universidade federal de goiÁs regional catalÃo …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS REGIONAL CATALÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM CLEBER CEZAR DA SILVA OS CURSOS D’ÁGUA DE PIRES DO RIO: ANÁLISE DAS MOTIVAÇÕES TOPONÍMICAS CATALÃO (GO) 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAacuteS

REGIONAL CATALAtildeO

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO STRICTO SENSU

MESTRADO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

CLEBER CEZAR DA SILVA

OS CURSOS DrsquoAacuteGUA DE PIRES DO RIO ANAacuteLISE DAS MOTIVACcedilOtildeES

TOPONIacuteMICAS

CATALAtildeO (GO)

2017

CLEBER CEZAR DA SILVA

OS CURSOS DrsquoAacuteGUA DE PIRES DO RIO ANAacuteLISE DAS MOTIVACcedilOtildeES

TOPONIacuteMICAS

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem ndash niacutevel de

Mestrado - da Universidade Federal de Goiaacutes ndash

Regional Catalatildeo como requisito parcial de

creacuteditos para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em

Estudos da Linguagem

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Linguagem Cultura e

Identidade

Linha de Pesquisa Liacutengua Linguagem e

Cultura

Orientadora Dra Kecircnia Mara de Freitas

Siqueira

CATALAtildeO (GO)

2017

CLEBER CEZAR DA SILVA

OS CURSOS DrsquoAacuteGUA DE PIRES DO RIO ANAacuteLISE DAS MOTIVACcedilOtildeES

TOPONIacuteMICAS

Aprovado por

__________________________________________

Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Universidade Estadual de Goiaacutes ndash Cacircmpus Pires do Rio

Orientadora

__________________________________________

Vanessa Regina Duarte Xavier

Universidade Federal de Goiaacutes ndash Regional Catalatildeo

__________________________________________

Karylleila dos Santos Andrade

Universidade Federal do Tocantins ndash Cacircmpus Palmas

Catalatildeo-GO 20 de Janeiro de 2017

Decido este trabalho a Deus aos eternos amantes

da Toponiacutemia e agravequela que desde sempre eacute meu

alicerce e a maior incentivadora minha matildee

Nelica Antocircnia Pereira da Silva

AGRADECIMENTOS

ldquoE agora eis o que diz o Senhor aquele que te criou Jacoacute e te formou Israel nada

temas pois eu te resgato eu te chamo pelo nome eacutes meurdquo (ISAIacuteAS 431) Senhor de Israel

foi por chamar-me pelo nome eacute que constitui esta graccedila sem o Seu amor e graccedila eu nada seria

pois colocou-me em peacute quando pensava natildeo mais conseguir caminhar e de amparo me enviaste

o Espiacuterito Santo e a Virgem Maria graccedilas rendo agrave Santiacutessima Trindade e agrave Virgem por

caminharem comigo e natildeo me deixar perder no caminho

ldquoOs filhos satildeo heranccedila do Senhor uma recompensa que ele daacute Como flechas nas matildeos

do guerreiro satildeo os filhos nascidos na juventude Como eacute feliz o homem que tem a sua aljava

cheia deles Natildeo seraacute humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunalrdquo (SALMO 1273-

5) Famiacutelia o que seria de mim sem vocecircs nada Matildee e pai sempre com amor mesmo que

velado souberam educar seus dois filhos na dignidade para que se constituiacutessem verdadeiros

homens e de bem Mesmo com as dificuldades da vida em momento algum se abateram foram

fieacuteis agrave missatildeo designada de serem pais a vocecircs minha eterna gratidatildeo e se hoje concretizo esta

fase em minha vida ela eacute tatildeo minha quanto de vocecircs muito obrigado Amo vocecircs

As relaccedilotildees de afeto e cuidado sempre foram o nosso maior elo a vocecircs que sempre

torceram por mim e a cada conquista vibraram intensamente obrigado meu irmatildeo cunhada

sobrinha afilhados tios primos padrinhos e a matriarca de nossa famiacutelia minha adorada avoacute

Que Deus continue fazendo de noacutes uma famiacutelia de princiacutepios e sempre grata a Ele por tudo

ldquoO amigo ama em todos os momentos eacute um irmatildeo na adversidaderdquo (PROVEacuteRBIOS

1717) Amigos famiacutelia que a vida me deu de presente mencionar nomes aqui seria muito

injusto cada um com seu jeito e adversidade me ensinaram que a vida natildeo se resume apenas

em bons momentos pois estiveram comigo em momentos nada agradaacuteveis souberam respeitar

o meu silecircncio minhas ausecircncias e o melhor vibraram comigo todos os momentos desta

conquista a vocecircs meus ldquoirmatildeos na adversidaderdquo muito obrigado

Aos colegas e amigos do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem

Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo nos encontros da vida sempre tecircm surpresas

a melhor de todas foi poder construir com muitos de vocecircs verdadeiros laccedilos de amizade que

iratildeo perpetuar para todo sempre soacute posso neste momento agradecer pelos momentos de troca

de experiecircncias e conhecimento e desejar sucesso a todos

ldquoO ensino dos saacutebios eacute fonte de vida e afasta o homem das armadilhas da morterdquo

(PROVEacuteRBIOS 1314) Ensinar eis o dom com tanta dedicaccedilatildeo e carinho muitos mestres

conduziram-me ateacute aqui e foi com a graccedila do ensino dos saacutebios eacute que natildeo caiacute nas armadilhas

pois tambeacutem me tornei saacutebio Professora doutora eterna orientadora Kecircnia Mara de Freitas

Siqueira nenhuma palavra eacute capaz de expressar a gratidatildeo que tenho por vocecirc foram anos de

ensinamentos e agora se concretizam com mais esta fase sou e serei eternamente grato por me

apresentar a Toponiacutemia pois ela me levaraacute a mais um degrau no meio acadecircmico Obrigado

por tudo Deus lhe pague

Aos professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem

Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo que muito contribuiacuteram para a construccedilatildeo

desta pesquisa Fabiacuteola Aparecida Sartin Dutra Parreira Almeida Maria Helena de Paula e

Vanessa Regina Duarte Xavier A professora Vivian Regina Orsi Galdino de Souza do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio

de Mesquita Filhordquo cacircmpus Satildeo Joseacute do Rio Preto-SP obrigado pelos seus vastos ensinamentos

e por permitir que cursasse a disciplina ldquoIntroduccedilatildeo aos Estudos Lexicograacuteficosrdquo Mestres

obrigado pelos ensinamentos e momentos de descontraccedilatildeo e alegria vocecircs foram capazes de

mostrar que o universo da pesquisa tambeacutem se constitui na felicidade e prazer

ldquoTodo trabalho aacuterduo traz proveito mas o soacute falar leva agrave pobrezardquo (PROVEacuteRBIOS

1423) O trabalho dignifica o homem palavras estas do livro da vida a biacuteblia sagrada Minha

vida desde a infacircncia foi pautada no estudo e no trabalho assim todos os trabalhos que tive me

possibilitaram crescer enquanto ser humano e profissional Registro aqui os meus mais sinceros

agradecimentos aos colegas e amigos do Coleacutegio Estadual Professor Ivan Ferreira minha eterna

casa pois foi laacute que tive o prazer em estudar e depois retornar como profissional inclusive ser

gestor deste honrado estabelecimento de ensino Aos colegas e amigos do Instituto Federal

Goiano ndash Campus Urutaiacute obrigado por permitirem dividir com vocecircs este espaccedilo de

conhecimento e aprendizado

A banca examinadora deste trabalho professores Karylleila dos Santos Andrade

Vanessa Regina Duarte Xavier e Alexandre Antoacutenio Timbane registro os meus mais sinceros

agradecimentos pelas valorosas contribuiccedilotildees no Exame de Qualificaccedilatildeo e agora na defesa deste

trabalho Deus lhes pague

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de

Goiaacutes Regional Catalatildeo na pessoa da coordenadora Luciana Borges obrigado por dar

possiblidades que novos pesquisadores se formem no acircmbito dos estudos da linguagem

Enfim sozinho natildeo sou nada sempre necessitarei de outros por isso a todos os que

foram meu alicerce para a concretizaccedilatildeo de mais esta etapa em minha vida algo sonhado haacute

muito tempo receba o meu muito obrigado e Deus lhes pague

ldquoO nome eacute um certo sentido a proacutepria coisa dar

nome agraves coisas eacute conhececirc-las e apropriar-se

delas a denominaccedilatildeo eacute o ato da posse espiritualrdquo

(MIGUEL UNAMUNO)

RESUMO

Esta pesquisa centra-se nos estudos toponiacutemicos e tem como objetivo descrever e analisar a

origemetimologia morfoloacutegica e semanticamente dos topocircnimos da hidrografia da cidade de

Pires do Rio-GO para identificar as relaccedilotildees entre esses designativos de lugares e respectivos

fatores contextuais que por ventura possam conter indiacutecios da motivaccedilatildeo toponiacutemica O

levantamento dos topocircnimos foi feito por meio de documentos oficiais mapas do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Instituto Mauro Borges (IBM) numa escala de

1100000 e das cartas topograacuteficas A pesquisa eacute de base documental numa abordagem

qualiquantitativa O meacutetodo da pesquisa eacute o onomasioloacutegico e indutivo parte-se de casos

particulares para uma verdade geral combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica de

estudo das designaccedilotildees com o objetivo de analisar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito

A anaacutelise do corpus da pesquisa deu-se apoacutes o levantamento dos 46 topocircnimos dos cursos

drsquoaacutegua dentre os quais 15 satildeo analisados neste estudo Nesse sentido parte-se do princiacutepio de

que o signo toponiacutemico eacute motivado pois fatores extralinguiacutesticos influenciam o nomeador no

ato de nomear na perspectiva de que a liacutengua recorta a realidade agrave sua maneira (Sapir-Whorf)

sendo que a proacutepria liacutengua eacute um depositaacuterio de cultura assim os topocircnimos revelam fatores

soacutecio-histoacuterico-culturais do lugar que o nomeia A histoacuteria e a geografia do municiacutepio de Pires

do Rio-GO foram fundantes para as anaacutelises que nas bases onomasioloacutegicas e indutivas

evidenciam que o local e suas caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais influenciam o nomeador no ato

do batismo do topocircnimo Perceber as relaccedilotildees de nomeaccedilatildeo e nomeador satildeo fatores que por

meio das classificaccedilotildees taxionocircmicas satildeo revelados sem deixar de perceber tambeacutem que a

origem dos nomes e sua estrutura morfoloacutegica evidencia os fatores contextuais a que da liacutengua

cultura e ambiente estatildeo impregnados no topocircnimo isso tudo agrave vista de quem o designou

Palavras-Chave Toponiacutemia Liacutengua Cultura Pires do Rio Hidrografia

ABSTRACT

This research focuses on the toponymic studies and aims to describe and analyze the origin of

the names morphological and semantic of designatory toponyms of the hydrography of Pires

do Rio-GO city to identify the relations between these designative places and their respective

contextual factors which may by chance contain indications of toponymic motivation The

research of the toponyms was done by means of official documents maps of the Brazilian

Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Mauro Borges Institute (IBM) on a scale of

1 100000 and topographic maps The research is documentary based in a qualitative and

quantitative approach the research method is the onomasiological method combined with other

methods which consists of the study of designations with the purpose of studying the various

names attributed to a concept The analysis of this researchrsquos corpus took place after the survey

of the 46 toponyms of the watercourses from which 15 are analyzed in this study In this sense

it is assumed that the toponymic sign is motivated once extralinguistic factors influence the

nominator in the act of naming in the perspective that the language outlines reality in its own

way (Sapir-Whorf) and the language itself is a depository of culture thus toponyms reveal

socio-historical-cultural factors of the place that names it The history and geography of Pires

do Rio-GO city was the basis for the analyzes which on the onomasiological bases show that

the place and its physical and social characteristics influence the nominator in the moment of

the toponym baptism To perceive naming and nominator relationships are factors that are

revealed through the taxonomic classifications noticing at the same time that the origin of the

names and their morphological structure reveals the contextual factors that are impregnated in

the toponymy of the language culture environment aspects from the point of view of who

appointed it

Keywords Toponymy Language Culture Pires do Rio Hydrography

LISTA DE ABREVIATURAS

ATEGO ndash Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes

ATB ndash Atlas Toponiacutemico Brasileiro

DSG ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito

ETE ndash Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FCA ndash Ferrovia Centro Atlacircntica

GO ndash Goiaacutes

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBM ndash Instituto Mauro Borges

IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano

M ndash Municiacutepio

PEA ndash Populaccedilatildeo Economicamente Ativa

RFFSA ndash Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima

SD ndash Sem data

SE ndash Secccedilatildeo

LISTA DE FICHAS

Ficha 01 ndash Pires do Riohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip67

Ficha 02 ndash Coacuterrego Laranjal89

Ficha 03 ndash Ribeiratildeo Taquaralhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip90

Ficha 04 ndash Ribeiratildeo Cachoeirahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip91

Ficha 05 ndash Coacuterrego Barreiro93

Ficha 06 ndash Coacuterrego Terra Vermelha94

Ficha 07 ndash Coacuterrego Itauacutebi96

Ficha 08 ndash Ribeiratildeo Brumado96

Ficha 09 ndash Rio Corumbaacute98

Ficha 10 ndash Rio do Peixe98

Ficha 11 ndash Rio Piracanjuba99

Ficha 12 ndash Ribeiratildeo Sampaio101

Ficha 13 ndash Ribeiratildeo Bauacute104

Ficha 14 ndash Ribeiratildeo Caiapoacute105

Ficha 15 ndash Ribeiratildeo Marataacute105

Ficha 16 ndash Ribeiratildeo Mucambo106

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Natureza das Taxionomias87

Graacutefico 2 ndash Taxionomias de Natureza Fiacutesica88

Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural101

Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos108

Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos111

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 ndash Pires do Rio(GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio(GO)74

Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)83

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo44

Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos57

Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Recenseamento 76

Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Contagem 76

Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio(GO) 77

Quadro 6 ndash Os cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO) 78

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO20

I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO 25

11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear 25

12 Liacutengua e Cultura 33

13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes 39

14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica 43

15 Linguiacutestica Histoacuterica 47

II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS 51

21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos 51

212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica 53

22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia 57

III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO 66

31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte 66

32 Pires do Rio geograacutefico 74

33 Os cursos daacutegua 78

IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR81

41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural 84

42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos daacutegua de Pires do Rio-GO 87

421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos88

4211 Fitotopocircnimos89

4212 Hidrotopocircnimos91

4213 Litotopocircnimos93

4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos94

4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos95

4216 Meteorotopocircnimos96

4217 Zootopocircnimos97

422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos100

4221 Antropotopocircnimos101

4222 Ergotopocircnimos103

4223 Etnotopocircnimos104

4224 Sociotopocircnimos106

43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos107

44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos111

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS113

REFEREcircNCIAS 116

20

INTRODUCcedilAtildeO

Ao dar nome a seres e objetos o homem tambeacutem os categoriza jaacute que eacute o ato de nomear

que daacute existecircncia a algo ou algueacutem Eacute por meio do nome que haacute identificaccedilatildeo e principalmente

a diferenciaccedilatildeo dos seres e dos objetos No ato da nomeaccedilatildeo diversos aspectos extralinguiacutesticos

podem influenciar o nomeador isso pode caracterizar especificamente a motivaccedilatildeo que subjaz

a qualquer signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica A motivaccedilatildeo por sua vez eacute reveladora de

inuacutemeros aspectos que estatildeo na base da inter-relaccedilatildeo liacutengua cultura e ambiente pois o nome

proacuteprio de lugar como fato da liacutengua identifica e guarda uma significaccedilatildeo precisa oriunda de

aspectos fiacutesicos ou culturais Desta forma busca-se mediante o estudo dos designativos dos

cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO descrever essa relaccedilatildeo (liacutengua cultura e

ambiente) Entende-se assim que um rio um riacho um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que

uma vez nomeados passam a carregar as inuacutemeras memoacuterias do lugar

Em decorrecircncia disso abrem-se possibilidades de inter-relacionar aacutereas do saber

humano com vista a estabelecer algum viacutenculo epistemoloacutegico a fim de proporcionar novos

olhares sobre um objeto jaacute descrito e analisado por outra aacuterea do conhecimento a geografia

mas restrito a um uacutenico niacutevel de anaacutelise linguiacutestica Isso leva a considerar os aspectos da

linguagem dentro de uma visatildeo interdisciplinar que pode trazer entre tantas contribuiccedilotildees o

fato de entendecirc-los na totalidade como em uma rede de relaccedilotildees Em outras palavras oferece

a possibilidade de analisar os fatos linguiacutesticos de maneira holiacutestica uma vez que os fatores

envolvidos na interaccedilatildeo devem ser concebidos como um todo formado por componentes que se

relacionam entre si

Entrecruzar as aacutereas de geografia e da linguiacutestica eacute um trabalho que jaacute se tem feito e

alguns estudiosos como eacute o caso de Menezes e Santos (2007 apud Menezes Santos Santos

2010) tratam a toponiacutemia na geografia como geoniacutemia Para Andrade (2010 p 105-106)

Natildeo se pode pensar em toponiacutemia desvinculada de outras ciecircncias como

histoacuteria geografia antropologia cartografia psicologia e a proacutepria

linguiacutestica Deve ser pensada como um complexo linguiacutestico-cultural um fato

do sistema das liacutenguas humanas Faz parte de uma ciecircncia maior que se

subdivide em toponiacutemia e antroponiacutemia

Assim esta pesquisa eacute relevante para a aacuterea dos estudos da linguagemlinguiacutesticos como

para a geografia sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo histoacuterico-cultural sobre a cidade de

Pires do Rio-GO e levado a conhecimento puacuteblico

21

Fazer esse estudo acerca da hidrografia da cidade de Pires do Rio eacute elementar elencando

natildeo soacute estudos semacircnticos lexicais origemetimologia dos termos mas tambeacutem soacutecio-

histoacuterico-culturais de um povo Algo ainda se faz pertinente na definiccedilatildeo do problema pois foi

assim que surgiu o interesse por este estudo em conversas informais com pessoas da cidade

obtive respostas que aguccedilaram esta pesquisa pois proacuteximo de Pires do Rio-GO cerca de uns

3 km da cidade haacute um determinado ribeiratildeo o qual a comunidade local denomina de Pedro

Teixeira mas na verdade esse nome eacute dado agrave ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo e foi construiacuteda

pelo fazendeiro Sr Pedro Teixeira embora o nome que se apresenta na carta topograacutefica seja

ribeiratildeo Sampaio

Diante da problematizaccedilatildeo qual a origemetimologia dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da

cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do

lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo A partir disso centra-se o

nosso estudo em descrever e analisar a origemetimologia dos termos a morfologia e a

semacircntica investigando e verificando os topocircnimos e as relaccedilotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo

de Pires do Rio-GO

Preliminarmente trabalha-se com a seguinte hipoacutetese de pesquisa pelo seu caraacuteter

motivado o signo toponiacutemico possibilita reconhecer fatores vinculados agrave motivaccedilatildeo que subjaz

agrave escolha dos nomes de lugares o que pode possibilitar o levantamento de fatores soacutecio-

histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua

como iacutendice da estreita relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura A toponiacutemia dos cursos drsquoaacutegua de Pires

do Rio-GO incorpora caracteriacutesticas sociais linguiacutesticas e culturais da regiatildeo a que pertence

Este eacute um dos embates fundantes de nosso estudo assim espera-se com esta pesquisa

cartografar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO com base na

metodologia do ATB (Atlas Toponiacutemico Brasileiro) como sugerido por Dick (1990 2004)

Posto isso ao final responderemos agraves perguntas de pesquisa jaacute mencionadas

anteriormente e ainda contribuiremos com as pesquisas na aacuterea da Onomaacutestica que estatildeo

desenvolvendo-se em Goiaacutes Conveacutem mencionar tambeacutem que uma das contribuiccedilotildees desta

pesquisa aleacutem de revisitar a histoacuteria e a cultura de uma regiatildeo eacute a de auxiliar na construccedilatildeo do

Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes ndash ATEGO

Assim o objetivo da pesquisa constitui-se basicamente em descrever e analisar os

topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua e de outros elementos hidrograacuteficos da regiatildeo do

municiacutepio de Pires do Rio-GO observando noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de

natureza fiacutesica e de natureza antropocultural Para tanto eacute necessaacuterio evidenciar os fatores que

constituem a motivaccedilatildeo que subjaz agrave escolha do nome do lugar o que requer a identificaccedilatildeo de

22

fatos sociais culturais histoacutericos elementos geograacuteficos (quando pertinente) e outras

motivaccedilotildees de diferentes naturezas

De uma maneira peculiar os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo i) remapear os

cursos hiacutedricos mediante o elenco de seus topocircnimos para cartografar os mapas da bacia

hidrograacutefica e dos topocircnimos seguindo a metodologia do Projeto ATB ii) verificar mediante

a anaacutelise linguiacutestica dos topocircnimos a motivaccedilatildeo referente agrave cultura e agrave histoacuteria e

principalmente aos aspectos fiacutesicos dos lugares que iniciaram o processo de nomeaccedilatildeo dos rios

coacuterregos ribeirotildees e quedas drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO (evidenciando o viacutenculo

liacutengua ambiente e cultura) iii) de alguma forma contribuir para o desenvolvimento dos estudos

toponiacutemicos em Goiaacutes

A metodologia consiste de uma pesquisa de natureza documental de abordagem

qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites

e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos puacuteblicos (mapas e cartas

topograacuteficas) e o meacutetodo da pesquisa eacute o de induccedilatildeo com ecircnfase para a observaccedilatildeo do fazer

onomasioloacutegico combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica especialmente o Woumlrter

und Sachen (palavras e coisas) O meacutetodo onomasioloacutegico e indutivo se constitui do estudo das

designaccedilotildees com o objetivo de estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Usando

esse meacutetodo pode-se investigar toda ou pelo menos parte da cultura popular de um local e

priorizar aspectos sincrocircnicos ou histoacutericos se necessaacuterio for Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os

aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos lugares

Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de dissertaccedilatildeo de Mestrado sobre Os

cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio anaacutelise das motivaccedilotildees toponiacutemicas produzida no acircmbito do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem Universidade Federal de Goiaacutes ndash

Regional Catalatildeo que focaliza os topocircnimos hiacutedricos do municiacutepio de Pires do Rio

Desta maneira este trabalho se estrutura em quatro capiacutetulos organizados de forma a

abranger os resultados desta pesquisa que articula por meio da linguagem quesitos histoacutericos

geograacuteficos e culturais

Assim no capiacutetulo I O nome e a atividade de nomeaccedilatildeo satildeo apresentadas

consideraccedilotildees referentes ao nome e ao ato de nomear no sentido de reformular questotildees teoacutericas

necessaacuterias ao levantamento de dados e agrave construccedilatildeo do corpus bem como agrave descriccedilatildeo dos

topocircnimos que designam os elementos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas drsquoaacutegua) do municiacutepio

de Pires do Rio-GO Para tanto o capiacutetulo traz uma revisatildeo dos conceitos de nome (comum

proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes tanto no sistema linguiacutestico

como em relaccedilatildeo agrave cultura e estabelecendo as relaccedilotildees de liacutengua e cultura pois a liacutengua

23

transporta a cultura no tempo e recorta agrave realidade agrave sua maneira Eacute necessaacuterio aqui trazer as

discussotildees teoacutericas acerca da toponiacutemia e do signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica que

sustentam a nossa pesquisa Ainda fazemos uma retomada do surgimento e desdobramento da

Linguiacutestica Histoacuterica pois eacute a partir dela que satildeo criados os meacutetodos de pesquisa os quais

contribuem para a aacuterea de estudo

O capiacutetulo II A metodologia da pesquisa e seus desdobramentos eacute praticamente uma

extensatildeo do primeiro porque procura reavaliar alguns meacutetodos usados em pesquisa onomaacutestica

com o objetivo de coadunar teoria meacutetodo e procedimentos de pesquisa

Neste capiacutetulo eacute possiacutevel rever algumas questotildees sobre os meacutetodos da linguiacutestica o

meacutetodo onomasioloacutegico que investiga as relaccedilotildees de significado e referecircncias partindo das

designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Ainda eacute

apresentada uma siacutentese do comparativismo e do meacutetodo Woumlrter und Sachen de Hugo

Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) pois de acordo com Bassetto (2001)

pode-se verificar pontos em comum que compartilham com o meacutetodo onomasioloacutegico Ao

enfatizar questotildees de ordem semacircntica das palavras ressalta-se a realidade que elas designam

para esses autores a verdadeira etimologia da palavra estaacute no conhecimento dessa realidade

Busca-se assim instruir sobre a necessidade de conhecer se possiacutevel o objeto designado por

um nome para que o significado possa ser explicitado adequadamente

Dados histoacutericos e geograacuteficos referentes agrave capital da estrada de ferro Pires do Rio

compotildeem o terceiro capiacutetulo A capital da estrada de ferro Pires do Rio de modo a traccedilar em

linhas gerais a histoacuteria da fundaccedilatildeo do municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XX em decorrecircncia da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz e da Estaccedilatildeo Feacuterrea Pires do Rio em 09 de novembro de

1922 A importacircncia deste municiacutepio se deve agrave estrada de ferro e obviamente aos primeiros

habitantes que para caacute acorreram acreditando no desenvolvimento da antiga ldquoTeteia do

Corumbaacuterdquo

No capiacutetulo quarto A toponiacutemia e suas relaccedilotildees com o lugar apresentamos a anaacutelise

dos dados as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural e as fichas lexicograacuteficas-

toponiacutemicas dos 15 topocircnimos analisados de acordo com os estudos de Dick (1992)

juntamente com a origem das liacutenguas e estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos daiacute procedemos

agraves anaacutelises das classificaccedilotildees toponiacutemicas que estatildeo presentes nos designativos dos cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO estabelecendo as relaccedilotildees motivacionais e semacircnticas

do topocircnimo com o local nomeado

Na sequecircncia satildeo apresentadas as Consideraccedilotildees Finais que retomam os resultados

obtidos ao teacutermino da pesquisa pautados nos objetivos e perguntas que orientaram este estudo

24

E por fim seguem as Referecircncias que sustentaram a parte teoacuterica e a construccedilatildeo do corpus

coletado

25

I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO

O conhecimento dos nomes natildeo eacute negoacutecio de

importacircncia somenos

(PLATAtildeO 2001)

Este capiacutetulo tem o objetivo de tecer de forma mais geral consideraccedilotildees acerca do nome

e do ato de nomear para reformular questotildees teoacutericas necessaacuterias ao levantamento de dados

para a construccedilatildeo do corpus e descriccedilatildeo dos hidrocircnimos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas

drsquoaacutegua) do municiacutepio de Pires do Rio-GO Para tanto os itens a seguir trazem uma revisatildeo dos

conceitos de nome (comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes

tanto no sistema linguiacutestico como em relaccedilatildeo agrave cultura jaacute que representam inuacutemeros aspectos

que culminam em certos criteacuterios para a nomeaccedilatildeo ou nominaccedilatildeo revelando em certo sentido

especificidades dessa cultura que satildeo evidenciadas na nomeaccedilatildeo Ao dar um nome a um objeto

ou a um lugar natildeo se reduz apenas a indicar mas a classificar situar identificar e sobretudo

uma vez categorizado inscreve-se tambeacutem em um sistema cognitivo permeado por essa mesma

cultura

11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear

O nome eacute a parte que caracteriza a existecircncia de algo ou algueacutem sem a especificidade

do nome o objeto ou a pessoa natildeo eacute identificada Aliaacutes em muitas situaccedilotildees o nome consolida

a existecircncia do objeto que passa a ldquoexistirrdquo como tal em decorrecircncia de ter um nome ou seja

o falante pode perceber no mundo apenas aquilo que conhece pelo nome O nome estaacute presente

em todas as esferas do desenvolvimento da humanidade Eacute parte constitutiva do proacuteprio ser

humano que se reconhece e se afirma face ao nome que carrega eacute tambeacutem o nome que lhe

rompe o anonimato e lhe confere de certa forma uma identidade

Segundo Silva (2000) eacute o nome que diferencia os seres e os objetos do mundo

Identidade e diferenccedila ocorrem simultaneamente como produto de um mesmo processo o da

identificaccedilatildeo Pode-se afirmar que depois de nomeado o objeto passa a ser identificado

tambeacutem pelas diferenccedilas que possui em relaccedilatildeo agravequilo que natildeo eacute ou melhor eacute diferenciado

face aos demais elementos do mundo extralinguiacutestico conferindo-lhe existecircncia Tem um nome

porque existe tornou-se conhecido e eacute reconhecido como elemento cultural importante para a

continuidade de uma populaccedilatildeo como um dos milhares de traccedilos que a caracteriza e desta

26

forma ldquoo processo de nomeaccedilatildeo eacute uma forma pela qual a sociedade cria os seus membros agrave sua

imagemrdquo (CABRAL 2007 p 85)

E em Craacutetilo Platatildeo narra um diaacutelogo entre Demoacutestenes e Craacutetilo acerca da justeza dos

nomes debates no qual Soacutecrates aponta para ambas as possibilidades isto eacute para os socraacuteticos

tanto se pode entender os nomes como vinculados agrave coisa como podem ser vistos como

inteiramente sem elo com as coisas do mundo Platatildeo (2001 p 48) justifica que o ato de nomear

era visto como uma pressuposiccedilatildeo da existecircncia de algo assim ldquoas coisas devem ser nomeadas

como lhes pertence por natureza serem nomeadas e por meio do que devem secirc-lo e natildeo como

noacutes queremos e assim faremos e nomearemos melhor mas de outra maneira natildeordquo

A nomeaccedilatildeo eacute assim uma atividade bastante significativa para o ser humano e se

constitui de uma accedilatildeo complementar do modo como determinada populaccedilatildeo entende o meio em

que vive essa eacute a linha de pensamento tanto de Dick (1990) como de outros estudiosos como

Basso (1988) Langacker (2002) Weisgerber (1977) Wierzbicka (1997) e Worf (1971) dos

fatos da linguagem como evidencia a assertiva que segue

Apreensatildeocompreensatildeo e transmissatildeoparticipaccedilatildeo de um dado qualquer do

saber humano satildeo atuantes de uma mesma e complexa evidecircncia relacional ndash

o ato comunicativo ndash que corporifica em sua expressividade um aglomerado

de situaccedilotildees liacutenguo-soacutecio-psiacutequicas Nele estaacute manifesto ainda que de modo

impliacutecito o registro pelo qual se concretizou a ldquoassimilaccedilatildeo do

mundordquo atraveacutes do coacutedigo de linguagem vivenciado por determinada

comunidade linguiacutestica (DICK 1990 p 29)

Natildeo eacute equivocado afirmar que o nome corporifica aquilo que determinada comunidade

assimilou de seu meio circundante mediante relaccedilotildees estabelecidas entre a liacutengua que

possibilita a representaccedilatildeo daquilo que foi evidenciado e as impressotildees sociopsiacutequicas oriundas

dos objetos do mundo que se tornaram salientes aos olhos do nomeador Assim recebe um

nome tudo aquilo que de uma forma ou de outra tornou-se um item da cultura seja um acidente

fiacutesico-natural (um rio uma espeacutecie botacircnica) ou um item criado culturalmente Em todas as

sociedades conhecidas haacute referecircncia aos nomes e consequentemente agrave accedilatildeo de nomear Muitas

vezes essa atividade humana eacute revestida de mitos e rituais que conferem ao nome poderes

maacutegicos ou sobre-humanos

Nas sociedades primitivas de acordo com Cunha (2004) um nome pode valorar o

sagrado ou o ritual isso pode ocorrer quando acontece a mudanccedila de nome (candombleacute e igreja

catoacutelica) desta forma ao nomear algueacutem eacute tocar-se na personalidade da pessoa e ateacute as partes

da escrita que compotildeem o nome satildeo carregadas de simbologia e forccedilas sobrenaturais Cunha

27

(2004 p 220) ainda acrescenta que ldquonas mais diversas culturas natildeo ter nome eacute natildeo existir

nomear eacute instituirrdquo

Nesse processo de instituir dos rituais de passagem eacute possiacutevel entender que a atividade

de nomeaccedilatildeo adveacutem de fatores que propiciam uma motivaccedilatildeo que resulta na escolha de um

nome No ritual de escolha de um novo Papa (igreja catoacutelica) ou de um novo membro do

candombleacute o indiviacuteduo fica recluso por alguns dias e no momento do ritual apresenta seu

novo nome agrave comunidade fato esse que reside de alguma forma na escolha do novo nome

Desta forma o nome eacute escolhido de acordo com suas caracteriacutesticas psicofiacutesicas e tambeacutem com

as que ele deseja ter a partir do momento de escolha do novo nome

Conforme Biderman (1998) muitas satildeo as culturas que acreditam que o nome estaacute

ligado agrave essecircncia da pessoa Nas culturas arcaicas em geral os nomes atribuiacutedos agraves pessoas

tinham um significado que indicava agraves vezes a vocaccedilatildeo ou o destino do indiviacuteduo o que

corrobora a justeza dos nomes nos rituais de passagem e em outras atividades de nomeaccedilatildeo

O ato de nomear se constitui tambeacutem como algo divino Para Biderman (1998 p 85)

ldquoo gesto criador de Deus identifica-se com esta palavra ontoloacutegica essencialmente divina O

que noacutes homens somos e o que sabemos nasce dessa revelaccedilatildeo primordial da palavra criadora

do gesto divino de dizerrdquo Cunha (2004) evidencia que a palavra jaacute eacute reveladora do poder desde

a antiguidade e isso se expressa de forma clara por meio da biacuteblia sagrada que em vaacuterios textos

conclama que o poder eacute revelado por meio da palavra como percebe-se no livro de Gecircnesis

capiacutetulo I versiacuteculos 19 e 20

19 Tendo pois o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos

e todas as aves dos ceacuteus levou-os ao homem para ver como ele os havia de

chamar e todo o nome que o homem pocircs aos animais vivos esse eacute o seu nome

verdadeiro 20 O homem pocircs nomes a todos os animais a todas as aves dos

ceacuteus e a todos os animais dos campos mas natildeo se achava para ele uma ajuda

que lhe fosse adequada (BIacuteBLIA 1995 p 51)

Dessa forma o cristianismo explica a atividade humana de nomeaccedilatildeo Isso evidencia

que todos os objetos recebem um nome (comum) mediante uma accedilatildeo deliberada de escolha

individual (como em Gecircnesis) ou coletiva Esse nome recebe uma funccedilatildeo de significaccedilatildeo ou

melhor passa a significar algo no mundo sua referecircncia A nomeaccedilatildeo configura-se como um

processo operacional de conhecer e denominar coisas Conforme De Lastra e Garcia (sd apud

DICK 1990) para ser denominado o mundo externo deve antes passar a ser interno (iacutentimo)

Na relaccedilatildeo das praacuteticas de nomeaccedilatildeo segundo Loacutepez (2013) ocorrem fatores internos

e externos da seguinte forma i mudanccedilas internas quando elementos do sistema toponiacutemico

28

que designa lugares passam para o sistema antroponiacutemico que designa pessoas ii mudanccedilas

externas ou forccediladas como as que ocorreram na Europa entre os seacuteculos XVIII e XIX e

obrigaram os judeus a adotarem nomes cristatildeos e abandonarem os seus de origem hebraica

Para os judeus assim como para muitos povos perder o nome eacute o mesmo que perder a histoacuteria

a identidade e a famiacutelia Desta forma as autoridades europeias acreditavam que os judeus

deixariam (perderiam) as suas identidades e constituiriam uma nova uma identidade europeia

Conveacutem ressaltar que o referente1 nem sempre figurou entre os elementos constitutivos

do signo linguiacutestico No Curso de Linguiacutestica Geral Ferdinand Saussure (2008) define o signo

linguiacutestico como a junccedilatildeo de uma imagem acuacutestica (significante) a um (ou vaacuterios) conceitos

(significado) Saussure natildeo inclui nessa definiccedilatildeo a coisa nomeada o objeto do mundo ou em

outros termos o referente

Dito de outro modo os gestos epistemoloacutegicos de Saussure (2008) ao definirem a

liacutengua como objeto proacuteprio de estudo e tambeacutem no sentido de imprimirem cientificidade aos

estudos linguiacutesticos excluem o referente construindo assim um domiacutenio especiacutefico para a

Linguiacutestica diferente de outras aacutereas que tambeacutem se atecircm aos estudos da linguagem humana

A liacutengua para o mestre suiacuteccedilo eacute um sistema de signos que por sua vez abarca entidades

psiacutequicas constituiacutedas por duas faces significante e significado Essas duas faces do signo

linguiacutestico natildeo guardam poreacutem entre si qualquer relaccedilatildeo loacutegica nenhum viacutenculo ou melhor

a relaccedilatildeo entre significante e significado eacute marcada pelo seu caraacuteter imotivado arbitraacuterio para

usar os termos saussurianos Desta forma Kristeva (2007 p 24) afirma que ldquoa palavra

lsquoarbitraacuteriorsquo significa mais exatamente lsquoimotivadorsquo quer dizer que natildeo haacute nenhuma necessidade

natural ou real que ligue o significante e o significadordquo

O nome sempre suscitou uma questatildeo ontoloacutegica2 ou melhor uma questatildeo de

existecircncia A nomeaccedilatildeo eacute apenas uma das funccedilotildees da linguagem mas tem um papel importante

pois o significado dos nomes organiza e classifica as formas de perceber a realidade aleacutem de

estar ligado diretamente a uma cultura ou comunidade Assim para Sapir (1980) a liacutengua

recorta a realidade agrave sua maneira eacute por meio dela que se evidencia a relaccedilatildeo linguagem

pensamento e cultura Desta forma ldquoas palavras da liacutengua significam ao funcionarem no

acontecimento Este funcionamento recorta politicamente o realrdquo (GUIMARAtildeES 2005 p 82)

Nessa perspectiva eacute possiacutevel dizer que a nomeaccedilatildeo ganha relevo quando o assunto eacute a relaccedilatildeo

linguagem e realidade

1 Em um sistema triaacutedico significante significado e o referente 2 Ontoloacutegico ldquoAdj 1 relativo a Ontologia 2 que trata do ser humano na sua essecircncia na sua globalidaderdquo Verbete

inscrito em (BORBA 2004 p 992)

29

Guiraud (1986) chama atenccedilatildeo para a forccedila criadora da linguagem que resulta em uma

funccedilatildeo semacircntica dinacircmica e volaacutetil orientada principalmente por fatores especiacuteficos de uma

dada cultura Assim

[] a motivaccedilatildeo eacute uma forccedila criadora inerente agrave linguagem social que eacute um

organismo vivo de origem empiacuterica somente depois que a palavra eacute criada e

motivada (naturalmente ou intralinguisticamente) eacute que as exigecircncias da

funccedilatildeo semacircntica acarretam um obscurecimento dessa motivaccedilatildeo etimoloacutegica

que pode aliaacutes ao se apagar trazer uma alteraccedilatildeo de sentido (GUIRAUD

1986 p 31)

Motivaccedilatildeo esta que com o decorrer do tempo pode vir a se tornar obscura pelo

distanciamento temporal do fato que lhe deu origem Pode inclusive o nome sofrer inuacutemeras

alteraccedilotildees de sentido sem nenhum viacutenculo semacircntico com o significado original nem com o

fenocircmeno de sua ocorrecircncia primeira No entanto eacute forccediloso ressaltar mais uma vez que o ato

de nomear eacute motivado conforme Guiraud (1986) a nomeaccedilatildeo eacute inerente agrave linguagem e decorre

da relaccedilatildeo entre homem e ambiente ao reconhecer os objetos do mundo extralinguiacutestico

No que tange agrave motivaccedilatildeo Biderman (1998) reafirma a noccedilatildeo de que o nome natildeo eacute

arbitraacuterio ele tem um viacutenculo de essecircncia com a coisa ou o objeto que designa Assim o homem

primitivo acredita que seu nome tem parte vital com o seu ser Nas histoacuterias que nos satildeo

relatadas dos povos primitivos em relaccedilatildeo aos nomes podemos observar que para alguns

quando se sabia o nome da pessoa o inimigo poderia fazer magia negra com ele Essas relaccedilotildees

culturais com os nomes satildeo recorrentes em vaacuterios paiacuteses e histoacuterias da antiguidade claacutessica

De acordo com Frazer (1951) em vaacuterias tribos primitivas o nome era considerado como

uma realidade e natildeo uma convenccedilatildeo artificial podendo servir de intermeacutedio para fazer atuar a

magia sobre a pessoa como se fosse parte do indiviacuteduo como cabelo unha ou qualquer outra

parte fiacutesica Essas crendices ou mitos acerca do nome se estendem por vaacuterias partes do mundo

como para os iacutendios da Ameacuterica do Norte o nome eacute como uma parte de seu corpo e o mau

tratamento (uso) dele pode trazer ferimento fiacutesico Assim o nome natildeo deve ser pronunciado

podendo no ato de sua pronunciaccedilatildeomaterializaccedilatildeo revelar as propriedades reais da pessoa que

o usa e assim tornaacute-la vulneraacutevel perante os seus inimigos

Nas narrativas das sociedades relatadas por Frazer (1951) o homem do povo esquimoacute

recebe um novo nome ao chegar agrave velhice na Aacutefrica as pessoas podem ateacute receber uma duacutezia

de nomes no decorrer de sua vida e em alguns casos no iniacutecio de sua vida recebem dois nomes

um nome de preto usado em casa e junto agrave famiacutelia e outro nome de branco usado na escola e

na sociedade os egiacutepcios tambeacutem recebiam dois nomes um nome pequeno que era bom e

30

usado em famiacutelia e um nome grande que era mau e dissimulado julgamos esse uacuteltimo ser

usado na sociedade

Segundo Frazer (1951) para os Celtas o nome era sinocircnimo da alma e da respiraccedilatildeo

Entre os Yuiacutens (sul da Austraacutelia) e outros povos o pai revela o nome ao filho no momento da

iniciaccedilatildeo e poucas pessoas o conhecem Tambeacutem na Austraacutelia as pessoas deixam de usar o

nome e passam a chamar um ao outro de primo tio sobrinho ou irmatildeo Nessas relaccedilotildees as

historietas dos nomes vatildeo estar sempre entrelaccediladas aos fatores culturais das comunidades

Em muitas culturas Frazer (1951) relata que a natildeo pronunciaccedilatildeo de nomes era tabu

como em Cafres onde as mulheres natildeo podiam pronunciar o nome de seus maridos ou sogros

nem qualquer palavra que se assemelhasse aos nomes Tambeacutem natildeo era permitido pronunciar

nomes de animais plantas reis deuses personagens sagrados considerados perigosos pois isso

seria como invocar o proacuteprio perigo

Frazer (1951) revela uma histoacuteria ocorrida no Egito com o deus Raacute que tinha vaacuterios

nomes mas o seu verdadeiro nome que lhe dava poder sobre os outros deuses natildeo era conhecido

e ao ser enfeiticcedilado pela invejosa deusa Iacutesis ndash picado por uma serpente ndash cujo veneno soacute seria

retirado de seu corpo no momento em que ele revelasse o seu verdadeiro nome Raacute lamenta-se

ldquoEu sou aquele que tem muitos nomes e muitas formas O meu pai e minha matildee disseram-me

o meu nome estaacute escondido no meu corpo desde o meu nascimento para que natildeo se possa dar

nenhum poder maacutegico a algueacutem que me queira lanccedilar uma maldiccedilatildeordquo (FRAZER 1951 apud

KRISTEVA 2007 p 64) O veneno tomou conta do corpo de Raacute e jaacute natildeo conseguia andar Iacutesis

continuou a atormentar o deus e o veneno foi penetrando profundamente e queimava seu corpo

Entatildeo Raacute consentiu que Isis buscasse o seu verdadeiro nome no iacutentimo do seu ser assim ela

fez arrebatou-lhe o verdadeiro nome e ordenou que o veneno que o queimava caiacutesse por terra

e libertasse o deus pois o que ela queria jaacute havia conseguido Acreditava-se assim que quem

conhecesse o verdadeiro nome de um deus (algueacutem) possuiria a sua essecircncia o seu verdadeiro

ser e ateacute o seu poder

Segundo Loacutepez (2013) os nomes variam conforme o momento e o local em que satildeo

escolhidos a pessoa que os escolhe e as normas para o uso Podem indicar gecircnero filiaccedilatildeo

origem geograacutefica religiatildeo e etnia Haacute tambeacutem inuacutemeras crenccedilas de que existe uma relaccedilatildeo

entre a pessoa seu nome e o significado deste inclusive muitos nomes satildeo uacutenicos

Segundo Cunha (2004 p 226) ldquoO nome proacuteprio topocircnimo ou antropocircnimo participa

da literariedade do texto podendo consequentemente enriquecer-se de valores semacircnticos

denotativos e conotativos da mesma forma que as outras palavras que o estruturamrdquo jaacute que

31

quando nomeamos atribuiacutemos simultaneamente um predicado um complemento ao nome uma

caracteriacutestica um adjetivo

Em Guimaratildees (2005) o ato de dar nome eacute tambeacutem um ato de identificar um indiviacuteduo

bioloacutegico como tal para o Estado e para a sociedade e tornaacute-lo sujeito De acordo com esse

ponto de vista ganha interesse o funcionamento determinativo da construccedilatildeo do nome proacuteprio

da pessoa no qual segundo Guimaratildees (2005 p 52) ldquohaacute uma relaccedilatildeo particular entre a

nomeaccedilatildeo e o objeto nomeado que se apresenta por uma materialidade histoacuterica e natildeo fiacutesicardquo

A nomeaccedilatildeo eacute por causa da predicaccedilatildeo um ato que diferencia sendo tambeacutem um ato

que identifica De acordo com Lima (2007 p 51)

o acto (sic) de nomear eacute um dos primeiros momentos de inserccedilatildeo da pessoa

numa categoria social de geacutenero Mas ainda mostra-nos que neste contexto

social nomear eacute uma das formas mais importantes de construir geacutenero e

pessoa dentro da famiacutelia

A inserccedilatildeo da pessoa na sociedade por meio de seu nome eacute uma relaccedilatildeo hierarquizada

construiacuteda agrave luz de valores tanto sociais como familiares Como jaacute sabemos o nome eacute uma

forma de identidade de revelar o que o outro natildeo eacute assim nomear eacute um aspecto crucial da

conversatildeo de qualquer um em algueacutem de acordo com Geertz (1973)

Na conversatildeo mencionada Parkin (1989) justifica que nomear pode ser uma forma de

atribuir direitos3 que daacute autoridade tanto ao nomeado quanto ao nomeador ou uma forma de

objetivaccedilatildeo por meio da escolha de um nome em particular que estabeleccedila controle sobre o

nomeado Nessas situaccedilotildees pode ocorrer que as pessoas antecipem essas consequecircncias

escolhendo ou controlando a atribuiccedilatildeo do seu proacuteprio nome ou em alguns casos como

acontece de o nome possuir uma carga negativa perante a sociedade e a pessoa recorre ao poder

judiciaacuterio para requerer a troca de seu nome

Enfim nomear eacute se apropriar do real eacute nessa perspectiva de nomear e apoderar fato

este que se daacute por meio da linguagem e de acordo com isso Kristeva (2007 p 17) pontua que

Se a linguagem eacute mateacuteria do pensamento eacute tambeacutem o proacuteprio elemento da

comunicaccedilatildeo social Natildeo haacute sociedade sem linguagem tal como natildeo haacute

sociedade sem comunicaccedilatildeo Tudo o que se produz como linguagem tem lugar

na troca social para ser comunicado

3 Livre traduccedilatildeo para Entitling

32

Eacute nessa troca social que acontece por meio da linguagem a nomeaccedilatildeo Assim eacute

necessaacuterio destacar que os nomes proacuteprios de lugares ndash topocircnimos ndash passam a estabelecer

relaccedilotildees materializadas por meio do uso da linguagem Sabe-se que o nome designado eacute

construiacutedo simbolicamente isso porque a linguagem que o constroacutei funciona por estar exposta

ao real e constituiacuteda materialmente pela histoacuteria local a qual motiva o leacutexico topocircnimo e eacute

nesse momento que ele nasce e se institui naquele lugar

De acordo com Biderman (1998) eacute por meio da palavra que as entidades da realidade

passam a ser conhecidas nomeadas e identificadas Essa realidade cria o seu acircmbito

significativo que nos eacute revelado pela linguagem que tambeacutem eacute a responsaacutevel por elencar os

fatores soacutecio-histoacuterico-cultural que permeiam a realidade Aqui no nosso caso esses fatores

satildeo trazidos por meio do leacutexico topocircnimo mais especificamente no ato de nomear um

designativo de lugar

Conforme Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares seja

em homenagem a algueacutem como eacute o caso da cidade de Pires do Rio que recebeu o nome o

patroniacutemico4 do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas (1919-1922) do governo de Epitaacutecio

Pessoa Dr Joseacute Pires do Rio Haacute lugares que recebem o nome em razatildeo de caracteriacutesticas

geograacuteficas Alguns nomes satildeo opacos conceito de Piel (1979) em contraposiccedilatildeo aos

transparentes pois natildeo apresentam relaccedilatildeo alguma com o referente nesse caso haacute de se fazer

uma busca histoacuterica para chegar agrave relaccedilatildeo motivacional

O homem tem a capacidade de associar palavras a conceitos E no ato de nomear

acontece a motivaccedilatildeo que estaacute ligada aos fatores cognitivos Assim o leacutexico que a ele eacute

determinado por meio do uso da linguagem se transporta no tempo sendo capaz de revelar os

fatores culturais e motivacionais que estatildeo nesse nomeleacutexico toponiacutemico (BIDERMAN 1998)

O nome comum no ato de nomeaccedilatildeo de um lugar impregna-se de significaccedilotildees vaacuterias

sejam de fatores histoacutericos culturais sociais econocircmicos Segundo Guimaratildees (2005 p 83)

ldquoo modo de significar os espaccedilos da cidade mostra que eles satildeo espaccedilos poliacuteticos O espaccedilo que

se daacute como objeto por uma descriccedilatildeo (referecircncias) atende a objetividade do discurso

administrativo que nomeia oficialmente os espaccedilos da cidaderdquo Assim o nome cifra a narrativa

histoacuterica local perpassando por fatores ou designativos memoraacuteveis

Essa atividade de nomeaccedilatildeo ou praacutetica de nomeaccedilatildeo eacute especificamente da espeacutecie

humana e resulta do processo de categorizaccedilatildeo inerente ao ser humano De acordo com

Biderman (1998 p 89)

4 De acordo com Cabral (2007) patroniacutemico eacute sobrenome

33

O processo de categorizaccedilatildeo subjaz agrave semacircntica de uma liacutengua natural Os

criteacuterios de classificaccedilatildeo usados para classificar os objetos satildeo muito

diferenciados e variados Agraves vezes o criteacuterio eacute o uso que o homem faz de um

dado objeto agraves vezes eacute um determinado aspecto do objeto que fundamenta a

classificaccedilatildeo agraves vezes eacute um determinado aspecto emocional que um objeto

pode provocar em quem o vecirc e assim por diante

Entatildeo o processo de categorizaccedilatildeo que por via das vezes pode se tornar um legislador

ndash nomeador Essas discussotildees acerca das histoacuterias do ato de nomear revelam formas de

organizaccedilatildeo social e mudanccedilas linguiacutesticas poliacuteticas e culturais Eacute pois por meio do nome que

as pessoas ou lugares permanecem vivos na memoacuteria coletiva de sua linhagem

E nesse processo de nomeaccedilatildeo categorizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo nos estudos na aacuterea da

Onomaacutestica mais precisamente na subaacuterea dos Estudos Toponiacutemicos ndash temaacutetica de nossa

pesquisa ndash natildeo tem como desvencilhar a liacutengua e cultura Assim para Sapir-Whorf a liacutengua

retrata o mundo e a realidade social agrave sua volta expressos por categorias lexicais como os

topocircnimos

12 Liacutengua e Cultura

A liacutengua no contexto soacutecio-histoacuterico-cultural nada mais eacute que o resultado de um

processo histoacuterico um produto revelador da cultura de uma dada comunidade (CAcircMARA JR

1955) Nessas bases inter-relacionar liacutengua e cultura eacute justificar que estatildeo intrinsecamente

interligadas pois a liacutengua revela a visatildeo de mundo e eacute tambeacutem a manifestaccedilatildeo de uma cultura

cultura esta que lhe daacute suporte a liacutengua tambeacutem eacute suporte da cultura

Em seus estudos Paula (2007) menciona que a liacutengua eacute um metassistema ela ldquonatildeo eacute soacute

objeto ela eacute nas relaccedilotildees sociais mais diversamente possiacuteveis tambeacutem instrumento de

investigaccedilatildeo distinto que ajuda a entender os outros sistemas sociaisrdquo (PAULA 2007 p 90)

Nesse contexto eacute possiacutevel evidenciar que por meio da liacutengua satildeo reeditadas e reconfiguradas

as praacuteticas culturais de uma dada comunidade

Posto isso conveacutem rever alguns conceitos que remetem agrave face social da liacutengua seu

caraacuteter eminentemente social mais condizente com o recorte epistemoloacutegico feito por Saussure

(2008 p 17)

Mas o que eacute a liacutengua Para noacutes ela natildeo se confunde com a linguagem eacute

somente uma parte determinada essencial dela indubitavelmente Eacute ao

mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto

34

de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo corpo social para permitir o

exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos Tomada em seu todo a linguagem

eacute multiforme e heteroacuteclita o cavaleiro de diferentes domiacutenios ao mesmo

tempo fiacutesica fisioloacutegica e psiacutequica ela pertence aleacutem disso ao domiacutenio

individual e ao domiacutenio social natildeo se deixa classificar em nenhuma categoria

de fatos humanos pois natildeo se sabe como inferir sua unidade

De acordo com Fiorin (2013 p 17) ldquoA liacutengua natildeo eacute um sistema de mostraccedilatildeo de

objetos porque permite falar do que estaacute presente e do que estaacute ausente do que existe e do que

natildeo existe porque possibilita ateacute criar novas realidades mundos natildeo existentesrdquo A liacutengua eacute um

produto social e por meio dela se criam e recriam realidades podendo entatildeo se justificar as

praacuteticas culturais por meio de atos linguiacutesticos

Com esse movimento epistemoloacutegico ou melhor ao eleger a liacutengua e natildeo a linguagem

nem a fala como objeto de estudo da Linguiacutestica Saussure possibilitou a instituiccedilatildeo da ciecircncia

linguiacutestica e consequentemente seus inuacutemeros desdobramentos posteriores

Sapir (1980) ressalta a estreita ligaccedilatildeo entre liacutengua e cultura jaacute que para o autor

Toda liacutengua tem uma sede O povo que a fala pertence a uma raccedila (ou a certo

nuacutemero de raccedilas) isto eacute a um grupo de homens que se destaca de outros

grupos por caracteres fiacutesicos Por outro lado a liacutengua natildeo existe isolada de

uma cultura isto eacute de um conjunto socialmente herdado por praacuteticas e crenccedilas

que determinam a trama das nossas vidas (SAPIR 1980 p 165)

Nesta perspectiva reafirmando que liacutengua se difere de linguagem mas se entrecruza

com ela ou dela faz parte como uma das inuacutemeras formas de linguagem e ainda considerando-

a um dos fatores de identidade de um povo e que natildeo existe isolada da cultura eacute que se torna

objeto de estudos o que envolve fatores soacutecio-histoacuterico-culturais das comunidades

O autor desta forma ainda nos revela que ldquotoda liacutengua estaacute de tal modo construiacuteda

que diante de tudo que um falante deseje comunicar por mais original ou bizarra que seja a sua

ideia ou a sua fantasia a liacutengua estaacute em condiccedilotildees de satisfazecirc-lorsquo (SAPIR 1969 p 33) Eacute

nessas condiccedilotildees de satisfazer ao falante ou agrave comunidade que ele pertence que a liacutengua se

justifica como um meio de interaccedilatildeo social e revelador da cultura jaacute que ela se configura no

tempo e eacute capaz de transmitir de geraccedilotildees a geraccedilotildees atraveacutes de atos linguiacutesticos as

manifestaccedilotildees culturais Conveacutem ressaltar que

Tudo que ateacute aqui verificamos ser verdade a respeito das liacutenguas indica que

se trata da obra mais notaacutevel colossal que o espiacuterito humano jamais

desenvolveu nada menos do que uma forma completa de expressatildeo para toda

a experiecircncia comunicaacutevel Essa forma pode ser variada de inuacutemeras maneiras

pelo indiviacuteduo sem perder com isso os seus contornos distintivos e estaacute

35

constantemente remodelando-se como sucede com toda arte A liacutengua eacute a arte

mais ampla e maciccedila que se nos depara cuacutemulo anocircnimo do trabalho

inconsciente das geraccedilotildees (SAPIR 1980 p 172)

De acordo com Cacircmara Jr (1955) a liacutengua eacute uma parte da cultura mas ela pode ser

estudada na sua relaccedilatildeo com a cultura ou sem considerar essa inter-relaccedilatildeo Segundo o autor

com essa perspectiva o linguista se destaca do antropoacutelogo Porque os estudos linguiacutesticos

podem prescindir do exame da inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura ou melhor pode-se estudar a

liacutengua em sua imanecircncia ou a relaccedilatildeo da linguagem com outras aacutereas do conhecimento humano

A liacutengua aleacutem de inter-relacionar a cultura nada sociedade atua para que a proacutepria

cultura seja conhecida e levada agrave geraccedilotildees futuras seja por meio de festas religiosas cantigas

e outros fatores que a divulguem Jaacute que na mesma base teoacuterica a liacutengua se justifica como um

fato de cultura assim como qualquer outro e neste iacutenterim integra-se agrave cultura

Cacircmara Jr (1955) reconhece que a liacutengua funciona na sociedade para a comunicaccedilatildeo e

interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e tambeacutem que ela se torna o resultado de uma cultura global pois a

liacutengua depende de toda cultura jaacute que a expressa a todo o momento

assim a liacutengua em face do resto da cultura eacute ndash o resultado dessa cultura ou

sua suacutemula eacute o meio para ela operar eacute a condiccedilatildeo para ela subsistir E mais

ainda soacute existe funcionalmente para tanto englobar a cultura comunicaacute-la e

transmiti-la (CAcircMARA JR 1955 p 54)

Considerada a inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura pode-se ressaltar mais uma vez que a

cultura se manifesta linguisticamente sejam elas integrantes de manifestaccedilotildees da cultura

popular ou da erudita

De modo geral a cultura eacute pensada numa visatildeo polarizante como sendo

cultura popular ou cultura erudita Conveacutem dizer poreacutem que ambas satildeo

formas e conteuacutedos diferentes de expressatildeo de uma dada realidade social e

histoacuterica Entatildeo natildeo devem ser vistas como opostas ou excludentes mas como

maneiras especiacuteficas de ver sentir e expressar a realidade conforme se situam

seus atores na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo do poder (PAULA 2007 p 75)

Neste processo Sapir (1969) menciona que o leacutexico eacute o niacutevel linguiacutestico em que mais

intimamente se interligam liacutengua e cultura Zavaglia (2012) por sua vez reconhece que o leacutexico

estaacute vinculado agrave cultura de um povo de uma naccedilatildeo agrave sua histoacuteria

Para Zavaglia (2012) o leacutexico estaacute relacionado com a memoacuteria humana e se configura

no ato de nomeaccedilatildeo diante do processo em que houve a necessidade de o homem por meio de

36

palavras nomear tudo que o circundava e assim categorizar o que estava a seu redor Pautados

na autora observamos a grandeza do leacutexico pois

Eacute o leacutexico em forma de palavras e por meio da linguagem que ldquocontardquo a

histoacuteria milenar de povo para povo eacute o leacutexico que transmite os elementos

culturais de um conjunto de indiviacuteduos eacute o leacutexico que ldquoeducardquo ou ldquodeseducardquo

eacute o leacutexico que permite a manifestaccedilatildeo dos sentimentos humanos de suas

afeiccedilotildees ou desagrados via oral ou via escrita Eacute o leacutexico que registra o

desencadear das accedilotildees de uma sociedade suas mudanccedilas seu progresso ou

regresso Condivido com Biderman quando diz que o leacutexico eacute o tesouro

vocabular de forma codificada da memoacuteria do indiviacuteduo restando ali estocado

ateacute que seja ativado quando necessaacuterio para que o homem possa expressar ou

se comunicar Eacute ainda por meio do leacutexico que conceitos condutas e costumes

satildeo transmitidos de geraccedilotildees a geraccedilotildees e herdados por elas ldquoEacute o leacutexico que

fisionomiza a culturardquo (ZAVAGLIA 2012 p 233)

O leacutexico eacute o fio condutor da cultura jaacute que a transporta para geraccedilotildees futuras eacute por meio

dele que se registra a histoacuteria e a vida de uma sociedade Para Sapir (1969) a cultura estaacute

nitidamente no leacutexico da liacutengua e este pode ser considerado como todo o conjunto de ideias

interesses e ocupaccedilotildees que abrangem a atenccedilatildeo da comunidade Neste contexto

O estudo cuidadoso de um dado leacutexico conduz a inferecircncias sobre o ambiente

fiacutesico e social daqueles que o empregam e ainda mais que o aspecto

relativamente transparente ou natildeo-transparente do proacuteprio leacutexico nos permite

deduzir o grau de familiaridade que se tem adquirido com os vaacuterios elementos

do ambiente (SAPIR 1969 p 49)

Eacute possiacutevel ressaltar que o leacutexico da liacutengua conteacutem um recorte da realidade feito agrave sua

maneira que revela visotildees de mundo Os elementos culturais que matizam datildeo o colorido de

significaccedilatildeo ao leacutexico mostram de diferentes maneiras as relaccedilotildees que ambas liacutengua e cultura

tecircm com o ambiente seja fiacutesico ou social pois toda complexidade dessa inter-relaccedilatildeo pode ser

anunciada e enunciada no uso da linguagem

Vale entatildeo ressaltar

Que o leacutexico assim reflita em alto grau a complexidade da cultura eacute

praticamente um fato de evidecircncia imediata pois o leacutexico ou seja o assunto

de uma liacutengua destina-se em qualquer eacutepoca a funcionar como um conjunto

de siacutembolos referentes ao quadro cultural do grupo Se por complexidade de

uma liacutengua se entende a seacuterie de interesses impliacutecitos em seu leacutexico natildeo eacute

preciso dizer que haacute uma correlaccedilatildeo constante entre a complexidade

linguiacutestica e cultural (SAPIR 1969 p 51)

37

O conjunto de signos da liacutengua ultrapassa as fronteiras do tempo trazendo para a

atualidade siacutembolos tambeacutem culturais que satildeo revelados por meio de praacuteticas culturais que se

interseccionam com as praacuteticas linguiacutesticas Assim

Natildeo soacute as palavras da liacutengua passam a servir de siacutembolos culturais dispersos

como sucede nas liacutenguas em qualquer periacuteodo de desenvolvimento mas se

pode supor que as proacuteprias categorias e processos gramaticais simbolizariam

tipos correspondentes de pensamento e atividade de significaccedilatildeo cultural Ateacute

certo ponto pode se conceber portanto a cultura e a liacutengua em constante

estado de interaccedilatildeo e em associaccedilatildeo definida por um largo lapso de tempo

Mas tal estado de correlaccedilatildeo natildeo pode continuar indefinidamente (SAPIR

1969 p 60)

Segundo Sapir (1969) a linguagem possui o papel de produzir e organizar o mundo

mediante o processo de simbolizaccedilatildeo Contudo a realidade eacute mostrada por meio da linguagem

o que significa dizer que natildeo haacute mundos iguais visto que natildeo haacute liacutenguas iguais De acordo com

estas observaccedilotildees cabe ressaltar o relativismo linguiacutestico ldquoHipoacutetese de Sapir-Whorfrdquo a

linguagem determina a forma de ver o mundo e consequentemente de se relacionar com esse

mundo

O relativismo linguiacutestico pode ser entendido como a relaccedilatildeo linguagem e pensamento

mediada pela cultura desta forma linguagem pensamento e cultura estatildeo conectados Sapir-

Whorf observam que a realidade social eacute produto linguiacutestico tratando assim as relaccedilotildees de

linguagemcultura e linguagempensamento a cultura pode ser considerada como

conhecimento adquirido socialmente por meio das praacuteticas linguiacutesticas

De maneira geral diz-se que a cultura eacute o conhecimento que as pessoas detecircm acerca de

uma comunidade seja em seus acircmbitos popular ou cientiacutefico os quais ultrapassam o tempo

por meio da liacutengua jaacute que ldquoA cultura eacute o conjunto do que o homem criou na base das suas

faculdades humanas abrange o mundo humano em contraste com o mundo fiacutesico e o mundo

bioloacutegicordquo (CAcircMARA JR 1955 p 51)

Em outras palavras

Cultura eacute o conjunto de praacuteticas sociais situadas historicamente que se

referem a uma sociedade e que a fazem diferente de outra Baseia-se na

construccedilatildeo social de sentidos a accedilotildees crenccedilas haacutebitos objetos que passam a

simbolizar aspectos da vivecircncia humana em coletividade (PAULA 2007 p

74)

A diversidade tambeacutem se reflete na cultura pois de acordo com Bosi

38

[] natildeo existe uma cultura brasileira homogecircnea matriz de nossos

comportamentos e dos nossos discursos Ao contraacuterio a admissatildeo do seu

caraacuteter plural eacute um passo decisivo para compreendecirc-la como um ldquoefeito de

sentidordquo resultado de um processo de muacuteltiplas interaccedilotildees e oposiccedilotildees no

tempo e no espaccedilo (BOSI 1987 p 7)

Neste sentido a cultura se constroacutei a partir das vivecircncias e significados que lhe satildeo

atribuiacutedos pela proacutepria sociedade em suas praacuteticas sociais e constituindo-se tambeacutem em

diferenccedila Para Bosi (1987 p 11) o fundamento da cultura popular ldquoeacute o retorno de situaccedilotildees e

atos que a memoacuteria grupal reforccedila atribuindo-lhes valorrdquo Isso satildeo as marcas identitaacuterias da

comunidade que satildeo deixadas e vivenciadas (ou vivificadas) tempos depois A cultura popular

eacute revelada por meio de praacuteticas culturais e linguiacutesticas que levam a puacuteblico as relaccedilotildees soacutecio-

histoacuterica-culturais de determinadas comunidades

A cultura se constroacutei com base nos valores atribuiacutedos pelos sujeitos agraves relaccedilotildees

cotidianas e nas relaccedilotildees de poder Organiza-se como popular eou erudita Nesse sentido natildeo

existe cultura melhor nem pior cada uma eacute expressa pelo seu grupo social pois cada indiviacuteduo

tem uma forma de ver o mundo modos de vestir de comer os meios para se curar os remeacutedios

os modos de plantar de cultivar e colher os modos de nomear e categorizar os elementos da

natureza e outros tantos mais Desta forma ldquoconforme as pessoas entendem que participam de

uma cultura esforccedilam-se para agir dentro do que julgam ser pertinente a elardquo (PAULA 2007

p 75)

Cultura liacutengua e identidade natildeo satildeo algo fixo pronto e acabado estando sempre em

constituiccedilatildeo uma vez que satildeo produzidas por seres sociais que se encontram em processo de

interaccedilatildeo aprendizado conhecimento e estatildeo inseridos em contextos sociais que passam por

transformaccedilotildees O leacutexico eacute o meio pelo qual a cultura e a identidade se constroem e se

disseminam

Na visatildeo de Paula (2007 p 89) a memoacuteria eacute o depositaacuterio tanto da cultura como da

liacutengua visto que

O modo como se estrutura poliacutetica e economicamente uma sociedade diz

muito de suas estruturas culturais estas por sua vez soacute se fazem possiacuteveis

graccedilas agrave elaboraccedilatildeo cotidiana do arcabouccedilo de memoacuteria coletiva ao modo

como eacute concebida e ao estatuto que lhe eacute dado Expressando estas inter-

relaccedilotildees servindo a elas no cotidiano da comunicaccedilatildeo humana e carregando

em seu funcionamento muito do modo como a sociedade se faz e se refaz estaacute

a liacutengua

39

Os processos culturais que satildeo construiacutedos por meio de atos linguiacutesticos satildeo uma forma

identitaacuteria de dada comunidade que eacute expressa por relaccedilotildees sociais como forma de conduzir e

expressar-se perante as demais comunidades sejam elas internacionais nacionais ou regionais

sabemos que a cultura eacute a miscigenaccedilatildeo de outras culturas

13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes

Embora faccedila parte do cotidiano das pessoas portanto estreitamente ligado agrave cultura natildeo

haacute muita discussatildeo referente ao nome proacuteprio e aos motivos de algueacutem ou um lugar ter o nome

que tem Entretanto conforme Carvalhinhos (2002) jaacute no seacuteculo II aC com o gramaacutetico

Dioniacutesio Traacutecia o estudo sobre o nome jaacute tinha sido pensado e formulado Esses estudos

propiciaram por sua vez o surgimento da Onomaacutestica a ciecircncia que se ocupa dos estudos da

origem e alteraccedilotildees (na forma e no significado) dos nomes proacuteprios A Onomaacutestica eacute um ramo

das ciecircncias linguiacutesticas que pode-se efetuar em duas vertentes a toponiacutemia (estudo do

topocircnimo ou nome de lugar) e a antroponiacutemia (estudo do nome pessoal)

Conforme Dubois (2004) e Houaiss (2004) a Onomaacutestica eacute um ramo da lexicologia e

seu meacutetodo de trabalho deve-se desenvolver em linha documental mediante a observaccedilatildeo de

dados oficiais como mapas listas de nomes ou outros documentos de valor historiograacutefico e

lexicograacutefico Isso possibilita a junccedilatildeo da histoacuteria da nomenclatura com momentos histoacutericos e

sociais mais amplos

No entanto mesmo pertencendo agrave ciecircncia da linguagem a Onomaacutestica se estabelece por

meio do suporte de outras aacutereas do conhecimento como a Antropologia a Etnografia a

Botacircnica a Geografia e a Histoacuteria Neste sentido natildeo eacute equivocado salientar que a Onomaacutestica

eacute um campo de amplo caraacuteter interdisciplinar

Assim a Onomaacutestica ou Onomasiologia eacute o ramo da ciecircncia linguiacutestica que tem o nome

proacuteprio como objeto de estudo e se constroacutei em relaccedilatildeo a outros campos do saber Contudo ao

relacionar o seu conhecimento aos de outras aacutereas ela natildeo os confunde nem os nega

De acordo com Ramos e Bastos (2010) a Onomaacutestica assume uma perspectiva

integralizadora de meacutetodos e demanda um consideraacutevel nuacutemero de conhecimentos de campos

diversos de maneira direta ou indireta e vertical ou horizontal destacando-se a linguiacutestica com

valoraccedilatildeo da pesquisa etimoloacutegica

Conforme dito a Onomaacutestica para efeito de estudo pode ser dividida em dois eixos a

Antroponiacutemia e a Toponiacutemia Estas por sua vez podem apresentar subdivisotildees dependendo

de algumas consideraccedilotildees acerca das caracteriacutesticas que cada uma agrave sua maneira apresenta

40

A Toponiacutemia conforme Piel (1979) de acordo com o objeto de denominaccedilatildeo pode

denominar-se tambeacutem como astroniacutemia hidroniacutemia litoniacutemia odoniacutemia oroniacutemia para citar

apenas alguns termos que correspondem a objetos que constituem ou satildeo constituiacutedos por

formaccedilotildees aquosas astros formaccedilotildees peacutetreas serras vias ou caminhos

Jaacute a Antroponiacutemia volta sua atenccedilatildeo para o estudo dos nomes de batismo dos

sobrenomes patroniacutemicos (ou matroniacutemicos) e ainda das alcunhas dos apelidos e de nomes

diminutivos A Antroponiacutemia agrave semelhanccedila da Toponiacutemia natildeo se constitui de forma

homogecircnea jaacute que haacute uma seacuterie de tradiccedilotildees conforme os povos ou culturas que desenvolveram

esses sistemas antroponiacutemicos Por outro lado eacute consenso afirmar que os nomes pessoais satildeo

um aspecto comum ou universal nas liacutenguas porque as pessoas recebem um nome em algum

momento de suas vidas em todas as sociedades conhecidas do mundo

De acordo com Dick (1992) as intenccedilotildees e as motivaccedilotildees que subjazem agrave escolha dos

nomes em cada sociedade variam bastante Os estudos dos sistemas onomaacutesticos vecircm confirmar

isso porque os nomes existem e satildeo controlados pelas necessidades e praacuteticas sociais as quais

podem variar de acordo com a visatildeo de mundo de um determinado povo

Posto isso conveacutem conceber a Onomaacutestica como uma disciplina que deve focar como

objeto de estudo os sistemas de denominaccedilatildeo que justifiquem os processos de atribuiccedilatildeo de

nomes de uma maneira geral

Em Soliacutes (1997) os nomes satildeo o resultado de algo que os provoca isto eacute o sistema

denominativo elaborado pelas culturas para atribuir nomes agraves coisas apreendidas por sua

atividade cognitiva

Devido ao fato de a Onomaacutestica estender-se a um amplo campo de estudo ou seja que

se volta tanto para o estudo dos nomes proacuteprios de pessoas como agraves designaccedilotildees dos lugares eacute

imperioso delimitar para este estudo apenas o sistema onomaacutestico voltado para os nomes de

lugar isto eacute para a toponiacutemia caracterizando como objeto de estudo os nomes dos cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio

A despeito de incorrer em lugar comum conveacutem rever os constituintes da palavra

toponiacutemia cujo significado etimoloacutegico pode ser assim expresso do grego topos (lugar) e

onoma (nome) A Toponiacutemia se ocupa dos locativos (tambeacutem componentes do leacutexico da liacutengua)

com o fito de estudar a origem as significaccedilotildees e as transformaccedilotildees por que passam ou

passaram esses nomes A Toponiacutemia se dedica ao estudo natildeo apenas dos nomes de comunidades

humanas (cidades povoados vilas) como tambeacutem elementos geograacuteficos a exemplo os cursos

drsquoaacuteguas

41

Os estudos toponiacutemicos propiciam a percepccedilatildeo da relaccedilatildeo entre povo liacutengua e territoacuterio

considerando que esse territoacuterio pode ser fiacutesico eou imaginaacuterio jaacute que as entidades do mundo

que precisam ser nomeadas podem ser pessoas entidades geograacuteficas que fazem parte do

ambiente em que vive determinado povo e que sobretudo tenham importacircncia para esse povo

pois se natildeo tem importacircncia natildeo haacute em contrapartida necessidade de ser nomeado Conveacutem

no entanto ressaltar que nem todas as nomeaccedilotildees ocorrem pela necessidade espontacircnea de

identificaccedilatildeo uma vez que muitas delas refletem a imposiccedilatildeo de forccedilas ideoloacutegicas poliacuteticas e

sociais

Neste sentido surge a necessidade de reconhecer os objetos geograacuteficos da natureza

tais como rios mares lagoas ilhas continentes serras e outros mas haacute outros que precisam

ser denominados tambeacutem principalmente os objetos da cultura aqueles criados pelo homem

dentre os quais podem ser citados os povoados represas moradias (habitaccedilatildeo) ruas

circunscriccedilotildees poliacutetico-territoriais que se situam em algum lugar do universo fiacutesico

Natildeo se pode omitir aqueles lugares cujo universo foi criado pela cultura imaterial o

mundo natildeo fiacutesico Sejam do universo real ou imaginaacuterio as entidades geograacuteficas satildeo os

referentes dos topocircnimos que por sua vez integram a visatildeo de mundo de um povo Isso

constitui uma dificuldade em especificar que referentes existem no mundo fiacutesico ou cultural

em parte porque para isso eacute necessaacuterio considerar uma cultura determinada Em resposta a isso

haacute o reconhecimento da visatildeo de mundo que eacute peculiar a cada cultura

Muitos povos concebem o universo real como um mundo que tem seu correlato miacutetico

com outros mundos e fazem assim surgir universos de nomes toponiacutemicos de variada riqueza

toponomaacutestica porque tecircm lugares para nomear no espaccedilo fictiacutecio criado nesse mundo Assim

aleacutem de serem componentes linguiacutesticos como tal os nomes que compotildeem um sistema de

denominaccedilatildeo satildeo ainda criaccedilotildees socioculturais

Entatildeo cabe agrave Toponiacutemia estudar tanto os nomes de lugares (os topocircnimos) como

componentes de uma liacutengua que satildeo como tambeacutem o sistema de denominaccedilatildeo organizado pelas

sociedades para nomear os objetos fiacutesicos ou imaginaacuterios da sua cultura Devido agraves diferentes

visotildees de mundo tecircm-se diferentes formas de nomear essas entidades Aleacutem da visatildeo de mundo

em sociedades como a brasileira podem contribuir para a formaccedilatildeo de um sistema de nomeaccedilatildeo

os movimentos sociais como forccedila impulsionadora de mudanccedila social Em relaccedilatildeo agrave realidade

brasileira podem-se mencionar as poliacuteticas que vecircm acontecendo durante os mais de 500 anos

de histoacuteria brasileira que tambeacutem resultou em inuacutemeras formaccedilotildees e mudanccedilas de designaccedilatildeo

toponiacutemica no Brasil

42

Cabe reiterar que a toponiacutemia refere-se a nomes de lugares habitados ou natildeo Daiacute uma

definiccedilatildeo apropriada para o termo ldquotopocircnimordquo eacute um nome de qualquer ponto localizaacutevel no

espaccedilo terrestre que tenha recebido denominaccedilatildeo Definiccedilatildeo essa que pode ser estendida para o

nome de qualquer ponto localizaacutevel no mundo real ou em mundos imaginados pelas culturas

em outras palavras daqueles universos que existem por meio da atividade ideacional dos

homens

Assim eacute por meio da relaccedilatildeo povo-territoacuterio que os nomes de lugar satildeo estabelecidos

Inicialmente pela posse do territoacuterio uma vez que segundo Couto (2007) o territoacuterio eacute uma

das primeiras referecircncias para que um agrupamento de pessoas possa receber o status de

comunidade e todo territoacuterio entendido como tal tem de ter um nome um topocircnimo Desta

forma recortam-se os aspectos do meio ambiente mais salientes aos olhos do povo como uma

espeacutecie de acordo que permite a vivecircncia e a convivecircncia em sociedade no territoacuterio apossado

Eacute possiacutevel afirmar que a nomeaccedilatildeo dos lugares surgiu com a proacutepria humanidade Os

registros antigos da histoacuteria da civilizaccedilatildeo ratificam essa accedilatildeo do homem sobre o lugar que

habita ou jaacute habitou satildeo fatores que sugerem uma espeacutecie de posse ou de domiacutenio sobre o lugar

por meio da significaccedilatildeo da organizaccedilatildeo e da orientaccedilatildeo pelo espaccedilo ocupado ou apenas

conhecido Em contrapartida o ato de nomeaccedilatildeo se manifesta como a accedilatildeo do meio fiacutesico e

sociocultural sobre o homem

Eacute nesta perspectiva que se podem considerar os estudos toponiacutemicos em seu acircmbito

interdisciplinar porque congregam vaacuterias aacutereas do conhecimento humano Os nomes de um

lugar satildeo enfocados conforme a observaccedilatildeo dos aspectos fiacutesicos socioculturais mentais e

histoacutericos interligados ou em separados

Assim natildeo eacute equiacutevoco conceber a Toponiacutemia como objeto de estudo da Antropologia

da Geografia da Histoacuteria ou ainda da Psicologia Social para citar apenas algumas disciplinas

Eacute possiacutevel segundo Dick (1992) realizar anaacutelises do fenocircmeno toponiacutemico em

consonacircncia teoacuterica com qualquer uma dessas aacutereas mas para a autora nenhuma delas tomada

isoladamente ou com exclusivismo alcanccedilaria a plenitude do fenocircmeno toponiacutemico Em termos

linguiacutesticos a Toponiacutemia recorre aos conhecimentos da Semacircntica da Lexicologia da

Etnolinguiacutestica da Dialetologia e da Linguiacutestica Histoacuterica

Mais recentemente uma linha de anaacutelise que tem oferecido contribuiccedilotildees importantes

aos estudos dos nomes de lugares eacute a Linguiacutestica Cognitiva Suas pesquisas vecircm enfatizando

natildeo soacute os modelos cognitivos mas tambeacutem os processos de categorizaccedilatildeo principalmente os

processos de analogia e contiguidade proacuteprios da metaacutefora e da metoniacutemia Entendecirc-los eacute

43

essencial para compreender os sistemas de nomeaccedilatildeo como resultados da experiecircncia e da

cogniccedilatildeo humana com o corpo em relevo

Esta perspectiva de anaacutelise coaduna estudos que procuram reconhecer processos

cognitivos expressos na accedilatildeo de denominar a realidade e para tanto fundamentam-se no corpo

Eacute uma forma de nomear os lugares fiacutesicos ou culturais mediante a percepccedilatildeo do denominador

na interaccedilatildeo com meio ambiente fiacutesico e cultural

14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica

Para realizar qualquer estudo onomaacutestico eacute necessaacuterio inicialmente buscar na teoria

linguiacutestica os recursos para se explicar como uma forma linguiacutestica se amaacutelgama a um lugar

configurando uma relaccedilatildeo entre esse lugar suas caracteriacutesticas e o signo linguiacutestico que passa

a designaacute-lo Em outras palavras eacute necessaacuterio buscar conceitos que estejam em consonacircncia

com os preceitos5 onomaacutestico-toponiacutemicos

Eacute por meio da liacutengua que se daacute a interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e a mesma constitui-se de

signos linguiacutesticos Em outras palavras o mundo humano a realidade extralinguiacutestica e a

cultura constituem-se de signos Calcados nas ideias de Charles Sanders Pierce (2005) tem-se

o conceito geral de que o signo eacute ldquoalgo que estaacute por algo para algueacutemrdquo Conveacutem salientar que

ldquoestar porrdquo eacute uma noccedilatildeo bastante ampla pois pode significar uma seacuterie de coisas como

representar caracterizar fazer agraves vezes de indicar entre outros Para Pierce (2005 p 46)

um signo ou representamem eacute algo que sob certo aspecto ou de algum modo

representa alguma coisa para algueacutem Dirige-se a algueacutem isto eacute cria na mente

dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido

Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo

representa alguma coisa seu objeto Representa esse objeto natildeo em todos os

aspectos mas com referecircncia a um tipo de ideia que eu por vezes denominei

fundamento do representamem (Grifos do autor)

Assim seguindo a concepccedilatildeo de Pierce (2005) sobre signo pode-se formular que eacute a

representaccedilatildeo de alguma coisa para algueacutem estaacute no lugar da coisa que ele representa e natildeo eacute a

coisa em si Tem ainda a condiccedilatildeo de perturbar a mente do interpretante i eacute daquele que vecirc

lecirc ou ouve o signo na tentativa de atribuir-lhe um significado Dessa forma eacute possiacutevel verificar

uma relaccedilatildeo de interdependecircncia entre pelo menos trecircs extremos i) a face perceptiacutevel do

5 No capiacutetulo 2 satildeo apresentados os meacutetodos usados na pesquisa

44

signo o representamem ou significante ii) o que ele representa o objeto ou referente e iii) o

que ele significa interpretante ou significado

Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo

Fonte Adaptado a partir do original de Ogden-Richards (1972)

Para Pierce (2005) os signos satildeo elementos tricotocircmicos6 e apresentam trecircs divisotildees

amplas (i) iacutecone (ii) iacutendice e (iii) siacutembolo A despeito de serem conceitos mais pertinentes a

um estudo semioacutetico em grande parte a motivaccedilatildeo que subjaz ao designativo de lugar imprime

caraacuteter icocircnico indicial ou simboacutelico ao nome do lugar o que acarreta uma dada categorizaccedilatildeo

Para Pierce (2005) (i) iacutecones satildeo os signos que apresentam as caracteriacutesticas

especiacuteficas proacuteprias por analogia formam-se pela primeira impressatildeopercepccedilatildeo que o

inteacuterprete tem sobre as coisas do mundo real Eacute um signo que guarda semelhanccedilas entre o

significante e o significado Em outras palavras um iacutecone eacute uma representaccedilatildeo - auditiva visual

ou de outra espeacutecie ndash de alguma coisa Uma fotografia uma pintura as imagens diagramas satildeo

exemplos de iacutecones por evidenciar semelhanccedila com o objeto representado A semelhanccedila tem

de ser estabelecida de forma quase que consciente por quem observa No entanto a semelhanccedila

com o objeto representado pode ser extraordinaacuteria como quando se observam as imagens sacras

ou iacutecones menores aqueles que aparecem na tela do computador ou pode ser mais abstrata

como a que acontece com as placas de sinais em geral

Em relaccedilatildeo aos (ii) iacutendices Pierce (2005) estabelece que satildeo signos que estatildeo numa

relaccedilatildeo direta entre o representamem e o objeto Um iacutendice (ou signo indexical) tem a funccedilatildeo

de indicar o que estaacute nas suas proximidades Nos iacutendices a forma e o significado estatildeo

interligados satildeo contiacuteguos ou seja caracteriza-se pela relaccedilatildeo de contiguidade ou associaccedilatildeo

com aquilo que representa Aquilo que atrai a atenccedilatildeo em um objeto eacute seu iacutendice Apresentam

6 O que difere das caracteriacutesticas dicotocircmicas do signo linguiacutestico para Saussure

Conceito

(Significado)

Palavra Referente

(significante) (elementos da realidade)

45

traccedilos de decirciticos jaacute que os interlocutores podem recuperar o referente por meio de lembranccedilas

de detalhes do objeto

Encontram-se muito difundidos nos sistemas de comunicaccedilatildeo (verbal ou natildeo) Satildeo

amplamente empregados na linguagem miacutemica e gestual no coacutedigo de tracircnsito Os decirciticos satildeo

signos indiciais imprescindiacuteveis pois referem demonstrativamente indicam a pessoa do

discurso o lugar a proximidade7 de espaccedilo e tempo entre outros (iii) Jaacute os siacutembolos satildeo signos

que se referem ao objeto em funccedilatildeo de uma convenccedilatildeo de uma lei ou de associaccedilatildeo geral de

ideias ou melhor por natildeo haver uma relaccedilatildeo de semelhanccedila e nem contiguidade entre o

significante e o significado ela eacute estabelecida por convenccedilatildeo de forma intencional e aprendida

nas relaccedilotildees sociais Os siacutembolos satildeo considerados os signos genuiacutenos estatildeo reservados aos

seres humanos porque as necessidades comunicativas exigem muito mais que indicaccedilotildees

indexicais ou imitaccedilotildees icocircnicas O sistema mais elaborado de signos simboacutelicos certamente

eacute o das liacutenguas naturais na modalidade falada e na escrita tambeacutem sendo que a palavra eacute o

siacutembolo por excelecircncia

Por se constituiacuterem de duas coisas que se encontram em prolongamento uma da outra

i eacute contiacuteguas os signos indexicais podem se substituir mutuamente Tambeacutem os signos

icocircnicos podem tomar o lugar do objeto real Jaacute os simboacutelicos satildeo superiores por permitirem

aos seres humanos ultrapassar os limites de contiguidade e semelhanccedila porque estabelecem uma

relaccedilatildeo simboacutelica entre determinada forma e determinado significado Todas essas relaccedilotildees ndash

icocircnica indexical e simboacutelica ndash estatildeo na base dos sistemas de linguagem

Os signos linguiacutesticos se vinculam agrave noccedilatildeo de siacutembolo uma vez que a relaccedilatildeo com o

objeto referido eacute construiacuteda arbitrariamente em uma espeacutecie de acordo entre os membros de

uma comunidade de fala Para Saussure (2008) o signo linguiacutestico eacute o resultado da associaccedilatildeo

convencional entre o significante e o significado acertada entre os falantes Eacute convencional

porque natildeo haacute nenhum viacutenculo sugestivo entre os dois elementos Essa eacute a noccedilatildeo de

arbitrariedade descrita por Saussure (2008) em relaccedilatildeo aos viacutenculos entre significante e

significado Por outro lado haacute de se considerar situaccedilotildees em que os signos linguiacutesticos

apresentam motivaccedilotildees que podem ser de natureza foneacutetica morfoloacutegica ou semacircntica

Quanto agrave estrutura um topocircnimo pode ser um nome simples ou composto e segue

evidentemente as mesmas regras de formaccedilatildeo de palavras da liacutengua portuguesa Um nome em

funccedilatildeo toponiacutemica pode tambeacutem ser constituiacutedo por frases e oraccedilotildees seguem assim a sintaxe

da liacutengua em que se insere

7 O ldquoeurdquo a pessoa com quem se fala o ldquoeste aquirdquo ldquoesse aiacuterdquo ldquoaquele alirdquo ldquoneste tempordquo ldquonaquele tempordquo

46

Segundo Dick (1992) o signo topocircnimo vincula-se por diversos fatores ao elemento

geograacutefico do qual eacute o referente estabelecendo com ele um conjunto que por sua vez pode ser

separado em partes menores para se distinguirem os seus elementos formadores

Morfologicamente dois elementos baacutesicos podem ser depreendidos dessa relaccedilatildeo um o termo

ou elemento geneacuterico que se relaciona agrave entidade geograacutefica que recebe a denominaccedilatildeo e o

outro o elemento ou termo especiacutefico o topocircnimo propriamente dito que carrega em si mesmo

a noccedilatildeo espacial que identificaraacute e singularizaraacute a entidade denominada das outras semelhantes

Esses elementos ou termos se justapotildeem no sintagma toponiacutemico (Coacuterrego do Ouro) ou se

aglutinam (Rialma) conforme a estrutura da liacutengua em questatildeo

Para Dick (1992) em relaccedilatildeo agrave morfologia os topocircnimos podem apresentar trecircs

diferentes formas (i) topocircnimo ou elemento especiacutefico simples eacute aquele determinado por um

soacute formante que pode apresentar-se acompanhado tambeacutem de sufixaccedilatildeo diminutiva

aumentativa ou de outras origens linguiacutesticas

Eacute comum na formaccedilatildeo de muitos topocircnimos brasileiros a junccedilatildeo de um designativo agraves

terminaccedilotildees -lacircndia em -poacutelis e ndashburgo (normalmente segundo elemento da formaccedilatildeo) Essa

formaccedilatildeo embora apresente dois formantes (de liacutenguas diferentes) satildeo considerados nomes

simples e natildeo compostos pode-se no entanto dizer que em algumas designaccedilotildees satildeo tambeacutem

hiacutebridos jaacute que provecircm de liacutenguas diferentes a saber Maurilacircndia (Maurilo do latim Maurilius

lsquomorenorsquo + lacircndia elemento de origem inglesa) Buritinoacutepolis (Buriti(no) elemento tupi + polis

elemento grego) mas em Friburgo8 natildeo haacute hibridismo

Segundo Siqueira (2012) pode-se ainda indicar a terminaccedilatildeo -(a) nia variaccedilatildeo do sufixo

nominal do latino -anus -ana que se documentam em nomes e modificadores com as noccedilotildees

de proveniecircncia origem entre outras em lembranccedila dos primeiros habitantes da regiatildeo Em

Goiaacutes eacute expressiva a quantidade de topocircnimos que se formaram jungidos a esse elemento

Caiapocircnia Cromiacutenia Goiacircnia Joviacircnia Luziacircnia Silvacircnia (ii) topocircnimo composto ou

elemento especiacutefico composto aquele formado por mais de um elemento de origens diversas

entre si do ponto de vista do conteuacutedo (iii) topocircnimo (composto) hiacutebrido ou elemento

especiacutefico hiacutebrido formado por elementos linguiacutesticos de diferentes procedecircncias

Sobre o caraacuteter imotivado dos signos linguiacutesticos cabe salientar conforme Saussure

(2008) que o viacutenculo que une o significante ao significado eacute arbitraacuterio natildeo haacute relaccedilatildeo loacutegica

ente as duas faces do signo A associaccedilatildeo entre ambos (significante e significado) eacute de natureza

8 Cidades da Alemanha e da Suiacuteccedila no Brasil conforme Machado (2003) haacute uma ldquoFriburgordquo no Amazonas e no

Rio de Janeiro ldquoNova Friburgordquo este sim um hiacutebrido em Minas Gerais haacute tambeacutem o hiacutebrido ldquoCordisburgordquo

cordis do latim lsquocoraccedilatildeorsquo + burgo do alematildeo lsquocidadersquo

47

convencional natildeo natural Assim todo estudo toponiacutemico tem no caraacuteter motivado do signo

toponiacutemico seu ponto de partida ou seja os estudos sobre os topocircnimos se baseiam na

motivaccedilatildeo que subjaz para analisar todas as relaccedilotildees circunscritas a ela

15 Linguiacutestica Histoacuterica

Consideradas como realidades histoacutericas e sociais as liacutenguas satildeo dinacircmicas estatildeo em

contiacutenua transformaccedilatildeo o que leva a afirmar que a liacutengua de hoje natildeo eacute a mesma de ontem

nem se manteraacute idecircntica amanhatilde Posto isso pode-se verificar que o conhecimento mais amplo

da estrutura do leacutexico da semacircntica e ateacute da ortografia pode requerer um estudo linguiacutestico

com perspectivas histoacutericas No acircmbito da linguiacutestica geral destaca-se a Linguiacutestica Histoacuterica

aacuterea cujo interesse recai sobre o que como e por que muda nas liacutenguas no decorrer do tempo

Os estudos acerca da linguagem foram primeiramente postulados pelos filoacutesofos

anteriores ao seacuteculo XIX como Platatildeo e Aristoacuteteles9 que se ativeram ao estudo da linguagem

mediante a anaacutelise da relaccedilatildeo entre som e sentido ignorando qualquer tipo de variaccedilatildeo

linguiacutestica Jaacute a opccedilatildeo filoloacutegica representada principalmente pelos gramaacuteticos alexandrinos

natildeo ignorava a variaccedilatildeo linguiacutestica mas a colocava como desvio configurando-se

possivelmente como a primeira perspectiva normativaprescritiva na histoacuteria dos estudos da

linguagem (MAURER JR 1967)

Por sua vez a linguiacutestica histoacuterica conforme Maurer Jr (1967) estabeleceu relaccedilotildees

culturais entre os povos tornando-se um precioso auxiacutelio para a Histoacuteria e a Antropologia A

linguiacutestica histoacuterica natildeo revela apenas as relaccedilotildees entre duas ou mais liacutenguas mas consegue

tambeacutem evidenciar com facilidade o que eacute herdado de um berccedilo linguiacutestico comum e o que eacute

oriundo de empreacutestimo de outra liacutengua

Consoante estudos recorrentes a linguiacutestica histoacuterica teve seu surgimento no final do

seacuteculo XVIII momento em que se comeccedilava a dar um cunho cientiacutefico agrave mudanccedila linguiacutestica

Natildeo se pode afirmar entretanto que natildeo houvesse uma preocupaccedilatildeo com a linguagem antes

desse periacuteodo haja vista que a criaccedilatildeo da biblioteca de Alexandria por exemplo demonstra

certo interesse pelo assunto pois indica que ao fazer a compilaccedilatildeo das obras antigas da literatura

grega Homero apresentava certa preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura e do passado de

uma eacutepoca

9 Para Aristoacuteteles a linguagem eacute definidora das relaccedilotildees humanas

48

No entanto foi no seacuteculo XVI com a Renascenccedila que houve um acentuado interesse

dos estudiosos pela histoacuteria cultural particularmente pela filologia momento da origem da

histoacuteria literaacuteria No Ocidente renascia o interesse pelo passado que remetia agrave antiguidade

greco-latina

A linguiacutestica histoacuterica consiste segundo Faraco (2006 p 13) em ldquoestudar as mudanccedilas

que ocorrem nas liacutenguas humanas agrave medida que o tempo passardquo A mudanccedila eacute definida como

processo pelo qual a liacutengua viva natildeo fica estagnada mas evolui acompanhando o

desenvolvimento da sociedade que a utiliza como instrumento de comunicaccedilatildeo pois ldquoonde haacute

mudanccedila deve haver histoacuteria do contraacuterio nosso conhecimento do fato permanece incompletordquo

(MAURER JR 1967 p 20)

Nesse contexto estabelece-se o que eacute mais natural a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade

porque uma acaba interferindo na mudanccedila da outra visto que

[] as liacutenguas humanas natildeo constituem realidades estaacuteticas ao contraacuterio sua

configuraccedilatildeo estrutural se altera continuamente no tempo E eacute essa dinacircmica

que constitui o objeto de estudo da linguiacutestica histoacuterica [] as liacutenguas mudam

mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos

necessaacuterios para a circulaccedilatildeo dos significados (FARACO 2006 p 14)

As mudanccedilas natildeo satildeo apenas de ordem lexicais por certo as estruturas gramaticais o

modo de produzir os sons e o significado das palavras se alteram com o tempo bem como novas

palavras surgem para expressar objetos e coisas que satildeo criados Eacute possiacutevel observar ainda que

palavras caem em desuso provocando consequentemente alteraccedilotildees no leacutexico de dada liacutengua

jaacute que

Os estudos de Linguiacutestica Histoacuterica comprovam que as liacutenguas humanas se

transformam no fluxo do tempo ou seja palavras e estruturas que existiam

antes deixam de existir ou sofrem modificaccedilotildees na forma na funccedilatildeo eou no

significado Apesar das transformaccedilotildees sofridas as liacutenguas mudam mas

continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos necessaacuterios

que garantem uma comunicaccedilatildeo eficaz pois as mudanccedilas ocorrem em partes

e natildeo no todo das liacutenguas num processo de mutaccedilatildeo e permanecircncia

(SIQUEIRA AGUIAR 2011 p 385 grifos das autoras)

A linguiacutestica histoacuterica pode ser estudada em duas fases a de 1800 e a poacutes 1900 No

seacuteculo XIX surgiram meacutetodos de abordagem para se estudar as liacutenguas suas combinaccedilotildees

identidade (gecircnese) diferenccedilas (mudanccedilas) Segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 18) ldquoa tradiccedilatildeo

oitocentista portanto recorta descreve e explica os fenocircmenos da linguagem do ponto de vista

do binocircmio gecircnese-evoluccedilatildeordquo

49

O poacutes 1900 partiu da observaccedilatildeo da diacronia e sincronia Com o advento do

estruturalismo de Ferdinand Saussure (2008) no seacuteculo XX a linguiacutestica moderna trouxe como

proposta que o objeto da linguiacutestica ndash a liacutengua ndash pudesse ser estudado separadamente do efeito

tempo (PAIXAtildeO DE SOUSA 2006) Como divisor desse momento na segunda metade poacutes

1900 o objeto da linguiacutestica eacute de ordem bioloacutegica ndash a diacronia estaacute imanente agrave liacutengua pois

de acordo com esta corrente linguiacutestica eacute na liacutengua que reside a heterogeneidade a mudanccedila e

a variaccedilatildeo

Segundo Faraco (2006 p 91) as liacutenguas estatildeo inseridas em um processo de fluxo

temporal de mutabilidade ldquoaparecimentosrdquo e ldquodesaparecimentosrdquo ldquoconservaccedilatildeordquo e

ldquoinovaccedilatildeordquo As liacutenguas tecircm histoacuteria revelam e constituem a todo tempo a realidade e as

transformaccedilotildees ocorridas comno tempo Em relaccedilatildeo a isso

Humboldt convencia-se de que toda liacutengua reflete a psique do povo que a fala

Eacute o resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal

de fala Ele acha por outro lado que a liacutengua de um povo eacute o canal natural

pelo qual aquele povo chega a uma compreensatildeo do universo que circunda o

homem E conclui que existe uma profunda influecircncia de uma liacutengua na

maneira pela qual seus falantes veem e organizam o mundo dos objetos em

torno deles e de sua vida espiritual (CAMARA JR 1975 p 38-39)

A liacutengua eacute um ldquoinstrumentordquo social e estaacute carregada de significaccedilatildeo e considerados

espaccedilo e tempo eacute capaz de revelar o mundo a outros mundos Faraco (2006) faz ainda referecircncia

ao estudo do leacutexico ao reafirmar que a composiccedilatildeo deste pode ser estudada historicamente na

sua origem bem como os empreacutestimos que satildeo feitos de outras liacutenguas Necessaacuterio se faz

reconhecer que o leacutexico eacute uma unidade carregada da histoacuteria cultural de dada comunidade

linguiacutestica natildeo esquecendo conforme Faraco (2006 p 42) que ldquoeacute um dos pontos em que mais

claramente se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e culturardquo

Com o advento estruturalista de Saussure (2008) haacute uma mudanccedila de perspectiva a

visatildeo diacrocircnica dos fatos linguiacutesticos daacute lugar ao enfoque sincrocircnico dos fenocircmenos da

linguagem Eacute preciso observar que consoante a diretriz saussuriana a anaacutelise sincrocircnica

precede a diacrocircnica sendo possiacutevel fazer comparaccedilatildeo entre elas no momento em que tiver a

descriccedilatildeo de pelo menos dois estados da liacutengua Daiacute reforccedilar-se o objetivo do estudo em

descrever sincronicamente um dado especiacutefico da histoacuteria da liacutengua Faraco (2006 p 120)

afirma que ldquoo estudioso se fixa num momento do passado e tomando-o estaticamente

descreve-o com base nos documentos escritos de que se dispotildee criando assim condiccedilotildees para

um posterior estudo diacrocircnicordquo

50

A par disso conveacutem mencionar que nos seacuteculos XVII e XVIII estudos linguiacutesticos

hegemocircnicos observavam a liacutengua como uma realidade estaacutevel diferentemente do pensamento

linguiacutestico do seacuteculo XIX que considerava a liacutengua como uma realidade em transformaccedilatildeo

Desta forma Saussure (2008) estabeleceu duas dimensotildees uma histoacuterica (chamada diacrocircnica)

que tem como centro de suas atenccedilotildees as mudanccedilas porque passa a liacutengua no tempo ou seja a

mutabilidade da liacutengua no tempo a outra eacute estaacutetica (chamada sincrocircnica) que entende a liacutengua

como um sistema estaacutevel num espaccedilo de tempo aparentemente fixo isto eacute a sua imutabilidade

Mas

Diante dos termos sincroniadiacronia natildeo basta apenas entender por alto a

que se referem Eacute preciso antes perceber que essa divisatildeo pressupotildee tambeacutem

na sua origem uma concepccedilatildeo homogeneizante da liacutengua que ndash apesar de sua

indiscutiacutevel funcionalidade e fertilidade para a linguiacutestica contemporacircnea ndash eacute

para muitos estudiosos uma idealizaccedilatildeo excessiva por criar um objeto de

estudo demasiadamente afastado da heterogeneidade linguiacutestica do real

(FARACO 2006 p 106 grifos do autor)

Segundo Faraco (2006) Coseriu em seu livro Sincronia diacronia e histoacuteria de 1973

posiciona-se de forma contraacuteria agrave formulaccedilatildeo de Saussure (2008) (visatildeo estaacutetica de sistema)

pois para ele a liacutengua deve ser vista em permanente sistematizaccedilatildeo em movimento Coseriu

rejeita a ideia de que a descriccedilatildeo (sincronia) e a histoacuteria (diacronia) sejam estudos diferenciados

mas assume a visatildeo de que as liacutenguas satildeo objetos histoacutericos e devem ser estudadas de forma

integrada envolvendo descriccedilatildeo e histoacuteria

Para Rocha Galvatildeo e Gonccedilalves (2011 p 30) ldquoestabelecer a presenccedila ou a viagem das

palavras eacute acompanhar o envolver das proacuteprias comunidades pelo tempo aforardquo Um recorte

sincrocircnico natildeo deve desprezar a interpretaccedilatildeo diacrocircnica o interesse cientiacutefico natildeo estaacute presente

somente num espaccedilo-tempo assim como a representatividade histoacuterica necessita admitir pontos

exatos na representaccedilatildeo da vivecircncia humana

No segundo capiacutetulo apresenta-se uma breve revisatildeo dos meacutetodos de pesquisa que

podem ser combinados com a teoria onomaacutestico-toponiacutemica a fim de compor um quadro

ilustrativo das caracteriacutesticas do meio da cultura dos fatos histoacutericos e dos estados anteriores

da liacutengua que estatildeo de alguma forma impressos na motivaccedilatildeo que subjaz aos topocircnimos em

questatildeo

51

II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS

O povo ldquosenhor dos espaccedilos puacuteblicosrdquo por vezes

adota criteacuterio proacuteprio ao conferir nomes aos

lugares

(IBGE 2008)

A linguagem humana eacute sobretudo interaccedilatildeo e natildeo pode pois ser explicada apenas em

termos de sua estrutura semacircntica e formal mas tambeacutem deve-se analisaacute-la em sua funccedilatildeo

social Desta forma o desenvolvimento linguiacutestico e intelectual do indiviacuteduo caminham juntos

pois ambos satildeo a base da abstraccedilatildeo e categorizaccedilatildeo pois ldquotoda liacutengua reflete as condiccedilotildees da

sociedade e do ciacuterculo cultural que se falardquo (ANDRADE 2010 p 99)

Aspectos linguiacutesticos de diversas ordens satildeo fundamentais para o estudo toponiacutemico jaacute

que eacute por mecanismos linguiacutesticos que o signo comum transmuta-se em designativo de lugar

revelando a identidade do nomeador coletivo ou natildeo Desta maneira ldquoo topocircnimo eacute o resultado

da accedilatildeo do nomeador ao realizar um recorte no plano das significaccedilotildees representaccedilotildees ou seja

praticar um papel de registro no momento vivido pela comunidaderdquo (ANDRADE 2010 p

106)

Acolher uma orientaccedilatildeo ou outra acarreta outrossim na escolha do meacutetodo a ser utilizado

para a pesquisa linguiacutestico-histoacuterica Para situar a escolha por um meacutetodo este capiacutetulo faz uma

breve exposiccedilatildeo de alguns meacutetodos que tecircm sido empregados em pesquisas de abordagem

similar a esta em especial descrevemos detalhadamente os que satildeo usados nesta pesquisa os

quais consideram natildeo somente os aspectos linguiacutesticos bem como os histoacutericos e socioculturais

do lugar indo ao encontro da perspectiva adotada para este trabalho

21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos

Natildeo se deve confundir metodologia com meacutetodo de pesquisa Segundo Silva e Silveira

(2007 p 145) a metodologia consiste de um conjunto de criteacuterios usados para se construir um

conhecimento vaacutelido seguro e de certa forma verdadeiro Jaacute os meacutetodos de pesquisa podem

ser definidos como ldquoprinciacutepios e procedimentos aplicados para construccedilatildeo do saberrdquo Os autores

salientam que se torna mais difiacutecil ficar preso a um uacutenico meacutetodo quando se pode lanccedilar matildeo

do ldquopluralismo metodoloacutegicordquo Deste modo considerando as especificidades de um estudo

toponiacutemico eacute possiacutevel conjugar meacutetodos de forma ordenada e loacutegica Isto quer dizer que se

52

podem utilizar meacutetodos de abordagem (indutivo dedutivo dialeacutetico) em consonacircncia com os

preceitos de um ou mais meacutetodos de procedimento (funcionalista comparativo

fenomenoloacutegico estruturalista)

Uma perspectiva histoacuterica por exemplo abre um amplo espectro de possibilidades de

se estudar um determinado fato linguiacutestico Podem ser citadas diversas maneiras para se tomar

os fenocircmenos linguiacutesticos do ponto de vista histoacuterico tais como a filologia centrada nos

aspectos histoacutericos das transformaccedilotildees a linguiacutestica comparada que aborda os fatos por meio

de comparaccedilotildees entre as liacutenguas de grupos linguiacutesticos relacionados e a etimologia a qual

busca desvendar o significado de origem das palavras aqui centra-se o nosso objeto de estudo

que eacute descrever e analisar a origemetimologia dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua de Pires do

Rio-GO

Os meacutetodos linguiacutesticos podem ainda estudar as transformaccedilotildees linguiacutesticas

correlacionando-as ao contexto sociocultural o que tem contribuiacutedo grandemente para uma

renovaccedilatildeo das abordagens do fenocircmeno da mudanccedila linguiacutestica resultando em inuacutemeras outras

orientaccedilotildees teoacutericas que em certo sentido podem ser vistas como herdeiras dos primeiros

criacuteticos dos estudos comparativos

A linguiacutestica tem a liacutengua como seu principal objeto de estudo a qual eacute produto da

experiecircncia acumulada historicamente na cultura de uma sociedade A liacutengua eacute um fenocircmeno

social pois eacute produzida e determinada socialmente ademais eacute um importante siacutembolo da

identidade de um grupo E eacute no comportamento linguiacutestico de uma dada comunidade que se

reflete a busca de aprovaccedilatildeo social ou a acentuaccedilatildeo de diferenccedilas (COSERIU 1977) Eacute por

meio dela enfim que um indiviacuteduo adquire a cultura do lugar em que vive jaacute que

A funccedilatildeo baacutesica da Linguiacutestica eacute o estudo direto da lsquoliacutengua viva e faladarsquo por

observaccedilatildeo e anaacutelise objetiva de seus fenocircmenos postas de lado todas as

forccedilas e influecircncias que se manifestem muitas vezes atraveacutes dela e todos os

antecedentes que possam ter dado origem ao estado atual (MAURER JR

1967 p 30)

Observa-se na Linguiacutestica Geral de acordo com Maurer Jr (1967) a divisatildeo em dois

setores distintos poreacutem essenciais para compreensatildeo da linguagem a Linguiacutestica Descritiva

(sincrocircnica) que segundo o autor deve ser a base de todo estudo cientiacutefico porque eacute a partir

dela que aprendemos a linguagem em sua funccedilatildeo uacutenica e peculiar e a Linguiacutestica Histoacuterica

(diacrocircnica) que complementa e explica os fatos da primeira e tem uma funccedilatildeo importante no

estudo desse rico patrimocircnio cultural e humano a liacutengua

53

212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica

Para alguns estudiosos a linguiacutestica histoacuterica teve seu apogeu no seacuteculo XIX embora

outros afirmem que tenha ocorrido haacute tempos no Renascimento De acordo com Paixatildeo de

Sousa (2006 p 14)

[] a reflexatildeo linguiacutestica dos 1800 representa um marco divisor na histoacuteria

das histoacuterias do tempo e da linguagem por inaugurar uma concepccedilatildeo

inteiramente nova dos condicionantes dessa relaccedilatildeo e construir um novo

plano para sua anaacutelise Eacute antes de tudo na tentativa de se combinar a esfera

documental com a esfera experimental que aparecem os desdobramentos mais

interessantes dos estudos histoacutericos da liacutengua ao longo do seacuteculo XIX eles

buscaratildeo articular as duas esferas em um mesmo plano de anaacutelise construindo

a abordagem histoacuterico-comparada

Assim a linguiacutestica histoacuterica apoacutes o seacuteculo XIX cria um meacutetodo que permite

ldquocategorizar e justificar a identidade geneacutetica e a evoluccedilatildeo paralela de cada idioma em um grupo

aparentadordquo segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 16) O meacutetodo comparativo segundo Maurer

Jr (1967) busca comparar cuidadosamente formas apresentadas entre si de um grupo

distinguir a origem e estudar a diversificaccedilatildeo das liacutenguas para desvendar e recontar a histoacuteria

de cada liacutengua Ressalte-se que para Faraco (2006 p 125) esse meacutetodo teve sua estruturaccedilatildeo

ldquoao dar um tratamento sistemaacutetico agraves observadas semelhanccedilas entre liacutenguas distantes no espaccedilo

como o latim e o sacircnscritordquo E ainda

constitui um recurso inteligente e racional para a reconstruccedilatildeo de fatos que

dependem de testemunho em todo o terreno Tal como a Paleontologia a

Histoacuteria da Cultura e ateacute na investigaccedilatildeo do crime na Justiccedila esse meacutetodo

submete o testemunho a um estudo preliminar para avaliar seu isolamento sua

coerecircncia etc (MAURER JR 1967 p 31)

O meacutetodo comparativo se baseia na experimentaccedilatildeo (induccedilatildeo) procura descrever os

estaacutegios da liacutengua que natildeo deixaram registros (documentos) como eacute o caso do latim vulgar No

entanto se difere do histoacuterico-comparativo o qual usa documentos histoacutericos para fazer as suas

reconstruccedilotildees acerca da liacutengua Poreacutem ambos os meacutetodos buscam recuperar a histoacuteria da liacutengua

de forma cronoloacutegica

De acordo com Faraco (2006 p 134)

O meacutetodo comparativo eacute o procedimento central nos estudos de linguiacutestica

histoacuterica Eacute por meio dele que se estabelece o parentesco entre liacutenguas O

pressuposto de base eacute que entre elementos de liacutenguas aparentadas existem

54

correspondecircncias sistemaacuteticas (e natildeo apenas aleatoacuterias ou casuais) em termos

de estrutura gramatical correspondecircncias estas passiacuteveis de serem

estabelecidas por meio duma cuidadosa comparaccedilatildeo Com isso podemos natildeo

soacute explicitar o parentesco entre liacutenguas (isto eacute dizer se uma liacutengua pertence

ou natildeo a uma determinada famiacutelia) como tambeacutem determinar por inferecircncia

caracteriacutesticas da liacutengua ascendente comum de um certo conjunto de liacutenguas

No decorrer dos anos vaacuterios satildeo os estudiosos que contribuiacuteram com a formaccedilatildeo e o

aprimoramento do meacutetodo comparativo dentre eles destacamos Bopp (1791-1867) que

buscava estabelecer o parentesco entre as liacutenguas mas natildeo o percurso histoacuterico de um anterior

para um posterior Grimm (1785-1863) que ao estudar o ramo germacircnico das liacutenguas indo-

europeias pocircde estabelecer a sucessatildeo histoacuterica por meio de comparaccedilatildeo ndash comparativo

histoacuterico Rask (1787-1832) tambeacutem desenvolveu trabalhos comparativos importantes para o

momento envolvendo as liacutenguas noacuterdicas as demais liacutenguas germacircnicas o grego o latim o

lituano o eslavo e o armecircnio Foi a partir desses estudiosos que surgiu a ldquofilologia (ou

linguiacutestica) romacircnica nome que se deu ao estudo histoacuterico-comparativo das liacutenguas oriundas

do latimrdquo (FARACO 2006 p 137)

De tal modo da siacutentese que foi apresentada eacute possiacutevel tecer as seguintes consideraccedilotildees

o meacutetodo histoacuterico-comparativo em seu apogeu foi e ainda hoje eacute uacutetil aos estudos da Linguiacutestica

Histoacuterica principalmente no que concerne natildeo soacute agrave reconstruccedilatildeo de fases anteriores das liacutenguas

como tambeacutem eacute bastante indicado para estudos que objetivam a reconstruccedilatildeo interna de uma

liacutengua Esse meacutetodo cumpriu papel importante para o desvelamento de inuacutemeras questotildees

linguiacutesticas das liacutenguas antigas grego latim sacircnscrito

Jaacute os estudos dos neogramaacuteticos possibilitaram o aprimoramento do meacutetodo histoacuterico-

comparativo mediante a verificaccedilatildeo de que muitas mudanccedilas ocorridas nas liacutenguas em

momentos anteriores e registrados em documentos podem ser explicitadas por meio da

explanaccedilatildeo de mudanccedilas ldquosincrocircnicasrdquo sucedidas nas liacutenguas conforme as leis foneacuteticas e a

analogia

Conforme Cacircmara Jr (1975) Gaston Paris traccedilou mapas das linhas isogloacutessicas dando

os primeiros passos para a geografia linguiacutestica a qual na verdade foi efetivamente criada por

seu disciacutepulo suiacuteccedilo Jules Gillieacuteron que dedicou-se agrave dialetologia e no doutoramento em 1879

defendeu a tese sobre o dialeto de Vionnaz Essa nova teacutecnica ldquoteve como base teoacuterica o

conceito de dialeto como uma abstraccedilatildeo essa a razatildeo de focalizar cada mudanccedila linguiacutestica per

se como o verdadeiro dado linguiacutesticordquo (CAcircMARA JR 1975 p 121)

55

A geografia linguiacutestica10 segundo Cacircmara Jr (1975) eacute importante como uma nova

abordagem para o estudo histoacuterico-comparativo pois em vez de recorrer a textos antigos o

pesquisador busca apenas os aspectos contemporacircneos da liacutengua absorvendo as bases

linguiacutesticas no intercacircmbio oral Desta forma

Obteacutem-se uma corrente evolucionaacuteria pela comparaccedilatildeo das muitas variantes

de cada forma cuja distribuiccedilatildeo no espaccedilo pode ser traduzida numa

distribuiccedilatildeo atraveacutes do tempo de acordo com regras metodoloacutegicas O aspecto

foneacutetico da variante ou sua existecircncia num patois relativamente moderno ou

notaacutevel por traccedilos arcaicos constituem a chave para esta investigaccedilatildeo

histoacuterica Por essa razatildeo eacute que atraveacutes da geografia linguiacutestica uma nova

teacutecnica para o estudo histoacuterico da linguagem foi imaginada sob o tiacutetulo de

ldquoreconstruccedilatildeo internardquo (CAcircMARA JR 1975 p 125 grifos do autor)

Essa nova abordagem vem corroborar com os estudos da liacutengua porque de forma

efecircmera reconstroacutei a histoacuteria de uma dada liacutengua contribuindo com a contemporaneidade uma

vez que nos eacute necessaacuterio conhecer a base etimoloacutegica das palavras e depois justificar o seu uso

ou evoluccedilatildeo

Segundo Cacircmara Jr (1975) apoacutes observar que Gaston Paris traccedilou mapas das linhas

isogloacutessicas e Gillieacuterion criou a geografia linguiacutestica muitos anos depois os linguistas italianos

Giulio Bertoni e Matteo Bartoli criaram o meacutetodo de linguiacutestica areal cujo objetivo era

classificar aacutereas linguiacutesticas ndash de uma liacutengua ou grupo de liacutenguas ndash como forma de

representaccedilatildeo da contemporaneidade e do estaacutegio linguiacutestico de desenvolvimento Os

linguistas consoante Cacircmara Jr (1975 p 126) ldquodividiram um territoacuterio linguiacutestico em aacutereas

isoladas aacutereas laterais aacutereas principais e aacutereas desaparecidas (isto eacute aacutereas homogecircneas que

desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)rdquo e desta forma

difundiam mais um meacutetodo linguiacutestico

Destaca ainda que a linguiacutestica histoacuterica compreende dois momentos de exatidatildeo o

primeiro de 1786 a 1878 periacuteodo de formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do meacutetodo comparativo o qual

finalizou com o movimento dos neogramaacuteticos o segundo vai desde 1878 ateacute a

contemporaneidade periacuteodo de tensatildeo entre duas linhas interpretativas uma imanentista ndash

neogramaacutetico estruturalismo e gerativismo que vecirc a mudanccedila como acontecimento interno da

liacutengua e pela proacutepria liacutengua e a outra integrativa ndash primeiros criacuteticos neogramaacuteticos dialetologia

e sociolinguiacutestica cuja mudanccedila da liacutengua estaacute condicionada a fatores contextuais nos quais o

falante estaacute inserido

10 No Brasil a Geografia Linguiacutestica concretizou-se com a produccedilatildeo de Atlas Linguiacutesticos em diferentes Estados

brasileiros

56

Entre os seacuteculos XVIII e XIX ocorreram momentos de grande relevacircncia para a

linguiacutestica histoacuterica Um deles eacute a fundaccedilatildeo da Escola de Estudos Orientais em Paris

(importante centro de investigaccedilatildeo) no ano de 1975 onde estudaram os linguistas alematildees

Friedrich Schlegel (1772-1829) e Franz Bopp (1791-1867) os quais mais tarde desenvolveram

a chamada gramaacutetica comparativa

Assim em 1808 Friedrich Schlegel publicou um texto sobre a liacutengua e sabedoria dos

povos hindus que de acordo com Faraco (2006) eacute considerado o ponto de partida do

comparativismo alematildeo No texto o autor ratifica sobre o parentesco das liacutenguas sacircnscrita com

a latina grega germacircnica e persa

Cabe ainda salientar que os estudos histoacuterico-comparativos antes da uacuteltima metade do

seacuteculo XIX conheceram a obra de August Scheilcher (1821-1868) Sua teoria tomava a liacutengua

como um organismo vivo com existecircncia fora de seus falantes sendo sua histoacuteria vista como

natural devido agraves orientaccedilotildees naturalistas do linguista como sua formaccedilatildeo em botacircnica e

influenciado pela teoria evolucionista de Darwin (FARACO 2006)

Jaacute no seacuteculo XIX as investigaccedilotildees no campo da linguagem eram dominadas por ideias

positivistas que se desenvolviam conforme meacutetodos histoacuterico-comparativos eacutepoca em que se

formaliza o estudo sistemaacutetico das variaccedilotildees sobretudo as de natureza geograacutefica Surge o

interesse pelos dialetos considerados como fontes de conhecimento do modo como se teriam

operado as transformaccedilotildees em fases anteriores das liacutenguas A Geografia Linguiacutestica eacute uma

consequecircncia do interesse pelos estudos dialetais levados a cabo de iniacutecio por vaacuterios estudiosos

europeus Segundo Coseriu (1982) surge um meacutetodo dialetoloacutegico e comparativo que

pressupotildee o registro em mapas especiais de um nuacutemero relativamente elevado de formas

linguiacutesticas (focircnicas lexicais ou gramaticais) recolhidas mediante pesquisa direta e unitaacuteria

numa rede de pontos distribuiacuteda em determinado territoacuterio

Deste modo eacute necessaacuterio compreender que

A linguagem eacute inegavelmente uma heranccedila social cuja histoacuteria se estende

por seacuteculos Uma visatildeo completa um conhecimento detalhado de seu

mecanismo de sua estrutura de sua semacircntica e ateacute de sua ortografia soacute

podem ser obtidos atraveacutes da pesquisa diacrocircnica Os meacutetodos expostos

acima em suas linhas essenciais natildeo deixam duacutevida de que a filologia

romacircnica se desenvolveu com o meacutetodo histoacuterico-comparativo adotado com

mais ecircxito aqui do que no campo para o qual havia sido criado As possiacuteveis

deficiecircncias desse meacutetodo foram sendo corrigidas depois pela geografia

linguiacutestica e pelos outros meacutetodos derivados como a onomasiologia Woumlrter

und Sachen linguiacutestica espacial etc Enquanto o meacutetodo histoacuterico-

comparativo procura as ligaccedilotildees entre o ldquoterminus a quordquo e o ldquoterminus ad

quemrdquo o latim vulgar e as liacutenguas romacircnicas respectivamente os outros

57

meacutetodos tecircm como objeto especificamente o ldquoterminus ad quemrdquo pois

investigam sincronicamente aspectos atuais dessas mesmas liacutenguas cujas

explicaccedilotildees poreacutem devem ser buscadas diacronicamente (BASSETTO

2001 p 85 grifos do autor)

Para Faraco (2006 p 106) ldquooptar por uns ou por outros eacute que vai orientar nossa forma

de entender a mudanccedila linguiacutestica nossa seleccedilatildeo de dados nossas categorias e procedimentos

de anaacutelise nosso processo argumentativordquo Ou seja ao assumirmos uma concepccedilatildeo de base

correlata eacute o que iraacute definir o nosso meacutetodo de trabalho

22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia

Segundo Silva (2010) a onomasiologia eacute um meacutetodo que se constitui do estudo das

designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Pode ser

investigada toda a cultura popular de um local podendo-se priorizar os aspectos sincrocircnicos ou

histoacutericos Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores do que

subjaz agrave nomeaccedilatildeo dos lugares

Pode-se para efeito deste estudo traccedilar o esquema a seguir o qual demonstra as

possibilidades temaacuteticas que esse tipo de pesquisa pode apresentar

Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos

Onomaacutestica

Toponiacutemia Antroponiacutemia

Modalidades Coleta

Imagens mapas cartas e plantas

Documental Texto iacutendicesrepertoacuterio de nomes

Ficcional Natildeo ficcional

Pesquisa de campo Entrevistas etnografia

Mista Documental e Pesquisa de campo

Fonte Adaptado de material da USP ndash Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas 2016

58

A onomasiologia eacute o resultado das tendecircncias mais significativas da evoluccedilatildeo linguiacutestica

na transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX em que a centralidade das investigaccedilotildees passam

do som (foneacutetica) para a palavra (lexicologia) O seu triunfo se deu a partir do desenvolvimento

da Geografia Linguiacutestica pois com o aparecimento de inuacutemeros termos regionais recolhidos

pelos inqueacuteritos linguiacutesticos surgiu a necessidade de um novo meacutetodo que auxiliasse os

dialetoacutelogos a compreenderem o homem regional em sua amplitude por meio da linguagem

Apoacutes a publicaccedilatildeo dos atlas linguiacutesticos a onomasiologia comeccedila a ser utilizada em

vaacuterios estudos jaacute que pelo seu uso eacute possiacutevel caracterizar as atividades de uma regiatildeo e situaacute-

las no tempo Segundo Couto (2012 p 186) ldquoa onomasiologia vecirc a questatildeo da referecircncia para

usar um termo semioacutetico partindo da coisa e indo na direccedilatildeo do nome que ela receberdquo Desta

forma ldquoo meacutetodo onomasioloacutegico permite ver a cultura do povo cuja liacutengua se estuda

costumes ocupaccedilotildees instrumental crenccedilas e crendices moradia enfim sua mundividecircncia

Permite sentir a linguagem viva traduzindo a vivecircncia cultural do povordquo (BASSETO 2001 p

77)

Ressalta-se que

Com pontos em comum com a Geografia Linguiacutestica e ldquoPalavras e Coisasrdquo o

meacutetodo onomasioloacutegico tambeacutem conhecido como onomasiologia isto eacute o

estudo das denominaccedilotildees se propotildee investigar os vaacuterios nomes atribuiacutedos a

um objeto animal planta conceito etc individualmente ou em grupo dentro

de um ou vaacuterios domiacutenios linguiacutesticos Seus objetivos satildeo portanto

semacircnticos e lexicoloacutegicos buscando descobrir os aspectos vivos e as forccedilas

criadoras da linguagem (BASSETO 2001 p 76)

O meacutetodo onomasioloacutegico natildeo ficou a cargo apenas de um pesquisador mas de vaacuterios

pois seus princiacutepios se desenvolveram aos poucos Conforme Bassetto (2001) temos como

predecessores da onomasiologia moderna F Brinkmann (1872) Luigi Morandi (1883)

Friedrich Diez (1875) Fr Pott (1853) Jakob Grimm (1853) e F Miklosich (1868) Todavia o

princiacutepio da onomasiologia cientiacutefica deu-se com Carlo Salvioni (1858-1920) quando estudou

sobre as denominaccedilotildees italianas do vaga-lume (1892) e com Ernest Toppolet (1870-1939) que

referendou em seus estudos o parentesco dos nomes romacircnicos por ele denominados de

ldquolexicologia cientiacuteficardquo

As pesquisas desenvolvidas na aacuterea da onomaacutestica se constituem em uma linha

documental ou de campo seguindo um meacutetodo pelo qual se selecionam observam registram

classificam analisam e interpretam os dados de acordo com a identificaccedilatildeo dos fatores

59

determinantes agrave configuraccedilatildeo dos corpora Essas anaacutelises de dados satildeo baseadas em trecircs

categorias linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica que satildeo reveladas pelo meacutetodo onomasioloacutegico

Segundo Ramos e Bastos (2010) as trecircs perspectivas ndash linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica

ndash satildeo cruciais para revelar as seguintes caracteriacutesticas a) a determinaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica das

diferentes liacutenguas que tenham existido ou existentes num determinado territoacuterio b) o estudo

das terminaccedilotildees caracteriacutesticas de cada palavra c) o estudo das formas gramaticais d) o estudo

da foneacutetica histoacuterica e) a verificaccedilatildeo das formas documentadas as quais se subdividem em ndash

comparaccedilatildeo semacircntica a abordagem dos dados geograacuteficos e a abordagem dos dados histoacutericos

Cabe ainda indicar em linhas gerais algumas concepccedilotildees do meacutetodo Woumlrter und

Sachen de Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) o qual conforme

Bassetto (2001) tem pontos em comum que compartilha com o meacutetodo onomasioloacutegico Visa

ao estudo das questotildees semacircnticas das palavras enfatizando a realidade que elas designam

porque para os estudiosos dessa linha de pensamento a verdadeira etimologia da palavra

encontra-se no conhecimento dessa realidade Procura instruir sobre a necessidade de conhecer

sempre que possiacutevel o objeto designado por um termo para que o significado possa ser

devidamente explicitado Quando se conhece a realidade a natureza a forma o uso as medidas

das coisas do mundo eacute possiacutevel estabelecer a origem e a histoacuteria das palavras com que esses

mesmos objetos foram designados

Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) foram precursores desse

meacutetodo ao considerarem que as coisas existem antes de serem denominadas ou seja as coisas

preexistem agraves suas designaccedilotildees podendo ateacute existir sem que sejam nomeadas Em

contrapartida as palavras dependem das ldquocoisasrdquo estatildeo ligadas a elas Com essa perspectiva

Schuchardt (mais do que Meringer) remete ao meacutetodo Woumlrter und Sachen ldquoPalavras e Coisasrdquo

cujo tiacutetulo instituiu o nome do meacutetodo

No entanto conveacutem salientar que jaacute na gramaacutetica grega estava impliacutecita a ideia de que

as coisas precedem as palavras Em outros termos quando se conhece em profundidade a

ldquocoisardquo chega-se ao ldquoeacutetimordquo da palavra que a nomeia alcanccedila-se o significado com que a coisa

foi primeiramente designada Menciona-se que para Schuchardt (apud BASSETO 2013)

Sachen (coisa) significava qualquer realidade i eacute ldquoSachenrdquo podia se referir tanto a

acontecimentos e estados como a objetos ao real e ao irreal ao tangiacutevel11 e ao intangiacutevel ou

em outras palavras tanto a coisas do mundo sensiacutevel como do insensiacutevel

11 ldquoTangiacutevelrdquo do latim tangere tangens lsquotocar aquilo que tocarsquo do mesmo eacutetimo de attingere lsquoaproximar-se e

tocarrsquo

60

O meacutetodo Woumlrter und Sachen (Palavras e Coisas) segundo Campbell (2004) relaciona-

se agraves inferecircncias histoacuterico-culturais que podem ser reveladas por meio da investigaccedilatildeo das

palavras pautadas na sua analisabilidade Campbell (2004) assume que as palavras que satildeo

analisadas em partes transparentes (vaacuterios morfemas) podem ser de criaccedilatildeo mais recente (na

liacutengua) em relaccedilatildeo agraves palavras que natildeo apresentam essa transparecircncia morfecircmica

Essa teacutecnica contribui sobremaneira para traccedilar uma cronologia aproximativa dos

vocabulaacuterios Dias (2016 p31) acentua que

Sobretudo supotildee-se que itens culturais denominados por termos analisaacuteveis

satildeo tambeacutem adquiridos mais recentemente pelos falantes e aqueles que satildeo

expressos por palavras natildeo analisaacuteveis representam itens mais velhos e

instituiccedilotildees Outra estrateacutegia desse meacutetodo envolve fazer inferecircncias por meio

de informaccedilotildees de itens culturais de quem os nomes sofreram visivelmente

mudanccedila de significado

E para Crowly (2003) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo pode ser usado para fazer

reconstruccedilatildeo cultural e chegar ao conteuacutedo de uma protocultura por exemplo jaacute que se eacute

possiacutevel reconstruir uma palavra designativa de alguma coisa na protoliacutengua eacute possiacutevel tambeacutem

supor que a coisa a que ela se refere provavelmente foi de importacircncia cultural na vida dos

seus falantes ou que foi ambientalmente marcante Segundo o autor o meacutetodo pode tambeacutem

dizer muito sobre a terra natal de uma famiacutelia linguiacutestica pode-se ainda por meio do referido

meacutetodo fazer suposiccedilotildees sobre as rotas legiacutetimas seguidas pelos povos para se chegar aos

lugares onde se encontram atualmente12

Destarte segundo Bassetto (2013) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo deu destaque agrave

semacircntica ao estabelecer a etimologia e ateacute a biografia das palavras aleacutem de tornar os estudos

filoloacutegicos mais objetivos Posto isso eacute possiacutevel verificar que o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo

pode ser usado nos estudos semacircnticos lexicais onomaacutesticos toponiacutemicos Quando se busca

relacionar a histoacuteria do nome com a histoacuteria do lugar vincula-se a palavra (o nome) agrave coisa (o

lugar) Nesse sentido pode-se de alguma maneira realizar o estudo natildeo apenas pautado no

meacutetodo onomasioloacutegico mas tambeacutem considerando as intrincadas relaccedilotildees entre nomes e as

coisas do mundo

Cabe ressaltar

Assim como procedimento metodoloacutegico seguido nos estudos

toponomaacutesticos buscamos definir o jaacute definido ou seja o objeto de estudo da

disciplina o seu campo de trabalho especiacuteficos a natureza linguiacutestica da

12 Por exemplo os caminhos que levaram (trouxeram) os bandeirantes agraves terras do iacutendio goyaacute

61

anaacutelise em termos de vinculaccedilatildeo a uma aacuterea do conhecimento Partindo-se da

definiccedilatildeo etimoloacutegica dos elementos gramaticais de origem grega enunciados

por Dioniacutesio de Traacutecia no seacuteculo II a C a Toponiacutemia ficou-se como propocircs

Leite de Vasconcelos (1887) no entendimento dos nomes proacuteprios de lugares

distintos dos nomes comuns delimitados pela teoria da linguagem (DICK

2006 p 96)

A toponomaacutestica entatildeo fundamenta-se nos estudos dos nomes proacuteprios de lugares

estabelecendo relaccedilotildees da liacutengua com o ambiente sendo de extrema necessidade observar os

viacutenculos do nomeador com a coisa nomeada a motivaccedilatildeo que subjaz ao topocircnimo

O meacutetodo da Geografia Linguiacutestica com a concepccedilatildeo basilar de que a distribuiccedilatildeo

geograacutefica dos aglomerados populacionais se reflete na diferenciaccedilatildeo linguiacutestica trouxe grande

contribuiccedilatildeo para o estudo dos nomes em geral pois pode refletir tendecircncias que orientaram o

ato de nomeaccedilatildeo tanto de pessoas como de lugares

Sobre o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo cabe apenas repetir que por enfatizar o aspecto

semacircntico das palavras vinculado agrave realidade que elas denominam contribui com o estudo dos

nomes jaacute que parte do princiacutepio de que as palavras se acham ligadas agraves coisas que elas

designam Uma vez conhecendo a natureza das coisas chega-se na verdadeira etimologia da

palavra contribuiccedilatildeo essa que valoriza a cultura e a histoacuteria das comunidades vendo no ser

humano o sujeito das transformaccedilotildees que ocorrem nas liacutenguas e na cultura

Posto isso considera-se mais uma vez que a onomasiologia busca investigar como uma

noccedilatildeo ou conceito eacute nomeado na liacutengua tendo sempre em mente que quem daacute nome agraves coisas

satildeo os falantes e o fazem em decorrecircncia da cosmovisatildeo de seu grupo O meacutetodo

onomasioloacutegico permite que a cultura do povo pesquisado seja revelada

Entretanto a despeito das contribuiccedilotildees que cada um trouxe para os estudos linguiacutesticos

nenhum desses meacutetodos foi suficiente teoricamente para deslindar os inuacutemeros aspectos que

permeiam o ato de nomeaccedilatildeo o que implica dizer que o mais sensato eacute combinar o que cada

meacutetodo apresenta de mais satisfatoacuterio referentemente ao problema que se pretende resolver o

que requer tambeacutem adaptaccedilotildees e revisotildees constantes de um ou de outro ou ainda da combinaccedilatildeo

deles

Considera-se entatildeo

os aspectos pelos quais entendemos a disciplina como conhecimento

cientiacutefico saber construiacutedo como objeto campo de trabalho e pesquisa

demarcados apesar disto manteacutem-se em intersecccedilatildeo a outros campos sem

perder sua identidade A metodologia que emprega em seus levantamentos eacute

de origem indutivo-dedutiva de acordo com os procedimentos

62

onomasioloacutegico-semasioloacutegicos caracteriacutesticos da pesquisa do leacutexico (DICK

2006 p 98)

E no que tange agrave metodologia aos procedimentos de pesquisa propriamente ditos

segundo Dick (1996) que podem ser aplicados nos estudos toponiacutemicos devem se estabelecer

da seguinte forma a) seleccedilatildeo de fontes primaacuterias (cartas geograacuteficas editadas por oacutergatildeos oficiais

estaduais e municipais em escalas de 150000 ou 1100000 ou listas toponiacutemicas oficiais) e

complementaccedilatildeo a partir de fontes secundaacuterias (trabalhos historiograacuteficos da proacutepria

comunidade acerca do local onde vivem) b) registro dos dados em fichas lexicograacuteficas

padronizadas com a identificaccedilatildeo dos nomes do pesquisador e do revisor fontes e data de

coleta c) anaacutelise de dados que inclui a quantificaccedilatildeo dos nomes e das taxonomias analisando

a maior ou menor frequecircncia de classes ou itens lexicais e do estudo dos nomes a partir de um

enfoque puramente linguiacutestico (etimoloacutegico e estrutural) linguiacutestico-histoacuterico e variacionista

Desta forma a metodologia para este trabalho baseia-se em Dick (1996 2006) e por

conseguinte estabelece relaccedilotildees com as demais pesquisas na aacuterea da toponomaacutestica De acordo

com a autora ldquoTrata-se de modelo semacircntico-motivador das ocorrecircncias toponomaacutesticas que

conformam a realidade designativa da nomenclatura geograacutefica oficial do paiacutesrdquo (Dick 2006 p

104) As taxionomias satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise linguiacutestica do topocircnimo e hoje

se dividem em vinte sete taxes pela importacircncia na ldquoanaacutelise linguiacutestica ou casual dos motivos

determinantes das designaccedilotildees integram as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas em um campo

funcional especiacuteficordquo (Dick 2006 p 106) E a partir destas fichas busca-se a identificaccedilatildeo do

topocircnimo e computar as categorizaccedilotildees motivadoras do designativo

A metodologia de pesquisa aqui proposta se caracteriza por ser de natureza documental

(documentos analoacutegicos eou digitais como as cartas topograacuteficas e levantamento histoacuterico

geograacutefico por meio do Instituto Mauro Borges IBGE e de mapas do municiacutepio de Pires do

Rio-GO) e de abordagem qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a

constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos

puacuteblicos e no levantamento histoacuterico-geograacutefico Os procedimentos consistem na

sistematizaccedilatildeo de leituras documentais e de investigaccedilatildeo de campo o que os vincula agrave induccedilatildeo

e seguem os meacutetodos etnolinguiacutesticos

O percurso apresentado por Dick (1990) isto eacute pautado na induccedilatildeo desenvolveu-se por

meio do plano onomasioloacutegico de investigaccedilatildeo em que a partir de um conceito geneacuterico se

identificam as variaacuteveis possiacuteveis das fontes consultadas Nos registros municipais constam os

63

nomes atuais e os nomes anteriores (quando houve mudanccedilas) dos lugares de toda regiatildeo

municipal Estes e os mapas constituem as fontes primaacuterias desta pesquisa pois

O percurso do fazer onomasioloacutegico e o percurso da produccedilatildeo de significaccedilatildeo

se inserem em direccedilotildees diferentes o fazer interpretativo perfaz um processo

semasioloacutegico por outro lado o fazer onomasioloacutegico eacute uma unidade

conceitual enquanto a definiccedilatildeo eacute o percurso do fazer lexicograacutefico

Entretanto ao conceituar eacute necessaacuterio construir um modelo mental que em

primeira instacircncia corresponda a um recorte cultural para a escolha da

estrutura lexical que melhor pode manifestar a percepccedilatildeo bioloacutegica do fato

que se completa ao analisar e descrever o semema linguiacutestico para reconstruir

esse modelo mental a partir de uma estrutura linguiacutestica manifestada

Ressalta-se o caraacuteter pluridisciplinar do signo toponiacutemico jaacute que por meio

dele pode-se conhecer a histoacuteria dos grupos humanos que viveram (e vivem)

nos limites geograacuteficos de Goiaacutes as especificidades da cultura e do ambiente

do povo o denominador as relaccedilotildees estabelecidas entre os aglomerados

humanos e o ecossistema as caracteriacutesticas fiacutesico geograacuteficas da regiatildeo

(geomorfologia) estratos linguiacutesticos de origem diferente do uso hodierno da

liacutengua ou mesmo de liacutenguas jaacute desaparecidas para se conhecer as motivaccedilotildees

subjacentes aos respectivos topocircnimos (SIQUEIRA 2015 mimeografado)

Para este estudo utilizaram-se inicialmente as Folhas Topograacuteficas editadas pela DSG

(Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito) na escala de 1100 000 Folhas Pires do Rio

SE-22-X-D-III Ipameri SE-22-X-D-VI e Cristianoacutepolis SE-22-X-D-II de 1973 para

identificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio juntamente com o mapa da rede hidrograacutefica do

municiacutepio de Pires do Rio-GO pois satildeo ldquoinstrumentos metodoloacutegicos haacutebeis para o estudo

onomaacutestico a documentaccedilatildeo cartograacutefica referida e a arquivologia que se posicionam como fontes

idocircneas para o estabelecimento das etapas relativas agrave desconstruccedilatildeo e agrave recriaccedilatildeo dos proacuteprios dadosrdquo

(DICK 1999 p 11)

O uso de mapas torna o trabalho relevante jaacute que eles satildeo elementos de comunicaccedilatildeo

visual os quais pertencem agrave linguagem Eles contemplam ainda a aacuterea tecnoloacutegica pois a sua

construccedilatildeo se daacute por meio da utilizaccedilatildeo de equipamentos programas e sites os quais tambeacutem

satildeo utilizados por noacutes para cartografar mapas juntamente com as taxes dos topocircnimos dos

cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO assim

Tomar o mapa como corpus permite tomar tambeacutem a questatildeo da relaccedilatildeo dos

nomes no seu conjunto e sua distribuiccedilatildeo no espaccedilo urbano Pode-se entatildeo

refletir como algo proacuteprio do corpus em anaacutelise sobre a questatildeo da nomeaccedilatildeo

dos espaccedilos da cidade bem como o modo de distribuiccedilatildeo dos nomes pelos

espaccedilos historicamente constituiacutedos (GUIMARAtildeES 2005 p 43)

Tradicionalmente entendidos como uma representaccedilatildeo simboacutelica dos contornos de uma

paisagem fiacutesica ou urbana os mapas se caracterizam por permitirem dois planos de

64

interpretaccedilatildeo o ldquoverbalrdquo expresso nos nomes dos elementos e o ldquonatildeo-verbalrdquo caracterizado

por siacutembolos convencionais distintos segundo a natureza do elemento mapeado (cursos drsquoaacutegua

caminhos serras rodovias estradas vicinais ferrovias vilas povoados cidades)

A propoacutesito

Se o meacutetodo empregado na Toponiacutemia como dissemos eacute aquele da

investigaccedilatildeo do pormenor toacutepico-nominal apreendido no registro das cartas

geograacuteficas (base documental) ou como variaccedilatildeo no exame do terreno ou do

objeto pelo proacuteprio pesquisador o material resultante na maioria das vezes

eacute de origem descontiacutenua e fragmentaacuteria A sequecircncia loacutegica dos termos areais

deve ser buscada o que exige cuidados de intepretaccedilatildeo e reflexatildeo para que

todo esse organismo construiacutedo coletiva ou individualmente em momentos

histoacutericos distintos venha a se construir em material de anaacutelise vaacutelido do

ponto de vista linguiacutestico (DICK 2006 p 99-100)

Desta forma dos 46 (quarenta e seis) topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de

Pires do Rio-GO (coacuterregos ribeirotildees rios e quedas drsquoaacutegua) por noacutes elencados na pesquisa

apenas 15 topocircnimos ndash por razotildees especiacuteficas que seratildeo relatadas no quarto capiacutetulo ndash seratildeo

catalogados em fichas conforme modelo desenvolvido por Dick (2004) Posteriormente

realizaremos as anaacutelises morfoloacutegicas e a classificaccedilatildeo semacircntico-motivacional e toponiacutemica

propriamente dita

O preenchimento das fichas lexicograacuteficas ndash que identificam o elemento designado as

entradas lexicais o pesquisador o revisor e as fontes da coleta ndash eacute a etapa inicial de um conjunto

de fases posteriores que integram o projeto

As etapas da pesquisa foram dividas da seguinte forma a) levantamento dos dados para

construir o corpus e a aquisiccedilatildeo das cartas Topograacuteficas do municiacutepio de Pires do Rio-GO b)

levantamento dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua registrados nas folhas topograacuteficas c) anaacutelise

e reconhecimento dos aspectos ambientais culturais dos designativos nos diferentes topocircnimos

observados e posteriormente cartografados d) investigaccedilatildeo dos provaacuteveis fatores

motivacionais inerentes aos sintagmas toponiacutemicos e) classificaccedilatildeo das taxionomias a partir do

recorte epistemoloacutegico dos dados coletados f) distribuiccedilatildeo quantitativa dos topocircnimos de

acordo com a natureza toponiacutemica (fiacutesica ou antropocultural) g) estudo linguiacutestico dos

sintagmas toponiacutemicos ndash origemetimologia estruturas semacircntica e morfoloacutegica

Por meio da categorizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico

histoacuterico-criacutetico que foi o norte de nossa pesquisa de certa forma revela-se que o topocircnimo foi

determinado pela populaccedilatildeo anterior ou pela presenccedila de imigrados no local o que faz-nos

perceber que as palavras natildeo apenas comunicam o que se quer dizer mas acusam a Histoacuteria

daquilo que foi dito por necessidades dinacircmicas das pessoas repassadas pela tradiccedilatildeo cultural

65

O proacuteximo capiacutetulo apresenta em linhas gerais um pouco da histoacuteria desse lugar que

abriga 46 cursos drsquoaacutegua e inclusive teve seu primeiro nome devido agrave exuberacircncia do reflexo da

lua cheia nas aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute A ldquoTeteia do Corumbaacuterdquo de antes deu lugar ao

municiacutepio nascido dos caminhos abertos pelos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz laacute pelos idos

de 1922

66

III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO

A cidade eacute por si mesma depositaacuteria de

histoacuteria

(ROSSI 1998)

Este capiacutetulo traz uma apresentaccedilatildeo dos dados histoacutericos referentes agrave fundaccedilatildeo e ao

posterior desenvolvimento social e urbano do municiacutepio de Pires do Rio-GO criado em

decorrecircncia da expansatildeo da Estrada de Ferro Goyaz pelo cerrado goiano As informaccedilotildees aqui

revisitadas integram obras de estudiosos como Siqueira (2006) Ferreira (1999) Borges

(1990) Soares (1988) que se detiveram por alguma razatildeo no esclarecimento de controveacutersia

acerca principalmente do verdadeiro fundador do municiacutepio e de fatos que antecederam a

inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo feacuterrea no ano de 1922

31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte

No iniacutecio do seacuteculo XX a Estrada de Ferro Goyaz avanccedilou sobre o territoacuterio de Goiaacutes

e com isso comeccedilaram a surgir vilas arraiais e distritos que com o progresso e passar dos

anos se elevariam a cidades A entatildeo chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no interior do

estado mais precisamente na regiatildeo Sudeste Goiana fez com que no ano de 1922 surgisse a

Estaccedilatildeo Pires do Rio e que se elevaria tatildeo logo a cidade

A estrada de ferro traria progresso agraves cidades e ao estado No entanto de acordo com

Borges (1990) alguns coroneacuteis adversos a qualquer tipo de mudanccedila de caraacuteter progressista

natildeo aceitavam a instalaccedilatildeo da estrada de ferro pois ela representaria uma forccedila nova de

transformaccedilatildeo que poderia ameaccedilar o poder constituiacutedo dos coroneacuteis Mas na formaccedilatildeo de

Pires do Rio-GO a chegada da Estrada de Ferro Goyaz foi aceita pelo coronel Lino Teixeira de

Sampaio e inclusive foi doado o terreno para a construccedilatildeo de uma estaccedilatildeo feacuterrea

Vale ressaltar que

a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro de Goiaacutes resultou primeiro do empenho

poliacutetico de uma fraccedilatildeo da classe dominante ligada a novos grupos oligaacuterquicos

que despontavam como forccedila poliacutetica no Estado a qual contou com apoio do

capital financeiro internacional Em segundo lugar como a ferrovia servia

inteiramente aos interesses da economia capitalista ou seja agrave nova ordem

econocircmica com expansatildeo no Paiacutes este fator direta ou indiretamente

67

pressionaria o Governo Federal a apoiar a construccedilatildeo da linha (BORGES

1990 p 55-56)

O avanccedilo da estrada de ferro na regiatildeo Sudeste do estado de Goiaacutes foi fundamental para

o surgimento da cidade de Pires do Rio-GO Ambas as histoacuterias se entrecruzam e revelam

acontecimentos que corroboraram com a construccedilatildeo de uma cidade promissora Para

(re)escrever esta histoacuteria eacute fundante mostrar a ficha lexicograacutefica-toponiacutemica jaacute que o objeto

desta pesquisa satildeo os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua pertencentes a cidade de Pires do Rio-GO

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 01

Topocircnimo Pires do Rio Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Antropocircnimo

Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Pires + do Rio ndash sobrenome)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Cidade sede do distrito do municiacutepio do termo e comarca de

igual nome Na regiatildeo oriental do municiacutepio entre o ribeiratildeo Sampaio e o Monteiro afluentes

do rio Corumbaacute com estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goiaacutes

Fonte Siqueira (2012) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Como jaacute observando no capiacutetulo I os estudos toponiacutemicos revelam fatores soacutecio-

histoacuterico-culturais de uma dada comunidade e Pires do Rio-GO nos revela isso de forma

peculiar como podemos observar na ficha acima a caracterizaccedilatildeo do topocircnimo em que a

taxionomia eacute de natureza antropocultural antropotopocircnimo relativo a nomes proacuteprios e de

famiacutelia (sobrenome do ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas Dr Joseacute Pires do Rio) A base

etimoloacutegica eacute antropocircnimo a estrutura morfoloacutegica eacute de nome composto e as informaccedilotildees

enciclopeacutedias vecircm ratificar informaccedilotildees jaacute expressas na ficha Essas informaccedilotildees nos satildeo

precisas e no decorrer (re)editaremos partes relevantes da histoacuteria desta cidade

Observar o surgimento do municiacutepio de Pires do Rio eacute reviver a construccedilatildeo da linha

feacuterrea na regiatildeo Sudeste e para tal ato buscamos em algumas literaturas reconstruir em partes

a histoacuteria da cidade de Pires do Rio-GO que carinhosamente foi apelidada de ldquoTeteia do

68

Corumbaacuterdquo devido ao reluzir sobre as aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute a exuberacircncia da lua

cheia

Na histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade haacute controveacutersias pois alguns dizem ter sido o Coronel

Lino Teixeira de Sampaio o fundador mas Wilson Cavalcanti Nogueira filho do Sr Manoel

Cavalcanti Nogueira o primeiro Intendente da cidade em seus estudos revela que o fundador

de Pires do Rio foi o Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida diretor da Estrada de Ferro Goyaz

Nos estudos de Jacy Siqueira (2006) piresino historiador cujo livro Um contrato

singular e outros ensaios de histoacuteria de Goiaacutes descreve a origem da cidade de Pires do Rio

com base em documentos oficiais o autor citado presume a veracidade dos fatos que

contribuem para exposiccedilatildeo histoacuterica deste capiacutetulo jaacute que ldquoo tempo eacute agente terriacutevel a tudo

colhe separa peneira depura e evidencia ndash verdade ou mentira ndash com a forccedila e a violecircncia

decorrentes do pesado braccedilo da Histoacuteria de quem eacute o servidor fiel e mestre implacaacutevelrdquo

(SIQUEIRA 2006 p 65)

Em relaccedilatildeo aos fatos que marcam o iniacutecio da fundaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidade de Pires

do Rio os historiadores remetem a inuacutemeras controveacutersias sobre a fundaccedilatildeo e os reais

fundadores e tambeacutem sobre a existecircncia de um povoado que competia com o Roncador em

1921 que mais tarde nos arquivos seria o Bairro do Fogo hoje Santa Ceciacutelia O local Rua do

Fogo eacute toda a parte situada do outro lado da linha feacuterrea

Rua do Fogo na descriccedilatildeo de Nogueira se formou pela atraccedilatildeo de pessoas de

diversas regiotildees com o intuito de negociar e prestar serviccedilos diversificados

aos operaacuterios da Estrada eram lavadeiras curandeiro sapateiro padeiro

professor primaacuterio fotoacutegrafo meretrizes e aventureiros Configurando um

povoamento tiacutepico do pioneirismo cada dia mais pessoas chegavam

predominantemente aventureiros muitos deles ateacute mesmo com passado

criminal As casas sendo erguidas raacutepidas e improvisadamente perfilaram-se

em ambos lados ao longo de uma rua irregular que era cenaacuterio de constantes

desordens e violecircncias ganhando por isso o nome de Rua do Fogo A

constante chegada de pessoas levou o povoado a competir em dimensatildeo com

a vizinha Roncador jaacute em 1921 (FERREIRA 1999 p 100)

O Porto do Roncador em 24 de agosto de 1921 recebe a visita do Ministro da Viaccedilatildeo

e Obras Puacuteblicas Engenheiro Sr Joseacute Pires do Rio que na qualidade anterior de Inspetor Geral

das Estradas de Ferro havia se posicionado contraacuterio ao prolongamento da ferrovia no Estado

de Goiaacutes Na ocasiatildeo ficou resolvido que a ponte sobre o rio Corumbaacute deveria se chamar Ponte

Pires do Rio e a primeira estaccedilatildeo a seguir Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio Pessoa mas ocorreu o

contraacuterio Essa informaccedilatildeo foi publicada inclusive nos meios de comunicaccedilatildeo da eacutepoca

69

A Informaccedilatildeo Goyana revista fundada por Henrique Silva que se edita no

Rio de Janeiro na sua ediccedilatildeo de agosto de 1921 (Ano V Vol V n ordm 1 p 1)

traz a reportagem ldquoO Ministro de Viaccedilatildeo Visita o Estado de Goiaacutesrdquo Destaca-

se dela

Tem-se resolvido que a primeira estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz aleacutem

Roncador se denomine ndash Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio

A ponte do Corumbaacute segundo solicitaccedilatildeo dos que tomaram parte na recepccedilatildeo

do Sr ministro da Viaccedilatildeo seraacute denominada ndash Ponte Pires do Rio (SIQUEIRA

2006 p 44 grifos do autor)

As obras estavam a todo vapor e enquanto aguardavam a conclusatildeo da ponte sobre o

rio Corumbaacute os serviccedilos de movimentaccedilatildeo de terra eram feitos aleacutem da outra margem do rio

tendo jaacute avanccedilado ateacute Tavares quilocircmetro 303 da ferrovia distante 84 quilocircmetros de

Roncador O local da estaccedilatildeo de Pires do Rio situa-se no quilocircmetro 218 pouco distante do rio

na Comarca de Santa Cruz em terras da Fazenda do Brejo ou do Sampaio de propriedade do

fazendeiro local coronel Lino Teixeira de Sampaio

No dia 13 de julho de 1922 no momento de inauguraccedilatildeo da ponte metaacutelica construiacuteda

sobre o rio Corumbaacute fez-se a inversatildeo do que o Senhor Ministro havia solicitado pois ela

recebeu o nome do presidente da repuacuteblica (Epitaacutecio Pessoa) troca esta feita pelo diretor da

Estrada de Ferro Goyaz o engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida

A execuccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa significou a integraccedilatildeo das demais regiotildees goianas

no desenvolvimento econocircmico uma vez que o rio Corumbaacute representava uma onerosa barreira

econocircmica para a produccedilatildeo dessas regiotildees Pires do Rio primeira estaccedilatildeo na outra margem do

Corumbaacute prometia ser um entreposto regional devido agrave sua possiacutevel ligaccedilatildeo por terra com

antigos e promissores municiacutepios isolados pelo rio e que natildeo foram contemplados com a

ferrovia Santa Cruz de Goiaacutes Bela Vista Piracanjuba Caldas Novas e Morrinhos O que veio

concretizar essa possibilidade foi a disposiccedilatildeo do coronel Lino Teixeira de Sampaio em doar

terras agrave Estrada de Ferro Goyaz para juntamente com a estaccedilatildeo fundar no local uma cidade

Nesse aspecto seu empenho foi aacutegil e eficiente dois planos urbanos que vieram garantir para

os pioneiros a certeza da existecircncia de uma cidade no local (FERREIRA 1999)

Nas bases da histoacuteria da rede feacuterrea segundo Ferreira (1999) quando da inauguraccedilatildeo

da estaccedilatildeo Pires do Rio foi tambeacutem decretada a fundaccedilatildeo da cidade registrada em obelisco

erguido no largo de frente agrave estaccedilatildeo hoje a praccedila do mercado municipal considerando-se como

fundador o engenheiro da ferrovia Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida e designando a cidade

pelo nome (uma homenagem) do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas engenheiro Joseacute

Pires do Rio

70

Houve tambeacutem a intenccedilatildeo por parte do Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida em deixar a

estaccedilatildeo de Pires do Rio como ponta de linha para que se desenvolvesse rapidamente Finda a

raacutepida inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo seguiu tambeacutem o engenheiro no ldquotrem Inauguralrdquo rumo a

