilotildees e oposiccedilotildees no
tempo e no espaccedilo (BOSI 1987 p 7)
Neste sentido a cultura se constroacutei a partir das vivecircncias e significados que lhe satildeo
atribuiacutedos pela proacutepria sociedade em suas praacuteticas sociais e constituindo-se tambeacutem em
diferenccedila Para Bosi (1987 p 11) o fundamento da cultura popular ldquoeacute o retorno de situaccedilotildees e
atos que a memoacuteria grupal reforccedila atribuindo-lhes valorrdquo Isso satildeo as marcas identitaacuterias da
comunidade que satildeo deixadas e vivenciadas (ou vivificadas) tempos depois A cultura popular
eacute revelada por meio de praacuteticas culturais e linguiacutesticas que levam a puacuteblico as relaccedilotildees soacutecio-
histoacuterica-culturais de determinadas comunidades
A cultura se constroacutei com base nos valores atribuiacutedos pelos sujeitos agraves relaccedilotildees
cotidianas e nas relaccedilotildees de poder Organiza-se como popular eou erudita Nesse sentido natildeo
existe cultura melhor nem pior cada uma eacute expressa pelo seu grupo social pois cada indiviacuteduo
tem uma forma de ver o mundo modos de vestir de comer os meios para se curar os remeacutedios
os modos de plantar de cultivar e colher os modos de nomear e categorizar os elementos da
natureza e outros tantos mais Desta forma ldquoconforme as pessoas entendem que participam de
uma cultura esforccedilam-se para agir dentro do que julgam ser pertinente a elardquo (PAULA 2007
p 75)
Cultura liacutengua e identidade natildeo satildeo algo fixo pronto e acabado estando sempre em
constituiccedilatildeo uma vez que satildeo produzidas por seres sociais que se encontram em processo de
interaccedilatildeo aprendizado conhecimento e estatildeo inseridos em contextos sociais que passam por
transformaccedilotildees O leacutexico eacute o meio pelo qual a cultura e a identidade se constroem e se
disseminam
Na visatildeo de Paula (2007 p 89) a memoacuteria eacute o depositaacuterio tanto da cultura como da
liacutengua visto que
O modo como se estrutura poliacutetica e economicamente uma sociedade diz
muito de suas estruturas culturais estas por sua vez soacute se fazem possiacuteveis
graccedilas agrave elaboraccedilatildeo cotidiana do arcabouccedilo de memoacuteria coletiva ao modo
como eacute concebida e ao estatuto que lhe eacute dado Expressando estas inter-
relaccedilotildees servindo a elas no cotidiano da comunicaccedilatildeo humana e carregando
em seu funcionamento muito do modo como a sociedade se faz e se refaz estaacute
a liacutengua
39
Os processos culturais que satildeo construiacutedos por meio de atos linguiacutesticos satildeo uma forma
identitaacuteria de dada comunidade que eacute expressa por relaccedilotildees sociais como forma de conduzir e
expressar-se perante as demais comunidades sejam elas internacionais nacionais ou regionais
sabemos que a cultura eacute a miscigenaccedilatildeo de outras culturas
13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes
Embora faccedila parte do cotidiano das pessoas portanto estreitamente ligado agrave cultura natildeo
haacute muita discussatildeo referente ao nome proacuteprio e aos motivos de algueacutem ou um lugar ter o nome
que tem Entretanto conforme Carvalhinhos (2002) jaacute no seacuteculo II aC com o gramaacutetico
Dioniacutesio Traacutecia o estudo sobre o nome jaacute tinha sido pensado e formulado Esses estudos
propiciaram por sua vez o surgimento da Onomaacutestica a ciecircncia que se ocupa dos estudos da
origem e alteraccedilotildees (na forma e no significado) dos nomes proacuteprios A Onomaacutestica eacute um ramo
das ciecircncias linguiacutesticas que pode-se efetuar em duas vertentes a toponiacutemia (estudo do
topocircnimo ou nome de lugar) e a antroponiacutemia (estudo do nome pessoal)
Conforme Dubois (2004) e Houaiss (2004) a Onomaacutestica eacute um ramo da lexicologia e
seu meacutetodo de trabalho deve-se desenvolver em linha documental mediante a observaccedilatildeo de
dados oficiais como mapas listas de nomes ou outros documentos de valor historiograacutefico e
lexicograacutefico Isso possibilita a junccedilatildeo da histoacuteria da nomenclatura com momentos histoacutericos e
sociais mais amplos
No entanto mesmo pertencendo agrave ciecircncia da linguagem a Onomaacutestica se estabelece por
meio do suporte de outras aacutereas do conhecimento como a Antropologia a Etnografia a
Botacircnica a Geografia e a Histoacuteria Neste sentido natildeo eacute equivocado salientar que a Onomaacutestica
eacute um campo de amplo caraacuteter interdisciplinar
Assim a Onomaacutestica ou Onomasiologia eacute o ramo da ciecircncia linguiacutestica que tem o nome
proacuteprio como objeto de estudo e se constroacutei em relaccedilatildeo a outros campos do saber Contudo ao
relacionar o seu conhecimento aos de outras aacutereas ela natildeo os confunde nem os nega
De acordo com Ramos e Bastos (2010) a Onomaacutestica assume uma perspectiva
integralizadora de meacutetodos e demanda um consideraacutevel nuacutemero de conhecimentos de campos
diversos de maneira direta ou indireta e vertical ou horizontal destacando-se a linguiacutestica com
valoraccedilatildeo da pesquisa etimoloacutegica
Conforme dito a Onomaacutestica para efeito de estudo pode ser dividida em dois eixos a
Antroponiacutemia e a Toponiacutemia Estas por sua vez podem apresentar subdivisotildees dependendo
de algumas consideraccedilotildees acerca das caracteriacutesticas que cada uma agrave sua maneira apresenta
40
A Toponiacutemia conforme Piel (1979) de acordo com o objeto de denominaccedilatildeo pode
denominar-se tambeacutem como astroniacutemia hidroniacutemia litoniacutemia odoniacutemia oroniacutemia para citar
apenas alguns termos que correspondem a objetos que constituem ou satildeo constituiacutedos por
formaccedilotildees aquosas astros formaccedilotildees peacutetreas serras vias ou caminhos
Jaacute a Antroponiacutemia volta sua atenccedilatildeo para o estudo dos nomes de batismo dos
sobrenomes patroniacutemicos (ou matroniacutemicos) e ainda das alcunhas dos apelidos e de nomes
diminutivos A Antroponiacutemia agrave semelhanccedila da Toponiacutemia natildeo se constitui de forma
homogecircnea jaacute que haacute uma seacuterie de tradiccedilotildees conforme os povos ou culturas que desenvolveram
esses sistemas antroponiacutemicos Por outro lado eacute consenso afirmar que os nomes pessoais satildeo
um aspecto comum ou universal nas liacutenguas porque as pessoas recebem um nome em algum
momento de suas vidas em todas as sociedades conhecidas do mundo
De acordo com Dick (1992) as intenccedilotildees e as motivaccedilotildees que subjazem agrave escolha dos
nomes em cada sociedade variam bastante Os estudos dos sistemas onomaacutesticos vecircm confirmar
isso porque os nomes existem e satildeo controlados pelas necessidades e praacuteticas sociais as quais
podem variar de acordo com a visatildeo de mundo de um determinado povo
Posto isso conveacutem conceber a Onomaacutestica como uma disciplina que deve focar como
objeto de estudo os sistemas de denominaccedilatildeo que justifiquem os processos de atribuiccedilatildeo de
nomes de uma maneira geral
Em Soliacutes (1997) os nomes satildeo o resultado de algo que os provoca isto eacute o sistema
denominativo elaborado pelas culturas para atribuir nomes agraves coisas apreendidas por sua
atividade cognitiva
Devido ao fato de a Onomaacutestica estender-se a um amplo campo de estudo ou seja que
se volta tanto para o estudo dos nomes proacuteprios de pessoas como agraves designaccedilotildees dos lugares eacute
imperioso delimitar para este estudo apenas o sistema onomaacutestico voltado para os nomes de
lugar isto eacute para a toponiacutemia caracterizando como objeto de estudo os nomes dos cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio
A despeito de incorrer em lugar comum conveacutem rever os constituintes da palavra
toponiacutemia cujo significado etimoloacutegico pode ser assim expresso do grego topos (lugar) e
onoma (nome) A Toponiacutemia se ocupa dos locativos (tambeacutem componentes do leacutexico da liacutengua)
com o fito de estudar a origem as significaccedilotildees e as transformaccedilotildees por que passam ou
passaram esses nomes A Toponiacutemia se dedica ao estudo natildeo apenas dos nomes de comunidades
humanas (cidades povoados vilas) como tambeacutem elementos geograacuteficos a exemplo os cursos
drsquoaacuteguas
41
Os estudos toponiacutemicos propiciam a percepccedilatildeo da relaccedilatildeo entre povo liacutengua e territoacuterio
considerando que esse territoacuterio pode ser fiacutesico eou imaginaacuterio jaacute que as entidades do mundo
que precisam ser nomeadas podem ser pessoas entidades geograacuteficas que fazem parte do
ambiente em que vive determinado povo e que sobretudo tenham importacircncia para esse povo
pois se natildeo tem importacircncia natildeo haacute em contrapartida necessidade de ser nomeado Conveacutem
no entanto ressaltar que nem todas as nomeaccedilotildees ocorrem pela necessidade espontacircnea de
identificaccedilatildeo uma vez que muitas delas refletem a imposiccedilatildeo de forccedilas ideoloacutegicas poliacuteticas e
sociais
Neste sentido surge a necessidade de reconhecer os objetos geograacuteficos da natureza
tais como rios mares lagoas ilhas continentes serras e outros mas haacute outros que precisam
ser denominados tambeacutem principalmente os objetos da cultura aqueles criados pelo homem
dentre os quais podem ser citados os povoados represas moradias (habitaccedilatildeo) ruas
circunscriccedilotildees poliacutetico-territoriais que se situam em algum lugar do universo fiacutesico
Natildeo se pode omitir aqueles lugares cujo universo foi criado pela cultura imaterial o
mundo natildeo fiacutesico Sejam do universo real ou imaginaacuterio as entidades geograacuteficas satildeo os
referentes dos topocircnimos que por sua vez integram a visatildeo de mundo de um povo Isso
constitui uma dificuldade em especificar que referentes existem no mundo fiacutesico ou cultural
em parte porque para isso eacute necessaacuterio considerar uma cultura determinada Em resposta a isso
haacute o reconhecimento da visatildeo de mundo que eacute peculiar a cada cultura
Muitos povos concebem o universo real como um mundo que tem seu correlato miacutetico
com outros mundos e fazem assim surgir universos de nomes toponiacutemicos de variada riqueza
toponomaacutestica porque tecircm lugares para nomear no espaccedilo fictiacutecio criado nesse mundo Assim
aleacutem de serem componentes linguiacutesticos como tal os nomes que compotildeem um sistema de
denominaccedilatildeo satildeo ainda criaccedilotildees socioculturais
Entatildeo cabe agrave Toponiacutemia estudar tanto os nomes de lugares (os topocircnimos) como
componentes de uma liacutengua que satildeo como tambeacutem o sistema de denominaccedilatildeo organizado pelas
sociedades para nomear os objetos fiacutesicos ou imaginaacuterios da sua cultura Devido agraves diferentes
visotildees de mundo tecircm-se diferentes formas de nomear essas entidades Aleacutem da visatildeo de mundo
em sociedades como a brasileira podem contribuir para a formaccedilatildeo de um sistema de nomeaccedilatildeo
os movimentos sociais como forccedila impulsionadora de mudanccedila social Em relaccedilatildeo agrave realidade
brasileira podem-se mencionar as poliacuteticas que vecircm acontecendo durante os mais de 500 anos
de histoacuteria brasileira que tambeacutem resultou em inuacutemeras formaccedilotildees e mudanccedilas de designaccedilatildeo
toponiacutemica no Brasil
42
Cabe reiterar que a toponiacutemia refere-se a nomes de lugares habitados ou natildeo Daiacute uma
definiccedilatildeo apropriada para o termo ldquotopocircnimordquo eacute um nome de qualquer ponto localizaacutevel no
espaccedilo terrestre que tenha recebido denominaccedilatildeo Definiccedilatildeo essa que pode ser estendida para o
nome de qualquer ponto localizaacutevel no mundo real ou em mundos imaginados pelas culturas
em outras palavras daqueles universos que existem por meio da atividade ideacional dos
homens
Assim eacute por meio da relaccedilatildeo povo-territoacuterio que os nomes de lugar satildeo estabelecidos
Inicialmente pela posse do territoacuterio uma vez que segundo Couto (2007) o territoacuterio eacute uma
das primeiras referecircncias para que um agrupamento de pessoas possa receber o status de
comunidade e todo territoacuterio entendido como tal tem de ter um nome um topocircnimo Desta
forma recortam-se os aspectos do meio ambiente mais salientes aos olhos do povo como uma
espeacutecie de acordo que permite a vivecircncia e a convivecircncia em sociedade no territoacuterio apossado
Eacute possiacutevel afirmar que a nomeaccedilatildeo dos lugares surgiu com a proacutepria humanidade Os
registros antigos da histoacuteria da civilizaccedilatildeo ratificam essa accedilatildeo do homem sobre o lugar que
habita ou jaacute habitou satildeo fatores que sugerem uma espeacutecie de posse ou de domiacutenio sobre o lugar
por meio da significaccedilatildeo da organizaccedilatildeo e da orientaccedilatildeo pelo espaccedilo ocupado ou apenas
conhecido Em contrapartida o ato de nomeaccedilatildeo se manifesta como a accedilatildeo do meio fiacutesico e
sociocultural sobre o homem
Eacute nesta perspectiva que se podem considerar os estudos toponiacutemicos em seu acircmbito
interdisciplinar porque congregam vaacuterias aacutereas do conhecimento humano Os nomes de um
lugar satildeo enfocados conforme a observaccedilatildeo dos aspectos fiacutesicos socioculturais mentais e
histoacutericos interligados ou em separados
Assim natildeo eacute equiacutevoco conceber a Toponiacutemia como objeto de estudo da Antropologia
da Geografia da Histoacuteria ou ainda da Psicologia Social para citar apenas algumas disciplinas
Eacute possiacutevel segundo Dick (1992) realizar anaacutelises do fenocircmeno toponiacutemico em
consonacircncia teoacuterica com qualquer uma dessas aacutereas mas para a autora nenhuma delas tomada
isoladamente ou com exclusivismo alcanccedilaria a plenitude do fenocircmeno toponiacutemico Em termos
linguiacutesticos a Toponiacutemia recorre aos conhecimentos da Semacircntica da Lexicologia da
Etnolinguiacutestica da Dialetologia e da Linguiacutestica Histoacuterica
Mais recentemente uma linha de anaacutelise que tem oferecido contribuiccedilotildees importantes
aos estudos dos nomes de lugares eacute a Linguiacutestica Cognitiva Suas pesquisas vecircm enfatizando
natildeo soacute os modelos cognitivos mas tambeacutem os processos de categorizaccedilatildeo principalmente os
processos de analogia e contiguidade proacuteprios da metaacutefora e da metoniacutemia Entendecirc-los eacute
43
essencial para compreender os sistemas de nomeaccedilatildeo como resultados da experiecircncia e da
cogniccedilatildeo humana com o corpo em relevo
Esta perspectiva de anaacutelise coaduna estudos que procuram reconhecer processos
cognitivos expressos na accedilatildeo de denominar a realidade e para tanto fundamentam-se no corpo
Eacute uma forma de nomear os lugares fiacutesicos ou culturais mediante a percepccedilatildeo do denominador
na interaccedilatildeo com meio ambiente fiacutesico e cultural
14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica
Para realizar qualquer estudo onomaacutestico eacute necessaacuterio inicialmente buscar na teoria
linguiacutestica os recursos para se explicar como uma forma linguiacutestica se amaacutelgama a um lugar
configurando uma relaccedilatildeo entre esse lugar suas caracteriacutesticas e o signo linguiacutestico que passa
a designaacute-lo Em outras palavras eacute necessaacuterio buscar conceitos que estejam em consonacircncia
com os preceitos5 onomaacutestico-toponiacutemicos
Eacute por meio da liacutengua que se daacute a interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e a mesma constitui-se de
signos linguiacutesticos Em outras palavras o mundo humano a realidade extralinguiacutestica e a
cultura constituem-se de signos Calcados nas ideias de Charles Sanders Pierce (2005) tem-se
o conceito geral de que o signo eacute ldquoalgo que estaacute por algo para algueacutemrdquo Conveacutem salientar que
ldquoestar porrdquo eacute uma noccedilatildeo bastante ampla pois pode significar uma seacuterie de coisas como
representar caracterizar fazer agraves vezes de indicar entre outros Para Pierce (2005 p 46)
um signo ou representamem eacute algo que sob certo aspecto ou de algum modo
representa alguma coisa para algueacutem Dirige-se a algueacutem isto eacute cria na mente
dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido
Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo
representa alguma coisa seu objeto Representa esse objeto natildeo em todos os
aspectos mas com referecircncia a um tipo de ideia que eu por vezes denominei
fundamento do representamem (Grifos do autor)
Assim seguindo a concepccedilatildeo de Pierce (2005) sobre signo pode-se formular que eacute a
representaccedilatildeo de alguma coisa para algueacutem estaacute no lugar da coisa que ele representa e natildeo eacute a
coisa em si Tem ainda a condiccedilatildeo de perturbar a mente do interpretante i eacute daquele que vecirc
lecirc ou ouve o signo na tentativa de atribuir-lhe um significado Dessa forma eacute possiacutevel verificar
uma relaccedilatildeo de interdependecircncia entre pelo menos trecircs extremos i) a face perceptiacutevel do
5 No capiacutetulo 2 satildeo apresentados os meacutetodos usados na pesquisa
44
signo o representamem ou significante ii) o que ele representa o objeto ou referente e iii) o
que ele significa interpretante ou significado
Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo
Fonte Adaptado a partir do original de Ogden-Richards (1972)
Para Pierce (2005) os signos satildeo elementos tricotocircmicos6 e apresentam trecircs divisotildees
amplas (i) iacutecone (ii) iacutendice e (iii) siacutembolo A despeito de serem conceitos mais pertinentes a
um estudo semioacutetico em grande parte a motivaccedilatildeo que subjaz ao designativo de lugar imprime
caraacuteter icocircnico indicial ou simboacutelico ao nome do lugar o que acarreta uma dada categorizaccedilatildeo
Para Pierce (2005) (i) iacutecones satildeo os signos que apresentam as caracteriacutesticas
especiacuteficas proacuteprias por analogia formam-se pela primeira impressatildeopercepccedilatildeo que o
inteacuterprete tem sobre as coisas do mundo real Eacute um signo que guarda semelhanccedilas entre o
significante e o significado Em outras palavras um iacutecone eacute uma representaccedilatildeo - auditiva visual
ou de outra espeacutecie ndash de alguma coisa Uma fotografia uma pintura as imagens diagramas satildeo
exemplos de iacutecones por evidenciar semelhanccedila com o objeto representado A semelhanccedila tem
de ser estabelecida de forma quase que consciente por quem observa No entanto a semelhanccedila
com o objeto representado pode ser extraordinaacuteria como quando se observam as imagens sacras
ou iacutecones menores aqueles que aparecem na tela do computador ou pode ser mais abstrata
como a que acontece com as placas de sinais em geral
Em relaccedilatildeo aos (ii) iacutendices Pierce (2005) estabelece que satildeo signos que estatildeo numa
relaccedilatildeo direta entre o representamem e o objeto Um iacutendice (ou signo indexical) tem a funccedilatildeo
de indicar o que estaacute nas suas proximidades Nos iacutendices a forma e o significado estatildeo
interligados satildeo contiacuteguos ou seja caracteriza-se pela relaccedilatildeo de contiguidade ou associaccedilatildeo
com aquilo que representa Aquilo que atrai a atenccedilatildeo em um objeto eacute seu iacutendice Apresentam
6 O que difere das caracteriacutesticas dicotocircmicas do signo linguiacutestico para Saussure
Conceito
(Significado)
Palavra Referente
(significante) (elementos da realidade)
45
traccedilos de decirciticos jaacute que os interlocutores podem recuperar o referente por meio de lembranccedilas
de detalhes do objeto
Encontram-se muito difundidos nos sistemas de comunicaccedilatildeo (verbal ou natildeo) Satildeo
amplamente empregados na linguagem miacutemica e gestual no coacutedigo de tracircnsito Os decirciticos satildeo
signos indiciais imprescindiacuteveis pois referem demonstrativamente indicam a pessoa do
discurso o lugar a proximidade7 de espaccedilo e tempo entre outros (iii) Jaacute os siacutembolos satildeo signos
que se referem ao objeto em funccedilatildeo de uma convenccedilatildeo de uma lei ou de associaccedilatildeo geral de
ideias ou melhor por natildeo haver uma relaccedilatildeo de semelhanccedila e nem contiguidade entre o
significante e o significado ela eacute estabelecida por convenccedilatildeo de forma intencional e aprendida
nas relaccedilotildees sociais Os siacutembolos satildeo considerados os signos genuiacutenos estatildeo reservados aos
seres humanos porque as necessidades comunicativas exigem muito mais que indicaccedilotildees
indexicais ou imitaccedilotildees icocircnicas O sistema mais elaborado de signos simboacutelicos certamente
eacute o das liacutenguas naturais na modalidade falada e na escrita tambeacutem sendo que a palavra eacute o
siacutembolo por excelecircncia
Por se constituiacuterem de duas coisas que se encontram em prolongamento uma da outra
i eacute contiacuteguas os signos indexicais podem se substituir mutuamente Tambeacutem os signos
icocircnicos podem tomar o lugar do objeto real Jaacute os simboacutelicos satildeo superiores por permitirem
aos seres humanos ultrapassar os limites de contiguidade e semelhanccedila porque estabelecem uma
relaccedilatildeo simboacutelica entre determinada forma e determinado significado Todas essas relaccedilotildees ndash
icocircnica indexical e simboacutelica ndash estatildeo na base dos sistemas de linguagem
Os signos linguiacutesticos se vinculam agrave noccedilatildeo de siacutembolo uma vez que a relaccedilatildeo com o
objeto referido eacute construiacuteda arbitrariamente em uma espeacutecie de acordo entre os membros de
uma comunidade de fala Para Saussure (2008) o signo linguiacutestico eacute o resultado da associaccedilatildeo
convencional entre o significante e o significado acertada entre os falantes Eacute convencional
porque natildeo haacute nenhum viacutenculo sugestivo entre os dois elementos Essa eacute a noccedilatildeo de
arbitrariedade descrita por Saussure (2008) em relaccedilatildeo aos viacutenculos entre significante e
significado Por outro lado haacute de se considerar situaccedilotildees em que os signos linguiacutesticos
apresentam motivaccedilotildees que podem ser de natureza foneacutetica morfoloacutegica ou semacircntica
Quanto agrave estrutura um topocircnimo pode ser um nome simples ou composto e segue
evidentemente as mesmas regras de formaccedilatildeo de palavras da liacutengua portuguesa Um nome em
funccedilatildeo toponiacutemica pode tambeacutem ser constituiacutedo por frases e oraccedilotildees seguem assim a sintaxe
da liacutengua em que se insere
7 O ldquoeurdquo a pessoa com quem se fala o ldquoeste aquirdquo ldquoesse aiacuterdquo ldquoaquele alirdquo ldquoneste tempordquo ldquonaquele tempordquo
46
Segundo Dick (1992) o signo topocircnimo vincula-se por diversos fatores ao elemento
geograacutefico do qual eacute o referente estabelecendo com ele um conjunto que por sua vez pode ser
separado em partes menores para se distinguirem os seus elementos formadores
Morfologicamente dois elementos baacutesicos podem ser depreendidos dessa relaccedilatildeo um o termo
ou elemento geneacuterico que se relaciona agrave entidade geograacutefica que recebe a denominaccedilatildeo e o
outro o elemento ou termo especiacutefico o topocircnimo propriamente dito que carrega em si mesmo
a noccedilatildeo espacial que identificaraacute e singularizaraacute a entidade denominada das outras semelhantes
Esses elementos ou termos se justapotildeem no sintagma toponiacutemico (Coacuterrego do Ouro) ou se
aglutinam (Rialma) conforme a estrutura da liacutengua em questatildeo
Para Dick (1992) em relaccedilatildeo agrave morfologia os topocircnimos podem apresentar trecircs
diferentes formas (i) topocircnimo ou elemento especiacutefico simples eacute aquele determinado por um
soacute formante que pode apresentar-se acompanhado tambeacutem de sufixaccedilatildeo diminutiva
aumentativa ou de outras origens linguiacutesticas
Eacute comum na formaccedilatildeo de muitos topocircnimos brasileiros a junccedilatildeo de um designativo agraves
terminaccedilotildees -lacircndia em -poacutelis e ndashburgo (normalmente segundo elemento da formaccedilatildeo) Essa
formaccedilatildeo embora apresente dois formantes (de liacutenguas diferentes) satildeo considerados nomes
simples e natildeo compostos pode-se no entanto dizer que em algumas designaccedilotildees satildeo tambeacutem
hiacutebridos jaacute que provecircm de liacutenguas diferentes a saber Maurilacircndia (Maurilo do latim Maurilius
lsquomorenorsquo + lacircndia elemento de origem inglesa) Buritinoacutepolis (Buriti(no) elemento tupi + polis
elemento grego) mas em Friburgo8 natildeo haacute hibridismo
Segundo Siqueira (2012) pode-se ainda indicar a terminaccedilatildeo -(a) nia variaccedilatildeo do sufixo
nominal do latino -anus -ana que se documentam em nomes e modificadores com as noccedilotildees
de proveniecircncia origem entre outras em lembranccedila dos primeiros habitantes da regiatildeo Em
Goiaacutes eacute expressiva a quantidade de topocircnimos que se formaram jungidos a esse elemento
Caiapocircnia Cromiacutenia Goiacircnia Joviacircnia Luziacircnia Silvacircnia (ii) topocircnimo composto ou
elemento especiacutefico composto aquele formado por mais de um elemento de origens diversas
entre si do ponto de vista do conteuacutedo (iii) topocircnimo (composto) hiacutebrido ou elemento
especiacutefico hiacutebrido formado por elementos linguiacutesticos de diferentes procedecircncias
Sobre o caraacuteter imotivado dos signos linguiacutesticos cabe salientar conforme Saussure
(2008) que o viacutenculo que une o significante ao significado eacute arbitraacuterio natildeo haacute relaccedilatildeo loacutegica
ente as duas faces do signo A associaccedilatildeo entre ambos (significante e significado) eacute de natureza
8 Cidades da Alemanha e da Suiacuteccedila no Brasil conforme Machado (2003) haacute uma ldquoFriburgordquo no Amazonas e no
Rio de Janeiro ldquoNova Friburgordquo este sim um hiacutebrido em Minas Gerais haacute tambeacutem o hiacutebrido ldquoCordisburgordquo
cordis do latim lsquocoraccedilatildeorsquo + burgo do alematildeo lsquocidadersquo
47
convencional natildeo natural Assim todo estudo toponiacutemico tem no caraacuteter motivado do signo
toponiacutemico seu ponto de partida ou seja os estudos sobre os topocircnimos se baseiam na
motivaccedilatildeo que subjaz para analisar todas as relaccedilotildees circunscritas a ela
15 Linguiacutestica Histoacuterica
Consideradas como realidades histoacutericas e sociais as liacutenguas satildeo dinacircmicas estatildeo em
contiacutenua transformaccedilatildeo o que leva a afirmar que a liacutengua de hoje natildeo eacute a mesma de ontem
nem se manteraacute idecircntica amanhatilde Posto isso pode-se verificar que o conhecimento mais amplo
da estrutura do leacutexico da semacircntica e ateacute da ortografia pode requerer um estudo linguiacutestico
com perspectivas histoacutericas No acircmbito da linguiacutestica geral destaca-se a Linguiacutestica Histoacuterica
aacuterea cujo interesse recai sobre o que como e por que muda nas liacutenguas no decorrer do tempo
Os estudos acerca da linguagem foram primeiramente postulados pelos filoacutesofos
anteriores ao seacuteculo XIX como Platatildeo e Aristoacuteteles9 que se ativeram ao estudo da linguagem
mediante a anaacutelise da relaccedilatildeo entre som e sentido ignorando qualquer tipo de variaccedilatildeo
linguiacutestica Jaacute a opccedilatildeo filoloacutegica representada principalmente pelos gramaacuteticos alexandrinos
natildeo ignorava a variaccedilatildeo linguiacutestica mas a colocava como desvio configurando-se
possivelmente como a primeira perspectiva normativaprescritiva na histoacuteria dos estudos da
linguagem (MAURER JR 1967)
Por sua vez a linguiacutestica histoacuterica conforme Maurer Jr (1967) estabeleceu relaccedilotildees
culturais entre os povos tornando-se um precioso auxiacutelio para a Histoacuteria e a Antropologia A
linguiacutestica histoacuterica natildeo revela apenas as relaccedilotildees entre duas ou mais liacutenguas mas consegue
tambeacutem evidenciar com facilidade o que eacute herdado de um berccedilo linguiacutestico comum e o que eacute
oriundo de empreacutestimo de outra liacutengua
Consoante estudos recorrentes a linguiacutestica histoacuterica teve seu surgimento no final do
seacuteculo XVIII momento em que se comeccedilava a dar um cunho cientiacutefico agrave mudanccedila linguiacutestica
Natildeo se pode afirmar entretanto que natildeo houvesse uma preocupaccedilatildeo com a linguagem antes
desse periacuteodo haja vista que a criaccedilatildeo da biblioteca de Alexandria por exemplo demonstra
certo interesse pelo assunto pois indica que ao fazer a compilaccedilatildeo das obras antigas da literatura
grega Homero apresentava certa preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura e do passado de
uma eacutepoca
9 Para Aristoacuteteles a linguagem eacute definidora das relaccedilotildees humanas
48
No entanto foi no seacuteculo XVI com a Renascenccedila que houve um acentuado interesse
dos estudiosos pela histoacuteria cultural particularmente pela filologia momento da origem da
histoacuteria literaacuteria No Ocidente renascia o interesse pelo passado que remetia agrave antiguidade
greco-latina
A linguiacutestica histoacuterica consiste segundo Faraco (2006 p 13) em ldquoestudar as mudanccedilas
que ocorrem nas liacutenguas humanas agrave medida que o tempo passardquo A mudanccedila eacute definida como
processo pelo qual a liacutengua viva natildeo fica estagnada mas evolui acompanhando o
desenvolvimento da sociedade que a utiliza como instrumento de comunicaccedilatildeo pois ldquoonde haacute
mudanccedila deve haver histoacuteria do contraacuterio nosso conhecimento do fato permanece incompletordquo
(MAURER JR 1967 p 20)
Nesse contexto estabelece-se o que eacute mais natural a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade
porque uma acaba interferindo na mudanccedila da outra visto que
[] as liacutenguas humanas natildeo constituem realidades estaacuteticas ao contraacuterio sua
configuraccedilatildeo estrutural se altera continuamente no tempo E eacute essa dinacircmica
que constitui o objeto de estudo da linguiacutestica histoacuterica [] as liacutenguas mudam
mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos
necessaacuterios para a circulaccedilatildeo dos significados (FARACO 2006 p 14)
As mudanccedilas natildeo satildeo apenas de ordem lexicais por certo as estruturas gramaticais o
modo de produzir os sons e o significado das palavras se alteram com o tempo bem como novas
palavras surgem para expressar objetos e coisas que satildeo criados Eacute possiacutevel observar ainda que
palavras caem em desuso provocando consequentemente alteraccedilotildees no leacutexico de dada liacutengua
jaacute que
Os estudos de Linguiacutestica Histoacuterica comprovam que as liacutenguas humanas se
transformam no fluxo do tempo ou seja palavras e estruturas que existiam
antes deixam de existir ou sofrem modificaccedilotildees na forma na funccedilatildeo eou no
significado Apesar das transformaccedilotildees sofridas as liacutenguas mudam mas
continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos necessaacuterios
que garantem uma comunicaccedilatildeo eficaz pois as mudanccedilas ocorrem em partes
e natildeo no todo das liacutenguas num processo de mutaccedilatildeo e permanecircncia
(SIQUEIRA AGUIAR 2011 p 385 grifos das autoras)
A linguiacutestica histoacuterica pode ser estudada em duas fases a de 1800 e a poacutes 1900 No
seacuteculo XIX surgiram meacutetodos de abordagem para se estudar as liacutenguas suas combinaccedilotildees
identidade (gecircnese) diferenccedilas (mudanccedilas) Segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 18) ldquoa tradiccedilatildeo
oitocentista portanto recorta descreve e explica os fenocircmenos da linguagem do ponto de vista
do binocircmio gecircnese-evoluccedilatildeordquo
49
O poacutes 1900 partiu da observaccedilatildeo da diacronia e sincronia Com o advento do
estruturalismo de Ferdinand Saussure (2008) no seacuteculo XX a linguiacutestica moderna trouxe como
proposta que o objeto da linguiacutestica ndash a liacutengua ndash pudesse ser estudado separadamente do efeito
tempo (PAIXAtildeO DE SOUSA 2006) Como divisor desse momento na segunda metade poacutes
1900 o objeto da linguiacutestica eacute de ordem bioloacutegica ndash a diacronia estaacute imanente agrave liacutengua pois
de acordo com esta corrente linguiacutestica eacute na liacutengua que reside a heterogeneidade a mudanccedila e
a variaccedilatildeo
Segundo Faraco (2006 p 91) as liacutenguas estatildeo inseridas em um processo de fluxo
temporal de mutabilidade ldquoaparecimentosrdquo e ldquodesaparecimentosrdquo ldquoconservaccedilatildeordquo e
ldquoinovaccedilatildeordquo As liacutenguas tecircm histoacuteria revelam e constituem a todo tempo a realidade e as
transformaccedilotildees ocorridas comno tempo Em relaccedilatildeo a isso
Humboldt convencia-se de que toda liacutengua reflete a psique do povo que a fala
Eacute o resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal
de fala Ele acha por outro lado que a liacutengua de um povo eacute o canal natural
pelo qual aquele povo chega a uma compreensatildeo do universo que circunda o
homem E conclui que existe uma profunda influecircncia de uma liacutengua na
maneira pela qual seus falantes veem e organizam o mundo dos objetos em
torno deles e de sua vida espiritual (CAMARA JR 1975 p 38-39)
A liacutengua eacute um ldquoinstrumentordquo social e estaacute carregada de significaccedilatildeo e considerados
espaccedilo e tempo eacute capaz de revelar o mundo a outros mundos Faraco (2006) faz ainda referecircncia
ao estudo do leacutexico ao reafirmar que a composiccedilatildeo deste pode ser estudada historicamente na
sua origem bem como os empreacutestimos que satildeo feitos de outras liacutenguas Necessaacuterio se faz
reconhecer que o leacutexico eacute uma unidade carregada da histoacuteria cultural de dada comunidade
linguiacutestica natildeo esquecendo conforme Faraco (2006 p 42) que ldquoeacute um dos pontos em que mais
claramente se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e culturardquo
Com o advento estruturalista de Saussure (2008) haacute uma mudanccedila de perspectiva a
visatildeo diacrocircnica dos fatos linguiacutesticos daacute lugar ao enfoque sincrocircnico dos fenocircmenos da
linguagem Eacute preciso observar que consoante a diretriz saussuriana a anaacutelise sincrocircnica
precede a diacrocircnica sendo possiacutevel fazer comparaccedilatildeo entre elas no momento em que tiver a
descriccedilatildeo de pelo menos dois estados da liacutengua Daiacute reforccedilar-se o objetivo do estudo em
descrever sincronicamente um dado especiacutefico da histoacuteria da liacutengua Faraco (2006 p 120)
afirma que ldquoo estudioso se fixa num momento do passado e tomando-o estaticamente
descreve-o com base nos documentos escritos de que se dispotildee criando assim condiccedilotildees para
um posterior estudo diacrocircnicordquo
50
A par disso conveacutem mencionar que nos seacuteculos XVII e XVIII estudos linguiacutesticos
hegemocircnicos observavam a liacutengua como uma realidade estaacutevel diferentemente do pensamento
linguiacutestico do seacuteculo XIX que considerava a liacutengua como uma realidade em transformaccedilatildeo
Desta forma Saussure (2008) estabeleceu duas dimensotildees uma histoacuterica (chamada diacrocircnica)
que tem como centro de suas atenccedilotildees as mudanccedilas porque passa a liacutengua no tempo ou seja a
mutabilidade da liacutengua no tempo a outra eacute estaacutetica (chamada sincrocircnica) que entende a liacutengua
como um sistema estaacutevel num espaccedilo de tempo aparentemente fixo isto eacute a sua imutabilidade
Mas
Diante dos termos sincroniadiacronia natildeo basta apenas entender por alto a
que se referem Eacute preciso antes perceber que essa divisatildeo pressupotildee tambeacutem
na sua origem uma concepccedilatildeo homogeneizante da liacutengua que ndash apesar de sua
indiscutiacutevel funcionalidade e fertilidade para a linguiacutestica contemporacircnea ndash eacute
para muitos estudiosos uma idealizaccedilatildeo excessiva por criar um objeto de
estudo demasiadamente afastado da heterogeneidade linguiacutestica do real
(FARACO 2006 p 106 grifos do autor)
Segundo Faraco (2006) Coseriu em seu livro Sincronia diacronia e histoacuteria de 1973
posiciona-se de forma contraacuteria agrave formulaccedilatildeo de Saussure (2008) (visatildeo estaacutetica de sistema)
pois para ele a liacutengua deve ser vista em permanente sistematizaccedilatildeo em movimento Coseriu
rejeita a ideia de que a descriccedilatildeo (sincronia) e a histoacuteria (diacronia) sejam estudos diferenciados
mas assume a visatildeo de que as liacutenguas satildeo objetos histoacutericos e devem ser estudadas de forma
integrada envolvendo descriccedilatildeo e histoacuteria
Para Rocha Galvatildeo e Gonccedilalves (2011 p 30) ldquoestabelecer a presenccedila ou a viagem das
palavras eacute acompanhar o envolver das proacuteprias comunidades pelo tempo aforardquo Um recorte
sincrocircnico natildeo deve desprezar a interpretaccedilatildeo diacrocircnica o interesse cientiacutefico natildeo estaacute presente
somente num espaccedilo-tempo assim como a representatividade histoacuterica necessita admitir pontos
exatos na representaccedilatildeo da vivecircncia humana
No segundo capiacutetulo apresenta-se uma breve revisatildeo dos meacutetodos de pesquisa que
podem ser combinados com a teoria onomaacutestico-toponiacutemica a fim de compor um quadro
ilustrativo das caracteriacutesticas do meio da cultura dos fatos histoacutericos e dos estados anteriores
da liacutengua que estatildeo de alguma forma impressos na motivaccedilatildeo que subjaz aos topocircnimos em
questatildeo
51
II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS
O povo ldquosenhor dos espaccedilos puacuteblicosrdquo por vezes
adota criteacuterio proacuteprio ao conferir nomes aos
lugares
(IBGE 2008)
A linguagem humana eacute sobretudo interaccedilatildeo e natildeo pode pois ser explicada apenas em
termos de sua estrutura semacircntica e formal mas tambeacutem deve-se analisaacute-la em sua funccedilatildeo
social Desta forma o desenvolvimento linguiacutestico e intelectual do indiviacuteduo caminham juntos
pois ambos satildeo a base da abstraccedilatildeo e categorizaccedilatildeo pois ldquotoda liacutengua reflete as condiccedilotildees da
sociedade e do ciacuterculo cultural que se falardquo (ANDRADE 2010 p 99)
Aspectos linguiacutesticos de diversas ordens satildeo fundamentais para o estudo toponiacutemico jaacute
que eacute por mecanismos linguiacutesticos que o signo comum transmuta-se em designativo de lugar
revelando a identidade do nomeador coletivo ou natildeo Desta maneira ldquoo topocircnimo eacute o resultado
da accedilatildeo do nomeador ao realizar um recorte no plano das significaccedilotildees representaccedilotildees ou seja
praticar um papel de registro no momento vivido pela comunidaderdquo (ANDRADE 2010 p
106)
Acolher uma orientaccedilatildeo ou outra acarreta outrossim na escolha do meacutetodo a ser utilizado
para a pesquisa linguiacutestico-histoacuterica Para situar a escolha por um meacutetodo este capiacutetulo faz uma
breve exposiccedilatildeo de alguns meacutetodos que tecircm sido empregados em pesquisas de abordagem
similar a esta em especial descrevemos detalhadamente os que satildeo usados nesta pesquisa os
quais consideram natildeo somente os aspectos linguiacutesticos bem como os histoacutericos e socioculturais
do lugar indo ao encontro da perspectiva adotada para este trabalho
21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos
Natildeo se deve confundir metodologia com meacutetodo de pesquisa Segundo Silva e Silveira
(2007 p 145) a metodologia consiste de um conjunto de criteacuterios usados para se construir um
conhecimento vaacutelido seguro e de certa forma verdadeiro Jaacute os meacutetodos de pesquisa podem
ser definidos como ldquoprinciacutepios e procedimentos aplicados para construccedilatildeo do saberrdquo Os autores
salientam que se torna mais difiacutecil ficar preso a um uacutenico meacutetodo quando se pode lanccedilar matildeo
do ldquopluralismo metodoloacutegicordquo Deste modo considerando as especificidades de um estudo
toponiacutemico eacute possiacutevel conjugar meacutetodos de forma ordenada e loacutegica Isto quer dizer que se
52
podem utilizar meacutetodos de abordagem (indutivo dedutivo dialeacutetico) em consonacircncia com os
preceitos de um ou mais meacutetodos de procedimento (funcionalista comparativo
fenomenoloacutegico estruturalista)
Uma perspectiva histoacuterica por exemplo abre um amplo espectro de possibilidades de
se estudar um determinado fato linguiacutestico Podem ser citadas diversas maneiras para se tomar
os fenocircmenos linguiacutesticos do ponto de vista histoacuterico tais como a filologia centrada nos
aspectos histoacutericos das transformaccedilotildees a linguiacutestica comparada que aborda os fatos por meio
de comparaccedilotildees entre as liacutenguas de grupos linguiacutesticos relacionados e a etimologia a qual
busca desvendar o significado de origem das palavras aqui centra-se o nosso objeto de estudo
que eacute descrever e analisar a origemetimologia dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua de Pires do
Rio-GO
Os meacutetodos linguiacutesticos podem ainda estudar as transformaccedilotildees linguiacutesticas
correlacionando-as ao contexto sociocultural o que tem contribuiacutedo grandemente para uma
renovaccedilatildeo das abordagens do fenocircmeno da mudanccedila linguiacutestica resultando em inuacutemeras outras
orientaccedilotildees teoacutericas que em certo sentido podem ser vistas como herdeiras dos primeiros
criacuteticos dos estudos comparativos
A linguiacutestica tem a liacutengua como seu principal objeto de estudo a qual eacute produto da
experiecircncia acumulada historicamente na cultura de uma sociedade A liacutengua eacute um fenocircmeno
social pois eacute produzida e determinada socialmente ademais eacute um importante siacutembolo da
identidade de um grupo E eacute no comportamento linguiacutestico de uma dada comunidade que se
reflete a busca de aprovaccedilatildeo social ou a acentuaccedilatildeo de diferenccedilas (COSERIU 1977) Eacute por
meio dela enfim que um indiviacuteduo adquire a cultura do lugar em que vive jaacute que
A funccedilatildeo baacutesica da Linguiacutestica eacute o estudo direto da lsquoliacutengua viva e faladarsquo por
observaccedilatildeo e anaacutelise objetiva de seus fenocircmenos postas de lado todas as
forccedilas e influecircncias que se manifestem muitas vezes atraveacutes dela e todos os
antecedentes que possam ter dado origem ao estado atual (MAURER JR
1967 p 30)
Observa-se na Linguiacutestica Geral de acordo com Maurer Jr (1967) a divisatildeo em dois
setores distintos poreacutem essenciais para compreensatildeo da linguagem a Linguiacutestica Descritiva
(sincrocircnica) que segundo o autor deve ser a base de todo estudo cientiacutefico porque eacute a partir
dela que aprendemos a linguagem em sua funccedilatildeo uacutenica e peculiar e a Linguiacutestica Histoacuterica
(diacrocircnica) que complementa e explica os fatos da primeira e tem uma funccedilatildeo importante no
estudo desse rico patrimocircnio cultural e humano a liacutengua
53
212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica
Para alguns estudiosos a linguiacutestica histoacuterica teve seu apogeu no seacuteculo XIX embora
outros afirmem que tenha ocorrido haacute tempos no Renascimento De acordo com Paixatildeo de
Sousa (2006 p 14)
[] a reflexatildeo linguiacutestica dos 1800 representa um marco divisor na histoacuteria
das histoacuterias do tempo e da linguagem por inaugurar uma concepccedilatildeo
inteiramente nova dos condicionantes dessa relaccedilatildeo e construir um novo
plano para sua anaacutelise Eacute antes de tudo na tentativa de se combinar a esfera
documental com a esfera experimental que aparecem os desdobramentos mais
interessantes dos estudos histoacutericos da liacutengua ao longo do seacuteculo XIX eles
buscaratildeo articular as duas esferas em um mesmo plano de anaacutelise construindo
a abordagem histoacuterico-comparada
Assim a linguiacutestica histoacuterica apoacutes o seacuteculo XIX cria um meacutetodo que permite
ldquocategorizar e justificar a identidade geneacutetica e a evoluccedilatildeo paralela de cada idioma em um grupo
aparentadordquo segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 16) O meacutetodo comparativo segundo Maurer
Jr (1967) busca comparar cuidadosamente formas apresentadas entre si de um grupo
distinguir a origem e estudar a diversificaccedilatildeo das liacutenguas para desvendar e recontar a histoacuteria
de cada liacutengua Ressalte-se que para Faraco (2006 p 125) esse meacutetodo teve sua estruturaccedilatildeo
ldquoao dar um tratamento sistemaacutetico agraves observadas semelhanccedilas entre liacutenguas distantes no espaccedilo
como o latim e o sacircnscritordquo E ainda
constitui um recurso inteligente e racional para a reconstruccedilatildeo de fatos que
dependem de testemunho em todo o terreno Tal como a Paleontologia a
Histoacuteria da Cultura e ateacute na investigaccedilatildeo do crime na Justiccedila esse meacutetodo
submete o testemunho a um estudo preliminar para avaliar seu isolamento sua
coerecircncia etc (MAURER JR 1967 p 31)
O meacutetodo comparativo se baseia na experimentaccedilatildeo (induccedilatildeo) procura descrever os
estaacutegios da liacutengua que natildeo deixaram registros (documentos) como eacute o caso do latim vulgar No
entanto se difere do histoacuterico-comparativo o qual usa documentos histoacutericos para fazer as suas
reconstruccedilotildees acerca da liacutengua Poreacutem ambos os meacutetodos buscam recuperar a histoacuteria da liacutengua
de forma cronoloacutegica
De acordo com Faraco (2006 p 134)
O meacutetodo comparativo eacute o procedimento central nos estudos de linguiacutestica
histoacuterica Eacute por meio dele que se estabelece o parentesco entre liacutenguas O
pressuposto de base eacute que entre elementos de liacutenguas aparentadas existem
54
correspondecircncias sistemaacuteticas (e natildeo apenas aleatoacuterias ou casuais) em termos
de estrutura gramatical correspondecircncias estas passiacuteveis de serem
estabelecidas por meio duma cuidadosa comparaccedilatildeo Com isso podemos natildeo
soacute explicitar o parentesco entre liacutenguas (isto eacute dizer se uma liacutengua pertence
ou natildeo a uma determinada famiacutelia) como tambeacutem determinar por inferecircncia
caracteriacutesticas da liacutengua ascendente comum de um certo conjunto de liacutenguas
No decorrer dos anos vaacuterios satildeo os estudiosos que contribuiacuteram com a formaccedilatildeo e o
aprimoramento do meacutetodo comparativo dentre eles destacamos Bopp (1791-1867) que
buscava estabelecer o parentesco entre as liacutenguas mas natildeo o percurso histoacuterico de um anterior
para um posterior Grimm (1785-1863) que ao estudar o ramo germacircnico das liacutenguas indo-
europeias pocircde estabelecer a sucessatildeo histoacuterica por meio de comparaccedilatildeo ndash comparativo
histoacuterico Rask (1787-1832) tambeacutem desenvolveu trabalhos comparativos importantes para o
momento envolvendo as liacutenguas noacuterdicas as demais liacutenguas germacircnicas o grego o latim o
lituano o eslavo e o armecircnio Foi a partir desses estudiosos que surgiu a ldquofilologia (ou
linguiacutestica) romacircnica nome que se deu ao estudo histoacuterico-comparativo das liacutenguas oriundas
do latimrdquo (FARACO 2006 p 137)
De tal modo da siacutentese que foi apresentada eacute possiacutevel tecer as seguintes consideraccedilotildees
o meacutetodo histoacuterico-comparativo em seu apogeu foi e ainda hoje eacute uacutetil aos estudos da Linguiacutestica
Histoacuterica principalmente no que concerne natildeo soacute agrave reconstruccedilatildeo de fases anteriores das liacutenguas
como tambeacutem eacute bastante indicado para estudos que objetivam a reconstruccedilatildeo interna de uma
liacutengua Esse meacutetodo cumpriu papel importante para o desvelamento de inuacutemeras questotildees
linguiacutesticas das liacutenguas antigas grego latim sacircnscrito
Jaacute os estudos dos neogramaacuteticos possibilitaram o aprimoramento do meacutetodo histoacuterico-
comparativo mediante a verificaccedilatildeo de que muitas mudanccedilas ocorridas nas liacutenguas em
momentos anteriores e registrados em documentos podem ser explicitadas por meio da
explanaccedilatildeo de mudanccedilas ldquosincrocircnicasrdquo sucedidas nas liacutenguas conforme as leis foneacuteticas e a
analogia
Conforme Cacircmara Jr (1975) Gaston Paris traccedilou mapas das linhas isogloacutessicas dando
os primeiros passos para a geografia linguiacutestica a qual na verdade foi efetivamente criada por
seu disciacutepulo suiacuteccedilo Jules Gillieacuteron que dedicou-se agrave dialetologia e no doutoramento em 1879
defendeu a tese sobre o dialeto de Vionnaz Essa nova teacutecnica ldquoteve como base teoacuterica o
conceito de dialeto como uma abstraccedilatildeo essa a razatildeo de focalizar cada mudanccedila linguiacutestica per
se como o verdadeiro dado linguiacutesticordquo (CAcircMARA JR 1975 p 121)
55
A geografia linguiacutestica10 segundo Cacircmara Jr (1975) eacute importante como uma nova
abordagem para o estudo histoacuterico-comparativo pois em vez de recorrer a textos antigos o
pesquisador busca apenas os aspectos contemporacircneos da liacutengua absorvendo as bases
linguiacutesticas no intercacircmbio oral Desta forma
Obteacutem-se uma corrente evolucionaacuteria pela comparaccedilatildeo das muitas variantes
de cada forma cuja distribuiccedilatildeo no espaccedilo pode ser traduzida numa
distribuiccedilatildeo atraveacutes do tempo de acordo com regras metodoloacutegicas O aspecto
foneacutetico da variante ou sua existecircncia num patois relativamente moderno ou
notaacutevel por traccedilos arcaicos constituem a chave para esta investigaccedilatildeo
histoacuterica Por essa razatildeo eacute que atraveacutes da geografia linguiacutestica uma nova
teacutecnica para o estudo histoacuterico da linguagem foi imaginada sob o tiacutetulo de
ldquoreconstruccedilatildeo internardquo (CAcircMARA JR 1975 p 125 grifos do autor)
Essa nova abordagem vem corroborar com os estudos da liacutengua porque de forma
efecircmera reconstroacutei a histoacuteria de uma dada liacutengua contribuindo com a contemporaneidade uma
vez que nos eacute necessaacuterio conhecer a base etimoloacutegica das palavras e depois justificar o seu uso
ou evoluccedilatildeo
Segundo Cacircmara Jr (1975) apoacutes observar que Gaston Paris traccedilou mapas das linhas
isogloacutessicas e Gillieacuterion criou a geografia linguiacutestica muitos anos depois os linguistas italianos
Giulio Bertoni e Matteo Bartoli criaram o meacutetodo de linguiacutestica areal cujo objetivo era
classificar aacutereas linguiacutesticas ndash de uma liacutengua ou grupo de liacutenguas ndash como forma de
representaccedilatildeo da contemporaneidade e do estaacutegio linguiacutestico de desenvolvimento Os
linguistas consoante Cacircmara Jr (1975 p 126) ldquodividiram um territoacuterio linguiacutestico em aacutereas
isoladas aacutereas laterais aacutereas principais e aacutereas desaparecidas (isto eacute aacutereas homogecircneas que
desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)rdquo e desta forma
difundiam mais um meacutetodo linguiacutestico
Destaca ainda que a linguiacutestica histoacuterica compreende dois momentos de exatidatildeo o
primeiro de 1786 a 1878 periacuteodo de formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do meacutetodo comparativo o qual
finalizou com o movimento dos neogramaacuteticos o segundo vai desde 1878 ateacute a
contemporaneidade periacuteodo de tensatildeo entre duas linhas interpretativas uma imanentista ndash
neogramaacutetico estruturalismo e gerativismo que vecirc a mudanccedila como acontecimento interno da
liacutengua e pela proacutepria liacutengua e a outra integrativa ndash primeiros criacuteticos neogramaacuteticos dialetologia
e sociolinguiacutestica cuja mudanccedila da liacutengua estaacute condicionada a fatores contextuais nos quais o
falante estaacute inserido
10 No Brasil a Geografia Linguiacutestica concretizou-se com a produccedilatildeo de Atlas Linguiacutesticos em diferentes Estados
brasileiros
56
Entre os seacuteculos XVIII e XIX ocorreram momentos de grande relevacircncia para a
linguiacutestica histoacuterica Um deles eacute a fundaccedilatildeo da Escola de Estudos Orientais em Paris
(importante centro de investigaccedilatildeo) no ano de 1975 onde estudaram os linguistas alematildees
Friedrich Schlegel (1772-1829) e Franz Bopp (1791-1867) os quais mais tarde desenvolveram
a chamada gramaacutetica comparativa
Assim em 1808 Friedrich Schlegel publicou um texto sobre a liacutengua e sabedoria dos
povos hindus que de acordo com Faraco (2006) eacute considerado o ponto de partida do
comparativismo alematildeo No texto o autor ratifica sobre o parentesco das liacutenguas sacircnscrita com
a latina grega germacircnica e persa
Cabe ainda salientar que os estudos histoacuterico-comparativos antes da uacuteltima metade do
seacuteculo XIX conheceram a obra de August Scheilcher (1821-1868) Sua teoria tomava a liacutengua
como um organismo vivo com existecircncia fora de seus falantes sendo sua histoacuteria vista como
natural devido agraves orientaccedilotildees naturalistas do linguista como sua formaccedilatildeo em botacircnica e
influenciado pela teoria evolucionista de Darwin (FARACO 2006)
Jaacute no seacuteculo XIX as investigaccedilotildees no campo da linguagem eram dominadas por ideias
positivistas que se desenvolviam conforme meacutetodos histoacuterico-comparativos eacutepoca em que se
formaliza o estudo sistemaacutetico das variaccedilotildees sobretudo as de natureza geograacutefica Surge o
interesse pelos dialetos considerados como fontes de conhecimento do modo como se teriam
operado as transformaccedilotildees em fases anteriores das liacutenguas A Geografia Linguiacutestica eacute uma
consequecircncia do interesse pelos estudos dialetais levados a cabo de iniacutecio por vaacuterios estudiosos
europeus Segundo Coseriu (1982) surge um meacutetodo dialetoloacutegico e comparativo que
pressupotildee o registro em mapas especiais de um nuacutemero relativamente elevado de formas
linguiacutesticas (focircnicas lexicais ou gramaticais) recolhidas mediante pesquisa direta e unitaacuteria
numa rede de pontos distribuiacuteda em determinado territoacuterio
Deste modo eacute necessaacuterio compreender que
A linguagem eacute inegavelmente uma heranccedila social cuja histoacuteria se estende
por seacuteculos Uma visatildeo completa um conhecimento detalhado de seu
mecanismo de sua estrutura de sua semacircntica e ateacute de sua ortografia soacute
podem ser obtidos atraveacutes da pesquisa diacrocircnica Os meacutetodos expostos
acima em suas linhas essenciais natildeo deixam duacutevida de que a filologia
romacircnica se desenvolveu com o meacutetodo histoacuterico-comparativo adotado com
mais ecircxito aqui do que no campo para o qual havia sido criado As possiacuteveis
deficiecircncias desse meacutetodo foram sendo corrigidas depois pela geografia
linguiacutestica e pelos outros meacutetodos derivados como a onomasiologia Woumlrter
und Sachen linguiacutestica espacial etc Enquanto o meacutetodo histoacuterico-
comparativo procura as ligaccedilotildees entre o ldquoterminus a quordquo e o ldquoterminus ad
quemrdquo o latim vulgar e as liacutenguas romacircnicas respectivamente os outros
57
meacutetodos tecircm como objeto especificamente o ldquoterminus ad quemrdquo pois
investigam sincronicamente aspectos atuais dessas mesmas liacutenguas cujas
explicaccedilotildees poreacutem devem ser buscadas diacronicamente (BASSETTO
2001 p 85 grifos do autor)
Para Faraco (2006 p 106) ldquooptar por uns ou por outros eacute que vai orientar nossa forma
de entender a mudanccedila linguiacutestica nossa seleccedilatildeo de dados nossas categorias e procedimentos
de anaacutelise nosso processo argumentativordquo Ou seja ao assumirmos uma concepccedilatildeo de base
correlata eacute o que iraacute definir o nosso meacutetodo de trabalho
22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia
Segundo Silva (2010) a onomasiologia eacute um meacutetodo que se constitui do estudo das
designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Pode ser
investigada toda a cultura popular de um local podendo-se priorizar os aspectos sincrocircnicos ou
histoacutericos Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores do que
subjaz agrave nomeaccedilatildeo dos lugares
Pode-se para efeito deste estudo traccedilar o esquema a seguir o qual demonstra as
possibilidades temaacuteticas que esse tipo de pesquisa pode apresentar
Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos
Onomaacutestica
Toponiacutemia Antroponiacutemia
Modalidades Coleta
Imagens mapas cartas e plantas
Documental Texto iacutendicesrepertoacuterio de nomes
Ficcional Natildeo ficcional
Pesquisa de campo Entrevistas etnografia
Mista Documental e Pesquisa de campo
Fonte Adaptado de material da USP ndash Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas 2016
58
A onomasiologia eacute o resultado das tendecircncias mais significativas da evoluccedilatildeo linguiacutestica
na transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX em que a centralidade das investigaccedilotildees passam
do som (foneacutetica) para a palavra (lexicologia) O seu triunfo se deu a partir do desenvolvimento
da Geografia Linguiacutestica pois com o aparecimento de inuacutemeros termos regionais recolhidos
pelos inqueacuteritos linguiacutesticos surgiu a necessidade de um novo meacutetodo que auxiliasse os
dialetoacutelogos a compreenderem o homem regional em sua amplitude por meio da linguagem
Apoacutes a publicaccedilatildeo dos atlas linguiacutesticos a onomasiologia comeccedila a ser utilizada em
vaacuterios estudos jaacute que pelo seu uso eacute possiacutevel caracterizar as atividades de uma regiatildeo e situaacute-
las no tempo Segundo Couto (2012 p 186) ldquoa onomasiologia vecirc a questatildeo da referecircncia para
usar um termo semioacutetico partindo da coisa e indo na direccedilatildeo do nome que ela receberdquo Desta
forma ldquoo meacutetodo onomasioloacutegico permite ver a cultura do povo cuja liacutengua se estuda
costumes ocupaccedilotildees instrumental crenccedilas e crendices moradia enfim sua mundividecircncia
Permite sentir a linguagem viva traduzindo a vivecircncia cultural do povordquo (BASSETO 2001 p
77)
Ressalta-se que
Com pontos em comum com a Geografia Linguiacutestica e ldquoPalavras e Coisasrdquo o
meacutetodo onomasioloacutegico tambeacutem conhecido como onomasiologia isto eacute o
estudo das denominaccedilotildees se propotildee investigar os vaacuterios nomes atribuiacutedos a
um objeto animal planta conceito etc individualmente ou em grupo dentro
de um ou vaacuterios domiacutenios linguiacutesticos Seus objetivos satildeo portanto
semacircnticos e lexicoloacutegicos buscando descobrir os aspectos vivos e as forccedilas
criadoras da linguagem (BASSETO 2001 p 76)
O meacutetodo onomasioloacutegico natildeo ficou a cargo apenas de um pesquisador mas de vaacuterios
pois seus princiacutepios se desenvolveram aos poucos Conforme Bassetto (2001) temos como
predecessores da onomasiologia moderna F Brinkmann (1872) Luigi Morandi (1883)
Friedrich Diez (1875) Fr Pott (1853) Jakob Grimm (1853) e F Miklosich (1868) Todavia o
princiacutepio da onomasiologia cientiacutefica deu-se com Carlo Salvioni (1858-1920) quando estudou
sobre as denominaccedilotildees italianas do vaga-lume (1892) e com Ernest Toppolet (1870-1939) que
referendou em seus estudos o parentesco dos nomes romacircnicos por ele denominados de
ldquolexicologia cientiacuteficardquo
As pesquisas desenvolvidas na aacuterea da onomaacutestica se constituem em uma linha
documental ou de campo seguindo um meacutetodo pelo qual se selecionam observam registram
classificam analisam e interpretam os dados de acordo com a identificaccedilatildeo dos fatores
59
determinantes agrave configuraccedilatildeo dos corpora Essas anaacutelises de dados satildeo baseadas em trecircs
categorias linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica que satildeo reveladas pelo meacutetodo onomasioloacutegico
Segundo Ramos e Bastos (2010) as trecircs perspectivas ndash linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica
ndash satildeo cruciais para revelar as seguintes caracteriacutesticas a) a determinaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica das
diferentes liacutenguas que tenham existido ou existentes num determinado territoacuterio b) o estudo
das terminaccedilotildees caracteriacutesticas de cada palavra c) o estudo das formas gramaticais d) o estudo
da foneacutetica histoacuterica e) a verificaccedilatildeo das formas documentadas as quais se subdividem em ndash
comparaccedilatildeo semacircntica a abordagem dos dados geograacuteficos e a abordagem dos dados histoacutericos
Cabe ainda indicar em linhas gerais algumas concepccedilotildees do meacutetodo Woumlrter und
Sachen de Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) o qual conforme
Bassetto (2001) tem pontos em comum que compartilha com o meacutetodo onomasioloacutegico Visa
ao estudo das questotildees semacircnticas das palavras enfatizando a realidade que elas designam
porque para os estudiosos dessa linha de pensamento a verdadeira etimologia da palavra
encontra-se no conhecimento dessa realidade Procura instruir sobre a necessidade de conhecer
sempre que possiacutevel o objeto designado por um termo para que o significado possa ser
devidamente explicitado Quando se conhece a realidade a natureza a forma o uso as medidas
das coisas do mundo eacute possiacutevel estabelecer a origem e a histoacuteria das palavras com que esses
mesmos objetos foram designados
Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) foram precursores desse
meacutetodo ao considerarem que as coisas existem antes de serem denominadas ou seja as coisas
preexistem agraves suas designaccedilotildees podendo ateacute existir sem que sejam nomeadas Em
contrapartida as palavras dependem das ldquocoisasrdquo estatildeo ligadas a elas Com essa perspectiva
Schuchardt (mais do que Meringer) remete ao meacutetodo Woumlrter und Sachen ldquoPalavras e Coisasrdquo
cujo tiacutetulo instituiu o nome do meacutetodo
No entanto conveacutem salientar que jaacute na gramaacutetica grega estava impliacutecita a ideia de que
as coisas precedem as palavras Em outros termos quando se conhece em profundidade a
ldquocoisardquo chega-se ao ldquoeacutetimordquo da palavra que a nomeia alcanccedila-se o significado com que a coisa
foi primeiramente designada Menciona-se que para Schuchardt (apud BASSETO 2013)
Sachen (coisa) significava qualquer realidade i eacute ldquoSachenrdquo podia se referir tanto a
acontecimentos e estados como a objetos ao real e ao irreal ao tangiacutevel11 e ao intangiacutevel ou
em outras palavras tanto a coisas do mundo sensiacutevel como do insensiacutevel
11 ldquoTangiacutevelrdquo do latim tangere tangens lsquotocar aquilo que tocarsquo do mesmo eacutetimo de attingere lsquoaproximar-se e
tocarrsquo
60
O meacutetodo Woumlrter und Sachen (Palavras e Coisas) segundo Campbell (2004) relaciona-
se agraves inferecircncias histoacuterico-culturais que podem ser reveladas por meio da investigaccedilatildeo das
palavras pautadas na sua analisabilidade Campbell (2004) assume que as palavras que satildeo
analisadas em partes transparentes (vaacuterios morfemas) podem ser de criaccedilatildeo mais recente (na
liacutengua) em relaccedilatildeo agraves palavras que natildeo apresentam essa transparecircncia morfecircmica
Essa teacutecnica contribui sobremaneira para traccedilar uma cronologia aproximativa dos
vocabulaacuterios Dias (2016 p31) acentua que
Sobretudo supotildee-se que itens culturais denominados por termos analisaacuteveis
satildeo tambeacutem adquiridos mais recentemente pelos falantes e aqueles que satildeo
expressos por palavras natildeo analisaacuteveis representam itens mais velhos e
instituiccedilotildees Outra estrateacutegia desse meacutetodo envolve fazer inferecircncias por meio
de informaccedilotildees de itens culturais de quem os nomes sofreram visivelmente
mudanccedila de significado
E para Crowly (2003) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo pode ser usado para fazer
reconstruccedilatildeo cultural e chegar ao conteuacutedo de uma protocultura por exemplo jaacute que se eacute
possiacutevel reconstruir uma palavra designativa de alguma coisa na protoliacutengua eacute possiacutevel tambeacutem
supor que a coisa a que ela se refere provavelmente foi de importacircncia cultural na vida dos
seus falantes ou que foi ambientalmente marcante Segundo o autor o meacutetodo pode tambeacutem
dizer muito sobre a terra natal de uma famiacutelia linguiacutestica pode-se ainda por meio do referido
meacutetodo fazer suposiccedilotildees sobre as rotas legiacutetimas seguidas pelos povos para se chegar aos
lugares onde se encontram atualmente12
Destarte segundo Bassetto (2013) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo deu destaque agrave
semacircntica ao estabelecer a etimologia e ateacute a biografia das palavras aleacutem de tornar os estudos
filoloacutegicos mais objetivos Posto isso eacute possiacutevel verificar que o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo
pode ser usado nos estudos semacircnticos lexicais onomaacutesticos toponiacutemicos Quando se busca
relacionar a histoacuteria do nome com a histoacuteria do lugar vincula-se a palavra (o nome) agrave coisa (o
lugar) Nesse sentido pode-se de alguma maneira realizar o estudo natildeo apenas pautado no
meacutetodo onomasioloacutegico mas tambeacutem considerando as intrincadas relaccedilotildees entre nomes e as
coisas do mundo
Cabe ressaltar
Assim como procedimento metodoloacutegico seguido nos estudos
toponomaacutesticos buscamos definir o jaacute definido ou seja o objeto de estudo da
disciplina o seu campo de trabalho especiacuteficos a natureza linguiacutestica da
12 Por exemplo os caminhos que levaram (trouxeram) os bandeirantes agraves terras do iacutendio goyaacute
61
anaacutelise em termos de vinculaccedilatildeo a uma aacuterea do conhecimento Partindo-se da
definiccedilatildeo etimoloacutegica dos elementos gramaticais de origem grega enunciados
por Dioniacutesio de Traacutecia no seacuteculo II a C a Toponiacutemia ficou-se como propocircs
Leite de Vasconcelos (1887) no entendimento dos nomes proacuteprios de lugares
distintos dos nomes comuns delimitados pela teoria da linguagem (DICK
2006 p 96)
A toponomaacutestica entatildeo fundamenta-se nos estudos dos nomes proacuteprios de lugares
estabelecendo relaccedilotildees da liacutengua com o ambiente sendo de extrema necessidade observar os
viacutenculos do nomeador com a coisa nomeada a motivaccedilatildeo que subjaz ao topocircnimo
O meacutetodo da Geografia Linguiacutestica com a concepccedilatildeo basilar de que a distribuiccedilatildeo
geograacutefica dos aglomerados populacionais se reflete na diferenciaccedilatildeo linguiacutestica trouxe grande
contribuiccedilatildeo para o estudo dos nomes em geral pois pode refletir tendecircncias que orientaram o
ato de nomeaccedilatildeo tanto de pessoas como de lugares
Sobre o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo cabe apenas repetir que por enfatizar o aspecto
semacircntico das palavras vinculado agrave realidade que elas denominam contribui com o estudo dos
nomes jaacute que parte do princiacutepio de que as palavras se acham ligadas agraves coisas que elas
designam Uma vez conhecendo a natureza das coisas chega-se na verdadeira etimologia da
palavra contribuiccedilatildeo essa que valoriza a cultura e a histoacuteria das comunidades vendo no ser
humano o sujeito das transformaccedilotildees que ocorrem nas liacutenguas e na cultura
Posto isso considera-se mais uma vez que a onomasiologia busca investigar como uma
noccedilatildeo ou conceito eacute nomeado na liacutengua tendo sempre em mente que quem daacute nome agraves coisas
satildeo os falantes e o fazem em decorrecircncia da cosmovisatildeo de seu grupo O meacutetodo
onomasioloacutegico permite que a cultura do povo pesquisado seja revelada
Entretanto a despeito das contribuiccedilotildees que cada um trouxe para os estudos linguiacutesticos
nenhum desses meacutetodos foi suficiente teoricamente para deslindar os inuacutemeros aspectos que
permeiam o ato de nomeaccedilatildeo o que implica dizer que o mais sensato eacute combinar o que cada
meacutetodo apresenta de mais satisfatoacuterio referentemente ao problema que se pretende resolver o
que requer tambeacutem adaptaccedilotildees e revisotildees constantes de um ou de outro ou ainda da combinaccedilatildeo
deles
Considera-se entatildeo
os aspectos pelos quais entendemos a disciplina como conhecimento
cientiacutefico saber construiacutedo como objeto campo de trabalho e pesquisa
demarcados apesar disto manteacutem-se em intersecccedilatildeo a outros campos sem
perder sua identidade A metodologia que emprega em seus levantamentos eacute
de origem indutivo-dedutiva de acordo com os procedimentos
62
onomasioloacutegico-semasioloacutegicos caracteriacutesticos da pesquisa do leacutexico (DICK
2006 p 98)
E no que tange agrave metodologia aos procedimentos de pesquisa propriamente ditos
segundo Dick (1996) que podem ser aplicados nos estudos toponiacutemicos devem se estabelecer
da seguinte forma a) seleccedilatildeo de fontes primaacuterias (cartas geograacuteficas editadas por oacutergatildeos oficiais
estaduais e municipais em escalas de 150000 ou 1100000 ou listas toponiacutemicas oficiais) e
complementaccedilatildeo a partir de fontes secundaacuterias (trabalhos historiograacuteficos da proacutepria
comunidade acerca do local onde vivem) b) registro dos dados em fichas lexicograacuteficas
padronizadas com a identificaccedilatildeo dos nomes do pesquisador e do revisor fontes e data de
coleta c) anaacutelise de dados que inclui a quantificaccedilatildeo dos nomes e das taxonomias analisando
a maior ou menor frequecircncia de classes ou itens lexicais e do estudo dos nomes a partir de um
enfoque puramente linguiacutestico (etimoloacutegico e estrutural) linguiacutestico-histoacuterico e variacionista
Desta forma a metodologia para este trabalho baseia-se em Dick (1996 2006) e por
conseguinte estabelece relaccedilotildees com as demais pesquisas na aacuterea da toponomaacutestica De acordo
com a autora ldquoTrata-se de modelo semacircntico-motivador das ocorrecircncias toponomaacutesticas que
conformam a realidade designativa da nomenclatura geograacutefica oficial do paiacutesrdquo (Dick 2006 p
104) As taxionomias satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise linguiacutestica do topocircnimo e hoje
se dividem em vinte sete taxes pela importacircncia na ldquoanaacutelise linguiacutestica ou casual dos motivos
determinantes das designaccedilotildees integram as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas em um campo
funcional especiacuteficordquo (Dick 2006 p 106) E a partir destas fichas busca-se a identificaccedilatildeo do
topocircnimo e computar as categorizaccedilotildees motivadoras do designativo
A metodologia de pesquisa aqui proposta se caracteriza por ser de natureza documental
(documentos analoacutegicos eou digitais como as cartas topograacuteficas e levantamento histoacuterico
geograacutefico por meio do Instituto Mauro Borges IBGE e de mapas do municiacutepio de Pires do
Rio-GO) e de abordagem qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a
constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos
puacuteblicos e no levantamento histoacuterico-geograacutefico Os procedimentos consistem na
sistematizaccedilatildeo de leituras documentais e de investigaccedilatildeo de campo o que os vincula agrave induccedilatildeo
e seguem os meacutetodos etnolinguiacutesticos
O percurso apresentado por Dick (1990) isto eacute pautado na induccedilatildeo desenvolveu-se por
meio do plano onomasioloacutegico de investigaccedilatildeo em que a partir de um conceito geneacuterico se
identificam as variaacuteveis possiacuteveis das fontes consultadas Nos registros municipais constam os
63
nomes atuais e os nomes anteriores (quando houve mudanccedilas) dos lugares de toda regiatildeo
municipal Estes e os mapas constituem as fontes primaacuterias desta pesquisa pois
O percurso do fazer onomasioloacutegico e o percurso da produccedilatildeo de significaccedilatildeo
se inserem em direccedilotildees diferentes o fazer interpretativo perfaz um processo
semasioloacutegico por outro lado o fazer onomasioloacutegico eacute uma unidade
conceitual enquanto a definiccedilatildeo eacute o percurso do fazer lexicograacutefico
Entretanto ao conceituar eacute necessaacuterio construir um modelo mental que em
primeira instacircncia corresponda a um recorte cultural para a escolha da
estrutura lexical que melhor pode manifestar a percepccedilatildeo bioloacutegica do fato
que se completa ao analisar e descrever o semema linguiacutestico para reconstruir
esse modelo mental a partir de uma estrutura linguiacutestica manifestada
Ressalta-se o caraacuteter pluridisciplinar do signo toponiacutemico jaacute que por meio
dele pode-se conhecer a histoacuteria dos grupos humanos que viveram (e vivem)
nos limites geograacuteficos de Goiaacutes as especificidades da cultura e do ambiente
do povo o denominador as relaccedilotildees estabelecidas entre os aglomerados
humanos e o ecossistema as caracteriacutesticas fiacutesico geograacuteficas da regiatildeo
(geomorfologia) estratos linguiacutesticos de origem diferente do uso hodierno da
liacutengua ou mesmo de liacutenguas jaacute desaparecidas para se conhecer as motivaccedilotildees
subjacentes aos respectivos topocircnimos (SIQUEIRA 2015 mimeografado)
Para este estudo utilizaram-se inicialmente as Folhas Topograacuteficas editadas pela DSG
(Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito) na escala de 1100 000 Folhas Pires do Rio
SE-22-X-D-III Ipameri SE-22-X-D-VI e Cristianoacutepolis SE-22-X-D-II de 1973 para
identificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio juntamente com o mapa da rede hidrograacutefica do
municiacutepio de Pires do Rio-GO pois satildeo ldquoinstrumentos metodoloacutegicos haacutebeis para o estudo
onomaacutestico a documentaccedilatildeo cartograacutefica referida e a arquivologia que se posicionam como fontes
idocircneas para o estabelecimento das etapas relativas agrave desconstruccedilatildeo e agrave recriaccedilatildeo dos proacuteprios dadosrdquo
(DICK 1999 p 11)
O uso de mapas torna o trabalho relevante jaacute que eles satildeo elementos de comunicaccedilatildeo
visual os quais pertencem agrave linguagem Eles contemplam ainda a aacuterea tecnoloacutegica pois a sua
construccedilatildeo se daacute por meio da utilizaccedilatildeo de equipamentos programas e sites os quais tambeacutem
satildeo utilizados por noacutes para cartografar mapas juntamente com as taxes dos topocircnimos dos
cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO assim
Tomar o mapa como corpus permite tomar tambeacutem a questatildeo da relaccedilatildeo dos
nomes no seu conjunto e sua distribuiccedilatildeo no espaccedilo urbano Pode-se entatildeo
refletir como algo proacuteprio do corpus em anaacutelise sobre a questatildeo da nomeaccedilatildeo
dos espaccedilos da cidade bem como o modo de distribuiccedilatildeo dos nomes pelos
espaccedilos historicamente constituiacutedos (GUIMARAtildeES 2005 p 43)
Tradicionalmente entendidos como uma representaccedilatildeo simboacutelica dos contornos de uma
paisagem fiacutesica ou urbana os mapas se caracterizam por permitirem dois planos de
64
interpretaccedilatildeo o ldquoverbalrdquo expresso nos nomes dos elementos e o ldquonatildeo-verbalrdquo caracterizado
por siacutembolos convencionais distintos segundo a natureza do elemento mapeado (cursos drsquoaacutegua
caminhos serras rodovias estradas vicinais ferrovias vilas povoados cidades)
A propoacutesito
Se o meacutetodo empregado na Toponiacutemia como dissemos eacute aquele da
investigaccedilatildeo do pormenor toacutepico-nominal apreendido no registro das cartas
geograacuteficas (base documental) ou como variaccedilatildeo no exame do terreno ou do
objeto pelo proacuteprio pesquisador o material resultante na maioria das vezes
eacute de origem descontiacutenua e fragmentaacuteria A sequecircncia loacutegica dos termos areais
deve ser buscada o que exige cuidados de intepretaccedilatildeo e reflexatildeo para que
todo esse organismo construiacutedo coletiva ou individualmente em momentos
histoacutericos distintos venha a se construir em material de anaacutelise vaacutelido do
ponto de vista linguiacutestico (DICK 2006 p 99-100)
Desta forma dos 46 (quarenta e seis) topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de
Pires do Rio-GO (coacuterregos ribeirotildees rios e quedas drsquoaacutegua) por noacutes elencados na pesquisa
apenas 15 topocircnimos ndash por razotildees especiacuteficas que seratildeo relatadas no quarto capiacutetulo ndash seratildeo
catalogados em fichas conforme modelo desenvolvido por Dick (2004) Posteriormente
realizaremos as anaacutelises morfoloacutegicas e a classificaccedilatildeo semacircntico-motivacional e toponiacutemica
propriamente dita
O preenchimento das fichas lexicograacuteficas ndash que identificam o elemento designado as
entradas lexicais o pesquisador o revisor e as fontes da coleta ndash eacute a etapa inicial de um conjunto
de fases posteriores que integram o projeto
As etapas da pesquisa foram dividas da seguinte forma a) levantamento dos dados para
construir o corpus e a aquisiccedilatildeo das cartas Topograacuteficas do municiacutepio de Pires do Rio-GO b)
levantamento dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua registrados nas folhas topograacuteficas c) anaacutelise
e reconhecimento dos aspectos ambientais culturais dos designativos nos diferentes topocircnimos
observados e posteriormente cartografados d) investigaccedilatildeo dos provaacuteveis fatores
motivacionais inerentes aos sintagmas toponiacutemicos e) classificaccedilatildeo das taxionomias a partir do
recorte epistemoloacutegico dos dados coletados f) distribuiccedilatildeo quantitativa dos topocircnimos de
acordo com a natureza toponiacutemica (fiacutesica ou antropocultural) g) estudo linguiacutestico dos
sintagmas toponiacutemicos ndash origemetimologia estruturas semacircntica e morfoloacutegica
Por meio da categorizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico
histoacuterico-criacutetico que foi o norte de nossa pesquisa de certa forma revela-se que o topocircnimo foi
determinado pela populaccedilatildeo anterior ou pela presenccedila de imigrados no local o que faz-nos
perceber que as palavras natildeo apenas comunicam o que se quer dizer mas acusam a Histoacuteria
daquilo que foi dito por necessidades dinacircmicas das pessoas repassadas pela tradiccedilatildeo cultural
65
O proacuteximo capiacutetulo apresenta em linhas gerais um pouco da histoacuteria desse lugar que
abriga 46 cursos drsquoaacutegua e inclusive teve seu primeiro nome devido agrave exuberacircncia do reflexo da
lua cheia nas aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute A ldquoTeteia do Corumbaacuterdquo de antes deu lugar ao
municiacutepio nascido dos caminhos abertos pelos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz laacute pelos idos
de 1922
66
III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO
A cidade eacute por si mesma depositaacuteria de
histoacuteria
(ROSSI 1998)
Este capiacutetulo traz uma apresentaccedilatildeo dos dados histoacutericos referentes agrave fundaccedilatildeo e ao
posterior desenvolvimento social e urbano do municiacutepio de Pires do Rio-GO criado em
decorrecircncia da expansatildeo da Estrada de Ferro Goyaz pelo cerrado goiano As informaccedilotildees aqui
revisitadas integram obras de estudiosos como Siqueira (2006) Ferreira (1999) Borges
(1990) Soares (1988) que se detiveram por alguma razatildeo no esclarecimento de controveacutersia
acerca principalmente do verdadeiro fundador do municiacutepio e de fatos que antecederam a
inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo feacuterrea no ano de 1922
31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte
No iniacutecio do seacuteculo XX a Estrada de Ferro Goyaz avanccedilou sobre o territoacuterio de Goiaacutes
e com isso comeccedilaram a surgir vilas arraiais e distritos que com o progresso e passar dos
anos se elevariam a cidades A entatildeo chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no interior do
estado mais precisamente na regiatildeo Sudeste Goiana fez com que no ano de 1922 surgisse a
Estaccedilatildeo Pires do Rio e que se elevaria tatildeo logo a cidade
A estrada de ferro traria progresso agraves cidades e ao estado No entanto de acordo com
Borges (1990) alguns coroneacuteis adversos a qualquer tipo de mudanccedila de caraacuteter progressista
natildeo aceitavam a instalaccedilatildeo da estrada de ferro pois ela representaria uma forccedila nova de
transformaccedilatildeo que poderia ameaccedilar o poder constituiacutedo dos coroneacuteis Mas na formaccedilatildeo de
Pires do Rio-GO a chegada da Estrada de Ferro Goyaz foi aceita pelo coronel Lino Teixeira de
Sampaio e inclusive foi doado o terreno para a construccedilatildeo de uma estaccedilatildeo feacuterrea
Vale ressaltar que
a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro de Goiaacutes resultou primeiro do empenho
poliacutetico de uma fraccedilatildeo da classe dominante ligada a novos grupos oligaacuterquicos
que despontavam como forccedila poliacutetica no Estado a qual contou com apoio do
capital financeiro internacional Em segundo lugar como a ferrovia servia
inteiramente aos interesses da economia capitalista ou seja agrave nova ordem
econocircmica com expansatildeo no Paiacutes este fator direta ou indiretamente
67
pressionaria o Governo Federal a apoiar a construccedilatildeo da linha (BORGES
1990 p 55-56)
O avanccedilo da estrada de ferro na regiatildeo Sudeste do estado de Goiaacutes foi fundamental para
o surgimento da cidade de Pires do Rio-GO Ambas as histoacuterias se entrecruzam e revelam
acontecimentos que corroboraram com a construccedilatildeo de uma cidade promissora Para
(re)escrever esta histoacuteria eacute fundante mostrar a ficha lexicograacutefica-toponiacutemica jaacute que o objeto
desta pesquisa satildeo os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua pertencentes a cidade de Pires do Rio-GO
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 01
Topocircnimo Pires do Rio Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Antropocircnimo
Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Pires + do Rio ndash sobrenome)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Cidade sede do distrito do municiacutepio do termo e comarca de
igual nome Na regiatildeo oriental do municiacutepio entre o ribeiratildeo Sampaio e o Monteiro afluentes
do rio Corumbaacute com estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goiaacutes
Fonte Siqueira (2012) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Como jaacute observando no capiacutetulo I os estudos toponiacutemicos revelam fatores soacutecio-
histoacuterico-culturais de uma dada comunidade e Pires do Rio-GO nos revela isso de forma
peculiar como podemos observar na ficha acima a caracterizaccedilatildeo do topocircnimo em que a
taxionomia eacute de natureza antropocultural antropotopocircnimo relativo a nomes proacuteprios e de
famiacutelia (sobrenome do ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas Dr Joseacute Pires do Rio) A base
etimoloacutegica eacute antropocircnimo a estrutura morfoloacutegica eacute de nome composto e as informaccedilotildees
enciclopeacutedias vecircm ratificar informaccedilotildees jaacute expressas na ficha Essas informaccedilotildees nos satildeo
precisas e no decorrer (re)editaremos partes relevantes da histoacuteria desta cidade
Observar o surgimento do municiacutepio de Pires do Rio eacute reviver a construccedilatildeo da linha
feacuterrea na regiatildeo Sudeste e para tal ato buscamos em algumas literaturas reconstruir em partes
a histoacuteria da cidade de Pires do Rio-GO que carinhosamente foi apelidada de ldquoTeteia do
68
Corumbaacuterdquo devido ao reluzir sobre as aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute a exuberacircncia da lua
cheia
Na histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade haacute controveacutersias pois alguns dizem ter sido o Coronel
Lino Teixeira de Sampaio o fundador mas Wilson Cavalcanti Nogueira filho do Sr Manoel
Cavalcanti Nogueira o primeiro Intendente da cidade em seus estudos revela que o fundador
de Pires do Rio foi o Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida diretor da Estrada de Ferro Goyaz
Nos estudos de Jacy Siqueira (2006) piresino historiador cujo livro Um contrato
singular e outros ensaios de histoacuteria de Goiaacutes descreve a origem da cidade de Pires do Rio
com base em documentos oficiais o autor citado presume a veracidade dos fatos que
contribuem para exposiccedilatildeo histoacuterica deste capiacutetulo jaacute que ldquoo tempo eacute agente terriacutevel a tudo
colhe separa peneira depura e evidencia ndash verdade ou mentira ndash com a forccedila e a violecircncia
decorrentes do pesado braccedilo da Histoacuteria de quem eacute o servidor fiel e mestre implacaacutevelrdquo
(SIQUEIRA 2006 p 65)
Em relaccedilatildeo aos fatos que marcam o iniacutecio da fundaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidade de Pires
do Rio os historiadores remetem a inuacutemeras controveacutersias sobre a fundaccedilatildeo e os reais
fundadores e tambeacutem sobre a existecircncia de um povoado que competia com o Roncador em
1921 que mais tarde nos arquivos seria o Bairro do Fogo hoje Santa Ceciacutelia O local Rua do
Fogo eacute toda a parte situada do outro lado da linha feacuterrea
Rua do Fogo na descriccedilatildeo de Nogueira se formou pela atraccedilatildeo de pessoas de
diversas regiotildees com o intuito de negociar e prestar serviccedilos diversificados
aos operaacuterios da Estrada eram lavadeiras curandeiro sapateiro padeiro
professor primaacuterio fotoacutegrafo meretrizes e aventureiros Configurando um
povoamento tiacutepico do pioneirismo cada dia mais pessoas chegavam
predominantemente aventureiros muitos deles ateacute mesmo com passado
criminal As casas sendo erguidas raacutepidas e improvisadamente perfilaram-se
em ambos lados ao longo de uma rua irregular que era cenaacuterio de constantes
desordens e violecircncias ganhando por isso o nome de Rua do Fogo A
constante chegada de pessoas levou o povoado a competir em dimensatildeo com
a vizinha Roncador jaacute em 1921 (FERREIRA 1999 p 100)
O Porto do Roncador em 24 de agosto de 1921 recebe a visita do Ministro da Viaccedilatildeo
e Obras Puacuteblicas Engenheiro Sr Joseacute Pires do Rio que na qualidade anterior de Inspetor Geral
das Estradas de Ferro havia se posicionado contraacuterio ao prolongamento da ferrovia no Estado
de Goiaacutes Na ocasiatildeo ficou resolvido que a ponte sobre o rio Corumbaacute deveria se chamar Ponte
Pires do Rio e a primeira estaccedilatildeo a seguir Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio Pessoa mas ocorreu o
contraacuterio Essa informaccedilatildeo foi publicada inclusive nos meios de comunicaccedilatildeo da eacutepoca
69
A Informaccedilatildeo Goyana revista fundada por Henrique Silva que se edita no
Rio de Janeiro na sua ediccedilatildeo de agosto de 1921 (Ano V Vol V n ordm 1 p 1)
traz a reportagem ldquoO Ministro de Viaccedilatildeo Visita o Estado de Goiaacutesrdquo Destaca-
se dela
Tem-se resolvido que a primeira estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz aleacutem
Roncador se denomine ndash Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio
A ponte do Corumbaacute segundo solicitaccedilatildeo dos que tomaram parte na recepccedilatildeo
do Sr ministro da Viaccedilatildeo seraacute denominada ndash Ponte Pires do Rio (SIQUEIRA
2006 p 44 grifos do autor)
As obras estavam a todo vapor e enquanto aguardavam a conclusatildeo da ponte sobre o
rio Corumbaacute os serviccedilos de movimentaccedilatildeo de terra eram feitos aleacutem da outra margem do rio
tendo jaacute avanccedilado ateacute Tavares quilocircmetro 303 da ferrovia distante 84 quilocircmetros de
Roncador O local da estaccedilatildeo de Pires do Rio situa-se no quilocircmetro 218 pouco distante do rio
na Comarca de Santa Cruz em terras da Fazenda do Brejo ou do Sampaio de propriedade do
fazendeiro local coronel Lino Teixeira de Sampaio
No dia 13 de julho de 1922 no momento de inauguraccedilatildeo da ponte metaacutelica construiacuteda
sobre o rio Corumbaacute fez-se a inversatildeo do que o Senhor Ministro havia solicitado pois ela
recebeu o nome do presidente da repuacuteblica (Epitaacutecio Pessoa) troca esta feita pelo diretor da
Estrada de Ferro Goyaz o engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida
A execuccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa significou a integraccedilatildeo das demais regiotildees goianas
no desenvolvimento econocircmico uma vez que o rio Corumbaacute representava uma onerosa barreira
econocircmica para a produccedilatildeo dessas regiotildees Pires do Rio primeira estaccedilatildeo na outra margem do
Corumbaacute prometia ser um entreposto regional devido agrave sua possiacutevel ligaccedilatildeo por terra com
antigos e promissores municiacutepios isolados pelo rio e que natildeo foram contemplados com a
ferrovia Santa Cruz de Goiaacutes Bela Vista Piracanjuba Caldas Novas e Morrinhos O que veio
concretizar essa possibilidade foi a disposiccedilatildeo do coronel Lino Teixeira de Sampaio em doar
terras agrave Estrada de Ferro Goyaz para juntamente com a estaccedilatildeo fundar no local uma cidade
Nesse aspecto seu empenho foi aacutegil e eficiente dois planos urbanos que vieram garantir para
os pioneiros a certeza da existecircncia de uma cidade no local (FERREIRA 1999)
Nas bases da histoacuteria da rede feacuterrea segundo Ferreira (1999) quando da inauguraccedilatildeo
da estaccedilatildeo Pires do Rio foi tambeacutem decretada a fundaccedilatildeo da cidade registrada em obelisco
erguido no largo de frente agrave estaccedilatildeo hoje a praccedila do mercado municipal considerando-se como
fundador o engenheiro da ferrovia Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida e designando a cidade
pelo nome (uma homenagem) do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas engenheiro Joseacute
Pires do Rio
70
Houve tambeacutem a intenccedilatildeo por parte do Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida em deixar a
estaccedilatildeo de Pires do Rio como ponta de linha para que se desenvolvesse rapidamente Finda a
raacutepida inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo seguiu tambeacutem o engenheiro no ldquotrem Inauguralrdquo rumo a
Tapiocanga ndash a proacutexima estaccedilatildeo depois de Pires do Rio ndash para inaugurar sua estaccedilatildeo
improvisada em um simples vagatildeo pois era um local onde natildeo havia nenhuma edificaccedilatildeo
passando mesmo assim a ser a ponta de linha
No dia 9 de novembro de 1922 eacute inaugurado o obelisco a cerca de 50 metros da estaccedilatildeo
ferroviaacuteria jaacute edificada considerada a pedra fundamental da cidade de Pires do Rio Encontra-
se grafado no monumento em alto-relevo que o Engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida na
eacutepoca diretor da Estrada de Ferro de Goyaz era o fundador da cidade de Pires do Rio uma
ldquofraserdquo que tem gerado algumas controveacutersias acerca do verdadeiro fundador da cidade
(SIQUEIRA 2006)
Enquanto alguns escritores piresinos e familiares alimentam a disputa ideoloacutegica no
niacutevel da influecircncia poliacutetica do coronel Lino Teixeira de Sampaio corroborada pela doaccedilatildeo de
um terreno para a construccedilatildeo da cidade outros tecircm se debruccedilado sobre as criacuteticas advindas do
meio acadecircmico local uma vez que o aniversaacuterio da cidade natildeo coincide com a data da escritura
de doaccedilatildeo das terras 05 de julho de 1922 mas com a data oficial inscrita na pedra fundacional
feita pelo Diretor da Estrada de Ferro Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida 09 de novembro de
1922
Siqueira (2006) eacute um dos estudiosos que argumentam a favor da tese de que o fundador
da cidade eacute o coronel Lino Teixeira de Sampaio Desta forma para corroborar o ato de doaccedilatildeo
da gleba de terra Siqueira (2006) recorreu aos livros de registros do Cartoacuterio de Imoacuteveis da
Comarca de Santa Cruz de Goiaacutes onde se encontra a escritura puacuteblica lavrada no dia 5 de julho
de 1922 pois na eacutepoca as terras pertenciam a este referido municiacutepio a qual nos informa que
por eles [Lino e Rozalina] foi dito que de suas livres e espontacircneas vontades
e sem coaccedilatildeo alguma doam agrave Estrada de Ferro de Goyaz com (4) alqueires
de terreno de campo divididos e demarcados nesta fazenda do ldquoBrejordquo
conforme consta na planta confeccionada pela dita Estrada de Ferro e bem
assim a aacutegua necessaacuteria ao abastecimento da Estaccedilatildeo jaacute edificada dentro destes
quatros alqueires Declaram mais os doadores que fazem a doaccedilatildeo dos
referidos terrenos agrave Estrada de Ferro de Goyaz sem que a mesma Estrada tenha
obrigaccedilatildeo de espeacutecie alguma cabendo-lhe apenas Dividir o terreno doado em
pequenos lotes para que seja dado iniacutecio agrave edificaccedilatildeo de uma pequena Cidade
excluindo o referido a faixa necessaacuteria agrave Estaccedilatildeo arrendar os lotes e aplicar
as rendas em melhoramentos da futura Cidade e edificaccedilatildeo de um Grupo
Escolar natildeo admitir seja construiacutedo preacutedio algum sem que seja previamente
aprovada pela diretoria da Estrada a respectiva planta (SIQUEIRA 2006 p
29)
71
Entretanto os fatos histoacutericos remetem agrave data de 09 de novembro como sendo de
fundaccedilatildeo da cidade jaacute que essa data se justifica pela inauguraccedilatildeo (documentada) da estaccedilatildeo
ferroviaacuteria Pires do Rio embora para Siqueira (2006) a data de fundaccedilatildeo da cidade seja o dia
05 de julho de 1922 data que coincide com a da escritura puacuteblica de doaccedilatildeo das terras agrave Estrada
de Ferro Goyaz
Siqueira (2006) ainda acrescenta as suas consideraccedilotildees acerca do fato de que o coronel
Lino Teixeira de Sampaio aleacutem de doar os quatro alqueires de terra accedilatildeo que outros
fazendeiros das estaccedilotildees seguintes natildeo tiveram apresentou um projeto urbano (planta) da
cidade a ser erguida nas proximidades da estaccedilatildeo projeto este de autoria de um engenheiro da
Estrada Aacutelvaro Pacca que foi apresentado e aprovado pela direccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz
em 1ordm de janeiro de 1922
De acordo com Ferreira (1999) acredita-se que no local definitivo da estaccedilatildeo por volta
do ano de 1923 apresentou-se outro projeto para a construccedilatildeo da cidade desta vez solicitado
ao topoacutegrafo da Estrada de Ferro Moacir de Camargo A cidade de Pires do Rio ficaria sendo
entatildeo a primeira cidade do Centro-Oeste a nascer com planejamento preacutevio antes de Goiacircnia
ou Brasiacutelia
O momento em que a cidade comeccedila a surgir de acordo com Nogueira (sd) fez com
que a populaccedilatildeo do Roncador migrasse toda para laacute carregando tudo aquilo que lhes pertencia
inclusive o material de construccedilatildeo das casas que foram demolidas construindo novas moradias
no local escolhido para tal fim Esse fato de mudar de um arraial para outro segundo Ferreira
(1999) veio a constituir o fenocircmeno por ele denominado de fagocitose pois para a formaccedilatildeo
da cidade Pires do Rio o arraial do Roncador extinguiu-se para vigorar a nascente cidade como
se observa nos dizeres abaixo
Pires do Rio crescia em terras de Santa Cruz municiacutepio de projeccedilatildeo
econocircmica e poliacutetica no Estado que dominou todo o sudeste e parte do sul de
Goiaacutes O arraial de origem fundado em 1729 teve seu valor econocircmico
firmado na extraccedilatildeo auriacutefera passando agrave Julgado de Santa Cruz em 1809 com
seu territoacuterio de influecircncia sobre uma extensa aacuterea Emancipou-se agrave Vila em
1833 quando Goiaacutes foi dividido em quatro Comarcas sendo Santa Cruz uma
delas Terminado o ciclo do ouro sua economia voltou-se durante o seacuteculo
XIX para a pecuaacuteria extensiva a agricultura e primitivo processamento da
produccedilatildeo agriacutecola sobrepondo-se agraves outras cidades de economia auriacutefera em
estagnaccedilatildeo A emancipaccedilatildeo de seus distritos ao longo do seacuteculo XIX foi-lhe
tirando a extensatildeo de seu poder territorial e de jurisdiccedilatildeo mas natildeo seu poder
econocircmico e poliacutetico no Estado Essa situaccedilatildeo veio a se alterar com a chegada
da Estrada de Ferro Goiaacutes (FERREIRA 1999 p 136)
72
As construccedilotildees jaacute haviam se iniciado e comeccedilara a chegar os novos moradores oriundos
de vaacuterias partes do paiacutes e do mundo que solidificariam a comunidade piresina Os baianos e os
aacuterabes foram os primeiros migrantes a chegarem e fixarem-se acreditando na futura cidade Os
baianos e outros nordestinos foram atraiacutedos pela frente de trabalho criada pela construccedilatildeo da
ferrovia Os italianos e espanhoacuteis tambeacutem se fizeram presentes na comunidade local No
entanto a maioria dos migrantes foram mesmo paulistas e mineiros Os estrangeiros tais como
italianos espanhoacuteis e principalmente aacuterabes foram partes integrantes da elite dominante
(FERREIRA 1999)
Pires do Rio se elevou a distrito do Municiacutepio de Santa Cruz em 23 de agosto de 1924
pela Lei nordm 66 E em 7 de julho de 1930 pela Lei nordm 903 foi criado o municiacutepio de Pires do
Rio E tatildeo logo pelo Decreto de ndeg 522 de 8 de janeiro de 1931 publicado no Correio Officcial
ndeg 1819 paacutegina 3 de 19 de abril do mesmo ano (SIQUEIRA 2006) oficializou a transferecircncia
da Comarca de Santa Cruz para a cidade de Pires do Rio
Na deacutecada de 30 estabelecia-se o comeacutercio na cidade de Pires do Rio natildeo tinha um
centro comercial propriamente dito mas algumas casas de comeacutercio espalhadas pela cidade
(FERREIRA 1999) A instalaccedilatildeo da energia eleacutetrica em 1934 deu um impulso agrave agroinduacutestria
local iniciada com a charqueada em 1924 e logo apoacutes por uma maacutequina beneficiadora de arroz
serraria faacutebrica de manteiga padarias curtume e outros pequenos centros de produccedilatildeo com
isso a necessidade de matildeo-de-obra impulsionava o crescimento da populaccedilatildeo jaacute que muitos
eram empregados pela via feacuterrea desta forma a vinda de imigrantes a nova cidade era
necessaacuterio Com o crescimento da cidade e da sua populaccedilatildeo foram necessaacuterias benfeitorias
que foram ocorrendo no decorrer dos anos
De acordo com Siqueira (2006) Pires do Rio se desenvolveu de forma diferenciada das
centenaacuterias cidades de Goiaacutes visto que a maioria se formou por tradicionais enraizados e
familiocratas grupos poliacuteticos ou simplesmente ldquooligarquiasrdquo o que permitiu uma abertura e
receptividade ao novo e ao desconhecido como paracircmetro coerente para a construccedilatildeo de uma
comunidade nascente No periacuteodo de 1921 a 1940 correspondentemente agrave cidade em sua
afirmaccedilatildeo poliacutetica e urbana foi composta por migrantes e imigrantes que se estabeleciam na
prestaccedilatildeo de serviccedilo agroinduacutestria e comeacutercio tudo isso oriundo da formaccedilatildeo da cidade pela
Estrada de Ferro Goyaz
Um fato ainda natildeo informado eacute que no ano de 1933 o municiacutepio era constituiacutedo de dois
distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Jaacute no decreto-lei nordm 5200 de 08 de dezembro de 1934
Pires do Rio eacute ldquorebaixadordquo agrave categoria de distrito do municiacutepio de Santa Cruz haja vista que
73
em divisotildees territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937 Pires do Rio figura como distrito
de Santa Cruz (IBGE 2016)
Em 03 de marccedilo de 1938 pelo Decreto-lei nordm 557 Pires do Rio retorna agrave categoria de
municiacutepio e Santa Cruz agrave de distrito No periacuteodo de 1939-1943 o municiacutepio aparece constituiacutedo
de trecircs distritos Pires do Rio Santa Cruz e Cristianoacutepolis O distrito de Santa Cruz pelo
Decreto-lei nordm 8305 de 31 de dezembro de 1943 passou a denominar-se Corumbalina Mas
pelo Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias de 20 de julho de 1947 Artigo 61
desmembrou-se do municiacutepio de Pires do Rio e foi elevado agrave categoria de municiacutepio com a
denominaccedilatildeo de Santa Cruz de Goiaacutes (IBGE 2016)
Em divisatildeo territorial datada de 1 de julho de 1950 o municiacutepio eacute constituiacutedo de dois
distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Depois pela lei municipal nordm 221 de 15 de julho 1953
eacute criado o distrito de Palmelo e anexado ao municiacutepio de Pires do Rio A lei estadual nordm 739 de
23 de junho de 1953 desmembra do municiacutepio de Pires do Rio o distrito de Cristianoacutepolis
elevado entatildeo agrave categoria de municiacutepio Rapidamente o distrito de Palmelo pela lei estadual
nordm 908 de 13 de novembro de 1953 eacute desmembrado do municiacutepio de Pires do Rio e elevado agrave
categoria de municiacutepio (IBGE 2016)
A ferrovia foi um marco na histoacuteria de Pires do Rio uma vez que o transporte ferroviaacuterio
era utilizado para escoar a produccedilatildeo Aleacutem disso a instalaccedilatildeo do Frigoriacutefico Brasil Central
estimulou a produccedilatildeo da pecuaacuteria de corte Nas deacutecadas de 1950 e 1960 destacou-se por
exportar o charque e pela produccedilatildeo de cerveja Jaacute com a construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 e a
implantaccedilatildeo das rodovias favoreceu-se a sua interligaccedilatildeo aos outros municiacutepios goianos
O fluxo de cargas e pessoas pela via ferroviaacuteria entre os anos de 1940 a 1950 apresentava
regularidade mas devido agrave construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 de 1965 a 1970 apresentou uma
queda gradativa por deficiecircncia teacutecnica das linhas falta de manutenccedilatildeo delas e dos
equipamentos lentidatildeo do transporte o que provocou em 1970 a desativaccedilatildeo do transporte de
passageiros A Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima (RFFSA) foi privatizada em 1996
e a Ferrovia Centro Atlacircntica (FCA) adquiriu 7080 km de extensatildeo operando 685 km em
Goiaacutes tendo adotado uma nova poliacutetica investindo dois milhotildees de reais na ferrovia
desativando vaacuterias estaccedilotildees (NOVAIS 2014) Na Estaccedilatildeo Pires do Rio ficou funcionando
apenas o escritoacuterio da FCA e o Museu Ferroviaacuterio e na Estaccedilatildeo Roncador uma oficina de
manutenccedilatildeo de vagotildees
Segundo Novais (2014) a ferrovia enquanto elemento modernizador do Sudeste
Goiano e instrumento capaz de aumentar as aglomeraccedilotildees urbanas e dinamizar o progresso da
regiatildeo de acordo com os novos interesses dominantes sempre esteve sob o controle do poder
74
econocircmico estatal ou de grupos Sua expansatildeo justificou-se em detrimento dos interesses
capitalistas e imperialistas Portanto a estrada de ferro eacute um produto da induacutestria capitalista da
Primeira Revoluccedilatildeo Industrial colocada a serviccedilo do capital e resultante das transformaccedilotildees
ocorridas no processo de expansatildeo do capitalismo no Brasil e no mundo (BORGES 1990) O
Estado de Goiaacutes ao inserir-se na dinacircmica capitalista e implantar a via feacuterrea em seu territoacuterio
conseguiu integrar-se ao mercado brasileiro aleacutem de mitigar anos de atraso e isolamento
econocircmico
32 Pires do Rio geograacutefico
O municiacutepio de Pires do Rio localiza-se na Microrregiatildeo do Sudeste Goiano inserida
na Mesorregiatildeo Sul Goiano A Microrregiatildeo eacute reconhecida como a regiatildeo da Estrada de Ferro
Limita-se com os municiacutepios goianos de Orizona Vianoacutepolis Urutaiacute Caldas Novas Satildeo
Miguel do Passa Quatro Santa Cruz de Goiaacutes Palmelo Cristianoacutepolis e Ipameri A aacuterea da
unidade territorial (kmsup2) eacute de 1073361 com uma altitude meacutedia de 75886 O municiacutepio
encontra-se entre as seguintes coordenadas geograacuteficas
Mapa 1 ndash Pires do Rio (GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio (GO)
75
A cidade de Pires do Rio eacute constituiacuteda por riquezas naturais do bioma Cerrado o qual
apresenta uma heterogeneidade na sua fisionomia pois engloba desde formaccedilotildees florestais
como as Matas Ciliares (vegetaccedilatildeo que fica nas margens dos rios) e Cerradatildeo aleacutem do Cerrado
restrito (eacute o Cerrado tiacutepico formado por vegetaccedilotildees arboacutereas de casca grossa e troncos
retorcidos) com formaccedilotildees vegetais ou herbaacuteceas (campo sujo e limpo)
Uma das caracteriacutesticas marcantes do Cerrado eacute sua riqueza em recursos hiacutedricos e Pires
do Rio natildeo foge agrave regra Servindo de fronteiras naturais para o municiacutepio tem-se o rio do Peixe
na parte norte A parte sul do municiacutepio desagua no rio Corumbaacute que tambeacutem eacute utilizado como
fronteira natural e eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio Aleacutem destes tem o rio Piracanjuba
que devido agrave sua estrutura rochosa e seu volume de aacutegua foi palco da construccedilatildeo de uma usina
hidreleacutetrica em meados do seacuteculo XX que abastecia a cidade embora hoje encontre-se em
ruiacutenas
Aleacutem dos trecircs rios o municiacutepio possui ao longo de todo seu o territoacuterio vaacuterias
nascentes coacuterregos ribeirotildees quedas drsquoaacutegua os quais satildeo todos afluentes do rio Corumbaacute
Vale ressaltar que a maioria dos cursos drsquoagua satildeo perenes ou seja tem aacutegua o ano todo por
isso muitos deles tem o nome da regiatildeo em que se encontra pois satildeo objetos marcantes na
paisagem
Segundo o IBGE (1957) a populaccedilatildeo piresina no Recenseamento de 1950 era de
12946 habitantes (inclusive a populaccedilatildeo dos atuais municiacutepios de Cristianoacutepolis e Palmelo ndash
na eacutepoca distritos de Pires do Rio) apresentando quadro urbano e suburbano com uma
populaccedilatildeo de 4836 habitantes sendo 2282 homens e 2554 mulheres A densidade
demograacutefica era de 12 habitantes por quilocircmetro quadrado verificando-se que 53 da
populaccedilatildeo localizava-se no quadro rural
Na deacutecada de 50 o municiacutepio de Pires do Rio tinha um nuacutecleo populacional que era o
povoado de Marataacute aleacutem da sede (como jaacute mencionado no ano de 1953 os distritos de
Cristianoacutepolis e Palmelo satildeo elevados a municiacutepio) Mas com o passar dos anos ele deixa de
existir ficando apenas a Igreja de Satildeo Sebastiatildeo As atividades econocircmicas do municiacutepio eram
predominantemente a produccedilatildeo agriacutecola e pecuaacuteria O municiacutepio apresentava-se como um local
de atraccedilatildeo recreativa pela sua beleza paisagiacutestica a qual pode ser observada na cachoeira do
Salto no rio Piracanjuba jaacute mencionado onde foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica que forneceu
energia agrave cidade ateacute meados do seacuteculo XX
A populaccedilatildeo em 2010 era de 28762 habitantes sendo 14105 homens e 14657
mulheres Predominantemente urbana com 27094 pessoas e apenas 1668 no meio rural Pires
do Rio apresenta uma aacuterea de 1073361 km2 e uma densidade demograacutefica de 2680 habkmsup2
76
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) do municiacutepio eacute de 0744 A Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa (PEA) eacute de 8717 homens e 6128 mulheres (IBGE 2016)
De acordo com os dados populacionais desde o Recenseamento da deacutecada de 50 (dados
jaacute mostrados anteriormente) a cidade teve um crescimento consideraacutevel como pode ser
observado nos quadros abaixo
Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo recenseamento
Populaccedilatildeo Censitaacuteria
1980 1991 2000 2010
Total de habitantes 19258 22131 26229 28762
Urbano 16670 20537 24473 27094
Zona Rural 2588 1594 1756 1668
Masculino 9498 10904 12948 14105
Feminino 9760 11227 13281 14657
Urbano Masculino 8098 10027 11966 13208
Urbano Feminino 8572 10510 12507 13886
Zona Rural Masculino 1400 877 982 897
Zona Rural Feminino 1188 717 774 771
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Nos dados que satildeo apresentados pelo IBGE (populaccedilatildeo estimada) entre os anos 2001 e
2004 ocorreu uma queda no crescimento populacional em relaccedilatildeo ao ano de 1999 que foi de
28631 e nos demais anos segue 2001 26600 2002 27091 2003 27491 2004 28332 A
respeito desta queda natildeo conseguimos informaccedilotildees Em duas datas especiacuteficas houve uma
contagem da populaccedilatildeo seguem os dados abaixo
Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo contagem
Populaccedilatildeo Contagem
1996 2007
Total de habitantes 25094 26857
Masculino 12403 13232
Feminino 12691 13574
Urbano 23766 25031
77
Zona Rural 1328 1826
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Os dados inseridos no quadro 3 satildeo uma estimativa da populaccedilatildeo informada pelo IMB
e IBGE
Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio (GO)
Populaccedilatildeo Estimada
2011 2012 2013 2014 2015
28956 29145 30232 30469 30703
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Para entreter a populaccedilatildeo o turismo do municiacutepio estaacute relacionado agraves edificaccedilotildees com
relevacircncia arquitetocircnica e cultural como a Ponte Epitaacutecio Pessoa o antigo Frigoriacutefico Brasil
Central as igrejas Satildeo Sebastiatildeo (Patrimocircnio do Marataacute) Satildeo Benedito (Igreja dos Congos) a
Ferrovia Centro Atlacircntica e o Museu Ferroviaacuterio O patrimocircnio material eacute representado pelo
centro histoacuterico principalmente a Igreja Matriz Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus coreto e chafariz da
Praccedila Gaudecircncio Rincon Segoacutevia o Mercado Municipal a Biblioteca Municipal a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria e a casa do Maneco (hoje em ruiacutenas) que formam um conjunto arquitetocircnico
singular como tambeacutem as belezas naturais das Serras da Caverna e das Flores a cachoeira do
Marataacute e Prainha (as margens do rio Corumbaacute)
De acordo com Novais (2014) nos anos de 1980 o municiacutepio conheceu a expansatildeo da
fronteira agriacutecola com a introduccedilatildeo do cultivo da soja logo apoacutes em 1993 atraiu investimentos
com a implantaccedilatildeo do complexo agroindustrial aviacutecola e a industrializaccedilatildeo do setor
contribuindo para o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que perpassou a regiatildeo do Sudeste
Goiano Atualmente a economia piresina eacute voltada para as atividades agriacutecolas como a
produccedilatildeo de soja milho sorgo arroz feijatildeo e mandioca
O comeacutercio a infraestrutura e serviccedilos (sauacutede educaccedilatildeo comeacutercio e prestaccedilatildeo de
serviccedilos) exercem funccedilatildeo de polo atrativo para moradores dos municiacutepios vizinhos Toda a
importacircncia do municiacutepio para a regiatildeo o estado e o paiacutes se deve agrave instalaccedilatildeo da Estrada de
Ferro Goyaz e aos que acreditaram no crescimento de Pires do Rio e investiram em seu
territoacuterio Por esta razatildeo que parte de nossa pesquisa busca reviver fragmentos da histoacuteria desta
cidade que se faz importante para uma regiatildeo estado e paiacutes
78
33 Os cursos drsquoaacutegua
No quadro abaixo apresentamos os nomes dos cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio
levantamento realizado de acordo com os mapas cartas topograacuteficas e vocabulaacuterio do IBGE
(1957)
Quadro 6 ndash Cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO)
Vocabulaacuterio Geograacutefico ndash IBGE (1957)
Rio ndash 3 Paacutegi
na
Descriccedilatildeo Municiacutepio de
Nasceste
Rio Corumbaacute 75 Rio nasce nos arredores de Pirineus
atravessa o municiacutepio como o de Santa
Luzia depois de servir em pequeno trecho
de divisa a Bonfim Adiante separa Ipameri
e Corumbaiacuteba de um lado e Campo
Formoso Pires do Rio Caldas Novas Buriti
Alegre do outro ateacute desaguar no rio
Paranaiacuteba pela margem direita
Corumbaacute
Rio do Peixe 165 Rio nasce na regiatildeo sul-oriental do
municiacutepio que separa dos de Campo
Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio
e o de Caldas Novas desemboca no rio
Corumbaacute pela margem direita
Silvacircnia
Rio Piracanjuba 171 (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce
na serra de Passa Quatro e atravessa o
municiacutepio bem como o de Pouso Alto
Adiante separa Caldas Novas de Morrinhos
e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio
Corumbaacute pela margem direita
Bela Vista
Coacuterrego ndash 34
Coacuterrego Areias 15 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Pires do Rio
Coacuterrego Barreiro - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia
Coacuterrego do
Barreiro
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Piracanjuba
Coacuterrego dos Batista - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Bauzinho 29 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Bauacute
Orizona
Coacuterrego da Braga 37 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Santa Maria
Luziacircnia
79
Coacuterrego Boa Vista 32 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Buracatildeo 40 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Buriti 42 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio dos Bois
Pires do Rio
Coacuterrego Cachoeira 47 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Piracanjuba
Silvacircnia
Coacuterrego Capoeira
Grande
60 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Cachoeira
Orizona
Coacuterrego Carvalho - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego da Caverna 66 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio dos Peixes (M de Pires do Rio)
Pires do Rio
Coacuterrego Corrente - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Domingo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego da Estiva 88 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Brumado
Pires do Rio
Coacuterrego Fundatildeo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Cocalzinho de
Goiaacutes
Coacuterrego Guaraacute 106 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Itauacutebi - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Juca - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Lajinha 124 Coacuterrego afluente da margem direita do
coacuterrego Taperatildeo
Orizona
Coacuterrego Laranjal 126 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Bauacute
Pires do Rio
Coacuterrego Limeira 128 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Ipameri
Coacuterrego Marreco 136 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Bauacute
Orizona
Coacuterrego Mata
Dentro
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego do
Mocambo
144 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
das Antas
Silvacircnia
Coacuterrego Olho
drsquoaacutegua
152 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Piracanjuba
Orizona
Coacuterrego do Pico 168 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Brumado
Pires do Rio
Coacuterrego
Piracanjuba
171 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
igual nome
Morrinhos
Coacuterrego Posse 177 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
coacuterrego do Fundo
Orizona
80
Coacuterrego Satildeo
Jerocircnimo
202 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Caiapoacute
Pires do Rio
Coacuterrego Saltador 193 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute proacuteximo a barra do rio
Alagado
Luziacircnia
Coacuterrego Taquaral 217 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute (M de Pires do Rio)
Pires do Rio
Coacuterrego da Terra
Vermelha
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia
Ribeiratildeo ndash 8
Ribeiratildeo Bauacute 29 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Piracanjuba na divisa do municiacutepio de Pires
do Rio
Orizona
Ribeiratildeo Brumado 33 Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do
rio dos Peixes
Santa Cruz de
Goiaacutes
Ribeiratildeo Cachoeira 47 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Piracanjuba
Orizona
Ribeiratildeo Caiapoacute 50 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Urutaiacute
Ribeiratildeo Marataacute - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Ribeiratildeo Mucambo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Ribeiratildeo Sampaio 194 Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da
margem direita do rio Corumbaacute (M de
Pires do Rio)
Pires do Rio
Ribeiratildeo Taquaral - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Orizona
Quedas drsquoaacutegua ndash 1
Cachoeira do
Marataacute
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Fonte Vocabulaacuterio Geograacutefico IBGE 1957
O quarto capiacutetulo apresenta a descriccedilatildeo e anaacutelise de quinze dos 46 topocircnimos (escolha
esta pela relaccedilatildeo de representaccedilatildeo para a cidade de Pires do Rio-GO) de acordo com os aportes
teoacutericos revisados no primeiro capiacutetulo e em consonacircncia com os meacutetodos apresentados e
discutidos no segundo capiacutetulo apresenta ainda algumas questotildees teoacutericas suscitadas pelas
especificidades dos dados escolhidos
81
IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR
O signo toponiacutemico natildeo abre apenas o nome de
um lugar mas o lugar como um todo tudo que estaacute
relacionado a ele de uma forma ou de outra
(SIQUEIRA 2015)
Nos colocar a serviccedilo desta pesquisa foi o mesmo que redescobrir a cidade de Pires do
Rio-GO Conhecer a sua histoacuteria e poder reeditaacute-la remapear os seus cursos drsquoaacutegua e por fim
buscar na Toponiacutemia as relaccedilotildees de poder que os topocircnimos tecircm sobre cada espaccedilo nomeado
assim tomamos posse do que esta pesquisa nos proporcionou e aqui estaacute o aacutepice dela os dados
e suas anaacutelises
Segundo Dias (2008) o municiacutepio de Pires do Rio-GO tem como principais cursos
drsquoaacutegua o rio Corumbaacute situado na parte sudeste o rio Piracanjuba no nordeste e rio do Peixe
na parte sul os quais correm em direccedilatildeo agrave calha do rio Paranaiacuteba (uma das quatro bacias
hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes) ao sul Os rios do Peixe e Piracanjuba desaguam no
Corumbaacute sendo limites de fronteiras do municiacutepio Aleacutem desses rios a rede hidrograacutefica eacute
formada por vaacuterios ribeirotildees e coacuterregos
Para proceder com as devidas anaacutelises dos topocircnimos nos eacute necessaacuterio partir de algumas
definiccedilotildees de nomenclaturas da aacuterea da geografia mas natildeo tivemos acesso a nenhum dicionaacuterio
terminoloacutegico da aacuterea especiacutefica devido agrave dificuldade de encontrar em bibliotecas puacuteblicas e
na internet desta forma recorremos aos dicionaacuterios Aulete (2011) Borba (2004) e Houaiss et
al (2004 2009) para assim proceder com a definiccedilatildeo de palavras (termos) que satildeo recorrentes
em nossa pesquisa a) curso drsquoaacutegua eacute qualquer corpo de aacutegua fluente b) coacuterrego um rio
pequeno com pouco volume de aacutegua que passa por vaacuterios lugares e sempre desagua em um
curso drsquoaacutegua (coacuterrego ribeiratildeo ou rio) c) queda drsquoaacutegua torrente de aacutegua que cai do alto
cachoeiracascata que satildeo formaccedilotildees geomorfoloacutegicas nas quais os cursos drsquoaacutegua correm por
cima de uma rocha de composiccedilatildeo resistente agrave erosatildeo formando uma suacutebita quebra na vertical
d) ribeiratildeo curso drsquoaacutegua maior que o riacho e menor que o rio afluente de um rio e) rio ou
fluacutemen eacute uma corrente natural de aacutegua que flui continuamente Possui um caudal consideraacutevel
e desemboca no mar num lago ou noutro rio e em tal caso denomina-se afluente Pode
apresentar vaacuterias redes de drenagem
Proceder com estas observaccedilotildees eacute elementar para esta pesquisa pois dos 46 topocircnimos
elencados no municiacutepio de Pires do Rio-GO analisaremos apenas 15 visto que analisar todos
82
os topocircnimos seria uma tarefa aacuterdua e que demandaria mais tempo registramos aqui o que nos
motivou agrave escolha dos cursos drsquoaacutegua para anaacutelise Como satildeo apenas 03 rios eacute viaacutevel e de bom
senso analisaacute-los jaacute que satildeo as maiores bacias e que datildeo destaque agrave regiatildeo os ribeirotildees satildeo
especificamente 08 os quais seratildeo analisados inclusive alguns nomes se repetem aos coacuterregos
tambeacutem 01 queda drsquoaacutegua cachoeira do Marataacute que natildeo seraacute analisada devido ao nome ser o
mesmo de um ribeiratildeo dos 34 coacuterregos analisaremos apenas 04 (Barreiro Itauacutebi Laranjal e da
Terra Vermelha) devido ao grau de importacircncia para a cidade pois os coacuterregos Itauacutebi (nascente)
e Laranjal satildeo os que abastecem a cidade de Pires do Rio-GO Quanto ao Barreiro este estaacute
localizado na regiatildeo do Morro do Cruzeiro localidade que tem o maior nuacutemero populacional
na zona rural do municiacutepio O coacuterrego da Terra Vermelha eacute uma aacuterea que haacute muito tempo foi
espaccedilo de olaria e dela saiacuteram grandes quantidades de tijolos que foram utilizados nas
construccedilotildees de casas na cidade e tambeacutem pertence a uma localidade onde existiu o povoado do
Marataacute na deacutecada de 50
No mapa 2 apresentamos os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do
Rio-GO bem como aparecem em destaque os 15 topocircnimos que analisaremos a seguir os quais
estatildeo catalogados em fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas que estatildeo inseridas neste capiacutetulo
83
Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)
84
41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural
Os modelos das taxionomias foram elaborados por Dick (1992) a fim de possibilitar ao
pesquisador descobrir o significado dos topocircnimos sem ter que retomar especificamente a
passado histoacuterico Os modelos subdividem-se em 11 taxes de natureza fiacutesica e 16 de natureza
antropocultural Assim podemos verificar se o nomeador recorreu a elementos de natureza
fiacutesico ou socioculturais como motivaccedilatildeo no ato da nomeaccedilatildeo Abaixo apresentamos as 27
taxes subdivididas em suas naturezas e devidas especificaccedilotildees exemplificadas com alguns
topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO nos casos de natildeo ter
recorremos a outros topocircnimos
a) Taxionomias de natureza fiacutesica
1 Astrotopocircnimos topocircnimos que se referem aos corpos celestes cidade Estrela do Norte-
GO
2 Cardinotopocircnimos topocircnimos referentes agraves posiccedilotildees geograacuteficas cidade Alvorada do
Norte-GO
3 Cromotopocircnimos topocircnimos relativos agrave escala cromaacutetica coacuterrego da Terra Vermelha (Pires
do Rio-GO)
4 Dimensiotopocircnimos topocircnimos referentes agraves caracteriacutesticas dimensionais dos acidentes
geograacuteficos como extensatildeo comprimento largura espessura altura profundidade coacuterrego
Fundatildeo (Pires do Rio-GO)
5 Fitotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de vegetais rio Corumbaacute (Pires do Rio-
GO)
6 Geomorfotopocircnimos topocircnimos referentes agraves formas topograacuteficas elevaccedilotildees ou depressotildees
do terreno coacuterrego do Pico (Pires do Rio-GO)
7 Hidrotopocircnimos topocircnimos originados de acidentes hidrograacuteficos ribeiratildeo Cachoeira
(Pires do Rio-GO)
8 Litotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de minerais e de nomes relativos agrave
constituiccedilatildeo do solo coacuterrego Barreiro (Pires do Rio-GO)
9 Meteorotopocircnimos topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos ribeiratildeo Brumado
(Pires do Rio-GO)
10 Morfotopocircnimos topocircnimos que refletem o sentido de forma geomeacutetrica cidade Volta
Redonda-RJ
11 Zootopocircnimos topocircnimos de iacutendole animal rio do Peixe (Pires do Rio-GO)
b) Taxionomias de natureza antropocultural
85
1 Animotopocircnimos ou Nootopocircnimos topocircnimos relativos agrave vida psiacutequica e agrave cultura
espiritual coacuterrego Boa Vista (Pires do Rio-GO)
2 Antropotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais ribeiratildeo Sampaio
(Pires do Rio-GO)
3 Axiotopocircnimos topocircnimos que se referem a tiacutetulos e a dignidades que acompanham os
nomes proacuteprios individuais cidade Senador Canedo-GO
4 Corotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes de cidades paiacuteses estados regiotildees e
continentes coacuterrego Posse (Pires do Rio-GO)
5 Cronotopocircnimos topocircnimos que encerram indicadores cronoloacutegicos como novonova
velhovelha cidade Nova Aurora-GO
6 Ecotopocircnimos topocircnimos que fazem referecircncia agraves habitaccedilotildees de um modo geral cidade
Castelacircndia-GO
7 Ergotopocircnimos topocircnimos relacionados aos elementos da cultura material ribeiratildeo Bauacute
(Pires do Rio-GO)
8 Etnotopocircnimos topocircnimos relativos aos elementos eacutetnicos tribos isolados ou natildeo ribeiratildeo
Caiapoacute (Pires do Rio-GO)
9 Dirrematotopocircnimos topocircnimos construiacutedos por meio de frases ou enunciados linguiacutesticos
cidade Aparecida do Rio Doce-GO
10 Hierotopocircnimos topocircnimos referentes aos nomes sagrados agraves efemeridades religiosas aos
locais de culto cidade Cristianoacutepolis-GO Podem apresentar duas subdivisotildees i)
hagiotopocircnimos topocircnimos que se referem aos santos e agraves santas do hagioloacutegio romano
coacuterrego Satildeo Jerocircnimo (Pires do Rio-GO) ii) mitotopocircnimos topocircnimos referentes agraves
entidades mitoloacutegicas cidade Anhanguera-GO
11 Historiotopocircnimos topocircnimos que se referem a movimentos de cunho histoacuterico-social aos
seus membros ou ainda agraves datas correspondentes cidade Ipiranga de Goiaacutes-GO
12 Hodotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves vias de comunicaccedilatildeo coacuterrego Corrente (Pires
do Rio-GO)
13 Numerotopocircnimos topocircnimos que dizem respeito aos adjetivos numerais cidade Trecircs
Ranchos-GO
14 Poliotopocircnimos topocircnimos constituiacutedos pelos vocaacutebulos vila aldeia cidade povoaccedilatildeo
arraial bairro Vila Nova (Pires do Rio-GO)
15 Sociotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais de trabalho
e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade ribeiratildeo Mucambo (Pires do Rio-
GO)
86
16 Somatotopocircnimos topocircnimos com relaccedilatildeo metafoacuterica agraves partes do corpo humano ou do
animal coacuterrego Olho drsquoaacutegua (Pires do Rio-GO)
Essas classificaccedilotildees taxonocircmicas funcionam como auxiliares no processo de verificaccedilatildeo
que subjaz o topocircnimo sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo da origem e motivaccedilatildeo que
levaram agrave efetivaccedilatildeo de determinado topocircnimo
Aleacutem do mais uma anaacutelise toponiacutemica pressupotildee a busca de particularidades
que natildeo podem ficar apenas nas caracteriacutesticas mais evidentes apresentadas
pelo nome deve-se procurar tanto quanto possiacutevel ou seja tanto quanto as
fontes ou a documentaccedilatildeo o permitirem as origens mais remotas do
denominativo objetivando as eventuais substituiccedilotildees experimentadas e a sua
razatildeo determinante de modo que se possa tentar um equacionamento da
nomenclatura em periacuteodos ou estaacutegios onomaacutesticos ndash senatildeo de toda ela pelo
menos em alguns nomes ndash que talvez reflitam momentos distintivos do pensar
da eacutepoca analisada (DICK 1996 p 15-16)
O leacutexico toponiacutemico eacute carregado de marcas de expressatildeo histoacuterica social cultural
poliacutetica e religiosa de dada comunidade e eacute representativo para o nomeador e seu grupo Desta
forma se determinado local ou coisa passou por vaacuterias nomeaccedilotildees no decorrer dos tempos isso
justifica que cada nomeador observou novas caracteriacutesticas que classificavam ou referenciavam
o topocircnimo de forma precisa e motivada
De acordo com Dick (1990) as vaacuterias facetas significativas que datildeo realce ao nome do
lugar e as inuacutemeras informaccedilotildees que podem ser elencadas dele tornariam no material de um
grande armazenamento de dados e fatos culturais em larga extensatildeo Assim observamos em
Andrade (2010 p 103) que
Os estudos toponiacutemicos dentro do alcance pluridisciplinar de seu objeto de
estudo constituem um caminho possiacutevel para o conhecimento do modus
vivendi das comunidades linguiacutesticas que ocupam ou ocuparam um
determinado espaccedilo Quando um indiviacuteduo ou comunidade linguiacutestica atribui
um nome a um acidente humano ou fiacutesico revelam-se aiacute tendecircncias sociais
poliacuteticas religiosas culturais (Grifos da autora)
Satildeo nessas caracteriacutesticas em que reside a motivaccedilatildeo do topocircnimo e por meio delas nos
satildeo reveladas a histoacuteria e cultura de uma dada comunidade por isso vemos o quanto os estudos
toponiacutemicos satildeo de extrema relevacircncia natildeo soacute para a aacuterea dos estudos da
linguagemlinguiacutesticos mas tambeacutem para as outras aacutereas do conhecimento jaacute que o topocircnimo
eacute plurissignificativo tendo assim um alcance pluridisciplinar
87
Posto isto pode-se evidenciar os estudos toponiacutemicos como um eixo norteador para se
verificar as relaccedilotildees soacutecio-histoacuterico-culturais de um povo jaacute que o topocircnimo estaacute intimamente
vinculado agrave cultura de um povo uma naccedilatildeo e portanto agrave sua histoacuteria Assim tomaremos por
anaacutelise os graacuteficos que se seguem e as taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua
do municiacutepio de Pires do Rio-GO
42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO
Nesta pesquisa os 15 topocircnimos analisados baseados na classificaccedilatildeo enquadram-se
na divisatildeo das naturezas fiacutesica e antropocultural Em alguns topocircnimos eacute possiacutevel ainda
evidenciar mais de uma categoria classificatoacuteria por exemplo o coacuterrego da Terra Vermelha
que se classifica como litotopocircnimo e cromotopocircnimo
Nos graacuteficos abaixo apresentamos e analisamos em base qualiquantitivas as naturezas
das taxionomias fiacutesicas e antropoculturais e a origemetimologia dos topocircnimos estratos
linguiacutesticos
Grafico1 Natureza das Taxionomias
As taxionomias nos permitiram analisar e interpretar os designativos de lugares com
maior precisatildeo e seguranccedila do ponto de vista semacircntico sendo estudados enquanto formas de
liacutengua e de acordo com a causa de seu emprego O produto resultante aqui no nosso caso os
88
topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO ganham vida proacutepria passando
a ter caraacuteter motivado e natildeo apenas arbitraacuterio
As taxes encontradas nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO que tiveram maior proporccedilatildeo foram as de natureza fiacutesica assim o nomeador caracterizou
os fatores fiacutesicos do ambiente ou que chamaram sua atenccedilatildeo Desta forma as nomeaccedilotildees satildeo
motivadas e estabelecem relaccedilotildees com o nomeador e o lugar nomeado
421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos
Os principais topocircnimos analisados neste trabalho confirmaram uma tendecircncia da
toponiacutemia brasileira em geral ou seja a predominacircncia de topocircnimos classificados de acordo
com as taxionomias de natureza fiacutesica uma vez que na nomenclatura onomaacutestica dos
elementos fiacutesicos da regiatildeo analisada haacute um percentual de 67 (10 topocircnimos) que satildeo
classificados como taxes de natureza fiacutesica e 33 (05 topocircnimos) que se enquadram nas taxes
de natureza antropocultural
Graacutefico 2 Taxionomias de Natureza Fiacutesica
O graacutefico apresentado nos revelam que a incidecircncia em sua maioria das taxionomias
de natureza fiacutesica evidencia a influecircncia do ambiente fiacutesico no ato de nomeaccedilatildeo percebe-se
entatildeo que no ato do batismo os povos recorreram a elementos e caracteriacutesticas circundantes
aos lugares nomeados demonstrando que o meio ambiente exerce grande influecircncia no homem
no ato de nomear os lugares
0
05
1
15
2
25
3
Taxionomias de Natureza Fiacutesica
89
Ao atribuir topocircnimos agraves taxionomias de natureza fiacutesica eacute possiacutevel comprovar a forccedila
de elementos fiacutesicos como motivadores no ato de nomear os lugares O que eacute observaacutevel no
graacutefico II os topocircnimos com maior incidecircncia nos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO sendo eles fitotopocircnimos hidrotopocircnimos litotopocircnimos litotopocircnimos e
cromotopocircnimos litotopocircnimos e fitotopocircnimos meteorotopocircnimos e zootopocircnimos que no
decorrer desse trabalho seratildeo analisados
4211 Fitotopocircnimos
De acordo com o observado a taxionomia de origem fitotoponiacutemica (originada de
nomes de vegetais) atingiu em segundo lugar o maior nuacutemero de frequecircncia dentre os
topocircnimos de natureza fiacutesica 20 (02 topocircnimos) satildeo eles coacuterrego Laranjal e ribeiratildeo
Taquaral Eacute observaacutevel que a flora foi uma das grandes motivaccedilotildees para os designativos dos
cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO E segundo Dick (1990 p 146)
O importante talvez seria natildeo perder de vista que a vegetaccedilatildeo eacute parte
integrante de um conjunto natural em que o relevo constituiccedilatildeo do solo
acidentes geograacuteficos regimes climaacuteticos compotildeem um verdadeiro
biossistema imprescindiacutevel ao homem e agrave qualidade de vida que nele pretenda
instalar ou pelo menos usufruir
Eacute nessas relaccedilotildees de importacircncia para o homem que podemos compreender a nomeaccedilatildeo
destes elementos fiacutesicos fazendo referecircncia a aspectos que chamaram a sua atenccedilatildeo e
motivaram a nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua Isso se revela pelo caraacuteter de necessidade agrave vida
humana tanto do nome como do que por ele foi nomeado essa relaccedilatildeo nomeador-objeto-nome
eacute que ressalta a importacircncia da vegetaccedilatildeo no meio social local do vivente Assim tambeacutem
justifica Pereira (2009 p 143) que ldquopossivelmente seja esse o motivo de o
denominadorenunciador registrar as caracteriacutesticas locais de uma regiatildeo na nomeaccedilatildeo dos
acidentes geograacuteficos por meio do topocircnimordquo
Ao trazer as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas eacute perceptiacutevel a motivaccedilatildeo que subjaz
cada topocircnimo como observamos abaixo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 02
Topocircnimo Coacuterrego Laranjal Localizaccedilatildeo Pires do Rio
90
Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia la-ran-jal Sm plantaccedilatildeo ou pomar de laranjas (p827)
Laranja sf lsquofruto da laranjeira planta da fam das rutaacuteceasrsquo XIV Do aacuter nāranğa deriv do
persa nāranğ laranjAL -gal XVI (p382)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino laranja- + -al sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Coacuterrego afluente da margem direita do ribeiratildeo Bauacute (M de
Pires do Rio)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 03
Topocircnimo Ribeiratildeo Taquaral Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ta-qua-ral Sm 1 plantaccedilatildeo de taquara tabocal 2 terreno onde crescem
taquaras (p1337)
Taquara sf lsquoplanta da fam das gramiacuteneas taboca bambursquo 1627 tacoara c 1584 etc
tacoaacutera 1817 Do tupi takṷara taquarAL 1783 (p623)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino taquara- + -al sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ao observar as informaccedilotildees trazidas nas fichas apresentadas dos fitotopocircnimos
possivelmente as motivaccedilotildees que influenciaram o nomeador satildeo perspicazes as referecircncias
locais que de acordo com cada topocircnimo relacionamos i coacuterrego Laranjal evidentemente em
sua localidade apresentava no momento de nomeaccedilatildeo a plantaccedilatildeo de laranjas e tambeacutem o
coacuterrego favorecia a essas plantaccedilotildees ii ribeiratildeo Taquaral assim como analisado o topocircnimo
91
anterior o que tenha influenciado ao nomeador deve estar relacionado com o a quantidade de
taquaras na regiatildeo em se encontra o determinado ribeiratildeo
A ocorrecircncia dos topocircnimos de iacutendole vegetal ora pesquisados pode ter a sua
justificativa pela relevacircncia que as plantas tecircm junto a vida humana bem como necessaacuterias para
a conservaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua e suas nascentes assim justificamos a tendecircncia de valoraccedilatildeo
do vegetal no processo de batismo dos elementos fiacutesicos
4212 Hidrotopocircnimos
O topocircnimo de equivalecircncia hidroniacutemica (originado de acidentes hidrograacuteficos) aparece
no em ribeiratildeo Cachoeira Sabe-se que a aacutegua eacute de fundamental importacircncia para a vida
humana por isso a tendecircncia de o nomeador no ato de batismo do topocircnimo valer-se do nome
relacionado ao elemento aacutegua para designar o lugar
E de acordo com Dick (1990 p 196) ldquoO aparecimento de topocircnimos nos mais
diferentes ambientes revestindo uma natureza hidroniacutemica propriamente dita vincula-se agrave
importacircncia dos cursos drsquoaacutegua para as condiccedilotildees humanas de vidardquo Possivelmente o nomeador
a considera o elemento aacutegua vital para a sua existecircncia ainda sabemos que os cursos drsquoaacutegua
em muitas ocasiotildees servem de caminhos para comeacutercio como tambeacutem foi por meio deles que
se configuraram na histoacuteria do Brasil o achamento e a colonizaccedilatildeo do paiacutes pelos portugueses
Nas ficha abaixo trazemos informaccedilotildees relevantes para anaacutelise dos topocircnimos de origem
hidrograacutefica
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 04
Topocircnimo Ribeiratildeo Cachoeira Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Hidrotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ca-cho-ei-ra Sf 1queda drsquoaacutegua em rio ou ribeiratildeo cujo leito apresenta
forte declive cascata 2 trecho de rio onde as aacuteguas correm raacutepido devido agrave inclinaccedilatildeo do
terreno corredeira (p213)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba (M
de Campo Formoso)
Referecircncias Borba (2004) IBGE (1957)
92
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Por mais que apenas 10 (01) dos topocircnimos de natureza fiacutesica tenham referecircncia agrave
iacutendole hidroniacutemica a regiatildeo de Pires do Rio-GO tem seus limites poliacutetico e fiacutesico (geograacuteficos)
feita por rios sem mencionar a grande importacircncia que esses cursos exercem nas atividades da
regiatildeo
Ainda observamos em Dick (1990 p 197) que
Agraves vezes poreacutem rompe-se o equiliacutebrio que ela [a aacutegua] representa em
qualquer meio desprendendo-se de suas possibilidades de aproximar culturas
distintas e assumindo papel um tanto oposto ao se transformar em ldquoobstaacuteculordquo
agrave difusatildeo dos interesses coletivos Circunscrevendo o homem em seu proacuteprio
espaccedilo quando o transcurso se torna difiacutecil impede os contatos entre grupos
vizinhos Se o isolamento por um lado tende a manter tanto quanto possiacutevel
inalterados os valores comuns preservando por isso a tradiccedilatildeo socioloacutegica
do homem ao retardar a dinacircmica da comunidade em favor de uma estaacutetica
desestimulante e viciosa
A par desta citaccedilatildeo observamos que foi o que aconteceu a cidade de Pires do Rio-GO
a partir do rio Corumbaacute o principal para o municiacutepio que ateacute a deacutecada de 1920 era isolado dos
demais municiacutepios por falta de uma ponte que estabelecesse tal ligaccedilatildeo Com a vinda da Estrada
de Ferro Goyaz e a construccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa surgem as primeiras casas e a
efetivaccedilatildeo do municiacutepio bem como a ligaccedilatildeo com as principais cidades da regiatildeo e as relaccedilotildees
econocircmicas e poliacuteticas que auxiliaram no crescimento do municiacutepio e da regiatildeo
Observamos ainda no contexto do municiacutepio de Pires do Rio-GO que a aacutegua em suas
potencialidades eacute de grande relevacircncia e meio de sobrevivecircncia para a vida humana pois
Na parte sul encontra-se o rio Corumbaacute que eacute maior curso drsquoaacutegua do
municiacutepio Nele eacute feito a extraccedilatildeo de areia para construccedilatildeo civil suas ilhas
servem de pontos de recreaccedilatildeo para vaacuterios moradores e as suas margens satildeo
praticamente ocupadas pelas pequenas propriedades (DIAS 2008 p 84)
Posto isso no efetivar do topocircnimo a partir da importacircncia da aacutegua o nomeador
diferencia o elemento geograacutefico dos demais auxiliando na orientaccedilatildeo do homem no espaccedilo
que o cerca proporcionando subsiacutedios para um melhor (re)conhecimento do local Assim
hipoteticamente acreditamos que o topocircnimo ndash ribeiratildeo Cachoeira ndash no contexto estudado
93
pode ter a sua motivaccedilatildeo pelo proacuteprio ambiente fiacutesico uma vez recupera caracteriacutesticas
hidroniacutemicas do lugar
4213 Litotopocircnimos
Notando-se as relaccedilotildees dos topocircnimos de origem mineral os litotopocircnimos coacuterrego
Barreiro representam o percentual de 10 (01 topocircnimo) dos analisados Cabe mencionar que
os minerais foram um dos principais atrativos dos colonizadores portugueses nas terras
brasileiras E de acordo com Dick (1990) os topocircnimos de origem mineral estatildeo relacionados
tanto a caracteriacutesticas do solo quanto do terreno e assim estabelecem duas relaccedilotildees fiacutesicas que
estatildeo ligadas agraves regiotildees da terra neste caso satildeo areia barro lama pedra terra E outro fator
satildeo os histoacutericos que podem ser evidenciados no processo de colonizaccedilatildeo do Brasil por meio
das relaccedilotildees entre solo flora e relevo que satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de uma nova
sociedade
O litotopocircnimo apresentado abaixo por meio de descriccedilatildeo e anaacutelise revela a influecircncia
do local sobre o ato de nomear
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 05
Topocircnimo Coacuterrego Barreiro Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia bar-rei-ro Sm terra alagada lamaccedilal (p164)
Barreira -eirar -eiro ejar rarr BARRO
Barro sm lsquotipo de argilarsquo lsquosubstacircncia utilizada no assentamento da alvenaria de tijolo em
obras provisoacuterias obtida pela mistura de argila com aacuteguarsquo XIV De origem preacute-romana
Relaciona-se neste verbete uma seacuterie de vocaacutebulos etimologicamente correlacionados com
o radical barr- de origem preacute-romana barrEIRA sf lsquoargileirarsquo lsquoparapeitorsquo 1500 barrEIRmiddotAR
bareyrar XV barrEIRO XVIII (p82)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino barro- + ndasheiro sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
94
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Observando Sapir (1969) podemos trazer a reflexatildeo acerca da relaccedilatildeo entre liacutengua e
ambiente que vale a compreensatildeo dos fatores fiacutesicos neste caso os aspectos geograacuteficos
incluindo aleacutem dos elementos fauna e flora os recursos minerais Assim o litotopocircnimo
coacuterrego Barreiro estabelece relaccedilotildees com o local quando foi nomeado ainda compreende-se
que a localidade era de lamaccedilalbarro um dos motivadores por determinado coacuterrego ser
batizado com o referido topocircnimo
Assim como observado em Dick (1990 p 125) os referidos topocircnimos de origem
mineral se referem ao primeiro caso que eacute o de ldquoiacutendole geneacutericardquo aspectos fiacutesicos e especiacuteficos
agraves regiotildees da terra revelando assim caracteriacutesticas minerais da regiatildeo em que estaacute localizado
determinado coacuterrego
4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos
No conjunto dos topocircnimos analisados em um percentual de 10 (01 topocircnimo) do
total encontramos um topocircnimo de estrutura composta mas natildeo hiacutebrido pois eacute formado por
duas palavras de origem latina a saber coacuterrego da Terra Vermelha litotopocircnimo (origem de
nomes de minerais e de nomes relativos agrave constituiccedilatildeo do solo) e cromotopocircnimo (relativo agrave
escala cromaacutetica) E que de acordo com Isquerdo e Seabra (2010 p 91) ldquo[] a motivaccedilatildeo dos
hidrotopocircnimos de estrutura composta normalmente valoriza mais de uma caracteriacutestica do
meio ambiente como foco denominativordquo O mesmo se estabelece com o topocircnimo ora
analisado como descreve na ficha abaixo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 06
Topocircnimo Coacuterrego da Terra Vermelha Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo e
Cromotopocircnimo
Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ter-ra Sf i elemento da superfiacutecie terrestre que misturado com aacutegua
transforma-se em barro ii parte soacutelida da superfiacutecie terrestre chatildeo firme (p1351)
Terra sf lsquoterritoacuterio regiatildeorsquo lsquosolo chatildeorsquo XIII Do lat tĕrra (p631)
95
Vermelho adj lsquoda cor do sanguersquo XIII Do lat vĕrmῐcŭlus (p674)
Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Substantivo Feminino + Adjetivo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Segundo Dias (2008 p 119-122) na maior parte da regiatildeo do municiacutepio de Pires do
Rio-GO o solo eacute ldquoLatossolos Vermelhosrdquo ou ldquoLatossolos Vermelho Amareladordquo assim
hipoteticamente uma das motivaccedilotildees fundamentais para a denominaccedilatildeo do topocircnimo estaacute
ligado a caracteriacutesticas do local o que influenciou o denominador a fazer referecircncia agrave Terra
juntamente com a cor vermelha
E ainda Dias (2008 p 117) justifica que ldquoas caracteriacutesticas da vegetaccedilatildeo natural
muitas das vezes tecircm como fator determinante o tipo de solo porque eacute dele que elas retiram a
maioria dos elementos que precisam para sua nutriccedilatildeordquo Nesta regiatildeo tem a predominacircncia da
agricultura e agropecuaacuteria influecircncias do solo que contribui para tais praacuteticas
Contudo o batismo do coacuterrego com o topocircnimo Terra Vermelha traz em sua motivaccedilatildeo
as caracteriacutesticas que satildeo observadas na localidade e que de certa forma influenciaram o
nomeador Aleacutem do coacuterrego uma regiatildeo rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tambeacutem eacute
conhecida pelo referido nome
4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos
O topocircnimo coacuterrego Itauacutebi eacute um nome composto litotopocircnimo (de origem mineral) e
fitotopocircnimo (de origem vegetal) e representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos
analisados Sua estrutura morfoloacutegica segundo Dick (1992) eacute um topocircnimo composto formado
por ita- (pedra) + -ubi (palmeira) ambos de origem tupi na formaccedilatildeo de palavras se constitui
em uma composiccedilatildeo por justaposiccedilatildeo E hipoteticamente a regiatildeo em que se encontra o
coacuterrego eacute de um terreno pedregulho ou pode ser que o proacuteprio coacuterrego tenha em sua calda um
acuacutemulo maior de pedras que o normal E consequentemente uma regiatildeo em que a vegetaccedilatildeo
tenha ou lembre uma localidade com plantaccedilotildees de palmeiras
96
Assim a ficha lexicograacutefica-toponiacutemia abaixo nos auxiliou na descriccedilatildeo e anaacutelise do
topocircnimo coacuterrego Itauacutebi aclarando para um efetiva interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo do corpus desta
pesquisa
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 07
Topocircnimo Coacuterrego Itauacutebi Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo e Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia Ita ndash pedra eacute o termo mais comum nos topocircnimos brasileiros algumas
vezes aparece sem o i inicial Ta-nhenga (ilha do Rio de Janeiro) Ta-ratatilde (localidade da
Bahia) (p 174)
Ubi ndash nome comum a vaacuterias palmeias dos gecircneros Genoma Bactris e Calyptrogyne (p 190)
Estrutura morfoloacutegica Nome composto (ita- substantivo feminino + -ubi substantivo
feminino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Tibiriccedila (1985)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Segundo Dias (2008) o coacuterrego Itauacutebi eacute um dos afluentes do ribeiratildeo Marataacute e tambeacutem
um dos coacuterregos que abaste ao municiacutepio de Pires do Rio-GO juntamente com o coacuterrego
Laranjal Assim eacute possiacutevel notar a importacircncia deste curso drsquoaacutegua para o municiacutepio e a sua
relevacircncia em anaacutelise para a nossa pesquisa
4216 Meteorotopocircnimos
A meteorotoponiacutemia refere-se a topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos e no
contexto pesquisado representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos analisados sendo
ribeiratildeo Brumado que proveacutem do termo latino bruma lsquoinvernorsquo especificando como nevoeiro
neblina e cerraccedilatildeo (CUNHA 2010) Dados esses especificados abaixo na ficha lexicograacutefica-
toponiacutemica que nos auxiliou na interpretaccedilatildeo e anaacutelise do topocircnimo
97
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 08
Topocircnimo Ribeiratildeo Brumado Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Meteorotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia Bruma bru-ma Sf nevoeiro neblina cerraccedilatildeo (p203)
Bruma sf lsquonevoeiro neblina cerraccedilatildeorsquo XVI Do lat bruma lsquoinvernorsquo (p103)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino bruma- + sufixo ndashado)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do rio dos Peixes (M
de Pires do Rio)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ao observarmos em Sapir (1969) em que o leacutexico de uma liacutengua reflete claramente o
ambiente fiacutesico e social do falantes provavelmente o que influenciou o nomeador em recorrer
ao batismo do topocircnimo Brumado em determinado ribeiratildeo pode ter sido devido a ocorrer na
localidade neblinanevoeiro na estaccedilatildeo do ano inverno jaacute que a proacutepria raiz da palavra bruma
faz referecircncia ao ldquoinvernordquo
Nas leituras realizadas em alguns pesquisadores da aacuterea da toponiacutemia como Almeida
(2012) Carvalhinhos (2002 2003) Dick (1990 1992 1996 1999 2000 2001 2004 2006)
Isquerdo e Seabra (2010) Pereira (2009) Siqueira (2012 2015) natildeo foi recorrente
encontrarmos algum meteorotopocircnimo analisado ou que nos desse qualquer sustentaccedilatildeo ou
informaccedilotildees para proceder com algum confrontamento de dados mediante a isso
subentendemos que os topocircnimos de iacutendole dos fenocircmenos atmosfeacutericos natildeo tenham uma certa
frequecircncia como os demais
4217 Zootopocircnimos
Nas denominaccedilotildees de iacutendole animal zootopocircnimos no estudo corrente referem ao
percentual de 30 (03 topocircnimos) dos extratos pesquisados ndash rio Corumbaacute rio do Peixe e rio
Piracanjuba Precisamente em dois topocircnimos o fator motivador foi o animal peixe que
possivelmente influenciou o nomeador A saber que a caccedila e pesca era o meio de sobrevivecircncia
98
da comunidade primitiva desta forma possivelmente a comunidade que habitava nos referidos
locais tambeacutem foi influenciada por essas razotildees e daiacute batizando ambos os rios com os referidos
topocircnimos
Ao observamos os topocircnimos de iacutendole animal aqui presentes vamos contrapor ao que
Dauzat (1922 apud DICK 1990) constatou ter uma menor frequecircncia dos zootopocircnimos em
relaccedilatildeo a outras categorias na toponiacutemia francesa bem como agrave perspectiva de Backheuser
(1952 apud DICK 1990) de que na toponiacutemia brasileira os nomes de animais satildeo menos
recorrentes
As relaccedilotildees de denominaccedilatildeo toponiacutemica de uma dada regiatildeo pode ser diferente de outra
de acordo com isso as relaccedilotildees de motivaccedilotildees estatildeo estritamente ligadas ao nomeador pois
cada qual atribui a caracteriacutesticas inerentes ao local a que faz referecircncia Assim as fichas
lexicograacuteficas-toponiacutemicas abaixo evidenciam em suas descriccedilotildees e nos auxiliam a proceder
com a anaacutelise toponiacutemica dos designativos bem como a quantificar que os zootopocircnimos foram
os de maior frequecircncia em nossas anaacutelises
Nordm de ordem 09
Topocircnimo Rio Corumbaacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia cid Mato Grosso do Sul de corumbaacute caacutegado (p44) Origem Tupi
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio nasce nos arredores de Pirineus atravessa o municiacutepio
como o de Santa Luzia depois de servir em pequeno trecho de divisa a Bonfim Adiante
separa Ipameri e Corumbaiacuteba de um lado e Campo Formoso Pires do Rio Caldas Novas
Buriti Alegre do outro ateacute desaguar no rio Paranaiacuteba pela margem direita (M de Corumbaacute)
Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 10
Topocircnimo Rio do Peixe Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
99
OrigemEtimologia pei-xe Sm (Zool) 1 espeacutecime de classe animal vertebrado que nasce e
vive na aacutegua respira por guelras e se locomove por meio de barbatanas (p1048)
sm lsquo(Zool) animal cordado gnastomado aquaacutetico com nadadeiras com pele geralmente
coberta de escamas que respira por bracircnquiasrsquo XIII Do lat piscis -is peixADA XX
peixARIA XX peixeiro peyxero XIII Cp pescar piscatoacuterio (p485)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio (do) nasce na regiatildeo sul-oriental do municiacutepio que separa
os de Campo Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio e o de Caldas Novas desemboca
no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bonfim)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) (IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 11
Topocircnimo Rio Piracanjuba Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia cid de Goiaacutes de piracanjuba uma var de peixe de rio etim piraacute-
acatilde-juba peixe de cabeccedila amarela (p97) Origem Tupi
piraacute sm lsquodesignaccedilatildeo geneacuterica de peixe em tupirsquo piracanjuva sf lsquoespeacutecie de douradorsquo 1792
Do tupi pirakaᶇlsquoḭuṷa (p498)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce na serra de Passa
Quatro e atravessa o municiacutepio bem como o de Pouso Alto Adiante separa Caldas Novas de
Morrinhos e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bela
Vista)
Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
100
Segundo Dias (2008) o rio Corumbaacute eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio dele se extrai
areia para a construccedilatildeo civil e suas ilhas e margens servem para abrigar pequenas propriedades
inclusive para a recreaccedilatildeo e turismo O rio do Peixe eacute um dos trecircs maiores cursos drsquoaacutegua e
fronteiriccedilo na regiatildeo sul entre Pires do Rio Cristianoacutepolis Vianoacutepolis e Satildeo Miguel do Passa
Quatro tem como principal afluente o ribeiratildeo Brumado e tambeacutem eacute o principal afluente do
rio Corumbaacute O rio Piracanjuba tambeacutem estaacute entre os principais do municiacutepio na regiatildeo norte
faz fronteira entre Pires do Rio Orizona Urutaiacute e Ipameri sua principal relevacircncia foi na
deacutecada de 1950 por aiacute ter funcionado uma usina hidreleacutetrica que abastecia o municiacutepio de Pires
do Rio-GO
A anaacutelise zootoponiacutemica na localidade pesquisada evidenciou a valorizaccedilatildeo da fauna
local pois ao utilizar o nome de animais recuperou-os para nomear lugares como os rios
Observamos que os nomes de animais que estabelecem a sua origem nas liacutengua tupi
(Piracanjuba e Corumbaacute) e latina (Peixe) motivaram a nomeaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e
de alguma forma estatildeo vinculados agrave vida do nomeador estabelecendo assim relaccedilotildees
extralinguiacutesticas com os topocircnimos pesquisados E segundo Theodoro Sampaio (1914 apud
DICK 1990) dificilmente o nome do animal estaria desvinculado de sua existecircncia na
localidade
Os elementos de natureza fiacutesica mais evidentes na motivaccedilatildeo que subjazem aos
topocircnimos ora analisados foram os de origem vegetal mineral e animal (peixe) Percebemos
assim que o nomeador teve influecircncia das caracteriacutesticas do local para designar o referido
topocircnimo A partir desta anaacutelise nos eacute pertinente ao proacuteximo subtoacutepico proceder com as
anaacutelises das taxionomias de natureza antropocultural
422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos
Os topocircnimos de natureza antropocultural representam 33 (05 topocircnimos) do corpus
analisado destacando-se os antropotopocircnimos ergotopocircnimos etnotopocircnimos e
sociotopocircnimos O nomeador obteve suas motivaccedilotildees de iacutendole antropocultural fazendo
homenagem a pessoas importantes da cidade recuperando elementos da cultura material do
povo revelando elementos eacutetnicos isolados ou natildeo e por fim referenciando a atividades
profissionais ou pontos de encontro de pessoas da comunidade Assim identificando a
influecircncia do homem no meio em que se encontra
101
Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural
O graacutefico 3 nos traz em sua amplitude os topocircnimos de origem antropocultural e a partir
dele eacute que procederemos com as anaacutelises no decorrer do texto observando as regecircncias e
distintas influecircncias do nomeador no ato do batismo
4221 Antropotopocircnimos
Dentre os topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais em nossa pesquisa foi
encontrado apenas o ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo correspondendo ao percentual de
20 (01) dos topocircnimos de natureza antropocultural analisados Na toponiacutemia brasileira eacute
recorrente encontrarmos antropotopocircnimos especialmente lugares como cidades praccedilas ruas
e outros acabam recebendo nomes proacuteprios em homenagem a algueacutem A ficha lexicograacutefica-
toponiacutemica 12 em sua amplitude nos auxilia a perceber a influecircncia do antrotopocircnimo
analisado pois refere-se a uma figura puacuteblica da comunidade piresina
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 12
Topocircnimo Ribeiratildeo Sampaio Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia sm ldquomarinhordquo Sampaio eacute um sobrenome presente na onomaacutestica
portuguesa atraveacutes de raiacutezes tipicamente toponiacutemicas devido ao nome de uma vila localizada
0
02
04
06
08
1
12
14
16
18
2
ANTROPOTOPOcircNIMO ERGOTOPOcircNIMO ETNOTOPOcircNIMOS SOCIOTOPOcircNIMO
Taxionomias de Natureza Antropocultural
102
em Traacutes-os-Montes em Portugal e que teria sido adotado como sobrenome pelos senhores
deste local Alguns etimologistas acreditam que o nome Sampaio tenha surgido a partir do
latim Sanctus Pelagius (traduzido como ldquosanto marinhordquo) que significa Santo Pelagius e
com o passar do tempo tenha sofrido alteraccedilotildees na grafia passando para Sam Peaio Satildeo
Payo e por fim Sampaio Origem hebraica
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Proacuteprio ndash sobrenome)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da margem direita
do rio Corumbaacute (M de Pires do Rio)
Referecircncias Dicionaacuterio online de Nomes Proacuteprios (sd) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Este antropotopocircnimo foi o norteador motivacional para esta pesquisa pois o ribeiratildeo
Sampaio em um de seus limites por boa parte da populaccedilatildeo (inclusive eu) eacute conhecido como
Pedro Teixeira (que na verdade eacute o nome da ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo) soacute tempos depois
conheci o seu verdadeiro nome
E Dick (1990 p 286) assegura que
Os aspectos semacircnticos que podem ser encontrados nos nomes de pessoas
ligam-se portanto ao papel que exercem de verdadeiras manifestaccedilotildees
culturais dos povos e onde transparecem os mais diversos motivos
determinantes de sua escolha Talvez a proacutepria maneira pela qual se concebia
o nome em eacutepocas remotas como uma substacircncia revestida de poderes
miacutesticos seja a responsaacutevel pela variedade das motivaccedilotildees em uma ou em
outras sociedades
Os aspectos motivacionais para o topocircnimo em estudo eacute uma homenagem ao coronel
Lino Teixeira de Sampaio neste caso de acordo com Cabral (2007) eacute um patroniacutemico
sobrenome e faz referecircncia ao doador das terras em que fundou-se a cidade de Pires do Rio-
GO Segundo Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares ou
homenagem ou ateacute mesmo por caracteriacutesticas geograacuteficas inerentes ao local Em alguns casos
os nomes satildeo opacos pois natildeo apresentam nenhuma relaccedilatildeo com o referente nesta situaccedilatildeo haacute
de se fazer uma busca histoacuterica para chegar as relaccedilotildees motivacionais que natildeo eacute o nosso caso
Observando em estudos acerca dos topocircnimos de iacutendole de nomes proacuteprios individuais
constatamos que
103
Nomes proacuteprios de pessoas satildeo obscurecidos em seu conteuacutedo leacutexico-
semacircntico pela opacidade do proacuteprio signo que os conforma distanciados na
maioria das ocorrecircncias do foco original Integram o inventaacuterio mais fechado
da linguagem cuja origem remonta no Brasil aos primeiros nomes de
famiacutelias portuguesas para aqui imigradas (DICK 2001 p 83)
Assim foi possiacutevel observar que o patroniacutemico Sampaio ratifica a citaccedilatildeo de Dick
(2001) pois ele estaacute presente na onomaacutestica portuguesa evidenciado nas raiacutezes tipicamente
toponiacutemicas relacionado ao nome de uma vila localizada em Traacutes-os-Montes em Portugal que
supostamente teria sido adotado como sobrenome pelos senhores deste local (DICIONAacuteRIO
DE NOMES PROacutePRIOS sd)
A importacircncia desse referido ribeiratildeo para o municiacutepio de Pires do Rio-GO justifica-se
desde a sua nomeaccedilatildeo pela razatildeo de sua nascente ser em terras que eram de propriedade do
coronel Lino Teixeira de Sampaio e tambeacutem pelo motivo de
O ribeiratildeo Sampaio eacute utilizado como um dos limiacutetrofes das aacutereas urbana e
rural tambeacutem depositaacuterio da Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE)
consequentemente recebendo a aacutegua do esgoto depois de feito seu devido
tratamento Neste ribeiratildeo encontram-se os menores pontos altimeacutetricos da
aacuterea urbana o que favoreceu a construccedilatildeo da ETE (DIAS 2008 p 84)
Neste contexto eacute evidente que a motivaccedilatildeo para o topocircnimo Sampaio eacute uma
homenagem a uma pessoa que tem uma importacircncia para o local a cidade de Pires do Rio-GO
E assim podemos evidenciar que o ato de nomear aqui institui as relaccedilotildees de poder
possivelmente a de coacuterrego do senhor coronel Lino Teixeira de Sampaio estabelecendo as
relaccedilotildees de poder que o proacuteprio coronel mantinha sobre o local a cidade
4222 Ergotopocircnimos
Os topocircnimos referente a elementos da cultura material ergotopocircnimos nas anaacutelises
desta pesquisa tiveram um percentual de 20 (01) dos topocircnimos analisados ribeiratildeo Bauacute
assim observamos que o denominador foi motivado pelas relaccedilotildees da cultura material que o
cerca Jaacute observado em Sapir (1969) pois no leacutexico toponiacutemico reflete o ambiente social do
falante assim o topocircnimo no qual o objeto bauacute eacute de origem da cultura material e de uso
humano possivelmente as caracteriacutesticas do objeto como fundura largura e formato do bauacute
foram vitais para a nomeaccedilatildeo do ribeiratildeo
104
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 13
Topocircnimo Ribeiratildeo Bauacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Ergotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia ba-uacute (fr) Sm (Co) 1 mala de madeira recoberta de couro com tampa
conversa 2 moacutevel em forma de caixa de folha ou madeira onde se guardam roupas e demais
objetos (p169)
sm lsquotipo de caixa ou mala com tampa convexa na parte externarsquo baul XVI bau XVII bahu
Do ant baul deriv do a fr bahur (hoje bahut) de origem obscura (p84) 1805
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba na
divisa do municiacutepio de Pires do Rio (M de Campo Formoso)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Desta forma ldquoa lsquoescolharsquo do nome se daacute segundo um agenciamento enunciativo
especiacutefico este acontecimento de nomear recorta como memoraacuteveis os nomes disponiacuteveis
como contemporacircneos proacuteprios de sua eacutepocardquo (GUIMARAtildeES 2005 p 36-37) Eacute necessaacuterio
observar na citaccedilatildeo de Guimaratildees (2005) que no ato do batismo o nomeador faz referecircncia ao
contemporacircneo ou proacuteprio de sua eacutepoca no caso de uso do termo bauacute configura-se como essa
afirmaccedilatildeo eacute relativa a algo realmente usado em determinada eacutepoca
Eacute evidente que o topocircnimo apresentou como fonte motivacional a relaccedilatildeo existente entre
a cultura material e seu nomeador ou seja uma motivaccedilatildeo toponiacutemica de ordem
antropocultural assim essas designaccedilotildees que recuperam elementos da cultura material do
povo da localidade identifica a influecircncia do homem no meio em que se vive
4223 Etnotopocircnimos
Uma das taxionomias de natureza antropocultural de maior ocorrecircncia nesta pesquisa
com o percentual de 40 (02) topocircnimos dos analisados foram os etnotopocircnimos topocircnimos
105
relativos a elementos eacutetnicos isolados ou natildeo sendo o ribeiratildeo Caiapoacute e ribeiratildeo Marataacute que
no decorrer satildeo apresentados nas fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 14
Topocircnimo Ribeiratildeo Caiapoacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia rio do E de Goiaacutes nome de uma tribo fam linguiacutestica Jecirc que habitou
a regiatildeo (p34)
cai-a-poacute (Tupi) S 1 indiviacuteduo de um povo indiacutegena de Mato Grosso Sm [Pl] 2 esse povo
(p217)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Corumbaacute (M de
Pires do Rio)
Referecircncias Tibiriccedila (1985) Borba (2004) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 15
Topocircnimo Ribeiratildeo Marataacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Marata ndash sm 1 indiviacuteduo dos maratas 2 liacutengua indo-europeia do ramo
indo-iraniano sub-ramo indo-aacuterico falada no Oeste e Centro da Iacutendia esp no Estado de
Maharashtra por aprox 50 milhotildees de pessoas Eacute uma das liacutenguas oficiais da Iacutendia Sacircnsc
mahaacuteraacutestra o grande reino pelo hind marhatta id
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas afluente da margem direita do ribeiratildeo Caiapoacute (M de Pires
do Rio)
Referecircncias Houaiss (2009) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
106
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Na justeza dos nomes podemos evidenciar que ao batizar o ribeiratildeo Caiapoacute o nomeador
se valeu de fatores antropoculturais em relaccedilatildeo aos iacutendios caiapoacutes lsquokayapoacutersquo que segundo fatos
da histoacuteria estiveram em terras goianas desta forma ao se valer do uso do topocircnimo a
motivaccedilatildeo para tal ato de batismo pode ser referente a esses povos terem influecircncias de alguma
forma sobre o nomeador no ato do batismo do topocircnimo
Jaacute o topocircnimo ribeiratildeo Marataacute traz em sua bases semacircnticas como i ldquoliacutengua indo-
europeiardquo ii ldquoindiviacuteduos dos maratasrdquo segundo Houaiss et al (2009) E possivelmente a
motivaccedilatildeo do designativo foi a influecircncia de grupos europeus que tambeacutem passaram por estas
terras jaacute que o paiacutes foi colonizado por Portugal e na formaccedilatildeo da sociedade goiano e piresina
terem a presenccedila de vaacuterias etnias inclusive europeia
Desta forma eacute evidente que os etnotopocircnimos estatildeo relacionados agrave presenccedila e influecircncia
de grupos de distintas etnias no Brasil visto que a histoacuteria local e nacional revelam a presenccedila
de vaacuterios povos na formaccedilatildeo do sociedade brasileira
4224 Sociotopocircnimos
Tomando por anaacutelise os topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais
de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma dada comunidade dentre os
sociotopocircnimos numa frequecircncia de 20 (01) dos topocircnimos analisados foi encontrado o
designativo ribeiratildeo Mucambo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 16
Topocircnimo Ribeiratildeo Mucambo Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Sociotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Mocambo sm lsquoesconderijo refuacutegio dos negros (escravos) fugidorsquo
1535 mocano Do quimb mursquokamu lsquoescondrijorsquo Embora se documente em vaacuterios textos
quinhentistas relativos aos antigos domiacutenios portugueses na Aacutefrica foi no Brasil que o voc
Se difundiu intensamente desde o periacuteodo colonial em decorrecircncia do intenso conviacutevio dos
brancos com os negros escravos da africanos (p431)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
107
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
O topocircnimo tem sua origem no termo mocambo que se refere a esconderijo de escravos
fugidos (CUNHA 2010) Possivelmente assim como jaacute observado nos fatores motivacionais
de outros topocircnimos a relaccedilatildeo de grupos eacutetnicos terem passado ou habitado na regiatildeo pode ter
influenciado na nomeaccedilatildeo do designativo Na regiatildeo observada viveram escravos negros que
formaram um comunidade rural desta forma podem ter influenciado o nomeador no ato do
batismo do ribeiratildeo Mucambo
A partir do sociotopocircnimo analisado observamos em Carvalhinhos (2003 p 172) que
Os atuais estudos onomaacutesticos no Brasil vecircm justamente resgatando a histoacuteria
social contida nos nomes de uma determinada regiatildeo partindo da etimologia
para reconstruir os significados e posteriormente traccedilar um panorama
motivacional da regiatildeo em questatildeo como um resgate ideoloacutegico do
denominador e preservaccedilatildeo do fundo de memoacuteria
Desta forma ao traccedilar um panorama dos topocircnimos analisados eacute elementar que o
nomeador ao longo das nomeaccedilotildees buscou em suas bases motivacionais preservar a memoacuteria
local seja nos fatores fiacutesicos e ou sociais Para configurar tais dados no proacuteximo subtoacutepico
analisaremos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados
43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos
Analisar as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos estratos linguiacutesticos antes de mais
nada eacute perceber as influecircncias das etnias que povoaram o nosso paiacutes e regiatildeo Sabemos que no
iniacutecio do seacuteculo XVI quando os povos lusoacutefonos chegaram em terras brasileiras os iacutendios jaacute
as habitavam embora fossem os donos da terra tatildeo logo os portugueses se instalaram e se
fizeram os novos donos Mas no decorrer dos seacuteculos outros povos foram chegando e tambeacutem
se instalando no local daiacute retiramos a origem dos estratos linguiacutesticos dos topocircnimos analisados
nesta pesquisa
De acordo com Dick (1992 p 81)
108
a formaccedilatildeo etno-histoacuterica do Brasil acusa a existecircncia de estratos
populacionais diversos como os ameriacutendios distribuiacutedos em vaacuterios troncos e
famiacutelias Os portugueses os africanos e os de procedecircncia estrangeira jaacute em
eacutepoca posterior agrave colonizaccedilatildeo propriamente dita Essa origem heterogecircnea
deixou reflexos diferenciados na liacutengua nos usos e costumes nas tradiccedilotildees
regionais e consequentemente na toponiacutemia do paiacutes
Perceber essa heterogeneidade linguiacutestica na formaccedilatildeo dos topocircnimos eacute fundamental
visto que dos 15 topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO a sua maioria
eacute de origem indiacutegena isso revela que apesar do processo de colonizaccedilatildeo e imposiccedilatildeo da liacutengua
portuguesa a liacutengua dos nativos ainda prevaleceu ao menos na designaccedilatildeo toponiacutemica E no
graacutefico abaixo apresentamos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados
Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos
Analisar as origens dos topocircnimos eacute reconhecer segundo Dick (2006) que a Toponiacutemia
pode conviver com dois movimentos vivenciados de linguagem i) a nativa (linguagem
indiacutegena) e ii) a advena ou seja de iacutendole civilizatoacuteria pois ambas colaboraram para a
formaccedilatildeo dos brasileirismos e regionalismos mas natildeo apenas presentes na liacutengua Podemos
assim constatar em nossas anaacutelises que o vivenciado de acordo com a linguagem ldquonativardquo foi
a que teve maior frequecircncia neste estudo
Observamos no graacutefico IV a frequecircncia das liacutenguas que deram origem aos 15 topocircnimos
dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO e no que se segue procedemos com as
anaacutelises e logo apoacutes a estrutura morfoloacutegica
005
115
225
335
445
5
OrigemEtimologia dos Topocircnimos
109
O topocircnimo coacuterrego Laranjal eacute de origem Aacuterabe a influecircncia dessa liacutengua em nossa
regiatildeo nos eacute evidenciada no iniacutecio do seacuteculo XX com a fundaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio-
GO os aacuterabes foram um dos primeiros imigrantes que aqui chegaram bem como tiveram um
destaque na aacuterea comercial possivelmente este topocircnimo tenha relaccedilotildees com esse fato No que
tange agrave frequecircncia a liacutengua Aacuterabe (esta liacutengua influenciou imensamente o leacutexico da Liacutengua
Portuguesa) corresponde a 7 (01) dos topocircnimos analisados
Ainda contatamos outras liacutenguas como a Hebraica ndash ribeiratildeo Sampaio Preacute-romana ndash
coacuterrego Barreiro Sacircnscrito ndash ribeiratildeo Marataacute e ainda de Origem Obscura ndash ribeiratildeo Bauacute
Cada uma dessas liacutenguas correspondem agrave frequecircncia de 7 (01) dos topocircnimos analisados
provavelmente as devidas nomeaccedilotildees se devem ao fato da vinda de pessoas de outros
continentes em busca de melhores condiccedilotildees de vida e assim contribuiacuterem com a formaccedilatildeo
dos designativos dos cursos drsquoaacutegua
Os dados da toponiacutemia brasileira em relaccedilatildeo agrave origem dos topocircnimos satildeo de origem da
Liacutengua Portuguesa devido a colonizaccedilatildeo jaacute que os povos lusoacutefonos aqui chegaram e segundo
Dick (1995 p 60)
os primeiros topocircnimos funcionavam portanto como verdadeiros ldquosign-
postsrdquo ou marcas semioacuteticas de identificaccedilatildeo dos lugares usadas com a
finalidade de distinguir as caracteriacutesticas de espaccedilos semelhantes uma forma
uma silueta o perfil de uma paisagem se apresentando como recortes de uma
corografia maior a ser detalhada
Os povos lusoacutefonos nomeavam os lugares de acordo com caracteriacutesticas do lugar
Assim os topocircnimos por nograves analisados ndash coacuterrego Brumado coacuterrego da Terra Vermelha
ribeiratildeo Cachoeira e rio do Peixe ndash satildeo de origem latina liacutengua que deu origem agrave Liacutengua
Portuguesa e entre os topocircnimos estudados referem ao percentual de 29 (04 topocircnimos) dos
analisados
No processo de colonizaccedilatildeo do Brasil os portugueses necessitavam de matildeo-de-obra
mas como natildeo tiveram ecircxito com os iacutendios entatildeo foi necessaacuterio a busca de outros povos com
isso trouxeram os escravos E no processo de nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de
Pires do Rio-GO a Liacutengua Portuguesa (Aacutefrica) um percentual de 7 (01) dos topocircnimos ndash
ribeiratildeo Mucambo ndash que eacute especificado como o local esconderijo de escravos fugitivos Haacute
relatos de que na regiatildeo da zona rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tem uma localidade
que foi constituiacuteda em sua maioria populacional por escravos provavelmente pode esse
topocircnimo ter sido influenciado por tal fato
110
Em sua maioria 36 (05) dos topocircnimos analisados satildeo de origem Tupi ndash coacuterrego
Caiapoacute coacuterrego Itauacutebi ribeiratildeo Taquaral rio Corumbaacute e rio Piracanjuba ndash e segundo Bearzoti
Filho (2002 p 43) ao tratar das designaccedilotildees de origem tupi assinala que ldquoem grande parte
trata-se de topocircnimos atribuiacutedos natildeo por iacutendios mas por bandeirantes que como jaacute vimos
utilizavam a liacutengua geral como idioma de comunicaccedilatildeo ordinaacuteria em suas expediccedilotildeesrdquo
E de acordo com Sampaio (1928 p 02)
ao europeu poreacutem ou aos seus descendentes cruzados que realizaram as
conquistas dos sertotildees eacute que se deve a maior expansatildeo do tupi como liacutengua
geral dentro das raias atuais do Brasil As levas que partiam do litoral a
fazerem descobrimentos falavam no geral o tupi pelo tupi designavam os
novos descobertos os rios as montanhas os proacuteprios povoados que fundavam
e que eram outras tantas colocircnias espalhadas nos sertotildees falando tambeacutem o
tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo
Ao firmar o ato de nomeaccedilatildeo das localidades constatamos que o tupi liacutengua de origem
do maior nuacutemero de topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO
possivelmente deve-se agrave influecircncia das seguintes relaccedilotildees a internalizaccedilatildeo de nomes de origem
tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para Goiaacutes e a presenccedila de iacutendios como jaacute
mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo viveram regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da
colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)
Ainda consoante Pereira (2009 p 27) observamos que
A toponiacutemia brasileira como um todo reuacutene uma grande quantidade de nomes
de base indiacutegena na nomeaccedilatildeo de acidentes geograacuteficos que evidenciam
marcas da presenccedila de vaacuterias etnias na nomenclatura geograacutefica brasileira Um
estudo toponiacutemico numa dimensatildeo etnolinguiacutestica analisa desde a origem
dos nomes ateacute as influecircncias socioculturais da populaccedilatildeo que habita o espaccedilo
geograacutefico em estudo na forma de nomear os acidentes fiacutesicos verificando se
no momento da designaccedilatildeo de um lugar o designador apropriou-se de nomes
cuja origem procedeu de estratos linguiacutesticos de base portuguesa ou de outras
liacutenguas que influenciaram a formaccedilatildeo do leacutexico do portuguecircs brasileiro
principalmente as liacutenguas indiacutegenas e africanas
Ao analisarmos os topocircnimos dos cursos drsquoagua do municiacutepio de Pires do Rio-GO
podemos constatar que em sua maioria as liacutenguas que lhe deram origem foram as indiacutegenas e a
latina as outras que representaram um percentual menor possivelmente estatildeo ligadas agrave vinda
de outras etnias que ajudaram na formaccedilatildeo populacional do Brasil e de Goiaacutes
111
44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos
Com vistas nos paracircmetros teoacuterico-metodoloacutegicos da pesquisa seguindo o que eacute
estabelecido por Dick (1992) ao que se refere a estrutura morfoloacutegica o topocircnimo pode ser
classificado como simples composto e composto hiacutebrido que de acordo Dick (1992 p 14)
ldquotopocircnimo que em sua estrutura haacute a presenccedila de duas bases linguiacutesticas distintas por exemplo
tupi + portuguecircsrdquo mas natildeo encontrado em nossa pesquisa A partir disto tomamos o graacutefico V
para procedermos com a anaacutelise
Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos
Dos 15 sintagmas toponiacutemicos catalogados uma representaccedilatildeo de 87 (13 topocircnimos)
satildeo de estrutura simples que no processo de nomeaccedilatildeo o nomeador utilizou apenas um
formante ou seja um elemento designativo Jaacute os compostos aparecem em um percentual de
13 (02 topocircnimos) formados por mais de um formante lexical
Ao trazermos essas informaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos topocircnimos observamos que
como uso de substantivos e adjetivos o denominador acaba por trazer caracteriacutesticas do local
onde nomes comuns passam a formar nomes proacuteprios e segundo Dick (2006 p 108)
o topocircnimo integraraacute natildeo uma categoria descritiva de nomes nem um iacutendice
cromaacutetico desvinculado de outras consideraccedilotildees culturais e sim o que
chamamos na teoria de nomes transplantados deslocados ou transferidos de
seu lugar de origem para outros pontos distantes formando uma nova
sequecircncia nominal
0
2
4
6
8
10
12
14
SIMPLES COMPOSTO
Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos
112
No processo de nomeaccedilatildeo o nomeador faz uso de designativos que aleacutem de sofrer
certos deslocamentos como jaacute mencionado de nome comum para nome proacuteprio haacute tambeacutem
casos de alguns topocircnimos sofrerem alteraccedilotildees em suas estruturas morfoloacutegicas como o caso
do designativo ribeiratildeo Mucambo que em suas origens traz a grafia de mocambo
No decorrer deste estudo e anaacutelises foi possiacutevel perceber que os topocircnimos aleacutem de
servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais da sociedade a
que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e costumes da sociedade E ao final foi
notoacuterio perceber nas liacutenguas que deram origem aos topocircnimos a estreita relaccedilatildeo com o
ambiente pois de alguma forma o nomeador obteve motivaccedilatildeo tanto do espaccedilo meio ambiente
como da liacutengua propriamente dita
113
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Ao propormos estudar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO tomamos por base caracterizar o ato de nomear e dele reiteramos e pode ser observado em
sua totalidade a relaccedilatildeo de poder pois nomear eacute instituir E eacute por meio do batismo do topocircnimo
que ele se instaura e revela as relaccedilotildees do meio ambiente com o homem eou do homem com
meio que o circunda As consideraccedilotildees finais ora apresentadas referem-se aos estudos
toponiacutemicos relacionados apenas ao contexto local desta pesquisa mas muito ainda haacute de ser
estudado na aacuterea em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia em Goiaacutes
Os objetivos da pesquisa constituem-se basicamente em descrever e analisar os
topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO observando
noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural Assim em
sua maioria os elementos fiacutesicos sobressaiacuteram sobre os demais pois no total de 15 topocircnimos
analisados um percentual de 67 (10 topocircnimos) foram motivados pelos aspectos fiacutesicos
sendo que os de origem vegetal fitotopocircnimos e animal zootopocircnimos tiveram maior
recorrecircncia Assim concretizamos que o ambiente influenciou o nomeador no ato do batismo
estabelecendo as relaccedilotildees entre liacutengua e ambiente inclusive com os aspectos extralinguiacutesticos
A maior incidecircncia de taxionomias de natureza fiacutesica nesta pesquisa demonstra a
tendecircncia do denominador de nomear os lugares com nomes dos elementos fiacutesicos da natureza
circundante numa constataccedilatildeo de que o meio ambiente exerce grande influecircncia sobre o
homem refletindo-se tambeacutem no processo de nomeaccedilatildeo dos lugares
Jaacute no que tange agraves taxionomias de natureza antropocultural em nossas anaacutelises com um
percentual de 33 (05 topocircnimos) os etnotopocircnimos que fazem referecircncia a elementos eacutetnicos
foram os com maior frequecircncia Observamos nas taxes de natureza antropocultural que os
fatores culturais foram os motivadores para a designaccedilatildeo dos topocircnimos analisados
evidenciando as relaccedilotildees do homem com o ambiente que o cerca Para tanto foi necessaacuterio
identificar os fatores que constituem a motivaccedilatildeo que subjazem agrave escolha do nome do lugar
que foi possibilitado por meio da caracterizaccedilatildeo de fatores sociais culturais histoacutericos que nos
auxiliaram nas anaacutelises dos topocircnimos
A hipoacutetese inicial da pesquisa foi de que pelo caraacuteter motivado o signo toponiacutemico
possibilita reconhecer fatores vinculados ao que subjaz agrave escolha dos nomes de lugares e assim
nos possibilitou o levantamento de fatores soacutecio-histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave
anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua como iacutendice de estreita relaccedilatildeo entre
liacutenguaambiente e cultura E pudemos observar que os topocircnimos estabelecem relaccedilotildees da
114
liacutengua e meio ambiente no que concerne agrave anaacutelise das taxionomias de natureza fiacutesica e a
posteriori as relaccedilotildees de liacutengua e cultura que foram evidenciadas nas taxionomias de natureza
antropocultural Nas taxes analisadas foi possiacutevel detectar que o ambiente e o contexto satildeo
fundantes nas motivaccedilotildees que subjazem aos topocircnimos analisados Desta forma entende-se que
um rio um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que uma vez nomeados passam a carregar as
inuacutemeras memoacuterias do lugar
Os fatores soacutecio-histoacutericos-culturais do municiacutepio de Pires do Rio-GO foram
imprescindiacuteveis no processo de anaacutelise dos designativos dos lugares pois no caso do topocircnimo
ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo ficou evidente que o fato motivador foi a relaccedilatildeo de poder
do nome devido ao ribeiratildeo ter sua nascente em terras que eram do coronel Lino Teixeira de
Sampaio e tambeacutem por ter sido ele o doador das terras em que surgiu o referido municiacutepio
Ao levantar as perguntas de pesquisa qual a origem dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da
cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do
lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo Apoacutes ter analisado os 15
topocircnimos fica evidente que todos os nomes estatildeo registrados nas cartas topograacuteficas e satildeo
oficializados pelo IBGE mas provavelmente os nomes foram dados pela comunidade que
habitou nas localidades ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas que foram levantadas nos designativos
fazendo referecircncia ao local
Por meio da caracterizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico
onomasioloacutegico que foi o norte da pesquisa combinado com outros meacutetodos como o Woumlrter
und Sachen (palavras e coisas) numa abordagem qualiquantitativa foi evidente na relaccedilatildeo da
toponiacutemia que os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos
lugares Nesse iacutenterim nos foi possiacutevel quantificar os topocircnimos em relaccedilatildeo as taxionomias
origem e estrutura morfoloacutegica percebendo as ocorrecircncias em maior frequecircncia
A anaacutelise do ponto de vista etnolinguiacutestico demonstrou a predominacircncia de topocircnimos
originaacuterios da liacutengua indiacutegena um percentual de 36 essa recorrecircncia eacute supostamente devido
agrave internalizaccedilatildeo de nomes de origem tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para
Goiaacutes e agrave presenccedila de iacutendios como jaacute mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo
viveram na regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e
consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)
A liacutengua latina que deu origem agrave liacutengua portuguesa aparece e 29 dos topocircnimos
analisados isso devido aos povos lusoacutefonos que nomeavam os lugares com as caracteriacutesticas
que se estabeleciam com os referidos locais por eles percorridos e habitados E tambeacutem outras
liacutenguas tiveram uma menor frequecircncia como a aacuterabe hebraica preacute-romana sacircnscrito e
115
tambeacutem um topocircnimo de origem obscura fica evidente que outras etnias influenciaram na
nomeaccedilatildeo dos lugares Pode ser pelo fato de o nomeador pertencer a etnia ou ter alguma relaccedilatildeo
indireta
Quanto agrave estrutura morfoloacutegica do toacutepico de acordo com Dick (1992) dos analisados
87 satildeo de formaccedilatildeo simples tendo apenas um formante e 13 satildeo compostos com dois
formantes lexicais assim os compostos revelam mais de uma caracteriacutestica do local nomeado
e caracteriza mais de uma taxionomia
De forma peculiar esta pesquisa aleacutem de proceder com as anaacutelises de classificaccedilatildeo
origemetimologia morfoloacutegica e semacircntico-toponiacutemicas remapeou e cartografou os cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO sem mencionar no revisitar da formaccedilatildeo histoacuterica
deste municiacutepio e da contribuiccedilatildeo com os estudos toponiacutemicos no estado de Goiaacutes
Os topocircnimos aleacutem de servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas
fiacutesicas e sociais da sociedade a que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e
costumes dessa sociedade E ao perceber essas relaccedilotildees de liacutenguaambiente e cultura na
designaccedilatildeo do topocircnimo eacute que propomos para discussatildeo futura doutorado a partir da
ecolinguiacutestica e da toponiacutemia proceder com a anaacutelise da relaccedilatildeo de liacutengua e meio ambiente nos
hidrocircnimos das bacias hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes
116
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Karylleila dos Santos Atlas toponiacutemico de origem indiacutegena do estado do
Tocantins ATITO Goiacircnia-GO Ed PUC Goiaacutes 2010
ALMEIDA Lana Cristina Santana de O leacutexico toponiacutemico das comunidades rurais de Santo
Antocircnio de Jesus uma anaacutelise semacircntica e sociocultural 2012 188f Dissertaccedilatildeo (Mestrado
em Liacutengua e Cultura) ndash Universidade Federal da Bahia Salvador-BA 2012
AULETE Caldas Dicionaacuterio escolar da liacutengua portuguesa 3ordf ed Rio de Janeiro-RJ
Lexikon 2011
BASSETTO Bruno Fregni Elementos de Filologia Romacircnica histoacuteria Externa das Liacutenguas
Romacircnicas V1 2ed Satildeo Paulo-SP EDUSP 2013
______ Elementos de filologia romacircnica histoacuteria externa das liacutenguas Satildeo Paulo-SP Editora
da Universidade de Satildeo Paulo 2001
BEARZOTI FILHO Paulo Formaccedilatildeo linguiacutestica do Brasil Curitiba-PR Nova Didaacutetica
2002
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia Sagrada Traduccedilatildeo Centro Biacuteblico Catoacutelico 100ordf ed rev Satildeo
Paulo-SP Ave Maria 1995
BIDERMAN Maria Tereza Camargo Dimensotildees da palavra Filologia e Linguiacutestica
Portuguesa Araraquara-SP n 2 p 81-118 1998
BORBA Francisco da Silva (Org) Dicionaacuterio UNESP do portuguecircs contemporacircneo Satildeo
Paulo-SP UNESP 2004
BORGES Barsanufo Gomides O despertar dos dormentes estudo sobre a Estrada de
Ferro de Goiaacutes e seu papel nas transformaccedilotildees das estruturas regionais 1909-1922
Goiacircnia-GO Cegraf 1990
BOSI Alfredo Plural mas natildeo caoacutetico In ______ (Org) Cultura Brasileira temas e
situaccedilotildees Satildeo Paulo-SP Editora Aacutetica 1987 p 7-15
BRASIL Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Pires do Rio-GO folha SE-22-X-III Escala 1100 000 1973
______ Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Ipameri-GO folha SE-22-X-VI Escala 1100 000 1973
______ Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Cristianoacutepolis-GO folha SE-22-X-II Escala 1100 000 1973
CABRAL Joatildeo de Pina Matildees pais e nomes no baixo sul (Bahia Brasil) In ______ VIEGAS
Susana de Matos Nomes geacutenero etnicidade e famiacutelia Coimbra-Portugal Almedina 2007 p
63-87
117
CAcircMARA JR Joaquim Mattoso Histoacuteria da Linguiacutestica 6ordf ediccedilatildeo Petroacutepolis-RJ Editora
Vozes LTDA 1975
______ Liacutengua e cultura Revista Letras Londrina-PR v 4 p 50 - 59 1955 Disponiacutevel em
lthttpojsc3slufprbrojsindexphpletrasarticleview2004613227gt Acesso em 30 set
2015
CAMPBELL Lyle Historical Linguistics An Introduction 2 ed Cambrige-EUA MIT
2004
CARVALHINHOS Patriacutecia de Jesus Onomaacutestica e lexicologia o leacutexico como catalisador de
fundo de memoacuteria Estudo de caso os sociotopocircnimos de Aveiro (Portugal) Revista USP Satildeo
Paulo-SP n 56 p 172-179 2003 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevistasuspbrrevusparticleview33819gt Acesso em 13 jan 2016
______ Antroponiacutemia Um velho caminho um novo instrumental de anaacutelise linguiacutestico-
literaacuteria Revista Aacutelvares Penteado Satildeo Paulo-SP v 4 n 8 p 115-135 2002
COSERIU Eugecircnio O homem e sua linguagem Trad Carlos Alberto da Fonseca e Maacuterio
Ferreira Satildeo Paulo-SP Edusp 1982
______ Princiacutepios de semaacutentica estructural Madrid-Espanha Gredos 1977
COUTO Hildo Honoacuterio do Onomasiologia e semasiologia revisitadas pela
ecolinguiacutestica Revista de Estudos da Linguagem Belo Horizonte-MG v 20 n 2 p 183-
210 2012 Disponiacutevel em
lthttpperiodicosletrasufmgbrindexphprelinarticleview2748gt Acesso em 13 jan 2016
______ Ecolinguiacutestica - estudo das relaccedilotildees entre liacutengua e meio ambiente Brasiacutelia-DF
Thesaurus 2007
CROWLEY Terry An Introduction to Historical Linguistics 3 ed Oxford-EUA Oxford
University 2003
CRYSTAL David Pequeno tratado da linguagem humana Traduccedilatildeo Gabriel Perisseacute Satildeo
Paulo-SP Saraiva 2012
CUNHA Antocircnio Geraldo da Dicionaacuterio etimoloacutegico da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro-
RJ Lexikon 2010
CUNHA Celso A magia da palavra In ______ Sob a pele das palavras Rio de Janeiro-RJ
Nova Fronteira Academia Brasileira de Letras 2004 p 217-233
DIAS Ana Lourdes Cardoso Toponiacutemia dos antigos arraiais tocantinense 2016 207f Tese
(Doutorado em Letras e Linguiacutestica) ndash Universidade Federal de Goiacircnia Faculdade de Letras
Goiacircnia-GO 2016