Tapiocanga ndash a proacutexima estaccedilatildeo depois de Pires do Rio ndash para inaugurar sua estaccedilatildeo

improvisada em um simples vagatildeo pois era um local onde natildeo havia nenhuma edificaccedilatildeo

passando mesmo assim a ser a ponta de linha

No dia 9 de novembro de 1922 eacute inaugurado o obelisco a cerca de 50 metros da estaccedilatildeo

ferroviaacuteria jaacute edificada considerada a pedra fundamental da cidade de Pires do Rio Encontra-

se grafado no monumento em alto-relevo que o Engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida na

eacutepoca diretor da Estrada de Ferro de Goyaz era o fundador da cidade de Pires do Rio uma

ldquofraserdquo que tem gerado algumas controveacutersias acerca do verdadeiro fundador da cidade

(SIQUEIRA 2006)

Enquanto alguns escritores piresinos e familiares alimentam a disputa ideoloacutegica no

niacutevel da influecircncia poliacutetica do coronel Lino Teixeira de Sampaio corroborada pela doaccedilatildeo de

um terreno para a construccedilatildeo da cidade outros tecircm se debruccedilado sobre as criacuteticas advindas do

meio acadecircmico local uma vez que o aniversaacuterio da cidade natildeo coincide com a data da escritura

de doaccedilatildeo das terras 05 de julho de 1922 mas com a data oficial inscrita na pedra fundacional

feita pelo Diretor da Estrada de Ferro Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida 09 de novembro de

1922

Siqueira (2006) eacute um dos estudiosos que argumentam a favor da tese de que o fundador

da cidade eacute o coronel Lino Teixeira de Sampaio Desta forma para corroborar o ato de doaccedilatildeo

da gleba de terra Siqueira (2006) recorreu aos livros de registros do Cartoacuterio de Imoacuteveis da

Comarca de Santa Cruz de Goiaacutes onde se encontra a escritura puacuteblica lavrada no dia 5 de julho

de 1922 pois na eacutepoca as terras pertenciam a este referido municiacutepio a qual nos informa que

por eles [Lino e Rozalina] foi dito que de suas livres e espontacircneas vontades

e sem coaccedilatildeo alguma doam agrave Estrada de Ferro de Goyaz com (4) alqueires

de terreno de campo divididos e demarcados nesta fazenda do ldquoBrejordquo

conforme consta na planta confeccionada pela dita Estrada de Ferro e bem

assim a aacutegua necessaacuteria ao abastecimento da Estaccedilatildeo jaacute edificada dentro destes

quatros alqueires Declaram mais os doadores que fazem a doaccedilatildeo dos

referidos terrenos agrave Estrada de Ferro de Goyaz sem que a mesma Estrada tenha

obrigaccedilatildeo de espeacutecie alguma cabendo-lhe apenas Dividir o terreno doado em

pequenos lotes para que seja dado iniacutecio agrave edificaccedilatildeo de uma pequena Cidade

excluindo o referido a faixa necessaacuteria agrave Estaccedilatildeo arrendar os lotes e aplicar

as rendas em melhoramentos da futura Cidade e edificaccedilatildeo de um Grupo

Escolar natildeo admitir seja construiacutedo preacutedio algum sem que seja previamente

aprovada pela diretoria da Estrada a respectiva planta (SIQUEIRA 2006 p

29)

71

Entretanto os fatos histoacutericos remetem agrave data de 09 de novembro como sendo de

fundaccedilatildeo da cidade jaacute que essa data se justifica pela inauguraccedilatildeo (documentada) da estaccedilatildeo

ferroviaacuteria Pires do Rio embora para Siqueira (2006) a data de fundaccedilatildeo da cidade seja o dia

05 de julho de 1922 data que coincide com a da escritura puacuteblica de doaccedilatildeo das terras agrave Estrada

de Ferro Goyaz

Siqueira (2006) ainda acrescenta as suas consideraccedilotildees acerca do fato de que o coronel

Lino Teixeira de Sampaio aleacutem de doar os quatro alqueires de terra accedilatildeo que outros

fazendeiros das estaccedilotildees seguintes natildeo tiveram apresentou um projeto urbano (planta) da

cidade a ser erguida nas proximidades da estaccedilatildeo projeto este de autoria de um engenheiro da

Estrada Aacutelvaro Pacca que foi apresentado e aprovado pela direccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz

em 1ordm de janeiro de 1922

De acordo com Ferreira (1999) acredita-se que no local definitivo da estaccedilatildeo por volta

do ano de 1923 apresentou-se outro projeto para a construccedilatildeo da cidade desta vez solicitado

ao topoacutegrafo da Estrada de Ferro Moacir de Camargo A cidade de Pires do Rio ficaria sendo

entatildeo a primeira cidade do Centro-Oeste a nascer com planejamento preacutevio antes de Goiacircnia

ou Brasiacutelia

O momento em que a cidade comeccedila a surgir de acordo com Nogueira (sd) fez com

que a populaccedilatildeo do Roncador migrasse toda para laacute carregando tudo aquilo que lhes pertencia

inclusive o material de construccedilatildeo das casas que foram demolidas construindo novas moradias

no local escolhido para tal fim Esse fato de mudar de um arraial para outro segundo Ferreira

(1999) veio a constituir o fenocircmeno por ele denominado de fagocitose pois para a formaccedilatildeo

da cidade Pires do Rio o arraial do Roncador extinguiu-se para vigorar a nascente cidade como

se observa nos dizeres abaixo

Pires do Rio crescia em terras de Santa Cruz municiacutepio de projeccedilatildeo

econocircmica e poliacutetica no Estado que dominou todo o sudeste e parte do sul de

Goiaacutes O arraial de origem fundado em 1729 teve seu valor econocircmico

firmado na extraccedilatildeo auriacutefera passando agrave Julgado de Santa Cruz em 1809 com

seu territoacuterio de influecircncia sobre uma extensa aacuterea Emancipou-se agrave Vila em

1833 quando Goiaacutes foi dividido em quatro Comarcas sendo Santa Cruz uma

delas Terminado o ciclo do ouro sua economia voltou-se durante o seacuteculo

XIX para a pecuaacuteria extensiva a agricultura e primitivo processamento da

produccedilatildeo agriacutecola sobrepondo-se agraves outras cidades de economia auriacutefera em

estagnaccedilatildeo A emancipaccedilatildeo de seus distritos ao longo do seacuteculo XIX foi-lhe

tirando a extensatildeo de seu poder territorial e de jurisdiccedilatildeo mas natildeo seu poder

econocircmico e poliacutetico no Estado Essa situaccedilatildeo veio a se alterar com a chegada

da Estrada de Ferro Goiaacutes (FERREIRA 1999 p 136)

72

As construccedilotildees jaacute haviam se iniciado e comeccedilara a chegar os novos moradores oriundos

de vaacuterias partes do paiacutes e do mundo que solidificariam a comunidade piresina Os baianos e os

aacuterabes foram os primeiros migrantes a chegarem e fixarem-se acreditando na futura cidade Os

baianos e outros nordestinos foram atraiacutedos pela frente de trabalho criada pela construccedilatildeo da

ferrovia Os italianos e espanhoacuteis tambeacutem se fizeram presentes na comunidade local No

entanto a maioria dos migrantes foram mesmo paulistas e mineiros Os estrangeiros tais como

italianos espanhoacuteis e principalmente aacuterabes foram partes integrantes da elite dominante

(FERREIRA 1999)

Pires do Rio se elevou a distrito do Municiacutepio de Santa Cruz em 23 de agosto de 1924

pela Lei nordm 66 E em 7 de julho de 1930 pela Lei nordm 903 foi criado o municiacutepio de Pires do

Rio E tatildeo logo pelo Decreto de ndeg 522 de 8 de janeiro de 1931 publicado no Correio Officcial

ndeg 1819 paacutegina 3 de 19 de abril do mesmo ano (SIQUEIRA 2006) oficializou a transferecircncia

da Comarca de Santa Cruz para a cidade de Pires do Rio

Na deacutecada de 30 estabelecia-se o comeacutercio na cidade de Pires do Rio natildeo tinha um

centro comercial propriamente dito mas algumas casas de comeacutercio espalhadas pela cidade

(FERREIRA 1999) A instalaccedilatildeo da energia eleacutetrica em 1934 deu um impulso agrave agroinduacutestria

local iniciada com a charqueada em 1924 e logo apoacutes por uma maacutequina beneficiadora de arroz

serraria faacutebrica de manteiga padarias curtume e outros pequenos centros de produccedilatildeo com

isso a necessidade de matildeo-de-obra impulsionava o crescimento da populaccedilatildeo jaacute que muitos

eram empregados pela via feacuterrea desta forma a vinda de imigrantes a nova cidade era

necessaacuterio Com o crescimento da cidade e da sua populaccedilatildeo foram necessaacuterias benfeitorias

que foram ocorrendo no decorrer dos anos

De acordo com Siqueira (2006) Pires do Rio se desenvolveu de forma diferenciada das

centenaacuterias cidades de Goiaacutes visto que a maioria se formou por tradicionais enraizados e

familiocratas grupos poliacuteticos ou simplesmente ldquooligarquiasrdquo o que permitiu uma abertura e

receptividade ao novo e ao desconhecido como paracircmetro coerente para a construccedilatildeo de uma

comunidade nascente No periacuteodo de 1921 a 1940 correspondentemente agrave cidade em sua

afirmaccedilatildeo poliacutetica e urbana foi composta por migrantes e imigrantes que se estabeleciam na

prestaccedilatildeo de serviccedilo agroinduacutestria e comeacutercio tudo isso oriundo da formaccedilatildeo da cidade pela

Estrada de Ferro Goyaz

Um fato ainda natildeo informado eacute que no ano de 1933 o municiacutepio era constituiacutedo de dois

distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Jaacute no decreto-lei nordm 5200 de 08 de dezembro de 1934

Pires do Rio eacute ldquorebaixadordquo agrave categoria de distrito do municiacutepio de Santa Cruz haja vista que

73

em divisotildees territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937 Pires do Rio figura como distrito

de Santa Cruz (IBGE 2016)

Em 03 de marccedilo de 1938 pelo Decreto-lei nordm 557 Pires do Rio retorna agrave categoria de

municiacutepio e Santa Cruz agrave de distrito No periacuteodo de 1939-1943 o municiacutepio aparece constituiacutedo

de trecircs distritos Pires do Rio Santa Cruz e Cristianoacutepolis O distrito de Santa Cruz pelo

Decreto-lei nordm 8305 de 31 de dezembro de 1943 passou a denominar-se Corumbalina Mas

pelo Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias de 20 de julho de 1947 Artigo 61

desmembrou-se do municiacutepio de Pires do Rio e foi elevado agrave categoria de municiacutepio com a

denominaccedilatildeo de Santa Cruz de Goiaacutes (IBGE 2016)

Em divisatildeo territorial datada de 1 de julho de 1950 o municiacutepio eacute constituiacutedo de dois

distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Depois pela lei municipal nordm 221 de 15 de julho 1953

eacute criado o distrito de Palmelo e anexado ao municiacutepio de Pires do Rio A lei estadual nordm 739 de

23 de junho de 1953 desmembra do municiacutepio de Pires do Rio o distrito de Cristianoacutepolis

elevado entatildeo agrave categoria de municiacutepio Rapidamente o distrito de Palmelo pela lei estadual

nordm 908 de 13 de novembro de 1953 eacute desmembrado do municiacutepio de Pires do Rio e elevado agrave

categoria de municiacutepio (IBGE 2016)

A ferrovia foi um marco na histoacuteria de Pires do Rio uma vez que o transporte ferroviaacuterio

era utilizado para escoar a produccedilatildeo Aleacutem disso a instalaccedilatildeo do Frigoriacutefico Brasil Central

estimulou a produccedilatildeo da pecuaacuteria de corte Nas deacutecadas de 1950 e 1960 destacou-se por

exportar o charque e pela produccedilatildeo de cerveja Jaacute com a construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 e a

implantaccedilatildeo das rodovias favoreceu-se a sua interligaccedilatildeo aos outros municiacutepios goianos

O fluxo de cargas e pessoas pela via ferroviaacuteria entre os anos de 1940 a 1950 apresentava

regularidade mas devido agrave construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 de 1965 a 1970 apresentou uma

queda gradativa por deficiecircncia teacutecnica das linhas falta de manutenccedilatildeo delas e dos

equipamentos lentidatildeo do transporte o que provocou em 1970 a desativaccedilatildeo do transporte de

passageiros A Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima (RFFSA) foi privatizada em 1996

e a Ferrovia Centro Atlacircntica (FCA) adquiriu 7080 km de extensatildeo operando 685 km em

Goiaacutes tendo adotado uma nova poliacutetica investindo dois milhotildees de reais na ferrovia

desativando vaacuterias estaccedilotildees (NOVAIS 2014) Na Estaccedilatildeo Pires do Rio ficou funcionando

apenas o escritoacuterio da FCA e o Museu Ferroviaacuterio e na Estaccedilatildeo Roncador uma oficina de

manutenccedilatildeo de vagotildees

Segundo Novais (2014) a ferrovia enquanto elemento modernizador do Sudeste

Goiano e instrumento capaz de aumentar as aglomeraccedilotildees urbanas e dinamizar o progresso da

regiatildeo de acordo com os novos interesses dominantes sempre esteve sob o controle do poder

74

econocircmico estatal ou de grupos Sua expansatildeo justificou-se em detrimento dos interesses

capitalistas e imperialistas Portanto a estrada de ferro eacute um produto da induacutestria capitalista da

Primeira Revoluccedilatildeo Industrial colocada a serviccedilo do capital e resultante das transformaccedilotildees

ocorridas no processo de expansatildeo do capitalismo no Brasil e no mundo (BORGES 1990) O

Estado de Goiaacutes ao inserir-se na dinacircmica capitalista e implantar a via feacuterrea em seu territoacuterio

conseguiu integrar-se ao mercado brasileiro aleacutem de mitigar anos de atraso e isolamento

econocircmico

32 Pires do Rio geograacutefico

O municiacutepio de Pires do Rio localiza-se na Microrregiatildeo do Sudeste Goiano inserida

na Mesorregiatildeo Sul Goiano A Microrregiatildeo eacute reconhecida como a regiatildeo da Estrada de Ferro

Limita-se com os municiacutepios goianos de Orizona Vianoacutepolis Urutaiacute Caldas Novas Satildeo

Miguel do Passa Quatro Santa Cruz de Goiaacutes Palmelo Cristianoacutepolis e Ipameri A aacuterea da

unidade territorial (kmsup2) eacute de 1073361 com uma altitude meacutedia de 75886 O municiacutepio

encontra-se entre as seguintes coordenadas geograacuteficas

Mapa 1 ndash Pires do Rio (GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio (GO)

75

A cidade de Pires do Rio eacute constituiacuteda por riquezas naturais do bioma Cerrado o qual

apresenta uma heterogeneidade na sua fisionomia pois engloba desde formaccedilotildees florestais

como as Matas Ciliares (vegetaccedilatildeo que fica nas margens dos rios) e Cerradatildeo aleacutem do Cerrado

restrito (eacute o Cerrado tiacutepico formado por vegetaccedilotildees arboacutereas de casca grossa e troncos

retorcidos) com formaccedilotildees vegetais ou herbaacuteceas (campo sujo e limpo)

Uma das caracteriacutesticas marcantes do Cerrado eacute sua riqueza em recursos hiacutedricos e Pires

do Rio natildeo foge agrave regra Servindo de fronteiras naturais para o municiacutepio tem-se o rio do Peixe

na parte norte A parte sul do municiacutepio desagua no rio Corumbaacute que tambeacutem eacute utilizado como

fronteira natural e eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio Aleacutem destes tem o rio Piracanjuba

que devido agrave sua estrutura rochosa e seu volume de aacutegua foi palco da construccedilatildeo de uma usina

hidreleacutetrica em meados do seacuteculo XX que abastecia a cidade embora hoje encontre-se em

ruiacutenas

Aleacutem dos trecircs rios o municiacutepio possui ao longo de todo seu o territoacuterio vaacuterias

nascentes coacuterregos ribeirotildees quedas drsquoaacutegua os quais satildeo todos afluentes do rio Corumbaacute

Vale ressaltar que a maioria dos cursos drsquoagua satildeo perenes ou seja tem aacutegua o ano todo por

isso muitos deles tem o nome da regiatildeo em que se encontra pois satildeo objetos marcantes na

paisagem

Segundo o IBGE (1957) a populaccedilatildeo piresina no Recenseamento de 1950 era de

12946 habitantes (inclusive a populaccedilatildeo dos atuais municiacutepios de Cristianoacutepolis e Palmelo ndash

na eacutepoca distritos de Pires do Rio) apresentando quadro urbano e suburbano com uma

populaccedilatildeo de 4836 habitantes sendo 2282 homens e 2554 mulheres A densidade

demograacutefica era de 12 habitantes por quilocircmetro quadrado verificando-se que 53 da

populaccedilatildeo localizava-se no quadro rural

Na deacutecada de 50 o municiacutepio de Pires do Rio tinha um nuacutecleo populacional que era o

povoado de Marataacute aleacutem da sede (como jaacute mencionado no ano de 1953 os distritos de

Cristianoacutepolis e Palmelo satildeo elevados a municiacutepio) Mas com o passar dos anos ele deixa de

existir ficando apenas a Igreja de Satildeo Sebastiatildeo As atividades econocircmicas do municiacutepio eram

predominantemente a produccedilatildeo agriacutecola e pecuaacuteria O municiacutepio apresentava-se como um local

de atraccedilatildeo recreativa pela sua beleza paisagiacutestica a qual pode ser observada na cachoeira do

Salto no rio Piracanjuba jaacute mencionado onde foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica que forneceu

energia agrave cidade ateacute meados do seacuteculo XX

A populaccedilatildeo em 2010 era de 28762 habitantes sendo 14105 homens e 14657

mulheres Predominantemente urbana com 27094 pessoas e apenas 1668 no meio rural Pires

do Rio apresenta uma aacuterea de 1073361 km2 e uma densidade demograacutefica de 2680 habkmsup2

76

O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) do municiacutepio eacute de 0744 A Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa (PEA) eacute de 8717 homens e 6128 mulheres (IBGE 2016)

De acordo com os dados populacionais desde o Recenseamento da deacutecada de 50 (dados

jaacute mostrados anteriormente) a cidade teve um crescimento consideraacutevel como pode ser

observado nos quadros abaixo

Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo recenseamento

Populaccedilatildeo Censitaacuteria

1980 1991 2000 2010

Total de habitantes 19258 22131 26229 28762

Urbano 16670 20537 24473 27094

Zona Rural 2588 1594 1756 1668

Masculino 9498 10904 12948 14105

Feminino 9760 11227 13281 14657

Urbano Masculino 8098 10027 11966 13208

Urbano Feminino 8572 10510 12507 13886

Zona Rural Masculino 1400 877 982 897

Zona Rural Feminino 1188 717 774 771

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Nos dados que satildeo apresentados pelo IBGE (populaccedilatildeo estimada) entre os anos 2001 e

2004 ocorreu uma queda no crescimento populacional em relaccedilatildeo ao ano de 1999 que foi de

28631 e nos demais anos segue 2001 26600 2002 27091 2003 27491 2004 28332 A

respeito desta queda natildeo conseguimos informaccedilotildees Em duas datas especiacuteficas houve uma

contagem da populaccedilatildeo seguem os dados abaixo

Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo contagem

Populaccedilatildeo Contagem

1996 2007

Total de habitantes 25094 26857

Masculino 12403 13232

Feminino 12691 13574

Urbano 23766 25031

77

Zona Rural 1328 1826

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Os dados inseridos no quadro 3 satildeo uma estimativa da populaccedilatildeo informada pelo IMB

e IBGE

Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio (GO)

Populaccedilatildeo Estimada

2011 2012 2013 2014 2015

28956 29145 30232 30469 30703

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Para entreter a populaccedilatildeo o turismo do municiacutepio estaacute relacionado agraves edificaccedilotildees com

relevacircncia arquitetocircnica e cultural como a Ponte Epitaacutecio Pessoa o antigo Frigoriacutefico Brasil

Central as igrejas Satildeo Sebastiatildeo (Patrimocircnio do Marataacute) Satildeo Benedito (Igreja dos Congos) a

Ferrovia Centro Atlacircntica e o Museu Ferroviaacuterio O patrimocircnio material eacute representado pelo

centro histoacuterico principalmente a Igreja Matriz Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus coreto e chafariz da

Praccedila Gaudecircncio Rincon Segoacutevia o Mercado Municipal a Biblioteca Municipal a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria e a casa do Maneco (hoje em ruiacutenas) que formam um conjunto arquitetocircnico

singular como tambeacutem as belezas naturais das Serras da Caverna e das Flores a cachoeira do

Marataacute e Prainha (as margens do rio Corumbaacute)

De acordo com Novais (2014) nos anos de 1980 o municiacutepio conheceu a expansatildeo da

fronteira agriacutecola com a introduccedilatildeo do cultivo da soja logo apoacutes em 1993 atraiu investimentos

com a implantaccedilatildeo do complexo agroindustrial aviacutecola e a industrializaccedilatildeo do setor

contribuindo para o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que perpassou a regiatildeo do Sudeste

Goiano Atualmente a economia piresina eacute voltada para as atividades agriacutecolas como a

produccedilatildeo de soja milho sorgo arroz feijatildeo e mandioca

O comeacutercio a infraestrutura e serviccedilos (sauacutede educaccedilatildeo comeacutercio e prestaccedilatildeo de

serviccedilos) exercem funccedilatildeo de polo atrativo para moradores dos municiacutepios vizinhos Toda a

importacircncia do municiacutepio para a regiatildeo o estado e o paiacutes se deve agrave instalaccedilatildeo da Estrada de

Ferro Goyaz e aos que acreditaram no crescimento de Pires do Rio e investiram em seu

territoacuterio Por esta razatildeo que parte de nossa pesquisa busca reviver fragmentos da histoacuteria desta

cidade que se faz importante para uma regiatildeo estado e paiacutes

78

33 Os cursos drsquoaacutegua

No quadro abaixo apresentamos os nomes dos cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio

levantamento realizado de acordo com os mapas cartas topograacuteficas e vocabulaacuterio do IBGE

(1957)

Quadro 6 ndash Cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO)

Vocabulaacuterio Geograacutefico ndash IBGE (1957)

Rio ndash 3 Paacutegi

na

Descriccedilatildeo Municiacutepio de

Nasceste

Rio Corumbaacute 75 Rio nasce nos arredores de Pirineus

atravessa o municiacutepio como o de Santa

Luzia depois de servir em pequeno trecho

de divisa a Bonfim Adiante separa Ipameri

e Corumbaiacuteba de um lado e Campo

Formoso Pires do Rio Caldas Novas Buriti

Alegre do outro ateacute desaguar no rio

Paranaiacuteba pela margem direita

Corumbaacute

Rio do Peixe 165 Rio nasce na regiatildeo sul-oriental do

municiacutepio que separa dos de Campo

Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio

e o de Caldas Novas desemboca no rio

Corumbaacute pela margem direita

Silvacircnia

Rio Piracanjuba 171 (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce

na serra de Passa Quatro e atravessa o

municiacutepio bem como o de Pouso Alto

Adiante separa Caldas Novas de Morrinhos

e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio

Corumbaacute pela margem direita

Bela Vista

Coacuterrego ndash 34

Coacuterrego Areias 15 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Pires do Rio

Coacuterrego Barreiro - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia

Coacuterrego do

Barreiro

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Piracanjuba

Coacuterrego dos Batista - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Bauzinho 29 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Bauacute

Orizona

Coacuterrego da Braga 37 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Santa Maria

Luziacircnia

79

Coacuterrego Boa Vista 32 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Buracatildeo 40 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Buriti 42 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio dos Bois

Pires do Rio

Coacuterrego Cachoeira 47 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Piracanjuba

Silvacircnia

Coacuterrego Capoeira

Grande

60 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Cachoeira

Orizona

Coacuterrego Carvalho - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego da Caverna 66 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio dos Peixes (M de Pires do Rio)

Pires do Rio

Coacuterrego Corrente - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Domingo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego da Estiva 88 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Brumado

Pires do Rio

Coacuterrego Fundatildeo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Cocalzinho de

Goiaacutes

Coacuterrego Guaraacute 106 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Itauacutebi - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Juca - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Lajinha 124 Coacuterrego afluente da margem direita do

coacuterrego Taperatildeo

Orizona

Coacuterrego Laranjal 126 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Bauacute

Pires do Rio

Coacuterrego Limeira 128 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Ipameri

Coacuterrego Marreco 136 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Bauacute

Orizona

Coacuterrego Mata

Dentro

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego do

Mocambo

144 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

das Antas

Silvacircnia

Coacuterrego Olho

drsquoaacutegua

152 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Piracanjuba

Orizona

Coacuterrego do Pico 168 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Brumado

Pires do Rio

Coacuterrego

Piracanjuba

171 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

igual nome

Morrinhos

Coacuterrego Posse 177 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

coacuterrego do Fundo

Orizona

80

Coacuterrego Satildeo

Jerocircnimo

202 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Caiapoacute

Pires do Rio

Coacuterrego Saltador 193 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute proacuteximo a barra do rio

Alagado

Luziacircnia

Coacuterrego Taquaral 217 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute (M de Pires do Rio)

Pires do Rio

Coacuterrego da Terra

Vermelha

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia

Ribeiratildeo ndash 8

Ribeiratildeo Bauacute 29 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Piracanjuba na divisa do municiacutepio de Pires

do Rio

Orizona

Ribeiratildeo Brumado 33 Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do

rio dos Peixes

Santa Cruz de

Goiaacutes

Ribeiratildeo Cachoeira 47 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Piracanjuba

Orizona

Ribeiratildeo Caiapoacute 50 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Urutaiacute

Ribeiratildeo Marataacute - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Ribeiratildeo Mucambo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Ribeiratildeo Sampaio 194 Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da

margem direita do rio Corumbaacute (M de

Pires do Rio)

Pires do Rio

Ribeiratildeo Taquaral - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Orizona

Quedas drsquoaacutegua ndash 1

Cachoeira do

Marataacute

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Fonte Vocabulaacuterio Geograacutefico IBGE 1957

O quarto capiacutetulo apresenta a descriccedilatildeo e anaacutelise de quinze dos 46 topocircnimos (escolha

esta pela relaccedilatildeo de representaccedilatildeo para a cidade de Pires do Rio-GO) de acordo com os aportes

teoacutericos revisados no primeiro capiacutetulo e em consonacircncia com os meacutetodos apresentados e

discutidos no segundo capiacutetulo apresenta ainda algumas questotildees teoacutericas suscitadas pelas

especificidades dos dados escolhidos

81

IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR

O signo toponiacutemico natildeo abre apenas o nome de

um lugar mas o lugar como um todo tudo que estaacute

relacionado a ele de uma forma ou de outra

(SIQUEIRA 2015)

Nos colocar a serviccedilo desta pesquisa foi o mesmo que redescobrir a cidade de Pires do

Rio-GO Conhecer a sua histoacuteria e poder reeditaacute-la remapear os seus cursos drsquoaacutegua e por fim

buscar na Toponiacutemia as relaccedilotildees de poder que os topocircnimos tecircm sobre cada espaccedilo nomeado

assim tomamos posse do que esta pesquisa nos proporcionou e aqui estaacute o aacutepice dela os dados

e suas anaacutelises

Segundo Dias (2008) o municiacutepio de Pires do Rio-GO tem como principais cursos

drsquoaacutegua o rio Corumbaacute situado na parte sudeste o rio Piracanjuba no nordeste e rio do Peixe

na parte sul os quais correm em direccedilatildeo agrave calha do rio Paranaiacuteba (uma das quatro bacias

hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes) ao sul Os rios do Peixe e Piracanjuba desaguam no

Corumbaacute sendo limites de fronteiras do municiacutepio Aleacutem desses rios a rede hidrograacutefica eacute

formada por vaacuterios ribeirotildees e coacuterregos

Para proceder com as devidas anaacutelises dos topocircnimos nos eacute necessaacuterio partir de algumas

definiccedilotildees de nomenclaturas da aacuterea da geografia mas natildeo tivemos acesso a nenhum dicionaacuterio

terminoloacutegico da aacuterea especiacutefica devido agrave dificuldade de encontrar em bibliotecas puacuteblicas e

na internet desta forma recorremos aos dicionaacuterios Aulete (2011) Borba (2004) e Houaiss et

al (2004 2009) para assim proceder com a definiccedilatildeo de palavras (termos) que satildeo recorrentes

em nossa pesquisa a) curso drsquoaacutegua eacute qualquer corpo de aacutegua fluente b) coacuterrego um rio

pequeno com pouco volume de aacutegua que passa por vaacuterios lugares e sempre desagua em um

curso drsquoaacutegua (coacuterrego ribeiratildeo ou rio) c) queda drsquoaacutegua torrente de aacutegua que cai do alto

cachoeiracascata que satildeo formaccedilotildees geomorfoloacutegicas nas quais os cursos drsquoaacutegua correm por

cima de uma rocha de composiccedilatildeo resistente agrave erosatildeo formando uma suacutebita quebra na vertical

d) ribeiratildeo curso drsquoaacutegua maior que o riacho e menor que o rio afluente de um rio e) rio ou

fluacutemen eacute uma corrente natural de aacutegua que flui continuamente Possui um caudal consideraacutevel

e desemboca no mar num lago ou noutro rio e em tal caso denomina-se afluente Pode

apresentar vaacuterias redes de drenagem

Proceder com estas observaccedilotildees eacute elementar para esta pesquisa pois dos 46 topocircnimos

elencados no municiacutepio de Pires do Rio-GO analisaremos apenas 15 visto que analisar todos

82

os topocircnimos seria uma tarefa aacuterdua e que demandaria mais tempo registramos aqui o que nos

motivou agrave escolha dos cursos drsquoaacutegua para anaacutelise Como satildeo apenas 03 rios eacute viaacutevel e de bom

senso analisaacute-los jaacute que satildeo as maiores bacias e que datildeo destaque agrave regiatildeo os ribeirotildees satildeo

especificamente 08 os quais seratildeo analisados inclusive alguns nomes se repetem aos coacuterregos

tambeacutem 01 queda drsquoaacutegua cachoeira do Marataacute que natildeo seraacute analisada devido ao nome ser o

mesmo de um ribeiratildeo dos 34 coacuterregos analisaremos apenas 04 (Barreiro Itauacutebi Laranjal e da

Terra Vermelha) devido ao grau de importacircncia para a cidade pois os coacuterregos Itauacutebi (nascente)

e Laranjal satildeo os que abastecem a cidade de Pires do Rio-GO Quanto ao Barreiro este estaacute

localizado na regiatildeo do Morro do Cruzeiro localidade que tem o maior nuacutemero populacional

na zona rural do municiacutepio O coacuterrego da Terra Vermelha eacute uma aacuterea que haacute muito tempo foi

espaccedilo de olaria e dela saiacuteram grandes quantidades de tijolos que foram utilizados nas

construccedilotildees de casas na cidade e tambeacutem pertence a uma localidade onde existiu o povoado do

Marataacute na deacutecada de 50

No mapa 2 apresentamos os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do

Rio-GO bem como aparecem em destaque os 15 topocircnimos que analisaremos a seguir os quais

estatildeo catalogados em fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas que estatildeo inseridas neste capiacutetulo

83

Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)

84

41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural

Os modelos das taxionomias foram elaborados por Dick (1992) a fim de possibilitar ao

pesquisador descobrir o significado dos topocircnimos sem ter que retomar especificamente a

passado histoacuterico Os modelos subdividem-se em 11 taxes de natureza fiacutesica e 16 de natureza

antropocultural Assim podemos verificar se o nomeador recorreu a elementos de natureza

fiacutesico ou socioculturais como motivaccedilatildeo no ato da nomeaccedilatildeo Abaixo apresentamos as 27

taxes subdivididas em suas naturezas e devidas especificaccedilotildees exemplificadas com alguns

topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO nos casos de natildeo ter

recorremos a outros topocircnimos

a) Taxionomias de natureza fiacutesica

1 Astrotopocircnimos topocircnimos que se referem aos corpos celestes cidade Estrela do Norte-

GO

2 Cardinotopocircnimos topocircnimos referentes agraves posiccedilotildees geograacuteficas cidade Alvorada do

Norte-GO

3 Cromotopocircnimos topocircnimos relativos agrave escala cromaacutetica coacuterrego da Terra Vermelha (Pires

do Rio-GO)

4 Dimensiotopocircnimos topocircnimos referentes agraves caracteriacutesticas dimensionais dos acidentes

geograacuteficos como extensatildeo comprimento largura espessura altura profundidade coacuterrego

Fundatildeo (Pires do Rio-GO)

5 Fitotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de vegetais rio Corumbaacute (Pires do Rio-

GO)

6 Geomorfotopocircnimos topocircnimos referentes agraves formas topograacuteficas elevaccedilotildees ou depressotildees

do terreno coacuterrego do Pico (Pires do Rio-GO)

7 Hidrotopocircnimos topocircnimos originados de acidentes hidrograacuteficos ribeiratildeo Cachoeira

(Pires do Rio-GO)

8 Litotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de minerais e de nomes relativos agrave

constituiccedilatildeo do solo coacuterrego Barreiro (Pires do Rio-GO)

9 Meteorotopocircnimos topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos ribeiratildeo Brumado

(Pires do Rio-GO)

10 Morfotopocircnimos topocircnimos que refletem o sentido de forma geomeacutetrica cidade Volta

Redonda-RJ

11 Zootopocircnimos topocircnimos de iacutendole animal rio do Peixe (Pires do Rio-GO)

b) Taxionomias de natureza antropocultural

85

1 Animotopocircnimos ou Nootopocircnimos topocircnimos relativos agrave vida psiacutequica e agrave cultura

espiritual coacuterrego Boa Vista (Pires do Rio-GO)

2 Antropotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais ribeiratildeo Sampaio

(Pires do Rio-GO)

3 Axiotopocircnimos topocircnimos que se referem a tiacutetulos e a dignidades que acompanham os

nomes proacuteprios individuais cidade Senador Canedo-GO

4 Corotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes de cidades paiacuteses estados regiotildees e

continentes coacuterrego Posse (Pires do Rio-GO)

5 Cronotopocircnimos topocircnimos que encerram indicadores cronoloacutegicos como novonova

velhovelha cidade Nova Aurora-GO

6 Ecotopocircnimos topocircnimos que fazem referecircncia agraves habitaccedilotildees de um modo geral cidade

Castelacircndia-GO

7 Ergotopocircnimos topocircnimos relacionados aos elementos da cultura material ribeiratildeo Bauacute

(Pires do Rio-GO)

8 Etnotopocircnimos topocircnimos relativos aos elementos eacutetnicos tribos isolados ou natildeo ribeiratildeo

Caiapoacute (Pires do Rio-GO)

9 Dirrematotopocircnimos topocircnimos construiacutedos por meio de frases ou enunciados linguiacutesticos

cidade Aparecida do Rio Doce-GO

10 Hierotopocircnimos topocircnimos referentes aos nomes sagrados agraves efemeridades religiosas aos

locais de culto cidade Cristianoacutepolis-GO Podem apresentar duas subdivisotildees i)

hagiotopocircnimos topocircnimos que se referem aos santos e agraves santas do hagioloacutegio romano

coacuterrego Satildeo Jerocircnimo (Pires do Rio-GO) ii) mitotopocircnimos topocircnimos referentes agraves

entidades mitoloacutegicas cidade Anhanguera-GO

11 Historiotopocircnimos topocircnimos que se referem a movimentos de cunho histoacuterico-social aos

seus membros ou ainda agraves datas correspondentes cidade Ipiranga de Goiaacutes-GO

12 Hodotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves vias de comunicaccedilatildeo coacuterrego Corrente (Pires

do Rio-GO)

13 Numerotopocircnimos topocircnimos que dizem respeito aos adjetivos numerais cidade Trecircs

Ranchos-GO

14 Poliotopocircnimos topocircnimos constituiacutedos pelos vocaacutebulos vila aldeia cidade povoaccedilatildeo

arraial bairro Vila Nova (Pires do Rio-GO)

15 Sociotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais de trabalho

e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade ribeiratildeo Mucambo (Pires do Rio-

GO)

86

16 Somatotopocircnimos topocircnimos com relaccedilatildeo metafoacuterica agraves partes do corpo humano ou do

animal coacuterrego Olho drsquoaacutegua (Pires do Rio-GO)

Essas classificaccedilotildees taxonocircmicas funcionam como auxiliares no processo de verificaccedilatildeo

que subjaz o topocircnimo sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo da origem e motivaccedilatildeo que

levaram agrave efetivaccedilatildeo de determinado topocircnimo

Aleacutem do mais uma anaacutelise toponiacutemica pressupotildee a busca de particularidades

que natildeo podem ficar apenas nas caracteriacutesticas mais evidentes apresentadas

pelo nome deve-se procurar tanto quanto possiacutevel ou seja tanto quanto as

fontes ou a documentaccedilatildeo o permitirem as origens mais remotas do

denominativo objetivando as eventuais substituiccedilotildees experimentadas e a sua

razatildeo determinante de modo que se possa tentar um equacionamento da

nomenclatura em periacuteodos ou estaacutegios onomaacutesticos ndash senatildeo de toda ela pelo

menos em alguns nomes ndash que talvez reflitam momentos distintivos do pensar

da eacutepoca analisada (DICK 1996 p 15-16)

O leacutexico toponiacutemico eacute carregado de marcas de expressatildeo histoacuterica social cultural

poliacutetica e religiosa de dada comunidade e eacute representativo para o nomeador e seu grupo Desta

forma se determinado local ou coisa passou por vaacuterias nomeaccedilotildees no decorrer dos tempos isso

justifica que cada nomeador observou novas caracteriacutesticas que classificavam ou referenciavam

o topocircnimo de forma precisa e motivada

De acordo com Dick (1990) as vaacuterias facetas significativas que datildeo realce ao nome do

lugar e as inuacutemeras informaccedilotildees que podem ser elencadas dele tornariam no material de um

grande armazenamento de dados e fatos culturais em larga extensatildeo Assim observamos em

Andrade (2010 p 103) que

Os estudos toponiacutemicos dentro do alcance pluridisciplinar de seu objeto de

estudo constituem um caminho possiacutevel para o conhecimento do modus

vivendi das comunidades linguiacutesticas que ocupam ou ocuparam um

determinado espaccedilo Quando um indiviacuteduo ou comunidade linguiacutestica atribui

um nome a um acidente humano ou fiacutesico revelam-se aiacute tendecircncias sociais

poliacuteticas religiosas culturais (Grifos da autora)

Satildeo nessas caracteriacutesticas em que reside a motivaccedilatildeo do topocircnimo e por meio delas nos

satildeo reveladas a histoacuteria e cultura de uma dada comunidade por isso vemos o quanto os estudos

toponiacutemicos satildeo de extrema relevacircncia natildeo soacute para a aacuterea dos estudos da

linguagemlinguiacutesticos mas tambeacutem para as outras aacutereas do conhecimento jaacute que o topocircnimo

eacute plurissignificativo tendo assim um alcance pluridisciplinar

87

Posto isto pode-se evidenciar os estudos toponiacutemicos como um eixo norteador para se

verificar as relaccedilotildees soacutecio-histoacuterico-culturais de um povo jaacute que o topocircnimo estaacute intimamente

vinculado agrave cultura de um povo uma naccedilatildeo e portanto agrave sua histoacuteria Assim tomaremos por

anaacutelise os graacuteficos que se seguem e as taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua

do municiacutepio de Pires do Rio-GO

42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO

Nesta pesquisa os 15 topocircnimos analisados baseados na classificaccedilatildeo enquadram-se

na divisatildeo das naturezas fiacutesica e antropocultural Em alguns topocircnimos eacute possiacutevel ainda

evidenciar mais de uma categoria classificatoacuteria por exemplo o coacuterrego da Terra Vermelha

que se classifica como litotopocircnimo e cromotopocircnimo

Nos graacuteficos abaixo apresentamos e analisamos em base qualiquantitivas as naturezas

das taxionomias fiacutesicas e antropoculturais e a origemetimologia dos topocircnimos estratos

linguiacutesticos

Grafico1 Natureza das Taxionomias

As taxionomias nos permitiram analisar e interpretar os designativos de lugares com

maior precisatildeo e seguranccedila do ponto de vista semacircntico sendo estudados enquanto formas de

liacutengua e de acordo com a causa de seu emprego O produto resultante aqui no nosso caso os

88

topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO ganham vida proacutepria passando

a ter caraacuteter motivado e natildeo apenas arbitraacuterio

As taxes encontradas nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO que tiveram maior proporccedilatildeo foram as de natureza fiacutesica assim o nomeador caracterizou

os fatores fiacutesicos do ambiente ou que chamaram sua atenccedilatildeo Desta forma as nomeaccedilotildees satildeo

motivadas e estabelecem relaccedilotildees com o nomeador e o lugar nomeado

421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos

Os principais topocircnimos analisados neste trabalho confirmaram uma tendecircncia da

toponiacutemia brasileira em geral ou seja a predominacircncia de topocircnimos classificados de acordo

com as taxionomias de natureza fiacutesica uma vez que na nomenclatura onomaacutestica dos

elementos fiacutesicos da regiatildeo analisada haacute um percentual de 67 (10 topocircnimos) que satildeo

classificados como taxes de natureza fiacutesica e 33 (05 topocircnimos) que se enquadram nas taxes

de natureza antropocultural

Graacutefico 2 Taxionomias de Natureza Fiacutesica

O graacutefico apresentado nos revelam que a incidecircncia em sua maioria das taxionomias

de natureza fiacutesica evidencia a influecircncia do ambiente fiacutesico no ato de nomeaccedilatildeo percebe-se

entatildeo que no ato do batismo os povos recorreram a elementos e caracteriacutesticas circundantes

aos lugares nomeados demonstrando que o meio ambiente exerce grande influecircncia no homem

no ato de nomear os lugares

0

05

1

15

2

25

3

Taxionomias de Natureza Fiacutesica

89

Ao atribuir topocircnimos agraves taxionomias de natureza fiacutesica eacute possiacutevel comprovar a forccedila

de elementos fiacutesicos como motivadores no ato de nomear os lugares O que eacute observaacutevel no

graacutefico II os topocircnimos com maior incidecircncia nos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO sendo eles fitotopocircnimos hidrotopocircnimos litotopocircnimos litotopocircnimos e

cromotopocircnimos litotopocircnimos e fitotopocircnimos meteorotopocircnimos e zootopocircnimos que no

decorrer desse trabalho seratildeo analisados

4211 Fitotopocircnimos

De acordo com o observado a taxionomia de origem fitotoponiacutemica (originada de

nomes de vegetais) atingiu em segundo lugar o maior nuacutemero de frequecircncia dentre os

topocircnimos de natureza fiacutesica 20 (02 topocircnimos) satildeo eles coacuterrego Laranjal e ribeiratildeo

Taquaral Eacute observaacutevel que a flora foi uma das grandes motivaccedilotildees para os designativos dos

cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO E segundo Dick (1990 p 146)

O importante talvez seria natildeo perder de vista que a vegetaccedilatildeo eacute parte

integrante de um conjunto natural em que o relevo constituiccedilatildeo do solo

acidentes geograacuteficos regimes climaacuteticos compotildeem um verdadeiro

biossistema imprescindiacutevel ao homem e agrave qualidade de vida que nele pretenda

instalar ou pelo menos usufruir

Eacute nessas relaccedilotildees de importacircncia para o homem que podemos compreender a nomeaccedilatildeo

destes elementos fiacutesicos fazendo referecircncia a aspectos que chamaram a sua atenccedilatildeo e

motivaram a nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua Isso se revela pelo caraacuteter de necessidade agrave vida

humana tanto do nome como do que por ele foi nomeado essa relaccedilatildeo nomeador-objeto-nome

eacute que ressalta a importacircncia da vegetaccedilatildeo no meio social local do vivente Assim tambeacutem

justifica Pereira (2009 p 143) que ldquopossivelmente seja esse o motivo de o

denominadorenunciador registrar as caracteriacutesticas locais de uma regiatildeo na nomeaccedilatildeo dos

acidentes geograacuteficos por meio do topocircnimordquo

Ao trazer as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas eacute perceptiacutevel a motivaccedilatildeo que subjaz

cada topocircnimo como observamos abaixo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 02

Topocircnimo Coacuterrego Laranjal Localizaccedilatildeo Pires do Rio

90

Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia la-ran-jal Sm plantaccedilatildeo ou pomar de laranjas (p827)

Laranja sf lsquofruto da laranjeira planta da fam das rutaacuteceasrsquo XIV Do aacuter nāranğa deriv do

persa nāranğ laranjAL -gal XVI (p382)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino laranja- + -al sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Coacuterrego afluente da margem direita do ribeiratildeo Bauacute (M de

Pires do Rio)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 03

Topocircnimo Ribeiratildeo Taquaral Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ta-qua-ral Sm 1 plantaccedilatildeo de taquara tabocal 2 terreno onde crescem

taquaras (p1337)

Taquara sf lsquoplanta da fam das gramiacuteneas taboca bambursquo 1627 tacoara c 1584 etc

tacoaacutera 1817 Do tupi takṷara taquarAL 1783 (p623)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino taquara- + -al sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ao observar as informaccedilotildees trazidas nas fichas apresentadas dos fitotopocircnimos

possivelmente as motivaccedilotildees que influenciaram o nomeador satildeo perspicazes as referecircncias

locais que de acordo com cada topocircnimo relacionamos i coacuterrego Laranjal evidentemente em

sua localidade apresentava no momento de nomeaccedilatildeo a plantaccedilatildeo de laranjas e tambeacutem o

coacuterrego favorecia a essas plantaccedilotildees ii ribeiratildeo Taquaral assim como analisado o topocircnimo

91

anterior o que tenha influenciado ao nomeador deve estar relacionado com o a quantidade de

taquaras na regiatildeo em se encontra o determinado ribeiratildeo

A ocorrecircncia dos topocircnimos de iacutendole vegetal ora pesquisados pode ter a sua

justificativa pela relevacircncia que as plantas tecircm junto a vida humana bem como necessaacuterias para

a conservaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua e suas nascentes assim justificamos a tendecircncia de valoraccedilatildeo

do vegetal no processo de batismo dos elementos fiacutesicos

4212 Hidrotopocircnimos

O topocircnimo de equivalecircncia hidroniacutemica (originado de acidentes hidrograacuteficos) aparece

no em ribeiratildeo Cachoeira Sabe-se que a aacutegua eacute de fundamental importacircncia para a vida

humana por isso a tendecircncia de o nomeador no ato de batismo do topocircnimo valer-se do nome

relacionado ao elemento aacutegua para designar o lugar

E de acordo com Dick (1990 p 196) ldquoO aparecimento de topocircnimos nos mais

diferentes ambientes revestindo uma natureza hidroniacutemica propriamente dita vincula-se agrave

importacircncia dos cursos drsquoaacutegua para as condiccedilotildees humanas de vidardquo Possivelmente o nomeador

a considera o elemento aacutegua vital para a sua existecircncia ainda sabemos que os cursos drsquoaacutegua

em muitas ocasiotildees servem de caminhos para comeacutercio como tambeacutem foi por meio deles que

se configuraram na histoacuteria do Brasil o achamento e a colonizaccedilatildeo do paiacutes pelos portugueses

Nas ficha abaixo trazemos informaccedilotildees relevantes para anaacutelise dos topocircnimos de origem

hidrograacutefica

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 04

Topocircnimo Ribeiratildeo Cachoeira Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Hidrotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ca-cho-ei-ra Sf 1queda drsquoaacutegua em rio ou ribeiratildeo cujo leito apresenta

forte declive cascata 2 trecho de rio onde as aacuteguas correm raacutepido devido agrave inclinaccedilatildeo do

terreno corredeira (p213)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba (M

de Campo Formoso)

Referecircncias Borba (2004) IBGE (1957)

92

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Por mais que apenas 10 (01) dos topocircnimos de natureza fiacutesica tenham referecircncia agrave

iacutendole hidroniacutemica a regiatildeo de Pires do Rio-GO tem seus limites poliacutetico e fiacutesico (geograacuteficos)

feita por rios sem mencionar a grande importacircncia que esses cursos exercem nas atividades da

regiatildeo

Ainda observamos em Dick (1990 p 197) que

Agraves vezes poreacutem rompe-se o equiliacutebrio que ela [a aacutegua] representa em

qualquer meio desprendendo-se de suas possibilidades de aproximar culturas

distintas e assumindo papel um tanto oposto ao se transformar em ldquoobstaacuteculordquo

agrave difusatildeo dos interesses coletivos Circunscrevendo o homem em seu proacuteprio

espaccedilo quando o transcurso se torna difiacutecil impede os contatos entre grupos

vizinhos Se o isolamento por um lado tende a manter tanto quanto possiacutevel

inalterados os valores comuns preservando por isso a tradiccedilatildeo socioloacutegica

do homem ao retardar a dinacircmica da comunidade em favor de uma estaacutetica

desestimulante e viciosa

A par desta citaccedilatildeo observamos que foi o que aconteceu a cidade de Pires do Rio-GO

a partir do rio Corumbaacute o principal para o municiacutepio que ateacute a deacutecada de 1920 era isolado dos

demais municiacutepios por falta de uma ponte que estabelecesse tal ligaccedilatildeo Com a vinda da Estrada

de Ferro Goyaz e a construccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa surgem as primeiras casas e a

efetivaccedilatildeo do municiacutepio bem como a ligaccedilatildeo com as principais cidades da regiatildeo e as relaccedilotildees

econocircmicas e poliacuteticas que auxiliaram no crescimento do municiacutepio e da regiatildeo

Observamos ainda no contexto do municiacutepio de Pires do Rio-GO que a aacutegua em suas

potencialidades eacute de grande relevacircncia e meio de sobrevivecircncia para a vida humana pois

Na parte sul encontra-se o rio Corumbaacute que eacute maior curso drsquoaacutegua do

municiacutepio Nele eacute feito a extraccedilatildeo de areia para construccedilatildeo civil suas ilhas

servem de pontos de recreaccedilatildeo para vaacuterios moradores e as suas margens satildeo

praticamente ocupadas pelas pequenas propriedades (DIAS 2008 p 84)

Posto isso no efetivar do topocircnimo a partir da importacircncia da aacutegua o nomeador

diferencia o elemento geograacutefico dos demais auxiliando na orientaccedilatildeo do homem no espaccedilo

que o cerca proporcionando subsiacutedios para um melhor (re)conhecimento do local Assim

hipoteticamente acreditamos que o topocircnimo ndash ribeiratildeo Cachoeira ndash no contexto estudado

93

pode ter a sua motivaccedilatildeo pelo proacuteprio ambiente fiacutesico uma vez recupera caracteriacutesticas

hidroniacutemicas do lugar

4213 Litotopocircnimos

Notando-se as relaccedilotildees dos topocircnimos de origem mineral os litotopocircnimos coacuterrego

Barreiro representam o percentual de 10 (01 topocircnimo) dos analisados Cabe mencionar que

os minerais foram um dos principais atrativos dos colonizadores portugueses nas terras

brasileiras E de acordo com Dick (1990) os topocircnimos de origem mineral estatildeo relacionados

tanto a caracteriacutesticas do solo quanto do terreno e assim estabelecem duas relaccedilotildees fiacutesicas que

estatildeo ligadas agraves regiotildees da terra neste caso satildeo areia barro lama pedra terra E outro fator

satildeo os histoacutericos que podem ser evidenciados no processo de colonizaccedilatildeo do Brasil por meio

das relaccedilotildees entre solo flora e relevo que satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de uma nova

sociedade

O litotopocircnimo apresentado abaixo por meio de descriccedilatildeo e anaacutelise revela a influecircncia

do local sobre o ato de nomear

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 05

Topocircnimo Coacuterrego Barreiro Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia bar-rei-ro Sm terra alagada lamaccedilal (p164)

Barreira -eirar -eiro ejar rarr BARRO

Barro sm lsquotipo de argilarsquo lsquosubstacircncia utilizada no assentamento da alvenaria de tijolo em

obras provisoacuterias obtida pela mistura de argila com aacuteguarsquo XIV De origem preacute-romana

Relaciona-se neste verbete uma seacuterie de vocaacutebulos etimologicamente correlacionados com

o radical barr- de origem preacute-romana barrEIRA sf lsquoargileirarsquo lsquoparapeitorsquo 1500 barrEIRmiddotAR

bareyrar XV barrEIRO XVIII (p82)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino barro- + ndasheiro sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

94

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Observando Sapir (1969) podemos trazer a reflexatildeo acerca da relaccedilatildeo entre liacutengua e

ambiente que vale a compreensatildeo dos fatores fiacutesicos neste caso os aspectos geograacuteficos

incluindo aleacutem dos elementos fauna e flora os recursos minerais Assim o litotopocircnimo

coacuterrego Barreiro estabelece relaccedilotildees com o local quando foi nomeado ainda compreende-se

que a localidade era de lamaccedilalbarro um dos motivadores por determinado coacuterrego ser

batizado com o referido topocircnimo

Assim como observado em Dick (1990 p 125) os referidos topocircnimos de origem

mineral se referem ao primeiro caso que eacute o de ldquoiacutendole geneacutericardquo aspectos fiacutesicos e especiacuteficos

agraves regiotildees da terra revelando assim caracteriacutesticas minerais da regiatildeo em que estaacute localizado

determinado coacuterrego

4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos

No conjunto dos topocircnimos analisados em um percentual de 10 (01 topocircnimo) do

total encontramos um topocircnimo de estrutura composta mas natildeo hiacutebrido pois eacute formado por

duas palavras de origem latina a saber coacuterrego da Terra Vermelha litotopocircnimo (origem de

nomes de minerais e de nomes relativos agrave constituiccedilatildeo do solo) e cromotopocircnimo (relativo agrave

escala cromaacutetica) E que de acordo com Isquerdo e Seabra (2010 p 91) ldquo[] a motivaccedilatildeo dos

hidrotopocircnimos de estrutura composta normalmente valoriza mais de uma caracteriacutestica do

meio ambiente como foco denominativordquo O mesmo se estabelece com o topocircnimo ora

analisado como descreve na ficha abaixo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 06

Topocircnimo Coacuterrego da Terra Vermelha Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo e

Cromotopocircnimo

Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ter-ra Sf i elemento da superfiacutecie terrestre que misturado com aacutegua

transforma-se em barro ii parte soacutelida da superfiacutecie terrestre chatildeo firme (p1351)

Terra sf lsquoterritoacuterio regiatildeorsquo lsquosolo chatildeorsquo XIII Do lat tĕrra (p631)

95

Vermelho adj lsquoda cor do sanguersquo XIII Do lat vĕrmῐcŭlus (p674)

Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Substantivo Feminino + Adjetivo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Segundo Dias (2008 p 119-122) na maior parte da regiatildeo do municiacutepio de Pires do

Rio-GO o solo eacute ldquoLatossolos Vermelhosrdquo ou ldquoLatossolos Vermelho Amareladordquo assim

hipoteticamente uma das motivaccedilotildees fundamentais para a denominaccedilatildeo do topocircnimo estaacute

ligado a caracteriacutesticas do local o que influenciou o denominador a fazer referecircncia agrave Terra

juntamente com a cor vermelha

E ainda Dias (2008 p 117) justifica que ldquoas caracteriacutesticas da vegetaccedilatildeo natural

muitas das vezes tecircm como fator determinante o tipo de solo porque eacute dele que elas retiram a

maioria dos elementos que precisam para sua nutriccedilatildeordquo Nesta regiatildeo tem a predominacircncia da

agricultura e agropecuaacuteria influecircncias do solo que contribui para tais praacuteticas

Contudo o batismo do coacuterrego com o topocircnimo Terra Vermelha traz em sua motivaccedilatildeo

as caracteriacutesticas que satildeo observadas na localidade e que de certa forma influenciaram o

nomeador Aleacutem do coacuterrego uma regiatildeo rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tambeacutem eacute

conhecida pelo referido nome

4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos

O topocircnimo coacuterrego Itauacutebi eacute um nome composto litotopocircnimo (de origem mineral) e

fitotopocircnimo (de origem vegetal) e representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos

analisados Sua estrutura morfoloacutegica segundo Dick (1992) eacute um topocircnimo composto formado

por ita- (pedra) + -ubi (palmeira) ambos de origem tupi na formaccedilatildeo de palavras se constitui

em uma composiccedilatildeo por justaposiccedilatildeo E hipoteticamente a regiatildeo em que se encontra o

coacuterrego eacute de um terreno pedregulho ou pode ser que o proacuteprio coacuterrego tenha em sua calda um

acuacutemulo maior de pedras que o normal E consequentemente uma regiatildeo em que a vegetaccedilatildeo

tenha ou lembre uma localidade com plantaccedilotildees de palmeiras

96

Assim a ficha lexicograacutefica-toponiacutemia abaixo nos auxiliou na descriccedilatildeo e anaacutelise do

topocircnimo coacuterrego Itauacutebi aclarando para um efetiva interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo do corpus desta

pesquisa

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 07

Topocircnimo Coacuterrego Itauacutebi Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo e Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia Ita ndash pedra eacute o termo mais comum nos topocircnimos brasileiros algumas

vezes aparece sem o i inicial Ta-nhenga (ilha do Rio de Janeiro) Ta-ratatilde (localidade da

Bahia) (p 174)

Ubi ndash nome comum a vaacuterias palmeias dos gecircneros Genoma Bactris e Calyptrogyne (p 190)

Estrutura morfoloacutegica Nome composto (ita- substantivo feminino + -ubi substantivo

feminino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Tibiriccedila (1985)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Segundo Dias (2008) o coacuterrego Itauacutebi eacute um dos afluentes do ribeiratildeo Marataacute e tambeacutem

um dos coacuterregos que abaste ao municiacutepio de Pires do Rio-GO juntamente com o coacuterrego

Laranjal Assim eacute possiacutevel notar a importacircncia deste curso drsquoaacutegua para o municiacutepio e a sua

relevacircncia em anaacutelise para a nossa pesquisa

4216 Meteorotopocircnimos

A meteorotoponiacutemia refere-se a topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos e no

contexto pesquisado representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos analisados sendo

ribeiratildeo Brumado que proveacutem do termo latino bruma lsquoinvernorsquo especificando como nevoeiro

neblina e cerraccedilatildeo (CUNHA 2010) Dados esses especificados abaixo na ficha lexicograacutefica-

toponiacutemica que nos auxiliou na interpretaccedilatildeo e anaacutelise do topocircnimo

97

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 08

Topocircnimo Ribeiratildeo Brumado Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Meteorotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia Bruma bru-ma Sf nevoeiro neblina cerraccedilatildeo (p203)

Bruma sf lsquonevoeiro neblina cerraccedilatildeorsquo XVI Do lat bruma lsquoinvernorsquo (p103)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino bruma- + sufixo ndashado)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do rio dos Peixes (M

de Pires do Rio)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ao observarmos em Sapir (1969) em que o leacutexico de uma liacutengua reflete claramente o

ambiente fiacutesico e social do falantes provavelmente o que influenciou o nomeador em recorrer

ao batismo do topocircnimo Brumado em determinado ribeiratildeo pode ter sido devido a ocorrer na

localidade neblinanevoeiro na estaccedilatildeo do ano inverno jaacute que a proacutepria raiz da palavra bruma

faz referecircncia ao ldquoinvernordquo

Nas leituras realizadas em alguns pesquisadores da aacuterea da toponiacutemia como Almeida

(2012) Carvalhinhos (2002 2003) Dick (1990 1992 1996 1999 2000 2001 2004 2006)

Isquerdo e Seabra (2010) Pereira (2009) Siqueira (2012 2015) natildeo foi recorrente

encontrarmos algum meteorotopocircnimo analisado ou que nos desse qualquer sustentaccedilatildeo ou

informaccedilotildees para proceder com algum confrontamento de dados mediante a isso

subentendemos que os topocircnimos de iacutendole dos fenocircmenos atmosfeacutericos natildeo tenham uma certa

frequecircncia como os demais

4217 Zootopocircnimos

Nas denominaccedilotildees de iacutendole animal zootopocircnimos no estudo corrente referem ao

percentual de 30 (03 topocircnimos) dos extratos pesquisados ndash rio Corumbaacute rio do Peixe e rio

Piracanjuba Precisamente em dois topocircnimos o fator motivador foi o animal peixe que

possivelmente influenciou o nomeador A saber que a caccedila e pesca era o meio de sobrevivecircncia

98

da comunidade primitiva desta forma possivelmente a comunidade que habitava nos referidos

locais tambeacutem foi influenciada por essas razotildees e daiacute batizando ambos os rios com os referidos

topocircnimos

Ao observamos os topocircnimos de iacutendole animal aqui presentes vamos contrapor ao que

Dauzat (1922 apud DICK 1990) constatou ter uma menor frequecircncia dos zootopocircnimos em

relaccedilatildeo a outras categorias na toponiacutemia francesa bem como agrave perspectiva de Backheuser

(1952 apud DICK 1990) de que na toponiacutemia brasileira os nomes de animais satildeo menos

recorrentes

As relaccedilotildees de denominaccedilatildeo toponiacutemica de uma dada regiatildeo pode ser diferente de outra

de acordo com isso as relaccedilotildees de motivaccedilotildees estatildeo estritamente ligadas ao nomeador pois

cada qual atribui a caracteriacutesticas inerentes ao local a que faz referecircncia Assim as fichas

lexicograacuteficas-toponiacutemicas abaixo evidenciam em suas descriccedilotildees e nos auxiliam a proceder

com a anaacutelise toponiacutemica dos designativos bem como a quantificar que os zootopocircnimos foram

os de maior frequecircncia em nossas anaacutelises

Nordm de ordem 09

Topocircnimo Rio Corumbaacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia cid Mato Grosso do Sul de corumbaacute caacutegado (p44) Origem Tupi

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio nasce nos arredores de Pirineus atravessa o municiacutepio

como o de Santa Luzia depois de servir em pequeno trecho de divisa a Bonfim Adiante

separa Ipameri e Corumbaiacuteba de um lado e Campo Formoso Pires do Rio Caldas Novas

Buriti Alegre do outro ateacute desaguar no rio Paranaiacuteba pela margem direita (M de Corumbaacute)

Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 10

Topocircnimo Rio do Peixe Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

99

OrigemEtimologia pei-xe Sm (Zool) 1 espeacutecime de classe animal vertebrado que nasce e

vive na aacutegua respira por guelras e se locomove por meio de barbatanas (p1048)

sm lsquo(Zool) animal cordado gnastomado aquaacutetico com nadadeiras com pele geralmente

coberta de escamas que respira por bracircnquiasrsquo XIII Do lat piscis -is peixADA XX

peixARIA XX peixeiro peyxero XIII Cp pescar piscatoacuterio (p485)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio (do) nasce na regiatildeo sul-oriental do municiacutepio que separa

os de Campo Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio e o de Caldas Novas desemboca

no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bonfim)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) (IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 11

Topocircnimo Rio Piracanjuba Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia cid de Goiaacutes de piracanjuba uma var de peixe de rio etim piraacute-

acatilde-juba peixe de cabeccedila amarela (p97) Origem Tupi

piraacute sm lsquodesignaccedilatildeo geneacuterica de peixe em tupirsquo piracanjuva sf lsquoespeacutecie de douradorsquo 1792

Do tupi pirakaᶇlsquoḭuṷa (p498)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce na serra de Passa

Quatro e atravessa o municiacutepio bem como o de Pouso Alto Adiante separa Caldas Novas de

Morrinhos e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bela

Vista)

Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

100

Segundo Dias (2008) o rio Corumbaacute eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio dele se extrai

areia para a construccedilatildeo civil e suas ilhas e margens servem para abrigar pequenas propriedades

inclusive para a recreaccedilatildeo e turismo O rio do Peixe eacute um dos trecircs maiores cursos drsquoaacutegua e

fronteiriccedilo na regiatildeo sul entre Pires do Rio Cristianoacutepolis Vianoacutepolis e Satildeo Miguel do Passa

Quatro tem como principal afluente o ribeiratildeo Brumado e tambeacutem eacute o principal afluente do

rio Corumbaacute O rio Piracanjuba tambeacutem estaacute entre os principais do municiacutepio na regiatildeo norte

faz fronteira entre Pires do Rio Orizona Urutaiacute e Ipameri sua principal relevacircncia foi na

deacutecada de 1950 por aiacute ter funcionado uma usina hidreleacutetrica que abastecia o municiacutepio de Pires

do Rio-GO

A anaacutelise zootoponiacutemica na localidade pesquisada evidenciou a valorizaccedilatildeo da fauna

local pois ao utilizar o nome de animais recuperou-os para nomear lugares como os rios

Observamos que os nomes de animais que estabelecem a sua origem nas liacutengua tupi

(Piracanjuba e Corumbaacute) e latina (Peixe) motivaram a nomeaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e

de alguma forma estatildeo vinculados agrave vida do nomeador estabelecendo assim relaccedilotildees

extralinguiacutesticas com os topocircnimos pesquisados E segundo Theodoro Sampaio (1914 apud

DICK 1990) dificilmente o nome do animal estaria desvinculado de sua existecircncia na

localidade

Os elementos de natureza fiacutesica mais evidentes na motivaccedilatildeo que subjazem aos

topocircnimos ora analisados foram os de origem vegetal mineral e animal (peixe) Percebemos

assim que o nomeador teve influecircncia das caracteriacutesticas do local para designar o referido

topocircnimo A partir desta anaacutelise nos eacute pertinente ao proacuteximo subtoacutepico proceder com as

anaacutelises das taxionomias de natureza antropocultural

422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos

Os topocircnimos de natureza antropocultural representam 33 (05 topocircnimos) do corpus

analisado destacando-se os antropotopocircnimos ergotopocircnimos etnotopocircnimos e

sociotopocircnimos O nomeador obteve suas motivaccedilotildees de iacutendole antropocultural fazendo

homenagem a pessoas importantes da cidade recuperando elementos da cultura material do

povo revelando elementos eacutetnicos isolados ou natildeo e por fim referenciando a atividades

profissionais ou pontos de encontro de pessoas da comunidade Assim identificando a

influecircncia do homem no meio em que se encontra

101

Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural

O graacutefico 3 nos traz em sua amplitude os topocircnimos de origem antropocultural e a partir

dele eacute que procederemos com as anaacutelises no decorrer do texto observando as regecircncias e

distintas influecircncias do nomeador no ato do batismo

4221 Antropotopocircnimos

Dentre os topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais em nossa pesquisa foi

encontrado apenas o ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo correspondendo ao percentual de

20 (01) dos topocircnimos de natureza antropocultural analisados Na toponiacutemia brasileira eacute

recorrente encontrarmos antropotopocircnimos especialmente lugares como cidades praccedilas ruas

e outros acabam recebendo nomes proacuteprios em homenagem a algueacutem A ficha lexicograacutefica-

toponiacutemica 12 em sua amplitude nos auxilia a perceber a influecircncia do antrotopocircnimo

analisado pois refere-se a uma figura puacuteblica da comunidade piresina

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 12

Topocircnimo Ribeiratildeo Sampaio Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia sm ldquomarinhordquo Sampaio eacute um sobrenome presente na onomaacutestica

portuguesa atraveacutes de raiacutezes tipicamente toponiacutemicas devido ao nome de uma vila localizada

0

02

04

06

08

1

12

14

16

18

2

ANTROPOTOPOcircNIMO ERGOTOPOcircNIMO ETNOTOPOcircNIMOS SOCIOTOPOcircNIMO

Taxionomias de Natureza Antropocultural

102

em Traacutes-os-Montes em Portugal e que teria sido adotado como sobrenome pelos senhores

deste local Alguns etimologistas acreditam que o nome Sampaio tenha surgido a partir do

latim Sanctus Pelagius (traduzido como ldquosanto marinhordquo) que significa Santo Pelagius e

com o passar do tempo tenha sofrido alteraccedilotildees na grafia passando para Sam Peaio Satildeo

Payo e por fim Sampaio Origem hebraica

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Proacuteprio ndash sobrenome)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da margem direita

do rio Corumbaacute (M de Pires do Rio)

Referecircncias Dicionaacuterio online de Nomes Proacuteprios (sd) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Este antropotopocircnimo foi o norteador motivacional para esta pesquisa pois o ribeiratildeo

Sampaio em um de seus limites por boa parte da populaccedilatildeo (inclusive eu) eacute conhecido como

Pedro Teixeira (que na verdade eacute o nome da ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo) soacute tempos depois

conheci o seu verdadeiro nome

E Dick (1990 p 286) assegura que

Os aspectos semacircnticos que podem ser encontrados nos nomes de pessoas

ligam-se portanto ao papel que exercem de verdadeiras manifestaccedilotildees

culturais dos povos e onde transparecem os mais diversos motivos

determinantes de sua escolha Talvez a proacutepria maneira pela qual se concebia

o nome em eacutepocas remotas como uma substacircncia revestida de poderes

miacutesticos seja a responsaacutevel pela variedade das motivaccedilotildees em uma ou em

outras sociedades

Os aspectos motivacionais para o topocircnimo em estudo eacute uma homenagem ao coronel

Lino Teixeira de Sampaio neste caso de acordo com Cabral (2007) eacute um patroniacutemico

sobrenome e faz referecircncia ao doador das terras em que fundou-se a cidade de Pires do Rio-

GO Segundo Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares ou

homenagem ou ateacute mesmo por caracteriacutesticas geograacuteficas inerentes ao local Em alguns casos

os nomes satildeo opacos pois natildeo apresentam nenhuma relaccedilatildeo com o referente nesta situaccedilatildeo haacute

de se fazer uma busca histoacuterica para chegar as relaccedilotildees motivacionais que natildeo eacute o nosso caso

Observando em estudos acerca dos topocircnimos de iacutendole de nomes proacuteprios individuais

constatamos que

103

Nomes proacuteprios de pessoas satildeo obscurecidos em seu conteuacutedo leacutexico-

semacircntico pela opacidade do proacuteprio signo que os conforma distanciados na

maioria das ocorrecircncias do foco original Integram o inventaacuterio mais fechado

da linguagem cuja origem remonta no Brasil aos primeiros nomes de

famiacutelias portuguesas para aqui imigradas (DICK 2001 p 83)

Assim foi possiacutevel observar que o patroniacutemico Sampaio ratifica a citaccedilatildeo de Dick

(2001) pois ele estaacute presente na onomaacutestica portuguesa evidenciado nas raiacutezes tipicamente

toponiacutemicas relacionado ao nome de uma vila localizada em Traacutes-os-Montes em Portugal que

supostamente teria sido adotado como sobrenome pelos senhores deste local (DICIONAacuteRIO

DE NOMES PROacutePRIOS sd)

A importacircncia desse referido ribeiratildeo para o municiacutepio de Pires do Rio-GO justifica-se

desde a sua nomeaccedilatildeo pela razatildeo de sua nascente ser em terras que eram de propriedade do

coronel Lino Teixeira de Sampaio e tambeacutem pelo motivo de

O ribeiratildeo Sampaio eacute utilizado como um dos limiacutetrofes das aacutereas urbana e

rural tambeacutem depositaacuterio da Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE)

consequentemente recebendo a aacutegua do esgoto depois de feito seu devido

tratamento Neste ribeiratildeo encontram-se os menores pontos altimeacutetricos da

aacuterea urbana o que favoreceu a construccedilatildeo da ETE (DIAS 2008 p 84)

Neste contexto eacute evidente que a motivaccedilatildeo para o topocircnimo Sampaio eacute uma

homenagem a uma pessoa que tem uma importacircncia para o local a cidade de Pires do Rio-GO

E assim podemos evidenciar que o ato de nomear aqui institui as relaccedilotildees de poder

possivelmente a de coacuterrego do senhor coronel Lino Teixeira de Sampaio estabelecendo as

relaccedilotildees de poder que o proacuteprio coronel mantinha sobre o local a cidade

4222 Ergotopocircnimos

Os topocircnimos referente a elementos da cultura material ergotopocircnimos nas anaacutelises

desta pesquisa tiveram um percentual de 20 (01) dos topocircnimos analisados ribeiratildeo Bauacute

assim observamos que o denominador foi motivado pelas relaccedilotildees da cultura material que o

cerca Jaacute observado em Sapir (1969) pois no leacutexico toponiacutemico reflete o ambiente social do

falante assim o topocircnimo no qual o objeto bauacute eacute de origem da cultura material e de uso

humano possivelmente as caracteriacutesticas do objeto como fundura largura e formato do bauacute

foram vitais para a nomeaccedilatildeo do ribeiratildeo

104

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 13

Topocircnimo Ribeiratildeo Bauacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Ergotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia ba-uacute (fr) Sm (Co) 1 mala de madeira recoberta de couro com tampa

conversa 2 moacutevel em forma de caixa de folha ou madeira onde se guardam roupas e demais

objetos (p169)

sm lsquotipo de caixa ou mala com tampa convexa na parte externarsquo baul XVI bau XVII bahu

Do ant baul deriv do a fr bahur (hoje bahut) de origem obscura (p84) 1805

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba na

divisa do municiacutepio de Pires do Rio (M de Campo Formoso)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Desta forma ldquoa lsquoescolharsquo do nome se daacute segundo um agenciamento enunciativo

especiacutefico este acontecimento de nomear recorta como memoraacuteveis os nomes disponiacuteveis

como contemporacircneos proacuteprios de sua eacutepocardquo (GUIMARAtildeES 2005 p 36-37) Eacute necessaacuterio

observar na citaccedilatildeo de Guimaratildees (2005) que no ato do batismo o nomeador faz referecircncia ao

contemporacircneo ou proacuteprio de sua eacutepoca no caso de uso do termo bauacute configura-se como essa

afirmaccedilatildeo eacute relativa a algo realmente usado em determinada eacutepoca

Eacute evidente que o topocircnimo apresentou como fonte motivacional a relaccedilatildeo existente entre

a cultura material e seu nomeador ou seja uma motivaccedilatildeo toponiacutemica de ordem

antropocultural assim essas designaccedilotildees que recuperam elementos da cultura material do

povo da localidade identifica a influecircncia do homem no meio em que se vive

4223 Etnotopocircnimos

Uma das taxionomias de natureza antropocultural de maior ocorrecircncia nesta pesquisa

com o percentual de 40 (02) topocircnimos dos analisados foram os etnotopocircnimos topocircnimos

105

relativos a elementos eacutetnicos isolados ou natildeo sendo o ribeiratildeo Caiapoacute e ribeiratildeo Marataacute que

no decorrer satildeo apresentados nas fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 14

Topocircnimo Ribeiratildeo Caiapoacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia rio do E de Goiaacutes nome de uma tribo fam linguiacutestica Jecirc que habitou

a regiatildeo (p34)

cai-a-poacute (Tupi) S 1 indiviacuteduo de um povo indiacutegena de Mato Grosso Sm [Pl] 2 esse povo

(p217)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Corumbaacute (M de

Pires do Rio)

Referecircncias Tibiriccedila (1985) Borba (2004) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 15

Topocircnimo Ribeiratildeo Marataacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Marata ndash sm 1 indiviacuteduo dos maratas 2 liacutengua indo-europeia do ramo

indo-iraniano sub-ramo indo-aacuterico falada no Oeste e Centro da Iacutendia esp no Estado de

Maharashtra por aprox 50 milhotildees de pessoas Eacute uma das liacutenguas oficiais da Iacutendia Sacircnsc

mahaacuteraacutestra o grande reino pelo hind marhatta id

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas afluente da margem direita do ribeiratildeo Caiapoacute (M de Pires

do Rio)

Referecircncias Houaiss (2009) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

106

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Na justeza dos nomes podemos evidenciar que ao batizar o ribeiratildeo Caiapoacute o nomeador

se valeu de fatores antropoculturais em relaccedilatildeo aos iacutendios caiapoacutes lsquokayapoacutersquo que segundo fatos

da histoacuteria estiveram em terras goianas desta forma ao se valer do uso do topocircnimo a

motivaccedilatildeo para tal ato de batismo pode ser referente a esses povos terem influecircncias de alguma

forma sobre o nomeador no ato do batismo do topocircnimo

Jaacute o topocircnimo ribeiratildeo Marataacute traz em sua bases semacircnticas como i ldquoliacutengua indo-

europeiardquo ii ldquoindiviacuteduos dos maratasrdquo segundo Houaiss et al (2009) E possivelmente a

motivaccedilatildeo do designativo foi a influecircncia de grupos europeus que tambeacutem passaram por estas

terras jaacute que o paiacutes foi colonizado por Portugal e na formaccedilatildeo da sociedade goiano e piresina

terem a presenccedila de vaacuterias etnias inclusive europeia

Desta forma eacute evidente que os etnotopocircnimos estatildeo relacionados agrave presenccedila e influecircncia

de grupos de distintas etnias no Brasil visto que a histoacuteria local e nacional revelam a presenccedila

de vaacuterios povos na formaccedilatildeo do sociedade brasileira

4224 Sociotopocircnimos

Tomando por anaacutelise os topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais

de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma dada comunidade dentre os

sociotopocircnimos numa frequecircncia de 20 (01) dos topocircnimos analisados foi encontrado o

designativo ribeiratildeo Mucambo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 16

Topocircnimo Ribeiratildeo Mucambo Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Sociotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Mocambo sm lsquoesconderijo refuacutegio dos negros (escravos) fugidorsquo

1535 mocano Do quimb mursquokamu lsquoescondrijorsquo Embora se documente em vaacuterios textos

quinhentistas relativos aos antigos domiacutenios portugueses na Aacutefrica foi no Brasil que o voc

Se difundiu intensamente desde o periacuteodo colonial em decorrecircncia do intenso conviacutevio dos

brancos com os negros escravos da africanos (p431)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

107

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

O topocircnimo tem sua origem no termo mocambo que se refere a esconderijo de escravos

fugidos (CUNHA 2010) Possivelmente assim como jaacute observado nos fatores motivacionais

de outros topocircnimos a relaccedilatildeo de grupos eacutetnicos terem passado ou habitado na regiatildeo pode ter

influenciado na nomeaccedilatildeo do designativo Na regiatildeo observada viveram escravos negros que

formaram um comunidade rural desta forma podem ter influenciado o nomeador no ato do

batismo do ribeiratildeo Mucambo

A partir do sociotopocircnimo analisado observamos em Carvalhinhos (2003 p 172) que

Os atuais estudos onomaacutesticos no Brasil vecircm justamente resgatando a histoacuteria

social contida nos nomes de uma determinada regiatildeo partindo da etimologia

para reconstruir os significados e posteriormente traccedilar um panorama

motivacional da regiatildeo em questatildeo como um resgate ideoloacutegico do

denominador e preservaccedilatildeo do fundo de memoacuteria

Desta forma ao traccedilar um panorama dos topocircnimos analisados eacute elementar que o

nomeador ao longo das nomeaccedilotildees buscou em suas bases motivacionais preservar a memoacuteria

local seja nos fatores fiacutesicos e ou sociais Para configurar tais dados no proacuteximo subtoacutepico

analisaremos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados

43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos

Analisar as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos estratos linguiacutesticos antes de mais

nada eacute perceber as influecircncias das etnias que povoaram o nosso paiacutes e regiatildeo Sabemos que no

iniacutecio do seacuteculo XVI quando os povos lusoacutefonos chegaram em terras brasileiras os iacutendios jaacute

as habitavam embora fossem os donos da terra tatildeo logo os portugueses se instalaram e se

fizeram os novos donos Mas no decorrer dos seacuteculos outros povos foram chegando e tambeacutem

se instalando no local daiacute retiramos a origem dos estratos linguiacutesticos dos topocircnimos analisados

nesta pesquisa

De acordo com Dick (1992 p 81)

108

a formaccedilatildeo etno-histoacuterica do Brasil acusa a existecircncia de estratos

populacionais diversos como os ameriacutendios distribuiacutedos em vaacuterios troncos e

famiacutelias Os portugueses os africanos e os de procedecircncia estrangeira jaacute em

eacutepoca posterior agrave colonizaccedilatildeo propriamente dita Essa origem heterogecircnea

deixou reflexos diferenciados na liacutengua nos usos e costumes nas tradiccedilotildees

regionais e consequentemente na toponiacutemia do paiacutes

Perceber essa heterogeneidade linguiacutestica na formaccedilatildeo dos topocircnimos eacute fundamental

visto que dos 15 topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO a sua maioria

eacute de origem indiacutegena isso revela que apesar do processo de colonizaccedilatildeo e imposiccedilatildeo da liacutengua

portuguesa a liacutengua dos nativos ainda prevaleceu ao menos na designaccedilatildeo toponiacutemica E no

graacutefico abaixo apresentamos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados

Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos

Analisar as origens dos topocircnimos eacute reconhecer segundo Dick (2006) que a Toponiacutemia

pode conviver com dois movimentos vivenciados de linguagem i) a nativa (linguagem

indiacutegena) e ii) a advena ou seja de iacutendole civilizatoacuteria pois ambas colaboraram para a

formaccedilatildeo dos brasileirismos e regionalismos mas natildeo apenas presentes na liacutengua Podemos

assim constatar em nossas anaacutelises que o vivenciado de acordo com a linguagem ldquonativardquo foi

a que teve maior frequecircncia neste estudo

Observamos no graacutefico IV a frequecircncia das liacutenguas que deram origem aos 15 topocircnimos

dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO e no que se segue procedemos com as

anaacutelises e logo apoacutes a estrutura morfoloacutegica

005

115

225

335

445

5

OrigemEtimologia dos Topocircnimos

109

O topocircnimo coacuterrego Laranjal eacute de origem Aacuterabe a influecircncia dessa liacutengua em nossa

regiatildeo nos eacute evidenciada no iniacutecio do seacuteculo XX com a fundaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio-

GO os aacuterabes foram um dos primeiros imigrantes que aqui chegaram bem como tiveram um

destaque na aacuterea comercial possivelmente este topocircnimo tenha relaccedilotildees com esse fato No que

tange agrave frequecircncia a liacutengua Aacuterabe (esta liacutengua influenciou imensamente o leacutexico da Liacutengua

Portuguesa) corresponde a 7 (01) dos topocircnimos analisados

Ainda contatamos outras liacutenguas como a Hebraica ndash ribeiratildeo Sampaio Preacute-romana ndash

coacuterrego Barreiro Sacircnscrito ndash ribeiratildeo Marataacute e ainda de Origem Obscura ndash ribeiratildeo Bauacute

Cada uma dessas liacutenguas correspondem agrave frequecircncia de 7 (01) dos topocircnimos analisados

provavelmente as devidas nomeaccedilotildees se devem ao fato da vinda de pessoas de outros

continentes em busca de melhores condiccedilotildees de vida e assim contribuiacuterem com a formaccedilatildeo

dos designativos dos cursos drsquoaacutegua

Os dados da toponiacutemia brasileira em relaccedilatildeo agrave origem dos topocircnimos satildeo de origem da

Liacutengua Portuguesa devido a colonizaccedilatildeo jaacute que os povos lusoacutefonos aqui chegaram e segundo

Dick (1995 p 60)

os primeiros topocircnimos funcionavam portanto como verdadeiros ldquosign-

postsrdquo ou marcas semioacuteticas de identificaccedilatildeo dos lugares usadas com a

finalidade de distinguir as caracteriacutesticas de espaccedilos semelhantes uma forma

uma silueta o perfil de uma paisagem se apresentando como recortes de uma

corografia maior a ser detalhada

Os povos lusoacutefonos nomeavam os lugares de acordo com caracteriacutesticas do lugar

Assim os topocircnimos por nograves analisados ndash coacuterrego Brumado coacuterrego da Terra Vermelha

ribeiratildeo Cachoeira e rio do Peixe ndash satildeo de origem latina liacutengua que deu origem agrave Liacutengua

Portuguesa e entre os topocircnimos estudados referem ao percentual de 29 (04 topocircnimos) dos

analisados

No processo de colonizaccedilatildeo do Brasil os portugueses necessitavam de matildeo-de-obra

mas como natildeo tiveram ecircxito com os iacutendios entatildeo foi necessaacuterio a busca de outros povos com

isso trouxeram os escravos E no processo de nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de

Pires do Rio-GO a Liacutengua Portuguesa (Aacutefrica) um percentual de 7 (01) dos topocircnimos ndash

ribeiratildeo Mucambo ndash que eacute especificado como o local esconderijo de escravos fugitivos Haacute

relatos de que na regiatildeo da zona rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tem uma localidade

que foi constituiacuteda em sua maioria populacional por escravos provavelmente pode esse

topocircnimo ter sido influenciado por tal fato

110

Em sua maioria 36 (05) dos topocircnimos analisados satildeo de origem Tupi ndash coacuterrego

Caiapoacute coacuterrego Itauacutebi ribeiratildeo Taquaral rio Corumbaacute e rio Piracanjuba ndash e segundo Bearzoti

Filho (2002 p 43) ao tratar das designaccedilotildees de origem tupi assinala que ldquoem grande parte

trata-se de topocircnimos atribuiacutedos natildeo por iacutendios mas por bandeirantes que como jaacute vimos

utilizavam a liacutengua geral como idioma de comunicaccedilatildeo ordinaacuteria em suas expediccedilotildeesrdquo

E de acordo com Sampaio (1928 p 02)

ao europeu poreacutem ou aos seus descendentes cruzados que realizaram as

conquistas dos sertotildees eacute que se deve a maior expansatildeo do tupi como liacutengua

geral dentro das raias atuais do Brasil As levas que partiam do litoral a

fazerem descobrimentos falavam no geral o tupi pelo tupi designavam os

novos descobertos os rios as montanhas os proacuteprios povoados que fundavam

e que eram outras tantas colocircnias espalhadas nos sertotildees falando tambeacutem o

tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo

Ao firmar o ato de nomeaccedilatildeo das localidades constatamos que o tupi liacutengua de origem

do maior nuacutemero de topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO

possivelmente deve-se agrave influecircncia das seguintes relaccedilotildees a internalizaccedilatildeo de nomes de origem

tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para Goiaacutes e a presenccedila de iacutendios como jaacute

mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo viveram regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da

colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)

Ainda consoante Pereira (2009 p 27) observamos que

A toponiacutemia brasileira como um todo reuacutene uma grande quantidade de nomes

de base indiacutegena na nomeaccedilatildeo de acidentes geograacuteficos que evidenciam

marcas da presenccedila de vaacuterias etnias na nomenclatura geograacutefica brasileira Um

estudo toponiacutemico numa dimensatildeo etnolinguiacutestica analisa desde a origem

dos nomes ateacute as influecircncias socioculturais da populaccedilatildeo que habita o espaccedilo

geograacutefico em estudo na forma de nomear os acidentes fiacutesicos verificando se

no momento da designaccedilatildeo de um lugar o designador apropriou-se de nomes

cuja origem procedeu de estratos linguiacutesticos de base portuguesa ou de outras

liacutenguas que influenciaram a formaccedilatildeo do leacutexico do portuguecircs brasileiro

principalmente as liacutenguas indiacutegenas e africanas

Ao analisarmos os topocircnimos dos cursos drsquoagua do municiacutepio de Pires do Rio-GO

podemos constatar que em sua maioria as liacutenguas que lhe deram origem foram as indiacutegenas e a

latina as outras que representaram um percentual menor possivelmente estatildeo ligadas agrave vinda

de outras etnias que ajudaram na formaccedilatildeo populacional do Brasil e de Goiaacutes

111

44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos

Com vistas nos paracircmetros teoacuterico-metodoloacutegicos da pesquisa seguindo o que eacute

estabelecido por Dick (1992) ao que se refere a estrutura morfoloacutegica o topocircnimo pode ser

classificado como simples composto e composto hiacutebrido que de acordo Dick (1992 p 14)

ldquotopocircnimo que em sua estrutura haacute a presenccedila de duas bases linguiacutesticas distintas por exemplo

tupi + portuguecircsrdquo mas natildeo encontrado em nossa pesquisa A partir disto tomamos o graacutefico V

para procedermos com a anaacutelise

Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos

Dos 15 sintagmas toponiacutemicos catalogados uma representaccedilatildeo de 87 (13 topocircnimos)

satildeo de estrutura simples que no processo de nomeaccedilatildeo o nomeador utilizou apenas um

formante ou seja um elemento designativo Jaacute os compostos aparecem em um percentual de

13 (02 topocircnimos) formados por mais de um formante lexical

Ao trazermos essas informaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos topocircnimos observamos que

como uso de substantivos e adjetivos o denominador acaba por trazer caracteriacutesticas do local

onde nomes comuns passam a formar nomes proacuteprios e segundo Dick (2006 p 108)

o topocircnimo integraraacute natildeo uma categoria descritiva de nomes nem um iacutendice

cromaacutetico desvinculado de outras consideraccedilotildees culturais e sim o que

chamamos na teoria de nomes transplantados deslocados ou transferidos de

seu lugar de origem para outros pontos distantes formando uma nova

sequecircncia nominal

0

2

4

6

8

10

12

14

SIMPLES COMPOSTO

Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos

112

No processo de nomeaccedilatildeo o nomeador faz uso de designativos que aleacutem de sofrer

certos deslocamentos como jaacute mencionado de nome comum para nome proacuteprio haacute tambeacutem

casos de alguns topocircnimos sofrerem alteraccedilotildees em suas estruturas morfoloacutegicas como o caso

do designativo ribeiratildeo Mucambo que em suas origens traz a grafia de mocambo

No decorrer deste estudo e anaacutelises foi possiacutevel perceber que os topocircnimos aleacutem de

servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais da sociedade a

que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e costumes da sociedade E ao final foi

notoacuterio perceber nas liacutenguas que deram origem aos topocircnimos a estreita relaccedilatildeo com o

ambiente pois de alguma forma o nomeador obteve motivaccedilatildeo tanto do espaccedilo meio ambiente

como da liacutengua propriamente dita

113

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao propormos estudar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO tomamos por base caracterizar o ato de nomear e dele reiteramos e pode ser observado em

sua totalidade a relaccedilatildeo de poder pois nomear eacute instituir E eacute por meio do batismo do topocircnimo

que ele se instaura e revela as relaccedilotildees do meio ambiente com o homem eou do homem com

meio que o circunda As consideraccedilotildees finais ora apresentadas referem-se aos estudos

toponiacutemicos relacionados apenas ao contexto local desta pesquisa mas muito ainda haacute de ser

estudado na aacuterea em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia em Goiaacutes

Os objetivos da pesquisa constituem-se basicamente em descrever e analisar os

topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO observando

noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural Assim em

sua maioria os elementos fiacutesicos sobressaiacuteram sobre os demais pois no total de 15 topocircnimos

analisados um percentual de 67 (10 topocircnimos) foram motivados pelos aspectos fiacutesicos

sendo que os de origem vegetal fitotopocircnimos e animal zootopocircnimos tiveram maior

recorrecircncia Assim concretizamos que o ambiente influenciou o nomeador no ato do batismo

estabelecendo as relaccedilotildees entre liacutengua e ambiente inclusive com os aspectos extralinguiacutesticos

A maior incidecircncia de taxionomias de natureza fiacutesica nesta pesquisa demonstra a

tendecircncia do denominador de nomear os lugares com nomes dos elementos fiacutesicos da natureza

circundante numa constataccedilatildeo de que o meio ambiente exerce grande influecircncia sobre o

homem refletindo-se tambeacutem no processo de nomeaccedilatildeo dos lugares

Jaacute no que tange agraves taxionomias de natureza antropocultural em nossas anaacutelises com um

percentual de 33 (05 topocircnimos) os etnotopocircnimos que fazem referecircncia a elementos eacutetnicos

foram os com maior frequecircncia Observamos nas taxes de natureza antropocultural que os

fatores culturais foram os motivadores para a designaccedilatildeo dos topocircnimos analisados

evidenciando as relaccedilotildees do homem com o ambiente que o cerca Para tanto foi necessaacuterio

identificar os fatores que constituem a motivaccedilatildeo que subjazem agrave escolha do nome do lugar

que foi possibilitado por meio da caracterizaccedilatildeo de fatores sociais culturais histoacutericos que nos

auxiliaram nas anaacutelises dos topocircnimos

A hipoacutetese inicial da pesquisa foi de que pelo caraacuteter motivado o signo toponiacutemico

possibilita reconhecer fatores vinculados ao que subjaz agrave escolha dos nomes de lugares e assim

nos possibilitou o levantamento de fatores soacutecio-histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave

anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua como iacutendice de estreita relaccedilatildeo entre

liacutenguaambiente e cultura E pudemos observar que os topocircnimos estabelecem relaccedilotildees da

114

liacutengua e meio ambiente no que concerne agrave anaacutelise das taxionomias de natureza fiacutesica e a

posteriori as relaccedilotildees de liacutengua e cultura que foram evidenciadas nas taxionomias de natureza

antropocultural Nas taxes analisadas foi possiacutevel detectar que o ambiente e o contexto satildeo

fundantes nas motivaccedilotildees que subjazem aos topocircnimos analisados Desta forma entende-se que

um rio um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que uma vez nomeados passam a carregar as

inuacutemeras memoacuterias do lugar

Os fatores soacutecio-histoacutericos-culturais do municiacutepio de Pires do Rio-GO foram

imprescindiacuteveis no processo de anaacutelise dos designativos dos lugares pois no caso do topocircnimo

ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo ficou evidente que o fato motivador foi a relaccedilatildeo de poder

do nome devido ao ribeiratildeo ter sua nascente em terras que eram do coronel Lino Teixeira de

Sampaio e tambeacutem por ter sido ele o doador das terras em que surgiu o referido municiacutepio

Ao levantar as perguntas de pesquisa qual a origem dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da

cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do

lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo Apoacutes ter analisado os 15

topocircnimos fica evidente que todos os nomes estatildeo registrados nas cartas topograacuteficas e satildeo

oficializados pelo IBGE mas provavelmente os nomes foram dados pela comunidade que

habitou nas localidades ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas que foram levantadas nos designativos

fazendo referecircncia ao local

Por meio da caracterizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico

onomasioloacutegico que foi o norte da pesquisa combinado com outros meacutetodos como o Woumlrter

und Sachen (palavras e coisas) numa abordagem qualiquantitativa foi evidente na relaccedilatildeo da

toponiacutemia que os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos

lugares Nesse iacutenterim nos foi possiacutevel quantificar os topocircnimos em relaccedilatildeo as taxionomias

origem e estrutura morfoloacutegica percebendo as ocorrecircncias em maior frequecircncia

A anaacutelise do ponto de vista etnolinguiacutestico demonstrou a predominacircncia de topocircnimos

originaacuterios da liacutengua indiacutegena um percentual de 36 essa recorrecircncia eacute supostamente devido

agrave internalizaccedilatildeo de nomes de origem tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para

Goiaacutes e agrave presenccedila de iacutendios como jaacute mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo

viveram na regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e

consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)

A liacutengua latina que deu origem agrave liacutengua portuguesa aparece e 29 dos topocircnimos

analisados isso devido aos povos lusoacutefonos que nomeavam os lugares com as caracteriacutesticas

que se estabeleciam com os referidos locais por eles percorridos e habitados E tambeacutem outras

liacutenguas tiveram uma menor frequecircncia como a aacuterabe hebraica preacute-romana sacircnscrito e

115

tambeacutem um topocircnimo de origem obscura fica evidente que outras etnias influenciaram na

nomeaccedilatildeo dos lugares Pode ser pelo fato de o nomeador pertencer a etnia ou ter alguma relaccedilatildeo

indireta

Quanto agrave estrutura morfoloacutegica do toacutepico de acordo com Dick (1992) dos analisados

87 satildeo de formaccedilatildeo simples tendo apenas um formante e 13 satildeo compostos com dois

formantes lexicais assim os compostos revelam mais de uma caracteriacutestica do local nomeado

e caracteriza mais de uma taxionomia

De forma peculiar esta pesquisa aleacutem de proceder com as anaacutelises de classificaccedilatildeo

origemetimologia morfoloacutegica e semacircntico-toponiacutemicas remapeou e cartografou os cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO sem mencionar no revisitar da formaccedilatildeo histoacuterica

deste municiacutepio e da contribuiccedilatildeo com os estudos toponiacutemicos no estado de Goiaacutes

Os topocircnimos aleacutem de servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas

fiacutesicas e sociais da sociedade a que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e

costumes dessa sociedade E ao perceber essas relaccedilotildees de liacutenguaambiente e cultura na

designaccedilatildeo do topocircnimo eacute que propomos para discussatildeo futura doutorado a partir da

ecolinguiacutestica e da toponiacutemia proceder com a anaacutelise da relaccedilatildeo de liacutengua e meio ambiente nos

hidrocircnimos das bacias hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes

116

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CLEBER CEZAR DA SILVA

OS CURSOS DrsquoAacuteGUA DE PIRES DO RIO ANAacuteLISE DAS MOTIVACcedilOtildeES

TOPONIacuteMICAS

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem ndash niacutevel de

Mestrado - da Universidade Federal de Goiaacutes ndash

Regional Catalatildeo como requisito parcial de

creacuteditos para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em

Estudos da Linguagem

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Linguagem Cultura e

Identidade

Linha de Pesquisa Liacutengua Linguagem e

Cultura

Orientadora Dra Kecircnia Mara de Freitas

Siqueira

CATALAtildeO (GO)

2017

CLEBER CEZAR DA SILVA

OS CURSOS DrsquoAacuteGUA DE PIRES DO RIO ANAacuteLISE DAS MOTIVACcedilOtildeES

TOPONIacuteMICAS

Aprovado por

__________________________________________

Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Universidade Estadual de Goiaacutes ndash Cacircmpus Pires do Rio

Orientadora

__________________________________________

Vanessa Regina Duarte Xavier

Universidade Federal de Goiaacutes ndash Regional Catalatildeo

__________________________________________

Karylleila dos Santos Andrade

Universidade Federal do Tocantins ndash Cacircmpus Palmas

Catalatildeo-GO 20 de Janeiro de 2017

Decido este trabalho a Deus aos eternos amantes

da Toponiacutemia e agravequela que desde sempre eacute meu

alicerce e a maior incentivadora minha matildee

Nelica Antocircnia Pereira da Silva

AGRADECIMENTOS

ldquoE agora eis o que diz o Senhor aquele que te criou Jacoacute e te formou Israel nada

temas pois eu te resgato eu te chamo pelo nome eacutes meurdquo (ISAIacuteAS 431) Senhor de Israel

foi por chamar-me pelo nome eacute que constitui esta graccedila sem o Seu amor e graccedila eu nada seria

pois colocou-me em peacute quando pensava natildeo mais conseguir caminhar e de amparo me enviaste

o Espiacuterito Santo e a Virgem Maria graccedilas rendo agrave Santiacutessima Trindade e agrave Virgem por

caminharem comigo e natildeo me deixar perder no caminho

ldquoOs filhos satildeo heranccedila do Senhor uma recompensa que ele daacute Como flechas nas matildeos

do guerreiro satildeo os filhos nascidos na juventude Como eacute feliz o homem que tem a sua aljava

cheia deles Natildeo seraacute humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunalrdquo (SALMO 1273-

5) Famiacutelia o que seria de mim sem vocecircs nada Matildee e pai sempre com amor mesmo que

velado souberam educar seus dois filhos na dignidade para que se constituiacutessem verdadeiros

homens e de bem Mesmo com as dificuldades da vida em momento algum se abateram foram

fieacuteis agrave missatildeo designada de serem pais a vocecircs minha eterna gratidatildeo e se hoje concretizo esta

fase em minha vida ela eacute tatildeo minha quanto de vocecircs muito obrigado Amo vocecircs

As relaccedilotildees de afeto e cuidado sempre foram o nosso maior elo a vocecircs que sempre

torceram por mim e a cada conquista vibraram intensamente obrigado meu irmatildeo cunhada

sobrinha afilhados tios primos padrinhos e a matriarca de nossa famiacutelia minha adorada avoacute

Que Deus continue fazendo de noacutes uma famiacutelia de princiacutepios e sempre grata a Ele por tudo

ldquoO amigo ama em todos os momentos eacute um irmatildeo na adversidaderdquo (PROVEacuteRBIOS

1717) Amigos famiacutelia que a vida me deu de presente mencionar nomes aqui seria muito

injusto cada um com seu jeito e adversidade me ensinaram que a vida natildeo se resume apenas

em bons momentos pois estiveram comigo em momentos nada agradaacuteveis souberam respeitar

o meu silecircncio minhas ausecircncias e o melhor vibraram comigo todos os momentos desta

conquista a vocecircs meus ldquoirmatildeos na adversidaderdquo muito obrigado

Aos colegas e amigos do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem

Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo nos encontros da vida sempre tecircm surpresas

a melhor de todas foi poder construir com muitos de vocecircs verdadeiros laccedilos de amizade que

iratildeo perpetuar para todo sempre soacute posso neste momento agradecer pelos momentos de troca

de experiecircncias e conhecimento e desejar sucesso a todos

ldquoO ensino dos saacutebios eacute fonte de vida e afasta o homem das armadilhas da morterdquo

(PROVEacuteRBIOS 1314) Ensinar eis o dom com tanta dedicaccedilatildeo e carinho muitos mestres

conduziram-me ateacute aqui e foi com a graccedila do ensino dos saacutebios eacute que natildeo caiacute nas armadilhas

pois tambeacutem me tornei saacutebio Professora doutora eterna orientadora Kecircnia Mara de Freitas

Siqueira nenhuma palavra eacute capaz de expressar a gratidatildeo que tenho por vocecirc foram anos de

ensinamentos e agora se concretizam com mais esta fase sou e serei eternamente grato por me

apresentar a Toponiacutemia pois ela me levaraacute a mais um degrau no meio acadecircmico Obrigado

por tudo Deus lhe pague

Aos professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem

Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo que muito contribuiacuteram para a construccedilatildeo

desta pesquisa Fabiacuteola Aparecida Sartin Dutra Parreira Almeida Maria Helena de Paula e

Vanessa Regina Duarte Xavier A professora Vivian Regina Orsi Galdino de Souza do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio

de Mesquita Filhordquo cacircmpus Satildeo Joseacute do Rio Preto-SP obrigado pelos seus vastos ensinamentos

e por permitir que cursasse a disciplina ldquoIntroduccedilatildeo aos Estudos Lexicograacuteficosrdquo Mestres

obrigado pelos ensinamentos e momentos de descontraccedilatildeo e alegria vocecircs foram capazes de

mostrar que o universo da pesquisa tambeacutem se constitui na felicidade e prazer

ldquoTodo trabalho aacuterduo traz proveito mas o soacute falar leva agrave pobrezardquo (PROVEacuteRBIOS

1423) O trabalho dignifica o homem palavras estas do livro da vida a biacuteblia sagrada Minha

vida desde a infacircncia foi pautada no estudo e no trabalho assim todos os trabalhos que tive me

possibilitaram crescer enquanto ser humano e profissional Registro aqui os meus mais sinceros

agradecimentos aos colegas e amigos do Coleacutegio Estadual Professor Ivan Ferreira minha eterna

casa pois foi laacute que tive o prazer em estudar e depois retornar como profissional inclusive ser

gestor deste honrado estabelecimento de ensino Aos colegas e amigos do Instituto Federal

Goiano ndash Campus Urutaiacute obrigado por permitirem dividir com vocecircs este espaccedilo de

conhecimento e aprendizado

A banca examinadora deste trabalho professores Karylleila dos Santos Andrade

Vanessa Regina Duarte Xavier e Alexandre Antoacutenio Timbane registro os meus mais sinceros

agradecimentos pelas valorosas contribuiccedilotildees no Exame de Qualificaccedilatildeo e agora na defesa deste

trabalho Deus lhes pague

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de

Goiaacutes Regional Catalatildeo na pessoa da coordenadora Luciana Borges obrigado por dar

possiblidades que novos pesquisadores se formem no acircmbito dos estudos da linguagem

Enfim sozinho natildeo sou nada sempre necessitarei de outros por isso a todos os que

foram meu alicerce para a concretizaccedilatildeo de mais esta etapa em minha vida algo sonhado haacute

muito tempo receba o meu muito obrigado e Deus lhes pague

ldquoO nome eacute um certo sentido a proacutepria coisa dar

nome agraves coisas eacute conhececirc-las e apropriar-se

delas a denominaccedilatildeo eacute o ato da posse espiritualrdquo

(MIGUEL UNAMUNO)

RESUMO

Esta pesquisa centra-se nos estudos toponiacutemicos e tem como objetivo descrever e analisar a

origemetimologia morfoloacutegica e semanticamente dos topocircnimos da hidrografia da cidade de

Pires do Rio-GO para identificar as relaccedilotildees entre esses designativos de lugares e respectivos

fatores contextuais que por ventura possam conter indiacutecios da motivaccedilatildeo toponiacutemica O

levantamento dos topocircnimos foi feito por meio de documentos oficiais mapas do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Instituto Mauro Borges (IBM) numa escala de

1100000 e das cartas topograacuteficas A pesquisa eacute de base documental numa abordagem

qualiquantitativa O meacutetodo da pesquisa eacute o onomasioloacutegico e indutivo parte-se de casos

particulares para uma verdade geral combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica de

estudo das designaccedilotildees com o objetivo de analisar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito

A anaacutelise do corpus da pesquisa deu-se apoacutes o levantamento dos 46 topocircnimos dos cursos

drsquoaacutegua dentre os quais 15 satildeo analisados neste estudo Nesse sentido parte-se do princiacutepio de

que o signo toponiacutemico eacute motivado pois fatores extralinguiacutesticos influenciam o nomeador no

ato de nomear na perspectiva de que a liacutengua recorta a realidade agrave sua maneira (Sapir-Whorf)

sendo que a proacutepria liacutengua eacute um depositaacuterio de cultura assim os topocircnimos revelam fatores

soacutecio-histoacuterico-culturais do lugar que o nomeia A histoacuteria e a geografia do municiacutepio de Pires

do Rio-GO foram fundantes para as anaacutelises que nas bases onomasioloacutegicas e indutivas

evidenciam que o local e suas caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais influenciam o nomeador no ato

do batismo do topocircnimo Perceber as relaccedilotildees de nomeaccedilatildeo e nomeador satildeo fatores que por

meio das classificaccedilotildees taxionocircmicas satildeo revelados sem deixar de perceber tambeacutem que a

origem dos nomes e sua estrutura morfoloacutegica evidencia os fatores contextuais a que da liacutengua

cultura e ambiente estatildeo impregnados no topocircnimo isso tudo agrave vista de quem o designou

Palavras-Chave Toponiacutemia Liacutengua Cultura Pires do Rio Hidrografia

ABSTRACT

This research focuses on the toponymic studies and aims to describe and analyze the origin of

the names morphological and semantic of designatory toponyms of the hydrography of Pires

do Rio-GO city to identify the relations between these designative places and their respective

contextual factors which may by chance contain indications of toponymic motivation The

research of the toponyms was done by means of official documents maps of the Brazilian

Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Mauro Borges Institute (IBM) on a scale of

1 100000 and topographic maps The research is documentary based in a qualitative and

quantitative approach the research method is the onomasiological method combined with other

methods which consists of the study of designations with the purpose of studying the various

names attributed to a concept The analysis of this researchrsquos corpus took place after the survey

of the 46 toponyms of the watercourses from which 15 are analyzed in this study In this sense

it is assumed that the toponymic sign is motivated once extralinguistic factors influence the

nominator in the act of naming in the perspective that the language outlines reality in its own

way (Sapir-Whorf) and the language itself is a depository of culture thus toponyms reveal

socio-historical-cultural factors of the place that names it The history and geography of Pires

do Rio-GO city was the basis for the analyzes which on the onomasiological bases show that

the place and its physical and social characteristics influence the nominator in the moment of

the toponym baptism To perceive naming and nominator relationships are factors that are

revealed through the taxonomic classifications noticing at the same time that the origin of the

names and their morphological structure reveals the contextual factors that are impregnated in

the toponymy of the language culture environment aspects from the point of view of who

appointed it

Keywords Toponymy Language Culture Pires do Rio Hydrography

LISTA DE ABREVIATURAS

ATEGO ndash Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes

ATB ndash Atlas Toponiacutemico Brasileiro

DSG ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito

ETE ndash Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FCA ndash Ferrovia Centro Atlacircntica

GO ndash Goiaacutes

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBM ndash Instituto Mauro Borges

IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano

M ndash Municiacutepio

PEA ndash Populaccedilatildeo Economicamente Ativa

RFFSA ndash Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima

SD ndash Sem data

SE ndash Secccedilatildeo

LISTA DE FICHAS

Ficha 01 ndash Pires do Riohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip67

Ficha 02 ndash Coacuterrego Laranjal89

Ficha 03 ndash Ribeiratildeo Taquaralhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip90

Ficha 04 ndash Ribeiratildeo Cachoeirahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip91

Ficha 05 ndash Coacuterrego Barreiro93

Ficha 06 ndash Coacuterrego Terra Vermelha94

Ficha 07 ndash Coacuterrego Itauacutebi96

Ficha 08 ndash Ribeiratildeo Brumado96

Ficha 09 ndash Rio Corumbaacute98

Ficha 10 ndash Rio do Peixe98

Ficha 11 ndash Rio Piracanjuba99

Ficha 12 ndash Ribeiratildeo Sampaio101

Ficha 13 ndash Ribeiratildeo Bauacute104

Ficha 14 ndash Ribeiratildeo Caiapoacute105

Ficha 15 ndash Ribeiratildeo Marataacute105

Ficha 16 ndash Ribeiratildeo Mucambo106

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Natureza das Taxionomias87

Graacutefico 2 ndash Taxionomias de Natureza Fiacutesica88

Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural101

Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos108

Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos111

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 ndash Pires do Rio(GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio(GO)74

Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)83

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo44

Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos57

Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Recenseamento 76

Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Contagem 76

Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio(GO) 77

Quadro 6 ndash Os cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO) 78

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO20

I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO 25

11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear 25

12 Liacutengua e Cultura 33

13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes 39

14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica 43

15 Linguiacutestica Histoacuterica 47

II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS 51

21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos 51

212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica 53

22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia 57

III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO 66

31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte 66

32 Pires do Rio geograacutefico 74

33 Os cursos daacutegua 78

IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR81

41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural 84

42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos daacutegua de Pires do Rio-GO 87

421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos88

4211 Fitotopocircnimos89

4212 Hidrotopocircnimos91

4213 Litotopocircnimos93

4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos94

4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos95

4216 Meteorotopocircnimos96

4217 Zootopocircnimos97

422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos100

4221 Antropotopocircnimos101

4222 Ergotopocircnimos103

4223 Etnotopocircnimos104

4224 Sociotopocircnimos106

43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos107

44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos111

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS113

REFEREcircNCIAS 116

20

INTRODUCcedilAtildeO

Ao dar nome a seres e objetos o homem tambeacutem os categoriza jaacute que eacute o ato de nomear

que daacute existecircncia a algo ou algueacutem Eacute por meio do nome que haacute identificaccedilatildeo e principalmente

a diferenciaccedilatildeo dos seres e dos objetos No ato da nomeaccedilatildeo diversos aspectos extralinguiacutesticos

podem influenciar o nomeador isso pode caracterizar especificamente a motivaccedilatildeo que subjaz

a qualquer signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica A motivaccedilatildeo por sua vez eacute reveladora de

inuacutemeros aspectos que estatildeo na base da inter-relaccedilatildeo liacutengua cultura e ambiente pois o nome

proacuteprio de lugar como fato da liacutengua identifica e guarda uma significaccedilatildeo precisa oriunda de

aspectos fiacutesicos ou culturais Desta forma busca-se mediante o estudo dos designativos dos

cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO descrever essa relaccedilatildeo (liacutengua cultura e

ambiente) Entende-se assim que um rio um riacho um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que

uma vez nomeados passam a carregar as inuacutemeras memoacuterias do lugar

Em decorrecircncia disso abrem-se possibilidades de inter-relacionar aacutereas do saber

humano com vista a estabelecer algum viacutenculo epistemoloacutegico a fim de proporcionar novos

olhares sobre um objeto jaacute descrito e analisado por outra aacuterea do conhecimento a geografia

mas restrito a um uacutenico niacutevel de anaacutelise linguiacutestica Isso leva a considerar os aspectos da

linguagem dentro de uma visatildeo interdisciplinar que pode trazer entre tantas contribuiccedilotildees o

fato de entendecirc-los na totalidade como em uma rede de relaccedilotildees Em outras palavras oferece

a possibilidade de analisar os fatos linguiacutesticos de maneira holiacutestica uma vez que os fatores

envolvidos na interaccedilatildeo devem ser concebidos como um todo formado por componentes que se

relacionam entre si

Entrecruzar as aacutereas de geografia e da linguiacutestica eacute um trabalho que jaacute se tem feito e

alguns estudiosos como eacute o caso de Menezes e Santos (2007 apud Menezes Santos Santos

2010) tratam a toponiacutemia na geografia como geoniacutemia Para Andrade (2010 p 105-106)

Natildeo se pode pensar em toponiacutemia desvinculada de outras ciecircncias como

histoacuteria geografia antropologia cartografia psicologia e a proacutepria

linguiacutestica Deve ser pensada como um complexo linguiacutestico-cultural um fato

do sistema das liacutenguas humanas Faz parte de uma ciecircncia maior que se

subdivide em toponiacutemia e antroponiacutemia

Assim esta pesquisa eacute relevante para a aacuterea dos estudos da linguagemlinguiacutesticos como

para a geografia sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo histoacuterico-cultural sobre a cidade de

Pires do Rio-GO e levado a conhecimento puacuteblico

21

Fazer esse estudo acerca da hidrografia da cidade de Pires do Rio eacute elementar elencando

natildeo soacute estudos semacircnticos lexicais origemetimologia dos termos mas tambeacutem soacutecio-

histoacuterico-culturais de um povo Algo ainda se faz pertinente na definiccedilatildeo do problema pois foi

assim que surgiu o interesse por este estudo em conversas informais com pessoas da cidade

obtive respostas que aguccedilaram esta pesquisa pois proacuteximo de Pires do Rio-GO cerca de uns

3 km da cidade haacute um determinado ribeiratildeo o qual a comunidade local denomina de Pedro

Teixeira mas na verdade esse nome eacute dado agrave ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo e foi construiacuteda

pelo fazendeiro Sr Pedro Teixeira embora o nome que se apresenta na carta topograacutefica seja

ribeiratildeo Sampaio

Diante da problematizaccedilatildeo qual a origemetimologia dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da

cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do

lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo A partir disso centra-se o

nosso estudo em descrever e analisar a origemetimologia dos termos a morfologia e a

semacircntica investigando e verificando os topocircnimos e as relaccedilotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo

de Pires do Rio-GO

Preliminarmente trabalha-se com a seguinte hipoacutetese de pesquisa pelo seu caraacuteter

motivado o signo toponiacutemico possibilita reconhecer fatores vinculados agrave motivaccedilatildeo que subjaz

agrave escolha dos nomes de lugares o que pode possibilitar o levantamento de fatores soacutecio-

histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua

como iacutendice da estreita relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura A toponiacutemia dos cursos drsquoaacutegua de Pires

do Rio-GO incorpora caracteriacutesticas sociais linguiacutesticas e culturais da regiatildeo a que pertence

Este eacute um dos embates fundantes de nosso estudo assim espera-se com esta pesquisa

cartografar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO com base na

metodologia do ATB (Atlas Toponiacutemico Brasileiro) como sugerido por Dick (1990 2004)

Posto isso ao final responderemos agraves perguntas de pesquisa jaacute mencionadas

anteriormente e ainda contribuiremos com as pesquisas na aacuterea da Onomaacutestica que estatildeo

desenvolvendo-se em Goiaacutes Conveacutem mencionar tambeacutem que uma das contribuiccedilotildees desta

pesquisa aleacutem de revisitar a histoacuteria e a cultura de uma regiatildeo eacute a de auxiliar na construccedilatildeo do

Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes ndash ATEGO

Assim o objetivo da pesquisa constitui-se basicamente em descrever e analisar os

topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua e de outros elementos hidrograacuteficos da regiatildeo do

municiacutepio de Pires do Rio-GO observando noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de

natureza fiacutesica e de natureza antropocultural Para tanto eacute necessaacuterio evidenciar os fatores que

constituem a motivaccedilatildeo que subjaz agrave escolha do nome do lugar o que requer a identificaccedilatildeo de

22

fatos sociais culturais histoacutericos elementos geograacuteficos (quando pertinente) e outras

motivaccedilotildees de diferentes naturezas

De uma maneira peculiar os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo i) remapear os

cursos hiacutedricos mediante o elenco de seus topocircnimos para cartografar os mapas da bacia

hidrograacutefica e dos topocircnimos seguindo a metodologia do Projeto ATB ii) verificar mediante

a anaacutelise linguiacutestica dos topocircnimos a motivaccedilatildeo referente agrave cultura e agrave histoacuteria e

principalmente aos aspectos fiacutesicos dos lugares que iniciaram o processo de nomeaccedilatildeo dos rios

coacuterregos ribeirotildees e quedas drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO (evidenciando o viacutenculo

liacutengua ambiente e cultura) iii) de alguma forma contribuir para o desenvolvimento dos estudos

toponiacutemicos em Goiaacutes

A metodologia consiste de uma pesquisa de natureza documental de abordagem

qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites

e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos puacuteblicos (mapas e cartas

topograacuteficas) e o meacutetodo da pesquisa eacute o de induccedilatildeo com ecircnfase para a observaccedilatildeo do fazer

onomasioloacutegico combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica especialmente o Woumlrter

und Sachen (palavras e coisas) O meacutetodo onomasioloacutegico e indutivo se constitui do estudo das

designaccedilotildees com o objetivo de estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Usando

esse meacutetodo pode-se investigar toda ou pelo menos parte da cultura popular de um local e

priorizar aspectos sincrocircnicos ou histoacutericos se necessaacuterio for Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os

aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos lugares

Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de dissertaccedilatildeo de Mestrado sobre Os

cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio anaacutelise das motivaccedilotildees toponiacutemicas produzida no acircmbito do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem Universidade Federal de Goiaacutes ndash

Regional Catalatildeo que focaliza os topocircnimos hiacutedricos do municiacutepio de Pires do Rio

Desta maneira este trabalho se estrutura em quatro capiacutetulos organizados de forma a

abranger os resultados desta pesquisa que articula por meio da linguagem quesitos histoacutericos

geograacuteficos e culturais

Assim no capiacutetulo I O nome e a atividade de nomeaccedilatildeo satildeo apresentadas

consideraccedilotildees referentes ao nome e ao ato de nomear no sentido de reformular questotildees teoacutericas

necessaacuterias ao levantamento de dados e agrave construccedilatildeo do corpus bem como agrave descriccedilatildeo dos

topocircnimos que designam os elementos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas drsquoaacutegua) do municiacutepio

de Pires do Rio-GO Para tanto o capiacutetulo traz uma revisatildeo dos conceitos de nome (comum

proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes tanto no sistema linguiacutestico

como em relaccedilatildeo agrave cultura e estabelecendo as relaccedilotildees de liacutengua e cultura pois a liacutengua

23

transporta a cultura no tempo e recorta agrave realidade agrave sua maneira Eacute necessaacuterio aqui trazer as

discussotildees teoacutericas acerca da toponiacutemia e do signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica que

sustentam a nossa pesquisa Ainda fazemos uma retomada do surgimento e desdobramento da

Linguiacutestica Histoacuterica pois eacute a partir dela que satildeo criados os meacutetodos de pesquisa os quais

contribuem para a aacuterea de estudo

O capiacutetulo II A metodologia da pesquisa e seus desdobramentos eacute praticamente uma

extensatildeo do primeiro porque procura reavaliar alguns meacutetodos usados em pesquisa onomaacutestica

com o objetivo de coadunar teoria meacutetodo e procedimentos de pesquisa

Neste capiacutetulo eacute possiacutevel rever algumas questotildees sobre os meacutetodos da linguiacutestica o

meacutetodo onomasioloacutegico que investiga as relaccedilotildees de significado e referecircncias partindo das

designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Ainda eacute

apresentada uma siacutentese do comparativismo e do meacutetodo Woumlrter und Sachen de Hugo

Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) pois de acordo com Bassetto (2001)

pode-se verificar pontos em comum que compartilham com o meacutetodo onomasioloacutegico Ao

enfatizar questotildees de ordem semacircntica das palavras ressalta-se a realidade que elas designam

para esses autores a verdadeira etimologia da palavra estaacute no conhecimento dessa realidade

Busca-se assim instruir sobre a necessidade de conhecer se possiacutevel o objeto designado por

um nome para que o significado possa ser explicitado adequadamente

Dados histoacutericos e geograacuteficos referentes agrave capital da estrada de ferro Pires do Rio

compotildeem o terceiro capiacutetulo A capital da estrada de ferro Pires do Rio de modo a traccedilar em

linhas gerais a histoacuteria da fundaccedilatildeo do municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XX em decorrecircncia da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz e da Estaccedilatildeo Feacuterrea Pires do Rio em 09 de novembro de

1922 A importacircncia deste municiacutepio se deve agrave estrada de ferro e obviamente aos primeiros

habitantes que para caacute acorreram acreditando no desenvolvimento da antiga ldquoTeteia do

Corumbaacuterdquo

No capiacutetulo quarto A toponiacutemia e suas relaccedilotildees com o lugar apresentamos a anaacutelise

dos dados as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural e as fichas lexicograacuteficas-

toponiacutemicas dos 15 topocircnimos analisados de acordo com os estudos de Dick (1992)

juntamente com a origem das liacutenguas e estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos daiacute procedemos

agraves anaacutelises das classificaccedilotildees toponiacutemicas que estatildeo presentes nos designativos dos cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO estabelecendo as relaccedilotildees motivacionais e semacircnticas

do topocircnimo com o local nomeado

Na sequecircncia satildeo apresentadas as Consideraccedilotildees Finais que retomam os resultados

obtidos ao teacutermino da pesquisa pautados nos objetivos e perguntas que orientaram este estudo

24

E por fim seguem as Referecircncias que sustentaram a parte teoacuterica e a construccedilatildeo do corpus

coletado

25

I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO

O conhecimento dos nomes natildeo eacute negoacutecio de

importacircncia somenos

(PLATAtildeO 2001)

Este capiacutetulo tem o objetivo de tecer de forma mais geral consideraccedilotildees acerca do nome

e do ato de nomear para reformular questotildees teoacutericas necessaacuterias ao levantamento de dados

para a construccedilatildeo do corpus e descriccedilatildeo dos hidrocircnimos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas

drsquoaacutegua) do municiacutepio de Pires do Rio-GO Para tanto os itens a seguir trazem uma revisatildeo dos

conceitos de nome (comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes

tanto no sistema linguiacutestico como em relaccedilatildeo agrave cultura jaacute que representam inuacutemeros aspectos

que culminam em certos criteacuterios para a nomeaccedilatildeo ou nominaccedilatildeo revelando em certo sentido

especificidades dessa cultura que satildeo evidenciadas na nomeaccedilatildeo Ao dar um nome a um objeto

ou a um lugar natildeo se reduz apenas a indicar mas a classificar situar identificar e sobretudo

uma vez categorizado inscreve-se tambeacutem em um sistema cognitivo permeado por essa mesma

cultura

11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear

O nome eacute a parte que caracteriza a existecircncia de algo ou algueacutem sem a especificidade

do nome o objeto ou a pessoa natildeo eacute identificada Aliaacutes em muitas situaccedilotildees o nome consolida

a existecircncia do objeto que passa a ldquoexistirrdquo como tal em decorrecircncia de ter um nome ou seja

o falante pode perceber no mundo apenas aquilo que conhece pelo nome O nome estaacute presente

em todas as esferas do desenvolvimento da humanidade Eacute parte constitutiva do proacuteprio ser

humano que se reconhece e se afirma face ao nome que carrega eacute tambeacutem o nome que lhe

rompe o anonimato e lhe confere de certa forma uma identidade

Segundo Silva (2000) eacute o nome que diferencia os seres e os objetos do mundo

Identidade e diferenccedila ocorrem simultaneamente como produto de um mesmo processo o da

identificaccedilatildeo Pode-se afirmar que depois de nomeado o objeto passa a ser identificado

tambeacutem pelas diferenccedilas que possui em relaccedilatildeo agravequilo que natildeo eacute ou melhor eacute diferenciado

face aos demais elementos do mundo extralinguiacutestico conferindo-lhe existecircncia Tem um nome

porque existe tornou-se conhecido e eacute reconhecido como elemento cultural importante para a

continuidade de uma populaccedilatildeo como um dos milhares de traccedilos que a caracteriza e desta

26

forma ldquoo processo de nomeaccedilatildeo eacute uma forma pela qual a sociedade cria os seus membros agrave sua

imagemrdquo (CABRAL 2007 p 85)

E em Craacutetilo Platatildeo narra um diaacutelogo entre Demoacutestenes e Craacutetilo acerca da justeza dos

nomes debates no qual Soacutecrates aponta para ambas as possibilidades isto eacute para os socraacuteticos

tanto se pode entender os nomes como vinculados agrave coisa como podem ser vistos como

inteiramente sem elo com as coisas do mundo Platatildeo (2001 p 48) justifica que o ato de nomear

era visto como uma pressuposiccedilatildeo da existecircncia de algo assim ldquoas coisas devem ser nomeadas

como lhes pertence por natureza serem nomeadas e por meio do que devem secirc-lo e natildeo como

noacutes queremos e assim faremos e nomearemos melhor mas de outra maneira natildeordquo

A nomeaccedilatildeo eacute assim uma atividade bastante significativa para o ser humano e se

constitui de uma accedilatildeo complementar do modo como determinada populaccedilatildeo entende o meio em

que vive essa eacute a linha de pensamento tanto de Dick (1990) como de outros estudiosos como

Basso (1988) Langacker (2002) Weisgerber (1977) Wierzbicka (1997) e Worf (1971) dos

fatos da linguagem como evidencia a assertiva que segue

Apreensatildeocompreensatildeo e transmissatildeoparticipaccedilatildeo de um dado qualquer do

saber humano satildeo atuantes de uma mesma e complexa evidecircncia relacional ndash

o ato comunicativo ndash que corporifica em sua expressividade um aglomerado

de situaccedilotildees liacutenguo-soacutecio-psiacutequicas Nele estaacute manifesto ainda que de modo

impliacutecito o registro pelo qual se concretizou a ldquoassimilaccedilatildeo do

mundordquo atraveacutes do coacutedigo de linguagem vivenciado por determinada

comunidade linguiacutestica (DICK 1990 p 29)

Natildeo eacute equivocado afirmar que o nome corporifica aquilo que determinada comunidade

assimilou de seu meio circundante mediante relaccedilotildees estabelecidas entre a liacutengua que

possibilita a representaccedilatildeo daquilo que foi evidenciado e as impressotildees sociopsiacutequicas oriundas

dos objetos do mundo que se tornaram salientes aos olhos do nomeador Assim recebe um

nome tudo aquilo que de uma forma ou de outra tornou-se um item da cultura seja um acidente

fiacutesico-natural (um rio uma espeacutecie botacircnica) ou um item criado culturalmente Em todas as

sociedades conhecidas haacute referecircncia aos nomes e consequentemente agrave accedilatildeo de nomear Muitas

vezes essa atividade humana eacute revestida de mitos e rituais que conferem ao nome poderes

maacutegicos ou sobre-humanos

Nas sociedades primitivas de acordo com Cunha (2004) um nome pode valorar o

sagrado ou o ritual isso pode ocorrer quando acontece a mudanccedila de nome (candombleacute e igreja

catoacutelica) desta forma ao nomear algueacutem eacute tocar-se na personalidade da pessoa e ateacute as partes

da escrita que compotildeem o nome satildeo carregadas de simbologia e forccedilas sobrenaturais Cunha

27

(2004 p 220) ainda acrescenta que ldquonas mais diversas culturas natildeo ter nome eacute natildeo existir

nomear eacute instituirrdquo

Nesse processo de instituir dos rituais de passagem eacute possiacutevel entender que a atividade

de nomeaccedilatildeo adveacutem de fatores que propiciam uma motivaccedilatildeo que resulta na escolha de um

nome No ritual de escolha de um novo Papa (igreja catoacutelica) ou de um novo membro do

candombleacute o indiviacuteduo fica recluso por alguns dias e no momento do ritual apresenta seu

novo nome agrave comunidade fato esse que reside de alguma forma na escolha do novo nome

Desta forma o nome eacute escolhido de acordo com suas caracteriacutesticas psicofiacutesicas e tambeacutem com

as que ele deseja ter a partir do momento de escolha do novo nome

Conforme Biderman (1998) muitas satildeo as culturas que acreditam que o nome estaacute

ligado agrave essecircncia da pessoa Nas culturas arcaicas em geral os nomes atribuiacutedos agraves pessoas

tinham um significado que indicava agraves vezes a vocaccedilatildeo ou o destino do indiviacuteduo o que

corrobora a justeza dos nomes nos rituais de passagem e em outras atividades de nomeaccedilatildeo

O ato de nomear se constitui tambeacutem como algo divino Para Biderman (1998 p 85)

ldquoo gesto criador de Deus identifica-se com esta palavra ontoloacutegica essencialmente divina O

que noacutes homens somos e o que sabemos nasce dessa revelaccedilatildeo primordial da palavra criadora

do gesto divino de dizerrdquo Cunha (2004) evidencia que a palavra jaacute eacute reveladora do poder desde

a antiguidade e isso se expressa de forma clara por meio da biacuteblia sagrada que em vaacuterios textos

conclama que o poder eacute revelado por meio da palavra como percebe-se no livro de Gecircnesis

capiacutetulo I versiacuteculos 19 e 20

19 Tendo pois o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos

e todas as aves dos ceacuteus levou-os ao homem para ver como ele os havia de

chamar e todo o nome que o homem pocircs aos animais vivos esse eacute o seu nome

verdadeiro 20 O homem pocircs nomes a todos os animais a todas as aves dos

ceacuteus e a todos os animais dos campos mas natildeo se achava para ele uma ajuda

que lhe fosse adequada (BIacuteBLIA 1995 p 51)

Dessa forma o cristianismo explica a atividade humana de nomeaccedilatildeo Isso evidencia

que todos os objetos recebem um nome (comum) mediante uma accedilatildeo deliberada de escolha

individual (como em Gecircnesis) ou coletiva Esse nome recebe uma funccedilatildeo de significaccedilatildeo ou

melhor passa a significar algo no mundo sua referecircncia A nomeaccedilatildeo configura-se como um

processo operacional de conhecer e denominar coisas Conforme De Lastra e Garcia (sd apud

DICK 1990) para ser denominado o mundo externo deve antes passar a ser interno (iacutentimo)

Na relaccedilatildeo das praacuteticas de nomeaccedilatildeo segundo Loacutepez (2013) ocorrem fatores internos

e externos da seguinte forma i mudanccedilas internas quando elementos do sistema toponiacutemico

28

que designa lugares passam para o sistema antroponiacutemico que designa pessoas ii mudanccedilas

externas ou forccediladas como as que ocorreram na Europa entre os seacuteculos XVIII e XIX e

obrigaram os judeus a adotarem nomes cristatildeos e abandonarem os seus de origem hebraica

Para os judeus assim como para muitos povos perder o nome eacute o mesmo que perder a histoacuteria

a identidade e a famiacutelia Desta forma as autoridades europeias acreditavam que os judeus

deixariam (perderiam) as suas identidades e constituiriam uma nova uma identidade europeia

Conveacutem ressaltar que o referente1 nem sempre figurou entre os elementos constitutivos

do signo linguiacutestico No Curso de Linguiacutestica Geral Ferdinand Saussure (2008) define o signo

linguiacutestico como a junccedilatildeo de uma imagem acuacutestica (significante) a um (ou vaacuterios) conceitos

(significado) Saussure natildeo inclui nessa definiccedilatildeo a coisa nomeada o objeto do mundo ou em

outros termos o referente

Dito de outro modo os gestos epistemoloacutegicos de Saussure (2008) ao definirem a

liacutengua como objeto proacuteprio de estudo e tambeacutem no sentido de imprimirem cientificidade aos

estudos linguiacutesticos excluem o referente construindo assim um domiacutenio especiacutefico para a

Linguiacutestica diferente de outras aacutereas que tambeacutem se atecircm aos estudos da linguagem humana

A liacutengua para o mestre suiacuteccedilo eacute um sistema de signos que por sua vez abarca entidades

psiacutequicas constituiacutedas por duas faces significante e significado Essas duas faces do signo

linguiacutestico natildeo guardam poreacutem entre si qualquer relaccedilatildeo loacutegica nenhum viacutenculo ou melhor

a relaccedilatildeo entre significante e significado eacute marcada pelo seu caraacuteter imotivado arbitraacuterio para

usar os termos saussurianos Desta forma Kristeva (2007 p 24) afirma que ldquoa palavra

lsquoarbitraacuteriorsquo significa mais exatamente lsquoimotivadorsquo quer dizer que natildeo haacute nenhuma necessidade

natural ou real que ligue o significante e o significadordquo

O nome sempre suscitou uma questatildeo ontoloacutegica2 ou melhor uma questatildeo de

existecircncia A nomeaccedilatildeo eacute apenas uma das funccedilotildees da linguagem mas tem um papel importante

pois o significado dos nomes organiza e classifica as formas de perceber a realidade aleacutem de

estar ligado diretamente a uma cultura ou comunidade Assim para Sapir (1980) a liacutengua

recorta a realidade agrave sua maneira eacute por meio dela que se evidencia a relaccedilatildeo linguagem

pensamento e cultura Desta forma ldquoas palavras da liacutengua significam ao funcionarem no

acontecimento Este funcionamento recorta politicamente o realrdquo (GUIMARAtildeES 2005 p 82)

Nessa perspectiva eacute possiacutevel dizer que a nomeaccedilatildeo ganha relevo quando o assunto eacute a relaccedilatildeo

linguagem e realidade

1 Em um sistema triaacutedico significante significado e o referente 2 Ontoloacutegico ldquoAdj 1 relativo a Ontologia 2 que trata do ser humano na sua essecircncia na sua globalidaderdquo Verbete

inscrito em (BORBA 2004 p 992)

29

Guiraud (1986) chama atenccedilatildeo para a forccedila criadora da linguagem que resulta em uma

funccedilatildeo semacircntica dinacircmica e volaacutetil orientada principalmente por fatores especiacuteficos de uma

dada cultura Assim

[] a motivaccedilatildeo eacute uma forccedila criadora inerente agrave linguagem social que eacute um

organismo vivo de origem empiacuterica somente depois que a palavra eacute criada e

motivada (naturalmente ou intralinguisticamente) eacute que as exigecircncias da

funccedilatildeo semacircntica acarretam um obscurecimento dessa motivaccedilatildeo etimoloacutegica

que pode aliaacutes ao se apagar trazer uma alteraccedilatildeo de sentido (GUIRAUD

1986 p 31)

Motivaccedilatildeo esta que com o decorrer do tempo pode vir a se tornar obscura pelo

distanciamento temporal do fato que lhe deu origem Pode inclusive o nome sofrer inuacutemeras

alteraccedilotildees de sentido sem nenhum viacutenculo semacircntico com o significado original nem com o

fenocircmeno de sua ocorrecircncia primeira No entanto eacute forccediloso ressaltar mais uma vez que o ato

de nomear eacute motivado conforme Guiraud (1986) a nomeaccedilatildeo eacute inerente agrave linguagem e decorre

da relaccedilatildeo entre homem e ambiente ao reconhecer os objetos do mundo extralinguiacutestico

No que tange agrave motivaccedilatildeo Biderman (1998) reafirma a noccedilatildeo de que o nome natildeo eacute

arbitraacuterio ele tem um viacutenculo de essecircncia com a coisa ou o objeto que designa Assim o homem

primitivo acredita que seu nome tem parte vital com o seu ser Nas histoacuterias que nos satildeo

relatadas dos povos primitivos em relaccedilatildeo aos nomes podemos observar que para alguns

quando se sabia o nome da pessoa o inimigo poderia fazer magia negra com ele Essas relaccedilotildees

culturais com os nomes satildeo recorrentes em vaacuterios paiacuteses e histoacuterias da antiguidade claacutessica

De acordo com Frazer (1951) em vaacuterias tribos primitivas o nome era considerado como

uma realidade e natildeo uma convenccedilatildeo artificial podendo servir de intermeacutedio para fazer atuar a

magia sobre a pessoa como se fosse parte do indiviacuteduo como cabelo unha ou qualquer outra

parte fiacutesica Essas crendices ou mitos acerca do nome se estendem por vaacuterias partes do mundo

como para os iacutendios da Ameacuterica do Norte o nome eacute como uma parte de seu corpo e o mau

tratamento (uso) dele pode trazer ferimento fiacutesico Assim o nome natildeo deve ser pronunciado

podendo no ato de sua pronunciaccedilatildeomaterializaccedilatildeo revelar as propriedades reais da pessoa que

o usa e assim tornaacute-la vulneraacutevel perante os seus inimigos

Nas narrativas das sociedades relatadas por Frazer (1951) o homem do povo esquimoacute

recebe um novo nome ao chegar agrave velhice na Aacutefrica as pessoas podem ateacute receber uma duacutezia

de nomes no decorrer de sua vida e em alguns casos no iniacutecio de sua vida recebem dois nomes

um nome de preto usado em casa e junto agrave famiacutelia e outro nome de branco usado na escola e

na sociedade os egiacutepcios tambeacutem recebiam dois nomes um nome pequeno que era bom e

30

usado em famiacutelia e um nome grande que era mau e dissimulado julgamos esse uacuteltimo ser

usado na sociedade

Segundo Frazer (1951) para os Celtas o nome era sinocircnimo da alma e da respiraccedilatildeo

Entre os Yuiacutens (sul da Austraacutelia) e outros povos o pai revela o nome ao filho no momento da

iniciaccedilatildeo e poucas pessoas o conhecem Tambeacutem na Austraacutelia as pessoas deixam de usar o

nome e passam a chamar um ao outro de primo tio sobrinho ou irmatildeo Nessas relaccedilotildees as

historietas dos nomes vatildeo estar sempre entrelaccediladas aos fatores culturais das comunidades

Em muitas culturas Frazer (1951) relata que a natildeo pronunciaccedilatildeo de nomes era tabu

como em Cafres onde as mulheres natildeo podiam pronunciar o nome de seus maridos ou sogros

nem qualquer palavra que se assemelhasse aos nomes Tambeacutem natildeo era permitido pronunciar

nomes de animais plantas reis deuses personagens sagrados considerados perigosos pois isso

seria como invocar o proacuteprio perigo

Frazer (1951) revela uma histoacuteria ocorrida no Egito com o deus Raacute que tinha vaacuterios

nomes mas o seu verdadeiro nome que lhe dava poder sobre os outros deuses natildeo era conhecido

e ao ser enfeiticcedilado pela invejosa deusa Iacutesis ndash picado por uma serpente ndash cujo veneno soacute seria

retirado de seu corpo no momento em que ele revelasse o seu verdadeiro nome Raacute lamenta-se

ldquoEu sou aquele que tem muitos nomes e muitas formas O meu pai e minha matildee disseram-me

o meu nome estaacute escondido no meu corpo desde o meu nascimento para que natildeo se possa dar

nenhum poder maacutegico a algueacutem que me queira lanccedilar uma maldiccedilatildeordquo (FRAZER 1951 apud

KRISTEVA 2007 p 64) O veneno tomou conta do corpo de Raacute e jaacute natildeo conseguia andar Iacutesis

continuou a atormentar o deus e o veneno foi penetrando profundamente e queimava seu corpo

Entatildeo Raacute consentiu que Isis buscasse o seu verdadeiro nome no iacutentimo do seu ser assim ela

fez arrebatou-lhe o verdadeiro nome e ordenou que o veneno que o queimava caiacutesse por terra

e libertasse o deus pois o que ela queria jaacute havia conseguido Acreditava-se assim que quem

conhecesse o verdadeiro nome de um deus (algueacutem) possuiria a sua essecircncia o seu verdadeiro

ser e ateacute o seu poder

Segundo Loacutepez (2013) os nomes variam conforme o momento e o local em que satildeo

escolhidos a pessoa que os escolhe e as normas para o uso Podem indicar gecircnero filiaccedilatildeo

origem geograacutefica religiatildeo e etnia Haacute tambeacutem inuacutemeras crenccedilas de que existe uma relaccedilatildeo

entre a pessoa seu nome e o significado deste inclusive muitos nomes satildeo uacutenicos

Segundo Cunha (2004 p 226) ldquoO nome proacuteprio topocircnimo ou antropocircnimo participa

da literariedade do texto podendo consequentemente enriquecer-se de valores semacircnticos

denotativos e conotativos da mesma forma que as outras palavras que o estruturamrdquo jaacute que

31

quando nomeamos atribuiacutemos simultaneamente um predicado um complemento ao nome uma

caracteriacutestica um adjetivo

Em Guimaratildees (2005) o ato de dar nome eacute tambeacutem um ato de identificar um indiviacuteduo

bioloacutegico como tal para o Estado e para a sociedade e tornaacute-lo sujeito De acordo com esse

ponto de vista ganha interesse o funcionamento determinativo da construccedilatildeo do nome proacuteprio

da pessoa no qual segundo Guimaratildees (2005 p 52) ldquohaacute uma relaccedilatildeo particular entre a

nomeaccedilatildeo e o objeto nomeado que se apresenta por uma materialidade histoacuterica e natildeo fiacutesicardquo

A nomeaccedilatildeo eacute por causa da predicaccedilatildeo um ato que diferencia sendo tambeacutem um ato

que identifica De acordo com Lima (2007 p 51)

o acto (sic) de nomear eacute um dos primeiros momentos de inserccedilatildeo da pessoa

numa categoria social de geacutenero Mas ainda mostra-nos que neste contexto

social nomear eacute uma das formas mais importantes de construir geacutenero e

pessoa dentro da famiacutelia

A inserccedilatildeo da pessoa na sociedade por meio de seu nome eacute uma relaccedilatildeo hierarquizada

construiacuteda agrave luz de valores tanto sociais como familiares Como jaacute sabemos o nome eacute uma

forma de identidade de revelar o que o outro natildeo eacute assim nomear eacute um aspecto crucial da

conversatildeo de qualquer um em algueacutem de acordo com Geertz (1973)

Na conversatildeo mencionada Parkin (1989) justifica que nomear pode ser uma forma de

atribuir direitos3 que daacute autoridade tanto ao nomeado quanto ao nomeador ou uma forma de

objetivaccedilatildeo por meio da escolha de um nome em particular que estabeleccedila controle sobre o

nomeado Nessas situaccedilotildees pode ocorrer que as pessoas antecipem essas consequecircncias

escolhendo ou controlando a atribuiccedilatildeo do seu proacuteprio nome ou em alguns casos como

acontece de o nome possuir uma carga negativa perante a sociedade e a pessoa recorre ao poder

judiciaacuterio para requerer a troca de seu nome

Enfim nomear eacute se apropriar do real eacute nessa perspectiva de nomear e apoderar fato

este que se daacute por meio da linguagem e de acordo com isso Kristeva (2007 p 17) pontua que

Se a linguagem eacute mateacuteria do pensamento eacute tambeacutem o proacuteprio elemento da

comunicaccedilatildeo social Natildeo haacute sociedade sem linguagem tal como natildeo haacute

sociedade sem comunicaccedilatildeo Tudo o que se produz como linguagem tem lugar

na troca social para ser comunicado

3 Livre traduccedilatildeo para Entitling

32

Eacute nessa troca social que acontece por meio da linguagem a nomeaccedilatildeo Assim eacute

necessaacuterio destacar que os nomes proacuteprios de lugares ndash topocircnimos ndash passam a estabelecer

relaccedilotildees materializadas por meio do uso da linguagem Sabe-se que o nome designado eacute

construiacutedo simbolicamente isso porque a linguagem que o constroacutei funciona por estar exposta

ao real e constituiacuteda materialmente pela histoacuteria local a qual motiva o leacutexico topocircnimo e eacute

nesse momento que ele nasce e se institui naquele lugar

De acordo com Biderman (1998) eacute por meio da palavra que as entidades da realidade

passam a ser conhecidas nomeadas e identificadas Essa realidade cria o seu acircmbito

significativo que nos eacute revelado pela linguagem que tambeacutem eacute a responsaacutevel por elencar os

fatores soacutecio-histoacuterico-cultural que permeiam a realidade Aqui no nosso caso esses fatores

satildeo trazidos por meio do leacutexico topocircnimo mais especificamente no ato de nomear um

designativo de lugar

Conforme Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares seja

em homenagem a algueacutem como eacute o caso da cidade de Pires do Rio que recebeu o nome o

patroniacutemico4 do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas (1919-1922) do governo de Epitaacutecio

Pessoa Dr Joseacute Pires do Rio Haacute lugares que recebem o nome em razatildeo de caracteriacutesticas

geograacuteficas Alguns nomes satildeo opacos conceito de Piel (1979) em contraposiccedilatildeo aos

transparentes pois natildeo apresentam relaccedilatildeo alguma com o referente nesse caso haacute de se fazer

uma busca histoacuterica para chegar agrave relaccedilatildeo motivacional

O homem tem a capacidade de associar palavras a conceitos E no ato de nomear

acontece a motivaccedilatildeo que estaacute ligada aos fatores cognitivos Assim o leacutexico que a ele eacute

determinado por meio do uso da linguagem se transporta no tempo sendo capaz de revelar os

fatores culturais e motivacionais que estatildeo nesse nomeleacutexico toponiacutemico (BIDERMAN 1998)

O nome comum no ato de nomeaccedilatildeo de um lugar impregna-se de significaccedilotildees vaacuterias

sejam de fatores histoacutericos culturais sociais econocircmicos Segundo Guimaratildees (2005 p 83)

ldquoo modo de significar os espaccedilos da cidade mostra que eles satildeo espaccedilos poliacuteticos O espaccedilo que

se daacute como objeto por uma descriccedilatildeo (referecircncias) atende a objetividade do discurso

administrativo que nomeia oficialmente os espaccedilos da cidaderdquo Assim o nome cifra a narrativa

histoacuterica local perpassando por fatores ou designativos memoraacuteveis

Essa atividade de nomeaccedilatildeo ou praacutetica de nomeaccedilatildeo eacute especificamente da espeacutecie

humana e resulta do processo de categorizaccedilatildeo inerente ao ser humano De acordo com

Biderman (1998 p 89)

4 De acordo com Cabral (2007) patroniacutemico eacute sobrenome

33

O processo de categorizaccedilatildeo subjaz agrave semacircntica de uma liacutengua natural Os

criteacuterios de classificaccedilatildeo usados para classificar os objetos satildeo muito

diferenciados e variados Agraves vezes o criteacuterio eacute o uso que o homem faz de um

dado objeto agraves vezes eacute um determinado aspecto do objeto que fundamenta a

classificaccedilatildeo agraves vezes eacute um determinado aspecto emocional que um objeto

pode provocar em quem o vecirc e assim por diante

Entatildeo o processo de categorizaccedilatildeo que por via das vezes pode se tornar um legislador

ndash nomeador Essas discussotildees acerca das histoacuterias do ato de nomear revelam formas de

organizaccedilatildeo social e mudanccedilas linguiacutesticas poliacuteticas e culturais Eacute pois por meio do nome que

as pessoas ou lugares permanecem vivos na memoacuteria coletiva de sua linhagem

E nesse processo de nomeaccedilatildeo categorizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo nos estudos na aacuterea da

Onomaacutestica mais precisamente na subaacuterea dos Estudos Toponiacutemicos ndash temaacutetica de nossa

pesquisa ndash natildeo tem como desvencilhar a liacutengua e cultura Assim para Sapir-Whorf a liacutengua

retrata o mundo e a realidade social agrave sua volta expressos por categorias lexicais como os

topocircnimos

12 Liacutengua e Cultura

A liacutengua no contexto soacutecio-histoacuterico-cultural nada mais eacute que o resultado de um

processo histoacuterico um produto revelador da cultura de uma dada comunidade (CAcircMARA JR

1955) Nessas bases inter-relacionar liacutengua e cultura eacute justificar que estatildeo intrinsecamente

interligadas pois a liacutengua revela a visatildeo de mundo e eacute tambeacutem a manifestaccedilatildeo de uma cultura

cultura esta que lhe daacute suporte a liacutengua tambeacutem eacute suporte da cultura

Em seus estudos Paula (2007) menciona que a liacutengua eacute um metassistema ela ldquonatildeo eacute soacute

objeto ela eacute nas relaccedilotildees sociais mais diversamente possiacuteveis tambeacutem instrumento de

investigaccedilatildeo distinto que ajuda a entender os outros sistemas sociaisrdquo (PAULA 2007 p 90)

Nesse contexto eacute possiacutevel evidenciar que por meio da liacutengua satildeo reeditadas e reconfiguradas

as praacuteticas culturais de uma dada comunidade

Posto isso conveacutem rever alguns conceitos que remetem agrave face social da liacutengua seu

caraacuteter eminentemente social mais condizente com o recorte epistemoloacutegico feito por Saussure

(2008 p 17)

Mas o que eacute a liacutengua Para noacutes ela natildeo se confunde com a linguagem eacute

somente uma parte determinada essencial dela indubitavelmente Eacute ao

mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto

34

de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo corpo social para permitir o

exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos Tomada em seu todo a linguagem

eacute multiforme e heteroacuteclita o cavaleiro de diferentes domiacutenios ao mesmo

tempo fiacutesica fisioloacutegica e psiacutequica ela pertence aleacutem disso ao domiacutenio

individual e ao domiacutenio social natildeo se deixa classificar em nenhuma categoria

de fatos humanos pois natildeo se sabe como inferir sua unidade

De acordo com Fiorin (2013 p 17) ldquoA liacutengua natildeo eacute um sistema de mostraccedilatildeo de

objetos porque permite falar do que estaacute presente e do que estaacute ausente do que existe e do que

natildeo existe porque possibilita ateacute criar novas realidades mundos natildeo existentesrdquo A liacutengua eacute um

produto social e por meio dela se criam e recriam realidades podendo entatildeo se justificar as

praacuteticas culturais por meio de atos linguiacutesticos

Com esse movimento epistemoloacutegico ou melhor ao eleger a liacutengua e natildeo a linguagem

nem a fala como objeto de estudo da Linguiacutestica Saussure possibilitou a instituiccedilatildeo da ciecircncia

linguiacutestica e consequentemente seus inuacutemeros desdobramentos posteriores

Sapir (1980) ressalta a estreita ligaccedilatildeo entre liacutengua e cultura jaacute que para o autor

Toda liacutengua tem uma sede O povo que a fala pertence a uma raccedila (ou a certo

nuacutemero de raccedilas) isto eacute a um grupo de homens que se destaca de outros

grupos por caracteres fiacutesicos Por outro lado a liacutengua natildeo existe isolada de

uma cultura isto eacute de um conjunto socialmente herdado por praacuteticas e crenccedilas

que determinam a trama das nossas vidas (SAPIR 1980 p 165)

Nesta perspectiva reafirmando que liacutengua se difere de linguagem mas se entrecruza

com ela ou dela faz parte como uma das inuacutemeras formas de linguagem e ainda considerando-

a um dos fatores de identidade de um povo e que natildeo existe isolada da cultura eacute que se torna

objeto de estudos o que envolve fatores soacutecio-histoacuterico-culturais das comunidades

O autor desta forma ainda nos revela que ldquotoda liacutengua estaacute de tal modo construiacuteda

que diante de tudo que um falante deseje comunicar por mais original ou bizarra que seja a sua

ideia ou a sua fantasia a liacutengua estaacute em condiccedilotildees de satisfazecirc-lorsquo (SAPIR 1969 p 33) Eacute

nessas condiccedilotildees de satisfazer ao falante ou agrave comunidade que ele pertence que a liacutengua se

justifica como um meio de interaccedilatildeo social e revelador da cultura jaacute que ela se configura no

tempo e eacute capaz de transmitir de geraccedilotildees a geraccedilotildees atraveacutes de atos linguiacutesticos as

manifestaccedilotildees culturais Conveacutem ressaltar que

Tudo que ateacute aqui verificamos ser verdade a respeito das liacutenguas indica que

se trata da obra mais notaacutevel colossal que o espiacuterito humano jamais

desenvolveu nada menos do que uma forma completa de expressatildeo para toda

a experiecircncia comunicaacutevel Essa forma pode ser variada de inuacutemeras maneiras

pelo indiviacuteduo sem perder com isso os seus contornos distintivos e estaacute

35

constantemente remodelando-se como sucede com toda arte A liacutengua eacute a arte

mais ampla e maciccedila que se nos depara cuacutemulo anocircnimo do trabalho

inconsciente das geraccedilotildees (SAPIR 1980 p 172)

De acordo com Cacircmara Jr (1955) a liacutengua eacute uma parte da cultura mas ela pode ser

estudada na sua relaccedilatildeo com a cultura ou sem considerar essa inter-relaccedilatildeo Segundo o autor

com essa perspectiva o linguista se destaca do antropoacutelogo Porque os estudos linguiacutesticos

podem prescindir do exame da inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura ou melhor pode-se estudar a

liacutengua em sua imanecircncia ou a relaccedilatildeo da linguagem com outras aacutereas do conhecimento humano

A liacutengua aleacutem de inter-relacionar a cultura nada sociedade atua para que a proacutepria

cultura seja conhecida e levada agrave geraccedilotildees futuras seja por meio de festas religiosas cantigas

e outros fatores que a divulguem Jaacute que na mesma base teoacuterica a liacutengua se justifica como um

fato de cultura assim como qualquer outro e neste iacutenterim integra-se agrave cultura

Cacircmara Jr (1955) reconhece que a liacutengua funciona na sociedade para a comunicaccedilatildeo e

interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e tambeacutem que ela se torna o resultado de uma cultura global pois a

liacutengua depende de toda cultura jaacute que a expressa a todo o momento

assim a liacutengua em face do resto da cultura eacute ndash o resultado dessa cultura ou

sua suacutemula eacute o meio para ela operar eacute a condiccedilatildeo para ela subsistir E mais

ainda soacute existe funcionalmente para tanto englobar a cultura comunicaacute-la e

transmiti-la (CAcircMARA JR 1955 p 54)

Considerada a inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura pode-se ressaltar mais uma vez que a

cultura se manifesta linguisticamente sejam elas integrantes de manifestaccedilotildees da cultura

popular ou da erudita

De modo geral a cultura eacute pensada numa visatildeo polarizante como sendo

cultura popular ou cultura erudita Conveacutem dizer poreacutem que ambas satildeo

formas e conteuacutedos diferentes de expressatildeo de uma dada realidade social e

histoacuterica Entatildeo natildeo devem ser vistas como opostas ou excludentes mas como

maneiras especiacuteficas de ver sentir e expressar a realidade conforme se situam

seus atores na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo do poder (PAULA 2007 p 75)

Neste processo Sapir (1969) menciona que o leacutexico eacute o niacutevel linguiacutestico em que mais

intimamente se interligam liacutengua e cultura Zavaglia (2012) por sua vez reconhece que o leacutexico

estaacute vinculado agrave cultura de um povo de uma naccedilatildeo agrave sua histoacuteria

Para Zavaglia (2012) o leacutexico estaacute relacionado com a memoacuteria humana e se configura

no ato de nomeaccedilatildeo diante do processo em que houve a necessidade de o homem por meio de

36

palavras nomear tudo que o circundava e assim categorizar o que estava a seu redor Pautados

na autora observamos a grandeza do leacutexico pois

Eacute o leacutexico em forma de palavras e por meio da linguagem que ldquocontardquo a

histoacuteria milenar de povo para povo eacute o leacutexico que transmite os elementos

culturais de um conjunto de indiviacuteduos eacute o leacutexico que ldquoeducardquo ou ldquodeseducardquo

eacute o leacutexico que permite a manifestaccedilatildeo dos sentimentos humanos de suas

afeiccedilotildees ou desagrados via oral ou via escrita Eacute o leacutexico que registra o

desencadear das accedilotildees de uma sociedade suas mudanccedilas seu progresso ou

regresso Condivido com Biderman quando diz que o leacutexico eacute o tesouro

vocabular de forma codificada da memoacuteria do indiviacuteduo restando ali estocado

ateacute que seja ativado quando necessaacuterio para que o homem possa expressar ou

se comunicar Eacute ainda por meio do leacutexico que conceitos condutas e costumes

satildeo transmitidos de geraccedilotildees a geraccedilotildees e herdados por elas ldquoEacute o leacutexico que

fisionomiza a culturardquo (ZAVAGLIA 2012 p 233)

O leacutexico eacute o fio condutor da cultura jaacute que a transporta para geraccedilotildees futuras eacute por meio

dele que se registra a histoacuteria e a vida de uma sociedade Para Sapir (1969) a cultura estaacute

nitidamente no leacutexico da liacutengua e este pode ser considerado como todo o conjunto de ideias

interesses e ocupaccedilotildees que abrangem a atenccedilatildeo da comunidade Neste contexto

O estudo cuidadoso de um dado leacutexico conduz a inferecircncias sobre o ambiente

fiacutesico e social daqueles que o empregam e ainda mais que o aspecto

relativamente transparente ou natildeo-transparente do proacuteprio leacutexico nos permite

deduzir o grau de familiaridade que se tem adquirido com os vaacuterios elementos

do ambiente (SAPIR 1969 p 49)

Eacute possiacutevel ressaltar que o leacutexico da liacutengua conteacutem um recorte da realidade feito agrave sua

maneira que revela visotildees de mundo Os elementos culturais que matizam datildeo o colorido de

significaccedilatildeo ao leacutexico mostram de diferentes maneiras as relaccedilotildees que ambas liacutengua e cultura

tecircm com o ambiente seja fiacutesico ou social pois toda complexidade dessa inter-relaccedilatildeo pode ser

anunciada e enunciada no uso da linguagem

Vale entatildeo ressaltar

Que o leacutexico assim reflita em alto grau a complexidade da cultura eacute

praticamente um fato de evidecircncia imediata pois o leacutexico ou seja o assunto

de uma liacutengua destina-se em qualquer eacutepoca a funcionar como um conjunto

de siacutembolos referentes ao quadro cultural do grupo Se por complexidade de

uma liacutengua se entende a seacuterie de interesses impliacutecitos em seu leacutexico natildeo eacute

preciso dizer que haacute uma correlaccedilatildeo constante entre a complexidade

linguiacutestica e cultural (SAPIR 1969 p 51)