DIAS Cristiane Mapeamento do municiacutepio de Pires do Rio-GO usando teacutecnicas de
geoprocessamento 2008 187f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Federal
de Uberlacircndia Uberlacircndia-MG 2008
118
Dicionaacuterio de nomes proacuteprios Significado dos nomes sd Disponiacutevel em
lthttpswwwdicionariodenomesproprioscombrsampaiogt Acesso em 06 jul 2016
DICK Maria Vicentina de Paula do Amaral Fundamentos teoacutericos da Toponiacutemia Estudo de
caso O Projeto ATEMIG ndash Atlas Toponiacutemico do Estado de Minas Gerais (variante regional do
Atlas Toponiacutemico do Brasil) In SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa (Org) O leacutexico
em estudo Belo Horizonte-MG Faculdade de Letras da UFMG 2006 p 91-117
______ Rede de conhecimento e campo lexical hidrocircnimos e hidrotopocircnimos na onomaacutestica
brasileira In ISQUERDO Aparecida Negri KRIEGER Maria da Graccedila As ciecircncias do
leacutexico lexicologia lexicografia e terminologia Vol II Campo Grande-MT Editora da UFMS
2004 p 121-130
______ O sistema onomaacutestico bases lexicais e terminoloacutegicas produccedilatildeo e frequecircncia In
OLIVEIRA Ana Maria Pinto Pires ISQUERDO Aparecida Negri (orgs) As ciecircncias do
leacutexico lexicologia lexicografia terminologia 2 ed Campo Grande-MS UFMS 2001 p 77-
88
______ A Investigaccedilatildeo Linguiacutestica na Onomaacutestica Brasileira Estudos de Gramaacutetica
Portuguesa III Frankfurt am Main Volume III 2000 p 217-239
______ Meacutetodos e questotildees terminoloacutegicas na onomaacutestica Estudo de caso o Atlas
Toponiacutemico do Estado de Satildeo Paulo Investigaccedilotildees Linguiacutestica e Teoria Literaacuteria Recife-PE
v 9 p 119-148 1999
______ A dinacircmica dos nomes da cidade de Satildeo Paulo 1554-1987 Satildeo Paulo-SP
ANNABLUME 1996
______ O leacutexico toponiacutemico marcadores e recorrecircncias linguiacutesticas (Um estudo de caso a
toponiacutemia do Maranhatildeo) Revista Brasileira de Linguiacutestica Satildeo Paulo-SP editora Plecirciade v
8 ndash n 1 p 59-68 1995
______ Toponiacutemia e Antroponiacutemia no Brasil Coletacircnea de Estudos Satildeo Paulo-SP Serviccedilo
de Artes GraacuteficasFFLCHUSP 1992
______ A Motivaccedilatildeo Toponiacutemica e a Realidade Brasileira Satildeo Paulo-SP Ediccedilotildees Arquivo
do Estado 1990
DUBOIS Jean et al Dicionaacuterio de linguiacutestica Satildeo Paulo-SP Cultrix 2004
FARACO Carlos Alberto Linguiacutestica Histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo da histoacuteria das
liacutenguas Satildeo Paulo-SP Paraacutebola Editorial 2006
FERREIRA Aroldo Maacutercio Urbanizaccedilatildeo e arquitetura na regiatildeo da estrada de ferro Goiaacutes
ndash E F Goiaacutes cidade de Pires do Rio um exemplar em estudo 1999 278f Dissertaccedilatildeo
(Mestrado em Histoacuteria das Sociedades Agraacuterias) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Faculdade
de Ciecircncias Humanas e Filosofia Goiacircnia-GO 1999
119
FIORIN Joseacute Luiz A linguagem humana do mito agrave ciecircncia In ______ Linguiacutestica Que eacute
isso Satildeo Paulo-SP Contexto 2013 p 13-43
FRAZER James George The golden bough 3 ed Nova Iorque-USA The MacMillan
Company 1951
GEERTZ Clifford A interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro-RJ Zahar 1973
GUIMARAtildeES Eduardo Semacircntica do acontecimento um estudo enunciativo da designaccedilatildeo
2ordf ed Campinas-SP Pontes 2005
GUIRAUD Pierre A semacircntica Rio de Janeiro-RJ Bertrand Brasil 1986
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello
Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro-RJ Objetiva Versatildeo
monousuaacuterio 30 1 [CD-ROM] 2009
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles Dicionaacuterio Houaiss da liacutengua portuguesa
Rio de Janeiro-RJ Objetivo 2004
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521740ampidtema=16ampsear
ch=goias|pires-do-rio|sintese-das-informacoesgt Acesso em 27 maio 2016
______ Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros Vol II Rio de Janeiro-RJ 1957
IMB ndash Instituto Mauro Borges de estatiacutesticas e estudos socioeconocircmicos Disponiacutevel em
ltwwwimbgogovbrgt Acesso em 29 maio 2016
ISQUERDO Aparecida Negri SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Apontamentos
sobre hidroniacutemia e hidrotoponiacutemia na fronteira entre Mato Grosso do Sul e Minas Gerais In
ISQUERDO Aparecida Negri (Org) As Ciecircncias do Leacutexico Lexicologia Lexicografia
Terminologia Campo Grande-MS Ed UFMS 2010 p 79-98
KRISTEVA Julia Histoacuteria da linguagem Traduccedilatildeo Margarida Barahona Lisboa-Portugal
Ediccedilotildees 70 Lda 2007
LIMA Antoacutenia Pedroso de Intencionalidade afecto e distinccedilatildeo as escolhas de nomes em
famiacutelias de elite de Lisboa In CABRAL Joatildeo de Pina VIEGAS Susana de Matos Nomes
geacutenero etnicidade e famiacutelia Coimbra-Portugal Almedina 2007 p 39-61
LOacutePEZ Laura Aacutelvarez Nomes pessoais e praacuteticas de nomeaccedilatildeo agrave sombra da escravidatildeo In
BORBA Lilian do Rocio LEITE Cacircndida Mara Brito (Orgs) Diaacutelogos entre liacutengua cultura
e sociedade Campinas-SP Mercado das Letras 2013 p 139-171
MAURER JR Theodoro Henrique Linguiacutestica Histoacuterica Alfa Revista de Linguiacutestica Satildeo
Joseacute do Rio Preto-SP v 11 p 19-42 1967
MENEZES Paulo Maacutercio Leal SANTOS Claacuteudio Joatildeo Barreto dos SANTOS Beatriz
Cristina Pereira dos Geoniacutemia e a cartografia histoacuterica um estudo sobre os nomes da
120
hidrografia Fluminense In III SIMPOacuteSIOBRASILEIRO DE CIEcircNCIAS GEODEacuteSICAS
E TECNOLOGIAS DA GEOINFORMACcedilAtildeO 2010 Recife-PE 2010 p 1-8
NOGUEIRA Wilson Cavalcanti Incidente em Pires do Rio Goiacircnia-GO Kelps sd
NOVAIS Simone Francisca de Avicultura Industrial e Reestruturaccedilatildeo Produtiva os
produtores integrados no municiacutepio de Pires do Rio (GO) 2014 150f Dissertaccedilatildeo (Mestrado
em Geografia) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo Catalatildeo-GO 2014
OGDEN Charles Kay RICHARDS Ivor Armstrong O significado do significado um estudo
da influecircncia da linguagem sobre o pensamento e sobre a ciecircncia do simbolismo Rio de Janeiro-
RJ Zahar 1972
PAIXAtildeO DE SOUSA Maria Clara Linguiacutestica Histoacuterica In NUNES Joseacute Horta PFEIFFER
Claudia (Orgs) Introduccedilatildeo agraves Ciecircncias das Linguagens Linguagem Histoacuteria e
Conhecimento Campinas-SP Pontes 2006 p 11-48
PARKIN David The politicx of naming among the Giriama Sociological Review
Monograph 36 p 61-89 1989
PAULA Maria Helena de Rastros de velhos falares leacutexico e cultura no vernaacuteculo catalano
2007 521f Tese (Doutorado em Linguiacutestica e Liacutengua Portuguesa) ndash Universidade Estadual
Paulista Faculdade de Ciecircncias e Letras Campus de Araraquara Araraquara-SP 2007
PEREIRA Renato Rodrigues A toponiacutemia de Goiaacutes em busca da descriccedilatildeo de nomes de
lugares de municiacutepios do sul goiano 2009 204f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Estudos da
Linguagem) ndash Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Centro de Ciecircncias Humanas e
Sociais Campo Grande-MS 2009
PIEL Joseph Consideraccedilotildees gerais sobre toponiacutemia e antroponiacutemia galegas Verba sl v 6
p 5-11 1979 Disponiacutevel em ltdspaceuscesbitstream1034735561pg_007-014_verba6gt
Acesso em 23 mar 2016
PIERCE Charles Sanders Semioacutetica Traduccedilatildeo Joseacute Teixeira Neto Satildeo Paulo-SP
Perspectiva 2005
PLATAtildeO Craacutetilo Lisboa-Portugal Instituto Piaget 2001
RAMOS Ricardo Tupiniquim BASTOS Gleyce Ramos Onomaacutestica e possibilidades de
releitura da histoacuteria Revista Augustus Rio de Janeiro-RJ ano 15 n30 p 86-92 2010
ROCHA Juacutelio Ceacutesar Barreto GALVAtildeO Elis Monique Vasconcelos GONCcedilALVES
Mauriacutecio Costa Onomaacutestica uma ciecircncia para a autoidentificaccedilatildeo de Rondocircnia Revista
Pesquisa amp Criaccedilatildeo (UNIR) Porto Velho-RO v 10 n 1 p 25-34 janjun 2011 Disponiacutevel
em lthttpwwwperiodicosunirbrindexphppropesqarticleviewFile405440gt Acesso em
10 jun 2016
SAMPAIO Theodoro O Tupi na geografia nacional Salvador-BA Secccedilatildeo Graphica da
Escola de Aprendizes Artificies 1928
121
______ O Tupi na Geographia Nacional Memoria lida no Instituto Histoacuterico e Geographico
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo-SP Typ da Casa Eclectica 1901
SAPIR Edward A Linguagem Satildeo Paulo-SP Perspectiva 1980
______ Linguiacutestica como ciecircncia Rio de Janeiro-RJ Livraria Acadecircmica 1969
SAUSSURE Ferdinand de Curso de Linguiacutestica Geral 30ordf ed Satildeo Paulo-SP Cultrix 2008
SIQUEIRA Gisele Martins AGUIAR Maria Sueliacute de Linguiacutestica histoacuterica comparativa e
formaccedilatildeo do leacutexico da liacutengua portuguesa In II Simpoacutesio Nacional de Letras e Linguiacutestica I
Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica Linguagens Histoacuteria e Memoacuteria (25 anos
do curso de Letras Campus Catalatildeo) Catalatildeo-GO p 381-394 2011
______ Campos leacutexicos dos falares rurais de Goiaacutes Mato Grosso Minas Gerais e Satildeo
Paulo sd Disponiacutevel em
lthttpwwwsbpcnetorgbrlivro63raconpeexmestradotrabalhos-mestradomestrado-gisele-
martinspdfgt Acesso em 01 fev 2016
SIQUEIRA Jacy Um contrato singular e outros ensaios de Histoacuterias de Goiaacutes Goiacircnia-
GO Kelps 2006
SIQUEIRA Kecircnia Mara de Freitas O leacutexico tupi na nomeaccedilatildeo dos lugares goianos 2015
Mimeografado
______ Toponiacutemia Kalunga aspectos da inter-relaccedilatildeo liacutengua povo e territoacuterio Via Litterae
Anaacutepolis-GO n 7 v 1 p 61-75 janjun 2015 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevistauegbrindexphpvialitteraegt Acesso em 15 set 2016
______ Nos trilhos da estrada de ferro reminiscecircncias de motivaccedilotildees toponiacutemicas Revista da
ANPOLL Satildeo Paulo-SP v 1 n 32 p 150-170 2012 Disponiacutevel em
ltwwwanpollorgbrrevistagt Acesso em 10 jun 2015
SILVA Antocircnio Moreira da Dossiecirc de Goiaacutes ndash Enciclopeacutedia Regional um compecircndio de
informaccedilotildees sobre Goiaacutes sua histoacuteria e sua gente Rio de Janeiro-RJ Sindicato Nacional dos
Editores de Livros 2001
SILVA Augusto Soares da Palavras significados e conceitos o significado lexical na mente
na cultura e na sociedade Cadernos de Letras da UFF Dossiecirc Letras e cogniccedilatildeo n 41 p 27-
53 2010 Disponiacutevel em ltwwwuffbrcadernosdeletrasuff41artigo1pdfgt Acesso em 06
maio 2015
SILVA Joseacute Maria da SILVEIRA Emerson Sena da Apresentaccedilatildeo de trabalhos
acadecircmicos 2 ed Petroacutepolis-RJ Vozes 2007
SILVA Tomaz Tadeu da Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais
Petroacutepolis-RJ Vozes 2000
SOARES Francisco Accioli Martins Pontos Histoacutericos de Pires do Rio Goiacircnia-GO Graacutefica
e Editora Piloto 1988
122
SOLIacuteS Gustavo Fonseca La gente pasa los nombres quedan Introduccioacuten en la Toponiacutemia
Lima-Peru Ed Lengua e Sociedad 1997
TIBIRICcedilA Luiz Caldas Dicionaacuterio de topocircnimos brasileiros de origem tupi Santos-SP
Traccedilo Editora 1985
TRASK Robert Lawrence Dicionaacuterio de Linguagem e Linguiacutestica Traduccedilatildeo Rodolfo Ilari
Satildeo Paulo-SP Contexto 2006
WHORF Benjamin Lee Lenguage Pensamiento y Realidad Barcelona-Espanha Barral
Editores 1971
ZAVAGLIA Claacuteudia Metodologia em Ciecircncias da Linguagem Lexicografia In
GONCcedilALVES Adair Vieira GOacuteIS Marcos Luacutecio de Sousa (Orgs) Ciecircncias da linguagem
o fazer cientiacutefico Campinas-SP Mercado das Letras 2012 p 231-264
CLEBER CEZAR DA SILVA
OS CURSOS DrsquoAacuteGUA DE PIRES DO RIO ANAacuteLISE DAS MOTIVACcedilOtildeES
TOPONIacuteMICAS
Aprovado por
__________________________________________
Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Universidade Estadual de Goiaacutes ndash Cacircmpus Pires do Rio
Orientadora
__________________________________________
Vanessa Regina Duarte Xavier
Universidade Federal de Goiaacutes ndash Regional Catalatildeo
__________________________________________
Karylleila dos Santos Andrade
Universidade Federal do Tocantins ndash Cacircmpus Palmas
Catalatildeo-GO 20 de Janeiro de 2017
Decido este trabalho a Deus aos eternos amantes
da Toponiacutemia e agravequela que desde sempre eacute meu
alicerce e a maior incentivadora minha matildee
Nelica Antocircnia Pereira da Silva
AGRADECIMENTOS
ldquoE agora eis o que diz o Senhor aquele que te criou Jacoacute e te formou Israel nada
temas pois eu te resgato eu te chamo pelo nome eacutes meurdquo (ISAIacuteAS 431) Senhor de Israel
foi por chamar-me pelo nome eacute que constitui esta graccedila sem o Seu amor e graccedila eu nada seria
pois colocou-me em peacute quando pensava natildeo mais conseguir caminhar e de amparo me enviaste
o Espiacuterito Santo e a Virgem Maria graccedilas rendo agrave Santiacutessima Trindade e agrave Virgem por
caminharem comigo e natildeo me deixar perder no caminho
ldquoOs filhos satildeo heranccedila do Senhor uma recompensa que ele daacute Como flechas nas matildeos
do guerreiro satildeo os filhos nascidos na juventude Como eacute feliz o homem que tem a sua aljava
cheia deles Natildeo seraacute humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunalrdquo (SALMO 1273-
5) Famiacutelia o que seria de mim sem vocecircs nada Matildee e pai sempre com amor mesmo que
velado souberam educar seus dois filhos na dignidade para que se constituiacutessem verdadeiros
homens e de bem Mesmo com as dificuldades da vida em momento algum se abateram foram
fieacuteis agrave missatildeo designada de serem pais a vocecircs minha eterna gratidatildeo e se hoje concretizo esta
fase em minha vida ela eacute tatildeo minha quanto de vocecircs muito obrigado Amo vocecircs
As relaccedilotildees de afeto e cuidado sempre foram o nosso maior elo a vocecircs que sempre
torceram por mim e a cada conquista vibraram intensamente obrigado meu irmatildeo cunhada
sobrinha afilhados tios primos padrinhos e a matriarca de nossa famiacutelia minha adorada avoacute
Que Deus continue fazendo de noacutes uma famiacutelia de princiacutepios e sempre grata a Ele por tudo
ldquoO amigo ama em todos os momentos eacute um irmatildeo na adversidaderdquo (PROVEacuteRBIOS
1717) Amigos famiacutelia que a vida me deu de presente mencionar nomes aqui seria muito
injusto cada um com seu jeito e adversidade me ensinaram que a vida natildeo se resume apenas
em bons momentos pois estiveram comigo em momentos nada agradaacuteveis souberam respeitar
o meu silecircncio minhas ausecircncias e o melhor vibraram comigo todos os momentos desta
conquista a vocecircs meus ldquoirmatildeos na adversidaderdquo muito obrigado
Aos colegas e amigos do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem
Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo nos encontros da vida sempre tecircm surpresas
a melhor de todas foi poder construir com muitos de vocecircs verdadeiros laccedilos de amizade que
iratildeo perpetuar para todo sempre soacute posso neste momento agradecer pelos momentos de troca
de experiecircncias e conhecimento e desejar sucesso a todos
ldquoO ensino dos saacutebios eacute fonte de vida e afasta o homem das armadilhas da morterdquo
(PROVEacuteRBIOS 1314) Ensinar eis o dom com tanta dedicaccedilatildeo e carinho muitos mestres
conduziram-me ateacute aqui e foi com a graccedila do ensino dos saacutebios eacute que natildeo caiacute nas armadilhas
pois tambeacutem me tornei saacutebio Professora doutora eterna orientadora Kecircnia Mara de Freitas
Siqueira nenhuma palavra eacute capaz de expressar a gratidatildeo que tenho por vocecirc foram anos de
ensinamentos e agora se concretizam com mais esta fase sou e serei eternamente grato por me
apresentar a Toponiacutemia pois ela me levaraacute a mais um degrau no meio acadecircmico Obrigado
por tudo Deus lhe pague
Aos professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem
Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo que muito contribuiacuteram para a construccedilatildeo
desta pesquisa Fabiacuteola Aparecida Sartin Dutra Parreira Almeida Maria Helena de Paula e
Vanessa Regina Duarte Xavier A professora Vivian Regina Orsi Galdino de Souza do
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio
de Mesquita Filhordquo cacircmpus Satildeo Joseacute do Rio Preto-SP obrigado pelos seus vastos ensinamentos
e por permitir que cursasse a disciplina ldquoIntroduccedilatildeo aos Estudos Lexicograacuteficosrdquo Mestres
obrigado pelos ensinamentos e momentos de descontraccedilatildeo e alegria vocecircs foram capazes de
mostrar que o universo da pesquisa tambeacutem se constitui na felicidade e prazer
ldquoTodo trabalho aacuterduo traz proveito mas o soacute falar leva agrave pobrezardquo (PROVEacuteRBIOS
1423) O trabalho dignifica o homem palavras estas do livro da vida a biacuteblia sagrada Minha
vida desde a infacircncia foi pautada no estudo e no trabalho assim todos os trabalhos que tive me
possibilitaram crescer enquanto ser humano e profissional Registro aqui os meus mais sinceros
agradecimentos aos colegas e amigos do Coleacutegio Estadual Professor Ivan Ferreira minha eterna
casa pois foi laacute que tive o prazer em estudar e depois retornar como profissional inclusive ser
gestor deste honrado estabelecimento de ensino Aos colegas e amigos do Instituto Federal
Goiano ndash Campus Urutaiacute obrigado por permitirem dividir com vocecircs este espaccedilo de
conhecimento e aprendizado
A banca examinadora deste trabalho professores Karylleila dos Santos Andrade
Vanessa Regina Duarte Xavier e Alexandre Antoacutenio Timbane registro os meus mais sinceros
agradecimentos pelas valorosas contribuiccedilotildees no Exame de Qualificaccedilatildeo e agora na defesa deste
trabalho Deus lhes pague
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de
Goiaacutes Regional Catalatildeo na pessoa da coordenadora Luciana Borges obrigado por dar
possiblidades que novos pesquisadores se formem no acircmbito dos estudos da linguagem
Enfim sozinho natildeo sou nada sempre necessitarei de outros por isso a todos os que
foram meu alicerce para a concretizaccedilatildeo de mais esta etapa em minha vida algo sonhado haacute
muito tempo receba o meu muito obrigado e Deus lhes pague
ldquoO nome eacute um certo sentido a proacutepria coisa dar
nome agraves coisas eacute conhececirc-las e apropriar-se
delas a denominaccedilatildeo eacute o ato da posse espiritualrdquo
(MIGUEL UNAMUNO)
RESUMO
Esta pesquisa centra-se nos estudos toponiacutemicos e tem como objetivo descrever e analisar a
origemetimologia morfoloacutegica e semanticamente dos topocircnimos da hidrografia da cidade de
Pires do Rio-GO para identificar as relaccedilotildees entre esses designativos de lugares e respectivos
fatores contextuais que por ventura possam conter indiacutecios da motivaccedilatildeo toponiacutemica O
levantamento dos topocircnimos foi feito por meio de documentos oficiais mapas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Instituto Mauro Borges (IBM) numa escala de
1100000 e das cartas topograacuteficas A pesquisa eacute de base documental numa abordagem
qualiquantitativa O meacutetodo da pesquisa eacute o onomasioloacutegico e indutivo parte-se de casos
particulares para uma verdade geral combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica de
estudo das designaccedilotildees com o objetivo de analisar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito
A anaacutelise do corpus da pesquisa deu-se apoacutes o levantamento dos 46 topocircnimos dos cursos
drsquoaacutegua dentre os quais 15 satildeo analisados neste estudo Nesse sentido parte-se do princiacutepio de
que o signo toponiacutemico eacute motivado pois fatores extralinguiacutesticos influenciam o nomeador no
ato de nomear na perspectiva de que a liacutengua recorta a realidade agrave sua maneira (Sapir-Whorf)
sendo que a proacutepria liacutengua eacute um depositaacuterio de cultura assim os topocircnimos revelam fatores
soacutecio-histoacuterico-culturais do lugar que o nomeia A histoacuteria e a geografia do municiacutepio de Pires
do Rio-GO foram fundantes para as anaacutelises que nas bases onomasioloacutegicas e indutivas
evidenciam que o local e suas caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais influenciam o nomeador no ato
do batismo do topocircnimo Perceber as relaccedilotildees de nomeaccedilatildeo e nomeador satildeo fatores que por
meio das classificaccedilotildees taxionocircmicas satildeo revelados sem deixar de perceber tambeacutem que a
origem dos nomes e sua estrutura morfoloacutegica evidencia os fatores contextuais a que da liacutengua
cultura e ambiente estatildeo impregnados no topocircnimo isso tudo agrave vista de quem o designou
Palavras-Chave Toponiacutemia Liacutengua Cultura Pires do Rio Hidrografia
ABSTRACT
This research focuses on the toponymic studies and aims to describe and analyze the origin of
the names morphological and semantic of designatory toponyms of the hydrography of Pires
do Rio-GO city to identify the relations between these designative places and their respective
contextual factors which may by chance contain indications of toponymic motivation The
research of the toponyms was done by means of official documents maps of the Brazilian
Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Mauro Borges Institute (IBM) on a scale of
1 100000 and topographic maps The research is documentary based in a qualitative and
quantitative approach the research method is the onomasiological method combined with other
methods which consists of the study of designations with the purpose of studying the various
names attributed to a concept The analysis of this researchrsquos corpus took place after the survey
of the 46 toponyms of the watercourses from which 15 are analyzed in this study In this sense
it is assumed that the toponymic sign is motivated once extralinguistic factors influence the
nominator in the act of naming in the perspective that the language outlines reality in its own
way (Sapir-Whorf) and the language itself is a depository of culture thus toponyms reveal
socio-historical-cultural factors of the place that names it The history and geography of Pires
do Rio-GO city was the basis for the analyzes which on the onomasiological bases show that
the place and its physical and social characteristics influence the nominator in the moment of
the toponym baptism To perceive naming and nominator relationships are factors that are
revealed through the taxonomic classifications noticing at the same time that the origin of the
names and their morphological structure reveals the contextual factors that are impregnated in
the toponymy of the language culture environment aspects from the point of view of who
appointed it
Keywords Toponymy Language Culture Pires do Rio Hydrography
LISTA DE ABREVIATURAS
ATEGO ndash Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes
ATB ndash Atlas Toponiacutemico Brasileiro
DSG ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito
ETE ndash Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto
FCA ndash Ferrovia Centro Atlacircntica
GO ndash Goiaacutes
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IBM ndash Instituto Mauro Borges
IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano
M ndash Municiacutepio
PEA ndash Populaccedilatildeo Economicamente Ativa
RFFSA ndash Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima
SD ndash Sem data
SE ndash Secccedilatildeo
LISTA DE FICHAS
Ficha 01 ndash Pires do Riohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip67
Ficha 02 ndash Coacuterrego Laranjal89
Ficha 03 ndash Ribeiratildeo Taquaralhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip90
Ficha 04 ndash Ribeiratildeo Cachoeirahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip91
Ficha 05 ndash Coacuterrego Barreiro93
Ficha 06 ndash Coacuterrego Terra Vermelha94
Ficha 07 ndash Coacuterrego Itauacutebi96
Ficha 08 ndash Ribeiratildeo Brumado96
Ficha 09 ndash Rio Corumbaacute98
Ficha 10 ndash Rio do Peixe98
Ficha 11 ndash Rio Piracanjuba99
Ficha 12 ndash Ribeiratildeo Sampaio101
Ficha 13 ndash Ribeiratildeo Bauacute104
Ficha 14 ndash Ribeiratildeo Caiapoacute105
Ficha 15 ndash Ribeiratildeo Marataacute105
Ficha 16 ndash Ribeiratildeo Mucambo106
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 ndash Natureza das Taxionomias87
Graacutefico 2 ndash Taxionomias de Natureza Fiacutesica88
Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural101
Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos108
Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos111
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 ndash Pires do Rio(GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio(GO)74
Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)83
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo44
Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos57
Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Recenseamento 76
Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Contagem 76
Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio(GO) 77
Quadro 6 ndash Os cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO) 78
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO20
I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO 25
11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear 25
12 Liacutengua e Cultura 33
13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes 39
14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica 43
15 Linguiacutestica Histoacuterica 47
II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS 51
21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos 51
212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica 53
22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia 57
III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO 66
31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte 66
32 Pires do Rio geograacutefico 74
33 Os cursos daacutegua 78
IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR81
41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural 84
42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos daacutegua de Pires do Rio-GO 87
421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos88
4211 Fitotopocircnimos89
4212 Hidrotopocircnimos91
4213 Litotopocircnimos93
4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos94
4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos95
4216 Meteorotopocircnimos96
4217 Zootopocircnimos97
422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos100
4221 Antropotopocircnimos101
4222 Ergotopocircnimos103
4223 Etnotopocircnimos104
4224 Sociotopocircnimos106
43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos107
44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos111
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS113
REFEREcircNCIAS 116
20
INTRODUCcedilAtildeO
Ao dar nome a seres e objetos o homem tambeacutem os categoriza jaacute que eacute o ato de nomear
que daacute existecircncia a algo ou algueacutem Eacute por meio do nome que haacute identificaccedilatildeo e principalmente
a diferenciaccedilatildeo dos seres e dos objetos No ato da nomeaccedilatildeo diversos aspectos extralinguiacutesticos
podem influenciar o nomeador isso pode caracterizar especificamente a motivaccedilatildeo que subjaz
a qualquer signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica A motivaccedilatildeo por sua vez eacute reveladora de
inuacutemeros aspectos que estatildeo na base da inter-relaccedilatildeo liacutengua cultura e ambiente pois o nome
proacuteprio de lugar como fato da liacutengua identifica e guarda uma significaccedilatildeo precisa oriunda de
aspectos fiacutesicos ou culturais Desta forma busca-se mediante o estudo dos designativos dos
cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO descrever essa relaccedilatildeo (liacutengua cultura e
ambiente) Entende-se assim que um rio um riacho um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que
uma vez nomeados passam a carregar as inuacutemeras memoacuterias do lugar
Em decorrecircncia disso abrem-se possibilidades de inter-relacionar aacutereas do saber
humano com vista a estabelecer algum viacutenculo epistemoloacutegico a fim de proporcionar novos
olhares sobre um objeto jaacute descrito e analisado por outra aacuterea do conhecimento a geografia
mas restrito a um uacutenico niacutevel de anaacutelise linguiacutestica Isso leva a considerar os aspectos da
linguagem dentro de uma visatildeo interdisciplinar que pode trazer entre tantas contribuiccedilotildees o
fato de entendecirc-los na totalidade como em uma rede de relaccedilotildees Em outras palavras oferece
a possibilidade de analisar os fatos linguiacutesticos de maneira holiacutestica uma vez que os fatores
envolvidos na interaccedilatildeo devem ser concebidos como um todo formado por componentes que se
relacionam entre si
Entrecruzar as aacutereas de geografia e da linguiacutestica eacute um trabalho que jaacute se tem feito e
alguns estudiosos como eacute o caso de Menezes e Santos (2007 apud Menezes Santos Santos
2010) tratam a toponiacutemia na geografia como geoniacutemia Para Andrade (2010 p 105-106)
Natildeo se pode pensar em toponiacutemia desvinculada de outras ciecircncias como
histoacuteria geografia antropologia cartografia psicologia e a proacutepria
linguiacutestica Deve ser pensada como um complexo linguiacutestico-cultural um fato
do sistema das liacutenguas humanas Faz parte de uma ciecircncia maior que se
subdivide em toponiacutemia e antroponiacutemia
Assim esta pesquisa eacute relevante para a aacuterea dos estudos da linguagemlinguiacutesticos como
para a geografia sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo histoacuterico-cultural sobre a cidade de
Pires do Rio-GO e levado a conhecimento puacuteblico
21
Fazer esse estudo acerca da hidrografia da cidade de Pires do Rio eacute elementar elencando
natildeo soacute estudos semacircnticos lexicais origemetimologia dos termos mas tambeacutem soacutecio-
histoacuterico-culturais de um povo Algo ainda se faz pertinente na definiccedilatildeo do problema pois foi
assim que surgiu o interesse por este estudo em conversas informais com pessoas da cidade
obtive respostas que aguccedilaram esta pesquisa pois proacuteximo de Pires do Rio-GO cerca de uns
3 km da cidade haacute um determinado ribeiratildeo o qual a comunidade local denomina de Pedro
Teixeira mas na verdade esse nome eacute dado agrave ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo e foi construiacuteda
pelo fazendeiro Sr Pedro Teixeira embora o nome que se apresenta na carta topograacutefica seja
ribeiratildeo Sampaio
Diante da problematizaccedilatildeo qual a origemetimologia dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da
cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do
lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo A partir disso centra-se o
nosso estudo em descrever e analisar a origemetimologia dos termos a morfologia e a
semacircntica investigando e verificando os topocircnimos e as relaccedilotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo
de Pires do Rio-GO
Preliminarmente trabalha-se com a seguinte hipoacutetese de pesquisa pelo seu caraacuteter
motivado o signo toponiacutemico possibilita reconhecer fatores vinculados agrave motivaccedilatildeo que subjaz
agrave escolha dos nomes de lugares o que pode possibilitar o levantamento de fatores soacutecio-
histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua
como iacutendice da estreita relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura A toponiacutemia dos cursos drsquoaacutegua de Pires
do Rio-GO incorpora caracteriacutesticas sociais linguiacutesticas e culturais da regiatildeo a que pertence
Este eacute um dos embates fundantes de nosso estudo assim espera-se com esta pesquisa
cartografar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO com base na
metodologia do ATB (Atlas Toponiacutemico Brasileiro) como sugerido por Dick (1990 2004)
Posto isso ao final responderemos agraves perguntas de pesquisa jaacute mencionadas
anteriormente e ainda contribuiremos com as pesquisas na aacuterea da Onomaacutestica que estatildeo
desenvolvendo-se em Goiaacutes Conveacutem mencionar tambeacutem que uma das contribuiccedilotildees desta
pesquisa aleacutem de revisitar a histoacuteria e a cultura de uma regiatildeo eacute a de auxiliar na construccedilatildeo do
Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes ndash ATEGO
Assim o objetivo da pesquisa constitui-se basicamente em descrever e analisar os
topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua e de outros elementos hidrograacuteficos da regiatildeo do
municiacutepio de Pires do Rio-GO observando noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de
natureza fiacutesica e de natureza antropocultural Para tanto eacute necessaacuterio evidenciar os fatores que
constituem a motivaccedilatildeo que subjaz agrave escolha do nome do lugar o que requer a identificaccedilatildeo de
22
fatos sociais culturais histoacutericos elementos geograacuteficos (quando pertinente) e outras
motivaccedilotildees de diferentes naturezas
De uma maneira peculiar os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo i) remapear os
cursos hiacutedricos mediante o elenco de seus topocircnimos para cartografar os mapas da bacia
hidrograacutefica e dos topocircnimos seguindo a metodologia do Projeto ATB ii) verificar mediante
a anaacutelise linguiacutestica dos topocircnimos a motivaccedilatildeo referente agrave cultura e agrave histoacuteria e
principalmente aos aspectos fiacutesicos dos lugares que iniciaram o processo de nomeaccedilatildeo dos rios
coacuterregos ribeirotildees e quedas drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO (evidenciando o viacutenculo
liacutengua ambiente e cultura) iii) de alguma forma contribuir para o desenvolvimento dos estudos
toponiacutemicos em Goiaacutes
A metodologia consiste de uma pesquisa de natureza documental de abordagem
qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites
e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos puacuteblicos (mapas e cartas
topograacuteficas) e o meacutetodo da pesquisa eacute o de induccedilatildeo com ecircnfase para a observaccedilatildeo do fazer
onomasioloacutegico combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica especialmente o Woumlrter
und Sachen (palavras e coisas) O meacutetodo onomasioloacutegico e indutivo se constitui do estudo das
designaccedilotildees com o objetivo de estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Usando
esse meacutetodo pode-se investigar toda ou pelo menos parte da cultura popular de um local e
priorizar aspectos sincrocircnicos ou histoacutericos se necessaacuterio for Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os
aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos lugares
Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de dissertaccedilatildeo de Mestrado sobre Os
cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio anaacutelise das motivaccedilotildees toponiacutemicas produzida no acircmbito do
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem Universidade Federal de Goiaacutes ndash
Regional Catalatildeo que focaliza os topocircnimos hiacutedricos do municiacutepio de Pires do Rio
Desta maneira este trabalho se estrutura em quatro capiacutetulos organizados de forma a
abranger os resultados desta pesquisa que articula por meio da linguagem quesitos histoacutericos
geograacuteficos e culturais
Assim no capiacutetulo I O nome e a atividade de nomeaccedilatildeo satildeo apresentadas
consideraccedilotildees referentes ao nome e ao ato de nomear no sentido de reformular questotildees teoacutericas
necessaacuterias ao levantamento de dados e agrave construccedilatildeo do corpus bem como agrave descriccedilatildeo dos
topocircnimos que designam os elementos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas drsquoaacutegua) do municiacutepio
de Pires do Rio-GO Para tanto o capiacutetulo traz uma revisatildeo dos conceitos de nome (comum
proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes tanto no sistema linguiacutestico
como em relaccedilatildeo agrave cultura e estabelecendo as relaccedilotildees de liacutengua e cultura pois a liacutengua
23
transporta a cultura no tempo e recorta agrave realidade agrave sua maneira Eacute necessaacuterio aqui trazer as
discussotildees teoacutericas acerca da toponiacutemia e do signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica que
sustentam a nossa pesquisa Ainda fazemos uma retomada do surgimento e desdobramento da
Linguiacutestica Histoacuterica pois eacute a partir dela que satildeo criados os meacutetodos de pesquisa os quais
contribuem para a aacuterea de estudo
O capiacutetulo II A metodologia da pesquisa e seus desdobramentos eacute praticamente uma
extensatildeo do primeiro porque procura reavaliar alguns meacutetodos usados em pesquisa onomaacutestica
com o objetivo de coadunar teoria meacutetodo e procedimentos de pesquisa
Neste capiacutetulo eacute possiacutevel rever algumas questotildees sobre os meacutetodos da linguiacutestica o
meacutetodo onomasioloacutegico que investiga as relaccedilotildees de significado e referecircncias partindo das
designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Ainda eacute
apresentada uma siacutentese do comparativismo e do meacutetodo Woumlrter und Sachen de Hugo
Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) pois de acordo com Bassetto (2001)
pode-se verificar pontos em comum que compartilham com o meacutetodo onomasioloacutegico Ao
enfatizar questotildees de ordem semacircntica das palavras ressalta-se a realidade que elas designam
para esses autores a verdadeira etimologia da palavra estaacute no conhecimento dessa realidade
Busca-se assim instruir sobre a necessidade de conhecer se possiacutevel o objeto designado por
um nome para que o significado possa ser explicitado adequadamente
Dados histoacutericos e geograacuteficos referentes agrave capital da estrada de ferro Pires do Rio
compotildeem o terceiro capiacutetulo A capital da estrada de ferro Pires do Rio de modo a traccedilar em
linhas gerais a histoacuteria da fundaccedilatildeo do municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XX em decorrecircncia da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz e da Estaccedilatildeo Feacuterrea Pires do Rio em 09 de novembro de
1922 A importacircncia deste municiacutepio se deve agrave estrada de ferro e obviamente aos primeiros
habitantes que para caacute acorreram acreditando no desenvolvimento da antiga ldquoTeteia do
Corumbaacuterdquo
No capiacutetulo quarto A toponiacutemia e suas relaccedilotildees com o lugar apresentamos a anaacutelise
dos dados as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural e as fichas lexicograacuteficas-
toponiacutemicas dos 15 topocircnimos analisados de acordo com os estudos de Dick (1992)
juntamente com a origem das liacutenguas e estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos daiacute procedemos
agraves anaacutelises das classificaccedilotildees toponiacutemicas que estatildeo presentes nos designativos dos cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO estabelecendo as relaccedilotildees motivacionais e semacircnticas
do topocircnimo com o local nomeado
Na sequecircncia satildeo apresentadas as Consideraccedilotildees Finais que retomam os resultados
obtidos ao teacutermino da pesquisa pautados nos objetivos e perguntas que orientaram este estudo
24
E por fim seguem as Referecircncias que sustentaram a parte teoacuterica e a construccedilatildeo do corpus
coletado
25
I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO
O conhecimento dos nomes natildeo eacute negoacutecio de
importacircncia somenos
(PLATAtildeO 2001)
Este capiacutetulo tem o objetivo de tecer de forma mais geral consideraccedilotildees acerca do nome
e do ato de nomear para reformular questotildees teoacutericas necessaacuterias ao levantamento de dados
para a construccedilatildeo do corpus e descriccedilatildeo dos hidrocircnimos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas
drsquoaacutegua) do municiacutepio de Pires do Rio-GO Para tanto os itens a seguir trazem uma revisatildeo dos
conceitos de nome (comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes
tanto no sistema linguiacutestico como em relaccedilatildeo agrave cultura jaacute que representam inuacutemeros aspectos
que culminam em certos criteacuterios para a nomeaccedilatildeo ou nominaccedilatildeo revelando em certo sentido
especificidades dessa cultura que satildeo evidenciadas na nomeaccedilatildeo Ao dar um nome a um objeto
ou a um lugar natildeo se reduz apenas a indicar mas a classificar situar identificar e sobretudo
uma vez categorizado inscreve-se tambeacutem em um sistema cognitivo permeado por essa mesma
cultura
11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear
O nome eacute a parte que caracteriza a existecircncia de algo ou algueacutem sem a especificidade
do nome o objeto ou a pessoa natildeo eacute identificada Aliaacutes em muitas situaccedilotildees o nome consolida
a existecircncia do objeto que passa a ldquoexistirrdquo como tal em decorrecircncia de ter um nome ou seja
o falante pode perceber no mundo apenas aquilo que conhece pelo nome O nome estaacute presente
em todas as esferas do desenvolvimento da humanidade Eacute parte constitutiva do proacuteprio ser
humano que se reconhece e se afirma face ao nome que carrega eacute tambeacutem o nome que lhe
rompe o anonimato e lhe confere de certa forma uma identidade
Segundo Silva (2000) eacute o nome que diferencia os seres e os objetos do mundo
Identidade e diferenccedila ocorrem simultaneamente como produto de um mesmo processo o da
identificaccedilatildeo Pode-se afirmar que depois de nomeado o objeto passa a ser identificado
tambeacutem pelas diferenccedilas que possui em relaccedilatildeo agravequilo que natildeo eacute ou melhor eacute diferenciado
face aos demais elementos do mundo extralinguiacutestico conferindo-lhe existecircncia Tem um nome
porque existe tornou-se conhecido e eacute reconhecido como elemento cultural importante para a
continuidade de uma populaccedilatildeo como um dos milhares de traccedilos que a caracteriza e desta
26
forma ldquoo processo de nomeaccedilatildeo eacute uma forma pela qual a sociedade cria os seus membros agrave sua
imagemrdquo (CABRAL 2007 p 85)
E em Craacutetilo Platatildeo narra um diaacutelogo entre Demoacutestenes e Craacutetilo acerca da justeza dos
nomes debates no qual Soacutecrates aponta para ambas as possibilidades isto eacute para os socraacuteticos
tanto se pode entender os nomes como vinculados agrave coisa como podem ser vistos como
inteiramente sem elo com as coisas do mundo Platatildeo (2001 p 48) justifica que o ato de nomear
era visto como uma pressuposiccedilatildeo da existecircncia de algo assim ldquoas coisas devem ser nomeadas
como lhes pertence por natureza serem nomeadas e por meio do que devem secirc-lo e natildeo como
noacutes queremos e assim faremos e nomearemos melhor mas de outra maneira natildeordquo
A nomeaccedilatildeo eacute assim uma atividade bastante significativa para o ser humano e se
constitui de uma accedilatildeo complementar do modo como determinada populaccedilatildeo entende o meio em
que vive essa eacute a linha de pensamento tanto de Dick (1990) como de outros estudiosos como
Basso (1988) Langacker (2002) Weisgerber (1977) Wierzbicka (1997) e Worf (1971) dos
fatos da linguagem como evidencia a assertiva que segue
Apreensatildeocompreensatildeo e transmissatildeoparticipaccedilatildeo de um dado qualquer do
saber humano satildeo atuantes de uma mesma e complexa evidecircncia relacional ndash
o ato comunicativo ndash que corporifica em sua expressividade um aglomerado
de situaccedilotildees liacutenguo-soacutecio-psiacutequicas Nele estaacute manifesto ainda que de modo
impliacutecito o registro pelo qual se concretizou a ldquoassimilaccedilatildeo do
mundordquo atraveacutes do coacutedigo de linguagem vivenciado por determinada
comunidade linguiacutestica (DICK 1990 p 29)
Natildeo eacute equivocado afirmar que o nome corporifica aquilo que determinada comunidade
assimilou de seu meio circundante mediante relaccedilotildees estabelecidas entre a liacutengua que
possibilita a representaccedilatildeo daquilo que foi evidenciado e as impressotildees sociopsiacutequicas oriundas
dos objetos do mundo que se tornaram salientes aos olhos do nomeador Assim recebe um
nome tudo aquilo que de uma forma ou de outra tornou-se um item da cultura seja um acidente
fiacutesico-natural (um rio uma espeacutecie botacircnica) ou um item criado culturalmente Em todas as
sociedades conhecidas haacute referecircncia aos nomes e consequentemente agrave accedilatildeo de nomear Muitas
vezes essa atividade humana eacute revestida de mitos e rituais que conferem ao nome poderes
maacutegicos ou sobre-humanos
Nas sociedades primitivas de acordo com Cunha (2004) um nome pode valorar o
sagrado ou o ritual isso pode ocorrer quando acontece a mudanccedila de nome (candombleacute e igreja
catoacutelica) desta forma ao nomear algueacutem eacute tocar-se na personalidade da pessoa e ateacute as partes
da escrita que compotildeem o nome satildeo carregadas de simbologia e forccedilas sobrenaturais Cunha
27
(2004 p 220) ainda acrescenta que ldquonas mais diversas culturas natildeo ter nome eacute natildeo existir
nomear eacute instituirrdquo
Nesse processo de instituir dos rituais de passagem eacute possiacutevel entender que a atividade
de nomeaccedilatildeo adveacutem de fatores que propiciam uma motivaccedilatildeo que resulta na escolha de um
nome No ritual de escolha de um novo Papa (igreja catoacutelica) ou de um novo membro do
candombleacute o indiviacuteduo fica recluso por alguns dias e no momento do ritual apresenta seu
novo nome agrave comunidade fato esse que reside de alguma forma na escolha do novo nome
Desta forma o nome eacute escolhido de acordo com suas caracteriacutesticas psicofiacutesicas e tambeacutem com
as que ele deseja ter a partir do momento de escolha do novo nome
Conforme Biderman (1998) muitas satildeo as culturas que acreditam que o nome estaacute
ligado agrave essecircncia da pessoa Nas culturas arcaicas em geral os nomes atribuiacutedos agraves pessoas
tinham um significado que indicava agraves vezes a vocaccedilatildeo ou o destino do indiviacuteduo o que
corrobora a justeza dos nomes nos rituais de passagem e em outras atividades de nomeaccedilatildeo
O ato de nomear se constitui tambeacutem como algo divino Para Biderman (1998 p 85)
ldquoo gesto criador de Deus identifica-se com esta palavra ontoloacutegica essencialmente divina O
que noacutes homens somos e o que sabemos nasce dessa revelaccedilatildeo primordial da palavra criadora
do gesto divino de dizerrdquo Cunha (2004) evidencia que a palavra jaacute eacute reveladora do poder desde
a antiguidade e isso se expressa de forma clara por meio da biacuteblia sagrada que em vaacuterios textos
conclama que o poder eacute revelado por meio da palavra como percebe-se no livro de Gecircnesis
capiacutetulo I versiacuteculos 19 e 20
19 Tendo pois o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos
e todas as aves dos ceacuteus levou-os ao homem para ver como ele os havia de
chamar e todo o nome que o homem pocircs aos animais vivos esse eacute o seu nome
verdadeiro 20 O homem pocircs nomes a todos os animais a todas as aves dos
ceacuteus e a todos os animais dos campos mas natildeo se achava para ele uma ajuda
que lhe fosse adequada (BIacuteBLIA 1995 p 51)
Dessa forma o cristianismo explica a atividade humana de nomeaccedilatildeo Isso evidencia
que todos os objetos recebem um nome (comum) mediante uma accedilatildeo deliberada de escolha
individual (como em Gecircnesis) ou coletiva Esse nome recebe uma funccedilatildeo de significaccedilatildeo ou
melhor passa a significar algo no mundo sua referecircncia A nomeaccedilatildeo configura-se como um
processo operacional de conhecer e denominar coisas Conforme De Lastra e Garcia (sd apud
DICK 1990) para ser denominado o mundo externo deve antes passar a ser interno (iacutentimo)
Na relaccedilatildeo das praacuteticas de nomeaccedilatildeo segundo Loacutepez (2013) ocorrem fatores internos
e externos da seguinte forma i mudanccedilas internas quando elementos do sistema toponiacutemico
28
que designa lugares passam para o sistema antroponiacutemico que designa pessoas ii mudanccedilas
externas ou forccediladas como as que ocorreram na Europa entre os seacuteculos XVIII e XIX e
obrigaram os judeus a adotarem nomes cristatildeos e abandonarem os seus de origem hebraica
Para os judeus assim como para muitos povos perder o nome eacute o mesmo que perder a histoacuteria
a identidade e a famiacutelia Desta forma as autoridades europeias acreditavam que os judeus
deixariam (perderiam) as suas identidades e constituiriam uma nova uma identidade europeia
Conveacutem ressaltar que o referente1 nem sempre figurou entre os elementos constitutivos
do signo linguiacutestico No Curso de Linguiacutestica Geral Ferdinand Saussure (2008) define o signo
linguiacutestico como a junccedilatildeo de uma imagem acuacutestica (significante) a um (ou vaacuterios) conceitos
(significado) Saussure natildeo inclui nessa definiccedilatildeo a coisa nomeada o objeto do mundo ou em
outros termos o referente
Dito de outro modo os gestos epistemoloacutegicos de Saussure (2008) ao definirem a
liacutengua como objeto proacuteprio de estudo e tambeacutem no sentido de imprimirem cientificidade aos
estudos linguiacutesticos excluem o referente construindo assim um domiacutenio especiacutefico para a
Linguiacutestica diferente de outras aacutereas que tambeacutem se atecircm aos estudos da linguagem humana
A liacutengua para o mestre suiacuteccedilo eacute um sistema de signos que por sua vez abarca entidades
psiacutequicas constituiacutedas por duas faces significante e significado Essas duas faces do signo
linguiacutestico natildeo guardam poreacutem entre si qualquer relaccedilatildeo loacutegica nenhum viacutenculo ou melhor
a relaccedilatildeo entre significante e significado eacute marcada pelo seu caraacuteter imotivado arbitraacuterio para
usar os termos saussurianos Desta forma Kristeva (2007 p 24) afirma que ldquoa palavra
lsquoarbitraacuteriorsquo significa mais exatamente lsquoimotivadorsquo quer dizer que natildeo haacute nenhuma necessidade
natural ou real que ligue o significante e o significadordquo
O nome sempre suscitou uma questatildeo ontoloacutegica2 ou melhor uma questatildeo de
existecircncia A nomeaccedilatildeo eacute apenas uma das funccedilotildees da linguagem mas tem um papel importante
pois o significado dos nomes organiza e classifica as formas de perceber a realidade aleacutem de
estar ligado diretamente a uma cultura ou comunidade Assim para Sapir (1980) a liacutengua
recorta a realidade agrave sua maneira eacute por meio dela que se evidencia a relaccedilatildeo linguagem
pensamento e cultura Desta forma ldquoas palavras da liacutengua significam ao funcionarem no
acontecimento Este funcionamento recorta politicamente o realrdquo (GUIMARAtildeES 2005 p 82)
Nessa perspectiva eacute possiacutevel dizer que a nomeaccedilatildeo ganha relevo quando o assunto eacute a relaccedilatildeo
linguagem e realidade
1 Em um sistema triaacutedico significante significado e o referente 2 Ontoloacutegico ldquoAdj 1 relativo a Ontologia 2 que trata do ser humano na sua essecircncia na sua globalidaderdquo Verbete
inscrito em (BORBA 2004 p 992)
29
Guiraud (1986) chama atenccedilatildeo para a forccedila criadora da linguagem que resulta em uma
funccedilatildeo semacircntica dinacircmica e volaacutetil orientada principalmente por fatores especiacuteficos de uma
dada cultura Assim
[] a motivaccedilatildeo eacute uma forccedila criadora inerente agrave linguagem social que eacute um
organismo vivo de origem empiacuterica somente depois que a palavra eacute criada e
motivada (naturalmente ou intralinguisticamente) eacute que as exigecircncias da
funccedilatildeo semacircntica acarretam um obscurecimento dessa motivaccedilatildeo etimoloacutegica
que pode aliaacutes ao se apagar trazer uma alteraccedilatildeo de sentido (GUIRAUD
1986 p 31)
Motivaccedilatildeo esta que com o decorrer do tempo pode vir a se tornar obscura pelo
distanciamento temporal do fato que lhe deu origem Pode inclusive o nome sofrer inuacutemeras
alteraccedilotildees de sentido sem nenhum viacutenculo semacircntico com o significado original nem com o
fenocircmeno de sua ocorrecircncia primeira No entanto eacute forccediloso ressaltar mais uma vez que o ato
de nomear eacute motivado conforme Guiraud (1986) a nomeaccedilatildeo eacute inerente agrave linguagem e decorre
da relaccedilatildeo entre homem e ambiente ao reconhecer os objetos do mundo extralinguiacutestico
No que tange agrave motivaccedilatildeo Biderman (1998) reafirma a noccedilatildeo de que o nome natildeo eacute
arbitraacuterio ele tem um viacutenculo de essecircncia com a coisa ou o objeto que designa Assim o homem
primitivo acredita que seu nome tem parte vital com o seu ser Nas histoacuterias que nos satildeo
relatadas dos povos primitivos em relaccedilatildeo aos nomes podemos observar que para alguns
quando se sabia o nome da pessoa o inimigo poderia fazer magia negra com ele Essas relaccedilotildees
culturais com os nomes satildeo recorrentes em vaacuterios paiacuteses e histoacuterias da antiguidade claacutessica
De acordo com Frazer (1951) em vaacuterias tribos primitivas o nome era considerado como
uma realidade e natildeo uma convenccedilatildeo artificial podendo servir de intermeacutedio para fazer atuar a
magia sobre a pessoa como se fosse parte do indiviacuteduo como cabelo unha ou qualquer outra
parte fiacutesica Essas crendices ou mitos acerca do nome se estendem por vaacuterias partes do mundo
como para os iacutendios da Ameacuterica do Norte o nome eacute como uma parte de seu corpo e o mau
tratamento (uso) dele pode trazer ferimento fiacutesico Assim o nome natildeo deve ser pronunciado
podendo no ato de sua pronunciaccedilatildeomaterializaccedilatildeo revelar as propriedades reais da pessoa que
o usa e assim tornaacute-la vulneraacutevel perante os seus inimigos
Nas narrativas das sociedades relatadas por Frazer (1951) o homem do povo esquimoacute
recebe um novo nome ao chegar agrave velhice na Aacutefrica as pessoas podem ateacute receber uma duacutezia
de nomes no decorrer de sua vida e em alguns casos no iniacutecio de sua vida recebem dois nomes
um nome de preto usado em casa e junto agrave famiacutelia e outro nome de branco usado na escola e
na sociedade os egiacutepcios tambeacutem recebiam dois nomes um nome pequeno que era bom e
30
usado em famiacutelia e um nome grande que era mau e dissimulado julgamos esse uacuteltimo ser
usado na sociedade
Segundo Frazer (1951) para os Celtas o nome era sinocircnimo da alma e da respiraccedilatildeo
Entre os Yuiacutens (sul da Austraacutelia) e outros povos o pai revela o nome ao filho no momento da
iniciaccedilatildeo e poucas pessoas o conhecem Tambeacutem na Austraacutelia as pessoas deixam de usar o
nome e passam a chamar um ao outro de primo tio sobrinho ou irmatildeo Nessas relaccedilotildees as
historietas dos nomes vatildeo estar sempre entrelaccediladas aos fatores culturais das comunidades
Em muitas culturas Frazer (1951) relata que a natildeo pronunciaccedilatildeo de nomes era tabu
como em Cafres onde as mulheres natildeo podiam pronunciar o nome de seus maridos ou sogros
nem qualquer palavra que se assemelhasse aos nomes Tambeacutem natildeo era permitido pronunciar
nomes de animais plantas reis deuses personagens sagrados considerados perigosos pois isso
seria como invocar o proacuteprio perigo
Frazer (1951) revela uma histoacuteria ocorrida no Egito com o deus Raacute que tinha vaacuterios
nomes mas o seu verdadeiro nome que lhe dava poder sobre os outros deuses natildeo era conhecido
e ao ser enfeiticcedilado pela invejosa deusa Iacutesis ndash picado por uma serpente ndash cujo veneno soacute seria
retirado de seu corpo no momento em que ele revelasse o seu verdadeiro nome Raacute lamenta-se
ldquoEu sou aquele que tem muitos nomes e muitas formas O meu pai e minha matildee disseram-me
o meu nome estaacute escondido no meu corpo desde o meu nascimento para que natildeo se possa dar
nenhum poder maacutegico a algueacutem que me queira lanccedilar uma maldiccedilatildeordquo (FRAZER 1951 apud
KRISTEVA 2007 p 64) O veneno tomou conta do corpo de Raacute e jaacute natildeo conseguia andar Iacutesis
continuou a atormentar o deus e o veneno foi penetrando profundamente e queimava seu corpo
Entatildeo Raacute consentiu que Isis buscasse o seu verdadeiro nome no iacutentimo do seu ser assim ela
fez arrebatou-lhe o verdadeiro nome e ordenou que o veneno que o queimava caiacutesse por terra
e libertasse o deus pois o que ela queria jaacute havia conseguido Acreditava-se assim que quem
conhecesse o verdadeiro nome de um deus (algueacutem) possuiria a sua essecircncia o seu verdadeiro
ser e ateacute o seu poder
Segundo Loacutepez (2013) os nomes variam conforme o momento e o local em que satildeo
escolhidos a pessoa que os escolhe e as normas para o uso Podem indicar gecircnero filiaccedilatildeo
origem geograacutefica religiatildeo e etnia Haacute tambeacutem inuacutemeras crenccedilas de que existe uma relaccedilatildeo
entre a pessoa seu nome e o significado deste inclusive muitos nomes satildeo uacutenicos
Segundo Cunha (2004 p 226) ldquoO nome proacuteprio topocircnimo ou antropocircnimo participa
da literariedade do texto podendo consequentemente enriquecer-se de valores semacircnticos
denotativos e conotativos da mesma forma que as outras palavras que o estruturamrdquo jaacute que
31
quando nomeamos atribuiacutemos simultaneamente um predicado um complemento ao nome uma
caracteriacutestica um adjetivo
Em Guimaratildees (2005) o ato de dar nome eacute tambeacutem um ato de identificar um indiviacuteduo
bioloacutegico como tal para o Estado e para a sociedade e tornaacute-lo sujeito De acordo com esse
ponto de vista ganha interesse o funcionamento determinativo da construccedilatildeo do nome proacuteprio
da pessoa no qual segundo Guimaratildees (2005 p 52) ldquohaacute uma relaccedilatildeo particular entre a
nomeaccedilatildeo e o objeto nomeado que se apresenta por uma materialidade histoacuterica e natildeo fiacutesicardquo
A nomeaccedilatildeo eacute por causa da predicaccedilatildeo um ato que diferencia sendo tambeacutem um ato
que identifica De acordo com Lima (2007 p 51)
o acto (sic) de nomear eacute um dos primeiros momentos de inserccedilatildeo da pessoa
numa categoria social de geacutenero Mas ainda mostra-nos que neste contexto
social nomear eacute uma das formas mais importantes de construir geacutenero e
pessoa dentro da famiacutelia
A inserccedilatildeo da pessoa na sociedade por meio de seu nome eacute uma relaccedilatildeo hierarquizada
construiacuteda agrave luz de valores tanto sociais como familiares Como jaacute sabemos o nome eacute uma
forma de identidade de revelar o que o outro natildeo eacute assim nomear eacute um aspecto crucial da
conversatildeo de qualquer um em algueacutem de acordo com Geertz (1973)
Na conversatildeo mencionada Parkin (1989) justifica que nomear pode ser uma forma de
atribuir direitos3 que daacute autoridade tanto ao nomeado quanto ao nomeador ou uma forma de
objetivaccedilatildeo por meio da escolha de um nome em particular que estabeleccedila controle sobre o
nomeado Nessas situaccedilotildees pode ocorrer que as pessoas antecipem essas consequecircncias
escolhendo ou controlando a atribuiccedilatildeo do seu proacuteprio nome ou em alguns casos como
acontece de o nome possuir uma carga negativa perante a sociedade e a pessoa recorre ao poder
judiciaacuterio para requerer a troca de seu nome
Enfim nomear eacute se apropriar do real eacute nessa perspectiva de nomear e apoderar fato
este que se daacute por meio da linguagem e de acordo com isso Kristeva (2007 p 17) pontua que
Se a linguagem eacute mateacuteria do pensamento eacute tambeacutem o proacuteprio elemento da
comunicaccedilatildeo social Natildeo haacute sociedade sem linguagem tal como natildeo haacute
sociedade sem comunicaccedilatildeo Tudo o que se produz como linguagem tem lugar
na troca social para ser comunicado
3 Livre traduccedilatildeo para Entitling
32
Eacute nessa troca social que acontece por meio da linguagem a nomeaccedilatildeo Assim eacute
necessaacuterio destacar que os nomes proacuteprios de lugares ndash topocircnimos ndash passam a estabelecer
relaccedilotildees materializadas por meio do uso da linguagem Sabe-se que o nome designado eacute
construiacutedo simbolicamente isso porque a linguagem que o constroacutei funciona por estar exposta
ao real e constituiacuteda materialmente pela histoacuteria local a qual motiva o leacutexico topocircnimo e eacute
nesse momento que ele nasce e se institui naquele lugar
De acordo com Biderman (1998) eacute por meio da palavra que as entidades da realidade
passam a ser conhecidas nomeadas e identificadas Essa realidade cria o seu acircmbito
significativo que nos eacute revelado pela linguagem que tambeacutem eacute a responsaacutevel por elencar os
fatores soacutecio-histoacuterico-cultural que permeiam a realidade Aqui no nosso caso esses fatores
satildeo trazidos por meio do leacutexico topocircnimo mais especificamente no ato de nomear um
designativo de lugar
Conforme Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares seja
em homenagem a algueacutem como eacute o caso da cidade de Pires do Rio que recebeu o nome o
patroniacutemico4 do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas (1919-1922) do governo de Epitaacutecio
Pessoa Dr Joseacute Pires do Rio Haacute lugares que recebem o nome em razatildeo de caracteriacutesticas
geograacuteficas Alguns nomes satildeo opacos conceito de Piel (1979) em contraposiccedilatildeo aos
transparentes pois natildeo apresentam relaccedilatildeo alguma com o referente nesse caso haacute de se fazer
uma busca histoacuterica para chegar agrave relaccedilatildeo motivacional
O homem tem a capacidade de associar palavras a conceitos E no ato de nomear
acontece a motivaccedilatildeo que estaacute ligada aos fatores cognitivos Assim o leacutexico que a ele eacute
determinado por meio do uso da linguagem se transporta no tempo sendo capaz de revelar os
fatores culturais e motivacionais que estatildeo nesse nomeleacutexico toponiacutemico (BIDERMAN 1998)
O nome comum no ato de nomeaccedilatildeo de um lugar impregna-se de significaccedilotildees vaacuterias
sejam de fatores histoacutericos culturais sociais econocircmicos Segundo Guimaratildees (2005 p 83)
ldquoo modo de significar os espaccedilos da cidade mostra que eles satildeo espaccedilos poliacuteticos O espaccedilo que
se daacute como objeto por uma descriccedilatildeo (referecircncias) atende a objetividade do discurso
administrativo que nomeia oficialmente os espaccedilos da cidaderdquo Assim o nome cifra a narrativa
histoacuterica local perpassando por fatores ou designativos memoraacuteveis
Essa atividade de nomeaccedilatildeo ou praacutetica de nomeaccedilatildeo eacute especificamente da espeacutecie
humana e resulta do processo de categorizaccedilatildeo inerente ao ser humano De acordo com
Biderman (1998 p 89)
4 De acordo com Cabral (2007) patroniacutemico eacute sobrenome
33
O processo de categorizaccedilatildeo subjaz agrave semacircntica de uma liacutengua natural Os
criteacuterios de classificaccedilatildeo usados para classificar os objetos satildeo muito
diferenciados e variados Agraves vezes o criteacuterio eacute o uso que o homem faz de um
dado objeto agraves vezes eacute um determinado aspecto do objeto que fundamenta a
classificaccedilatildeo agraves vezes eacute um determinado aspecto emocional que um objeto
pode provocar em quem o vecirc e assim por diante
Entatildeo o processo de categorizaccedilatildeo que por via das vezes pode se tornar um legislador
ndash nomeador Essas discussotildees acerca das histoacuterias do ato de nomear revelam formas de
organizaccedilatildeo social e mudanccedilas linguiacutesticas poliacuteticas e culturais Eacute pois por meio do nome que
as pessoas ou lugares permanecem vivos na memoacuteria coletiva de sua linhagem
E nesse processo de nomeaccedilatildeo categorizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo nos estudos na aacuterea da
Onomaacutestica mais precisamente na subaacuterea dos Estudos Toponiacutemicos ndash temaacutetica de nossa
pesquisa ndash natildeo tem como desvencilhar a liacutengua e cultura Assim para Sapir-Whorf a liacutengua
retrata o mundo e a realidade social agrave sua volta expressos por categorias lexicais como os
topocircnimos
12 Liacutengua e Cultura
A liacutengua no contexto soacutecio-histoacuterico-cultural nada mais eacute que o resultado de um
processo histoacuterico um produto revelador da cultura de uma dada comunidade (CAcircMARA JR
1955) Nessas bases inter-relacionar liacutengua e cultura eacute justificar que estatildeo intrinsecamente
interligadas pois a liacutengua revela a visatildeo de mundo e eacute tambeacutem a manifestaccedilatildeo de uma cultura
cultura esta que lhe daacute suporte a liacutengua tambeacutem eacute suporte da cultura
Em seus estudos Paula (2007) menciona que a liacutengua eacute um metassistema ela ldquonatildeo eacute soacute
objeto ela eacute nas relaccedilotildees sociais mais diversamente possiacuteveis tambeacutem instrumento de
investigaccedilatildeo distinto que ajuda a entender os outros sistemas sociaisrdquo (PAULA 2007 p 90)
Nesse contexto eacute possiacutevel evidenciar que por meio da liacutengua satildeo reeditadas e reconfiguradas
as praacuteticas culturais de uma dada comunidade
Posto isso conveacutem rever alguns conceitos que remetem agrave face social da liacutengua seu
caraacuteter eminentemente social mais condizente com o recorte epistemoloacutegico feito por Saussure
(2008 p 17)
Mas o que eacute a liacutengua Para noacutes ela natildeo se confunde com a linguagem eacute
somente uma parte determinada essencial dela indubitavelmente Eacute ao
mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto
34
de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo corpo social para permitir o
exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos Tomada em seu todo a linguagem
eacute multiforme e heteroacuteclita o cavaleiro de diferentes domiacutenios ao mesmo
tempo fiacutesica fisioloacutegica e psiacutequica ela pertence aleacutem disso ao domiacutenio
individual e ao domiacutenio social natildeo se deixa classificar em nenhuma categoria
de fatos humanos pois natildeo se sabe como inferir sua unidade
De acordo com Fiorin (2013 p 17) ldquoA liacutengua natildeo eacute um sistema de mostraccedilatildeo de
objetos porque permite falar do que estaacute presente e do que estaacute ausente do que existe e do que
natildeo existe porque possibilita ateacute criar novas realidades mundos natildeo existentesrdquo A liacutengua eacute um
produto social e por meio dela se criam e recriam realidades podendo entatildeo se justificar as
praacuteticas culturais por meio de atos linguiacutesticos
Com esse movimento epistemoloacutegico ou melhor ao eleger a liacutengua e natildeo a linguagem
nem a fala como objeto de estudo da Linguiacutestica Saussure possibilitou a instituiccedilatildeo da ciecircncia
linguiacutestica e consequentemente seus inuacutemeros desdobramentos posteriores
Sapir (1980) ressalta a estreita ligaccedilatildeo entre liacutengua e cultura jaacute que para o autor
Toda liacutengua tem uma sede O povo que a fala pertence a uma raccedila (ou a certo
nuacutemero de raccedilas) isto eacute a um grupo de homens que se destaca de outros
grupos por caracteres fiacutesicos Por outro lado a liacutengua natildeo existe isolada de
uma cultura isto eacute de um conjunto socialmente herdado por praacuteticas e crenccedilas
que determinam a trama das nossas vidas (SAPIR 1980 p 165)
Nesta perspectiva reafirmando que liacutengua se difere de linguagem mas se entrecruza
com ela ou dela faz parte como uma das inuacutemeras formas de linguagem e ainda considerando-
a um dos fatores de identidade de um povo e que natildeo existe isolada da cultura eacute que se torna
objeto de estudos o que envolve fatores soacutecio-histoacuterico-culturais das comunidades
O autor desta forma ainda nos revela que ldquotoda liacutengua estaacute de tal modo construiacuteda
que diante de tudo que um falante deseje comunicar por mais original ou bizarra que seja a sua
ideia ou a sua fantasia a liacutengua estaacute em condiccedilotildees de satisfazecirc-lorsquo (SAPIR 1969 p 33) Eacute
nessas condiccedilotildees de satisfazer ao falante ou agrave comunidade que ele pertence que a liacutengua se
justifica como um meio de interaccedilatildeo social e revelador da cultura jaacute que ela se configura no
tempo e eacute capaz de transmitir de geraccedilotildees a geraccedilotildees atraveacutes de atos linguiacutesticos as
manifestaccedilotildees culturais Conveacutem ressaltar que
Tudo que ateacute aqui verificamos ser verdade a respeito das liacutenguas indica que
se trata da obra mais notaacutevel colossal que o espiacuterito humano jamais
desenvolveu nada menos do que uma forma completa de expressatildeo para toda
a experiecircncia comunicaacutevel Essa forma pode ser variada de inuacutemeras maneiras
pelo indiviacuteduo sem perder com isso os seus contornos distintivos e estaacute
35
constantemente remodelando-se como sucede com toda arte A liacutengua eacute a arte
mais ampla e maciccedila que se nos depara cuacutemulo anocircnimo do trabalho
inconsciente das geraccedilotildees (SAPIR 1980 p 172)
De acordo com Cacircmara Jr (1955) a liacutengua eacute uma parte da cultura mas ela pode ser
estudada na sua relaccedilatildeo com a cultura ou sem considerar essa inter-relaccedilatildeo Segundo o autor
com essa perspectiva o linguista se destaca do antropoacutelogo Porque os estudos linguiacutesticos
podem prescindir do exame da inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura ou melhor pode-se estudar a
liacutengua em sua imanecircncia ou a relaccedilatildeo da linguagem com outras aacutereas do conhecimento humano
A liacutengua aleacutem de inter-relacionar a cultura nada sociedade atua para que a proacutepria
cultura seja conhecida e levada agrave geraccedilotildees futuras seja por meio de festas religiosas cantigas
e outros fatores que a divulguem Jaacute que na mesma base teoacuterica a liacutengua se justifica como um
fato de cultura assim como qualquer outro e neste iacutenterim integra-se agrave cultura
Cacircmara Jr (1955) reconhece que a liacutengua funciona na sociedade para a comunicaccedilatildeo e
interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e tambeacutem que ela se torna o resultado de uma cultura global pois a
liacutengua depende de toda cultura jaacute que a expressa a todo o momento
assim a liacutengua em face do resto da cultura eacute ndash o resultado dessa cultura ou
sua suacutemula eacute o meio para ela operar eacute a condiccedilatildeo para ela subsistir E mais
ainda soacute existe funcionalmente para tanto englobar a cultura comunicaacute-la e
transmiti-la (CAcircMARA JR 1955 p 54)
Considerada a inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura pode-se ressaltar mais uma vez que a
cultura se manifesta linguisticamente sejam elas integrantes de manifestaccedilotildees da cultura
popular ou da erudita
De modo geral a cultura eacute pensada numa visatildeo polarizante como sendo
cultura popular ou cultura erudita Conveacutem dizer poreacutem que ambas satildeo
formas e conteuacutedos diferentes de expressatildeo de uma dada realidade social e
histoacuterica Entatildeo natildeo devem ser vistas como opostas ou excludentes mas como
maneiras especiacuteficas de ver sentir e expressar a realidade conforme se situam
seus atores na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo do poder (PAULA 2007 p 75)
Neste processo Sapir (1969) menciona que o leacutexico eacute o niacutevel linguiacutestico em que mais
intimamente se interligam liacutengua e cultura Zavaglia (2012) por sua vez reconhece que o leacutexico
estaacute vinculado agrave cultura de um povo de uma naccedilatildeo agrave sua histoacuteria
Para Zavaglia (2012) o leacutexico estaacute relacionado com a memoacuteria humana e se configura
no ato de nomeaccedilatildeo diante do processo em que houve a necessidade de o homem por meio de
36
palavras nomear tudo que o circundava e assim categorizar o que estava a seu redor Pautados
na autora observamos a grandeza do leacutexico pois
Eacute o leacutexico em forma de palavras e por meio da linguagem que ldquocontardquo a
histoacuteria milenar de povo para povo eacute o leacutexico que transmite os elementos
culturais de um conjunto de indiviacuteduos eacute o leacutexico que ldquoeducardquo ou ldquodeseducardquo
eacute o leacutexico que permite a manifestaccedilatildeo dos sentimentos humanos de suas
afeiccedilotildees ou desagrados via oral ou via escrita Eacute o leacutexico que registra o
desencadear das accedilotildees de uma sociedade suas mudanccedilas seu progresso ou
regresso Condivido com Biderman quando diz que o leacutexico eacute o tesouro
vocabular de forma codificada da memoacuteria do indiviacuteduo restando ali estocado
ateacute que seja ativado quando necessaacuterio para que o homem possa expressar ou
se comunicar Eacute ainda por meio do leacutexico que conceitos condutas e costumes
satildeo transmitidos de geraccedilotildees a geraccedilotildees e herdados por elas ldquoEacute o leacutexico que
fisionomiza a culturardquo (ZAVAGLIA 2012 p 233)
O leacutexico eacute o fio condutor da cultura jaacute que a transporta para geraccedilotildees futuras eacute por meio
dele que se registra a histoacuteria e a vida de uma sociedade Para Sapir (1969) a cultura estaacute
nitidamente no leacutexico da liacutengua e este pode ser considerado como todo o conjunto de ideias
interesses e ocupaccedilotildees que abrangem a atenccedilatildeo da comunidade Neste contexto
O estudo cuidadoso de um dado leacutexico conduz a inferecircncias sobre o ambiente
fiacutesico e social daqueles que o empregam e ainda mais que o aspecto
relativamente transparente ou natildeo-transparente do proacuteprio leacutexico nos permite
deduzir o grau de familiaridade que se tem adquirido com os vaacuterios elementos
do ambiente (SAPIR 1969 p 49)
Eacute possiacutevel ressaltar que o leacutexico da liacutengua conteacutem um recorte da realidade feito agrave sua
maneira que revela visotildees de mundo Os elementos culturais que matizam datildeo o colorido de
significaccedilatildeo ao leacutexico mostram de diferentes maneiras as relaccedilotildees que ambas liacutengua e cultura
tecircm com o ambiente seja fiacutesico ou social pois toda complexidade dessa inter-relaccedilatildeo pode ser
anunciada e enunciada no uso da linguagem
Vale entatildeo ressaltar
Que o leacutexico assim reflita em alto grau a complexidade da cultura eacute
praticamente um fato de evidecircncia imediata pois o leacutexico ou seja o assunto
de uma liacutengua destina-se em qualquer eacutepoca a funcionar como um conjunto
de siacutembolos referentes ao quadro cultural do grupo Se por complexidade de
uma liacutengua se entende a seacuterie de interesses impliacutecitos em seu leacutexico natildeo eacute
preciso dizer que haacute uma correlaccedilatildeo constante entre a complexidade
linguiacutestica e cultural (SAPIR 1969 p 51)
37
O conjunto de signos da liacutengua ultrapassa as fronteiras do tempo trazendo para a
atualidade siacutembolos tambeacutem culturais que satildeo revelados por meio de praacuteticas culturais que se
interseccionam com as praacuteticas linguiacutesticas Assim
Natildeo soacute as palavras da liacutengua passam a servir de siacutembolos culturais dispersos
como sucede nas liacutenguas em qualquer periacuteodo de desenvolvimento mas se
pode supor que as proacuteprias categorias e processos gramaticais simbolizariam
tipos correspondentes de pensamento e atividade de significaccedilatildeo cultural Ateacute
certo ponto pode se conceber portanto a cultura e a liacutengua em constante
estado de interaccedilatildeo e em associaccedilatildeo definida por um largo lapso de tempo
Mas tal estado de correlaccedilatildeo natildeo pode continuar indefinidamente (SAPIR
1969 p 60)
Segundo Sapir (1969) a linguagem possui o papel de produzir e organizar o mundo
mediante o processo de simbolizaccedilatildeo Contudo a realidade eacute mostrada por meio da linguagem
o que significa dizer que natildeo haacute mundos iguais visto que natildeo haacute liacutenguas iguais De acordo com
estas observaccedilotildees cabe ressaltar o relativismo linguiacutestico ldquoHipoacutetese de Sapir-Whorfrdquo a
linguagem determina a forma de ver o mundo e consequentemente de se relacionar com esse
mundo
O relativismo linguiacutestico pode ser entendido como a relaccedilatildeo linguagem e pensamento
mediada pela cultura desta forma linguagem pensamento e cultura estatildeo conectados Sapir-
Whorf observam que a realidade social eacute produto linguiacutestico tratando assim as relaccedilotildees de
linguagemcultura e linguagempensamento a cultura pode ser considerada como
conhecimento adquirido socialmente por meio das praacuteticas linguiacutesticas
De maneira geral diz-se que a cultura eacute o conhecimento que as pessoas detecircm acerca de
uma comunidade seja em seus acircmbitos popular ou cientiacutefico os quais ultrapassam o tempo
por meio da liacutengua jaacute que ldquoA cultura eacute o conjunto do que o homem criou na base das suas
faculdades humanas abrange o mundo humano em contraste com o mundo fiacutesico e o mundo
bioloacutegicordquo (CAcircMARA JR 1955 p 51)
Em outras palavras
Cultura eacute o conjunto de praacuteticas sociais situadas historicamente que se
referem a uma sociedade e que a fazem diferente de outra Baseia-se na
construccedilatildeo social de sentidos a accedilotildees crenccedilas haacutebitos objetos que passam a
simbolizar aspectos da vivecircncia humana em coletividade (PAULA 2007 p
74)
A diversidade tambeacutem se reflete na cultura pois de acordo com Bosi
38
[] natildeo existe uma cultura brasileira homogecircnea matriz de nossos
comportamentos e dos nossos discursos Ao contraacuterio a admissatildeo do seu
caraacuteter plural eacute um passo decisivo para compreendecirc-la como um ldquoefeito de
sentidordquo resultado de um processo de muacuteltiplas interaccedilotildees e oposiccedilotildees no
tempo e no espaccedilo (BOSI 1987 p 7)
Neste sentido a cultura se constroacutei a partir das vivecircncias e significados que lhe satildeo
atribuiacutedos pela proacutepria sociedade em suas praacuteticas sociais e constituindo-se tambeacutem em
diferenccedila Para Bosi (1987 p 11) o fundamento da cultura popular ldquoeacute o retorno de situaccedilotildees e
atos que a memoacuteria grupal reforccedila atribuindo-lhes valorrdquo Isso satildeo as marcas identitaacuterias da
comunidade que satildeo deixadas e vivenciadas (ou vivificadas) tempos depois A cultura popular
eacute revelada por meio de praacuteticas culturais e linguiacutesticas que levam a puacuteblico as relaccedilotildees soacutecio-
histoacuterica-culturais de determinadas comunidades
A cultura se constroacutei com base nos valores atribuiacutedos pelos sujeitos agraves relaccedilotildees
cotidianas e nas relaccedilotildees de poder Organiza-se como popular eou erudita Nesse sentido natildeo
existe cultura melhor nem pior cada uma eacute expressa pelo seu grupo social pois cada indiviacuteduo
tem uma forma de ver o mundo modos de vestir de comer os meios para se curar os remeacutedios
os modos de plantar de cultivar e colher os modos de nomear e categorizar os elementos da
natureza e outros tantos mais Desta forma ldquoconforme as pessoas entendem que participam de
uma cultura esforccedilam-se para agir dentro do que julgam ser pertinente a elardquo (PAULA 2007
p 75)
Cultura liacutengua e identidade natildeo satildeo algo fixo pronto e acabado estando sempre em
constituiccedilatildeo uma vez que satildeo produzidas por seres sociais que se encontram em processo de
interaccedilatildeo aprendizado conhecimento e estatildeo inseridos em contextos sociais que passam por
transformaccedilotildees O leacutexico eacute o meio pelo qual a cultura e a identidade se constroem e se
disseminam
Na visatildeo de Paula (2007 p 89) a memoacuteria eacute o depositaacuterio tanto da cultura como da
liacutengua visto que
O modo como se estrutura poliacutetica e economicamente uma sociedade diz
muito de suas estruturas culturais estas por sua vez soacute se fazem possiacuteveis
graccedilas agrave elaboraccedilatildeo cotidiana do arcabouccedilo de memoacuteria coletiva ao modo
como eacute concebida e ao estatuto que lhe eacute dado Expressando estas inter-
relaccedilotildees servindo a elas no cotidiano da comunicaccedilatildeo humana e carregando
em seu funcionamento muito do modo como a sociedade se faz e se refaz estaacute
a liacutengua
39
Os processos culturais que satildeo construiacutedos por meio de atos linguiacutesticos satildeo uma forma
identitaacuteria de dada comunidade que eacute expressa por relaccedilotildees sociais como forma de conduzir e
expressar-se perante as demais comunidades sejam elas internacionais nacionais ou regionais
sabemos que a cultura eacute a miscigenaccedilatildeo de outras culturas
13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes
Embora faccedila parte do cotidiano das pessoas portanto estreitamente ligado agrave cultura natildeo
haacute muita discussatildeo referente ao nome proacuteprio e aos motivos de algueacutem ou um lugar ter o nome
que tem Entretanto conforme Carvalhinhos (2002) jaacute no seacuteculo II aC com o gramaacutetico
Dioniacutesio Traacutecia o estudo sobre o nome jaacute tinha sido pensado e formulado Esses estudos
propiciaram por sua vez o surgimento da Onomaacutestica a ciecircncia que se ocupa dos estudos da
origem e alteraccedilotildees (na forma e no significado) dos nomes proacuteprios A Onomaacutestica eacute um ramo
das ciecircncias linguiacutesticas que pode-se efetuar em duas vertentes a toponiacutemia (estudo do
topocircnimo ou nome de lugar) e a antroponiacutemia (estudo do nome pessoal)
Conforme Dubois (2004) e Houaiss (2004) a Onomaacutestica eacute um ramo da lexicologia e
seu meacutetodo de trabalho deve-se desenvolver em linha documental mediante a observaccedilatildeo de
dados oficiais como mapas listas de nomes ou outros documentos de valor historiograacutefico e
lexicograacutefico Isso possibilita a junccedilatildeo da histoacuteria da nomenclatura com momentos histoacutericos e
sociais mais amplos
No entanto mesmo pertencendo agrave ciecircncia da linguagem a Onomaacutestica se estabelece por
meio do suporte de outras aacutereas do conhecimento como a Antropologia a Etnografia a
Botacircnica a Geografia e a Histoacuteria Neste sentido natildeo eacute equivocado salientar que a Onomaacutestica
eacute um campo de amplo caraacuteter interdisciplinar
Assim a Onomaacutestica ou Onomasiologia eacute o ramo da ciecircncia linguiacutestica que tem o nome
proacuteprio como objeto de estudo e se constroacutei em relaccedilatildeo a outros campos do saber Contudo ao
relacionar o seu conhecimento aos de outras aacutereas ela natildeo os confunde nem os nega
De acordo com Ramos e Bastos (2010) a Onomaacutestica assume uma perspectiva
integralizadora de meacutetodos e demanda um consideraacutevel nuacutemero de conhecimentos de campos
diversos de maneira direta ou indireta e vertical ou horizontal destacando-se a linguiacutestica com
valoraccedilatildeo da pesquisa etimoloacutegica
Conforme dito a Onomaacutestica para efeito de estudo pode ser dividida em dois eixos a
Antroponiacutemia e a Toponiacutemia Estas por sua vez podem apresentar subdivisotildees dependendo
de algumas consideraccedilotildees acerca das caracteriacutesticas que cada uma agrave sua maneira apresenta
40
A Toponiacutemia conforme Piel (1979) de acordo com o objeto de denominaccedilatildeo pode
denominar-se tambeacutem como astroniacutemia hidroniacutemia litoniacutemia odoniacutemia oroniacutemia para citar
apenas alguns termos que correspondem a objetos que constituem ou satildeo constituiacutedos por
formaccedilotildees aquosas astros formaccedilotildees peacutetreas serras vias ou caminhos
Jaacute a Antroponiacutemia volta sua atenccedilatildeo para o estudo dos nomes de batismo dos
sobrenomes patroniacutemicos (ou matroniacutemicos) e ainda das alcunhas dos apelidos e de nomes
diminutivos A Antroponiacutemia agrave semelhanccedila da Toponiacutemia natildeo se constitui de forma
homogecircnea jaacute que haacute uma seacuterie de tradiccedilotildees conforme os povos ou culturas que desenvolveram
esses sistemas antroponiacutemicos Por outro lado eacute consenso afirmar que os nomes pessoais satildeo
um aspecto comum ou universal nas liacutenguas porque as pessoas recebem um nome em algum
momento de suas vidas em todas as sociedades conhecidas do mundo
De acordo com Dick (1992) as intenccedilotildees e as motivaccedilotildees que subjazem agrave escolha dos
nomes em cada sociedade variam bastante Os estudos dos sistemas onomaacutesticos vecircm confirmar
isso porque os nomes existem e satildeo controlados pelas necessidades e praacuteticas sociais as quais
podem variar de acordo com a visatildeo de mundo de um determinado povo
Posto isso conveacutem conceber a Onomaacutestica como uma disciplina que deve focar como
objeto de estudo os sistemas de denominaccedilatildeo que justifiquem os processos de atribuiccedilatildeo de
nomes de uma maneira geral
Em Soliacutes (1997) os nomes satildeo o resultado de algo que os provoca isto eacute o sistema
denominativo elaborado pelas culturas para atribuir nomes agraves coisas apreendidas por sua
atividade cognitiva
Devido ao fato de a Onomaacutestica estender-se a um amplo campo de estudo ou seja que
se volta tanto para o estudo dos nomes proacuteprios de pessoas como agraves designaccedilotildees dos lugares eacute
imperioso delimitar para este estudo apenas o sistema onomaacutestico voltado para os nomes de
lugar isto eacute para a toponiacutemia caracterizando como objeto de estudo os nomes dos cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio
A despeito de incorrer em lugar comum conveacutem rever os constituintes da palavra
toponiacutemia cujo significado etimoloacutegico pode ser assim expresso do grego topos (lugar) e
onoma (nome) A Toponiacutemia se ocupa dos locativos (tambeacutem componentes do leacutexico da liacutengua)
com o fito de estudar a origem as significaccedilotildees e as transformaccedilotildees por que passam ou
passaram esses nomes A Toponiacutemia se dedica ao estudo natildeo apenas dos nomes de comunidades
humanas (cidades povoados vilas) como tambeacutem elementos geograacuteficos a exemplo os cursos
drsquoaacuteguas
41
Os estudos toponiacutemicos propiciam a percepccedilatildeo da relaccedilatildeo entre povo liacutengua e territoacuterio
considerando que esse territoacuterio pode ser fiacutesico eou imaginaacuterio jaacute que as entidades do mundo
que precisam ser nomeadas podem ser pessoas entidades geograacuteficas que fazem parte do
ambiente em que vive determinado povo e que sobretudo tenham importacircncia para esse povo
pois se natildeo tem importacircncia natildeo haacute em contrapartida necessidade de ser nomeado Conveacutem
no entanto ressaltar que nem todas as nomeaccedilotildees ocorrem pela necessidade espontacircnea de
identificaccedilatildeo uma vez que muitas delas refletem a imposiccedilatildeo de forccedilas ideoloacutegicas poliacuteticas e
sociais
Neste sentido surge a necessidade de reconhecer os objetos geograacuteficos da natureza
tais como rios mares lagoas ilhas continentes serras e outros mas haacute outros que precisam
ser denominados tambeacutem principalmente os objetos da cultura aqueles criados pelo homem
dentre os quais podem ser citados os povoados represas moradias (habitaccedilatildeo) ruas
circunscriccedilotildees poliacutetico-territoriais que se situam em algum lugar do universo fiacutesico
Natildeo se pode omitir aqueles lugares cujo universo foi criado pela cultura imaterial o
mundo natildeo fiacutesico Sejam do universo real ou imaginaacuterio as entidades geograacuteficas satildeo os
referentes dos topocircnimos que por sua vez integram a visatildeo de mundo de um povo Isso
constitui uma dificuldade em especificar que referentes existem no mundo fiacutesico ou cultural
em parte porque para isso eacute necessaacuterio considerar uma cultura determinada Em resposta a isso
haacute o reconhecimento da visatildeo de mundo que eacute peculiar a cada cultura
Muitos povos concebem o universo real como um mundo que tem seu correlato miacutetico
com outros mundos e fazem assim surgir universos de nomes toponiacutemicos de variada riqueza
toponomaacutestica porque tecircm lugares para nomear no espaccedilo fictiacutecio criado nesse mundo Assim
aleacutem de serem componentes linguiacutesticos como tal os nomes que compotildeem um sistema de
denominaccedilatildeo satildeo ainda criaccedilotildees socioculturais
Entatildeo cabe agrave Toponiacutemia estudar tanto os nomes de lugares (os topocircnimos) como
componentes de uma liacutengua que satildeo como tambeacutem o sistema de denominaccedilatildeo organizado pelas
sociedades para nomear os objetos fiacutesicos ou imaginaacuterios da sua cultura Devido agraves diferentes
visotildees de mundo tecircm-se diferentes formas de nomear essas entidades Aleacutem da visatildeo de mundo
em sociedades como a brasileira podem contribuir para a formaccedilatildeo de um sistema de nomeaccedilatildeo
os movimentos sociais como forccedila impulsionadora de mudanccedila social Em relaccedilatildeo agrave realidade
brasileira podem-se mencionar as poliacuteticas que vecircm acontecendo durante os mais de 500 anos
de histoacuteria brasileira que tambeacutem resultou em inuacutemeras formaccedilotildees e mudanccedilas de designaccedilatildeo
toponiacutemica no Brasil
42
Cabe reiterar que a toponiacutemia refere-se a nomes de lugares habitados ou natildeo Daiacute uma
definiccedilatildeo apropriada para o termo ldquotopocircnimordquo eacute um nome de qualquer ponto localizaacutevel no
espaccedilo terrestre que tenha recebido denominaccedilatildeo Definiccedilatildeo essa que pode ser estendida para o
nome de qualquer ponto localizaacutevel no mundo real ou em mundos imaginados pelas culturas
em outras palavras daqueles universos que existem por meio da atividade ideacional dos
homens
Assim eacute por meio da relaccedilatildeo povo-territoacuterio que os nomes de lugar satildeo estabelecidos
Inicialmente pela posse do territoacuterio uma vez que segundo Couto (2007) o territoacuterio eacute uma
das primeiras referecircncias para que um agrupamento de pessoas possa receber o status de
comunidade e todo territoacuterio entendido como tal tem de ter um nome um topocircnimo Desta
forma recortam-se os aspectos do meio ambiente mais salientes aos olhos do povo como uma
espeacutecie de acordo que permite a vivecircncia e a convivecircncia em sociedade no territoacuterio apossado
Eacute possiacutevel afirmar que a nomeaccedilatildeo dos lugares surgiu com a proacutepria humanidade Os
registros antigos da histoacuteria da civilizaccedilatildeo ratificam essa accedilatildeo do homem sobre o lugar que
habita ou jaacute habitou satildeo fatores que sugerem uma espeacutecie de posse ou de domiacutenio sobre o lugar
por meio da significaccedilatildeo da organizaccedilatildeo e da orientaccedilatildeo pelo espaccedilo ocupado ou apenas
conhecido Em contrapartida o ato de nomeaccedilatildeo se manifesta como a accedilatildeo do meio fiacutesico e
sociocultural sobre o homem
Eacute nesta perspectiva que se podem considerar os estudos toponiacutemicos em seu acircmbito
interdisciplinar porque congregam vaacuterias aacutereas do conhecimento humano Os nomes de um
lugar satildeo enfocados conforme a observaccedilatildeo dos aspectos fiacutesicos socioculturais mentais e
histoacutericos interligados ou em separados
Assim natildeo eacute equiacutevoco conceber a Toponiacutemia como objeto de estudo da Antropologia
da Geografia da Histoacuteria ou ainda da Psicologia Social para citar apenas algumas disciplinas
Eacute possiacutevel segundo Dick (1992) realizar anaacutelises do fenocircmeno toponiacutemico em
consonacircncia teoacuterica com qualquer uma dessas aacutereas mas para a autora nenhuma delas tomada
isoladamente ou com exclusivismo alcanccedilaria a plenitude do fenocircmeno toponiacutemico Em termos
linguiacutesticos a Toponiacutemia recorre aos conhecimentos da Semacircntica da Lexicologia da
Etnolinguiacutestica da Dialetologia e da Linguiacutestica Histoacuterica
Mais recentemente uma linha de anaacutelise que tem oferecido contribuiccedilotildees importantes
aos estudos dos nomes de lugares eacute a Linguiacutestica Cognitiva Suas pesquisas vecircm enfatizando
natildeo soacute os modelos cognitivos mas tambeacutem os processos de categorizaccedilatildeo principalmente os
processos de analogia e contiguidade proacuteprios da metaacutefora e da metoniacutemia Entendecirc-los eacute
43
essencial para compreender os sistemas de nomeaccedilatildeo como resultados da experiecircncia e da
cogniccedilatildeo humana com o corpo em relevo
Esta perspectiva de anaacutelise coaduna estudos que procuram reconhecer processos
cognitivos expressos na accedilatildeo de denominar a realidade e para tanto fundamentam-se no corpo
Eacute uma forma de nomear os lugares fiacutesicos ou culturais mediante a percepccedilatildeo do denominador
na interaccedilatildeo com meio ambiente fiacutesico e cultural
14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica
Para realizar qualquer estudo onomaacutestico eacute necessaacuterio inicialmente buscar na teoria
linguiacutestica os recursos para se explicar como uma forma linguiacutestica se amaacutelgama a um lugar
configurando uma relaccedilatildeo entre esse lugar suas caracteriacutesticas e o signo linguiacutestico que passa
a designaacute-lo Em outras palavras eacute necessaacuterio buscar conceitos que estejam em consonacircncia
com os preceitos5 onomaacutestico-toponiacutemicos
Eacute por meio da liacutengua que se daacute a interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e a mesma constitui-se de
signos linguiacutesticos Em outras palavras o mundo humano a realidade extralinguiacutestica e a
cultura constituem-se de signos Calcados nas ideias de Charles Sanders Pierce (2005) tem-se
o conceito geral de que o signo eacute ldquoalgo que estaacute por algo para algueacutemrdquo Conveacutem salientar que
ldquoestar porrdquo eacute uma noccedilatildeo bastante ampla pois pode significar uma seacuterie de coisas como
representar caracterizar fazer agraves vezes de indicar entre outros Para Pierce (2005 p 46)
um signo ou representamem eacute algo que sob certo aspecto ou de algum modo
representa alguma coisa para algueacutem Dirige-se a algueacutem isto eacute cria na mente
dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido
Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo
representa alguma coisa seu objeto Representa esse objeto natildeo em todos os
aspectos mas com referecircncia a um tipo de ideia que eu por vezes denominei
fundamento do representamem (Grifos do autor)
Assim seguindo a concepccedilatildeo de Pierce (2005) sobre signo pode-se formular que eacute a
representaccedilatildeo de alguma coisa para algueacutem estaacute no lugar da coisa que ele representa e natildeo eacute a
coisa em si Tem ainda a condiccedilatildeo de perturbar a mente do interpretante i eacute daquele que vecirc
lecirc ou ouve o signo na tentativa de atribuir-lhe um significado Dessa forma eacute possiacutevel verificar
uma relaccedilatildeo de interdependecircncia entre pelo menos trecircs extremos i) a face perceptiacutevel do
5 No capiacutetulo 2 satildeo apresentados os meacutetodos usados na pesquisa
44
signo o representamem ou significante ii) o que ele representa o objeto ou referente e iii) o
que ele significa interpretante ou significado
Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo
Fonte Adaptado a partir do original de Ogden-Richards (1972)
Para Pierce (2005) os signos satildeo elementos tricotocircmicos6 e apresentam trecircs divisotildees
amplas (i) iacutecone (ii) iacutendice e (iii) siacutembolo A despeito de serem conceitos mais pertinentes a
um estudo semioacutetico em grande parte a motivaccedilatildeo que subjaz ao designativo de lugar imprime
caraacuteter icocircnico indicial ou simboacutelico ao nome do lugar o que acarreta uma dada categorizaccedilatildeo
Para Pierce (2005) (i) iacutecones satildeo os signos que apresentam as caracteriacutesticas
especiacuteficas proacuteprias por analogia formam-se pela primeira impressatildeopercepccedilatildeo que o
inteacuterprete tem sobre as coisas do mundo real Eacute um signo que guarda semelhanccedilas entre o
significante e o significado Em outras palavras um iacutecone eacute uma representaccedilatildeo - auditiva visual
ou de outra espeacutecie ndash de alguma coisa Uma fotografia uma pintura as imagens diagramas satildeo
exemplos de iacutecones por evidenciar semelhanccedila com o objeto representado A semelhanccedila tem
de ser estabelecida de forma quase que consciente por quem observa No entanto a semelhanccedila
com o objeto representado pode ser extraordinaacuteria como quando se observam as imagens sacras
ou iacutecones menores aqueles que aparecem na tela do computador ou pode ser mais abstrata
como a que acontece com as placas de sinais em geral
Em relaccedilatildeo aos (ii) iacutendices Pierce (2005) estabelece que satildeo signos que estatildeo numa
relaccedilatildeo direta entre o representamem e o objeto Um iacutendice (ou signo indexical) tem a funccedilatildeo
de indicar o que estaacute nas suas proximidades Nos iacutendices a forma e o significado estatildeo
interligados satildeo contiacuteguos ou seja caracteriza-se pela relaccedilatildeo de contiguidade ou associaccedilatildeo
com aquilo que representa Aquilo que atrai a atenccedilatildeo em um objeto eacute seu iacutendice Apresentam
6 O que difere das caracteriacutesticas dicotocircmicas do signo linguiacutestico para Saussure
Conceito
(Significado)
Palavra Referente
(significante) (elementos da realidade)
45
traccedilos de decirciticos jaacute que os interlocutores podem recuperar o referente por meio de lembranccedilas
de detalhes do objeto
Encontram-se muito difundidos nos sistemas de comunicaccedilatildeo (verbal ou natildeo) Satildeo
amplamente empregados na linguagem miacutemica e gestual no coacutedigo de tracircnsito Os decirciticos satildeo
signos indiciais imprescindiacuteveis pois referem demonstrativamente indicam a pessoa do
discurso o lugar a proximidade7 de espaccedilo e tempo entre outros (iii) Jaacute os siacutembolos satildeo signos
que se referem ao objeto em funccedilatildeo de uma convenccedilatildeo de uma lei ou de associaccedilatildeo geral de
ideias ou melhor por natildeo haver uma relaccedilatildeo de semelhanccedila e nem contiguidade entre o
significante e o significado ela eacute estabelecida por convenccedilatildeo de forma intencional e aprendida
nas relaccedilotildees sociais Os siacutembolos satildeo considerados os signos genuiacutenos estatildeo reservados aos
seres humanos porque as necessidades comunicativas exigem muito mais que indicaccedilotildees
indexicais ou imitaccedilotildees icocircnicas O sistema mais elaborado de signos simboacutelicos certamente
eacute o das liacutenguas naturais na modalidade falada e na escrita tambeacutem sendo que a palavra eacute o
siacutembolo por excelecircncia
Por se constituiacuterem de duas coisas que se encontram em prolongamento uma da outra
i eacute contiacuteguas os signos indexicais podem se substituir mutuamente Tambeacutem os signos
icocircnicos podem tomar o lugar do objeto real Jaacute os simboacutelicos satildeo superiores por permitirem
aos seres humanos ultrapassar os limites de contiguidade e semelhanccedila porque estabelecem uma
relaccedilatildeo simboacutelica entre determinada forma e determinado significado Todas essas relaccedilotildees ndash
icocircnica indexical e simboacutelica ndash estatildeo na base dos sistemas de linguagem
Os signos linguiacutesticos se vinculam agrave noccedilatildeo de siacutembolo uma vez que a relaccedilatildeo com o
objeto referido eacute construiacuteda arbitrariamente em uma espeacutecie de acordo entre os membros de
uma comunidade de fala Para Saussure (2008) o signo linguiacutestico eacute o resultado da associaccedilatildeo
convencional entre o significante e o significado acertada entre os falantes Eacute convencional
porque natildeo haacute nenhum viacutenculo sugestivo entre os dois elementos Essa eacute a noccedilatildeo de
arbitrariedade descrita por Saussure (2008) em relaccedilatildeo aos viacutenculos entre significante e
significado Por outro lado haacute de se considerar situaccedilotildees em que os signos linguiacutesticos
apresentam motivaccedilotildees que podem ser de natureza foneacutetica morfoloacutegica ou semacircntica
Quanto agrave estrutura um topocircnimo pode ser um nome simples ou composto e segue
evidentemente as mesmas regras de formaccedilatildeo de palavras da liacutengua portuguesa Um nome em
funccedilatildeo toponiacutemica pode tambeacutem ser constituiacutedo por frases e oraccedilotildees seguem assim a sintaxe
da liacutengua em que se insere
7 O ldquoeurdquo a pessoa com quem se fala o ldquoeste aquirdquo ldquoesse aiacuterdquo ldquoaquele alirdquo ldquoneste tempordquo ldquonaquele tempordquo
46
Segundo Dick (1992) o signo topocircnimo vincula-se por diversos fatores ao elemento
geograacutefico do qual eacute o referente estabelecendo com ele um conjunto que por sua vez pode ser
separado em partes menores para se distinguirem os seus elementos formadores
Morfologicamente dois elementos baacutesicos podem ser depreendidos dessa relaccedilatildeo um o termo
ou elemento geneacuterico que se relaciona agrave entidade geograacutefica que recebe a denominaccedilatildeo e o
outro o elemento ou termo especiacutefico o topocircnimo propriamente dito que carrega em si mesmo
a noccedilatildeo espacial que identificaraacute e singularizaraacute a entidade denominada das outras semelhantes
Esses elementos ou termos se justapotildeem no sintagma toponiacutemico (Coacuterrego do Ouro) ou se
aglutinam (Rialma) conforme a estrutura da liacutengua em questatildeo
Para Dick (1992) em relaccedilatildeo agrave morfologia os topocircnimos podem apresentar trecircs
diferentes formas (i) topocircnimo ou elemento especiacutefico simples eacute aquele determinado por um
soacute formante que pode apresentar-se acompanhado tambeacutem de sufixaccedilatildeo diminutiva
aumentativa ou de outras origens linguiacutesticas
Eacute comum na formaccedilatildeo de muitos topocircnimos brasileiros a junccedilatildeo de um designativo agraves
terminaccedilotildees -lacircndia em -poacutelis e ndashburgo (normalmente segundo elemento da formaccedilatildeo) Essa
formaccedilatildeo embora apresente dois formantes (de liacutenguas diferentes) satildeo considerados nomes
simples e natildeo compostos pode-se no entanto dizer que em algumas designaccedilotildees satildeo tambeacutem
hiacutebridos jaacute que provecircm de liacutenguas diferentes a saber Maurilacircndia (Maurilo do latim Maurilius
lsquomorenorsquo + lacircndia elemento de origem inglesa) Buritinoacutepolis (Buriti(no) elemento tupi + polis
elemento grego) mas em Friburgo8 natildeo haacute hibridismo
Segundo Siqueira (2012) pode-se ainda indicar a terminaccedilatildeo -(a) nia variaccedilatildeo do sufixo
nominal do latino -anus -ana que se documentam em nomes e modificadores com as noccedilotildees
de proveniecircncia origem entre outras em lembranccedila dos primeiros habitantes da regiatildeo Em
Goiaacutes eacute expressiva a quantidade de topocircnimos que se formaram jungidos a esse elemento
Caiapocircnia Cromiacutenia Goiacircnia Joviacircnia Luziacircnia Silvacircnia (ii) topocircnimo composto ou
elemento especiacutefico composto aquele formado por mais de um elemento de origens diversas
entre si do ponto de vista do conteuacutedo (iii) topocircnimo (composto) hiacutebrido ou elemento
especiacutefico hiacutebrido formado por elementos linguiacutesticos de diferentes procedecircncias
Sobre o caraacuteter imotivado dos signos linguiacutesticos cabe salientar conforme Saussure
(2008) que o viacutenculo que une o significante ao significado eacute arbitraacuterio natildeo haacute relaccedilatildeo loacutegica
ente as duas faces do signo A associaccedilatildeo entre ambos (significante e significado) eacute de natureza
8 Cidades da Alemanha e da Suiacuteccedila no Brasil conforme Machado (2003) haacute uma ldquoFriburgordquo no Amazonas e no
Rio de Janeiro ldquoNova Friburgordquo este sim um hiacutebrido em Minas Gerais haacute tambeacutem o hiacutebrido ldquoCordisburgordquo
cordis do latim lsquocoraccedilatildeorsquo + burgo do alematildeo lsquocidadersquo
47
convencional natildeo natural Assim todo estudo toponiacutemico tem no caraacuteter motivado do signo
toponiacutemico seu ponto de partida ou seja os estudos sobre os topocircnimos se baseiam na
motivaccedilatildeo que subjaz para analisar todas as relaccedilotildees circunscritas a ela
15 Linguiacutestica Histoacuterica
Consideradas como realidades histoacutericas e sociais as liacutenguas satildeo dinacircmicas estatildeo em
contiacutenua transformaccedilatildeo o que leva a afirmar que a liacutengua de hoje natildeo eacute a mesma de ontem
nem se manteraacute idecircntica amanhatilde Posto isso pode-se verificar que o conhecimento mais amplo
da estrutura do leacutexico da semacircntica e ateacute da ortografia pode requerer um estudo linguiacutestico
com perspectivas histoacutericas No acircmbito da linguiacutestica geral destaca-se a Linguiacutestica Histoacuterica
aacuterea cujo interesse recai sobre o que como e por que muda nas liacutenguas no decorrer do tempo
Os estudos acerca da linguagem foram primeiramente postulados pelos filoacutesofos
anteriores ao seacuteculo XIX como Platatildeo e Aristoacuteteles9 que se ativeram ao estudo da linguagem
mediante a anaacutelise da relaccedilatildeo entre som e sentido ignorando qualquer tipo de variaccedilatildeo
linguiacutestica Jaacute a opccedilatildeo filoloacutegica representada principalmente pelos gramaacuteticos alexandrinos
natildeo ignorava a variaccedilatildeo linguiacutestica mas a colocava como desvio configurando-se
possivelmente como a primeira perspectiva normativaprescritiva na histoacuteria dos estudos da
linguagem (MAURER JR 1967)
Por sua vez a linguiacutestica histoacuterica conforme Maurer Jr (1967) estabeleceu relaccedilotildees
culturais entre os povos tornando-se um precioso auxiacutelio para a Histoacuteria e a Antropologia A
linguiacutestica histoacuterica natildeo revela apenas as relaccedilotildees entre duas ou mais liacutenguas mas consegue
tambeacutem evidenciar com facilidade o que eacute herdado de um berccedilo linguiacutestico comum e o que eacute
oriundo de empreacutestimo de outra liacutengua
Consoante estudos recorrentes a linguiacutestica histoacuterica teve seu surgimento no final do
seacuteculo XVIII momento em que se comeccedilava a dar um cunho cientiacutefico agrave mudanccedila linguiacutestica
Natildeo se pode afirmar entretanto que natildeo houvesse uma preocupaccedilatildeo com a linguagem antes
desse periacuteodo haja vista que a criaccedilatildeo da biblioteca de Alexandria por exemplo demonstra
certo interesse pelo assunto pois indica que ao fazer a compilaccedilatildeo das obras antigas da literatura
grega Homero apresentava certa preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura e do passado de
uma eacutepoca
9 Para Aristoacuteteles a linguagem eacute definidora das relaccedilotildees humanas
48
No entanto foi no seacuteculo XVI com a Renascenccedila que houve um acentuado interesse
dos estudiosos pela histoacuteria cultural particularmente pela filologia momento da origem da
histoacuteria literaacuteria No Ocidente renascia o interesse pelo passado que remetia agrave antiguidade
greco-latina
A linguiacutestica histoacuterica consiste segundo Faraco (2006 p 13) em ldquoestudar as mudanccedilas
que ocorrem nas liacutenguas humanas agrave medida que o tempo passardquo A mudanccedila eacute definida como
processo pelo qual a liacutengua viva natildeo fica estagnada mas evolui acompanhando o
desenvolvimento da sociedade que a utiliza como instrumento de comunicaccedilatildeo pois ldquoonde haacute
mudanccedila deve haver histoacuteria do contraacuterio nosso conhecimento do fato permanece incompletordquo
(MAURER JR 1967 p 20)
Nesse contexto estabelece-se o que eacute mais natural a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade
porque uma acaba interferindo na mudanccedila da outra visto que
[] as liacutenguas humanas natildeo constituem realidades estaacuteticas ao contraacuterio sua
configuraccedilatildeo estrutural se altera continuamente no tempo E eacute essa dinacircmica
que constitui o objeto de estudo da linguiacutestica histoacuterica [] as liacutenguas mudam
mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos
necessaacuterios para a circulaccedilatildeo dos significados (FARACO 2006 p 14)
As mudanccedilas natildeo satildeo apenas de ordem lexicais por certo as estruturas gramaticais o
modo de produzir os sons e o significado das palavras se alteram com o tempo bem como novas
palavras surgem para expressar objetos e coisas que satildeo criados Eacute possiacutevel observar ainda que
palavras caem em desuso provocando consequentemente alteraccedilotildees no leacutexico de dada liacutengua
jaacute que
Os estudos de Linguiacutestica Histoacuterica comprovam que as liacutenguas humanas se
transformam no fluxo do tempo ou seja palavras e estruturas que existiam
antes deixam de existir ou sofrem modificaccedilotildees na forma na funccedilatildeo eou no
significado Apesar das transformaccedilotildees sofridas as liacutenguas mudam mas
continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos necessaacuterios
que garantem uma comunicaccedilatildeo eficaz pois as mudanccedilas ocorrem em partes
e natildeo no todo das liacutenguas num processo de mutaccedilatildeo e permanecircncia
(SIQUEIRA AGUIAR 2011 p 385 grifos das autoras)
A linguiacutestica histoacuterica pode ser estudada em duas fases a de 1800 e a poacutes 1900 No
seacuteculo XIX surgiram meacutetodos de abordagem para se estudar as liacutenguas suas combinaccedilotildees
identidade (gecircnese) diferenccedilas (mudanccedilas) Segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 18) ldquoa tradiccedilatildeo
oitocentista portanto recorta descreve e explica os fenocircmenos da linguagem do ponto de vista
do binocircmio gecircnese-evoluccedilatildeordquo
49
O poacutes 1900 partiu da observaccedilatildeo da diacronia e sincronia Com o advento do
estruturalismo de Ferdinand Saussure (2008) no seacuteculo XX a linguiacutestica moderna trouxe como
proposta que o objeto da linguiacutestica ndash a liacutengua ndash pudesse ser estudado separadamente do efeito
tempo (PAIXAtildeO DE SOUSA 2006) Como divisor desse momento na segunda metade poacutes
1900 o objeto da linguiacutestica eacute de ordem bioloacutegica ndash a diacronia estaacute imanente agrave liacutengua pois
de acordo com esta corrente linguiacutestica eacute na liacutengua que reside a heterogeneidade a mudanccedila e
a variaccedilatildeo
Segundo Faraco (2006 p 91) as liacutenguas estatildeo inseridas em um processo de fluxo
temporal de mutabilidade ldquoaparecimentosrdquo e ldquodesaparecimentosrdquo ldquoconservaccedilatildeordquo e
ldquoinovaccedilatildeordquo As liacutenguas tecircm histoacuteria revelam e constituem a todo tempo a realidade e as
transformaccedilotildees ocorridas comno tempo Em relaccedilatildeo a isso
Humboldt convencia-se de que toda liacutengua reflete a psique do povo que a fala
Eacute o resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal
de fala Ele acha por outro lado que a liacutengua de um povo eacute o canal natural
pelo qual aquele povo chega a uma compreensatildeo do universo que circunda o
homem E conclui que existe uma profunda influecircncia de uma liacutengua na
maneira pela qual seus falantes veem e organizam o mundo dos objetos em
torno deles e de sua vida espiritual (CAMARA JR 1975 p 38-39)
A liacutengua eacute um ldquoinstrumentordquo social e estaacute carregada de significaccedilatildeo e considerados
espaccedilo e tempo eacute capaz de revelar o mundo a outros mundos Faraco (2006) faz ainda referecircncia
ao estudo do leacutexico ao reafirmar que a composiccedilatildeo deste pode ser estudada historicamente na
sua origem bem como os empreacutestimos que satildeo feitos de outras liacutenguas Necessaacuterio se faz
reconhecer que o leacutexico eacute uma unidade carregada da histoacuteria cultural de dada comunidade
linguiacutestica natildeo esquecendo conforme Faraco (2006 p 42) que ldquoeacute um dos pontos em que mais
claramente se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e culturardquo
Com o advento estruturalista de Saussure (2008) haacute uma mudanccedila de perspectiva a
visatildeo diacrocircnica dos fatos linguiacutesticos daacute lugar ao enfoque sincrocircnico dos fenocircmenos da
linguagem Eacute preciso observar que consoante a diretriz saussuriana a anaacutelise sincrocircnica
precede a diacrocircnica sendo possiacutevel fazer comparaccedilatildeo entre elas no momento em que tiver a
descriccedilatildeo de pelo menos dois estados da liacutengua Daiacute reforccedilar-se o objetivo do estudo em
descrever sincronicamente um dado especiacutefico da histoacuteria da liacutengua Faraco (2006 p 120)
afirma que ldquoo estudioso se fixa num momento do passado e tomando-o estaticamente
descreve-o com base nos documentos escritos de que se dispotildee criando assim condiccedilotildees para
um posterior estudo diacrocircnicordquo
50
A par disso conveacutem mencionar que nos seacuteculos XVII e XVIII estudos linguiacutesticos
hegemocircnicos observavam a liacutengua como uma realidade estaacutevel diferentemente do pensamento
linguiacutestico do seacuteculo XIX que considerava a liacutengua como uma realidade em transformaccedilatildeo
Desta forma Saussure (2008) estabeleceu duas dimensotildees uma histoacuterica (chamada diacrocircnica)
que tem como centro de suas atenccedilotildees as mudanccedilas porque passa a liacutengua no tempo ou seja a
mutabilidade da liacutengua no tempo a outra eacute estaacutetica (chamada sincrocircnica) que entende a liacutengua
como um sistema estaacutevel num espaccedilo de tempo aparentemente fixo isto eacute a sua imutabilidade
Mas
Diante dos termos sincroniadiacronia natildeo basta apenas entender por alto a
que se referem Eacute preciso antes perceber que essa divisatildeo pressupotildee tambeacutem
na sua origem uma concepccedilatildeo homogeneizante da liacutengua que ndash apesar de sua
indiscutiacutevel funcionalidade e fertilidade para a linguiacutestica contemporacircnea ndash eacute
para muitos estudiosos uma idealizaccedilatildeo excessiva por criar um objeto de
estudo demasiadamente afastado da heterogeneidade linguiacutestica do real
(FARACO 2006 p 106 grifos do autor)
Segundo Faraco (2006) Coseriu em seu livro Sincronia diacronia e histoacuteria de 1973
posiciona-se de forma contraacuteria agrave formulaccedilatildeo de Saussure (2008) (visatildeo estaacutetica de sistema)
pois para ele a liacutengua deve ser vista em permanente sistematizaccedilatildeo em movimento Coseriu
rejeita a ideia de que a descriccedilatildeo (sincronia) e a histoacuteria (diacronia) sejam estudos diferenciados
mas assume a visatildeo de que as liacutenguas satildeo objetos histoacutericos e devem ser estudadas de forma
integrada envolvendo descriccedilatildeo e histoacuteria
Para Rocha Galvatildeo e Gonccedilalves (2011 p 30) ldquoestabelecer a presenccedila ou a viagem das
palavras eacute acompanhar o envolver das proacuteprias comunidades pelo tempo aforardquo Um recorte
sincrocircnico natildeo deve desprezar a interpretaccedilatildeo diacrocircnica o interesse cientiacutefico natildeo estaacute presente
somente num espaccedilo-tempo assim como a representatividade histoacuterica necessita admitir pontos
exatos na representaccedilatildeo da vivecircncia humana
No segundo capiacutetulo apresenta-se uma breve revisatildeo dos meacutetodos de pesquisa que
podem ser combinados com a teoria onomaacutestico-toponiacutemica a fim de compor um quadro
ilustrativo das caracteriacutesticas do meio da cultura dos fatos histoacutericos e dos estados anteriores
da liacutengua que estatildeo de alguma forma impressos na motivaccedilatildeo que subjaz aos topocircnimos em
questatildeo
51
II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS
O povo ldquosenhor dos espaccedilos puacuteblicosrdquo por vezes
adota criteacuterio proacuteprio ao conferir nomes aos
lugares
(IBGE 2008)
A linguagem humana eacute sobretudo interaccedilatildeo e natildeo pode pois ser explicada apenas em
termos de sua estrutura semacircntica e formal mas tambeacutem deve-se analisaacute-la em sua funccedilatildeo
social Desta forma o desenvolvimento linguiacutestico e intelectual do indiviacuteduo caminham juntos
pois ambos satildeo a base da abstraccedilatildeo e categorizaccedilatildeo pois ldquotoda liacutengua reflete as condiccedilotildees da
sociedade e do ciacuterculo cultural que se falardquo (ANDRADE 2010 p 99)
Aspectos linguiacutesticos de diversas ordens satildeo fundamentais para o estudo toponiacutemico jaacute
que eacute por mecanismos linguiacutesticos que o signo comum transmuta-se em designativo de lugar
revelando a identidade do nomeador coletivo ou natildeo Desta maneira ldquoo topocircnimo eacute o resultado
da accedilatildeo do nomeador ao realizar um recorte no plano das significaccedilotildees representaccedilotildees ou seja
praticar um papel de registro no momento vivido pela comunidaderdquo (ANDRADE 2010 p
106)
Acolher uma orientaccedilatildeo ou outra acarreta outrossim na escolha do meacutetodo a ser utilizado
para a pesquisa linguiacutestico-histoacuterica Para situar a escolha por um meacutetodo este capiacutetulo faz uma
breve exposiccedilatildeo de alguns meacutetodos que tecircm sido empregados em pesquisas de abordagem
similar a esta em especial descrevemos detalhadamente os que satildeo usados nesta pesquisa os
quais consideram natildeo somente os aspectos linguiacutesticos bem como os histoacutericos e socioculturais
do lugar indo ao encontro da perspectiva adotada para este trabalho
21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos
Natildeo se deve confundir metodologia com meacutetodo de pesquisa Segundo Silva e Silveira
(2007 p 145) a metodologia consiste de um conjunto de criteacuterios usados para se construir um
conhecimento vaacutelido seguro e de certa forma verdadeiro Jaacute os meacutetodos de pesquisa podem
ser definidos como ldquoprinciacutepios e procedimentos aplicados para construccedilatildeo do saberrdquo Os autores
salientam que se torna mais difiacutecil ficar preso a um uacutenico meacutetodo quando se pode lanccedilar matildeo
do ldquopluralismo metodoloacutegicordquo Deste modo considerando as especificidades de um estudo
toponiacutemico eacute possiacutevel conjugar meacutetodos de forma ordenada e loacutegica Isto quer dizer que se
52
podem utilizar meacutetodos de abordagem (indutivo dedutivo dialeacutetico) em consonacircncia com os
preceitos de um ou mais meacutetodos de procedimento (funcionalista comparativo
fenomenoloacutegico estruturalista)
Uma perspectiva histoacuterica por exemplo abre um amplo espectro de possibilidades de
se estudar um determinado fato linguiacutestico Podem ser citadas diversas maneiras para se tomar
os fenocircmenos linguiacutesticos do ponto de vista histoacuterico tais como a filologia centrada nos
aspectos histoacutericos das transformaccedilotildees a linguiacutestica comparada que aborda os fatos por meio
de comparaccedilotildees entre as liacutenguas de grupos linguiacutesticos relacionados e a etimologia a qual
busca desvendar o significado de origem das palavras aqui centra-se o nosso objeto de estudo
que eacute descrever e analisar a origemetimologia dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua de Pires do
Rio-GO
Os meacutetodos linguiacutesticos podem ainda estudar as transformaccedilotildees linguiacutesticas
correlacionando-as ao contexto sociocultural o que tem contribuiacutedo grandemente para uma
renovaccedilatildeo das abordagens do fenocircmeno da mudanccedila linguiacutestica resultando em inuacutemeras outras
orientaccedilotildees teoacutericas que em certo sentido podem ser vistas como herdeiras dos primeiros
criacuteticos dos estudos comparativos
A linguiacutestica tem a liacutengua como seu principal objeto de estudo a qual eacute produto da
experiecircncia acumulada historicamente na cultura de uma sociedade A liacutengua eacute um fenocircmeno
social pois eacute produzida e determinada socialmente ademais eacute um importante siacutembolo da
identidade de um grupo E eacute no comportamento linguiacutestico de uma dada comunidade que se
reflete a busca de aprovaccedilatildeo social ou a acentuaccedilatildeo de diferenccedilas (COSERIU 1977) Eacute por
meio dela enfim que um indiviacuteduo adquire a cultura do lugar em que vive jaacute que
A funccedilatildeo baacutesica da Linguiacutestica eacute o estudo direto da lsquoliacutengua viva e faladarsquo por
observaccedilatildeo e anaacutelise objetiva de seus fenocircmenos postas de lado todas as
forccedilas e influecircncias que se manifestem muitas vezes atraveacutes dela e todos os
antecedentes que possam ter dado origem ao estado atual (MAURER JR
1967 p 30)
Observa-se na Linguiacutestica Geral de acordo com Maurer Jr (1967) a divisatildeo em dois
setores distintos poreacutem essenciais para compreensatildeo da linguagem a Linguiacutestica Descritiva
(sincrocircnica) que segundo o autor deve ser a base de todo estudo cientiacutefico porque eacute a partir
dela que aprendemos a linguagem em sua funccedilatildeo uacutenica e peculiar e a Linguiacutestica Histoacuterica
(diacrocircnica) que complementa e explica os fatos da primeira e tem uma funccedilatildeo importante no
estudo desse rico patrimocircnio cultural e humano a liacutengua
53
212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica
Para alguns estudiosos a linguiacutestica histoacuterica teve seu apogeu no seacuteculo XIX embora
outros afirmem que tenha ocorrido haacute tempos no Renascimento De acordo com Paixatildeo de
Sousa (2006 p 14)
[] a reflexatildeo linguiacutestica dos 1800 representa um marco divisor na histoacuteria
das histoacuterias do tempo e da linguagem por inaugurar uma concepccedilatildeo
inteiramente nova dos condicionantes dessa relaccedilatildeo e construir um novo
plano para sua anaacutelise Eacute antes de tudo na tentativa de se combinar a esfera
documental com a esfera experimental que aparecem os desdobramentos mais
interessantes dos estudos histoacutericos da liacutengua ao longo do seacuteculo XIX eles
buscaratildeo articular as duas esferas em um mesmo plano de anaacutelise construindo
a abordagem histoacuterico-comparada
Assim a linguiacutestica histoacuterica apoacutes o seacuteculo XIX cria um meacutetodo que permite
ldquocategorizar e justificar a identidade geneacutetica e a evoluccedilatildeo paralela de cada idioma em um grupo
aparentadordquo segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 16) O meacutetodo comparativo segundo Maurer
Jr (1967) busca comparar cuidadosamente formas apresentadas entre si de um grupo
distinguir a origem e estudar a diversificaccedilatildeo das liacutenguas para desvendar e recontar a histoacuteria
de cada liacutengua Ressalte-se que para Faraco (2006 p 125) esse meacutetodo teve sua estruturaccedilatildeo
ldquoao dar um tratamento sistemaacutetico agraves observadas semelhanccedilas entre liacutenguas distantes no espaccedilo
como o latim e o sacircnscritordquo E ainda
constitui um recurso inteligente e racional para a reconstruccedilatildeo de fatos que
dependem de testemunho em todo o terreno Tal como a Paleontologia a
Histoacuteria da Cultura e ateacute na investigaccedilatildeo do crime na Justiccedila esse meacutetodo
submete o testemunho a um estudo preliminar para avaliar seu isolamento sua
coerecircncia etc (MAURER JR 1967 p 31)
O meacutetodo comparativo se baseia na experimentaccedilatildeo (induccedilatildeo) procura descrever os
estaacutegios da liacutengua que natildeo deixaram registros (documentos) como eacute o caso do latim vulgar No
entanto se difere do histoacuterico-comparativo o qual usa documentos histoacutericos para fazer as suas
reconstruccedilotildees acerca da liacutengua Poreacutem ambos os meacutetodos buscam recuperar a histoacuteria da liacutengua
de forma cronoloacutegica
De acordo com Faraco (2006 p 134)
O meacutetodo comparativo eacute o procedimento central nos estudos de linguiacutestica
histoacuterica Eacute por meio dele que se estabelece o parentesco entre liacutenguas O
pressuposto de base eacute que entre elementos de liacutenguas aparentadas existem
54
correspondecircncias sistemaacuteticas (e natildeo apenas aleatoacuterias ou casuais) em termos
de estrutura gramatical correspondecircncias estas passiacuteveis de serem
estabelecidas por meio duma cuidadosa comparaccedilatildeo Com isso podemos natildeo
soacute explicitar o parentesco entre liacutenguas (isto eacute dizer se uma liacutengua pertence
ou natildeo a uma determinada famiacutelia) como tambeacutem determinar por inferecircncia
caracteriacutesticas da liacutengua ascendente comum de um certo conjunto de liacutenguas
No decorrer dos anos vaacuterios satildeo os estudiosos que contribuiacuteram com a formaccedilatildeo e o
aprimoramento do meacutetodo comparativo dentre eles destacamos Bopp (1791-1867) que
buscava estabelecer o parentesco entre as liacutenguas mas natildeo o percurso histoacuterico de um anterior
para um posterior Grimm (1785-1863) que ao estudar o ramo germacircnico das liacutenguas indo-
europeias pocircde estabelecer a sucessatildeo histoacuterica por meio de comparaccedilatildeo ndash comparativo
histoacuterico Rask (1787-1832) tambeacutem desenvolveu trabalhos comparativos importantes para o
momento envolvendo as liacutenguas noacuterdicas as demais liacutenguas germacircnicas o grego o latim o
lituano o eslavo e o armecircnio Foi a partir desses estudiosos que surgiu a ldquofilologia (ou
linguiacutestica) romacircnica nome que se deu ao estudo histoacuterico-comparativo das liacutenguas oriundas
do latimrdquo (FARACO 2006 p 137)
De tal modo da siacutentese que foi apresentada eacute possiacutevel tecer as seguintes consideraccedilotildees
o meacutetodo histoacuterico-comparativo em seu apogeu foi e ainda hoje eacute uacutetil aos estudos da Linguiacutestica
Histoacuterica principalmente no que concerne natildeo soacute agrave reconstruccedilatildeo de fases anteriores das liacutenguas
como tambeacutem eacute bastante indicado para estudos que objetivam a reconstruccedilatildeo interna de uma
liacutengua Esse meacutetodo cumpriu papel importante para o desvelamento de inuacutemeras questotildees
linguiacutesticas das liacutenguas antigas grego latim sacircnscrito
Jaacute os estudos dos neogramaacuteticos possibilitaram o aprimoramento do meacutetodo histoacuterico-
comparativo mediante a verificaccedilatildeo de que muitas mudanccedilas ocorridas nas liacutenguas em
momentos anteriores e registrados em documentos podem ser explicitadas por meio da
explanaccedilatildeo de mudanccedilas ldquosincrocircnicasrdquo sucedidas nas liacutenguas conforme as leis foneacuteticas e a
analogia
Conforme Cacircmara Jr (1975) Gaston Paris traccedilou mapas das linhas isogloacutessicas dando
os primeiros passos para a geografia linguiacutestica a qual na verdade foi efetivamente criada por
seu disciacutepulo suiacuteccedilo Jules Gillieacuteron que dedicou-se agrave dialetologia e no doutoramento em 1879
defendeu a tese sobre o dialeto de Vionnaz Essa nova teacutecnica ldquoteve como base teoacuterica o
conceito de dialeto como uma abstraccedilatildeo essa a razatildeo de focalizar cada mudanccedila linguiacutestica per
se como o verdadeiro dado linguiacutesticordquo (CAcircMARA JR 1975 p 121)
55
A geografia linguiacutestica10 segundo Cacircmara Jr (1975) eacute importante como uma nova
abordagem para o estudo histoacuterico-comparativo pois em vez de recorrer a textos antigos o
pesquisador busca apenas os aspectos contemporacircneos da liacutengua absorvendo as bases
linguiacutesticas no intercacircmbio oral Desta forma
Obteacutem-se uma corrente evolucionaacuteria pela comparaccedilatildeo das muitas variantes
de cada forma cuja distribuiccedilatildeo no espaccedilo pode ser traduzida numa
distribuiccedilatildeo atraveacutes do tempo de acordo com regras metodoloacutegicas O aspecto
foneacutetico da variante ou sua existecircncia num patois relativamente moderno ou
notaacutevel por traccedilos arcaicos constituem a chave para esta investigaccedilatildeo
histoacuterica Por essa razatildeo eacute que atraveacutes da geografia linguiacutestica uma nova
teacutecnica para o estudo histoacuterico da linguagem foi imaginada sob o tiacutetulo de
ldquoreconstruccedilatildeo internardquo (CAcircMARA JR 1975 p 125 grifos do autor)
Essa nova abordagem vem corroborar com os estudos da liacutengua porque de forma
efecircmera reconstroacutei a histoacuteria de uma dada liacutengua contribuindo com a contemporaneidade uma
vez que nos eacute necessaacuterio conhecer a base etimoloacutegica das palavras e depois justificar o seu uso
ou evoluccedilatildeo
Segundo Cacircmara Jr (1975) apoacutes observar que Gaston Paris traccedilou mapas das linhas
isogloacutessicas e Gillieacuterion criou a geografia linguiacutestica muitos anos depois os linguistas italianos
Giulio Bertoni e Matteo Bartoli criaram o meacutetodo de linguiacutestica areal cujo objetivo era
classificar aacutereas linguiacutesticas ndash de uma liacutengua ou grupo de liacutenguas ndash como forma de
representaccedilatildeo da contemporaneidade e do estaacutegio linguiacutestico de desenvolvimento Os
linguistas consoante Cacircmara Jr (1975 p 126) ldquodividiram um territoacuterio linguiacutestico em aacutereas
isoladas aacutereas laterais aacutereas principais e aacutereas desaparecidas (isto eacute aacutereas homogecircneas que
desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)rdquo e desta forma
difundiam mais um meacutetodo linguiacutestico
Destaca ainda que a linguiacutestica histoacuterica compreende dois momentos de exatidatildeo o
primeiro de 1786 a 1878 periacuteodo de formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do meacutetodo comparativo o qual
finalizou com o movimento dos neogramaacuteticos o segundo vai desde 1878 ateacute a
contemporaneidade periacuteodo de tensatildeo entre duas linhas interpretativas uma imanentista ndash
neogramaacutetico estruturalismo e gerativismo que vecirc a mudanccedila como acontecimento interno da
liacutengua e pela proacutepria liacutengua e a outra integrativa ndash primeiros criacuteticos neogramaacuteticos dialetologia
e sociolinguiacutestica cuja mudanccedila da liacutengua estaacute condicionada a fatores contextuais nos quais o
falante estaacute inserido
10 No Brasil a Geografia Linguiacutestica concretizou-se com a produccedilatildeo de Atlas Linguiacutesticos em diferentes Estados
brasileiros
56
Entre os seacuteculos XVIII e XIX ocorreram momentos de grande relevacircncia para a
linguiacutestica histoacuterica Um deles eacute a fundaccedilatildeo da Escola de Estudos Orientais em Paris
(importante centro de investigaccedilatildeo) no ano de 1975 onde estudaram os linguistas alematildees
Friedrich Schlegel (1772-1829) e Franz Bopp (1791-1867) os quais mais tarde desenvolveram
a chamada gramaacutetica comparativa
Assim em 1808 Friedrich Schlegel publicou um texto sobre a liacutengua e sabedoria dos
povos hindus que de acordo com Faraco (2006) eacute considerado o ponto de partida do
comparativismo alematildeo No texto o autor ratifica sobre o parentesco das liacutenguas sacircnscrita com
a latina grega germacircnica e persa
Cabe ainda salientar que os estudos histoacuterico-comparativos antes da uacuteltima metade do
seacuteculo XIX conheceram a obra de August Scheilcher (1821-1868) Sua teoria tomava a liacutengua
como um organismo vivo com existecircncia fora de seus falantes sendo sua histoacuteria vista como
natural devido agraves orientaccedilotildees naturalistas do linguista como sua formaccedilatildeo em botacircnica e
influenciado pela teoria evolucionista de Darwin (FARACO 2006)
Jaacute no seacuteculo XIX as investigaccedilotildees no campo da linguagem eram dominadas por ideias
positivistas que se desenvolviam conforme meacutetodos histoacuterico-comparativos eacutepoca em que se
formaliza o estudo sistemaacutetico das variaccedilotildees sobretudo as de natureza geograacutefica Surge o
interesse pelos dialetos considerados como fontes de conhecimento do modo como se teriam
operado as transformaccedilotildees em fases anteriores das liacutenguas A Geografia Linguiacutestica eacute uma
consequecircncia do interesse pelos estudos dialetais levados a cabo de iniacutecio por vaacuterios estudiosos
europeus Segundo Coseriu (1982) surge um meacutetodo dialetoloacutegico e comparativo que
pressupotildee o registro em mapas especiais de um nuacutemero relativamente elevado de formas
linguiacutesticas (focircnicas lexicais ou gramaticais) recolhidas mediante pesquisa direta e unitaacuteria
numa rede de pontos distribuiacuteda em determinado territoacuterio
Deste modo eacute necessaacuterio compreender que
A linguagem eacute inegavelmente uma heranccedila social cuja histoacuteria se estende
por seacuteculos Uma visatildeo completa um conhecimento detalhado de seu
mecanismo de sua estrutura de sua semacircntica e ateacute de sua ortografia soacute
podem ser obtidos atraveacutes da pesquisa diacrocircnica Os meacutetodos expostos
acima em suas linhas essenciais natildeo deixam duacutevida de que a filologia
romacircnica se desenvolveu com o meacutetodo histoacuterico-comparativo adotado com
mais ecircxito aqui do que no campo para o qual havia sido criado As possiacuteveis
deficiecircncias desse meacutetodo foram sendo corrigidas depois pela geografia
linguiacutestica e pelos outros meacutetodos derivados como a onomasiologia Woumlrter
und Sachen linguiacutestica espacial etc Enquanto o meacutetodo histoacuterico-
comparativo procura as ligaccedilotildees entre o ldquoterminus a quordquo e o ldquoterminus ad
quemrdquo o latim vulgar e as liacutenguas romacircnicas respectivamente os outros
57
meacutetodos tecircm como objeto especificamente o ldquoterminus ad quemrdquo pois
investigam sincronicamente aspectos atuais dessas mesmas liacutenguas cujas
explicaccedilotildees poreacutem devem ser buscadas diacronicamente (BASSETTO
2001 p 85 grifos do autor)
Para Faraco (2006 p 106) ldquooptar por uns ou por outros eacute que vai orientar nossa forma
de entender a mudanccedila linguiacutestica nossa seleccedilatildeo de dados nossas categorias e procedimentos
de anaacutelise nosso processo argumentativordquo Ou seja ao assumirmos uma concepccedilatildeo de base
correlata eacute o que iraacute definir o nosso meacutetodo de trabalho
22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia
Segundo Silva (2010) a onomasiologia eacute um meacutetodo que se constitui do estudo das
designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Pode ser
investigada toda a cultura popular de um local podendo-se priorizar os aspectos sincrocircnicos ou
histoacutericos Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores do que
subjaz agrave nomeaccedilatildeo dos lugares
Pode-se para efeito deste estudo traccedilar o esquema a seguir o qual demonstra as
possibilidades temaacuteticas que esse tipo de pesquisa pode apresentar
Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos
Onomaacutestica
Toponiacutemia Antroponiacutemia
Modalidades Coleta
Imagens mapas cartas e plantas
Documental Texto iacutendicesrepertoacuterio de nomes
Ficcional Natildeo ficcional
Pesquisa de campo Entrevistas etnografia
Mista Documental e Pesquisa de campo
Fonte Adaptado de material da USP ndash Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas 2016
58
A onomasiologia eacute o resultado das tendecircncias mais significativas da evoluccedilatildeo linguiacutestica
na transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX em que a centralidade das investigaccedilotildees passam
do som (foneacutetica) para a palavra (lexicologia) O seu triunfo se deu a partir do desenvolvimento
da Geografia Linguiacutestica pois com o aparecimento de inuacutemeros termos regionais recolhidos
pelos inqueacuteritos linguiacutesticos surgiu a necessidade de um novo meacutetodo que auxiliasse os
dialetoacutelogos a compreenderem o homem regional em sua amplitude por meio da linguagem
Apoacutes a publicaccedilatildeo dos atlas linguiacutesticos a onomasiologia comeccedila a ser utilizada em
vaacuterios estudos jaacute que pelo seu uso eacute possiacutevel caracterizar as atividades de uma regiatildeo e situaacute-
las no tempo Segundo Couto (2012 p 186) ldquoa onomasiologia vecirc a questatildeo da referecircncia para
usar um termo semioacutetico partindo da coisa e indo na direccedilatildeo do nome que ela receberdquo Desta
forma ldquoo meacutetodo onomasioloacutegico permite ver a cultura do povo cuja liacutengua se estuda
costumes ocupaccedilotildees instrumental crenccedilas e crendices moradia enfim sua mundividecircncia
Permite sentir a linguagem viva traduzindo a vivecircncia cultural do povordquo (BASSETO 2001 p
77)
Ressalta-se que
Com pontos em comum com a Geografia Linguiacutestica e ldquoPalavras e Coisasrdquo o
meacutetodo onomasioloacutegico tambeacutem conhecido como onomasiologia isto eacute o
estudo das denominaccedilotildees se propotildee investigar os vaacuterios nomes atribuiacutedos a
um objeto animal planta conceito etc individualmente ou em grupo dentro
de um ou vaacuterios domiacutenios linguiacutesticos Seus objetivos satildeo portanto
semacircnticos e lexicoloacutegicos buscando descobrir os aspectos vivos e as forccedilas
criadoras da linguagem (BASSETO 2001 p 76)
O meacutetodo onomasioloacutegico natildeo ficou a cargo apenas de um pesquisador mas de vaacuterios
pois seus princiacutepios se desenvolveram aos poucos Conforme Bassetto (2001) temos como
predecessores da onomasiologia moderna F Brinkmann (1872) Luigi Morandi (1883)
Friedrich Diez (1875) Fr Pott (1853) Jakob Grimm (1853) e F Miklosich (1868) Todavia o
princiacutepio da onomasiologia cientiacutefica deu-se com Carlo Salvioni (1858-1920) quando estudou
sobre as denominaccedilotildees italianas do vaga-lume (1892) e com Ernest Toppolet (1870-1939) que
referendou em seus estudos o parentesco dos nomes romacircnicos por ele denominados de
ldquolexicologia cientiacuteficardquo
As pesquisas desenvolvidas na aacuterea da onomaacutestica se constituem em uma linha
documental ou de campo seguindo um meacutetodo pelo qual se selecionam observam registram
classificam analisam e interpretam os dados de acordo com a identificaccedilatildeo dos fatores
59
determinantes agrave configuraccedilatildeo dos corpora Essas anaacutelises de dados satildeo baseadas em trecircs
categorias linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica que satildeo reveladas pelo meacutetodo onomasioloacutegico
Segundo Ramos e Bastos (2010) as trecircs perspectivas ndash linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica
ndash satildeo cruciais para revelar as seguintes caracteriacutesticas a) a determinaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica das
diferentes liacutenguas que tenham existido ou existentes num determinado territoacuterio b) o estudo
das terminaccedilotildees caracteriacutesticas de cada palavra c) o estudo das formas gramaticais d) o estudo
da foneacutetica histoacuterica e) a verificaccedilatildeo das formas documentadas as quais se subdividem em ndash
comparaccedilatildeo semacircntica a abordagem dos dados geograacuteficos e a abordagem dos dados histoacutericos
Cabe ainda indicar em linhas gerais algumas concepccedilotildees do meacutetodo Woumlrter und
Sachen de Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) o qual conforme
Bassetto (2001) tem pontos em comum que compartilha com o meacutetodo onomasioloacutegico Visa
ao estudo das questotildees semacircnticas das palavras enfatizando a realidade que elas designam
porque para os estudiosos dessa linha de pensamento a verdadeira etimologia da palavra
encontra-se no conhecimento dessa realidade Procura instruir sobre a necessidade de conhecer
sempre que possiacutevel o objeto designado por um termo para que o significado possa ser
devidamente explicitado Quando se conhece a realidade a natureza a forma o uso as medidas
das coisas do mundo eacute possiacutevel estabelecer a origem e a histoacuteria das palavras com que esses
mesmos objetos foram designados
Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) foram precursores desse
meacutetodo ao considerarem que as coisas existem antes de serem denominadas ou seja as coisas
preexistem agraves suas designaccedilotildees podendo ateacute existir sem que sejam nomeadas Em
contrapartida as palavras dependem das ldquocoisasrdquo estatildeo ligadas a elas Com essa perspectiva
Schuchardt (mais do que Meringer) remete ao meacutetodo Woumlrter und Sachen ldquoPalavras e Coisasrdquo
cujo tiacutetulo instituiu o nome do meacutetodo
No entanto conveacutem salientar que jaacute na gramaacutetica grega estava impliacutecita a ideia de que
as coisas precedem as palavras Em outros termos quando se conhece em profundidade a
ldquocoisardquo chega-se ao ldquoeacutetimordquo da palavra que a nomeia alcanccedila-se o significado com que a coisa
foi primeiramente designada Menciona-se que para Schuchardt (apud BASSETO 2013)
Sachen (coisa) significava qualquer realidade i eacute ldquoSachenrdquo podia se referir tanto a
acontecimentos e estados como a objetos ao real e ao irreal ao tangiacutevel11 e ao intangiacutevel ou
em outras palavras tanto a coisas do mundo sensiacutevel como do insensiacutevel
11 ldquoTangiacutevelrdquo do latim tangere tangens lsquotocar aquilo que tocarsquo do mesmo eacutetimo de attingere lsquoaproximar-se e
tocarrsquo
60
O meacutetodo Woumlrter und Sachen (Palavras e Coisas) segundo Campbell (2004) relaciona-
se agraves inferecircncias histoacuterico-culturais que podem ser reveladas por meio da investigaccedilatildeo das
palavras pautadas na sua analisabilidade Campbell (2004) assume que as palavras que satildeo
analisadas em partes transparentes (vaacuterios morfemas) podem ser de criaccedilatildeo mais recente (na
liacutengua) em relaccedilatildeo agraves palavras que natildeo apresentam essa transparecircncia morfecircmica
Essa teacutecnica contribui sobremaneira para traccedilar uma cronologia aproximativa dos
vocabulaacuterios Dias (2016 p31) acentua que
Sobretudo supotildee-se que itens culturais denominados por termos analisaacuteveis
satildeo tambeacutem adquiridos mais recentemente pelos falantes e aqueles que satildeo
expressos por palavras natildeo analisaacuteveis representam itens mais velhos e
instituiccedilotildees Outra estrateacutegia desse meacutetodo envolve fazer inferecircncias por meio
de informaccedilotildees de itens culturais de quem os nomes sofreram visivelmente
mudanccedila de significado
E para Crowly (2003) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo pode ser usado para fazer
reconstruccedilatildeo cultural e chegar ao conteuacutedo de uma protocultura por exemplo jaacute que se eacute
possiacutevel reconstruir uma palavra designativa de alguma coisa na protoliacutengua eacute possiacutevel tambeacutem
supor que a coisa a que ela se refere provavelmente foi de importacircncia cultural na vida dos
seus falantes ou que foi ambientalmente marcante Segundo o autor o meacutetodo pode tambeacutem
dizer muito sobre a terra natal de uma famiacutelia linguiacutestica pode-se ainda por meio do referido
meacutetodo fazer suposiccedilotildees sobre as rotas legiacutetimas seguidas pelos povos para se chegar aos
lugares onde se encontram atualmente12
Destarte segundo Bassetto (2013) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo deu destaque agrave
semacircntica ao estabelecer a etimologia e ateacute a biografia das palavras aleacutem de tornar os estudos
filoloacutegicos mais objetivos Posto isso eacute possiacutevel verificar que o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo
pode ser usado nos estudos semacircnticos lexicais onomaacutesticos toponiacutemicos Quando se busca
relacionar a histoacuteria do nome com a histoacuteria do lugar vincula-se a palavra (o nome) agrave coisa (o
lugar) Nesse sentido pode-se de alguma maneira realizar o estudo natildeo apenas pautado no
meacutetodo onomasioloacutegico mas tambeacutem considerando as intrincadas relaccedilotildees entre nomes e as
coisas do mundo
Cabe ressaltar
Assim como procedimento metodoloacutegico seguido nos estudos
toponomaacutesticos buscamos definir o jaacute definido ou seja o objeto de estudo da
disciplina o seu campo de trabalho especiacuteficos a natureza linguiacutestica da
12 Por exemplo os caminhos que levaram (trouxeram) os bandeirantes agraves terras do iacutendio goyaacute
61
anaacutelise em termos de vinculaccedilatildeo a uma aacuterea do conhecimento Partindo-se da
definiccedilatildeo etimoloacutegica dos elementos gramaticais de origem grega enunciados
por Dioniacutesio de Traacutecia no seacuteculo II a C a Toponiacutemia ficou-se como propocircs
Leite de Vasconcelos (1887) no entendimento dos nomes proacuteprios de lugares
distintos dos nomes comuns delimitados pela teoria da linguagem (DICK
2006 p 96)
A toponomaacutestica entatildeo fundamenta-se nos estudos dos nomes proacuteprios de lugares
estabelecendo relaccedilotildees da liacutengua com o ambiente sendo de extrema necessidade observar os
viacutenculos do nomeador com a coisa nomeada a motivaccedilatildeo que subjaz ao topocircnimo
O meacutetodo da Geografia Linguiacutestica com a concepccedilatildeo basilar de que a distribuiccedilatildeo
geograacutefica dos aglomerados populacionais se reflete na diferenciaccedilatildeo linguiacutestica trouxe grande
contribuiccedilatildeo para o estudo dos nomes em geral pois pode refletir tendecircncias que orientaram o
ato de nomeaccedilatildeo tanto de pessoas como de lugares
Sobre o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo cabe apenas repetir que por enfatizar o aspecto
semacircntico das palavras vinculado agrave realidade que elas denominam contribui com o estudo dos
nomes jaacute que parte do princiacutepio de que as palavras se acham ligadas agraves coisas que elas
designam Uma vez conhecendo a natureza das coisas chega-se na verdadeira etimologia da
palavra contribuiccedilatildeo essa que valoriza a cultura e a histoacuteria das comunidades vendo no ser
humano o sujeito das transformaccedilotildees que ocorrem nas liacutenguas e na cultura
Posto isso considera-se mais uma vez que a onomasiologia busca investigar como uma
noccedilatildeo ou conceito eacute nomeado na liacutengua tendo sempre em mente que quem daacute nome agraves coisas
satildeo os falantes e o fazem em decorrecircncia da cosmovisatildeo de seu grupo O meacutetodo
onomasioloacutegico permite que a cultura do povo pesquisado seja revelada
Entretanto a despeito das contribuiccedilotildees que cada um trouxe para os estudos linguiacutesticos
nenhum desses meacutetodos foi suficiente teoricamente para deslindar os inuacutemeros aspectos que
permeiam o ato de nomeaccedilatildeo o que implica dizer que o mais sensato eacute combinar o que cada
meacutetodo apresenta de mais satisfatoacuterio referentemente ao problema que se pretende resolver o
que requer tambeacutem adaptaccedilotildees e revisotildees constantes de um ou de outro ou ainda da combinaccedilatildeo
deles
Considera-se entatildeo
os aspectos pelos quais entendemos a disciplina como conhecimento
cientiacutefico saber construiacutedo como objeto campo de trabalho e pesquisa
demarcados apesar disto manteacutem-se em intersecccedilatildeo a outros campos sem
perder sua identidade A metodologia que emprega em seus levantamentos eacute
de origem indutivo-dedutiva de acordo com os procedimentos
62
onomasioloacutegico-semasioloacutegicos caracteriacutesticos da pesquisa do leacutexico (DICK
2006 p 98)
E no que tange agrave metodologia aos procedimentos de pesquisa propriamente ditos
segundo Dick (1996) que podem ser aplicados nos estudos toponiacutemicos devem se estabelecer
da seguinte forma a) seleccedilatildeo de fontes primaacuterias (cartas geograacuteficas editadas por oacutergatildeos oficiais
estaduais e municipais em escalas de 150000 ou 1100000 ou listas toponiacutemicas oficiais) e
complementaccedilatildeo a partir de fontes secundaacuterias (trabalhos historiograacuteficos da proacutepria
comunidade acerca do local onde vivem) b) registro dos dados em fichas lexicograacuteficas
padronizadas com a identificaccedilatildeo dos nomes do pesquisador e do revisor fontes e data de
coleta c) anaacutelise de dados que inclui a quantificaccedilatildeo dos nomes e das taxonomias analisando
a maior ou menor frequecircncia de classes ou itens lexicais e do estudo dos nomes a partir de um
enfoque puramente linguiacutestico (etimoloacutegico e estrutural) linguiacutestico-histoacuterico e variacionista
Desta forma a metodologia para este trabalho baseia-se em Dick (1996 2006) e por
conseguinte estabelece relaccedilotildees com as demais pesquisas na aacuterea da toponomaacutestica De acordo
com a autora ldquoTrata-se de modelo semacircntico-motivador das ocorrecircncias toponomaacutesticas que
conformam a realidade designativa da nomenclatura geograacutefica oficial do paiacutesrdquo (Dick 2006 p
104) As taxionomias satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise linguiacutestica do topocircnimo e hoje
se dividem em vinte sete taxes pela importacircncia na ldquoanaacutelise linguiacutestica ou casual dos motivos
determinantes das designaccedilotildees integram as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas em um campo
funcional especiacuteficordquo (Dick 2006 p 106) E a partir destas fichas busca-se a identificaccedilatildeo do
topocircnimo e computar as categorizaccedilotildees motivadoras do designativo
A metodologia de pesquisa aqui proposta se caracteriza por ser de natureza documental
(documentos analoacutegicos eou digitais como as cartas topograacuteficas e levantamento histoacuterico
geograacutefico por meio do Instituto Mauro Borges IBGE e de mapas do municiacutepio de Pires do
Rio-GO) e de abordagem qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a
constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos
puacuteblicos e no levantamento histoacuterico-geograacutefico Os procedimentos consistem na
sistematizaccedilatildeo de leituras documentais e de investigaccedilatildeo de campo o que os vincula agrave induccedilatildeo
e seguem os meacutetodos etnolinguiacutesticos
O percurso apresentado por Dick (1990) isto eacute pautado na induccedilatildeo desenvolveu-se por
meio do plano onomasioloacutegico de investigaccedilatildeo em que a partir de um conceito geneacuterico se
identificam as variaacuteveis possiacuteveis das fontes consultadas Nos registros municipais constam os
63
nomes atuais e os nomes anteriores (quando houve mudanccedilas) dos lugares de toda regiatildeo
municipal Estes e os mapas constituem as fontes primaacuterias desta pesquisa pois
O percurso do fazer onomasioloacutegico e o percurso da produccedilatildeo de significaccedilatildeo
se inserem em direccedilotildees diferentes o fazer interpretativo perfaz um processo
semasioloacutegico por outro lado o fazer onomasioloacutegico eacute uma unidade
conceitual enquanto a definiccedilatildeo eacute o percurso do fazer lexicograacutefico
Entretanto ao conceituar eacute necessaacuterio construir um modelo mental que em
primeira instacircncia corresponda a um recorte cultural para a escolha da
estrutura lexical que melhor pode manifestar a percepccedilatildeo bioloacutegica do fato
que se completa ao analisar e descrever o semema linguiacutestico para reconstruir
esse modelo mental a partir de uma estrutura linguiacutestica manifestada
Ressalta-se o caraacuteter pluridisciplinar do signo toponiacutemico jaacute que por meio
dele pode-se conhecer a histoacuteria dos grupos humanos que viveram (e vivem)
nos limites geograacuteficos de Goiaacutes as especificidades da cultura e do ambiente
do povo o denominador as relaccedilotildees estabelecidas entre os aglomerados
humanos e o ecossistema as caracteriacutesticas fiacutesico geograacuteficas da regiatildeo
(geomorfologia) estratos linguiacutesticos de origem diferente do uso hodierno da
liacutengua ou mesmo de liacutenguas jaacute desaparecidas para se conhecer as motivaccedilotildees
subjacentes aos respectivos topocircnimos (SIQUEIRA 2015 mimeografado)
Para este estudo utilizaram-se inicialmente as Folhas Topograacuteficas editadas pela DSG
(Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito) na escala de 1100 000 Folhas Pires do Rio
SE-22-X-D-III Ipameri SE-22-X-D-VI e Cristianoacutepolis SE-22-X-D-II de 1973 para
identificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio juntamente com o mapa da rede hidrograacutefica do
municiacutepio de Pires do Rio-GO pois satildeo ldquoinstrumentos metodoloacutegicos haacutebeis para o estudo
onomaacutestico a documentaccedilatildeo cartograacutefica referida e a arquivologia que se posicionam como fontes
idocircneas para o estabelecimento das etapas relativas agrave desconstruccedilatildeo e agrave recriaccedilatildeo dos proacuteprios dadosrdquo
(DICK 1999 p 11)
O uso de mapas torna o trabalho relevante jaacute que eles satildeo elementos de comunicaccedilatildeo
visual os quais pertencem agrave linguagem Eles contemplam ainda a aacuterea tecnoloacutegica pois a sua
construccedilatildeo se daacute por meio da utilizaccedilatildeo de equipamentos programas e sites os quais tambeacutem
satildeo utilizados por noacutes para cartografar mapas juntamente com as taxes dos topocircnimos dos
cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO assim
Tomar o mapa como corpus permite tomar tambeacutem a questatildeo da relaccedilatildeo dos
nomes no seu conjunto e sua distribuiccedilatildeo no espaccedilo urbano Pode-se entatildeo
refletir como algo proacuteprio do corpus em anaacutelise sobre a questatildeo da nomeaccedilatildeo
dos espaccedilos da cidade bem como o modo de distribuiccedilatildeo dos nomes pelos
espaccedilos historicamente constituiacutedos (GUIMARAtildeES 2005 p 43)
Tradicionalmente entendidos como uma representaccedilatildeo simboacutelica dos contornos de uma
paisagem fiacutesica ou urbana os mapas se caracterizam por permitirem dois planos de
64
interpretaccedilatildeo o ldquoverbalrdquo expresso nos nomes dos elementos e o ldquonatildeo-verbalrdquo caracterizado
por siacutembolos convencionais distintos segundo a natureza do elemento mapeado (cursos drsquoaacutegua
caminhos serras rodovias estradas vicinais ferrovias vilas povoados cidades)
A propoacutesito
Se o meacutetodo empregado na Toponiacutemia como dissemos eacute aquele da
investigaccedilatildeo do pormenor toacutepico-nominal apreendido no registro das cartas
geograacuteficas (base documental) ou como variaccedilatildeo no exame do terreno ou do
objeto pelo proacuteprio pesquisador o material resultante na maioria das vezes
eacute de origem descontiacutenua e fragmentaacuteria A sequecircncia loacutegica dos termos areais
deve ser buscada o que exige cuidados de intepretaccedilatildeo e reflexatildeo para que
todo esse organismo construiacutedo coletiva ou individualmente em momentos
histoacutericos distintos venha a se construir em material de anaacutelise vaacutelido do
ponto de vista linguiacutestico (DICK 2006 p 99-100)
Desta forma dos 46 (quarenta e seis) topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de
Pires do Rio-GO (coacuterregos ribeirotildees rios e quedas drsquoaacutegua) por noacutes elencados na pesquisa
apenas 15 topocircnimos ndash por razotildees especiacuteficas que seratildeo relatadas no quarto capiacutetulo ndash seratildeo
catalogados em fichas conforme modelo desenvolvido por Dick (2004) Posteriormente
realizaremos as anaacutelises morfoloacutegicas e a classificaccedilatildeo semacircntico-motivacional e toponiacutemica
propriamente dita
O preenchimento das fichas lexicograacuteficas ndash que identificam o elemento designado as
entradas lexicais o pesquisador o revisor e as fontes da coleta ndash eacute a etapa inicial de um conjunto
de fases posteriores que integram o projeto
As etapas da pesquisa foram dividas da seguinte forma a) levantamento dos dados para
construir o corpus e a aquisiccedilatildeo das cartas Topograacuteficas do municiacutepio de Pires do Rio-GO b)
levantamento dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua registrados nas folhas topograacuteficas c) anaacutelise
e reconhecimento dos aspectos ambientais culturais dos designativos nos diferentes topocircnimos
observados e posteriormente cartografados d) investigaccedilatildeo dos provaacuteveis fatores
motivacionais inerentes aos sintagmas toponiacutemicos e) classificaccedilatildeo das taxionomias a partir do
recorte epistemoloacutegico dos dados coletados f) distribuiccedilatildeo quantitativa dos topocircnimos de
acordo com a natureza toponiacutemica (fiacutesica ou antropocultural) g) estudo linguiacutestico dos
sintagmas toponiacutemicos ndash origemetimologia estruturas semacircntica e morfoloacutegica
Por meio da categorizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico
histoacuterico-criacutetico que foi o norte de nossa pesquisa de certa forma revela-se que o topocircnimo foi
determinado pela populaccedilatildeo anterior ou pela presenccedila de imigrados no local o que faz-nos
perceber que as palavras natildeo apenas comunicam o que se quer dizer mas acusam a Histoacuteria
daquilo que foi dito por necessidades dinacircmicas das pessoas repassadas pela tradiccedilatildeo cultural
65
O proacuteximo capiacutetulo apresenta em linhas gerais um pouco da histoacuteria desse lugar que
abriga 46 cursos drsquoaacutegua e inclusive teve seu primeiro nome devido agrave exuberacircncia do reflexo da
lua cheia nas aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute A ldquoTeteia do Corumbaacuterdquo de antes deu lugar ao
municiacutepio nascido dos caminhos abertos pelos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz laacute pelos idos
de 1922
66
III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO
A cidade eacute por si mesma depositaacuteria de
histoacuteria
(ROSSI 1998)
Este capiacutetulo traz uma apresentaccedilatildeo dos dados histoacutericos referentes agrave fundaccedilatildeo e ao
posterior desenvolvimento social e urbano do municiacutepio de Pires do Rio-GO criado em
decorrecircncia da expansatildeo da Estrada de Ferro Goyaz pelo cerrado goiano As informaccedilotildees aqui
revisitadas integram obras de estudiosos como Siqueira (2006) Ferreira (1999) Borges
(1990) Soares (1988) que se detiveram por alguma razatildeo no esclarecimento de controveacutersia
acerca principalmente do verdadeiro fundador do municiacutepio e de fatos que antecederam a
inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo feacuterrea no ano de 1922
31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte
No iniacutecio do seacuteculo XX a Estrada de Ferro Goyaz avanccedilou sobre o territoacuterio de Goiaacutes
e com isso comeccedilaram a surgir vilas arraiais e distritos que com o progresso e passar dos
anos se elevariam a cidades A entatildeo chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no interior do
estado mais precisamente na regiatildeo Sudeste Goiana fez com que no ano de 1922 surgisse a
Estaccedilatildeo Pires do Rio e que se elevaria tatildeo logo a cidade
A estrada de ferro traria progresso agraves cidades e ao estado No entanto de acordo com
Borges (1990) alguns coroneacuteis adversos a qualquer tipo de mudanccedila de caraacuteter progressista
natildeo aceitavam a instalaccedilatildeo da estrada de ferro pois ela representaria uma forccedila nova de
transformaccedilatildeo que poderia ameaccedilar o poder constituiacutedo dos coroneacuteis Mas na formaccedilatildeo de
Pires do Rio-GO a chegada da Estrada de Ferro Goyaz foi aceita pelo coronel Lino Teixeira de
Sampaio e inclusive foi doado o terreno para a construccedilatildeo de uma estaccedilatildeo feacuterrea
Vale ressaltar que
a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro de Goiaacutes resultou primeiro do empenho
poliacutetico de uma fraccedilatildeo da classe dominante ligada a novos grupos oligaacuterquicos
que despontavam como forccedila poliacutetica no Estado a qual contou com apoio do
capital financeiro internacional Em segundo lugar como a ferrovia servia
inteiramente aos interesses da economia capitalista ou seja agrave nova ordem
econocircmica com expansatildeo no Paiacutes este fator direta ou indiretamente
67
pressionaria o Governo Federal a apoiar a construccedilatildeo da linha (BORGES
1990 p 55-56)
O avanccedilo da estrada de ferro na regiatildeo Sudeste do estado de Goiaacutes foi fundamental para
o surgimento da cidade de Pires do Rio-GO Ambas as histoacuterias se entrecruzam e revelam
acontecimentos que corroboraram com a construccedilatildeo de uma cidade promissora Para
(re)escrever esta histoacuteria eacute fundante mostrar a ficha lexicograacutefica-toponiacutemica jaacute que o objeto
desta pesquisa satildeo os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua pertencentes a cidade de Pires do Rio-GO
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 01
Topocircnimo Pires do Rio Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Antropocircnimo
Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Pires + do Rio ndash sobrenome)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Cidade sede do distrito do municiacutepio do termo e comarca de
igual nome Na regiatildeo oriental do municiacutepio entre o ribeiratildeo Sampaio e o Monteiro afluentes
do rio Corumbaacute com estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goiaacutes
Fonte Siqueira (2012) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Como jaacute observando no capiacutetulo I os estudos toponiacutemicos revelam fatores soacutecio-
histoacuterico-culturais de uma dada comunidade e Pires do Rio-GO nos revela isso de forma
peculiar como podemos observar na ficha acima a caracterizaccedilatildeo do topocircnimo em que a
taxionomia eacute de natureza antropocultural antropotopocircnimo relativo a nomes proacuteprios e de
famiacutelia (sobrenome do ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas Dr Joseacute Pires do Rio) A base
etimoloacutegica eacute antropocircnimo a estrutura morfoloacutegica eacute de nome composto e as informaccedilotildees
enciclopeacutedias vecircm ratificar informaccedilotildees jaacute expressas na ficha Essas informaccedilotildees nos satildeo
precisas e no decorrer (re)editaremos partes relevantes da histoacuteria desta cidade
Observar o surgimento do municiacutepio de Pires do Rio eacute reviver a construccedilatildeo da linha
feacuterrea na regiatildeo Sudeste e para tal ato buscamos em algumas literaturas reconstruir em partes
a histoacuteria da cidade de Pires do Rio-GO que carinhosamente foi apelidada de ldquoTeteia do
68
Corumbaacuterdquo devido ao reluzir sobre as aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute a exuberacircncia da lua
cheia
Na histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade haacute controveacutersias pois alguns dizem ter sido o Coronel
Lino Teixeira de Sampaio o fundador mas Wilson Cavalcanti Nogueira filho do Sr Manoel
Cavalcanti Nogueira o primeiro Intendente da cidade em seus estudos revela que o fundador
de Pires do Rio foi o Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida diretor da Estrada de Ferro Goyaz
Nos estudos de Jacy Siqueira (2006) piresino historiador cujo livro Um contrato
singular e outros ensaios de histoacuteria de Goiaacutes descreve a origem da cidade de Pires do Rio
com base em documentos oficiais o autor citado presume a veracidade dos fatos que
contribuem para exposiccedilatildeo histoacuterica deste capiacutetulo jaacute que ldquoo tempo eacute agente terriacutevel a tudo
colhe separa peneira depura e evidencia ndash verdade ou mentira ndash com a forccedila e a violecircncia
decorrentes do pesado braccedilo da Histoacuteria de quem eacute o servidor fiel e mestre implacaacutevelrdquo
(SIQUEIRA 2006 p 65)
Em relaccedilatildeo aos fatos que marcam o iniacutecio da fundaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidade de Pires
do Rio os historiadores remetem a inuacutemeras controveacutersias sobre a fundaccedilatildeo e os reais
fundadores e tambeacutem sobre a existecircncia de um povoado que competia com o Roncador em
1921 que mais tarde nos arquivos seria o Bairro do Fogo hoje Santa Ceciacutelia O local Rua do
Fogo eacute toda a parte situada do outro lado da linha feacuterrea
Rua do Fogo na descriccedilatildeo de Nogueira se formou pela atraccedilatildeo de pessoas de
diversas regiotildees com o intuito de negociar e prestar serviccedilos diversificados
aos operaacuterios da Estrada eram lavadeiras curandeiro sapateiro padeiro
professor primaacuterio fotoacutegrafo meretrizes e aventureiros Configurando um
povoamento tiacutepico do pioneirismo cada dia mais pessoas chegavam
predominantemente aventureiros muitos deles ateacute mesmo com passado
criminal As casas sendo erguidas raacutepidas e improvisadamente perfilaram-se
em ambos lados ao longo de uma rua irregular que era cenaacuterio de constantes
desordens e violecircncias ganhando por isso o nome de Rua do Fogo A
constante chegada de pessoas levou o povoado a competir em dimensatildeo com
a vizinha Roncador jaacute em 1921 (FERREIRA 1999 p 100)
O Porto do Roncador em 24 de agosto de 1921 recebe a visita do Ministro da Viaccedilatildeo
e Obras Puacuteblicas Engenheiro Sr Joseacute Pires do Rio que na qualidade anterior de Inspetor Geral
das Estradas de Ferro havia se posicionado contraacuterio ao prolongamento da ferrovia no Estado
de Goiaacutes Na ocasiatildeo ficou resolvido que a ponte sobre o rio Corumbaacute deveria se chamar Ponte
Pires do Rio e a primeira estaccedilatildeo a seguir Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio Pessoa mas ocorreu o
contraacuterio Essa informaccedilatildeo foi publicada inclusive nos meios de comunicaccedilatildeo da eacutepoca
69
A Informaccedilatildeo Goyana revista fundada por Henrique Silva que se edita no
Rio de Janeiro na sua ediccedilatildeo de agosto de 1921 (Ano V Vol V n ordm 1 p 1)
traz a reportagem ldquoO Ministro de Viaccedilatildeo Visita o Estado de Goiaacutesrdquo Destaca-
se dela
Tem-se resolvido que a primeira estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz aleacutem
Roncador se denomine ndash Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio
A ponte do Corumbaacute segundo solicitaccedilatildeo dos que tomaram parte na recepccedilatildeo
do Sr ministro da Viaccedilatildeo seraacute denominada ndash Ponte Pires do Rio (SIQUEIRA
2006 p 44 grifos do autor)
As obras estavam a todo vapor e enquanto aguardavam a conclusatildeo da ponte sobre o
rio Corumbaacute os serviccedilos de movimentaccedilatildeo de terra eram feitos aleacutem da outra margem do rio
tendo jaacute avanccedilado ateacute Tavares quilocircmetro 303 da ferrovia distante 84 quilocircmetros de
Roncador O local da estaccedilatildeo de Pires do Rio situa-se no quilocircmetro 218 pouco distante do rio
na Comarca de Santa Cruz em terras da Fazenda do Brejo ou do Sampaio de propriedade do
fazendeiro local coronel Lino Teixeira de Sampaio
No dia 13 de julho de 1922 no momento de inauguraccedilatildeo da ponte metaacutelica construiacuteda
sobre o rio Corumbaacute fez-se a inversatildeo do que o Senhor Ministro havia solicitado pois ela
recebeu o nome do presidente da repuacuteblica (Epitaacutecio Pessoa) troca esta feita pelo diretor da
Estrada de Ferro Goyaz o engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida
A execuccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa significou a integraccedilatildeo das demais regiotildees goianas
no desenvolvimento econocircmico uma vez que o rio Corumbaacute representava uma onerosa barreira
econocircmica para a produccedilatildeo dessas regiotildees Pires do Rio primeira estaccedilatildeo na outra margem do
Corumbaacute prometia ser um entreposto regional devido agrave sua possiacutevel ligaccedilatildeo por terra com
antigos e promissores municiacutepios isolados pelo rio e que natildeo foram contemplados com a
ferrovia Santa Cruz de Goiaacutes Bela Vista Piracanjuba Caldas Novas e Morrinhos O que veio
concretizar essa possibilidade foi a disposiccedilatildeo do coronel Lino Teixeira de Sampaio em doar
terras agrave Estrada de Ferro Goyaz para juntamente com a estaccedilatildeo fundar no local uma cidade
Nesse aspecto seu empenho foi aacutegil e eficiente dois planos urbanos que vieram garantir para
os pioneiros a certeza da existecircncia de uma cidade no local (FERREIRA 1999)
Nas bases da histoacuteria da rede feacuterrea segundo Ferreira (1999) quando da inauguraccedilatildeo
da estaccedilatildeo Pires do Rio foi tambeacutem decretada a fundaccedilatildeo da cidade registrada em obelisco
erguido no largo de frente agrave estaccedilatildeo hoje a praccedila do mercado municipal considerando-se como
fundador o engenheiro da ferrovia Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida e designando a cidade
pelo nome (uma homenagem) do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas engenheiro Joseacute
Pires do Rio
70
Houve tambeacutem a intenccedilatildeo por parte do Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida em deixar a
estaccedilatildeo de Pires do Rio como ponta de linha para que se desenvolvesse rapidamente Finda a
raacutepida inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo seguiu tambeacutem o engenheiro no ldquotrem Inauguralrdquo rumo a
Tapiocanga ndash a proacutexima estaccedilatildeo depois de Pires do Rio ndash para inaugurar sua estaccedilatildeo
improvisada em um simples vagatildeo pois era um local onde natildeo havia nenhuma edificaccedilatildeo
passando mesmo assim a ser a ponta de linha
No dia 9 de novembro de 1922 eacute inaugurado o obelisco a cerca de 50 metros da estaccedilatildeo
ferroviaacuteria jaacute edificada considerada a pedra fundamental da cidade de Pires do Rio Encontra-
se grafado no monumento em alto-relevo que o Engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida na
eacutepoca diretor da Estrada de Ferro de Goyaz era o fundador da cidade de Pires do Rio uma
ldquofraserdquo que tem gerado algumas controveacutersias acerca do verdadeiro fundador da cidade
(SIQUEIRA 2006)
Enquanto alguns escritores piresinos e familiares alimentam a disputa ideoloacutegica no
niacutevel da influecircncia poliacutetica do coronel Lino Teixeira de Sampaio corroborada pela doaccedilatildeo de
um terreno para a construccedilatildeo da cidade outros tecircm se debruccedilado sobre as criacuteticas advindas do
meio acadecircmico local uma vez que o aniversaacuterio da cidade natildeo coincide com a data da escritura
de doaccedilatildeo das terras 05 de julho de 1922 mas com a data oficial inscrita na pedra fundacional
feita pelo Diretor da Estrada de Ferro Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida 09 de novembro de
1922
Siqueira (2006) eacute um dos estudiosos que argumentam a favor da tese de que o fundador
da cidade eacute o coronel Lino Teixeira de Sampaio Desta forma para corroborar o ato de doaccedilatildeo
da gleba de terra Siqueira (2006) recorreu aos livros de registros do Cartoacuterio de Imoacuteveis da
Comarca de Santa Cruz de Goiaacutes onde se encontra a escritura puacuteblica lavrada no dia 5 de julho
de 1922 pois na eacutepoca as terras pertenciam a este referido municiacutepio a qual nos informa que
por eles [Lino e Rozalina] foi dito que de suas livres e espontacircneas vontades
e sem coaccedilatildeo alguma doam agrave Estrada de Ferro de Goyaz com (4) alqueires
de terreno de campo divididos e demarcados nesta fazenda do ldquoBrejordquo
conforme consta na planta confeccionada pela dita Estrada de Ferro e bem
assim a aacutegua necessaacuteria ao abastecimento da Estaccedilatildeo jaacute edificada dentro destes
quatros alqueires Declaram mais os doadores que fazem a doaccedilatildeo dos
referidos terrenos agrave Estrada de Ferro de Goyaz sem que a mesma Estrada tenha
obrigaccedilatildeo de espeacutecie alguma cabendo-lhe apenas Dividir o terreno doado em
pequenos lotes para que seja dado iniacutecio agrave edificaccedilatildeo de uma pequena Cidade
excluindo o referido a faixa necessaacuteria agrave Estaccedilatildeo arrendar os lotes e aplicar
as rendas em melhoramentos da futura Cidade e edificaccedilatildeo de um Grupo
Escolar natildeo admitir seja construiacutedo preacutedio algum sem que seja previamente
aprovada pela diretoria da Estrada a respectiva planta (SIQUEIRA 2006 p
29)
71
Entretanto os fatos histoacutericos remetem agrave data de 09 de novembro como sendo de
fundaccedilatildeo da cidade jaacute que essa data se justifica pela inauguraccedilatildeo (documentada) da estaccedilatildeo
ferroviaacuteria Pires do Rio embora para Siqueira (2006) a data de fundaccedilatildeo da cidade seja o dia
05 de julho de 1922 data que coincide com a da escritura puacuteblica de doaccedilatildeo das terras agrave Estrada
de Ferro Goyaz
Siqueira (2006) ainda acrescenta as suas consideraccedilotildees acerca do fato de que o coronel
Lino Teixeira de Sampaio aleacutem de doar os quatro alqueires de terra accedilatildeo que outros
fazendeiros das estaccedilotildees seguintes natildeo tiveram apresentou um projeto urbano (planta) da
cidade a ser erguida nas proximidades da estaccedilatildeo projeto este de autoria de um engenheiro da
Estrada Aacutelvaro Pacca que foi apresentado e aprovado pela direccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz
em 1ordm de janeiro de 1922
De acordo com Ferreira (1999) acredita-se que no local definitivo da estaccedilatildeo por volta
do ano de 1923 apresentou-se outro projeto para a construccedilatildeo da cidade desta vez solicitado
ao topoacutegrafo da Estrada de Ferro Moacir de Camargo A cidade de Pires do Rio ficaria sendo
entatildeo a primeira cidade do Centro-Oeste a nascer com planejamento preacutevio antes de Goiacircnia
ou Brasiacutelia
O momento em que a cidade comeccedila a surgir de acordo com Nogueira (sd) fez com
que a populaccedilatildeo do Roncador migrasse toda para laacute carregando tudo aquilo que lhes pertencia
inclusive o material de construccedilatildeo das casas que foram demolidas construindo novas moradias
no local escolhido para tal fim Esse fato de mudar de um arraial para outro segundo Ferreira
(1999) veio a constituir o fenocircmeno por ele denominado de fagocitose pois para a formaccedilatildeo
da cidade Pires do Rio o arraial do Roncador extinguiu-se para vigorar a nascente cidade como
se observa nos dizeres abaixo
Pires do Rio crescia em terras de Santa Cruz municiacutepio de projeccedilatildeo
econocircmica e poliacutetica no Estado que dominou todo o sudeste e parte do sul de
Goiaacutes O arraial de origem fundado em 1729 teve seu valor econocircmico
firmado na extraccedilatildeo auriacutefera passando agrave Julgado de Santa Cruz em 1809 com
seu territoacuterio de influecircncia sobre uma extensa aacuterea Emancipou-se agrave Vila em
1833 quando Goiaacutes foi dividido em quatro Comarcas sendo Santa Cruz uma
delas Terminado o ciclo do ouro sua economia voltou-se durante o seacuteculo
XIX para a pecuaacuteria extensiva a agricultura e primitivo processamento da
produccedilatildeo agriacutecola sobrepondo-se agraves outras cidades de economia auriacutefera em
estagnaccedilatildeo A emancipaccedilatildeo de seus distritos ao longo do seacuteculo XIX foi-lhe
tirando a extensatildeo de seu poder territorial e de jurisdiccedilatildeo mas natildeo seu poder
econocircmico e poliacutetico no Estado Essa situaccedilatildeo veio a se alterar com a chegada
da Estrada de Ferro Goiaacutes (FERREIRA 1999 p 136)
72
As construccedilotildees jaacute haviam se iniciado e comeccedilara a chegar os novos moradores oriundos
de vaacuterias partes do paiacutes e do mundo que solidificariam a comunidade piresina Os baianos e os
aacuterabes foram os primeiros migrantes a chegarem e fixarem-se acreditando na futura cidade Os
baianos e outros nordestinos foram atraiacutedos pela frente de trabalho criada pela construccedilatildeo da
ferrovia Os italianos e espanhoacuteis tambeacutem se fizeram presentes na comunidade local No
entanto a maioria dos migrantes foram mesmo paulistas e mineiros Os estrangeiros tais como
italianos espanhoacuteis e principalmente aacuterabes foram partes integrantes da elite dominante
(FERREIRA 1999)
Pires do Rio se elevou a distrito do Municiacutepio de Santa Cruz em 23 de agosto de 1924
pela Lei nordm 66 E em 7 de julho de 1930 pela Lei nordm 903 foi criado o municiacutepio de Pires do
Rio E tatildeo logo pelo Decreto de ndeg 522 de 8 de janeiro de 1931 publicado no Correio Officcial
ndeg 1819 paacutegina 3 de 19 de abril do mesmo ano (SIQUEIRA 2006) oficializou a transferecircncia
da Comarca de Santa Cruz para a cidade de Pires do Rio
Na deacutecada de 30 estabelecia-se o comeacutercio na cidade de Pires do Rio natildeo tinha um
centro comercial propriamente dito mas algumas casas de comeacutercio espalhadas pela cidade
(FERREIRA 1999) A instalaccedilatildeo da energia eleacutetrica em 1934 deu um impulso agrave agroinduacutestria
local iniciada com a charqueada em 1924 e logo apoacutes por uma maacutequina beneficiadora de arroz
serraria faacutebrica de manteiga padarias curtume e outros pequenos centros de produccedilatildeo com
isso a necessidade de matildeo-de-obra impulsionava o crescimento da populaccedilatildeo jaacute que muitos
eram empregados pela via feacuterrea desta forma a vinda de imigrantes a nova cidade era
necessaacuterio Com o crescimento da cidade e da sua populaccedilatildeo foram necessaacuterias benfeitorias
que foram ocorrendo no decorrer dos anos
De acordo com Siqueira (2006) Pires do Rio se desenvolveu de forma diferenciada das
centenaacuterias cidades de Goiaacutes visto que a maioria se formou por tradicionais enraizados e
familiocratas grupos poliacuteticos ou simplesmente ldquooligarquiasrdquo o que permitiu uma abertura e
receptividade ao novo e ao desconhecido como paracircmetro coerente para a construccedilatildeo de uma
comunidade nascente No periacuteodo de 1921 a 1940 correspondentemente agrave cidade em sua
afirmaccedilatildeo poliacutetica e urbana foi composta por migrantes e imigrantes que se estabeleciam na
prestaccedilatildeo de serviccedilo agroinduacutestria e comeacutercio tudo isso oriundo da formaccedilatildeo da cidade pela
Estrada de Ferro Goyaz
Um fato ainda natildeo informado eacute que no ano de 1933 o municiacutepio era constituiacutedo de dois
distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Jaacute no decreto-lei nordm 5200 de 08 de dezembro de 1934
Pires do Rio eacute ldquorebaixadordquo agrave categoria de distrito do municiacutepio de Santa Cruz haja vista que
73
em divisotildees territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937 Pires do Rio figura como distrito
de Santa Cruz (IBGE 2016)
Em 03 de marccedilo de 1938 pelo Decreto-lei nordm 557 Pires do Rio retorna agrave categoria de
municiacutepio e Santa Cruz agrave de distrito No periacuteodo de 1939-1943 o municiacutepio aparece constituiacutedo
de trecircs distritos Pires do Rio Santa Cruz e Cristianoacutepolis O distrito de Santa Cruz pelo
Decreto-lei nordm 8305 de 31 de dezembro de 1943 passou a denominar-se Corumbalina Mas
pelo Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias de 20 de julho de 1947 Artigo 61
desmembrou-se do municiacutepio de Pires do Rio e foi elevado agrave categoria de municiacutepio com a
denominaccedilatildeo de Santa Cruz de Goiaacutes (IBGE 2016)
Em divisatildeo territorial datada de 1 de julho de 1950 o municiacutepio eacute constituiacutedo de dois
distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Depois pela lei municipal nordm 221 de 15 de julho 1953
eacute criado o distrito de Palmelo e anexado ao municiacutepio de Pires do Rio A lei estadual nordm 739 de
23 de junho de 1953 desmembra do municiacutepio de Pires do Rio o distrito de Cristianoacutepolis
elevado entatildeo agrave categoria de municiacutepio Rapidamente o distrito de Palmelo pela lei estadual
nordm 908 de 13 de novembro de 1953 eacute desmembrado do municiacutepio de Pires do Rio e elevado agrave
categoria de municiacutepio (IBGE 2016)
A ferrovia foi um marco na histoacuteria de Pires do Rio uma vez que o transporte ferroviaacuterio
era utilizado para escoar a produccedilatildeo Aleacutem disso a instalaccedilatildeo do Frigoriacutefico Brasil Central
estimulou a produccedilatildeo da pecuaacuteria de corte Nas deacutecadas de 1950 e 1960 destacou-se por
exportar o charque e pela produccedilatildeo de cerveja Jaacute com a construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 e a
implantaccedilatildeo das rodovias favoreceu-se a sua interligaccedilatildeo aos outros municiacutepios goianos
O fluxo de cargas e pessoas pela via ferroviaacuteria entre os anos de 1940 a 1950 apresentava
regularidade mas devido agrave construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 de 1965 a 1970 apresentou uma
queda gradativa por deficiecircncia teacutecnica das linhas falta de manutenccedilatildeo delas e dos
equipamentos lentidatildeo do transporte o que provocou em 1970 a desativaccedilatildeo do transporte de
passageiros A Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima (RFFSA) foi privatizada em 1996
e a Ferrovia Centro Atlacircntica (FCA) adquiriu 7080 km de extensatildeo operando 685 km em
Goiaacutes tendo adotado uma nova poliacutetica investindo dois milhotildees de reais na ferrovia
desativando vaacuterias estaccedilotildees (NOVAIS 2014) Na Estaccedilatildeo Pires do Rio ficou funcionando
apenas o escritoacuterio da FCA e o Museu Ferroviaacuterio e na Estaccedilatildeo Roncador uma oficina de
manutenccedilatildeo de vagotildees
Segundo Novais (2014) a ferrovia enquanto elemento modernizador do Sudeste
Goiano e instrumento capaz de aumentar as aglomeraccedilotildees urbanas e dinamizar o progresso da
regiatildeo de acordo com os novos interesses dominantes sempre esteve sob o controle do poder
74
econocircmico estatal ou de grupos Sua expansatildeo justificou-se em detrimento dos interesses
capitalistas e imperialistas Portanto a estrada de ferro eacute um produto da induacutestria capitalista da
Primeira Revoluccedilatildeo Industrial colocada a serviccedilo do capital e resultante das transformaccedilotildees
ocorridas no processo de expansatildeo do capitalismo no Brasil e no mundo (BORGES 1990) O
Estado de Goiaacutes ao inserir-se na dinacircmica capitalista e implantar a via feacuterrea em seu territoacuterio
conseguiu integrar-se ao mercado brasileiro aleacutem de mitigar anos de atraso e isolamento
econocircmico
32 Pires do Rio geograacutefico
O municiacutepio de Pires do Rio localiza-se na Microrregiatildeo do Sudeste Goiano inserida
na Mesorregiatildeo Sul Goiano A Microrregiatildeo eacute reconhecida como a regiatildeo da Estrada de Ferro
Limita-se com os municiacutepios goianos de Orizona Vianoacutepolis Urutaiacute Caldas Novas Satildeo
Miguel do Passa Quatro Santa Cruz de Goiaacutes Palmelo Cristianoacutepolis e Ipameri A aacuterea da
unidade territorial (kmsup2) eacute de 1073361 com uma altitude meacutedia de 75886 O municiacutepio
encontra-se entre as seguintes coordenadas geograacuteficas
Mapa 1 ndash Pires do Rio (GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio (GO)
75
A cidade de Pires do Rio eacute constituiacuteda por riquezas naturais do bioma Cerrado o qual
apresenta uma heterogeneidade na sua fisionomia pois engloba desde formaccedilotildees florestais
como as Matas Ciliares (vegetaccedilatildeo que fica nas margens dos rios) e Cerradatildeo aleacutem do Cerrado
restrito (eacute o Cerrado tiacutepico formado por vegetaccedilotildees arboacutereas de casca grossa e troncos
retorcidos) com formaccedilotildees vegetais ou herbaacuteceas (campo sujo e limpo)
Uma das caracteriacutesticas marcantes do Cerrado eacute sua riqueza em recursos hiacutedricos e Pires
do Rio natildeo foge agrave regra Servindo de fronteiras naturais para o municiacutepio tem-se o rio do Peixe
na parte norte A parte sul do municiacutepio desagua no rio Corumbaacute que tambeacutem eacute utilizado como
fronteira natural e eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio Aleacutem destes tem o rio Piracanjuba
que devido agrave sua estrutura rochosa e seu volume de aacutegua foi palco da construccedilatildeo de uma usina
hidreleacutetrica em meados do seacuteculo XX que abastecia a cidade embora hoje encontre-se em
ruiacutenas
Aleacutem dos trecircs rios o municiacutepio possui ao longo de todo seu o territoacuterio vaacuterias
nascentes coacuterregos ribeirotildees quedas drsquoaacutegua os quais satildeo todos afluentes do rio Corumbaacute
Vale ressaltar que a maioria dos cursos drsquoagua satildeo perenes ou seja tem aacutegua o ano todo por
isso muitos deles tem o nome da regiatildeo em que se encontra pois satildeo objetos marcantes na
paisagem
Segundo o IBGE (1957) a populaccedilatildeo piresina no Recenseamento de 1950 era de
12946 habitantes (inclusive a populaccedilatildeo dos atuais municiacutepios de Cristianoacutepolis e Palmelo ndash
na eacutepoca distritos de Pires do Rio) apresentando quadro urbano e suburbano com uma
populaccedilatildeo de 4836 habitantes sendo 2282 homens e 2554 mulheres A densidade
demograacutefica era de 12 habitantes por quilocircmetro quadrado verificando-se que 53 da
populaccedilatildeo localizava-se no quadro rural
Na deacutecada de 50 o municiacutepio de Pires do Rio tinha um nuacutecleo populacional que era o
povoado de Marataacute aleacutem da sede (como jaacute mencionado no ano de 1953 os distritos de
Cristianoacutepolis e Palmelo satildeo elevados a municiacutepio) Mas com o passar dos anos ele deixa de
existir ficando apenas a Igreja de Satildeo Sebastiatildeo As atividades econocircmicas do municiacutepio eram
predominantemente a produccedilatildeo agriacutecola e pecuaacuteria O municiacutepio apresentava-se como um local
de atraccedilatildeo recreativa pela sua beleza paisagiacutestica a qual pode ser observada na cachoeira do
Salto no rio Piracanjuba jaacute mencionado onde foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica que forneceu
energia agrave cidade ateacute meados do seacuteculo XX
A populaccedilatildeo em 2010 era de 28762 habitantes sendo 14105 homens e 14657
mulheres Predominantemente urbana com 27094 pessoas e apenas 1668 no meio rural Pires
do Rio apresenta uma aacuterea de 1073361 km2 e uma densidade demograacutefica de 2680 habkmsup2
76
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) do municiacutepio eacute de 0744 A Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa (PEA) eacute de 8717 homens e 6128 mulheres (IBGE 2016)
De acordo com os dados populacionais desde o Recenseamento da deacutecada de 50 (dados
jaacute mostrados anteriormente) a cidade teve um crescimento consideraacutevel como pode ser
observado nos quadros abaixo
Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo recenseamento
Populaccedilatildeo Censitaacuteria
1980 1991 2000 2010
Total de habitantes 19258 22131 26229 28762
Urbano 16670 20537 24473 27094
Zona Rural 2588 1594 1756 1668
Masculino 9498 10904 12948 14105
Feminino 9760 11227 13281 14657
Urbano Masculino 8098 10027 11966 13208
Urbano Feminino 8572 10510 12507 13886
Zona Rural Masculino 1400 877 982 897
Zona Rural Feminino 1188 717 774 771
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Nos dados que satildeo apresentados pelo IBGE (populaccedilatildeo estimada) entre os anos 2001 e
2004 ocorreu uma queda no crescimento populacional em relaccedilatildeo ao ano de 1999 que foi de
28631 e nos demais anos segue 2001 26600 2002 27091 2003 27491 2004 28332 A
respeito desta queda natildeo conseguimos informaccedilotildees Em duas datas especiacuteficas houve uma
contagem da populaccedilatildeo seguem os dados abaixo
Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo contagem
Populaccedilatildeo Contagem
1996 2007
Total de habitantes 25094 26857
Masculino 12403 13232
Feminino 12691 13574
Urbano 23766 25031
77
Zona Rural 1328 1826
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Os dados inseridos no quadro 3 satildeo uma estimativa da populaccedilatildeo informada pelo IMB
e IBGE
Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio (GO)
Populaccedilatildeo Estimada
2011 2012 2013 2014 2015
28956 29145 30232 30469 30703
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Para entreter a populaccedilatildeo o turismo do municiacutepio estaacute relacionado agraves edificaccedilotildees com
relevacircncia arquitetocircnica e cultural como a Ponte Epitaacutecio Pessoa o antigo Frigoriacutefico Brasil
Central as igrejas Satildeo Sebastiatildeo (Patrimocircnio do Marataacute) Satildeo Benedito (Igreja dos Congos) a
Ferrovia Centro Atlacircntica e o Museu Ferroviaacuterio O patrimocircnio material eacute representado pelo
centro histoacuterico principalmente a Igreja Matriz Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus coreto e chafariz da
Praccedila Gaudecircncio Rincon Segoacutevia o Mercado Municipal a Biblioteca Municipal a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria e a casa do Maneco (hoje em ruiacutenas) que formam um conjunto arquitetocircnico
singular como tambeacutem as belezas naturais das Serras da Caverna e das Flores a cachoeira do
Marataacute e Prainha (as margens do rio Corumbaacute)
De acordo com Novais (2014) nos anos de 1980 o municiacutepio conheceu a expansatildeo da
fronteira agriacutecola com a introduccedilatildeo do cultivo da soja logo apoacutes em 1993 atraiu investimentos
com a implantaccedilatildeo do complexo agroindustrial aviacutecola e a industrializaccedilatildeo do setor
contribuindo para o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que perpassou a regiatildeo do Sudeste
Goiano Atualmente a economia piresina eacute voltada para as atividades agriacutecolas como a
produccedilatildeo de soja milho sorgo arroz feijatildeo e mandioca
O comeacutercio a infraestrutura e serviccedilos (sauacutede educaccedilatildeo comeacutercio e prestaccedilatildeo de
serviccedilos) exercem funccedilatildeo de polo atrativo para moradores dos municiacutepios vizinhos Toda a
importacircncia do municiacutepio para a regiatildeo o estado e o paiacutes se deve agrave instalaccedilatildeo da Estrada de
Ferro Goyaz e aos que acreditaram no crescimento de Pires do Rio e investiram em seu
territoacuterio Por esta razatildeo que parte de nossa pesquisa busca reviver fragmentos da histoacuteria desta
cidade que se faz importante para uma regiatildeo estado e paiacutes
78
33 Os cursos drsquoaacutegua
No quadro abaixo apresentamos os nomes dos cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio
levantamento realizado de acordo com os mapas cartas topograacuteficas e vocabulaacuterio do IBGE
(1957)
Quadro 6 ndash Cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO)
Vocabulaacuterio Geograacutefico ndash IBGE (1957)
Rio ndash 3 Paacutegi
na
Descriccedilatildeo Municiacutepio de
Nasceste
Rio Corumbaacute 75 Rio nasce nos arredores de Pirineus
atravessa o municiacutepio como o de Santa
Luzia depois de servir em pequeno trecho
de divisa a Bonfim Adiante separa Ipameri
e Corumbaiacuteba de um lado e Campo
Formoso Pires do Rio Caldas Novas Buriti
Alegre do outro ateacute desaguar no rio
Paranaiacuteba pela margem direita
Corumbaacute
Rio do Peixe 165 Rio nasce na regiatildeo sul-oriental do
municiacutepio que separa dos de Campo
Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio
e o de Caldas Novas desemboca no rio
Corumbaacute pela margem direita
Silvacircnia
Rio Piracanjuba 171 (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce
na serra de Passa Quatro e atravessa o
municiacutepio bem como o de Pouso Alto
Adiante separa Caldas Novas de Morrinhos
e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio
Corumbaacute pela margem direita
Bela Vista
Coacuterrego ndash 34
Coacuterrego Areias 15 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Pires do Rio
Coacuterrego Barreiro - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia
Coacuterrego do
Barreiro
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Piracanjuba
Coacuterrego dos Batista - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Bauzinho 29 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Bauacute
Orizona
Coacuterrego da Braga 37 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Santa Maria
Luziacircnia
79
Coacuterrego Boa Vista 32 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Buracatildeo 40 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Buriti 42 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio dos Bois
Pires do Rio
Coacuterrego Cachoeira 47 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Piracanjuba
Silvacircnia
Coacuterrego Capoeira
Grande
60 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Cachoeira
Orizona
Coacuterrego Carvalho - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego da Caverna 66 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio dos Peixes (M de Pires do Rio)
Pires do Rio
Coacuterrego Corrente - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Domingo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego da Estiva 88 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Brumado
Pires do Rio
Coacuterrego Fundatildeo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Cocalzinho de
Goiaacutes
Coacuterrego Guaraacute 106 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Itauacutebi - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Juca - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Lajinha 124 Coacuterrego afluente da margem direita do
coacuterrego Taperatildeo
Orizona
Coacuterrego Laranjal 126 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Bauacute
Pires do Rio
Coacuterrego Limeira 128 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Ipameri
Coacuterrego Marreco 136 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Bauacute
Orizona
Coacuterrego Mata
Dentro
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego do
Mocambo
144 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
das Antas
Silvacircnia
Coacuterrego Olho
drsquoaacutegua
152 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Piracanjuba
Orizona
Coacuterrego do Pico 168 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Brumado
Pires do Rio
Coacuterrego
Piracanjuba
171 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
igual nome
Morrinhos
Coacuterrego Posse 177 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
coacuterrego do Fundo
Orizona
80
Coacuterrego Satildeo
Jerocircnimo
202 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Caiapoacute
Pires do Rio
Coacuterrego Saltador 193 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute proacuteximo a barra do rio
Alagado
Luziacircnia
Coacuterrego Taquaral 217 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute (M de Pires do Rio)
Pires do Rio
Coacuterrego da Terra
Vermelha
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia
Ribeiratildeo ndash 8
Ribeiratildeo Bauacute 29 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Piracanjuba na divisa do municiacutepio de Pires
do Rio
Orizona
Ribeiratildeo Brumado 33 Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do
rio dos Peixes
Santa Cruz de
Goiaacutes
Ribeiratildeo Cachoeira 47 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Piracanjuba
Orizona
Ribeiratildeo Caiapoacute 50 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Urutaiacute
Ribeiratildeo Marataacute - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Ribeiratildeo Mucambo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Ribeiratildeo Sampaio 194 Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da
margem direita do rio Corumbaacute (M de
Pires do Rio)
Pires do Rio
Ribeiratildeo Taquaral - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Orizona
Quedas drsquoaacutegua ndash 1
Cachoeira do
Marataacute
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Fonte Vocabulaacuterio Geograacutefico IBGE 1957
O quarto capiacutetulo apresenta a descriccedilatildeo e anaacutelise de quinze dos 46 topocircnimos (escolha
esta pela relaccedilatildeo de representaccedilatildeo para a cidade de Pires do Rio-GO) de acordo com os aportes
teoacutericos revisados no primeiro capiacutetulo e em consonacircncia com os meacutetodos apresentados e
discutidos no segundo capiacutetulo apresenta ainda algumas questotildees teoacutericas suscitadas pelas
especificidades dos dados escolhidos
81
IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR
O signo toponiacutemico natildeo abre apenas o nome de
um lugar mas o lugar como um todo tudo que estaacute
relacionado a ele de uma forma ou de outra
(SIQUEIRA 2015)
Nos colocar a serviccedilo desta pesquisa foi o mesmo que redescobrir a cidade de Pires do
Rio-GO Conhecer a sua histoacuteria e poder reeditaacute-la remapear os seus cursos drsquoaacutegua e por fim
buscar na Toponiacutemia as relaccedilotildees de poder que os topocircnimos tecircm sobre cada espaccedilo nomeado
assim tomamos posse do que esta pesquisa nos proporcionou e aqui estaacute o aacutepice dela os dados
e suas anaacutelises
Segundo Dias (2008) o municiacutepio de Pires do Rio-GO tem como principais cursos
drsquoaacutegua o rio Corumbaacute situado na parte sudeste o rio Piracanjuba no nordeste e rio do Peixe
na parte sul os quais correm em direccedilatildeo agrave calha do rio Paranaiacuteba (uma das quatro bacias
hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes) ao sul Os rios do Peixe e Piracanjuba desaguam no
Corumbaacute sendo limites de fronteiras do municiacutepio Aleacutem desses rios a rede hidrograacutefica eacute
formada por vaacuterios ribeirotildees e coacuterregos
Para proceder com as devidas anaacutelises dos topocircnimos nos eacute necessaacuterio partir de algumas
definiccedilotildees de nomenclaturas da aacuterea da geografia mas natildeo tivemos acesso a nenhum dicionaacuterio
terminoloacutegico da aacuterea especiacutefica devido agrave dificuldade de encontrar em bibliotecas puacuteblicas e
na internet desta forma recorremos aos dicionaacuterios Aulete (2011) Borba (2004) e Houaiss et
al (2004 2009) para assim proceder com a definiccedilatildeo de palavras (termos) que satildeo recorrentes
em nossa pesquisa a) curso drsquoaacutegua eacute qualquer corpo de aacutegua fluente b) coacuterrego um rio
pequeno com pouco volume de aacutegua que passa por vaacuterios lugares e sempre desagua em um
curso drsquoaacutegua (coacuterrego ribeiratildeo ou rio) c) queda drsquoaacutegua torrente de aacutegua que cai do alto
cachoeiracascata que satildeo formaccedilotildees geomorfoloacutegicas nas quais os cursos drsquoaacutegua correm por
cima de uma rocha de composiccedilatildeo resistente agrave erosatildeo formando uma suacutebita quebra na vertical
d) ribeiratildeo curso drsquoaacutegua maior que o riacho e menor que o rio afluente de um rio e) rio ou
fluacutemen eacute uma corrente natural de aacutegua que flui continuamente Possui um caudal consideraacutevel
e desemboca no mar num lago ou noutro rio e em tal caso denomina-se afluente Pode
apresentar vaacuterias redes de drenagem
Proceder com estas observaccedilotildees eacute elementar para esta pesquisa pois dos 46 topocircnimos
elencados no municiacutepio de Pires do Rio-GO analisaremos apenas 15 visto que analisar todos
82
os topocircnimos seria uma tarefa aacuterdua e que demandaria mais tempo registramos aqui o que nos
motivou agrave escolha dos cursos drsquoaacutegua para anaacutelise Como satildeo apenas 03 rios eacute viaacutevel e de bom
senso analisaacute-los jaacute que satildeo as maiores bacias e que datildeo destaque agrave regiatildeo os ribeirotildees satildeo
especificamente 08 os quais seratildeo analisados inclusive alguns nomes se repetem aos coacuterregos
tambeacutem 01 queda drsquoaacutegua cachoeira do Marataacute que natildeo seraacute analisada devido ao nome ser o
mesmo de um ribeiratildeo dos 34 coacuterregos analisaremos apenas 04 (Barreiro Itauacutebi Laranjal e da
Terra Vermelha) devido ao grau de importacircncia para a cidade pois os coacuterregos Itauacutebi (nascente)
e Laranjal satildeo os que abastecem a cidade de Pires do Rio-GO Quanto ao Barreiro este estaacute
localizado na regiatildeo do Morro do Cruzeiro localidade que tem o maior nuacutemero populacional
na zona rural do municiacutepio O coacuterrego da Terra Vermelha eacute uma aacuterea que haacute muito tempo foi
espaccedilo de olaria e dela saiacuteram grandes quantidades de tijolos que foram utilizados nas
construccedilotildees de casas na cidade e tambeacutem pertence a uma localidade onde existiu o povoado do
Marataacute na deacutecada de 50
No mapa 2 apresentamos os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do
Rio-GO bem como aparecem em destaque os 15 topocircnimos que analisaremos a seguir os quais
estatildeo catalogados em fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas que estatildeo inseridas neste capiacutetulo
83
Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)
84
41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural
Os modelos das taxionomias foram elaborados por Dick (1992) a fim de possibilitar ao
pesquisador descobrir o significado dos topocircnimos sem ter que retomar especificamente a
passado histoacuterico Os modelos subdividem-se em 11 taxes de natureza fiacutesica e 16 de natureza
antropocultural Assim podemos verificar se o nomeador recorreu a elementos de natureza
fiacutesico ou socioculturais como motivaccedilatildeo no ato da nomeaccedilatildeo Abaixo apresentamos as 27
taxes subdivididas em suas naturezas e devidas especificaccedilotildees exemplificadas com alguns
topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO nos casos de natildeo ter
recorremos a outros topocircnimos
a) Taxionomias de natureza fiacutesica
1 Astrotopocircnimos topocircnimos que se referem aos corpos celestes cidade Estrela do Norte-
GO
2 Cardinotopocircnimos topocircnimos referentes agraves posiccedilotildees geograacuteficas cidade Alvorada do
Norte-GO
3 Cromotopocircnimos topocircnimos relativos agrave escala cromaacutetica coacuterrego da Terra Vermelha (Pires
do Rio-GO)
4 Dimensiotopocircnimos topocircnimos referentes agraves caracteriacutesticas dimensionais dos acidentes
geograacuteficos como extensatildeo comprimento largura espessura altura profundidade coacuterrego
Fundatildeo (Pires do Rio-GO)
5 Fitotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de vegetais rio Corumbaacute (Pires do Rio-
GO)
6 Geomorfotopocircnimos topocircnimos referentes agraves formas topograacuteficas elevaccedilotildees ou depressotildees
do terreno coacuterrego do Pico (Pires do Rio-GO)
7 Hidrotopocircnimos topocircnimos originados de acidentes hidrograacuteficos ribeiratildeo Cachoeira
(Pires do Rio-GO)
8 Litotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de minerais e de nomes relativos agrave
constituiccedilatildeo do solo coacuterrego Barreiro (Pires do Rio-GO)
9 Meteorotopocircnimos topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos ribeiratildeo Brumado
(Pires do Rio-GO)
10 Morfotopocircnimos topocircnimos que refletem o sentido de forma geomeacutetrica cidade Volta
Redonda-RJ
11 Zootopocircnimos topocircnimos de iacutendole animal rio do Peixe (Pires do Rio-GO)
b) Taxionomias de natureza antropocultural
85
1 Animotopocircnimos ou Nootopocircnimos topocircnimos relativos agrave vida psiacutequica e agrave cultura
espiritual coacuterrego Boa Vista (Pires do Rio-GO)
2 Antropotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais ribeiratildeo Sampaio
(Pires do Rio-GO)
3 Axiotopocircnimos topocircnimos que se referem a tiacutetulos e a dignidades que acompanham os
nomes proacuteprios individuais cidade Senador Canedo-GO
4 Corotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes de cidades paiacuteses estados regiotildees e
continentes coacuterrego Posse (Pires do Rio-GO)
5 Cronotopocircnimos topocircnimos que encerram indicadores cronoloacutegicos como novonova
velhovelha cidade Nova Aurora-GO
6 Ecotopocircnimos topocircnimos que fazem referecircncia agraves habitaccedilotildees de um modo geral cidade
Castelacircndia-GO
7 Ergotopocircnimos topocircnimos relacionados aos elementos da cultura material ribeiratildeo Bauacute
(Pires do Rio-GO)
8 Etnotopocircnimos topocircnimos relativos aos elementos eacutetnicos tribos isolados ou natildeo ribeiratildeo
Caiapoacute (Pires do Rio-GO)
9 Dirrematotopocircnimos topocircnimos construiacutedos por meio de frases ou enunciados linguiacutesticos
cidade Aparecida do Rio Doce-GO
10 Hierotopocircnimos topocircnimos referentes aos nomes sagrados agraves efemeridades religiosas aos
locais de culto cidade Cristianoacutepolis-GO Podem apresentar duas subdivisotildees i)
hagiotopocircnimos topocircnimos que se referem aos santos e agraves santas do hagioloacutegio romano
coacuterrego Satildeo Jerocircnimo (Pires do Rio-GO) ii) mitotopocircnimos topocircnimos referentes agraves
entidades mitoloacutegicas cidade Anhanguera-GO
11 Historiotopocircnimos topocircnimos que se referem a movimentos de cunho histoacuterico-social aos
seus membros ou ainda agraves datas correspondentes cidade Ipiranga de Goiaacutes-GO
12 Hodotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves vias de comunicaccedilatildeo coacuterrego Corrente (Pires
do Rio-GO)
13 Numerotopocircnimos topocircnimos que dizem respeito aos adjetivos numerais cidade Trecircs
Ranchos-GO
14 Poliotopocircnimos topocircnimos constituiacutedos pelos vocaacutebulos vila aldeia cidade povoaccedilatildeo
arraial bairro Vila Nova (Pires do Rio-GO)
15 Sociotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais de trabalho
e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade ribeiratildeo Mucambo (Pires do Rio-
GO)
86
16 Somatotopocircnimos topocircnimos com relaccedilatildeo metafoacuterica agraves partes do corpo humano ou do
animal coacuterrego Olho drsquoaacutegua (Pires do Rio-GO)
Essas classificaccedilotildees taxonocircmicas funcionam como auxiliares no processo de verificaccedilatildeo
que subjaz o topocircnimo sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo da origem e motivaccedilatildeo que
levaram agrave efetivaccedilatildeo de determinado topocircnimo
Aleacutem do mais uma anaacutelise toponiacutemica pressupotildee a busca de particularidades
que natildeo podem ficar apenas nas caracteriacutesticas mais evidentes apresentadas
pelo nome deve-se procurar tanto quanto possiacutevel ou seja tanto quanto as
fontes ou a documentaccedilatildeo o permitirem as origens mais remotas do
denominativo objetivando as eventuais substituiccedilotildees experimentadas e a sua
razatildeo determinante de modo que se possa tentar um equacionamento da
nomenclatura em periacuteodos ou estaacutegios onomaacutesticos ndash senatildeo de toda ela pelo
menos em alguns nomes ndash que talvez reflitam momentos distintivos do pensar
da eacutepoca analisada (DICK 1996 p 15-16)
O leacutexico toponiacutemico eacute carregado de marcas de expressatildeo histoacuterica social cultural
poliacutetica e religiosa de dada comunidade e eacute representativo para o nomeador e seu grupo Desta
forma se determinado local ou coisa passou por vaacuterias nomeaccedilotildees no decorrer dos tempos isso
justifica que cada nomeador observou novas caracteriacutesticas que classificavam ou referenciavam
o topocircnimo de forma precisa e motivada
De acordo com Dick (1990) as vaacuterias facetas significativas que datildeo realce ao nome do
lugar e as inuacutemeras informaccedilotildees que podem ser elencadas dele tornariam no material de um
grande armazenamento de dados e fatos culturais em larga extensatildeo Assim observamos em
Andrade (2010 p 103) que
Os estudos toponiacutemicos dentro do alcance pluridisciplinar de seu objeto de
estudo constituem um caminho possiacutevel para o conhecimento do modus
vivendi das comunidades linguiacutesticas que ocupam ou ocuparam um
determinado espaccedilo Quando um indiviacuteduo ou comunidade linguiacutestica atribui
um nome a um acidente humano ou fiacutesico revelam-se aiacute tendecircncias sociais
poliacuteticas religiosas culturais (Grifos da autora)
Satildeo nessas caracteriacutesticas em que reside a motivaccedilatildeo do topocircnimo e por meio delas nos
satildeo reveladas a histoacuteria e cultura de uma dada comunidade por isso vemos o quanto os estudos
toponiacutemicos satildeo de extrema relevacircncia natildeo soacute para a aacuterea dos estudos da
linguagemlinguiacutesticos mas tambeacutem para as outras aacutereas do conhecimento jaacute que o topocircnimo
eacute plurissignificativo tendo assim um alcance pluridisciplinar
87
Posto isto pode-se evidenciar os estudos toponiacutemicos como um eixo norteador para se
verificar as relaccedilotildees soacutecio-histoacuterico-culturais de um povo jaacute que o topocircnimo estaacute intimamente
vinculado agrave cultura de um povo uma naccedilatildeo e portanto agrave sua histoacuteria Assim tomaremos por
anaacutelise os graacuteficos que se seguem e as taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua
do municiacutepio de Pires do Rio-GO
42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO
Nesta pesquisa os 15 topocircnimos analisados baseados na classificaccedilatildeo enquadram-se
na divisatildeo das naturezas fiacutesica e antropocultural Em alguns topocircnimos eacute possiacutevel ainda
evidenciar mais de uma categoria classificatoacuteria por exemplo o coacuterrego da Terra Vermelha
que se classifica como litotopocircnimo e cromotopocircnimo
Nos graacuteficos abaixo apresentamos e analisamos em base qualiquantitivas as naturezas
das taxionomias fiacutesicas e antropoculturais e a origemetimologia dos topocircnimos estratos
linguiacutesticos
Grafico1 Natureza das Taxionomias
As taxionomias nos permitiram analisar e interpretar os designativos de lugares com
maior precisatildeo e seguranccedila do ponto de vista semacircntico sendo estudados enquanto formas de
liacutengua e de acordo com a causa de seu emprego O produto resultante aqui no nosso caso os
88
topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO ganham vida proacutepria passando
a ter caraacuteter motivado e natildeo apenas arbitraacuterio
As taxes encontradas nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO que tiveram maior proporccedilatildeo foram as de natureza fiacutesica assim o nomeador caracterizou
os fatores fiacutesicos do ambiente ou que chamaram sua atenccedilatildeo Desta forma as nomeaccedilotildees satildeo
motivadas e estabelecem relaccedilotildees com o nomeador e o lugar nomeado
421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos
Os principais topocircnimos analisados neste trabalho confirmaram uma tendecircncia da
toponiacutemia brasileira em geral ou seja a predominacircncia de topocircnimos classificados de acordo
com as taxionomias de natureza fiacutesica uma vez que na nomenclatura onomaacutestica dos
elementos fiacutesicos da regiatildeo analisada haacute um percentual de 67 (10 topocircnimos) que satildeo
classificados como taxes de natureza fiacutesica e 33 (05 topocircnimos) que se enquadram nas taxes
de natureza antropocultural
Graacutefico 2 Taxionomias de Natureza Fiacutesica
O graacutefico apresentado nos revelam que a incidecircncia em sua maioria das taxionomias
de natureza fiacutesica evidencia a influecircncia do ambiente fiacutesico no ato de nomeaccedilatildeo percebe-se
entatildeo que no ato do batismo os povos recorreram a elementos e caracteriacutesticas circundantes
aos lugares nomeados demonstrando que o meio ambiente exerce grande influecircncia no homem
no ato de nomear os lugares
0
05
1
15
2
25
3
Taxionomias de Natureza Fiacutesica
89
Ao atribuir topocircnimos agraves taxionomias de natureza fiacutesica eacute possiacutevel comprovar a forccedila
de elementos fiacutesicos como motivadores no ato de nomear os lugares O que eacute observaacutevel no
graacutefico II os topocircnimos com maior incidecircncia nos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO sendo eles fitotopocircnimos hidrotopocircnimos litotopocircnimos litotopocircnimos e
cromotopocircnimos litotopocircnimos e fitotopocircnimos meteorotopocircnimos e zootopocircnimos que no
decorrer desse trabalho seratildeo analisados
4211 Fitotopocircnimos
De acordo com o observado a taxionomia de origem fitotoponiacutemica (originada de
nomes de vegetais) atingiu em segundo lugar o maior nuacutemero de frequecircncia dentre os
topocircnimos de natureza fiacutesica 20 (02 topocircnimos) satildeo eles coacuterrego Laranjal e ribeiratildeo
Taquaral Eacute observaacutevel que a flora foi uma das grandes motivaccedilotildees para os designativos dos
cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO E segundo Dick (1990 p 146)
O importante talvez seria natildeo perder de vista que a vegetaccedilatildeo eacute parte
integrante de um conjunto natural em que o relevo constituiccedilatildeo do solo
acidentes geograacuteficos regimes climaacuteticos compotildeem um verdadeiro
biossistema imprescindiacutevel ao homem e agrave qualidade de vida que nele pretenda
instalar ou pelo menos usufruir
Eacute nessas relaccedilotildees de importacircncia para o homem que podemos compreender a nomeaccedilatildeo
destes elementos fiacutesicos fazendo referecircncia a aspectos que chamaram a sua atenccedilatildeo e
motivaram a nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua Isso se revela pelo caraacuteter de necessidade agrave vida
humana tanto do nome como do que por ele foi nomeado essa relaccedilatildeo nomeador-objeto-nome
eacute que ressalta a importacircncia da vegetaccedilatildeo no meio social local do vivente Assim tambeacutem
justifica Pereira (2009 p 143) que ldquopossivelmente seja esse o motivo de o
denominadorenunciador registrar as caracteriacutesticas locais de uma regiatildeo na nomeaccedilatildeo dos
acidentes geograacuteficos por meio do topocircnimordquo
Ao trazer as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas eacute perceptiacutevel a motivaccedilatildeo que subjaz
cada topocircnimo como observamos abaixo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 02
Topocircnimo Coacuterrego Laranjal Localizaccedilatildeo Pires do Rio
90
Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia la-ran-jal Sm plantaccedilatildeo ou pomar de laranjas (p827)
Laranja sf lsquofruto da laranjeira planta da fam das rutaacuteceasrsquo XIV Do aacuter nāranğa deriv do
persa nāranğ laranjAL -gal XVI (p382)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino laranja- + -al sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Coacuterrego afluente da margem direita do ribeiratildeo Bauacute (M de
Pires do Rio)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 03
Topocircnimo Ribeiratildeo Taquaral Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ta-qua-ral Sm 1 plantaccedilatildeo de taquara tabocal 2 terreno onde crescem
taquaras (p1337)
Taquara sf lsquoplanta da fam das gramiacuteneas taboca bambursquo 1627 tacoara c 1584 etc
tacoaacutera 1817 Do tupi takṷara taquarAL 1783 (p623)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino taquara- + -al sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ao observar as informaccedilotildees trazidas nas fichas apresentadas dos fitotopocircnimos
possivelmente as motivaccedilotildees que influenciaram o nomeador satildeo perspicazes as referecircncias
locais que de acordo com cada topocircnimo relacionamos i coacuterrego Laranjal evidentemente em
sua localidade apresentava no momento de nomeaccedilatildeo a plantaccedilatildeo de laranjas e tambeacutem o
coacuterrego favorecia a essas plantaccedilotildees ii ribeiratildeo Taquaral assim como analisado o topocircnimo
91
anterior o que tenha influenciado ao nomeador deve estar relacionado com o a quantidade de
taquaras na regiatildeo em se encontra o determinado ribeiratildeo
A ocorrecircncia dos topocircnimos de iacutendole vegetal ora pesquisados pode ter a sua
justificativa pela relevacircncia que as plantas tecircm junto a vida humana bem como necessaacuterias para
a conservaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua e suas nascentes assim justificamos a tendecircncia de valoraccedilatildeo
do vegetal no processo de batismo dos elementos fiacutesicos
4212 Hidrotopocircnimos
O topocircnimo de equivalecircncia hidroniacutemica (originado de acidentes hidrograacuteficos) aparece
no em ribeiratildeo Cachoeira Sabe-se que a aacutegua eacute de fundamental importacircncia para a vida
humana por isso a tendecircncia de o nomeador no ato de batismo do topocircnimo valer-se do nome
relacionado ao elemento aacutegua para designar o lugar
E de acordo com Dick (1990 p 196) ldquoO aparecimento de topocircnimos nos mais
diferentes ambientes revestindo uma natureza hidroniacutemica propriamente dita vincula-se agrave
importacircncia dos cursos drsquoaacutegua para as condiccedilotildees humanas de vidardquo Possivelmente o nomeador
a considera o elemento aacutegua vital para a sua existecircncia ainda sabemos que os cursos drsquoaacutegua
em muitas ocasiotildees servem de caminhos para comeacutercio como tambeacutem foi por meio deles que
se configuraram na histoacuteria do Brasil o achamento e a colonizaccedilatildeo do paiacutes pelos portugueses
Nas ficha abaixo trazemos informaccedilotildees relevantes para anaacutelise dos topocircnimos de origem
hidrograacutefica
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 04
Topocircnimo Ribeiratildeo Cachoeira Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Hidrotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ca-cho-ei-ra Sf 1queda drsquoaacutegua em rio ou ribeiratildeo cujo leito apresenta
forte declive cascata 2 trecho de rio onde as aacuteguas correm raacutepido devido agrave inclinaccedilatildeo do
terreno corredeira (p213)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba (M
de Campo Formoso)
Referecircncias Borba (2004) IBGE (1957)
92
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Por mais que apenas 10 (01) dos topocircnimos de natureza fiacutesica tenham referecircncia agrave
iacutendole hidroniacutemica a regiatildeo de Pires do Rio-GO tem seus limites poliacutetico e fiacutesico (geograacuteficos)
feita por rios sem mencionar a grande importacircncia que esses cursos exercem nas atividades da
regiatildeo
Ainda observamos em Dick (1990 p 197) que
Agraves vezes poreacutem rompe-se o equiliacutebrio que ela [a aacutegua] representa em
qualquer meio desprendendo-se de suas possibilidades de aproximar culturas
distintas e assumindo papel um tanto oposto ao se transformar em ldquoobstaacuteculordquo
agrave difusatildeo dos interesses coletivos Circunscrevendo o homem em seu proacuteprio
espaccedilo quando o transcurso se torna difiacutecil impede os contatos entre grupos
vizinhos Se o isolamento por um lado tende a manter tanto quanto possiacutevel
inalterados os valores comuns preservando por isso a tradiccedilatildeo socioloacutegica
do homem ao retardar a dinacircmica da comunidade em favor de uma estaacutetica
desestimulante e viciosa
A par desta citaccedilatildeo observamos que foi o que aconteceu a cidade de Pires do Rio-GO
a partir do rio Corumbaacute o principal para o municiacutepio que ateacute a deacutecada de 1920 era isolado dos
demais municiacutepios por falta de uma ponte que estabelecesse tal ligaccedilatildeo Com a vinda da Estrada
de Ferro Goyaz e a construccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa surgem as primeiras casas e a
efetivaccedilatildeo do municiacutepio bem como a ligaccedilatildeo com as principais cidades da regiatildeo e as relaccedilotildees
econocircmicas e poliacuteticas que auxiliaram no crescimento do municiacutepio e da regiatildeo
Observamos ainda no contexto do municiacutepio de Pires do Rio-GO que a aacutegua em suas
potencialidades eacute de grande relevacircncia e meio de sobrevivecircncia para a vida humana pois
Na parte sul encontra-se o rio Corumbaacute que eacute maior curso drsquoaacutegua do
municiacutepio Nele eacute feito a extraccedilatildeo de areia para construccedilatildeo civil suas ilhas
servem de pontos de recreaccedilatildeo para vaacuterios moradores e as suas margens satildeo
praticamente ocupadas pelas pequenas propriedades (DIAS 2008 p 84)
Posto isso no efetivar do topocircnimo a partir da importacircncia da aacutegua o nomeador
diferencia o elemento geograacutefico dos demais auxiliando na orientaccedilatildeo do homem no espaccedilo
que o cerca proporcionando subsiacutedios para um melhor (re)conhecimento do local Assim
hipoteticamente acreditamos que o topocircnimo ndash ribeiratildeo Cachoeira ndash no contexto estudado
93
pode ter a sua motivaccedilatildeo pelo proacuteprio ambiente fiacutesico uma vez recupera caracteriacutesticas
hidroniacutemicas do lugar
4213 Litotopocircnimos
Notando-se as relaccedilotildees dos topocircnimos de origem mineral os litotopocircnimos coacuterrego
Barreiro representam o percentual de 10 (01 topocircnimo) dos analisados Cabe mencionar que
os minerais foram um dos principais atrativos dos colonizadores portugueses nas terras
brasileiras E de acordo com Dick (1990) os topocircnimos de origem mineral estatildeo relacionados
tanto a caracteriacutesticas do solo quanto do terreno e assim estabelecem duas relaccedilotildees fiacutesicas que
estatildeo ligadas agraves regiotildees da terra neste caso satildeo areia barro lama pedra terra E outro fator
satildeo os histoacutericos que podem ser evidenciados no processo de colonizaccedilatildeo do Brasil por meio
das relaccedilotildees entre solo flora e relevo que satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de uma nova
sociedade
O litotopocircnimo apresentado abaixo por meio de descriccedilatildeo e anaacutelise revela a influecircncia
do local sobre o ato de nomear
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 05
Topocircnimo Coacuterrego Barreiro Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia bar-rei-ro Sm terra alagada lamaccedilal (p164)
Barreira -eirar -eiro ejar rarr BARRO
Barro sm lsquotipo de argilarsquo lsquosubstacircncia utilizada no assentamento da alvenaria de tijolo em
obras provisoacuterias obtida pela mistura de argila com aacuteguarsquo XIV De origem preacute-romana
Relaciona-se neste verbete uma seacuterie de vocaacutebulos etimologicamente correlacionados com
o radical barr- de origem preacute-romana barrEIRA sf lsquoargileirarsquo lsquoparapeitorsquo 1500 barrEIRmiddotAR
bareyrar XV barrEIRO XVIII (p82)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino barro- + ndasheiro sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
94
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Observando Sapir (1969) podemos trazer a reflexatildeo acerca da relaccedilatildeo entre liacutengua e
ambiente que vale a compreensatildeo dos fatores fiacutesicos neste caso os aspectos geograacuteficos
incluindo aleacutem dos elementos fauna e flora os recursos minerais Assim o litotopocircnimo
coacuterrego Barreiro estabelece relaccedilotildees com o local quando foi nomeado ainda compreende-se
que a localidade era de lamaccedilalbarro um dos motivadores por determinado coacuterrego ser
batizado com o referido topocircnimo
Assim como observado em Dick (1990 p 125) os referidos topocircnimos de origem
mineral se referem ao primeiro caso que eacute o de ldquoiacutendole geneacutericardquo aspectos fiacutesicos e especiacuteficos
agraves regiotildees da terra revelando assim caracteriacutesticas minerais da regiatildeo em que estaacute localizado
determinado coacuterrego
4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos
No conjunto dos topocircnimos analisados em um percentual de 10 (01 topocircnimo) do
total encontramos um topocircnimo de estrutura composta mas natildeo hiacutebrido pois eacute formado por
duas palavras de origem latina a saber coacuterrego da Terra Vermelha litotopocircnimo (origem de
nomes de minerais e de nomes relativos agrave constituiccedilatildeo do solo) e cromotopocircnimo (relativo agrave
escala cromaacutetica) E que de acordo com Isquerdo e Seabra (2010 p 91) ldquo[] a motivaccedilatildeo dos
hidrotopocircnimos de estrutura composta normalmente valoriza mais de uma caracteriacutestica do
meio ambiente como foco denominativordquo O mesmo se estabelece com o topocircnimo ora
analisado como descreve na ficha abaixo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 06
Topocircnimo Coacuterrego da Terra Vermelha Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo e
Cromotopocircnimo
Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ter-ra Sf i elemento da superfiacutecie terrestre que misturado com aacutegua
transforma-se em barro ii parte soacutelida da superfiacutecie terrestre chatildeo firme (p1351)
Terra sf lsquoterritoacuterio regiatildeorsquo lsquosolo chatildeorsquo XIII Do lat tĕrra (p631)
95
Vermelho adj lsquoda cor do sanguersquo XIII Do lat vĕrmῐcŭlus (p674)
Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Substantivo Feminino + Adjetivo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Segundo Dias (2008 p 119-122) na maior parte da regiatildeo do municiacutepio de Pires do
Rio-GO o solo eacute ldquoLatossolos Vermelhosrdquo ou ldquoLatossolos Vermelho Amareladordquo assim
hipoteticamente uma das motivaccedilotildees fundamentais para a denominaccedilatildeo do topocircnimo estaacute
ligado a caracteriacutesticas do local o que influenciou o denominador a fazer referecircncia agrave Terra
juntamente com a cor vermelha
E ainda Dias (2008 p 117) justifica que ldquoas caracteriacutesticas da vegetaccedilatildeo natural
muitas das vezes tecircm como fator determinante o tipo de solo porque eacute dele que elas retiram a
maioria dos elementos que precisam para sua nutriccedilatildeordquo Nesta regiatildeo tem a predominacircncia da
agricultura e agropecuaacuteria influecircncias do solo que contribui para tais praacuteticas
Contudo o batismo do coacuterrego com o topocircnimo Terra Vermelha traz em sua motivaccedilatildeo
as caracteriacutesticas que satildeo observadas na localidade e que de certa forma influenciaram o
nomeador Aleacutem do coacuterrego uma regiatildeo rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tambeacutem eacute
conhecida pelo referido nome
4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos
O topocircnimo coacuterrego Itauacutebi eacute um nome composto litotopocircnimo (de origem mineral) e
fitotopocircnimo (de origem vegetal) e representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos
analisados Sua estrutura morfoloacutegica segundo Dick (1992) eacute um topocircnimo composto formado
por ita- (pedra) + -ubi (palmeira) ambos de origem tupi na formaccedilatildeo de palavras se constitui
em uma composiccedilatildeo por justaposiccedilatildeo E hipoteticamente a regiatildeo em que se encontra o
coacuterrego eacute de um terreno pedregulho ou pode ser que o proacuteprio coacuterrego tenha em sua calda um
acuacutemulo maior de pedras que o normal E consequentemente uma regiatildeo em que a vegetaccedilatildeo
tenha ou lembre uma localidade com plantaccedilotildees de palmeiras
96
Assim a ficha lexicograacutefica-toponiacutemia abaixo nos auxiliou na descriccedilatildeo e anaacutelise do
topocircnimo coacuterrego Itauacutebi aclarando para um efetiva interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo do corpus desta
pesquisa
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 07
Topocircnimo Coacuterrego Itauacutebi Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo e Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia Ita ndash pedra eacute o termo mais comum nos topocircnimos brasileiros algumas
vezes aparece sem o i inicial Ta-nhenga (ilha do Rio de Janeiro) Ta-ratatilde (localidade da
Bahia) (p 174)
Ubi ndash nome comum a vaacuterias palmeias dos gecircneros Genoma Bactris e Calyptrogyne (p 190)
Estrutura morfoloacutegica Nome composto (ita- substantivo feminino + -ubi substantivo
feminino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Tibiriccedila (1985)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Segundo Dias (2008) o coacuterrego Itauacutebi eacute um dos afluentes do ribeiratildeo Marataacute e tambeacutem
um dos coacuterregos que abaste ao municiacutepio de Pires do Rio-GO juntamente com o coacuterrego
Laranjal Assim eacute possiacutevel notar a importacircncia deste curso drsquoaacutegua para o municiacutepio e a sua
relevacircncia em anaacutelise para a nossa pesquisa
4216 Meteorotopocircnimos
A meteorotoponiacutemia refere-se a topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos e no
contexto pesquisado representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos analisados sendo
ribeiratildeo Brumado que proveacutem do termo latino bruma lsquoinvernorsquo especificando como nevoeiro
neblina e cerraccedilatildeo (CUNHA 2010) Dados esses especificados abaixo na ficha lexicograacutefica-
toponiacutemica que nos auxiliou na interpretaccedilatildeo e anaacutelise do topocircnimo
97
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 08
Topocircnimo Ribeiratildeo Brumado Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Meteorotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia Bruma bru-ma Sf nevoeiro neblina cerraccedilatildeo (p203)
Bruma sf lsquonevoeiro neblina cerraccedilatildeorsquo XVI Do lat bruma lsquoinvernorsquo (p103)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino bruma- + sufixo ndashado)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do rio dos Peixes (M
de Pires do Rio)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ao observarmos em Sapir (1969) em que o leacutexico de uma liacutengua reflete claramente o
ambiente fiacutesico e social do falantes provavelmente o que influenciou o nomeador em recorrer
ao batismo do topocircnimo Brumado em determinado ribeiratildeo pode ter sido devido a ocorrer na
localidade neblinanevoeiro na estaccedilatildeo do ano inverno jaacute que a proacutepria raiz da palavra bruma
faz referecircncia ao ldquoinvernordquo
Nas leituras realizadas em alguns pesquisadores da aacuterea da toponiacutemia como Almeida
(2012) Carvalhinhos (2002 2003) Dick (1990 1992 1996 1999 2000 2001 2004 2006)
Isquerdo e Seabra (2010) Pereira (2009) Siqueira (2012 2015) natildeo foi recorrente
encontrarmos algum meteorotopocircnimo analisado ou que nos desse qualquer sustentaccedilatildeo ou
informaccedilotildees para proceder com algum confrontamento de dados mediante a isso
subentendemos que os topocircnimos de iacutendole dos fenocircmenos atmosfeacutericos natildeo tenham uma certa
frequecircncia como os demais
4217 Zootopocircnimos
Nas denominaccedilotildees de iacutendole animal zootopocircnimos no estudo corrente referem ao
percentual de 30 (03 topocircnimos) dos extratos pesquisados ndash rio Corumbaacute rio do Peixe e rio
Piracanjuba Precisamente em dois topocircnimos o fator motivador foi o animal peixe que
possivelmente influenciou o nomeador A saber que a caccedila e pesca era o meio de sobrevivecircncia
98
da comunidade primitiva desta forma possivelmente a comunidade que habitava nos referidos
locais tambeacutem foi influenciada por essas razotildees e daiacute batizando ambos os rios com os referidos
topocircnimos
Ao observamos os topocircnimos de iacutendole animal aqui presentes vamos contrapor ao que
Dauzat (1922 apud DICK 1990) constatou ter uma menor frequecircncia dos zootopocircnimos em
relaccedilatildeo a outras categorias na toponiacutemia francesa bem como agrave perspectiva de Backheuser
(1952 apud DICK 1990) de que na toponiacutemia brasileira os nomes de animais satildeo menos
recorrentes
As relaccedilotildees de denominaccedilatildeo toponiacutemica de uma dada regiatildeo pode ser diferente de outra
de acordo com isso as relaccedilotildees de motivaccedilotildees estatildeo estritamente ligadas ao nomeador pois
cada qual atribui a caracteriacutesticas inerentes ao local a que faz referecircncia Assim as fichas
lexicograacuteficas-toponiacutemicas abaixo evidenciam em suas descriccedilotildees e nos auxiliam a proceder
com a anaacutelise toponiacutemica dos designativos bem como a quantificar que os zootopocircnimos foram
os de maior frequecircncia em nossas anaacutelises
Nordm de ordem 09
Topocircnimo Rio Corumbaacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia cid Mato Grosso do Sul de corumbaacute caacutegado (p44) Origem Tupi
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio nasce nos arredores de Pirineus atravessa o municiacutepio
como o de Santa Luzia depois de servir em pequeno trecho de divisa a Bonfim Adiante
separa Ipameri e Corumbaiacuteba de um lado e Campo Formoso Pires do Rio Caldas Novas
Buriti Alegre do outro ateacute desaguar no rio Paranaiacuteba pela margem direita (M de Corumbaacute)
Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 10
Topocircnimo Rio do Peixe Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
99
OrigemEtimologia pei-xe Sm (Zool) 1 espeacutecime de classe animal vertebrado que nasce e
vive na aacutegua respira por guelras e se locomove por meio de barbatanas (p1048)
sm lsquo(Zool) animal cordado gnastomado aquaacutetico com nadadeiras com pele geralmente
coberta de escamas que respira por bracircnquiasrsquo XIII Do lat piscis -is peixADA XX
peixARIA XX peixeiro peyxero XIII Cp pescar piscatoacuterio (p485)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio (do) nasce na regiatildeo sul-oriental do municiacutepio que separa
os de Campo Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio e o de Caldas Novas desemboca
no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bonfim)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) (IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 11
Topocircnimo Rio Piracanjuba Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia cid de Goiaacutes de piracanjuba uma var de peixe de rio etim piraacute-
acatilde-juba peixe de cabeccedila amarela (p97) Origem Tupi
piraacute sm lsquodesignaccedilatildeo geneacuterica de peixe em tupirsquo piracanjuva sf lsquoespeacutecie de douradorsquo 1792
Do tupi pirakaᶇlsquoḭuṷa (p498)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce na serra de Passa
Quatro e atravessa o municiacutepio bem como o de Pouso Alto Adiante separa Caldas Novas de
Morrinhos e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bela
Vista)
Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
100
Segundo Dias (2008) o rio Corumbaacute eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio dele se extrai
areia para a construccedilatildeo civil e suas ilhas e margens servem para abrigar pequenas propriedades
inclusive para a recreaccedilatildeo e turismo O rio do Peixe eacute um dos trecircs maiores cursos drsquoaacutegua e
fronteiriccedilo na regiatildeo sul entre Pires do Rio Cristianoacutepolis Vianoacutepolis e Satildeo Miguel do Passa
Quatro tem como principal afluente o ribeiratildeo Brumado e tambeacutem eacute o principal afluente do
rio Corumbaacute O rio Piracanjuba tambeacutem estaacute entre os principais do municiacutepio na regiatildeo norte
faz fronteira entre Pires do Rio Orizona Urutaiacute e Ipameri sua principal relevacircncia foi na
deacutecada de 1950 por aiacute ter funcionado uma usina hidreleacutetrica que abastecia o municiacutepio de Pires
do Rio-GO
A anaacutelise zootoponiacutemica na localidade pesquisada evidenciou a valorizaccedilatildeo da fauna
local pois ao utilizar o nome de animais recuperou-os para nomear lugares como os rios
Observamos que os nomes de animais que estabelecem a sua origem nas liacutengua tupi
(Piracanjuba e Corumbaacute) e latina (Peixe) motivaram a nomeaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e
de alguma forma estatildeo vinculados agrave vida do nomeador estabelecendo assim relaccedilotildees
extralinguiacutesticas com os topocircnimos pesquisados E segundo Theodoro Sampaio (1914 apud
DICK 1990) dificilmente o nome do animal estaria desvinculado de sua existecircncia na
localidade
Os elementos de natureza fiacutesica mais evidentes na motivaccedilatildeo que subjazem aos
topocircnimos ora analisados foram os de origem vegetal mineral e animal (peixe) Percebemos
assim que o nomeador teve influecircncia das caracteriacutesticas do local para designar o referido
topocircnimo A partir desta anaacutelise nos eacute pertinente ao proacuteximo subtoacutepico proceder com as
anaacutelises das taxionomias de natureza antropocultural
422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos
Os topocircnimos de natureza antropocultural representam 33 (05 topocircnimos) do corpus
analisado destacando-se os antropotopocircnimos ergotopocircnimos etnotopocircnimos e
sociotopocircnimos O nomeador obteve suas motivaccedilotildees de iacutendole antropocultural fazendo
homenagem a pessoas importantes da cidade recuperando elementos da cultura material do
povo revelando elementos eacutetnicos isolados ou natildeo e por fim referenciando a atividades
profissionais ou pontos de encontro de pessoas da comunidade Assim identificando a
influecircncia do homem no meio em que se encontra
101
Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural
O graacutefico 3 nos traz em sua amplitude os topocircnimos de origem antropocultural e a partir
dele eacute que procederemos com as anaacutelises no decorrer do texto observando as regecircncias e
distintas influecircncias do nomeador no ato do batismo
4221 Antropotopocircnimos
Dentre os topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais em nossa pesquisa foi
encontrado apenas o ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo correspondendo ao percentual de
20 (01) dos topocircnimos de natureza antropocultural analisados Na toponiacutemia brasileira eacute
recorrente encontrarmos antropotopocircnimos especialmente lugares como cidades praccedilas ruas
e outros acabam recebendo nomes proacuteprios em homenagem a algueacutem A ficha lexicograacutefica-
toponiacutemica 12 em sua amplitude nos auxilia a perceber a influecircncia do antrotopocircnimo
analisado pois refere-se a uma figura puacuteblica da comunidade piresina
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 12
Topocircnimo Ribeiratildeo Sampaio Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia sm ldquomarinhordquo Sampaio eacute um sobrenome presente na onomaacutestica
portuguesa atraveacutes de raiacutezes tipicamente toponiacutemicas devido ao nome de uma vila localizada
0
02
04
06
08
1
12
14
16
18
2
ANTROPOTOPOcircNIMO ERGOTOPOcircNIMO ETNOTOPOcircNIMOS SOCIOTOPOcircNIMO
Taxionomias de Natureza Antropocultural
102
em Traacutes-os-Montes em Portugal e que teria sido adotado como sobrenome pelos senhores
deste local Alguns etimologistas acreditam que o nome Sampaio tenha surgido a partir do
latim Sanctus Pelagius (traduzido como ldquosanto marinhordquo) que significa Santo Pelagius e
com o passar do tempo tenha sofrido alteraccedilotildees na grafia passando para Sam Peaio Satildeo
Payo e por fim Sampaio Origem hebraica
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Proacuteprio ndash sobrenome)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da margem direita
do rio Corumbaacute (M de Pires do Rio)
Referecircncias Dicionaacuterio online de Nomes Proacuteprios (sd) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Este antropotopocircnimo foi o norteador motivacional para esta pesquisa pois o ribeiratildeo
Sampaio em um de seus limites por boa parte da populaccedilatildeo (inclusive eu) eacute conhecido como
Pedro Teixeira (que na verdade eacute o nome da ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo) soacute tempos depois
conheci o seu verdadeiro nome
E Dick (1990 p 286) assegura que
Os aspectos semacircnticos que podem ser encontrados nos nomes de pessoas
ligam-se portanto ao papel que exercem de verdadeiras manifestaccedilotildees
culturais dos povos e onde transparecem os mais diversos motivos
determinantes de sua escolha Talvez a proacutepria maneira pela qual se concebia
o nome em eacutepocas remotas como uma substacircncia revestida de poderes
miacutesticos seja a responsaacutevel pela variedade das motivaccedilotildees em uma ou em
outras sociedades
Os aspectos motivacionais para o topocircnimo em estudo eacute uma homenagem ao coronel
Lino Teixeira de Sampaio neste caso de acordo com Cabral (2007) eacute um patroniacutemico
sobrenome e faz referecircncia ao doador das terras em que fundou-se a cidade de Pires do Rio-
GO Segundo Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares ou
homenagem ou ateacute mesmo por caracteriacutesticas geograacuteficas inerentes ao local Em alguns casos
os nomes satildeo opacos pois natildeo apresentam nenhuma relaccedilatildeo com o referente nesta situaccedilatildeo haacute
de se fazer uma busca histoacuterica para chegar as relaccedilotildees motivacionais que natildeo eacute o nosso caso
Observando em estudos acerca dos topocircnimos de iacutendole de nomes proacuteprios individuais
constatamos que
103
Nomes proacuteprios de pessoas satildeo obscurecidos em seu conteuacutedo leacutexico-
semacircntico pela opacidade do proacuteprio signo que os conforma distanciados na
maioria das ocorrecircncias do foco original Integram o inventaacuterio mais fechado
da linguagem cuja origem remonta no Brasil aos primeiros nomes de
famiacutelias portuguesas para aqui imigradas (DICK 2001 p 83)
Assim foi possiacutevel observar que o patroniacutemico Sampaio ratifica a citaccedilatildeo de Dick
(2001) pois ele estaacute presente na onomaacutestica portuguesa evidenciado nas raiacutezes tipicamente
toponiacutemicas relacionado ao nome de uma vila localizada em Traacutes-os-Montes em Portugal que
supostamente teria sido adotado como sobrenome pelos senhores deste local (DICIONAacuteRIO
DE NOMES PROacutePRIOS sd)
A importacircncia desse referido ribeiratildeo para o municiacutepio de Pires do Rio-GO justifica-se
desde a sua nomeaccedilatildeo pela razatildeo de sua nascente ser em terras que eram de propriedade do
coronel Lino Teixeira de Sampaio e tambeacutem pelo motivo de
O ribeiratildeo Sampaio eacute utilizado como um dos limiacutetrofes das aacutereas urbana e
rural tambeacutem depositaacuterio da Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE)
consequentemente recebendo a aacutegua do esgoto depois de feito seu devido
tratamento Neste ribeiratildeo encontram-se os menores pontos altimeacutetricos da
aacuterea urbana o que favoreceu a construccedilatildeo da ETE (DIAS 2008 p 84)
Neste contexto eacute evidente que a motivaccedilatildeo para o topocircnimo Sampaio eacute uma
homenagem a uma pessoa que tem uma importacircncia para o local a cidade de Pires do Rio-GO
E assim podemos evidenciar que o ato de nomear aqui institui as relaccedilotildees de poder
possivelmente a de coacuterrego do senhor coronel Lino Teixeira de Sampaio estabelecendo as
relaccedilotildees de poder que o proacuteprio coronel mantinha sobre o local a cidade
4222 Ergotopocircnimos
Os topocircnimos referente a elementos da cultura material ergotopocircnimos nas anaacutelises
desta pesquisa tiveram um percentual de 20 (01) dos topocircnimos analisados ribeiratildeo Bauacute
assim observamos que o denominador foi motivado pelas relaccedilotildees da cultura material que o
cerca Jaacute observado em Sapir (1969) pois no leacutexico toponiacutemico reflete o ambiente social do
falante assim o topocircnimo no qual o objeto bauacute eacute de origem da cultura material e de uso
humano possivelmente as caracteriacutesticas do objeto como fundura largura e formato do bauacute
foram vitais para a nomeaccedilatildeo do ribeiratildeo
104
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 13
Topocircnimo Ribeiratildeo Bauacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Ergotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia ba-uacute (fr) Sm (Co) 1 mala de madeira recoberta de couro com tampa
conversa 2 moacutevel em forma de caixa de folha ou madeira onde se guardam roupas e demais
objetos (p169)
sm lsquotipo de caixa ou mala com tampa convexa na parte externarsquo baul XVI bau XVII bahu
Do ant baul deriv do a fr bahur (hoje bahut) de origem obscura (p84) 1805
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba na
divisa do municiacutepio de Pires do Rio (M de Campo Formoso)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Desta forma ldquoa lsquoescolharsquo do nome se daacute segundo um agenciamento enunciativo
especiacutefico este acontecimento de nomear recorta como memoraacuteveis os nomes disponiacuteveis
como contemporacircneos proacuteprios de sua eacutepocardquo (GUIMARAtildeES 2005 p 36-37) Eacute necessaacuterio
observar na citaccedilatildeo de Guimaratildees (2005) que no ato do batismo o nomeador faz referecircncia ao
contemporacircneo ou proacuteprio de sua eacutepoca no caso de uso do termo bauacute configura-se como essa
afirmaccedilatildeo eacute relativa a algo realmente usado em determinada eacutepoca
Eacute evidente que o topocircnimo apresentou como fonte motivacional a relaccedilatildeo existente entre
a cultura material e seu nomeador ou seja uma motivaccedilatildeo toponiacutemica de ordem
antropocultural assim essas designaccedilotildees que recuperam elementos da cultura material do
povo da localidade identifica a influecircncia do homem no meio em que se vive
4223 Etnotopocircnimos
Uma das taxionomias de natureza antropocultural de maior ocorrecircncia nesta pesquisa
com o percentual de 40 (02) topocircnimos dos analisados foram os etnotopocircnimos topocircnimos
105
relativos a elementos eacutetnicos isolados ou natildeo sendo o ribeiratildeo Caiapoacute e ribeiratildeo Marataacute que
no decorrer satildeo apresentados nas fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 14
Topocircnimo Ribeiratildeo Caiapoacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia rio do E de Goiaacutes nome de uma tribo fam linguiacutestica Jecirc que habitou
a regiatildeo (p34)
cai-a-poacute (Tupi) S 1 indiviacuteduo de um povo indiacutegena de Mato Grosso Sm [Pl] 2 esse povo
(p217)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Corumbaacute (M de
Pires do Rio)
Referecircncias Tibiriccedila (1985) Borba (2004) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 15
Topocircnimo Ribeiratildeo Marataacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Marata ndash sm 1 indiviacuteduo dos maratas 2 liacutengua indo-europeia do ramo
indo-iraniano sub-ramo indo-aacuterico falada no Oeste e Centro da Iacutendia esp no Estado de
Maharashtra por aprox 50 milhotildees de pessoas Eacute uma das liacutenguas oficiais da Iacutendia Sacircnsc
mahaacuteraacutestra o grande reino pelo hind marhatta id
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas afluente da margem direita do ribeiratildeo Caiapoacute (M de Pires
do Rio)
Referecircncias Houaiss (2009) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
106
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Na justeza dos nomes podemos evidenciar que ao batizar o ribeiratildeo Caiapoacute o nomeador
se valeu de fatores antropoculturais em relaccedilatildeo aos iacutendios caiapoacutes lsquokayapoacutersquo que segundo fatos
da histoacuteria estiveram em terras goianas desta forma ao se valer do uso do topocircnimo a
motivaccedilatildeo para tal ato de batismo pode ser referente a esses povos terem influecircncias de alguma
forma sobre o nomeador no ato do batismo do topocircnimo
Jaacute o topocircnimo ribeiratildeo Marataacute traz em sua bases semacircnticas como i ldquoliacutengua indo-
europeiardquo ii ldquoindiviacuteduos dos maratasrdquo segundo Houaiss et al (2009) E possivelmente a
motivaccedilatildeo do designativo foi a influecircncia de grupos europeus que tambeacutem passaram por estas
terras jaacute que o paiacutes foi colonizado por Portugal e na formaccedilatildeo da sociedade goiano e piresina
terem a presenccedila de vaacuterias etnias inclusive europeia
Desta forma eacute evidente que os etnotopocircnimos estatildeo relacionados agrave presenccedila e influecircncia
de grupos de distintas etnias no Brasil visto que a histoacuteria local e nacional revelam a presenccedila
de vaacuterios povos na formaccedilatildeo do sociedade brasileira
4224 Sociotopocircnimos
Tomando por anaacutelise os topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais
de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma dada comunidade dentre os
sociotopocircnimos numa frequecircncia de 20 (01) dos topocircnimos analisados foi encontrado o
designativo ribeiratildeo Mucambo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 16
Topocircnimo Ribeiratildeo Mucambo Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Sociotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Mocambo sm lsquoesconderijo refuacutegio dos negros (escravos) fugidorsquo
1535 mocano Do quimb mursquokamu lsquoescondrijorsquo Embora se documente em vaacuterios textos
quinhentistas relativos aos antigos domiacutenios portugueses na Aacutefrica foi no Brasil que o voc
Se difundiu intensamente desde o periacuteodo colonial em decorrecircncia do intenso conviacutevio dos
brancos com os negros escravos da africanos (p431)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
107
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
O topocircnimo tem sua origem no termo mocambo que se refere a esconderijo de escravos
fugidos (CUNHA 2010) Possivelmente assim como jaacute observado nos fatores motivacionais
de outros topocircnimos a relaccedilatildeo de grupos eacutetnicos terem passado ou habitado na regiatildeo pode ter
influenciado na nomeaccedilatildeo do designativo Na regiatildeo observada viveram escravos negros que
formaram um comunidade rural desta forma podem ter influenciado o nomeador no ato do
batismo do ribeiratildeo Mucambo
A partir do sociotopocircnimo analisado observamos em Carvalhinhos (2003 p 172) que
Os atuais estudos onomaacutesticos no Brasil vecircm justamente resgatando a histoacuteria
social contida nos nomes de uma determinada regiatildeo partindo da etimologia
para reconstruir os significados e posteriormente traccedilar um panorama
motivacional da regiatildeo em questatildeo como um resgate ideoloacutegico do
denominador e preservaccedilatildeo do fundo de memoacuteria
Desta forma ao traccedilar um panorama dos topocircnimos analisados eacute elementar que o
nomeador ao longo das nomeaccedilotildees buscou em suas bases motivacionais preservar a memoacuteria
local seja nos fatores fiacutesicos e ou sociais Para configurar tais dados no proacuteximo subtoacutepico
analisaremos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados
43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos
Analisar as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos estratos linguiacutesticos antes de mais
nada eacute perceber as influecircncias das etnias que povoaram o nosso paiacutes e regiatildeo Sabemos que no
iniacutecio do seacuteculo XVI quando os povos lusoacutefonos chegaram em terras brasileiras os iacutendios jaacute
as habitavam embora fossem os donos da terra tatildeo logo os portugueses se instalaram e se
fizeram os novos donos Mas no decorrer dos seacuteculos outros povos foram chegando e tambeacutem
se instalando no local daiacute retiramos a origem dos estratos linguiacutesticos dos topocircnimos analisados
nesta pesquisa
De acordo com Dick (1992 p 81)
108
a formaccedilatildeo etno-histoacuterica do Brasil acusa a existecircncia de estratos
populacionais diversos como os ameriacutendios distribuiacutedos em vaacuterios troncos e
famiacutelias Os portugueses os africanos e os de procedecircncia estrangeira jaacute em
eacutepoca posterior agrave colonizaccedilatildeo propriamente dita Essa origem heterogecircnea
deixou reflexos diferenciados na liacutengua nos usos e costumes nas tradiccedilotildees
regionais e consequentemente na toponiacutemia do paiacutes
Perceber essa heterogeneidade linguiacutestica na formaccedilatildeo dos topocircnimos eacute fundamental
visto que dos 15 topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO a sua maioria
eacute de origem indiacutegena isso revela que apesar do processo de colonizaccedilatildeo e imposiccedilatildeo da liacutengua
portuguesa a liacutengua dos nativos ainda prevaleceu ao menos na designaccedilatildeo toponiacutemica E no
graacutefico abaixo apresentamos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados
Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos
Analisar as origens dos topocircnimos eacute reconhecer segundo Dick (2006) que a Toponiacutemia
pode conviver com dois movimentos vivenciados de linguagem i) a nativa (linguagem
indiacutegena) e ii) a advena ou seja de iacutendole civilizatoacuteria pois ambas colaboraram para a
formaccedilatildeo dos brasileirismos e regionalismos mas natildeo apenas presentes na liacutengua Podemos
assim constatar em nossas anaacutelises que o vivenciado de acordo com a linguagem ldquonativardquo foi
a que teve maior frequecircncia neste estudo
Observamos no graacutefico IV a frequecircncia das liacutenguas que deram origem aos 15 topocircnimos
dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO e no que se segue procedemos com as
anaacutelises e logo apoacutes a estrutura morfoloacutegica
005
115
225
335
445
5
OrigemEtimologia dos Topocircnimos
109
O topocircnimo coacuterrego Laranjal eacute de origem Aacuterabe a influecircncia dessa liacutengua em nossa
regiatildeo nos eacute evidenciada no iniacutecio do seacuteculo XX com a fundaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio-
GO os aacuterabes foram um dos primeiros imigrantes que aqui chegaram bem como tiveram um
destaque na aacuterea comercial possivelmente este topocircnimo tenha relaccedilotildees com esse fato No que
tange agrave frequecircncia a liacutengua Aacuterabe (esta liacutengua influenciou imensamente o leacutexico da Liacutengua
Portuguesa) corresponde a 7 (01) dos topocircnimos analisados
Ainda contatamos outras liacutenguas como a Hebraica ndash ribeiratildeo Sampaio Preacute-romana ndash
coacuterrego Barreiro Sacircnscrito ndash ribeiratildeo Marataacute e ainda de Origem Obscura ndash ribeiratildeo Bauacute
Cada uma dessas liacutenguas correspondem agrave frequecircncia de 7 (01) dos topocircnimos analisados
provavelmente as devidas nomeaccedilotildees se devem ao fato da vinda de pessoas de outros
continentes em busca de melhores condiccedilotildees de vida e assim contribuiacuterem com a formaccedilatildeo
dos designativos dos cursos drsquoaacutegua
Os dados da toponiacutemia brasileira em relaccedilatildeo agrave origem dos topocircnimos satildeo de origem da
Liacutengua Portuguesa devido a colonizaccedilatildeo jaacute que os povos lusoacutefonos aqui chegaram e segundo
Dick (1995 p 60)
os primeiros topocircnimos funcionavam portanto como verdadeiros ldquosign-
postsrdquo ou marcas semioacuteticas de identificaccedilatildeo dos lugares usadas com a
finalidade de distinguir as caracteriacutesticas de espaccedilos semelhantes uma forma
uma silueta o perfil de uma paisagem se apresentando como recortes de uma
corografia maior a ser detalhada
Os povos lusoacutefonos nomeavam os lugares de acordo com caracteriacutesticas do lugar
Assim os topocircnimos por nograves analisados ndash coacuterrego Brumado coacuterrego da Terra Vermelha
ribeiratildeo Cachoeira e rio do Peixe ndash satildeo de origem latina liacutengua que deu origem agrave Liacutengua
Portuguesa e entre os topocircnimos estudados referem ao percentual de 29 (04 topocircnimos) dos
analisados
No processo de colonizaccedilatildeo do Brasil os portugueses necessitavam de matildeo-de-obra
mas como natildeo tiveram ecircxito com os iacutendios entatildeo foi necessaacuterio a busca de outros povos com
isso trouxeram os escravos E no processo de nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de
Pires do Rio-GO a Liacutengua Portuguesa (Aacutefrica) um percentual de 7 (01) dos topocircnimos ndash
ribeiratildeo Mucambo ndash que eacute especificado como o local esconderijo de escravos fugitivos Haacute
relatos de que na regiatildeo da zona rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tem uma localidade
que foi constituiacuteda em sua maioria populacional por escravos provavelmente pode esse
topocircnimo ter sido influenciado por tal fato
110
Em sua maioria 36 (05) dos topocircnimos analisados satildeo de origem Tupi ndash coacuterrego
Caiapoacute coacuterrego Itauacutebi ribeiratildeo Taquaral rio Corumbaacute e rio Piracanjuba ndash e segundo Bearzoti
Filho (2002 p 43) ao tratar das designaccedilotildees de origem tupi assinala que ldquoem grande parte
trata-se de topocircnimos atribuiacutedos natildeo por iacutendios mas por bandeirantes que como jaacute vimos
utilizavam a liacutengua geral como idioma de comunicaccedilatildeo ordinaacuteria em suas expediccedilotildeesrdquo
E de acordo com Sampaio (1928 p 02)
ao europeu poreacutem ou aos seus descendentes cruzados que realizaram as
conquistas dos sertotildees eacute que se deve a maior expansatildeo do tupi como liacutengua
geral dentro das raias atuais do Brasil As levas que partiam do litoral a
fazerem descobrimentos falavam no geral o tupi pelo tupi designavam os
novos descobertos os rios as montanhas os proacuteprios povoados que fundavam
e que eram outras tantas colocircnias espalhadas nos sertotildees falando tambeacutem o
tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo
Ao firmar o ato de nomeaccedilatildeo das localidades constatamos que o tupi liacutengua de origem
do maior nuacutemero de topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO
possivelmente deve-se agrave influecircncia das seguintes relaccedilotildees a internalizaccedilatildeo de nomes de origem
tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para Goiaacutes e a presenccedila de iacutendios como jaacute
mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo viveram regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da
colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)
Ainda consoante Pereira (2009 p 27) observamos que
A toponiacutemia brasileira como um todo reuacutene uma grande quantidade de nomes
de base indiacutegena na nomeaccedilatildeo de acidentes geograacuteficos que evidenciam
marcas da presenccedila de vaacuterias etnias na nomenclatura geograacutefica brasileira Um
estudo toponiacutemico numa dimensatildeo etnolinguiacutestica analisa desde a origem
dos nomes ateacute as influecircncias socioculturais da populaccedilatildeo que habita o espaccedilo
geograacutefico em estudo na forma de nomear os acidentes fiacutesicos verificando se
no momento da designaccedilatildeo de um lugar o designador apropriou-se de nomes
cuja origem procedeu de estratos linguiacutesticos de base portuguesa ou de outras
liacutenguas que influenciaram a formaccedilatildeo do leacutexico do portuguecircs brasileiro
principalmente as liacutenguas indiacutegenas e africanas
Ao analisarmos os topocircnimos dos cursos drsquoagua do municiacutepio de Pires do Rio-GO
podemos constatar que em sua maioria as liacutenguas que lhe deram origem foram as indiacutegenas e a
latina as outras que representaram um percentual menor possivelmente estatildeo ligadas agrave vinda
de outras etnias que ajudaram na formaccedilatildeo populacional do Brasil e de Goiaacutes
111
44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos
Com vistas nos paracircmetros teoacuterico-metodoloacutegicos da pesquisa seguindo o que eacute
estabelecido por Dick (1992) ao que se refere a estrutura morfoloacutegica o topocircnimo pode ser
classificado como simples composto e composto hiacutebrido que de acordo Dick (1992 p 14)
ldquotopocircnimo que em sua estrutura haacute a presenccedila de duas bases linguiacutesticas distintas por exemplo
tupi + portuguecircsrdquo mas natildeo encontrado em nossa pesquisa A partir disto tomamos o graacutefico V
para procedermos com a anaacutelise
Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos
Dos 15 sintagmas toponiacutemicos catalogados uma representaccedilatildeo de 87 (13 topocircnimos)
satildeo de estrutura simples que no processo de nomeaccedilatildeo o nomeador utilizou apenas um
formante ou seja um elemento designativo Jaacute os compostos aparecem em um percentual de
13 (02 topocircnimos) formados por mais de um formante lexical
Ao trazermos essas informaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos topocircnimos observamos que
como uso de substantivos e adjetivos o denominador acaba por trazer caracteriacutesticas do local
onde nomes comuns passam a formar nomes proacuteprios e segundo Dick (2006 p 108)
o topocircnimo integraraacute natildeo uma categoria descritiva de nomes nem um iacutendice
cromaacutetico desvinculado de outras consideraccedilotildees culturais e sim o que
chamamos na teoria de nomes transplantados deslocados ou transferidos de
seu lugar de origem para outros pontos distantes formando uma nova
sequecircncia nominal
0
2
4
6
8
10
12
14
SIMPLES COMPOSTO
Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos
112
No processo de nomeaccedilatildeo o nomeador faz uso de designativos que aleacutem de sofrer
certos deslocamentos como jaacute mencionado de nome comum para nome proacuteprio haacute tambeacutem
casos de alguns topocircnimos sofrerem alteraccedilotildees em suas estruturas morfoloacutegicas como o caso
do designativo ribeiratildeo Mucambo que em suas origens traz a grafia de mocambo
No decorrer deste estudo e anaacutelises foi possiacutevel perceber que os topocircnimos aleacutem de
servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais da sociedade a
que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e costumes da sociedade E ao final foi
notoacuterio perceber nas liacutenguas que deram origem aos topocircnimos a estreita relaccedilatildeo com o
ambiente pois de alguma forma o nomeador obteve motivaccedilatildeo tanto do espaccedilo meio ambiente
como da liacutengua propriamente dita
113
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Ao propormos estudar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO tomamos por base caracterizar o ato de nomear e dele reiteramos e pode ser observado em
sua totalidade a relaccedilatildeo de poder pois nomear eacute instituir E eacute por meio do batismo do topocircnimo
que ele se instaura e revela as relaccedilotildees do meio ambiente com o homem eou do homem com
meio que o circunda As consideraccedilotildees finais ora apresentadas referem-se aos estudos
toponiacutemicos relacionados apenas ao contexto local desta pesquisa mas muito ainda haacute de ser
estudado na aacuterea em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia em Goiaacutes
Os objetivos da pesquisa constituem-se basicamente em descrever e analisar os
topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO observando
noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural Assim em
sua maioria os elementos fiacutesicos sobressaiacuteram sobre os demais pois no total de 15 topocircnimos
analisados um percentual de 67 (10 topocircnimos) foram motivados pelos aspectos fiacutesicos
sendo que os de origem vegetal fitotopocircnimos e animal zootopocircnimos tiveram maior
recorrecircncia Assim concretizamos que o ambiente influenciou o nomeador no ato do batismo
estabelecendo as relaccedilotildees entre liacutengua e ambiente inclusive com os aspectos extralinguiacutesticos
A maior incidecircncia de taxionomias de natureza fiacutesica nesta pesquisa demonstra a
tendecircncia do denominador de nomear os lugares com nomes dos elementos fiacutesicos da natureza
circundante numa constataccedilatildeo de que o meio ambiente exerce grande influecircncia sobre o
homem refletindo-se tambeacutem no processo de nomeaccedilatildeo dos lugares
Jaacute no que tange agraves taxionomias de natureza antropocultural em nossas anaacutelises com um
percentual de 33 (05 topocircnimos) os etnotopocircnimos que fazem referecircncia a elementos eacutetnicos
foram os com maior frequecircncia Observamos nas taxes de natureza antropocultural que os
fatores culturais foram os motivadores para a designaccedilatildeo dos topocircnimos analisados
evidenciando as relaccedilotildees do homem com o ambiente que o cerca Para tanto foi necessaacuterio
identificar os fatores que constituem a motivaccedilatildeo que subjazem agrave escolha do nome do lugar
que foi possibilitado por meio da caracterizaccedilatildeo de fatores sociais culturais histoacutericos que nos
auxiliaram nas anaacutelises dos topocircnimos
A hipoacutetese inicial da pesquisa foi de que pelo caraacuteter motivado o signo toponiacutemico
possibilita reconhecer fatores vinculados ao que subjaz agrave escolha dos nomes de lugares e assim
nos possibilitou o levantamento de fatores soacutecio-histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave
anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua como iacutendice de estreita relaccedilatildeo entre
liacutenguaambiente e cultura E pudemos observar que os topocircnimos estabelecem relaccedilotildees da
114
liacutengua e meio ambiente no que concerne agrave anaacutelise das taxionomias de natureza fiacutesica e a
posteriori as relaccedilotildees de liacutengua e cultura que foram evidenciadas nas taxionomias de natureza
antropocultural Nas taxes analisadas foi possiacutevel detectar que o ambiente e o contexto satildeo
fundantes nas motivaccedilotildees que subjazem aos topocircnimos analisados Desta forma entende-se que
um rio um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que uma vez nomeados passam a carregar as
inuacutemeras memoacuterias do lugar
Os fatores soacutecio-histoacutericos-culturais do municiacutepio de Pires do Rio-GO foram
imprescindiacuteveis no processo de anaacutelise dos designativos dos lugares pois no caso do topocircnimo
ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo ficou evidente que o fato motivador foi a relaccedilatildeo de poder
do nome devido ao ribeiratildeo ter sua nascente em terras que eram do coronel Lino Teixeira de
Sampaio e tambeacutem por ter sido ele o doador das terras em que surgiu o referido municiacutepio
Ao levantar as perguntas de pesquisa qual a origem dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da
cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do
lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo Apoacutes ter analisado os 15
topocircnimos fica evidente que todos os nomes estatildeo registrados nas cartas topograacuteficas e satildeo
oficializados pelo IBGE mas provavelmente os nomes foram dados pela comunidade que
habitou nas localidades ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas que foram levantadas nos designativos
fazendo referecircncia ao local
Por meio da caracterizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico
onomasioloacutegico que foi o norte da pesquisa combinado com outros meacutetodos como o Woumlrter
und Sachen (palavras e coisas) numa abordagem qualiquantitativa foi evidente na relaccedilatildeo da
toponiacutemia que os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos
lugares Nesse iacutenterim nos foi possiacutevel quantificar os topocircnimos em relaccedilatildeo as taxionomias
origem e estrutura morfoloacutegica percebendo as ocorrecircncias em maior frequecircncia
A anaacutelise do ponto de vista etnolinguiacutestico demonstrou a predominacircncia de topocircnimos
originaacuterios da liacutengua indiacutegena um percentual de 36 essa recorrecircncia eacute supostamente devido
agrave internalizaccedilatildeo de nomes de origem tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para
Goiaacutes e agrave presenccedila de iacutendios como jaacute mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo
viveram na regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e
consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)
A liacutengua latina que deu origem agrave liacutengua portuguesa aparece e 29 dos topocircnimos
analisados isso devido aos povos lusoacutefonos que nomeavam os lugares com as caracteriacutesticas
que se estabeleciam com os referidos locais por eles percorridos e habitados E tambeacutem outras
liacutenguas tiveram uma menor frequecircncia como a aacuterabe hebraica preacute-romana sacircnscrito e
115
tambeacutem um topocircnimo de origem obscura fica evidente que outras etnias influenciaram na
nomeaccedilatildeo dos lugares Pode ser pelo fato de o nomeador pertencer a etnia ou ter alguma relaccedilatildeo
indireta
Quanto agrave estrutura morfoloacutegica do toacutepico de acordo com Dick (1992) dos analisados
87 satildeo de formaccedilatildeo simples tendo apenas um formante e 13 satildeo compostos com dois
formantes lexicais assim os compostos revelam mais de uma caracteriacutestica do local nomeado
e caracteriza mais de uma taxionomia
De forma peculiar esta pesquisa aleacutem de proceder com as anaacutelises de classificaccedilatildeo
origemetimologia morfoloacutegica e semacircntico-toponiacutemicas remapeou e cartografou os cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO sem mencionar no revisitar da formaccedilatildeo histoacuterica
deste municiacutepio e da contribuiccedilatildeo com os estudos toponiacutemicos no estado de Goiaacutes
Os topocircnimos aleacutem de servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas
fiacutesicas e sociais da sociedade a que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e
costumes dessa sociedade E ao perceber essas relaccedilotildees de liacutenguaambiente e cultura na
designaccedilatildeo do topocircnimo eacute que propomos para discussatildeo futura doutorado a partir da
ecolinguiacutestica e da toponiacutemia proceder com a anaacutelise da relaccedilatildeo de liacutengua e meio ambiente nos
hidrocircnimos das bacias hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes
116
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Karylleila dos Santos Atlas toponiacutemico de origem indiacutegena do estado do
Tocantins ATITO Goiacircnia-GO Ed PUC Goiaacutes 2010
ALMEIDA Lana Cristina Santana de O leacutexico toponiacutemico das comunidades rurais de Santo
Antocircnio de Jesus uma anaacutelise semacircntica e sociocultural 2012 188f Dissertaccedilatildeo (Mestrado
em Liacutengua e Cultura) ndash Universidade Federal da Bahia Salvador-BA 2012
AULETE Caldas Dicionaacuterio escolar da liacutengua portuguesa 3ordf ed Rio de Janeiro-RJ
Lexikon 2011
BASSETTO Bruno Fregni Elementos de Filologia Romacircnica histoacuteria Externa das Liacutenguas
Romacircnicas V1 2ed Satildeo Paulo-SP EDUSP 2013
______ Elementos de filologia romacircnica histoacuteria externa das liacutenguas Satildeo Paulo-SP Editora
da Universidade de Satildeo Paulo 2001
BEARZOTI FILHO Paulo Formaccedilatildeo linguiacutestica do Brasil Curitiba-PR Nova Didaacutetica
2002
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia Sagrada Traduccedilatildeo Centro Biacuteblico Catoacutelico 100ordf ed rev Satildeo
Paulo-SP Ave Maria 1995
BIDERMAN Maria Tereza Camargo Dimensotildees da palavra Filologia e Linguiacutestica
Portuguesa Araraquara-SP n 2 p 81-118 1998
BORBA Francisco da Silva (Org) Dicionaacuterio UNESP do portuguecircs contemporacircneo Satildeo
Paulo-SP UNESP 2004
BORGES Barsanufo Gomides O despertar dos dormentes estudo sobre a Estrada de
Ferro de Goiaacutes e seu papel nas transformaccedilotildees das estruturas regionais 1909-1922
Goiacircnia-GO Cegraf 1990
BOSI Alfredo Plural mas natildeo caoacutetico In ______ (Org) Cultura Brasileira temas e
situaccedilotildees Satildeo Paulo-SP Editora Aacutetica 1987 p 7-15
BRASIL Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Pires do Rio-GO folha SE-22-X-III Escala 1100 000 1973
______ Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Ipameri-GO folha SE-22-X-VI Escala 1100 000 1973
______ Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Cristianoacutepolis-GO folha SE-22-X-II Escala 1100 000 1973
CABRAL Joatildeo de Pina Matildees pais e nomes no baixo sul (Bahia Brasil) In ______ VIEGAS
Susana de Matos Nomes geacutenero etnicidade e famiacutelia Coimbra-Portugal Almedina 2007 p
63-87
117
CAcircMARA JR Joaquim Mattoso Histoacuteria da Linguiacutestica 6ordf ediccedilatildeo Petroacutepolis-RJ Editora
Vozes LTDA 1975
______ Liacutengua e cultura Revista Letras Londrina-PR v 4 p 50 - 59 1955 Disponiacutevel em
lthttpojsc3slufprbrojsindexphpletrasarticleview2004613227gt Acesso em 30 set
2015
CAMPBELL Lyle Historical Linguistics An Introduction 2 ed Cambrige-EUA MIT
2004
CARVALHINHOS Patriacutecia de Jesus Onomaacutestica e lexicologia o leacutexico como catalisador de
fundo de memoacuteria Estudo de caso os sociotopocircnimos de Aveiro (Portugal) Revista USP Satildeo
Paulo-SP n 56 p 172-179 2003 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevistasuspbrrevusparticleview33819gt Acesso em 13 jan 2016
______ Antroponiacutemia Um velho caminho um novo instrumental de anaacutelise linguiacutestico-
literaacuteria Revista Aacutelvares Penteado Satildeo Paulo-SP v 4 n 8 p 115-135 2002
COSERIU Eugecircnio O homem e sua linguagem Trad Carlos Alberto da Fonseca e Maacuterio
Ferreira Satildeo Paulo-SP Edusp 1982
______ Princiacutepios de semaacutentica estructural Madrid-Espanha Gredos 1977
COUTO Hildo Honoacuterio do Onomasiologia e semasiologia revisitadas pela
ecolinguiacutestica Revista de Estudos da Linguagem Belo Horizonte-MG v 20 n 2 p 183-
210 2012 Disponiacutevel em
lthttpperiodicosletrasufmgbrindexphprelinarticleview2748gt Acesso em 13 jan 2016
______ Ecolinguiacutestica - estudo das relaccedilotildees entre liacutengua e meio ambiente Brasiacutelia-DF
Thesaurus 2007
CROWLEY Terry An Introduction to Historical Linguistics 3 ed Oxford-EUA Oxford
University 2003
CRYSTAL David Pequeno tratado da linguagem humana Traduccedilatildeo Gabriel Perisseacute Satildeo
Paulo-SP Saraiva 2012
CUNHA Antocircnio Geraldo da Dicionaacuterio etimoloacutegico da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro-
RJ Lexikon 2010
CUNHA Celso A magia da palavra In ______ Sob a pele das palavras Rio de Janeiro-RJ
Nova Fronteira Academia Brasileira de Letras 2004 p 217-233
DIAS Ana Lourdes Cardoso Toponiacutemia dos antigos arraiais tocantinense 2016 207f Tese
(Doutorado em Letras e Linguiacutestica) ndash Universidade Federal de Goiacircnia Faculdade de Letras
Goiacircnia-GO 2016
DIAS Cristiane Mapeamento do municiacutepio de Pires do Rio-GO usando teacutecnicas de
geoprocessamento 2008 187f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Federal
de Uberlacircndia Uberlacircndia-MG 2008
118
Dicionaacuterio de nomes proacuteprios Significado dos nomes sd Disponiacutevel em
lthttpswwwdicionariodenomesproprioscombrsampaiogt Acesso em 06 jul 2016
DICK Maria Vicentina de Paula do Amaral Fundamentos teoacutericos da Toponiacutemia Estudo de
caso O Projeto ATEMIG ndash Atlas Toponiacutemico do Estado de Minas Gerais (variante regional do
Atlas Toponiacutemico do Brasil) In SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa (Org) O leacutexico
em estudo Belo Horizonte-MG Faculdade de Letras da UFMG 2006 p 91-117
______ Rede de conhecimento e campo lexical hidrocircnimos e hidrotopocircnimos na onomaacutestica
brasileira In ISQUERDO Aparecida Negri KRIEGER Maria da Graccedila As ciecircncias do
leacutexico lexicologia lexicografia e terminologia Vol II Campo Grande-MT Editora da UFMS
2004 p 121-130
______ O sistema onomaacutestico bases lexicais e terminoloacutegicas produccedilatildeo e frequecircncia In
OLIVEIRA Ana Maria Pinto Pires ISQUERDO Aparecida Negri (orgs) As ciecircncias do
leacutexico lexicologia lexicografia terminologia 2 ed Campo Grande-MS UFMS 2001 p 77-
88
______ A Investigaccedilatildeo Linguiacutestica na Onomaacutestica Brasileira Estudos de Gramaacutetica
Portuguesa III Frankfurt am Main Volume III 2000 p 217-239
______ Meacutetodos e questotildees terminoloacutegicas na onomaacutestica Estudo de caso o Atlas
Toponiacutemico do Estado de Satildeo Paulo Investigaccedilotildees Linguiacutestica e Teoria Literaacuteria Recife-PE
v 9 p 119-148 1999
______ A dinacircmica dos nomes da cidade de Satildeo Paulo 1554-1987 Satildeo Paulo-SP
ANNABLUME 1996
______ O leacutexico toponiacutemico marcadores e recorrecircncias linguiacutesticas (Um estudo de caso a
toponiacutemia do Maranhatildeo) Revista Brasileira de Linguiacutestica Satildeo Paulo-SP editora Plecirciade v
8 ndash n 1 p 59-68 1995
______ Toponiacutemia e Antroponiacutemia no Brasil Coletacircnea de Estudos Satildeo Paulo-SP Serviccedilo
de Artes GraacuteficasFFLCHUSP 1992
______ A Motivaccedilatildeo Toponiacutemica e a Realidade Brasileira Satildeo Paulo-SP Ediccedilotildees Arquivo
do Estado 1990
DUBOIS Jean et al Dicionaacuterio de linguiacutestica Satildeo Paulo-SP Cultrix 2004
FARACO Carlos Alberto Linguiacutestica Histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo da histoacuteria das
liacutenguas Satildeo Paulo-SP Paraacutebola Editorial 2006
FERREIRA Aroldo Maacutercio Urbanizaccedilatildeo e arquitetura na regiatildeo da estrada de ferro Goiaacutes
ndash E F Goiaacutes cidade de Pires do Rio um exemplar em estudo 1999 278f Dissertaccedilatildeo
(Mestrado em Histoacuteria das Sociedades Agraacuterias) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Faculdade
de Ciecircncias Humanas e Filosofia Goiacircnia-GO 1999
119
FIORIN Joseacute Luiz A linguagem humana do mito agrave ciecircncia In ______ Linguiacutestica Que eacute
isso Satildeo Paulo-SP Contexto 2013 p 13-43
FRAZER James George The golden bough 3 ed Nova Iorque-USA The MacMillan
Company 1951
GEERTZ Clifford A interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro-RJ Zahar 1973
GUIMARAtildeES Eduardo Semacircntica do acontecimento um estudo enunciativo da designaccedilatildeo
2ordf ed Campinas-SP Pontes 2005
GUIRAUD Pierre A semacircntica Rio de Janeiro-RJ Bertrand Brasil 1986
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello
Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro-RJ Objetiva Versatildeo
monousuaacuterio 30 1 [CD-ROM] 2009
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles Dicionaacuterio Houaiss da liacutengua portuguesa
Rio de Janeiro-RJ Objetivo 2004
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521740ampidtema=16ampsear
ch=goias|pires-do-rio|sintese-das-informacoesgt Acesso em 27 maio 2016
______ Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros Vol II Rio de Janeiro-RJ 1957
IMB ndash Instituto Mauro Borges de estatiacutesticas e estudos socioeconocircmicos Disponiacutevel em
ltwwwimbgogovbrgt Acesso em 29 maio 2016
ISQUERDO Aparecida Negri SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Apontamentos
sobre hidroniacutemia e hidrotoponiacutemia na fronteira entre Mato Grosso do Sul e Minas Gerais In
ISQUERDO Aparecida Negri (Org) As Ciecircncias do Leacutexico Lexicologia Lexicografia
Terminologia Campo Grande-MS Ed UFMS 2010 p 79-98
KRISTEVA Julia Histoacuteria da linguagem Traduccedilatildeo Margarida Barahona Lisboa-Portugal
Ediccedilotildees 70 Lda 2007
LIMA Antoacutenia Pedroso de Intencionalidade afecto e distinccedilatildeo as escolhas de nomes em
famiacutelias de elite de Lisboa In CABRAL Joatildeo de Pina VIEGAS Susana de Matos Nomes
geacutenero etnicidade e famiacutelia Coimbra-Portugal Almedina 2007 p 39-61
LOacutePEZ Laura Aacutelvarez Nomes pessoais e praacuteticas de nomeaccedilatildeo agrave sombra da escravidatildeo In
BORBA Lilian do Rocio LEITE Cacircndida Mara Brito (Orgs) Diaacutelogos entre liacutengua cultura
e sociedade Campinas-SP Mercado das Letras 2013 p 139-171
MAURER JR Theodoro Henrique Linguiacutestica Histoacuterica Alfa Revista de Linguiacutestica Satildeo
Joseacute do Rio Preto-SP v 11 p 19-42 1967
MENEZES Paulo Maacutercio Leal SANTOS Claacuteudio Joatildeo Barreto dos SANTOS Beatriz
Cristina Pereira dos Geoniacutemia e a cartografia histoacuterica um estudo sobre os nomes da
120
hidrografia Fluminense In III SIMPOacuteSIOBRASILEIRO DE CIEcircNCIAS GEODEacuteSICAS
E TECNOLOGIAS DA GEOINFORMACcedilAtildeO 2010 Recife-PE 2010 p 1-8
NOGUEIRA Wilson Cavalcanti Incidente em Pires do Rio Goiacircnia-GO Kelps sd
NOVAIS Simone Francisca de Avicultura Industrial e Reestruturaccedilatildeo Produtiva os
produtores integrados no municiacutepio de Pires do Rio (GO) 2014 150f Dissertaccedilatildeo (Mestrado
em Geografia) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo Catalatildeo-GO 2014
OGDEN Charles Kay RICHARDS Ivor Armstrong O significado do significado um estudo
da influecircncia da linguagem sobre o pensamento e sobre a ciecircncia do simbolismo Rio de Janeiro-
RJ Zahar 1972
PAIXAtildeO DE SOUSA Maria Clara Linguiacutestica Histoacuterica In NUNES Joseacute Horta PFEIFFER
Claudia (Orgs) Introduccedilatildeo agraves Ciecircncias das Linguagens Linguagem Histoacuteria e
Conhecimento Campinas-SP Pontes 2006 p 11-48
PARKIN David The politicx of naming among the Giriama Sociological Review
Monograph 36 p 61-89 1989
PAULA Maria Helena de Rastros de velhos falares leacutexico e cultura no vernaacuteculo catalano
2007 521f Tese (Doutorado em Linguiacutestica e Liacutengua Portuguesa) ndash Universidade Estadual
Paulista Faculdade de Ciecircncias e Letras Campus de Araraquara Araraquara-SP 2007
PEREIRA Renato Rodrigues A toponiacutemia de Goiaacutes em busca da descriccedilatildeo de nomes de
lugares de municiacutepios do sul goiano 2009 204f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Estudos da
Linguagem) ndash Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Centro de Ciecircncias Humanas e
Sociais Campo Grande-MS 2009
PIEL Joseph Consideraccedilotildees gerais sobre toponiacutemia e antroponiacutemia galegas Verba sl v 6
p 5-11 1979 Disponiacutevel em ltdspaceuscesbitstream1034735561pg_007-014_verba6gt
Acesso em 23 mar 2016
PIERCE Charles Sanders Semioacutetica Traduccedilatildeo Joseacute Teixeira Neto Satildeo Paulo-SP
Perspectiva 2005
PLATAtildeO Craacutetilo Lisboa-Portugal Instituto Piaget 2001
RAMOS Ricardo Tupiniquim BASTOS Gleyce Ramos Onomaacutestica e possibilidades de
releitura da histoacuteria Revista Augustus Rio de Janeiro-RJ ano 15 n30 p 86-92 2010
ROCHA Juacutelio Ceacutesar Barreto GALVAtildeO Elis Monique Vasconcelos GONCcedilALVES
Mauriacutecio Costa Onomaacutestica uma ciecircncia para a autoidentificaccedilatildeo de Rondocircnia Revista
Pesquisa amp Criaccedilatildeo (UNIR) Porto Velho-RO v 10 n 1 p 25-34 janjun 2011 Disponiacutevel
em lthttpwwwperiodicosunirbrindexphppropesqarticleviewFile405440gt Acesso em
10 jun 2016
SAMPAIO Theodoro O Tupi na geografia nacional Salvador-BA Secccedilatildeo Graphica da
Escola de Aprendizes Artificies 1928
121
______ O Tupi na Geographia Nacional Memoria lida no Instituto Histoacuterico e Geographico
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo-SP Typ da Casa Eclectica 1901
SAPIR Edward A Linguagem Satildeo Paulo-SP Perspectiva 1980
______ Linguiacutestica como ciecircncia Rio de Janeiro-RJ Livraria Acadecircmica 1969
SAUSSURE Ferdinand de Curso de Linguiacutestica Geral 30ordf ed Satildeo Paulo-SP Cultrix 2008
SIQUEIRA Gisele Martins AGUIAR Maria Sueliacute de Linguiacutestica histoacuterica comparativa e
formaccedilatildeo do leacutexico da liacutengua portuguesa In II Simpoacutesio Nacional de Letras e Linguiacutestica I
Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica Linguagens Histoacuteria e Memoacuteria (25 anos
do curso de Letras Campus Catalatildeo) Catalatildeo-GO p 381-394 2011
______ Campos leacutexicos dos falares rurais de Goiaacutes Mato Grosso Minas Gerais e Satildeo
Paulo sd Disponiacutevel em
lthttpwwwsbpcnetorgbrlivro63raconpeexmestradotrabalhos-mestradomestrado-gisele-
martinspdfgt Acesso em 01 fev 2016
SIQUEIRA Jacy Um contrato singular e outros ensaios de Histoacuterias de Goiaacutes Goiacircnia-
GO Kelps 2006
SIQUEIRA Kecircnia Mara de Freitas O leacutexico tupi na nomeaccedilatildeo dos lugares goianos 2015
Mimeografado
______ Toponiacutemia Kalunga aspectos da inter-relaccedilatildeo liacutengua povo e territoacuterio Via Litterae
Anaacutepolis-GO n 7 v 1 p 61-75 janjun 2015 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevistauegbrindexphpvialitteraegt Acesso em 15 set 2016
______ Nos trilhos da estrada de ferro reminiscecircncias de motivaccedilotildees toponiacutemicas Revista da
ANPOLL Satildeo Paulo-SP v 1 n 32 p 150-170 2012 Disponiacutevel em
ltwwwanpollorgbrrevistagt Acesso em 10 jun 2015
SILVA Antocircnio Moreira da Dossiecirc de Goiaacutes ndash Enciclopeacutedia Regional um compecircndio de
informaccedilotildees sobre Goiaacutes sua histoacuteria e sua gente Rio de Janeiro-RJ Sindicato Nacional dos
Editores de Livros 2001
SILVA Augusto Soares da Palavras significados e conceitos o significado lexical na mente
na cultura e na sociedade Cadernos de Letras da UFF Dossiecirc Letras e cogniccedilatildeo n 41 p 27-
53 2010 Disponiacutevel em ltwwwuffbrcadernosdeletrasuff41artigo1pdfgt Acesso em 06
maio 2015
SILVA Joseacute Maria da SILVEIRA Emerson Sena da Apresentaccedilatildeo de trabalhos
acadecircmicos 2 ed Petroacutepolis-RJ Vozes 2007
SILVA Tomaz Tadeu da Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais
Petroacutepolis-RJ Vozes 2000
SOARES Francisco Accioli Martins Pontos Histoacutericos de Pires do Rio Goiacircnia-GO Graacutefica
e Editora Piloto 1988
122
SOLIacuteS Gustavo Fonseca La gente pasa los nombres quedan Introduccioacuten en la Toponiacutemia
Lima-Peru Ed Lengua e Sociedad 1997
TIBIRICcedilA Luiz Caldas Dicionaacuterio de topocircnimos brasileiros de origem tupi Santos-SP
Traccedilo Editora 1985
TRASK Robert Lawrence Dicionaacuterio de Linguagem e Linguiacutestica Traduccedilatildeo Rodolfo Ilari
Satildeo Paulo-SP Contexto 2006
WHORF Benjamin Lee Lenguage Pensamiento y Realidad Barcelona-Espanha Barral
Editores 1971
ZAVAGLIA Claacuteudia Metodologia em Ciecircncias da Linguagem Lexicografia In
GONCcedilALVES Adair Vieira GOacuteIS Marcos Luacutecio de Sousa (Orgs) Ciecircncias da linguagem
o fazer cientiacutefico Campinas-SP Mercado das Letras 2012 p 231-264
Decido este trabalho a Deus aos eternos amantes
da Toponiacutemia e agravequela que desde sempre eacute meu
alicerce e a maior incentivadora minha matildee
Nelica Antocircnia Pereira da Silva
AGRADECIMENTOS
ldquoE agora eis o que diz o Senhor aquele que te criou Jacoacute e te formou Israel nada
temas pois eu te resgato eu te chamo pelo nome eacutes meurdquo (ISAIacuteAS 431) Senhor de Israel
foi por chamar-me pelo nome eacute que constitui esta graccedila sem o Seu amor e graccedila eu nada seria
pois colocou-me em peacute quando pensava natildeo mais conseguir caminhar e de amparo me enviaste
o Espiacuterito Santo e a Virgem Maria graccedilas rendo agrave Santiacutessima Trindade e agrave Virgem por
caminharem comigo e natildeo me deixar perder no caminho
ldquoOs filhos satildeo heranccedila do Senhor uma recompensa que ele daacute Como flechas nas matildeos
do guerreiro satildeo os filhos nascidos na juventude Como eacute feliz o homem que tem a sua aljava
cheia deles Natildeo seraacute humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunalrdquo (SALMO 1273-
5) Famiacutelia o que seria de mim sem vocecircs nada Matildee e pai sempre com amor mesmo que
velado souberam educar seus dois filhos na dignidade para que se constituiacutessem verdadeiros
homens e de bem Mesmo com as dificuldades da vida em momento algum se abateram foram
fieacuteis agrave missatildeo designada de serem pais a vocecircs minha eterna gratidatildeo e se hoje concretizo esta
fase em minha vida ela eacute tatildeo minha quanto de vocecircs muito obrigado Amo vocecircs
As relaccedilotildees de afeto e cuidado sempre foram o nosso maior elo a vocecircs que sempre
torceram por mim e a cada conquista vibraram intensamente obrigado meu irmatildeo cunhada
sobrinha afilhados tios primos padrinhos e a matriarca de nossa famiacutelia minha adorada avoacute
Que Deus continue fazendo de noacutes uma famiacutelia de princiacutepios e sempre grata a Ele por tudo
ldquoO amigo ama em todos os momentos eacute um irmatildeo na adversidaderdquo (PROVEacuteRBIOS
1717) Amigos famiacutelia que a vida me deu de presente mencionar nomes aqui seria muito
injusto cada um com seu jeito e adversidade me ensinaram que a vida natildeo se resume apenas
em bons momentos pois estiveram comigo em momentos nada agradaacuteveis souberam respeitar
o meu silecircncio minhas ausecircncias e o melhor vibraram comigo todos os momentos desta
conquista a vocecircs meus ldquoirmatildeos na adversidaderdquo muito obrigado
Aos colegas e amigos do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem
Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo nos encontros da vida sempre tecircm surpresas
a melhor de todas foi poder construir com muitos de vocecircs verdadeiros laccedilos de amizade que
iratildeo perpetuar para todo sempre soacute posso neste momento agradecer pelos momentos de troca
de experiecircncias e conhecimento e desejar sucesso a todos
ldquoO ensino dos saacutebios eacute fonte de vida e afasta o homem das armadilhas da morterdquo
(PROVEacuteRBIOS 1314) Ensinar eis o dom com tanta dedicaccedilatildeo e carinho muitos mestres
conduziram-me ateacute aqui e foi com a graccedila do ensino dos saacutebios eacute que natildeo caiacute nas armadilhas
pois tambeacutem me tornei saacutebio Professora doutora eterna orientadora Kecircnia Mara de Freitas
Siqueira nenhuma palavra eacute capaz de expressar a gratidatildeo que tenho por vocecirc foram anos de
ensinamentos e agora se concretizam com mais esta fase sou e serei eternamente grato por me
apresentar a Toponiacutemia pois ela me levaraacute a mais um degrau no meio acadecircmico Obrigado
por tudo Deus lhe pague
Aos professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem
Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo que muito contribuiacuteram para a construccedilatildeo
desta pesquisa Fabiacuteola Aparecida Sartin Dutra Parreira Almeida Maria Helena de Paula e
Vanessa Regina Duarte Xavier A professora Vivian Regina Orsi Galdino de Souza do
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio
de Mesquita Filhordquo cacircmpus Satildeo Joseacute do Rio Preto-SP obrigado pelos seus vastos ensinamentos
e por permitir que cursasse a disciplina ldquoIntroduccedilatildeo aos Estudos Lexicograacuteficosrdquo Mestres
obrigado pelos ensinamentos e momentos de descontraccedilatildeo e alegria vocecircs foram capazes de
mostrar que o universo da pesquisa tambeacutem se constitui na felicidade e prazer
ldquoTodo trabalho aacuterduo traz proveito mas o soacute falar leva agrave pobrezardquo (PROVEacuteRBIOS
1423) O trabalho dignifica o homem palavras estas do livro da vida a biacuteblia sagrada Minha
vida desde a infacircncia foi pautada no estudo e no trabalho assim todos os trabalhos que tive me
possibilitaram crescer enquanto ser humano e profissional Registro aqui os meus mais sinceros
agradecimentos aos colegas e amigos do Coleacutegio Estadual Professor Ivan Ferreira minha eterna
casa pois foi laacute que tive o prazer em estudar e depois retornar como profissional inclusive ser
gestor deste honrado estabelecimento de ensino Aos colegas e amigos do Instituto Federal
Goiano ndash Campus Urutaiacute obrigado por permitirem dividir com vocecircs este espaccedilo de
conhecimento e aprendizado
A banca examinadora deste trabalho professores Karylleila dos Santos Andrade
Vanessa Regina Duarte Xavier e Alexandre Antoacutenio Timbane registro os meus mais sinceros
agradecimentos pelas valorosas contribuiccedilotildees no Exame de Qualificaccedilatildeo e agora na defesa deste
trabalho Deus lhes pague
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de
Goiaacutes Regional Catalatildeo na pessoa da coordenadora Luciana Borges obrigado por dar
possiblidades que novos pesquisadores se formem no acircmbito dos estudos da linguagem
Enfim sozinho natildeo sou nada sempre necessitarei de outros por isso a todos os que
foram meu alicerce para a concretizaccedilatildeo de mais esta etapa em minha vida algo sonhado haacute
muito tempo receba o meu muito obrigado e Deus lhes pague
ldquoO nome eacute um certo sentido a proacutepria coisa dar
nome agraves coisas eacute conhececirc-las e apropriar-se
delas a denominaccedilatildeo eacute o ato da posse espiritualrdquo
(MIGUEL UNAMUNO)
RESUMO
Esta pesquisa centra-se nos estudos toponiacutemicos e tem como objetivo descrever e analisar a
origemetimologia morfoloacutegica e semanticamente dos topocircnimos da hidrografia da cidade de
Pires do Rio-GO para identificar as relaccedilotildees entre esses designativos de lugares e respectivos
fatores contextuais que por ventura possam conter indiacutecios da motivaccedilatildeo toponiacutemica O
levantamento dos topocircnimos foi feito por meio de documentos oficiais mapas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Instituto Mauro Borges (IBM) numa escala de
1100000 e das cartas topograacuteficas A pesquisa eacute de base documental numa abordagem
qualiquantitativa O meacutetodo da pesquisa eacute o onomasioloacutegico e indutivo parte-se de casos
particulares para uma verdade geral combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica de
estudo das designaccedilotildees com o objetivo de analisar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito
A anaacutelise do corpus da pesquisa deu-se apoacutes o levantamento dos 46 topocircnimos dos cursos
drsquoaacutegua dentre os quais 15 satildeo analisados neste estudo Nesse sentido parte-se do princiacutepio de
que o signo toponiacutemico eacute motivado pois fatores extralinguiacutesticos influenciam o nomeador no
ato de nomear na perspectiva de que a liacutengua recorta a realidade agrave sua maneira (Sapir-Whorf)
sendo que a proacutepria liacutengua eacute um depositaacuterio de cultura assim os topocircnimos revelam fatores
soacutecio-histoacuterico-culturais do lugar que o nomeia A histoacuteria e a geografia do municiacutepio de Pires
do Rio-GO foram fundantes para as anaacutelises que nas bases onomasioloacutegicas e indutivas
evidenciam que o local e suas caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais influenciam o nomeador no ato
do batismo do topocircnimo Perceber as relaccedilotildees de nomeaccedilatildeo e nomeador satildeo fatores que por
meio das classificaccedilotildees taxionocircmicas satildeo revelados sem deixar de perceber tambeacutem que a
origem dos nomes e sua estrutura morfoloacutegica evidencia os fatores contextuais a que da liacutengua
cultura e ambiente estatildeo impregnados no topocircnimo isso tudo agrave vista de quem o designou
Palavras-Chave Toponiacutemia Liacutengua Cultura Pires do Rio Hidrografia
ABSTRACT
This research focuses on the toponymic studies and aims to describe and analyze the origin of
the names morphological and semantic of designatory toponyms of the hydrography of Pires
do Rio-GO city to identify the relations between these designative places and their respective
contextual factors which may by chance contain indications of toponymic motivation The
research of the toponyms was done by means of official documents maps of the Brazilian
Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Mauro Borges Institute (IBM) on a scale of
1 100000 and topographic maps The research is documentary based in a qualitative and
quantitative approach the research method is the onomasiological method combined with other
methods which consists of the study of designations with the purpose of studying the various
names attributed to a concept The analysis of this researchrsquos corpus took place after the survey
of the 46 toponyms of the watercourses from which 15 are analyzed in this study In this sense
it is assumed that the toponymic sign is motivated once extralinguistic factors influence the
nominator in the act of naming in the perspective that the language outlines reality in its own
way (Sapir-Whorf) and the language itself is a depository of culture thus toponyms reveal
socio-historical-cultural factors of the place that names it The history and geography of Pires
do Rio-GO city was the basis for the analyzes which on the onomasiological bases show that
the place and its physical and social characteristics influence the nominator in the moment of
the toponym baptism To perceive naming and nominator relationships are factors that are
revealed through the taxonomic classifications noticing at the same time that the origin of the
names and their morphological structure reveals the contextual factors that are impregnated in
the toponymy of the language culture environment aspects from the point of view of who
appointed it
Keywords Toponymy Language Culture Pires do Rio Hydrography
LISTA DE ABREVIATURAS
ATEGO ndash Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes
ATB ndash Atlas Toponiacutemico Brasileiro
DSG ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito
ETE ndash Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto
FCA ndash Ferrovia Centro Atlacircntica
GO ndash Goiaacutes
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IBM ndash Instituto Mauro Borges
IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano
M ndash Municiacutepio
PEA ndash Populaccedilatildeo Economicamente Ativa
RFFSA ndash Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima
SD ndash Sem data
SE ndash Secccedilatildeo
LISTA DE FICHAS
Ficha 01 ndash Pires do Riohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip67
Ficha 02 ndash Coacuterrego Laranjal89
Ficha 03 ndash Ribeiratildeo Taquaralhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip90
Ficha 04 ndash Ribeiratildeo Cachoeirahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip91
Ficha 05 ndash Coacuterrego Barreiro93
Ficha 06 ndash Coacuterrego Terra Vermelha94
Ficha 07 ndash Coacuterrego Itauacutebi96
Ficha 08 ndash Ribeiratildeo Brumado96
Ficha 09 ndash Rio Corumbaacute98
Ficha 10 ndash Rio do Peixe98
Ficha 11 ndash Rio Piracanjuba99
Ficha 12 ndash Ribeiratildeo Sampaio101
Ficha 13 ndash Ribeiratildeo Bauacute104
Ficha 14 ndash Ribeiratildeo Caiapoacute105
Ficha 15 ndash Ribeiratildeo Marataacute105
Ficha 16 ndash Ribeiratildeo Mucambo106
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 ndash Natureza das Taxionomias87
Graacutefico 2 ndash Taxionomias de Natureza Fiacutesica88
Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural101
Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos108
Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos111
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 ndash Pires do Rio(GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio(GO)74
Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)83
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo44
Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos57
Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Recenseamento 76
Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Contagem 76
Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio(GO) 77
Quadro 6 ndash Os cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO) 78
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO20
I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO 25
11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear 25
12 Liacutengua e Cultura 33
13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes 39
14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica 43
15 Linguiacutestica Histoacuterica 47
II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS 51
21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos 51
212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica 53
22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia 57
III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO 66
31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte 66
32 Pires do Rio geograacutefico 74
33 Os cursos daacutegua 78
IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR81
41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural 84
42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos daacutegua de Pires do Rio-GO 87
421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos88
4211 Fitotopocircnimos89
4212 Hidrotopocircnimos91
4213 Litotopocircnimos93
4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos94
4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos95
4216 Meteorotopocircnimos96
4217 Zootopocircnimos97
422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos100
4221 Antropotopocircnimos101
4222 Ergotopocircnimos103
4223 Etnotopocircnimos104
4224 Sociotopocircnimos106
43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos107
44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos111
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS113
REFEREcircNCIAS 116
20
INTRODUCcedilAtildeO
Ao dar nome a seres e objetos o homem tambeacutem os categoriza jaacute que eacute o ato de nomear
que daacute existecircncia a algo ou algueacutem Eacute por meio do nome que haacute identificaccedilatildeo e principalmente
a diferenciaccedilatildeo dos seres e dos objetos No ato da nomeaccedilatildeo diversos aspectos extralinguiacutesticos
podem influenciar o nomeador isso pode caracterizar especificamente a motivaccedilatildeo que subjaz
a qualquer signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica A motivaccedilatildeo por sua vez eacute reveladora de
inuacutemeros aspectos que estatildeo na base da inter-relaccedilatildeo liacutengua cultura e ambiente pois o nome
proacuteprio de lugar como fato da liacutengua identifica e guarda uma significaccedilatildeo precisa oriunda de
aspectos fiacutesicos ou culturais Desta forma busca-se mediante o estudo dos designativos dos
cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO descrever essa relaccedilatildeo (liacutengua cultura e
ambiente) Entende-se assim que um rio um riacho um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que
uma vez nomeados passam a carregar as inuacutemeras memoacuterias do lugar
Em decorrecircncia disso abrem-se possibilidades de inter-relacionar aacutereas do saber
humano com vista a estabelecer algum viacutenculo epistemoloacutegico a fim de proporcionar novos
olhares sobre um objeto jaacute descrito e analisado por outra aacuterea do conhecimento a geografia
mas restrito a um uacutenico niacutevel de anaacutelise linguiacutestica Isso leva a considerar os aspectos da
linguagem dentro de uma visatildeo interdisciplinar que pode trazer entre tantas contribuiccedilotildees o
fato de entendecirc-los na totalidade como em uma rede de relaccedilotildees Em outras palavras oferece
a possibilidade de analisar os fatos linguiacutesticos de maneira holiacutestica uma vez que os fatores
envolvidos na interaccedilatildeo devem ser concebidos como um todo formado por componentes que se
relacionam entre si
Entrecruzar as aacutereas de geografia e da linguiacutestica eacute um trabalho que jaacute se tem feito e
alguns estudiosos como eacute o caso de Menezes e Santos (2007 apud Menezes Santos Santos
2010) tratam a toponiacutemia na geografia como geoniacutemia Para Andrade (2010 p 105-106)
Natildeo se pode pensar em toponiacutemia desvinculada de outras ciecircncias como
histoacuteria geografia antropologia cartografia psicologia e a proacutepria
linguiacutestica Deve ser pensada como um complexo linguiacutestico-cultural um fato
do sistema das liacutenguas humanas Faz parte de uma ciecircncia maior que se
subdivide em toponiacutemia e antroponiacutemia
Assim esta pesquisa eacute relevante para a aacuterea dos estudos da linguagemlinguiacutesticos como
para a geografia sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo histoacuterico-cultural sobre a cidade de
Pires do Rio-GO e levado a conhecimento puacuteblico
21
Fazer esse estudo acerca da hidrografia da cidade de Pires do Rio eacute elementar elencando
natildeo soacute estudos semacircnticos lexicais origemetimologia dos termos mas tambeacutem soacutecio-
histoacuterico-culturais de um povo Algo ainda se faz pertinente na definiccedilatildeo do problema pois foi
assim que surgiu o interesse por este estudo em conversas informais com pessoas da cidade
obtive respostas que aguccedilaram esta pesquisa pois proacuteximo de Pires do Rio-GO cerca de uns
3 km da cidade haacute um determinado ribeiratildeo o qual a comunidade local denomina de Pedro
Teixeira mas na verdade esse nome eacute dado agrave ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo e foi construiacuteda
pelo fazendeiro Sr Pedro Teixeira embora o nome que se apresenta na carta topograacutefica seja
ribeiratildeo Sampaio
Diante da problematizaccedilatildeo qual a origemetimologia dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da
cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do
lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo A partir disso centra-se o
nosso estudo em descrever e analisar a origemetimologia dos termos a morfologia e a
semacircntica investigando e verificando os topocircnimos e as relaccedilotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo
de Pires do Rio-GO
Preliminarmente trabalha-se com a seguinte hipoacutetese de pesquisa pelo seu caraacuteter
motivado o signo toponiacutemico possibilita reconhecer fatores vinculados agrave motivaccedilatildeo que subjaz
agrave escolha dos nomes de lugares o que pode possibilitar o levantamento de fatores soacutecio-
histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua
como iacutendice da estreita relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura A toponiacutemia dos cursos drsquoaacutegua de Pires
do Rio-GO incorpora caracteriacutesticas sociais linguiacutesticas e culturais da regiatildeo a que pertence
Este eacute um dos embates fundantes de nosso estudo assim espera-se com esta pesquisa
cartografar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO com base na
metodologia do ATB (Atlas Toponiacutemico Brasileiro) como sugerido por Dick (1990 2004)
Posto isso ao final responderemos agraves perguntas de pesquisa jaacute mencionadas
anteriormente e ainda contribuiremos com as pesquisas na aacuterea da Onomaacutestica que estatildeo
desenvolvendo-se em Goiaacutes Conveacutem mencionar tambeacutem que uma das contribuiccedilotildees desta
pesquisa aleacutem de revisitar a histoacuteria e a cultura de uma regiatildeo eacute a de auxiliar na construccedilatildeo do
Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes ndash ATEGO
Assim o objetivo da pesquisa constitui-se basicamente em descrever e analisar os
topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua e de outros elementos hidrograacuteficos da regiatildeo do
municiacutepio de Pires do Rio-GO observando noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de
natureza fiacutesica e de natureza antropocultural Para tanto eacute necessaacuterio evidenciar os fatores que
constituem a motivaccedilatildeo que subjaz agrave escolha do nome do lugar o que requer a identificaccedilatildeo de
22
fatos sociais culturais histoacutericos elementos geograacuteficos (quando pertinente) e outras
motivaccedilotildees de diferentes naturezas
De uma maneira peculiar os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo i) remapear os
cursos hiacutedricos mediante o elenco de seus topocircnimos para cartografar os mapas da bacia
hidrograacutefica e dos topocircnimos seguindo a metodologia do Projeto ATB ii) verificar mediante
a anaacutelise linguiacutestica dos topocircnimos a motivaccedilatildeo referente agrave cultura e agrave histoacuteria e
principalmente aos aspectos fiacutesicos dos lugares que iniciaram o processo de nomeaccedilatildeo dos rios
coacuterregos ribeirotildees e quedas drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO (evidenciando o viacutenculo
liacutengua ambiente e cultura) iii) de alguma forma contribuir para o desenvolvimento dos estudos
toponiacutemicos em Goiaacutes
A metodologia consiste de uma pesquisa de natureza documental de abordagem
qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites
e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos puacuteblicos (mapas e cartas
topograacuteficas) e o meacutetodo da pesquisa eacute o de induccedilatildeo com ecircnfase para a observaccedilatildeo do fazer
onomasioloacutegico combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica especialmente o Woumlrter
und Sachen (palavras e coisas) O meacutetodo onomasioloacutegico e indutivo se constitui do estudo das
designaccedilotildees com o objetivo de estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Usando
esse meacutetodo pode-se investigar toda ou pelo menos parte da cultura popular de um local e
priorizar aspectos sincrocircnicos ou histoacutericos se necessaacuterio for Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os
aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos lugares
Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de dissertaccedilatildeo de Mestrado sobre Os
cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio anaacutelise das motivaccedilotildees toponiacutemicas produzida no acircmbito do
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem Universidade Federal de Goiaacutes ndash
Regional Catalatildeo que focaliza os topocircnimos hiacutedricos do municiacutepio de Pires do Rio
Desta maneira este trabalho se estrutura em quatro capiacutetulos organizados de forma a
abranger os resultados desta pesquisa que articula por meio da linguagem quesitos histoacutericos
geograacuteficos e culturais
Assim no capiacutetulo I O nome e a atividade de nomeaccedilatildeo satildeo apresentadas
consideraccedilotildees referentes ao nome e ao ato de nomear no sentido de reformular questotildees teoacutericas
necessaacuterias ao levantamento de dados e agrave construccedilatildeo do corpus bem como agrave descriccedilatildeo dos
topocircnimos que designam os elementos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas drsquoaacutegua) do municiacutepio
de Pires do Rio-GO Para tanto o capiacutetulo traz uma revisatildeo dos conceitos de nome (comum
proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes tanto no sistema linguiacutestico
como em relaccedilatildeo agrave cultura e estabelecendo as relaccedilotildees de liacutengua e cultura pois a liacutengua
23
transporta a cultura no tempo e recorta agrave realidade agrave sua maneira Eacute necessaacuterio aqui trazer as
discussotildees teoacutericas acerca da toponiacutemia e do signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica que
sustentam a nossa pesquisa Ainda fazemos uma retomada do surgimento e desdobramento da
Linguiacutestica Histoacuterica pois eacute a partir dela que satildeo criados os meacutetodos de pesquisa os quais
contribuem para a aacuterea de estudo
O capiacutetulo II A metodologia da pesquisa e seus desdobramentos eacute praticamente uma
extensatildeo do primeiro porque procura reavaliar alguns meacutetodos usados em pesquisa onomaacutestica
com o objetivo de coadunar teoria meacutetodo e procedimentos de pesquisa
Neste capiacutetulo eacute possiacutevel rever algumas questotildees sobre os meacutetodos da linguiacutestica o
meacutetodo onomasioloacutegico que investiga as relaccedilotildees de significado e referecircncias partindo das
designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Ainda eacute
apresentada uma siacutentese do comparativismo e do meacutetodo Woumlrter und Sachen de Hugo
Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) pois de acordo com Bassetto (2001)
pode-se verificar pontos em comum que compartilham com o meacutetodo onomasioloacutegico Ao
enfatizar questotildees de ordem semacircntica das palavras ressalta-se a realidade que elas designam
para esses autores a verdadeira etimologia da palavra estaacute no conhecimento dessa realidade
Busca-se assim instruir sobre a necessidade de conhecer se possiacutevel o objeto designado por
um nome para que o significado possa ser explicitado adequadamente
Dados histoacutericos e geograacuteficos referentes agrave capital da estrada de ferro Pires do Rio
compotildeem o terceiro capiacutetulo A capital da estrada de ferro Pires do Rio de modo a traccedilar em
linhas gerais a histoacuteria da fundaccedilatildeo do municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XX em decorrecircncia da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz e da Estaccedilatildeo Feacuterrea Pires do Rio em 09 de novembro de
1922 A importacircncia deste municiacutepio se deve agrave estrada de ferro e obviamente aos primeiros
habitantes que para caacute acorreram acreditando no desenvolvimento da antiga ldquoTeteia do
Corumbaacuterdquo
No capiacutetulo quarto A toponiacutemia e suas relaccedilotildees com o lugar apresentamos a anaacutelise
dos dados as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural e as fichas lexicograacuteficas-
toponiacutemicas dos 15 topocircnimos analisados de acordo com os estudos de Dick (1992)
juntamente com a origem das liacutenguas e estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos daiacute procedemos
agraves anaacutelises das classificaccedilotildees toponiacutemicas que estatildeo presentes nos designativos dos cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO estabelecendo as relaccedilotildees motivacionais e semacircnticas
do topocircnimo com o local nomeado
Na sequecircncia satildeo apresentadas as Consideraccedilotildees Finais que retomam os resultados
obtidos ao teacutermino da pesquisa pautados nos objetivos e perguntas que orientaram este estudo
24
E por fim seguem as Referecircncias que sustentaram a parte teoacuterica e a construccedilatildeo do corpus
coletado
25
I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO
O conhecimento dos nomes natildeo eacute negoacutecio de
importacircncia somenos
(PLATAtildeO 2001)
Este capiacutetulo tem o objetivo de tecer de forma mais geral consideraccedilotildees acerca do nome
e do ato de nomear para reformular questotildees teoacutericas necessaacuterias ao levantamento de dados
para a construccedilatildeo do corpus e descriccedilatildeo dos hidrocircnimos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas
drsquoaacutegua) do municiacutepio de Pires do Rio-GO Para tanto os itens a seguir trazem uma revisatildeo dos
conceitos de nome (comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes
tanto no sistema linguiacutestico como em relaccedilatildeo agrave cultura jaacute que representam inuacutemeros aspectos
que culminam em certos criteacuterios para a nomeaccedilatildeo ou nominaccedilatildeo revelando em certo sentido
especificidades dessa cultura que satildeo evidenciadas na nomeaccedilatildeo Ao dar um nome a um objeto
ou a um lugar natildeo se reduz apenas a indicar mas a classificar situar identificar e sobretudo
uma vez categorizado inscreve-se tambeacutem em um sistema cognitivo permeado por essa mesma
cultura
11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear
O nome eacute a parte que caracteriza a existecircncia de algo ou algueacutem sem a especificidade
do nome o objeto ou a pessoa natildeo eacute identificada Aliaacutes em muitas situaccedilotildees o nome consolida
a existecircncia do objeto que passa a ldquoexistirrdquo como tal em decorrecircncia de ter um nome ou seja
o falante pode perceber no mundo apenas aquilo que conhece pelo nome O nome estaacute presente
em todas as esferas do desenvolvimento da humanidade Eacute parte constitutiva do proacuteprio ser
humano que se reconhece e se afirma face ao nome que carrega eacute tambeacutem o nome que lhe
rompe o anonimato e lhe confere de certa forma uma identidade
Segundo Silva (2000) eacute o nome que diferencia os seres e os objetos do mundo
Identidade e diferenccedila ocorrem simultaneamente como produto de um mesmo processo o da
identificaccedilatildeo Pode-se afirmar que depois de nomeado o objeto passa a ser identificado
tambeacutem pelas diferenccedilas que possui em relaccedilatildeo agravequilo que natildeo eacute ou melhor eacute diferenciado
face aos demais elementos do mundo extralinguiacutestico conferindo-lhe existecircncia Tem um nome
porque existe tornou-se conhecido e eacute reconhecido como elemento cultural importante para a
continuidade de uma populaccedilatildeo como um dos milhares de traccedilos que a caracteriza e desta
26
forma ldquoo processo de nomeaccedilatildeo eacute uma forma pela qual a sociedade cria os seus membros agrave sua
imagemrdquo (CABRAL 2007 p 85)
E em Craacutetilo Platatildeo narra um diaacutelogo entre Demoacutestenes e Craacutetilo acerca da justeza dos
nomes debates no qual Soacutecrates aponta para ambas as possibilidades isto eacute para os socraacuteticos
tanto se pode entender os nomes como vinculados agrave coisa como podem ser vistos como
inteiramente sem elo com as coisas do mundo Platatildeo (2001 p 48) justifica que o ato de nomear
era visto como uma pressuposiccedilatildeo da existecircncia de algo assim ldquoas coisas devem ser nomeadas
como lhes pertence por natureza serem nomeadas e por meio do que devem secirc-lo e natildeo como
noacutes queremos e assim faremos e nomearemos melhor mas de outra maneira natildeordquo
A nomeaccedilatildeo eacute assim uma atividade bastante significativa para o ser humano e se
constitui de uma accedilatildeo complementar do modo como determinada populaccedilatildeo entende o meio em
que vive essa eacute a linha de pensamento tanto de Dick (1990) como de outros estudiosos como
Basso (1988) Langacker (2002) Weisgerber (1977) Wierzbicka (1997) e Worf (1971) dos
fatos da linguagem como evidencia a assertiva que segue
Apreensatildeocompreensatildeo e transmissatildeoparticipaccedilatildeo de um dado qualquer do
saber humano satildeo atuantes de uma mesma e complexa evidecircncia relacional ndash
o ato comunicativo ndash que corporifica em sua expressividade um aglomerado
de situaccedilotildees liacutenguo-soacutecio-psiacutequicas Nele estaacute manifesto ainda que de modo
impliacutecito o registro pelo qual se concretizou a ldquoassimilaccedilatildeo do
mundordquo atraveacutes do coacutedigo de linguagem vivenciado por determinada
comunidade linguiacutestica (DICK 1990 p 29)
Natildeo eacute equivocado afirmar que o nome corporifica aquilo que determinada comunidade
assimilou de seu meio circundante mediante relaccedilotildees estabelecidas entre a liacutengua que
possibilita a representaccedilatildeo daquilo que foi evidenciado e as impressotildees sociopsiacutequicas oriundas
dos objetos do mundo que se tornaram salientes aos olhos do nomeador Assim recebe um
nome tudo aquilo que de uma forma ou de outra tornou-se um item da cultura seja um acidente
fiacutesico-natural (um rio uma espeacutecie botacircnica) ou um item criado culturalmente Em todas as
sociedades conhecidas haacute referecircncia aos nomes e consequentemente agrave accedilatildeo de nomear Muitas
vezes essa atividade humana eacute revestida de mitos e rituais que conferem ao nome poderes
maacutegicos ou sobre-humanos
Nas sociedades primitivas de acordo com Cunha (2004) um nome pode valorar o
sagrado ou o ritual isso pode ocorrer quando acontece a mudanccedila de nome (candombleacute e igreja
catoacutelica) desta forma ao nomear algueacutem eacute tocar-se na personalidade da pessoa e ateacute as partes
da escrita que compotildeem o nome satildeo carregadas de simbologia e forccedilas sobrenaturais Cunha
27
(2004 p 220) ainda acrescenta que ldquonas mais diversas culturas natildeo ter nome eacute natildeo existir
nomear eacute instituirrdquo
Nesse processo de instituir dos rituais de passagem eacute possiacutevel entender que a atividade
de nomeaccedilatildeo adveacutem de fatores que propiciam uma motivaccedilatildeo que resulta na escolha de um
nome No ritual de escolha de um novo Papa (igreja catoacutelica) ou de um novo membro do
candombleacute o indiviacuteduo fica recluso por alguns dias e no momento do ritual apresenta seu
novo nome agrave comunidade fato esse que reside de alguma forma na escolha do novo nome
Desta forma o nome eacute escolhido de acordo com suas caracteriacutesticas psicofiacutesicas e tambeacutem com
as que ele deseja ter a partir do momento de escolha do novo nome
Conforme Biderman (1998) muitas satildeo as culturas que acreditam que o nome estaacute
ligado agrave essecircncia da pessoa Nas culturas arcaicas em geral os nomes atribuiacutedos agraves pessoas
tinham um significado que indicava agraves vezes a vocaccedilatildeo ou o destino do indiviacuteduo o que
corrobora a justeza dos nomes nos rituais de passagem e em outras atividades de nomeaccedilatildeo
O ato de nomear se constitui tambeacutem como algo divino Para Biderman (1998 p 85)
ldquoo gesto criador de Deus identifica-se com esta palavra ontoloacutegica essencialmente divina O
que noacutes homens somos e o que sabemos nasce dessa revelaccedilatildeo primordial da palavra criadora
do gesto divino de dizerrdquo Cunha (2004) evidencia que a palavra jaacute eacute reveladora do poder desde
a antiguidade e isso se expressa de forma clara por meio da biacuteblia sagrada que em vaacuterios textos
conclama que o poder eacute revelado por meio da palavra como percebe-se no livro de Gecircnesis
capiacutetulo I versiacuteculos 19 e 20
19 Tendo pois o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos
e todas as aves dos ceacuteus levou-os ao homem para ver como ele os havia de
chamar e todo o nome que o homem pocircs aos animais vivos esse eacute o seu nome
verdadeiro 20 O homem pocircs nomes a todos os animais a todas as aves dos
ceacuteus e a todos os animais dos campos mas natildeo se achava para ele uma ajuda
que lhe fosse adequada (BIacuteBLIA 1995 p 51)
Dessa forma o cristianismo explica a atividade humana de nomeaccedilatildeo Isso evidencia
que todos os objetos recebem um nome (comum) mediante uma accedilatildeo deliberada de escolha
individual (como em Gecircnesis) ou coletiva Esse nome recebe uma funccedilatildeo de significaccedilatildeo ou
melhor passa a significar algo no mundo sua referecircncia A nomeaccedilatildeo configura-se como um
processo operacional de conhecer e denominar coisas Conforme De Lastra e Garcia (sd apud
DICK 1990) para ser denominado o mundo externo deve antes passar a ser interno (iacutentimo)
Na relaccedilatildeo das praacuteticas de nomeaccedilatildeo segundo Loacutepez (2013) ocorrem fatores internos
e externos da seguinte forma i mudanccedilas internas quando elementos do sistema toponiacutemico
28
que designa lugares passam para o sistema antroponiacutemico que designa pessoas ii mudanccedilas
externas ou forccediladas como as que ocorreram na Europa entre os seacuteculos XVIII e XIX e
obrigaram os judeus a adotarem nomes cristatildeos e abandonarem os seus de origem hebraica
Para os judeus assim como para muitos povos perder o nome eacute o mesmo que perder a histoacuteria
a identidade e a famiacutelia Desta forma as autoridades europeias acreditavam que os judeus
deixariam (perderiam) as suas identidades e constituiriam uma nova uma identidade europeia
Conveacutem ressaltar que o referente1 nem sempre figurou entre os elementos constitutivos
do signo linguiacutestico No Curso de Linguiacutestica Geral Ferdinand Saussure (2008) define o signo
linguiacutestico como a junccedilatildeo de uma imagem acuacutestica (significante) a um (ou vaacuterios) conceitos
(significado) Saussure natildeo inclui nessa definiccedilatildeo a coisa nomeada o objeto do mundo ou em
outros termos o referente
Dito de outro modo os gestos epistemoloacutegicos de Saussure (2008) ao definirem a
liacutengua como objeto proacuteprio de estudo e tambeacutem no sentido de imprimirem cientificidade aos
estudos linguiacutesticos excluem o referente construindo assim um domiacutenio especiacutefico para a
Linguiacutestica diferente de outras aacutereas que tambeacutem se atecircm aos estudos da linguagem humana
A liacutengua para o mestre suiacuteccedilo eacute um sistema de signos que por sua vez abarca entidades
psiacutequicas constituiacutedas por duas faces significante e significado Essas duas faces do signo
linguiacutestico natildeo guardam poreacutem entre si qualquer relaccedilatildeo loacutegica nenhum viacutenculo ou melhor
a relaccedilatildeo entre significante e significado eacute marcada pelo seu caraacuteter imotivado arbitraacuterio para
usar os termos saussurianos Desta forma Kristeva (2007 p 24) afirma que ldquoa palavra
lsquoarbitraacuteriorsquo significa mais exatamente lsquoimotivadorsquo quer dizer que natildeo haacute nenhuma necessidade
natural ou real que ligue o significante e o significadordquo
O nome sempre suscitou uma questatildeo ontoloacutegica2 ou melhor uma questatildeo de
existecircncia A nomeaccedilatildeo eacute apenas uma das funccedilotildees da linguagem mas tem um papel importante
pois o significado dos nomes organiza e classifica as formas de perceber a realidade aleacutem de
estar ligado diretamente a uma cultura ou comunidade Assim para Sapir (1980) a liacutengua
recorta a realidade agrave sua maneira eacute por meio dela que se evidencia a relaccedilatildeo linguagem
pensamento e cultura Desta forma ldquoas palavras da liacutengua significam ao funcionarem no
acontecimento Este funcionamento recorta politicamente o realrdquo (GUIMARAtildeES 2005 p 82)
Nessa perspectiva eacute possiacutevel dizer que a nomeaccedilatildeo ganha relevo quando o assunto eacute a relaccedilatildeo
linguagem e realidade
1 Em um sistema triaacutedico significante significado e o referente 2 Ontoloacutegico ldquoAdj 1 relativo a Ontologia 2 que trata do ser humano na sua essecircncia na sua globalidaderdquo Verbete
inscrito em (BORBA 2004 p 992)
29
Guiraud (1986) chama atenccedilatildeo para a forccedila criadora da linguagem que resulta em uma
funccedilatildeo semacircntica dinacircmica e volaacutetil orientada principalmente por fatores especiacuteficos de uma
dada cultura Assim
[] a motivaccedilatildeo eacute uma forccedila criadora inerente agrave linguagem social que eacute um
organismo vivo de origem empiacuterica somente depois que a palavra eacute criada e
motivada (naturalmente ou intralinguisticamente) eacute que as exigecircncias da
funccedilatildeo semacircntica acarretam um obscurecimento dessa motivaccedilatildeo etimoloacutegica
que pode aliaacutes ao se apagar trazer uma alteraccedilatildeo de sentido (GUIRAUD
1986 p 31)
Motivaccedilatildeo esta que com o decorrer do tempo pode vir a se tornar obscura pelo
distanciamento temporal do fato que lhe deu origem Pode inclusive o nome sofrer inuacutemeras
alteraccedilotildees de sentido sem nenhum viacutenculo semacircntico com o significado original nem com o
fenocircmeno de sua ocorrecircncia primeira No entanto eacute forccediloso ressaltar mais uma vez que o ato
de nomear eacute motivado conforme Guiraud (1986) a nomeaccedilatildeo eacute inerente agrave linguagem e decorre
da relaccedilatildeo entre homem e ambiente ao reconhecer os objetos do mundo extralinguiacutestico
No que tange agrave motivaccedilatildeo Biderman (1998) reafirma a noccedilatildeo de que o nome natildeo eacute
arbitraacuterio ele tem um viacutenculo de essecircncia com a coisa ou o objeto que designa Assim o homem
primitivo acredita que seu nome tem parte vital com o seu ser Nas histoacuterias que nos satildeo
relatadas dos povos primitivos em relaccedilatildeo aos nomes podemos observar que para alguns
quando se sabia o nome da pessoa o inimigo poderia fazer magia negra com ele Essas relaccedilotildees
culturais com os nomes satildeo recorrentes em vaacuterios paiacuteses e histoacuterias da antiguidade claacutessica
De acordo com Frazer (1951) em vaacuterias tribos primitivas o nome era considerado como
uma realidade e natildeo uma convenccedilatildeo artificial podendo servir de intermeacutedio para fazer atuar a
magia sobre a pessoa como se fosse parte do indiviacuteduo como cabelo unha ou qualquer outra
parte fiacutesica Essas crendices ou mitos acerca do nome se estendem por vaacuterias partes do mundo
como para os iacutendios da Ameacuterica do Norte o nome eacute como uma parte de seu corpo e o mau
tratamento (uso) dele pode trazer ferimento fiacutesico Assim o nome natildeo deve ser pronunciado
podendo no ato de sua pronunciaccedilatildeomaterializaccedilatildeo revelar as propriedades reais da pessoa que
o usa e assim tornaacute-la vulneraacutevel perante os seus inimigos
Nas narrativas das sociedades relatadas por Frazer (1951) o homem do povo esquimoacute
recebe um novo nome ao chegar agrave velhice na Aacutefrica as pessoas podem ateacute receber uma duacutezia
de nomes no decorrer de sua vida e em alguns casos no iniacutecio de sua vida recebem dois nomes
um nome de preto usado em casa e junto agrave famiacutelia e outro nome de branco usado na escola e
na sociedade os egiacutepcios tambeacutem recebiam dois nomes um nome pequeno que era bom e
30
usado em famiacutelia e um nome grande que era mau e dissimulado julgamos esse uacuteltimo ser
usado na sociedade
Segundo Frazer (1951) para os Celtas o nome era sinocircnimo da alma e da respiraccedilatildeo
Entre os Yuiacutens (sul da Austraacutelia) e outros povos o pai revela o nome ao filho no momento da
iniciaccedilatildeo e poucas pessoas o conhecem Tambeacutem na Austraacutelia as pessoas deixam de usar o
nome e passam a chamar um ao outro de primo tio sobrinho ou irmatildeo Nessas relaccedilotildees as
historietas dos nomes vatildeo estar sempre entrelaccediladas aos fatores culturais das comunidades
Em muitas culturas Frazer (1951) relata que a natildeo pronunciaccedilatildeo de nomes era tabu
como em Cafres onde as mulheres natildeo podiam pronunciar o nome de seus maridos ou sogros
nem qualquer palavra que se assemelhasse aos nomes Tambeacutem natildeo era permitido pronunciar
nomes de animais plantas reis deuses personagens sagrados considerados perigosos pois isso
seria como invocar o proacuteprio perigo
Frazer (1951) revela uma histoacuteria ocorrida no Egito com o deus Raacute que tinha vaacuterios
nomes mas o seu verdadeiro nome que lhe dava poder sobre os outros deuses natildeo era conhecido
e ao ser enfeiticcedilado pela invejosa deusa Iacutesis ndash picado por uma serpente ndash cujo veneno soacute seria
retirado de seu corpo no momento em que ele revelasse o seu verdadeiro nome Raacute lamenta-se
ldquoEu sou aquele que tem muitos nomes e muitas formas O meu pai e minha matildee disseram-me
o meu nome estaacute escondido no meu corpo desde o meu nascimento para que natildeo se possa dar
nenhum poder maacutegico a algueacutem que me queira lanccedilar uma maldiccedilatildeordquo (FRAZER 1951 apud
KRISTEVA 2007 p 64) O veneno tomou conta do corpo de Raacute e jaacute natildeo conseguia andar Iacutesis
continuou a atormentar o deus e o veneno foi penetrando profundamente e queimava seu corpo
Entatildeo Raacute consentiu que Isis buscasse o seu verdadeiro nome no iacutentimo do seu ser assim ela
fez arrebatou-lhe o verdadeiro nome e ordenou que o veneno que o queimava caiacutesse por terra
e libertasse o deus pois o que ela queria jaacute havia conseguido Acreditava-se assim que quem
conhecesse o verdadeiro nome de um deus (algueacutem) possuiria a sua essecircncia o seu verdadeiro
ser e ateacute o seu poder
Segundo Loacutepez (2013) os nomes variam conforme o momento e o local em que satildeo
escolhidos a pessoa que os escolhe e as normas para o uso Podem indicar gecircnero filiaccedilatildeo
origem geograacutefica religiatildeo e etnia Haacute tambeacutem inuacutemeras crenccedilas de que existe uma relaccedilatildeo
entre a pessoa seu nome e o significado deste inclusive muitos nomes satildeo uacutenicos
Segundo Cunha (2004 p 226) ldquoO nome proacuteprio topocircnimo ou antropocircnimo participa
da literariedade do texto podendo consequentemente enriquecer-se de valores semacircnticos
denotativos e conotativos da mesma forma que as outras palavras que o estruturamrdquo jaacute que
31
quando nomeamos atribuiacutemos simultaneamente um predicado um complemento ao nome uma
caracteriacutestica um adjetivo
Em Guimaratildees (2005) o ato de dar nome eacute tambeacutem um ato de identificar um indiviacuteduo
bioloacutegico como tal para o Estado e para a sociedade e tornaacute-lo sujeito De acordo com esse
ponto de vista ganha interesse o funcionamento determinativo da construccedilatildeo do nome proacuteprio
da pessoa no qual segundo Guimaratildees (2005 p 52) ldquohaacute uma relaccedilatildeo particular entre a
nomeaccedilatildeo e o objeto nomeado que se apresenta por uma materialidade histoacuterica e natildeo fiacutesicardquo
A nomeaccedilatildeo eacute por causa da predicaccedilatildeo um ato que diferencia sendo tambeacutem um ato
que identifica De acordo com Lima (2007 p 51)
o acto (sic) de nomear eacute um dos primeiros momentos de inserccedilatildeo da pessoa
numa categoria social de geacutenero Mas ainda mostra-nos que neste contexto
social nomear eacute uma das formas mais importantes de construir geacutenero e
pessoa dentro da famiacutelia
A inserccedilatildeo da pessoa na sociedade por meio de seu nome eacute uma relaccedilatildeo hierarquizada
construiacuteda agrave luz de valores tanto sociais como familiares Como jaacute sabemos o nome eacute uma
forma de identidade de revelar o que o outro natildeo eacute assim nomear eacute um aspecto crucial da
conversatildeo de qualquer um em algueacutem de acordo com Geertz (1973)
Na conversatildeo mencionada Parkin (1989) justifica que nomear pode ser uma forma de
atribuir direitos3 que daacute autoridade tanto ao nomeado quanto ao nomeador ou uma forma de
objetivaccedilatildeo por meio da escolha de um nome em particular que estabeleccedila controle sobre o
nomeado Nessas situaccedilotildees pode ocorrer que as pessoas antecipem essas consequecircncias
escolhendo ou controlando a atribuiccedilatildeo do seu proacuteprio nome ou em alguns casos como
acontece de o nome possuir uma carga negativa perante a sociedade e a pessoa recorre ao poder
judiciaacuterio para requerer a troca de seu nome
Enfim nomear eacute se apropriar do real eacute nessa perspectiva de nomear e apoderar fato
este que se daacute por meio da linguagem e de acordo com isso Kristeva (2007 p 17) pontua que
Se a linguagem eacute mateacuteria do pensamento eacute tambeacutem o proacuteprio elemento da
comunicaccedilatildeo social Natildeo haacute sociedade sem linguagem tal como natildeo haacute
sociedade sem comunicaccedilatildeo Tudo o que se produz como linguagem tem lugar
na troca social para ser comunicado
3 Livre traduccedilatildeo para Entitling
32
Eacute nessa troca social que acontece por meio da linguagem a nomeaccedilatildeo Assim eacute
necessaacuterio destacar que os nomes proacuteprios de lugares ndash topocircnimos ndash passam a estabelecer
relaccedilotildees materializadas por meio do uso da linguagem Sabe-se que o nome designado eacute
construiacutedo simbolicamente isso porque a linguagem que o constroacutei funciona por estar exposta
ao real e constituiacuteda materialmente pela histoacuteria local a qual motiva o leacutexico topocircnimo e eacute
nesse momento que ele nasce e se institui naquele lugar
De acordo com Biderman (1998) eacute por meio da palavra que as entidades da realidade
passam a ser conhecidas nomeadas e identificadas Essa realidade cria o seu acircmbito
significativo que nos eacute revelado pela linguagem que tambeacutem eacute a responsaacutevel por elencar os
fatores soacutecio-histoacuterico-cultural que permeiam a realidade Aqui no nosso caso esses fatores
satildeo trazidos por meio do leacutexico topocircnimo mais especificamente no ato de nomear um
designativo de lugar
Conforme Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares seja
em homenagem a algueacutem como eacute o caso da cidade de Pires do Rio que recebeu o nome o
patroniacutemico4 do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas (1919-1922) do governo de Epitaacutecio
Pessoa Dr Joseacute Pires do Rio Haacute lugares que recebem o nome em razatildeo de caracteriacutesticas
geograacuteficas Alguns nomes satildeo opacos conceito de Piel (1979) em contraposiccedilatildeo aos
transparentes pois natildeo apresentam relaccedilatildeo alguma com o referente nesse caso haacute de se fazer
uma busca histoacuterica para chegar agrave relaccedilatildeo motivacional
O homem tem a capacidade de associar palavras a conceitos E no ato de nomear
acontece a motivaccedilatildeo que estaacute ligada aos fatores cognitivos Assim o leacutexico que a ele eacute
determinado por meio do uso da linguagem se transporta no tempo sendo capaz de revelar os
fatores culturais e motivacionais que estatildeo nesse nomeleacutexico toponiacutemico (BIDERMAN 1998)
O nome comum no ato de nomeaccedilatildeo de um lugar impregna-se de significaccedilotildees vaacuterias
sejam de fatores histoacutericos culturais sociais econocircmicos Segundo Guimaratildees (2005 p 83)
ldquoo modo de significar os espaccedilos da cidade mostra que eles satildeo espaccedilos poliacuteticos O espaccedilo que
se daacute como objeto por uma descriccedilatildeo (referecircncias) atende a objetividade do discurso
administrativo que nomeia oficialmente os espaccedilos da cidaderdquo Assim o nome cifra a narrativa
histoacuterica local perpassando por fatores ou designativos memoraacuteveis
Essa atividade de nomeaccedilatildeo ou praacutetica de nomeaccedilatildeo eacute especificamente da espeacutecie
humana e resulta do processo de categorizaccedilatildeo inerente ao ser humano De acordo com
Biderman (1998 p 89)
4 De acordo com Cabral (2007) patroniacutemico eacute sobrenome
33
O processo de categorizaccedilatildeo subjaz agrave semacircntica de uma liacutengua natural Os
criteacuterios de classificaccedilatildeo usados para classificar os objetos satildeo muito
diferenciados e variados Agraves vezes o criteacuterio eacute o uso que o homem faz de um
dado objeto agraves vezes eacute um determinado aspecto do objeto que fundamenta a
classificaccedilatildeo agraves vezes eacute um determinado aspecto emocional que um objeto
pode provocar em quem o vecirc e assim por diante
Entatildeo o processo de categorizaccedilatildeo que por via das vezes pode se tornar um legislador
ndash nomeador Essas discussotildees acerca das histoacuterias do ato de nomear revelam formas de
organizaccedilatildeo social e mudanccedilas linguiacutesticas poliacuteticas e culturais Eacute pois por meio do nome que
as pessoas ou lugares permanecem vivos na memoacuteria coletiva de sua linhagem
E nesse processo de nomeaccedilatildeo categorizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo nos estudos na aacuterea da
Onomaacutestica mais precisamente na subaacuterea dos Estudos Toponiacutemicos ndash temaacutetica de nossa
pesquisa ndash natildeo tem como desvencilhar a liacutengua e cultura Assim para Sapir-Whorf a liacutengua
retrata o mundo e a realidade social agrave sua volta expressos por categorias lexicais como os
topocircnimos
12 Liacutengua e Cultura
A liacutengua no contexto soacutecio-histoacuterico-cultural nada mais eacute que o resultado de um
processo histoacuterico um produto revelador da cultura de uma dada comunidade (CAcircMARA JR
1955) Nessas bases inter-relacionar liacutengua e cultura eacute justificar que estatildeo intrinsecamente
interligadas pois a liacutengua revela a visatildeo de mundo e eacute tambeacutem a manifestaccedilatildeo de uma cultura
cultura esta que lhe daacute suporte a liacutengua tambeacutem eacute suporte da cultura
Em seus estudos Paula (2007) menciona que a liacutengua eacute um metassistema ela ldquonatildeo eacute soacute
objeto ela eacute nas relaccedilotildees sociais mais diversamente possiacuteveis tambeacutem instrumento de
investigaccedilatildeo distinto que ajuda a entender os outros sistemas sociaisrdquo (PAULA 2007 p 90)
Nesse contexto eacute possiacutevel evidenciar que por meio da liacutengua satildeo reeditadas e reconfiguradas
as praacuteticas culturais de uma dada comunidade
Posto isso conveacutem rever alguns conceitos que remetem agrave face social da liacutengua seu
caraacuteter eminentemente social mais condizente com o recorte epistemoloacutegico feito por Saussure
(2008 p 17)
Mas o que eacute a liacutengua Para noacutes ela natildeo se confunde com a linguagem eacute
somente uma parte determinada essencial dela indubitavelmente Eacute ao
mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto
34
de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo corpo social para permitir o
exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos Tomada em seu todo a linguagem
eacute multiforme e heteroacuteclita o cavaleiro de diferentes domiacutenios ao mesmo
tempo fiacutesica fisioloacutegica e psiacutequica ela pertence aleacutem disso ao domiacutenio
individual e ao domiacutenio social natildeo se deixa classificar em nenhuma categoria
de fatos humanos pois natildeo se sabe como inferir sua unidade
De acordo com Fiorin (2013 p 17) ldquoA liacutengua natildeo eacute um sistema de mostraccedilatildeo de
objetos porque permite falar do que estaacute presente e do que estaacute ausente do que existe e do que
natildeo existe porque possibilita ateacute criar novas realidades mundos natildeo existentesrdquo A liacutengua eacute um
produto social e por meio dela se criam e recriam realidades podendo entatildeo se justificar as
praacuteticas culturais por meio de atos linguiacutesticos
Com esse movimento epistemoloacutegico ou melhor ao eleger a liacutengua e natildeo a linguagem
nem a fala como objeto de estudo da Linguiacutestica Saussure possibilitou a instituiccedilatildeo da ciecircncia
linguiacutestica e consequentemente seus inuacutemeros desdobramentos posteriores
Sapir (1980) ressalta a estreita ligaccedilatildeo entre liacutengua e cultura jaacute que para o autor
Toda liacutengua tem uma sede O povo que a fala pertence a uma raccedila (ou a certo
nuacutemero de raccedilas) isto eacute a um grupo de homens que se destaca de outros
grupos por caracteres fiacutesicos Por outro lado a liacutengua natildeo existe isolada de
uma cultura isto eacute de um conjunto socialmente herdado por praacuteticas e crenccedilas
que determinam a trama das nossas vidas (SAPIR 1980 p 165)
Nesta perspectiva reafirmando que liacutengua se difere de linguagem mas se entrecruza
com ela ou dela faz parte como uma das inuacutemeras formas de linguagem e ainda considerando-
a um dos fatores de identidade de um povo e que natildeo existe isolada da cultura eacute que se torna
objeto de estudos o que envolve fatores soacutecio-histoacuterico-culturais das comunidades
O autor desta forma ainda nos revela que ldquotoda liacutengua estaacute de tal modo construiacuteda
que diante de tudo que um falante deseje comunicar por mais original ou bizarra que seja a sua
ideia ou a sua fantasia a liacutengua estaacute em condiccedilotildees de satisfazecirc-lorsquo (SAPIR 1969 p 33) Eacute
nessas condiccedilotildees de satisfazer ao falante ou agrave comunidade que ele pertence que a liacutengua se
justifica como um meio de interaccedilatildeo social e revelador da cultura jaacute que ela se configura no
tempo e eacute capaz de transmitir de geraccedilotildees a geraccedilotildees atraveacutes de atos linguiacutesticos as
manifestaccedilotildees culturais Conveacutem ressaltar que
Tudo que ateacute aqui verificamos ser verdade a respeito das liacutenguas indica que
se trata da obra mais notaacutevel colossal que o espiacuterito humano jamais
desenvolveu nada menos do que uma forma completa de expressatildeo para toda
a experiecircncia comunicaacutevel Essa forma pode ser variada de inuacutemeras maneiras
pelo indiviacuteduo sem perder com isso os seus contornos distintivos e estaacute
35
constantemente remodelando-se como sucede com toda arte A liacutengua eacute a arte
mais ampla e maciccedila que se nos depara cuacutemulo anocircnimo do trabalho
inconsciente das geraccedilotildees (SAPIR 1980 p 172)
De acordo com Cacircmara Jr (1955) a liacutengua eacute uma parte da cultura mas ela pode ser
estudada na sua relaccedilatildeo com a cultura ou sem considerar essa inter-relaccedilatildeo Segundo o autor
com essa perspectiva o linguista se destaca do antropoacutelogo Porque os estudos linguiacutesticos
podem prescindir do exame da inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura ou melhor pode-se estudar a
liacutengua em sua imanecircncia ou a relaccedilatildeo da linguagem com outras aacutereas do conhecimento humano
A liacutengua aleacutem de inter-relacionar a cultura nada sociedade atua para que a proacutepria
cultura seja conhecida e levada agrave geraccedilotildees futuras seja por meio de festas religiosas cantigas
e outros fatores que a divulguem Jaacute que na mesma base teoacuterica a liacutengua se justifica como um
fato de cultura assim como qualquer outro e neste iacutenterim integra-se agrave cultura
Cacircmara Jr (1955) reconhece que a liacutengua funciona na sociedade para a comunicaccedilatildeo e
interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e tambeacutem que ela se torna o resultado de uma cultura global pois a
liacutengua depende de toda cultura jaacute que a expressa a todo o momento
assim a liacutengua em face do resto da cultura eacute ndash o resultado dessa cultura ou
sua suacutemula eacute o meio para ela operar eacute a condiccedilatildeo para ela subsistir E mais
ainda soacute existe funcionalmente para tanto englobar a cultura comunicaacute-la e
transmiti-la (CAcircMARA JR 1955 p 54)
Considerada a inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura pode-se ressaltar mais uma vez que a
cultura se manifesta linguisticamente sejam elas integrantes de manifestaccedilotildees da cultura
popular ou da erudita
De modo geral a cultura eacute pensada numa visatildeo polarizante como sendo
cultura popular ou cultura erudita Conveacutem dizer poreacutem que ambas satildeo
formas e conteuacutedos diferentes de expressatildeo de uma dada realidade social e
histoacuterica Entatildeo natildeo devem ser vistas como opostas ou excludentes mas como
maneiras especiacuteficas de ver sentir e expressar a realidade conforme se situam
seus atores na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo do poder (PAULA 2007 p 75)
Neste processo Sapir (1969) menciona que o leacutexico eacute o niacutevel linguiacutestico em que mais
intimamente se interligam liacutengua e cultura Zavaglia (2012) por sua vez reconhece que o leacutexico
estaacute vinculado agrave cultura de um povo de uma naccedilatildeo agrave sua histoacuteria
Para Zavaglia (2012) o leacutexico estaacute relacionado com a memoacuteria humana e se configura
no ato de nomeaccedilatildeo diante do processo em que houve a necessidade de o homem por meio de
36
palavras nomear tudo que o circundava e assim categorizar o que estava a seu redor Pautados
na autora observamos a grandeza do leacutexico pois
Eacute o leacutexico em forma de palavras e por meio da linguagem que ldquocontardquo a
histoacuteria milenar de povo para povo eacute o leacutexico que transmite os elementos
culturais de um conjunto de indiviacuteduos eacute o leacutexico que ldquoeducardquo ou ldquodeseducardquo
eacute o leacutexico que permite a manifestaccedilatildeo dos sentimentos humanos de suas
afeiccedilotildees ou desagrados via oral ou via escrita Eacute o leacutexico que registra o
desencadear das accedilotildees de uma sociedade suas mudanccedilas seu progresso ou
regresso Condivido com Biderman quando diz que o leacutexico eacute o tesouro
vocabular de forma codificada da memoacuteria do indiviacuteduo restando ali estocado
ateacute que seja ativado quando necessaacuterio para que o homem possa expressar ou
se comunicar Eacute ainda por meio do leacutexico que conceitos condutas e costumes
satildeo transmitidos de geraccedilotildees a geraccedilotildees e herdados por elas ldquoEacute o leacutexico que
fisionomiza a culturardquo (ZAVAGLIA 2012 p 233)
O leacutexico eacute o fio condutor da cultura jaacute que a transporta para geraccedilotildees futuras eacute por meio
dele que se registra a histoacuteria e a vida de uma sociedade Para Sapir (1969) a cultura estaacute
nitidamente no leacutexico da liacutengua e este pode ser considerado como todo o conjunto de ideias
interesses e ocupaccedilotildees que abrangem a atenccedilatildeo da comunidade Neste contexto
O estudo cuidadoso de um dado leacutexico conduz a inferecircncias sobre o ambiente
fiacutesico e social daqueles que o empregam e ainda mais que o aspecto
relativamente transparente ou natildeo-transparente do proacuteprio leacutexico nos permite
deduzir o grau de familiaridade que se tem adquirido com os vaacuterios elementos
do ambiente (SAPIR 1969 p 49)
Eacute possiacutevel ressaltar que o leacutexico da liacutengua conteacutem um recorte da realidade feito agrave sua
maneira que revela visotildees de mundo Os elementos culturais que matizam datildeo o colorido de
significaccedilatildeo ao leacutexico mostram de diferentes maneiras as relaccedilotildees que ambas liacutengua e cultura
tecircm com o ambiente seja fiacutesico ou social pois toda complexidade dessa inter-relaccedilatildeo pode ser
anunciada e enunciada no uso da linguagem
Vale entatildeo ressaltar
Que o leacutexico assim reflita em alto grau a complexidade da cultura eacute
praticamente um fato de evidecircncia imediata pois o leacutexico ou seja o assunto
de uma liacutengua destina-se em qualquer eacutepoca a funcionar como um conjunto
de siacutembolos referentes ao quadro cultural do grupo Se por complexidade de
uma liacutengua se entende a seacuterie de interesses impliacutecitos em seu leacutexico natildeo eacute
preciso dizer que haacute uma correlaccedilatildeo constante entre a complexidade
linguiacutestica e cultural (SAPIR 1969 p 51)
37
O conjunto de signos da liacutengua ultrapassa as fronteiras do tempo trazendo para a
atualidade siacutembolos tambeacutem culturais que satildeo revelados por meio de praacuteticas culturais que se
interseccionam com as praacuteticas linguiacutesticas Assim
Natildeo soacute as palavras da liacutengua passam a servir de siacutembolos culturais dispersos
como sucede nas liacutenguas em qualquer periacuteodo de desenvolvimento mas se
pode supor que as proacuteprias categorias e processos gramaticais simbolizariam
tipos correspondentes de pensamento e atividade de significaccedilatildeo cultural Ateacute
certo ponto pode se conceber portanto a cultura e a liacutengua em constante
estado de interaccedilatildeo e em associaccedilatildeo definida por um largo lapso de tempo
Mas tal estado de correlaccedilatildeo natildeo pode continuar indefinidamente (SAPIR
1969 p 60)
Segundo Sapir (1969) a linguagem possui o papel de produzir e organizar o mundo
mediante o processo de simbolizaccedilatildeo Contudo a realidade eacute mostrada por meio da linguagem
o que significa dizer que natildeo haacute mundos iguais visto que natildeo haacute liacutenguas iguais De acordo com
estas observaccedilotildees cabe ressaltar o relativismo linguiacutestico ldquoHipoacutetese de Sapir-Whorfrdquo a
linguagem determina a forma de ver o mundo e consequentemente de se relacionar com esse
mundo
O relativismo linguiacutestico pode ser entendido como a relaccedilatildeo linguagem e pensamento
mediada pela cultura desta forma linguagem pensamento e cultura estatildeo conectados Sapir-
Whorf observam que a realidade social eacute produto linguiacutestico tratando assim as relaccedilotildees de
linguagemcultura e linguagempensamento a cultura pode ser considerada como
conhecimento adquirido socialmente por meio das praacuteticas linguiacutesticas
De maneira geral diz-se que a cultura eacute o conhecimento que as pessoas detecircm acerca de
uma comunidade seja em seus acircmbitos popular ou cientiacutefico os quais ultrapassam o tempo
por meio da liacutengua jaacute que ldquoA cultura eacute o conjunto do que o homem criou na base das suas
faculdades humanas abrange o mundo humano em contraste com o mundo fiacutesico e o mundo
bioloacutegicordquo (CAcircMARA JR 1955 p 51)
Em outras palavras
Cultura eacute o conjunto de praacuteticas sociais situadas historicamente que se
referem a uma sociedade e que a fazem diferente de outra Baseia-se na
construccedilatildeo social de sentidos a accedilotildees crenccedilas haacutebitos objetos que passam a
simbolizar aspectos da vivecircncia humana em coletividade (PAULA 2007 p
74)
A diversidade tambeacutem se reflete na cultura pois de acordo com Bosi
38
[] natildeo existe uma cultura brasileira homogecircnea matriz de nossos
comportamentos e dos nossos discursos Ao contraacuterio a admissatildeo do seu
caraacuteter plural eacute um passo decisivo para compreendecirc-la como um ldquoefeito de
sentidordquo resultado de um processo de muacuteltiplas interaccedilotildees e oposiccedilotildees no
tempo e no espaccedilo (BOSI 1987 p 7)
Neste sentido a cultura se constroacutei a partir das vivecircncias e significados que lhe satildeo
atribuiacutedos pela proacutepria sociedade em suas praacuteticas sociais e constituindo-se tambeacutem em
diferenccedila Para Bosi (1987 p 11) o fundamento da cultura popular ldquoeacute o retorno de situaccedilotildees e
atos que a memoacuteria grupal reforccedila atribuindo-lhes valorrdquo Isso satildeo as marcas identitaacuterias da
comunidade que satildeo deixadas e vivenciadas (ou vivificadas) tempos depois A cultura popular
eacute revelada por meio de praacuteticas culturais e linguiacutesticas que levam a puacuteblico as relaccedilotildees soacutecio-
histoacuterica-culturais de determinadas comunidades
A cultura se constroacutei com base nos valores atribuiacutedos pelos sujeitos agraves relaccedilotildees
cotidianas e nas relaccedilotildees de poder Organiza-se como popular eou erudita Nesse sentido natildeo
existe cultura melhor nem pior cada uma eacute expressa pelo seu grupo social pois cada indiviacuteduo
tem uma forma de ver o mundo modos de vestir de comer os meios para se curar os remeacutedios
os modos de plantar de cultivar e colher os modos de nomear e categorizar os elementos da
natureza e outros tantos mais Desta forma ldquoconforme as pessoas entendem que participam de
uma cultura esforccedilam-se para agir dentro do que julgam ser pertinente a elardquo (PAULA 2007
p 75)
Cultura liacutengua e identidade natildeo satildeo algo fixo pronto e acabado estando sempre em
constituiccedilatildeo uma vez que satildeo produzidas por seres sociais que se encontram em processo de
interaccedilatildeo aprendizado conhecimento e estatildeo inseridos em contextos sociais que passam por
transformaccedilotildees O leacutexico eacute o meio pelo qual a cultura e a identidade se constroem e se
disseminam
Na visatildeo de Paula (2007 p 89) a memoacuteria eacute o depositaacuterio tanto da cultura como da
liacutengua visto que
O modo como se estrutura poliacutetica e economicamente uma sociedade diz
muito de suas estruturas culturais estas por sua vez soacute se fazem possiacuteveis
graccedilas agrave elaboraccedilatildeo cotidiana do arcabouccedilo de memoacuteria coletiva ao modo
como eacute concebida e ao estatuto que lhe eacute dado Expressando estas inter-
relaccedilotildees servindo a elas no cotidiano da comunicaccedilatildeo humana e carregando
em seu funcionamento muito do modo como a sociedade se faz e se refaz estaacute
a liacutengua
39
Os processos culturais que satildeo construiacutedos por meio de atos linguiacutesticos satildeo uma forma
identitaacuteria de dada comunidade que eacute expressa por relaccedilotildees sociais como forma de conduzir e
expressar-se perante as demais comunidades sejam elas internacionais nacionais ou regionais
sabemos que a cultura eacute a miscigenaccedilatildeo de outras culturas
13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes
Embora faccedila parte do cotidiano das pessoas portanto estreitamente ligado agrave cultura natildeo
haacute muita discussatildeo referente ao nome proacuteprio e aos motivos de algueacutem ou um lugar ter o nome
que tem Entretanto conforme Carvalhinhos (2002) jaacute no seacuteculo II aC com o gramaacutetico
Dioniacutesio Traacutecia o estudo sobre o nome jaacute tinha sido pensado e formulado Esses estudos
propiciaram por sua vez o surgimento da Onomaacutestica a ciecircncia que se ocupa dos estudos da
origem e alteraccedilotildees (na forma e no significado) dos nomes proacuteprios A Onomaacutestica eacute um ramo
das ciecircncias linguiacutesticas que pode-se efetuar em duas vertentes a toponiacutemia (estudo do
topocircnimo ou nome de lugar) e a antroponiacutemia (estudo do nome pessoal)
Conforme Dubois (2004) e Houaiss (2004) a Onomaacutestica eacute um ramo da lexicologia e
seu meacutetodo de trabalho deve-se desenvolver em linha documental mediante a observaccedilatildeo de
dados oficiais como mapas listas de nomes ou outros documentos de valor historiograacutefico e
lexicograacutefico Isso possibilita a junccedilatildeo da histoacuteria da nomenclatura com momentos histoacutericos e
sociais mais amplos
No entanto mesmo pertencendo agrave ciecircncia da linguagem a Onomaacutestica se estabelece por
meio do suporte de outras aacutereas do conhecimento como a Antropologia a Etnografia a
Botacircnica a Geografia e a Histoacuteria Neste sentido natildeo eacute equivocado salientar que a Onomaacutestica
eacute um campo de amplo caraacuteter interdisciplinar
Assim a Onomaacutestica ou Onomasiologia eacute o ramo da ciecircncia linguiacutestica que tem o nome
proacuteprio como objeto de estudo e se constroacutei em relaccedilatildeo a outros campos do saber Contudo ao
relacionar o seu conhecimento aos de outras aacutereas ela natildeo os confunde nem os nega
De acordo com Ramos e Bastos (2010) a Onomaacutestica assume uma perspectiva
integralizadora de meacutetodos e demanda um consideraacutevel nuacutemero de conhecimentos de campos
diversos de maneira direta ou indireta e vertical ou horizontal destacando-se a linguiacutestica com
valoraccedilatildeo da pesquisa etimoloacutegica
Conforme dito a Onomaacutestica para efeito de estudo pode ser dividida em dois eixos a
Antroponiacutemia e a Toponiacutemia Estas por sua vez podem apresentar subdivisotildees dependendo
de algumas consideraccedilotildees acerca das caracteriacutesticas que cada uma agrave sua maneira apresenta
40
A Toponiacutemia conforme Piel (1979) de acordo com o objeto de denominaccedilatildeo pode
denominar-se tambeacutem como astroniacutemia hidroniacutemia litoniacutemia odoniacutemia oroniacutemia para citar
apenas alguns termos que correspondem a objetos que constituem ou satildeo constituiacutedos por
formaccedilotildees aquosas astros formaccedilotildees peacutetreas serras vias ou caminhos
Jaacute a Antroponiacutemia volta sua atenccedilatildeo para o estudo dos nomes de batismo dos
sobrenomes patroniacutemicos (ou matroniacutemicos) e ainda das alcunhas dos apelidos e de nomes
diminutivos A Antroponiacutemia agrave semelhanccedila da Toponiacutemia natildeo se constitui de forma
homogecircnea jaacute que haacute uma seacuterie de tradiccedilotildees conforme os povos ou culturas que desenvolveram
esses sistemas antroponiacutemicos Por outro lado eacute consenso afirmar que os nomes pessoais satildeo
um aspecto comum ou universal nas liacutenguas porque as pessoas recebem um nome em algum
momento de suas vidas em todas as sociedades conhecidas do mundo
De acordo com Dick (1992) as intenccedilotildees e as motivaccedilotildees que subjazem agrave escolha dos
nomes em cada sociedade variam bastante Os estudos dos sistemas onomaacutesticos vecircm confirmar
isso porque os nomes existem e satildeo controlados pelas necessidades e praacuteticas sociais as quais
podem variar de acordo com a visatildeo de mundo de um determinado povo
Posto isso conveacutem conceber a Onomaacutestica como uma disciplina que deve focar como
objeto de estudo os sistemas de denominaccedilatildeo que justifiquem os processos de atribuiccedilatildeo de
nomes de uma maneira geral
Em Soliacutes (1997) os nomes satildeo o resultado de algo que os provoca isto eacute o sistema
denominativo elaborado pelas culturas para atribuir nomes agraves coisas apreendidas por sua
atividade cognitiva
Devido ao fato de a Onomaacutestica estender-se a um amplo campo de estudo ou seja que
se volta tanto para o estudo dos nomes proacuteprios de pessoas como agraves designaccedilotildees dos lugares eacute
imperioso delimitar para este estudo apenas o sistema onomaacutestico voltado para os nomes de
lugar isto eacute para a toponiacutemia caracterizando como objeto de estudo os nomes dos cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio
A despeito de incorrer em lugar comum conveacutem rever os constituintes da palavra
toponiacutemia cujo significado etimoloacutegico pode ser assim expresso do grego topos (lugar) e
onoma (nome) A Toponiacutemia se ocupa dos locativos (tambeacutem componentes do leacutexico da liacutengua)
com o fito de estudar a origem as significaccedilotildees e as transformaccedilotildees por que passam ou
passaram esses nomes A Toponiacutemia se dedica ao estudo natildeo apenas dos nomes de comunidades
humanas (cidades povoados vilas) como tambeacutem elementos geograacuteficos a exemplo os cursos
drsquoaacuteguas
41
Os estudos toponiacutemicos propiciam a percepccedilatildeo da relaccedilatildeo entre povo liacutengua e territoacuterio
considerando que esse territoacuterio pode ser fiacutesico eou imaginaacuterio jaacute que as entidades do mundo
que precisam ser nomeadas podem ser pessoas entidades geograacuteficas que fazem parte do
ambiente em que vive determinado povo e que sobretudo tenham importacircncia para esse povo
pois se natildeo tem importacircncia natildeo haacute em contrapartida necessidade de ser nomeado Conveacutem
no entanto ressaltar que nem todas as nomeaccedilotildees ocorrem pela necessidade espontacircnea de
identificaccedilatildeo uma vez que muitas delas refletem a imposiccedilatildeo de forccedilas ideoloacutegicas poliacuteticas e
sociais
Neste sentido surge a necessidade de reconhecer os objetos geograacuteficos da natureza
tais como rios mares lagoas ilhas continentes serras e outros mas haacute outros que precisam
ser denominados tambeacutem principalmente os objetos da cultura aqueles criados pelo homem
dentre os quais podem ser citados os povoados represas moradias (habitaccedilatildeo) ruas
circunscriccedilotildees poliacutetico-territoriais que se situam em algum lugar do universo fiacutesico
Natildeo se pode omitir aqueles lugares cujo universo foi criado pela cultura imaterial o
mundo natildeo fiacutesico Sejam do universo real ou imaginaacuterio as entidades geograacuteficas satildeo os
referentes dos topocircnimos que por sua vez integram a visatildeo de mundo de um povo Isso
constitui uma dificuldade em especificar que referentes existem no mundo fiacutesico ou cultural
em parte porque para isso eacute necessaacuterio considerar uma cultura determinada Em resposta a isso
haacute o reconhecimento da visatildeo de mundo que eacute peculiar a cada cultura
Muitos povos concebem o universo real como um mundo que tem seu correlato miacutetico
com outros mundos e fazem assim surgir universos de nomes toponiacutemicos de variada riqueza
toponomaacutestica porque tecircm lugares para nomear no espaccedilo fictiacutecio criado nesse mundo Assim
aleacutem de serem componentes linguiacutesticos como tal os nomes que compotildeem um sistema de
denominaccedilatildeo satildeo ainda criaccedilotildees socioculturais
Entatildeo cabe agrave Toponiacutemia estudar tanto os nomes de lugares (os topocircnimos) como
componentes de uma liacutengua que satildeo como tambeacutem o sistema de denominaccedilatildeo organizado pelas
sociedades para nomear os objetos fiacutesicos ou imaginaacuterios da sua cultura Devido agraves diferentes
visotildees de mundo tecircm-se diferentes formas de nomear essas entidades Aleacutem da visatildeo de mundo
em sociedades como a brasileira podem contribuir para a formaccedilatildeo de um sistema de nomeaccedilatildeo
os movimentos sociais como forccedila impulsionadora de mudanccedila social Em relaccedilatildeo agrave realidade
brasileira podem-se mencionar as poliacuteticas que vecircm acontecendo durante os mais de 500 anos
de histoacuteria brasileira que tambeacutem resultou em inuacutemeras formaccedilotildees e mudanccedilas de designaccedilatildeo
toponiacutemica no Brasil
42
Cabe reiterar que a toponiacutemia refere-se a nomes de lugares habitados ou natildeo Daiacute uma
definiccedilatildeo apropriada para o termo ldquotopocircnimordquo eacute um nome de qualquer ponto localizaacutevel no
espaccedilo terrestre que tenha recebido denominaccedilatildeo Definiccedilatildeo essa que pode ser estendida para o
nome de qualquer ponto localizaacutevel no mundo real ou em mundos imaginados pelas culturas
em outras palavras daqueles universos que existem por meio da atividade ideacional dos
homens
Assim eacute por meio da relaccedilatildeo povo-territoacuterio que os nomes de lugar satildeo estabelecidos
Inicialmente pela posse do territoacuterio uma vez que segundo Couto (2007) o territoacuterio eacute uma
das primeiras referecircncias para que um agrupamento de pessoas possa receber o status de
comunidade e todo territoacuterio entendido como tal tem de ter um nome um topocircnimo Desta
forma recortam-se os aspectos do meio ambiente mais salientes aos olhos do povo como uma
espeacutecie de acordo que permite a vivecircncia e a convivecircncia em sociedade no territoacuterio apossado
Eacute possiacutevel afirmar que a nomeaccedilatildeo dos lugares surgiu com a proacutepria humanidade Os
registros antigos da histoacuteria da civilizaccedilatildeo ratificam essa accedilatildeo do homem sobre o lugar que
habita ou jaacute habitou satildeo fatores que sugerem uma espeacutecie de posse ou de domiacutenio sobre o lugar
por meio da significaccedilatildeo da organizaccedilatildeo e da orientaccedilatildeo pelo espaccedilo ocupado ou apenas
conhecido Em contrapartida o ato de nomeaccedilatildeo se manifesta como a accedilatildeo do meio fiacutesico e
sociocultural sobre o homem
Eacute nesta perspectiva que se podem considerar os estudos toponiacutemicos em seu acircmbito
interdisciplinar porque congregam vaacuterias aacutereas do conhecimento humano Os nomes de um
lugar satildeo enfocados conforme a observaccedilatildeo dos aspectos fiacutesicos socioculturais mentais e
histoacutericos interligados ou em separados
Assim natildeo eacute equiacutevoco conceber a Toponiacutemia como objeto de estudo da Antropologia
da Geografia da Histoacuteria ou ainda da Psicologia Social para citar apenas algumas disciplinas
Eacute possiacutevel segundo Dick (1992) realizar anaacutelises do fenocircmeno toponiacutemico em
consonacircncia teoacuterica com qualquer uma dessas aacutereas mas para a autora nenhuma delas tomada
isoladamente ou com exclusivismo alcanccedilaria a plenitude do fenocircmeno toponiacutemico Em termos
linguiacutesticos a Toponiacutemia recorre aos conhecimentos da Semacircntica da Lexicologia da
Etnolinguiacutestica da Dialetologia e da Linguiacutestica Histoacuterica
Mais recentemente uma linha de anaacutelise que tem oferecido contribuiccedilotildees importantes
aos estudos dos nomes de lugares eacute a Linguiacutestica Cognitiva Suas pesquisas vecircm enfatizando
natildeo soacute os modelos cognitivos mas tambeacutem os processos de categorizaccedilatildeo principalmente os
processos de analogia e contiguidade proacuteprios da metaacutefora e da metoniacutemia Entendecirc-los eacute
43
essencial para compreender os sistemas de nomeaccedilatildeo como resultados da experiecircncia e da
cogniccedilatildeo humana com o corpo em relevo
Esta perspectiva de anaacutelise coaduna estudos que procuram reconhecer processos
cognitivos expressos na accedilatildeo de denominar a realidade e para tanto fundamentam-se no corpo
Eacute uma forma de nomear os lugares fiacutesicos ou culturais mediante a percepccedilatildeo do denominador
na interaccedilatildeo com meio ambiente fiacutesico e cultural
14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica
Para realizar qualquer estudo onomaacutestico eacute necessaacuterio inicialmente buscar na teoria
linguiacutestica os recursos para se explicar como uma forma linguiacutestica se amaacutelgama a um lugar
configurando uma relaccedilatildeo entre esse lugar suas caracteriacutesticas e o signo linguiacutestico que passa
a designaacute-lo Em outras palavras eacute necessaacuterio buscar conceitos que estejam em consonacircncia
com os preceitos5 onomaacutestico-toponiacutemicos
Eacute por meio da liacutengua que se daacute a interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e a mesma constitui-se de
signos linguiacutesticos Em outras palavras o mundo humano a realidade extralinguiacutestica e a
cultura constituem-se de signos Calcados nas ideias de Charles Sanders Pierce (2005) tem-se
o conceito geral de que o signo eacute ldquoalgo que estaacute por algo para algueacutemrdquo Conveacutem salientar que
ldquoestar porrdquo eacute uma noccedilatildeo bastante ampla pois pode significar uma seacuterie de coisas como
representar caracterizar fazer agraves vezes de indicar entre outros Para Pierce (2005 p 46)
um signo ou representamem eacute algo que sob certo aspecto ou de algum modo
representa alguma coisa para algueacutem Dirige-se a algueacutem isto eacute cria na mente
dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido
Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo
representa alguma coisa seu objeto Representa esse objeto natildeo em todos os
aspectos mas com referecircncia a um tipo de ideia que eu por vezes denominei
fundamento do representamem (Grifos do autor)
Assim seguindo a concepccedilatildeo de Pierce (2005) sobre signo pode-se formular que eacute a
representaccedilatildeo de alguma coisa para algueacutem estaacute no lugar da coisa que ele representa e natildeo eacute a
coisa em si Tem ainda a condiccedilatildeo de perturbar a mente do interpretante i eacute daquele que vecirc
lecirc ou ouve o signo na tentativa de atribuir-lhe um significado Dessa forma eacute possiacutevel verificar
uma relaccedilatildeo de interdependecircncia entre pelo menos trecircs extremos i) a face perceptiacutevel do
5 No capiacutetulo 2 satildeo apresentados os meacutetodos usados na pesquisa
44
signo o representamem ou significante ii) o que ele representa o objeto ou referente e iii) o
que ele significa interpretante ou significado
Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo
Fonte Adaptado a partir do original de Ogden-Richards (1972)
Para Pierce (2005) os signos satildeo elementos tricotocircmicos6 e apresentam trecircs divisotildees
amplas (i) iacutecone (ii) iacutendice e (iii) siacutembolo A despeito de serem conceitos mais pertinentes a
um estudo semioacutetico em grande parte a motivaccedilatildeo que subjaz ao designativo de lugar imprime
caraacuteter icocircnico indicial ou simboacutelico ao nome do lugar o que acarreta uma dada categorizaccedilatildeo
Para Pierce (2005) (i) iacutecones satildeo os signos que apresentam as caracteriacutesticas
especiacuteficas proacuteprias por analogia formam-se pela primeira impressatildeopercepccedilatildeo que o
inteacuterprete tem sobre as coisas do mundo real Eacute um signo que guarda semelhanccedilas entre o
significante e o significado Em outras palavras um iacutecone eacute uma representaccedilatildeo - auditiva visual
ou de outra espeacutecie ndash de alguma coisa Uma fotografia uma pintura as imagens diagramas satildeo
exemplos de iacutecones por evidenciar semelhanccedila com o objeto representado A semelhanccedila tem
de ser estabelecida de forma quase que consciente por quem observa No entanto a semelhanccedila
com o objeto representado pode ser extraordinaacuteria como quando se observam as imagens sacras
ou iacutecones menores aqueles que aparecem na tela do computador ou pode ser mais abstrata
como a que acontece com as placas de sinais em geral
Em relaccedilatildeo aos (ii) iacutendices Pierce (2005) estabelece que satildeo signos que estatildeo numa
relaccedilatildeo direta entre o representamem e o objeto Um iacutendice (ou signo indexical) tem a funccedilatildeo
de indicar o que estaacute nas suas proximidades Nos iacutendices a forma e o significado estatildeo
interligados satildeo contiacuteguos ou seja caracteriza-se pela relaccedilatildeo de contiguidade ou associaccedilatildeo
com aquilo que representa Aquilo que atrai a atenccedilatildeo em um objeto eacute seu iacutendice Apresentam
6 O que difere das caracteriacutesticas dicotocircmicas do signo linguiacutestico para Saussure
Conceito
(Significado)
Palavra Referente
(significante) (elementos da realidade)
45
traccedilos de decirciticos jaacute que os interlocutores podem recuperar o referente por meio de lembranccedilas
de detalhes do objeto
Encontram-se muito difundidos nos sistemas de comunicaccedilatildeo (verbal ou natildeo) Satildeo
amplamente empregados na linguagem miacutemica e gestual no coacutedigo de tracircnsito Os decirciticos satildeo
signos indiciais imprescindiacuteveis pois referem demonstrativamente indicam a pessoa do
discurso o lugar a proximidade7 de espaccedilo e tempo entre outros (iii) Jaacute os siacutembolos satildeo signos
que se referem ao objeto em funccedilatildeo de uma convenccedilatildeo de uma lei ou de associaccedilatildeo geral de
ideias ou melhor por natildeo haver uma relaccedilatildeo de semelhanccedila e nem contiguidade entre o
significante e o significado ela eacute estabelecida por convenccedilatildeo de forma intencional e aprendida
nas relaccedilotildees sociais Os siacutembolos satildeo considerados os signos genuiacutenos estatildeo reservados aos
seres humanos porque as necessidades comunicativas exigem muito mais que indicaccedilotildees
indexicais ou imitaccedilotildees icocircnicas O sistema mais elaborado de signos simboacutelicos certamente
eacute o das liacutenguas naturais na modalidade falada e na escrita tambeacutem sendo que a palavra eacute o
siacutembolo por excelecircncia
Por se constituiacuterem de duas coisas que se encontram em prolongamento uma da outra
i eacute contiacuteguas os signos indexicais podem se substituir mutuamente Tambeacutem os signos
icocircnicos podem tomar o lugar do objeto real Jaacute os simboacutelicos satildeo superiores por permitirem
aos seres humanos ultrapassar os limites de contiguidade e semelhanccedila porque estabelecem uma
relaccedilatildeo simboacutelica entre determinada forma e determinado significado Todas essas relaccedilotildees ndash
icocircnica indexical e simboacutelica ndash estatildeo na base dos sistemas de linguagem
Os signos linguiacutesticos se vinculam agrave noccedilatildeo de siacutembolo uma vez que a relaccedilatildeo com o
objeto referido eacute construiacuteda arbitrariamente em uma espeacutecie de acordo entre os membros de
uma comunidade de fala Para Saussure (2008) o signo linguiacutestico eacute o resultado da associaccedilatildeo
convencional entre o significante e o significado acertada entre os falantes Eacute convencional
porque natildeo haacute nenhum viacutenculo sugestivo entre os dois elementos Essa eacute a noccedilatildeo de
arbitrariedade descrita por Saussure (2008) em relaccedilatildeo aos viacutenculos entre significante e
significado Por outro lado haacute de se considerar situaccedilotildees em que os signos linguiacutesticos
apresentam motivaccedilotildees que podem ser de natureza foneacutetica morfoloacutegica ou semacircntica
Quanto agrave estrutura um topocircnimo pode ser um nome simples ou composto e segue
evidentemente as mesmas regras de formaccedilatildeo de palavras da liacutengua portuguesa Um nome em
funccedilatildeo toponiacutemica pode tambeacutem ser constituiacutedo por frases e oraccedilotildees seguem assim a sintaxe
da liacutengua em que se insere
7 O ldquoeurdquo a pessoa com quem se fala o ldquoeste aquirdquo ldquoesse aiacuterdquo ldquoaquele alirdquo ldquoneste tempordquo ldquonaquele tempordquo
46
Segundo Dick (1992) o signo topocircnimo vincula-se por diversos fatores ao elemento
geograacutefico do qual eacute o referente estabelecendo com ele um conjunto que por sua vez pode ser
separado em partes menores para se distinguirem os seus elementos formadores
Morfologicamente dois elementos baacutesicos podem ser depreendidos dessa relaccedilatildeo um o termo
ou elemento geneacuterico que se relaciona agrave entidade geograacutefica que recebe a denominaccedilatildeo e o
outro o elemento ou termo especiacutefico o topocircnimo propriamente dito que carrega em si mesmo
a noccedilatildeo espacial que identificaraacute e singularizaraacute a entidade denominada das outras semelhantes
Esses elementos ou termos se justapotildeem no sintagma toponiacutemico (Coacuterrego do Ouro) ou se
aglutinam (Rialma) conforme a estrutura da liacutengua em questatildeo
Para Dick (1992) em relaccedilatildeo agrave morfologia os topocircnimos podem apresentar trecircs
diferentes formas (i) topocircnimo ou elemento especiacutefico simples eacute aquele determinado por um
soacute formante que pode apresentar-se acompanhado tambeacutem de sufixaccedilatildeo diminutiva
aumentativa ou de outras origens linguiacutesticas
Eacute comum na formaccedilatildeo de muitos topocircnimos brasileiros a junccedilatildeo de um designativo agraves
terminaccedilotildees -lacircndia em -poacutelis e ndashburgo (normalmente segundo elemento da formaccedilatildeo) Essa
formaccedilatildeo embora apresente dois formantes (de liacutenguas diferentes) satildeo considerados nomes
simples e natildeo compostos pode-se no entanto dizer que em algumas designaccedilotildees satildeo tambeacutem
hiacutebridos jaacute que provecircm de liacutenguas diferentes a saber Maurilacircndia (Maurilo do latim Maurilius
lsquomorenorsquo + lacircndia elemento de origem inglesa) Buritinoacutepolis (Buriti(no) elemento tupi + polis
elemento grego) mas em Friburgo8 natildeo haacute hibridismo
Segundo Siqueira (2012) pode-se ainda indicar a terminaccedilatildeo -(a) nia variaccedilatildeo do sufixo
nominal do latino -anus -ana que se documentam em nomes e modificadores com as noccedilotildees
de proveniecircncia origem entre outras em lembranccedila dos primeiros habitantes da regiatildeo Em
Goiaacutes eacute expressiva a quantidade de topocircnimos que se formaram jungidos a esse elemento
Caiapocircnia Cromiacutenia Goiacircnia Joviacircnia Luziacircnia Silvacircnia (ii) topocircnimo composto ou
elemento especiacutefico composto aquele formado por mais de um elemento de origens diversas
entre si do ponto de vista do conteuacutedo (iii) topocircnimo (composto) hiacutebrido ou elemento
especiacutefico hiacutebrido formado por elementos linguiacutesticos de diferentes procedecircncias
Sobre o caraacuteter imotivado dos signos linguiacutesticos cabe salientar conforme Saussure
(2008) que o viacutenculo que une o significante ao significado eacute arbitraacuterio natildeo haacute relaccedilatildeo loacutegica
ente as duas faces do signo A associaccedilatildeo entre ambos (significante e significado) eacute de natureza
8 Cidades da Alemanha e da Suiacuteccedila no Brasil conforme Machado (2003) haacute uma ldquoFriburgordquo no Amazonas e no
Rio de Janeiro ldquoNova Friburgordquo este sim um hiacutebrido em Minas Gerais haacute tambeacutem o hiacutebrido ldquoCordisburgordquo
cordis do latim lsquocoraccedilatildeorsquo + burgo do alematildeo lsquocidadersquo
47
convencional natildeo natural Assim todo estudo toponiacutemico tem no caraacuteter motivado do signo
toponiacutemico seu ponto de partida ou seja os estudos sobre os topocircnimos se baseiam na
motivaccedilatildeo que subjaz para analisar todas as relaccedilotildees circunscritas a ela
15 Linguiacutestica Histoacuterica
Consideradas como realidades histoacutericas e sociais as liacutenguas satildeo dinacircmicas estatildeo em
contiacutenua transformaccedilatildeo o que leva a afirmar que a liacutengua de hoje natildeo eacute a mesma de ontem
nem se manteraacute idecircntica amanhatilde Posto isso pode-se verificar que o conhecimento mais amplo
da estrutura do leacutexico da semacircntica e ateacute da ortografia pode requerer um estudo linguiacutestico
com perspectivas histoacutericas No acircmbito da linguiacutestica geral destaca-se a Linguiacutestica Histoacuterica
aacuterea cujo interesse recai sobre o que como e por que muda nas liacutenguas no decorrer do tempo
Os estudos acerca da linguagem foram primeiramente postulados pelos filoacutesofos
anteriores ao seacuteculo XIX como Platatildeo e Aristoacuteteles9 que se ativeram ao estudo da linguagem
mediante a anaacutelise da relaccedilatildeo entre som e sentido ignorando qualquer tipo de variaccedilatildeo
linguiacutestica Jaacute a opccedilatildeo filoloacutegica representada principalmente pelos gramaacuteticos alexandrinos
natildeo ignorava a variaccedilatildeo linguiacutestica mas a colocava como desvio configurando-se
possivelmente como a primeira perspectiva normativaprescritiva na histoacuteria dos estudos da
linguagem (MAURER JR 1967)
Por sua vez a linguiacutestica histoacuterica conforme Maurer Jr (1967) estabeleceu relaccedilotildees
culturais entre os povos tornando-se um precioso auxiacutelio para a Histoacuteria e a Antropologia A
linguiacutestica histoacuterica natildeo revela apenas as relaccedilotildees entre duas ou mais liacutenguas mas consegue
tambeacutem evidenciar com facilidade o que eacute herdado de um berccedilo linguiacutestico comum e o que eacute
oriundo de empreacutestimo de outra liacutengua
Consoante estudos recorrentes a linguiacutestica histoacuterica teve seu surgimento no final do
seacuteculo XVIII momento em que se comeccedilava a dar um cunho cientiacutefico agrave mudanccedila linguiacutestica
Natildeo se pode afirmar entretanto que natildeo houvesse uma preocupaccedilatildeo com a linguagem antes
desse periacuteodo haja vista que a criaccedilatildeo da biblioteca de Alexandria por exemplo demonstra
certo interesse pelo assunto pois indica que ao fazer a compilaccedilatildeo das obras antigas da literatura
grega Homero apresentava certa preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura e do passado de
uma eacutepoca
9 Para Aristoacuteteles a linguagem eacute definidora das relaccedilotildees humanas
48
No entanto foi no seacuteculo XVI com a Renascenccedila que houve um acentuado interesse
dos estudiosos pela histoacuteria cultural particularmente pela filologia momento da origem da
histoacuteria literaacuteria No Ocidente renascia o interesse pelo passado que remetia agrave antiguidade
greco-latina
A linguiacutestica histoacuterica consiste segundo Faraco (2006 p 13) em ldquoestudar as mudanccedilas
que ocorrem nas liacutenguas humanas agrave medida que o tempo passardquo A mudanccedila eacute definida como
processo pelo qual a liacutengua viva natildeo fica estagnada mas evolui acompanhando o
desenvolvimento da sociedade que a utiliza como instrumento de comunicaccedilatildeo pois ldquoonde haacute
mudanccedila deve haver histoacuteria do contraacuterio nosso conhecimento do fato permanece incompletordquo
(MAURER JR 1967 p 20)
Nesse contexto estabelece-se o que eacute mais natural a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade
porque uma acaba interferindo na mudanccedila da outra visto que
[] as liacutenguas humanas natildeo constituem realidades estaacuteticas ao contraacuterio sua
configuraccedilatildeo estrutural se altera continuamente no tempo E eacute essa dinacircmica
que constitui o objeto de estudo da linguiacutestica histoacuterica [] as liacutenguas mudam
mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos
necessaacuterios para a circulaccedilatildeo dos significados (FARACO 2006 p 14)
As mudanccedilas natildeo satildeo apenas de ordem lexicais por certo as estruturas gramaticais o
modo de produzir os sons e o significado das palavras se alteram com o tempo bem como novas
palavras surgem para expressar objetos e coisas que satildeo criados Eacute possiacutevel observar ainda que
palavras caem em desuso provocando consequentemente alteraccedilotildees no leacutexico de dada liacutengua
jaacute que
Os estudos de Linguiacutestica Histoacuterica comprovam que as liacutenguas humanas se
transformam no fluxo do tempo ou seja palavras e estruturas que existiam
antes deixam de existir ou sofrem modificaccedilotildees na forma na funccedilatildeo eou no
significado Apesar das transformaccedilotildees sofridas as liacutenguas mudam mas
continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos necessaacuterios
que garantem uma comunicaccedilatildeo eficaz pois as mudanccedilas ocorrem em partes
e natildeo no todo das liacutenguas num processo de mutaccedilatildeo e permanecircncia
(SIQUEIRA AGUIAR 2011 p 385 grifos das autoras)
A linguiacutestica histoacuterica pode ser estudada em duas fases a de 1800 e a poacutes 1900 No
seacuteculo XIX surgiram meacutetodos de abordagem para se estudar as liacutenguas suas combinaccedilotildees
identidade (gecircnese) diferenccedilas (mudanccedilas) Segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 18) ldquoa tradiccedilatildeo
oitocentista portanto recorta descreve e explica os fenocircmenos da linguagem do ponto de vista
do binocircmio gecircnese-evoluccedilatildeordquo
49
O poacutes 1900 partiu da observaccedilatildeo da diacronia e sincronia Com o advento do
estruturalismo de Ferdinand Saussure (2008) no seacuteculo XX a linguiacutestica moderna trouxe como
proposta que o objeto da linguiacutestica ndash a liacutengua ndash pudesse ser estudado separadamente do efeito
tempo (PAIXAtildeO DE SOUSA 2006) Como divisor desse momento na segunda metade poacutes
1900 o objeto da linguiacutestica eacute de ordem bioloacutegica ndash a diacronia estaacute imanente agrave liacutengua pois
de acordo com esta corrente linguiacutestica eacute na liacutengua que reside a heterogeneidade a mudanccedila e
a variaccedilatildeo
Segundo Faraco (2006 p 91) as liacutenguas estatildeo inseridas em um processo de fluxo
temporal de mutabilidade ldquoaparecimentosrdquo e ldquodesaparecimentosrdquo ldquoconservaccedilatildeordquo e
ldquoinovaccedilatildeordquo As liacutenguas tecircm histoacuteria revelam e constituem a todo tempo a realidade e as
transformaccedilotildees ocorridas comno tempo Em relaccedilatildeo a isso
Humboldt convencia-se de que toda liacutengua reflete a psique do povo que a fala
Eacute o resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal
de fala Ele acha por outro lado que a liacutengua de um povo eacute o canal natural
pelo qual aquele povo chega a uma compreensatildeo do universo que circunda o
homem E conclui que existe uma profunda influecircncia de uma liacutengua na
maneira pela qual seus falantes veem e organizam o mundo dos objetos em
torno deles e de sua vida espiritual (CAMARA JR 1975 p 38-39)
A liacutengua eacute um ldquoinstrumentordquo social e estaacute carregada de significaccedilatildeo e considerados
espaccedilo e tempo eacute capaz de revelar o mundo a outros mundos Faraco (2006) faz ainda referecircncia
ao estudo do leacutexico ao reafirmar que a composiccedilatildeo deste pode ser estudada historicamente na
sua origem bem como os empreacutestimos que satildeo feitos de outras liacutenguas Necessaacuterio se faz
reconhecer que o leacutexico eacute uma unidade carregada da histoacuteria cultural de dada comunidade
linguiacutestica natildeo esquecendo conforme Faraco (2006 p 42) que ldquoeacute um dos pontos em que mais
claramente se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e culturardquo
Com o advento estruturalista de Saussure (2008) haacute uma mudanccedila de perspectiva a
visatildeo diacrocircnica dos fatos linguiacutesticos daacute lugar ao enfoque sincrocircnico dos fenocircmenos da
linguagem Eacute preciso observar que consoante a diretriz saussuriana a anaacutelise sincrocircnica
precede a diacrocircnica sendo possiacutevel fazer comparaccedilatildeo entre elas no momento em que tiver a
descriccedilatildeo de pelo menos dois estados da liacutengua Daiacute reforccedilar-se o objetivo do estudo em
descrever sincronicamente um dado especiacutefico da histoacuteria da liacutengua Faraco (2006 p 120)
afirma que ldquoo estudioso se fixa num momento do passado e tomando-o estaticamente
descreve-o com base nos documentos escritos de que se dispotildee criando assim condiccedilotildees para
um posterior estudo diacrocircnicordquo
50
A par disso conveacutem mencionar que nos seacuteculos XVII e XVIII estudos linguiacutesticos
hegemocircnicos observavam a liacutengua como uma realidade estaacutevel diferentemente do pensamento
linguiacutestico do seacuteculo XIX que considerava a liacutengua como uma realidade em transformaccedilatildeo
Desta forma Saussure (2008) estabeleceu duas dimensotildees uma histoacuterica (chamada diacrocircnica)
que tem como centro de suas atenccedilotildees as mudanccedilas porque passa a liacutengua no tempo ou seja a
mutabilidade da liacutengua no tempo a outra eacute estaacutetica (chamada sincrocircnica) que entende a liacutengua
como um sistema estaacutevel num espaccedilo de tempo aparentemente fixo isto eacute a sua imutabilidade
Mas
Diante dos termos sincroniadiacronia natildeo basta apenas entender por alto a
que se referem Eacute preciso antes perceber que essa divisatildeo pressupotildee tambeacutem
na sua origem uma concepccedilatildeo homogeneizante da liacutengua que ndash apesar de sua
indiscutiacutevel funcionalidade e fertilidade para a linguiacutestica contemporacircnea ndash eacute
para muitos estudiosos uma idealizaccedilatildeo excessiva por criar um objeto de
estudo demasiadamente afastado da heterogeneidade linguiacutestica do real
(FARACO 2006 p 106 grifos do autor)
Segundo Faraco (2006) Coseriu em seu livro Sincronia diacronia e histoacuteria de 1973
posiciona-se de forma contraacuteria agrave formulaccedilatildeo de Saussure (2008) (visatildeo estaacutetica de sistema)
pois para ele a liacutengua deve ser vista em permanente sistematizaccedilatildeo em movimento Coseriu
rejeita a ideia de que a descriccedilatildeo (sincronia) e a histoacuteria (diacronia) sejam estudos diferenciados
mas assume a visatildeo de que as liacutenguas satildeo objetos histoacutericos e devem ser estudadas de forma
integrada envolvendo descriccedilatildeo e histoacuteria
Para Rocha Galvatildeo e Gonccedilalves (2011 p 30) ldquoestabelecer a presenccedila ou a viagem das
palavras eacute acompanhar o envolver das proacuteprias comunidades pelo tempo aforardquo Um recorte
sincrocircnico natildeo deve desprezar a interpretaccedilatildeo diacrocircnica o interesse cientiacutefico natildeo estaacute presente
somente num espaccedilo-tempo assim como a representatividade histoacuterica necessita admitir pontos
exatos na representaccedilatildeo da vivecircncia humana
No segundo capiacutetulo apresenta-se uma breve revisatildeo dos meacutetodos de pesquisa que
podem ser combinados com a teoria onomaacutestico-toponiacutemica a fim de compor um quadro
ilustrativo das caracteriacutesticas do meio da cultura dos fatos histoacutericos e dos estados anteriores
da liacutengua que estatildeo de alguma forma impressos na motivaccedilatildeo que subjaz aos topocircnimos em
questatildeo
51
II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS
O povo ldquosenhor dos espaccedilos puacuteblicosrdquo por vezes
adota criteacuterio proacuteprio ao conferir nomes aos
lugares
(IBGE 2008)
A linguagem humana eacute sobretudo interaccedilatildeo e natildeo pode pois ser explicada apenas em
termos de sua estrutura semacircntica e formal mas tambeacutem deve-se analisaacute-la em sua funccedilatildeo
social Desta forma o desenvolvimento linguiacutestico e intelectual do indiviacuteduo caminham juntos
pois ambos satildeo a base da abstraccedilatildeo e categorizaccedilatildeo pois ldquotoda liacutengua reflete as condiccedilotildees da
sociedade e do ciacuterculo cultural que se falardquo (ANDRADE 2010 p 99)
Aspectos linguiacutesticos de diversas ordens satildeo fundamentais para o estudo toponiacutemico jaacute
que eacute por mecanismos linguiacutesticos que o signo comum transmuta-se em designativo de lugar
revelando a identidade do nomeador coletivo ou natildeo Desta maneira ldquoo topocircnimo eacute o resultado
da accedilatildeo do nomeador ao realizar um recorte no plano das significaccedilotildees representaccedilotildees ou seja
praticar um papel de registro no momento vivido pela comunidaderdquo (ANDRADE 2010 p
106)
Acolher uma orientaccedilatildeo ou outra acarreta outrossim na escolha do meacutetodo a ser utilizado
para a pesquisa linguiacutestico-histoacuterica Para situar a escolha por um meacutetodo este capiacutetulo faz uma