37

O conjunto de signos da liacutengua ultrapassa as fronteiras do tempo trazendo para a

atualidade siacutembolos tambeacutem culturais que satildeo revelados por meio de praacuteticas culturais que se

interseccionam com as praacuteticas linguiacutesticas Assim

Natildeo soacute as palavras da liacutengua passam a servir de siacutembolos culturais dispersos

como sucede nas liacutenguas em qualquer periacuteodo de desenvolvimento mas se

pode supor que as proacuteprias categorias e processos gramaticais simbolizariam

tipos correspondentes de pensamento e atividade de significaccedilatildeo cultural Ateacute

certo ponto pode se conceber portanto a cultura e a liacutengua em constante

estado de interaccedilatildeo e em associaccedilatildeo definida por um largo lapso de tempo

Mas tal estado de correlaccedilatildeo natildeo pode continuar indefinidamente (SAPIR

1969 p 60)

Segundo Sapir (1969) a linguagem possui o papel de produzir e organizar o mundo

mediante o processo de simbolizaccedilatildeo Contudo a realidade eacute mostrada por meio da linguagem

o que significa dizer que natildeo haacute mundos iguais visto que natildeo haacute liacutenguas iguais De acordo com

estas observaccedilotildees cabe ressaltar o relativismo linguiacutestico ldquoHipoacutetese de Sapir-Whorfrdquo a

linguagem determina a forma de ver o mundo e consequentemente de se relacionar com esse

mundo

O relativismo linguiacutestico pode ser entendido como a relaccedilatildeo linguagem e pensamento

mediada pela cultura desta forma linguagem pensamento e cultura estatildeo conectados Sapir-

Whorf observam que a realidade social eacute produto linguiacutestico tratando assim as relaccedilotildees de

linguagemcultura e linguagempensamento a cultura pode ser considerada como

conhecimento adquirido socialmente por meio das praacuteticas linguiacutesticas

De maneira geral diz-se que a cultura eacute o conhecimento que as pessoas detecircm acerca de

uma comunidade seja em seus acircmbitos popular ou cientiacutefico os quais ultrapassam o tempo

por meio da liacutengua jaacute que ldquoA cultura eacute o conjunto do que o homem criou na base das suas

faculdades humanas abrange o mundo humano em contraste com o mundo fiacutesico e o mundo

bioloacutegicordquo (CAcircMARA JR 1955 p 51)

Em outras palavras

Cultura eacute o conjunto de praacuteticas sociais situadas historicamente que se

referem a uma sociedade e que a fazem diferente de outra Baseia-se na

construccedilatildeo social de sentidos a accedilotildees crenccedilas haacutebitos objetos que passam a

simbolizar aspectos da vivecircncia humana em coletividade (PAULA 2007 p

74)

A diversidade tambeacutem se reflete na cultura pois de acordo com Bosi

38

[] natildeo existe uma cultura brasileira homogecircnea matriz de nossos

comportamentos e dos nossos discursos Ao contraacuterio a admissatildeo do seu

caraacuteter plural eacute um passo decisivo para compreendecirc-la como um ldquoefeito de

sentidordquo resultado de um processo de muacuteltiplas interaccedilotildees e oposiccedilotildees no

tempo e no espaccedilo (BOSI 1987 p 7)

Neste sentido a cultura se constroacutei a partir das vivecircncias e significados que lhe satildeo

atribuiacutedos pela proacutepria sociedade em suas praacuteticas sociais e constituindo-se tambeacutem em

diferenccedila Para Bosi (1987 p 11) o fundamento da cultura popular ldquoeacute o retorno de situaccedilotildees e

atos que a memoacuteria grupal reforccedila atribuindo-lhes valorrdquo Isso satildeo as marcas identitaacuterias da

comunidade que satildeo deixadas e vivenciadas (ou vivificadas) tempos depois A cultura popular

eacute revelada por meio de praacuteticas culturais e linguiacutesticas que levam a puacuteblico as relaccedilotildees soacutecio-

histoacuterica-culturais de determinadas comunidades

A cultura se constroacutei com base nos valores atribuiacutedos pelos sujeitos agraves relaccedilotildees

cotidianas e nas relaccedilotildees de poder Organiza-se como popular eou erudita Nesse sentido natildeo

existe cultura melhor nem pior cada uma eacute expressa pelo seu grupo social pois cada indiviacuteduo

tem uma forma de ver o mundo modos de vestir de comer os meios para se curar os remeacutedios

os modos de plantar de cultivar e colher os modos de nomear e categorizar os elementos da

natureza e outros tantos mais Desta forma ldquoconforme as pessoas entendem que participam de

uma cultura esforccedilam-se para agir dentro do que julgam ser pertinente a elardquo (PAULA 2007

p 75)

Cultura liacutengua e identidade natildeo satildeo algo fixo pronto e acabado estando sempre em

constituiccedilatildeo uma vez que satildeo produzidas por seres sociais que se encontram em processo de

interaccedilatildeo aprendizado conhecimento e estatildeo inseridos em contextos sociais que passam por

transformaccedilotildees O leacutexico eacute o meio pelo qual a cultura e a identidade se constroem e se

disseminam

Na visatildeo de Paula (2007 p 89) a memoacuteria eacute o depositaacuterio tanto da cultura como da

liacutengua visto que

O modo como se estrutura poliacutetica e economicamente uma sociedade diz

muito de suas estruturas culturais estas por sua vez soacute se fazem possiacuteveis

graccedilas agrave elaboraccedilatildeo cotidiana do arcabouccedilo de memoacuteria coletiva ao modo

como eacute concebida e ao estatuto que lhe eacute dado Expressando estas inter-

relaccedilotildees servindo a elas no cotidiano da comunicaccedilatildeo humana e carregando

em seu funcionamento muito do modo como a sociedade se faz e se refaz estaacute

a liacutengua

39

Os processos culturais que satildeo construiacutedos por meio de atos linguiacutesticos satildeo uma forma

identitaacuteria de dada comunidade que eacute expressa por relaccedilotildees sociais como forma de conduzir e

expressar-se perante as demais comunidades sejam elas internacionais nacionais ou regionais

sabemos que a cultura eacute a miscigenaccedilatildeo de outras culturas

13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes

Embora faccedila parte do cotidiano das pessoas portanto estreitamente ligado agrave cultura natildeo

haacute muita discussatildeo referente ao nome proacuteprio e aos motivos de algueacutem ou um lugar ter o nome

que tem Entretanto conforme Carvalhinhos (2002) jaacute no seacuteculo II aC com o gramaacutetico

Dioniacutesio Traacutecia o estudo sobre o nome jaacute tinha sido pensado e formulado Esses estudos

propiciaram por sua vez o surgimento da Onomaacutestica a ciecircncia que se ocupa dos estudos da

origem e alteraccedilotildees (na forma e no significado) dos nomes proacuteprios A Onomaacutestica eacute um ramo

das ciecircncias linguiacutesticas que pode-se efetuar em duas vertentes a toponiacutemia (estudo do

topocircnimo ou nome de lugar) e a antroponiacutemia (estudo do nome pessoal)

Conforme Dubois (2004) e Houaiss (2004) a Onomaacutestica eacute um ramo da lexicologia e

seu meacutetodo de trabalho deve-se desenvolver em linha documental mediante a observaccedilatildeo de

dados oficiais como mapas listas de nomes ou outros documentos de valor historiograacutefico e

lexicograacutefico Isso possibilita a junccedilatildeo da histoacuteria da nomenclatura com momentos histoacutericos e

sociais mais amplos

No entanto mesmo pertencendo agrave ciecircncia da linguagem a Onomaacutestica se estabelece por

meio do suporte de outras aacutereas do conhecimento como a Antropologia a Etnografia a

Botacircnica a Geografia e a Histoacuteria Neste sentido natildeo eacute equivocado salientar que a Onomaacutestica

eacute um campo de amplo caraacuteter interdisciplinar

Assim a Onomaacutestica ou Onomasiologia eacute o ramo da ciecircncia linguiacutestica que tem o nome

proacuteprio como objeto de estudo e se constroacutei em relaccedilatildeo a outros campos do saber Contudo ao

relacionar o seu conhecimento aos de outras aacutereas ela natildeo os confunde nem os nega

De acordo com Ramos e Bastos (2010) a Onomaacutestica assume uma perspectiva

integralizadora de meacutetodos e demanda um consideraacutevel nuacutemero de conhecimentos de campos

diversos de maneira direta ou indireta e vertical ou horizontal destacando-se a linguiacutestica com

valoraccedilatildeo da pesquisa etimoloacutegica

Conforme dito a Onomaacutestica para efeito de estudo pode ser dividida em dois eixos a

Antroponiacutemia e a Toponiacutemia Estas por sua vez podem apresentar subdivisotildees dependendo

de algumas consideraccedilotildees acerca das caracteriacutesticas que cada uma agrave sua maneira apresenta

40

A Toponiacutemia conforme Piel (1979) de acordo com o objeto de denominaccedilatildeo pode

denominar-se tambeacutem como astroniacutemia hidroniacutemia litoniacutemia odoniacutemia oroniacutemia para citar

apenas alguns termos que correspondem a objetos que constituem ou satildeo constituiacutedos por

formaccedilotildees aquosas astros formaccedilotildees peacutetreas serras vias ou caminhos

Jaacute a Antroponiacutemia volta sua atenccedilatildeo para o estudo dos nomes de batismo dos

sobrenomes patroniacutemicos (ou matroniacutemicos) e ainda das alcunhas dos apelidos e de nomes

diminutivos A Antroponiacutemia agrave semelhanccedila da Toponiacutemia natildeo se constitui de forma

homogecircnea jaacute que haacute uma seacuterie de tradiccedilotildees conforme os povos ou culturas que desenvolveram

esses sistemas antroponiacutemicos Por outro lado eacute consenso afirmar que os nomes pessoais satildeo

um aspecto comum ou universal nas liacutenguas porque as pessoas recebem um nome em algum

momento de suas vidas em todas as sociedades conhecidas do mundo

De acordo com Dick (1992) as intenccedilotildees e as motivaccedilotildees que subjazem agrave escolha dos

nomes em cada sociedade variam bastante Os estudos dos sistemas onomaacutesticos vecircm confirmar

isso porque os nomes existem e satildeo controlados pelas necessidades e praacuteticas sociais as quais

podem variar de acordo com a visatildeo de mundo de um determinado povo

Posto isso conveacutem conceber a Onomaacutestica como uma disciplina que deve focar como

objeto de estudo os sistemas de denominaccedilatildeo que justifiquem os processos de atribuiccedilatildeo de

nomes de uma maneira geral

Em Soliacutes (1997) os nomes satildeo o resultado de algo que os provoca isto eacute o sistema

denominativo elaborado pelas culturas para atribuir nomes agraves coisas apreendidas por sua

atividade cognitiva

Devido ao fato de a Onomaacutestica estender-se a um amplo campo de estudo ou seja que

se volta tanto para o estudo dos nomes proacuteprios de pessoas como agraves designaccedilotildees dos lugares eacute

imperioso delimitar para este estudo apenas o sistema onomaacutestico voltado para os nomes de

lugar isto eacute para a toponiacutemia caracterizando como objeto de estudo os nomes dos cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio

A despeito de incorrer em lugar comum conveacutem rever os constituintes da palavra

toponiacutemia cujo significado etimoloacutegico pode ser assim expresso do grego topos (lugar) e

onoma (nome) A Toponiacutemia se ocupa dos locativos (tambeacutem componentes do leacutexico da liacutengua)

com o fito de estudar a origem as significaccedilotildees e as transformaccedilotildees por que passam ou

passaram esses nomes A Toponiacutemia se dedica ao estudo natildeo apenas dos nomes de comunidades

humanas (cidades povoados vilas) como tambeacutem elementos geograacuteficos a exemplo os cursos

drsquoaacuteguas

41

Os estudos toponiacutemicos propiciam a percepccedilatildeo da relaccedilatildeo entre povo liacutengua e territoacuterio

considerando que esse territoacuterio pode ser fiacutesico eou imaginaacuterio jaacute que as entidades do mundo

que precisam ser nomeadas podem ser pessoas entidades geograacuteficas que fazem parte do

ambiente em que vive determinado povo e que sobretudo tenham importacircncia para esse povo

pois se natildeo tem importacircncia natildeo haacute em contrapartida necessidade de ser nomeado Conveacutem

no entanto ressaltar que nem todas as nomeaccedilotildees ocorrem pela necessidade espontacircnea de

identificaccedilatildeo uma vez que muitas delas refletem a imposiccedilatildeo de forccedilas ideoloacutegicas poliacuteticas e

sociais

Neste sentido surge a necessidade de reconhecer os objetos geograacuteficos da natureza

tais como rios mares lagoas ilhas continentes serras e outros mas haacute outros que precisam

ser denominados tambeacutem principalmente os objetos da cultura aqueles criados pelo homem

dentre os quais podem ser citados os povoados represas moradias (habitaccedilatildeo) ruas

circunscriccedilotildees poliacutetico-territoriais que se situam em algum lugar do universo fiacutesico

Natildeo se pode omitir aqueles lugares cujo universo foi criado pela cultura imaterial o

mundo natildeo fiacutesico Sejam do universo real ou imaginaacuterio as entidades geograacuteficas satildeo os

referentes dos topocircnimos que por sua vez integram a visatildeo de mundo de um povo Isso

constitui uma dificuldade em especificar que referentes existem no mundo fiacutesico ou cultural

em parte porque para isso eacute necessaacuterio considerar uma cultura determinada Em resposta a isso

haacute o reconhecimento da visatildeo de mundo que eacute peculiar a cada cultura

Muitos povos concebem o universo real como um mundo que tem seu correlato miacutetico

com outros mundos e fazem assim surgir universos de nomes toponiacutemicos de variada riqueza

toponomaacutestica porque tecircm lugares para nomear no espaccedilo fictiacutecio criado nesse mundo Assim

aleacutem de serem componentes linguiacutesticos como tal os nomes que compotildeem um sistema de

denominaccedilatildeo satildeo ainda criaccedilotildees socioculturais

Entatildeo cabe agrave Toponiacutemia estudar tanto os nomes de lugares (os topocircnimos) como

componentes de uma liacutengua que satildeo como tambeacutem o sistema de denominaccedilatildeo organizado pelas

sociedades para nomear os objetos fiacutesicos ou imaginaacuterios da sua cultura Devido agraves diferentes

visotildees de mundo tecircm-se diferentes formas de nomear essas entidades Aleacutem da visatildeo de mundo

em sociedades como a brasileira podem contribuir para a formaccedilatildeo de um sistema de nomeaccedilatildeo

os movimentos sociais como forccedila impulsionadora de mudanccedila social Em relaccedilatildeo agrave realidade

brasileira podem-se mencionar as poliacuteticas que vecircm acontecendo durante os mais de 500 anos

de histoacuteria brasileira que tambeacutem resultou em inuacutemeras formaccedilotildees e mudanccedilas de designaccedilatildeo

toponiacutemica no Brasil

42

Cabe reiterar que a toponiacutemia refere-se a nomes de lugares habitados ou natildeo Daiacute uma

definiccedilatildeo apropriada para o termo ldquotopocircnimordquo eacute um nome de qualquer ponto localizaacutevel no

espaccedilo terrestre que tenha recebido denominaccedilatildeo Definiccedilatildeo essa que pode ser estendida para o

nome de qualquer ponto localizaacutevel no mundo real ou em mundos imaginados pelas culturas

em outras palavras daqueles universos que existem por meio da atividade ideacional dos

homens

Assim eacute por meio da relaccedilatildeo povo-territoacuterio que os nomes de lugar satildeo estabelecidos

Inicialmente pela posse do territoacuterio uma vez que segundo Couto (2007) o territoacuterio eacute uma

das primeiras referecircncias para que um agrupamento de pessoas possa receber o status de

comunidade e todo territoacuterio entendido como tal tem de ter um nome um topocircnimo Desta

forma recortam-se os aspectos do meio ambiente mais salientes aos olhos do povo como uma

espeacutecie de acordo que permite a vivecircncia e a convivecircncia em sociedade no territoacuterio apossado

Eacute possiacutevel afirmar que a nomeaccedilatildeo dos lugares surgiu com a proacutepria humanidade Os

registros antigos da histoacuteria da civilizaccedilatildeo ratificam essa accedilatildeo do homem sobre o lugar que

habita ou jaacute habitou satildeo fatores que sugerem uma espeacutecie de posse ou de domiacutenio sobre o lugar

por meio da significaccedilatildeo da organizaccedilatildeo e da orientaccedilatildeo pelo espaccedilo ocupado ou apenas

conhecido Em contrapartida o ato de nomeaccedilatildeo se manifesta como a accedilatildeo do meio fiacutesico e

sociocultural sobre o homem

Eacute nesta perspectiva que se podem considerar os estudos toponiacutemicos em seu acircmbito

interdisciplinar porque congregam vaacuterias aacutereas do conhecimento humano Os nomes de um

lugar satildeo enfocados conforme a observaccedilatildeo dos aspectos fiacutesicos socioculturais mentais e

histoacutericos interligados ou em separados

Assim natildeo eacute equiacutevoco conceber a Toponiacutemia como objeto de estudo da Antropologia

da Geografia da Histoacuteria ou ainda da Psicologia Social para citar apenas algumas disciplinas

Eacute possiacutevel segundo Dick (1992) realizar anaacutelises do fenocircmeno toponiacutemico em

consonacircncia teoacuterica com qualquer uma dessas aacutereas mas para a autora nenhuma delas tomada

isoladamente ou com exclusivismo alcanccedilaria a plenitude do fenocircmeno toponiacutemico Em termos

linguiacutesticos a Toponiacutemia recorre aos conhecimentos da Semacircntica da Lexicologia da

Etnolinguiacutestica da Dialetologia e da Linguiacutestica Histoacuterica

Mais recentemente uma linha de anaacutelise que tem oferecido contribuiccedilotildees importantes

aos estudos dos nomes de lugares eacute a Linguiacutestica Cognitiva Suas pesquisas vecircm enfatizando

natildeo soacute os modelos cognitivos mas tambeacutem os processos de categorizaccedilatildeo principalmente os

processos de analogia e contiguidade proacuteprios da metaacutefora e da metoniacutemia Entendecirc-los eacute

43

essencial para compreender os sistemas de nomeaccedilatildeo como resultados da experiecircncia e da

cogniccedilatildeo humana com o corpo em relevo

Esta perspectiva de anaacutelise coaduna estudos que procuram reconhecer processos

cognitivos expressos na accedilatildeo de denominar a realidade e para tanto fundamentam-se no corpo

Eacute uma forma de nomear os lugares fiacutesicos ou culturais mediante a percepccedilatildeo do denominador

na interaccedilatildeo com meio ambiente fiacutesico e cultural

14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica

Para realizar qualquer estudo onomaacutestico eacute necessaacuterio inicialmente buscar na teoria

linguiacutestica os recursos para se explicar como uma forma linguiacutestica se amaacutelgama a um lugar

configurando uma relaccedilatildeo entre esse lugar suas caracteriacutesticas e o signo linguiacutestico que passa

a designaacute-lo Em outras palavras eacute necessaacuterio buscar conceitos que estejam em consonacircncia

com os preceitos5 onomaacutestico-toponiacutemicos

Eacute por meio da liacutengua que se daacute a interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e a mesma constitui-se de

signos linguiacutesticos Em outras palavras o mundo humano a realidade extralinguiacutestica e a

cultura constituem-se de signos Calcados nas ideias de Charles Sanders Pierce (2005) tem-se

o conceito geral de que o signo eacute ldquoalgo que estaacute por algo para algueacutemrdquo Conveacutem salientar que

ldquoestar porrdquo eacute uma noccedilatildeo bastante ampla pois pode significar uma seacuterie de coisas como

representar caracterizar fazer agraves vezes de indicar entre outros Para Pierce (2005 p 46)

um signo ou representamem eacute algo que sob certo aspecto ou de algum modo

representa alguma coisa para algueacutem Dirige-se a algueacutem isto eacute cria na mente

dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido

Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo

representa alguma coisa seu objeto Representa esse objeto natildeo em todos os

aspectos mas com referecircncia a um tipo de ideia que eu por vezes denominei

fundamento do representamem (Grifos do autor)

Assim seguindo a concepccedilatildeo de Pierce (2005) sobre signo pode-se formular que eacute a

representaccedilatildeo de alguma coisa para algueacutem estaacute no lugar da coisa que ele representa e natildeo eacute a

coisa em si Tem ainda a condiccedilatildeo de perturbar a mente do interpretante i eacute daquele que vecirc

lecirc ou ouve o signo na tentativa de atribuir-lhe um significado Dessa forma eacute possiacutevel verificar

uma relaccedilatildeo de interdependecircncia entre pelo menos trecircs extremos i) a face perceptiacutevel do

5 No capiacutetulo 2 satildeo apresentados os meacutetodos usados na pesquisa

44

signo o representamem ou significante ii) o que ele representa o objeto ou referente e iii) o

que ele significa interpretante ou significado

Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo

Fonte Adaptado a partir do original de Ogden-Richards (1972)

Para Pierce (2005) os signos satildeo elementos tricotocircmicos6 e apresentam trecircs divisotildees

amplas (i) iacutecone (ii) iacutendice e (iii) siacutembolo A despeito de serem conceitos mais pertinentes a

um estudo semioacutetico em grande parte a motivaccedilatildeo que subjaz ao designativo de lugar imprime

caraacuteter icocircnico indicial ou simboacutelico ao nome do lugar o que acarreta uma dada categorizaccedilatildeo

Para Pierce (2005) (i) iacutecones satildeo os signos que apresentam as caracteriacutesticas

especiacuteficas proacuteprias por analogia formam-se pela primeira impressatildeopercepccedilatildeo que o

inteacuterprete tem sobre as coisas do mundo real Eacute um signo que guarda semelhanccedilas entre o

significante e o significado Em outras palavras um iacutecone eacute uma representaccedilatildeo - auditiva visual

ou de outra espeacutecie ndash de alguma coisa Uma fotografia uma pintura as imagens diagramas satildeo

exemplos de iacutecones por evidenciar semelhanccedila com o objeto representado A semelhanccedila tem

de ser estabelecida de forma quase que consciente por quem observa No entanto a semelhanccedila

com o objeto representado pode ser extraordinaacuteria como quando se observam as imagens sacras

ou iacutecones menores aqueles que aparecem na tela do computador ou pode ser mais abstrata

como a que acontece com as placas de sinais em geral

Em relaccedilatildeo aos (ii) iacutendices Pierce (2005) estabelece que satildeo signos que estatildeo numa

relaccedilatildeo direta entre o representamem e o objeto Um iacutendice (ou signo indexical) tem a funccedilatildeo

de indicar o que estaacute nas suas proximidades Nos iacutendices a forma e o significado estatildeo

interligados satildeo contiacuteguos ou seja caracteriza-se pela relaccedilatildeo de contiguidade ou associaccedilatildeo

com aquilo que representa Aquilo que atrai a atenccedilatildeo em um objeto eacute seu iacutendice Apresentam

6 O que difere das caracteriacutesticas dicotocircmicas do signo linguiacutestico para Saussure

Conceito

(Significado)

Palavra Referente

(significante) (elementos da realidade)

45

traccedilos de decirciticos jaacute que os interlocutores podem recuperar o referente por meio de lembranccedilas

de detalhes do objeto

Encontram-se muito difundidos nos sistemas de comunicaccedilatildeo (verbal ou natildeo) Satildeo

amplamente empregados na linguagem miacutemica e gestual no coacutedigo de tracircnsito Os decirciticos satildeo

signos indiciais imprescindiacuteveis pois referem demonstrativamente indicam a pessoa do

discurso o lugar a proximidade7 de espaccedilo e tempo entre outros (iii) Jaacute os siacutembolos satildeo signos

que se referem ao objeto em funccedilatildeo de uma convenccedilatildeo de uma lei ou de associaccedilatildeo geral de

ideias ou melhor por natildeo haver uma relaccedilatildeo de semelhanccedila e nem contiguidade entre o

significante e o significado ela eacute estabelecida por convenccedilatildeo de forma intencional e aprendida

nas relaccedilotildees sociais Os siacutembolos satildeo considerados os signos genuiacutenos estatildeo reservados aos

seres humanos porque as necessidades comunicativas exigem muito mais que indicaccedilotildees

indexicais ou imitaccedilotildees icocircnicas O sistema mais elaborado de signos simboacutelicos certamente

eacute o das liacutenguas naturais na modalidade falada e na escrita tambeacutem sendo que a palavra eacute o

siacutembolo por excelecircncia

Por se constituiacuterem de duas coisas que se encontram em prolongamento uma da outra

i eacute contiacuteguas os signos indexicais podem se substituir mutuamente Tambeacutem os signos

icocircnicos podem tomar o lugar do objeto real Jaacute os simboacutelicos satildeo superiores por permitirem

aos seres humanos ultrapassar os limites de contiguidade e semelhanccedila porque estabelecem uma

relaccedilatildeo simboacutelica entre determinada forma e determinado significado Todas essas relaccedilotildees ndash

icocircnica indexical e simboacutelica ndash estatildeo na base dos sistemas de linguagem

Os signos linguiacutesticos se vinculam agrave noccedilatildeo de siacutembolo uma vez que a relaccedilatildeo com o

objeto referido eacute construiacuteda arbitrariamente em uma espeacutecie de acordo entre os membros de

uma comunidade de fala Para Saussure (2008) o signo linguiacutestico eacute o resultado da associaccedilatildeo

convencional entre o significante e o significado acertada entre os falantes Eacute convencional

porque natildeo haacute nenhum viacutenculo sugestivo entre os dois elementos Essa eacute a noccedilatildeo de

arbitrariedade descrita por Saussure (2008) em relaccedilatildeo aos viacutenculos entre significante e

significado Por outro lado haacute de se considerar situaccedilotildees em que os signos linguiacutesticos

apresentam motivaccedilotildees que podem ser de natureza foneacutetica morfoloacutegica ou semacircntica

Quanto agrave estrutura um topocircnimo pode ser um nome simples ou composto e segue

evidentemente as mesmas regras de formaccedilatildeo de palavras da liacutengua portuguesa Um nome em

funccedilatildeo toponiacutemica pode tambeacutem ser constituiacutedo por frases e oraccedilotildees seguem assim a sintaxe

da liacutengua em que se insere

7 O ldquoeurdquo a pessoa com quem se fala o ldquoeste aquirdquo ldquoesse aiacuterdquo ldquoaquele alirdquo ldquoneste tempordquo ldquonaquele tempordquo

46

Segundo Dick (1992) o signo topocircnimo vincula-se por diversos fatores ao elemento

geograacutefico do qual eacute o referente estabelecendo com ele um conjunto que por sua vez pode ser

separado em partes menores para se distinguirem os seus elementos formadores

Morfologicamente dois elementos baacutesicos podem ser depreendidos dessa relaccedilatildeo um o termo

ou elemento geneacuterico que se relaciona agrave entidade geograacutefica que recebe a denominaccedilatildeo e o

outro o elemento ou termo especiacutefico o topocircnimo propriamente dito que carrega em si mesmo

a noccedilatildeo espacial que identificaraacute e singularizaraacute a entidade denominada das outras semelhantes

Esses elementos ou termos se justapotildeem no sintagma toponiacutemico (Coacuterrego do Ouro) ou se

aglutinam (Rialma) conforme a estrutura da liacutengua em questatildeo

Para Dick (1992) em relaccedilatildeo agrave morfologia os topocircnimos podem apresentar trecircs

diferentes formas (i) topocircnimo ou elemento especiacutefico simples eacute aquele determinado por um

soacute formante que pode apresentar-se acompanhado tambeacutem de sufixaccedilatildeo diminutiva

aumentativa ou de outras origens linguiacutesticas

Eacute comum na formaccedilatildeo de muitos topocircnimos brasileiros a junccedilatildeo de um designativo agraves

terminaccedilotildees -lacircndia em -poacutelis e ndashburgo (normalmente segundo elemento da formaccedilatildeo) Essa

formaccedilatildeo embora apresente dois formantes (de liacutenguas diferentes) satildeo considerados nomes

simples e natildeo compostos pode-se no entanto dizer que em algumas designaccedilotildees satildeo tambeacutem

hiacutebridos jaacute que provecircm de liacutenguas diferentes a saber Maurilacircndia (Maurilo do latim Maurilius

lsquomorenorsquo + lacircndia elemento de origem inglesa) Buritinoacutepolis (Buriti(no) elemento tupi + polis

elemento grego) mas em Friburgo8 natildeo haacute hibridismo

Segundo Siqueira (2012) pode-se ainda indicar a terminaccedilatildeo -(a) nia variaccedilatildeo do sufixo

nominal do latino -anus -ana que se documentam em nomes e modificadores com as noccedilotildees

de proveniecircncia origem entre outras em lembranccedila dos primeiros habitantes da regiatildeo Em

Goiaacutes eacute expressiva a quantidade de topocircnimos que se formaram jungidos a esse elemento

Caiapocircnia Cromiacutenia Goiacircnia Joviacircnia Luziacircnia Silvacircnia (ii) topocircnimo composto ou

elemento especiacutefico composto aquele formado por mais de um elemento de origens diversas

entre si do ponto de vista do conteuacutedo (iii) topocircnimo (composto) hiacutebrido ou elemento

especiacutefico hiacutebrido formado por elementos linguiacutesticos de diferentes procedecircncias

Sobre o caraacuteter imotivado dos signos linguiacutesticos cabe salientar conforme Saussure

(2008) que o viacutenculo que une o significante ao significado eacute arbitraacuterio natildeo haacute relaccedilatildeo loacutegica

ente as duas faces do signo A associaccedilatildeo entre ambos (significante e significado) eacute de natureza

8 Cidades da Alemanha e da Suiacuteccedila no Brasil conforme Machado (2003) haacute uma ldquoFriburgordquo no Amazonas e no

Rio de Janeiro ldquoNova Friburgordquo este sim um hiacutebrido em Minas Gerais haacute tambeacutem o hiacutebrido ldquoCordisburgordquo

cordis do latim lsquocoraccedilatildeorsquo + burgo do alematildeo lsquocidadersquo

47

convencional natildeo natural Assim todo estudo toponiacutemico tem no caraacuteter motivado do signo

toponiacutemico seu ponto de partida ou seja os estudos sobre os topocircnimos se baseiam na

motivaccedilatildeo que subjaz para analisar todas as relaccedilotildees circunscritas a ela

15 Linguiacutestica Histoacuterica

Consideradas como realidades histoacutericas e sociais as liacutenguas satildeo dinacircmicas estatildeo em

contiacutenua transformaccedilatildeo o que leva a afirmar que a liacutengua de hoje natildeo eacute a mesma de ontem

nem se manteraacute idecircntica amanhatilde Posto isso pode-se verificar que o conhecimento mais amplo

da estrutura do leacutexico da semacircntica e ateacute da ortografia pode requerer um estudo linguiacutestico

com perspectivas histoacutericas No acircmbito da linguiacutestica geral destaca-se a Linguiacutestica Histoacuterica

aacuterea cujo interesse recai sobre o que como e por que muda nas liacutenguas no decorrer do tempo

Os estudos acerca da linguagem foram primeiramente postulados pelos filoacutesofos

anteriores ao seacuteculo XIX como Platatildeo e Aristoacuteteles9 que se ativeram ao estudo da linguagem

mediante a anaacutelise da relaccedilatildeo entre som e sentido ignorando qualquer tipo de variaccedilatildeo

linguiacutestica Jaacute a opccedilatildeo filoloacutegica representada principalmente pelos gramaacuteticos alexandrinos

natildeo ignorava a variaccedilatildeo linguiacutestica mas a colocava como desvio configurando-se

possivelmente como a primeira perspectiva normativaprescritiva na histoacuteria dos estudos da

linguagem (MAURER JR 1967)

Por sua vez a linguiacutestica histoacuterica conforme Maurer Jr (1967) estabeleceu relaccedilotildees

culturais entre os povos tornando-se um precioso auxiacutelio para a Histoacuteria e a Antropologia A

linguiacutestica histoacuterica natildeo revela apenas as relaccedilotildees entre duas ou mais liacutenguas mas consegue

tambeacutem evidenciar com facilidade o que eacute herdado de um berccedilo linguiacutestico comum e o que eacute

oriundo de empreacutestimo de outra liacutengua

Consoante estudos recorrentes a linguiacutestica histoacuterica teve seu surgimento no final do

seacuteculo XVIII momento em que se comeccedilava a dar um cunho cientiacutefico agrave mudanccedila linguiacutestica

Natildeo se pode afirmar entretanto que natildeo houvesse uma preocupaccedilatildeo com a linguagem antes

desse periacuteodo haja vista que a criaccedilatildeo da biblioteca de Alexandria por exemplo demonstra

certo interesse pelo assunto pois indica que ao fazer a compilaccedilatildeo das obras antigas da literatura

grega Homero apresentava certa preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura e do passado de

uma eacutepoca

9 Para Aristoacuteteles a linguagem eacute definidora das relaccedilotildees humanas

48

No entanto foi no seacuteculo XVI com a Renascenccedila que houve um acentuado interesse

dos estudiosos pela histoacuteria cultural particularmente pela filologia momento da origem da

histoacuteria literaacuteria No Ocidente renascia o interesse pelo passado que remetia agrave antiguidade

greco-latina

A linguiacutestica histoacuterica consiste segundo Faraco (2006 p 13) em ldquoestudar as mudanccedilas

que ocorrem nas liacutenguas humanas agrave medida que o tempo passardquo A mudanccedila eacute definida como

processo pelo qual a liacutengua viva natildeo fica estagnada mas evolui acompanhando o

desenvolvimento da sociedade que a utiliza como instrumento de comunicaccedilatildeo pois ldquoonde haacute

mudanccedila deve haver histoacuteria do contraacuterio nosso conhecimento do fato permanece incompletordquo

(MAURER JR 1967 p 20)

Nesse contexto estabelece-se o que eacute mais natural a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade

porque uma acaba interferindo na mudanccedila da outra visto que

[] as liacutenguas humanas natildeo constituem realidades estaacuteticas ao contraacuterio sua

configuraccedilatildeo estrutural se altera continuamente no tempo E eacute essa dinacircmica

que constitui o objeto de estudo da linguiacutestica histoacuterica [] as liacutenguas mudam

mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos

necessaacuterios para a circulaccedilatildeo dos significados (FARACO 2006 p 14)

As mudanccedilas natildeo satildeo apenas de ordem lexicais por certo as estruturas gramaticais o

modo de produzir os sons e o significado das palavras se alteram com o tempo bem como novas

palavras surgem para expressar objetos e coisas que satildeo criados Eacute possiacutevel observar ainda que

palavras caem em desuso provocando consequentemente alteraccedilotildees no leacutexico de dada liacutengua

jaacute que

Os estudos de Linguiacutestica Histoacuterica comprovam que as liacutenguas humanas se

transformam no fluxo do tempo ou seja palavras e estruturas que existiam

antes deixam de existir ou sofrem modificaccedilotildees na forma na funccedilatildeo eou no

significado Apesar das transformaccedilotildees sofridas as liacutenguas mudam mas

continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos necessaacuterios

que garantem uma comunicaccedilatildeo eficaz pois as mudanccedilas ocorrem em partes

e natildeo no todo das liacutenguas num processo de mutaccedilatildeo e permanecircncia

(SIQUEIRA AGUIAR 2011 p 385 grifos das autoras)

A linguiacutestica histoacuterica pode ser estudada em duas fases a de 1800 e a poacutes 1900 No

seacuteculo XIX surgiram meacutetodos de abordagem para se estudar as liacutenguas suas combinaccedilotildees

identidade (gecircnese) diferenccedilas (mudanccedilas) Segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 18) ldquoa tradiccedilatildeo

oitocentista portanto recorta descreve e explica os fenocircmenos da linguagem do ponto de vista

do binocircmio gecircnese-evoluccedilatildeordquo

49

O poacutes 1900 partiu da observaccedilatildeo da diacronia e sincronia Com o advento do

estruturalismo de Ferdinand Saussure (2008) no seacuteculo XX a linguiacutestica moderna trouxe como

proposta que o objeto da linguiacutestica ndash a liacutengua ndash pudesse ser estudado separadamente do efeito

tempo (PAIXAtildeO DE SOUSA 2006) Como divisor desse momento na segunda metade poacutes

1900 o objeto da linguiacutestica eacute de ordem bioloacutegica ndash a diacronia estaacute imanente agrave liacutengua pois

de acordo com esta corrente linguiacutestica eacute na liacutengua que reside a heterogeneidade a mudanccedila e

a variaccedilatildeo

Segundo Faraco (2006 p 91) as liacutenguas estatildeo inseridas em um processo de fluxo

temporal de mutabilidade ldquoaparecimentosrdquo e ldquodesaparecimentosrdquo ldquoconservaccedilatildeordquo e

ldquoinovaccedilatildeordquo As liacutenguas tecircm histoacuteria revelam e constituem a todo tempo a realidade e as

transformaccedilotildees ocorridas comno tempo Em relaccedilatildeo a isso

Humboldt convencia-se de que toda liacutengua reflete a psique do povo que a fala

Eacute o resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal

de fala Ele acha por outro lado que a liacutengua de um povo eacute o canal natural

pelo qual aquele povo chega a uma compreensatildeo do universo que circunda o

homem E conclui que existe uma profunda influecircncia de uma liacutengua na

maneira pela qual seus falantes veem e organizam o mundo dos objetos em

torno deles e de sua vida espiritual (CAMARA JR 1975 p 38-39)

A liacutengua eacute um ldquoinstrumentordquo social e estaacute carregada de significaccedilatildeo e considerados

espaccedilo e tempo eacute capaz de revelar o mundo a outros mundos Faraco (2006) faz ainda referecircncia

ao estudo do leacutexico ao reafirmar que a composiccedilatildeo deste pode ser estudada historicamente na

sua origem bem como os empreacutestimos que satildeo feitos de outras liacutenguas Necessaacuterio se faz

reconhecer que o leacutexico eacute uma unidade carregada da histoacuteria cultural de dada comunidade

linguiacutestica natildeo esquecendo conforme Faraco (2006 p 42) que ldquoeacute um dos pontos em que mais

claramente se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e culturardquo

Com o advento estruturalista de Saussure (2008) haacute uma mudanccedila de perspectiva a

visatildeo diacrocircnica dos fatos linguiacutesticos daacute lugar ao enfoque sincrocircnico dos fenocircmenos da

linguagem Eacute preciso observar que consoante a diretriz saussuriana a anaacutelise sincrocircnica

precede a diacrocircnica sendo possiacutevel fazer comparaccedilatildeo entre elas no momento em que tiver a

descriccedilatildeo de pelo menos dois estados da liacutengua Daiacute reforccedilar-se o objetivo do estudo em

descrever sincronicamente um dado especiacutefico da histoacuteria da liacutengua Faraco (2006 p 120)

afirma que ldquoo estudioso se fixa num momento do passado e tomando-o estaticamente

descreve-o com base nos documentos escritos de que se dispotildee criando assim condiccedilotildees para

um posterior estudo diacrocircnicordquo

50

A par disso conveacutem mencionar que nos seacuteculos XVII e XVIII estudos linguiacutesticos

hegemocircnicos observavam a liacutengua como uma realidade estaacutevel diferentemente do pensamento

linguiacutestico do seacuteculo XIX que considerava a liacutengua como uma realidade em transformaccedilatildeo

Desta forma Saussure (2008) estabeleceu duas dimensotildees uma histoacuterica (chamada diacrocircnica)

que tem como centro de suas atenccedilotildees as mudanccedilas porque passa a liacutengua no tempo ou seja a

mutabilidade da liacutengua no tempo a outra eacute estaacutetica (chamada sincrocircnica) que entende a liacutengua

como um sistema estaacutevel num espaccedilo de tempo aparentemente fixo isto eacute a sua imutabilidade

Mas

Diante dos termos sincroniadiacronia natildeo basta apenas entender por alto a

que se referem Eacute preciso antes perceber que essa divisatildeo pressupotildee tambeacutem

na sua origem uma concepccedilatildeo homogeneizante da liacutengua que ndash apesar de sua

indiscutiacutevel funcionalidade e fertilidade para a linguiacutestica contemporacircnea ndash eacute

para muitos estudiosos uma idealizaccedilatildeo excessiva por criar um objeto de

estudo demasiadamente afastado da heterogeneidade linguiacutestica do real

(FARACO 2006 p 106 grifos do autor)

Segundo Faraco (2006) Coseriu em seu livro Sincronia diacronia e histoacuteria de 1973

posiciona-se de forma contraacuteria agrave formulaccedilatildeo de Saussure (2008) (visatildeo estaacutetica de sistema)

pois para ele a liacutengua deve ser vista em permanente sistematizaccedilatildeo em movimento Coseriu

rejeita a ideia de que a descriccedilatildeo (sincronia) e a histoacuteria (diacronia) sejam estudos diferenciados

mas assume a visatildeo de que as liacutenguas satildeo objetos histoacutericos e devem ser estudadas de forma

integrada envolvendo descriccedilatildeo e histoacuteria

Para Rocha Galvatildeo e Gonccedilalves (2011 p 30) ldquoestabelecer a presenccedila ou a viagem das

palavras eacute acompanhar o envolver das proacuteprias comunidades pelo tempo aforardquo Um recorte

sincrocircnico natildeo deve desprezar a interpretaccedilatildeo diacrocircnica o interesse cientiacutefico natildeo estaacute presente

somente num espaccedilo-tempo assim como a representatividade histoacuterica necessita admitir pontos

exatos na representaccedilatildeo da vivecircncia humana

No segundo capiacutetulo apresenta-se uma breve revisatildeo dos meacutetodos de pesquisa que

podem ser combinados com a teoria onomaacutestico-toponiacutemica a fim de compor um quadro

ilustrativo das caracteriacutesticas do meio da cultura dos fatos histoacutericos e dos estados anteriores

da liacutengua que estatildeo de alguma forma impressos na motivaccedilatildeo que subjaz aos topocircnimos em

questatildeo

51

II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS

O povo ldquosenhor dos espaccedilos puacuteblicosrdquo por vezes

adota criteacuterio proacuteprio ao conferir nomes aos

lugares

(IBGE 2008)

A linguagem humana eacute sobretudo interaccedilatildeo e natildeo pode pois ser explicada apenas em

termos de sua estrutura semacircntica e formal mas tambeacutem deve-se analisaacute-la em sua funccedilatildeo

social Desta forma o desenvolvimento linguiacutestico e intelectual do indiviacuteduo caminham juntos

pois ambos satildeo a base da abstraccedilatildeo e categorizaccedilatildeo pois ldquotoda liacutengua reflete as condiccedilotildees da

sociedade e do ciacuterculo cultural que se falardquo (ANDRADE 2010 p 99)

Aspectos linguiacutesticos de diversas ordens satildeo fundamentais para o estudo toponiacutemico jaacute

que eacute por mecanismos linguiacutesticos que o signo comum transmuta-se em designativo de lugar

revelando a identidade do nomeador coletivo ou natildeo Desta maneira ldquoo topocircnimo eacute o resultado

da accedilatildeo do nomeador ao realizar um recorte no plano das significaccedilotildees representaccedilotildees ou seja

praticar um papel de registro no momento vivido pela comunidaderdquo (ANDRADE 2010 p

106)

Acolher uma orientaccedilatildeo ou outra acarreta outrossim na escolha do meacutetodo a ser utilizado

para a pesquisa linguiacutestico-histoacuterica Para situar a escolha por um meacutetodo este capiacutetulo faz uma

breve exposiccedilatildeo de alguns meacutetodos que tecircm sido empregados em pesquisas de abordagem

similar a esta em especial descrevemos detalhadamente os que satildeo usados nesta pesquisa os

quais consideram natildeo somente os aspectos linguiacutesticos bem como os histoacutericos e socioculturais

do lugar indo ao encontro da perspectiva adotada para este trabalho

21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos

Natildeo se deve confundir metodologia com meacutetodo de pesquisa Segundo Silva e Silveira

(2007 p 145) a metodologia consiste de um conjunto de criteacuterios usados para se construir um

conhecimento vaacutelido seguro e de certa forma verdadeiro Jaacute os meacutetodos de pesquisa podem

ser definidos como ldquoprinciacutepios e procedimentos aplicados para construccedilatildeo do saberrdquo Os autores

salientam que se torna mais difiacutecil ficar preso a um uacutenico meacutetodo quando se pode lanccedilar matildeo

do ldquopluralismo metodoloacutegicordquo Deste modo considerando as especificidades de um estudo

toponiacutemico eacute possiacutevel conjugar meacutetodos de forma ordenada e loacutegica Isto quer dizer que se

52

podem utilizar meacutetodos de abordagem (indutivo dedutivo dialeacutetico) em consonacircncia com os

preceitos de um ou mais meacutetodos de procedimento (funcionalista comparativo

fenomenoloacutegico estruturalista)

Uma perspectiva histoacuterica por exemplo abre um amplo espectro de possibilidades de

se estudar um determinado fato linguiacutestico Podem ser citadas diversas maneiras para se tomar

os fenocircmenos linguiacutesticos do ponto de vista histoacuterico tais como a filologia centrada nos

aspectos histoacutericos das transformaccedilotildees a linguiacutestica comparada que aborda os fatos por meio

de comparaccedilotildees entre as liacutenguas de grupos linguiacutesticos relacionados e a etimologia a qual

busca desvendar o significado de origem das palavras aqui centra-se o nosso objeto de estudo

que eacute descrever e analisar a origemetimologia dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua de Pires do

Rio-GO

Os meacutetodos linguiacutesticos podem ainda estudar as transformaccedilotildees linguiacutesticas

correlacionando-as ao contexto sociocultural o que tem contribuiacutedo grandemente para uma

renovaccedilatildeo das abordagens do fenocircmeno da mudanccedila linguiacutestica resultando em inuacutemeras outras

orientaccedilotildees teoacutericas que em certo sentido podem ser vistas como herdeiras dos primeiros

criacuteticos dos estudos comparativos

A linguiacutestica tem a liacutengua como seu principal objeto de estudo a qual eacute produto da

experiecircncia acumulada historicamente na cultura de uma sociedade A liacutengua eacute um fenocircmeno

social pois eacute produzida e determinada socialmente ademais eacute um importante siacutembolo da

identidade de um grupo E eacute no comportamento linguiacutestico de uma dada comunidade que se

reflete a busca de aprovaccedilatildeo social ou a acentuaccedilatildeo de diferenccedilas (COSERIU 1977) Eacute por

meio dela enfim que um indiviacuteduo adquire a cultura do lugar em que vive jaacute que

A funccedilatildeo baacutesica da Linguiacutestica eacute o estudo direto da lsquoliacutengua viva e faladarsquo por

observaccedilatildeo e anaacutelise objetiva de seus fenocircmenos postas de lado todas as

forccedilas e influecircncias que se manifestem muitas vezes atraveacutes dela e todos os

antecedentes que possam ter dado origem ao estado atual (MAURER JR

1967 p 30)

Observa-se na Linguiacutestica Geral de acordo com Maurer Jr (1967) a divisatildeo em dois

setores distintos poreacutem essenciais para compreensatildeo da linguagem a Linguiacutestica Descritiva

(sincrocircnica) que segundo o autor deve ser a base de todo estudo cientiacutefico porque eacute a partir

dela que aprendemos a linguagem em sua funccedilatildeo uacutenica e peculiar e a Linguiacutestica Histoacuterica

(diacrocircnica) que complementa e explica os fatos da primeira e tem uma funccedilatildeo importante no

estudo desse rico patrimocircnio cultural e humano a liacutengua

53

212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica

Para alguns estudiosos a linguiacutestica histoacuterica teve seu apogeu no seacuteculo XIX embora

outros afirmem que tenha ocorrido haacute tempos no Renascimento De acordo com Paixatildeo de

Sousa (2006 p 14)

[] a reflexatildeo linguiacutestica dos 1800 representa um marco divisor na histoacuteria

das histoacuterias do tempo e da linguagem por inaugurar uma concepccedilatildeo

inteiramente nova dos condicionantes dessa relaccedilatildeo e construir um novo

plano para sua anaacutelise Eacute antes de tudo na tentativa de se combinar a esfera

documental com a esfera experimental que aparecem os desdobramentos mais

interessantes dos estudos histoacutericos da liacutengua ao longo do seacuteculo XIX eles

buscaratildeo articular as duas esferas em um mesmo plano de anaacutelise construindo

a abordagem histoacuterico-comparada

Assim a linguiacutestica histoacuterica apoacutes o seacuteculo XIX cria um meacutetodo que permite

ldquocategorizar e justificar a identidade geneacutetica e a evoluccedilatildeo paralela de cada idioma em um grupo

aparentadordquo segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 16) O meacutetodo comparativo segundo Maurer

Jr (1967) busca comparar cuidadosamente formas apresentadas entre si de um grupo

distinguir a origem e estudar a diversificaccedilatildeo das liacutenguas para desvendar e recontar a histoacuteria

de cada liacutengua Ressalte-se que para Faraco (2006 p 125) esse meacutetodo teve sua estruturaccedilatildeo

ldquoao dar um tratamento sistemaacutetico agraves observadas semelhanccedilas entre liacutenguas distantes no espaccedilo

como o latim e o sacircnscritordquo E ainda

constitui um recurso inteligente e racional para a reconstruccedilatildeo de fatos que

dependem de testemunho em todo o terreno Tal como a Paleontologia a

Histoacuteria da Cultura e ateacute na investigaccedilatildeo do crime na Justiccedila esse meacutetodo

submete o testemunho a um estudo preliminar para avaliar seu isolamento sua

coerecircncia etc (MAURER JR 1967 p 31)

O meacutetodo comparativo se baseia na experimentaccedilatildeo (induccedilatildeo) procura descrever os

estaacutegios da liacutengua que natildeo deixaram registros (documentos) como eacute o caso do latim vulgar No

entanto se difere do histoacuterico-comparativo o qual usa documentos histoacutericos para fazer as suas

reconstruccedilotildees acerca da liacutengua Poreacutem ambos os meacutetodos buscam recuperar a histoacuteria da liacutengua

de forma cronoloacutegica

De acordo com Faraco (2006 p 134)

O meacutetodo comparativo eacute o procedimento central nos estudos de linguiacutestica

histoacuterica Eacute por meio dele que se estabelece o parentesco entre liacutenguas O

pressuposto de base eacute que entre elementos de liacutenguas aparentadas existem

54

correspondecircncias sistemaacuteticas (e natildeo apenas aleatoacuterias ou casuais) em termos

de estrutura gramatical correspondecircncias estas passiacuteveis de serem

estabelecidas por meio duma cuidadosa comparaccedilatildeo Com isso podemos natildeo

soacute explicitar o parentesco entre liacutenguas (isto eacute dizer se uma liacutengua pertence

ou natildeo a uma determinada famiacutelia) como tambeacutem determinar por inferecircncia

caracteriacutesticas da liacutengua ascendente comum de um certo conjunto de liacutenguas

No decorrer dos anos vaacuterios satildeo os estudiosos que contribuiacuteram com a formaccedilatildeo e o

aprimoramento do meacutetodo comparativo dentre eles destacamos Bopp (1791-1867) que

buscava estabelecer o parentesco entre as liacutenguas mas natildeo o percurso histoacuterico de um anterior

para um posterior Grimm (1785-1863) que ao estudar o ramo germacircnico das liacutenguas indo-

europeias pocircde estabelecer a sucessatildeo histoacuterica por meio de comparaccedilatildeo ndash comparativo

histoacuterico Rask (1787-1832) tambeacutem desenvolveu trabalhos comparativos importantes para o

momento envolvendo as liacutenguas noacuterdicas as demais liacutenguas germacircnicas o grego o latim o

lituano o eslavo e o armecircnio Foi a partir desses estudiosos que surgiu a ldquofilologia (ou

linguiacutestica) romacircnica nome que se deu ao estudo histoacuterico-comparativo das liacutenguas oriundas

do latimrdquo (FARACO 2006 p 137)

De tal modo da siacutentese que foi apresentada eacute possiacutevel tecer as seguintes consideraccedilotildees

o meacutetodo histoacuterico-comparativo em seu apogeu foi e ainda hoje eacute uacutetil aos estudos da Linguiacutestica

Histoacuterica principalmente no que concerne natildeo soacute agrave reconstruccedilatildeo de fases anteriores das liacutenguas

como tambeacutem eacute bastante indicado para estudos que objetivam a reconstruccedilatildeo interna de uma

liacutengua Esse meacutetodo cumpriu papel importante para o desvelamento de inuacutemeras questotildees

linguiacutesticas das liacutenguas antigas grego latim sacircnscrito

Jaacute os estudos dos neogramaacuteticos possibilitaram o aprimoramento do meacutetodo histoacuterico-

comparativo mediante a verificaccedilatildeo de que muitas mudanccedilas ocorridas nas liacutenguas em

momentos anteriores e registrados em documentos podem ser explicitadas por meio da

explanaccedilatildeo de mudanccedilas ldquosincrocircnicasrdquo sucedidas nas liacutenguas conforme as leis foneacuteticas e a

analogia

Conforme Cacircmara Jr (1975) Gaston Paris traccedilou mapas das linhas isogloacutessicas dando

os primeiros passos para a geografia linguiacutestica a qual na verdade foi efetivamente criada por

seu disciacutepulo suiacuteccedilo Jules Gillieacuteron que dedicou-se agrave dialetologia e no doutoramento em 1879

defendeu a tese sobre o dialeto de Vionnaz Essa nova teacutecnica ldquoteve como base teoacuterica o

conceito de dialeto como uma abstraccedilatildeo essa a razatildeo de focalizar cada mudanccedila linguiacutestica per

se como o verdadeiro dado linguiacutesticordquo (CAcircMARA JR 1975 p 121)

55

A geografia linguiacutestica10 segundo Cacircmara Jr (1975) eacute importante como uma nova

abordagem para o estudo histoacuterico-comparativo pois em vez de recorrer a textos antigos o

pesquisador busca apenas os aspectos contemporacircneos da liacutengua absorvendo as bases

linguiacutesticas no intercacircmbio oral Desta forma

Obteacutem-se uma corrente evolucionaacuteria pela comparaccedilatildeo das muitas variantes

de cada forma cuja distribuiccedilatildeo no espaccedilo pode ser traduzida numa

distribuiccedilatildeo atraveacutes do tempo de acordo com regras metodoloacutegicas O aspecto

foneacutetico da variante ou sua existecircncia num patois relativamente moderno ou

notaacutevel por traccedilos arcaicos constituem a chave para esta investigaccedilatildeo

histoacuterica Por essa razatildeo eacute que atraveacutes da geografia linguiacutestica uma nova

teacutecnica para o estudo histoacuterico da linguagem foi imaginada sob o tiacutetulo de

ldquoreconstruccedilatildeo internardquo (CAcircMARA JR 1975 p 125 grifos do autor)

Essa nova abordagem vem corroborar com os estudos da liacutengua porque de forma

efecircmera reconstroacutei a histoacuteria de uma dada liacutengua contribuindo com a contemporaneidade uma

vez que nos eacute necessaacuterio conhecer a base etimoloacutegica das palavras e depois justificar o seu uso

ou evoluccedilatildeo

Segundo Cacircmara Jr (1975) apoacutes observar que Gaston Paris traccedilou mapas das linhas

isogloacutessicas e Gillieacuterion criou a geografia linguiacutestica muitos anos depois os linguistas italianos

Giulio Bertoni e Matteo Bartoli criaram o meacutetodo de linguiacutestica areal cujo objetivo era

classificar aacutereas linguiacutesticas ndash de uma liacutengua ou grupo de liacutenguas ndash como forma de

representaccedilatildeo da contemporaneidade e do estaacutegio linguiacutestico de desenvolvimento Os

linguistas consoante Cacircmara Jr (1975 p 126) ldquodividiram um territoacuterio linguiacutestico em aacutereas

isoladas aacutereas laterais aacutereas principais e aacutereas desaparecidas (isto eacute aacutereas homogecircneas que

desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)rdquo e desta forma

difundiam mais um meacutetodo linguiacutestico

Destaca ainda que a linguiacutestica histoacuterica compreende dois momentos de exatidatildeo o

primeiro de 1786 a 1878 periacuteodo de formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do meacutetodo comparativo o qual

finalizou com o movimento dos neogramaacuteticos o segundo vai desde 1878 ateacute a

contemporaneidade periacuteodo de tensatildeo entre duas linhas interpretativas uma imanentista ndash

neogramaacutetico estruturalismo e gerativismo que vecirc a mudanccedila como acontecimento interno da

liacutengua e pela proacutepria liacutengua e a outra integrativa ndash primeiros criacuteticos neogramaacuteticos dialetologia

e sociolinguiacutestica cuja mudanccedila da liacutengua estaacute condicionada a fatores contextuais nos quais o

falante estaacute inserido

10 No Brasil a Geografia Linguiacutestica concretizou-se com a produccedilatildeo de Atlas Linguiacutesticos em diferentes Estados

brasileiros

56

Entre os seacuteculos XVIII e XIX ocorreram momentos de grande relevacircncia para a

linguiacutestica histoacuterica Um deles eacute a fundaccedilatildeo da Escola de Estudos Orientais em Paris

(importante centro de investigaccedilatildeo) no ano de 1975 onde estudaram os linguistas alematildees

Friedrich Schlegel (1772-1829) e Franz Bopp (1791-1867) os quais mais tarde desenvolveram

a chamada gramaacutetica comparativa

Assim em 1808 Friedrich Schlegel publicou um texto sobre a liacutengua e sabedoria dos

povos hindus que de acordo com Faraco (2006) eacute considerado o ponto de partida do

comparativismo alematildeo No texto o autor ratifica sobre o parentesco das liacutenguas sacircnscrita com

a latina grega germacircnica e persa

Cabe ainda salientar que os estudos histoacuterico-comparativos antes da uacuteltima metade do

seacuteculo XIX conheceram a obra de August Scheilcher (1821-1868) Sua teoria tomava a liacutengua

como um organismo vivo com existecircncia fora de seus falantes sendo sua histoacuteria vista como

natural devido agraves orientaccedilotildees naturalistas do linguista como sua formaccedilatildeo em botacircnica e

influenciado pela teoria evolucionista de Darwin (FARACO 2006)

Jaacute no seacuteculo XIX as investigaccedilotildees no campo da linguagem eram dominadas por ideias

positivistas que se desenvolviam conforme meacutetodos histoacuterico-comparativos eacutepoca em que se

formaliza o estudo sistemaacutetico das variaccedilotildees sobretudo as de natureza geograacutefica Surge o

interesse pelos dialetos considerados como fontes de conhecimento do modo como se teriam

operado as transformaccedilotildees em fases anteriores das liacutenguas A Geografia Linguiacutestica eacute uma

consequecircncia do interesse pelos estudos dialetais levados a cabo de iniacutecio por vaacuterios estudiosos

europeus Segundo Coseriu (1982) surge um meacutetodo dialetoloacutegico e comparativo que

pressupotildee o registro em mapas especiais de um nuacutemero relativamente elevado de formas

linguiacutesticas (focircnicas lexicais ou gramaticais) recolhidas mediante pesquisa direta e unitaacuteria

numa rede de pontos distribuiacuteda em determinado territoacuterio

Deste modo eacute necessaacuterio compreender que

A linguagem eacute inegavelmente uma heranccedila social cuja histoacuteria se estende

por seacuteculos Uma visatildeo completa um conhecimento detalhado de seu

mecanismo de sua estrutura de sua semacircntica e ateacute de sua ortografia soacute

podem ser obtidos atraveacutes da pesquisa diacrocircnica Os meacutetodos expostos

acima em suas linhas essenciais natildeo deixam duacutevida de que a filologia

romacircnica se desenvolveu com o meacutetodo histoacuterico-comparativo adotado com

mais ecircxito aqui do que no campo para o qual havia sido criado As possiacuteveis

deficiecircncias desse meacutetodo foram sendo corrigidas depois pela geografia

linguiacutestica e pelos outros meacutetodos derivados como a onomasiologia Woumlrter

und Sachen linguiacutestica espacial etc Enquanto o meacutetodo histoacuterico-

comparativo procura as ligaccedilotildees entre o ldquoterminus a quordquo e o ldquoterminus ad

quemrdquo o latim vulgar e as liacutenguas romacircnicas respectivamente os outros

57

meacutetodos tecircm como objeto especificamente o ldquoterminus ad quemrdquo pois

investigam sincronicamente aspectos atuais dessas mesmas liacutenguas cujas

explicaccedilotildees poreacutem devem ser buscadas diacronicamente (BASSETTO

2001 p 85 grifos do autor)

Para Faraco (2006 p 106) ldquooptar por uns ou por outros eacute que vai orientar nossa forma

de entender a mudanccedila linguiacutestica nossa seleccedilatildeo de dados nossas categorias e procedimentos

de anaacutelise nosso processo argumentativordquo Ou seja ao assumirmos uma concepccedilatildeo de base

correlata eacute o que iraacute definir o nosso meacutetodo de trabalho

22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia

Segundo Silva (2010) a onomasiologia eacute um meacutetodo que se constitui do estudo das

designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Pode ser

investigada toda a cultura popular de um local podendo-se priorizar os aspectos sincrocircnicos ou

histoacutericos Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores do que

subjaz agrave nomeaccedilatildeo dos lugares

Pode-se para efeito deste estudo traccedilar o esquema a seguir o qual demonstra as

possibilidades temaacuteticas que esse tipo de pesquisa pode apresentar

Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos

Onomaacutestica

Toponiacutemia Antroponiacutemia

Modalidades Coleta

Imagens mapas cartas e plantas

Documental Texto iacutendicesrepertoacuterio de nomes

Ficcional Natildeo ficcional

Pesquisa de campo Entrevistas etnografia

Mista Documental e Pesquisa de campo

Fonte Adaptado de material da USP ndash Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas 2016

58

A onomasiologia eacute o resultado das tendecircncias mais significativas da evoluccedilatildeo linguiacutestica

na transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX em que a centralidade das investigaccedilotildees passam

do som (foneacutetica) para a palavra (lexicologia) O seu triunfo se deu a partir do desenvolvimento

da Geografia Linguiacutestica pois com o aparecimento de inuacutemeros termos regionais recolhidos

pelos inqueacuteritos linguiacutesticos surgiu a necessidade de um novo meacutetodo que auxiliasse os

dialetoacutelogos a compreenderem o homem regional em sua amplitude por meio da linguagem

Apoacutes a publicaccedilatildeo dos atlas linguiacutesticos a onomasiologia comeccedila a ser utilizada em

vaacuterios estudos jaacute que pelo seu uso eacute possiacutevel caracterizar as atividades de uma regiatildeo e situaacute-

las no tempo Segundo Couto (2012 p 186) ldquoa onomasiologia vecirc a questatildeo da referecircncia para

usar um termo semioacutetico partindo da coisa e indo na direccedilatildeo do nome que ela receberdquo Desta

forma ldquoo meacutetodo onomasioloacutegico permite ver a cultura do povo cuja liacutengua se estuda

costumes ocupaccedilotildees instrumental crenccedilas e crendices moradia enfim sua mundividecircncia

Permite sentir a linguagem viva traduzindo a vivecircncia cultural do povordquo (BASSETO 2001 p

77)

Ressalta-se que

Com pontos em comum com a Geografia Linguiacutestica e ldquoPalavras e Coisasrdquo o

meacutetodo onomasioloacutegico tambeacutem conhecido como onomasiologia isto eacute o

estudo das denominaccedilotildees se propotildee investigar os vaacuterios nomes atribuiacutedos a

um objeto animal planta conceito etc individualmente ou em grupo dentro

de um ou vaacuterios domiacutenios linguiacutesticos Seus objetivos satildeo portanto

semacircnticos e lexicoloacutegicos buscando descobrir os aspectos vivos e as forccedilas

criadoras da linguagem (BASSETO 2001 p 76)

O meacutetodo onomasioloacutegico natildeo ficou a cargo apenas de um pesquisador mas de vaacuterios

pois seus princiacutepios se desenvolveram aos poucos Conforme Bassetto (2001) temos como

predecessores da onomasiologia moderna F Brinkmann (1872) Luigi Morandi (1883)

Friedrich Diez (1875) Fr Pott (1853) Jakob Grimm (1853) e F Miklosich (1868) Todavia o

princiacutepio da onomasiologia cientiacutefica deu-se com Carlo Salvioni (1858-1920) quando estudou

sobre as denominaccedilotildees italianas do vaga-lume (1892) e com Ernest Toppolet (1870-1939) que

referendou em seus estudos o parentesco dos nomes romacircnicos por ele denominados de

ldquolexicologia cientiacuteficardquo

As pesquisas desenvolvidas na aacuterea da onomaacutestica se constituem em uma linha

documental ou de campo seguindo um meacutetodo pelo qual se selecionam observam registram

classificam analisam e interpretam os dados de acordo com a identificaccedilatildeo dos fatores

59

determinantes agrave configuraccedilatildeo dos corpora Essas anaacutelises de dados satildeo baseadas em trecircs

categorias linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica que satildeo reveladas pelo meacutetodo onomasioloacutegico

Segundo Ramos e Bastos (2010) as trecircs perspectivas ndash linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica

ndash satildeo cruciais para revelar as seguintes caracteriacutesticas a) a determinaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica das

diferentes liacutenguas que tenham existido ou existentes num determinado territoacuterio b) o estudo

das terminaccedilotildees caracteriacutesticas de cada palavra c) o estudo das formas gramaticais d) o estudo

da foneacutetica histoacuterica e) a verificaccedilatildeo das formas documentadas as quais se subdividem em ndash

comparaccedilatildeo semacircntica a abordagem dos dados geograacuteficos e a abordagem dos dados histoacutericos

Cabe ainda indicar em linhas gerais algumas concepccedilotildees do meacutetodo Woumlrter und

Sachen de Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) o qual conforme

Bassetto (2001) tem pontos em comum que compartilha com o meacutetodo onomasioloacutegico Visa

ao estudo das questotildees semacircnticas das palavras enfatizando a realidade que elas designam

porque para os estudiosos dessa linha de pensamento a verdadeira etimologia da palavra

encontra-se no conhecimento dessa realidade Procura instruir sobre a necessidade de conhecer

sempre que possiacutevel o objeto designado por um termo para que o significado possa ser

devidamente explicitado Quando se conhece a realidade a natureza a forma o uso as medidas

das coisas do mundo eacute possiacutevel estabelecer a origem e a histoacuteria das palavras com que esses

mesmos objetos foram designados

Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) foram precursores desse

meacutetodo ao considerarem que as coisas existem antes de serem denominadas ou seja as coisas

preexistem agraves suas designaccedilotildees podendo ateacute existir sem que sejam nomeadas Em

contrapartida as palavras dependem das ldquocoisasrdquo estatildeo ligadas a elas Com essa perspectiva

Schuchardt (mais do que Meringer) remete ao meacutetodo Woumlrter und Sachen ldquoPalavras e Coisasrdquo

cujo tiacutetulo instituiu o nome do meacutetodo

No entanto conveacutem salientar que jaacute na gramaacutetica grega estava impliacutecita a ideia de que

as coisas precedem as palavras Em outros termos quando se conhece em profundidade a

ldquocoisardquo chega-se ao ldquoeacutetimordquo da palavra que a nomeia alcanccedila-se o significado com que a coisa

foi primeiramente designada Menciona-se que para Schuchardt (apud BASSETO 2013)

Sachen (coisa) significava qualquer realidade i eacute ldquoSachenrdquo podia se referir tanto a

acontecimentos e estados como a objetos ao real e ao irreal ao tangiacutevel11 e ao intangiacutevel ou

em outras palavras tanto a coisas do mundo sensiacutevel como do insensiacutevel

11 ldquoTangiacutevelrdquo do latim tangere tangens lsquotocar aquilo que tocarsquo do mesmo eacutetimo de attingere lsquoaproximar-se e

tocarrsquo

60

O meacutetodo Woumlrter und Sachen (Palavras e Coisas) segundo Campbell (2004) relaciona-

se agraves inferecircncias histoacuterico-culturais que podem ser reveladas por meio da investigaccedilatildeo das

palavras pautadas na sua analisabilidade Campbell (2004) assume que as palavras que satildeo

analisadas em partes transparentes (vaacuterios morfemas) podem ser de criaccedilatildeo mais recente (na

liacutengua) em relaccedilatildeo agraves palavras que natildeo apresentam essa transparecircncia morfecircmica

Essa teacutecnica contribui sobremaneira para traccedilar uma cronologia aproximativa dos

vocabulaacuterios Dias (2016 p31) acentua que

Sobretudo supotildee-se que itens culturais denominados por termos analisaacuteveis

satildeo tambeacutem adquiridos mais recentemente pelos falantes e aqueles que satildeo

expressos por palavras natildeo analisaacuteveis representam itens mais velhos e

instituiccedilotildees Outra estrateacutegia desse meacutetodo envolve fazer inferecircncias por meio

de informaccedilotildees de itens culturais de quem os nomes sofreram visivelmente

mudanccedila de significado

E para Crowly (2003) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo pode ser usado para fazer

reconstruccedilatildeo cultural e chegar ao conteuacutedo de uma protocultura por exemplo jaacute que se eacute

possiacutevel reconstruir uma palavra designativa de alguma coisa na protoliacutengua eacute possiacutevel tambeacutem

supor que a coisa a que ela se refere provavelmente foi de importacircncia cultural na vida dos

seus falantes ou que foi ambientalmente marcante Segundo o autor o meacutetodo pode tambeacutem

dizer muito sobre a terra natal de uma famiacutelia linguiacutestica pode-se ainda por meio do referido

meacutetodo fazer suposiccedilotildees sobre as rotas legiacutetimas seguidas pelos povos para se chegar aos

lugares onde se encontram atualmente12

Destarte segundo Bassetto (2013) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo deu destaque agrave

semacircntica ao estabelecer a etimologia e ateacute a biografia das palavras aleacutem de tornar os estudos

filoloacutegicos mais objetivos Posto isso eacute possiacutevel verificar que o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo

pode ser usado nos estudos semacircnticos lexicais onomaacutesticos toponiacutemicos Quando se busca

relacionar a histoacuteria do nome com a histoacuteria do lugar vincula-se a palavra (o nome) agrave coisa (o

lugar) Nesse sentido pode-se de alguma maneira realizar o estudo natildeo apenas pautado no

meacutetodo onomasioloacutegico mas tambeacutem considerando as intrincadas relaccedilotildees entre nomes e as

coisas do mundo

Cabe ressaltar

Assim como procedimento metodoloacutegico seguido nos estudos

toponomaacutesticos buscamos definir o jaacute definido ou seja o objeto de estudo da

disciplina o seu campo de trabalho especiacuteficos a natureza linguiacutestica da

12 Por exemplo os caminhos que levaram (trouxeram) os bandeirantes agraves terras do iacutendio goyaacute

61

anaacutelise em termos de vinculaccedilatildeo a uma aacuterea do conhecimento Partindo-se da

definiccedilatildeo etimoloacutegica dos elementos gramaticais de origem grega enunciados

por Dioniacutesio de Traacutecia no seacuteculo II a C a Toponiacutemia ficou-se como propocircs

Leite de Vasconcelos (1887) no entendimento dos nomes proacuteprios de lugares

distintos dos nomes comuns delimitados pela teoria da linguagem (DICK

2006 p 96)

A toponomaacutestica entatildeo fundamenta-se nos estudos dos nomes proacuteprios de lugares

estabelecendo relaccedilotildees da liacutengua com o ambiente sendo de extrema necessidade observar os

viacutenculos do nomeador com a coisa nomeada a motivaccedilatildeo que subjaz ao topocircnimo

O meacutetodo da Geografia Linguiacutestica com a concepccedilatildeo basilar de que a distribuiccedilatildeo

geograacutefica dos aglomerados populacionais se reflete na diferenciaccedilatildeo linguiacutestica trouxe grande

contribuiccedilatildeo para o estudo dos nomes em geral pois pode refletir tendecircncias que orientaram o

ato de nomeaccedilatildeo tanto de pessoas como de lugares

Sobre o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo cabe apenas repetir que por enfatizar o aspecto

semacircntico das palavras vinculado agrave realidade que elas denominam contribui com o estudo dos

nomes jaacute que parte do princiacutepio de que as palavras se acham ligadas agraves coisas que elas

designam Uma vez conhecendo a natureza das coisas chega-se na verdadeira etimologia da

palavra contribuiccedilatildeo essa que valoriza a cultura e a histoacuteria das comunidades vendo no ser

humano o sujeito das transformaccedilotildees que ocorrem nas liacutenguas e na cultura

Posto isso considera-se mais uma vez que a onomasiologia busca investigar como uma

noccedilatildeo ou conceito eacute nomeado na liacutengua tendo sempre em mente que quem daacute nome agraves coisas

satildeo os falantes e o fazem em decorrecircncia da cosmovisatildeo de seu grupo O meacutetodo

onomasioloacutegico permite que a cultura do povo pesquisado seja revelada

Entretanto a despeito das contribuiccedilotildees que cada um trouxe para os estudos linguiacutesticos

nenhum desses meacutetodos foi suficiente teoricamente para deslindar os inuacutemeros aspectos que

permeiam o ato de nomeaccedilatildeo o que implica dizer que o mais sensato eacute combinar o que cada

meacutetodo apresenta de mais satisfatoacuterio referentemente ao problema que se pretende resolver o

que requer tambeacutem adaptaccedilotildees e revisotildees constantes de um ou de outro ou ainda da combinaccedilatildeo

deles

Considera-se entatildeo

os aspectos pelos quais entendemos a disciplina como conhecimento

cientiacutefico saber construiacutedo como objeto campo de trabalho e pesquisa

demarcados apesar disto manteacutem-se em intersecccedilatildeo a outros campos sem

perder sua identidade A metodologia que emprega em seus levantamentos eacute

de origem indutivo-dedutiva de acordo com os procedimentos

62

onomasioloacutegico-semasioloacutegicos caracteriacutesticos da pesquisa do leacutexico (DICK

2006 p 98)

E no que tange agrave metodologia aos procedimentos de pesquisa propriamente ditos

segundo Dick (1996) que podem ser aplicados nos estudos toponiacutemicos devem se estabelecer

da seguinte forma a) seleccedilatildeo de fontes primaacuterias (cartas geograacuteficas editadas por oacutergatildeos oficiais

estaduais e municipais em escalas de 150000 ou 1100000 ou listas toponiacutemicas oficiais) e

complementaccedilatildeo a partir de fontes secundaacuterias (trabalhos historiograacuteficos da proacutepria

comunidade acerca do local onde vivem) b) registro dos dados em fichas lexicograacuteficas

padronizadas com a identificaccedilatildeo dos nomes do pesquisador e do revisor fontes e data de

coleta c) anaacutelise de dados que inclui a quantificaccedilatildeo dos nomes e das taxonomias analisando

a maior ou menor frequecircncia de classes ou itens lexicais e do estudo dos nomes a partir de um

enfoque puramente linguiacutestico (etimoloacutegico e estrutural) linguiacutestico-histoacuterico e variacionista

Desta forma a metodologia para este trabalho baseia-se em Dick (1996 2006) e por

conseguinte estabelece relaccedilotildees com as demais pesquisas na aacuterea da toponomaacutestica De acordo

com a autora ldquoTrata-se de modelo semacircntico-motivador das ocorrecircncias toponomaacutesticas que

conformam a realidade designativa da nomenclatura geograacutefica oficial do paiacutesrdquo (Dick 2006 p

104) As taxionomias satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise linguiacutestica do topocircnimo e hoje

se dividem em vinte sete taxes pela importacircncia na ldquoanaacutelise linguiacutestica ou casual dos motivos

determinantes das designaccedilotildees integram as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas em um campo

funcional especiacuteficordquo (Dick 2006 p 106) E a partir destas fichas busca-se a identificaccedilatildeo do

topocircnimo e computar as categorizaccedilotildees motivadoras do designativo

A metodologia de pesquisa aqui proposta se caracteriza por ser de natureza documental

(documentos analoacutegicos eou digitais como as cartas topograacuteficas e levantamento histoacuterico

geograacutefico por meio do Instituto Mauro Borges IBGE e de mapas do municiacutepio de Pires do

Rio-GO) e de abordagem qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a

constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos

puacuteblicos e no levantamento histoacuterico-geograacutefico Os procedimentos consistem na

sistematizaccedilatildeo de leituras documentais e de investigaccedilatildeo de campo o que os vincula agrave induccedilatildeo

e seguem os meacutetodos etnolinguiacutesticos

O percurso apresentado por Dick (1990) isto eacute pautado na induccedilatildeo desenvolveu-se por

meio do plano onomasioloacutegico de investigaccedilatildeo em que a partir de um conceito geneacuterico se

identificam as variaacuteveis possiacuteveis das fontes consultadas Nos registros municipais constam os

63

nomes atuais e os nomes anteriores (quando houve mudanccedilas) dos lugares de toda regiatildeo

municipal Estes e os mapas constituem as fontes primaacuterias desta pesquisa pois

O percurso do fazer onomasioloacutegico e o percurso da produccedilatildeo de significaccedilatildeo

se inserem em direccedilotildees diferentes o fazer interpretativo perfaz um processo

semasioloacutegico por outro lado o fazer onomasioloacutegico eacute uma unidade

conceitual enquanto a definiccedilatildeo eacute o percurso do fazer lexicograacutefico

Entretanto ao conceituar eacute necessaacuterio construir um modelo mental que em

primeira instacircncia corresponda a um recorte cultural para a escolha da

estrutura lexical que melhor pode manifestar a percepccedilatildeo bioloacutegica do fato

que se completa ao analisar e descrever o semema linguiacutestico para reconstruir

esse modelo mental a partir de uma estrutura linguiacutestica manifestada

Ressalta-se o caraacuteter pluridisciplinar do signo toponiacutemico jaacute que por meio

dele pode-se conhecer a histoacuteria dos grupos humanos que viveram (e vivem)

nos limites geograacuteficos de Goiaacutes as especificidades da cultura e do ambiente

do povo o denominador as relaccedilotildees estabelecidas entre os aglomerados

humanos e o ecossistema as caracteriacutesticas fiacutesico geograacuteficas da regiatildeo

(geomorfologia) estratos linguiacutesticos de origem diferente do uso hodierno da

liacutengua ou mesmo de liacutenguas jaacute desaparecidas para se conhecer as motivaccedilotildees

subjacentes aos respectivos topocircnimos (SIQUEIRA 2015 mimeografado)

Para este estudo utilizaram-se inicialmente as Folhas Topograacuteficas editadas pela DSG

(Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito) na escala de 1100 000 Folhas Pires do Rio

SE-22-X-D-III Ipameri SE-22-X-D-VI e Cristianoacutepolis SE-22-X-D-II de 1973 para

identificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio juntamente com o mapa da rede hidrograacutefica do

municiacutepio de Pires do Rio-GO pois satildeo ldquoinstrumentos metodoloacutegicos haacutebeis para o estudo

onomaacutestico a documentaccedilatildeo cartograacutefica referida e a arquivologia que se posicionam como fontes

idocircneas para o estabelecimento das etapas relativas agrave desconstruccedilatildeo e agrave recriaccedilatildeo dos proacuteprios dadosrdquo

(DICK 1999 p 11)

O uso de mapas torna o trabalho relevante jaacute que eles satildeo elementos de comunicaccedilatildeo

visual os quais pertencem agrave linguagem Eles contemplam ainda a aacuterea tecnoloacutegica pois a sua

construccedilatildeo se daacute por meio da utilizaccedilatildeo de equipamentos programas e sites os quais tambeacutem

satildeo utilizados por noacutes para cartografar mapas juntamente com as taxes dos topocircnimos dos

cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO assim

Tomar o mapa como corpus permite tomar tambeacutem a questatildeo da relaccedilatildeo dos

nomes no seu conjunto e sua distribuiccedilatildeo no espaccedilo urbano Pode-se entatildeo

refletir como algo proacuteprio do corpus em anaacutelise sobre a questatildeo da nomeaccedilatildeo

dos espaccedilos da cidade bem como o modo de distribuiccedilatildeo dos nomes pelos

espaccedilos historicamente constituiacutedos (GUIMARAtildeES 2005 p 43)

Tradicionalmente entendidos como uma representaccedilatildeo simboacutelica dos contornos de uma

paisagem fiacutesica ou urbana os mapas se caracterizam por permitirem dois planos de

64

interpretaccedilatildeo o ldquoverbalrdquo expresso nos nomes dos elementos e o ldquonatildeo-verbalrdquo caracterizado

por siacutembolos convencionais distintos segundo a natureza do elemento mapeado (cursos drsquoaacutegua

caminhos serras rodovias estradas vicinais ferrovias vilas povoados cidades)

A propoacutesito

Se o meacutetodo empregado na Toponiacutemia como dissemos eacute aquele da

investigaccedilatildeo do pormenor toacutepico-nominal apreendido no registro das cartas

geograacuteficas (base documental) ou como variaccedilatildeo no exame do terreno ou do

objeto pelo proacuteprio pesquisador o material resultante na maioria das vezes

eacute de origem descontiacutenua e fragmentaacuteria A sequecircncia loacutegica dos termos areais

deve ser buscada o que exige cuidados de intepretaccedilatildeo e reflexatildeo para que

todo esse organismo construiacutedo coletiva ou individualmente em momentos

histoacutericos distintos venha a se construir em material de anaacutelise vaacutelido do

ponto de vista linguiacutestico (DICK 2006 p 99-100)

Desta forma dos 46 (quarenta e seis) topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de

Pires do Rio-GO (coacuterregos ribeirotildees rios e quedas drsquoaacutegua) por noacutes elencados na pesquisa

apenas 15 topocircnimos ndash por razotildees especiacuteficas que seratildeo relatadas no quarto capiacutetulo ndash seratildeo

catalogados em fichas conforme modelo desenvolvido por Dick (2004) Posteriormente

realizaremos as anaacutelises morfoloacutegicas e a classificaccedilatildeo semacircntico-motivacional e toponiacutemica

propriamente dita

O preenchimento das fichas lexicograacuteficas ndash que identificam o elemento designado as

entradas lexicais o pesquisador o revisor e as fontes da coleta ndash eacute a etapa inicial de um conjunto

de fases posteriores que integram o projeto

As etapas da pesquisa foram dividas da seguinte forma a) levantamento dos dados para

construir o corpus e a aquisiccedilatildeo das cartas Topograacuteficas do municiacutepio de Pires do Rio-GO b)

levantamento dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua registrados nas folhas topograacuteficas c) anaacutelise

e reconhecimento dos aspectos ambientais culturais dos designativos nos diferentes topocircnimos

observados e posteriormente cartografados d) investigaccedilatildeo dos provaacuteveis fatores

motivacionais inerentes aos sintagmas toponiacutemicos e) classificaccedilatildeo das taxionomias a partir do

recorte epistemoloacutegico dos dados coletados f) distribuiccedilatildeo quantitativa dos topocircnimos de

acordo com a natureza toponiacutemica (fiacutesica ou antropocultural) g) estudo linguiacutestico dos

sintagmas toponiacutemicos ndash origemetimologia estruturas semacircntica e morfoloacutegica

Por meio da categorizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico

histoacuterico-criacutetico que foi o norte de nossa pesquisa de certa forma revela-se que o topocircnimo foi

determinado pela populaccedilatildeo anterior ou pela presenccedila de imigrados no local o que faz-nos

perceber que as palavras natildeo apenas comunicam o que se quer dizer mas acusam a Histoacuteria

daquilo que foi dito por necessidades dinacircmicas das pessoas repassadas pela tradiccedilatildeo cultural

65

O proacuteximo capiacutetulo apresenta em linhas gerais um pouco da histoacuteria desse lugar que

abriga 46 cursos drsquoaacutegua e inclusive teve seu primeiro nome devido agrave exuberacircncia do reflexo da

lua cheia nas aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute A ldquoTeteia do Corumbaacuterdquo de antes deu lugar ao

municiacutepio nascido dos caminhos abertos pelos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz laacute pelos idos

de 1922

66

III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO

A cidade eacute por si mesma depositaacuteria de

histoacuteria

(ROSSI 1998)

Este capiacutetulo traz uma apresentaccedilatildeo dos dados histoacutericos referentes agrave fundaccedilatildeo e ao

posterior desenvolvimento social e urbano do municiacutepio de Pires do Rio-GO criado em

decorrecircncia da expansatildeo da Estrada de Ferro Goyaz pelo cerrado goiano As informaccedilotildees aqui

revisitadas integram obras de estudiosos como Siqueira (2006) Ferreira (1999) Borges

(1990) Soares (1988) que se detiveram por alguma razatildeo no esclarecimento de controveacutersia

acerca principalmente do verdadeiro fundador do municiacutepio e de fatos que antecederam a

inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo feacuterrea no ano de 1922

31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte

No iniacutecio do seacuteculo XX a Estrada de Ferro Goyaz avanccedilou sobre o territoacuterio de Goiaacutes

e com isso comeccedilaram a surgir vilas arraiais e distritos que com o progresso e passar dos

anos se elevariam a cidades A entatildeo chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no interior do

estado mais precisamente na regiatildeo Sudeste Goiana fez com que no ano de 1922 surgisse a

Estaccedilatildeo Pires do Rio e que se elevaria tatildeo logo a cidade

A estrada de ferro traria progresso agraves cidades e ao estado No entanto de acordo com

Borges (1990) alguns coroneacuteis adversos a qualquer tipo de mudanccedila de caraacuteter progressista

natildeo aceitavam a instalaccedilatildeo da estrada de ferro pois ela representaria uma forccedila nova de

transformaccedilatildeo que poderia ameaccedilar o poder constituiacutedo dos coroneacuteis Mas na formaccedilatildeo de

Pires do Rio-GO a chegada da Estrada de Ferro Goyaz foi aceita pelo coronel Lino Teixeira de

Sampaio e inclusive foi doado o terreno para a construccedilatildeo de uma estaccedilatildeo feacuterrea

Vale ressaltar que

a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro de Goiaacutes resultou primeiro do empenho

poliacutetico de uma fraccedilatildeo da classe dominante ligada a novos grupos oligaacuterquicos

que despontavam como forccedila poliacutetica no Estado a qual contou com apoio do

capital financeiro internacional Em segundo lugar como a ferrovia servia

inteiramente aos interesses da economia capitalista ou seja agrave nova ordem

econocircmica com expansatildeo no Paiacutes este fator direta ou indiretamente

67

pressionaria o Governo Federal a apoiar a construccedilatildeo da linha (BORGES

1990 p 55-56)

O avanccedilo da estrada de ferro na regiatildeo Sudeste do estado de Goiaacutes foi fundamental para

o surgimento da cidade de Pires do Rio-GO Ambas as histoacuterias se entrecruzam e revelam

acontecimentos que corroboraram com a construccedilatildeo de uma cidade promissora Para

(re)escrever esta histoacuteria eacute fundante mostrar a ficha lexicograacutefica-toponiacutemica jaacute que o objeto

desta pesquisa satildeo os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua pertencentes a cidade de Pires do Rio-GO

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 01

Topocircnimo Pires do Rio Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Antropocircnimo

Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Pires + do Rio ndash sobrenome)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Cidade sede do distrito do municiacutepio do termo e comarca de

igual nome Na regiatildeo oriental do municiacutepio entre o ribeiratildeo Sampaio e o Monteiro afluentes

do rio Corumbaacute com estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goiaacutes

Fonte Siqueira (2012) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Como jaacute observando no capiacutetulo I os estudos toponiacutemicos revelam fatores soacutecio-

histoacuterico-culturais de uma dada comunidade e Pires do Rio-GO nos revela isso de forma

peculiar como podemos observar na ficha acima a caracterizaccedilatildeo do topocircnimo em que a

taxionomia eacute de natureza antropocultural antropotopocircnimo relativo a nomes proacuteprios e de

famiacutelia (sobrenome do ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas Dr Joseacute Pires do Rio) A base

etimoloacutegica eacute antropocircnimo a estrutura morfoloacutegica eacute de nome composto e as informaccedilotildees

enciclopeacutedias vecircm ratificar informaccedilotildees jaacute expressas na ficha Essas informaccedilotildees nos satildeo

precisas e no decorrer (re)editaremos partes relevantes da histoacuteria desta cidade

Observar o surgimento do municiacutepio de Pires do Rio eacute reviver a construccedilatildeo da linha

feacuterrea na regiatildeo Sudeste e para tal ato buscamos em algumas literaturas reconstruir em partes

a histoacuteria da cidade de Pires do Rio-GO que carinhosamente foi apelidada de ldquoTeteia do

68

Corumbaacuterdquo devido ao reluzir sobre as aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute a exuberacircncia da lua

cheia

Na histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade haacute controveacutersias pois alguns dizem ter sido o Coronel

Lino Teixeira de Sampaio o fundador mas Wilson Cavalcanti Nogueira filho do Sr Manoel

Cavalcanti Nogueira o primeiro Intendente da cidade em seus estudos revela que o fundador

de Pires do Rio foi o Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida diretor da Estrada de Ferro Goyaz

Nos estudos de Jacy Siqueira (2006) piresino historiador cujo livro Um contrato

singular e outros ensaios de histoacuteria de Goiaacutes descreve a origem da cidade de Pires do Rio

com base em documentos oficiais o autor citado presume a veracidade dos fatos que

contribuem para exposiccedilatildeo histoacuterica deste capiacutetulo jaacute que ldquoo tempo eacute agente terriacutevel a tudo

colhe separa peneira depura e evidencia ndash verdade ou mentira ndash com a forccedila e a violecircncia

decorrentes do pesado braccedilo da Histoacuteria de quem eacute o servidor fiel e mestre implacaacutevelrdquo

(SIQUEIRA 2006 p 65)

Em relaccedilatildeo aos fatos que marcam o iniacutecio da fundaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidade de Pires

do Rio os historiadores remetem a inuacutemeras controveacutersias sobre a fundaccedilatildeo e os reais

fundadores e tambeacutem sobre a existecircncia de um povoado que competia com o Roncador em

1921 que mais tarde nos arquivos seria o Bairro do Fogo hoje Santa Ceciacutelia O local Rua do

Fogo eacute toda a parte situada do outro lado da linha feacuterrea

Rua do Fogo na descriccedilatildeo de Nogueira se formou pela atraccedilatildeo de pessoas de

diversas regiotildees com o intuito de negociar e prestar serviccedilos diversificados

aos operaacuterios da Estrada eram lavadeiras curandeiro sapateiro padeiro

professor primaacuterio fotoacutegrafo meretrizes e aventureiros Configurando um

povoamento tiacutepico do pioneirismo cada dia mais pessoas chegavam

predominantemente aventureiros muitos deles ateacute mesmo com passado

criminal As casas sendo erguidas raacutepidas e improvisadamente perfilaram-se

em ambos lados ao longo de uma rua irregular que era cenaacuterio de constantes

desordens e violecircncias ganhando por isso o nome de Rua do Fogo A

constante chegada de pessoas levou o povoado a competir em dimensatildeo com

a vizinha Roncador jaacute em 1921 (FERREIRA 1999 p 100)

O Porto do Roncador em 24 de agosto de 1921 recebe a visita do Ministro da Viaccedilatildeo

e Obras Puacuteblicas Engenheiro Sr Joseacute Pires do Rio que na qualidade anterior de Inspetor Geral

das Estradas de Ferro havia se posicionado contraacuterio ao prolongamento da ferrovia no Estado

de Goiaacutes Na ocasiatildeo ficou resolvido que a ponte sobre o rio Corumbaacute deveria se chamar Ponte

Pires do Rio e a primeira estaccedilatildeo a seguir Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio Pessoa mas ocorreu o

contraacuterio Essa informaccedilatildeo foi publicada inclusive nos meios de comunicaccedilatildeo da eacutepoca

69

A Informaccedilatildeo Goyana revista fundada por Henrique Silva que se edita no

Rio de Janeiro na sua ediccedilatildeo de agosto de 1921 (Ano V Vol V n ordm 1 p 1)

traz a reportagem ldquoO Ministro de Viaccedilatildeo Visita o Estado de Goiaacutesrdquo Destaca-

se dela

Tem-se resolvido que a primeira estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz aleacutem

Roncador se denomine ndash Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio

A ponte do Corumbaacute segundo solicitaccedilatildeo dos que tomaram parte na recepccedilatildeo

do Sr ministro da Viaccedilatildeo seraacute denominada ndash Ponte Pires do Rio (SIQUEIRA

2006 p 44 grifos do autor)

As obras estavam a todo vapor e enquanto aguardavam a conclusatildeo da ponte sobre o

rio Corumbaacute os serviccedilos de movimentaccedilatildeo de terra eram feitos aleacutem da outra margem do rio

tendo jaacute avanccedilado ateacute Tavares quilocircmetro 303 da ferrovia distante 84 quilocircmetros de

Roncador O local da estaccedilatildeo de Pires do Rio situa-se no quilocircmetro 218 pouco distante do rio

na Comarca de Santa Cruz em terras da Fazenda do Brejo ou do Sampaio de propriedade do

fazendeiro local coronel Lino Teixeira de Sampaio

No dia 13 de julho de 1922 no momento de inauguraccedilatildeo da ponte metaacutelica construiacuteda

sobre o rio Corumbaacute fez-se a inversatildeo do que o Senhor Ministro havia solicitado pois ela

recebeu o nome do presidente da repuacuteblica (Epitaacutecio Pessoa) troca esta feita pelo diretor da

Estrada de Ferro Goyaz o engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida

A execuccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa significou a integraccedilatildeo das demais regiotildees goianas

no desenvolvimento econocircmico uma vez que o rio Corumbaacute representava uma onerosa barreira

econocircmica para a produccedilatildeo dessas regiotildees Pires do Rio primeira estaccedilatildeo na outra margem do

Corumbaacute prometia ser um entreposto regional devido agrave sua possiacutevel ligaccedilatildeo por terra com

antigos e promissores municiacutepios isolados pelo rio e que natildeo foram contemplados com a

ferrovia Santa Cruz de Goiaacutes Bela Vista Piracanjuba Caldas Novas e Morrinhos O que veio

concretizar essa possibilidade foi a disposiccedilatildeo do coronel Lino Teixeira de Sampaio em doar

terras agrave Estrada de Ferro Goyaz para juntamente com a estaccedilatildeo fundar no local uma cidade

Nesse aspecto seu empenho foi aacutegil e eficiente dois planos urbanos que vieram garantir para

os pioneiros a certeza da existecircncia de uma cidade no local (FERREIRA 1999)

Nas bases da histoacuteria da rede feacuterrea segundo Ferreira (1999) quando da inauguraccedilatildeo

da estaccedilatildeo Pires do Rio foi tambeacutem decretada a fundaccedilatildeo da cidade registrada em obelisco

erguido no largo de frente agrave estaccedilatildeo hoje a praccedila do mercado municipal considerando-se como

fundador o engenheiro da ferrovia Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida e designando a cidade

pelo nome (uma homenagem) do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas engenheiro Joseacute

Pires do Rio

70

Houve tambeacutem a intenccedilatildeo por parte do Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida em deixar a

estaccedilatildeo de Pires do Rio como ponta de linha para que se desenvolvesse rapidamente Finda a

raacutepida inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo seguiu tambeacutem o engenheiro no ldquotrem Inauguralrdquo rumo a

Tapiocanga ndash a proacutexima estaccedilatildeo depois de Pires do Rio ndash para inaugurar sua estaccedilatildeo

improvisada em um simples vagatildeo pois era um local onde natildeo havia nenhuma edificaccedilatildeo

passando mesmo assim a ser a ponta de linha

No dia 9 de novembro de 1922 eacute inaugurado o obelisco a cerca de 50 metros da estaccedilatildeo

ferroviaacuteria jaacute edificada considerada a pedra fundamental da cidade de Pires do Rio Encontra-

se grafado no monumento em alto-relevo que o Engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida na

eacutepoca diretor da Estrada de Ferro de Goyaz era o fundador da cidade de Pires do Rio uma

ldquofraserdquo que tem gerado algumas controveacutersias acerca do verdadeiro fundador da cidade

(SIQUEIRA 2006)

Enquanto alguns escritores piresinos e familiares alimentam a disputa ideoloacutegica no

niacutevel da influecircncia poliacutetica do coronel Lino Teixeira de Sampaio corroborada pela doaccedilatildeo de

um terreno para a construccedilatildeo da cidade outros tecircm se debruccedilado sobre as criacuteticas advindas do

meio acadecircmico local uma vez que o aniversaacuterio da cidade natildeo coincide com a data da escritura

de doaccedilatildeo das terras 05 de julho de 1922 mas com a data oficial inscrita na pedra fundacional

feita pelo Diretor da Estrada de Ferro Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida 09 de novembro de

1922

Siqueira (2006) eacute um dos estudiosos que argumentam a favor da tese de que o fundador

da cidade eacute o coronel Lino Teixeira de Sampaio Desta forma para corroborar o ato de doaccedilatildeo

da gleba de terra Siqueira (2006) recorreu aos livros de registros do Cartoacuterio de Imoacuteveis da

Comarca de Santa Cruz de Goiaacutes onde se encontra a escritura puacuteblica lavrada no dia 5 de julho

de 1922 pois na eacutepoca as terras pertenciam a este referido municiacutepio a qual nos informa que

por eles [Lino e Rozalina] foi dito que de suas livres e espontacircneas vontades

e sem coaccedilatildeo alguma doam agrave Estrada de Ferro de Goyaz com (4) alqueires

de terreno de campo divididos e demarcados nesta fazenda do ldquoBrejordquo

conforme consta na planta confeccionada pela dita Estrada de Ferro e bem

assim a aacutegua necessaacuteria ao abastecimento da Estaccedilatildeo jaacute edificada dentro destes

quatros alqueires Declaram mais os doadores que fazem a doaccedilatildeo dos

referidos terrenos agrave Estrada de Ferro de Goyaz sem que a mesma Estrada tenha

obrigaccedilatildeo de espeacutecie alguma cabendo-lhe apenas Dividir o terreno doado em

pequenos lotes para que seja dado iniacutecio agrave edificaccedilatildeo de uma pequena Cidade

excluindo o referido a faixa necessaacuteria agrave Estaccedilatildeo arrendar os lotes e aplicar

as rendas em melhoramentos da futura Cidade e edificaccedilatildeo de um Grupo

Escolar natildeo admitir seja construiacutedo preacutedio algum sem que seja previamente

aprovada pela diretoria da Estrada a respectiva planta (SIQUEIRA 2006 p

29)

71

Entretanto os fatos histoacutericos remetem agrave data de 09 de novembro como sendo de

fundaccedilatildeo da cidade jaacute que essa data se justifica pela inauguraccedilatildeo (documentada) da estaccedilatildeo

ferroviaacuteria Pires do Rio embora para Siqueira (2006) a data de fundaccedilatildeo da cidade seja o dia

05 de julho de 1922 data que coincide com a da escritura puacuteblica de doaccedilatildeo das terras agrave Estrada

de Ferro Goyaz

Siqueira (2006) ainda acrescenta as suas consideraccedilotildees acerca do fato de que o coronel

Lino Teixeira de Sampaio aleacutem de doar os quatro alqueires de terra accedilatildeo que outros

fazendeiros das estaccedilotildees seguintes natildeo tiveram apresentou um projeto urbano (planta) da

cidade a ser erguida nas proximidades da estaccedilatildeo projeto este de autoria de um engenheiro da

Estrada Aacutelvaro Pacca que foi apresentado e aprovado pela direccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz

em 1ordm de janeiro de 1922

De acordo com Ferreira (1999) acredita-se que no local definitivo da estaccedilatildeo por volta

do ano de 1923 apresentou-se outro projeto para a construccedilatildeo da cidade desta vez solicitado

ao topoacutegrafo da Estrada de Ferro Moacir de Camargo A cidade de Pires do Rio ficaria sendo

entatildeo a primeira cidade do Centro-Oeste a nascer com planejamento preacutevio antes de Goiacircnia

ou Brasiacutelia

O momento em que a cidade comeccedila a surgir de acordo com Nogueira (sd) fez com

que a populaccedilatildeo do Roncador migrasse toda para laacute carregando tudo aquilo que lhes pertencia

inclusive o material de construccedilatildeo das casas que foram demolidas construindo novas moradias

no local escolhido para tal fim Esse fato de mudar de um arraial para outro segundo Ferreira

(1999) veio a constituir o fenocircmeno por ele denominado de fagocitose pois para a formaccedilatildeo

da cidade Pires do Rio o arraial do Roncador extinguiu-se para vigorar a nascente cidade como

se observa nos dizeres abaixo

Pires do Rio crescia em terras de Santa Cruz municiacutepio de projeccedilatildeo

econocircmica e poliacutetica no Estado que dominou todo o sudeste e parte do sul de

Goiaacutes O arraial de origem fundado em 1729 teve seu valor econocircmico

firmado na extraccedilatildeo auriacutefera passando agrave Julgado de Santa Cruz em 1809 com

seu territoacuterio de influecircncia sobre uma extensa aacuterea Emancipou-se agrave Vila em

1833 quando Goiaacutes foi dividido em quatro Comarcas sendo Santa Cruz uma

delas Terminado o ciclo do ouro sua economia voltou-se durante o seacuteculo

XIX para a pecuaacuteria extensiva a agricultura e primitivo processamento da

produccedilatildeo agriacutecola sobrepondo-se agraves outras cidades de economia auriacutefera em

estagnaccedilatildeo A emancipaccedilatildeo de seus distritos ao longo do seacuteculo XIX foi-lhe

tirando a extensatildeo de seu poder territorial e de jurisdiccedilatildeo mas natildeo seu poder

econocircmico e poliacutetico no Estado Essa situaccedilatildeo veio a se alterar com a chegada

da Estrada de Ferro Goiaacutes (FERREIRA 1999 p 136)

72

As construccedilotildees jaacute haviam se iniciado e comeccedilara a chegar os novos moradores oriundos

de vaacuterias partes do paiacutes e do mundo que solidificariam a comunidade piresina Os baianos e os

aacuterabes foram os primeiros migrantes a chegarem e fixarem-se acreditando na futura cidade Os

baianos e outros nordestinos foram atraiacutedos pela frente de trabalho criada pela construccedilatildeo da

ferrovia Os italianos e espanhoacuteis tambeacutem se fizeram presentes na comunidade local No

entanto a maioria dos migrantes foram mesmo paulistas e mineiros Os estrangeiros tais como

italianos espanhoacuteis e principalmente aacuterabes foram partes integrantes da elite dominante

(FERREIRA 1999)

Pires do Rio se elevou a distrito do Municiacutepio de Santa Cruz em 23 de agosto de 1924

pela Lei nordm 66 E em 7 de julho de 1930 pela Lei nordm 903 foi criado o municiacutepio de Pires do

Rio E tatildeo logo pelo Decreto de ndeg 522 de 8 de janeiro de 1931 publicado no Correio Officcial

ndeg 1819 paacutegina 3 de 19 de abril do mesmo ano (SIQUEIRA 2006) oficializou a transferecircncia

da Comarca de Santa Cruz para a cidade de Pires do Rio

Na deacutecada de 30 estabelecia-se o comeacutercio na cidade de Pires do Rio natildeo tinha um

centro comercial propriamente dito mas algumas casas de comeacutercio espalhadas pela cidade

(FERREIRA 1999) A instalaccedilatildeo da energia eleacutetrica em 1934 deu um impulso agrave agroinduacutestria

local iniciada com a charqueada em 1924 e logo apoacutes por uma maacutequina beneficiadora de arroz

serraria faacutebrica de manteiga padarias curtume e outros pequenos centros de produccedilatildeo com

isso a necessidade de matildeo-de-obra impulsionava o crescimento da populaccedilatildeo jaacute que muitos

eram empregados pela via feacuterrea desta forma a vinda de imigrantes a nova cidade era

necessaacuterio Com o crescimento da cidade e da sua populaccedilatildeo foram necessaacuterias benfeitorias

que foram ocorrendo no decorrer dos anos

De acordo com Siqueira (2006) Pires do Rio se desenvolveu de forma diferenciada das

centenaacuterias cidades de Goiaacutes visto que a maioria se formou por tradicionais enraizados e

familiocratas grupos poliacuteticos ou simplesmente ldquooligarquiasrdquo o que permitiu uma abertura e

receptividade ao novo e ao desconhecido como paracircmetro coerente para a construccedilatildeo de uma

comunidade nascente No periacuteodo de 1921 a 1940 correspondentemente agrave cidade em sua

afirmaccedilatildeo poliacutetica e urbana foi composta por migrantes e imigrantes que se estabeleciam na

prestaccedilatildeo de serviccedilo agroinduacutestria e comeacutercio tudo isso oriundo da formaccedilatildeo da cidade pela

Estrada de Ferro Goyaz

Um fato ainda natildeo informado eacute que no ano de 1933 o municiacutepio era constituiacutedo de dois

distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Jaacute no decreto-lei nordm 5200 de 08 de dezembro de 1934

Pires do Rio eacute ldquorebaixadordquo agrave categoria de distrito do municiacutepio de Santa Cruz haja vista que

73

em divisotildees territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937 Pires do Rio figura como distrito

de Santa Cruz (IBGE 2016)

Em 03 de marccedilo de 1938 pelo Decreto-lei nordm 557 Pires do Rio retorna agrave categoria de

municiacutepio e Santa Cruz agrave de distrito No periacuteodo de 1939-1943 o municiacutepio aparece constituiacutedo

de trecircs distritos Pires do Rio Santa Cruz e Cristianoacutepolis O distrito de Santa Cruz pelo

Decreto-lei nordm 8305 de 31 de dezembro de 1943 passou a denominar-se Corumbalina Mas

pelo Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias de 20 de julho de 1947 Artigo 61

desmembrou-se do municiacutepio de Pires do Rio e foi elevado agrave categoria de municiacutepio com a

denominaccedilatildeo de Santa Cruz de Goiaacutes (IBGE 2016)

Em divisatildeo territorial datada de 1 de julho de 1950 o municiacutepio eacute constituiacutedo de dois

distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Depois pela lei municipal nordm 221 de 15 de julho 1953

eacute criado o distrito de Palmelo e anexado ao municiacutepio de Pires do Rio A lei estadual nordm 739 de

23 de junho de 1953 desmembra do municiacutepio de Pires do Rio o distrito de Cristianoacutepolis

elevado entatildeo agrave categoria de municiacutepio Rapidamente o distrito de Palmelo pela lei estadual

nordm 908 de 13 de novembro de 1953 eacute desmembrado do municiacutepio de Pires do Rio e elevado agrave

categoria de municiacutepio (IBGE 2016)

A ferrovia foi um marco na histoacuteria de Pires do Rio uma vez que o transporte ferroviaacuterio

era utilizado para escoar a produccedilatildeo Aleacutem disso a instalaccedilatildeo do Frigoriacutefico Brasil Central

estimulou a produccedilatildeo da pecuaacuteria de corte Nas deacutecadas de 1950 e 1960 destacou-se por

exportar o charque e pela produccedilatildeo de cerveja Jaacute com a construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 e a

implantaccedilatildeo das rodovias favoreceu-se a sua interligaccedilatildeo aos outros municiacutepios goianos

O fluxo de cargas e pessoas pela via ferroviaacuteria entre os anos de 1940 a 1950 apresentava

regularidade mas devido agrave construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 de 1965 a 1970 apresentou uma

queda gradativa por deficiecircncia teacutecnica das linhas falta de manutenccedilatildeo delas e dos

equipamentos lentidatildeo do transporte o que provocou em 1970 a desativaccedilatildeo do transporte de

passageiros A Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima (RFFSA) foi privatizada em 1996

e a Ferrovia Centro Atlacircntica (FCA) adquiriu 7080 km de extensatildeo operando 685 km em

Goiaacutes tendo adotado uma nova poliacutetica investindo dois milhotildees de reais na ferrovia

desativando vaacuterias estaccedilotildees (NOVAIS 2014) Na Estaccedilatildeo Pires do Rio ficou funcionando

apenas o escritoacuterio da FCA e o Museu Ferroviaacuterio e na Estaccedilatildeo Roncador uma oficina de

manutenccedilatildeo de vagotildees

Segundo Novais (2014) a ferrovia enquanto elemento modernizador do Sudeste

Goiano e instrumento capaz de aumentar as aglomeraccedilotildees urbanas e dinamizar o progresso da

regiatildeo de acordo com os novos interesses dominantes sempre esteve sob o controle do poder

74

econocircmico estatal ou de grupos Sua expansatildeo justificou-se em detrimento dos interesses

capitalistas e imperialistas Portanto a estrada de ferro eacute um produto da induacutestria capitalista da

Primeira Revoluccedilatildeo Industrial colocada a serviccedilo do capital e resultante das transformaccedilotildees

ocorridas no processo de expansatildeo do capitalismo no Brasil e no mundo (BORGES 1990) O

Estado de Goiaacutes ao inserir-se na dinacircmica capitalista e implantar a via feacuterrea em seu territoacuterio

conseguiu integrar-se ao mercado brasileiro aleacutem de mitigar anos de atraso e isolamento

econocircmico

32 Pires do Rio geograacutefico

O municiacutepio de Pires do Rio localiza-se na Microrregiatildeo do Sudeste Goiano inserida

na Mesorregiatildeo Sul Goiano A Microrregiatildeo eacute reconhecida como a regiatildeo da Estrada de Ferro

Limita-se com os municiacutepios goianos de Orizona Vianoacutepolis Urutaiacute Caldas Novas Satildeo

Miguel do Passa Quatro Santa Cruz de Goiaacutes Palmelo Cristianoacutepolis e Ipameri A aacuterea da

unidade territorial (kmsup2) eacute de 1073361 com uma altitude meacutedia de 75886 O municiacutepio

encontra-se entre as seguintes coordenadas geograacuteficas

Mapa 1 ndash Pires do Rio (GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio (GO)

75

A cidade de Pires do Rio eacute constituiacuteda por riquezas naturais do bioma Cerrado o qual

apresenta uma heterogeneidade na sua fisionomia pois engloba desde formaccedilotildees florestais

como as Matas Ciliares (vegetaccedilatildeo que fica nas margens dos rios) e Cerradatildeo aleacutem do Cerrado

restrito (eacute o Cerrado tiacutepico formado por vegetaccedilotildees arboacutereas de casca grossa e troncos

retorcidos) com formaccedilotildees vegetais ou herbaacuteceas (campo sujo e limpo)

Uma das caracteriacutesticas marcantes do Cerrado eacute sua riqueza em recursos hiacutedricos e Pires

do Rio natildeo foge agrave regra Servindo de fronteiras naturais para o municiacutepio tem-se o rio do Peixe

na parte norte A parte sul do municiacutepio desagua no rio Corumbaacute que tambeacutem eacute utilizado como

fronteira natural e eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio Aleacutem destes tem o rio Piracanjuba

que devido agrave sua estrutura rochosa e seu volume de aacutegua foi palco da construccedilatildeo de uma usina

hidreleacutetrica em meados do seacuteculo XX que abastecia a cidade embora hoje encontre-se em

ruiacutenas

Aleacutem dos trecircs rios o municiacutepio possui ao longo de todo seu o territoacuterio vaacuterias

nascentes coacuterregos ribeirotildees quedas drsquoaacutegua os quais satildeo todos afluentes do rio Corumbaacute

Vale ressaltar que a maioria dos cursos drsquoagua satildeo perenes ou seja tem aacutegua o ano todo por

isso muitos deles tem o nome da regiatildeo em que se encontra pois satildeo objetos marcantes na

paisagem

Segundo o IBGE (1957) a populaccedilatildeo piresina no Recenseamento de 1950 era de

12946 habitantes (inclusive a populaccedilatildeo dos atuais municiacutepios de Cristianoacutepolis e Palmelo ndash

na eacutepoca distritos de Pires do Rio) apresentando quadro urbano e suburbano com uma

populaccedilatildeo de 4836 habitantes sendo 2282 homens e 2554 mulheres A densidade

demograacutefica era de 12 habitantes por quilocircmetro quadrado verificando-se que 53 da

populaccedilatildeo localizava-se no quadro rural

Na deacutecada de 50 o municiacutepio de Pires do Rio tinha um nuacutecleo populacional que era o

povoado de Marataacute aleacutem da sede (como jaacute mencionado no ano de 1953 os distritos de

Cristianoacutepolis e Palmelo satildeo elevados a municiacutepio) Mas com o passar dos anos ele deixa de

existir ficando apenas a Igreja de Satildeo Sebastiatildeo As atividades econocircmicas do municiacutepio eram

predominantemente a produccedilatildeo agriacutecola e pecuaacuteria O municiacutepio apresentava-se como um local

de atraccedilatildeo recreativa pela sua beleza paisagiacutestica a qual pode ser observada na cachoeira do

Salto no rio Piracanjuba jaacute mencionado onde foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica que forneceu

energia agrave cidade ateacute meados do seacuteculo XX

A populaccedilatildeo em 2010 era de 28762 habitantes sendo 14105 homens e 14657

mulheres Predominantemente urbana com 27094 pessoas e apenas 1668 no meio rural Pires

do Rio apresenta uma aacuterea de 1073361 km2 e uma densidade demograacutefica de 2680 habkmsup2

76

O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) do municiacutepio eacute de 0744 A Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa (PEA) eacute de 8717 homens e 6128 mulheres (IBGE 2016)

De acordo com os dados populacionais desde o Recenseamento da deacutecada de 50 (dados

jaacute mostrados anteriormente) a cidade teve um crescimento consideraacutevel como pode ser

observado nos quadros abaixo

Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo recenseamento

Populaccedilatildeo Censitaacuteria

1980 1991 2000 2010

Total de habitantes 19258 22131 26229 28762

Urbano 16670 20537 24473 27094

Zona Rural 2588 1594 1756 1668

Masculino 9498 10904 12948 14105

Feminino 9760 11227 13281 14657

Urbano Masculino 8098 10027 11966 13208

Urbano Feminino 8572 10510 12507 13886

Zona Rural Masculino 1400 877 982 897

Zona Rural Feminino 1188 717 774 771

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Nos dados que satildeo apresentados pelo IBGE (populaccedilatildeo estimada) entre os anos 2001 e

2004 ocorreu uma queda no crescimento populacional em relaccedilatildeo ao ano de 1999 que foi de

28631 e nos demais anos segue 2001 26600 2002 27091 2003 27491 2004 28332 A

respeito desta queda natildeo conseguimos informaccedilotildees Em duas datas especiacuteficas houve uma

contagem da populaccedilatildeo seguem os dados abaixo

Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo contagem

Populaccedilatildeo Contagem

1996 2007

Total de habitantes 25094 26857

Masculino 12403 13232

Feminino 12691 13574

Urbano 23766 25031

77

Zona Rural 1328 1826

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Os dados inseridos no quadro 3 satildeo uma estimativa da populaccedilatildeo informada pelo IMB

e IBGE

Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio (GO)

Populaccedilatildeo Estimada

2011 2012 2013 2014 2015

28956 29145 30232 30469 30703

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Para entreter a populaccedilatildeo o turismo do municiacutepio estaacute relacionado agraves edificaccedilotildees com

relevacircncia arquitetocircnica e cultural como a Ponte Epitaacutecio Pessoa o antigo Frigoriacutefico Brasil

Central as igrejas Satildeo Sebastiatildeo (Patrimocircnio do Marataacute) Satildeo Benedito (Igreja dos Congos) a

Ferrovia Centro Atlacircntica e o Museu Ferroviaacuterio O patrimocircnio material eacute representado pelo

centro histoacuterico principalmente a Igreja Matriz Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus coreto e chafariz da

Praccedila Gaudecircncio Rincon Segoacutevia o Mercado Municipal a Biblioteca Municipal a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria e a casa do Maneco (hoje em ruiacutenas) que formam um conjunto arquitetocircnico

singular como tambeacutem as belezas naturais das Serras da Caverna e das Flores a cachoeira do

Marataacute e Prainha (as margens do rio Corumbaacute)

De acordo com Novais (2014) nos anos de 1980 o municiacutepio conheceu a expansatildeo da

fronteira agriacutecola com a introduccedilatildeo do cultivo da soja logo apoacutes em 1993 atraiu investimentos

com a implantaccedilatildeo do complexo agroindustrial aviacutecola e a industrializaccedilatildeo do setor

contribuindo para o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que perpassou a regiatildeo do Sudeste

Goiano Atualmente a economia piresina eacute voltada para as atividades agriacutecolas como a

produccedilatildeo de soja milho sorgo arroz feijatildeo e mandioca

O comeacutercio a infraestrutura e serviccedilos (sauacutede educaccedilatildeo comeacutercio e prestaccedilatildeo de

serviccedilos) exercem funccedilatildeo de polo atrativo para moradores dos municiacutepios vizinhos Toda a

importacircncia do municiacutepio para a regiatildeo o estado e o paiacutes se deve agrave instalaccedilatildeo da Estrada de

Ferro Goyaz e aos que acreditaram no crescimento de Pires do Rio e investiram em seu

territoacuterio Por esta razatildeo que parte de nossa pesquisa busca reviver fragmentos da histoacuteria desta

cidade que se faz importante para uma regiatildeo estado e paiacutes

78

33 Os cursos drsquoaacutegua

No quadro abaixo apresentamos os nomes dos cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio

levantamento realizado de acordo com os mapas cartas topograacuteficas e vocabulaacuterio do IBGE

(1957)

Quadro 6 ndash Cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO)

Vocabulaacuterio Geograacutefico ndash IBGE (1957)

Rio ndash 3 Paacutegi

na

Descriccedilatildeo Municiacutepio de

Nasceste

Rio Corumbaacute 75 Rio nasce nos arredores de Pirineus

atravessa o municiacutepio como o de Santa

Luzia depois de servir em pequeno trecho

de divisa a Bonfim Adiante separa Ipameri

e Corumbaiacuteba de um lado e Campo

Formoso Pires do Rio Caldas Novas Buriti

Alegre do outro ateacute desaguar no rio

Paranaiacuteba pela margem direita

Corumbaacute

Rio do Peixe 165 Rio nasce na regiatildeo sul-oriental do

municiacutepio que separa dos de Campo

Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio

e o de Caldas Novas desemboca no rio

Corumbaacute pela margem direita

Silvacircnia

Rio Piracanjuba 171 (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce

na serra de Passa Quatro e atravessa o

municiacutepio bem como o de Pouso Alto

Adiante separa Caldas Novas de Morrinhos

e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio

Corumbaacute pela margem direita

Bela Vista

Coacuterrego ndash 34

Coacuterrego Areias 15 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Pires do Rio

Coacuterrego Barreiro - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia

Coacuterrego do

Barreiro

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Piracanjuba

Coacuterrego dos Batista - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Bauzinho 29 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Bauacute

Orizona

Coacuterrego da Braga 37 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Santa Maria

Luziacircnia

79

Coacuterrego Boa Vista 32 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Buracatildeo 40 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Buriti 42 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio dos Bois

Pires do Rio

Coacuterrego Cachoeira 47 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Piracanjuba

Silvacircnia

Coacuterrego Capoeira

Grande

60 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Cachoeira

Orizona

Coacuterrego Carvalho - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego da Caverna 66 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio dos Peixes (M de Pires do Rio)

Pires do Rio

Coacuterrego Corrente - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Domingo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego da Estiva 88 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Brumado

Pires do Rio

Coacuterrego Fundatildeo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Cocalzinho de

Goiaacutes

Coacuterrego Guaraacute 106 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Itauacutebi - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Juca - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Lajinha 124 Coacuterrego afluente da margem direita do

coacuterrego Taperatildeo

Orizona

Coacuterrego Laranjal 126 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Bauacute

Pires do Rio

Coacuterrego Limeira 128 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Ipameri

Coacuterrego Marreco 136 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Bauacute

Orizona

Coacuterrego Mata

Dentro

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego do

Mocambo

144 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

das Antas

Silvacircnia

Coacuterrego Olho

drsquoaacutegua

152 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Piracanjuba

Orizona

Coacuterrego do Pico 168 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Brumado

Pires do Rio

Coacuterrego

Piracanjuba

171 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

igual nome

Morrinhos

Coacuterrego Posse 177 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

coacuterrego do Fundo

Orizona

80

Coacuterrego Satildeo

Jerocircnimo

202 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Caiapoacute

Pires do Rio

Coacuterrego Saltador 193 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute proacuteximo a barra do rio

Alagado

Luziacircnia

Coacuterrego Taquaral 217 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute (M de Pires do Rio)

Pires do Rio

Coacuterrego da Terra

Vermelha

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia

Ribeiratildeo ndash 8

Ribeiratildeo Bauacute 29 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Piracanjuba na divisa do municiacutepio de Pires

do Rio

Orizona

Ribeiratildeo Brumado 33 Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do

rio dos Peixes

Santa Cruz de

Goiaacutes

Ribeiratildeo Cachoeira 47 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Piracanjuba

Orizona

Ribeiratildeo Caiapoacute 50 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Urutaiacute

Ribeiratildeo Marataacute - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Ribeiratildeo Mucambo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Ribeiratildeo Sampaio 194 Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da

margem direita do rio Corumbaacute (M de

Pires do Rio)

Pires do Rio

Ribeiratildeo Taquaral - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Orizona

Quedas drsquoaacutegua ndash 1

Cachoeira do

Marataacute

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Fonte Vocabulaacuterio Geograacutefico IBGE 1957

O quarto capiacutetulo apresenta a descriccedilatildeo e anaacutelise de quinze dos 46 topocircnimos (escolha

esta pela relaccedilatildeo de representaccedilatildeo para a cidade de Pires do Rio-GO) de acordo com os aportes

teoacutericos revisados no primeiro capiacutetulo e em consonacircncia com os meacutetodos apresentados e

discutidos no segundo capiacutetulo apresenta ainda algumas questotildees teoacutericas suscitadas pelas

especificidades dos dados escolhidos

81

IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR

O signo toponiacutemico natildeo abre apenas o nome de

um lugar mas o lugar como um todo tudo que estaacute

relacionado a ele de uma forma ou de outra

(SIQUEIRA 2015)

Nos colocar a serviccedilo desta pesquisa foi o mesmo que redescobrir a cidade de Pires do

Rio-GO Conhecer a sua histoacuteria e poder reeditaacute-la remapear os seus cursos drsquoaacutegua e por fim

buscar na Toponiacutemia as relaccedilotildees de poder que os topocircnimos tecircm sobre cada espaccedilo nomeado

assim tomamos posse do que esta pesquisa nos proporcionou e aqui estaacute o aacutepice dela os dados

e suas anaacutelises

Segundo Dias (2008) o municiacutepio de Pires do Rio-GO tem como principais cursos

drsquoaacutegua o rio Corumbaacute situado na parte sudeste o rio Piracanjuba no nordeste e rio do Peixe

na parte sul os quais correm em direccedilatildeo agrave calha do rio Paranaiacuteba (uma das quatro bacias

hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes) ao sul Os rios do Peixe e Piracanjuba desaguam no

Corumbaacute sendo limites de fronteiras do municiacutepio Aleacutem desses rios a rede hidrograacutefica eacute

formada por vaacuterios ribeirotildees e coacuterregos

Para proceder com as devidas anaacutelises dos topocircnimos nos eacute necessaacuterio partir de algumas

definiccedilotildees de nomenclaturas da aacuterea da geografia mas natildeo tivemos acesso a nenhum dicionaacuterio

terminoloacutegico da aacuterea especiacutefica devido agrave dificuldade de encontrar em bibliotecas puacuteblicas e

na internet desta forma recorremos aos dicionaacuterios Aulete (2011) Borba (2004) e Houaiss et

al (2004 2009) para assim proceder com a definiccedilatildeo de palavras (termos) que satildeo recorrentes

em nossa pesquisa a) curso drsquoaacutegua eacute qualquer corpo de aacutegua fluente b) coacuterrego um rio

pequeno com pouco volume de aacutegua que passa por vaacuterios lugares e sempre desagua em um

curso drsquoaacutegua (coacuterrego ribeiratildeo ou rio) c) queda drsquoaacutegua torrente de aacutegua que cai do alto

cachoeiracascata que satildeo formaccedilotildees geomorfoloacutegicas nas quais os cursos drsquoaacutegua correm por

cima de uma rocha de composiccedilatildeo resistente agrave erosatildeo formando uma suacutebita quebra na vertical

d) ribeiratildeo curso drsquoaacutegua maior que o riacho e menor que o rio afluente de um rio e) rio ou

fluacutemen eacute uma corrente natural de aacutegua que flui continuamente Possui um caudal consideraacutevel

e desemboca no mar num lago ou noutro rio e em tal caso denomina-se afluente Pode

apresentar vaacuterias redes de drenagem

Proceder com estas observaccedilotildees eacute elementar para esta pesquisa pois dos 46 topocircnimos

elencados no municiacutepio de Pires do Rio-GO analisaremos apenas 15 visto que analisar todos

82

os topocircnimos seria uma tarefa aacuterdua e que demandaria mais tempo registramos aqui o que nos

motivou agrave escolha dos cursos drsquoaacutegua para anaacutelise Como satildeo apenas 03 rios eacute viaacutevel e de bom

senso analisaacute-los jaacute que satildeo as maiores bacias e que datildeo destaque agrave regiatildeo os ribeirotildees satildeo

especificamente 08 os quais seratildeo analisados inclusive alguns nomes se repetem aos coacuterregos

tambeacutem 01 queda drsquoaacutegua cachoeira do Marataacute que natildeo seraacute analisada devido ao nome ser o

mesmo de um ribeiratildeo dos 34 coacuterregos analisaremos apenas 04 (Barreiro Itauacutebi Laranjal e da

Terra Vermelha) devido ao grau de importacircncia para a cidade pois os coacuterregos Itauacutebi (nascente)

e Laranjal satildeo os que abastecem a cidade de Pires do Rio-GO Quanto ao Barreiro este estaacute

localizado na regiatildeo do Morro do Cruzeiro localidade que tem o maior nuacutemero populacional

na zona rural do municiacutepio O coacuterrego da Terra Vermelha eacute uma aacuterea que haacute muito tempo foi

espaccedilo de olaria e dela saiacuteram grandes quantidades de tijolos que foram utilizados nas

construccedilotildees de casas na cidade e tambeacutem pertence a uma localidade onde existiu o povoado do

Marataacute na deacutecada de 50

No mapa 2 apresentamos os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do

Rio-GO bem como aparecem em destaque os 15 topocircnimos que analisaremos a seguir os quais

estatildeo catalogados em fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas que estatildeo inseridas neste capiacutetulo

83

Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)

84

41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural

Os modelos das taxionomias foram elaborados por Dick (1992) a fim de possibilitar ao

pesquisador descobrir o significado dos topocircnimos sem ter que retomar especificamente a

passado histoacuterico Os modelos subdividem-se em 11 taxes de natureza fiacutesica e 16 de natureza

antropocultural Assim podemos verificar se o nomeador recorreu a elementos de natureza

fiacutesico ou socioculturais como motivaccedilatildeo no ato da nomeaccedilatildeo Abaixo apresentamos as 27

taxes subdivididas em suas naturezas e devidas especificaccedilotildees exemplificadas com alguns

topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO nos casos de natildeo ter

recorremos a outros topocircnimos

a) Taxionomias de natureza fiacutesica

1 Astrotopocircnimos topocircnimos que se referem aos corpos celestes cidade Estrela do Norte-

GO

2 Cardinotopocircnimos topocircnimos referentes agraves posiccedilotildees geograacuteficas cidade Alvorada do

Norte-GO

3 Cromotopocircnimos topocircnimos relativos agrave escala cromaacutetica coacuterrego da Terra Vermelha (Pires

do Rio-GO)

4 Dimensiotopocircnimos topocircnimos referentes agraves caracteriacutesticas dimensionais dos acidentes

geograacuteficos como extensatildeo comprimento largura espessura altura profundidade coacuterrego

Fundatildeo (Pires do Rio-GO)

5 Fitotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de vegetais rio Corumbaacute (Pires do Rio-

GO)

6 Geomorfotopocircnimos topocircnimos referentes agraves formas topograacuteficas elevaccedilotildees ou depressotildees

do terreno coacuterrego do Pico (Pires do Rio-GO)

7 Hidrotopocircnimos topocircnimos originados de acidentes hidrograacuteficos ribeiratildeo Cachoeira

(Pires do Rio-GO)

8 Litotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de minerais e de nomes relativos agrave

constituiccedilatildeo do solo coacuterrego Barreiro (Pires do Rio-GO)

9 Meteorotopocircnimos topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos ribeiratildeo Brumado

(Pires do Rio-GO)

10 Morfotopocircnimos topocircnimos que refletem o sentido de forma geomeacutetrica cidade Volta

Redonda-RJ

11 Zootopocircnimos topocircnimos de iacutendole animal rio do Peixe (Pires do Rio-GO)

b) Taxionomias de natureza antropocultural

85

1 Animotopocircnimos ou Nootopocircnimos topocircnimos relativos agrave vida psiacutequica e agrave cultura

espiritual coacuterrego Boa Vista (Pires do Rio-GO)

2 Antropotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais ribeiratildeo Sampaio

(Pires do Rio-GO)

3 Axiotopocircnimos topocircnimos que se referem a tiacutetulos e a dignidades que acompanham os

nomes proacuteprios individuais cidade Senador Canedo-GO

4 Corotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes de cidades paiacuteses estados regiotildees e

continentes coacuterrego Posse (Pires do Rio-GO)

5 Cronotopocircnimos topocircnimos que encerram indicadores cronoloacutegicos como novonova

velhovelha cidade Nova Aurora-GO

6 Ecotopocircnimos topocircnimos que fazem referecircncia agraves habitaccedilotildees de um modo geral cidade

Castelacircndia-GO

7 Ergotopocircnimos topocircnimos relacionados aos elementos da cultura material ribeiratildeo Bauacute

(Pires do Rio-GO)

8 Etnotopocircnimos topocircnimos relativos aos elementos eacutetnicos tribos isolados ou natildeo ribeiratildeo

Caiapoacute (Pires do Rio-GO)

9 Dirrematotopocircnimos topocircnimos construiacutedos por meio de frases ou enunciados linguiacutesticos

cidade Aparecida do Rio Doce-GO

10 Hierotopocircnimos topocircnimos referentes aos nomes sagrados agraves efemeridades religiosas aos

locais de culto cidade Cristianoacutepolis-GO Podem apresentar duas subdivisotildees i)

hagiotopocircnimos topocircnimos que se referem aos santos e agraves santas do hagioloacutegio romano

coacuterrego Satildeo Jerocircnimo (Pires do Rio-GO) ii) mitotopocircnimos topocircnimos referentes agraves

entidades mitoloacutegicas cidade Anhanguera-GO

11 Historiotopocircnimos topocircnimos que se referem a movimentos de cunho histoacuterico-social aos

seus membros ou ainda agraves datas correspondentes cidade Ipiranga de Goiaacutes-GO

12 Hodotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves vias de comunicaccedilatildeo coacuterrego Corrente (Pires

do Rio-GO)

13 Numerotopocircnimos topocircnimos que dizem respeito aos adjetivos numerais cidade Trecircs

Ranchos-GO

14 Poliotopocircnimos topocircnimos constituiacutedos pelos vocaacutebulos vila aldeia cidade povoaccedilatildeo

arraial bairro Vila Nova (Pires do Rio-GO)

15 Sociotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais de trabalho

e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade ribeiratildeo Mucambo (Pires do Rio-

GO)

86

16 Somatotopocircnimos topocircnimos com relaccedilatildeo metafoacuterica agraves partes do corpo humano ou do

animal coacuterrego Olho drsquoaacutegua (Pires do Rio-GO)

Essas classificaccedilotildees taxonocircmicas funcionam como auxiliares no processo de verificaccedilatildeo

que subjaz o topocircnimo sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo da origem e motivaccedilatildeo que

levaram agrave efetivaccedilatildeo de determinado topocircnimo

Aleacutem do mais uma anaacutelise toponiacutemica pressupotildee a busca de particularidades

que natildeo podem ficar apenas nas caracteriacutesticas mais evidentes apresentadas

pelo nome deve-se procurar tanto quanto possiacutevel ou seja tanto quanto as

fontes ou a documentaccedilatildeo o permitirem as origens mais remotas do

denominativo objetivando as eventuais substituiccedilotildees experimentadas e a sua

razatildeo determinante de modo que se possa tentar um equacionamento da

nomenclatura em periacuteodos ou estaacutegios onomaacutesticos ndash senatildeo de toda ela pelo

menos em alguns nomes ndash que talvez reflitam momentos distintivos do pensar

da eacutepoca analisada (DICK 1996 p 15-16)

O leacutexico toponiacutemico eacute carregado de marcas de expressatildeo histoacuterica social cultural

poliacutetica e religiosa de dada comunidade e eacute representativo para o nomeador e seu grupo Desta

forma se determinado local ou coisa passou por vaacuterias nomeaccedilotildees no decorrer dos tempos isso

justifica que cada nomeador observou novas caracteriacutesticas que classificavam ou referenciavam

o topocircnimo de forma precisa e motivada

De acordo com Dick (1990) as vaacuterias facetas significativas que datildeo realce ao nome do

lugar e as inuacutemeras informaccedilotildees que podem ser elencadas dele tornariam no material de um

grande armazenamento de dados e fatos culturais em larga extensatildeo Assim observamos em

Andrade (2010 p 103) que

Os estudos toponiacutemicos dentro do alcance pluridisciplinar de seu objeto de

estudo constituem um caminho possiacutevel para o conhecimento do modus

vivendi das comunidades linguiacutesticas que ocupam ou ocuparam um

determinado espaccedilo Quando um indiviacuteduo ou comunidade linguiacutestica atribui

um nome a um acidente humano ou fiacutesico revelam-se aiacute tendecircncias sociais

poliacuteticas religiosas culturais (Grifos da autora)

Satildeo nessas caracteriacutesticas em que reside a motivaccedilatildeo do topocircnimo e por meio delas nos

satildeo reveladas a histoacuteria e cultura de uma dada comunidade por isso vemos o quanto os estudos

toponiacutemicos satildeo de extrema relevacircncia natildeo soacute para a aacuterea dos estudos da

linguagemlinguiacutesticos mas tambeacutem para as outras aacutereas do conhecimento jaacute que o topocircnimo

eacute plurissignificativo tendo assim um alcance pluridisciplinar

87

Posto isto pode-se evidenciar os estudos toponiacutemicos como um eixo norteador para se

verificar as relaccedilotildees soacutecio-histoacuterico-culturais de um povo jaacute que o topocircnimo estaacute intimamente

vinculado agrave cultura de um povo uma naccedilatildeo e portanto agrave sua histoacuteria Assim tomaremos por

anaacutelise os graacuteficos que se seguem e as taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua

do municiacutepio de Pires do Rio-GO

42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO

Nesta pesquisa os 15 topocircnimos analisados baseados na classificaccedilatildeo enquadram-se

na divisatildeo das naturezas fiacutesica e antropocultural Em alguns topocircnimos eacute possiacutevel ainda

evidenciar mais de uma categoria classificatoacuteria por exemplo o coacuterrego da Terra Vermelha

que se classifica como litotopocircnimo e cromotopocircnimo

Nos graacuteficos abaixo apresentamos e analisamos em base qualiquantitivas as naturezas

das taxionomias fiacutesicas e antropoculturais e a origemetimologia dos topocircnimos estratos

linguiacutesticos

Grafico1 Natureza das Taxionomias

As taxionomias nos permitiram analisar e interpretar os designativos de lugares com

maior precisatildeo e seguranccedila do ponto de vista semacircntico sendo estudados enquanto formas de

liacutengua e de acordo com a causa de seu emprego O produto resultante aqui no nosso caso os

88

topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO ganham vida proacutepria passando

a ter caraacuteter motivado e natildeo apenas arbitraacuterio

As taxes encontradas nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO que tiveram maior proporccedilatildeo foram as de natureza fiacutesica assim o nomeador caracterizou

os fatores fiacutesicos do ambiente ou que chamaram sua atenccedilatildeo Desta forma as nomeaccedilotildees satildeo

motivadas e estabelecem relaccedilotildees com o nomeador e o lugar nomeado

421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos

Os principais topocircnimos analisados neste trabalho confirmaram uma tendecircncia da

toponiacutemia brasileira em geral ou seja a predominacircncia de topocircnimos classificados de acordo

com as taxionomias de natureza fiacutesica uma vez que na nomenclatura onomaacutestica dos

elementos fiacutesicos da regiatildeo analisada haacute um percentual de 67 (10 topocircnimos) que satildeo

classificados como taxes de natureza fiacutesica e 33 (05 topocircnimos) que se enquadram nas taxes

de natureza antropocultural

Graacutefico 2 Taxionomias de Natureza Fiacutesica

O graacutefico apresentado nos revelam que a incidecircncia em sua maioria das taxionomias

de natureza fiacutesica evidencia a influecircncia do ambiente fiacutesico no ato de nomeaccedilatildeo percebe-se

entatildeo que no ato do batismo os povos recorreram a elementos e caracteriacutesticas circundantes

aos lugares nomeados demonstrando que o meio ambiente exerce grande influecircncia no homem

no ato de nomear os lugares

0

05

1

15

2

25

3

Taxionomias de Natureza Fiacutesica

89

Ao atribuir topocircnimos agraves taxionomias de natureza fiacutesica eacute possiacutevel comprovar a forccedila

de elementos fiacutesicos como motivadores no ato de nomear os lugares O que eacute observaacutevel no

graacutefico II os topocircnimos com maior incidecircncia nos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO sendo eles fitotopocircnimos hidrotopocircnimos litotopocircnimos litotopocircnimos e

cromotopocircnimos litotopocircnimos e fitotopocircnimos meteorotopocircnimos e zootopocircnimos que no

decorrer desse trabalho seratildeo analisados

4211 Fitotopocircnimos

De acordo com o observado a taxionomia de origem fitotoponiacutemica (originada de

nomes de vegetais) atingiu em segundo lugar o maior nuacutemero de frequecircncia dentre os

topocircnimos de natureza fiacutesica 20 (02 topocircnimos) satildeo eles coacuterrego Laranjal e ribeiratildeo

Taquaral Eacute observaacutevel que a flora foi uma das grandes motivaccedilotildees para os designativos dos

cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO E segundo Dick (1990 p 146)

O importante talvez seria natildeo perder de vista que a vegetaccedilatildeo eacute parte

integrante de um conjunto natural em que o relevo constituiccedilatildeo do solo

acidentes geograacuteficos regimes climaacuteticos compotildeem um verdadeiro

biossistema imprescindiacutevel ao homem e agrave qualidade de vida que nele pretenda

instalar ou pelo menos usufruir

Eacute nessas relaccedilotildees de importacircncia para o homem que podemos compreender a nomeaccedilatildeo

destes elementos fiacutesicos fazendo referecircncia a aspectos que chamaram a sua atenccedilatildeo e

motivaram a nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua Isso se revela pelo caraacuteter de necessidade agrave vida

humana tanto do nome como do que por ele foi nomeado essa relaccedilatildeo nomeador-objeto-nome

eacute que ressalta a importacircncia da vegetaccedilatildeo no meio social local do vivente Assim tambeacutem

justifica Pereira (2009 p 143) que ldquopossivelmente seja esse o motivo de o

denominadorenunciador registrar as caracteriacutesticas locais de uma regiatildeo na nomeaccedilatildeo dos

acidentes geograacuteficos por meio do topocircnimordquo

Ao trazer as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas eacute perceptiacutevel a motivaccedilatildeo que subjaz

cada topocircnimo como observamos abaixo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 02

Topocircnimo Coacuterrego Laranjal Localizaccedilatildeo Pires do Rio

90

Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia la-ran-jal Sm plantaccedilatildeo ou pomar de laranjas (p827)

Laranja sf lsquofruto da laranjeira planta da fam das rutaacuteceasrsquo XIV Do aacuter nāranğa deriv do

persa nāranğ laranjAL -gal XVI (p382)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino laranja- + -al sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Coacuterrego afluente da margem direita do ribeiratildeo Bauacute (M de

Pires do Rio)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 03

Topocircnimo Ribeiratildeo Taquaral Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ta-qua-ral Sm 1 plantaccedilatildeo de taquara tabocal 2 terreno onde crescem

taquaras (p1337)

Taquara sf lsquoplanta da fam das gramiacuteneas taboca bambursquo 1627 tacoara c 1584 etc

tacoaacutera 1817 Do tupi takṷara taquarAL 1783 (p623)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino taquara- + -al sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ao observar as informaccedilotildees trazidas nas fichas apresentadas dos fitotopocircnimos

possivelmente as motivaccedilotildees que influenciaram o nomeador satildeo perspicazes as referecircncias

locais que de acordo com cada topocircnimo relacionamos i coacuterrego Laranjal evidentemente em

sua localidade apresentava no momento de nomeaccedilatildeo a plantaccedilatildeo de laranjas e tambeacutem o

coacuterrego favorecia a essas plantaccedilotildees ii ribeiratildeo Taquaral assim como analisado o topocircnimo

91

anterior o que tenha influenciado ao nomeador deve estar relacionado com o a quantidade de

taquaras na regiatildeo em se encontra o determinado ribeiratildeo

A ocorrecircncia dos topocircnimos de iacutendole vegetal ora pesquisados pode ter a sua

justificativa pela relevacircncia que as plantas tecircm junto a vida humana bem como necessaacuterias para

a conservaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua e suas nascentes assim justificamos a tendecircncia de valoraccedilatildeo

do vegetal no processo de batismo dos elementos fiacutesicos

4212 Hidrotopocircnimos

O topocircnimo de equivalecircncia hidroniacutemica (originado de acidentes hidrograacuteficos) aparece

no em ribeiratildeo Cachoeira Sabe-se que a aacutegua eacute de fundamental importacircncia para a vida

humana por isso a tendecircncia de o nomeador no ato de batismo do topocircnimo valer-se do nome

relacionado ao elemento aacutegua para designar o lugar

E de acordo com Dick (1990 p 196) ldquoO aparecimento de topocircnimos nos mais

diferentes ambientes revestindo uma natureza hidroniacutemica propriamente dita vincula-se agrave

importacircncia dos cursos drsquoaacutegua para as condiccedilotildees humanas de vidardquo Possivelmente o nomeador

a considera o elemento aacutegua vital para a sua existecircncia ainda sabemos que os cursos drsquoaacutegua

em muitas ocasiotildees servem de caminhos para comeacutercio como tambeacutem foi por meio deles que

se configuraram na histoacuteria do Brasil o achamento e a colonizaccedilatildeo do paiacutes pelos portugueses

Nas ficha abaixo trazemos informaccedilotildees relevantes para anaacutelise dos topocircnimos de origem

hidrograacutefica

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 04

Topocircnimo Ribeiratildeo Cachoeira Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Hidrotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ca-cho-ei-ra Sf 1queda drsquoaacutegua em rio ou ribeiratildeo cujo leito apresenta

forte declive cascata 2 trecho de rio onde as aacuteguas correm raacutepido devido agrave inclinaccedilatildeo do

terreno corredeira (p213)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba (M

de Campo Formoso)

Referecircncias Borba (2004) IBGE (1957)

92

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Por mais que apenas 10 (01) dos topocircnimos de natureza fiacutesica tenham referecircncia agrave

iacutendole hidroniacutemica a regiatildeo de Pires do Rio-GO tem seus limites poliacutetico e fiacutesico (geograacuteficos)

feita por rios sem mencionar a grande importacircncia que esses cursos exercem nas atividades da

regiatildeo

Ainda observamos em Dick (1990 p 197) que

Agraves vezes poreacutem rompe-se o equiliacutebrio que ela [a aacutegua] representa em

qualquer meio desprendendo-se de suas possibilidades de aproximar culturas

distintas e assumindo papel um tanto oposto ao se transformar em ldquoobstaacuteculordquo

agrave difusatildeo dos interesses coletivos Circunscrevendo o homem em seu proacuteprio

espaccedilo quando o transcurso se torna difiacutecil impede os contatos entre grupos

vizinhos Se o isolamento por um lado tende a manter tanto quanto possiacutevel

inalterados os valores comuns preservando por isso a tradiccedilatildeo socioloacutegica

do homem ao retardar a dinacircmica da comunidade em favor de uma estaacutetica

desestimulante e viciosa

A par desta citaccedilatildeo observamos que foi o que aconteceu a cidade de Pires do Rio-GO

a partir do rio Corumbaacute o principal para o municiacutepio que ateacute a deacutecada de 1920 era isolado dos

demais municiacutepios por falta de uma ponte que estabelecesse tal ligaccedilatildeo Com a vinda da Estrada

de Ferro Goyaz e a construccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa surgem as primeiras casas e a

efetivaccedilatildeo do municiacutepio bem como a ligaccedilatildeo com as principais cidades da regiatildeo e as relaccedilotildees

econocircmicas e poliacuteticas que auxiliaram no crescimento do municiacutepio e da regiatildeo

Observamos ainda no contexto do municiacutepio de Pires do Rio-GO que a aacutegua em suas

potencialidades eacute de grande relevacircncia e meio de sobrevivecircncia para a vida humana pois

Na parte sul encontra-se o rio Corumbaacute que eacute maior curso drsquoaacutegua do

municiacutepio Nele eacute feito a extraccedilatildeo de areia para construccedilatildeo civil suas ilhas

servem de pontos de recreaccedilatildeo para vaacuterios moradores e as suas margens satildeo

praticamente ocupadas pelas pequenas propriedades (DIAS 2008 p 84)

Posto isso no efetivar do topocircnimo a partir da importacircncia da aacutegua o nomeador

diferencia o elemento geograacutefico dos demais auxiliando na orientaccedilatildeo do homem no espaccedilo

que o cerca proporcionando subsiacutedios para um melhor (re)conhecimento do local Assim

hipoteticamente acreditamos que o topocircnimo ndash ribeiratildeo Cachoeira ndash no contexto estudado

93

pode ter a sua motivaccedilatildeo pelo proacuteprio ambiente fiacutesico uma vez recupera caracteriacutesticas

hidroniacutemicas do lugar

4213 Litotopocircnimos

Notando-se as relaccedilotildees dos topocircnimos de origem mineral os litotopocircnimos coacuterrego

Barreiro representam o percentual de 10 (01 topocircnimo) dos analisados Cabe mencionar que

os minerais foram um dos principais atrativos dos colonizadores portugueses nas terras

brasileiras E de acordo com Dick (1990) os topocircnimos de origem mineral estatildeo relacionados

tanto a caracteriacutesticas do solo quanto do terreno e assim estabelecem duas relaccedilotildees fiacutesicas que

estatildeo ligadas agraves regiotildees da terra neste caso satildeo areia barro lama pedra terra E outro fator

satildeo os histoacutericos que podem ser evidenciados no processo de colonizaccedilatildeo do Brasil por meio

das relaccedilotildees entre solo flora e relevo que satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de uma nova

sociedade

O litotopocircnimo apresentado abaixo por meio de descriccedilatildeo e anaacutelise revela a influecircncia

do local sobre o ato de nomear

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 05

Topocircnimo Coacuterrego Barreiro Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia bar-rei-ro Sm terra alagada lamaccedilal (p164)

Barreira -eirar -eiro ejar rarr BARRO

Barro sm lsquotipo de argilarsquo lsquosubstacircncia utilizada no assentamento da alvenaria de tijolo em

obras provisoacuterias obtida pela mistura de argila com aacuteguarsquo XIV De origem preacute-romana

Relaciona-se neste verbete uma seacuterie de vocaacutebulos etimologicamente correlacionados com

o radical barr- de origem preacute-romana barrEIRA sf lsquoargileirarsquo lsquoparapeitorsquo 1500 barrEIRmiddotAR

bareyrar XV barrEIRO XVIII (p82)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino barro- + ndasheiro sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

94

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Observando Sapir (1969) podemos trazer a reflexatildeo acerca da relaccedilatildeo entre liacutengua e

ambiente que vale a compreensatildeo dos fatores fiacutesicos neste caso os aspectos geograacuteficos

incluindo aleacutem dos elementos fauna e flora os recursos minerais Assim o litotopocircnimo

coacuterrego Barreiro estabelece relaccedilotildees com o local quando foi nomeado ainda compreende-se

que a localidade era de lamaccedilalbarro um dos motivadores por determinado coacuterrego ser

batizado com o referido topocircnimo

Assim como observado em Dick (1990 p 125) os referidos topocircnimos de origem

mineral se referem ao primeiro caso que eacute o de ldquoiacutendole geneacutericardquo aspectos fiacutesicos e especiacuteficos

agraves regiotildees da terra revelando assim caracteriacutesticas minerais da regiatildeo em que estaacute localizado

determinado coacuterrego

4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos

No conjunto dos topocircnimos analisados em um percentual de 10 (01 topocircnimo) do

total encontramos um topocircnimo de estrutura composta mas natildeo hiacutebrido pois eacute formado por

duas palavras de origem latina a saber coacuterrego da Terra Vermelha litotopocircnimo (origem de

nomes de minerais e de nomes relativos agrave constituiccedilatildeo do solo) e cromotopocircnimo (relativo agrave

escala cromaacutetica) E que de acordo com Isquerdo e Seabra (2010 p 91) ldquo[] a motivaccedilatildeo dos

hidrotopocircnimos de estrutura composta normalmente valoriza mais de uma caracteriacutestica do

meio ambiente como foco denominativordquo O mesmo se estabelece com o topocircnimo ora

analisado como descreve na ficha abaixo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 06

Topocircnimo Coacuterrego da Terra Vermelha Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo e

Cromotopocircnimo

Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ter-ra Sf i elemento da superfiacutecie terrestre que misturado com aacutegua

transforma-se em barro ii parte soacutelida da superfiacutecie terrestre chatildeo firme (p1351)

Terra sf lsquoterritoacuterio regiatildeorsquo lsquosolo chatildeorsquo XIII Do lat tĕrra (p631)

95

Vermelho adj lsquoda cor do sanguersquo XIII Do lat vĕrmῐcŭlus (p674)

Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Substantivo Feminino + Adjetivo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

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Pesquisador Cleber Cezar da Silva

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Segundo Dias (2008 p 119-122) na maior parte da regiatildeo do municiacutepio de Pires do

Rio-GO o solo eacute ldquoLatossolos Vermelhosrdquo ou ldquoLatossolos Vermelho Amareladordquo assim

hipoteticamente uma das motivaccedilotildees fundamentais para a denominaccedilatildeo do topocircnimo estaacute

ligado a caracteriacutesticas do local o que influenciou o denominador a fazer referecircncia agrave Terra

juntamente com a cor vermelha

E ainda Dias (2008 p 117) justifica que ldquoas caracteriacutesticas da vegetaccedilatildeo natural

muitas das vezes tecircm como fator determinante o tipo de solo porque eacute dele que elas retiram a

maioria dos elementos que precisam para sua nutriccedilatildeordquo Nesta regiatildeo tem a predominacircncia da

agricultura e agropecuaacuteria influecircncias do solo que contribui para tais praacuteticas

Contudo o batismo do coacuterrego com o topocircnimo Terra Vermelha traz em sua motivaccedilatildeo

as caracteriacutesticas que satildeo observadas na localidade e que de certa forma influenciaram o

nomeador Aleacutem do coacuterrego uma regiatildeo rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tambeacutem eacute

conhecida pelo referido nome

4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos

O topocircnimo coacuterrego Itauacutebi eacute um nome composto litotopocircnimo (de origem mineral) e

fitotopocircnimo (de origem vegetal) e representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos

analisados Sua estrutura morfoloacutegica segundo Dick (1992) eacute um topocircnimo composto formado

por ita- (pedra) + -ubi (palmeira) ambos de origem tupi na formaccedilatildeo de palavras se constitui

em uma composiccedilatildeo por justaposiccedilatildeo E hipoteticamente a regiatildeo em que se encontra o

coacuterrego eacute de um terreno pedregulho ou pode ser que o proacuteprio coacuterrego tenha em sua calda um

acuacutemulo maior de pedras que o normal E consequentemente uma regiatildeo em que a vegetaccedilatildeo

tenha ou lembre uma localidade com plantaccedilotildees de palmeiras

96

Assim a ficha lexicograacutefica-toponiacutemia abaixo nos auxiliou na descriccedilatildeo e anaacutelise do

topocircnimo coacuterrego Itauacutebi aclarando para um efetiva interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo do corpus desta

pesquisa

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 07

Topocircnimo Coacuterrego Itauacutebi Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo e Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia Ita ndash pedra eacute o termo mais comum nos topocircnimos brasileiros algumas

vezes aparece sem o i inicial Ta-nhenga (ilha do Rio de Janeiro) Ta-ratatilde (localidade da

Bahia) (p 174)

Ubi ndash nome comum a vaacuterias palmeias dos gecircneros Genoma Bactris e Calyptrogyne (p 190)

Estrutura morfoloacutegica Nome composto (ita- substantivo feminino + -ubi substantivo

feminino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Tibiriccedila (1985)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

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Segundo Dias (2008) o coacuterrego Itauacutebi eacute um dos afluentes do ribeiratildeo Marataacute e tambeacutem

um dos coacuterregos que abaste ao municiacutepio de Pires do Rio-GO juntamente com o coacuterrego

Laranjal Assim eacute possiacutevel notar a importacircncia deste curso drsquoaacutegua para o municiacutepio e a sua

relevacircncia em anaacutelise para a nossa pesquisa

4216 Meteorotopocircnimos

A meteorotoponiacutemia refere-se a topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos e no

contexto pesquisado representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos analisados sendo

ribeiratildeo Brumado que proveacutem do termo latino bruma lsquoinvernorsquo especificando como nevoeiro

neblina e cerraccedilatildeo (CUNHA 2010) Dados esses especificados abaixo na ficha lexicograacutefica-

toponiacutemica que nos auxiliou na interpretaccedilatildeo e anaacutelise do topocircnimo

97

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 08

Topocircnimo Ribeiratildeo Brumado Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Meteorotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia Bruma bru-ma Sf nevoeiro neblina cerraccedilatildeo (p203)

Bruma sf lsquonevoeiro neblina cerraccedilatildeorsquo XVI Do lat bruma lsquoinvernorsquo (p103)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino bruma- + sufixo ndashado)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do rio dos Peixes (M

de Pires do Rio)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

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Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ao observarmos em Sapir (1969) em que o leacutexico de uma liacutengua reflete claramente o

ambiente fiacutesico e social do falantes provavelmente o que influenciou o nomeador em recorrer

ao batismo do topocircnimo Brumado em determinado ribeiratildeo pode ter sido devido a ocorrer na

localidade neblinanevoeiro na estaccedilatildeo do ano inverno jaacute que a proacutepria raiz da palavra bruma

faz referecircncia ao ldquoinvernordquo

Nas leituras realizadas em alguns pesquisadores da aacuterea da toponiacutemia como Almeida

(2012) Carvalhinhos (2002 2003) Dick (1990 1992 1996 1999 2000 2001 2004 2006)

Isquerdo e Seabra (2010) Pereira (2009) Siqueira (2012 2015) natildeo foi recorrente

encontrarmos algum meteorotopocircnimo analisado ou que nos desse qualquer sustentaccedilatildeo ou

informaccedilotildees para proceder com algum confrontamento de dados mediante a isso

subentendemos que os topocircnimos de iacutendole dos fenocircmenos atmosfeacutericos natildeo tenham uma certa

frequecircncia como os demais

4217 Zootopocircnimos

Nas denominaccedilotildees de iacutendole animal zootopocircnimos no estudo corrente referem ao

percentual de 30 (03 topocircnimos) dos extratos pesquisados ndash rio Corumbaacute rio do Peixe e rio

Piracanjuba Precisamente em dois topocircnimos o fator motivador foi o animal peixe que

possivelmente influenciou o nomeador A saber que a caccedila e pesca era o meio de sobrevivecircncia

98

da comunidade primitiva desta forma possivelmente a comunidade que habitava nos referidos

locais tambeacutem foi influenciada por essas razotildees e daiacute batizando ambos os rios com os referidos

topocircnimos

Ao observamos os topocircnimos de iacutendole animal aqui presentes vamos contrapor ao que

Dauzat (1922 apud DICK 1990) constatou ter uma menor frequecircncia dos zootopocircnimos em

relaccedilatildeo a outras categorias na toponiacutemia francesa bem como agrave perspectiva de Backheuser

(1952 apud DICK 1990) de que na toponiacutemia brasileira os nomes de animais satildeo menos

recorrentes

As relaccedilotildees de denominaccedilatildeo toponiacutemica de uma dada regiatildeo pode ser diferente de outra

de acordo com isso as relaccedilotildees de motivaccedilotildees estatildeo estritamente ligadas ao nomeador pois

cada qual atribui a caracteriacutesticas inerentes ao local a que faz referecircncia Assim as fichas

lexicograacuteficas-toponiacutemicas abaixo evidenciam em suas descriccedilotildees e nos auxiliam a proceder

com a anaacutelise toponiacutemica dos designativos bem como a quantificar que os zootopocircnimos foram

os de maior frequecircncia em nossas anaacutelises

Nordm de ordem 09

Topocircnimo Rio Corumbaacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia cid Mato Grosso do Sul de corumbaacute caacutegado (p44) Origem Tupi

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio nasce nos arredores de Pirineus atravessa o municiacutepio

como o de Santa Luzia depois de servir em pequeno trecho de divisa a Bonfim Adiante

separa Ipameri e Corumbaiacuteba de um lado e Campo Formoso Pires do Rio Caldas Novas

Buriti Alegre do outro ateacute desaguar no rio Paranaiacuteba pela margem direita (M de Corumbaacute)

Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

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Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 10