breve exposiccedilatildeo de alguns meacutetodos que tecircm sido empregados em pesquisas de abordagem
similar a esta em especial descrevemos detalhadamente os que satildeo usados nesta pesquisa os
quais consideram natildeo somente os aspectos linguiacutesticos bem como os histoacutericos e socioculturais
do lugar indo ao encontro da perspectiva adotada para este trabalho
21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos
Natildeo se deve confundir metodologia com meacutetodo de pesquisa Segundo Silva e Silveira
(2007 p 145) a metodologia consiste de um conjunto de criteacuterios usados para se construir um
conhecimento vaacutelido seguro e de certa forma verdadeiro Jaacute os meacutetodos de pesquisa podem
ser definidos como ldquoprinciacutepios e procedimentos aplicados para construccedilatildeo do saberrdquo Os autores
salientam que se torna mais difiacutecil ficar preso a um uacutenico meacutetodo quando se pode lanccedilar matildeo
do ldquopluralismo metodoloacutegicordquo Deste modo considerando as especificidades de um estudo
toponiacutemico eacute possiacutevel conjugar meacutetodos de forma ordenada e loacutegica Isto quer dizer que se
52
podem utilizar meacutetodos de abordagem (indutivo dedutivo dialeacutetico) em consonacircncia com os
preceitos de um ou mais meacutetodos de procedimento (funcionalista comparativo
fenomenoloacutegico estruturalista)
Uma perspectiva histoacuterica por exemplo abre um amplo espectro de possibilidades de
se estudar um determinado fato linguiacutestico Podem ser citadas diversas maneiras para se tomar
os fenocircmenos linguiacutesticos do ponto de vista histoacuterico tais como a filologia centrada nos
aspectos histoacutericos das transformaccedilotildees a linguiacutestica comparada que aborda os fatos por meio
de comparaccedilotildees entre as liacutenguas de grupos linguiacutesticos relacionados e a etimologia a qual
busca desvendar o significado de origem das palavras aqui centra-se o nosso objeto de estudo
que eacute descrever e analisar a origemetimologia dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua de Pires do
Rio-GO
Os meacutetodos linguiacutesticos podem ainda estudar as transformaccedilotildees linguiacutesticas
correlacionando-as ao contexto sociocultural o que tem contribuiacutedo grandemente para uma
renovaccedilatildeo das abordagens do fenocircmeno da mudanccedila linguiacutestica resultando em inuacutemeras outras
orientaccedilotildees teoacutericas que em certo sentido podem ser vistas como herdeiras dos primeiros
criacuteticos dos estudos comparativos
A linguiacutestica tem a liacutengua como seu principal objeto de estudo a qual eacute produto da
experiecircncia acumulada historicamente na cultura de uma sociedade A liacutengua eacute um fenocircmeno
social pois eacute produzida e determinada socialmente ademais eacute um importante siacutembolo da
identidade de um grupo E eacute no comportamento linguiacutestico de uma dada comunidade que se
reflete a busca de aprovaccedilatildeo social ou a acentuaccedilatildeo de diferenccedilas (COSERIU 1977) Eacute por
meio dela enfim que um indiviacuteduo adquire a cultura do lugar em que vive jaacute que
A funccedilatildeo baacutesica da Linguiacutestica eacute o estudo direto da lsquoliacutengua viva e faladarsquo por
observaccedilatildeo e anaacutelise objetiva de seus fenocircmenos postas de lado todas as
forccedilas e influecircncias que se manifestem muitas vezes atraveacutes dela e todos os
antecedentes que possam ter dado origem ao estado atual (MAURER JR
1967 p 30)
Observa-se na Linguiacutestica Geral de acordo com Maurer Jr (1967) a divisatildeo em dois
setores distintos poreacutem essenciais para compreensatildeo da linguagem a Linguiacutestica Descritiva
(sincrocircnica) que segundo o autor deve ser a base de todo estudo cientiacutefico porque eacute a partir
dela que aprendemos a linguagem em sua funccedilatildeo uacutenica e peculiar e a Linguiacutestica Histoacuterica
(diacrocircnica) que complementa e explica os fatos da primeira e tem uma funccedilatildeo importante no
estudo desse rico patrimocircnio cultural e humano a liacutengua
53
212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica
Para alguns estudiosos a linguiacutestica histoacuterica teve seu apogeu no seacuteculo XIX embora
outros afirmem que tenha ocorrido haacute tempos no Renascimento De acordo com Paixatildeo de
Sousa (2006 p 14)
[] a reflexatildeo linguiacutestica dos 1800 representa um marco divisor na histoacuteria
das histoacuterias do tempo e da linguagem por inaugurar uma concepccedilatildeo
inteiramente nova dos condicionantes dessa relaccedilatildeo e construir um novo
plano para sua anaacutelise Eacute antes de tudo na tentativa de se combinar a esfera
documental com a esfera experimental que aparecem os desdobramentos mais
interessantes dos estudos histoacutericos da liacutengua ao longo do seacuteculo XIX eles
buscaratildeo articular as duas esferas em um mesmo plano de anaacutelise construindo
a abordagem histoacuterico-comparada
Assim a linguiacutestica histoacuterica apoacutes o seacuteculo XIX cria um meacutetodo que permite
ldquocategorizar e justificar a identidade geneacutetica e a evoluccedilatildeo paralela de cada idioma em um grupo
aparentadordquo segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 16) O meacutetodo comparativo segundo Maurer
Jr (1967) busca comparar cuidadosamente formas apresentadas entre si de um grupo
distinguir a origem e estudar a diversificaccedilatildeo das liacutenguas para desvendar e recontar a histoacuteria
de cada liacutengua Ressalte-se que para Faraco (2006 p 125) esse meacutetodo teve sua estruturaccedilatildeo
ldquoao dar um tratamento sistemaacutetico agraves observadas semelhanccedilas entre liacutenguas distantes no espaccedilo
como o latim e o sacircnscritordquo E ainda
constitui um recurso inteligente e racional para a reconstruccedilatildeo de fatos que
dependem de testemunho em todo o terreno Tal como a Paleontologia a
Histoacuteria da Cultura e ateacute na investigaccedilatildeo do crime na Justiccedila esse meacutetodo
submete o testemunho a um estudo preliminar para avaliar seu isolamento sua
coerecircncia etc (MAURER JR 1967 p 31)
O meacutetodo comparativo se baseia na experimentaccedilatildeo (induccedilatildeo) procura descrever os
estaacutegios da liacutengua que natildeo deixaram registros (documentos) como eacute o caso do latim vulgar No
entanto se difere do histoacuterico-comparativo o qual usa documentos histoacutericos para fazer as suas
reconstruccedilotildees acerca da liacutengua Poreacutem ambos os meacutetodos buscam recuperar a histoacuteria da liacutengua
de forma cronoloacutegica
De acordo com Faraco (2006 p 134)
O meacutetodo comparativo eacute o procedimento central nos estudos de linguiacutestica
histoacuterica Eacute por meio dele que se estabelece o parentesco entre liacutenguas O
pressuposto de base eacute que entre elementos de liacutenguas aparentadas existem
54
correspondecircncias sistemaacuteticas (e natildeo apenas aleatoacuterias ou casuais) em termos
de estrutura gramatical correspondecircncias estas passiacuteveis de serem
estabelecidas por meio duma cuidadosa comparaccedilatildeo Com isso podemos natildeo
soacute explicitar o parentesco entre liacutenguas (isto eacute dizer se uma liacutengua pertence
ou natildeo a uma determinada famiacutelia) como tambeacutem determinar por inferecircncia
caracteriacutesticas da liacutengua ascendente comum de um certo conjunto de liacutenguas
No decorrer dos anos vaacuterios satildeo os estudiosos que contribuiacuteram com a formaccedilatildeo e o
aprimoramento do meacutetodo comparativo dentre eles destacamos Bopp (1791-1867) que
buscava estabelecer o parentesco entre as liacutenguas mas natildeo o percurso histoacuterico de um anterior
para um posterior Grimm (1785-1863) que ao estudar o ramo germacircnico das liacutenguas indo-
europeias pocircde estabelecer a sucessatildeo histoacuterica por meio de comparaccedilatildeo ndash comparativo
histoacuterico Rask (1787-1832) tambeacutem desenvolveu trabalhos comparativos importantes para o
momento envolvendo as liacutenguas noacuterdicas as demais liacutenguas germacircnicas o grego o latim o
lituano o eslavo e o armecircnio Foi a partir desses estudiosos que surgiu a ldquofilologia (ou
linguiacutestica) romacircnica nome que se deu ao estudo histoacuterico-comparativo das liacutenguas oriundas
do latimrdquo (FARACO 2006 p 137)
De tal modo da siacutentese que foi apresentada eacute possiacutevel tecer as seguintes consideraccedilotildees
o meacutetodo histoacuterico-comparativo em seu apogeu foi e ainda hoje eacute uacutetil aos estudos da Linguiacutestica
Histoacuterica principalmente no que concerne natildeo soacute agrave reconstruccedilatildeo de fases anteriores das liacutenguas
como tambeacutem eacute bastante indicado para estudos que objetivam a reconstruccedilatildeo interna de uma
liacutengua Esse meacutetodo cumpriu papel importante para o desvelamento de inuacutemeras questotildees
linguiacutesticas das liacutenguas antigas grego latim sacircnscrito
Jaacute os estudos dos neogramaacuteticos possibilitaram o aprimoramento do meacutetodo histoacuterico-
comparativo mediante a verificaccedilatildeo de que muitas mudanccedilas ocorridas nas liacutenguas em
momentos anteriores e registrados em documentos podem ser explicitadas por meio da
explanaccedilatildeo de mudanccedilas ldquosincrocircnicasrdquo sucedidas nas liacutenguas conforme as leis foneacuteticas e a
analogia
Conforme Cacircmara Jr (1975) Gaston Paris traccedilou mapas das linhas isogloacutessicas dando
os primeiros passos para a geografia linguiacutestica a qual na verdade foi efetivamente criada por
seu disciacutepulo suiacuteccedilo Jules Gillieacuteron que dedicou-se agrave dialetologia e no doutoramento em 1879
defendeu a tese sobre o dialeto de Vionnaz Essa nova teacutecnica ldquoteve como base teoacuterica o
conceito de dialeto como uma abstraccedilatildeo essa a razatildeo de focalizar cada mudanccedila linguiacutestica per
se como o verdadeiro dado linguiacutesticordquo (CAcircMARA JR 1975 p 121)
55
A geografia linguiacutestica10 segundo Cacircmara Jr (1975) eacute importante como uma nova
abordagem para o estudo histoacuterico-comparativo pois em vez de recorrer a textos antigos o
pesquisador busca apenas os aspectos contemporacircneos da liacutengua absorvendo as bases
linguiacutesticas no intercacircmbio oral Desta forma
Obteacutem-se uma corrente evolucionaacuteria pela comparaccedilatildeo das muitas variantes
de cada forma cuja distribuiccedilatildeo no espaccedilo pode ser traduzida numa
distribuiccedilatildeo atraveacutes do tempo de acordo com regras metodoloacutegicas O aspecto
foneacutetico da variante ou sua existecircncia num patois relativamente moderno ou
notaacutevel por traccedilos arcaicos constituem a chave para esta investigaccedilatildeo
histoacuterica Por essa razatildeo eacute que atraveacutes da geografia linguiacutestica uma nova
teacutecnica para o estudo histoacuterico da linguagem foi imaginada sob o tiacutetulo de
ldquoreconstruccedilatildeo internardquo (CAcircMARA JR 1975 p 125 grifos do autor)
Essa nova abordagem vem corroborar com os estudos da liacutengua porque de forma
efecircmera reconstroacutei a histoacuteria de uma dada liacutengua contribuindo com a contemporaneidade uma
vez que nos eacute necessaacuterio conhecer a base etimoloacutegica das palavras e depois justificar o seu uso
ou evoluccedilatildeo
Segundo Cacircmara Jr (1975) apoacutes observar que Gaston Paris traccedilou mapas das linhas
isogloacutessicas e Gillieacuterion criou a geografia linguiacutestica muitos anos depois os linguistas italianos
Giulio Bertoni e Matteo Bartoli criaram o meacutetodo de linguiacutestica areal cujo objetivo era
classificar aacutereas linguiacutesticas ndash de uma liacutengua ou grupo de liacutenguas ndash como forma de
representaccedilatildeo da contemporaneidade e do estaacutegio linguiacutestico de desenvolvimento Os
linguistas consoante Cacircmara Jr (1975 p 126) ldquodividiram um territoacuterio linguiacutestico em aacutereas
isoladas aacutereas laterais aacutereas principais e aacutereas desaparecidas (isto eacute aacutereas homogecircneas que
desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)rdquo e desta forma
difundiam mais um meacutetodo linguiacutestico
Destaca ainda que a linguiacutestica histoacuterica compreende dois momentos de exatidatildeo o
primeiro de 1786 a 1878 periacuteodo de formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do meacutetodo comparativo o qual
finalizou com o movimento dos neogramaacuteticos o segundo vai desde 1878 ateacute a
contemporaneidade periacuteodo de tensatildeo entre duas linhas interpretativas uma imanentista ndash
neogramaacutetico estruturalismo e gerativismo que vecirc a mudanccedila como acontecimento interno da
liacutengua e pela proacutepria liacutengua e a outra integrativa ndash primeiros criacuteticos neogramaacuteticos dialetologia
e sociolinguiacutestica cuja mudanccedila da liacutengua estaacute condicionada a fatores contextuais nos quais o
falante estaacute inserido
10 No Brasil a Geografia Linguiacutestica concretizou-se com a produccedilatildeo de Atlas Linguiacutesticos em diferentes Estados
brasileiros
56
Entre os seacuteculos XVIII e XIX ocorreram momentos de grande relevacircncia para a
linguiacutestica histoacuterica Um deles eacute a fundaccedilatildeo da Escola de Estudos Orientais em Paris
(importante centro de investigaccedilatildeo) no ano de 1975 onde estudaram os linguistas alematildees
Friedrich Schlegel (1772-1829) e Franz Bopp (1791-1867) os quais mais tarde desenvolveram
a chamada gramaacutetica comparativa
Assim em 1808 Friedrich Schlegel publicou um texto sobre a liacutengua e sabedoria dos
povos hindus que de acordo com Faraco (2006) eacute considerado o ponto de partida do
comparativismo alematildeo No texto o autor ratifica sobre o parentesco das liacutenguas sacircnscrita com
a latina grega germacircnica e persa
Cabe ainda salientar que os estudos histoacuterico-comparativos antes da uacuteltima metade do
seacuteculo XIX conheceram a obra de August Scheilcher (1821-1868) Sua teoria tomava a liacutengua
como um organismo vivo com existecircncia fora de seus falantes sendo sua histoacuteria vista como
natural devido agraves orientaccedilotildees naturalistas do linguista como sua formaccedilatildeo em botacircnica e
influenciado pela teoria evolucionista de Darwin (FARACO 2006)
Jaacute no seacuteculo XIX as investigaccedilotildees no campo da linguagem eram dominadas por ideias
positivistas que se desenvolviam conforme meacutetodos histoacuterico-comparativos eacutepoca em que se
formaliza o estudo sistemaacutetico das variaccedilotildees sobretudo as de natureza geograacutefica Surge o
interesse pelos dialetos considerados como fontes de conhecimento do modo como se teriam
operado as transformaccedilotildees em fases anteriores das liacutenguas A Geografia Linguiacutestica eacute uma
consequecircncia do interesse pelos estudos dialetais levados a cabo de iniacutecio por vaacuterios estudiosos
europeus Segundo Coseriu (1982) surge um meacutetodo dialetoloacutegico e comparativo que
pressupotildee o registro em mapas especiais de um nuacutemero relativamente elevado de formas
linguiacutesticas (focircnicas lexicais ou gramaticais) recolhidas mediante pesquisa direta e unitaacuteria
numa rede de pontos distribuiacuteda em determinado territoacuterio
Deste modo eacute necessaacuterio compreender que
A linguagem eacute inegavelmente uma heranccedila social cuja histoacuteria se estende
por seacuteculos Uma visatildeo completa um conhecimento detalhado de seu
mecanismo de sua estrutura de sua semacircntica e ateacute de sua ortografia soacute
podem ser obtidos atraveacutes da pesquisa diacrocircnica Os meacutetodos expostos
acima em suas linhas essenciais natildeo deixam duacutevida de que a filologia
romacircnica se desenvolveu com o meacutetodo histoacuterico-comparativo adotado com
mais ecircxito aqui do que no campo para o qual havia sido criado As possiacuteveis
deficiecircncias desse meacutetodo foram sendo corrigidas depois pela geografia
linguiacutestica e pelos outros meacutetodos derivados como a onomasiologia Woumlrter
und Sachen linguiacutestica espacial etc Enquanto o meacutetodo histoacuterico-
comparativo procura as ligaccedilotildees entre o ldquoterminus a quordquo e o ldquoterminus ad
quemrdquo o latim vulgar e as liacutenguas romacircnicas respectivamente os outros
57
meacutetodos tecircm como objeto especificamente o ldquoterminus ad quemrdquo pois
investigam sincronicamente aspectos atuais dessas mesmas liacutenguas cujas
explicaccedilotildees poreacutem devem ser buscadas diacronicamente (BASSETTO
2001 p 85 grifos do autor)
Para Faraco (2006 p 106) ldquooptar por uns ou por outros eacute que vai orientar nossa forma
de entender a mudanccedila linguiacutestica nossa seleccedilatildeo de dados nossas categorias e procedimentos
de anaacutelise nosso processo argumentativordquo Ou seja ao assumirmos uma concepccedilatildeo de base
correlata eacute o que iraacute definir o nosso meacutetodo de trabalho
22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia
Segundo Silva (2010) a onomasiologia eacute um meacutetodo que se constitui do estudo das
designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Pode ser
investigada toda a cultura popular de um local podendo-se priorizar os aspectos sincrocircnicos ou
histoacutericos Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores do que
subjaz agrave nomeaccedilatildeo dos lugares
Pode-se para efeito deste estudo traccedilar o esquema a seguir o qual demonstra as
possibilidades temaacuteticas que esse tipo de pesquisa pode apresentar
Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos
Onomaacutestica
Toponiacutemia Antroponiacutemia
Modalidades Coleta
Imagens mapas cartas e plantas
Documental Texto iacutendicesrepertoacuterio de nomes
Ficcional Natildeo ficcional
Pesquisa de campo Entrevistas etnografia
Mista Documental e Pesquisa de campo
Fonte Adaptado de material da USP ndash Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas 2016
58
A onomasiologia eacute o resultado das tendecircncias mais significativas da evoluccedilatildeo linguiacutestica
na transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX em que a centralidade das investigaccedilotildees passam
do som (foneacutetica) para a palavra (lexicologia) O seu triunfo se deu a partir do desenvolvimento
da Geografia Linguiacutestica pois com o aparecimento de inuacutemeros termos regionais recolhidos
pelos inqueacuteritos linguiacutesticos surgiu a necessidade de um novo meacutetodo que auxiliasse os
dialetoacutelogos a compreenderem o homem regional em sua amplitude por meio da linguagem
Apoacutes a publicaccedilatildeo dos atlas linguiacutesticos a onomasiologia comeccedila a ser utilizada em
vaacuterios estudos jaacute que pelo seu uso eacute possiacutevel caracterizar as atividades de uma regiatildeo e situaacute-
las no tempo Segundo Couto (2012 p 186) ldquoa onomasiologia vecirc a questatildeo da referecircncia para
usar um termo semioacutetico partindo da coisa e indo na direccedilatildeo do nome que ela receberdquo Desta
forma ldquoo meacutetodo onomasioloacutegico permite ver a cultura do povo cuja liacutengua se estuda
costumes ocupaccedilotildees instrumental crenccedilas e crendices moradia enfim sua mundividecircncia
Permite sentir a linguagem viva traduzindo a vivecircncia cultural do povordquo (BASSETO 2001 p
77)
Ressalta-se que
Com pontos em comum com a Geografia Linguiacutestica e ldquoPalavras e Coisasrdquo o
meacutetodo onomasioloacutegico tambeacutem conhecido como onomasiologia isto eacute o
estudo das denominaccedilotildees se propotildee investigar os vaacuterios nomes atribuiacutedos a
um objeto animal planta conceito etc individualmente ou em grupo dentro
de um ou vaacuterios domiacutenios linguiacutesticos Seus objetivos satildeo portanto
semacircnticos e lexicoloacutegicos buscando descobrir os aspectos vivos e as forccedilas
criadoras da linguagem (BASSETO 2001 p 76)
O meacutetodo onomasioloacutegico natildeo ficou a cargo apenas de um pesquisador mas de vaacuterios
pois seus princiacutepios se desenvolveram aos poucos Conforme Bassetto (2001) temos como
predecessores da onomasiologia moderna F Brinkmann (1872) Luigi Morandi (1883)
Friedrich Diez (1875) Fr Pott (1853) Jakob Grimm (1853) e F Miklosich (1868) Todavia o
princiacutepio da onomasiologia cientiacutefica deu-se com Carlo Salvioni (1858-1920) quando estudou
sobre as denominaccedilotildees italianas do vaga-lume (1892) e com Ernest Toppolet (1870-1939) que
referendou em seus estudos o parentesco dos nomes romacircnicos por ele denominados de
ldquolexicologia cientiacuteficardquo
As pesquisas desenvolvidas na aacuterea da onomaacutestica se constituem em uma linha
documental ou de campo seguindo um meacutetodo pelo qual se selecionam observam registram
classificam analisam e interpretam os dados de acordo com a identificaccedilatildeo dos fatores
59
determinantes agrave configuraccedilatildeo dos corpora Essas anaacutelises de dados satildeo baseadas em trecircs
categorias linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica que satildeo reveladas pelo meacutetodo onomasioloacutegico
Segundo Ramos e Bastos (2010) as trecircs perspectivas ndash linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica
ndash satildeo cruciais para revelar as seguintes caracteriacutesticas a) a determinaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica das
diferentes liacutenguas que tenham existido ou existentes num determinado territoacuterio b) o estudo
das terminaccedilotildees caracteriacutesticas de cada palavra c) o estudo das formas gramaticais d) o estudo
da foneacutetica histoacuterica e) a verificaccedilatildeo das formas documentadas as quais se subdividem em ndash
comparaccedilatildeo semacircntica a abordagem dos dados geograacuteficos e a abordagem dos dados histoacutericos
Cabe ainda indicar em linhas gerais algumas concepccedilotildees do meacutetodo Woumlrter und
Sachen de Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) o qual conforme
Bassetto (2001) tem pontos em comum que compartilha com o meacutetodo onomasioloacutegico Visa
ao estudo das questotildees semacircnticas das palavras enfatizando a realidade que elas designam
porque para os estudiosos dessa linha de pensamento a verdadeira etimologia da palavra
encontra-se no conhecimento dessa realidade Procura instruir sobre a necessidade de conhecer
sempre que possiacutevel o objeto designado por um termo para que o significado possa ser
devidamente explicitado Quando se conhece a realidade a natureza a forma o uso as medidas
das coisas do mundo eacute possiacutevel estabelecer a origem e a histoacuteria das palavras com que esses
mesmos objetos foram designados
Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) foram precursores desse
meacutetodo ao considerarem que as coisas existem antes de serem denominadas ou seja as coisas
preexistem agraves suas designaccedilotildees podendo ateacute existir sem que sejam nomeadas Em
contrapartida as palavras dependem das ldquocoisasrdquo estatildeo ligadas a elas Com essa perspectiva
Schuchardt (mais do que Meringer) remete ao meacutetodo Woumlrter und Sachen ldquoPalavras e Coisasrdquo
cujo tiacutetulo instituiu o nome do meacutetodo
No entanto conveacutem salientar que jaacute na gramaacutetica grega estava impliacutecita a ideia de que
as coisas precedem as palavras Em outros termos quando se conhece em profundidade a
ldquocoisardquo chega-se ao ldquoeacutetimordquo da palavra que a nomeia alcanccedila-se o significado com que a coisa
foi primeiramente designada Menciona-se que para Schuchardt (apud BASSETO 2013)
Sachen (coisa) significava qualquer realidade i eacute ldquoSachenrdquo podia se referir tanto a
acontecimentos e estados como a objetos ao real e ao irreal ao tangiacutevel11 e ao intangiacutevel ou
em outras palavras tanto a coisas do mundo sensiacutevel como do insensiacutevel
11 ldquoTangiacutevelrdquo do latim tangere tangens lsquotocar aquilo que tocarsquo do mesmo eacutetimo de attingere lsquoaproximar-se e
tocarrsquo
60
O meacutetodo Woumlrter und Sachen (Palavras e Coisas) segundo Campbell (2004) relaciona-
se agraves inferecircncias histoacuterico-culturais que podem ser reveladas por meio da investigaccedilatildeo das
palavras pautadas na sua analisabilidade Campbell (2004) assume que as palavras que satildeo
analisadas em partes transparentes (vaacuterios morfemas) podem ser de criaccedilatildeo mais recente (na
liacutengua) em relaccedilatildeo agraves palavras que natildeo apresentam essa transparecircncia morfecircmica
Essa teacutecnica contribui sobremaneira para traccedilar uma cronologia aproximativa dos
vocabulaacuterios Dias (2016 p31) acentua que
Sobretudo supotildee-se que itens culturais denominados por termos analisaacuteveis
satildeo tambeacutem adquiridos mais recentemente pelos falantes e aqueles que satildeo
expressos por palavras natildeo analisaacuteveis representam itens mais velhos e
instituiccedilotildees Outra estrateacutegia desse meacutetodo envolve fazer inferecircncias por meio
de informaccedilotildees de itens culturais de quem os nomes sofreram visivelmente
mudanccedila de significado
E para Crowly (2003) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo pode ser usado para fazer
reconstruccedilatildeo cultural e chegar ao conteuacutedo de uma protocultura por exemplo jaacute que se eacute
possiacutevel reconstruir uma palavra designativa de alguma coisa na protoliacutengua eacute possiacutevel tambeacutem
supor que a coisa a que ela se refere provavelmente foi de importacircncia cultural na vida dos
seus falantes ou que foi ambientalmente marcante Segundo o autor o meacutetodo pode tambeacutem
dizer muito sobre a terra natal de uma famiacutelia linguiacutestica pode-se ainda por meio do referido
meacutetodo fazer suposiccedilotildees sobre as rotas legiacutetimas seguidas pelos povos para se chegar aos
lugares onde se encontram atualmente12
Destarte segundo Bassetto (2013) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo deu destaque agrave
semacircntica ao estabelecer a etimologia e ateacute a biografia das palavras aleacutem de tornar os estudos
filoloacutegicos mais objetivos Posto isso eacute possiacutevel verificar que o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo
pode ser usado nos estudos semacircnticos lexicais onomaacutesticos toponiacutemicos Quando se busca
relacionar a histoacuteria do nome com a histoacuteria do lugar vincula-se a palavra (o nome) agrave coisa (o
lugar) Nesse sentido pode-se de alguma maneira realizar o estudo natildeo apenas pautado no
meacutetodo onomasioloacutegico mas tambeacutem considerando as intrincadas relaccedilotildees entre nomes e as
coisas do mundo
Cabe ressaltar
Assim como procedimento metodoloacutegico seguido nos estudos
toponomaacutesticos buscamos definir o jaacute definido ou seja o objeto de estudo da
disciplina o seu campo de trabalho especiacuteficos a natureza linguiacutestica da
12 Por exemplo os caminhos que levaram (trouxeram) os bandeirantes agraves terras do iacutendio goyaacute
61
anaacutelise em termos de vinculaccedilatildeo a uma aacuterea do conhecimento Partindo-se da
definiccedilatildeo etimoloacutegica dos elementos gramaticais de origem grega enunciados
por Dioniacutesio de Traacutecia no seacuteculo II a C a Toponiacutemia ficou-se como propocircs
Leite de Vasconcelos (1887) no entendimento dos nomes proacuteprios de lugares
distintos dos nomes comuns delimitados pela teoria da linguagem (DICK
2006 p 96)
A toponomaacutestica entatildeo fundamenta-se nos estudos dos nomes proacuteprios de lugares
estabelecendo relaccedilotildees da liacutengua com o ambiente sendo de extrema necessidade observar os
viacutenculos do nomeador com a coisa nomeada a motivaccedilatildeo que subjaz ao topocircnimo
O meacutetodo da Geografia Linguiacutestica com a concepccedilatildeo basilar de que a distribuiccedilatildeo
geograacutefica dos aglomerados populacionais se reflete na diferenciaccedilatildeo linguiacutestica trouxe grande
contribuiccedilatildeo para o estudo dos nomes em geral pois pode refletir tendecircncias que orientaram o
ato de nomeaccedilatildeo tanto de pessoas como de lugares
Sobre o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo cabe apenas repetir que por enfatizar o aspecto
semacircntico das palavras vinculado agrave realidade que elas denominam contribui com o estudo dos
nomes jaacute que parte do princiacutepio de que as palavras se acham ligadas agraves coisas que elas
designam Uma vez conhecendo a natureza das coisas chega-se na verdadeira etimologia da
palavra contribuiccedilatildeo essa que valoriza a cultura e a histoacuteria das comunidades vendo no ser
humano o sujeito das transformaccedilotildees que ocorrem nas liacutenguas e na cultura
Posto isso considera-se mais uma vez que a onomasiologia busca investigar como uma
noccedilatildeo ou conceito eacute nomeado na liacutengua tendo sempre em mente que quem daacute nome agraves coisas
satildeo os falantes e o fazem em decorrecircncia da cosmovisatildeo de seu grupo O meacutetodo
onomasioloacutegico permite que a cultura do povo pesquisado seja revelada
Entretanto a despeito das contribuiccedilotildees que cada um trouxe para os estudos linguiacutesticos
nenhum desses meacutetodos foi suficiente teoricamente para deslindar os inuacutemeros aspectos que
permeiam o ato de nomeaccedilatildeo o que implica dizer que o mais sensato eacute combinar o que cada
meacutetodo apresenta de mais satisfatoacuterio referentemente ao problema que se pretende resolver o
que requer tambeacutem adaptaccedilotildees e revisotildees constantes de um ou de outro ou ainda da combinaccedilatildeo
deles
Considera-se entatildeo
os aspectos pelos quais entendemos a disciplina como conhecimento
cientiacutefico saber construiacutedo como objeto campo de trabalho e pesquisa
demarcados apesar disto manteacutem-se em intersecccedilatildeo a outros campos sem
perder sua identidade A metodologia que emprega em seus levantamentos eacute
de origem indutivo-dedutiva de acordo com os procedimentos
62
onomasioloacutegico-semasioloacutegicos caracteriacutesticos da pesquisa do leacutexico (DICK
2006 p 98)
E no que tange agrave metodologia aos procedimentos de pesquisa propriamente ditos
segundo Dick (1996) que podem ser aplicados nos estudos toponiacutemicos devem se estabelecer
da seguinte forma a) seleccedilatildeo de fontes primaacuterias (cartas geograacuteficas editadas por oacutergatildeos oficiais
estaduais e municipais em escalas de 150000 ou 1100000 ou listas toponiacutemicas oficiais) e
complementaccedilatildeo a partir de fontes secundaacuterias (trabalhos historiograacuteficos da proacutepria
comunidade acerca do local onde vivem) b) registro dos dados em fichas lexicograacuteficas
padronizadas com a identificaccedilatildeo dos nomes do pesquisador e do revisor fontes e data de
coleta c) anaacutelise de dados que inclui a quantificaccedilatildeo dos nomes e das taxonomias analisando
a maior ou menor frequecircncia de classes ou itens lexicais e do estudo dos nomes a partir de um
enfoque puramente linguiacutestico (etimoloacutegico e estrutural) linguiacutestico-histoacuterico e variacionista
Desta forma a metodologia para este trabalho baseia-se em Dick (1996 2006) e por
conseguinte estabelece relaccedilotildees com as demais pesquisas na aacuterea da toponomaacutestica De acordo
com a autora ldquoTrata-se de modelo semacircntico-motivador das ocorrecircncias toponomaacutesticas que
conformam a realidade designativa da nomenclatura geograacutefica oficial do paiacutesrdquo (Dick 2006 p
104) As taxionomias satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise linguiacutestica do topocircnimo e hoje
se dividem em vinte sete taxes pela importacircncia na ldquoanaacutelise linguiacutestica ou casual dos motivos
determinantes das designaccedilotildees integram as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas em um campo
funcional especiacuteficordquo (Dick 2006 p 106) E a partir destas fichas busca-se a identificaccedilatildeo do
topocircnimo e computar as categorizaccedilotildees motivadoras do designativo
A metodologia de pesquisa aqui proposta se caracteriza por ser de natureza documental
(documentos analoacutegicos eou digitais como as cartas topograacuteficas e levantamento histoacuterico
geograacutefico por meio do Instituto Mauro Borges IBGE e de mapas do municiacutepio de Pires do
Rio-GO) e de abordagem qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a
constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos
puacuteblicos e no levantamento histoacuterico-geograacutefico Os procedimentos consistem na
sistematizaccedilatildeo de leituras documentais e de investigaccedilatildeo de campo o que os vincula agrave induccedilatildeo
e seguem os meacutetodos etnolinguiacutesticos
O percurso apresentado por Dick (1990) isto eacute pautado na induccedilatildeo desenvolveu-se por
meio do plano onomasioloacutegico de investigaccedilatildeo em que a partir de um conceito geneacuterico se
identificam as variaacuteveis possiacuteveis das fontes consultadas Nos registros municipais constam os
63
nomes atuais e os nomes anteriores (quando houve mudanccedilas) dos lugares de toda regiatildeo
municipal Estes e os mapas constituem as fontes primaacuterias desta pesquisa pois
O percurso do fazer onomasioloacutegico e o percurso da produccedilatildeo de significaccedilatildeo
se inserem em direccedilotildees diferentes o fazer interpretativo perfaz um processo
semasioloacutegico por outro lado o fazer onomasioloacutegico eacute uma unidade
conceitual enquanto a definiccedilatildeo eacute o percurso do fazer lexicograacutefico
Entretanto ao conceituar eacute necessaacuterio construir um modelo mental que em
primeira instacircncia corresponda a um recorte cultural para a escolha da
estrutura lexical que melhor pode manifestar a percepccedilatildeo bioloacutegica do fato
que se completa ao analisar e descrever o semema linguiacutestico para reconstruir
esse modelo mental a partir de uma estrutura linguiacutestica manifestada
Ressalta-se o caraacuteter pluridisciplinar do signo toponiacutemico jaacute que por meio
dele pode-se conhecer a histoacuteria dos grupos humanos que viveram (e vivem)
nos limites geograacuteficos de Goiaacutes as especificidades da cultura e do ambiente
do povo o denominador as relaccedilotildees estabelecidas entre os aglomerados
humanos e o ecossistema as caracteriacutesticas fiacutesico geograacuteficas da regiatildeo
(geomorfologia) estratos linguiacutesticos de origem diferente do uso hodierno da
liacutengua ou mesmo de liacutenguas jaacute desaparecidas para se conhecer as motivaccedilotildees
subjacentes aos respectivos topocircnimos (SIQUEIRA 2015 mimeografado)
Para este estudo utilizaram-se inicialmente as Folhas Topograacuteficas editadas pela DSG
(Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito) na escala de 1100 000 Folhas Pires do Rio
SE-22-X-D-III Ipameri SE-22-X-D-VI e Cristianoacutepolis SE-22-X-D-II de 1973 para
identificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio juntamente com o mapa da rede hidrograacutefica do
municiacutepio de Pires do Rio-GO pois satildeo ldquoinstrumentos metodoloacutegicos haacutebeis para o estudo
onomaacutestico a documentaccedilatildeo cartograacutefica referida e a arquivologia que se posicionam como fontes
idocircneas para o estabelecimento das etapas relativas agrave desconstruccedilatildeo e agrave recriaccedilatildeo dos proacuteprios dadosrdquo
(DICK 1999 p 11)
O uso de mapas torna o trabalho relevante jaacute que eles satildeo elementos de comunicaccedilatildeo
visual os quais pertencem agrave linguagem Eles contemplam ainda a aacuterea tecnoloacutegica pois a sua
construccedilatildeo se daacute por meio da utilizaccedilatildeo de equipamentos programas e sites os quais tambeacutem
satildeo utilizados por noacutes para cartografar mapas juntamente com as taxes dos topocircnimos dos
cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO assim
Tomar o mapa como corpus permite tomar tambeacutem a questatildeo da relaccedilatildeo dos
nomes no seu conjunto e sua distribuiccedilatildeo no espaccedilo urbano Pode-se entatildeo
refletir como algo proacuteprio do corpus em anaacutelise sobre a questatildeo da nomeaccedilatildeo
dos espaccedilos da cidade bem como o modo de distribuiccedilatildeo dos nomes pelos
espaccedilos historicamente constituiacutedos (GUIMARAtildeES 2005 p 43)
Tradicionalmente entendidos como uma representaccedilatildeo simboacutelica dos contornos de uma
paisagem fiacutesica ou urbana os mapas se caracterizam por permitirem dois planos de
64
interpretaccedilatildeo o ldquoverbalrdquo expresso nos nomes dos elementos e o ldquonatildeo-verbalrdquo caracterizado
por siacutembolos convencionais distintos segundo a natureza do elemento mapeado (cursos drsquoaacutegua
caminhos serras rodovias estradas vicinais ferrovias vilas povoados cidades)
A propoacutesito
Se o meacutetodo empregado na Toponiacutemia como dissemos eacute aquele da
investigaccedilatildeo do pormenor toacutepico-nominal apreendido no registro das cartas
geograacuteficas (base documental) ou como variaccedilatildeo no exame do terreno ou do
objeto pelo proacuteprio pesquisador o material resultante na maioria das vezes
eacute de origem descontiacutenua e fragmentaacuteria A sequecircncia loacutegica dos termos areais
deve ser buscada o que exige cuidados de intepretaccedilatildeo e reflexatildeo para que
todo esse organismo construiacutedo coletiva ou individualmente em momentos
histoacutericos distintos venha a se construir em material de anaacutelise vaacutelido do
ponto de vista linguiacutestico (DICK 2006 p 99-100)
Desta forma dos 46 (quarenta e seis) topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de
Pires do Rio-GO (coacuterregos ribeirotildees rios e quedas drsquoaacutegua) por noacutes elencados na pesquisa
apenas 15 topocircnimos ndash por razotildees especiacuteficas que seratildeo relatadas no quarto capiacutetulo ndash seratildeo
catalogados em fichas conforme modelo desenvolvido por Dick (2004) Posteriormente
realizaremos as anaacutelises morfoloacutegicas e a classificaccedilatildeo semacircntico-motivacional e toponiacutemica
propriamente dita
O preenchimento das fichas lexicograacuteficas ndash que identificam o elemento designado as
entradas lexicais o pesquisador o revisor e as fontes da coleta ndash eacute a etapa inicial de um conjunto
de fases posteriores que integram o projeto
As etapas da pesquisa foram dividas da seguinte forma a) levantamento dos dados para
construir o corpus e a aquisiccedilatildeo das cartas Topograacuteficas do municiacutepio de Pires do Rio-GO b)
levantamento dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua registrados nas folhas topograacuteficas c) anaacutelise
e reconhecimento dos aspectos ambientais culturais dos designativos nos diferentes topocircnimos
observados e posteriormente cartografados d) investigaccedilatildeo dos provaacuteveis fatores
motivacionais inerentes aos sintagmas toponiacutemicos e) classificaccedilatildeo das taxionomias a partir do
recorte epistemoloacutegico dos dados coletados f) distribuiccedilatildeo quantitativa dos topocircnimos de
acordo com a natureza toponiacutemica (fiacutesica ou antropocultural) g) estudo linguiacutestico dos
sintagmas toponiacutemicos ndash origemetimologia estruturas semacircntica e morfoloacutegica
Por meio da categorizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico
histoacuterico-criacutetico que foi o norte de nossa pesquisa de certa forma revela-se que o topocircnimo foi
determinado pela populaccedilatildeo anterior ou pela presenccedila de imigrados no local o que faz-nos
perceber que as palavras natildeo apenas comunicam o que se quer dizer mas acusam a Histoacuteria
daquilo que foi dito por necessidades dinacircmicas das pessoas repassadas pela tradiccedilatildeo cultural
65
O proacuteximo capiacutetulo apresenta em linhas gerais um pouco da histoacuteria desse lugar que
abriga 46 cursos drsquoaacutegua e inclusive teve seu primeiro nome devido agrave exuberacircncia do reflexo da
lua cheia nas aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute A ldquoTeteia do Corumbaacuterdquo de antes deu lugar ao
municiacutepio nascido dos caminhos abertos pelos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz laacute pelos idos
de 1922
66
III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO
A cidade eacute por si mesma depositaacuteria de
histoacuteria
(ROSSI 1998)
Este capiacutetulo traz uma apresentaccedilatildeo dos dados histoacutericos referentes agrave fundaccedilatildeo e ao
posterior desenvolvimento social e urbano do municiacutepio de Pires do Rio-GO criado em
decorrecircncia da expansatildeo da Estrada de Ferro Goyaz pelo cerrado goiano As informaccedilotildees aqui
revisitadas integram obras de estudiosos como Siqueira (2006) Ferreira (1999) Borges
(1990) Soares (1988) que se detiveram por alguma razatildeo no esclarecimento de controveacutersia
acerca principalmente do verdadeiro fundador do municiacutepio e de fatos que antecederam a
inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo feacuterrea no ano de 1922
31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte
No iniacutecio do seacuteculo XX a Estrada de Ferro Goyaz avanccedilou sobre o territoacuterio de Goiaacutes
e com isso comeccedilaram a surgir vilas arraiais e distritos que com o progresso e passar dos
anos se elevariam a cidades A entatildeo chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no interior do
estado mais precisamente na regiatildeo Sudeste Goiana fez com que no ano de 1922 surgisse a
Estaccedilatildeo Pires do Rio e que se elevaria tatildeo logo a cidade
A estrada de ferro traria progresso agraves cidades e ao estado No entanto de acordo com
Borges (1990) alguns coroneacuteis adversos a qualquer tipo de mudanccedila de caraacuteter progressista
natildeo aceitavam a instalaccedilatildeo da estrada de ferro pois ela representaria uma forccedila nova de
transformaccedilatildeo que poderia ameaccedilar o poder constituiacutedo dos coroneacuteis Mas na formaccedilatildeo de
Pires do Rio-GO a chegada da Estrada de Ferro Goyaz foi aceita pelo coronel Lino Teixeira de
Sampaio e inclusive foi doado o terreno para a construccedilatildeo de uma estaccedilatildeo feacuterrea
Vale ressaltar que
a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro de Goiaacutes resultou primeiro do empenho
poliacutetico de uma fraccedilatildeo da classe dominante ligada a novos grupos oligaacuterquicos
que despontavam como forccedila poliacutetica no Estado a qual contou com apoio do
capital financeiro internacional Em segundo lugar como a ferrovia servia
inteiramente aos interesses da economia capitalista ou seja agrave nova ordem
econocircmica com expansatildeo no Paiacutes este fator direta ou indiretamente
67
pressionaria o Governo Federal a apoiar a construccedilatildeo da linha (BORGES
1990 p 55-56)
O avanccedilo da estrada de ferro na regiatildeo Sudeste do estado de Goiaacutes foi fundamental para
o surgimento da cidade de Pires do Rio-GO Ambas as histoacuterias se entrecruzam e revelam
acontecimentos que corroboraram com a construccedilatildeo de uma cidade promissora Para
(re)escrever esta histoacuteria eacute fundante mostrar a ficha lexicograacutefica-toponiacutemica jaacute que o objeto
desta pesquisa satildeo os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua pertencentes a cidade de Pires do Rio-GO
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 01
Topocircnimo Pires do Rio Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Antropocircnimo
Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Pires + do Rio ndash sobrenome)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Cidade sede do distrito do municiacutepio do termo e comarca de
igual nome Na regiatildeo oriental do municiacutepio entre o ribeiratildeo Sampaio e o Monteiro afluentes
do rio Corumbaacute com estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goiaacutes
Fonte Siqueira (2012) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Como jaacute observando no capiacutetulo I os estudos toponiacutemicos revelam fatores soacutecio-
histoacuterico-culturais de uma dada comunidade e Pires do Rio-GO nos revela isso de forma
peculiar como podemos observar na ficha acima a caracterizaccedilatildeo do topocircnimo em que a
taxionomia eacute de natureza antropocultural antropotopocircnimo relativo a nomes proacuteprios e de
famiacutelia (sobrenome do ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas Dr Joseacute Pires do Rio) A base
etimoloacutegica eacute antropocircnimo a estrutura morfoloacutegica eacute de nome composto e as informaccedilotildees
enciclopeacutedias vecircm ratificar informaccedilotildees jaacute expressas na ficha Essas informaccedilotildees nos satildeo
precisas e no decorrer (re)editaremos partes relevantes da histoacuteria desta cidade
Observar o surgimento do municiacutepio de Pires do Rio eacute reviver a construccedilatildeo da linha
feacuterrea na regiatildeo Sudeste e para tal ato buscamos em algumas literaturas reconstruir em partes
a histoacuteria da cidade de Pires do Rio-GO que carinhosamente foi apelidada de ldquoTeteia do
68
Corumbaacuterdquo devido ao reluzir sobre as aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute a exuberacircncia da lua
cheia
Na histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade haacute controveacutersias pois alguns dizem ter sido o Coronel
Lino Teixeira de Sampaio o fundador mas Wilson Cavalcanti Nogueira filho do Sr Manoel
Cavalcanti Nogueira o primeiro Intendente da cidade em seus estudos revela que o fundador
de Pires do Rio foi o Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida diretor da Estrada de Ferro Goyaz
Nos estudos de Jacy Siqueira (2006) piresino historiador cujo livro Um contrato
singular e outros ensaios de histoacuteria de Goiaacutes descreve a origem da cidade de Pires do Rio
com base em documentos oficiais o autor citado presume a veracidade dos fatos que
contribuem para exposiccedilatildeo histoacuterica deste capiacutetulo jaacute que ldquoo tempo eacute agente terriacutevel a tudo
colhe separa peneira depura e evidencia ndash verdade ou mentira ndash com a forccedila e a violecircncia
decorrentes do pesado braccedilo da Histoacuteria de quem eacute o servidor fiel e mestre implacaacutevelrdquo
(SIQUEIRA 2006 p 65)
Em relaccedilatildeo aos fatos que marcam o iniacutecio da fundaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidade de Pires
do Rio os historiadores remetem a inuacutemeras controveacutersias sobre a fundaccedilatildeo e os reais
fundadores e tambeacutem sobre a existecircncia de um povoado que competia com o Roncador em
1921 que mais tarde nos arquivos seria o Bairro do Fogo hoje Santa Ceciacutelia O local Rua do
Fogo eacute toda a parte situada do outro lado da linha feacuterrea
Rua do Fogo na descriccedilatildeo de Nogueira se formou pela atraccedilatildeo de pessoas de
diversas regiotildees com o intuito de negociar e prestar serviccedilos diversificados
aos operaacuterios da Estrada eram lavadeiras curandeiro sapateiro padeiro
professor primaacuterio fotoacutegrafo meretrizes e aventureiros Configurando um
povoamento tiacutepico do pioneirismo cada dia mais pessoas chegavam
predominantemente aventureiros muitos deles ateacute mesmo com passado
criminal As casas sendo erguidas raacutepidas e improvisadamente perfilaram-se
em ambos lados ao longo de uma rua irregular que era cenaacuterio de constantes
desordens e violecircncias ganhando por isso o nome de Rua do Fogo A
constante chegada de pessoas levou o povoado a competir em dimensatildeo com
a vizinha Roncador jaacute em 1921 (FERREIRA 1999 p 100)
O Porto do Roncador em 24 de agosto de 1921 recebe a visita do Ministro da Viaccedilatildeo
e Obras Puacuteblicas Engenheiro Sr Joseacute Pires do Rio que na qualidade anterior de Inspetor Geral
das Estradas de Ferro havia se posicionado contraacuterio ao prolongamento da ferrovia no Estado
de Goiaacutes Na ocasiatildeo ficou resolvido que a ponte sobre o rio Corumbaacute deveria se chamar Ponte
Pires do Rio e a primeira estaccedilatildeo a seguir Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio Pessoa mas ocorreu o
contraacuterio Essa informaccedilatildeo foi publicada inclusive nos meios de comunicaccedilatildeo da eacutepoca
69
A Informaccedilatildeo Goyana revista fundada por Henrique Silva que se edita no
Rio de Janeiro na sua ediccedilatildeo de agosto de 1921 (Ano V Vol V n ordm 1 p 1)
traz a reportagem ldquoO Ministro de Viaccedilatildeo Visita o Estado de Goiaacutesrdquo Destaca-
se dela
Tem-se resolvido que a primeira estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz aleacutem
Roncador se denomine ndash Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio
A ponte do Corumbaacute segundo solicitaccedilatildeo dos que tomaram parte na recepccedilatildeo
do Sr ministro da Viaccedilatildeo seraacute denominada ndash Ponte Pires do Rio (SIQUEIRA
2006 p 44 grifos do autor)
As obras estavam a todo vapor e enquanto aguardavam a conclusatildeo da ponte sobre o
rio Corumbaacute os serviccedilos de movimentaccedilatildeo de terra eram feitos aleacutem da outra margem do rio
tendo jaacute avanccedilado ateacute Tavares quilocircmetro 303 da ferrovia distante 84 quilocircmetros de
Roncador O local da estaccedilatildeo de Pires do Rio situa-se no quilocircmetro 218 pouco distante do rio
na Comarca de Santa Cruz em terras da Fazenda do Brejo ou do Sampaio de propriedade do
fazendeiro local coronel Lino Teixeira de Sampaio
No dia 13 de julho de 1922 no momento de inauguraccedilatildeo da ponte metaacutelica construiacuteda
sobre o rio Corumbaacute fez-se a inversatildeo do que o Senhor Ministro havia solicitado pois ela
recebeu o nome do presidente da repuacuteblica (Epitaacutecio Pessoa) troca esta feita pelo diretor da
Estrada de Ferro Goyaz o engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida
A execuccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa significou a integraccedilatildeo das demais regiotildees goianas
no desenvolvimento econocircmico uma vez que o rio Corumbaacute representava uma onerosa barreira
econocircmica para a produccedilatildeo dessas regiotildees Pires do Rio primeira estaccedilatildeo na outra margem do
Corumbaacute prometia ser um entreposto regional devido agrave sua possiacutevel ligaccedilatildeo por terra com
antigos e promissores municiacutepios isolados pelo rio e que natildeo foram contemplados com a
ferrovia Santa Cruz de Goiaacutes Bela Vista Piracanjuba Caldas Novas e Morrinhos O que veio
concretizar essa possibilidade foi a disposiccedilatildeo do coronel Lino Teixeira de Sampaio em doar
terras agrave Estrada de Ferro Goyaz para juntamente com a estaccedilatildeo fundar no local uma cidade
Nesse aspecto seu empenho foi aacutegil e eficiente dois planos urbanos que vieram garantir para
os pioneiros a certeza da existecircncia de uma cidade no local (FERREIRA 1999)
Nas bases da histoacuteria da rede feacuterrea segundo Ferreira (1999) quando da inauguraccedilatildeo
da estaccedilatildeo Pires do Rio foi tambeacutem decretada a fundaccedilatildeo da cidade registrada em obelisco
erguido no largo de frente agrave estaccedilatildeo hoje a praccedila do mercado municipal considerando-se como
fundador o engenheiro da ferrovia Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida e designando a cidade
pelo nome (uma homenagem) do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas engenheiro Joseacute
Pires do Rio
70
Houve tambeacutem a intenccedilatildeo por parte do Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida em deixar a
estaccedilatildeo de Pires do Rio como ponta de linha para que se desenvolvesse rapidamente Finda a
raacutepida inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo seguiu tambeacutem o engenheiro no ldquotrem Inauguralrdquo rumo a
Tapiocanga ndash a proacutexima estaccedilatildeo depois de Pires do Rio ndash para inaugurar sua estaccedilatildeo
improvisada em um simples vagatildeo pois era um local onde natildeo havia nenhuma edificaccedilatildeo
passando mesmo assim a ser a ponta de linha
No dia 9 de novembro de 1922 eacute inaugurado o obelisco a cerca de 50 metros da estaccedilatildeo
ferroviaacuteria jaacute edificada considerada a pedra fundamental da cidade de Pires do Rio Encontra-
se grafado no monumento em alto-relevo que o Engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida na
eacutepoca diretor da Estrada de Ferro de Goyaz era o fundador da cidade de Pires do Rio uma
ldquofraserdquo que tem gerado algumas controveacutersias acerca do verdadeiro fundador da cidade
(SIQUEIRA 2006)
Enquanto alguns escritores piresinos e familiares alimentam a disputa ideoloacutegica no
niacutevel da influecircncia poliacutetica do coronel Lino Teixeira de Sampaio corroborada pela doaccedilatildeo de
um terreno para a construccedilatildeo da cidade outros tecircm se debruccedilado sobre as criacuteticas advindas do
meio acadecircmico local uma vez que o aniversaacuterio da cidade natildeo coincide com a data da escritura
de doaccedilatildeo das terras 05 de julho de 1922 mas com a data oficial inscrita na pedra fundacional
feita pelo Diretor da Estrada de Ferro Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida 09 de novembro de
1922
Siqueira (2006) eacute um dos estudiosos que argumentam a favor da tese de que o fundador
da cidade eacute o coronel Lino Teixeira de Sampaio Desta forma para corroborar o ato de doaccedilatildeo
da gleba de terra Siqueira (2006) recorreu aos livros de registros do Cartoacuterio de Imoacuteveis da
Comarca de Santa Cruz de Goiaacutes onde se encontra a escritura puacuteblica lavrada no dia 5 de julho
de 1922 pois na eacutepoca as terras pertenciam a este referido municiacutepio a qual nos informa que
por eles [Lino e Rozalina] foi dito que de suas livres e espontacircneas vontades
e sem coaccedilatildeo alguma doam agrave Estrada de Ferro de Goyaz com (4) alqueires
de terreno de campo divididos e demarcados nesta fazenda do ldquoBrejordquo
conforme consta na planta confeccionada pela dita Estrada de Ferro e bem
assim a aacutegua necessaacuteria ao abastecimento da Estaccedilatildeo jaacute edificada dentro destes
quatros alqueires Declaram mais os doadores que fazem a doaccedilatildeo dos
referidos terrenos agrave Estrada de Ferro de Goyaz sem que a mesma Estrada tenha
obrigaccedilatildeo de espeacutecie alguma cabendo-lhe apenas Dividir o terreno doado em
pequenos lotes para que seja dado iniacutecio agrave edificaccedilatildeo de uma pequena Cidade
excluindo o referido a faixa necessaacuteria agrave Estaccedilatildeo arrendar os lotes e aplicar
as rendas em melhoramentos da futura Cidade e edificaccedilatildeo de um Grupo
Escolar natildeo admitir seja construiacutedo preacutedio algum sem que seja previamente
aprovada pela diretoria da Estrada a respectiva planta (SIQUEIRA 2006 p
29)
71
Entretanto os fatos histoacutericos remetem agrave data de 09 de novembro como sendo de
fundaccedilatildeo da cidade jaacute que essa data se justifica pela inauguraccedilatildeo (documentada) da estaccedilatildeo
ferroviaacuteria Pires do Rio embora para Siqueira (2006) a data de fundaccedilatildeo da cidade seja o dia
05 de julho de 1922 data que coincide com a da escritura puacuteblica de doaccedilatildeo das terras agrave Estrada
de Ferro Goyaz
Siqueira (2006) ainda acrescenta as suas consideraccedilotildees acerca do fato de que o coronel
Lino Teixeira de Sampaio aleacutem de doar os quatro alqueires de terra accedilatildeo que outros
fazendeiros das estaccedilotildees seguintes natildeo tiveram apresentou um projeto urbano (planta) da
cidade a ser erguida nas proximidades da estaccedilatildeo projeto este de autoria de um engenheiro da
Estrada Aacutelvaro Pacca que foi apresentado e aprovado pela direccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz
em 1ordm de janeiro de 1922
De acordo com Ferreira (1999) acredita-se que no local definitivo da estaccedilatildeo por volta
do ano de 1923 apresentou-se outro projeto para a construccedilatildeo da cidade desta vez solicitado
ao topoacutegrafo da Estrada de Ferro Moacir de Camargo A cidade de Pires do Rio ficaria sendo
entatildeo a primeira cidade do Centro-Oeste a nascer com planejamento preacutevio antes de Goiacircnia
ou Brasiacutelia
O momento em que a cidade comeccedila a surgir de acordo com Nogueira (sd) fez com
que a populaccedilatildeo do Roncador migrasse toda para laacute carregando tudo aquilo que lhes pertencia
inclusive o material de construccedilatildeo das casas que foram demolidas construindo novas moradias
no local escolhido para tal fim Esse fato de mudar de um arraial para outro segundo Ferreira
(1999) veio a constituir o fenocircmeno por ele denominado de fagocitose pois para a formaccedilatildeo
da cidade Pires do Rio o arraial do Roncador extinguiu-se para vigorar a nascente cidade como
se observa nos dizeres abaixo
Pires do Rio crescia em terras de Santa Cruz municiacutepio de projeccedilatildeo
econocircmica e poliacutetica no Estado que dominou todo o sudeste e parte do sul de
Goiaacutes O arraial de origem fundado em 1729 teve seu valor econocircmico
firmado na extraccedilatildeo auriacutefera passando agrave Julgado de Santa Cruz em 1809 com
seu territoacuterio de influecircncia sobre uma extensa aacuterea Emancipou-se agrave Vila em
1833 quando Goiaacutes foi dividido em quatro Comarcas sendo Santa Cruz uma
delas Terminado o ciclo do ouro sua economia voltou-se durante o seacuteculo
XIX para a pecuaacuteria extensiva a agricultura e primitivo processamento da
produccedilatildeo agriacutecola sobrepondo-se agraves outras cidades de economia auriacutefera em
estagnaccedilatildeo A emancipaccedilatildeo de seus distritos ao longo do seacuteculo XIX foi-lhe
tirando a extensatildeo de seu poder territorial e de jurisdiccedilatildeo mas natildeo seu poder
econocircmico e poliacutetico no Estado Essa situaccedilatildeo veio a se alterar com a chegada
da Estrada de Ferro Goiaacutes (FERREIRA 1999 p 136)
72
As construccedilotildees jaacute haviam se iniciado e comeccedilara a chegar os novos moradores oriundos
de vaacuterias partes do paiacutes e do mundo que solidificariam a comunidade piresina Os baianos e os
aacuterabes foram os primeiros migrantes a chegarem e fixarem-se acreditando na futura cidade Os
baianos e outros nordestinos foram atraiacutedos pela frente de trabalho criada pela construccedilatildeo da
ferrovia Os italianos e espanhoacuteis tambeacutem se fizeram presentes na comunidade local No
entanto a maioria dos migrantes foram mesmo paulistas e mineiros Os estrangeiros tais como
italianos espanhoacuteis e principalmente aacuterabes foram partes integrantes da elite dominante
(FERREIRA 1999)
Pires do Rio se elevou a distrito do Municiacutepio de Santa Cruz em 23 de agosto de 1924
pela Lei nordm 66 E em 7 de julho de 1930 pela Lei nordm 903 foi criado o municiacutepio de Pires do
Rio E tatildeo logo pelo Decreto de ndeg 522 de 8 de janeiro de 1931 publicado no Correio Officcial
ndeg 1819 paacutegina 3 de 19 de abril do mesmo ano (SIQUEIRA 2006) oficializou a transferecircncia
da Comarca de Santa Cruz para a cidade de Pires do Rio
Na deacutecada de 30 estabelecia-se o comeacutercio na cidade de Pires do Rio natildeo tinha um
centro comercial propriamente dito mas algumas casas de comeacutercio espalhadas pela cidade
(FERREIRA 1999) A instalaccedilatildeo da energia eleacutetrica em 1934 deu um impulso agrave agroinduacutestria
local iniciada com a charqueada em 1924 e logo apoacutes por uma maacutequina beneficiadora de arroz
serraria faacutebrica de manteiga padarias curtume e outros pequenos centros de produccedilatildeo com
isso a necessidade de matildeo-de-obra impulsionava o crescimento da populaccedilatildeo jaacute que muitos
eram empregados pela via feacuterrea desta forma a vinda de imigrantes a nova cidade era
necessaacuterio Com o crescimento da cidade e da sua populaccedilatildeo foram necessaacuterias benfeitorias
que foram ocorrendo no decorrer dos anos
De acordo com Siqueira (2006) Pires do Rio se desenvolveu de forma diferenciada das
centenaacuterias cidades de Goiaacutes visto que a maioria se formou por tradicionais enraizados e
familiocratas grupos poliacuteticos ou simplesmente ldquooligarquiasrdquo o que permitiu uma abertura e
receptividade ao novo e ao desconhecido como paracircmetro coerente para a construccedilatildeo de uma
comunidade nascente No periacuteodo de 1921 a 1940 correspondentemente agrave cidade em sua
afirmaccedilatildeo poliacutetica e urbana foi composta por migrantes e imigrantes que se estabeleciam na
prestaccedilatildeo de serviccedilo agroinduacutestria e comeacutercio tudo isso oriundo da formaccedilatildeo da cidade pela
Estrada de Ferro Goyaz
Um fato ainda natildeo informado eacute que no ano de 1933 o municiacutepio era constituiacutedo de dois
distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Jaacute no decreto-lei nordm 5200 de 08 de dezembro de 1934
Pires do Rio eacute ldquorebaixadordquo agrave categoria de distrito do municiacutepio de Santa Cruz haja vista que
73
em divisotildees territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937 Pires do Rio figura como distrito
de Santa Cruz (IBGE 2016)
Em 03 de marccedilo de 1938 pelo Decreto-lei nordm 557 Pires do Rio retorna agrave categoria de
municiacutepio e Santa Cruz agrave de distrito No periacuteodo de 1939-1943 o municiacutepio aparece constituiacutedo
de trecircs distritos Pires do Rio Santa Cruz e Cristianoacutepolis O distrito de Santa Cruz pelo
Decreto-lei nordm 8305 de 31 de dezembro de 1943 passou a denominar-se Corumbalina Mas
pelo Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias de 20 de julho de 1947 Artigo 61
desmembrou-se do municiacutepio de Pires do Rio e foi elevado agrave categoria de municiacutepio com a
denominaccedilatildeo de Santa Cruz de Goiaacutes (IBGE 2016)
Em divisatildeo territorial datada de 1 de julho de 1950 o municiacutepio eacute constituiacutedo de dois
distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Depois pela lei municipal nordm 221 de 15 de julho 1953
eacute criado o distrito de Palmelo e anexado ao municiacutepio de Pires do Rio A lei estadual nordm 739 de
23 de junho de 1953 desmembra do municiacutepio de Pires do Rio o distrito de Cristianoacutepolis
elevado entatildeo agrave categoria de municiacutepio Rapidamente o distrito de Palmelo pela lei estadual
nordm 908 de 13 de novembro de 1953 eacute desmembrado do municiacutepio de Pires do Rio e elevado agrave
categoria de municiacutepio (IBGE 2016)
A ferrovia foi um marco na histoacuteria de Pires do Rio uma vez que o transporte ferroviaacuterio
era utilizado para escoar a produccedilatildeo Aleacutem disso a instalaccedilatildeo do Frigoriacutefico Brasil Central
estimulou a produccedilatildeo da pecuaacuteria de corte Nas deacutecadas de 1950 e 1960 destacou-se por
exportar o charque e pela produccedilatildeo de cerveja Jaacute com a construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 e a
implantaccedilatildeo das rodovias favoreceu-se a sua interligaccedilatildeo aos outros municiacutepios goianos
O fluxo de cargas e pessoas pela via ferroviaacuteria entre os anos de 1940 a 1950 apresentava
regularidade mas devido agrave construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 de 1965 a 1970 apresentou uma
queda gradativa por deficiecircncia teacutecnica das linhas falta de manutenccedilatildeo delas e dos
equipamentos lentidatildeo do transporte o que provocou em 1970 a desativaccedilatildeo do transporte de
passageiros A Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima (RFFSA) foi privatizada em 1996
e a Ferrovia Centro Atlacircntica (FCA) adquiriu 7080 km de extensatildeo operando 685 km em
Goiaacutes tendo adotado uma nova poliacutetica investindo dois milhotildees de reais na ferrovia
desativando vaacuterias estaccedilotildees (NOVAIS 2014) Na Estaccedilatildeo Pires do Rio ficou funcionando
apenas o escritoacuterio da FCA e o Museu Ferroviaacuterio e na Estaccedilatildeo Roncador uma oficina de
manutenccedilatildeo de vagotildees
Segundo Novais (2014) a ferrovia enquanto elemento modernizador do Sudeste
Goiano e instrumento capaz de aumentar as aglomeraccedilotildees urbanas e dinamizar o progresso da
regiatildeo de acordo com os novos interesses dominantes sempre esteve sob o controle do poder
74
econocircmico estatal ou de grupos Sua expansatildeo justificou-se em detrimento dos interesses
capitalistas e imperialistas Portanto a estrada de ferro eacute um produto da induacutestria capitalista da
Primeira Revoluccedilatildeo Industrial colocada a serviccedilo do capital e resultante das transformaccedilotildees
ocorridas no processo de expansatildeo do capitalismo no Brasil e no mundo (BORGES 1990) O
Estado de Goiaacutes ao inserir-se na dinacircmica capitalista e implantar a via feacuterrea em seu territoacuterio
conseguiu integrar-se ao mercado brasileiro aleacutem de mitigar anos de atraso e isolamento
econocircmico
32 Pires do Rio geograacutefico
O municiacutepio de Pires do Rio localiza-se na Microrregiatildeo do Sudeste Goiano inserida
na Mesorregiatildeo Sul Goiano A Microrregiatildeo eacute reconhecida como a regiatildeo da Estrada de Ferro
Limita-se com os municiacutepios goianos de Orizona Vianoacutepolis Urutaiacute Caldas Novas Satildeo
Miguel do Passa Quatro Santa Cruz de Goiaacutes Palmelo Cristianoacutepolis e Ipameri A aacuterea da
unidade territorial (kmsup2) eacute de 1073361 com uma altitude meacutedia de 75886 O municiacutepio
encontra-se entre as seguintes coordenadas geograacuteficas
Mapa 1 ndash Pires do Rio (GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio (GO)
75
A cidade de Pires do Rio eacute constituiacuteda por riquezas naturais do bioma Cerrado o qual
apresenta uma heterogeneidade na sua fisionomia pois engloba desde formaccedilotildees florestais
como as Matas Ciliares (vegetaccedilatildeo que fica nas margens dos rios) e Cerradatildeo aleacutem do Cerrado
restrito (eacute o Cerrado tiacutepico formado por vegetaccedilotildees arboacutereas de casca grossa e troncos
retorcidos) com formaccedilotildees vegetais ou herbaacuteceas (campo sujo e limpo)
Uma das caracteriacutesticas marcantes do Cerrado eacute sua riqueza em recursos hiacutedricos e Pires
do Rio natildeo foge agrave regra Servindo de fronteiras naturais para o municiacutepio tem-se o rio do Peixe
na parte norte A parte sul do municiacutepio desagua no rio Corumbaacute que tambeacutem eacute utilizado como
fronteira natural e eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio Aleacutem destes tem o rio Piracanjuba
que devido agrave sua estrutura rochosa e seu volume de aacutegua foi palco da construccedilatildeo de uma usina
hidreleacutetrica em meados do seacuteculo XX que abastecia a cidade embora hoje encontre-se em
ruiacutenas
Aleacutem dos trecircs rios o municiacutepio possui ao longo de todo seu o territoacuterio vaacuterias
nascentes coacuterregos ribeirotildees quedas drsquoaacutegua os quais satildeo todos afluentes do rio Corumbaacute
Vale ressaltar que a maioria dos cursos drsquoagua satildeo perenes ou seja tem aacutegua o ano todo por
isso muitos deles tem o nome da regiatildeo em que se encontra pois satildeo objetos marcantes na
paisagem
Segundo o IBGE (1957) a populaccedilatildeo piresina no Recenseamento de 1950 era de
12946 habitantes (inclusive a populaccedilatildeo dos atuais municiacutepios de Cristianoacutepolis e Palmelo ndash
na eacutepoca distritos de Pires do Rio) apresentando quadro urbano e suburbano com uma
populaccedilatildeo de 4836 habitantes sendo 2282 homens e 2554 mulheres A densidade
demograacutefica era de 12 habitantes por quilocircmetro quadrado verificando-se que 53 da
populaccedilatildeo localizava-se no quadro rural
Na deacutecada de 50 o municiacutepio de Pires do Rio tinha um nuacutecleo populacional que era o
povoado de Marataacute aleacutem da sede (como jaacute mencionado no ano de 1953 os distritos de
Cristianoacutepolis e Palmelo satildeo elevados a municiacutepio) Mas com o passar dos anos ele deixa de
existir ficando apenas a Igreja de Satildeo Sebastiatildeo As atividades econocircmicas do municiacutepio eram
predominantemente a produccedilatildeo agriacutecola e pecuaacuteria O municiacutepio apresentava-se como um local
de atraccedilatildeo recreativa pela sua beleza paisagiacutestica a qual pode ser observada na cachoeira do
Salto no rio Piracanjuba jaacute mencionado onde foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica que forneceu
energia agrave cidade ateacute meados do seacuteculo XX
A populaccedilatildeo em 2010 era de 28762 habitantes sendo 14105 homens e 14657
mulheres Predominantemente urbana com 27094 pessoas e apenas 1668 no meio rural Pires
do Rio apresenta uma aacuterea de 1073361 km2 e uma densidade demograacutefica de 2680 habkmsup2
76
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) do municiacutepio eacute de 0744 A Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa (PEA) eacute de 8717 homens e 6128 mulheres (IBGE 2016)
De acordo com os dados populacionais desde o Recenseamento da deacutecada de 50 (dados
jaacute mostrados anteriormente) a cidade teve um crescimento consideraacutevel como pode ser
observado nos quadros abaixo
Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo recenseamento
Populaccedilatildeo Censitaacuteria
1980 1991 2000 2010
Total de habitantes 19258 22131 26229 28762
Urbano 16670 20537 24473 27094
Zona Rural 2588 1594 1756 1668
Masculino 9498 10904 12948 14105
Feminino 9760 11227 13281 14657
Urbano Masculino 8098 10027 11966 13208
Urbano Feminino 8572 10510 12507 13886
Zona Rural Masculino 1400 877 982 897
Zona Rural Feminino 1188 717 774 771
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Nos dados que satildeo apresentados pelo IBGE (populaccedilatildeo estimada) entre os anos 2001 e
2004 ocorreu uma queda no crescimento populacional em relaccedilatildeo ao ano de 1999 que foi de
28631 e nos demais anos segue 2001 26600 2002 27091 2003 27491 2004 28332 A
respeito desta queda natildeo conseguimos informaccedilotildees Em duas datas especiacuteficas houve uma
contagem da populaccedilatildeo seguem os dados abaixo
Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo contagem
Populaccedilatildeo Contagem
1996 2007
Total de habitantes 25094 26857
Masculino 12403 13232
Feminino 12691 13574
Urbano 23766 25031
77
Zona Rural 1328 1826
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Os dados inseridos no quadro 3 satildeo uma estimativa da populaccedilatildeo informada pelo IMB
e IBGE
Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio (GO)
Populaccedilatildeo Estimada
2011 2012 2013 2014 2015
28956 29145 30232 30469 30703
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Para entreter a populaccedilatildeo o turismo do municiacutepio estaacute relacionado agraves edificaccedilotildees com
relevacircncia arquitetocircnica e cultural como a Ponte Epitaacutecio Pessoa o antigo Frigoriacutefico Brasil
Central as igrejas Satildeo Sebastiatildeo (Patrimocircnio do Marataacute) Satildeo Benedito (Igreja dos Congos) a
Ferrovia Centro Atlacircntica e o Museu Ferroviaacuterio O patrimocircnio material eacute representado pelo
centro histoacuterico principalmente a Igreja Matriz Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus coreto e chafariz da
Praccedila Gaudecircncio Rincon Segoacutevia o Mercado Municipal a Biblioteca Municipal a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria e a casa do Maneco (hoje em ruiacutenas) que formam um conjunto arquitetocircnico
singular como tambeacutem as belezas naturais das Serras da Caverna e das Flores a cachoeira do
Marataacute e Prainha (as margens do rio Corumbaacute)
De acordo com Novais (2014) nos anos de 1980 o municiacutepio conheceu a expansatildeo da
fronteira agriacutecola com a introduccedilatildeo do cultivo da soja logo apoacutes em 1993 atraiu investimentos
com a implantaccedilatildeo do complexo agroindustrial aviacutecola e a industrializaccedilatildeo do setor
contribuindo para o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que perpassou a regiatildeo do Sudeste
Goiano Atualmente a economia piresina eacute voltada para as atividades agriacutecolas como a
produccedilatildeo de soja milho sorgo arroz feijatildeo e mandioca
O comeacutercio a infraestrutura e serviccedilos (sauacutede educaccedilatildeo comeacutercio e prestaccedilatildeo de
serviccedilos) exercem funccedilatildeo de polo atrativo para moradores dos municiacutepios vizinhos Toda a
importacircncia do municiacutepio para a regiatildeo o estado e o paiacutes se deve agrave instalaccedilatildeo da Estrada de
Ferro Goyaz e aos que acreditaram no crescimento de Pires do Rio e investiram em seu
territoacuterio Por esta razatildeo que parte de nossa pesquisa busca reviver fragmentos da histoacuteria desta
cidade que se faz importante para uma regiatildeo estado e paiacutes
78
33 Os cursos drsquoaacutegua
No quadro abaixo apresentamos os nomes dos cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio
levantamento realizado de acordo com os mapas cartas topograacuteficas e vocabulaacuterio do IBGE
(1957)
Quadro 6 ndash Cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO)
Vocabulaacuterio Geograacutefico ndash IBGE (1957)
Rio ndash 3 Paacutegi
na
Descriccedilatildeo Municiacutepio de
Nasceste
Rio Corumbaacute 75 Rio nasce nos arredores de Pirineus
atravessa o municiacutepio como o de Santa
Luzia depois de servir em pequeno trecho
de divisa a Bonfim Adiante separa Ipameri
e Corumbaiacuteba de um lado e Campo
Formoso Pires do Rio Caldas Novas Buriti
Alegre do outro ateacute desaguar no rio
Paranaiacuteba pela margem direita
Corumbaacute
Rio do Peixe 165 Rio nasce na regiatildeo sul-oriental do
municiacutepio que separa dos de Campo
Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio
e o de Caldas Novas desemboca no rio
Corumbaacute pela margem direita
Silvacircnia
Rio Piracanjuba 171 (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce
na serra de Passa Quatro e atravessa o
municiacutepio bem como o de Pouso Alto
Adiante separa Caldas Novas de Morrinhos
e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio
Corumbaacute pela margem direita
Bela Vista
Coacuterrego ndash 34
Coacuterrego Areias 15 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Pires do Rio
Coacuterrego Barreiro - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia
Coacuterrego do
Barreiro
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Piracanjuba
Coacuterrego dos Batista - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Bauzinho 29 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Bauacute
Orizona
Coacuterrego da Braga 37 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Santa Maria
Luziacircnia
79
Coacuterrego Boa Vista 32 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Buracatildeo 40 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Buriti 42 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio dos Bois
Pires do Rio
Coacuterrego Cachoeira 47 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Piracanjuba
Silvacircnia
Coacuterrego Capoeira
Grande
60 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Cachoeira
Orizona
Coacuterrego Carvalho - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego da Caverna 66 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio dos Peixes (M de Pires do Rio)
Pires do Rio
Coacuterrego Corrente - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Domingo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego da Estiva 88 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Brumado
Pires do Rio
Coacuterrego Fundatildeo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Cocalzinho de
Goiaacutes
Coacuterrego Guaraacute 106 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Itauacutebi - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Juca - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Lajinha 124 Coacuterrego afluente da margem direita do
coacuterrego Taperatildeo
Orizona
Coacuterrego Laranjal 126 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Bauacute
Pires do Rio
Coacuterrego Limeira 128 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Ipameri
Coacuterrego Marreco 136 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Bauacute
Orizona
Coacuterrego Mata
Dentro
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego do
Mocambo
144 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
das Antas
Silvacircnia
Coacuterrego Olho
drsquoaacutegua
152 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Piracanjuba
Orizona
Coacuterrego do Pico 168 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Brumado
Pires do Rio
Coacuterrego
Piracanjuba
171 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
igual nome
Morrinhos
Coacuterrego Posse 177 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
coacuterrego do Fundo
Orizona
80
Coacuterrego Satildeo
Jerocircnimo
202 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Caiapoacute
Pires do Rio
Coacuterrego Saltador 193 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute proacuteximo a barra do rio
Alagado
Luziacircnia
Coacuterrego Taquaral 217 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute (M de Pires do Rio)
Pires do Rio
Coacuterrego da Terra
Vermelha
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia
Ribeiratildeo ndash 8
Ribeiratildeo Bauacute 29 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Piracanjuba na divisa do municiacutepio de Pires
do Rio
Orizona
Ribeiratildeo Brumado 33 Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do
rio dos Peixes
Santa Cruz de
Goiaacutes
Ribeiratildeo Cachoeira 47 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Piracanjuba
Orizona
Ribeiratildeo Caiapoacute 50 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Urutaiacute
Ribeiratildeo Marataacute - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Ribeiratildeo Mucambo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Ribeiratildeo Sampaio 194 Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da
margem direita do rio Corumbaacute (M de
Pires do Rio)
Pires do Rio
Ribeiratildeo Taquaral - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Orizona
Quedas drsquoaacutegua ndash 1
Cachoeira do
Marataacute
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Fonte Vocabulaacuterio Geograacutefico IBGE 1957
O quarto capiacutetulo apresenta a descriccedilatildeo e anaacutelise de quinze dos 46 topocircnimos (escolha
esta pela relaccedilatildeo de representaccedilatildeo para a cidade de Pires do Rio-GO) de acordo com os aportes
teoacutericos revisados no primeiro capiacutetulo e em consonacircncia com os meacutetodos apresentados e
discutidos no segundo capiacutetulo apresenta ainda algumas questotildees teoacutericas suscitadas pelas
especificidades dos dados escolhidos
81
IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR
O signo toponiacutemico natildeo abre apenas o nome de
um lugar mas o lugar como um todo tudo que estaacute
relacionado a ele de uma forma ou de outra
(SIQUEIRA 2015)
Nos colocar a serviccedilo desta pesquisa foi o mesmo que redescobrir a cidade de Pires do
Rio-GO Conhecer a sua histoacuteria e poder reeditaacute-la remapear os seus cursos drsquoaacutegua e por fim
buscar na Toponiacutemia as relaccedilotildees de poder que os topocircnimos tecircm sobre cada espaccedilo nomeado
assim tomamos posse do que esta pesquisa nos proporcionou e aqui estaacute o aacutepice dela os dados
e suas anaacutelises
Segundo Dias (2008) o municiacutepio de Pires do Rio-GO tem como principais cursos
drsquoaacutegua o rio Corumbaacute situado na parte sudeste o rio Piracanjuba no nordeste e rio do Peixe
na parte sul os quais correm em direccedilatildeo agrave calha do rio Paranaiacuteba (uma das quatro bacias
hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes) ao sul Os rios do Peixe e Piracanjuba desaguam no
Corumbaacute sendo limites de fronteiras do municiacutepio Aleacutem desses rios a rede hidrograacutefica eacute
formada por vaacuterios ribeirotildees e coacuterregos
Para proceder com as devidas anaacutelises dos topocircnimos nos eacute necessaacuterio partir de algumas
definiccedilotildees de nomenclaturas da aacuterea da geografia mas natildeo tivemos acesso a nenhum dicionaacuterio
terminoloacutegico da aacuterea especiacutefica devido agrave dificuldade de encontrar em bibliotecas puacuteblicas e
na internet desta forma recorremos aos dicionaacuterios Aulete (2011) Borba (2004) e Houaiss et
al (2004 2009) para assim proceder com a definiccedilatildeo de palavras (termos) que satildeo recorrentes
em nossa pesquisa a) curso drsquoaacutegua eacute qualquer corpo de aacutegua fluente b) coacuterrego um rio
pequeno com pouco volume de aacutegua que passa por vaacuterios lugares e sempre desagua em um
curso drsquoaacutegua (coacuterrego ribeiratildeo ou rio) c) queda drsquoaacutegua torrente de aacutegua que cai do alto
cachoeiracascata que satildeo formaccedilotildees geomorfoloacutegicas nas quais os cursos drsquoaacutegua correm por
cima de uma rocha de composiccedilatildeo resistente agrave erosatildeo formando uma suacutebita quebra na vertical
d) ribeiratildeo curso drsquoaacutegua maior que o riacho e menor que o rio afluente de um rio e) rio ou
fluacutemen eacute uma corrente natural de aacutegua que flui continuamente Possui um caudal consideraacutevel
e desemboca no mar num lago ou noutro rio e em tal caso denomina-se afluente Pode
apresentar vaacuterias redes de drenagem
Proceder com estas observaccedilotildees eacute elementar para esta pesquisa pois dos 46 topocircnimos
elencados no municiacutepio de Pires do Rio-GO analisaremos apenas 15 visto que analisar todos
82
os topocircnimos seria uma tarefa aacuterdua e que demandaria mais tempo registramos aqui o que nos
motivou agrave escolha dos cursos drsquoaacutegua para anaacutelise Como satildeo apenas 03 rios eacute viaacutevel e de bom
senso analisaacute-los jaacute que satildeo as maiores bacias e que datildeo destaque agrave regiatildeo os ribeirotildees satildeo
especificamente 08 os quais seratildeo analisados inclusive alguns nomes se repetem aos coacuterregos
tambeacutem 01 queda drsquoaacutegua cachoeira do Marataacute que natildeo seraacute analisada devido ao nome ser o
mesmo de um ribeiratildeo dos 34 coacuterregos analisaremos apenas 04 (Barreiro Itauacutebi Laranjal e da
Terra Vermelha) devido ao grau de importacircncia para a cidade pois os coacuterregos Itauacutebi (nascente)
e Laranjal satildeo os que abastecem a cidade de Pires do Rio-GO Quanto ao Barreiro este estaacute
localizado na regiatildeo do Morro do Cruzeiro localidade que tem o maior nuacutemero populacional
na zona rural do municiacutepio O coacuterrego da Terra Vermelha eacute uma aacuterea que haacute muito tempo foi
espaccedilo de olaria e dela saiacuteram grandes quantidades de tijolos que foram utilizados nas
construccedilotildees de casas na cidade e tambeacutem pertence a uma localidade onde existiu o povoado do
Marataacute na deacutecada de 50
No mapa 2 apresentamos os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do
Rio-GO bem como aparecem em destaque os 15 topocircnimos que analisaremos a seguir os quais
estatildeo catalogados em fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas que estatildeo inseridas neste capiacutetulo
83
Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)
84
41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural
Os modelos das taxionomias foram elaborados por Dick (1992) a fim de possibilitar ao
pesquisador descobrir o significado dos topocircnimos sem ter que retomar especificamente a
passado histoacuterico Os modelos subdividem-se em 11 taxes de natureza fiacutesica e 16 de natureza
antropocultural Assim podemos verificar se o nomeador recorreu a elementos de natureza
fiacutesico ou socioculturais como motivaccedilatildeo no ato da nomeaccedilatildeo Abaixo apresentamos as 27
taxes subdivididas em suas naturezas e devidas especificaccedilotildees exemplificadas com alguns
topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO nos casos de natildeo ter
recorremos a outros topocircnimos
a) Taxionomias de natureza fiacutesica
1 Astrotopocircnimos topocircnimos que se referem aos corpos celestes cidade Estrela do Norte-
GO
2 Cardinotopocircnimos topocircnimos referentes agraves posiccedilotildees geograacuteficas cidade Alvorada do
Norte-GO
3 Cromotopocircnimos topocircnimos relativos agrave escala cromaacutetica coacuterrego da Terra Vermelha (Pires
do Rio-GO)
4 Dimensiotopocircnimos topocircnimos referentes agraves caracteriacutesticas dimensionais dos acidentes
geograacuteficos como extensatildeo comprimento largura espessura altura profundidade coacuterrego
Fundatildeo (Pires do Rio-GO)
5 Fitotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de vegetais rio Corumbaacute (Pires do Rio-
GO)
6 Geomorfotopocircnimos topocircnimos referentes agraves formas topograacuteficas elevaccedilotildees ou depressotildees
do terreno coacuterrego do Pico (Pires do Rio-GO)
7 Hidrotopocircnimos topocircnimos originados de acidentes hidrograacuteficos ribeiratildeo Cachoeira
(Pires do Rio-GO)
8 Litotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de minerais e de nomes relativos agrave
constituiccedilatildeo do solo coacuterrego Barreiro (Pires do Rio-GO)
9 Meteorotopocircnimos topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos ribeiratildeo Brumado
(Pires do Rio-GO)
10 Morfotopocircnimos topocircnimos que refletem o sentido de forma geomeacutetrica cidade Volta
Redonda-RJ
11 Zootopocircnimos topocircnimos de iacutendole animal rio do Peixe (Pires do Rio-GO)
b) Taxionomias de natureza antropocultural
85
1 Animotopocircnimos ou Nootopocircnimos topocircnimos relativos agrave vida psiacutequica e agrave cultura
espiritual coacuterrego Boa Vista (Pires do Rio-GO)
2 Antropotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais ribeiratildeo Sampaio
(Pires do Rio-GO)
3 Axiotopocircnimos topocircnimos que se referem a tiacutetulos e a dignidades que acompanham os
nomes proacuteprios individuais cidade Senador Canedo-GO
4 Corotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes de cidades paiacuteses estados regiotildees e
continentes coacuterrego Posse (Pires do Rio-GO)
5 Cronotopocircnimos topocircnimos que encerram indicadores cronoloacutegicos como novonova
velhovelha cidade Nova Aurora-GO
6 Ecotopocircnimos topocircnimos que fazem referecircncia agraves habitaccedilotildees de um modo geral cidade
Castelacircndia-GO
7 Ergotopocircnimos topocircnimos relacionados aos elementos da cultura material ribeiratildeo Bauacute
(Pires do Rio-GO)
8 Etnotopocircnimos topocircnimos relativos aos elementos eacutetnicos tribos isolados ou natildeo ribeiratildeo
Caiapoacute (Pires do Rio-GO)
9 Dirrematotopocircnimos topocircnimos construiacutedos por meio de frases ou enunciados linguiacutesticos
cidade Aparecida do Rio Doce-GO
10 Hierotopocircnimos topocircnimos referentes aos nomes sagrados agraves efemeridades religiosas aos
locais de culto cidade Cristianoacutepolis-GO Podem apresentar duas subdivisotildees i)
hagiotopocircnimos topocircnimos que se referem aos santos e agraves santas do hagioloacutegio romano
coacuterrego Satildeo Jerocircnimo (Pires do Rio-GO) ii) mitotopocircnimos topocircnimos referentes agraves
entidades mitoloacutegicas cidade Anhanguera-GO
11 Historiotopocircnimos topocircnimos que se referem a movimentos de cunho histoacuterico-social aos
seus membros ou ainda agraves datas correspondentes cidade Ipiranga de Goiaacutes-GO
12 Hodotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves vias de comunicaccedilatildeo coacuterrego Corrente (Pires
do Rio-GO)
13 Numerotopocircnimos topocircnimos que dizem respeito aos adjetivos numerais cidade Trecircs
Ranchos-GO
14 Poliotopocircnimos topocircnimos constituiacutedos pelos vocaacutebulos vila aldeia cidade povoaccedilatildeo
arraial bairro Vila Nova (Pires do Rio-GO)
15 Sociotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais de trabalho
e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade ribeiratildeo Mucambo (Pires do Rio-
GO)
86
16 Somatotopocircnimos topocircnimos com relaccedilatildeo metafoacuterica agraves partes do corpo humano ou do
animal coacuterrego Olho drsquoaacutegua (Pires do Rio-GO)
Essas classificaccedilotildees taxonocircmicas funcionam como auxiliares no processo de verificaccedilatildeo
que subjaz o topocircnimo sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo da origem e motivaccedilatildeo que
levaram agrave efetivaccedilatildeo de determinado topocircnimo
Aleacutem do mais uma anaacutelise toponiacutemica pressupotildee a busca de particularidades
que natildeo podem ficar apenas nas caracteriacutesticas mais evidentes apresentadas
pelo nome deve-se procurar tanto quanto possiacutevel ou seja tanto quanto as
fontes ou a documentaccedilatildeo o permitirem as origens mais remotas do
denominativo objetivando as eventuais substituiccedilotildees experimentadas e a sua
razatildeo determinante de modo que se possa tentar um equacionamento da
nomenclatura em periacuteodos ou estaacutegios onomaacutesticos ndash senatildeo de toda ela pelo
menos em alguns nomes ndash que talvez reflitam momentos distintivos do pensar
da eacutepoca analisada (DICK 1996 p 15-16)
O leacutexico toponiacutemico eacute carregado de marcas de expressatildeo histoacuterica social cultural
poliacutetica e religiosa de dada comunidade e eacute representativo para o nomeador e seu grupo Desta
forma se determinado local ou coisa passou por vaacuterias nomeaccedilotildees no decorrer dos tempos isso
justifica que cada nomeador observou novas caracteriacutesticas que classificavam ou referenciavam
o topocircnimo de forma precisa e motivada
De acordo com Dick (1990) as vaacuterias facetas significativas que datildeo realce ao nome do
lugar e as inuacutemeras informaccedilotildees que podem ser elencadas dele tornariam no material de um
grande armazenamento de dados e fatos culturais em larga extensatildeo Assim observamos em
Andrade (2010 p 103) que
Os estudos toponiacutemicos dentro do alcance pluridisciplinar de seu objeto de
estudo constituem um caminho possiacutevel para o conhecimento do modus
vivendi das comunidades linguiacutesticas que ocupam ou ocuparam um
determinado espaccedilo Quando um indiviacuteduo ou comunidade linguiacutestica atribui
um nome a um acidente humano ou fiacutesico revelam-se aiacute tendecircncias sociais
poliacuteticas religiosas culturais (Grifos da autora)
Satildeo nessas caracteriacutesticas em que reside a motivaccedilatildeo do topocircnimo e por meio delas nos
satildeo reveladas a histoacuteria e cultura de uma dada comunidade por isso vemos o quanto os estudos
toponiacutemicos satildeo de extrema relevacircncia natildeo soacute para a aacuterea dos estudos da
linguagemlinguiacutesticos mas tambeacutem para as outras aacutereas do conhecimento jaacute que o topocircnimo
eacute plurissignificativo tendo assim um alcance pluridisciplinar
87
Posto isto pode-se evidenciar os estudos toponiacutemicos como um eixo norteador para se
verificar as relaccedilotildees soacutecio-histoacuterico-culturais de um povo jaacute que o topocircnimo estaacute intimamente
vinculado agrave cultura de um povo uma naccedilatildeo e portanto agrave sua histoacuteria Assim tomaremos por
anaacutelise os graacuteficos que se seguem e as taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua
do municiacutepio de Pires do Rio-GO
42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO
Nesta pesquisa os 15 topocircnimos analisados baseados na classificaccedilatildeo enquadram-se
na divisatildeo das naturezas fiacutesica e antropocultural Em alguns topocircnimos eacute possiacutevel ainda
evidenciar mais de uma categoria classificatoacuteria por exemplo o coacuterrego da Terra Vermelha
que se classifica como litotopocircnimo e cromotopocircnimo
Nos graacuteficos abaixo apresentamos e analisamos em base qualiquantitivas as naturezas
das taxionomias fiacutesicas e antropoculturais e a origemetimologia dos topocircnimos estratos
linguiacutesticos
Grafico1 Natureza das Taxionomias
As taxionomias nos permitiram analisar e interpretar os designativos de lugares com
maior precisatildeo e seguranccedila do ponto de vista semacircntico sendo estudados enquanto formas de
liacutengua e de acordo com a causa de seu emprego O produto resultante aqui no nosso caso os
88
topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO ganham vida proacutepria passando
a ter caraacuteter motivado e natildeo apenas arbitraacuterio
As taxes encontradas nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO que tiveram maior proporccedilatildeo foram as de natureza fiacutesica assim o nomeador caracterizou
os fatores fiacutesicos do ambiente ou que chamaram sua atenccedilatildeo Desta forma as nomeaccedilotildees satildeo
motivadas e estabelecem relaccedilotildees com o nomeador e o lugar nomeado
421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos
Os principais topocircnimos analisados neste trabalho confirmaram uma tendecircncia da
toponiacutemia brasileira em geral ou seja a predominacircncia de topocircnimos classificados de acordo
com as taxionomias de natureza fiacutesica uma vez que na nomenclatura onomaacutestica dos
elementos fiacutesicos da regiatildeo analisada haacute um percentual de 67 (10 topocircnimos) que satildeo
classificados como taxes de natureza fiacutesica e 33 (05 topocircnimos) que se enquadram nas taxes
de natureza antropocultural
Graacutefico 2 Taxionomias de Natureza Fiacutesica
O graacutefico apresentado nos revelam que a incidecircncia em sua maioria das taxionomias
de natureza fiacutesica evidencia a influecircncia do ambiente fiacutesico no ato de nomeaccedilatildeo percebe-se
entatildeo que no ato do batismo os povos recorreram a elementos e caracteriacutesticas circundantes
aos lugares nomeados demonstrando que o meio ambiente exerce grande influecircncia no homem
no ato de nomear os lugares
0
05
1
15
2
25
3
Taxionomias de Natureza Fiacutesica
89
Ao atribuir topocircnimos agraves taxionomias de natureza fiacutesica eacute possiacutevel comprovar a forccedila
de elementos fiacutesicos como motivadores no ato de nomear os lugares O que eacute observaacutevel no
graacutefico II os topocircnimos com maior incidecircncia nos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO sendo eles fitotopocircnimos hidrotopocircnimos litotopocircnimos litotopocircnimos e
cromotopocircnimos litotopocircnimos e fitotopocircnimos meteorotopocircnimos e zootopocircnimos que no
decorrer desse trabalho seratildeo analisados
4211 Fitotopocircnimos
De acordo com o observado a taxionomia de origem fitotoponiacutemica (originada de
nomes de vegetais) atingiu em segundo lugar o maior nuacutemero de frequecircncia dentre os
topocircnimos de natureza fiacutesica 20 (02 topocircnimos) satildeo eles coacuterrego Laranjal e ribeiratildeo
Taquaral Eacute observaacutevel que a flora foi uma das grandes motivaccedilotildees para os designativos dos
cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO E segundo Dick (1990 p 146)
O importante talvez seria natildeo perder de vista que a vegetaccedilatildeo eacute parte
integrante de um conjunto natural em que o relevo constituiccedilatildeo do solo
acidentes geograacuteficos regimes climaacuteticos compotildeem um verdadeiro
biossistema imprescindiacutevel ao homem e agrave qualidade de vida que nele pretenda
instalar ou pelo menos usufruir
Eacute nessas relaccedilotildees de importacircncia para o homem que podemos compreender a nomeaccedilatildeo
destes elementos fiacutesicos fazendo referecircncia a aspectos que chamaram a sua atenccedilatildeo e
motivaram a nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua Isso se revela pelo caraacuteter de necessidade agrave vida
humana tanto do nome como do que por ele foi nomeado essa relaccedilatildeo nomeador-objeto-nome
eacute que ressalta a importacircncia da vegetaccedilatildeo no meio social local do vivente Assim tambeacutem
justifica Pereira (2009 p 143) que ldquopossivelmente seja esse o motivo de o
denominadorenunciador registrar as caracteriacutesticas locais de uma regiatildeo na nomeaccedilatildeo dos
acidentes geograacuteficos por meio do topocircnimordquo
Ao trazer as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas eacute perceptiacutevel a motivaccedilatildeo que subjaz
cada topocircnimo como observamos abaixo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 02
Topocircnimo Coacuterrego Laranjal Localizaccedilatildeo Pires do Rio
90
Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia la-ran-jal Sm plantaccedilatildeo ou pomar de laranjas (p827)
Laranja sf lsquofruto da laranjeira planta da fam das rutaacuteceasrsquo XIV Do aacuter nāranğa deriv do
persa nāranğ laranjAL -gal XVI (p382)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino laranja- + -al sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Coacuterrego afluente da margem direita do ribeiratildeo Bauacute (M de
Pires do Rio)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 03
Topocircnimo Ribeiratildeo Taquaral Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ta-qua-ral Sm 1 plantaccedilatildeo de taquara tabocal 2 terreno onde crescem
taquaras (p1337)
Taquara sf lsquoplanta da fam das gramiacuteneas taboca bambursquo 1627 tacoara c 1584 etc
tacoaacutera 1817 Do tupi takṷara taquarAL 1783 (p623)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino taquara- + -al sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ao observar as informaccedilotildees trazidas nas fichas apresentadas dos fitotopocircnimos
possivelmente as motivaccedilotildees que influenciaram o nomeador satildeo perspicazes as referecircncias
locais que de acordo com cada topocircnimo relacionamos i coacuterrego Laranjal evidentemente em
sua localidade apresentava no momento de nomeaccedilatildeo a plantaccedilatildeo de laranjas e tambeacutem o
coacuterrego favorecia a essas plantaccedilotildees ii ribeiratildeo Taquaral assim como analisado o topocircnimo
91
anterior o que tenha influenciado ao nomeador deve estar relacionado com o a quantidade de
taquaras na regiatildeo em se encontra o determinado ribeiratildeo
A ocorrecircncia dos topocircnimos de iacutendole vegetal ora pesquisados pode ter a sua
justificativa pela relevacircncia que as plantas tecircm junto a vida humana bem como necessaacuterias para
a conservaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua e suas nascentes assim justificamos a tendecircncia de valoraccedilatildeo
do vegetal no processo de batismo dos elementos fiacutesicos
4212 Hidrotopocircnimos
O topocircnimo de equivalecircncia hidroniacutemica (originado de acidentes hidrograacuteficos) aparece
no em ribeiratildeo Cachoeira Sabe-se que a aacutegua eacute de fundamental importacircncia para a vida
humana por isso a tendecircncia de o nomeador no ato de batismo do topocircnimo valer-se do nome
relacionado ao elemento aacutegua para designar o lugar
E de acordo com Dick (1990 p 196) ldquoO aparecimento de topocircnimos nos mais
diferentes ambientes revestindo uma natureza hidroniacutemica propriamente dita vincula-se agrave
importacircncia dos cursos drsquoaacutegua para as condiccedilotildees humanas de vidardquo Possivelmente o nomeador
a considera o elemento aacutegua vital para a sua existecircncia ainda sabemos que os cursos drsquoaacutegua
em muitas ocasiotildees servem de caminhos para comeacutercio como tambeacutem foi por meio deles que
se configuraram na histoacuteria do Brasil o achamento e a colonizaccedilatildeo do paiacutes pelos portugueses
Nas ficha abaixo trazemos informaccedilotildees relevantes para anaacutelise dos topocircnimos de origem
hidrograacutefica
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 04
Topocircnimo Ribeiratildeo Cachoeira Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Hidrotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ca-cho-ei-ra Sf 1queda drsquoaacutegua em rio ou ribeiratildeo cujo leito apresenta
forte declive cascata 2 trecho de rio onde as aacuteguas correm raacutepido devido agrave inclinaccedilatildeo do
terreno corredeira (p213)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba (M
de Campo Formoso)
Referecircncias Borba (2004) IBGE (1957)
92
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Por mais que apenas 10 (01) dos topocircnimos de natureza fiacutesica tenham referecircncia agrave
iacutendole hidroniacutemica a regiatildeo de Pires do Rio-GO tem seus limites poliacutetico e fiacutesico (geograacuteficos)
feita por rios sem mencionar a grande importacircncia que esses cursos exercem nas atividades da
regiatildeo
Ainda observamos em Dick (1990 p 197) que
Agraves vezes poreacutem rompe-se o equiliacutebrio que ela [a aacutegua] representa em
qualquer meio desprendendo-se de suas possibilidades de aproximar culturas
distintas e assumindo papel um tanto oposto ao se transformar em ldquoobstaacuteculordquo
agrave difusatildeo dos interesses coletivos Circunscrevendo o homem em seu proacuteprio
espaccedilo quando o transcurso se torna difiacutecil impede os contatos entre grupos
vizinhos Se o isolamento por um lado tende a manter tanto quanto possiacutevel
inalterados os valores comuns preservando por isso a tradiccedilatildeo socioloacutegica
do homem ao retardar a dinacircmica da comunidade em favor de uma estaacutetica
desestimulante e viciosa
A par desta citaccedilatildeo observamos que foi o que aconteceu a cidade de Pires do Rio-GO
a partir do rio Corumbaacute o principal para o municiacutepio que ateacute a deacutecada de 1920 era isolado dos
demais municiacutepios por falta de uma ponte que estabelecesse tal ligaccedilatildeo Com a vinda da Estrada
de Ferro Goyaz e a construccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa surgem as primeiras casas e a
efetivaccedilatildeo do municiacutepio bem como a ligaccedilatildeo com as principais cidades da regiatildeo e as relaccedilotildees
econocircmicas e poliacuteticas que auxiliaram no crescimento do municiacutepio e da regiatildeo
Observamos ainda no contexto do municiacutepio de Pires do Rio-GO que a aacutegua em suas
potencialidades eacute de grande relevacircncia e meio de sobrevivecircncia para a vida humana pois
Na parte sul encontra-se o rio Corumbaacute que eacute maior curso drsquoaacutegua do
municiacutepio Nele eacute feito a extraccedilatildeo de areia para construccedilatildeo civil suas ilhas
servem de pontos de recreaccedilatildeo para vaacuterios moradores e as suas margens satildeo
praticamente ocupadas pelas pequenas propriedades (DIAS 2008 p 84)
Posto isso no efetivar do topocircnimo a partir da importacircncia da aacutegua o nomeador
diferencia o elemento geograacutefico dos demais auxiliando na orientaccedilatildeo do homem no espaccedilo
que o cerca proporcionando subsiacutedios para um melhor (re)conhecimento do local Assim
hipoteticamente acreditamos que o topocircnimo ndash ribeiratildeo Cachoeira ndash no contexto estudado
93
pode ter a sua motivaccedilatildeo pelo proacuteprio ambiente fiacutesico uma vez recupera caracteriacutesticas
hidroniacutemicas do lugar
4213 Litotopocircnimos
Notando-se as relaccedilotildees dos topocircnimos de origem mineral os litotopocircnimos coacuterrego
Barreiro representam o percentual de 10 (01 topocircnimo) dos analisados Cabe mencionar que
os minerais foram um dos principais atrativos dos colonizadores portugueses nas terras
brasileiras E de acordo com Dick (1990) os topocircnimos de origem mineral estatildeo relacionados
tanto a caracteriacutesticas do solo quanto do terreno e assim estabelecem duas relaccedilotildees fiacutesicas que
estatildeo ligadas agraves regiotildees da terra neste caso satildeo areia barro lama pedra terra E outro fator
satildeo os histoacutericos que podem ser evidenciados no processo de colonizaccedilatildeo do Brasil por meio
das relaccedilotildees entre solo flora e relevo que satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de uma nova
sociedade
O litotopocircnimo apresentado abaixo por meio de descriccedilatildeo e anaacutelise revela a influecircncia
do local sobre o ato de nomear
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 05
Topocircnimo Coacuterrego Barreiro Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia bar-rei-ro Sm terra alagada lamaccedilal (p164)
Barreira -eirar -eiro ejar rarr BARRO
Barro sm lsquotipo de argilarsquo lsquosubstacircncia utilizada no assentamento da alvenaria de tijolo em
obras provisoacuterias obtida pela mistura de argila com aacuteguarsquo XIV De origem preacute-romana
Relaciona-se neste verbete uma seacuterie de vocaacutebulos etimologicamente correlacionados com
o radical barr- de origem preacute-romana barrEIRA sf lsquoargileirarsquo lsquoparapeitorsquo 1500 barrEIRmiddotAR
bareyrar XV barrEIRO XVIII (p82)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino barro- + ndasheiro sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
94
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Observando Sapir (1969) podemos trazer a reflexatildeo acerca da relaccedilatildeo entre liacutengua e
ambiente que vale a compreensatildeo dos fatores fiacutesicos neste caso os aspectos geograacuteficos
incluindo aleacutem dos elementos fauna e flora os recursos minerais Assim o litotopocircnimo
coacuterrego Barreiro estabelece relaccedilotildees com o local quando foi nomeado ainda compreende-se
que a localidade era de lamaccedilalbarro um dos motivadores por determinado coacuterrego ser
batizado com o referido topocircnimo
Assim como observado em Dick (1990 p 125) os referidos topocircnimos de origem
mineral se referem ao primeiro caso que eacute o de ldquoiacutendole geneacutericardquo aspectos fiacutesicos e especiacuteficos
agraves regiotildees da terra revelando assim caracteriacutesticas minerais da regiatildeo em que estaacute localizado
determinado coacuterrego
4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos
No conjunto dos topocircnimos analisados em um percentual de 10 (01 topocircnimo) do
total encontramos um topocircnimo de estrutura composta mas natildeo hiacutebrido pois eacute formado por
duas palavras de origem latina a saber coacuterrego da Terra Vermelha litotopocircnimo (origem de
nomes de minerais e de nomes relativos agrave constituiccedilatildeo do solo) e cromotopocircnimo (relativo agrave
escala cromaacutetica) E que de acordo com Isquerdo e Seabra (2010 p 91) ldquo[] a motivaccedilatildeo dos
hidrotopocircnimos de estrutura composta normalmente valoriza mais de uma caracteriacutestica do
meio ambiente como foco denominativordquo O mesmo se estabelece com o topocircnimo ora
analisado como descreve na ficha abaixo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 06
Topocircnimo Coacuterrego da Terra Vermelha Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo e
Cromotopocircnimo
Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ter-ra Sf i elemento da superfiacutecie terrestre que misturado com aacutegua
transforma-se em barro ii parte soacutelida da superfiacutecie terrestre chatildeo firme (p1351)
Terra sf lsquoterritoacuterio regiatildeorsquo lsquosolo chatildeorsquo XIII Do lat tĕrra (p631)
95
Vermelho adj lsquoda cor do sanguersquo XIII Do lat vĕrmῐcŭlus (p674)
Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Substantivo Feminino + Adjetivo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Segundo Dias (2008 p 119-122) na maior parte da regiatildeo do municiacutepio de Pires do
Rio-GO o solo eacute ldquoLatossolos Vermelhosrdquo ou ldquoLatossolos Vermelho Amareladordquo assim
hipoteticamente uma das motivaccedilotildees fundamentais para a denominaccedilatildeo do topocircnimo estaacute
ligado a caracteriacutesticas do local o que influenciou o denominador a fazer referecircncia agrave Terra
juntamente com a cor vermelha
E ainda Dias (2008 p 117) justifica que ldquoas caracteriacutesticas da vegetaccedilatildeo natural
muitas das vezes tecircm como fator determinante o tipo de solo porque eacute dele que elas retiram a
maioria dos elementos que precisam para sua nutriccedilatildeordquo Nesta regiatildeo tem a predominacircncia da
agricultura e agropecuaacuteria influecircncias do solo que contribui para tais praacuteticas
Contudo o batismo do coacuterrego com o topocircnimo Terra Vermelha traz em sua motivaccedilatildeo
as caracteriacutesticas que satildeo observadas na localidade e que de certa forma influenciaram o
nomeador Aleacutem do coacuterrego uma regiatildeo rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tambeacutem eacute
conhecida pelo referido nome
4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos
O topocircnimo coacuterrego Itauacutebi eacute um nome composto litotopocircnimo (de origem mineral) e
fitotopocircnimo (de origem vegetal) e representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos
analisados Sua estrutura morfoloacutegica segundo Dick (1992) eacute um topocircnimo composto formado
por ita- (pedra) + -ubi (palmeira) ambos de origem tupi na formaccedilatildeo de palavras se constitui
em uma composiccedilatildeo por justaposiccedilatildeo E hipoteticamente a regiatildeo em que se encontra o
coacuterrego eacute de um terreno pedregulho ou pode ser que o proacuteprio coacuterrego tenha em sua calda um
acuacutemulo maior de pedras que o normal E consequentemente uma regiatildeo em que a vegetaccedilatildeo
tenha ou lembre uma localidade com plantaccedilotildees de palmeiras
96
Assim a ficha lexicograacutefica-toponiacutemia abaixo nos auxiliou na descriccedilatildeo e anaacutelise do
topocircnimo coacuterrego Itauacutebi aclarando para um efetiva interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo do corpus desta
pesquisa
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 07
Topocircnimo Coacuterrego Itauacutebi Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo e Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia Ita ndash pedra eacute o termo mais comum nos topocircnimos brasileiros algumas
vezes aparece sem o i inicial Ta-nhenga (ilha do Rio de Janeiro) Ta-ratatilde (localidade da
Bahia) (p 174)
Ubi ndash nome comum a vaacuterias palmeias dos gecircneros Genoma Bactris e Calyptrogyne (p 190)
Estrutura morfoloacutegica Nome composto (ita- substantivo feminino + -ubi substantivo
feminino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Tibiriccedila (1985)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Segundo Dias (2008) o coacuterrego Itauacutebi eacute um dos afluentes do ribeiratildeo Marataacute e tambeacutem
um dos coacuterregos que abaste ao municiacutepio de Pires do Rio-GO juntamente com o coacuterrego
Laranjal Assim eacute possiacutevel notar a importacircncia deste curso drsquoaacutegua para o municiacutepio e a sua
relevacircncia em anaacutelise para a nossa pesquisa
4216 Meteorotopocircnimos
A meteorotoponiacutemia refere-se a topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos e no
contexto pesquisado representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos analisados sendo
ribeiratildeo Brumado que proveacutem do termo latino bruma lsquoinvernorsquo especificando como nevoeiro
neblina e cerraccedilatildeo (CUNHA 2010) Dados esses especificados abaixo na ficha lexicograacutefica-
toponiacutemica que nos auxiliou na interpretaccedilatildeo e anaacutelise do topocircnimo
97
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 08
Topocircnimo Ribeiratildeo Brumado Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Meteorotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia Bruma bru-ma Sf nevoeiro neblina cerraccedilatildeo (p203)
Bruma sf lsquonevoeiro neblina cerraccedilatildeorsquo XVI Do lat bruma lsquoinvernorsquo (p103)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino bruma- + sufixo ndashado)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do rio dos Peixes (M
de Pires do Rio)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ao observarmos em Sapir (1969) em que o leacutexico de uma liacutengua reflete claramente o
ambiente fiacutesico e social do falantes provavelmente o que influenciou o nomeador em recorrer
ao batismo do topocircnimo Brumado em determinado ribeiratildeo pode ter sido devido a ocorrer na
localidade neblinanevoeiro na estaccedilatildeo do ano inverno jaacute que a proacutepria raiz da palavra bruma
faz referecircncia ao ldquoinvernordquo
Nas leituras realizadas em alguns pesquisadores da aacuterea da toponiacutemia como Almeida
(2012) Carvalhinhos (2002 2003) Dick (1990 1992 1996 1999 2000 2001 2004 2006)
Isquerdo e Seabra (2010) Pereira (2009) Siqueira (2012 2015) natildeo foi recorrente
encontrarmos algum meteorotopocircnimo analisado ou que nos desse qualquer sustentaccedilatildeo ou
informaccedilotildees para proceder com algum confrontamento de dados mediante a isso
subentendemos que os topocircnimos de iacutendole dos fenocircmenos atmosfeacutericos natildeo tenham uma certa
frequecircncia como os demais
4217 Zootopocircnimos
Nas denominaccedilotildees de iacutendole animal zootopocircnimos no estudo corrente referem ao
percentual de 30 (03 topocircnimos) dos extratos pesquisados ndash rio Corumbaacute rio do Peixe e rio
Piracanjuba Precisamente em dois topocircnimos o fator motivador foi o animal peixe que
possivelmente influenciou o nomeador A saber que a caccedila e pesca era o meio de sobrevivecircncia
98
da comunidade primitiva desta forma possivelmente a comunidade que habitava nos referidos
locais tambeacutem foi influenciada por essas razotildees e daiacute batizando ambos os rios com os referidos
topocircnimos
Ao observamos os topocircnimos de iacutendole animal aqui presentes vamos contrapor ao que
Dauzat (1922 apud DICK 1990) constatou ter uma menor frequecircncia dos zootopocircnimos em
relaccedilatildeo a outras categorias na toponiacutemia francesa bem como agrave perspectiva de Backheuser
(1952 apud DICK 1990) de que na toponiacutemia brasileira os nomes de animais satildeo menos
recorrentes
As relaccedilotildees de denominaccedilatildeo toponiacutemica de uma dada regiatildeo pode ser diferente de outra
de acordo com isso as relaccedilotildees de motivaccedilotildees estatildeo estritamente ligadas ao nomeador pois
cada qual atribui a caracteriacutesticas inerentes ao local a que faz referecircncia Assim as fichas
lexicograacuteficas-toponiacutemicas abaixo evidenciam em suas descriccedilotildees e nos auxiliam a proceder
com a anaacutelise toponiacutemica dos designativos bem como a quantificar que os zootopocircnimos foram
os de maior frequecircncia em nossas anaacutelises
Nordm de ordem 09
Topocircnimo Rio Corumbaacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia cid Mato Grosso do Sul de corumbaacute caacutegado (p44) Origem Tupi
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio nasce nos arredores de Pirineus atravessa o municiacutepio
como o de Santa Luzia depois de servir em pequeno trecho de divisa a Bonfim Adiante
separa Ipameri e Corumbaiacuteba de um lado e Campo Formoso Pires do Rio Caldas Novas
Buriti Alegre do outro ateacute desaguar no rio Paranaiacuteba pela margem direita (M de Corumbaacute)
Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 10
Topocircnimo Rio do Peixe Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
99
OrigemEtimologia pei-xe Sm (Zool) 1 espeacutecime de classe animal vertebrado que nasce e
vive na aacutegua respira por guelras e se locomove por meio de barbatanas (p1048)
sm lsquo(Zool) animal cordado gnastomado aquaacutetico com nadadeiras com pele geralmente
coberta de escamas que respira por bracircnquiasrsquo XIII Do lat piscis -is peixADA XX
peixARIA XX peixeiro peyxero XIII Cp pescar piscatoacuterio (p485)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio (do) nasce na regiatildeo sul-oriental do municiacutepio que separa
os de Campo Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio e o de Caldas Novas desemboca
no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bonfim)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) (IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 11
Topocircnimo Rio Piracanjuba Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia cid de Goiaacutes de piracanjuba uma var de peixe de rio etim piraacute-
acatilde-juba peixe de cabeccedila amarela (p97) Origem Tupi
piraacute sm lsquodesignaccedilatildeo geneacuterica de peixe em tupirsquo piracanjuva sf lsquoespeacutecie de douradorsquo 1792
Do tupi pirakaᶇlsquoḭuṷa (p498)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce na serra de Passa
Quatro e atravessa o municiacutepio bem como o de Pouso Alto Adiante separa Caldas Novas de
Morrinhos e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bela
Vista)
Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
100
Segundo Dias (2008) o rio Corumbaacute eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio dele se extrai
areia para a construccedilatildeo civil e suas ilhas e margens servem para abrigar pequenas propriedades
inclusive para a recreaccedilatildeo e turismo O rio do Peixe eacute um dos trecircs maiores cursos drsquoaacutegua e
fronteiriccedilo na regiatildeo sul entre Pires do Rio Cristianoacutepolis Vianoacutepolis e Satildeo Miguel do Passa
Quatro tem como principal afluente o ribeiratildeo Brumado e tambeacutem eacute o principal afluente do
rio Corumbaacute O rio Piracanjuba tambeacutem estaacute entre os principais do municiacutepio na regiatildeo norte
faz fronteira entre Pires do Rio Orizona Urutaiacute e Ipameri sua principal relevacircncia foi na
deacutecada de 1950 por aiacute ter funcionado uma usina hidreleacutetrica que abastecia o municiacutepio de Pires
do Rio-GO
A anaacutelise zootoponiacutemica na localidade pesquisada evidenciou a valorizaccedilatildeo da fauna
local pois ao utilizar o nome de animais recuperou-os para nomear lugares como os rios
Observamos que os nomes de animais que estabelecem a sua origem nas liacutengua tupi
(Piracanjuba e Corumbaacute) e latina (Peixe) motivaram a nomeaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e
de alguma forma estatildeo vinculados agrave vida do nomeador estabelecendo assim relaccedilotildees
extralinguiacutesticas com os topocircnimos pesquisados E segundo Theodoro Sampaio (1914 apud
DICK 1990) dificilmente o nome do animal estaria desvinculado de sua existecircncia na
localidade
Os elementos de natureza fiacutesica mais evidentes na motivaccedilatildeo que subjazem aos
topocircnimos ora analisados foram os de origem vegetal mineral e animal (peixe) Percebemos
assim que o nomeador teve influecircncia das caracteriacutesticas do local para designar o referido
topocircnimo A partir desta anaacutelise nos eacute pertinente ao proacuteximo subtoacutepico proceder com as
anaacutelises das taxionomias de natureza antropocultural
422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos
Os topocircnimos de natureza antropocultural representam 33 (05 topocircnimos) do corpus
analisado destacando-se os antropotopocircnimos ergotopocircnimos etnotopocircnimos e
sociotopocircnimos O nomeador obteve suas motivaccedilotildees de iacutendole antropocultural fazendo
homenagem a pessoas importantes da cidade recuperando elementos da cultura material do
povo revelando elementos eacutetnicos isolados ou natildeo e por fim referenciando a atividades
profissionais ou pontos de encontro de pessoas da comunidade Assim identificando a
influecircncia do homem no meio em que se encontra
101
Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural
O graacutefico 3 nos traz em sua amplitude os topocircnimos de origem antropocultural e a partir
dele eacute que procederemos com as anaacutelises no decorrer do texto observando as regecircncias e
distintas influecircncias do nomeador no ato do batismo
4221 Antropotopocircnimos
Dentre os topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais em nossa pesquisa foi
encontrado apenas o ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo correspondendo ao percentual de
20 (01) dos topocircnimos de natureza antropocultural analisados Na toponiacutemia brasileira eacute
recorrente encontrarmos antropotopocircnimos especialmente lugares como cidades praccedilas ruas
e outros acabam recebendo nomes proacuteprios em homenagem a algueacutem A ficha lexicograacutefica-
toponiacutemica 12 em sua amplitude nos auxilia a perceber a influecircncia do antrotopocircnimo
analisado pois refere-se a uma figura puacuteblica da comunidade piresina
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 12
Topocircnimo Ribeiratildeo Sampaio Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia sm ldquomarinhordquo Sampaio eacute um sobrenome presente na onomaacutestica
portuguesa atraveacutes de raiacutezes tipicamente toponiacutemicas devido ao nome de uma vila localizada
0
02
04
06
08
1
12
14
16
18
2
ANTROPOTOPOcircNIMO ERGOTOPOcircNIMO ETNOTOPOcircNIMOS SOCIOTOPOcircNIMO
Taxionomias de Natureza Antropocultural
102
em Traacutes-os-Montes em Portugal e que teria sido adotado como sobrenome pelos senhores
deste local Alguns etimologistas acreditam que o nome Sampaio tenha surgido a partir do
latim Sanctus Pelagius (traduzido como ldquosanto marinhordquo) que significa Santo Pelagius e
com o passar do tempo tenha sofrido alteraccedilotildees na grafia passando para Sam Peaio Satildeo
Payo e por fim Sampaio Origem hebraica
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Proacuteprio ndash sobrenome)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da margem direita
do rio Corumbaacute (M de Pires do Rio)
Referecircncias Dicionaacuterio online de Nomes Proacuteprios (sd) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Este antropotopocircnimo foi o norteador motivacional para esta pesquisa pois o ribeiratildeo
Sampaio em um de seus limites por boa parte da populaccedilatildeo (inclusive eu) eacute conhecido como
Pedro Teixeira (que na verdade eacute o nome da ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo) soacute tempos depois
conheci o seu verdadeiro nome
E Dick (1990 p 286) assegura que
Os aspectos semacircnticos que podem ser encontrados nos nomes de pessoas
ligam-se portanto ao papel que exercem de verdadeiras manifestaccedilotildees
culturais dos povos e onde transparecem os mais diversos motivos
determinantes de sua escolha Talvez a proacutepria maneira pela qual se concebia
o nome em eacutepocas remotas como uma substacircncia revestida de poderes
miacutesticos seja a responsaacutevel pela variedade das motivaccedilotildees em uma ou em
outras sociedades
Os aspectos motivacionais para o topocircnimo em estudo eacute uma homenagem ao coronel
Lino Teixeira de Sampaio neste caso de acordo com Cabral (2007) eacute um patroniacutemico
sobrenome e faz referecircncia ao doador das terras em que fundou-se a cidade de Pires do Rio-
GO Segundo Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares ou
homenagem ou ateacute mesmo por caracteriacutesticas geograacuteficas inerentes ao local Em alguns casos
os nomes satildeo opacos pois natildeo apresentam nenhuma relaccedilatildeo com o referente nesta situaccedilatildeo haacute
de se fazer uma busca histoacuterica para chegar as relaccedilotildees motivacionais que natildeo eacute o nosso caso
Observando em estudos acerca dos topocircnimos de iacutendole de nomes proacuteprios individuais
constatamos que
103
Nomes proacuteprios de pessoas satildeo obscurecidos em seu conteuacutedo leacutexico-
semacircntico pela opacidade do proacuteprio signo que os conforma distanciados na
maioria das ocorrecircncias do foco original Integram o inventaacuterio mais fechado
da linguagem cuja origem remonta no Brasil aos primeiros nomes de
famiacutelias portuguesas para aqui imigradas (DICK 2001 p 83)
Assim foi possiacutevel observar que o patroniacutemico Sampaio ratifica a citaccedilatildeo de Dick
(2001) pois ele estaacute presente na onomaacutestica portuguesa evidenciado nas raiacutezes tipicamente
toponiacutemicas relacionado ao nome de uma vila localizada em Traacutes-os-Montes em Portugal que
supostamente teria sido adotado como sobrenome pelos senhores deste local (DICIONAacuteRIO
DE NOMES PROacutePRIOS sd)
A importacircncia desse referido ribeiratildeo para o municiacutepio de Pires do Rio-GO justifica-se
desde a sua nomeaccedilatildeo pela razatildeo de sua nascente ser em terras que eram de propriedade do
coronel Lino Teixeira de Sampaio e tambeacutem pelo motivo de
O ribeiratildeo Sampaio eacute utilizado como um dos limiacutetrofes das aacutereas urbana e
rural tambeacutem depositaacuterio da Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE)
consequentemente recebendo a aacutegua do esgoto depois de feito seu devido
tratamento Neste ribeiratildeo encontram-se os menores pontos altimeacutetricos da
aacuterea urbana o que favoreceu a construccedilatildeo da ETE (DIAS 2008 p 84)
Neste contexto eacute evidente que a motivaccedilatildeo para o topocircnimo Sampaio eacute uma
homenagem a uma pessoa que tem uma importacircncia para o local a cidade de Pires do Rio-GO
E assim podemos evidenciar que o ato de nomear aqui institui as relaccedilotildees de poder
possivelmente a de coacuterrego do senhor coronel Lino Teixeira de Sampaio estabelecendo as
relaccedilotildees de poder que o proacuteprio coronel mantinha sobre o local a cidade
4222 Ergotopocircnimos
Os topocircnimos referente a elementos da cultura material ergotopocircnimos nas anaacutelises
desta pesquisa tiveram um percentual de 20 (01) dos topocircnimos analisados ribeiratildeo Bauacute
assim observamos que o denominador foi motivado pelas relaccedilotildees da cultura material que o
cerca Jaacute observado em Sapir (1969) pois no leacutexico toponiacutemico reflete o ambiente social do
falante assim o topocircnimo no qual o objeto bauacute eacute de origem da cultura material e de uso
humano possivelmente as caracteriacutesticas do objeto como fundura largura e formato do bauacute
foram vitais para a nomeaccedilatildeo do ribeiratildeo
104
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 13
Topocircnimo Ribeiratildeo Bauacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Ergotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia ba-uacute (fr) Sm (Co) 1 mala de madeira recoberta de couro com tampa
conversa 2 moacutevel em forma de caixa de folha ou madeira onde se guardam roupas e demais
objetos (p169)
sm lsquotipo de caixa ou mala com tampa convexa na parte externarsquo baul XVI bau XVII bahu
Do ant baul deriv do a fr bahur (hoje bahut) de origem obscura (p84) 1805
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba na
divisa do municiacutepio de Pires do Rio (M de Campo Formoso)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Desta forma ldquoa lsquoescolharsquo do nome se daacute segundo um agenciamento enunciativo
especiacutefico este acontecimento de nomear recorta como memoraacuteveis os nomes disponiacuteveis
como contemporacircneos proacuteprios de sua eacutepocardquo (GUIMARAtildeES 2005 p 36-37) Eacute necessaacuterio
observar na citaccedilatildeo de Guimaratildees (2005) que no ato do batismo o nomeador faz referecircncia ao
contemporacircneo ou proacuteprio de sua eacutepoca no caso de uso do termo bauacute configura-se como essa
afirmaccedilatildeo eacute relativa a algo realmente usado em determinada eacutepoca
Eacute evidente que o topocircnimo apresentou como fonte motivacional a relaccedilatildeo existente entre
a cultura material e seu nomeador ou seja uma motivaccedilatildeo toponiacutemica de ordem
antropocultural assim essas designaccedilotildees que recuperam elementos da cultura material do
povo da localidade identifica a influecircncia do homem no meio em que se vive
4223 Etnotopocircnimos
Uma das taxionomias de natureza antropocultural de maior ocorrecircncia nesta pesquisa
com o percentual de 40 (02) topocircnimos dos analisados foram os etnotopocircnimos topocircnimos
105
relativos a elementos eacutetnicos isolados ou natildeo sendo o ribeiratildeo Caiapoacute e ribeiratildeo Marataacute que
no decorrer satildeo apresentados nas fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 14
Topocircnimo Ribeiratildeo Caiapoacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia rio do E de Goiaacutes nome de uma tribo fam linguiacutestica Jecirc que habitou
a regiatildeo (p34)
cai-a-poacute (Tupi) S 1 indiviacuteduo de um povo indiacutegena de Mato Grosso Sm [Pl] 2 esse povo
(p217)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Corumbaacute (M de
Pires do Rio)
Referecircncias Tibiriccedila (1985) Borba (2004) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 15
Topocircnimo Ribeiratildeo Marataacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Marata ndash sm 1 indiviacuteduo dos maratas 2 liacutengua indo-europeia do ramo
indo-iraniano sub-ramo indo-aacuterico falada no Oeste e Centro da Iacutendia esp no Estado de
Maharashtra por aprox 50 milhotildees de pessoas Eacute uma das liacutenguas oficiais da Iacutendia Sacircnsc
mahaacuteraacutestra o grande reino pelo hind marhatta id
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas afluente da margem direita do ribeiratildeo Caiapoacute (M de Pires
do Rio)
Referecircncias Houaiss (2009) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
106
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Na justeza dos nomes podemos evidenciar que ao batizar o ribeiratildeo Caiapoacute o nomeador
se valeu de fatores antropoculturais em relaccedilatildeo aos iacutendios caiapoacutes lsquokayapoacutersquo que segundo fatos
da histoacuteria estiveram em terras goianas desta forma ao se valer do uso do topocircnimo a
motivaccedilatildeo para tal ato de batismo pode ser referente a esses povos terem influecircncias de alguma
forma sobre o nomeador no ato do batismo do topocircnimo
Jaacute o topocircnimo ribeiratildeo Marataacute traz em sua bases semacircnticas como i ldquoliacutengua indo-
europeiardquo ii ldquoindiviacuteduos dos maratasrdquo segundo Houaiss et al (2009) E possivelmente a
motivaccedilatildeo do designativo foi a influecircncia de grupos europeus que tambeacutem passaram por estas
terras jaacute que o paiacutes foi colonizado por Portugal e na formaccedilatildeo da sociedade goiano e piresina
terem a presenccedila de vaacuterias etnias inclusive europeia
Desta forma eacute evidente que os etnotopocircnimos estatildeo relacionados agrave presenccedila e influecircncia
de grupos de distintas etnias no Brasil visto que a histoacuteria local e nacional revelam a presenccedila
de vaacuterios povos na formaccedilatildeo do sociedade brasileira
4224 Sociotopocircnimos
Tomando por anaacutelise os topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais
de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma dada comunidade dentre os
sociotopocircnimos numa frequecircncia de 20 (01) dos topocircnimos analisados foi encontrado o
designativo ribeiratildeo Mucambo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 16
Topocircnimo Ribeiratildeo Mucambo Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Sociotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Mocambo sm lsquoesconderijo refuacutegio dos negros (escravos) fugidorsquo
1535 mocano Do quimb mursquokamu lsquoescondrijorsquo Embora se documente em vaacuterios textos
quinhentistas relativos aos antigos domiacutenios portugueses na Aacutefrica foi no Brasil que o voc
Se difundiu intensamente desde o periacuteodo colonial em decorrecircncia do intenso conviacutevio dos
brancos com os negros escravos da africanos (p431)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
107
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
O topocircnimo tem sua origem no termo mocambo que se refere a esconderijo de escravos
fugidos (CUNHA 2010) Possivelmente assim como jaacute observado nos fatores motivacionais
de outros topocircnimos a relaccedilatildeo de grupos eacutetnicos terem passado ou habitado na regiatildeo pode ter
influenciado na nomeaccedilatildeo do designativo Na regiatildeo observada viveram escravos negros que
formaram um comunidade rural desta forma podem ter influenciado o nomeador no ato do
batismo do ribeiratildeo Mucambo
A partir do sociotopocircnimo analisado observamos em Carvalhinhos (2003 p 172) que
Os atuais estudos onomaacutesticos no Brasil vecircm justamente resgatando a histoacuteria
social contida nos nomes de uma determinada regiatildeo partindo da etimologia
para reconstruir os significados e posteriormente traccedilar um panorama
motivacional da regiatildeo em questatildeo como um resgate ideoloacutegico do
denominador e preservaccedilatildeo do fundo de memoacuteria
Desta forma ao traccedilar um panorama dos topocircnimos analisados eacute elementar que o
nomeador ao longo das nomeaccedilotildees buscou em suas bases motivacionais preservar a memoacuteria
local seja nos fatores fiacutesicos e ou sociais Para configurar tais dados no proacuteximo subtoacutepico
analisaremos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados
43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos
Analisar as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos estratos linguiacutesticos antes de mais
nada eacute perceber as influecircncias das etnias que povoaram o nosso paiacutes e regiatildeo Sabemos que no
iniacutecio do seacuteculo XVI quando os povos lusoacutefonos chegaram em terras brasileiras os iacutendios jaacute
as habitavam embora fossem os donos da terra tatildeo logo os portugueses se instalaram e se
fizeram os novos donos Mas no decorrer dos seacuteculos outros povos foram chegando e tambeacutem
se instalando no local daiacute retiramos a origem dos estratos linguiacutesticos dos topocircnimos analisados
nesta pesquisa
De acordo com Dick (1992 p 81)
108
a formaccedilatildeo etno-histoacuterica do Brasil acusa a existecircncia de estratos
populacionais diversos como os ameriacutendios distribuiacutedos em vaacuterios troncos e
famiacutelias Os portugueses os africanos e os de procedecircncia estrangeira jaacute em
eacutepoca posterior agrave colonizaccedilatildeo propriamente dita Essa origem heterogecircnea
deixou reflexos diferenciados na liacutengua nos usos e costumes nas tradiccedilotildees
regionais e consequentemente na toponiacutemia do paiacutes
Perceber essa heterogeneidade linguiacutestica na formaccedilatildeo dos topocircnimos eacute fundamental
visto que dos 15 topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO a sua maioria
eacute de origem indiacutegena isso revela que apesar do processo de colonizaccedilatildeo e imposiccedilatildeo da liacutengua
portuguesa a liacutengua dos nativos ainda prevaleceu ao menos na designaccedilatildeo toponiacutemica E no
graacutefico abaixo apresentamos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados
Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos
Analisar as origens dos topocircnimos eacute reconhecer segundo Dick (2006) que a Toponiacutemia
pode conviver com dois movimentos vivenciados de linguagem i) a nativa (linguagem
indiacutegena) e ii) a advena ou seja de iacutendole civilizatoacuteria pois ambas colaboraram para a
formaccedilatildeo dos brasileirismos e regionalismos mas natildeo apenas presentes na liacutengua Podemos
assim constatar em nossas anaacutelises que o vivenciado de acordo com a linguagem ldquonativardquo foi
a que teve maior frequecircncia neste estudo
Observamos no graacutefico IV a frequecircncia das liacutenguas que deram origem aos 15 topocircnimos
dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO e no que se segue procedemos com as
anaacutelises e logo apoacutes a estrutura morfoloacutegica
005
115
225
335
445
5
OrigemEtimologia dos Topocircnimos
109
O topocircnimo coacuterrego Laranjal eacute de origem Aacuterabe a influecircncia dessa liacutengua em nossa
regiatildeo nos eacute evidenciada no iniacutecio do seacuteculo XX com a fundaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio-
GO os aacuterabes foram um dos primeiros imigrantes que aqui chegaram bem como tiveram um
destaque na aacuterea comercial possivelmente este topocircnimo tenha relaccedilotildees com esse fato No que
tange agrave frequecircncia a liacutengua Aacuterabe (esta liacutengua influenciou imensamente o leacutexico da Liacutengua
Portuguesa) corresponde a 7 (01) dos topocircnimos analisados
Ainda contatamos outras liacutenguas como a Hebraica ndash ribeiratildeo Sampaio Preacute-romana ndash
coacuterrego Barreiro Sacircnscrito ndash ribeiratildeo Marataacute e ainda de Origem Obscura ndash ribeiratildeo Bauacute
Cada uma dessas liacutenguas correspondem agrave frequecircncia de 7 (01) dos topocircnimos analisados
provavelmente as devidas nomeaccedilotildees se devem ao fato da vinda de pessoas de outros
continentes em busca de melhores condiccedilotildees de vida e assim contribuiacuterem com a formaccedilatildeo
dos designativos dos cursos drsquoaacutegua
Os dados da toponiacutemia brasileira em relaccedilatildeo agrave origem dos topocircnimos satildeo de origem da
Liacutengua Portuguesa devido a colonizaccedilatildeo jaacute que os povos lusoacutefonos aqui chegaram e segundo
Dick (1995 p 60)
os primeiros topocircnimos funcionavam portanto como verdadeiros ldquosign-
postsrdquo ou marcas semioacuteticas de identificaccedilatildeo dos lugares usadas com a
finalidade de distinguir as caracteriacutesticas de espaccedilos semelhantes uma forma
uma silueta o perfil de uma paisagem se apresentando como recortes de uma
corografia maior a ser detalhada
Os povos lusoacutefonos nomeavam os lugares de acordo com caracteriacutesticas do lugar
Assim os topocircnimos por nograves analisados ndash coacuterrego Brumado coacuterrego da Terra Vermelha
ribeiratildeo Cachoeira e rio do Peixe ndash satildeo de origem latina liacutengua que deu origem agrave Liacutengua
Portuguesa e entre os topocircnimos estudados referem ao percentual de 29 (04 topocircnimos) dos
analisados
No processo de colonizaccedilatildeo do Brasil os portugueses necessitavam de matildeo-de-obra
mas como natildeo tiveram ecircxito com os iacutendios entatildeo foi necessaacuterio a busca de outros povos com
isso trouxeram os escravos E no processo de nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de
Pires do Rio-GO a Liacutengua Portuguesa (Aacutefrica) um percentual de 7 (01) dos topocircnimos ndash
ribeiratildeo Mucambo ndash que eacute especificado como o local esconderijo de escravos fugitivos Haacute
relatos de que na regiatildeo da zona rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tem uma localidade
que foi constituiacuteda em sua maioria populacional por escravos provavelmente pode esse
topocircnimo ter sido influenciado por tal fato
110
Em sua maioria 36 (05) dos topocircnimos analisados satildeo de origem Tupi ndash coacuterrego
Caiapoacute coacuterrego Itauacutebi ribeiratildeo Taquaral rio Corumbaacute e rio Piracanjuba ndash e segundo Bearzoti
Filho (2002 p 43) ao tratar das designaccedilotildees de origem tupi assinala que ldquoem grande parte
trata-se de topocircnimos atribuiacutedos natildeo por iacutendios mas por bandeirantes que como jaacute vimos
utilizavam a liacutengua geral como idioma de comunicaccedilatildeo ordinaacuteria em suas expediccedilotildeesrdquo
E de acordo com Sampaio (1928 p 02)
ao europeu poreacutem ou aos seus descendentes cruzados que realizaram as
conquistas dos sertotildees eacute que se deve a maior expansatildeo do tupi como liacutengua
geral dentro das raias atuais do Brasil As levas que partiam do litoral a
fazerem descobrimentos falavam no geral o tupi pelo tupi designavam os
novos descobertos os rios as montanhas os proacuteprios povoados que fundavam
e que eram outras tantas colocircnias espalhadas nos sertotildees falando tambeacutem o
tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo
Ao firmar o ato de nomeaccedilatildeo das localidades constatamos que o tupi liacutengua de origem
do maior nuacutemero de topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO
possivelmente deve-se agrave influecircncia das seguintes relaccedilotildees a internalizaccedilatildeo de nomes de origem
tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para Goiaacutes e a presenccedila de iacutendios como jaacute
mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo viveram regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da
colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)
Ainda consoante Pereira (2009 p 27) observamos que
A toponiacutemia brasileira como um todo reuacutene uma grande quantidade de nomes
de base indiacutegena na nomeaccedilatildeo de acidentes geograacuteficos que evidenciam
marcas da presenccedila de vaacuterias etnias na nomenclatura geograacutefica brasileira Um
estudo toponiacutemico numa dimensatildeo etnolinguiacutestica analisa desde a origem
dos nomes ateacute as influecircncias socioculturais da populaccedilatildeo que habita o espaccedilo
geograacutefico em estudo na forma de nomear os acidentes fiacutesicos verificando se
no momento da designaccedilatildeo de um lugar o designador apropriou-se de nomes
cuja origem procedeu de estratos linguiacutesticos de base portuguesa ou de outras
liacutenguas que influenciaram a formaccedilatildeo do leacutexico do portuguecircs brasileiro
principalmente as liacutenguas indiacutegenas e africanas
Ao analisarmos os topocircnimos dos cursos drsquoagua do municiacutepio de Pires do Rio-GO
podemos constatar que em sua maioria as liacutenguas que lhe deram origem foram as indiacutegenas e a
latina as outras que representaram um percentual menor possivelmente estatildeo ligadas agrave vinda
de outras etnias que ajudaram na formaccedilatildeo populacional do Brasil e de Goiaacutes
111
44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos
Com vistas nos paracircmetros teoacuterico-metodoloacutegicos da pesquisa seguindo o que eacute
estabelecido por Dick (1992) ao que se refere a estrutura morfoloacutegica o topocircnimo pode ser
classificado como simples composto e composto hiacutebrido que de acordo Dick (1992 p 14)
ldquotopocircnimo que em sua estrutura haacute a presenccedila de duas bases linguiacutesticas distintas por exemplo
tupi + portuguecircsrdquo mas natildeo encontrado em nossa pesquisa A partir disto tomamos o graacutefico V
para procedermos com a anaacutelise
Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos
Dos 15 sintagmas toponiacutemicos catalogados uma representaccedilatildeo de 87 (13 topocircnimos)
satildeo de estrutura simples que no processo de nomeaccedilatildeo o nomeador utilizou apenas um
formante ou seja um elemento designativo Jaacute os compostos aparecem em um percentual de
13 (02 topocircnimos) formados por mais de um formante lexical
Ao trazermos essas informaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos topocircnimos observamos que
como uso de substantivos e adjetivos o denominador acaba por trazer caracteriacutesticas do local
onde nomes comuns passam a formar nomes proacuteprios e segundo Dick (2006 p 108)
o topocircnimo integraraacute natildeo uma categoria descritiva de nomes nem um iacutendice
cromaacutetico desvinculado de outras consideraccedilotildees culturais e sim o que
chamamos na teoria de nomes transplantados deslocados ou transferidos de
seu lugar de origem para outros pontos distantes formando uma nova
sequecircncia nominal
0
2
4
6
8
10
12
14
SIMPLES COMPOSTO
Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos
112
No processo de nomeaccedilatildeo o nomeador faz uso de designativos que aleacutem de sofrer
certos deslocamentos como jaacute mencionado de nome comum para nome proacuteprio haacute tambeacutem
casos de alguns topocircnimos sofrerem alteraccedilotildees em suas estruturas morfoloacutegicas como o caso
do designativo ribeiratildeo Mucambo que em suas origens traz a grafia de mocambo
No decorrer deste estudo e anaacutelises foi possiacutevel perceber que os topocircnimos aleacutem de
servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais da sociedade a
que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e costumes da sociedade E ao final foi
notoacuterio perceber nas liacutenguas que deram origem aos topocircnimos a estreita relaccedilatildeo com o
ambiente pois de alguma forma o nomeador obteve motivaccedilatildeo tanto do espaccedilo meio ambiente
como da liacutengua propriamente dita
113
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Ao propormos estudar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO tomamos por base caracterizar o ato de nomear e dele reiteramos e pode ser observado em
sua totalidade a relaccedilatildeo de poder pois nomear eacute instituir E eacute por meio do batismo do topocircnimo
que ele se instaura e revela as relaccedilotildees do meio ambiente com o homem eou do homem com
meio que o circunda As consideraccedilotildees finais ora apresentadas referem-se aos estudos
toponiacutemicos relacionados apenas ao contexto local desta pesquisa mas muito ainda haacute de ser
estudado na aacuterea em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia em Goiaacutes
Os objetivos da pesquisa constituem-se basicamente em descrever e analisar os
topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO observando
noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural Assim em
sua maioria os elementos fiacutesicos sobressaiacuteram sobre os demais pois no total de 15 topocircnimos
analisados um percentual de 67 (10 topocircnimos) foram motivados pelos aspectos fiacutesicos
sendo que os de origem vegetal fitotopocircnimos e animal zootopocircnimos tiveram maior
recorrecircncia Assim concretizamos que o ambiente influenciou o nomeador no ato do batismo
estabelecendo as relaccedilotildees entre liacutengua e ambiente inclusive com os aspectos extralinguiacutesticos
A maior incidecircncia de taxionomias de natureza fiacutesica nesta pesquisa demonstra a
tendecircncia do denominador de nomear os lugares com nomes dos elementos fiacutesicos da natureza
circundante numa constataccedilatildeo de que o meio ambiente exerce grande influecircncia sobre o
homem refletindo-se tambeacutem no processo de nomeaccedilatildeo dos lugares
Jaacute no que tange agraves taxionomias de natureza antropocultural em nossas anaacutelises com um
percentual de 33 (05 topocircnimos) os etnotopocircnimos que fazem referecircncia a elementos eacutetnicos
foram os com maior frequecircncia Observamos nas taxes de natureza antropocultural que os
fatores culturais foram os motivadores para a designaccedilatildeo dos topocircnimos analisados
evidenciando as relaccedilotildees do homem com o ambiente que o cerca Para tanto foi necessaacuterio
identificar os fatores que constituem a motivaccedilatildeo que subjazem agrave escolha do nome do lugar
que foi possibilitado por meio da caracterizaccedilatildeo de fatores sociais culturais histoacutericos que nos
auxiliaram nas anaacutelises dos topocircnimos
A hipoacutetese inicial da pesquisa foi de que pelo caraacuteter motivado o signo toponiacutemico
possibilita reconhecer fatores vinculados ao que subjaz agrave escolha dos nomes de lugares e assim
nos possibilitou o levantamento de fatores soacutecio-histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave
anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua como iacutendice de estreita relaccedilatildeo entre
liacutenguaambiente e cultura E pudemos observar que os topocircnimos estabelecem relaccedilotildees da
114
liacutengua e meio ambiente no que concerne agrave anaacutelise das taxionomias de natureza fiacutesica e a
posteriori as relaccedilotildees de liacutengua e cultura que foram evidenciadas nas taxionomias de natureza
antropocultural Nas taxes analisadas foi possiacutevel detectar que o ambiente e o contexto satildeo
fundantes nas motivaccedilotildees que subjazem aos topocircnimos analisados Desta forma entende-se que
um rio um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que uma vez nomeados passam a carregar as
inuacutemeras memoacuterias do lugar
Os fatores soacutecio-histoacutericos-culturais do municiacutepio de Pires do Rio-GO foram
imprescindiacuteveis no processo de anaacutelise dos designativos dos lugares pois no caso do topocircnimo
ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo ficou evidente que o fato motivador foi a relaccedilatildeo de poder
do nome devido ao ribeiratildeo ter sua nascente em terras que eram do coronel Lino Teixeira de
Sampaio e tambeacutem por ter sido ele o doador das terras em que surgiu o referido municiacutepio
Ao levantar as perguntas de pesquisa qual a origem dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da
cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do
lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo Apoacutes ter analisado os 15
topocircnimos fica evidente que todos os nomes estatildeo registrados nas cartas topograacuteficas e satildeo
oficializados pelo IBGE mas provavelmente os nomes foram dados pela comunidade que
habitou nas localidades ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas que foram levantadas nos designativos
fazendo referecircncia ao local
Por meio da caracterizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico
onomasioloacutegico que foi o norte da pesquisa combinado com outros meacutetodos como o Woumlrter
und Sachen (palavras e coisas) numa abordagem qualiquantitativa foi evidente na relaccedilatildeo da
toponiacutemia que os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos
lugares Nesse iacutenterim nos foi possiacutevel quantificar os topocircnimos em relaccedilatildeo as taxionomias
origem e estrutura morfoloacutegica percebendo as ocorrecircncias em maior frequecircncia
A anaacutelise do ponto de vista etnolinguiacutestico demonstrou a predominacircncia de topocircnimos
originaacuterios da liacutengua indiacutegena um percentual de 36 essa recorrecircncia eacute supostamente devido
agrave internalizaccedilatildeo de nomes de origem tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para
Goiaacutes e agrave presenccedila de iacutendios como jaacute mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo
viveram na regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e
consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)
A liacutengua latina que deu origem agrave liacutengua portuguesa aparece e 29 dos topocircnimos
analisados isso devido aos povos lusoacutefonos que nomeavam os lugares com as caracteriacutesticas
que se estabeleciam com os referidos locais por eles percorridos e habitados E tambeacutem outras
liacutenguas tiveram uma menor frequecircncia como a aacuterabe hebraica preacute-romana sacircnscrito e
115
tambeacutem um topocircnimo de origem obscura fica evidente que outras etnias influenciaram na
nomeaccedilatildeo dos lugares Pode ser pelo fato de o nomeador pertencer a etnia ou ter alguma relaccedilatildeo
indireta
Quanto agrave estrutura morfoloacutegica do toacutepico de acordo com Dick (1992) dos analisados
87 satildeo de formaccedilatildeo simples tendo apenas um formante e 13 satildeo compostos com dois
formantes lexicais assim os compostos revelam mais de uma caracteriacutestica do local nomeado
e caracteriza mais de uma taxionomia
De forma peculiar esta pesquisa aleacutem de proceder com as anaacutelises de classificaccedilatildeo
origemetimologia morfoloacutegica e semacircntico-toponiacutemicas remapeou e cartografou os cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO sem mencionar no revisitar da formaccedilatildeo histoacuterica
deste municiacutepio e da contribuiccedilatildeo com os estudos toponiacutemicos no estado de Goiaacutes
Os topocircnimos aleacutem de servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas
fiacutesicas e sociais da sociedade a que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e
costumes dessa sociedade E ao perceber essas relaccedilotildees de liacutenguaambiente e cultura na
designaccedilatildeo do topocircnimo eacute que propomos para discussatildeo futura doutorado a partir da
ecolinguiacutestica e da toponiacutemia proceder com a anaacutelise da relaccedilatildeo de liacutengua e meio ambiente nos
hidrocircnimos das bacias hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes
116
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Karylleila dos Santos Atlas toponiacutemico de origem indiacutegena do estado do
Tocantins ATITO Goiacircnia-GO Ed PUC Goiaacutes 2010
ALMEIDA Lana Cristina Santana de O leacutexico toponiacutemico das comunidades rurais de Santo
Antocircnio de Jesus uma anaacutelise semacircntica e sociocultural 2012 188f Dissertaccedilatildeo (Mestrado
em Liacutengua e Cultura) ndash Universidade Federal da Bahia Salvador-BA 2012
AULETE Caldas Dicionaacuterio escolar da liacutengua portuguesa 3ordf ed Rio de Janeiro-RJ
Lexikon 2011
BASSETTO Bruno Fregni Elementos de Filologia Romacircnica histoacuteria Externa das Liacutenguas
Romacircnicas V1 2ed Satildeo Paulo-SP EDUSP 2013
______ Elementos de filologia romacircnica histoacuteria externa das liacutenguas Satildeo Paulo-SP Editora
da Universidade de Satildeo Paulo 2001
BEARZOTI FILHO Paulo Formaccedilatildeo linguiacutestica do Brasil Curitiba-PR Nova Didaacutetica
2002
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia Sagrada Traduccedilatildeo Centro Biacuteblico Catoacutelico 100ordf ed rev Satildeo
Paulo-SP Ave Maria 1995
BIDERMAN Maria Tereza Camargo Dimensotildees da palavra Filologia e Linguiacutestica
Portuguesa Araraquara-SP n 2 p 81-118 1998
BORBA Francisco da Silva (Org) Dicionaacuterio UNESP do portuguecircs contemporacircneo Satildeo
Paulo-SP UNESP 2004
BORGES Barsanufo Gomides O despertar dos dormentes estudo sobre a Estrada de
Ferro de Goiaacutes e seu papel nas transformaccedilotildees das estruturas regionais 1909-1922
Goiacircnia-GO Cegraf 1990
BOSI Alfredo Plural mas natildeo caoacutetico In ______ (Org) Cultura Brasileira temas e
situaccedilotildees Satildeo Paulo-SP Editora Aacutetica 1987 p 7-15
BRASIL Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Pires do Rio-GO folha SE-22-X-III Escala 1100 000 1973
______ Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Ipameri-GO folha SE-22-X-VI Escala 1100 000 1973
______ Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Cristianoacutepolis-GO folha SE-22-X-II Escala 1100 000 1973
CABRAL Joatildeo de Pina Matildees pais e nomes no baixo sul (Bahia Brasil) In ______ VIEGAS
Susana de Matos Nomes geacutenero etnicidade e famiacutelia Coimbra-Portugal Almedina 2007 p
63-87
117
CAcircMARA JR Joaquim Mattoso Histoacuteria da Linguiacutestica 6ordf ediccedilatildeo Petroacutepolis-RJ Editora
Vozes LTDA 1975
______ Liacutengua e cultura Revista Letras Londrina-PR v 4 p 50 - 59 1955 Disponiacutevel em
lthttpojsc3slufprbrojsindexphpletrasarticleview2004613227gt Acesso em 30 set
2015
CAMPBELL Lyle Historical Linguistics An Introduction 2 ed Cambrige-EUA MIT
2004
CARVALHINHOS Patriacutecia de Jesus Onomaacutestica e lexicologia o leacutexico como catalisador de
fundo de memoacuteria Estudo de caso os sociotopocircnimos de Aveiro (Portugal) Revista USP Satildeo
Paulo-SP n 56 p 172-179 2003 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevistasuspbrrevusparticleview33819gt Acesso em 13 jan 2016
______ Antroponiacutemia Um velho caminho um novo instrumental de anaacutelise linguiacutestico-
literaacuteria Revista Aacutelvares Penteado Satildeo Paulo-SP v 4 n 8 p 115-135 2002
COSERIU Eugecircnio O homem e sua linguagem Trad Carlos Alberto da Fonseca e Maacuterio
Ferreira Satildeo Paulo-SP Edusp 1982
______ Princiacutepios de semaacutentica estructural Madrid-Espanha Gredos 1977
COUTO Hildo Honoacuterio do Onomasiologia e semasiologia revisitadas pela
ecolinguiacutestica Revista de Estudos da Linguagem Belo Horizonte-MG v 20 n 2 p 183-
210 2012 Disponiacutevel em
lthttpperiodicosletrasufmgbrindexphprelinarticleview2748gt Acesso em 13 jan 2016
______ Ecolinguiacutestica - estudo das relaccedilotildees entre liacutengua e meio ambiente Brasiacutelia-DF
Thesaurus 2007
CROWLEY Terry An Introduction to Historical Linguistics 3 ed Oxford-EUA Oxford
University 2003
CRYSTAL David Pequeno tratado da linguagem humana Traduccedilatildeo Gabriel Perisseacute Satildeo
Paulo-SP Saraiva 2012
CUNHA Antocircnio Geraldo da Dicionaacuterio etimoloacutegico da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro-
RJ Lexikon 2010
CUNHA Celso A magia da palavra In ______ Sob a pele das palavras Rio de Janeiro-RJ
Nova Fronteira Academia Brasileira de Letras 2004 p 217-233
DIAS Ana Lourdes Cardoso Toponiacutemia dos antigos arraiais tocantinense 2016 207f Tese
(Doutorado em Letras e Linguiacutestica) ndash Universidade Federal de Goiacircnia Faculdade de Letras
Goiacircnia-GO 2016
DIAS Cristiane Mapeamento do municiacutepio de Pires do Rio-GO usando teacutecnicas de
geoprocessamento 2008 187f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Federal
de Uberlacircndia Uberlacircndia-MG 2008
118
Dicionaacuterio de nomes proacuteprios Significado dos nomes sd Disponiacutevel em
lthttpswwwdicionariodenomesproprioscombrsampaiogt Acesso em 06 jul 2016
DICK Maria Vicentina de Paula do Amaral Fundamentos teoacutericos da Toponiacutemia Estudo de
caso O Projeto ATEMIG ndash Atlas Toponiacutemico do Estado de Minas Gerais (variante regional do
Atlas Toponiacutemico do Brasil) In SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa (Org) O leacutexico
em estudo Belo Horizonte-MG Faculdade de Letras da UFMG 2006 p 91-117
______ Rede de conhecimento e campo lexical hidrocircnimos e hidrotopocircnimos na onomaacutestica
brasileira In ISQUERDO Aparecida Negri KRIEGER Maria da Graccedila As ciecircncias do
leacutexico lexicologia lexicografia e terminologia Vol II Campo Grande-MT Editora da UFMS
2004 p 121-130
______ O sistema onomaacutestico bases lexicais e terminoloacutegicas produccedilatildeo e frequecircncia In
OLIVEIRA Ana Maria Pinto Pires ISQUERDO Aparecida Negri (orgs) As ciecircncias do
leacutexico lexicologia lexicografia terminologia 2 ed Campo Grande-MS UFMS 2001 p 77-
88
______ A Investigaccedilatildeo Linguiacutestica na Onomaacutestica Brasileira Estudos de Gramaacutetica
Portuguesa III Frankfurt am Main Volume III 2000 p 217-239
______ Meacutetodos e questotildees terminoloacutegicas na onomaacutestica Estudo de caso o Atlas
Toponiacutemico do Estado de Satildeo Paulo Investigaccedilotildees Linguiacutestica e Teoria Literaacuteria Recife-PE
v 9 p 119-148 1999
______ A dinacircmica dos nomes da cidade de Satildeo Paulo 1554-1987 Satildeo Paulo-SP
ANNABLUME 1996
______ O leacutexico toponiacutemico marcadores e recorrecircncias linguiacutesticas (Um estudo de caso a
toponiacutemia do Maranhatildeo) Revista Brasileira de Linguiacutestica Satildeo Paulo-SP editora Plecirciade v
8 ndash n 1 p 59-68 1995
______ Toponiacutemia e Antroponiacutemia no Brasil Coletacircnea de Estudos Satildeo Paulo-SP Serviccedilo
de Artes GraacuteficasFFLCHUSP 1992
______ A Motivaccedilatildeo Toponiacutemica e a Realidade Brasileira Satildeo Paulo-SP Ediccedilotildees Arquivo
do Estado 1990
DUBOIS Jean et al Dicionaacuterio de linguiacutestica Satildeo Paulo-SP Cultrix 2004
FARACO Carlos Alberto Linguiacutestica Histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo da histoacuteria das
liacutenguas Satildeo Paulo-SP Paraacutebola Editorial 2006
FERREIRA Aroldo Maacutercio Urbanizaccedilatildeo e arquitetura na regiatildeo da estrada de ferro Goiaacutes
ndash E F Goiaacutes cidade de Pires do Rio um exemplar em estudo 1999 278f Dissertaccedilatildeo
(Mestrado em Histoacuteria das Sociedades Agraacuterias) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Faculdade
de Ciecircncias Humanas e Filosofia Goiacircnia-GO 1999
119
FIORIN Joseacute Luiz A linguagem humana do mito agrave ciecircncia In ______ Linguiacutestica Que eacute
isso Satildeo Paulo-SP Contexto 2013 p 13-43
FRAZER James George The golden bough 3 ed Nova Iorque-USA The MacMillan
Company 1951
GEERTZ Clifford A interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro-RJ Zahar 1973
GUIMARAtildeES Eduardo Semacircntica do acontecimento um estudo enunciativo da designaccedilatildeo
2ordf ed Campinas-SP Pontes 2005
GUIRAUD Pierre A semacircntica Rio de Janeiro-RJ Bertrand Brasil 1986
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello
Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro-RJ Objetiva Versatildeo
monousuaacuterio 30 1 [CD-ROM] 2009
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles Dicionaacuterio Houaiss da liacutengua portuguesa
Rio de Janeiro-RJ Objetivo 2004
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521740ampidtema=16ampsear
ch=goias|pires-do-rio|sintese-das-informacoesgt Acesso em 27 maio 2016
______ Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros Vol II Rio de Janeiro-RJ 1957
IMB ndash Instituto Mauro Borges de estatiacutesticas e estudos socioeconocircmicos Disponiacutevel em
ltwwwimbgogovbrgt Acesso em 29 maio 2016
ISQUERDO Aparecida Negri SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Apontamentos
sobre hidroniacutemia e hidrotoponiacutemia na fronteira entre Mato Grosso do Sul e Minas Gerais In
ISQUERDO Aparecida Negri (Org) As Ciecircncias do Leacutexico Lexicologia Lexicografia
Terminologia Campo Grande-MS Ed UFMS 2010 p 79-98
KRISTEVA Julia Histoacuteria da linguagem Traduccedilatildeo Margarida Barahona Lisboa-Portugal
Ediccedilotildees 70 Lda 2007
LIMA Antoacutenia Pedroso de Intencionalidade afecto e distinccedilatildeo as escolhas de nomes em
famiacutelias de elite de Lisboa In CABRAL Joatildeo de Pina VIEGAS Susana de Matos Nomes
geacutenero etnicidade e famiacutelia Coimbra-Portugal Almedina 2007 p 39-61
LOacutePEZ Laura Aacutelvarez Nomes pessoais e praacuteticas de nomeaccedilatildeo agrave sombra da escravidatildeo In
BORBA Lilian do Rocio LEITE Cacircndida Mara Brito (Orgs) Diaacutelogos entre liacutengua cultura
e sociedade Campinas-SP Mercado das Letras 2013 p 139-171
MAURER JR Theodoro Henrique Linguiacutestica Histoacuterica Alfa Revista de Linguiacutestica Satildeo
Joseacute do Rio Preto-SP v 11 p 19-42 1967
MENEZES Paulo Maacutercio Leal SANTOS Claacuteudio Joatildeo Barreto dos SANTOS Beatriz
Cristina Pereira dos Geoniacutemia e a cartografia histoacuterica um estudo sobre os nomes da
120
hidrografia Fluminense In III SIMPOacuteSIOBRASILEIRO DE CIEcircNCIAS GEODEacuteSICAS
E TECNOLOGIAS DA GEOINFORMACcedilAtildeO 2010 Recife-PE 2010 p 1-8
NOGUEIRA Wilson Cavalcanti Incidente em Pires do Rio Goiacircnia-GO Kelps sd
NOVAIS Simone Francisca de Avicultura Industrial e Reestruturaccedilatildeo Produtiva os
produtores integrados no municiacutepio de Pires do Rio (GO) 2014 150f Dissertaccedilatildeo (Mestrado
em Geografia) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo Catalatildeo-GO 2014
OGDEN Charles Kay RICHARDS Ivor Armstrong O significado do significado um estudo
da influecircncia da linguagem sobre o pensamento e sobre a ciecircncia do simbolismo Rio de Janeiro-
RJ Zahar 1972
PAIXAtildeO DE SOUSA Maria Clara Linguiacutestica Histoacuterica In NUNES Joseacute Horta PFEIFFER
Claudia (Orgs) Introduccedilatildeo agraves Ciecircncias das Linguagens Linguagem Histoacuteria e
Conhecimento Campinas-SP Pontes 2006 p 11-48
PARKIN David The politicx of naming among the Giriama Sociological Review
Monograph 36 p 61-89 1989
PAULA Maria Helena de Rastros de velhos falares leacutexico e cultura no vernaacuteculo catalano
2007 521f Tese (Doutorado em Linguiacutestica e Liacutengua Portuguesa) ndash Universidade Estadual
Paulista Faculdade de Ciecircncias e Letras Campus de Araraquara Araraquara-SP 2007
PEREIRA Renato Rodrigues A toponiacutemia de Goiaacutes em busca da descriccedilatildeo de nomes de
lugares de municiacutepios do sul goiano 2009 204f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Estudos da
Linguagem) ndash Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Centro de Ciecircncias Humanas e
Sociais Campo Grande-MS 2009
PIEL Joseph Consideraccedilotildees gerais sobre toponiacutemia e antroponiacutemia galegas Verba sl v 6
p 5-11 1979 Disponiacutevel em ltdspaceuscesbitstream1034735561pg_007-014_verba6gt
Acesso em 23 mar 2016
PIERCE Charles Sanders Semioacutetica Traduccedilatildeo Joseacute Teixeira Neto Satildeo Paulo-SP
Perspectiva 2005
PLATAtildeO Craacutetilo Lisboa-Portugal Instituto Piaget 2001
RAMOS Ricardo Tupiniquim BASTOS Gleyce Ramos Onomaacutestica e possibilidades de
releitura da histoacuteria Revista Augustus Rio de Janeiro-RJ ano 15 n30 p 86-92 2010
ROCHA Juacutelio Ceacutesar Barreto GALVAtildeO Elis Monique Vasconcelos GONCcedilALVES
Mauriacutecio Costa Onomaacutestica uma ciecircncia para a autoidentificaccedilatildeo de Rondocircnia Revista
Pesquisa amp Criaccedilatildeo (UNIR) Porto Velho-RO v 10 n 1 p 25-34 janjun 2011 Disponiacutevel
em lthttpwwwperiodicosunirbrindexphppropesqarticleviewFile405440gt Acesso em
10 jun 2016
SAMPAIO Theodoro O Tupi na geografia nacional Salvador-BA Secccedilatildeo Graphica da
Escola de Aprendizes Artificies 1928
121
______ O Tupi na Geographia Nacional Memoria lida no Instituto Histoacuterico e Geographico
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo-SP Typ da Casa Eclectica 1901
SAPIR Edward A Linguagem Satildeo Paulo-SP Perspectiva 1980
______ Linguiacutestica como ciecircncia Rio de Janeiro-RJ Livraria Acadecircmica 1969
SAUSSURE Ferdinand de Curso de Linguiacutestica Geral 30ordf ed Satildeo Paulo-SP Cultrix 2008
SIQUEIRA Gisele Martins AGUIAR Maria Sueliacute de Linguiacutestica histoacuterica comparativa e
formaccedilatildeo do leacutexico da liacutengua portuguesa In II Simpoacutesio Nacional de Letras e Linguiacutestica I
Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica Linguagens Histoacuteria e Memoacuteria (25 anos
do curso de Letras Campus Catalatildeo) Catalatildeo-GO p 381-394 2011
______ Campos leacutexicos dos falares rurais de Goiaacutes Mato Grosso Minas Gerais e Satildeo
Paulo sd Disponiacutevel em
lthttpwwwsbpcnetorgbrlivro63raconpeexmestradotrabalhos-mestradomestrado-gisele-
martinspdfgt Acesso em 01 fev 2016
SIQUEIRA Jacy Um contrato singular e outros ensaios de Histoacuterias de Goiaacutes Goiacircnia-
GO Kelps 2006
SIQUEIRA Kecircnia Mara de Freitas O leacutexico tupi na nomeaccedilatildeo dos lugares goianos 2015
Mimeografado
______ Toponiacutemia Kalunga aspectos da inter-relaccedilatildeo liacutengua povo e territoacuterio Via Litterae
Anaacutepolis-GO n 7 v 1 p 61-75 janjun 2015 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevistauegbrindexphpvialitteraegt Acesso em 15 set 2016
______ Nos trilhos da estrada de ferro reminiscecircncias de motivaccedilotildees toponiacutemicas Revista da
ANPOLL Satildeo Paulo-SP v 1 n 32 p 150-170 2012 Disponiacutevel em
ltwwwanpollorgbrrevistagt Acesso em 10 jun 2015
SILVA Antocircnio Moreira da Dossiecirc de Goiaacutes ndash Enciclopeacutedia Regional um compecircndio de
informaccedilotildees sobre Goiaacutes sua histoacuteria e sua gente Rio de Janeiro-RJ Sindicato Nacional dos
Editores de Livros 2001
SILVA Augusto Soares da Palavras significados e conceitos o significado lexical na mente
na cultura e na sociedade Cadernos de Letras da UFF Dossiecirc Letras e cogniccedilatildeo n 41 p 27-
53 2010 Disponiacutevel em ltwwwuffbrcadernosdeletrasuff41artigo1pdfgt Acesso em 06
maio 2015
SILVA Joseacute Maria da SILVEIRA Emerson Sena da Apresentaccedilatildeo de trabalhos
acadecircmicos 2 ed Petroacutepolis-RJ Vozes 2007
SILVA Tomaz Tadeu da Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais
Petroacutepolis-RJ Vozes 2000
SOARES Francisco Accioli Martins Pontos Histoacutericos de Pires do Rio Goiacircnia-GO Graacutefica
e Editora Piloto 1988
122
SOLIacuteS Gustavo Fonseca La gente pasa los nombres quedan Introduccioacuten en la Toponiacutemia
Lima-Peru Ed Lengua e Sociedad 1997
TIBIRICcedilA Luiz Caldas Dicionaacuterio de topocircnimos brasileiros de origem tupi Santos-SP
Traccedilo Editora 1985
TRASK Robert Lawrence Dicionaacuterio de Linguagem e Linguiacutestica Traduccedilatildeo Rodolfo Ilari
Satildeo Paulo-SP Contexto 2006
WHORF Benjamin Lee Lenguage Pensamiento y Realidad Barcelona-Espanha Barral
Editores 1971
ZAVAGLIA Claacuteudia Metodologia em Ciecircncias da Linguagem Lexicografia In
GONCcedilALVES Adair Vieira GOacuteIS Marcos Luacutecio de Sousa (Orgs) Ciecircncias da linguagem
o fazer cientiacutefico Campinas-SP Mercado das Letras 2012 p 231-264
AGRADECIMENTOS
ldquoE agora eis o que diz o Senhor aquele que te criou Jacoacute e te formou Israel nada
temas pois eu te resgato eu te chamo pelo nome eacutes meurdquo (ISAIacuteAS 431) Senhor de Israel
foi por chamar-me pelo nome eacute que constitui esta graccedila sem o Seu amor e graccedila eu nada seria
pois colocou-me em peacute quando pensava natildeo mais conseguir caminhar e de amparo me enviaste
o Espiacuterito Santo e a Virgem Maria graccedilas rendo agrave Santiacutessima Trindade e agrave Virgem por
caminharem comigo e natildeo me deixar perder no caminho
ldquoOs filhos satildeo heranccedila do Senhor uma recompensa que ele daacute Como flechas nas matildeos
do guerreiro satildeo os filhos nascidos na juventude Como eacute feliz o homem que tem a sua aljava
cheia deles Natildeo seraacute humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunalrdquo (SALMO 1273-
5) Famiacutelia o que seria de mim sem vocecircs nada Matildee e pai sempre com amor mesmo que
velado souberam educar seus dois filhos na dignidade para que se constituiacutessem verdadeiros
homens e de bem Mesmo com as dificuldades da vida em momento algum se abateram foram
fieacuteis agrave missatildeo designada de serem pais a vocecircs minha eterna gratidatildeo e se hoje concretizo esta
fase em minha vida ela eacute tatildeo minha quanto de vocecircs muito obrigado Amo vocecircs
As relaccedilotildees de afeto e cuidado sempre foram o nosso maior elo a vocecircs que sempre
torceram por mim e a cada conquista vibraram intensamente obrigado meu irmatildeo cunhada
sobrinha afilhados tios primos padrinhos e a matriarca de nossa famiacutelia minha adorada avoacute
Que Deus continue fazendo de noacutes uma famiacutelia de princiacutepios e sempre grata a Ele por tudo
ldquoO amigo ama em todos os momentos eacute um irmatildeo na adversidaderdquo (PROVEacuteRBIOS
1717) Amigos famiacutelia que a vida me deu de presente mencionar nomes aqui seria muito
injusto cada um com seu jeito e adversidade me ensinaram que a vida natildeo se resume apenas
em bons momentos pois estiveram comigo em momentos nada agradaacuteveis souberam respeitar
o meu silecircncio minhas ausecircncias e o melhor vibraram comigo todos os momentos desta
conquista a vocecircs meus ldquoirmatildeos na adversidaderdquo muito obrigado
Aos colegas e amigos do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem
Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo nos encontros da vida sempre tecircm surpresas
a melhor de todas foi poder construir com muitos de vocecircs verdadeiros laccedilos de amizade que
iratildeo perpetuar para todo sempre soacute posso neste momento agradecer pelos momentos de troca
de experiecircncias e conhecimento e desejar sucesso a todos
ldquoO ensino dos saacutebios eacute fonte de vida e afasta o homem das armadilhas da morterdquo
(PROVEacuteRBIOS 1314) Ensinar eis o dom com tanta dedicaccedilatildeo e carinho muitos mestres
conduziram-me ateacute aqui e foi com a graccedila do ensino dos saacutebios eacute que natildeo caiacute nas armadilhas
pois tambeacutem me tornei saacutebio Professora doutora eterna orientadora Kecircnia Mara de Freitas
Siqueira nenhuma palavra eacute capaz de expressar a gratidatildeo que tenho por vocecirc foram anos de
ensinamentos e agora se concretizam com mais esta fase sou e serei eternamente grato por me
apresentar a Toponiacutemia pois ela me levaraacute a mais um degrau no meio acadecircmico Obrigado
por tudo Deus lhe pague
Aos professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem
Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo que muito contribuiacuteram para a construccedilatildeo
desta pesquisa Fabiacuteola Aparecida Sartin Dutra Parreira Almeida Maria Helena de Paula e
Vanessa Regina Duarte Xavier A professora Vivian Regina Orsi Galdino de Souza do
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio
de Mesquita Filhordquo cacircmpus Satildeo Joseacute do Rio Preto-SP obrigado pelos seus vastos ensinamentos
e por permitir que cursasse a disciplina ldquoIntroduccedilatildeo aos Estudos Lexicograacuteficosrdquo Mestres
obrigado pelos ensinamentos e momentos de descontraccedilatildeo e alegria vocecircs foram capazes de
mostrar que o universo da pesquisa tambeacutem se constitui na felicidade e prazer
ldquoTodo trabalho aacuterduo traz proveito mas o soacute falar leva agrave pobrezardquo (PROVEacuteRBIOS
1423) O trabalho dignifica o homem palavras estas do livro da vida a biacuteblia sagrada Minha
vida desde a infacircncia foi pautada no estudo e no trabalho assim todos os trabalhos que tive me
possibilitaram crescer enquanto ser humano e profissional Registro aqui os meus mais sinceros
agradecimentos aos colegas e amigos do Coleacutegio Estadual Professor Ivan Ferreira minha eterna
casa pois foi laacute que tive o prazer em estudar e depois retornar como profissional inclusive ser
gestor deste honrado estabelecimento de ensino Aos colegas e amigos do Instituto Federal
Goiano ndash Campus Urutaiacute obrigado por permitirem dividir com vocecircs este espaccedilo de
conhecimento e aprendizado
A banca examinadora deste trabalho professores Karylleila dos Santos Andrade
Vanessa Regina Duarte Xavier e Alexandre Antoacutenio Timbane registro os meus mais sinceros
agradecimentos pelas valorosas contribuiccedilotildees no Exame de Qualificaccedilatildeo e agora na defesa deste
trabalho Deus lhes pague
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de
Goiaacutes Regional Catalatildeo na pessoa da coordenadora Luciana Borges obrigado por dar
possiblidades que novos pesquisadores se formem no acircmbito dos estudos da linguagem
Enfim sozinho natildeo sou nada sempre necessitarei de outros por isso a todos os que
foram meu alicerce para a concretizaccedilatildeo de mais esta etapa em minha vida algo sonhado haacute
muito tempo receba o meu muito obrigado e Deus lhes pague
ldquoO nome eacute um certo sentido a proacutepria coisa dar
nome agraves coisas eacute conhececirc-las e apropriar-se
delas a denominaccedilatildeo eacute o ato da posse espiritualrdquo
(MIGUEL UNAMUNO)
RESUMO
Esta pesquisa centra-se nos estudos toponiacutemicos e tem como objetivo descrever e analisar a
origemetimologia morfoloacutegica e semanticamente dos topocircnimos da hidrografia da cidade de
Pires do Rio-GO para identificar as relaccedilotildees entre esses designativos de lugares e respectivos
fatores contextuais que por ventura possam conter indiacutecios da motivaccedilatildeo toponiacutemica O
levantamento dos topocircnimos foi feito por meio de documentos oficiais mapas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Instituto Mauro Borges (IBM) numa escala de
1100000 e das cartas topograacuteficas A pesquisa eacute de base documental numa abordagem
qualiquantitativa O meacutetodo da pesquisa eacute o onomasioloacutegico e indutivo parte-se de casos
particulares para uma verdade geral combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica de
estudo das designaccedilotildees com o objetivo de analisar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito
A anaacutelise do corpus da pesquisa deu-se apoacutes o levantamento dos 46 topocircnimos dos cursos
drsquoaacutegua dentre os quais 15 satildeo analisados neste estudo Nesse sentido parte-se do princiacutepio de
que o signo toponiacutemico eacute motivado pois fatores extralinguiacutesticos influenciam o nomeador no
ato de nomear na perspectiva de que a liacutengua recorta a realidade agrave sua maneira (Sapir-Whorf)
sendo que a proacutepria liacutengua eacute um depositaacuterio de cultura assim os topocircnimos revelam fatores
soacutecio-histoacuterico-culturais do lugar que o nomeia A histoacuteria e a geografia do municiacutepio de Pires
do Rio-GO foram fundantes para as anaacutelises que nas bases onomasioloacutegicas e indutivas
evidenciam que o local e suas caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais influenciam o nomeador no ato
do batismo do topocircnimo Perceber as relaccedilotildees de nomeaccedilatildeo e nomeador satildeo fatores que por
meio das classificaccedilotildees taxionocircmicas satildeo revelados sem deixar de perceber tambeacutem que a
origem dos nomes e sua estrutura morfoloacutegica evidencia os fatores contextuais a que da liacutengua
cultura e ambiente estatildeo impregnados no topocircnimo isso tudo agrave vista de quem o designou
Palavras-Chave Toponiacutemia Liacutengua Cultura Pires do Rio Hidrografia
ABSTRACT
This research focuses on the toponymic studies and aims to describe and analyze the origin of
the names morphological and semantic of designatory toponyms of the hydrography of Pires
do Rio-GO city to identify the relations between these designative places and their respective
contextual factors which may by chance contain indications of toponymic motivation The
research of the toponyms was done by means of official documents maps of the Brazilian
Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Mauro Borges Institute (IBM) on a scale of
1 100000 and topographic maps The research is documentary based in a qualitative and
quantitative approach the research method is the onomasiological method combined with other
methods which consists of the study of designations with the purpose of studying the various
names attributed to a concept The analysis of this researchrsquos corpus took place after the survey
of the 46 toponyms of the watercourses from which 15 are analyzed in this study In this sense
it is assumed that the toponymic sign is motivated once extralinguistic factors influence the
nominator in the act of naming in the perspective that the language outlines reality in its own
way (Sapir-Whorf) and the language itself is a depository of culture thus toponyms reveal
socio-historical-cultural factors of the place that names it The history and geography of Pires
do Rio-GO city was the basis for the analyzes which on the onomasiological bases show that
the place and its physical and social characteristics influence the nominator in the moment of
the toponym baptism To perceive naming and nominator relationships are factors that are
revealed through the taxonomic classifications noticing at the same time that the origin of the
names and their morphological structure reveals the contextual factors that are impregnated in
the toponymy of the language culture environment aspects from the point of view of who
appointed it
Keywords Toponymy Language Culture Pires do Rio Hydrography
LISTA DE ABREVIATURAS
ATEGO ndash Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes
ATB ndash Atlas Toponiacutemico Brasileiro
DSG ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito
ETE ndash Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto
FCA ndash Ferrovia Centro Atlacircntica
GO ndash Goiaacutes
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IBM ndash Instituto Mauro Borges
IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano
M ndash Municiacutepio
PEA ndash Populaccedilatildeo Economicamente Ativa
RFFSA ndash Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima
SD ndash Sem data
SE ndash Secccedilatildeo
LISTA DE FICHAS
Ficha 01 ndash Pires do Riohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip67
Ficha 02 ndash Coacuterrego Laranjal89
Ficha 03 ndash Ribeiratildeo Taquaralhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip90
Ficha 04 ndash Ribeiratildeo Cachoeirahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip91
Ficha 05 ndash Coacuterrego Barreiro93
Ficha 06 ndash Coacuterrego Terra Vermelha94
Ficha 07 ndash Coacuterrego Itauacutebi96
Ficha 08 ndash Ribeiratildeo Brumado96
Ficha 09 ndash Rio Corumbaacute98
Ficha 10 ndash Rio do Peixe98
Ficha 11 ndash Rio Piracanjuba99
Ficha 12 ndash Ribeiratildeo Sampaio101
Ficha 13 ndash Ribeiratildeo Bauacute104
Ficha 14 ndash Ribeiratildeo Caiapoacute105
Ficha 15 ndash Ribeiratildeo Marataacute105
Ficha 16 ndash Ribeiratildeo Mucambo106
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 ndash Natureza das Taxionomias87
Graacutefico 2 ndash Taxionomias de Natureza Fiacutesica88
Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural101
Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos108
Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos111
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 ndash Pires do Rio(GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio(GO)74
Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)83
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo44
Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos57
Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Recenseamento 76
Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Contagem 76
Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio(GO) 77
Quadro 6 ndash Os cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO) 78
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO20
I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO 25
11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear 25
12 Liacutengua e Cultura 33
13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes 39
14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica 43
15 Linguiacutestica Histoacuterica 47
II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS 51
21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos 51
212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica 53
22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia 57
III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO 66
31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte 66
32 Pires do Rio geograacutefico 74
33 Os cursos daacutegua 78
IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR81
41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural 84
42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos daacutegua de Pires do Rio-GO 87
421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos88
4211 Fitotopocircnimos89
4212 Hidrotopocircnimos91
4213 Litotopocircnimos93
4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos94
4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos95
4216 Meteorotopocircnimos96
4217 Zootopocircnimos97
422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos100
4221 Antropotopocircnimos101
4222 Ergotopocircnimos103
4223 Etnotopocircnimos104
4224 Sociotopocircnimos106
43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos107
44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos111
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS113
REFEREcircNCIAS 116
20
INTRODUCcedilAtildeO
Ao dar nome a seres e objetos o homem tambeacutem os categoriza jaacute que eacute o ato de nomear
que daacute existecircncia a algo ou algueacutem Eacute por meio do nome que haacute identificaccedilatildeo e principalmente
a diferenciaccedilatildeo dos seres e dos objetos No ato da nomeaccedilatildeo diversos aspectos extralinguiacutesticos
podem influenciar o nomeador isso pode caracterizar especificamente a motivaccedilatildeo que subjaz
a qualquer signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica A motivaccedilatildeo por sua vez eacute reveladora de
inuacutemeros aspectos que estatildeo na base da inter-relaccedilatildeo liacutengua cultura e ambiente pois o nome
proacuteprio de lugar como fato da liacutengua identifica e guarda uma significaccedilatildeo precisa oriunda de
aspectos fiacutesicos ou culturais Desta forma busca-se mediante o estudo dos designativos dos
cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO descrever essa relaccedilatildeo (liacutengua cultura e
ambiente) Entende-se assim que um rio um riacho um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que
uma vez nomeados passam a carregar as inuacutemeras memoacuterias do lugar
Em decorrecircncia disso abrem-se possibilidades de inter-relacionar aacutereas do saber
humano com vista a estabelecer algum viacutenculo epistemoloacutegico a fim de proporcionar novos
olhares sobre um objeto jaacute descrito e analisado por outra aacuterea do conhecimento a geografia
mas restrito a um uacutenico niacutevel de anaacutelise linguiacutestica Isso leva a considerar os aspectos da
linguagem dentro de uma visatildeo interdisciplinar que pode trazer entre tantas contribuiccedilotildees o
fato de entendecirc-los na totalidade como em uma rede de relaccedilotildees Em outras palavras oferece
a possibilidade de analisar os fatos linguiacutesticos de maneira holiacutestica uma vez que os fatores
envolvidos na interaccedilatildeo devem ser concebidos como um todo formado por componentes que se
relacionam entre si
Entrecruzar as aacutereas de geografia e da linguiacutestica eacute um trabalho que jaacute se tem feito e
alguns estudiosos como eacute o caso de Menezes e Santos (2007 apud Menezes Santos Santos
2010) tratam a toponiacutemia na geografia como geoniacutemia Para Andrade (2010 p 105-106)
Natildeo se pode pensar em toponiacutemia desvinculada de outras ciecircncias como
histoacuteria geografia antropologia cartografia psicologia e a proacutepria
linguiacutestica Deve ser pensada como um complexo linguiacutestico-cultural um fato
do sistema das liacutenguas humanas Faz parte de uma ciecircncia maior que se
subdivide em toponiacutemia e antroponiacutemia
Assim esta pesquisa eacute relevante para a aacuterea dos estudos da linguagemlinguiacutesticos como
para a geografia sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo histoacuterico-cultural sobre a cidade de
Pires do Rio-GO e levado a conhecimento puacuteblico
21
Fazer esse estudo acerca da hidrografia da cidade de Pires do Rio eacute elementar elencando
natildeo soacute estudos semacircnticos lexicais origemetimologia dos termos mas tambeacutem soacutecio-
histoacuterico-culturais de um povo Algo ainda se faz pertinente na definiccedilatildeo do problema pois foi
assim que surgiu o interesse por este estudo em conversas informais com pessoas da cidade
obtive respostas que aguccedilaram esta pesquisa pois proacuteximo de Pires do Rio-GO cerca de uns
3 km da cidade haacute um determinado ribeiratildeo o qual a comunidade local denomina de Pedro
Teixeira mas na verdade esse nome eacute dado agrave ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo e foi construiacuteda
pelo fazendeiro Sr Pedro Teixeira embora o nome que se apresenta na carta topograacutefica seja
ribeiratildeo Sampaio
Diante da problematizaccedilatildeo qual a origemetimologia dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da
cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do
lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo A partir disso centra-se o
nosso estudo em descrever e analisar a origemetimologia dos termos a morfologia e a
semacircntica investigando e verificando os topocircnimos e as relaccedilotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo
de Pires do Rio-GO
Preliminarmente trabalha-se com a seguinte hipoacutetese de pesquisa pelo seu caraacuteter
motivado o signo toponiacutemico possibilita reconhecer fatores vinculados agrave motivaccedilatildeo que subjaz
agrave escolha dos nomes de lugares o que pode possibilitar o levantamento de fatores soacutecio-
histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua
como iacutendice da estreita relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura A toponiacutemia dos cursos drsquoaacutegua de Pires
do Rio-GO incorpora caracteriacutesticas sociais linguiacutesticas e culturais da regiatildeo a que pertence
Este eacute um dos embates fundantes de nosso estudo assim espera-se com esta pesquisa
cartografar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO com base na
metodologia do ATB (Atlas Toponiacutemico Brasileiro) como sugerido por Dick (1990 2004)
Posto isso ao final responderemos agraves perguntas de pesquisa jaacute mencionadas
anteriormente e ainda contribuiremos com as pesquisas na aacuterea da Onomaacutestica que estatildeo
desenvolvendo-se em Goiaacutes Conveacutem mencionar tambeacutem que uma das contribuiccedilotildees desta
pesquisa aleacutem de revisitar a histoacuteria e a cultura de uma regiatildeo eacute a de auxiliar na construccedilatildeo do
Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes ndash ATEGO
Assim o objetivo da pesquisa constitui-se basicamente em descrever e analisar os
topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua e de outros elementos hidrograacuteficos da regiatildeo do
municiacutepio de Pires do Rio-GO observando noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de
natureza fiacutesica e de natureza antropocultural Para tanto eacute necessaacuterio evidenciar os fatores que
constituem a motivaccedilatildeo que subjaz agrave escolha do nome do lugar o que requer a identificaccedilatildeo de
22
fatos sociais culturais histoacutericos elementos geograacuteficos (quando pertinente) e outras
motivaccedilotildees de diferentes naturezas
De uma maneira peculiar os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo i) remapear os
cursos hiacutedricos mediante o elenco de seus topocircnimos para cartografar os mapas da bacia
hidrograacutefica e dos topocircnimos seguindo a metodologia do Projeto ATB ii) verificar mediante
a anaacutelise linguiacutestica dos topocircnimos a motivaccedilatildeo referente agrave cultura e agrave histoacuteria e
principalmente aos aspectos fiacutesicos dos lugares que iniciaram o processo de nomeaccedilatildeo dos rios
coacuterregos ribeirotildees e quedas drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO (evidenciando o viacutenculo
liacutengua ambiente e cultura) iii) de alguma forma contribuir para o desenvolvimento dos estudos
toponiacutemicos em Goiaacutes
A metodologia consiste de uma pesquisa de natureza documental de abordagem
qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites
e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos puacuteblicos (mapas e cartas
topograacuteficas) e o meacutetodo da pesquisa eacute o de induccedilatildeo com ecircnfase para a observaccedilatildeo do fazer
onomasioloacutegico combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica especialmente o Woumlrter
und Sachen (palavras e coisas) O meacutetodo onomasioloacutegico e indutivo se constitui do estudo das
designaccedilotildees com o objetivo de estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Usando
esse meacutetodo pode-se investigar toda ou pelo menos parte da cultura popular de um local e
priorizar aspectos sincrocircnicos ou histoacutericos se necessaacuterio for Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os
aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos lugares
Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de dissertaccedilatildeo de Mestrado sobre Os
cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio anaacutelise das motivaccedilotildees toponiacutemicas produzida no acircmbito do
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem Universidade Federal de Goiaacutes ndash
Regional Catalatildeo que focaliza os topocircnimos hiacutedricos do municiacutepio de Pires do Rio
Desta maneira este trabalho se estrutura em quatro capiacutetulos organizados de forma a
abranger os resultados desta pesquisa que articula por meio da linguagem quesitos histoacutericos
geograacuteficos e culturais
Assim no capiacutetulo I O nome e a atividade de nomeaccedilatildeo satildeo apresentadas
consideraccedilotildees referentes ao nome e ao ato de nomear no sentido de reformular questotildees teoacutericas
necessaacuterias ao levantamento de dados e agrave construccedilatildeo do corpus bem como agrave descriccedilatildeo dos
topocircnimos que designam os elementos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas drsquoaacutegua) do municiacutepio
de Pires do Rio-GO Para tanto o capiacutetulo traz uma revisatildeo dos conceitos de nome (comum
proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes tanto no sistema linguiacutestico
como em relaccedilatildeo agrave cultura e estabelecendo as relaccedilotildees de liacutengua e cultura pois a liacutengua
23
transporta a cultura no tempo e recorta agrave realidade agrave sua maneira Eacute necessaacuterio aqui trazer as
discussotildees teoacutericas acerca da toponiacutemia e do signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica que
sustentam a nossa pesquisa Ainda fazemos uma retomada do surgimento e desdobramento da
Linguiacutestica Histoacuterica pois eacute a partir dela que satildeo criados os meacutetodos de pesquisa os quais
contribuem para a aacuterea de estudo
O capiacutetulo II A metodologia da pesquisa e seus desdobramentos eacute praticamente uma
extensatildeo do primeiro porque procura reavaliar alguns meacutetodos usados em pesquisa onomaacutestica
com o objetivo de coadunar teoria meacutetodo e procedimentos de pesquisa
Neste capiacutetulo eacute possiacutevel rever algumas questotildees sobre os meacutetodos da linguiacutestica o
meacutetodo onomasioloacutegico que investiga as relaccedilotildees de significado e referecircncias partindo das
designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Ainda eacute
apresentada uma siacutentese do comparativismo e do meacutetodo Woumlrter und Sachen de Hugo
Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) pois de acordo com Bassetto (2001)
pode-se verificar pontos em comum que compartilham com o meacutetodo onomasioloacutegico Ao
enfatizar questotildees de ordem semacircntica das palavras ressalta-se a realidade que elas designam
para esses autores a verdadeira etimologia da palavra estaacute no conhecimento dessa realidade
Busca-se assim instruir sobre a necessidade de conhecer se possiacutevel o objeto designado por
um nome para que o significado possa ser explicitado adequadamente
Dados histoacutericos e geograacuteficos referentes agrave capital da estrada de ferro Pires do Rio
compotildeem o terceiro capiacutetulo A capital da estrada de ferro Pires do Rio de modo a traccedilar em
linhas gerais a histoacuteria da fundaccedilatildeo do municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XX em decorrecircncia da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz e da Estaccedilatildeo Feacuterrea Pires do Rio em 09 de novembro de
1922 A importacircncia deste municiacutepio se deve agrave estrada de ferro e obviamente aos primeiros
habitantes que para caacute acorreram acreditando no desenvolvimento da antiga ldquoTeteia do
Corumbaacuterdquo
No capiacutetulo quarto A toponiacutemia e suas relaccedilotildees com o lugar apresentamos a anaacutelise
dos dados as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural e as fichas lexicograacuteficas-
toponiacutemicas dos 15 topocircnimos analisados de acordo com os estudos de Dick (1992)
juntamente com a origem das liacutenguas e estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos daiacute procedemos
agraves anaacutelises das classificaccedilotildees toponiacutemicas que estatildeo presentes nos designativos dos cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO estabelecendo as relaccedilotildees motivacionais e semacircnticas
do topocircnimo com o local nomeado
Na sequecircncia satildeo apresentadas as Consideraccedilotildees Finais que retomam os resultados
obtidos ao teacutermino da pesquisa pautados nos objetivos e perguntas que orientaram este estudo
24
E por fim seguem as Referecircncias que sustentaram a parte teoacuterica e a construccedilatildeo do corpus
coletado
25
I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO
O conhecimento dos nomes natildeo eacute negoacutecio de
importacircncia somenos
(PLATAtildeO 2001)
Este capiacutetulo tem o objetivo de tecer de forma mais geral consideraccedilotildees acerca do nome
e do ato de nomear para reformular questotildees teoacutericas necessaacuterias ao levantamento de dados
para a construccedilatildeo do corpus e descriccedilatildeo dos hidrocircnimos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas
drsquoaacutegua) do municiacutepio de Pires do Rio-GO Para tanto os itens a seguir trazem uma revisatildeo dos
conceitos de nome (comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes
tanto no sistema linguiacutestico como em relaccedilatildeo agrave cultura jaacute que representam inuacutemeros aspectos
que culminam em certos criteacuterios para a nomeaccedilatildeo ou nominaccedilatildeo revelando em certo sentido
especificidades dessa cultura que satildeo evidenciadas na nomeaccedilatildeo Ao dar um nome a um objeto