Topocircnimo Rio do Peixe Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

99

OrigemEtimologia pei-xe Sm (Zool) 1 espeacutecime de classe animal vertebrado que nasce e

vive na aacutegua respira por guelras e se locomove por meio de barbatanas (p1048)

sm lsquo(Zool) animal cordado gnastomado aquaacutetico com nadadeiras com pele geralmente

coberta de escamas que respira por bracircnquiasrsquo XIII Do lat piscis -is peixADA XX

peixARIA XX peixeiro peyxero XIII Cp pescar piscatoacuterio (p485)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio (do) nasce na regiatildeo sul-oriental do municiacutepio que separa

os de Campo Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio e o de Caldas Novas desemboca

no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bonfim)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) (IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

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Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 11

Topocircnimo Rio Piracanjuba Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia cid de Goiaacutes de piracanjuba uma var de peixe de rio etim piraacute-

acatilde-juba peixe de cabeccedila amarela (p97) Origem Tupi

piraacute sm lsquodesignaccedilatildeo geneacuterica de peixe em tupirsquo piracanjuva sf lsquoespeacutecie de douradorsquo 1792

Do tupi pirakaᶇlsquoḭuṷa (p498)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce na serra de Passa

Quatro e atravessa o municiacutepio bem como o de Pouso Alto Adiante separa Caldas Novas de

Morrinhos e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bela

Vista)

Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) Cunha (2010) IBGE (1957)

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100

Segundo Dias (2008) o rio Corumbaacute eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio dele se extrai

areia para a construccedilatildeo civil e suas ilhas e margens servem para abrigar pequenas propriedades

inclusive para a recreaccedilatildeo e turismo O rio do Peixe eacute um dos trecircs maiores cursos drsquoaacutegua e

fronteiriccedilo na regiatildeo sul entre Pires do Rio Cristianoacutepolis Vianoacutepolis e Satildeo Miguel do Passa

Quatro tem como principal afluente o ribeiratildeo Brumado e tambeacutem eacute o principal afluente do

rio Corumbaacute O rio Piracanjuba tambeacutem estaacute entre os principais do municiacutepio na regiatildeo norte

faz fronteira entre Pires do Rio Orizona Urutaiacute e Ipameri sua principal relevacircncia foi na

deacutecada de 1950 por aiacute ter funcionado uma usina hidreleacutetrica que abastecia o municiacutepio de Pires

do Rio-GO

A anaacutelise zootoponiacutemica na localidade pesquisada evidenciou a valorizaccedilatildeo da fauna

local pois ao utilizar o nome de animais recuperou-os para nomear lugares como os rios

Observamos que os nomes de animais que estabelecem a sua origem nas liacutengua tupi

(Piracanjuba e Corumbaacute) e latina (Peixe) motivaram a nomeaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e

de alguma forma estatildeo vinculados agrave vida do nomeador estabelecendo assim relaccedilotildees

extralinguiacutesticas com os topocircnimos pesquisados E segundo Theodoro Sampaio (1914 apud

DICK 1990) dificilmente o nome do animal estaria desvinculado de sua existecircncia na

localidade

Os elementos de natureza fiacutesica mais evidentes na motivaccedilatildeo que subjazem aos

topocircnimos ora analisados foram os de origem vegetal mineral e animal (peixe) Percebemos

assim que o nomeador teve influecircncia das caracteriacutesticas do local para designar o referido

topocircnimo A partir desta anaacutelise nos eacute pertinente ao proacuteximo subtoacutepico proceder com as

anaacutelises das taxionomias de natureza antropocultural

422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos

Os topocircnimos de natureza antropocultural representam 33 (05 topocircnimos) do corpus

analisado destacando-se os antropotopocircnimos ergotopocircnimos etnotopocircnimos e

sociotopocircnimos O nomeador obteve suas motivaccedilotildees de iacutendole antropocultural fazendo

homenagem a pessoas importantes da cidade recuperando elementos da cultura material do

povo revelando elementos eacutetnicos isolados ou natildeo e por fim referenciando a atividades

profissionais ou pontos de encontro de pessoas da comunidade Assim identificando a

influecircncia do homem no meio em que se encontra

101

Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural

O graacutefico 3 nos traz em sua amplitude os topocircnimos de origem antropocultural e a partir

dele eacute que procederemos com as anaacutelises no decorrer do texto observando as regecircncias e

distintas influecircncias do nomeador no ato do batismo

4221 Antropotopocircnimos

Dentre os topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais em nossa pesquisa foi

encontrado apenas o ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo correspondendo ao percentual de

20 (01) dos topocircnimos de natureza antropocultural analisados Na toponiacutemia brasileira eacute

recorrente encontrarmos antropotopocircnimos especialmente lugares como cidades praccedilas ruas

e outros acabam recebendo nomes proacuteprios em homenagem a algueacutem A ficha lexicograacutefica-

toponiacutemica 12 em sua amplitude nos auxilia a perceber a influecircncia do antrotopocircnimo

analisado pois refere-se a uma figura puacuteblica da comunidade piresina

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 12

Topocircnimo Ribeiratildeo Sampaio Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia sm ldquomarinhordquo Sampaio eacute um sobrenome presente na onomaacutestica

portuguesa atraveacutes de raiacutezes tipicamente toponiacutemicas devido ao nome de uma vila localizada

0

02

04

06

08

1

12

14

16

18

2

ANTROPOTOPOcircNIMO ERGOTOPOcircNIMO ETNOTOPOcircNIMOS SOCIOTOPOcircNIMO

Taxionomias de Natureza Antropocultural

102

em Traacutes-os-Montes em Portugal e que teria sido adotado como sobrenome pelos senhores

deste local Alguns etimologistas acreditam que o nome Sampaio tenha surgido a partir do

latim Sanctus Pelagius (traduzido como ldquosanto marinhordquo) que significa Santo Pelagius e

com o passar do tempo tenha sofrido alteraccedilotildees na grafia passando para Sam Peaio Satildeo

Payo e por fim Sampaio Origem hebraica

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Proacuteprio ndash sobrenome)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da margem direita

do rio Corumbaacute (M de Pires do Rio)

Referecircncias Dicionaacuterio online de Nomes Proacuteprios (sd) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Este antropotopocircnimo foi o norteador motivacional para esta pesquisa pois o ribeiratildeo

Sampaio em um de seus limites por boa parte da populaccedilatildeo (inclusive eu) eacute conhecido como

Pedro Teixeira (que na verdade eacute o nome da ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo) soacute tempos depois

conheci o seu verdadeiro nome

E Dick (1990 p 286) assegura que

Os aspectos semacircnticos que podem ser encontrados nos nomes de pessoas

ligam-se portanto ao papel que exercem de verdadeiras manifestaccedilotildees

culturais dos povos e onde transparecem os mais diversos motivos

determinantes de sua escolha Talvez a proacutepria maneira pela qual se concebia

o nome em eacutepocas remotas como uma substacircncia revestida de poderes

miacutesticos seja a responsaacutevel pela variedade das motivaccedilotildees em uma ou em

outras sociedades

Os aspectos motivacionais para o topocircnimo em estudo eacute uma homenagem ao coronel

Lino Teixeira de Sampaio neste caso de acordo com Cabral (2007) eacute um patroniacutemico

sobrenome e faz referecircncia ao doador das terras em que fundou-se a cidade de Pires do Rio-

GO Segundo Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares ou

homenagem ou ateacute mesmo por caracteriacutesticas geograacuteficas inerentes ao local Em alguns casos

os nomes satildeo opacos pois natildeo apresentam nenhuma relaccedilatildeo com o referente nesta situaccedilatildeo haacute

de se fazer uma busca histoacuterica para chegar as relaccedilotildees motivacionais que natildeo eacute o nosso caso

Observando em estudos acerca dos topocircnimos de iacutendole de nomes proacuteprios individuais

constatamos que

103

Nomes proacuteprios de pessoas satildeo obscurecidos em seu conteuacutedo leacutexico-

semacircntico pela opacidade do proacuteprio signo que os conforma distanciados na

maioria das ocorrecircncias do foco original Integram o inventaacuterio mais fechado

da linguagem cuja origem remonta no Brasil aos primeiros nomes de

famiacutelias portuguesas para aqui imigradas (DICK 2001 p 83)

Assim foi possiacutevel observar que o patroniacutemico Sampaio ratifica a citaccedilatildeo de Dick

(2001) pois ele estaacute presente na onomaacutestica portuguesa evidenciado nas raiacutezes tipicamente

toponiacutemicas relacionado ao nome de uma vila localizada em Traacutes-os-Montes em Portugal que

supostamente teria sido adotado como sobrenome pelos senhores deste local (DICIONAacuteRIO

DE NOMES PROacutePRIOS sd)

A importacircncia desse referido ribeiratildeo para o municiacutepio de Pires do Rio-GO justifica-se

desde a sua nomeaccedilatildeo pela razatildeo de sua nascente ser em terras que eram de propriedade do

coronel Lino Teixeira de Sampaio e tambeacutem pelo motivo de

O ribeiratildeo Sampaio eacute utilizado como um dos limiacutetrofes das aacutereas urbana e

rural tambeacutem depositaacuterio da Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE)

consequentemente recebendo a aacutegua do esgoto depois de feito seu devido

tratamento Neste ribeiratildeo encontram-se os menores pontos altimeacutetricos da

aacuterea urbana o que favoreceu a construccedilatildeo da ETE (DIAS 2008 p 84)

Neste contexto eacute evidente que a motivaccedilatildeo para o topocircnimo Sampaio eacute uma

homenagem a uma pessoa que tem uma importacircncia para o local a cidade de Pires do Rio-GO

E assim podemos evidenciar que o ato de nomear aqui institui as relaccedilotildees de poder

possivelmente a de coacuterrego do senhor coronel Lino Teixeira de Sampaio estabelecendo as

relaccedilotildees de poder que o proacuteprio coronel mantinha sobre o local a cidade

4222 Ergotopocircnimos

Os topocircnimos referente a elementos da cultura material ergotopocircnimos nas anaacutelises

desta pesquisa tiveram um percentual de 20 (01) dos topocircnimos analisados ribeiratildeo Bauacute

assim observamos que o denominador foi motivado pelas relaccedilotildees da cultura material que o

cerca Jaacute observado em Sapir (1969) pois no leacutexico toponiacutemico reflete o ambiente social do

falante assim o topocircnimo no qual o objeto bauacute eacute de origem da cultura material e de uso

humano possivelmente as caracteriacutesticas do objeto como fundura largura e formato do bauacute

foram vitais para a nomeaccedilatildeo do ribeiratildeo

104

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 13

Topocircnimo Ribeiratildeo Bauacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Ergotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia ba-uacute (fr) Sm (Co) 1 mala de madeira recoberta de couro com tampa

conversa 2 moacutevel em forma de caixa de folha ou madeira onde se guardam roupas e demais

objetos (p169)

sm lsquotipo de caixa ou mala com tampa convexa na parte externarsquo baul XVI bau XVII bahu

Do ant baul deriv do a fr bahur (hoje bahut) de origem obscura (p84) 1805

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba na

divisa do municiacutepio de Pires do Rio (M de Campo Formoso)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Desta forma ldquoa lsquoescolharsquo do nome se daacute segundo um agenciamento enunciativo

especiacutefico este acontecimento de nomear recorta como memoraacuteveis os nomes disponiacuteveis

como contemporacircneos proacuteprios de sua eacutepocardquo (GUIMARAtildeES 2005 p 36-37) Eacute necessaacuterio

observar na citaccedilatildeo de Guimaratildees (2005) que no ato do batismo o nomeador faz referecircncia ao

contemporacircneo ou proacuteprio de sua eacutepoca no caso de uso do termo bauacute configura-se como essa

afirmaccedilatildeo eacute relativa a algo realmente usado em determinada eacutepoca

Eacute evidente que o topocircnimo apresentou como fonte motivacional a relaccedilatildeo existente entre

a cultura material e seu nomeador ou seja uma motivaccedilatildeo toponiacutemica de ordem

antropocultural assim essas designaccedilotildees que recuperam elementos da cultura material do

povo da localidade identifica a influecircncia do homem no meio em que se vive

4223 Etnotopocircnimos

Uma das taxionomias de natureza antropocultural de maior ocorrecircncia nesta pesquisa

com o percentual de 40 (02) topocircnimos dos analisados foram os etnotopocircnimos topocircnimos

105

relativos a elementos eacutetnicos isolados ou natildeo sendo o ribeiratildeo Caiapoacute e ribeiratildeo Marataacute que

no decorrer satildeo apresentados nas fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 14

Topocircnimo Ribeiratildeo Caiapoacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia rio do E de Goiaacutes nome de uma tribo fam linguiacutestica Jecirc que habitou

a regiatildeo (p34)

cai-a-poacute (Tupi) S 1 indiviacuteduo de um povo indiacutegena de Mato Grosso Sm [Pl] 2 esse povo

(p217)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Corumbaacute (M de

Pires do Rio)

Referecircncias Tibiriccedila (1985) Borba (2004) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 15

Topocircnimo Ribeiratildeo Marataacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Marata ndash sm 1 indiviacuteduo dos maratas 2 liacutengua indo-europeia do ramo

indo-iraniano sub-ramo indo-aacuterico falada no Oeste e Centro da Iacutendia esp no Estado de

Maharashtra por aprox 50 milhotildees de pessoas Eacute uma das liacutenguas oficiais da Iacutendia Sacircnsc

mahaacuteraacutestra o grande reino pelo hind marhatta id

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas afluente da margem direita do ribeiratildeo Caiapoacute (M de Pires

do Rio)

Referecircncias Houaiss (2009) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

106

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Na justeza dos nomes podemos evidenciar que ao batizar o ribeiratildeo Caiapoacute o nomeador

se valeu de fatores antropoculturais em relaccedilatildeo aos iacutendios caiapoacutes lsquokayapoacutersquo que segundo fatos

da histoacuteria estiveram em terras goianas desta forma ao se valer do uso do topocircnimo a

motivaccedilatildeo para tal ato de batismo pode ser referente a esses povos terem influecircncias de alguma

forma sobre o nomeador no ato do batismo do topocircnimo

Jaacute o topocircnimo ribeiratildeo Marataacute traz em sua bases semacircnticas como i ldquoliacutengua indo-

europeiardquo ii ldquoindiviacuteduos dos maratasrdquo segundo Houaiss et al (2009) E possivelmente a

motivaccedilatildeo do designativo foi a influecircncia de grupos europeus que tambeacutem passaram por estas

terras jaacute que o paiacutes foi colonizado por Portugal e na formaccedilatildeo da sociedade goiano e piresina

terem a presenccedila de vaacuterias etnias inclusive europeia

Desta forma eacute evidente que os etnotopocircnimos estatildeo relacionados agrave presenccedila e influecircncia

de grupos de distintas etnias no Brasil visto que a histoacuteria local e nacional revelam a presenccedila

de vaacuterios povos na formaccedilatildeo do sociedade brasileira

4224 Sociotopocircnimos

Tomando por anaacutelise os topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais

de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma dada comunidade dentre os

sociotopocircnimos numa frequecircncia de 20 (01) dos topocircnimos analisados foi encontrado o

designativo ribeiratildeo Mucambo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 16

Topocircnimo Ribeiratildeo Mucambo Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Sociotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Mocambo sm lsquoesconderijo refuacutegio dos negros (escravos) fugidorsquo

1535 mocano Do quimb mursquokamu lsquoescondrijorsquo Embora se documente em vaacuterios textos

quinhentistas relativos aos antigos domiacutenios portugueses na Aacutefrica foi no Brasil que o voc

Se difundiu intensamente desde o periacuteodo colonial em decorrecircncia do intenso conviacutevio dos

brancos com os negros escravos da africanos (p431)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

107

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

O topocircnimo tem sua origem no termo mocambo que se refere a esconderijo de escravos

fugidos (CUNHA 2010) Possivelmente assim como jaacute observado nos fatores motivacionais

de outros topocircnimos a relaccedilatildeo de grupos eacutetnicos terem passado ou habitado na regiatildeo pode ter

influenciado na nomeaccedilatildeo do designativo Na regiatildeo observada viveram escravos negros que

formaram um comunidade rural desta forma podem ter influenciado o nomeador no ato do

batismo do ribeiratildeo Mucambo

A partir do sociotopocircnimo analisado observamos em Carvalhinhos (2003 p 172) que

Os atuais estudos onomaacutesticos no Brasil vecircm justamente resgatando a histoacuteria

social contida nos nomes de uma determinada regiatildeo partindo da etimologia

para reconstruir os significados e posteriormente traccedilar um panorama

motivacional da regiatildeo em questatildeo como um resgate ideoloacutegico do

denominador e preservaccedilatildeo do fundo de memoacuteria

Desta forma ao traccedilar um panorama dos topocircnimos analisados eacute elementar que o

nomeador ao longo das nomeaccedilotildees buscou em suas bases motivacionais preservar a memoacuteria

local seja nos fatores fiacutesicos e ou sociais Para configurar tais dados no proacuteximo subtoacutepico

analisaremos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados

43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos

Analisar as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos estratos linguiacutesticos antes de mais

nada eacute perceber as influecircncias das etnias que povoaram o nosso paiacutes e regiatildeo Sabemos que no

iniacutecio do seacuteculo XVI quando os povos lusoacutefonos chegaram em terras brasileiras os iacutendios jaacute

as habitavam embora fossem os donos da terra tatildeo logo os portugueses se instalaram e se

fizeram os novos donos Mas no decorrer dos seacuteculos outros povos foram chegando e tambeacutem

se instalando no local daiacute retiramos a origem dos estratos linguiacutesticos dos topocircnimos analisados

nesta pesquisa

De acordo com Dick (1992 p 81)

108

a formaccedilatildeo etno-histoacuterica do Brasil acusa a existecircncia de estratos

populacionais diversos como os ameriacutendios distribuiacutedos em vaacuterios troncos e

famiacutelias Os portugueses os africanos e os de procedecircncia estrangeira jaacute em

eacutepoca posterior agrave colonizaccedilatildeo propriamente dita Essa origem heterogecircnea

deixou reflexos diferenciados na liacutengua nos usos e costumes nas tradiccedilotildees

regionais e consequentemente na toponiacutemia do paiacutes

Perceber essa heterogeneidade linguiacutestica na formaccedilatildeo dos topocircnimos eacute fundamental

visto que dos 15 topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO a sua maioria

eacute de origem indiacutegena isso revela que apesar do processo de colonizaccedilatildeo e imposiccedilatildeo da liacutengua

portuguesa a liacutengua dos nativos ainda prevaleceu ao menos na designaccedilatildeo toponiacutemica E no

graacutefico abaixo apresentamos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados

Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos

Analisar as origens dos topocircnimos eacute reconhecer segundo Dick (2006) que a Toponiacutemia

pode conviver com dois movimentos vivenciados de linguagem i) a nativa (linguagem

indiacutegena) e ii) a advena ou seja de iacutendole civilizatoacuteria pois ambas colaboraram para a

formaccedilatildeo dos brasileirismos e regionalismos mas natildeo apenas presentes na liacutengua Podemos

assim constatar em nossas anaacutelises que o vivenciado de acordo com a linguagem ldquonativardquo foi

a que teve maior frequecircncia neste estudo

Observamos no graacutefico IV a frequecircncia das liacutenguas que deram origem aos 15 topocircnimos

dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO e no que se segue procedemos com as

anaacutelises e logo apoacutes a estrutura morfoloacutegica

005

115

225

335

445

5

OrigemEtimologia dos Topocircnimos

109

O topocircnimo coacuterrego Laranjal eacute de origem Aacuterabe a influecircncia dessa liacutengua em nossa

regiatildeo nos eacute evidenciada no iniacutecio do seacuteculo XX com a fundaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio-

GO os aacuterabes foram um dos primeiros imigrantes que aqui chegaram bem como tiveram um

destaque na aacuterea comercial possivelmente este topocircnimo tenha relaccedilotildees com esse fato No que

tange agrave frequecircncia a liacutengua Aacuterabe (esta liacutengua influenciou imensamente o leacutexico da Liacutengua

Portuguesa) corresponde a 7 (01) dos topocircnimos analisados

Ainda contatamos outras liacutenguas como a Hebraica ndash ribeiratildeo Sampaio Preacute-romana ndash

coacuterrego Barreiro Sacircnscrito ndash ribeiratildeo Marataacute e ainda de Origem Obscura ndash ribeiratildeo Bauacute

Cada uma dessas liacutenguas correspondem agrave frequecircncia de 7 (01) dos topocircnimos analisados

provavelmente as devidas nomeaccedilotildees se devem ao fato da vinda de pessoas de outros

continentes em busca de melhores condiccedilotildees de vida e assim contribuiacuterem com a formaccedilatildeo

dos designativos dos cursos drsquoaacutegua

Os dados da toponiacutemia brasileira em relaccedilatildeo agrave origem dos topocircnimos satildeo de origem da

Liacutengua Portuguesa devido a colonizaccedilatildeo jaacute que os povos lusoacutefonos aqui chegaram e segundo

Dick (1995 p 60)

os primeiros topocircnimos funcionavam portanto como verdadeiros ldquosign-

postsrdquo ou marcas semioacuteticas de identificaccedilatildeo dos lugares usadas com a

finalidade de distinguir as caracteriacutesticas de espaccedilos semelhantes uma forma

uma silueta o perfil de uma paisagem se apresentando como recortes de uma

corografia maior a ser detalhada

Os povos lusoacutefonos nomeavam os lugares de acordo com caracteriacutesticas do lugar

Assim os topocircnimos por nograves analisados ndash coacuterrego Brumado coacuterrego da Terra Vermelha

ribeiratildeo Cachoeira e rio do Peixe ndash satildeo de origem latina liacutengua que deu origem agrave Liacutengua

Portuguesa e entre os topocircnimos estudados referem ao percentual de 29 (04 topocircnimos) dos

analisados

No processo de colonizaccedilatildeo do Brasil os portugueses necessitavam de matildeo-de-obra

mas como natildeo tiveram ecircxito com os iacutendios entatildeo foi necessaacuterio a busca de outros povos com

isso trouxeram os escravos E no processo de nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de

Pires do Rio-GO a Liacutengua Portuguesa (Aacutefrica) um percentual de 7 (01) dos topocircnimos ndash

ribeiratildeo Mucambo ndash que eacute especificado como o local esconderijo de escravos fugitivos Haacute

relatos de que na regiatildeo da zona rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tem uma localidade

que foi constituiacuteda em sua maioria populacional por escravos provavelmente pode esse

topocircnimo ter sido influenciado por tal fato

110

Em sua maioria 36 (05) dos topocircnimos analisados satildeo de origem Tupi ndash coacuterrego

Caiapoacute coacuterrego Itauacutebi ribeiratildeo Taquaral rio Corumbaacute e rio Piracanjuba ndash e segundo Bearzoti

Filho (2002 p 43) ao tratar das designaccedilotildees de origem tupi assinala que ldquoem grande parte

trata-se de topocircnimos atribuiacutedos natildeo por iacutendios mas por bandeirantes que como jaacute vimos

utilizavam a liacutengua geral como idioma de comunicaccedilatildeo ordinaacuteria em suas expediccedilotildeesrdquo

E de acordo com Sampaio (1928 p 02)

ao europeu poreacutem ou aos seus descendentes cruzados que realizaram as

conquistas dos sertotildees eacute que se deve a maior expansatildeo do tupi como liacutengua

geral dentro das raias atuais do Brasil As levas que partiam do litoral a

fazerem descobrimentos falavam no geral o tupi pelo tupi designavam os

novos descobertos os rios as montanhas os proacuteprios povoados que fundavam

e que eram outras tantas colocircnias espalhadas nos sertotildees falando tambeacutem o

tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo

Ao firmar o ato de nomeaccedilatildeo das localidades constatamos que o tupi liacutengua de origem

do maior nuacutemero de topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO

possivelmente deve-se agrave influecircncia das seguintes relaccedilotildees a internalizaccedilatildeo de nomes de origem

tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para Goiaacutes e a presenccedila de iacutendios como jaacute

mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo viveram regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da

colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)

Ainda consoante Pereira (2009 p 27) observamos que

A toponiacutemia brasileira como um todo reuacutene uma grande quantidade de nomes

de base indiacutegena na nomeaccedilatildeo de acidentes geograacuteficos que evidenciam

marcas da presenccedila de vaacuterias etnias na nomenclatura geograacutefica brasileira Um

estudo toponiacutemico numa dimensatildeo etnolinguiacutestica analisa desde a origem

dos nomes ateacute as influecircncias socioculturais da populaccedilatildeo que habita o espaccedilo

geograacutefico em estudo na forma de nomear os acidentes fiacutesicos verificando se

no momento da designaccedilatildeo de um lugar o designador apropriou-se de nomes

cuja origem procedeu de estratos linguiacutesticos de base portuguesa ou de outras

liacutenguas que influenciaram a formaccedilatildeo do leacutexico do portuguecircs brasileiro

principalmente as liacutenguas indiacutegenas e africanas

Ao analisarmos os topocircnimos dos cursos drsquoagua do municiacutepio de Pires do Rio-GO

podemos constatar que em sua maioria as liacutenguas que lhe deram origem foram as indiacutegenas e a

latina as outras que representaram um percentual menor possivelmente estatildeo ligadas agrave vinda

de outras etnias que ajudaram na formaccedilatildeo populacional do Brasil e de Goiaacutes

111

44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos

Com vistas nos paracircmetros teoacuterico-metodoloacutegicos da pesquisa seguindo o que eacute

estabelecido por Dick (1992) ao que se refere a estrutura morfoloacutegica o topocircnimo pode ser

classificado como simples composto e composto hiacutebrido que de acordo Dick (1992 p 14)

ldquotopocircnimo que em sua estrutura haacute a presenccedila de duas bases linguiacutesticas distintas por exemplo

tupi + portuguecircsrdquo mas natildeo encontrado em nossa pesquisa A partir disto tomamos o graacutefico V

para procedermos com a anaacutelise

Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos

Dos 15 sintagmas toponiacutemicos catalogados uma representaccedilatildeo de 87 (13 topocircnimos)

satildeo de estrutura simples que no processo de nomeaccedilatildeo o nomeador utilizou apenas um

formante ou seja um elemento designativo Jaacute os compostos aparecem em um percentual de

13 (02 topocircnimos) formados por mais de um formante lexical

Ao trazermos essas informaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos topocircnimos observamos que

como uso de substantivos e adjetivos o denominador acaba por trazer caracteriacutesticas do local

onde nomes comuns passam a formar nomes proacuteprios e segundo Dick (2006 p 108)

o topocircnimo integraraacute natildeo uma categoria descritiva de nomes nem um iacutendice

cromaacutetico desvinculado de outras consideraccedilotildees culturais e sim o que

chamamos na teoria de nomes transplantados deslocados ou transferidos de

seu lugar de origem para outros pontos distantes formando uma nova

sequecircncia nominal

0

2

4

6

8

10

12

14

SIMPLES COMPOSTO

Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos

112

No processo de nomeaccedilatildeo o nomeador faz uso de designativos que aleacutem de sofrer

certos deslocamentos como jaacute mencionado de nome comum para nome proacuteprio haacute tambeacutem

casos de alguns topocircnimos sofrerem alteraccedilotildees em suas estruturas morfoloacutegicas como o caso

do designativo ribeiratildeo Mucambo que em suas origens traz a grafia de mocambo

No decorrer deste estudo e anaacutelises foi possiacutevel perceber que os topocircnimos aleacutem de

servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais da sociedade a

que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e costumes da sociedade E ao final foi

notoacuterio perceber nas liacutenguas que deram origem aos topocircnimos a estreita relaccedilatildeo com o

ambiente pois de alguma forma o nomeador obteve motivaccedilatildeo tanto do espaccedilo meio ambiente

como da liacutengua propriamente dita

113

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao propormos estudar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO tomamos por base caracterizar o ato de nomear e dele reiteramos e pode ser observado em

sua totalidade a relaccedilatildeo de poder pois nomear eacute instituir E eacute por meio do batismo do topocircnimo

que ele se instaura e revela as relaccedilotildees do meio ambiente com o homem eou do homem com

meio que o circunda As consideraccedilotildees finais ora apresentadas referem-se aos estudos

toponiacutemicos relacionados apenas ao contexto local desta pesquisa mas muito ainda haacute de ser

estudado na aacuterea em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia em Goiaacutes

Os objetivos da pesquisa constituem-se basicamente em descrever e analisar os

topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO observando

noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural Assim em

sua maioria os elementos fiacutesicos sobressaiacuteram sobre os demais pois no total de 15 topocircnimos

analisados um percentual de 67 (10 topocircnimos) foram motivados pelos aspectos fiacutesicos

sendo que os de origem vegetal fitotopocircnimos e animal zootopocircnimos tiveram maior

recorrecircncia Assim concretizamos que o ambiente influenciou o nomeador no ato do batismo

estabelecendo as relaccedilotildees entre liacutengua e ambiente inclusive com os aspectos extralinguiacutesticos

A maior incidecircncia de taxionomias de natureza fiacutesica nesta pesquisa demonstra a

tendecircncia do denominador de nomear os lugares com nomes dos elementos fiacutesicos da natureza

circundante numa constataccedilatildeo de que o meio ambiente exerce grande influecircncia sobre o

homem refletindo-se tambeacutem no processo de nomeaccedilatildeo dos lugares

Jaacute no que tange agraves taxionomias de natureza antropocultural em nossas anaacutelises com um

percentual de 33 (05 topocircnimos) os etnotopocircnimos que fazem referecircncia a elementos eacutetnicos

foram os com maior frequecircncia Observamos nas taxes de natureza antropocultural que os

fatores culturais foram os motivadores para a designaccedilatildeo dos topocircnimos analisados

evidenciando as relaccedilotildees do homem com o ambiente que o cerca Para tanto foi necessaacuterio

identificar os fatores que constituem a motivaccedilatildeo que subjazem agrave escolha do nome do lugar

que foi possibilitado por meio da caracterizaccedilatildeo de fatores sociais culturais histoacutericos que nos

auxiliaram nas anaacutelises dos topocircnimos

A hipoacutetese inicial da pesquisa foi de que pelo caraacuteter motivado o signo toponiacutemico

possibilita reconhecer fatores vinculados ao que subjaz agrave escolha dos nomes de lugares e assim

nos possibilitou o levantamento de fatores soacutecio-histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave

anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua como iacutendice de estreita relaccedilatildeo entre

liacutenguaambiente e cultura E pudemos observar que os topocircnimos estabelecem relaccedilotildees da

114

liacutengua e meio ambiente no que concerne agrave anaacutelise das taxionomias de natureza fiacutesica e a

posteriori as relaccedilotildees de liacutengua e cultura que foram evidenciadas nas taxionomias de natureza

antropocultural Nas taxes analisadas foi possiacutevel detectar que o ambiente e o contexto satildeo

fundantes nas motivaccedilotildees que subjazem aos topocircnimos analisados Desta forma entende-se que

um rio um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que uma vez nomeados passam a carregar as

inuacutemeras memoacuterias do lugar

Os fatores soacutecio-histoacutericos-culturais do municiacutepio de Pires do Rio-GO foram

imprescindiacuteveis no processo de anaacutelise dos designativos dos lugares pois no caso do topocircnimo

ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo ficou evidente que o fato motivador foi a relaccedilatildeo de poder

do nome devido ao ribeiratildeo ter sua nascente em terras que eram do coronel Lino Teixeira de

Sampaio e tambeacutem por ter sido ele o doador das terras em que surgiu o referido municiacutepio

Ao levantar as perguntas de pesquisa qual a origem dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da

cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do

lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo Apoacutes ter analisado os 15

topocircnimos fica evidente que todos os nomes estatildeo registrados nas cartas topograacuteficas e satildeo

oficializados pelo IBGE mas provavelmente os nomes foram dados pela comunidade que

habitou nas localidades ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas que foram levantadas nos designativos

fazendo referecircncia ao local

Por meio da caracterizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico

onomasioloacutegico que foi o norte da pesquisa combinado com outros meacutetodos como o Woumlrter

und Sachen (palavras e coisas) numa abordagem qualiquantitativa foi evidente na relaccedilatildeo da

toponiacutemia que os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos

lugares Nesse iacutenterim nos foi possiacutevel quantificar os topocircnimos em relaccedilatildeo as taxionomias

origem e estrutura morfoloacutegica percebendo as ocorrecircncias em maior frequecircncia

A anaacutelise do ponto de vista etnolinguiacutestico demonstrou a predominacircncia de topocircnimos

originaacuterios da liacutengua indiacutegena um percentual de 36 essa recorrecircncia eacute supostamente devido

agrave internalizaccedilatildeo de nomes de origem tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para

Goiaacutes e agrave presenccedila de iacutendios como jaacute mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo

viveram na regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e

consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)

A liacutengua latina que deu origem agrave liacutengua portuguesa aparece e 29 dos topocircnimos

analisados isso devido aos povos lusoacutefonos que nomeavam os lugares com as caracteriacutesticas

que se estabeleciam com os referidos locais por eles percorridos e habitados E tambeacutem outras

liacutenguas tiveram uma menor frequecircncia como a aacuterabe hebraica preacute-romana sacircnscrito e

115

tambeacutem um topocircnimo de origem obscura fica evidente que outras etnias influenciaram na

nomeaccedilatildeo dos lugares Pode ser pelo fato de o nomeador pertencer a etnia ou ter alguma relaccedilatildeo

indireta

Quanto agrave estrutura morfoloacutegica do toacutepico de acordo com Dick (1992) dos analisados

87 satildeo de formaccedilatildeo simples tendo apenas um formante e 13 satildeo compostos com dois

formantes lexicais assim os compostos revelam mais de uma caracteriacutestica do local nomeado

e caracteriza mais de uma taxionomia

De forma peculiar esta pesquisa aleacutem de proceder com as anaacutelises de classificaccedilatildeo

origemetimologia morfoloacutegica e semacircntico-toponiacutemicas remapeou e cartografou os cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO sem mencionar no revisitar da formaccedilatildeo histoacuterica

deste municiacutepio e da contribuiccedilatildeo com os estudos toponiacutemicos no estado de Goiaacutes

Os topocircnimos aleacutem de servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas

fiacutesicas e sociais da sociedade a que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e

costumes dessa sociedade E ao perceber essas relaccedilotildees de liacutenguaambiente e cultura na

designaccedilatildeo do topocircnimo eacute que propomos para discussatildeo futura doutorado a partir da

ecolinguiacutestica e da toponiacutemia proceder com a anaacutelise da relaccedilatildeo de liacutengua e meio ambiente nos

hidrocircnimos das bacias hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes

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CLEBER CEZAR DA SILVA

OS CURSOS DrsquoAacuteGUA DE PIRES DO RIO ANAacuteLISE DAS MOTIVACcedilOtildeES

TOPONIacuteMICAS

Aprovado por

__________________________________________

Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Universidade Estadual de Goiaacutes ndash Cacircmpus Pires do Rio

Orientadora

__________________________________________

Vanessa Regina Duarte Xavier

Universidade Federal de Goiaacutes ndash Regional Catalatildeo

__________________________________________

Karylleila dos Santos Andrade

Universidade Federal do Tocantins ndash Cacircmpus Palmas

Catalatildeo-GO 20 de Janeiro de 2017

Decido este trabalho a Deus aos eternos amantes

da Toponiacutemia e agravequela que desde sempre eacute meu

alicerce e a maior incentivadora minha matildee

Nelica Antocircnia Pereira da Silva

AGRADECIMENTOS

ldquoE agora eis o que diz o Senhor aquele que te criou Jacoacute e te formou Israel nada

temas pois eu te resgato eu te chamo pelo nome eacutes meurdquo (ISAIacuteAS 431) Senhor de Israel

foi por chamar-me pelo nome eacute que constitui esta graccedila sem o Seu amor e graccedila eu nada seria

pois colocou-me em peacute quando pensava natildeo mais conseguir caminhar e de amparo me enviaste

o Espiacuterito Santo e a Virgem Maria graccedilas rendo agrave Santiacutessima Trindade e agrave Virgem por

caminharem comigo e natildeo me deixar perder no caminho

ldquoOs filhos satildeo heranccedila do Senhor uma recompensa que ele daacute Como flechas nas matildeos

do guerreiro satildeo os filhos nascidos na juventude Como eacute feliz o homem que tem a sua aljava

cheia deles Natildeo seraacute humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunalrdquo (SALMO 1273-

5) Famiacutelia o que seria de mim sem vocecircs nada Matildee e pai sempre com amor mesmo que

velado souberam educar seus dois filhos na dignidade para que se constituiacutessem verdadeiros

homens e de bem Mesmo com as dificuldades da vida em momento algum se abateram foram

fieacuteis agrave missatildeo designada de serem pais a vocecircs minha eterna gratidatildeo e se hoje concretizo esta

fase em minha vida ela eacute tatildeo minha quanto de vocecircs muito obrigado Amo vocecircs

As relaccedilotildees de afeto e cuidado sempre foram o nosso maior elo a vocecircs que sempre

torceram por mim e a cada conquista vibraram intensamente obrigado meu irmatildeo cunhada

sobrinha afilhados tios primos padrinhos e a matriarca de nossa famiacutelia minha adorada avoacute

Que Deus continue fazendo de noacutes uma famiacutelia de princiacutepios e sempre grata a Ele por tudo

ldquoO amigo ama em todos os momentos eacute um irmatildeo na adversidaderdquo (PROVEacuteRBIOS

1717) Amigos famiacutelia que a vida me deu de presente mencionar nomes aqui seria muito

injusto cada um com seu jeito e adversidade me ensinaram que a vida natildeo se resume apenas

em bons momentos pois estiveram comigo em momentos nada agradaacuteveis souberam respeitar

o meu silecircncio minhas ausecircncias e o melhor vibraram comigo todos os momentos desta

conquista a vocecircs meus ldquoirmatildeos na adversidaderdquo muito obrigado

Aos colegas e amigos do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem

Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo nos encontros da vida sempre tecircm surpresas

a melhor de todas foi poder construir com muitos de vocecircs verdadeiros laccedilos de amizade que

iratildeo perpetuar para todo sempre soacute posso neste momento agradecer pelos momentos de troca

de experiecircncias e conhecimento e desejar sucesso a todos

ldquoO ensino dos saacutebios eacute fonte de vida e afasta o homem das armadilhas da morterdquo

(PROVEacuteRBIOS 1314) Ensinar eis o dom com tanta dedicaccedilatildeo e carinho muitos mestres

conduziram-me ateacute aqui e foi com a graccedila do ensino dos saacutebios eacute que natildeo caiacute nas armadilhas

pois tambeacutem me tornei saacutebio Professora doutora eterna orientadora Kecircnia Mara de Freitas

Siqueira nenhuma palavra eacute capaz de expressar a gratidatildeo que tenho por vocecirc foram anos de

ensinamentos e agora se concretizam com mais esta fase sou e serei eternamente grato por me

apresentar a Toponiacutemia pois ela me levaraacute a mais um degrau no meio acadecircmico Obrigado

por tudo Deus lhe pague

Aos professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem

Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo que muito contribuiacuteram para a construccedilatildeo

desta pesquisa Fabiacuteola Aparecida Sartin Dutra Parreira Almeida Maria Helena de Paula e

Vanessa Regina Duarte Xavier A professora Vivian Regina Orsi Galdino de Souza do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio

de Mesquita Filhordquo cacircmpus Satildeo Joseacute do Rio Preto-SP obrigado pelos seus vastos ensinamentos

e por permitir que cursasse a disciplina ldquoIntroduccedilatildeo aos Estudos Lexicograacuteficosrdquo Mestres

obrigado pelos ensinamentos e momentos de descontraccedilatildeo e alegria vocecircs foram capazes de

mostrar que o universo da pesquisa tambeacutem se constitui na felicidade e prazer

ldquoTodo trabalho aacuterduo traz proveito mas o soacute falar leva agrave pobrezardquo (PROVEacuteRBIOS

1423) O trabalho dignifica o homem palavras estas do livro da vida a biacuteblia sagrada Minha

vida desde a infacircncia foi pautada no estudo e no trabalho assim todos os trabalhos que tive me

possibilitaram crescer enquanto ser humano e profissional Registro aqui os meus mais sinceros

agradecimentos aos colegas e amigos do Coleacutegio Estadual Professor Ivan Ferreira minha eterna

casa pois foi laacute que tive o prazer em estudar e depois retornar como profissional inclusive ser

gestor deste honrado estabelecimento de ensino Aos colegas e amigos do Instituto Federal

Goiano ndash Campus Urutaiacute obrigado por permitirem dividir com vocecircs este espaccedilo de

conhecimento e aprendizado

A banca examinadora deste trabalho professores Karylleila dos Santos Andrade

Vanessa Regina Duarte Xavier e Alexandre Antoacutenio Timbane registro os meus mais sinceros

agradecimentos pelas valorosas contribuiccedilotildees no Exame de Qualificaccedilatildeo e agora na defesa deste

trabalho Deus lhes pague

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de

Goiaacutes Regional Catalatildeo na pessoa da coordenadora Luciana Borges obrigado por dar

possiblidades que novos pesquisadores se formem no acircmbito dos estudos da linguagem

Enfim sozinho natildeo sou nada sempre necessitarei de outros por isso a todos os que

foram meu alicerce para a concretizaccedilatildeo de mais esta etapa em minha vida algo sonhado haacute

muito tempo receba o meu muito obrigado e Deus lhes pague

ldquoO nome eacute um certo sentido a proacutepria coisa dar

nome agraves coisas eacute conhececirc-las e apropriar-se

delas a denominaccedilatildeo eacute o ato da posse espiritualrdquo

(MIGUEL UNAMUNO)

RESUMO

Esta pesquisa centra-se nos estudos toponiacutemicos e tem como objetivo descrever e analisar a

origemetimologia morfoloacutegica e semanticamente dos topocircnimos da hidrografia da cidade de

Pires do Rio-GO para identificar as relaccedilotildees entre esses designativos de lugares e respectivos

fatores contextuais que por ventura possam conter indiacutecios da motivaccedilatildeo toponiacutemica O

levantamento dos topocircnimos foi feito por meio de documentos oficiais mapas do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Instituto Mauro Borges (IBM) numa escala de

1100000 e das cartas topograacuteficas A pesquisa eacute de base documental numa abordagem

qualiquantitativa O meacutetodo da pesquisa eacute o onomasioloacutegico e indutivo parte-se de casos

particulares para uma verdade geral combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica de

estudo das designaccedilotildees com o objetivo de analisar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito

A anaacutelise do corpus da pesquisa deu-se apoacutes o levantamento dos 46 topocircnimos dos cursos

drsquoaacutegua dentre os quais 15 satildeo analisados neste estudo Nesse sentido parte-se do princiacutepio de

que o signo toponiacutemico eacute motivado pois fatores extralinguiacutesticos influenciam o nomeador no

ato de nomear na perspectiva de que a liacutengua recorta a realidade agrave sua maneira (Sapir-Whorf)

sendo que a proacutepria liacutengua eacute um depositaacuterio de cultura assim os topocircnimos revelam fatores

soacutecio-histoacuterico-culturais do lugar que o nomeia A histoacuteria e a geografia do municiacutepio de Pires

do Rio-GO foram fundantes para as anaacutelises que nas bases onomasioloacutegicas e indutivas

evidenciam que o local e suas caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais influenciam o nomeador no ato

do batismo do topocircnimo Perceber as relaccedilotildees de nomeaccedilatildeo e nomeador satildeo fatores que por

meio das classificaccedilotildees taxionocircmicas satildeo revelados sem deixar de perceber tambeacutem que a

origem dos nomes e sua estrutura morfoloacutegica evidencia os fatores contextuais a que da liacutengua

cultura e ambiente estatildeo impregnados no topocircnimo isso tudo agrave vista de quem o designou

Palavras-Chave Toponiacutemia Liacutengua Cultura Pires do Rio Hidrografia

ABSTRACT

This research focuses on the toponymic studies and aims to describe and analyze the origin of

the names morphological and semantic of designatory toponyms of the hydrography of Pires

do Rio-GO city to identify the relations between these designative places and their respective

contextual factors which may by chance contain indications of toponymic motivation The

research of the toponyms was done by means of official documents maps of the Brazilian

Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Mauro Borges Institute (IBM) on a scale of

1 100000 and topographic maps The research is documentary based in a qualitative and

quantitative approach the research method is the onomasiological method combined with other

methods which consists of the study of designations with the purpose of studying the various

names attributed to a concept The analysis of this researchrsquos corpus took place after the survey

of the 46 toponyms of the watercourses from which 15 are analyzed in this study In this sense

it is assumed that the toponymic sign is motivated once extralinguistic factors influence the

nominator in the act of naming in the perspective that the language outlines reality in its own

way (Sapir-Whorf) and the language itself is a depository of culture thus toponyms reveal

socio-historical-cultural factors of the place that names it The history and geography of Pires

do Rio-GO city was the basis for the analyzes which on the onomasiological bases show that

the place and its physical and social characteristics influence the nominator in the moment of

the toponym baptism To perceive naming and nominator relationships are factors that are

revealed through the taxonomic classifications noticing at the same time that the origin of the

names and their morphological structure reveals the contextual factors that are impregnated in

the toponymy of the language culture environment aspects from the point of view of who

appointed it

Keywords Toponymy Language Culture Pires do Rio Hydrography

LISTA DE ABREVIATURAS

ATEGO ndash Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes

ATB ndash Atlas Toponiacutemico Brasileiro

DSG ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito

ETE ndash Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FCA ndash Ferrovia Centro Atlacircntica

GO ndash Goiaacutes

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBM ndash Instituto Mauro Borges

IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano

M ndash Municiacutepio

PEA ndash Populaccedilatildeo Economicamente Ativa

RFFSA ndash Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima

SD ndash Sem data

SE ndash Secccedilatildeo

LISTA DE FICHAS

Ficha 01 ndash Pires do Riohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip67

Ficha 02 ndash Coacuterrego Laranjal89

Ficha 03 ndash Ribeiratildeo Taquaralhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip90

Ficha 04 ndash Ribeiratildeo Cachoeirahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip91

Ficha 05 ndash Coacuterrego Barreiro93

Ficha 06 ndash Coacuterrego Terra Vermelha94

Ficha 07 ndash Coacuterrego Itauacutebi96

Ficha 08 ndash Ribeiratildeo Brumado96

Ficha 09 ndash Rio Corumbaacute98

Ficha 10 ndash Rio do Peixe98

Ficha 11 ndash Rio Piracanjuba99

Ficha 12 ndash Ribeiratildeo Sampaio101

Ficha 13 ndash Ribeiratildeo Bauacute104

Ficha 14 ndash Ribeiratildeo Caiapoacute105

Ficha 15 ndash Ribeiratildeo Marataacute105

Ficha 16 ndash Ribeiratildeo Mucambo106

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Natureza das Taxionomias87

Graacutefico 2 ndash Taxionomias de Natureza Fiacutesica88

Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural101

Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos108

Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos111

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 ndash Pires do Rio(GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio(GO)74

Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)83

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo44

Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos57

Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Recenseamento 76

Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Contagem 76

Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio(GO) 77

Quadro 6 ndash Os cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO) 78

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO20

I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO 25

11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear 25

12 Liacutengua e Cultura 33

13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes 39

14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica 43

15 Linguiacutestica Histoacuterica 47

II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS 51

21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos 51

212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica 53

22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia 57

III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO 66

31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte 66

32 Pires do Rio geograacutefico 74

33 Os cursos daacutegua 78

IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR81

41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural 84

42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos daacutegua de Pires do Rio-GO 87

421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos88

4211 Fitotopocircnimos89

4212 Hidrotopocircnimos91

4213 Litotopocircnimos93

4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos94

4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos95

4216 Meteorotopocircnimos96

4217 Zootopocircnimos97

422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos100

4221 Antropotopocircnimos101

4222 Ergotopocircnimos103

4223 Etnotopocircnimos104

4224 Sociotopocircnimos106

43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos107

44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos111

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS113

REFEREcircNCIAS 116

20

INTRODUCcedilAtildeO

Ao dar nome a seres e objetos o homem tambeacutem os categoriza jaacute que eacute o ato de nomear

que daacute existecircncia a algo ou algueacutem Eacute por meio do nome que haacute identificaccedilatildeo e principalmente

a diferenciaccedilatildeo dos seres e dos objetos No ato da nomeaccedilatildeo diversos aspectos extralinguiacutesticos

podem influenciar o nomeador isso pode caracterizar especificamente a motivaccedilatildeo que subjaz

a qualquer signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica A motivaccedilatildeo por sua vez eacute reveladora de

inuacutemeros aspectos que estatildeo na base da inter-relaccedilatildeo liacutengua cultura e ambiente pois o nome

proacuteprio de lugar como fato da liacutengua identifica e guarda uma significaccedilatildeo precisa oriunda de

aspectos fiacutesicos ou culturais Desta forma busca-se mediante o estudo dos designativos dos

cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO descrever essa relaccedilatildeo (liacutengua cultura e

ambiente) Entende-se assim que um rio um riacho um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que

uma vez nomeados passam a carregar as inuacutemeras memoacuterias do lugar

Em decorrecircncia disso abrem-se possibilidades de inter-relacionar aacutereas do saber

humano com vista a estabelecer algum viacutenculo epistemoloacutegico a fim de proporcionar novos

olhares sobre um objeto jaacute descrito e analisado por outra aacuterea do conhecimento a geografia

mas restrito a um uacutenico niacutevel de anaacutelise linguiacutestica Isso leva a considerar os aspectos da

linguagem dentro de uma visatildeo interdisciplinar que pode trazer entre tantas contribuiccedilotildees o

fato de entendecirc-los na totalidade como em uma rede de relaccedilotildees Em outras palavras oferece

a possibilidade de analisar os fatos linguiacutesticos de maneira holiacutestica uma vez que os fatores

envolvidos na interaccedilatildeo devem ser concebidos como um todo formado por componentes que se

relacionam entre si

Entrecruzar as aacutereas de geografia e da linguiacutestica eacute um trabalho que jaacute se tem feito e

alguns estudiosos como eacute o caso de Menezes e Santos (2007 apud Menezes Santos Santos

2010) tratam a toponiacutemia na geografia como geoniacutemia Para Andrade (2010 p 105-106)

Natildeo se pode pensar em toponiacutemia desvinculada de outras ciecircncias como

histoacuteria geografia antropologia cartografia psicologia e a proacutepria

linguiacutestica Deve ser pensada como um complexo linguiacutestico-cultural um fato

do sistema das liacutenguas humanas Faz parte de uma ciecircncia maior que se

subdivide em toponiacutemia e antroponiacutemia

Assim esta pesquisa eacute relevante para a aacuterea dos estudos da linguagemlinguiacutesticos como

para a geografia sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo histoacuterico-cultural sobre a cidade de

Pires do Rio-GO e levado a conhecimento puacuteblico

21

Fazer esse estudo acerca da hidrografia da cidade de Pires do Rio eacute elementar elencando

natildeo soacute estudos semacircnticos lexicais origemetimologia dos termos mas tambeacutem soacutecio-

histoacuterico-culturais de um povo Algo ainda se faz pertinente na definiccedilatildeo do problema pois foi

assim que surgiu o interesse por este estudo em conversas informais com pessoas da cidade

obtive respostas que aguccedilaram esta pesquisa pois proacuteximo de Pires do Rio-GO cerca de uns

3 km da cidade haacute um determinado ribeiratildeo o qual a comunidade local denomina de Pedro

Teixeira mas na verdade esse nome eacute dado agrave ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo e foi construiacuteda

pelo fazendeiro Sr Pedro Teixeira embora o nome que se apresenta na carta topograacutefica seja

ribeiratildeo Sampaio

Diante da problematizaccedilatildeo qual a origemetimologia dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da

cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do

lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo A partir disso centra-se o

nosso estudo em descrever e analisar a origemetimologia dos termos a morfologia e a

semacircntica investigando e verificando os topocircnimos e as relaccedilotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo

de Pires do Rio-GO

Preliminarmente trabalha-se com a seguinte hipoacutetese de pesquisa pelo seu caraacuteter

motivado o signo toponiacutemico possibilita reconhecer fatores vinculados agrave motivaccedilatildeo que subjaz

agrave escolha dos nomes de lugares o que pode possibilitar o levantamento de fatores soacutecio-

histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua

como iacutendice da estreita relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura A toponiacutemia dos cursos drsquoaacutegua de Pires

do Rio-GO incorpora caracteriacutesticas sociais linguiacutesticas e culturais da regiatildeo a que pertence

Este eacute um dos embates fundantes de nosso estudo assim espera-se com esta pesquisa

cartografar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO com base na

metodologia do ATB (Atlas Toponiacutemico Brasileiro) como sugerido por Dick (1990 2004)

Posto isso ao final responderemos agraves perguntas de pesquisa jaacute mencionadas

anteriormente e ainda contribuiremos com as pesquisas na aacuterea da Onomaacutestica que estatildeo

desenvolvendo-se em Goiaacutes Conveacutem mencionar tambeacutem que uma das contribuiccedilotildees desta

pesquisa aleacutem de revisitar a histoacuteria e a cultura de uma regiatildeo eacute a de auxiliar na construccedilatildeo do

Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes ndash ATEGO

Assim o objetivo da pesquisa constitui-se basicamente em descrever e analisar os

topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua e de outros elementos hidrograacuteficos da regiatildeo do

municiacutepio de Pires do Rio-GO observando noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de

natureza fiacutesica e de natureza antropocultural Para tanto eacute necessaacuterio evidenciar os fatores que

constituem a motivaccedilatildeo que subjaz agrave escolha do nome do lugar o que requer a identificaccedilatildeo de

22

fatos sociais culturais histoacutericos elementos geograacuteficos (quando pertinente) e outras

motivaccedilotildees de diferentes naturezas

De uma maneira peculiar os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo i) remapear os

cursos hiacutedricos mediante o elenco de seus topocircnimos para cartografar os mapas da bacia

hidrograacutefica e dos topocircnimos seguindo a metodologia do Projeto ATB ii) verificar mediante

a anaacutelise linguiacutestica dos topocircnimos a motivaccedilatildeo referente agrave cultura e agrave histoacuteria e

principalmente aos aspectos fiacutesicos dos lugares que iniciaram o processo de nomeaccedilatildeo dos rios

coacuterregos ribeirotildees e quedas drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO (evidenciando o viacutenculo

liacutengua ambiente e cultura) iii) de alguma forma contribuir para o desenvolvimento dos estudos

toponiacutemicos em Goiaacutes

A metodologia consiste de uma pesquisa de natureza documental de abordagem

qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites

e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos puacuteblicos (mapas e cartas

topograacuteficas) e o meacutetodo da pesquisa eacute o de induccedilatildeo com ecircnfase para a observaccedilatildeo do fazer

onomasioloacutegico combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica especialmente o Woumlrter

und Sachen (palavras e coisas) O meacutetodo onomasioloacutegico e indutivo se constitui do estudo das

designaccedilotildees com o objetivo de estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Usando

esse meacutetodo pode-se investigar toda ou pelo menos parte da cultura popular de um local e

priorizar aspectos sincrocircnicos ou histoacutericos se necessaacuterio for Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os

aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos lugares

Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de dissertaccedilatildeo de Mestrado sobre Os

cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio anaacutelise das motivaccedilotildees toponiacutemicas produzida no acircmbito do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem Universidade Federal de Goiaacutes ndash

Regional Catalatildeo que focaliza os topocircnimos hiacutedricos do municiacutepio de Pires do Rio

Desta maneira este trabalho se estrutura em quatro capiacutetulos organizados de forma a

abranger os resultados desta pesquisa que articula por meio da linguagem quesitos histoacutericos

geograacuteficos e culturais

Assim no capiacutetulo I O nome e a atividade de nomeaccedilatildeo satildeo apresentadas

consideraccedilotildees referentes ao nome e ao ato de nomear no sentido de reformular questotildees teoacutericas

necessaacuterias ao levantamento de dados e agrave construccedilatildeo do corpus bem como agrave descriccedilatildeo dos

topocircnimos que designam os elementos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas drsquoaacutegua) do municiacutepio

de Pires do Rio-GO Para tanto o capiacutetulo traz uma revisatildeo dos conceitos de nome (comum

proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes tanto no sistema linguiacutestico

como em relaccedilatildeo agrave cultura e estabelecendo as relaccedilotildees de liacutengua e cultura pois a liacutengua

23

transporta a cultura no tempo e recorta agrave realidade agrave sua maneira Eacute necessaacuterio aqui trazer as

discussotildees teoacutericas acerca da toponiacutemia e do signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica que

sustentam a nossa pesquisa Ainda fazemos uma retomada do surgimento e desdobramento da

Linguiacutestica Histoacuterica pois eacute a partir dela que satildeo criados os meacutetodos de pesquisa os quais

contribuem para a aacuterea de estudo

O capiacutetulo II A metodologia da pesquisa e seus desdobramentos eacute praticamente uma

extensatildeo do primeiro porque procura reavaliar alguns meacutetodos usados em pesquisa onomaacutestica

com o objetivo de coadunar teoria meacutetodo e procedimentos de pesquisa

Neste capiacutetulo eacute possiacutevel rever algumas questotildees sobre os meacutetodos da linguiacutestica o

meacutetodo onomasioloacutegico que investiga as relaccedilotildees de significado e referecircncias partindo das

designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Ainda eacute

apresentada uma siacutentese do comparativismo e do meacutetodo Woumlrter und Sachen de Hugo

Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) pois de acordo com Bassetto (2001)

pode-se verificar pontos em comum que compartilham com o meacutetodo onomasioloacutegico Ao

enfatizar questotildees de ordem semacircntica das palavras ressalta-se a realidade que elas designam

para esses autores a verdadeira etimologia da palavra estaacute no conhecimento dessa realidade

Busca-se assim instruir sobre a necessidade de conhecer se possiacutevel o objeto designado por

um nome para que o significado possa ser explicitado adequadamente

Dados histoacutericos e geograacuteficos referentes agrave capital da estrada de ferro Pires do Rio

compotildeem o terceiro capiacutetulo A capital da estrada de ferro Pires do Rio de modo a traccedilar em

linhas gerais a histoacuteria da fundaccedilatildeo do municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XX em decorrecircncia da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz e da Estaccedilatildeo Feacuterrea Pires do Rio em 09 de novembro de

1922 A importacircncia deste municiacutepio se deve agrave estrada de ferro e obviamente aos primeiros

habitantes que para caacute acorreram acreditando no desenvolvimento da antiga ldquoTeteia do

Corumbaacuterdquo

No capiacutetulo quarto A toponiacutemia e suas relaccedilotildees com o lugar apresentamos a anaacutelise

dos dados as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural e as fichas lexicograacuteficas-

toponiacutemicas dos 15 topocircnimos analisados de acordo com os estudos de Dick (1992)

juntamente com a origem das liacutenguas e estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos daiacute procedemos

agraves anaacutelises das classificaccedilotildees toponiacutemicas que estatildeo presentes nos designativos dos cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO estabelecendo as relaccedilotildees motivacionais e semacircnticas

do topocircnimo com o local nomeado

Na sequecircncia satildeo apresentadas as Consideraccedilotildees Finais que retomam os resultados

obtidos ao teacutermino da pesquisa pautados nos objetivos e perguntas que orientaram este estudo

24

E por fim seguem as Referecircncias que sustentaram a parte teoacuterica e a construccedilatildeo do corpus

coletado

25

I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO

O conhecimento dos nomes natildeo eacute negoacutecio de

importacircncia somenos

(PLATAtildeO 2001)

Este capiacutetulo tem o objetivo de tecer de forma mais geral consideraccedilotildees acerca do nome

e do ato de nomear para reformular questotildees teoacutericas necessaacuterias ao levantamento de dados

para a construccedilatildeo do corpus e descriccedilatildeo dos hidrocircnimos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas

drsquoaacutegua) do municiacutepio de Pires do Rio-GO Para tanto os itens a seguir trazem uma revisatildeo dos

conceitos de nome (comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes

tanto no sistema linguiacutestico como em relaccedilatildeo agrave cultura jaacute que representam inuacutemeros aspectos

que culminam em certos criteacuterios para a nomeaccedilatildeo ou nominaccedilatildeo revelando em certo sentido

especificidades dessa cultura que satildeo evidenciadas na nomeaccedilatildeo Ao dar um nome a um objeto

ou a um lugar natildeo se reduz apenas a indicar mas a classificar situar identificar e sobretudo

uma vez categorizado inscreve-se tambeacutem em um sistema cognitivo permeado por essa mesma

cultura

11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear

O nome eacute a parte que caracteriza a existecircncia de algo ou algueacutem sem a especificidade

do nome o objeto ou a pessoa natildeo eacute identificada Aliaacutes em muitas situaccedilotildees o nome consolida

a existecircncia do objeto que passa a ldquoexistirrdquo como tal em decorrecircncia de ter um nome ou seja

o falante pode perceber no mundo apenas aquilo que conhece pelo nome O nome estaacute presente

em todas as esferas do desenvolvimento da humanidade Eacute parte constitutiva do proacuteprio ser

humano que se reconhece e se afirma face ao nome que carrega eacute tambeacutem o nome que lhe

rompe o anonimato e lhe confere de certa forma uma identidade

Segundo Silva (2000) eacute o nome que diferencia os seres e os objetos do mundo

Identidade e diferenccedila ocorrem simultaneamente como produto de um mesmo processo o da

identificaccedilatildeo Pode-se afirmar que depois de nomeado o objeto passa a ser identificado

tambeacutem pelas diferenccedilas que possui em relaccedilatildeo agravequilo que natildeo eacute ou melhor eacute diferenciado

face aos demais elementos do mundo extralinguiacutestico conferindo-lhe existecircncia Tem um nome

porque existe tornou-se conhecido e eacute reconhecido como elemento cultural importante para a

continuidade de uma populaccedilatildeo como um dos milhares de traccedilos que a caracteriza e desta

26

forma ldquoo processo de nomeaccedilatildeo eacute uma forma pela qual a sociedade cria os seus membros agrave sua

imagemrdquo (CABRAL 2007 p 85)

E em Craacutetilo Platatildeo narra um diaacutelogo entre Demoacutestenes e Craacutetilo acerca da justeza dos

nomes debates no qual Soacutecrates aponta para ambas as possibilidades isto eacute para os socraacuteticos

tanto se pode entender os nomes como vinculados agrave coisa como podem ser vistos como

inteiramente sem elo com as coisas do mundo Platatildeo (2001 p 48) justifica que o ato de nomear

era visto como uma pressuposiccedilatildeo da existecircncia de algo assim ldquoas coisas devem ser nomeadas

como lhes pertence por natureza serem nomeadas e por meio do que devem secirc-lo e natildeo como

noacutes queremos e assim faremos e nomearemos melhor mas de outra maneira natildeordquo

A nomeaccedilatildeo eacute assim uma atividade bastante significativa para o ser humano e se

constitui de uma accedilatildeo complementar do modo como determinada populaccedilatildeo entende o meio em

que vive essa eacute a linha de pensamento tanto de Dick (1990) como de outros estudiosos como

Basso (1988) Langacker (2002) Weisgerber (1977) Wierzbicka (1997) e Worf (1971) dos

fatos da linguagem como evidencia a assertiva que segue

Apreensatildeocompreensatildeo e transmissatildeoparticipaccedilatildeo de um dado qualquer do

saber humano satildeo atuantes de uma mesma e complexa evidecircncia relacional ndash

o ato comunicativo ndash que corporifica em sua expressividade um aglomerado

de situaccedilotildees liacutenguo-soacutecio-psiacutequicas Nele estaacute manifesto ainda que de modo

impliacutecito o registro pelo qual se concretizou a ldquoassimilaccedilatildeo do

mundordquo atraveacutes do coacutedigo de linguagem vivenciado por determinada

comunidade linguiacutestica (DICK 1990 p 29)

Natildeo eacute equivocado afirmar que o nome corporifica aquilo que determinada comunidade

assimilou de seu meio circundante mediante relaccedilotildees estabelecidas entre a liacutengua que

possibilita a representaccedilatildeo daquilo que foi evidenciado e as impressotildees sociopsiacutequicas oriundas

dos objetos do mundo que se tornaram salientes aos olhos do nomeador Assim recebe um

nome tudo aquilo que de uma forma ou de outra tornou-se um item da cultura seja um acidente

fiacutesico-natural (um rio uma espeacutecie botacircnica) ou um item criado culturalmente Em todas as

sociedades conhecidas haacute referecircncia aos nomes e consequentemente agrave accedilatildeo de nomear Muitas

vezes essa atividade humana eacute revestida de mitos e rituais que conferem ao nome poderes

maacutegicos ou sobre-humanos

Nas sociedades primitivas de acordo com Cunha (2004) um nome pode valorar o

sagrado ou o ritual isso pode ocorrer quando acontece a mudanccedila de nome (candombleacute e igreja

catoacutelica) desta forma ao nomear algueacutem eacute tocar-se na personalidade da pessoa e ateacute as partes

da escrita que compotildeem o nome satildeo carregadas de simbologia e forccedilas sobrenaturais Cunha

27

(2004 p 220) ainda acrescenta que ldquonas mais diversas culturas natildeo ter nome eacute natildeo existir

nomear eacute instituirrdquo

Nesse processo de instituir dos rituais de passagem eacute possiacutevel entender que a atividade

de nomeaccedilatildeo adveacutem de fatores que propiciam uma motivaccedilatildeo que resulta na escolha de um

nome No ritual de escolha de um novo Papa (igreja catoacutelica) ou de um novo membro do

candombleacute o indiviacuteduo fica recluso por alguns dias e no momento do ritual apresenta seu

novo nome agrave comunidade fato esse que reside de alguma forma na escolha do novo nome

Desta forma o nome eacute escolhido de acordo com suas caracteriacutesticas psicofiacutesicas e tambeacutem com

as que ele deseja ter a partir do momento de escolha do novo nome

Conforme Biderman (1998) muitas satildeo as culturas que acreditam que o nome estaacute

ligado agrave essecircncia da pessoa Nas culturas arcaicas em geral os nomes atribuiacutedos agraves pessoas

tinham um significado que indicava agraves vezes a vocaccedilatildeo ou o destino do indiviacuteduo o que

corrobora a justeza dos nomes nos rituais de passagem e em outras atividades de nomeaccedilatildeo

O ato de nomear se constitui tambeacutem como algo divino Para Biderman (1998 p 85)

ldquoo gesto criador de Deus identifica-se com esta palavra ontoloacutegica essencialmente divina O

que noacutes homens somos e o que sabemos nasce dessa revelaccedilatildeo primordial da palavra criadora

do gesto divino de dizerrdquo Cunha (2004) evidencia que a palavra jaacute eacute reveladora do poder desde

a antiguidade e isso se expressa de forma clara por meio da biacuteblia sagrada que em vaacuterios textos

conclama que o poder eacute revelado por meio da palavra como percebe-se no livro de Gecircnesis

capiacutetulo I versiacuteculos 19 e 20

19 Tendo pois o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos

e todas as aves dos ceacuteus levou-os ao homem para ver como ele os havia de

chamar e todo o nome que o homem pocircs aos animais vivos esse eacute o seu nome

verdadeiro 20 O homem pocircs nomes a todos os animais a todas as aves dos

ceacuteus e a todos os animais dos campos mas natildeo se achava para ele uma ajuda

que lhe fosse adequada (BIacuteBLIA 1995 p 51)

Dessa forma o cristianismo explica a atividade humana de nomeaccedilatildeo Isso evidencia

que todos os objetos recebem um nome (comum) mediante uma accedilatildeo deliberada de escolha

individual (como em Gecircnesis) ou coletiva Esse nome recebe uma funccedilatildeo de significaccedilatildeo ou

melhor passa a significar algo no mundo sua referecircncia A nomeaccedilatildeo configura-se como um

processo operacional de conhecer e denominar coisas Conforme De Lastra e Garcia (sd apud

DICK 1990) para ser denominado o mundo externo deve antes passar a ser interno (iacutentimo)

Na relaccedilatildeo das praacuteticas de nomeaccedilatildeo segundo Loacutepez (2013) ocorrem fatores internos

e externos da seguinte forma i mudanccedilas internas quando elementos do sistema toponiacutemico

28

que designa lugares passam para o sistema antroponiacutemico que designa pessoas ii mudanccedilas

externas ou forccediladas como as que ocorreram na Europa entre os seacuteculos XVIII e XIX e

obrigaram os judeus a adotarem nomes cristatildeos e abandonarem os seus de origem hebraica

Para os judeus assim como para muitos povos perder o nome eacute o mesmo que perder a histoacuteria

a identidade e a famiacutelia Desta forma as autoridades europeias acreditavam que os judeus

deixariam (perderiam) as suas identidades e constituiriam uma nova uma identidade europeia

Conveacutem ressaltar que o referente1 nem sempre figurou entre os elementos constitutivos

do signo linguiacutestico No Curso de Linguiacutestica Geral Ferdinand Saussure (2008) define o signo

linguiacutestico como a junccedilatildeo de uma imagem acuacutestica (significante) a um (ou vaacuterios) conceitos

(significado) Saussure natildeo inclui nessa definiccedilatildeo a coisa nomeada o objeto do mundo ou em

outros termos o referente

Dito de outro modo os gestos epistemoloacutegicos de Saussure (2008) ao definirem a

liacutengua como objeto proacuteprio de estudo e tambeacutem no sentido de imprimirem cientificidade aos

estudos linguiacutesticos excluem o referente construindo assim um domiacutenio especiacutefico para a

Linguiacutestica diferente de outras aacutereas que tambeacutem se atecircm aos estudos da linguagem humana

A liacutengua para o mestre suiacuteccedilo eacute um sistema de signos que por sua vez abarca entidades

psiacutequicas constituiacutedas por duas faces significante e significado Essas duas faces do signo

linguiacutestico natildeo guardam poreacutem entre si qualquer relaccedilatildeo loacutegica nenhum viacutenculo ou melhor

a relaccedilatildeo entre significante e significado eacute marcada pelo seu caraacuteter imotivado arbitraacuterio para

usar os termos saussurianos Desta forma Kristeva (2007 p 24) afirma que ldquoa palavra

lsquoarbitraacuteriorsquo significa mais exatamente lsquoimotivadorsquo quer dizer que natildeo haacute nenhuma necessidade

natural ou real que ligue o significante e o significadordquo

O nome sempre suscitou uma questatildeo ontoloacutegica2 ou melhor uma questatildeo de

existecircncia A nomeaccedilatildeo eacute apenas uma das funccedilotildees da linguagem mas tem um papel importante

pois o significado dos nomes organiza e classifica as formas de perceber a realidade aleacutem de

estar ligado diretamente a uma cultura ou comunidade Assim para Sapir (1980) a liacutengua

recorta a realidade agrave sua maneira eacute por meio dela que se evidencia a relaccedilatildeo linguagem

pensamento e cultura Desta forma ldquoas palavras da liacutengua significam ao funcionarem no

acontecimento Este funcionamento recorta politicamente o realrdquo (GUIMARAtildeES 2005 p 82)

Nessa perspectiva eacute possiacutevel dizer que a nomeaccedilatildeo ganha relevo quando o assunto eacute a relaccedilatildeo

linguagem e realidade

1 Em um sistema triaacutedico significante significado e o referente 2 Ontoloacutegico ldquoAdj 1 relativo a Ontologia 2 que trata do ser humano na sua essecircncia na sua globalidaderdquo Verbete

inscrito em (BORBA 2004 p 992)

29

Guiraud (1986) chama atenccedilatildeo para a forccedila criadora da linguagem que resulta em uma

funccedilatildeo semacircntica dinacircmica e volaacutetil orientada principalmente por fatores especiacuteficos de uma

dada cultura Assim

[] a motivaccedilatildeo eacute uma forccedila criadora inerente agrave linguagem social que eacute um

organismo vivo de origem empiacuterica somente depois que a palavra eacute criada e

motivada (naturalmente ou intralinguisticamente) eacute que as exigecircncias da

funccedilatildeo semacircntica acarretam um obscurecimento dessa motivaccedilatildeo etimoloacutegica

que pode aliaacutes ao se apagar trazer uma alteraccedilatildeo de sentido (GUIRAUD

1986 p 31)

Motivaccedilatildeo esta que com o decorrer do tempo pode vir a se tornar obscura pelo

distanciamento temporal do fato que lhe deu origem Pode inclusive o nome sofrer inuacutemeras

alteraccedilotildees de sentido sem nenhum viacutenculo semacircntico com o significado original nem com o

fenocircmeno de sua ocorrecircncia primeira No entanto eacute forccediloso ressaltar mais uma vez que o ato

de nomear eacute motivado conforme Guiraud (1986) a nomeaccedilatildeo eacute inerente agrave linguagem e decorre

da relaccedilatildeo entre homem e ambiente ao reconhecer os objetos do mundo extralinguiacutestico

No que tange agrave motivaccedilatildeo Biderman (1998) reafirma a noccedilatildeo de que o nome natildeo eacute

arbitraacuterio ele tem um viacutenculo de essecircncia com a coisa ou o objeto que designa Assim o homem

primitivo acredita que seu nome tem parte vital com o seu ser Nas histoacuterias que nos satildeo

relatadas dos povos primitivos em relaccedilatildeo aos nomes podemos observar que para alguns

quando se sabia o nome da pessoa o inimigo poderia fazer magia negra com ele Essas relaccedilotildees

culturais com os nomes satildeo recorrentes em vaacuterios paiacuteses e histoacuterias da antiguidade claacutessica

De acordo com Frazer (1951) em vaacuterias tribos primitivas o nome era considerado como

uma realidade e natildeo uma convenccedilatildeo artificial podendo servir de intermeacutedio para fazer atuar a

magia sobre a pessoa como se fosse parte do indiviacuteduo como cabelo unha ou qualquer outra

parte fiacutesica Essas crendices ou mitos acerca do nome se estendem por vaacuterias partes do mundo

como para os iacutendios da Ameacuterica do Norte o nome eacute como uma parte de seu corpo e o mau

tratamento (uso) dele pode trazer ferimento fiacutesico Assim o nome natildeo deve ser pronunciado

podendo no ato de sua pronunciaccedilatildeomaterializaccedilatildeo revelar as propriedades reais da pessoa que

o usa e assim tornaacute-la vulneraacutevel perante os seus inimigos

Nas narrativas das sociedades relatadas por Frazer (1951) o homem do povo esquimoacute

recebe um novo nome ao chegar agrave velhice na Aacutefrica as pessoas podem ateacute receber uma duacutezia

de nomes no decorrer de sua vida e em alguns casos no iniacutecio de sua vida recebem dois nomes

um nome de preto usado em casa e junto agrave famiacutelia e outro nome de branco usado na escola e

na sociedade os egiacutepcios tambeacutem recebiam dois nomes um nome pequeno que era bom e

30

usado em famiacutelia e um nome grande que era mau e dissimulado julgamos esse uacuteltimo ser

usado na sociedade

Segundo Frazer (1951) para os Celtas o nome era sinocircnimo da alma e da respiraccedilatildeo

Entre os Yuiacutens (sul da Austraacutelia) e outros povos o pai revela o nome ao filho no momento da

iniciaccedilatildeo e poucas pessoas o conhecem Tambeacutem na Austraacutelia as pessoas deixam de usar o

nome e passam a chamar um ao outro de primo tio sobrinho ou irmatildeo Nessas relaccedilotildees as

historietas dos nomes vatildeo estar sempre entrelaccediladas aos fatores culturais das comunidades

Em muitas culturas Frazer (1951) relata que a natildeo pronunciaccedilatildeo de nomes era tabu

como em Cafres onde as mulheres natildeo podiam pronunciar o nome de seus maridos ou sogros

nem qualquer palavra que se assemelhasse aos nomes Tambeacutem natildeo era permitido pronunciar

nomes de animais plantas reis deuses personagens sagrados considerados perigosos pois isso

seria como invocar o proacuteprio perigo

Frazer (1951) revela uma histoacuteria ocorrida no Egito com o deus Raacute que tinha vaacuterios

nomes mas o seu verdadeiro nome que lhe dava poder sobre os outros deuses natildeo era conhecido

e ao ser enfeiticcedilado pela invejosa deusa Iacutesis ndash picado por uma serpente ndash cujo veneno soacute seria

retirado de seu corpo no momento em que ele revelasse o seu verdadeiro nome Raacute lamenta-se

ldquoEu sou aquele que tem muitos nomes e muitas formas O meu pai e minha matildee disseram-me

o meu nome estaacute escondido no meu corpo desde o meu nascimento para que natildeo se possa dar

nenhum poder maacutegico a algueacutem que me queira lanccedilar uma maldiccedilatildeordquo (FRAZER 1951 apud

KRISTEVA 2007 p 64) O veneno tomou conta do corpo de Raacute e jaacute natildeo conseguia andar Iacutesis

continuou a atormentar o deus e o veneno foi penetrando profundamente e queimava seu corpo

Entatildeo Raacute consentiu que Isis buscasse o seu verdadeiro nome no iacutentimo do seu ser assim ela

fez arrebatou-lhe o verdadeiro nome e ordenou que o veneno que o queimava caiacutesse por terra

e libertasse o deus pois o que ela queria jaacute havia conseguido Acreditava-se assim que quem

conhecesse o verdadeiro nome de um deus (algueacutem) possuiria a sua essecircncia o seu verdadeiro

ser e ateacute o seu poder

Segundo Loacutepez (2013) os nomes variam conforme o momento e o local em que satildeo

escolhidos a pessoa que os escolhe e as normas para o uso Podem indicar gecircnero filiaccedilatildeo

origem geograacutefica religiatildeo e etnia Haacute tambeacutem inuacutemeras crenccedilas de que existe uma relaccedilatildeo

entre a pessoa seu nome e o significado deste inclusive muitos nomes satildeo uacutenicos

Segundo Cunha (2004 p 226) ldquoO nome proacuteprio topocircnimo ou antropocircnimo participa

da literariedade do texto podendo consequentemente enriquecer-se de valores semacircnticos

denotativos e conotativos da mesma forma que as outras palavras que o estruturamrdquo jaacute que

31

quando nomeamos atribuiacutemos simultaneamente um predicado um complemento ao nome uma

caracteriacutestica um adjetivo

Em Guimaratildees (2005) o ato de dar nome eacute tambeacutem um ato de identificar um indiviacuteduo

bioloacutegico como tal para o Estado e para a sociedade e tornaacute-lo sujeito De acordo com esse

ponto de vista ganha interesse o funcionamento determinativo da construccedilatildeo do nome proacuteprio

da pessoa no qual segundo Guimaratildees (2005 p 52) ldquohaacute uma relaccedilatildeo particular entre a

nomeaccedilatildeo e o objeto nomeado que se apresenta por uma materialidade histoacuterica e natildeo fiacutesicardquo

A nomeaccedilatildeo eacute por causa da predicaccedilatildeo um ato que diferencia sendo tambeacutem um ato

que identifica De acordo com Lima (2007 p 51)

o acto (sic) de nomear eacute um dos primeiros momentos de inserccedilatildeo da pessoa

numa categoria social de geacutenero Mas ainda mostra-nos que neste contexto

social nomear eacute uma das formas mais importantes de construir geacutenero e

pessoa dentro da famiacutelia

A inserccedilatildeo da pessoa na sociedade por meio de seu nome eacute uma relaccedilatildeo hierarquizada

construiacuteda agrave luz de valores tanto sociais como familiares Como jaacute sabemos o nome eacute uma

forma de identidade de revelar o que o outro natildeo eacute assim nomear eacute um aspecto crucial da

conversatildeo de qualquer um em algueacutem de acordo com Geertz (1973)

Na conversatildeo mencionada Parkin (1989) justifica que nomear pode ser uma forma de

atribuir direitos3 que daacute autoridade tanto ao nomeado quanto ao nomeador ou uma forma de

objetivaccedilatildeo por meio da escolha de um nome em particular que estabeleccedila controle sobre o

nomeado Nessas situaccedilotildees pode ocorrer que as pessoas antecipem essas consequecircncias

escolhendo ou controlando a atribuiccedilatildeo do seu proacuteprio nome ou em alguns casos como

acontece de o nome possuir uma carga negativa perante a sociedade e a pessoa recorre ao poder

judiciaacuterio para requerer a troca de seu nome

Enfim nomear eacute se apropriar do real eacute nessa perspectiva de nomear e apoderar fato

este que se daacute por meio da linguagem e de acordo com isso Kristeva (2007 p 17) pontua que

Se a linguagem eacute mateacuteria do pensamento eacute tambeacutem o proacuteprio elemento da

comunicaccedilatildeo social Natildeo haacute sociedade sem linguagem tal como natildeo haacute

sociedade sem comunicaccedilatildeo Tudo o que se produz como linguagem tem lugar

na troca social para ser comunicado

3 Livre traduccedilatildeo para Entitling

32

Eacute nessa troca social que acontece por meio da linguagem a nomeaccedilatildeo Assim eacute

necessaacuterio destacar que os nomes proacuteprios de lugares ndash topocircnimos ndash passam a estabelecer

relaccedilotildees materializadas por meio do uso da linguagem Sabe-se que o nome designado eacute

construiacutedo simbolicamente isso porque a linguagem que o constroacutei funciona por estar exposta

ao real e constituiacuteda materialmente pela histoacuteria local a qual motiva o leacutexico topocircnimo e eacute

nesse momento que ele nasce e se institui naquele lugar

De acordo com Biderman (1998) eacute por meio da palavra que as entidades da realidade

passam a ser conhecidas nomeadas e identificadas Essa realidade cria o seu acircmbito

significativo que nos eacute revelado pela linguagem que tambeacutem eacute a responsaacutevel por elencar os

fatores soacutecio-histoacuterico-cultural que permeiam a realidade Aqui no nosso caso esses fatores

satildeo trazidos por meio do leacutexico topocircnimo mais especificamente no ato de nomear um

designativo de lugar

Conforme Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares seja

em homenagem a algueacutem como eacute o caso da cidade de Pires do Rio que recebeu o nome o

patroniacutemico4 do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas (1919-1922) do governo de Epitaacutecio

Pessoa Dr Joseacute Pires do Rio Haacute lugares que recebem o nome em razatildeo de caracteriacutesticas

geograacuteficas Alguns nomes satildeo opacos conceito de Piel (1979) em contraposiccedilatildeo aos

transparentes pois natildeo apresentam relaccedilatildeo alguma com o referente nesse caso haacute de se fazer

uma busca histoacuterica para chegar agrave relaccedilatildeo motivacional

O homem tem a capacidade de associar palavras a conceitos E no ato de nomear

acontece a motivaccedilatildeo que estaacute ligada aos fatores cognitivos Assim o leacutexico que a ele eacute

determinado por meio do uso da linguagem se transporta no tempo sendo capaz de revelar os

fatores culturais e motivacionais que estatildeo nesse nomeleacutexico toponiacutemico (BIDERMAN 1998)

O nome comum no ato de nomeaccedilatildeo de um lugar impregna-se de significaccedilotildees vaacuterias

sejam de fatores histoacutericos culturais sociais econocircmicos Segundo Guimaratildees (2005 p 83)

ldquoo modo de significar os espaccedilos da cidade mostra que eles satildeo espaccedilos poliacuteticos O espaccedilo que

se daacute como objeto por uma descriccedilatildeo (referecircncias) atende a objetividade do discurso

administrativo que nomeia oficialmente os espaccedilos da cidaderdquo Assim o nome cifra a narrativa

histoacuterica local perpassando por fatores ou designativos memoraacuteveis

Essa atividade de nomeaccedilatildeo ou praacutetica de nomeaccedilatildeo eacute especificamente da espeacutecie

humana e resulta do processo de categorizaccedilatildeo inerente ao ser humano De acordo com

Biderman (1998 p 89)

4 De acordo com Cabral (2007) patroniacutemico eacute sobrenome

33

O processo de categorizaccedilatildeo subjaz agrave semacircntica de uma liacutengua natural Os

criteacuterios de classificaccedilatildeo usados para classificar os objetos satildeo muito

diferenciados e variados Agraves vezes o criteacuterio eacute o uso que o homem faz de um

dado objeto agraves vezes eacute um determinado aspecto do objeto que fundamenta a

classificaccedilatildeo agraves vezes eacute um determinado aspecto emocional que um objeto

pode provocar em quem o vecirc e assim por diante

Entatildeo o processo de categorizaccedilatildeo que por via das vezes pode se tornar um legislador

ndash nomeador Essas discussotildees acerca das histoacuterias do ato de nomear revelam formas de

organizaccedilatildeo social e mudanccedilas linguiacutesticas poliacuteticas e culturais Eacute pois por meio do nome que

as pessoas ou lugares permanecem vivos na memoacuteria coletiva de sua linhagem

E nesse processo de nomeaccedilatildeo categorizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo nos estudos na aacuterea da

Onomaacutestica mais precisamente na subaacuterea dos Estudos Toponiacutemicos ndash temaacutetica de nossa

pesquisa ndash natildeo tem como desvencilhar a liacutengua e cultura Assim para Sapir-Whorf a liacutengua

retrata o mundo e a realidade social agrave sua volta expressos por categorias lexicais como os

topocircnimos

12 Liacutengua e Cultura

A liacutengua no contexto soacutecio-histoacuterico-cultural nada mais eacute que o resultado de um

processo histoacuterico um produto revelador da cultura de uma dada comunidade (CAcircMARA JR

1955) Nessas bases inter-relacionar liacutengua e cultura eacute justificar que estatildeo intrinsecamente

interligadas pois a liacutengua revela a visatildeo de mundo e eacute tambeacutem a manifestaccedilatildeo de uma cultura

cultura esta que lhe daacute suporte a liacutengua tambeacutem eacute suporte da cultura

Em seus estudos Paula (2007) menciona que a liacutengua eacute um metassistema ela ldquonatildeo eacute soacute

objeto ela eacute nas relaccedilotildees sociais mais diversamente possiacuteveis tambeacutem instrumento de

investigaccedilatildeo distinto que ajuda a entender os outros sistemas sociaisrdquo (PAULA 2007 p 90)

Nesse contexto eacute possiacutevel evidenciar que por meio da liacutengua satildeo reeditadas e reconfiguradas

as praacuteticas culturais de uma dada comunidade

Posto isso conveacutem rever alguns conceitos que remetem agrave face social da liacutengua seu

caraacuteter eminentemente social mais condizente com o recorte epistemoloacutegico feito por Saussure

(2008 p 17)

Mas o que eacute a liacutengua Para noacutes ela natildeo se confunde com a linguagem eacute

somente uma parte determinada essencial dela indubitavelmente Eacute ao

mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto

34

de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo corpo social para permitir o

exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos Tomada em seu todo a linguagem

eacute multiforme e heteroacuteclita o cavaleiro de diferentes domiacutenios ao mesmo

tempo fiacutesica fisioloacutegica e psiacutequica ela pertence aleacutem disso ao domiacutenio

individual e ao domiacutenio social natildeo se deixa classificar em nenhuma categoria

de fatos humanos pois natildeo se sabe como inferir sua unidade

De acordo com Fiorin (2013 p 17) ldquoA liacutengua natildeo eacute um sistema de mostraccedilatildeo de

objetos porque permite falar do que estaacute presente e do que estaacute ausente do que existe e do que

natildeo existe porque possibilita ateacute criar novas realidades mundos natildeo existentesrdquo A liacutengua eacute um

produto social e por meio dela se criam e recriam realidades podendo entatildeo se justificar as

praacuteticas culturais por meio de atos linguiacutesticos

Com esse movimento epistemoloacutegico ou melhor ao eleger a liacutengua e natildeo a linguagem

nem a fala como objeto de estudo da Linguiacutestica Saussure possibilitou a instituiccedilatildeo da ciecircncia

linguiacutestica e consequentemente seus inuacutemeros desdobramentos posteriores

Sapir (1980) ressalta a estreita ligaccedilatildeo entre liacutengua e cultura jaacute que para o autor

Toda liacutengua tem uma sede O povo que a fala pertence a uma raccedila (ou a certo

nuacutemero de raccedilas) isto eacute a um grupo de homens que se destaca de outros

grupos por caracteres fiacutesicos Por outro lado a liacutengua natildeo existe isolada de

uma cultura isto eacute de um conjunto socialmente herdado por praacuteticas e crenccedilas

que determinam a trama das nossas vidas (SAPIR 1980 p 165)

Nesta perspectiva reafirmando que liacutengua se difere de linguagem mas se entrecruza

com ela ou dela faz parte como uma das inuacutemeras formas de linguagem e ainda considerando-

a um dos fatores de identidade de um povo e que natildeo existe isolada da cultura eacute que se torna

objeto de estudos o que envolve fatores soacutecio-histoacuterico-culturais das comunidades

O autor desta forma ainda nos revela que ldquotoda liacutengua estaacute de tal modo construiacuteda

que diante de tudo que um falante deseje comunicar por mais original ou bizarra que seja a sua

ideia ou a sua fantasia a liacutengua estaacute em condiccedilotildees de satisfazecirc-lorsquo (SAPIR 1969 p 33) Eacute

nessas condiccedilotildees de satisfazer ao falante ou agrave comunidade que ele pertence que a liacutengua se

justifica como um meio de interaccedilatildeo social e revelador da cultura jaacute que ela se configura no

tempo e eacute capaz de transmitir de geraccedilotildees a geraccedilotildees atraveacutes de atos linguiacutesticos as

manifestaccedilotildees culturais Conveacutem ressaltar que

Tudo que ateacute aqui verificamos ser verdade a respeito das liacutenguas indica que

se trata da obra mais notaacutevel colossal que o espiacuterito humano jamais

desenvolveu nada menos do que uma forma completa de expressatildeo para toda

a experiecircncia comunicaacutevel Essa forma pode ser variada de inuacutemeras maneiras

pelo indiviacuteduo sem perder com isso os seus contornos distintivos e estaacute

35

constantemente remodelando-se como sucede com toda arte A liacutengua eacute a arte

mais ampla e maciccedila que se nos depara cuacutemulo anocircnimo do trabalho

inconsciente das geraccedilotildees (SAPIR 1980 p 172)

De acordo com Cacircmara Jr (1955) a liacutengua eacute uma parte da cultura mas ela pode ser

estudada na sua relaccedilatildeo com a cultura ou sem considerar essa inter-relaccedilatildeo Segundo o autor

com essa perspectiva o linguista se destaca do antropoacutelogo Porque os estudos linguiacutesticos

podem prescindir do exame da inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura ou melhor pode-se estudar a

liacutengua em sua imanecircncia ou a relaccedilatildeo da linguagem com outras aacutereas do conhecimento humano

A liacutengua aleacutem de inter-relacionar a cultura nada sociedade atua para que a proacutepria

cultura seja conhecida e levada agrave geraccedilotildees futuras seja por meio de festas religiosas cantigas

e outros fatores que a divulguem Jaacute que na mesma base teoacuterica a liacutengua se justifica como um

fato de cultura assim como qualquer outro e neste iacutenterim integra-se agrave cultura

Cacircmara Jr (1955) reconhece que a liacutengua funciona na sociedade para a comunicaccedilatildeo e

interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e tambeacutem que ela se torna o resultado de uma cultura global pois a

liacutengua depende de toda cultura jaacute que a expressa a todo o momento

assim a liacutengua em face do resto da cultura eacute ndash o resultado dessa cultura ou

sua suacutemula eacute o meio para ela operar eacute a condiccedilatildeo para ela subsistir E mais

ainda soacute existe funcionalmente para tanto englobar a cultura comunicaacute-la e

transmiti-la (CAcircMARA JR 1955 p 54)

Considerada a inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura pode-se ressaltar mais uma vez que a

cultura se manifesta linguisticamente sejam elas integrantes de manifestaccedilotildees da cultura

popular ou da erudita

De modo geral a cultura eacute pensada numa visatildeo polarizante como sendo

cultura popular ou cultura erudita Conveacutem dizer poreacutem que ambas satildeo

formas e conteuacutedos diferentes de expressatildeo de uma dada realidade social e

histoacuterica Entatildeo natildeo devem ser vistas como opostas ou excludentes mas como

maneiras especiacuteficas de ver sentir e expressar a realidade conforme se situam

seus atores na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo do poder (PAULA 2007 p 75)

Neste processo Sapir (1969) menciona que o leacutexico eacute o niacutevel linguiacutestico em que mais

intimamente se interligam liacutengua e cultura Zavaglia (2012) por sua vez reconhece que o leacutexico

estaacute vinculado agrave cultura de um povo de uma naccedilatildeo agrave sua histoacuteria

Para Zavaglia (2012) o leacutexico estaacute relacionado com a memoacuteria humana e se configura

no ato de nomeaccedilatildeo diante do processo em que houve a necessidade de o homem por meio de

36

palavras nomear tudo que o circundava e assim categorizar o que estava a seu redor Pautados

na autora observamos a grandeza do leacutexico pois

Eacute o leacutexico em forma de palavras e por meio da linguagem que ldquocontardquo a

histoacuteria milenar de povo para povo eacute o leacutexico que transmite os elementos

culturais de um conjunto de indiviacuteduos eacute o leacutexico que ldquoeducardquo ou ldquodeseducardquo

eacute o leacutexico que permite a manifestaccedilatildeo dos sentimentos humanos de suas

afeiccedilotildees ou desagrados via oral ou via escrita Eacute o leacutexico que registra o

desencadear das accedilotildees de uma sociedade suas mudanccedilas seu progresso ou

regresso Condivido com Biderman quando diz que o leacutexico eacute o tesouro

vocabular de forma codificada da memoacuteria do indiviacuteduo restando ali estocado

ateacute que seja ativado quando necessaacuterio para que o homem possa expressar ou

se comunicar Eacute ainda por meio do leacutexico que conceitos condutas e costumes

satildeo transmitidos de geraccedilotildees a geraccedilotildees e herdados por elas ldquoEacute o leacutexico que

fisionomiza a culturardquo (ZAVAGLIA 2012 p 233)

O leacutexico eacute o fio condutor da cultura jaacute que a transporta para geraccedilotildees futuras eacute por meio

dele que se registra a histoacuteria e a vida de uma sociedade Para Sapir (1969) a cultura estaacute

nitidamente no leacutexico da liacutengua e este pode ser considerado como todo o conjunto de ideias

interesses e ocupaccedilotildees que abrangem a atenccedilatildeo da comunidade Neste contexto

O estudo cuidadoso de um dado leacutexico conduz a inferecircncias sobre o ambiente

fiacutesico e social daqueles que o empregam e ainda mais que o aspecto

relativamente transparente ou natildeo-transparente do proacuteprio leacutexico nos permite

deduzir o grau de familiaridade que se tem adquirido com os vaacuterios elementos

do ambiente (SAPIR 1969 p 49)

Eacute possiacutevel ressaltar que o leacutexico da liacutengua conteacutem um recorte da realidade feito agrave sua

maneira que revela visotildees de mundo Os elementos culturais que matizam datildeo o colorido de

significaccedilatildeo ao leacutexico mostram de diferentes maneiras as relaccedilotildees que ambas liacutengua e cultura

tecircm com o ambiente seja fiacutesico ou social pois toda complexidade dessa inter-relaccedilatildeo pode ser

anunciada e enunciada no uso da linguagem

Vale entatildeo ressaltar

Que o leacutexico assim reflita em alto grau a complexidade da cultura eacute

praticamente um fato de evidecircncia imediata pois o leacutexico ou seja o assunto

de uma liacutengua destina-se em qualquer eacutepoca a funcionar como um conjunto

de siacutembolos referentes ao quadro cultural do grupo Se por complexidade de

uma liacutengua se entende a seacuterie de interesses impliacutecitos em seu leacutexico natildeo eacute

preciso dizer que haacute uma correlaccedilatildeo constante entre a complexidade

linguiacutestica e cultural (SAPIR 1969 p 51)

37

O conjunto de signos da liacutengua ultrapassa as fronteiras do tempo trazendo para a

atualidade siacutembolos tambeacutem culturais que satildeo revelados por meio de praacuteticas culturais que se

interseccionam com as praacuteticas linguiacutesticas Assim

Natildeo soacute as palavras da liacutengua passam a servir de siacutembolos culturais dispersos

como sucede nas liacutenguas em qualquer periacuteodo de desenvolvimento mas se

pode supor que as proacuteprias categorias e processos gramaticais simbolizariam

tipos correspondentes de pensamento e atividade de significaccedilatildeo cultural Ateacute

certo ponto pode se conceber portanto a cultura e a liacutengua em constante

estado de interaccedilatildeo e em associaccedilatildeo definida por um largo lapso de tempo

Mas tal estado de correlaccedilatildeo natildeo pode continuar indefinidamente (SAPIR

1969 p 60)

Segundo Sapir (1969) a linguagem possui o papel de produzir e organizar o mundo

mediante o processo de simbolizaccedilatildeo Contudo a realidade eacute mostrada por meio da linguagem

o que significa dizer que natildeo haacute mundos iguais visto que natildeo haacute liacutenguas iguais De acordo com

estas observaccedilotildees cabe ressaltar o relativismo linguiacutestico ldquoHipoacutetese de Sapir-Whorfrdquo a

linguagem determina a forma de ver o mundo e consequentemente de se relacionar com esse

mundo

O relativismo linguiacutestico pode ser entendido como a relaccedilatildeo linguagem e pensamento

mediada pela cultura desta forma linguagem pensamento e cultura estatildeo conectados Sapir-

Whorf observam que a realidade social eacute produto linguiacutestico tratando assim as relaccedilotildees de

linguagemcultura e linguagempensamento a cultura pode ser considerada como

conhecimento adquirido socialmente por meio das praacuteticas linguiacutesticas

De maneira geral diz-se que a cultura eacute o conhecimento que as pessoas detecircm acerca de

uma comunidade seja em seus acircmbitos popular ou cientiacutefico os quais ultrapassam o tempo

por meio da liacutengua jaacute que ldquoA cultura eacute o conjunto do que o homem criou na base das suas

faculdades humanas abrange o mundo humano em contraste com o mundo fiacutesico e o mundo

bioloacutegicordquo (CAcircMARA JR 1955 p 51)

Em outras palavras

Cultura eacute o conjunto de praacuteticas sociais situadas historicamente que se

referem a uma sociedade e que a fazem diferente de outra Baseia-se na

construccedilatildeo social de sentidos a accedilotildees crenccedilas haacutebitos objetos que passam a

simbolizar aspectos da vivecircncia humana em coletividade (PAULA 2007 p

74)

A diversidade tambeacutem se reflete na cultura pois de acordo com Bosi

38

[] natildeo existe uma cultura brasileira homogecircnea matriz de nossos

comportamentos e dos nossos discursos Ao contraacuterio a admissatildeo do seu

caraacuteter plural eacute um passo decisivo para compreendecirc-la como um ldquoefeito de

sentidordquo resultado de um processo de muacuteltiplas interaccedilotildees e oposiccedilotildees no

tempo e no espaccedilo (BOSI 1987 p 7)

Neste sentido a cultura se constroacutei a partir das vivecircncias e significados que lhe satildeo

atribuiacutedos pela proacutepria sociedade em suas praacuteticas sociais e constituindo-se tambeacutem em

diferenccedila Para Bosi (1987 p 11) o fundamento da cultura popular ldquoeacute o retorno de situaccedilotildees e

atos que a memoacuteria grupal reforccedila atribuindo-lhes valorrdquo Isso satildeo as marcas identitaacuterias da

comunidade que satildeo deixadas e vivenciadas (ou vivificadas) tempos depois A cultura popular

eacute revelada por meio de praacuteticas culturais e linguiacutesticas que levam a puacuteblico as relaccedilotildees soacutecio-

histoacuterica-culturais de determinadas comunidades

A cultura se constroacutei com base nos valores atribuiacutedos pelos sujeitos agraves relaccedilotildees

cotidianas e nas relaccedilotildees de poder Organiza-se como popular eou erudita Nesse sentido natildeo

existe cultura melhor nem pior cada uma eacute expressa pelo seu grupo social pois cada indiviacuteduo

tem uma forma de ver o mundo modos de vestir de comer os meios para se curar os remeacutedios

os modos de plantar de cultivar e colher os modos de nomear e categorizar os elementos da

natureza e outros tantos mais Desta forma ldquoconforme as pessoas entendem que participam de

uma cultura esforccedilam-se para agir dentro do que julgam ser pertinente a elardquo (PAULA 2007

p 75)

Cultura liacutengua e identidade natildeo satildeo algo fixo pronto e acabado estando sempre em

constituiccedilatildeo uma vez que satildeo produzidas por seres sociais que se encontram em processo de

interaccedilatildeo aprendizado conhecimento e estatildeo inseridos em contextos sociais que passam por

transformaccedilotildees O leacutexico eacute o meio pelo qual a cultura e a identidade se constroem e se

disseminam

Na visatildeo de Paula (2007 p 89) a memoacuteria eacute o depositaacuterio tanto da cultura como da

liacutengua visto que

O modo como se estrutura poliacutetica e economicamente uma sociedade diz

muito de suas estruturas culturais estas por sua vez soacute se fazem possiacuteveis

graccedilas agrave elaboraccedilatildeo cotidiana do arcabouccedilo de memoacuteria coletiva ao modo

como eacute concebida e ao estatuto que lhe eacute dado Expressando estas inter-

relaccedilotildees servindo a elas no cotidiano da comunicaccedilatildeo humana e carregando

em seu funcionamento muito do modo como a sociedade se faz e se refaz estaacute

a liacutengua

39

Os processos culturais que satildeo construiacutedos por meio de atos linguiacutesticos satildeo uma forma

identitaacuteria de dada comunidade que eacute expressa por relaccedilotildees sociais como forma de conduzir e

expressar-se perante as demais comunidades sejam elas internacionais nacionais ou regionais

sabemos que a cultura eacute a miscigenaccedilatildeo de outras culturas

13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes

Embora faccedila parte do cotidiano das pessoas portanto estreitamente ligado agrave cultura natildeo

haacute muita discussatildeo referente ao nome proacuteprio e aos motivos de algueacutem ou um lugar ter o nome

que tem Entretanto conforme Carvalhinhos (2002) jaacute no seacuteculo II aC com o gramaacutetico

Dioniacutesio Traacutecia o estudo sobre o nome jaacute tinha sido pensado e formulado Esses estudos

propiciaram por sua vez o surgimento da Onomaacutestica a ciecircncia que se ocupa dos estudos da

origem e alteraccedilotildees (na forma e no significado) dos nomes proacuteprios A Onomaacutestica eacute um ramo

das ciecircncias linguiacutesticas que pode-se efetuar em duas vertentes a toponiacutemia (estudo do

topocircnimo ou nome de lugar) e a antroponiacutemia (estudo do nome pessoal)

Conforme Dubois (2004) e Houaiss (2004) a Onomaacutestica eacute um ramo da lexicologia e

seu meacutetodo de trabalho deve-se desenvolver em linha documental mediante a observaccedilatildeo de

dados oficiais como mapas listas de nomes ou outros documentos de valor historiograacutefico e

lexicograacutefico Isso possibilita a junccedilatildeo da histoacuteria da nomenclatura com momentos histoacutericos e

sociais mais amplos

No entanto mesmo pertencendo agrave ciecircncia da linguagem a Onomaacutestica se estabelece por

meio do suporte de outras aacutereas do conhecimento como a Antropologia a Etnografia a

Botacircnica a Geografia e a Histoacuteria Neste sentido natildeo eacute equivocado salientar que a Onomaacutestica

eacute um campo de amplo caraacuteter interdisciplinar

Assim a Onomaacutestica ou Onomasiologia eacute o ramo da ciecircncia linguiacutestica que tem o nome

proacuteprio como objeto de estudo e se constroacutei em relaccedilatildeo a outros campos do saber Contudo ao

relacionar o seu conhecimento aos de outras aacutereas ela natildeo os confunde nem os nega

De acordo com Ramos e Bastos (2010) a Onomaacutestica assume uma perspectiva

integralizadora de meacutetodos e demanda um consideraacutevel nuacutemero de conhecimentos de campos

diversos de maneira direta ou indireta e vertical ou horizontal destacando-se a linguiacutestica com

valoraccedilatildeo da pesquisa etimoloacutegica

Conforme dito a Onomaacutestica para efeito de estudo pode ser dividida em dois eixos a

Antroponiacutemia e a Toponiacutemia Estas por sua vez podem apresentar subdivisotildees dependendo

de algumas consideraccedilotildees acerca das caracteriacutesticas que cada uma agrave sua maneira apresenta

40

A Toponiacutemia conforme Piel (1979) de acordo com o objeto de denominaccedilatildeo pode

denominar-se tambeacutem como astroniacutemia hidroniacutemia litoniacutemia odoniacutemia oroniacutemia para citar

apenas alguns termos que correspondem a objetos que constituem ou satildeo constituiacutedos por

formaccedilotildees aquosas astros formaccedilotildees peacutetreas serras vias ou caminhos

Jaacute a Antroponiacutemia volta sua atenccedilatildeo para o estudo dos nomes de batismo dos

sobrenomes patroniacutemicos (ou matroniacutemicos) e ainda das alcunhas dos apelidos e de nomes

diminutivos A Antroponiacutemia agrave semelhanccedila da Toponiacutemia natildeo se constitui de forma

homogecircnea jaacute que haacute uma seacuterie de tradiccedilotildees conforme os povos ou culturas que desenvolveram

esses sistemas antroponiacutemicos Por outro lado eacute consenso afirmar que os nomes pessoais satildeo

um aspecto comum ou universal nas liacutenguas porque as pessoas recebem um nome em algum

momento de suas vidas em todas as sociedades conhecidas do mundo

De acordo com Dick (1992) as intenccedilotildees e as motivaccedilotildees que subjazem agrave escolha dos

nomes em cada sociedade variam bastante Os estudos dos sistemas onomaacutesticos vecircm confirmar

isso porque os nomes existem e satildeo controlados pelas necessidades e praacuteticas sociais as quais

podem variar de acordo com a visatildeo de mundo de um determinado povo

Posto isso conveacutem conceber a Onomaacutestica como uma disciplina que deve focar como

objeto de estudo os sistemas de denominaccedilatildeo que justifiquem os processos de atribuiccedilatildeo de

nomes de uma maneira geral

Em Soliacutes (1997) os nomes satildeo o resultado de algo que os provoca isto eacute o sistema

denominativo elaborado pelas culturas para atribuir nomes agraves coisas apreendidas por sua

atividade cognitiva

Devido ao fato de a Onomaacutestica estender-se a um amplo campo de estudo ou seja que

se volta tanto para o estudo dos nomes proacuteprios de pessoas como agraves designaccedilotildees dos lugares eacute

imperioso delimitar para este estudo apenas o sistema onomaacutestico voltado para os nomes de

lugar isto eacute para a toponiacutemia caracterizando como objeto de estudo os nomes dos cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio

A despeito de incorrer em lugar comum conveacutem rever os constituintes da palavra

toponiacutemia cujo significado etimoloacutegico pode ser assim expresso do grego topos (lugar) e

onoma (nome) A Toponiacutemia se ocupa dos locativos (tambeacutem componentes do leacutexico da liacutengua)

com o fito de estudar a origem as significaccedilotildees e as transformaccedilotildees por que passam ou

passaram esses nomes A Toponiacutemia se dedica ao estudo natildeo apenas dos nomes de comunidades

humanas (cidades povoados vilas) como tambeacutem elementos geograacuteficos a exemplo os cursos

drsquoaacuteguas

41

Os estudos toponiacutemicos propiciam a percepccedilatildeo da relaccedilatildeo entre povo liacutengua e territoacuterio

considerando que esse territoacuterio pode ser fiacutesico eou imaginaacuterio jaacute que as entidades do mundo

que precisam ser nomeadas podem ser pessoas entidades geograacuteficas que fazem parte do

ambiente em que vive determinado povo e que sobretudo tenham importacircncia para esse povo

pois se natildeo tem importacircncia natildeo haacute em contrapartida necessidade de ser nomeado Conveacutem

no entanto ressaltar que nem todas as nomeaccedilotildees ocorrem pela necessidade espontacircnea de

identificaccedilatildeo uma vez que muitas delas refletem a imposiccedilatildeo de forccedilas ideoloacutegicas poliacuteticas e

sociais

Neste sentido surge a necessidade de reconhecer os objetos geograacuteficos da natureza

tais como rios mares lagoas ilhas continentes serras e outros mas haacute outros que precisam

ser denominados tambeacutem principalmente os objetos da cultura aqueles criados pelo homem

dentre os quais podem ser citados os povoados represas moradias (habitaccedilatildeo) ruas

circunscriccedilotildees poliacutetico-territoriais que se situam em algum lugar do universo fiacutesico

Natildeo se pode omitir aqueles lugares cujo universo foi criado pela cultura imaterial o

mundo natildeo fiacutesico Sejam do universo real ou imaginaacuterio as entidades geograacuteficas satildeo os

referentes dos topocircnimos que por sua vez integram a visatildeo de mundo de um povo Isso

constitui uma dificuldade em especificar que referentes existem no mundo fiacutesico ou cultural

em parte porque para isso eacute necessaacuterio considerar uma cultura determinada Em resposta a isso

haacute o reconhecimento da visatildeo de mundo que eacute peculiar a cada cultura

Muitos povos concebem o universo real como um mundo que tem seu correlato miacutetico

com outros mundos e fazem assim surgir universos de nomes toponiacutemicos de variada riqueza

toponomaacutestica porque tecircm lugares para nomear no espaccedilo fictiacutecio criado nesse mundo Assim

aleacutem de serem componentes linguiacutesticos como tal os nomes que compotildeem um sistema de

denominaccedilatildeo satildeo ainda criaccedilotildees socioculturais

Entatildeo cabe agrave Toponiacutemia estudar tanto os nomes de lugares (os topocircnimos) como

componentes de uma liacutengua que satildeo como tambeacutem o sistema de denominaccedilatildeo organizado pelas

sociedades para nomear os objetos fiacutesicos ou imaginaacuterios da sua cultura Devido agraves diferentes

visotildees de mundo tecircm-se diferentes formas de nomear essas entidades Aleacutem da visatildeo de mundo

em sociedades como a brasileira podem contribuir para a formaccedilatildeo de um sistema de nomeaccedilatildeo

os movimentos sociais como forccedila impulsionadora de mudanccedila social Em relaccedilatildeo agrave realidade

brasileira podem-se mencionar as poliacuteticas que vecircm acontecendo durante os mais de 500 anos

de histoacuteria brasileira que tambeacutem resultou em inuacutemeras formaccedilotildees e mudanccedilas de designaccedilatildeo

toponiacutemica no Brasil

42

Cabe reiterar que a toponiacutemia refere-se a nomes de lugares habitados ou natildeo Daiacute uma

definiccedilatildeo apropriada para o termo ldquotopocircnimordquo eacute um nome de qualquer ponto localizaacutevel no

espaccedilo terrestre que tenha recebido denominaccedilatildeo Definiccedilatildeo essa que pode ser estendida para o

nome de qualquer ponto localizaacutevel no mundo real ou em mundos imaginados pelas culturas

em outras palavras daqueles universos que existem por meio da atividade ideacional dos

homens

Assim eacute por meio da relaccedilatildeo povo-territoacuterio que os nomes de lugar satildeo estabelecidos

Inicialmente pela posse do territoacuterio uma vez que segundo Couto (2007) o territoacuterio eacute uma

das primeiras referecircncias para que um agrupamento de pessoas possa receber o status de

comunidade e todo territoacuterio entendido como tal tem de ter um nome um topocircnimo Desta

forma recortam-se os aspectos do meio ambiente mais salientes aos olhos do povo como uma

espeacutecie de acordo que permite a vivecircncia e a convivecircncia em sociedade no territoacuterio apossado

Eacute possiacutevel afirmar que a nomeaccedilatildeo dos lugares surgiu com a proacutepria humanidade Os

registros antigos da histoacuteria da civilizaccedilatildeo ratificam essa accedilatildeo do homem sobre o lugar que

habita ou jaacute habitou satildeo fatores que sugerem uma espeacutecie de posse ou de domiacutenio sobre o lugar

por meio da significaccedilatildeo da organizaccedilatildeo e da orientaccedilatildeo pelo espaccedilo ocupado ou apenas

conhecido Em contrapartida o ato de nomeaccedilatildeo se manifesta como a accedilatildeo do meio fiacutesico e

sociocultural sobre o homem

Eacute nesta perspectiva que se podem considerar os estudos toponiacutemicos em seu acircmbito

interdisciplinar porque congregam vaacuterias aacutereas do conhecimento humano Os nomes de um

lugar satildeo enfocados conforme a observaccedilatildeo dos aspectos fiacutesicos socioculturais mentais e

histoacutericos interligados ou em separados

Assim natildeo eacute equiacutevoco conceber a Toponiacutemia como objeto de estudo da Antropologia

da Geografia da Histoacuteria ou ainda da Psicologia Social para citar apenas algumas disciplinas

Eacute possiacutevel segundo Dick (1992) realizar anaacutelises do fenocircmeno toponiacutemico em

consonacircncia teoacuterica com qualquer uma dessas aacutereas mas para a autora nenhuma delas tomada

isoladamente ou com exclusivismo alcanccedilaria a plenitude do fenocircmeno toponiacutemico Em termos

linguiacutesticos a Toponiacutemia recorre aos conhecimentos da Semacircntica da Lexicologia da

Etnolinguiacutestica da Dialetologia e da Linguiacutestica Histoacuterica

Mais recentemente uma linha de anaacutelise que tem oferecido contribuiccedilotildees importantes

aos estudos dos nomes de lugares eacute a Linguiacutestica Cognitiva Suas pesquisas vecircm enfatizando

natildeo soacute os modelos cognitivos mas tambeacutem os processos de categorizaccedilatildeo principalmente os

processos de analogia e contiguidade proacuteprios da metaacutefora e da metoniacutemia Entendecirc-los eacute

43

essencial para compreender os sistemas de nomeaccedilatildeo como resultados da experiecircncia e da

cogniccedilatildeo humana com o corpo em relevo

Esta perspectiva de anaacutelise coaduna estudos que procuram reconhecer processos

cognitivos expressos na accedilatildeo de denominar a realidade e para tanto fundamentam-se no corpo

Eacute uma forma de nomear os lugares fiacutesicos ou culturais mediante a percepccedilatildeo do denominador

na interaccedilatildeo com meio ambiente fiacutesico e cultural

14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica

Para realizar qualquer estudo onomaacutestico eacute necessaacuterio inicialmente buscar na teoria

linguiacutestica os recursos para se explicar como uma forma linguiacutestica se amaacutelgama a um lugar

configurando uma relaccedilatildeo entre esse lugar suas caracteriacutesticas e o signo linguiacutestico que passa

a designaacute-lo Em outras palavras eacute necessaacuterio buscar conceitos que estejam em consonacircncia

com os preceitos5 onomaacutestico-toponiacutemicos

Eacute por meio da liacutengua que se daacute a interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e a mesma constitui-se de

signos linguiacutesticos Em outras palavras o mundo humano a realidade extralinguiacutestica e a

cultura constituem-se de signos Calcados nas ideias de Charles Sanders Pierce (2005) tem-se

o conceito geral de que o signo eacute ldquoalgo que estaacute por algo para algueacutemrdquo Conveacutem salientar que

ldquoestar porrdquo eacute uma noccedilatildeo bastante ampla pois pode significar uma seacuterie de coisas como

representar caracterizar fazer agraves vezes de indicar entre outros Para Pierce (2005 p 46)

um signo ou representamem eacute algo que sob certo aspecto ou de algum modo

representa alguma coisa para algueacutem Dirige-se a algueacutem isto eacute cria na mente

dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido

Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo

representa alguma coisa seu objeto Representa esse objeto natildeo em todos os

aspectos mas com referecircncia a um tipo de ideia que eu por vezes denominei

fundamento do representamem (Grifos do autor)

Assim seguindo a concepccedilatildeo de Pierce (2005) sobre signo pode-se formular que eacute a

representaccedilatildeo de alguma coisa para algueacutem estaacute no lugar da coisa que ele representa e natildeo eacute a

coisa em si Tem ainda a condiccedilatildeo de perturbar a mente do interpretante i eacute daquele que vecirc

lecirc ou ouve o signo na tentativa de atribuir-lhe um significado Dessa forma eacute possiacutevel verificar

uma relaccedilatildeo de interdependecircncia entre pelo menos trecircs extremos i) a face perceptiacutevel do

5 No capiacutetulo 2 satildeo apresentados os meacutetodos usados na pesquisa

44

signo o representamem ou significante ii) o que ele representa o objeto ou referente e iii) o

que ele significa interpretante ou significado

Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo

Fonte Adaptado a partir do original de Ogden-Richards (1972)

Para Pierce (2005) os signos satildeo elementos tricotocircmicos6 e apresentam trecircs divisotildees

amplas (i) iacutecone (ii) iacutendice e (iii) siacutembolo A despeito de serem conceitos mais pertinentes a

um estudo semioacutetico em grande parte a motivaccedilatildeo que subjaz ao designativo de lugar imprime

caraacuteter icocircnico indicial ou simboacutelico ao nome do lugar o que acarreta uma dada categorizaccedilatildeo

Para Pierce (2005) (i) iacutecones satildeo os signos que apresentam as caracteriacutesticas

especiacuteficas proacuteprias por analogia formam-se pela primeira impressatildeopercepccedilatildeo que o

inteacuterprete tem sobre as coisas do mundo real Eacute um signo que guarda semelhanccedilas entre o

significante e o significado Em outras palavras um iacutecone eacute uma representaccedilatildeo - auditiva visual

ou de outra espeacutecie ndash de alguma coisa Uma fotografia uma pintura as imagens diagramas satildeo

exemplos de iacutecones por evidenciar semelhanccedila com o objeto representado A semelhanccedila tem

de ser estabelecida de forma quase que consciente por quem observa No entanto a semelhanccedila

com o objeto representado pode ser extraordinaacuteria como quando se observam as imagens sacras

ou iacutecones menores aqueles que aparecem na tela do computador ou pode ser mais abstrata

como a que acontece com as placas de sinais em geral

Em relaccedilatildeo aos (ii) iacutendices Pierce (2005) estabelece que satildeo signos que estatildeo numa

relaccedilatildeo direta entre o representamem e o objeto Um iacutendice (ou signo indexical) tem a funccedilatildeo

de indicar o que estaacute nas suas proximidades Nos iacutendices a forma e o significado estatildeo

interligados satildeo contiacuteguos ou seja caracteriza-se pela relaccedilatildeo de contiguidade ou associaccedilatildeo

com aquilo que representa Aquilo que atrai a atenccedilatildeo em um objeto eacute seu iacutendice Apresentam

6 O que difere das caracteriacutesticas dicotocircmicas do signo linguiacutestico para Saussure

Conceito

(Significado)

Palavra Referente

(significante) (elementos da realidade)

45

traccedilos de decirciticos jaacute que os interlocutores podem recuperar o referente por meio de lembranccedilas

de detalhes do objeto

Encontram-se muito difundidos nos sistemas de comunicaccedilatildeo (verbal ou natildeo) Satildeo

amplamente empregados na linguagem miacutemica e gestual no coacutedigo de tracircnsito Os decirciticos satildeo

signos indiciais imprescindiacuteveis pois referem demonstrativamente indicam a pessoa do

discurso o lugar a proximidade7 de espaccedilo e tempo entre outros (iii) Jaacute os siacutembolos satildeo signos

que se referem ao objeto em funccedilatildeo de uma convenccedilatildeo de uma lei ou de associaccedilatildeo geral de

ideias ou melhor por natildeo haver uma relaccedilatildeo de semelhanccedila e nem contiguidade entre o

significante e o significado ela eacute estabelecida por convenccedilatildeo de forma intencional e aprendida

nas relaccedilotildees sociais Os siacutembolos satildeo considerados os signos genuiacutenos estatildeo reservados aos

seres humanos porque as necessidades comunicativas exigem muito mais que indicaccedilotildees

indexicais ou imitaccedilotildees icocircnicas O sistema mais elaborado de signos simboacutelicos certamente

eacute o das liacutenguas naturais na modalidade falada e na escrita tambeacutem sendo que a palavra eacute o

siacutembolo por excelecircncia

Por se constituiacuterem de duas coisas que se encontram em prolongamento uma da outra

i eacute contiacuteguas os signos indexicais podem se substituir mutuamente Tambeacutem os signos

icocircnicos podem tomar o lugar do objeto real Jaacute os simboacutelicos satildeo superiores por permitirem

aos seres humanos ultrapassar os limites de contiguidade e semelhanccedila porque estabelecem uma

relaccedilatildeo simboacutelica entre determinada forma e determinado significado Todas essas relaccedilotildees ndash

icocircnica indexical e simboacutelica ndash estatildeo na base dos sistemas de linguagem

Os signos linguiacutesticos se vinculam agrave noccedilatildeo de siacutembolo uma vez que a relaccedilatildeo com o

objeto referido eacute construiacuteda arbitrariamente em uma espeacutecie de acordo entre os membros de

uma comunidade de fala Para Saussure (2008) o signo linguiacutestico eacute o resultado da associaccedilatildeo

convencional entre o significante e o significado acertada entre os falantes Eacute convencional

porque natildeo haacute nenhum viacutenculo sugestivo entre os dois elementos Essa eacute a noccedilatildeo de

arbitrariedade descrita por Saussure (2008) em relaccedilatildeo aos viacutenculos entre significante e

significado Por outro lado haacute de se considerar situaccedilotildees em que os signos linguiacutesticos

apresentam motivaccedilotildees que podem ser de natureza foneacutetica morfoloacutegica ou semacircntica

Quanto agrave estrutura um topocircnimo pode ser um nome simples ou composto e segue

evidentemente as mesmas regras de formaccedilatildeo de palavras da liacutengua portuguesa Um nome em

funccedilatildeo toponiacutemica pode tambeacutem ser constituiacutedo por frases e oraccedilotildees seguem assim a sintaxe

da liacutengua em que se insere

7 O ldquoeurdquo a pessoa com quem se fala o ldquoeste aquirdquo ldquoesse aiacuterdquo ldquoaquele alirdquo ldquoneste tempordquo ldquonaquele tempordquo

46

Segundo Dick (1992) o signo topocircnimo vincula-se por diversos fatores ao elemento

geograacutefico do qual eacute o referente estabelecendo com ele um conjunto que por sua vez pode ser

separado em partes menores para se distinguirem os seus elementos formadores

Morfologicamente dois elementos baacutesicos podem ser depreendidos dessa relaccedilatildeo um o termo

ou elemento geneacuterico que se relaciona agrave entidade geograacutefica que recebe a denominaccedilatildeo e o

outro o elemento ou termo especiacutefico o topocircnimo propriamente dito que carrega em si mesmo

a noccedilatildeo espacial que identificaraacute e singularizaraacute a entidade denominada das outras semelhantes

Esses elementos ou termos se justapotildeem no sintagma toponiacutemico (Coacuterrego do Ouro) ou se

aglutinam (Rialma) conforme a estrutura da liacutengua em questatildeo

Para Dick (1992) em relaccedilatildeo agrave morfologia os topocircnimos podem apresentar trecircs

diferentes formas (i) topocircnimo ou elemento especiacutefico simples eacute aquele determinado por um

soacute formante que pode apresentar-se acompanhado tambeacutem de sufixaccedilatildeo diminutiva

aumentativa ou de outras origens linguiacutesticas

Eacute comum na formaccedilatildeo de muitos topocircnimos brasileiros a junccedilatildeo de um designativo agraves

terminaccedilotildees -lacircndia em -poacutelis e ndashburgo (normalmente segundo elemento da formaccedilatildeo) Essa

formaccedilatildeo embora apresente dois formantes (de liacutenguas diferentes) satildeo considerados nomes

simples e natildeo compostos pode-se no entanto dizer que em algumas designaccedilotildees satildeo tambeacutem

hiacutebridos jaacute que provecircm de liacutenguas diferentes a saber Maurilacircndia (Maurilo do latim Maurilius

lsquomorenorsquo + lacircndia elemento de origem inglesa) Buritinoacutepolis (Buriti(no) elemento tupi + polis

elemento grego) mas em Friburgo8 natildeo haacute hibridismo

Segundo Siqueira (2012) pode-se ainda indicar a terminaccedilatildeo -(a) nia variaccedilatildeo do sufixo

nominal do latino -anus -ana que se documentam em nomes e modificadores com as noccedilotildees

de proveniecircncia origem entre outras em lembranccedila dos primeiros habitantes da regiatildeo Em

Goiaacutes eacute expressiva a quantidade de topocircnimos que se formaram jungidos a esse elemento

Caiapocircnia Cromiacutenia Goiacircnia Joviacircnia Luziacircnia Silvacircnia (ii) topocircnimo composto ou

elemento especiacutefico composto aquele formado por mais de um elemento de origens diversas

entre si do ponto de vista do conteuacutedo (iii) topocircnimo (composto) hiacutebrido ou elemento

especiacutefico hiacutebrido formado por elementos linguiacutesticos de diferentes procedecircncias

Sobre o caraacuteter imotivado dos signos linguiacutesticos cabe salientar conforme Saussure

(2008) que o viacutenculo que une o significante ao significado eacute arbitraacuterio natildeo haacute relaccedilatildeo loacutegica

ente as duas faces do signo A associaccedilatildeo entre ambos (significante e significado) eacute de natureza

8 Cidades da Alemanha e da Suiacuteccedila no Brasil conforme Machado (2003) haacute uma ldquoFriburgordquo no Amazonas e no

Rio de Janeiro ldquoNova Friburgordquo este sim um hiacutebrido em Minas Gerais haacute tambeacutem o hiacutebrido ldquoCordisburgordquo

cordis do latim lsquocoraccedilatildeorsquo + burgo do alematildeo lsquocidadersquo

47

convencional natildeo natural Assim todo estudo toponiacutemico tem no caraacuteter motivado do signo

toponiacutemico seu ponto de partida ou seja os estudos sobre os topocircnimos se baseiam na

motivaccedilatildeo que subjaz para analisar todas as relaccedilotildees circunscritas a ela

15 Linguiacutestica Histoacuterica

Consideradas como realidades histoacutericas e sociais as liacutenguas satildeo dinacircmicas estatildeo em

contiacutenua transformaccedilatildeo o que leva a afirmar que a liacutengua de hoje natildeo eacute a mesma de ontem

nem se manteraacute idecircntica amanhatilde Posto isso pode-se verificar que o conhecimento mais amplo

da estrutura do leacutexico da semacircntica e ateacute da ortografia pode requerer um estudo linguiacutestico

com perspectivas histoacutericas No acircmbito da linguiacutestica geral destaca-se a Linguiacutestica Histoacuterica

aacuterea cujo interesse recai sobre o que como e por que muda nas liacutenguas no decorrer do tempo

Os estudos acerca da linguagem foram primeiramente postulados pelos filoacutesofos

anteriores ao seacuteculo XIX como Platatildeo e Aristoacuteteles9 que se ativeram ao estudo da linguagem

mediante a anaacutelise da relaccedilatildeo entre som e sentido ignorando qualquer tipo de variaccedilatildeo

linguiacutestica Jaacute a opccedilatildeo filoloacutegica representada principalmente pelos gramaacuteticos alexandrinos

natildeo ignorava a variaccedilatildeo linguiacutestica mas a colocava como desvio configurando-se

possivelmente como a primeira perspectiva normativaprescritiva na histoacuteria dos estudos da

linguagem (MAURER JR 1967)

Por sua vez a linguiacutestica histoacuterica conforme Maurer Jr (1967) estabeleceu relaccedilotildees

culturais entre os povos tornando-se um precioso auxiacutelio para a Histoacuteria e a Antropologia A

linguiacutestica histoacuterica natildeo revela apenas as relaccedilotildees entre duas ou mais liacutenguas mas consegue

tambeacutem evidenciar com facilidade o que eacute herdado de um berccedilo linguiacutestico comum e o que eacute

oriundo de empreacutestimo de outra liacutengua

Consoante estudos recorrentes a linguiacutestica histoacuterica teve seu surgimento no final do

seacuteculo XVIII momento em que se comeccedilava a dar um cunho cientiacutefico agrave mudanccedila linguiacutestica

Natildeo se pode afirmar entretanto que natildeo houvesse uma preocupaccedilatildeo com a linguagem antes

desse periacuteodo haja vista que a criaccedilatildeo da biblioteca de Alexandria por exemplo demonstra

certo interesse pelo assunto pois indica que ao fazer a compilaccedilatildeo das obras antigas da literatura

grega Homero apresentava certa preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura e do passado de

uma eacutepoca

9 Para Aristoacuteteles a linguagem eacute definidora das relaccedilotildees humanas

48

No entanto foi no seacuteculo XVI com a Renascenccedila que houve um acentuado interesse

dos estudiosos pela histoacuteria cultural particularmente pela filologia momento da origem da

histoacuteria literaacuteria No Ocidente renascia o interesse pelo passado que remetia agrave antiguidade

greco-latina

A linguiacutestica histoacuterica consiste segundo Faraco (2006 p 13) em ldquoestudar as mudanccedilas

que ocorrem nas liacutenguas humanas agrave medida que o tempo passardquo A mudanccedila eacute definida como

processo pelo qual a liacutengua viva natildeo fica estagnada mas evolui acompanhando o

desenvolvimento da sociedade que a utiliza como instrumento de comunicaccedilatildeo pois ldquoonde haacute

mudanccedila deve haver histoacuteria do contraacuterio nosso conhecimento do fato permanece incompletordquo

(MAURER JR 1967 p 20)

Nesse contexto estabelece-se o que eacute mais natural a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade

porque uma acaba interferindo na mudanccedila da outra visto que

[] as liacutenguas humanas natildeo constituem realidades estaacuteticas ao contraacuterio sua

configuraccedilatildeo estrutural se altera continuamente no tempo E eacute essa dinacircmica

que constitui o objeto de estudo da linguiacutestica histoacuterica [] as liacutenguas mudam

mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos

necessaacuterios para a circulaccedilatildeo dos significados (FARACO 2006 p 14)

As mudanccedilas natildeo satildeo apenas de ordem lexicais por certo as estruturas gramaticais o

modo de produzir os sons e o significado das palavras se alteram com o tempo bem como novas

palavras surgem para expressar objetos e coisas que satildeo criados Eacute possiacutevel observar ainda que

palavras caem em desuso provocando consequentemente alteraccedilotildees no leacutexico de dada liacutengua

jaacute que

Os estudos de Linguiacutestica Histoacuterica comprovam que as liacutenguas humanas se

transformam no fluxo do tempo ou seja palavras e estruturas que existiam

antes deixam de existir ou sofrem modificaccedilotildees na forma na funccedilatildeo eou no

significado Apesar das transformaccedilotildees sofridas as liacutenguas mudam mas

continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos necessaacuterios

que garantem uma comunicaccedilatildeo eficaz pois as mudanccedilas ocorrem em partes

e natildeo no todo das liacutenguas num processo de mutaccedilatildeo e permanecircncia

(SIQUEIRA AGUIAR 2011 p 385 grifos das autoras)

A linguiacutestica histoacuterica pode ser estudada em duas fases a de 1800 e a poacutes 1900 No

seacuteculo XIX surgiram meacutetodos de abordagem para se estudar as liacutenguas suas combinaccedilotildees

identidade (gecircnese) diferenccedilas (mudanccedilas) Segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 18) ldquoa tradiccedilatildeo

oitocentista portanto recorta descreve e explica os fenocircmenos da linguagem do ponto de vista

do binocircmio gecircnese-evoluccedilatildeordquo

49

O poacutes 1900 partiu da observaccedilatildeo da diacronia e sincronia Com o advento do

estruturalismo de Ferdinand Saussure (2008) no seacuteculo XX a linguiacutestica moderna trouxe como

proposta que o objeto da linguiacutestica ndash a liacutengua ndash pudesse ser estudado separadamente do efeito

tempo (PAIXAtildeO DE SOUSA 2006) Como divisor desse momento na segunda metade poacutes

1900 o objeto da linguiacutestica eacute de ordem bioloacutegica ndash a diacronia estaacute imanente agrave liacutengua pois

de acordo com esta corrente linguiacutestica eacute na liacutengua que reside a heterogeneidade a mudanccedila e

a variaccedilatildeo

Segundo Faraco (2006 p 91) as liacutenguas estatildeo inseridas em um processo de fluxo

temporal de mutabilidade ldquoaparecimentosrdquo e ldquodesaparecimentosrdquo ldquoconservaccedilatildeordquo e

ldquoinovaccedilatildeordquo As liacutenguas tecircm histoacuteria revelam e constituem a todo tempo a realidade e as

transformaccedilotildees ocorridas comno tempo Em relaccedilatildeo a isso

Humboldt convencia-se de que toda liacutengua reflete a psique do povo que a fala

Eacute o resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal

de fala Ele acha por outro lado que a liacutengua de um povo eacute o canal natural

pelo qual aquele povo chega a uma compreensatildeo do universo que circunda o

homem E conclui que existe uma profunda influecircncia de uma liacutengua na

maneira pela qual seus falantes veem e organizam o mundo dos objetos em

torno deles e de sua vida espiritual (CAMARA JR 1975 p 38-39)

A liacutengua eacute um ldquoinstrumentordquo social e estaacute carregada de significaccedilatildeo e considerados

espaccedilo e tempo eacute capaz de revelar o mundo a outros mundos Faraco (2006) faz ainda referecircncia

ao estudo do leacutexico ao reafirmar que a composiccedilatildeo deste pode ser estudada historicamente na

sua origem bem como os empreacutestimos que satildeo feitos de outras liacutenguas Necessaacuterio se faz

reconhecer que o leacutexico eacute uma unidade carregada da histoacuteria cultural de dada comunidade

linguiacutestica natildeo esquecendo conforme Faraco (2006 p 42) que ldquoeacute um dos pontos em que mais

claramente se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e culturardquo

Com o advento estruturalista de Saussure (2008) haacute uma mudanccedila de perspectiva a

visatildeo diacrocircnica dos fatos linguiacutesticos daacute lugar ao enfoque sincrocircnico dos fenocircmenos da

linguagem Eacute preciso observar que consoante a diretriz saussuriana a anaacutelise sincrocircnica

precede a diacrocircnica sendo possiacutevel fazer comparaccedilatildeo entre elas no momento em que tiver a

descriccedilatildeo de pelo menos dois estados da liacutengua Daiacute reforccedilar-se o objetivo do estudo em

descrever sincronicamente um dado especiacutefico da histoacuteria da liacutengua Faraco (2006 p 120)

afirma que ldquoo estudioso se fixa num momento do passado e tomando-o estaticamente

descreve-o com base nos documentos escritos de que se dispotildee criando assim condiccedilotildees para

um posterior estudo diacrocircnicordquo

50

A par disso conveacutem mencionar que nos seacuteculos XVII e XVIII estudos linguiacutesticos

hegemocircnicos observavam a liacutengua como uma realidade estaacutevel diferentemente do pensamento

linguiacutestico do seacuteculo XIX que considerava a liacutengua como uma realidade em transformaccedilatildeo

Desta forma Saussure (2008) estabeleceu duas dimensotildees uma histoacuterica (chamada diacrocircnica)

que tem como centro de suas atenccedilotildees as mudanccedilas porque passa a liacutengua no tempo ou seja a

mutabilidade da liacutengua no tempo a outra eacute estaacutetica (chamada sincrocircnica) que entende a liacutengua

como um sistema estaacutevel num espaccedilo de tempo aparentemente fixo isto eacute a sua imutabilidade

Mas

Diante dos termos sincroniadiacronia natildeo basta apenas entender por alto a

que se referem Eacute preciso antes perceber que essa divisatildeo pressupotildee tambeacutem

na sua origem uma concepccedilatildeo homogeneizante da liacutengua que ndash apesar de sua

indiscutiacutevel funcionalidade e fertilidade para a linguiacutestica contemporacircnea ndash eacute

para muitos estudiosos uma idealizaccedilatildeo excessiva por criar um objeto de

estudo demasiadamente afastado da heterogeneidade linguiacutestica do real

(FARACO 2006 p 106 grifos do autor)

Segundo Faraco (2006) Coseriu em seu livro Sincronia diacronia e histoacuteria de 1973

posiciona-se de forma contraacuteria agrave formulaccedilatildeo de Saussure (2008) (visatildeo estaacutetica de sistema)

pois para ele a liacutengua deve ser vista em permanente sistematizaccedilatildeo em movimento Coseriu

rejeita a ideia de que a descriccedilatildeo (sincronia) e a histoacuteria (diacronia) sejam estudos diferenciados

mas assume a visatildeo de que as liacutenguas satildeo objetos histoacutericos e devem ser estudadas de forma

integrada envolvendo descriccedilatildeo e histoacuteria

Para Rocha Galvatildeo e Gonccedilalves (2011 p 30) ldquoestabelecer a presenccedila ou a viagem das

palavras eacute acompanhar o envolver das proacuteprias comunidades pelo tempo aforardquo Um recorte

sincrocircnico natildeo deve desprezar a interpretaccedilatildeo diacrocircnica o interesse cientiacutefico natildeo estaacute presente

somente num espaccedilo-tempo assim como a representatividade histoacuterica necessita admitir pontos

exatos na representaccedilatildeo da vivecircncia humana

No segundo capiacutetulo apresenta-se uma breve revisatildeo dos meacutetodos de pesquisa que

podem ser combinados com a teoria onomaacutestico-toponiacutemica a fim de compor um quadro

ilustrativo das caracteriacutesticas do meio da cultura dos fatos histoacutericos e dos estados anteriores

da liacutengua que estatildeo de alguma forma impressos na motivaccedilatildeo que subjaz aos topocircnimos em

questatildeo

51

II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS

O povo ldquosenhor dos espaccedilos puacuteblicosrdquo por vezes

adota criteacuterio proacuteprio ao conferir nomes aos

lugares

(IBGE 2008)

A linguagem humana eacute sobretudo interaccedilatildeo e natildeo pode pois ser explicada apenas em

termos de sua estrutura semacircntica e formal mas tambeacutem deve-se analisaacute-la em sua funccedilatildeo

social Desta forma o desenvolvimento linguiacutestico e intelectual do indiviacuteduo caminham juntos

pois ambos satildeo a base da abstraccedilatildeo e categorizaccedilatildeo pois ldquotoda liacutengua reflete as condiccedilotildees da

sociedade e do ciacuterculo cultural que se falardquo (ANDRADE 2010 p 99)

Aspectos linguiacutesticos de diversas ordens satildeo fundamentais para o estudo toponiacutemico jaacute

que eacute por mecanismos linguiacutesticos que o signo comum transmuta-se em designativo de lugar

revelando a identidade do nomeador coletivo ou natildeo Desta maneira ldquoo topocircnimo eacute o resultado

da accedilatildeo do nomeador ao realizar um recorte no plano das significaccedilotildees representaccedilotildees ou seja

praticar um papel de registro no momento vivido pela comunidaderdquo (ANDRADE 2010 p

106)

Acolher uma orientaccedilatildeo ou outra acarreta outrossim na escolha do meacutetodo a ser utilizado

para a pesquisa linguiacutestico-histoacuterica Para situar a escolha por um meacutetodo este capiacutetulo faz uma

breve exposiccedilatildeo de alguns meacutetodos que tecircm sido empregados em pesquisas de abordagem

similar a esta em especial descrevemos detalhadamente os que satildeo usados nesta pesquisa os

quais consideram natildeo somente os aspectos linguiacutesticos bem como os histoacutericos e socioculturais

do lugar indo ao encontro da perspectiva adotada para este trabalho

21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos

Natildeo se deve confundir metodologia com meacutetodo de pesquisa Segundo Silva e Silveira

(2007 p 145) a metodologia consiste de um conjunto de criteacuterios usados para se construir um

conhecimento vaacutelido seguro e de certa forma verdadeiro Jaacute os meacutetodos de pesquisa podem

ser definidos como ldquoprinciacutepios e procedimentos aplicados para construccedilatildeo do saberrdquo Os autores

salientam que se torna mais difiacutecil ficar preso a um uacutenico meacutetodo quando se pode lanccedilar matildeo

do ldquopluralismo metodoloacutegicordquo Deste modo considerando as especificidades de um estudo

toponiacutemico eacute possiacutevel conjugar meacutetodos de forma ordenada e loacutegica Isto quer dizer que se

52

podem utilizar meacutetodos de abordagem (indutivo dedutivo dialeacutetico) em consonacircncia com os

preceitos de um ou mais meacutetodos de procedimento (funcionalista comparativo

fenomenoloacutegico estruturalista)

Uma perspectiva histoacuterica por exemplo abre um amplo espectro de possibilidades de

se estudar um determinado fato linguiacutestico Podem ser citadas diversas maneiras para se tomar

os fenocircmenos linguiacutesticos do ponto de vista histoacuterico tais como a filologia centrada nos

aspectos histoacutericos das transformaccedilotildees a linguiacutestica comparada que aborda os fatos por meio

de comparaccedilotildees entre as liacutenguas de grupos linguiacutesticos relacionados e a etimologia a qual

busca desvendar o significado de origem das palavras aqui centra-se o nosso objeto de estudo

que eacute descrever e analisar a origemetimologia dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua de Pires do

Rio-GO

Os meacutetodos linguiacutesticos podem ainda estudar as transformaccedilotildees linguiacutesticas

correlacionando-as ao contexto sociocultural o que tem contribuiacutedo grandemente para uma

renovaccedilatildeo das abordagens do fenocircmeno da mudanccedila linguiacutestica resultando em inuacutemeras outras

orientaccedilotildees teoacutericas que em certo sentido podem ser vistas como herdeiras dos primeiros

criacuteticos dos estudos comparativos

A linguiacutestica tem a liacutengua como seu principal objeto de estudo a qual eacute produto da

experiecircncia acumulada historicamente na cultura de uma sociedade A liacutengua eacute um fenocircmeno

social pois eacute produzida e determinada socialmente ademais eacute um importante siacutembolo da

identidade de um grupo E eacute no comportamento linguiacutestico de uma dada comunidade que se

reflete a busca de aprovaccedilatildeo social ou a acentuaccedilatildeo de diferenccedilas (COSERIU 1977) Eacute por

meio dela enfim que um indiviacuteduo adquire a cultura do lugar em que vive jaacute que

A funccedilatildeo baacutesica da Linguiacutestica eacute o estudo direto da lsquoliacutengua viva e faladarsquo por

observaccedilatildeo e anaacutelise objetiva de seus fenocircmenos postas de lado todas as

forccedilas e influecircncias que se manifestem muitas vezes atraveacutes dela e todos os

antecedentes que possam ter dado origem ao estado atual (MAURER JR

1967 p 30)

Observa-se na Linguiacutestica Geral de acordo com Maurer Jr (1967) a divisatildeo em dois

setores distintos poreacutem essenciais para compreensatildeo da linguagem a Linguiacutestica Descritiva

(sincrocircnica) que segundo o autor deve ser a base de todo estudo cientiacutefico porque eacute a partir

dela que aprendemos a linguagem em sua funccedilatildeo uacutenica e peculiar e a Linguiacutestica Histoacuterica

(diacrocircnica) que complementa e explica os fatos da primeira e tem uma funccedilatildeo importante no

estudo desse rico patrimocircnio cultural e humano a liacutengua

53

212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica

Para alguns estudiosos a linguiacutestica histoacuterica teve seu apogeu no seacuteculo XIX embora

outros afirmem que tenha ocorrido haacute tempos no Renascimento De acordo com Paixatildeo de

Sousa (2006 p 14)

[] a reflexatildeo linguiacutestica dos 1800 representa um marco divisor na histoacuteria

das histoacuterias do tempo e da linguagem por inaugurar uma concepccedilatildeo

inteiramente nova dos condicionantes dessa relaccedilatildeo e construir um novo

plano para sua anaacutelise Eacute antes de tudo na tentativa de se combinar a esfera

documental com a esfera experimental que aparecem os desdobramentos mais

interessantes dos estudos histoacutericos da liacutengua ao longo do seacuteculo XIX eles

buscaratildeo articular as duas esferas em um mesmo plano de anaacutelise construindo

a abordagem histoacuterico-comparada

Assim a linguiacutestica histoacuterica apoacutes o seacuteculo XIX cria um meacutetodo que permite

ldquocategorizar e justificar a identidade geneacutetica e a evoluccedilatildeo paralela de cada idioma em um grupo

aparentadordquo segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 16) O meacutetodo comparativo segundo Maurer

Jr (1967) busca comparar cuidadosamente formas apresentadas entre si de um grupo

distinguir a origem e estudar a diversificaccedilatildeo das liacutenguas para desvendar e recontar a histoacuteria

de cada liacutengua Ressalte-se que para Faraco (2006 p 125) esse meacutetodo teve sua estruturaccedilatildeo

ldquoao dar um tratamento sistemaacutetico agraves observadas semelhanccedilas entre liacutenguas distantes no espaccedilo

como o latim e o sacircnscritordquo E ainda

constitui um recurso inteligente e racional para a reconstruccedilatildeo de fatos que

dependem de testemunho em todo o terreno Tal como a Paleontologia a

Histoacuteria da Cultura e ateacute na investigaccedilatildeo do crime na Justiccedila esse meacutetodo

submete o testemunho a um estudo preliminar para avaliar seu isolamento sua

coerecircncia etc (MAURER JR 1967 p 31)

O meacutetodo comparativo se baseia na experimentaccedilatildeo (induccedilatildeo) procura descrever os

estaacutegios da liacutengua que natildeo deixaram registros (documentos) como eacute o caso do latim vulgar No

entanto se difere do histoacuterico-comparativo o qual usa documentos histoacutericos para fazer as suas

reconstruccedilotildees acerca da liacutengua Poreacutem ambos os meacutetodos buscam recuperar a histoacuteria da liacutengua

de forma cronoloacutegica

De acordo com Faraco (2006 p 134)

O meacutetodo comparativo eacute o procedimento central nos estudos de linguiacutestica

histoacuterica Eacute por meio dele que se estabelece o parentesco entre liacutenguas O

pressuposto de base eacute que entre elementos de liacutenguas aparentadas existem

54

correspondecircncias sistemaacuteticas (e natildeo apenas aleatoacuterias ou casuais) em termos

de estrutura gramatical correspondecircncias estas passiacuteveis de serem

estabelecidas por meio duma cuidadosa comparaccedilatildeo Com isso podemos natildeo

soacute explicitar o parentesco entre liacutenguas (isto eacute dizer se uma liacutengua pertence

ou natildeo a uma determinada famiacutelia) como tambeacutem determinar por inferecircncia

caracteriacutesticas da liacutengua ascendente comum de um certo conjunto de liacutenguas

No decorrer dos anos vaacuterios satildeo os estudiosos que contribuiacuteram com a formaccedilatildeo e o

aprimoramento do meacutetodo comparativo dentre eles destacamos Bopp (1791-1867) que

buscava estabelecer o parentesco entre as liacutenguas mas natildeo o percurso histoacuterico de um anterior

para um posterior Grimm (1785-1863) que ao estudar o ramo germacircnico das liacutenguas indo-

europeias pocircde estabelecer a sucessatildeo histoacuterica por meio de comparaccedilatildeo ndash comparativo

histoacuterico Rask (1787-1832) tambeacutem desenvolveu trabalhos comparativos importantes para o

momento envolvendo as liacutenguas noacuterdicas as demais liacutenguas germacircnicas o grego o latim o

lituano o eslavo e o armecircnio Foi a partir desses estudiosos que surgiu a ldquofilologia (ou

linguiacutestica) romacircnica nome que se deu ao estudo histoacuterico-comparativo das liacutenguas oriundas

do latimrdquo (FARACO 2006 p 137)

De tal modo da siacutentese que foi apresentada eacute possiacutevel tecer as seguintes consideraccedilotildees

o meacutetodo histoacuterico-comparativo em seu apogeu foi e ainda hoje eacute uacutetil aos estudos da Linguiacutestica

Histoacuterica principalmente no que concerne natildeo soacute agrave reconstruccedilatildeo de fases anteriores das liacutenguas

como tambeacutem eacute bastante indicado para estudos que objetivam a reconstruccedilatildeo interna de uma

liacutengua Esse meacutetodo cumpriu papel importante para o desvelamento de inuacutemeras questotildees

linguiacutesticas das liacutenguas antigas grego latim sacircnscrito

Jaacute os estudos dos neogramaacuteticos possibilitaram o aprimoramento do meacutetodo histoacuterico-

comparativo mediante a verificaccedilatildeo de que muitas mudanccedilas ocorridas nas liacutenguas em

momentos anteriores e registrados em documentos podem ser explicitadas por meio da

explanaccedilatildeo de mudanccedilas ldquosincrocircnicasrdquo sucedidas nas liacutenguas conforme as leis foneacuteticas e a

analogia

Conforme Cacircmara Jr (1975) Gaston Paris traccedilou mapas das linhas isogloacutessicas dando

os primeiros passos para a geografia linguiacutestica a qual na verdade foi efetivamente criada por

seu disciacutepulo suiacuteccedilo Jules Gillieacuteron que dedicou-se agrave dialetologia e no doutoramento em 1879

defendeu a tese sobre o dialeto de Vionnaz Essa nova teacutecnica ldquoteve como base teoacuterica o

conceito de dialeto como uma abstraccedilatildeo essa a razatildeo de focalizar cada mudanccedila linguiacutestica per

se como o verdadeiro dado linguiacutesticordquo (CAcircMARA JR 1975 p 121)

55

A geografia linguiacutestica10 segundo Cacircmara Jr (1975) eacute importante como uma nova

abordagem para o estudo histoacuterico-comparativo pois em vez de recorrer a textos antigos o

pesquisador busca apenas os aspectos contemporacircneos da liacutengua absorvendo as bases

linguiacutesticas no intercacircmbio oral Desta forma

Obteacutem-se uma corrente evolucionaacuteria pela comparaccedilatildeo das muitas variantes

de cada forma cuja distribuiccedilatildeo no espaccedilo pode ser traduzida numa

distribuiccedilatildeo atraveacutes do tempo de acordo com regras metodoloacutegicas O aspecto

foneacutetico da variante ou sua existecircncia num patois relativamente moderno ou

notaacutevel por traccedilos arcaicos constituem a chave para esta investigaccedilatildeo

histoacuterica Por essa razatildeo eacute que atraveacutes da geografia linguiacutestica uma nova

teacutecnica para o estudo histoacuterico da linguagem foi imaginada sob o tiacutetulo de

ldquoreconstruccedilatildeo internardquo (CAcircMARA JR 1975 p 125 grifos do autor)

Essa nova abordagem vem corroborar com os estudos da liacutengua porque de forma

efecircmera reconstroacutei a histoacuteria de uma dada liacutengua contribuindo com a contemporaneidade uma

vez que nos eacute necessaacuterio conhecer a base etimoloacutegica das palavras e depois justificar o seu uso

ou evoluccedilatildeo

Segundo Cacircmara Jr (1975) apoacutes observar que Gaston Paris traccedilou mapas das linhas

isogloacutessicas e Gillieacuterion criou a geografia linguiacutestica muitos anos depois os linguistas italianos

Giulio Bertoni e Matteo Bartoli criaram o meacutetodo de linguiacutestica areal cujo objetivo era

classificar aacutereas linguiacutesticas ndash de uma liacutengua ou grupo de liacutenguas ndash como forma de

representaccedilatildeo da contemporaneidade e do estaacutegio linguiacutestico de desenvolvimento Os

linguistas consoante Cacircmara Jr (1975 p 126) ldquodividiram um territoacuterio linguiacutestico em aacutereas

isoladas aacutereas laterais aacutereas principais e aacutereas desaparecidas (isto eacute aacutereas homogecircneas que

desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)rdquo e desta forma

difundiam mais um meacutetodo linguiacutestico

Destaca ainda que a linguiacutestica histoacuterica compreende dois momentos de exatidatildeo o

primeiro de 1786 a 1878 periacuteodo de formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do meacutetodo comparativo o qual

finalizou com o movimento dos neogramaacuteticos o segundo vai desde 1878 ateacute a

contemporaneidade periacuteodo de tensatildeo entre duas linhas interpretativas uma imanentista ndash

neogramaacutetico estruturalismo e gerativismo que vecirc a mudanccedila como acontecimento interno da

liacutengua e pela proacutepria liacutengua e a outra integrativa ndash primeiros criacuteticos neogramaacuteticos dialetologia

e sociolinguiacutestica cuja mudanccedila da liacutengua estaacute condicionada a fatores contextuais nos quais o

falante estaacute inserido

10 No Brasil a Geografia Linguiacutestica concretizou-se com a produccedilatildeo de Atlas Linguiacutesticos em diferentes Estados

brasileiros

56

Entre os seacuteculos XVIII e XIX ocorreram momentos de grande relevacircncia para a

linguiacutestica histoacuterica Um deles eacute a fundaccedilatildeo da Escola de Estudos Orientais em Paris

(importante centro de investigaccedilatildeo) no ano de 1975 onde estudaram os linguistas alematildees

Friedrich Schlegel (1772-1829) e Franz Bopp (1791-1867) os quais mais tarde desenvolveram

a chamada gramaacutetica comparativa

Assim em 1808 Friedrich Schlegel publicou um texto sobre a liacutengua e sabedoria dos

povos hindus que de acordo com Faraco (2006) eacute considerado o ponto de partida do

comparativismo alematildeo No texto o autor ratifica sobre o parentesco das liacutenguas sacircnscrita com

a latina grega germacircnica e persa

Cabe ainda salientar que os estudos histoacuterico-comparativos antes da uacuteltima metade do

seacuteculo XIX conheceram a obra de August Scheilcher (1821-1868) Sua teoria tomava a liacutengua

como um organismo vivo com existecircncia fora de seus falantes sendo sua histoacuteria vista como

natural devido agraves orientaccedilotildees naturalistas do linguista como sua formaccedilatildeo em botacircnica e

influenciado pela teoria evolucionista de Darwin (FARACO 2006)

Jaacute no seacuteculo XIX as investigaccedilotildees no campo da linguagem eram dominadas por ideias

positivistas que se desenvolviam conforme meacutetodos histoacuterico-comparativos eacutepoca em que se

formaliza o estudo sistemaacutetico das variaccedilotildees sobretudo as de natureza geograacutefica Surge o

interesse pelos dialetos considerados como fontes de conhecimento do modo como se teriam

operado as transformaccedilotildees em fases anteriores das liacutenguas A Geografia Linguiacutestica eacute uma

consequecircncia do interesse pelos estudos dialetais levados a cabo de iniacutecio por vaacuterios estudiosos

europeus Segundo Coseriu (1982) surge um meacutetodo dialetoloacutegico e comparativo que

pressupotildee o registro em mapas especiais de um nuacutemero relativamente elevado de formas

linguiacutesticas (focircnicas lexicais ou gramaticais) recolhidas mediante pesquisa direta e unitaacuteria

numa rede de pontos distribuiacuteda em determinado territoacuterio

Deste modo eacute necessaacuterio compreender que

A linguagem eacute inegavelmente uma heranccedila social cuja histoacuteria se estende

por seacuteculos Uma visatildeo completa um conhecimento detalhado de seu

mecanismo de sua estrutura de sua semacircntica e ateacute de sua ortografia soacute

podem ser obtidos atraveacutes da pesquisa diacrocircnica Os meacutetodos expostos

acima em suas linhas essenciais natildeo deixam duacutevida de que a filologia

romacircnica se desenvolveu com o meacutetodo histoacuterico-comparativo adotado com

mais ecircxito aqui do que no campo para o qual havia sido criado As possiacuteveis

deficiecircncias desse meacutetodo foram sendo corrigidas depois pela geografia

linguiacutestica e pelos outros meacutetodos derivados como a onomasiologia Woumlrter

und Sachen linguiacutestica espacial etc Enquanto o meacutetodo histoacuterico-

comparativo procura as ligaccedilotildees entre o ldquoterminus a quordquo e o ldquoterminus ad

quemrdquo o latim vulgar e as liacutenguas romacircnicas respectivamente os outros

57

meacutetodos tecircm como objeto especificamente o ldquoterminus ad quemrdquo pois

investigam sincronicamente aspectos atuais dessas mesmas liacutenguas cujas

explicaccedilotildees poreacutem devem ser buscadas diacronicamente (BASSETTO

2001 p 85 grifos do autor)

Para Faraco (2006 p 106) ldquooptar por uns ou por outros eacute que vai orientar nossa forma

de entender a mudanccedila linguiacutestica nossa seleccedilatildeo de dados nossas categorias e procedimentos

de anaacutelise nosso processo argumentativordquo Ou seja ao assumirmos uma concepccedilatildeo de base

correlata eacute o que iraacute definir o nosso meacutetodo de trabalho

22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia

Segundo Silva (2010) a onomasiologia eacute um meacutetodo que se constitui do estudo das

designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Pode ser

investigada toda a cultura popular de um local podendo-se priorizar os aspectos sincrocircnicos ou

histoacutericos Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores do que

subjaz agrave nomeaccedilatildeo dos lugares

Pode-se para efeito deste estudo traccedilar o esquema a seguir o qual demonstra as

possibilidades temaacuteticas que esse tipo de pesquisa pode apresentar

Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos

Onomaacutestica

Toponiacutemia Antroponiacutemia

Modalidades Coleta

Imagens mapas cartas e plantas

Documental Texto iacutendicesrepertoacuterio de nomes

Ficcional Natildeo ficcional

Pesquisa de campo Entrevistas etnografia

Mista Documental e Pesquisa de campo

Fonte Adaptado de material da USP ndash Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas 2016

58

A onomasiologia eacute o resultado das tendecircncias mais significativas da evoluccedilatildeo linguiacutestica

na transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX em que a centralidade das investigaccedilotildees passam

do som (foneacutetica) para a palavra (lexicologia) O seu triunfo se deu a partir do desenvolvimento

da Geografia Linguiacutestica pois com o aparecimento de inuacutemeros termos regionais recolhidos

pelos inqueacuteritos linguiacutesticos surgiu a necessidade de um novo meacutetodo que auxiliasse os

dialetoacutelogos a compreenderem o homem regional em sua amplitude por meio da linguagem