ou a um lugar natildeo se reduz apenas a indicar mas a classificar situar identificar e sobretudo
uma vez categorizado inscreve-se tambeacutem em um sistema cognitivo permeado por essa mesma
cultura
11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear
O nome eacute a parte que caracteriza a existecircncia de algo ou algueacutem sem a especificidade
do nome o objeto ou a pessoa natildeo eacute identificada Aliaacutes em muitas situaccedilotildees o nome consolida
a existecircncia do objeto que passa a ldquoexistirrdquo como tal em decorrecircncia de ter um nome ou seja
o falante pode perceber no mundo apenas aquilo que conhece pelo nome O nome estaacute presente
em todas as esferas do desenvolvimento da humanidade Eacute parte constitutiva do proacuteprio ser
humano que se reconhece e se afirma face ao nome que carrega eacute tambeacutem o nome que lhe
rompe o anonimato e lhe confere de certa forma uma identidade
Segundo Silva (2000) eacute o nome que diferencia os seres e os objetos do mundo
Identidade e diferenccedila ocorrem simultaneamente como produto de um mesmo processo o da
identificaccedilatildeo Pode-se afirmar que depois de nomeado o objeto passa a ser identificado
tambeacutem pelas diferenccedilas que possui em relaccedilatildeo agravequilo que natildeo eacute ou melhor eacute diferenciado
face aos demais elementos do mundo extralinguiacutestico conferindo-lhe existecircncia Tem um nome
porque existe tornou-se conhecido e eacute reconhecido como elemento cultural importante para a
continuidade de uma populaccedilatildeo como um dos milhares de traccedilos que a caracteriza e desta
26
forma ldquoo processo de nomeaccedilatildeo eacute uma forma pela qual a sociedade cria os seus membros agrave sua
imagemrdquo (CABRAL 2007 p 85)
E em Craacutetilo Platatildeo narra um diaacutelogo entre Demoacutestenes e Craacutetilo acerca da justeza dos
nomes debates no qual Soacutecrates aponta para ambas as possibilidades isto eacute para os socraacuteticos
tanto se pode entender os nomes como vinculados agrave coisa como podem ser vistos como
inteiramente sem elo com as coisas do mundo Platatildeo (2001 p 48) justifica que o ato de nomear
era visto como uma pressuposiccedilatildeo da existecircncia de algo assim ldquoas coisas devem ser nomeadas
como lhes pertence por natureza serem nomeadas e por meio do que devem secirc-lo e natildeo como
noacutes queremos e assim faremos e nomearemos melhor mas de outra maneira natildeordquo
A nomeaccedilatildeo eacute assim uma atividade bastante significativa para o ser humano e se
constitui de uma accedilatildeo complementar do modo como determinada populaccedilatildeo entende o meio em
que vive essa eacute a linha de pensamento tanto de Dick (1990) como de outros estudiosos como
Basso (1988) Langacker (2002) Weisgerber (1977) Wierzbicka (1997) e Worf (1971) dos
fatos da linguagem como evidencia a assertiva que segue
Apreensatildeocompreensatildeo e transmissatildeoparticipaccedilatildeo de um dado qualquer do
saber humano satildeo atuantes de uma mesma e complexa evidecircncia relacional ndash
o ato comunicativo ndash que corporifica em sua expressividade um aglomerado
de situaccedilotildees liacutenguo-soacutecio-psiacutequicas Nele estaacute manifesto ainda que de modo
impliacutecito o registro pelo qual se concretizou a ldquoassimilaccedilatildeo do
mundordquo atraveacutes do coacutedigo de linguagem vivenciado por determinada
comunidade linguiacutestica (DICK 1990 p 29)
Natildeo eacute equivocado afirmar que o nome corporifica aquilo que determinada comunidade
assimilou de seu meio circundante mediante relaccedilotildees estabelecidas entre a liacutengua que
possibilita a representaccedilatildeo daquilo que foi evidenciado e as impressotildees sociopsiacutequicas oriundas
dos objetos do mundo que se tornaram salientes aos olhos do nomeador Assim recebe um
nome tudo aquilo que de uma forma ou de outra tornou-se um item da cultura seja um acidente
fiacutesico-natural (um rio uma espeacutecie botacircnica) ou um item criado culturalmente Em todas as
sociedades conhecidas haacute referecircncia aos nomes e consequentemente agrave accedilatildeo de nomear Muitas
vezes essa atividade humana eacute revestida de mitos e rituais que conferem ao nome poderes
maacutegicos ou sobre-humanos
Nas sociedades primitivas de acordo com Cunha (2004) um nome pode valorar o
sagrado ou o ritual isso pode ocorrer quando acontece a mudanccedila de nome (candombleacute e igreja
catoacutelica) desta forma ao nomear algueacutem eacute tocar-se na personalidade da pessoa e ateacute as partes
da escrita que compotildeem o nome satildeo carregadas de simbologia e forccedilas sobrenaturais Cunha
27
(2004 p 220) ainda acrescenta que ldquonas mais diversas culturas natildeo ter nome eacute natildeo existir
nomear eacute instituirrdquo
Nesse processo de instituir dos rituais de passagem eacute possiacutevel entender que a atividade
de nomeaccedilatildeo adveacutem de fatores que propiciam uma motivaccedilatildeo que resulta na escolha de um
nome No ritual de escolha de um novo Papa (igreja catoacutelica) ou de um novo membro do
candombleacute o indiviacuteduo fica recluso por alguns dias e no momento do ritual apresenta seu
novo nome agrave comunidade fato esse que reside de alguma forma na escolha do novo nome
Desta forma o nome eacute escolhido de acordo com suas caracteriacutesticas psicofiacutesicas e tambeacutem com
as que ele deseja ter a partir do momento de escolha do novo nome
Conforme Biderman (1998) muitas satildeo as culturas que acreditam que o nome estaacute
ligado agrave essecircncia da pessoa Nas culturas arcaicas em geral os nomes atribuiacutedos agraves pessoas
tinham um significado que indicava agraves vezes a vocaccedilatildeo ou o destino do indiviacuteduo o que
corrobora a justeza dos nomes nos rituais de passagem e em outras atividades de nomeaccedilatildeo
O ato de nomear se constitui tambeacutem como algo divino Para Biderman (1998 p 85)
ldquoo gesto criador de Deus identifica-se com esta palavra ontoloacutegica essencialmente divina O
que noacutes homens somos e o que sabemos nasce dessa revelaccedilatildeo primordial da palavra criadora
do gesto divino de dizerrdquo Cunha (2004) evidencia que a palavra jaacute eacute reveladora do poder desde
a antiguidade e isso se expressa de forma clara por meio da biacuteblia sagrada que em vaacuterios textos
conclama que o poder eacute revelado por meio da palavra como percebe-se no livro de Gecircnesis
capiacutetulo I versiacuteculos 19 e 20
19 Tendo pois o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos
e todas as aves dos ceacuteus levou-os ao homem para ver como ele os havia de
chamar e todo o nome que o homem pocircs aos animais vivos esse eacute o seu nome
verdadeiro 20 O homem pocircs nomes a todos os animais a todas as aves dos
ceacuteus e a todos os animais dos campos mas natildeo se achava para ele uma ajuda
que lhe fosse adequada (BIacuteBLIA 1995 p 51)
Dessa forma o cristianismo explica a atividade humana de nomeaccedilatildeo Isso evidencia
que todos os objetos recebem um nome (comum) mediante uma accedilatildeo deliberada de escolha
individual (como em Gecircnesis) ou coletiva Esse nome recebe uma funccedilatildeo de significaccedilatildeo ou
melhor passa a significar algo no mundo sua referecircncia A nomeaccedilatildeo configura-se como um
processo operacional de conhecer e denominar coisas Conforme De Lastra e Garcia (sd apud
DICK 1990) para ser denominado o mundo externo deve antes passar a ser interno (iacutentimo)
Na relaccedilatildeo das praacuteticas de nomeaccedilatildeo segundo Loacutepez (2013) ocorrem fatores internos
e externos da seguinte forma i mudanccedilas internas quando elementos do sistema toponiacutemico
28
que designa lugares passam para o sistema antroponiacutemico que designa pessoas ii mudanccedilas
externas ou forccediladas como as que ocorreram na Europa entre os seacuteculos XVIII e XIX e
obrigaram os judeus a adotarem nomes cristatildeos e abandonarem os seus de origem hebraica
Para os judeus assim como para muitos povos perder o nome eacute o mesmo que perder a histoacuteria
a identidade e a famiacutelia Desta forma as autoridades europeias acreditavam que os judeus
deixariam (perderiam) as suas identidades e constituiriam uma nova uma identidade europeia
Conveacutem ressaltar que o referente1 nem sempre figurou entre os elementos constitutivos
do signo linguiacutestico No Curso de Linguiacutestica Geral Ferdinand Saussure (2008) define o signo
linguiacutestico como a junccedilatildeo de uma imagem acuacutestica (significante) a um (ou vaacuterios) conceitos
(significado) Saussure natildeo inclui nessa definiccedilatildeo a coisa nomeada o objeto do mundo ou em
outros termos o referente
Dito de outro modo os gestos epistemoloacutegicos de Saussure (2008) ao definirem a
liacutengua como objeto proacuteprio de estudo e tambeacutem no sentido de imprimirem cientificidade aos
estudos linguiacutesticos excluem o referente construindo assim um domiacutenio especiacutefico para a
Linguiacutestica diferente de outras aacutereas que tambeacutem se atecircm aos estudos da linguagem humana
A liacutengua para o mestre suiacuteccedilo eacute um sistema de signos que por sua vez abarca entidades
psiacutequicas constituiacutedas por duas faces significante e significado Essas duas faces do signo
linguiacutestico natildeo guardam poreacutem entre si qualquer relaccedilatildeo loacutegica nenhum viacutenculo ou melhor
a relaccedilatildeo entre significante e significado eacute marcada pelo seu caraacuteter imotivado arbitraacuterio para
usar os termos saussurianos Desta forma Kristeva (2007 p 24) afirma que ldquoa palavra
lsquoarbitraacuteriorsquo significa mais exatamente lsquoimotivadorsquo quer dizer que natildeo haacute nenhuma necessidade
natural ou real que ligue o significante e o significadordquo
O nome sempre suscitou uma questatildeo ontoloacutegica2 ou melhor uma questatildeo de
existecircncia A nomeaccedilatildeo eacute apenas uma das funccedilotildees da linguagem mas tem um papel importante
pois o significado dos nomes organiza e classifica as formas de perceber a realidade aleacutem de
estar ligado diretamente a uma cultura ou comunidade Assim para Sapir (1980) a liacutengua
recorta a realidade agrave sua maneira eacute por meio dela que se evidencia a relaccedilatildeo linguagem
pensamento e cultura Desta forma ldquoas palavras da liacutengua significam ao funcionarem no
acontecimento Este funcionamento recorta politicamente o realrdquo (GUIMARAtildeES 2005 p 82)
Nessa perspectiva eacute possiacutevel dizer que a nomeaccedilatildeo ganha relevo quando o assunto eacute a relaccedilatildeo
linguagem e realidade
1 Em um sistema triaacutedico significante significado e o referente 2 Ontoloacutegico ldquoAdj 1 relativo a Ontologia 2 que trata do ser humano na sua essecircncia na sua globalidaderdquo Verbete
inscrito em (BORBA 2004 p 992)
29
Guiraud (1986) chama atenccedilatildeo para a forccedila criadora da linguagem que resulta em uma
funccedilatildeo semacircntica dinacircmica e volaacutetil orientada principalmente por fatores especiacuteficos de uma
dada cultura Assim
[] a motivaccedilatildeo eacute uma forccedila criadora inerente agrave linguagem social que eacute um
organismo vivo de origem empiacuterica somente depois que a palavra eacute criada e
motivada (naturalmente ou intralinguisticamente) eacute que as exigecircncias da
funccedilatildeo semacircntica acarretam um obscurecimento dessa motivaccedilatildeo etimoloacutegica
que pode aliaacutes ao se apagar trazer uma alteraccedilatildeo de sentido (GUIRAUD
1986 p 31)
Motivaccedilatildeo esta que com o decorrer do tempo pode vir a se tornar obscura pelo
distanciamento temporal do fato que lhe deu origem Pode inclusive o nome sofrer inuacutemeras
alteraccedilotildees de sentido sem nenhum viacutenculo semacircntico com o significado original nem com o
fenocircmeno de sua ocorrecircncia primeira No entanto eacute forccediloso ressaltar mais uma vez que o ato
de nomear eacute motivado conforme Guiraud (1986) a nomeaccedilatildeo eacute inerente agrave linguagem e decorre
da relaccedilatildeo entre homem e ambiente ao reconhecer os objetos do mundo extralinguiacutestico
No que tange agrave motivaccedilatildeo Biderman (1998) reafirma a noccedilatildeo de que o nome natildeo eacute
arbitraacuterio ele tem um viacutenculo de essecircncia com a coisa ou o objeto que designa Assim o homem
primitivo acredita que seu nome tem parte vital com o seu ser Nas histoacuterias que nos satildeo
relatadas dos povos primitivos em relaccedilatildeo aos nomes podemos observar que para alguns
quando se sabia o nome da pessoa o inimigo poderia fazer magia negra com ele Essas relaccedilotildees
culturais com os nomes satildeo recorrentes em vaacuterios paiacuteses e histoacuterias da antiguidade claacutessica
De acordo com Frazer (1951) em vaacuterias tribos primitivas o nome era considerado como
uma realidade e natildeo uma convenccedilatildeo artificial podendo servir de intermeacutedio para fazer atuar a
magia sobre a pessoa como se fosse parte do indiviacuteduo como cabelo unha ou qualquer outra
parte fiacutesica Essas crendices ou mitos acerca do nome se estendem por vaacuterias partes do mundo
como para os iacutendios da Ameacuterica do Norte o nome eacute como uma parte de seu corpo e o mau
tratamento (uso) dele pode trazer ferimento fiacutesico Assim o nome natildeo deve ser pronunciado
podendo no ato de sua pronunciaccedilatildeomaterializaccedilatildeo revelar as propriedades reais da pessoa que
o usa e assim tornaacute-la vulneraacutevel perante os seus inimigos
Nas narrativas das sociedades relatadas por Frazer (1951) o homem do povo esquimoacute
recebe um novo nome ao chegar agrave velhice na Aacutefrica as pessoas podem ateacute receber uma duacutezia
de nomes no decorrer de sua vida e em alguns casos no iniacutecio de sua vida recebem dois nomes
um nome de preto usado em casa e junto agrave famiacutelia e outro nome de branco usado na escola e
na sociedade os egiacutepcios tambeacutem recebiam dois nomes um nome pequeno que era bom e
30
usado em famiacutelia e um nome grande que era mau e dissimulado julgamos esse uacuteltimo ser
usado na sociedade
Segundo Frazer (1951) para os Celtas o nome era sinocircnimo da alma e da respiraccedilatildeo
Entre os Yuiacutens (sul da Austraacutelia) e outros povos o pai revela o nome ao filho no momento da
iniciaccedilatildeo e poucas pessoas o conhecem Tambeacutem na Austraacutelia as pessoas deixam de usar o
nome e passam a chamar um ao outro de primo tio sobrinho ou irmatildeo Nessas relaccedilotildees as
historietas dos nomes vatildeo estar sempre entrelaccediladas aos fatores culturais das comunidades
Em muitas culturas Frazer (1951) relata que a natildeo pronunciaccedilatildeo de nomes era tabu
como em Cafres onde as mulheres natildeo podiam pronunciar o nome de seus maridos ou sogros
nem qualquer palavra que se assemelhasse aos nomes Tambeacutem natildeo era permitido pronunciar
nomes de animais plantas reis deuses personagens sagrados considerados perigosos pois isso
seria como invocar o proacuteprio perigo
Frazer (1951) revela uma histoacuteria ocorrida no Egito com o deus Raacute que tinha vaacuterios
nomes mas o seu verdadeiro nome que lhe dava poder sobre os outros deuses natildeo era conhecido
e ao ser enfeiticcedilado pela invejosa deusa Iacutesis ndash picado por uma serpente ndash cujo veneno soacute seria
retirado de seu corpo no momento em que ele revelasse o seu verdadeiro nome Raacute lamenta-se
ldquoEu sou aquele que tem muitos nomes e muitas formas O meu pai e minha matildee disseram-me
o meu nome estaacute escondido no meu corpo desde o meu nascimento para que natildeo se possa dar
nenhum poder maacutegico a algueacutem que me queira lanccedilar uma maldiccedilatildeordquo (FRAZER 1951 apud
KRISTEVA 2007 p 64) O veneno tomou conta do corpo de Raacute e jaacute natildeo conseguia andar Iacutesis
continuou a atormentar o deus e o veneno foi penetrando profundamente e queimava seu corpo
Entatildeo Raacute consentiu que Isis buscasse o seu verdadeiro nome no iacutentimo do seu ser assim ela
fez arrebatou-lhe o verdadeiro nome e ordenou que o veneno que o queimava caiacutesse por terra
e libertasse o deus pois o que ela queria jaacute havia conseguido Acreditava-se assim que quem
conhecesse o verdadeiro nome de um deus (algueacutem) possuiria a sua essecircncia o seu verdadeiro
ser e ateacute o seu poder
Segundo Loacutepez (2013) os nomes variam conforme o momento e o local em que satildeo
escolhidos a pessoa que os escolhe e as normas para o uso Podem indicar gecircnero filiaccedilatildeo
origem geograacutefica religiatildeo e etnia Haacute tambeacutem inuacutemeras crenccedilas de que existe uma relaccedilatildeo
entre a pessoa seu nome e o significado deste inclusive muitos nomes satildeo uacutenicos
Segundo Cunha (2004 p 226) ldquoO nome proacuteprio topocircnimo ou antropocircnimo participa
da literariedade do texto podendo consequentemente enriquecer-se de valores semacircnticos
denotativos e conotativos da mesma forma que as outras palavras que o estruturamrdquo jaacute que
31
quando nomeamos atribuiacutemos simultaneamente um predicado um complemento ao nome uma
caracteriacutestica um adjetivo
Em Guimaratildees (2005) o ato de dar nome eacute tambeacutem um ato de identificar um indiviacuteduo
bioloacutegico como tal para o Estado e para a sociedade e tornaacute-lo sujeito De acordo com esse
ponto de vista ganha interesse o funcionamento determinativo da construccedilatildeo do nome proacuteprio
da pessoa no qual segundo Guimaratildees (2005 p 52) ldquohaacute uma relaccedilatildeo particular entre a
nomeaccedilatildeo e o objeto nomeado que se apresenta por uma materialidade histoacuterica e natildeo fiacutesicardquo
A nomeaccedilatildeo eacute por causa da predicaccedilatildeo um ato que diferencia sendo tambeacutem um ato
que identifica De acordo com Lima (2007 p 51)
o acto (sic) de nomear eacute um dos primeiros momentos de inserccedilatildeo da pessoa
numa categoria social de geacutenero Mas ainda mostra-nos que neste contexto
social nomear eacute uma das formas mais importantes de construir geacutenero e
pessoa dentro da famiacutelia
A inserccedilatildeo da pessoa na sociedade por meio de seu nome eacute uma relaccedilatildeo hierarquizada
construiacuteda agrave luz de valores tanto sociais como familiares Como jaacute sabemos o nome eacute uma
forma de identidade de revelar o que o outro natildeo eacute assim nomear eacute um aspecto crucial da
conversatildeo de qualquer um em algueacutem de acordo com Geertz (1973)
Na conversatildeo mencionada Parkin (1989) justifica que nomear pode ser uma forma de
atribuir direitos3 que daacute autoridade tanto ao nomeado quanto ao nomeador ou uma forma de
objetivaccedilatildeo por meio da escolha de um nome em particular que estabeleccedila controle sobre o
nomeado Nessas situaccedilotildees pode ocorrer que as pessoas antecipem essas consequecircncias
escolhendo ou controlando a atribuiccedilatildeo do seu proacuteprio nome ou em alguns casos como
acontece de o nome possuir uma carga negativa perante a sociedade e a pessoa recorre ao poder
judiciaacuterio para requerer a troca de seu nome
Enfim nomear eacute se apropriar do real eacute nessa perspectiva de nomear e apoderar fato
este que se daacute por meio da linguagem e de acordo com isso Kristeva (2007 p 17) pontua que
Se a linguagem eacute mateacuteria do pensamento eacute tambeacutem o proacuteprio elemento da
comunicaccedilatildeo social Natildeo haacute sociedade sem linguagem tal como natildeo haacute
sociedade sem comunicaccedilatildeo Tudo o que se produz como linguagem tem lugar
na troca social para ser comunicado
3 Livre traduccedilatildeo para Entitling
32
Eacute nessa troca social que acontece por meio da linguagem a nomeaccedilatildeo Assim eacute
necessaacuterio destacar que os nomes proacuteprios de lugares ndash topocircnimos ndash passam a estabelecer
relaccedilotildees materializadas por meio do uso da linguagem Sabe-se que o nome designado eacute
construiacutedo simbolicamente isso porque a linguagem que o constroacutei funciona por estar exposta
ao real e constituiacuteda materialmente pela histoacuteria local a qual motiva o leacutexico topocircnimo e eacute
nesse momento que ele nasce e se institui naquele lugar
De acordo com Biderman (1998) eacute por meio da palavra que as entidades da realidade
passam a ser conhecidas nomeadas e identificadas Essa realidade cria o seu acircmbito
significativo que nos eacute revelado pela linguagem que tambeacutem eacute a responsaacutevel por elencar os
fatores soacutecio-histoacuterico-cultural que permeiam a realidade Aqui no nosso caso esses fatores
satildeo trazidos por meio do leacutexico topocircnimo mais especificamente no ato de nomear um
designativo de lugar
Conforme Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares seja
em homenagem a algueacutem como eacute o caso da cidade de Pires do Rio que recebeu o nome o
patroniacutemico4 do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas (1919-1922) do governo de Epitaacutecio
Pessoa Dr Joseacute Pires do Rio Haacute lugares que recebem o nome em razatildeo de caracteriacutesticas
geograacuteficas Alguns nomes satildeo opacos conceito de Piel (1979) em contraposiccedilatildeo aos
transparentes pois natildeo apresentam relaccedilatildeo alguma com o referente nesse caso haacute de se fazer
uma busca histoacuterica para chegar agrave relaccedilatildeo motivacional
O homem tem a capacidade de associar palavras a conceitos E no ato de nomear
acontece a motivaccedilatildeo que estaacute ligada aos fatores cognitivos Assim o leacutexico que a ele eacute
determinado por meio do uso da linguagem se transporta no tempo sendo capaz de revelar os
fatores culturais e motivacionais que estatildeo nesse nomeleacutexico toponiacutemico (BIDERMAN 1998)
O nome comum no ato de nomeaccedilatildeo de um lugar impregna-se de significaccedilotildees vaacuterias
sejam de fatores histoacutericos culturais sociais econocircmicos Segundo Guimaratildees (2005 p 83)
ldquoo modo de significar os espaccedilos da cidade mostra que eles satildeo espaccedilos poliacuteticos O espaccedilo que
se daacute como objeto por uma descriccedilatildeo (referecircncias) atende a objetividade do discurso
administrativo que nomeia oficialmente os espaccedilos da cidaderdquo Assim o nome cifra a narrativa
histoacuterica local perpassando por fatores ou designativos memoraacuteveis
Essa atividade de nomeaccedilatildeo ou praacutetica de nomeaccedilatildeo eacute especificamente da espeacutecie
humana e resulta do processo de categorizaccedilatildeo inerente ao ser humano De acordo com
Biderman (1998 p 89)
4 De acordo com Cabral (2007) patroniacutemico eacute sobrenome
33
O processo de categorizaccedilatildeo subjaz agrave semacircntica de uma liacutengua natural Os
criteacuterios de classificaccedilatildeo usados para classificar os objetos satildeo muito
diferenciados e variados Agraves vezes o criteacuterio eacute o uso que o homem faz de um
dado objeto agraves vezes eacute um determinado aspecto do objeto que fundamenta a
classificaccedilatildeo agraves vezes eacute um determinado aspecto emocional que um objeto
pode provocar em quem o vecirc e assim por diante
Entatildeo o processo de categorizaccedilatildeo que por via das vezes pode se tornar um legislador
ndash nomeador Essas discussotildees acerca das histoacuterias do ato de nomear revelam formas de
organizaccedilatildeo social e mudanccedilas linguiacutesticas poliacuteticas e culturais Eacute pois por meio do nome que
as pessoas ou lugares permanecem vivos na memoacuteria coletiva de sua linhagem
E nesse processo de nomeaccedilatildeo categorizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo nos estudos na aacuterea da
Onomaacutestica mais precisamente na subaacuterea dos Estudos Toponiacutemicos ndash temaacutetica de nossa
pesquisa ndash natildeo tem como desvencilhar a liacutengua e cultura Assim para Sapir-Whorf a liacutengua
retrata o mundo e a realidade social agrave sua volta expressos por categorias lexicais como os
topocircnimos
12 Liacutengua e Cultura
A liacutengua no contexto soacutecio-histoacuterico-cultural nada mais eacute que o resultado de um
processo histoacuterico um produto revelador da cultura de uma dada comunidade (CAcircMARA JR
1955) Nessas bases inter-relacionar liacutengua e cultura eacute justificar que estatildeo intrinsecamente
interligadas pois a liacutengua revela a visatildeo de mundo e eacute tambeacutem a manifestaccedilatildeo de uma cultura
cultura esta que lhe daacute suporte a liacutengua tambeacutem eacute suporte da cultura
Em seus estudos Paula (2007) menciona que a liacutengua eacute um metassistema ela ldquonatildeo eacute soacute
objeto ela eacute nas relaccedilotildees sociais mais diversamente possiacuteveis tambeacutem instrumento de
investigaccedilatildeo distinto que ajuda a entender os outros sistemas sociaisrdquo (PAULA 2007 p 90)
Nesse contexto eacute possiacutevel evidenciar que por meio da liacutengua satildeo reeditadas e reconfiguradas
as praacuteticas culturais de uma dada comunidade
Posto isso conveacutem rever alguns conceitos que remetem agrave face social da liacutengua seu
caraacuteter eminentemente social mais condizente com o recorte epistemoloacutegico feito por Saussure
(2008 p 17)
Mas o que eacute a liacutengua Para noacutes ela natildeo se confunde com a linguagem eacute
somente uma parte determinada essencial dela indubitavelmente Eacute ao
mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto
34
de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo corpo social para permitir o
exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos Tomada em seu todo a linguagem
eacute multiforme e heteroacuteclita o cavaleiro de diferentes domiacutenios ao mesmo
tempo fiacutesica fisioloacutegica e psiacutequica ela pertence aleacutem disso ao domiacutenio
individual e ao domiacutenio social natildeo se deixa classificar em nenhuma categoria
de fatos humanos pois natildeo se sabe como inferir sua unidade
De acordo com Fiorin (2013 p 17) ldquoA liacutengua natildeo eacute um sistema de mostraccedilatildeo de
objetos porque permite falar do que estaacute presente e do que estaacute ausente do que existe e do que
natildeo existe porque possibilita ateacute criar novas realidades mundos natildeo existentesrdquo A liacutengua eacute um
produto social e por meio dela se criam e recriam realidades podendo entatildeo se justificar as
praacuteticas culturais por meio de atos linguiacutesticos
Com esse movimento epistemoloacutegico ou melhor ao eleger a liacutengua e natildeo a linguagem
nem a fala como objeto de estudo da Linguiacutestica Saussure possibilitou a instituiccedilatildeo da ciecircncia
linguiacutestica e consequentemente seus inuacutemeros desdobramentos posteriores
Sapir (1980) ressalta a estreita ligaccedilatildeo entre liacutengua e cultura jaacute que para o autor
Toda liacutengua tem uma sede O povo que a fala pertence a uma raccedila (ou a certo
nuacutemero de raccedilas) isto eacute a um grupo de homens que se destaca de outros
grupos por caracteres fiacutesicos Por outro lado a liacutengua natildeo existe isolada de
uma cultura isto eacute de um conjunto socialmente herdado por praacuteticas e crenccedilas
que determinam a trama das nossas vidas (SAPIR 1980 p 165)
Nesta perspectiva reafirmando que liacutengua se difere de linguagem mas se entrecruza
com ela ou dela faz parte como uma das inuacutemeras formas de linguagem e ainda considerando-
a um dos fatores de identidade de um povo e que natildeo existe isolada da cultura eacute que se torna
objeto de estudos o que envolve fatores soacutecio-histoacuterico-culturais das comunidades
O autor desta forma ainda nos revela que ldquotoda liacutengua estaacute de tal modo construiacuteda
que diante de tudo que um falante deseje comunicar por mais original ou bizarra que seja a sua
ideia ou a sua fantasia a liacutengua estaacute em condiccedilotildees de satisfazecirc-lorsquo (SAPIR 1969 p 33) Eacute
nessas condiccedilotildees de satisfazer ao falante ou agrave comunidade que ele pertence que a liacutengua se
justifica como um meio de interaccedilatildeo social e revelador da cultura jaacute que ela se configura no
tempo e eacute capaz de transmitir de geraccedilotildees a geraccedilotildees atraveacutes de atos linguiacutesticos as
manifestaccedilotildees culturais Conveacutem ressaltar que
Tudo que ateacute aqui verificamos ser verdade a respeito das liacutenguas indica que
se trata da obra mais notaacutevel colossal que o espiacuterito humano jamais
desenvolveu nada menos do que uma forma completa de expressatildeo para toda
a experiecircncia comunicaacutevel Essa forma pode ser variada de inuacutemeras maneiras
pelo indiviacuteduo sem perder com isso os seus contornos distintivos e estaacute
35
constantemente remodelando-se como sucede com toda arte A liacutengua eacute a arte
mais ampla e maciccedila que se nos depara cuacutemulo anocircnimo do trabalho
inconsciente das geraccedilotildees (SAPIR 1980 p 172)
De acordo com Cacircmara Jr (1955) a liacutengua eacute uma parte da cultura mas ela pode ser
estudada na sua relaccedilatildeo com a cultura ou sem considerar essa inter-relaccedilatildeo Segundo o autor
com essa perspectiva o linguista se destaca do antropoacutelogo Porque os estudos linguiacutesticos
podem prescindir do exame da inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura ou melhor pode-se estudar a
liacutengua em sua imanecircncia ou a relaccedilatildeo da linguagem com outras aacutereas do conhecimento humano
A liacutengua aleacutem de inter-relacionar a cultura nada sociedade atua para que a proacutepria
cultura seja conhecida e levada agrave geraccedilotildees futuras seja por meio de festas religiosas cantigas
e outros fatores que a divulguem Jaacute que na mesma base teoacuterica a liacutengua se justifica como um
fato de cultura assim como qualquer outro e neste iacutenterim integra-se agrave cultura
Cacircmara Jr (1955) reconhece que a liacutengua funciona na sociedade para a comunicaccedilatildeo e
interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e tambeacutem que ela se torna o resultado de uma cultura global pois a
liacutengua depende de toda cultura jaacute que a expressa a todo o momento
assim a liacutengua em face do resto da cultura eacute ndash o resultado dessa cultura ou
sua suacutemula eacute o meio para ela operar eacute a condiccedilatildeo para ela subsistir E mais
ainda soacute existe funcionalmente para tanto englobar a cultura comunicaacute-la e
transmiti-la (CAcircMARA JR 1955 p 54)
Considerada a inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura pode-se ressaltar mais uma vez que a
cultura se manifesta linguisticamente sejam elas integrantes de manifestaccedilotildees da cultura
popular ou da erudita
De modo geral a cultura eacute pensada numa visatildeo polarizante como sendo
cultura popular ou cultura erudita Conveacutem dizer poreacutem que ambas satildeo
formas e conteuacutedos diferentes de expressatildeo de uma dada realidade social e
histoacuterica Entatildeo natildeo devem ser vistas como opostas ou excludentes mas como
maneiras especiacuteficas de ver sentir e expressar a realidade conforme se situam
seus atores na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo do poder (PAULA 2007 p 75)
Neste processo Sapir (1969) menciona que o leacutexico eacute o niacutevel linguiacutestico em que mais
intimamente se interligam liacutengua e cultura Zavaglia (2012) por sua vez reconhece que o leacutexico
estaacute vinculado agrave cultura de um povo de uma naccedilatildeo agrave sua histoacuteria
Para Zavaglia (2012) o leacutexico estaacute relacionado com a memoacuteria humana e se configura
no ato de nomeaccedilatildeo diante do processo em que houve a necessidade de o homem por meio de
36
palavras nomear tudo que o circundava e assim categorizar o que estava a seu redor Pautados
na autora observamos a grandeza do leacutexico pois
Eacute o leacutexico em forma de palavras e por meio da linguagem que ldquocontardquo a
histoacuteria milenar de povo para povo eacute o leacutexico que transmite os elementos
culturais de um conjunto de indiviacuteduos eacute o leacutexico que ldquoeducardquo ou ldquodeseducardquo
eacute o leacutexico que permite a manifestaccedilatildeo dos sentimentos humanos de suas
afeiccedilotildees ou desagrados via oral ou via escrita Eacute o leacutexico que registra o
desencadear das accedilotildees de uma sociedade suas mudanccedilas seu progresso ou
regresso Condivido com Biderman quando diz que o leacutexico eacute o tesouro
vocabular de forma codificada da memoacuteria do indiviacuteduo restando ali estocado
ateacute que seja ativado quando necessaacuterio para que o homem possa expressar ou
se comunicar Eacute ainda por meio do leacutexico que conceitos condutas e costumes
satildeo transmitidos de geraccedilotildees a geraccedilotildees e herdados por elas ldquoEacute o leacutexico que
fisionomiza a culturardquo (ZAVAGLIA 2012 p 233)
O leacutexico eacute o fio condutor da cultura jaacute que a transporta para geraccedilotildees futuras eacute por meio
dele que se registra a histoacuteria e a vida de uma sociedade Para Sapir (1969) a cultura estaacute
nitidamente no leacutexico da liacutengua e este pode ser considerado como todo o conjunto de ideias
interesses e ocupaccedilotildees que abrangem a atenccedilatildeo da comunidade Neste contexto
O estudo cuidadoso de um dado leacutexico conduz a inferecircncias sobre o ambiente
fiacutesico e social daqueles que o empregam e ainda mais que o aspecto
relativamente transparente ou natildeo-transparente do proacuteprio leacutexico nos permite
deduzir o grau de familiaridade que se tem adquirido com os vaacuterios elementos
do ambiente (SAPIR 1969 p 49)
Eacute possiacutevel ressaltar que o leacutexico da liacutengua conteacutem um recorte da realidade feito agrave sua
maneira que revela visotildees de mundo Os elementos culturais que matizam datildeo o colorido de
significaccedilatildeo ao leacutexico mostram de diferentes maneiras as relaccedilotildees que ambas liacutengua e cultura
tecircm com o ambiente seja fiacutesico ou social pois toda complexidade dessa inter-relaccedilatildeo pode ser
anunciada e enunciada no uso da linguagem
Vale entatildeo ressaltar
Que o leacutexico assim reflita em alto grau a complexidade da cultura eacute
praticamente um fato de evidecircncia imediata pois o leacutexico ou seja o assunto
de uma liacutengua destina-se em qualquer eacutepoca a funcionar como um conjunto
de siacutembolos referentes ao quadro cultural do grupo Se por complexidade de
uma liacutengua se entende a seacuterie de interesses impliacutecitos em seu leacutexico natildeo eacute
preciso dizer que haacute uma correlaccedilatildeo constante entre a complexidade
linguiacutestica e cultural (SAPIR 1969 p 51)
37
O conjunto de signos da liacutengua ultrapassa as fronteiras do tempo trazendo para a
atualidade siacutembolos tambeacutem culturais que satildeo revelados por meio de praacuteticas culturais que se
interseccionam com as praacuteticas linguiacutesticas Assim
Natildeo soacute as palavras da liacutengua passam a servir de siacutembolos culturais dispersos
como sucede nas liacutenguas em qualquer periacuteodo de desenvolvimento mas se
pode supor que as proacuteprias categorias e processos gramaticais simbolizariam
tipos correspondentes de pensamento e atividade de significaccedilatildeo cultural Ateacute
certo ponto pode se conceber portanto a cultura e a liacutengua em constante
estado de interaccedilatildeo e em associaccedilatildeo definida por um largo lapso de tempo
Mas tal estado de correlaccedilatildeo natildeo pode continuar indefinidamente (SAPIR
1969 p 60)
Segundo Sapir (1969) a linguagem possui o papel de produzir e organizar o mundo
mediante o processo de simbolizaccedilatildeo Contudo a realidade eacute mostrada por meio da linguagem
o que significa dizer que natildeo haacute mundos iguais visto que natildeo haacute liacutenguas iguais De acordo com
estas observaccedilotildees cabe ressaltar o relativismo linguiacutestico ldquoHipoacutetese de Sapir-Whorfrdquo a
linguagem determina a forma de ver o mundo e consequentemente de se relacionar com esse
mundo
O relativismo linguiacutestico pode ser entendido como a relaccedilatildeo linguagem e pensamento
mediada pela cultura desta forma linguagem pensamento e cultura estatildeo conectados Sapir-
Whorf observam que a realidade social eacute produto linguiacutestico tratando assim as relaccedilotildees de
linguagemcultura e linguagempensamento a cultura pode ser considerada como
conhecimento adquirido socialmente por meio das praacuteticas linguiacutesticas
De maneira geral diz-se que a cultura eacute o conhecimento que as pessoas detecircm acerca de
uma comunidade seja em seus acircmbitos popular ou cientiacutefico os quais ultrapassam o tempo
por meio da liacutengua jaacute que ldquoA cultura eacute o conjunto do que o homem criou na base das suas
faculdades humanas abrange o mundo humano em contraste com o mundo fiacutesico e o mundo
bioloacutegicordquo (CAcircMARA JR 1955 p 51)
Em outras palavras
Cultura eacute o conjunto de praacuteticas sociais situadas historicamente que se
referem a uma sociedade e que a fazem diferente de outra Baseia-se na
construccedilatildeo social de sentidos a accedilotildees crenccedilas haacutebitos objetos que passam a
simbolizar aspectos da vivecircncia humana em coletividade (PAULA 2007 p
74)
A diversidade tambeacutem se reflete na cultura pois de acordo com Bosi
38
[] natildeo existe uma cultura brasileira homogecircnea matriz de nossos
comportamentos e dos nossos discursos Ao contraacuterio a admissatildeo do seu
caraacuteter plural eacute um passo decisivo para compreendecirc-la como um ldquoefeito de
sentidordquo resultado de um processo de muacuteltiplas interaccedilotildees e oposiccedilotildees no
tempo e no espaccedilo (BOSI 1987 p 7)
Neste sentido a cultura se constroacutei a partir das vivecircncias e significados que lhe satildeo
atribuiacutedos pela proacutepria sociedade em suas praacuteticas sociais e constituindo-se tambeacutem em
diferenccedila Para Bosi (1987 p 11) o fundamento da cultura popular ldquoeacute o retorno de situaccedilotildees e
atos que a memoacuteria grupal reforccedila atribuindo-lhes valorrdquo Isso satildeo as marcas identitaacuterias da
comunidade que satildeo deixadas e vivenciadas (ou vivificadas) tempos depois A cultura popular
eacute revelada por meio de praacuteticas culturais e linguiacutesticas que levam a puacuteblico as relaccedilotildees soacutecio-
histoacuterica-culturais de determinadas comunidades
A cultura se constroacutei com base nos valores atribuiacutedos pelos sujeitos agraves relaccedilotildees
cotidianas e nas relaccedilotildees de poder Organiza-se como popular eou erudita Nesse sentido natildeo
existe cultura melhor nem pior cada uma eacute expressa pelo seu grupo social pois cada indiviacuteduo
tem uma forma de ver o mundo modos de vestir de comer os meios para se curar os remeacutedios
os modos de plantar de cultivar e colher os modos de nomear e categorizar os elementos da
natureza e outros tantos mais Desta forma ldquoconforme as pessoas entendem que participam de
uma cultura esforccedilam-se para agir dentro do que julgam ser pertinente a elardquo (PAULA 2007
p 75)
Cultura liacutengua e identidade natildeo satildeo algo fixo pronto e acabado estando sempre em
constituiccedilatildeo uma vez que satildeo produzidas por seres sociais que se encontram em processo de
interaccedilatildeo aprendizado conhecimento e estatildeo inseridos em contextos sociais que passam por
transformaccedilotildees O leacutexico eacute o meio pelo qual a cultura e a identidade se constroem e se
disseminam
Na visatildeo de Paula (2007 p 89) a memoacuteria eacute o depositaacuterio tanto da cultura como da
liacutengua visto que
O modo como se estrutura poliacutetica e economicamente uma sociedade diz
muito de suas estruturas culturais estas por sua vez soacute se fazem possiacuteveis
graccedilas agrave elaboraccedilatildeo cotidiana do arcabouccedilo de memoacuteria coletiva ao modo
como eacute concebida e ao estatuto que lhe eacute dado Expressando estas inter-
relaccedilotildees servindo a elas no cotidiano da comunicaccedilatildeo humana e carregando
em seu funcionamento muito do modo como a sociedade se faz e se refaz estaacute
a liacutengua
39
Os processos culturais que satildeo construiacutedos por meio de atos linguiacutesticos satildeo uma forma
identitaacuteria de dada comunidade que eacute expressa por relaccedilotildees sociais como forma de conduzir e
expressar-se perante as demais comunidades sejam elas internacionais nacionais ou regionais
sabemos que a cultura eacute a miscigenaccedilatildeo de outras culturas
13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes
Embora faccedila parte do cotidiano das pessoas portanto estreitamente ligado agrave cultura natildeo
haacute muita discussatildeo referente ao nome proacuteprio e aos motivos de algueacutem ou um lugar ter o nome
que tem Entretanto conforme Carvalhinhos (2002) jaacute no seacuteculo II aC com o gramaacutetico
Dioniacutesio Traacutecia o estudo sobre o nome jaacute tinha sido pensado e formulado Esses estudos
propiciaram por sua vez o surgimento da Onomaacutestica a ciecircncia que se ocupa dos estudos da
origem e alteraccedilotildees (na forma e no significado) dos nomes proacuteprios A Onomaacutestica eacute um ramo
das ciecircncias linguiacutesticas que pode-se efetuar em duas vertentes a toponiacutemia (estudo do
topocircnimo ou nome de lugar) e a antroponiacutemia (estudo do nome pessoal)
Conforme Dubois (2004) e Houaiss (2004) a Onomaacutestica eacute um ramo da lexicologia e
seu meacutetodo de trabalho deve-se desenvolver em linha documental mediante a observaccedilatildeo de
dados oficiais como mapas listas de nomes ou outros documentos de valor historiograacutefico e
lexicograacutefico Isso possibilita a junccedilatildeo da histoacuteria da nomenclatura com momentos histoacutericos e
sociais mais amplos
No entanto mesmo pertencendo agrave ciecircncia da linguagem a Onomaacutestica se estabelece por
meio do suporte de outras aacutereas do conhecimento como a Antropologia a Etnografia a
Botacircnica a Geografia e a Histoacuteria Neste sentido natildeo eacute equivocado salientar que a Onomaacutestica
eacute um campo de amplo caraacuteter interdisciplinar
Assim a Onomaacutestica ou Onomasiologia eacute o ramo da ciecircncia linguiacutestica que tem o nome
proacuteprio como objeto de estudo e se constroacutei em relaccedilatildeo a outros campos do saber Contudo ao
relacionar o seu conhecimento aos de outras aacutereas ela natildeo os confunde nem os nega
De acordo com Ramos e Bastos (2010) a Onomaacutestica assume uma perspectiva
integralizadora de meacutetodos e demanda um consideraacutevel nuacutemero de conhecimentos de campos
diversos de maneira direta ou indireta e vertical ou horizontal destacando-se a linguiacutestica com
valoraccedilatildeo da pesquisa etimoloacutegica
Conforme dito a Onomaacutestica para efeito de estudo pode ser dividida em dois eixos a
Antroponiacutemia e a Toponiacutemia Estas por sua vez podem apresentar subdivisotildees dependendo
de algumas consideraccedilotildees acerca das caracteriacutesticas que cada uma agrave sua maneira apresenta
40
A Toponiacutemia conforme Piel (1979) de acordo com o objeto de denominaccedilatildeo pode
denominar-se tambeacutem como astroniacutemia hidroniacutemia litoniacutemia odoniacutemia oroniacutemia para citar
apenas alguns termos que correspondem a objetos que constituem ou satildeo constituiacutedos por
formaccedilotildees aquosas astros formaccedilotildees peacutetreas serras vias ou caminhos
Jaacute a Antroponiacutemia volta sua atenccedilatildeo para o estudo dos nomes de batismo dos
sobrenomes patroniacutemicos (ou matroniacutemicos) e ainda das alcunhas dos apelidos e de nomes
diminutivos A Antroponiacutemia agrave semelhanccedila da Toponiacutemia natildeo se constitui de forma
homogecircnea jaacute que haacute uma seacuterie de tradiccedilotildees conforme os povos ou culturas que desenvolveram
esses sistemas antroponiacutemicos Por outro lado eacute consenso afirmar que os nomes pessoais satildeo
um aspecto comum ou universal nas liacutenguas porque as pessoas recebem um nome em algum
momento de suas vidas em todas as sociedades conhecidas do mundo
De acordo com Dick (1992) as intenccedilotildees e as motivaccedilotildees que subjazem agrave escolha dos
nomes em cada sociedade variam bastante Os estudos dos sistemas onomaacutesticos vecircm confirmar
isso porque os nomes existem e satildeo controlados pelas necessidades e praacuteticas sociais as quais
podem variar de acordo com a visatildeo de mundo de um determinado povo
Posto isso conveacutem conceber a Onomaacutestica como uma disciplina que deve focar como
objeto de estudo os sistemas de denominaccedilatildeo que justifiquem os processos de atribuiccedilatildeo de
nomes de uma maneira geral
Em Soliacutes (1997) os nomes satildeo o resultado de algo que os provoca isto eacute o sistema
denominativo elaborado pelas culturas para atribuir nomes agraves coisas apreendidas por sua
atividade cognitiva
Devido ao fato de a Onomaacutestica estender-se a um amplo campo de estudo ou seja que
se volta tanto para o estudo dos nomes proacuteprios de pessoas como agraves designaccedilotildees dos lugares eacute
imperioso delimitar para este estudo apenas o sistema onomaacutestico voltado para os nomes de
lugar isto eacute para a toponiacutemia caracterizando como objeto de estudo os nomes dos cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio
A despeito de incorrer em lugar comum conveacutem rever os constituintes da palavra
toponiacutemia cujo significado etimoloacutegico pode ser assim expresso do grego topos (lugar) e
onoma (nome) A Toponiacutemia se ocupa dos locativos (tambeacutem componentes do leacutexico da liacutengua)
com o fito de estudar a origem as significaccedilotildees e as transformaccedilotildees por que passam ou
passaram esses nomes A Toponiacutemia se dedica ao estudo natildeo apenas dos nomes de comunidades
humanas (cidades povoados vilas) como tambeacutem elementos geograacuteficos a exemplo os cursos
drsquoaacuteguas
41
Os estudos toponiacutemicos propiciam a percepccedilatildeo da relaccedilatildeo entre povo liacutengua e territoacuterio
considerando que esse territoacuterio pode ser fiacutesico eou imaginaacuterio jaacute que as entidades do mundo
que precisam ser nomeadas podem ser pessoas entidades geograacuteficas que fazem parte do
ambiente em que vive determinado povo e que sobretudo tenham importacircncia para esse povo
pois se natildeo tem importacircncia natildeo haacute em contrapartida necessidade de ser nomeado Conveacutem
no entanto ressaltar que nem todas as nomeaccedilotildees ocorrem pela necessidade espontacircnea de
identificaccedilatildeo uma vez que muitas delas refletem a imposiccedilatildeo de forccedilas ideoloacutegicas poliacuteticas e
sociais
Neste sentido surge a necessidade de reconhecer os objetos geograacuteficos da natureza
tais como rios mares lagoas ilhas continentes serras e outros mas haacute outros que precisam
ser denominados tambeacutem principalmente os objetos da cultura aqueles criados pelo homem
dentre os quais podem ser citados os povoados represas moradias (habitaccedilatildeo) ruas
circunscriccedilotildees poliacutetico-territoriais que se situam em algum lugar do universo fiacutesico
Natildeo se pode omitir aqueles lugares cujo universo foi criado pela cultura imaterial o
mundo natildeo fiacutesico Sejam do universo real ou imaginaacuterio as entidades geograacuteficas satildeo os
referentes dos topocircnimos que por sua vez integram a visatildeo de mundo de um povo Isso
constitui uma dificuldade em especificar que referentes existem no mundo fiacutesico ou cultural
em parte porque para isso eacute necessaacuterio considerar uma cultura determinada Em resposta a isso
haacute o reconhecimento da visatildeo de mundo que eacute peculiar a cada cultura
Muitos povos concebem o universo real como um mundo que tem seu correlato miacutetico
com outros mundos e fazem assim surgir universos de nomes toponiacutemicos de variada riqueza
toponomaacutestica porque tecircm lugares para nomear no espaccedilo fictiacutecio criado nesse mundo Assim
aleacutem de serem componentes linguiacutesticos como tal os nomes que compotildeem um sistema de
denominaccedilatildeo satildeo ainda criaccedilotildees socioculturais
Entatildeo cabe agrave Toponiacutemia estudar tanto os nomes de lugares (os topocircnimos) como
componentes de uma liacutengua que satildeo como tambeacutem o sistema de denominaccedilatildeo organizado pelas
sociedades para nomear os objetos fiacutesicos ou imaginaacuterios da sua cultura Devido agraves diferentes
visotildees de mundo tecircm-se diferentes formas de nomear essas entidades Aleacutem da visatildeo de mundo
em sociedades como a brasileira podem contribuir para a formaccedilatildeo de um sistema de nomeaccedilatildeo
os movimentos sociais como forccedila impulsionadora de mudanccedila social Em relaccedilatildeo agrave realidade
brasileira podem-se mencionar as poliacuteticas que vecircm acontecendo durante os mais de 500 anos
de histoacuteria brasileira que tambeacutem resultou em inuacutemeras formaccedilotildees e mudanccedilas de designaccedilatildeo
toponiacutemica no Brasil
42
Cabe reiterar que a toponiacutemia refere-se a nomes de lugares habitados ou natildeo Daiacute uma
definiccedilatildeo apropriada para o termo ldquotopocircnimordquo eacute um nome de qualquer ponto localizaacutevel no
espaccedilo terrestre que tenha recebido denominaccedilatildeo Definiccedilatildeo essa que pode ser estendida para o
nome de qualquer ponto localizaacutevel no mundo real ou em mundos imaginados pelas culturas
em outras palavras daqueles universos que existem por meio da atividade ideacional dos
homens
Assim eacute por meio da relaccedilatildeo povo-territoacuterio que os nomes de lugar satildeo estabelecidos
Inicialmente pela posse do territoacuterio uma vez que segundo Couto (2007) o territoacuterio eacute uma
das primeiras referecircncias para que um agrupamento de pessoas possa receber o status de
comunidade e todo territoacuterio entendido como tal tem de ter um nome um topocircnimo Desta
forma recortam-se os aspectos do meio ambiente mais salientes aos olhos do povo como uma
espeacutecie de acordo que permite a vivecircncia e a convivecircncia em sociedade no territoacuterio apossado
Eacute possiacutevel afirmar que a nomeaccedilatildeo dos lugares surgiu com a proacutepria humanidade Os
registros antigos da histoacuteria da civilizaccedilatildeo ratificam essa accedilatildeo do homem sobre o lugar que
habita ou jaacute habitou satildeo fatores que sugerem uma espeacutecie de posse ou de domiacutenio sobre o lugar
por meio da significaccedilatildeo da organizaccedilatildeo e da orientaccedilatildeo pelo espaccedilo ocupado ou apenas
conhecido Em contrapartida o ato de nomeaccedilatildeo se manifesta como a accedilatildeo do meio fiacutesico e
sociocultural sobre o homem
Eacute nesta perspectiva que se podem considerar os estudos toponiacutemicos em seu acircmbito
interdisciplinar porque congregam vaacuterias aacutereas do conhecimento humano Os nomes de um
lugar satildeo enfocados conforme a observaccedilatildeo dos aspectos fiacutesicos socioculturais mentais e
histoacutericos interligados ou em separados
Assim natildeo eacute equiacutevoco conceber a Toponiacutemia como objeto de estudo da Antropologia
da Geografia da Histoacuteria ou ainda da Psicologia Social para citar apenas algumas disciplinas
Eacute possiacutevel segundo Dick (1992) realizar anaacutelises do fenocircmeno toponiacutemico em
consonacircncia teoacuterica com qualquer uma dessas aacutereas mas para a autora nenhuma delas tomada
isoladamente ou com exclusivismo alcanccedilaria a plenitude do fenocircmeno toponiacutemico Em termos
linguiacutesticos a Toponiacutemia recorre aos conhecimentos da Semacircntica da Lexicologia da
Etnolinguiacutestica da Dialetologia e da Linguiacutestica Histoacuterica
Mais recentemente uma linha de anaacutelise que tem oferecido contribuiccedilotildees importantes
aos estudos dos nomes de lugares eacute a Linguiacutestica Cognitiva Suas pesquisas vecircm enfatizando
natildeo soacute os modelos cognitivos mas tambeacutem os processos de categorizaccedilatildeo principalmente os
processos de analogia e contiguidade proacuteprios da metaacutefora e da metoniacutemia Entendecirc-los eacute
43
essencial para compreender os sistemas de nomeaccedilatildeo como resultados da experiecircncia e da
cogniccedilatildeo humana com o corpo em relevo
Esta perspectiva de anaacutelise coaduna estudos que procuram reconhecer processos
cognitivos expressos na accedilatildeo de denominar a realidade e para tanto fundamentam-se no corpo
Eacute uma forma de nomear os lugares fiacutesicos ou culturais mediante a percepccedilatildeo do denominador
na interaccedilatildeo com meio ambiente fiacutesico e cultural
14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica
Para realizar qualquer estudo onomaacutestico eacute necessaacuterio inicialmente buscar na teoria
linguiacutestica os recursos para se explicar como uma forma linguiacutestica se amaacutelgama a um lugar
configurando uma relaccedilatildeo entre esse lugar suas caracteriacutesticas e o signo linguiacutestico que passa
a designaacute-lo Em outras palavras eacute necessaacuterio buscar conceitos que estejam em consonacircncia
com os preceitos5 onomaacutestico-toponiacutemicos
Eacute por meio da liacutengua que se daacute a interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e a mesma constitui-se de
signos linguiacutesticos Em outras palavras o mundo humano a realidade extralinguiacutestica e a
cultura constituem-se de signos Calcados nas ideias de Charles Sanders Pierce (2005) tem-se
o conceito geral de que o signo eacute ldquoalgo que estaacute por algo para algueacutemrdquo Conveacutem salientar que
ldquoestar porrdquo eacute uma noccedilatildeo bastante ampla pois pode significar uma seacuterie de coisas como
representar caracterizar fazer agraves vezes de indicar entre outros Para Pierce (2005 p 46)
um signo ou representamem eacute algo que sob certo aspecto ou de algum modo
representa alguma coisa para algueacutem Dirige-se a algueacutem isto eacute cria na mente
dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido
Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo
representa alguma coisa seu objeto Representa esse objeto natildeo em todos os
aspectos mas com referecircncia a um tipo de ideia que eu por vezes denominei
fundamento do representamem (Grifos do autor)
Assim seguindo a concepccedilatildeo de Pierce (2005) sobre signo pode-se formular que eacute a
representaccedilatildeo de alguma coisa para algueacutem estaacute no lugar da coisa que ele representa e natildeo eacute a
coisa em si Tem ainda a condiccedilatildeo de perturbar a mente do interpretante i eacute daquele que vecirc
lecirc ou ouve o signo na tentativa de atribuir-lhe um significado Dessa forma eacute possiacutevel verificar
uma relaccedilatildeo de interdependecircncia entre pelo menos trecircs extremos i) a face perceptiacutevel do
5 No capiacutetulo 2 satildeo apresentados os meacutetodos usados na pesquisa
44
signo o representamem ou significante ii) o que ele representa o objeto ou referente e iii) o
que ele significa interpretante ou significado
Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo
Fonte Adaptado a partir do original de Ogden-Richards (1972)
Para Pierce (2005) os signos satildeo elementos tricotocircmicos6 e apresentam trecircs divisotildees
amplas (i) iacutecone (ii) iacutendice e (iii) siacutembolo A despeito de serem conceitos mais pertinentes a
um estudo semioacutetico em grande parte a motivaccedilatildeo que subjaz ao designativo de lugar imprime
caraacuteter icocircnico indicial ou simboacutelico ao nome do lugar o que acarreta uma dada categorizaccedilatildeo
Para Pierce (2005) (i) iacutecones satildeo os signos que apresentam as caracteriacutesticas
especiacuteficas proacuteprias por analogia formam-se pela primeira impressatildeopercepccedilatildeo que o
inteacuterprete tem sobre as coisas do mundo real Eacute um signo que guarda semelhanccedilas entre o
significante e o significado Em outras palavras um iacutecone eacute uma representaccedilatildeo - auditiva visual
ou de outra espeacutecie ndash de alguma coisa Uma fotografia uma pintura as imagens diagramas satildeo
exemplos de iacutecones por evidenciar semelhanccedila com o objeto representado A semelhanccedila tem
de ser estabelecida de forma quase que consciente por quem observa No entanto a semelhanccedila
com o objeto representado pode ser extraordinaacuteria como quando se observam as imagens sacras
ou iacutecones menores aqueles que aparecem na tela do computador ou pode ser mais abstrata
como a que acontece com as placas de sinais em geral
Em relaccedilatildeo aos (ii) iacutendices Pierce (2005) estabelece que satildeo signos que estatildeo numa
relaccedilatildeo direta entre o representamem e o objeto Um iacutendice (ou signo indexical) tem a funccedilatildeo
de indicar o que estaacute nas suas proximidades Nos iacutendices a forma e o significado estatildeo
interligados satildeo contiacuteguos ou seja caracteriza-se pela relaccedilatildeo de contiguidade ou associaccedilatildeo
com aquilo que representa Aquilo que atrai a atenccedilatildeo em um objeto eacute seu iacutendice Apresentam
6 O que difere das caracteriacutesticas dicotocircmicas do signo linguiacutestico para Saussure
Conceito
(Significado)
Palavra Referente
(significante) (elementos da realidade)
45
traccedilos de decirciticos jaacute que os interlocutores podem recuperar o referente por meio de lembranccedilas
de detalhes do objeto
Encontram-se muito difundidos nos sistemas de comunicaccedilatildeo (verbal ou natildeo) Satildeo
amplamente empregados na linguagem miacutemica e gestual no coacutedigo de tracircnsito Os decirciticos satildeo
signos indiciais imprescindiacuteveis pois referem demonstrativamente indicam a pessoa do
discurso o lugar a proximidade7 de espaccedilo e tempo entre outros (iii) Jaacute os siacutembolos satildeo signos
que se referem ao objeto em funccedilatildeo de uma convenccedilatildeo de uma lei ou de associaccedilatildeo geral de
ideias ou melhor por natildeo haver uma relaccedilatildeo de semelhanccedila e nem contiguidade entre o
significante e o significado ela eacute estabelecida por convenccedilatildeo de forma intencional e aprendida
nas relaccedilotildees sociais Os siacutembolos satildeo considerados os signos genuiacutenos estatildeo reservados aos
seres humanos porque as necessidades comunicativas exigem muito mais que indicaccedilotildees
indexicais ou imitaccedilotildees icocircnicas O sistema mais elaborado de signos simboacutelicos certamente
eacute o das liacutenguas naturais na modalidade falada e na escrita tambeacutem sendo que a palavra eacute o
siacutembolo por excelecircncia
Por se constituiacuterem de duas coisas que se encontram em prolongamento uma da outra
i eacute contiacuteguas os signos indexicais podem se substituir mutuamente Tambeacutem os signos
icocircnicos podem tomar o lugar do objeto real Jaacute os simboacutelicos satildeo superiores por permitirem
aos seres humanos ultrapassar os limites de contiguidade e semelhanccedila porque estabelecem uma
relaccedilatildeo simboacutelica entre determinada forma e determinado significado Todas essas relaccedilotildees ndash
icocircnica indexical e simboacutelica ndash estatildeo na base dos sistemas de linguagem
Os signos linguiacutesticos se vinculam agrave noccedilatildeo de siacutembolo uma vez que a relaccedilatildeo com o
objeto referido eacute construiacuteda arbitrariamente em uma espeacutecie de acordo entre os membros de
uma comunidade de fala Para Saussure (2008) o signo linguiacutestico eacute o resultado da associaccedilatildeo
convencional entre o significante e o significado acertada entre os falantes Eacute convencional
porque natildeo haacute nenhum viacutenculo sugestivo entre os dois elementos Essa eacute a noccedilatildeo de
arbitrariedade descrita por Saussure (2008) em relaccedilatildeo aos viacutenculos entre significante e
significado Por outro lado haacute de se considerar situaccedilotildees em que os signos linguiacutesticos
apresentam motivaccedilotildees que podem ser de natureza foneacutetica morfoloacutegica ou semacircntica
Quanto agrave estrutura um topocircnimo pode ser um nome simples ou composto e segue
evidentemente as mesmas regras de formaccedilatildeo de palavras da liacutengua portuguesa Um nome em
funccedilatildeo toponiacutemica pode tambeacutem ser constituiacutedo por frases e oraccedilotildees seguem assim a sintaxe
da liacutengua em que se insere
7 O ldquoeurdquo a pessoa com quem se fala o ldquoeste aquirdquo ldquoesse aiacuterdquo ldquoaquele alirdquo ldquoneste tempordquo ldquonaquele tempordquo
46
Segundo Dick (1992) o signo topocircnimo vincula-se por diversos fatores ao elemento
geograacutefico do qual eacute o referente estabelecendo com ele um conjunto que por sua vez pode ser
separado em partes menores para se distinguirem os seus elementos formadores
Morfologicamente dois elementos baacutesicos podem ser depreendidos dessa relaccedilatildeo um o termo
ou elemento geneacuterico que se relaciona agrave entidade geograacutefica que recebe a denominaccedilatildeo e o
outro o elemento ou termo especiacutefico o topocircnimo propriamente dito que carrega em si mesmo
a noccedilatildeo espacial que identificaraacute e singularizaraacute a entidade denominada das outras semelhantes
Esses elementos ou termos se justapotildeem no sintagma toponiacutemico (Coacuterrego do Ouro) ou se
aglutinam (Rialma) conforme a estrutura da liacutengua em questatildeo
Para Dick (1992) em relaccedilatildeo agrave morfologia os topocircnimos podem apresentar trecircs
diferentes formas (i) topocircnimo ou elemento especiacutefico simples eacute aquele determinado por um
soacute formante que pode apresentar-se acompanhado tambeacutem de sufixaccedilatildeo diminutiva
aumentativa ou de outras origens linguiacutesticas
Eacute comum na formaccedilatildeo de muitos topocircnimos brasileiros a junccedilatildeo de um designativo agraves
terminaccedilotildees -lacircndia em -poacutelis e ndashburgo (normalmente segundo elemento da formaccedilatildeo) Essa
formaccedilatildeo embora apresente dois formantes (de liacutenguas diferentes) satildeo considerados nomes
simples e natildeo compostos pode-se no entanto dizer que em algumas designaccedilotildees satildeo tambeacutem
hiacutebridos jaacute que provecircm de liacutenguas diferentes a saber Maurilacircndia (Maurilo do latim Maurilius
lsquomorenorsquo + lacircndia elemento de origem inglesa) Buritinoacutepolis (Buriti(no) elemento tupi + polis
elemento grego) mas em Friburgo8 natildeo haacute hibridismo
Segundo Siqueira (2012) pode-se ainda indicar a terminaccedilatildeo -(a) nia variaccedilatildeo do sufixo
nominal do latino -anus -ana que se documentam em nomes e modificadores com as noccedilotildees
de proveniecircncia origem entre outras em lembranccedila dos primeiros habitantes da regiatildeo Em
Goiaacutes eacute expressiva a quantidade de topocircnimos que se formaram jungidos a esse elemento
Caiapocircnia Cromiacutenia Goiacircnia Joviacircnia Luziacircnia Silvacircnia (ii) topocircnimo composto ou
elemento especiacutefico composto aquele formado por mais de um elemento de origens diversas
entre si do ponto de vista do conteuacutedo (iii) topocircnimo (composto) hiacutebrido ou elemento
especiacutefico hiacutebrido formado por elementos linguiacutesticos de diferentes procedecircncias
Sobre o caraacuteter imotivado dos signos linguiacutesticos cabe salientar conforme Saussure
(2008) que o viacutenculo que une o significante ao significado eacute arbitraacuterio natildeo haacute relaccedilatildeo loacutegica
ente as duas faces do signo A associaccedilatildeo entre ambos (significante e significado) eacute de natureza
8 Cidades da Alemanha e da Suiacuteccedila no Brasil conforme Machado (2003) haacute uma ldquoFriburgordquo no Amazonas e no
Rio de Janeiro ldquoNova Friburgordquo este sim um hiacutebrido em Minas Gerais haacute tambeacutem o hiacutebrido ldquoCordisburgordquo
cordis do latim lsquocoraccedilatildeorsquo + burgo do alematildeo lsquocidadersquo
47
convencional natildeo natural Assim todo estudo toponiacutemico tem no caraacuteter motivado do signo
toponiacutemico seu ponto de partida ou seja os estudos sobre os topocircnimos se baseiam na
motivaccedilatildeo que subjaz para analisar todas as relaccedilotildees circunscritas a ela
15 Linguiacutestica Histoacuterica
Consideradas como realidades histoacutericas e sociais as liacutenguas satildeo dinacircmicas estatildeo em
contiacutenua transformaccedilatildeo o que leva a afirmar que a liacutengua de hoje natildeo eacute a mesma de ontem
nem se manteraacute idecircntica amanhatilde Posto isso pode-se verificar que o conhecimento mais amplo
da estrutura do leacutexico da semacircntica e ateacute da ortografia pode requerer um estudo linguiacutestico
com perspectivas histoacutericas No acircmbito da linguiacutestica geral destaca-se a Linguiacutestica Histoacuterica
aacuterea cujo interesse recai sobre o que como e por que muda nas liacutenguas no decorrer do tempo
Os estudos acerca da linguagem foram primeiramente postulados pelos filoacutesofos
anteriores ao seacuteculo XIX como Platatildeo e Aristoacuteteles9 que se ativeram ao estudo da linguagem
mediante a anaacutelise da relaccedilatildeo entre som e sentido ignorando qualquer tipo de variaccedilatildeo
linguiacutestica Jaacute a opccedilatildeo filoloacutegica representada principalmente pelos gramaacuteticos alexandrinos
natildeo ignorava a variaccedilatildeo linguiacutestica mas a colocava como desvio configurando-se
possivelmente como a primeira perspectiva normativaprescritiva na histoacuteria dos estudos da
linguagem (MAURER JR 1967)
Por sua vez a linguiacutestica histoacuterica conforme Maurer Jr (1967) estabeleceu relaccedilotildees
culturais entre os povos tornando-se um precioso auxiacutelio para a Histoacuteria e a Antropologia A
linguiacutestica histoacuterica natildeo revela apenas as relaccedilotildees entre duas ou mais liacutenguas mas consegue
tambeacutem evidenciar com facilidade o que eacute herdado de um berccedilo linguiacutestico comum e o que eacute
oriundo de empreacutestimo de outra liacutengua
Consoante estudos recorrentes a linguiacutestica histoacuterica teve seu surgimento no final do
seacuteculo XVIII momento em que se comeccedilava a dar um cunho cientiacutefico agrave mudanccedila linguiacutestica
Natildeo se pode afirmar entretanto que natildeo houvesse uma preocupaccedilatildeo com a linguagem antes
desse periacuteodo haja vista que a criaccedilatildeo da biblioteca de Alexandria por exemplo demonstra
certo interesse pelo assunto pois indica que ao fazer a compilaccedilatildeo das obras antigas da literatura
grega Homero apresentava certa preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura e do passado de
uma eacutepoca
9 Para Aristoacuteteles a linguagem eacute definidora das relaccedilotildees humanas
48
No entanto foi no seacuteculo XVI com a Renascenccedila que houve um acentuado interesse
dos estudiosos pela histoacuteria cultural particularmente pela filologia momento da origem da
histoacuteria literaacuteria No Ocidente renascia o interesse pelo passado que remetia agrave antiguidade
greco-latina
A linguiacutestica histoacuterica consiste segundo Faraco (2006 p 13) em ldquoestudar as mudanccedilas
que ocorrem nas liacutenguas humanas agrave medida que o tempo passardquo A mudanccedila eacute definida como
processo pelo qual a liacutengua viva natildeo fica estagnada mas evolui acompanhando o
desenvolvimento da sociedade que a utiliza como instrumento de comunicaccedilatildeo pois ldquoonde haacute
mudanccedila deve haver histoacuteria do contraacuterio nosso conhecimento do fato permanece incompletordquo
(MAURER JR 1967 p 20)
Nesse contexto estabelece-se o que eacute mais natural a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade
porque uma acaba interferindo na mudanccedila da outra visto que
[] as liacutenguas humanas natildeo constituem realidades estaacuteticas ao contraacuterio sua
configuraccedilatildeo estrutural se altera continuamente no tempo E eacute essa dinacircmica
que constitui o objeto de estudo da linguiacutestica histoacuterica [] as liacutenguas mudam
mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos
necessaacuterios para a circulaccedilatildeo dos significados (FARACO 2006 p 14)
As mudanccedilas natildeo satildeo apenas de ordem lexicais por certo as estruturas gramaticais o
modo de produzir os sons e o significado das palavras se alteram com o tempo bem como novas
palavras surgem para expressar objetos e coisas que satildeo criados Eacute possiacutevel observar ainda que
palavras caem em desuso provocando consequentemente alteraccedilotildees no leacutexico de dada liacutengua
jaacute que
Os estudos de Linguiacutestica Histoacuterica comprovam que as liacutenguas humanas se
transformam no fluxo do tempo ou seja palavras e estruturas que existiam
antes deixam de existir ou sofrem modificaccedilotildees na forma na funccedilatildeo eou no
significado Apesar das transformaccedilotildees sofridas as liacutenguas mudam mas
continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos necessaacuterios
que garantem uma comunicaccedilatildeo eficaz pois as mudanccedilas ocorrem em partes
e natildeo no todo das liacutenguas num processo de mutaccedilatildeo e permanecircncia
(SIQUEIRA AGUIAR 2011 p 385 grifos das autoras)
A linguiacutestica histoacuterica pode ser estudada em duas fases a de 1800 e a poacutes 1900 No
seacuteculo XIX surgiram meacutetodos de abordagem para se estudar as liacutenguas suas combinaccedilotildees
identidade (gecircnese) diferenccedilas (mudanccedilas) Segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 18) ldquoa tradiccedilatildeo
oitocentista portanto recorta descreve e explica os fenocircmenos da linguagem do ponto de vista
do binocircmio gecircnese-evoluccedilatildeordquo
49
O poacutes 1900 partiu da observaccedilatildeo da diacronia e sincronia Com o advento do
estruturalismo de Ferdinand Saussure (2008) no seacuteculo XX a linguiacutestica moderna trouxe como
proposta que o objeto da linguiacutestica ndash a liacutengua ndash pudesse ser estudado separadamente do efeito
tempo (PAIXAtildeO DE SOUSA 2006) Como divisor desse momento na segunda metade poacutes
1900 o objeto da linguiacutestica eacute de ordem bioloacutegica ndash a diacronia estaacute imanente agrave liacutengua pois
de acordo com esta corrente linguiacutestica eacute na liacutengua que reside a heterogeneidade a mudanccedila e
a variaccedilatildeo
Segundo Faraco (2006 p 91) as liacutenguas estatildeo inseridas em um processo de fluxo
temporal de mutabilidade ldquoaparecimentosrdquo e ldquodesaparecimentosrdquo ldquoconservaccedilatildeordquo e
ldquoinovaccedilatildeordquo As liacutenguas tecircm histoacuteria revelam e constituem a todo tempo a realidade e as
transformaccedilotildees ocorridas comno tempo Em relaccedilatildeo a isso
Humboldt convencia-se de que toda liacutengua reflete a psique do povo que a fala
Eacute o resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal
de fala Ele acha por outro lado que a liacutengua de um povo eacute o canal natural
pelo qual aquele povo chega a uma compreensatildeo do universo que circunda o
homem E conclui que existe uma profunda influecircncia de uma liacutengua na
maneira pela qual seus falantes veem e organizam o mundo dos objetos em
torno deles e de sua vida espiritual (CAMARA JR 1975 p 38-39)
A liacutengua eacute um ldquoinstrumentordquo social e estaacute carregada de significaccedilatildeo e considerados
espaccedilo e tempo eacute capaz de revelar o mundo a outros mundos Faraco (2006) faz ainda referecircncia
ao estudo do leacutexico ao reafirmar que a composiccedilatildeo deste pode ser estudada historicamente na
sua origem bem como os empreacutestimos que satildeo feitos de outras liacutenguas Necessaacuterio se faz
reconhecer que o leacutexico eacute uma unidade carregada da histoacuteria cultural de dada comunidade
linguiacutestica natildeo esquecendo conforme Faraco (2006 p 42) que ldquoeacute um dos pontos em que mais
claramente se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e culturardquo
Com o advento estruturalista de Saussure (2008) haacute uma mudanccedila de perspectiva a
visatildeo diacrocircnica dos fatos linguiacutesticos daacute lugar ao enfoque sincrocircnico dos fenocircmenos da
linguagem Eacute preciso observar que consoante a diretriz saussuriana a anaacutelise sincrocircnica
precede a diacrocircnica sendo possiacutevel fazer comparaccedilatildeo entre elas no momento em que tiver a
descriccedilatildeo de pelo menos dois estados da liacutengua Daiacute reforccedilar-se o objetivo do estudo em
descrever sincronicamente um dado especiacutefico da histoacuteria da liacutengua Faraco (2006 p 120)
afirma que ldquoo estudioso se fixa num momento do passado e tomando-o estaticamente
descreve-o com base nos documentos escritos de que se dispotildee criando assim condiccedilotildees para
um posterior estudo diacrocircnicordquo
50
A par disso conveacutem mencionar que nos seacuteculos XVII e XVIII estudos linguiacutesticos
hegemocircnicos observavam a liacutengua como uma realidade estaacutevel diferentemente do pensamento
linguiacutestico do seacuteculo XIX que considerava a liacutengua como uma realidade em transformaccedilatildeo
Desta forma Saussure (2008) estabeleceu duas dimensotildees uma histoacuterica (chamada diacrocircnica)
que tem como centro de suas atenccedilotildees as mudanccedilas porque passa a liacutengua no tempo ou seja a
mutabilidade da liacutengua no tempo a outra eacute estaacutetica (chamada sincrocircnica) que entende a liacutengua
como um sistema estaacutevel num espaccedilo de tempo aparentemente fixo isto eacute a sua imutabilidade
Mas
Diante dos termos sincroniadiacronia natildeo basta apenas entender por alto a
que se referem Eacute preciso antes perceber que essa divisatildeo pressupotildee tambeacutem
na sua origem uma concepccedilatildeo homogeneizante da liacutengua que ndash apesar de sua
indiscutiacutevel funcionalidade e fertilidade para a linguiacutestica contemporacircnea ndash eacute
para muitos estudiosos uma idealizaccedilatildeo excessiva por criar um objeto de
estudo demasiadamente afastado da heterogeneidade linguiacutestica do real
(FARACO 2006 p 106 grifos do autor)
Segundo Faraco (2006) Coseriu em seu livro Sincronia diacronia e histoacuteria de 1973
posiciona-se de forma contraacuteria agrave formulaccedilatildeo de Saussure (2008) (visatildeo estaacutetica de sistema)
pois para ele a liacutengua deve ser vista em permanente sistematizaccedilatildeo em movimento Coseriu
rejeita a ideia de que a descriccedilatildeo (sincronia) e a histoacuteria (diacronia) sejam estudos diferenciados
mas assume a visatildeo de que as liacutenguas satildeo objetos histoacutericos e devem ser estudadas de forma
integrada envolvendo descriccedilatildeo e histoacuteria
Para Rocha Galvatildeo e Gonccedilalves (2011 p 30) ldquoestabelecer a presenccedila ou a viagem das
palavras eacute acompanhar o envolver das proacuteprias comunidades pelo tempo aforardquo Um recorte
sincrocircnico natildeo deve desprezar a interpretaccedilatildeo diacrocircnica o interesse cientiacutefico natildeo estaacute presente
somente num espaccedilo-tempo assim como a representatividade histoacuterica necessita admitir pontos
exatos na representaccedilatildeo da vivecircncia humana
No segundo capiacutetulo apresenta-se uma breve revisatildeo dos meacutetodos de pesquisa que
podem ser combinados com a teoria onomaacutestico-toponiacutemica a fim de compor um quadro
ilustrativo das caracteriacutesticas do meio da cultura dos fatos histoacutericos e dos estados anteriores
da liacutengua que estatildeo de alguma forma impressos na motivaccedilatildeo que subjaz aos topocircnimos em
questatildeo
51
II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS
O povo ldquosenhor dos espaccedilos puacuteblicosrdquo por vezes
adota criteacuterio proacuteprio ao conferir nomes aos
lugares
(IBGE 2008)
A linguagem humana eacute sobretudo interaccedilatildeo e natildeo pode pois ser explicada apenas em
termos de sua estrutura semacircntica e formal mas tambeacutem deve-se analisaacute-la em sua funccedilatildeo
social Desta forma o desenvolvimento linguiacutestico e intelectual do indiviacuteduo caminham juntos
pois ambos satildeo a base da abstraccedilatildeo e categorizaccedilatildeo pois ldquotoda liacutengua reflete as condiccedilotildees da
sociedade e do ciacuterculo cultural que se falardquo (ANDRADE 2010 p 99)
Aspectos linguiacutesticos de diversas ordens satildeo fundamentais para o estudo toponiacutemico jaacute
que eacute por mecanismos linguiacutesticos que o signo comum transmuta-se em designativo de lugar
revelando a identidade do nomeador coletivo ou natildeo Desta maneira ldquoo topocircnimo eacute o resultado
da accedilatildeo do nomeador ao realizar um recorte no plano das significaccedilotildees representaccedilotildees ou seja
praticar um papel de registro no momento vivido pela comunidaderdquo (ANDRADE 2010 p
106)
Acolher uma orientaccedilatildeo ou outra acarreta outrossim na escolha do meacutetodo a ser utilizado
para a pesquisa linguiacutestico-histoacuterica Para situar a escolha por um meacutetodo este capiacutetulo faz uma
breve exposiccedilatildeo de alguns meacutetodos que tecircm sido empregados em pesquisas de abordagem
similar a esta em especial descrevemos detalhadamente os que satildeo usados nesta pesquisa os
quais consideram natildeo somente os aspectos linguiacutesticos bem como os histoacutericos e socioculturais
do lugar indo ao encontro da perspectiva adotada para este trabalho
21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos
Natildeo se deve confundir metodologia com meacutetodo de pesquisa Segundo Silva e Silveira
(2007 p 145) a metodologia consiste de um conjunto de criteacuterios usados para se construir um
conhecimento vaacutelido seguro e de certa forma verdadeiro Jaacute os meacutetodos de pesquisa podem
ser definidos como ldquoprinciacutepios e procedimentos aplicados para construccedilatildeo do saberrdquo Os autores
salientam que se torna mais difiacutecil ficar preso a um uacutenico meacutetodo quando se pode lanccedilar matildeo
do ldquopluralismo metodoloacutegicordquo Deste modo considerando as especificidades de um estudo
toponiacutemico eacute possiacutevel conjugar meacutetodos de forma ordenada e loacutegica Isto quer dizer que se
52
podem utilizar meacutetodos de abordagem (indutivo dedutivo dialeacutetico) em consonacircncia com os
preceitos de um ou mais meacutetodos de procedimento (funcionalista comparativo
fenomenoloacutegico estruturalista)
Uma perspectiva histoacuterica por exemplo abre um amplo espectro de possibilidades de
se estudar um determinado fato linguiacutestico Podem ser citadas diversas maneiras para se tomar
os fenocircmenos linguiacutesticos do ponto de vista histoacuterico tais como a filologia centrada nos
aspectos histoacutericos das transformaccedilotildees a linguiacutestica comparada que aborda os fatos por meio
de comparaccedilotildees entre as liacutenguas de grupos linguiacutesticos relacionados e a etimologia a qual
busca desvendar o significado de origem das palavras aqui centra-se o nosso objeto de estudo
que eacute descrever e analisar a origemetimologia dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua de Pires do
Rio-GO
Os meacutetodos linguiacutesticos podem ainda estudar as transformaccedilotildees linguiacutesticas
correlacionando-as ao contexto sociocultural o que tem contribuiacutedo grandemente para uma
renovaccedilatildeo das abordagens do fenocircmeno da mudanccedila linguiacutestica resultando em inuacutemeras outras
orientaccedilotildees teoacutericas que em certo sentido podem ser vistas como herdeiras dos primeiros
criacuteticos dos estudos comparativos
A linguiacutestica tem a liacutengua como seu principal objeto de estudo a qual eacute produto da
experiecircncia acumulada historicamente na cultura de uma sociedade A liacutengua eacute um fenocircmeno
social pois eacute produzida e determinada socialmente ademais eacute um importante siacutembolo da
identidade de um grupo E eacute no comportamento linguiacutestico de uma dada comunidade que se
reflete a busca de aprovaccedilatildeo social ou a acentuaccedilatildeo de diferenccedilas (COSERIU 1977) Eacute por
meio dela enfim que um indiviacuteduo adquire a cultura do lugar em que vive jaacute que
A funccedilatildeo baacutesica da Linguiacutestica eacute o estudo direto da lsquoliacutengua viva e faladarsquo por
observaccedilatildeo e anaacutelise objetiva de seus fenocircmenos postas de lado todas as
forccedilas e influecircncias que se manifestem muitas vezes atraveacutes dela e todos os
antecedentes que possam ter dado origem ao estado atual (MAURER JR
1967 p 30)
Observa-se na Linguiacutestica Geral de acordo com Maurer Jr (1967) a divisatildeo em dois
setores distintos poreacutem essenciais para compreensatildeo da linguagem a Linguiacutestica Descritiva
(sincrocircnica) que segundo o autor deve ser a base de todo estudo cientiacutefico porque eacute a partir
dela que aprendemos a linguagem em sua funccedilatildeo uacutenica e peculiar e a Linguiacutestica Histoacuterica
(diacrocircnica) que complementa e explica os fatos da primeira e tem uma funccedilatildeo importante no
estudo desse rico patrimocircnio cultural e humano a liacutengua
53
212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica
Para alguns estudiosos a linguiacutestica histoacuterica teve seu apogeu no seacuteculo XIX embora
outros afirmem que tenha ocorrido haacute tempos no Renascimento De acordo com Paixatildeo de
Sousa (2006 p 14)
[] a reflexatildeo linguiacutestica dos 1800 representa um marco divisor na histoacuteria
das histoacuterias do tempo e da linguagem por inaugurar uma concepccedilatildeo
inteiramente nova dos condicionantes dessa relaccedilatildeo e construir um novo
plano para sua anaacutelise Eacute antes de tudo na tentativa de se combinar a esfera
documental com a esfera experimental que aparecem os desdobramentos mais
interessantes dos estudos histoacutericos da liacutengua ao longo do seacuteculo XIX eles
buscaratildeo articular as duas esferas em um mesmo plano de anaacutelise construindo
a abordagem histoacuterico-comparada
Assim a linguiacutestica histoacuterica apoacutes o seacuteculo XIX cria um meacutetodo que permite
ldquocategorizar e justificar a identidade geneacutetica e a evoluccedilatildeo paralela de cada idioma em um grupo
aparentadordquo segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 16) O meacutetodo comparativo segundo Maurer
Jr (1967) busca comparar cuidadosamente formas apresentadas entre si de um grupo
distinguir a origem e estudar a diversificaccedilatildeo das liacutenguas para desvendar e recontar a histoacuteria
de cada liacutengua Ressalte-se que para Faraco (2006 p 125) esse meacutetodo teve sua estruturaccedilatildeo
ldquoao dar um tratamento sistemaacutetico agraves observadas semelhanccedilas entre liacutenguas distantes no espaccedilo
como o latim e o sacircnscritordquo E ainda
constitui um recurso inteligente e racional para a reconstruccedilatildeo de fatos que
dependem de testemunho em todo o terreno Tal como a Paleontologia a
Histoacuteria da Cultura e ateacute na investigaccedilatildeo do crime na Justiccedila esse meacutetodo
submete o testemunho a um estudo preliminar para avaliar seu isolamento sua
coerecircncia etc (MAURER JR 1967 p 31)
O meacutetodo comparativo se baseia na experimentaccedilatildeo (induccedilatildeo) procura descrever os
estaacutegios da liacutengua que natildeo deixaram registros (documentos) como eacute o caso do latim vulgar No
entanto se difere do histoacuterico-comparativo o qual usa documentos histoacutericos para fazer as suas
reconstruccedilotildees acerca da liacutengua Poreacutem ambos os meacutetodos buscam recuperar a histoacuteria da liacutengua
de forma cronoloacutegica
De acordo com Faraco (2006 p 134)
O meacutetodo comparativo eacute o procedimento central nos estudos de linguiacutestica
histoacuterica Eacute por meio dele que se estabelece o parentesco entre liacutenguas O
pressuposto de base eacute que entre elementos de liacutenguas aparentadas existem
54
correspondecircncias sistemaacuteticas (e natildeo apenas aleatoacuterias ou casuais) em termos
de estrutura gramatical correspondecircncias estas passiacuteveis de serem
estabelecidas por meio duma cuidadosa comparaccedilatildeo Com isso podemos natildeo
soacute explicitar o parentesco entre liacutenguas (isto eacute dizer se uma liacutengua pertence
ou natildeo a uma determinada famiacutelia) como tambeacutem determinar por inferecircncia
caracteriacutesticas da liacutengua ascendente comum de um certo conjunto de liacutenguas
No decorrer dos anos vaacuterios satildeo os estudiosos que contribuiacuteram com a formaccedilatildeo e o
aprimoramento do meacutetodo comparativo dentre eles destacamos Bopp (1791-1867) que
buscava estabelecer o parentesco entre as liacutenguas mas natildeo o percurso histoacuterico de um anterior
para um posterior Grimm (1785-1863) que ao estudar o ramo germacircnico das liacutenguas indo-
europeias pocircde estabelecer a sucessatildeo histoacuterica por meio de comparaccedilatildeo ndash comparativo
histoacuterico Rask (1787-1832) tambeacutem desenvolveu trabalhos comparativos importantes para o
momento envolvendo as liacutenguas noacuterdicas as demais liacutenguas germacircnicas o grego o latim o
lituano o eslavo e o armecircnio Foi a partir desses estudiosos que surgiu a ldquofilologia (ou
linguiacutestica) romacircnica nome que se deu ao estudo histoacuterico-comparativo das liacutenguas oriundas
do latimrdquo (FARACO 2006 p 137)
De tal modo da siacutentese que foi apresentada eacute possiacutevel tecer as seguintes consideraccedilotildees
o meacutetodo histoacuterico-comparativo em seu apogeu foi e ainda hoje eacute uacutetil aos estudos da Linguiacutestica
Histoacuterica principalmente no que concerne natildeo soacute agrave reconstruccedilatildeo de fases anteriores das liacutenguas
como tambeacutem eacute bastante indicado para estudos que objetivam a reconstruccedilatildeo interna de uma
liacutengua Esse meacutetodo cumpriu papel importante para o desvelamento de inuacutemeras questotildees
linguiacutesticas das liacutenguas antigas grego latim sacircnscrito
Jaacute os estudos dos neogramaacuteticos possibilitaram o aprimoramento do meacutetodo histoacuterico-
comparativo mediante a verificaccedilatildeo de que muitas mudanccedilas ocorridas nas liacutenguas em
momentos anteriores e registrados em documentos podem ser explicitadas por meio da
explanaccedilatildeo de mudanccedilas ldquosincrocircnicasrdquo sucedidas nas liacutenguas conforme as leis foneacuteticas e a
analogia
Conforme Cacircmara Jr (1975) Gaston Paris traccedilou mapas das linhas isogloacutessicas dando
os primeiros passos para a geografia linguiacutestica a qual na verdade foi efetivamente criada por
seu disciacutepulo suiacuteccedilo Jules Gillieacuteron que dedicou-se agrave dialetologia e no doutoramento em 1879
defendeu a tese sobre o dialeto de Vionnaz Essa nova teacutecnica ldquoteve como base teoacuterica o
conceito de dialeto como uma abstraccedilatildeo essa a razatildeo de focalizar cada mudanccedila linguiacutestica per
se como o verdadeiro dado linguiacutesticordquo (CAcircMARA JR 1975 p 121)
55
A geografia linguiacutestica10 segundo Cacircmara Jr (1975) eacute importante como uma nova
abordagem para o estudo histoacuterico-comparativo pois em vez de recorrer a textos antigos o
pesquisador busca apenas os aspectos contemporacircneos da liacutengua absorvendo as bases
linguiacutesticas no intercacircmbio oral Desta forma
Obteacutem-se uma corrente evolucionaacuteria pela comparaccedilatildeo das muitas variantes
de cada forma cuja distribuiccedilatildeo no espaccedilo pode ser traduzida numa
distribuiccedilatildeo atraveacutes do tempo de acordo com regras metodoloacutegicas O aspecto
foneacutetico da variante ou sua existecircncia num patois relativamente moderno ou
notaacutevel por traccedilos arcaicos constituem a chave para esta investigaccedilatildeo
histoacuterica Por essa razatildeo eacute que atraveacutes da geografia linguiacutestica uma nova
teacutecnica para o estudo histoacuterico da linguagem foi imaginada sob o tiacutetulo de
ldquoreconstruccedilatildeo internardquo (CAcircMARA JR 1975 p 125 grifos do autor)
Essa nova abordagem vem corroborar com os estudos da liacutengua porque de forma
efecircmera reconstroacutei a histoacuteria de uma dada liacutengua contribuindo com a contemporaneidade uma
vez que nos eacute necessaacuterio conhecer a base etimoloacutegica das palavras e depois justificar o seu uso
ou evoluccedilatildeo
Segundo Cacircmara Jr (1975) apoacutes observar que Gaston Paris traccedilou mapas das linhas
isogloacutessicas e Gillieacuterion criou a geografia linguiacutestica muitos anos depois os linguistas italianos
Giulio Bertoni e Matteo Bartoli criaram o meacutetodo de linguiacutestica areal cujo objetivo era
classificar aacutereas linguiacutesticas ndash de uma liacutengua ou grupo de liacutenguas ndash como forma de
representaccedilatildeo da contemporaneidade e do estaacutegio linguiacutestico de desenvolvimento Os
linguistas consoante Cacircmara Jr (1975 p 126) ldquodividiram um territoacuterio linguiacutestico em aacutereas
isoladas aacutereas laterais aacutereas principais e aacutereas desaparecidas (isto eacute aacutereas homogecircneas que
desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)rdquo e desta forma
difundiam mais um meacutetodo linguiacutestico
Destaca ainda que a linguiacutestica histoacuterica compreende dois momentos de exatidatildeo o
primeiro de 1786 a 1878 periacuteodo de formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do meacutetodo comparativo o qual
finalizou com o movimento dos neogramaacuteticos o segundo vai desde 1878 ateacute a
contemporaneidade periacuteodo de tensatildeo entre duas linhas interpretativas uma imanentista ndash
neogramaacutetico estruturalismo e gerativismo que vecirc a mudanccedila como acontecimento interno da
liacutengua e pela proacutepria liacutengua e a outra integrativa ndash primeiros criacuteticos neogramaacuteticos dialetologia
e sociolinguiacutestica cuja mudanccedila da liacutengua estaacute condicionada a fatores contextuais nos quais o
falante estaacute inserido
10 No Brasil a Geografia Linguiacutestica concretizou-se com a produccedilatildeo de Atlas Linguiacutesticos em diferentes Estados
brasileiros
56
Entre os seacuteculos XVIII e XIX ocorreram momentos de grande relevacircncia para a
linguiacutestica histoacuterica Um deles eacute a fundaccedilatildeo da Escola de Estudos Orientais em Paris
(importante centro de investigaccedilatildeo) no ano de 1975 onde estudaram os linguistas alematildees
Friedrich Schlegel (1772-1829) e Franz Bopp (1791-1867) os quais mais tarde desenvolveram
a chamada gramaacutetica comparativa
Assim em 1808 Friedrich Schlegel publicou um texto sobre a liacutengua e sabedoria dos
povos hindus que de acordo com Faraco (2006) eacute considerado o ponto de partida do
comparativismo alematildeo No texto o autor ratifica sobre o parentesco das liacutenguas sacircnscrita com
a latina grega germacircnica e persa
Cabe ainda salientar que os estudos histoacuterico-comparativos antes da uacuteltima metade do
seacuteculo XIX conheceram a obra de August Scheilcher (1821-1868) Sua teoria tomava a liacutengua
como um organismo vivo com existecircncia fora de seus falantes sendo sua histoacuteria vista como
natural devido agraves orientaccedilotildees naturalistas do linguista como sua formaccedilatildeo em botacircnica e
influenciado pela teoria evolucionista de Darwin (FARACO 2006)
Jaacute no seacuteculo XIX as investigaccedilotildees no campo da linguagem eram dominadas por ideias
positivistas que se desenvolviam conforme meacutetodos histoacuterico-comparativos eacutepoca em que se
formaliza o estudo sistemaacutetico das variaccedilotildees sobretudo as de natureza geograacutefica Surge o
interesse pelos dialetos considerados como fontes de conhecimento do modo como se teriam
operado as transformaccedilotildees em fases anteriores das liacutenguas A Geografia Linguiacutestica eacute uma
consequecircncia do interesse pelos estudos dialetais levados a cabo de iniacutecio por vaacuterios estudiosos
europeus Segundo Coseriu (1982) surge um meacutetodo dialetoloacutegico e comparativo que
pressupotildee o registro em mapas especiais de um nuacutemero relativamente elevado de formas
linguiacutesticas (focircnicas lexicais ou gramaticais) recolhidas mediante pesquisa direta e unitaacuteria
numa rede de pontos distribuiacuteda em determinado territoacuterio
Deste modo eacute necessaacuterio compreender que
A linguagem eacute inegavelmente uma heranccedila social cuja histoacuteria se estende
por seacuteculos Uma visatildeo completa um conhecimento detalhado de seu
mecanismo de sua estrutura de sua semacircntica e ateacute de sua ortografia soacute
podem ser obtidos atraveacutes da pesquisa diacrocircnica Os meacutetodos expostos
acima em suas linhas essenciais natildeo deixam duacutevida de que a filologia
romacircnica se desenvolveu com o meacutetodo histoacuterico-comparativo adotado com
mais ecircxito aqui do que no campo para o qual havia sido criado As possiacuteveis
deficiecircncias desse meacutetodo foram sendo corrigidas depois pela geografia
linguiacutestica e pelos outros meacutetodos derivados como a onomasiologia Woumlrter
und Sachen linguiacutestica espacial etc Enquanto o meacutetodo histoacuterico-
comparativo procura as ligaccedilotildees entre o ldquoterminus a quordquo e o ldquoterminus ad
quemrdquo o latim vulgar e as liacutenguas romacircnicas respectivamente os outros
57
meacutetodos tecircm como objeto especificamente o ldquoterminus ad quemrdquo pois
investigam sincronicamente aspectos atuais dessas mesmas liacutenguas cujas
explicaccedilotildees poreacutem devem ser buscadas diacronicamente (BASSETTO
2001 p 85 grifos do autor)
Para Faraco (2006 p 106) ldquooptar por uns ou por outros eacute que vai orientar nossa forma
de entender a mudanccedila linguiacutestica nossa seleccedilatildeo de dados nossas categorias e procedimentos
de anaacutelise nosso processo argumentativordquo Ou seja ao assumirmos uma concepccedilatildeo de base
correlata eacute o que iraacute definir o nosso meacutetodo de trabalho
22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia
Segundo Silva (2010) a onomasiologia eacute um meacutetodo que se constitui do estudo das
designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Pode ser
investigada toda a cultura popular de um local podendo-se priorizar os aspectos sincrocircnicos ou
histoacutericos Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores do que
subjaz agrave nomeaccedilatildeo dos lugares
Pode-se para efeito deste estudo traccedilar o esquema a seguir o qual demonstra as
possibilidades temaacuteticas que esse tipo de pesquisa pode apresentar
Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos
Onomaacutestica
Toponiacutemia Antroponiacutemia
Modalidades Coleta
Imagens mapas cartas e plantas
Documental Texto iacutendicesrepertoacuterio de nomes
Ficcional Natildeo ficcional
Pesquisa de campo Entrevistas etnografia
Mista Documental e Pesquisa de campo
Fonte Adaptado de material da USP ndash Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas 2016
58
A onomasiologia eacute o resultado das tendecircncias mais significativas da evoluccedilatildeo linguiacutestica
na transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX em que a centralidade das investigaccedilotildees passam
do som (foneacutetica) para a palavra (lexicologia) O seu triunfo se deu a partir do desenvolvimento
da Geografia Linguiacutestica pois com o aparecimento de inuacutemeros termos regionais recolhidos
pelos inqueacuteritos linguiacutesticos surgiu a necessidade de um novo meacutetodo que auxiliasse os
dialetoacutelogos a compreenderem o homem regional em sua amplitude por meio da linguagem
Apoacutes a publicaccedilatildeo dos atlas linguiacutesticos a onomasiologia comeccedila a ser utilizada em
vaacuterios estudos jaacute que pelo seu uso eacute possiacutevel caracterizar as atividades de uma regiatildeo e situaacute-
las no tempo Segundo Couto (2012 p 186) ldquoa onomasiologia vecirc a questatildeo da referecircncia para
usar um termo semioacutetico partindo da coisa e indo na direccedilatildeo do nome que ela receberdquo Desta
forma ldquoo meacutetodo onomasioloacutegico permite ver a cultura do povo cuja liacutengua se estuda
costumes ocupaccedilotildees instrumental crenccedilas e crendices moradia enfim sua mundividecircncia
Permite sentir a linguagem viva traduzindo a vivecircncia cultural do povordquo (BASSETO 2001 p
77)
Ressalta-se que
Com pontos em comum com a Geografia Linguiacutestica e ldquoPalavras e Coisasrdquo o
meacutetodo onomasioloacutegico tambeacutem conhecido como onomasiologia isto eacute o
estudo das denominaccedilotildees se propotildee investigar os vaacuterios nomes atribuiacutedos a
um objeto animal planta conceito etc individualmente ou em grupo dentro
de um ou vaacuterios domiacutenios linguiacutesticos Seus objetivos satildeo portanto
semacircnticos e lexicoloacutegicos buscando descobrir os aspectos vivos e as forccedilas
criadoras da linguagem (BASSETO 2001 p 76)
O meacutetodo onomasioloacutegico natildeo ficou a cargo apenas de um pesquisador mas de vaacuterios
pois seus princiacutepios se desenvolveram aos poucos Conforme Bassetto (2001) temos como
predecessores da onomasiologia moderna F Brinkmann (1872) Luigi Morandi (1883)
Friedrich Diez (1875) Fr Pott (1853) Jakob Grimm (1853) e F Miklosich (1868) Todavia o
princiacutepio da onomasiologia cientiacutefica deu-se com Carlo Salvioni (1858-1920) quando estudou
sobre as denominaccedilotildees italianas do vaga-lume (1892) e com Ernest Toppolet (1870-1939) que
referendou em seus estudos o parentesco dos nomes romacircnicos por ele denominados de
ldquolexicologia cientiacuteficardquo
As pesquisas desenvolvidas na aacuterea da onomaacutestica se constituem em uma linha
documental ou de campo seguindo um meacutetodo pelo qual se selecionam observam registram
classificam analisam e interpretam os dados de acordo com a identificaccedilatildeo dos fatores
59
determinantes agrave configuraccedilatildeo dos corpora Essas anaacutelises de dados satildeo baseadas em trecircs
categorias linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica que satildeo reveladas pelo meacutetodo onomasioloacutegico
Segundo Ramos e Bastos (2010) as trecircs perspectivas ndash linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica
ndash satildeo cruciais para revelar as seguintes caracteriacutesticas a) a determinaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica das
diferentes liacutenguas que tenham existido ou existentes num determinado territoacuterio b) o estudo
das terminaccedilotildees caracteriacutesticas de cada palavra c) o estudo das formas gramaticais d) o estudo
da foneacutetica histoacuterica e) a verificaccedilatildeo das formas documentadas as quais se subdividem em ndash
comparaccedilatildeo semacircntica a abordagem dos dados geograacuteficos e a abordagem dos dados histoacutericos
Cabe ainda indicar em linhas gerais algumas concepccedilotildees do meacutetodo Woumlrter und
Sachen de Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) o qual conforme
Bassetto (2001) tem pontos em comum que compartilha com o meacutetodo onomasioloacutegico Visa
ao estudo das questotildees semacircnticas das palavras enfatizando a realidade que elas designam
porque para os estudiosos dessa linha de pensamento a verdadeira etimologia da palavra
encontra-se no conhecimento dessa realidade Procura instruir sobre a necessidade de conhecer
sempre que possiacutevel o objeto designado por um termo para que o significado possa ser
devidamente explicitado Quando se conhece a realidade a natureza a forma o uso as medidas
das coisas do mundo eacute possiacutevel estabelecer a origem e a histoacuteria das palavras com que esses
mesmos objetos foram designados
Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) foram precursores desse
meacutetodo ao considerarem que as coisas existem antes de serem denominadas ou seja as coisas
preexistem agraves suas designaccedilotildees podendo ateacute existir sem que sejam nomeadas Em
contrapartida as palavras dependem das ldquocoisasrdquo estatildeo ligadas a elas Com essa perspectiva
Schuchardt (mais do que Meringer) remete ao meacutetodo Woumlrter und Sachen ldquoPalavras e Coisasrdquo
cujo tiacutetulo instituiu o nome do meacutetodo
No entanto conveacutem salientar que jaacute na gramaacutetica grega estava impliacutecita a ideia de que
as coisas precedem as palavras Em outros termos quando se conhece em profundidade a
ldquocoisardquo chega-se ao ldquoeacutetimordquo da palavra que a nomeia alcanccedila-se o significado com que a coisa
foi primeiramente designada Menciona-se que para Schuchardt (apud BASSETO 2013)
Sachen (coisa) significava qualquer realidade i eacute ldquoSachenrdquo podia se referir tanto a
acontecimentos e estados como a objetos ao real e ao irreal ao tangiacutevel11 e ao intangiacutevel ou
em outras palavras tanto a coisas do mundo sensiacutevel como do insensiacutevel
11 ldquoTangiacutevelrdquo do latim tangere tangens lsquotocar aquilo que tocarsquo do mesmo eacutetimo de attingere lsquoaproximar-se e
tocarrsquo
60
O meacutetodo Woumlrter und Sachen (Palavras e Coisas) segundo Campbell (2004) relaciona-
se agraves inferecircncias histoacuterico-culturais que podem ser reveladas por meio da investigaccedilatildeo das
palavras pautadas na sua analisabilidade Campbell (2004) assume que as palavras que satildeo
analisadas em partes transparentes (vaacuterios morfemas) podem ser de criaccedilatildeo mais recente (na
liacutengua) em relaccedilatildeo agraves palavras que natildeo apresentam essa transparecircncia morfecircmica
Essa teacutecnica contribui sobremaneira para traccedilar uma cronologia aproximativa dos
vocabulaacuterios Dias (2016 p31) acentua que
Sobretudo supotildee-se que itens culturais denominados por termos analisaacuteveis
satildeo tambeacutem adquiridos mais recentemente pelos falantes e aqueles que satildeo
expressos por palavras natildeo analisaacuteveis representam itens mais velhos e
instituiccedilotildees Outra estrateacutegia desse meacutetodo envolve fazer inferecircncias por meio
de informaccedilotildees de itens culturais de quem os nomes sofreram visivelmente
mudanccedila de significado
E para Crowly (2003) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo pode ser usado para fazer
reconstruccedilatildeo cultural e chegar ao conteuacutedo de uma protocultura por exemplo jaacute que se eacute
possiacutevel reconstruir uma palavra designativa de alguma coisa na protoliacutengua eacute possiacutevel tambeacutem
supor que a coisa a que ela se refere provavelmente foi de importacircncia cultural na vida dos
seus falantes ou que foi ambientalmente marcante Segundo o autor o meacutetodo pode tambeacutem
dizer muito sobre a terra natal de uma famiacutelia linguiacutestica pode-se ainda por meio do referido
meacutetodo fazer suposiccedilotildees sobre as rotas legiacutetimas seguidas pelos povos para se chegar aos
lugares onde se encontram atualmente12
Destarte segundo Bassetto (2013) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo deu destaque agrave
semacircntica ao estabelecer a etimologia e ateacute a biografia das palavras aleacutem de tornar os estudos
filoloacutegicos mais objetivos Posto isso eacute possiacutevel verificar que o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo
pode ser usado nos estudos semacircnticos lexicais onomaacutesticos toponiacutemicos Quando se busca
relacionar a histoacuteria do nome com a histoacuteria do lugar vincula-se a palavra (o nome) agrave coisa (o
lugar) Nesse sentido pode-se de alguma maneira realizar o estudo natildeo apenas pautado no
meacutetodo onomasioloacutegico mas tambeacutem considerando as intrincadas relaccedilotildees entre nomes e as
coisas do mundo
Cabe ressaltar
Assim como procedimento metodoloacutegico seguido nos estudos
toponomaacutesticos buscamos definir o jaacute definido ou seja o objeto de estudo da
disciplina o seu campo de trabalho especiacuteficos a natureza linguiacutestica da
12 Por exemplo os caminhos que levaram (trouxeram) os bandeirantes agraves terras do iacutendio goyaacute
61
anaacutelise em termos de vinculaccedilatildeo a uma aacuterea do conhecimento Partindo-se da
definiccedilatildeo etimoloacutegica dos elementos gramaticais de origem grega enunciados
por Dioniacutesio de Traacutecia no seacuteculo II a C a Toponiacutemia ficou-se como propocircs
Leite de Vasconcelos (1887) no entendimento dos nomes proacuteprios de lugares
distintos dos nomes comuns delimitados pela teoria da linguagem (DICK
2006 p 96)
A toponomaacutestica entatildeo fundamenta-se nos estudos dos nomes proacuteprios de lugares
estabelecendo relaccedilotildees da liacutengua com o ambiente sendo de extrema necessidade observar os
viacutenculos do nomeador com a coisa nomeada a motivaccedilatildeo que subjaz ao topocircnimo
O meacutetodo da Geografia Linguiacutestica com a concepccedilatildeo basilar de que a distribuiccedilatildeo
geograacutefica dos aglomerados populacionais se reflete na diferenciaccedilatildeo linguiacutestica trouxe grande
contribuiccedilatildeo para o estudo dos nomes em geral pois pode refletir tendecircncias que orientaram o
ato de nomeaccedilatildeo tanto de pessoas como de lugares
Sobre o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo cabe apenas repetir que por enfatizar o aspecto
semacircntico das palavras vinculado agrave realidade que elas denominam contribui com o estudo dos
nomes jaacute que parte do princiacutepio de que as palavras se acham ligadas agraves coisas que elas
designam Uma vez conhecendo a natureza das coisas chega-se na verdadeira etimologia da
palavra contribuiccedilatildeo essa que valoriza a cultura e a histoacuteria das comunidades vendo no ser
humano o sujeito das transformaccedilotildees que ocorrem nas liacutenguas e na cultura
Posto isso considera-se mais uma vez que a onomasiologia busca investigar como uma
noccedilatildeo ou conceito eacute nomeado na liacutengua tendo sempre em mente que quem daacute nome agraves coisas
satildeo os falantes e o fazem em decorrecircncia da cosmovisatildeo de seu grupo O meacutetodo
onomasioloacutegico permite que a cultura do povo pesquisado seja revelada
Entretanto a despeito das contribuiccedilotildees que cada um trouxe para os estudos linguiacutesticos
nenhum desses meacutetodos foi suficiente teoricamente para deslindar os inuacutemeros aspectos que
permeiam o ato de nomeaccedilatildeo o que implica dizer que o mais sensato eacute combinar o que cada
meacutetodo apresenta de mais satisfatoacuterio referentemente ao problema que se pretende resolver o
que requer tambeacutem adaptaccedilotildees e revisotildees constantes de um ou de outro ou ainda da combinaccedilatildeo
deles
Considera-se entatildeo
os aspectos pelos quais entendemos a disciplina como conhecimento
cientiacutefico saber construiacutedo como objeto campo de trabalho e pesquisa
demarcados apesar disto manteacutem-se em intersecccedilatildeo a outros campos sem
perder sua identidade A metodologia que emprega em seus levantamentos eacute
de origem indutivo-dedutiva de acordo com os procedimentos
62
onomasioloacutegico-semasioloacutegicos caracteriacutesticos da pesquisa do leacutexico (DICK
2006 p 98)
E no que tange agrave metodologia aos procedimentos de pesquisa propriamente ditos
segundo Dick (1996) que podem ser aplicados nos estudos toponiacutemicos devem se estabelecer
da seguinte forma a) seleccedilatildeo de fontes primaacuterias (cartas geograacuteficas editadas por oacutergatildeos oficiais
estaduais e municipais em escalas de 150000 ou 1100000 ou listas toponiacutemicas oficiais) e
complementaccedilatildeo a partir de fontes secundaacuterias (trabalhos historiograacuteficos da proacutepria
comunidade acerca do local onde vivem) b) registro dos dados em fichas lexicograacuteficas
padronizadas com a identificaccedilatildeo dos nomes do pesquisador e do revisor fontes e data de
coleta c) anaacutelise de dados que inclui a quantificaccedilatildeo dos nomes e das taxonomias analisando
a maior ou menor frequecircncia de classes ou itens lexicais e do estudo dos nomes a partir de um
enfoque puramente linguiacutestico (etimoloacutegico e estrutural) linguiacutestico-histoacuterico e variacionista
Desta forma a metodologia para este trabalho baseia-se em Dick (1996 2006) e por
conseguinte estabelece relaccedilotildees com as demais pesquisas na aacuterea da toponomaacutestica De acordo
com a autora ldquoTrata-se de modelo semacircntico-motivador das ocorrecircncias toponomaacutesticas que
conformam a realidade designativa da nomenclatura geograacutefica oficial do paiacutesrdquo (Dick 2006 p
104) As taxionomias satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise linguiacutestica do topocircnimo e hoje
se dividem em vinte sete taxes pela importacircncia na ldquoanaacutelise linguiacutestica ou casual dos motivos
determinantes das designaccedilotildees integram as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas em um campo
funcional especiacuteficordquo (Dick 2006 p 106) E a partir destas fichas busca-se a identificaccedilatildeo do
topocircnimo e computar as categorizaccedilotildees motivadoras do designativo
A metodologia de pesquisa aqui proposta se caracteriza por ser de natureza documental
(documentos analoacutegicos eou digitais como as cartas topograacuteficas e levantamento histoacuterico
geograacutefico por meio do Instituto Mauro Borges IBGE e de mapas do municiacutepio de Pires do
Rio-GO) e de abordagem qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a
constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos
puacuteblicos e no levantamento histoacuterico-geograacutefico Os procedimentos consistem na
sistematizaccedilatildeo de leituras documentais e de investigaccedilatildeo de campo o que os vincula agrave induccedilatildeo
e seguem os meacutetodos etnolinguiacutesticos
O percurso apresentado por Dick (1990) isto eacute pautado na induccedilatildeo desenvolveu-se por
meio do plano onomasioloacutegico de investigaccedilatildeo em que a partir de um conceito geneacuterico se
identificam as variaacuteveis possiacuteveis das fontes consultadas Nos registros municipais constam os
63
nomes atuais e os nomes anteriores (quando houve mudanccedilas) dos lugares de toda regiatildeo
municipal Estes e os mapas constituem as fontes primaacuterias desta pesquisa pois
O percurso do fazer onomasioloacutegico e o percurso da produccedilatildeo de significaccedilatildeo
se inserem em direccedilotildees diferentes o fazer interpretativo perfaz um processo
semasioloacutegico por outro lado o fazer onomasioloacutegico eacute uma unidade
conceitual enquanto a definiccedilatildeo eacute o percurso do fazer lexicograacutefico
Entretanto ao conceituar eacute necessaacuterio construir um modelo mental que em
primeira instacircncia corresponda a um recorte cultural para a escolha da
estrutura lexical que melhor pode manifestar a percepccedilatildeo bioloacutegica do fato
que se completa ao analisar e descrever o semema linguiacutestico para reconstruir
esse modelo mental a partir de uma estrutura linguiacutestica manifestada
Ressalta-se o caraacuteter pluridisciplinar do signo toponiacutemico jaacute que por meio
dele pode-se conhecer a histoacuteria dos grupos humanos que viveram (e vivem)
nos limites geograacuteficos de Goiaacutes as especificidades da cultura e do ambiente
do povo o denominador as relaccedilotildees estabelecidas entre os aglomerados
humanos e o ecossistema as caracteriacutesticas fiacutesico geograacuteficas da regiatildeo
(geomorfologia) estratos linguiacutesticos de origem diferente do uso hodierno da
liacutengua ou mesmo de liacutenguas jaacute desaparecidas para se conhecer as motivaccedilotildees
subjacentes aos respectivos topocircnimos (SIQUEIRA 2015 mimeografado)
Para este estudo utilizaram-se inicialmente as Folhas Topograacuteficas editadas pela DSG
(Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito) na escala de 1100 000 Folhas Pires do Rio
SE-22-X-D-III Ipameri SE-22-X-D-VI e Cristianoacutepolis SE-22-X-D-II de 1973 para
identificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio juntamente com o mapa da rede hidrograacutefica do
municiacutepio de Pires do Rio-GO pois satildeo ldquoinstrumentos metodoloacutegicos haacutebeis para o estudo
onomaacutestico a documentaccedilatildeo cartograacutefica referida e a arquivologia que se posicionam como fontes
idocircneas para o estabelecimento das etapas relativas agrave desconstruccedilatildeo e agrave recriaccedilatildeo dos proacuteprios dadosrdquo
(DICK 1999 p 11)
O uso de mapas torna o trabalho relevante jaacute que eles satildeo elementos de comunicaccedilatildeo
visual os quais pertencem agrave linguagem Eles contemplam ainda a aacuterea tecnoloacutegica pois a sua
construccedilatildeo se daacute por meio da utilizaccedilatildeo de equipamentos programas e sites os quais tambeacutem
satildeo utilizados por noacutes para cartografar mapas juntamente com as taxes dos topocircnimos dos
cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO assim
Tomar o mapa como corpus permite tomar tambeacutem a questatildeo da relaccedilatildeo dos
nomes no seu conjunto e sua distribuiccedilatildeo no espaccedilo urbano Pode-se entatildeo
refletir como algo proacuteprio do corpus em anaacutelise sobre a questatildeo da nomeaccedilatildeo
dos espaccedilos da cidade bem como o modo de distribuiccedilatildeo dos nomes pelos
espaccedilos historicamente constituiacutedos (GUIMARAtildeES 2005 p 43)
Tradicionalmente entendidos como uma representaccedilatildeo simboacutelica dos contornos de uma
paisagem fiacutesica ou urbana os mapas se caracterizam por permitirem dois planos de
64
interpretaccedilatildeo o ldquoverbalrdquo expresso nos nomes dos elementos e o ldquonatildeo-verbalrdquo caracterizado
por siacutembolos convencionais distintos segundo a natureza do elemento mapeado (cursos drsquoaacutegua
caminhos serras rodovias estradas vicinais ferrovias vilas povoados cidades)
A propoacutesito
Se o meacutetodo empregado na Toponiacutemia como dissemos eacute aquele da
investigaccedilatildeo do pormenor toacutepico-nominal apreendido no registro das cartas
geograacuteficas (base documental) ou como variaccedilatildeo no exame do terreno ou do
objeto pelo proacuteprio pesquisador o material resultante na maioria das vezes
eacute de origem descontiacutenua e fragmentaacuteria A sequecircncia loacutegica dos termos areais
deve ser buscada o que exige cuidados de intepretaccedilatildeo e reflexatildeo para que
todo esse organismo construiacutedo coletiva ou individualmente em momentos
histoacutericos distintos venha a se construir em material de anaacutelise vaacutelido do
ponto de vista linguiacutestico (DICK 2006 p 99-100)
Desta forma dos 46 (quarenta e seis) topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de
Pires do Rio-GO (coacuterregos ribeirotildees rios e quedas drsquoaacutegua) por noacutes elencados na pesquisa
apenas 15 topocircnimos ndash por razotildees especiacuteficas que seratildeo relatadas no quarto capiacutetulo ndash seratildeo
catalogados em fichas conforme modelo desenvolvido por Dick (2004) Posteriormente
realizaremos as anaacutelises morfoloacutegicas e a classificaccedilatildeo semacircntico-motivacional e toponiacutemica
propriamente dita
O preenchimento das fichas lexicograacuteficas ndash que identificam o elemento designado as
entradas lexicais o pesquisador o revisor e as fontes da coleta ndash eacute a etapa inicial de um conjunto
de fases posteriores que integram o projeto
As etapas da pesquisa foram dividas da seguinte forma a) levantamento dos dados para
construir o corpus e a aquisiccedilatildeo das cartas Topograacuteficas do municiacutepio de Pires do Rio-GO b)
levantamento dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua registrados nas folhas topograacuteficas c) anaacutelise
e reconhecimento dos aspectos ambientais culturais dos designativos nos diferentes topocircnimos
observados e posteriormente cartografados d) investigaccedilatildeo dos provaacuteveis fatores
motivacionais inerentes aos sintagmas toponiacutemicos e) classificaccedilatildeo das taxionomias a partir do
recorte epistemoloacutegico dos dados coletados f) distribuiccedilatildeo quantitativa dos topocircnimos de
acordo com a natureza toponiacutemica (fiacutesica ou antropocultural) g) estudo linguiacutestico dos
sintagmas toponiacutemicos ndash origemetimologia estruturas semacircntica e morfoloacutegica
Por meio da categorizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico
histoacuterico-criacutetico que foi o norte de nossa pesquisa de certa forma revela-se que o topocircnimo foi
determinado pela populaccedilatildeo anterior ou pela presenccedila de imigrados no local o que faz-nos
perceber que as palavras natildeo apenas comunicam o que se quer dizer mas acusam a Histoacuteria
daquilo que foi dito por necessidades dinacircmicas das pessoas repassadas pela tradiccedilatildeo cultural
65
O proacuteximo capiacutetulo apresenta em linhas gerais um pouco da histoacuteria desse lugar que
abriga 46 cursos drsquoaacutegua e inclusive teve seu primeiro nome devido agrave exuberacircncia do reflexo da
lua cheia nas aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute A ldquoTeteia do Corumbaacuterdquo de antes deu lugar ao
municiacutepio nascido dos caminhos abertos pelos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz laacute pelos idos
de 1922
66
III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO
A cidade eacute por si mesma depositaacuteria de
histoacuteria
(ROSSI 1998)
Este capiacutetulo traz uma apresentaccedilatildeo dos dados histoacutericos referentes agrave fundaccedilatildeo e ao
posterior desenvolvimento social e urbano do municiacutepio de Pires do Rio-GO criado em
decorrecircncia da expansatildeo da Estrada de Ferro Goyaz pelo cerrado goiano As informaccedilotildees aqui
revisitadas integram obras de estudiosos como Siqueira (2006) Ferreira (1999) Borges
(1990) Soares (1988) que se detiveram por alguma razatildeo no esclarecimento de controveacutersia
acerca principalmente do verdadeiro fundador do municiacutepio e de fatos que antecederam a
inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo feacuterrea no ano de 1922
31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte
No iniacutecio do seacuteculo XX a Estrada de Ferro Goyaz avanccedilou sobre o territoacuterio de Goiaacutes
e com isso comeccedilaram a surgir vilas arraiais e distritos que com o progresso e passar dos
anos se elevariam a cidades A entatildeo chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no interior do
estado mais precisamente na regiatildeo Sudeste Goiana fez com que no ano de 1922 surgisse a
Estaccedilatildeo Pires do Rio e que se elevaria tatildeo logo a cidade
A estrada de ferro traria progresso agraves cidades e ao estado No entanto de acordo com
Borges (1990) alguns coroneacuteis adversos a qualquer tipo de mudanccedila de caraacuteter progressista
natildeo aceitavam a instalaccedilatildeo da estrada de ferro pois ela representaria uma forccedila nova de
transformaccedilatildeo que poderia ameaccedilar o poder constituiacutedo dos coroneacuteis Mas na formaccedilatildeo de
Pires do Rio-GO a chegada da Estrada de Ferro Goyaz foi aceita pelo coronel Lino Teixeira de
Sampaio e inclusive foi doado o terreno para a construccedilatildeo de uma estaccedilatildeo feacuterrea
Vale ressaltar que
a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro de Goiaacutes resultou primeiro do empenho
poliacutetico de uma fraccedilatildeo da classe dominante ligada a novos grupos oligaacuterquicos
que despontavam como forccedila poliacutetica no Estado a qual contou com apoio do
capital financeiro internacional Em segundo lugar como a ferrovia servia
inteiramente aos interesses da economia capitalista ou seja agrave nova ordem
econocircmica com expansatildeo no Paiacutes este fator direta ou indiretamente
67
pressionaria o Governo Federal a apoiar a construccedilatildeo da linha (BORGES
1990 p 55-56)
O avanccedilo da estrada de ferro na regiatildeo Sudeste do estado de Goiaacutes foi fundamental para
o surgimento da cidade de Pires do Rio-GO Ambas as histoacuterias se entrecruzam e revelam
acontecimentos que corroboraram com a construccedilatildeo de uma cidade promissora Para
(re)escrever esta histoacuteria eacute fundante mostrar a ficha lexicograacutefica-toponiacutemica jaacute que o objeto
desta pesquisa satildeo os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua pertencentes a cidade de Pires do Rio-GO
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 01
Topocircnimo Pires do Rio Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Antropocircnimo
Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Pires + do Rio ndash sobrenome)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Cidade sede do distrito do municiacutepio do termo e comarca de
igual nome Na regiatildeo oriental do municiacutepio entre o ribeiratildeo Sampaio e o Monteiro afluentes
do rio Corumbaacute com estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goiaacutes
Fonte Siqueira (2012) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Como jaacute observando no capiacutetulo I os estudos toponiacutemicos revelam fatores soacutecio-
histoacuterico-culturais de uma dada comunidade e Pires do Rio-GO nos revela isso de forma
peculiar como podemos observar na ficha acima a caracterizaccedilatildeo do topocircnimo em que a
taxionomia eacute de natureza antropocultural antropotopocircnimo relativo a nomes proacuteprios e de
famiacutelia (sobrenome do ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas Dr Joseacute Pires do Rio) A base
etimoloacutegica eacute antropocircnimo a estrutura morfoloacutegica eacute de nome composto e as informaccedilotildees
enciclopeacutedias vecircm ratificar informaccedilotildees jaacute expressas na ficha Essas informaccedilotildees nos satildeo
precisas e no decorrer (re)editaremos partes relevantes da histoacuteria desta cidade
Observar o surgimento do municiacutepio de Pires do Rio eacute reviver a construccedilatildeo da linha
feacuterrea na regiatildeo Sudeste e para tal ato buscamos em algumas literaturas reconstruir em partes
a histoacuteria da cidade de Pires do Rio-GO que carinhosamente foi apelidada de ldquoTeteia do
68
Corumbaacuterdquo devido ao reluzir sobre as aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute a exuberacircncia da lua
cheia
Na histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade haacute controveacutersias pois alguns dizem ter sido o Coronel
Lino Teixeira de Sampaio o fundador mas Wilson Cavalcanti Nogueira filho do Sr Manoel
Cavalcanti Nogueira o primeiro Intendente da cidade em seus estudos revela que o fundador
de Pires do Rio foi o Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida diretor da Estrada de Ferro Goyaz
Nos estudos de Jacy Siqueira (2006) piresino historiador cujo livro Um contrato
singular e outros ensaios de histoacuteria de Goiaacutes descreve a origem da cidade de Pires do Rio
com base em documentos oficiais o autor citado presume a veracidade dos fatos que
contribuem para exposiccedilatildeo histoacuterica deste capiacutetulo jaacute que ldquoo tempo eacute agente terriacutevel a tudo
colhe separa peneira depura e evidencia ndash verdade ou mentira ndash com a forccedila e a violecircncia
decorrentes do pesado braccedilo da Histoacuteria de quem eacute o servidor fiel e mestre implacaacutevelrdquo
(SIQUEIRA 2006 p 65)
Em relaccedilatildeo aos fatos que marcam o iniacutecio da fundaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidade de Pires
do Rio os historiadores remetem a inuacutemeras controveacutersias sobre a fundaccedilatildeo e os reais
fundadores e tambeacutem sobre a existecircncia de um povoado que competia com o Roncador em
1921 que mais tarde nos arquivos seria o Bairro do Fogo hoje Santa Ceciacutelia O local Rua do
Fogo eacute toda a parte situada do outro lado da linha feacuterrea
Rua do Fogo na descriccedilatildeo de Nogueira se formou pela atraccedilatildeo de pessoas de
diversas regiotildees com o intuito de negociar e prestar serviccedilos diversificados
aos operaacuterios da Estrada eram lavadeiras curandeiro sapateiro padeiro
professor primaacuterio fotoacutegrafo meretrizes e aventureiros Configurando um
povoamento tiacutepico do pioneirismo cada dia mais pessoas chegavam
predominantemente aventureiros muitos deles ateacute mesmo com passado
criminal As casas sendo erguidas raacutepidas e improvisadamente perfilaram-se
em ambos lados ao longo de uma rua irregular que era cenaacuterio de constantes
desordens e violecircncias ganhando por isso o nome de Rua do Fogo A
constante chegada de pessoas levou o povoado a competir em dimensatildeo com
a vizinha Roncador jaacute em 1921 (FERREIRA 1999 p 100)
O Porto do Roncador em 24 de agosto de 1921 recebe a visita do Ministro da Viaccedilatildeo
e Obras Puacuteblicas Engenheiro Sr Joseacute Pires do Rio que na qualidade anterior de Inspetor Geral
das Estradas de Ferro havia se posicionado contraacuterio ao prolongamento da ferrovia no Estado
de Goiaacutes Na ocasiatildeo ficou resolvido que a ponte sobre o rio Corumbaacute deveria se chamar Ponte
Pires do Rio e a primeira estaccedilatildeo a seguir Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio Pessoa mas ocorreu o
contraacuterio Essa informaccedilatildeo foi publicada inclusive nos meios de comunicaccedilatildeo da eacutepoca
69
A Informaccedilatildeo Goyana revista fundada por Henrique Silva que se edita no
Rio de Janeiro na sua ediccedilatildeo de agosto de 1921 (Ano V Vol V n ordm 1 p 1)
traz a reportagem ldquoO Ministro de Viaccedilatildeo Visita o Estado de Goiaacutesrdquo Destaca-
se dela
Tem-se resolvido que a primeira estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz aleacutem
Roncador se denomine ndash Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio
A ponte do Corumbaacute segundo solicitaccedilatildeo dos que tomaram parte na recepccedilatildeo
do Sr ministro da Viaccedilatildeo seraacute denominada ndash Ponte Pires do Rio (SIQUEIRA
2006 p 44 grifos do autor)
As obras estavam a todo vapor e enquanto aguardavam a conclusatildeo da ponte sobre o
rio Corumbaacute os serviccedilos de movimentaccedilatildeo de terra eram feitos aleacutem da outra margem do rio
tendo jaacute avanccedilado ateacute Tavares quilocircmetro 303 da ferrovia distante 84 quilocircmetros de
Roncador O local da estaccedilatildeo de Pires do Rio situa-se no quilocircmetro 218 pouco distante do rio
na Comarca de Santa Cruz em terras da Fazenda do Brejo ou do Sampaio de propriedade do
fazendeiro local coronel Lino Teixeira de Sampaio
No dia 13 de julho de 1922 no momento de inauguraccedilatildeo da ponte metaacutelica construiacuteda
sobre o rio Corumbaacute fez-se a inversatildeo do que o Senhor Ministro havia solicitado pois ela
recebeu o nome do presidente da repuacuteblica (Epitaacutecio Pessoa) troca esta feita pelo diretor da
Estrada de Ferro Goyaz o engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida
A execuccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa significou a integraccedilatildeo das demais regiotildees goianas
no desenvolvimento econocircmico uma vez que o rio Corumbaacute representava uma onerosa barreira
econocircmica para a produccedilatildeo dessas regiotildees Pires do Rio primeira estaccedilatildeo na outra margem do
Corumbaacute prometia ser um entreposto regional devido agrave sua possiacutevel ligaccedilatildeo por terra com
antigos e promissores municiacutepios isolados pelo rio e que natildeo foram contemplados com a
ferrovia Santa Cruz de Goiaacutes Bela Vista Piracanjuba Caldas Novas e Morrinhos O que veio
concretizar essa possibilidade foi a disposiccedilatildeo do coronel Lino Teixeira de Sampaio em doar
terras agrave Estrada de Ferro Goyaz para juntamente com a estaccedilatildeo fundar no local uma cidade
Nesse aspecto seu empenho foi aacutegil e eficiente dois planos urbanos que vieram garantir para
os pioneiros a certeza da existecircncia de uma cidade no local (FERREIRA 1999)
Nas bases da histoacuteria da rede feacuterrea segundo Ferreira (1999) quando da inauguraccedilatildeo
da estaccedilatildeo Pires do Rio foi tambeacutem decretada a fundaccedilatildeo da cidade registrada em obelisco
erguido no largo de frente agrave estaccedilatildeo hoje a praccedila do mercado municipal considerando-se como
fundador o engenheiro da ferrovia Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida e designando a cidade
pelo nome (uma homenagem) do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas engenheiro Joseacute
Pires do Rio
70
Houve tambeacutem a intenccedilatildeo por parte do Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida em deixar a
estaccedilatildeo de Pires do Rio como ponta de linha para que se desenvolvesse rapidamente Finda a
raacutepida inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo seguiu tambeacutem o engenheiro no ldquotrem Inauguralrdquo rumo a
Tapiocanga ndash a proacutexima estaccedilatildeo depois de Pires do Rio ndash para inaugurar sua estaccedilatildeo
improvisada em um simples vagatildeo pois era um local onde natildeo havia nenhuma edificaccedilatildeo
passando mesmo assim a ser a ponta de linha
No dia 9 de novembro de 1922 eacute inaugurado o obelisco a cerca de 50 metros da estaccedilatildeo
ferroviaacuteria jaacute edificada considerada a pedra fundamental da cidade de Pires do Rio Encontra-
se grafado no monumento em alto-relevo que o Engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida na
eacutepoca diretor da Estrada de Ferro de Goyaz era o fundador da cidade de Pires do Rio uma
ldquofraserdquo que tem gerado algumas controveacutersias acerca do verdadeiro fundador da cidade
(SIQUEIRA 2006)
Enquanto alguns escritores piresinos e familiares alimentam a disputa ideoloacutegica no
niacutevel da influecircncia poliacutetica do coronel Lino Teixeira de Sampaio corroborada pela doaccedilatildeo de
um terreno para a construccedilatildeo da cidade outros tecircm se debruccedilado sobre as criacuteticas advindas do
meio acadecircmico local uma vez que o aniversaacuterio da cidade natildeo coincide com a data da escritura
de doaccedilatildeo das terras 05 de julho de 1922 mas com a data oficial inscrita na pedra fundacional
feita pelo Diretor da Estrada de Ferro Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida 09 de novembro de
1922
Siqueira (2006) eacute um dos estudiosos que argumentam a favor da tese de que o fundador
da cidade eacute o coronel Lino Teixeira de Sampaio Desta forma para corroborar o ato de doaccedilatildeo
da gleba de terra Siqueira (2006) recorreu aos livros de registros do Cartoacuterio de Imoacuteveis da
Comarca de Santa Cruz de Goiaacutes onde se encontra a escritura puacuteblica lavrada no dia 5 de julho
de 1922 pois na eacutepoca as terras pertenciam a este referido municiacutepio a qual nos informa que
por eles [Lino e Rozalina] foi dito que de suas livres e espontacircneas vontades
e sem coaccedilatildeo alguma doam agrave Estrada de Ferro de Goyaz com (4) alqueires
de terreno de campo divididos e demarcados nesta fazenda do ldquoBrejordquo
conforme consta na planta confeccionada pela dita Estrada de Ferro e bem
assim a aacutegua necessaacuteria ao abastecimento da Estaccedilatildeo jaacute edificada dentro destes
quatros alqueires Declaram mais os doadores que fazem a doaccedilatildeo dos
referidos terrenos agrave Estrada de Ferro de Goyaz sem que a mesma Estrada tenha
obrigaccedilatildeo de espeacutecie alguma cabendo-lhe apenas Dividir o terreno doado em
pequenos lotes para que seja dado iniacutecio agrave edificaccedilatildeo de uma pequena Cidade
excluindo o referido a faixa necessaacuteria agrave Estaccedilatildeo arrendar os lotes e aplicar
as rendas em melhoramentos da futura Cidade e edificaccedilatildeo de um Grupo
Escolar natildeo admitir seja construiacutedo preacutedio algum sem que seja previamente
aprovada pela diretoria da Estrada a respectiva planta (SIQUEIRA 2006 p
29)
71
Entretanto os fatos histoacutericos remetem agrave data de 09 de novembro como sendo de
fundaccedilatildeo da cidade jaacute que essa data se justifica pela inauguraccedilatildeo (documentada) da estaccedilatildeo
ferroviaacuteria Pires do Rio embora para Siqueira (2006) a data de fundaccedilatildeo da cidade seja o dia
05 de julho de 1922 data que coincide com a da escritura puacuteblica de doaccedilatildeo das terras agrave Estrada
de Ferro Goyaz
Siqueira (2006) ainda acrescenta as suas consideraccedilotildees acerca do fato de que o coronel
Lino Teixeira de Sampaio aleacutem de doar os quatro alqueires de terra accedilatildeo que outros
fazendeiros das estaccedilotildees seguintes natildeo tiveram apresentou um projeto urbano (planta) da
cidade a ser erguida nas proximidades da estaccedilatildeo projeto este de autoria de um engenheiro da
Estrada Aacutelvaro Pacca que foi apresentado e aprovado pela direccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz
em 1ordm de janeiro de 1922
De acordo com Ferreira (1999) acredita-se que no local definitivo da estaccedilatildeo por volta
do ano de 1923 apresentou-se outro projeto para a construccedilatildeo da cidade desta vez solicitado
ao topoacutegrafo da Estrada de Ferro Moacir de Camargo A cidade de Pires do Rio ficaria sendo
entatildeo a primeira cidade do Centro-Oeste a nascer com planejamento preacutevio antes de Goiacircnia
ou Brasiacutelia
O momento em que a cidade comeccedila a surgir de acordo com Nogueira (sd) fez com
que a populaccedilatildeo do Roncador migrasse toda para laacute carregando tudo aquilo que lhes pertencia
inclusive o material de construccedilatildeo das casas que foram demolidas construindo novas moradias
no local escolhido para tal fim Esse fato de mudar de um arraial para outro segundo Ferreira
(1999) veio a constituir o fenocircmeno por ele denominado de fagocitose pois para a formaccedilatildeo
da cidade Pires do Rio o arraial do Roncador extinguiu-se para vigorar a nascente cidade como
se observa nos dizeres abaixo
Pires do Rio crescia em terras de Santa Cruz municiacutepio de projeccedilatildeo
econocircmica e poliacutetica no Estado que dominou todo o sudeste e parte do sul de
Goiaacutes O arraial de origem fundado em 1729 teve seu valor econocircmico
firmado na extraccedilatildeo auriacutefera passando agrave Julgado de Santa Cruz em 1809 com
seu territoacuterio de influecircncia sobre uma extensa aacuterea Emancipou-se agrave Vila em
1833 quando Goiaacutes foi dividido em quatro Comarcas sendo Santa Cruz uma
delas Terminado o ciclo do ouro sua economia voltou-se durante o seacuteculo
XIX para a pecuaacuteria extensiva a agricultura e primitivo processamento da
produccedilatildeo agriacutecola sobrepondo-se agraves outras cidades de economia auriacutefera em
estagnaccedilatildeo A emancipaccedilatildeo de seus distritos ao longo do seacuteculo XIX foi-lhe
tirando a extensatildeo de seu poder territorial e de jurisdiccedilatildeo mas natildeo seu poder
econocircmico e poliacutetico no Estado Essa situaccedilatildeo veio a se alterar com a chegada
da Estrada de Ferro Goiaacutes (FERREIRA 1999 p 136)
72
As construccedilotildees jaacute haviam se iniciado e comeccedilara a chegar os novos moradores oriundos
de vaacuterias partes do paiacutes e do mundo que solidificariam a comunidade piresina Os baianos e os
aacuterabes foram os primeiros migrantes a chegarem e fixarem-se acreditando na futura cidade Os
baianos e outros nordestinos foram atraiacutedos pela frente de trabalho criada pela construccedilatildeo da
ferrovia Os italianos e espanhoacuteis tambeacutem se fizeram presentes na comunidade local No
entanto a maioria dos migrantes foram mesmo paulistas e mineiros Os estrangeiros tais como
italianos espanhoacuteis e principalmente aacuterabes foram partes integrantes da elite dominante
(FERREIRA 1999)
Pires do Rio se elevou a distrito do Municiacutepio de Santa Cruz em 23 de agosto de 1924
pela Lei nordm 66 E em 7 de julho de 1930 pela Lei nordm 903 foi criado o municiacutepio de Pires do
Rio E tatildeo logo pelo Decreto de ndeg 522 de 8 de janeiro de 1931 publicado no Correio Officcial
ndeg 1819 paacutegina 3 de 19 de abril do mesmo ano (SIQUEIRA 2006) oficializou a transferecircncia
da Comarca de Santa Cruz para a cidade de Pires do Rio
Na deacutecada de 30 estabelecia-se o comeacutercio na cidade de Pires do Rio natildeo tinha um
centro comercial propriamente dito mas algumas casas de comeacutercio espalhadas pela cidade
(FERREIRA 1999) A instalaccedilatildeo da energia eleacutetrica em 1934 deu um impulso agrave agroinduacutestria
local iniciada com a charqueada em 1924 e logo apoacutes por uma maacutequina beneficiadora de arroz
serraria faacutebrica de manteiga padarias curtume e outros pequenos centros de produccedilatildeo com
isso a necessidade de matildeo-de-obra impulsionava o crescimento da populaccedilatildeo jaacute que muitos
eram empregados pela via feacuterrea desta forma a vinda de imigrantes a nova cidade era
necessaacuterio Com o crescimento da cidade e da sua populaccedilatildeo foram necessaacuterias benfeitorias
que foram ocorrendo no decorrer dos anos
De acordo com Siqueira (2006) Pires do Rio se desenvolveu de forma diferenciada das
centenaacuterias cidades de Goiaacutes visto que a maioria se formou por tradicionais enraizados e
familiocratas grupos poliacuteticos ou simplesmente ldquooligarquiasrdquo o que permitiu uma abertura e
receptividade ao novo e ao desconhecido como paracircmetro coerente para a construccedilatildeo de uma
comunidade nascente No periacuteodo de 1921 a 1940 correspondentemente agrave cidade em sua
afirmaccedilatildeo poliacutetica e urbana foi composta por migrantes e imigrantes que se estabeleciam na
prestaccedilatildeo de serviccedilo agroinduacutestria e comeacutercio tudo isso oriundo da formaccedilatildeo da cidade pela
Estrada de Ferro Goyaz
Um fato ainda natildeo informado eacute que no ano de 1933 o municiacutepio era constituiacutedo de dois
distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Jaacute no decreto-lei nordm 5200 de 08 de dezembro de 1934
Pires do Rio eacute ldquorebaixadordquo agrave categoria de distrito do municiacutepio de Santa Cruz haja vista que
73
em divisotildees territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937 Pires do Rio figura como distrito
de Santa Cruz (IBGE 2016)
Em 03 de marccedilo de 1938 pelo Decreto-lei nordm 557 Pires do Rio retorna agrave categoria de
municiacutepio e Santa Cruz agrave de distrito No periacuteodo de 1939-1943 o municiacutepio aparece constituiacutedo
de trecircs distritos Pires do Rio Santa Cruz e Cristianoacutepolis O distrito de Santa Cruz pelo
Decreto-lei nordm 8305 de 31 de dezembro de 1943 passou a denominar-se Corumbalina Mas
pelo Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias de 20 de julho de 1947 Artigo 61
desmembrou-se do municiacutepio de Pires do Rio e foi elevado agrave categoria de municiacutepio com a
denominaccedilatildeo de Santa Cruz de Goiaacutes (IBGE 2016)
Em divisatildeo territorial datada de 1 de julho de 1950 o municiacutepio eacute constituiacutedo de dois
distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Depois pela lei municipal nordm 221 de 15 de julho 1953
eacute criado o distrito de Palmelo e anexado ao municiacutepio de Pires do Rio A lei estadual nordm 739 de
23 de junho de 1953 desmembra do municiacutepio de Pires do Rio o distrito de Cristianoacutepolis
elevado entatildeo agrave categoria de municiacutepio Rapidamente o distrito de Palmelo pela lei estadual
nordm 908 de 13 de novembro de 1953 eacute desmembrado do municiacutepio de Pires do Rio e elevado agrave
categoria de municiacutepio (IBGE 2016)
A ferrovia foi um marco na histoacuteria de Pires do Rio uma vez que o transporte ferroviaacuterio
era utilizado para escoar a produccedilatildeo Aleacutem disso a instalaccedilatildeo do Frigoriacutefico Brasil Central
estimulou a produccedilatildeo da pecuaacuteria de corte Nas deacutecadas de 1950 e 1960 destacou-se por
exportar o charque e pela produccedilatildeo de cerveja Jaacute com a construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 e a
implantaccedilatildeo das rodovias favoreceu-se a sua interligaccedilatildeo aos outros municiacutepios goianos
O fluxo de cargas e pessoas pela via ferroviaacuteria entre os anos de 1940 a 1950 apresentava
regularidade mas devido agrave construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 de 1965 a 1970 apresentou uma
queda gradativa por deficiecircncia teacutecnica das linhas falta de manutenccedilatildeo delas e dos
equipamentos lentidatildeo do transporte o que provocou em 1970 a desativaccedilatildeo do transporte de
passageiros A Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima (RFFSA) foi privatizada em 1996
e a Ferrovia Centro Atlacircntica (FCA) adquiriu 7080 km de extensatildeo operando 685 km em
Goiaacutes tendo adotado uma nova poliacutetica investindo dois milhotildees de reais na ferrovia
desativando vaacuterias estaccedilotildees (NOVAIS 2014) Na Estaccedilatildeo Pires do Rio ficou funcionando
apenas o escritoacuterio da FCA e o Museu Ferroviaacuterio e na Estaccedilatildeo Roncador uma oficina de
manutenccedilatildeo de vagotildees
Segundo Novais (2014) a ferrovia enquanto elemento modernizador do Sudeste
Goiano e instrumento capaz de aumentar as aglomeraccedilotildees urbanas e dinamizar o progresso da
regiatildeo de acordo com os novos interesses dominantes sempre esteve sob o controle do poder
74
econocircmico estatal ou de grupos Sua expansatildeo justificou-se em detrimento dos interesses
capitalistas e imperialistas Portanto a estrada de ferro eacute um produto da induacutestria capitalista da
Primeira Revoluccedilatildeo Industrial colocada a serviccedilo do capital e resultante das transformaccedilotildees
ocorridas no processo de expansatildeo do capitalismo no Brasil e no mundo (BORGES 1990) O
Estado de Goiaacutes ao inserir-se na dinacircmica capitalista e implantar a via feacuterrea em seu territoacuterio
conseguiu integrar-se ao mercado brasileiro aleacutem de mitigar anos de atraso e isolamento
econocircmico
32 Pires do Rio geograacutefico
O municiacutepio de Pires do Rio localiza-se na Microrregiatildeo do Sudeste Goiano inserida
na Mesorregiatildeo Sul Goiano A Microrregiatildeo eacute reconhecida como a regiatildeo da Estrada de Ferro
Limita-se com os municiacutepios goianos de Orizona Vianoacutepolis Urutaiacute Caldas Novas Satildeo
Miguel do Passa Quatro Santa Cruz de Goiaacutes Palmelo Cristianoacutepolis e Ipameri A aacuterea da
unidade territorial (kmsup2) eacute de 1073361 com uma altitude meacutedia de 75886 O municiacutepio
encontra-se entre as seguintes coordenadas geograacuteficas
Mapa 1 ndash Pires do Rio (GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio (GO)
75
A cidade de Pires do Rio eacute constituiacuteda por riquezas naturais do bioma Cerrado o qual
apresenta uma heterogeneidade na sua fisionomia pois engloba desde formaccedilotildees florestais
como as Matas Ciliares (vegetaccedilatildeo que fica nas margens dos rios) e Cerradatildeo aleacutem do Cerrado
restrito (eacute o Cerrado tiacutepico formado por vegetaccedilotildees arboacutereas de casca grossa e troncos
retorcidos) com formaccedilotildees vegetais ou herbaacuteceas (campo sujo e limpo)
Uma das caracteriacutesticas marcantes do Cerrado eacute sua riqueza em recursos hiacutedricos e Pires
do Rio natildeo foge agrave regra Servindo de fronteiras naturais para o municiacutepio tem-se o rio do Peixe
na parte norte A parte sul do municiacutepio desagua no rio Corumbaacute que tambeacutem eacute utilizado como
fronteira natural e eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio Aleacutem destes tem o rio Piracanjuba
que devido agrave sua estrutura rochosa e seu volume de aacutegua foi palco da construccedilatildeo de uma usina
hidreleacutetrica em meados do seacuteculo XX que abastecia a cidade embora hoje encontre-se em
ruiacutenas
Aleacutem dos trecircs rios o municiacutepio possui ao longo de todo seu o territoacuterio vaacuterias
nascentes coacuterregos ribeirotildees quedas drsquoaacutegua os quais satildeo todos afluentes do rio Corumbaacute
Vale ressaltar que a maioria dos cursos drsquoagua satildeo perenes ou seja tem aacutegua o ano todo por
isso muitos deles tem o nome da regiatildeo em que se encontra pois satildeo objetos marcantes na
paisagem
Segundo o IBGE (1957) a populaccedilatildeo piresina no Recenseamento de 1950 era de
12946 habitantes (inclusive a populaccedilatildeo dos atuais municiacutepios de Cristianoacutepolis e Palmelo ndash
na eacutepoca distritos de Pires do Rio) apresentando quadro urbano e suburbano com uma
populaccedilatildeo de 4836 habitantes sendo 2282 homens e 2554 mulheres A densidade
demograacutefica era de 12 habitantes por quilocircmetro quadrado verificando-se que 53 da
populaccedilatildeo localizava-se no quadro rural
Na deacutecada de 50 o municiacutepio de Pires do Rio tinha um nuacutecleo populacional que era o
povoado de Marataacute aleacutem da sede (como jaacute mencionado no ano de 1953 os distritos de
Cristianoacutepolis e Palmelo satildeo elevados a municiacutepio) Mas com o passar dos anos ele deixa de
existir ficando apenas a Igreja de Satildeo Sebastiatildeo As atividades econocircmicas do municiacutepio eram
predominantemente a produccedilatildeo agriacutecola e pecuaacuteria O municiacutepio apresentava-se como um local
de atraccedilatildeo recreativa pela sua beleza paisagiacutestica a qual pode ser observada na cachoeira do
Salto no rio Piracanjuba jaacute mencionado onde foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica que forneceu
energia agrave cidade ateacute meados do seacuteculo XX
A populaccedilatildeo em 2010 era de 28762 habitantes sendo 14105 homens e 14657
mulheres Predominantemente urbana com 27094 pessoas e apenas 1668 no meio rural Pires
do Rio apresenta uma aacuterea de 1073361 km2 e uma densidade demograacutefica de 2680 habkmsup2
76
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) do municiacutepio eacute de 0744 A Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa (PEA) eacute de 8717 homens e 6128 mulheres (IBGE 2016)
De acordo com os dados populacionais desde o Recenseamento da deacutecada de 50 (dados
jaacute mostrados anteriormente) a cidade teve um crescimento consideraacutevel como pode ser
observado nos quadros abaixo
Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo recenseamento
Populaccedilatildeo Censitaacuteria
1980 1991 2000 2010
Total de habitantes 19258 22131 26229 28762
Urbano 16670 20537 24473 27094
Zona Rural 2588 1594 1756 1668
Masculino 9498 10904 12948 14105
Feminino 9760 11227 13281 14657
Urbano Masculino 8098 10027 11966 13208
Urbano Feminino 8572 10510 12507 13886
Zona Rural Masculino 1400 877 982 897
Zona Rural Feminino 1188 717 774 771
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Nos dados que satildeo apresentados pelo IBGE (populaccedilatildeo estimada) entre os anos 2001 e
2004 ocorreu uma queda no crescimento populacional em relaccedilatildeo ao ano de 1999 que foi de
28631 e nos demais anos segue 2001 26600 2002 27091 2003 27491 2004 28332 A
respeito desta queda natildeo conseguimos informaccedilotildees Em duas datas especiacuteficas houve uma
contagem da populaccedilatildeo seguem os dados abaixo
Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo contagem
Populaccedilatildeo Contagem
1996 2007
Total de habitantes 25094 26857
Masculino 12403 13232
Feminino 12691 13574
Urbano 23766 25031
77
Zona Rural 1328 1826
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Os dados inseridos no quadro 3 satildeo uma estimativa da populaccedilatildeo informada pelo IMB
e IBGE
Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio (GO)
Populaccedilatildeo Estimada
2011 2012 2013 2014 2015
28956 29145 30232 30469 30703
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Para entreter a populaccedilatildeo o turismo do municiacutepio estaacute relacionado agraves edificaccedilotildees com
relevacircncia arquitetocircnica e cultural como a Ponte Epitaacutecio Pessoa o antigo Frigoriacutefico Brasil
Central as igrejas Satildeo Sebastiatildeo (Patrimocircnio do Marataacute) Satildeo Benedito (Igreja dos Congos) a
Ferrovia Centro Atlacircntica e o Museu Ferroviaacuterio O patrimocircnio material eacute representado pelo
centro histoacuterico principalmente a Igreja Matriz Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus coreto e chafariz da
Praccedila Gaudecircncio Rincon Segoacutevia o Mercado Municipal a Biblioteca Municipal a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria e a casa do Maneco (hoje em ruiacutenas) que formam um conjunto arquitetocircnico
singular como tambeacutem as belezas naturais das Serras da Caverna e das Flores a cachoeira do
Marataacute e Prainha (as margens do rio Corumbaacute)
De acordo com Novais (2014) nos anos de 1980 o municiacutepio conheceu a expansatildeo da
fronteira agriacutecola com a introduccedilatildeo do cultivo da soja logo apoacutes em 1993 atraiu investimentos
com a implantaccedilatildeo do complexo agroindustrial aviacutecola e a industrializaccedilatildeo do setor
contribuindo para o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que perpassou a regiatildeo do Sudeste
Goiano Atualmente a economia piresina eacute voltada para as atividades agriacutecolas como a
produccedilatildeo de soja milho sorgo arroz feijatildeo e mandioca
O comeacutercio a infraestrutura e serviccedilos (sauacutede educaccedilatildeo comeacutercio e prestaccedilatildeo de
serviccedilos) exercem funccedilatildeo de polo atrativo para moradores dos municiacutepios vizinhos Toda a
importacircncia do municiacutepio para a regiatildeo o estado e o paiacutes se deve agrave instalaccedilatildeo da Estrada de
Ferro Goyaz e aos que acreditaram no crescimento de Pires do Rio e investiram em seu
territoacuterio Por esta razatildeo que parte de nossa pesquisa busca reviver fragmentos da histoacuteria desta
cidade que se faz importante para uma regiatildeo estado e paiacutes
78
33 Os cursos drsquoaacutegua
No quadro abaixo apresentamos os nomes dos cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio
levantamento realizado de acordo com os mapas cartas topograacuteficas e vocabulaacuterio do IBGE
(1957)
Quadro 6 ndash Cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO)
Vocabulaacuterio Geograacutefico ndash IBGE (1957)
Rio ndash 3 Paacutegi
na
Descriccedilatildeo Municiacutepio de
Nasceste
Rio Corumbaacute 75 Rio nasce nos arredores de Pirineus
atravessa o municiacutepio como o de Santa
Luzia depois de servir em pequeno trecho
de divisa a Bonfim Adiante separa Ipameri
e Corumbaiacuteba de um lado e Campo
Formoso Pires do Rio Caldas Novas Buriti
Alegre do outro ateacute desaguar no rio
Paranaiacuteba pela margem direita
Corumbaacute
Rio do Peixe 165 Rio nasce na regiatildeo sul-oriental do
municiacutepio que separa dos de Campo
Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio
e o de Caldas Novas desemboca no rio
Corumbaacute pela margem direita
Silvacircnia
Rio Piracanjuba 171 (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce
na serra de Passa Quatro e atravessa o
municiacutepio bem como o de Pouso Alto
Adiante separa Caldas Novas de Morrinhos
e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio
Corumbaacute pela margem direita
Bela Vista
Coacuterrego ndash 34
Coacuterrego Areias 15 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Pires do Rio
Coacuterrego Barreiro - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia
Coacuterrego do
Barreiro
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Piracanjuba
Coacuterrego dos Batista - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Bauzinho 29 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Bauacute
Orizona
Coacuterrego da Braga 37 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Santa Maria
Luziacircnia
79
Coacuterrego Boa Vista 32 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Buracatildeo 40 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Buriti 42 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio dos Bois
Pires do Rio
Coacuterrego Cachoeira 47 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Piracanjuba
Silvacircnia
Coacuterrego Capoeira
Grande
60 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Cachoeira
Orizona
Coacuterrego Carvalho - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego da Caverna 66 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio dos Peixes (M de Pires do Rio)
Pires do Rio
Coacuterrego Corrente - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Domingo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego da Estiva 88 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Brumado
Pires do Rio
Coacuterrego Fundatildeo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Cocalzinho de
Goiaacutes
Coacuterrego Guaraacute 106 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Itauacutebi - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Juca - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Lajinha 124 Coacuterrego afluente da margem direita do
coacuterrego Taperatildeo
Orizona
Coacuterrego Laranjal 126 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Bauacute
Pires do Rio
Coacuterrego Limeira 128 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Ipameri
Coacuterrego Marreco 136 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Bauacute
Orizona
Coacuterrego Mata
Dentro
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego do
Mocambo
144 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
das Antas
Silvacircnia
Coacuterrego Olho
drsquoaacutegua
152 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Piracanjuba
Orizona
Coacuterrego do Pico 168 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Brumado
Pires do Rio
Coacuterrego
Piracanjuba
171 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
igual nome
Morrinhos
Coacuterrego Posse 177 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
coacuterrego do Fundo
Orizona
80
Coacuterrego Satildeo
Jerocircnimo
202 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Caiapoacute
Pires do Rio
Coacuterrego Saltador 193 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute proacuteximo a barra do rio
Alagado
Luziacircnia
Coacuterrego Taquaral 217 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute (M de Pires do Rio)
Pires do Rio
Coacuterrego da Terra
Vermelha
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia
Ribeiratildeo ndash 8
Ribeiratildeo Bauacute 29 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Piracanjuba na divisa do municiacutepio de Pires
do Rio
Orizona
Ribeiratildeo Brumado 33 Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do
rio dos Peixes
Santa Cruz de
Goiaacutes
Ribeiratildeo Cachoeira 47 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Piracanjuba
Orizona
Ribeiratildeo Caiapoacute 50 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Urutaiacute
Ribeiratildeo Marataacute - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Ribeiratildeo Mucambo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Ribeiratildeo Sampaio 194 Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da
margem direita do rio Corumbaacute (M de
Pires do Rio)
Pires do Rio
Ribeiratildeo Taquaral - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Orizona
Quedas drsquoaacutegua ndash 1
Cachoeira do
Marataacute
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Fonte Vocabulaacuterio Geograacutefico IBGE 1957
O quarto capiacutetulo apresenta a descriccedilatildeo e anaacutelise de quinze dos 46 topocircnimos (escolha
esta pela relaccedilatildeo de representaccedilatildeo para a cidade de Pires do Rio-GO) de acordo com os aportes
teoacutericos revisados no primeiro capiacutetulo e em consonacircncia com os meacutetodos apresentados e
discutidos no segundo capiacutetulo apresenta ainda algumas questotildees teoacutericas suscitadas pelas
especificidades dos dados escolhidos
81
IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR
O signo toponiacutemico natildeo abre apenas o nome de
um lugar mas o lugar como um todo tudo que estaacute
relacionado a ele de uma forma ou de outra
(SIQUEIRA 2015)
Nos colocar a serviccedilo desta pesquisa foi o mesmo que redescobrir a cidade de Pires do
Rio-GO Conhecer a sua histoacuteria e poder reeditaacute-la remapear os seus cursos drsquoaacutegua e por fim
buscar na Toponiacutemia as relaccedilotildees de poder que os topocircnimos tecircm sobre cada espaccedilo nomeado
assim tomamos posse do que esta pesquisa nos proporcionou e aqui estaacute o aacutepice dela os dados
e suas anaacutelises
Segundo Dias (2008) o municiacutepio de Pires do Rio-GO tem como principais cursos
drsquoaacutegua o rio Corumbaacute situado na parte sudeste o rio Piracanjuba no nordeste e rio do Peixe
na parte sul os quais correm em direccedilatildeo agrave calha do rio Paranaiacuteba (uma das quatro bacias
hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes) ao sul Os rios do Peixe e Piracanjuba desaguam no
Corumbaacute sendo limites de fronteiras do municiacutepio Aleacutem desses rios a rede hidrograacutefica eacute
formada por vaacuterios ribeirotildees e coacuterregos
Para proceder com as devidas anaacutelises dos topocircnimos nos eacute necessaacuterio partir de algumas
definiccedilotildees de nomenclaturas da aacuterea da geografia mas natildeo tivemos acesso a nenhum dicionaacuterio
terminoloacutegico da aacuterea especiacutefica devido agrave dificuldade de encontrar em bibliotecas puacuteblicas e
na internet desta forma recorremos aos dicionaacuterios Aulete (2011) Borba (2004) e Houaiss et
al (2004 2009) para assim proceder com a definiccedilatildeo de palavras (termos) que satildeo recorrentes
em nossa pesquisa a) curso drsquoaacutegua eacute qualquer corpo de aacutegua fluente b) coacuterrego um rio
pequeno com pouco volume de aacutegua que passa por vaacuterios lugares e sempre desagua em um
curso drsquoaacutegua (coacuterrego ribeiratildeo ou rio) c) queda drsquoaacutegua torrente de aacutegua que cai do alto
cachoeiracascata que satildeo formaccedilotildees geomorfoloacutegicas nas quais os cursos drsquoaacutegua correm por
cima de uma rocha de composiccedilatildeo resistente agrave erosatildeo formando uma suacutebita quebra na vertical
d) ribeiratildeo curso drsquoaacutegua maior que o riacho e menor que o rio afluente de um rio e) rio ou
fluacutemen eacute uma corrente natural de aacutegua que flui continuamente Possui um caudal consideraacutevel
e desemboca no mar num lago ou noutro rio e em tal caso denomina-se afluente Pode
apresentar vaacuterias redes de drenagem
Proceder com estas observaccedilotildees eacute elementar para esta pesquisa pois dos 46 topocircnimos
elencados no municiacutepio de Pires do Rio-GO analisaremos apenas 15 visto que analisar todos
82
os topocircnimos seria uma tarefa aacuterdua e que demandaria mais tempo registramos aqui o que nos
motivou agrave escolha dos cursos drsquoaacutegua para anaacutelise Como satildeo apenas 03 rios eacute viaacutevel e de bom
senso analisaacute-los jaacute que satildeo as maiores bacias e que datildeo destaque agrave regiatildeo os ribeirotildees satildeo
especificamente 08 os quais seratildeo analisados inclusive alguns nomes se repetem aos coacuterregos
tambeacutem 01 queda drsquoaacutegua cachoeira do Marataacute que natildeo seraacute analisada devido ao nome ser o
mesmo de um ribeiratildeo dos 34 coacuterregos analisaremos apenas 04 (Barreiro Itauacutebi Laranjal e da
Terra Vermelha) devido ao grau de importacircncia para a cidade pois os coacuterregos Itauacutebi (nascente)
e Laranjal satildeo os que abastecem a cidade de Pires do Rio-GO Quanto ao Barreiro este estaacute
localizado na regiatildeo do Morro do Cruzeiro localidade que tem o maior nuacutemero populacional
na zona rural do municiacutepio O coacuterrego da Terra Vermelha eacute uma aacuterea que haacute muito tempo foi
espaccedilo de olaria e dela saiacuteram grandes quantidades de tijolos que foram utilizados nas
construccedilotildees de casas na cidade e tambeacutem pertence a uma localidade onde existiu o povoado do
Marataacute na deacutecada de 50
No mapa 2 apresentamos os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do
Rio-GO bem como aparecem em destaque os 15 topocircnimos que analisaremos a seguir os quais
estatildeo catalogados em fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas que estatildeo inseridas neste capiacutetulo
83
Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)
84
41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural
Os modelos das taxionomias foram elaborados por Dick (1992) a fim de possibilitar ao
pesquisador descobrir o significado dos topocircnimos sem ter que retomar especificamente a
passado histoacuterico Os modelos subdividem-se em 11 taxes de natureza fiacutesica e 16 de natureza
antropocultural Assim podemos verificar se o nomeador recorreu a elementos de natureza
fiacutesico ou socioculturais como motivaccedilatildeo no ato da nomeaccedilatildeo Abaixo apresentamos as 27
taxes subdivididas em suas naturezas e devidas especificaccedilotildees exemplificadas com alguns
topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO nos casos de natildeo ter
recorremos a outros topocircnimos
a) Taxionomias de natureza fiacutesica
1 Astrotopocircnimos topocircnimos que se referem aos corpos celestes cidade Estrela do Norte-
GO
2 Cardinotopocircnimos topocircnimos referentes agraves posiccedilotildees geograacuteficas cidade Alvorada do
Norte-GO
3 Cromotopocircnimos topocircnimos relativos agrave escala cromaacutetica coacuterrego da Terra Vermelha (Pires
do Rio-GO)
4 Dimensiotopocircnimos topocircnimos referentes agraves caracteriacutesticas dimensionais dos acidentes
geograacuteficos como extensatildeo comprimento largura espessura altura profundidade coacuterrego
Fundatildeo (Pires do Rio-GO)
5 Fitotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de vegetais rio Corumbaacute (Pires do Rio-
GO)
6 Geomorfotopocircnimos topocircnimos referentes agraves formas topograacuteficas elevaccedilotildees ou depressotildees
do terreno coacuterrego do Pico (Pires do Rio-GO)
7 Hidrotopocircnimos topocircnimos originados de acidentes hidrograacuteficos ribeiratildeo Cachoeira
(Pires do Rio-GO)
8 Litotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de minerais e de nomes relativos agrave
constituiccedilatildeo do solo coacuterrego Barreiro (Pires do Rio-GO)
9 Meteorotopocircnimos topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos ribeiratildeo Brumado
(Pires do Rio-GO)
10 Morfotopocircnimos topocircnimos que refletem o sentido de forma geomeacutetrica cidade Volta
Redonda-RJ
11 Zootopocircnimos topocircnimos de iacutendole animal rio do Peixe (Pires do Rio-GO)
b) Taxionomias de natureza antropocultural
85
1 Animotopocircnimos ou Nootopocircnimos topocircnimos relativos agrave vida psiacutequica e agrave cultura
espiritual coacuterrego Boa Vista (Pires do Rio-GO)
2 Antropotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais ribeiratildeo Sampaio
(Pires do Rio-GO)
3 Axiotopocircnimos topocircnimos que se referem a tiacutetulos e a dignidades que acompanham os
nomes proacuteprios individuais cidade Senador Canedo-GO
4 Corotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes de cidades paiacuteses estados regiotildees e
continentes coacuterrego Posse (Pires do Rio-GO)
5 Cronotopocircnimos topocircnimos que encerram indicadores cronoloacutegicos como novonova
velhovelha cidade Nova Aurora-GO
6 Ecotopocircnimos topocircnimos que fazem referecircncia agraves habitaccedilotildees de um modo geral cidade
Castelacircndia-GO
7 Ergotopocircnimos topocircnimos relacionados aos elementos da cultura material ribeiratildeo Bauacute
(Pires do Rio-GO)
8 Etnotopocircnimos topocircnimos relativos aos elementos eacutetnicos tribos isolados ou natildeo ribeiratildeo
Caiapoacute (Pires do Rio-GO)
9 Dirrematotopocircnimos topocircnimos construiacutedos por meio de frases ou enunciados linguiacutesticos
cidade Aparecida do Rio Doce-GO
10 Hierotopocircnimos topocircnimos referentes aos nomes sagrados agraves efemeridades religiosas aos
locais de culto cidade Cristianoacutepolis-GO Podem apresentar duas subdivisotildees i)
hagiotopocircnimos topocircnimos que se referem aos santos e agraves santas do hagioloacutegio romano
coacuterrego Satildeo Jerocircnimo (Pires do Rio-GO) ii) mitotopocircnimos topocircnimos referentes agraves
entidades mitoloacutegicas cidade Anhanguera-GO
11 Historiotopocircnimos topocircnimos que se referem a movimentos de cunho histoacuterico-social aos
seus membros ou ainda agraves datas correspondentes cidade Ipiranga de Goiaacutes-GO
12 Hodotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves vias de comunicaccedilatildeo coacuterrego Corrente (Pires
do Rio-GO)
13 Numerotopocircnimos topocircnimos que dizem respeito aos adjetivos numerais cidade Trecircs
Ranchos-GO
14 Poliotopocircnimos topocircnimos constituiacutedos pelos vocaacutebulos vila aldeia cidade povoaccedilatildeo
arraial bairro Vila Nova (Pires do Rio-GO)
15 Sociotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais de trabalho
e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade ribeiratildeo Mucambo (Pires do Rio-
GO)
86
16 Somatotopocircnimos topocircnimos com relaccedilatildeo metafoacuterica agraves partes do corpo humano ou do
animal coacuterrego Olho drsquoaacutegua (Pires do Rio-GO)
Essas classificaccedilotildees taxonocircmicas funcionam como auxiliares no processo de verificaccedilatildeo
que subjaz o topocircnimo sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo da origem e motivaccedilatildeo que
levaram agrave efetivaccedilatildeo de determinado topocircnimo
Aleacutem do mais uma anaacutelise toponiacutemica pressupotildee a busca de particularidades
que natildeo podem ficar apenas nas caracteriacutesticas mais evidentes apresentadas
pelo nome deve-se procurar tanto quanto possiacutevel ou seja tanto quanto as
fontes ou a documentaccedilatildeo o permitirem as origens mais remotas do
denominativo objetivando as eventuais substituiccedilotildees experimentadas e a sua
razatildeo determinante de modo que se possa tentar um equacionamento da
nomenclatura em periacuteodos ou estaacutegios onomaacutesticos ndash senatildeo de toda ela pelo
menos em alguns nomes ndash que talvez reflitam momentos distintivos do pensar
da eacutepoca analisada (DICK 1996 p 15-16)
O leacutexico toponiacutemico eacute carregado de marcas de expressatildeo histoacuterica social cultural
poliacutetica e religiosa de dada comunidade e eacute representativo para o nomeador e seu grupo Desta
forma se determinado local ou coisa passou por vaacuterias nomeaccedilotildees no decorrer dos tempos isso
justifica que cada nomeador observou novas caracteriacutesticas que classificavam ou referenciavam
o topocircnimo de forma precisa e motivada
De acordo com Dick (1990) as vaacuterias facetas significativas que datildeo realce ao nome do
lugar e as inuacutemeras informaccedilotildees que podem ser elencadas dele tornariam no material de um
grande armazenamento de dados e fatos culturais em larga extensatildeo Assim observamos em
Andrade (2010 p 103) que
Os estudos toponiacutemicos dentro do alcance pluridisciplinar de seu objeto de
estudo constituem um caminho possiacutevel para o conhecimento do modus
vivendi das comunidades linguiacutesticas que ocupam ou ocuparam um
determinado espaccedilo Quando um indiviacuteduo ou comunidade linguiacutestica atribui
um nome a um acidente humano ou fiacutesico revelam-se aiacute tendecircncias sociais
poliacuteticas religiosas culturais (Grifos da autora)
Satildeo nessas caracteriacutesticas em que reside a motivaccedilatildeo do topocircnimo e por meio delas nos
satildeo reveladas a histoacuteria e cultura de uma dada comunidade por isso vemos o quanto os estudos
toponiacutemicos satildeo de extrema relevacircncia natildeo soacute para a aacuterea dos estudos da
linguagemlinguiacutesticos mas tambeacutem para as outras aacutereas do conhecimento jaacute que o topocircnimo
eacute plurissignificativo tendo assim um alcance pluridisciplinar
87
Posto isto pode-se evidenciar os estudos toponiacutemicos como um eixo norteador para se
verificar as relaccedilotildees soacutecio-histoacuterico-culturais de um povo jaacute que o topocircnimo estaacute intimamente
vinculado agrave cultura de um povo uma naccedilatildeo e portanto agrave sua histoacuteria Assim tomaremos por
anaacutelise os graacuteficos que se seguem e as taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua
do municiacutepio de Pires do Rio-GO
42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO
Nesta pesquisa os 15 topocircnimos analisados baseados na classificaccedilatildeo enquadram-se
na divisatildeo das naturezas fiacutesica e antropocultural Em alguns topocircnimos eacute possiacutevel ainda
evidenciar mais de uma categoria classificatoacuteria por exemplo o coacuterrego da Terra Vermelha
que se classifica como litotopocircnimo e cromotopocircnimo
Nos graacuteficos abaixo apresentamos e analisamos em base qualiquantitivas as naturezas
das taxionomias fiacutesicas e antropoculturais e a origemetimologia dos topocircnimos estratos
linguiacutesticos
Grafico1 Natureza das Taxionomias
As taxionomias nos permitiram analisar e interpretar os designativos de lugares com
maior precisatildeo e seguranccedila do ponto de vista semacircntico sendo estudados enquanto formas de
liacutengua e de acordo com a causa de seu emprego O produto resultante aqui no nosso caso os
88
topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO ganham vida proacutepria passando
a ter caraacuteter motivado e natildeo apenas arbitraacuterio
As taxes encontradas nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO que tiveram maior proporccedilatildeo foram as de natureza fiacutesica assim o nomeador caracterizou
os fatores fiacutesicos do ambiente ou que chamaram sua atenccedilatildeo Desta forma as nomeaccedilotildees satildeo
motivadas e estabelecem relaccedilotildees com o nomeador e o lugar nomeado
421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos
Os principais topocircnimos analisados neste trabalho confirmaram uma tendecircncia da
toponiacutemia brasileira em geral ou seja a predominacircncia de topocircnimos classificados de acordo
com as taxionomias de natureza fiacutesica uma vez que na nomenclatura onomaacutestica dos
elementos fiacutesicos da regiatildeo analisada haacute um percentual de 67 (10 topocircnimos) que satildeo
classificados como taxes de natureza fiacutesica e 33 (05 topocircnimos) que se enquadram nas taxes
de natureza antropocultural
Graacutefico 2 Taxionomias de Natureza Fiacutesica
O graacutefico apresentado nos revelam que a incidecircncia em sua maioria das taxionomias
de natureza fiacutesica evidencia a influecircncia do ambiente fiacutesico no ato de nomeaccedilatildeo percebe-se
entatildeo que no ato do batismo os povos recorreram a elementos e caracteriacutesticas circundantes
aos lugares nomeados demonstrando que o meio ambiente exerce grande influecircncia no homem
no ato de nomear os lugares
0
05
1
15
2
25
3
Taxionomias de Natureza Fiacutesica
89
Ao atribuir topocircnimos agraves taxionomias de natureza fiacutesica eacute possiacutevel comprovar a forccedila
de elementos fiacutesicos como motivadores no ato de nomear os lugares O que eacute observaacutevel no
graacutefico II os topocircnimos com maior incidecircncia nos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO sendo eles fitotopocircnimos hidrotopocircnimos litotopocircnimos litotopocircnimos e
cromotopocircnimos litotopocircnimos e fitotopocircnimos meteorotopocircnimos e zootopocircnimos que no
decorrer desse trabalho seratildeo analisados
4211 Fitotopocircnimos
De acordo com o observado a taxionomia de origem fitotoponiacutemica (originada de
nomes de vegetais) atingiu em segundo lugar o maior nuacutemero de frequecircncia dentre os
topocircnimos de natureza fiacutesica 20 (02 topocircnimos) satildeo eles coacuterrego Laranjal e ribeiratildeo
Taquaral Eacute observaacutevel que a flora foi uma das grandes motivaccedilotildees para os designativos dos
cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO E segundo Dick (1990 p 146)
O importante talvez seria natildeo perder de vista que a vegetaccedilatildeo eacute parte
integrante de um conjunto natural em que o relevo constituiccedilatildeo do solo
acidentes geograacuteficos regimes climaacuteticos compotildeem um verdadeiro
biossistema imprescindiacutevel ao homem e agrave qualidade de vida que nele pretenda
instalar ou pelo menos usufruir
Eacute nessas relaccedilotildees de importacircncia para o homem que podemos compreender a nomeaccedilatildeo
destes elementos fiacutesicos fazendo referecircncia a aspectos que chamaram a sua atenccedilatildeo e
motivaram a nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua Isso se revela pelo caraacuteter de necessidade agrave vida
humana tanto do nome como do que por ele foi nomeado essa relaccedilatildeo nomeador-objeto-nome
eacute que ressalta a importacircncia da vegetaccedilatildeo no meio social local do vivente Assim tambeacutem
justifica Pereira (2009 p 143) que ldquopossivelmente seja esse o motivo de o
denominadorenunciador registrar as caracteriacutesticas locais de uma regiatildeo na nomeaccedilatildeo dos
acidentes geograacuteficos por meio do topocircnimordquo
Ao trazer as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas eacute perceptiacutevel a motivaccedilatildeo que subjaz
cada topocircnimo como observamos abaixo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 02
Topocircnimo Coacuterrego Laranjal Localizaccedilatildeo Pires do Rio
90
Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia la-ran-jal Sm plantaccedilatildeo ou pomar de laranjas (p827)
Laranja sf lsquofruto da laranjeira planta da fam das rutaacuteceasrsquo XIV Do aacuter nāranğa deriv do
persa nāranğ laranjAL -gal XVI (p382)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino laranja- + -al sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Coacuterrego afluente da margem direita do ribeiratildeo Bauacute (M de
Pires do Rio)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 03
Topocircnimo Ribeiratildeo Taquaral Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ta-qua-ral Sm 1 plantaccedilatildeo de taquara tabocal 2 terreno onde crescem
taquaras (p1337)
Taquara sf lsquoplanta da fam das gramiacuteneas taboca bambursquo 1627 tacoara c 1584 etc
tacoaacutera 1817 Do tupi takṷara taquarAL 1783 (p623)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino taquara- + -al sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ao observar as informaccedilotildees trazidas nas fichas apresentadas dos fitotopocircnimos
possivelmente as motivaccedilotildees que influenciaram o nomeador satildeo perspicazes as referecircncias
locais que de acordo com cada topocircnimo relacionamos i coacuterrego Laranjal evidentemente em
sua localidade apresentava no momento de nomeaccedilatildeo a plantaccedilatildeo de laranjas e tambeacutem o
coacuterrego favorecia a essas plantaccedilotildees ii ribeiratildeo Taquaral assim como analisado o topocircnimo
91
anterior o que tenha influenciado ao nomeador deve estar relacionado com o a quantidade de
taquaras na regiatildeo em se encontra o determinado ribeiratildeo
A ocorrecircncia dos topocircnimos de iacutendole vegetal ora pesquisados pode ter a sua
justificativa pela relevacircncia que as plantas tecircm junto a vida humana bem como necessaacuterias para
a conservaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua e suas nascentes assim justificamos a tendecircncia de valoraccedilatildeo
do vegetal no processo de batismo dos elementos fiacutesicos
4212 Hidrotopocircnimos
O topocircnimo de equivalecircncia hidroniacutemica (originado de acidentes hidrograacuteficos) aparece
no em ribeiratildeo Cachoeira Sabe-se que a aacutegua eacute de fundamental importacircncia para a vida
humana por isso a tendecircncia de o nomeador no ato de batismo do topocircnimo valer-se do nome
relacionado ao elemento aacutegua para designar o lugar
E de acordo com Dick (1990 p 196) ldquoO aparecimento de topocircnimos nos mais
diferentes ambientes revestindo uma natureza hidroniacutemica propriamente dita vincula-se agrave
importacircncia dos cursos drsquoaacutegua para as condiccedilotildees humanas de vidardquo Possivelmente o nomeador
a considera o elemento aacutegua vital para a sua existecircncia ainda sabemos que os cursos drsquoaacutegua
em muitas ocasiotildees servem de caminhos para comeacutercio como tambeacutem foi por meio deles que
se configuraram na histoacuteria do Brasil o achamento e a colonizaccedilatildeo do paiacutes pelos portugueses
Nas ficha abaixo trazemos informaccedilotildees relevantes para anaacutelise dos topocircnimos de origem
hidrograacutefica
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 04
Topocircnimo Ribeiratildeo Cachoeira Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Hidrotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ca-cho-ei-ra Sf 1queda drsquoaacutegua em rio ou ribeiratildeo cujo leito apresenta
forte declive cascata 2 trecho de rio onde as aacuteguas correm raacutepido devido agrave inclinaccedilatildeo do
terreno corredeira (p213)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba (M
de Campo Formoso)
Referecircncias Borba (2004) IBGE (1957)
92
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Por mais que apenas 10 (01) dos topocircnimos de natureza fiacutesica tenham referecircncia agrave
iacutendole hidroniacutemica a regiatildeo de Pires do Rio-GO tem seus limites poliacutetico e fiacutesico (geograacuteficos)
feita por rios sem mencionar a grande importacircncia que esses cursos exercem nas atividades da
regiatildeo
Ainda observamos em Dick (1990 p 197) que
Agraves vezes poreacutem rompe-se o equiliacutebrio que ela [a aacutegua] representa em
qualquer meio desprendendo-se de suas possibilidades de aproximar culturas
distintas e assumindo papel um tanto oposto ao se transformar em ldquoobstaacuteculordquo
agrave difusatildeo dos interesses coletivos Circunscrevendo o homem em seu proacuteprio
espaccedilo quando o transcurso se torna difiacutecil impede os contatos entre grupos
vizinhos Se o isolamento por um lado tende a manter tanto quanto possiacutevel
inalterados os valores comuns preservando por isso a tradiccedilatildeo socioloacutegica
do homem ao retardar a dinacircmica da comunidade em favor de uma estaacutetica
desestimulante e viciosa
A par desta citaccedilatildeo observamos que foi o que aconteceu a cidade de Pires do Rio-GO
a partir do rio Corumbaacute o principal para o municiacutepio que ateacute a deacutecada de 1920 era isolado dos
demais municiacutepios por falta de uma ponte que estabelecesse tal ligaccedilatildeo Com a vinda da Estrada
de Ferro Goyaz e a construccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa surgem as primeiras casas e a
efetivaccedilatildeo do municiacutepio bem como a ligaccedilatildeo com as principais cidades da regiatildeo e as relaccedilotildees
econocircmicas e poliacuteticas que auxiliaram no crescimento do municiacutepio e da regiatildeo
Observamos ainda no contexto do municiacutepio de Pires do Rio-GO que a aacutegua em suas
potencialidades eacute de grande relevacircncia e meio de sobrevivecircncia para a vida humana pois
Na parte sul encontra-se o rio Corumbaacute que eacute maior curso drsquoaacutegua do
municiacutepio Nele eacute feito a extraccedilatildeo de areia para construccedilatildeo civil suas ilhas
servem de pontos de recreaccedilatildeo para vaacuterios moradores e as suas margens satildeo
praticamente ocupadas pelas pequenas propriedades (DIAS 2008 p 84)
Posto isso no efetivar do topocircnimo a partir da importacircncia da aacutegua o nomeador
diferencia o elemento geograacutefico dos demais auxiliando na orientaccedilatildeo do homem no espaccedilo
que o cerca proporcionando subsiacutedios para um melhor (re)conhecimento do local Assim
hipoteticamente acreditamos que o topocircnimo ndash ribeiratildeo Cachoeira ndash no contexto estudado
93
pode ter a sua motivaccedilatildeo pelo proacuteprio ambiente fiacutesico uma vez recupera caracteriacutesticas
hidroniacutemicas do lugar
4213 Litotopocircnimos
Notando-se as relaccedilotildees dos topocircnimos de origem mineral os litotopocircnimos coacuterrego
Barreiro representam o percentual de 10 (01 topocircnimo) dos analisados Cabe mencionar que
os minerais foram um dos principais atrativos dos colonizadores portugueses nas terras
brasileiras E de acordo com Dick (1990) os topocircnimos de origem mineral estatildeo relacionados
tanto a caracteriacutesticas do solo quanto do terreno e assim estabelecem duas relaccedilotildees fiacutesicas que
estatildeo ligadas agraves regiotildees da terra neste caso satildeo areia barro lama pedra terra E outro fator
satildeo os histoacutericos que podem ser evidenciados no processo de colonizaccedilatildeo do Brasil por meio
das relaccedilotildees entre solo flora e relevo que satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de uma nova
sociedade
O litotopocircnimo apresentado abaixo por meio de descriccedilatildeo e anaacutelise revela a influecircncia
do local sobre o ato de nomear
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 05
Topocircnimo Coacuterrego Barreiro Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia bar-rei-ro Sm terra alagada lamaccedilal (p164)
Barreira -eirar -eiro ejar rarr BARRO
Barro sm lsquotipo de argilarsquo lsquosubstacircncia utilizada no assentamento da alvenaria de tijolo em
obras provisoacuterias obtida pela mistura de argila com aacuteguarsquo XIV De origem preacute-romana
Relaciona-se neste verbete uma seacuterie de vocaacutebulos etimologicamente correlacionados com
o radical barr- de origem preacute-romana barrEIRA sf lsquoargileirarsquo lsquoparapeitorsquo 1500 barrEIRmiddotAR
bareyrar XV barrEIRO XVIII (p82)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino barro- + ndasheiro sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
94
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Observando Sapir (1969) podemos trazer a reflexatildeo acerca da relaccedilatildeo entre liacutengua e
ambiente que vale a compreensatildeo dos fatores fiacutesicos neste caso os aspectos geograacuteficos
incluindo aleacutem dos elementos fauna e flora os recursos minerais Assim o litotopocircnimo
coacuterrego Barreiro estabelece relaccedilotildees com o local quando foi nomeado ainda compreende-se
que a localidade era de lamaccedilalbarro um dos motivadores por determinado coacuterrego ser
batizado com o referido topocircnimo
Assim como observado em Dick (1990 p 125) os referidos topocircnimos de origem
mineral se referem ao primeiro caso que eacute o de ldquoiacutendole geneacutericardquo aspectos fiacutesicos e especiacuteficos
agraves regiotildees da terra revelando assim caracteriacutesticas minerais da regiatildeo em que estaacute localizado
determinado coacuterrego
4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos
No conjunto dos topocircnimos analisados em um percentual de 10 (01 topocircnimo) do
total encontramos um topocircnimo de estrutura composta mas natildeo hiacutebrido pois eacute formado por
duas palavras de origem latina a saber coacuterrego da Terra Vermelha litotopocircnimo (origem de
nomes de minerais e de nomes relativos agrave constituiccedilatildeo do solo) e cromotopocircnimo (relativo agrave
escala cromaacutetica) E que de acordo com Isquerdo e Seabra (2010 p 91) ldquo[] a motivaccedilatildeo dos
hidrotopocircnimos de estrutura composta normalmente valoriza mais de uma caracteriacutestica do
meio ambiente como foco denominativordquo O mesmo se estabelece com o topocircnimo ora
analisado como descreve na ficha abaixo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 06
Topocircnimo Coacuterrego da Terra Vermelha Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo e
Cromotopocircnimo
Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ter-ra Sf i elemento da superfiacutecie terrestre que misturado com aacutegua
transforma-se em barro ii parte soacutelida da superfiacutecie terrestre chatildeo firme (p1351)
Terra sf lsquoterritoacuterio regiatildeorsquo lsquosolo chatildeorsquo XIII Do lat tĕrra (p631)
95
Vermelho adj lsquoda cor do sanguersquo XIII Do lat vĕrmῐcŭlus (p674)
Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Substantivo Feminino + Adjetivo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Segundo Dias (2008 p 119-122) na maior parte da regiatildeo do municiacutepio de Pires do
Rio-GO o solo eacute ldquoLatossolos Vermelhosrdquo ou ldquoLatossolos Vermelho Amareladordquo assim
hipoteticamente uma das motivaccedilotildees fundamentais para a denominaccedilatildeo do topocircnimo estaacute
ligado a caracteriacutesticas do local o que influenciou o denominador a fazer referecircncia agrave Terra
juntamente com a cor vermelha
E ainda Dias (2008 p 117) justifica que ldquoas caracteriacutesticas da vegetaccedilatildeo natural
muitas das vezes tecircm como fator determinante o tipo de solo porque eacute dele que elas retiram a
maioria dos elementos que precisam para sua nutriccedilatildeordquo Nesta regiatildeo tem a predominacircncia da
agricultura e agropecuaacuteria influecircncias do solo que contribui para tais praacuteticas
Contudo o batismo do coacuterrego com o topocircnimo Terra Vermelha traz em sua motivaccedilatildeo
as caracteriacutesticas que satildeo observadas na localidade e que de certa forma influenciaram o
nomeador Aleacutem do coacuterrego uma regiatildeo rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tambeacutem eacute
conhecida pelo referido nome
4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos
O topocircnimo coacuterrego Itauacutebi eacute um nome composto litotopocircnimo (de origem mineral) e
fitotopocircnimo (de origem vegetal) e representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos
analisados Sua estrutura morfoloacutegica segundo Dick (1992) eacute um topocircnimo composto formado
por ita- (pedra) + -ubi (palmeira) ambos de origem tupi na formaccedilatildeo de palavras se constitui
em uma composiccedilatildeo por justaposiccedilatildeo E hipoteticamente a regiatildeo em que se encontra o
coacuterrego eacute de um terreno pedregulho ou pode ser que o proacuteprio coacuterrego tenha em sua calda um
acuacutemulo maior de pedras que o normal E consequentemente uma regiatildeo em que a vegetaccedilatildeo
tenha ou lembre uma localidade com plantaccedilotildees de palmeiras
96
Assim a ficha lexicograacutefica-toponiacutemia abaixo nos auxiliou na descriccedilatildeo e anaacutelise do
topocircnimo coacuterrego Itauacutebi aclarando para um efetiva interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo do corpus desta
pesquisa
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 07
Topocircnimo Coacuterrego Itauacutebi Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo e Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia Ita ndash pedra eacute o termo mais comum nos topocircnimos brasileiros algumas
vezes aparece sem o i inicial Ta-nhenga (ilha do Rio de Janeiro) Ta-ratatilde (localidade da
Bahia) (p 174)
Ubi ndash nome comum a vaacuterias palmeias dos gecircneros Genoma Bactris e Calyptrogyne (p 190)
Estrutura morfoloacutegica Nome composto (ita- substantivo feminino + -ubi substantivo
feminino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Tibiriccedila (1985)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Segundo Dias (2008) o coacuterrego Itauacutebi eacute um dos afluentes do ribeiratildeo Marataacute e tambeacutem
um dos coacuterregos que abaste ao municiacutepio de Pires do Rio-GO juntamente com o coacuterrego
Laranjal Assim eacute possiacutevel notar a importacircncia deste curso drsquoaacutegua para o municiacutepio e a sua
relevacircncia em anaacutelise para a nossa pesquisa
4216 Meteorotopocircnimos
A meteorotoponiacutemia refere-se a topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos e no
contexto pesquisado representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos analisados sendo
ribeiratildeo Brumado que proveacutem do termo latino bruma lsquoinvernorsquo especificando como nevoeiro
neblina e cerraccedilatildeo (CUNHA 2010) Dados esses especificados abaixo na ficha lexicograacutefica-
toponiacutemica que nos auxiliou na interpretaccedilatildeo e anaacutelise do topocircnimo
97
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 08
Topocircnimo Ribeiratildeo Brumado Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Meteorotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia Bruma bru-ma Sf nevoeiro neblina cerraccedilatildeo (p203)
Bruma sf lsquonevoeiro neblina cerraccedilatildeorsquo XVI Do lat bruma lsquoinvernorsquo (p103)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino bruma- + sufixo ndashado)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do rio dos Peixes (M
de Pires do Rio)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ao observarmos em Sapir (1969) em que o leacutexico de uma liacutengua reflete claramente o
ambiente fiacutesico e social do falantes provavelmente o que influenciou o nomeador em recorrer
ao batismo do topocircnimo Brumado em determinado ribeiratildeo pode ter sido devido a ocorrer na
localidade neblinanevoeiro na estaccedilatildeo do ano inverno jaacute que a proacutepria raiz da palavra bruma
faz referecircncia ao ldquoinvernordquo
Nas leituras realizadas em alguns pesquisadores da aacuterea da toponiacutemia como Almeida
(2012) Carvalhinhos (2002 2003) Dick (1990 1992 1996 1999 2000 2001 2004 2006)
Isquerdo e Seabra (2010) Pereira (2009) Siqueira (2012 2015) natildeo foi recorrente
encontrarmos algum meteorotopocircnimo analisado ou que nos desse qualquer sustentaccedilatildeo ou
informaccedilotildees para proceder com algum confrontamento de dados mediante a isso
subentendemos que os topocircnimos de iacutendole dos fenocircmenos atmosfeacutericos natildeo tenham uma certa
frequecircncia como os demais
4217 Zootopocircnimos
Nas denominaccedilotildees de iacutendole animal zootopocircnimos no estudo corrente referem ao
percentual de 30 (03 topocircnimos) dos extratos pesquisados ndash rio Corumbaacute rio do Peixe e rio
Piracanjuba Precisamente em dois topocircnimos o fator motivador foi o animal peixe que
possivelmente influenciou o nomeador A saber que a caccedila e pesca era o meio de sobrevivecircncia
98
da comunidade primitiva desta forma possivelmente a comunidade que habitava nos referidos
locais tambeacutem foi influenciada por essas razotildees e daiacute batizando ambos os rios com os referidos
topocircnimos
Ao observamos os topocircnimos de iacutendole animal aqui presentes vamos contrapor ao que
Dauzat (1922 apud DICK 1990) constatou ter uma menor frequecircncia dos zootopocircnimos em
relaccedilatildeo a outras categorias na toponiacutemia francesa bem como agrave perspectiva de Backheuser
(1952 apud DICK 1990) de que na toponiacutemia brasileira os nomes de animais satildeo menos
recorrentes
As relaccedilotildees de denominaccedilatildeo toponiacutemica de uma dada regiatildeo pode ser diferente de outra
de acordo com isso as relaccedilotildees de motivaccedilotildees estatildeo estritamente ligadas ao nomeador pois
cada qual atribui a caracteriacutesticas inerentes ao local a que faz referecircncia Assim as fichas
lexicograacuteficas-toponiacutemicas abaixo evidenciam em suas descriccedilotildees e nos auxiliam a proceder
com a anaacutelise toponiacutemica dos designativos bem como a quantificar que os zootopocircnimos foram
os de maior frequecircncia em nossas anaacutelises
Nordm de ordem 09
Topocircnimo Rio Corumbaacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia cid Mato Grosso do Sul de corumbaacute caacutegado (p44) Origem Tupi
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio nasce nos arredores de Pirineus atravessa o municiacutepio
como o de Santa Luzia depois de servir em pequeno trecho de divisa a Bonfim Adiante
separa Ipameri e Corumbaiacuteba de um lado e Campo Formoso Pires do Rio Caldas Novas
Buriti Alegre do outro ateacute desaguar no rio Paranaiacuteba pela margem direita (M de Corumbaacute)
Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 10
Topocircnimo Rio do Peixe Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
99
OrigemEtimologia pei-xe Sm (Zool) 1 espeacutecime de classe animal vertebrado que nasce e
vive na aacutegua respira por guelras e se locomove por meio de barbatanas (p1048)
sm lsquo(Zool) animal cordado gnastomado aquaacutetico com nadadeiras com pele geralmente
coberta de escamas que respira por bracircnquiasrsquo XIII Do lat piscis -is peixADA XX
peixARIA XX peixeiro peyxero XIII Cp pescar piscatoacuterio (p485)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio (do) nasce na regiatildeo sul-oriental do municiacutepio que separa
os de Campo Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio e o de Caldas Novas desemboca
no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bonfim)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) (IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 11
Topocircnimo Rio Piracanjuba Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia cid de Goiaacutes de piracanjuba uma var de peixe de rio etim piraacute-
acatilde-juba peixe de cabeccedila amarela (p97) Origem Tupi
piraacute sm lsquodesignaccedilatildeo geneacuterica de peixe em tupirsquo piracanjuva sf lsquoespeacutecie de douradorsquo 1792
Do tupi pirakaᶇlsquoḭuṷa (p498)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce na serra de Passa
Quatro e atravessa o municiacutepio bem como o de Pouso Alto Adiante separa Caldas Novas de
Morrinhos e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bela
Vista)
Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
100
Segundo Dias (2008) o rio Corumbaacute eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio dele se extrai
areia para a construccedilatildeo civil e suas ilhas e margens servem para abrigar pequenas propriedades
inclusive para a recreaccedilatildeo e turismo O rio do Peixe eacute um dos trecircs maiores cursos drsquoaacutegua e
fronteiriccedilo na regiatildeo sul entre Pires do Rio Cristianoacutepolis Vianoacutepolis e Satildeo Miguel do Passa
Quatro tem como principal afluente o ribeiratildeo Brumado e tambeacutem eacute o principal afluente do
rio Corumbaacute O rio Piracanjuba tambeacutem estaacute entre os principais do municiacutepio na regiatildeo norte
faz fronteira entre Pires do Rio Orizona Urutaiacute e Ipameri sua principal relevacircncia foi na
deacutecada de 1950 por aiacute ter funcionado uma usina hidreleacutetrica que abastecia o municiacutepio de Pires
do Rio-GO
A anaacutelise zootoponiacutemica na localidade pesquisada evidenciou a valorizaccedilatildeo da fauna
local pois ao utilizar o nome de animais recuperou-os para nomear lugares como os rios
Observamos que os nomes de animais que estabelecem a sua origem nas liacutengua tupi
(Piracanjuba e Corumbaacute) e latina (Peixe) motivaram a nomeaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e
de alguma forma estatildeo vinculados agrave vida do nomeador estabelecendo assim relaccedilotildees
extralinguiacutesticas com os topocircnimos pesquisados E segundo Theodoro Sampaio (1914 apud
DICK 1990) dificilmente o nome do animal estaria desvinculado de sua existecircncia na
localidade
Os elementos de natureza fiacutesica mais evidentes na motivaccedilatildeo que subjazem aos
topocircnimos ora analisados foram os de origem vegetal mineral e animal (peixe) Percebemos
assim que o nomeador teve influecircncia das caracteriacutesticas do local para designar o referido