Apoacutes a publicaccedilatildeo dos atlas linguiacutesticos a onomasiologia comeccedila a ser utilizada em

vaacuterios estudos jaacute que pelo seu uso eacute possiacutevel caracterizar as atividades de uma regiatildeo e situaacute-

las no tempo Segundo Couto (2012 p 186) ldquoa onomasiologia vecirc a questatildeo da referecircncia para

usar um termo semioacutetico partindo da coisa e indo na direccedilatildeo do nome que ela receberdquo Desta

forma ldquoo meacutetodo onomasioloacutegico permite ver a cultura do povo cuja liacutengua se estuda

costumes ocupaccedilotildees instrumental crenccedilas e crendices moradia enfim sua mundividecircncia

Permite sentir a linguagem viva traduzindo a vivecircncia cultural do povordquo (BASSETO 2001 p

77)

Ressalta-se que

Com pontos em comum com a Geografia Linguiacutestica e ldquoPalavras e Coisasrdquo o

meacutetodo onomasioloacutegico tambeacutem conhecido como onomasiologia isto eacute o

estudo das denominaccedilotildees se propotildee investigar os vaacuterios nomes atribuiacutedos a

um objeto animal planta conceito etc individualmente ou em grupo dentro

de um ou vaacuterios domiacutenios linguiacutesticos Seus objetivos satildeo portanto

semacircnticos e lexicoloacutegicos buscando descobrir os aspectos vivos e as forccedilas

criadoras da linguagem (BASSETO 2001 p 76)

O meacutetodo onomasioloacutegico natildeo ficou a cargo apenas de um pesquisador mas de vaacuterios

pois seus princiacutepios se desenvolveram aos poucos Conforme Bassetto (2001) temos como

predecessores da onomasiologia moderna F Brinkmann (1872) Luigi Morandi (1883)

Friedrich Diez (1875) Fr Pott (1853) Jakob Grimm (1853) e F Miklosich (1868) Todavia o

princiacutepio da onomasiologia cientiacutefica deu-se com Carlo Salvioni (1858-1920) quando estudou

sobre as denominaccedilotildees italianas do vaga-lume (1892) e com Ernest Toppolet (1870-1939) que

referendou em seus estudos o parentesco dos nomes romacircnicos por ele denominados de

ldquolexicologia cientiacuteficardquo

As pesquisas desenvolvidas na aacuterea da onomaacutestica se constituem em uma linha

documental ou de campo seguindo um meacutetodo pelo qual se selecionam observam registram

classificam analisam e interpretam os dados de acordo com a identificaccedilatildeo dos fatores

59

determinantes agrave configuraccedilatildeo dos corpora Essas anaacutelises de dados satildeo baseadas em trecircs

categorias linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica que satildeo reveladas pelo meacutetodo onomasioloacutegico

Segundo Ramos e Bastos (2010) as trecircs perspectivas ndash linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica

ndash satildeo cruciais para revelar as seguintes caracteriacutesticas a) a determinaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica das

diferentes liacutenguas que tenham existido ou existentes num determinado territoacuterio b) o estudo

das terminaccedilotildees caracteriacutesticas de cada palavra c) o estudo das formas gramaticais d) o estudo

da foneacutetica histoacuterica e) a verificaccedilatildeo das formas documentadas as quais se subdividem em ndash

comparaccedilatildeo semacircntica a abordagem dos dados geograacuteficos e a abordagem dos dados histoacutericos

Cabe ainda indicar em linhas gerais algumas concepccedilotildees do meacutetodo Woumlrter und

Sachen de Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) o qual conforme

Bassetto (2001) tem pontos em comum que compartilha com o meacutetodo onomasioloacutegico Visa

ao estudo das questotildees semacircnticas das palavras enfatizando a realidade que elas designam

porque para os estudiosos dessa linha de pensamento a verdadeira etimologia da palavra

encontra-se no conhecimento dessa realidade Procura instruir sobre a necessidade de conhecer

sempre que possiacutevel o objeto designado por um termo para que o significado possa ser

devidamente explicitado Quando se conhece a realidade a natureza a forma o uso as medidas

das coisas do mundo eacute possiacutevel estabelecer a origem e a histoacuteria das palavras com que esses

mesmos objetos foram designados

Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) foram precursores desse

meacutetodo ao considerarem que as coisas existem antes de serem denominadas ou seja as coisas

preexistem agraves suas designaccedilotildees podendo ateacute existir sem que sejam nomeadas Em

contrapartida as palavras dependem das ldquocoisasrdquo estatildeo ligadas a elas Com essa perspectiva

Schuchardt (mais do que Meringer) remete ao meacutetodo Woumlrter und Sachen ldquoPalavras e Coisasrdquo

cujo tiacutetulo instituiu o nome do meacutetodo

No entanto conveacutem salientar que jaacute na gramaacutetica grega estava impliacutecita a ideia de que

as coisas precedem as palavras Em outros termos quando se conhece em profundidade a

ldquocoisardquo chega-se ao ldquoeacutetimordquo da palavra que a nomeia alcanccedila-se o significado com que a coisa

foi primeiramente designada Menciona-se que para Schuchardt (apud BASSETO 2013)

Sachen (coisa) significava qualquer realidade i eacute ldquoSachenrdquo podia se referir tanto a

acontecimentos e estados como a objetos ao real e ao irreal ao tangiacutevel11 e ao intangiacutevel ou

em outras palavras tanto a coisas do mundo sensiacutevel como do insensiacutevel

11 ldquoTangiacutevelrdquo do latim tangere tangens lsquotocar aquilo que tocarsquo do mesmo eacutetimo de attingere lsquoaproximar-se e

tocarrsquo

60

O meacutetodo Woumlrter und Sachen (Palavras e Coisas) segundo Campbell (2004) relaciona-

se agraves inferecircncias histoacuterico-culturais que podem ser reveladas por meio da investigaccedilatildeo das

palavras pautadas na sua analisabilidade Campbell (2004) assume que as palavras que satildeo

analisadas em partes transparentes (vaacuterios morfemas) podem ser de criaccedilatildeo mais recente (na

liacutengua) em relaccedilatildeo agraves palavras que natildeo apresentam essa transparecircncia morfecircmica

Essa teacutecnica contribui sobremaneira para traccedilar uma cronologia aproximativa dos

vocabulaacuterios Dias (2016 p31) acentua que

Sobretudo supotildee-se que itens culturais denominados por termos analisaacuteveis

satildeo tambeacutem adquiridos mais recentemente pelos falantes e aqueles que satildeo

expressos por palavras natildeo analisaacuteveis representam itens mais velhos e

instituiccedilotildees Outra estrateacutegia desse meacutetodo envolve fazer inferecircncias por meio

de informaccedilotildees de itens culturais de quem os nomes sofreram visivelmente

mudanccedila de significado

E para Crowly (2003) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo pode ser usado para fazer

reconstruccedilatildeo cultural e chegar ao conteuacutedo de uma protocultura por exemplo jaacute que se eacute

possiacutevel reconstruir uma palavra designativa de alguma coisa na protoliacutengua eacute possiacutevel tambeacutem

supor que a coisa a que ela se refere provavelmente foi de importacircncia cultural na vida dos

seus falantes ou que foi ambientalmente marcante Segundo o autor o meacutetodo pode tambeacutem

dizer muito sobre a terra natal de uma famiacutelia linguiacutestica pode-se ainda por meio do referido

meacutetodo fazer suposiccedilotildees sobre as rotas legiacutetimas seguidas pelos povos para se chegar aos

lugares onde se encontram atualmente12

Destarte segundo Bassetto (2013) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo deu destaque agrave

semacircntica ao estabelecer a etimologia e ateacute a biografia das palavras aleacutem de tornar os estudos

filoloacutegicos mais objetivos Posto isso eacute possiacutevel verificar que o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo

pode ser usado nos estudos semacircnticos lexicais onomaacutesticos toponiacutemicos Quando se busca

relacionar a histoacuteria do nome com a histoacuteria do lugar vincula-se a palavra (o nome) agrave coisa (o

lugar) Nesse sentido pode-se de alguma maneira realizar o estudo natildeo apenas pautado no

meacutetodo onomasioloacutegico mas tambeacutem considerando as intrincadas relaccedilotildees entre nomes e as

coisas do mundo

Cabe ressaltar

Assim como procedimento metodoloacutegico seguido nos estudos

toponomaacutesticos buscamos definir o jaacute definido ou seja o objeto de estudo da

disciplina o seu campo de trabalho especiacuteficos a natureza linguiacutestica da

12 Por exemplo os caminhos que levaram (trouxeram) os bandeirantes agraves terras do iacutendio goyaacute

61

anaacutelise em termos de vinculaccedilatildeo a uma aacuterea do conhecimento Partindo-se da

definiccedilatildeo etimoloacutegica dos elementos gramaticais de origem grega enunciados

por Dioniacutesio de Traacutecia no seacuteculo II a C a Toponiacutemia ficou-se como propocircs

Leite de Vasconcelos (1887) no entendimento dos nomes proacuteprios de lugares

distintos dos nomes comuns delimitados pela teoria da linguagem (DICK

2006 p 96)

A toponomaacutestica entatildeo fundamenta-se nos estudos dos nomes proacuteprios de lugares

estabelecendo relaccedilotildees da liacutengua com o ambiente sendo de extrema necessidade observar os

viacutenculos do nomeador com a coisa nomeada a motivaccedilatildeo que subjaz ao topocircnimo

O meacutetodo da Geografia Linguiacutestica com a concepccedilatildeo basilar de que a distribuiccedilatildeo

geograacutefica dos aglomerados populacionais se reflete na diferenciaccedilatildeo linguiacutestica trouxe grande

contribuiccedilatildeo para o estudo dos nomes em geral pois pode refletir tendecircncias que orientaram o

ato de nomeaccedilatildeo tanto de pessoas como de lugares

Sobre o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo cabe apenas repetir que por enfatizar o aspecto

semacircntico das palavras vinculado agrave realidade que elas denominam contribui com o estudo dos

nomes jaacute que parte do princiacutepio de que as palavras se acham ligadas agraves coisas que elas

designam Uma vez conhecendo a natureza das coisas chega-se na verdadeira etimologia da

palavra contribuiccedilatildeo essa que valoriza a cultura e a histoacuteria das comunidades vendo no ser

humano o sujeito das transformaccedilotildees que ocorrem nas liacutenguas e na cultura

Posto isso considera-se mais uma vez que a onomasiologia busca investigar como uma

noccedilatildeo ou conceito eacute nomeado na liacutengua tendo sempre em mente que quem daacute nome agraves coisas

satildeo os falantes e o fazem em decorrecircncia da cosmovisatildeo de seu grupo O meacutetodo

onomasioloacutegico permite que a cultura do povo pesquisado seja revelada

Entretanto a despeito das contribuiccedilotildees que cada um trouxe para os estudos linguiacutesticos

nenhum desses meacutetodos foi suficiente teoricamente para deslindar os inuacutemeros aspectos que

permeiam o ato de nomeaccedilatildeo o que implica dizer que o mais sensato eacute combinar o que cada

meacutetodo apresenta de mais satisfatoacuterio referentemente ao problema que se pretende resolver o

que requer tambeacutem adaptaccedilotildees e revisotildees constantes de um ou de outro ou ainda da combinaccedilatildeo

deles

Considera-se entatildeo

os aspectos pelos quais entendemos a disciplina como conhecimento

cientiacutefico saber construiacutedo como objeto campo de trabalho e pesquisa

demarcados apesar disto manteacutem-se em intersecccedilatildeo a outros campos sem

perder sua identidade A metodologia que emprega em seus levantamentos eacute

de origem indutivo-dedutiva de acordo com os procedimentos

62

onomasioloacutegico-semasioloacutegicos caracteriacutesticos da pesquisa do leacutexico (DICK

2006 p 98)

E no que tange agrave metodologia aos procedimentos de pesquisa propriamente ditos

segundo Dick (1996) que podem ser aplicados nos estudos toponiacutemicos devem se estabelecer

da seguinte forma a) seleccedilatildeo de fontes primaacuterias (cartas geograacuteficas editadas por oacutergatildeos oficiais

estaduais e municipais em escalas de 150000 ou 1100000 ou listas toponiacutemicas oficiais) e

complementaccedilatildeo a partir de fontes secundaacuterias (trabalhos historiograacuteficos da proacutepria

comunidade acerca do local onde vivem) b) registro dos dados em fichas lexicograacuteficas

padronizadas com a identificaccedilatildeo dos nomes do pesquisador e do revisor fontes e data de

coleta c) anaacutelise de dados que inclui a quantificaccedilatildeo dos nomes e das taxonomias analisando

a maior ou menor frequecircncia de classes ou itens lexicais e do estudo dos nomes a partir de um

enfoque puramente linguiacutestico (etimoloacutegico e estrutural) linguiacutestico-histoacuterico e variacionista

Desta forma a metodologia para este trabalho baseia-se em Dick (1996 2006) e por

conseguinte estabelece relaccedilotildees com as demais pesquisas na aacuterea da toponomaacutestica De acordo

com a autora ldquoTrata-se de modelo semacircntico-motivador das ocorrecircncias toponomaacutesticas que

conformam a realidade designativa da nomenclatura geograacutefica oficial do paiacutesrdquo (Dick 2006 p

104) As taxionomias satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise linguiacutestica do topocircnimo e hoje

se dividem em vinte sete taxes pela importacircncia na ldquoanaacutelise linguiacutestica ou casual dos motivos

determinantes das designaccedilotildees integram as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas em um campo

funcional especiacuteficordquo (Dick 2006 p 106) E a partir destas fichas busca-se a identificaccedilatildeo do

topocircnimo e computar as categorizaccedilotildees motivadoras do designativo

A metodologia de pesquisa aqui proposta se caracteriza por ser de natureza documental

(documentos analoacutegicos eou digitais como as cartas topograacuteficas e levantamento histoacuterico

geograacutefico por meio do Instituto Mauro Borges IBGE e de mapas do municiacutepio de Pires do

Rio-GO) e de abordagem qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a

constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos

puacuteblicos e no levantamento histoacuterico-geograacutefico Os procedimentos consistem na

sistematizaccedilatildeo de leituras documentais e de investigaccedilatildeo de campo o que os vincula agrave induccedilatildeo

e seguem os meacutetodos etnolinguiacutesticos

O percurso apresentado por Dick (1990) isto eacute pautado na induccedilatildeo desenvolveu-se por

meio do plano onomasioloacutegico de investigaccedilatildeo em que a partir de um conceito geneacuterico se

identificam as variaacuteveis possiacuteveis das fontes consultadas Nos registros municipais constam os

63

nomes atuais e os nomes anteriores (quando houve mudanccedilas) dos lugares de toda regiatildeo

municipal Estes e os mapas constituem as fontes primaacuterias desta pesquisa pois

O percurso do fazer onomasioloacutegico e o percurso da produccedilatildeo de significaccedilatildeo

se inserem em direccedilotildees diferentes o fazer interpretativo perfaz um processo

semasioloacutegico por outro lado o fazer onomasioloacutegico eacute uma unidade

conceitual enquanto a definiccedilatildeo eacute o percurso do fazer lexicograacutefico

Entretanto ao conceituar eacute necessaacuterio construir um modelo mental que em

primeira instacircncia corresponda a um recorte cultural para a escolha da

estrutura lexical que melhor pode manifestar a percepccedilatildeo bioloacutegica do fato

que se completa ao analisar e descrever o semema linguiacutestico para reconstruir

esse modelo mental a partir de uma estrutura linguiacutestica manifestada

Ressalta-se o caraacuteter pluridisciplinar do signo toponiacutemico jaacute que por meio

dele pode-se conhecer a histoacuteria dos grupos humanos que viveram (e vivem)

nos limites geograacuteficos de Goiaacutes as especificidades da cultura e do ambiente

do povo o denominador as relaccedilotildees estabelecidas entre os aglomerados

humanos e o ecossistema as caracteriacutesticas fiacutesico geograacuteficas da regiatildeo

(geomorfologia) estratos linguiacutesticos de origem diferente do uso hodierno da

liacutengua ou mesmo de liacutenguas jaacute desaparecidas para se conhecer as motivaccedilotildees

subjacentes aos respectivos topocircnimos (SIQUEIRA 2015 mimeografado)

Para este estudo utilizaram-se inicialmente as Folhas Topograacuteficas editadas pela DSG

(Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito) na escala de 1100 000 Folhas Pires do Rio

SE-22-X-D-III Ipameri SE-22-X-D-VI e Cristianoacutepolis SE-22-X-D-II de 1973 para

identificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio juntamente com o mapa da rede hidrograacutefica do

municiacutepio de Pires do Rio-GO pois satildeo ldquoinstrumentos metodoloacutegicos haacutebeis para o estudo

onomaacutestico a documentaccedilatildeo cartograacutefica referida e a arquivologia que se posicionam como fontes

idocircneas para o estabelecimento das etapas relativas agrave desconstruccedilatildeo e agrave recriaccedilatildeo dos proacuteprios dadosrdquo

(DICK 1999 p 11)

O uso de mapas torna o trabalho relevante jaacute que eles satildeo elementos de comunicaccedilatildeo

visual os quais pertencem agrave linguagem Eles contemplam ainda a aacuterea tecnoloacutegica pois a sua

construccedilatildeo se daacute por meio da utilizaccedilatildeo de equipamentos programas e sites os quais tambeacutem

satildeo utilizados por noacutes para cartografar mapas juntamente com as taxes dos topocircnimos dos

cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO assim

Tomar o mapa como corpus permite tomar tambeacutem a questatildeo da relaccedilatildeo dos

nomes no seu conjunto e sua distribuiccedilatildeo no espaccedilo urbano Pode-se entatildeo

refletir como algo proacuteprio do corpus em anaacutelise sobre a questatildeo da nomeaccedilatildeo

dos espaccedilos da cidade bem como o modo de distribuiccedilatildeo dos nomes pelos

espaccedilos historicamente constituiacutedos (GUIMARAtildeES 2005 p 43)

Tradicionalmente entendidos como uma representaccedilatildeo simboacutelica dos contornos de uma

paisagem fiacutesica ou urbana os mapas se caracterizam por permitirem dois planos de

64

interpretaccedilatildeo o ldquoverbalrdquo expresso nos nomes dos elementos e o ldquonatildeo-verbalrdquo caracterizado

por siacutembolos convencionais distintos segundo a natureza do elemento mapeado (cursos drsquoaacutegua

caminhos serras rodovias estradas vicinais ferrovias vilas povoados cidades)

A propoacutesito

Se o meacutetodo empregado na Toponiacutemia como dissemos eacute aquele da

investigaccedilatildeo do pormenor toacutepico-nominal apreendido no registro das cartas

geograacuteficas (base documental) ou como variaccedilatildeo no exame do terreno ou do

objeto pelo proacuteprio pesquisador o material resultante na maioria das vezes

eacute de origem descontiacutenua e fragmentaacuteria A sequecircncia loacutegica dos termos areais

deve ser buscada o que exige cuidados de intepretaccedilatildeo e reflexatildeo para que

todo esse organismo construiacutedo coletiva ou individualmente em momentos

histoacutericos distintos venha a se construir em material de anaacutelise vaacutelido do

ponto de vista linguiacutestico (DICK 2006 p 99-100)

Desta forma dos 46 (quarenta e seis) topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de

Pires do Rio-GO (coacuterregos ribeirotildees rios e quedas drsquoaacutegua) por noacutes elencados na pesquisa

apenas 15 topocircnimos ndash por razotildees especiacuteficas que seratildeo relatadas no quarto capiacutetulo ndash seratildeo

catalogados em fichas conforme modelo desenvolvido por Dick (2004) Posteriormente

realizaremos as anaacutelises morfoloacutegicas e a classificaccedilatildeo semacircntico-motivacional e toponiacutemica

propriamente dita

O preenchimento das fichas lexicograacuteficas ndash que identificam o elemento designado as

entradas lexicais o pesquisador o revisor e as fontes da coleta ndash eacute a etapa inicial de um conjunto

de fases posteriores que integram o projeto

As etapas da pesquisa foram dividas da seguinte forma a) levantamento dos dados para

construir o corpus e a aquisiccedilatildeo das cartas Topograacuteficas do municiacutepio de Pires do Rio-GO b)

levantamento dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua registrados nas folhas topograacuteficas c) anaacutelise

e reconhecimento dos aspectos ambientais culturais dos designativos nos diferentes topocircnimos

observados e posteriormente cartografados d) investigaccedilatildeo dos provaacuteveis fatores

motivacionais inerentes aos sintagmas toponiacutemicos e) classificaccedilatildeo das taxionomias a partir do

recorte epistemoloacutegico dos dados coletados f) distribuiccedilatildeo quantitativa dos topocircnimos de

acordo com a natureza toponiacutemica (fiacutesica ou antropocultural) g) estudo linguiacutestico dos

sintagmas toponiacutemicos ndash origemetimologia estruturas semacircntica e morfoloacutegica

Por meio da categorizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico

histoacuterico-criacutetico que foi o norte de nossa pesquisa de certa forma revela-se que o topocircnimo foi

determinado pela populaccedilatildeo anterior ou pela presenccedila de imigrados no local o que faz-nos

perceber que as palavras natildeo apenas comunicam o que se quer dizer mas acusam a Histoacuteria

daquilo que foi dito por necessidades dinacircmicas das pessoas repassadas pela tradiccedilatildeo cultural

65

O proacuteximo capiacutetulo apresenta em linhas gerais um pouco da histoacuteria desse lugar que

abriga 46 cursos drsquoaacutegua e inclusive teve seu primeiro nome devido agrave exuberacircncia do reflexo da

lua cheia nas aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute A ldquoTeteia do Corumbaacuterdquo de antes deu lugar ao

municiacutepio nascido dos caminhos abertos pelos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz laacute pelos idos

de 1922

66

III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO

A cidade eacute por si mesma depositaacuteria de

histoacuteria

(ROSSI 1998)

Este capiacutetulo traz uma apresentaccedilatildeo dos dados histoacutericos referentes agrave fundaccedilatildeo e ao

posterior desenvolvimento social e urbano do municiacutepio de Pires do Rio-GO criado em

decorrecircncia da expansatildeo da Estrada de Ferro Goyaz pelo cerrado goiano As informaccedilotildees aqui

revisitadas integram obras de estudiosos como Siqueira (2006) Ferreira (1999) Borges

(1990) Soares (1988) que se detiveram por alguma razatildeo no esclarecimento de controveacutersia

acerca principalmente do verdadeiro fundador do municiacutepio e de fatos que antecederam a

inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo feacuterrea no ano de 1922

31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte

No iniacutecio do seacuteculo XX a Estrada de Ferro Goyaz avanccedilou sobre o territoacuterio de Goiaacutes

e com isso comeccedilaram a surgir vilas arraiais e distritos que com o progresso e passar dos

anos se elevariam a cidades A entatildeo chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no interior do

estado mais precisamente na regiatildeo Sudeste Goiana fez com que no ano de 1922 surgisse a

Estaccedilatildeo Pires do Rio e que se elevaria tatildeo logo a cidade

A estrada de ferro traria progresso agraves cidades e ao estado No entanto de acordo com

Borges (1990) alguns coroneacuteis adversos a qualquer tipo de mudanccedila de caraacuteter progressista

natildeo aceitavam a instalaccedilatildeo da estrada de ferro pois ela representaria uma forccedila nova de

transformaccedilatildeo que poderia ameaccedilar o poder constituiacutedo dos coroneacuteis Mas na formaccedilatildeo de

Pires do Rio-GO a chegada da Estrada de Ferro Goyaz foi aceita pelo coronel Lino Teixeira de

Sampaio e inclusive foi doado o terreno para a construccedilatildeo de uma estaccedilatildeo feacuterrea

Vale ressaltar que

a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro de Goiaacutes resultou primeiro do empenho

poliacutetico de uma fraccedilatildeo da classe dominante ligada a novos grupos oligaacuterquicos

que despontavam como forccedila poliacutetica no Estado a qual contou com apoio do

capital financeiro internacional Em segundo lugar como a ferrovia servia

inteiramente aos interesses da economia capitalista ou seja agrave nova ordem

econocircmica com expansatildeo no Paiacutes este fator direta ou indiretamente

67

pressionaria o Governo Federal a apoiar a construccedilatildeo da linha (BORGES

1990 p 55-56)

O avanccedilo da estrada de ferro na regiatildeo Sudeste do estado de Goiaacutes foi fundamental para

o surgimento da cidade de Pires do Rio-GO Ambas as histoacuterias se entrecruzam e revelam

acontecimentos que corroboraram com a construccedilatildeo de uma cidade promissora Para

(re)escrever esta histoacuteria eacute fundante mostrar a ficha lexicograacutefica-toponiacutemica jaacute que o objeto

desta pesquisa satildeo os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua pertencentes a cidade de Pires do Rio-GO

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 01

Topocircnimo Pires do Rio Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Antropocircnimo

Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Pires + do Rio ndash sobrenome)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Cidade sede do distrito do municiacutepio do termo e comarca de

igual nome Na regiatildeo oriental do municiacutepio entre o ribeiratildeo Sampaio e o Monteiro afluentes

do rio Corumbaacute com estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goiaacutes

Fonte Siqueira (2012) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Como jaacute observando no capiacutetulo I os estudos toponiacutemicos revelam fatores soacutecio-

histoacuterico-culturais de uma dada comunidade e Pires do Rio-GO nos revela isso de forma

peculiar como podemos observar na ficha acima a caracterizaccedilatildeo do topocircnimo em que a

taxionomia eacute de natureza antropocultural antropotopocircnimo relativo a nomes proacuteprios e de

famiacutelia (sobrenome do ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas Dr Joseacute Pires do Rio) A base

etimoloacutegica eacute antropocircnimo a estrutura morfoloacutegica eacute de nome composto e as informaccedilotildees

enciclopeacutedias vecircm ratificar informaccedilotildees jaacute expressas na ficha Essas informaccedilotildees nos satildeo

precisas e no decorrer (re)editaremos partes relevantes da histoacuteria desta cidade

Observar o surgimento do municiacutepio de Pires do Rio eacute reviver a construccedilatildeo da linha

feacuterrea na regiatildeo Sudeste e para tal ato buscamos em algumas literaturas reconstruir em partes

a histoacuteria da cidade de Pires do Rio-GO que carinhosamente foi apelidada de ldquoTeteia do

68

Corumbaacuterdquo devido ao reluzir sobre as aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute a exuberacircncia da lua

cheia

Na histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade haacute controveacutersias pois alguns dizem ter sido o Coronel

Lino Teixeira de Sampaio o fundador mas Wilson Cavalcanti Nogueira filho do Sr Manoel

Cavalcanti Nogueira o primeiro Intendente da cidade em seus estudos revela que o fundador

de Pires do Rio foi o Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida diretor da Estrada de Ferro Goyaz

Nos estudos de Jacy Siqueira (2006) piresino historiador cujo livro Um contrato

singular e outros ensaios de histoacuteria de Goiaacutes descreve a origem da cidade de Pires do Rio

com base em documentos oficiais o autor citado presume a veracidade dos fatos que

contribuem para exposiccedilatildeo histoacuterica deste capiacutetulo jaacute que ldquoo tempo eacute agente terriacutevel a tudo

colhe separa peneira depura e evidencia ndash verdade ou mentira ndash com a forccedila e a violecircncia

decorrentes do pesado braccedilo da Histoacuteria de quem eacute o servidor fiel e mestre implacaacutevelrdquo

(SIQUEIRA 2006 p 65)

Em relaccedilatildeo aos fatos que marcam o iniacutecio da fundaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidade de Pires

do Rio os historiadores remetem a inuacutemeras controveacutersias sobre a fundaccedilatildeo e os reais

fundadores e tambeacutem sobre a existecircncia de um povoado que competia com o Roncador em

1921 que mais tarde nos arquivos seria o Bairro do Fogo hoje Santa Ceciacutelia O local Rua do

Fogo eacute toda a parte situada do outro lado da linha feacuterrea

Rua do Fogo na descriccedilatildeo de Nogueira se formou pela atraccedilatildeo de pessoas de

diversas regiotildees com o intuito de negociar e prestar serviccedilos diversificados

aos operaacuterios da Estrada eram lavadeiras curandeiro sapateiro padeiro

professor primaacuterio fotoacutegrafo meretrizes e aventureiros Configurando um

povoamento tiacutepico do pioneirismo cada dia mais pessoas chegavam

predominantemente aventureiros muitos deles ateacute mesmo com passado

criminal As casas sendo erguidas raacutepidas e improvisadamente perfilaram-se

em ambos lados ao longo de uma rua irregular que era cenaacuterio de constantes

desordens e violecircncias ganhando por isso o nome de Rua do Fogo A

constante chegada de pessoas levou o povoado a competir em dimensatildeo com

a vizinha Roncador jaacute em 1921 (FERREIRA 1999 p 100)

O Porto do Roncador em 24 de agosto de 1921 recebe a visita do Ministro da Viaccedilatildeo

e Obras Puacuteblicas Engenheiro Sr Joseacute Pires do Rio que na qualidade anterior de Inspetor Geral

das Estradas de Ferro havia se posicionado contraacuterio ao prolongamento da ferrovia no Estado

de Goiaacutes Na ocasiatildeo ficou resolvido que a ponte sobre o rio Corumbaacute deveria se chamar Ponte

Pires do Rio e a primeira estaccedilatildeo a seguir Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio Pessoa mas ocorreu o

contraacuterio Essa informaccedilatildeo foi publicada inclusive nos meios de comunicaccedilatildeo da eacutepoca

69

A Informaccedilatildeo Goyana revista fundada por Henrique Silva que se edita no

Rio de Janeiro na sua ediccedilatildeo de agosto de 1921 (Ano V Vol V n ordm 1 p 1)

traz a reportagem ldquoO Ministro de Viaccedilatildeo Visita o Estado de Goiaacutesrdquo Destaca-

se dela

Tem-se resolvido que a primeira estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz aleacutem

Roncador se denomine ndash Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio

A ponte do Corumbaacute segundo solicitaccedilatildeo dos que tomaram parte na recepccedilatildeo

do Sr ministro da Viaccedilatildeo seraacute denominada ndash Ponte Pires do Rio (SIQUEIRA

2006 p 44 grifos do autor)

As obras estavam a todo vapor e enquanto aguardavam a conclusatildeo da ponte sobre o

rio Corumbaacute os serviccedilos de movimentaccedilatildeo de terra eram feitos aleacutem da outra margem do rio

tendo jaacute avanccedilado ateacute Tavares quilocircmetro 303 da ferrovia distante 84 quilocircmetros de

Roncador O local da estaccedilatildeo de Pires do Rio situa-se no quilocircmetro 218 pouco distante do rio

na Comarca de Santa Cruz em terras da Fazenda do Brejo ou do Sampaio de propriedade do

fazendeiro local coronel Lino Teixeira de Sampaio

No dia 13 de julho de 1922 no momento de inauguraccedilatildeo da ponte metaacutelica construiacuteda

sobre o rio Corumbaacute fez-se a inversatildeo do que o Senhor Ministro havia solicitado pois ela

recebeu o nome do presidente da repuacuteblica (Epitaacutecio Pessoa) troca esta feita pelo diretor da

Estrada de Ferro Goyaz o engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida

A execuccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa significou a integraccedilatildeo das demais regiotildees goianas

no desenvolvimento econocircmico uma vez que o rio Corumbaacute representava uma onerosa barreira

econocircmica para a produccedilatildeo dessas regiotildees Pires do Rio primeira estaccedilatildeo na outra margem do

Corumbaacute prometia ser um entreposto regional devido agrave sua possiacutevel ligaccedilatildeo por terra com

antigos e promissores municiacutepios isolados pelo rio e que natildeo foram contemplados com a

ferrovia Santa Cruz de Goiaacutes Bela Vista Piracanjuba Caldas Novas e Morrinhos O que veio

concretizar essa possibilidade foi a disposiccedilatildeo do coronel Lino Teixeira de Sampaio em doar

terras agrave Estrada de Ferro Goyaz para juntamente com a estaccedilatildeo fundar no local uma cidade

Nesse aspecto seu empenho foi aacutegil e eficiente dois planos urbanos que vieram garantir para

os pioneiros a certeza da existecircncia de uma cidade no local (FERREIRA 1999)

Nas bases da histoacuteria da rede feacuterrea segundo Ferreira (1999) quando da inauguraccedilatildeo

da estaccedilatildeo Pires do Rio foi tambeacutem decretada a fundaccedilatildeo da cidade registrada em obelisco

erguido no largo de frente agrave estaccedilatildeo hoje a praccedila do mercado municipal considerando-se como

fundador o engenheiro da ferrovia Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida e designando a cidade

pelo nome (uma homenagem) do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas engenheiro Joseacute

Pires do Rio

70

Houve tambeacutem a intenccedilatildeo por parte do Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida em deixar a

estaccedilatildeo de Pires do Rio como ponta de linha para que se desenvolvesse rapidamente Finda a

raacutepida inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo seguiu tambeacutem o engenheiro no ldquotrem Inauguralrdquo rumo a

Tapiocanga ndash a proacutexima estaccedilatildeo depois de Pires do Rio ndash para inaugurar sua estaccedilatildeo

improvisada em um simples vagatildeo pois era um local onde natildeo havia nenhuma edificaccedilatildeo

passando mesmo assim a ser a ponta de linha

No dia 9 de novembro de 1922 eacute inaugurado o obelisco a cerca de 50 metros da estaccedilatildeo

ferroviaacuteria jaacute edificada considerada a pedra fundamental da cidade de Pires do Rio Encontra-

se grafado no monumento em alto-relevo que o Engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida na

eacutepoca diretor da Estrada de Ferro de Goyaz era o fundador da cidade de Pires do Rio uma

ldquofraserdquo que tem gerado algumas controveacutersias acerca do verdadeiro fundador da cidade

(SIQUEIRA 2006)

Enquanto alguns escritores piresinos e familiares alimentam a disputa ideoloacutegica no

niacutevel da influecircncia poliacutetica do coronel Lino Teixeira de Sampaio corroborada pela doaccedilatildeo de

um terreno para a construccedilatildeo da cidade outros tecircm se debruccedilado sobre as criacuteticas advindas do

meio acadecircmico local uma vez que o aniversaacuterio da cidade natildeo coincide com a data da escritura

de doaccedilatildeo das terras 05 de julho de 1922 mas com a data oficial inscrita na pedra fundacional

feita pelo Diretor da Estrada de Ferro Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida 09 de novembro de

1922

Siqueira (2006) eacute um dos estudiosos que argumentam a favor da tese de que o fundador

da cidade eacute o coronel Lino Teixeira de Sampaio Desta forma para corroborar o ato de doaccedilatildeo

da gleba de terra Siqueira (2006) recorreu aos livros de registros do Cartoacuterio de Imoacuteveis da

Comarca de Santa Cruz de Goiaacutes onde se encontra a escritura puacuteblica lavrada no dia 5 de julho

de 1922 pois na eacutepoca as terras pertenciam a este referido municiacutepio a qual nos informa que

por eles [Lino e Rozalina] foi dito que de suas livres e espontacircneas vontades

e sem coaccedilatildeo alguma doam agrave Estrada de Ferro de Goyaz com (4) alqueires

de terreno de campo divididos e demarcados nesta fazenda do ldquoBrejordquo

conforme consta na planta confeccionada pela dita Estrada de Ferro e bem

assim a aacutegua necessaacuteria ao abastecimento da Estaccedilatildeo jaacute edificada dentro destes

quatros alqueires Declaram mais os doadores que fazem a doaccedilatildeo dos

referidos terrenos agrave Estrada de Ferro de Goyaz sem que a mesma Estrada tenha

obrigaccedilatildeo de espeacutecie alguma cabendo-lhe apenas Dividir o terreno doado em

pequenos lotes para que seja dado iniacutecio agrave edificaccedilatildeo de uma pequena Cidade

excluindo o referido a faixa necessaacuteria agrave Estaccedilatildeo arrendar os lotes e aplicar

as rendas em melhoramentos da futura Cidade e edificaccedilatildeo de um Grupo

Escolar natildeo admitir seja construiacutedo preacutedio algum sem que seja previamente

aprovada pela diretoria da Estrada a respectiva planta (SIQUEIRA 2006 p

29)

71

Entretanto os fatos histoacutericos remetem agrave data de 09 de novembro como sendo de

fundaccedilatildeo da cidade jaacute que essa data se justifica pela inauguraccedilatildeo (documentada) da estaccedilatildeo

ferroviaacuteria Pires do Rio embora para Siqueira (2006) a data de fundaccedilatildeo da cidade seja o dia

05 de julho de 1922 data que coincide com a da escritura puacuteblica de doaccedilatildeo das terras agrave Estrada

de Ferro Goyaz

Siqueira (2006) ainda acrescenta as suas consideraccedilotildees acerca do fato de que o coronel

Lino Teixeira de Sampaio aleacutem de doar os quatro alqueires de terra accedilatildeo que outros

fazendeiros das estaccedilotildees seguintes natildeo tiveram apresentou um projeto urbano (planta) da

cidade a ser erguida nas proximidades da estaccedilatildeo projeto este de autoria de um engenheiro da

Estrada Aacutelvaro Pacca que foi apresentado e aprovado pela direccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz

em 1ordm de janeiro de 1922

De acordo com Ferreira (1999) acredita-se que no local definitivo da estaccedilatildeo por volta

do ano de 1923 apresentou-se outro projeto para a construccedilatildeo da cidade desta vez solicitado

ao topoacutegrafo da Estrada de Ferro Moacir de Camargo A cidade de Pires do Rio ficaria sendo

entatildeo a primeira cidade do Centro-Oeste a nascer com planejamento preacutevio antes de Goiacircnia

ou Brasiacutelia

O momento em que a cidade comeccedila a surgir de acordo com Nogueira (sd) fez com

que a populaccedilatildeo do Roncador migrasse toda para laacute carregando tudo aquilo que lhes pertencia

inclusive o material de construccedilatildeo das casas que foram demolidas construindo novas moradias

no local escolhido para tal fim Esse fato de mudar de um arraial para outro segundo Ferreira

(1999) veio a constituir o fenocircmeno por ele denominado de fagocitose pois para a formaccedilatildeo

da cidade Pires do Rio o arraial do Roncador extinguiu-se para vigorar a nascente cidade como

se observa nos dizeres abaixo

Pires do Rio crescia em terras de Santa Cruz municiacutepio de projeccedilatildeo

econocircmica e poliacutetica no Estado que dominou todo o sudeste e parte do sul de

Goiaacutes O arraial de origem fundado em 1729 teve seu valor econocircmico

firmado na extraccedilatildeo auriacutefera passando agrave Julgado de Santa Cruz em 1809 com

seu territoacuterio de influecircncia sobre uma extensa aacuterea Emancipou-se agrave Vila em

1833 quando Goiaacutes foi dividido em quatro Comarcas sendo Santa Cruz uma

delas Terminado o ciclo do ouro sua economia voltou-se durante o seacuteculo

XIX para a pecuaacuteria extensiva a agricultura e primitivo processamento da

produccedilatildeo agriacutecola sobrepondo-se agraves outras cidades de economia auriacutefera em

estagnaccedilatildeo A emancipaccedilatildeo de seus distritos ao longo do seacuteculo XIX foi-lhe

tirando a extensatildeo de seu poder territorial e de jurisdiccedilatildeo mas natildeo seu poder

econocircmico e poliacutetico no Estado Essa situaccedilatildeo veio a se alterar com a chegada

da Estrada de Ferro Goiaacutes (FERREIRA 1999 p 136)

72

As construccedilotildees jaacute haviam se iniciado e comeccedilara a chegar os novos moradores oriundos

de vaacuterias partes do paiacutes e do mundo que solidificariam a comunidade piresina Os baianos e os

aacuterabes foram os primeiros migrantes a chegarem e fixarem-se acreditando na futura cidade Os

baianos e outros nordestinos foram atraiacutedos pela frente de trabalho criada pela construccedilatildeo da

ferrovia Os italianos e espanhoacuteis tambeacutem se fizeram presentes na comunidade local No

entanto a maioria dos migrantes foram mesmo paulistas e mineiros Os estrangeiros tais como

italianos espanhoacuteis e principalmente aacuterabes foram partes integrantes da elite dominante

(FERREIRA 1999)

Pires do Rio se elevou a distrito do Municiacutepio de Santa Cruz em 23 de agosto de 1924

pela Lei nordm 66 E em 7 de julho de 1930 pela Lei nordm 903 foi criado o municiacutepio de Pires do

Rio E tatildeo logo pelo Decreto de ndeg 522 de 8 de janeiro de 1931 publicado no Correio Officcial

ndeg 1819 paacutegina 3 de 19 de abril do mesmo ano (SIQUEIRA 2006) oficializou a transferecircncia

da Comarca de Santa Cruz para a cidade de Pires do Rio

Na deacutecada de 30 estabelecia-se o comeacutercio na cidade de Pires do Rio natildeo tinha um

centro comercial propriamente dito mas algumas casas de comeacutercio espalhadas pela cidade

(FERREIRA 1999) A instalaccedilatildeo da energia eleacutetrica em 1934 deu um impulso agrave agroinduacutestria

local iniciada com a charqueada em 1924 e logo apoacutes por uma maacutequina beneficiadora de arroz

serraria faacutebrica de manteiga padarias curtume e outros pequenos centros de produccedilatildeo com

isso a necessidade de matildeo-de-obra impulsionava o crescimento da populaccedilatildeo jaacute que muitos

eram empregados pela via feacuterrea desta forma a vinda de imigrantes a nova cidade era

necessaacuterio Com o crescimento da cidade e da sua populaccedilatildeo foram necessaacuterias benfeitorias

que foram ocorrendo no decorrer dos anos

De acordo com Siqueira (2006) Pires do Rio se desenvolveu de forma diferenciada das

centenaacuterias cidades de Goiaacutes visto que a maioria se formou por tradicionais enraizados e

familiocratas grupos poliacuteticos ou simplesmente ldquooligarquiasrdquo o que permitiu uma abertura e

receptividade ao novo e ao desconhecido como paracircmetro coerente para a construccedilatildeo de uma

comunidade nascente No periacuteodo de 1921 a 1940 correspondentemente agrave cidade em sua

afirmaccedilatildeo poliacutetica e urbana foi composta por migrantes e imigrantes que se estabeleciam na

prestaccedilatildeo de serviccedilo agroinduacutestria e comeacutercio tudo isso oriundo da formaccedilatildeo da cidade pela

Estrada de Ferro Goyaz

Um fato ainda natildeo informado eacute que no ano de 1933 o municiacutepio era constituiacutedo de dois

distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Jaacute no decreto-lei nordm 5200 de 08 de dezembro de 1934

Pires do Rio eacute ldquorebaixadordquo agrave categoria de distrito do municiacutepio de Santa Cruz haja vista que

73

em divisotildees territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937 Pires do Rio figura como distrito

de Santa Cruz (IBGE 2016)

Em 03 de marccedilo de 1938 pelo Decreto-lei nordm 557 Pires do Rio retorna agrave categoria de

municiacutepio e Santa Cruz agrave de distrito No periacuteodo de 1939-1943 o municiacutepio aparece constituiacutedo

de trecircs distritos Pires do Rio Santa Cruz e Cristianoacutepolis O distrito de Santa Cruz pelo

Decreto-lei nordm 8305 de 31 de dezembro de 1943 passou a denominar-se Corumbalina Mas

pelo Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias de 20 de julho de 1947 Artigo 61

desmembrou-se do municiacutepio de Pires do Rio e foi elevado agrave categoria de municiacutepio com a

denominaccedilatildeo de Santa Cruz de Goiaacutes (IBGE 2016)

Em divisatildeo territorial datada de 1 de julho de 1950 o municiacutepio eacute constituiacutedo de dois

distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Depois pela lei municipal nordm 221 de 15 de julho 1953

eacute criado o distrito de Palmelo e anexado ao municiacutepio de Pires do Rio A lei estadual nordm 739 de

23 de junho de 1953 desmembra do municiacutepio de Pires do Rio o distrito de Cristianoacutepolis

elevado entatildeo agrave categoria de municiacutepio Rapidamente o distrito de Palmelo pela lei estadual

nordm 908 de 13 de novembro de 1953 eacute desmembrado do municiacutepio de Pires do Rio e elevado agrave

categoria de municiacutepio (IBGE 2016)

A ferrovia foi um marco na histoacuteria de Pires do Rio uma vez que o transporte ferroviaacuterio

era utilizado para escoar a produccedilatildeo Aleacutem disso a instalaccedilatildeo do Frigoriacutefico Brasil Central

estimulou a produccedilatildeo da pecuaacuteria de corte Nas deacutecadas de 1950 e 1960 destacou-se por

exportar o charque e pela produccedilatildeo de cerveja Jaacute com a construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 e a

implantaccedilatildeo das rodovias favoreceu-se a sua interligaccedilatildeo aos outros municiacutepios goianos

O fluxo de cargas e pessoas pela via ferroviaacuteria entre os anos de 1940 a 1950 apresentava

regularidade mas devido agrave construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 de 1965 a 1970 apresentou uma

queda gradativa por deficiecircncia teacutecnica das linhas falta de manutenccedilatildeo delas e dos

equipamentos lentidatildeo do transporte o que provocou em 1970 a desativaccedilatildeo do transporte de

passageiros A Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima (RFFSA) foi privatizada em 1996

e a Ferrovia Centro Atlacircntica (FCA) adquiriu 7080 km de extensatildeo operando 685 km em

Goiaacutes tendo adotado uma nova poliacutetica investindo dois milhotildees de reais na ferrovia

desativando vaacuterias estaccedilotildees (NOVAIS 2014) Na Estaccedilatildeo Pires do Rio ficou funcionando

apenas o escritoacuterio da FCA e o Museu Ferroviaacuterio e na Estaccedilatildeo Roncador uma oficina de

manutenccedilatildeo de vagotildees

Segundo Novais (2014) a ferrovia enquanto elemento modernizador do Sudeste

Goiano e instrumento capaz de aumentar as aglomeraccedilotildees urbanas e dinamizar o progresso da

regiatildeo de acordo com os novos interesses dominantes sempre esteve sob o controle do poder

74

econocircmico estatal ou de grupos Sua expansatildeo justificou-se em detrimento dos interesses

capitalistas e imperialistas Portanto a estrada de ferro eacute um produto da induacutestria capitalista da

Primeira Revoluccedilatildeo Industrial colocada a serviccedilo do capital e resultante das transformaccedilotildees

ocorridas no processo de expansatildeo do capitalismo no Brasil e no mundo (BORGES 1990) O

Estado de Goiaacutes ao inserir-se na dinacircmica capitalista e implantar a via feacuterrea em seu territoacuterio

conseguiu integrar-se ao mercado brasileiro aleacutem de mitigar anos de atraso e isolamento

econocircmico

32 Pires do Rio geograacutefico

O municiacutepio de Pires do Rio localiza-se na Microrregiatildeo do Sudeste Goiano inserida

na Mesorregiatildeo Sul Goiano A Microrregiatildeo eacute reconhecida como a regiatildeo da Estrada de Ferro

Limita-se com os municiacutepios goianos de Orizona Vianoacutepolis Urutaiacute Caldas Novas Satildeo

Miguel do Passa Quatro Santa Cruz de Goiaacutes Palmelo Cristianoacutepolis e Ipameri A aacuterea da

unidade territorial (kmsup2) eacute de 1073361 com uma altitude meacutedia de 75886 O municiacutepio

encontra-se entre as seguintes coordenadas geograacuteficas

Mapa 1 ndash Pires do Rio (GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio (GO)

75

A cidade de Pires do Rio eacute constituiacuteda por riquezas naturais do bioma Cerrado o qual

apresenta uma heterogeneidade na sua fisionomia pois engloba desde formaccedilotildees florestais

como as Matas Ciliares (vegetaccedilatildeo que fica nas margens dos rios) e Cerradatildeo aleacutem do Cerrado

restrito (eacute o Cerrado tiacutepico formado por vegetaccedilotildees arboacutereas de casca grossa e troncos

retorcidos) com formaccedilotildees vegetais ou herbaacuteceas (campo sujo e limpo)

Uma das caracteriacutesticas marcantes do Cerrado eacute sua riqueza em recursos hiacutedricos e Pires

do Rio natildeo foge agrave regra Servindo de fronteiras naturais para o municiacutepio tem-se o rio do Peixe

na parte norte A parte sul do municiacutepio desagua no rio Corumbaacute que tambeacutem eacute utilizado como

fronteira natural e eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio Aleacutem destes tem o rio Piracanjuba

que devido agrave sua estrutura rochosa e seu volume de aacutegua foi palco da construccedilatildeo de uma usina

hidreleacutetrica em meados do seacuteculo XX que abastecia a cidade embora hoje encontre-se em

ruiacutenas

Aleacutem dos trecircs rios o municiacutepio possui ao longo de todo seu o territoacuterio vaacuterias

nascentes coacuterregos ribeirotildees quedas drsquoaacutegua os quais satildeo todos afluentes do rio Corumbaacute

Vale ressaltar que a maioria dos cursos drsquoagua satildeo perenes ou seja tem aacutegua o ano todo por

isso muitos deles tem o nome da regiatildeo em que se encontra pois satildeo objetos marcantes na

paisagem

Segundo o IBGE (1957) a populaccedilatildeo piresina no Recenseamento de 1950 era de

12946 habitantes (inclusive a populaccedilatildeo dos atuais municiacutepios de Cristianoacutepolis e Palmelo ndash

na eacutepoca distritos de Pires do Rio) apresentando quadro urbano e suburbano com uma

populaccedilatildeo de 4836 habitantes sendo 2282 homens e 2554 mulheres A densidade

demograacutefica era de 12 habitantes por quilocircmetro quadrado verificando-se que 53 da

populaccedilatildeo localizava-se no quadro rural

Na deacutecada de 50 o municiacutepio de Pires do Rio tinha um nuacutecleo populacional que era o

povoado de Marataacute aleacutem da sede (como jaacute mencionado no ano de 1953 os distritos de

Cristianoacutepolis e Palmelo satildeo elevados a municiacutepio) Mas com o passar dos anos ele deixa de

existir ficando apenas a Igreja de Satildeo Sebastiatildeo As atividades econocircmicas do municiacutepio eram

predominantemente a produccedilatildeo agriacutecola e pecuaacuteria O municiacutepio apresentava-se como um local

de atraccedilatildeo recreativa pela sua beleza paisagiacutestica a qual pode ser observada na cachoeira do

Salto no rio Piracanjuba jaacute mencionado onde foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica que forneceu

energia agrave cidade ateacute meados do seacuteculo XX

A populaccedilatildeo em 2010 era de 28762 habitantes sendo 14105 homens e 14657

mulheres Predominantemente urbana com 27094 pessoas e apenas 1668 no meio rural Pires

do Rio apresenta uma aacuterea de 1073361 km2 e uma densidade demograacutefica de 2680 habkmsup2

76

O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) do municiacutepio eacute de 0744 A Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa (PEA) eacute de 8717 homens e 6128 mulheres (IBGE 2016)

De acordo com os dados populacionais desde o Recenseamento da deacutecada de 50 (dados

jaacute mostrados anteriormente) a cidade teve um crescimento consideraacutevel como pode ser

observado nos quadros abaixo

Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo recenseamento

Populaccedilatildeo Censitaacuteria

1980 1991 2000 2010

Total de habitantes 19258 22131 26229 28762

Urbano 16670 20537 24473 27094

Zona Rural 2588 1594 1756 1668

Masculino 9498 10904 12948 14105

Feminino 9760 11227 13281 14657

Urbano Masculino 8098 10027 11966 13208

Urbano Feminino 8572 10510 12507 13886

Zona Rural Masculino 1400 877 982 897

Zona Rural Feminino 1188 717 774 771

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Nos dados que satildeo apresentados pelo IBGE (populaccedilatildeo estimada) entre os anos 2001 e

2004 ocorreu uma queda no crescimento populacional em relaccedilatildeo ao ano de 1999 que foi de

28631 e nos demais anos segue 2001 26600 2002 27091 2003 27491 2004 28332 A

respeito desta queda natildeo conseguimos informaccedilotildees Em duas datas especiacuteficas houve uma

contagem da populaccedilatildeo seguem os dados abaixo

Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo contagem

Populaccedilatildeo Contagem

1996 2007

Total de habitantes 25094 26857

Masculino 12403 13232

Feminino 12691 13574

Urbano 23766 25031

77

Zona Rural 1328 1826

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Os dados inseridos no quadro 3 satildeo uma estimativa da populaccedilatildeo informada pelo IMB

e IBGE

Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio (GO)

Populaccedilatildeo Estimada

2011 2012 2013 2014 2015

28956 29145 30232 30469 30703

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Para entreter a populaccedilatildeo o turismo do municiacutepio estaacute relacionado agraves edificaccedilotildees com

relevacircncia arquitetocircnica e cultural como a Ponte Epitaacutecio Pessoa o antigo Frigoriacutefico Brasil

Central as igrejas Satildeo Sebastiatildeo (Patrimocircnio do Marataacute) Satildeo Benedito (Igreja dos Congos) a

Ferrovia Centro Atlacircntica e o Museu Ferroviaacuterio O patrimocircnio material eacute representado pelo

centro histoacuterico principalmente a Igreja Matriz Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus coreto e chafariz da

Praccedila Gaudecircncio Rincon Segoacutevia o Mercado Municipal a Biblioteca Municipal a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria e a casa do Maneco (hoje em ruiacutenas) que formam um conjunto arquitetocircnico

singular como tambeacutem as belezas naturais das Serras da Caverna e das Flores a cachoeira do

Marataacute e Prainha (as margens do rio Corumbaacute)

De acordo com Novais (2014) nos anos de 1980 o municiacutepio conheceu a expansatildeo da

fronteira agriacutecola com a introduccedilatildeo do cultivo da soja logo apoacutes em 1993 atraiu investimentos

com a implantaccedilatildeo do complexo agroindustrial aviacutecola e a industrializaccedilatildeo do setor

contribuindo para o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que perpassou a regiatildeo do Sudeste

Goiano Atualmente a economia piresina eacute voltada para as atividades agriacutecolas como a

produccedilatildeo de soja milho sorgo arroz feijatildeo e mandioca

O comeacutercio a infraestrutura e serviccedilos (sauacutede educaccedilatildeo comeacutercio e prestaccedilatildeo de

serviccedilos) exercem funccedilatildeo de polo atrativo para moradores dos municiacutepios vizinhos Toda a

importacircncia do municiacutepio para a regiatildeo o estado e o paiacutes se deve agrave instalaccedilatildeo da Estrada de

Ferro Goyaz e aos que acreditaram no crescimento de Pires do Rio e investiram em seu

territoacuterio Por esta razatildeo que parte de nossa pesquisa busca reviver fragmentos da histoacuteria desta

cidade que se faz importante para uma regiatildeo estado e paiacutes

78

33 Os cursos drsquoaacutegua

No quadro abaixo apresentamos os nomes dos cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio

levantamento realizado de acordo com os mapas cartas topograacuteficas e vocabulaacuterio do IBGE

(1957)

Quadro 6 ndash Cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO)

Vocabulaacuterio Geograacutefico ndash IBGE (1957)

Rio ndash 3 Paacutegi

na

Descriccedilatildeo Municiacutepio de

Nasceste

Rio Corumbaacute 75 Rio nasce nos arredores de Pirineus

atravessa o municiacutepio como o de Santa

Luzia depois de servir em pequeno trecho

de divisa a Bonfim Adiante separa Ipameri

e Corumbaiacuteba de um lado e Campo

Formoso Pires do Rio Caldas Novas Buriti

Alegre do outro ateacute desaguar no rio

Paranaiacuteba pela margem direita

Corumbaacute

Rio do Peixe 165 Rio nasce na regiatildeo sul-oriental do

municiacutepio que separa dos de Campo

Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio

e o de Caldas Novas desemboca no rio

Corumbaacute pela margem direita

Silvacircnia

Rio Piracanjuba 171 (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce

na serra de Passa Quatro e atravessa o

municiacutepio bem como o de Pouso Alto

Adiante separa Caldas Novas de Morrinhos

e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio

Corumbaacute pela margem direita

Bela Vista

Coacuterrego ndash 34

Coacuterrego Areias 15 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Pires do Rio

Coacuterrego Barreiro - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia

Coacuterrego do

Barreiro

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Piracanjuba

Coacuterrego dos Batista - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Bauzinho 29 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Bauacute

Orizona

Coacuterrego da Braga 37 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Santa Maria

Luziacircnia

79

Coacuterrego Boa Vista 32 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Buracatildeo 40 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Buriti 42 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio dos Bois

Pires do Rio

Coacuterrego Cachoeira 47 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Piracanjuba

Silvacircnia

Coacuterrego Capoeira

Grande

60 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Cachoeira

Orizona

Coacuterrego Carvalho - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego da Caverna 66 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio dos Peixes (M de Pires do Rio)

Pires do Rio

Coacuterrego Corrente - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Domingo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego da Estiva 88 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Brumado

Pires do Rio

Coacuterrego Fundatildeo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Cocalzinho de

Goiaacutes

Coacuterrego Guaraacute 106 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Itauacutebi - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Juca - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Lajinha 124 Coacuterrego afluente da margem direita do

coacuterrego Taperatildeo

Orizona

Coacuterrego Laranjal 126 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Bauacute

Pires do Rio

Coacuterrego Limeira 128 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Ipameri

Coacuterrego Marreco 136 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Bauacute

Orizona

Coacuterrego Mata

Dentro

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego do

Mocambo

144 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

das Antas

Silvacircnia

Coacuterrego Olho

drsquoaacutegua

152 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Piracanjuba

Orizona

Coacuterrego do Pico 168 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Brumado

Pires do Rio

Coacuterrego

Piracanjuba

171 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

igual nome

Morrinhos

Coacuterrego Posse 177 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

coacuterrego do Fundo

Orizona

80

Coacuterrego Satildeo

Jerocircnimo

202 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Caiapoacute

Pires do Rio

Coacuterrego Saltador 193 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute proacuteximo a barra do rio

Alagado

Luziacircnia

Coacuterrego Taquaral 217 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute (M de Pires do Rio)

Pires do Rio

Coacuterrego da Terra

Vermelha

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia

Ribeiratildeo ndash 8

Ribeiratildeo Bauacute 29 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Piracanjuba na divisa do municiacutepio de Pires

do Rio

Orizona

Ribeiratildeo Brumado 33 Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do

rio dos Peixes

Santa Cruz de

Goiaacutes

Ribeiratildeo Cachoeira 47 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Piracanjuba

Orizona

Ribeiratildeo Caiapoacute 50 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Urutaiacute

Ribeiratildeo Marataacute - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Ribeiratildeo Mucambo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Ribeiratildeo Sampaio 194 Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da

margem direita do rio Corumbaacute (M de

Pires do Rio)

Pires do Rio

Ribeiratildeo Taquaral - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Orizona

Quedas drsquoaacutegua ndash 1

Cachoeira do

Marataacute

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Fonte Vocabulaacuterio Geograacutefico IBGE 1957

O quarto capiacutetulo apresenta a descriccedilatildeo e anaacutelise de quinze dos 46 topocircnimos (escolha

esta pela relaccedilatildeo de representaccedilatildeo para a cidade de Pires do Rio-GO) de acordo com os aportes

teoacutericos revisados no primeiro capiacutetulo e em consonacircncia com os meacutetodos apresentados e

discutidos no segundo capiacutetulo apresenta ainda algumas questotildees teoacutericas suscitadas pelas

especificidades dos dados escolhidos

81

IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR

O signo toponiacutemico natildeo abre apenas o nome de

um lugar mas o lugar como um todo tudo que estaacute

relacionado a ele de uma forma ou de outra

(SIQUEIRA 2015)

Nos colocar a serviccedilo desta pesquisa foi o mesmo que redescobrir a cidade de Pires do

Rio-GO Conhecer a sua histoacuteria e poder reeditaacute-la remapear os seus cursos drsquoaacutegua e por fim

buscar na Toponiacutemia as relaccedilotildees de poder que os topocircnimos tecircm sobre cada espaccedilo nomeado

assim tomamos posse do que esta pesquisa nos proporcionou e aqui estaacute o aacutepice dela os dados

e suas anaacutelises

Segundo Dias (2008) o municiacutepio de Pires do Rio-GO tem como principais cursos

drsquoaacutegua o rio Corumbaacute situado na parte sudeste o rio Piracanjuba no nordeste e rio do Peixe

na parte sul os quais correm em direccedilatildeo agrave calha do rio Paranaiacuteba (uma das quatro bacias

hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes) ao sul Os rios do Peixe e Piracanjuba desaguam no

Corumbaacute sendo limites de fronteiras do municiacutepio Aleacutem desses rios a rede hidrograacutefica eacute

formada por vaacuterios ribeirotildees e coacuterregos

Para proceder com as devidas anaacutelises dos topocircnimos nos eacute necessaacuterio partir de algumas

definiccedilotildees de nomenclaturas da aacuterea da geografia mas natildeo tivemos acesso a nenhum dicionaacuterio

terminoloacutegico da aacuterea especiacutefica devido agrave dificuldade de encontrar em bibliotecas puacuteblicas e

na internet desta forma recorremos aos dicionaacuterios Aulete (2011) Borba (2004) e Houaiss et

al (2004 2009) para assim proceder com a definiccedilatildeo de palavras (termos) que satildeo recorrentes

em nossa pesquisa a) curso drsquoaacutegua eacute qualquer corpo de aacutegua fluente b) coacuterrego um rio

pequeno com pouco volume de aacutegua que passa por vaacuterios lugares e sempre desagua em um

curso drsquoaacutegua (coacuterrego ribeiratildeo ou rio) c) queda drsquoaacutegua torrente de aacutegua que cai do alto

cachoeiracascata que satildeo formaccedilotildees geomorfoloacutegicas nas quais os cursos drsquoaacutegua correm por

cima de uma rocha de composiccedilatildeo resistente agrave erosatildeo formando uma suacutebita quebra na vertical

d) ribeiratildeo curso drsquoaacutegua maior que o riacho e menor que o rio afluente de um rio e) rio ou

fluacutemen eacute uma corrente natural de aacutegua que flui continuamente Possui um caudal consideraacutevel

e desemboca no mar num lago ou noutro rio e em tal caso denomina-se afluente Pode

apresentar vaacuterias redes de drenagem

Proceder com estas observaccedilotildees eacute elementar para esta pesquisa pois dos 46 topocircnimos

elencados no municiacutepio de Pires do Rio-GO analisaremos apenas 15 visto que analisar todos

82

os topocircnimos seria uma tarefa aacuterdua e que demandaria mais tempo registramos aqui o que nos

motivou agrave escolha dos cursos drsquoaacutegua para anaacutelise Como satildeo apenas 03 rios eacute viaacutevel e de bom

senso analisaacute-los jaacute que satildeo as maiores bacias e que datildeo destaque agrave regiatildeo os ribeirotildees satildeo

especificamente 08 os quais seratildeo analisados inclusive alguns nomes se repetem aos coacuterregos

tambeacutem 01 queda drsquoaacutegua cachoeira do Marataacute que natildeo seraacute analisada devido ao nome ser o

mesmo de um ribeiratildeo dos 34 coacuterregos analisaremos apenas 04 (Barreiro Itauacutebi Laranjal e da

Terra Vermelha) devido ao grau de importacircncia para a cidade pois os coacuterregos Itauacutebi (nascente)

e Laranjal satildeo os que abastecem a cidade de Pires do Rio-GO Quanto ao Barreiro este estaacute

localizado na regiatildeo do Morro do Cruzeiro localidade que tem o maior nuacutemero populacional

na zona rural do municiacutepio O coacuterrego da Terra Vermelha eacute uma aacuterea que haacute muito tempo foi

espaccedilo de olaria e dela saiacuteram grandes quantidades de tijolos que foram utilizados nas

construccedilotildees de casas na cidade e tambeacutem pertence a uma localidade onde existiu o povoado do

Marataacute na deacutecada de 50

No mapa 2 apresentamos os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do

Rio-GO bem como aparecem em destaque os 15 topocircnimos que analisaremos a seguir os quais

estatildeo catalogados em fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas que estatildeo inseridas neste capiacutetulo

83

Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)

84

41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural

Os modelos das taxionomias foram elaborados por Dick (1992) a fim de possibilitar ao

pesquisador descobrir o significado dos topocircnimos sem ter que retomar especificamente a

passado histoacuterico Os modelos subdividem-se em 11 taxes de natureza fiacutesica e 16 de natureza

antropocultural Assim podemos verificar se o nomeador recorreu a elementos de natureza

fiacutesico ou socioculturais como motivaccedilatildeo no ato da nomeaccedilatildeo Abaixo apresentamos as 27

taxes subdivididas em suas naturezas e devidas especificaccedilotildees exemplificadas com alguns

topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO nos casos de natildeo ter

recorremos a outros topocircnimos

a) Taxionomias de natureza fiacutesica

1 Astrotopocircnimos topocircnimos que se referem aos corpos celestes cidade Estrela do Norte-

GO

2 Cardinotopocircnimos topocircnimos referentes agraves posiccedilotildees geograacuteficas cidade Alvorada do

Norte-GO

3 Cromotopocircnimos topocircnimos relativos agrave escala cromaacutetica coacuterrego da Terra Vermelha (Pires

do Rio-GO)

4 Dimensiotopocircnimos topocircnimos referentes agraves caracteriacutesticas dimensionais dos acidentes

geograacuteficos como extensatildeo comprimento largura espessura altura profundidade coacuterrego

Fundatildeo (Pires do Rio-GO)

5 Fitotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de vegetais rio Corumbaacute (Pires do Rio-

GO)

6 Geomorfotopocircnimos topocircnimos referentes agraves formas topograacuteficas elevaccedilotildees ou depressotildees

do terreno coacuterrego do Pico (Pires do Rio-GO)

7 Hidrotopocircnimos topocircnimos originados de acidentes hidrograacuteficos ribeiratildeo Cachoeira

(Pires do Rio-GO)

8 Litotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de minerais e de nomes relativos agrave

constituiccedilatildeo do solo coacuterrego Barreiro (Pires do Rio-GO)

9 Meteorotopocircnimos topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos ribeiratildeo Brumado

(Pires do Rio-GO)

10 Morfotopocircnimos topocircnimos que refletem o sentido de forma geomeacutetrica cidade Volta

Redonda-RJ

11 Zootopocircnimos topocircnimos de iacutendole animal rio do Peixe (Pires do Rio-GO)

b) Taxionomias de natureza antropocultural

85

1 Animotopocircnimos ou Nootopocircnimos topocircnimos relativos agrave vida psiacutequica e agrave cultura

espiritual coacuterrego Boa Vista (Pires do Rio-GO)

2 Antropotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais ribeiratildeo Sampaio

(Pires do Rio-GO)

3 Axiotopocircnimos topocircnimos que se referem a tiacutetulos e a dignidades que acompanham os

nomes proacuteprios individuais cidade Senador Canedo-GO

4 Corotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes de cidades paiacuteses estados regiotildees e

continentes coacuterrego Posse (Pires do Rio-GO)

5 Cronotopocircnimos topocircnimos que encerram indicadores cronoloacutegicos como novonova

velhovelha cidade Nova Aurora-GO

6 Ecotopocircnimos topocircnimos que fazem referecircncia agraves habitaccedilotildees de um modo geral cidade

Castelacircndia-GO

7 Ergotopocircnimos topocircnimos relacionados aos elementos da cultura material ribeiratildeo Bauacute

(Pires do Rio-GO)

8 Etnotopocircnimos topocircnimos relativos aos elementos eacutetnicos tribos isolados ou natildeo ribeiratildeo

Caiapoacute (Pires do Rio-GO)

9 Dirrematotopocircnimos topocircnimos construiacutedos por meio de frases ou enunciados linguiacutesticos

cidade Aparecida do Rio Doce-GO

10 Hierotopocircnimos topocircnimos referentes aos nomes sagrados agraves efemeridades religiosas aos

locais de culto cidade Cristianoacutepolis-GO Podem apresentar duas subdivisotildees i)

hagiotopocircnimos topocircnimos que se referem aos santos e agraves santas do hagioloacutegio romano

coacuterrego Satildeo Jerocircnimo (Pires do Rio-GO) ii) mitotopocircnimos topocircnimos referentes agraves

entidades mitoloacutegicas cidade Anhanguera-GO

11 Historiotopocircnimos topocircnimos que se referem a movimentos de cunho histoacuterico-social aos

seus membros ou ainda agraves datas correspondentes cidade Ipiranga de Goiaacutes-GO

12 Hodotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves vias de comunicaccedilatildeo coacuterrego Corrente (Pires

do Rio-GO)

13 Numerotopocircnimos topocircnimos que dizem respeito aos adjetivos numerais cidade Trecircs

Ranchos-GO

14 Poliotopocircnimos topocircnimos constituiacutedos pelos vocaacutebulos vila aldeia cidade povoaccedilatildeo

arraial bairro Vila Nova (Pires do Rio-GO)

15 Sociotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais de trabalho

e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade ribeiratildeo Mucambo (Pires do Rio-

GO)

86

16 Somatotopocircnimos topocircnimos com relaccedilatildeo metafoacuterica agraves partes do corpo humano ou do

animal coacuterrego Olho drsquoaacutegua (Pires do Rio-GO)

Essas classificaccedilotildees taxonocircmicas funcionam como auxiliares no processo de verificaccedilatildeo

que subjaz o topocircnimo sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo da origem e motivaccedilatildeo que

levaram agrave efetivaccedilatildeo de determinado topocircnimo

Aleacutem do mais uma anaacutelise toponiacutemica pressupotildee a busca de particularidades

que natildeo podem ficar apenas nas caracteriacutesticas mais evidentes apresentadas

pelo nome deve-se procurar tanto quanto possiacutevel ou seja tanto quanto as

fontes ou a documentaccedilatildeo o permitirem as origens mais remotas do

denominativo objetivando as eventuais substituiccedilotildees experimentadas e a sua

razatildeo determinante de modo que se possa tentar um equacionamento da

nomenclatura em periacuteodos ou estaacutegios onomaacutesticos ndash senatildeo de toda ela pelo

menos em alguns nomes ndash que talvez reflitam momentos distintivos do pensar

da eacutepoca analisada (DICK 1996 p 15-16)

O leacutexico toponiacutemico eacute carregado de marcas de expressatildeo histoacuterica social cultural

poliacutetica e religiosa de dada comunidade e eacute representativo para o nomeador e seu grupo Desta

forma se determinado local ou coisa passou por vaacuterias nomeaccedilotildees no decorrer dos tempos isso

justifica que cada nomeador observou novas caracteriacutesticas que classificavam ou referenciavam

o topocircnimo de forma precisa e motivada

De acordo com Dick (1990) as vaacuterias facetas significativas que datildeo realce ao nome do

lugar e as inuacutemeras informaccedilotildees que podem ser elencadas dele tornariam no material de um

grande armazenamento de dados e fatos culturais em larga extensatildeo Assim observamos em

Andrade (2010 p 103) que

Os estudos toponiacutemicos dentro do alcance pluridisciplinar de seu objeto de

estudo constituem um caminho possiacutevel para o conhecimento do modus

vivendi das comunidades linguiacutesticas que ocupam ou ocuparam um

determinado espaccedilo Quando um indiviacuteduo ou comunidade linguiacutestica atribui

um nome a um acidente humano ou fiacutesico revelam-se aiacute tendecircncias sociais

poliacuteticas religiosas culturais (Grifos da autora)

Satildeo nessas caracteriacutesticas em que reside a motivaccedilatildeo do topocircnimo e por meio delas nos

satildeo reveladas a histoacuteria e cultura de uma dada comunidade por isso vemos o quanto os estudos

toponiacutemicos satildeo de extrema relevacircncia natildeo soacute para a aacuterea dos estudos da

linguagemlinguiacutesticos mas tambeacutem para as outras aacutereas do conhecimento jaacute que o topocircnimo

eacute plurissignificativo tendo assim um alcance pluridisciplinar

87

Posto isto pode-se evidenciar os estudos toponiacutemicos como um eixo norteador para se

verificar as relaccedilotildees soacutecio-histoacuterico-culturais de um povo jaacute que o topocircnimo estaacute intimamente

vinculado agrave cultura de um povo uma naccedilatildeo e portanto agrave sua histoacuteria Assim tomaremos por

anaacutelise os graacuteficos que se seguem e as taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua

do municiacutepio de Pires do Rio-GO

42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO

Nesta pesquisa os 15 topocircnimos analisados baseados na classificaccedilatildeo enquadram-se

na divisatildeo das naturezas fiacutesica e antropocultural Em alguns topocircnimos eacute possiacutevel ainda

evidenciar mais de uma categoria classificatoacuteria por exemplo o coacuterrego da Terra Vermelha

que se classifica como litotopocircnimo e cromotopocircnimo

Nos graacuteficos abaixo apresentamos e analisamos em base qualiquantitivas as naturezas

das taxionomias fiacutesicas e antropoculturais e a origemetimologia dos topocircnimos estratos

linguiacutesticos

Grafico1 Natureza das Taxionomias

As taxionomias nos permitiram analisar e interpretar os designativos de lugares com

maior precisatildeo e seguranccedila do ponto de vista semacircntico sendo estudados enquanto formas de

liacutengua e de acordo com a causa de seu emprego O produto resultante aqui no nosso caso os

88

topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO ganham vida proacutepria passando

a ter caraacuteter motivado e natildeo apenas arbitraacuterio

As taxes encontradas nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO que tiveram maior proporccedilatildeo foram as de natureza fiacutesica assim o nomeador caracterizou

os fatores fiacutesicos do ambiente ou que chamaram sua atenccedilatildeo Desta forma as nomeaccedilotildees satildeo

motivadas e estabelecem relaccedilotildees com o nomeador e o lugar nomeado

421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos

Os principais topocircnimos analisados neste trabalho confirmaram uma tendecircncia da

toponiacutemia brasileira em geral ou seja a predominacircncia de topocircnimos classificados de acordo

com as taxionomias de natureza fiacutesica uma vez que na nomenclatura onomaacutestica dos

elementos fiacutesicos da regiatildeo analisada haacute um percentual de 67 (10 topocircnimos) que satildeo

classificados como taxes de natureza fiacutesica e 33 (05 topocircnimos) que se enquadram nas taxes

de natureza antropocultural

Graacutefico 2 Taxionomias de Natureza Fiacutesica

O graacutefico apresentado nos revelam que a incidecircncia em sua maioria das taxionomias

de natureza fiacutesica evidencia a influecircncia do ambiente fiacutesico no ato de nomeaccedilatildeo percebe-se

entatildeo que no ato do batismo os povos recorreram a elementos e caracteriacutesticas circundantes

aos lugares nomeados demonstrando que o meio ambiente exerce grande influecircncia no homem

no ato de nomear os lugares

0

05

1

15

2

25

3

Taxionomias de Natureza Fiacutesica

89

Ao atribuir topocircnimos agraves taxionomias de natureza fiacutesica eacute possiacutevel comprovar a forccedila

de elementos fiacutesicos como motivadores no ato de nomear os lugares O que eacute observaacutevel no

graacutefico II os topocircnimos com maior incidecircncia nos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO sendo eles fitotopocircnimos hidrotopocircnimos litotopocircnimos litotopocircnimos e

cromotopocircnimos litotopocircnimos e fitotopocircnimos meteorotopocircnimos e zootopocircnimos que no

decorrer desse trabalho seratildeo analisados

4211 Fitotopocircnimos

De acordo com o observado a taxionomia de origem fitotoponiacutemica (originada de

nomes de vegetais) atingiu em segundo lugar o maior nuacutemero de frequecircncia dentre os

topocircnimos de natureza fiacutesica 20 (02 topocircnimos) satildeo eles coacuterrego Laranjal e ribeiratildeo

Taquaral Eacute observaacutevel que a flora foi uma das grandes motivaccedilotildees para os designativos dos

cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO E segundo Dick (1990 p 146)

O importante talvez seria natildeo perder de vista que a vegetaccedilatildeo eacute parte

integrante de um conjunto natural em que o relevo constituiccedilatildeo do solo

acidentes geograacuteficos regimes climaacuteticos compotildeem um verdadeiro

biossistema imprescindiacutevel ao homem e agrave qualidade de vida que nele pretenda

instalar ou pelo menos usufruir

Eacute nessas relaccedilotildees de importacircncia para o homem que podemos compreender a nomeaccedilatildeo

destes elementos fiacutesicos fazendo referecircncia a aspectos que chamaram a sua atenccedilatildeo e

motivaram a nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua Isso se revela pelo caraacuteter de necessidade agrave vida

humana tanto do nome como do que por ele foi nomeado essa relaccedilatildeo nomeador-objeto-nome

eacute que ressalta a importacircncia da vegetaccedilatildeo no meio social local do vivente Assim tambeacutem

justifica Pereira (2009 p 143) que ldquopossivelmente seja esse o motivo de o

denominadorenunciador registrar as caracteriacutesticas locais de uma regiatildeo na nomeaccedilatildeo dos

acidentes geograacuteficos por meio do topocircnimordquo

Ao trazer as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas eacute perceptiacutevel a motivaccedilatildeo que subjaz

cada topocircnimo como observamos abaixo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 02

Topocircnimo Coacuterrego Laranjal Localizaccedilatildeo Pires do Rio

90

Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia la-ran-jal Sm plantaccedilatildeo ou pomar de laranjas (p827)

Laranja sf lsquofruto da laranjeira planta da fam das rutaacuteceasrsquo XIV Do aacuter nāranğa deriv do

persa nāranğ laranjAL -gal XVI (p382)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino laranja- + -al sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Coacuterrego afluente da margem direita do ribeiratildeo Bauacute (M de

Pires do Rio)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 03

Topocircnimo Ribeiratildeo Taquaral Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ta-qua-ral Sm 1 plantaccedilatildeo de taquara tabocal 2 terreno onde crescem

taquaras (p1337)

Taquara sf lsquoplanta da fam das gramiacuteneas taboca bambursquo 1627 tacoara c 1584 etc

tacoaacutera 1817 Do tupi takṷara taquarAL 1783 (p623)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino taquara- + -al sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ao observar as informaccedilotildees trazidas nas fichas apresentadas dos fitotopocircnimos

possivelmente as motivaccedilotildees que influenciaram o nomeador satildeo perspicazes as referecircncias

locais que de acordo com cada topocircnimo relacionamos i coacuterrego Laranjal evidentemente em

sua localidade apresentava no momento de nomeaccedilatildeo a plantaccedilatildeo de laranjas e tambeacutem o

coacuterrego favorecia a essas plantaccedilotildees ii ribeiratildeo Taquaral assim como analisado o topocircnimo

91

anterior o que tenha influenciado ao nomeador deve estar relacionado com o a quantidade de

taquaras na regiatildeo em se encontra o determinado ribeiratildeo

A ocorrecircncia dos topocircnimos de iacutendole vegetal ora pesquisados pode ter a sua

justificativa pela relevacircncia que as plantas tecircm junto a vida humana bem como necessaacuterias para

a conservaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua e suas nascentes assim justificamos a tendecircncia de valoraccedilatildeo

do vegetal no processo de batismo dos elementos fiacutesicos

4212 Hidrotopocircnimos

O topocircnimo de equivalecircncia hidroniacutemica (originado de acidentes hidrograacuteficos) aparece

no em ribeiratildeo Cachoeira Sabe-se que a aacutegua eacute de fundamental importacircncia para a vida

humana por isso a tendecircncia de o nomeador no ato de batismo do topocircnimo valer-se do nome

relacionado ao elemento aacutegua para designar o lugar

E de acordo com Dick (1990 p 196) ldquoO aparecimento de topocircnimos nos mais

diferentes ambientes revestindo uma natureza hidroniacutemica propriamente dita vincula-se agrave

importacircncia dos cursos drsquoaacutegua para as condiccedilotildees humanas de vidardquo Possivelmente o nomeador

a considera o elemento aacutegua vital para a sua existecircncia ainda sabemos que os cursos drsquoaacutegua

em muitas ocasiotildees servem de caminhos para comeacutercio como tambeacutem foi por meio deles que

se configuraram na histoacuteria do Brasil o achamento e a colonizaccedilatildeo do paiacutes pelos portugueses

Nas ficha abaixo trazemos informaccedilotildees relevantes para anaacutelise dos topocircnimos de origem

hidrograacutefica

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 04

Topocircnimo Ribeiratildeo Cachoeira Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Hidrotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ca-cho-ei-ra Sf 1queda drsquoaacutegua em rio ou ribeiratildeo cujo leito apresenta

forte declive cascata 2 trecho de rio onde as aacuteguas correm raacutepido devido agrave inclinaccedilatildeo do

terreno corredeira (p213)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba (M

de Campo Formoso)

Referecircncias Borba (2004) IBGE (1957)

92

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Por mais que apenas 10 (01) dos topocircnimos de natureza fiacutesica tenham referecircncia agrave

iacutendole hidroniacutemica a regiatildeo de Pires do Rio-GO tem seus limites poliacutetico e fiacutesico (geograacuteficos)

feita por rios sem mencionar a grande importacircncia que esses cursos exercem nas atividades da

regiatildeo

Ainda observamos em Dick (1990 p 197) que

Agraves vezes poreacutem rompe-se o equiliacutebrio que ela [a aacutegua] representa em

qualquer meio desprendendo-se de suas possibilidades de aproximar culturas

distintas e assumindo papel um tanto oposto ao se transformar em ldquoobstaacuteculordquo

agrave difusatildeo dos interesses coletivos Circunscrevendo o homem em seu proacuteprio

espaccedilo quando o transcurso se torna difiacutecil impede os contatos entre grupos

vizinhos Se o isolamento por um lado tende a manter tanto quanto possiacutevel

inalterados os valores comuns preservando por isso a tradiccedilatildeo socioloacutegica

do homem ao retardar a dinacircmica da comunidade em favor de uma estaacutetica

desestimulante e viciosa

A par desta citaccedilatildeo observamos que foi o que aconteceu a cidade de Pires do Rio-GO

a partir do rio Corumbaacute o principal para o municiacutepio que ateacute a deacutecada de 1920 era isolado dos

demais municiacutepios por falta de uma ponte que estabelecesse tal ligaccedilatildeo Com a vinda da Estrada

de Ferro Goyaz e a construccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa surgem as primeiras casas e a

efetivaccedilatildeo do municiacutepio bem como a ligaccedilatildeo com as principais cidades da regiatildeo e as relaccedilotildees

econocircmicas e poliacuteticas que auxiliaram no crescimento do municiacutepio e da regiatildeo

Observamos ainda no contexto do municiacutepio de Pires do Rio-GO que a aacutegua em suas

potencialidades eacute de grande relevacircncia e meio de sobrevivecircncia para a vida humana pois

Na parte sul encontra-se o rio Corumbaacute que eacute maior curso drsquoaacutegua do

municiacutepio Nele eacute feito a extraccedilatildeo de areia para construccedilatildeo civil suas ilhas

servem de pontos de recreaccedilatildeo para vaacuterios moradores e as suas margens satildeo

praticamente ocupadas pelas pequenas propriedades (DIAS 2008 p 84)

Posto isso no efetivar do topocircnimo a partir da importacircncia da aacutegua o nomeador

diferencia o elemento geograacutefico dos demais auxiliando na orientaccedilatildeo do homem no espaccedilo

que o cerca proporcionando subsiacutedios para um melhor (re)conhecimento do local Assim

hipoteticamente acreditamos que o topocircnimo ndash ribeiratildeo Cachoeira ndash no contexto estudado

93

pode ter a sua motivaccedilatildeo pelo proacuteprio ambiente fiacutesico uma vez recupera caracteriacutesticas

hidroniacutemicas do lugar

4213 Litotopocircnimos

Notando-se as relaccedilotildees dos topocircnimos de origem mineral os litotopocircnimos coacuterrego

Barreiro representam o percentual de 10 (01 topocircnimo) dos analisados Cabe mencionar que

os minerais foram um dos principais atrativos dos colonizadores portugueses nas terras

brasileiras E de acordo com Dick (1990) os topocircnimos de origem mineral estatildeo relacionados

tanto a caracteriacutesticas do solo quanto do terreno e assim estabelecem duas relaccedilotildees fiacutesicas que

estatildeo ligadas agraves regiotildees da terra neste caso satildeo areia barro lama pedra terra E outro fator

satildeo os histoacutericos que podem ser evidenciados no processo de colonizaccedilatildeo do Brasil por meio

das relaccedilotildees entre solo flora e relevo que satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de uma nova

sociedade

O litotopocircnimo apresentado abaixo por meio de descriccedilatildeo e anaacutelise revela a influecircncia

do local sobre o ato de nomear

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 05

Topocircnimo Coacuterrego Barreiro Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia bar-rei-ro Sm terra alagada lamaccedilal (p164)

Barreira -eirar -eiro ejar rarr BARRO

Barro sm lsquotipo de argilarsquo lsquosubstacircncia utilizada no assentamento da alvenaria de tijolo em

obras provisoacuterias obtida pela mistura de argila com aacuteguarsquo XIV De origem preacute-romana

Relaciona-se neste verbete uma seacuterie de vocaacutebulos etimologicamente correlacionados com

o radical barr- de origem preacute-romana barrEIRA sf lsquoargileirarsquo lsquoparapeitorsquo 1500 barrEIRmiddotAR

bareyrar XV barrEIRO XVIII (p82)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino barro- + ndasheiro sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

94

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Observando Sapir (1969) podemos trazer a reflexatildeo acerca da relaccedilatildeo entre liacutengua e

ambiente que vale a compreensatildeo dos fatores fiacutesicos neste caso os aspectos geograacuteficos

incluindo aleacutem dos elementos fauna e flora os recursos minerais Assim o litotopocircnimo

coacuterrego Barreiro estabelece relaccedilotildees com o local quando foi nomeado ainda compreende-se

que a localidade era de lamaccedilalbarro um dos motivadores por determinado coacuterrego ser

batizado com o referido topocircnimo

Assim como observado em Dick (1990 p 125) os referidos topocircnimos de origem

mineral se referem ao primeiro caso que eacute o de ldquoiacutendole geneacutericardquo aspectos fiacutesicos e especiacuteficos

agraves regiotildees da terra revelando assim caracteriacutesticas minerais da regiatildeo em que estaacute localizado

determinado coacuterrego

4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos

No conjunto dos topocircnimos analisados em um percentual de 10 (01 topocircnimo) do

total encontramos um topocircnimo de estrutura composta mas natildeo hiacutebrido pois eacute formado por

duas palavras de origem latina a saber coacuterrego da Terra Vermelha litotopocircnimo (origem de

nomes de minerais e de nomes relativos agrave constituiccedilatildeo do solo) e cromotopocircnimo (relativo agrave

escala cromaacutetica) E que de acordo com Isquerdo e Seabra (2010 p 91) ldquo[] a motivaccedilatildeo dos

hidrotopocircnimos de estrutura composta normalmente valoriza mais de uma caracteriacutestica do

meio ambiente como foco denominativordquo O mesmo se estabelece com o topocircnimo ora

analisado como descreve na ficha abaixo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 06

Topocircnimo Coacuterrego da Terra Vermelha Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo e

Cromotopocircnimo

Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ter-ra Sf i elemento da superfiacutecie terrestre que misturado com aacutegua

transforma-se em barro ii parte soacutelida da superfiacutecie terrestre chatildeo firme (p1351)

Terra sf lsquoterritoacuterio regiatildeorsquo lsquosolo chatildeorsquo XIII Do lat tĕrra (p631)

95

Vermelho adj lsquoda cor do sanguersquo XIII Do lat vĕrmῐcŭlus (p674)

Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Substantivo Feminino + Adjetivo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Segundo Dias (2008 p 119-122) na maior parte da regiatildeo do municiacutepio de Pires do

Rio-GO o solo eacute ldquoLatossolos Vermelhosrdquo ou ldquoLatossolos Vermelho Amareladordquo assim

hipoteticamente uma das motivaccedilotildees fundamentais para a denominaccedilatildeo do topocircnimo estaacute

ligado a caracteriacutesticas do local o que influenciou o denominador a fazer referecircncia agrave Terra

juntamente com a cor vermelha

E ainda Dias (2008 p 117) justifica que ldquoas caracteriacutesticas da vegetaccedilatildeo natural

muitas das vezes tecircm como fator determinante o tipo de solo porque eacute dele que elas retiram a

maioria dos elementos que precisam para sua nutriccedilatildeordquo Nesta regiatildeo tem a predominacircncia da

agricultura e agropecuaacuteria influecircncias do solo que contribui para tais praacuteticas

Contudo o batismo do coacuterrego com o topocircnimo Terra Vermelha traz em sua motivaccedilatildeo

as caracteriacutesticas que satildeo observadas na localidade e que de certa forma influenciaram o

nomeador Aleacutem do coacuterrego uma regiatildeo rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tambeacutem eacute

conhecida pelo referido nome

4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos

O topocircnimo coacuterrego Itauacutebi eacute um nome composto litotopocircnimo (de origem mineral) e

fitotopocircnimo (de origem vegetal) e representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos

analisados Sua estrutura morfoloacutegica segundo Dick (1992) eacute um topocircnimo composto formado

por ita- (pedra) + -ubi (palmeira) ambos de origem tupi na formaccedilatildeo de palavras se constitui

em uma composiccedilatildeo por justaposiccedilatildeo E hipoteticamente a regiatildeo em que se encontra o

coacuterrego eacute de um terreno pedregulho ou pode ser que o proacuteprio coacuterrego tenha em sua calda um

acuacutemulo maior de pedras que o normal E consequentemente uma regiatildeo em que a vegetaccedilatildeo

tenha ou lembre uma localidade com plantaccedilotildees de palmeiras

96

Assim a ficha lexicograacutefica-toponiacutemia abaixo nos auxiliou na descriccedilatildeo e anaacutelise do

topocircnimo coacuterrego Itauacutebi aclarando para um efetiva interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo do corpus desta

pesquisa

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 07

Topocircnimo Coacuterrego Itauacutebi Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo e Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia Ita ndash pedra eacute o termo mais comum nos topocircnimos brasileiros algumas

vezes aparece sem o i inicial Ta-nhenga (ilha do Rio de Janeiro) Ta-ratatilde (localidade da

Bahia) (p 174)

Ubi ndash nome comum a vaacuterias palmeias dos gecircneros Genoma Bactris e Calyptrogyne (p 190)

Estrutura morfoloacutegica Nome composto (ita- substantivo feminino + -ubi substantivo

feminino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Tibiriccedila (1985)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Segundo Dias (2008) o coacuterrego Itauacutebi eacute um dos afluentes do ribeiratildeo Marataacute e tambeacutem

um dos coacuterregos que abaste ao municiacutepio de Pires do Rio-GO juntamente com o coacuterrego

Laranjal Assim eacute possiacutevel notar a importacircncia deste curso drsquoaacutegua para o municiacutepio e a sua

relevacircncia em anaacutelise para a nossa pesquisa

4216 Meteorotopocircnimos

A meteorotoponiacutemia refere-se a topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos e no

contexto pesquisado representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos analisados sendo

ribeiratildeo Brumado que proveacutem do termo latino bruma lsquoinvernorsquo especificando como nevoeiro

neblina e cerraccedilatildeo (CUNHA 2010) Dados esses especificados abaixo na ficha lexicograacutefica-

toponiacutemica que nos auxiliou na interpretaccedilatildeo e anaacutelise do topocircnimo

97

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 08

Topocircnimo Ribeiratildeo Brumado Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Meteorotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia Bruma bru-ma Sf nevoeiro neblina cerraccedilatildeo (p203)

Bruma sf lsquonevoeiro neblina cerraccedilatildeorsquo XVI Do lat bruma lsquoinvernorsquo (p103)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino bruma- + sufixo ndashado)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do rio dos Peixes (M

de Pires do Rio)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ao observarmos em Sapir (1969) em que o leacutexico de uma liacutengua reflete claramente o

ambiente fiacutesico e social do falantes provavelmente o que influenciou o nomeador em recorrer

ao batismo do topocircnimo Brumado em determinado ribeiratildeo pode ter sido devido a ocorrer na

localidade neblinanevoeiro na estaccedilatildeo do ano inverno jaacute que a proacutepria raiz da palavra bruma

faz referecircncia ao ldquoinvernordquo

Nas leituras realizadas em alguns pesquisadores da aacuterea da toponiacutemia como Almeida

(2012) Carvalhinhos (2002 2003) Dick (1990 1992 1996 1999 2000 2001 2004 2006)

Isquerdo e Seabra (2010) Pereira (2009) Siqueira (2012 2015) natildeo foi recorrente

encontrarmos algum meteorotopocircnimo analisado ou que nos desse qualquer sustentaccedilatildeo ou

informaccedilotildees para proceder com algum confrontamento de dados mediante a isso

subentendemos que os topocircnimos de iacutendole dos fenocircmenos atmosfeacutericos natildeo tenham uma certa

frequecircncia como os demais

4217 Zootopocircnimos

Nas denominaccedilotildees de iacutendole animal zootopocircnimos no estudo corrente referem ao

percentual de 30 (03 topocircnimos) dos extratos pesquisados ndash rio Corumbaacute rio do Peixe e rio

Piracanjuba Precisamente em dois topocircnimos o fator motivador foi o animal peixe que

possivelmente influenciou o nomeador A saber que a caccedila e pesca era o meio de sobrevivecircncia

98

da comunidade primitiva desta forma possivelmente a comunidade que habitava nos referidos

locais tambeacutem foi influenciada por essas razotildees e daiacute batizando ambos os rios com os referidos

topocircnimos

Ao observamos os topocircnimos de iacutendole animal aqui presentes vamos contrapor ao que

Dauzat (1922 apud DICK 1990) constatou ter uma menor frequecircncia dos zootopocircnimos em

relaccedilatildeo a outras categorias na toponiacutemia francesa bem como agrave perspectiva de Backheuser

(1952 apud DICK 1990) de que na toponiacutemia brasileira os nomes de animais satildeo menos

recorrentes

As relaccedilotildees de denominaccedilatildeo toponiacutemica de uma dada regiatildeo pode ser diferente de outra

de acordo com isso as relaccedilotildees de motivaccedilotildees estatildeo estritamente ligadas ao nomeador pois

cada qual atribui a caracteriacutesticas inerentes ao local a que faz referecircncia Assim as fichas

lexicograacuteficas-toponiacutemicas abaixo evidenciam em suas descriccedilotildees e nos auxiliam a proceder

com a anaacutelise toponiacutemica dos designativos bem como a quantificar que os zootopocircnimos foram

os de maior frequecircncia em nossas anaacutelises

Nordm de ordem 09

Topocircnimo Rio Corumbaacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia cid Mato Grosso do Sul de corumbaacute caacutegado (p44) Origem Tupi

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio nasce nos arredores de Pirineus atravessa o municiacutepio

como o de Santa Luzia depois de servir em pequeno trecho de divisa a Bonfim Adiante

separa Ipameri e Corumbaiacuteba de um lado e Campo Formoso Pires do Rio Caldas Novas

Buriti Alegre do outro ateacute desaguar no rio Paranaiacuteba pela margem direita (M de Corumbaacute)

Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 10

Topocircnimo Rio do Peixe Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

99

OrigemEtimologia pei-xe Sm (Zool) 1 espeacutecime de classe animal vertebrado que nasce e

vive na aacutegua respira por guelras e se locomove por meio de barbatanas (p1048)

sm lsquo(Zool) animal cordado gnastomado aquaacutetico com nadadeiras com pele geralmente

coberta de escamas que respira por bracircnquiasrsquo XIII Do lat piscis -is peixADA XX

peixARIA XX peixeiro peyxero XIII Cp pescar piscatoacuterio (p485)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio (do) nasce na regiatildeo sul-oriental do municiacutepio que separa

os de Campo Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio e o de Caldas Novas desemboca

no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bonfim)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) (IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 11

Topocircnimo Rio Piracanjuba Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia cid de Goiaacutes de piracanjuba uma var de peixe de rio etim piraacute-

acatilde-juba peixe de cabeccedila amarela (p97) Origem Tupi

piraacute sm lsquodesignaccedilatildeo geneacuterica de peixe em tupirsquo piracanjuva sf lsquoespeacutecie de douradorsquo 1792

Do tupi pirakaᶇlsquoḭuṷa (p498)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce na serra de Passa

Quatro e atravessa o municiacutepio bem como o de Pouso Alto Adiante separa Caldas Novas de

Morrinhos e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bela

Vista)

Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

100

Segundo Dias (2008) o rio Corumbaacute eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio dele se extrai

areia para a construccedilatildeo civil e suas ilhas e margens servem para abrigar pequenas propriedades

inclusive para a recreaccedilatildeo e turismo O rio do Peixe eacute um dos trecircs maiores cursos drsquoaacutegua e

fronteiriccedilo na regiatildeo sul entre Pires do Rio Cristianoacutepolis Vianoacutepolis e Satildeo Miguel do Passa

Quatro tem como principal afluente o ribeiratildeo Brumado e tambeacutem eacute o principal afluente do

rio Corumbaacute O rio Piracanjuba tambeacutem estaacute entre os principais do municiacutepio na regiatildeo norte

faz fronteira entre Pires do Rio Orizona Urutaiacute e Ipameri sua principal relevacircncia foi na

deacutecada de 1950 por aiacute ter funcionado uma usina hidreleacutetrica que abastecia o municiacutepio de Pires

do Rio-GO

A anaacutelise zootoponiacutemica na localidade pesquisada evidenciou a valorizaccedilatildeo da fauna

local pois ao utilizar o nome de animais recuperou-os para nomear lugares como os rios

Observamos que os nomes de animais que estabelecem a sua origem nas liacutengua tupi

(Piracanjuba e Corumbaacute) e latina (Peixe) motivaram a nomeaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e

de alguma forma estatildeo vinculados agrave vida do nomeador estabelecendo assim relaccedilotildees

extralinguiacutesticas com os topocircnimos pesquisados E segundo Theodoro Sampaio (1914 apud

DICK 1990) dificilmente o nome do animal estaria desvinculado de sua existecircncia na

localidade

Os elementos de natureza fiacutesica mais evidentes na motivaccedilatildeo que subjazem aos

topocircnimos ora analisados foram os de origem vegetal mineral e animal (peixe) Percebemos

assim que o nomeador teve influecircncia das caracteriacutesticas do local para designar o referido

topocircnimo A partir desta anaacutelise nos eacute pertinente ao proacuteximo subtoacutepico proceder com as

anaacutelises das taxionomias de natureza antropocultural

422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos

Os topocircnimos de natureza antropocultural representam 33 (05 topocircnimos) do corpus

analisado destacando-se os antropotopocircnimos ergotopocircnimos etnotopocircnimos e

sociotopocircnimos O nomeador obteve suas motivaccedilotildees de iacutendole antropocultural fazendo

homenagem a pessoas importantes da cidade recuperando elementos da cultura material do

povo revelando elementos eacutetnicos isolados ou natildeo e por fim referenciando a atividades

profissionais ou pontos de encontro de pessoas da comunidade Assim identificando a

influecircncia do homem no meio em que se encontra

101

Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural

O graacutefico 3 nos traz em sua amplitude os topocircnimos de origem antropocultural e a partir

dele eacute que procederemos com as anaacutelises no decorrer do texto observando as regecircncias e

distintas influecircncias do nomeador no ato do batismo

4221 Antropotopocircnimos

Dentre os topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais em nossa pesquisa foi

encontrado apenas o ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo correspondendo ao percentual de

20 (01) dos topocircnimos de natureza antropocultural analisados Na toponiacutemia brasileira eacute

recorrente encontrarmos antropotopocircnimos especialmente lugares como cidades praccedilas ruas

e outros acabam recebendo nomes proacuteprios em homenagem a algueacutem A ficha lexicograacutefica-

toponiacutemica 12 em sua amplitude nos auxilia a perceber a influecircncia do antrotopocircnimo

analisado pois refere-se a uma figura puacuteblica da comunidade piresina

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 12

Topocircnimo Ribeiratildeo Sampaio Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia sm ldquomarinhordquo Sampaio eacute um sobrenome presente na onomaacutestica

portuguesa atraveacutes de raiacutezes tipicamente toponiacutemicas devido ao nome de uma vila localizada

0

02

04

06

08

1

12

14

16

18

2

ANTROPOTOPOcircNIMO ERGOTOPOcircNIMO ETNOTOPOcircNIMOS SOCIOTOPOcircNIMO

Taxionomias de Natureza Antropocultural

102

em Traacutes-os-Montes em Portugal e que teria sido adotado como sobrenome pelos senhores

deste local Alguns etimologistas acreditam que o nome Sampaio tenha surgido a partir do

latim Sanctus Pelagius (traduzido como ldquosanto marinhordquo) que significa Santo Pelagius e

com o passar do tempo tenha sofrido alteraccedilotildees na grafia passando para Sam Peaio Satildeo

Payo e por fim Sampaio Origem hebraica

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Proacuteprio ndash sobrenome)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da margem direita

do rio Corumbaacute (M de Pires do Rio)

Referecircncias Dicionaacuterio online de Nomes Proacuteprios (sd) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Este antropotopocircnimo foi o norteador motivacional para esta pesquisa pois o ribeiratildeo

Sampaio em um de seus limites por boa parte da populaccedilatildeo (inclusive eu) eacute conhecido como

Pedro Teixeira (que na verdade eacute o nome da ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo) soacute tempos depois

conheci o seu verdadeiro nome

E Dick (1990 p 286) assegura que

Os aspectos semacircnticos que podem ser encontrados nos nomes de pessoas

ligam-se portanto ao papel que exercem de verdadeiras manifestaccedilotildees

culturais dos povos e onde transparecem os mais diversos motivos

determinantes de sua escolha Talvez a proacutepria maneira pela qual se concebia

o nome em eacutepocas remotas como uma substacircncia revestida de poderes

miacutesticos seja a responsaacutevel pela variedade das motivaccedilotildees em uma ou em

outras sociedades

Os aspectos motivacionais para o topocircnimo em estudo eacute uma homenagem ao coronel

Lino Teixeira de Sampaio neste caso de acordo com Cabral (2007) eacute um patroniacutemico

sobrenome e faz referecircncia ao doador das terras em que fundou-se a cidade de Pires do Rio-

GO Segundo Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares ou

homenagem ou ateacute mesmo por caracteriacutesticas geograacuteficas inerentes ao local Em alguns casos

os nomes satildeo opacos pois natildeo apresentam nenhuma relaccedilatildeo com o referente nesta situaccedilatildeo haacute

de se fazer uma busca histoacuterica para chegar as relaccedilotildees motivacionais que natildeo eacute o nosso caso

Observando em estudos acerca dos topocircnimos de iacutendole de nomes proacuteprios individuais

constatamos que

103

Nomes proacuteprios de pessoas satildeo obscurecidos em seu conteuacutedo leacutexico-

semacircntico pela opacidade do proacuteprio signo que os conforma distanciados na

maioria das ocorrecircncias do foco original Integram o inventaacuterio mais fechado

da linguagem cuja origem remonta no Brasil aos primeiros nomes de

famiacutelias portuguesas para aqui imigradas (DICK 2001 p 83)

Assim foi possiacutevel observar que o patroniacutemico Sampaio ratifica a citaccedilatildeo de Dick

(2001) pois ele estaacute presente na onomaacutestica portuguesa evidenciado nas raiacutezes tipicamente

toponiacutemicas relacionado ao nome de uma vila localizada em Traacutes-os-Montes em Portugal que

supostamente teria sido adotado como sobrenome pelos senhores deste local (DICIONAacuteRIO

DE NOMES PROacutePRIOS sd)

A importacircncia desse referido ribeiratildeo para o municiacutepio de Pires do Rio-GO justifica-se

desde a sua nomeaccedilatildeo pela razatildeo de sua nascente ser em terras que eram de propriedade do

coronel Lino Teixeira de Sampaio e tambeacutem pelo motivo de

O ribeiratildeo Sampaio eacute utilizado como um dos limiacutetrofes das aacutereas urbana e

rural tambeacutem depositaacuterio da Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE)

consequentemente recebendo a aacutegua do esgoto depois de feito seu devido

tratamento Neste ribeiratildeo encontram-se os menores pontos altimeacutetricos da

aacuterea urbana o que favoreceu a construccedilatildeo da ETE (DIAS 2008 p 84)

Neste contexto eacute evidente que a motivaccedilatildeo para o topocircnimo Sampaio eacute uma

homenagem a uma pessoa que tem uma importacircncia para o local a cidade de Pires do Rio-GO

E assim podemos evidenciar que o ato de nomear aqui institui as relaccedilotildees de poder

possivelmente a de coacuterrego do senhor coronel Lino Teixeira de Sampaio estabelecendo as

relaccedilotildees de poder que o proacuteprio coronel mantinha sobre o local a cidade

4222 Ergotopocircnimos

Os topocircnimos referente a elementos da cultura material ergotopocircnimos nas anaacutelises

desta pesquisa tiveram um percentual de 20 (01) dos topocircnimos analisados ribeiratildeo Bauacute

assim observamos que o denominador foi motivado pelas relaccedilotildees da cultura material que o

cerca Jaacute observado em Sapir (1969) pois no leacutexico toponiacutemico reflete o ambiente social do

falante assim o topocircnimo no qual o objeto bauacute eacute de origem da cultura material e de uso

humano possivelmente as caracteriacutesticas do objeto como fundura largura e formato do bauacute

foram vitais para a nomeaccedilatildeo do ribeiratildeo

104

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 13

Topocircnimo Ribeiratildeo Bauacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Ergotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia ba-uacute (fr) Sm (Co) 1 mala de madeira recoberta de couro com tampa

conversa 2 moacutevel em forma de caixa de folha ou madeira onde se guardam roupas e demais

objetos (p169)

sm lsquotipo de caixa ou mala com tampa convexa na parte externarsquo baul XVI bau XVII bahu

Do ant baul deriv do a fr bahur (hoje bahut) de origem obscura (p84) 1805

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba na

divisa do municiacutepio de Pires do Rio (M de Campo Formoso)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Desta forma ldquoa lsquoescolharsquo do nome se daacute segundo um agenciamento enunciativo

especiacutefico este acontecimento de nomear recorta como memoraacuteveis os nomes disponiacuteveis

como contemporacircneos proacuteprios de sua eacutepocardquo (GUIMARAtildeES 2005 p 36-37) Eacute necessaacuterio

observar na citaccedilatildeo de Guimaratildees (2005) que no ato do batismo o nomeador faz referecircncia ao

contemporacircneo ou proacuteprio de sua eacutepoca no caso de uso do termo bauacute configura-se como essa

afirmaccedilatildeo eacute relativa a algo realmente usado em determinada eacutepoca

Eacute evidente que o topocircnimo apresentou como fonte motivacional a relaccedilatildeo existente entre

a cultura material e seu nomeador ou seja uma motivaccedilatildeo toponiacutemica de ordem

antropocultural assim essas designaccedilotildees que recuperam elementos da cultura material do

povo da localidade identifica a influecircncia do homem no meio em que se vive

4223 Etnotopocircnimos

Uma das taxionomias de natureza antropocultural de maior ocorrecircncia nesta pesquisa

com o percentual de 40 (02) topocircnimos dos analisados foram os etnotopocircnimos topocircnimos

105

relativos a elementos eacutetnicos isolados ou natildeo sendo o ribeiratildeo Caiapoacute e ribeiratildeo Marataacute que

no decorrer satildeo apresentados nas fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 14

Topocircnimo Ribeiratildeo Caiapoacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia rio do E de Goiaacutes nome de uma tribo fam linguiacutestica Jecirc que habitou

a regiatildeo (p34)

cai-a-poacute (Tupi) S 1 indiviacuteduo de um povo indiacutegena de Mato Grosso Sm [Pl] 2 esse povo

(p217)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Corumbaacute (M de

Pires do Rio)

Referecircncias Tibiriccedila (1985) Borba (2004) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 15

Topocircnimo Ribeiratildeo Marataacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Marata ndash sm 1 indiviacuteduo dos maratas 2 liacutengua indo-europeia do ramo

indo-iraniano sub-ramo indo-aacuterico falada no Oeste e Centro da Iacutendia esp no Estado de

Maharashtra por aprox 50 milhotildees de pessoas Eacute uma das liacutenguas oficiais da Iacutendia Sacircnsc

mahaacuteraacutestra o grande reino pelo hind marhatta id

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas afluente da margem direita do ribeiratildeo Caiapoacute (M de Pires

do Rio)

Referecircncias Houaiss (2009) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

106

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Na justeza dos nomes podemos evidenciar que ao batizar o ribeiratildeo Caiapoacute o nomeador

se valeu de fatores antropoculturais em relaccedilatildeo aos iacutendios caiapoacutes lsquokayapoacutersquo que segundo fatos

da histoacuteria estiveram em terras goianas desta forma ao se valer do uso do topocircnimo a

motivaccedilatildeo para tal ato de batismo pode ser referente a esses povos terem influecircncias de alguma

forma sobre o nomeador no ato do batismo do topocircnimo

Jaacute o topocircnimo ribeiratildeo Marataacute traz em sua bases semacircnticas como i ldquoliacutengua indo-

europeiardquo ii ldquoindiviacuteduos dos maratasrdquo segundo Houaiss et al (2009) E possivelmente a

motivaccedilatildeo do designativo foi a influecircncia de grupos europeus que tambeacutem passaram por estas

terras jaacute que o paiacutes foi colonizado por Portugal e na formaccedilatildeo da sociedade goiano e piresina

terem a presenccedila de vaacuterias etnias inclusive europeia

Desta forma eacute evidente que os etnotopocircnimos estatildeo relacionados agrave presenccedila e influecircncia

de grupos de distintas etnias no Brasil visto que a histoacuteria local e nacional revelam a presenccedila

de vaacuterios povos na formaccedilatildeo do sociedade brasileira

4224 Sociotopocircnimos

Tomando por anaacutelise os topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais

de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma dada comunidade dentre os

sociotopocircnimos numa frequecircncia de 20 (01) dos topocircnimos analisados foi encontrado o

designativo ribeiratildeo Mucambo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 16

Topocircnimo Ribeiratildeo Mucambo Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Sociotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Mocambo sm lsquoesconderijo refuacutegio dos negros (escravos) fugidorsquo

1535 mocano Do quimb mursquokamu lsquoescondrijorsquo Embora se documente em vaacuterios textos

quinhentistas relativos aos antigos domiacutenios portugueses na Aacutefrica foi no Brasil que o voc

Se difundiu intensamente desde o periacuteodo colonial em decorrecircncia do intenso conviacutevio dos

brancos com os negros escravos da africanos (p431)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

107

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

O topocircnimo tem sua origem no termo mocambo que se refere a esconderijo de escravos

fugidos (CUNHA 2010) Possivelmente assim como jaacute observado nos fatores motivacionais

de outros topocircnimos a relaccedilatildeo de grupos eacutetnicos terem passado ou habitado na regiatildeo pode ter

influenciado na nomeaccedilatildeo do designativo Na regiatildeo observada viveram escravos negros que

formaram um comunidade rural desta forma podem ter influenciado o nomeador no ato do

batismo do ribeiratildeo Mucambo

A partir do sociotopocircnimo analisado observamos em Carvalhinhos (2003 p 172) que

Os atuais estudos onomaacutesticos no Brasil vecircm justamente resgatando a histoacuteria

social contida nos nomes de uma determinada regiatildeo partindo da etimologia

para reconstruir os significados e posteriormente traccedilar um panorama

motivacional da regiatildeo em questatildeo como um resgate ideoloacutegico do

denominador e preservaccedilatildeo do fundo de memoacuteria

Desta forma ao traccedilar um panorama dos topocircnimos analisados eacute elementar que o

nomeador ao longo das nomeaccedilotildees buscou em suas bases motivacionais preservar a memoacuteria

local seja nos fatores fiacutesicos e ou sociais Para configurar tais dados no proacuteximo subtoacutepico

analisaremos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados

43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos

Analisar as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos estratos linguiacutesticos antes de mais

nada eacute perceber as influecircncias das etnias que povoaram o nosso paiacutes e regiatildeo Sabemos que no

iniacutecio do seacuteculo XVI quando os povos lusoacutefonos chegaram em terras brasileiras os iacutendios jaacute

as habitavam embora fossem os donos da terra tatildeo logo os portugueses se instalaram e se

fizeram os novos donos Mas no decorrer dos seacuteculos outros povos foram chegando e tambeacutem

se instalando no local daiacute retiramos a origem dos estratos linguiacutesticos dos topocircnimos analisados

nesta pesquisa

De acordo com Dick (1992 p 81)

108

a formaccedilatildeo etno-histoacuterica do Brasil acusa a existecircncia de estratos

populacionais diversos como os ameriacutendios distribuiacutedos em vaacuterios troncos e

famiacutelias Os portugueses os africanos e os de procedecircncia estrangeira jaacute em

eacutepoca posterior agrave colonizaccedilatildeo propriamente dita Essa origem heterogecircnea

deixou reflexos diferenciados na liacutengua nos usos e costumes nas tradiccedilotildees

regionais e consequentemente na toponiacutemia do paiacutes

Perceber essa heterogeneidade linguiacutestica na formaccedilatildeo dos topocircnimos eacute fundamental

visto que dos 15 topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO a sua maioria

eacute de origem indiacutegena isso revela que apesar do processo de colonizaccedilatildeo e imposiccedilatildeo da liacutengua

portuguesa a liacutengua dos nativos ainda prevaleceu ao menos na designaccedilatildeo toponiacutemica E no

graacutefico abaixo apresentamos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados

Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos

Analisar as origens dos topocircnimos eacute reconhecer segundo Dick (2006) que a Toponiacutemia

pode conviver com dois movimentos vivenciados de linguagem i) a nativa (linguagem

indiacutegena) e ii) a advena ou seja de iacutendole civilizatoacuteria pois ambas colaboraram para a

formaccedilatildeo dos brasileirismos e regionalismos mas natildeo apenas presentes na liacutengua Podemos

assim constatar em nossas anaacutelises que o vivenciado de acordo com a linguagem ldquonativardquo foi

a que teve maior frequecircncia neste estudo

Observamos no graacutefico IV a frequecircncia das liacutenguas que deram origem aos 15 topocircnimos

dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO e no que se segue procedemos com as

anaacutelises e logo apoacutes a estrutura morfoloacutegica

005

115

225

335

445

5

OrigemEtimologia dos Topocircnimos

109

O topocircnimo coacuterrego Laranjal eacute de origem Aacuterabe a influecircncia dessa liacutengua em nossa

regiatildeo nos eacute evidenciada no iniacutecio do seacuteculo XX com a fundaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio-

GO os aacuterabes foram um dos primeiros imigrantes que aqui chegaram bem como tiveram um

destaque na aacuterea comercial possivelmente este topocircnimo tenha relaccedilotildees com esse fato No que

tange agrave frequecircncia a liacutengua Aacuterabe (esta liacutengua influenciou imensamente o leacutexico da Liacutengua

Portuguesa) corresponde a 7 (01) dos topocircnimos analisados

Ainda contatamos outras liacutenguas como a Hebraica ndash ribeiratildeo Sampaio Preacute-romana ndash

coacuterrego Barreiro Sacircnscrito ndash ribeiratildeo Marataacute e ainda de Origem Obscura ndash ribeiratildeo Bauacute

Cada uma dessas liacutenguas correspondem agrave frequecircncia de 7 (01) dos topocircnimos analisados

provavelmente as devidas nomeaccedilotildees se devem ao fato da vinda de pessoas de outros

continentes em busca de melhores condiccedilotildees de vida e assim contribuiacuterem com a formaccedilatildeo

dos designativos dos cursos drsquoaacutegua

Os dados da toponiacutemia brasileira em relaccedilatildeo agrave origem dos topocircnimos satildeo de origem da

Liacutengua Portuguesa devido a colonizaccedilatildeo jaacute que os povos lusoacutefonos aqui chegaram e segundo

Dick (1995 p 60)

os primeiros topocircnimos funcionavam portanto como verdadeiros ldquosign-

postsrdquo ou marcas semioacuteticas de identificaccedilatildeo dos lugares usadas com a

finalidade de distinguir as caracteriacutesticas de espaccedilos semelhantes uma forma

uma silueta o perfil de uma paisagem se apresentando como recortes de uma

corografia maior a ser detalhada

Os povos lusoacutefonos nomeavam os lugares de acordo com caracteriacutesticas do lugar

Assim os topocircnimos por nograves analisados ndash coacuterrego Brumado coacuterrego da Terra Vermelha

ribeiratildeo Cachoeira e rio do Peixe ndash satildeo de origem latina liacutengua que deu origem agrave Liacutengua

Portuguesa e entre os topocircnimos estudados referem ao percentual de 29 (04 topocircnimos) dos

analisados

No processo de colonizaccedilatildeo do Brasil os portugueses necessitavam de matildeo-de-obra

mas como natildeo tiveram ecircxito com os iacutendios entatildeo foi necessaacuterio a busca de outros povos com

isso trouxeram os escravos E no processo de nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de

Pires do Rio-GO a Liacutengua Portuguesa (Aacutefrica) um percentual de 7 (01) dos topocircnimos ndash

ribeiratildeo Mucambo ndash que eacute especificado como o local esconderijo de escravos fugitivos Haacute

relatos de que na regiatildeo da zona rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tem uma localidade

que foi constituiacuteda em sua maioria populacional por escravos provavelmente pode esse

topocircnimo ter sido influenciado por tal fato

110

Em sua maioria 36 (05) dos topocircnimos analisados satildeo de origem Tupi ndash coacuterrego

Caiapoacute coacuterrego Itauacutebi ribeiratildeo Taquaral rio Corumbaacute e rio Piracanjuba ndash e segundo Bearzoti

Filho (2002 p 43) ao tratar das designaccedilotildees de origem tupi assinala que ldquoem grande parte

trata-se de topocircnimos atribuiacutedos natildeo por iacutendios mas por bandeirantes que como jaacute vimos

utilizavam a liacutengua geral como idioma de comunicaccedilatildeo ordinaacuteria em suas expediccedilotildeesrdquo

E de acordo com Sampaio (1928 p 02)

ao europeu poreacutem ou aos seus descendentes cruzados que realizaram as

conquistas dos sertotildees eacute que se deve a maior expansatildeo do tupi como liacutengua

geral dentro das raias atuais do Brasil As levas que partiam do litoral a

fazerem descobrimentos falavam no geral o tupi pelo tupi designavam os

novos descobertos os rios as montanhas os proacuteprios povoados que fundavam

e que eram outras tantas colocircnias espalhadas nos sertotildees falando tambeacutem o

tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo

Ao firmar o ato de nomeaccedilatildeo das localidades constatamos que o tupi liacutengua de origem

do maior nuacutemero de topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO

possivelmente deve-se agrave influecircncia das seguintes relaccedilotildees a internalizaccedilatildeo de nomes de origem

tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para Goiaacutes e a presenccedila de iacutendios como jaacute

mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo viveram regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da

colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)

Ainda consoante Pereira (2009 p 27) observamos que

A toponiacutemia brasileira como um todo reuacutene uma grande quantidade de nomes

de base indiacutegena na nomeaccedilatildeo de acidentes geograacuteficos que evidenciam

marcas da presenccedila de vaacuterias etnias na nomenclatura geograacutefica brasileira Um

estudo toponiacutemico numa dimensatildeo etnolinguiacutestica analisa desde a origem

dos nomes ateacute as influecircncias socioculturais da populaccedilatildeo que habita o espaccedilo

geograacutefico em estudo na forma de nomear os acidentes fiacutesicos verificando se

no momento da designaccedilatildeo de um lugar o designador apropriou-se de nomes

cuja origem procedeu de estratos linguiacutesticos de base portuguesa ou de outras

liacutenguas que influenciaram a formaccedilatildeo do leacutexico do portuguecircs brasileiro

principalmente as liacutenguas indiacutegenas e africanas

Ao analisarmos os topocircnimos dos cursos drsquoagua do municiacutepio de Pires do Rio-GO

podemos constatar que em sua maioria as liacutenguas que lhe deram origem foram as indiacutegenas e a

latina as outras que representaram um percentual menor possivelmente estatildeo ligadas agrave vinda

de outras etnias que ajudaram na formaccedilatildeo populacional do Brasil e de Goiaacutes

111

44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos

Com vistas nos paracircmetros teoacuterico-metodoloacutegicos da pesquisa seguindo o que eacute

estabelecido por Dick (1992) ao que se refere a estrutura morfoloacutegica o topocircnimo pode ser

classificado como simples composto e composto hiacutebrido que de acordo Dick (1992 p 14)

ldquotopocircnimo que em sua estrutura haacute a presenccedila de duas bases linguiacutesticas distintas por exemplo

tupi + portuguecircsrdquo mas natildeo encontrado em nossa pesquisa A partir disto tomamos o graacutefico V

para procedermos com a anaacutelise

Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos

Dos 15 sintagmas toponiacutemicos catalogados uma representaccedilatildeo de 87 (13 topocircnimos)

satildeo de estrutura simples que no processo de nomeaccedilatildeo o nomeador utilizou apenas um

formante ou seja um elemento designativo Jaacute os compostos aparecem em um percentual de

13 (02 topocircnimos) formados por mais de um formante lexical

Ao trazermos essas informaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos topocircnimos observamos que

como uso de substantivos e adjetivos o denominador acaba por trazer caracteriacutesticas do local

onde nomes comuns passam a formar nomes proacuteprios e segundo Dick (2006 p 108)

o topocircnimo integraraacute natildeo uma categoria descritiva de nomes nem um iacutendice

cromaacutetico desvinculado de outras consideraccedilotildees culturais e sim o que

chamamos na teoria de nomes transplantados deslocados ou transferidos de

seu lugar de origem para outros pontos distantes formando uma nova

sequecircncia nominal

0

2

4

6

8

10

12

14

SIMPLES COMPOSTO

Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos

112

No processo de nomeaccedilatildeo o nomeador faz uso de designativos que aleacutem de sofrer

certos deslocamentos como jaacute mencionado de nome comum para nome proacuteprio haacute tambeacutem

casos de alguns topocircnimos sofrerem alteraccedilotildees em suas estruturas morfoloacutegicas como o caso

do designativo ribeiratildeo Mucambo que em suas origens traz a grafia de mocambo

No decorrer deste estudo e anaacutelises foi possiacutevel perceber que os topocircnimos aleacutem de

servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais da sociedade a

que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e costumes da sociedade E ao final foi

notoacuterio perceber nas liacutenguas que deram origem aos topocircnimos a estreita relaccedilatildeo com o

ambiente pois de alguma forma o nomeador obteve motivaccedilatildeo tanto do espaccedilo meio ambiente

como da liacutengua propriamente dita

113

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao propormos estudar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO tomamos por base caracterizar o ato de nomear e dele reiteramos e pode ser observado em

sua totalidade a relaccedilatildeo de poder pois nomear eacute instituir E eacute por meio do batismo do topocircnimo

que ele se instaura e revela as relaccedilotildees do meio ambiente com o homem eou do homem com

meio que o circunda As consideraccedilotildees finais ora apresentadas referem-se aos estudos

toponiacutemicos relacionados apenas ao contexto local desta pesquisa mas muito ainda haacute de ser

estudado na aacuterea em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia em Goiaacutes

Os objetivos da pesquisa constituem-se basicamente em descrever e analisar os

topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO observando

noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural Assim em

sua maioria os elementos fiacutesicos sobressaiacuteram sobre os demais pois no total de 15 topocircnimos

analisados um percentual de 67 (10 topocircnimos) foram motivados pelos aspectos fiacutesicos

sendo que os de origem vegetal fitotopocircnimos e animal zootopocircnimos tiveram maior

recorrecircncia Assim concretizamos que o ambiente influenciou o nomeador no ato do batismo

estabelecendo as relaccedilotildees entre liacutengua e ambiente inclusive com os aspectos extralinguiacutesticos

A maior incidecircncia de taxionomias de natureza fiacutesica nesta pesquisa demonstra a

tendecircncia do denominador de nomear os lugares com nomes dos elementos fiacutesicos da natureza

circundante numa constataccedilatildeo de que o meio ambiente exerce grande influecircncia sobre o

homem refletindo-se tambeacutem no processo de nomeaccedilatildeo dos lugares

Jaacute no que tange agraves taxionomias de natureza antropocultural em nossas anaacutelises com um

percentual de 33 (05 topocircnimos) os etnotopocircnimos que fazem referecircncia a elementos eacutetnicos

foram os com maior frequecircncia Observamos nas taxes de natureza antropocultural que os

fatores culturais foram os motivadores para a designaccedilatildeo dos topocircnimos analisados

evidenciando as relaccedilotildees do homem com o ambiente que o cerca Para tanto foi necessaacuterio

identificar os fatores que constituem a motivaccedilatildeo que subjazem agrave escolha do nome do lugar

que foi possibilitado por meio da caracterizaccedilatildeo de fatores sociais culturais histoacutericos que nos

auxiliaram nas anaacutelises dos topocircnimos

A hipoacutetese inicial da pesquisa foi de que pelo caraacuteter motivado o signo toponiacutemico

possibilita reconhecer fatores vinculados ao que subjaz agrave escolha dos nomes de lugares e assim

nos possibilitou o levantamento de fatores soacutecio-histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave

anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua como iacutendice de estreita relaccedilatildeo entre

liacutenguaambiente e cultura E pudemos observar que os topocircnimos estabelecem relaccedilotildees da

114

liacutengua e meio ambiente no que concerne agrave anaacutelise das taxionomias de natureza fiacutesica e a

posteriori as relaccedilotildees de liacutengua e cultura que foram evidenciadas nas taxionomias de natureza

antropocultural Nas taxes analisadas foi possiacutevel detectar que o ambiente e o contexto satildeo

fundantes nas motivaccedilotildees que subjazem aos topocircnimos analisados Desta forma entende-se que

um rio um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que uma vez nomeados passam a carregar as

inuacutemeras memoacuterias do lugar

Os fatores soacutecio-histoacutericos-culturais do municiacutepio de Pires do Rio-GO foram

imprescindiacuteveis no processo de anaacutelise dos designativos dos lugares pois no caso do topocircnimo

ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo ficou evidente que o fato motivador foi a relaccedilatildeo de poder

do nome devido ao ribeiratildeo ter sua nascente em terras que eram do coronel Lino Teixeira de

Sampaio e tambeacutem por ter sido ele o doador das terras em que surgiu o referido municiacutepio

Ao levantar as perguntas de pesquisa qual a origem dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da

cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do

lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo Apoacutes ter analisado os 15

topocircnimos fica evidente que todos os nomes estatildeo registrados nas cartas topograacuteficas e satildeo

oficializados pelo IBGE mas provavelmente os nomes foram dados pela comunidade que

habitou nas localidades ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas que foram levantadas nos designativos

fazendo referecircncia ao local

Por meio da caracterizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico

onomasioloacutegico que foi o norte da pesquisa combinado com outros meacutetodos como o Woumlrter

und Sachen (palavras e coisas) numa abordagem qualiquantitativa foi evidente na relaccedilatildeo da

toponiacutemia que os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos

lugares Nesse iacutenterim nos foi possiacutevel quantificar os topocircnimos em relaccedilatildeo as taxionomias

origem e estrutura morfoloacutegica percebendo as ocorrecircncias em maior frequecircncia

A anaacutelise do ponto de vista etnolinguiacutestico demonstrou a predominacircncia de topocircnimos

originaacuterios da liacutengua indiacutegena um percentual de 36 essa recorrecircncia eacute supostamente devido

agrave internalizaccedilatildeo de nomes de origem tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para

Goiaacutes e agrave presenccedila de iacutendios como jaacute mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo

viveram na regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e

consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)

A liacutengua latina que deu origem agrave liacutengua portuguesa aparece e 29 dos topocircnimos

analisados isso devido aos povos lusoacutefonos que nomeavam os lugares com as caracteriacutesticas

que se estabeleciam com os referidos locais por eles percorridos e habitados E tambeacutem outras

liacutenguas tiveram uma menor frequecircncia como a aacuterabe hebraica preacute-romana sacircnscrito e

115

tambeacutem um topocircnimo de origem obscura fica evidente que outras etnias influenciaram na

nomeaccedilatildeo dos lugares Pode ser pelo fato de o nomeador pertencer a etnia ou ter alguma relaccedilatildeo

indireta

Quanto agrave estrutura morfoloacutegica do toacutepico de acordo com Dick (1992) dos analisados

87 satildeo de formaccedilatildeo simples tendo apenas um formante e 13 satildeo compostos com dois

formantes lexicais assim os compostos revelam mais de uma caracteriacutestica do local nomeado

e caracteriza mais de uma taxionomia

De forma peculiar esta pesquisa aleacutem de proceder com as anaacutelises de classificaccedilatildeo

origemetimologia morfoloacutegica e semacircntico-toponiacutemicas remapeou e cartografou os cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO sem mencionar no revisitar da formaccedilatildeo histoacuterica

deste municiacutepio e da contribuiccedilatildeo com os estudos toponiacutemicos no estado de Goiaacutes

Os topocircnimos aleacutem de servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas

fiacutesicas e sociais da sociedade a que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e

costumes dessa sociedade E ao perceber essas relaccedilotildees de liacutenguaambiente e cultura na

designaccedilatildeo do topocircnimo eacute que propomos para discussatildeo futura doutorado a partir da

ecolinguiacutestica e da toponiacutemia proceder com a anaacutelise da relaccedilatildeo de liacutengua e meio ambiente nos

hidrocircnimos das bacias hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes

116

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Ipameri-GO folha SE-22-X-VI Escala 1100 000 1973

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Decido este trabalho a Deus aos eternos amantes

da Toponiacutemia e agravequela que desde sempre eacute meu

alicerce e a maior incentivadora minha matildee

Nelica Antocircnia Pereira da Silva

AGRADECIMENTOS

ldquoE agora eis o que diz o Senhor aquele que te criou Jacoacute e te formou Israel nada

temas pois eu te resgato eu te chamo pelo nome eacutes meurdquo (ISAIacuteAS 431) Senhor de Israel

foi por chamar-me pelo nome eacute que constitui esta graccedila sem o Seu amor e graccedila eu nada seria

pois colocou-me em peacute quando pensava natildeo mais conseguir caminhar e de amparo me enviaste

o Espiacuterito Santo e a Virgem Maria graccedilas rendo agrave Santiacutessima Trindade e agrave Virgem por

caminharem comigo e natildeo me deixar perder no caminho

ldquoOs filhos satildeo heranccedila do Senhor uma recompensa que ele daacute Como flechas nas matildeos

do guerreiro satildeo os filhos nascidos na juventude Como eacute feliz o homem que tem a sua aljava

cheia deles Natildeo seraacute humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunalrdquo (SALMO 1273-

5) Famiacutelia o que seria de mim sem vocecircs nada Matildee e pai sempre com amor mesmo que

velado souberam educar seus dois filhos na dignidade para que se constituiacutessem verdadeiros

homens e de bem Mesmo com as dificuldades da vida em momento algum se abateram foram

fieacuteis agrave missatildeo designada de serem pais a vocecircs minha eterna gratidatildeo e se hoje concretizo esta

fase em minha vida ela eacute tatildeo minha quanto de vocecircs muito obrigado Amo vocecircs

As relaccedilotildees de afeto e cuidado sempre foram o nosso maior elo a vocecircs que sempre

torceram por mim e a cada conquista vibraram intensamente obrigado meu irmatildeo cunhada

sobrinha afilhados tios primos padrinhos e a matriarca de nossa famiacutelia minha adorada avoacute

Que Deus continue fazendo de noacutes uma famiacutelia de princiacutepios e sempre grata a Ele por tudo

ldquoO amigo ama em todos os momentos eacute um irmatildeo na adversidaderdquo (PROVEacuteRBIOS

1717) Amigos famiacutelia que a vida me deu de presente mencionar nomes aqui seria muito

injusto cada um com seu jeito e adversidade me ensinaram que a vida natildeo se resume apenas

em bons momentos pois estiveram comigo em momentos nada agradaacuteveis souberam respeitar

o meu silecircncio minhas ausecircncias e o melhor vibraram comigo todos os momentos desta

conquista a vocecircs meus ldquoirmatildeos na adversidaderdquo muito obrigado

Aos colegas e amigos do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem

Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo nos encontros da vida sempre tecircm surpresas

a melhor de todas foi poder construir com muitos de vocecircs verdadeiros laccedilos de amizade que

iratildeo perpetuar para todo sempre soacute posso neste momento agradecer pelos momentos de troca

de experiecircncias e conhecimento e desejar sucesso a todos

ldquoO ensino dos saacutebios eacute fonte de vida e afasta o homem das armadilhas da morterdquo

(PROVEacuteRBIOS 1314) Ensinar eis o dom com tanta dedicaccedilatildeo e carinho muitos mestres

conduziram-me ateacute aqui e foi com a graccedila do ensino dos saacutebios eacute que natildeo caiacute nas armadilhas

pois tambeacutem me tornei saacutebio Professora doutora eterna orientadora Kecircnia Mara de Freitas

Siqueira nenhuma palavra eacute capaz de expressar a gratidatildeo que tenho por vocecirc foram anos de

ensinamentos e agora se concretizam com mais esta fase sou e serei eternamente grato por me

apresentar a Toponiacutemia pois ela me levaraacute a mais um degrau no meio acadecircmico Obrigado

por tudo Deus lhe pague

Aos professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem

Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo que muito contribuiacuteram para a construccedilatildeo

desta pesquisa Fabiacuteola Aparecida Sartin Dutra Parreira Almeida Maria Helena de Paula e

Vanessa Regina Duarte Xavier A professora Vivian Regina Orsi Galdino de Souza do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio

de Mesquita Filhordquo cacircmpus Satildeo Joseacute do Rio Preto-SP obrigado pelos seus vastos ensinamentos

e por permitir que cursasse a disciplina ldquoIntroduccedilatildeo aos Estudos Lexicograacuteficosrdquo Mestres

obrigado pelos ensinamentos e momentos de descontraccedilatildeo e alegria vocecircs foram capazes de

mostrar que o universo da pesquisa tambeacutem se constitui na felicidade e prazer

ldquoTodo trabalho aacuterduo traz proveito mas o soacute falar leva agrave pobrezardquo (PROVEacuteRBIOS

1423) O trabalho dignifica o homem palavras estas do livro da vida a biacuteblia sagrada Minha

vida desde a infacircncia foi pautada no estudo e no trabalho assim todos os trabalhos que tive me

possibilitaram crescer enquanto ser humano e profissional Registro aqui os meus mais sinceros

agradecimentos aos colegas e amigos do Coleacutegio Estadual Professor Ivan Ferreira minha eterna

casa pois foi laacute que tive o prazer em estudar e depois retornar como profissional inclusive ser

gestor deste honrado estabelecimento de ensino Aos colegas e amigos do Instituto Federal

Goiano ndash Campus Urutaiacute obrigado por permitirem dividir com vocecircs este espaccedilo de

conhecimento e aprendizado

A banca examinadora deste trabalho professores Karylleila dos Santos Andrade

Vanessa Regina Duarte Xavier e Alexandre Antoacutenio Timbane registro os meus mais sinceros

agradecimentos pelas valorosas contribuiccedilotildees no Exame de Qualificaccedilatildeo e agora na defesa deste

trabalho Deus lhes pague

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de

Goiaacutes Regional Catalatildeo na pessoa da coordenadora Luciana Borges obrigado por dar

possiblidades que novos pesquisadores se formem no acircmbito dos estudos da linguagem

Enfim sozinho natildeo sou nada sempre necessitarei de outros por isso a todos os que

foram meu alicerce para a concretizaccedilatildeo de mais esta etapa em minha vida algo sonhado haacute

muito tempo receba o meu muito obrigado e Deus lhes pague

ldquoO nome eacute um certo sentido a proacutepria coisa dar

nome agraves coisas eacute conhececirc-las e apropriar-se

delas a denominaccedilatildeo eacute o ato da posse espiritualrdquo

(MIGUEL UNAMUNO)

RESUMO

Esta pesquisa centra-se nos estudos toponiacutemicos e tem como objetivo descrever e analisar a

origemetimologia morfoloacutegica e semanticamente dos topocircnimos da hidrografia da cidade de

Pires do Rio-GO para identificar as relaccedilotildees entre esses designativos de lugares e respectivos

fatores contextuais que por ventura possam conter indiacutecios da motivaccedilatildeo toponiacutemica O

levantamento dos topocircnimos foi feito por meio de documentos oficiais mapas do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Instituto Mauro Borges (IBM) numa escala de

1100000 e das cartas topograacuteficas A pesquisa eacute de base documental numa abordagem

qualiquantitativa O meacutetodo da pesquisa eacute o onomasioloacutegico e indutivo parte-se de casos

particulares para uma verdade geral combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica de

estudo das designaccedilotildees com o objetivo de analisar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito

A anaacutelise do corpus da pesquisa deu-se apoacutes o levantamento dos 46 topocircnimos dos cursos

drsquoaacutegua dentre os quais 15 satildeo analisados neste estudo Nesse sentido parte-se do princiacutepio de

que o signo toponiacutemico eacute motivado pois fatores extralinguiacutesticos influenciam o nomeador no

ato de nomear na perspectiva de que a liacutengua recorta a realidade agrave sua maneira (Sapir-Whorf)

sendo que a proacutepria liacutengua eacute um depositaacuterio de cultura assim os topocircnimos revelam fatores

soacutecio-histoacuterico-culturais do lugar que o nomeia A histoacuteria e a geografia do municiacutepio de Pires

do Rio-GO foram fundantes para as anaacutelises que nas bases onomasioloacutegicas e indutivas

evidenciam que o local e suas caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais influenciam o nomeador no ato

do batismo do topocircnimo Perceber as relaccedilotildees de nomeaccedilatildeo e nomeador satildeo fatores que por

meio das classificaccedilotildees taxionocircmicas satildeo revelados sem deixar de perceber tambeacutem que a

origem dos nomes e sua estrutura morfoloacutegica evidencia os fatores contextuais a que da liacutengua

cultura e ambiente estatildeo impregnados no topocircnimo isso tudo agrave vista de quem o designou

Palavras-Chave Toponiacutemia Liacutengua Cultura Pires do Rio Hidrografia

ABSTRACT

This research focuses on the toponymic studies and aims to describe and analyze the origin of

the names morphological and semantic of designatory toponyms of the hydrography of Pires

do Rio-GO city to identify the relations between these designative places and their respective

contextual factors which may by chance contain indications of toponymic motivation The

research of the toponyms was done by means of official documents maps of the Brazilian

Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Mauro Borges Institute (IBM) on a scale of

1 100000 and topographic maps The research is documentary based in a qualitative and

quantitative approach the research method is the onomasiological method combined with other

methods which consists of the study of designations with the purpose of studying the various

names attributed to a concept The analysis of this researchrsquos corpus took place after the survey

of the 46 toponyms of the watercourses from which 15 are analyzed in this study In this sense

it is assumed that the toponymic sign is motivated once extralinguistic factors influence the

nominator in the act of naming in the perspective that the language outlines reality in its own

way (Sapir-Whorf) and the language itself is a depository of culture thus toponyms reveal

socio-historical-cultural factors of the place that names it The history and geography of Pires

do Rio-GO city was the basis for the analyzes which on the onomasiological bases show that

the place and its physical and social characteristics influence the nominator in the moment of

the toponym baptism To perceive naming and nominator relationships are factors that are

revealed through the taxonomic classifications noticing at the same time that the origin of the

names and their morphological structure reveals the contextual factors that are impregnated in

the toponymy of the language culture environment aspects from the point of view of who

appointed it

Keywords Toponymy Language Culture Pires do Rio Hydrography

LISTA DE ABREVIATURAS

ATEGO ndash Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes

ATB ndash Atlas Toponiacutemico Brasileiro

DSG ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito

ETE ndash Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FCA ndash Ferrovia Centro Atlacircntica

GO ndash Goiaacutes

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBM ndash Instituto Mauro Borges

IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano

M ndash Municiacutepio

PEA ndash Populaccedilatildeo Economicamente Ativa

RFFSA ndash Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima

SD ndash Sem data

SE ndash Secccedilatildeo

LISTA DE FICHAS

Ficha 01 ndash Pires do Riohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip67

Ficha 02 ndash Coacuterrego Laranjal89

Ficha 03 ndash Ribeiratildeo Taquaralhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip90

Ficha 04 ndash Ribeiratildeo Cachoeirahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip91

Ficha 05 ndash Coacuterrego Barreiro93

Ficha 06 ndash Coacuterrego Terra Vermelha94

Ficha 07 ndash Coacuterrego Itauacutebi96

Ficha 08 ndash Ribeiratildeo Brumado96

Ficha 09 ndash Rio Corumbaacute98

Ficha 10 ndash Rio do Peixe98

Ficha 11 ndash Rio Piracanjuba99

Ficha 12 ndash Ribeiratildeo Sampaio101

Ficha 13 ndash Ribeiratildeo Bauacute104

Ficha 14 ndash Ribeiratildeo Caiapoacute105

Ficha 15 ndash Ribeiratildeo Marataacute105

Ficha 16 ndash Ribeiratildeo Mucambo106

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Natureza das Taxionomias87

Graacutefico 2 ndash Taxionomias de Natureza Fiacutesica88

Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural101

Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos108

Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos111

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 ndash Pires do Rio(GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio(GO)74

Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)83

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo44

Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos57

Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Recenseamento 76

Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Contagem 76

Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio(GO) 77

Quadro 6 ndash Os cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO) 78

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO20

I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO 25

11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear 25

12 Liacutengua e Cultura 33

13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes 39

14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica 43

15 Linguiacutestica Histoacuterica 47

II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS 51

21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos 51

212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica 53

22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia 57

III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO 66

31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte 66

32 Pires do Rio geograacutefico 74

33 Os cursos daacutegua 78

IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR81

41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural 84

42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos daacutegua de Pires do Rio-GO 87

421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos88

4211 Fitotopocircnimos89

4212 Hidrotopocircnimos91

4213 Litotopocircnimos93

4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos94

4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos95

4216 Meteorotopocircnimos96

4217 Zootopocircnimos97

422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos100

4221 Antropotopocircnimos101

4222 Ergotopocircnimos103

4223 Etnotopocircnimos104

4224 Sociotopocircnimos106

43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos107

44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos111

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS113

REFEREcircNCIAS 116

20

INTRODUCcedilAtildeO

Ao dar nome a seres e objetos o homem tambeacutem os categoriza jaacute que eacute o ato de nomear

que daacute existecircncia a algo ou algueacutem Eacute por meio do nome que haacute identificaccedilatildeo e principalmente

a diferenciaccedilatildeo dos seres e dos objetos No ato da nomeaccedilatildeo diversos aspectos extralinguiacutesticos

podem influenciar o nomeador isso pode caracterizar especificamente a motivaccedilatildeo que subjaz

a qualquer signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica A motivaccedilatildeo por sua vez eacute reveladora de

inuacutemeros aspectos que estatildeo na base da inter-relaccedilatildeo liacutengua cultura e ambiente pois o nome

proacuteprio de lugar como fato da liacutengua identifica e guarda uma significaccedilatildeo precisa oriunda de

aspectos fiacutesicos ou culturais Desta forma busca-se mediante o estudo dos designativos dos

cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO descrever essa relaccedilatildeo (liacutengua cultura e

ambiente) Entende-se assim que um rio um riacho um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que

uma vez nomeados passam a carregar as inuacutemeras memoacuterias do lugar

Em decorrecircncia disso abrem-se possibilidades de inter-relacionar aacutereas do saber

humano com vista a estabelecer algum viacutenculo epistemoloacutegico a fim de proporcionar novos

olhares sobre um objeto jaacute descrito e analisado por outra aacuterea do conhecimento a geografia

mas restrito a um uacutenico niacutevel de anaacutelise linguiacutestica Isso leva a considerar os aspectos da

linguagem dentro de uma visatildeo interdisciplinar que pode trazer entre tantas contribuiccedilotildees o

fato de entendecirc-los na totalidade como em uma rede de relaccedilotildees Em outras palavras oferece

a possibilidade de analisar os fatos linguiacutesticos de maneira holiacutestica uma vez que os fatores

envolvidos na interaccedilatildeo devem ser concebidos como um todo formado por componentes que se

relacionam entre si

Entrecruzar as aacutereas de geografia e da linguiacutestica eacute um trabalho que jaacute se tem feito e

alguns estudiosos como eacute o caso de Menezes e Santos (2007 apud Menezes Santos Santos

2010) tratam a toponiacutemia na geografia como geoniacutemia Para Andrade (2010 p 105-106)

Natildeo se pode pensar em toponiacutemia desvinculada de outras ciecircncias como

histoacuteria geografia antropologia cartografia psicologia e a proacutepria

linguiacutestica Deve ser pensada como um complexo linguiacutestico-cultural um fato

do sistema das liacutenguas humanas Faz parte de uma ciecircncia maior que se

subdivide em toponiacutemia e antroponiacutemia

Assim esta pesquisa eacute relevante para a aacuterea dos estudos da linguagemlinguiacutesticos como

para a geografia sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo histoacuterico-cultural sobre a cidade de

Pires do Rio-GO e levado a conhecimento puacuteblico

21

Fazer esse estudo acerca da hidrografia da cidade de Pires do Rio eacute elementar elencando

natildeo soacute estudos semacircnticos lexicais origemetimologia dos termos mas tambeacutem soacutecio-

histoacuterico-culturais de um povo Algo ainda se faz pertinente na definiccedilatildeo do problema pois foi

assim que surgiu o interesse por este estudo em conversas informais com pessoas da cidade

obtive respostas que aguccedilaram esta pesquisa pois proacuteximo de Pires do Rio-GO cerca de uns

3 km da cidade haacute um determinado ribeiratildeo o qual a comunidade local denomina de Pedro

Teixeira mas na verdade esse nome eacute dado agrave ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo e foi construiacuteda

pelo fazendeiro Sr Pedro Teixeira embora o nome que se apresenta na carta topograacutefica seja

ribeiratildeo Sampaio

Diante da problematizaccedilatildeo qual a origemetimologia dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da

cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do

lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo A partir disso centra-se o

nosso estudo em descrever e analisar a origemetimologia dos termos a morfologia e a

semacircntica investigando e verificando os topocircnimos e as relaccedilotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo

de Pires do Rio-GO

Preliminarmente trabalha-se com a seguinte hipoacutetese de pesquisa pelo seu caraacuteter

motivado o signo toponiacutemico possibilita reconhecer fatores vinculados agrave motivaccedilatildeo que subjaz

agrave escolha dos nomes de lugares o que pode possibilitar o levantamento de fatores soacutecio-

histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua

como iacutendice da estreita relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura A toponiacutemia dos cursos drsquoaacutegua de Pires

do Rio-GO incorpora caracteriacutesticas sociais linguiacutesticas e culturais da regiatildeo a que pertence

Este eacute um dos embates fundantes de nosso estudo assim espera-se com esta pesquisa

cartografar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO com base na

metodologia do ATB (Atlas Toponiacutemico Brasileiro) como sugerido por Dick (1990 2004)

Posto isso ao final responderemos agraves perguntas de pesquisa jaacute mencionadas

anteriormente e ainda contribuiremos com as pesquisas na aacuterea da Onomaacutestica que estatildeo

desenvolvendo-se em Goiaacutes Conveacutem mencionar tambeacutem que uma das contribuiccedilotildees desta

pesquisa aleacutem de revisitar a histoacuteria e a cultura de uma regiatildeo eacute a de auxiliar na construccedilatildeo do

Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes ndash ATEGO

Assim o objetivo da pesquisa constitui-se basicamente em descrever e analisar os

topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua e de outros elementos hidrograacuteficos da regiatildeo do

municiacutepio de Pires do Rio-GO observando noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de

natureza fiacutesica e de natureza antropocultural Para tanto eacute necessaacuterio evidenciar os fatores que

constituem a motivaccedilatildeo que subjaz agrave escolha do nome do lugar o que requer a identificaccedilatildeo de

22

fatos sociais culturais histoacutericos elementos geograacuteficos (quando pertinente) e outras

motivaccedilotildees de diferentes naturezas

De uma maneira peculiar os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo i) remapear os

cursos hiacutedricos mediante o elenco de seus topocircnimos para cartografar os mapas da bacia

hidrograacutefica e dos topocircnimos seguindo a metodologia do Projeto ATB ii) verificar mediante

a anaacutelise linguiacutestica dos topocircnimos a motivaccedilatildeo referente agrave cultura e agrave histoacuteria e

principalmente aos aspectos fiacutesicos dos lugares que iniciaram o processo de nomeaccedilatildeo dos rios

coacuterregos ribeirotildees e quedas drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO (evidenciando o viacutenculo

liacutengua ambiente e cultura) iii) de alguma forma contribuir para o desenvolvimento dos estudos

toponiacutemicos em Goiaacutes

A metodologia consiste de uma pesquisa de natureza documental de abordagem

qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites

e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos puacuteblicos (mapas e cartas

topograacuteficas) e o meacutetodo da pesquisa eacute o de induccedilatildeo com ecircnfase para a observaccedilatildeo do fazer

onomasioloacutegico combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica especialmente o Woumlrter

und Sachen (palavras e coisas) O meacutetodo onomasioloacutegico e indutivo se constitui do estudo das

designaccedilotildees com o objetivo de estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Usando

esse meacutetodo pode-se investigar toda ou pelo menos parte da cultura popular de um local e

priorizar aspectos sincrocircnicos ou histoacutericos se necessaacuterio for Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os

aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos lugares

Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de dissertaccedilatildeo de Mestrado sobre Os

cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio anaacutelise das motivaccedilotildees toponiacutemicas produzida no acircmbito do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem Universidade Federal de Goiaacutes ndash

Regional Catalatildeo que focaliza os topocircnimos hiacutedricos do municiacutepio de Pires do Rio

Desta maneira este trabalho se estrutura em quatro capiacutetulos organizados de forma a

abranger os resultados desta pesquisa que articula por meio da linguagem quesitos histoacutericos

geograacuteficos e culturais

Assim no capiacutetulo I O nome e a atividade de nomeaccedilatildeo satildeo apresentadas

consideraccedilotildees referentes ao nome e ao ato de nomear no sentido de reformular questotildees teoacutericas

necessaacuterias ao levantamento de dados e agrave construccedilatildeo do corpus bem como agrave descriccedilatildeo dos

topocircnimos que designam os elementos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas drsquoaacutegua) do municiacutepio

de Pires do Rio-GO Para tanto o capiacutetulo traz uma revisatildeo dos conceitos de nome (comum

proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes tanto no sistema linguiacutestico

como em relaccedilatildeo agrave cultura e estabelecendo as relaccedilotildees de liacutengua e cultura pois a liacutengua

23

transporta a cultura no tempo e recorta agrave realidade agrave sua maneira Eacute necessaacuterio aqui trazer as

discussotildees teoacutericas acerca da toponiacutemia e do signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica que

sustentam a nossa pesquisa Ainda fazemos uma retomada do surgimento e desdobramento da

Linguiacutestica Histoacuterica pois eacute a partir dela que satildeo criados os meacutetodos de pesquisa os quais

contribuem para a aacuterea de estudo

O capiacutetulo II A metodologia da pesquisa e seus desdobramentos eacute praticamente uma

extensatildeo do primeiro porque procura reavaliar alguns meacutetodos usados em pesquisa onomaacutestica

com o objetivo de coadunar teoria meacutetodo e procedimentos de pesquisa

Neste capiacutetulo eacute possiacutevel rever algumas questotildees sobre os meacutetodos da linguiacutestica o

meacutetodo onomasioloacutegico que investiga as relaccedilotildees de significado e referecircncias partindo das

designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Ainda eacute

apresentada uma siacutentese do comparativismo e do meacutetodo Woumlrter und Sachen de Hugo

Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) pois de acordo com Bassetto (2001)

pode-se verificar pontos em comum que compartilham com o meacutetodo onomasioloacutegico Ao

enfatizar questotildees de ordem semacircntica das palavras ressalta-se a realidade que elas designam

para esses autores a verdadeira etimologia da palavra estaacute no conhecimento dessa realidade

Busca-se assim instruir sobre a necessidade de conhecer se possiacutevel o objeto designado por

um nome para que o significado possa ser explicitado adequadamente

Dados histoacutericos e geograacuteficos referentes agrave capital da estrada de ferro Pires do Rio

compotildeem o terceiro capiacutetulo A capital da estrada de ferro Pires do Rio de modo a traccedilar em

linhas gerais a histoacuteria da fundaccedilatildeo do municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XX em decorrecircncia da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz e da Estaccedilatildeo Feacuterrea Pires do Rio em 09 de novembro de

1922 A importacircncia deste municiacutepio se deve agrave estrada de ferro e obviamente aos primeiros

habitantes que para caacute acorreram acreditando no desenvolvimento da antiga ldquoTeteia do

Corumbaacuterdquo

No capiacutetulo quarto A toponiacutemia e suas relaccedilotildees com o lugar apresentamos a anaacutelise

dos dados as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural e as fichas lexicograacuteficas-

toponiacutemicas dos 15 topocircnimos analisados de acordo com os estudos de Dick (1992)

juntamente com a origem das liacutenguas e estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos daiacute procedemos

agraves anaacutelises das classificaccedilotildees toponiacutemicas que estatildeo presentes nos designativos dos cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO estabelecendo as relaccedilotildees motivacionais e semacircnticas

do topocircnimo com o local nomeado

Na sequecircncia satildeo apresentadas as Consideraccedilotildees Finais que retomam os resultados

obtidos ao teacutermino da pesquisa pautados nos objetivos e perguntas que orientaram este estudo

24

E por fim seguem as Referecircncias que sustentaram a parte teoacuterica e a construccedilatildeo do corpus

coletado

25

I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO

O conhecimento dos nomes natildeo eacute negoacutecio de

importacircncia somenos

(PLATAtildeO 2001)

Este capiacutetulo tem o objetivo de tecer de forma mais geral consideraccedilotildees acerca do nome

e do ato de nomear para reformular questotildees teoacutericas necessaacuterias ao levantamento de dados

para a construccedilatildeo do corpus e descriccedilatildeo dos hidrocircnimos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas

drsquoaacutegua) do municiacutepio de Pires do Rio-GO Para tanto os itens a seguir trazem uma revisatildeo dos

conceitos de nome (comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes

tanto no sistema linguiacutestico como em relaccedilatildeo agrave cultura jaacute que representam inuacutemeros aspectos

que culminam em certos criteacuterios para a nomeaccedilatildeo ou nominaccedilatildeo revelando em certo sentido

especificidades dessa cultura que satildeo evidenciadas na nomeaccedilatildeo Ao dar um nome a um objeto

ou a um lugar natildeo se reduz apenas a indicar mas a classificar situar identificar e sobretudo

uma vez categorizado inscreve-se tambeacutem em um sistema cognitivo permeado por essa mesma

cultura

11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear

O nome eacute a parte que caracteriza a existecircncia de algo ou algueacutem sem a especificidade

do nome o objeto ou a pessoa natildeo eacute identificada Aliaacutes em muitas situaccedilotildees o nome consolida

a existecircncia do objeto que passa a ldquoexistirrdquo como tal em decorrecircncia de ter um nome ou seja

o falante pode perceber no mundo apenas aquilo que conhece pelo nome O nome estaacute presente

em todas as esferas do desenvolvimento da humanidade Eacute parte constitutiva do proacuteprio ser

humano que se reconhece e se afirma face ao nome que carrega eacute tambeacutem o nome que lhe

rompe o anonimato e lhe confere de certa forma uma identidade

Segundo Silva (2000) eacute o nome que diferencia os seres e os objetos do mundo

Identidade e diferenccedila ocorrem simultaneamente como produto de um mesmo processo o da

identificaccedilatildeo Pode-se afirmar que depois de nomeado o objeto passa a ser identificado

tambeacutem pelas diferenccedilas que possui em relaccedilatildeo agravequilo que natildeo eacute ou melhor eacute diferenciado

face aos demais elementos do mundo extralinguiacutestico conferindo-lhe existecircncia Tem um nome

porque existe tornou-se conhecido e eacute reconhecido como elemento cultural importante para a

continuidade de uma populaccedilatildeo como um dos milhares de traccedilos que a caracteriza e desta

26

forma ldquoo processo de nomeaccedilatildeo eacute uma forma pela qual a sociedade cria os seus membros agrave sua

imagemrdquo (CABRAL 2007 p 85)

E em Craacutetilo Platatildeo narra um diaacutelogo entre Demoacutestenes e Craacutetilo acerca da justeza dos

nomes debates no qual Soacutecrates aponta para ambas as possibilidades isto eacute para os socraacuteticos

tanto se pode entender os nomes como vinculados agrave coisa como podem ser vistos como

inteiramente sem elo com as coisas do mundo Platatildeo (2001 p 48) justifica que o ato de nomear

era visto como uma pressuposiccedilatildeo da existecircncia de algo assim ldquoas coisas devem ser nomeadas

como lhes pertence por natureza serem nomeadas e por meio do que devem secirc-lo e natildeo como

noacutes queremos e assim faremos e nomearemos melhor mas de outra maneira natildeordquo

A nomeaccedilatildeo eacute assim uma atividade bastante significativa para o ser humano e se

constitui de uma accedilatildeo complementar do modo como determinada populaccedilatildeo entende o meio em

que vive essa eacute a linha de pensamento tanto de Dick (1990) como de outros estudiosos como

Basso (1988) Langacker (2002) Weisgerber (1977) Wierzbicka (1997) e Worf (1971) dos

fatos da linguagem como evidencia a assertiva que segue

Apreensatildeocompreensatildeo e transmissatildeoparticipaccedilatildeo de um dado qualquer do

saber humano satildeo atuantes de uma mesma e complexa evidecircncia relacional ndash

o ato comunicativo ndash que corporifica em sua expressividade um aglomerado

de situaccedilotildees liacutenguo-soacutecio-psiacutequicas Nele estaacute manifesto ainda que de modo

impliacutecito o registro pelo qual se concretizou a ldquoassimilaccedilatildeo do

mundordquo atraveacutes do coacutedigo de linguagem vivenciado por determinada

comunidade linguiacutestica (DICK 1990 p 29)