topocircnimo A partir desta anaacutelise nos eacute pertinente ao proacuteximo subtoacutepico proceder com as
anaacutelises das taxionomias de natureza antropocultural
422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos
Os topocircnimos de natureza antropocultural representam 33 (05 topocircnimos) do corpus
analisado destacando-se os antropotopocircnimos ergotopocircnimos etnotopocircnimos e
sociotopocircnimos O nomeador obteve suas motivaccedilotildees de iacutendole antropocultural fazendo
homenagem a pessoas importantes da cidade recuperando elementos da cultura material do
povo revelando elementos eacutetnicos isolados ou natildeo e por fim referenciando a atividades
profissionais ou pontos de encontro de pessoas da comunidade Assim identificando a
influecircncia do homem no meio em que se encontra
101
Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural
O graacutefico 3 nos traz em sua amplitude os topocircnimos de origem antropocultural e a partir
dele eacute que procederemos com as anaacutelises no decorrer do texto observando as regecircncias e
distintas influecircncias do nomeador no ato do batismo
4221 Antropotopocircnimos
Dentre os topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais em nossa pesquisa foi
encontrado apenas o ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo correspondendo ao percentual de
20 (01) dos topocircnimos de natureza antropocultural analisados Na toponiacutemia brasileira eacute
recorrente encontrarmos antropotopocircnimos especialmente lugares como cidades praccedilas ruas
e outros acabam recebendo nomes proacuteprios em homenagem a algueacutem A ficha lexicograacutefica-
toponiacutemica 12 em sua amplitude nos auxilia a perceber a influecircncia do antrotopocircnimo
analisado pois refere-se a uma figura puacuteblica da comunidade piresina
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 12
Topocircnimo Ribeiratildeo Sampaio Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia sm ldquomarinhordquo Sampaio eacute um sobrenome presente na onomaacutestica
portuguesa atraveacutes de raiacutezes tipicamente toponiacutemicas devido ao nome de uma vila localizada
0
02
04
06
08
1
12
14
16
18
2
ANTROPOTOPOcircNIMO ERGOTOPOcircNIMO ETNOTOPOcircNIMOS SOCIOTOPOcircNIMO
Taxionomias de Natureza Antropocultural
102
em Traacutes-os-Montes em Portugal e que teria sido adotado como sobrenome pelos senhores
deste local Alguns etimologistas acreditam que o nome Sampaio tenha surgido a partir do
latim Sanctus Pelagius (traduzido como ldquosanto marinhordquo) que significa Santo Pelagius e
com o passar do tempo tenha sofrido alteraccedilotildees na grafia passando para Sam Peaio Satildeo
Payo e por fim Sampaio Origem hebraica
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Proacuteprio ndash sobrenome)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da margem direita
do rio Corumbaacute (M de Pires do Rio)
Referecircncias Dicionaacuterio online de Nomes Proacuteprios (sd) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Este antropotopocircnimo foi o norteador motivacional para esta pesquisa pois o ribeiratildeo
Sampaio em um de seus limites por boa parte da populaccedilatildeo (inclusive eu) eacute conhecido como
Pedro Teixeira (que na verdade eacute o nome da ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo) soacute tempos depois
conheci o seu verdadeiro nome
E Dick (1990 p 286) assegura que
Os aspectos semacircnticos que podem ser encontrados nos nomes de pessoas
ligam-se portanto ao papel que exercem de verdadeiras manifestaccedilotildees
culturais dos povos e onde transparecem os mais diversos motivos
determinantes de sua escolha Talvez a proacutepria maneira pela qual se concebia
o nome em eacutepocas remotas como uma substacircncia revestida de poderes
miacutesticos seja a responsaacutevel pela variedade das motivaccedilotildees em uma ou em
outras sociedades
Os aspectos motivacionais para o topocircnimo em estudo eacute uma homenagem ao coronel
Lino Teixeira de Sampaio neste caso de acordo com Cabral (2007) eacute um patroniacutemico
sobrenome e faz referecircncia ao doador das terras em que fundou-se a cidade de Pires do Rio-
GO Segundo Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares ou
homenagem ou ateacute mesmo por caracteriacutesticas geograacuteficas inerentes ao local Em alguns casos
os nomes satildeo opacos pois natildeo apresentam nenhuma relaccedilatildeo com o referente nesta situaccedilatildeo haacute
de se fazer uma busca histoacuterica para chegar as relaccedilotildees motivacionais que natildeo eacute o nosso caso
Observando em estudos acerca dos topocircnimos de iacutendole de nomes proacuteprios individuais
constatamos que
103
Nomes proacuteprios de pessoas satildeo obscurecidos em seu conteuacutedo leacutexico-
semacircntico pela opacidade do proacuteprio signo que os conforma distanciados na
maioria das ocorrecircncias do foco original Integram o inventaacuterio mais fechado
da linguagem cuja origem remonta no Brasil aos primeiros nomes de
famiacutelias portuguesas para aqui imigradas (DICK 2001 p 83)
Assim foi possiacutevel observar que o patroniacutemico Sampaio ratifica a citaccedilatildeo de Dick
(2001) pois ele estaacute presente na onomaacutestica portuguesa evidenciado nas raiacutezes tipicamente
toponiacutemicas relacionado ao nome de uma vila localizada em Traacutes-os-Montes em Portugal que
supostamente teria sido adotado como sobrenome pelos senhores deste local (DICIONAacuteRIO
DE NOMES PROacutePRIOS sd)
A importacircncia desse referido ribeiratildeo para o municiacutepio de Pires do Rio-GO justifica-se
desde a sua nomeaccedilatildeo pela razatildeo de sua nascente ser em terras que eram de propriedade do
coronel Lino Teixeira de Sampaio e tambeacutem pelo motivo de
O ribeiratildeo Sampaio eacute utilizado como um dos limiacutetrofes das aacutereas urbana e
rural tambeacutem depositaacuterio da Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE)
consequentemente recebendo a aacutegua do esgoto depois de feito seu devido
tratamento Neste ribeiratildeo encontram-se os menores pontos altimeacutetricos da
aacuterea urbana o que favoreceu a construccedilatildeo da ETE (DIAS 2008 p 84)
Neste contexto eacute evidente que a motivaccedilatildeo para o topocircnimo Sampaio eacute uma
homenagem a uma pessoa que tem uma importacircncia para o local a cidade de Pires do Rio-GO
E assim podemos evidenciar que o ato de nomear aqui institui as relaccedilotildees de poder
possivelmente a de coacuterrego do senhor coronel Lino Teixeira de Sampaio estabelecendo as
relaccedilotildees de poder que o proacuteprio coronel mantinha sobre o local a cidade
4222 Ergotopocircnimos
Os topocircnimos referente a elementos da cultura material ergotopocircnimos nas anaacutelises
desta pesquisa tiveram um percentual de 20 (01) dos topocircnimos analisados ribeiratildeo Bauacute
assim observamos que o denominador foi motivado pelas relaccedilotildees da cultura material que o
cerca Jaacute observado em Sapir (1969) pois no leacutexico toponiacutemico reflete o ambiente social do
falante assim o topocircnimo no qual o objeto bauacute eacute de origem da cultura material e de uso
humano possivelmente as caracteriacutesticas do objeto como fundura largura e formato do bauacute
foram vitais para a nomeaccedilatildeo do ribeiratildeo
104
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 13
Topocircnimo Ribeiratildeo Bauacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Ergotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia ba-uacute (fr) Sm (Co) 1 mala de madeira recoberta de couro com tampa
conversa 2 moacutevel em forma de caixa de folha ou madeira onde se guardam roupas e demais
objetos (p169)
sm lsquotipo de caixa ou mala com tampa convexa na parte externarsquo baul XVI bau XVII bahu
Do ant baul deriv do a fr bahur (hoje bahut) de origem obscura (p84) 1805
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba na
divisa do municiacutepio de Pires do Rio (M de Campo Formoso)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Desta forma ldquoa lsquoescolharsquo do nome se daacute segundo um agenciamento enunciativo
especiacutefico este acontecimento de nomear recorta como memoraacuteveis os nomes disponiacuteveis
como contemporacircneos proacuteprios de sua eacutepocardquo (GUIMARAtildeES 2005 p 36-37) Eacute necessaacuterio
observar na citaccedilatildeo de Guimaratildees (2005) que no ato do batismo o nomeador faz referecircncia ao
contemporacircneo ou proacuteprio de sua eacutepoca no caso de uso do termo bauacute configura-se como essa
afirmaccedilatildeo eacute relativa a algo realmente usado em determinada eacutepoca
Eacute evidente que o topocircnimo apresentou como fonte motivacional a relaccedilatildeo existente entre
a cultura material e seu nomeador ou seja uma motivaccedilatildeo toponiacutemica de ordem
antropocultural assim essas designaccedilotildees que recuperam elementos da cultura material do
povo da localidade identifica a influecircncia do homem no meio em que se vive
4223 Etnotopocircnimos
Uma das taxionomias de natureza antropocultural de maior ocorrecircncia nesta pesquisa
com o percentual de 40 (02) topocircnimos dos analisados foram os etnotopocircnimos topocircnimos
105
relativos a elementos eacutetnicos isolados ou natildeo sendo o ribeiratildeo Caiapoacute e ribeiratildeo Marataacute que
no decorrer satildeo apresentados nas fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 14
Topocircnimo Ribeiratildeo Caiapoacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia rio do E de Goiaacutes nome de uma tribo fam linguiacutestica Jecirc que habitou
a regiatildeo (p34)
cai-a-poacute (Tupi) S 1 indiviacuteduo de um povo indiacutegena de Mato Grosso Sm [Pl] 2 esse povo
(p217)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Corumbaacute (M de
Pires do Rio)
Referecircncias Tibiriccedila (1985) Borba (2004) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 15
Topocircnimo Ribeiratildeo Marataacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Marata ndash sm 1 indiviacuteduo dos maratas 2 liacutengua indo-europeia do ramo
indo-iraniano sub-ramo indo-aacuterico falada no Oeste e Centro da Iacutendia esp no Estado de
Maharashtra por aprox 50 milhotildees de pessoas Eacute uma das liacutenguas oficiais da Iacutendia Sacircnsc
mahaacuteraacutestra o grande reino pelo hind marhatta id
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas afluente da margem direita do ribeiratildeo Caiapoacute (M de Pires
do Rio)
Referecircncias Houaiss (2009) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
106
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Na justeza dos nomes podemos evidenciar que ao batizar o ribeiratildeo Caiapoacute o nomeador
se valeu de fatores antropoculturais em relaccedilatildeo aos iacutendios caiapoacutes lsquokayapoacutersquo que segundo fatos
da histoacuteria estiveram em terras goianas desta forma ao se valer do uso do topocircnimo a
motivaccedilatildeo para tal ato de batismo pode ser referente a esses povos terem influecircncias de alguma
forma sobre o nomeador no ato do batismo do topocircnimo
Jaacute o topocircnimo ribeiratildeo Marataacute traz em sua bases semacircnticas como i ldquoliacutengua indo-
europeiardquo ii ldquoindiviacuteduos dos maratasrdquo segundo Houaiss et al (2009) E possivelmente a
motivaccedilatildeo do designativo foi a influecircncia de grupos europeus que tambeacutem passaram por estas
terras jaacute que o paiacutes foi colonizado por Portugal e na formaccedilatildeo da sociedade goiano e piresina
terem a presenccedila de vaacuterias etnias inclusive europeia
Desta forma eacute evidente que os etnotopocircnimos estatildeo relacionados agrave presenccedila e influecircncia
de grupos de distintas etnias no Brasil visto que a histoacuteria local e nacional revelam a presenccedila
de vaacuterios povos na formaccedilatildeo do sociedade brasileira
4224 Sociotopocircnimos
Tomando por anaacutelise os topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais
de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma dada comunidade dentre os
sociotopocircnimos numa frequecircncia de 20 (01) dos topocircnimos analisados foi encontrado o
designativo ribeiratildeo Mucambo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 16
Topocircnimo Ribeiratildeo Mucambo Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Sociotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Mocambo sm lsquoesconderijo refuacutegio dos negros (escravos) fugidorsquo
1535 mocano Do quimb mursquokamu lsquoescondrijorsquo Embora se documente em vaacuterios textos
quinhentistas relativos aos antigos domiacutenios portugueses na Aacutefrica foi no Brasil que o voc
Se difundiu intensamente desde o periacuteodo colonial em decorrecircncia do intenso conviacutevio dos
brancos com os negros escravos da africanos (p431)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
107
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
O topocircnimo tem sua origem no termo mocambo que se refere a esconderijo de escravos
fugidos (CUNHA 2010) Possivelmente assim como jaacute observado nos fatores motivacionais
de outros topocircnimos a relaccedilatildeo de grupos eacutetnicos terem passado ou habitado na regiatildeo pode ter
influenciado na nomeaccedilatildeo do designativo Na regiatildeo observada viveram escravos negros que
formaram um comunidade rural desta forma podem ter influenciado o nomeador no ato do
batismo do ribeiratildeo Mucambo
A partir do sociotopocircnimo analisado observamos em Carvalhinhos (2003 p 172) que
Os atuais estudos onomaacutesticos no Brasil vecircm justamente resgatando a histoacuteria
social contida nos nomes de uma determinada regiatildeo partindo da etimologia
para reconstruir os significados e posteriormente traccedilar um panorama
motivacional da regiatildeo em questatildeo como um resgate ideoloacutegico do
denominador e preservaccedilatildeo do fundo de memoacuteria
Desta forma ao traccedilar um panorama dos topocircnimos analisados eacute elementar que o
nomeador ao longo das nomeaccedilotildees buscou em suas bases motivacionais preservar a memoacuteria
local seja nos fatores fiacutesicos e ou sociais Para configurar tais dados no proacuteximo subtoacutepico
analisaremos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados
43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos
Analisar as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos estratos linguiacutesticos antes de mais
nada eacute perceber as influecircncias das etnias que povoaram o nosso paiacutes e regiatildeo Sabemos que no
iniacutecio do seacuteculo XVI quando os povos lusoacutefonos chegaram em terras brasileiras os iacutendios jaacute
as habitavam embora fossem os donos da terra tatildeo logo os portugueses se instalaram e se
fizeram os novos donos Mas no decorrer dos seacuteculos outros povos foram chegando e tambeacutem
se instalando no local daiacute retiramos a origem dos estratos linguiacutesticos dos topocircnimos analisados
nesta pesquisa
De acordo com Dick (1992 p 81)
108
a formaccedilatildeo etno-histoacuterica do Brasil acusa a existecircncia de estratos
populacionais diversos como os ameriacutendios distribuiacutedos em vaacuterios troncos e
famiacutelias Os portugueses os africanos e os de procedecircncia estrangeira jaacute em
eacutepoca posterior agrave colonizaccedilatildeo propriamente dita Essa origem heterogecircnea
deixou reflexos diferenciados na liacutengua nos usos e costumes nas tradiccedilotildees
regionais e consequentemente na toponiacutemia do paiacutes
Perceber essa heterogeneidade linguiacutestica na formaccedilatildeo dos topocircnimos eacute fundamental
visto que dos 15 topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO a sua maioria
eacute de origem indiacutegena isso revela que apesar do processo de colonizaccedilatildeo e imposiccedilatildeo da liacutengua
portuguesa a liacutengua dos nativos ainda prevaleceu ao menos na designaccedilatildeo toponiacutemica E no
graacutefico abaixo apresentamos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados
Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos
Analisar as origens dos topocircnimos eacute reconhecer segundo Dick (2006) que a Toponiacutemia
pode conviver com dois movimentos vivenciados de linguagem i) a nativa (linguagem
indiacutegena) e ii) a advena ou seja de iacutendole civilizatoacuteria pois ambas colaboraram para a
formaccedilatildeo dos brasileirismos e regionalismos mas natildeo apenas presentes na liacutengua Podemos
assim constatar em nossas anaacutelises que o vivenciado de acordo com a linguagem ldquonativardquo foi
a que teve maior frequecircncia neste estudo
Observamos no graacutefico IV a frequecircncia das liacutenguas que deram origem aos 15 topocircnimos
dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO e no que se segue procedemos com as
anaacutelises e logo apoacutes a estrutura morfoloacutegica
005
115
225
335
445
5
OrigemEtimologia dos Topocircnimos
109
O topocircnimo coacuterrego Laranjal eacute de origem Aacuterabe a influecircncia dessa liacutengua em nossa
regiatildeo nos eacute evidenciada no iniacutecio do seacuteculo XX com a fundaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio-
GO os aacuterabes foram um dos primeiros imigrantes que aqui chegaram bem como tiveram um
destaque na aacuterea comercial possivelmente este topocircnimo tenha relaccedilotildees com esse fato No que
tange agrave frequecircncia a liacutengua Aacuterabe (esta liacutengua influenciou imensamente o leacutexico da Liacutengua
Portuguesa) corresponde a 7 (01) dos topocircnimos analisados
Ainda contatamos outras liacutenguas como a Hebraica ndash ribeiratildeo Sampaio Preacute-romana ndash
coacuterrego Barreiro Sacircnscrito ndash ribeiratildeo Marataacute e ainda de Origem Obscura ndash ribeiratildeo Bauacute
Cada uma dessas liacutenguas correspondem agrave frequecircncia de 7 (01) dos topocircnimos analisados
provavelmente as devidas nomeaccedilotildees se devem ao fato da vinda de pessoas de outros
continentes em busca de melhores condiccedilotildees de vida e assim contribuiacuterem com a formaccedilatildeo
dos designativos dos cursos drsquoaacutegua
Os dados da toponiacutemia brasileira em relaccedilatildeo agrave origem dos topocircnimos satildeo de origem da
Liacutengua Portuguesa devido a colonizaccedilatildeo jaacute que os povos lusoacutefonos aqui chegaram e segundo
Dick (1995 p 60)
os primeiros topocircnimos funcionavam portanto como verdadeiros ldquosign-
postsrdquo ou marcas semioacuteticas de identificaccedilatildeo dos lugares usadas com a
finalidade de distinguir as caracteriacutesticas de espaccedilos semelhantes uma forma
uma silueta o perfil de uma paisagem se apresentando como recortes de uma
corografia maior a ser detalhada
Os povos lusoacutefonos nomeavam os lugares de acordo com caracteriacutesticas do lugar
Assim os topocircnimos por nograves analisados ndash coacuterrego Brumado coacuterrego da Terra Vermelha
ribeiratildeo Cachoeira e rio do Peixe ndash satildeo de origem latina liacutengua que deu origem agrave Liacutengua
Portuguesa e entre os topocircnimos estudados referem ao percentual de 29 (04 topocircnimos) dos
analisados
No processo de colonizaccedilatildeo do Brasil os portugueses necessitavam de matildeo-de-obra
mas como natildeo tiveram ecircxito com os iacutendios entatildeo foi necessaacuterio a busca de outros povos com
isso trouxeram os escravos E no processo de nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de
Pires do Rio-GO a Liacutengua Portuguesa (Aacutefrica) um percentual de 7 (01) dos topocircnimos ndash
ribeiratildeo Mucambo ndash que eacute especificado como o local esconderijo de escravos fugitivos Haacute
relatos de que na regiatildeo da zona rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tem uma localidade
que foi constituiacuteda em sua maioria populacional por escravos provavelmente pode esse
topocircnimo ter sido influenciado por tal fato
110
Em sua maioria 36 (05) dos topocircnimos analisados satildeo de origem Tupi ndash coacuterrego
Caiapoacute coacuterrego Itauacutebi ribeiratildeo Taquaral rio Corumbaacute e rio Piracanjuba ndash e segundo Bearzoti
Filho (2002 p 43) ao tratar das designaccedilotildees de origem tupi assinala que ldquoem grande parte
trata-se de topocircnimos atribuiacutedos natildeo por iacutendios mas por bandeirantes que como jaacute vimos
utilizavam a liacutengua geral como idioma de comunicaccedilatildeo ordinaacuteria em suas expediccedilotildeesrdquo
E de acordo com Sampaio (1928 p 02)
ao europeu poreacutem ou aos seus descendentes cruzados que realizaram as
conquistas dos sertotildees eacute que se deve a maior expansatildeo do tupi como liacutengua
geral dentro das raias atuais do Brasil As levas que partiam do litoral a
fazerem descobrimentos falavam no geral o tupi pelo tupi designavam os
novos descobertos os rios as montanhas os proacuteprios povoados que fundavam
e que eram outras tantas colocircnias espalhadas nos sertotildees falando tambeacutem o
tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo
Ao firmar o ato de nomeaccedilatildeo das localidades constatamos que o tupi liacutengua de origem
do maior nuacutemero de topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO
possivelmente deve-se agrave influecircncia das seguintes relaccedilotildees a internalizaccedilatildeo de nomes de origem
tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para Goiaacutes e a presenccedila de iacutendios como jaacute
mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo viveram regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da
colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)
Ainda consoante Pereira (2009 p 27) observamos que
A toponiacutemia brasileira como um todo reuacutene uma grande quantidade de nomes
de base indiacutegena na nomeaccedilatildeo de acidentes geograacuteficos que evidenciam
marcas da presenccedila de vaacuterias etnias na nomenclatura geograacutefica brasileira Um
estudo toponiacutemico numa dimensatildeo etnolinguiacutestica analisa desde a origem
dos nomes ateacute as influecircncias socioculturais da populaccedilatildeo que habita o espaccedilo
geograacutefico em estudo na forma de nomear os acidentes fiacutesicos verificando se
no momento da designaccedilatildeo de um lugar o designador apropriou-se de nomes
cuja origem procedeu de estratos linguiacutesticos de base portuguesa ou de outras
liacutenguas que influenciaram a formaccedilatildeo do leacutexico do portuguecircs brasileiro
principalmente as liacutenguas indiacutegenas e africanas
Ao analisarmos os topocircnimos dos cursos drsquoagua do municiacutepio de Pires do Rio-GO
podemos constatar que em sua maioria as liacutenguas que lhe deram origem foram as indiacutegenas e a
latina as outras que representaram um percentual menor possivelmente estatildeo ligadas agrave vinda
de outras etnias que ajudaram na formaccedilatildeo populacional do Brasil e de Goiaacutes
111
44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos
Com vistas nos paracircmetros teoacuterico-metodoloacutegicos da pesquisa seguindo o que eacute
estabelecido por Dick (1992) ao que se refere a estrutura morfoloacutegica o topocircnimo pode ser
classificado como simples composto e composto hiacutebrido que de acordo Dick (1992 p 14)
ldquotopocircnimo que em sua estrutura haacute a presenccedila de duas bases linguiacutesticas distintas por exemplo
tupi + portuguecircsrdquo mas natildeo encontrado em nossa pesquisa A partir disto tomamos o graacutefico V
para procedermos com a anaacutelise
Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos
Dos 15 sintagmas toponiacutemicos catalogados uma representaccedilatildeo de 87 (13 topocircnimos)
satildeo de estrutura simples que no processo de nomeaccedilatildeo o nomeador utilizou apenas um
formante ou seja um elemento designativo Jaacute os compostos aparecem em um percentual de
13 (02 topocircnimos) formados por mais de um formante lexical
Ao trazermos essas informaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos topocircnimos observamos que
como uso de substantivos e adjetivos o denominador acaba por trazer caracteriacutesticas do local
onde nomes comuns passam a formar nomes proacuteprios e segundo Dick (2006 p 108)
o topocircnimo integraraacute natildeo uma categoria descritiva de nomes nem um iacutendice
cromaacutetico desvinculado de outras consideraccedilotildees culturais e sim o que
chamamos na teoria de nomes transplantados deslocados ou transferidos de
seu lugar de origem para outros pontos distantes formando uma nova
sequecircncia nominal
0
2
4
6
8
10
12
14
SIMPLES COMPOSTO
Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos
112
No processo de nomeaccedilatildeo o nomeador faz uso de designativos que aleacutem de sofrer
certos deslocamentos como jaacute mencionado de nome comum para nome proacuteprio haacute tambeacutem
casos de alguns topocircnimos sofrerem alteraccedilotildees em suas estruturas morfoloacutegicas como o caso
do designativo ribeiratildeo Mucambo que em suas origens traz a grafia de mocambo
No decorrer deste estudo e anaacutelises foi possiacutevel perceber que os topocircnimos aleacutem de
servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais da sociedade a
que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e costumes da sociedade E ao final foi
notoacuterio perceber nas liacutenguas que deram origem aos topocircnimos a estreita relaccedilatildeo com o
ambiente pois de alguma forma o nomeador obteve motivaccedilatildeo tanto do espaccedilo meio ambiente
como da liacutengua propriamente dita
113
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Ao propormos estudar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO tomamos por base caracterizar o ato de nomear e dele reiteramos e pode ser observado em
sua totalidade a relaccedilatildeo de poder pois nomear eacute instituir E eacute por meio do batismo do topocircnimo
que ele se instaura e revela as relaccedilotildees do meio ambiente com o homem eou do homem com
meio que o circunda As consideraccedilotildees finais ora apresentadas referem-se aos estudos
toponiacutemicos relacionados apenas ao contexto local desta pesquisa mas muito ainda haacute de ser
estudado na aacuterea em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia em Goiaacutes
Os objetivos da pesquisa constituem-se basicamente em descrever e analisar os
topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO observando
noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural Assim em
sua maioria os elementos fiacutesicos sobressaiacuteram sobre os demais pois no total de 15 topocircnimos
analisados um percentual de 67 (10 topocircnimos) foram motivados pelos aspectos fiacutesicos
sendo que os de origem vegetal fitotopocircnimos e animal zootopocircnimos tiveram maior
recorrecircncia Assim concretizamos que o ambiente influenciou o nomeador no ato do batismo
estabelecendo as relaccedilotildees entre liacutengua e ambiente inclusive com os aspectos extralinguiacutesticos
A maior incidecircncia de taxionomias de natureza fiacutesica nesta pesquisa demonstra a
tendecircncia do denominador de nomear os lugares com nomes dos elementos fiacutesicos da natureza
circundante numa constataccedilatildeo de que o meio ambiente exerce grande influecircncia sobre o
homem refletindo-se tambeacutem no processo de nomeaccedilatildeo dos lugares
Jaacute no que tange agraves taxionomias de natureza antropocultural em nossas anaacutelises com um
percentual de 33 (05 topocircnimos) os etnotopocircnimos que fazem referecircncia a elementos eacutetnicos
foram os com maior frequecircncia Observamos nas taxes de natureza antropocultural que os
fatores culturais foram os motivadores para a designaccedilatildeo dos topocircnimos analisados
evidenciando as relaccedilotildees do homem com o ambiente que o cerca Para tanto foi necessaacuterio
identificar os fatores que constituem a motivaccedilatildeo que subjazem agrave escolha do nome do lugar
que foi possibilitado por meio da caracterizaccedilatildeo de fatores sociais culturais histoacutericos que nos
auxiliaram nas anaacutelises dos topocircnimos
A hipoacutetese inicial da pesquisa foi de que pelo caraacuteter motivado o signo toponiacutemico
possibilita reconhecer fatores vinculados ao que subjaz agrave escolha dos nomes de lugares e assim
nos possibilitou o levantamento de fatores soacutecio-histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave
anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua como iacutendice de estreita relaccedilatildeo entre
liacutenguaambiente e cultura E pudemos observar que os topocircnimos estabelecem relaccedilotildees da
114
liacutengua e meio ambiente no que concerne agrave anaacutelise das taxionomias de natureza fiacutesica e a
posteriori as relaccedilotildees de liacutengua e cultura que foram evidenciadas nas taxionomias de natureza
antropocultural Nas taxes analisadas foi possiacutevel detectar que o ambiente e o contexto satildeo
fundantes nas motivaccedilotildees que subjazem aos topocircnimos analisados Desta forma entende-se que
um rio um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que uma vez nomeados passam a carregar as
inuacutemeras memoacuterias do lugar
Os fatores soacutecio-histoacutericos-culturais do municiacutepio de Pires do Rio-GO foram
imprescindiacuteveis no processo de anaacutelise dos designativos dos lugares pois no caso do topocircnimo
ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo ficou evidente que o fato motivador foi a relaccedilatildeo de poder
do nome devido ao ribeiratildeo ter sua nascente em terras que eram do coronel Lino Teixeira de
Sampaio e tambeacutem por ter sido ele o doador das terras em que surgiu o referido municiacutepio
Ao levantar as perguntas de pesquisa qual a origem dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da
cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do
lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo Apoacutes ter analisado os 15
topocircnimos fica evidente que todos os nomes estatildeo registrados nas cartas topograacuteficas e satildeo
oficializados pelo IBGE mas provavelmente os nomes foram dados pela comunidade que
habitou nas localidades ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas que foram levantadas nos designativos
fazendo referecircncia ao local
Por meio da caracterizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico
onomasioloacutegico que foi o norte da pesquisa combinado com outros meacutetodos como o Woumlrter
und Sachen (palavras e coisas) numa abordagem qualiquantitativa foi evidente na relaccedilatildeo da
toponiacutemia que os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos
lugares Nesse iacutenterim nos foi possiacutevel quantificar os topocircnimos em relaccedilatildeo as taxionomias
origem e estrutura morfoloacutegica percebendo as ocorrecircncias em maior frequecircncia
A anaacutelise do ponto de vista etnolinguiacutestico demonstrou a predominacircncia de topocircnimos
originaacuterios da liacutengua indiacutegena um percentual de 36 essa recorrecircncia eacute supostamente devido
agrave internalizaccedilatildeo de nomes de origem tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para
Goiaacutes e agrave presenccedila de iacutendios como jaacute mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo
viveram na regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e
consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)
A liacutengua latina que deu origem agrave liacutengua portuguesa aparece e 29 dos topocircnimos
analisados isso devido aos povos lusoacutefonos que nomeavam os lugares com as caracteriacutesticas
que se estabeleciam com os referidos locais por eles percorridos e habitados E tambeacutem outras
liacutenguas tiveram uma menor frequecircncia como a aacuterabe hebraica preacute-romana sacircnscrito e
115
tambeacutem um topocircnimo de origem obscura fica evidente que outras etnias influenciaram na
nomeaccedilatildeo dos lugares Pode ser pelo fato de o nomeador pertencer a etnia ou ter alguma relaccedilatildeo
indireta
Quanto agrave estrutura morfoloacutegica do toacutepico de acordo com Dick (1992) dos analisados
87 satildeo de formaccedilatildeo simples tendo apenas um formante e 13 satildeo compostos com dois
formantes lexicais assim os compostos revelam mais de uma caracteriacutestica do local nomeado
e caracteriza mais de uma taxionomia
De forma peculiar esta pesquisa aleacutem de proceder com as anaacutelises de classificaccedilatildeo
origemetimologia morfoloacutegica e semacircntico-toponiacutemicas remapeou e cartografou os cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO sem mencionar no revisitar da formaccedilatildeo histoacuterica
deste municiacutepio e da contribuiccedilatildeo com os estudos toponiacutemicos no estado de Goiaacutes
Os topocircnimos aleacutem de servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas
fiacutesicas e sociais da sociedade a que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e
costumes dessa sociedade E ao perceber essas relaccedilotildees de liacutenguaambiente e cultura na
designaccedilatildeo do topocircnimo eacute que propomos para discussatildeo futura doutorado a partir da
ecolinguiacutestica e da toponiacutemia proceder com a anaacutelise da relaccedilatildeo de liacutengua e meio ambiente nos
hidrocircnimos das bacias hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes
116
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Karylleila dos Santos Atlas toponiacutemico de origem indiacutegena do estado do
Tocantins ATITO Goiacircnia-GO Ed PUC Goiaacutes 2010
ALMEIDA Lana Cristina Santana de O leacutexico toponiacutemico das comunidades rurais de Santo
Antocircnio de Jesus uma anaacutelise semacircntica e sociocultural 2012 188f Dissertaccedilatildeo (Mestrado
em Liacutengua e Cultura) ndash Universidade Federal da Bahia Salvador-BA 2012
AULETE Caldas Dicionaacuterio escolar da liacutengua portuguesa 3ordf ed Rio de Janeiro-RJ
Lexikon 2011
BASSETTO Bruno Fregni Elementos de Filologia Romacircnica histoacuteria Externa das Liacutenguas
Romacircnicas V1 2ed Satildeo Paulo-SP EDUSP 2013
______ Elementos de filologia romacircnica histoacuteria externa das liacutenguas Satildeo Paulo-SP Editora
da Universidade de Satildeo Paulo 2001
BEARZOTI FILHO Paulo Formaccedilatildeo linguiacutestica do Brasil Curitiba-PR Nova Didaacutetica
2002
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia Sagrada Traduccedilatildeo Centro Biacuteblico Catoacutelico 100ordf ed rev Satildeo
Paulo-SP Ave Maria 1995
BIDERMAN Maria Tereza Camargo Dimensotildees da palavra Filologia e Linguiacutestica
Portuguesa Araraquara-SP n 2 p 81-118 1998
BORBA Francisco da Silva (Org) Dicionaacuterio UNESP do portuguecircs contemporacircneo Satildeo
Paulo-SP UNESP 2004
BORGES Barsanufo Gomides O despertar dos dormentes estudo sobre a Estrada de
Ferro de Goiaacutes e seu papel nas transformaccedilotildees das estruturas regionais 1909-1922
Goiacircnia-GO Cegraf 1990
BOSI Alfredo Plural mas natildeo caoacutetico In ______ (Org) Cultura Brasileira temas e
situaccedilotildees Satildeo Paulo-SP Editora Aacutetica 1987 p 7-15
BRASIL Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Pires do Rio-GO folha SE-22-X-III Escala 1100 000 1973
______ Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Ipameri-GO folha SE-22-X-VI Escala 1100 000 1973
______ Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Cristianoacutepolis-GO folha SE-22-X-II Escala 1100 000 1973
CABRAL Joatildeo de Pina Matildees pais e nomes no baixo sul (Bahia Brasil) In ______ VIEGAS
Susana de Matos Nomes geacutenero etnicidade e famiacutelia Coimbra-Portugal Almedina 2007 p
63-87
117
CAcircMARA JR Joaquim Mattoso Histoacuteria da Linguiacutestica 6ordf ediccedilatildeo Petroacutepolis-RJ Editora
Vozes LTDA 1975
______ Liacutengua e cultura Revista Letras Londrina-PR v 4 p 50 - 59 1955 Disponiacutevel em
lthttpojsc3slufprbrojsindexphpletrasarticleview2004613227gt Acesso em 30 set
2015
CAMPBELL Lyle Historical Linguistics An Introduction 2 ed Cambrige-EUA MIT
2004
CARVALHINHOS Patriacutecia de Jesus Onomaacutestica e lexicologia o leacutexico como catalisador de
fundo de memoacuteria Estudo de caso os sociotopocircnimos de Aveiro (Portugal) Revista USP Satildeo
Paulo-SP n 56 p 172-179 2003 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevistasuspbrrevusparticleview33819gt Acesso em 13 jan 2016
______ Antroponiacutemia Um velho caminho um novo instrumental de anaacutelise linguiacutestico-
literaacuteria Revista Aacutelvares Penteado Satildeo Paulo-SP v 4 n 8 p 115-135 2002
COSERIU Eugecircnio O homem e sua linguagem Trad Carlos Alberto da Fonseca e Maacuterio
Ferreira Satildeo Paulo-SP Edusp 1982
______ Princiacutepios de semaacutentica estructural Madrid-Espanha Gredos 1977
COUTO Hildo Honoacuterio do Onomasiologia e semasiologia revisitadas pela
ecolinguiacutestica Revista de Estudos da Linguagem Belo Horizonte-MG v 20 n 2 p 183-
210 2012 Disponiacutevel em
lthttpperiodicosletrasufmgbrindexphprelinarticleview2748gt Acesso em 13 jan 2016
______ Ecolinguiacutestica - estudo das relaccedilotildees entre liacutengua e meio ambiente Brasiacutelia-DF
Thesaurus 2007
CROWLEY Terry An Introduction to Historical Linguistics 3 ed Oxford-EUA Oxford
University 2003
CRYSTAL David Pequeno tratado da linguagem humana Traduccedilatildeo Gabriel Perisseacute Satildeo
Paulo-SP Saraiva 2012
CUNHA Antocircnio Geraldo da Dicionaacuterio etimoloacutegico da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro-
RJ Lexikon 2010
CUNHA Celso A magia da palavra In ______ Sob a pele das palavras Rio de Janeiro-RJ
Nova Fronteira Academia Brasileira de Letras 2004 p 217-233
DIAS Ana Lourdes Cardoso Toponiacutemia dos antigos arraiais tocantinense 2016 207f Tese
(Doutorado em Letras e Linguiacutestica) ndash Universidade Federal de Goiacircnia Faculdade de Letras
Goiacircnia-GO 2016
DIAS Cristiane Mapeamento do municiacutepio de Pires do Rio-GO usando teacutecnicas de
geoprocessamento 2008 187f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Federal
de Uberlacircndia Uberlacircndia-MG 2008
118
Dicionaacuterio de nomes proacuteprios Significado dos nomes sd Disponiacutevel em
lthttpswwwdicionariodenomesproprioscombrsampaiogt Acesso em 06 jul 2016
DICK Maria Vicentina de Paula do Amaral Fundamentos teoacutericos da Toponiacutemia Estudo de
caso O Projeto ATEMIG ndash Atlas Toponiacutemico do Estado de Minas Gerais (variante regional do
Atlas Toponiacutemico do Brasil) In SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa (Org) O leacutexico
em estudo Belo Horizonte-MG Faculdade de Letras da UFMG 2006 p 91-117
______ Rede de conhecimento e campo lexical hidrocircnimos e hidrotopocircnimos na onomaacutestica
brasileira In ISQUERDO Aparecida Negri KRIEGER Maria da Graccedila As ciecircncias do
leacutexico lexicologia lexicografia e terminologia Vol II Campo Grande-MT Editora da UFMS
2004 p 121-130
______ O sistema onomaacutestico bases lexicais e terminoloacutegicas produccedilatildeo e frequecircncia In
OLIVEIRA Ana Maria Pinto Pires ISQUERDO Aparecida Negri (orgs) As ciecircncias do
leacutexico lexicologia lexicografia terminologia 2 ed Campo Grande-MS UFMS 2001 p 77-
88
______ A Investigaccedilatildeo Linguiacutestica na Onomaacutestica Brasileira Estudos de Gramaacutetica
Portuguesa III Frankfurt am Main Volume III 2000 p 217-239
______ Meacutetodos e questotildees terminoloacutegicas na onomaacutestica Estudo de caso o Atlas
Toponiacutemico do Estado de Satildeo Paulo Investigaccedilotildees Linguiacutestica e Teoria Literaacuteria Recife-PE
v 9 p 119-148 1999
______ A dinacircmica dos nomes da cidade de Satildeo Paulo 1554-1987 Satildeo Paulo-SP
ANNABLUME 1996
______ O leacutexico toponiacutemico marcadores e recorrecircncias linguiacutesticas (Um estudo de caso a
toponiacutemia do Maranhatildeo) Revista Brasileira de Linguiacutestica Satildeo Paulo-SP editora Plecirciade v
8 ndash n 1 p 59-68 1995
______ Toponiacutemia e Antroponiacutemia no Brasil Coletacircnea de Estudos Satildeo Paulo-SP Serviccedilo
de Artes GraacuteficasFFLCHUSP 1992
______ A Motivaccedilatildeo Toponiacutemica e a Realidade Brasileira Satildeo Paulo-SP Ediccedilotildees Arquivo
do Estado 1990
DUBOIS Jean et al Dicionaacuterio de linguiacutestica Satildeo Paulo-SP Cultrix 2004
FARACO Carlos Alberto Linguiacutestica Histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo da histoacuteria das
liacutenguas Satildeo Paulo-SP Paraacutebola Editorial 2006
FERREIRA Aroldo Maacutercio Urbanizaccedilatildeo e arquitetura na regiatildeo da estrada de ferro Goiaacutes
ndash E F Goiaacutes cidade de Pires do Rio um exemplar em estudo 1999 278f Dissertaccedilatildeo
(Mestrado em Histoacuteria das Sociedades Agraacuterias) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Faculdade
de Ciecircncias Humanas e Filosofia Goiacircnia-GO 1999
119
FIORIN Joseacute Luiz A linguagem humana do mito agrave ciecircncia In ______ Linguiacutestica Que eacute
isso Satildeo Paulo-SP Contexto 2013 p 13-43
FRAZER James George The golden bough 3 ed Nova Iorque-USA The MacMillan
Company 1951
GEERTZ Clifford A interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro-RJ Zahar 1973
GUIMARAtildeES Eduardo Semacircntica do acontecimento um estudo enunciativo da designaccedilatildeo
2ordf ed Campinas-SP Pontes 2005
GUIRAUD Pierre A semacircntica Rio de Janeiro-RJ Bertrand Brasil 1986
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello
Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro-RJ Objetiva Versatildeo
monousuaacuterio 30 1 [CD-ROM] 2009
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles Dicionaacuterio Houaiss da liacutengua portuguesa
Rio de Janeiro-RJ Objetivo 2004
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521740ampidtema=16ampsear
ch=goias|pires-do-rio|sintese-das-informacoesgt Acesso em 27 maio 2016
______ Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros Vol II Rio de Janeiro-RJ 1957
IMB ndash Instituto Mauro Borges de estatiacutesticas e estudos socioeconocircmicos Disponiacutevel em
ltwwwimbgogovbrgt Acesso em 29 maio 2016
ISQUERDO Aparecida Negri SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Apontamentos
sobre hidroniacutemia e hidrotoponiacutemia na fronteira entre Mato Grosso do Sul e Minas Gerais In
ISQUERDO Aparecida Negri (Org) As Ciecircncias do Leacutexico Lexicologia Lexicografia
Terminologia Campo Grande-MS Ed UFMS 2010 p 79-98
KRISTEVA Julia Histoacuteria da linguagem Traduccedilatildeo Margarida Barahona Lisboa-Portugal
Ediccedilotildees 70 Lda 2007
LIMA Antoacutenia Pedroso de Intencionalidade afecto e distinccedilatildeo as escolhas de nomes em
famiacutelias de elite de Lisboa In CABRAL Joatildeo de Pina VIEGAS Susana de Matos Nomes
geacutenero etnicidade e famiacutelia Coimbra-Portugal Almedina 2007 p 39-61
LOacutePEZ Laura Aacutelvarez Nomes pessoais e praacuteticas de nomeaccedilatildeo agrave sombra da escravidatildeo In
BORBA Lilian do Rocio LEITE Cacircndida Mara Brito (Orgs) Diaacutelogos entre liacutengua cultura
e sociedade Campinas-SP Mercado das Letras 2013 p 139-171
MAURER JR Theodoro Henrique Linguiacutestica Histoacuterica Alfa Revista de Linguiacutestica Satildeo
Joseacute do Rio Preto-SP v 11 p 19-42 1967
MENEZES Paulo Maacutercio Leal SANTOS Claacuteudio Joatildeo Barreto dos SANTOS Beatriz
Cristina Pereira dos Geoniacutemia e a cartografia histoacuterica um estudo sobre os nomes da
120
hidrografia Fluminense In III SIMPOacuteSIOBRASILEIRO DE CIEcircNCIAS GEODEacuteSICAS
E TECNOLOGIAS DA GEOINFORMACcedilAtildeO 2010 Recife-PE 2010 p 1-8
NOGUEIRA Wilson Cavalcanti Incidente em Pires do Rio Goiacircnia-GO Kelps sd
NOVAIS Simone Francisca de Avicultura Industrial e Reestruturaccedilatildeo Produtiva os
produtores integrados no municiacutepio de Pires do Rio (GO) 2014 150f Dissertaccedilatildeo (Mestrado
em Geografia) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo Catalatildeo-GO 2014
OGDEN Charles Kay RICHARDS Ivor Armstrong O significado do significado um estudo
da influecircncia da linguagem sobre o pensamento e sobre a ciecircncia do simbolismo Rio de Janeiro-
RJ Zahar 1972
PAIXAtildeO DE SOUSA Maria Clara Linguiacutestica Histoacuterica In NUNES Joseacute Horta PFEIFFER
Claudia (Orgs) Introduccedilatildeo agraves Ciecircncias das Linguagens Linguagem Histoacuteria e
Conhecimento Campinas-SP Pontes 2006 p 11-48
PARKIN David The politicx of naming among the Giriama Sociological Review
Monograph 36 p 61-89 1989
PAULA Maria Helena de Rastros de velhos falares leacutexico e cultura no vernaacuteculo catalano
2007 521f Tese (Doutorado em Linguiacutestica e Liacutengua Portuguesa) ndash Universidade Estadual
Paulista Faculdade de Ciecircncias e Letras Campus de Araraquara Araraquara-SP 2007
PEREIRA Renato Rodrigues A toponiacutemia de Goiaacutes em busca da descriccedilatildeo de nomes de
lugares de municiacutepios do sul goiano 2009 204f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Estudos da
Linguagem) ndash Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Centro de Ciecircncias Humanas e
Sociais Campo Grande-MS 2009
PIEL Joseph Consideraccedilotildees gerais sobre toponiacutemia e antroponiacutemia galegas Verba sl v 6
p 5-11 1979 Disponiacutevel em ltdspaceuscesbitstream1034735561pg_007-014_verba6gt
Acesso em 23 mar 2016
PIERCE Charles Sanders Semioacutetica Traduccedilatildeo Joseacute Teixeira Neto Satildeo Paulo-SP
Perspectiva 2005
PLATAtildeO Craacutetilo Lisboa-Portugal Instituto Piaget 2001
RAMOS Ricardo Tupiniquim BASTOS Gleyce Ramos Onomaacutestica e possibilidades de
releitura da histoacuteria Revista Augustus Rio de Janeiro-RJ ano 15 n30 p 86-92 2010
ROCHA Juacutelio Ceacutesar Barreto GALVAtildeO Elis Monique Vasconcelos GONCcedilALVES
Mauriacutecio Costa Onomaacutestica uma ciecircncia para a autoidentificaccedilatildeo de Rondocircnia Revista
Pesquisa amp Criaccedilatildeo (UNIR) Porto Velho-RO v 10 n 1 p 25-34 janjun 2011 Disponiacutevel
em lthttpwwwperiodicosunirbrindexphppropesqarticleviewFile405440gt Acesso em
10 jun 2016
SAMPAIO Theodoro O Tupi na geografia nacional Salvador-BA Secccedilatildeo Graphica da
Escola de Aprendizes Artificies 1928
121
______ O Tupi na Geographia Nacional Memoria lida no Instituto Histoacuterico e Geographico
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo-SP Typ da Casa Eclectica 1901
SAPIR Edward A Linguagem Satildeo Paulo-SP Perspectiva 1980
______ Linguiacutestica como ciecircncia Rio de Janeiro-RJ Livraria Acadecircmica 1969
SAUSSURE Ferdinand de Curso de Linguiacutestica Geral 30ordf ed Satildeo Paulo-SP Cultrix 2008
SIQUEIRA Gisele Martins AGUIAR Maria Sueliacute de Linguiacutestica histoacuterica comparativa e
formaccedilatildeo do leacutexico da liacutengua portuguesa In II Simpoacutesio Nacional de Letras e Linguiacutestica I
Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica Linguagens Histoacuteria e Memoacuteria (25 anos
do curso de Letras Campus Catalatildeo) Catalatildeo-GO p 381-394 2011
______ Campos leacutexicos dos falares rurais de Goiaacutes Mato Grosso Minas Gerais e Satildeo
Paulo sd Disponiacutevel em
lthttpwwwsbpcnetorgbrlivro63raconpeexmestradotrabalhos-mestradomestrado-gisele-
martinspdfgt Acesso em 01 fev 2016
SIQUEIRA Jacy Um contrato singular e outros ensaios de Histoacuterias de Goiaacutes Goiacircnia-
GO Kelps 2006
SIQUEIRA Kecircnia Mara de Freitas O leacutexico tupi na nomeaccedilatildeo dos lugares goianos 2015
Mimeografado
______ Toponiacutemia Kalunga aspectos da inter-relaccedilatildeo liacutengua povo e territoacuterio Via Litterae
Anaacutepolis-GO n 7 v 1 p 61-75 janjun 2015 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevistauegbrindexphpvialitteraegt Acesso em 15 set 2016
______ Nos trilhos da estrada de ferro reminiscecircncias de motivaccedilotildees toponiacutemicas Revista da
ANPOLL Satildeo Paulo-SP v 1 n 32 p 150-170 2012 Disponiacutevel em
ltwwwanpollorgbrrevistagt Acesso em 10 jun 2015
SILVA Antocircnio Moreira da Dossiecirc de Goiaacutes ndash Enciclopeacutedia Regional um compecircndio de
informaccedilotildees sobre Goiaacutes sua histoacuteria e sua gente Rio de Janeiro-RJ Sindicato Nacional dos
Editores de Livros 2001
SILVA Augusto Soares da Palavras significados e conceitos o significado lexical na mente
na cultura e na sociedade Cadernos de Letras da UFF Dossiecirc Letras e cogniccedilatildeo n 41 p 27-
53 2010 Disponiacutevel em ltwwwuffbrcadernosdeletrasuff41artigo1pdfgt Acesso em 06
maio 2015
SILVA Joseacute Maria da SILVEIRA Emerson Sena da Apresentaccedilatildeo de trabalhos
acadecircmicos 2 ed Petroacutepolis-RJ Vozes 2007
SILVA Tomaz Tadeu da Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais
Petroacutepolis-RJ Vozes 2000
SOARES Francisco Accioli Martins Pontos Histoacutericos de Pires do Rio Goiacircnia-GO Graacutefica
e Editora Piloto 1988
122
SOLIacuteS Gustavo Fonseca La gente pasa los nombres quedan Introduccioacuten en la Toponiacutemia
Lima-Peru Ed Lengua e Sociedad 1997
TIBIRICcedilA Luiz Caldas Dicionaacuterio de topocircnimos brasileiros de origem tupi Santos-SP
Traccedilo Editora 1985
TRASK Robert Lawrence Dicionaacuterio de Linguagem e Linguiacutestica Traduccedilatildeo Rodolfo Ilari
Satildeo Paulo-SP Contexto 2006
WHORF Benjamin Lee Lenguage Pensamiento y Realidad Barcelona-Espanha Barral
Editores 1971
ZAVAGLIA Claacuteudia Metodologia em Ciecircncias da Linguagem Lexicografia In
GONCcedilALVES Adair Vieira GOacuteIS Marcos Luacutecio de Sousa (Orgs) Ciecircncias da linguagem
o fazer cientiacutefico Campinas-SP Mercado das Letras 2012 p 231-264
pois tambeacutem me tornei saacutebio Professora doutora eterna orientadora Kecircnia Mara de Freitas
Siqueira nenhuma palavra eacute capaz de expressar a gratidatildeo que tenho por vocecirc foram anos de
ensinamentos e agora se concretizam com mais esta fase sou e serei eternamente grato por me
apresentar a Toponiacutemia pois ela me levaraacute a mais um degrau no meio acadecircmico Obrigado
por tudo Deus lhe pague
Aos professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem
Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo que muito contribuiacuteram para a construccedilatildeo
desta pesquisa Fabiacuteola Aparecida Sartin Dutra Parreira Almeida Maria Helena de Paula e
Vanessa Regina Duarte Xavier A professora Vivian Regina Orsi Galdino de Souza do
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio
de Mesquita Filhordquo cacircmpus Satildeo Joseacute do Rio Preto-SP obrigado pelos seus vastos ensinamentos
e por permitir que cursasse a disciplina ldquoIntroduccedilatildeo aos Estudos Lexicograacuteficosrdquo Mestres
obrigado pelos ensinamentos e momentos de descontraccedilatildeo e alegria vocecircs foram capazes de
mostrar que o universo da pesquisa tambeacutem se constitui na felicidade e prazer
ldquoTodo trabalho aacuterduo traz proveito mas o soacute falar leva agrave pobrezardquo (PROVEacuteRBIOS
1423) O trabalho dignifica o homem palavras estas do livro da vida a biacuteblia sagrada Minha
vida desde a infacircncia foi pautada no estudo e no trabalho assim todos os trabalhos que tive me
possibilitaram crescer enquanto ser humano e profissional Registro aqui os meus mais sinceros
agradecimentos aos colegas e amigos do Coleacutegio Estadual Professor Ivan Ferreira minha eterna
casa pois foi laacute que tive o prazer em estudar e depois retornar como profissional inclusive ser
gestor deste honrado estabelecimento de ensino Aos colegas e amigos do Instituto Federal
Goiano ndash Campus Urutaiacute obrigado por permitirem dividir com vocecircs este espaccedilo de
conhecimento e aprendizado
A banca examinadora deste trabalho professores Karylleila dos Santos Andrade
Vanessa Regina Duarte Xavier e Alexandre Antoacutenio Timbane registro os meus mais sinceros
agradecimentos pelas valorosas contribuiccedilotildees no Exame de Qualificaccedilatildeo e agora na defesa deste
trabalho Deus lhes pague
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de
Goiaacutes Regional Catalatildeo na pessoa da coordenadora Luciana Borges obrigado por dar
possiblidades que novos pesquisadores se formem no acircmbito dos estudos da linguagem
Enfim sozinho natildeo sou nada sempre necessitarei de outros por isso a todos os que
foram meu alicerce para a concretizaccedilatildeo de mais esta etapa em minha vida algo sonhado haacute
muito tempo receba o meu muito obrigado e Deus lhes pague
ldquoO nome eacute um certo sentido a proacutepria coisa dar
nome agraves coisas eacute conhececirc-las e apropriar-se
delas a denominaccedilatildeo eacute o ato da posse espiritualrdquo
(MIGUEL UNAMUNO)
RESUMO
Esta pesquisa centra-se nos estudos toponiacutemicos e tem como objetivo descrever e analisar a
origemetimologia morfoloacutegica e semanticamente dos topocircnimos da hidrografia da cidade de
Pires do Rio-GO para identificar as relaccedilotildees entre esses designativos de lugares e respectivos
fatores contextuais que por ventura possam conter indiacutecios da motivaccedilatildeo toponiacutemica O
levantamento dos topocircnimos foi feito por meio de documentos oficiais mapas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Instituto Mauro Borges (IBM) numa escala de
1100000 e das cartas topograacuteficas A pesquisa eacute de base documental numa abordagem
qualiquantitativa O meacutetodo da pesquisa eacute o onomasioloacutegico e indutivo parte-se de casos
particulares para uma verdade geral combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica de
estudo das designaccedilotildees com o objetivo de analisar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito
A anaacutelise do corpus da pesquisa deu-se apoacutes o levantamento dos 46 topocircnimos dos cursos
drsquoaacutegua dentre os quais 15 satildeo analisados neste estudo Nesse sentido parte-se do princiacutepio de
que o signo toponiacutemico eacute motivado pois fatores extralinguiacutesticos influenciam o nomeador no
ato de nomear na perspectiva de que a liacutengua recorta a realidade agrave sua maneira (Sapir-Whorf)
sendo que a proacutepria liacutengua eacute um depositaacuterio de cultura assim os topocircnimos revelam fatores
soacutecio-histoacuterico-culturais do lugar que o nomeia A histoacuteria e a geografia do municiacutepio de Pires
do Rio-GO foram fundantes para as anaacutelises que nas bases onomasioloacutegicas e indutivas
evidenciam que o local e suas caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais influenciam o nomeador no ato
do batismo do topocircnimo Perceber as relaccedilotildees de nomeaccedilatildeo e nomeador satildeo fatores que por
meio das classificaccedilotildees taxionocircmicas satildeo revelados sem deixar de perceber tambeacutem que a
origem dos nomes e sua estrutura morfoloacutegica evidencia os fatores contextuais a que da liacutengua
cultura e ambiente estatildeo impregnados no topocircnimo isso tudo agrave vista de quem o designou
Palavras-Chave Toponiacutemia Liacutengua Cultura Pires do Rio Hidrografia
ABSTRACT
This research focuses on the toponymic studies and aims to describe and analyze the origin of
the names morphological and semantic of designatory toponyms of the hydrography of Pires
do Rio-GO city to identify the relations between these designative places and their respective
contextual factors which may by chance contain indications of toponymic motivation The
research of the toponyms was done by means of official documents maps of the Brazilian
Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Mauro Borges Institute (IBM) on a scale of
1 100000 and topographic maps The research is documentary based in a qualitative and
quantitative approach the research method is the onomasiological method combined with other
methods which consists of the study of designations with the purpose of studying the various
names attributed to a concept The analysis of this researchrsquos corpus took place after the survey
of the 46 toponyms of the watercourses from which 15 are analyzed in this study In this sense
it is assumed that the toponymic sign is motivated once extralinguistic factors influence the
nominator in the act of naming in the perspective that the language outlines reality in its own
way (Sapir-Whorf) and the language itself is a depository of culture thus toponyms reveal
socio-historical-cultural factors of the place that names it The history and geography of Pires
do Rio-GO city was the basis for the analyzes which on the onomasiological bases show that
the place and its physical and social characteristics influence the nominator in the moment of
the toponym baptism To perceive naming and nominator relationships are factors that are
revealed through the taxonomic classifications noticing at the same time that the origin of the
names and their morphological structure reveals the contextual factors that are impregnated in
the toponymy of the language culture environment aspects from the point of view of who
appointed it
Keywords Toponymy Language Culture Pires do Rio Hydrography
LISTA DE ABREVIATURAS
ATEGO ndash Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes
ATB ndash Atlas Toponiacutemico Brasileiro
DSG ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito
ETE ndash Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto
FCA ndash Ferrovia Centro Atlacircntica
GO ndash Goiaacutes
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IBM ndash Instituto Mauro Borges
IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano
M ndash Municiacutepio
PEA ndash Populaccedilatildeo Economicamente Ativa
RFFSA ndash Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima
SD ndash Sem data
SE ndash Secccedilatildeo
LISTA DE FICHAS
Ficha 01 ndash Pires do Riohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip67
Ficha 02 ndash Coacuterrego Laranjal89
Ficha 03 ndash Ribeiratildeo Taquaralhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip90
Ficha 04 ndash Ribeiratildeo Cachoeirahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip91
Ficha 05 ndash Coacuterrego Barreiro93
Ficha 06 ndash Coacuterrego Terra Vermelha94
Ficha 07 ndash Coacuterrego Itauacutebi96
Ficha 08 ndash Ribeiratildeo Brumado96
Ficha 09 ndash Rio Corumbaacute98
Ficha 10 ndash Rio do Peixe98
Ficha 11 ndash Rio Piracanjuba99
Ficha 12 ndash Ribeiratildeo Sampaio101
Ficha 13 ndash Ribeiratildeo Bauacute104
Ficha 14 ndash Ribeiratildeo Caiapoacute105
Ficha 15 ndash Ribeiratildeo Marataacute105
Ficha 16 ndash Ribeiratildeo Mucambo106
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 ndash Natureza das Taxionomias87
Graacutefico 2 ndash Taxionomias de Natureza Fiacutesica88
Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural101
Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos108
Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos111
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 ndash Pires do Rio(GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio(GO)74
Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)83
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo44
Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos57
Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Recenseamento 76
Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Contagem 76
Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio(GO) 77
Quadro 6 ndash Os cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO) 78
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO20
I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO 25
11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear 25
12 Liacutengua e Cultura 33
13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes 39
14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica 43
15 Linguiacutestica Histoacuterica 47
II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS 51
21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos 51
212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica 53
22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia 57
III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO 66
31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte 66
32 Pires do Rio geograacutefico 74
33 Os cursos daacutegua 78
IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR81
41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural 84
42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos daacutegua de Pires do Rio-GO 87
421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos88
4211 Fitotopocircnimos89
4212 Hidrotopocircnimos91
4213 Litotopocircnimos93
4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos94
4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos95
4216 Meteorotopocircnimos96
4217 Zootopocircnimos97
422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos100
4221 Antropotopocircnimos101
4222 Ergotopocircnimos103
4223 Etnotopocircnimos104
4224 Sociotopocircnimos106
43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos107
44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos111
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS113
REFEREcircNCIAS 116
20
INTRODUCcedilAtildeO
Ao dar nome a seres e objetos o homem tambeacutem os categoriza jaacute que eacute o ato de nomear
que daacute existecircncia a algo ou algueacutem Eacute por meio do nome que haacute identificaccedilatildeo e principalmente
a diferenciaccedilatildeo dos seres e dos objetos No ato da nomeaccedilatildeo diversos aspectos extralinguiacutesticos
podem influenciar o nomeador isso pode caracterizar especificamente a motivaccedilatildeo que subjaz
a qualquer signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica A motivaccedilatildeo por sua vez eacute reveladora de
inuacutemeros aspectos que estatildeo na base da inter-relaccedilatildeo liacutengua cultura e ambiente pois o nome
proacuteprio de lugar como fato da liacutengua identifica e guarda uma significaccedilatildeo precisa oriunda de
aspectos fiacutesicos ou culturais Desta forma busca-se mediante o estudo dos designativos dos
cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO descrever essa relaccedilatildeo (liacutengua cultura e
ambiente) Entende-se assim que um rio um riacho um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que
uma vez nomeados passam a carregar as inuacutemeras memoacuterias do lugar
Em decorrecircncia disso abrem-se possibilidades de inter-relacionar aacutereas do saber
humano com vista a estabelecer algum viacutenculo epistemoloacutegico a fim de proporcionar novos
olhares sobre um objeto jaacute descrito e analisado por outra aacuterea do conhecimento a geografia
mas restrito a um uacutenico niacutevel de anaacutelise linguiacutestica Isso leva a considerar os aspectos da
linguagem dentro de uma visatildeo interdisciplinar que pode trazer entre tantas contribuiccedilotildees o
fato de entendecirc-los na totalidade como em uma rede de relaccedilotildees Em outras palavras oferece
a possibilidade de analisar os fatos linguiacutesticos de maneira holiacutestica uma vez que os fatores
envolvidos na interaccedilatildeo devem ser concebidos como um todo formado por componentes que se
relacionam entre si
Entrecruzar as aacutereas de geografia e da linguiacutestica eacute um trabalho que jaacute se tem feito e
alguns estudiosos como eacute o caso de Menezes e Santos (2007 apud Menezes Santos Santos
2010) tratam a toponiacutemia na geografia como geoniacutemia Para Andrade (2010 p 105-106)
Natildeo se pode pensar em toponiacutemia desvinculada de outras ciecircncias como
histoacuteria geografia antropologia cartografia psicologia e a proacutepria
linguiacutestica Deve ser pensada como um complexo linguiacutestico-cultural um fato
do sistema das liacutenguas humanas Faz parte de uma ciecircncia maior que se
subdivide em toponiacutemia e antroponiacutemia
Assim esta pesquisa eacute relevante para a aacuterea dos estudos da linguagemlinguiacutesticos como
para a geografia sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo histoacuterico-cultural sobre a cidade de
Pires do Rio-GO e levado a conhecimento puacuteblico
21
Fazer esse estudo acerca da hidrografia da cidade de Pires do Rio eacute elementar elencando
natildeo soacute estudos semacircnticos lexicais origemetimologia dos termos mas tambeacutem soacutecio-
histoacuterico-culturais de um povo Algo ainda se faz pertinente na definiccedilatildeo do problema pois foi
assim que surgiu o interesse por este estudo em conversas informais com pessoas da cidade
obtive respostas que aguccedilaram esta pesquisa pois proacuteximo de Pires do Rio-GO cerca de uns
3 km da cidade haacute um determinado ribeiratildeo o qual a comunidade local denomina de Pedro
Teixeira mas na verdade esse nome eacute dado agrave ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo e foi construiacuteda
pelo fazendeiro Sr Pedro Teixeira embora o nome que se apresenta na carta topograacutefica seja
ribeiratildeo Sampaio
Diante da problematizaccedilatildeo qual a origemetimologia dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da
cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do
lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo A partir disso centra-se o
nosso estudo em descrever e analisar a origemetimologia dos termos a morfologia e a
semacircntica investigando e verificando os topocircnimos e as relaccedilotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo
de Pires do Rio-GO
Preliminarmente trabalha-se com a seguinte hipoacutetese de pesquisa pelo seu caraacuteter
motivado o signo toponiacutemico possibilita reconhecer fatores vinculados agrave motivaccedilatildeo que subjaz
agrave escolha dos nomes de lugares o que pode possibilitar o levantamento de fatores soacutecio-
histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua
como iacutendice da estreita relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura A toponiacutemia dos cursos drsquoaacutegua de Pires
do Rio-GO incorpora caracteriacutesticas sociais linguiacutesticas e culturais da regiatildeo a que pertence
Este eacute um dos embates fundantes de nosso estudo assim espera-se com esta pesquisa
cartografar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO com base na
metodologia do ATB (Atlas Toponiacutemico Brasileiro) como sugerido por Dick (1990 2004)
Posto isso ao final responderemos agraves perguntas de pesquisa jaacute mencionadas
anteriormente e ainda contribuiremos com as pesquisas na aacuterea da Onomaacutestica que estatildeo
desenvolvendo-se em Goiaacutes Conveacutem mencionar tambeacutem que uma das contribuiccedilotildees desta
pesquisa aleacutem de revisitar a histoacuteria e a cultura de uma regiatildeo eacute a de auxiliar na construccedilatildeo do
Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes ndash ATEGO
Assim o objetivo da pesquisa constitui-se basicamente em descrever e analisar os
topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua e de outros elementos hidrograacuteficos da regiatildeo do
municiacutepio de Pires do Rio-GO observando noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de
natureza fiacutesica e de natureza antropocultural Para tanto eacute necessaacuterio evidenciar os fatores que
constituem a motivaccedilatildeo que subjaz agrave escolha do nome do lugar o que requer a identificaccedilatildeo de
22
fatos sociais culturais histoacutericos elementos geograacuteficos (quando pertinente) e outras
motivaccedilotildees de diferentes naturezas
De uma maneira peculiar os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo i) remapear os
cursos hiacutedricos mediante o elenco de seus topocircnimos para cartografar os mapas da bacia
hidrograacutefica e dos topocircnimos seguindo a metodologia do Projeto ATB ii) verificar mediante
a anaacutelise linguiacutestica dos topocircnimos a motivaccedilatildeo referente agrave cultura e agrave histoacuteria e
principalmente aos aspectos fiacutesicos dos lugares que iniciaram o processo de nomeaccedilatildeo dos rios
coacuterregos ribeirotildees e quedas drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO (evidenciando o viacutenculo
liacutengua ambiente e cultura) iii) de alguma forma contribuir para o desenvolvimento dos estudos
toponiacutemicos em Goiaacutes
A metodologia consiste de uma pesquisa de natureza documental de abordagem
qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites
e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos puacuteblicos (mapas e cartas
topograacuteficas) e o meacutetodo da pesquisa eacute o de induccedilatildeo com ecircnfase para a observaccedilatildeo do fazer
onomasioloacutegico combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica especialmente o Woumlrter
und Sachen (palavras e coisas) O meacutetodo onomasioloacutegico e indutivo se constitui do estudo das
designaccedilotildees com o objetivo de estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Usando
esse meacutetodo pode-se investigar toda ou pelo menos parte da cultura popular de um local e
priorizar aspectos sincrocircnicos ou histoacutericos se necessaacuterio for Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os
aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos lugares
Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de dissertaccedilatildeo de Mestrado sobre Os
cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio anaacutelise das motivaccedilotildees toponiacutemicas produzida no acircmbito do
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem Universidade Federal de Goiaacutes ndash
Regional Catalatildeo que focaliza os topocircnimos hiacutedricos do municiacutepio de Pires do Rio
Desta maneira este trabalho se estrutura em quatro capiacutetulos organizados de forma a
abranger os resultados desta pesquisa que articula por meio da linguagem quesitos histoacutericos
geograacuteficos e culturais
Assim no capiacutetulo I O nome e a atividade de nomeaccedilatildeo satildeo apresentadas
consideraccedilotildees referentes ao nome e ao ato de nomear no sentido de reformular questotildees teoacutericas
necessaacuterias ao levantamento de dados e agrave construccedilatildeo do corpus bem como agrave descriccedilatildeo dos
topocircnimos que designam os elementos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas drsquoaacutegua) do municiacutepio
de Pires do Rio-GO Para tanto o capiacutetulo traz uma revisatildeo dos conceitos de nome (comum
proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes tanto no sistema linguiacutestico
como em relaccedilatildeo agrave cultura e estabelecendo as relaccedilotildees de liacutengua e cultura pois a liacutengua
23
transporta a cultura no tempo e recorta agrave realidade agrave sua maneira Eacute necessaacuterio aqui trazer as
discussotildees teoacutericas acerca da toponiacutemia e do signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica que
sustentam a nossa pesquisa Ainda fazemos uma retomada do surgimento e desdobramento da
Linguiacutestica Histoacuterica pois eacute a partir dela que satildeo criados os meacutetodos de pesquisa os quais
contribuem para a aacuterea de estudo
O capiacutetulo II A metodologia da pesquisa e seus desdobramentos eacute praticamente uma
extensatildeo do primeiro porque procura reavaliar alguns meacutetodos usados em pesquisa onomaacutestica
com o objetivo de coadunar teoria meacutetodo e procedimentos de pesquisa
Neste capiacutetulo eacute possiacutevel rever algumas questotildees sobre os meacutetodos da linguiacutestica o
meacutetodo onomasioloacutegico que investiga as relaccedilotildees de significado e referecircncias partindo das
designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Ainda eacute
apresentada uma siacutentese do comparativismo e do meacutetodo Woumlrter und Sachen de Hugo
Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) pois de acordo com Bassetto (2001)
pode-se verificar pontos em comum que compartilham com o meacutetodo onomasioloacutegico Ao
enfatizar questotildees de ordem semacircntica das palavras ressalta-se a realidade que elas designam
para esses autores a verdadeira etimologia da palavra estaacute no conhecimento dessa realidade
Busca-se assim instruir sobre a necessidade de conhecer se possiacutevel o objeto designado por
um nome para que o significado possa ser explicitado adequadamente
Dados histoacutericos e geograacuteficos referentes agrave capital da estrada de ferro Pires do Rio
compotildeem o terceiro capiacutetulo A capital da estrada de ferro Pires do Rio de modo a traccedilar em
linhas gerais a histoacuteria da fundaccedilatildeo do municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XX em decorrecircncia da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz e da Estaccedilatildeo Feacuterrea Pires do Rio em 09 de novembro de
1922 A importacircncia deste municiacutepio se deve agrave estrada de ferro e obviamente aos primeiros
habitantes que para caacute acorreram acreditando no desenvolvimento da antiga ldquoTeteia do
Corumbaacuterdquo
No capiacutetulo quarto A toponiacutemia e suas relaccedilotildees com o lugar apresentamos a anaacutelise
dos dados as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural e as fichas lexicograacuteficas-
toponiacutemicas dos 15 topocircnimos analisados de acordo com os estudos de Dick (1992)
juntamente com a origem das liacutenguas e estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos daiacute procedemos
agraves anaacutelises das classificaccedilotildees toponiacutemicas que estatildeo presentes nos designativos dos cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO estabelecendo as relaccedilotildees motivacionais e semacircnticas
do topocircnimo com o local nomeado
Na sequecircncia satildeo apresentadas as Consideraccedilotildees Finais que retomam os resultados
obtidos ao teacutermino da pesquisa pautados nos objetivos e perguntas que orientaram este estudo
24
E por fim seguem as Referecircncias que sustentaram a parte teoacuterica e a construccedilatildeo do corpus
coletado
25
I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO
O conhecimento dos nomes natildeo eacute negoacutecio de
importacircncia somenos
(PLATAtildeO 2001)
Este capiacutetulo tem o objetivo de tecer de forma mais geral consideraccedilotildees acerca do nome
e do ato de nomear para reformular questotildees teoacutericas necessaacuterias ao levantamento de dados
para a construccedilatildeo do corpus e descriccedilatildeo dos hidrocircnimos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas
drsquoaacutegua) do municiacutepio de Pires do Rio-GO Para tanto os itens a seguir trazem uma revisatildeo dos
conceitos de nome (comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes
tanto no sistema linguiacutestico como em relaccedilatildeo agrave cultura jaacute que representam inuacutemeros aspectos
que culminam em certos criteacuterios para a nomeaccedilatildeo ou nominaccedilatildeo revelando em certo sentido
especificidades dessa cultura que satildeo evidenciadas na nomeaccedilatildeo Ao dar um nome a um objeto
ou a um lugar natildeo se reduz apenas a indicar mas a classificar situar identificar e sobretudo
uma vez categorizado inscreve-se tambeacutem em um sistema cognitivo permeado por essa mesma
cultura
11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear
O nome eacute a parte que caracteriza a existecircncia de algo ou algueacutem sem a especificidade
do nome o objeto ou a pessoa natildeo eacute identificada Aliaacutes em muitas situaccedilotildees o nome consolida
a existecircncia do objeto que passa a ldquoexistirrdquo como tal em decorrecircncia de ter um nome ou seja
o falante pode perceber no mundo apenas aquilo que conhece pelo nome O nome estaacute presente
em todas as esferas do desenvolvimento da humanidade Eacute parte constitutiva do proacuteprio ser
humano que se reconhece e se afirma face ao nome que carrega eacute tambeacutem o nome que lhe
rompe o anonimato e lhe confere de certa forma uma identidade
Segundo Silva (2000) eacute o nome que diferencia os seres e os objetos do mundo
Identidade e diferenccedila ocorrem simultaneamente como produto de um mesmo processo o da
identificaccedilatildeo Pode-se afirmar que depois de nomeado o objeto passa a ser identificado
tambeacutem pelas diferenccedilas que possui em relaccedilatildeo agravequilo que natildeo eacute ou melhor eacute diferenciado
face aos demais elementos do mundo extralinguiacutestico conferindo-lhe existecircncia Tem um nome
porque existe tornou-se conhecido e eacute reconhecido como elemento cultural importante para a
continuidade de uma populaccedilatildeo como um dos milhares de traccedilos que a caracteriza e desta
26
forma ldquoo processo de nomeaccedilatildeo eacute uma forma pela qual a sociedade cria os seus membros agrave sua
imagemrdquo (CABRAL 2007 p 85)
E em Craacutetilo Platatildeo narra um diaacutelogo entre Demoacutestenes e Craacutetilo acerca da justeza dos
nomes debates no qual Soacutecrates aponta para ambas as possibilidades isto eacute para os socraacuteticos
tanto se pode entender os nomes como vinculados agrave coisa como podem ser vistos como
inteiramente sem elo com as coisas do mundo Platatildeo (2001 p 48) justifica que o ato de nomear
era visto como uma pressuposiccedilatildeo da existecircncia de algo assim ldquoas coisas devem ser nomeadas
como lhes pertence por natureza serem nomeadas e por meio do que devem secirc-lo e natildeo como
noacutes queremos e assim faremos e nomearemos melhor mas de outra maneira natildeordquo
A nomeaccedilatildeo eacute assim uma atividade bastante significativa para o ser humano e se
constitui de uma accedilatildeo complementar do modo como determinada populaccedilatildeo entende o meio em
que vive essa eacute a linha de pensamento tanto de Dick (1990) como de outros estudiosos como
Basso (1988) Langacker (2002) Weisgerber (1977) Wierzbicka (1997) e Worf (1971) dos
fatos da linguagem como evidencia a assertiva que segue
Apreensatildeocompreensatildeo e transmissatildeoparticipaccedilatildeo de um dado qualquer do
saber humano satildeo atuantes de uma mesma e complexa evidecircncia relacional ndash
o ato comunicativo ndash que corporifica em sua expressividade um aglomerado
de situaccedilotildees liacutenguo-soacutecio-psiacutequicas Nele estaacute manifesto ainda que de modo
impliacutecito o registro pelo qual se concretizou a ldquoassimilaccedilatildeo do
mundordquo atraveacutes do coacutedigo de linguagem vivenciado por determinada
comunidade linguiacutestica (DICK 1990 p 29)
Natildeo eacute equivocado afirmar que o nome corporifica aquilo que determinada comunidade
assimilou de seu meio circundante mediante relaccedilotildees estabelecidas entre a liacutengua que
possibilita a representaccedilatildeo daquilo que foi evidenciado e as impressotildees sociopsiacutequicas oriundas
dos objetos do mundo que se tornaram salientes aos olhos do nomeador Assim recebe um
nome tudo aquilo que de uma forma ou de outra tornou-se um item da cultura seja um acidente
fiacutesico-natural (um rio uma espeacutecie botacircnica) ou um item criado culturalmente Em todas as
sociedades conhecidas haacute referecircncia aos nomes e consequentemente agrave accedilatildeo de nomear Muitas
vezes essa atividade humana eacute revestida de mitos e rituais que conferem ao nome poderes
maacutegicos ou sobre-humanos
Nas sociedades primitivas de acordo com Cunha (2004) um nome pode valorar o
sagrado ou o ritual isso pode ocorrer quando acontece a mudanccedila de nome (candombleacute e igreja
catoacutelica) desta forma ao nomear algueacutem eacute tocar-se na personalidade da pessoa e ateacute as partes
da escrita que compotildeem o nome satildeo carregadas de simbologia e forccedilas sobrenaturais Cunha
27
(2004 p 220) ainda acrescenta que ldquonas mais diversas culturas natildeo ter nome eacute natildeo existir
nomear eacute instituirrdquo
Nesse processo de instituir dos rituais de passagem eacute possiacutevel entender que a atividade
de nomeaccedilatildeo adveacutem de fatores que propiciam uma motivaccedilatildeo que resulta na escolha de um
nome No ritual de escolha de um novo Papa (igreja catoacutelica) ou de um novo membro do
candombleacute o indiviacuteduo fica recluso por alguns dias e no momento do ritual apresenta seu
novo nome agrave comunidade fato esse que reside de alguma forma na escolha do novo nome
Desta forma o nome eacute escolhido de acordo com suas caracteriacutesticas psicofiacutesicas e tambeacutem com
as que ele deseja ter a partir do momento de escolha do novo nome
Conforme Biderman (1998) muitas satildeo as culturas que acreditam que o nome estaacute
ligado agrave essecircncia da pessoa Nas culturas arcaicas em geral os nomes atribuiacutedos agraves pessoas
tinham um significado que indicava agraves vezes a vocaccedilatildeo ou o destino do indiviacuteduo o que
corrobora a justeza dos nomes nos rituais de passagem e em outras atividades de nomeaccedilatildeo
O ato de nomear se constitui tambeacutem como algo divino Para Biderman (1998 p 85)
ldquoo gesto criador de Deus identifica-se com esta palavra ontoloacutegica essencialmente divina O
que noacutes homens somos e o que sabemos nasce dessa revelaccedilatildeo primordial da palavra criadora
do gesto divino de dizerrdquo Cunha (2004) evidencia que a palavra jaacute eacute reveladora do poder desde
a antiguidade e isso se expressa de forma clara por meio da biacuteblia sagrada que em vaacuterios textos
conclama que o poder eacute revelado por meio da palavra como percebe-se no livro de Gecircnesis
capiacutetulo I versiacuteculos 19 e 20
19 Tendo pois o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos
e todas as aves dos ceacuteus levou-os ao homem para ver como ele os havia de
chamar e todo o nome que o homem pocircs aos animais vivos esse eacute o seu nome
verdadeiro 20 O homem pocircs nomes a todos os animais a todas as aves dos
ceacuteus e a todos os animais dos campos mas natildeo se achava para ele uma ajuda
que lhe fosse adequada (BIacuteBLIA 1995 p 51)
Dessa forma o cristianismo explica a atividade humana de nomeaccedilatildeo Isso evidencia
que todos os objetos recebem um nome (comum) mediante uma accedilatildeo deliberada de escolha
individual (como em Gecircnesis) ou coletiva Esse nome recebe uma funccedilatildeo de significaccedilatildeo ou
melhor passa a significar algo no mundo sua referecircncia A nomeaccedilatildeo configura-se como um
processo operacional de conhecer e denominar coisas Conforme De Lastra e Garcia (sd apud
DICK 1990) para ser denominado o mundo externo deve antes passar a ser interno (iacutentimo)
Na relaccedilatildeo das praacuteticas de nomeaccedilatildeo segundo Loacutepez (2013) ocorrem fatores internos
e externos da seguinte forma i mudanccedilas internas quando elementos do sistema toponiacutemico
28
que designa lugares passam para o sistema antroponiacutemico que designa pessoas ii mudanccedilas
externas ou forccediladas como as que ocorreram na Europa entre os seacuteculos XVIII e XIX e
obrigaram os judeus a adotarem nomes cristatildeos e abandonarem os seus de origem hebraica
Para os judeus assim como para muitos povos perder o nome eacute o mesmo que perder a histoacuteria
a identidade e a famiacutelia Desta forma as autoridades europeias acreditavam que os judeus
deixariam (perderiam) as suas identidades e constituiriam uma nova uma identidade europeia
Conveacutem ressaltar que o referente1 nem sempre figurou entre os elementos constitutivos
do signo linguiacutestico No Curso de Linguiacutestica Geral Ferdinand Saussure (2008) define o signo
linguiacutestico como a junccedilatildeo de uma imagem acuacutestica (significante) a um (ou vaacuterios) conceitos
(significado) Saussure natildeo inclui nessa definiccedilatildeo a coisa nomeada o objeto do mundo ou em
outros termos o referente
Dito de outro modo os gestos epistemoloacutegicos de Saussure (2008) ao definirem a
liacutengua como objeto proacuteprio de estudo e tambeacutem no sentido de imprimirem cientificidade aos
estudos linguiacutesticos excluem o referente construindo assim um domiacutenio especiacutefico para a
Linguiacutestica diferente de outras aacutereas que tambeacutem se atecircm aos estudos da linguagem humana
A liacutengua para o mestre suiacuteccedilo eacute um sistema de signos que por sua vez abarca entidades
psiacutequicas constituiacutedas por duas faces significante e significado Essas duas faces do signo
linguiacutestico natildeo guardam poreacutem entre si qualquer relaccedilatildeo loacutegica nenhum viacutenculo ou melhor
a relaccedilatildeo entre significante e significado eacute marcada pelo seu caraacuteter imotivado arbitraacuterio para
usar os termos saussurianos Desta forma Kristeva (2007 p 24) afirma que ldquoa palavra
lsquoarbitraacuteriorsquo significa mais exatamente lsquoimotivadorsquo quer dizer que natildeo haacute nenhuma necessidade
natural ou real que ligue o significante e o significadordquo
O nome sempre suscitou uma questatildeo ontoloacutegica2 ou melhor uma questatildeo de
existecircncia A nomeaccedilatildeo eacute apenas uma das funccedilotildees da linguagem mas tem um papel importante
pois o significado dos nomes organiza e classifica as formas de perceber a realidade aleacutem de
estar ligado diretamente a uma cultura ou comunidade Assim para Sapir (1980) a liacutengua
recorta a realidade agrave sua maneira eacute por meio dela que se evidencia a relaccedilatildeo linguagem
pensamento e cultura Desta forma ldquoas palavras da liacutengua significam ao funcionarem no
acontecimento Este funcionamento recorta politicamente o realrdquo (GUIMARAtildeES 2005 p 82)
Nessa perspectiva eacute possiacutevel dizer que a nomeaccedilatildeo ganha relevo quando o assunto eacute a relaccedilatildeo
linguagem e realidade
1 Em um sistema triaacutedico significante significado e o referente 2 Ontoloacutegico ldquoAdj 1 relativo a Ontologia 2 que trata do ser humano na sua essecircncia na sua globalidaderdquo Verbete
inscrito em (BORBA 2004 p 992)
29
Guiraud (1986) chama atenccedilatildeo para a forccedila criadora da linguagem que resulta em uma
funccedilatildeo semacircntica dinacircmica e volaacutetil orientada principalmente por fatores especiacuteficos de uma
dada cultura Assim
[] a motivaccedilatildeo eacute uma forccedila criadora inerente agrave linguagem social que eacute um
organismo vivo de origem empiacuterica somente depois que a palavra eacute criada e
motivada (naturalmente ou intralinguisticamente) eacute que as exigecircncias da
funccedilatildeo semacircntica acarretam um obscurecimento dessa motivaccedilatildeo etimoloacutegica
que pode aliaacutes ao se apagar trazer uma alteraccedilatildeo de sentido (GUIRAUD
1986 p 31)
Motivaccedilatildeo esta que com o decorrer do tempo pode vir a se tornar obscura pelo
distanciamento temporal do fato que lhe deu origem Pode inclusive o nome sofrer inuacutemeras
alteraccedilotildees de sentido sem nenhum viacutenculo semacircntico com o significado original nem com o
fenocircmeno de sua ocorrecircncia primeira No entanto eacute forccediloso ressaltar mais uma vez que o ato
de nomear eacute motivado conforme Guiraud (1986) a nomeaccedilatildeo eacute inerente agrave linguagem e decorre
da relaccedilatildeo entre homem e ambiente ao reconhecer os objetos do mundo extralinguiacutestico
No que tange agrave motivaccedilatildeo Biderman (1998) reafirma a noccedilatildeo de que o nome natildeo eacute
arbitraacuterio ele tem um viacutenculo de essecircncia com a coisa ou o objeto que designa Assim o homem
primitivo acredita que seu nome tem parte vital com o seu ser Nas histoacuterias que nos satildeo
relatadas dos povos primitivos em relaccedilatildeo aos nomes podemos observar que para alguns
quando se sabia o nome da pessoa o inimigo poderia fazer magia negra com ele Essas relaccedilotildees
culturais com os nomes satildeo recorrentes em vaacuterios paiacuteses e histoacuterias da antiguidade claacutessica
De acordo com Frazer (1951) em vaacuterias tribos primitivas o nome era considerado como
uma realidade e natildeo uma convenccedilatildeo artificial podendo servir de intermeacutedio para fazer atuar a
magia sobre a pessoa como se fosse parte do indiviacuteduo como cabelo unha ou qualquer outra
parte fiacutesica Essas crendices ou mitos acerca do nome se estendem por vaacuterias partes do mundo
como para os iacutendios da Ameacuterica do Norte o nome eacute como uma parte de seu corpo e o mau
tratamento (uso) dele pode trazer ferimento fiacutesico Assim o nome natildeo deve ser pronunciado
podendo no ato de sua pronunciaccedilatildeomaterializaccedilatildeo revelar as propriedades reais da pessoa que
o usa e assim tornaacute-la vulneraacutevel perante os seus inimigos
Nas narrativas das sociedades relatadas por Frazer (1951) o homem do povo esquimoacute
recebe um novo nome ao chegar agrave velhice na Aacutefrica as pessoas podem ateacute receber uma duacutezia
de nomes no decorrer de sua vida e em alguns casos no iniacutecio de sua vida recebem dois nomes
um nome de preto usado em casa e junto agrave famiacutelia e outro nome de branco usado na escola e
na sociedade os egiacutepcios tambeacutem recebiam dois nomes um nome pequeno que era bom e
30
usado em famiacutelia e um nome grande que era mau e dissimulado julgamos esse uacuteltimo ser
usado na sociedade
Segundo Frazer (1951) para os Celtas o nome era sinocircnimo da alma e da respiraccedilatildeo
Entre os Yuiacutens (sul da Austraacutelia) e outros povos o pai revela o nome ao filho no momento da
iniciaccedilatildeo e poucas pessoas o conhecem Tambeacutem na Austraacutelia as pessoas deixam de usar o
nome e passam a chamar um ao outro de primo tio sobrinho ou irmatildeo Nessas relaccedilotildees as
historietas dos nomes vatildeo estar sempre entrelaccediladas aos fatores culturais das comunidades
Em muitas culturas Frazer (1951) relata que a natildeo pronunciaccedilatildeo de nomes era tabu
como em Cafres onde as mulheres natildeo podiam pronunciar o nome de seus maridos ou sogros
nem qualquer palavra que se assemelhasse aos nomes Tambeacutem natildeo era permitido pronunciar
nomes de animais plantas reis deuses personagens sagrados considerados perigosos pois isso
seria como invocar o proacuteprio perigo
Frazer (1951) revela uma histoacuteria ocorrida no Egito com o deus Raacute que tinha vaacuterios
nomes mas o seu verdadeiro nome que lhe dava poder sobre os outros deuses natildeo era conhecido
e ao ser enfeiticcedilado pela invejosa deusa Iacutesis ndash picado por uma serpente ndash cujo veneno soacute seria
retirado de seu corpo no momento em que ele revelasse o seu verdadeiro nome Raacute lamenta-se
ldquoEu sou aquele que tem muitos nomes e muitas formas O meu pai e minha matildee disseram-me
o meu nome estaacute escondido no meu corpo desde o meu nascimento para que natildeo se possa dar
nenhum poder maacutegico a algueacutem que me queira lanccedilar uma maldiccedilatildeordquo (FRAZER 1951 apud
KRISTEVA 2007 p 64) O veneno tomou conta do corpo de Raacute e jaacute natildeo conseguia andar Iacutesis
continuou a atormentar o deus e o veneno foi penetrando profundamente e queimava seu corpo
Entatildeo Raacute consentiu que Isis buscasse o seu verdadeiro nome no iacutentimo do seu ser assim ela
fez arrebatou-lhe o verdadeiro nome e ordenou que o veneno que o queimava caiacutesse por terra
e libertasse o deus pois o que ela queria jaacute havia conseguido Acreditava-se assim que quem
conhecesse o verdadeiro nome de um deus (algueacutem) possuiria a sua essecircncia o seu verdadeiro
ser e ateacute o seu poder
Segundo Loacutepez (2013) os nomes variam conforme o momento e o local em que satildeo
escolhidos a pessoa que os escolhe e as normas para o uso Podem indicar gecircnero filiaccedilatildeo
origem geograacutefica religiatildeo e etnia Haacute tambeacutem inuacutemeras crenccedilas de que existe uma relaccedilatildeo
entre a pessoa seu nome e o significado deste inclusive muitos nomes satildeo uacutenicos
Segundo Cunha (2004 p 226) ldquoO nome proacuteprio topocircnimo ou antropocircnimo participa
da literariedade do texto podendo consequentemente enriquecer-se de valores semacircnticos
denotativos e conotativos da mesma forma que as outras palavras que o estruturamrdquo jaacute que
31
quando nomeamos atribuiacutemos simultaneamente um predicado um complemento ao nome uma
caracteriacutestica um adjetivo
Em Guimaratildees (2005) o ato de dar nome eacute tambeacutem um ato de identificar um indiviacuteduo
bioloacutegico como tal para o Estado e para a sociedade e tornaacute-lo sujeito De acordo com esse
ponto de vista ganha interesse o funcionamento determinativo da construccedilatildeo do nome proacuteprio
da pessoa no qual segundo Guimaratildees (2005 p 52) ldquohaacute uma relaccedilatildeo particular entre a
nomeaccedilatildeo e o objeto nomeado que se apresenta por uma materialidade histoacuterica e natildeo fiacutesicardquo
A nomeaccedilatildeo eacute por causa da predicaccedilatildeo um ato que diferencia sendo tambeacutem um ato
que identifica De acordo com Lima (2007 p 51)
o acto (sic) de nomear eacute um dos primeiros momentos de inserccedilatildeo da pessoa
numa categoria social de geacutenero Mas ainda mostra-nos que neste contexto
social nomear eacute uma das formas mais importantes de construir geacutenero e
pessoa dentro da famiacutelia
A inserccedilatildeo da pessoa na sociedade por meio de seu nome eacute uma relaccedilatildeo hierarquizada
construiacuteda agrave luz de valores tanto sociais como familiares Como jaacute sabemos o nome eacute uma
forma de identidade de revelar o que o outro natildeo eacute assim nomear eacute um aspecto crucial da
conversatildeo de qualquer um em algueacutem de acordo com Geertz (1973)
Na conversatildeo mencionada Parkin (1989) justifica que nomear pode ser uma forma de
atribuir direitos3 que daacute autoridade tanto ao nomeado quanto ao nomeador ou uma forma de
objetivaccedilatildeo por meio da escolha de um nome em particular que estabeleccedila controle sobre o
nomeado Nessas situaccedilotildees pode ocorrer que as pessoas antecipem essas consequecircncias
escolhendo ou controlando a atribuiccedilatildeo do seu proacuteprio nome ou em alguns casos como
acontece de o nome possuir uma carga negativa perante a sociedade e a pessoa recorre ao poder
judiciaacuterio para requerer a troca de seu nome
Enfim nomear eacute se apropriar do real eacute nessa perspectiva de nomear e apoderar fato
este que se daacute por meio da linguagem e de acordo com isso Kristeva (2007 p 17) pontua que
Se a linguagem eacute mateacuteria do pensamento eacute tambeacutem o proacuteprio elemento da
comunicaccedilatildeo social Natildeo haacute sociedade sem linguagem tal como natildeo haacute
sociedade sem comunicaccedilatildeo Tudo o que se produz como linguagem tem lugar
na troca social para ser comunicado
3 Livre traduccedilatildeo para Entitling
32
Eacute nessa troca social que acontece por meio da linguagem a nomeaccedilatildeo Assim eacute
necessaacuterio destacar que os nomes proacuteprios de lugares ndash topocircnimos ndash passam a estabelecer
relaccedilotildees materializadas por meio do uso da linguagem Sabe-se que o nome designado eacute
construiacutedo simbolicamente isso porque a linguagem que o constroacutei funciona por estar exposta
ao real e constituiacuteda materialmente pela histoacuteria local a qual motiva o leacutexico topocircnimo e eacute
nesse momento que ele nasce e se institui naquele lugar
De acordo com Biderman (1998) eacute por meio da palavra que as entidades da realidade
passam a ser conhecidas nomeadas e identificadas Essa realidade cria o seu acircmbito
significativo que nos eacute revelado pela linguagem que tambeacutem eacute a responsaacutevel por elencar os
fatores soacutecio-histoacuterico-cultural que permeiam a realidade Aqui no nosso caso esses fatores
satildeo trazidos por meio do leacutexico topocircnimo mais especificamente no ato de nomear um
designativo de lugar
Conforme Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares seja
em homenagem a algueacutem como eacute o caso da cidade de Pires do Rio que recebeu o nome o
patroniacutemico4 do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas (1919-1922) do governo de Epitaacutecio
Pessoa Dr Joseacute Pires do Rio Haacute lugares que recebem o nome em razatildeo de caracteriacutesticas
geograacuteficas Alguns nomes satildeo opacos conceito de Piel (1979) em contraposiccedilatildeo aos
transparentes pois natildeo apresentam relaccedilatildeo alguma com o referente nesse caso haacute de se fazer
uma busca histoacuterica para chegar agrave relaccedilatildeo motivacional
O homem tem a capacidade de associar palavras a conceitos E no ato de nomear
acontece a motivaccedilatildeo que estaacute ligada aos fatores cognitivos Assim o leacutexico que a ele eacute
determinado por meio do uso da linguagem se transporta no tempo sendo capaz de revelar os
fatores culturais e motivacionais que estatildeo nesse nomeleacutexico toponiacutemico (BIDERMAN 1998)
O nome comum no ato de nomeaccedilatildeo de um lugar impregna-se de significaccedilotildees vaacuterias
sejam de fatores histoacutericos culturais sociais econocircmicos Segundo Guimaratildees (2005 p 83)
ldquoo modo de significar os espaccedilos da cidade mostra que eles satildeo espaccedilos poliacuteticos O espaccedilo que
se daacute como objeto por uma descriccedilatildeo (referecircncias) atende a objetividade do discurso
administrativo que nomeia oficialmente os espaccedilos da cidaderdquo Assim o nome cifra a narrativa
histoacuterica local perpassando por fatores ou designativos memoraacuteveis
Essa atividade de nomeaccedilatildeo ou praacutetica de nomeaccedilatildeo eacute especificamente da espeacutecie
humana e resulta do processo de categorizaccedilatildeo inerente ao ser humano De acordo com
Biderman (1998 p 89)
4 De acordo com Cabral (2007) patroniacutemico eacute sobrenome
33
O processo de categorizaccedilatildeo subjaz agrave semacircntica de uma liacutengua natural Os
criteacuterios de classificaccedilatildeo usados para classificar os objetos satildeo muito
diferenciados e variados Agraves vezes o criteacuterio eacute o uso que o homem faz de um
dado objeto agraves vezes eacute um determinado aspecto do objeto que fundamenta a
classificaccedilatildeo agraves vezes eacute um determinado aspecto emocional que um objeto
pode provocar em quem o vecirc e assim por diante
Entatildeo o processo de categorizaccedilatildeo que por via das vezes pode se tornar um legislador
ndash nomeador Essas discussotildees acerca das histoacuterias do ato de nomear revelam formas de
organizaccedilatildeo social e mudanccedilas linguiacutesticas poliacuteticas e culturais Eacute pois por meio do nome que
as pessoas ou lugares permanecem vivos na memoacuteria coletiva de sua linhagem
E nesse processo de nomeaccedilatildeo categorizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo nos estudos na aacuterea da
Onomaacutestica mais precisamente na subaacuterea dos Estudos Toponiacutemicos ndash temaacutetica de nossa
pesquisa ndash natildeo tem como desvencilhar a liacutengua e cultura Assim para Sapir-Whorf a liacutengua
retrata o mundo e a realidade social agrave sua volta expressos por categorias lexicais como os
topocircnimos
12 Liacutengua e Cultura
A liacutengua no contexto soacutecio-histoacuterico-cultural nada mais eacute que o resultado de um
processo histoacuterico um produto revelador da cultura de uma dada comunidade (CAcircMARA JR
1955) Nessas bases inter-relacionar liacutengua e cultura eacute justificar que estatildeo intrinsecamente
interligadas pois a liacutengua revela a visatildeo de mundo e eacute tambeacutem a manifestaccedilatildeo de uma cultura
cultura esta que lhe daacute suporte a liacutengua tambeacutem eacute suporte da cultura
Em seus estudos Paula (2007) menciona que a liacutengua eacute um metassistema ela ldquonatildeo eacute soacute
objeto ela eacute nas relaccedilotildees sociais mais diversamente possiacuteveis tambeacutem instrumento de
investigaccedilatildeo distinto que ajuda a entender os outros sistemas sociaisrdquo (PAULA 2007 p 90)
Nesse contexto eacute possiacutevel evidenciar que por meio da liacutengua satildeo reeditadas e reconfiguradas
as praacuteticas culturais de uma dada comunidade
Posto isso conveacutem rever alguns conceitos que remetem agrave face social da liacutengua seu
caraacuteter eminentemente social mais condizente com o recorte epistemoloacutegico feito por Saussure
(2008 p 17)
Mas o que eacute a liacutengua Para noacutes ela natildeo se confunde com a linguagem eacute
somente uma parte determinada essencial dela indubitavelmente Eacute ao
mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto
34
de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo corpo social para permitir o
exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos Tomada em seu todo a linguagem
eacute multiforme e heteroacuteclita o cavaleiro de diferentes domiacutenios ao mesmo
tempo fiacutesica fisioloacutegica e psiacutequica ela pertence aleacutem disso ao domiacutenio
individual e ao domiacutenio social natildeo se deixa classificar em nenhuma categoria
de fatos humanos pois natildeo se sabe como inferir sua unidade
De acordo com Fiorin (2013 p 17) ldquoA liacutengua natildeo eacute um sistema de mostraccedilatildeo de
objetos porque permite falar do que estaacute presente e do que estaacute ausente do que existe e do que
natildeo existe porque possibilita ateacute criar novas realidades mundos natildeo existentesrdquo A liacutengua eacute um
produto social e por meio dela se criam e recriam realidades podendo entatildeo se justificar as
praacuteticas culturais por meio de atos linguiacutesticos
Com esse movimento epistemoloacutegico ou melhor ao eleger a liacutengua e natildeo a linguagem
nem a fala como objeto de estudo da Linguiacutestica Saussure possibilitou a instituiccedilatildeo da ciecircncia
linguiacutestica e consequentemente seus inuacutemeros desdobramentos posteriores
Sapir (1980) ressalta a estreita ligaccedilatildeo entre liacutengua e cultura jaacute que para o autor
Toda liacutengua tem uma sede O povo que a fala pertence a uma raccedila (ou a certo
nuacutemero de raccedilas) isto eacute a um grupo de homens que se destaca de outros
grupos por caracteres fiacutesicos Por outro lado a liacutengua natildeo existe isolada de
uma cultura isto eacute de um conjunto socialmente herdado por praacuteticas e crenccedilas
que determinam a trama das nossas vidas (SAPIR 1980 p 165)
Nesta perspectiva reafirmando que liacutengua se difere de linguagem mas se entrecruza
com ela ou dela faz parte como uma das inuacutemeras formas de linguagem e ainda considerando-
a um dos fatores de identidade de um povo e que natildeo existe isolada da cultura eacute que se torna
objeto de estudos o que envolve fatores soacutecio-histoacuterico-culturais das comunidades
O autor desta forma ainda nos revela que ldquotoda liacutengua estaacute de tal modo construiacuteda
que diante de tudo que um falante deseje comunicar por mais original ou bizarra que seja a sua
ideia ou a sua fantasia a liacutengua estaacute em condiccedilotildees de satisfazecirc-lorsquo (SAPIR 1969 p 33) Eacute
nessas condiccedilotildees de satisfazer ao falante ou agrave comunidade que ele pertence que a liacutengua se
justifica como um meio de interaccedilatildeo social e revelador da cultura jaacute que ela se configura no
tempo e eacute capaz de transmitir de geraccedilotildees a geraccedilotildees atraveacutes de atos linguiacutesticos as
manifestaccedilotildees culturais Conveacutem ressaltar que
Tudo que ateacute aqui verificamos ser verdade a respeito das liacutenguas indica que
se trata da obra mais notaacutevel colossal que o espiacuterito humano jamais
desenvolveu nada menos do que uma forma completa de expressatildeo para toda
a experiecircncia comunicaacutevel Essa forma pode ser variada de inuacutemeras maneiras
pelo indiviacuteduo sem perder com isso os seus contornos distintivos e estaacute
35
constantemente remodelando-se como sucede com toda arte A liacutengua eacute a arte
mais ampla e maciccedila que se nos depara cuacutemulo anocircnimo do trabalho
inconsciente das geraccedilotildees (SAPIR 1980 p 172)
De acordo com Cacircmara Jr (1955) a liacutengua eacute uma parte da cultura mas ela pode ser
estudada na sua relaccedilatildeo com a cultura ou sem considerar essa inter-relaccedilatildeo Segundo o autor
com essa perspectiva o linguista se destaca do antropoacutelogo Porque os estudos linguiacutesticos
podem prescindir do exame da inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura ou melhor pode-se estudar a
liacutengua em sua imanecircncia ou a relaccedilatildeo da linguagem com outras aacutereas do conhecimento humano
A liacutengua aleacutem de inter-relacionar a cultura nada sociedade atua para que a proacutepria
cultura seja conhecida e levada agrave geraccedilotildees futuras seja por meio de festas religiosas cantigas
e outros fatores que a divulguem Jaacute que na mesma base teoacuterica a liacutengua se justifica como um
fato de cultura assim como qualquer outro e neste iacutenterim integra-se agrave cultura
Cacircmara Jr (1955) reconhece que a liacutengua funciona na sociedade para a comunicaccedilatildeo e
interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e tambeacutem que ela se torna o resultado de uma cultura global pois a
liacutengua depende de toda cultura jaacute que a expressa a todo o momento
assim a liacutengua em face do resto da cultura eacute ndash o resultado dessa cultura ou
sua suacutemula eacute o meio para ela operar eacute a condiccedilatildeo para ela subsistir E mais
ainda soacute existe funcionalmente para tanto englobar a cultura comunicaacute-la e
transmiti-la (CAcircMARA JR 1955 p 54)
Considerada a inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura pode-se ressaltar mais uma vez que a
cultura se manifesta linguisticamente sejam elas integrantes de manifestaccedilotildees da cultura
popular ou da erudita
De modo geral a cultura eacute pensada numa visatildeo polarizante como sendo
cultura popular ou cultura erudita Conveacutem dizer poreacutem que ambas satildeo
formas e conteuacutedos diferentes de expressatildeo de uma dada realidade social e
histoacuterica Entatildeo natildeo devem ser vistas como opostas ou excludentes mas como
maneiras especiacuteficas de ver sentir e expressar a realidade conforme se situam
seus atores na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo do poder (PAULA 2007 p 75)
Neste processo Sapir (1969) menciona que o leacutexico eacute o niacutevel linguiacutestico em que mais
intimamente se interligam liacutengua e cultura Zavaglia (2012) por sua vez reconhece que o leacutexico
estaacute vinculado agrave cultura de um povo de uma naccedilatildeo agrave sua histoacuteria
Para Zavaglia (2012) o leacutexico estaacute relacionado com a memoacuteria humana e se configura
no ato de nomeaccedilatildeo diante do processo em que houve a necessidade de o homem por meio de
36
palavras nomear tudo que o circundava e assim categorizar o que estava a seu redor Pautados
na autora observamos a grandeza do leacutexico pois
Eacute o leacutexico em forma de palavras e por meio da linguagem que ldquocontardquo a
histoacuteria milenar de povo para povo eacute o leacutexico que transmite os elementos
culturais de um conjunto de indiviacuteduos eacute o leacutexico que ldquoeducardquo ou ldquodeseducardquo
eacute o leacutexico que permite a manifestaccedilatildeo dos sentimentos humanos de suas
afeiccedilotildees ou desagrados via oral ou via escrita Eacute o leacutexico que registra o
desencadear das accedilotildees de uma sociedade suas mudanccedilas seu progresso ou
regresso Condivido com Biderman quando diz que o leacutexico eacute o tesouro
vocabular de forma codificada da memoacuteria do indiviacuteduo restando ali estocado
ateacute que seja ativado quando necessaacuterio para que o homem possa expressar ou
se comunicar Eacute ainda por meio do leacutexico que conceitos condutas e costumes
satildeo transmitidos de geraccedilotildees a geraccedilotildees e herdados por elas ldquoEacute o leacutexico que
fisionomiza a culturardquo (ZAVAGLIA 2012 p 233)
O leacutexico eacute o fio condutor da cultura jaacute que a transporta para geraccedilotildees futuras eacute por meio
dele que se registra a histoacuteria e a vida de uma sociedade Para Sapir (1969) a cultura estaacute
nitidamente no leacutexico da liacutengua e este pode ser considerado como todo o conjunto de ideias
interesses e ocupaccedilotildees que abrangem a atenccedilatildeo da comunidade Neste contexto
O estudo cuidadoso de um dado leacutexico conduz a inferecircncias sobre o ambiente
fiacutesico e social daqueles que o empregam e ainda mais que o aspecto
relativamente transparente ou natildeo-transparente do proacuteprio leacutexico nos permite
deduzir o grau de familiaridade que se tem adquirido com os vaacuterios elementos
do ambiente (SAPIR 1969 p 49)
Eacute possiacutevel ressaltar que o leacutexico da liacutengua conteacutem um recorte da realidade feito agrave sua
maneira que revela visotildees de mundo Os elementos culturais que matizam datildeo o colorido de
significaccedilatildeo ao leacutexico mostram de diferentes maneiras as relaccedilotildees que ambas liacutengua e cultura
tecircm com o ambiente seja fiacutesico ou social pois toda complexidade dessa inter-relaccedilatildeo pode ser
anunciada e enunciada no uso da linguagem
Vale entatildeo ressaltar
Que o leacutexico assim reflita em alto grau a complexidade da cultura eacute
praticamente um fato de evidecircncia imediata pois o leacutexico ou seja o assunto
de uma liacutengua destina-se em qualquer eacutepoca a funcionar como um conjunto
de siacutembolos referentes ao quadro cultural do grupo Se por complexidade de
uma liacutengua se entende a seacuterie de interesses impliacutecitos em seu leacutexico natildeo eacute
preciso dizer que haacute uma correlaccedilatildeo constante entre a complexidade
linguiacutestica e cultural (SAPIR 1969 p 51)
37
O conjunto de signos da liacutengua ultrapassa as fronteiras do tempo trazendo para a
atualidade siacutembolos tambeacutem culturais que satildeo revelados por meio de praacuteticas culturais que se
interseccionam com as praacuteticas linguiacutesticas Assim
Natildeo soacute as palavras da liacutengua passam a servir de siacutembolos culturais dispersos
como sucede nas liacutenguas em qualquer periacuteodo de desenvolvimento mas se
pode supor que as proacuteprias categorias e processos gramaticais simbolizariam
tipos correspondentes de pensamento e atividade de significaccedilatildeo cultural Ateacute
certo ponto pode se conceber portanto a cultura e a liacutengua em constante
estado de interaccedilatildeo e em associaccedilatildeo definida por um largo lapso de tempo
Mas tal estado de correlaccedilatildeo natildeo pode continuar indefinidamente (SAPIR
1969 p 60)
Segundo Sapir (1969) a linguagem possui o papel de produzir e organizar o mundo
mediante o processo de simbolizaccedilatildeo Contudo a realidade eacute mostrada por meio da linguagem
o que significa dizer que natildeo haacute mundos iguais visto que natildeo haacute liacutenguas iguais De acordo com
estas observaccedilotildees cabe ressaltar o relativismo linguiacutestico ldquoHipoacutetese de Sapir-Whorfrdquo a
linguagem determina a forma de ver o mundo e consequentemente de se relacionar com esse
mundo
O relativismo linguiacutestico pode ser entendido como a relaccedilatildeo linguagem e pensamento
mediada pela cultura desta forma linguagem pensamento e cultura estatildeo conectados Sapir-
Whorf observam que a realidade social eacute produto linguiacutestico tratando assim as relaccedilotildees de
linguagemcultura e linguagempensamento a cultura pode ser considerada como
conhecimento adquirido socialmente por meio das praacuteticas linguiacutesticas
De maneira geral diz-se que a cultura eacute o conhecimento que as pessoas detecircm acerca de
uma comunidade seja em seus acircmbitos popular ou cientiacutefico os quais ultrapassam o tempo
por meio da liacutengua jaacute que ldquoA cultura eacute o conjunto do que o homem criou na base das suas
faculdades humanas abrange o mundo humano em contraste com o mundo fiacutesico e o mundo
bioloacutegicordquo (CAcircMARA JR 1955 p 51)
Em outras palavras
Cultura eacute o conjunto de praacuteticas sociais situadas historicamente que se
referem a uma sociedade e que a fazem diferente de outra Baseia-se na
construccedilatildeo social de sentidos a accedilotildees crenccedilas haacutebitos objetos que passam a
simbolizar aspectos da vivecircncia humana em coletividade (PAULA 2007 p
74)
A diversidade tambeacutem se reflete na cultura pois de acordo com Bosi
38
[] natildeo existe uma cultura brasileira homogecircnea matriz de nossos
comportamentos e dos nossos discursos Ao contraacuterio a admissatildeo do seu
caraacuteter plural eacute um passo decisivo para compreendecirc-la como um ldquoefeito de
sentidordquo resultado de um processo de muacuteltiplas interaccedilotildees e oposiccedilotildees no
tempo e no espaccedilo (BOSI 1987 p 7)
Neste sentido a cultura se constroacutei a partir das vivecircncias e significados que lhe satildeo
atribuiacutedos pela proacutepria sociedade em suas praacuteticas sociais e constituindo-se tambeacutem em
diferenccedila Para Bosi (1987 p 11) o fundamento da cultura popular ldquoeacute o retorno de situaccedilotildees e
atos que a memoacuteria grupal reforccedila atribuindo-lhes valorrdquo Isso satildeo as marcas identitaacuterias da
comunidade que satildeo deixadas e vivenciadas (ou vivificadas) tempos depois A cultura popular
eacute revelada por meio de praacuteticas culturais e linguiacutesticas que levam a puacuteblico as relaccedilotildees soacutecio-
histoacuterica-culturais de determinadas comunidades
A cultura se constroacutei com base nos valores atribuiacutedos pelos sujeitos agraves relaccedilotildees
cotidianas e nas relaccedilotildees de poder Organiza-se como popular eou erudita Nesse sentido natildeo
existe cultura melhor nem pior cada uma eacute expressa pelo seu grupo social pois cada indiviacuteduo
tem uma forma de ver o mundo modos de vestir de comer os meios para se curar os remeacutedios
os modos de plantar de cultivar e colher os modos de nomear e categorizar os elementos da
natureza e outros tantos mais Desta forma ldquoconforme as pessoas entendem que participam de
uma cultura esforccedilam-se para agir dentro do que julgam ser pertinente a elardquo (PAULA 2007
p 75)
Cultura liacutengua e identidade natildeo satildeo algo fixo pronto e acabado estando sempre em
constituiccedilatildeo uma vez que satildeo produzidas por seres sociais que se encontram em processo de
interaccedilatildeo aprendizado conhecimento e estatildeo inseridos em contextos sociais que passam por
transformaccedilotildees O leacutexico eacute o meio pelo qual a cultura e a identidade se constroem e se
disseminam
Na visatildeo de Paula (2007 p 89) a memoacuteria eacute o depositaacuterio tanto da cultura como da
liacutengua visto que
O modo como se estrutura poliacutetica e economicamente uma sociedade diz
muito de suas estruturas culturais estas por sua vez soacute se fazem possiacuteveis
graccedilas agrave elaboraccedilatildeo cotidiana do arcabouccedilo de memoacuteria coletiva ao modo
como eacute concebida e ao estatuto que lhe eacute dado Expressando estas inter-
relaccedilotildees servindo a elas no cotidiano da comunicaccedilatildeo humana e carregando
em seu funcionamento muito do modo como a sociedade se faz e se refaz estaacute
a liacutengua
39
Os processos culturais que satildeo construiacutedos por meio de atos linguiacutesticos satildeo uma forma
identitaacuteria de dada comunidade que eacute expressa por relaccedilotildees sociais como forma de conduzir e
expressar-se perante as demais comunidades sejam elas internacionais nacionais ou regionais
sabemos que a cultura eacute a miscigenaccedilatildeo de outras culturas
13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes
Embora faccedila parte do cotidiano das pessoas portanto estreitamente ligado agrave cultura natildeo
haacute muita discussatildeo referente ao nome proacuteprio e aos motivos de algueacutem ou um lugar ter o nome
que tem Entretanto conforme Carvalhinhos (2002) jaacute no seacuteculo II aC com o gramaacutetico
Dioniacutesio Traacutecia o estudo sobre o nome jaacute tinha sido pensado e formulado Esses estudos
propiciaram por sua vez o surgimento da Onomaacutestica a ciecircncia que se ocupa dos estudos da
origem e alteraccedilotildees (na forma e no significado) dos nomes proacuteprios A Onomaacutestica eacute um ramo
das ciecircncias linguiacutesticas que pode-se efetuar em duas vertentes a toponiacutemia (estudo do
topocircnimo ou nome de lugar) e a antroponiacutemia (estudo do nome pessoal)
Conforme Dubois (2004) e Houaiss (2004) a Onomaacutestica eacute um ramo da lexicologia e
seu meacutetodo de trabalho deve-se desenvolver em linha documental mediante a observaccedilatildeo de
dados oficiais como mapas listas de nomes ou outros documentos de valor historiograacutefico e
lexicograacutefico Isso possibilita a junccedilatildeo da histoacuteria da nomenclatura com momentos histoacutericos e
sociais mais amplos
No entanto mesmo pertencendo agrave ciecircncia da linguagem a Onomaacutestica se estabelece por
meio do suporte de outras aacutereas do conhecimento como a Antropologia a Etnografia a
Botacircnica a Geografia e a Histoacuteria Neste sentido natildeo eacute equivocado salientar que a Onomaacutestica
eacute um campo de amplo caraacuteter interdisciplinar
Assim a Onomaacutestica ou Onomasiologia eacute o ramo da ciecircncia linguiacutestica que tem o nome
proacuteprio como objeto de estudo e se constroacutei em relaccedilatildeo a outros campos do saber Contudo ao
relacionar o seu conhecimento aos de outras aacutereas ela natildeo os confunde nem os nega
De acordo com Ramos e Bastos (2010) a Onomaacutestica assume uma perspectiva
integralizadora de meacutetodos e demanda um consideraacutevel nuacutemero de conhecimentos de campos
diversos de maneira direta ou indireta e vertical ou horizontal destacando-se a linguiacutestica com
valoraccedilatildeo da pesquisa etimoloacutegica
Conforme dito a Onomaacutestica para efeito de estudo pode ser dividida em dois eixos a
Antroponiacutemia e a Toponiacutemia Estas por sua vez podem apresentar subdivisotildees dependendo
de algumas consideraccedilotildees acerca das caracteriacutesticas que cada uma agrave sua maneira apresenta
40
A Toponiacutemia conforme Piel (1979) de acordo com o objeto de denominaccedilatildeo pode
denominar-se tambeacutem como astroniacutemia hidroniacutemia litoniacutemia odoniacutemia oroniacutemia para citar
apenas alguns termos que correspondem a objetos que constituem ou satildeo constituiacutedos por
formaccedilotildees aquosas astros formaccedilotildees peacutetreas serras vias ou caminhos
Jaacute a Antroponiacutemia volta sua atenccedilatildeo para o estudo dos nomes de batismo dos
sobrenomes patroniacutemicos (ou matroniacutemicos) e ainda das alcunhas dos apelidos e de nomes
diminutivos A Antroponiacutemia agrave semelhanccedila da Toponiacutemia natildeo se constitui de forma
homogecircnea jaacute que haacute uma seacuterie de tradiccedilotildees conforme os povos ou culturas que desenvolveram
esses sistemas antroponiacutemicos Por outro lado eacute consenso afirmar que os nomes pessoais satildeo
um aspecto comum ou universal nas liacutenguas porque as pessoas recebem um nome em algum
momento de suas vidas em todas as sociedades conhecidas do mundo
De acordo com Dick (1992) as intenccedilotildees e as motivaccedilotildees que subjazem agrave escolha dos
nomes em cada sociedade variam bastante Os estudos dos sistemas onomaacutesticos vecircm confirmar
isso porque os nomes existem e satildeo controlados pelas necessidades e praacuteticas sociais as quais
podem variar de acordo com a visatildeo de mundo de um determinado povo
Posto isso conveacutem conceber a Onomaacutestica como uma disciplina que deve focar como
objeto de estudo os sistemas de denominaccedilatildeo que justifiquem os processos de atribuiccedilatildeo de
nomes de uma maneira geral
Em Soliacutes (1997) os nomes satildeo o resultado de algo que os provoca isto eacute o sistema
denominativo elaborado pelas culturas para atribuir nomes agraves coisas apreendidas por sua
atividade cognitiva
Devido ao fato de a Onomaacutestica estender-se a um amplo campo de estudo ou seja que
se volta tanto para o estudo dos nomes proacuteprios de pessoas como agraves designaccedilotildees dos lugares eacute
imperioso delimitar para este estudo apenas o sistema onomaacutestico voltado para os nomes de
lugar isto eacute para a toponiacutemia caracterizando como objeto de estudo os nomes dos cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio
A despeito de incorrer em lugar comum conveacutem rever os constituintes da palavra
toponiacutemia cujo significado etimoloacutegico pode ser assim expresso do grego topos (lugar) e
onoma (nome) A Toponiacutemia se ocupa dos locativos (tambeacutem componentes do leacutexico da liacutengua)
com o fito de estudar a origem as significaccedilotildees e as transformaccedilotildees por que passam ou
passaram esses nomes A Toponiacutemia se dedica ao estudo natildeo apenas dos nomes de comunidades
humanas (cidades povoados vilas) como tambeacutem elementos geograacuteficos a exemplo os cursos
drsquoaacuteguas
41
Os estudos toponiacutemicos propiciam a percepccedilatildeo da relaccedilatildeo entre povo liacutengua e territoacuterio
considerando que esse territoacuterio pode ser fiacutesico eou imaginaacuterio jaacute que as entidades do mundo
que precisam ser nomeadas podem ser pessoas entidades geograacuteficas que fazem parte do
ambiente em que vive determinado povo e que sobretudo tenham importacircncia para esse povo
pois se natildeo tem importacircncia natildeo haacute em contrapartida necessidade de ser nomeado Conveacutem
no entanto ressaltar que nem todas as nomeaccedilotildees ocorrem pela necessidade espontacircnea de
identificaccedilatildeo uma vez que muitas delas refletem a imposiccedilatildeo de forccedilas ideoloacutegicas poliacuteticas e
sociais
Neste sentido surge a necessidade de reconhecer os objetos geograacuteficos da natureza
tais como rios mares lagoas ilhas continentes serras e outros mas haacute outros que precisam
ser denominados tambeacutem principalmente os objetos da cultura aqueles criados pelo homem
dentre os quais podem ser citados os povoados represas moradias (habitaccedilatildeo) ruas
circunscriccedilotildees poliacutetico-territoriais que se situam em algum lugar do universo fiacutesico
Natildeo se pode omitir aqueles lugares cujo universo foi criado pela cultura imaterial o
mundo natildeo fiacutesico Sejam do universo real ou imaginaacuterio as entidades geograacuteficas satildeo os
referentes dos topocircnimos que por sua vez integram a visatildeo de mundo de um povo Isso
constitui uma dificuldade em especificar que referentes existem no mundo fiacutesico ou cultural
em parte porque para isso eacute necessaacuterio considerar uma cultura determinada Em resposta a isso
haacute o reconhecimento da visatildeo de mundo que eacute peculiar a cada cultura
Muitos povos concebem o universo real como um mundo que tem seu correlato miacutetico
com outros mundos e fazem assim surgir universos de nomes toponiacutemicos de variada riqueza
toponomaacutestica porque tecircm lugares para nomear no espaccedilo fictiacutecio criado nesse mundo Assim
aleacutem de serem componentes linguiacutesticos como tal os nomes que compotildeem um sistema de
denominaccedilatildeo satildeo ainda criaccedilotildees socioculturais
Entatildeo cabe agrave Toponiacutemia estudar tanto os nomes de lugares (os topocircnimos) como
componentes de uma liacutengua que satildeo como tambeacutem o sistema de denominaccedilatildeo organizado pelas
sociedades para nomear os objetos fiacutesicos ou imaginaacuterios da sua cultura Devido agraves diferentes
visotildees de mundo tecircm-se diferentes formas de nomear essas entidades Aleacutem da visatildeo de mundo
em sociedades como a brasileira podem contribuir para a formaccedilatildeo de um sistema de nomeaccedilatildeo
os movimentos sociais como forccedila impulsionadora de mudanccedila social Em relaccedilatildeo agrave realidade
brasileira podem-se mencionar as poliacuteticas que vecircm acontecendo durante os mais de 500 anos
de histoacuteria brasileira que tambeacutem resultou em inuacutemeras formaccedilotildees e mudanccedilas de designaccedilatildeo
toponiacutemica no Brasil
42
Cabe reiterar que a toponiacutemia refere-se a nomes de lugares habitados ou natildeo Daiacute uma
definiccedilatildeo apropriada para o termo ldquotopocircnimordquo eacute um nome de qualquer ponto localizaacutevel no
espaccedilo terrestre que tenha recebido denominaccedilatildeo Definiccedilatildeo essa que pode ser estendida para o
nome de qualquer ponto localizaacutevel no mundo real ou em mundos imaginados pelas culturas
em outras palavras daqueles universos que existem por meio da atividade ideacional dos
homens
Assim eacute por meio da relaccedilatildeo povo-territoacuterio que os nomes de lugar satildeo estabelecidos
Inicialmente pela posse do territoacuterio uma vez que segundo Couto (2007) o territoacuterio eacute uma
das primeiras referecircncias para que um agrupamento de pessoas possa receber o status de
comunidade e todo territoacuterio entendido como tal tem de ter um nome um topocircnimo Desta
forma recortam-se os aspectos do meio ambiente mais salientes aos olhos do povo como uma
espeacutecie de acordo que permite a vivecircncia e a convivecircncia em sociedade no territoacuterio apossado
Eacute possiacutevel afirmar que a nomeaccedilatildeo dos lugares surgiu com a proacutepria humanidade Os
registros antigos da histoacuteria da civilizaccedilatildeo ratificam essa accedilatildeo do homem sobre o lugar que
habita ou jaacute habitou satildeo fatores que sugerem uma espeacutecie de posse ou de domiacutenio sobre o lugar
por meio da significaccedilatildeo da organizaccedilatildeo e da orientaccedilatildeo pelo espaccedilo ocupado ou apenas
conhecido Em contrapartida o ato de nomeaccedilatildeo se manifesta como a accedilatildeo do meio fiacutesico e
sociocultural sobre o homem
Eacute nesta perspectiva que se podem considerar os estudos toponiacutemicos em seu acircmbito
interdisciplinar porque congregam vaacuterias aacutereas do conhecimento humano Os nomes de um
lugar satildeo enfocados conforme a observaccedilatildeo dos aspectos fiacutesicos socioculturais mentais e
histoacutericos interligados ou em separados
Assim natildeo eacute equiacutevoco conceber a Toponiacutemia como objeto de estudo da Antropologia
da Geografia da Histoacuteria ou ainda da Psicologia Social para citar apenas algumas disciplinas
Eacute possiacutevel segundo Dick (1992) realizar anaacutelises do fenocircmeno toponiacutemico em
consonacircncia teoacuterica com qualquer uma dessas aacutereas mas para a autora nenhuma delas tomada
isoladamente ou com exclusivismo alcanccedilaria a plenitude do fenocircmeno toponiacutemico Em termos
linguiacutesticos a Toponiacutemia recorre aos conhecimentos da Semacircntica da Lexicologia da
Etnolinguiacutestica da Dialetologia e da Linguiacutestica Histoacuterica
Mais recentemente uma linha de anaacutelise que tem oferecido contribuiccedilotildees importantes
aos estudos dos nomes de lugares eacute a Linguiacutestica Cognitiva Suas pesquisas vecircm enfatizando
natildeo soacute os modelos cognitivos mas tambeacutem os processos de categorizaccedilatildeo principalmente os
processos de analogia e contiguidade proacuteprios da metaacutefora e da metoniacutemia Entendecirc-los eacute
43
essencial para compreender os sistemas de nomeaccedilatildeo como resultados da experiecircncia e da
cogniccedilatildeo humana com o corpo em relevo
Esta perspectiva de anaacutelise coaduna estudos que procuram reconhecer processos
cognitivos expressos na accedilatildeo de denominar a realidade e para tanto fundamentam-se no corpo
Eacute uma forma de nomear os lugares fiacutesicos ou culturais mediante a percepccedilatildeo do denominador
na interaccedilatildeo com meio ambiente fiacutesico e cultural
14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica
Para realizar qualquer estudo onomaacutestico eacute necessaacuterio inicialmente buscar na teoria
linguiacutestica os recursos para se explicar como uma forma linguiacutestica se amaacutelgama a um lugar
configurando uma relaccedilatildeo entre esse lugar suas caracteriacutesticas e o signo linguiacutestico que passa
a designaacute-lo Em outras palavras eacute necessaacuterio buscar conceitos que estejam em consonacircncia
com os preceitos5 onomaacutestico-toponiacutemicos
Eacute por meio da liacutengua que se daacute a interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e a mesma constitui-se de
signos linguiacutesticos Em outras palavras o mundo humano a realidade extralinguiacutestica e a
cultura constituem-se de signos Calcados nas ideias de Charles Sanders Pierce (2005) tem-se
o conceito geral de que o signo eacute ldquoalgo que estaacute por algo para algueacutemrdquo Conveacutem salientar que
ldquoestar porrdquo eacute uma noccedilatildeo bastante ampla pois pode significar uma seacuterie de coisas como
representar caracterizar fazer agraves vezes de indicar entre outros Para Pierce (2005 p 46)
um signo ou representamem eacute algo que sob certo aspecto ou de algum modo
representa alguma coisa para algueacutem Dirige-se a algueacutem isto eacute cria na mente
dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido
Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo
representa alguma coisa seu objeto Representa esse objeto natildeo em todos os
aspectos mas com referecircncia a um tipo de ideia que eu por vezes denominei
fundamento do representamem (Grifos do autor)
Assim seguindo a concepccedilatildeo de Pierce (2005) sobre signo pode-se formular que eacute a
representaccedilatildeo de alguma coisa para algueacutem estaacute no lugar da coisa que ele representa e natildeo eacute a
coisa em si Tem ainda a condiccedilatildeo de perturbar a mente do interpretante i eacute daquele que vecirc
lecirc ou ouve o signo na tentativa de atribuir-lhe um significado Dessa forma eacute possiacutevel verificar
uma relaccedilatildeo de interdependecircncia entre pelo menos trecircs extremos i) a face perceptiacutevel do
5 No capiacutetulo 2 satildeo apresentados os meacutetodos usados na pesquisa
44
signo o representamem ou significante ii) o que ele representa o objeto ou referente e iii) o
que ele significa interpretante ou significado
Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo
Fonte Adaptado a partir do original de Ogden-Richards (1972)
Para Pierce (2005) os signos satildeo elementos tricotocircmicos6 e apresentam trecircs divisotildees
amplas (i) iacutecone (ii) iacutendice e (iii) siacutembolo A despeito de serem conceitos mais pertinentes a
um estudo semioacutetico em grande parte a motivaccedilatildeo que subjaz ao designativo de lugar imprime
caraacuteter icocircnico indicial ou simboacutelico ao nome do lugar o que acarreta uma dada categorizaccedilatildeo
Para Pierce (2005) (i) iacutecones satildeo os signos que apresentam as caracteriacutesticas
especiacuteficas proacuteprias por analogia formam-se pela primeira impressatildeopercepccedilatildeo que o
inteacuterprete tem sobre as coisas do mundo real Eacute um signo que guarda semelhanccedilas entre o
significante e o significado Em outras palavras um iacutecone eacute uma representaccedilatildeo - auditiva visual
ou de outra espeacutecie ndash de alguma coisa Uma fotografia uma pintura as imagens diagramas satildeo
exemplos de iacutecones por evidenciar semelhanccedila com o objeto representado A semelhanccedila tem
de ser estabelecida de forma quase que consciente por quem observa No entanto a semelhanccedila
com o objeto representado pode ser extraordinaacuteria como quando se observam as imagens sacras
ou iacutecones menores aqueles que aparecem na tela do computador ou pode ser mais abstrata
como a que acontece com as placas de sinais em geral
Em relaccedilatildeo aos (ii) iacutendices Pierce (2005) estabelece que satildeo signos que estatildeo numa
relaccedilatildeo direta entre o representamem e o objeto Um iacutendice (ou signo indexical) tem a funccedilatildeo
de indicar o que estaacute nas suas proximidades Nos iacutendices a forma e o significado estatildeo
interligados satildeo contiacuteguos ou seja caracteriza-se pela relaccedilatildeo de contiguidade ou associaccedilatildeo
com aquilo que representa Aquilo que atrai a atenccedilatildeo em um objeto eacute seu iacutendice Apresentam
6 O que difere das caracteriacutesticas dicotocircmicas do signo linguiacutestico para Saussure
Conceito
(Significado)
Palavra Referente
(significante) (elementos da realidade)
45
traccedilos de decirciticos jaacute que os interlocutores podem recuperar o referente por meio de lembranccedilas
de detalhes do objeto
Encontram-se muito difundidos nos sistemas de comunicaccedilatildeo (verbal ou natildeo) Satildeo
amplamente empregados na linguagem miacutemica e gestual no coacutedigo de tracircnsito Os decirciticos satildeo
signos indiciais imprescindiacuteveis pois referem demonstrativamente indicam a pessoa do
discurso o lugar a proximidade7 de espaccedilo e tempo entre outros (iii) Jaacute os siacutembolos satildeo signos
que se referem ao objeto em funccedilatildeo de uma convenccedilatildeo de uma lei ou de associaccedilatildeo geral de
ideias ou melhor por natildeo haver uma relaccedilatildeo de semelhanccedila e nem contiguidade entre o
significante e o significado ela eacute estabelecida por convenccedilatildeo de forma intencional e aprendida
nas relaccedilotildees sociais Os siacutembolos satildeo considerados os signos genuiacutenos estatildeo reservados aos
seres humanos porque as necessidades comunicativas exigem muito mais que indicaccedilotildees
indexicais ou imitaccedilotildees icocircnicas O sistema mais elaborado de signos simboacutelicos certamente
eacute o das liacutenguas naturais na modalidade falada e na escrita tambeacutem sendo que a palavra eacute o
siacutembolo por excelecircncia
Por se constituiacuterem de duas coisas que se encontram em prolongamento uma da outra
i eacute contiacuteguas os signos indexicais podem se substituir mutuamente Tambeacutem os signos
icocircnicos podem tomar o lugar do objeto real Jaacute os simboacutelicos satildeo superiores por permitirem
aos seres humanos ultrapassar os limites de contiguidade e semelhanccedila porque estabelecem uma
relaccedilatildeo simboacutelica entre determinada forma e determinado significado Todas essas relaccedilotildees ndash
icocircnica indexical e simboacutelica ndash estatildeo na base dos sistemas de linguagem
Os signos linguiacutesticos se vinculam agrave noccedilatildeo de siacutembolo uma vez que a relaccedilatildeo com o
objeto referido eacute construiacuteda arbitrariamente em uma espeacutecie de acordo entre os membros de
uma comunidade de fala Para Saussure (2008) o signo linguiacutestico eacute o resultado da associaccedilatildeo
convencional entre o significante e o significado acertada entre os falantes Eacute convencional
porque natildeo haacute nenhum viacutenculo sugestivo entre os dois elementos Essa eacute a noccedilatildeo de
arbitrariedade descrita por Saussure (2008) em relaccedilatildeo aos viacutenculos entre significante e
significado Por outro lado haacute de se considerar situaccedilotildees em que os signos linguiacutesticos
apresentam motivaccedilotildees que podem ser de natureza foneacutetica morfoloacutegica ou semacircntica
Quanto agrave estrutura um topocircnimo pode ser um nome simples ou composto e segue
evidentemente as mesmas regras de formaccedilatildeo de palavras da liacutengua portuguesa Um nome em
funccedilatildeo toponiacutemica pode tambeacutem ser constituiacutedo por frases e oraccedilotildees seguem assim a sintaxe
da liacutengua em que se insere
7 O ldquoeurdquo a pessoa com quem se fala o ldquoeste aquirdquo ldquoesse aiacuterdquo ldquoaquele alirdquo ldquoneste tempordquo ldquonaquele tempordquo
46
Segundo Dick (1992) o signo topocircnimo vincula-se por diversos fatores ao elemento
geograacutefico do qual eacute o referente estabelecendo com ele um conjunto que por sua vez pode ser
separado em partes menores para se distinguirem os seus elementos formadores
Morfologicamente dois elementos baacutesicos podem ser depreendidos dessa relaccedilatildeo um o termo
ou elemento geneacuterico que se relaciona agrave entidade geograacutefica que recebe a denominaccedilatildeo e o
outro o elemento ou termo especiacutefico o topocircnimo propriamente dito que carrega em si mesmo
a noccedilatildeo espacial que identificaraacute e singularizaraacute a entidade denominada das outras semelhantes
Esses elementos ou termos se justapotildeem no sintagma toponiacutemico (Coacuterrego do Ouro) ou se
aglutinam (Rialma) conforme a estrutura da liacutengua em questatildeo
Para Dick (1992) em relaccedilatildeo agrave morfologia os topocircnimos podem apresentar trecircs
diferentes formas (i) topocircnimo ou elemento especiacutefico simples eacute aquele determinado por um
soacute formante que pode apresentar-se acompanhado tambeacutem de sufixaccedilatildeo diminutiva
aumentativa ou de outras origens linguiacutesticas
Eacute comum na formaccedilatildeo de muitos topocircnimos brasileiros a junccedilatildeo de um designativo agraves
terminaccedilotildees -lacircndia em -poacutelis e ndashburgo (normalmente segundo elemento da formaccedilatildeo) Essa
formaccedilatildeo embora apresente dois formantes (de liacutenguas diferentes) satildeo considerados nomes
simples e natildeo compostos pode-se no entanto dizer que em algumas designaccedilotildees satildeo tambeacutem
hiacutebridos jaacute que provecircm de liacutenguas diferentes a saber Maurilacircndia (Maurilo do latim Maurilius
lsquomorenorsquo + lacircndia elemento de origem inglesa) Buritinoacutepolis (Buriti(no) elemento tupi + polis
elemento grego) mas em Friburgo8 natildeo haacute hibridismo
Segundo Siqueira (2012) pode-se ainda indicar a terminaccedilatildeo -(a) nia variaccedilatildeo do sufixo
nominal do latino -anus -ana que se documentam em nomes e modificadores com as noccedilotildees
de proveniecircncia origem entre outras em lembranccedila dos primeiros habitantes da regiatildeo Em
Goiaacutes eacute expressiva a quantidade de topocircnimos que se formaram jungidos a esse elemento
Caiapocircnia Cromiacutenia Goiacircnia Joviacircnia Luziacircnia Silvacircnia (ii) topocircnimo composto ou
elemento especiacutefico composto aquele formado por mais de um elemento de origens diversas
entre si do ponto de vista do conteuacutedo (iii) topocircnimo (composto) hiacutebrido ou elemento
especiacutefico hiacutebrido formado por elementos linguiacutesticos de diferentes procedecircncias
Sobre o caraacuteter imotivado dos signos linguiacutesticos cabe salientar conforme Saussure
(2008) que o viacutenculo que une o significante ao significado eacute arbitraacuterio natildeo haacute relaccedilatildeo loacutegica
ente as duas faces do signo A associaccedilatildeo entre ambos (significante e significado) eacute de natureza
8 Cidades da Alemanha e da Suiacuteccedila no Brasil conforme Machado (2003) haacute uma ldquoFriburgordquo no Amazonas e no
Rio de Janeiro ldquoNova Friburgordquo este sim um hiacutebrido em Minas Gerais haacute tambeacutem o hiacutebrido ldquoCordisburgordquo
cordis do latim lsquocoraccedilatildeorsquo + burgo do alematildeo lsquocidadersquo
47
convencional natildeo natural Assim todo estudo toponiacutemico tem no caraacuteter motivado do signo
toponiacutemico seu ponto de partida ou seja os estudos sobre os topocircnimos se baseiam na
motivaccedilatildeo que subjaz para analisar todas as relaccedilotildees circunscritas a ela
15 Linguiacutestica Histoacuterica
Consideradas como realidades histoacutericas e sociais as liacutenguas satildeo dinacircmicas estatildeo em
contiacutenua transformaccedilatildeo o que leva a afirmar que a liacutengua de hoje natildeo eacute a mesma de ontem
nem se manteraacute idecircntica amanhatilde Posto isso pode-se verificar que o conhecimento mais amplo
da estrutura do leacutexico da semacircntica e ateacute da ortografia pode requerer um estudo linguiacutestico
com perspectivas histoacutericas No acircmbito da linguiacutestica geral destaca-se a Linguiacutestica Histoacuterica
aacuterea cujo interesse recai sobre o que como e por que muda nas liacutenguas no decorrer do tempo
Os estudos acerca da linguagem foram primeiramente postulados pelos filoacutesofos
anteriores ao seacuteculo XIX como Platatildeo e Aristoacuteteles9 que se ativeram ao estudo da linguagem
mediante a anaacutelise da relaccedilatildeo entre som e sentido ignorando qualquer tipo de variaccedilatildeo
linguiacutestica Jaacute a opccedilatildeo filoloacutegica representada principalmente pelos gramaacuteticos alexandrinos
natildeo ignorava a variaccedilatildeo linguiacutestica mas a colocava como desvio configurando-se
possivelmente como a primeira perspectiva normativaprescritiva na histoacuteria dos estudos da
linguagem (MAURER JR 1967)
Por sua vez a linguiacutestica histoacuterica conforme Maurer Jr (1967) estabeleceu relaccedilotildees
culturais entre os povos tornando-se um precioso auxiacutelio para a Histoacuteria e a Antropologia A
linguiacutestica histoacuterica natildeo revela apenas as relaccedilotildees entre duas ou mais liacutenguas mas consegue
tambeacutem evidenciar com facilidade o que eacute herdado de um berccedilo linguiacutestico comum e o que eacute
oriundo de empreacutestimo de outra liacutengua
Consoante estudos recorrentes a linguiacutestica histoacuterica teve seu surgimento no final do
seacuteculo XVIII momento em que se comeccedilava a dar um cunho cientiacutefico agrave mudanccedila linguiacutestica
Natildeo se pode afirmar entretanto que natildeo houvesse uma preocupaccedilatildeo com a linguagem antes
desse periacuteodo haja vista que a criaccedilatildeo da biblioteca de Alexandria por exemplo demonstra
certo interesse pelo assunto pois indica que ao fazer a compilaccedilatildeo das obras antigas da literatura
grega Homero apresentava certa preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura e do passado de
uma eacutepoca
9 Para Aristoacuteteles a linguagem eacute definidora das relaccedilotildees humanas
48
No entanto foi no seacuteculo XVI com a Renascenccedila que houve um acentuado interesse
dos estudiosos pela histoacuteria cultural particularmente pela filologia momento da origem da
histoacuteria literaacuteria No Ocidente renascia o interesse pelo passado que remetia agrave antiguidade
greco-latina
A linguiacutestica histoacuterica consiste segundo Faraco (2006 p 13) em ldquoestudar as mudanccedilas
que ocorrem nas liacutenguas humanas agrave medida que o tempo passardquo A mudanccedila eacute definida como
processo pelo qual a liacutengua viva natildeo fica estagnada mas evolui acompanhando o
desenvolvimento da sociedade que a utiliza como instrumento de comunicaccedilatildeo pois ldquoonde haacute
mudanccedila deve haver histoacuteria do contraacuterio nosso conhecimento do fato permanece incompletordquo
(MAURER JR 1967 p 20)
Nesse contexto estabelece-se o que eacute mais natural a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade
porque uma acaba interferindo na mudanccedila da outra visto que
[] as liacutenguas humanas natildeo constituem realidades estaacuteticas ao contraacuterio sua
configuraccedilatildeo estrutural se altera continuamente no tempo E eacute essa dinacircmica
que constitui o objeto de estudo da linguiacutestica histoacuterica [] as liacutenguas mudam
mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos
necessaacuterios para a circulaccedilatildeo dos significados (FARACO 2006 p 14)
As mudanccedilas natildeo satildeo apenas de ordem lexicais por certo as estruturas gramaticais o
modo de produzir os sons e o significado das palavras se alteram com o tempo bem como novas
palavras surgem para expressar objetos e coisas que satildeo criados Eacute possiacutevel observar ainda que
palavras caem em desuso provocando consequentemente alteraccedilotildees no leacutexico de dada liacutengua
jaacute que
Os estudos de Linguiacutestica Histoacuterica comprovam que as liacutenguas humanas se
transformam no fluxo do tempo ou seja palavras e estruturas que existiam
antes deixam de existir ou sofrem modificaccedilotildees na forma na funccedilatildeo eou no
significado Apesar das transformaccedilotildees sofridas as liacutenguas mudam mas
continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos necessaacuterios
que garantem uma comunicaccedilatildeo eficaz pois as mudanccedilas ocorrem em partes
e natildeo no todo das liacutenguas num processo de mutaccedilatildeo e permanecircncia
(SIQUEIRA AGUIAR 2011 p 385 grifos das autoras)
A linguiacutestica histoacuterica pode ser estudada em duas fases a de 1800 e a poacutes 1900 No
seacuteculo XIX surgiram meacutetodos de abordagem para se estudar as liacutenguas suas combinaccedilotildees
identidade (gecircnese) diferenccedilas (mudanccedilas) Segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 18) ldquoa tradiccedilatildeo
oitocentista portanto recorta descreve e explica os fenocircmenos da linguagem do ponto de vista
do binocircmio gecircnese-evoluccedilatildeordquo
49
O poacutes 1900 partiu da observaccedilatildeo da diacronia e sincronia Com o advento do
estruturalismo de Ferdinand Saussure (2008) no seacuteculo XX a linguiacutestica moderna trouxe como
proposta que o objeto da linguiacutestica ndash a liacutengua ndash pudesse ser estudado separadamente do efeito
tempo (PAIXAtildeO DE SOUSA 2006) Como divisor desse momento na segunda metade poacutes
1900 o objeto da linguiacutestica eacute de ordem bioloacutegica ndash a diacronia estaacute imanente agrave liacutengua pois
de acordo com esta corrente linguiacutestica eacute na liacutengua que reside a heterogeneidade a mudanccedila e
a variaccedilatildeo
Segundo Faraco (2006 p 91) as liacutenguas estatildeo inseridas em um processo de fluxo
temporal de mutabilidade ldquoaparecimentosrdquo e ldquodesaparecimentosrdquo ldquoconservaccedilatildeordquo e
ldquoinovaccedilatildeordquo As liacutenguas tecircm histoacuteria revelam e constituem a todo tempo a realidade e as
transformaccedilotildees ocorridas comno tempo Em relaccedilatildeo a isso
Humboldt convencia-se de que toda liacutengua reflete a psique do povo que a fala
Eacute o resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal
de fala Ele acha por outro lado que a liacutengua de um povo eacute o canal natural
pelo qual aquele povo chega a uma compreensatildeo do universo que circunda o
homem E conclui que existe uma profunda influecircncia de uma liacutengua na
maneira pela qual seus falantes veem e organizam o mundo dos objetos em
torno deles e de sua vida espiritual (CAMARA JR 1975 p 38-39)
A liacutengua eacute um ldquoinstrumentordquo social e estaacute carregada de significaccedilatildeo e considerados
espaccedilo e tempo eacute capaz de revelar o mundo a outros mundos Faraco (2006) faz ainda referecircncia
ao estudo do leacutexico ao reafirmar que a composiccedilatildeo deste pode ser estudada historicamente na
sua origem bem como os empreacutestimos que satildeo feitos de outras liacutenguas Necessaacuterio se faz
reconhecer que o leacutexico eacute uma unidade carregada da histoacuteria cultural de dada comunidade
linguiacutestica natildeo esquecendo conforme Faraco (2006 p 42) que ldquoeacute um dos pontos em que mais
claramente se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e culturardquo
Com o advento estruturalista de Saussure (2008) haacute uma mudanccedila de perspectiva a
visatildeo diacrocircnica dos fatos linguiacutesticos daacute lugar ao enfoque sincrocircnico dos fenocircmenos da
linguagem Eacute preciso observar que consoante a diretriz saussuriana a anaacutelise sincrocircnica
precede a diacrocircnica sendo possiacutevel fazer comparaccedilatildeo entre elas no momento em que tiver a
descriccedilatildeo de pelo menos dois estados da liacutengua Daiacute reforccedilar-se o objetivo do estudo em
descrever sincronicamente um dado especiacutefico da histoacuteria da liacutengua Faraco (2006 p 120)
afirma que ldquoo estudioso se fixa num momento do passado e tomando-o estaticamente
descreve-o com base nos documentos escritos de que se dispotildee criando assim condiccedilotildees para
um posterior estudo diacrocircnicordquo
50
A par disso conveacutem mencionar que nos seacuteculos XVII e XVIII estudos linguiacutesticos
hegemocircnicos observavam a liacutengua como uma realidade estaacutevel diferentemente do pensamento
linguiacutestico do seacuteculo XIX que considerava a liacutengua como uma realidade em transformaccedilatildeo
Desta forma Saussure (2008) estabeleceu duas dimensotildees uma histoacuterica (chamada diacrocircnica)
que tem como centro de suas atenccedilotildees as mudanccedilas porque passa a liacutengua no tempo ou seja a
mutabilidade da liacutengua no tempo a outra eacute estaacutetica (chamada sincrocircnica) que entende a liacutengua
como um sistema estaacutevel num espaccedilo de tempo aparentemente fixo isto eacute a sua imutabilidade
Mas
Diante dos termos sincroniadiacronia natildeo basta apenas entender por alto a
que se referem Eacute preciso antes perceber que essa divisatildeo pressupotildee tambeacutem
na sua origem uma concepccedilatildeo homogeneizante da liacutengua que ndash apesar de sua
indiscutiacutevel funcionalidade e fertilidade para a linguiacutestica contemporacircnea ndash eacute
para muitos estudiosos uma idealizaccedilatildeo excessiva por criar um objeto de
estudo demasiadamente afastado da heterogeneidade linguiacutestica do real
(FARACO 2006 p 106 grifos do autor)
Segundo Faraco (2006) Coseriu em seu livro Sincronia diacronia e histoacuteria de 1973
posiciona-se de forma contraacuteria agrave formulaccedilatildeo de Saussure (2008) (visatildeo estaacutetica de sistema)
pois para ele a liacutengua deve ser vista em permanente sistematizaccedilatildeo em movimento Coseriu
rejeita a ideia de que a descriccedilatildeo (sincronia) e a histoacuteria (diacronia) sejam estudos diferenciados
mas assume a visatildeo de que as liacutenguas satildeo objetos histoacutericos e devem ser estudadas de forma
integrada envolvendo descriccedilatildeo e histoacuteria
Para Rocha Galvatildeo e Gonccedilalves (2011 p 30) ldquoestabelecer a presenccedila ou a viagem das
palavras eacute acompanhar o envolver das proacuteprias comunidades pelo tempo aforardquo Um recorte
sincrocircnico natildeo deve desprezar a interpretaccedilatildeo diacrocircnica o interesse cientiacutefico natildeo estaacute presente
somente num espaccedilo-tempo assim como a representatividade histoacuterica necessita admitir pontos
exatos na representaccedilatildeo da vivecircncia humana
No segundo capiacutetulo apresenta-se uma breve revisatildeo dos meacutetodos de pesquisa que
podem ser combinados com a teoria onomaacutestico-toponiacutemica a fim de compor um quadro
ilustrativo das caracteriacutesticas do meio da cultura dos fatos histoacutericos e dos estados anteriores
da liacutengua que estatildeo de alguma forma impressos na motivaccedilatildeo que subjaz aos topocircnimos em
questatildeo
51
II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS
O povo ldquosenhor dos espaccedilos puacuteblicosrdquo por vezes
adota criteacuterio proacuteprio ao conferir nomes aos
lugares
(IBGE 2008)
A linguagem humana eacute sobretudo interaccedilatildeo e natildeo pode pois ser explicada apenas em
termos de sua estrutura semacircntica e formal mas tambeacutem deve-se analisaacute-la em sua funccedilatildeo
social Desta forma o desenvolvimento linguiacutestico e intelectual do indiviacuteduo caminham juntos
pois ambos satildeo a base da abstraccedilatildeo e categorizaccedilatildeo pois ldquotoda liacutengua reflete as condiccedilotildees da
sociedade e do ciacuterculo cultural que se falardquo (ANDRADE 2010 p 99)
Aspectos linguiacutesticos de diversas ordens satildeo fundamentais para o estudo toponiacutemico jaacute
que eacute por mecanismos linguiacutesticos que o signo comum transmuta-se em designativo de lugar
revelando a identidade do nomeador coletivo ou natildeo Desta maneira ldquoo topocircnimo eacute o resultado
da accedilatildeo do nomeador ao realizar um recorte no plano das significaccedilotildees representaccedilotildees ou seja
praticar um papel de registro no momento vivido pela comunidaderdquo (ANDRADE 2010 p
106)
Acolher uma orientaccedilatildeo ou outra acarreta outrossim na escolha do meacutetodo a ser utilizado
para a pesquisa linguiacutestico-histoacuterica Para situar a escolha por um meacutetodo este capiacutetulo faz uma
breve exposiccedilatildeo de alguns meacutetodos que tecircm sido empregados em pesquisas de abordagem
similar a esta em especial descrevemos detalhadamente os que satildeo usados nesta pesquisa os
quais consideram natildeo somente os aspectos linguiacutesticos bem como os histoacutericos e socioculturais
do lugar indo ao encontro da perspectiva adotada para este trabalho
21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos
Natildeo se deve confundir metodologia com meacutetodo de pesquisa Segundo Silva e Silveira
(2007 p 145) a metodologia consiste de um conjunto de criteacuterios usados para se construir um
conhecimento vaacutelido seguro e de certa forma verdadeiro Jaacute os meacutetodos de pesquisa podem
ser definidos como ldquoprinciacutepios e procedimentos aplicados para construccedilatildeo do saberrdquo Os autores
salientam que se torna mais difiacutecil ficar preso a um uacutenico meacutetodo quando se pode lanccedilar matildeo
do ldquopluralismo metodoloacutegicordquo Deste modo considerando as especificidades de um estudo
toponiacutemico eacute possiacutevel conjugar meacutetodos de forma ordenada e loacutegica Isto quer dizer que se
52
podem utilizar meacutetodos de abordagem (indutivo dedutivo dialeacutetico) em consonacircncia com os
preceitos de um ou mais meacutetodos de procedimento (funcionalista comparativo
fenomenoloacutegico estruturalista)
Uma perspectiva histoacuterica por exemplo abre um amplo espectro de possibilidades de
se estudar um determinado fato linguiacutestico Podem ser citadas diversas maneiras para se tomar
os fenocircmenos linguiacutesticos do ponto de vista histoacuterico tais como a filologia centrada nos
aspectos histoacutericos das transformaccedilotildees a linguiacutestica comparada que aborda os fatos por meio
de comparaccedilotildees entre as liacutenguas de grupos linguiacutesticos relacionados e a etimologia a qual
busca desvendar o significado de origem das palavras aqui centra-se o nosso objeto de estudo
que eacute descrever e analisar a origemetimologia dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua de Pires do
Rio-GO
Os meacutetodos linguiacutesticos podem ainda estudar as transformaccedilotildees linguiacutesticas
correlacionando-as ao contexto sociocultural o que tem contribuiacutedo grandemente para uma
renovaccedilatildeo das abordagens do fenocircmeno da mudanccedila linguiacutestica resultando em inuacutemeras outras
orientaccedilotildees teoacutericas que em certo sentido podem ser vistas como herdeiras dos primeiros
criacuteticos dos estudos comparativos
A linguiacutestica tem a liacutengua como seu principal objeto de estudo a qual eacute produto da
experiecircncia acumulada historicamente na cultura de uma sociedade A liacutengua eacute um fenocircmeno
social pois eacute produzida e determinada socialmente ademais eacute um importante siacutembolo da
identidade de um grupo E eacute no comportamento linguiacutestico de uma dada comunidade que se
reflete a busca de aprovaccedilatildeo social ou a acentuaccedilatildeo de diferenccedilas (COSERIU 1977) Eacute por
meio dela enfim que um indiviacuteduo adquire a cultura do lugar em que vive jaacute que
A funccedilatildeo baacutesica da Linguiacutestica eacute o estudo direto da lsquoliacutengua viva e faladarsquo por
observaccedilatildeo e anaacutelise objetiva de seus fenocircmenos postas de lado todas as
forccedilas e influecircncias que se manifestem muitas vezes atraveacutes dela e todos os
antecedentes que possam ter dado origem ao estado atual (MAURER JR
1967 p 30)
Observa-se na Linguiacutestica Geral de acordo com Maurer Jr (1967) a divisatildeo em dois
setores distintos poreacutem essenciais para compreensatildeo da linguagem a Linguiacutestica Descritiva
(sincrocircnica) que segundo o autor deve ser a base de todo estudo cientiacutefico porque eacute a partir
dela que aprendemos a linguagem em sua funccedilatildeo uacutenica e peculiar e a Linguiacutestica Histoacuterica
(diacrocircnica) que complementa e explica os fatos da primeira e tem uma funccedilatildeo importante no
estudo desse rico patrimocircnio cultural e humano a liacutengua
53
212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica
Para alguns estudiosos a linguiacutestica histoacuterica teve seu apogeu no seacuteculo XIX embora
outros afirmem que tenha ocorrido haacute tempos no Renascimento De acordo com Paixatildeo de
Sousa (2006 p 14)
[] a reflexatildeo linguiacutestica dos 1800 representa um marco divisor na histoacuteria
das histoacuterias do tempo e da linguagem por inaugurar uma concepccedilatildeo
inteiramente nova dos condicionantes dessa relaccedilatildeo e construir um novo
plano para sua anaacutelise Eacute antes de tudo na tentativa de se combinar a esfera
documental com a esfera experimental que aparecem os desdobramentos mais
interessantes dos estudos histoacutericos da liacutengua ao longo do seacuteculo XIX eles
buscaratildeo articular as duas esferas em um mesmo plano de anaacutelise construindo
a abordagem histoacuterico-comparada
Assim a linguiacutestica histoacuterica apoacutes o seacuteculo XIX cria um meacutetodo que permite
ldquocategorizar e justificar a identidade geneacutetica e a evoluccedilatildeo paralela de cada idioma em um grupo
aparentadordquo segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 16) O meacutetodo comparativo segundo Maurer
Jr (1967) busca comparar cuidadosamente formas apresentadas entre si de um grupo
distinguir a origem e estudar a diversificaccedilatildeo das liacutenguas para desvendar e recontar a histoacuteria
de cada liacutengua Ressalte-se que para Faraco (2006 p 125) esse meacutetodo teve sua estruturaccedilatildeo
ldquoao dar um tratamento sistemaacutetico agraves observadas semelhanccedilas entre liacutenguas distantes no espaccedilo
como o latim e o sacircnscritordquo E ainda
constitui um recurso inteligente e racional para a reconstruccedilatildeo de fatos que
dependem de testemunho em todo o terreno Tal como a Paleontologia a
Histoacuteria da Cultura e ateacute na investigaccedilatildeo do crime na Justiccedila esse meacutetodo
submete o testemunho a um estudo preliminar para avaliar seu isolamento sua
coerecircncia etc (MAURER JR 1967 p 31)
O meacutetodo comparativo se baseia na experimentaccedilatildeo (induccedilatildeo) procura descrever os
estaacutegios da liacutengua que natildeo deixaram registros (documentos) como eacute o caso do latim vulgar No
entanto se difere do histoacuterico-comparativo o qual usa documentos histoacutericos para fazer as suas
reconstruccedilotildees acerca da liacutengua Poreacutem ambos os meacutetodos buscam recuperar a histoacuteria da liacutengua
de forma cronoloacutegica
De acordo com Faraco (2006 p 134)
O meacutetodo comparativo eacute o procedimento central nos estudos de linguiacutestica
histoacuterica Eacute por meio dele que se estabelece o parentesco entre liacutenguas O
pressuposto de base eacute que entre elementos de liacutenguas aparentadas existem
54
correspondecircncias sistemaacuteticas (e natildeo apenas aleatoacuterias ou casuais) em termos
de estrutura gramatical correspondecircncias estas passiacuteveis de serem
estabelecidas por meio duma cuidadosa comparaccedilatildeo Com isso podemos natildeo
soacute explicitar o parentesco entre liacutenguas (isto eacute dizer se uma liacutengua pertence
ou natildeo a uma determinada famiacutelia) como tambeacutem determinar por inferecircncia
caracteriacutesticas da liacutengua ascendente comum de um certo conjunto de liacutenguas
No decorrer dos anos vaacuterios satildeo os estudiosos que contribuiacuteram com a formaccedilatildeo e o
aprimoramento do meacutetodo comparativo dentre eles destacamos Bopp (1791-1867) que
buscava estabelecer o parentesco entre as liacutenguas mas natildeo o percurso histoacuterico de um anterior
para um posterior Grimm (1785-1863) que ao estudar o ramo germacircnico das liacutenguas indo-
europeias pocircde estabelecer a sucessatildeo histoacuterica por meio de comparaccedilatildeo ndash comparativo
histoacuterico Rask (1787-1832) tambeacutem desenvolveu trabalhos comparativos importantes para o
momento envolvendo as liacutenguas noacuterdicas as demais liacutenguas germacircnicas o grego o latim o
lituano o eslavo e o armecircnio Foi a partir desses estudiosos que surgiu a ldquofilologia (ou
linguiacutestica) romacircnica nome que se deu ao estudo histoacuterico-comparativo das liacutenguas oriundas
do latimrdquo (FARACO 2006 p 137)
De tal modo da siacutentese que foi apresentada eacute possiacutevel tecer as seguintes consideraccedilotildees
o meacutetodo histoacuterico-comparativo em seu apogeu foi e ainda hoje eacute uacutetil aos estudos da Linguiacutestica
Histoacuterica principalmente no que concerne natildeo soacute agrave reconstruccedilatildeo de fases anteriores das liacutenguas
como tambeacutem eacute bastante indicado para estudos que objetivam a reconstruccedilatildeo interna de uma
liacutengua Esse meacutetodo cumpriu papel importante para o desvelamento de inuacutemeras questotildees
linguiacutesticas das liacutenguas antigas grego latim sacircnscrito
Jaacute os estudos dos neogramaacuteticos possibilitaram o aprimoramento do meacutetodo histoacuterico-
comparativo mediante a verificaccedilatildeo de que muitas mudanccedilas ocorridas nas liacutenguas em
momentos anteriores e registrados em documentos podem ser explicitadas por meio da
explanaccedilatildeo de mudanccedilas ldquosincrocircnicasrdquo sucedidas nas liacutenguas conforme as leis foneacuteticas e a
analogia
Conforme Cacircmara Jr (1975) Gaston Paris traccedilou mapas das linhas isogloacutessicas dando
os primeiros passos para a geografia linguiacutestica a qual na verdade foi efetivamente criada por
seu disciacutepulo suiacuteccedilo Jules Gillieacuteron que dedicou-se agrave dialetologia e no doutoramento em 1879
defendeu a tese sobre o dialeto de Vionnaz Essa nova teacutecnica ldquoteve como base teoacuterica o
conceito de dialeto como uma abstraccedilatildeo essa a razatildeo de focalizar cada mudanccedila linguiacutestica per
se como o verdadeiro dado linguiacutesticordquo (CAcircMARA JR 1975 p 121)
55
A geografia linguiacutestica10 segundo Cacircmara Jr (1975) eacute importante como uma nova
abordagem para o estudo histoacuterico-comparativo pois em vez de recorrer a textos antigos o
pesquisador busca apenas os aspectos contemporacircneos da liacutengua absorvendo as bases
linguiacutesticas no intercacircmbio oral Desta forma
Obteacutem-se uma corrente evolucionaacuteria pela comparaccedilatildeo das muitas variantes
de cada forma cuja distribuiccedilatildeo no espaccedilo pode ser traduzida numa
distribuiccedilatildeo atraveacutes do tempo de acordo com regras metodoloacutegicas O aspecto
foneacutetico da variante ou sua existecircncia num patois relativamente moderno ou
notaacutevel por traccedilos arcaicos constituem a chave para esta investigaccedilatildeo
histoacuterica Por essa razatildeo eacute que atraveacutes da geografia linguiacutestica uma nova
teacutecnica para o estudo histoacuterico da linguagem foi imaginada sob o tiacutetulo de
ldquoreconstruccedilatildeo internardquo (CAcircMARA JR 1975 p 125 grifos do autor)
Essa nova abordagem vem corroborar com os estudos da liacutengua porque de forma
efecircmera reconstroacutei a histoacuteria de uma dada liacutengua contribuindo com a contemporaneidade uma
vez que nos eacute necessaacuterio conhecer a base etimoloacutegica das palavras e depois justificar o seu uso
ou evoluccedilatildeo
Segundo Cacircmara Jr (1975) apoacutes observar que Gaston Paris traccedilou mapas das linhas
isogloacutessicas e Gillieacuterion criou a geografia linguiacutestica muitos anos depois os linguistas italianos
Giulio Bertoni e Matteo Bartoli criaram o meacutetodo de linguiacutestica areal cujo objetivo era
classificar aacutereas linguiacutesticas ndash de uma liacutengua ou grupo de liacutenguas ndash como forma de
representaccedilatildeo da contemporaneidade e do estaacutegio linguiacutestico de desenvolvimento Os
linguistas consoante Cacircmara Jr (1975 p 126) ldquodividiram um territoacuterio linguiacutestico em aacutereas
isoladas aacutereas laterais aacutereas principais e aacutereas desaparecidas (isto eacute aacutereas homogecircneas que
desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)rdquo e desta forma
difundiam mais um meacutetodo linguiacutestico
Destaca ainda que a linguiacutestica histoacuterica compreende dois momentos de exatidatildeo o
primeiro de 1786 a 1878 periacuteodo de formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do meacutetodo comparativo o qual
finalizou com o movimento dos neogramaacuteticos o segundo vai desde 1878 ateacute a
contemporaneidade periacuteodo de tensatildeo entre duas linhas interpretativas uma imanentista ndash
neogramaacutetico estruturalismo e gerativismo que vecirc a mudanccedila como acontecimento interno da
liacutengua e pela proacutepria liacutengua e a outra integrativa ndash primeiros criacuteticos neogramaacuteticos dialetologia
e sociolinguiacutestica cuja mudanccedila da liacutengua estaacute condicionada a fatores contextuais nos quais o
falante estaacute inserido
10 No Brasil a Geografia Linguiacutestica concretizou-se com a produccedilatildeo de Atlas Linguiacutesticos em diferentes Estados
brasileiros
56
Entre os seacuteculos XVIII e XIX ocorreram momentos de grande relevacircncia para a
linguiacutestica histoacuterica Um deles eacute a fundaccedilatildeo da Escola de Estudos Orientais em Paris
(importante centro de investigaccedilatildeo) no ano de 1975 onde estudaram os linguistas alematildees
Friedrich Schlegel (1772-1829) e Franz Bopp (1791-1867) os quais mais tarde desenvolveram
a chamada gramaacutetica comparativa
Assim em 1808 Friedrich Schlegel publicou um texto sobre a liacutengua e sabedoria dos
povos hindus que de acordo com Faraco (2006) eacute considerado o ponto de partida do
comparativismo alematildeo No texto o autor ratifica sobre o parentesco das liacutenguas sacircnscrita com
a latina grega germacircnica e persa
Cabe ainda salientar que os estudos histoacuterico-comparativos antes da uacuteltima metade do
seacuteculo XIX conheceram a obra de August Scheilcher (1821-1868) Sua teoria tomava a liacutengua
como um organismo vivo com existecircncia fora de seus falantes sendo sua histoacuteria vista como
natural devido agraves orientaccedilotildees naturalistas do linguista como sua formaccedilatildeo em botacircnica e
influenciado pela teoria evolucionista de Darwin (FARACO 2006)
Jaacute no seacuteculo XIX as investigaccedilotildees no campo da linguagem eram dominadas por ideias
positivistas que se desenvolviam conforme meacutetodos histoacuterico-comparativos eacutepoca em que se
formaliza o estudo sistemaacutetico das variaccedilotildees sobretudo as de natureza geograacutefica Surge o
interesse pelos dialetos considerados como fontes de conhecimento do modo como se teriam
operado as transformaccedilotildees em fases anteriores das liacutenguas A Geografia Linguiacutestica eacute uma
consequecircncia do interesse pelos estudos dialetais levados a cabo de iniacutecio por vaacuterios estudiosos
europeus Segundo Coseriu (1982) surge um meacutetodo dialetoloacutegico e comparativo que
pressupotildee o registro em mapas especiais de um nuacutemero relativamente elevado de formas
linguiacutesticas (focircnicas lexicais ou gramaticais) recolhidas mediante pesquisa direta e unitaacuteria
numa rede de pontos distribuiacuteda em determinado territoacuterio
Deste modo eacute necessaacuterio compreender que
A linguagem eacute inegavelmente uma heranccedila social cuja histoacuteria se estende
por seacuteculos Uma visatildeo completa um conhecimento detalhado de seu
mecanismo de sua estrutura de sua semacircntica e ateacute de sua ortografia soacute
podem ser obtidos atraveacutes da pesquisa diacrocircnica Os meacutetodos expostos
acima em suas linhas essenciais natildeo deixam duacutevida de que a filologia
romacircnica se desenvolveu com o meacutetodo histoacuterico-comparativo adotado com
mais ecircxito aqui do que no campo para o qual havia sido criado As possiacuteveis
deficiecircncias desse meacutetodo foram sendo corrigidas depois pela geografia
linguiacutestica e pelos outros meacutetodos derivados como a onomasiologia Woumlrter
und Sachen linguiacutestica espacial etc Enquanto o meacutetodo histoacuterico-
comparativo procura as ligaccedilotildees entre o ldquoterminus a quordquo e o ldquoterminus ad
quemrdquo o latim vulgar e as liacutenguas romacircnicas respectivamente os outros
57
meacutetodos tecircm como objeto especificamente o ldquoterminus ad quemrdquo pois
investigam sincronicamente aspectos atuais dessas mesmas liacutenguas cujas
explicaccedilotildees poreacutem devem ser buscadas diacronicamente (BASSETTO
2001 p 85 grifos do autor)
Para Faraco (2006 p 106) ldquooptar por uns ou por outros eacute que vai orientar nossa forma
de entender a mudanccedila linguiacutestica nossa seleccedilatildeo de dados nossas categorias e procedimentos
de anaacutelise nosso processo argumentativordquo Ou seja ao assumirmos uma concepccedilatildeo de base
correlata eacute o que iraacute definir o nosso meacutetodo de trabalho
22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia
Segundo Silva (2010) a onomasiologia eacute um meacutetodo que se constitui do estudo das
designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Pode ser
investigada toda a cultura popular de um local podendo-se priorizar os aspectos sincrocircnicos ou
histoacutericos Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores do que
subjaz agrave nomeaccedilatildeo dos lugares
Pode-se para efeito deste estudo traccedilar o esquema a seguir o qual demonstra as
possibilidades temaacuteticas que esse tipo de pesquisa pode apresentar
Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos
Onomaacutestica
Toponiacutemia Antroponiacutemia
Modalidades Coleta
Imagens mapas cartas e plantas
Documental Texto iacutendicesrepertoacuterio de nomes
Ficcional Natildeo ficcional
Pesquisa de campo Entrevistas etnografia
Mista Documental e Pesquisa de campo
Fonte Adaptado de material da USP ndash Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas 2016
58
A onomasiologia eacute o resultado das tendecircncias mais significativas da evoluccedilatildeo linguiacutestica
na transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX em que a centralidade das investigaccedilotildees passam
do som (foneacutetica) para a palavra (lexicologia) O seu triunfo se deu a partir do desenvolvimento
da Geografia Linguiacutestica pois com o aparecimento de inuacutemeros termos regionais recolhidos
pelos inqueacuteritos linguiacutesticos surgiu a necessidade de um novo meacutetodo que auxiliasse os
dialetoacutelogos a compreenderem o homem regional em sua amplitude por meio da linguagem
Apoacutes a publicaccedilatildeo dos atlas linguiacutesticos a onomasiologia comeccedila a ser utilizada em
vaacuterios estudos jaacute que pelo seu uso eacute possiacutevel caracterizar as atividades de uma regiatildeo e situaacute-
las no tempo Segundo Couto (2012 p 186) ldquoa onomasiologia vecirc a questatildeo da referecircncia para
usar um termo semioacutetico partindo da coisa e indo na direccedilatildeo do nome que ela receberdquo Desta
forma ldquoo meacutetodo onomasioloacutegico permite ver a cultura do povo cuja liacutengua se estuda
costumes ocupaccedilotildees instrumental crenccedilas e crendices moradia enfim sua mundividecircncia
Permite sentir a linguagem viva traduzindo a vivecircncia cultural do povordquo (BASSETO 2001 p
77)
Ressalta-se que
Com pontos em comum com a Geografia Linguiacutestica e ldquoPalavras e Coisasrdquo o
meacutetodo onomasioloacutegico tambeacutem conhecido como onomasiologia isto eacute o
estudo das denominaccedilotildees se propotildee investigar os vaacuterios nomes atribuiacutedos a
um objeto animal planta conceito etc individualmente ou em grupo dentro
de um ou vaacuterios domiacutenios linguiacutesticos Seus objetivos satildeo portanto
semacircnticos e lexicoloacutegicos buscando descobrir os aspectos vivos e as forccedilas
criadoras da linguagem (BASSETO 2001 p 76)
O meacutetodo onomasioloacutegico natildeo ficou a cargo apenas de um pesquisador mas de vaacuterios
pois seus princiacutepios se desenvolveram aos poucos Conforme Bassetto (2001) temos como
predecessores da onomasiologia moderna F Brinkmann (1872) Luigi Morandi (1883)
Friedrich Diez (1875) Fr Pott (1853) Jakob Grimm (1853) e F Miklosich (1868) Todavia o
princiacutepio da onomasiologia cientiacutefica deu-se com Carlo Salvioni (1858-1920) quando estudou
sobre as denominaccedilotildees italianas do vaga-lume (1892) e com Ernest Toppolet (1870-1939) que
referendou em seus estudos o parentesco dos nomes romacircnicos por ele denominados de
ldquolexicologia cientiacuteficardquo
As pesquisas desenvolvidas na aacuterea da onomaacutestica se constituem em uma linha
documental ou de campo seguindo um meacutetodo pelo qual se selecionam observam registram
classificam analisam e interpretam os dados de acordo com a identificaccedilatildeo dos fatores
59
determinantes agrave configuraccedilatildeo dos corpora Essas anaacutelises de dados satildeo baseadas em trecircs
categorias linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica que satildeo reveladas pelo meacutetodo onomasioloacutegico
Segundo Ramos e Bastos (2010) as trecircs perspectivas ndash linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica
ndash satildeo cruciais para revelar as seguintes caracteriacutesticas a) a determinaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica das
diferentes liacutenguas que tenham existido ou existentes num determinado territoacuterio b) o estudo
das terminaccedilotildees caracteriacutesticas de cada palavra c) o estudo das formas gramaticais d) o estudo
da foneacutetica histoacuterica e) a verificaccedilatildeo das formas documentadas as quais se subdividem em ndash
comparaccedilatildeo semacircntica a abordagem dos dados geograacuteficos e a abordagem dos dados histoacutericos
Cabe ainda indicar em linhas gerais algumas concepccedilotildees do meacutetodo Woumlrter und
Sachen de Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) o qual conforme
Bassetto (2001) tem pontos em comum que compartilha com o meacutetodo onomasioloacutegico Visa
ao estudo das questotildees semacircnticas das palavras enfatizando a realidade que elas designam
porque para os estudiosos dessa linha de pensamento a verdadeira etimologia da palavra
encontra-se no conhecimento dessa realidade Procura instruir sobre a necessidade de conhecer
sempre que possiacutevel o objeto designado por um termo para que o significado possa ser
devidamente explicitado Quando se conhece a realidade a natureza a forma o uso as medidas
das coisas do mundo eacute possiacutevel estabelecer a origem e a histoacuteria das palavras com que esses
mesmos objetos foram designados
Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) foram precursores desse
meacutetodo ao considerarem que as coisas existem antes de serem denominadas ou seja as coisas
preexistem agraves suas designaccedilotildees podendo ateacute existir sem que sejam nomeadas Em
contrapartida as palavras dependem das ldquocoisasrdquo estatildeo ligadas a elas Com essa perspectiva
Schuchardt (mais do que Meringer) remete ao meacutetodo Woumlrter und Sachen ldquoPalavras e Coisasrdquo
cujo tiacutetulo instituiu o nome do meacutetodo
No entanto conveacutem salientar que jaacute na gramaacutetica grega estava impliacutecita a ideia de que
as coisas precedem as palavras Em outros termos quando se conhece em profundidade a
ldquocoisardquo chega-se ao ldquoeacutetimordquo da palavra que a nomeia alcanccedila-se o significado com que a coisa
foi primeiramente designada Menciona-se que para Schuchardt (apud BASSETO 2013)
Sachen (coisa) significava qualquer realidade i eacute ldquoSachenrdquo podia se referir tanto a
acontecimentos e estados como a objetos ao real e ao irreal ao tangiacutevel11 e ao intangiacutevel ou
em outras palavras tanto a coisas do mundo sensiacutevel como do insensiacutevel
11 ldquoTangiacutevelrdquo do latim tangere tangens lsquotocar aquilo que tocarsquo do mesmo eacutetimo de attingere lsquoaproximar-se e
tocarrsquo
60
O meacutetodo Woumlrter und Sachen (Palavras e Coisas) segundo Campbell (2004) relaciona-
se agraves inferecircncias histoacuterico-culturais que podem ser reveladas por meio da investigaccedilatildeo das
palavras pautadas na sua analisabilidade Campbell (2004) assume que as palavras que satildeo
analisadas em partes transparentes (vaacuterios morfemas) podem ser de criaccedilatildeo mais recente (na
liacutengua) em relaccedilatildeo agraves palavras que natildeo apresentam essa transparecircncia morfecircmica
Essa teacutecnica contribui sobremaneira para traccedilar uma cronologia aproximativa dos
vocabulaacuterios Dias (2016 p31) acentua que
Sobretudo supotildee-se que itens culturais denominados por termos analisaacuteveis
satildeo tambeacutem adquiridos mais recentemente pelos falantes e aqueles que satildeo
expressos por palavras natildeo analisaacuteveis representam itens mais velhos e
instituiccedilotildees Outra estrateacutegia desse meacutetodo envolve fazer inferecircncias por meio
de informaccedilotildees de itens culturais de quem os nomes sofreram visivelmente
mudanccedila de significado
E para Crowly (2003) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo pode ser usado para fazer
reconstruccedilatildeo cultural e chegar ao conteuacutedo de uma protocultura por exemplo jaacute que se eacute
possiacutevel reconstruir uma palavra designativa de alguma coisa na protoliacutengua eacute possiacutevel tambeacutem
supor que a coisa a que ela se refere provavelmente foi de importacircncia cultural na vida dos
seus falantes ou que foi ambientalmente marcante Segundo o autor o meacutetodo pode tambeacutem
dizer muito sobre a terra natal de uma famiacutelia linguiacutestica pode-se ainda por meio do referido
meacutetodo fazer suposiccedilotildees sobre as rotas legiacutetimas seguidas pelos povos para se chegar aos
lugares onde se encontram atualmente12
Destarte segundo Bassetto (2013) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo deu destaque agrave
semacircntica ao estabelecer a etimologia e ateacute a biografia das palavras aleacutem de tornar os estudos
filoloacutegicos mais objetivos Posto isso eacute possiacutevel verificar que o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo
pode ser usado nos estudos semacircnticos lexicais onomaacutesticos toponiacutemicos Quando se busca
relacionar a histoacuteria do nome com a histoacuteria do lugar vincula-se a palavra (o nome) agrave coisa (o
lugar) Nesse sentido pode-se de alguma maneira realizar o estudo natildeo apenas pautado no
meacutetodo onomasioloacutegico mas tambeacutem considerando as intrincadas relaccedilotildees entre nomes e as
coisas do mundo
Cabe ressaltar
Assim como procedimento metodoloacutegico seguido nos estudos
toponomaacutesticos buscamos definir o jaacute definido ou seja o objeto de estudo da
disciplina o seu campo de trabalho especiacuteficos a natureza linguiacutestica da
12 Por exemplo os caminhos que levaram (trouxeram) os bandeirantes agraves terras do iacutendio goyaacute
61
anaacutelise em termos de vinculaccedilatildeo a uma aacuterea do conhecimento Partindo-se da
definiccedilatildeo etimoloacutegica dos elementos gramaticais de origem grega enunciados
por Dioniacutesio de Traacutecia no seacuteculo II a C a Toponiacutemia ficou-se como propocircs
Leite de Vasconcelos (1887) no entendimento dos nomes proacuteprios de lugares
distintos dos nomes comuns delimitados pela teoria da linguagem (DICK
2006 p 96)
A toponomaacutestica entatildeo fundamenta-se nos estudos dos nomes proacuteprios de lugares
estabelecendo relaccedilotildees da liacutengua com o ambiente sendo de extrema necessidade observar os
viacutenculos do nomeador com a coisa nomeada a motivaccedilatildeo que subjaz ao topocircnimo
O meacutetodo da Geografia Linguiacutestica com a concepccedilatildeo basilar de que a distribuiccedilatildeo
geograacutefica dos aglomerados populacionais se reflete na diferenciaccedilatildeo linguiacutestica trouxe grande
contribuiccedilatildeo para o estudo dos nomes em geral pois pode refletir tendecircncias que orientaram o
ato de nomeaccedilatildeo tanto de pessoas como de lugares
Sobre o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo cabe apenas repetir que por enfatizar o aspecto
semacircntico das palavras vinculado agrave realidade que elas denominam contribui com o estudo dos
nomes jaacute que parte do princiacutepio de que as palavras se acham ligadas agraves coisas que elas
designam Uma vez conhecendo a natureza das coisas chega-se na verdadeira etimologia da
palavra contribuiccedilatildeo essa que valoriza a cultura e a histoacuteria das comunidades vendo no ser
humano o sujeito das transformaccedilotildees que ocorrem nas liacutenguas e na cultura
Posto isso considera-se mais uma vez que a onomasiologia busca investigar como uma
noccedilatildeo ou conceito eacute nomeado na liacutengua tendo sempre em mente que quem daacute nome agraves coisas
satildeo os falantes e o fazem em decorrecircncia da cosmovisatildeo de seu grupo O meacutetodo
onomasioloacutegico permite que a cultura do povo pesquisado seja revelada
Entretanto a despeito das contribuiccedilotildees que cada um trouxe para os estudos linguiacutesticos
nenhum desses meacutetodos foi suficiente teoricamente para deslindar os inuacutemeros aspectos que
permeiam o ato de nomeaccedilatildeo o que implica dizer que o mais sensato eacute combinar o que cada
meacutetodo apresenta de mais satisfatoacuterio referentemente ao problema que se pretende resolver o
que requer tambeacutem adaptaccedilotildees e revisotildees constantes de um ou de outro ou ainda da combinaccedilatildeo
deles
Considera-se entatildeo
os aspectos pelos quais entendemos a disciplina como conhecimento
cientiacutefico saber construiacutedo como objeto campo de trabalho e pesquisa
demarcados apesar disto manteacutem-se em intersecccedilatildeo a outros campos sem
perder sua identidade A metodologia que emprega em seus levantamentos eacute
de origem indutivo-dedutiva de acordo com os procedimentos
62
onomasioloacutegico-semasioloacutegicos caracteriacutesticos da pesquisa do leacutexico (DICK
2006 p 98)
E no que tange agrave metodologia aos procedimentos de pesquisa propriamente ditos
segundo Dick (1996) que podem ser aplicados nos estudos toponiacutemicos devem se estabelecer
da seguinte forma a) seleccedilatildeo de fontes primaacuterias (cartas geograacuteficas editadas por oacutergatildeos oficiais
estaduais e municipais em escalas de 150000 ou 1100000 ou listas toponiacutemicas oficiais) e
complementaccedilatildeo a partir de fontes secundaacuterias (trabalhos historiograacuteficos da proacutepria
comunidade acerca do local onde vivem) b) registro dos dados em fichas lexicograacuteficas
padronizadas com a identificaccedilatildeo dos nomes do pesquisador e do revisor fontes e data de
coleta c) anaacutelise de dados que inclui a quantificaccedilatildeo dos nomes e das taxonomias analisando
a maior ou menor frequecircncia de classes ou itens lexicais e do estudo dos nomes a partir de um
enfoque puramente linguiacutestico (etimoloacutegico e estrutural) linguiacutestico-histoacuterico e variacionista
Desta forma a metodologia para este trabalho baseia-se em Dick (1996 2006) e por
conseguinte estabelece relaccedilotildees com as demais pesquisas na aacuterea da toponomaacutestica De acordo
com a autora ldquoTrata-se de modelo semacircntico-motivador das ocorrecircncias toponomaacutesticas que
conformam a realidade designativa da nomenclatura geograacutefica oficial do paiacutesrdquo (Dick 2006 p
104) As taxionomias satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise linguiacutestica do topocircnimo e hoje
se dividem em vinte sete taxes pela importacircncia na ldquoanaacutelise linguiacutestica ou casual dos motivos
determinantes das designaccedilotildees integram as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas em um campo
funcional especiacuteficordquo (Dick 2006 p 106) E a partir destas fichas busca-se a identificaccedilatildeo do
topocircnimo e computar as categorizaccedilotildees motivadoras do designativo
A metodologia de pesquisa aqui proposta se caracteriza por ser de natureza documental
(documentos analoacutegicos eou digitais como as cartas topograacuteficas e levantamento histoacuterico
geograacutefico por meio do Instituto Mauro Borges IBGE e de mapas do municiacutepio de Pires do
Rio-GO) e de abordagem qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a
constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos
puacuteblicos e no levantamento histoacuterico-geograacutefico Os procedimentos consistem na
sistematizaccedilatildeo de leituras documentais e de investigaccedilatildeo de campo o que os vincula agrave induccedilatildeo
e seguem os meacutetodos etnolinguiacutesticos
O percurso apresentado por Dick (1990) isto eacute pautado na induccedilatildeo desenvolveu-se por
meio do plano onomasioloacutegico de investigaccedilatildeo em que a partir de um conceito geneacuterico se
identificam as variaacuteveis possiacuteveis das fontes consultadas Nos registros municipais constam os
63
nomes atuais e os nomes anteriores (quando houve mudanccedilas) dos lugares de toda regiatildeo
municipal Estes e os mapas constituem as fontes primaacuterias desta pesquisa pois
O percurso do fazer onomasioloacutegico e o percurso da produccedilatildeo de significaccedilatildeo
se inserem em direccedilotildees diferentes o fazer interpretativo perfaz um processo
semasioloacutegico por outro lado o fazer onomasioloacutegico eacute uma unidade
conceitual enquanto a definiccedilatildeo eacute o percurso do fazer lexicograacutefico
Entretanto ao conceituar eacute necessaacuterio construir um modelo mental que em
primeira instacircncia corresponda a um recorte cultural para a escolha da
estrutura lexical que melhor pode manifestar a percepccedilatildeo bioloacutegica do fato
que se completa ao analisar e descrever o semema linguiacutestico para reconstruir
esse modelo mental a partir de uma estrutura linguiacutestica manifestada
Ressalta-se o caraacuteter pluridisciplinar do signo toponiacutemico jaacute que por meio
dele pode-se conhecer a histoacuteria dos grupos humanos que viveram (e vivem)
nos limites geograacuteficos de Goiaacutes as especificidades da cultura e do ambiente
do povo o denominador as relaccedilotildees estabelecidas entre os aglomerados
humanos e o ecossistema as caracteriacutesticas fiacutesico geograacuteficas da regiatildeo
(geomorfologia) estratos linguiacutesticos de origem diferente do uso hodierno da
liacutengua ou mesmo de liacutenguas jaacute desaparecidas para se conhecer as motivaccedilotildees
subjacentes aos respectivos topocircnimos (SIQUEIRA 2015 mimeografado)
Para este estudo utilizaram-se inicialmente as Folhas Topograacuteficas editadas pela DSG
(Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito) na escala de 1100 000 Folhas Pires do Rio
SE-22-X-D-III Ipameri SE-22-X-D-VI e Cristianoacutepolis SE-22-X-D-II de 1973 para
identificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio juntamente com o mapa da rede hidrograacutefica do
municiacutepio de Pires do Rio-GO pois satildeo ldquoinstrumentos metodoloacutegicos haacutebeis para o estudo
onomaacutestico a documentaccedilatildeo cartograacutefica referida e a arquivologia que se posicionam como fontes
idocircneas para o estabelecimento das etapas relativas agrave desconstruccedilatildeo e agrave recriaccedilatildeo dos proacuteprios dadosrdquo
(DICK 1999 p 11)
O uso de mapas torna o trabalho relevante jaacute que eles satildeo elementos de comunicaccedilatildeo
visual os quais pertencem agrave linguagem Eles contemplam ainda a aacuterea tecnoloacutegica pois a sua
construccedilatildeo se daacute por meio da utilizaccedilatildeo de equipamentos programas e sites os quais tambeacutem
satildeo utilizados por noacutes para cartografar mapas juntamente com as taxes dos topocircnimos dos
cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO assim
Tomar o mapa como corpus permite tomar tambeacutem a questatildeo da relaccedilatildeo dos
nomes no seu conjunto e sua distribuiccedilatildeo no espaccedilo urbano Pode-se entatildeo
refletir como algo proacuteprio do corpus em anaacutelise sobre a questatildeo da nomeaccedilatildeo
dos espaccedilos da cidade bem como o modo de distribuiccedilatildeo dos nomes pelos
espaccedilos historicamente constituiacutedos (GUIMARAtildeES 2005 p 43)
Tradicionalmente entendidos como uma representaccedilatildeo simboacutelica dos contornos de uma
paisagem fiacutesica ou urbana os mapas se caracterizam por permitirem dois planos de
64
interpretaccedilatildeo o ldquoverbalrdquo expresso nos nomes dos elementos e o ldquonatildeo-verbalrdquo caracterizado
por siacutembolos convencionais distintos segundo a natureza do elemento mapeado (cursos drsquoaacutegua
caminhos serras rodovias estradas vicinais ferrovias vilas povoados cidades)
A propoacutesito
Se o meacutetodo empregado na Toponiacutemia como dissemos eacute aquele da
investigaccedilatildeo do pormenor toacutepico-nominal apreendido no registro das cartas
geograacuteficas (base documental) ou como variaccedilatildeo no exame do terreno ou do
objeto pelo proacuteprio pesquisador o material resultante na maioria das vezes
eacute de origem descontiacutenua e fragmentaacuteria A sequecircncia loacutegica dos termos areais
deve ser buscada o que exige cuidados de intepretaccedilatildeo e reflexatildeo para que
todo esse organismo construiacutedo coletiva ou individualmente em momentos
histoacutericos distintos venha a se construir em material de anaacutelise vaacutelido do
ponto de vista linguiacutestico (DICK 2006 p 99-100)
Desta forma dos 46 (quarenta e seis) topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de
Pires do Rio-GO (coacuterregos ribeirotildees rios e quedas drsquoaacutegua) por noacutes elencados na pesquisa
apenas 15 topocircnimos ndash por razotildees especiacuteficas que seratildeo relatadas no quarto capiacutetulo ndash seratildeo
catalogados em fichas conforme modelo desenvolvido por Dick (2004) Posteriormente
realizaremos as anaacutelises morfoloacutegicas e a classificaccedilatildeo semacircntico-motivacional e toponiacutemica
propriamente dita
O preenchimento das fichas lexicograacuteficas ndash que identificam o elemento designado as
entradas lexicais o pesquisador o revisor e as fontes da coleta ndash eacute a etapa inicial de um conjunto
de fases posteriores que integram o projeto
As etapas da pesquisa foram dividas da seguinte forma a) levantamento dos dados para
construir o corpus e a aquisiccedilatildeo das cartas Topograacuteficas do municiacutepio de Pires do Rio-GO b)
levantamento dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua registrados nas folhas topograacuteficas c) anaacutelise
e reconhecimento dos aspectos ambientais culturais dos designativos nos diferentes topocircnimos
observados e posteriormente cartografados d) investigaccedilatildeo dos provaacuteveis fatores
motivacionais inerentes aos sintagmas toponiacutemicos e) classificaccedilatildeo das taxionomias a partir do
recorte epistemoloacutegico dos dados coletados f) distribuiccedilatildeo quantitativa dos topocircnimos de
acordo com a natureza toponiacutemica (fiacutesica ou antropocultural) g) estudo linguiacutestico dos
sintagmas toponiacutemicos ndash origemetimologia estruturas semacircntica e morfoloacutegica
Por meio da categorizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico
histoacuterico-criacutetico que foi o norte de nossa pesquisa de certa forma revela-se que o topocircnimo foi
determinado pela populaccedilatildeo anterior ou pela presenccedila de imigrados no local o que faz-nos
perceber que as palavras natildeo apenas comunicam o que se quer dizer mas acusam a Histoacuteria
daquilo que foi dito por necessidades dinacircmicas das pessoas repassadas pela tradiccedilatildeo cultural
65
O proacuteximo capiacutetulo apresenta em linhas gerais um pouco da histoacuteria desse lugar que
abriga 46 cursos drsquoaacutegua e inclusive teve seu primeiro nome devido agrave exuberacircncia do reflexo da
lua cheia nas aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute A ldquoTeteia do Corumbaacuterdquo de antes deu lugar ao
municiacutepio nascido dos caminhos abertos pelos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz laacute pelos idos
de 1922
66
III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO
A cidade eacute por si mesma depositaacuteria de
histoacuteria
(ROSSI 1998)
Este capiacutetulo traz uma apresentaccedilatildeo dos dados histoacutericos referentes agrave fundaccedilatildeo e ao
posterior desenvolvimento social e urbano do municiacutepio de Pires do Rio-GO criado em
decorrecircncia da expansatildeo da Estrada de Ferro Goyaz pelo cerrado goiano As informaccedilotildees aqui
revisitadas integram obras de estudiosos como Siqueira (2006) Ferreira (1999) Borges
(1990) Soares (1988) que se detiveram por alguma razatildeo no esclarecimento de controveacutersia
acerca principalmente do verdadeiro fundador do municiacutepio e de fatos que antecederam a
inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo feacuterrea no ano de 1922
31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte
No iniacutecio do seacuteculo XX a Estrada de Ferro Goyaz avanccedilou sobre o territoacuterio de Goiaacutes
e com isso comeccedilaram a surgir vilas arraiais e distritos que com o progresso e passar dos
anos se elevariam a cidades A entatildeo chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no interior do
estado mais precisamente na regiatildeo Sudeste Goiana fez com que no ano de 1922 surgisse a
Estaccedilatildeo Pires do Rio e que se elevaria tatildeo logo a cidade
A estrada de ferro traria progresso agraves cidades e ao estado No entanto de acordo com
Borges (1990) alguns coroneacuteis adversos a qualquer tipo de mudanccedila de caraacuteter progressista
natildeo aceitavam a instalaccedilatildeo da estrada de ferro pois ela representaria uma forccedila nova de
transformaccedilatildeo que poderia ameaccedilar o poder constituiacutedo dos coroneacuteis Mas na formaccedilatildeo de
Pires do Rio-GO a chegada da Estrada de Ferro Goyaz foi aceita pelo coronel Lino Teixeira de
Sampaio e inclusive foi doado o terreno para a construccedilatildeo de uma estaccedilatildeo feacuterrea
Vale ressaltar que
a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro de Goiaacutes resultou primeiro do empenho
poliacutetico de uma fraccedilatildeo da classe dominante ligada a novos grupos oligaacuterquicos
que despontavam como forccedila poliacutetica no Estado a qual contou com apoio do
capital financeiro internacional Em segundo lugar como a ferrovia servia
inteiramente aos interesses da economia capitalista ou seja agrave nova ordem
econocircmica com expansatildeo no Paiacutes este fator direta ou indiretamente
67
pressionaria o Governo Federal a apoiar a construccedilatildeo da linha (BORGES
1990 p 55-56)
O avanccedilo da estrada de ferro na regiatildeo Sudeste do estado de Goiaacutes foi fundamental para
o surgimento da cidade de Pires do Rio-GO Ambas as histoacuterias se entrecruzam e revelam
acontecimentos que corroboraram com a construccedilatildeo de uma cidade promissora Para
(re)escrever esta histoacuteria eacute fundante mostrar a ficha lexicograacutefica-toponiacutemica jaacute que o objeto
desta pesquisa satildeo os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua pertencentes a cidade de Pires do Rio-GO
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 01
Topocircnimo Pires do Rio Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Antropocircnimo
Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Pires + do Rio ndash sobrenome)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Cidade sede do distrito do municiacutepio do termo e comarca de
igual nome Na regiatildeo oriental do municiacutepio entre o ribeiratildeo Sampaio e o Monteiro afluentes
do rio Corumbaacute com estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goiaacutes
Fonte Siqueira (2012) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Como jaacute observando no capiacutetulo I os estudos toponiacutemicos revelam fatores soacutecio-
histoacuterico-culturais de uma dada comunidade e Pires do Rio-GO nos revela isso de forma
peculiar como podemos observar na ficha acima a caracterizaccedilatildeo do topocircnimo em que a
taxionomia eacute de natureza antropocultural antropotopocircnimo relativo a nomes proacuteprios e de
famiacutelia (sobrenome do ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas Dr Joseacute Pires do Rio) A base
etimoloacutegica eacute antropocircnimo a estrutura morfoloacutegica eacute de nome composto e as informaccedilotildees
enciclopeacutedias vecircm ratificar informaccedilotildees jaacute expressas na ficha Essas informaccedilotildees nos satildeo
precisas e no decorrer (re)editaremos partes relevantes da histoacuteria desta cidade
Observar o surgimento do municiacutepio de Pires do Rio eacute reviver a construccedilatildeo da linha
feacuterrea na regiatildeo Sudeste e para tal ato buscamos em algumas literaturas reconstruir em partes
a histoacuteria da cidade de Pires do Rio-GO que carinhosamente foi apelidada de ldquoTeteia do
68
Corumbaacuterdquo devido ao reluzir sobre as aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute a exuberacircncia da lua
cheia
Na histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade haacute controveacutersias pois alguns dizem ter sido o Coronel
Lino Teixeira de Sampaio o fundador mas Wilson Cavalcanti Nogueira filho do Sr Manoel
Cavalcanti Nogueira o primeiro Intendente da cidade em seus estudos revela que o fundador
de Pires do Rio foi o Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida diretor da Estrada de Ferro Goyaz
Nos estudos de Jacy Siqueira (2006) piresino historiador cujo livro Um contrato
singular e outros ensaios de histoacuteria de Goiaacutes descreve a origem da cidade de Pires do Rio
com base em documentos oficiais o autor citado presume a veracidade dos fatos que
contribuem para exposiccedilatildeo histoacuterica deste capiacutetulo jaacute que ldquoo tempo eacute agente terriacutevel a tudo
colhe separa peneira depura e evidencia ndash verdade ou mentira ndash com a forccedila e a violecircncia
decorrentes do pesado braccedilo da Histoacuteria de quem eacute o servidor fiel e mestre implacaacutevelrdquo
(SIQUEIRA 2006 p 65)
Em relaccedilatildeo aos fatos que marcam o iniacutecio da fundaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidade de Pires
do Rio os historiadores remetem a inuacutemeras controveacutersias sobre a fundaccedilatildeo e os reais
fundadores e tambeacutem sobre a existecircncia de um povoado que competia com o Roncador em
1921 que mais tarde nos arquivos seria o Bairro do Fogo hoje Santa Ceciacutelia O local Rua do
Fogo eacute toda a parte situada do outro lado da linha feacuterrea
Rua do Fogo na descriccedilatildeo de Nogueira se formou pela atraccedilatildeo de pessoas de
diversas regiotildees com o intuito de negociar e prestar serviccedilos diversificados
aos operaacuterios da Estrada eram lavadeiras curandeiro sapateiro padeiro
professor primaacuterio fotoacutegrafo meretrizes e aventureiros Configurando um
povoamento tiacutepico do pioneirismo cada dia mais pessoas chegavam
predominantemente aventureiros muitos deles ateacute mesmo com passado
criminal As casas sendo erguidas raacutepidas e improvisadamente perfilaram-se
em ambos lados ao longo de uma rua irregular que era cenaacuterio de constantes
desordens e violecircncias ganhando por isso o nome de Rua do Fogo A
constante chegada de pessoas levou o povoado a competir em dimensatildeo com
a vizinha Roncador jaacute em 1921 (FERREIRA 1999 p 100)
O Porto do Roncador em 24 de agosto de 1921 recebe a visita do Ministro da Viaccedilatildeo
e Obras Puacuteblicas Engenheiro Sr Joseacute Pires do Rio que na qualidade anterior de Inspetor Geral
das Estradas de Ferro havia se posicionado contraacuterio ao prolongamento da ferrovia no Estado
de Goiaacutes Na ocasiatildeo ficou resolvido que a ponte sobre o rio Corumbaacute deveria se chamar Ponte
Pires do Rio e a primeira estaccedilatildeo a seguir Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio Pessoa mas ocorreu o
contraacuterio Essa informaccedilatildeo foi publicada inclusive nos meios de comunicaccedilatildeo da eacutepoca
69
A Informaccedilatildeo Goyana revista fundada por Henrique Silva que se edita no
Rio de Janeiro na sua ediccedilatildeo de agosto de 1921 (Ano V Vol V n ordm 1 p 1)
traz a reportagem ldquoO Ministro de Viaccedilatildeo Visita o Estado de Goiaacutesrdquo Destaca-
se dela
Tem-se resolvido que a primeira estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz aleacutem
Roncador se denomine ndash Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio
A ponte do Corumbaacute segundo solicitaccedilatildeo dos que tomaram parte na recepccedilatildeo
do Sr ministro da Viaccedilatildeo seraacute denominada ndash Ponte Pires do Rio (SIQUEIRA
2006 p 44 grifos do autor)
As obras estavam a todo vapor e enquanto aguardavam a conclusatildeo da ponte sobre o
rio Corumbaacute os serviccedilos de movimentaccedilatildeo de terra eram feitos aleacutem da outra margem do rio
tendo jaacute avanccedilado ateacute Tavares quilocircmetro 303 da ferrovia distante 84 quilocircmetros de
Roncador O local da estaccedilatildeo de Pires do Rio situa-se no quilocircmetro 218 pouco distante do rio
na Comarca de Santa Cruz em terras da Fazenda do Brejo ou do Sampaio de propriedade do
fazendeiro local coronel Lino Teixeira de Sampaio
No dia 13 de julho de 1922 no momento de inauguraccedilatildeo da ponte metaacutelica construiacuteda
sobre o rio Corumbaacute fez-se a inversatildeo do que o Senhor Ministro havia solicitado pois ela
recebeu o nome do presidente da repuacuteblica (Epitaacutecio Pessoa) troca esta feita pelo diretor da
Estrada de Ferro Goyaz o engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida
A execuccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa significou a integraccedilatildeo das demais regiotildees goianas
no desenvolvimento econocircmico uma vez que o rio Corumbaacute representava uma onerosa barreira
econocircmica para a produccedilatildeo dessas regiotildees Pires do Rio primeira estaccedilatildeo na outra margem do
Corumbaacute prometia ser um entreposto regional devido agrave sua possiacutevel ligaccedilatildeo por terra com
antigos e promissores municiacutepios isolados pelo rio e que natildeo foram contemplados com a
ferrovia Santa Cruz de Goiaacutes Bela Vista Piracanjuba Caldas Novas e Morrinhos O que veio
concretizar essa possibilidade foi a disposiccedilatildeo do coronel Lino Teixeira de Sampaio em doar
terras agrave Estrada de Ferro Goyaz para juntamente com a estaccedilatildeo fundar no local uma cidade
Nesse aspecto seu empenho foi aacutegil e eficiente dois planos urbanos que vieram garantir para
os pioneiros a certeza da existecircncia de uma cidade no local (FERREIRA 1999)
Nas bases da histoacuteria da rede feacuterrea segundo Ferreira (1999) quando da inauguraccedilatildeo
da estaccedilatildeo Pires do Rio foi tambeacutem decretada a fundaccedilatildeo da cidade registrada em obelisco
erguido no largo de frente agrave estaccedilatildeo hoje a praccedila do mercado municipal considerando-se como
fundador o engenheiro da ferrovia Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida e designando a cidade
pelo nome (uma homenagem) do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas engenheiro Joseacute
Pires do Rio
70
Houve tambeacutem a intenccedilatildeo por parte do Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida em deixar a
estaccedilatildeo de Pires do Rio como ponta de linha para que se desenvolvesse rapidamente Finda a
raacutepida inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo seguiu tambeacutem o engenheiro no ldquotrem Inauguralrdquo rumo a
Tapiocanga ndash a proacutexima estaccedilatildeo depois de Pires do Rio ndash para inaugurar sua estaccedilatildeo
improvisada em um simples vagatildeo pois era um local onde natildeo havia nenhuma edificaccedilatildeo
passando mesmo assim a ser a ponta de linha
No dia 9 de novembro de 1922 eacute inaugurado o obelisco a cerca de 50 metros da estaccedilatildeo
ferroviaacuteria jaacute edificada considerada a pedra fundamental da cidade de Pires do Rio Encontra-
se grafado no monumento em alto-relevo que o Engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida na
eacutepoca diretor da Estrada de Ferro de Goyaz era o fundador da cidade de Pires do Rio uma
ldquofraserdquo que tem gerado algumas controveacutersias acerca do verdadeiro fundador da cidade
(SIQUEIRA 2006)
Enquanto alguns escritores piresinos e familiares alimentam a disputa ideoloacutegica no
niacutevel da influecircncia poliacutetica do coronel Lino Teixeira de Sampaio corroborada pela doaccedilatildeo de
um terreno para a construccedilatildeo da cidade outros tecircm se debruccedilado sobre as criacuteticas advindas do
meio acadecircmico local uma vez que o aniversaacuterio da cidade natildeo coincide com a data da escritura
de doaccedilatildeo das terras 05 de julho de 1922 mas com a data oficial inscrita na pedra fundacional
feita pelo Diretor da Estrada de Ferro Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida 09 de novembro de
1922
Siqueira (2006) eacute um dos estudiosos que argumentam a favor da tese de que o fundador
da cidade eacute o coronel Lino Teixeira de Sampaio Desta forma para corroborar o ato de doaccedilatildeo
da gleba de terra Siqueira (2006) recorreu aos livros de registros do Cartoacuterio de Imoacuteveis da
Comarca de Santa Cruz de Goiaacutes onde se encontra a escritura puacuteblica lavrada no dia 5 de julho
de 1922 pois na eacutepoca as terras pertenciam a este referido municiacutepio a qual nos informa que
por eles [Lino e Rozalina] foi dito que de suas livres e espontacircneas vontades
e sem coaccedilatildeo alguma doam agrave Estrada de Ferro de Goyaz com (4) alqueires
de terreno de campo divididos e demarcados nesta fazenda do ldquoBrejordquo
conforme consta na planta confeccionada pela dita Estrada de Ferro e bem
assim a aacutegua necessaacuteria ao abastecimento da Estaccedilatildeo jaacute edificada dentro destes
quatros alqueires Declaram mais os doadores que fazem a doaccedilatildeo dos
referidos terrenos agrave Estrada de Ferro de Goyaz sem que a mesma Estrada tenha
obrigaccedilatildeo de espeacutecie alguma cabendo-lhe apenas Dividir o terreno doado em
pequenos lotes para que seja dado iniacutecio agrave edificaccedilatildeo de uma pequena Cidade
excluindo o referido a faixa necessaacuteria agrave Estaccedilatildeo arrendar os lotes e aplicar
as rendas em melhoramentos da futura Cidade e edificaccedilatildeo de um Grupo
Escolar natildeo admitir seja construiacutedo preacutedio algum sem que seja previamente
aprovada pela diretoria da Estrada a respectiva planta (SIQUEIRA 2006 p
29)
71
Entretanto os fatos histoacutericos remetem agrave data de 09 de novembro como sendo de
fundaccedilatildeo da cidade jaacute que essa data se justifica pela inauguraccedilatildeo (documentada) da estaccedilatildeo
ferroviaacuteria Pires do Rio embora para Siqueira (2006) a data de fundaccedilatildeo da cidade seja o dia
05 de julho de 1922 data que coincide com a da escritura puacuteblica de doaccedilatildeo das terras agrave Estrada
de Ferro Goyaz
Siqueira (2006) ainda acrescenta as suas consideraccedilotildees acerca do fato de que o coronel
Lino Teixeira de Sampaio aleacutem de doar os quatro alqueires de terra accedilatildeo que outros
fazendeiros das estaccedilotildees seguintes natildeo tiveram apresentou um projeto urbano (planta) da
cidade a ser erguida nas proximidades da estaccedilatildeo projeto este de autoria de um engenheiro da
Estrada Aacutelvaro Pacca que foi apresentado e aprovado pela direccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz
em 1ordm de janeiro de 1922
De acordo com Ferreira (1999) acredita-se que no local definitivo da estaccedilatildeo por volta
do ano de 1923 apresentou-se outro projeto para a construccedilatildeo da cidade desta vez solicitado
ao topoacutegrafo da Estrada de Ferro Moacir de Camargo A cidade de Pires do Rio ficaria sendo
entatildeo a primeira cidade do Centro-Oeste a nascer com planejamento preacutevio antes de Goiacircnia
ou Brasiacutelia
O momento em que a cidade comeccedila a surgir de acordo com Nogueira (sd) fez com
que a populaccedilatildeo do Roncador migrasse toda para laacute carregando tudo aquilo que lhes pertencia
inclusive o material de construccedilatildeo das casas que foram demolidas construindo novas moradias
no local escolhido para tal fim Esse fato de mudar de um arraial para outro segundo Ferreira
(1999) veio a constituir o fenocircmeno por ele denominado de fagocitose pois para a formaccedilatildeo
da cidade Pires do Rio o arraial do Roncador extinguiu-se para vigorar a nascente cidade como
se observa nos dizeres abaixo
Pires do Rio crescia em terras de Santa Cruz municiacutepio de projeccedilatildeo
econocircmica e poliacutetica no Estado que dominou todo o sudeste e parte do sul de
Goiaacutes O arraial de origem fundado em 1729 teve seu valor econocircmico
firmado na extraccedilatildeo auriacutefera passando agrave Julgado de Santa Cruz em 1809 com
seu territoacuterio de influecircncia sobre uma extensa aacuterea Emancipou-se agrave Vila em
1833 quando Goiaacutes foi dividido em quatro Comarcas sendo Santa Cruz uma
delas Terminado o ciclo do ouro sua economia voltou-se durante o seacuteculo
XIX para a pecuaacuteria extensiva a agricultura e primitivo processamento da
produccedilatildeo agriacutecola sobrepondo-se agraves outras cidades de economia auriacutefera em
estagnaccedilatildeo A emancipaccedilatildeo de seus distritos ao longo do seacuteculo XIX foi-lhe
tirando a extensatildeo de seu poder territorial e de jurisdiccedilatildeo mas natildeo seu poder
econocircmico e poliacutetico no Estado Essa situaccedilatildeo veio a se alterar com a chegada
da Estrada de Ferro Goiaacutes (FERREIRA 1999 p 136)
72
As construccedilotildees jaacute haviam se iniciado e comeccedilara a chegar os novos moradores oriundos
de vaacuterias partes do paiacutes e do mundo que solidificariam a comunidade piresina Os baianos e os
aacuterabes foram os primeiros migrantes a chegarem e fixarem-se acreditando na futura cidade Os
baianos e outros nordestinos foram atraiacutedos pela frente de trabalho criada pela construccedilatildeo da
ferrovia Os italianos e espanhoacuteis tambeacutem se fizeram presentes na comunidade local No
entanto a maioria dos migrantes foram mesmo paulistas e mineiros Os estrangeiros tais como
italianos espanhoacuteis e principalmente aacuterabes foram partes integrantes da elite dominante
(FERREIRA 1999)
Pires do Rio se elevou a distrito do Municiacutepio de Santa Cruz em 23 de agosto de 1924
pela Lei nordm 66 E em 7 de julho de 1930 pela Lei nordm 903 foi criado o municiacutepio de Pires do
Rio E tatildeo logo pelo Decreto de ndeg 522 de 8 de janeiro de 1931 publicado no Correio Officcial
ndeg 1819 paacutegina 3 de 19 de abril do mesmo ano (SIQUEIRA 2006) oficializou a transferecircncia
da Comarca de Santa Cruz para a cidade de Pires do Rio
Na deacutecada de 30 estabelecia-se o comeacutercio na cidade de Pires do Rio natildeo tinha um
centro comercial propriamente dito mas algumas casas de comeacutercio espalhadas pela cidade
(FERREIRA 1999) A instalaccedilatildeo da energia eleacutetrica em 1934 deu um impulso agrave agroinduacutestria
local iniciada com a charqueada em 1924 e logo apoacutes por uma maacutequina beneficiadora de arroz
serraria faacutebrica de manteiga padarias curtume e outros pequenos centros de produccedilatildeo com
isso a necessidade de matildeo-de-obra impulsionava o crescimento da populaccedilatildeo jaacute que muitos
eram empregados pela via feacuterrea desta forma a vinda de imigrantes a nova cidade era
necessaacuterio Com o crescimento da cidade e da sua populaccedilatildeo foram necessaacuterias benfeitorias
que foram ocorrendo no decorrer dos anos
De acordo com Siqueira (2006) Pires do Rio se desenvolveu de forma diferenciada das
centenaacuterias cidades de Goiaacutes visto que a maioria se formou por tradicionais enraizados e
familiocratas grupos poliacuteticos ou simplesmente ldquooligarquiasrdquo o que permitiu uma abertura e
receptividade ao novo e ao desconhecido como paracircmetro coerente para a construccedilatildeo de uma
comunidade nascente No periacuteodo de 1921 a 1940 correspondentemente agrave cidade em sua
afirmaccedilatildeo poliacutetica e urbana foi composta por migrantes e imigrantes que se estabeleciam na
prestaccedilatildeo de serviccedilo agroinduacutestria e comeacutercio tudo isso oriundo da formaccedilatildeo da cidade pela
Estrada de Ferro Goyaz
Um fato ainda natildeo informado eacute que no ano de 1933 o municiacutepio era constituiacutedo de dois
distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Jaacute no decreto-lei nordm 5200 de 08 de dezembro de 1934
Pires do Rio eacute ldquorebaixadordquo agrave categoria de distrito do municiacutepio de Santa Cruz haja vista que
73
em divisotildees territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937 Pires do Rio figura como distrito
de Santa Cruz (IBGE 2016)
Em 03 de marccedilo de 1938 pelo Decreto-lei nordm 557 Pires do Rio retorna agrave categoria de
municiacutepio e Santa Cruz agrave de distrito No periacuteodo de 1939-1943 o municiacutepio aparece constituiacutedo
de trecircs distritos Pires do Rio Santa Cruz e Cristianoacutepolis O distrito de Santa Cruz pelo
Decreto-lei nordm 8305 de 31 de dezembro de 1943 passou a denominar-se Corumbalina Mas
pelo Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias de 20 de julho de 1947 Artigo 61
desmembrou-se do municiacutepio de Pires do Rio e foi elevado agrave categoria de municiacutepio com a
denominaccedilatildeo de Santa Cruz de Goiaacutes (IBGE 2016)
Em divisatildeo territorial datada de 1 de julho de 1950 o municiacutepio eacute constituiacutedo de dois
distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Depois pela lei municipal nordm 221 de 15 de julho 1953
eacute criado o distrito de Palmelo e anexado ao municiacutepio de Pires do Rio A lei estadual nordm 739 de
23 de junho de 1953 desmembra do municiacutepio de Pires do Rio o distrito de Cristianoacutepolis
elevado entatildeo agrave categoria de municiacutepio Rapidamente o distrito de Palmelo pela lei estadual
nordm 908 de 13 de novembro de 1953 eacute desmembrado do municiacutepio de Pires do Rio e elevado agrave
categoria de municiacutepio (IBGE 2016)
A ferrovia foi um marco na histoacuteria de Pires do Rio uma vez que o transporte ferroviaacuterio
era utilizado para escoar a produccedilatildeo Aleacutem disso a instalaccedilatildeo do Frigoriacutefico Brasil Central
estimulou a produccedilatildeo da pecuaacuteria de corte Nas deacutecadas de 1950 e 1960 destacou-se por
exportar o charque e pela produccedilatildeo de cerveja Jaacute com a construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 e a
implantaccedilatildeo das rodovias favoreceu-se a sua interligaccedilatildeo aos outros municiacutepios goianos
O fluxo de cargas e pessoas pela via ferroviaacuteria entre os anos de 1940 a 1950 apresentava
regularidade mas devido agrave construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 de 1965 a 1970 apresentou uma
queda gradativa por deficiecircncia teacutecnica das linhas falta de manutenccedilatildeo delas e dos
equipamentos lentidatildeo do transporte o que provocou em 1970 a desativaccedilatildeo do transporte de
passageiros A Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima (RFFSA) foi privatizada em 1996
e a Ferrovia Centro Atlacircntica (FCA) adquiriu 7080 km de extensatildeo operando 685 km em
Goiaacutes tendo adotado uma nova poliacutetica investindo dois milhotildees de reais na ferrovia
desativando vaacuterias estaccedilotildees (NOVAIS 2014) Na Estaccedilatildeo Pires do Rio ficou funcionando
apenas o escritoacuterio da FCA e o Museu Ferroviaacuterio e na Estaccedilatildeo Roncador uma oficina de
manutenccedilatildeo de vagotildees
Segundo Novais (2014) a ferrovia enquanto elemento modernizador do Sudeste
Goiano e instrumento capaz de aumentar as aglomeraccedilotildees urbanas e dinamizar o progresso da
regiatildeo de acordo com os novos interesses dominantes sempre esteve sob o controle do poder
74
econocircmico estatal ou de grupos Sua expansatildeo justificou-se em detrimento dos interesses
capitalistas e imperialistas Portanto a estrada de ferro eacute um produto da induacutestria capitalista da
Primeira Revoluccedilatildeo Industrial colocada a serviccedilo do capital e resultante das transformaccedilotildees
ocorridas no processo de expansatildeo do capitalismo no Brasil e no mundo (BORGES 1990) O
Estado de Goiaacutes ao inserir-se na dinacircmica capitalista e implantar a via feacuterrea em seu territoacuterio
conseguiu integrar-se ao mercado brasileiro aleacutem de mitigar anos de atraso e isolamento
econocircmico
32 Pires do Rio geograacutefico
O municiacutepio de Pires do Rio localiza-se na Microrregiatildeo do Sudeste Goiano inserida
na Mesorregiatildeo Sul Goiano A Microrregiatildeo eacute reconhecida como a regiatildeo da Estrada de Ferro
Limita-se com os municiacutepios goianos de Orizona Vianoacutepolis Urutaiacute Caldas Novas Satildeo
Miguel do Passa Quatro Santa Cruz de Goiaacutes Palmelo Cristianoacutepolis e Ipameri A aacuterea da
unidade territorial (kmsup2) eacute de 1073361 com uma altitude meacutedia de 75886 O municiacutepio
encontra-se entre as seguintes coordenadas geograacuteficas
Mapa 1 ndash Pires do Rio (GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio (GO)
75
A cidade de Pires do Rio eacute constituiacuteda por riquezas naturais do bioma Cerrado o qual
apresenta uma heterogeneidade na sua fisionomia pois engloba desde formaccedilotildees florestais
como as Matas Ciliares (vegetaccedilatildeo que fica nas margens dos rios) e Cerradatildeo aleacutem do Cerrado
restrito (eacute o Cerrado tiacutepico formado por vegetaccedilotildees arboacutereas de casca grossa e troncos
retorcidos) com formaccedilotildees vegetais ou herbaacuteceas (campo sujo e limpo)
Uma das caracteriacutesticas marcantes do Cerrado eacute sua riqueza em recursos hiacutedricos e Pires
do Rio natildeo foge agrave regra Servindo de fronteiras naturais para o municiacutepio tem-se o rio do Peixe
na parte norte A parte sul do municiacutepio desagua no rio Corumbaacute que tambeacutem eacute utilizado como
fronteira natural e eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio Aleacutem destes tem o rio Piracanjuba
que devido agrave sua estrutura rochosa e seu volume de aacutegua foi palco da construccedilatildeo de uma usina
hidreleacutetrica em meados do seacuteculo XX que abastecia a cidade embora hoje encontre-se em
ruiacutenas
Aleacutem dos trecircs rios o municiacutepio possui ao longo de todo seu o territoacuterio vaacuterias
nascentes coacuterregos ribeirotildees quedas drsquoaacutegua os quais satildeo todos afluentes do rio Corumbaacute
Vale ressaltar que a maioria dos cursos drsquoagua satildeo perenes ou seja tem aacutegua o ano todo por
isso muitos deles tem o nome da regiatildeo em que se encontra pois satildeo objetos marcantes na
paisagem
Segundo o IBGE (1957) a populaccedilatildeo piresina no Recenseamento de 1950 era de
12946 habitantes (inclusive a populaccedilatildeo dos atuais municiacutepios de Cristianoacutepolis e Palmelo ndash
na eacutepoca distritos de Pires do Rio) apresentando quadro urbano e suburbano com uma
populaccedilatildeo de 4836 habitantes sendo 2282 homens e 2554 mulheres A densidade
demograacutefica era de 12 habitantes por quilocircmetro quadrado verificando-se que 53 da
populaccedilatildeo localizava-se no quadro rural
Na deacutecada de 50 o municiacutepio de Pires do Rio tinha um nuacutecleo populacional que era o
povoado de Marataacute aleacutem da sede (como jaacute mencionado no ano de 1953 os distritos de
Cristianoacutepolis e Palmelo satildeo elevados a municiacutepio) Mas com o passar dos anos ele deixa de
existir ficando apenas a Igreja de Satildeo Sebastiatildeo As atividades econocircmicas do municiacutepio eram
predominantemente a produccedilatildeo agriacutecola e pecuaacuteria O municiacutepio apresentava-se como um local
de atraccedilatildeo recreativa pela sua beleza paisagiacutestica a qual pode ser observada na cachoeira do
Salto no rio Piracanjuba jaacute mencionado onde foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica que forneceu
energia agrave cidade ateacute meados do seacuteculo XX
A populaccedilatildeo em 2010 era de 28762 habitantes sendo 14105 homens e 14657
mulheres Predominantemente urbana com 27094 pessoas e apenas 1668 no meio rural Pires
do Rio apresenta uma aacuterea de 1073361 km2 e uma densidade demograacutefica de 2680 habkmsup2
76
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) do municiacutepio eacute de 0744 A Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa (PEA) eacute de 8717 homens e 6128 mulheres (IBGE 2016)
De acordo com os dados populacionais desde o Recenseamento da deacutecada de 50 (dados
jaacute mostrados anteriormente) a cidade teve um crescimento consideraacutevel como pode ser
observado nos quadros abaixo
Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo recenseamento
Populaccedilatildeo Censitaacuteria
1980 1991 2000 2010
Total de habitantes 19258 22131 26229 28762
Urbano 16670 20537 24473 27094
Zona Rural 2588 1594 1756 1668
Masculino 9498 10904 12948 14105
Feminino 9760 11227 13281 14657
Urbano Masculino 8098 10027 11966 13208
Urbano Feminino 8572 10510 12507 13886
Zona Rural Masculino 1400 877 982 897
Zona Rural Feminino 1188 717 774 771
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Nos dados que satildeo apresentados pelo IBGE (populaccedilatildeo estimada) entre os anos 2001 e
2004 ocorreu uma queda no crescimento populacional em relaccedilatildeo ao ano de 1999 que foi de
28631 e nos demais anos segue 2001 26600 2002 27091 2003 27491 2004 28332 A
respeito desta queda natildeo conseguimos informaccedilotildees Em duas datas especiacuteficas houve uma
contagem da populaccedilatildeo seguem os dados abaixo
Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo contagem
Populaccedilatildeo Contagem
1996 2007
Total de habitantes 25094 26857
Masculino 12403 13232
Feminino 12691 13574
Urbano 23766 25031
77
Zona Rural 1328 1826
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Os dados inseridos no quadro 3 satildeo uma estimativa da populaccedilatildeo informada pelo IMB
e IBGE
Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio (GO)
Populaccedilatildeo Estimada
2011 2012 2013 2014 2015
28956 29145 30232 30469 30703
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Para entreter a populaccedilatildeo o turismo do municiacutepio estaacute relacionado agraves edificaccedilotildees com
relevacircncia arquitetocircnica e cultural como a Ponte Epitaacutecio Pessoa o antigo Frigoriacutefico Brasil
Central as igrejas Satildeo Sebastiatildeo (Patrimocircnio do Marataacute) Satildeo Benedito (Igreja dos Congos) a
Ferrovia Centro Atlacircntica e o Museu Ferroviaacuterio O patrimocircnio material eacute representado pelo
centro histoacuterico principalmente a Igreja Matriz Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus coreto e chafariz da
Praccedila Gaudecircncio Rincon Segoacutevia o Mercado Municipal a Biblioteca Municipal a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria e a casa do Maneco (hoje em ruiacutenas) que formam um conjunto arquitetocircnico
singular como tambeacutem as belezas naturais das Serras da Caverna e das Flores a cachoeira do
Marataacute e Prainha (as margens do rio Corumbaacute)
De acordo com Novais (2014) nos anos de 1980 o municiacutepio conheceu a expansatildeo da
fronteira agriacutecola com a introduccedilatildeo do cultivo da soja logo apoacutes em 1993 atraiu investimentos
com a implantaccedilatildeo do complexo agroindustrial aviacutecola e a industrializaccedilatildeo do setor
contribuindo para o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que perpassou a regiatildeo do Sudeste
Goiano Atualmente a economia piresina eacute voltada para as atividades agriacutecolas como a
produccedilatildeo de soja milho sorgo arroz feijatildeo e mandioca
O comeacutercio a infraestrutura e serviccedilos (sauacutede educaccedilatildeo comeacutercio e prestaccedilatildeo de
serviccedilos) exercem funccedilatildeo de polo atrativo para moradores dos municiacutepios vizinhos Toda a
importacircncia do municiacutepio para a regiatildeo o estado e o paiacutes se deve agrave instalaccedilatildeo da Estrada de
Ferro Goyaz e aos que acreditaram no crescimento de Pires do Rio e investiram em seu
territoacuterio Por esta razatildeo que parte de nossa pesquisa busca reviver fragmentos da histoacuteria desta
cidade que se faz importante para uma regiatildeo estado e paiacutes
78
33 Os cursos drsquoaacutegua
No quadro abaixo apresentamos os nomes dos cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio
levantamento realizado de acordo com os mapas cartas topograacuteficas e vocabulaacuterio do IBGE
(1957)
Quadro 6 ndash Cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO)
Vocabulaacuterio Geograacutefico ndash IBGE (1957)
Rio ndash 3 Paacutegi
na
Descriccedilatildeo Municiacutepio de
Nasceste
Rio Corumbaacute 75 Rio nasce nos arredores de Pirineus
atravessa o municiacutepio como o de Santa
Luzia depois de servir em pequeno trecho
de divisa a Bonfim Adiante separa Ipameri
e Corumbaiacuteba de um lado e Campo
Formoso Pires do Rio Caldas Novas Buriti
Alegre do outro ateacute desaguar no rio
Paranaiacuteba pela margem direita
Corumbaacute
Rio do Peixe 165 Rio nasce na regiatildeo sul-oriental do
municiacutepio que separa dos de Campo
Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio
e o de Caldas Novas desemboca no rio
Corumbaacute pela margem direita
Silvacircnia
Rio Piracanjuba 171 (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce
na serra de Passa Quatro e atravessa o
municiacutepio bem como o de Pouso Alto
Adiante separa Caldas Novas de Morrinhos
e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio
Corumbaacute pela margem direita
Bela Vista
Coacuterrego ndash 34
Coacuterrego Areias 15 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Pires do Rio
Coacuterrego Barreiro - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia
Coacuterrego do
Barreiro
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Piracanjuba
Coacuterrego dos Batista - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Bauzinho 29 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Bauacute
Orizona
Coacuterrego da Braga 37 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Santa Maria
Luziacircnia
79
Coacuterrego Boa Vista 32 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Buracatildeo 40 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Buriti 42 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio dos Bois
Pires do Rio
Coacuterrego Cachoeira 47 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Piracanjuba
Silvacircnia
Coacuterrego Capoeira
Grande
60 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Cachoeira
Orizona
Coacuterrego Carvalho - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego da Caverna 66 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio dos Peixes (M de Pires do Rio)
Pires do Rio
Coacuterrego Corrente - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Domingo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego da Estiva 88 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Brumado
Pires do Rio
Coacuterrego Fundatildeo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Cocalzinho de
Goiaacutes
Coacuterrego Guaraacute 106 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Itauacutebi - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Juca - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Lajinha 124 Coacuterrego afluente da margem direita do
coacuterrego Taperatildeo
Orizona
Coacuterrego Laranjal 126 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Bauacute
Pires do Rio
Coacuterrego Limeira 128 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Ipameri
Coacuterrego Marreco 136 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Bauacute
Orizona
Coacuterrego Mata
Dentro
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego do
Mocambo
144 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
das Antas
Silvacircnia
Coacuterrego Olho
drsquoaacutegua
152 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Piracanjuba
Orizona
Coacuterrego do Pico 168 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Brumado
Pires do Rio
Coacuterrego
Piracanjuba
171 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
igual nome
Morrinhos
Coacuterrego Posse 177 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
coacuterrego do Fundo
Orizona
80
Coacuterrego Satildeo
Jerocircnimo
202 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Caiapoacute
Pires do Rio
Coacuterrego Saltador 193 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute proacuteximo a barra do rio
Alagado
Luziacircnia
Coacuterrego Taquaral 217 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute (M de Pires do Rio)
Pires do Rio
Coacuterrego da Terra
Vermelha
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia
Ribeiratildeo ndash 8
Ribeiratildeo Bauacute 29 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Piracanjuba na divisa do municiacutepio de Pires
do Rio
Orizona
Ribeiratildeo Brumado 33 Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do
rio dos Peixes
Santa Cruz de
Goiaacutes
Ribeiratildeo Cachoeira 47 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Piracanjuba
Orizona
Ribeiratildeo Caiapoacute 50 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Urutaiacute
Ribeiratildeo Marataacute - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Ribeiratildeo Mucambo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Ribeiratildeo Sampaio 194 Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da
margem direita do rio Corumbaacute (M de
Pires do Rio)
Pires do Rio
Ribeiratildeo Taquaral - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Orizona
Quedas drsquoaacutegua ndash 1
Cachoeira do
Marataacute
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Fonte Vocabulaacuterio Geograacutefico IBGE 1957
O quarto capiacutetulo apresenta a descriccedilatildeo e anaacutelise de quinze dos 46 topocircnimos (escolha
esta pela relaccedilatildeo de representaccedilatildeo para a cidade de Pires do Rio-GO) de acordo com os aportes
teoacutericos revisados no primeiro capiacutetulo e em consonacircncia com os meacutetodos apresentados e
discutidos no segundo capiacutetulo apresenta ainda algumas questotildees teoacutericas suscitadas pelas
especificidades dos dados escolhidos
81
IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR
O signo toponiacutemico natildeo abre apenas o nome de
um lugar mas o lugar como um todo tudo que estaacute
relacionado a ele de uma forma ou de outra
(SIQUEIRA 2015)
Nos colocar a serviccedilo desta pesquisa foi o mesmo que redescobrir a cidade de Pires do
Rio-GO Conhecer a sua histoacuteria e poder reeditaacute-la remapear os seus cursos drsquoaacutegua e por fim
buscar na Toponiacutemia as relaccedilotildees de poder que os topocircnimos tecircm sobre cada espaccedilo nomeado
assim tomamos posse do que esta pesquisa nos proporcionou e aqui estaacute o aacutepice dela os dados
e suas anaacutelises
Segundo Dias (2008) o municiacutepio de Pires do Rio-GO tem como principais cursos
drsquoaacutegua o rio Corumbaacute situado na parte sudeste o rio Piracanjuba no nordeste e rio do Peixe
na parte sul os quais correm em direccedilatildeo agrave calha do rio Paranaiacuteba (uma das quatro bacias
hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes) ao sul Os rios do Peixe e Piracanjuba desaguam no
Corumbaacute sendo limites de fronteiras do municiacutepio Aleacutem desses rios a rede hidrograacutefica eacute
formada por vaacuterios ribeirotildees e coacuterregos
Para proceder com as devidas anaacutelises dos topocircnimos nos eacute necessaacuterio partir de algumas
definiccedilotildees de nomenclaturas da aacuterea da geografia mas natildeo tivemos acesso a nenhum dicionaacuterio
terminoloacutegico da aacuterea especiacutefica devido agrave dificuldade de encontrar em bibliotecas puacuteblicas e
na internet desta forma recorremos aos dicionaacuterios Aulete (2011) Borba (2004) e Houaiss et
al (2004 2009) para assim proceder com a definiccedilatildeo de palavras (termos) que satildeo recorrentes
em nossa pesquisa a) curso drsquoaacutegua eacute qualquer corpo de aacutegua fluente b) coacuterrego um rio
pequeno com pouco volume de aacutegua que passa por vaacuterios lugares e sempre desagua em um
curso drsquoaacutegua (coacuterrego ribeiratildeo ou rio) c) queda drsquoaacutegua torrente de aacutegua que cai do alto
cachoeiracascata que satildeo formaccedilotildees geomorfoloacutegicas nas quais os cursos drsquoaacutegua correm por
cima de uma rocha de composiccedilatildeo resistente agrave erosatildeo formando uma suacutebita quebra na vertical
d) ribeiratildeo curso drsquoaacutegua maior que o riacho e menor que o rio afluente de um rio e) rio ou
fluacutemen eacute uma corrente natural de aacutegua que flui continuamente Possui um caudal consideraacutevel
e desemboca no mar num lago ou noutro rio e em tal caso denomina-se afluente Pode
apresentar vaacuterias redes de drenagem
Proceder com estas observaccedilotildees eacute elementar para esta pesquisa pois dos 46 topocircnimos
elencados no municiacutepio de Pires do Rio-GO analisaremos apenas 15 visto que analisar todos
82
os topocircnimos seria uma tarefa aacuterdua e que demandaria mais tempo registramos aqui o que nos
motivou agrave escolha dos cursos drsquoaacutegua para anaacutelise Como satildeo apenas 03 rios eacute viaacutevel e de bom
senso analisaacute-los jaacute que satildeo as maiores bacias e que datildeo destaque agrave regiatildeo os ribeirotildees satildeo
especificamente 08 os quais seratildeo analisados inclusive alguns nomes se repetem aos coacuterregos
tambeacutem 01 queda drsquoaacutegua cachoeira do Marataacute que natildeo seraacute analisada devido ao nome ser o
mesmo de um ribeiratildeo dos 34 coacuterregos analisaremos apenas 04 (Barreiro Itauacutebi Laranjal e da
Terra Vermelha) devido ao grau de importacircncia para a cidade pois os coacuterregos Itauacutebi (nascente)
e Laranjal satildeo os que abastecem a cidade de Pires do Rio-GO Quanto ao Barreiro este estaacute
localizado na regiatildeo do Morro do Cruzeiro localidade que tem o maior nuacutemero populacional
na zona rural do municiacutepio O coacuterrego da Terra Vermelha eacute uma aacuterea que haacute muito tempo foi
espaccedilo de olaria e dela saiacuteram grandes quantidades de tijolos que foram utilizados nas
construccedilotildees de casas na cidade e tambeacutem pertence a uma localidade onde existiu o povoado do
Marataacute na deacutecada de 50
No mapa 2 apresentamos os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do
Rio-GO bem como aparecem em destaque os 15 topocircnimos que analisaremos a seguir os quais
estatildeo catalogados em fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas que estatildeo inseridas neste capiacutetulo
83
Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)
84
41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural
Os modelos das taxionomias foram elaborados por Dick (1992) a fim de possibilitar ao
pesquisador descobrir o significado dos topocircnimos sem ter que retomar especificamente a
passado histoacuterico Os modelos subdividem-se em 11 taxes de natureza fiacutesica e 16 de natureza
antropocultural Assim podemos verificar se o nomeador recorreu a elementos de natureza
fiacutesico ou socioculturais como motivaccedilatildeo no ato da nomeaccedilatildeo Abaixo apresentamos as 27
taxes subdivididas em suas naturezas e devidas especificaccedilotildees exemplificadas com alguns
topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO nos casos de natildeo ter
recorremos a outros topocircnimos
a) Taxionomias de natureza fiacutesica
1 Astrotopocircnimos topocircnimos que se referem aos corpos celestes cidade Estrela do Norte-
GO
2 Cardinotopocircnimos topocircnimos referentes agraves posiccedilotildees geograacuteficas cidade Alvorada do
Norte-GO
3 Cromotopocircnimos topocircnimos relativos agrave escala cromaacutetica coacuterrego da Terra Vermelha (Pires
do Rio-GO)
4 Dimensiotopocircnimos topocircnimos referentes agraves caracteriacutesticas dimensionais dos acidentes
geograacuteficos como extensatildeo comprimento largura espessura altura profundidade coacuterrego
Fundatildeo (Pires do Rio-GO)
5 Fitotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de vegetais rio Corumbaacute (Pires do Rio-
GO)
6 Geomorfotopocircnimos topocircnimos referentes agraves formas topograacuteficas elevaccedilotildees ou depressotildees
do terreno coacuterrego do Pico (Pires do Rio-GO)
7 Hidrotopocircnimos topocircnimos originados de acidentes hidrograacuteficos ribeiratildeo Cachoeira
(Pires do Rio-GO)
8 Litotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de minerais e de nomes relativos agrave
constituiccedilatildeo do solo coacuterrego Barreiro (Pires do Rio-GO)
9 Meteorotopocircnimos topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos ribeiratildeo Brumado
(Pires do Rio-GO)
10 Morfotopocircnimos topocircnimos que refletem o sentido de forma geomeacutetrica cidade Volta
Redonda-RJ
11 Zootopocircnimos topocircnimos de iacutendole animal rio do Peixe (Pires do Rio-GO)
b) Taxionomias de natureza antropocultural
85
1 Animotopocircnimos ou Nootopocircnimos topocircnimos relativos agrave vida psiacutequica e agrave cultura
espiritual coacuterrego Boa Vista (Pires do Rio-GO)
2 Antropotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais ribeiratildeo Sampaio
(Pires do Rio-GO)
3 Axiotopocircnimos topocircnimos que se referem a tiacutetulos e a dignidades que acompanham os
nomes proacuteprios individuais cidade Senador Canedo-GO
4 Corotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes de cidades paiacuteses estados regiotildees e
continentes coacuterrego Posse (Pires do Rio-GO)
5 Cronotopocircnimos topocircnimos que encerram indicadores cronoloacutegicos como novonova
velhovelha cidade Nova Aurora-GO
6 Ecotopocircnimos topocircnimos que fazem referecircncia agraves habitaccedilotildees de um modo geral cidade
Castelacircndia-GO
7 Ergotopocircnimos topocircnimos relacionados aos elementos da cultura material ribeiratildeo Bauacute
(Pires do Rio-GO)
8 Etnotopocircnimos topocircnimos relativos aos elementos eacutetnicos tribos isolados ou natildeo ribeiratildeo
Caiapoacute (Pires do Rio-GO)
9 Dirrematotopocircnimos topocircnimos construiacutedos por meio de frases ou enunciados linguiacutesticos
cidade Aparecida do Rio Doce-GO
10 Hierotopocircnimos topocircnimos referentes aos nomes sagrados agraves efemeridades religiosas aos
locais de culto cidade Cristianoacutepolis-GO Podem apresentar duas subdivisotildees i)
hagiotopocircnimos topocircnimos que se referem aos santos e agraves santas do hagioloacutegio romano
coacuterrego Satildeo Jerocircnimo (Pires do Rio-GO) ii) mitotopocircnimos topocircnimos referentes agraves
entidades mitoloacutegicas cidade Anhanguera-GO
11 Historiotopocircnimos topocircnimos que se referem a movimentos de cunho histoacuterico-social aos
seus membros ou ainda agraves datas correspondentes cidade Ipiranga de Goiaacutes-GO
12 Hodotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves vias de comunicaccedilatildeo coacuterrego Corrente (Pires
do Rio-GO)
13 Numerotopocircnimos topocircnimos que dizem respeito aos adjetivos numerais cidade Trecircs
Ranchos-GO
14 Poliotopocircnimos topocircnimos constituiacutedos pelos vocaacutebulos vila aldeia cidade povoaccedilatildeo
arraial bairro Vila Nova (Pires do Rio-GO)
15 Sociotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais de trabalho
e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade ribeiratildeo Mucambo (Pires do Rio-
GO)
86
16 Somatotopocircnimos topocircnimos com relaccedilatildeo metafoacuterica agraves partes do corpo humano ou do
animal coacuterrego Olho drsquoaacutegua (Pires do Rio-GO)
Essas classificaccedilotildees taxonocircmicas funcionam como auxiliares no processo de verificaccedilatildeo
que subjaz o topocircnimo sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo da origem e motivaccedilatildeo que
levaram agrave efetivaccedilatildeo de determinado topocircnimo
Aleacutem do mais uma anaacutelise toponiacutemica pressupotildee a busca de particularidades
que natildeo podem ficar apenas nas caracteriacutesticas mais evidentes apresentadas
pelo nome deve-se procurar tanto quanto possiacutevel ou seja tanto quanto as
fontes ou a documentaccedilatildeo o permitirem as origens mais remotas do
denominativo objetivando as eventuais substituiccedilotildees experimentadas e a sua
razatildeo determinante de modo que se possa tentar um equacionamento da
nomenclatura em periacuteodos ou estaacutegios onomaacutesticos ndash senatildeo de toda ela pelo
menos em alguns nomes ndash que talvez reflitam momentos distintivos do pensar
da eacutepoca analisada (DICK 1996 p 15-16)
O leacutexico toponiacutemico eacute carregado de marcas de expressatildeo histoacuterica social cultural
poliacutetica e religiosa de dada comunidade e eacute representativo para o nomeador e seu grupo Desta
forma se determinado local ou coisa passou por vaacuterias nomeaccedilotildees no decorrer dos tempos isso
justifica que cada nomeador observou novas caracteriacutesticas que classificavam ou referenciavam
o topocircnimo de forma precisa e motivada
De acordo com Dick (1990) as vaacuterias facetas significativas que datildeo realce ao nome do
lugar e as inuacutemeras informaccedilotildees que podem ser elencadas dele tornariam no material de um
grande armazenamento de dados e fatos culturais em larga extensatildeo Assim observamos em
Andrade (2010 p 103) que
Os estudos toponiacutemicos dentro do alcance pluridisciplinar de seu objeto de
estudo constituem um caminho possiacutevel para o conhecimento do modus
vivendi das comunidades linguiacutesticas que ocupam ou ocuparam um
determinado espaccedilo Quando um indiviacuteduo ou comunidade linguiacutestica atribui
um nome a um acidente humano ou fiacutesico revelam-se aiacute tendecircncias sociais
poliacuteticas religiosas culturais (Grifos da autora)
Satildeo nessas caracteriacutesticas em que reside a motivaccedilatildeo do topocircnimo e por meio delas nos
satildeo reveladas a histoacuteria e cultura de uma dada comunidade por isso vemos o quanto os estudos
toponiacutemicos satildeo de extrema relevacircncia natildeo soacute para a aacuterea dos estudos da
linguagemlinguiacutesticos mas tambeacutem para as outras aacutereas do conhecimento jaacute que o topocircnimo
eacute plurissignificativo tendo assim um alcance pluridisciplinar
87
Posto isto pode-se evidenciar os estudos toponiacutemicos como um eixo norteador para se
verificar as relaccedilotildees soacutecio-histoacuterico-culturais de um povo jaacute que o topocircnimo estaacute intimamente
vinculado agrave cultura de um povo uma naccedilatildeo e portanto agrave sua histoacuteria Assim tomaremos por
anaacutelise os graacuteficos que se seguem e as taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua
do municiacutepio de Pires do Rio-GO
42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO
Nesta pesquisa os 15 topocircnimos analisados baseados na classificaccedilatildeo enquadram-se
na divisatildeo das naturezas fiacutesica e antropocultural Em alguns topocircnimos eacute possiacutevel ainda
evidenciar mais de uma categoria classificatoacuteria por exemplo o coacuterrego da Terra Vermelha
que se classifica como litotopocircnimo e cromotopocircnimo
Nos graacuteficos abaixo apresentamos e analisamos em base qualiquantitivas as naturezas
das taxionomias fiacutesicas e antropoculturais e a origemetimologia dos topocircnimos estratos
linguiacutesticos
Grafico1 Natureza das Taxionomias
As taxionomias nos permitiram analisar e interpretar os designativos de lugares com
maior precisatildeo e seguranccedila do ponto de vista semacircntico sendo estudados enquanto formas de
liacutengua e de acordo com a causa de seu emprego O produto resultante aqui no nosso caso os
88
topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO ganham vida proacutepria passando
a ter caraacuteter motivado e natildeo apenas arbitraacuterio
As taxes encontradas nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO que tiveram maior proporccedilatildeo foram as de natureza fiacutesica assim o nomeador caracterizou
os fatores fiacutesicos do ambiente ou que chamaram sua atenccedilatildeo Desta forma as nomeaccedilotildees satildeo
motivadas e estabelecem relaccedilotildees com o nomeador e o lugar nomeado
421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos
Os principais topocircnimos analisados neste trabalho confirmaram uma tendecircncia da
toponiacutemia brasileira em geral ou seja a predominacircncia de topocircnimos classificados de acordo
com as taxionomias de natureza fiacutesica uma vez que na nomenclatura onomaacutestica dos
elementos fiacutesicos da regiatildeo analisada haacute um percentual de 67 (10 topocircnimos) que satildeo
classificados como taxes de natureza fiacutesica e 33 (05 topocircnimos) que se enquadram nas taxes
de natureza antropocultural
Graacutefico 2 Taxionomias de Natureza Fiacutesica
O graacutefico apresentado nos revelam que a incidecircncia em sua maioria das taxionomias
de natureza fiacutesica evidencia a influecircncia do ambiente fiacutesico no ato de nomeaccedilatildeo percebe-se
entatildeo que no ato do batismo os povos recorreram a elementos e caracteriacutesticas circundantes
aos lugares nomeados demonstrando que o meio ambiente exerce grande influecircncia no homem
no ato de nomear os lugares
0
05
1
15
2
25
3
Taxionomias de Natureza Fiacutesica
89
Ao atribuir topocircnimos agraves taxionomias de natureza fiacutesica eacute possiacutevel comprovar a forccedila
de elementos fiacutesicos como motivadores no ato de nomear os lugares O que eacute observaacutevel no
graacutefico II os topocircnimos com maior incidecircncia nos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO sendo eles fitotopocircnimos hidrotopocircnimos litotopocircnimos litotopocircnimos e
cromotopocircnimos litotopocircnimos e fitotopocircnimos meteorotopocircnimos e zootopocircnimos que no
decorrer desse trabalho seratildeo analisados
4211 Fitotopocircnimos
De acordo com o observado a taxionomia de origem fitotoponiacutemica (originada de
nomes de vegetais) atingiu em segundo lugar o maior nuacutemero de frequecircncia dentre os
topocircnimos de natureza fiacutesica 20 (02 topocircnimos) satildeo eles coacuterrego Laranjal e ribeiratildeo
Taquaral Eacute observaacutevel que a flora foi uma das grandes motivaccedilotildees para os designativos dos
cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO E segundo Dick (1990 p 146)
O importante talvez seria natildeo perder de vista que a vegetaccedilatildeo eacute parte
integrante de um conjunto natural em que o relevo constituiccedilatildeo do solo
acidentes geograacuteficos regimes climaacuteticos compotildeem um verdadeiro
biossistema imprescindiacutevel ao homem e agrave qualidade de vida que nele pretenda
instalar ou pelo menos usufruir
Eacute nessas relaccedilotildees de importacircncia para o homem que podemos compreender a nomeaccedilatildeo
destes elementos fiacutesicos fazendo referecircncia a aspectos que chamaram a sua atenccedilatildeo e
motivaram a nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua Isso se revela pelo caraacuteter de necessidade agrave vida
humana tanto do nome como do que por ele foi nomeado essa relaccedilatildeo nomeador-objeto-nome
eacute que ressalta a importacircncia da vegetaccedilatildeo no meio social local do vivente Assim tambeacutem
justifica Pereira (2009 p 143) que ldquopossivelmente seja esse o motivo de o
denominadorenunciador registrar as caracteriacutesticas locais de uma regiatildeo na nomeaccedilatildeo dos
acidentes geograacuteficos por meio do topocircnimordquo
Ao trazer as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas eacute perceptiacutevel a motivaccedilatildeo que subjaz
cada topocircnimo como observamos abaixo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 02
Topocircnimo Coacuterrego Laranjal Localizaccedilatildeo Pires do Rio
90
Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia la-ran-jal Sm plantaccedilatildeo ou pomar de laranjas (p827)
Laranja sf lsquofruto da laranjeira planta da fam das rutaacuteceasrsquo XIV Do aacuter nāranğa deriv do
persa nāranğ laranjAL -gal XVI (p382)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino laranja- + -al sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Coacuterrego afluente da margem direita do ribeiratildeo Bauacute (M de
Pires do Rio)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 03
Topocircnimo Ribeiratildeo Taquaral Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ta-qua-ral Sm 1 plantaccedilatildeo de taquara tabocal 2 terreno onde crescem
taquaras (p1337)
Taquara sf lsquoplanta da fam das gramiacuteneas taboca bambursquo 1627 tacoara c 1584 etc
tacoaacutera 1817 Do tupi takṷara taquarAL 1783 (p623)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino taquara- + -al sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ao observar as informaccedilotildees trazidas nas fichas apresentadas dos fitotopocircnimos
possivelmente as motivaccedilotildees que influenciaram o nomeador satildeo perspicazes as referecircncias
locais que de acordo com cada topocircnimo relacionamos i coacuterrego Laranjal evidentemente em
sua localidade apresentava no momento de nomeaccedilatildeo a plantaccedilatildeo de laranjas e tambeacutem o
coacuterrego favorecia a essas plantaccedilotildees ii ribeiratildeo Taquaral assim como analisado o topocircnimo
91
anterior o que tenha influenciado ao nomeador deve estar relacionado com o a quantidade de
taquaras na regiatildeo em se encontra o determinado ribeiratildeo
A ocorrecircncia dos topocircnimos de iacutendole vegetal ora pesquisados pode ter a sua
justificativa pela relevacircncia que as plantas tecircm junto a vida humana bem como necessaacuterias para
a conservaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua e suas nascentes assim justificamos a tendecircncia de valoraccedilatildeo
do vegetal no processo de batismo dos elementos fiacutesicos
4212 Hidrotopocircnimos
O topocircnimo de equivalecircncia hidroniacutemica (originado de acidentes hidrograacuteficos) aparece
no em ribeiratildeo Cachoeira Sabe-se que a aacutegua eacute de fundamental importacircncia para a vida
humana por isso a tendecircncia de o nomeador no ato de batismo do topocircnimo valer-se do nome
relacionado ao elemento aacutegua para designar o lugar
E de acordo com Dick (1990 p 196) ldquoO aparecimento de topocircnimos nos mais
diferentes ambientes revestindo uma natureza hidroniacutemica propriamente dita vincula-se agrave
importacircncia dos cursos drsquoaacutegua para as condiccedilotildees humanas de vidardquo Possivelmente o nomeador
a considera o elemento aacutegua vital para a sua existecircncia ainda sabemos que os cursos drsquoaacutegua
em muitas ocasiotildees servem de caminhos para comeacutercio como tambeacutem foi por meio deles que
se configuraram na histoacuteria do Brasil o achamento e a colonizaccedilatildeo do paiacutes pelos portugueses
Nas ficha abaixo trazemos informaccedilotildees relevantes para anaacutelise dos topocircnimos de origem
hidrograacutefica
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 04
Topocircnimo Ribeiratildeo Cachoeira Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Hidrotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ca-cho-ei-ra Sf 1queda drsquoaacutegua em rio ou ribeiratildeo cujo leito apresenta
forte declive cascata 2 trecho de rio onde as aacuteguas correm raacutepido devido agrave inclinaccedilatildeo do
terreno corredeira (p213)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba (M
de Campo Formoso)
Referecircncias Borba (2004) IBGE (1957)
92
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Por mais que apenas 10 (01) dos topocircnimos de natureza fiacutesica tenham referecircncia agrave
iacutendole hidroniacutemica a regiatildeo de Pires do Rio-GO tem seus limites poliacutetico e fiacutesico (geograacuteficos)
feita por rios sem mencionar a grande importacircncia que esses cursos exercem nas atividades da
regiatildeo
Ainda observamos em Dick (1990 p 197) que
Agraves vezes poreacutem rompe-se o equiliacutebrio que ela [a aacutegua] representa em
qualquer meio desprendendo-se de suas possibilidades de aproximar culturas
distintas e assumindo papel um tanto oposto ao se transformar em ldquoobstaacuteculordquo
agrave difusatildeo dos interesses coletivos Circunscrevendo o homem em seu proacuteprio
espaccedilo quando o transcurso se torna difiacutecil impede os contatos entre grupos
vizinhos Se o isolamento por um lado tende a manter tanto quanto possiacutevel
inalterados os valores comuns preservando por isso a tradiccedilatildeo socioloacutegica
do homem ao retardar a dinacircmica da comunidade em favor de uma estaacutetica
desestimulante e viciosa
A par desta citaccedilatildeo observamos que foi o que aconteceu a cidade de Pires do Rio-GO
a partir do rio Corumbaacute o principal para o municiacutepio que ateacute a deacutecada de 1920 era isolado dos
demais municiacutepios por falta de uma ponte que estabelecesse tal ligaccedilatildeo Com a vinda da Estrada
de Ferro Goyaz e a construccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa surgem as primeiras casas e a
efetivaccedilatildeo do municiacutepio bem como a ligaccedilatildeo com as principais cidades da regiatildeo e as relaccedilotildees
econocircmicas e poliacuteticas que auxiliaram no crescimento do municiacutepio e da regiatildeo
Observamos ainda no contexto do municiacutepio de Pires do Rio-GO que a aacutegua em suas
potencialidades eacute de grande relevacircncia e meio de sobrevivecircncia para a vida humana pois
Na parte sul encontra-se o rio Corumbaacute que eacute maior curso drsquoaacutegua do
municiacutepio Nele eacute feito a extraccedilatildeo de areia para construccedilatildeo civil suas ilhas
servem de pontos de recreaccedilatildeo para vaacuterios moradores e as suas margens satildeo
praticamente ocupadas pelas pequenas propriedades (DIAS 2008 p 84)
Posto isso no efetivar do topocircnimo a partir da importacircncia da aacutegua o nomeador
diferencia o elemento geograacutefico dos demais auxiliando na orientaccedilatildeo do homem no espaccedilo
que o cerca proporcionando subsiacutedios para um melhor (re)conhecimento do local Assim
hipoteticamente acreditamos que o topocircnimo ndash ribeiratildeo Cachoeira ndash no contexto estudado
93
pode ter a sua motivaccedilatildeo pelo proacuteprio ambiente fiacutesico uma vez recupera caracteriacutesticas
hidroniacutemicas do lugar
4213 Litotopocircnimos
Notando-se as relaccedilotildees dos topocircnimos de origem mineral os litotopocircnimos coacuterrego
Barreiro representam o percentual de 10 (01 topocircnimo) dos analisados Cabe mencionar que
os minerais foram um dos principais atrativos dos colonizadores portugueses nas terras
brasileiras E de acordo com Dick (1990) os topocircnimos de origem mineral estatildeo relacionados
tanto a caracteriacutesticas do solo quanto do terreno e assim estabelecem duas relaccedilotildees fiacutesicas que
estatildeo ligadas agraves regiotildees da terra neste caso satildeo areia barro lama pedra terra E outro fator
satildeo os histoacutericos que podem ser evidenciados no processo de colonizaccedilatildeo do Brasil por meio
das relaccedilotildees entre solo flora e relevo que satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de uma nova
sociedade
O litotopocircnimo apresentado abaixo por meio de descriccedilatildeo e anaacutelise revela a influecircncia
do local sobre o ato de nomear
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 05
Topocircnimo Coacuterrego Barreiro Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia bar-rei-ro Sm terra alagada lamaccedilal (p164)
Barreira -eirar -eiro ejar rarr BARRO
Barro sm lsquotipo de argilarsquo lsquosubstacircncia utilizada no assentamento da alvenaria de tijolo em
obras provisoacuterias obtida pela mistura de argila com aacuteguarsquo XIV De origem preacute-romana
Relaciona-se neste verbete uma seacuterie de vocaacutebulos etimologicamente correlacionados com
o radical barr- de origem preacute-romana barrEIRA sf lsquoargileirarsquo lsquoparapeitorsquo 1500 barrEIRmiddotAR
bareyrar XV barrEIRO XVIII (p82)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino barro- + ndasheiro sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
94
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Observando Sapir (1969) podemos trazer a reflexatildeo acerca da relaccedilatildeo entre liacutengua e
ambiente que vale a compreensatildeo dos fatores fiacutesicos neste caso os aspectos geograacuteficos
incluindo aleacutem dos elementos fauna e flora os recursos minerais Assim o litotopocircnimo
coacuterrego Barreiro estabelece relaccedilotildees com o local quando foi nomeado ainda compreende-se
que a localidade era de lamaccedilalbarro um dos motivadores por determinado coacuterrego ser
batizado com o referido topocircnimo
Assim como observado em Dick (1990 p 125) os referidos topocircnimos de origem
mineral se referem ao primeiro caso que eacute o de ldquoiacutendole geneacutericardquo aspectos fiacutesicos e especiacuteficos
agraves regiotildees da terra revelando assim caracteriacutesticas minerais da regiatildeo em que estaacute localizado
determinado coacuterrego
4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos
No conjunto dos topocircnimos analisados em um percentual de 10 (01 topocircnimo) do
total encontramos um topocircnimo de estrutura composta mas natildeo hiacutebrido pois eacute formado por
duas palavras de origem latina a saber coacuterrego da Terra Vermelha litotopocircnimo (origem de
nomes de minerais e de nomes relativos agrave constituiccedilatildeo do solo) e cromotopocircnimo (relativo agrave
escala cromaacutetica) E que de acordo com Isquerdo e Seabra (2010 p 91) ldquo[] a motivaccedilatildeo dos
hidrotopocircnimos de estrutura composta normalmente valoriza mais de uma caracteriacutestica do
meio ambiente como foco denominativordquo O mesmo se estabelece com o topocircnimo ora
analisado como descreve na ficha abaixo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 06
Topocircnimo Coacuterrego da Terra Vermelha Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo e
Cromotopocircnimo
Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ter-ra Sf i elemento da superfiacutecie terrestre que misturado com aacutegua
transforma-se em barro ii parte soacutelida da superfiacutecie terrestre chatildeo firme (p1351)
Terra sf lsquoterritoacuterio regiatildeorsquo lsquosolo chatildeorsquo XIII Do lat tĕrra (p631)
95
Vermelho adj lsquoda cor do sanguersquo XIII Do lat vĕrmῐcŭlus (p674)
Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Substantivo Feminino + Adjetivo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Segundo Dias (2008 p 119-122) na maior parte da regiatildeo do municiacutepio de Pires do
Rio-GO o solo eacute ldquoLatossolos Vermelhosrdquo ou ldquoLatossolos Vermelho Amareladordquo assim
hipoteticamente uma das motivaccedilotildees fundamentais para a denominaccedilatildeo do topocircnimo estaacute
ligado a caracteriacutesticas do local o que influenciou o denominador a fazer referecircncia agrave Terra
juntamente com a cor vermelha
E ainda Dias (2008 p 117) justifica que ldquoas caracteriacutesticas da vegetaccedilatildeo natural
muitas das vezes tecircm como fator determinante o tipo de solo porque eacute dele que elas retiram a
maioria dos elementos que precisam para sua nutriccedilatildeordquo Nesta regiatildeo tem a predominacircncia da
agricultura e agropecuaacuteria influecircncias do solo que contribui para tais praacuteticas
Contudo o batismo do coacuterrego com o topocircnimo Terra Vermelha traz em sua motivaccedilatildeo
as caracteriacutesticas que satildeo observadas na localidade e que de certa forma influenciaram o
nomeador Aleacutem do coacuterrego uma regiatildeo rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tambeacutem eacute
conhecida pelo referido nome
4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos
O topocircnimo coacuterrego Itauacutebi eacute um nome composto litotopocircnimo (de origem mineral) e
fitotopocircnimo (de origem vegetal) e representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos
analisados Sua estrutura morfoloacutegica segundo Dick (1992) eacute um topocircnimo composto formado
por ita- (pedra) + -ubi (palmeira) ambos de origem tupi na formaccedilatildeo de palavras se constitui
em uma composiccedilatildeo por justaposiccedilatildeo E hipoteticamente a regiatildeo em que se encontra o
coacuterrego eacute de um terreno pedregulho ou pode ser que o proacuteprio coacuterrego tenha em sua calda um
acuacutemulo maior de pedras que o normal E consequentemente uma regiatildeo em que a vegetaccedilatildeo
tenha ou lembre uma localidade com plantaccedilotildees de palmeiras
96
Assim a ficha lexicograacutefica-toponiacutemia abaixo nos auxiliou na descriccedilatildeo e anaacutelise do
topocircnimo coacuterrego Itauacutebi aclarando para um efetiva interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo do corpus desta
pesquisa
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 07
Topocircnimo Coacuterrego Itauacutebi Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo e Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia Ita ndash pedra eacute o termo mais comum nos topocircnimos brasileiros algumas
vezes aparece sem o i inicial Ta-nhenga (ilha do Rio de Janeiro) Ta-ratatilde (localidade da
Bahia) (p 174)
Ubi ndash nome comum a vaacuterias palmeias dos gecircneros Genoma Bactris e Calyptrogyne (p 190)
Estrutura morfoloacutegica Nome composto (ita- substantivo feminino + -ubi substantivo
feminino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Tibiriccedila (1985)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Segundo Dias (2008) o coacuterrego Itauacutebi eacute um dos afluentes do ribeiratildeo Marataacute e tambeacutem
um dos coacuterregos que abaste ao municiacutepio de Pires do Rio-GO juntamente com o coacuterrego
Laranjal Assim eacute possiacutevel notar a importacircncia deste curso drsquoaacutegua para o municiacutepio e a sua
relevacircncia em anaacutelise para a nossa pesquisa
4216 Meteorotopocircnimos
A meteorotoponiacutemia refere-se a topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos e no
contexto pesquisado representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos analisados sendo
ribeiratildeo Brumado que proveacutem do termo latino bruma lsquoinvernorsquo especificando como nevoeiro
neblina e cerraccedilatildeo (CUNHA 2010) Dados esses especificados abaixo na ficha lexicograacutefica-
toponiacutemica que nos auxiliou na interpretaccedilatildeo e anaacutelise do topocircnimo
97
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 08
Topocircnimo Ribeiratildeo Brumado Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Meteorotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia Bruma bru-ma Sf nevoeiro neblina cerraccedilatildeo (p203)
Bruma sf lsquonevoeiro neblina cerraccedilatildeorsquo XVI Do lat bruma lsquoinvernorsquo (p103)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino bruma- + sufixo ndashado)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do rio dos Peixes (M
de Pires do Rio)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ao observarmos em Sapir (1969) em que o leacutexico de uma liacutengua reflete claramente o
ambiente fiacutesico e social do falantes provavelmente o que influenciou o nomeador em recorrer
ao batismo do topocircnimo Brumado em determinado ribeiratildeo pode ter sido devido a ocorrer na
localidade neblinanevoeiro na estaccedilatildeo do ano inverno jaacute que a proacutepria raiz da palavra bruma
faz referecircncia ao ldquoinvernordquo
Nas leituras realizadas em alguns pesquisadores da aacuterea da toponiacutemia como Almeida
(2012) Carvalhinhos (2002 2003) Dick (1990 1992 1996 1999 2000 2001 2004 2006)
Isquerdo e Seabra (2010) Pereira (2009) Siqueira (2012 2015) natildeo foi recorrente
encontrarmos algum meteorotopocircnimo analisado ou que nos desse qualquer sustentaccedilatildeo ou
informaccedilotildees para proceder com algum confrontamento de dados mediante a isso
subentendemos que os topocircnimos de iacutendole dos fenocircmenos atmosfeacutericos natildeo tenham uma certa
frequecircncia como os demais
4217 Zootopocircnimos
Nas denominaccedilotildees de iacutendole animal zootopocircnimos no estudo corrente referem ao
percentual de 30 (03 topocircnimos) dos extratos pesquisados ndash rio Corumbaacute rio do Peixe e rio
Piracanjuba Precisamente em dois topocircnimos o fator motivador foi o animal peixe que
possivelmente influenciou o nomeador A saber que a caccedila e pesca era o meio de sobrevivecircncia
98
da comunidade primitiva desta forma possivelmente a comunidade que habitava nos referidos
locais tambeacutem foi influenciada por essas razotildees e daiacute batizando ambos os rios com os referidos
topocircnimos
Ao observamos os topocircnimos de iacutendole animal aqui presentes vamos contrapor ao que
Dauzat (1922 apud DICK 1990) constatou ter uma menor frequecircncia dos zootopocircnimos em
relaccedilatildeo a outras categorias na toponiacutemia francesa bem como agrave perspectiva de Backheuser
(1952 apud DICK 1990) de que na toponiacutemia brasileira os nomes de animais satildeo menos
recorrentes
As relaccedilotildees de denominaccedilatildeo toponiacutemica de uma dada regiatildeo pode ser diferente de outra
de acordo com isso as relaccedilotildees de motivaccedilotildees estatildeo estritamente ligadas ao nomeador pois
cada qual atribui a caracteriacutesticas inerentes ao local a que faz referecircncia Assim as fichas
lexicograacuteficas-toponiacutemicas abaixo evidenciam em suas descriccedilotildees e nos auxiliam a proceder
com a anaacutelise toponiacutemica dos designativos bem como a quantificar que os zootopocircnimos foram
os de maior frequecircncia em nossas anaacutelises
Nordm de ordem 09
Topocircnimo Rio Corumbaacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia cid Mato Grosso do Sul de corumbaacute caacutegado (p44) Origem Tupi
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio nasce nos arredores de Pirineus atravessa o municiacutepio
como o de Santa Luzia depois de servir em pequeno trecho de divisa a Bonfim Adiante
separa Ipameri e Corumbaiacuteba de um lado e Campo Formoso Pires do Rio Caldas Novas
Buriti Alegre do outro ateacute desaguar no rio Paranaiacuteba pela margem direita (M de Corumbaacute)
Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 10
Topocircnimo Rio do Peixe Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
99
OrigemEtimologia pei-xe Sm (Zool) 1 espeacutecime de classe animal vertebrado que nasce e
vive na aacutegua respira por guelras e se locomove por meio de barbatanas (p1048)
sm lsquo(Zool) animal cordado gnastomado aquaacutetico com nadadeiras com pele geralmente
coberta de escamas que respira por bracircnquiasrsquo XIII Do lat piscis -is peixADA XX
peixARIA XX peixeiro peyxero XIII Cp pescar piscatoacuterio (p485)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio (do) nasce na regiatildeo sul-oriental do municiacutepio que separa
os de Campo Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio e o de Caldas Novas desemboca
no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bonfim)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) (IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 11
Topocircnimo Rio Piracanjuba Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia cid de Goiaacutes de piracanjuba uma var de peixe de rio etim piraacute-
acatilde-juba peixe de cabeccedila amarela (p97) Origem Tupi
piraacute sm lsquodesignaccedilatildeo geneacuterica de peixe em tupirsquo piracanjuva sf lsquoespeacutecie de douradorsquo 1792
Do tupi pirakaᶇlsquoḭuṷa (p498)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce na serra de Passa
Quatro e atravessa o municiacutepio bem como o de Pouso Alto Adiante separa Caldas Novas de
Morrinhos e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bela
Vista)
Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
100
Segundo Dias (2008) o rio Corumbaacute eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio dele se extrai
areia para a construccedilatildeo civil e suas ilhas e margens servem para abrigar pequenas propriedades
inclusive para a recreaccedilatildeo e turismo O rio do Peixe eacute um dos trecircs maiores cursos drsquoaacutegua e
fronteiriccedilo na regiatildeo sul entre Pires do Rio Cristianoacutepolis Vianoacutepolis e Satildeo Miguel do Passa
Quatro tem como principal afluente o ribeiratildeo Brumado e tambeacutem eacute o principal afluente do
rio Corumbaacute O rio Piracanjuba tambeacutem estaacute entre os principais do municiacutepio na regiatildeo norte
faz fronteira entre Pires do Rio Orizona Urutaiacute e Ipameri sua principal relevacircncia foi na
deacutecada de 1950 por aiacute ter funcionado uma usina hidreleacutetrica que abastecia o municiacutepio de Pires
do Rio-GO
A anaacutelise zootoponiacutemica na localidade pesquisada evidenciou a valorizaccedilatildeo da fauna
local pois ao utilizar o nome de animais recuperou-os para nomear lugares como os rios
Observamos que os nomes de animais que estabelecem a sua origem nas liacutengua tupi
(Piracanjuba e Corumbaacute) e latina (Peixe) motivaram a nomeaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e
de alguma forma estatildeo vinculados agrave vida do nomeador estabelecendo assim relaccedilotildees
extralinguiacutesticas com os topocircnimos pesquisados E segundo Theodoro Sampaio (1914 apud
DICK 1990) dificilmente o nome do animal estaria desvinculado de sua existecircncia na
localidade
Os elementos de natureza fiacutesica mais evidentes na motivaccedilatildeo que subjazem aos
topocircnimos ora analisados foram os de origem vegetal mineral e animal (peixe) Percebemos
assim que o nomeador teve influecircncia das caracteriacutesticas do local para designar o referido
topocircnimo A partir desta anaacutelise nos eacute pertinente ao proacuteximo subtoacutepico proceder com as
anaacutelises das taxionomias de natureza antropocultural
422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos
Os topocircnimos de natureza antropocultural representam 33 (05 topocircnimos) do corpus
analisado destacando-se os antropotopocircnimos ergotopocircnimos etnotopocircnimos e
sociotopocircnimos O nomeador obteve suas motivaccedilotildees de iacutendole antropocultural fazendo
homenagem a pessoas importantes da cidade recuperando elementos da cultura material do
povo revelando elementos eacutetnicos isolados ou natildeo e por fim referenciando a atividades
profissionais ou pontos de encontro de pessoas da comunidade Assim identificando a
influecircncia do homem no meio em que se encontra
101
Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural
O graacutefico 3 nos traz em sua amplitude os topocircnimos de origem antropocultural e a partir
dele eacute que procederemos com as anaacutelises no decorrer do texto observando as regecircncias e
distintas influecircncias do nomeador no ato do batismo
4221 Antropotopocircnimos
Dentre os topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais em nossa pesquisa foi
encontrado apenas o ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo correspondendo ao percentual de
20 (01) dos topocircnimos de natureza antropocultural analisados Na toponiacutemia brasileira eacute
recorrente encontrarmos antropotopocircnimos especialmente lugares como cidades praccedilas ruas
e outros acabam recebendo nomes proacuteprios em homenagem a algueacutem A ficha lexicograacutefica-
toponiacutemica 12 em sua amplitude nos auxilia a perceber a influecircncia do antrotopocircnimo
analisado pois refere-se a uma figura puacuteblica da comunidade piresina
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 12
Topocircnimo Ribeiratildeo Sampaio Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia sm ldquomarinhordquo Sampaio eacute um sobrenome presente na onomaacutestica
portuguesa atraveacutes de raiacutezes tipicamente toponiacutemicas devido ao nome de uma vila localizada
0
02
04
06
08
1
12
14
16
18
2
ANTROPOTOPOcircNIMO ERGOTOPOcircNIMO ETNOTOPOcircNIMOS SOCIOTOPOcircNIMO
Taxionomias de Natureza Antropocultural
102
em Traacutes-os-Montes em Portugal e que teria sido adotado como sobrenome pelos senhores
deste local Alguns etimologistas acreditam que o nome Sampaio tenha surgido a partir do
latim Sanctus Pelagius (traduzido como ldquosanto marinhordquo) que significa Santo Pelagius e
com o passar do tempo tenha sofrido alteraccedilotildees na grafia passando para Sam Peaio Satildeo
Payo e por fim Sampaio Origem hebraica
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Proacuteprio ndash sobrenome)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da margem direita
do rio Corumbaacute (M de Pires do Rio)
Referecircncias Dicionaacuterio online de Nomes Proacuteprios (sd) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Este antropotopocircnimo foi o norteador motivacional para esta pesquisa pois o ribeiratildeo
Sampaio em um de seus limites por boa parte da populaccedilatildeo (inclusive eu) eacute conhecido como
Pedro Teixeira (que na verdade eacute o nome da ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo) soacute tempos depois
conheci o seu verdadeiro nome
E Dick (1990 p 286) assegura que
Os aspectos semacircnticos que podem ser encontrados nos nomes de pessoas
ligam-se portanto ao papel que exercem de verdadeiras manifestaccedilotildees
culturais dos povos e onde transparecem os mais diversos motivos
determinantes de sua escolha Talvez a proacutepria maneira pela qual se concebia
o nome em eacutepocas remotas como uma substacircncia revestida de poderes
miacutesticos seja a responsaacutevel pela variedade das motivaccedilotildees em uma ou em
outras sociedades
Os aspectos motivacionais para o topocircnimo em estudo eacute uma homenagem ao coronel
Lino Teixeira de Sampaio neste caso de acordo com Cabral (2007) eacute um patroniacutemico
sobrenome e faz referecircncia ao doador das terras em que fundou-se a cidade de Pires do Rio-
GO Segundo Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares ou
homenagem ou ateacute mesmo por caracteriacutesticas geograacuteficas inerentes ao local Em alguns casos
os nomes satildeo opacos pois natildeo apresentam nenhuma relaccedilatildeo com o referente nesta situaccedilatildeo haacute
de se fazer uma busca histoacuterica para chegar as relaccedilotildees motivacionais que natildeo eacute o nosso caso
Observando em estudos acerca dos topocircnimos de iacutendole de nomes proacuteprios individuais
constatamos que
103
Nomes proacuteprios de pessoas satildeo obscurecidos em seu conteuacutedo leacutexico-
semacircntico pela opacidade do proacuteprio signo que os conforma distanciados na
maioria das ocorrecircncias do foco original Integram o inventaacuterio mais fechado
da linguagem cuja origem remonta no Brasil aos primeiros nomes de
famiacutelias portuguesas para aqui imigradas (DICK 2001 p 83)
Assim foi possiacutevel observar que o patroniacutemico Sampaio ratifica a citaccedilatildeo de Dick
(2001) pois ele estaacute presente na onomaacutestica portuguesa evidenciado nas raiacutezes tipicamente
toponiacutemicas relacionado ao nome de uma vila localizada em Traacutes-os-Montes em Portugal que
supostamente teria sido adotado como sobrenome pelos senhores deste local (DICIONAacuteRIO
DE NOMES PROacutePRIOS sd)
A importacircncia desse referido ribeiratildeo para o municiacutepio de Pires do Rio-GO justifica-se
desde a sua nomeaccedilatildeo pela razatildeo de sua nascente ser em terras que eram de propriedade do
coronel Lino Teixeira de Sampaio e tambeacutem pelo motivo de
O ribeiratildeo Sampaio eacute utilizado como um dos limiacutetrofes das aacutereas urbana e
rural tambeacutem depositaacuterio da Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE)
consequentemente recebendo a aacutegua do esgoto depois de feito seu devido
tratamento Neste ribeiratildeo encontram-se os menores pontos altimeacutetricos da
aacuterea urbana o que favoreceu a construccedilatildeo da ETE (DIAS 2008 p 84)
Neste contexto eacute evidente que a motivaccedilatildeo para o topocircnimo Sampaio eacute uma
homenagem a uma pessoa que tem uma importacircncia para o local a cidade de Pires do Rio-GO
E assim podemos evidenciar que o ato de nomear aqui institui as relaccedilotildees de poder
possivelmente a de coacuterrego do senhor coronel Lino Teixeira de Sampaio estabelecendo as
relaccedilotildees de poder que o proacuteprio coronel mantinha sobre o local a cidade
4222 Ergotopocircnimos
Os topocircnimos referente a elementos da cultura material ergotopocircnimos nas anaacutelises
desta pesquisa tiveram um percentual de 20 (01) dos topocircnimos analisados ribeiratildeo Bauacute
assim observamos que o denominador foi motivado pelas relaccedilotildees da cultura material que o
cerca Jaacute observado em Sapir (1969) pois no leacutexico toponiacutemico reflete o ambiente social do
falante assim o topocircnimo no qual o objeto bauacute eacute de origem da cultura material e de uso
humano possivelmente as caracteriacutesticas do objeto como fundura largura e formato do bauacute
foram vitais para a nomeaccedilatildeo do ribeiratildeo
104
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 13
Topocircnimo Ribeiratildeo Bauacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Ergotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia ba-uacute (fr) Sm (Co) 1 mala de madeira recoberta de couro com tampa
conversa 2 moacutevel em forma de caixa de folha ou madeira onde se guardam roupas e demais
objetos (p169)
sm lsquotipo de caixa ou mala com tampa convexa na parte externarsquo baul XVI bau XVII bahu
Do ant baul deriv do a fr bahur (hoje bahut) de origem obscura (p84) 1805
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba na
divisa do municiacutepio de Pires do Rio (M de Campo Formoso)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Desta forma ldquoa lsquoescolharsquo do nome se daacute segundo um agenciamento enunciativo
especiacutefico este acontecimento de nomear recorta como memoraacuteveis os nomes disponiacuteveis
como contemporacircneos proacuteprios de sua eacutepocardquo (GUIMARAtildeES 2005 p 36-37) Eacute necessaacuterio
observar na citaccedilatildeo de Guimaratildees (2005) que no ato do batismo o nomeador faz referecircncia ao
contemporacircneo ou proacuteprio de sua eacutepoca no caso de uso do termo bauacute configura-se como essa
afirmaccedilatildeo eacute relativa a algo realmente usado em determinada eacutepoca
Eacute evidente que o topocircnimo apresentou como fonte motivacional a relaccedilatildeo existente entre
a cultura material e seu nomeador ou seja uma motivaccedilatildeo toponiacutemica de ordem
antropocultural assim essas designaccedilotildees que recuperam elementos da cultura material do
povo da localidade identifica a influecircncia do homem no meio em que se vive
4223 Etnotopocircnimos
Uma das taxionomias de natureza antropocultural de maior ocorrecircncia nesta pesquisa
com o percentual de 40 (02) topocircnimos dos analisados foram os etnotopocircnimos topocircnimos
105
relativos a elementos eacutetnicos isolados ou natildeo sendo o ribeiratildeo Caiapoacute e ribeiratildeo Marataacute que
no decorrer satildeo apresentados nas fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 14
Topocircnimo Ribeiratildeo Caiapoacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia rio do E de Goiaacutes nome de uma tribo fam linguiacutestica Jecirc que habitou
a regiatildeo (p34)
cai-a-poacute (Tupi) S 1 indiviacuteduo de um povo indiacutegena de Mato Grosso Sm [Pl] 2 esse povo
(p217)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Corumbaacute (M de
Pires do Rio)
Referecircncias Tibiriccedila (1985) Borba (2004) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 15
Topocircnimo Ribeiratildeo Marataacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Marata ndash sm 1 indiviacuteduo dos maratas 2 liacutengua indo-europeia do ramo
indo-iraniano sub-ramo indo-aacuterico falada no Oeste e Centro da Iacutendia esp no Estado de
Maharashtra por aprox 50 milhotildees de pessoas Eacute uma das liacutenguas oficiais da Iacutendia Sacircnsc
mahaacuteraacutestra o grande reino pelo hind marhatta id
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas afluente da margem direita do ribeiratildeo Caiapoacute (M de Pires
do Rio)
Referecircncias Houaiss (2009) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
106
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Na justeza dos nomes podemos evidenciar que ao batizar o ribeiratildeo Caiapoacute o nomeador
se valeu de fatores antropoculturais em relaccedilatildeo aos iacutendios caiapoacutes lsquokayapoacutersquo que segundo fatos
da histoacuteria estiveram em terras goianas desta forma ao se valer do uso do topocircnimo a
motivaccedilatildeo para tal ato de batismo pode ser referente a esses povos terem influecircncias de alguma
forma sobre o nomeador no ato do batismo do topocircnimo
Jaacute o topocircnimo ribeiratildeo Marataacute traz em sua bases semacircnticas como i ldquoliacutengua indo-
europeiardquo ii ldquoindiviacuteduos dos maratasrdquo segundo Houaiss et al (2009) E possivelmente a
motivaccedilatildeo do designativo foi a influecircncia de grupos europeus que tambeacutem passaram por estas
terras jaacute que o paiacutes foi colonizado por Portugal e na formaccedilatildeo da sociedade goiano e piresina
terem a presenccedila de vaacuterias etnias inclusive europeia
Desta forma eacute evidente que os etnotopocircnimos estatildeo relacionados agrave presenccedila e influecircncia
de grupos de distintas etnias no Brasil visto que a histoacuteria local e nacional revelam a presenccedila
de vaacuterios povos na formaccedilatildeo do sociedade brasileira
4224 Sociotopocircnimos
Tomando por anaacutelise os topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais
de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma dada comunidade dentre os
sociotopocircnimos numa frequecircncia de 20 (01) dos topocircnimos analisados foi encontrado o
designativo ribeiratildeo Mucambo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 16
Topocircnimo Ribeiratildeo Mucambo Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Sociotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Mocambo sm lsquoesconderijo refuacutegio dos negros (escravos) fugidorsquo
1535 mocano Do quimb mursquokamu lsquoescondrijorsquo Embora se documente em vaacuterios textos
quinhentistas relativos aos antigos domiacutenios portugueses na Aacutefrica foi no Brasil que o voc
Se difundiu intensamente desde o periacuteodo colonial em decorrecircncia do intenso conviacutevio dos
brancos com os negros escravos da africanos (p431)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
107
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
O topocircnimo tem sua origem no termo mocambo que se refere a esconderijo de escravos
fugidos (CUNHA 2010) Possivelmente assim como jaacute observado nos fatores motivacionais
de outros topocircnimos a relaccedilatildeo de grupos eacutetnicos terem passado ou habitado na regiatildeo pode ter
influenciado na nomeaccedilatildeo do designativo Na regiatildeo observada viveram escravos negros que
formaram um comunidade rural desta forma podem ter influenciado o nomeador no ato do
batismo do ribeiratildeo Mucambo
A partir do sociotopocircnimo analisado observamos em Carvalhinhos (2003 p 172) que
Os atuais estudos onomaacutesticos no Brasil vecircm justamente resgatando a histoacuteria
social contida nos nomes de uma determinada regiatildeo partindo da etimologia
para reconstruir os significados e posteriormente traccedilar um panorama
motivacional da regiatildeo em questatildeo como um resgate ideoloacutegico do
denominador e preservaccedilatildeo do fundo de memoacuteria
Desta forma ao traccedilar um panorama dos topocircnimos analisados eacute elementar que o
nomeador ao longo das nomeaccedilotildees buscou em suas bases motivacionais preservar a memoacuteria
local seja nos fatores fiacutesicos e ou sociais Para configurar tais dados no proacuteximo subtoacutepico
analisaremos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados
43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos
Analisar as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos estratos linguiacutesticos antes de mais
nada eacute perceber as influecircncias das etnias que povoaram o nosso paiacutes e regiatildeo Sabemos que no
iniacutecio do seacuteculo XVI quando os povos lusoacutefonos chegaram em terras brasileiras os iacutendios jaacute
as habitavam embora fossem os donos da terra tatildeo logo os portugueses se instalaram e se
fizeram os novos donos Mas no decorrer dos seacuteculos outros povos foram chegando e tambeacutem
se instalando no local daiacute retiramos a origem dos estratos linguiacutesticos dos topocircnimos analisados
nesta pesquisa
De acordo com Dick (1992 p 81)
108
a formaccedilatildeo etno-histoacuterica do Brasil acusa a existecircncia de estratos
populacionais diversos como os ameriacutendios distribuiacutedos em vaacuterios troncos e
famiacutelias Os portugueses os africanos e os de procedecircncia estrangeira jaacute em
eacutepoca posterior agrave colonizaccedilatildeo propriamente dita Essa origem heterogecircnea
deixou reflexos diferenciados na liacutengua nos usos e costumes nas tradiccedilotildees
regionais e consequentemente na toponiacutemia do paiacutes
Perceber essa heterogeneidade linguiacutestica na formaccedilatildeo dos topocircnimos eacute fundamental
visto que dos 15 topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO a sua maioria
eacute de origem indiacutegena isso revela que apesar do processo de colonizaccedilatildeo e imposiccedilatildeo da liacutengua
portuguesa a liacutengua dos nativos ainda prevaleceu ao menos na designaccedilatildeo toponiacutemica E no
graacutefico abaixo apresentamos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados
Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos
Analisar as origens dos topocircnimos eacute reconhecer segundo Dick (2006) que a Toponiacutemia
pode conviver com dois movimentos vivenciados de linguagem i) a nativa (linguagem
indiacutegena) e ii) a advena ou seja de iacutendole civilizatoacuteria pois ambas colaboraram para a
formaccedilatildeo dos brasileirismos e regionalismos mas natildeo apenas presentes na liacutengua Podemos
assim constatar em nossas anaacutelises que o vivenciado de acordo com a linguagem ldquonativardquo foi
a que teve maior frequecircncia neste estudo
Observamos no graacutefico IV a frequecircncia das liacutenguas que deram origem aos 15 topocircnimos
dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO e no que se segue procedemos com as
anaacutelises e logo apoacutes a estrutura morfoloacutegica
005
115
225
335
445
5
OrigemEtimologia dos Topocircnimos
109
O topocircnimo coacuterrego Laranjal eacute de origem Aacuterabe a influecircncia dessa liacutengua em nossa
regiatildeo nos eacute evidenciada no iniacutecio do seacuteculo XX com a fundaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio-
GO os aacuterabes foram um dos primeiros imigrantes que aqui chegaram bem como tiveram um
destaque na aacuterea comercial possivelmente este topocircnimo tenha relaccedilotildees com esse fato No que
tange agrave frequecircncia a liacutengua Aacuterabe (esta liacutengua influenciou imensamente o leacutexico da Liacutengua
Portuguesa) corresponde a 7 (01) dos topocircnimos analisados
Ainda contatamos outras liacutenguas como a Hebraica ndash ribeiratildeo Sampaio Preacute-romana ndash
coacuterrego Barreiro Sacircnscrito ndash ribeiratildeo Marataacute e ainda de Origem Obscura ndash ribeiratildeo Bauacute
Cada uma dessas liacutenguas correspondem agrave frequecircncia de 7 (01) dos topocircnimos analisados
provavelmente as devidas nomeaccedilotildees se devem ao fato da vinda de pessoas de outros
continentes em busca de melhores condiccedilotildees de vida e assim contribuiacuterem com a formaccedilatildeo
dos designativos dos cursos drsquoaacutegua
Os dados da toponiacutemia brasileira em relaccedilatildeo agrave origem dos topocircnimos satildeo de origem da
Liacutengua Portuguesa devido a colonizaccedilatildeo jaacute que os povos lusoacutefonos aqui chegaram e segundo
Dick (1995 p 60)
os primeiros topocircnimos funcionavam portanto como verdadeiros ldquosign-
postsrdquo ou marcas semioacuteticas de identificaccedilatildeo dos lugares usadas com a
finalidade de distinguir as caracteriacutesticas de espaccedilos semelhantes uma forma
uma silueta o perfil de uma paisagem se apresentando como recortes de uma
corografia maior a ser detalhada
Os povos lusoacutefonos nomeavam os lugares de acordo com caracteriacutesticas do lugar
Assim os topocircnimos por nograves analisados ndash coacuterrego Brumado coacuterrego da Terra Vermelha
ribeiratildeo Cachoeira e rio do Peixe ndash satildeo de origem latina liacutengua que deu origem agrave Liacutengua
Portuguesa e entre os topocircnimos estudados referem ao percentual de 29 (04 topocircnimos) dos
analisados
No processo de colonizaccedilatildeo do Brasil os portugueses necessitavam de matildeo-de-obra
mas como natildeo tiveram ecircxito com os iacutendios entatildeo foi necessaacuterio a busca de outros povos com
isso trouxeram os escravos E no processo de nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de
Pires do Rio-GO a Liacutengua Portuguesa (Aacutefrica) um percentual de 7 (01) dos topocircnimos ndash
ribeiratildeo Mucambo ndash que eacute especificado como o local esconderijo de escravos fugitivos Haacute
relatos de que na regiatildeo da zona rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tem uma localidade
que foi constituiacuteda em sua maioria populacional por escravos provavelmente pode esse
topocircnimo ter sido influenciado por tal fato
110
Em sua maioria 36 (05) dos topocircnimos analisados satildeo de origem Tupi ndash coacuterrego
Caiapoacute coacuterrego Itauacutebi ribeiratildeo Taquaral rio Corumbaacute e rio Piracanjuba ndash e segundo Bearzoti
Filho (2002 p 43) ao tratar das designaccedilotildees de origem tupi assinala que ldquoem grande parte
trata-se de topocircnimos atribuiacutedos natildeo por iacutendios mas por bandeirantes que como jaacute vimos
utilizavam a liacutengua geral como idioma de comunicaccedilatildeo ordinaacuteria em suas expediccedilotildeesrdquo
E de acordo com Sampaio (1928 p 02)
ao europeu poreacutem ou aos seus descendentes cruzados que realizaram as
conquistas dos sertotildees eacute que se deve a maior expansatildeo do tupi como liacutengua
geral dentro das raias atuais do Brasil As levas que partiam do litoral a
fazerem descobrimentos falavam no geral o tupi pelo tupi designavam os
novos descobertos os rios as montanhas os proacuteprios povoados que fundavam
e que eram outras tantas colocircnias espalhadas nos sertotildees falando tambeacutem o
tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo
Ao firmar o ato de nomeaccedilatildeo das localidades constatamos que o tupi liacutengua de origem
do maior nuacutemero de topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO
possivelmente deve-se agrave influecircncia das seguintes relaccedilotildees a internalizaccedilatildeo de nomes de origem
tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para Goiaacutes e a presenccedila de iacutendios como jaacute
mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo viveram regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da
colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)
Ainda consoante Pereira (2009 p 27) observamos que
A toponiacutemia brasileira como um todo reuacutene uma grande quantidade de nomes
de base indiacutegena na nomeaccedilatildeo de acidentes geograacuteficos que evidenciam
marcas da presenccedila de vaacuterias etnias na nomenclatura geograacutefica brasileira Um
estudo toponiacutemico numa dimensatildeo etnolinguiacutestica analisa desde a origem
dos nomes ateacute as influecircncias socioculturais da populaccedilatildeo que habita o espaccedilo
geograacutefico em estudo na forma de nomear os acidentes fiacutesicos verificando se
no momento da designaccedilatildeo de um lugar o designador apropriou-se de nomes
cuja origem procedeu de estratos linguiacutesticos de base portuguesa ou de outras
liacutenguas que influenciaram a formaccedilatildeo do leacutexico do portuguecircs brasileiro
principalmente as liacutenguas indiacutegenas e africanas
Ao analisarmos os topocircnimos dos cursos drsquoagua do municiacutepio de Pires do Rio-GO
podemos constatar que em sua maioria as liacutenguas que lhe deram origem foram as indiacutegenas e a
latina as outras que representaram um percentual menor possivelmente estatildeo ligadas agrave vinda
de outras etnias que ajudaram na formaccedilatildeo populacional do Brasil e de Goiaacutes
111
44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos
Com vistas nos paracircmetros teoacuterico-metodoloacutegicos da pesquisa seguindo o que eacute
estabelecido por Dick (1992) ao que se refere a estrutura morfoloacutegica o topocircnimo pode ser
classificado como simples composto e composto hiacutebrido que de acordo Dick (1992 p 14)
ldquotopocircnimo que em sua estrutura haacute a presenccedila de duas bases linguiacutesticas distintas por exemplo
tupi + portuguecircsrdquo mas natildeo encontrado em nossa pesquisa A partir disto tomamos o graacutefico V
para procedermos com a anaacutelise
Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos
Dos 15 sintagmas toponiacutemicos catalogados uma representaccedilatildeo de 87 (13 topocircnimos)
satildeo de estrutura simples que no processo de nomeaccedilatildeo o nomeador utilizou apenas um
formante ou seja um elemento designativo Jaacute os compostos aparecem em um percentual de
13 (02 topocircnimos) formados por mais de um formante lexical
Ao trazermos essas informaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos topocircnimos observamos que
como uso de substantivos e adjetivos o denominador acaba por trazer caracteriacutesticas do local
onde nomes comuns passam a formar nomes proacuteprios e segundo Dick (2006 p 108)
o topocircnimo integraraacute natildeo uma categoria descritiva de nomes nem um iacutendice
cromaacutetico desvinculado de outras consideraccedilotildees culturais e sim o que
chamamos na teoria de nomes transplantados deslocados ou transferidos de
seu lugar de origem para outros pontos distantes formando uma nova
sequecircncia nominal
0
2
4
6
8
10
12
14
SIMPLES COMPOSTO
Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos
112
No processo de nomeaccedilatildeo o nomeador faz uso de designativos que aleacutem de sofrer
certos deslocamentos como jaacute mencionado de nome comum para nome proacuteprio haacute tambeacutem
casos de alguns topocircnimos sofrerem alteraccedilotildees em suas estruturas morfoloacutegicas como o caso
do designativo ribeiratildeo Mucambo que em suas origens traz a grafia de mocambo
No decorrer deste estudo e anaacutelises foi possiacutevel perceber que os topocircnimos aleacutem de
servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais da sociedade a
que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e costumes da sociedade E ao final foi
notoacuterio perceber nas liacutenguas que deram origem aos topocircnimos a estreita relaccedilatildeo com o
ambiente pois de alguma forma o nomeador obteve motivaccedilatildeo tanto do espaccedilo meio ambiente
como da liacutengua propriamente dita
113
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Ao propormos estudar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO tomamos por base caracterizar o ato de nomear e dele reiteramos e pode ser observado em
sua totalidade a relaccedilatildeo de poder pois nomear eacute instituir E eacute por meio do batismo do topocircnimo
que ele se instaura e revela as relaccedilotildees do meio ambiente com o homem eou do homem com
meio que o circunda As consideraccedilotildees finais ora apresentadas referem-se aos estudos
toponiacutemicos relacionados apenas ao contexto local desta pesquisa mas muito ainda haacute de ser
estudado na aacuterea em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia em Goiaacutes
Os objetivos da pesquisa constituem-se basicamente em descrever e analisar os
topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO observando
noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural Assim em
sua maioria os elementos fiacutesicos sobressaiacuteram sobre os demais pois no total de 15 topocircnimos
analisados um percentual de 67 (10 topocircnimos) foram motivados pelos aspectos fiacutesicos
sendo que os de origem vegetal fitotopocircnimos e animal zootopocircnimos tiveram maior
recorrecircncia Assim concretizamos que o ambiente influenciou o nomeador no ato do batismo
estabelecendo as relaccedilotildees entre liacutengua e ambiente inclusive com os aspectos extralinguiacutesticos
A maior incidecircncia de taxionomias de natureza fiacutesica nesta pesquisa demonstra a
tendecircncia do denominador de nomear os lugares com nomes dos elementos fiacutesicos da natureza
circundante numa constataccedilatildeo de que o meio ambiente exerce grande influecircncia sobre o
homem refletindo-se tambeacutem no processo de nomeaccedilatildeo dos lugares
Jaacute no que tange agraves taxionomias de natureza antropocultural em nossas anaacutelises com um
percentual de 33 (05 topocircnimos) os etnotopocircnimos que fazem referecircncia a elementos eacutetnicos
foram os com maior frequecircncia Observamos nas taxes de natureza antropocultural que os
fatores culturais foram os motivadores para a designaccedilatildeo dos topocircnimos analisados
evidenciando as relaccedilotildees do homem com o ambiente que o cerca Para tanto foi necessaacuterio
identificar os fatores que constituem a motivaccedilatildeo que subjazem agrave escolha do nome do lugar
que foi possibilitado por meio da caracterizaccedilatildeo de fatores sociais culturais histoacutericos que nos
auxiliaram nas anaacutelises dos topocircnimos
A hipoacutetese inicial da pesquisa foi de que pelo caraacuteter motivado o signo toponiacutemico
possibilita reconhecer fatores vinculados ao que subjaz agrave escolha dos nomes de lugares e assim
nos possibilitou o levantamento de fatores soacutecio-histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave
anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua como iacutendice de estreita relaccedilatildeo entre
liacutenguaambiente e cultura E pudemos observar que os topocircnimos estabelecem relaccedilotildees da
114
liacutengua e meio ambiente no que concerne agrave anaacutelise das taxionomias de natureza fiacutesica e a
posteriori as relaccedilotildees de liacutengua e cultura que foram evidenciadas nas taxionomias de natureza
antropocultural Nas taxes analisadas foi possiacutevel detectar que o ambiente e o contexto satildeo
fundantes nas motivaccedilotildees que subjazem aos topocircnimos analisados Desta forma entende-se que
um rio um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que uma vez nomeados passam a carregar as
inuacutemeras memoacuterias do lugar
Os fatores soacutecio-histoacutericos-culturais do municiacutepio de Pires do Rio-GO foram
imprescindiacuteveis no processo de anaacutelise dos designativos dos lugares pois no caso do topocircnimo
ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo ficou evidente que o fato motivador foi a relaccedilatildeo de poder
do nome devido ao ribeiratildeo ter sua nascente em terras que eram do coronel Lino Teixeira de
Sampaio e tambeacutem por ter sido ele o doador das terras em que surgiu o referido municiacutepio
Ao levantar as perguntas de pesquisa qual a origem dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da
cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do
lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo Apoacutes ter analisado os 15
topocircnimos fica evidente que todos os nomes estatildeo registrados nas cartas topograacuteficas e satildeo
oficializados pelo IBGE mas provavelmente os nomes foram dados pela comunidade que
habitou nas localidades ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas que foram levantadas nos designativos
fazendo referecircncia ao local
Por meio da caracterizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico
onomasioloacutegico que foi o norte da pesquisa combinado com outros meacutetodos como o Woumlrter
und Sachen (palavras e coisas) numa abordagem qualiquantitativa foi evidente na relaccedilatildeo da
toponiacutemia que os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos
lugares Nesse iacutenterim nos foi possiacutevel quantificar os topocircnimos em relaccedilatildeo as taxionomias
origem e estrutura morfoloacutegica percebendo as ocorrecircncias em maior frequecircncia
A anaacutelise do ponto de vista etnolinguiacutestico demonstrou a predominacircncia de topocircnimos
originaacuterios da liacutengua indiacutegena um percentual de 36 essa recorrecircncia eacute supostamente devido
agrave internalizaccedilatildeo de nomes de origem tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para
Goiaacutes e agrave presenccedila de iacutendios como jaacute mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo
viveram na regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e
consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)
A liacutengua latina que deu origem agrave liacutengua portuguesa aparece e 29 dos topocircnimos
analisados isso devido aos povos lusoacutefonos que nomeavam os lugares com as caracteriacutesticas
que se estabeleciam com os referidos locais por eles percorridos e habitados E tambeacutem outras
liacutenguas tiveram uma menor frequecircncia como a aacuterabe hebraica preacute-romana sacircnscrito e
115
tambeacutem um topocircnimo de origem obscura fica evidente que outras etnias influenciaram na
nomeaccedilatildeo dos lugares Pode ser pelo fato de o nomeador pertencer a etnia ou ter alguma relaccedilatildeo
indireta
Quanto agrave estrutura morfoloacutegica do toacutepico de acordo com Dick (1992) dos analisados
87 satildeo de formaccedilatildeo simples tendo apenas um formante e 13 satildeo compostos com dois
formantes lexicais assim os compostos revelam mais de uma caracteriacutestica do local nomeado
e caracteriza mais de uma taxionomia
De forma peculiar esta pesquisa aleacutem de proceder com as anaacutelises de classificaccedilatildeo
origemetimologia morfoloacutegica e semacircntico-toponiacutemicas remapeou e cartografou os cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO sem mencionar no revisitar da formaccedilatildeo histoacuterica
deste municiacutepio e da contribuiccedilatildeo com os estudos toponiacutemicos no estado de Goiaacutes
Os topocircnimos aleacutem de servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas
fiacutesicas e sociais da sociedade a que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e
costumes dessa sociedade E ao perceber essas relaccedilotildees de liacutenguaambiente e cultura na
designaccedilatildeo do topocircnimo eacute que propomos para discussatildeo futura doutorado a partir da
ecolinguiacutestica e da toponiacutemia proceder com a anaacutelise da relaccedilatildeo de liacutengua e meio ambiente nos
hidrocircnimos das bacias hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes
116
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Karylleila dos Santos Atlas toponiacutemico de origem indiacutegena do estado do
Tocantins ATITO Goiacircnia-GO Ed PUC Goiaacutes 2010
ALMEIDA Lana Cristina Santana de O leacutexico toponiacutemico das comunidades rurais de Santo
Antocircnio de Jesus uma anaacutelise semacircntica e sociocultural 2012 188f Dissertaccedilatildeo (Mestrado
em Liacutengua e Cultura) ndash Universidade Federal da Bahia Salvador-BA 2012
AULETE Caldas Dicionaacuterio escolar da liacutengua portuguesa 3ordf ed Rio de Janeiro-RJ
Lexikon 2011
BASSETTO Bruno Fregni Elementos de Filologia Romacircnica histoacuteria Externa das Liacutenguas
Romacircnicas V1 2ed Satildeo Paulo-SP EDUSP 2013
______ Elementos de filologia romacircnica histoacuteria externa das liacutenguas Satildeo Paulo-SP Editora
da Universidade de Satildeo Paulo 2001
BEARZOTI FILHO Paulo Formaccedilatildeo linguiacutestica do Brasil Curitiba-PR Nova Didaacutetica
2002
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia Sagrada Traduccedilatildeo Centro Biacuteblico Catoacutelico 100ordf ed rev Satildeo
Paulo-SP Ave Maria 1995
BIDERMAN Maria Tereza Camargo Dimensotildees da palavra Filologia e Linguiacutestica
Portuguesa Araraquara-SP n 2 p 81-118 1998
BORBA Francisco da Silva (Org) Dicionaacuterio UNESP do portuguecircs contemporacircneo Satildeo
Paulo-SP UNESP 2004
BORGES Barsanufo Gomides O despertar dos dormentes estudo sobre a Estrada de
Ferro de Goiaacutes e seu papel nas transformaccedilotildees das estruturas regionais 1909-1922
Goiacircnia-GO Cegraf 1990
BOSI Alfredo Plural mas natildeo caoacutetico In ______ (Org) Cultura Brasileira temas e
situaccedilotildees Satildeo Paulo-SP Editora Aacutetica 1987 p 7-15
BRASIL Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Pires do Rio-GO folha SE-22-X-III Escala 1100 000 1973
______ Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Ipameri-GO folha SE-22-X-VI Escala 1100 000 1973
______ Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Cristianoacutepolis-GO folha SE-22-X-II Escala 1100 000 1973
CABRAL Joatildeo de Pina Matildees pais e nomes no baixo sul (Bahia Brasil) In ______ VIEGAS
Susana de Matos Nomes geacutenero etnicidade e famiacutelia Coimbra-Portugal Almedina 2007 p
63-87
117
CAcircMARA JR Joaquim Mattoso Histoacuteria da Linguiacutestica 6ordf ediccedilatildeo Petroacutepolis-RJ Editora
Vozes LTDA 1975
______ Liacutengua e cultura Revista Letras Londrina-PR v 4 p 50 - 59 1955 Disponiacutevel em
lthttpojsc3slufprbrojsindexphpletrasarticleview2004613227gt Acesso em 30 set
2015
CAMPBELL Lyle Historical Linguistics An Introduction 2 ed Cambrige-EUA MIT
2004
CARVALHINHOS Patriacutecia de Jesus Onomaacutestica e lexicologia o leacutexico como catalisador de
fundo de memoacuteria Estudo de caso os sociotopocircnimos de Aveiro (Portugal) Revista USP Satildeo
Paulo-SP n 56 p 172-179 2003 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevistasuspbrrevusparticleview33819gt Acesso em 13 jan 2016
______ Antroponiacutemia Um velho caminho um novo instrumental de anaacutelise linguiacutestico-
literaacuteria Revista Aacutelvares Penteado Satildeo Paulo-SP v 4 n 8 p 115-135 2002
COSERIU Eugecircnio O homem e sua linguagem Trad Carlos Alberto da Fonseca e Maacuterio
Ferreira Satildeo Paulo-SP Edusp 1982
______ Princiacutepios de semaacutentica estructural Madrid-Espanha Gredos 1977
COUTO Hildo Honoacuterio do Onomasiologia e semasiologia revisitadas pela
ecolinguiacutestica Revista de Estudos da Linguagem Belo Horizonte-MG v 20 n 2 p 183-
210 2012 Disponiacutevel em
lthttpperiodicosletrasufmgbrindexphprelinarticleview2748gt Acesso em 13 jan 2016
______ Ecolinguiacutestica - estudo das relaccedilotildees entre liacutengua e meio ambiente Brasiacutelia-DF
Thesaurus 2007
CROWLEY Terry An Introduction to Historical Linguistics 3 ed Oxford-EUA Oxford
University 2003
CRYSTAL David Pequeno tratado da linguagem humana Traduccedilatildeo Gabriel Perisseacute Satildeo
Paulo-SP Saraiva 2012
CUNHA Antocircnio Geraldo da Dicionaacuterio etimoloacutegico da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro-
RJ Lexikon 2010
CUNHA Celso A magia da palavra In ______ Sob a pele das palavras Rio de Janeiro-RJ
Nova Fronteira Academia Brasileira de Letras 2004 p 217-233
DIAS Ana Lourdes Cardoso Toponiacutemia dos antigos arraiais tocantinense 2016 207f Tese
(Doutorado em Letras e Linguiacutestica) ndash Universidade Federal de Goiacircnia Faculdade de Letras
Goiacircnia-GO 2016
DIAS Cristiane Mapeamento do municiacutepio de Pires do Rio-GO usando teacutecnicas de
geoprocessamento 2008 187f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Federal
de Uberlacircndia Uberlacircndia-MG 2008
118
Dicionaacuterio de nomes proacuteprios Significado dos nomes sd Disponiacutevel em
lthttpswwwdicionariodenomesproprioscombrsampaiogt Acesso em 06 jul 2016
DICK Maria Vicentina de Paula do Amaral Fundamentos teoacutericos da Toponiacutemia Estudo de
caso O Projeto ATEMIG ndash Atlas Toponiacutemico do Estado de Minas Gerais (variante regional do
Atlas Toponiacutemico do Brasil) In SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa (Org) O leacutexico
em estudo Belo Horizonte-MG Faculdade de Letras da UFMG 2006 p 91-117
______ Rede de conhecimento e campo lexical hidrocircnimos e hidrotopocircnimos na onomaacutestica
brasileira In ISQUERDO Aparecida Negri KRIEGER Maria da Graccedila As ciecircncias do
leacutexico lexicologia lexicografia e terminologia Vol II Campo Grande-MT Editora da UFMS
2004 p 121-130
______ O sistema onomaacutestico bases lexicais e terminoloacutegicas produccedilatildeo e frequecircncia In
OLIVEIRA Ana Maria Pinto Pires ISQUERDO Aparecida Negri (orgs) As ciecircncias do
leacutexico lexicologia lexicografia terminologia 2 ed Campo Grande-MS UFMS 2001 p 77-
88
______ A Investigaccedilatildeo Linguiacutestica na Onomaacutestica Brasileira Estudos de Gramaacutetica
Portuguesa III Frankfurt am Main Volume III 2000 p 217-239
______ Meacutetodos e questotildees terminoloacutegicas na onomaacutestica Estudo de caso o Atlas
Toponiacutemico do Estado de Satildeo Paulo Investigaccedilotildees Linguiacutestica e Teoria Literaacuteria Recife-PE
v 9 p 119-148 1999
______ A dinacircmica dos nomes da cidade de Satildeo Paulo 1554-1987 Satildeo Paulo-SP
ANNABLUME 1996
______ O leacutexico toponiacutemico marcadores e recorrecircncias linguiacutesticas (Um estudo de caso a
toponiacutemia do Maranhatildeo) Revista Brasileira de Linguiacutestica Satildeo Paulo-SP editora Plecirciade v
8 ndash n 1 p 59-68 1995
______ Toponiacutemia e Antroponiacutemia no Brasil Coletacircnea de Estudos Satildeo Paulo-SP Serviccedilo
de Artes GraacuteficasFFLCHUSP 1992
______ A Motivaccedilatildeo Toponiacutemica e a Realidade Brasileira Satildeo Paulo-SP Ediccedilotildees Arquivo
do Estado 1990
DUBOIS Jean et al Dicionaacuterio de linguiacutestica Satildeo Paulo-SP Cultrix 2004
FARACO Carlos Alberto Linguiacutestica Histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo da histoacuteria das
liacutenguas Satildeo Paulo-SP Paraacutebola Editorial 2006
FERREIRA Aroldo Maacutercio Urbanizaccedilatildeo e arquitetura na regiatildeo da estrada de ferro Goiaacutes
ndash E F Goiaacutes cidade de Pires do Rio um exemplar em estudo 1999 278f Dissertaccedilatildeo
(Mestrado em Histoacuteria das Sociedades Agraacuterias) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Faculdade
de Ciecircncias Humanas e Filosofia Goiacircnia-GO 1999
119
FIORIN Joseacute Luiz A linguagem humana do mito agrave ciecircncia In ______ Linguiacutestica Que eacute
isso Satildeo Paulo-SP Contexto 2013 p 13-43
FRAZER James George The golden bough 3 ed Nova Iorque-USA The MacMillan
Company 1951
GEERTZ Clifford A interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro-RJ Zahar 1973
GUIMARAtildeES Eduardo Semacircntica do acontecimento um estudo enunciativo da designaccedilatildeo
2ordf ed Campinas-SP Pontes 2005
GUIRAUD Pierre A semacircntica Rio de Janeiro-RJ Bertrand Brasil 1986
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello
Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro-RJ Objetiva Versatildeo
monousuaacuterio 30 1 [CD-ROM] 2009
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles Dicionaacuterio Houaiss da liacutengua portuguesa
Rio de Janeiro-RJ Objetivo 2004
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521740ampidtema=16ampsear
ch=goias|pires-do-rio|sintese-das-informacoesgt Acesso em 27 maio 2016
______ Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros Vol II Rio de Janeiro-RJ 1957
IMB ndash Instituto Mauro Borges de estatiacutesticas e estudos socioeconocircmicos Disponiacutevel em
ltwwwimbgogovbrgt Acesso em 29 maio 2016
ISQUERDO Aparecida Negri SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Apontamentos
sobre hidroniacutemia e hidrotoponiacutemia na fronteira entre Mato Grosso do Sul e Minas Gerais In
ISQUERDO Aparecida Negri (Org) As Ciecircncias do Leacutexico Lexicologia Lexicografia
Terminologia Campo Grande-MS Ed UFMS 2010 p 79-98
KRISTEVA Julia Histoacuteria da linguagem Traduccedilatildeo Margarida Barahona Lisboa-Portugal
Ediccedilotildees 70 Lda 2007
LIMA Antoacutenia Pedroso de Intencionalidade afecto e distinccedilatildeo as escolhas de nomes em
famiacutelias de elite de Lisboa In CABRAL Joatildeo de Pina VIEGAS Susana de Matos Nomes
geacutenero etnicidade e famiacutelia Coimbra-Portugal Almedina 2007 p 39-61
LOacutePEZ Laura Aacutelvarez Nomes pessoais e praacuteticas de nomeaccedilatildeo agrave sombra da escravidatildeo In
BORBA Lilian do Rocio LEITE Cacircndida Mara Brito (Orgs) Diaacutelogos entre liacutengua cultura
e sociedade Campinas-SP Mercado das Letras 2013 p 139-171
MAURER JR Theodoro Henrique Linguiacutestica Histoacuterica Alfa Revista de Linguiacutestica Satildeo
Joseacute do Rio Preto-SP v 11 p 19-42 1967
MENEZES Paulo Maacutercio Leal SANTOS Claacuteudio Joatildeo Barreto dos SANTOS Beatriz
Cristina Pereira dos Geoniacutemia e a cartografia histoacuterica um estudo sobre os nomes da
120
hidrografia Fluminense In III SIMPOacuteSIOBRASILEIRO DE CIEcircNCIAS GEODEacuteSICAS
E TECNOLOGIAS DA GEOINFORMACcedilAtildeO 2010 Recife-PE 2010 p 1-8
NOGUEIRA Wilson Cavalcanti Incidente em Pires do Rio Goiacircnia-GO Kelps sd
NOVAIS Simone Francisca de Avicultura Industrial e Reestruturaccedilatildeo Produtiva os
produtores integrados no municiacutepio de Pires do Rio (GO) 2014 150f Dissertaccedilatildeo (Mestrado
em Geografia) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo Catalatildeo-GO 2014
OGDEN Charles Kay RICHARDS Ivor Armstrong O significado do significado um estudo
da influecircncia da linguagem sobre o pensamento e sobre a ciecircncia do simbolismo Rio de Janeiro-
RJ Zahar 1972
PAIXAtildeO DE SOUSA Maria Clara Linguiacutestica Histoacuterica In NUNES Joseacute Horta PFEIFFER
Claudia (Orgs) Introduccedilatildeo agraves Ciecircncias das Linguagens Linguagem Histoacuteria e
Conhecimento Campinas-SP Pontes 2006 p 11-48
PARKIN David The politicx of naming among the Giriama Sociological Review
Monograph 36 p 61-89 1989
PAULA Maria Helena de Rastros de velhos falares leacutexico e cultura no vernaacuteculo catalano
2007 521f Tese (Doutorado em Linguiacutestica e Liacutengua Portuguesa) ndash Universidade Estadual
Paulista Faculdade de Ciecircncias e Letras Campus de Araraquara Araraquara-SP 2007
PEREIRA Renato Rodrigues A toponiacutemia de Goiaacutes em busca da descriccedilatildeo de nomes de
lugares de municiacutepios do sul goiano 2009 204f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Estudos da
Linguagem) ndash Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Centro de Ciecircncias Humanas e
Sociais Campo Grande-MS 2009
PIEL Joseph Consideraccedilotildees gerais sobre toponiacutemia e antroponiacutemia galegas Verba sl v 6
p 5-11 1979 Disponiacutevel em ltdspaceuscesbitstream1034735561pg_007-014_verba6gt
Acesso em 23 mar 2016
PIERCE Charles Sanders Semioacutetica Traduccedilatildeo Joseacute Teixeira Neto Satildeo Paulo-SP
Perspectiva 2005
PLATAtildeO Craacutetilo Lisboa-Portugal Instituto Piaget 2001
RAMOS Ricardo Tupiniquim BASTOS Gleyce Ramos Onomaacutestica e possibilidades de
releitura da histoacuteria Revista Augustus Rio de Janeiro-RJ ano 15 n30 p 86-92 2010
ROCHA Juacutelio Ceacutesar Barreto GALVAtildeO Elis Monique Vasconcelos GONCcedilALVES
Mauriacutecio Costa Onomaacutestica uma ciecircncia para a autoidentificaccedilatildeo de Rondocircnia Revista
Pesquisa amp Criaccedilatildeo (UNIR) Porto Velho-RO v 10 n 1 p 25-34 janjun 2011 Disponiacutevel
em lthttpwwwperiodicosunirbrindexphppropesqarticleviewFile405440gt Acesso em
10 jun 2016
SAMPAIO Theodoro O Tupi na geografia nacional Salvador-BA Secccedilatildeo Graphica da
Escola de Aprendizes Artificies 1928
121
______ O Tupi na Geographia Nacional Memoria lida no Instituto Histoacuterico e Geographico
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo-SP Typ da Casa Eclectica 1901
SAPIR Edward A Linguagem Satildeo Paulo-SP Perspectiva 1980
______ Linguiacutestica como ciecircncia Rio de Janeiro-RJ Livraria Acadecircmica 1969
SAUSSURE Ferdinand de Curso de Linguiacutestica Geral 30ordf ed Satildeo Paulo-SP Cultrix 2008
SIQUEIRA Gisele Martins AGUIAR Maria Sueliacute de Linguiacutestica histoacuterica comparativa e
formaccedilatildeo do leacutexico da liacutengua portuguesa In II Simpoacutesio Nacional de Letras e Linguiacutestica I
Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica Linguagens Histoacuteria e Memoacuteria (25 anos
do curso de Letras Campus Catalatildeo) Catalatildeo-GO p 381-394 2011
______ Campos leacutexicos dos falares rurais de Goiaacutes Mato Grosso Minas Gerais e Satildeo
Paulo sd Disponiacutevel em
lthttpwwwsbpcnetorgbrlivro63raconpeexmestradotrabalhos-mestradomestrado-gisele-
martinspdfgt Acesso em 01 fev 2016
SIQUEIRA Jacy Um contrato singular e outros ensaios de Histoacuterias de Goiaacutes Goiacircnia-
GO Kelps 2006
SIQUEIRA Kecircnia Mara de Freitas O leacutexico tupi na nomeaccedilatildeo dos lugares goianos 2015
Mimeografado
______ Toponiacutemia Kalunga aspectos da inter-relaccedilatildeo liacutengua povo e territoacuterio Via Litterae
Anaacutepolis-GO n 7 v 1 p 61-75 janjun 2015 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevistauegbrindexphpvialitteraegt Acesso em 15 set 2016
______ Nos trilhos da estrada de ferro reminiscecircncias de motivaccedilotildees toponiacutemicas Revista da
ANPOLL Satildeo Paulo-SP v 1 n 32 p 150-170 2012 Disponiacutevel em
ltwwwanpollorgbrrevistagt Acesso em 10 jun 2015
SILVA Antocircnio Moreira da Dossiecirc de Goiaacutes ndash Enciclopeacutedia Regional um compecircndio de
informaccedilotildees sobre Goiaacutes sua histoacuteria e sua gente Rio de Janeiro-RJ Sindicato Nacional dos
Editores de Livros 2001
SILVA Augusto Soares da Palavras significados e conceitos o significado lexical na mente
na cultura e na sociedade Cadernos de Letras da UFF Dossiecirc Letras e cogniccedilatildeo n 41 p 27-
53 2010 Disponiacutevel em ltwwwuffbrcadernosdeletrasuff41artigo1pdfgt Acesso em 06
maio 2015
SILVA Joseacute Maria da SILVEIRA Emerson Sena da Apresentaccedilatildeo de trabalhos
acadecircmicos 2 ed Petroacutepolis-RJ Vozes 2007
SILVA Tomaz Tadeu da Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais
Petroacutepolis-RJ Vozes 2000
SOARES Francisco Accioli Martins Pontos Histoacutericos de Pires do Rio Goiacircnia-GO Graacutefica
e Editora Piloto 1988
122
SOLIacuteS Gustavo Fonseca La gente pasa los nombres quedan Introduccioacuten en la Toponiacutemia
Lima-Peru Ed Lengua e Sociedad 1997
TIBIRICcedilA Luiz Caldas Dicionaacuterio de topocircnimos brasileiros de origem tupi Santos-SP
Traccedilo Editora 1985
TRASK Robert Lawrence Dicionaacuterio de Linguagem e Linguiacutestica Traduccedilatildeo Rodolfo Ilari
Satildeo Paulo-SP Contexto 2006
WHORF Benjamin Lee Lenguage Pensamiento y Realidad Barcelona-Espanha Barral
Editores 1971
ZAVAGLIA Claacuteudia Metodologia em Ciecircncias da Linguagem Lexicografia In
GONCcedilALVES Adair Vieira GOacuteIS Marcos Luacutecio de Sousa (Orgs) Ciecircncias da linguagem
o fazer cientiacutefico Campinas-SP Mercado das Letras 2012 p 231-264
ldquoO nome eacute um certo sentido a proacutepria coisa dar
nome agraves coisas eacute conhececirc-las e apropriar-se
delas a denominaccedilatildeo eacute o ato da posse espiritualrdquo
(MIGUEL UNAMUNO)
RESUMO
Esta pesquisa centra-se nos estudos toponiacutemicos e tem como objetivo descrever e analisar a
origemetimologia morfoloacutegica e semanticamente dos topocircnimos da hidrografia da cidade de
Pires do Rio-GO para identificar as relaccedilotildees entre esses designativos de lugares e respectivos
fatores contextuais que por ventura possam conter indiacutecios da motivaccedilatildeo toponiacutemica O
levantamento dos topocircnimos foi feito por meio de documentos oficiais mapas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Instituto Mauro Borges (IBM) numa escala de
1100000 e das cartas topograacuteficas A pesquisa eacute de base documental numa abordagem
qualiquantitativa O meacutetodo da pesquisa eacute o onomasioloacutegico e indutivo parte-se de casos
particulares para uma verdade geral combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica de
estudo das designaccedilotildees com o objetivo de analisar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito
A anaacutelise do corpus da pesquisa deu-se apoacutes o levantamento dos 46 topocircnimos dos cursos
drsquoaacutegua dentre os quais 15 satildeo analisados neste estudo Nesse sentido parte-se do princiacutepio de
que o signo toponiacutemico eacute motivado pois fatores extralinguiacutesticos influenciam o nomeador no
ato de nomear na perspectiva de que a liacutengua recorta a realidade agrave sua maneira (Sapir-Whorf)
sendo que a proacutepria liacutengua eacute um depositaacuterio de cultura assim os topocircnimos revelam fatores
soacutecio-histoacuterico-culturais do lugar que o nomeia A histoacuteria e a geografia do municiacutepio de Pires
do Rio-GO foram fundantes para as anaacutelises que nas bases onomasioloacutegicas e indutivas
evidenciam que o local e suas caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais influenciam o nomeador no ato
do batismo do topocircnimo Perceber as relaccedilotildees de nomeaccedilatildeo e nomeador satildeo fatores que por
meio das classificaccedilotildees taxionocircmicas satildeo revelados sem deixar de perceber tambeacutem que a
origem dos nomes e sua estrutura morfoloacutegica evidencia os fatores contextuais a que da liacutengua
cultura e ambiente estatildeo impregnados no topocircnimo isso tudo agrave vista de quem o designou
Palavras-Chave Toponiacutemia Liacutengua Cultura Pires do Rio Hidrografia
ABSTRACT
This research focuses on the toponymic studies and aims to describe and analyze the origin of
the names morphological and semantic of designatory toponyms of the hydrography of Pires
do Rio-GO city to identify the relations between these designative places and their respective
contextual factors which may by chance contain indications of toponymic motivation The
research of the toponyms was done by means of official documents maps of the Brazilian
Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Mauro Borges Institute (IBM) on a scale of
1 100000 and topographic maps The research is documentary based in a qualitative and
quantitative approach the research method is the onomasiological method combined with other
methods which consists of the study of designations with the purpose of studying the various
names attributed to a concept The analysis of this researchrsquos corpus took place after the survey
of the 46 toponyms of the watercourses from which 15 are analyzed in this study In this sense
it is assumed that the toponymic sign is motivated once extralinguistic factors influence the
nominator in the act of naming in the perspective that the language outlines reality in its own
way (Sapir-Whorf) and the language itself is a depository of culture thus toponyms reveal
socio-historical-cultural factors of the place that names it The history and geography of Pires
do Rio-GO city was the basis for the analyzes which on the onomasiological bases show that
the place and its physical and social characteristics influence the nominator in the moment of
the toponym baptism To perceive naming and nominator relationships are factors that are
revealed through the taxonomic classifications noticing at the same time that the origin of the
names and their morphological structure reveals the contextual factors that are impregnated in
the toponymy of the language culture environment aspects from the point of view of who
appointed it
Keywords Toponymy Language Culture Pires do Rio Hydrography
LISTA DE ABREVIATURAS
ATEGO ndash Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes
ATB ndash Atlas Toponiacutemico Brasileiro
DSG ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito
ETE ndash Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto
FCA ndash Ferrovia Centro Atlacircntica
GO ndash Goiaacutes
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IBM ndash Instituto Mauro Borges
IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano
M ndash Municiacutepio
PEA ndash Populaccedilatildeo Economicamente Ativa
RFFSA ndash Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima
SD ndash Sem data
SE ndash Secccedilatildeo
LISTA DE FICHAS
Ficha 01 ndash Pires do Riohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip67
Ficha 02 ndash Coacuterrego Laranjal89
Ficha 03 ndash Ribeiratildeo Taquaralhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip90
Ficha 04 ndash Ribeiratildeo Cachoeirahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip91
Ficha 05 ndash Coacuterrego Barreiro93
Ficha 06 ndash Coacuterrego Terra Vermelha94
Ficha 07 ndash Coacuterrego Itauacutebi96
Ficha 08 ndash Ribeiratildeo Brumado96
Ficha 09 ndash Rio Corumbaacute98
Ficha 10 ndash Rio do Peixe98
Ficha 11 ndash Rio Piracanjuba99
Ficha 12 ndash Ribeiratildeo Sampaio101
Ficha 13 ndash Ribeiratildeo Bauacute104
Ficha 14 ndash Ribeiratildeo Caiapoacute105
Ficha 15 ndash Ribeiratildeo Marataacute105
Ficha 16 ndash Ribeiratildeo Mucambo106
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 ndash Natureza das Taxionomias87
Graacutefico 2 ndash Taxionomias de Natureza Fiacutesica88
Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural101
Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos108
Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos111
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 ndash Pires do Rio(GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio(GO)74
Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)83
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo44
Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos57
Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Recenseamento 76
Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Contagem 76
Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio(GO) 77
Quadro 6 ndash Os cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO) 78
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO20
I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO 25
11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear 25
12 Liacutengua e Cultura 33
13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes 39
14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica 43
15 Linguiacutestica Histoacuterica 47
II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS 51
21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos 51
212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica 53
22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia 57
III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO 66
31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte 66
32 Pires do Rio geograacutefico 74
33 Os cursos daacutegua 78
IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR81
41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural 84
42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos daacutegua de Pires do Rio-GO 87
421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos88
4211 Fitotopocircnimos89
4212 Hidrotopocircnimos91
4213 Litotopocircnimos93
4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos94
4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos95
4216 Meteorotopocircnimos96
4217 Zootopocircnimos97
422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos100
4221 Antropotopocircnimos101
4222 Ergotopocircnimos103
4223 Etnotopocircnimos104
4224 Sociotopocircnimos106
43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos107
44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos111
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS113
REFEREcircNCIAS 116
20
INTRODUCcedilAtildeO
Ao dar nome a seres e objetos o homem tambeacutem os categoriza jaacute que eacute o ato de nomear
que daacute existecircncia a algo ou algueacutem Eacute por meio do nome que haacute identificaccedilatildeo e principalmente
a diferenciaccedilatildeo dos seres e dos objetos No ato da nomeaccedilatildeo diversos aspectos extralinguiacutesticos
podem influenciar o nomeador isso pode caracterizar especificamente a motivaccedilatildeo que subjaz
a qualquer signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica A motivaccedilatildeo por sua vez eacute reveladora de
inuacutemeros aspectos que estatildeo na base da inter-relaccedilatildeo liacutengua cultura e ambiente pois o nome
proacuteprio de lugar como fato da liacutengua identifica e guarda uma significaccedilatildeo precisa oriunda de
aspectos fiacutesicos ou culturais Desta forma busca-se mediante o estudo dos designativos dos
cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO descrever essa relaccedilatildeo (liacutengua cultura e
ambiente) Entende-se assim que um rio um riacho um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que
uma vez nomeados passam a carregar as inuacutemeras memoacuterias do lugar
Em decorrecircncia disso abrem-se possibilidades de inter-relacionar aacutereas do saber
humano com vista a estabelecer algum viacutenculo epistemoloacutegico a fim de proporcionar novos
olhares sobre um objeto jaacute descrito e analisado por outra aacuterea do conhecimento a geografia
mas restrito a um uacutenico niacutevel de anaacutelise linguiacutestica Isso leva a considerar os aspectos da
linguagem dentro de uma visatildeo interdisciplinar que pode trazer entre tantas contribuiccedilotildees o
fato de entendecirc-los na totalidade como em uma rede de relaccedilotildees Em outras palavras oferece
a possibilidade de analisar os fatos linguiacutesticos de maneira holiacutestica uma vez que os fatores
envolvidos na interaccedilatildeo devem ser concebidos como um todo formado por componentes que se
relacionam entre si
Entrecruzar as aacutereas de geografia e da linguiacutestica eacute um trabalho que jaacute se tem feito e
alguns estudiosos como eacute o caso de Menezes e Santos (2007 apud Menezes Santos Santos
2010) tratam a toponiacutemia na geografia como geoniacutemia Para Andrade (2010 p 105-106)
Natildeo se pode pensar em toponiacutemia desvinculada de outras ciecircncias como
histoacuteria geografia antropologia cartografia psicologia e a proacutepria
linguiacutestica Deve ser pensada como um complexo linguiacutestico-cultural um fato
do sistema das liacutenguas humanas Faz parte de uma ciecircncia maior que se
subdivide em toponiacutemia e antroponiacutemia
Assim esta pesquisa eacute relevante para a aacuterea dos estudos da linguagemlinguiacutesticos como
para a geografia sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo histoacuterico-cultural sobre a cidade de
Pires do Rio-GO e levado a conhecimento puacuteblico
21
Fazer esse estudo acerca da hidrografia da cidade de Pires do Rio eacute elementar elencando
natildeo soacute estudos semacircnticos lexicais origemetimologia dos termos mas tambeacutem soacutecio-
histoacuterico-culturais de um povo Algo ainda se faz pertinente na definiccedilatildeo do problema pois foi
assim que surgiu o interesse por este estudo em conversas informais com pessoas da cidade
obtive respostas que aguccedilaram esta pesquisa pois proacuteximo de Pires do Rio-GO cerca de uns
3 km da cidade haacute um determinado ribeiratildeo o qual a comunidade local denomina de Pedro
Teixeira mas na verdade esse nome eacute dado agrave ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo e foi construiacuteda
pelo fazendeiro Sr Pedro Teixeira embora o nome que se apresenta na carta topograacutefica seja
ribeiratildeo Sampaio
Diante da problematizaccedilatildeo qual a origemetimologia dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da
cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do
lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo A partir disso centra-se o
nosso estudo em descrever e analisar a origemetimologia dos termos a morfologia e a
semacircntica investigando e verificando os topocircnimos e as relaccedilotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo
de Pires do Rio-GO
Preliminarmente trabalha-se com a seguinte hipoacutetese de pesquisa pelo seu caraacuteter
motivado o signo toponiacutemico possibilita reconhecer fatores vinculados agrave motivaccedilatildeo que subjaz
agrave escolha dos nomes de lugares o que pode possibilitar o levantamento de fatores soacutecio-
histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua
como iacutendice da estreita relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura A toponiacutemia dos cursos drsquoaacutegua de Pires
do Rio-GO incorpora caracteriacutesticas sociais linguiacutesticas e culturais da regiatildeo a que pertence
Este eacute um dos embates fundantes de nosso estudo assim espera-se com esta pesquisa
cartografar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO com base na
metodologia do ATB (Atlas Toponiacutemico Brasileiro) como sugerido por Dick (1990 2004)
Posto isso ao final responderemos agraves perguntas de pesquisa jaacute mencionadas
anteriormente e ainda contribuiremos com as pesquisas na aacuterea da Onomaacutestica que estatildeo
desenvolvendo-se em Goiaacutes Conveacutem mencionar tambeacutem que uma das contribuiccedilotildees desta
pesquisa aleacutem de revisitar a histoacuteria e a cultura de uma regiatildeo eacute a de auxiliar na construccedilatildeo do
Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes ndash ATEGO
Assim o objetivo da pesquisa constitui-se basicamente em descrever e analisar os
topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua e de outros elementos hidrograacuteficos da regiatildeo do
municiacutepio de Pires do Rio-GO observando noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de
natureza fiacutesica e de natureza antropocultural Para tanto eacute necessaacuterio evidenciar os fatores que
constituem a motivaccedilatildeo que subjaz agrave escolha do nome do lugar o que requer a identificaccedilatildeo de
22
fatos sociais culturais histoacutericos elementos geograacuteficos (quando pertinente) e outras
motivaccedilotildees de diferentes naturezas
De uma maneira peculiar os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo i) remapear os
cursos hiacutedricos mediante o elenco de seus topocircnimos para cartografar os mapas da bacia
hidrograacutefica e dos topocircnimos seguindo a metodologia do Projeto ATB ii) verificar mediante
a anaacutelise linguiacutestica dos topocircnimos a motivaccedilatildeo referente agrave cultura e agrave histoacuteria e
principalmente aos aspectos fiacutesicos dos lugares que iniciaram o processo de nomeaccedilatildeo dos rios
coacuterregos ribeirotildees e quedas drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO (evidenciando o viacutenculo
liacutengua ambiente e cultura) iii) de alguma forma contribuir para o desenvolvimento dos estudos
toponiacutemicos em Goiaacutes
A metodologia consiste de uma pesquisa de natureza documental de abordagem
qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites
e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos puacuteblicos (mapas e cartas
topograacuteficas) e o meacutetodo da pesquisa eacute o de induccedilatildeo com ecircnfase para a observaccedilatildeo do fazer
onomasioloacutegico combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica especialmente o Woumlrter
und Sachen (palavras e coisas) O meacutetodo onomasioloacutegico e indutivo se constitui do estudo das
designaccedilotildees com o objetivo de estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Usando
esse meacutetodo pode-se investigar toda ou pelo menos parte da cultura popular de um local e
priorizar aspectos sincrocircnicos ou histoacutericos se necessaacuterio for Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os
aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos lugares
Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de dissertaccedilatildeo de Mestrado sobre Os
cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio anaacutelise das motivaccedilotildees toponiacutemicas produzida no acircmbito do
Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem Universidade Federal de Goiaacutes ndash
Regional Catalatildeo que focaliza os topocircnimos hiacutedricos do municiacutepio de Pires do Rio
Desta maneira este trabalho se estrutura em quatro capiacutetulos organizados de forma a
abranger os resultados desta pesquisa que articula por meio da linguagem quesitos histoacutericos
geograacuteficos e culturais
Assim no capiacutetulo I O nome e a atividade de nomeaccedilatildeo satildeo apresentadas
consideraccedilotildees referentes ao nome e ao ato de nomear no sentido de reformular questotildees teoacutericas
necessaacuterias ao levantamento de dados e agrave construccedilatildeo do corpus bem como agrave descriccedilatildeo dos
topocircnimos que designam os elementos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas drsquoaacutegua) do municiacutepio
de Pires do Rio-GO Para tanto o capiacutetulo traz uma revisatildeo dos conceitos de nome (comum
proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes tanto no sistema linguiacutestico
como em relaccedilatildeo agrave cultura e estabelecendo as relaccedilotildees de liacutengua e cultura pois a liacutengua
23
transporta a cultura no tempo e recorta agrave realidade agrave sua maneira Eacute necessaacuterio aqui trazer as
discussotildees teoacutericas acerca da toponiacutemia e do signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica que
sustentam a nossa pesquisa Ainda fazemos uma retomada do surgimento e desdobramento da
Linguiacutestica Histoacuterica pois eacute a partir dela que satildeo criados os meacutetodos de pesquisa os quais
contribuem para a aacuterea de estudo
O capiacutetulo II A metodologia da pesquisa e seus desdobramentos eacute praticamente uma
extensatildeo do primeiro porque procura reavaliar alguns meacutetodos usados em pesquisa onomaacutestica
com o objetivo de coadunar teoria meacutetodo e procedimentos de pesquisa
Neste capiacutetulo eacute possiacutevel rever algumas questotildees sobre os meacutetodos da linguiacutestica o
meacutetodo onomasioloacutegico que investiga as relaccedilotildees de significado e referecircncias partindo das
designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Ainda eacute
apresentada uma siacutentese do comparativismo e do meacutetodo Woumlrter und Sachen de Hugo
Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) pois de acordo com Bassetto (2001)
pode-se verificar pontos em comum que compartilham com o meacutetodo onomasioloacutegico Ao
enfatizar questotildees de ordem semacircntica das palavras ressalta-se a realidade que elas designam
para esses autores a verdadeira etimologia da palavra estaacute no conhecimento dessa realidade
Busca-se assim instruir sobre a necessidade de conhecer se possiacutevel o objeto designado por
um nome para que o significado possa ser explicitado adequadamente
Dados histoacutericos e geograacuteficos referentes agrave capital da estrada de ferro Pires do Rio
compotildeem o terceiro capiacutetulo A capital da estrada de ferro Pires do Rio de modo a traccedilar em
linhas gerais a histoacuteria da fundaccedilatildeo do municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XX em decorrecircncia da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz e da Estaccedilatildeo Feacuterrea Pires do Rio em 09 de novembro de
1922 A importacircncia deste municiacutepio se deve agrave estrada de ferro e obviamente aos primeiros
habitantes que para caacute acorreram acreditando no desenvolvimento da antiga ldquoTeteia do
Corumbaacuterdquo
No capiacutetulo quarto A toponiacutemia e suas relaccedilotildees com o lugar apresentamos a anaacutelise
dos dados as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural e as fichas lexicograacuteficas-
toponiacutemicas dos 15 topocircnimos analisados de acordo com os estudos de Dick (1992)
juntamente com a origem das liacutenguas e estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos daiacute procedemos
agraves anaacutelises das classificaccedilotildees toponiacutemicas que estatildeo presentes nos designativos dos cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO estabelecendo as relaccedilotildees motivacionais e semacircnticas
do topocircnimo com o local nomeado
Na sequecircncia satildeo apresentadas as Consideraccedilotildees Finais que retomam os resultados
obtidos ao teacutermino da pesquisa pautados nos objetivos e perguntas que orientaram este estudo
24
E por fim seguem as Referecircncias que sustentaram a parte teoacuterica e a construccedilatildeo do corpus
coletado
25
I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO
O conhecimento dos nomes natildeo eacute negoacutecio de
importacircncia somenos
(PLATAtildeO 2001)
Este capiacutetulo tem o objetivo de tecer de forma mais geral consideraccedilotildees acerca do nome
e do ato de nomear para reformular questotildees teoacutericas necessaacuterias ao levantamento de dados
para a construccedilatildeo do corpus e descriccedilatildeo dos hidrocircnimos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas
drsquoaacutegua) do municiacutepio de Pires do Rio-GO Para tanto os itens a seguir trazem uma revisatildeo dos
conceitos de nome (comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes
tanto no sistema linguiacutestico como em relaccedilatildeo agrave cultura jaacute que representam inuacutemeros aspectos
que culminam em certos criteacuterios para a nomeaccedilatildeo ou nominaccedilatildeo revelando em certo sentido
especificidades dessa cultura que satildeo evidenciadas na nomeaccedilatildeo Ao dar um nome a um objeto
ou a um lugar natildeo se reduz apenas a indicar mas a classificar situar identificar e sobretudo
uma vez categorizado inscreve-se tambeacutem em um sistema cognitivo permeado por essa mesma
cultura
11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear
O nome eacute a parte que caracteriza a existecircncia de algo ou algueacutem sem a especificidade
do nome o objeto ou a pessoa natildeo eacute identificada Aliaacutes em muitas situaccedilotildees o nome consolida
a existecircncia do objeto que passa a ldquoexistirrdquo como tal em decorrecircncia de ter um nome ou seja
o falante pode perceber no mundo apenas aquilo que conhece pelo nome O nome estaacute presente
em todas as esferas do desenvolvimento da humanidade Eacute parte constitutiva do proacuteprio ser
humano que se reconhece e se afirma face ao nome que carrega eacute tambeacutem o nome que lhe
rompe o anonimato e lhe confere de certa forma uma identidade
Segundo Silva (2000) eacute o nome que diferencia os seres e os objetos do mundo
Identidade e diferenccedila ocorrem simultaneamente como produto de um mesmo processo o da
identificaccedilatildeo Pode-se afirmar que depois de nomeado o objeto passa a ser identificado
tambeacutem pelas diferenccedilas que possui em relaccedilatildeo agravequilo que natildeo eacute ou melhor eacute diferenciado
face aos demais elementos do mundo extralinguiacutestico conferindo-lhe existecircncia Tem um nome
porque existe tornou-se conhecido e eacute reconhecido como elemento cultural importante para a
continuidade de uma populaccedilatildeo como um dos milhares de traccedilos que a caracteriza e desta
26
forma ldquoo processo de nomeaccedilatildeo eacute uma forma pela qual a sociedade cria os seus membros agrave sua
imagemrdquo (CABRAL 2007 p 85)
E em Craacutetilo Platatildeo narra um diaacutelogo entre Demoacutestenes e Craacutetilo acerca da justeza dos
nomes debates no qual Soacutecrates aponta para ambas as possibilidades isto eacute para os socraacuteticos
tanto se pode entender os nomes como vinculados agrave coisa como podem ser vistos como
inteiramente sem elo com as coisas do mundo Platatildeo (2001 p 48) justifica que o ato de nomear
era visto como uma pressuposiccedilatildeo da existecircncia de algo assim ldquoas coisas devem ser nomeadas
como lhes pertence por natureza serem nomeadas e por meio do que devem secirc-lo e natildeo como
noacutes queremos e assim faremos e nomearemos melhor mas de outra maneira natildeordquo
A nomeaccedilatildeo eacute assim uma atividade bastante significativa para o ser humano e se
constitui de uma accedilatildeo complementar do modo como determinada populaccedilatildeo entende o meio em
que vive essa eacute a linha de pensamento tanto de Dick (1990) como de outros estudiosos como
Basso (1988) Langacker (2002) Weisgerber (1977) Wierzbicka (1997) e Worf (1971) dos
fatos da linguagem como evidencia a assertiva que segue
Apreensatildeocompreensatildeo e transmissatildeoparticipaccedilatildeo de um dado qualquer do
saber humano satildeo atuantes de uma mesma e complexa evidecircncia relacional ndash
o ato comunicativo ndash que corporifica em sua expressividade um aglomerado
de situaccedilotildees liacutenguo-soacutecio-psiacutequicas Nele estaacute manifesto ainda que de modo
impliacutecito o registro pelo qual se concretizou a ldquoassimilaccedilatildeo do
mundordquo atraveacutes do coacutedigo de linguagem vivenciado por determinada
comunidade linguiacutestica (DICK 1990 p 29)
Natildeo eacute equivocado afirmar que o nome corporifica aquilo que determinada comunidade
assimilou de seu meio circundante mediante relaccedilotildees estabelecidas entre a liacutengua que
possibilita a representaccedilatildeo daquilo que foi evidenciado e as impressotildees sociopsiacutequicas oriundas
dos objetos do mundo que se tornaram salientes aos olhos do nomeador Assim recebe um
nome tudo aquilo que de uma forma ou de outra tornou-se um item da cultura seja um acidente
fiacutesico-natural (um rio uma espeacutecie botacircnica) ou um item criado culturalmente Em todas as
sociedades conhecidas haacute referecircncia aos nomes e consequentemente agrave accedilatildeo de nomear Muitas
vezes essa atividade humana eacute revestida de mitos e rituais que conferem ao nome poderes
maacutegicos ou sobre-humanos
Nas sociedades primitivas de acordo com Cunha (2004) um nome pode valorar o
sagrado ou o ritual isso pode ocorrer quando acontece a mudanccedila de nome (candombleacute e igreja
catoacutelica) desta forma ao nomear algueacutem eacute tocar-se na personalidade da pessoa e ateacute as partes
da escrita que compotildeem o nome satildeo carregadas de simbologia e forccedilas sobrenaturais Cunha
27
(2004 p 220) ainda acrescenta que ldquonas mais diversas culturas natildeo ter nome eacute natildeo existir
nomear eacute instituirrdquo
Nesse processo de instituir dos rituais de passagem eacute possiacutevel entender que a atividade
de nomeaccedilatildeo adveacutem de fatores que propiciam uma motivaccedilatildeo que resulta na escolha de um
nome No ritual de escolha de um novo Papa (igreja catoacutelica) ou de um novo membro do
candombleacute o indiviacuteduo fica recluso por alguns dias e no momento do ritual apresenta seu
novo nome agrave comunidade fato esse que reside de alguma forma na escolha do novo nome
Desta forma o nome eacute escolhido de acordo com suas caracteriacutesticas psicofiacutesicas e tambeacutem com
as que ele deseja ter a partir do momento de escolha do novo nome
Conforme Biderman (1998) muitas satildeo as culturas que acreditam que o nome estaacute
ligado agrave essecircncia da pessoa Nas culturas arcaicas em geral os nomes atribuiacutedos agraves pessoas
tinham um significado que indicava agraves vezes a vocaccedilatildeo ou o destino do indiviacuteduo o que
corrobora a justeza dos nomes nos rituais de passagem e em outras atividades de nomeaccedilatildeo
O ato de nomear se constitui tambeacutem como algo divino Para Biderman (1998 p 85)
ldquoo gesto criador de Deus identifica-se com esta palavra ontoloacutegica essencialmente divina O
que noacutes homens somos e o que sabemos nasce dessa revelaccedilatildeo primordial da palavra criadora
do gesto divino de dizerrdquo Cunha (2004) evidencia que a palavra jaacute eacute reveladora do poder desde
a antiguidade e isso se expressa de forma clara por meio da biacuteblia sagrada que em vaacuterios textos
conclama que o poder eacute revelado por meio da palavra como percebe-se no livro de Gecircnesis
capiacutetulo I versiacuteculos 19 e 20
19 Tendo pois o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos
e todas as aves dos ceacuteus levou-os ao homem para ver como ele os havia de
chamar e todo o nome que o homem pocircs aos animais vivos esse eacute o seu nome
verdadeiro 20 O homem pocircs nomes a todos os animais a todas as aves dos
ceacuteus e a todos os animais dos campos mas natildeo se achava para ele uma ajuda
que lhe fosse adequada (BIacuteBLIA 1995 p 51)
Dessa forma o cristianismo explica a atividade humana de nomeaccedilatildeo Isso evidencia
que todos os objetos recebem um nome (comum) mediante uma accedilatildeo deliberada de escolha
individual (como em Gecircnesis) ou coletiva Esse nome recebe uma funccedilatildeo de significaccedilatildeo ou
melhor passa a significar algo no mundo sua referecircncia A nomeaccedilatildeo configura-se como um
processo operacional de conhecer e denominar coisas Conforme De Lastra e Garcia (sd apud
DICK 1990) para ser denominado o mundo externo deve antes passar a ser interno (iacutentimo)
Na relaccedilatildeo das praacuteticas de nomeaccedilatildeo segundo Loacutepez (2013) ocorrem fatores internos
e externos da seguinte forma i mudanccedilas internas quando elementos do sistema toponiacutemico
28
que designa lugares passam para o sistema antroponiacutemico que designa pessoas ii mudanccedilas
externas ou forccediladas como as que ocorreram na Europa entre os seacuteculos XVIII e XIX e
obrigaram os judeus a adotarem nomes cristatildeos e abandonarem os seus de origem hebraica
Para os judeus assim como para muitos povos perder o nome eacute o mesmo que perder a histoacuteria
a identidade e a famiacutelia Desta forma as autoridades europeias acreditavam que os judeus
deixariam (perderiam) as suas identidades e constituiriam uma nova uma identidade europeia
Conveacutem ressaltar que o referente1 nem sempre figurou entre os elementos constitutivos
do signo linguiacutestico No Curso de Linguiacutestica Geral Ferdinand Saussure (2008) define o signo
linguiacutestico como a junccedilatildeo de uma imagem acuacutestica (significante) a um (ou vaacuterios) conceitos
(significado) Saussure natildeo inclui nessa definiccedilatildeo a coisa nomeada o objeto do mundo ou em
outros termos o referente
Dito de outro modo os gestos epistemoloacutegicos de Saussure (2008) ao definirem a
liacutengua como objeto proacuteprio de estudo e tambeacutem no sentido de imprimirem cientificidade aos
estudos linguiacutesticos excluem o referente construindo assim um domiacutenio especiacutefico para a
Linguiacutestica diferente de outras aacutereas que tambeacutem se atecircm aos estudos da linguagem humana
A liacutengua para o mestre suiacuteccedilo eacute um sistema de signos que por sua vez abarca entidades
psiacutequicas constituiacutedas por duas faces significante e significado Essas duas faces do signo
linguiacutestico natildeo guardam poreacutem entre si qualquer relaccedilatildeo loacutegica nenhum viacutenculo ou melhor
a relaccedilatildeo entre significante e significado eacute marcada pelo seu caraacuteter imotivado arbitraacuterio para
usar os termos saussurianos Desta forma Kristeva (2007 p 24) afirma que ldquoa palavra
lsquoarbitraacuteriorsquo significa mais exatamente lsquoimotivadorsquo quer dizer que natildeo haacute nenhuma necessidade
natural ou real que ligue o significante e o significadordquo
O nome sempre suscitou uma questatildeo ontoloacutegica2 ou melhor uma questatildeo de
existecircncia A nomeaccedilatildeo eacute apenas uma das funccedilotildees da linguagem mas tem um papel importante
pois o significado dos nomes organiza e classifica as formas de perceber a realidade aleacutem de
estar ligado diretamente a uma cultura ou comunidade Assim para Sapir (1980) a liacutengua
recorta a realidade agrave sua maneira eacute por meio dela que se evidencia a relaccedilatildeo linguagem
pensamento e cultura Desta forma ldquoas palavras da liacutengua significam ao funcionarem no
acontecimento Este funcionamento recorta politicamente o realrdquo (GUIMARAtildeES 2005 p 82)
Nessa perspectiva eacute possiacutevel dizer que a nomeaccedilatildeo ganha relevo quando o assunto eacute a relaccedilatildeo
linguagem e realidade
1 Em um sistema triaacutedico significante significado e o referente 2 Ontoloacutegico ldquoAdj 1 relativo a Ontologia 2 que trata do ser humano na sua essecircncia na sua globalidaderdquo Verbete
inscrito em (BORBA 2004 p 992)
29
Guiraud (1986) chama atenccedilatildeo para a forccedila criadora da linguagem que resulta em uma
funccedilatildeo semacircntica dinacircmica e volaacutetil orientada principalmente por fatores especiacuteficos de uma
dada cultura Assim
[] a motivaccedilatildeo eacute uma forccedila criadora inerente agrave linguagem social que eacute um
organismo vivo de origem empiacuterica somente depois que a palavra eacute criada e
motivada (naturalmente ou intralinguisticamente) eacute que as exigecircncias da
funccedilatildeo semacircntica acarretam um obscurecimento dessa motivaccedilatildeo etimoloacutegica
que pode aliaacutes ao se apagar trazer uma alteraccedilatildeo de sentido (GUIRAUD
1986 p 31)
Motivaccedilatildeo esta que com o decorrer do tempo pode vir a se tornar obscura pelo
distanciamento temporal do fato que lhe deu origem Pode inclusive o nome sofrer inuacutemeras
alteraccedilotildees de sentido sem nenhum viacutenculo semacircntico com o significado original nem com o
fenocircmeno de sua ocorrecircncia primeira No entanto eacute forccediloso ressaltar mais uma vez que o ato
de nomear eacute motivado conforme Guiraud (1986) a nomeaccedilatildeo eacute inerente agrave linguagem e decorre
da relaccedilatildeo entre homem e ambiente ao reconhecer os objetos do mundo extralinguiacutestico
No que tange agrave motivaccedilatildeo Biderman (1998) reafirma a noccedilatildeo de que o nome natildeo eacute
arbitraacuterio ele tem um viacutenculo de essecircncia com a coisa ou o objeto que designa Assim o homem
primitivo acredita que seu nome tem parte vital com o seu ser Nas histoacuterias que nos satildeo
relatadas dos povos primitivos em relaccedilatildeo aos nomes podemos observar que para alguns
quando se sabia o nome da pessoa o inimigo poderia fazer magia negra com ele Essas relaccedilotildees
culturais com os nomes satildeo recorrentes em vaacuterios paiacuteses e histoacuterias da antiguidade claacutessica
De acordo com Frazer (1951) em vaacuterias tribos primitivas o nome era considerado como
uma realidade e natildeo uma convenccedilatildeo artificial podendo servir de intermeacutedio para fazer atuar a
magia sobre a pessoa como se fosse parte do indiviacuteduo como cabelo unha ou qualquer outra
parte fiacutesica Essas crendices ou mitos acerca do nome se estendem por vaacuterias partes do mundo
como para os iacutendios da Ameacuterica do Norte o nome eacute como uma parte de seu corpo e o mau
tratamento (uso) dele pode trazer ferimento fiacutesico Assim o nome natildeo deve ser pronunciado
podendo no ato de sua pronunciaccedilatildeomaterializaccedilatildeo revelar as propriedades reais da pessoa que
o usa e assim tornaacute-la vulneraacutevel perante os seus inimigos
Nas narrativas das sociedades relatadas por Frazer (1951) o homem do povo esquimoacute
recebe um novo nome ao chegar agrave velhice na Aacutefrica as pessoas podem ateacute receber uma duacutezia
de nomes no decorrer de sua vida e em alguns casos no iniacutecio de sua vida recebem dois nomes
um nome de preto usado em casa e junto agrave famiacutelia e outro nome de branco usado na escola e
na sociedade os egiacutepcios tambeacutem recebiam dois nomes um nome pequeno que era bom e
30
usado em famiacutelia e um nome grande que era mau e dissimulado julgamos esse uacuteltimo ser
usado na sociedade
Segundo Frazer (1951) para os Celtas o nome era sinocircnimo da alma e da respiraccedilatildeo
Entre os Yuiacutens (sul da Austraacutelia) e outros povos o pai revela o nome ao filho no momento da
iniciaccedilatildeo e poucas pessoas o conhecem Tambeacutem na Austraacutelia as pessoas deixam de usar o
nome e passam a chamar um ao outro de primo tio sobrinho ou irmatildeo Nessas relaccedilotildees as
historietas dos nomes vatildeo estar sempre entrelaccediladas aos fatores culturais das comunidades
Em muitas culturas Frazer (1951) relata que a natildeo pronunciaccedilatildeo de nomes era tabu
como em Cafres onde as mulheres natildeo podiam pronunciar o nome de seus maridos ou sogros
nem qualquer palavra que se assemelhasse aos nomes Tambeacutem natildeo era permitido pronunciar
nomes de animais plantas reis deuses personagens sagrados considerados perigosos pois isso
seria como invocar o proacuteprio perigo
Frazer (1951) revela uma histoacuteria ocorrida no Egito com o deus Raacute que tinha vaacuterios
nomes mas o seu verdadeiro nome que lhe dava poder sobre os outros deuses natildeo era conhecido
e ao ser enfeiticcedilado pela invejosa deusa Iacutesis ndash picado por uma serpente ndash cujo veneno soacute seria
retirado de seu corpo no momento em que ele revelasse o seu verdadeiro nome Raacute lamenta-se
ldquoEu sou aquele que tem muitos nomes e muitas formas O meu pai e minha matildee disseram-me
o meu nome estaacute escondido no meu corpo desde o meu nascimento para que natildeo se possa dar
nenhum poder maacutegico a algueacutem que me queira lanccedilar uma maldiccedilatildeordquo (FRAZER 1951 apud
KRISTEVA 2007 p 64) O veneno tomou conta do corpo de Raacute e jaacute natildeo conseguia andar Iacutesis
continuou a atormentar o deus e o veneno foi penetrando profundamente e queimava seu corpo
Entatildeo Raacute consentiu que Isis buscasse o seu verdadeiro nome no iacutentimo do seu ser assim ela
fez arrebatou-lhe o verdadeiro nome e ordenou que o veneno que o queimava caiacutesse por terra
e libertasse o deus pois o que ela queria jaacute havia conseguido Acreditava-se assim que quem
conhecesse o verdadeiro nome de um deus (algueacutem) possuiria a sua essecircncia o seu verdadeiro
ser e ateacute o seu poder
Segundo Loacutepez (2013) os nomes variam conforme o momento e o local em que satildeo
escolhidos a pessoa que os escolhe e as normas para o uso Podem indicar gecircnero filiaccedilatildeo
origem geograacutefica religiatildeo e etnia Haacute tambeacutem inuacutemeras crenccedilas de que existe uma relaccedilatildeo
entre a pessoa seu nome e o significado deste inclusive muitos nomes satildeo uacutenicos
Segundo Cunha (2004 p 226) ldquoO nome proacuteprio topocircnimo ou antropocircnimo participa
da literariedade do texto podendo consequentemente enriquecer-se de valores semacircnticos
denotativos e conotativos da mesma forma que as outras palavras que o estruturamrdquo jaacute que
31
quando nomeamos atribuiacutemos simultaneamente um predicado um complemento ao nome uma
caracteriacutestica um adjetivo
Em Guimaratildees (2005) o ato de dar nome eacute tambeacutem um ato de identificar um indiviacuteduo
bioloacutegico como tal para o Estado e para a sociedade e tornaacute-lo sujeito De acordo com esse
ponto de vista ganha interesse o funcionamento determinativo da construccedilatildeo do nome proacuteprio
da pessoa no qual segundo Guimaratildees (2005 p 52) ldquohaacute uma relaccedilatildeo particular entre a
nomeaccedilatildeo e o objeto nomeado que se apresenta por uma materialidade histoacuterica e natildeo fiacutesicardquo
A nomeaccedilatildeo eacute por causa da predicaccedilatildeo um ato que diferencia sendo tambeacutem um ato
que identifica De acordo com Lima (2007 p 51)
o acto (sic) de nomear eacute um dos primeiros momentos de inserccedilatildeo da pessoa
numa categoria social de geacutenero Mas ainda mostra-nos que neste contexto
social nomear eacute uma das formas mais importantes de construir geacutenero e
pessoa dentro da famiacutelia
A inserccedilatildeo da pessoa na sociedade por meio de seu nome eacute uma relaccedilatildeo hierarquizada
construiacuteda agrave luz de valores tanto sociais como familiares Como jaacute sabemos o nome eacute uma
forma de identidade de revelar o que o outro natildeo eacute assim nomear eacute um aspecto crucial da
conversatildeo de qualquer um em algueacutem de acordo com Geertz (1973)
Na conversatildeo mencionada Parkin (1989) justifica que nomear pode ser uma forma de
atribuir direitos3 que daacute autoridade tanto ao nomeado quanto ao nomeador ou uma forma de
objetivaccedilatildeo por meio da escolha de um nome em particular que estabeleccedila controle sobre o
nomeado Nessas situaccedilotildees pode ocorrer que as pessoas antecipem essas consequecircncias
escolhendo ou controlando a atribuiccedilatildeo do seu proacuteprio nome ou em alguns casos como
acontece de o nome possuir uma carga negativa perante a sociedade e a pessoa recorre ao poder
judiciaacuterio para requerer a troca de seu nome
Enfim nomear eacute se apropriar do real eacute nessa perspectiva de nomear e apoderar fato
este que se daacute por meio da linguagem e de acordo com isso Kristeva (2007 p 17) pontua que
Se a linguagem eacute mateacuteria do pensamento eacute tambeacutem o proacuteprio elemento da
comunicaccedilatildeo social Natildeo haacute sociedade sem linguagem tal como natildeo haacute
sociedade sem comunicaccedilatildeo Tudo o que se produz como linguagem tem lugar
na troca social para ser comunicado
3 Livre traduccedilatildeo para Entitling
32
Eacute nessa troca social que acontece por meio da linguagem a nomeaccedilatildeo Assim eacute
necessaacuterio destacar que os nomes proacuteprios de lugares ndash topocircnimos ndash passam a estabelecer
relaccedilotildees materializadas por meio do uso da linguagem Sabe-se que o nome designado eacute
construiacutedo simbolicamente isso porque a linguagem que o constroacutei funciona por estar exposta
ao real e constituiacuteda materialmente pela histoacuteria local a qual motiva o leacutexico topocircnimo e eacute
nesse momento que ele nasce e se institui naquele lugar
De acordo com Biderman (1998) eacute por meio da palavra que as entidades da realidade
passam a ser conhecidas nomeadas e identificadas Essa realidade cria o seu acircmbito
significativo que nos eacute revelado pela linguagem que tambeacutem eacute a responsaacutevel por elencar os
fatores soacutecio-histoacuterico-cultural que permeiam a realidade Aqui no nosso caso esses fatores
satildeo trazidos por meio do leacutexico topocircnimo mais especificamente no ato de nomear um
designativo de lugar
Conforme Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares seja
em homenagem a algueacutem como eacute o caso da cidade de Pires do Rio que recebeu o nome o
patroniacutemico4 do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas (1919-1922) do governo de Epitaacutecio
Pessoa Dr Joseacute Pires do Rio Haacute lugares que recebem o nome em razatildeo de caracteriacutesticas
geograacuteficas Alguns nomes satildeo opacos conceito de Piel (1979) em contraposiccedilatildeo aos
transparentes pois natildeo apresentam relaccedilatildeo alguma com o referente nesse caso haacute de se fazer
uma busca histoacuterica para chegar agrave relaccedilatildeo motivacional
O homem tem a capacidade de associar palavras a conceitos E no ato de nomear
acontece a motivaccedilatildeo que estaacute ligada aos fatores cognitivos Assim o leacutexico que a ele eacute
determinado por meio do uso da linguagem se transporta no tempo sendo capaz de revelar os
fatores culturais e motivacionais que estatildeo nesse nomeleacutexico toponiacutemico (BIDERMAN 1998)
O nome comum no ato de nomeaccedilatildeo de um lugar impregna-se de significaccedilotildees vaacuterias
sejam de fatores histoacutericos culturais sociais econocircmicos Segundo Guimaratildees (2005 p 83)
ldquoo modo de significar os espaccedilos da cidade mostra que eles satildeo espaccedilos poliacuteticos O espaccedilo que
se daacute como objeto por uma descriccedilatildeo (referecircncias) atende a objetividade do discurso
administrativo que nomeia oficialmente os espaccedilos da cidaderdquo Assim o nome cifra a narrativa
histoacuterica local perpassando por fatores ou designativos memoraacuteveis
Essa atividade de nomeaccedilatildeo ou praacutetica de nomeaccedilatildeo eacute especificamente da espeacutecie
humana e resulta do processo de categorizaccedilatildeo inerente ao ser humano De acordo com
Biderman (1998 p 89)
4 De acordo com Cabral (2007) patroniacutemico eacute sobrenome
33
O processo de categorizaccedilatildeo subjaz agrave semacircntica de uma liacutengua natural Os
criteacuterios de classificaccedilatildeo usados para classificar os objetos satildeo muito
diferenciados e variados Agraves vezes o criteacuterio eacute o uso que o homem faz de um
dado objeto agraves vezes eacute um determinado aspecto do objeto que fundamenta a
classificaccedilatildeo agraves vezes eacute um determinado aspecto emocional que um objeto
pode provocar em quem o vecirc e assim por diante
Entatildeo o processo de categorizaccedilatildeo que por via das vezes pode se tornar um legislador
ndash nomeador Essas discussotildees acerca das histoacuterias do ato de nomear revelam formas de
organizaccedilatildeo social e mudanccedilas linguiacutesticas poliacuteticas e culturais Eacute pois por meio do nome que
as pessoas ou lugares permanecem vivos na memoacuteria coletiva de sua linhagem
E nesse processo de nomeaccedilatildeo categorizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo nos estudos na aacuterea da
Onomaacutestica mais precisamente na subaacuterea dos Estudos Toponiacutemicos ndash temaacutetica de nossa
pesquisa ndash natildeo tem como desvencilhar a liacutengua e cultura Assim para Sapir-Whorf a liacutengua
retrata o mundo e a realidade social agrave sua volta expressos por categorias lexicais como os
topocircnimos
12 Liacutengua e Cultura
A liacutengua no contexto soacutecio-histoacuterico-cultural nada mais eacute que o resultado de um
processo histoacuterico um produto revelador da cultura de uma dada comunidade (CAcircMARA JR
1955) Nessas bases inter-relacionar liacutengua e cultura eacute justificar que estatildeo intrinsecamente
interligadas pois a liacutengua revela a visatildeo de mundo e eacute tambeacutem a manifestaccedilatildeo de uma cultura
cultura esta que lhe daacute suporte a liacutengua tambeacutem eacute suporte da cultura
Em seus estudos Paula (2007) menciona que a liacutengua eacute um metassistema ela ldquonatildeo eacute soacute
objeto ela eacute nas relaccedilotildees sociais mais diversamente possiacuteveis tambeacutem instrumento de
investigaccedilatildeo distinto que ajuda a entender os outros sistemas sociaisrdquo (PAULA 2007 p 90)
Nesse contexto eacute possiacutevel evidenciar que por meio da liacutengua satildeo reeditadas e reconfiguradas
as praacuteticas culturais de uma dada comunidade
Posto isso conveacutem rever alguns conceitos que remetem agrave face social da liacutengua seu
caraacuteter eminentemente social mais condizente com o recorte epistemoloacutegico feito por Saussure
(2008 p 17)
Mas o que eacute a liacutengua Para noacutes ela natildeo se confunde com a linguagem eacute
somente uma parte determinada essencial dela indubitavelmente Eacute ao
mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto
34
de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo corpo social para permitir o
exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos Tomada em seu todo a linguagem
eacute multiforme e heteroacuteclita o cavaleiro de diferentes domiacutenios ao mesmo
tempo fiacutesica fisioloacutegica e psiacutequica ela pertence aleacutem disso ao domiacutenio
individual e ao domiacutenio social natildeo se deixa classificar em nenhuma categoria
de fatos humanos pois natildeo se sabe como inferir sua unidade
De acordo com Fiorin (2013 p 17) ldquoA liacutengua natildeo eacute um sistema de mostraccedilatildeo de
objetos porque permite falar do que estaacute presente e do que estaacute ausente do que existe e do que
natildeo existe porque possibilita ateacute criar novas realidades mundos natildeo existentesrdquo A liacutengua eacute um
produto social e por meio dela se criam e recriam realidades podendo entatildeo se justificar as
praacuteticas culturais por meio de atos linguiacutesticos
Com esse movimento epistemoloacutegico ou melhor ao eleger a liacutengua e natildeo a linguagem
nem a fala como objeto de estudo da Linguiacutestica Saussure possibilitou a instituiccedilatildeo da ciecircncia
linguiacutestica e consequentemente seus inuacutemeros desdobramentos posteriores
Sapir (1980) ressalta a estreita ligaccedilatildeo entre liacutengua e cultura jaacute que para o autor
Toda liacutengua tem uma sede O povo que a fala pertence a uma raccedila (ou a certo
nuacutemero de raccedilas) isto eacute a um grupo de homens que se destaca de outros
grupos por caracteres fiacutesicos Por outro lado a liacutengua natildeo existe isolada de
uma cultura isto eacute de um conjunto socialmente herdado por praacuteticas e crenccedilas
que determinam a trama das nossas vidas (SAPIR 1980 p 165)
Nesta perspectiva reafirmando que liacutengua se difere de linguagem mas se entrecruza
com ela ou dela faz parte como uma das inuacutemeras formas de linguagem e ainda considerando-
a um dos fatores de identidade de um povo e que natildeo existe isolada da cultura eacute que se torna
objeto de estudos o que envolve fatores soacutecio-histoacuterico-culturais das comunidades
O autor desta forma ainda nos revela que ldquotoda liacutengua estaacute de tal modo construiacuteda
que diante de tudo que um falante deseje comunicar por mais original ou bizarra que seja a sua
ideia ou a sua fantasia a liacutengua estaacute em condiccedilotildees de satisfazecirc-lorsquo (SAPIR 1969 p 33) Eacute
nessas condiccedilotildees de satisfazer ao falante ou agrave comunidade que ele pertence que a liacutengua se
justifica como um meio de interaccedilatildeo social e revelador da cultura jaacute que ela se configura no
tempo e eacute capaz de transmitir de geraccedilotildees a geraccedilotildees atraveacutes de atos linguiacutesticos as
manifestaccedilotildees culturais Conveacutem ressaltar que
Tudo que ateacute aqui verificamos ser verdade a respeito das liacutenguas indica que
se trata da obra mais notaacutevel colossal que o espiacuterito humano jamais
desenvolveu nada menos do que uma forma completa de expressatildeo para toda
a experiecircncia comunicaacutevel Essa forma pode ser variada de inuacutemeras maneiras
pelo indiviacuteduo sem perder com isso os seus contornos distintivos e estaacute
35
constantemente remodelando-se como sucede com toda arte A liacutengua eacute a arte
mais ampla e maciccedila que se nos depara cuacutemulo anocircnimo do trabalho
inconsciente das geraccedilotildees (SAPIR 1980 p 172)
De acordo com Cacircmara Jr (1955) a liacutengua eacute uma parte da cultura mas ela pode ser
estudada na sua relaccedilatildeo com a cultura ou sem considerar essa inter-relaccedilatildeo Segundo o autor
com essa perspectiva o linguista se destaca do antropoacutelogo Porque os estudos linguiacutesticos
podem prescindir do exame da inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura ou melhor pode-se estudar a
liacutengua em sua imanecircncia ou a relaccedilatildeo da linguagem com outras aacutereas do conhecimento humano
A liacutengua aleacutem de inter-relacionar a cultura nada sociedade atua para que a proacutepria
cultura seja conhecida e levada agrave geraccedilotildees futuras seja por meio de festas religiosas cantigas
e outros fatores que a divulguem Jaacute que na mesma base teoacuterica a liacutengua se justifica como um
fato de cultura assim como qualquer outro e neste iacutenterim integra-se agrave cultura
Cacircmara Jr (1955) reconhece que a liacutengua funciona na sociedade para a comunicaccedilatildeo e
interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e tambeacutem que ela se torna o resultado de uma cultura global pois a
liacutengua depende de toda cultura jaacute que a expressa a todo o momento
assim a liacutengua em face do resto da cultura eacute ndash o resultado dessa cultura ou
sua suacutemula eacute o meio para ela operar eacute a condiccedilatildeo para ela subsistir E mais
ainda soacute existe funcionalmente para tanto englobar a cultura comunicaacute-la e
transmiti-la (CAcircMARA JR 1955 p 54)
Considerada a inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura pode-se ressaltar mais uma vez que a
cultura se manifesta linguisticamente sejam elas integrantes de manifestaccedilotildees da cultura
popular ou da erudita
De modo geral a cultura eacute pensada numa visatildeo polarizante como sendo
cultura popular ou cultura erudita Conveacutem dizer poreacutem que ambas satildeo
formas e conteuacutedos diferentes de expressatildeo de uma dada realidade social e
histoacuterica Entatildeo natildeo devem ser vistas como opostas ou excludentes mas como
maneiras especiacuteficas de ver sentir e expressar a realidade conforme se situam
seus atores na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo do poder (PAULA 2007 p 75)
Neste processo Sapir (1969) menciona que o leacutexico eacute o niacutevel linguiacutestico em que mais
intimamente se interligam liacutengua e cultura Zavaglia (2012) por sua vez reconhece que o leacutexico
estaacute vinculado agrave cultura de um povo de uma naccedilatildeo agrave sua histoacuteria
Para Zavaglia (2012) o leacutexico estaacute relacionado com a memoacuteria humana e se configura
no ato de nomeaccedilatildeo diante do processo em que houve a necessidade de o homem por meio de
36
palavras nomear tudo que o circundava e assim categorizar o que estava a seu redor Pautados
na autora observamos a grandeza do leacutexico pois
Eacute o leacutexico em forma de palavras e por meio da linguagem que ldquocontardquo a
histoacuteria milenar de povo para povo eacute o leacutexico que transmite os elementos
culturais de um conjunto de indiviacuteduos eacute o leacutexico que ldquoeducardquo ou ldquodeseducardquo
eacute o leacutexico que permite a manifestaccedilatildeo dos sentimentos humanos de suas
afeiccedilotildees ou desagrados via oral ou via escrita Eacute o leacutexico que registra o
desencadear das accedilotildees de uma sociedade suas mudanccedilas seu progresso ou
regresso Condivido com Biderman quando diz que o leacutexico eacute o tesouro
vocabular de forma codificada da memoacuteria do indiviacuteduo restando ali estocado
ateacute que seja ativado quando necessaacuterio para que o homem possa expressar ou
se comunicar Eacute ainda por meio do leacutexico que conceitos condutas e costumes
satildeo transmitidos de geraccedilotildees a geraccedilotildees e herdados por elas ldquoEacute o leacutexico que
fisionomiza a culturardquo (ZAVAGLIA 2012 p 233)
O leacutexico eacute o fio condutor da cultura jaacute que a transporta para geraccedilotildees futuras eacute por meio
dele que se registra a histoacuteria e a vida de uma sociedade Para Sapir (1969) a cultura estaacute
nitidamente no leacutexico da liacutengua e este pode ser considerado como todo o conjunto de ideias
interesses e ocupaccedilotildees que abrangem a atenccedilatildeo da comunidade Neste contexto
O estudo cuidadoso de um dado leacutexico conduz a inferecircncias sobre o ambiente
fiacutesico e social daqueles que o empregam e ainda mais que o aspecto
relativamente transparente ou natildeo-transparente do proacuteprio leacutexico nos permite
deduzir o grau de familiaridade que se tem adquirido com os vaacuterios elementos
do ambiente (SAPIR 1969 p 49)
Eacute possiacutevel ressaltar que o leacutexico da liacutengua conteacutem um recorte da realidade feito agrave sua
maneira que revela visotildees de mundo Os elementos culturais que matizam datildeo o colorido de
significaccedilatildeo ao leacutexico mostram de diferentes maneiras as relaccedilotildees que ambas liacutengua e cultura
tecircm com o ambiente seja fiacutesico ou social pois toda complexidade dessa inter-relaccedilatildeo pode ser
anunciada e enunciada no uso da linguagem
Vale entatildeo ressaltar
Que o leacutexico assim reflita em alto grau a complexidade da cultura eacute
praticamente um fato de evidecircncia imediata pois o leacutexico ou seja o assunto
de uma liacutengua destina-se em qualquer eacutepoca a funcionar como um conjunto
de siacutembolos referentes ao quadro cultural do grupo Se por complexidade de
uma liacutengua se entende a seacuterie de interesses impliacutecitos em seu leacutexico natildeo eacute
preciso dizer que haacute uma correlaccedilatildeo constante entre a complexidade
linguiacutestica e cultural (SAPIR 1969 p 51)
37
O conjunto de signos da liacutengua ultrapassa as fronteiras do tempo trazendo para a
atualidade siacutembolos tambeacutem culturais que satildeo revelados por meio de praacuteticas culturais que se
interseccionam com as praacuteticas linguiacutesticas Assim
Natildeo soacute as palavras da liacutengua passam a servir de siacutembolos culturais dispersos
como sucede nas liacutenguas em qualquer periacuteodo de desenvolvimento mas se
pode supor que as proacuteprias categorias e processos gramaticais simbolizariam
tipos correspondentes de pensamento e atividade de significaccedilatildeo cultural Ateacute
certo ponto pode se conceber portanto a cultura e a liacutengua em constante
estado de interaccedilatildeo e em associaccedilatildeo definida por um largo lapso de tempo
Mas tal estado de correlaccedilatildeo natildeo pode continuar indefinidamente (SAPIR
1969 p 60)
Segundo Sapir (1969) a linguagem possui o papel de produzir e organizar o mundo
mediante o processo de simbolizaccedilatildeo Contudo a realidade eacute mostrada por meio da linguagem
o que significa dizer que natildeo haacute mundos iguais visto que natildeo haacute liacutenguas iguais De acordo com
estas observaccedilotildees cabe ressaltar o relativismo linguiacutestico ldquoHipoacutetese de Sapir-Whorfrdquo a
linguagem determina a forma de ver o mundo e consequentemente de se relacionar com esse
mundo
O relativismo linguiacutestico pode ser entendido como a relaccedilatildeo linguagem e pensamento
mediada pela cultura desta forma linguagem pensamento e cultura estatildeo conectados Sapir-
Whorf observam que a realidade social eacute produto linguiacutestico tratando assim as relaccedilotildees de
linguagemcultura e linguagempensamento a cultura pode ser considerada como
conhecimento adquirido socialmente por meio das praacuteticas linguiacutesticas
De maneira geral diz-se que a cultura eacute o conhecimento que as pessoas detecircm acerca de
uma comunidade seja em seus acircmbitos popular ou cientiacutefico os quais ultrapassam o tempo
por meio da liacutengua jaacute que ldquoA cultura eacute o conjunto do que o homem criou na base das suas
faculdades humanas abrange o mundo humano em contraste com o mundo fiacutesico e o mundo
bioloacutegicordquo (CAcircMARA JR 1955 p 51)
Em outras palavras
Cultura eacute o conjunto de praacuteticas sociais situadas historicamente que se
referem a uma sociedade e que a fazem diferente de outra Baseia-se na
construccedilatildeo social de sentidos a accedilotildees crenccedilas haacutebitos objetos que passam a
simbolizar aspectos da vivecircncia humana em coletividade (PAULA 2007 p
74)
A diversidade tambeacutem se reflete na cultura pois de acordo com Bosi
38
[] natildeo existe uma cultura brasileira homogecircnea matriz de nossos
comportamentos e dos nossos discursos Ao contraacuterio a admissatildeo do seu
caraacuteter plural eacute um passo decisivo para compreendecirc-la como um ldquoefeito de
sentidordquo resultado de um processo de muacuteltiplas interaccedilotildees e oposiccedilotildees no
tempo e no espaccedilo (BOSI 1987 p 7)
Neste sentido a cultura se constroacutei a partir das vivecircncias e significados que lhe satildeo
atribuiacutedos pela proacutepria sociedade em suas praacuteticas sociais e constituindo-se tambeacutem em
diferenccedila Para Bosi (1987 p 11) o fundamento da cultura popular ldquoeacute o retorno de situaccedilotildees e
atos que a memoacuteria grupal reforccedila atribuindo-lhes valorrdquo Isso satildeo as marcas identitaacuterias da
comunidade que satildeo deixadas e vivenciadas (ou vivificadas) tempos depois A cultura popular
eacute revelada por meio de praacuteticas culturais e linguiacutesticas que levam a puacuteblico as relaccedilotildees soacutecio-
histoacuterica-culturais de determinadas comunidades
A cultura se constroacutei com base nos valores atribuiacutedos pelos sujeitos agraves relaccedilotildees
cotidianas e nas relaccedilotildees de poder Organiza-se como popular eou erudita Nesse sentido natildeo
existe cultura melhor nem pior cada uma eacute expressa pelo seu grupo social pois cada indiviacuteduo
tem uma forma de ver o mundo modos de vestir de comer os meios para se curar os remeacutedios
os modos de plantar de cultivar e colher os modos de nomear e categorizar os elementos da
natureza e outros tantos mais Desta forma ldquoconforme as pessoas entendem que participam de
uma cultura esforccedilam-se para agir dentro do que julgam ser pertinente a elardquo (PAULA 2007
p 75)
Cultura liacutengua e identidade natildeo satildeo algo fixo pronto e acabado estando sempre em
constituiccedilatildeo uma vez que satildeo produzidas por seres sociais que se encontram em processo de
interaccedilatildeo aprendizado conhecimento e estatildeo inseridos em contextos sociais que passam por
transformaccedilotildees O leacutexico eacute o meio pelo qual a cultura e a identidade se constroem e se
disseminam
Na visatildeo de Paula (2007 p 89) a memoacuteria eacute o depositaacuterio tanto da cultura como da
liacutengua visto que
O modo como se estrutura poliacutetica e economicamente uma sociedade diz
muito de suas estruturas culturais estas por sua vez soacute se fazem possiacuteveis
graccedilas agrave elaboraccedilatildeo cotidiana do arcabouccedilo de memoacuteria coletiva ao modo
como eacute concebida e ao estatuto que lhe eacute dado Expressando estas inter-
relaccedilotildees servindo a elas no cotidiano da comunicaccedilatildeo humana e carregando
em seu funcionamento muito do modo como a sociedade se faz e se refaz estaacute
a liacutengua
39
Os processos culturais que satildeo construiacutedos por meio de atos linguiacutesticos satildeo uma forma
identitaacuteria de dada comunidade que eacute expressa por relaccedilotildees sociais como forma de conduzir e
expressar-se perante as demais comunidades sejam elas internacionais nacionais ou regionais
sabemos que a cultura eacute a miscigenaccedilatildeo de outras culturas
13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes
Embora faccedila parte do cotidiano das pessoas portanto estreitamente ligado agrave cultura natildeo
haacute muita discussatildeo referente ao nome proacuteprio e aos motivos de algueacutem ou um lugar ter o nome
que tem Entretanto conforme Carvalhinhos (2002) jaacute no seacuteculo II aC com o gramaacutetico
Dioniacutesio Traacutecia o estudo sobre o nome jaacute tinha sido pensado e formulado Esses estudos
propiciaram por sua vez o surgimento da Onomaacutestica a ciecircncia que se ocupa dos estudos da
origem e alteraccedilotildees (na forma e no significado) dos nomes proacuteprios A Onomaacutestica eacute um ramo
das ciecircncias linguiacutesticas que pode-se efetuar em duas vertentes a toponiacutemia (estudo do
topocircnimo ou nome de lugar) e a antroponiacutemia (estudo do nome pessoal)
Conforme Dubois (2004) e Houaiss (2004) a Onomaacutestica eacute um ramo da lexicologia e
seu meacutetodo de trabalho deve-se desenvolver em linha documental mediante a observaccedilatildeo de
dados oficiais como mapas listas de nomes ou outros documentos de valor historiograacutefico e
lexicograacutefico Isso possibilita a junccedilatildeo da histoacuteria da nomenclatura com momentos histoacutericos e
sociais mais amplos
No entanto mesmo pertencendo agrave ciecircncia da linguagem a Onomaacutestica se estabelece por
meio do suporte de outras aacutereas do conhecimento como a Antropologia a Etnografia a
Botacircnica a Geografia e a Histoacuteria Neste sentido natildeo eacute equivocado salientar que a Onomaacutestica
eacute um campo de amplo caraacuteter interdisciplinar
Assim a Onomaacutestica ou Onomasiologia eacute o ramo da ciecircncia linguiacutestica que tem o nome
proacuteprio como objeto de estudo e se constroacutei em relaccedilatildeo a outros campos do saber Contudo ao
relacionar o seu conhecimento aos de outras aacutereas ela natildeo os confunde nem os nega
De acordo com Ramos e Bastos (2010) a Onomaacutestica assume uma perspectiva
integralizadora de meacutetodos e demanda um consideraacutevel nuacutemero de conhecimentos de campos
diversos de maneira direta ou indireta e vertical ou horizontal destacando-se a linguiacutestica com
valoraccedilatildeo da pesquisa etimoloacutegica
Conforme dito a Onomaacutestica para efeito de estudo pode ser dividida em dois eixos a
Antroponiacutemia e a Toponiacutemia Estas por sua vez podem apresentar subdivisotildees dependendo
de algumas consideraccedilotildees acerca das caracteriacutesticas que cada uma agrave sua maneira apresenta
40
A Toponiacutemia conforme Piel (1979) de acordo com o objeto de denominaccedilatildeo pode
denominar-se tambeacutem como astroniacutemia hidroniacutemia litoniacutemia odoniacutemia oroniacutemia para citar
apenas alguns termos que correspondem a objetos que constituem ou satildeo constituiacutedos por
formaccedilotildees aquosas astros formaccedilotildees peacutetreas serras vias ou caminhos
Jaacute a Antroponiacutemia volta sua atenccedilatildeo para o estudo dos nomes de batismo dos
sobrenomes patroniacutemicos (ou matroniacutemicos) e ainda das alcunhas dos apelidos e de nomes
diminutivos A Antroponiacutemia agrave semelhanccedila da Toponiacutemia natildeo se constitui de forma
homogecircnea jaacute que haacute uma seacuterie de tradiccedilotildees conforme os povos ou culturas que desenvolveram
esses sistemas antroponiacutemicos Por outro lado eacute consenso afirmar que os nomes pessoais satildeo
um aspecto comum ou universal nas liacutenguas porque as pessoas recebem um nome em algum
momento de suas vidas em todas as sociedades conhecidas do mundo
De acordo com Dick (1992) as intenccedilotildees e as motivaccedilotildees que subjazem agrave escolha dos
nomes em cada sociedade variam bastante Os estudos dos sistemas onomaacutesticos vecircm confirmar
isso porque os nomes existem e satildeo controlados pelas necessidades e praacuteticas sociais as quais
podem variar de acordo com a visatildeo de mundo de um determinado povo
Posto isso conveacutem conceber a Onomaacutestica como uma disciplina que deve focar como
objeto de estudo os sistemas de denominaccedilatildeo que justifiquem os processos de atribuiccedilatildeo de
nomes de uma maneira geral
Em Soliacutes (1997) os nomes satildeo o resultado de algo que os provoca isto eacute o sistema
denominativo elaborado pelas culturas para atribuir nomes agraves coisas apreendidas por sua
atividade cognitiva
Devido ao fato de a Onomaacutestica estender-se a um amplo campo de estudo ou seja que
se volta tanto para o estudo dos nomes proacuteprios de pessoas como agraves designaccedilotildees dos lugares eacute
imperioso delimitar para este estudo apenas o sistema onomaacutestico voltado para os nomes de
lugar isto eacute para a toponiacutemia caracterizando como objeto de estudo os nomes dos cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio
A despeito de incorrer em lugar comum conveacutem rever os constituintes da palavra
toponiacutemia cujo significado etimoloacutegico pode ser assim expresso do grego topos (lugar) e
onoma (nome) A Toponiacutemia se ocupa dos locativos (tambeacutem componentes do leacutexico da liacutengua)
com o fito de estudar a origem as significaccedilotildees e as transformaccedilotildees por que passam ou
passaram esses nomes A Toponiacutemia se dedica ao estudo natildeo apenas dos nomes de comunidades
humanas (cidades povoados vilas) como tambeacutem elementos geograacuteficos a exemplo os cursos
drsquoaacuteguas
41
Os estudos toponiacutemicos propiciam a percepccedilatildeo da relaccedilatildeo entre povo liacutengua e territoacuterio
considerando que esse territoacuterio pode ser fiacutesico eou imaginaacuterio jaacute que as entidades do mundo
que precisam ser nomeadas podem ser pessoas entidades geograacuteficas que fazem parte do
ambiente em que vive determinado povo e que sobretudo tenham importacircncia para esse povo
pois se natildeo tem importacircncia natildeo haacute em contrapartida necessidade de ser nomeado Conveacutem
no entanto ressaltar que nem todas as nomeaccedilotildees ocorrem pela necessidade espontacircnea de
identificaccedilatildeo uma vez que muitas delas refletem a imposiccedilatildeo de forccedilas ideoloacutegicas poliacuteticas e
sociais
Neste sentido surge a necessidade de reconhecer os objetos geograacuteficos da natureza
tais como rios mares lagoas ilhas continentes serras e outros mas haacute outros que precisam
ser denominados tambeacutem principalmente os objetos da cultura aqueles criados pelo homem
dentre os quais podem ser citados os povoados represas moradias (habitaccedilatildeo) ruas
circunscriccedilotildees poliacutetico-territoriais que se situam em algum lugar do universo fiacutesico
Natildeo se pode omitir aqueles lugares cujo universo foi criado pela cultura imaterial o
mundo natildeo fiacutesico Sejam do universo real ou imaginaacuterio as entidades geograacuteficas satildeo os
referentes dos topocircnimos que por sua vez integram a visatildeo de mundo de um povo Isso
constitui uma dificuldade em especificar que referentes existem no mundo fiacutesico ou cultural
em parte porque para isso eacute necessaacuterio considerar uma cultura determinada Em resposta a isso
haacute o reconhecimento da visatildeo de mundo que eacute peculiar a cada cultura
Muitos povos concebem o universo real como um mundo que tem seu correlato miacutetico
com outros mundos e fazem assim surgir universos de nomes toponiacutemicos de variada riqueza
toponomaacutestica porque tecircm lugares para nomear no espaccedilo fictiacutecio criado nesse mundo Assim
aleacutem de serem componentes linguiacutesticos como tal os nomes que compotildeem um sistema de
denominaccedilatildeo satildeo ainda criaccedilotildees socioculturais
Entatildeo cabe agrave Toponiacutemia estudar tanto os nomes de lugares (os topocircnimos) como
componentes de uma liacutengua que satildeo como tambeacutem o sistema de denominaccedilatildeo organizado pelas
sociedades para nomear os objetos fiacutesicos ou imaginaacuterios da sua cultura Devido agraves diferentes
visotildees de mundo tecircm-se diferentes formas de nomear essas entidades Aleacutem da visatildeo de mundo
em sociedades como a brasileira podem contribuir para a formaccedilatildeo de um sistema de nomeaccedilatildeo
os movimentos sociais como forccedila impulsionadora de mudanccedila social Em relaccedilatildeo agrave realidade
brasileira podem-se mencionar as poliacuteticas que vecircm acontecendo durante os mais de 500 anos
de histoacuteria brasileira que tambeacutem resultou em inuacutemeras formaccedilotildees e mudanccedilas de designaccedilatildeo
toponiacutemica no Brasil
42
Cabe reiterar que a toponiacutemia refere-se a nomes de lugares habitados ou natildeo Daiacute uma
definiccedilatildeo apropriada para o termo ldquotopocircnimordquo eacute um nome de qualquer ponto localizaacutevel no
espaccedilo terrestre que tenha recebido denominaccedilatildeo Definiccedilatildeo essa que pode ser estendida para o