Natildeo eacute equivocado afirmar que o nome corporifica aquilo que determinada comunidade

assimilou de seu meio circundante mediante relaccedilotildees estabelecidas entre a liacutengua que

possibilita a representaccedilatildeo daquilo que foi evidenciado e as impressotildees sociopsiacutequicas oriundas

dos objetos do mundo que se tornaram salientes aos olhos do nomeador Assim recebe um

nome tudo aquilo que de uma forma ou de outra tornou-se um item da cultura seja um acidente

fiacutesico-natural (um rio uma espeacutecie botacircnica) ou um item criado culturalmente Em todas as

sociedades conhecidas haacute referecircncia aos nomes e consequentemente agrave accedilatildeo de nomear Muitas

vezes essa atividade humana eacute revestida de mitos e rituais que conferem ao nome poderes

maacutegicos ou sobre-humanos

Nas sociedades primitivas de acordo com Cunha (2004) um nome pode valorar o

sagrado ou o ritual isso pode ocorrer quando acontece a mudanccedila de nome (candombleacute e igreja

catoacutelica) desta forma ao nomear algueacutem eacute tocar-se na personalidade da pessoa e ateacute as partes

da escrita que compotildeem o nome satildeo carregadas de simbologia e forccedilas sobrenaturais Cunha

27

(2004 p 220) ainda acrescenta que ldquonas mais diversas culturas natildeo ter nome eacute natildeo existir

nomear eacute instituirrdquo

Nesse processo de instituir dos rituais de passagem eacute possiacutevel entender que a atividade

de nomeaccedilatildeo adveacutem de fatores que propiciam uma motivaccedilatildeo que resulta na escolha de um

nome No ritual de escolha de um novo Papa (igreja catoacutelica) ou de um novo membro do

candombleacute o indiviacuteduo fica recluso por alguns dias e no momento do ritual apresenta seu

novo nome agrave comunidade fato esse que reside de alguma forma na escolha do novo nome

Desta forma o nome eacute escolhido de acordo com suas caracteriacutesticas psicofiacutesicas e tambeacutem com

as que ele deseja ter a partir do momento de escolha do novo nome

Conforme Biderman (1998) muitas satildeo as culturas que acreditam que o nome estaacute

ligado agrave essecircncia da pessoa Nas culturas arcaicas em geral os nomes atribuiacutedos agraves pessoas

tinham um significado que indicava agraves vezes a vocaccedilatildeo ou o destino do indiviacuteduo o que

corrobora a justeza dos nomes nos rituais de passagem e em outras atividades de nomeaccedilatildeo

O ato de nomear se constitui tambeacutem como algo divino Para Biderman (1998 p 85)

ldquoo gesto criador de Deus identifica-se com esta palavra ontoloacutegica essencialmente divina O

que noacutes homens somos e o que sabemos nasce dessa revelaccedilatildeo primordial da palavra criadora

do gesto divino de dizerrdquo Cunha (2004) evidencia que a palavra jaacute eacute reveladora do poder desde

a antiguidade e isso se expressa de forma clara por meio da biacuteblia sagrada que em vaacuterios textos

conclama que o poder eacute revelado por meio da palavra como percebe-se no livro de Gecircnesis

capiacutetulo I versiacuteculos 19 e 20

19 Tendo pois o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos

e todas as aves dos ceacuteus levou-os ao homem para ver como ele os havia de

chamar e todo o nome que o homem pocircs aos animais vivos esse eacute o seu nome

verdadeiro 20 O homem pocircs nomes a todos os animais a todas as aves dos

ceacuteus e a todos os animais dos campos mas natildeo se achava para ele uma ajuda

que lhe fosse adequada (BIacuteBLIA 1995 p 51)

Dessa forma o cristianismo explica a atividade humana de nomeaccedilatildeo Isso evidencia

que todos os objetos recebem um nome (comum) mediante uma accedilatildeo deliberada de escolha

individual (como em Gecircnesis) ou coletiva Esse nome recebe uma funccedilatildeo de significaccedilatildeo ou

melhor passa a significar algo no mundo sua referecircncia A nomeaccedilatildeo configura-se como um

processo operacional de conhecer e denominar coisas Conforme De Lastra e Garcia (sd apud

DICK 1990) para ser denominado o mundo externo deve antes passar a ser interno (iacutentimo)

Na relaccedilatildeo das praacuteticas de nomeaccedilatildeo segundo Loacutepez (2013) ocorrem fatores internos

e externos da seguinte forma i mudanccedilas internas quando elementos do sistema toponiacutemico

28

que designa lugares passam para o sistema antroponiacutemico que designa pessoas ii mudanccedilas

externas ou forccediladas como as que ocorreram na Europa entre os seacuteculos XVIII e XIX e

obrigaram os judeus a adotarem nomes cristatildeos e abandonarem os seus de origem hebraica

Para os judeus assim como para muitos povos perder o nome eacute o mesmo que perder a histoacuteria

a identidade e a famiacutelia Desta forma as autoridades europeias acreditavam que os judeus

deixariam (perderiam) as suas identidades e constituiriam uma nova uma identidade europeia

Conveacutem ressaltar que o referente1 nem sempre figurou entre os elementos constitutivos

do signo linguiacutestico No Curso de Linguiacutestica Geral Ferdinand Saussure (2008) define o signo

linguiacutestico como a junccedilatildeo de uma imagem acuacutestica (significante) a um (ou vaacuterios) conceitos

(significado) Saussure natildeo inclui nessa definiccedilatildeo a coisa nomeada o objeto do mundo ou em

outros termos o referente

Dito de outro modo os gestos epistemoloacutegicos de Saussure (2008) ao definirem a

liacutengua como objeto proacuteprio de estudo e tambeacutem no sentido de imprimirem cientificidade aos

estudos linguiacutesticos excluem o referente construindo assim um domiacutenio especiacutefico para a

Linguiacutestica diferente de outras aacutereas que tambeacutem se atecircm aos estudos da linguagem humana

A liacutengua para o mestre suiacuteccedilo eacute um sistema de signos que por sua vez abarca entidades

psiacutequicas constituiacutedas por duas faces significante e significado Essas duas faces do signo

linguiacutestico natildeo guardam poreacutem entre si qualquer relaccedilatildeo loacutegica nenhum viacutenculo ou melhor

a relaccedilatildeo entre significante e significado eacute marcada pelo seu caraacuteter imotivado arbitraacuterio para

usar os termos saussurianos Desta forma Kristeva (2007 p 24) afirma que ldquoa palavra

lsquoarbitraacuteriorsquo significa mais exatamente lsquoimotivadorsquo quer dizer que natildeo haacute nenhuma necessidade

natural ou real que ligue o significante e o significadordquo

O nome sempre suscitou uma questatildeo ontoloacutegica2 ou melhor uma questatildeo de

existecircncia A nomeaccedilatildeo eacute apenas uma das funccedilotildees da linguagem mas tem um papel importante

pois o significado dos nomes organiza e classifica as formas de perceber a realidade aleacutem de

estar ligado diretamente a uma cultura ou comunidade Assim para Sapir (1980) a liacutengua

recorta a realidade agrave sua maneira eacute por meio dela que se evidencia a relaccedilatildeo linguagem

pensamento e cultura Desta forma ldquoas palavras da liacutengua significam ao funcionarem no

acontecimento Este funcionamento recorta politicamente o realrdquo (GUIMARAtildeES 2005 p 82)

Nessa perspectiva eacute possiacutevel dizer que a nomeaccedilatildeo ganha relevo quando o assunto eacute a relaccedilatildeo

linguagem e realidade

1 Em um sistema triaacutedico significante significado e o referente 2 Ontoloacutegico ldquoAdj 1 relativo a Ontologia 2 que trata do ser humano na sua essecircncia na sua globalidaderdquo Verbete

inscrito em (BORBA 2004 p 992)

29

Guiraud (1986) chama atenccedilatildeo para a forccedila criadora da linguagem que resulta em uma

funccedilatildeo semacircntica dinacircmica e volaacutetil orientada principalmente por fatores especiacuteficos de uma

dada cultura Assim

[] a motivaccedilatildeo eacute uma forccedila criadora inerente agrave linguagem social que eacute um

organismo vivo de origem empiacuterica somente depois que a palavra eacute criada e

motivada (naturalmente ou intralinguisticamente) eacute que as exigecircncias da

funccedilatildeo semacircntica acarretam um obscurecimento dessa motivaccedilatildeo etimoloacutegica

que pode aliaacutes ao se apagar trazer uma alteraccedilatildeo de sentido (GUIRAUD

1986 p 31)

Motivaccedilatildeo esta que com o decorrer do tempo pode vir a se tornar obscura pelo

distanciamento temporal do fato que lhe deu origem Pode inclusive o nome sofrer inuacutemeras

alteraccedilotildees de sentido sem nenhum viacutenculo semacircntico com o significado original nem com o

fenocircmeno de sua ocorrecircncia primeira No entanto eacute forccediloso ressaltar mais uma vez que o ato

de nomear eacute motivado conforme Guiraud (1986) a nomeaccedilatildeo eacute inerente agrave linguagem e decorre

da relaccedilatildeo entre homem e ambiente ao reconhecer os objetos do mundo extralinguiacutestico

No que tange agrave motivaccedilatildeo Biderman (1998) reafirma a noccedilatildeo de que o nome natildeo eacute

arbitraacuterio ele tem um viacutenculo de essecircncia com a coisa ou o objeto que designa Assim o homem

primitivo acredita que seu nome tem parte vital com o seu ser Nas histoacuterias que nos satildeo

relatadas dos povos primitivos em relaccedilatildeo aos nomes podemos observar que para alguns

quando se sabia o nome da pessoa o inimigo poderia fazer magia negra com ele Essas relaccedilotildees

culturais com os nomes satildeo recorrentes em vaacuterios paiacuteses e histoacuterias da antiguidade claacutessica

De acordo com Frazer (1951) em vaacuterias tribos primitivas o nome era considerado como

uma realidade e natildeo uma convenccedilatildeo artificial podendo servir de intermeacutedio para fazer atuar a

magia sobre a pessoa como se fosse parte do indiviacuteduo como cabelo unha ou qualquer outra

parte fiacutesica Essas crendices ou mitos acerca do nome se estendem por vaacuterias partes do mundo

como para os iacutendios da Ameacuterica do Norte o nome eacute como uma parte de seu corpo e o mau

tratamento (uso) dele pode trazer ferimento fiacutesico Assim o nome natildeo deve ser pronunciado

podendo no ato de sua pronunciaccedilatildeomaterializaccedilatildeo revelar as propriedades reais da pessoa que

o usa e assim tornaacute-la vulneraacutevel perante os seus inimigos

Nas narrativas das sociedades relatadas por Frazer (1951) o homem do povo esquimoacute

recebe um novo nome ao chegar agrave velhice na Aacutefrica as pessoas podem ateacute receber uma duacutezia

de nomes no decorrer de sua vida e em alguns casos no iniacutecio de sua vida recebem dois nomes

um nome de preto usado em casa e junto agrave famiacutelia e outro nome de branco usado na escola e

na sociedade os egiacutepcios tambeacutem recebiam dois nomes um nome pequeno que era bom e

30

usado em famiacutelia e um nome grande que era mau e dissimulado julgamos esse uacuteltimo ser

usado na sociedade

Segundo Frazer (1951) para os Celtas o nome era sinocircnimo da alma e da respiraccedilatildeo

Entre os Yuiacutens (sul da Austraacutelia) e outros povos o pai revela o nome ao filho no momento da

iniciaccedilatildeo e poucas pessoas o conhecem Tambeacutem na Austraacutelia as pessoas deixam de usar o

nome e passam a chamar um ao outro de primo tio sobrinho ou irmatildeo Nessas relaccedilotildees as

historietas dos nomes vatildeo estar sempre entrelaccediladas aos fatores culturais das comunidades

Em muitas culturas Frazer (1951) relata que a natildeo pronunciaccedilatildeo de nomes era tabu

como em Cafres onde as mulheres natildeo podiam pronunciar o nome de seus maridos ou sogros

nem qualquer palavra que se assemelhasse aos nomes Tambeacutem natildeo era permitido pronunciar

nomes de animais plantas reis deuses personagens sagrados considerados perigosos pois isso

seria como invocar o proacuteprio perigo

Frazer (1951) revela uma histoacuteria ocorrida no Egito com o deus Raacute que tinha vaacuterios

nomes mas o seu verdadeiro nome que lhe dava poder sobre os outros deuses natildeo era conhecido

e ao ser enfeiticcedilado pela invejosa deusa Iacutesis ndash picado por uma serpente ndash cujo veneno soacute seria

retirado de seu corpo no momento em que ele revelasse o seu verdadeiro nome Raacute lamenta-se

ldquoEu sou aquele que tem muitos nomes e muitas formas O meu pai e minha matildee disseram-me

o meu nome estaacute escondido no meu corpo desde o meu nascimento para que natildeo se possa dar

nenhum poder maacutegico a algueacutem que me queira lanccedilar uma maldiccedilatildeordquo (FRAZER 1951 apud

KRISTEVA 2007 p 64) O veneno tomou conta do corpo de Raacute e jaacute natildeo conseguia andar Iacutesis

continuou a atormentar o deus e o veneno foi penetrando profundamente e queimava seu corpo

Entatildeo Raacute consentiu que Isis buscasse o seu verdadeiro nome no iacutentimo do seu ser assim ela

fez arrebatou-lhe o verdadeiro nome e ordenou que o veneno que o queimava caiacutesse por terra

e libertasse o deus pois o que ela queria jaacute havia conseguido Acreditava-se assim que quem

conhecesse o verdadeiro nome de um deus (algueacutem) possuiria a sua essecircncia o seu verdadeiro

ser e ateacute o seu poder

Segundo Loacutepez (2013) os nomes variam conforme o momento e o local em que satildeo

escolhidos a pessoa que os escolhe e as normas para o uso Podem indicar gecircnero filiaccedilatildeo

origem geograacutefica religiatildeo e etnia Haacute tambeacutem inuacutemeras crenccedilas de que existe uma relaccedilatildeo

entre a pessoa seu nome e o significado deste inclusive muitos nomes satildeo uacutenicos

Segundo Cunha (2004 p 226) ldquoO nome proacuteprio topocircnimo ou antropocircnimo participa

da literariedade do texto podendo consequentemente enriquecer-se de valores semacircnticos

denotativos e conotativos da mesma forma que as outras palavras que o estruturamrdquo jaacute que

31

quando nomeamos atribuiacutemos simultaneamente um predicado um complemento ao nome uma

caracteriacutestica um adjetivo

Em Guimaratildees (2005) o ato de dar nome eacute tambeacutem um ato de identificar um indiviacuteduo

bioloacutegico como tal para o Estado e para a sociedade e tornaacute-lo sujeito De acordo com esse

ponto de vista ganha interesse o funcionamento determinativo da construccedilatildeo do nome proacuteprio

da pessoa no qual segundo Guimaratildees (2005 p 52) ldquohaacute uma relaccedilatildeo particular entre a

nomeaccedilatildeo e o objeto nomeado que se apresenta por uma materialidade histoacuterica e natildeo fiacutesicardquo

A nomeaccedilatildeo eacute por causa da predicaccedilatildeo um ato que diferencia sendo tambeacutem um ato

que identifica De acordo com Lima (2007 p 51)

o acto (sic) de nomear eacute um dos primeiros momentos de inserccedilatildeo da pessoa

numa categoria social de geacutenero Mas ainda mostra-nos que neste contexto

social nomear eacute uma das formas mais importantes de construir geacutenero e

pessoa dentro da famiacutelia

A inserccedilatildeo da pessoa na sociedade por meio de seu nome eacute uma relaccedilatildeo hierarquizada

construiacuteda agrave luz de valores tanto sociais como familiares Como jaacute sabemos o nome eacute uma

forma de identidade de revelar o que o outro natildeo eacute assim nomear eacute um aspecto crucial da

conversatildeo de qualquer um em algueacutem de acordo com Geertz (1973)

Na conversatildeo mencionada Parkin (1989) justifica que nomear pode ser uma forma de

atribuir direitos3 que daacute autoridade tanto ao nomeado quanto ao nomeador ou uma forma de

objetivaccedilatildeo por meio da escolha de um nome em particular que estabeleccedila controle sobre o

nomeado Nessas situaccedilotildees pode ocorrer que as pessoas antecipem essas consequecircncias

escolhendo ou controlando a atribuiccedilatildeo do seu proacuteprio nome ou em alguns casos como

acontece de o nome possuir uma carga negativa perante a sociedade e a pessoa recorre ao poder

judiciaacuterio para requerer a troca de seu nome

Enfim nomear eacute se apropriar do real eacute nessa perspectiva de nomear e apoderar fato

este que se daacute por meio da linguagem e de acordo com isso Kristeva (2007 p 17) pontua que

Se a linguagem eacute mateacuteria do pensamento eacute tambeacutem o proacuteprio elemento da

comunicaccedilatildeo social Natildeo haacute sociedade sem linguagem tal como natildeo haacute

sociedade sem comunicaccedilatildeo Tudo o que se produz como linguagem tem lugar

na troca social para ser comunicado

3 Livre traduccedilatildeo para Entitling

32

Eacute nessa troca social que acontece por meio da linguagem a nomeaccedilatildeo Assim eacute

necessaacuterio destacar que os nomes proacuteprios de lugares ndash topocircnimos ndash passam a estabelecer

relaccedilotildees materializadas por meio do uso da linguagem Sabe-se que o nome designado eacute

construiacutedo simbolicamente isso porque a linguagem que o constroacutei funciona por estar exposta

ao real e constituiacuteda materialmente pela histoacuteria local a qual motiva o leacutexico topocircnimo e eacute

nesse momento que ele nasce e se institui naquele lugar

De acordo com Biderman (1998) eacute por meio da palavra que as entidades da realidade

passam a ser conhecidas nomeadas e identificadas Essa realidade cria o seu acircmbito

significativo que nos eacute revelado pela linguagem que tambeacutem eacute a responsaacutevel por elencar os

fatores soacutecio-histoacuterico-cultural que permeiam a realidade Aqui no nosso caso esses fatores

satildeo trazidos por meio do leacutexico topocircnimo mais especificamente no ato de nomear um

designativo de lugar

Conforme Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares seja

em homenagem a algueacutem como eacute o caso da cidade de Pires do Rio que recebeu o nome o

patroniacutemico4 do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas (1919-1922) do governo de Epitaacutecio

Pessoa Dr Joseacute Pires do Rio Haacute lugares que recebem o nome em razatildeo de caracteriacutesticas

geograacuteficas Alguns nomes satildeo opacos conceito de Piel (1979) em contraposiccedilatildeo aos

transparentes pois natildeo apresentam relaccedilatildeo alguma com o referente nesse caso haacute de se fazer

uma busca histoacuterica para chegar agrave relaccedilatildeo motivacional

O homem tem a capacidade de associar palavras a conceitos E no ato de nomear

acontece a motivaccedilatildeo que estaacute ligada aos fatores cognitivos Assim o leacutexico que a ele eacute

determinado por meio do uso da linguagem se transporta no tempo sendo capaz de revelar os

fatores culturais e motivacionais que estatildeo nesse nomeleacutexico toponiacutemico (BIDERMAN 1998)

O nome comum no ato de nomeaccedilatildeo de um lugar impregna-se de significaccedilotildees vaacuterias

sejam de fatores histoacutericos culturais sociais econocircmicos Segundo Guimaratildees (2005 p 83)

ldquoo modo de significar os espaccedilos da cidade mostra que eles satildeo espaccedilos poliacuteticos O espaccedilo que

se daacute como objeto por uma descriccedilatildeo (referecircncias) atende a objetividade do discurso

administrativo que nomeia oficialmente os espaccedilos da cidaderdquo Assim o nome cifra a narrativa

histoacuterica local perpassando por fatores ou designativos memoraacuteveis

Essa atividade de nomeaccedilatildeo ou praacutetica de nomeaccedilatildeo eacute especificamente da espeacutecie

humana e resulta do processo de categorizaccedilatildeo inerente ao ser humano De acordo com

Biderman (1998 p 89)

4 De acordo com Cabral (2007) patroniacutemico eacute sobrenome

33

O processo de categorizaccedilatildeo subjaz agrave semacircntica de uma liacutengua natural Os

criteacuterios de classificaccedilatildeo usados para classificar os objetos satildeo muito

diferenciados e variados Agraves vezes o criteacuterio eacute o uso que o homem faz de um

dado objeto agraves vezes eacute um determinado aspecto do objeto que fundamenta a

classificaccedilatildeo agraves vezes eacute um determinado aspecto emocional que um objeto

pode provocar em quem o vecirc e assim por diante

Entatildeo o processo de categorizaccedilatildeo que por via das vezes pode se tornar um legislador

ndash nomeador Essas discussotildees acerca das histoacuterias do ato de nomear revelam formas de

organizaccedilatildeo social e mudanccedilas linguiacutesticas poliacuteticas e culturais Eacute pois por meio do nome que

as pessoas ou lugares permanecem vivos na memoacuteria coletiva de sua linhagem

E nesse processo de nomeaccedilatildeo categorizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo nos estudos na aacuterea da

Onomaacutestica mais precisamente na subaacuterea dos Estudos Toponiacutemicos ndash temaacutetica de nossa

pesquisa ndash natildeo tem como desvencilhar a liacutengua e cultura Assim para Sapir-Whorf a liacutengua

retrata o mundo e a realidade social agrave sua volta expressos por categorias lexicais como os

topocircnimos

12 Liacutengua e Cultura

A liacutengua no contexto soacutecio-histoacuterico-cultural nada mais eacute que o resultado de um

processo histoacuterico um produto revelador da cultura de uma dada comunidade (CAcircMARA JR

1955) Nessas bases inter-relacionar liacutengua e cultura eacute justificar que estatildeo intrinsecamente

interligadas pois a liacutengua revela a visatildeo de mundo e eacute tambeacutem a manifestaccedilatildeo de uma cultura

cultura esta que lhe daacute suporte a liacutengua tambeacutem eacute suporte da cultura

Em seus estudos Paula (2007) menciona que a liacutengua eacute um metassistema ela ldquonatildeo eacute soacute

objeto ela eacute nas relaccedilotildees sociais mais diversamente possiacuteveis tambeacutem instrumento de

investigaccedilatildeo distinto que ajuda a entender os outros sistemas sociaisrdquo (PAULA 2007 p 90)

Nesse contexto eacute possiacutevel evidenciar que por meio da liacutengua satildeo reeditadas e reconfiguradas

as praacuteticas culturais de uma dada comunidade

Posto isso conveacutem rever alguns conceitos que remetem agrave face social da liacutengua seu

caraacuteter eminentemente social mais condizente com o recorte epistemoloacutegico feito por Saussure

(2008 p 17)

Mas o que eacute a liacutengua Para noacutes ela natildeo se confunde com a linguagem eacute

somente uma parte determinada essencial dela indubitavelmente Eacute ao

mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto

34

de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo corpo social para permitir o

exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos Tomada em seu todo a linguagem

eacute multiforme e heteroacuteclita o cavaleiro de diferentes domiacutenios ao mesmo

tempo fiacutesica fisioloacutegica e psiacutequica ela pertence aleacutem disso ao domiacutenio

individual e ao domiacutenio social natildeo se deixa classificar em nenhuma categoria

de fatos humanos pois natildeo se sabe como inferir sua unidade

De acordo com Fiorin (2013 p 17) ldquoA liacutengua natildeo eacute um sistema de mostraccedilatildeo de

objetos porque permite falar do que estaacute presente e do que estaacute ausente do que existe e do que

natildeo existe porque possibilita ateacute criar novas realidades mundos natildeo existentesrdquo A liacutengua eacute um

produto social e por meio dela se criam e recriam realidades podendo entatildeo se justificar as

praacuteticas culturais por meio de atos linguiacutesticos

Com esse movimento epistemoloacutegico ou melhor ao eleger a liacutengua e natildeo a linguagem

nem a fala como objeto de estudo da Linguiacutestica Saussure possibilitou a instituiccedilatildeo da ciecircncia

linguiacutestica e consequentemente seus inuacutemeros desdobramentos posteriores

Sapir (1980) ressalta a estreita ligaccedilatildeo entre liacutengua e cultura jaacute que para o autor

Toda liacutengua tem uma sede O povo que a fala pertence a uma raccedila (ou a certo

nuacutemero de raccedilas) isto eacute a um grupo de homens que se destaca de outros

grupos por caracteres fiacutesicos Por outro lado a liacutengua natildeo existe isolada de

uma cultura isto eacute de um conjunto socialmente herdado por praacuteticas e crenccedilas

que determinam a trama das nossas vidas (SAPIR 1980 p 165)

Nesta perspectiva reafirmando que liacutengua se difere de linguagem mas se entrecruza

com ela ou dela faz parte como uma das inuacutemeras formas de linguagem e ainda considerando-

a um dos fatores de identidade de um povo e que natildeo existe isolada da cultura eacute que se torna

objeto de estudos o que envolve fatores soacutecio-histoacuterico-culturais das comunidades

O autor desta forma ainda nos revela que ldquotoda liacutengua estaacute de tal modo construiacuteda

que diante de tudo que um falante deseje comunicar por mais original ou bizarra que seja a sua

ideia ou a sua fantasia a liacutengua estaacute em condiccedilotildees de satisfazecirc-lorsquo (SAPIR 1969 p 33) Eacute

nessas condiccedilotildees de satisfazer ao falante ou agrave comunidade que ele pertence que a liacutengua se

justifica como um meio de interaccedilatildeo social e revelador da cultura jaacute que ela se configura no

tempo e eacute capaz de transmitir de geraccedilotildees a geraccedilotildees atraveacutes de atos linguiacutesticos as

manifestaccedilotildees culturais Conveacutem ressaltar que

Tudo que ateacute aqui verificamos ser verdade a respeito das liacutenguas indica que

se trata da obra mais notaacutevel colossal que o espiacuterito humano jamais

desenvolveu nada menos do que uma forma completa de expressatildeo para toda

a experiecircncia comunicaacutevel Essa forma pode ser variada de inuacutemeras maneiras

pelo indiviacuteduo sem perder com isso os seus contornos distintivos e estaacute

35

constantemente remodelando-se como sucede com toda arte A liacutengua eacute a arte

mais ampla e maciccedila que se nos depara cuacutemulo anocircnimo do trabalho

inconsciente das geraccedilotildees (SAPIR 1980 p 172)

De acordo com Cacircmara Jr (1955) a liacutengua eacute uma parte da cultura mas ela pode ser

estudada na sua relaccedilatildeo com a cultura ou sem considerar essa inter-relaccedilatildeo Segundo o autor

com essa perspectiva o linguista se destaca do antropoacutelogo Porque os estudos linguiacutesticos

podem prescindir do exame da inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura ou melhor pode-se estudar a

liacutengua em sua imanecircncia ou a relaccedilatildeo da linguagem com outras aacutereas do conhecimento humano

A liacutengua aleacutem de inter-relacionar a cultura nada sociedade atua para que a proacutepria

cultura seja conhecida e levada agrave geraccedilotildees futuras seja por meio de festas religiosas cantigas

e outros fatores que a divulguem Jaacute que na mesma base teoacuterica a liacutengua se justifica como um

fato de cultura assim como qualquer outro e neste iacutenterim integra-se agrave cultura

Cacircmara Jr (1955) reconhece que a liacutengua funciona na sociedade para a comunicaccedilatildeo e

interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e tambeacutem que ela se torna o resultado de uma cultura global pois a

liacutengua depende de toda cultura jaacute que a expressa a todo o momento

assim a liacutengua em face do resto da cultura eacute ndash o resultado dessa cultura ou

sua suacutemula eacute o meio para ela operar eacute a condiccedilatildeo para ela subsistir E mais

ainda soacute existe funcionalmente para tanto englobar a cultura comunicaacute-la e

transmiti-la (CAcircMARA JR 1955 p 54)

Considerada a inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura pode-se ressaltar mais uma vez que a

cultura se manifesta linguisticamente sejam elas integrantes de manifestaccedilotildees da cultura

popular ou da erudita

De modo geral a cultura eacute pensada numa visatildeo polarizante como sendo

cultura popular ou cultura erudita Conveacutem dizer poreacutem que ambas satildeo

formas e conteuacutedos diferentes de expressatildeo de uma dada realidade social e

histoacuterica Entatildeo natildeo devem ser vistas como opostas ou excludentes mas como

maneiras especiacuteficas de ver sentir e expressar a realidade conforme se situam

seus atores na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo do poder (PAULA 2007 p 75)

Neste processo Sapir (1969) menciona que o leacutexico eacute o niacutevel linguiacutestico em que mais

intimamente se interligam liacutengua e cultura Zavaglia (2012) por sua vez reconhece que o leacutexico

estaacute vinculado agrave cultura de um povo de uma naccedilatildeo agrave sua histoacuteria

Para Zavaglia (2012) o leacutexico estaacute relacionado com a memoacuteria humana e se configura

no ato de nomeaccedilatildeo diante do processo em que houve a necessidade de o homem por meio de

36

palavras nomear tudo que o circundava e assim categorizar o que estava a seu redor Pautados

na autora observamos a grandeza do leacutexico pois

Eacute o leacutexico em forma de palavras e por meio da linguagem que ldquocontardquo a

histoacuteria milenar de povo para povo eacute o leacutexico que transmite os elementos

culturais de um conjunto de indiviacuteduos eacute o leacutexico que ldquoeducardquo ou ldquodeseducardquo

eacute o leacutexico que permite a manifestaccedilatildeo dos sentimentos humanos de suas

afeiccedilotildees ou desagrados via oral ou via escrita Eacute o leacutexico que registra o

desencadear das accedilotildees de uma sociedade suas mudanccedilas seu progresso ou

regresso Condivido com Biderman quando diz que o leacutexico eacute o tesouro

vocabular de forma codificada da memoacuteria do indiviacuteduo restando ali estocado

ateacute que seja ativado quando necessaacuterio para que o homem possa expressar ou

se comunicar Eacute ainda por meio do leacutexico que conceitos condutas e costumes

satildeo transmitidos de geraccedilotildees a geraccedilotildees e herdados por elas ldquoEacute o leacutexico que

fisionomiza a culturardquo (ZAVAGLIA 2012 p 233)

O leacutexico eacute o fio condutor da cultura jaacute que a transporta para geraccedilotildees futuras eacute por meio

dele que se registra a histoacuteria e a vida de uma sociedade Para Sapir (1969) a cultura estaacute

nitidamente no leacutexico da liacutengua e este pode ser considerado como todo o conjunto de ideias

interesses e ocupaccedilotildees que abrangem a atenccedilatildeo da comunidade Neste contexto

O estudo cuidadoso de um dado leacutexico conduz a inferecircncias sobre o ambiente

fiacutesico e social daqueles que o empregam e ainda mais que o aspecto

relativamente transparente ou natildeo-transparente do proacuteprio leacutexico nos permite

deduzir o grau de familiaridade que se tem adquirido com os vaacuterios elementos

do ambiente (SAPIR 1969 p 49)

Eacute possiacutevel ressaltar que o leacutexico da liacutengua conteacutem um recorte da realidade feito agrave sua

maneira que revela visotildees de mundo Os elementos culturais que matizam datildeo o colorido de

significaccedilatildeo ao leacutexico mostram de diferentes maneiras as relaccedilotildees que ambas liacutengua e cultura

tecircm com o ambiente seja fiacutesico ou social pois toda complexidade dessa inter-relaccedilatildeo pode ser

anunciada e enunciada no uso da linguagem

Vale entatildeo ressaltar

Que o leacutexico assim reflita em alto grau a complexidade da cultura eacute

praticamente um fato de evidecircncia imediata pois o leacutexico ou seja o assunto

de uma liacutengua destina-se em qualquer eacutepoca a funcionar como um conjunto

de siacutembolos referentes ao quadro cultural do grupo Se por complexidade de

uma liacutengua se entende a seacuterie de interesses impliacutecitos em seu leacutexico natildeo eacute

preciso dizer que haacute uma correlaccedilatildeo constante entre a complexidade

linguiacutestica e cultural (SAPIR 1969 p 51)

37

O conjunto de signos da liacutengua ultrapassa as fronteiras do tempo trazendo para a

atualidade siacutembolos tambeacutem culturais que satildeo revelados por meio de praacuteticas culturais que se

interseccionam com as praacuteticas linguiacutesticas Assim

Natildeo soacute as palavras da liacutengua passam a servir de siacutembolos culturais dispersos

como sucede nas liacutenguas em qualquer periacuteodo de desenvolvimento mas se

pode supor que as proacuteprias categorias e processos gramaticais simbolizariam

tipos correspondentes de pensamento e atividade de significaccedilatildeo cultural Ateacute

certo ponto pode se conceber portanto a cultura e a liacutengua em constante

estado de interaccedilatildeo e em associaccedilatildeo definida por um largo lapso de tempo

Mas tal estado de correlaccedilatildeo natildeo pode continuar indefinidamente (SAPIR

1969 p 60)

Segundo Sapir (1969) a linguagem possui o papel de produzir e organizar o mundo

mediante o processo de simbolizaccedilatildeo Contudo a realidade eacute mostrada por meio da linguagem

o que significa dizer que natildeo haacute mundos iguais visto que natildeo haacute liacutenguas iguais De acordo com

estas observaccedilotildees cabe ressaltar o relativismo linguiacutestico ldquoHipoacutetese de Sapir-Whorfrdquo a

linguagem determina a forma de ver o mundo e consequentemente de se relacionar com esse

mundo

O relativismo linguiacutestico pode ser entendido como a relaccedilatildeo linguagem e pensamento

mediada pela cultura desta forma linguagem pensamento e cultura estatildeo conectados Sapir-

Whorf observam que a realidade social eacute produto linguiacutestico tratando assim as relaccedilotildees de

linguagemcultura e linguagempensamento a cultura pode ser considerada como

conhecimento adquirido socialmente por meio das praacuteticas linguiacutesticas

De maneira geral diz-se que a cultura eacute o conhecimento que as pessoas detecircm acerca de

uma comunidade seja em seus acircmbitos popular ou cientiacutefico os quais ultrapassam o tempo

por meio da liacutengua jaacute que ldquoA cultura eacute o conjunto do que o homem criou na base das suas

faculdades humanas abrange o mundo humano em contraste com o mundo fiacutesico e o mundo

bioloacutegicordquo (CAcircMARA JR 1955 p 51)

Em outras palavras

Cultura eacute o conjunto de praacuteticas sociais situadas historicamente que se

referem a uma sociedade e que a fazem diferente de outra Baseia-se na

construccedilatildeo social de sentidos a accedilotildees crenccedilas haacutebitos objetos que passam a

simbolizar aspectos da vivecircncia humana em coletividade (PAULA 2007 p

74)

A diversidade tambeacutem se reflete na cultura pois de acordo com Bosi

38

[] natildeo existe uma cultura brasileira homogecircnea matriz de nossos

comportamentos e dos nossos discursos Ao contraacuterio a admissatildeo do seu

caraacuteter plural eacute um passo decisivo para compreendecirc-la como um ldquoefeito de

sentidordquo resultado de um processo de muacuteltiplas interaccedilotildees e oposiccedilotildees no

tempo e no espaccedilo (BOSI 1987 p 7)

Neste sentido a cultura se constroacutei a partir das vivecircncias e significados que lhe satildeo

atribuiacutedos pela proacutepria sociedade em suas praacuteticas sociais e constituindo-se tambeacutem em

diferenccedila Para Bosi (1987 p 11) o fundamento da cultura popular ldquoeacute o retorno de situaccedilotildees e

atos que a memoacuteria grupal reforccedila atribuindo-lhes valorrdquo Isso satildeo as marcas identitaacuterias da

comunidade que satildeo deixadas e vivenciadas (ou vivificadas) tempos depois A cultura popular

eacute revelada por meio de praacuteticas culturais e linguiacutesticas que levam a puacuteblico as relaccedilotildees soacutecio-

histoacuterica-culturais de determinadas comunidades

A cultura se constroacutei com base nos valores atribuiacutedos pelos sujeitos agraves relaccedilotildees

cotidianas e nas relaccedilotildees de poder Organiza-se como popular eou erudita Nesse sentido natildeo

existe cultura melhor nem pior cada uma eacute expressa pelo seu grupo social pois cada indiviacuteduo

tem uma forma de ver o mundo modos de vestir de comer os meios para se curar os remeacutedios

os modos de plantar de cultivar e colher os modos de nomear e categorizar os elementos da

natureza e outros tantos mais Desta forma ldquoconforme as pessoas entendem que participam de

uma cultura esforccedilam-se para agir dentro do que julgam ser pertinente a elardquo (PAULA 2007

p 75)

Cultura liacutengua e identidade natildeo satildeo algo fixo pronto e acabado estando sempre em

constituiccedilatildeo uma vez que satildeo produzidas por seres sociais que se encontram em processo de

interaccedilatildeo aprendizado conhecimento e estatildeo inseridos em contextos sociais que passam por

transformaccedilotildees O leacutexico eacute o meio pelo qual a cultura e a identidade se constroem e se

disseminam

Na visatildeo de Paula (2007 p 89) a memoacuteria eacute o depositaacuterio tanto da cultura como da

liacutengua visto que

O modo como se estrutura poliacutetica e economicamente uma sociedade diz

muito de suas estruturas culturais estas por sua vez soacute se fazem possiacuteveis

graccedilas agrave elaboraccedilatildeo cotidiana do arcabouccedilo de memoacuteria coletiva ao modo

como eacute concebida e ao estatuto que lhe eacute dado Expressando estas inter-

relaccedilotildees servindo a elas no cotidiano da comunicaccedilatildeo humana e carregando

em seu funcionamento muito do modo como a sociedade se faz e se refaz estaacute

a liacutengua

39

Os processos culturais que satildeo construiacutedos por meio de atos linguiacutesticos satildeo uma forma

identitaacuteria de dada comunidade que eacute expressa por relaccedilotildees sociais como forma de conduzir e

expressar-se perante as demais comunidades sejam elas internacionais nacionais ou regionais

sabemos que a cultura eacute a miscigenaccedilatildeo de outras culturas

13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes

Embora faccedila parte do cotidiano das pessoas portanto estreitamente ligado agrave cultura natildeo

haacute muita discussatildeo referente ao nome proacuteprio e aos motivos de algueacutem ou um lugar ter o nome

que tem Entretanto conforme Carvalhinhos (2002) jaacute no seacuteculo II aC com o gramaacutetico

Dioniacutesio Traacutecia o estudo sobre o nome jaacute tinha sido pensado e formulado Esses estudos

propiciaram por sua vez o surgimento da Onomaacutestica a ciecircncia que se ocupa dos estudos da

origem e alteraccedilotildees (na forma e no significado) dos nomes proacuteprios A Onomaacutestica eacute um ramo

das ciecircncias linguiacutesticas que pode-se efetuar em duas vertentes a toponiacutemia (estudo do

topocircnimo ou nome de lugar) e a antroponiacutemia (estudo do nome pessoal)

Conforme Dubois (2004) e Houaiss (2004) a Onomaacutestica eacute um ramo da lexicologia e

seu meacutetodo de trabalho deve-se desenvolver em linha documental mediante a observaccedilatildeo de

dados oficiais como mapas listas de nomes ou outros documentos de valor historiograacutefico e

lexicograacutefico Isso possibilita a junccedilatildeo da histoacuteria da nomenclatura com momentos histoacutericos e

sociais mais amplos

No entanto mesmo pertencendo agrave ciecircncia da linguagem a Onomaacutestica se estabelece por

meio do suporte de outras aacutereas do conhecimento como a Antropologia a Etnografia a

Botacircnica a Geografia e a Histoacuteria Neste sentido natildeo eacute equivocado salientar que a Onomaacutestica

eacute um campo de amplo caraacuteter interdisciplinar

Assim a Onomaacutestica ou Onomasiologia eacute o ramo da ciecircncia linguiacutestica que tem o nome

proacuteprio como objeto de estudo e se constroacutei em relaccedilatildeo a outros campos do saber Contudo ao

relacionar o seu conhecimento aos de outras aacutereas ela natildeo os confunde nem os nega

De acordo com Ramos e Bastos (2010) a Onomaacutestica assume uma perspectiva

integralizadora de meacutetodos e demanda um consideraacutevel nuacutemero de conhecimentos de campos

diversos de maneira direta ou indireta e vertical ou horizontal destacando-se a linguiacutestica com

valoraccedilatildeo da pesquisa etimoloacutegica

Conforme dito a Onomaacutestica para efeito de estudo pode ser dividida em dois eixos a

Antroponiacutemia e a Toponiacutemia Estas por sua vez podem apresentar subdivisotildees dependendo

de algumas consideraccedilotildees acerca das caracteriacutesticas que cada uma agrave sua maneira apresenta

40

A Toponiacutemia conforme Piel (1979) de acordo com o objeto de denominaccedilatildeo pode

denominar-se tambeacutem como astroniacutemia hidroniacutemia litoniacutemia odoniacutemia oroniacutemia para citar

apenas alguns termos que correspondem a objetos que constituem ou satildeo constituiacutedos por

formaccedilotildees aquosas astros formaccedilotildees peacutetreas serras vias ou caminhos

Jaacute a Antroponiacutemia volta sua atenccedilatildeo para o estudo dos nomes de batismo dos

sobrenomes patroniacutemicos (ou matroniacutemicos) e ainda das alcunhas dos apelidos e de nomes

diminutivos A Antroponiacutemia agrave semelhanccedila da Toponiacutemia natildeo se constitui de forma

homogecircnea jaacute que haacute uma seacuterie de tradiccedilotildees conforme os povos ou culturas que desenvolveram

esses sistemas antroponiacutemicos Por outro lado eacute consenso afirmar que os nomes pessoais satildeo

um aspecto comum ou universal nas liacutenguas porque as pessoas recebem um nome em algum

momento de suas vidas em todas as sociedades conhecidas do mundo

De acordo com Dick (1992) as intenccedilotildees e as motivaccedilotildees que subjazem agrave escolha dos

nomes em cada sociedade variam bastante Os estudos dos sistemas onomaacutesticos vecircm confirmar

isso porque os nomes existem e satildeo controlados pelas necessidades e praacuteticas sociais as quais

podem variar de acordo com a visatildeo de mundo de um determinado povo

Posto isso conveacutem conceber a Onomaacutestica como uma disciplina que deve focar como

objeto de estudo os sistemas de denominaccedilatildeo que justifiquem os processos de atribuiccedilatildeo de

nomes de uma maneira geral

Em Soliacutes (1997) os nomes satildeo o resultado de algo que os provoca isto eacute o sistema

denominativo elaborado pelas culturas para atribuir nomes agraves coisas apreendidas por sua

atividade cognitiva

Devido ao fato de a Onomaacutestica estender-se a um amplo campo de estudo ou seja que

se volta tanto para o estudo dos nomes proacuteprios de pessoas como agraves designaccedilotildees dos lugares eacute

imperioso delimitar para este estudo apenas o sistema onomaacutestico voltado para os nomes de

lugar isto eacute para a toponiacutemia caracterizando como objeto de estudo os nomes dos cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio

A despeito de incorrer em lugar comum conveacutem rever os constituintes da palavra

toponiacutemia cujo significado etimoloacutegico pode ser assim expresso do grego topos (lugar) e

onoma (nome) A Toponiacutemia se ocupa dos locativos (tambeacutem componentes do leacutexico da liacutengua)

com o fito de estudar a origem as significaccedilotildees e as transformaccedilotildees por que passam ou

passaram esses nomes A Toponiacutemia se dedica ao estudo natildeo apenas dos nomes de comunidades

humanas (cidades povoados vilas) como tambeacutem elementos geograacuteficos a exemplo os cursos

drsquoaacuteguas

41

Os estudos toponiacutemicos propiciam a percepccedilatildeo da relaccedilatildeo entre povo liacutengua e territoacuterio

considerando que esse territoacuterio pode ser fiacutesico eou imaginaacuterio jaacute que as entidades do mundo

que precisam ser nomeadas podem ser pessoas entidades geograacuteficas que fazem parte do

ambiente em que vive determinado povo e que sobretudo tenham importacircncia para esse povo

pois se natildeo tem importacircncia natildeo haacute em contrapartida necessidade de ser nomeado Conveacutem

no entanto ressaltar que nem todas as nomeaccedilotildees ocorrem pela necessidade espontacircnea de

identificaccedilatildeo uma vez que muitas delas refletem a imposiccedilatildeo de forccedilas ideoloacutegicas poliacuteticas e

sociais

Neste sentido surge a necessidade de reconhecer os objetos geograacuteficos da natureza

tais como rios mares lagoas ilhas continentes serras e outros mas haacute outros que precisam

ser denominados tambeacutem principalmente os objetos da cultura aqueles criados pelo homem

dentre os quais podem ser citados os povoados represas moradias (habitaccedilatildeo) ruas

circunscriccedilotildees poliacutetico-territoriais que se situam em algum lugar do universo fiacutesico

Natildeo se pode omitir aqueles lugares cujo universo foi criado pela cultura imaterial o

mundo natildeo fiacutesico Sejam do universo real ou imaginaacuterio as entidades geograacuteficas satildeo os

referentes dos topocircnimos que por sua vez integram a visatildeo de mundo de um povo Isso

constitui uma dificuldade em especificar que referentes existem no mundo fiacutesico ou cultural

em parte porque para isso eacute necessaacuterio considerar uma cultura determinada Em resposta a isso

haacute o reconhecimento da visatildeo de mundo que eacute peculiar a cada cultura

Muitos povos concebem o universo real como um mundo que tem seu correlato miacutetico

com outros mundos e fazem assim surgir universos de nomes toponiacutemicos de variada riqueza

toponomaacutestica porque tecircm lugares para nomear no espaccedilo fictiacutecio criado nesse mundo Assim

aleacutem de serem componentes linguiacutesticos como tal os nomes que compotildeem um sistema de

denominaccedilatildeo satildeo ainda criaccedilotildees socioculturais

Entatildeo cabe agrave Toponiacutemia estudar tanto os nomes de lugares (os topocircnimos) como

componentes de uma liacutengua que satildeo como tambeacutem o sistema de denominaccedilatildeo organizado pelas

sociedades para nomear os objetos fiacutesicos ou imaginaacuterios da sua cultura Devido agraves diferentes

visotildees de mundo tecircm-se diferentes formas de nomear essas entidades Aleacutem da visatildeo de mundo

em sociedades como a brasileira podem contribuir para a formaccedilatildeo de um sistema de nomeaccedilatildeo

os movimentos sociais como forccedila impulsionadora de mudanccedila social Em relaccedilatildeo agrave realidade

brasileira podem-se mencionar as poliacuteticas que vecircm acontecendo durante os mais de 500 anos

de histoacuteria brasileira que tambeacutem resultou em inuacutemeras formaccedilotildees e mudanccedilas de designaccedilatildeo

toponiacutemica no Brasil

42

Cabe reiterar que a toponiacutemia refere-se a nomes de lugares habitados ou natildeo Daiacute uma

definiccedilatildeo apropriada para o termo ldquotopocircnimordquo eacute um nome de qualquer ponto localizaacutevel no

espaccedilo terrestre que tenha recebido denominaccedilatildeo Definiccedilatildeo essa que pode ser estendida para o

nome de qualquer ponto localizaacutevel no mundo real ou em mundos imaginados pelas culturas

em outras palavras daqueles universos que existem por meio da atividade ideacional dos

homens

Assim eacute por meio da relaccedilatildeo povo-territoacuterio que os nomes de lugar satildeo estabelecidos

Inicialmente pela posse do territoacuterio uma vez que segundo Couto (2007) o territoacuterio eacute uma

das primeiras referecircncias para que um agrupamento de pessoas possa receber o status de

comunidade e todo territoacuterio entendido como tal tem de ter um nome um topocircnimo Desta

forma recortam-se os aspectos do meio ambiente mais salientes aos olhos do povo como uma

espeacutecie de acordo que permite a vivecircncia e a convivecircncia em sociedade no territoacuterio apossado

Eacute possiacutevel afirmar que a nomeaccedilatildeo dos lugares surgiu com a proacutepria humanidade Os

registros antigos da histoacuteria da civilizaccedilatildeo ratificam essa accedilatildeo do homem sobre o lugar que

habita ou jaacute habitou satildeo fatores que sugerem uma espeacutecie de posse ou de domiacutenio sobre o lugar

por meio da significaccedilatildeo da organizaccedilatildeo e da orientaccedilatildeo pelo espaccedilo ocupado ou apenas

conhecido Em contrapartida o ato de nomeaccedilatildeo se manifesta como a accedilatildeo do meio fiacutesico e

sociocultural sobre o homem

Eacute nesta perspectiva que se podem considerar os estudos toponiacutemicos em seu acircmbito

interdisciplinar porque congregam vaacuterias aacutereas do conhecimento humano Os nomes de um

lugar satildeo enfocados conforme a observaccedilatildeo dos aspectos fiacutesicos socioculturais mentais e

histoacutericos interligados ou em separados

Assim natildeo eacute equiacutevoco conceber a Toponiacutemia como objeto de estudo da Antropologia

da Geografia da Histoacuteria ou ainda da Psicologia Social para citar apenas algumas disciplinas

Eacute possiacutevel segundo Dick (1992) realizar anaacutelises do fenocircmeno toponiacutemico em

consonacircncia teoacuterica com qualquer uma dessas aacutereas mas para a autora nenhuma delas tomada

isoladamente ou com exclusivismo alcanccedilaria a plenitude do fenocircmeno toponiacutemico Em termos

linguiacutesticos a Toponiacutemia recorre aos conhecimentos da Semacircntica da Lexicologia da

Etnolinguiacutestica da Dialetologia e da Linguiacutestica Histoacuterica

Mais recentemente uma linha de anaacutelise que tem oferecido contribuiccedilotildees importantes

aos estudos dos nomes de lugares eacute a Linguiacutestica Cognitiva Suas pesquisas vecircm enfatizando

natildeo soacute os modelos cognitivos mas tambeacutem os processos de categorizaccedilatildeo principalmente os

processos de analogia e contiguidade proacuteprios da metaacutefora e da metoniacutemia Entendecirc-los eacute

43

essencial para compreender os sistemas de nomeaccedilatildeo como resultados da experiecircncia e da

cogniccedilatildeo humana com o corpo em relevo

Esta perspectiva de anaacutelise coaduna estudos que procuram reconhecer processos

cognitivos expressos na accedilatildeo de denominar a realidade e para tanto fundamentam-se no corpo

Eacute uma forma de nomear os lugares fiacutesicos ou culturais mediante a percepccedilatildeo do denominador

na interaccedilatildeo com meio ambiente fiacutesico e cultural

14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica

Para realizar qualquer estudo onomaacutestico eacute necessaacuterio inicialmente buscar na teoria

linguiacutestica os recursos para se explicar como uma forma linguiacutestica se amaacutelgama a um lugar

configurando uma relaccedilatildeo entre esse lugar suas caracteriacutesticas e o signo linguiacutestico que passa

a designaacute-lo Em outras palavras eacute necessaacuterio buscar conceitos que estejam em consonacircncia

com os preceitos5 onomaacutestico-toponiacutemicos

Eacute por meio da liacutengua que se daacute a interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e a mesma constitui-se de

signos linguiacutesticos Em outras palavras o mundo humano a realidade extralinguiacutestica e a

cultura constituem-se de signos Calcados nas ideias de Charles Sanders Pierce (2005) tem-se

o conceito geral de que o signo eacute ldquoalgo que estaacute por algo para algueacutemrdquo Conveacutem salientar que

ldquoestar porrdquo eacute uma noccedilatildeo bastante ampla pois pode significar uma seacuterie de coisas como

representar caracterizar fazer agraves vezes de indicar entre outros Para Pierce (2005 p 46)

um signo ou representamem eacute algo que sob certo aspecto ou de algum modo

representa alguma coisa para algueacutem Dirige-se a algueacutem isto eacute cria na mente

dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido

Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo

representa alguma coisa seu objeto Representa esse objeto natildeo em todos os

aspectos mas com referecircncia a um tipo de ideia que eu por vezes denominei

fundamento do representamem (Grifos do autor)

Assim seguindo a concepccedilatildeo de Pierce (2005) sobre signo pode-se formular que eacute a

representaccedilatildeo de alguma coisa para algueacutem estaacute no lugar da coisa que ele representa e natildeo eacute a

coisa em si Tem ainda a condiccedilatildeo de perturbar a mente do interpretante i eacute daquele que vecirc

lecirc ou ouve o signo na tentativa de atribuir-lhe um significado Dessa forma eacute possiacutevel verificar

uma relaccedilatildeo de interdependecircncia entre pelo menos trecircs extremos i) a face perceptiacutevel do

5 No capiacutetulo 2 satildeo apresentados os meacutetodos usados na pesquisa

44

signo o representamem ou significante ii) o que ele representa o objeto ou referente e iii) o

que ele significa interpretante ou significado

Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo

Fonte Adaptado a partir do original de Ogden-Richards (1972)

Para Pierce (2005) os signos satildeo elementos tricotocircmicos6 e apresentam trecircs divisotildees

amplas (i) iacutecone (ii) iacutendice e (iii) siacutembolo A despeito de serem conceitos mais pertinentes a

um estudo semioacutetico em grande parte a motivaccedilatildeo que subjaz ao designativo de lugar imprime

caraacuteter icocircnico indicial ou simboacutelico ao nome do lugar o que acarreta uma dada categorizaccedilatildeo

Para Pierce (2005) (i) iacutecones satildeo os signos que apresentam as caracteriacutesticas

especiacuteficas proacuteprias por analogia formam-se pela primeira impressatildeopercepccedilatildeo que o

inteacuterprete tem sobre as coisas do mundo real Eacute um signo que guarda semelhanccedilas entre o

significante e o significado Em outras palavras um iacutecone eacute uma representaccedilatildeo - auditiva visual

ou de outra espeacutecie ndash de alguma coisa Uma fotografia uma pintura as imagens diagramas satildeo

exemplos de iacutecones por evidenciar semelhanccedila com o objeto representado A semelhanccedila tem

de ser estabelecida de forma quase que consciente por quem observa No entanto a semelhanccedila

com o objeto representado pode ser extraordinaacuteria como quando se observam as imagens sacras

ou iacutecones menores aqueles que aparecem na tela do computador ou pode ser mais abstrata

como a que acontece com as placas de sinais em geral

Em relaccedilatildeo aos (ii) iacutendices Pierce (2005) estabelece que satildeo signos que estatildeo numa

relaccedilatildeo direta entre o representamem e o objeto Um iacutendice (ou signo indexical) tem a funccedilatildeo

de indicar o que estaacute nas suas proximidades Nos iacutendices a forma e o significado estatildeo

interligados satildeo contiacuteguos ou seja caracteriza-se pela relaccedilatildeo de contiguidade ou associaccedilatildeo

com aquilo que representa Aquilo que atrai a atenccedilatildeo em um objeto eacute seu iacutendice Apresentam

6 O que difere das caracteriacutesticas dicotocircmicas do signo linguiacutestico para Saussure

Conceito

(Significado)

Palavra Referente

(significante) (elementos da realidade)

45

traccedilos de decirciticos jaacute que os interlocutores podem recuperar o referente por meio de lembranccedilas

de detalhes do objeto

Encontram-se muito difundidos nos sistemas de comunicaccedilatildeo (verbal ou natildeo) Satildeo

amplamente empregados na linguagem miacutemica e gestual no coacutedigo de tracircnsito Os decirciticos satildeo

signos indiciais imprescindiacuteveis pois referem demonstrativamente indicam a pessoa do

discurso o lugar a proximidade7 de espaccedilo e tempo entre outros (iii) Jaacute os siacutembolos satildeo signos

que se referem ao objeto em funccedilatildeo de uma convenccedilatildeo de uma lei ou de associaccedilatildeo geral de

ideias ou melhor por natildeo haver uma relaccedilatildeo de semelhanccedila e nem contiguidade entre o

significante e o significado ela eacute estabelecida por convenccedilatildeo de forma intencional e aprendida

nas relaccedilotildees sociais Os siacutembolos satildeo considerados os signos genuiacutenos estatildeo reservados aos

seres humanos porque as necessidades comunicativas exigem muito mais que indicaccedilotildees

indexicais ou imitaccedilotildees icocircnicas O sistema mais elaborado de signos simboacutelicos certamente

eacute o das liacutenguas naturais na modalidade falada e na escrita tambeacutem sendo que a palavra eacute o

siacutembolo por excelecircncia

Por se constituiacuterem de duas coisas que se encontram em prolongamento uma da outra

i eacute contiacuteguas os signos indexicais podem se substituir mutuamente Tambeacutem os signos

icocircnicos podem tomar o lugar do objeto real Jaacute os simboacutelicos satildeo superiores por permitirem

aos seres humanos ultrapassar os limites de contiguidade e semelhanccedila porque estabelecem uma

relaccedilatildeo simboacutelica entre determinada forma e determinado significado Todas essas relaccedilotildees ndash

icocircnica indexical e simboacutelica ndash estatildeo na base dos sistemas de linguagem

Os signos linguiacutesticos se vinculam agrave noccedilatildeo de siacutembolo uma vez que a relaccedilatildeo com o

objeto referido eacute construiacuteda arbitrariamente em uma espeacutecie de acordo entre os membros de

uma comunidade de fala Para Saussure (2008) o signo linguiacutestico eacute o resultado da associaccedilatildeo

convencional entre o significante e o significado acertada entre os falantes Eacute convencional

porque natildeo haacute nenhum viacutenculo sugestivo entre os dois elementos Essa eacute a noccedilatildeo de

arbitrariedade descrita por Saussure (2008) em relaccedilatildeo aos viacutenculos entre significante e

significado Por outro lado haacute de se considerar situaccedilotildees em que os signos linguiacutesticos

apresentam motivaccedilotildees que podem ser de natureza foneacutetica morfoloacutegica ou semacircntica

Quanto agrave estrutura um topocircnimo pode ser um nome simples ou composto e segue

evidentemente as mesmas regras de formaccedilatildeo de palavras da liacutengua portuguesa Um nome em

funccedilatildeo toponiacutemica pode tambeacutem ser constituiacutedo por frases e oraccedilotildees seguem assim a sintaxe

da liacutengua em que se insere

7 O ldquoeurdquo a pessoa com quem se fala o ldquoeste aquirdquo ldquoesse aiacuterdquo ldquoaquele alirdquo ldquoneste tempordquo ldquonaquele tempordquo

46

Segundo Dick (1992) o signo topocircnimo vincula-se por diversos fatores ao elemento

geograacutefico do qual eacute o referente estabelecendo com ele um conjunto que por sua vez pode ser

separado em partes menores para se distinguirem os seus elementos formadores

Morfologicamente dois elementos baacutesicos podem ser depreendidos dessa relaccedilatildeo um o termo

ou elemento geneacuterico que se relaciona agrave entidade geograacutefica que recebe a denominaccedilatildeo e o

outro o elemento ou termo especiacutefico o topocircnimo propriamente dito que carrega em si mesmo

a noccedilatildeo espacial que identificaraacute e singularizaraacute a entidade denominada das outras semelhantes

Esses elementos ou termos se justapotildeem no sintagma toponiacutemico (Coacuterrego do Ouro) ou se

aglutinam (Rialma) conforme a estrutura da liacutengua em questatildeo

Para Dick (1992) em relaccedilatildeo agrave morfologia os topocircnimos podem apresentar trecircs

diferentes formas (i) topocircnimo ou elemento especiacutefico simples eacute aquele determinado por um

soacute formante que pode apresentar-se acompanhado tambeacutem de sufixaccedilatildeo diminutiva

aumentativa ou de outras origens linguiacutesticas

Eacute comum na formaccedilatildeo de muitos topocircnimos brasileiros a junccedilatildeo de um designativo agraves

terminaccedilotildees -lacircndia em -poacutelis e ndashburgo (normalmente segundo elemento da formaccedilatildeo) Essa

formaccedilatildeo embora apresente dois formantes (de liacutenguas diferentes) satildeo considerados nomes

simples e natildeo compostos pode-se no entanto dizer que em algumas designaccedilotildees satildeo tambeacutem

hiacutebridos jaacute que provecircm de liacutenguas diferentes a saber Maurilacircndia (Maurilo do latim Maurilius

lsquomorenorsquo + lacircndia elemento de origem inglesa) Buritinoacutepolis (Buriti(no) elemento tupi + polis

elemento grego) mas em Friburgo8 natildeo haacute hibridismo

Segundo Siqueira (2012) pode-se ainda indicar a terminaccedilatildeo -(a) nia variaccedilatildeo do sufixo

nominal do latino -anus -ana que se documentam em nomes e modificadores com as noccedilotildees

de proveniecircncia origem entre outras em lembranccedila dos primeiros habitantes da regiatildeo Em

Goiaacutes eacute expressiva a quantidade de topocircnimos que se formaram jungidos a esse elemento

Caiapocircnia Cromiacutenia Goiacircnia Joviacircnia Luziacircnia Silvacircnia (ii) topocircnimo composto ou

elemento especiacutefico composto aquele formado por mais de um elemento de origens diversas

entre si do ponto de vista do conteuacutedo (iii) topocircnimo (composto) hiacutebrido ou elemento

especiacutefico hiacutebrido formado por elementos linguiacutesticos de diferentes procedecircncias

Sobre o caraacuteter imotivado dos signos linguiacutesticos cabe salientar conforme Saussure

(2008) que o viacutenculo que une o significante ao significado eacute arbitraacuterio natildeo haacute relaccedilatildeo loacutegica

ente as duas faces do signo A associaccedilatildeo entre ambos (significante e significado) eacute de natureza

8 Cidades da Alemanha e da Suiacuteccedila no Brasil conforme Machado (2003) haacute uma ldquoFriburgordquo no Amazonas e no

Rio de Janeiro ldquoNova Friburgordquo este sim um hiacutebrido em Minas Gerais haacute tambeacutem o hiacutebrido ldquoCordisburgordquo

cordis do latim lsquocoraccedilatildeorsquo + burgo do alematildeo lsquocidadersquo

47

convencional natildeo natural Assim todo estudo toponiacutemico tem no caraacuteter motivado do signo

toponiacutemico seu ponto de partida ou seja os estudos sobre os topocircnimos se baseiam na

motivaccedilatildeo que subjaz para analisar todas as relaccedilotildees circunscritas a ela

15 Linguiacutestica Histoacuterica

Consideradas como realidades histoacutericas e sociais as liacutenguas satildeo dinacircmicas estatildeo em

contiacutenua transformaccedilatildeo o que leva a afirmar que a liacutengua de hoje natildeo eacute a mesma de ontem

nem se manteraacute idecircntica amanhatilde Posto isso pode-se verificar que o conhecimento mais amplo

da estrutura do leacutexico da semacircntica e ateacute da ortografia pode requerer um estudo linguiacutestico

com perspectivas histoacutericas No acircmbito da linguiacutestica geral destaca-se a Linguiacutestica Histoacuterica

aacuterea cujo interesse recai sobre o que como e por que muda nas liacutenguas no decorrer do tempo

Os estudos acerca da linguagem foram primeiramente postulados pelos filoacutesofos

anteriores ao seacuteculo XIX como Platatildeo e Aristoacuteteles9 que se ativeram ao estudo da linguagem

mediante a anaacutelise da relaccedilatildeo entre som e sentido ignorando qualquer tipo de variaccedilatildeo

linguiacutestica Jaacute a opccedilatildeo filoloacutegica representada principalmente pelos gramaacuteticos alexandrinos

natildeo ignorava a variaccedilatildeo linguiacutestica mas a colocava como desvio configurando-se

possivelmente como a primeira perspectiva normativaprescritiva na histoacuteria dos estudos da

linguagem (MAURER JR 1967)

Por sua vez a linguiacutestica histoacuterica conforme Maurer Jr (1967) estabeleceu relaccedilotildees

culturais entre os povos tornando-se um precioso auxiacutelio para a Histoacuteria e a Antropologia A

linguiacutestica histoacuterica natildeo revela apenas as relaccedilotildees entre duas ou mais liacutenguas mas consegue

tambeacutem evidenciar com facilidade o que eacute herdado de um berccedilo linguiacutestico comum e o que eacute

oriundo de empreacutestimo de outra liacutengua

Consoante estudos recorrentes a linguiacutestica histoacuterica teve seu surgimento no final do

seacuteculo XVIII momento em que se comeccedilava a dar um cunho cientiacutefico agrave mudanccedila linguiacutestica

Natildeo se pode afirmar entretanto que natildeo houvesse uma preocupaccedilatildeo com a linguagem antes

desse periacuteodo haja vista que a criaccedilatildeo da biblioteca de Alexandria por exemplo demonstra

certo interesse pelo assunto pois indica que ao fazer a compilaccedilatildeo das obras antigas da literatura

grega Homero apresentava certa preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura e do passado de

uma eacutepoca

9 Para Aristoacuteteles a linguagem eacute definidora das relaccedilotildees humanas

48

No entanto foi no seacuteculo XVI com a Renascenccedila que houve um acentuado interesse

dos estudiosos pela histoacuteria cultural particularmente pela filologia momento da origem da

histoacuteria literaacuteria No Ocidente renascia o interesse pelo passado que remetia agrave antiguidade

greco-latina

A linguiacutestica histoacuterica consiste segundo Faraco (2006 p 13) em ldquoestudar as mudanccedilas

que ocorrem nas liacutenguas humanas agrave medida que o tempo passardquo A mudanccedila eacute definida como

processo pelo qual a liacutengua viva natildeo fica estagnada mas evolui acompanhando o

desenvolvimento da sociedade que a utiliza como instrumento de comunicaccedilatildeo pois ldquoonde haacute

mudanccedila deve haver histoacuteria do contraacuterio nosso conhecimento do fato permanece incompletordquo

(MAURER JR 1967 p 20)

Nesse contexto estabelece-se o que eacute mais natural a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade

porque uma acaba interferindo na mudanccedila da outra visto que

[] as liacutenguas humanas natildeo constituem realidades estaacuteticas ao contraacuterio sua

configuraccedilatildeo estrutural se altera continuamente no tempo E eacute essa dinacircmica

que constitui o objeto de estudo da linguiacutestica histoacuterica [] as liacutenguas mudam

mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos

necessaacuterios para a circulaccedilatildeo dos significados (FARACO 2006 p 14)

As mudanccedilas natildeo satildeo apenas de ordem lexicais por certo as estruturas gramaticais o

modo de produzir os sons e o significado das palavras se alteram com o tempo bem como novas

palavras surgem para expressar objetos e coisas que satildeo criados Eacute possiacutevel observar ainda que

palavras caem em desuso provocando consequentemente alteraccedilotildees no leacutexico de dada liacutengua

jaacute que

Os estudos de Linguiacutestica Histoacuterica comprovam que as liacutenguas humanas se

transformam no fluxo do tempo ou seja palavras e estruturas que existiam

antes deixam de existir ou sofrem modificaccedilotildees na forma na funccedilatildeo eou no

significado Apesar das transformaccedilotildees sofridas as liacutenguas mudam mas

continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos necessaacuterios

que garantem uma comunicaccedilatildeo eficaz pois as mudanccedilas ocorrem em partes

e natildeo no todo das liacutenguas num processo de mutaccedilatildeo e permanecircncia

(SIQUEIRA AGUIAR 2011 p 385 grifos das autoras)

A linguiacutestica histoacuterica pode ser estudada em duas fases a de 1800 e a poacutes 1900 No

seacuteculo XIX surgiram meacutetodos de abordagem para se estudar as liacutenguas suas combinaccedilotildees

identidade (gecircnese) diferenccedilas (mudanccedilas) Segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 18) ldquoa tradiccedilatildeo

oitocentista portanto recorta descreve e explica os fenocircmenos da linguagem do ponto de vista

do binocircmio gecircnese-evoluccedilatildeordquo

49

O poacutes 1900 partiu da observaccedilatildeo da diacronia e sincronia Com o advento do

estruturalismo de Ferdinand Saussure (2008) no seacuteculo XX a linguiacutestica moderna trouxe como

proposta que o objeto da linguiacutestica ndash a liacutengua ndash pudesse ser estudado separadamente do efeito

tempo (PAIXAtildeO DE SOUSA 2006) Como divisor desse momento na segunda metade poacutes

1900 o objeto da linguiacutestica eacute de ordem bioloacutegica ndash a diacronia estaacute imanente agrave liacutengua pois

de acordo com esta corrente linguiacutestica eacute na liacutengua que reside a heterogeneidade a mudanccedila e

a variaccedilatildeo

Segundo Faraco (2006 p 91) as liacutenguas estatildeo inseridas em um processo de fluxo

temporal de mutabilidade ldquoaparecimentosrdquo e ldquodesaparecimentosrdquo ldquoconservaccedilatildeordquo e

ldquoinovaccedilatildeordquo As liacutenguas tecircm histoacuteria revelam e constituem a todo tempo a realidade e as

transformaccedilotildees ocorridas comno tempo Em relaccedilatildeo a isso

Humboldt convencia-se de que toda liacutengua reflete a psique do povo que a fala

Eacute o resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal

de fala Ele acha por outro lado que a liacutengua de um povo eacute o canal natural

pelo qual aquele povo chega a uma compreensatildeo do universo que circunda o

homem E conclui que existe uma profunda influecircncia de uma liacutengua na

maneira pela qual seus falantes veem e organizam o mundo dos objetos em

torno deles e de sua vida espiritual (CAMARA JR 1975 p 38-39)

A liacutengua eacute um ldquoinstrumentordquo social e estaacute carregada de significaccedilatildeo e considerados

espaccedilo e tempo eacute capaz de revelar o mundo a outros mundos Faraco (2006) faz ainda referecircncia

ao estudo do leacutexico ao reafirmar que a composiccedilatildeo deste pode ser estudada historicamente na

sua origem bem como os empreacutestimos que satildeo feitos de outras liacutenguas Necessaacuterio se faz

reconhecer que o leacutexico eacute uma unidade carregada da histoacuteria cultural de dada comunidade

linguiacutestica natildeo esquecendo conforme Faraco (2006 p 42) que ldquoeacute um dos pontos em que mais

claramente se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e culturardquo

Com o advento estruturalista de Saussure (2008) haacute uma mudanccedila de perspectiva a

visatildeo diacrocircnica dos fatos linguiacutesticos daacute lugar ao enfoque sincrocircnico dos fenocircmenos da

linguagem Eacute preciso observar que consoante a diretriz saussuriana a anaacutelise sincrocircnica

precede a diacrocircnica sendo possiacutevel fazer comparaccedilatildeo entre elas no momento em que tiver a

descriccedilatildeo de pelo menos dois estados da liacutengua Daiacute reforccedilar-se o objetivo do estudo em

descrever sincronicamente um dado especiacutefico da histoacuteria da liacutengua Faraco (2006 p 120)

afirma que ldquoo estudioso se fixa num momento do passado e tomando-o estaticamente

descreve-o com base nos documentos escritos de que se dispotildee criando assim condiccedilotildees para

um posterior estudo diacrocircnicordquo

50

A par disso conveacutem mencionar que nos seacuteculos XVII e XVIII estudos linguiacutesticos

hegemocircnicos observavam a liacutengua como uma realidade estaacutevel diferentemente do pensamento

linguiacutestico do seacuteculo XIX que considerava a liacutengua como uma realidade em transformaccedilatildeo

Desta forma Saussure (2008) estabeleceu duas dimensotildees uma histoacuterica (chamada diacrocircnica)

que tem como centro de suas atenccedilotildees as mudanccedilas porque passa a liacutengua no tempo ou seja a

mutabilidade da liacutengua no tempo a outra eacute estaacutetica (chamada sincrocircnica) que entende a liacutengua

como um sistema estaacutevel num espaccedilo de tempo aparentemente fixo isto eacute a sua imutabilidade

Mas

Diante dos termos sincroniadiacronia natildeo basta apenas entender por alto a

que se referem Eacute preciso antes perceber que essa divisatildeo pressupotildee tambeacutem

na sua origem uma concepccedilatildeo homogeneizante da liacutengua que ndash apesar de sua

indiscutiacutevel funcionalidade e fertilidade para a linguiacutestica contemporacircnea ndash eacute

para muitos estudiosos uma idealizaccedilatildeo excessiva por criar um objeto de

estudo demasiadamente afastado da heterogeneidade linguiacutestica do real

(FARACO 2006 p 106 grifos do autor)

Segundo Faraco (2006) Coseriu em seu livro Sincronia diacronia e histoacuteria de 1973

posiciona-se de forma contraacuteria agrave formulaccedilatildeo de Saussure (2008) (visatildeo estaacutetica de sistema)

pois para ele a liacutengua deve ser vista em permanente sistematizaccedilatildeo em movimento Coseriu

rejeita a ideia de que a descriccedilatildeo (sincronia) e a histoacuteria (diacronia) sejam estudos diferenciados

mas assume a visatildeo de que as liacutenguas satildeo objetos histoacutericos e devem ser estudadas de forma

integrada envolvendo descriccedilatildeo e histoacuteria

Para Rocha Galvatildeo e Gonccedilalves (2011 p 30) ldquoestabelecer a presenccedila ou a viagem das

palavras eacute acompanhar o envolver das proacuteprias comunidades pelo tempo aforardquo Um recorte

sincrocircnico natildeo deve desprezar a interpretaccedilatildeo diacrocircnica o interesse cientiacutefico natildeo estaacute presente

somente num espaccedilo-tempo assim como a representatividade histoacuterica necessita admitir pontos

exatos na representaccedilatildeo da vivecircncia humana

No segundo capiacutetulo apresenta-se uma breve revisatildeo dos meacutetodos de pesquisa que

podem ser combinados com a teoria onomaacutestico-toponiacutemica a fim de compor um quadro

ilustrativo das caracteriacutesticas do meio da cultura dos fatos histoacutericos e dos estados anteriores

da liacutengua que estatildeo de alguma forma impressos na motivaccedilatildeo que subjaz aos topocircnimos em

questatildeo

51

II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS

O povo ldquosenhor dos espaccedilos puacuteblicosrdquo por vezes

adota criteacuterio proacuteprio ao conferir nomes aos

lugares

(IBGE 2008)

A linguagem humana eacute sobretudo interaccedilatildeo e natildeo pode pois ser explicada apenas em

termos de sua estrutura semacircntica e formal mas tambeacutem deve-se analisaacute-la em sua funccedilatildeo

social Desta forma o desenvolvimento linguiacutestico e intelectual do indiviacuteduo caminham juntos

pois ambos satildeo a base da abstraccedilatildeo e categorizaccedilatildeo pois ldquotoda liacutengua reflete as condiccedilotildees da

sociedade e do ciacuterculo cultural que se falardquo (ANDRADE 2010 p 99)

Aspectos linguiacutesticos de diversas ordens satildeo fundamentais para o estudo toponiacutemico jaacute

que eacute por mecanismos linguiacutesticos que o signo comum transmuta-se em designativo de lugar

revelando a identidade do nomeador coletivo ou natildeo Desta maneira ldquoo topocircnimo eacute o resultado

da accedilatildeo do nomeador ao realizar um recorte no plano das significaccedilotildees representaccedilotildees ou seja

praticar um papel de registro no momento vivido pela comunidaderdquo (ANDRADE 2010 p

106)

Acolher uma orientaccedilatildeo ou outra acarreta outrossim na escolha do meacutetodo a ser utilizado

para a pesquisa linguiacutestico-histoacuterica Para situar a escolha por um meacutetodo este capiacutetulo faz uma

breve exposiccedilatildeo de alguns meacutetodos que tecircm sido empregados em pesquisas de abordagem

similar a esta em especial descrevemos detalhadamente os que satildeo usados nesta pesquisa os

quais consideram natildeo somente os aspectos linguiacutesticos bem como os histoacutericos e socioculturais

do lugar indo ao encontro da perspectiva adotada para este trabalho

21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos

Natildeo se deve confundir metodologia com meacutetodo de pesquisa Segundo Silva e Silveira

(2007 p 145) a metodologia consiste de um conjunto de criteacuterios usados para se construir um

conhecimento vaacutelido seguro e de certa forma verdadeiro Jaacute os meacutetodos de pesquisa podem

ser definidos como ldquoprinciacutepios e procedimentos aplicados para construccedilatildeo do saberrdquo Os autores

salientam que se torna mais difiacutecil ficar preso a um uacutenico meacutetodo quando se pode lanccedilar matildeo

do ldquopluralismo metodoloacutegicordquo Deste modo considerando as especificidades de um estudo

toponiacutemico eacute possiacutevel conjugar meacutetodos de forma ordenada e loacutegica Isto quer dizer que se

52

podem utilizar meacutetodos de abordagem (indutivo dedutivo dialeacutetico) em consonacircncia com os

preceitos de um ou mais meacutetodos de procedimento (funcionalista comparativo

fenomenoloacutegico estruturalista)

Uma perspectiva histoacuterica por exemplo abre um amplo espectro de possibilidades de

se estudar um determinado fato linguiacutestico Podem ser citadas diversas maneiras para se tomar

os fenocircmenos linguiacutesticos do ponto de vista histoacuterico tais como a filologia centrada nos

aspectos histoacutericos das transformaccedilotildees a linguiacutestica comparada que aborda os fatos por meio

de comparaccedilotildees entre as liacutenguas de grupos linguiacutesticos relacionados e a etimologia a qual

busca desvendar o significado de origem das palavras aqui centra-se o nosso objeto de estudo

que eacute descrever e analisar a origemetimologia dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua de Pires do

Rio-GO

Os meacutetodos linguiacutesticos podem ainda estudar as transformaccedilotildees linguiacutesticas

correlacionando-as ao contexto sociocultural o que tem contribuiacutedo grandemente para uma

renovaccedilatildeo das abordagens do fenocircmeno da mudanccedila linguiacutestica resultando em inuacutemeras outras

orientaccedilotildees teoacutericas que em certo sentido podem ser vistas como herdeiras dos primeiros

criacuteticos dos estudos comparativos

A linguiacutestica tem a liacutengua como seu principal objeto de estudo a qual eacute produto da

experiecircncia acumulada historicamente na cultura de uma sociedade A liacutengua eacute um fenocircmeno

social pois eacute produzida e determinada socialmente ademais eacute um importante siacutembolo da

identidade de um grupo E eacute no comportamento linguiacutestico de uma dada comunidade que se

reflete a busca de aprovaccedilatildeo social ou a acentuaccedilatildeo de diferenccedilas (COSERIU 1977) Eacute por

meio dela enfim que um indiviacuteduo adquire a cultura do lugar em que vive jaacute que

A funccedilatildeo baacutesica da Linguiacutestica eacute o estudo direto da lsquoliacutengua viva e faladarsquo por

observaccedilatildeo e anaacutelise objetiva de seus fenocircmenos postas de lado todas as

forccedilas e influecircncias que se manifestem muitas vezes atraveacutes dela e todos os

antecedentes que possam ter dado origem ao estado atual (MAURER JR

1967 p 30)

Observa-se na Linguiacutestica Geral de acordo com Maurer Jr (1967) a divisatildeo em dois

setores distintos poreacutem essenciais para compreensatildeo da linguagem a Linguiacutestica Descritiva

(sincrocircnica) que segundo o autor deve ser a base de todo estudo cientiacutefico porque eacute a partir

dela que aprendemos a linguagem em sua funccedilatildeo uacutenica e peculiar e a Linguiacutestica Histoacuterica

(diacrocircnica) que complementa e explica os fatos da primeira e tem uma funccedilatildeo importante no

estudo desse rico patrimocircnio cultural e humano a liacutengua

53

212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica

Para alguns estudiosos a linguiacutestica histoacuterica teve seu apogeu no seacuteculo XIX embora

outros afirmem que tenha ocorrido haacute tempos no Renascimento De acordo com Paixatildeo de

Sousa (2006 p 14)

[] a reflexatildeo linguiacutestica dos 1800 representa um marco divisor na histoacuteria

das histoacuterias do tempo e da linguagem por inaugurar uma concepccedilatildeo

inteiramente nova dos condicionantes dessa relaccedilatildeo e construir um novo

plano para sua anaacutelise Eacute antes de tudo na tentativa de se combinar a esfera

documental com a esfera experimental que aparecem os desdobramentos mais

interessantes dos estudos histoacutericos da liacutengua ao longo do seacuteculo XIX eles

buscaratildeo articular as duas esferas em um mesmo plano de anaacutelise construindo

a abordagem histoacuterico-comparada

Assim a linguiacutestica histoacuterica apoacutes o seacuteculo XIX cria um meacutetodo que permite

ldquocategorizar e justificar a identidade geneacutetica e a evoluccedilatildeo paralela de cada idioma em um grupo

aparentadordquo segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 16) O meacutetodo comparativo segundo Maurer

Jr (1967) busca comparar cuidadosamente formas apresentadas entre si de um grupo

distinguir a origem e estudar a diversificaccedilatildeo das liacutenguas para desvendar e recontar a histoacuteria

de cada liacutengua Ressalte-se que para Faraco (2006 p 125) esse meacutetodo teve sua estruturaccedilatildeo

ldquoao dar um tratamento sistemaacutetico agraves observadas semelhanccedilas entre liacutenguas distantes no espaccedilo

como o latim e o sacircnscritordquo E ainda

constitui um recurso inteligente e racional para a reconstruccedilatildeo de fatos que

dependem de testemunho em todo o terreno Tal como a Paleontologia a

Histoacuteria da Cultura e ateacute na investigaccedilatildeo do crime na Justiccedila esse meacutetodo

submete o testemunho a um estudo preliminar para avaliar seu isolamento sua

coerecircncia etc (MAURER JR 1967 p 31)

O meacutetodo comparativo se baseia na experimentaccedilatildeo (induccedilatildeo) procura descrever os

estaacutegios da liacutengua que natildeo deixaram registros (documentos) como eacute o caso do latim vulgar No

entanto se difere do histoacuterico-comparativo o qual usa documentos histoacutericos para fazer as suas

reconstruccedilotildees acerca da liacutengua Poreacutem ambos os meacutetodos buscam recuperar a histoacuteria da liacutengua

de forma cronoloacutegica

De acordo com Faraco (2006 p 134)

O meacutetodo comparativo eacute o procedimento central nos estudos de linguiacutestica

histoacuterica Eacute por meio dele que se estabelece o parentesco entre liacutenguas O

pressuposto de base eacute que entre elementos de liacutenguas aparentadas existem

54

correspondecircncias sistemaacuteticas (e natildeo apenas aleatoacuterias ou casuais) em termos

de estrutura gramatical correspondecircncias estas passiacuteveis de serem

estabelecidas por meio duma cuidadosa comparaccedilatildeo Com isso podemos natildeo

soacute explicitar o parentesco entre liacutenguas (isto eacute dizer se uma liacutengua pertence

ou natildeo a uma determinada famiacutelia) como tambeacutem determinar por inferecircncia

caracteriacutesticas da liacutengua ascendente comum de um certo conjunto de liacutenguas

No decorrer dos anos vaacuterios satildeo os estudiosos que contribuiacuteram com a formaccedilatildeo e o

aprimoramento do meacutetodo comparativo dentre eles destacamos Bopp (1791-1867) que

buscava estabelecer o parentesco entre as liacutenguas mas natildeo o percurso histoacuterico de um anterior

para um posterior Grimm (1785-1863) que ao estudar o ramo germacircnico das liacutenguas indo-

europeias pocircde estabelecer a sucessatildeo histoacuterica por meio de comparaccedilatildeo ndash comparativo

histoacuterico Rask (1787-1832) tambeacutem desenvolveu trabalhos comparativos importantes para o

momento envolvendo as liacutenguas noacuterdicas as demais liacutenguas germacircnicas o grego o latim o

lituano o eslavo e o armecircnio Foi a partir desses estudiosos que surgiu a ldquofilologia (ou

linguiacutestica) romacircnica nome que se deu ao estudo histoacuterico-comparativo das liacutenguas oriundas

do latimrdquo (FARACO 2006 p 137)

De tal modo da siacutentese que foi apresentada eacute possiacutevel tecer as seguintes consideraccedilotildees

o meacutetodo histoacuterico-comparativo em seu apogeu foi e ainda hoje eacute uacutetil aos estudos da Linguiacutestica

Histoacuterica principalmente no que concerne natildeo soacute agrave reconstruccedilatildeo de fases anteriores das liacutenguas

como tambeacutem eacute bastante indicado para estudos que objetivam a reconstruccedilatildeo interna de uma

liacutengua Esse meacutetodo cumpriu papel importante para o desvelamento de inuacutemeras questotildees

linguiacutesticas das liacutenguas antigas grego latim sacircnscrito

Jaacute os estudos dos neogramaacuteticos possibilitaram o aprimoramento do meacutetodo histoacuterico-

comparativo mediante a verificaccedilatildeo de que muitas mudanccedilas ocorridas nas liacutenguas em

momentos anteriores e registrados em documentos podem ser explicitadas por meio da

explanaccedilatildeo de mudanccedilas ldquosincrocircnicasrdquo sucedidas nas liacutenguas conforme as leis foneacuteticas e a

analogia

Conforme Cacircmara Jr (1975) Gaston Paris traccedilou mapas das linhas isogloacutessicas dando

os primeiros passos para a geografia linguiacutestica a qual na verdade foi efetivamente criada por

seu disciacutepulo suiacuteccedilo Jules Gillieacuteron que dedicou-se agrave dialetologia e no doutoramento em 1879

defendeu a tese sobre o dialeto de Vionnaz Essa nova teacutecnica ldquoteve como base teoacuterica o

conceito de dialeto como uma abstraccedilatildeo essa a razatildeo de focalizar cada mudanccedila linguiacutestica per

se como o verdadeiro dado linguiacutesticordquo (CAcircMARA JR 1975 p 121)

55

A geografia linguiacutestica10 segundo Cacircmara Jr (1975) eacute importante como uma nova

abordagem para o estudo histoacuterico-comparativo pois em vez de recorrer a textos antigos o

pesquisador busca apenas os aspectos contemporacircneos da liacutengua absorvendo as bases

linguiacutesticas no intercacircmbio oral Desta forma

Obteacutem-se uma corrente evolucionaacuteria pela comparaccedilatildeo das muitas variantes

de cada forma cuja distribuiccedilatildeo no espaccedilo pode ser traduzida numa

distribuiccedilatildeo atraveacutes do tempo de acordo com regras metodoloacutegicas O aspecto

foneacutetico da variante ou sua existecircncia num patois relativamente moderno ou

notaacutevel por traccedilos arcaicos constituem a chave para esta investigaccedilatildeo

histoacuterica Por essa razatildeo eacute que atraveacutes da geografia linguiacutestica uma nova

teacutecnica para o estudo histoacuterico da linguagem foi imaginada sob o tiacutetulo de

ldquoreconstruccedilatildeo internardquo (CAcircMARA JR 1975 p 125 grifos do autor)

Essa nova abordagem vem corroborar com os estudos da liacutengua porque de forma

efecircmera reconstroacutei a histoacuteria de uma dada liacutengua contribuindo com a contemporaneidade uma

vez que nos eacute necessaacuterio conhecer a base etimoloacutegica das palavras e depois justificar o seu uso

ou evoluccedilatildeo

Segundo Cacircmara Jr (1975) apoacutes observar que Gaston Paris traccedilou mapas das linhas

isogloacutessicas e Gillieacuterion criou a geografia linguiacutestica muitos anos depois os linguistas italianos

Giulio Bertoni e Matteo Bartoli criaram o meacutetodo de linguiacutestica areal cujo objetivo era

classificar aacutereas linguiacutesticas ndash de uma liacutengua ou grupo de liacutenguas ndash como forma de

representaccedilatildeo da contemporaneidade e do estaacutegio linguiacutestico de desenvolvimento Os

linguistas consoante Cacircmara Jr (1975 p 126) ldquodividiram um territoacuterio linguiacutestico em aacutereas

isoladas aacutereas laterais aacutereas principais e aacutereas desaparecidas (isto eacute aacutereas homogecircneas que

desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)rdquo e desta forma

difundiam mais um meacutetodo linguiacutestico

Destaca ainda que a linguiacutestica histoacuterica compreende dois momentos de exatidatildeo o

primeiro de 1786 a 1878 periacuteodo de formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do meacutetodo comparativo o qual

finalizou com o movimento dos neogramaacuteticos o segundo vai desde 1878 ateacute a

contemporaneidade periacuteodo de tensatildeo entre duas linhas interpretativas uma imanentista ndash

neogramaacutetico estruturalismo e gerativismo que vecirc a mudanccedila como acontecimento interno da

liacutengua e pela proacutepria liacutengua e a outra integrativa ndash primeiros criacuteticos neogramaacuteticos dialetologia

e sociolinguiacutestica cuja mudanccedila da liacutengua estaacute condicionada a fatores contextuais nos quais o

falante estaacute inserido

10 No Brasil a Geografia Linguiacutestica concretizou-se com a produccedilatildeo de Atlas Linguiacutesticos em diferentes Estados

brasileiros

56

Entre os seacuteculos XVIII e XIX ocorreram momentos de grande relevacircncia para a

linguiacutestica histoacuterica Um deles eacute a fundaccedilatildeo da Escola de Estudos Orientais em Paris

(importante centro de investigaccedilatildeo) no ano de 1975 onde estudaram os linguistas alematildees

Friedrich Schlegel (1772-1829) e Franz Bopp (1791-1867) os quais mais tarde desenvolveram

a chamada gramaacutetica comparativa

Assim em 1808 Friedrich Schlegel publicou um texto sobre a liacutengua e sabedoria dos

povos hindus que de acordo com Faraco (2006) eacute considerado o ponto de partida do

comparativismo alematildeo No texto o autor ratifica sobre o parentesco das liacutenguas sacircnscrita com

a latina grega germacircnica e persa

Cabe ainda salientar que os estudos histoacuterico-comparativos antes da uacuteltima metade do

seacuteculo XIX conheceram a obra de August Scheilcher (1821-1868) Sua teoria tomava a liacutengua

como um organismo vivo com existecircncia fora de seus falantes sendo sua histoacuteria vista como

natural devido agraves orientaccedilotildees naturalistas do linguista como sua formaccedilatildeo em botacircnica e

influenciado pela teoria evolucionista de Darwin (FARACO 2006)

Jaacute no seacuteculo XIX as investigaccedilotildees no campo da linguagem eram dominadas por ideias

positivistas que se desenvolviam conforme meacutetodos histoacuterico-comparativos eacutepoca em que se

formaliza o estudo sistemaacutetico das variaccedilotildees sobretudo as de natureza geograacutefica Surge o

interesse pelos dialetos considerados como fontes de conhecimento do modo como se teriam

operado as transformaccedilotildees em fases anteriores das liacutenguas A Geografia Linguiacutestica eacute uma

consequecircncia do interesse pelos estudos dialetais levados a cabo de iniacutecio por vaacuterios estudiosos

europeus Segundo Coseriu (1982) surge um meacutetodo dialetoloacutegico e comparativo que

pressupotildee o registro em mapas especiais de um nuacutemero relativamente elevado de formas

linguiacutesticas (focircnicas lexicais ou gramaticais) recolhidas mediante pesquisa direta e unitaacuteria

numa rede de pontos distribuiacuteda em determinado territoacuterio

Deste modo eacute necessaacuterio compreender que

A linguagem eacute inegavelmente uma heranccedila social cuja histoacuteria se estende

por seacuteculos Uma visatildeo completa um conhecimento detalhado de seu

mecanismo de sua estrutura de sua semacircntica e ateacute de sua ortografia soacute

podem ser obtidos atraveacutes da pesquisa diacrocircnica Os meacutetodos expostos

acima em suas linhas essenciais natildeo deixam duacutevida de que a filologia

romacircnica se desenvolveu com o meacutetodo histoacuterico-comparativo adotado com

mais ecircxito aqui do que no campo para o qual havia sido criado As possiacuteveis

deficiecircncias desse meacutetodo foram sendo corrigidas depois pela geografia

linguiacutestica e pelos outros meacutetodos derivados como a onomasiologia Woumlrter

und Sachen linguiacutestica espacial etc Enquanto o meacutetodo histoacuterico-

comparativo procura as ligaccedilotildees entre o ldquoterminus a quordquo e o ldquoterminus ad

quemrdquo o latim vulgar e as liacutenguas romacircnicas respectivamente os outros

57

meacutetodos tecircm como objeto especificamente o ldquoterminus ad quemrdquo pois

investigam sincronicamente aspectos atuais dessas mesmas liacutenguas cujas

explicaccedilotildees poreacutem devem ser buscadas diacronicamente (BASSETTO

2001 p 85 grifos do autor)

Para Faraco (2006 p 106) ldquooptar por uns ou por outros eacute que vai orientar nossa forma

de entender a mudanccedila linguiacutestica nossa seleccedilatildeo de dados nossas categorias e procedimentos

de anaacutelise nosso processo argumentativordquo Ou seja ao assumirmos uma concepccedilatildeo de base

correlata eacute o que iraacute definir o nosso meacutetodo de trabalho

22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia

Segundo Silva (2010) a onomasiologia eacute um meacutetodo que se constitui do estudo das

designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Pode ser

investigada toda a cultura popular de um local podendo-se priorizar os aspectos sincrocircnicos ou

histoacutericos Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores do que

subjaz agrave nomeaccedilatildeo dos lugares

Pode-se para efeito deste estudo traccedilar o esquema a seguir o qual demonstra as

possibilidades temaacuteticas que esse tipo de pesquisa pode apresentar

Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos

Onomaacutestica

Toponiacutemia Antroponiacutemia

Modalidades Coleta

Imagens mapas cartas e plantas

Documental Texto iacutendicesrepertoacuterio de nomes

Ficcional Natildeo ficcional

Pesquisa de campo Entrevistas etnografia

Mista Documental e Pesquisa de campo

Fonte Adaptado de material da USP ndash Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas 2016

58

A onomasiologia eacute o resultado das tendecircncias mais significativas da evoluccedilatildeo linguiacutestica

na transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX em que a centralidade das investigaccedilotildees passam

do som (foneacutetica) para a palavra (lexicologia) O seu triunfo se deu a partir do desenvolvimento

da Geografia Linguiacutestica pois com o aparecimento de inuacutemeros termos regionais recolhidos

pelos inqueacuteritos linguiacutesticos surgiu a necessidade de um novo meacutetodo que auxiliasse os

dialetoacutelogos a compreenderem o homem regional em sua amplitude por meio da linguagem

Apoacutes a publicaccedilatildeo dos atlas linguiacutesticos a onomasiologia comeccedila a ser utilizada em

vaacuterios estudos jaacute que pelo seu uso eacute possiacutevel caracterizar as atividades de uma regiatildeo e situaacute-

las no tempo Segundo Couto (2012 p 186) ldquoa onomasiologia vecirc a questatildeo da referecircncia para

usar um termo semioacutetico partindo da coisa e indo na direccedilatildeo do nome que ela receberdquo Desta

forma ldquoo meacutetodo onomasioloacutegico permite ver a cultura do povo cuja liacutengua se estuda

costumes ocupaccedilotildees instrumental crenccedilas e crendices moradia enfim sua mundividecircncia

Permite sentir a linguagem viva traduzindo a vivecircncia cultural do povordquo (BASSETO 2001 p

77)

Ressalta-se que

Com pontos em comum com a Geografia Linguiacutestica e ldquoPalavras e Coisasrdquo o

meacutetodo onomasioloacutegico tambeacutem conhecido como onomasiologia isto eacute o

estudo das denominaccedilotildees se propotildee investigar os vaacuterios nomes atribuiacutedos a

um objeto animal planta conceito etc individualmente ou em grupo dentro

de um ou vaacuterios domiacutenios linguiacutesticos Seus objetivos satildeo portanto

semacircnticos e lexicoloacutegicos buscando descobrir os aspectos vivos e as forccedilas

criadoras da linguagem (BASSETO 2001 p 76)

O meacutetodo onomasioloacutegico natildeo ficou a cargo apenas de um pesquisador mas de vaacuterios

pois seus princiacutepios se desenvolveram aos poucos Conforme Bassetto (2001) temos como

predecessores da onomasiologia moderna F Brinkmann (1872) Luigi Morandi (1883)

Friedrich Diez (1875) Fr Pott (1853) Jakob Grimm (1853) e F Miklosich (1868) Todavia o

princiacutepio da onomasiologia cientiacutefica deu-se com Carlo Salvioni (1858-1920) quando estudou

sobre as denominaccedilotildees italianas do vaga-lume (1892) e com Ernest Toppolet (1870-1939) que

referendou em seus estudos o parentesco dos nomes romacircnicos por ele denominados de

ldquolexicologia cientiacuteficardquo

As pesquisas desenvolvidas na aacuterea da onomaacutestica se constituem em uma linha

documental ou de campo seguindo um meacutetodo pelo qual se selecionam observam registram

classificam analisam e interpretam os dados de acordo com a identificaccedilatildeo dos fatores

59

determinantes agrave configuraccedilatildeo dos corpora Essas anaacutelises de dados satildeo baseadas em trecircs

categorias linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica que satildeo reveladas pelo meacutetodo onomasioloacutegico

Segundo Ramos e Bastos (2010) as trecircs perspectivas ndash linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica

ndash satildeo cruciais para revelar as seguintes caracteriacutesticas a) a determinaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica das

diferentes liacutenguas que tenham existido ou existentes num determinado territoacuterio b) o estudo

das terminaccedilotildees caracteriacutesticas de cada palavra c) o estudo das formas gramaticais d) o estudo

da foneacutetica histoacuterica e) a verificaccedilatildeo das formas documentadas as quais se subdividem em ndash

comparaccedilatildeo semacircntica a abordagem dos dados geograacuteficos e a abordagem dos dados histoacutericos

Cabe ainda indicar em linhas gerais algumas concepccedilotildees do meacutetodo Woumlrter und

Sachen de Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) o qual conforme

Bassetto (2001) tem pontos em comum que compartilha com o meacutetodo onomasioloacutegico Visa

ao estudo das questotildees semacircnticas das palavras enfatizando a realidade que elas designam

porque para os estudiosos dessa linha de pensamento a verdadeira etimologia da palavra

encontra-se no conhecimento dessa realidade Procura instruir sobre a necessidade de conhecer

sempre que possiacutevel o objeto designado por um termo para que o significado possa ser

devidamente explicitado Quando se conhece a realidade a natureza a forma o uso as medidas

das coisas do mundo eacute possiacutevel estabelecer a origem e a histoacuteria das palavras com que esses

mesmos objetos foram designados

Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) foram precursores desse

meacutetodo ao considerarem que as coisas existem antes de serem denominadas ou seja as coisas

preexistem agraves suas designaccedilotildees podendo ateacute existir sem que sejam nomeadas Em

contrapartida as palavras dependem das ldquocoisasrdquo estatildeo ligadas a elas Com essa perspectiva

Schuchardt (mais do que Meringer) remete ao meacutetodo Woumlrter und Sachen ldquoPalavras e Coisasrdquo

cujo tiacutetulo instituiu o nome do meacutetodo

No entanto conveacutem salientar que jaacute na gramaacutetica grega estava impliacutecita a ideia de que

as coisas precedem as palavras Em outros termos quando se conhece em profundidade a

ldquocoisardquo chega-se ao ldquoeacutetimordquo da palavra que a nomeia alcanccedila-se o significado com que a coisa

foi primeiramente designada Menciona-se que para Schuchardt (apud BASSETO 2013)

Sachen (coisa) significava qualquer realidade i eacute ldquoSachenrdquo podia se referir tanto a

acontecimentos e estados como a objetos ao real e ao irreal ao tangiacutevel11 e ao intangiacutevel ou

em outras palavras tanto a coisas do mundo sensiacutevel como do insensiacutevel

11 ldquoTangiacutevelrdquo do latim tangere tangens lsquotocar aquilo que tocarsquo do mesmo eacutetimo de attingere lsquoaproximar-se e

tocarrsquo

60

O meacutetodo Woumlrter und Sachen (Palavras e Coisas) segundo Campbell (2004) relaciona-

se agraves inferecircncias histoacuterico-culturais que podem ser reveladas por meio da investigaccedilatildeo das

palavras pautadas na sua analisabilidade Campbell (2004) assume que as palavras que satildeo

analisadas em partes transparentes (vaacuterios morfemas) podem ser de criaccedilatildeo mais recente (na

liacutengua) em relaccedilatildeo agraves palavras que natildeo apresentam essa transparecircncia morfecircmica

Essa teacutecnica contribui sobremaneira para traccedilar uma cronologia aproximativa dos

vocabulaacuterios Dias (2016 p31) acentua que

Sobretudo supotildee-se que itens culturais denominados por termos analisaacuteveis

satildeo tambeacutem adquiridos mais recentemente pelos falantes e aqueles que satildeo

expressos por palavras natildeo analisaacuteveis representam itens mais velhos e

instituiccedilotildees Outra estrateacutegia desse meacutetodo envolve fazer inferecircncias por meio

de informaccedilotildees de itens culturais de quem os nomes sofreram visivelmente

mudanccedila de significado

E para Crowly (2003) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo pode ser usado para fazer

reconstruccedilatildeo cultural e chegar ao conteuacutedo de uma protocultura por exemplo jaacute que se eacute

possiacutevel reconstruir uma palavra designativa de alguma coisa na protoliacutengua eacute possiacutevel tambeacutem

supor que a coisa a que ela se refere provavelmente foi de importacircncia cultural na vida dos

seus falantes ou que foi ambientalmente marcante Segundo o autor o meacutetodo pode tambeacutem

dizer muito sobre a terra natal de uma famiacutelia linguiacutestica pode-se ainda por meio do referido

meacutetodo fazer suposiccedilotildees sobre as rotas legiacutetimas seguidas pelos povos para se chegar aos

lugares onde se encontram atualmente12

Destarte segundo Bassetto (2013) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo deu destaque agrave

semacircntica ao estabelecer a etimologia e ateacute a biografia das palavras aleacutem de tornar os estudos

filoloacutegicos mais objetivos Posto isso eacute possiacutevel verificar que o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo

pode ser usado nos estudos semacircnticos lexicais onomaacutesticos toponiacutemicos Quando se busca

relacionar a histoacuteria do nome com a histoacuteria do lugar vincula-se a palavra (o nome) agrave coisa (o

lugar) Nesse sentido pode-se de alguma maneira realizar o estudo natildeo apenas pautado no

meacutetodo onomasioloacutegico mas tambeacutem considerando as intrincadas relaccedilotildees entre nomes e as

coisas do mundo

Cabe ressaltar

Assim como procedimento metodoloacutegico seguido nos estudos

toponomaacutesticos buscamos definir o jaacute definido ou seja o objeto de estudo da

disciplina o seu campo de trabalho especiacuteficos a natureza linguiacutestica da

12 Por exemplo os caminhos que levaram (trouxeram) os bandeirantes agraves terras do iacutendio goyaacute

61

anaacutelise em termos de vinculaccedilatildeo a uma aacuterea do conhecimento Partindo-se da

definiccedilatildeo etimoloacutegica dos elementos gramaticais de origem grega enunciados

por Dioniacutesio de Traacutecia no seacuteculo II a C a Toponiacutemia ficou-se como propocircs

Leite de Vasconcelos (1887) no entendimento dos nomes proacuteprios de lugares

distintos dos nomes comuns delimitados pela teoria da linguagem (DICK

2006 p 96)

A toponomaacutestica entatildeo fundamenta-se nos estudos dos nomes proacuteprios de lugares

estabelecendo relaccedilotildees da liacutengua com o ambiente sendo de extrema necessidade observar os

viacutenculos do nomeador com a coisa nomeada a motivaccedilatildeo que subjaz ao topocircnimo

O meacutetodo da Geografia Linguiacutestica com a concepccedilatildeo basilar de que a distribuiccedilatildeo

geograacutefica dos aglomerados populacionais se reflete na diferenciaccedilatildeo linguiacutestica trouxe grande

contribuiccedilatildeo para o estudo dos nomes em geral pois pode refletir tendecircncias que orientaram o

ato de nomeaccedilatildeo tanto de pessoas como de lugares

Sobre o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo cabe apenas repetir que por enfatizar o aspecto

semacircntico das palavras vinculado agrave realidade que elas denominam contribui com o estudo dos

nomes jaacute que parte do princiacutepio de que as palavras se acham ligadas agraves coisas que elas

designam Uma vez conhecendo a natureza das coisas chega-se na verdadeira etimologia da

palavra contribuiccedilatildeo essa que valoriza a cultura e a histoacuteria das comunidades vendo no ser

humano o sujeito das transformaccedilotildees que ocorrem nas liacutenguas e na cultura

Posto isso considera-se mais uma vez que a onomasiologia busca investigar como uma

noccedilatildeo ou conceito eacute nomeado na liacutengua tendo sempre em mente que quem daacute nome agraves coisas

satildeo os falantes e o fazem em decorrecircncia da cosmovisatildeo de seu grupo O meacutetodo

onomasioloacutegico permite que a cultura do povo pesquisado seja revelada

Entretanto a despeito das contribuiccedilotildees que cada um trouxe para os estudos linguiacutesticos

nenhum desses meacutetodos foi suficiente teoricamente para deslindar os inuacutemeros aspectos que

permeiam o ato de nomeaccedilatildeo o que implica dizer que o mais sensato eacute combinar o que cada

meacutetodo apresenta de mais satisfatoacuterio referentemente ao problema que se pretende resolver o

que requer tambeacutem adaptaccedilotildees e revisotildees constantes de um ou de outro ou ainda da combinaccedilatildeo

deles

Considera-se entatildeo

os aspectos pelos quais entendemos a disciplina como conhecimento

cientiacutefico saber construiacutedo como objeto campo de trabalho e pesquisa

demarcados apesar disto manteacutem-se em intersecccedilatildeo a outros campos sem

perder sua identidade A metodologia que emprega em seus levantamentos eacute

de origem indutivo-dedutiva de acordo com os procedimentos

62

onomasioloacutegico-semasioloacutegicos caracteriacutesticos da pesquisa do leacutexico (DICK

2006 p 98)

E no que tange agrave metodologia aos procedimentos de pesquisa propriamente ditos

segundo Dick (1996) que podem ser aplicados nos estudos toponiacutemicos devem se estabelecer

da seguinte forma a) seleccedilatildeo de fontes primaacuterias (cartas geograacuteficas editadas por oacutergatildeos oficiais

estaduais e municipais em escalas de 150000 ou 1100000 ou listas toponiacutemicas oficiais) e

complementaccedilatildeo a partir de fontes secundaacuterias (trabalhos historiograacuteficos da proacutepria

comunidade acerca do local onde vivem) b) registro dos dados em fichas lexicograacuteficas

padronizadas com a identificaccedilatildeo dos nomes do pesquisador e do revisor fontes e data de

coleta c) anaacutelise de dados que inclui a quantificaccedilatildeo dos nomes e das taxonomias analisando

a maior ou menor frequecircncia de classes ou itens lexicais e do estudo dos nomes a partir de um

enfoque puramente linguiacutestico (etimoloacutegico e estrutural) linguiacutestico-histoacuterico e variacionista

Desta forma a metodologia para este trabalho baseia-se em Dick (1996 2006) e por

conseguinte estabelece relaccedilotildees com as demais pesquisas na aacuterea da toponomaacutestica De acordo

com a autora ldquoTrata-se de modelo semacircntico-motivador das ocorrecircncias toponomaacutesticas que

conformam a realidade designativa da nomenclatura geograacutefica oficial do paiacutesrdquo (Dick 2006 p

104) As taxionomias satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise linguiacutestica do topocircnimo e hoje

se dividem em vinte sete taxes pela importacircncia na ldquoanaacutelise linguiacutestica ou casual dos motivos

determinantes das designaccedilotildees integram as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas em um campo

funcional especiacuteficordquo (Dick 2006 p 106) E a partir destas fichas busca-se a identificaccedilatildeo do

topocircnimo e computar as categorizaccedilotildees motivadoras do designativo

A metodologia de pesquisa aqui proposta se caracteriza por ser de natureza documental

(documentos analoacutegicos eou digitais como as cartas topograacuteficas e levantamento histoacuterico

geograacutefico por meio do Instituto Mauro Borges IBGE e de mapas do municiacutepio de Pires do

Rio-GO) e de abordagem qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a

constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos

puacuteblicos e no levantamento histoacuterico-geograacutefico Os procedimentos consistem na

sistematizaccedilatildeo de leituras documentais e de investigaccedilatildeo de campo o que os vincula agrave induccedilatildeo

e seguem os meacutetodos etnolinguiacutesticos

O percurso apresentado por Dick (1990) isto eacute pautado na induccedilatildeo desenvolveu-se por

meio do plano onomasioloacutegico de investigaccedilatildeo em que a partir de um conceito geneacuterico se

identificam as variaacuteveis possiacuteveis das fontes consultadas Nos registros municipais constam os

63

nomes atuais e os nomes anteriores (quando houve mudanccedilas) dos lugares de toda regiatildeo

municipal Estes e os mapas constituem as fontes primaacuterias desta pesquisa pois

O percurso do fazer onomasioloacutegico e o percurso da produccedilatildeo de significaccedilatildeo

se inserem em direccedilotildees diferentes o fazer interpretativo perfaz um processo

semasioloacutegico por outro lado o fazer onomasioloacutegico eacute uma unidade

conceitual enquanto a definiccedilatildeo eacute o percurso do fazer lexicograacutefico

Entretanto ao conceituar eacute necessaacuterio construir um modelo mental que em

primeira instacircncia corresponda a um recorte cultural para a escolha da

estrutura lexical que melhor pode manifestar a percepccedilatildeo bioloacutegica do fato

que se completa ao analisar e descrever o semema linguiacutestico para reconstruir

esse modelo mental a partir de uma estrutura linguiacutestica manifestada

Ressalta-se o caraacuteter pluridisciplinar do signo toponiacutemico jaacute que por meio

dele pode-se conhecer a histoacuteria dos grupos humanos que viveram (e vivem)

nos limites geograacuteficos de Goiaacutes as especificidades da cultura e do ambiente

do povo o denominador as relaccedilotildees estabelecidas entre os aglomerados

humanos e o ecossistema as caracteriacutesticas fiacutesico geograacuteficas da regiatildeo

(geomorfologia) estratos linguiacutesticos de origem diferente do uso hodierno da

liacutengua ou mesmo de liacutenguas jaacute desaparecidas para se conhecer as motivaccedilotildees

subjacentes aos respectivos topocircnimos (SIQUEIRA 2015 mimeografado)

Para este estudo utilizaram-se inicialmente as Folhas Topograacuteficas editadas pela DSG

(Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito) na escala de 1100 000 Folhas Pires do Rio

SE-22-X-D-III Ipameri SE-22-X-D-VI e Cristianoacutepolis SE-22-X-D-II de 1973 para

identificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio juntamente com o mapa da rede hidrograacutefica do

municiacutepio de Pires do Rio-GO pois satildeo ldquoinstrumentos metodoloacutegicos haacutebeis para o estudo

onomaacutestico a documentaccedilatildeo cartograacutefica referida e a arquivologia que se posicionam como fontes

idocircneas para o estabelecimento das etapas relativas agrave desconstruccedilatildeo e agrave recriaccedilatildeo dos proacuteprios dadosrdquo

(DICK 1999 p 11)

O uso de mapas torna o trabalho relevante jaacute que eles satildeo elementos de comunicaccedilatildeo

visual os quais pertencem agrave linguagem Eles contemplam ainda a aacuterea tecnoloacutegica pois a sua

construccedilatildeo se daacute por meio da utilizaccedilatildeo de equipamentos programas e sites os quais tambeacutem

satildeo utilizados por noacutes para cartografar mapas juntamente com as taxes dos topocircnimos dos

cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO assim

Tomar o mapa como corpus permite tomar tambeacutem a questatildeo da relaccedilatildeo dos

nomes no seu conjunto e sua distribuiccedilatildeo no espaccedilo urbano Pode-se entatildeo

refletir como algo proacuteprio do corpus em anaacutelise sobre a questatildeo da nomeaccedilatildeo

dos espaccedilos da cidade bem como o modo de distribuiccedilatildeo dos nomes pelos

espaccedilos historicamente constituiacutedos (GUIMARAtildeES 2005 p 43)

Tradicionalmente entendidos como uma representaccedilatildeo simboacutelica dos contornos de uma

paisagem fiacutesica ou urbana os mapas se caracterizam por permitirem dois planos de

64

interpretaccedilatildeo o ldquoverbalrdquo expresso nos nomes dos elementos e o ldquonatildeo-verbalrdquo caracterizado

por siacutembolos convencionais distintos segundo a natureza do elemento mapeado (cursos drsquoaacutegua

caminhos serras rodovias estradas vicinais ferrovias vilas povoados cidades)

A propoacutesito

Se o meacutetodo empregado na Toponiacutemia como dissemos eacute aquele da

investigaccedilatildeo do pormenor toacutepico-nominal apreendido no registro das cartas

geograacuteficas (base documental) ou como variaccedilatildeo no exame do terreno ou do

objeto pelo proacuteprio pesquisador o material resultante na maioria das vezes

eacute de origem descontiacutenua e fragmentaacuteria A sequecircncia loacutegica dos termos areais

deve ser buscada o que exige cuidados de intepretaccedilatildeo e reflexatildeo para que

todo esse organismo construiacutedo coletiva ou individualmente em momentos

histoacutericos distintos venha a se construir em material de anaacutelise vaacutelido do

ponto de vista linguiacutestico (DICK 2006 p 99-100)

Desta forma dos 46 (quarenta e seis) topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de

Pires do Rio-GO (coacuterregos ribeirotildees rios e quedas drsquoaacutegua) por noacutes elencados na pesquisa

apenas 15 topocircnimos ndash por razotildees especiacuteficas que seratildeo relatadas no quarto capiacutetulo ndash seratildeo

catalogados em fichas conforme modelo desenvolvido por Dick (2004) Posteriormente

realizaremos as anaacutelises morfoloacutegicas e a classificaccedilatildeo semacircntico-motivacional e toponiacutemica

propriamente dita

O preenchimento das fichas lexicograacuteficas ndash que identificam o elemento designado as

entradas lexicais o pesquisador o revisor e as fontes da coleta ndash eacute a etapa inicial de um conjunto

de fases posteriores que integram o projeto

As etapas da pesquisa foram dividas da seguinte forma a) levantamento dos dados para

construir o corpus e a aquisiccedilatildeo das cartas Topograacuteficas do municiacutepio de Pires do Rio-GO b)

levantamento dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua registrados nas folhas topograacuteficas c) anaacutelise

e reconhecimento dos aspectos ambientais culturais dos designativos nos diferentes topocircnimos

observados e posteriormente cartografados d) investigaccedilatildeo dos provaacuteveis fatores

motivacionais inerentes aos sintagmas toponiacutemicos e) classificaccedilatildeo das taxionomias a partir do

recorte epistemoloacutegico dos dados coletados f) distribuiccedilatildeo quantitativa dos topocircnimos de

acordo com a natureza toponiacutemica (fiacutesica ou antropocultural) g) estudo linguiacutestico dos

sintagmas toponiacutemicos ndash origemetimologia estruturas semacircntica e morfoloacutegica

Por meio da categorizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico

histoacuterico-criacutetico que foi o norte de nossa pesquisa de certa forma revela-se que o topocircnimo foi

determinado pela populaccedilatildeo anterior ou pela presenccedila de imigrados no local o que faz-nos

perceber que as palavras natildeo apenas comunicam o que se quer dizer mas acusam a Histoacuteria

daquilo que foi dito por necessidades dinacircmicas das pessoas repassadas pela tradiccedilatildeo cultural

65

O proacuteximo capiacutetulo apresenta em linhas gerais um pouco da histoacuteria desse lugar que

abriga 46 cursos drsquoaacutegua e inclusive teve seu primeiro nome devido agrave exuberacircncia do reflexo da

lua cheia nas aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute A ldquoTeteia do Corumbaacuterdquo de antes deu lugar ao

municiacutepio nascido dos caminhos abertos pelos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz laacute pelos idos

de 1922

66

III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO

A cidade eacute por si mesma depositaacuteria de

histoacuteria

(ROSSI 1998)

Este capiacutetulo traz uma apresentaccedilatildeo dos dados histoacutericos referentes agrave fundaccedilatildeo e ao

posterior desenvolvimento social e urbano do municiacutepio de Pires do Rio-GO criado em

decorrecircncia da expansatildeo da Estrada de Ferro Goyaz pelo cerrado goiano As informaccedilotildees aqui

revisitadas integram obras de estudiosos como Siqueira (2006) Ferreira (1999) Borges

(1990) Soares (1988) que se detiveram por alguma razatildeo no esclarecimento de controveacutersia

acerca principalmente do verdadeiro fundador do municiacutepio e de fatos que antecederam a

inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo feacuterrea no ano de 1922

31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte

No iniacutecio do seacuteculo XX a Estrada de Ferro Goyaz avanccedilou sobre o territoacuterio de Goiaacutes

e com isso comeccedilaram a surgir vilas arraiais e distritos que com o progresso e passar dos

anos se elevariam a cidades A entatildeo chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no interior do

estado mais precisamente na regiatildeo Sudeste Goiana fez com que no ano de 1922 surgisse a

Estaccedilatildeo Pires do Rio e que se elevaria tatildeo logo a cidade

A estrada de ferro traria progresso agraves cidades e ao estado No entanto de acordo com

Borges (1990) alguns coroneacuteis adversos a qualquer tipo de mudanccedila de caraacuteter progressista

natildeo aceitavam a instalaccedilatildeo da estrada de ferro pois ela representaria uma forccedila nova de

transformaccedilatildeo que poderia ameaccedilar o poder constituiacutedo dos coroneacuteis Mas na formaccedilatildeo de

Pires do Rio-GO a chegada da Estrada de Ferro Goyaz foi aceita pelo coronel Lino Teixeira de

Sampaio e inclusive foi doado o terreno para a construccedilatildeo de uma estaccedilatildeo feacuterrea

Vale ressaltar que

a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro de Goiaacutes resultou primeiro do empenho

poliacutetico de uma fraccedilatildeo da classe dominante ligada a novos grupos oligaacuterquicos

que despontavam como forccedila poliacutetica no Estado a qual contou com apoio do

capital financeiro internacional Em segundo lugar como a ferrovia servia

inteiramente aos interesses da economia capitalista ou seja agrave nova ordem

econocircmica com expansatildeo no Paiacutes este fator direta ou indiretamente

67

pressionaria o Governo Federal a apoiar a construccedilatildeo da linha (BORGES

1990 p 55-56)

O avanccedilo da estrada de ferro na regiatildeo Sudeste do estado de Goiaacutes foi fundamental para

o surgimento da cidade de Pires do Rio-GO Ambas as histoacuterias se entrecruzam e revelam

acontecimentos que corroboraram com a construccedilatildeo de uma cidade promissora Para

(re)escrever esta histoacuteria eacute fundante mostrar a ficha lexicograacutefica-toponiacutemica jaacute que o objeto

desta pesquisa satildeo os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua pertencentes a cidade de Pires do Rio-GO

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 01

Topocircnimo Pires do Rio Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Antropocircnimo

Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Pires + do Rio ndash sobrenome)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Cidade sede do distrito do municiacutepio do termo e comarca de

igual nome Na regiatildeo oriental do municiacutepio entre o ribeiratildeo Sampaio e o Monteiro afluentes

do rio Corumbaacute com estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goiaacutes

Fonte Siqueira (2012) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Como jaacute observando no capiacutetulo I os estudos toponiacutemicos revelam fatores soacutecio-

histoacuterico-culturais de uma dada comunidade e Pires do Rio-GO nos revela isso de forma

peculiar como podemos observar na ficha acima a caracterizaccedilatildeo do topocircnimo em que a

taxionomia eacute de natureza antropocultural antropotopocircnimo relativo a nomes proacuteprios e de

famiacutelia (sobrenome do ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas Dr Joseacute Pires do Rio) A base

etimoloacutegica eacute antropocircnimo a estrutura morfoloacutegica eacute de nome composto e as informaccedilotildees

enciclopeacutedias vecircm ratificar informaccedilotildees jaacute expressas na ficha Essas informaccedilotildees nos satildeo

precisas e no decorrer (re)editaremos partes relevantes da histoacuteria desta cidade

Observar o surgimento do municiacutepio de Pires do Rio eacute reviver a construccedilatildeo da linha

feacuterrea na regiatildeo Sudeste e para tal ato buscamos em algumas literaturas reconstruir em partes

a histoacuteria da cidade de Pires do Rio-GO que carinhosamente foi apelidada de ldquoTeteia do

68

Corumbaacuterdquo devido ao reluzir sobre as aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute a exuberacircncia da lua

cheia

Na histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade haacute controveacutersias pois alguns dizem ter sido o Coronel

Lino Teixeira de Sampaio o fundador mas Wilson Cavalcanti Nogueira filho do Sr Manoel

Cavalcanti Nogueira o primeiro Intendente da cidade em seus estudos revela que o fundador

de Pires do Rio foi o Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida diretor da Estrada de Ferro Goyaz

Nos estudos de Jacy Siqueira (2006) piresino historiador cujo livro Um contrato

singular e outros ensaios de histoacuteria de Goiaacutes descreve a origem da cidade de Pires do Rio

com base em documentos oficiais o autor citado presume a veracidade dos fatos que

contribuem para exposiccedilatildeo histoacuterica deste capiacutetulo jaacute que ldquoo tempo eacute agente terriacutevel a tudo

colhe separa peneira depura e evidencia ndash verdade ou mentira ndash com a forccedila e a violecircncia

decorrentes do pesado braccedilo da Histoacuteria de quem eacute o servidor fiel e mestre implacaacutevelrdquo

(SIQUEIRA 2006 p 65)

Em relaccedilatildeo aos fatos que marcam o iniacutecio da fundaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidade de Pires

do Rio os historiadores remetem a inuacutemeras controveacutersias sobre a fundaccedilatildeo e os reais

fundadores e tambeacutem sobre a existecircncia de um povoado que competia com o Roncador em

1921 que mais tarde nos arquivos seria o Bairro do Fogo hoje Santa Ceciacutelia O local Rua do

Fogo eacute toda a parte situada do outro lado da linha feacuterrea

Rua do Fogo na descriccedilatildeo de Nogueira se formou pela atraccedilatildeo de pessoas de

diversas regiotildees com o intuito de negociar e prestar serviccedilos diversificados

aos operaacuterios da Estrada eram lavadeiras curandeiro sapateiro padeiro

professor primaacuterio fotoacutegrafo meretrizes e aventureiros Configurando um

povoamento tiacutepico do pioneirismo cada dia mais pessoas chegavam

predominantemente aventureiros muitos deles ateacute mesmo com passado

criminal As casas sendo erguidas raacutepidas e improvisadamente perfilaram-se

em ambos lados ao longo de uma rua irregular que era cenaacuterio de constantes

desordens e violecircncias ganhando por isso o nome de Rua do Fogo A

constante chegada de pessoas levou o povoado a competir em dimensatildeo com

a vizinha Roncador jaacute em 1921 (FERREIRA 1999 p 100)

O Porto do Roncador em 24 de agosto de 1921 recebe a visita do Ministro da Viaccedilatildeo

e Obras Puacuteblicas Engenheiro Sr Joseacute Pires do Rio que na qualidade anterior de Inspetor Geral

das Estradas de Ferro havia se posicionado contraacuterio ao prolongamento da ferrovia no Estado

de Goiaacutes Na ocasiatildeo ficou resolvido que a ponte sobre o rio Corumbaacute deveria se chamar Ponte

Pires do Rio e a primeira estaccedilatildeo a seguir Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio Pessoa mas ocorreu o

contraacuterio Essa informaccedilatildeo foi publicada inclusive nos meios de comunicaccedilatildeo da eacutepoca

69

A Informaccedilatildeo Goyana revista fundada por Henrique Silva que se edita no

Rio de Janeiro na sua ediccedilatildeo de agosto de 1921 (Ano V Vol V n ordm 1 p 1)

traz a reportagem ldquoO Ministro de Viaccedilatildeo Visita o Estado de Goiaacutesrdquo Destaca-

se dela

Tem-se resolvido que a primeira estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz aleacutem

Roncador se denomine ndash Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio

A ponte do Corumbaacute segundo solicitaccedilatildeo dos que tomaram parte na recepccedilatildeo

do Sr ministro da Viaccedilatildeo seraacute denominada ndash Ponte Pires do Rio (SIQUEIRA

2006 p 44 grifos do autor)

As obras estavam a todo vapor e enquanto aguardavam a conclusatildeo da ponte sobre o

rio Corumbaacute os serviccedilos de movimentaccedilatildeo de terra eram feitos aleacutem da outra margem do rio

tendo jaacute avanccedilado ateacute Tavares quilocircmetro 303 da ferrovia distante 84 quilocircmetros de

Roncador O local da estaccedilatildeo de Pires do Rio situa-se no quilocircmetro 218 pouco distante do rio

na Comarca de Santa Cruz em terras da Fazenda do Brejo ou do Sampaio de propriedade do

fazendeiro local coronel Lino Teixeira de Sampaio

No dia 13 de julho de 1922 no momento de inauguraccedilatildeo da ponte metaacutelica construiacuteda

sobre o rio Corumbaacute fez-se a inversatildeo do que o Senhor Ministro havia solicitado pois ela

recebeu o nome do presidente da repuacuteblica (Epitaacutecio Pessoa) troca esta feita pelo diretor da

Estrada de Ferro Goyaz o engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida

A execuccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa significou a integraccedilatildeo das demais regiotildees goianas

no desenvolvimento econocircmico uma vez que o rio Corumbaacute representava uma onerosa barreira

econocircmica para a produccedilatildeo dessas regiotildees Pires do Rio primeira estaccedilatildeo na outra margem do

Corumbaacute prometia ser um entreposto regional devido agrave sua possiacutevel ligaccedilatildeo por terra com

antigos e promissores municiacutepios isolados pelo rio e que natildeo foram contemplados com a

ferrovia Santa Cruz de Goiaacutes Bela Vista Piracanjuba Caldas Novas e Morrinhos O que veio

concretizar essa possibilidade foi a disposiccedilatildeo do coronel Lino Teixeira de Sampaio em doar

terras agrave Estrada de Ferro Goyaz para juntamente com a estaccedilatildeo fundar no local uma cidade

Nesse aspecto seu empenho foi aacutegil e eficiente dois planos urbanos que vieram garantir para

os pioneiros a certeza da existecircncia de uma cidade no local (FERREIRA 1999)

Nas bases da histoacuteria da rede feacuterrea segundo Ferreira (1999) quando da inauguraccedilatildeo

da estaccedilatildeo Pires do Rio foi tambeacutem decretada a fundaccedilatildeo da cidade registrada em obelisco

erguido no largo de frente agrave estaccedilatildeo hoje a praccedila do mercado municipal considerando-se como

fundador o engenheiro da ferrovia Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida e designando a cidade

pelo nome (uma homenagem) do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas engenheiro Joseacute

Pires do Rio

70

Houve tambeacutem a intenccedilatildeo por parte do Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida em deixar a

estaccedilatildeo de Pires do Rio como ponta de linha para que se desenvolvesse rapidamente Finda a

raacutepida inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo seguiu tambeacutem o engenheiro no ldquotrem Inauguralrdquo rumo a

Tapiocanga ndash a proacutexima estaccedilatildeo depois de Pires do Rio ndash para inaugurar sua estaccedilatildeo

improvisada em um simples vagatildeo pois era um local onde natildeo havia nenhuma edificaccedilatildeo

passando mesmo assim a ser a ponta de linha

No dia 9 de novembro de 1922 eacute inaugurado o obelisco a cerca de 50 metros da estaccedilatildeo

ferroviaacuteria jaacute edificada considerada a pedra fundamental da cidade de Pires do Rio Encontra-

se grafado no monumento em alto-relevo que o Engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida na

eacutepoca diretor da Estrada de Ferro de Goyaz era o fundador da cidade de Pires do Rio uma

ldquofraserdquo que tem gerado algumas controveacutersias acerca do verdadeiro fundador da cidade

(SIQUEIRA 2006)

Enquanto alguns escritores piresinos e familiares alimentam a disputa ideoloacutegica no

niacutevel da influecircncia poliacutetica do coronel Lino Teixeira de Sampaio corroborada pela doaccedilatildeo de

um terreno para a construccedilatildeo da cidade outros tecircm se debruccedilado sobre as criacuteticas advindas do

meio acadecircmico local uma vez que o aniversaacuterio da cidade natildeo coincide com a data da escritura

de doaccedilatildeo das terras 05 de julho de 1922 mas com a data oficial inscrita na pedra fundacional

feita pelo Diretor da Estrada de Ferro Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida 09 de novembro de

1922

Siqueira (2006) eacute um dos estudiosos que argumentam a favor da tese de que o fundador

da cidade eacute o coronel Lino Teixeira de Sampaio Desta forma para corroborar o ato de doaccedilatildeo

da gleba de terra Siqueira (2006) recorreu aos livros de registros do Cartoacuterio de Imoacuteveis da

Comarca de Santa Cruz de Goiaacutes onde se encontra a escritura puacuteblica lavrada no dia 5 de julho

de 1922 pois na eacutepoca as terras pertenciam a este referido municiacutepio a qual nos informa que

por eles [Lino e Rozalina] foi dito que de suas livres e espontacircneas vontades

e sem coaccedilatildeo alguma doam agrave Estrada de Ferro de Goyaz com (4) alqueires

de terreno de campo divididos e demarcados nesta fazenda do ldquoBrejordquo

conforme consta na planta confeccionada pela dita Estrada de Ferro e bem

assim a aacutegua necessaacuteria ao abastecimento da Estaccedilatildeo jaacute edificada dentro destes

quatros alqueires Declaram mais os doadores que fazem a doaccedilatildeo dos

referidos terrenos agrave Estrada de Ferro de Goyaz sem que a mesma Estrada tenha

obrigaccedilatildeo de espeacutecie alguma cabendo-lhe apenas Dividir o terreno doado em

pequenos lotes para que seja dado iniacutecio agrave edificaccedilatildeo de uma pequena Cidade

excluindo o referido a faixa necessaacuteria agrave Estaccedilatildeo arrendar os lotes e aplicar

as rendas em melhoramentos da futura Cidade e edificaccedilatildeo de um Grupo

Escolar natildeo admitir seja construiacutedo preacutedio algum sem que seja previamente

aprovada pela diretoria da Estrada a respectiva planta (SIQUEIRA 2006 p

29)

71

Entretanto os fatos histoacutericos remetem agrave data de 09 de novembro como sendo de

fundaccedilatildeo da cidade jaacute que essa data se justifica pela inauguraccedilatildeo (documentada) da estaccedilatildeo

ferroviaacuteria Pires do Rio embora para Siqueira (2006) a data de fundaccedilatildeo da cidade seja o dia

05 de julho de 1922 data que coincide com a da escritura puacuteblica de doaccedilatildeo das terras agrave Estrada

de Ferro Goyaz

Siqueira (2006) ainda acrescenta as suas consideraccedilotildees acerca do fato de que o coronel

Lino Teixeira de Sampaio aleacutem de doar os quatro alqueires de terra accedilatildeo que outros

fazendeiros das estaccedilotildees seguintes natildeo tiveram apresentou um projeto urbano (planta) da

cidade a ser erguida nas proximidades da estaccedilatildeo projeto este de autoria de um engenheiro da

Estrada Aacutelvaro Pacca que foi apresentado e aprovado pela direccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz

em 1ordm de janeiro de 1922

De acordo com Ferreira (1999) acredita-se que no local definitivo da estaccedilatildeo por volta

do ano de 1923 apresentou-se outro projeto para a construccedilatildeo da cidade desta vez solicitado

ao topoacutegrafo da Estrada de Ferro Moacir de Camargo A cidade de Pires do Rio ficaria sendo

entatildeo a primeira cidade do Centro-Oeste a nascer com planejamento preacutevio antes de Goiacircnia

ou Brasiacutelia

O momento em que a cidade comeccedila a surgir de acordo com Nogueira (sd) fez com

que a populaccedilatildeo do Roncador migrasse toda para laacute carregando tudo aquilo que lhes pertencia

inclusive o material de construccedilatildeo das casas que foram demolidas construindo novas moradias

no local escolhido para tal fim Esse fato de mudar de um arraial para outro segundo Ferreira

(1999) veio a constituir o fenocircmeno por ele denominado de fagocitose pois para a formaccedilatildeo

da cidade Pires do Rio o arraial do Roncador extinguiu-se para vigorar a nascente cidade como

se observa nos dizeres abaixo

Pires do Rio crescia em terras de Santa Cruz municiacutepio de projeccedilatildeo

econocircmica e poliacutetica no Estado que dominou todo o sudeste e parte do sul de

Goiaacutes O arraial de origem fundado em 1729 teve seu valor econocircmico

firmado na extraccedilatildeo auriacutefera passando agrave Julgado de Santa Cruz em 1809 com

seu territoacuterio de influecircncia sobre uma extensa aacuterea Emancipou-se agrave Vila em

1833 quando Goiaacutes foi dividido em quatro Comarcas sendo Santa Cruz uma

delas Terminado o ciclo do ouro sua economia voltou-se durante o seacuteculo

XIX para a pecuaacuteria extensiva a agricultura e primitivo processamento da

produccedilatildeo agriacutecola sobrepondo-se agraves outras cidades de economia auriacutefera em

estagnaccedilatildeo A emancipaccedilatildeo de seus distritos ao longo do seacuteculo XIX foi-lhe

tirando a extensatildeo de seu poder territorial e de jurisdiccedilatildeo mas natildeo seu poder

econocircmico e poliacutetico no Estado Essa situaccedilatildeo veio a se alterar com a chegada

da Estrada de Ferro Goiaacutes (FERREIRA 1999 p 136)

72

As construccedilotildees jaacute haviam se iniciado e comeccedilara a chegar os novos moradores oriundos

de vaacuterias partes do paiacutes e do mundo que solidificariam a comunidade piresina Os baianos e os

aacuterabes foram os primeiros migrantes a chegarem e fixarem-se acreditando na futura cidade Os

baianos e outros nordestinos foram atraiacutedos pela frente de trabalho criada pela construccedilatildeo da

ferrovia Os italianos e espanhoacuteis tambeacutem se fizeram presentes na comunidade local No

entanto a maioria dos migrantes foram mesmo paulistas e mineiros Os estrangeiros tais como

italianos espanhoacuteis e principalmente aacuterabes foram partes integrantes da elite dominante

(FERREIRA 1999)

Pires do Rio se elevou a distrito do Municiacutepio de Santa Cruz em 23 de agosto de 1924

pela Lei nordm 66 E em 7 de julho de 1930 pela Lei nordm 903 foi criado o municiacutepio de Pires do

Rio E tatildeo logo pelo Decreto de ndeg 522 de 8 de janeiro de 1931 publicado no Correio Officcial

ndeg 1819 paacutegina 3 de 19 de abril do mesmo ano (SIQUEIRA 2006) oficializou a transferecircncia

da Comarca de Santa Cruz para a cidade de Pires do Rio

Na deacutecada de 30 estabelecia-se o comeacutercio na cidade de Pires do Rio natildeo tinha um

centro comercial propriamente dito mas algumas casas de comeacutercio espalhadas pela cidade

(FERREIRA 1999) A instalaccedilatildeo da energia eleacutetrica em 1934 deu um impulso agrave agroinduacutestria

local iniciada com a charqueada em 1924 e logo apoacutes por uma maacutequina beneficiadora de arroz

serraria faacutebrica de manteiga padarias curtume e outros pequenos centros de produccedilatildeo com

isso a necessidade de matildeo-de-obra impulsionava o crescimento da populaccedilatildeo jaacute que muitos

eram empregados pela via feacuterrea desta forma a vinda de imigrantes a nova cidade era

necessaacuterio Com o crescimento da cidade e da sua populaccedilatildeo foram necessaacuterias benfeitorias

que foram ocorrendo no decorrer dos anos

De acordo com Siqueira (2006) Pires do Rio se desenvolveu de forma diferenciada das

centenaacuterias cidades de Goiaacutes visto que a maioria se formou por tradicionais enraizados e

familiocratas grupos poliacuteticos ou simplesmente ldquooligarquiasrdquo o que permitiu uma abertura e

receptividade ao novo e ao desconhecido como paracircmetro coerente para a construccedilatildeo de uma

comunidade nascente No periacuteodo de 1921 a 1940 correspondentemente agrave cidade em sua

afirmaccedilatildeo poliacutetica e urbana foi composta por migrantes e imigrantes que se estabeleciam na

prestaccedilatildeo de serviccedilo agroinduacutestria e comeacutercio tudo isso oriundo da formaccedilatildeo da cidade pela

Estrada de Ferro Goyaz

Um fato ainda natildeo informado eacute que no ano de 1933 o municiacutepio era constituiacutedo de dois

distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Jaacute no decreto-lei nordm 5200 de 08 de dezembro de 1934

Pires do Rio eacute ldquorebaixadordquo agrave categoria de distrito do municiacutepio de Santa Cruz haja vista que

73

em divisotildees territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937 Pires do Rio figura como distrito

de Santa Cruz (IBGE 2016)

Em 03 de marccedilo de 1938 pelo Decreto-lei nordm 557 Pires do Rio retorna agrave categoria de

municiacutepio e Santa Cruz agrave de distrito No periacuteodo de 1939-1943 o municiacutepio aparece constituiacutedo

de trecircs distritos Pires do Rio Santa Cruz e Cristianoacutepolis O distrito de Santa Cruz pelo

Decreto-lei nordm 8305 de 31 de dezembro de 1943 passou a denominar-se Corumbalina Mas

pelo Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias de 20 de julho de 1947 Artigo 61

desmembrou-se do municiacutepio de Pires do Rio e foi elevado agrave categoria de municiacutepio com a

denominaccedilatildeo de Santa Cruz de Goiaacutes (IBGE 2016)

Em divisatildeo territorial datada de 1 de julho de 1950 o municiacutepio eacute constituiacutedo de dois

distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Depois pela lei municipal nordm 221 de 15 de julho 1953

eacute criado o distrito de Palmelo e anexado ao municiacutepio de Pires do Rio A lei estadual nordm 739 de

23 de junho de 1953 desmembra do municiacutepio de Pires do Rio o distrito de Cristianoacutepolis

elevado entatildeo agrave categoria de municiacutepio Rapidamente o distrito de Palmelo pela lei estadual

nordm 908 de 13 de novembro de 1953 eacute desmembrado do municiacutepio de Pires do Rio e elevado agrave

categoria de municiacutepio (IBGE 2016)

A ferrovia foi um marco na histoacuteria de Pires do Rio uma vez que o transporte ferroviaacuterio

era utilizado para escoar a produccedilatildeo Aleacutem disso a instalaccedilatildeo do Frigoriacutefico Brasil Central

estimulou a produccedilatildeo da pecuaacuteria de corte Nas deacutecadas de 1950 e 1960 destacou-se por

exportar o charque e pela produccedilatildeo de cerveja Jaacute com a construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 e a

implantaccedilatildeo das rodovias favoreceu-se a sua interligaccedilatildeo aos outros municiacutepios goianos

O fluxo de cargas e pessoas pela via ferroviaacuteria entre os anos de 1940 a 1950 apresentava

regularidade mas devido agrave construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 de 1965 a 1970 apresentou uma

queda gradativa por deficiecircncia teacutecnica das linhas falta de manutenccedilatildeo delas e dos

equipamentos lentidatildeo do transporte o que provocou em 1970 a desativaccedilatildeo do transporte de

passageiros A Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima (RFFSA) foi privatizada em 1996

e a Ferrovia Centro Atlacircntica (FCA) adquiriu 7080 km de extensatildeo operando 685 km em

Goiaacutes tendo adotado uma nova poliacutetica investindo dois milhotildees de reais na ferrovia

desativando vaacuterias estaccedilotildees (NOVAIS 2014) Na Estaccedilatildeo Pires do Rio ficou funcionando

apenas o escritoacuterio da FCA e o Museu Ferroviaacuterio e na Estaccedilatildeo Roncador uma oficina de

manutenccedilatildeo de vagotildees

Segundo Novais (2014) a ferrovia enquanto elemento modernizador do Sudeste

Goiano e instrumento capaz de aumentar as aglomeraccedilotildees urbanas e dinamizar o progresso da

regiatildeo de acordo com os novos interesses dominantes sempre esteve sob o controle do poder

74

econocircmico estatal ou de grupos Sua expansatildeo justificou-se em detrimento dos interesses

capitalistas e imperialistas Portanto a estrada de ferro eacute um produto da induacutestria capitalista da

Primeira Revoluccedilatildeo Industrial colocada a serviccedilo do capital e resultante das transformaccedilotildees

ocorridas no processo de expansatildeo do capitalismo no Brasil e no mundo (BORGES 1990) O

Estado de Goiaacutes ao inserir-se na dinacircmica capitalista e implantar a via feacuterrea em seu territoacuterio

conseguiu integrar-se ao mercado brasileiro aleacutem de mitigar anos de atraso e isolamento

econocircmico

32 Pires do Rio geograacutefico

O municiacutepio de Pires do Rio localiza-se na Microrregiatildeo do Sudeste Goiano inserida

na Mesorregiatildeo Sul Goiano A Microrregiatildeo eacute reconhecida como a regiatildeo da Estrada de Ferro

Limita-se com os municiacutepios goianos de Orizona Vianoacutepolis Urutaiacute Caldas Novas Satildeo

Miguel do Passa Quatro Santa Cruz de Goiaacutes Palmelo Cristianoacutepolis e Ipameri A aacuterea da

unidade territorial (kmsup2) eacute de 1073361 com uma altitude meacutedia de 75886 O municiacutepio

encontra-se entre as seguintes coordenadas geograacuteficas

Mapa 1 ndash Pires do Rio (GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio (GO)

75

A cidade de Pires do Rio eacute constituiacuteda por riquezas naturais do bioma Cerrado o qual

apresenta uma heterogeneidade na sua fisionomia pois engloba desde formaccedilotildees florestais

como as Matas Ciliares (vegetaccedilatildeo que fica nas margens dos rios) e Cerradatildeo aleacutem do Cerrado

restrito (eacute o Cerrado tiacutepico formado por vegetaccedilotildees arboacutereas de casca grossa e troncos

retorcidos) com formaccedilotildees vegetais ou herbaacuteceas (campo sujo e limpo)

Uma das caracteriacutesticas marcantes do Cerrado eacute sua riqueza em recursos hiacutedricos e Pires

do Rio natildeo foge agrave regra Servindo de fronteiras naturais para o municiacutepio tem-se o rio do Peixe

na parte norte A parte sul do municiacutepio desagua no rio Corumbaacute que tambeacutem eacute utilizado como

fronteira natural e eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio Aleacutem destes tem o rio Piracanjuba

que devido agrave sua estrutura rochosa e seu volume de aacutegua foi palco da construccedilatildeo de uma usina

hidreleacutetrica em meados do seacuteculo XX que abastecia a cidade embora hoje encontre-se em

ruiacutenas

Aleacutem dos trecircs rios o municiacutepio possui ao longo de todo seu o territoacuterio vaacuterias

nascentes coacuterregos ribeirotildees quedas drsquoaacutegua os quais satildeo todos afluentes do rio Corumbaacute

Vale ressaltar que a maioria dos cursos drsquoagua satildeo perenes ou seja tem aacutegua o ano todo por

isso muitos deles tem o nome da regiatildeo em que se encontra pois satildeo objetos marcantes na

paisagem

Segundo o IBGE (1957) a populaccedilatildeo piresina no Recenseamento de 1950 era de

12946 habitantes (inclusive a populaccedilatildeo dos atuais municiacutepios de Cristianoacutepolis e Palmelo ndash

na eacutepoca distritos de Pires do Rio) apresentando quadro urbano e suburbano com uma

populaccedilatildeo de 4836 habitantes sendo 2282 homens e 2554 mulheres A densidade

demograacutefica era de 12 habitantes por quilocircmetro quadrado verificando-se que 53 da

populaccedilatildeo localizava-se no quadro rural

Na deacutecada de 50 o municiacutepio de Pires do Rio tinha um nuacutecleo populacional que era o

povoado de Marataacute aleacutem da sede (como jaacute mencionado no ano de 1953 os distritos de

Cristianoacutepolis e Palmelo satildeo elevados a municiacutepio) Mas com o passar dos anos ele deixa de

existir ficando apenas a Igreja de Satildeo Sebastiatildeo As atividades econocircmicas do municiacutepio eram

predominantemente a produccedilatildeo agriacutecola e pecuaacuteria O municiacutepio apresentava-se como um local

de atraccedilatildeo recreativa pela sua beleza paisagiacutestica a qual pode ser observada na cachoeira do

Salto no rio Piracanjuba jaacute mencionado onde foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica que forneceu

energia agrave cidade ateacute meados do seacuteculo XX

A populaccedilatildeo em 2010 era de 28762 habitantes sendo 14105 homens e 14657

mulheres Predominantemente urbana com 27094 pessoas e apenas 1668 no meio rural Pires

do Rio apresenta uma aacuterea de 1073361 km2 e uma densidade demograacutefica de 2680 habkmsup2

76

O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) do municiacutepio eacute de 0744 A Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa (PEA) eacute de 8717 homens e 6128 mulheres (IBGE 2016)

De acordo com os dados populacionais desde o Recenseamento da deacutecada de 50 (dados

jaacute mostrados anteriormente) a cidade teve um crescimento consideraacutevel como pode ser

observado nos quadros abaixo

Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo recenseamento

Populaccedilatildeo Censitaacuteria

1980 1991 2000 2010

Total de habitantes 19258 22131 26229 28762

Urbano 16670 20537 24473 27094

Zona Rural 2588 1594 1756 1668

Masculino 9498 10904 12948 14105

Feminino 9760 11227 13281 14657

Urbano Masculino 8098 10027 11966 13208

Urbano Feminino 8572 10510 12507 13886

Zona Rural Masculino 1400 877 982 897

Zona Rural Feminino 1188 717 774 771

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Nos dados que satildeo apresentados pelo IBGE (populaccedilatildeo estimada) entre os anos 2001 e

2004 ocorreu uma queda no crescimento populacional em relaccedilatildeo ao ano de 1999 que foi de

28631 e nos demais anos segue 2001 26600 2002 27091 2003 27491 2004 28332 A

respeito desta queda natildeo conseguimos informaccedilotildees Em duas datas especiacuteficas houve uma

contagem da populaccedilatildeo seguem os dados abaixo

Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo contagem

Populaccedilatildeo Contagem

1996 2007

Total de habitantes 25094 26857

Masculino 12403 13232

Feminino 12691 13574

Urbano 23766 25031

77

Zona Rural 1328 1826

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Os dados inseridos no quadro 3 satildeo uma estimativa da populaccedilatildeo informada pelo IMB

e IBGE

Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio (GO)

Populaccedilatildeo Estimada

2011 2012 2013 2014 2015

28956 29145 30232 30469 30703

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Para entreter a populaccedilatildeo o turismo do municiacutepio estaacute relacionado agraves edificaccedilotildees com

relevacircncia arquitetocircnica e cultural como a Ponte Epitaacutecio Pessoa o antigo Frigoriacutefico Brasil

Central as igrejas Satildeo Sebastiatildeo (Patrimocircnio do Marataacute) Satildeo Benedito (Igreja dos Congos) a

Ferrovia Centro Atlacircntica e o Museu Ferroviaacuterio O patrimocircnio material eacute representado pelo

centro histoacuterico principalmente a Igreja Matriz Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus coreto e chafariz da

Praccedila Gaudecircncio Rincon Segoacutevia o Mercado Municipal a Biblioteca Municipal a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria e a casa do Maneco (hoje em ruiacutenas) que formam um conjunto arquitetocircnico

singular como tambeacutem as belezas naturais das Serras da Caverna e das Flores a cachoeira do

Marataacute e Prainha (as margens do rio Corumbaacute)

De acordo com Novais (2014) nos anos de 1980 o municiacutepio conheceu a expansatildeo da

fronteira agriacutecola com a introduccedilatildeo do cultivo da soja logo apoacutes em 1993 atraiu investimentos

com a implantaccedilatildeo do complexo agroindustrial aviacutecola e a industrializaccedilatildeo do setor

contribuindo para o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que perpassou a regiatildeo do Sudeste

Goiano Atualmente a economia piresina eacute voltada para as atividades agriacutecolas como a

produccedilatildeo de soja milho sorgo arroz feijatildeo e mandioca

O comeacutercio a infraestrutura e serviccedilos (sauacutede educaccedilatildeo comeacutercio e prestaccedilatildeo de

serviccedilos) exercem funccedilatildeo de polo atrativo para moradores dos municiacutepios vizinhos Toda a

importacircncia do municiacutepio para a regiatildeo o estado e o paiacutes se deve agrave instalaccedilatildeo da Estrada de

Ferro Goyaz e aos que acreditaram no crescimento de Pires do Rio e investiram em seu

territoacuterio Por esta razatildeo que parte de nossa pesquisa busca reviver fragmentos da histoacuteria desta

cidade que se faz importante para uma regiatildeo estado e paiacutes

78

33 Os cursos drsquoaacutegua

No quadro abaixo apresentamos os nomes dos cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio

levantamento realizado de acordo com os mapas cartas topograacuteficas e vocabulaacuterio do IBGE

(1957)

Quadro 6 ndash Cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO)

Vocabulaacuterio Geograacutefico ndash IBGE (1957)

Rio ndash 3 Paacutegi

na

Descriccedilatildeo Municiacutepio de

Nasceste

Rio Corumbaacute 75 Rio nasce nos arredores de Pirineus

atravessa o municiacutepio como o de Santa

Luzia depois de servir em pequeno trecho

de divisa a Bonfim Adiante separa Ipameri

e Corumbaiacuteba de um lado e Campo

Formoso Pires do Rio Caldas Novas Buriti

Alegre do outro ateacute desaguar no rio

Paranaiacuteba pela margem direita

Corumbaacute

Rio do Peixe 165 Rio nasce na regiatildeo sul-oriental do

municiacutepio que separa dos de Campo

Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio

e o de Caldas Novas desemboca no rio

Corumbaacute pela margem direita

Silvacircnia

Rio Piracanjuba 171 (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce

na serra de Passa Quatro e atravessa o

municiacutepio bem como o de Pouso Alto

Adiante separa Caldas Novas de Morrinhos

e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio

Corumbaacute pela margem direita

Bela Vista

Coacuterrego ndash 34

Coacuterrego Areias 15 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Pires do Rio

Coacuterrego Barreiro - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia

Coacuterrego do

Barreiro

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Piracanjuba

Coacuterrego dos Batista - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Bauzinho 29 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Bauacute

Orizona

Coacuterrego da Braga 37 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Santa Maria

Luziacircnia

79

Coacuterrego Boa Vista 32 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Buracatildeo 40 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Buriti 42 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio dos Bois

Pires do Rio

Coacuterrego Cachoeira 47 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Piracanjuba

Silvacircnia

Coacuterrego Capoeira

Grande

60 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Cachoeira

Orizona

Coacuterrego Carvalho - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego da Caverna 66 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio dos Peixes (M de Pires do Rio)

Pires do Rio

Coacuterrego Corrente - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Domingo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego da Estiva 88 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Brumado

Pires do Rio

Coacuterrego Fundatildeo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Cocalzinho de

Goiaacutes

Coacuterrego Guaraacute 106 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Itauacutebi - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Juca - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Lajinha 124 Coacuterrego afluente da margem direita do

coacuterrego Taperatildeo

Orizona

Coacuterrego Laranjal 126 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Bauacute

Pires do Rio

Coacuterrego Limeira 128 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Ipameri

Coacuterrego Marreco 136 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Bauacute

Orizona

Coacuterrego Mata

Dentro

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego do

Mocambo

144 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

das Antas

Silvacircnia

Coacuterrego Olho

drsquoaacutegua

152 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Piracanjuba

Orizona

Coacuterrego do Pico 168 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Brumado

Pires do Rio

Coacuterrego

Piracanjuba

171 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

igual nome

Morrinhos

Coacuterrego Posse 177 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

coacuterrego do Fundo

Orizona

80

Coacuterrego Satildeo

Jerocircnimo

202 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Caiapoacute

Pires do Rio

Coacuterrego Saltador 193 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute proacuteximo a barra do rio

Alagado

Luziacircnia

Coacuterrego Taquaral 217 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute (M de Pires do Rio)

Pires do Rio

Coacuterrego da Terra

Vermelha

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia

Ribeiratildeo ndash 8

Ribeiratildeo Bauacute 29 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Piracanjuba na divisa do municiacutepio de Pires

do Rio

Orizona

Ribeiratildeo Brumado 33 Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do

rio dos Peixes

Santa Cruz de

Goiaacutes

Ribeiratildeo Cachoeira 47 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Piracanjuba

Orizona

Ribeiratildeo Caiapoacute 50 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Urutaiacute

Ribeiratildeo Marataacute - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Ribeiratildeo Mucambo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Ribeiratildeo Sampaio 194 Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da

margem direita do rio Corumbaacute (M de

Pires do Rio)

Pires do Rio

Ribeiratildeo Taquaral - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Orizona

Quedas drsquoaacutegua ndash 1

Cachoeira do

Marataacute

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Fonte Vocabulaacuterio Geograacutefico IBGE 1957

O quarto capiacutetulo apresenta a descriccedilatildeo e anaacutelise de quinze dos 46 topocircnimos (escolha

esta pela relaccedilatildeo de representaccedilatildeo para a cidade de Pires do Rio-GO) de acordo com os aportes

teoacutericos revisados no primeiro capiacutetulo e em consonacircncia com os meacutetodos apresentados e

discutidos no segundo capiacutetulo apresenta ainda algumas questotildees teoacutericas suscitadas pelas

especificidades dos dados escolhidos

81

IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR

O signo toponiacutemico natildeo abre apenas o nome de

um lugar mas o lugar como um todo tudo que estaacute

relacionado a ele de uma forma ou de outra

(SIQUEIRA 2015)

Nos colocar a serviccedilo desta pesquisa foi o mesmo que redescobrir a cidade de Pires do

Rio-GO Conhecer a sua histoacuteria e poder reeditaacute-la remapear os seus cursos drsquoaacutegua e por fim

buscar na Toponiacutemia as relaccedilotildees de poder que os topocircnimos tecircm sobre cada espaccedilo nomeado

assim tomamos posse do que esta pesquisa nos proporcionou e aqui estaacute o aacutepice dela os dados

e suas anaacutelises

Segundo Dias (2008) o municiacutepio de Pires do Rio-GO tem como principais cursos

drsquoaacutegua o rio Corumbaacute situado na parte sudeste o rio Piracanjuba no nordeste e rio do Peixe

na parte sul os quais correm em direccedilatildeo agrave calha do rio Paranaiacuteba (uma das quatro bacias

hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes) ao sul Os rios do Peixe e Piracanjuba desaguam no

Corumbaacute sendo limites de fronteiras do municiacutepio Aleacutem desses rios a rede hidrograacutefica eacute

formada por vaacuterios ribeirotildees e coacuterregos

Para proceder com as devidas anaacutelises dos topocircnimos nos eacute necessaacuterio partir de algumas

definiccedilotildees de nomenclaturas da aacuterea da geografia mas natildeo tivemos acesso a nenhum dicionaacuterio

terminoloacutegico da aacuterea especiacutefica devido agrave dificuldade de encontrar em bibliotecas puacuteblicas e

na internet desta forma recorremos aos dicionaacuterios Aulete (2011) Borba (2004) e Houaiss et

al (2004 2009) para assim proceder com a definiccedilatildeo de palavras (termos) que satildeo recorrentes

em nossa pesquisa a) curso drsquoaacutegua eacute qualquer corpo de aacutegua fluente b) coacuterrego um rio

pequeno com pouco volume de aacutegua que passa por vaacuterios lugares e sempre desagua em um

curso drsquoaacutegua (coacuterrego ribeiratildeo ou rio) c) queda drsquoaacutegua torrente de aacutegua que cai do alto

cachoeiracascata que satildeo formaccedilotildees geomorfoloacutegicas nas quais os cursos drsquoaacutegua correm por

cima de uma rocha de composiccedilatildeo resistente agrave erosatildeo formando uma suacutebita quebra na vertical

d) ribeiratildeo curso drsquoaacutegua maior que o riacho e menor que o rio afluente de um rio e) rio ou

fluacutemen eacute uma corrente natural de aacutegua que flui continuamente Possui um caudal consideraacutevel

e desemboca no mar num lago ou noutro rio e em tal caso denomina-se afluente Pode

apresentar vaacuterias redes de drenagem

Proceder com estas observaccedilotildees eacute elementar para esta pesquisa pois dos 46 topocircnimos

elencados no municiacutepio de Pires do Rio-GO analisaremos apenas 15 visto que analisar todos

82

os topocircnimos seria uma tarefa aacuterdua e que demandaria mais tempo registramos aqui o que nos

motivou agrave escolha dos cursos drsquoaacutegua para anaacutelise Como satildeo apenas 03 rios eacute viaacutevel e de bom

senso analisaacute-los jaacute que satildeo as maiores bacias e que datildeo destaque agrave regiatildeo os ribeirotildees satildeo

especificamente 08 os quais seratildeo analisados inclusive alguns nomes se repetem aos coacuterregos

tambeacutem 01 queda drsquoaacutegua cachoeira do Marataacute que natildeo seraacute analisada devido ao nome ser o

mesmo de um ribeiratildeo dos 34 coacuterregos analisaremos apenas 04 (Barreiro Itauacutebi Laranjal e da

Terra Vermelha) devido ao grau de importacircncia para a cidade pois os coacuterregos Itauacutebi (nascente)

e Laranjal satildeo os que abastecem a cidade de Pires do Rio-GO Quanto ao Barreiro este estaacute

localizado na regiatildeo do Morro do Cruzeiro localidade que tem o maior nuacutemero populacional

na zona rural do municiacutepio O coacuterrego da Terra Vermelha eacute uma aacuterea que haacute muito tempo foi

espaccedilo de olaria e dela saiacuteram grandes quantidades de tijolos que foram utilizados nas

construccedilotildees de casas na cidade e tambeacutem pertence a uma localidade onde existiu o povoado do

Marataacute na deacutecada de 50

No mapa 2 apresentamos os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do

Rio-GO bem como aparecem em destaque os 15 topocircnimos que analisaremos a seguir os quais

estatildeo catalogados em fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas que estatildeo inseridas neste capiacutetulo

83

Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)

84

41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural

Os modelos das taxionomias foram elaborados por Dick (1992) a fim de possibilitar ao

pesquisador descobrir o significado dos topocircnimos sem ter que retomar especificamente a

passado histoacuterico Os modelos subdividem-se em 11 taxes de natureza fiacutesica e 16 de natureza

antropocultural Assim podemos verificar se o nomeador recorreu a elementos de natureza

fiacutesico ou socioculturais como motivaccedilatildeo no ato da nomeaccedilatildeo Abaixo apresentamos as 27

taxes subdivididas em suas naturezas e devidas especificaccedilotildees exemplificadas com alguns

topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO nos casos de natildeo ter

recorremos a outros topocircnimos

a) Taxionomias de natureza fiacutesica

1 Astrotopocircnimos topocircnimos que se referem aos corpos celestes cidade Estrela do Norte-

GO

2 Cardinotopocircnimos topocircnimos referentes agraves posiccedilotildees geograacuteficas cidade Alvorada do

Norte-GO

3 Cromotopocircnimos topocircnimos relativos agrave escala cromaacutetica coacuterrego da Terra Vermelha (Pires

do Rio-GO)

4 Dimensiotopocircnimos topocircnimos referentes agraves caracteriacutesticas dimensionais dos acidentes

geograacuteficos como extensatildeo comprimento largura espessura altura profundidade coacuterrego

Fundatildeo (Pires do Rio-GO)

5 Fitotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de vegetais rio Corumbaacute (Pires do Rio-

GO)

6 Geomorfotopocircnimos topocircnimos referentes agraves formas topograacuteficas elevaccedilotildees ou depressotildees

do terreno coacuterrego do Pico (Pires do Rio-GO)

7 Hidrotopocircnimos topocircnimos originados de acidentes hidrograacuteficos ribeiratildeo Cachoeira

(Pires do Rio-GO)

8 Litotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de minerais e de nomes relativos agrave

constituiccedilatildeo do solo coacuterrego Barreiro (Pires do Rio-GO)

9 Meteorotopocircnimos topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos ribeiratildeo Brumado

(Pires do Rio-GO)

10 Morfotopocircnimos topocircnimos que refletem o sentido de forma geomeacutetrica cidade Volta

Redonda-RJ

11 Zootopocircnimos topocircnimos de iacutendole animal rio do Peixe (Pires do Rio-GO)

b) Taxionomias de natureza antropocultural

85

1 Animotopocircnimos ou Nootopocircnimos topocircnimos relativos agrave vida psiacutequica e agrave cultura

espiritual coacuterrego Boa Vista (Pires do Rio-GO)

2 Antropotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais ribeiratildeo Sampaio

(Pires do Rio-GO)

3 Axiotopocircnimos topocircnimos que se referem a tiacutetulos e a dignidades que acompanham os

nomes proacuteprios individuais cidade Senador Canedo-GO

4 Corotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes de cidades paiacuteses estados regiotildees e

continentes coacuterrego Posse (Pires do Rio-GO)

5 Cronotopocircnimos topocircnimos que encerram indicadores cronoloacutegicos como novonova

velhovelha cidade Nova Aurora-GO

6 Ecotopocircnimos topocircnimos que fazem referecircncia agraves habitaccedilotildees de um modo geral cidade

Castelacircndia-GO

7 Ergotopocircnimos topocircnimos relacionados aos elementos da cultura material ribeiratildeo Bauacute

(Pires do Rio-GO)

8 Etnotopocircnimos topocircnimos relativos aos elementos eacutetnicos tribos isolados ou natildeo ribeiratildeo

Caiapoacute (Pires do Rio-GO)

9 Dirrematotopocircnimos topocircnimos construiacutedos por meio de frases ou enunciados linguiacutesticos

cidade Aparecida do Rio Doce-GO

10 Hierotopocircnimos topocircnimos referentes aos nomes sagrados agraves efemeridades religiosas aos

locais de culto cidade Cristianoacutepolis-GO Podem apresentar duas subdivisotildees i)

hagiotopocircnimos topocircnimos que se referem aos santos e agraves santas do hagioloacutegio romano

coacuterrego Satildeo Jerocircnimo (Pires do Rio-GO) ii) mitotopocircnimos topocircnimos referentes agraves

entidades mitoloacutegicas cidade Anhanguera-GO

11 Historiotopocircnimos topocircnimos que se referem a movimentos de cunho histoacuterico-social aos

seus membros ou ainda agraves datas correspondentes cidade Ipiranga de Goiaacutes-GO

12 Hodotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves vias de comunicaccedilatildeo coacuterrego Corrente (Pires

do Rio-GO)

13 Numerotopocircnimos topocircnimos que dizem respeito aos adjetivos numerais cidade Trecircs

Ranchos-GO

14 Poliotopocircnimos topocircnimos constituiacutedos pelos vocaacutebulos vila aldeia cidade povoaccedilatildeo

arraial bairro Vila Nova (Pires do Rio-GO)

15 Sociotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais de trabalho

e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade ribeiratildeo Mucambo (Pires do Rio-

GO)

86

16 Somatotopocircnimos topocircnimos com relaccedilatildeo metafoacuterica agraves partes do corpo humano ou do

animal coacuterrego Olho drsquoaacutegua (Pires do Rio-GO)

Essas classificaccedilotildees taxonocircmicas funcionam como auxiliares no processo de verificaccedilatildeo

que subjaz o topocircnimo sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo da origem e motivaccedilatildeo que

levaram agrave efetivaccedilatildeo de determinado topocircnimo

Aleacutem do mais uma anaacutelise toponiacutemica pressupotildee a busca de particularidades

que natildeo podem ficar apenas nas caracteriacutesticas mais evidentes apresentadas

pelo nome deve-se procurar tanto quanto possiacutevel ou seja tanto quanto as

fontes ou a documentaccedilatildeo o permitirem as origens mais remotas do

denominativo objetivando as eventuais substituiccedilotildees experimentadas e a sua

razatildeo determinante de modo que se possa tentar um equacionamento da

nomenclatura em periacuteodos ou estaacutegios onomaacutesticos ndash senatildeo de toda ela pelo

menos em alguns nomes ndash que talvez reflitam momentos distintivos do pensar

da eacutepoca analisada (DICK 1996 p 15-16)

O leacutexico toponiacutemico eacute carregado de marcas de expressatildeo histoacuterica social cultural

poliacutetica e religiosa de dada comunidade e eacute representativo para o nomeador e seu grupo Desta

forma se determinado local ou coisa passou por vaacuterias nomeaccedilotildees no decorrer dos tempos isso

justifica que cada nomeador observou novas caracteriacutesticas que classificavam ou referenciavam

o topocircnimo de forma precisa e motivada

De acordo com Dick (1990) as vaacuterias facetas significativas que datildeo realce ao nome do

lugar e as inuacutemeras informaccedilotildees que podem ser elencadas dele tornariam no material de um

grande armazenamento de dados e fatos culturais em larga extensatildeo Assim observamos em

Andrade (2010 p 103) que

Os estudos toponiacutemicos dentro do alcance pluridisciplinar de seu objeto de

estudo constituem um caminho possiacutevel para o conhecimento do modus

vivendi das comunidades linguiacutesticas que ocupam ou ocuparam um

determinado espaccedilo Quando um indiviacuteduo ou comunidade linguiacutestica atribui

um nome a um acidente humano ou fiacutesico revelam-se aiacute tendecircncias sociais

poliacuteticas religiosas culturais (Grifos da autora)

Satildeo nessas caracteriacutesticas em que reside a motivaccedilatildeo do topocircnimo e por meio delas nos

satildeo reveladas a histoacuteria e cultura de uma dada comunidade por isso vemos o quanto os estudos

toponiacutemicos satildeo de extrema relevacircncia natildeo soacute para a aacuterea dos estudos da

linguagemlinguiacutesticos mas tambeacutem para as outras aacutereas do conhecimento jaacute que o topocircnimo

eacute plurissignificativo tendo assim um alcance pluridisciplinar

87

Posto isto pode-se evidenciar os estudos toponiacutemicos como um eixo norteador para se

verificar as relaccedilotildees soacutecio-histoacuterico-culturais de um povo jaacute que o topocircnimo estaacute intimamente

vinculado agrave cultura de um povo uma naccedilatildeo e portanto agrave sua histoacuteria Assim tomaremos por

anaacutelise os graacuteficos que se seguem e as taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua

do municiacutepio de Pires do Rio-GO

42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO

Nesta pesquisa os 15 topocircnimos analisados baseados na classificaccedilatildeo enquadram-se

na divisatildeo das naturezas fiacutesica e antropocultural Em alguns topocircnimos eacute possiacutevel ainda

evidenciar mais de uma categoria classificatoacuteria por exemplo o coacuterrego da Terra Vermelha

que se classifica como litotopocircnimo e cromotopocircnimo

Nos graacuteficos abaixo apresentamos e analisamos em base qualiquantitivas as naturezas

das taxionomias fiacutesicas e antropoculturais e a origemetimologia dos topocircnimos estratos

linguiacutesticos

Grafico1 Natureza das Taxionomias

As taxionomias nos permitiram analisar e interpretar os designativos de lugares com

maior precisatildeo e seguranccedila do ponto de vista semacircntico sendo estudados enquanto formas de

liacutengua e de acordo com a causa de seu emprego O produto resultante aqui no nosso caso os

88

topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO ganham vida proacutepria passando

a ter caraacuteter motivado e natildeo apenas arbitraacuterio

As taxes encontradas nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO que tiveram maior proporccedilatildeo foram as de natureza fiacutesica assim o nomeador caracterizou

os fatores fiacutesicos do ambiente ou que chamaram sua atenccedilatildeo Desta forma as nomeaccedilotildees satildeo

motivadas e estabelecem relaccedilotildees com o nomeador e o lugar nomeado

421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos

Os principais topocircnimos analisados neste trabalho confirmaram uma tendecircncia da

toponiacutemia brasileira em geral ou seja a predominacircncia de topocircnimos classificados de acordo

com as taxionomias de natureza fiacutesica uma vez que na nomenclatura onomaacutestica dos

elementos fiacutesicos da regiatildeo analisada haacute um percentual de 67 (10 topocircnimos) que satildeo

classificados como taxes de natureza fiacutesica e 33 (05 topocircnimos) que se enquadram nas taxes

de natureza antropocultural

Graacutefico 2 Taxionomias de Natureza Fiacutesica

O graacutefico apresentado nos revelam que a incidecircncia em sua maioria das taxionomias

de natureza fiacutesica evidencia a influecircncia do ambiente fiacutesico no ato de nomeaccedilatildeo percebe-se

entatildeo que no ato do batismo os povos recorreram a elementos e caracteriacutesticas circundantes

aos lugares nomeados demonstrando que o meio ambiente exerce grande influecircncia no homem

no ato de nomear os lugares

0

05

1

15

2

25

3

Taxionomias de Natureza Fiacutesica

89

Ao atribuir topocircnimos agraves taxionomias de natureza fiacutesica eacute possiacutevel comprovar a forccedila

de elementos fiacutesicos como motivadores no ato de nomear os lugares O que eacute observaacutevel no

graacutefico II os topocircnimos com maior incidecircncia nos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO sendo eles fitotopocircnimos hidrotopocircnimos litotopocircnimos litotopocircnimos e

cromotopocircnimos litotopocircnimos e fitotopocircnimos meteorotopocircnimos e zootopocircnimos que no

decorrer desse trabalho seratildeo analisados

4211 Fitotopocircnimos

De acordo com o observado a taxionomia de origem fitotoponiacutemica (originada de

nomes de vegetais) atingiu em segundo lugar o maior nuacutemero de frequecircncia dentre os

topocircnimos de natureza fiacutesica 20 (02 topocircnimos) satildeo eles coacuterrego Laranjal e ribeiratildeo

Taquaral Eacute observaacutevel que a flora foi uma das grandes motivaccedilotildees para os designativos dos

cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO E segundo Dick (1990 p 146)

O importante talvez seria natildeo perder de vista que a vegetaccedilatildeo eacute parte

integrante de um conjunto natural em que o relevo constituiccedilatildeo do solo

acidentes geograacuteficos regimes climaacuteticos compotildeem um verdadeiro

biossistema imprescindiacutevel ao homem e agrave qualidade de vida que nele pretenda

instalar ou pelo menos usufruir

Eacute nessas relaccedilotildees de importacircncia para o homem que podemos compreender a nomeaccedilatildeo

destes elementos fiacutesicos fazendo referecircncia a aspectos que chamaram a sua atenccedilatildeo e

motivaram a nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua Isso se revela pelo caraacuteter de necessidade agrave vida

humana tanto do nome como do que por ele foi nomeado essa relaccedilatildeo nomeador-objeto-nome

eacute que ressalta a importacircncia da vegetaccedilatildeo no meio social local do vivente Assim tambeacutem

justifica Pereira (2009 p 143) que ldquopossivelmente seja esse o motivo de o

denominadorenunciador registrar as caracteriacutesticas locais de uma regiatildeo na nomeaccedilatildeo dos

acidentes geograacuteficos por meio do topocircnimordquo

Ao trazer as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas eacute perceptiacutevel a motivaccedilatildeo que subjaz

cada topocircnimo como observamos abaixo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 02

Topocircnimo Coacuterrego Laranjal Localizaccedilatildeo Pires do Rio

90

Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia la-ran-jal Sm plantaccedilatildeo ou pomar de laranjas (p827)

Laranja sf lsquofruto da laranjeira planta da fam das rutaacuteceasrsquo XIV Do aacuter nāranğa deriv do

persa nāranğ laranjAL -gal XVI (p382)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino laranja- + -al sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Coacuterrego afluente da margem direita do ribeiratildeo Bauacute (M de

Pires do Rio)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 03

Topocircnimo Ribeiratildeo Taquaral Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ta-qua-ral Sm 1 plantaccedilatildeo de taquara tabocal 2 terreno onde crescem

taquaras (p1337)

Taquara sf lsquoplanta da fam das gramiacuteneas taboca bambursquo 1627 tacoara c 1584 etc

tacoaacutera 1817 Do tupi takṷara taquarAL 1783 (p623)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino taquara- + -al sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ao observar as informaccedilotildees trazidas nas fichas apresentadas dos fitotopocircnimos

possivelmente as motivaccedilotildees que influenciaram o nomeador satildeo perspicazes as referecircncias

locais que de acordo com cada topocircnimo relacionamos i coacuterrego Laranjal evidentemente em

sua localidade apresentava no momento de nomeaccedilatildeo a plantaccedilatildeo de laranjas e tambeacutem o

coacuterrego favorecia a essas plantaccedilotildees ii ribeiratildeo Taquaral assim como analisado o topocircnimo

91

anterior o que tenha influenciado ao nomeador deve estar relacionado com o a quantidade de

taquaras na regiatildeo em se encontra o determinado ribeiratildeo

A ocorrecircncia dos topocircnimos de iacutendole vegetal ora pesquisados pode ter a sua

justificativa pela relevacircncia que as plantas tecircm junto a vida humana bem como necessaacuterias para

a conservaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua e suas nascentes assim justificamos a tendecircncia de valoraccedilatildeo

do vegetal no processo de batismo dos elementos fiacutesicos

4212 Hidrotopocircnimos

O topocircnimo de equivalecircncia hidroniacutemica (originado de acidentes hidrograacuteficos) aparece

no em ribeiratildeo Cachoeira Sabe-se que a aacutegua eacute de fundamental importacircncia para a vida

humana por isso a tendecircncia de o nomeador no ato de batismo do topocircnimo valer-se do nome

relacionado ao elemento aacutegua para designar o lugar

E de acordo com Dick (1990 p 196) ldquoO aparecimento de topocircnimos nos mais

diferentes ambientes revestindo uma natureza hidroniacutemica propriamente dita vincula-se agrave

importacircncia dos cursos drsquoaacutegua para as condiccedilotildees humanas de vidardquo Possivelmente o nomeador

a considera o elemento aacutegua vital para a sua existecircncia ainda sabemos que os cursos drsquoaacutegua

em muitas ocasiotildees servem de caminhos para comeacutercio como tambeacutem foi por meio deles que

se configuraram na histoacuteria do Brasil o achamento e a colonizaccedilatildeo do paiacutes pelos portugueses

Nas ficha abaixo trazemos informaccedilotildees relevantes para anaacutelise dos topocircnimos de origem

hidrograacutefica

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 04

Topocircnimo Ribeiratildeo Cachoeira Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Hidrotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ca-cho-ei-ra Sf 1queda drsquoaacutegua em rio ou ribeiratildeo cujo leito apresenta

forte declive cascata 2 trecho de rio onde as aacuteguas correm raacutepido devido agrave inclinaccedilatildeo do

terreno corredeira (p213)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba (M

de Campo Formoso)

Referecircncias Borba (2004) IBGE (1957)

92

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Por mais que apenas 10 (01) dos topocircnimos de natureza fiacutesica tenham referecircncia agrave

iacutendole hidroniacutemica a regiatildeo de Pires do Rio-GO tem seus limites poliacutetico e fiacutesico (geograacuteficos)

feita por rios sem mencionar a grande importacircncia que esses cursos exercem nas atividades da

regiatildeo

Ainda observamos em Dick (1990 p 197) que

Agraves vezes poreacutem rompe-se o equiliacutebrio que ela [a aacutegua] representa em

qualquer meio desprendendo-se de suas possibilidades de aproximar culturas

distintas e assumindo papel um tanto oposto ao se transformar em ldquoobstaacuteculordquo

agrave difusatildeo dos interesses coletivos Circunscrevendo o homem em seu proacuteprio

espaccedilo quando o transcurso se torna difiacutecil impede os contatos entre grupos

vizinhos Se o isolamento por um lado tende a manter tanto quanto possiacutevel

inalterados os valores comuns preservando por isso a tradiccedilatildeo socioloacutegica

do homem ao retardar a dinacircmica da comunidade em favor de uma estaacutetica

desestimulante e viciosa

A par desta citaccedilatildeo observamos que foi o que aconteceu a cidade de Pires do Rio-GO

a partir do rio Corumbaacute o principal para o municiacutepio que ateacute a deacutecada de 1920 era isolado dos

demais municiacutepios por falta de uma ponte que estabelecesse tal ligaccedilatildeo Com a vinda da Estrada

de Ferro Goyaz e a construccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa surgem as primeiras casas e a

efetivaccedilatildeo do municiacutepio bem como a ligaccedilatildeo com as principais cidades da regiatildeo e as relaccedilotildees

econocircmicas e poliacuteticas que auxiliaram no crescimento do municiacutepio e da regiatildeo

Observamos ainda no contexto do municiacutepio de Pires do Rio-GO que a aacutegua em suas

potencialidades eacute de grande relevacircncia e meio de sobrevivecircncia para a vida humana pois

Na parte sul encontra-se o rio Corumbaacute que eacute maior curso drsquoaacutegua do

municiacutepio Nele eacute feito a extraccedilatildeo de areia para construccedilatildeo civil suas ilhas

servem de pontos de recreaccedilatildeo para vaacuterios moradores e as suas margens satildeo

praticamente ocupadas pelas pequenas propriedades (DIAS 2008 p 84)

Posto isso no efetivar do topocircnimo a partir da importacircncia da aacutegua o nomeador

diferencia o elemento geograacutefico dos demais auxiliando na orientaccedilatildeo do homem no espaccedilo

que o cerca proporcionando subsiacutedios para um melhor (re)conhecimento do local Assim

hipoteticamente acreditamos que o topocircnimo ndash ribeiratildeo Cachoeira ndash no contexto estudado

93

pode ter a sua motivaccedilatildeo pelo proacuteprio ambiente fiacutesico uma vez recupera caracteriacutesticas

hidroniacutemicas do lugar

4213 Litotopocircnimos

Notando-se as relaccedilotildees dos topocircnimos de origem mineral os litotopocircnimos coacuterrego

Barreiro representam o percentual de 10 (01 topocircnimo) dos analisados Cabe mencionar que

os minerais foram um dos principais atrativos dos colonizadores portugueses nas terras

brasileiras E de acordo com Dick (1990) os topocircnimos de origem mineral estatildeo relacionados

tanto a caracteriacutesticas do solo quanto do terreno e assim estabelecem duas relaccedilotildees fiacutesicas que

estatildeo ligadas agraves regiotildees da terra neste caso satildeo areia barro lama pedra terra E outro fator

satildeo os histoacutericos que podem ser evidenciados no processo de colonizaccedilatildeo do Brasil por meio

das relaccedilotildees entre solo flora e relevo que satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de uma nova

sociedade

O litotopocircnimo apresentado abaixo por meio de descriccedilatildeo e anaacutelise revela a influecircncia

do local sobre o ato de nomear

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 05

Topocircnimo Coacuterrego Barreiro Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia bar-rei-ro Sm terra alagada lamaccedilal (p164)

Barreira -eirar -eiro ejar rarr BARRO

Barro sm lsquotipo de argilarsquo lsquosubstacircncia utilizada no assentamento da alvenaria de tijolo em

obras provisoacuterias obtida pela mistura de argila com aacuteguarsquo XIV De origem preacute-romana

Relaciona-se neste verbete uma seacuterie de vocaacutebulos etimologicamente correlacionados com

o radical barr- de origem preacute-romana barrEIRA sf lsquoargileirarsquo lsquoparapeitorsquo 1500 barrEIRmiddotAR

bareyrar XV barrEIRO XVIII (p82)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino barro- + ndasheiro sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

94

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Observando Sapir (1969) podemos trazer a reflexatildeo acerca da relaccedilatildeo entre liacutengua e

ambiente que vale a compreensatildeo dos fatores fiacutesicos neste caso os aspectos geograacuteficos

incluindo aleacutem dos elementos fauna e flora os recursos minerais Assim o litotopocircnimo

coacuterrego Barreiro estabelece relaccedilotildees com o local quando foi nomeado ainda compreende-se

que a localidade era de lamaccedilalbarro um dos motivadores por determinado coacuterrego ser

batizado com o referido topocircnimo

Assim como observado em Dick (1990 p 125) os referidos topocircnimos de origem

mineral se referem ao primeiro caso que eacute o de ldquoiacutendole geneacutericardquo aspectos fiacutesicos e especiacuteficos

agraves regiotildees da terra revelando assim caracteriacutesticas minerais da regiatildeo em que estaacute localizado

determinado coacuterrego

4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos

No conjunto dos topocircnimos analisados em um percentual de 10 (01 topocircnimo) do

total encontramos um topocircnimo de estrutura composta mas natildeo hiacutebrido pois eacute formado por

duas palavras de origem latina a saber coacuterrego da Terra Vermelha litotopocircnimo (origem de

nomes de minerais e de nomes relativos agrave constituiccedilatildeo do solo) e cromotopocircnimo (relativo agrave

escala cromaacutetica) E que de acordo com Isquerdo e Seabra (2010 p 91) ldquo[] a motivaccedilatildeo dos

hidrotopocircnimos de estrutura composta normalmente valoriza mais de uma caracteriacutestica do

meio ambiente como foco denominativordquo O mesmo se estabelece com o topocircnimo ora

analisado como descreve na ficha abaixo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 06

Topocircnimo Coacuterrego da Terra Vermelha Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo e

Cromotopocircnimo

Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ter-ra Sf i elemento da superfiacutecie terrestre que misturado com aacutegua

transforma-se em barro ii parte soacutelida da superfiacutecie terrestre chatildeo firme (p1351)

Terra sf lsquoterritoacuterio regiatildeorsquo lsquosolo chatildeorsquo XIII Do lat tĕrra (p631)

95

Vermelho adj lsquoda cor do sanguersquo XIII Do lat vĕrmῐcŭlus (p674)

Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Substantivo Feminino + Adjetivo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Segundo Dias (2008 p 119-122) na maior parte da regiatildeo do municiacutepio de Pires do

Rio-GO o solo eacute ldquoLatossolos Vermelhosrdquo ou ldquoLatossolos Vermelho Amareladordquo assim

hipoteticamente uma das motivaccedilotildees fundamentais para a denominaccedilatildeo do topocircnimo estaacute

ligado a caracteriacutesticas do local o que influenciou o denominador a fazer referecircncia agrave Terra

juntamente com a cor vermelha

E ainda Dias (2008 p 117) justifica que ldquoas caracteriacutesticas da vegetaccedilatildeo natural

muitas das vezes tecircm como fator determinante o tipo de solo porque eacute dele que elas retiram a

maioria dos elementos que precisam para sua nutriccedilatildeordquo Nesta regiatildeo tem a predominacircncia da

agricultura e agropecuaacuteria influecircncias do solo que contribui para tais praacuteticas

Contudo o batismo do coacuterrego com o topocircnimo Terra Vermelha traz em sua motivaccedilatildeo

as caracteriacutesticas que satildeo observadas na localidade e que de certa forma influenciaram o

nomeador Aleacutem do coacuterrego uma regiatildeo rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tambeacutem eacute

conhecida pelo referido nome

4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos

O topocircnimo coacuterrego Itauacutebi eacute um nome composto litotopocircnimo (de origem mineral) e

fitotopocircnimo (de origem vegetal) e representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos

analisados Sua estrutura morfoloacutegica segundo Dick (1992) eacute um topocircnimo composto formado

por ita- (pedra) + -ubi (palmeira) ambos de origem tupi na formaccedilatildeo de palavras se constitui

em uma composiccedilatildeo por justaposiccedilatildeo E hipoteticamente a regiatildeo em que se encontra o

coacuterrego eacute de um terreno pedregulho ou pode ser que o proacuteprio coacuterrego tenha em sua calda um

acuacutemulo maior de pedras que o normal E consequentemente uma regiatildeo em que a vegetaccedilatildeo

tenha ou lembre uma localidade com plantaccedilotildees de palmeiras

96

Assim a ficha lexicograacutefica-toponiacutemia abaixo nos auxiliou na descriccedilatildeo e anaacutelise do

topocircnimo coacuterrego Itauacutebi aclarando para um efetiva interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo do corpus desta

pesquisa

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 07

Topocircnimo Coacuterrego Itauacutebi Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo e Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia Ita ndash pedra eacute o termo mais comum nos topocircnimos brasileiros algumas

vezes aparece sem o i inicial Ta-nhenga (ilha do Rio de Janeiro) Ta-ratatilde (localidade da

Bahia) (p 174)

Ubi ndash nome comum a vaacuterias palmeias dos gecircneros Genoma Bactris e Calyptrogyne (p 190)

Estrutura morfoloacutegica Nome composto (ita- substantivo feminino + -ubi substantivo

feminino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Tibiriccedila (1985)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Segundo Dias (2008) o coacuterrego Itauacutebi eacute um dos afluentes do ribeiratildeo Marataacute e tambeacutem

um dos coacuterregos que abaste ao municiacutepio de Pires do Rio-GO juntamente com o coacuterrego

Laranjal Assim eacute possiacutevel notar a importacircncia deste curso drsquoaacutegua para o municiacutepio e a sua

relevacircncia em anaacutelise para a nossa pesquisa

4216 Meteorotopocircnimos

A meteorotoponiacutemia refere-se a topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos e no

contexto pesquisado representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos analisados sendo

ribeiratildeo Brumado que proveacutem do termo latino bruma lsquoinvernorsquo especificando como nevoeiro

neblina e cerraccedilatildeo (CUNHA 2010) Dados esses especificados abaixo na ficha lexicograacutefica-

toponiacutemica que nos auxiliou na interpretaccedilatildeo e anaacutelise do topocircnimo

97

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 08

Topocircnimo Ribeiratildeo Brumado Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Meteorotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia Bruma bru-ma Sf nevoeiro neblina cerraccedilatildeo (p203)

Bruma sf lsquonevoeiro neblina cerraccedilatildeorsquo XVI Do lat bruma lsquoinvernorsquo (p103)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino bruma- + sufixo ndashado)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do rio dos Peixes (M

de Pires do Rio)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ao observarmos em Sapir (1969) em que o leacutexico de uma liacutengua reflete claramente o

ambiente fiacutesico e social do falantes provavelmente o que influenciou o nomeador em recorrer

ao batismo do topocircnimo Brumado em determinado ribeiratildeo pode ter sido devido a ocorrer na

localidade neblinanevoeiro na estaccedilatildeo do ano inverno jaacute que a proacutepria raiz da palavra bruma

faz referecircncia ao ldquoinvernordquo

Nas leituras realizadas em alguns pesquisadores da aacuterea da toponiacutemia como Almeida

(2012) Carvalhinhos (2002 2003) Dick (1990 1992 1996 1999 2000 2001 2004 2006)

Isquerdo e Seabra (2010) Pereira (2009) Siqueira (2012 2015) natildeo foi recorrente

encontrarmos algum meteorotopocircnimo analisado ou que nos desse qualquer sustentaccedilatildeo ou

informaccedilotildees para proceder com algum confrontamento de dados mediante a isso

subentendemos que os topocircnimos de iacutendole dos fenocircmenos atmosfeacutericos natildeo tenham uma certa

frequecircncia como os demais

4217 Zootopocircnimos

Nas denominaccedilotildees de iacutendole animal zootopocircnimos no estudo corrente referem ao

percentual de 30 (03 topocircnimos) dos extratos pesquisados ndash rio Corumbaacute rio do Peixe e rio

Piracanjuba Precisamente em dois topocircnimos o fator motivador foi o animal peixe que

possivelmente influenciou o nomeador A saber que a caccedila e pesca era o meio de sobrevivecircncia

98

da comunidade primitiva desta forma possivelmente a comunidade que habitava nos referidos

locais tambeacutem foi influenciada por essas razotildees e daiacute batizando ambos os rios com os referidos

topocircnimos

Ao observamos os topocircnimos de iacutendole animal aqui presentes vamos contrapor ao que

Dauzat (1922 apud DICK 1990) constatou ter uma menor frequecircncia dos zootopocircnimos em

relaccedilatildeo a outras categorias na toponiacutemia francesa bem como agrave perspectiva de Backheuser

(1952 apud DICK 1990) de que na toponiacutemia brasileira os nomes de animais satildeo menos

recorrentes

As relaccedilotildees de denominaccedilatildeo toponiacutemica de uma dada regiatildeo pode ser diferente de outra

de acordo com isso as relaccedilotildees de motivaccedilotildees estatildeo estritamente ligadas ao nomeador pois

cada qual atribui a caracteriacutesticas inerentes ao local a que faz referecircncia Assim as fichas

lexicograacuteficas-toponiacutemicas abaixo evidenciam em suas descriccedilotildees e nos auxiliam a proceder

com a anaacutelise toponiacutemica dos designativos bem como a quantificar que os zootopocircnimos foram

os de maior frequecircncia em nossas anaacutelises

Nordm de ordem 09

Topocircnimo Rio Corumbaacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia cid Mato Grosso do Sul de corumbaacute caacutegado (p44) Origem Tupi

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio nasce nos arredores de Pirineus atravessa o municiacutepio

como o de Santa Luzia depois de servir em pequeno trecho de divisa a Bonfim Adiante

separa Ipameri e Corumbaiacuteba de um lado e Campo Formoso Pires do Rio Caldas Novas

Buriti Alegre do outro ateacute desaguar no rio Paranaiacuteba pela margem direita (M de Corumbaacute)

Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 10

Topocircnimo Rio do Peixe Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

99

OrigemEtimologia pei-xe Sm (Zool) 1 espeacutecime de classe animal vertebrado que nasce e

vive na aacutegua respira por guelras e se locomove por meio de barbatanas (p1048)

sm lsquo(Zool) animal cordado gnastomado aquaacutetico com nadadeiras com pele geralmente

coberta de escamas que respira por bracircnquiasrsquo XIII Do lat piscis -is peixADA XX

peixARIA XX peixeiro peyxero XIII Cp pescar piscatoacuterio (p485)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio (do) nasce na regiatildeo sul-oriental do municiacutepio que separa

os de Campo Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio e o de Caldas Novas desemboca

no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bonfim)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) (IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 11

Topocircnimo Rio Piracanjuba Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia cid de Goiaacutes de piracanjuba uma var de peixe de rio etim piraacute-

acatilde-juba peixe de cabeccedila amarela (p97) Origem Tupi

piraacute sm lsquodesignaccedilatildeo geneacuterica de peixe em tupirsquo piracanjuva sf lsquoespeacutecie de douradorsquo 1792

Do tupi pirakaᶇlsquoḭuṷa (p498)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce na serra de Passa

Quatro e atravessa o municiacutepio bem como o de Pouso Alto Adiante separa Caldas Novas de

Morrinhos e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bela

Vista)

Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

100

Segundo Dias (2008) o rio Corumbaacute eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio dele se extrai

areia para a construccedilatildeo civil e suas ilhas e margens servem para abrigar pequenas propriedades

inclusive para a recreaccedilatildeo e turismo O rio do Peixe eacute um dos trecircs maiores cursos drsquoaacutegua e

fronteiriccedilo na regiatildeo sul entre Pires do Rio Cristianoacutepolis Vianoacutepolis e Satildeo Miguel do Passa

Quatro tem como principal afluente o ribeiratildeo Brumado e tambeacutem eacute o principal afluente do

rio Corumbaacute O rio Piracanjuba tambeacutem estaacute entre os principais do municiacutepio na regiatildeo norte

faz fronteira entre Pires do Rio Orizona Urutaiacute e Ipameri sua principal relevacircncia foi na

deacutecada de 1950 por aiacute ter funcionado uma usina hidreleacutetrica que abastecia o municiacutepio de Pires

do Rio-GO

A anaacutelise zootoponiacutemica na localidade pesquisada evidenciou a valorizaccedilatildeo da fauna

local pois ao utilizar o nome de animais recuperou-os para nomear lugares como os rios

Observamos que os nomes de animais que estabelecem a sua origem nas liacutengua tupi

(Piracanjuba e Corumbaacute) e latina (Peixe) motivaram a nomeaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e

de alguma forma estatildeo vinculados agrave vida do nomeador estabelecendo assim relaccedilotildees

extralinguiacutesticas com os topocircnimos pesquisados E segundo Theodoro Sampaio (1914 apud

DICK 1990) dificilmente o nome do animal estaria desvinculado de sua existecircncia na

localidade

Os elementos de natureza fiacutesica mais evidentes na motivaccedilatildeo que subjazem aos

topocircnimos ora analisados foram os de origem vegetal mineral e animal (peixe) Percebemos

assim que o nomeador teve influecircncia das caracteriacutesticas do local para designar o referido

topocircnimo A partir desta anaacutelise nos eacute pertinente ao proacuteximo subtoacutepico proceder com as

anaacutelises das taxionomias de natureza antropocultural

422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos

Os topocircnimos de natureza antropocultural representam 33 (05 topocircnimos) do corpus

analisado destacando-se os antropotopocircnimos ergotopocircnimos etnotopocircnimos e

sociotopocircnimos O nomeador obteve suas motivaccedilotildees de iacutendole antropocultural fazendo

homenagem a pessoas importantes da cidade recuperando elementos da cultura material do

povo revelando elementos eacutetnicos isolados ou natildeo e por fim referenciando a atividades

profissionais ou pontos de encontro de pessoas da comunidade Assim identificando a

influecircncia do homem no meio em que se encontra

101

Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural

O graacutefico 3 nos traz em sua amplitude os topocircnimos de origem antropocultural e a partir

dele eacute que procederemos com as anaacutelises no decorrer do texto observando as regecircncias e

distintas influecircncias do nomeador no ato do batismo

4221 Antropotopocircnimos

Dentre os topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais em nossa pesquisa foi

encontrado apenas o ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo correspondendo ao percentual de

20 (01) dos topocircnimos de natureza antropocultural analisados Na toponiacutemia brasileira eacute

recorrente encontrarmos antropotopocircnimos especialmente lugares como cidades praccedilas ruas

e outros acabam recebendo nomes proacuteprios em homenagem a algueacutem A ficha lexicograacutefica-

toponiacutemica 12 em sua amplitude nos auxilia a perceber a influecircncia do antrotopocircnimo

analisado pois refere-se a uma figura puacuteblica da comunidade piresina

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 12

Topocircnimo Ribeiratildeo Sampaio Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia sm ldquomarinhordquo Sampaio eacute um sobrenome presente na onomaacutestica

portuguesa atraveacutes de raiacutezes tipicamente toponiacutemicas devido ao nome de uma vila localizada

0

02

04

06

08

1

12

14

16

18

2

ANTROPOTOPOcircNIMO ERGOTOPOcircNIMO ETNOTOPOcircNIMOS SOCIOTOPOcircNIMO

Taxionomias de Natureza Antropocultural

102

em Traacutes-os-Montes em Portugal e que teria sido adotado como sobrenome pelos senhores

deste local Alguns etimologistas acreditam que o nome Sampaio tenha surgido a partir do

latim Sanctus Pelagius (traduzido como ldquosanto marinhordquo) que significa Santo Pelagius e

com o passar do tempo tenha sofrido alteraccedilotildees na grafia passando para Sam Peaio Satildeo

Payo e por fim Sampaio Origem hebraica

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Proacuteprio ndash sobrenome)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da margem direita

do rio Corumbaacute (M de Pires do Rio)

Referecircncias Dicionaacuterio online de Nomes Proacuteprios (sd) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Este antropotopocircnimo foi o norteador motivacional para esta pesquisa pois o ribeiratildeo

Sampaio em um de seus limites por boa parte da populaccedilatildeo (inclusive eu) eacute conhecido como

Pedro Teixeira (que na verdade eacute o nome da ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo) soacute tempos depois

conheci o seu verdadeiro nome

E Dick (1990 p 286) assegura que

Os aspectos semacircnticos que podem ser encontrados nos nomes de pessoas

ligam-se portanto ao papel que exercem de verdadeiras manifestaccedilotildees

culturais dos povos e onde transparecem os mais diversos motivos

determinantes de sua escolha Talvez a proacutepria maneira pela qual se concebia

o nome em eacutepocas remotas como uma substacircncia revestida de poderes

miacutesticos seja a responsaacutevel pela variedade das motivaccedilotildees em uma ou em

outras sociedades

Os aspectos motivacionais para o topocircnimo em estudo eacute uma homenagem ao coronel

Lino Teixeira de Sampaio neste caso de acordo com Cabral (2007) eacute um patroniacutemico

sobrenome e faz referecircncia ao doador das terras em que fundou-se a cidade de Pires do Rio-

GO Segundo Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares ou

homenagem ou ateacute mesmo por caracteriacutesticas geograacuteficas inerentes ao local Em alguns casos

os nomes satildeo opacos pois natildeo apresentam nenhuma relaccedilatildeo com o referente nesta situaccedilatildeo haacute

de se fazer uma busca histoacuterica para chegar as relaccedilotildees motivacionais que natildeo eacute o nosso caso

Observando em estudos acerca dos topocircnimos de iacutendole de nomes proacuteprios individuais

constatamos que

103

Nomes proacuteprios de pessoas satildeo obscurecidos em seu conteuacutedo leacutexico-

semacircntico pela opacidade do proacuteprio signo que os conforma distanciados na

maioria das ocorrecircncias do foco original Integram o inventaacuterio mais fechado

da linguagem cuja origem remonta no Brasil aos primeiros nomes de

famiacutelias portuguesas para aqui imigradas (DICK 2001 p 83)

Assim foi possiacutevel observar que o patroniacutemico Sampaio ratifica a citaccedilatildeo de Dick

(2001) pois ele estaacute presente na onomaacutestica portuguesa evidenciado nas raiacutezes tipicamente

toponiacutemicas relacionado ao nome de uma vila localizada em Traacutes-os-Montes em Portugal que

supostamente teria sido adotado como sobrenome pelos senhores deste local (DICIONAacuteRIO

DE NOMES PROacutePRIOS sd)

A importacircncia desse referido ribeiratildeo para o municiacutepio de Pires do Rio-GO justifica-se

desde a sua nomeaccedilatildeo pela razatildeo de sua nascente ser em terras que eram de propriedade do

coronel Lino Teixeira de Sampaio e tambeacutem pelo motivo de

O ribeiratildeo Sampaio eacute utilizado como um dos limiacutetrofes das aacutereas urbana e

rural tambeacutem depositaacuterio da Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE)

consequentemente recebendo a aacutegua do esgoto depois de feito seu devido

tratamento Neste ribeiratildeo encontram-se os menores pontos altimeacutetricos da

aacuterea urbana o que favoreceu a construccedilatildeo da ETE (DIAS 2008 p 84)

Neste contexto eacute evidente que a motivaccedilatildeo para o topocircnimo Sampaio eacute uma

homenagem a uma pessoa que tem uma importacircncia para o local a cidade de Pires do Rio-GO

E assim podemos evidenciar que o ato de nomear aqui institui as relaccedilotildees de poder

possivelmente a de coacuterrego do senhor coronel Lino Teixeira de Sampaio estabelecendo as

relaccedilotildees de poder que o proacuteprio coronel mantinha sobre o local a cidade

4222 Ergotopocircnimos

Os topocircnimos referente a elementos da cultura material ergotopocircnimos nas anaacutelises

desta pesquisa tiveram um percentual de 20 (01) dos topocircnimos analisados ribeiratildeo Bauacute

assim observamos que o denominador foi motivado pelas relaccedilotildees da cultura material que o

cerca Jaacute observado em Sapir (1969) pois no leacutexico toponiacutemico reflete o ambiente social do

falante assim o topocircnimo no qual o objeto bauacute eacute de origem da cultura material e de uso

humano possivelmente as caracteriacutesticas do objeto como fundura largura e formato do bauacute

foram vitais para a nomeaccedilatildeo do ribeiratildeo

104

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 13

Topocircnimo Ribeiratildeo Bauacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Ergotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia ba-uacute (fr) Sm (Co) 1 mala de madeira recoberta de couro com tampa

conversa 2 moacutevel em forma de caixa de folha ou madeira onde se guardam roupas e demais

objetos (p169)

sm lsquotipo de caixa ou mala com tampa convexa na parte externarsquo baul XVI bau XVII bahu

Do ant baul deriv do a fr bahur (hoje bahut) de origem obscura (p84) 1805

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba na

divisa do municiacutepio de Pires do Rio (M de Campo Formoso)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Desta forma ldquoa lsquoescolharsquo do nome se daacute segundo um agenciamento enunciativo

especiacutefico este acontecimento de nomear recorta como memoraacuteveis os nomes disponiacuteveis

como contemporacircneos proacuteprios de sua eacutepocardquo (GUIMARAtildeES 2005 p 36-37) Eacute necessaacuterio

observar na citaccedilatildeo de Guimaratildees (2005) que no ato do batismo o nomeador faz referecircncia ao

contemporacircneo ou proacuteprio de sua eacutepoca no caso de uso do termo bauacute configura-se como essa

afirmaccedilatildeo eacute relativa a algo realmente usado em determinada eacutepoca

Eacute evidente que o topocircnimo apresentou como fonte motivacional a relaccedilatildeo existente entre

a cultura material e seu nomeador ou seja uma motivaccedilatildeo toponiacutemica de ordem

antropocultural assim essas designaccedilotildees que recuperam elementos da cultura material do

povo da localidade identifica a influecircncia do homem no meio em que se vive

4223 Etnotopocircnimos

Uma das taxionomias de natureza antropocultural de maior ocorrecircncia nesta pesquisa

com o percentual de 40 (02) topocircnimos dos analisados foram os etnotopocircnimos topocircnimos

105

relativos a elementos eacutetnicos isolados ou natildeo sendo o ribeiratildeo Caiapoacute e ribeiratildeo Marataacute que

no decorrer satildeo apresentados nas fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 14

Topocircnimo Ribeiratildeo Caiapoacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia rio do E de Goiaacutes nome de uma tribo fam linguiacutestica Jecirc que habitou

a regiatildeo (p34)

cai-a-poacute (Tupi) S 1 indiviacuteduo de um povo indiacutegena de Mato Grosso Sm [Pl] 2 esse povo

(p217)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Corumbaacute (M de

Pires do Rio)

Referecircncias Tibiriccedila (1985) Borba (2004) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 15

Topocircnimo Ribeiratildeo Marataacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Marata ndash sm 1 indiviacuteduo dos maratas 2 liacutengua indo-europeia do ramo

indo-iraniano sub-ramo indo-aacuterico falada no Oeste e Centro da Iacutendia esp no Estado de

Maharashtra por aprox 50 milhotildees de pessoas Eacute uma das liacutenguas oficiais da Iacutendia Sacircnsc

mahaacuteraacutestra o grande reino pelo hind marhatta id

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas afluente da margem direita do ribeiratildeo Caiapoacute (M de Pires

do Rio)

Referecircncias Houaiss (2009) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

106

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Na justeza dos nomes podemos evidenciar que ao batizar o ribeiratildeo Caiapoacute o nomeador

se valeu de fatores antropoculturais em relaccedilatildeo aos iacutendios caiapoacutes lsquokayapoacutersquo que segundo fatos

da histoacuteria estiveram em terras goianas desta forma ao se valer do uso do topocircnimo a

motivaccedilatildeo para tal ato de batismo pode ser referente a esses povos terem influecircncias de alguma

forma sobre o nomeador no ato do batismo do topocircnimo

Jaacute o topocircnimo ribeiratildeo Marataacute traz em sua bases semacircnticas como i ldquoliacutengua indo-

europeiardquo ii ldquoindiviacuteduos dos maratasrdquo segundo Houaiss et al (2009) E possivelmente a

motivaccedilatildeo do designativo foi a influecircncia de grupos europeus que tambeacutem passaram por estas

terras jaacute que o paiacutes foi colonizado por Portugal e na formaccedilatildeo da sociedade goiano e piresina

terem a presenccedila de vaacuterias etnias inclusive europeia

Desta forma eacute evidente que os etnotopocircnimos estatildeo relacionados agrave presenccedila e influecircncia

de grupos de distintas etnias no Brasil visto que a histoacuteria local e nacional revelam a presenccedila

de vaacuterios povos na formaccedilatildeo do sociedade brasileira

4224 Sociotopocircnimos

Tomando por anaacutelise os topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais

de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma dada comunidade dentre os

sociotopocircnimos numa frequecircncia de 20 (01) dos topocircnimos analisados foi encontrado o

designativo ribeiratildeo Mucambo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 16

Topocircnimo Ribeiratildeo Mucambo Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Sociotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Mocambo sm lsquoesconderijo refuacutegio dos negros (escravos) fugidorsquo

1535 mocano Do quimb mursquokamu lsquoescondrijorsquo Embora se documente em vaacuterios textos

quinhentistas relativos aos antigos domiacutenios portugueses na Aacutefrica foi no Brasil que o voc

Se difundiu intensamente desde o periacuteodo colonial em decorrecircncia do intenso conviacutevio dos

brancos com os negros escravos da africanos (p431)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

107

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

O topocircnimo tem sua origem no termo mocambo que se refere a esconderijo de escravos

fugidos (CUNHA 2010) Possivelmente assim como jaacute observado nos fatores motivacionais

de outros topocircnimos a relaccedilatildeo de grupos eacutetnicos terem passado ou habitado na regiatildeo pode ter

influenciado na nomeaccedilatildeo do designativo Na regiatildeo observada viveram escravos negros que

formaram um comunidade rural desta forma podem ter influenciado o nomeador no ato do

batismo do ribeiratildeo Mucambo

A partir do sociotopocircnimo analisado observamos em Carvalhinhos (2003 p 172) que

Os atuais estudos onomaacutesticos no Brasil vecircm justamente resgatando a histoacuteria

social contida nos nomes de uma determinada regiatildeo partindo da etimologia

para reconstruir os significados e posteriormente traccedilar um panorama

motivacional da regiatildeo em questatildeo como um resgate ideoloacutegico do

denominador e preservaccedilatildeo do fundo de memoacuteria

Desta forma ao traccedilar um panorama dos topocircnimos analisados eacute elementar que o

nomeador ao longo das nomeaccedilotildees buscou em suas bases motivacionais preservar a memoacuteria

local seja nos fatores fiacutesicos e ou sociais Para configurar tais dados no proacuteximo subtoacutepico

analisaremos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados

43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos

Analisar as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos estratos linguiacutesticos antes de mais

nada eacute perceber as influecircncias das etnias que povoaram o nosso paiacutes e regiatildeo Sabemos que no

iniacutecio do seacuteculo XVI quando os povos lusoacutefonos chegaram em terras brasileiras os iacutendios jaacute

as habitavam embora fossem os donos da terra tatildeo logo os portugueses se instalaram e se

fizeram os novos donos Mas no decorrer dos seacuteculos outros povos foram chegando e tambeacutem

se instalando no local daiacute retiramos a origem dos estratos linguiacutesticos dos topocircnimos analisados

nesta pesquisa

De acordo com Dick (1992 p 81)

108

a formaccedilatildeo etno-histoacuterica do Brasil acusa a existecircncia de estratos

populacionais diversos como os ameriacutendios distribuiacutedos em vaacuterios troncos e

famiacutelias Os portugueses os africanos e os de procedecircncia estrangeira jaacute em

eacutepoca posterior agrave colonizaccedilatildeo propriamente dita Essa origem heterogecircnea

deixou reflexos diferenciados na liacutengua nos usos e costumes nas tradiccedilotildees

regionais e consequentemente na toponiacutemia do paiacutes

Perceber essa heterogeneidade linguiacutestica na formaccedilatildeo dos topocircnimos eacute fundamental

visto que dos 15 topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO a sua maioria

eacute de origem indiacutegena isso revela que apesar do processo de colonizaccedilatildeo e imposiccedilatildeo da liacutengua

portuguesa a liacutengua dos nativos ainda prevaleceu ao menos na designaccedilatildeo toponiacutemica E no

graacutefico abaixo apresentamos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados

Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos

Analisar as origens dos topocircnimos eacute reconhecer segundo Dick (2006) que a Toponiacutemia

pode conviver com dois movimentos vivenciados de linguagem i) a nativa (linguagem

indiacutegena) e ii) a advena ou seja de iacutendole civilizatoacuteria pois ambas colaboraram para a

formaccedilatildeo dos brasileirismos e regionalismos mas natildeo apenas presentes na liacutengua Podemos

assim constatar em nossas anaacutelises que o vivenciado de acordo com a linguagem ldquonativardquo foi

a que teve maior frequecircncia neste estudo

Observamos no graacutefico IV a frequecircncia das liacutenguas que deram origem aos 15 topocircnimos

dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO e no que se segue procedemos com as

anaacutelises e logo apoacutes a estrutura morfoloacutegica

005

115

225

335

445

5

OrigemEtimologia dos Topocircnimos

109

O topocircnimo coacuterrego Laranjal eacute de origem Aacuterabe a influecircncia dessa liacutengua em nossa

regiatildeo nos eacute evidenciada no iniacutecio do seacuteculo XX com a fundaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio-

GO os aacuterabes foram um dos primeiros imigrantes que aqui chegaram bem como tiveram um

destaque na aacuterea comercial possivelmente este topocircnimo tenha relaccedilotildees com esse fato No que

tange agrave frequecircncia a liacutengua Aacuterabe (esta liacutengua influenciou imensamente o leacutexico da Liacutengua

Portuguesa) corresponde a 7 (01) dos topocircnimos analisados

Ainda contatamos outras liacutenguas como a Hebraica ndash ribeiratildeo Sampaio Preacute-romana ndash

coacuterrego Barreiro Sacircnscrito ndash ribeiratildeo Marataacute e ainda de Origem Obscura ndash ribeiratildeo Bauacute

Cada uma dessas liacutenguas correspondem agrave frequecircncia de 7 (01) dos topocircnimos analisados

provavelmente as devidas nomeaccedilotildees se devem ao fato da vinda de pessoas de outros

continentes em busca de melhores condiccedilotildees de vida e assim contribuiacuterem com a formaccedilatildeo

dos designativos dos cursos drsquoaacutegua

Os dados da toponiacutemia brasileira em relaccedilatildeo agrave origem dos topocircnimos satildeo de origem da

Liacutengua Portuguesa devido a colonizaccedilatildeo jaacute que os povos lusoacutefonos aqui chegaram e segundo

Dick (1995 p 60)

os primeiros topocircnimos funcionavam portanto como verdadeiros ldquosign-

postsrdquo ou marcas semioacuteticas de identificaccedilatildeo dos lugares usadas com a

finalidade de distinguir as caracteriacutesticas de espaccedilos semelhantes uma forma

uma silueta o perfil de uma paisagem se apresentando como recortes de uma

corografia maior a ser detalhada

Os povos lusoacutefonos nomeavam os lugares de acordo com caracteriacutesticas do lugar

Assim os topocircnimos por nograves analisados ndash coacuterrego Brumado coacuterrego da Terra Vermelha

ribeiratildeo Cachoeira e rio do Peixe ndash satildeo de origem latina liacutengua que deu origem agrave Liacutengua

Portuguesa e entre os topocircnimos estudados referem ao percentual de 29 (04 topocircnimos) dos

analisados

No processo de colonizaccedilatildeo do Brasil os portugueses necessitavam de matildeo-de-obra

mas como natildeo tiveram ecircxito com os iacutendios entatildeo foi necessaacuterio a busca de outros povos com

isso trouxeram os escravos E no processo de nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de

Pires do Rio-GO a Liacutengua Portuguesa (Aacutefrica) um percentual de 7 (01) dos topocircnimos ndash

ribeiratildeo Mucambo ndash que eacute especificado como o local esconderijo de escravos fugitivos Haacute

relatos de que na regiatildeo da zona rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tem uma localidade

que foi constituiacuteda em sua maioria populacional por escravos provavelmente pode esse

topocircnimo ter sido influenciado por tal fato

110

Em sua maioria 36 (05) dos topocircnimos analisados satildeo de origem Tupi ndash coacuterrego

Caiapoacute coacuterrego Itauacutebi ribeiratildeo Taquaral rio Corumbaacute e rio Piracanjuba ndash e segundo Bearzoti

Filho (2002 p 43) ao tratar das designaccedilotildees de origem tupi assinala que ldquoem grande parte

trata-se de topocircnimos atribuiacutedos natildeo por iacutendios mas por bandeirantes que como jaacute vimos

utilizavam a liacutengua geral como idioma de comunicaccedilatildeo ordinaacuteria em suas expediccedilotildeesrdquo

E de acordo com Sampaio (1928 p 02)

ao europeu poreacutem ou aos seus descendentes cruzados que realizaram as

conquistas dos sertotildees eacute que se deve a maior expansatildeo do tupi como liacutengua

geral dentro das raias atuais do Brasil As levas que partiam do litoral a

fazerem descobrimentos falavam no geral o tupi pelo tupi designavam os

novos descobertos os rios as montanhas os proacuteprios povoados que fundavam

e que eram outras tantas colocircnias espalhadas nos sertotildees falando tambeacutem o

tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo

Ao firmar o ato de nomeaccedilatildeo das localidades constatamos que o tupi liacutengua de origem

do maior nuacutemero de topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO

possivelmente deve-se agrave influecircncia das seguintes relaccedilotildees a internalizaccedilatildeo de nomes de origem

tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para Goiaacutes e a presenccedila de iacutendios como jaacute

mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo viveram regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da

colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)

Ainda consoante Pereira (2009 p 27) observamos que

A toponiacutemia brasileira como um todo reuacutene uma grande quantidade de nomes

de base indiacutegena na nomeaccedilatildeo de acidentes geograacuteficos que evidenciam

marcas da presenccedila de vaacuterias etnias na nomenclatura geograacutefica brasileira Um

estudo toponiacutemico numa dimensatildeo etnolinguiacutestica analisa desde a origem

dos nomes ateacute as influecircncias socioculturais da populaccedilatildeo que habita o espaccedilo

geograacutefico em estudo na forma de nomear os acidentes fiacutesicos verificando se

no momento da designaccedilatildeo de um lugar o designador apropriou-se de nomes

cuja origem procedeu de estratos linguiacutesticos de base portuguesa ou de outras

liacutenguas que influenciaram a formaccedilatildeo do leacutexico do portuguecircs brasileiro

principalmente as liacutenguas indiacutegenas e africanas

Ao analisarmos os topocircnimos dos cursos drsquoagua do municiacutepio de Pires do Rio-GO

podemos constatar que em sua maioria as liacutenguas que lhe deram origem foram as indiacutegenas e a

latina as outras que representaram um percentual menor possivelmente estatildeo ligadas agrave vinda

de outras etnias que ajudaram na formaccedilatildeo populacional do Brasil e de Goiaacutes

111

44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos

Com vistas nos paracircmetros teoacuterico-metodoloacutegicos da pesquisa seguindo o que eacute

estabelecido por Dick (1992) ao que se refere a estrutura morfoloacutegica o topocircnimo pode ser

classificado como simples composto e composto hiacutebrido que de acordo Dick (1992 p 14)

ldquotopocircnimo que em sua estrutura haacute a presenccedila de duas bases linguiacutesticas distintas por exemplo

tupi + portuguecircsrdquo mas natildeo encontrado em nossa pesquisa A partir disto tomamos o graacutefico V

para procedermos com a anaacutelise

Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos

Dos 15 sintagmas toponiacutemicos catalogados uma representaccedilatildeo de 87 (13 topocircnimos)

satildeo de estrutura simples que no processo de nomeaccedilatildeo o nomeador utilizou apenas um

formante ou seja um elemento designativo Jaacute os compostos aparecem em um percentual de

13 (02 topocircnimos) formados por mais de um formante lexical

Ao trazermos essas informaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos topocircnimos observamos que

como uso de substantivos e adjetivos o denominador acaba por trazer caracteriacutesticas do local

onde nomes comuns passam a formar nomes proacuteprios e segundo Dick (2006 p 108)

o topocircnimo integraraacute natildeo uma categoria descritiva de nomes nem um iacutendice

cromaacutetico desvinculado de outras consideraccedilotildees culturais e sim o que

chamamos na teoria de nomes transplantados deslocados ou transferidos de

seu lugar de origem para outros pontos distantes formando uma nova

sequecircncia nominal

0

2

4

6

8

10

12

14

SIMPLES COMPOSTO

Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos

112

No processo de nomeaccedilatildeo o nomeador faz uso de designativos que aleacutem de sofrer

certos deslocamentos como jaacute mencionado de nome comum para nome proacuteprio haacute tambeacutem

casos de alguns topocircnimos sofrerem alteraccedilotildees em suas estruturas morfoloacutegicas como o caso

do designativo ribeiratildeo Mucambo que em suas origens traz a grafia de mocambo

No decorrer deste estudo e anaacutelises foi possiacutevel perceber que os topocircnimos aleacutem de

servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais da sociedade a

que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e costumes da sociedade E ao final foi

notoacuterio perceber nas liacutenguas que deram origem aos topocircnimos a estreita relaccedilatildeo com o

ambiente pois de alguma forma o nomeador obteve motivaccedilatildeo tanto do espaccedilo meio ambiente

como da liacutengua propriamente dita

113

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao propormos estudar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO tomamos por base caracterizar o ato de nomear e dele reiteramos e pode ser observado em

sua totalidade a relaccedilatildeo de poder pois nomear eacute instituir E eacute por meio do batismo do topocircnimo

que ele se instaura e revela as relaccedilotildees do meio ambiente com o homem eou do homem com

meio que o circunda As consideraccedilotildees finais ora apresentadas referem-se aos estudos

toponiacutemicos relacionados apenas ao contexto local desta pesquisa mas muito ainda haacute de ser

estudado na aacuterea em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia em Goiaacutes

Os objetivos da pesquisa constituem-se basicamente em descrever e analisar os

topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO observando

noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural Assim em

sua maioria os elementos fiacutesicos sobressaiacuteram sobre os demais pois no total de 15 topocircnimos

analisados um percentual de 67 (10 topocircnimos) foram motivados pelos aspectos fiacutesicos

sendo que os de origem vegetal fitotopocircnimos e animal zootopocircnimos tiveram maior

recorrecircncia Assim concretizamos que o ambiente influenciou o nomeador no ato do batismo

estabelecendo as relaccedilotildees entre liacutengua e ambiente inclusive com os aspectos extralinguiacutesticos

A maior incidecircncia de taxionomias de natureza fiacutesica nesta pesquisa demonstra a

tendecircncia do denominador de nomear os lugares com nomes dos elementos fiacutesicos da natureza

circundante numa constataccedilatildeo de que o meio ambiente exerce grande influecircncia sobre o

homem refletindo-se tambeacutem no processo de nomeaccedilatildeo dos lugares

Jaacute no que tange agraves taxionomias de natureza antropocultural em nossas anaacutelises com um

percentual de 33 (05 topocircnimos) os etnotopocircnimos que fazem referecircncia a elementos eacutetnicos

foram os com maior frequecircncia Observamos nas taxes de natureza antropocultural que os

fatores culturais foram os motivadores para a designaccedilatildeo dos topocircnimos analisados

evidenciando as relaccedilotildees do homem com o ambiente que o cerca Para tanto foi necessaacuterio

identificar os fatores que constituem a motivaccedilatildeo que subjazem agrave escolha do nome do lugar

que foi possibilitado por meio da caracterizaccedilatildeo de fatores sociais culturais histoacutericos que nos

auxiliaram nas anaacutelises dos topocircnimos

A hipoacutetese inicial da pesquisa foi de que pelo caraacuteter motivado o signo toponiacutemico

possibilita reconhecer fatores vinculados ao que subjaz agrave escolha dos nomes de lugares e assim

nos possibilitou o levantamento de fatores soacutecio-histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave

anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua como iacutendice de estreita relaccedilatildeo entre

liacutenguaambiente e cultura E pudemos observar que os topocircnimos estabelecem relaccedilotildees da

114

liacutengua e meio ambiente no que concerne agrave anaacutelise das taxionomias de natureza fiacutesica e a

posteriori as relaccedilotildees de liacutengua e cultura que foram evidenciadas nas taxionomias de natureza

antropocultural Nas taxes analisadas foi possiacutevel detectar que o ambiente e o contexto satildeo

fundantes nas motivaccedilotildees que subjazem aos topocircnimos analisados Desta forma entende-se que

um rio um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que uma vez nomeados passam a carregar as

inuacutemeras memoacuterias do lugar

Os fatores soacutecio-histoacutericos-culturais do municiacutepio de Pires do Rio-GO foram

imprescindiacuteveis no processo de anaacutelise dos designativos dos lugares pois no caso do topocircnimo

ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo ficou evidente que o fato motivador foi a relaccedilatildeo de poder

do nome devido ao ribeiratildeo ter sua nascente em terras que eram do coronel Lino Teixeira de

Sampaio e tambeacutem por ter sido ele o doador das terras em que surgiu o referido municiacutepio

Ao levantar as perguntas de pesquisa qual a origem dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da

cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do

lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo Apoacutes ter analisado os 15

topocircnimos fica evidente que todos os nomes estatildeo registrados nas cartas topograacuteficas e satildeo

oficializados pelo IBGE mas provavelmente os nomes foram dados pela comunidade que

habitou nas localidades ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas que foram levantadas nos designativos

fazendo referecircncia ao local

Por meio da caracterizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico

onomasioloacutegico que foi o norte da pesquisa combinado com outros meacutetodos como o Woumlrter

und Sachen (palavras e coisas) numa abordagem qualiquantitativa foi evidente na relaccedilatildeo da

toponiacutemia que os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos

lugares Nesse iacutenterim nos foi possiacutevel quantificar os topocircnimos em relaccedilatildeo as taxionomias

origem e estrutura morfoloacutegica percebendo as ocorrecircncias em maior frequecircncia

A anaacutelise do ponto de vista etnolinguiacutestico demonstrou a predominacircncia de topocircnimos

originaacuterios da liacutengua indiacutegena um percentual de 36 essa recorrecircncia eacute supostamente devido

agrave internalizaccedilatildeo de nomes de origem tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para

Goiaacutes e agrave presenccedila de iacutendios como jaacute mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo

viveram na regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e

consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)

A liacutengua latina que deu origem agrave liacutengua portuguesa aparece e 29 dos topocircnimos

analisados isso devido aos povos lusoacutefonos que nomeavam os lugares com as caracteriacutesticas

que se estabeleciam com os referidos locais por eles percorridos e habitados E tambeacutem outras

liacutenguas tiveram uma menor frequecircncia como a aacuterabe hebraica preacute-romana sacircnscrito e

115

tambeacutem um topocircnimo de origem obscura fica evidente que outras etnias influenciaram na

nomeaccedilatildeo dos lugares Pode ser pelo fato de o nomeador pertencer a etnia ou ter alguma relaccedilatildeo

indireta

Quanto agrave estrutura morfoloacutegica do toacutepico de acordo com Dick (1992) dos analisados

87 satildeo de formaccedilatildeo simples tendo apenas um formante e 13 satildeo compostos com dois

formantes lexicais assim os compostos revelam mais de uma caracteriacutestica do local nomeado

e caracteriza mais de uma taxionomia

De forma peculiar esta pesquisa aleacutem de proceder com as anaacutelises de classificaccedilatildeo

origemetimologia morfoloacutegica e semacircntico-toponiacutemicas remapeou e cartografou os cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO sem mencionar no revisitar da formaccedilatildeo histoacuterica

deste municiacutepio e da contribuiccedilatildeo com os estudos toponiacutemicos no estado de Goiaacutes

Os topocircnimos aleacutem de servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas

fiacutesicas e sociais da sociedade a que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e

costumes dessa sociedade E ao perceber essas relaccedilotildees de liacutenguaambiente e cultura na

designaccedilatildeo do topocircnimo eacute que propomos para discussatildeo futura doutorado a partir da

ecolinguiacutestica e da toponiacutemia proceder com a anaacutelise da relaccedilatildeo de liacutengua e meio ambiente nos

hidrocircnimos das bacias hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes

116

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AGRADECIMENTOS

ldquoE agora eis o que diz o Senhor aquele que te criou Jacoacute e te formou Israel nada

temas pois eu te resgato eu te chamo pelo nome eacutes meurdquo (ISAIacuteAS 431) Senhor de Israel

foi por chamar-me pelo nome eacute que constitui esta graccedila sem o Seu amor e graccedila eu nada seria

pois colocou-me em peacute quando pensava natildeo mais conseguir caminhar e de amparo me enviaste

o Espiacuterito Santo e a Virgem Maria graccedilas rendo agrave Santiacutessima Trindade e agrave Virgem por

caminharem comigo e natildeo me deixar perder no caminho

ldquoOs filhos satildeo heranccedila do Senhor uma recompensa que ele daacute Como flechas nas matildeos

do guerreiro satildeo os filhos nascidos na juventude Como eacute feliz o homem que tem a sua aljava

cheia deles Natildeo seraacute humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunalrdquo (SALMO 1273-

5) Famiacutelia o que seria de mim sem vocecircs nada Matildee e pai sempre com amor mesmo que

velado souberam educar seus dois filhos na dignidade para que se constituiacutessem verdadeiros

homens e de bem Mesmo com as dificuldades da vida em momento algum se abateram foram

fieacuteis agrave missatildeo designada de serem pais a vocecircs minha eterna gratidatildeo e se hoje concretizo esta

fase em minha vida ela eacute tatildeo minha quanto de vocecircs muito obrigado Amo vocecircs

As relaccedilotildees de afeto e cuidado sempre foram o nosso maior elo a vocecircs que sempre

torceram por mim e a cada conquista vibraram intensamente obrigado meu irmatildeo cunhada

sobrinha afilhados tios primos padrinhos e a matriarca de nossa famiacutelia minha adorada avoacute

Que Deus continue fazendo de noacutes uma famiacutelia de princiacutepios e sempre grata a Ele por tudo

ldquoO amigo ama em todos os momentos eacute um irmatildeo na adversidaderdquo (PROVEacuteRBIOS

1717) Amigos famiacutelia que a vida me deu de presente mencionar nomes aqui seria muito

injusto cada um com seu jeito e adversidade me ensinaram que a vida natildeo se resume apenas

em bons momentos pois estiveram comigo em momentos nada agradaacuteveis souberam respeitar

o meu silecircncio minhas ausecircncias e o melhor vibraram comigo todos os momentos desta

conquista a vocecircs meus ldquoirmatildeos na adversidaderdquo muito obrigado

Aos colegas e amigos do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem

Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo nos encontros da vida sempre tecircm surpresas

a melhor de todas foi poder construir com muitos de vocecircs verdadeiros laccedilos de amizade que

iratildeo perpetuar para todo sempre soacute posso neste momento agradecer pelos momentos de troca

de experiecircncias e conhecimento e desejar sucesso a todos

ldquoO ensino dos saacutebios eacute fonte de vida e afasta o homem das armadilhas da morterdquo

(PROVEacuteRBIOS 1314) Ensinar eis o dom com tanta dedicaccedilatildeo e carinho muitos mestres

conduziram-me ateacute aqui e foi com a graccedila do ensino dos saacutebios eacute que natildeo caiacute nas armadilhas

pois tambeacutem me tornei saacutebio Professora doutora eterna orientadora Kecircnia Mara de Freitas

Siqueira nenhuma palavra eacute capaz de expressar a gratidatildeo que tenho por vocecirc foram anos de

ensinamentos e agora se concretizam com mais esta fase sou e serei eternamente grato por me

apresentar a Toponiacutemia pois ela me levaraacute a mais um degrau no meio acadecircmico Obrigado

por tudo Deus lhe pague

Aos professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem

Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo que muito contribuiacuteram para a construccedilatildeo

desta pesquisa Fabiacuteola Aparecida Sartin Dutra Parreira Almeida Maria Helena de Paula e

Vanessa Regina Duarte Xavier A professora Vivian Regina Orsi Galdino de Souza do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio

de Mesquita Filhordquo cacircmpus Satildeo Joseacute do Rio Preto-SP obrigado pelos seus vastos ensinamentos

e por permitir que cursasse a disciplina ldquoIntroduccedilatildeo aos Estudos Lexicograacuteficosrdquo Mestres

obrigado pelos ensinamentos e momentos de descontraccedilatildeo e alegria vocecircs foram capazes de

mostrar que o universo da pesquisa tambeacutem se constitui na felicidade e prazer

ldquoTodo trabalho aacuterduo traz proveito mas o soacute falar leva agrave pobrezardquo (PROVEacuteRBIOS

1423) O trabalho dignifica o homem palavras estas do livro da vida a biacuteblia sagrada Minha

vida desde a infacircncia foi pautada no estudo e no trabalho assim todos os trabalhos que tive me

possibilitaram crescer enquanto ser humano e profissional Registro aqui os meus mais sinceros

agradecimentos aos colegas e amigos do Coleacutegio Estadual Professor Ivan Ferreira minha eterna

casa pois foi laacute que tive o prazer em estudar e depois retornar como profissional inclusive ser

gestor deste honrado estabelecimento de ensino Aos colegas e amigos do Instituto Federal

Goiano ndash Campus Urutaiacute obrigado por permitirem dividir com vocecircs este espaccedilo de

conhecimento e aprendizado

A banca examinadora deste trabalho professores Karylleila dos Santos Andrade

Vanessa Regina Duarte Xavier e Alexandre Antoacutenio Timbane registro os meus mais sinceros

agradecimentos pelas valorosas contribuiccedilotildees no Exame de Qualificaccedilatildeo e agora na defesa deste

trabalho Deus lhes pague

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de

Goiaacutes Regional Catalatildeo na pessoa da coordenadora Luciana Borges obrigado por dar

possiblidades que novos pesquisadores se formem no acircmbito dos estudos da linguagem

Enfim sozinho natildeo sou nada sempre necessitarei de outros por isso a todos os que

foram meu alicerce para a concretizaccedilatildeo de mais esta etapa em minha vida algo sonhado haacute

muito tempo receba o meu muito obrigado e Deus lhes pague

ldquoO nome eacute um certo sentido a proacutepria coisa dar

nome agraves coisas eacute conhececirc-las e apropriar-se

delas a denominaccedilatildeo eacute o ato da posse espiritualrdquo

(MIGUEL UNAMUNO)

RESUMO

Esta pesquisa centra-se nos estudos toponiacutemicos e tem como objetivo descrever e analisar a

origemetimologia morfoloacutegica e semanticamente dos topocircnimos da hidrografia da cidade de

Pires do Rio-GO para identificar as relaccedilotildees entre esses designativos de lugares e respectivos

fatores contextuais que por ventura possam conter indiacutecios da motivaccedilatildeo toponiacutemica O

levantamento dos topocircnimos foi feito por meio de documentos oficiais mapas do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Instituto Mauro Borges (IBM) numa escala de

1100000 e das cartas topograacuteficas A pesquisa eacute de base documental numa abordagem

qualiquantitativa O meacutetodo da pesquisa eacute o onomasioloacutegico e indutivo parte-se de casos

particulares para uma verdade geral combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica de

estudo das designaccedilotildees com o objetivo de analisar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito

A anaacutelise do corpus da pesquisa deu-se apoacutes o levantamento dos 46 topocircnimos dos cursos

drsquoaacutegua dentre os quais 15 satildeo analisados neste estudo Nesse sentido parte-se do princiacutepio de

que o signo toponiacutemico eacute motivado pois fatores extralinguiacutesticos influenciam o nomeador no

ato de nomear na perspectiva de que a liacutengua recorta a realidade agrave sua maneira (Sapir-Whorf)

sendo que a proacutepria liacutengua eacute um depositaacuterio de cultura assim os topocircnimos revelam fatores

soacutecio-histoacuterico-culturais do lugar que o nomeia A histoacuteria e a geografia do municiacutepio de Pires

do Rio-GO foram fundantes para as anaacutelises que nas bases onomasioloacutegicas e indutivas

evidenciam que o local e suas caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais influenciam o nomeador no ato

do batismo do topocircnimo Perceber as relaccedilotildees de nomeaccedilatildeo e nomeador satildeo fatores que por

meio das classificaccedilotildees taxionocircmicas satildeo revelados sem deixar de perceber tambeacutem que a

origem dos nomes e sua estrutura morfoloacutegica evidencia os fatores contextuais a que da liacutengua

cultura e ambiente estatildeo impregnados no topocircnimo isso tudo agrave vista de quem o designou

Palavras-Chave Toponiacutemia Liacutengua Cultura Pires do Rio Hidrografia

ABSTRACT

This research focuses on the toponymic studies and aims to describe and analyze the origin of

the names morphological and semantic of designatory toponyms of the hydrography of Pires

do Rio-GO city to identify the relations between these designative places and their respective

contextual factors which may by chance contain indications of toponymic motivation The

research of the toponyms was done by means of official documents maps of the Brazilian

Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Mauro Borges Institute (IBM) on a scale of

1 100000 and topographic maps The research is documentary based in a qualitative and

quantitative approach the research method is the onomasiological method combined with other

methods which consists of the study of designations with the purpose of studying the various

names attributed to a concept The analysis of this researchrsquos corpus took place after the survey

of the 46 toponyms of the watercourses from which 15 are analyzed in this study In this sense

it is assumed that the toponymic sign is motivated once extralinguistic factors influence the

nominator in the act of naming in the perspective that the language outlines reality in its own

way (Sapir-Whorf) and the language itself is a depository of culture thus toponyms reveal

socio-historical-cultural factors of the place that names it The history and geography of Pires

do Rio-GO city was the basis for the analyzes which on the onomasiological bases show that

the place and its physical and social characteristics influence the nominator in the moment of

the toponym baptism To perceive naming and nominator relationships are factors that are

revealed through the taxonomic classifications noticing at the same time that the origin of the

names and their morphological structure reveals the contextual factors that are impregnated in

the toponymy of the language culture environment aspects from the point of view of who

appointed it

Keywords Toponymy Language Culture Pires do Rio Hydrography

LISTA DE ABREVIATURAS

ATEGO ndash Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes

ATB ndash Atlas Toponiacutemico Brasileiro

DSG ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito

ETE ndash Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FCA ndash Ferrovia Centro Atlacircntica

GO ndash Goiaacutes

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBM ndash Instituto Mauro Borges

IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano

M ndash Municiacutepio

PEA ndash Populaccedilatildeo Economicamente Ativa

RFFSA ndash Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima

SD ndash Sem data

SE ndash Secccedilatildeo

LISTA DE FICHAS

Ficha 01 ndash Pires do Riohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip67

Ficha 02 ndash Coacuterrego Laranjal89

Ficha 03 ndash Ribeiratildeo Taquaralhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip90

Ficha 04 ndash Ribeiratildeo Cachoeirahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip91

Ficha 05 ndash Coacuterrego Barreiro93

Ficha 06 ndash Coacuterrego Terra Vermelha94

Ficha 07 ndash Coacuterrego Itauacutebi96

Ficha 08 ndash Ribeiratildeo Brumado96

Ficha 09 ndash Rio Corumbaacute98

Ficha 10 ndash Rio do Peixe98

Ficha 11 ndash Rio Piracanjuba99

Ficha 12 ndash Ribeiratildeo Sampaio101

Ficha 13 ndash Ribeiratildeo Bauacute104

Ficha 14 ndash Ribeiratildeo Caiapoacute105

Ficha 15 ndash Ribeiratildeo Marataacute105

Ficha 16 ndash Ribeiratildeo Mucambo106

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Natureza das Taxionomias87

Graacutefico 2 ndash Taxionomias de Natureza Fiacutesica88

Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural101

Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos108

Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos111

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 ndash Pires do Rio(GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio(GO)74

Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)83

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo44

Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos57

Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Recenseamento 76

Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Contagem 76

Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio(GO) 77

Quadro 6 ndash Os cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO) 78

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO20

I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO 25

11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear 25

12 Liacutengua e Cultura 33

13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes 39

14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica 43

15 Linguiacutestica Histoacuterica 47

II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS 51

21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos 51

212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica 53

22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia 57

III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO 66

31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte 66

32 Pires do Rio geograacutefico 74

33 Os cursos daacutegua 78

IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR81

41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural 84

42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos daacutegua de Pires do Rio-GO 87

421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos88

4211 Fitotopocircnimos89

4212 Hidrotopocircnimos91

4213 Litotopocircnimos93

4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos94

4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos95

4216 Meteorotopocircnimos96

4217 Zootopocircnimos97

422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos100

4221 Antropotopocircnimos101

4222 Ergotopocircnimos103

4223 Etnotopocircnimos104

4224 Sociotopocircnimos106

43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos107

44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos111

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS113

REFEREcircNCIAS 116

20

INTRODUCcedilAtildeO

Ao dar nome a seres e objetos o homem tambeacutem os categoriza jaacute que eacute o ato de nomear

que daacute existecircncia a algo ou algueacutem Eacute por meio do nome que haacute identificaccedilatildeo e principalmente

a diferenciaccedilatildeo dos seres e dos objetos No ato da nomeaccedilatildeo diversos aspectos extralinguiacutesticos

podem influenciar o nomeador isso pode caracterizar especificamente a motivaccedilatildeo que subjaz

a qualquer signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica A motivaccedilatildeo por sua vez eacute reveladora de

inuacutemeros aspectos que estatildeo na base da inter-relaccedilatildeo liacutengua cultura e ambiente pois o nome

proacuteprio de lugar como fato da liacutengua identifica e guarda uma significaccedilatildeo precisa oriunda de

aspectos fiacutesicos ou culturais Desta forma busca-se mediante o estudo dos designativos dos

cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO descrever essa relaccedilatildeo (liacutengua cultura e

ambiente) Entende-se assim que um rio um riacho um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que

uma vez nomeados passam a carregar as inuacutemeras memoacuterias do lugar

Em decorrecircncia disso abrem-se possibilidades de inter-relacionar aacutereas do saber

humano com vista a estabelecer algum viacutenculo epistemoloacutegico a fim de proporcionar novos

olhares sobre um objeto jaacute descrito e analisado por outra aacuterea do conhecimento a geografia

mas restrito a um uacutenico niacutevel de anaacutelise linguiacutestica Isso leva a considerar os aspectos da

linguagem dentro de uma visatildeo interdisciplinar que pode trazer entre tantas contribuiccedilotildees o

fato de entendecirc-los na totalidade como em uma rede de relaccedilotildees Em outras palavras oferece

a possibilidade de analisar os fatos linguiacutesticos de maneira holiacutestica uma vez que os fatores

envolvidos na interaccedilatildeo devem ser concebidos como um todo formado por componentes que se

relacionam entre si

Entrecruzar as aacutereas de geografia e da linguiacutestica eacute um trabalho que jaacute se tem feito e

alguns estudiosos como eacute o caso de Menezes e Santos (2007 apud Menezes Santos Santos

2010) tratam a toponiacutemia na geografia como geoniacutemia Para Andrade (2010 p 105-106)

Natildeo se pode pensar em toponiacutemia desvinculada de outras ciecircncias como

histoacuteria geografia antropologia cartografia psicologia e a proacutepria

linguiacutestica Deve ser pensada como um complexo linguiacutestico-cultural um fato

do sistema das liacutenguas humanas Faz parte de uma ciecircncia maior que se

subdivide em toponiacutemia e antroponiacutemia

Assim esta pesquisa eacute relevante para a aacuterea dos estudos da linguagemlinguiacutesticos como

para a geografia sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo histoacuterico-cultural sobre a cidade de

Pires do Rio-GO e levado a conhecimento puacuteblico

21

Fazer esse estudo acerca da hidrografia da cidade de Pires do Rio eacute elementar elencando

natildeo soacute estudos semacircnticos lexicais origemetimologia dos termos mas tambeacutem soacutecio-

histoacuterico-culturais de um povo Algo ainda se faz pertinente na definiccedilatildeo do problema pois foi

assim que surgiu o interesse por este estudo em conversas informais com pessoas da cidade

obtive respostas que aguccedilaram esta pesquisa pois proacuteximo de Pires do Rio-GO cerca de uns

3 km da cidade haacute um determinado ribeiratildeo o qual a comunidade local denomina de Pedro

Teixeira mas na verdade esse nome eacute dado agrave ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo e foi construiacuteda

pelo fazendeiro Sr Pedro Teixeira embora o nome que se apresenta na carta topograacutefica seja

ribeiratildeo Sampaio

Diante da problematizaccedilatildeo qual a origemetimologia dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da

cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do

lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo A partir disso centra-se o

nosso estudo em descrever e analisar a origemetimologia dos termos a morfologia e a

semacircntica investigando e verificando os topocircnimos e as relaccedilotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo

de Pires do Rio-GO

Preliminarmente trabalha-se com a seguinte hipoacutetese de pesquisa pelo seu caraacuteter

motivado o signo toponiacutemico possibilita reconhecer fatores vinculados agrave motivaccedilatildeo que subjaz

agrave escolha dos nomes de lugares o que pode possibilitar o levantamento de fatores soacutecio-

histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua

como iacutendice da estreita relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura A toponiacutemia dos cursos drsquoaacutegua de Pires

do Rio-GO incorpora caracteriacutesticas sociais linguiacutesticas e culturais da regiatildeo a que pertence

Este eacute um dos embates fundantes de nosso estudo assim espera-se com esta pesquisa

cartografar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO com base na

metodologia do ATB (Atlas Toponiacutemico Brasileiro) como sugerido por Dick (1990 2004)

Posto isso ao final responderemos agraves perguntas de pesquisa jaacute mencionadas

anteriormente e ainda contribuiremos com as pesquisas na aacuterea da Onomaacutestica que estatildeo

desenvolvendo-se em Goiaacutes Conveacutem mencionar tambeacutem que uma das contribuiccedilotildees desta

pesquisa aleacutem de revisitar a histoacuteria e a cultura de uma regiatildeo eacute a de auxiliar na construccedilatildeo do

Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes ndash ATEGO

Assim o objetivo da pesquisa constitui-se basicamente em descrever e analisar os

topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua e de outros elementos hidrograacuteficos da regiatildeo do

municiacutepio de Pires do Rio-GO observando noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de

natureza fiacutesica e de natureza antropocultural Para tanto eacute necessaacuterio evidenciar os fatores que

constituem a motivaccedilatildeo que subjaz agrave escolha do nome do lugar o que requer a identificaccedilatildeo de

22

fatos sociais culturais histoacutericos elementos geograacuteficos (quando pertinente) e outras

motivaccedilotildees de diferentes naturezas

De uma maneira peculiar os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo i) remapear os

cursos hiacutedricos mediante o elenco de seus topocircnimos para cartografar os mapas da bacia

hidrograacutefica e dos topocircnimos seguindo a metodologia do Projeto ATB ii) verificar mediante

a anaacutelise linguiacutestica dos topocircnimos a motivaccedilatildeo referente agrave cultura e agrave histoacuteria e

principalmente aos aspectos fiacutesicos dos lugares que iniciaram o processo de nomeaccedilatildeo dos rios

coacuterregos ribeirotildees e quedas drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO (evidenciando o viacutenculo

liacutengua ambiente e cultura) iii) de alguma forma contribuir para o desenvolvimento dos estudos

toponiacutemicos em Goiaacutes

A metodologia consiste de uma pesquisa de natureza documental de abordagem

qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites

e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos puacuteblicos (mapas e cartas

topograacuteficas) e o meacutetodo da pesquisa eacute o de induccedilatildeo com ecircnfase para a observaccedilatildeo do fazer

onomasioloacutegico combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica especialmente o Woumlrter

und Sachen (palavras e coisas) O meacutetodo onomasioloacutegico e indutivo se constitui do estudo das

designaccedilotildees com o objetivo de estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Usando

esse meacutetodo pode-se investigar toda ou pelo menos parte da cultura popular de um local e

priorizar aspectos sincrocircnicos ou histoacutericos se necessaacuterio for Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os

aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos lugares

Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de dissertaccedilatildeo de Mestrado sobre Os

cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio anaacutelise das motivaccedilotildees toponiacutemicas produzida no acircmbito do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem Universidade Federal de Goiaacutes ndash

Regional Catalatildeo que focaliza os topocircnimos hiacutedricos do municiacutepio de Pires do Rio

Desta maneira este trabalho se estrutura em quatro capiacutetulos organizados de forma a

abranger os resultados desta pesquisa que articula por meio da linguagem quesitos histoacutericos

geograacuteficos e culturais

Assim no capiacutetulo I O nome e a atividade de nomeaccedilatildeo satildeo apresentadas

consideraccedilotildees referentes ao nome e ao ato de nomear no sentido de reformular questotildees teoacutericas

necessaacuterias ao levantamento de dados e agrave construccedilatildeo do corpus bem como agrave descriccedilatildeo dos

topocircnimos que designam os elementos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas drsquoaacutegua) do municiacutepio

de Pires do Rio-GO Para tanto o capiacutetulo traz uma revisatildeo dos conceitos de nome (comum

proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes tanto no sistema linguiacutestico

como em relaccedilatildeo agrave cultura e estabelecendo as relaccedilotildees de liacutengua e cultura pois a liacutengua

23

transporta a cultura no tempo e recorta agrave realidade agrave sua maneira Eacute necessaacuterio aqui trazer as

discussotildees teoacutericas acerca da toponiacutemia e do signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica que

sustentam a nossa pesquisa Ainda fazemos uma retomada do surgimento e desdobramento da

Linguiacutestica Histoacuterica pois eacute a partir dela que satildeo criados os meacutetodos de pesquisa os quais

contribuem para a aacuterea de estudo

O capiacutetulo II A metodologia da pesquisa e seus desdobramentos eacute praticamente uma

extensatildeo do primeiro porque procura reavaliar alguns meacutetodos usados em pesquisa onomaacutestica

com o objetivo de coadunar teoria meacutetodo e procedimentos de pesquisa

Neste capiacutetulo eacute possiacutevel rever algumas questotildees sobre os meacutetodos da linguiacutestica o

meacutetodo onomasioloacutegico que investiga as relaccedilotildees de significado e referecircncias partindo das

designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Ainda eacute

apresentada uma siacutentese do comparativismo e do meacutetodo Woumlrter und Sachen de Hugo

Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) pois de acordo com Bassetto (2001)

pode-se verificar pontos em comum que compartilham com o meacutetodo onomasioloacutegico Ao

enfatizar questotildees de ordem semacircntica das palavras ressalta-se a realidade que elas designam

para esses autores a verdadeira etimologia da palavra estaacute no conhecimento dessa realidade

Busca-se assim instruir sobre a necessidade de conhecer se possiacutevel o objeto designado por

um nome para que o significado possa ser explicitado adequadamente

Dados histoacutericos e geograacuteficos referentes agrave capital da estrada de ferro Pires do Rio

compotildeem o terceiro capiacutetulo A capital da estrada de ferro Pires do Rio de modo a traccedilar em

linhas gerais a histoacuteria da fundaccedilatildeo do municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XX em decorrecircncia da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz e da Estaccedilatildeo Feacuterrea Pires do Rio em 09 de novembro de

1922 A importacircncia deste municiacutepio se deve agrave estrada de ferro e obviamente aos primeiros

habitantes que para caacute acorreram acreditando no desenvolvimento da antiga ldquoTeteia do

Corumbaacuterdquo

No capiacutetulo quarto A toponiacutemia e suas relaccedilotildees com o lugar apresentamos a anaacutelise

dos dados as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural e as fichas lexicograacuteficas-

toponiacutemicas dos 15 topocircnimos analisados de acordo com os estudos de Dick (1992)

juntamente com a origem das liacutenguas e estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos daiacute procedemos

agraves anaacutelises das classificaccedilotildees toponiacutemicas que estatildeo presentes nos designativos dos cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO estabelecendo as relaccedilotildees motivacionais e semacircnticas

do topocircnimo com o local nomeado

Na sequecircncia satildeo apresentadas as Consideraccedilotildees Finais que retomam os resultados

obtidos ao teacutermino da pesquisa pautados nos objetivos e perguntas que orientaram este estudo

24

E por fim seguem as Referecircncias que sustentaram a parte teoacuterica e a construccedilatildeo do corpus

coletado

25

I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO

O conhecimento dos nomes natildeo eacute negoacutecio de

importacircncia somenos

(PLATAtildeO 2001)

Este capiacutetulo tem o objetivo de tecer de forma mais geral consideraccedilotildees acerca do nome

e do ato de nomear para reformular questotildees teoacutericas necessaacuterias ao levantamento de dados

para a construccedilatildeo do corpus e descriccedilatildeo dos hidrocircnimos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas

drsquoaacutegua) do municiacutepio de Pires do Rio-GO Para tanto os itens a seguir trazem uma revisatildeo dos

conceitos de nome (comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes

tanto no sistema linguiacutestico como em relaccedilatildeo agrave cultura jaacute que representam inuacutemeros aspectos

que culminam em certos criteacuterios para a nomeaccedilatildeo ou nominaccedilatildeo revelando em certo sentido

especificidades dessa cultura que satildeo evidenciadas na nomeaccedilatildeo Ao dar um nome a um objeto

ou a um lugar natildeo se reduz apenas a indicar mas a classificar situar identificar e sobretudo

uma vez categorizado inscreve-se tambeacutem em um sistema cognitivo permeado por essa mesma

cultura

11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear

O nome eacute a parte que caracteriza a existecircncia de algo ou algueacutem sem a especificidade

do nome o objeto ou a pessoa natildeo eacute identificada Aliaacutes em muitas situaccedilotildees o nome consolida

a existecircncia do objeto que passa a ldquoexistirrdquo como tal em decorrecircncia de ter um nome ou seja

o falante pode perceber no mundo apenas aquilo que conhece pelo nome O nome estaacute presente

em todas as esferas do desenvolvimento da humanidade Eacute parte constitutiva do proacuteprio ser

humano que se reconhece e se afirma face ao nome que carrega eacute tambeacutem o nome que lhe

rompe o anonimato e lhe confere de certa forma uma identidade

Segundo Silva (2000) eacute o nome que diferencia os seres e os objetos do mundo

Identidade e diferenccedila ocorrem simultaneamente como produto de um mesmo processo o da

identificaccedilatildeo Pode-se afirmar que depois de nomeado o objeto passa a ser identificado

tambeacutem pelas diferenccedilas que possui em relaccedilatildeo agravequilo que natildeo eacute ou melhor eacute diferenciado

face aos demais elementos do mundo extralinguiacutestico conferindo-lhe existecircncia Tem um nome

porque existe tornou-se conhecido e eacute reconhecido como elemento cultural importante para a

continuidade de uma populaccedilatildeo como um dos milhares de traccedilos que a caracteriza e desta

26

forma ldquoo processo de nomeaccedilatildeo eacute uma forma pela qual a sociedade cria os seus membros agrave sua

imagemrdquo (CABRAL 2007 p 85)

E em Craacutetilo Platatildeo narra um diaacutelogo entre Demoacutestenes e Craacutetilo acerca da justeza dos

nomes debates no qual Soacutecrates aponta para ambas as possibilidades isto eacute para os socraacuteticos

tanto se pode entender os nomes como vinculados agrave coisa como podem ser vistos como

inteiramente sem elo com as coisas do mundo Platatildeo (2001 p 48) justifica que o ato de nomear

era visto como uma pressuposiccedilatildeo da existecircncia de algo assim ldquoas coisas devem ser nomeadas

como lhes pertence por natureza serem nomeadas e por meio do que devem secirc-lo e natildeo como

noacutes queremos e assim faremos e nomearemos melhor mas de outra maneira natildeordquo

A nomeaccedilatildeo eacute assim uma atividade bastante significativa para o ser humano e se

constitui de uma accedilatildeo complementar do modo como determinada populaccedilatildeo entende o meio em

que vive essa eacute a linha de pensamento tanto de Dick (1990) como de outros estudiosos como

Basso (1988) Langacker (2002) Weisgerber (1977) Wierzbicka (1997) e Worf (1971) dos

fatos da linguagem como evidencia a assertiva que segue

Apreensatildeocompreensatildeo e transmissatildeoparticipaccedilatildeo de um dado qualquer do

saber humano satildeo atuantes de uma mesma e complexa evidecircncia relacional ndash

o ato comunicativo ndash que corporifica em sua expressividade um aglomerado

de situaccedilotildees liacutenguo-soacutecio-psiacutequicas Nele estaacute manifesto ainda que de modo

impliacutecito o registro pelo qual se concretizou a ldquoassimilaccedilatildeo do

mundordquo atraveacutes do coacutedigo de linguagem vivenciado por determinada

comunidade linguiacutestica (DICK 1990 p 29)

Natildeo eacute equivocado afirmar que o nome corporifica aquilo que determinada comunidade

assimilou de seu meio circundante mediante relaccedilotildees estabelecidas entre a liacutengua que

possibilita a representaccedilatildeo daquilo que foi evidenciado e as impressotildees sociopsiacutequicas oriundas

dos objetos do mundo que se tornaram salientes aos olhos do nomeador Assim recebe um

nome tudo aquilo que de uma forma ou de outra tornou-se um item da cultura seja um acidente

fiacutesico-natural (um rio uma espeacutecie botacircnica) ou um item criado culturalmente Em todas as

sociedades conhecidas haacute referecircncia aos nomes e consequentemente agrave accedilatildeo de nomear Muitas

vezes essa atividade humana eacute revestida de mitos e rituais que conferem ao nome poderes

maacutegicos ou sobre-humanos

Nas sociedades primitivas de acordo com Cunha (2004) um nome pode valorar o

sagrado ou o ritual isso pode ocorrer quando acontece a mudanccedila de nome (candombleacute e igreja

catoacutelica) desta forma ao nomear algueacutem eacute tocar-se na personalidade da pessoa e ateacute as partes

da escrita que compotildeem o nome satildeo carregadas de simbologia e forccedilas sobrenaturais Cunha

27

(2004 p 220) ainda acrescenta que ldquonas mais diversas culturas natildeo ter nome eacute natildeo existir

nomear eacute instituirrdquo

Nesse processo de instituir dos rituais de passagem eacute possiacutevel entender que a atividade

de nomeaccedilatildeo adveacutem de fatores que propiciam uma motivaccedilatildeo que resulta na escolha de um

nome No ritual de escolha de um novo Papa (igreja catoacutelica) ou de um novo membro do

candombleacute o indiviacuteduo fica recluso por alguns dias e no momento do ritual apresenta seu

novo nome agrave comunidade fato esse que reside de alguma forma na escolha do novo nome

Desta forma o nome eacute escolhido de acordo com suas caracteriacutesticas psicofiacutesicas e tambeacutem com

as que ele deseja ter a partir do momento de escolha do novo nome

Conforme Biderman (1998) muitas satildeo as culturas que acreditam que o nome estaacute

ligado agrave essecircncia da pessoa Nas culturas arcaicas em geral os nomes atribuiacutedos agraves pessoas

tinham um significado que indicava agraves vezes a vocaccedilatildeo ou o destino do indiviacuteduo o que

corrobora a justeza dos nomes nos rituais de passagem e em outras atividades de nomeaccedilatildeo

O ato de nomear se constitui tambeacutem como algo divino Para Biderman (1998 p 85)

ldquoo gesto criador de Deus identifica-se com esta palavra ontoloacutegica essencialmente divina O

que noacutes homens somos e o que sabemos nasce dessa revelaccedilatildeo primordial da palavra criadora

do gesto divino de dizerrdquo Cunha (2004) evidencia que a palavra jaacute eacute reveladora do poder desde

a antiguidade e isso se expressa de forma clara por meio da biacuteblia sagrada que em vaacuterios textos

conclama que o poder eacute revelado por meio da palavra como percebe-se no livro de Gecircnesis

capiacutetulo I versiacuteculos 19 e 20

19 Tendo pois o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos

e todas as aves dos ceacuteus levou-os ao homem para ver como ele os havia de

chamar e todo o nome que o homem pocircs aos animais vivos esse eacute o seu nome

verdadeiro 20 O homem pocircs nomes a todos os animais a todas as aves dos

ceacuteus e a todos os animais dos campos mas natildeo se achava para ele uma ajuda

que lhe fosse adequada (BIacuteBLIA 1995 p 51)

Dessa forma o cristianismo explica a atividade humana de nomeaccedilatildeo Isso evidencia

que todos os objetos recebem um nome (comum) mediante uma accedilatildeo deliberada de escolha

individual (como em Gecircnesis) ou coletiva Esse nome recebe uma funccedilatildeo de significaccedilatildeo ou

melhor passa a significar algo no mundo sua referecircncia A nomeaccedilatildeo configura-se como um

processo operacional de conhecer e denominar coisas Conforme De Lastra e Garcia (sd apud

DICK 1990) para ser denominado o mundo externo deve antes passar a ser interno (iacutentimo)

Na relaccedilatildeo das praacuteticas de nomeaccedilatildeo segundo Loacutepez (2013) ocorrem fatores internos

e externos da seguinte forma i mudanccedilas internas quando elementos do sistema toponiacutemico

28

que designa lugares passam para o sistema antroponiacutemico que designa pessoas ii mudanccedilas

externas ou forccediladas como as que ocorreram na Europa entre os seacuteculos XVIII e XIX e

obrigaram os judeus a adotarem nomes cristatildeos e abandonarem os seus de origem hebraica

Para os judeus assim como para muitos povos perder o nome eacute o mesmo que perder a histoacuteria

a identidade e a famiacutelia Desta forma as autoridades europeias acreditavam que os judeus

deixariam (perderiam) as suas identidades e constituiriam uma nova uma identidade europeia

Conveacutem ressaltar que o referente1 nem sempre figurou entre os elementos constitutivos

do signo linguiacutestico No Curso de Linguiacutestica Geral Ferdinand Saussure (2008) define o signo

linguiacutestico como a junccedilatildeo de uma imagem acuacutestica (significante) a um (ou vaacuterios) conceitos

(significado) Saussure natildeo inclui nessa definiccedilatildeo a coisa nomeada o objeto do mundo ou em

outros termos o referente

Dito de outro modo os gestos epistemoloacutegicos de Saussure (2008) ao definirem a

liacutengua como objeto proacuteprio de estudo e tambeacutem no sentido de imprimirem cientificidade aos

estudos linguiacutesticos excluem o referente construindo assim um domiacutenio especiacutefico para a

Linguiacutestica diferente de outras aacutereas que tambeacutem se atecircm aos estudos da linguagem humana

A liacutengua para o mestre suiacuteccedilo eacute um sistema de signos que por sua vez abarca entidades

psiacutequicas constituiacutedas por duas faces significante e significado Essas duas faces do signo

linguiacutestico natildeo guardam poreacutem entre si qualquer relaccedilatildeo loacutegica nenhum viacutenculo ou melhor

a relaccedilatildeo entre significante e significado eacute marcada pelo seu caraacuteter imotivado arbitraacuterio para

usar os termos saussurianos Desta forma Kristeva (2007 p 24) afirma que ldquoa palavra

lsquoarbitraacuteriorsquo significa mais exatamente lsquoimotivadorsquo quer dizer que natildeo haacute nenhuma necessidade

natural ou real que ligue o significante e o significadordquo

O nome sempre suscitou uma questatildeo ontoloacutegica2 ou melhor uma questatildeo de

existecircncia A nomeaccedilatildeo eacute apenas uma das funccedilotildees da linguagem mas tem um papel importante

pois o significado dos nomes organiza e classifica as formas de perceber a realidade aleacutem de

estar ligado diretamente a uma cultura ou comunidade Assim para Sapir (1980) a liacutengua

recorta a realidade agrave sua maneira eacute por meio dela que se evidencia a relaccedilatildeo linguagem

pensamento e cultura Desta forma ldquoas palavras da liacutengua significam ao funcionarem no

acontecimento Este funcionamento recorta politicamente o realrdquo (GUIMARAtildeES 2005 p 82)

Nessa perspectiva eacute possiacutevel dizer que a nomeaccedilatildeo ganha relevo quando o assunto eacute a relaccedilatildeo

linguagem e realidade

1 Em um sistema triaacutedico significante significado e o referente 2 Ontoloacutegico ldquoAdj 1 relativo a Ontologia 2 que trata do ser humano na sua essecircncia na sua globalidaderdquo Verbete

inscrito em (BORBA 2004 p 992)

29

Guiraud (1986) chama atenccedilatildeo para a forccedila criadora da linguagem que resulta em uma

funccedilatildeo semacircntica dinacircmica e volaacutetil orientada principalmente por fatores especiacuteficos de uma

dada cultura Assim

[] a motivaccedilatildeo eacute uma forccedila criadora inerente agrave linguagem social que eacute um

organismo vivo de origem empiacuterica somente depois que a palavra eacute criada e

motivada (naturalmente ou intralinguisticamente) eacute que as exigecircncias da

funccedilatildeo semacircntica acarretam um obscurecimento dessa motivaccedilatildeo etimoloacutegica

que pode aliaacutes ao se apagar trazer uma alteraccedilatildeo de sentido (GUIRAUD

1986 p 31)

Motivaccedilatildeo esta que com o decorrer do tempo pode vir a se tornar obscura pelo

distanciamento temporal do fato que lhe deu origem Pode inclusive o nome sofrer inuacutemeras

alteraccedilotildees de sentido sem nenhum viacutenculo semacircntico com o significado original nem com o

fenocircmeno de sua ocorrecircncia primeira No entanto eacute forccediloso ressaltar mais uma vez que o ato

de nomear eacute motivado conforme Guiraud (1986) a nomeaccedilatildeo eacute inerente agrave linguagem e decorre

da relaccedilatildeo entre homem e ambiente ao reconhecer os objetos do mundo extralinguiacutestico

No que tange agrave motivaccedilatildeo Biderman (1998) reafirma a noccedilatildeo de que o nome natildeo eacute

arbitraacuterio ele tem um viacutenculo de essecircncia com a coisa ou o objeto que designa Assim o homem

primitivo acredita que seu nome tem parte vital com o seu ser Nas histoacuterias que nos satildeo

relatadas dos povos primitivos em relaccedilatildeo aos nomes podemos observar que para alguns

quando se sabia o nome da pessoa o inimigo poderia fazer magia negra com ele Essas relaccedilotildees

culturais com os nomes satildeo recorrentes em vaacuterios paiacuteses e histoacuterias da antiguidade claacutessica

De acordo com Frazer (1951) em vaacuterias tribos primitivas o nome era considerado como

uma realidade e natildeo uma convenccedilatildeo artificial podendo servir de intermeacutedio para fazer atuar a

magia sobre a pessoa como se fosse parte do indiviacuteduo como cabelo unha ou qualquer outra

parte fiacutesica Essas crendices ou mitos acerca do nome se estendem por vaacuterias partes do mundo

como para os iacutendios da Ameacuterica do Norte o nome eacute como uma parte de seu corpo e o mau

tratamento (uso) dele pode trazer ferimento fiacutesico Assim o nome natildeo deve ser pronunciado

podendo no ato de sua pronunciaccedilatildeomaterializaccedilatildeo revelar as propriedades reais da pessoa que

o usa e assim tornaacute-la vulneraacutevel perante os seus inimigos

Nas narrativas das sociedades relatadas por Frazer (1951) o homem do povo esquimoacute

recebe um novo nome ao chegar agrave velhice na Aacutefrica as pessoas podem ateacute receber uma duacutezia

de nomes no decorrer de sua vida e em alguns casos no iniacutecio de sua vida recebem dois nomes

um nome de preto usado em casa e junto agrave famiacutelia e outro nome de branco usado na escola e

na sociedade os egiacutepcios tambeacutem recebiam dois nomes um nome pequeno que era bom e

30

usado em famiacutelia e um nome grande que era mau e dissimulado julgamos esse uacuteltimo ser

usado na sociedade

Segundo Frazer (1951) para os Celtas o nome era sinocircnimo da alma e da respiraccedilatildeo

Entre os Yuiacutens (sul da Austraacutelia) e outros povos o pai revela o nome ao filho no momento da

iniciaccedilatildeo e poucas pessoas o conhecem Tambeacutem na Austraacutelia as pessoas deixam de usar o

nome e passam a chamar um ao outro de primo tio sobrinho ou irmatildeo Nessas relaccedilotildees as

historietas dos nomes vatildeo estar sempre entrelaccediladas aos fatores culturais das comunidades

Em muitas culturas Frazer (1951) relata que a natildeo pronunciaccedilatildeo de nomes era tabu

como em Cafres onde as mulheres natildeo podiam pronunciar o nome de seus maridos ou sogros

nem qualquer palavra que se assemelhasse aos nomes Tambeacutem natildeo era permitido pronunciar

nomes de animais plantas reis deuses personagens sagrados considerados perigosos pois isso

seria como invocar o proacuteprio perigo

Frazer (1951) revela uma histoacuteria ocorrida no Egito com o deus Raacute que tinha vaacuterios

nomes mas o seu verdadeiro nome que lhe dava poder sobre os outros deuses natildeo era conhecido

e ao ser enfeiticcedilado pela invejosa deusa Iacutesis ndash picado por uma serpente ndash cujo veneno soacute seria

retirado de seu corpo no momento em que ele revelasse o seu verdadeiro nome Raacute lamenta-se

ldquoEu sou aquele que tem muitos nomes e muitas formas O meu pai e minha matildee disseram-me

o meu nome estaacute escondido no meu corpo desde o meu nascimento para que natildeo se possa dar

nenhum poder maacutegico a algueacutem que me queira lanccedilar uma maldiccedilatildeordquo (FRAZER 1951 apud

KRISTEVA 2007 p 64) O veneno tomou conta do corpo de Raacute e jaacute natildeo conseguia andar Iacutesis

continuou a atormentar o deus e o veneno foi penetrando profundamente e queimava seu corpo

Entatildeo Raacute consentiu que Isis buscasse o seu verdadeiro nome no iacutentimo do seu ser assim ela

fez arrebatou-lhe o verdadeiro nome e ordenou que o veneno que o queimava caiacutesse por terra

e libertasse o deus pois o que ela queria jaacute havia conseguido Acreditava-se assim que quem

conhecesse o verdadeiro nome de um deus (algueacutem) possuiria a sua essecircncia o seu verdadeiro

ser e ateacute o seu poder

Segundo Loacutepez (2013) os nomes variam conforme o momento e o local em que satildeo

escolhidos a pessoa que os escolhe e as normas para o uso Podem indicar gecircnero filiaccedilatildeo

origem geograacutefica religiatildeo e etnia Haacute tambeacutem inuacutemeras crenccedilas de que existe uma relaccedilatildeo

entre a pessoa seu nome e o significado deste inclusive muitos nomes satildeo uacutenicos

Segundo Cunha (2004 p 226) ldquoO nome proacuteprio topocircnimo ou antropocircnimo participa

da literariedade do texto podendo consequentemente enriquecer-se de valores semacircnticos

denotativos e conotativos da mesma forma que as outras palavras que o estruturamrdquo jaacute que

31

quando nomeamos atribuiacutemos simultaneamente um predicado um complemento ao nome uma

caracteriacutestica um adjetivo

Em Guimaratildees (2005) o ato de dar nome eacute tambeacutem um ato de identificar um indiviacuteduo

bioloacutegico como tal para o Estado e para a sociedade e tornaacute-lo sujeito De acordo com esse

ponto de vista ganha interesse o funcionamento determinativo da construccedilatildeo do nome proacuteprio

da pessoa no qual segundo Guimaratildees (2005 p 52) ldquohaacute uma relaccedilatildeo particular entre a

nomeaccedilatildeo e o objeto nomeado que se apresenta por uma materialidade histoacuterica e natildeo fiacutesicardquo

A nomeaccedilatildeo eacute por causa da predicaccedilatildeo um ato que diferencia sendo tambeacutem um ato

que identifica De acordo com Lima (2007 p 51)

o acto (sic) de nomear eacute um dos primeiros momentos de inserccedilatildeo da pessoa

numa categoria social de geacutenero Mas ainda mostra-nos que neste contexto

social nomear eacute uma das formas mais importantes de construir geacutenero e

pessoa dentro da famiacutelia

A inserccedilatildeo da pessoa na sociedade por meio de seu nome eacute uma relaccedilatildeo hierarquizada

construiacuteda agrave luz de valores tanto sociais como familiares Como jaacute sabemos o nome eacute uma

forma de identidade de revelar o que o outro natildeo eacute assim nomear eacute um aspecto crucial da

conversatildeo de qualquer um em algueacutem de acordo com Geertz (1973)

Na conversatildeo mencionada Parkin (1989) justifica que nomear pode ser uma forma de

atribuir direitos3 que daacute autoridade tanto ao nomeado quanto ao nomeador ou uma forma de

objetivaccedilatildeo por meio da escolha de um nome em particular que estabeleccedila controle sobre o

nomeado Nessas situaccedilotildees pode ocorrer que as pessoas antecipem essas consequecircncias

escolhendo ou controlando a atribuiccedilatildeo do seu proacuteprio nome ou em alguns casos como

acontece de o nome possuir uma carga negativa perante a sociedade e a pessoa recorre ao poder

judiciaacuterio para requerer a troca de seu nome

Enfim nomear eacute se apropriar do real eacute nessa perspectiva de nomear e apoderar fato

este que se daacute por meio da linguagem e de acordo com isso Kristeva (2007 p 17) pontua que

Se a linguagem eacute mateacuteria do pensamento eacute tambeacutem o proacuteprio elemento da

comunicaccedilatildeo social Natildeo haacute sociedade sem linguagem tal como natildeo haacute

sociedade sem comunicaccedilatildeo Tudo o que se produz como linguagem tem lugar

na troca social para ser comunicado

3 Livre traduccedilatildeo para Entitling

32

Eacute nessa troca social que acontece por meio da linguagem a nomeaccedilatildeo Assim eacute

necessaacuterio destacar que os nomes proacuteprios de lugares ndash topocircnimos ndash passam a estabelecer

relaccedilotildees materializadas por meio do uso da linguagem Sabe-se que o nome designado eacute

construiacutedo simbolicamente isso porque a linguagem que o constroacutei funciona por estar exposta

ao real e constituiacuteda materialmente pela histoacuteria local a qual motiva o leacutexico topocircnimo e eacute

nesse momento que ele nasce e se institui naquele lugar

De acordo com Biderman (1998) eacute por meio da palavra que as entidades da realidade

passam a ser conhecidas nomeadas e identificadas Essa realidade cria o seu acircmbito

significativo que nos eacute revelado pela linguagem que tambeacutem eacute a responsaacutevel por elencar os

fatores soacutecio-histoacuterico-cultural que permeiam a realidade Aqui no nosso caso esses fatores

satildeo trazidos por meio do leacutexico topocircnimo mais especificamente no ato de nomear um

designativo de lugar

Conforme Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares seja

em homenagem a algueacutem como eacute o caso da cidade de Pires do Rio que recebeu o nome o

patroniacutemico4 do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas (1919-1922) do governo de Epitaacutecio

Pessoa Dr Joseacute Pires do Rio Haacute lugares que recebem o nome em razatildeo de caracteriacutesticas

geograacuteficas Alguns nomes satildeo opacos conceito de Piel (1979) em contraposiccedilatildeo aos

transparentes pois natildeo apresentam relaccedilatildeo alguma com o referente nesse caso haacute de se fazer

uma busca histoacuterica para chegar agrave relaccedilatildeo motivacional

O homem tem a capacidade de associar palavras a conceitos E no ato de nomear

acontece a motivaccedilatildeo que estaacute ligada aos fatores cognitivos Assim o leacutexico que a ele eacute

determinado por meio do uso da linguagem se transporta no tempo sendo capaz de revelar os

fatores culturais e motivacionais que estatildeo nesse nomeleacutexico toponiacutemico (BIDERMAN 1998)

O nome comum no ato de nomeaccedilatildeo de um lugar impregna-se de significaccedilotildees vaacuterias

sejam de fatores histoacutericos culturais sociais econocircmicos Segundo Guimaratildees (2005 p 83)

ldquoo modo de significar os espaccedilos da cidade mostra que eles satildeo espaccedilos poliacuteticos O espaccedilo que

se daacute como objeto por uma descriccedilatildeo (referecircncias) atende a objetividade do discurso

administrativo que nomeia oficialmente os espaccedilos da cidaderdquo Assim o nome cifra a narrativa

histoacuterica local perpassando por fatores ou designativos memoraacuteveis

Essa atividade de nomeaccedilatildeo ou praacutetica de nomeaccedilatildeo eacute especificamente da espeacutecie

humana e resulta do processo de categorizaccedilatildeo inerente ao ser humano De acordo com

Biderman (1998 p 89)

4 De acordo com Cabral (2007) patroniacutemico eacute sobrenome

33

O processo de categorizaccedilatildeo subjaz agrave semacircntica de uma liacutengua natural Os

criteacuterios de classificaccedilatildeo usados para classificar os objetos satildeo muito

diferenciados e variados Agraves vezes o criteacuterio eacute o uso que o homem faz de um

dado objeto agraves vezes eacute um determinado aspecto do objeto que fundamenta a

classificaccedilatildeo agraves vezes eacute um determinado aspecto emocional que um objeto

pode provocar em quem o vecirc e assim por diante

Entatildeo o processo de categorizaccedilatildeo que por via das vezes pode se tornar um legislador

ndash nomeador Essas discussotildees acerca das histoacuterias do ato de nomear revelam formas de

organizaccedilatildeo social e mudanccedilas linguiacutesticas poliacuteticas e culturais Eacute pois por meio do nome que

as pessoas ou lugares permanecem vivos na memoacuteria coletiva de sua linhagem

E nesse processo de nomeaccedilatildeo categorizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo nos estudos na aacuterea da

Onomaacutestica mais precisamente na subaacuterea dos Estudos Toponiacutemicos ndash temaacutetica de nossa

pesquisa ndash natildeo tem como desvencilhar a liacutengua e cultura Assim para Sapir-Whorf a liacutengua

retrata o mundo e a realidade social agrave sua volta expressos por categorias lexicais como os

topocircnimos

12 Liacutengua e Cultura

A liacutengua no contexto soacutecio-histoacuterico-cultural nada mais eacute que o resultado de um

processo histoacuterico um produto revelador da cultura de uma dada comunidade (CAcircMARA JR

1955) Nessas bases inter-relacionar liacutengua e cultura eacute justificar que estatildeo intrinsecamente

interligadas pois a liacutengua revela a visatildeo de mundo e eacute tambeacutem a manifestaccedilatildeo de uma cultura

cultura esta que lhe daacute suporte a liacutengua tambeacutem eacute suporte da cultura

Em seus estudos Paula (2007) menciona que a liacutengua eacute um metassistema ela ldquonatildeo eacute soacute

objeto ela eacute nas relaccedilotildees sociais mais diversamente possiacuteveis tambeacutem instrumento de

investigaccedilatildeo distinto que ajuda a entender os outros sistemas sociaisrdquo (PAULA 2007 p 90)

Nesse contexto eacute possiacutevel evidenciar que por meio da liacutengua satildeo reeditadas e reconfiguradas

as praacuteticas culturais de uma dada comunidade

Posto isso conveacutem rever alguns conceitos que remetem agrave face social da liacutengua seu

caraacuteter eminentemente social mais condizente com o recorte epistemoloacutegico feito por Saussure

(2008 p 17)

Mas o que eacute a liacutengua Para noacutes ela natildeo se confunde com a linguagem eacute

somente uma parte determinada essencial dela indubitavelmente Eacute ao

mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto

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de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo corpo social para permitir o

exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos Tomada em seu todo a linguagem

eacute multiforme e heteroacuteclita o cavaleiro de diferentes domiacutenios ao mesmo

tempo fiacutesica fisioloacutegica e psiacutequica ela pertence aleacutem disso ao domiacutenio

individual e ao domiacutenio social natildeo se deixa classificar em nenhuma categoria

de fatos humanos pois natildeo se sabe como inferir sua unidade

De acordo com Fiorin (2013 p 17) ldquoA liacutengua natildeo eacute um sistema de mostraccedilatildeo de

objetos porque permite falar do que estaacute presente e do que estaacute ausente do que existe e do que

natildeo existe porque possibilita ateacute criar novas realidades mundos natildeo existentesrdquo A liacutengua eacute um

produto social e por meio dela se criam e recriam realidades podendo entatildeo se justificar as

praacuteticas culturais por meio de atos linguiacutesticos

Com esse movimento epistemoloacutegico ou melhor ao eleger a liacutengua e natildeo a linguagem

nem a fala como objeto de estudo da Linguiacutestica Saussure possibilitou a instituiccedilatildeo da ciecircncia

linguiacutestica e consequentemente seus inuacutemeros desdobramentos posteriores

Sapir (1980) ressalta a estreita ligaccedilatildeo entre liacutengua e cultura jaacute que para o autor

Toda liacutengua tem uma sede O povo que a fala pertence a uma raccedila (ou a certo

nuacutemero de raccedilas) isto eacute a um grupo de homens que se destaca de outros

grupos por caracteres fiacutesicos Por outro lado a liacutengua natildeo existe isolada de

uma cultura isto eacute de um conjunto socialmente herdado por praacuteticas e crenccedilas

que determinam a trama das nossas vidas (SAPIR 1980 p 165)

Nesta perspectiva reafirmando que liacutengua se difere de linguagem mas se entrecruza

com ela ou dela faz parte como uma das inuacutemeras formas de linguagem e ainda considerando-

a um dos fatores de identidade de um povo e que natildeo existe isolada da cultura eacute que se torna

objeto de estudos o que envolve fatores soacutecio-histoacuterico-culturais das comunidades

O autor desta forma ainda nos revela que ldquotoda liacutengua estaacute de tal modo construiacuteda

que diante de tudo que um falante deseje comunicar por mais original ou bizarra que seja a sua

ideia ou a sua fantasia a liacutengua estaacute em condiccedilotildees de satisfazecirc-lorsquo (SAPIR 1969 p 33) Eacute

nessas condiccedilotildees de satisfazer ao falante ou agrave comunidade que ele pertence que a liacutengua se

justifica como um meio de interaccedilatildeo social e revelador da cultura jaacute que ela se configura no

tempo e eacute capaz de transmitir de geraccedilotildees a geraccedilotildees atraveacutes de atos linguiacutesticos as

manifestaccedilotildees culturais Conveacutem ressaltar que

Tudo que ateacute aqui verificamos ser verdade a respeito das liacutenguas indica que

se trata da obra mais notaacutevel colossal que o espiacuterito humano jamais

desenvolveu nada menos do que uma forma completa de expressatildeo para toda

a experiecircncia comunicaacutevel Essa forma pode ser variada de inuacutemeras maneiras

pelo indiviacuteduo sem perder com isso os seus contornos distintivos e estaacute

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constantemente remodelando-se como sucede com toda arte A liacutengua eacute a arte

mais ampla e maciccedila que se nos depara cuacutemulo anocircnimo do trabalho

inconsciente das geraccedilotildees (SAPIR 1980 p 172)

De acordo com Cacircmara Jr (1955) a liacutengua eacute uma parte da cultura mas ela pode ser

estudada na sua relaccedilatildeo com a cultura ou sem considerar essa inter-relaccedilatildeo Segundo o autor

com essa perspectiva o linguista se destaca do antropoacutelogo Porque os estudos linguiacutesticos

podem prescindir do exame da inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura ou melhor pode-se estudar a

liacutengua em sua imanecircncia ou a relaccedilatildeo da linguagem com outras aacutereas do conhecimento humano

A liacutengua aleacutem de inter-relacionar a cultura nada sociedade atua para que a proacutepria

cultura seja conhecida e levada agrave geraccedilotildees futuras seja por meio de festas religiosas cantigas

e outros fatores que a divulguem Jaacute que na mesma base teoacuterica a liacutengua se justifica como um

fato de cultura assim como qualquer outro e neste iacutenterim integra-se agrave cultura

Cacircmara Jr (1955) reconhece que a liacutengua funciona na sociedade para a comunicaccedilatildeo e

interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e tambeacutem que ela se torna o resultado de uma cultura global pois a

liacutengua depende de toda cultura jaacute que a expressa a todo o momento

assim a liacutengua em face do resto da cultura eacute ndash o resultado dessa cultura ou

sua suacutemula eacute o meio para ela operar eacute a condiccedilatildeo para ela subsistir E mais

ainda soacute existe funcionalmente para tanto englobar a cultura comunicaacute-la e

transmiti-la (CAcircMARA JR 1955 p 54)

Considerada a inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura pode-se ressaltar mais uma vez que a

cultura se manifesta linguisticamente sejam elas integrantes de manifestaccedilotildees da cultura

popular ou da erudita

De modo geral a cultura eacute pensada numa visatildeo polarizante como sendo

cultura popular ou cultura erudita Conveacutem dizer poreacutem que ambas satildeo

formas e conteuacutedos diferentes de expressatildeo de uma dada realidade social e

histoacuterica Entatildeo natildeo devem ser vistas como opostas ou excludentes mas como

maneiras especiacuteficas de ver sentir e expressar a realidade conforme se situam

seus atores na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo do poder (PAULA 2007 p 75)

Neste processo Sapir (1969) menciona que o leacutexico eacute o niacutevel linguiacutestico em que mais

intimamente se interligam liacutengua e cultura Zavaglia (2012) por sua vez reconhece que o leacutexico

estaacute vinculado agrave cultura de um povo de uma naccedilatildeo agrave sua histoacuteria

Para Zavaglia (2012) o leacutexico estaacute relacionado com a memoacuteria humana e se configura

no ato de nomeaccedilatildeo diante do processo em que houve a necessidade de o homem por meio de

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palavras nomear tudo que o circundava e assim categorizar o que estava a seu redor Pautados

na autora observamos a grandeza do leacutexico pois

Eacute o leacutexico em forma de palavras e por meio da linguagem que ldquocontardquo a

histoacuteria milenar de povo para povo eacute o leacutexico que transmite os elementos

culturais de um conjunto de indiviacuteduos eacute o leacutexico que ldquoeducardquo ou ldquodeseducardquo

eacute o leacutexico que permite a manifestaccedilatildeo dos sentimentos humanos de suas

afeiccedilotildees ou desagrados via oral ou via escrita Eacute o leacutexico que registra o

desencadear das accedilotildees de uma sociedade suas mudanccedilas seu progresso ou

regresso Condivido com Biderman quando diz que o leacutexico eacute o tesouro

vocabular de forma codificada da memoacuteria do indiviacuteduo restando ali estocado

ateacute que seja ativado quando necessaacuterio para que o homem possa expressar ou

se comunicar Eacute ainda por meio do leacutexico que conceitos condutas e costumes

satildeo transmitidos de geraccedilotildees a geraccedilotildees e herdados por elas ldquoEacute o leacutexico que

fisionomiza a culturardquo (ZAVAGLIA 2012 p 233)

O leacutexico eacute o fio condutor da cultura jaacute que a transporta para geraccedilotildees futuras eacute por meio

dele que se registra a histoacuteria e a vida de uma sociedade Para Sapir (1969) a cultura estaacute

nitidamente no leacutexico da liacutengua e este pode ser considerado como todo o conjunto de ideias

interesses e ocupaccedilotildees que abrangem a atenccedilatildeo da comunidade Neste contexto

O estudo cuidadoso de um dado leacutexico conduz a inferecircncias sobre o ambiente

fiacutesico e social daqueles que o empregam e ainda mais que o aspecto

relativamente transparente ou natildeo-transparente do proacuteprio leacutexico nos permite

deduzir o grau de familiaridade que se tem adquirido com os vaacuterios elementos

do ambiente (SAPIR 1969 p 49)

Eacute possiacutevel ressaltar que o leacutexico da liacutengua conteacutem um recorte da realidade feito agrave sua

maneira que revela visotildees de mundo Os elementos culturais que matizam datildeo o colorido de

significaccedilatildeo ao leacutexico mostram de diferentes maneiras as relaccedilotildees que ambas liacutengua e cultura

tecircm com o ambiente seja fiacutesico ou social pois toda complexidade dessa inter-relaccedilatildeo pode ser

anunciada e enunciada no uso da linguagem

Vale entatildeo ressaltar

Que o leacutexico assim reflita em alto grau a complexidade da cultura eacute

praticamente um fato de evidecircncia imediata pois o leacutexico ou seja o assunto

de uma liacutengua destina-se em qualquer eacutepoca a funcionar como um conjunto

de siacutembolos referentes ao quadro cultural do grupo Se por complexidade de

uma liacutengua se entende a seacuterie de interesses impliacutecitos em seu leacutexico natildeo eacute

preciso dizer que haacute uma correlaccedilatildeo constante entre a complexidade

linguiacutestica e cultural (SAPIR 1969 p 51)

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O conjunto de signos da liacutengua ultrapassa as fronteiras do tempo trazendo para a

atualidade siacutembolos tambeacutem culturais que satildeo revelados por meio de praacuteticas culturais que se

interseccionam com as praacuteticas linguiacutesticas Assim

Natildeo soacute as palavras da liacutengua passam a servir de siacutembolos culturais dispersos

como sucede nas liacutenguas em qualquer periacuteodo de desenvolvimento mas se

pode supor que as proacuteprias categorias e processos gramaticais simbolizariam

tipos correspondentes de pensamento e atividade de significaccedilatildeo cultural Ateacute

certo ponto pode se conceber portanto a cultura e a liacutengua em constante

estado de interaccedilatildeo e em associaccedilatildeo definida por um largo lapso de tempo

Mas tal estado de correlaccedilatildeo natildeo pode continuar indefinidamente (SAPIR

1969 p 60)

Segundo Sapir (1969) a linguagem possui o papel de produzir e organizar o mundo

mediante o processo de simbolizaccedilatildeo Contudo a realidade eacute mostrada por meio da linguagem

o que significa dizer que natildeo haacute mundos iguais visto que natildeo haacute liacutenguas iguais De acordo com

estas observaccedilotildees cabe ressaltar o relativismo linguiacutestico ldquoHipoacutetese de Sapir-Whorfrdquo a

linguagem determina a forma de ver o mundo e consequentemente de se relacionar com esse

mundo

O relativismo linguiacutestico pode ser entendido como a relaccedilatildeo linguagem e pensamento

mediada pela cultura desta forma linguagem pensamento e cultura estatildeo conectados Sapir-

Whorf observam que a realidade social eacute produto linguiacutestico tratando assim as relaccedilotildees de

linguagemcultura e linguagempensamento a cultura pode ser considerada como

conhecimento adquirido socialmente por meio das praacuteticas linguiacutesticas

De maneira geral diz-se que a cultura eacute o conhecimento que as pessoas detecircm acerca de

uma comunidade seja em seus acircmbitos popular ou cientiacutefico os quais ultrapassam o tempo

por meio da liacutengua jaacute que ldquoA cultura eacute o conjunto do que o homem criou na base das suas

faculdades humanas abrange o mundo humano em contraste com o mundo fiacutesico e o mundo

bioloacutegicordquo (CAcircMARA JR 1955 p 51)

Em outras palavras

Cultura eacute o conjunto de praacuteticas sociais situadas historicamente que se

referem a uma sociedade e que a fazem diferente de outra Baseia-se na

construccedilatildeo social de sentidos a accedilotildees crenccedilas haacutebitos objetos que passam a

simbolizar aspectos da vivecircncia humana em coletividade (PAULA 2007 p

74)

A diversidade tambeacutem se reflete na cultura pois de acordo com Bosi

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[] natildeo existe uma cultura brasileira homogecircnea matriz de nossos

comportamentos e dos nossos discursos Ao contraacuterio a admissatildeo do seu

caraacuteter plural eacute um passo decisivo para compreendecirc-la como um ldquoefeito de

sentidordquo resultado de um processo de muacuteltiplas interaccedilotildees e oposiccedilotildees no

tempo e no espaccedilo (BOSI 1987 p 7)

Neste sentido a cultura se constroacutei a partir das vivecircncias e significados que lhe satildeo

atribuiacutedos pela proacutepria sociedade em suas praacuteticas sociais e constituindo-se tambeacutem em

diferenccedila Para Bosi (1987 p 11) o fundamento da cultura popular ldquoeacute o retorno de situaccedilotildees e

atos que a memoacuteria grupal reforccedila atribuindo-lhes valorrdquo Isso satildeo as marcas identitaacuterias da

comunidade que satildeo deixadas e vivenciadas (ou vivificadas) tempos depois A cultura popular

eacute revelada por meio de praacuteticas culturais e linguiacutesticas que levam a puacuteblico as relaccedilotildees soacutecio-

histoacuterica-culturais de determinadas comunidades

A cultura se constroacutei com base nos valores atribuiacutedos pelos sujeitos agraves relaccedilotildees

cotidianas e nas relaccedilotildees de poder Organiza-se como popular eou erudita Nesse sentido natildeo

existe cultura melhor nem pior cada uma eacute expressa pelo seu grupo social pois cada indiviacuteduo

tem uma forma de ver o mundo modos de vestir de comer os meios para se curar os remeacutedios

os modos de plantar de cultivar e colher os modos de nomear e categorizar os elementos da

natureza e outros tantos mais Desta forma ldquoconforme as pessoas entendem que participam de

uma cultura esforccedilam-se para agir dentro do que julgam ser pertinente a elardquo (PAULA 2007

p 75)

Cultura liacutengua e identidade natildeo satildeo algo fixo pronto e acabado estando sempre em

constituiccedilatildeo uma vez que satildeo produzidas por seres sociais que se encontram em processo de

interaccedilatildeo aprendizado conhecimento e estatildeo inseridos em contextos sociais que passam por

transformaccedilotildees O leacutexico eacute o meio pelo qual a cultura e a identidade se constroem e se

disseminam

Na visatildeo de Paula (2007 p 89) a memoacuteria eacute o depositaacuterio tanto da cultura como da

liacutengua visto que

O modo como se estrutura poliacutetica e economicamente uma sociedade diz

muito de suas estruturas culturais estas por sua vez soacute se fazem possiacuteveis

graccedilas agrave elaboraccedilatildeo cotidiana do arcabouccedilo de memoacuteria coletiva ao modo

como eacute concebida e ao estatuto que lhe eacute dado Expressando estas inter-

relaccedilotildees servindo a elas no cotidiano da comunicaccedilatildeo humana e carregando

em seu funcionamento muito do modo como a sociedade se faz e se refaz estaacute

a liacutengua

39

Os processos culturais que satildeo construiacutedos por meio de atos linguiacutesticos satildeo uma forma

identitaacuteria de dada comunidade que eacute expressa por relaccedilotildees sociais como forma de conduzir e

expressar-se perante as demais comunidades sejam elas internacionais nacionais ou regionais

sabemos que a cultura eacute a miscigenaccedilatildeo de outras culturas

13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes

Embora faccedila parte do cotidiano das pessoas portanto estreitamente ligado agrave cultura natildeo

haacute muita discussatildeo referente ao nome proacuteprio e aos motivos de algueacutem ou um lugar ter o nome

que tem Entretanto conforme Carvalhinhos (2002) jaacute no seacuteculo II aC com o gramaacutetico

Dioniacutesio Traacutecia o estudo sobre o nome jaacute tinha sido pensado e formulado Esses estudos

propiciaram por sua vez o surgimento da Onomaacutestica a ciecircncia que se ocupa dos estudos da

origem e alteraccedilotildees (na forma e no significado) dos nomes proacuteprios A Onomaacutestica eacute um ramo

das ciecircncias linguiacutesticas que pode-se efetuar em duas vertentes a toponiacutemia (estudo do

topocircnimo ou nome de lugar) e a antroponiacutemia (estudo do nome pessoal)

Conforme Dubois (2004) e Houaiss (2004) a Onomaacutestica eacute um ramo da lexicologia e

seu meacutetodo de trabalho deve-se desenvolver em linha documental mediante a observaccedilatildeo de

dados oficiais como mapas listas de nomes ou outros documentos de valor historiograacutefico e

lexicograacutefico Isso possibilita a junccedilatildeo da histoacuteria da nomenclatura com momentos histoacutericos e

sociais mais amplos

No entanto mesmo pertencendo agrave ciecircncia da linguagem a Onomaacutestica se estabelece por

meio do suporte de outras aacutereas do conhecimento como a Antropologia a Etnografia a

Botacircnica a Geografia e a Histoacuteria Neste sentido natildeo eacute equivocado salientar que a Onomaacutestica

eacute um campo de amplo caraacuteter interdisciplinar

Assim a Onomaacutestica ou Onomasiologia eacute o ramo da ciecircncia linguiacutestica que tem o nome

proacuteprio como objeto de estudo e se constroacutei em relaccedilatildeo a outros campos do saber Contudo ao

relacionar o seu conhecimento aos de outras aacutereas ela natildeo os confunde nem os nega

De acordo com Ramos e Bastos (2010) a Onomaacutestica assume uma perspectiva

integralizadora de meacutetodos e demanda um consideraacutevel nuacutemero de conhecimentos de campos

diversos de maneira direta ou indireta e vertical ou horizontal destacando-se a linguiacutestica com

valoraccedilatildeo da pesquisa etimoloacutegica

Conforme dito a Onomaacutestica para efeito de estudo pode ser dividida em dois eixos a

Antroponiacutemia e a Toponiacutemia Estas por sua vez podem apresentar subdivisotildees dependendo

de algumas consideraccedilotildees acerca das caracteriacutesticas que cada uma agrave sua maneira apresenta

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A Toponiacutemia conforme Piel (1979) de acordo com o objeto de denominaccedilatildeo pode

denominar-se tambeacutem como astroniacutemia hidroniacutemia litoniacutemia odoniacutemia oroniacutemia para citar

apenas alguns termos que correspondem a objetos que constituem ou satildeo constituiacutedos por

formaccedilotildees aquosas astros formaccedilotildees peacutetreas serras vias ou caminhos

Jaacute a Antroponiacutemia volta sua atenccedilatildeo para o estudo dos nomes de batismo dos

sobrenomes patroniacutemicos (ou matroniacutemicos) e ainda das alcunhas dos apelidos e de nomes

diminutivos A Antroponiacutemia agrave semelhanccedila da Toponiacutemia natildeo se constitui de forma

homogecircnea jaacute que haacute uma seacuterie de tradiccedilotildees conforme os povos ou culturas que desenvolveram

esses sistemas antroponiacutemicos Por outro lado eacute consenso afirmar que os nomes pessoais satildeo

um aspecto comum ou universal nas liacutenguas porque as pessoas recebem um nome em algum

momento de suas vidas em todas as sociedades conhecidas do mundo

De acordo com Dick (1992) as intenccedilotildees e as motivaccedilotildees que subjazem agrave escolha dos

nomes em cada sociedade variam bastante Os estudos dos sistemas onomaacutesticos vecircm confirmar

isso porque os nomes existem e satildeo controlados pelas necessidades e praacuteticas sociais as quais

podem variar de acordo com a visatildeo de mundo de um determinado povo

Posto isso conveacutem conceber a Onomaacutestica como uma disciplina que deve focar como

objeto de estudo os sistemas de denominaccedilatildeo que justifiquem os processos de atribuiccedilatildeo de

nomes de uma maneira geral

Em Soliacutes (1997) os nomes satildeo o resultado de algo que os provoca isto eacute o sistema

denominativo elaborado pelas culturas para atribuir nomes agraves coisas apreendidas por sua

atividade cognitiva

Devido ao fato de a Onomaacutestica estender-se a um amplo campo de estudo ou seja que

se volta tanto para o estudo dos nomes proacuteprios de pessoas como agraves designaccedilotildees dos lugares eacute

imperioso delimitar para este estudo apenas o sistema onomaacutestico voltado para os nomes de

lugar isto eacute para a toponiacutemia caracterizando como objeto de estudo os nomes dos cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio

A despeito de incorrer em lugar comum conveacutem rever os constituintes da palavra

toponiacutemia cujo significado etimoloacutegico pode ser assim expresso do grego topos (lugar) e

onoma (nome) A Toponiacutemia se ocupa dos locativos (tambeacutem componentes do leacutexico da liacutengua)

com o fito de estudar a origem as significaccedilotildees e as transformaccedilotildees por que passam ou

passaram esses nomes A Toponiacutemia se dedica ao estudo natildeo apenas dos nomes de comunidades

humanas (cidades povoados vilas) como tambeacutem elementos geograacuteficos a exemplo os cursos

drsquoaacuteguas

41

Os estudos toponiacutemicos propiciam a percepccedilatildeo da relaccedilatildeo entre povo liacutengua e territoacuterio

considerando que esse territoacuterio pode ser fiacutesico eou imaginaacuterio jaacute que as entidades do mundo

que precisam ser nomeadas podem ser pessoas entidades geograacuteficas que fazem parte do

ambiente em que vive determinado povo e que sobretudo tenham importacircncia para esse povo

pois se natildeo tem importacircncia natildeo haacute em contrapartida necessidade de ser nomeado Conveacutem

no entanto ressaltar que nem todas as nomeaccedilotildees ocorrem pela necessidade espontacircnea de

identificaccedilatildeo uma vez que muitas delas refletem a imposiccedilatildeo de forccedilas ideoloacutegicas poliacuteticas e

sociais

Neste sentido surge a necessidade de reconhecer os objetos geograacuteficos da natureza

tais como rios mares lagoas ilhas continentes serras e outros mas haacute outros que precisam

ser denominados tambeacutem principalmente os objetos da cultura aqueles criados pelo homem

dentre os quais podem ser citados os povoados represas moradias (habitaccedilatildeo) ruas

circunscriccedilotildees poliacutetico-territoriais que se situam em algum lugar do universo fiacutesico

Natildeo se pode omitir aqueles lugares cujo universo foi criado pela cultura imaterial o

mundo natildeo fiacutesico Sejam do universo real ou imaginaacuterio as entidades geograacuteficas satildeo os

referentes dos topocircnimos que por sua vez integram a visatildeo de mundo de um povo Isso

constitui uma dificuldade em especificar que referentes existem no mundo fiacutesico ou cultural

em parte porque para isso eacute necessaacuterio considerar uma cultura determinada Em resposta a isso

haacute o reconhecimento da visatildeo de mundo que eacute peculiar a cada cultura

Muitos povos concebem o universo real como um mundo que tem seu correlato miacutetico

com outros mundos e fazem assim surgir universos de nomes toponiacutemicos de variada riqueza

toponomaacutestica porque tecircm lugares para nomear no espaccedilo fictiacutecio criado nesse mundo Assim

aleacutem de serem componentes linguiacutesticos como tal os nomes que compotildeem um sistema de

denominaccedilatildeo satildeo ainda criaccedilotildees socioculturais

Entatildeo cabe agrave Toponiacutemia estudar tanto os nomes de lugares (os topocircnimos) como

componentes de uma liacutengua que satildeo como tambeacutem o sistema de denominaccedilatildeo organizado pelas

sociedades para nomear os objetos fiacutesicos ou imaginaacuterios da sua cultura Devido agraves diferentes

visotildees de mundo tecircm-se diferentes formas de nomear essas entidades Aleacutem da visatildeo de mundo

em sociedades como a brasileira podem contribuir para a formaccedilatildeo de um sistema de nomeaccedilatildeo

os movimentos sociais como forccedila impulsionadora de mudanccedila social Em relaccedilatildeo agrave realidade

brasileira podem-se mencionar as poliacuteticas que vecircm acontecendo durante os mais de 500 anos

de histoacuteria brasileira que tambeacutem resultou em inuacutemeras formaccedilotildees e mudanccedilas de designaccedilatildeo

toponiacutemica no Brasil

42

Cabe reiterar que a toponiacutemia refere-se a nomes de lugares habitados ou natildeo Daiacute uma

definiccedilatildeo apropriada para o termo ldquotopocircnimordquo eacute um nome de qualquer ponto localizaacutevel no

espaccedilo terrestre que tenha recebido denominaccedilatildeo Definiccedilatildeo essa que pode ser estendida para o

nome de qualquer ponto localizaacutevel no mundo real ou em mundos imaginados pelas culturas

em outras palavras daqueles universos que existem por meio da atividade ideacional dos

homens

Assim eacute por meio da relaccedilatildeo povo-territoacuterio que os nomes de lugar satildeo estabelecidos

Inicialmente pela posse do territoacuterio uma vez que segundo Couto (2007) o territoacuterio eacute uma

das primeiras referecircncias para que um agrupamento de pessoas possa receber o status de

comunidade e todo territoacuterio entendido como tal tem de ter um nome um topocircnimo Desta

forma recortam-se os aspectos do meio ambiente mais salientes aos olhos do povo como uma

espeacutecie de acordo que permite a vivecircncia e a convivecircncia em sociedade no territoacuterio apossado

Eacute possiacutevel afirmar que a nomeaccedilatildeo dos lugares surgiu com a proacutepria humanidade Os

registros antigos da histoacuteria da civilizaccedilatildeo ratificam essa accedilatildeo do homem sobre o lugar que

habita ou jaacute habitou satildeo fatores que sugerem uma espeacutecie de posse ou de domiacutenio sobre o lugar

por meio da significaccedilatildeo da organizaccedilatildeo e da orientaccedilatildeo pelo espaccedilo ocupado ou apenas

conhecido Em contrapartida o ato de nomeaccedilatildeo se manifesta como a accedilatildeo do meio fiacutesico e

sociocultural sobre o homem

Eacute nesta perspectiva que se podem considerar os estudos toponiacutemicos em seu acircmbito

interdisciplinar porque congregam vaacuterias aacutereas do conhecimento humano Os nomes de um

lugar satildeo enfocados conforme a observaccedilatildeo dos aspectos fiacutesicos socioculturais mentais e

histoacutericos interligados ou em separados

Assim natildeo eacute equiacutevoco conceber a Toponiacutemia como objeto de estudo da Antropologia

da Geografia da Histoacuteria ou ainda da Psicologia Social para citar apenas algumas disciplinas

Eacute possiacutevel segundo Dick (1992) realizar anaacutelises do fenocircmeno toponiacutemico em

consonacircncia teoacuterica com qualquer uma dessas aacutereas mas para a autora nenhuma delas tomada

isoladamente ou com exclusivismo alcanccedilaria a plenitude do fenocircmeno toponiacutemico Em termos

linguiacutesticos a Toponiacutemia recorre aos conhecimentos da Semacircntica da Lexicologia da

Etnolinguiacutestica da Dialetologia e da Linguiacutestica Histoacuterica

Mais recentemente uma linha de anaacutelise que tem oferecido contribuiccedilotildees importantes

aos estudos dos nomes de lugares eacute a Linguiacutestica Cognitiva Suas pesquisas vecircm enfatizando

natildeo soacute os modelos cognitivos mas tambeacutem os processos de categorizaccedilatildeo principalmente os

processos de analogia e contiguidade proacuteprios da metaacutefora e da metoniacutemia Entendecirc-los eacute

43

essencial para compreender os sistemas de nomeaccedilatildeo como resultados da experiecircncia e da

cogniccedilatildeo humana com o corpo em relevo

Esta perspectiva de anaacutelise coaduna estudos que procuram reconhecer processos

cognitivos expressos na accedilatildeo de denominar a realidade e para tanto fundamentam-se no corpo

Eacute uma forma de nomear os lugares fiacutesicos ou culturais mediante a percepccedilatildeo do denominador

na interaccedilatildeo com meio ambiente fiacutesico e cultural

14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica

Para realizar qualquer estudo onomaacutestico eacute necessaacuterio inicialmente buscar na teoria

linguiacutestica os recursos para se explicar como uma forma linguiacutestica se amaacutelgama a um lugar

configurando uma relaccedilatildeo entre esse lugar suas caracteriacutesticas e o signo linguiacutestico que passa

a designaacute-lo Em outras palavras eacute necessaacuterio buscar conceitos que estejam em consonacircncia

com os preceitos5 onomaacutestico-toponiacutemicos

Eacute por meio da liacutengua que se daacute a interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e a mesma constitui-se de

signos linguiacutesticos Em outras palavras o mundo humano a realidade extralinguiacutestica e a

cultura constituem-se de signos Calcados nas ideias de Charles Sanders Pierce (2005) tem-se

o conceito geral de que o signo eacute ldquoalgo que estaacute por algo para algueacutemrdquo Conveacutem salientar que

ldquoestar porrdquo eacute uma noccedilatildeo bastante ampla pois pode significar uma seacuterie de coisas como

representar caracterizar fazer agraves vezes de indicar entre outros Para Pierce (2005 p 46)

um signo ou representamem eacute algo que sob certo aspecto ou de algum modo

representa alguma coisa para algueacutem Dirige-se a algueacutem isto eacute cria na mente

dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido

Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo

representa alguma coisa seu objeto Representa esse objeto natildeo em todos os

aspectos mas com referecircncia a um tipo de ideia que eu por vezes denominei

fundamento do representamem (Grifos do autor)

Assim seguindo a concepccedilatildeo de Pierce (2005) sobre signo pode-se formular que eacute a

representaccedilatildeo de alguma coisa para algueacutem estaacute no lugar da coisa que ele representa e natildeo eacute a

coisa em si Tem ainda a condiccedilatildeo de perturbar a mente do interpretante i eacute daquele que vecirc

lecirc ou ouve o signo na tentativa de atribuir-lhe um significado Dessa forma eacute possiacutevel verificar

uma relaccedilatildeo de interdependecircncia entre pelo menos trecircs extremos i) a face perceptiacutevel do

5 No capiacutetulo 2 satildeo apresentados os meacutetodos usados na pesquisa

44

signo o representamem ou significante ii) o que ele representa o objeto ou referente e iii) o

que ele significa interpretante ou significado

Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo

Fonte Adaptado a partir do original de Ogden-Richards (1972)

Para Pierce (2005) os signos satildeo elementos tricotocircmicos6 e apresentam trecircs divisotildees

amplas (i) iacutecone (ii) iacutendice e (iii) siacutembolo A despeito de serem conceitos mais pertinentes a

um estudo semioacutetico em grande parte a motivaccedilatildeo que subjaz ao designativo de lugar imprime

caraacuteter icocircnico indicial ou simboacutelico ao nome do lugar o que acarreta uma dada categorizaccedilatildeo

Para Pierce (2005) (i) iacutecones satildeo os signos que apresentam as caracteriacutesticas

especiacuteficas proacuteprias por analogia formam-se pela primeira impressatildeopercepccedilatildeo que o

inteacuterprete tem sobre as coisas do mundo real Eacute um signo que guarda semelhanccedilas entre o

significante e o significado Em outras palavras um iacutecone eacute uma representaccedilatildeo - auditiva visual

ou de outra espeacutecie ndash de alguma coisa Uma fotografia uma pintura as imagens diagramas satildeo

exemplos de iacutecones por evidenciar semelhanccedila com o objeto representado A semelhanccedila tem

de ser estabelecida de forma quase que consciente por quem observa No entanto a semelhanccedila

com o objeto representado pode ser extraordinaacuteria como quando se observam as imagens sacras

ou iacutecones menores aqueles que aparecem na tela do computador ou pode ser mais abstrata

como a que acontece com as placas de sinais em geral

Em relaccedilatildeo aos (ii) iacutendices Pierce (2005) estabelece que satildeo signos que estatildeo numa

relaccedilatildeo direta entre o representamem e o objeto Um iacutendice (ou signo indexical) tem a funccedilatildeo

de indicar o que estaacute nas suas proximidades Nos iacutendices a forma e o significado estatildeo

interligados satildeo contiacuteguos ou seja caracteriza-se pela relaccedilatildeo de contiguidade ou associaccedilatildeo

com aquilo que representa Aquilo que atrai a atenccedilatildeo em um objeto eacute seu iacutendice Apresentam

6 O que difere das caracteriacutesticas dicotocircmicas do signo linguiacutestico para Saussure

Conceito

(Significado)

Palavra Referente

(significante) (elementos da realidade)

45

traccedilos de decirciticos jaacute que os interlocutores podem recuperar o referente por meio de lembranccedilas

de detalhes do objeto

Encontram-se muito difundidos nos sistemas de comunicaccedilatildeo (verbal ou natildeo) Satildeo

amplamente empregados na linguagem miacutemica e gestual no coacutedigo de tracircnsito Os decirciticos satildeo

signos indiciais imprescindiacuteveis pois referem demonstrativamente indicam a pessoa do

discurso o lugar a proximidade7 de espaccedilo e tempo entre outros (iii) Jaacute os siacutembolos satildeo signos

que se referem ao objeto em funccedilatildeo de uma convenccedilatildeo de uma lei ou de associaccedilatildeo geral de

ideias ou melhor por natildeo haver uma relaccedilatildeo de semelhanccedila e nem contiguidade entre o

significante e o significado ela eacute estabelecida por convenccedilatildeo de forma intencional e aprendida

nas relaccedilotildees sociais Os siacutembolos satildeo considerados os signos genuiacutenos estatildeo reservados aos

seres humanos porque as necessidades comunicativas exigem muito mais que indicaccedilotildees

indexicais ou imitaccedilotildees icocircnicas O sistema mais elaborado de signos simboacutelicos certamente

eacute o das liacutenguas naturais na modalidade falada e na escrita tambeacutem sendo que a palavra eacute o

siacutembolo por excelecircncia

Por se constituiacuterem de duas coisas que se encontram em prolongamento uma da outra

i eacute contiacuteguas os signos indexicais podem se substituir mutuamente Tambeacutem os signos

icocircnicos podem tomar o lugar do objeto real Jaacute os simboacutelicos satildeo superiores por permitirem

aos seres humanos ultrapassar os limites de contiguidade e semelhanccedila porque estabelecem uma

relaccedilatildeo simboacutelica entre determinada forma e determinado significado Todas essas relaccedilotildees ndash

icocircnica indexical e simboacutelica ndash estatildeo na base dos sistemas de linguagem

Os signos linguiacutesticos se vinculam agrave noccedilatildeo de siacutembolo uma vez que a relaccedilatildeo com o

objeto referido eacute construiacuteda arbitrariamente em uma espeacutecie de acordo entre os membros de

uma comunidade de fala Para Saussure (2008) o signo linguiacutestico eacute o resultado da associaccedilatildeo

convencional entre o significante e o significado acertada entre os falantes Eacute convencional

porque natildeo haacute nenhum viacutenculo sugestivo entre os dois elementos Essa eacute a noccedilatildeo de

arbitrariedade descrita por Saussure (2008) em relaccedilatildeo aos viacutenculos entre significante e

significado Por outro lado haacute de se considerar situaccedilotildees em que os signos linguiacutesticos

apresentam motivaccedilotildees que podem ser de natureza foneacutetica morfoloacutegica ou semacircntica

Quanto agrave estrutura um topocircnimo pode ser um nome simples ou composto e segue

evidentemente as mesmas regras de formaccedilatildeo de palavras da liacutengua portuguesa Um nome em

funccedilatildeo toponiacutemica pode tambeacutem ser constituiacutedo por frases e oraccedilotildees seguem assim a sintaxe

da liacutengua em que se insere

7 O ldquoeurdquo a pessoa com quem se fala o ldquoeste aquirdquo ldquoesse aiacuterdquo ldquoaquele alirdquo ldquoneste tempordquo ldquonaquele tempordquo

46

Segundo Dick (1992) o signo topocircnimo vincula-se por diversos fatores ao elemento

geograacutefico do qual eacute o referente estabelecendo com ele um conjunto que por sua vez pode ser

separado em partes menores para se distinguirem os seus elementos formadores

Morfologicamente dois elementos baacutesicos podem ser depreendidos dessa relaccedilatildeo um o termo

ou elemento geneacuterico que se relaciona agrave entidade geograacutefica que recebe a denominaccedilatildeo e o

outro o elemento ou termo especiacutefico o topocircnimo propriamente dito que carrega em si mesmo

a noccedilatildeo espacial que identificaraacute e singularizaraacute a entidade denominada das outras semelhantes

Esses elementos ou termos se justapotildeem no sintagma toponiacutemico (Coacuterrego do Ouro) ou se

aglutinam (Rialma) conforme a estrutura da liacutengua em questatildeo

Para Dick (1992) em relaccedilatildeo agrave morfologia os topocircnimos podem apresentar trecircs

diferentes formas (i) topocircnimo ou elemento especiacutefico simples eacute aquele determinado por um

soacute formante que pode apresentar-se acompanhado tambeacutem de sufixaccedilatildeo diminutiva

aumentativa ou de outras origens linguiacutesticas

Eacute comum na formaccedilatildeo de muitos topocircnimos brasileiros a junccedilatildeo de um designativo agraves

terminaccedilotildees -lacircndia em -poacutelis e ndashburgo (normalmente segundo elemento da formaccedilatildeo) Essa

formaccedilatildeo embora apresente dois formantes (de liacutenguas diferentes) satildeo considerados nomes

simples e natildeo compostos pode-se no entanto dizer que em algumas designaccedilotildees satildeo tambeacutem

hiacutebridos jaacute que provecircm de liacutenguas diferentes a saber Maurilacircndia (Maurilo do latim Maurilius

lsquomorenorsquo + lacircndia elemento de origem inglesa) Buritinoacutepolis (Buriti(no) elemento tupi + polis

elemento grego) mas em Friburgo8 natildeo haacute hibridismo

Segundo Siqueira (2012) pode-se ainda indicar a terminaccedilatildeo -(a) nia variaccedilatildeo do sufixo

nominal do latino -anus -ana que se documentam em nomes e modificadores com as noccedilotildees

de proveniecircncia origem entre outras em lembranccedila dos primeiros habitantes da regiatildeo Em

Goiaacutes eacute expressiva a quantidade de topocircnimos que se formaram jungidos a esse elemento

Caiapocircnia Cromiacutenia Goiacircnia Joviacircnia Luziacircnia Silvacircnia (ii) topocircnimo composto ou

elemento especiacutefico composto aquele formado por mais de um elemento de origens diversas

entre si do ponto de vista do conteuacutedo (iii) topocircnimo (composto) hiacutebrido ou elemento

especiacutefico hiacutebrido formado por elementos linguiacutesticos de diferentes procedecircncias

Sobre o caraacuteter imotivado dos signos linguiacutesticos cabe salientar conforme Saussure

(2008) que o viacutenculo que une o significante ao significado eacute arbitraacuterio natildeo haacute relaccedilatildeo loacutegica

ente as duas faces do signo A associaccedilatildeo entre ambos (significante e significado) eacute de natureza

8 Cidades da Alemanha e da Suiacuteccedila no Brasil conforme Machado (2003) haacute uma ldquoFriburgordquo no Amazonas e no

Rio de Janeiro ldquoNova Friburgordquo este sim um hiacutebrido em Minas Gerais haacute tambeacutem o hiacutebrido ldquoCordisburgordquo

cordis do latim lsquocoraccedilatildeorsquo + burgo do alematildeo lsquocidadersquo

47

convencional natildeo natural Assim todo estudo toponiacutemico tem no caraacuteter motivado do signo

toponiacutemico seu ponto de partida ou seja os estudos sobre os topocircnimos se baseiam na

motivaccedilatildeo que subjaz para analisar todas as relaccedilotildees circunscritas a ela

15 Linguiacutestica Histoacuterica

Consideradas como realidades histoacutericas e sociais as liacutenguas satildeo dinacircmicas estatildeo em

contiacutenua transformaccedilatildeo o que leva a afirmar que a liacutengua de hoje natildeo eacute a mesma de ontem

nem se manteraacute idecircntica amanhatilde Posto isso pode-se verificar que o conhecimento mais amplo

da estrutura do leacutexico da semacircntica e ateacute da ortografia pode requerer um estudo linguiacutestico

com perspectivas histoacutericas No acircmbito da linguiacutestica geral destaca-se a Linguiacutestica Histoacuterica

aacuterea cujo interesse recai sobre o que como e por que muda nas liacutenguas no decorrer do tempo