nome de qualquer ponto localizaacutevel no mundo real ou em mundos imaginados pelas culturas
em outras palavras daqueles universos que existem por meio da atividade ideacional dos
homens
Assim eacute por meio da relaccedilatildeo povo-territoacuterio que os nomes de lugar satildeo estabelecidos
Inicialmente pela posse do territoacuterio uma vez que segundo Couto (2007) o territoacuterio eacute uma
das primeiras referecircncias para que um agrupamento de pessoas possa receber o status de
comunidade e todo territoacuterio entendido como tal tem de ter um nome um topocircnimo Desta
forma recortam-se os aspectos do meio ambiente mais salientes aos olhos do povo como uma
espeacutecie de acordo que permite a vivecircncia e a convivecircncia em sociedade no territoacuterio apossado
Eacute possiacutevel afirmar que a nomeaccedilatildeo dos lugares surgiu com a proacutepria humanidade Os
registros antigos da histoacuteria da civilizaccedilatildeo ratificam essa accedilatildeo do homem sobre o lugar que
habita ou jaacute habitou satildeo fatores que sugerem uma espeacutecie de posse ou de domiacutenio sobre o lugar
por meio da significaccedilatildeo da organizaccedilatildeo e da orientaccedilatildeo pelo espaccedilo ocupado ou apenas
conhecido Em contrapartida o ato de nomeaccedilatildeo se manifesta como a accedilatildeo do meio fiacutesico e
sociocultural sobre o homem
Eacute nesta perspectiva que se podem considerar os estudos toponiacutemicos em seu acircmbito
interdisciplinar porque congregam vaacuterias aacutereas do conhecimento humano Os nomes de um
lugar satildeo enfocados conforme a observaccedilatildeo dos aspectos fiacutesicos socioculturais mentais e
histoacutericos interligados ou em separados
Assim natildeo eacute equiacutevoco conceber a Toponiacutemia como objeto de estudo da Antropologia
da Geografia da Histoacuteria ou ainda da Psicologia Social para citar apenas algumas disciplinas
Eacute possiacutevel segundo Dick (1992) realizar anaacutelises do fenocircmeno toponiacutemico em
consonacircncia teoacuterica com qualquer uma dessas aacutereas mas para a autora nenhuma delas tomada
isoladamente ou com exclusivismo alcanccedilaria a plenitude do fenocircmeno toponiacutemico Em termos
linguiacutesticos a Toponiacutemia recorre aos conhecimentos da Semacircntica da Lexicologia da
Etnolinguiacutestica da Dialetologia e da Linguiacutestica Histoacuterica
Mais recentemente uma linha de anaacutelise que tem oferecido contribuiccedilotildees importantes
aos estudos dos nomes de lugares eacute a Linguiacutestica Cognitiva Suas pesquisas vecircm enfatizando
natildeo soacute os modelos cognitivos mas tambeacutem os processos de categorizaccedilatildeo principalmente os
processos de analogia e contiguidade proacuteprios da metaacutefora e da metoniacutemia Entendecirc-los eacute
43
essencial para compreender os sistemas de nomeaccedilatildeo como resultados da experiecircncia e da
cogniccedilatildeo humana com o corpo em relevo
Esta perspectiva de anaacutelise coaduna estudos que procuram reconhecer processos
cognitivos expressos na accedilatildeo de denominar a realidade e para tanto fundamentam-se no corpo
Eacute uma forma de nomear os lugares fiacutesicos ou culturais mediante a percepccedilatildeo do denominador
na interaccedilatildeo com meio ambiente fiacutesico e cultural
14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica
Para realizar qualquer estudo onomaacutestico eacute necessaacuterio inicialmente buscar na teoria
linguiacutestica os recursos para se explicar como uma forma linguiacutestica se amaacutelgama a um lugar
configurando uma relaccedilatildeo entre esse lugar suas caracteriacutesticas e o signo linguiacutestico que passa
a designaacute-lo Em outras palavras eacute necessaacuterio buscar conceitos que estejam em consonacircncia
com os preceitos5 onomaacutestico-toponiacutemicos
Eacute por meio da liacutengua que se daacute a interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e a mesma constitui-se de
signos linguiacutesticos Em outras palavras o mundo humano a realidade extralinguiacutestica e a
cultura constituem-se de signos Calcados nas ideias de Charles Sanders Pierce (2005) tem-se
o conceito geral de que o signo eacute ldquoalgo que estaacute por algo para algueacutemrdquo Conveacutem salientar que
ldquoestar porrdquo eacute uma noccedilatildeo bastante ampla pois pode significar uma seacuterie de coisas como
representar caracterizar fazer agraves vezes de indicar entre outros Para Pierce (2005 p 46)
um signo ou representamem eacute algo que sob certo aspecto ou de algum modo
representa alguma coisa para algueacutem Dirige-se a algueacutem isto eacute cria na mente
dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido
Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo
representa alguma coisa seu objeto Representa esse objeto natildeo em todos os
aspectos mas com referecircncia a um tipo de ideia que eu por vezes denominei
fundamento do representamem (Grifos do autor)
Assim seguindo a concepccedilatildeo de Pierce (2005) sobre signo pode-se formular que eacute a
representaccedilatildeo de alguma coisa para algueacutem estaacute no lugar da coisa que ele representa e natildeo eacute a
coisa em si Tem ainda a condiccedilatildeo de perturbar a mente do interpretante i eacute daquele que vecirc
lecirc ou ouve o signo na tentativa de atribuir-lhe um significado Dessa forma eacute possiacutevel verificar
uma relaccedilatildeo de interdependecircncia entre pelo menos trecircs extremos i) a face perceptiacutevel do
5 No capiacutetulo 2 satildeo apresentados os meacutetodos usados na pesquisa
44
signo o representamem ou significante ii) o que ele representa o objeto ou referente e iii) o
que ele significa interpretante ou significado
Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo
Fonte Adaptado a partir do original de Ogden-Richards (1972)
Para Pierce (2005) os signos satildeo elementos tricotocircmicos6 e apresentam trecircs divisotildees
amplas (i) iacutecone (ii) iacutendice e (iii) siacutembolo A despeito de serem conceitos mais pertinentes a
um estudo semioacutetico em grande parte a motivaccedilatildeo que subjaz ao designativo de lugar imprime
caraacuteter icocircnico indicial ou simboacutelico ao nome do lugar o que acarreta uma dada categorizaccedilatildeo
Para Pierce (2005) (i) iacutecones satildeo os signos que apresentam as caracteriacutesticas
especiacuteficas proacuteprias por analogia formam-se pela primeira impressatildeopercepccedilatildeo que o
inteacuterprete tem sobre as coisas do mundo real Eacute um signo que guarda semelhanccedilas entre o
significante e o significado Em outras palavras um iacutecone eacute uma representaccedilatildeo - auditiva visual
ou de outra espeacutecie ndash de alguma coisa Uma fotografia uma pintura as imagens diagramas satildeo
exemplos de iacutecones por evidenciar semelhanccedila com o objeto representado A semelhanccedila tem
de ser estabelecida de forma quase que consciente por quem observa No entanto a semelhanccedila
com o objeto representado pode ser extraordinaacuteria como quando se observam as imagens sacras
ou iacutecones menores aqueles que aparecem na tela do computador ou pode ser mais abstrata
como a que acontece com as placas de sinais em geral
Em relaccedilatildeo aos (ii) iacutendices Pierce (2005) estabelece que satildeo signos que estatildeo numa
relaccedilatildeo direta entre o representamem e o objeto Um iacutendice (ou signo indexical) tem a funccedilatildeo
de indicar o que estaacute nas suas proximidades Nos iacutendices a forma e o significado estatildeo
interligados satildeo contiacuteguos ou seja caracteriza-se pela relaccedilatildeo de contiguidade ou associaccedilatildeo
com aquilo que representa Aquilo que atrai a atenccedilatildeo em um objeto eacute seu iacutendice Apresentam
6 O que difere das caracteriacutesticas dicotocircmicas do signo linguiacutestico para Saussure
Conceito
(Significado)
Palavra Referente
(significante) (elementos da realidade)
45
traccedilos de decirciticos jaacute que os interlocutores podem recuperar o referente por meio de lembranccedilas
de detalhes do objeto
Encontram-se muito difundidos nos sistemas de comunicaccedilatildeo (verbal ou natildeo) Satildeo
amplamente empregados na linguagem miacutemica e gestual no coacutedigo de tracircnsito Os decirciticos satildeo
signos indiciais imprescindiacuteveis pois referem demonstrativamente indicam a pessoa do
discurso o lugar a proximidade7 de espaccedilo e tempo entre outros (iii) Jaacute os siacutembolos satildeo signos
que se referem ao objeto em funccedilatildeo de uma convenccedilatildeo de uma lei ou de associaccedilatildeo geral de
ideias ou melhor por natildeo haver uma relaccedilatildeo de semelhanccedila e nem contiguidade entre o
significante e o significado ela eacute estabelecida por convenccedilatildeo de forma intencional e aprendida
nas relaccedilotildees sociais Os siacutembolos satildeo considerados os signos genuiacutenos estatildeo reservados aos
seres humanos porque as necessidades comunicativas exigem muito mais que indicaccedilotildees
indexicais ou imitaccedilotildees icocircnicas O sistema mais elaborado de signos simboacutelicos certamente
eacute o das liacutenguas naturais na modalidade falada e na escrita tambeacutem sendo que a palavra eacute o
siacutembolo por excelecircncia
Por se constituiacuterem de duas coisas que se encontram em prolongamento uma da outra
i eacute contiacuteguas os signos indexicais podem se substituir mutuamente Tambeacutem os signos
icocircnicos podem tomar o lugar do objeto real Jaacute os simboacutelicos satildeo superiores por permitirem
aos seres humanos ultrapassar os limites de contiguidade e semelhanccedila porque estabelecem uma
relaccedilatildeo simboacutelica entre determinada forma e determinado significado Todas essas relaccedilotildees ndash
icocircnica indexical e simboacutelica ndash estatildeo na base dos sistemas de linguagem
Os signos linguiacutesticos se vinculam agrave noccedilatildeo de siacutembolo uma vez que a relaccedilatildeo com o
objeto referido eacute construiacuteda arbitrariamente em uma espeacutecie de acordo entre os membros de
uma comunidade de fala Para Saussure (2008) o signo linguiacutestico eacute o resultado da associaccedilatildeo
convencional entre o significante e o significado acertada entre os falantes Eacute convencional
porque natildeo haacute nenhum viacutenculo sugestivo entre os dois elementos Essa eacute a noccedilatildeo de
arbitrariedade descrita por Saussure (2008) em relaccedilatildeo aos viacutenculos entre significante e
significado Por outro lado haacute de se considerar situaccedilotildees em que os signos linguiacutesticos
apresentam motivaccedilotildees que podem ser de natureza foneacutetica morfoloacutegica ou semacircntica
Quanto agrave estrutura um topocircnimo pode ser um nome simples ou composto e segue
evidentemente as mesmas regras de formaccedilatildeo de palavras da liacutengua portuguesa Um nome em
funccedilatildeo toponiacutemica pode tambeacutem ser constituiacutedo por frases e oraccedilotildees seguem assim a sintaxe
da liacutengua em que se insere
7 O ldquoeurdquo a pessoa com quem se fala o ldquoeste aquirdquo ldquoesse aiacuterdquo ldquoaquele alirdquo ldquoneste tempordquo ldquonaquele tempordquo
46
Segundo Dick (1992) o signo topocircnimo vincula-se por diversos fatores ao elemento
geograacutefico do qual eacute o referente estabelecendo com ele um conjunto que por sua vez pode ser
separado em partes menores para se distinguirem os seus elementos formadores
Morfologicamente dois elementos baacutesicos podem ser depreendidos dessa relaccedilatildeo um o termo
ou elemento geneacuterico que se relaciona agrave entidade geograacutefica que recebe a denominaccedilatildeo e o
outro o elemento ou termo especiacutefico o topocircnimo propriamente dito que carrega em si mesmo
a noccedilatildeo espacial que identificaraacute e singularizaraacute a entidade denominada das outras semelhantes
Esses elementos ou termos se justapotildeem no sintagma toponiacutemico (Coacuterrego do Ouro) ou se
aglutinam (Rialma) conforme a estrutura da liacutengua em questatildeo
Para Dick (1992) em relaccedilatildeo agrave morfologia os topocircnimos podem apresentar trecircs
diferentes formas (i) topocircnimo ou elemento especiacutefico simples eacute aquele determinado por um
soacute formante que pode apresentar-se acompanhado tambeacutem de sufixaccedilatildeo diminutiva
aumentativa ou de outras origens linguiacutesticas
Eacute comum na formaccedilatildeo de muitos topocircnimos brasileiros a junccedilatildeo de um designativo agraves
terminaccedilotildees -lacircndia em -poacutelis e ndashburgo (normalmente segundo elemento da formaccedilatildeo) Essa
formaccedilatildeo embora apresente dois formantes (de liacutenguas diferentes) satildeo considerados nomes
simples e natildeo compostos pode-se no entanto dizer que em algumas designaccedilotildees satildeo tambeacutem
hiacutebridos jaacute que provecircm de liacutenguas diferentes a saber Maurilacircndia (Maurilo do latim Maurilius
lsquomorenorsquo + lacircndia elemento de origem inglesa) Buritinoacutepolis (Buriti(no) elemento tupi + polis
elemento grego) mas em Friburgo8 natildeo haacute hibridismo
Segundo Siqueira (2012) pode-se ainda indicar a terminaccedilatildeo -(a) nia variaccedilatildeo do sufixo
nominal do latino -anus -ana que se documentam em nomes e modificadores com as noccedilotildees
de proveniecircncia origem entre outras em lembranccedila dos primeiros habitantes da regiatildeo Em
Goiaacutes eacute expressiva a quantidade de topocircnimos que se formaram jungidos a esse elemento
Caiapocircnia Cromiacutenia Goiacircnia Joviacircnia Luziacircnia Silvacircnia (ii) topocircnimo composto ou
elemento especiacutefico composto aquele formado por mais de um elemento de origens diversas
entre si do ponto de vista do conteuacutedo (iii) topocircnimo (composto) hiacutebrido ou elemento
especiacutefico hiacutebrido formado por elementos linguiacutesticos de diferentes procedecircncias
Sobre o caraacuteter imotivado dos signos linguiacutesticos cabe salientar conforme Saussure
(2008) que o viacutenculo que une o significante ao significado eacute arbitraacuterio natildeo haacute relaccedilatildeo loacutegica
ente as duas faces do signo A associaccedilatildeo entre ambos (significante e significado) eacute de natureza
8 Cidades da Alemanha e da Suiacuteccedila no Brasil conforme Machado (2003) haacute uma ldquoFriburgordquo no Amazonas e no
Rio de Janeiro ldquoNova Friburgordquo este sim um hiacutebrido em Minas Gerais haacute tambeacutem o hiacutebrido ldquoCordisburgordquo
cordis do latim lsquocoraccedilatildeorsquo + burgo do alematildeo lsquocidadersquo
47
convencional natildeo natural Assim todo estudo toponiacutemico tem no caraacuteter motivado do signo
toponiacutemico seu ponto de partida ou seja os estudos sobre os topocircnimos se baseiam na
motivaccedilatildeo que subjaz para analisar todas as relaccedilotildees circunscritas a ela
15 Linguiacutestica Histoacuterica
Consideradas como realidades histoacutericas e sociais as liacutenguas satildeo dinacircmicas estatildeo em
contiacutenua transformaccedilatildeo o que leva a afirmar que a liacutengua de hoje natildeo eacute a mesma de ontem
nem se manteraacute idecircntica amanhatilde Posto isso pode-se verificar que o conhecimento mais amplo
da estrutura do leacutexico da semacircntica e ateacute da ortografia pode requerer um estudo linguiacutestico
com perspectivas histoacutericas No acircmbito da linguiacutestica geral destaca-se a Linguiacutestica Histoacuterica
aacuterea cujo interesse recai sobre o que como e por que muda nas liacutenguas no decorrer do tempo
Os estudos acerca da linguagem foram primeiramente postulados pelos filoacutesofos
anteriores ao seacuteculo XIX como Platatildeo e Aristoacuteteles9 que se ativeram ao estudo da linguagem
mediante a anaacutelise da relaccedilatildeo entre som e sentido ignorando qualquer tipo de variaccedilatildeo
linguiacutestica Jaacute a opccedilatildeo filoloacutegica representada principalmente pelos gramaacuteticos alexandrinos
natildeo ignorava a variaccedilatildeo linguiacutestica mas a colocava como desvio configurando-se
possivelmente como a primeira perspectiva normativaprescritiva na histoacuteria dos estudos da
linguagem (MAURER JR 1967)
Por sua vez a linguiacutestica histoacuterica conforme Maurer Jr (1967) estabeleceu relaccedilotildees
culturais entre os povos tornando-se um precioso auxiacutelio para a Histoacuteria e a Antropologia A
linguiacutestica histoacuterica natildeo revela apenas as relaccedilotildees entre duas ou mais liacutenguas mas consegue
tambeacutem evidenciar com facilidade o que eacute herdado de um berccedilo linguiacutestico comum e o que eacute
oriundo de empreacutestimo de outra liacutengua
Consoante estudos recorrentes a linguiacutestica histoacuterica teve seu surgimento no final do
seacuteculo XVIII momento em que se comeccedilava a dar um cunho cientiacutefico agrave mudanccedila linguiacutestica
Natildeo se pode afirmar entretanto que natildeo houvesse uma preocupaccedilatildeo com a linguagem antes
desse periacuteodo haja vista que a criaccedilatildeo da biblioteca de Alexandria por exemplo demonstra
certo interesse pelo assunto pois indica que ao fazer a compilaccedilatildeo das obras antigas da literatura
grega Homero apresentava certa preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura e do passado de
uma eacutepoca
9 Para Aristoacuteteles a linguagem eacute definidora das relaccedilotildees humanas
48
No entanto foi no seacuteculo XVI com a Renascenccedila que houve um acentuado interesse
dos estudiosos pela histoacuteria cultural particularmente pela filologia momento da origem da
histoacuteria literaacuteria No Ocidente renascia o interesse pelo passado que remetia agrave antiguidade
greco-latina
A linguiacutestica histoacuterica consiste segundo Faraco (2006 p 13) em ldquoestudar as mudanccedilas
que ocorrem nas liacutenguas humanas agrave medida que o tempo passardquo A mudanccedila eacute definida como
processo pelo qual a liacutengua viva natildeo fica estagnada mas evolui acompanhando o
desenvolvimento da sociedade que a utiliza como instrumento de comunicaccedilatildeo pois ldquoonde haacute
mudanccedila deve haver histoacuteria do contraacuterio nosso conhecimento do fato permanece incompletordquo
(MAURER JR 1967 p 20)
Nesse contexto estabelece-se o que eacute mais natural a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade
porque uma acaba interferindo na mudanccedila da outra visto que
[] as liacutenguas humanas natildeo constituem realidades estaacuteticas ao contraacuterio sua
configuraccedilatildeo estrutural se altera continuamente no tempo E eacute essa dinacircmica
que constitui o objeto de estudo da linguiacutestica histoacuterica [] as liacutenguas mudam
mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos
necessaacuterios para a circulaccedilatildeo dos significados (FARACO 2006 p 14)
As mudanccedilas natildeo satildeo apenas de ordem lexicais por certo as estruturas gramaticais o
modo de produzir os sons e o significado das palavras se alteram com o tempo bem como novas
palavras surgem para expressar objetos e coisas que satildeo criados Eacute possiacutevel observar ainda que
palavras caem em desuso provocando consequentemente alteraccedilotildees no leacutexico de dada liacutengua
jaacute que
Os estudos de Linguiacutestica Histoacuterica comprovam que as liacutenguas humanas se
transformam no fluxo do tempo ou seja palavras e estruturas que existiam
antes deixam de existir ou sofrem modificaccedilotildees na forma na funccedilatildeo eou no
significado Apesar das transformaccedilotildees sofridas as liacutenguas mudam mas
continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos necessaacuterios
que garantem uma comunicaccedilatildeo eficaz pois as mudanccedilas ocorrem em partes
e natildeo no todo das liacutenguas num processo de mutaccedilatildeo e permanecircncia
(SIQUEIRA AGUIAR 2011 p 385 grifos das autoras)
A linguiacutestica histoacuterica pode ser estudada em duas fases a de 1800 e a poacutes 1900 No
seacuteculo XIX surgiram meacutetodos de abordagem para se estudar as liacutenguas suas combinaccedilotildees
identidade (gecircnese) diferenccedilas (mudanccedilas) Segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 18) ldquoa tradiccedilatildeo
oitocentista portanto recorta descreve e explica os fenocircmenos da linguagem do ponto de vista
do binocircmio gecircnese-evoluccedilatildeordquo
49
O poacutes 1900 partiu da observaccedilatildeo da diacronia e sincronia Com o advento do
estruturalismo de Ferdinand Saussure (2008) no seacuteculo XX a linguiacutestica moderna trouxe como
proposta que o objeto da linguiacutestica ndash a liacutengua ndash pudesse ser estudado separadamente do efeito
tempo (PAIXAtildeO DE SOUSA 2006) Como divisor desse momento na segunda metade poacutes
1900 o objeto da linguiacutestica eacute de ordem bioloacutegica ndash a diacronia estaacute imanente agrave liacutengua pois
de acordo com esta corrente linguiacutestica eacute na liacutengua que reside a heterogeneidade a mudanccedila e
a variaccedilatildeo
Segundo Faraco (2006 p 91) as liacutenguas estatildeo inseridas em um processo de fluxo
temporal de mutabilidade ldquoaparecimentosrdquo e ldquodesaparecimentosrdquo ldquoconservaccedilatildeordquo e
ldquoinovaccedilatildeordquo As liacutenguas tecircm histoacuteria revelam e constituem a todo tempo a realidade e as
transformaccedilotildees ocorridas comno tempo Em relaccedilatildeo a isso
Humboldt convencia-se de que toda liacutengua reflete a psique do povo que a fala
Eacute o resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal
de fala Ele acha por outro lado que a liacutengua de um povo eacute o canal natural
pelo qual aquele povo chega a uma compreensatildeo do universo que circunda o
homem E conclui que existe uma profunda influecircncia de uma liacutengua na
maneira pela qual seus falantes veem e organizam o mundo dos objetos em
torno deles e de sua vida espiritual (CAMARA JR 1975 p 38-39)
A liacutengua eacute um ldquoinstrumentordquo social e estaacute carregada de significaccedilatildeo e considerados
espaccedilo e tempo eacute capaz de revelar o mundo a outros mundos Faraco (2006) faz ainda referecircncia
ao estudo do leacutexico ao reafirmar que a composiccedilatildeo deste pode ser estudada historicamente na
sua origem bem como os empreacutestimos que satildeo feitos de outras liacutenguas Necessaacuterio se faz
reconhecer que o leacutexico eacute uma unidade carregada da histoacuteria cultural de dada comunidade
linguiacutestica natildeo esquecendo conforme Faraco (2006 p 42) que ldquoeacute um dos pontos em que mais
claramente se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e culturardquo
Com o advento estruturalista de Saussure (2008) haacute uma mudanccedila de perspectiva a
visatildeo diacrocircnica dos fatos linguiacutesticos daacute lugar ao enfoque sincrocircnico dos fenocircmenos da
linguagem Eacute preciso observar que consoante a diretriz saussuriana a anaacutelise sincrocircnica
precede a diacrocircnica sendo possiacutevel fazer comparaccedilatildeo entre elas no momento em que tiver a
descriccedilatildeo de pelo menos dois estados da liacutengua Daiacute reforccedilar-se o objetivo do estudo em
descrever sincronicamente um dado especiacutefico da histoacuteria da liacutengua Faraco (2006 p 120)
afirma que ldquoo estudioso se fixa num momento do passado e tomando-o estaticamente
descreve-o com base nos documentos escritos de que se dispotildee criando assim condiccedilotildees para
um posterior estudo diacrocircnicordquo
50
A par disso conveacutem mencionar que nos seacuteculos XVII e XVIII estudos linguiacutesticos
hegemocircnicos observavam a liacutengua como uma realidade estaacutevel diferentemente do pensamento
linguiacutestico do seacuteculo XIX que considerava a liacutengua como uma realidade em transformaccedilatildeo
Desta forma Saussure (2008) estabeleceu duas dimensotildees uma histoacuterica (chamada diacrocircnica)
que tem como centro de suas atenccedilotildees as mudanccedilas porque passa a liacutengua no tempo ou seja a
mutabilidade da liacutengua no tempo a outra eacute estaacutetica (chamada sincrocircnica) que entende a liacutengua
como um sistema estaacutevel num espaccedilo de tempo aparentemente fixo isto eacute a sua imutabilidade
Mas
Diante dos termos sincroniadiacronia natildeo basta apenas entender por alto a
que se referem Eacute preciso antes perceber que essa divisatildeo pressupotildee tambeacutem
na sua origem uma concepccedilatildeo homogeneizante da liacutengua que ndash apesar de sua
indiscutiacutevel funcionalidade e fertilidade para a linguiacutestica contemporacircnea ndash eacute
para muitos estudiosos uma idealizaccedilatildeo excessiva por criar um objeto de
estudo demasiadamente afastado da heterogeneidade linguiacutestica do real
(FARACO 2006 p 106 grifos do autor)
Segundo Faraco (2006) Coseriu em seu livro Sincronia diacronia e histoacuteria de 1973
posiciona-se de forma contraacuteria agrave formulaccedilatildeo de Saussure (2008) (visatildeo estaacutetica de sistema)
pois para ele a liacutengua deve ser vista em permanente sistematizaccedilatildeo em movimento Coseriu
rejeita a ideia de que a descriccedilatildeo (sincronia) e a histoacuteria (diacronia) sejam estudos diferenciados
mas assume a visatildeo de que as liacutenguas satildeo objetos histoacutericos e devem ser estudadas de forma
integrada envolvendo descriccedilatildeo e histoacuteria
Para Rocha Galvatildeo e Gonccedilalves (2011 p 30) ldquoestabelecer a presenccedila ou a viagem das
palavras eacute acompanhar o envolver das proacuteprias comunidades pelo tempo aforardquo Um recorte
sincrocircnico natildeo deve desprezar a interpretaccedilatildeo diacrocircnica o interesse cientiacutefico natildeo estaacute presente
somente num espaccedilo-tempo assim como a representatividade histoacuterica necessita admitir pontos
exatos na representaccedilatildeo da vivecircncia humana
No segundo capiacutetulo apresenta-se uma breve revisatildeo dos meacutetodos de pesquisa que
podem ser combinados com a teoria onomaacutestico-toponiacutemica a fim de compor um quadro
ilustrativo das caracteriacutesticas do meio da cultura dos fatos histoacutericos e dos estados anteriores
da liacutengua que estatildeo de alguma forma impressos na motivaccedilatildeo que subjaz aos topocircnimos em
questatildeo
51
II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS
O povo ldquosenhor dos espaccedilos puacuteblicosrdquo por vezes
adota criteacuterio proacuteprio ao conferir nomes aos
lugares
(IBGE 2008)
A linguagem humana eacute sobretudo interaccedilatildeo e natildeo pode pois ser explicada apenas em
termos de sua estrutura semacircntica e formal mas tambeacutem deve-se analisaacute-la em sua funccedilatildeo
social Desta forma o desenvolvimento linguiacutestico e intelectual do indiviacuteduo caminham juntos
pois ambos satildeo a base da abstraccedilatildeo e categorizaccedilatildeo pois ldquotoda liacutengua reflete as condiccedilotildees da
sociedade e do ciacuterculo cultural que se falardquo (ANDRADE 2010 p 99)
Aspectos linguiacutesticos de diversas ordens satildeo fundamentais para o estudo toponiacutemico jaacute
que eacute por mecanismos linguiacutesticos que o signo comum transmuta-se em designativo de lugar
revelando a identidade do nomeador coletivo ou natildeo Desta maneira ldquoo topocircnimo eacute o resultado
da accedilatildeo do nomeador ao realizar um recorte no plano das significaccedilotildees representaccedilotildees ou seja
praticar um papel de registro no momento vivido pela comunidaderdquo (ANDRADE 2010 p
106)
Acolher uma orientaccedilatildeo ou outra acarreta outrossim na escolha do meacutetodo a ser utilizado
para a pesquisa linguiacutestico-histoacuterica Para situar a escolha por um meacutetodo este capiacutetulo faz uma
breve exposiccedilatildeo de alguns meacutetodos que tecircm sido empregados em pesquisas de abordagem
similar a esta em especial descrevemos detalhadamente os que satildeo usados nesta pesquisa os
quais consideram natildeo somente os aspectos linguiacutesticos bem como os histoacutericos e socioculturais
do lugar indo ao encontro da perspectiva adotada para este trabalho
21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos
Natildeo se deve confundir metodologia com meacutetodo de pesquisa Segundo Silva e Silveira
(2007 p 145) a metodologia consiste de um conjunto de criteacuterios usados para se construir um
conhecimento vaacutelido seguro e de certa forma verdadeiro Jaacute os meacutetodos de pesquisa podem
ser definidos como ldquoprinciacutepios e procedimentos aplicados para construccedilatildeo do saberrdquo Os autores
salientam que se torna mais difiacutecil ficar preso a um uacutenico meacutetodo quando se pode lanccedilar matildeo
do ldquopluralismo metodoloacutegicordquo Deste modo considerando as especificidades de um estudo
toponiacutemico eacute possiacutevel conjugar meacutetodos de forma ordenada e loacutegica Isto quer dizer que se
52
podem utilizar meacutetodos de abordagem (indutivo dedutivo dialeacutetico) em consonacircncia com os
preceitos de um ou mais meacutetodos de procedimento (funcionalista comparativo
fenomenoloacutegico estruturalista)
Uma perspectiva histoacuterica por exemplo abre um amplo espectro de possibilidades de
se estudar um determinado fato linguiacutestico Podem ser citadas diversas maneiras para se tomar
os fenocircmenos linguiacutesticos do ponto de vista histoacuterico tais como a filologia centrada nos
aspectos histoacutericos das transformaccedilotildees a linguiacutestica comparada que aborda os fatos por meio
de comparaccedilotildees entre as liacutenguas de grupos linguiacutesticos relacionados e a etimologia a qual
busca desvendar o significado de origem das palavras aqui centra-se o nosso objeto de estudo
que eacute descrever e analisar a origemetimologia dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua de Pires do
Rio-GO
Os meacutetodos linguiacutesticos podem ainda estudar as transformaccedilotildees linguiacutesticas
correlacionando-as ao contexto sociocultural o que tem contribuiacutedo grandemente para uma
renovaccedilatildeo das abordagens do fenocircmeno da mudanccedila linguiacutestica resultando em inuacutemeras outras
orientaccedilotildees teoacutericas que em certo sentido podem ser vistas como herdeiras dos primeiros
criacuteticos dos estudos comparativos
A linguiacutestica tem a liacutengua como seu principal objeto de estudo a qual eacute produto da
experiecircncia acumulada historicamente na cultura de uma sociedade A liacutengua eacute um fenocircmeno
social pois eacute produzida e determinada socialmente ademais eacute um importante siacutembolo da
identidade de um grupo E eacute no comportamento linguiacutestico de uma dada comunidade que se
reflete a busca de aprovaccedilatildeo social ou a acentuaccedilatildeo de diferenccedilas (COSERIU 1977) Eacute por
meio dela enfim que um indiviacuteduo adquire a cultura do lugar em que vive jaacute que
A funccedilatildeo baacutesica da Linguiacutestica eacute o estudo direto da lsquoliacutengua viva e faladarsquo por
observaccedilatildeo e anaacutelise objetiva de seus fenocircmenos postas de lado todas as
forccedilas e influecircncias que se manifestem muitas vezes atraveacutes dela e todos os
antecedentes que possam ter dado origem ao estado atual (MAURER JR
1967 p 30)
Observa-se na Linguiacutestica Geral de acordo com Maurer Jr (1967) a divisatildeo em dois
setores distintos poreacutem essenciais para compreensatildeo da linguagem a Linguiacutestica Descritiva
(sincrocircnica) que segundo o autor deve ser a base de todo estudo cientiacutefico porque eacute a partir
dela que aprendemos a linguagem em sua funccedilatildeo uacutenica e peculiar e a Linguiacutestica Histoacuterica
(diacrocircnica) que complementa e explica os fatos da primeira e tem uma funccedilatildeo importante no
estudo desse rico patrimocircnio cultural e humano a liacutengua
53
212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica
Para alguns estudiosos a linguiacutestica histoacuterica teve seu apogeu no seacuteculo XIX embora
outros afirmem que tenha ocorrido haacute tempos no Renascimento De acordo com Paixatildeo de
Sousa (2006 p 14)
[] a reflexatildeo linguiacutestica dos 1800 representa um marco divisor na histoacuteria
das histoacuterias do tempo e da linguagem por inaugurar uma concepccedilatildeo
inteiramente nova dos condicionantes dessa relaccedilatildeo e construir um novo
plano para sua anaacutelise Eacute antes de tudo na tentativa de se combinar a esfera
documental com a esfera experimental que aparecem os desdobramentos mais
interessantes dos estudos histoacutericos da liacutengua ao longo do seacuteculo XIX eles
buscaratildeo articular as duas esferas em um mesmo plano de anaacutelise construindo
a abordagem histoacuterico-comparada
Assim a linguiacutestica histoacuterica apoacutes o seacuteculo XIX cria um meacutetodo que permite
ldquocategorizar e justificar a identidade geneacutetica e a evoluccedilatildeo paralela de cada idioma em um grupo
aparentadordquo segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 16) O meacutetodo comparativo segundo Maurer
Jr (1967) busca comparar cuidadosamente formas apresentadas entre si de um grupo
distinguir a origem e estudar a diversificaccedilatildeo das liacutenguas para desvendar e recontar a histoacuteria
de cada liacutengua Ressalte-se que para Faraco (2006 p 125) esse meacutetodo teve sua estruturaccedilatildeo
ldquoao dar um tratamento sistemaacutetico agraves observadas semelhanccedilas entre liacutenguas distantes no espaccedilo
como o latim e o sacircnscritordquo E ainda
constitui um recurso inteligente e racional para a reconstruccedilatildeo de fatos que
dependem de testemunho em todo o terreno Tal como a Paleontologia a
Histoacuteria da Cultura e ateacute na investigaccedilatildeo do crime na Justiccedila esse meacutetodo
submete o testemunho a um estudo preliminar para avaliar seu isolamento sua
coerecircncia etc (MAURER JR 1967 p 31)
O meacutetodo comparativo se baseia na experimentaccedilatildeo (induccedilatildeo) procura descrever os
estaacutegios da liacutengua que natildeo deixaram registros (documentos) como eacute o caso do latim vulgar No
entanto se difere do histoacuterico-comparativo o qual usa documentos histoacutericos para fazer as suas
reconstruccedilotildees acerca da liacutengua Poreacutem ambos os meacutetodos buscam recuperar a histoacuteria da liacutengua
de forma cronoloacutegica
De acordo com Faraco (2006 p 134)
O meacutetodo comparativo eacute o procedimento central nos estudos de linguiacutestica
histoacuterica Eacute por meio dele que se estabelece o parentesco entre liacutenguas O
pressuposto de base eacute que entre elementos de liacutenguas aparentadas existem
54
correspondecircncias sistemaacuteticas (e natildeo apenas aleatoacuterias ou casuais) em termos
de estrutura gramatical correspondecircncias estas passiacuteveis de serem
estabelecidas por meio duma cuidadosa comparaccedilatildeo Com isso podemos natildeo
soacute explicitar o parentesco entre liacutenguas (isto eacute dizer se uma liacutengua pertence
ou natildeo a uma determinada famiacutelia) como tambeacutem determinar por inferecircncia
caracteriacutesticas da liacutengua ascendente comum de um certo conjunto de liacutenguas
No decorrer dos anos vaacuterios satildeo os estudiosos que contribuiacuteram com a formaccedilatildeo e o
aprimoramento do meacutetodo comparativo dentre eles destacamos Bopp (1791-1867) que
buscava estabelecer o parentesco entre as liacutenguas mas natildeo o percurso histoacuterico de um anterior
para um posterior Grimm (1785-1863) que ao estudar o ramo germacircnico das liacutenguas indo-
europeias pocircde estabelecer a sucessatildeo histoacuterica por meio de comparaccedilatildeo ndash comparativo
histoacuterico Rask (1787-1832) tambeacutem desenvolveu trabalhos comparativos importantes para o
momento envolvendo as liacutenguas noacuterdicas as demais liacutenguas germacircnicas o grego o latim o
lituano o eslavo e o armecircnio Foi a partir desses estudiosos que surgiu a ldquofilologia (ou
linguiacutestica) romacircnica nome que se deu ao estudo histoacuterico-comparativo das liacutenguas oriundas
do latimrdquo (FARACO 2006 p 137)
De tal modo da siacutentese que foi apresentada eacute possiacutevel tecer as seguintes consideraccedilotildees
o meacutetodo histoacuterico-comparativo em seu apogeu foi e ainda hoje eacute uacutetil aos estudos da Linguiacutestica
Histoacuterica principalmente no que concerne natildeo soacute agrave reconstruccedilatildeo de fases anteriores das liacutenguas
como tambeacutem eacute bastante indicado para estudos que objetivam a reconstruccedilatildeo interna de uma
liacutengua Esse meacutetodo cumpriu papel importante para o desvelamento de inuacutemeras questotildees
linguiacutesticas das liacutenguas antigas grego latim sacircnscrito
Jaacute os estudos dos neogramaacuteticos possibilitaram o aprimoramento do meacutetodo histoacuterico-
comparativo mediante a verificaccedilatildeo de que muitas mudanccedilas ocorridas nas liacutenguas em
momentos anteriores e registrados em documentos podem ser explicitadas por meio da
explanaccedilatildeo de mudanccedilas ldquosincrocircnicasrdquo sucedidas nas liacutenguas conforme as leis foneacuteticas e a
analogia
Conforme Cacircmara Jr (1975) Gaston Paris traccedilou mapas das linhas isogloacutessicas dando
os primeiros passos para a geografia linguiacutestica a qual na verdade foi efetivamente criada por
seu disciacutepulo suiacuteccedilo Jules Gillieacuteron que dedicou-se agrave dialetologia e no doutoramento em 1879
defendeu a tese sobre o dialeto de Vionnaz Essa nova teacutecnica ldquoteve como base teoacuterica o
conceito de dialeto como uma abstraccedilatildeo essa a razatildeo de focalizar cada mudanccedila linguiacutestica per
se como o verdadeiro dado linguiacutesticordquo (CAcircMARA JR 1975 p 121)
55
A geografia linguiacutestica10 segundo Cacircmara Jr (1975) eacute importante como uma nova
abordagem para o estudo histoacuterico-comparativo pois em vez de recorrer a textos antigos o
pesquisador busca apenas os aspectos contemporacircneos da liacutengua absorvendo as bases
linguiacutesticas no intercacircmbio oral Desta forma
Obteacutem-se uma corrente evolucionaacuteria pela comparaccedilatildeo das muitas variantes
de cada forma cuja distribuiccedilatildeo no espaccedilo pode ser traduzida numa
distribuiccedilatildeo atraveacutes do tempo de acordo com regras metodoloacutegicas O aspecto
foneacutetico da variante ou sua existecircncia num patois relativamente moderno ou
notaacutevel por traccedilos arcaicos constituem a chave para esta investigaccedilatildeo
histoacuterica Por essa razatildeo eacute que atraveacutes da geografia linguiacutestica uma nova
teacutecnica para o estudo histoacuterico da linguagem foi imaginada sob o tiacutetulo de
ldquoreconstruccedilatildeo internardquo (CAcircMARA JR 1975 p 125 grifos do autor)
Essa nova abordagem vem corroborar com os estudos da liacutengua porque de forma
efecircmera reconstroacutei a histoacuteria de uma dada liacutengua contribuindo com a contemporaneidade uma
vez que nos eacute necessaacuterio conhecer a base etimoloacutegica das palavras e depois justificar o seu uso
ou evoluccedilatildeo
Segundo Cacircmara Jr (1975) apoacutes observar que Gaston Paris traccedilou mapas das linhas
isogloacutessicas e Gillieacuterion criou a geografia linguiacutestica muitos anos depois os linguistas italianos
Giulio Bertoni e Matteo Bartoli criaram o meacutetodo de linguiacutestica areal cujo objetivo era
classificar aacutereas linguiacutesticas ndash de uma liacutengua ou grupo de liacutenguas ndash como forma de
representaccedilatildeo da contemporaneidade e do estaacutegio linguiacutestico de desenvolvimento Os
linguistas consoante Cacircmara Jr (1975 p 126) ldquodividiram um territoacuterio linguiacutestico em aacutereas
isoladas aacutereas laterais aacutereas principais e aacutereas desaparecidas (isto eacute aacutereas homogecircneas que
desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)rdquo e desta forma
difundiam mais um meacutetodo linguiacutestico
Destaca ainda que a linguiacutestica histoacuterica compreende dois momentos de exatidatildeo o
primeiro de 1786 a 1878 periacuteodo de formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do meacutetodo comparativo o qual
finalizou com o movimento dos neogramaacuteticos o segundo vai desde 1878 ateacute a
contemporaneidade periacuteodo de tensatildeo entre duas linhas interpretativas uma imanentista ndash
neogramaacutetico estruturalismo e gerativismo que vecirc a mudanccedila como acontecimento interno da
liacutengua e pela proacutepria liacutengua e a outra integrativa ndash primeiros criacuteticos neogramaacuteticos dialetologia
e sociolinguiacutestica cuja mudanccedila da liacutengua estaacute condicionada a fatores contextuais nos quais o
falante estaacute inserido
10 No Brasil a Geografia Linguiacutestica concretizou-se com a produccedilatildeo de Atlas Linguiacutesticos em diferentes Estados
brasileiros
56
Entre os seacuteculos XVIII e XIX ocorreram momentos de grande relevacircncia para a
linguiacutestica histoacuterica Um deles eacute a fundaccedilatildeo da Escola de Estudos Orientais em Paris
(importante centro de investigaccedilatildeo) no ano de 1975 onde estudaram os linguistas alematildees
Friedrich Schlegel (1772-1829) e Franz Bopp (1791-1867) os quais mais tarde desenvolveram
a chamada gramaacutetica comparativa
Assim em 1808 Friedrich Schlegel publicou um texto sobre a liacutengua e sabedoria dos
povos hindus que de acordo com Faraco (2006) eacute considerado o ponto de partida do
comparativismo alematildeo No texto o autor ratifica sobre o parentesco das liacutenguas sacircnscrita com
a latina grega germacircnica e persa
Cabe ainda salientar que os estudos histoacuterico-comparativos antes da uacuteltima metade do
seacuteculo XIX conheceram a obra de August Scheilcher (1821-1868) Sua teoria tomava a liacutengua
como um organismo vivo com existecircncia fora de seus falantes sendo sua histoacuteria vista como
natural devido agraves orientaccedilotildees naturalistas do linguista como sua formaccedilatildeo em botacircnica e
influenciado pela teoria evolucionista de Darwin (FARACO 2006)
Jaacute no seacuteculo XIX as investigaccedilotildees no campo da linguagem eram dominadas por ideias
positivistas que se desenvolviam conforme meacutetodos histoacuterico-comparativos eacutepoca em que se
formaliza o estudo sistemaacutetico das variaccedilotildees sobretudo as de natureza geograacutefica Surge o
interesse pelos dialetos considerados como fontes de conhecimento do modo como se teriam
operado as transformaccedilotildees em fases anteriores das liacutenguas A Geografia Linguiacutestica eacute uma
consequecircncia do interesse pelos estudos dialetais levados a cabo de iniacutecio por vaacuterios estudiosos
europeus Segundo Coseriu (1982) surge um meacutetodo dialetoloacutegico e comparativo que
pressupotildee o registro em mapas especiais de um nuacutemero relativamente elevado de formas
linguiacutesticas (focircnicas lexicais ou gramaticais) recolhidas mediante pesquisa direta e unitaacuteria
numa rede de pontos distribuiacuteda em determinado territoacuterio
Deste modo eacute necessaacuterio compreender que
A linguagem eacute inegavelmente uma heranccedila social cuja histoacuteria se estende
por seacuteculos Uma visatildeo completa um conhecimento detalhado de seu
mecanismo de sua estrutura de sua semacircntica e ateacute de sua ortografia soacute
podem ser obtidos atraveacutes da pesquisa diacrocircnica Os meacutetodos expostos
acima em suas linhas essenciais natildeo deixam duacutevida de que a filologia
romacircnica se desenvolveu com o meacutetodo histoacuterico-comparativo adotado com
mais ecircxito aqui do que no campo para o qual havia sido criado As possiacuteveis
deficiecircncias desse meacutetodo foram sendo corrigidas depois pela geografia
linguiacutestica e pelos outros meacutetodos derivados como a onomasiologia Woumlrter
und Sachen linguiacutestica espacial etc Enquanto o meacutetodo histoacuterico-
comparativo procura as ligaccedilotildees entre o ldquoterminus a quordquo e o ldquoterminus ad
quemrdquo o latim vulgar e as liacutenguas romacircnicas respectivamente os outros
57
meacutetodos tecircm como objeto especificamente o ldquoterminus ad quemrdquo pois
investigam sincronicamente aspectos atuais dessas mesmas liacutenguas cujas
explicaccedilotildees poreacutem devem ser buscadas diacronicamente (BASSETTO
2001 p 85 grifos do autor)
Para Faraco (2006 p 106) ldquooptar por uns ou por outros eacute que vai orientar nossa forma
de entender a mudanccedila linguiacutestica nossa seleccedilatildeo de dados nossas categorias e procedimentos
de anaacutelise nosso processo argumentativordquo Ou seja ao assumirmos uma concepccedilatildeo de base
correlata eacute o que iraacute definir o nosso meacutetodo de trabalho
22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia
Segundo Silva (2010) a onomasiologia eacute um meacutetodo que se constitui do estudo das
designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Pode ser
investigada toda a cultura popular de um local podendo-se priorizar os aspectos sincrocircnicos ou
histoacutericos Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores do que
subjaz agrave nomeaccedilatildeo dos lugares
Pode-se para efeito deste estudo traccedilar o esquema a seguir o qual demonstra as
possibilidades temaacuteticas que esse tipo de pesquisa pode apresentar
Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos
Onomaacutestica
Toponiacutemia Antroponiacutemia
Modalidades Coleta
Imagens mapas cartas e plantas
Documental Texto iacutendicesrepertoacuterio de nomes
Ficcional Natildeo ficcional
Pesquisa de campo Entrevistas etnografia
Mista Documental e Pesquisa de campo
Fonte Adaptado de material da USP ndash Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas 2016
58
A onomasiologia eacute o resultado das tendecircncias mais significativas da evoluccedilatildeo linguiacutestica
na transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX em que a centralidade das investigaccedilotildees passam
do som (foneacutetica) para a palavra (lexicologia) O seu triunfo se deu a partir do desenvolvimento
da Geografia Linguiacutestica pois com o aparecimento de inuacutemeros termos regionais recolhidos
pelos inqueacuteritos linguiacutesticos surgiu a necessidade de um novo meacutetodo que auxiliasse os
dialetoacutelogos a compreenderem o homem regional em sua amplitude por meio da linguagem
Apoacutes a publicaccedilatildeo dos atlas linguiacutesticos a onomasiologia comeccedila a ser utilizada em
vaacuterios estudos jaacute que pelo seu uso eacute possiacutevel caracterizar as atividades de uma regiatildeo e situaacute-
las no tempo Segundo Couto (2012 p 186) ldquoa onomasiologia vecirc a questatildeo da referecircncia para
usar um termo semioacutetico partindo da coisa e indo na direccedilatildeo do nome que ela receberdquo Desta
forma ldquoo meacutetodo onomasioloacutegico permite ver a cultura do povo cuja liacutengua se estuda
costumes ocupaccedilotildees instrumental crenccedilas e crendices moradia enfim sua mundividecircncia
Permite sentir a linguagem viva traduzindo a vivecircncia cultural do povordquo (BASSETO 2001 p
77)
Ressalta-se que
Com pontos em comum com a Geografia Linguiacutestica e ldquoPalavras e Coisasrdquo o
meacutetodo onomasioloacutegico tambeacutem conhecido como onomasiologia isto eacute o
estudo das denominaccedilotildees se propotildee investigar os vaacuterios nomes atribuiacutedos a
um objeto animal planta conceito etc individualmente ou em grupo dentro
de um ou vaacuterios domiacutenios linguiacutesticos Seus objetivos satildeo portanto
semacircnticos e lexicoloacutegicos buscando descobrir os aspectos vivos e as forccedilas
criadoras da linguagem (BASSETO 2001 p 76)
O meacutetodo onomasioloacutegico natildeo ficou a cargo apenas de um pesquisador mas de vaacuterios
pois seus princiacutepios se desenvolveram aos poucos Conforme Bassetto (2001) temos como
predecessores da onomasiologia moderna F Brinkmann (1872) Luigi Morandi (1883)
Friedrich Diez (1875) Fr Pott (1853) Jakob Grimm (1853) e F Miklosich (1868) Todavia o
princiacutepio da onomasiologia cientiacutefica deu-se com Carlo Salvioni (1858-1920) quando estudou
sobre as denominaccedilotildees italianas do vaga-lume (1892) e com Ernest Toppolet (1870-1939) que
referendou em seus estudos o parentesco dos nomes romacircnicos por ele denominados de
ldquolexicologia cientiacuteficardquo
As pesquisas desenvolvidas na aacuterea da onomaacutestica se constituem em uma linha
documental ou de campo seguindo um meacutetodo pelo qual se selecionam observam registram
classificam analisam e interpretam os dados de acordo com a identificaccedilatildeo dos fatores
59
determinantes agrave configuraccedilatildeo dos corpora Essas anaacutelises de dados satildeo baseadas em trecircs
categorias linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica que satildeo reveladas pelo meacutetodo onomasioloacutegico
Segundo Ramos e Bastos (2010) as trecircs perspectivas ndash linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica
ndash satildeo cruciais para revelar as seguintes caracteriacutesticas a) a determinaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica das
diferentes liacutenguas que tenham existido ou existentes num determinado territoacuterio b) o estudo
das terminaccedilotildees caracteriacutesticas de cada palavra c) o estudo das formas gramaticais d) o estudo
da foneacutetica histoacuterica e) a verificaccedilatildeo das formas documentadas as quais se subdividem em ndash
comparaccedilatildeo semacircntica a abordagem dos dados geograacuteficos e a abordagem dos dados histoacutericos
Cabe ainda indicar em linhas gerais algumas concepccedilotildees do meacutetodo Woumlrter und
Sachen de Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) o qual conforme
Bassetto (2001) tem pontos em comum que compartilha com o meacutetodo onomasioloacutegico Visa
ao estudo das questotildees semacircnticas das palavras enfatizando a realidade que elas designam
porque para os estudiosos dessa linha de pensamento a verdadeira etimologia da palavra
encontra-se no conhecimento dessa realidade Procura instruir sobre a necessidade de conhecer
sempre que possiacutevel o objeto designado por um termo para que o significado possa ser
devidamente explicitado Quando se conhece a realidade a natureza a forma o uso as medidas
das coisas do mundo eacute possiacutevel estabelecer a origem e a histoacuteria das palavras com que esses
mesmos objetos foram designados
Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) foram precursores desse
meacutetodo ao considerarem que as coisas existem antes de serem denominadas ou seja as coisas
preexistem agraves suas designaccedilotildees podendo ateacute existir sem que sejam nomeadas Em
contrapartida as palavras dependem das ldquocoisasrdquo estatildeo ligadas a elas Com essa perspectiva
Schuchardt (mais do que Meringer) remete ao meacutetodo Woumlrter und Sachen ldquoPalavras e Coisasrdquo
cujo tiacutetulo instituiu o nome do meacutetodo
No entanto conveacutem salientar que jaacute na gramaacutetica grega estava impliacutecita a ideia de que
as coisas precedem as palavras Em outros termos quando se conhece em profundidade a
ldquocoisardquo chega-se ao ldquoeacutetimordquo da palavra que a nomeia alcanccedila-se o significado com que a coisa
foi primeiramente designada Menciona-se que para Schuchardt (apud BASSETO 2013)
Sachen (coisa) significava qualquer realidade i eacute ldquoSachenrdquo podia se referir tanto a
acontecimentos e estados como a objetos ao real e ao irreal ao tangiacutevel11 e ao intangiacutevel ou
em outras palavras tanto a coisas do mundo sensiacutevel como do insensiacutevel
11 ldquoTangiacutevelrdquo do latim tangere tangens lsquotocar aquilo que tocarsquo do mesmo eacutetimo de attingere lsquoaproximar-se e
tocarrsquo
60
O meacutetodo Woumlrter und Sachen (Palavras e Coisas) segundo Campbell (2004) relaciona-
se agraves inferecircncias histoacuterico-culturais que podem ser reveladas por meio da investigaccedilatildeo das
palavras pautadas na sua analisabilidade Campbell (2004) assume que as palavras que satildeo
analisadas em partes transparentes (vaacuterios morfemas) podem ser de criaccedilatildeo mais recente (na
liacutengua) em relaccedilatildeo agraves palavras que natildeo apresentam essa transparecircncia morfecircmica
Essa teacutecnica contribui sobremaneira para traccedilar uma cronologia aproximativa dos
vocabulaacuterios Dias (2016 p31) acentua que
Sobretudo supotildee-se que itens culturais denominados por termos analisaacuteveis
satildeo tambeacutem adquiridos mais recentemente pelos falantes e aqueles que satildeo
expressos por palavras natildeo analisaacuteveis representam itens mais velhos e
instituiccedilotildees Outra estrateacutegia desse meacutetodo envolve fazer inferecircncias por meio
de informaccedilotildees de itens culturais de quem os nomes sofreram visivelmente
mudanccedila de significado
E para Crowly (2003) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo pode ser usado para fazer
reconstruccedilatildeo cultural e chegar ao conteuacutedo de uma protocultura por exemplo jaacute que se eacute
possiacutevel reconstruir uma palavra designativa de alguma coisa na protoliacutengua eacute possiacutevel tambeacutem
supor que a coisa a que ela se refere provavelmente foi de importacircncia cultural na vida dos
seus falantes ou que foi ambientalmente marcante Segundo o autor o meacutetodo pode tambeacutem
dizer muito sobre a terra natal de uma famiacutelia linguiacutestica pode-se ainda por meio do referido
meacutetodo fazer suposiccedilotildees sobre as rotas legiacutetimas seguidas pelos povos para se chegar aos
lugares onde se encontram atualmente12
Destarte segundo Bassetto (2013) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo deu destaque agrave
semacircntica ao estabelecer a etimologia e ateacute a biografia das palavras aleacutem de tornar os estudos
filoloacutegicos mais objetivos Posto isso eacute possiacutevel verificar que o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo
pode ser usado nos estudos semacircnticos lexicais onomaacutesticos toponiacutemicos Quando se busca
relacionar a histoacuteria do nome com a histoacuteria do lugar vincula-se a palavra (o nome) agrave coisa (o
lugar) Nesse sentido pode-se de alguma maneira realizar o estudo natildeo apenas pautado no
meacutetodo onomasioloacutegico mas tambeacutem considerando as intrincadas relaccedilotildees entre nomes e as
coisas do mundo
Cabe ressaltar
Assim como procedimento metodoloacutegico seguido nos estudos
toponomaacutesticos buscamos definir o jaacute definido ou seja o objeto de estudo da
disciplina o seu campo de trabalho especiacuteficos a natureza linguiacutestica da
12 Por exemplo os caminhos que levaram (trouxeram) os bandeirantes agraves terras do iacutendio goyaacute
61
anaacutelise em termos de vinculaccedilatildeo a uma aacuterea do conhecimento Partindo-se da
definiccedilatildeo etimoloacutegica dos elementos gramaticais de origem grega enunciados
por Dioniacutesio de Traacutecia no seacuteculo II a C a Toponiacutemia ficou-se como propocircs
Leite de Vasconcelos (1887) no entendimento dos nomes proacuteprios de lugares
distintos dos nomes comuns delimitados pela teoria da linguagem (DICK
2006 p 96)
A toponomaacutestica entatildeo fundamenta-se nos estudos dos nomes proacuteprios de lugares
estabelecendo relaccedilotildees da liacutengua com o ambiente sendo de extrema necessidade observar os
viacutenculos do nomeador com a coisa nomeada a motivaccedilatildeo que subjaz ao topocircnimo
O meacutetodo da Geografia Linguiacutestica com a concepccedilatildeo basilar de que a distribuiccedilatildeo
geograacutefica dos aglomerados populacionais se reflete na diferenciaccedilatildeo linguiacutestica trouxe grande
contribuiccedilatildeo para o estudo dos nomes em geral pois pode refletir tendecircncias que orientaram o
ato de nomeaccedilatildeo tanto de pessoas como de lugares
Sobre o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo cabe apenas repetir que por enfatizar o aspecto
semacircntico das palavras vinculado agrave realidade que elas denominam contribui com o estudo dos
nomes jaacute que parte do princiacutepio de que as palavras se acham ligadas agraves coisas que elas
designam Uma vez conhecendo a natureza das coisas chega-se na verdadeira etimologia da
palavra contribuiccedilatildeo essa que valoriza a cultura e a histoacuteria das comunidades vendo no ser
humano o sujeito das transformaccedilotildees que ocorrem nas liacutenguas e na cultura
Posto isso considera-se mais uma vez que a onomasiologia busca investigar como uma
noccedilatildeo ou conceito eacute nomeado na liacutengua tendo sempre em mente que quem daacute nome agraves coisas
satildeo os falantes e o fazem em decorrecircncia da cosmovisatildeo de seu grupo O meacutetodo
onomasioloacutegico permite que a cultura do povo pesquisado seja revelada
Entretanto a despeito das contribuiccedilotildees que cada um trouxe para os estudos linguiacutesticos
nenhum desses meacutetodos foi suficiente teoricamente para deslindar os inuacutemeros aspectos que
permeiam o ato de nomeaccedilatildeo o que implica dizer que o mais sensato eacute combinar o que cada
meacutetodo apresenta de mais satisfatoacuterio referentemente ao problema que se pretende resolver o
que requer tambeacutem adaptaccedilotildees e revisotildees constantes de um ou de outro ou ainda da combinaccedilatildeo
deles
Considera-se entatildeo
os aspectos pelos quais entendemos a disciplina como conhecimento
cientiacutefico saber construiacutedo como objeto campo de trabalho e pesquisa
demarcados apesar disto manteacutem-se em intersecccedilatildeo a outros campos sem
perder sua identidade A metodologia que emprega em seus levantamentos eacute
de origem indutivo-dedutiva de acordo com os procedimentos
62
onomasioloacutegico-semasioloacutegicos caracteriacutesticos da pesquisa do leacutexico (DICK
2006 p 98)
E no que tange agrave metodologia aos procedimentos de pesquisa propriamente ditos
segundo Dick (1996) que podem ser aplicados nos estudos toponiacutemicos devem se estabelecer
da seguinte forma a) seleccedilatildeo de fontes primaacuterias (cartas geograacuteficas editadas por oacutergatildeos oficiais
estaduais e municipais em escalas de 150000 ou 1100000 ou listas toponiacutemicas oficiais) e
complementaccedilatildeo a partir de fontes secundaacuterias (trabalhos historiograacuteficos da proacutepria
comunidade acerca do local onde vivem) b) registro dos dados em fichas lexicograacuteficas
padronizadas com a identificaccedilatildeo dos nomes do pesquisador e do revisor fontes e data de
coleta c) anaacutelise de dados que inclui a quantificaccedilatildeo dos nomes e das taxonomias analisando
a maior ou menor frequecircncia de classes ou itens lexicais e do estudo dos nomes a partir de um
enfoque puramente linguiacutestico (etimoloacutegico e estrutural) linguiacutestico-histoacuterico e variacionista
Desta forma a metodologia para este trabalho baseia-se em Dick (1996 2006) e por
conseguinte estabelece relaccedilotildees com as demais pesquisas na aacuterea da toponomaacutestica De acordo
com a autora ldquoTrata-se de modelo semacircntico-motivador das ocorrecircncias toponomaacutesticas que
conformam a realidade designativa da nomenclatura geograacutefica oficial do paiacutesrdquo (Dick 2006 p
104) As taxionomias satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise linguiacutestica do topocircnimo e hoje
se dividem em vinte sete taxes pela importacircncia na ldquoanaacutelise linguiacutestica ou casual dos motivos
determinantes das designaccedilotildees integram as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas em um campo
funcional especiacuteficordquo (Dick 2006 p 106) E a partir destas fichas busca-se a identificaccedilatildeo do
topocircnimo e computar as categorizaccedilotildees motivadoras do designativo
A metodologia de pesquisa aqui proposta se caracteriza por ser de natureza documental
(documentos analoacutegicos eou digitais como as cartas topograacuteficas e levantamento histoacuterico
geograacutefico por meio do Instituto Mauro Borges IBGE e de mapas do municiacutepio de Pires do
Rio-GO) e de abordagem qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a
constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos
puacuteblicos e no levantamento histoacuterico-geograacutefico Os procedimentos consistem na
sistematizaccedilatildeo de leituras documentais e de investigaccedilatildeo de campo o que os vincula agrave induccedilatildeo
e seguem os meacutetodos etnolinguiacutesticos
O percurso apresentado por Dick (1990) isto eacute pautado na induccedilatildeo desenvolveu-se por
meio do plano onomasioloacutegico de investigaccedilatildeo em que a partir de um conceito geneacuterico se
identificam as variaacuteveis possiacuteveis das fontes consultadas Nos registros municipais constam os
63
nomes atuais e os nomes anteriores (quando houve mudanccedilas) dos lugares de toda regiatildeo
municipal Estes e os mapas constituem as fontes primaacuterias desta pesquisa pois
O percurso do fazer onomasioloacutegico e o percurso da produccedilatildeo de significaccedilatildeo
se inserem em direccedilotildees diferentes o fazer interpretativo perfaz um processo
semasioloacutegico por outro lado o fazer onomasioloacutegico eacute uma unidade
conceitual enquanto a definiccedilatildeo eacute o percurso do fazer lexicograacutefico
Entretanto ao conceituar eacute necessaacuterio construir um modelo mental que em
primeira instacircncia corresponda a um recorte cultural para a escolha da
estrutura lexical que melhor pode manifestar a percepccedilatildeo bioloacutegica do fato
que se completa ao analisar e descrever o semema linguiacutestico para reconstruir
esse modelo mental a partir de uma estrutura linguiacutestica manifestada
Ressalta-se o caraacuteter pluridisciplinar do signo toponiacutemico jaacute que por meio
dele pode-se conhecer a histoacuteria dos grupos humanos que viveram (e vivem)
nos limites geograacuteficos de Goiaacutes as especificidades da cultura e do ambiente
do povo o denominador as relaccedilotildees estabelecidas entre os aglomerados
humanos e o ecossistema as caracteriacutesticas fiacutesico geograacuteficas da regiatildeo
(geomorfologia) estratos linguiacutesticos de origem diferente do uso hodierno da
liacutengua ou mesmo de liacutenguas jaacute desaparecidas para se conhecer as motivaccedilotildees
subjacentes aos respectivos topocircnimos (SIQUEIRA 2015 mimeografado)
Para este estudo utilizaram-se inicialmente as Folhas Topograacuteficas editadas pela DSG
(Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito) na escala de 1100 000 Folhas Pires do Rio
SE-22-X-D-III Ipameri SE-22-X-D-VI e Cristianoacutepolis SE-22-X-D-II de 1973 para
identificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio juntamente com o mapa da rede hidrograacutefica do
municiacutepio de Pires do Rio-GO pois satildeo ldquoinstrumentos metodoloacutegicos haacutebeis para o estudo
onomaacutestico a documentaccedilatildeo cartograacutefica referida e a arquivologia que se posicionam como fontes
idocircneas para o estabelecimento das etapas relativas agrave desconstruccedilatildeo e agrave recriaccedilatildeo dos proacuteprios dadosrdquo
(DICK 1999 p 11)
O uso de mapas torna o trabalho relevante jaacute que eles satildeo elementos de comunicaccedilatildeo
visual os quais pertencem agrave linguagem Eles contemplam ainda a aacuterea tecnoloacutegica pois a sua
construccedilatildeo se daacute por meio da utilizaccedilatildeo de equipamentos programas e sites os quais tambeacutem
satildeo utilizados por noacutes para cartografar mapas juntamente com as taxes dos topocircnimos dos
cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO assim
Tomar o mapa como corpus permite tomar tambeacutem a questatildeo da relaccedilatildeo dos
nomes no seu conjunto e sua distribuiccedilatildeo no espaccedilo urbano Pode-se entatildeo
refletir como algo proacuteprio do corpus em anaacutelise sobre a questatildeo da nomeaccedilatildeo
dos espaccedilos da cidade bem como o modo de distribuiccedilatildeo dos nomes pelos
espaccedilos historicamente constituiacutedos (GUIMARAtildeES 2005 p 43)
Tradicionalmente entendidos como uma representaccedilatildeo simboacutelica dos contornos de uma
paisagem fiacutesica ou urbana os mapas se caracterizam por permitirem dois planos de
64
interpretaccedilatildeo o ldquoverbalrdquo expresso nos nomes dos elementos e o ldquonatildeo-verbalrdquo caracterizado
por siacutembolos convencionais distintos segundo a natureza do elemento mapeado (cursos drsquoaacutegua
caminhos serras rodovias estradas vicinais ferrovias vilas povoados cidades)
A propoacutesito
Se o meacutetodo empregado na Toponiacutemia como dissemos eacute aquele da
investigaccedilatildeo do pormenor toacutepico-nominal apreendido no registro das cartas
geograacuteficas (base documental) ou como variaccedilatildeo no exame do terreno ou do
objeto pelo proacuteprio pesquisador o material resultante na maioria das vezes
eacute de origem descontiacutenua e fragmentaacuteria A sequecircncia loacutegica dos termos areais
deve ser buscada o que exige cuidados de intepretaccedilatildeo e reflexatildeo para que
todo esse organismo construiacutedo coletiva ou individualmente em momentos
histoacutericos distintos venha a se construir em material de anaacutelise vaacutelido do
ponto de vista linguiacutestico (DICK 2006 p 99-100)
Desta forma dos 46 (quarenta e seis) topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de
Pires do Rio-GO (coacuterregos ribeirotildees rios e quedas drsquoaacutegua) por noacutes elencados na pesquisa
apenas 15 topocircnimos ndash por razotildees especiacuteficas que seratildeo relatadas no quarto capiacutetulo ndash seratildeo
catalogados em fichas conforme modelo desenvolvido por Dick (2004) Posteriormente
realizaremos as anaacutelises morfoloacutegicas e a classificaccedilatildeo semacircntico-motivacional e toponiacutemica
propriamente dita
O preenchimento das fichas lexicograacuteficas ndash que identificam o elemento designado as
entradas lexicais o pesquisador o revisor e as fontes da coleta ndash eacute a etapa inicial de um conjunto
de fases posteriores que integram o projeto
As etapas da pesquisa foram dividas da seguinte forma a) levantamento dos dados para
construir o corpus e a aquisiccedilatildeo das cartas Topograacuteficas do municiacutepio de Pires do Rio-GO b)
levantamento dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua registrados nas folhas topograacuteficas c) anaacutelise
e reconhecimento dos aspectos ambientais culturais dos designativos nos diferentes topocircnimos
observados e posteriormente cartografados d) investigaccedilatildeo dos provaacuteveis fatores
motivacionais inerentes aos sintagmas toponiacutemicos e) classificaccedilatildeo das taxionomias a partir do
recorte epistemoloacutegico dos dados coletados f) distribuiccedilatildeo quantitativa dos topocircnimos de
acordo com a natureza toponiacutemica (fiacutesica ou antropocultural) g) estudo linguiacutestico dos
sintagmas toponiacutemicos ndash origemetimologia estruturas semacircntica e morfoloacutegica
Por meio da categorizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico
histoacuterico-criacutetico que foi o norte de nossa pesquisa de certa forma revela-se que o topocircnimo foi
determinado pela populaccedilatildeo anterior ou pela presenccedila de imigrados no local o que faz-nos
perceber que as palavras natildeo apenas comunicam o que se quer dizer mas acusam a Histoacuteria
daquilo que foi dito por necessidades dinacircmicas das pessoas repassadas pela tradiccedilatildeo cultural
65
O proacuteximo capiacutetulo apresenta em linhas gerais um pouco da histoacuteria desse lugar que
abriga 46 cursos drsquoaacutegua e inclusive teve seu primeiro nome devido agrave exuberacircncia do reflexo da
lua cheia nas aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute A ldquoTeteia do Corumbaacuterdquo de antes deu lugar ao
municiacutepio nascido dos caminhos abertos pelos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz laacute pelos idos
de 1922
66
III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO
A cidade eacute por si mesma depositaacuteria de
histoacuteria
(ROSSI 1998)
Este capiacutetulo traz uma apresentaccedilatildeo dos dados histoacutericos referentes agrave fundaccedilatildeo e ao
posterior desenvolvimento social e urbano do municiacutepio de Pires do Rio-GO criado em
decorrecircncia da expansatildeo da Estrada de Ferro Goyaz pelo cerrado goiano As informaccedilotildees aqui
revisitadas integram obras de estudiosos como Siqueira (2006) Ferreira (1999) Borges
(1990) Soares (1988) que se detiveram por alguma razatildeo no esclarecimento de controveacutersia
acerca principalmente do verdadeiro fundador do municiacutepio e de fatos que antecederam a
inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo feacuterrea no ano de 1922
31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte
No iniacutecio do seacuteculo XX a Estrada de Ferro Goyaz avanccedilou sobre o territoacuterio de Goiaacutes
e com isso comeccedilaram a surgir vilas arraiais e distritos que com o progresso e passar dos
anos se elevariam a cidades A entatildeo chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no interior do
estado mais precisamente na regiatildeo Sudeste Goiana fez com que no ano de 1922 surgisse a
Estaccedilatildeo Pires do Rio e que se elevaria tatildeo logo a cidade
A estrada de ferro traria progresso agraves cidades e ao estado No entanto de acordo com
Borges (1990) alguns coroneacuteis adversos a qualquer tipo de mudanccedila de caraacuteter progressista
natildeo aceitavam a instalaccedilatildeo da estrada de ferro pois ela representaria uma forccedila nova de
transformaccedilatildeo que poderia ameaccedilar o poder constituiacutedo dos coroneacuteis Mas na formaccedilatildeo de
Pires do Rio-GO a chegada da Estrada de Ferro Goyaz foi aceita pelo coronel Lino Teixeira de
Sampaio e inclusive foi doado o terreno para a construccedilatildeo de uma estaccedilatildeo feacuterrea
Vale ressaltar que
a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro de Goiaacutes resultou primeiro do empenho
poliacutetico de uma fraccedilatildeo da classe dominante ligada a novos grupos oligaacuterquicos
que despontavam como forccedila poliacutetica no Estado a qual contou com apoio do
capital financeiro internacional Em segundo lugar como a ferrovia servia
inteiramente aos interesses da economia capitalista ou seja agrave nova ordem
econocircmica com expansatildeo no Paiacutes este fator direta ou indiretamente
67
pressionaria o Governo Federal a apoiar a construccedilatildeo da linha (BORGES
1990 p 55-56)
O avanccedilo da estrada de ferro na regiatildeo Sudeste do estado de Goiaacutes foi fundamental para
o surgimento da cidade de Pires do Rio-GO Ambas as histoacuterias se entrecruzam e revelam
acontecimentos que corroboraram com a construccedilatildeo de uma cidade promissora Para
(re)escrever esta histoacuteria eacute fundante mostrar a ficha lexicograacutefica-toponiacutemica jaacute que o objeto
desta pesquisa satildeo os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua pertencentes a cidade de Pires do Rio-GO
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 01
Topocircnimo Pires do Rio Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Antropocircnimo
Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Pires + do Rio ndash sobrenome)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Cidade sede do distrito do municiacutepio do termo e comarca de
igual nome Na regiatildeo oriental do municiacutepio entre o ribeiratildeo Sampaio e o Monteiro afluentes
do rio Corumbaacute com estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goiaacutes
Fonte Siqueira (2012) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Como jaacute observando no capiacutetulo I os estudos toponiacutemicos revelam fatores soacutecio-
histoacuterico-culturais de uma dada comunidade e Pires do Rio-GO nos revela isso de forma
peculiar como podemos observar na ficha acima a caracterizaccedilatildeo do topocircnimo em que a
taxionomia eacute de natureza antropocultural antropotopocircnimo relativo a nomes proacuteprios e de
famiacutelia (sobrenome do ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas Dr Joseacute Pires do Rio) A base
etimoloacutegica eacute antropocircnimo a estrutura morfoloacutegica eacute de nome composto e as informaccedilotildees
enciclopeacutedias vecircm ratificar informaccedilotildees jaacute expressas na ficha Essas informaccedilotildees nos satildeo
precisas e no decorrer (re)editaremos partes relevantes da histoacuteria desta cidade
Observar o surgimento do municiacutepio de Pires do Rio eacute reviver a construccedilatildeo da linha
feacuterrea na regiatildeo Sudeste e para tal ato buscamos em algumas literaturas reconstruir em partes
a histoacuteria da cidade de Pires do Rio-GO que carinhosamente foi apelidada de ldquoTeteia do
68
Corumbaacuterdquo devido ao reluzir sobre as aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute a exuberacircncia da lua
cheia
Na histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade haacute controveacutersias pois alguns dizem ter sido o Coronel
Lino Teixeira de Sampaio o fundador mas Wilson Cavalcanti Nogueira filho do Sr Manoel
Cavalcanti Nogueira o primeiro Intendente da cidade em seus estudos revela que o fundador
de Pires do Rio foi o Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida diretor da Estrada de Ferro Goyaz
Nos estudos de Jacy Siqueira (2006) piresino historiador cujo livro Um contrato
singular e outros ensaios de histoacuteria de Goiaacutes descreve a origem da cidade de Pires do Rio
com base em documentos oficiais o autor citado presume a veracidade dos fatos que
contribuem para exposiccedilatildeo histoacuterica deste capiacutetulo jaacute que ldquoo tempo eacute agente terriacutevel a tudo
colhe separa peneira depura e evidencia ndash verdade ou mentira ndash com a forccedila e a violecircncia
decorrentes do pesado braccedilo da Histoacuteria de quem eacute o servidor fiel e mestre implacaacutevelrdquo
(SIQUEIRA 2006 p 65)
Em relaccedilatildeo aos fatos que marcam o iniacutecio da fundaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidade de Pires
do Rio os historiadores remetem a inuacutemeras controveacutersias sobre a fundaccedilatildeo e os reais
fundadores e tambeacutem sobre a existecircncia de um povoado que competia com o Roncador em
1921 que mais tarde nos arquivos seria o Bairro do Fogo hoje Santa Ceciacutelia O local Rua do
Fogo eacute toda a parte situada do outro lado da linha feacuterrea
Rua do Fogo na descriccedilatildeo de Nogueira se formou pela atraccedilatildeo de pessoas de
diversas regiotildees com o intuito de negociar e prestar serviccedilos diversificados
aos operaacuterios da Estrada eram lavadeiras curandeiro sapateiro padeiro
professor primaacuterio fotoacutegrafo meretrizes e aventureiros Configurando um
povoamento tiacutepico do pioneirismo cada dia mais pessoas chegavam
predominantemente aventureiros muitos deles ateacute mesmo com passado
criminal As casas sendo erguidas raacutepidas e improvisadamente perfilaram-se
em ambos lados ao longo de uma rua irregular que era cenaacuterio de constantes
desordens e violecircncias ganhando por isso o nome de Rua do Fogo A
constante chegada de pessoas levou o povoado a competir em dimensatildeo com
a vizinha Roncador jaacute em 1921 (FERREIRA 1999 p 100)
O Porto do Roncador em 24 de agosto de 1921 recebe a visita do Ministro da Viaccedilatildeo
e Obras Puacuteblicas Engenheiro Sr Joseacute Pires do Rio que na qualidade anterior de Inspetor Geral
das Estradas de Ferro havia se posicionado contraacuterio ao prolongamento da ferrovia no Estado
de Goiaacutes Na ocasiatildeo ficou resolvido que a ponte sobre o rio Corumbaacute deveria se chamar Ponte
Pires do Rio e a primeira estaccedilatildeo a seguir Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio Pessoa mas ocorreu o
contraacuterio Essa informaccedilatildeo foi publicada inclusive nos meios de comunicaccedilatildeo da eacutepoca
69
A Informaccedilatildeo Goyana revista fundada por Henrique Silva que se edita no
Rio de Janeiro na sua ediccedilatildeo de agosto de 1921 (Ano V Vol V n ordm 1 p 1)
traz a reportagem ldquoO Ministro de Viaccedilatildeo Visita o Estado de Goiaacutesrdquo Destaca-
se dela
Tem-se resolvido que a primeira estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz aleacutem
Roncador se denomine ndash Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio
A ponte do Corumbaacute segundo solicitaccedilatildeo dos que tomaram parte na recepccedilatildeo
do Sr ministro da Viaccedilatildeo seraacute denominada ndash Ponte Pires do Rio (SIQUEIRA
2006 p 44 grifos do autor)
As obras estavam a todo vapor e enquanto aguardavam a conclusatildeo da ponte sobre o
rio Corumbaacute os serviccedilos de movimentaccedilatildeo de terra eram feitos aleacutem da outra margem do rio
tendo jaacute avanccedilado ateacute Tavares quilocircmetro 303 da ferrovia distante 84 quilocircmetros de
Roncador O local da estaccedilatildeo de Pires do Rio situa-se no quilocircmetro 218 pouco distante do rio
na Comarca de Santa Cruz em terras da Fazenda do Brejo ou do Sampaio de propriedade do
fazendeiro local coronel Lino Teixeira de Sampaio
No dia 13 de julho de 1922 no momento de inauguraccedilatildeo da ponte metaacutelica construiacuteda
sobre o rio Corumbaacute fez-se a inversatildeo do que o Senhor Ministro havia solicitado pois ela
recebeu o nome do presidente da repuacuteblica (Epitaacutecio Pessoa) troca esta feita pelo diretor da
Estrada de Ferro Goyaz o engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida
A execuccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa significou a integraccedilatildeo das demais regiotildees goianas
no desenvolvimento econocircmico uma vez que o rio Corumbaacute representava uma onerosa barreira
econocircmica para a produccedilatildeo dessas regiotildees Pires do Rio primeira estaccedilatildeo na outra margem do
Corumbaacute prometia ser um entreposto regional devido agrave sua possiacutevel ligaccedilatildeo por terra com
antigos e promissores municiacutepios isolados pelo rio e que natildeo foram contemplados com a
ferrovia Santa Cruz de Goiaacutes Bela Vista Piracanjuba Caldas Novas e Morrinhos O que veio
concretizar essa possibilidade foi a disposiccedilatildeo do coronel Lino Teixeira de Sampaio em doar
terras agrave Estrada de Ferro Goyaz para juntamente com a estaccedilatildeo fundar no local uma cidade
Nesse aspecto seu empenho foi aacutegil e eficiente dois planos urbanos que vieram garantir para
os pioneiros a certeza da existecircncia de uma cidade no local (FERREIRA 1999)
Nas bases da histoacuteria da rede feacuterrea segundo Ferreira (1999) quando da inauguraccedilatildeo
da estaccedilatildeo Pires do Rio foi tambeacutem decretada a fundaccedilatildeo da cidade registrada em obelisco
erguido no largo de frente agrave estaccedilatildeo hoje a praccedila do mercado municipal considerando-se como
fundador o engenheiro da ferrovia Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida e designando a cidade
pelo nome (uma homenagem) do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas engenheiro Joseacute
Pires do Rio
70
Houve tambeacutem a intenccedilatildeo por parte do Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida em deixar a
estaccedilatildeo de Pires do Rio como ponta de linha para que se desenvolvesse rapidamente Finda a
raacutepida inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo seguiu tambeacutem o engenheiro no ldquotrem Inauguralrdquo rumo a
Tapiocanga ndash a proacutexima estaccedilatildeo depois de Pires do Rio ndash para inaugurar sua estaccedilatildeo
improvisada em um simples vagatildeo pois era um local onde natildeo havia nenhuma edificaccedilatildeo
passando mesmo assim a ser a ponta de linha
No dia 9 de novembro de 1922 eacute inaugurado o obelisco a cerca de 50 metros da estaccedilatildeo
ferroviaacuteria jaacute edificada considerada a pedra fundamental da cidade de Pires do Rio Encontra-
se grafado no monumento em alto-relevo que o Engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida na
eacutepoca diretor da Estrada de Ferro de Goyaz era o fundador da cidade de Pires do Rio uma
ldquofraserdquo que tem gerado algumas controveacutersias acerca do verdadeiro fundador da cidade
(SIQUEIRA 2006)
Enquanto alguns escritores piresinos e familiares alimentam a disputa ideoloacutegica no
niacutevel da influecircncia poliacutetica do coronel Lino Teixeira de Sampaio corroborada pela doaccedilatildeo de
um terreno para a construccedilatildeo da cidade outros tecircm se debruccedilado sobre as criacuteticas advindas do
meio acadecircmico local uma vez que o aniversaacuterio da cidade natildeo coincide com a data da escritura
de doaccedilatildeo das terras 05 de julho de 1922 mas com a data oficial inscrita na pedra fundacional
feita pelo Diretor da Estrada de Ferro Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida 09 de novembro de
1922
Siqueira (2006) eacute um dos estudiosos que argumentam a favor da tese de que o fundador
da cidade eacute o coronel Lino Teixeira de Sampaio Desta forma para corroborar o ato de doaccedilatildeo
da gleba de terra Siqueira (2006) recorreu aos livros de registros do Cartoacuterio de Imoacuteveis da
Comarca de Santa Cruz de Goiaacutes onde se encontra a escritura puacuteblica lavrada no dia 5 de julho
de 1922 pois na eacutepoca as terras pertenciam a este referido municiacutepio a qual nos informa que
por eles [Lino e Rozalina] foi dito que de suas livres e espontacircneas vontades
e sem coaccedilatildeo alguma doam agrave Estrada de Ferro de Goyaz com (4) alqueires
de terreno de campo divididos e demarcados nesta fazenda do ldquoBrejordquo
conforme consta na planta confeccionada pela dita Estrada de Ferro e bem
assim a aacutegua necessaacuteria ao abastecimento da Estaccedilatildeo jaacute edificada dentro destes
quatros alqueires Declaram mais os doadores que fazem a doaccedilatildeo dos
referidos terrenos agrave Estrada de Ferro de Goyaz sem que a mesma Estrada tenha
obrigaccedilatildeo de espeacutecie alguma cabendo-lhe apenas Dividir o terreno doado em
pequenos lotes para que seja dado iniacutecio agrave edificaccedilatildeo de uma pequena Cidade
excluindo o referido a faixa necessaacuteria agrave Estaccedilatildeo arrendar os lotes e aplicar
as rendas em melhoramentos da futura Cidade e edificaccedilatildeo de um Grupo
Escolar natildeo admitir seja construiacutedo preacutedio algum sem que seja previamente
aprovada pela diretoria da Estrada a respectiva planta (SIQUEIRA 2006 p
29)
71
Entretanto os fatos histoacutericos remetem agrave data de 09 de novembro como sendo de
fundaccedilatildeo da cidade jaacute que essa data se justifica pela inauguraccedilatildeo (documentada) da estaccedilatildeo
ferroviaacuteria Pires do Rio embora para Siqueira (2006) a data de fundaccedilatildeo da cidade seja o dia
05 de julho de 1922 data que coincide com a da escritura puacuteblica de doaccedilatildeo das terras agrave Estrada
de Ferro Goyaz
Siqueira (2006) ainda acrescenta as suas consideraccedilotildees acerca do fato de que o coronel
Lino Teixeira de Sampaio aleacutem de doar os quatro alqueires de terra accedilatildeo que outros
fazendeiros das estaccedilotildees seguintes natildeo tiveram apresentou um projeto urbano (planta) da
cidade a ser erguida nas proximidades da estaccedilatildeo projeto este de autoria de um engenheiro da
Estrada Aacutelvaro Pacca que foi apresentado e aprovado pela direccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz
em 1ordm de janeiro de 1922
De acordo com Ferreira (1999) acredita-se que no local definitivo da estaccedilatildeo por volta
do ano de 1923 apresentou-se outro projeto para a construccedilatildeo da cidade desta vez solicitado
ao topoacutegrafo da Estrada de Ferro Moacir de Camargo A cidade de Pires do Rio ficaria sendo
entatildeo a primeira cidade do Centro-Oeste a nascer com planejamento preacutevio antes de Goiacircnia
ou Brasiacutelia
O momento em que a cidade comeccedila a surgir de acordo com Nogueira (sd) fez com
que a populaccedilatildeo do Roncador migrasse toda para laacute carregando tudo aquilo que lhes pertencia
inclusive o material de construccedilatildeo das casas que foram demolidas construindo novas moradias
no local escolhido para tal fim Esse fato de mudar de um arraial para outro segundo Ferreira
(1999) veio a constituir o fenocircmeno por ele denominado de fagocitose pois para a formaccedilatildeo
da cidade Pires do Rio o arraial do Roncador extinguiu-se para vigorar a nascente cidade como
se observa nos dizeres abaixo
Pires do Rio crescia em terras de Santa Cruz municiacutepio de projeccedilatildeo
econocircmica e poliacutetica no Estado que dominou todo o sudeste e parte do sul de
Goiaacutes O arraial de origem fundado em 1729 teve seu valor econocircmico
firmado na extraccedilatildeo auriacutefera passando agrave Julgado de Santa Cruz em 1809 com
seu territoacuterio de influecircncia sobre uma extensa aacuterea Emancipou-se agrave Vila em
1833 quando Goiaacutes foi dividido em quatro Comarcas sendo Santa Cruz uma
delas Terminado o ciclo do ouro sua economia voltou-se durante o seacuteculo
XIX para a pecuaacuteria extensiva a agricultura e primitivo processamento da
produccedilatildeo agriacutecola sobrepondo-se agraves outras cidades de economia auriacutefera em
estagnaccedilatildeo A emancipaccedilatildeo de seus distritos ao longo do seacuteculo XIX foi-lhe
tirando a extensatildeo de seu poder territorial e de jurisdiccedilatildeo mas natildeo seu poder
econocircmico e poliacutetico no Estado Essa situaccedilatildeo veio a se alterar com a chegada
da Estrada de Ferro Goiaacutes (FERREIRA 1999 p 136)
72
As construccedilotildees jaacute haviam se iniciado e comeccedilara a chegar os novos moradores oriundos
de vaacuterias partes do paiacutes e do mundo que solidificariam a comunidade piresina Os baianos e os
aacuterabes foram os primeiros migrantes a chegarem e fixarem-se acreditando na futura cidade Os
baianos e outros nordestinos foram atraiacutedos pela frente de trabalho criada pela construccedilatildeo da
ferrovia Os italianos e espanhoacuteis tambeacutem se fizeram presentes na comunidade local No
entanto a maioria dos migrantes foram mesmo paulistas e mineiros Os estrangeiros tais como
italianos espanhoacuteis e principalmente aacuterabes foram partes integrantes da elite dominante
(FERREIRA 1999)
Pires do Rio se elevou a distrito do Municiacutepio de Santa Cruz em 23 de agosto de 1924
pela Lei nordm 66 E em 7 de julho de 1930 pela Lei nordm 903 foi criado o municiacutepio de Pires do
Rio E tatildeo logo pelo Decreto de ndeg 522 de 8 de janeiro de 1931 publicado no Correio Officcial
ndeg 1819 paacutegina 3 de 19 de abril do mesmo ano (SIQUEIRA 2006) oficializou a transferecircncia
da Comarca de Santa Cruz para a cidade de Pires do Rio
Na deacutecada de 30 estabelecia-se o comeacutercio na cidade de Pires do Rio natildeo tinha um
centro comercial propriamente dito mas algumas casas de comeacutercio espalhadas pela cidade
(FERREIRA 1999) A instalaccedilatildeo da energia eleacutetrica em 1934 deu um impulso agrave agroinduacutestria
local iniciada com a charqueada em 1924 e logo apoacutes por uma maacutequina beneficiadora de arroz
serraria faacutebrica de manteiga padarias curtume e outros pequenos centros de produccedilatildeo com
isso a necessidade de matildeo-de-obra impulsionava o crescimento da populaccedilatildeo jaacute que muitos
eram empregados pela via feacuterrea desta forma a vinda de imigrantes a nova cidade era
necessaacuterio Com o crescimento da cidade e da sua populaccedilatildeo foram necessaacuterias benfeitorias
que foram ocorrendo no decorrer dos anos
De acordo com Siqueira (2006) Pires do Rio se desenvolveu de forma diferenciada das
centenaacuterias cidades de Goiaacutes visto que a maioria se formou por tradicionais enraizados e
familiocratas grupos poliacuteticos ou simplesmente ldquooligarquiasrdquo o que permitiu uma abertura e
receptividade ao novo e ao desconhecido como paracircmetro coerente para a construccedilatildeo de uma
comunidade nascente No periacuteodo de 1921 a 1940 correspondentemente agrave cidade em sua
afirmaccedilatildeo poliacutetica e urbana foi composta por migrantes e imigrantes que se estabeleciam na
prestaccedilatildeo de serviccedilo agroinduacutestria e comeacutercio tudo isso oriundo da formaccedilatildeo da cidade pela
Estrada de Ferro Goyaz
Um fato ainda natildeo informado eacute que no ano de 1933 o municiacutepio era constituiacutedo de dois
distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Jaacute no decreto-lei nordm 5200 de 08 de dezembro de 1934
Pires do Rio eacute ldquorebaixadordquo agrave categoria de distrito do municiacutepio de Santa Cruz haja vista que
73
em divisotildees territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937 Pires do Rio figura como distrito
de Santa Cruz (IBGE 2016)
Em 03 de marccedilo de 1938 pelo Decreto-lei nordm 557 Pires do Rio retorna agrave categoria de
municiacutepio e Santa Cruz agrave de distrito No periacuteodo de 1939-1943 o municiacutepio aparece constituiacutedo
de trecircs distritos Pires do Rio Santa Cruz e Cristianoacutepolis O distrito de Santa Cruz pelo
Decreto-lei nordm 8305 de 31 de dezembro de 1943 passou a denominar-se Corumbalina Mas
pelo Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias de 20 de julho de 1947 Artigo 61
desmembrou-se do municiacutepio de Pires do Rio e foi elevado agrave categoria de municiacutepio com a
denominaccedilatildeo de Santa Cruz de Goiaacutes (IBGE 2016)
Em divisatildeo territorial datada de 1 de julho de 1950 o municiacutepio eacute constituiacutedo de dois
distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Depois pela lei municipal nordm 221 de 15 de julho 1953
eacute criado o distrito de Palmelo e anexado ao municiacutepio de Pires do Rio A lei estadual nordm 739 de
23 de junho de 1953 desmembra do municiacutepio de Pires do Rio o distrito de Cristianoacutepolis
elevado entatildeo agrave categoria de municiacutepio Rapidamente o distrito de Palmelo pela lei estadual
nordm 908 de 13 de novembro de 1953 eacute desmembrado do municiacutepio de Pires do Rio e elevado agrave
categoria de municiacutepio (IBGE 2016)
A ferrovia foi um marco na histoacuteria de Pires do Rio uma vez que o transporte ferroviaacuterio
era utilizado para escoar a produccedilatildeo Aleacutem disso a instalaccedilatildeo do Frigoriacutefico Brasil Central
estimulou a produccedilatildeo da pecuaacuteria de corte Nas deacutecadas de 1950 e 1960 destacou-se por
exportar o charque e pela produccedilatildeo de cerveja Jaacute com a construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 e a
implantaccedilatildeo das rodovias favoreceu-se a sua interligaccedilatildeo aos outros municiacutepios goianos
O fluxo de cargas e pessoas pela via ferroviaacuteria entre os anos de 1940 a 1950 apresentava
regularidade mas devido agrave construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 de 1965 a 1970 apresentou uma
queda gradativa por deficiecircncia teacutecnica das linhas falta de manutenccedilatildeo delas e dos
equipamentos lentidatildeo do transporte o que provocou em 1970 a desativaccedilatildeo do transporte de
passageiros A Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima (RFFSA) foi privatizada em 1996
e a Ferrovia Centro Atlacircntica (FCA) adquiriu 7080 km de extensatildeo operando 685 km em
Goiaacutes tendo adotado uma nova poliacutetica investindo dois milhotildees de reais na ferrovia
desativando vaacuterias estaccedilotildees (NOVAIS 2014) Na Estaccedilatildeo Pires do Rio ficou funcionando
apenas o escritoacuterio da FCA e o Museu Ferroviaacuterio e na Estaccedilatildeo Roncador uma oficina de
manutenccedilatildeo de vagotildees
Segundo Novais (2014) a ferrovia enquanto elemento modernizador do Sudeste
Goiano e instrumento capaz de aumentar as aglomeraccedilotildees urbanas e dinamizar o progresso da
regiatildeo de acordo com os novos interesses dominantes sempre esteve sob o controle do poder
74
econocircmico estatal ou de grupos Sua expansatildeo justificou-se em detrimento dos interesses
capitalistas e imperialistas Portanto a estrada de ferro eacute um produto da induacutestria capitalista da
Primeira Revoluccedilatildeo Industrial colocada a serviccedilo do capital e resultante das transformaccedilotildees
ocorridas no processo de expansatildeo do capitalismo no Brasil e no mundo (BORGES 1990) O
Estado de Goiaacutes ao inserir-se na dinacircmica capitalista e implantar a via feacuterrea em seu territoacuterio
conseguiu integrar-se ao mercado brasileiro aleacutem de mitigar anos de atraso e isolamento
econocircmico
32 Pires do Rio geograacutefico
O municiacutepio de Pires do Rio localiza-se na Microrregiatildeo do Sudeste Goiano inserida
na Mesorregiatildeo Sul Goiano A Microrregiatildeo eacute reconhecida como a regiatildeo da Estrada de Ferro
Limita-se com os municiacutepios goianos de Orizona Vianoacutepolis Urutaiacute Caldas Novas Satildeo
Miguel do Passa Quatro Santa Cruz de Goiaacutes Palmelo Cristianoacutepolis e Ipameri A aacuterea da
unidade territorial (kmsup2) eacute de 1073361 com uma altitude meacutedia de 75886 O municiacutepio
encontra-se entre as seguintes coordenadas geograacuteficas
Mapa 1 ndash Pires do Rio (GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio (GO)
75
A cidade de Pires do Rio eacute constituiacuteda por riquezas naturais do bioma Cerrado o qual
apresenta uma heterogeneidade na sua fisionomia pois engloba desde formaccedilotildees florestais
como as Matas Ciliares (vegetaccedilatildeo que fica nas margens dos rios) e Cerradatildeo aleacutem do Cerrado
restrito (eacute o Cerrado tiacutepico formado por vegetaccedilotildees arboacutereas de casca grossa e troncos
retorcidos) com formaccedilotildees vegetais ou herbaacuteceas (campo sujo e limpo)
Uma das caracteriacutesticas marcantes do Cerrado eacute sua riqueza em recursos hiacutedricos e Pires
do Rio natildeo foge agrave regra Servindo de fronteiras naturais para o municiacutepio tem-se o rio do Peixe
na parte norte A parte sul do municiacutepio desagua no rio Corumbaacute que tambeacutem eacute utilizado como
fronteira natural e eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio Aleacutem destes tem o rio Piracanjuba
que devido agrave sua estrutura rochosa e seu volume de aacutegua foi palco da construccedilatildeo de uma usina
hidreleacutetrica em meados do seacuteculo XX que abastecia a cidade embora hoje encontre-se em
ruiacutenas
Aleacutem dos trecircs rios o municiacutepio possui ao longo de todo seu o territoacuterio vaacuterias
nascentes coacuterregos ribeirotildees quedas drsquoaacutegua os quais satildeo todos afluentes do rio Corumbaacute
Vale ressaltar que a maioria dos cursos drsquoagua satildeo perenes ou seja tem aacutegua o ano todo por
isso muitos deles tem o nome da regiatildeo em que se encontra pois satildeo objetos marcantes na
paisagem
Segundo o IBGE (1957) a populaccedilatildeo piresina no Recenseamento de 1950 era de
12946 habitantes (inclusive a populaccedilatildeo dos atuais municiacutepios de Cristianoacutepolis e Palmelo ndash
na eacutepoca distritos de Pires do Rio) apresentando quadro urbano e suburbano com uma
populaccedilatildeo de 4836 habitantes sendo 2282 homens e 2554 mulheres A densidade
demograacutefica era de 12 habitantes por quilocircmetro quadrado verificando-se que 53 da
populaccedilatildeo localizava-se no quadro rural
Na deacutecada de 50 o municiacutepio de Pires do Rio tinha um nuacutecleo populacional que era o
povoado de Marataacute aleacutem da sede (como jaacute mencionado no ano de 1953 os distritos de
Cristianoacutepolis e Palmelo satildeo elevados a municiacutepio) Mas com o passar dos anos ele deixa de
existir ficando apenas a Igreja de Satildeo Sebastiatildeo As atividades econocircmicas do municiacutepio eram
predominantemente a produccedilatildeo agriacutecola e pecuaacuteria O municiacutepio apresentava-se como um local
de atraccedilatildeo recreativa pela sua beleza paisagiacutestica a qual pode ser observada na cachoeira do
Salto no rio Piracanjuba jaacute mencionado onde foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica que forneceu
energia agrave cidade ateacute meados do seacuteculo XX
A populaccedilatildeo em 2010 era de 28762 habitantes sendo 14105 homens e 14657
mulheres Predominantemente urbana com 27094 pessoas e apenas 1668 no meio rural Pires
do Rio apresenta uma aacuterea de 1073361 km2 e uma densidade demograacutefica de 2680 habkmsup2
76
O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) do municiacutepio eacute de 0744 A Populaccedilatildeo
Economicamente Ativa (PEA) eacute de 8717 homens e 6128 mulheres (IBGE 2016)
De acordo com os dados populacionais desde o Recenseamento da deacutecada de 50 (dados
jaacute mostrados anteriormente) a cidade teve um crescimento consideraacutevel como pode ser
observado nos quadros abaixo
Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo recenseamento
Populaccedilatildeo Censitaacuteria
1980 1991 2000 2010
Total de habitantes 19258 22131 26229 28762
Urbano 16670 20537 24473 27094
Zona Rural 2588 1594 1756 1668
Masculino 9498 10904 12948 14105
Feminino 9760 11227 13281 14657
Urbano Masculino 8098 10027 11966 13208
Urbano Feminino 8572 10510 12507 13886
Zona Rural Masculino 1400 877 982 897
Zona Rural Feminino 1188 717 774 771
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Nos dados que satildeo apresentados pelo IBGE (populaccedilatildeo estimada) entre os anos 2001 e
2004 ocorreu uma queda no crescimento populacional em relaccedilatildeo ao ano de 1999 que foi de
28631 e nos demais anos segue 2001 26600 2002 27091 2003 27491 2004 28332 A
respeito desta queda natildeo conseguimos informaccedilotildees Em duas datas especiacuteficas houve uma
contagem da populaccedilatildeo seguem os dados abaixo
Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo contagem
Populaccedilatildeo Contagem
1996 2007
Total de habitantes 25094 26857
Masculino 12403 13232
Feminino 12691 13574
Urbano 23766 25031
77
Zona Rural 1328 1826
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Os dados inseridos no quadro 3 satildeo uma estimativa da populaccedilatildeo informada pelo IMB
e IBGE
Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio (GO)
Populaccedilatildeo Estimada
2011 2012 2013 2014 2015
28956 29145 30232 30469 30703
Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)
Para entreter a populaccedilatildeo o turismo do municiacutepio estaacute relacionado agraves edificaccedilotildees com
relevacircncia arquitetocircnica e cultural como a Ponte Epitaacutecio Pessoa o antigo Frigoriacutefico Brasil
Central as igrejas Satildeo Sebastiatildeo (Patrimocircnio do Marataacute) Satildeo Benedito (Igreja dos Congos) a
Ferrovia Centro Atlacircntica e o Museu Ferroviaacuterio O patrimocircnio material eacute representado pelo
centro histoacuterico principalmente a Igreja Matriz Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus coreto e chafariz da
Praccedila Gaudecircncio Rincon Segoacutevia o Mercado Municipal a Biblioteca Municipal a Estaccedilatildeo
Ferroviaacuteria e a casa do Maneco (hoje em ruiacutenas) que formam um conjunto arquitetocircnico
singular como tambeacutem as belezas naturais das Serras da Caverna e das Flores a cachoeira do
Marataacute e Prainha (as margens do rio Corumbaacute)
De acordo com Novais (2014) nos anos de 1980 o municiacutepio conheceu a expansatildeo da
fronteira agriacutecola com a introduccedilatildeo do cultivo da soja logo apoacutes em 1993 atraiu investimentos
com a implantaccedilatildeo do complexo agroindustrial aviacutecola e a industrializaccedilatildeo do setor
contribuindo para o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que perpassou a regiatildeo do Sudeste
Goiano Atualmente a economia piresina eacute voltada para as atividades agriacutecolas como a
produccedilatildeo de soja milho sorgo arroz feijatildeo e mandioca
O comeacutercio a infraestrutura e serviccedilos (sauacutede educaccedilatildeo comeacutercio e prestaccedilatildeo de
serviccedilos) exercem funccedilatildeo de polo atrativo para moradores dos municiacutepios vizinhos Toda a
importacircncia do municiacutepio para a regiatildeo o estado e o paiacutes se deve agrave instalaccedilatildeo da Estrada de
Ferro Goyaz e aos que acreditaram no crescimento de Pires do Rio e investiram em seu
territoacuterio Por esta razatildeo que parte de nossa pesquisa busca reviver fragmentos da histoacuteria desta
cidade que se faz importante para uma regiatildeo estado e paiacutes
78
33 Os cursos drsquoaacutegua
No quadro abaixo apresentamos os nomes dos cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio
levantamento realizado de acordo com os mapas cartas topograacuteficas e vocabulaacuterio do IBGE
(1957)
Quadro 6 ndash Cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO)
Vocabulaacuterio Geograacutefico ndash IBGE (1957)
Rio ndash 3 Paacutegi
na
Descriccedilatildeo Municiacutepio de
Nasceste
Rio Corumbaacute 75 Rio nasce nos arredores de Pirineus
atravessa o municiacutepio como o de Santa
Luzia depois de servir em pequeno trecho
de divisa a Bonfim Adiante separa Ipameri
e Corumbaiacuteba de um lado e Campo
Formoso Pires do Rio Caldas Novas Buriti
Alegre do outro ateacute desaguar no rio
Paranaiacuteba pela margem direita
Corumbaacute
Rio do Peixe 165 Rio nasce na regiatildeo sul-oriental do
municiacutepio que separa dos de Campo
Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio
e o de Caldas Novas desemboca no rio
Corumbaacute pela margem direita
Silvacircnia
Rio Piracanjuba 171 (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce
na serra de Passa Quatro e atravessa o
municiacutepio bem como o de Pouso Alto
Adiante separa Caldas Novas de Morrinhos
e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio
Corumbaacute pela margem direita
Bela Vista
Coacuterrego ndash 34
Coacuterrego Areias 15 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Pires do Rio
Coacuterrego Barreiro - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia
Coacuterrego do
Barreiro
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Piracanjuba
Coacuterrego dos Batista - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Bauzinho 29 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Bauacute
Orizona
Coacuterrego da Braga 37 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Santa Maria
Luziacircnia
79
Coacuterrego Boa Vista 32 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Buracatildeo 40 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Buriti 42 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio dos Bois
Pires do Rio
Coacuterrego Cachoeira 47 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Piracanjuba
Silvacircnia
Coacuterrego Capoeira
Grande
60 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Cachoeira
Orizona
Coacuterrego Carvalho - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego da Caverna 66 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio dos Peixes (M de Pires do Rio)
Pires do Rio
Coacuterrego Corrente - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Domingo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego da Estiva 88 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Brumado
Pires do Rio
Coacuterrego Fundatildeo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Cocalzinho de
Goiaacutes
Coacuterrego Guaraacute 106 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Luziacircnia
Coacuterrego Itauacutebi - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Juca - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego Lajinha 124 Coacuterrego afluente da margem direita do
coacuterrego Taperatildeo
Orizona
Coacuterrego Laranjal 126 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Bauacute
Pires do Rio
Coacuterrego Limeira 128 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute
Ipameri
Coacuterrego Marreco 136 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Bauacute
Orizona
Coacuterrego Mata
Dentro
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Coacuterrego do
Mocambo
144 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
das Antas
Silvacircnia
Coacuterrego Olho
drsquoaacutegua
152 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Piracanjuba
Orizona
Coacuterrego do Pico 168 Coacuterrego afluente da margem direita do
ribeiratildeo Brumado
Pires do Rio
Coacuterrego
Piracanjuba
171 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
igual nome
Morrinhos
Coacuterrego Posse 177 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
coacuterrego do Fundo
Orizona
80
Coacuterrego Satildeo
Jerocircnimo
202 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
ribeiratildeo Caiapoacute
Pires do Rio
Coacuterrego Saltador 193 Coacuterrego afluente da margem esquerda do
rio Corumbaacute proacuteximo a barra do rio
Alagado
Luziacircnia
Coacuterrego Taquaral 217 Coacuterrego afluente da margem direita do rio
Corumbaacute (M de Pires do Rio)
Pires do Rio
Coacuterrego da Terra
Vermelha
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia
Ribeiratildeo ndash 8
Ribeiratildeo Bauacute 29 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Piracanjuba na divisa do municiacutepio de Pires
do Rio
Orizona
Ribeiratildeo Brumado 33 Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do
rio dos Peixes
Santa Cruz de
Goiaacutes
Ribeiratildeo Cachoeira 47 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Piracanjuba
Orizona
Ribeiratildeo Caiapoacute 50 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio
Corumbaacute
Urutaiacute
Ribeiratildeo Marataacute - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Ribeiratildeo Mucambo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Ribeiratildeo Sampaio 194 Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da
margem direita do rio Corumbaacute (M de
Pires do Rio)
Pires do Rio
Ribeiratildeo Taquaral - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Orizona
Quedas drsquoaacutegua ndash 1
Cachoeira do
Marataacute
- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio
Fonte Vocabulaacuterio Geograacutefico IBGE 1957
O quarto capiacutetulo apresenta a descriccedilatildeo e anaacutelise de quinze dos 46 topocircnimos (escolha
esta pela relaccedilatildeo de representaccedilatildeo para a cidade de Pires do Rio-GO) de acordo com os aportes
teoacutericos revisados no primeiro capiacutetulo e em consonacircncia com os meacutetodos apresentados e
discutidos no segundo capiacutetulo apresenta ainda algumas questotildees teoacutericas suscitadas pelas
especificidades dos dados escolhidos
81
IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR
O signo toponiacutemico natildeo abre apenas o nome de
um lugar mas o lugar como um todo tudo que estaacute
relacionado a ele de uma forma ou de outra
(SIQUEIRA 2015)
Nos colocar a serviccedilo desta pesquisa foi o mesmo que redescobrir a cidade de Pires do
Rio-GO Conhecer a sua histoacuteria e poder reeditaacute-la remapear os seus cursos drsquoaacutegua e por fim
buscar na Toponiacutemia as relaccedilotildees de poder que os topocircnimos tecircm sobre cada espaccedilo nomeado
assim tomamos posse do que esta pesquisa nos proporcionou e aqui estaacute o aacutepice dela os dados
e suas anaacutelises
Segundo Dias (2008) o municiacutepio de Pires do Rio-GO tem como principais cursos
drsquoaacutegua o rio Corumbaacute situado na parte sudeste o rio Piracanjuba no nordeste e rio do Peixe
na parte sul os quais correm em direccedilatildeo agrave calha do rio Paranaiacuteba (uma das quatro bacias
hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes) ao sul Os rios do Peixe e Piracanjuba desaguam no
Corumbaacute sendo limites de fronteiras do municiacutepio Aleacutem desses rios a rede hidrograacutefica eacute
formada por vaacuterios ribeirotildees e coacuterregos
Para proceder com as devidas anaacutelises dos topocircnimos nos eacute necessaacuterio partir de algumas
definiccedilotildees de nomenclaturas da aacuterea da geografia mas natildeo tivemos acesso a nenhum dicionaacuterio
terminoloacutegico da aacuterea especiacutefica devido agrave dificuldade de encontrar em bibliotecas puacuteblicas e
na internet desta forma recorremos aos dicionaacuterios Aulete (2011) Borba (2004) e Houaiss et
al (2004 2009) para assim proceder com a definiccedilatildeo de palavras (termos) que satildeo recorrentes
em nossa pesquisa a) curso drsquoaacutegua eacute qualquer corpo de aacutegua fluente b) coacuterrego um rio
pequeno com pouco volume de aacutegua que passa por vaacuterios lugares e sempre desagua em um
curso drsquoaacutegua (coacuterrego ribeiratildeo ou rio) c) queda drsquoaacutegua torrente de aacutegua que cai do alto
cachoeiracascata que satildeo formaccedilotildees geomorfoloacutegicas nas quais os cursos drsquoaacutegua correm por
cima de uma rocha de composiccedilatildeo resistente agrave erosatildeo formando uma suacutebita quebra na vertical
d) ribeiratildeo curso drsquoaacutegua maior que o riacho e menor que o rio afluente de um rio e) rio ou
fluacutemen eacute uma corrente natural de aacutegua que flui continuamente Possui um caudal consideraacutevel
e desemboca no mar num lago ou noutro rio e em tal caso denomina-se afluente Pode
apresentar vaacuterias redes de drenagem
Proceder com estas observaccedilotildees eacute elementar para esta pesquisa pois dos 46 topocircnimos
elencados no municiacutepio de Pires do Rio-GO analisaremos apenas 15 visto que analisar todos
82
os topocircnimos seria uma tarefa aacuterdua e que demandaria mais tempo registramos aqui o que nos
motivou agrave escolha dos cursos drsquoaacutegua para anaacutelise Como satildeo apenas 03 rios eacute viaacutevel e de bom
senso analisaacute-los jaacute que satildeo as maiores bacias e que datildeo destaque agrave regiatildeo os ribeirotildees satildeo
especificamente 08 os quais seratildeo analisados inclusive alguns nomes se repetem aos coacuterregos
tambeacutem 01 queda drsquoaacutegua cachoeira do Marataacute que natildeo seraacute analisada devido ao nome ser o
mesmo de um ribeiratildeo dos 34 coacuterregos analisaremos apenas 04 (Barreiro Itauacutebi Laranjal e da
Terra Vermelha) devido ao grau de importacircncia para a cidade pois os coacuterregos Itauacutebi (nascente)
e Laranjal satildeo os que abastecem a cidade de Pires do Rio-GO Quanto ao Barreiro este estaacute
localizado na regiatildeo do Morro do Cruzeiro localidade que tem o maior nuacutemero populacional
na zona rural do municiacutepio O coacuterrego da Terra Vermelha eacute uma aacuterea que haacute muito tempo foi
espaccedilo de olaria e dela saiacuteram grandes quantidades de tijolos que foram utilizados nas
construccedilotildees de casas na cidade e tambeacutem pertence a uma localidade onde existiu o povoado do
Marataacute na deacutecada de 50
No mapa 2 apresentamos os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do
Rio-GO bem como aparecem em destaque os 15 topocircnimos que analisaremos a seguir os quais
estatildeo catalogados em fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas que estatildeo inseridas neste capiacutetulo
83
Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)
84
41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural
Os modelos das taxionomias foram elaborados por Dick (1992) a fim de possibilitar ao
pesquisador descobrir o significado dos topocircnimos sem ter que retomar especificamente a
passado histoacuterico Os modelos subdividem-se em 11 taxes de natureza fiacutesica e 16 de natureza
antropocultural Assim podemos verificar se o nomeador recorreu a elementos de natureza
fiacutesico ou socioculturais como motivaccedilatildeo no ato da nomeaccedilatildeo Abaixo apresentamos as 27
taxes subdivididas em suas naturezas e devidas especificaccedilotildees exemplificadas com alguns
topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO nos casos de natildeo ter
recorremos a outros topocircnimos
a) Taxionomias de natureza fiacutesica
1 Astrotopocircnimos topocircnimos que se referem aos corpos celestes cidade Estrela do Norte-
GO
2 Cardinotopocircnimos topocircnimos referentes agraves posiccedilotildees geograacuteficas cidade Alvorada do
Norte-GO
3 Cromotopocircnimos topocircnimos relativos agrave escala cromaacutetica coacuterrego da Terra Vermelha (Pires
do Rio-GO)
4 Dimensiotopocircnimos topocircnimos referentes agraves caracteriacutesticas dimensionais dos acidentes
geograacuteficos como extensatildeo comprimento largura espessura altura profundidade coacuterrego
Fundatildeo (Pires do Rio-GO)
5 Fitotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de vegetais rio Corumbaacute (Pires do Rio-
GO)
6 Geomorfotopocircnimos topocircnimos referentes agraves formas topograacuteficas elevaccedilotildees ou depressotildees
do terreno coacuterrego do Pico (Pires do Rio-GO)
7 Hidrotopocircnimos topocircnimos originados de acidentes hidrograacuteficos ribeiratildeo Cachoeira
(Pires do Rio-GO)
8 Litotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de minerais e de nomes relativos agrave
constituiccedilatildeo do solo coacuterrego Barreiro (Pires do Rio-GO)
9 Meteorotopocircnimos topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos ribeiratildeo Brumado
(Pires do Rio-GO)
10 Morfotopocircnimos topocircnimos que refletem o sentido de forma geomeacutetrica cidade Volta
Redonda-RJ
11 Zootopocircnimos topocircnimos de iacutendole animal rio do Peixe (Pires do Rio-GO)
b) Taxionomias de natureza antropocultural
85
1 Animotopocircnimos ou Nootopocircnimos topocircnimos relativos agrave vida psiacutequica e agrave cultura
espiritual coacuterrego Boa Vista (Pires do Rio-GO)
2 Antropotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais ribeiratildeo Sampaio
(Pires do Rio-GO)
3 Axiotopocircnimos topocircnimos que se referem a tiacutetulos e a dignidades que acompanham os
nomes proacuteprios individuais cidade Senador Canedo-GO
4 Corotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes de cidades paiacuteses estados regiotildees e
continentes coacuterrego Posse (Pires do Rio-GO)
5 Cronotopocircnimos topocircnimos que encerram indicadores cronoloacutegicos como novonova
velhovelha cidade Nova Aurora-GO
6 Ecotopocircnimos topocircnimos que fazem referecircncia agraves habitaccedilotildees de um modo geral cidade
Castelacircndia-GO
7 Ergotopocircnimos topocircnimos relacionados aos elementos da cultura material ribeiratildeo Bauacute
(Pires do Rio-GO)
8 Etnotopocircnimos topocircnimos relativos aos elementos eacutetnicos tribos isolados ou natildeo ribeiratildeo
Caiapoacute (Pires do Rio-GO)
9 Dirrematotopocircnimos topocircnimos construiacutedos por meio de frases ou enunciados linguiacutesticos
cidade Aparecida do Rio Doce-GO
10 Hierotopocircnimos topocircnimos referentes aos nomes sagrados agraves efemeridades religiosas aos
locais de culto cidade Cristianoacutepolis-GO Podem apresentar duas subdivisotildees i)
hagiotopocircnimos topocircnimos que se referem aos santos e agraves santas do hagioloacutegio romano
coacuterrego Satildeo Jerocircnimo (Pires do Rio-GO) ii) mitotopocircnimos topocircnimos referentes agraves
entidades mitoloacutegicas cidade Anhanguera-GO
11 Historiotopocircnimos topocircnimos que se referem a movimentos de cunho histoacuterico-social aos
seus membros ou ainda agraves datas correspondentes cidade Ipiranga de Goiaacutes-GO
12 Hodotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves vias de comunicaccedilatildeo coacuterrego Corrente (Pires
do Rio-GO)
13 Numerotopocircnimos topocircnimos que dizem respeito aos adjetivos numerais cidade Trecircs
Ranchos-GO
14 Poliotopocircnimos topocircnimos constituiacutedos pelos vocaacutebulos vila aldeia cidade povoaccedilatildeo
arraial bairro Vila Nova (Pires do Rio-GO)
15 Sociotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais de trabalho
e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade ribeiratildeo Mucambo (Pires do Rio-
GO)
86
16 Somatotopocircnimos topocircnimos com relaccedilatildeo metafoacuterica agraves partes do corpo humano ou do
animal coacuterrego Olho drsquoaacutegua (Pires do Rio-GO)
Essas classificaccedilotildees taxonocircmicas funcionam como auxiliares no processo de verificaccedilatildeo
que subjaz o topocircnimo sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo da origem e motivaccedilatildeo que
levaram agrave efetivaccedilatildeo de determinado topocircnimo
Aleacutem do mais uma anaacutelise toponiacutemica pressupotildee a busca de particularidades
que natildeo podem ficar apenas nas caracteriacutesticas mais evidentes apresentadas
pelo nome deve-se procurar tanto quanto possiacutevel ou seja tanto quanto as
fontes ou a documentaccedilatildeo o permitirem as origens mais remotas do
denominativo objetivando as eventuais substituiccedilotildees experimentadas e a sua
razatildeo determinante de modo que se possa tentar um equacionamento da
nomenclatura em periacuteodos ou estaacutegios onomaacutesticos ndash senatildeo de toda ela pelo
menos em alguns nomes ndash que talvez reflitam momentos distintivos do pensar
da eacutepoca analisada (DICK 1996 p 15-16)
O leacutexico toponiacutemico eacute carregado de marcas de expressatildeo histoacuterica social cultural
poliacutetica e religiosa de dada comunidade e eacute representativo para o nomeador e seu grupo Desta
forma se determinado local ou coisa passou por vaacuterias nomeaccedilotildees no decorrer dos tempos isso
justifica que cada nomeador observou novas caracteriacutesticas que classificavam ou referenciavam
o topocircnimo de forma precisa e motivada
De acordo com Dick (1990) as vaacuterias facetas significativas que datildeo realce ao nome do
lugar e as inuacutemeras informaccedilotildees que podem ser elencadas dele tornariam no material de um
grande armazenamento de dados e fatos culturais em larga extensatildeo Assim observamos em
Andrade (2010 p 103) que
Os estudos toponiacutemicos dentro do alcance pluridisciplinar de seu objeto de
estudo constituem um caminho possiacutevel para o conhecimento do modus
vivendi das comunidades linguiacutesticas que ocupam ou ocuparam um
determinado espaccedilo Quando um indiviacuteduo ou comunidade linguiacutestica atribui
um nome a um acidente humano ou fiacutesico revelam-se aiacute tendecircncias sociais
poliacuteticas religiosas culturais (Grifos da autora)
Satildeo nessas caracteriacutesticas em que reside a motivaccedilatildeo do topocircnimo e por meio delas nos
satildeo reveladas a histoacuteria e cultura de uma dada comunidade por isso vemos o quanto os estudos
toponiacutemicos satildeo de extrema relevacircncia natildeo soacute para a aacuterea dos estudos da
linguagemlinguiacutesticos mas tambeacutem para as outras aacutereas do conhecimento jaacute que o topocircnimo
eacute plurissignificativo tendo assim um alcance pluridisciplinar
87
Posto isto pode-se evidenciar os estudos toponiacutemicos como um eixo norteador para se
verificar as relaccedilotildees soacutecio-histoacuterico-culturais de um povo jaacute que o topocircnimo estaacute intimamente
vinculado agrave cultura de um povo uma naccedilatildeo e portanto agrave sua histoacuteria Assim tomaremos por
anaacutelise os graacuteficos que se seguem e as taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua
do municiacutepio de Pires do Rio-GO
42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO
Nesta pesquisa os 15 topocircnimos analisados baseados na classificaccedilatildeo enquadram-se
na divisatildeo das naturezas fiacutesica e antropocultural Em alguns topocircnimos eacute possiacutevel ainda
evidenciar mais de uma categoria classificatoacuteria por exemplo o coacuterrego da Terra Vermelha
que se classifica como litotopocircnimo e cromotopocircnimo
Nos graacuteficos abaixo apresentamos e analisamos em base qualiquantitivas as naturezas
das taxionomias fiacutesicas e antropoculturais e a origemetimologia dos topocircnimos estratos
linguiacutesticos
Grafico1 Natureza das Taxionomias
As taxionomias nos permitiram analisar e interpretar os designativos de lugares com
maior precisatildeo e seguranccedila do ponto de vista semacircntico sendo estudados enquanto formas de
liacutengua e de acordo com a causa de seu emprego O produto resultante aqui no nosso caso os
88
topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO ganham vida proacutepria passando
a ter caraacuteter motivado e natildeo apenas arbitraacuterio
As taxes encontradas nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO que tiveram maior proporccedilatildeo foram as de natureza fiacutesica assim o nomeador caracterizou
os fatores fiacutesicos do ambiente ou que chamaram sua atenccedilatildeo Desta forma as nomeaccedilotildees satildeo
motivadas e estabelecem relaccedilotildees com o nomeador e o lugar nomeado
421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos
Os principais topocircnimos analisados neste trabalho confirmaram uma tendecircncia da
toponiacutemia brasileira em geral ou seja a predominacircncia de topocircnimos classificados de acordo
com as taxionomias de natureza fiacutesica uma vez que na nomenclatura onomaacutestica dos
elementos fiacutesicos da regiatildeo analisada haacute um percentual de 67 (10 topocircnimos) que satildeo
classificados como taxes de natureza fiacutesica e 33 (05 topocircnimos) que se enquadram nas taxes
de natureza antropocultural
Graacutefico 2 Taxionomias de Natureza Fiacutesica
O graacutefico apresentado nos revelam que a incidecircncia em sua maioria das taxionomias
de natureza fiacutesica evidencia a influecircncia do ambiente fiacutesico no ato de nomeaccedilatildeo percebe-se
entatildeo que no ato do batismo os povos recorreram a elementos e caracteriacutesticas circundantes
aos lugares nomeados demonstrando que o meio ambiente exerce grande influecircncia no homem
no ato de nomear os lugares
0
05
1
15
2
25
3
Taxionomias de Natureza Fiacutesica
89
Ao atribuir topocircnimos agraves taxionomias de natureza fiacutesica eacute possiacutevel comprovar a forccedila
de elementos fiacutesicos como motivadores no ato de nomear os lugares O que eacute observaacutevel no
graacutefico II os topocircnimos com maior incidecircncia nos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO sendo eles fitotopocircnimos hidrotopocircnimos litotopocircnimos litotopocircnimos e
cromotopocircnimos litotopocircnimos e fitotopocircnimos meteorotopocircnimos e zootopocircnimos que no
decorrer desse trabalho seratildeo analisados
4211 Fitotopocircnimos
De acordo com o observado a taxionomia de origem fitotoponiacutemica (originada de
nomes de vegetais) atingiu em segundo lugar o maior nuacutemero de frequecircncia dentre os
topocircnimos de natureza fiacutesica 20 (02 topocircnimos) satildeo eles coacuterrego Laranjal e ribeiratildeo
Taquaral Eacute observaacutevel que a flora foi uma das grandes motivaccedilotildees para os designativos dos
cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO E segundo Dick (1990 p 146)
O importante talvez seria natildeo perder de vista que a vegetaccedilatildeo eacute parte
integrante de um conjunto natural em que o relevo constituiccedilatildeo do solo
acidentes geograacuteficos regimes climaacuteticos compotildeem um verdadeiro
biossistema imprescindiacutevel ao homem e agrave qualidade de vida que nele pretenda
instalar ou pelo menos usufruir
Eacute nessas relaccedilotildees de importacircncia para o homem que podemos compreender a nomeaccedilatildeo
destes elementos fiacutesicos fazendo referecircncia a aspectos que chamaram a sua atenccedilatildeo e
motivaram a nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua Isso se revela pelo caraacuteter de necessidade agrave vida
humana tanto do nome como do que por ele foi nomeado essa relaccedilatildeo nomeador-objeto-nome
eacute que ressalta a importacircncia da vegetaccedilatildeo no meio social local do vivente Assim tambeacutem
justifica Pereira (2009 p 143) que ldquopossivelmente seja esse o motivo de o
denominadorenunciador registrar as caracteriacutesticas locais de uma regiatildeo na nomeaccedilatildeo dos
acidentes geograacuteficos por meio do topocircnimordquo
Ao trazer as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas eacute perceptiacutevel a motivaccedilatildeo que subjaz
cada topocircnimo como observamos abaixo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 02
Topocircnimo Coacuterrego Laranjal Localizaccedilatildeo Pires do Rio
90
Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia la-ran-jal Sm plantaccedilatildeo ou pomar de laranjas (p827)
Laranja sf lsquofruto da laranjeira planta da fam das rutaacuteceasrsquo XIV Do aacuter nāranğa deriv do
persa nāranğ laranjAL -gal XVI (p382)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino laranja- + -al sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Coacuterrego afluente da margem direita do ribeiratildeo Bauacute (M de
Pires do Rio)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 03
Topocircnimo Ribeiratildeo Taquaral Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ta-qua-ral Sm 1 plantaccedilatildeo de taquara tabocal 2 terreno onde crescem
taquaras (p1337)
Taquara sf lsquoplanta da fam das gramiacuteneas taboca bambursquo 1627 tacoara c 1584 etc
tacoaacutera 1817 Do tupi takṷara taquarAL 1783 (p623)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino taquara- + -al sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ao observar as informaccedilotildees trazidas nas fichas apresentadas dos fitotopocircnimos
possivelmente as motivaccedilotildees que influenciaram o nomeador satildeo perspicazes as referecircncias
locais que de acordo com cada topocircnimo relacionamos i coacuterrego Laranjal evidentemente em
sua localidade apresentava no momento de nomeaccedilatildeo a plantaccedilatildeo de laranjas e tambeacutem o
coacuterrego favorecia a essas plantaccedilotildees ii ribeiratildeo Taquaral assim como analisado o topocircnimo
91
anterior o que tenha influenciado ao nomeador deve estar relacionado com o a quantidade de
taquaras na regiatildeo em se encontra o determinado ribeiratildeo
A ocorrecircncia dos topocircnimos de iacutendole vegetal ora pesquisados pode ter a sua
justificativa pela relevacircncia que as plantas tecircm junto a vida humana bem como necessaacuterias para
a conservaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua e suas nascentes assim justificamos a tendecircncia de valoraccedilatildeo
do vegetal no processo de batismo dos elementos fiacutesicos
4212 Hidrotopocircnimos
O topocircnimo de equivalecircncia hidroniacutemica (originado de acidentes hidrograacuteficos) aparece
no em ribeiratildeo Cachoeira Sabe-se que a aacutegua eacute de fundamental importacircncia para a vida
humana por isso a tendecircncia de o nomeador no ato de batismo do topocircnimo valer-se do nome
relacionado ao elemento aacutegua para designar o lugar
E de acordo com Dick (1990 p 196) ldquoO aparecimento de topocircnimos nos mais
diferentes ambientes revestindo uma natureza hidroniacutemica propriamente dita vincula-se agrave
importacircncia dos cursos drsquoaacutegua para as condiccedilotildees humanas de vidardquo Possivelmente o nomeador
a considera o elemento aacutegua vital para a sua existecircncia ainda sabemos que os cursos drsquoaacutegua
em muitas ocasiotildees servem de caminhos para comeacutercio como tambeacutem foi por meio deles que
se configuraram na histoacuteria do Brasil o achamento e a colonizaccedilatildeo do paiacutes pelos portugueses
Nas ficha abaixo trazemos informaccedilotildees relevantes para anaacutelise dos topocircnimos de origem
hidrograacutefica
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 04
Topocircnimo Ribeiratildeo Cachoeira Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Hidrotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ca-cho-ei-ra Sf 1queda drsquoaacutegua em rio ou ribeiratildeo cujo leito apresenta
forte declive cascata 2 trecho de rio onde as aacuteguas correm raacutepido devido agrave inclinaccedilatildeo do
terreno corredeira (p213)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba (M
de Campo Formoso)
Referecircncias Borba (2004) IBGE (1957)
92
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Por mais que apenas 10 (01) dos topocircnimos de natureza fiacutesica tenham referecircncia agrave
iacutendole hidroniacutemica a regiatildeo de Pires do Rio-GO tem seus limites poliacutetico e fiacutesico (geograacuteficos)
feita por rios sem mencionar a grande importacircncia que esses cursos exercem nas atividades da
regiatildeo
Ainda observamos em Dick (1990 p 197) que
Agraves vezes poreacutem rompe-se o equiliacutebrio que ela [a aacutegua] representa em
qualquer meio desprendendo-se de suas possibilidades de aproximar culturas
distintas e assumindo papel um tanto oposto ao se transformar em ldquoobstaacuteculordquo
agrave difusatildeo dos interesses coletivos Circunscrevendo o homem em seu proacuteprio
espaccedilo quando o transcurso se torna difiacutecil impede os contatos entre grupos
vizinhos Se o isolamento por um lado tende a manter tanto quanto possiacutevel
inalterados os valores comuns preservando por isso a tradiccedilatildeo socioloacutegica
do homem ao retardar a dinacircmica da comunidade em favor de uma estaacutetica
desestimulante e viciosa
A par desta citaccedilatildeo observamos que foi o que aconteceu a cidade de Pires do Rio-GO
a partir do rio Corumbaacute o principal para o municiacutepio que ateacute a deacutecada de 1920 era isolado dos
demais municiacutepios por falta de uma ponte que estabelecesse tal ligaccedilatildeo Com a vinda da Estrada
de Ferro Goyaz e a construccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa surgem as primeiras casas e a
efetivaccedilatildeo do municiacutepio bem como a ligaccedilatildeo com as principais cidades da regiatildeo e as relaccedilotildees
econocircmicas e poliacuteticas que auxiliaram no crescimento do municiacutepio e da regiatildeo
Observamos ainda no contexto do municiacutepio de Pires do Rio-GO que a aacutegua em suas
potencialidades eacute de grande relevacircncia e meio de sobrevivecircncia para a vida humana pois
Na parte sul encontra-se o rio Corumbaacute que eacute maior curso drsquoaacutegua do
municiacutepio Nele eacute feito a extraccedilatildeo de areia para construccedilatildeo civil suas ilhas
servem de pontos de recreaccedilatildeo para vaacuterios moradores e as suas margens satildeo
praticamente ocupadas pelas pequenas propriedades (DIAS 2008 p 84)
Posto isso no efetivar do topocircnimo a partir da importacircncia da aacutegua o nomeador
diferencia o elemento geograacutefico dos demais auxiliando na orientaccedilatildeo do homem no espaccedilo
que o cerca proporcionando subsiacutedios para um melhor (re)conhecimento do local Assim
hipoteticamente acreditamos que o topocircnimo ndash ribeiratildeo Cachoeira ndash no contexto estudado
93
pode ter a sua motivaccedilatildeo pelo proacuteprio ambiente fiacutesico uma vez recupera caracteriacutesticas
hidroniacutemicas do lugar
4213 Litotopocircnimos
Notando-se as relaccedilotildees dos topocircnimos de origem mineral os litotopocircnimos coacuterrego
Barreiro representam o percentual de 10 (01 topocircnimo) dos analisados Cabe mencionar que
os minerais foram um dos principais atrativos dos colonizadores portugueses nas terras
brasileiras E de acordo com Dick (1990) os topocircnimos de origem mineral estatildeo relacionados
tanto a caracteriacutesticas do solo quanto do terreno e assim estabelecem duas relaccedilotildees fiacutesicas que
estatildeo ligadas agraves regiotildees da terra neste caso satildeo areia barro lama pedra terra E outro fator
satildeo os histoacutericos que podem ser evidenciados no processo de colonizaccedilatildeo do Brasil por meio
das relaccedilotildees entre solo flora e relevo que satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de uma nova
sociedade
O litotopocircnimo apresentado abaixo por meio de descriccedilatildeo e anaacutelise revela a influecircncia
do local sobre o ato de nomear
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 05
Topocircnimo Coacuterrego Barreiro Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia bar-rei-ro Sm terra alagada lamaccedilal (p164)
Barreira -eirar -eiro ejar rarr BARRO
Barro sm lsquotipo de argilarsquo lsquosubstacircncia utilizada no assentamento da alvenaria de tijolo em
obras provisoacuterias obtida pela mistura de argila com aacuteguarsquo XIV De origem preacute-romana
Relaciona-se neste verbete uma seacuterie de vocaacutebulos etimologicamente correlacionados com
o radical barr- de origem preacute-romana barrEIRA sf lsquoargileirarsquo lsquoparapeitorsquo 1500 barrEIRmiddotAR
bareyrar XV barrEIRO XVIII (p82)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino barro- + ndasheiro sufixo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
94
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Observando Sapir (1969) podemos trazer a reflexatildeo acerca da relaccedilatildeo entre liacutengua e
ambiente que vale a compreensatildeo dos fatores fiacutesicos neste caso os aspectos geograacuteficos
incluindo aleacutem dos elementos fauna e flora os recursos minerais Assim o litotopocircnimo
coacuterrego Barreiro estabelece relaccedilotildees com o local quando foi nomeado ainda compreende-se
que a localidade era de lamaccedilalbarro um dos motivadores por determinado coacuterrego ser
batizado com o referido topocircnimo
Assim como observado em Dick (1990 p 125) os referidos topocircnimos de origem
mineral se referem ao primeiro caso que eacute o de ldquoiacutendole geneacutericardquo aspectos fiacutesicos e especiacuteficos
agraves regiotildees da terra revelando assim caracteriacutesticas minerais da regiatildeo em que estaacute localizado
determinado coacuterrego
4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos
No conjunto dos topocircnimos analisados em um percentual de 10 (01 topocircnimo) do
total encontramos um topocircnimo de estrutura composta mas natildeo hiacutebrido pois eacute formado por
duas palavras de origem latina a saber coacuterrego da Terra Vermelha litotopocircnimo (origem de
nomes de minerais e de nomes relativos agrave constituiccedilatildeo do solo) e cromotopocircnimo (relativo agrave
escala cromaacutetica) E que de acordo com Isquerdo e Seabra (2010 p 91) ldquo[] a motivaccedilatildeo dos
hidrotopocircnimos de estrutura composta normalmente valoriza mais de uma caracteriacutestica do
meio ambiente como foco denominativordquo O mesmo se estabelece com o topocircnimo ora
analisado como descreve na ficha abaixo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 06
Topocircnimo Coacuterrego da Terra Vermelha Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo e
Cromotopocircnimo
Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia ter-ra Sf i elemento da superfiacutecie terrestre que misturado com aacutegua
transforma-se em barro ii parte soacutelida da superfiacutecie terrestre chatildeo firme (p1351)
Terra sf lsquoterritoacuterio regiatildeorsquo lsquosolo chatildeorsquo XIII Do lat tĕrra (p631)
95
Vermelho adj lsquoda cor do sanguersquo XIII Do lat vĕrmῐcŭlus (p674)
Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Substantivo Feminino + Adjetivo)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Segundo Dias (2008 p 119-122) na maior parte da regiatildeo do municiacutepio de Pires do
Rio-GO o solo eacute ldquoLatossolos Vermelhosrdquo ou ldquoLatossolos Vermelho Amareladordquo assim
hipoteticamente uma das motivaccedilotildees fundamentais para a denominaccedilatildeo do topocircnimo estaacute
ligado a caracteriacutesticas do local o que influenciou o denominador a fazer referecircncia agrave Terra
juntamente com a cor vermelha
E ainda Dias (2008 p 117) justifica que ldquoas caracteriacutesticas da vegetaccedilatildeo natural
muitas das vezes tecircm como fator determinante o tipo de solo porque eacute dele que elas retiram a
maioria dos elementos que precisam para sua nutriccedilatildeordquo Nesta regiatildeo tem a predominacircncia da
agricultura e agropecuaacuteria influecircncias do solo que contribui para tais praacuteticas
Contudo o batismo do coacuterrego com o topocircnimo Terra Vermelha traz em sua motivaccedilatildeo
as caracteriacutesticas que satildeo observadas na localidade e que de certa forma influenciaram o
nomeador Aleacutem do coacuterrego uma regiatildeo rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tambeacutem eacute
conhecida pelo referido nome
4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos
O topocircnimo coacuterrego Itauacutebi eacute um nome composto litotopocircnimo (de origem mineral) e
fitotopocircnimo (de origem vegetal) e representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos
analisados Sua estrutura morfoloacutegica segundo Dick (1992) eacute um topocircnimo composto formado
por ita- (pedra) + -ubi (palmeira) ambos de origem tupi na formaccedilatildeo de palavras se constitui
em uma composiccedilatildeo por justaposiccedilatildeo E hipoteticamente a regiatildeo em que se encontra o
coacuterrego eacute de um terreno pedregulho ou pode ser que o proacuteprio coacuterrego tenha em sua calda um
acuacutemulo maior de pedras que o normal E consequentemente uma regiatildeo em que a vegetaccedilatildeo
tenha ou lembre uma localidade com plantaccedilotildees de palmeiras
96
Assim a ficha lexicograacutefica-toponiacutemia abaixo nos auxiliou na descriccedilatildeo e anaacutelise do
topocircnimo coacuterrego Itauacutebi aclarando para um efetiva interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo do corpus desta
pesquisa
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 07
Topocircnimo Coacuterrego Itauacutebi Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Litotopocircnimo e Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia Ita ndash pedra eacute o termo mais comum nos topocircnimos brasileiros algumas
vezes aparece sem o i inicial Ta-nhenga (ilha do Rio de Janeiro) Ta-ratatilde (localidade da
Bahia) (p 174)
Ubi ndash nome comum a vaacuterias palmeias dos gecircneros Genoma Bactris e Calyptrogyne (p 190)
Estrutura morfoloacutegica Nome composto (ita- substantivo feminino + -ubi substantivo
feminino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Tibiriccedila (1985)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Segundo Dias (2008) o coacuterrego Itauacutebi eacute um dos afluentes do ribeiratildeo Marataacute e tambeacutem
um dos coacuterregos que abaste ao municiacutepio de Pires do Rio-GO juntamente com o coacuterrego
Laranjal Assim eacute possiacutevel notar a importacircncia deste curso drsquoaacutegua para o municiacutepio e a sua
relevacircncia em anaacutelise para a nossa pesquisa
4216 Meteorotopocircnimos
A meteorotoponiacutemia refere-se a topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos e no
contexto pesquisado representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos analisados sendo
ribeiratildeo Brumado que proveacutem do termo latino bruma lsquoinvernorsquo especificando como nevoeiro
neblina e cerraccedilatildeo (CUNHA 2010) Dados esses especificados abaixo na ficha lexicograacutefica-
toponiacutemica que nos auxiliou na interpretaccedilatildeo e anaacutelise do topocircnimo
97
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 08
Topocircnimo Ribeiratildeo Brumado Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Meteorotopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia Bruma bru-ma Sf nevoeiro neblina cerraccedilatildeo (p203)
Bruma sf lsquonevoeiro neblina cerraccedilatildeorsquo XVI Do lat bruma lsquoinvernorsquo (p103)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino bruma- + sufixo ndashado)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do rio dos Peixes (M
de Pires do Rio)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ao observarmos em Sapir (1969) em que o leacutexico de uma liacutengua reflete claramente o
ambiente fiacutesico e social do falantes provavelmente o que influenciou o nomeador em recorrer
ao batismo do topocircnimo Brumado em determinado ribeiratildeo pode ter sido devido a ocorrer na
localidade neblinanevoeiro na estaccedilatildeo do ano inverno jaacute que a proacutepria raiz da palavra bruma
faz referecircncia ao ldquoinvernordquo
Nas leituras realizadas em alguns pesquisadores da aacuterea da toponiacutemia como Almeida
(2012) Carvalhinhos (2002 2003) Dick (1990 1992 1996 1999 2000 2001 2004 2006)
Isquerdo e Seabra (2010) Pereira (2009) Siqueira (2012 2015) natildeo foi recorrente
encontrarmos algum meteorotopocircnimo analisado ou que nos desse qualquer sustentaccedilatildeo ou
informaccedilotildees para proceder com algum confrontamento de dados mediante a isso
subentendemos que os topocircnimos de iacutendole dos fenocircmenos atmosfeacutericos natildeo tenham uma certa
frequecircncia como os demais
4217 Zootopocircnimos
Nas denominaccedilotildees de iacutendole animal zootopocircnimos no estudo corrente referem ao
percentual de 30 (03 topocircnimos) dos extratos pesquisados ndash rio Corumbaacute rio do Peixe e rio
Piracanjuba Precisamente em dois topocircnimos o fator motivador foi o animal peixe que
possivelmente influenciou o nomeador A saber que a caccedila e pesca era o meio de sobrevivecircncia
98
da comunidade primitiva desta forma possivelmente a comunidade que habitava nos referidos
locais tambeacutem foi influenciada por essas razotildees e daiacute batizando ambos os rios com os referidos
topocircnimos
Ao observamos os topocircnimos de iacutendole animal aqui presentes vamos contrapor ao que
Dauzat (1922 apud DICK 1990) constatou ter uma menor frequecircncia dos zootopocircnimos em
relaccedilatildeo a outras categorias na toponiacutemia francesa bem como agrave perspectiva de Backheuser
(1952 apud DICK 1990) de que na toponiacutemia brasileira os nomes de animais satildeo menos
recorrentes
As relaccedilotildees de denominaccedilatildeo toponiacutemica de uma dada regiatildeo pode ser diferente de outra
de acordo com isso as relaccedilotildees de motivaccedilotildees estatildeo estritamente ligadas ao nomeador pois
cada qual atribui a caracteriacutesticas inerentes ao local a que faz referecircncia Assim as fichas
lexicograacuteficas-toponiacutemicas abaixo evidenciam em suas descriccedilotildees e nos auxiliam a proceder
com a anaacutelise toponiacutemica dos designativos bem como a quantificar que os zootopocircnimos foram
os de maior frequecircncia em nossas anaacutelises
Nordm de ordem 09
Topocircnimo Rio Corumbaacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia cid Mato Grosso do Sul de corumbaacute caacutegado (p44) Origem Tupi
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio nasce nos arredores de Pirineus atravessa o municiacutepio
como o de Santa Luzia depois de servir em pequeno trecho de divisa a Bonfim Adiante
separa Ipameri e Corumbaiacuteba de um lado e Campo Formoso Pires do Rio Caldas Novas
Buriti Alegre do outro ateacute desaguar no rio Paranaiacuteba pela margem direita (M de Corumbaacute)
Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 10
Topocircnimo Rio do Peixe Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
99
OrigemEtimologia pei-xe Sm (Zool) 1 espeacutecime de classe animal vertebrado que nasce e
vive na aacutegua respira por guelras e se locomove por meio de barbatanas (p1048)
sm lsquo(Zool) animal cordado gnastomado aquaacutetico com nadadeiras com pele geralmente
coberta de escamas que respira por bracircnquiasrsquo XIII Do lat piscis -is peixADA XX
peixARIA XX peixeiro peyxero XIII Cp pescar piscatoacuterio (p485)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio (do) nasce na regiatildeo sul-oriental do municiacutepio que separa
os de Campo Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio e o de Caldas Novas desemboca
no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bonfim)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) (IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 11
Topocircnimo Rio Piracanjuba Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica
OrigemEtimologia cid de Goiaacutes de piracanjuba uma var de peixe de rio etim piraacute-
acatilde-juba peixe de cabeccedila amarela (p97) Origem Tupi
piraacute sm lsquodesignaccedilatildeo geneacuterica de peixe em tupirsquo piracanjuva sf lsquoespeacutecie de douradorsquo 1792
Do tupi pirakaᶇlsquoḭuṷa (p498)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce na serra de Passa
Quatro e atravessa o municiacutepio bem como o de Pouso Alto Adiante separa Caldas Novas de
Morrinhos e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bela
Vista)
Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
100
Segundo Dias (2008) o rio Corumbaacute eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio dele se extrai
areia para a construccedilatildeo civil e suas ilhas e margens servem para abrigar pequenas propriedades
inclusive para a recreaccedilatildeo e turismo O rio do Peixe eacute um dos trecircs maiores cursos drsquoaacutegua e
fronteiriccedilo na regiatildeo sul entre Pires do Rio Cristianoacutepolis Vianoacutepolis e Satildeo Miguel do Passa
Quatro tem como principal afluente o ribeiratildeo Brumado e tambeacutem eacute o principal afluente do
rio Corumbaacute O rio Piracanjuba tambeacutem estaacute entre os principais do municiacutepio na regiatildeo norte
faz fronteira entre Pires do Rio Orizona Urutaiacute e Ipameri sua principal relevacircncia foi na
deacutecada de 1950 por aiacute ter funcionado uma usina hidreleacutetrica que abastecia o municiacutepio de Pires
do Rio-GO
A anaacutelise zootoponiacutemica na localidade pesquisada evidenciou a valorizaccedilatildeo da fauna
local pois ao utilizar o nome de animais recuperou-os para nomear lugares como os rios
Observamos que os nomes de animais que estabelecem a sua origem nas liacutengua tupi
(Piracanjuba e Corumbaacute) e latina (Peixe) motivaram a nomeaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e
de alguma forma estatildeo vinculados agrave vida do nomeador estabelecendo assim relaccedilotildees
extralinguiacutesticas com os topocircnimos pesquisados E segundo Theodoro Sampaio (1914 apud
DICK 1990) dificilmente o nome do animal estaria desvinculado de sua existecircncia na
localidade
Os elementos de natureza fiacutesica mais evidentes na motivaccedilatildeo que subjazem aos
topocircnimos ora analisados foram os de origem vegetal mineral e animal (peixe) Percebemos
assim que o nomeador teve influecircncia das caracteriacutesticas do local para designar o referido
topocircnimo A partir desta anaacutelise nos eacute pertinente ao proacuteximo subtoacutepico proceder com as
anaacutelises das taxionomias de natureza antropocultural
422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos
Os topocircnimos de natureza antropocultural representam 33 (05 topocircnimos) do corpus
analisado destacando-se os antropotopocircnimos ergotopocircnimos etnotopocircnimos e
sociotopocircnimos O nomeador obteve suas motivaccedilotildees de iacutendole antropocultural fazendo
homenagem a pessoas importantes da cidade recuperando elementos da cultura material do
povo revelando elementos eacutetnicos isolados ou natildeo e por fim referenciando a atividades
profissionais ou pontos de encontro de pessoas da comunidade Assim identificando a
influecircncia do homem no meio em que se encontra
101
Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural
O graacutefico 3 nos traz em sua amplitude os topocircnimos de origem antropocultural e a partir
dele eacute que procederemos com as anaacutelises no decorrer do texto observando as regecircncias e
distintas influecircncias do nomeador no ato do batismo
4221 Antropotopocircnimos
Dentre os topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais em nossa pesquisa foi
encontrado apenas o ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo correspondendo ao percentual de
20 (01) dos topocircnimos de natureza antropocultural analisados Na toponiacutemia brasileira eacute
recorrente encontrarmos antropotopocircnimos especialmente lugares como cidades praccedilas ruas
e outros acabam recebendo nomes proacuteprios em homenagem a algueacutem A ficha lexicograacutefica-
toponiacutemica 12 em sua amplitude nos auxilia a perceber a influecircncia do antrotopocircnimo
analisado pois refere-se a uma figura puacuteblica da comunidade piresina
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 12
Topocircnimo Ribeiratildeo Sampaio Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia sm ldquomarinhordquo Sampaio eacute um sobrenome presente na onomaacutestica
portuguesa atraveacutes de raiacutezes tipicamente toponiacutemicas devido ao nome de uma vila localizada
0
02
04
06
08
1
12
14
16
18
2
ANTROPOTOPOcircNIMO ERGOTOPOcircNIMO ETNOTOPOcircNIMOS SOCIOTOPOcircNIMO
Taxionomias de Natureza Antropocultural
102
em Traacutes-os-Montes em Portugal e que teria sido adotado como sobrenome pelos senhores
deste local Alguns etimologistas acreditam que o nome Sampaio tenha surgido a partir do
latim Sanctus Pelagius (traduzido como ldquosanto marinhordquo) que significa Santo Pelagius e
com o passar do tempo tenha sofrido alteraccedilotildees na grafia passando para Sam Peaio Satildeo
Payo e por fim Sampaio Origem hebraica
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Proacuteprio ndash sobrenome)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da margem direita
do rio Corumbaacute (M de Pires do Rio)
Referecircncias Dicionaacuterio online de Nomes Proacuteprios (sd) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Este antropotopocircnimo foi o norteador motivacional para esta pesquisa pois o ribeiratildeo
Sampaio em um de seus limites por boa parte da populaccedilatildeo (inclusive eu) eacute conhecido como
Pedro Teixeira (que na verdade eacute o nome da ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo) soacute tempos depois
conheci o seu verdadeiro nome
E Dick (1990 p 286) assegura que
Os aspectos semacircnticos que podem ser encontrados nos nomes de pessoas
ligam-se portanto ao papel que exercem de verdadeiras manifestaccedilotildees
culturais dos povos e onde transparecem os mais diversos motivos
determinantes de sua escolha Talvez a proacutepria maneira pela qual se concebia
o nome em eacutepocas remotas como uma substacircncia revestida de poderes
miacutesticos seja a responsaacutevel pela variedade das motivaccedilotildees em uma ou em
outras sociedades
Os aspectos motivacionais para o topocircnimo em estudo eacute uma homenagem ao coronel
Lino Teixeira de Sampaio neste caso de acordo com Cabral (2007) eacute um patroniacutemico
sobrenome e faz referecircncia ao doador das terras em que fundou-se a cidade de Pires do Rio-
GO Segundo Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares ou
homenagem ou ateacute mesmo por caracteriacutesticas geograacuteficas inerentes ao local Em alguns casos
os nomes satildeo opacos pois natildeo apresentam nenhuma relaccedilatildeo com o referente nesta situaccedilatildeo haacute
de se fazer uma busca histoacuterica para chegar as relaccedilotildees motivacionais que natildeo eacute o nosso caso
Observando em estudos acerca dos topocircnimos de iacutendole de nomes proacuteprios individuais
constatamos que
103
Nomes proacuteprios de pessoas satildeo obscurecidos em seu conteuacutedo leacutexico-
semacircntico pela opacidade do proacuteprio signo que os conforma distanciados na
maioria das ocorrecircncias do foco original Integram o inventaacuterio mais fechado
da linguagem cuja origem remonta no Brasil aos primeiros nomes de
famiacutelias portuguesas para aqui imigradas (DICK 2001 p 83)
Assim foi possiacutevel observar que o patroniacutemico Sampaio ratifica a citaccedilatildeo de Dick
(2001) pois ele estaacute presente na onomaacutestica portuguesa evidenciado nas raiacutezes tipicamente
toponiacutemicas relacionado ao nome de uma vila localizada em Traacutes-os-Montes em Portugal que
supostamente teria sido adotado como sobrenome pelos senhores deste local (DICIONAacuteRIO
DE NOMES PROacutePRIOS sd)
A importacircncia desse referido ribeiratildeo para o municiacutepio de Pires do Rio-GO justifica-se
desde a sua nomeaccedilatildeo pela razatildeo de sua nascente ser em terras que eram de propriedade do
coronel Lino Teixeira de Sampaio e tambeacutem pelo motivo de
O ribeiratildeo Sampaio eacute utilizado como um dos limiacutetrofes das aacutereas urbana e
rural tambeacutem depositaacuterio da Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE)
consequentemente recebendo a aacutegua do esgoto depois de feito seu devido
tratamento Neste ribeiratildeo encontram-se os menores pontos altimeacutetricos da
aacuterea urbana o que favoreceu a construccedilatildeo da ETE (DIAS 2008 p 84)
Neste contexto eacute evidente que a motivaccedilatildeo para o topocircnimo Sampaio eacute uma
homenagem a uma pessoa que tem uma importacircncia para o local a cidade de Pires do Rio-GO
E assim podemos evidenciar que o ato de nomear aqui institui as relaccedilotildees de poder
possivelmente a de coacuterrego do senhor coronel Lino Teixeira de Sampaio estabelecendo as
relaccedilotildees de poder que o proacuteprio coronel mantinha sobre o local a cidade
4222 Ergotopocircnimos
Os topocircnimos referente a elementos da cultura material ergotopocircnimos nas anaacutelises
desta pesquisa tiveram um percentual de 20 (01) dos topocircnimos analisados ribeiratildeo Bauacute
assim observamos que o denominador foi motivado pelas relaccedilotildees da cultura material que o
cerca Jaacute observado em Sapir (1969) pois no leacutexico toponiacutemico reflete o ambiente social do
falante assim o topocircnimo no qual o objeto bauacute eacute de origem da cultura material e de uso
humano possivelmente as caracteriacutesticas do objeto como fundura largura e formato do bauacute
foram vitais para a nomeaccedilatildeo do ribeiratildeo
104
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 13
Topocircnimo Ribeiratildeo Bauacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Ergotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia ba-uacute (fr) Sm (Co) 1 mala de madeira recoberta de couro com tampa
conversa 2 moacutevel em forma de caixa de folha ou madeira onde se guardam roupas e demais
objetos (p169)
sm lsquotipo de caixa ou mala com tampa convexa na parte externarsquo baul XVI bau XVII bahu
Do ant baul deriv do a fr bahur (hoje bahut) de origem obscura (p84) 1805
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba na
divisa do municiacutepio de Pires do Rio (M de Campo Formoso)
Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Desta forma ldquoa lsquoescolharsquo do nome se daacute segundo um agenciamento enunciativo
especiacutefico este acontecimento de nomear recorta como memoraacuteveis os nomes disponiacuteveis
como contemporacircneos proacuteprios de sua eacutepocardquo (GUIMARAtildeES 2005 p 36-37) Eacute necessaacuterio
observar na citaccedilatildeo de Guimaratildees (2005) que no ato do batismo o nomeador faz referecircncia ao
contemporacircneo ou proacuteprio de sua eacutepoca no caso de uso do termo bauacute configura-se como essa
afirmaccedilatildeo eacute relativa a algo realmente usado em determinada eacutepoca
Eacute evidente que o topocircnimo apresentou como fonte motivacional a relaccedilatildeo existente entre
a cultura material e seu nomeador ou seja uma motivaccedilatildeo toponiacutemica de ordem
antropocultural assim essas designaccedilotildees que recuperam elementos da cultura material do
povo da localidade identifica a influecircncia do homem no meio em que se vive
4223 Etnotopocircnimos
Uma das taxionomias de natureza antropocultural de maior ocorrecircncia nesta pesquisa
com o percentual de 40 (02) topocircnimos dos analisados foram os etnotopocircnimos topocircnimos
105
relativos a elementos eacutetnicos isolados ou natildeo sendo o ribeiratildeo Caiapoacute e ribeiratildeo Marataacute que
no decorrer satildeo apresentados nas fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 14
Topocircnimo Ribeiratildeo Caiapoacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia rio do E de Goiaacutes nome de uma tribo fam linguiacutestica Jecirc que habitou
a regiatildeo (p34)
cai-a-poacute (Tupi) S 1 indiviacuteduo de um povo indiacutegena de Mato Grosso Sm [Pl] 2 esse povo
(p217)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Corumbaacute (M de
Pires do Rio)
Referecircncias Tibiriccedila (1985) Borba (2004) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 15
Topocircnimo Ribeiratildeo Marataacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Marata ndash sm 1 indiviacuteduo dos maratas 2 liacutengua indo-europeia do ramo
indo-iraniano sub-ramo indo-aacuterico falada no Oeste e Centro da Iacutendia esp no Estado de
Maharashtra por aprox 50 milhotildees de pessoas Eacute uma das liacutenguas oficiais da Iacutendia Sacircnsc
mahaacuteraacutestra o grande reino pelo hind marhatta id
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas afluente da margem direita do ribeiratildeo Caiapoacute (M de Pires
do Rio)
Referecircncias Houaiss (2009) IBGE (1957)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
106
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
Na justeza dos nomes podemos evidenciar que ao batizar o ribeiratildeo Caiapoacute o nomeador
se valeu de fatores antropoculturais em relaccedilatildeo aos iacutendios caiapoacutes lsquokayapoacutersquo que segundo fatos
da histoacuteria estiveram em terras goianas desta forma ao se valer do uso do topocircnimo a
motivaccedilatildeo para tal ato de batismo pode ser referente a esses povos terem influecircncias de alguma
forma sobre o nomeador no ato do batismo do topocircnimo
Jaacute o topocircnimo ribeiratildeo Marataacute traz em sua bases semacircnticas como i ldquoliacutengua indo-
europeiardquo ii ldquoindiviacuteduos dos maratasrdquo segundo Houaiss et al (2009) E possivelmente a
motivaccedilatildeo do designativo foi a influecircncia de grupos europeus que tambeacutem passaram por estas
terras jaacute que o paiacutes foi colonizado por Portugal e na formaccedilatildeo da sociedade goiano e piresina
terem a presenccedila de vaacuterias etnias inclusive europeia
Desta forma eacute evidente que os etnotopocircnimos estatildeo relacionados agrave presenccedila e influecircncia
de grupos de distintas etnias no Brasil visto que a histoacuteria local e nacional revelam a presenccedila
de vaacuterios povos na formaccedilatildeo do sociedade brasileira
4224 Sociotopocircnimos
Tomando por anaacutelise os topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais
de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma dada comunidade dentre os
sociotopocircnimos numa frequecircncia de 20 (01) dos topocircnimos analisados foi encontrado o
designativo ribeiratildeo Mucambo
Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica
Nordm de ordem 16
Topocircnimo Ribeiratildeo Mucambo Localizaccedilatildeo Pires do Rio
Taxionomia Sociotopocircnimo Natureza Antropocultural
OrigemEtimologia Mocambo sm lsquoesconderijo refuacutegio dos negros (escravos) fugidorsquo
1535 mocano Do quimb mursquokamu lsquoescondrijorsquo Embora se documente em vaacuterios textos
quinhentistas relativos aos antigos domiacutenios portugueses na Aacutefrica foi no Brasil que o voc
Se difundiu intensamente desde o periacuteodo colonial em decorrecircncia do intenso conviacutevio dos
brancos com os negros escravos da africanos (p431)
Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)
107
Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada
Referecircncias Cunha (2010)
Data da coleta Ago2015 a Jul2016
Pesquisador Cleber Cezar da Silva
Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira
O topocircnimo tem sua origem no termo mocambo que se refere a esconderijo de escravos
fugidos (CUNHA 2010) Possivelmente assim como jaacute observado nos fatores motivacionais
de outros topocircnimos a relaccedilatildeo de grupos eacutetnicos terem passado ou habitado na regiatildeo pode ter
influenciado na nomeaccedilatildeo do designativo Na regiatildeo observada viveram escravos negros que
formaram um comunidade rural desta forma podem ter influenciado o nomeador no ato do
batismo do ribeiratildeo Mucambo
A partir do sociotopocircnimo analisado observamos em Carvalhinhos (2003 p 172) que
Os atuais estudos onomaacutesticos no Brasil vecircm justamente resgatando a histoacuteria
social contida nos nomes de uma determinada regiatildeo partindo da etimologia
para reconstruir os significados e posteriormente traccedilar um panorama
motivacional da regiatildeo em questatildeo como um resgate ideoloacutegico do
denominador e preservaccedilatildeo do fundo de memoacuteria
Desta forma ao traccedilar um panorama dos topocircnimos analisados eacute elementar que o
nomeador ao longo das nomeaccedilotildees buscou em suas bases motivacionais preservar a memoacuteria
local seja nos fatores fiacutesicos e ou sociais Para configurar tais dados no proacuteximo subtoacutepico
analisaremos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados
43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos
Analisar as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos estratos linguiacutesticos antes de mais
nada eacute perceber as influecircncias das etnias que povoaram o nosso paiacutes e regiatildeo Sabemos que no
iniacutecio do seacuteculo XVI quando os povos lusoacutefonos chegaram em terras brasileiras os iacutendios jaacute
as habitavam embora fossem os donos da terra tatildeo logo os portugueses se instalaram e se
fizeram os novos donos Mas no decorrer dos seacuteculos outros povos foram chegando e tambeacutem
se instalando no local daiacute retiramos a origem dos estratos linguiacutesticos dos topocircnimos analisados
nesta pesquisa
De acordo com Dick (1992 p 81)
108
a formaccedilatildeo etno-histoacuterica do Brasil acusa a existecircncia de estratos
populacionais diversos como os ameriacutendios distribuiacutedos em vaacuterios troncos e
famiacutelias Os portugueses os africanos e os de procedecircncia estrangeira jaacute em
eacutepoca posterior agrave colonizaccedilatildeo propriamente dita Essa origem heterogecircnea
deixou reflexos diferenciados na liacutengua nos usos e costumes nas tradiccedilotildees
regionais e consequentemente na toponiacutemia do paiacutes
Perceber essa heterogeneidade linguiacutestica na formaccedilatildeo dos topocircnimos eacute fundamental
visto que dos 15 topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO a sua maioria
eacute de origem indiacutegena isso revela que apesar do processo de colonizaccedilatildeo e imposiccedilatildeo da liacutengua
portuguesa a liacutengua dos nativos ainda prevaleceu ao menos na designaccedilatildeo toponiacutemica E no
graacutefico abaixo apresentamos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados
Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos
Analisar as origens dos topocircnimos eacute reconhecer segundo Dick (2006) que a Toponiacutemia
pode conviver com dois movimentos vivenciados de linguagem i) a nativa (linguagem
indiacutegena) e ii) a advena ou seja de iacutendole civilizatoacuteria pois ambas colaboraram para a
formaccedilatildeo dos brasileirismos e regionalismos mas natildeo apenas presentes na liacutengua Podemos
assim constatar em nossas anaacutelises que o vivenciado de acordo com a linguagem ldquonativardquo foi
a que teve maior frequecircncia neste estudo
Observamos no graacutefico IV a frequecircncia das liacutenguas que deram origem aos 15 topocircnimos
dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO e no que se segue procedemos com as
anaacutelises e logo apoacutes a estrutura morfoloacutegica
005
115
225
335
445
5
OrigemEtimologia dos Topocircnimos
109
O topocircnimo coacuterrego Laranjal eacute de origem Aacuterabe a influecircncia dessa liacutengua em nossa
regiatildeo nos eacute evidenciada no iniacutecio do seacuteculo XX com a fundaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio-
GO os aacuterabes foram um dos primeiros imigrantes que aqui chegaram bem como tiveram um
destaque na aacuterea comercial possivelmente este topocircnimo tenha relaccedilotildees com esse fato No que
tange agrave frequecircncia a liacutengua Aacuterabe (esta liacutengua influenciou imensamente o leacutexico da Liacutengua
Portuguesa) corresponde a 7 (01) dos topocircnimos analisados
Ainda contatamos outras liacutenguas como a Hebraica ndash ribeiratildeo Sampaio Preacute-romana ndash
coacuterrego Barreiro Sacircnscrito ndash ribeiratildeo Marataacute e ainda de Origem Obscura ndash ribeiratildeo Bauacute
Cada uma dessas liacutenguas correspondem agrave frequecircncia de 7 (01) dos topocircnimos analisados
provavelmente as devidas nomeaccedilotildees se devem ao fato da vinda de pessoas de outros
continentes em busca de melhores condiccedilotildees de vida e assim contribuiacuterem com a formaccedilatildeo
dos designativos dos cursos drsquoaacutegua
Os dados da toponiacutemia brasileira em relaccedilatildeo agrave origem dos topocircnimos satildeo de origem da
Liacutengua Portuguesa devido a colonizaccedilatildeo jaacute que os povos lusoacutefonos aqui chegaram e segundo
Dick (1995 p 60)
os primeiros topocircnimos funcionavam portanto como verdadeiros ldquosign-
postsrdquo ou marcas semioacuteticas de identificaccedilatildeo dos lugares usadas com a
finalidade de distinguir as caracteriacutesticas de espaccedilos semelhantes uma forma
uma silueta o perfil de uma paisagem se apresentando como recortes de uma
corografia maior a ser detalhada
Os povos lusoacutefonos nomeavam os lugares de acordo com caracteriacutesticas do lugar
Assim os topocircnimos por nograves analisados ndash coacuterrego Brumado coacuterrego da Terra Vermelha
ribeiratildeo Cachoeira e rio do Peixe ndash satildeo de origem latina liacutengua que deu origem agrave Liacutengua
Portuguesa e entre os topocircnimos estudados referem ao percentual de 29 (04 topocircnimos) dos
analisados
No processo de colonizaccedilatildeo do Brasil os portugueses necessitavam de matildeo-de-obra
mas como natildeo tiveram ecircxito com os iacutendios entatildeo foi necessaacuterio a busca de outros povos com
isso trouxeram os escravos E no processo de nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de
Pires do Rio-GO a Liacutengua Portuguesa (Aacutefrica) um percentual de 7 (01) dos topocircnimos ndash
ribeiratildeo Mucambo ndash que eacute especificado como o local esconderijo de escravos fugitivos Haacute
relatos de que na regiatildeo da zona rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tem uma localidade
que foi constituiacuteda em sua maioria populacional por escravos provavelmente pode esse
topocircnimo ter sido influenciado por tal fato
110
Em sua maioria 36 (05) dos topocircnimos analisados satildeo de origem Tupi ndash coacuterrego
Caiapoacute coacuterrego Itauacutebi ribeiratildeo Taquaral rio Corumbaacute e rio Piracanjuba ndash e segundo Bearzoti
Filho (2002 p 43) ao tratar das designaccedilotildees de origem tupi assinala que ldquoem grande parte
trata-se de topocircnimos atribuiacutedos natildeo por iacutendios mas por bandeirantes que como jaacute vimos
utilizavam a liacutengua geral como idioma de comunicaccedilatildeo ordinaacuteria em suas expediccedilotildeesrdquo
E de acordo com Sampaio (1928 p 02)
ao europeu poreacutem ou aos seus descendentes cruzados que realizaram as
conquistas dos sertotildees eacute que se deve a maior expansatildeo do tupi como liacutengua
geral dentro das raias atuais do Brasil As levas que partiam do litoral a
fazerem descobrimentos falavam no geral o tupi pelo tupi designavam os
novos descobertos os rios as montanhas os proacuteprios povoados que fundavam
e que eram outras tantas colocircnias espalhadas nos sertotildees falando tambeacutem o
tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo
Ao firmar o ato de nomeaccedilatildeo das localidades constatamos que o tupi liacutengua de origem
do maior nuacutemero de topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO
possivelmente deve-se agrave influecircncia das seguintes relaccedilotildees a internalizaccedilatildeo de nomes de origem
tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para Goiaacutes e a presenccedila de iacutendios como jaacute
mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo viveram regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da
colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)
Ainda consoante Pereira (2009 p 27) observamos que
A toponiacutemia brasileira como um todo reuacutene uma grande quantidade de nomes
de base indiacutegena na nomeaccedilatildeo de acidentes geograacuteficos que evidenciam
marcas da presenccedila de vaacuterias etnias na nomenclatura geograacutefica brasileira Um
estudo toponiacutemico numa dimensatildeo etnolinguiacutestica analisa desde a origem
dos nomes ateacute as influecircncias socioculturais da populaccedilatildeo que habita o espaccedilo
geograacutefico em estudo na forma de nomear os acidentes fiacutesicos verificando se
no momento da designaccedilatildeo de um lugar o designador apropriou-se de nomes
cuja origem procedeu de estratos linguiacutesticos de base portuguesa ou de outras
liacutenguas que influenciaram a formaccedilatildeo do leacutexico do portuguecircs brasileiro
principalmente as liacutenguas indiacutegenas e africanas
Ao analisarmos os topocircnimos dos cursos drsquoagua do municiacutepio de Pires do Rio-GO
podemos constatar que em sua maioria as liacutenguas que lhe deram origem foram as indiacutegenas e a
latina as outras que representaram um percentual menor possivelmente estatildeo ligadas agrave vinda
de outras etnias que ajudaram na formaccedilatildeo populacional do Brasil e de Goiaacutes
111
44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos
Com vistas nos paracircmetros teoacuterico-metodoloacutegicos da pesquisa seguindo o que eacute
estabelecido por Dick (1992) ao que se refere a estrutura morfoloacutegica o topocircnimo pode ser
classificado como simples composto e composto hiacutebrido que de acordo Dick (1992 p 14)
ldquotopocircnimo que em sua estrutura haacute a presenccedila de duas bases linguiacutesticas distintas por exemplo
tupi + portuguecircsrdquo mas natildeo encontrado em nossa pesquisa A partir disto tomamos o graacutefico V
para procedermos com a anaacutelise
Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos
Dos 15 sintagmas toponiacutemicos catalogados uma representaccedilatildeo de 87 (13 topocircnimos)
satildeo de estrutura simples que no processo de nomeaccedilatildeo o nomeador utilizou apenas um
formante ou seja um elemento designativo Jaacute os compostos aparecem em um percentual de
13 (02 topocircnimos) formados por mais de um formante lexical
Ao trazermos essas informaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos topocircnimos observamos que
como uso de substantivos e adjetivos o denominador acaba por trazer caracteriacutesticas do local
onde nomes comuns passam a formar nomes proacuteprios e segundo Dick (2006 p 108)
o topocircnimo integraraacute natildeo uma categoria descritiva de nomes nem um iacutendice
cromaacutetico desvinculado de outras consideraccedilotildees culturais e sim o que
chamamos na teoria de nomes transplantados deslocados ou transferidos de
seu lugar de origem para outros pontos distantes formando uma nova
sequecircncia nominal
0
2
4
6
8
10
12
14
SIMPLES COMPOSTO
Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos
112
No processo de nomeaccedilatildeo o nomeador faz uso de designativos que aleacutem de sofrer
certos deslocamentos como jaacute mencionado de nome comum para nome proacuteprio haacute tambeacutem
casos de alguns topocircnimos sofrerem alteraccedilotildees em suas estruturas morfoloacutegicas como o caso
do designativo ribeiratildeo Mucambo que em suas origens traz a grafia de mocambo
No decorrer deste estudo e anaacutelises foi possiacutevel perceber que os topocircnimos aleacutem de
servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais da sociedade a
que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e costumes da sociedade E ao final foi
notoacuterio perceber nas liacutenguas que deram origem aos topocircnimos a estreita relaccedilatildeo com o
ambiente pois de alguma forma o nomeador obteve motivaccedilatildeo tanto do espaccedilo meio ambiente
como da liacutengua propriamente dita
113
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Ao propormos estudar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-
GO tomamos por base caracterizar o ato de nomear e dele reiteramos e pode ser observado em
sua totalidade a relaccedilatildeo de poder pois nomear eacute instituir E eacute por meio do batismo do topocircnimo
que ele se instaura e revela as relaccedilotildees do meio ambiente com o homem eou do homem com
meio que o circunda As consideraccedilotildees finais ora apresentadas referem-se aos estudos
toponiacutemicos relacionados apenas ao contexto local desta pesquisa mas muito ainda haacute de ser
estudado na aacuterea em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia em Goiaacutes
Os objetivos da pesquisa constituem-se basicamente em descrever e analisar os
topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO observando
noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural Assim em
sua maioria os elementos fiacutesicos sobressaiacuteram sobre os demais pois no total de 15 topocircnimos
analisados um percentual de 67 (10 topocircnimos) foram motivados pelos aspectos fiacutesicos
sendo que os de origem vegetal fitotopocircnimos e animal zootopocircnimos tiveram maior
recorrecircncia Assim concretizamos que o ambiente influenciou o nomeador no ato do batismo
estabelecendo as relaccedilotildees entre liacutengua e ambiente inclusive com os aspectos extralinguiacutesticos
A maior incidecircncia de taxionomias de natureza fiacutesica nesta pesquisa demonstra a
tendecircncia do denominador de nomear os lugares com nomes dos elementos fiacutesicos da natureza
circundante numa constataccedilatildeo de que o meio ambiente exerce grande influecircncia sobre o
homem refletindo-se tambeacutem no processo de nomeaccedilatildeo dos lugares
Jaacute no que tange agraves taxionomias de natureza antropocultural em nossas anaacutelises com um
percentual de 33 (05 topocircnimos) os etnotopocircnimos que fazem referecircncia a elementos eacutetnicos
foram os com maior frequecircncia Observamos nas taxes de natureza antropocultural que os
fatores culturais foram os motivadores para a designaccedilatildeo dos topocircnimos analisados
evidenciando as relaccedilotildees do homem com o ambiente que o cerca Para tanto foi necessaacuterio
identificar os fatores que constituem a motivaccedilatildeo que subjazem agrave escolha do nome do lugar
que foi possibilitado por meio da caracterizaccedilatildeo de fatores sociais culturais histoacutericos que nos
auxiliaram nas anaacutelises dos topocircnimos
A hipoacutetese inicial da pesquisa foi de que pelo caraacuteter motivado o signo toponiacutemico
possibilita reconhecer fatores vinculados ao que subjaz agrave escolha dos nomes de lugares e assim
nos possibilitou o levantamento de fatores soacutecio-histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave
anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua como iacutendice de estreita relaccedilatildeo entre
liacutenguaambiente e cultura E pudemos observar que os topocircnimos estabelecem relaccedilotildees da
114
liacutengua e meio ambiente no que concerne agrave anaacutelise das taxionomias de natureza fiacutesica e a
posteriori as relaccedilotildees de liacutengua e cultura que foram evidenciadas nas taxionomias de natureza
antropocultural Nas taxes analisadas foi possiacutevel detectar que o ambiente e o contexto satildeo
fundantes nas motivaccedilotildees que subjazem aos topocircnimos analisados Desta forma entende-se que
um rio um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que uma vez nomeados passam a carregar as
inuacutemeras memoacuterias do lugar
Os fatores soacutecio-histoacutericos-culturais do municiacutepio de Pires do Rio-GO foram
imprescindiacuteveis no processo de anaacutelise dos designativos dos lugares pois no caso do topocircnimo
ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo ficou evidente que o fato motivador foi a relaccedilatildeo de poder
do nome devido ao ribeiratildeo ter sua nascente em terras que eram do coronel Lino Teixeira de
Sampaio e tambeacutem por ter sido ele o doador das terras em que surgiu o referido municiacutepio
Ao levantar as perguntas de pesquisa qual a origem dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da
cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do
lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo Apoacutes ter analisado os 15
topocircnimos fica evidente que todos os nomes estatildeo registrados nas cartas topograacuteficas e satildeo
oficializados pelo IBGE mas provavelmente os nomes foram dados pela comunidade que
habitou nas localidades ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas que foram levantadas nos designativos
fazendo referecircncia ao local
Por meio da caracterizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico
onomasioloacutegico que foi o norte da pesquisa combinado com outros meacutetodos como o Woumlrter
und Sachen (palavras e coisas) numa abordagem qualiquantitativa foi evidente na relaccedilatildeo da
toponiacutemia que os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos
lugares Nesse iacutenterim nos foi possiacutevel quantificar os topocircnimos em relaccedilatildeo as taxionomias
origem e estrutura morfoloacutegica percebendo as ocorrecircncias em maior frequecircncia
A anaacutelise do ponto de vista etnolinguiacutestico demonstrou a predominacircncia de topocircnimos
originaacuterios da liacutengua indiacutegena um percentual de 36 essa recorrecircncia eacute supostamente devido
agrave internalizaccedilatildeo de nomes de origem tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para
Goiaacutes e agrave presenccedila de iacutendios como jaacute mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo
viveram na regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e
consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)
A liacutengua latina que deu origem agrave liacutengua portuguesa aparece e 29 dos topocircnimos
analisados isso devido aos povos lusoacutefonos que nomeavam os lugares com as caracteriacutesticas
que se estabeleciam com os referidos locais por eles percorridos e habitados E tambeacutem outras
liacutenguas tiveram uma menor frequecircncia como a aacuterabe hebraica preacute-romana sacircnscrito e
115
tambeacutem um topocircnimo de origem obscura fica evidente que outras etnias influenciaram na
nomeaccedilatildeo dos lugares Pode ser pelo fato de o nomeador pertencer a etnia ou ter alguma relaccedilatildeo
indireta
Quanto agrave estrutura morfoloacutegica do toacutepico de acordo com Dick (1992) dos analisados
87 satildeo de formaccedilatildeo simples tendo apenas um formante e 13 satildeo compostos com dois
formantes lexicais assim os compostos revelam mais de uma caracteriacutestica do local nomeado
e caracteriza mais de uma taxionomia
De forma peculiar esta pesquisa aleacutem de proceder com as anaacutelises de classificaccedilatildeo
origemetimologia morfoloacutegica e semacircntico-toponiacutemicas remapeou e cartografou os cursos
drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO sem mencionar no revisitar da formaccedilatildeo histoacuterica
deste municiacutepio e da contribuiccedilatildeo com os estudos toponiacutemicos no estado de Goiaacutes
Os topocircnimos aleacutem de servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas
fiacutesicas e sociais da sociedade a que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e
costumes dessa sociedade E ao perceber essas relaccedilotildees de liacutenguaambiente e cultura na
designaccedilatildeo do topocircnimo eacute que propomos para discussatildeo futura doutorado a partir da
ecolinguiacutestica e da toponiacutemia proceder com a anaacutelise da relaccedilatildeo de liacutengua e meio ambiente nos
hidrocircnimos das bacias hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes
116
REFEREcircNCIAS
ANDRADE Karylleila dos Santos Atlas toponiacutemico de origem indiacutegena do estado do
Tocantins ATITO Goiacircnia-GO Ed PUC Goiaacutes 2010
ALMEIDA Lana Cristina Santana de O leacutexico toponiacutemico das comunidades rurais de Santo
Antocircnio de Jesus uma anaacutelise semacircntica e sociocultural 2012 188f Dissertaccedilatildeo (Mestrado
em Liacutengua e Cultura) ndash Universidade Federal da Bahia Salvador-BA 2012
AULETE Caldas Dicionaacuterio escolar da liacutengua portuguesa 3ordf ed Rio de Janeiro-RJ
Lexikon 2011
BASSETTO Bruno Fregni Elementos de Filologia Romacircnica histoacuteria Externa das Liacutenguas
Romacircnicas V1 2ed Satildeo Paulo-SP EDUSP 2013
______ Elementos de filologia romacircnica histoacuteria externa das liacutenguas Satildeo Paulo-SP Editora
da Universidade de Satildeo Paulo 2001
BEARZOTI FILHO Paulo Formaccedilatildeo linguiacutestica do Brasil Curitiba-PR Nova Didaacutetica
2002
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia Sagrada Traduccedilatildeo Centro Biacuteblico Catoacutelico 100ordf ed rev Satildeo
Paulo-SP Ave Maria 1995
BIDERMAN Maria Tereza Camargo Dimensotildees da palavra Filologia e Linguiacutestica
Portuguesa Araraquara-SP n 2 p 81-118 1998
BORBA Francisco da Silva (Org) Dicionaacuterio UNESP do portuguecircs contemporacircneo Satildeo
Paulo-SP UNESP 2004
BORGES Barsanufo Gomides O despertar dos dormentes estudo sobre a Estrada de
Ferro de Goiaacutes e seu papel nas transformaccedilotildees das estruturas regionais 1909-1922
Goiacircnia-GO Cegraf 1990
BOSI Alfredo Plural mas natildeo caoacutetico In ______ (Org) Cultura Brasileira temas e
situaccedilotildees Satildeo Paulo-SP Editora Aacutetica 1987 p 7-15
BRASIL Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Pires do Rio-GO folha SE-22-X-III Escala 1100 000 1973
______ Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Ipameri-GO folha SE-22-X-VI Escala 1100 000 1973
______ Ministeacuterio do Exeacutercito ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico Cartas Topograacuteficas -
Cristianoacutepolis-GO folha SE-22-X-II Escala 1100 000 1973
CABRAL Joatildeo de Pina Matildees pais e nomes no baixo sul (Bahia Brasil) In ______ VIEGAS
Susana de Matos Nomes geacutenero etnicidade e famiacutelia Coimbra-Portugal Almedina 2007 p
63-87
117
CAcircMARA JR Joaquim Mattoso Histoacuteria da Linguiacutestica 6ordf ediccedilatildeo Petroacutepolis-RJ Editora
Vozes LTDA 1975
______ Liacutengua e cultura Revista Letras Londrina-PR v 4 p 50 - 59 1955 Disponiacutevel em
lthttpojsc3slufprbrojsindexphpletrasarticleview2004613227gt Acesso em 30 set
2015
CAMPBELL Lyle Historical Linguistics An Introduction 2 ed Cambrige-EUA MIT
2004
CARVALHINHOS Patriacutecia de Jesus Onomaacutestica e lexicologia o leacutexico como catalisador de
fundo de memoacuteria Estudo de caso os sociotopocircnimos de Aveiro (Portugal) Revista USP Satildeo
Paulo-SP n 56 p 172-179 2003 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevistasuspbrrevusparticleview33819gt Acesso em 13 jan 2016
______ Antroponiacutemia Um velho caminho um novo instrumental de anaacutelise linguiacutestico-
literaacuteria Revista Aacutelvares Penteado Satildeo Paulo-SP v 4 n 8 p 115-135 2002
COSERIU Eugecircnio O homem e sua linguagem Trad Carlos Alberto da Fonseca e Maacuterio
Ferreira Satildeo Paulo-SP Edusp 1982
______ Princiacutepios de semaacutentica estructural Madrid-Espanha Gredos 1977
COUTO Hildo Honoacuterio do Onomasiologia e semasiologia revisitadas pela
ecolinguiacutestica Revista de Estudos da Linguagem Belo Horizonte-MG v 20 n 2 p 183-
210 2012 Disponiacutevel em
lthttpperiodicosletrasufmgbrindexphprelinarticleview2748gt Acesso em 13 jan 2016
______ Ecolinguiacutestica - estudo das relaccedilotildees entre liacutengua e meio ambiente Brasiacutelia-DF
Thesaurus 2007
CROWLEY Terry An Introduction to Historical Linguistics 3 ed Oxford-EUA Oxford
University 2003
CRYSTAL David Pequeno tratado da linguagem humana Traduccedilatildeo Gabriel Perisseacute Satildeo
Paulo-SP Saraiva 2012
CUNHA Antocircnio Geraldo da Dicionaacuterio etimoloacutegico da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro-
RJ Lexikon 2010
CUNHA Celso A magia da palavra In ______ Sob a pele das palavras Rio de Janeiro-RJ
Nova Fronteira Academia Brasileira de Letras 2004 p 217-233
DIAS Ana Lourdes Cardoso Toponiacutemia dos antigos arraiais tocantinense 2016 207f Tese
(Doutorado em Letras e Linguiacutestica) ndash Universidade Federal de Goiacircnia Faculdade de Letras
Goiacircnia-GO 2016
DIAS Cristiane Mapeamento do municiacutepio de Pires do Rio-GO usando teacutecnicas de
geoprocessamento 2008 187f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Universidade Federal
de Uberlacircndia Uberlacircndia-MG 2008
118
Dicionaacuterio de nomes proacuteprios Significado dos nomes sd Disponiacutevel em
lthttpswwwdicionariodenomesproprioscombrsampaiogt Acesso em 06 jul 2016
DICK Maria Vicentina de Paula do Amaral Fundamentos teoacutericos da Toponiacutemia Estudo de
caso O Projeto ATEMIG ndash Atlas Toponiacutemico do Estado de Minas Gerais (variante regional do
Atlas Toponiacutemico do Brasil) In SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa (Org) O leacutexico
em estudo Belo Horizonte-MG Faculdade de Letras da UFMG 2006 p 91-117
______ Rede de conhecimento e campo lexical hidrocircnimos e hidrotopocircnimos na onomaacutestica
brasileira In ISQUERDO Aparecida Negri KRIEGER Maria da Graccedila As ciecircncias do
leacutexico lexicologia lexicografia e terminologia Vol II Campo Grande-MT Editora da UFMS
2004 p 121-130
______ O sistema onomaacutestico bases lexicais e terminoloacutegicas produccedilatildeo e frequecircncia In
OLIVEIRA Ana Maria Pinto Pires ISQUERDO Aparecida Negri (orgs) As ciecircncias do
leacutexico lexicologia lexicografia terminologia 2 ed Campo Grande-MS UFMS 2001 p 77-
88
______ A Investigaccedilatildeo Linguiacutestica na Onomaacutestica Brasileira Estudos de Gramaacutetica
Portuguesa III Frankfurt am Main Volume III 2000 p 217-239
______ Meacutetodos e questotildees terminoloacutegicas na onomaacutestica Estudo de caso o Atlas
Toponiacutemico do Estado de Satildeo Paulo Investigaccedilotildees Linguiacutestica e Teoria Literaacuteria Recife-PE
v 9 p 119-148 1999
______ A dinacircmica dos nomes da cidade de Satildeo Paulo 1554-1987 Satildeo Paulo-SP
ANNABLUME 1996
______ O leacutexico toponiacutemico marcadores e recorrecircncias linguiacutesticas (Um estudo de caso a
toponiacutemia do Maranhatildeo) Revista Brasileira de Linguiacutestica Satildeo Paulo-SP editora Plecirciade v
8 ndash n 1 p 59-68 1995
______ Toponiacutemia e Antroponiacutemia no Brasil Coletacircnea de Estudos Satildeo Paulo-SP Serviccedilo
de Artes GraacuteficasFFLCHUSP 1992
______ A Motivaccedilatildeo Toponiacutemica e a Realidade Brasileira Satildeo Paulo-SP Ediccedilotildees Arquivo
do Estado 1990
DUBOIS Jean et al Dicionaacuterio de linguiacutestica Satildeo Paulo-SP Cultrix 2004
FARACO Carlos Alberto Linguiacutestica Histoacuterica uma introduccedilatildeo ao estudo da histoacuteria das
liacutenguas Satildeo Paulo-SP Paraacutebola Editorial 2006
FERREIRA Aroldo Maacutercio Urbanizaccedilatildeo e arquitetura na regiatildeo da estrada de ferro Goiaacutes
ndash E F Goiaacutes cidade de Pires do Rio um exemplar em estudo 1999 278f Dissertaccedilatildeo
(Mestrado em Histoacuteria das Sociedades Agraacuterias) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Faculdade
de Ciecircncias Humanas e Filosofia Goiacircnia-GO 1999
119
FIORIN Joseacute Luiz A linguagem humana do mito agrave ciecircncia In ______ Linguiacutestica Que eacute
isso Satildeo Paulo-SP Contexto 2013 p 13-43
FRAZER James George The golden bough 3 ed Nova Iorque-USA The MacMillan
Company 1951
GEERTZ Clifford A interpretaccedilatildeo das Culturas Rio de Janeiro-RJ Zahar 1973
GUIMARAtildeES Eduardo Semacircntica do acontecimento um estudo enunciativo da designaccedilatildeo
2ordf ed Campinas-SP Pontes 2005
GUIRAUD Pierre A semacircntica Rio de Janeiro-RJ Bertrand Brasil 1986
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello
Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Rio de Janeiro-RJ Objetiva Versatildeo
monousuaacuterio 30 1 [CD-ROM] 2009
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles Dicionaacuterio Houaiss da liacutengua portuguesa
Rio de Janeiro-RJ Objetivo 2004
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=521740ampidtema=16ampsear
ch=goias|pires-do-rio|sintese-das-informacoesgt Acesso em 27 maio 2016
______ Enciclopeacutedia dos Municiacutepios Brasileiros Vol II Rio de Janeiro-RJ 1957
IMB ndash Instituto Mauro Borges de estatiacutesticas e estudos socioeconocircmicos Disponiacutevel em
ltwwwimbgogovbrgt Acesso em 29 maio 2016
ISQUERDO Aparecida Negri SEABRA Maria Cacircndida Trindade Costa de Apontamentos
sobre hidroniacutemia e hidrotoponiacutemia na fronteira entre Mato Grosso do Sul e Minas Gerais In
ISQUERDO Aparecida Negri (Org) As Ciecircncias do Leacutexico Lexicologia Lexicografia
Terminologia Campo Grande-MS Ed UFMS 2010 p 79-98
KRISTEVA Julia Histoacuteria da linguagem Traduccedilatildeo Margarida Barahona Lisboa-Portugal
Ediccedilotildees 70 Lda 2007
LIMA Antoacutenia Pedroso de Intencionalidade afecto e distinccedilatildeo as escolhas de nomes em
famiacutelias de elite de Lisboa In CABRAL Joatildeo de Pina VIEGAS Susana de Matos Nomes
geacutenero etnicidade e famiacutelia Coimbra-Portugal Almedina 2007 p 39-61
LOacutePEZ Laura Aacutelvarez Nomes pessoais e praacuteticas de nomeaccedilatildeo agrave sombra da escravidatildeo In
BORBA Lilian do Rocio LEITE Cacircndida Mara Brito (Orgs) Diaacutelogos entre liacutengua cultura
e sociedade Campinas-SP Mercado das Letras 2013 p 139-171
MAURER JR Theodoro Henrique Linguiacutestica Histoacuterica Alfa Revista de Linguiacutestica Satildeo
Joseacute do Rio Preto-SP v 11 p 19-42 1967
MENEZES Paulo Maacutercio Leal SANTOS Claacuteudio Joatildeo Barreto dos SANTOS Beatriz
Cristina Pereira dos Geoniacutemia e a cartografia histoacuterica um estudo sobre os nomes da
120
hidrografia Fluminense In III SIMPOacuteSIOBRASILEIRO DE CIEcircNCIAS GEODEacuteSICAS
E TECNOLOGIAS DA GEOINFORMACcedilAtildeO 2010 Recife-PE 2010 p 1-8
NOGUEIRA Wilson Cavalcanti Incidente em Pires do Rio Goiacircnia-GO Kelps sd
NOVAIS Simone Francisca de Avicultura Industrial e Reestruturaccedilatildeo Produtiva os
produtores integrados no municiacutepio de Pires do Rio (GO) 2014 150f Dissertaccedilatildeo (Mestrado
em Geografia) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo Catalatildeo-GO 2014
OGDEN Charles Kay RICHARDS Ivor Armstrong O significado do significado um estudo
da influecircncia da linguagem sobre o pensamento e sobre a ciecircncia do simbolismo Rio de Janeiro-
RJ Zahar 1972
PAIXAtildeO DE SOUSA Maria Clara Linguiacutestica Histoacuterica In NUNES Joseacute Horta PFEIFFER
Claudia (Orgs) Introduccedilatildeo agraves Ciecircncias das Linguagens Linguagem Histoacuteria e
Conhecimento Campinas-SP Pontes 2006 p 11-48
PARKIN David The politicx of naming among the Giriama Sociological Review
Monograph 36 p 61-89 1989
PAULA Maria Helena de Rastros de velhos falares leacutexico e cultura no vernaacuteculo catalano
2007 521f Tese (Doutorado em Linguiacutestica e Liacutengua Portuguesa) ndash Universidade Estadual
Paulista Faculdade de Ciecircncias e Letras Campus de Araraquara Araraquara-SP 2007
PEREIRA Renato Rodrigues A toponiacutemia de Goiaacutes em busca da descriccedilatildeo de nomes de
lugares de municiacutepios do sul goiano 2009 204f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Estudos da
Linguagem) ndash Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Centro de Ciecircncias Humanas e
Sociais Campo Grande-MS 2009
PIEL Joseph Consideraccedilotildees gerais sobre toponiacutemia e antroponiacutemia galegas Verba sl v 6
p 5-11 1979 Disponiacutevel em ltdspaceuscesbitstream1034735561pg_007-014_verba6gt
Acesso em 23 mar 2016
PIERCE Charles Sanders Semioacutetica Traduccedilatildeo Joseacute Teixeira Neto Satildeo Paulo-SP
Perspectiva 2005
PLATAtildeO Craacutetilo Lisboa-Portugal Instituto Piaget 2001
RAMOS Ricardo Tupiniquim BASTOS Gleyce Ramos Onomaacutestica e possibilidades de
releitura da histoacuteria Revista Augustus Rio de Janeiro-RJ ano 15 n30 p 86-92 2010
ROCHA Juacutelio Ceacutesar Barreto GALVAtildeO Elis Monique Vasconcelos GONCcedilALVES
Mauriacutecio Costa Onomaacutestica uma ciecircncia para a autoidentificaccedilatildeo de Rondocircnia Revista
Pesquisa amp Criaccedilatildeo (UNIR) Porto Velho-RO v 10 n 1 p 25-34 janjun 2011 Disponiacutevel
em lthttpwwwperiodicosunirbrindexphppropesqarticleviewFile405440gt Acesso em
10 jun 2016
SAMPAIO Theodoro O Tupi na geografia nacional Salvador-BA Secccedilatildeo Graphica da
Escola de Aprendizes Artificies 1928
121
______ O Tupi na Geographia Nacional Memoria lida no Instituto Histoacuterico e Geographico
de Satildeo Paulo Satildeo Paulo-SP Typ da Casa Eclectica 1901
SAPIR Edward A Linguagem Satildeo Paulo-SP Perspectiva 1980
______ Linguiacutestica como ciecircncia Rio de Janeiro-RJ Livraria Acadecircmica 1969
SAUSSURE Ferdinand de Curso de Linguiacutestica Geral 30ordf ed Satildeo Paulo-SP Cultrix 2008
SIQUEIRA Gisele Martins AGUIAR Maria Sueliacute de Linguiacutestica histoacuterica comparativa e
formaccedilatildeo do leacutexico da liacutengua portuguesa In II Simpoacutesio Nacional de Letras e Linguiacutestica I
Simpoacutesio Internacional de Letras e Linguiacutestica Linguagens Histoacuteria e Memoacuteria (25 anos
do curso de Letras Campus Catalatildeo) Catalatildeo-GO p 381-394 2011
______ Campos leacutexicos dos falares rurais de Goiaacutes Mato Grosso Minas Gerais e Satildeo
Paulo sd Disponiacutevel em
lthttpwwwsbpcnetorgbrlivro63raconpeexmestradotrabalhos-mestradomestrado-gisele-
martinspdfgt Acesso em 01 fev 2016
SIQUEIRA Jacy Um contrato singular e outros ensaios de Histoacuterias de Goiaacutes Goiacircnia-
GO Kelps 2006
SIQUEIRA Kecircnia Mara de Freitas O leacutexico tupi na nomeaccedilatildeo dos lugares goianos 2015
Mimeografado
______ Toponiacutemia Kalunga aspectos da inter-relaccedilatildeo liacutengua povo e territoacuterio Via Litterae
Anaacutepolis-GO n 7 v 1 p 61-75 janjun 2015 Disponiacutevel em
lthttpwwwrevistauegbrindexphpvialitteraegt Acesso em 15 set 2016
______ Nos trilhos da estrada de ferro reminiscecircncias de motivaccedilotildees toponiacutemicas Revista da
ANPOLL Satildeo Paulo-SP v 1 n 32 p 150-170 2012 Disponiacutevel em
ltwwwanpollorgbrrevistagt Acesso em 10 jun 2015
SILVA Antocircnio Moreira da Dossiecirc de Goiaacutes ndash Enciclopeacutedia Regional um compecircndio de
informaccedilotildees sobre Goiaacutes sua histoacuteria e sua gente Rio de Janeiro-RJ Sindicato Nacional dos
Editores de Livros 2001
SILVA Augusto Soares da Palavras significados e conceitos o significado lexical na mente
na cultura e na sociedade Cadernos de Letras da UFF Dossiecirc Letras e cogniccedilatildeo n 41 p 27-
53 2010 Disponiacutevel em ltwwwuffbrcadernosdeletrasuff41artigo1pdfgt Acesso em 06
maio 2015
SILVA Joseacute Maria da SILVEIRA Emerson Sena da Apresentaccedilatildeo de trabalhos
acadecircmicos 2 ed Petroacutepolis-RJ Vozes 2007
SILVA Tomaz Tadeu da Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais
Petroacutepolis-RJ Vozes 2000
SOARES Francisco Accioli Martins Pontos Histoacutericos de Pires do Rio Goiacircnia-GO Graacutefica
e Editora Piloto 1988
122
SOLIacuteS Gustavo Fonseca La gente pasa los nombres quedan Introduccioacuten en la Toponiacutemia
Lima-Peru Ed Lengua e Sociedad 1997
TIBIRICcedilA Luiz Caldas Dicionaacuterio de topocircnimos brasileiros de origem tupi Santos-SP
Traccedilo Editora 1985
TRASK Robert Lawrence Dicionaacuterio de Linguagem e Linguiacutestica Traduccedilatildeo Rodolfo Ilari
Satildeo Paulo-SP Contexto 2006
WHORF Benjamin Lee Lenguage Pensamiento y Realidad Barcelona-Espanha Barral
Editores 1971
ZAVAGLIA Claacuteudia Metodologia em Ciecircncias da Linguagem Lexicografia In
GONCcedilALVES Adair Vieira GOacuteIS Marcos Luacutecio de Sousa (Orgs) Ciecircncias da linguagem
o fazer cientiacutefico Campinas-SP Mercado das Letras 2012 p 231-264