Os estudos acerca da linguagem foram primeiramente postulados pelos filoacutesofos

anteriores ao seacuteculo XIX como Platatildeo e Aristoacuteteles9 que se ativeram ao estudo da linguagem

mediante a anaacutelise da relaccedilatildeo entre som e sentido ignorando qualquer tipo de variaccedilatildeo

linguiacutestica Jaacute a opccedilatildeo filoloacutegica representada principalmente pelos gramaacuteticos alexandrinos

natildeo ignorava a variaccedilatildeo linguiacutestica mas a colocava como desvio configurando-se

possivelmente como a primeira perspectiva normativaprescritiva na histoacuteria dos estudos da

linguagem (MAURER JR 1967)

Por sua vez a linguiacutestica histoacuterica conforme Maurer Jr (1967) estabeleceu relaccedilotildees

culturais entre os povos tornando-se um precioso auxiacutelio para a Histoacuteria e a Antropologia A

linguiacutestica histoacuterica natildeo revela apenas as relaccedilotildees entre duas ou mais liacutenguas mas consegue

tambeacutem evidenciar com facilidade o que eacute herdado de um berccedilo linguiacutestico comum e o que eacute

oriundo de empreacutestimo de outra liacutengua

Consoante estudos recorrentes a linguiacutestica histoacuterica teve seu surgimento no final do

seacuteculo XVIII momento em que se comeccedilava a dar um cunho cientiacutefico agrave mudanccedila linguiacutestica

Natildeo se pode afirmar entretanto que natildeo houvesse uma preocupaccedilatildeo com a linguagem antes

desse periacuteodo haja vista que a criaccedilatildeo da biblioteca de Alexandria por exemplo demonstra

certo interesse pelo assunto pois indica que ao fazer a compilaccedilatildeo das obras antigas da literatura

grega Homero apresentava certa preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura e do passado de

uma eacutepoca

9 Para Aristoacuteteles a linguagem eacute definidora das relaccedilotildees humanas

48

No entanto foi no seacuteculo XVI com a Renascenccedila que houve um acentuado interesse

dos estudiosos pela histoacuteria cultural particularmente pela filologia momento da origem da

histoacuteria literaacuteria No Ocidente renascia o interesse pelo passado que remetia agrave antiguidade

greco-latina

A linguiacutestica histoacuterica consiste segundo Faraco (2006 p 13) em ldquoestudar as mudanccedilas

que ocorrem nas liacutenguas humanas agrave medida que o tempo passardquo A mudanccedila eacute definida como

processo pelo qual a liacutengua viva natildeo fica estagnada mas evolui acompanhando o

desenvolvimento da sociedade que a utiliza como instrumento de comunicaccedilatildeo pois ldquoonde haacute

mudanccedila deve haver histoacuteria do contraacuterio nosso conhecimento do fato permanece incompletordquo

(MAURER JR 1967 p 20)

Nesse contexto estabelece-se o que eacute mais natural a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade

porque uma acaba interferindo na mudanccedila da outra visto que

[] as liacutenguas humanas natildeo constituem realidades estaacuteticas ao contraacuterio sua

configuraccedilatildeo estrutural se altera continuamente no tempo E eacute essa dinacircmica

que constitui o objeto de estudo da linguiacutestica histoacuterica [] as liacutenguas mudam

mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos

necessaacuterios para a circulaccedilatildeo dos significados (FARACO 2006 p 14)

As mudanccedilas natildeo satildeo apenas de ordem lexicais por certo as estruturas gramaticais o

modo de produzir os sons e o significado das palavras se alteram com o tempo bem como novas

palavras surgem para expressar objetos e coisas que satildeo criados Eacute possiacutevel observar ainda que

palavras caem em desuso provocando consequentemente alteraccedilotildees no leacutexico de dada liacutengua

jaacute que

Os estudos de Linguiacutestica Histoacuterica comprovam que as liacutenguas humanas se

transformam no fluxo do tempo ou seja palavras e estruturas que existiam

antes deixam de existir ou sofrem modificaccedilotildees na forma na funccedilatildeo eou no

significado Apesar das transformaccedilotildees sofridas as liacutenguas mudam mas

continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos necessaacuterios

que garantem uma comunicaccedilatildeo eficaz pois as mudanccedilas ocorrem em partes

e natildeo no todo das liacutenguas num processo de mutaccedilatildeo e permanecircncia

(SIQUEIRA AGUIAR 2011 p 385 grifos das autoras)

A linguiacutestica histoacuterica pode ser estudada em duas fases a de 1800 e a poacutes 1900 No

seacuteculo XIX surgiram meacutetodos de abordagem para se estudar as liacutenguas suas combinaccedilotildees

identidade (gecircnese) diferenccedilas (mudanccedilas) Segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 18) ldquoa tradiccedilatildeo

oitocentista portanto recorta descreve e explica os fenocircmenos da linguagem do ponto de vista

do binocircmio gecircnese-evoluccedilatildeordquo

49

O poacutes 1900 partiu da observaccedilatildeo da diacronia e sincronia Com o advento do

estruturalismo de Ferdinand Saussure (2008) no seacuteculo XX a linguiacutestica moderna trouxe como

proposta que o objeto da linguiacutestica ndash a liacutengua ndash pudesse ser estudado separadamente do efeito

tempo (PAIXAtildeO DE SOUSA 2006) Como divisor desse momento na segunda metade poacutes

1900 o objeto da linguiacutestica eacute de ordem bioloacutegica ndash a diacronia estaacute imanente agrave liacutengua pois

de acordo com esta corrente linguiacutestica eacute na liacutengua que reside a heterogeneidade a mudanccedila e

a variaccedilatildeo

Segundo Faraco (2006 p 91) as liacutenguas estatildeo inseridas em um processo de fluxo

temporal de mutabilidade ldquoaparecimentosrdquo e ldquodesaparecimentosrdquo ldquoconservaccedilatildeordquo e

ldquoinovaccedilatildeordquo As liacutenguas tecircm histoacuteria revelam e constituem a todo tempo a realidade e as

transformaccedilotildees ocorridas comno tempo Em relaccedilatildeo a isso

Humboldt convencia-se de que toda liacutengua reflete a psique do povo que a fala

Eacute o resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal

de fala Ele acha por outro lado que a liacutengua de um povo eacute o canal natural

pelo qual aquele povo chega a uma compreensatildeo do universo que circunda o

homem E conclui que existe uma profunda influecircncia de uma liacutengua na

maneira pela qual seus falantes veem e organizam o mundo dos objetos em

torno deles e de sua vida espiritual (CAMARA JR 1975 p 38-39)

A liacutengua eacute um ldquoinstrumentordquo social e estaacute carregada de significaccedilatildeo e considerados

espaccedilo e tempo eacute capaz de revelar o mundo a outros mundos Faraco (2006) faz ainda referecircncia

ao estudo do leacutexico ao reafirmar que a composiccedilatildeo deste pode ser estudada historicamente na

sua origem bem como os empreacutestimos que satildeo feitos de outras liacutenguas Necessaacuterio se faz

reconhecer que o leacutexico eacute uma unidade carregada da histoacuteria cultural de dada comunidade

linguiacutestica natildeo esquecendo conforme Faraco (2006 p 42) que ldquoeacute um dos pontos em que mais

claramente se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e culturardquo

Com o advento estruturalista de Saussure (2008) haacute uma mudanccedila de perspectiva a

visatildeo diacrocircnica dos fatos linguiacutesticos daacute lugar ao enfoque sincrocircnico dos fenocircmenos da

linguagem Eacute preciso observar que consoante a diretriz saussuriana a anaacutelise sincrocircnica

precede a diacrocircnica sendo possiacutevel fazer comparaccedilatildeo entre elas no momento em que tiver a

descriccedilatildeo de pelo menos dois estados da liacutengua Daiacute reforccedilar-se o objetivo do estudo em

descrever sincronicamente um dado especiacutefico da histoacuteria da liacutengua Faraco (2006 p 120)

afirma que ldquoo estudioso se fixa num momento do passado e tomando-o estaticamente

descreve-o com base nos documentos escritos de que se dispotildee criando assim condiccedilotildees para

um posterior estudo diacrocircnicordquo

50

A par disso conveacutem mencionar que nos seacuteculos XVII e XVIII estudos linguiacutesticos

hegemocircnicos observavam a liacutengua como uma realidade estaacutevel diferentemente do pensamento

linguiacutestico do seacuteculo XIX que considerava a liacutengua como uma realidade em transformaccedilatildeo

Desta forma Saussure (2008) estabeleceu duas dimensotildees uma histoacuterica (chamada diacrocircnica)

que tem como centro de suas atenccedilotildees as mudanccedilas porque passa a liacutengua no tempo ou seja a

mutabilidade da liacutengua no tempo a outra eacute estaacutetica (chamada sincrocircnica) que entende a liacutengua

como um sistema estaacutevel num espaccedilo de tempo aparentemente fixo isto eacute a sua imutabilidade

Mas

Diante dos termos sincroniadiacronia natildeo basta apenas entender por alto a

que se referem Eacute preciso antes perceber que essa divisatildeo pressupotildee tambeacutem

na sua origem uma concepccedilatildeo homogeneizante da liacutengua que ndash apesar de sua

indiscutiacutevel funcionalidade e fertilidade para a linguiacutestica contemporacircnea ndash eacute

para muitos estudiosos uma idealizaccedilatildeo excessiva por criar um objeto de

estudo demasiadamente afastado da heterogeneidade linguiacutestica do real

(FARACO 2006 p 106 grifos do autor)

Segundo Faraco (2006) Coseriu em seu livro Sincronia diacronia e histoacuteria de 1973

posiciona-se de forma contraacuteria agrave formulaccedilatildeo de Saussure (2008) (visatildeo estaacutetica de sistema)

pois para ele a liacutengua deve ser vista em permanente sistematizaccedilatildeo em movimento Coseriu

rejeita a ideia de que a descriccedilatildeo (sincronia) e a histoacuteria (diacronia) sejam estudos diferenciados

mas assume a visatildeo de que as liacutenguas satildeo objetos histoacutericos e devem ser estudadas de forma

integrada envolvendo descriccedilatildeo e histoacuteria

Para Rocha Galvatildeo e Gonccedilalves (2011 p 30) ldquoestabelecer a presenccedila ou a viagem das

palavras eacute acompanhar o envolver das proacuteprias comunidades pelo tempo aforardquo Um recorte

sincrocircnico natildeo deve desprezar a interpretaccedilatildeo diacrocircnica o interesse cientiacutefico natildeo estaacute presente

somente num espaccedilo-tempo assim como a representatividade histoacuterica necessita admitir pontos

exatos na representaccedilatildeo da vivecircncia humana

No segundo capiacutetulo apresenta-se uma breve revisatildeo dos meacutetodos de pesquisa que

podem ser combinados com a teoria onomaacutestico-toponiacutemica a fim de compor um quadro

ilustrativo das caracteriacutesticas do meio da cultura dos fatos histoacutericos e dos estados anteriores

da liacutengua que estatildeo de alguma forma impressos na motivaccedilatildeo que subjaz aos topocircnimos em

questatildeo

51

II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS

O povo ldquosenhor dos espaccedilos puacuteblicosrdquo por vezes

adota criteacuterio proacuteprio ao conferir nomes aos

lugares

(IBGE 2008)

A linguagem humana eacute sobretudo interaccedilatildeo e natildeo pode pois ser explicada apenas em

termos de sua estrutura semacircntica e formal mas tambeacutem deve-se analisaacute-la em sua funccedilatildeo

social Desta forma o desenvolvimento linguiacutestico e intelectual do indiviacuteduo caminham juntos

pois ambos satildeo a base da abstraccedilatildeo e categorizaccedilatildeo pois ldquotoda liacutengua reflete as condiccedilotildees da

sociedade e do ciacuterculo cultural que se falardquo (ANDRADE 2010 p 99)

Aspectos linguiacutesticos de diversas ordens satildeo fundamentais para o estudo toponiacutemico jaacute

que eacute por mecanismos linguiacutesticos que o signo comum transmuta-se em designativo de lugar

revelando a identidade do nomeador coletivo ou natildeo Desta maneira ldquoo topocircnimo eacute o resultado

da accedilatildeo do nomeador ao realizar um recorte no plano das significaccedilotildees representaccedilotildees ou seja

praticar um papel de registro no momento vivido pela comunidaderdquo (ANDRADE 2010 p

106)

Acolher uma orientaccedilatildeo ou outra acarreta outrossim na escolha do meacutetodo a ser utilizado

para a pesquisa linguiacutestico-histoacuterica Para situar a escolha por um meacutetodo este capiacutetulo faz uma

breve exposiccedilatildeo de alguns meacutetodos que tecircm sido empregados em pesquisas de abordagem

similar a esta em especial descrevemos detalhadamente os que satildeo usados nesta pesquisa os

quais consideram natildeo somente os aspectos linguiacutesticos bem como os histoacutericos e socioculturais

do lugar indo ao encontro da perspectiva adotada para este trabalho

21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos

Natildeo se deve confundir metodologia com meacutetodo de pesquisa Segundo Silva e Silveira

(2007 p 145) a metodologia consiste de um conjunto de criteacuterios usados para se construir um

conhecimento vaacutelido seguro e de certa forma verdadeiro Jaacute os meacutetodos de pesquisa podem

ser definidos como ldquoprinciacutepios e procedimentos aplicados para construccedilatildeo do saberrdquo Os autores

salientam que se torna mais difiacutecil ficar preso a um uacutenico meacutetodo quando se pode lanccedilar matildeo

do ldquopluralismo metodoloacutegicordquo Deste modo considerando as especificidades de um estudo

toponiacutemico eacute possiacutevel conjugar meacutetodos de forma ordenada e loacutegica Isto quer dizer que se

52

podem utilizar meacutetodos de abordagem (indutivo dedutivo dialeacutetico) em consonacircncia com os

preceitos de um ou mais meacutetodos de procedimento (funcionalista comparativo

fenomenoloacutegico estruturalista)

Uma perspectiva histoacuterica por exemplo abre um amplo espectro de possibilidades de

se estudar um determinado fato linguiacutestico Podem ser citadas diversas maneiras para se tomar

os fenocircmenos linguiacutesticos do ponto de vista histoacuterico tais como a filologia centrada nos

aspectos histoacutericos das transformaccedilotildees a linguiacutestica comparada que aborda os fatos por meio

de comparaccedilotildees entre as liacutenguas de grupos linguiacutesticos relacionados e a etimologia a qual

busca desvendar o significado de origem das palavras aqui centra-se o nosso objeto de estudo

que eacute descrever e analisar a origemetimologia dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua de Pires do

Rio-GO

Os meacutetodos linguiacutesticos podem ainda estudar as transformaccedilotildees linguiacutesticas

correlacionando-as ao contexto sociocultural o que tem contribuiacutedo grandemente para uma

renovaccedilatildeo das abordagens do fenocircmeno da mudanccedila linguiacutestica resultando em inuacutemeras outras

orientaccedilotildees teoacutericas que em certo sentido podem ser vistas como herdeiras dos primeiros

criacuteticos dos estudos comparativos

A linguiacutestica tem a liacutengua como seu principal objeto de estudo a qual eacute produto da

experiecircncia acumulada historicamente na cultura de uma sociedade A liacutengua eacute um fenocircmeno

social pois eacute produzida e determinada socialmente ademais eacute um importante siacutembolo da

identidade de um grupo E eacute no comportamento linguiacutestico de uma dada comunidade que se

reflete a busca de aprovaccedilatildeo social ou a acentuaccedilatildeo de diferenccedilas (COSERIU 1977) Eacute por

meio dela enfim que um indiviacuteduo adquire a cultura do lugar em que vive jaacute que

A funccedilatildeo baacutesica da Linguiacutestica eacute o estudo direto da lsquoliacutengua viva e faladarsquo por

observaccedilatildeo e anaacutelise objetiva de seus fenocircmenos postas de lado todas as

forccedilas e influecircncias que se manifestem muitas vezes atraveacutes dela e todos os

antecedentes que possam ter dado origem ao estado atual (MAURER JR

1967 p 30)

Observa-se na Linguiacutestica Geral de acordo com Maurer Jr (1967) a divisatildeo em dois

setores distintos poreacutem essenciais para compreensatildeo da linguagem a Linguiacutestica Descritiva

(sincrocircnica) que segundo o autor deve ser a base de todo estudo cientiacutefico porque eacute a partir

dela que aprendemos a linguagem em sua funccedilatildeo uacutenica e peculiar e a Linguiacutestica Histoacuterica

(diacrocircnica) que complementa e explica os fatos da primeira e tem uma funccedilatildeo importante no

estudo desse rico patrimocircnio cultural e humano a liacutengua

53

212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica

Para alguns estudiosos a linguiacutestica histoacuterica teve seu apogeu no seacuteculo XIX embora

outros afirmem que tenha ocorrido haacute tempos no Renascimento De acordo com Paixatildeo de

Sousa (2006 p 14)

[] a reflexatildeo linguiacutestica dos 1800 representa um marco divisor na histoacuteria

das histoacuterias do tempo e da linguagem por inaugurar uma concepccedilatildeo

inteiramente nova dos condicionantes dessa relaccedilatildeo e construir um novo

plano para sua anaacutelise Eacute antes de tudo na tentativa de se combinar a esfera

documental com a esfera experimental que aparecem os desdobramentos mais

interessantes dos estudos histoacutericos da liacutengua ao longo do seacuteculo XIX eles

buscaratildeo articular as duas esferas em um mesmo plano de anaacutelise construindo

a abordagem histoacuterico-comparada

Assim a linguiacutestica histoacuterica apoacutes o seacuteculo XIX cria um meacutetodo que permite

ldquocategorizar e justificar a identidade geneacutetica e a evoluccedilatildeo paralela de cada idioma em um grupo

aparentadordquo segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 16) O meacutetodo comparativo segundo Maurer

Jr (1967) busca comparar cuidadosamente formas apresentadas entre si de um grupo

distinguir a origem e estudar a diversificaccedilatildeo das liacutenguas para desvendar e recontar a histoacuteria

de cada liacutengua Ressalte-se que para Faraco (2006 p 125) esse meacutetodo teve sua estruturaccedilatildeo

ldquoao dar um tratamento sistemaacutetico agraves observadas semelhanccedilas entre liacutenguas distantes no espaccedilo

como o latim e o sacircnscritordquo E ainda

constitui um recurso inteligente e racional para a reconstruccedilatildeo de fatos que

dependem de testemunho em todo o terreno Tal como a Paleontologia a

Histoacuteria da Cultura e ateacute na investigaccedilatildeo do crime na Justiccedila esse meacutetodo

submete o testemunho a um estudo preliminar para avaliar seu isolamento sua

coerecircncia etc (MAURER JR 1967 p 31)

O meacutetodo comparativo se baseia na experimentaccedilatildeo (induccedilatildeo) procura descrever os

estaacutegios da liacutengua que natildeo deixaram registros (documentos) como eacute o caso do latim vulgar No

entanto se difere do histoacuterico-comparativo o qual usa documentos histoacutericos para fazer as suas

reconstruccedilotildees acerca da liacutengua Poreacutem ambos os meacutetodos buscam recuperar a histoacuteria da liacutengua

de forma cronoloacutegica

De acordo com Faraco (2006 p 134)

O meacutetodo comparativo eacute o procedimento central nos estudos de linguiacutestica

histoacuterica Eacute por meio dele que se estabelece o parentesco entre liacutenguas O

pressuposto de base eacute que entre elementos de liacutenguas aparentadas existem

54

correspondecircncias sistemaacuteticas (e natildeo apenas aleatoacuterias ou casuais) em termos

de estrutura gramatical correspondecircncias estas passiacuteveis de serem

estabelecidas por meio duma cuidadosa comparaccedilatildeo Com isso podemos natildeo

soacute explicitar o parentesco entre liacutenguas (isto eacute dizer se uma liacutengua pertence

ou natildeo a uma determinada famiacutelia) como tambeacutem determinar por inferecircncia

caracteriacutesticas da liacutengua ascendente comum de um certo conjunto de liacutenguas

No decorrer dos anos vaacuterios satildeo os estudiosos que contribuiacuteram com a formaccedilatildeo e o

aprimoramento do meacutetodo comparativo dentre eles destacamos Bopp (1791-1867) que

buscava estabelecer o parentesco entre as liacutenguas mas natildeo o percurso histoacuterico de um anterior

para um posterior Grimm (1785-1863) que ao estudar o ramo germacircnico das liacutenguas indo-

europeias pocircde estabelecer a sucessatildeo histoacuterica por meio de comparaccedilatildeo ndash comparativo

histoacuterico Rask (1787-1832) tambeacutem desenvolveu trabalhos comparativos importantes para o

momento envolvendo as liacutenguas noacuterdicas as demais liacutenguas germacircnicas o grego o latim o

lituano o eslavo e o armecircnio Foi a partir desses estudiosos que surgiu a ldquofilologia (ou

linguiacutestica) romacircnica nome que se deu ao estudo histoacuterico-comparativo das liacutenguas oriundas

do latimrdquo (FARACO 2006 p 137)

De tal modo da siacutentese que foi apresentada eacute possiacutevel tecer as seguintes consideraccedilotildees

o meacutetodo histoacuterico-comparativo em seu apogeu foi e ainda hoje eacute uacutetil aos estudos da Linguiacutestica

Histoacuterica principalmente no que concerne natildeo soacute agrave reconstruccedilatildeo de fases anteriores das liacutenguas

como tambeacutem eacute bastante indicado para estudos que objetivam a reconstruccedilatildeo interna de uma

liacutengua Esse meacutetodo cumpriu papel importante para o desvelamento de inuacutemeras questotildees

linguiacutesticas das liacutenguas antigas grego latim sacircnscrito

Jaacute os estudos dos neogramaacuteticos possibilitaram o aprimoramento do meacutetodo histoacuterico-

comparativo mediante a verificaccedilatildeo de que muitas mudanccedilas ocorridas nas liacutenguas em

momentos anteriores e registrados em documentos podem ser explicitadas por meio da

explanaccedilatildeo de mudanccedilas ldquosincrocircnicasrdquo sucedidas nas liacutenguas conforme as leis foneacuteticas e a

analogia

Conforme Cacircmara Jr (1975) Gaston Paris traccedilou mapas das linhas isogloacutessicas dando

os primeiros passos para a geografia linguiacutestica a qual na verdade foi efetivamente criada por

seu disciacutepulo suiacuteccedilo Jules Gillieacuteron que dedicou-se agrave dialetologia e no doutoramento em 1879

defendeu a tese sobre o dialeto de Vionnaz Essa nova teacutecnica ldquoteve como base teoacuterica o

conceito de dialeto como uma abstraccedilatildeo essa a razatildeo de focalizar cada mudanccedila linguiacutestica per

se como o verdadeiro dado linguiacutesticordquo (CAcircMARA JR 1975 p 121)

55

A geografia linguiacutestica10 segundo Cacircmara Jr (1975) eacute importante como uma nova

abordagem para o estudo histoacuterico-comparativo pois em vez de recorrer a textos antigos o

pesquisador busca apenas os aspectos contemporacircneos da liacutengua absorvendo as bases

linguiacutesticas no intercacircmbio oral Desta forma

Obteacutem-se uma corrente evolucionaacuteria pela comparaccedilatildeo das muitas variantes

de cada forma cuja distribuiccedilatildeo no espaccedilo pode ser traduzida numa

distribuiccedilatildeo atraveacutes do tempo de acordo com regras metodoloacutegicas O aspecto

foneacutetico da variante ou sua existecircncia num patois relativamente moderno ou

notaacutevel por traccedilos arcaicos constituem a chave para esta investigaccedilatildeo

histoacuterica Por essa razatildeo eacute que atraveacutes da geografia linguiacutestica uma nova

teacutecnica para o estudo histoacuterico da linguagem foi imaginada sob o tiacutetulo de

ldquoreconstruccedilatildeo internardquo (CAcircMARA JR 1975 p 125 grifos do autor)

Essa nova abordagem vem corroborar com os estudos da liacutengua porque de forma

efecircmera reconstroacutei a histoacuteria de uma dada liacutengua contribuindo com a contemporaneidade uma

vez que nos eacute necessaacuterio conhecer a base etimoloacutegica das palavras e depois justificar o seu uso

ou evoluccedilatildeo

Segundo Cacircmara Jr (1975) apoacutes observar que Gaston Paris traccedilou mapas das linhas

isogloacutessicas e Gillieacuterion criou a geografia linguiacutestica muitos anos depois os linguistas italianos

Giulio Bertoni e Matteo Bartoli criaram o meacutetodo de linguiacutestica areal cujo objetivo era

classificar aacutereas linguiacutesticas ndash de uma liacutengua ou grupo de liacutenguas ndash como forma de

representaccedilatildeo da contemporaneidade e do estaacutegio linguiacutestico de desenvolvimento Os

linguistas consoante Cacircmara Jr (1975 p 126) ldquodividiram um territoacuterio linguiacutestico em aacutereas

isoladas aacutereas laterais aacutereas principais e aacutereas desaparecidas (isto eacute aacutereas homogecircneas que

desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)rdquo e desta forma

difundiam mais um meacutetodo linguiacutestico

Destaca ainda que a linguiacutestica histoacuterica compreende dois momentos de exatidatildeo o

primeiro de 1786 a 1878 periacuteodo de formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do meacutetodo comparativo o qual

finalizou com o movimento dos neogramaacuteticos o segundo vai desde 1878 ateacute a

contemporaneidade periacuteodo de tensatildeo entre duas linhas interpretativas uma imanentista ndash

neogramaacutetico estruturalismo e gerativismo que vecirc a mudanccedila como acontecimento interno da

liacutengua e pela proacutepria liacutengua e a outra integrativa ndash primeiros criacuteticos neogramaacuteticos dialetologia

e sociolinguiacutestica cuja mudanccedila da liacutengua estaacute condicionada a fatores contextuais nos quais o

falante estaacute inserido

10 No Brasil a Geografia Linguiacutestica concretizou-se com a produccedilatildeo de Atlas Linguiacutesticos em diferentes Estados

brasileiros

56

Entre os seacuteculos XVIII e XIX ocorreram momentos de grande relevacircncia para a

linguiacutestica histoacuterica Um deles eacute a fundaccedilatildeo da Escola de Estudos Orientais em Paris

(importante centro de investigaccedilatildeo) no ano de 1975 onde estudaram os linguistas alematildees

Friedrich Schlegel (1772-1829) e Franz Bopp (1791-1867) os quais mais tarde desenvolveram

a chamada gramaacutetica comparativa

Assim em 1808 Friedrich Schlegel publicou um texto sobre a liacutengua e sabedoria dos

povos hindus que de acordo com Faraco (2006) eacute considerado o ponto de partida do

comparativismo alematildeo No texto o autor ratifica sobre o parentesco das liacutenguas sacircnscrita com

a latina grega germacircnica e persa

Cabe ainda salientar que os estudos histoacuterico-comparativos antes da uacuteltima metade do

seacuteculo XIX conheceram a obra de August Scheilcher (1821-1868) Sua teoria tomava a liacutengua

como um organismo vivo com existecircncia fora de seus falantes sendo sua histoacuteria vista como

natural devido agraves orientaccedilotildees naturalistas do linguista como sua formaccedilatildeo em botacircnica e

influenciado pela teoria evolucionista de Darwin (FARACO 2006)

Jaacute no seacuteculo XIX as investigaccedilotildees no campo da linguagem eram dominadas por ideias

positivistas que se desenvolviam conforme meacutetodos histoacuterico-comparativos eacutepoca em que se

formaliza o estudo sistemaacutetico das variaccedilotildees sobretudo as de natureza geograacutefica Surge o

interesse pelos dialetos considerados como fontes de conhecimento do modo como se teriam

operado as transformaccedilotildees em fases anteriores das liacutenguas A Geografia Linguiacutestica eacute uma

consequecircncia do interesse pelos estudos dialetais levados a cabo de iniacutecio por vaacuterios estudiosos

europeus Segundo Coseriu (1982) surge um meacutetodo dialetoloacutegico e comparativo que

pressupotildee o registro em mapas especiais de um nuacutemero relativamente elevado de formas

linguiacutesticas (focircnicas lexicais ou gramaticais) recolhidas mediante pesquisa direta e unitaacuteria

numa rede de pontos distribuiacuteda em determinado territoacuterio

Deste modo eacute necessaacuterio compreender que

A linguagem eacute inegavelmente uma heranccedila social cuja histoacuteria se estende

por seacuteculos Uma visatildeo completa um conhecimento detalhado de seu

mecanismo de sua estrutura de sua semacircntica e ateacute de sua ortografia soacute

podem ser obtidos atraveacutes da pesquisa diacrocircnica Os meacutetodos expostos

acima em suas linhas essenciais natildeo deixam duacutevida de que a filologia

romacircnica se desenvolveu com o meacutetodo histoacuterico-comparativo adotado com

mais ecircxito aqui do que no campo para o qual havia sido criado As possiacuteveis

deficiecircncias desse meacutetodo foram sendo corrigidas depois pela geografia

linguiacutestica e pelos outros meacutetodos derivados como a onomasiologia Woumlrter

und Sachen linguiacutestica espacial etc Enquanto o meacutetodo histoacuterico-

comparativo procura as ligaccedilotildees entre o ldquoterminus a quordquo e o ldquoterminus ad

quemrdquo o latim vulgar e as liacutenguas romacircnicas respectivamente os outros

57

meacutetodos tecircm como objeto especificamente o ldquoterminus ad quemrdquo pois

investigam sincronicamente aspectos atuais dessas mesmas liacutenguas cujas

explicaccedilotildees poreacutem devem ser buscadas diacronicamente (BASSETTO

2001 p 85 grifos do autor)

Para Faraco (2006 p 106) ldquooptar por uns ou por outros eacute que vai orientar nossa forma

de entender a mudanccedila linguiacutestica nossa seleccedilatildeo de dados nossas categorias e procedimentos

de anaacutelise nosso processo argumentativordquo Ou seja ao assumirmos uma concepccedilatildeo de base

correlata eacute o que iraacute definir o nosso meacutetodo de trabalho

22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia

Segundo Silva (2010) a onomasiologia eacute um meacutetodo que se constitui do estudo das

designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Pode ser

investigada toda a cultura popular de um local podendo-se priorizar os aspectos sincrocircnicos ou

histoacutericos Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores do que

subjaz agrave nomeaccedilatildeo dos lugares

Pode-se para efeito deste estudo traccedilar o esquema a seguir o qual demonstra as

possibilidades temaacuteticas que esse tipo de pesquisa pode apresentar

Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos

Onomaacutestica

Toponiacutemia Antroponiacutemia

Modalidades Coleta

Imagens mapas cartas e plantas

Documental Texto iacutendicesrepertoacuterio de nomes

Ficcional Natildeo ficcional

Pesquisa de campo Entrevistas etnografia

Mista Documental e Pesquisa de campo

Fonte Adaptado de material da USP ndash Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas 2016

58

A onomasiologia eacute o resultado das tendecircncias mais significativas da evoluccedilatildeo linguiacutestica

na transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX em que a centralidade das investigaccedilotildees passam

do som (foneacutetica) para a palavra (lexicologia) O seu triunfo se deu a partir do desenvolvimento

da Geografia Linguiacutestica pois com o aparecimento de inuacutemeros termos regionais recolhidos

pelos inqueacuteritos linguiacutesticos surgiu a necessidade de um novo meacutetodo que auxiliasse os

dialetoacutelogos a compreenderem o homem regional em sua amplitude por meio da linguagem

Apoacutes a publicaccedilatildeo dos atlas linguiacutesticos a onomasiologia comeccedila a ser utilizada em

vaacuterios estudos jaacute que pelo seu uso eacute possiacutevel caracterizar as atividades de uma regiatildeo e situaacute-

las no tempo Segundo Couto (2012 p 186) ldquoa onomasiologia vecirc a questatildeo da referecircncia para

usar um termo semioacutetico partindo da coisa e indo na direccedilatildeo do nome que ela receberdquo Desta

forma ldquoo meacutetodo onomasioloacutegico permite ver a cultura do povo cuja liacutengua se estuda

costumes ocupaccedilotildees instrumental crenccedilas e crendices moradia enfim sua mundividecircncia

Permite sentir a linguagem viva traduzindo a vivecircncia cultural do povordquo (BASSETO 2001 p

77)

Ressalta-se que

Com pontos em comum com a Geografia Linguiacutestica e ldquoPalavras e Coisasrdquo o

meacutetodo onomasioloacutegico tambeacutem conhecido como onomasiologia isto eacute o

estudo das denominaccedilotildees se propotildee investigar os vaacuterios nomes atribuiacutedos a

um objeto animal planta conceito etc individualmente ou em grupo dentro

de um ou vaacuterios domiacutenios linguiacutesticos Seus objetivos satildeo portanto

semacircnticos e lexicoloacutegicos buscando descobrir os aspectos vivos e as forccedilas

criadoras da linguagem (BASSETO 2001 p 76)

O meacutetodo onomasioloacutegico natildeo ficou a cargo apenas de um pesquisador mas de vaacuterios

pois seus princiacutepios se desenvolveram aos poucos Conforme Bassetto (2001) temos como

predecessores da onomasiologia moderna F Brinkmann (1872) Luigi Morandi (1883)

Friedrich Diez (1875) Fr Pott (1853) Jakob Grimm (1853) e F Miklosich (1868) Todavia o

princiacutepio da onomasiologia cientiacutefica deu-se com Carlo Salvioni (1858-1920) quando estudou

sobre as denominaccedilotildees italianas do vaga-lume (1892) e com Ernest Toppolet (1870-1939) que

referendou em seus estudos o parentesco dos nomes romacircnicos por ele denominados de

ldquolexicologia cientiacuteficardquo

As pesquisas desenvolvidas na aacuterea da onomaacutestica se constituem em uma linha

documental ou de campo seguindo um meacutetodo pelo qual se selecionam observam registram

classificam analisam e interpretam os dados de acordo com a identificaccedilatildeo dos fatores

59

determinantes agrave configuraccedilatildeo dos corpora Essas anaacutelises de dados satildeo baseadas em trecircs

categorias linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica que satildeo reveladas pelo meacutetodo onomasioloacutegico

Segundo Ramos e Bastos (2010) as trecircs perspectivas ndash linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica

ndash satildeo cruciais para revelar as seguintes caracteriacutesticas a) a determinaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica das

diferentes liacutenguas que tenham existido ou existentes num determinado territoacuterio b) o estudo

das terminaccedilotildees caracteriacutesticas de cada palavra c) o estudo das formas gramaticais d) o estudo

da foneacutetica histoacuterica e) a verificaccedilatildeo das formas documentadas as quais se subdividem em ndash

comparaccedilatildeo semacircntica a abordagem dos dados geograacuteficos e a abordagem dos dados histoacutericos

Cabe ainda indicar em linhas gerais algumas concepccedilotildees do meacutetodo Woumlrter und

Sachen de Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) o qual conforme

Bassetto (2001) tem pontos em comum que compartilha com o meacutetodo onomasioloacutegico Visa

ao estudo das questotildees semacircnticas das palavras enfatizando a realidade que elas designam

porque para os estudiosos dessa linha de pensamento a verdadeira etimologia da palavra

encontra-se no conhecimento dessa realidade Procura instruir sobre a necessidade de conhecer

sempre que possiacutevel o objeto designado por um termo para que o significado possa ser

devidamente explicitado Quando se conhece a realidade a natureza a forma o uso as medidas

das coisas do mundo eacute possiacutevel estabelecer a origem e a histoacuteria das palavras com que esses

mesmos objetos foram designados

Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) foram precursores desse

meacutetodo ao considerarem que as coisas existem antes de serem denominadas ou seja as coisas

preexistem agraves suas designaccedilotildees podendo ateacute existir sem que sejam nomeadas Em

contrapartida as palavras dependem das ldquocoisasrdquo estatildeo ligadas a elas Com essa perspectiva

Schuchardt (mais do que Meringer) remete ao meacutetodo Woumlrter und Sachen ldquoPalavras e Coisasrdquo

cujo tiacutetulo instituiu o nome do meacutetodo

No entanto conveacutem salientar que jaacute na gramaacutetica grega estava impliacutecita a ideia de que

as coisas precedem as palavras Em outros termos quando se conhece em profundidade a

ldquocoisardquo chega-se ao ldquoeacutetimordquo da palavra que a nomeia alcanccedila-se o significado com que a coisa

foi primeiramente designada Menciona-se que para Schuchardt (apud BASSETO 2013)

Sachen (coisa) significava qualquer realidade i eacute ldquoSachenrdquo podia se referir tanto a

acontecimentos e estados como a objetos ao real e ao irreal ao tangiacutevel11 e ao intangiacutevel ou

em outras palavras tanto a coisas do mundo sensiacutevel como do insensiacutevel

11 ldquoTangiacutevelrdquo do latim tangere tangens lsquotocar aquilo que tocarsquo do mesmo eacutetimo de attingere lsquoaproximar-se e

tocarrsquo

60

O meacutetodo Woumlrter und Sachen (Palavras e Coisas) segundo Campbell (2004) relaciona-

se agraves inferecircncias histoacuterico-culturais que podem ser reveladas por meio da investigaccedilatildeo das

palavras pautadas na sua analisabilidade Campbell (2004) assume que as palavras que satildeo

analisadas em partes transparentes (vaacuterios morfemas) podem ser de criaccedilatildeo mais recente (na

liacutengua) em relaccedilatildeo agraves palavras que natildeo apresentam essa transparecircncia morfecircmica

Essa teacutecnica contribui sobremaneira para traccedilar uma cronologia aproximativa dos

vocabulaacuterios Dias (2016 p31) acentua que

Sobretudo supotildee-se que itens culturais denominados por termos analisaacuteveis

satildeo tambeacutem adquiridos mais recentemente pelos falantes e aqueles que satildeo

expressos por palavras natildeo analisaacuteveis representam itens mais velhos e

instituiccedilotildees Outra estrateacutegia desse meacutetodo envolve fazer inferecircncias por meio

de informaccedilotildees de itens culturais de quem os nomes sofreram visivelmente

mudanccedila de significado

E para Crowly (2003) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo pode ser usado para fazer

reconstruccedilatildeo cultural e chegar ao conteuacutedo de uma protocultura por exemplo jaacute que se eacute

possiacutevel reconstruir uma palavra designativa de alguma coisa na protoliacutengua eacute possiacutevel tambeacutem

supor que a coisa a que ela se refere provavelmente foi de importacircncia cultural na vida dos

seus falantes ou que foi ambientalmente marcante Segundo o autor o meacutetodo pode tambeacutem

dizer muito sobre a terra natal de uma famiacutelia linguiacutestica pode-se ainda por meio do referido

meacutetodo fazer suposiccedilotildees sobre as rotas legiacutetimas seguidas pelos povos para se chegar aos

lugares onde se encontram atualmente12

Destarte segundo Bassetto (2013) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo deu destaque agrave

semacircntica ao estabelecer a etimologia e ateacute a biografia das palavras aleacutem de tornar os estudos

filoloacutegicos mais objetivos Posto isso eacute possiacutevel verificar que o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo

pode ser usado nos estudos semacircnticos lexicais onomaacutesticos toponiacutemicos Quando se busca

relacionar a histoacuteria do nome com a histoacuteria do lugar vincula-se a palavra (o nome) agrave coisa (o

lugar) Nesse sentido pode-se de alguma maneira realizar o estudo natildeo apenas pautado no

meacutetodo onomasioloacutegico mas tambeacutem considerando as intrincadas relaccedilotildees entre nomes e as

coisas do mundo

Cabe ressaltar

Assim como procedimento metodoloacutegico seguido nos estudos

toponomaacutesticos buscamos definir o jaacute definido ou seja o objeto de estudo da

disciplina o seu campo de trabalho especiacuteficos a natureza linguiacutestica da

12 Por exemplo os caminhos que levaram (trouxeram) os bandeirantes agraves terras do iacutendio goyaacute

61

anaacutelise em termos de vinculaccedilatildeo a uma aacuterea do conhecimento Partindo-se da

definiccedilatildeo etimoloacutegica dos elementos gramaticais de origem grega enunciados

por Dioniacutesio de Traacutecia no seacuteculo II a C a Toponiacutemia ficou-se como propocircs

Leite de Vasconcelos (1887) no entendimento dos nomes proacuteprios de lugares

distintos dos nomes comuns delimitados pela teoria da linguagem (DICK

2006 p 96)

A toponomaacutestica entatildeo fundamenta-se nos estudos dos nomes proacuteprios de lugares

estabelecendo relaccedilotildees da liacutengua com o ambiente sendo de extrema necessidade observar os

viacutenculos do nomeador com a coisa nomeada a motivaccedilatildeo que subjaz ao topocircnimo

O meacutetodo da Geografia Linguiacutestica com a concepccedilatildeo basilar de que a distribuiccedilatildeo

geograacutefica dos aglomerados populacionais se reflete na diferenciaccedilatildeo linguiacutestica trouxe grande

contribuiccedilatildeo para o estudo dos nomes em geral pois pode refletir tendecircncias que orientaram o

ato de nomeaccedilatildeo tanto de pessoas como de lugares

Sobre o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo cabe apenas repetir que por enfatizar o aspecto

semacircntico das palavras vinculado agrave realidade que elas denominam contribui com o estudo dos

nomes jaacute que parte do princiacutepio de que as palavras se acham ligadas agraves coisas que elas

designam Uma vez conhecendo a natureza das coisas chega-se na verdadeira etimologia da

palavra contribuiccedilatildeo essa que valoriza a cultura e a histoacuteria das comunidades vendo no ser

humano o sujeito das transformaccedilotildees que ocorrem nas liacutenguas e na cultura

Posto isso considera-se mais uma vez que a onomasiologia busca investigar como uma

noccedilatildeo ou conceito eacute nomeado na liacutengua tendo sempre em mente que quem daacute nome agraves coisas

satildeo os falantes e o fazem em decorrecircncia da cosmovisatildeo de seu grupo O meacutetodo

onomasioloacutegico permite que a cultura do povo pesquisado seja revelada

Entretanto a despeito das contribuiccedilotildees que cada um trouxe para os estudos linguiacutesticos

nenhum desses meacutetodos foi suficiente teoricamente para deslindar os inuacutemeros aspectos que

permeiam o ato de nomeaccedilatildeo o que implica dizer que o mais sensato eacute combinar o que cada

meacutetodo apresenta de mais satisfatoacuterio referentemente ao problema que se pretende resolver o

que requer tambeacutem adaptaccedilotildees e revisotildees constantes de um ou de outro ou ainda da combinaccedilatildeo

deles

Considera-se entatildeo

os aspectos pelos quais entendemos a disciplina como conhecimento

cientiacutefico saber construiacutedo como objeto campo de trabalho e pesquisa

demarcados apesar disto manteacutem-se em intersecccedilatildeo a outros campos sem

perder sua identidade A metodologia que emprega em seus levantamentos eacute

de origem indutivo-dedutiva de acordo com os procedimentos

62

onomasioloacutegico-semasioloacutegicos caracteriacutesticos da pesquisa do leacutexico (DICK

2006 p 98)

E no que tange agrave metodologia aos procedimentos de pesquisa propriamente ditos

segundo Dick (1996) que podem ser aplicados nos estudos toponiacutemicos devem se estabelecer

da seguinte forma a) seleccedilatildeo de fontes primaacuterias (cartas geograacuteficas editadas por oacutergatildeos oficiais

estaduais e municipais em escalas de 150000 ou 1100000 ou listas toponiacutemicas oficiais) e

complementaccedilatildeo a partir de fontes secundaacuterias (trabalhos historiograacuteficos da proacutepria

comunidade acerca do local onde vivem) b) registro dos dados em fichas lexicograacuteficas

padronizadas com a identificaccedilatildeo dos nomes do pesquisador e do revisor fontes e data de

coleta c) anaacutelise de dados que inclui a quantificaccedilatildeo dos nomes e das taxonomias analisando

a maior ou menor frequecircncia de classes ou itens lexicais e do estudo dos nomes a partir de um

enfoque puramente linguiacutestico (etimoloacutegico e estrutural) linguiacutestico-histoacuterico e variacionista

Desta forma a metodologia para este trabalho baseia-se em Dick (1996 2006) e por

conseguinte estabelece relaccedilotildees com as demais pesquisas na aacuterea da toponomaacutestica De acordo

com a autora ldquoTrata-se de modelo semacircntico-motivador das ocorrecircncias toponomaacutesticas que

conformam a realidade designativa da nomenclatura geograacutefica oficial do paiacutesrdquo (Dick 2006 p

104) As taxionomias satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise linguiacutestica do topocircnimo e hoje

se dividem em vinte sete taxes pela importacircncia na ldquoanaacutelise linguiacutestica ou casual dos motivos

determinantes das designaccedilotildees integram as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas em um campo

funcional especiacuteficordquo (Dick 2006 p 106) E a partir destas fichas busca-se a identificaccedilatildeo do

topocircnimo e computar as categorizaccedilotildees motivadoras do designativo

A metodologia de pesquisa aqui proposta se caracteriza por ser de natureza documental

(documentos analoacutegicos eou digitais como as cartas topograacuteficas e levantamento histoacuterico

geograacutefico por meio do Instituto Mauro Borges IBGE e de mapas do municiacutepio de Pires do

Rio-GO) e de abordagem qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a

constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos

puacuteblicos e no levantamento histoacuterico-geograacutefico Os procedimentos consistem na

sistematizaccedilatildeo de leituras documentais e de investigaccedilatildeo de campo o que os vincula agrave induccedilatildeo

e seguem os meacutetodos etnolinguiacutesticos

O percurso apresentado por Dick (1990) isto eacute pautado na induccedilatildeo desenvolveu-se por

meio do plano onomasioloacutegico de investigaccedilatildeo em que a partir de um conceito geneacuterico se

identificam as variaacuteveis possiacuteveis das fontes consultadas Nos registros municipais constam os

63

nomes atuais e os nomes anteriores (quando houve mudanccedilas) dos lugares de toda regiatildeo

municipal Estes e os mapas constituem as fontes primaacuterias desta pesquisa pois

O percurso do fazer onomasioloacutegico e o percurso da produccedilatildeo de significaccedilatildeo

se inserem em direccedilotildees diferentes o fazer interpretativo perfaz um processo

semasioloacutegico por outro lado o fazer onomasioloacutegico eacute uma unidade

conceitual enquanto a definiccedilatildeo eacute o percurso do fazer lexicograacutefico

Entretanto ao conceituar eacute necessaacuterio construir um modelo mental que em

primeira instacircncia corresponda a um recorte cultural para a escolha da

estrutura lexical que melhor pode manifestar a percepccedilatildeo bioloacutegica do fato

que se completa ao analisar e descrever o semema linguiacutestico para reconstruir

esse modelo mental a partir de uma estrutura linguiacutestica manifestada

Ressalta-se o caraacuteter pluridisciplinar do signo toponiacutemico jaacute que por meio

dele pode-se conhecer a histoacuteria dos grupos humanos que viveram (e vivem)

nos limites geograacuteficos de Goiaacutes as especificidades da cultura e do ambiente

do povo o denominador as relaccedilotildees estabelecidas entre os aglomerados

humanos e o ecossistema as caracteriacutesticas fiacutesico geograacuteficas da regiatildeo

(geomorfologia) estratos linguiacutesticos de origem diferente do uso hodierno da

liacutengua ou mesmo de liacutenguas jaacute desaparecidas para se conhecer as motivaccedilotildees

subjacentes aos respectivos topocircnimos (SIQUEIRA 2015 mimeografado)

Para este estudo utilizaram-se inicialmente as Folhas Topograacuteficas editadas pela DSG

(Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito) na escala de 1100 000 Folhas Pires do Rio

SE-22-X-D-III Ipameri SE-22-X-D-VI e Cristianoacutepolis SE-22-X-D-II de 1973 para

identificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio juntamente com o mapa da rede hidrograacutefica do

municiacutepio de Pires do Rio-GO pois satildeo ldquoinstrumentos metodoloacutegicos haacutebeis para o estudo

onomaacutestico a documentaccedilatildeo cartograacutefica referida e a arquivologia que se posicionam como fontes

idocircneas para o estabelecimento das etapas relativas agrave desconstruccedilatildeo e agrave recriaccedilatildeo dos proacuteprios dadosrdquo

(DICK 1999 p 11)

O uso de mapas torna o trabalho relevante jaacute que eles satildeo elementos de comunicaccedilatildeo

visual os quais pertencem agrave linguagem Eles contemplam ainda a aacuterea tecnoloacutegica pois a sua

construccedilatildeo se daacute por meio da utilizaccedilatildeo de equipamentos programas e sites os quais tambeacutem

satildeo utilizados por noacutes para cartografar mapas juntamente com as taxes dos topocircnimos dos

cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO assim

Tomar o mapa como corpus permite tomar tambeacutem a questatildeo da relaccedilatildeo dos

nomes no seu conjunto e sua distribuiccedilatildeo no espaccedilo urbano Pode-se entatildeo

refletir como algo proacuteprio do corpus em anaacutelise sobre a questatildeo da nomeaccedilatildeo

dos espaccedilos da cidade bem como o modo de distribuiccedilatildeo dos nomes pelos

espaccedilos historicamente constituiacutedos (GUIMARAtildeES 2005 p 43)

Tradicionalmente entendidos como uma representaccedilatildeo simboacutelica dos contornos de uma

paisagem fiacutesica ou urbana os mapas se caracterizam por permitirem dois planos de

64

interpretaccedilatildeo o ldquoverbalrdquo expresso nos nomes dos elementos e o ldquonatildeo-verbalrdquo caracterizado

por siacutembolos convencionais distintos segundo a natureza do elemento mapeado (cursos drsquoaacutegua

caminhos serras rodovias estradas vicinais ferrovias vilas povoados cidades)

A propoacutesito

Se o meacutetodo empregado na Toponiacutemia como dissemos eacute aquele da

investigaccedilatildeo do pormenor toacutepico-nominal apreendido no registro das cartas

geograacuteficas (base documental) ou como variaccedilatildeo no exame do terreno ou do

objeto pelo proacuteprio pesquisador o material resultante na maioria das vezes

eacute de origem descontiacutenua e fragmentaacuteria A sequecircncia loacutegica dos termos areais

deve ser buscada o que exige cuidados de intepretaccedilatildeo e reflexatildeo para que

todo esse organismo construiacutedo coletiva ou individualmente em momentos

histoacutericos distintos venha a se construir em material de anaacutelise vaacutelido do

ponto de vista linguiacutestico (DICK 2006 p 99-100)

Desta forma dos 46 (quarenta e seis) topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de

Pires do Rio-GO (coacuterregos ribeirotildees rios e quedas drsquoaacutegua) por noacutes elencados na pesquisa

apenas 15 topocircnimos ndash por razotildees especiacuteficas que seratildeo relatadas no quarto capiacutetulo ndash seratildeo

catalogados em fichas conforme modelo desenvolvido por Dick (2004) Posteriormente

realizaremos as anaacutelises morfoloacutegicas e a classificaccedilatildeo semacircntico-motivacional e toponiacutemica

propriamente dita

O preenchimento das fichas lexicograacuteficas ndash que identificam o elemento designado as

entradas lexicais o pesquisador o revisor e as fontes da coleta ndash eacute a etapa inicial de um conjunto

de fases posteriores que integram o projeto

As etapas da pesquisa foram dividas da seguinte forma a) levantamento dos dados para

construir o corpus e a aquisiccedilatildeo das cartas Topograacuteficas do municiacutepio de Pires do Rio-GO b)

levantamento dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua registrados nas folhas topograacuteficas c) anaacutelise

e reconhecimento dos aspectos ambientais culturais dos designativos nos diferentes topocircnimos

observados e posteriormente cartografados d) investigaccedilatildeo dos provaacuteveis fatores

motivacionais inerentes aos sintagmas toponiacutemicos e) classificaccedilatildeo das taxionomias a partir do

recorte epistemoloacutegico dos dados coletados f) distribuiccedilatildeo quantitativa dos topocircnimos de

acordo com a natureza toponiacutemica (fiacutesica ou antropocultural) g) estudo linguiacutestico dos

sintagmas toponiacutemicos ndash origemetimologia estruturas semacircntica e morfoloacutegica

Por meio da categorizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico

histoacuterico-criacutetico que foi o norte de nossa pesquisa de certa forma revela-se que o topocircnimo foi

determinado pela populaccedilatildeo anterior ou pela presenccedila de imigrados no local o que faz-nos

perceber que as palavras natildeo apenas comunicam o que se quer dizer mas acusam a Histoacuteria

daquilo que foi dito por necessidades dinacircmicas das pessoas repassadas pela tradiccedilatildeo cultural

65

O proacuteximo capiacutetulo apresenta em linhas gerais um pouco da histoacuteria desse lugar que

abriga 46 cursos drsquoaacutegua e inclusive teve seu primeiro nome devido agrave exuberacircncia do reflexo da

lua cheia nas aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute A ldquoTeteia do Corumbaacuterdquo de antes deu lugar ao

municiacutepio nascido dos caminhos abertos pelos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz laacute pelos idos

de 1922

66

III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO

A cidade eacute por si mesma depositaacuteria de

histoacuteria

(ROSSI 1998)

Este capiacutetulo traz uma apresentaccedilatildeo dos dados histoacutericos referentes agrave fundaccedilatildeo e ao

posterior desenvolvimento social e urbano do municiacutepio de Pires do Rio-GO criado em

decorrecircncia da expansatildeo da Estrada de Ferro Goyaz pelo cerrado goiano As informaccedilotildees aqui

revisitadas integram obras de estudiosos como Siqueira (2006) Ferreira (1999) Borges

(1990) Soares (1988) que se detiveram por alguma razatildeo no esclarecimento de controveacutersia

acerca principalmente do verdadeiro fundador do municiacutepio e de fatos que antecederam a

inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo feacuterrea no ano de 1922

31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte

No iniacutecio do seacuteculo XX a Estrada de Ferro Goyaz avanccedilou sobre o territoacuterio de Goiaacutes

e com isso comeccedilaram a surgir vilas arraiais e distritos que com o progresso e passar dos

anos se elevariam a cidades A entatildeo chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no interior do

estado mais precisamente na regiatildeo Sudeste Goiana fez com que no ano de 1922 surgisse a

Estaccedilatildeo Pires do Rio e que se elevaria tatildeo logo a cidade

A estrada de ferro traria progresso agraves cidades e ao estado No entanto de acordo com

Borges (1990) alguns coroneacuteis adversos a qualquer tipo de mudanccedila de caraacuteter progressista

natildeo aceitavam a instalaccedilatildeo da estrada de ferro pois ela representaria uma forccedila nova de

transformaccedilatildeo que poderia ameaccedilar o poder constituiacutedo dos coroneacuteis Mas na formaccedilatildeo de

Pires do Rio-GO a chegada da Estrada de Ferro Goyaz foi aceita pelo coronel Lino Teixeira de

Sampaio e inclusive foi doado o terreno para a construccedilatildeo de uma estaccedilatildeo feacuterrea

Vale ressaltar que

a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro de Goiaacutes resultou primeiro do empenho

poliacutetico de uma fraccedilatildeo da classe dominante ligada a novos grupos oligaacuterquicos

que despontavam como forccedila poliacutetica no Estado a qual contou com apoio do

capital financeiro internacional Em segundo lugar como a ferrovia servia

inteiramente aos interesses da economia capitalista ou seja agrave nova ordem

econocircmica com expansatildeo no Paiacutes este fator direta ou indiretamente

67

pressionaria o Governo Federal a apoiar a construccedilatildeo da linha (BORGES

1990 p 55-56)

O avanccedilo da estrada de ferro na regiatildeo Sudeste do estado de Goiaacutes foi fundamental para

o surgimento da cidade de Pires do Rio-GO Ambas as histoacuterias se entrecruzam e revelam

acontecimentos que corroboraram com a construccedilatildeo de uma cidade promissora Para

(re)escrever esta histoacuteria eacute fundante mostrar a ficha lexicograacutefica-toponiacutemica jaacute que o objeto

desta pesquisa satildeo os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua pertencentes a cidade de Pires do Rio-GO

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 01

Topocircnimo Pires do Rio Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Antropocircnimo

Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Pires + do Rio ndash sobrenome)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Cidade sede do distrito do municiacutepio do termo e comarca de

igual nome Na regiatildeo oriental do municiacutepio entre o ribeiratildeo Sampaio e o Monteiro afluentes

do rio Corumbaacute com estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goiaacutes

Fonte Siqueira (2012) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Como jaacute observando no capiacutetulo I os estudos toponiacutemicos revelam fatores soacutecio-

histoacuterico-culturais de uma dada comunidade e Pires do Rio-GO nos revela isso de forma

peculiar como podemos observar na ficha acima a caracterizaccedilatildeo do topocircnimo em que a

taxionomia eacute de natureza antropocultural antropotopocircnimo relativo a nomes proacuteprios e de

famiacutelia (sobrenome do ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas Dr Joseacute Pires do Rio) A base

etimoloacutegica eacute antropocircnimo a estrutura morfoloacutegica eacute de nome composto e as informaccedilotildees

enciclopeacutedias vecircm ratificar informaccedilotildees jaacute expressas na ficha Essas informaccedilotildees nos satildeo

precisas e no decorrer (re)editaremos partes relevantes da histoacuteria desta cidade

Observar o surgimento do municiacutepio de Pires do Rio eacute reviver a construccedilatildeo da linha

feacuterrea na regiatildeo Sudeste e para tal ato buscamos em algumas literaturas reconstruir em partes

a histoacuteria da cidade de Pires do Rio-GO que carinhosamente foi apelidada de ldquoTeteia do

68

Corumbaacuterdquo devido ao reluzir sobre as aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute a exuberacircncia da lua

cheia

Na histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade haacute controveacutersias pois alguns dizem ter sido o Coronel

Lino Teixeira de Sampaio o fundador mas Wilson Cavalcanti Nogueira filho do Sr Manoel

Cavalcanti Nogueira o primeiro Intendente da cidade em seus estudos revela que o fundador

de Pires do Rio foi o Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida diretor da Estrada de Ferro Goyaz

Nos estudos de Jacy Siqueira (2006) piresino historiador cujo livro Um contrato

singular e outros ensaios de histoacuteria de Goiaacutes descreve a origem da cidade de Pires do Rio

com base em documentos oficiais o autor citado presume a veracidade dos fatos que

contribuem para exposiccedilatildeo histoacuterica deste capiacutetulo jaacute que ldquoo tempo eacute agente terriacutevel a tudo

colhe separa peneira depura e evidencia ndash verdade ou mentira ndash com a forccedila e a violecircncia

decorrentes do pesado braccedilo da Histoacuteria de quem eacute o servidor fiel e mestre implacaacutevelrdquo

(SIQUEIRA 2006 p 65)

Em relaccedilatildeo aos fatos que marcam o iniacutecio da fundaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidade de Pires

do Rio os historiadores remetem a inuacutemeras controveacutersias sobre a fundaccedilatildeo e os reais

fundadores e tambeacutem sobre a existecircncia de um povoado que competia com o Roncador em

1921 que mais tarde nos arquivos seria o Bairro do Fogo hoje Santa Ceciacutelia O local Rua do

Fogo eacute toda a parte situada do outro lado da linha feacuterrea

Rua do Fogo na descriccedilatildeo de Nogueira se formou pela atraccedilatildeo de pessoas de

diversas regiotildees com o intuito de negociar e prestar serviccedilos diversificados

aos operaacuterios da Estrada eram lavadeiras curandeiro sapateiro padeiro

professor primaacuterio fotoacutegrafo meretrizes e aventureiros Configurando um

povoamento tiacutepico do pioneirismo cada dia mais pessoas chegavam

predominantemente aventureiros muitos deles ateacute mesmo com passado

criminal As casas sendo erguidas raacutepidas e improvisadamente perfilaram-se

em ambos lados ao longo de uma rua irregular que era cenaacuterio de constantes

desordens e violecircncias ganhando por isso o nome de Rua do Fogo A

constante chegada de pessoas levou o povoado a competir em dimensatildeo com

a vizinha Roncador jaacute em 1921 (FERREIRA 1999 p 100)

O Porto do Roncador em 24 de agosto de 1921 recebe a visita do Ministro da Viaccedilatildeo

e Obras Puacuteblicas Engenheiro Sr Joseacute Pires do Rio que na qualidade anterior de Inspetor Geral

das Estradas de Ferro havia se posicionado contraacuterio ao prolongamento da ferrovia no Estado

de Goiaacutes Na ocasiatildeo ficou resolvido que a ponte sobre o rio Corumbaacute deveria se chamar Ponte

Pires do Rio e a primeira estaccedilatildeo a seguir Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio Pessoa mas ocorreu o

contraacuterio Essa informaccedilatildeo foi publicada inclusive nos meios de comunicaccedilatildeo da eacutepoca

69

A Informaccedilatildeo Goyana revista fundada por Henrique Silva que se edita no

Rio de Janeiro na sua ediccedilatildeo de agosto de 1921 (Ano V Vol V n ordm 1 p 1)

traz a reportagem ldquoO Ministro de Viaccedilatildeo Visita o Estado de Goiaacutesrdquo Destaca-

se dela

Tem-se resolvido que a primeira estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz aleacutem

Roncador se denomine ndash Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio

A ponte do Corumbaacute segundo solicitaccedilatildeo dos que tomaram parte na recepccedilatildeo

do Sr ministro da Viaccedilatildeo seraacute denominada ndash Ponte Pires do Rio (SIQUEIRA

2006 p 44 grifos do autor)

As obras estavam a todo vapor e enquanto aguardavam a conclusatildeo da ponte sobre o

rio Corumbaacute os serviccedilos de movimentaccedilatildeo de terra eram feitos aleacutem da outra margem do rio

tendo jaacute avanccedilado ateacute Tavares quilocircmetro 303 da ferrovia distante 84 quilocircmetros de

Roncador O local da estaccedilatildeo de Pires do Rio situa-se no quilocircmetro 218 pouco distante do rio

na Comarca de Santa Cruz em terras da Fazenda do Brejo ou do Sampaio de propriedade do

fazendeiro local coronel Lino Teixeira de Sampaio

No dia 13 de julho de 1922 no momento de inauguraccedilatildeo da ponte metaacutelica construiacuteda

sobre o rio Corumbaacute fez-se a inversatildeo do que o Senhor Ministro havia solicitado pois ela

recebeu o nome do presidente da repuacuteblica (Epitaacutecio Pessoa) troca esta feita pelo diretor da

Estrada de Ferro Goyaz o engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida

A execuccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa significou a integraccedilatildeo das demais regiotildees goianas

no desenvolvimento econocircmico uma vez que o rio Corumbaacute representava uma onerosa barreira

econocircmica para a produccedilatildeo dessas regiotildees Pires do Rio primeira estaccedilatildeo na outra margem do

Corumbaacute prometia ser um entreposto regional devido agrave sua possiacutevel ligaccedilatildeo por terra com

antigos e promissores municiacutepios isolados pelo rio e que natildeo foram contemplados com a

ferrovia Santa Cruz de Goiaacutes Bela Vista Piracanjuba Caldas Novas e Morrinhos O que veio

concretizar essa possibilidade foi a disposiccedilatildeo do coronel Lino Teixeira de Sampaio em doar

terras agrave Estrada de Ferro Goyaz para juntamente com a estaccedilatildeo fundar no local uma cidade

Nesse aspecto seu empenho foi aacutegil e eficiente dois planos urbanos que vieram garantir para

os pioneiros a certeza da existecircncia de uma cidade no local (FERREIRA 1999)

Nas bases da histoacuteria da rede feacuterrea segundo Ferreira (1999) quando da inauguraccedilatildeo

da estaccedilatildeo Pires do Rio foi tambeacutem decretada a fundaccedilatildeo da cidade registrada em obelisco

erguido no largo de frente agrave estaccedilatildeo hoje a praccedila do mercado municipal considerando-se como

fundador o engenheiro da ferrovia Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida e designando a cidade

pelo nome (uma homenagem) do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas engenheiro Joseacute

Pires do Rio

70

Houve tambeacutem a intenccedilatildeo por parte do Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida em deixar a

estaccedilatildeo de Pires do Rio como ponta de linha para que se desenvolvesse rapidamente Finda a

raacutepida inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo seguiu tambeacutem o engenheiro no ldquotrem Inauguralrdquo rumo a

Tapiocanga ndash a proacutexima estaccedilatildeo depois de Pires do Rio ndash para inaugurar sua estaccedilatildeo

improvisada em um simples vagatildeo pois era um local onde natildeo havia nenhuma edificaccedilatildeo

passando mesmo assim a ser a ponta de linha

No dia 9 de novembro de 1922 eacute inaugurado o obelisco a cerca de 50 metros da estaccedilatildeo

ferroviaacuteria jaacute edificada considerada a pedra fundamental da cidade de Pires do Rio Encontra-

se grafado no monumento em alto-relevo que o Engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida na

eacutepoca diretor da Estrada de Ferro de Goyaz era o fundador da cidade de Pires do Rio uma

ldquofraserdquo que tem gerado algumas controveacutersias acerca do verdadeiro fundador da cidade

(SIQUEIRA 2006)

Enquanto alguns escritores piresinos e familiares alimentam a disputa ideoloacutegica no

niacutevel da influecircncia poliacutetica do coronel Lino Teixeira de Sampaio corroborada pela doaccedilatildeo de

um terreno para a construccedilatildeo da cidade outros tecircm se debruccedilado sobre as criacuteticas advindas do

meio acadecircmico local uma vez que o aniversaacuterio da cidade natildeo coincide com a data da escritura

de doaccedilatildeo das terras 05 de julho de 1922 mas com a data oficial inscrita na pedra fundacional

feita pelo Diretor da Estrada de Ferro Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida 09 de novembro de

1922

Siqueira (2006) eacute um dos estudiosos que argumentam a favor da tese de que o fundador

da cidade eacute o coronel Lino Teixeira de Sampaio Desta forma para corroborar o ato de doaccedilatildeo

da gleba de terra Siqueira (2006) recorreu aos livros de registros do Cartoacuterio de Imoacuteveis da

Comarca de Santa Cruz de Goiaacutes onde se encontra a escritura puacuteblica lavrada no dia 5 de julho

de 1922 pois na eacutepoca as terras pertenciam a este referido municiacutepio a qual nos informa que

por eles [Lino e Rozalina] foi dito que de suas livres e espontacircneas vontades

e sem coaccedilatildeo alguma doam agrave Estrada de Ferro de Goyaz com (4) alqueires

de terreno de campo divididos e demarcados nesta fazenda do ldquoBrejordquo

conforme consta na planta confeccionada pela dita Estrada de Ferro e bem

assim a aacutegua necessaacuteria ao abastecimento da Estaccedilatildeo jaacute edificada dentro destes

quatros alqueires Declaram mais os doadores que fazem a doaccedilatildeo dos

referidos terrenos agrave Estrada de Ferro de Goyaz sem que a mesma Estrada tenha

obrigaccedilatildeo de espeacutecie alguma cabendo-lhe apenas Dividir o terreno doado em

pequenos lotes para que seja dado iniacutecio agrave edificaccedilatildeo de uma pequena Cidade

excluindo o referido a faixa necessaacuteria agrave Estaccedilatildeo arrendar os lotes e aplicar

as rendas em melhoramentos da futura Cidade e edificaccedilatildeo de um Grupo

Escolar natildeo admitir seja construiacutedo preacutedio algum sem que seja previamente

aprovada pela diretoria da Estrada a respectiva planta (SIQUEIRA 2006 p

29)

71

Entretanto os fatos histoacutericos remetem agrave data de 09 de novembro como sendo de

fundaccedilatildeo da cidade jaacute que essa data se justifica pela inauguraccedilatildeo (documentada) da estaccedilatildeo

ferroviaacuteria Pires do Rio embora para Siqueira (2006) a data de fundaccedilatildeo da cidade seja o dia

05 de julho de 1922 data que coincide com a da escritura puacuteblica de doaccedilatildeo das terras agrave Estrada

de Ferro Goyaz

Siqueira (2006) ainda acrescenta as suas consideraccedilotildees acerca do fato de que o coronel

Lino Teixeira de Sampaio aleacutem de doar os quatro alqueires de terra accedilatildeo que outros

fazendeiros das estaccedilotildees seguintes natildeo tiveram apresentou um projeto urbano (planta) da

cidade a ser erguida nas proximidades da estaccedilatildeo projeto este de autoria de um engenheiro da

Estrada Aacutelvaro Pacca que foi apresentado e aprovado pela direccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz

em 1ordm de janeiro de 1922

De acordo com Ferreira (1999) acredita-se que no local definitivo da estaccedilatildeo por volta

do ano de 1923 apresentou-se outro projeto para a construccedilatildeo da cidade desta vez solicitado

ao topoacutegrafo da Estrada de Ferro Moacir de Camargo A cidade de Pires do Rio ficaria sendo

entatildeo a primeira cidade do Centro-Oeste a nascer com planejamento preacutevio antes de Goiacircnia

ou Brasiacutelia

O momento em que a cidade comeccedila a surgir de acordo com Nogueira (sd) fez com

que a populaccedilatildeo do Roncador migrasse toda para laacute carregando tudo aquilo que lhes pertencia

inclusive o material de construccedilatildeo das casas que foram demolidas construindo novas moradias

no local escolhido para tal fim Esse fato de mudar de um arraial para outro segundo Ferreira

(1999) veio a constituir o fenocircmeno por ele denominado de fagocitose pois para a formaccedilatildeo

da cidade Pires do Rio o arraial do Roncador extinguiu-se para vigorar a nascente cidade como

se observa nos dizeres abaixo

Pires do Rio crescia em terras de Santa Cruz municiacutepio de projeccedilatildeo

econocircmica e poliacutetica no Estado que dominou todo o sudeste e parte do sul de

Goiaacutes O arraial de origem fundado em 1729 teve seu valor econocircmico

firmado na extraccedilatildeo auriacutefera passando agrave Julgado de Santa Cruz em 1809 com

seu territoacuterio de influecircncia sobre uma extensa aacuterea Emancipou-se agrave Vila em

1833 quando Goiaacutes foi dividido em quatro Comarcas sendo Santa Cruz uma

delas Terminado o ciclo do ouro sua economia voltou-se durante o seacuteculo

XIX para a pecuaacuteria extensiva a agricultura e primitivo processamento da

produccedilatildeo agriacutecola sobrepondo-se agraves outras cidades de economia auriacutefera em

estagnaccedilatildeo A emancipaccedilatildeo de seus distritos ao longo do seacuteculo XIX foi-lhe

tirando a extensatildeo de seu poder territorial e de jurisdiccedilatildeo mas natildeo seu poder

econocircmico e poliacutetico no Estado Essa situaccedilatildeo veio a se alterar com a chegada

da Estrada de Ferro Goiaacutes (FERREIRA 1999 p 136)

72

As construccedilotildees jaacute haviam se iniciado e comeccedilara a chegar os novos moradores oriundos

de vaacuterias partes do paiacutes e do mundo que solidificariam a comunidade piresina Os baianos e os

aacuterabes foram os primeiros migrantes a chegarem e fixarem-se acreditando na futura cidade Os

baianos e outros nordestinos foram atraiacutedos pela frente de trabalho criada pela construccedilatildeo da

ferrovia Os italianos e espanhoacuteis tambeacutem se fizeram presentes na comunidade local No

entanto a maioria dos migrantes foram mesmo paulistas e mineiros Os estrangeiros tais como

italianos espanhoacuteis e principalmente aacuterabes foram partes integrantes da elite dominante

(FERREIRA 1999)

Pires do Rio se elevou a distrito do Municiacutepio de Santa Cruz em 23 de agosto de 1924

pela Lei nordm 66 E em 7 de julho de 1930 pela Lei nordm 903 foi criado o municiacutepio de Pires do

Rio E tatildeo logo pelo Decreto de ndeg 522 de 8 de janeiro de 1931 publicado no Correio Officcial

ndeg 1819 paacutegina 3 de 19 de abril do mesmo ano (SIQUEIRA 2006) oficializou a transferecircncia

da Comarca de Santa Cruz para a cidade de Pires do Rio

Na deacutecada de 30 estabelecia-se o comeacutercio na cidade de Pires do Rio natildeo tinha um

centro comercial propriamente dito mas algumas casas de comeacutercio espalhadas pela cidade

(FERREIRA 1999) A instalaccedilatildeo da energia eleacutetrica em 1934 deu um impulso agrave agroinduacutestria

local iniciada com a charqueada em 1924 e logo apoacutes por uma maacutequina beneficiadora de arroz

serraria faacutebrica de manteiga padarias curtume e outros pequenos centros de produccedilatildeo com

isso a necessidade de matildeo-de-obra impulsionava o crescimento da populaccedilatildeo jaacute que muitos

eram empregados pela via feacuterrea desta forma a vinda de imigrantes a nova cidade era

necessaacuterio Com o crescimento da cidade e da sua populaccedilatildeo foram necessaacuterias benfeitorias

que foram ocorrendo no decorrer dos anos

De acordo com Siqueira (2006) Pires do Rio se desenvolveu de forma diferenciada das

centenaacuterias cidades de Goiaacutes visto que a maioria se formou por tradicionais enraizados e

familiocratas grupos poliacuteticos ou simplesmente ldquooligarquiasrdquo o que permitiu uma abertura e

receptividade ao novo e ao desconhecido como paracircmetro coerente para a construccedilatildeo de uma

comunidade nascente No periacuteodo de 1921 a 1940 correspondentemente agrave cidade em sua

afirmaccedilatildeo poliacutetica e urbana foi composta por migrantes e imigrantes que se estabeleciam na

prestaccedilatildeo de serviccedilo agroinduacutestria e comeacutercio tudo isso oriundo da formaccedilatildeo da cidade pela

Estrada de Ferro Goyaz

Um fato ainda natildeo informado eacute que no ano de 1933 o municiacutepio era constituiacutedo de dois

distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Jaacute no decreto-lei nordm 5200 de 08 de dezembro de 1934

Pires do Rio eacute ldquorebaixadordquo agrave categoria de distrito do municiacutepio de Santa Cruz haja vista que

73

em divisotildees territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937 Pires do Rio figura como distrito

de Santa Cruz (IBGE 2016)

Em 03 de marccedilo de 1938 pelo Decreto-lei nordm 557 Pires do Rio retorna agrave categoria de

municiacutepio e Santa Cruz agrave de distrito No periacuteodo de 1939-1943 o municiacutepio aparece constituiacutedo

de trecircs distritos Pires do Rio Santa Cruz e Cristianoacutepolis O distrito de Santa Cruz pelo

Decreto-lei nordm 8305 de 31 de dezembro de 1943 passou a denominar-se Corumbalina Mas

pelo Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias de 20 de julho de 1947 Artigo 61

desmembrou-se do municiacutepio de Pires do Rio e foi elevado agrave categoria de municiacutepio com a

denominaccedilatildeo de Santa Cruz de Goiaacutes (IBGE 2016)

Em divisatildeo territorial datada de 1 de julho de 1950 o municiacutepio eacute constituiacutedo de dois

distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Depois pela lei municipal nordm 221 de 15 de julho 1953

eacute criado o distrito de Palmelo e anexado ao municiacutepio de Pires do Rio A lei estadual nordm 739 de

23 de junho de 1953 desmembra do municiacutepio de Pires do Rio o distrito de Cristianoacutepolis

elevado entatildeo agrave categoria de municiacutepio Rapidamente o distrito de Palmelo pela lei estadual

nordm 908 de 13 de novembro de 1953 eacute desmembrado do municiacutepio de Pires do Rio e elevado agrave

categoria de municiacutepio (IBGE 2016)

A ferrovia foi um marco na histoacuteria de Pires do Rio uma vez que o transporte ferroviaacuterio

era utilizado para escoar a produccedilatildeo Aleacutem disso a instalaccedilatildeo do Frigoriacutefico Brasil Central

estimulou a produccedilatildeo da pecuaacuteria de corte Nas deacutecadas de 1950 e 1960 destacou-se por

exportar o charque e pela produccedilatildeo de cerveja Jaacute com a construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 e a

implantaccedilatildeo das rodovias favoreceu-se a sua interligaccedilatildeo aos outros municiacutepios goianos

O fluxo de cargas e pessoas pela via ferroviaacuteria entre os anos de 1940 a 1950 apresentava

regularidade mas devido agrave construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 de 1965 a 1970 apresentou uma

queda gradativa por deficiecircncia teacutecnica das linhas falta de manutenccedilatildeo delas e dos

equipamentos lentidatildeo do transporte o que provocou em 1970 a desativaccedilatildeo do transporte de

passageiros A Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima (RFFSA) foi privatizada em 1996

e a Ferrovia Centro Atlacircntica (FCA) adquiriu 7080 km de extensatildeo operando 685 km em

Goiaacutes tendo adotado uma nova poliacutetica investindo dois milhotildees de reais na ferrovia

desativando vaacuterias estaccedilotildees (NOVAIS 2014) Na Estaccedilatildeo Pires do Rio ficou funcionando

apenas o escritoacuterio da FCA e o Museu Ferroviaacuterio e na Estaccedilatildeo Roncador uma oficina de

manutenccedilatildeo de vagotildees

Segundo Novais (2014) a ferrovia enquanto elemento modernizador do Sudeste

Goiano e instrumento capaz de aumentar as aglomeraccedilotildees urbanas e dinamizar o progresso da

regiatildeo de acordo com os novos interesses dominantes sempre esteve sob o controle do poder

74

econocircmico estatal ou de grupos Sua expansatildeo justificou-se em detrimento dos interesses

capitalistas e imperialistas Portanto a estrada de ferro eacute um produto da induacutestria capitalista da

Primeira Revoluccedilatildeo Industrial colocada a serviccedilo do capital e resultante das transformaccedilotildees

ocorridas no processo de expansatildeo do capitalismo no Brasil e no mundo (BORGES 1990) O

Estado de Goiaacutes ao inserir-se na dinacircmica capitalista e implantar a via feacuterrea em seu territoacuterio

conseguiu integrar-se ao mercado brasileiro aleacutem de mitigar anos de atraso e isolamento

econocircmico

32 Pires do Rio geograacutefico

O municiacutepio de Pires do Rio localiza-se na Microrregiatildeo do Sudeste Goiano inserida

na Mesorregiatildeo Sul Goiano A Microrregiatildeo eacute reconhecida como a regiatildeo da Estrada de Ferro

Limita-se com os municiacutepios goianos de Orizona Vianoacutepolis Urutaiacute Caldas Novas Satildeo

Miguel do Passa Quatro Santa Cruz de Goiaacutes Palmelo Cristianoacutepolis e Ipameri A aacuterea da

unidade territorial (kmsup2) eacute de 1073361 com uma altitude meacutedia de 75886 O municiacutepio

encontra-se entre as seguintes coordenadas geograacuteficas

Mapa 1 ndash Pires do Rio (GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio (GO)

75

A cidade de Pires do Rio eacute constituiacuteda por riquezas naturais do bioma Cerrado o qual

apresenta uma heterogeneidade na sua fisionomia pois engloba desde formaccedilotildees florestais

como as Matas Ciliares (vegetaccedilatildeo que fica nas margens dos rios) e Cerradatildeo aleacutem do Cerrado

restrito (eacute o Cerrado tiacutepico formado por vegetaccedilotildees arboacutereas de casca grossa e troncos

retorcidos) com formaccedilotildees vegetais ou herbaacuteceas (campo sujo e limpo)

Uma das caracteriacutesticas marcantes do Cerrado eacute sua riqueza em recursos hiacutedricos e Pires

do Rio natildeo foge agrave regra Servindo de fronteiras naturais para o municiacutepio tem-se o rio do Peixe

na parte norte A parte sul do municiacutepio desagua no rio Corumbaacute que tambeacutem eacute utilizado como

fronteira natural e eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio Aleacutem destes tem o rio Piracanjuba

que devido agrave sua estrutura rochosa e seu volume de aacutegua foi palco da construccedilatildeo de uma usina

hidreleacutetrica em meados do seacuteculo XX que abastecia a cidade embora hoje encontre-se em

ruiacutenas

Aleacutem dos trecircs rios o municiacutepio possui ao longo de todo seu o territoacuterio vaacuterias

nascentes coacuterregos ribeirotildees quedas drsquoaacutegua os quais satildeo todos afluentes do rio Corumbaacute

Vale ressaltar que a maioria dos cursos drsquoagua satildeo perenes ou seja tem aacutegua o ano todo por

isso muitos deles tem o nome da regiatildeo em que se encontra pois satildeo objetos marcantes na

paisagem

Segundo o IBGE (1957) a populaccedilatildeo piresina no Recenseamento de 1950 era de

12946 habitantes (inclusive a populaccedilatildeo dos atuais municiacutepios de Cristianoacutepolis e Palmelo ndash

na eacutepoca distritos de Pires do Rio) apresentando quadro urbano e suburbano com uma

populaccedilatildeo de 4836 habitantes sendo 2282 homens e 2554 mulheres A densidade

demograacutefica era de 12 habitantes por quilocircmetro quadrado verificando-se que 53 da

populaccedilatildeo localizava-se no quadro rural

Na deacutecada de 50 o municiacutepio de Pires do Rio tinha um nuacutecleo populacional que era o

povoado de Marataacute aleacutem da sede (como jaacute mencionado no ano de 1953 os distritos de

Cristianoacutepolis e Palmelo satildeo elevados a municiacutepio) Mas com o passar dos anos ele deixa de

existir ficando apenas a Igreja de Satildeo Sebastiatildeo As atividades econocircmicas do municiacutepio eram

predominantemente a produccedilatildeo agriacutecola e pecuaacuteria O municiacutepio apresentava-se como um local

de atraccedilatildeo recreativa pela sua beleza paisagiacutestica a qual pode ser observada na cachoeira do

Salto no rio Piracanjuba jaacute mencionado onde foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica que forneceu

energia agrave cidade ateacute meados do seacuteculo XX

A populaccedilatildeo em 2010 era de 28762 habitantes sendo 14105 homens e 14657

mulheres Predominantemente urbana com 27094 pessoas e apenas 1668 no meio rural Pires

do Rio apresenta uma aacuterea de 1073361 km2 e uma densidade demograacutefica de 2680 habkmsup2

76

O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) do municiacutepio eacute de 0744 A Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa (PEA) eacute de 8717 homens e 6128 mulheres (IBGE 2016)

De acordo com os dados populacionais desde o Recenseamento da deacutecada de 50 (dados

jaacute mostrados anteriormente) a cidade teve um crescimento consideraacutevel como pode ser

observado nos quadros abaixo

Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo recenseamento

Populaccedilatildeo Censitaacuteria

1980 1991 2000 2010

Total de habitantes 19258 22131 26229 28762

Urbano 16670 20537 24473 27094

Zona Rural 2588 1594 1756 1668

Masculino 9498 10904 12948 14105

Feminino 9760 11227 13281 14657

Urbano Masculino 8098 10027 11966 13208

Urbano Feminino 8572 10510 12507 13886

Zona Rural Masculino 1400 877 982 897

Zona Rural Feminino 1188 717 774 771

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Nos dados que satildeo apresentados pelo IBGE (populaccedilatildeo estimada) entre os anos 2001 e

2004 ocorreu uma queda no crescimento populacional em relaccedilatildeo ao ano de 1999 que foi de

28631 e nos demais anos segue 2001 26600 2002 27091 2003 27491 2004 28332 A

respeito desta queda natildeo conseguimos informaccedilotildees Em duas datas especiacuteficas houve uma

contagem da populaccedilatildeo seguem os dados abaixo

Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo contagem

Populaccedilatildeo Contagem

1996 2007

Total de habitantes 25094 26857

Masculino 12403 13232

Feminino 12691 13574

Urbano 23766 25031

77

Zona Rural 1328 1826

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Os dados inseridos no quadro 3 satildeo uma estimativa da populaccedilatildeo informada pelo IMB

e IBGE

Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio (GO)

Populaccedilatildeo Estimada

2011 2012 2013 2014 2015

28956 29145 30232 30469 30703

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Para entreter a populaccedilatildeo o turismo do municiacutepio estaacute relacionado agraves edificaccedilotildees com

relevacircncia arquitetocircnica e cultural como a Ponte Epitaacutecio Pessoa o antigo Frigoriacutefico Brasil

Central as igrejas Satildeo Sebastiatildeo (Patrimocircnio do Marataacute) Satildeo Benedito (Igreja dos Congos) a

Ferrovia Centro Atlacircntica e o Museu Ferroviaacuterio O patrimocircnio material eacute representado pelo

centro histoacuterico principalmente a Igreja Matriz Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus coreto e chafariz da

Praccedila Gaudecircncio Rincon Segoacutevia o Mercado Municipal a Biblioteca Municipal a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria e a casa do Maneco (hoje em ruiacutenas) que formam um conjunto arquitetocircnico

singular como tambeacutem as belezas naturais das Serras da Caverna e das Flores a cachoeira do

Marataacute e Prainha (as margens do rio Corumbaacute)

De acordo com Novais (2014) nos anos de 1980 o municiacutepio conheceu a expansatildeo da

fronteira agriacutecola com a introduccedilatildeo do cultivo da soja logo apoacutes em 1993 atraiu investimentos

com a implantaccedilatildeo do complexo agroindustrial aviacutecola e a industrializaccedilatildeo do setor

contribuindo para o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que perpassou a regiatildeo do Sudeste

Goiano Atualmente a economia piresina eacute voltada para as atividades agriacutecolas como a

produccedilatildeo de soja milho sorgo arroz feijatildeo e mandioca

O comeacutercio a infraestrutura e serviccedilos (sauacutede educaccedilatildeo comeacutercio e prestaccedilatildeo de

serviccedilos) exercem funccedilatildeo de polo atrativo para moradores dos municiacutepios vizinhos Toda a

importacircncia do municiacutepio para a regiatildeo o estado e o paiacutes se deve agrave instalaccedilatildeo da Estrada de

Ferro Goyaz e aos que acreditaram no crescimento de Pires do Rio e investiram em seu

territoacuterio Por esta razatildeo que parte de nossa pesquisa busca reviver fragmentos da histoacuteria desta

cidade que se faz importante para uma regiatildeo estado e paiacutes

78

33 Os cursos drsquoaacutegua

No quadro abaixo apresentamos os nomes dos cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio

levantamento realizado de acordo com os mapas cartas topograacuteficas e vocabulaacuterio do IBGE

(1957)

Quadro 6 ndash Cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO)

Vocabulaacuterio Geograacutefico ndash IBGE (1957)

Rio ndash 3 Paacutegi

na

Descriccedilatildeo Municiacutepio de

Nasceste

Rio Corumbaacute 75 Rio nasce nos arredores de Pirineus

atravessa o municiacutepio como o de Santa

Luzia depois de servir em pequeno trecho

de divisa a Bonfim Adiante separa Ipameri

e Corumbaiacuteba de um lado e Campo

Formoso Pires do Rio Caldas Novas Buriti

Alegre do outro ateacute desaguar no rio

Paranaiacuteba pela margem direita

Corumbaacute

Rio do Peixe 165 Rio nasce na regiatildeo sul-oriental do

municiacutepio que separa dos de Campo

Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio

e o de Caldas Novas desemboca no rio

Corumbaacute pela margem direita

Silvacircnia

Rio Piracanjuba 171 (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce

na serra de Passa Quatro e atravessa o

municiacutepio bem como o de Pouso Alto

Adiante separa Caldas Novas de Morrinhos

e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio

Corumbaacute pela margem direita

Bela Vista

Coacuterrego ndash 34

Coacuterrego Areias 15 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Pires do Rio

Coacuterrego Barreiro - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia

Coacuterrego do

Barreiro

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Piracanjuba

Coacuterrego dos Batista - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Bauzinho 29 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Bauacute

Orizona

Coacuterrego da Braga 37 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Santa Maria

Luziacircnia

79

Coacuterrego Boa Vista 32 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Buracatildeo 40 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Buriti 42 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio dos Bois

Pires do Rio

Coacuterrego Cachoeira 47 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Piracanjuba

Silvacircnia

Coacuterrego Capoeira

Grande

60 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Cachoeira

Orizona

Coacuterrego Carvalho - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego da Caverna 66 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio dos Peixes (M de Pires do Rio)

Pires do Rio

Coacuterrego Corrente - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Domingo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego da Estiva 88 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Brumado

Pires do Rio

Coacuterrego Fundatildeo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Cocalzinho de

Goiaacutes

Coacuterrego Guaraacute 106 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Itauacutebi - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Juca - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Lajinha 124 Coacuterrego afluente da margem direita do

coacuterrego Taperatildeo

Orizona

Coacuterrego Laranjal 126 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Bauacute

Pires do Rio

Coacuterrego Limeira 128 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Ipameri

Coacuterrego Marreco 136 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Bauacute

Orizona

Coacuterrego Mata

Dentro

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego do

Mocambo

144 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

das Antas

Silvacircnia

Coacuterrego Olho

drsquoaacutegua

152 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Piracanjuba

Orizona

Coacuterrego do Pico 168 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Brumado

Pires do Rio

Coacuterrego

Piracanjuba

171 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

igual nome

Morrinhos

Coacuterrego Posse 177 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

coacuterrego do Fundo

Orizona

80

Coacuterrego Satildeo

Jerocircnimo

202 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Caiapoacute

Pires do Rio

Coacuterrego Saltador 193 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute proacuteximo a barra do rio

Alagado

Luziacircnia

Coacuterrego Taquaral 217 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute (M de Pires do Rio)

Pires do Rio

Coacuterrego da Terra

Vermelha

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia

Ribeiratildeo ndash 8

Ribeiratildeo Bauacute 29 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Piracanjuba na divisa do municiacutepio de Pires

do Rio

Orizona

Ribeiratildeo Brumado 33 Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do

rio dos Peixes

Santa Cruz de

Goiaacutes

Ribeiratildeo Cachoeira 47 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Piracanjuba

Orizona

Ribeiratildeo Caiapoacute 50 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Urutaiacute

Ribeiratildeo Marataacute - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Ribeiratildeo Mucambo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Ribeiratildeo Sampaio 194 Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da

margem direita do rio Corumbaacute (M de

Pires do Rio)

Pires do Rio

Ribeiratildeo Taquaral - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Orizona

Quedas drsquoaacutegua ndash 1

Cachoeira do

Marataacute

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Fonte Vocabulaacuterio Geograacutefico IBGE 1957

O quarto capiacutetulo apresenta a descriccedilatildeo e anaacutelise de quinze dos 46 topocircnimos (escolha

esta pela relaccedilatildeo de representaccedilatildeo para a cidade de Pires do Rio-GO) de acordo com os aportes

teoacutericos revisados no primeiro capiacutetulo e em consonacircncia com os meacutetodos apresentados e

discutidos no segundo capiacutetulo apresenta ainda algumas questotildees teoacutericas suscitadas pelas

especificidades dos dados escolhidos

81

IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR

O signo toponiacutemico natildeo abre apenas o nome de

um lugar mas o lugar como um todo tudo que estaacute

relacionado a ele de uma forma ou de outra

(SIQUEIRA 2015)

Nos colocar a serviccedilo desta pesquisa foi o mesmo que redescobrir a cidade de Pires do

Rio-GO Conhecer a sua histoacuteria e poder reeditaacute-la remapear os seus cursos drsquoaacutegua e por fim

buscar na Toponiacutemia as relaccedilotildees de poder que os topocircnimos tecircm sobre cada espaccedilo nomeado

assim tomamos posse do que esta pesquisa nos proporcionou e aqui estaacute o aacutepice dela os dados

e suas anaacutelises

Segundo Dias (2008) o municiacutepio de Pires do Rio-GO tem como principais cursos

drsquoaacutegua o rio Corumbaacute situado na parte sudeste o rio Piracanjuba no nordeste e rio do Peixe

na parte sul os quais correm em direccedilatildeo agrave calha do rio Paranaiacuteba (uma das quatro bacias

hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes) ao sul Os rios do Peixe e Piracanjuba desaguam no

Corumbaacute sendo limites de fronteiras do municiacutepio Aleacutem desses rios a rede hidrograacutefica eacute

formada por vaacuterios ribeirotildees e coacuterregos

Para proceder com as devidas anaacutelises dos topocircnimos nos eacute necessaacuterio partir de algumas

definiccedilotildees de nomenclaturas da aacuterea da geografia mas natildeo tivemos acesso a nenhum dicionaacuterio

terminoloacutegico da aacuterea especiacutefica devido agrave dificuldade de encontrar em bibliotecas puacuteblicas e

na internet desta forma recorremos aos dicionaacuterios Aulete (2011) Borba (2004) e Houaiss et

al (2004 2009) para assim proceder com a definiccedilatildeo de palavras (termos) que satildeo recorrentes

em nossa pesquisa a) curso drsquoaacutegua eacute qualquer corpo de aacutegua fluente b) coacuterrego um rio

pequeno com pouco volume de aacutegua que passa por vaacuterios lugares e sempre desagua em um

curso drsquoaacutegua (coacuterrego ribeiratildeo ou rio) c) queda drsquoaacutegua torrente de aacutegua que cai do alto

cachoeiracascata que satildeo formaccedilotildees geomorfoloacutegicas nas quais os cursos drsquoaacutegua correm por

cima de uma rocha de composiccedilatildeo resistente agrave erosatildeo formando uma suacutebita quebra na vertical

d) ribeiratildeo curso drsquoaacutegua maior que o riacho e menor que o rio afluente de um rio e) rio ou

fluacutemen eacute uma corrente natural de aacutegua que flui continuamente Possui um caudal consideraacutevel

e desemboca no mar num lago ou noutro rio e em tal caso denomina-se afluente Pode

apresentar vaacuterias redes de drenagem

Proceder com estas observaccedilotildees eacute elementar para esta pesquisa pois dos 46 topocircnimos

elencados no municiacutepio de Pires do Rio-GO analisaremos apenas 15 visto que analisar todos

82

os topocircnimos seria uma tarefa aacuterdua e que demandaria mais tempo registramos aqui o que nos

motivou agrave escolha dos cursos drsquoaacutegua para anaacutelise Como satildeo apenas 03 rios eacute viaacutevel e de bom

senso analisaacute-los jaacute que satildeo as maiores bacias e que datildeo destaque agrave regiatildeo os ribeirotildees satildeo

especificamente 08 os quais seratildeo analisados inclusive alguns nomes se repetem aos coacuterregos

tambeacutem 01 queda drsquoaacutegua cachoeira do Marataacute que natildeo seraacute analisada devido ao nome ser o

mesmo de um ribeiratildeo dos 34 coacuterregos analisaremos apenas 04 (Barreiro Itauacutebi Laranjal e da

Terra Vermelha) devido ao grau de importacircncia para a cidade pois os coacuterregos Itauacutebi (nascente)

e Laranjal satildeo os que abastecem a cidade de Pires do Rio-GO Quanto ao Barreiro este estaacute

localizado na regiatildeo do Morro do Cruzeiro localidade que tem o maior nuacutemero populacional

na zona rural do municiacutepio O coacuterrego da Terra Vermelha eacute uma aacuterea que haacute muito tempo foi

espaccedilo de olaria e dela saiacuteram grandes quantidades de tijolos que foram utilizados nas

construccedilotildees de casas na cidade e tambeacutem pertence a uma localidade onde existiu o povoado do

Marataacute na deacutecada de 50

No mapa 2 apresentamos os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do

Rio-GO bem como aparecem em destaque os 15 topocircnimos que analisaremos a seguir os quais

estatildeo catalogados em fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas que estatildeo inseridas neste capiacutetulo

83

Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)

84

41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural

Os modelos das taxionomias foram elaborados por Dick (1992) a fim de possibilitar ao

pesquisador descobrir o significado dos topocircnimos sem ter que retomar especificamente a

passado histoacuterico Os modelos subdividem-se em 11 taxes de natureza fiacutesica e 16 de natureza

antropocultural Assim podemos verificar se o nomeador recorreu a elementos de natureza

fiacutesico ou socioculturais como motivaccedilatildeo no ato da nomeaccedilatildeo Abaixo apresentamos as 27

taxes subdivididas em suas naturezas e devidas especificaccedilotildees exemplificadas com alguns

topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO nos casos de natildeo ter

recorremos a outros topocircnimos

a) Taxionomias de natureza fiacutesica

1 Astrotopocircnimos topocircnimos que se referem aos corpos celestes cidade Estrela do Norte-

GO

2 Cardinotopocircnimos topocircnimos referentes agraves posiccedilotildees geograacuteficas cidade Alvorada do

Norte-GO

3 Cromotopocircnimos topocircnimos relativos agrave escala cromaacutetica coacuterrego da Terra Vermelha (Pires

do Rio-GO)

4 Dimensiotopocircnimos topocircnimos referentes agraves caracteriacutesticas dimensionais dos acidentes

geograacuteficos como extensatildeo comprimento largura espessura altura profundidade coacuterrego

Fundatildeo (Pires do Rio-GO)

5 Fitotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de vegetais rio Corumbaacute (Pires do Rio-

GO)

6 Geomorfotopocircnimos topocircnimos referentes agraves formas topograacuteficas elevaccedilotildees ou depressotildees

do terreno coacuterrego do Pico (Pires do Rio-GO)

7 Hidrotopocircnimos topocircnimos originados de acidentes hidrograacuteficos ribeiratildeo Cachoeira

(Pires do Rio-GO)

8 Litotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de minerais e de nomes relativos agrave

constituiccedilatildeo do solo coacuterrego Barreiro (Pires do Rio-GO)

9 Meteorotopocircnimos topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos ribeiratildeo Brumado

(Pires do Rio-GO)

10 Morfotopocircnimos topocircnimos que refletem o sentido de forma geomeacutetrica cidade Volta

Redonda-RJ

11 Zootopocircnimos topocircnimos de iacutendole animal rio do Peixe (Pires do Rio-GO)

b) Taxionomias de natureza antropocultural

85

1 Animotopocircnimos ou Nootopocircnimos topocircnimos relativos agrave vida psiacutequica e agrave cultura

espiritual coacuterrego Boa Vista (Pires do Rio-GO)

2 Antropotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais ribeiratildeo Sampaio

(Pires do Rio-GO)

3 Axiotopocircnimos topocircnimos que se referem a tiacutetulos e a dignidades que acompanham os

nomes proacuteprios individuais cidade Senador Canedo-GO

4 Corotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes de cidades paiacuteses estados regiotildees e

continentes coacuterrego Posse (Pires do Rio-GO)

5 Cronotopocircnimos topocircnimos que encerram indicadores cronoloacutegicos como novonova

velhovelha cidade Nova Aurora-GO

6 Ecotopocircnimos topocircnimos que fazem referecircncia agraves habitaccedilotildees de um modo geral cidade

Castelacircndia-GO

7 Ergotopocircnimos topocircnimos relacionados aos elementos da cultura material ribeiratildeo Bauacute

(Pires do Rio-GO)

8 Etnotopocircnimos topocircnimos relativos aos elementos eacutetnicos tribos isolados ou natildeo ribeiratildeo

Caiapoacute (Pires do Rio-GO)

9 Dirrematotopocircnimos topocircnimos construiacutedos por meio de frases ou enunciados linguiacutesticos

cidade Aparecida do Rio Doce-GO

10 Hierotopocircnimos topocircnimos referentes aos nomes sagrados agraves efemeridades religiosas aos

locais de culto cidade Cristianoacutepolis-GO Podem apresentar duas subdivisotildees i)

hagiotopocircnimos topocircnimos que se referem aos santos e agraves santas do hagioloacutegio romano

coacuterrego Satildeo Jerocircnimo (Pires do Rio-GO) ii) mitotopocircnimos topocircnimos referentes agraves

entidades mitoloacutegicas cidade Anhanguera-GO

11 Historiotopocircnimos topocircnimos que se referem a movimentos de cunho histoacuterico-social aos

seus membros ou ainda agraves datas correspondentes cidade Ipiranga de Goiaacutes-GO

12 Hodotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves vias de comunicaccedilatildeo coacuterrego Corrente (Pires

do Rio-GO)

13 Numerotopocircnimos topocircnimos que dizem respeito aos adjetivos numerais cidade Trecircs

Ranchos-GO

14 Poliotopocircnimos topocircnimos constituiacutedos pelos vocaacutebulos vila aldeia cidade povoaccedilatildeo

arraial bairro Vila Nova (Pires do Rio-GO)

15 Sociotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais de trabalho

e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade ribeiratildeo Mucambo (Pires do Rio-

GO)

86

16 Somatotopocircnimos topocircnimos com relaccedilatildeo metafoacuterica agraves partes do corpo humano ou do

animal coacuterrego Olho drsquoaacutegua (Pires do Rio-GO)

Essas classificaccedilotildees taxonocircmicas funcionam como auxiliares no processo de verificaccedilatildeo

que subjaz o topocircnimo sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo da origem e motivaccedilatildeo que

levaram agrave efetivaccedilatildeo de determinado topocircnimo

Aleacutem do mais uma anaacutelise toponiacutemica pressupotildee a busca de particularidades

que natildeo podem ficar apenas nas caracteriacutesticas mais evidentes apresentadas

pelo nome deve-se procurar tanto quanto possiacutevel ou seja tanto quanto as

fontes ou a documentaccedilatildeo o permitirem as origens mais remotas do

denominativo objetivando as eventuais substituiccedilotildees experimentadas e a sua

razatildeo determinante de modo que se possa tentar um equacionamento da

nomenclatura em periacuteodos ou estaacutegios onomaacutesticos ndash senatildeo de toda ela pelo

menos em alguns nomes ndash que talvez reflitam momentos distintivos do pensar

da eacutepoca analisada (DICK 1996 p 15-16)

O leacutexico toponiacutemico eacute carregado de marcas de expressatildeo histoacuterica social cultural

poliacutetica e religiosa de dada comunidade e eacute representativo para o nomeador e seu grupo Desta

forma se determinado local ou coisa passou por vaacuterias nomeaccedilotildees no decorrer dos tempos isso

justifica que cada nomeador observou novas caracteriacutesticas que classificavam ou referenciavam

o topocircnimo de forma precisa e motivada

De acordo com Dick (1990) as vaacuterias facetas significativas que datildeo realce ao nome do

lugar e as inuacutemeras informaccedilotildees que podem ser elencadas dele tornariam no material de um

grande armazenamento de dados e fatos culturais em larga extensatildeo Assim observamos em

Andrade (2010 p 103) que

Os estudos toponiacutemicos dentro do alcance pluridisciplinar de seu objeto de

estudo constituem um caminho possiacutevel para o conhecimento do modus

vivendi das comunidades linguiacutesticas que ocupam ou ocuparam um

determinado espaccedilo Quando um indiviacuteduo ou comunidade linguiacutestica atribui

um nome a um acidente humano ou fiacutesico revelam-se aiacute tendecircncias sociais

poliacuteticas religiosas culturais (Grifos da autora)

Satildeo nessas caracteriacutesticas em que reside a motivaccedilatildeo do topocircnimo e por meio delas nos

satildeo reveladas a histoacuteria e cultura de uma dada comunidade por isso vemos o quanto os estudos

toponiacutemicos satildeo de extrema relevacircncia natildeo soacute para a aacuterea dos estudos da

linguagemlinguiacutesticos mas tambeacutem para as outras aacutereas do conhecimento jaacute que o topocircnimo

eacute plurissignificativo tendo assim um alcance pluridisciplinar

87

Posto isto pode-se evidenciar os estudos toponiacutemicos como um eixo norteador para se

verificar as relaccedilotildees soacutecio-histoacuterico-culturais de um povo jaacute que o topocircnimo estaacute intimamente

vinculado agrave cultura de um povo uma naccedilatildeo e portanto agrave sua histoacuteria Assim tomaremos por

anaacutelise os graacuteficos que se seguem e as taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua

do municiacutepio de Pires do Rio-GO

42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO

Nesta pesquisa os 15 topocircnimos analisados baseados na classificaccedilatildeo enquadram-se

na divisatildeo das naturezas fiacutesica e antropocultural Em alguns topocircnimos eacute possiacutevel ainda

evidenciar mais de uma categoria classificatoacuteria por exemplo o coacuterrego da Terra Vermelha

que se classifica como litotopocircnimo e cromotopocircnimo

Nos graacuteficos abaixo apresentamos e analisamos em base qualiquantitivas as naturezas

das taxionomias fiacutesicas e antropoculturais e a origemetimologia dos topocircnimos estratos

linguiacutesticos

Grafico1 Natureza das Taxionomias

As taxionomias nos permitiram analisar e interpretar os designativos de lugares com

maior precisatildeo e seguranccedila do ponto de vista semacircntico sendo estudados enquanto formas de

liacutengua e de acordo com a causa de seu emprego O produto resultante aqui no nosso caso os

88

topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO ganham vida proacutepria passando

a ter caraacuteter motivado e natildeo apenas arbitraacuterio

As taxes encontradas nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO que tiveram maior proporccedilatildeo foram as de natureza fiacutesica assim o nomeador caracterizou

os fatores fiacutesicos do ambiente ou que chamaram sua atenccedilatildeo Desta forma as nomeaccedilotildees satildeo

motivadas e estabelecem relaccedilotildees com o nomeador e o lugar nomeado

421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos

Os principais topocircnimos analisados neste trabalho confirmaram uma tendecircncia da

toponiacutemia brasileira em geral ou seja a predominacircncia de topocircnimos classificados de acordo

com as taxionomias de natureza fiacutesica uma vez que na nomenclatura onomaacutestica dos

elementos fiacutesicos da regiatildeo analisada haacute um percentual de 67 (10 topocircnimos) que satildeo

classificados como taxes de natureza fiacutesica e 33 (05 topocircnimos) que se enquadram nas taxes

de natureza antropocultural

Graacutefico 2 Taxionomias de Natureza Fiacutesica

O graacutefico apresentado nos revelam que a incidecircncia em sua maioria das taxionomias

de natureza fiacutesica evidencia a influecircncia do ambiente fiacutesico no ato de nomeaccedilatildeo percebe-se

entatildeo que no ato do batismo os povos recorreram a elementos e caracteriacutesticas circundantes

aos lugares nomeados demonstrando que o meio ambiente exerce grande influecircncia no homem

no ato de nomear os lugares

0

05

1

15

2

25

3

Taxionomias de Natureza Fiacutesica

89

Ao atribuir topocircnimos agraves taxionomias de natureza fiacutesica eacute possiacutevel comprovar a forccedila

de elementos fiacutesicos como motivadores no ato de nomear os lugares O que eacute observaacutevel no

graacutefico II os topocircnimos com maior incidecircncia nos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO sendo eles fitotopocircnimos hidrotopocircnimos litotopocircnimos litotopocircnimos e

cromotopocircnimos litotopocircnimos e fitotopocircnimos meteorotopocircnimos e zootopocircnimos que no

decorrer desse trabalho seratildeo analisados

4211 Fitotopocircnimos

De acordo com o observado a taxionomia de origem fitotoponiacutemica (originada de

nomes de vegetais) atingiu em segundo lugar o maior nuacutemero de frequecircncia dentre os

topocircnimos de natureza fiacutesica 20 (02 topocircnimos) satildeo eles coacuterrego Laranjal e ribeiratildeo

Taquaral Eacute observaacutevel que a flora foi uma das grandes motivaccedilotildees para os designativos dos

cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO E segundo Dick (1990 p 146)

O importante talvez seria natildeo perder de vista que a vegetaccedilatildeo eacute parte

integrante de um conjunto natural em que o relevo constituiccedilatildeo do solo

acidentes geograacuteficos regimes climaacuteticos compotildeem um verdadeiro

biossistema imprescindiacutevel ao homem e agrave qualidade de vida que nele pretenda

instalar ou pelo menos usufruir

Eacute nessas relaccedilotildees de importacircncia para o homem que podemos compreender a nomeaccedilatildeo

destes elementos fiacutesicos fazendo referecircncia a aspectos que chamaram a sua atenccedilatildeo e

motivaram a nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua Isso se revela pelo caraacuteter de necessidade agrave vida

humana tanto do nome como do que por ele foi nomeado essa relaccedilatildeo nomeador-objeto-nome

eacute que ressalta a importacircncia da vegetaccedilatildeo no meio social local do vivente Assim tambeacutem

justifica Pereira (2009 p 143) que ldquopossivelmente seja esse o motivo de o

denominadorenunciador registrar as caracteriacutesticas locais de uma regiatildeo na nomeaccedilatildeo dos

acidentes geograacuteficos por meio do topocircnimordquo

Ao trazer as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas eacute perceptiacutevel a motivaccedilatildeo que subjaz

cada topocircnimo como observamos abaixo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 02

Topocircnimo Coacuterrego Laranjal Localizaccedilatildeo Pires do Rio

90

Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia la-ran-jal Sm plantaccedilatildeo ou pomar de laranjas (p827)

Laranja sf lsquofruto da laranjeira planta da fam das rutaacuteceasrsquo XIV Do aacuter nāranğa deriv do

persa nāranğ laranjAL -gal XVI (p382)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino laranja- + -al sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Coacuterrego afluente da margem direita do ribeiratildeo Bauacute (M de

Pires do Rio)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 03

Topocircnimo Ribeiratildeo Taquaral Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ta-qua-ral Sm 1 plantaccedilatildeo de taquara tabocal 2 terreno onde crescem

taquaras (p1337)

Taquara sf lsquoplanta da fam das gramiacuteneas taboca bambursquo 1627 tacoara c 1584 etc

tacoaacutera 1817 Do tupi takṷara taquarAL 1783 (p623)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino taquara- + -al sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ao observar as informaccedilotildees trazidas nas fichas apresentadas dos fitotopocircnimos

possivelmente as motivaccedilotildees que influenciaram o nomeador satildeo perspicazes as referecircncias

locais que de acordo com cada topocircnimo relacionamos i coacuterrego Laranjal evidentemente em

sua localidade apresentava no momento de nomeaccedilatildeo a plantaccedilatildeo de laranjas e tambeacutem o

coacuterrego favorecia a essas plantaccedilotildees ii ribeiratildeo Taquaral assim como analisado o topocircnimo

91

anterior o que tenha influenciado ao nomeador deve estar relacionado com o a quantidade de

taquaras na regiatildeo em se encontra o determinado ribeiratildeo

A ocorrecircncia dos topocircnimos de iacutendole vegetal ora pesquisados pode ter a sua

justificativa pela relevacircncia que as plantas tecircm junto a vida humana bem como necessaacuterias para

a conservaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua e suas nascentes assim justificamos a tendecircncia de valoraccedilatildeo

do vegetal no processo de batismo dos elementos fiacutesicos

4212 Hidrotopocircnimos

O topocircnimo de equivalecircncia hidroniacutemica (originado de acidentes hidrograacuteficos) aparece

no em ribeiratildeo Cachoeira Sabe-se que a aacutegua eacute de fundamental importacircncia para a vida

humana por isso a tendecircncia de o nomeador no ato de batismo do topocircnimo valer-se do nome

relacionado ao elemento aacutegua para designar o lugar

E de acordo com Dick (1990 p 196) ldquoO aparecimento de topocircnimos nos mais

diferentes ambientes revestindo uma natureza hidroniacutemica propriamente dita vincula-se agrave

importacircncia dos cursos drsquoaacutegua para as condiccedilotildees humanas de vidardquo Possivelmente o nomeador

a considera o elemento aacutegua vital para a sua existecircncia ainda sabemos que os cursos drsquoaacutegua

em muitas ocasiotildees servem de caminhos para comeacutercio como tambeacutem foi por meio deles que

se configuraram na histoacuteria do Brasil o achamento e a colonizaccedilatildeo do paiacutes pelos portugueses

Nas ficha abaixo trazemos informaccedilotildees relevantes para anaacutelise dos topocircnimos de origem

hidrograacutefica

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 04

Topocircnimo Ribeiratildeo Cachoeira Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Hidrotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ca-cho-ei-ra Sf 1queda drsquoaacutegua em rio ou ribeiratildeo cujo leito apresenta

forte declive cascata 2 trecho de rio onde as aacuteguas correm raacutepido devido agrave inclinaccedilatildeo do

terreno corredeira (p213)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba (M

de Campo Formoso)

Referecircncias Borba (2004) IBGE (1957)

92

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Por mais que apenas 10 (01) dos topocircnimos de natureza fiacutesica tenham referecircncia agrave

iacutendole hidroniacutemica a regiatildeo de Pires do Rio-GO tem seus limites poliacutetico e fiacutesico (geograacuteficos)

feita por rios sem mencionar a grande importacircncia que esses cursos exercem nas atividades da

regiatildeo

Ainda observamos em Dick (1990 p 197) que

Agraves vezes poreacutem rompe-se o equiliacutebrio que ela [a aacutegua] representa em

qualquer meio desprendendo-se de suas possibilidades de aproximar culturas

distintas e assumindo papel um tanto oposto ao se transformar em ldquoobstaacuteculordquo

agrave difusatildeo dos interesses coletivos Circunscrevendo o homem em seu proacuteprio

espaccedilo quando o transcurso se torna difiacutecil impede os contatos entre grupos

vizinhos Se o isolamento por um lado tende a manter tanto quanto possiacutevel

inalterados os valores comuns preservando por isso a tradiccedilatildeo socioloacutegica

do homem ao retardar a dinacircmica da comunidade em favor de uma estaacutetica

desestimulante e viciosa

A par desta citaccedilatildeo observamos que foi o que aconteceu a cidade de Pires do Rio-GO

a partir do rio Corumbaacute o principal para o municiacutepio que ateacute a deacutecada de 1920 era isolado dos

demais municiacutepios por falta de uma ponte que estabelecesse tal ligaccedilatildeo Com a vinda da Estrada

de Ferro Goyaz e a construccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa surgem as primeiras casas e a

efetivaccedilatildeo do municiacutepio bem como a ligaccedilatildeo com as principais cidades da regiatildeo e as relaccedilotildees

econocircmicas e poliacuteticas que auxiliaram no crescimento do municiacutepio e da regiatildeo

Observamos ainda no contexto do municiacutepio de Pires do Rio-GO que a aacutegua em suas

potencialidades eacute de grande relevacircncia e meio de sobrevivecircncia para a vida humana pois

Na parte sul encontra-se o rio Corumbaacute que eacute maior curso drsquoaacutegua do

municiacutepio Nele eacute feito a extraccedilatildeo de areia para construccedilatildeo civil suas ilhas

servem de pontos de recreaccedilatildeo para vaacuterios moradores e as suas margens satildeo

praticamente ocupadas pelas pequenas propriedades (DIAS 2008 p 84)

Posto isso no efetivar do topocircnimo a partir da importacircncia da aacutegua o nomeador

diferencia o elemento geograacutefico dos demais auxiliando na orientaccedilatildeo do homem no espaccedilo

que o cerca proporcionando subsiacutedios para um melhor (re)conhecimento do local Assim

hipoteticamente acreditamos que o topocircnimo ndash ribeiratildeo Cachoeira ndash no contexto estudado

93

pode ter a sua motivaccedilatildeo pelo proacuteprio ambiente fiacutesico uma vez recupera caracteriacutesticas

hidroniacutemicas do lugar

4213 Litotopocircnimos

Notando-se as relaccedilotildees dos topocircnimos de origem mineral os litotopocircnimos coacuterrego

Barreiro representam o percentual de 10 (01 topocircnimo) dos analisados Cabe mencionar que

os minerais foram um dos principais atrativos dos colonizadores portugueses nas terras

brasileiras E de acordo com Dick (1990) os topocircnimos de origem mineral estatildeo relacionados

tanto a caracteriacutesticas do solo quanto do terreno e assim estabelecem duas relaccedilotildees fiacutesicas que

estatildeo ligadas agraves regiotildees da terra neste caso satildeo areia barro lama pedra terra E outro fator

satildeo os histoacutericos que podem ser evidenciados no processo de colonizaccedilatildeo do Brasil por meio

das relaccedilotildees entre solo flora e relevo que satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de uma nova

sociedade

O litotopocircnimo apresentado abaixo por meio de descriccedilatildeo e anaacutelise revela a influecircncia

do local sobre o ato de nomear

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 05

Topocircnimo Coacuterrego Barreiro Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia bar-rei-ro Sm terra alagada lamaccedilal (p164)

Barreira -eirar -eiro ejar rarr BARRO

Barro sm lsquotipo de argilarsquo lsquosubstacircncia utilizada no assentamento da alvenaria de tijolo em

obras provisoacuterias obtida pela mistura de argila com aacuteguarsquo XIV De origem preacute-romana

Relaciona-se neste verbete uma seacuterie de vocaacutebulos etimologicamente correlacionados com

o radical barr- de origem preacute-romana barrEIRA sf lsquoargileirarsquo lsquoparapeitorsquo 1500 barrEIRmiddotAR

bareyrar XV barrEIRO XVIII (p82)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino barro- + ndasheiro sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

94

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Observando Sapir (1969) podemos trazer a reflexatildeo acerca da relaccedilatildeo entre liacutengua e

ambiente que vale a compreensatildeo dos fatores fiacutesicos neste caso os aspectos geograacuteficos

incluindo aleacutem dos elementos fauna e flora os recursos minerais Assim o litotopocircnimo

coacuterrego Barreiro estabelece relaccedilotildees com o local quando foi nomeado ainda compreende-se

que a localidade era de lamaccedilalbarro um dos motivadores por determinado coacuterrego ser

batizado com o referido topocircnimo

Assim como observado em Dick (1990 p 125) os referidos topocircnimos de origem

mineral se referem ao primeiro caso que eacute o de ldquoiacutendole geneacutericardquo aspectos fiacutesicos e especiacuteficos

agraves regiotildees da terra revelando assim caracteriacutesticas minerais da regiatildeo em que estaacute localizado

determinado coacuterrego

4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos

No conjunto dos topocircnimos analisados em um percentual de 10 (01 topocircnimo) do

total encontramos um topocircnimo de estrutura composta mas natildeo hiacutebrido pois eacute formado por

duas palavras de origem latina a saber coacuterrego da Terra Vermelha litotopocircnimo (origem de

nomes de minerais e de nomes relativos agrave constituiccedilatildeo do solo) e cromotopocircnimo (relativo agrave

escala cromaacutetica) E que de acordo com Isquerdo e Seabra (2010 p 91) ldquo[] a motivaccedilatildeo dos

hidrotopocircnimos de estrutura composta normalmente valoriza mais de uma caracteriacutestica do

meio ambiente como foco denominativordquo O mesmo se estabelece com o topocircnimo ora

analisado como descreve na ficha abaixo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 06

Topocircnimo Coacuterrego da Terra Vermelha Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo e

Cromotopocircnimo

Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ter-ra Sf i elemento da superfiacutecie terrestre que misturado com aacutegua

transforma-se em barro ii parte soacutelida da superfiacutecie terrestre chatildeo firme (p1351)

Terra sf lsquoterritoacuterio regiatildeorsquo lsquosolo chatildeorsquo XIII Do lat tĕrra (p631)

95

Vermelho adj lsquoda cor do sanguersquo XIII Do lat vĕrmῐcŭlus (p674)

Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Substantivo Feminino + Adjetivo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Segundo Dias (2008 p 119-122) na maior parte da regiatildeo do municiacutepio de Pires do

Rio-GO o solo eacute ldquoLatossolos Vermelhosrdquo ou ldquoLatossolos Vermelho Amareladordquo assim

hipoteticamente uma das motivaccedilotildees fundamentais para a denominaccedilatildeo do topocircnimo estaacute

ligado a caracteriacutesticas do local o que influenciou o denominador a fazer referecircncia agrave Terra

juntamente com a cor vermelha

E ainda Dias (2008 p 117) justifica que ldquoas caracteriacutesticas da vegetaccedilatildeo natural

muitas das vezes tecircm como fator determinante o tipo de solo porque eacute dele que elas retiram a

maioria dos elementos que precisam para sua nutriccedilatildeordquo Nesta regiatildeo tem a predominacircncia da

agricultura e agropecuaacuteria influecircncias do solo que contribui para tais praacuteticas

Contudo o batismo do coacuterrego com o topocircnimo Terra Vermelha traz em sua motivaccedilatildeo

as caracteriacutesticas que satildeo observadas na localidade e que de certa forma influenciaram o

nomeador Aleacutem do coacuterrego uma regiatildeo rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tambeacutem eacute

conhecida pelo referido nome

4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos

O topocircnimo coacuterrego Itauacutebi eacute um nome composto litotopocircnimo (de origem mineral) e

fitotopocircnimo (de origem vegetal) e representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos

analisados Sua estrutura morfoloacutegica segundo Dick (1992) eacute um topocircnimo composto formado

por ita- (pedra) + -ubi (palmeira) ambos de origem tupi na formaccedilatildeo de palavras se constitui

em uma composiccedilatildeo por justaposiccedilatildeo E hipoteticamente a regiatildeo em que se encontra o

coacuterrego eacute de um terreno pedregulho ou pode ser que o proacuteprio coacuterrego tenha em sua calda um

acuacutemulo maior de pedras que o normal E consequentemente uma regiatildeo em que a vegetaccedilatildeo

tenha ou lembre uma localidade com plantaccedilotildees de palmeiras

96

Assim a ficha lexicograacutefica-toponiacutemia abaixo nos auxiliou na descriccedilatildeo e anaacutelise do

topocircnimo coacuterrego Itauacutebi aclarando para um efetiva interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo do corpus desta

pesquisa

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 07

Topocircnimo Coacuterrego Itauacutebi Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo e Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia Ita ndash pedra eacute o termo mais comum nos topocircnimos brasileiros algumas

vezes aparece sem o i inicial Ta-nhenga (ilha do Rio de Janeiro) Ta-ratatilde (localidade da

Bahia) (p 174)

Ubi ndash nome comum a vaacuterias palmeias dos gecircneros Genoma Bactris e Calyptrogyne (p 190)

Estrutura morfoloacutegica Nome composto (ita- substantivo feminino + -ubi substantivo

feminino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Tibiriccedila (1985)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Segundo Dias (2008) o coacuterrego Itauacutebi eacute um dos afluentes do ribeiratildeo Marataacute e tambeacutem

um dos coacuterregos que abaste ao municiacutepio de Pires do Rio-GO juntamente com o coacuterrego

Laranjal Assim eacute possiacutevel notar a importacircncia deste curso drsquoaacutegua para o municiacutepio e a sua

relevacircncia em anaacutelise para a nossa pesquisa

4216 Meteorotopocircnimos

A meteorotoponiacutemia refere-se a topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos e no

contexto pesquisado representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos analisados sendo

ribeiratildeo Brumado que proveacutem do termo latino bruma lsquoinvernorsquo especificando como nevoeiro

neblina e cerraccedilatildeo (CUNHA 2010) Dados esses especificados abaixo na ficha lexicograacutefica-

toponiacutemica que nos auxiliou na interpretaccedilatildeo e anaacutelise do topocircnimo

97

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 08

Topocircnimo Ribeiratildeo Brumado Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Meteorotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia Bruma bru-ma Sf nevoeiro neblina cerraccedilatildeo (p203)

Bruma sf lsquonevoeiro neblina cerraccedilatildeorsquo XVI Do lat bruma lsquoinvernorsquo (p103)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino bruma- + sufixo ndashado)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do rio dos Peixes (M

de Pires do Rio)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ao observarmos em Sapir (1969) em que o leacutexico de uma liacutengua reflete claramente o

ambiente fiacutesico e social do falantes provavelmente o que influenciou o nomeador em recorrer

ao batismo do topocircnimo Brumado em determinado ribeiratildeo pode ter sido devido a ocorrer na

localidade neblinanevoeiro na estaccedilatildeo do ano inverno jaacute que a proacutepria raiz da palavra bruma

faz referecircncia ao ldquoinvernordquo

Nas leituras realizadas em alguns pesquisadores da aacuterea da toponiacutemia como Almeida

(2012) Carvalhinhos (2002 2003) Dick (1990 1992 1996 1999 2000 2001 2004 2006)

Isquerdo e Seabra (2010) Pereira (2009) Siqueira (2012 2015) natildeo foi recorrente

encontrarmos algum meteorotopocircnimo analisado ou que nos desse qualquer sustentaccedilatildeo ou

informaccedilotildees para proceder com algum confrontamento de dados mediante a isso

subentendemos que os topocircnimos de iacutendole dos fenocircmenos atmosfeacutericos natildeo tenham uma certa

frequecircncia como os demais

4217 Zootopocircnimos

Nas denominaccedilotildees de iacutendole animal zootopocircnimos no estudo corrente referem ao

percentual de 30 (03 topocircnimos) dos extratos pesquisados ndash rio Corumbaacute rio do Peixe e rio

Piracanjuba Precisamente em dois topocircnimos o fator motivador foi o animal peixe que

possivelmente influenciou o nomeador A saber que a caccedila e pesca era o meio de sobrevivecircncia

98

da comunidade primitiva desta forma possivelmente a comunidade que habitava nos referidos

locais tambeacutem foi influenciada por essas razotildees e daiacute batizando ambos os rios com os referidos

topocircnimos

Ao observamos os topocircnimos de iacutendole animal aqui presentes vamos contrapor ao que

Dauzat (1922 apud DICK 1990) constatou ter uma menor frequecircncia dos zootopocircnimos em

relaccedilatildeo a outras categorias na toponiacutemia francesa bem como agrave perspectiva de Backheuser

(1952 apud DICK 1990) de que na toponiacutemia brasileira os nomes de animais satildeo menos

recorrentes

As relaccedilotildees de denominaccedilatildeo toponiacutemica de uma dada regiatildeo pode ser diferente de outra

de acordo com isso as relaccedilotildees de motivaccedilotildees estatildeo estritamente ligadas ao nomeador pois

cada qual atribui a caracteriacutesticas inerentes ao local a que faz referecircncia Assim as fichas

lexicograacuteficas-toponiacutemicas abaixo evidenciam em suas descriccedilotildees e nos auxiliam a proceder

com a anaacutelise toponiacutemica dos designativos bem como a quantificar que os zootopocircnimos foram

os de maior frequecircncia em nossas anaacutelises

Nordm de ordem 09

Topocircnimo Rio Corumbaacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia cid Mato Grosso do Sul de corumbaacute caacutegado (p44) Origem Tupi

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio nasce nos arredores de Pirineus atravessa o municiacutepio

como o de Santa Luzia depois de servir em pequeno trecho de divisa a Bonfim Adiante

separa Ipameri e Corumbaiacuteba de um lado e Campo Formoso Pires do Rio Caldas Novas

Buriti Alegre do outro ateacute desaguar no rio Paranaiacuteba pela margem direita (M de Corumbaacute)

Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 10

Topocircnimo Rio do Peixe Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

99

OrigemEtimologia pei-xe Sm (Zool) 1 espeacutecime de classe animal vertebrado que nasce e

vive na aacutegua respira por guelras e se locomove por meio de barbatanas (p1048)

sm lsquo(Zool) animal cordado gnastomado aquaacutetico com nadadeiras com pele geralmente

coberta de escamas que respira por bracircnquiasrsquo XIII Do lat piscis -is peixADA XX

peixARIA XX peixeiro peyxero XIII Cp pescar piscatoacuterio (p485)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio (do) nasce na regiatildeo sul-oriental do municiacutepio que separa

os de Campo Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio e o de Caldas Novas desemboca

no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bonfim)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) (IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 11

Topocircnimo Rio Piracanjuba Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia cid de Goiaacutes de piracanjuba uma var de peixe de rio etim piraacute-

acatilde-juba peixe de cabeccedila amarela (p97) Origem Tupi

piraacute sm lsquodesignaccedilatildeo geneacuterica de peixe em tupirsquo piracanjuva sf lsquoespeacutecie de douradorsquo 1792

Do tupi pirakaᶇlsquoḭuṷa (p498)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce na serra de Passa

Quatro e atravessa o municiacutepio bem como o de Pouso Alto Adiante separa Caldas Novas de

Morrinhos e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bela

Vista)

Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

100

Segundo Dias (2008) o rio Corumbaacute eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio dele se extrai

areia para a construccedilatildeo civil e suas ilhas e margens servem para abrigar pequenas propriedades

inclusive para a recreaccedilatildeo e turismo O rio do Peixe eacute um dos trecircs maiores cursos drsquoaacutegua e

fronteiriccedilo na regiatildeo sul entre Pires do Rio Cristianoacutepolis Vianoacutepolis e Satildeo Miguel do Passa

Quatro tem como principal afluente o ribeiratildeo Brumado e tambeacutem eacute o principal afluente do

rio Corumbaacute O rio Piracanjuba tambeacutem estaacute entre os principais do municiacutepio na regiatildeo norte

faz fronteira entre Pires do Rio Orizona Urutaiacute e Ipameri sua principal relevacircncia foi na

deacutecada de 1950 por aiacute ter funcionado uma usina hidreleacutetrica que abastecia o municiacutepio de Pires

do Rio-GO

A anaacutelise zootoponiacutemica na localidade pesquisada evidenciou a valorizaccedilatildeo da fauna

local pois ao utilizar o nome de animais recuperou-os para nomear lugares como os rios

Observamos que os nomes de animais que estabelecem a sua origem nas liacutengua tupi

(Piracanjuba e Corumbaacute) e latina (Peixe) motivaram a nomeaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e

de alguma forma estatildeo vinculados agrave vida do nomeador estabelecendo assim relaccedilotildees

extralinguiacutesticas com os topocircnimos pesquisados E segundo Theodoro Sampaio (1914 apud

DICK 1990) dificilmente o nome do animal estaria desvinculado de sua existecircncia na

localidade

Os elementos de natureza fiacutesica mais evidentes na motivaccedilatildeo que subjazem aos

topocircnimos ora analisados foram os de origem vegetal mineral e animal (peixe) Percebemos

assim que o nomeador teve influecircncia das caracteriacutesticas do local para designar o referido

topocircnimo A partir desta anaacutelise nos eacute pertinente ao proacuteximo subtoacutepico proceder com as

anaacutelises das taxionomias de natureza antropocultural

422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos

Os topocircnimos de natureza antropocultural representam 33 (05 topocircnimos) do corpus

analisado destacando-se os antropotopocircnimos ergotopocircnimos etnotopocircnimos e

sociotopocircnimos O nomeador obteve suas motivaccedilotildees de iacutendole antropocultural fazendo

homenagem a pessoas importantes da cidade recuperando elementos da cultura material do

povo revelando elementos eacutetnicos isolados ou natildeo e por fim referenciando a atividades

profissionais ou pontos de encontro de pessoas da comunidade Assim identificando a

influecircncia do homem no meio em que se encontra

101

Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural

O graacutefico 3 nos traz em sua amplitude os topocircnimos de origem antropocultural e a partir

dele eacute que procederemos com as anaacutelises no decorrer do texto observando as regecircncias e

distintas influecircncias do nomeador no ato do batismo

4221 Antropotopocircnimos

Dentre os topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais em nossa pesquisa foi

encontrado apenas o ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo correspondendo ao percentual de

20 (01) dos topocircnimos de natureza antropocultural analisados Na toponiacutemia brasileira eacute

recorrente encontrarmos antropotopocircnimos especialmente lugares como cidades praccedilas ruas

e outros acabam recebendo nomes proacuteprios em homenagem a algueacutem A ficha lexicograacutefica-

toponiacutemica 12 em sua amplitude nos auxilia a perceber a influecircncia do antrotopocircnimo

analisado pois refere-se a uma figura puacuteblica da comunidade piresina

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 12

Topocircnimo Ribeiratildeo Sampaio Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia sm ldquomarinhordquo Sampaio eacute um sobrenome presente na onomaacutestica

portuguesa atraveacutes de raiacutezes tipicamente toponiacutemicas devido ao nome de uma vila localizada

0

02

04

06

08

1

12

14

16

18

2

ANTROPOTOPOcircNIMO ERGOTOPOcircNIMO ETNOTOPOcircNIMOS SOCIOTOPOcircNIMO

Taxionomias de Natureza Antropocultural

102

em Traacutes-os-Montes em Portugal e que teria sido adotado como sobrenome pelos senhores

deste local Alguns etimologistas acreditam que o nome Sampaio tenha surgido a partir do

latim Sanctus Pelagius (traduzido como ldquosanto marinhordquo) que significa Santo Pelagius e

com o passar do tempo tenha sofrido alteraccedilotildees na grafia passando para Sam Peaio Satildeo

Payo e por fim Sampaio Origem hebraica

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Proacuteprio ndash sobrenome)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da margem direita

do rio Corumbaacute (M de Pires do Rio)

Referecircncias Dicionaacuterio online de Nomes Proacuteprios (sd) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Este antropotopocircnimo foi o norteador motivacional para esta pesquisa pois o ribeiratildeo

Sampaio em um de seus limites por boa parte da populaccedilatildeo (inclusive eu) eacute conhecido como

Pedro Teixeira (que na verdade eacute o nome da ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo) soacute tempos depois

conheci o seu verdadeiro nome

E Dick (1990 p 286) assegura que

Os aspectos semacircnticos que podem ser encontrados nos nomes de pessoas

ligam-se portanto ao papel que exercem de verdadeiras manifestaccedilotildees

culturais dos povos e onde transparecem os mais diversos motivos

determinantes de sua escolha Talvez a proacutepria maneira pela qual se concebia

o nome em eacutepocas remotas como uma substacircncia revestida de poderes

miacutesticos seja a responsaacutevel pela variedade das motivaccedilotildees em uma ou em

outras sociedades

Os aspectos motivacionais para o topocircnimo em estudo eacute uma homenagem ao coronel

Lino Teixeira de Sampaio neste caso de acordo com Cabral (2007) eacute um patroniacutemico

sobrenome e faz referecircncia ao doador das terras em que fundou-se a cidade de Pires do Rio-

GO Segundo Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares ou

homenagem ou ateacute mesmo por caracteriacutesticas geograacuteficas inerentes ao local Em alguns casos

os nomes satildeo opacos pois natildeo apresentam nenhuma relaccedilatildeo com o referente nesta situaccedilatildeo haacute

de se fazer uma busca histoacuterica para chegar as relaccedilotildees motivacionais que natildeo eacute o nosso caso

Observando em estudos acerca dos topocircnimos de iacutendole de nomes proacuteprios individuais

constatamos que

103

Nomes proacuteprios de pessoas satildeo obscurecidos em seu conteuacutedo leacutexico-

semacircntico pela opacidade do proacuteprio signo que os conforma distanciados na

maioria das ocorrecircncias do foco original Integram o inventaacuterio mais fechado

da linguagem cuja origem remonta no Brasil aos primeiros nomes de

famiacutelias portuguesas para aqui imigradas (DICK 2001 p 83)

Assim foi possiacutevel observar que o patroniacutemico Sampaio ratifica a citaccedilatildeo de Dick

(2001) pois ele estaacute presente na onomaacutestica portuguesa evidenciado nas raiacutezes tipicamente

toponiacutemicas relacionado ao nome de uma vila localizada em Traacutes-os-Montes em Portugal que

supostamente teria sido adotado como sobrenome pelos senhores deste local (DICIONAacuteRIO

DE NOMES PROacutePRIOS sd)

A importacircncia desse referido ribeiratildeo para o municiacutepio de Pires do Rio-GO justifica-se

desde a sua nomeaccedilatildeo pela razatildeo de sua nascente ser em terras que eram de propriedade do

coronel Lino Teixeira de Sampaio e tambeacutem pelo motivo de

O ribeiratildeo Sampaio eacute utilizado como um dos limiacutetrofes das aacutereas urbana e

rural tambeacutem depositaacuterio da Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE)

consequentemente recebendo a aacutegua do esgoto depois de feito seu devido

tratamento Neste ribeiratildeo encontram-se os menores pontos altimeacutetricos da

aacuterea urbana o que favoreceu a construccedilatildeo da ETE (DIAS 2008 p 84)

Neste contexto eacute evidente que a motivaccedilatildeo para o topocircnimo Sampaio eacute uma

homenagem a uma pessoa que tem uma importacircncia para o local a cidade de Pires do Rio-GO

E assim podemos evidenciar que o ato de nomear aqui institui as relaccedilotildees de poder

possivelmente a de coacuterrego do senhor coronel Lino Teixeira de Sampaio estabelecendo as

relaccedilotildees de poder que o proacuteprio coronel mantinha sobre o local a cidade

4222 Ergotopocircnimos

Os topocircnimos referente a elementos da cultura material ergotopocircnimos nas anaacutelises

desta pesquisa tiveram um percentual de 20 (01) dos topocircnimos analisados ribeiratildeo Bauacute

assim observamos que o denominador foi motivado pelas relaccedilotildees da cultura material que o

cerca Jaacute observado em Sapir (1969) pois no leacutexico toponiacutemico reflete o ambiente social do

falante assim o topocircnimo no qual o objeto bauacute eacute de origem da cultura material e de uso

humano possivelmente as caracteriacutesticas do objeto como fundura largura e formato do bauacute

foram vitais para a nomeaccedilatildeo do ribeiratildeo

104

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 13

Topocircnimo Ribeiratildeo Bauacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Ergotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia ba-uacute (fr) Sm (Co) 1 mala de madeira recoberta de couro com tampa

conversa 2 moacutevel em forma de caixa de folha ou madeira onde se guardam roupas e demais

objetos (p169)

sm lsquotipo de caixa ou mala com tampa convexa na parte externarsquo baul XVI bau XVII bahu

Do ant baul deriv do a fr bahur (hoje bahut) de origem obscura (p84) 1805

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba na

divisa do municiacutepio de Pires do Rio (M de Campo Formoso)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Desta forma ldquoa lsquoescolharsquo do nome se daacute segundo um agenciamento enunciativo

especiacutefico este acontecimento de nomear recorta como memoraacuteveis os nomes disponiacuteveis

como contemporacircneos proacuteprios de sua eacutepocardquo (GUIMARAtildeES 2005 p 36-37) Eacute necessaacuterio

observar na citaccedilatildeo de Guimaratildees (2005) que no ato do batismo o nomeador faz referecircncia ao

contemporacircneo ou proacuteprio de sua eacutepoca no caso de uso do termo bauacute configura-se como essa

afirmaccedilatildeo eacute relativa a algo realmente usado em determinada eacutepoca

Eacute evidente que o topocircnimo apresentou como fonte motivacional a relaccedilatildeo existente entre

a cultura material e seu nomeador ou seja uma motivaccedilatildeo toponiacutemica de ordem

antropocultural assim essas designaccedilotildees que recuperam elementos da cultura material do

povo da localidade identifica a influecircncia do homem no meio em que se vive

4223 Etnotopocircnimos

Uma das taxionomias de natureza antropocultural de maior ocorrecircncia nesta pesquisa

com o percentual de 40 (02) topocircnimos dos analisados foram os etnotopocircnimos topocircnimos

105

relativos a elementos eacutetnicos isolados ou natildeo sendo o ribeiratildeo Caiapoacute e ribeiratildeo Marataacute que

no decorrer satildeo apresentados nas fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 14

Topocircnimo Ribeiratildeo Caiapoacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia rio do E de Goiaacutes nome de uma tribo fam linguiacutestica Jecirc que habitou

a regiatildeo (p34)

cai-a-poacute (Tupi) S 1 indiviacuteduo de um povo indiacutegena de Mato Grosso Sm [Pl] 2 esse povo

(p217)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Corumbaacute (M de

Pires do Rio)

Referecircncias Tibiriccedila (1985) Borba (2004) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 15

Topocircnimo Ribeiratildeo Marataacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Marata ndash sm 1 indiviacuteduo dos maratas 2 liacutengua indo-europeia do ramo

indo-iraniano sub-ramo indo-aacuterico falada no Oeste e Centro da Iacutendia esp no Estado de

Maharashtra por aprox 50 milhotildees de pessoas Eacute uma das liacutenguas oficiais da Iacutendia Sacircnsc

mahaacuteraacutestra o grande reino pelo hind marhatta id

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas afluente da margem direita do ribeiratildeo Caiapoacute (M de Pires

do Rio)

Referecircncias Houaiss (2009) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

106

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Na justeza dos nomes podemos evidenciar que ao batizar o ribeiratildeo Caiapoacute o nomeador

se valeu de fatores antropoculturais em relaccedilatildeo aos iacutendios caiapoacutes lsquokayapoacutersquo que segundo fatos

da histoacuteria estiveram em terras goianas desta forma ao se valer do uso do topocircnimo a

motivaccedilatildeo para tal ato de batismo pode ser referente a esses povos terem influecircncias de alguma

forma sobre o nomeador no ato do batismo do topocircnimo

Jaacute o topocircnimo ribeiratildeo Marataacute traz em sua bases semacircnticas como i ldquoliacutengua indo-

europeiardquo ii ldquoindiviacuteduos dos maratasrdquo segundo Houaiss et al (2009) E possivelmente a

motivaccedilatildeo do designativo foi a influecircncia de grupos europeus que tambeacutem passaram por estas

terras jaacute que o paiacutes foi colonizado por Portugal e na formaccedilatildeo da sociedade goiano e piresina

terem a presenccedila de vaacuterias etnias inclusive europeia

Desta forma eacute evidente que os etnotopocircnimos estatildeo relacionados agrave presenccedila e influecircncia

de grupos de distintas etnias no Brasil visto que a histoacuteria local e nacional revelam a presenccedila

de vaacuterios povos na formaccedilatildeo do sociedade brasileira

4224 Sociotopocircnimos

Tomando por anaacutelise os topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais

de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma dada comunidade dentre os

sociotopocircnimos numa frequecircncia de 20 (01) dos topocircnimos analisados foi encontrado o

designativo ribeiratildeo Mucambo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 16

Topocircnimo Ribeiratildeo Mucambo Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Sociotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Mocambo sm lsquoesconderijo refuacutegio dos negros (escravos) fugidorsquo

1535 mocano Do quimb mursquokamu lsquoescondrijorsquo Embora se documente em vaacuterios textos

quinhentistas relativos aos antigos domiacutenios portugueses na Aacutefrica foi no Brasil que o voc

Se difundiu intensamente desde o periacuteodo colonial em decorrecircncia do intenso conviacutevio dos

brancos com os negros escravos da africanos (p431)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

107

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

O topocircnimo tem sua origem no termo mocambo que se refere a esconderijo de escravos

fugidos (CUNHA 2010) Possivelmente assim como jaacute observado nos fatores motivacionais

de outros topocircnimos a relaccedilatildeo de grupos eacutetnicos terem passado ou habitado na regiatildeo pode ter

influenciado na nomeaccedilatildeo do designativo Na regiatildeo observada viveram escravos negros que

formaram um comunidade rural desta forma podem ter influenciado o nomeador no ato do

batismo do ribeiratildeo Mucambo

A partir do sociotopocircnimo analisado observamos em Carvalhinhos (2003 p 172) que

Os atuais estudos onomaacutesticos no Brasil vecircm justamente resgatando a histoacuteria

social contida nos nomes de uma determinada regiatildeo partindo da etimologia

para reconstruir os significados e posteriormente traccedilar um panorama

motivacional da regiatildeo em questatildeo como um resgate ideoloacutegico do

denominador e preservaccedilatildeo do fundo de memoacuteria

Desta forma ao traccedilar um panorama dos topocircnimos analisados eacute elementar que o

nomeador ao longo das nomeaccedilotildees buscou em suas bases motivacionais preservar a memoacuteria

local seja nos fatores fiacutesicos e ou sociais Para configurar tais dados no proacuteximo subtoacutepico

analisaremos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados

43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos

Analisar as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos estratos linguiacutesticos antes de mais

nada eacute perceber as influecircncias das etnias que povoaram o nosso paiacutes e regiatildeo Sabemos que no

iniacutecio do seacuteculo XVI quando os povos lusoacutefonos chegaram em terras brasileiras os iacutendios jaacute

as habitavam embora fossem os donos da terra tatildeo logo os portugueses se instalaram e se

fizeram os novos donos Mas no decorrer dos seacuteculos outros povos foram chegando e tambeacutem

se instalando no local daiacute retiramos a origem dos estratos linguiacutesticos dos topocircnimos analisados

nesta pesquisa

De acordo com Dick (1992 p 81)

108

a formaccedilatildeo etno-histoacuterica do Brasil acusa a existecircncia de estratos

populacionais diversos como os ameriacutendios distribuiacutedos em vaacuterios troncos e

famiacutelias Os portugueses os africanos e os de procedecircncia estrangeira jaacute em

eacutepoca posterior agrave colonizaccedilatildeo propriamente dita Essa origem heterogecircnea

deixou reflexos diferenciados na liacutengua nos usos e costumes nas tradiccedilotildees

regionais e consequentemente na toponiacutemia do paiacutes

Perceber essa heterogeneidade linguiacutestica na formaccedilatildeo dos topocircnimos eacute fundamental

visto que dos 15 topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO a sua maioria

eacute de origem indiacutegena isso revela que apesar do processo de colonizaccedilatildeo e imposiccedilatildeo da liacutengua

portuguesa a liacutengua dos nativos ainda prevaleceu ao menos na designaccedilatildeo toponiacutemica E no

graacutefico abaixo apresentamos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados

Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos

Analisar as origens dos topocircnimos eacute reconhecer segundo Dick (2006) que a Toponiacutemia

pode conviver com dois movimentos vivenciados de linguagem i) a nativa (linguagem

indiacutegena) e ii) a advena ou seja de iacutendole civilizatoacuteria pois ambas colaboraram para a

formaccedilatildeo dos brasileirismos e regionalismos mas natildeo apenas presentes na liacutengua Podemos

assim constatar em nossas anaacutelises que o vivenciado de acordo com a linguagem ldquonativardquo foi

a que teve maior frequecircncia neste estudo

Observamos no graacutefico IV a frequecircncia das liacutenguas que deram origem aos 15 topocircnimos

dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO e no que se segue procedemos com as

anaacutelises e logo apoacutes a estrutura morfoloacutegica

005

115

225

335

445

5

OrigemEtimologia dos Topocircnimos

109

O topocircnimo coacuterrego Laranjal eacute de origem Aacuterabe a influecircncia dessa liacutengua em nossa

regiatildeo nos eacute evidenciada no iniacutecio do seacuteculo XX com a fundaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio-

GO os aacuterabes foram um dos primeiros imigrantes que aqui chegaram bem como tiveram um

destaque na aacuterea comercial possivelmente este topocircnimo tenha relaccedilotildees com esse fato No que

tange agrave frequecircncia a liacutengua Aacuterabe (esta liacutengua influenciou imensamente o leacutexico da Liacutengua

Portuguesa) corresponde a 7 (01) dos topocircnimos analisados

Ainda contatamos outras liacutenguas como a Hebraica ndash ribeiratildeo Sampaio Preacute-romana ndash

coacuterrego Barreiro Sacircnscrito ndash ribeiratildeo Marataacute e ainda de Origem Obscura ndash ribeiratildeo Bauacute

Cada uma dessas liacutenguas correspondem agrave frequecircncia de 7 (01) dos topocircnimos analisados

provavelmente as devidas nomeaccedilotildees se devem ao fato da vinda de pessoas de outros

continentes em busca de melhores condiccedilotildees de vida e assim contribuiacuterem com a formaccedilatildeo

dos designativos dos cursos drsquoaacutegua

Os dados da toponiacutemia brasileira em relaccedilatildeo agrave origem dos topocircnimos satildeo de origem da

Liacutengua Portuguesa devido a colonizaccedilatildeo jaacute que os povos lusoacutefonos aqui chegaram e segundo

Dick (1995 p 60)

os primeiros topocircnimos funcionavam portanto como verdadeiros ldquosign-

postsrdquo ou marcas semioacuteticas de identificaccedilatildeo dos lugares usadas com a

finalidade de distinguir as caracteriacutesticas de espaccedilos semelhantes uma forma

uma silueta o perfil de uma paisagem se apresentando como recortes de uma

corografia maior a ser detalhada

Os povos lusoacutefonos nomeavam os lugares de acordo com caracteriacutesticas do lugar

Assim os topocircnimos por nograves analisados ndash coacuterrego Brumado coacuterrego da Terra Vermelha

ribeiratildeo Cachoeira e rio do Peixe ndash satildeo de origem latina liacutengua que deu origem agrave Liacutengua

Portuguesa e entre os topocircnimos estudados referem ao percentual de 29 (04 topocircnimos) dos

analisados

No processo de colonizaccedilatildeo do Brasil os portugueses necessitavam de matildeo-de-obra

mas como natildeo tiveram ecircxito com os iacutendios entatildeo foi necessaacuterio a busca de outros povos com

isso trouxeram os escravos E no processo de nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de

Pires do Rio-GO a Liacutengua Portuguesa (Aacutefrica) um percentual de 7 (01) dos topocircnimos ndash

ribeiratildeo Mucambo ndash que eacute especificado como o local esconderijo de escravos fugitivos Haacute

relatos de que na regiatildeo da zona rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tem uma localidade

que foi constituiacuteda em sua maioria populacional por escravos provavelmente pode esse

topocircnimo ter sido influenciado por tal fato

110

Em sua maioria 36 (05) dos topocircnimos analisados satildeo de origem Tupi ndash coacuterrego

Caiapoacute coacuterrego Itauacutebi ribeiratildeo Taquaral rio Corumbaacute e rio Piracanjuba ndash e segundo Bearzoti

Filho (2002 p 43) ao tratar das designaccedilotildees de origem tupi assinala que ldquoem grande parte

trata-se de topocircnimos atribuiacutedos natildeo por iacutendios mas por bandeirantes que como jaacute vimos

utilizavam a liacutengua geral como idioma de comunicaccedilatildeo ordinaacuteria em suas expediccedilotildeesrdquo

E de acordo com Sampaio (1928 p 02)

ao europeu poreacutem ou aos seus descendentes cruzados que realizaram as

conquistas dos sertotildees eacute que se deve a maior expansatildeo do tupi como liacutengua

geral dentro das raias atuais do Brasil As levas que partiam do litoral a

fazerem descobrimentos falavam no geral o tupi pelo tupi designavam os

novos descobertos os rios as montanhas os proacuteprios povoados que fundavam

e que eram outras tantas colocircnias espalhadas nos sertotildees falando tambeacutem o

tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo

Ao firmar o ato de nomeaccedilatildeo das localidades constatamos que o tupi liacutengua de origem

do maior nuacutemero de topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO

possivelmente deve-se agrave influecircncia das seguintes relaccedilotildees a internalizaccedilatildeo de nomes de origem

tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para Goiaacutes e a presenccedila de iacutendios como jaacute

mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo viveram regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da

colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)

Ainda consoante Pereira (2009 p 27) observamos que

A toponiacutemia brasileira como um todo reuacutene uma grande quantidade de nomes

de base indiacutegena na nomeaccedilatildeo de acidentes geograacuteficos que evidenciam

marcas da presenccedila de vaacuterias etnias na nomenclatura geograacutefica brasileira Um

estudo toponiacutemico numa dimensatildeo etnolinguiacutestica analisa desde a origem

dos nomes ateacute as influecircncias socioculturais da populaccedilatildeo que habita o espaccedilo

geograacutefico em estudo na forma de nomear os acidentes fiacutesicos verificando se

no momento da designaccedilatildeo de um lugar o designador apropriou-se de nomes

cuja origem procedeu de estratos linguiacutesticos de base portuguesa ou de outras

liacutenguas que influenciaram a formaccedilatildeo do leacutexico do portuguecircs brasileiro

principalmente as liacutenguas indiacutegenas e africanas

Ao analisarmos os topocircnimos dos cursos drsquoagua do municiacutepio de Pires do Rio-GO

podemos constatar que em sua maioria as liacutenguas que lhe deram origem foram as indiacutegenas e a

latina as outras que representaram um percentual menor possivelmente estatildeo ligadas agrave vinda

de outras etnias que ajudaram na formaccedilatildeo populacional do Brasil e de Goiaacutes

111

44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos

Com vistas nos paracircmetros teoacuterico-metodoloacutegicos da pesquisa seguindo o que eacute

estabelecido por Dick (1992) ao que se refere a estrutura morfoloacutegica o topocircnimo pode ser

classificado como simples composto e composto hiacutebrido que de acordo Dick (1992 p 14)

ldquotopocircnimo que em sua estrutura haacute a presenccedila de duas bases linguiacutesticas distintas por exemplo

tupi + portuguecircsrdquo mas natildeo encontrado em nossa pesquisa A partir disto tomamos o graacutefico V

para procedermos com a anaacutelise

Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos

Dos 15 sintagmas toponiacutemicos catalogados uma representaccedilatildeo de 87 (13 topocircnimos)

satildeo de estrutura simples que no processo de nomeaccedilatildeo o nomeador utilizou apenas um

formante ou seja um elemento designativo Jaacute os compostos aparecem em um percentual de

13 (02 topocircnimos) formados por mais de um formante lexical

Ao trazermos essas informaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos topocircnimos observamos que

como uso de substantivos e adjetivos o denominador acaba por trazer caracteriacutesticas do local

onde nomes comuns passam a formar nomes proacuteprios e segundo Dick (2006 p 108)

o topocircnimo integraraacute natildeo uma categoria descritiva de nomes nem um iacutendice

cromaacutetico desvinculado de outras consideraccedilotildees culturais e sim o que

chamamos na teoria de nomes transplantados deslocados ou transferidos de

seu lugar de origem para outros pontos distantes formando uma nova

sequecircncia nominal

0

2

4

6

8

10

12

14

SIMPLES COMPOSTO

Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos

112

No processo de nomeaccedilatildeo o nomeador faz uso de designativos que aleacutem de sofrer

certos deslocamentos como jaacute mencionado de nome comum para nome proacuteprio haacute tambeacutem

casos de alguns topocircnimos sofrerem alteraccedilotildees em suas estruturas morfoloacutegicas como o caso

do designativo ribeiratildeo Mucambo que em suas origens traz a grafia de mocambo

No decorrer deste estudo e anaacutelises foi possiacutevel perceber que os topocircnimos aleacutem de

servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais da sociedade a

que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e costumes da sociedade E ao final foi

notoacuterio perceber nas liacutenguas que deram origem aos topocircnimos a estreita relaccedilatildeo com o

ambiente pois de alguma forma o nomeador obteve motivaccedilatildeo tanto do espaccedilo meio ambiente

como da liacutengua propriamente dita

113

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao propormos estudar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO tomamos por base caracterizar o ato de nomear e dele reiteramos e pode ser observado em

sua totalidade a relaccedilatildeo de poder pois nomear eacute instituir E eacute por meio do batismo do topocircnimo

que ele se instaura e revela as relaccedilotildees do meio ambiente com o homem eou do homem com

meio que o circunda As consideraccedilotildees finais ora apresentadas referem-se aos estudos

toponiacutemicos relacionados apenas ao contexto local desta pesquisa mas muito ainda haacute de ser

estudado na aacuterea em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia em Goiaacutes

Os objetivos da pesquisa constituem-se basicamente em descrever e analisar os

topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO observando

noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural Assim em

sua maioria os elementos fiacutesicos sobressaiacuteram sobre os demais pois no total de 15 topocircnimos

analisados um percentual de 67 (10 topocircnimos) foram motivados pelos aspectos fiacutesicos

sendo que os de origem vegetal fitotopocircnimos e animal zootopocircnimos tiveram maior

recorrecircncia Assim concretizamos que o ambiente influenciou o nomeador no ato do batismo

estabelecendo as relaccedilotildees entre liacutengua e ambiente inclusive com os aspectos extralinguiacutesticos

A maior incidecircncia de taxionomias de natureza fiacutesica nesta pesquisa demonstra a

tendecircncia do denominador de nomear os lugares com nomes dos elementos fiacutesicos da natureza

circundante numa constataccedilatildeo de que o meio ambiente exerce grande influecircncia sobre o

homem refletindo-se tambeacutem no processo de nomeaccedilatildeo dos lugares

Jaacute no que tange agraves taxionomias de natureza antropocultural em nossas anaacutelises com um

percentual de 33 (05 topocircnimos) os etnotopocircnimos que fazem referecircncia a elementos eacutetnicos

foram os com maior frequecircncia Observamos nas taxes de natureza antropocultural que os

fatores culturais foram os motivadores para a designaccedilatildeo dos topocircnimos analisados

evidenciando as relaccedilotildees do homem com o ambiente que o cerca Para tanto foi necessaacuterio

identificar os fatores que constituem a motivaccedilatildeo que subjazem agrave escolha do nome do lugar

que foi possibilitado por meio da caracterizaccedilatildeo de fatores sociais culturais histoacutericos que nos

auxiliaram nas anaacutelises dos topocircnimos

A hipoacutetese inicial da pesquisa foi de que pelo caraacuteter motivado o signo toponiacutemico

possibilita reconhecer fatores vinculados ao que subjaz agrave escolha dos nomes de lugares e assim

nos possibilitou o levantamento de fatores soacutecio-histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave

anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua como iacutendice de estreita relaccedilatildeo entre

liacutenguaambiente e cultura E pudemos observar que os topocircnimos estabelecem relaccedilotildees da

114

liacutengua e meio ambiente no que concerne agrave anaacutelise das taxionomias de natureza fiacutesica e a

posteriori as relaccedilotildees de liacutengua e cultura que foram evidenciadas nas taxionomias de natureza

antropocultural Nas taxes analisadas foi possiacutevel detectar que o ambiente e o contexto satildeo

fundantes nas motivaccedilotildees que subjazem aos topocircnimos analisados Desta forma entende-se que

um rio um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que uma vez nomeados passam a carregar as

inuacutemeras memoacuterias do lugar

Os fatores soacutecio-histoacutericos-culturais do municiacutepio de Pires do Rio-GO foram

imprescindiacuteveis no processo de anaacutelise dos designativos dos lugares pois no caso do topocircnimo

ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo ficou evidente que o fato motivador foi a relaccedilatildeo de poder

do nome devido ao ribeiratildeo ter sua nascente em terras que eram do coronel Lino Teixeira de

Sampaio e tambeacutem por ter sido ele o doador das terras em que surgiu o referido municiacutepio

Ao levantar as perguntas de pesquisa qual a origem dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da

cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do

lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo Apoacutes ter analisado os 15

topocircnimos fica evidente que todos os nomes estatildeo registrados nas cartas topograacuteficas e satildeo

oficializados pelo IBGE mas provavelmente os nomes foram dados pela comunidade que

habitou nas localidades ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas que foram levantadas nos designativos

fazendo referecircncia ao local

Por meio da caracterizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico

onomasioloacutegico que foi o norte da pesquisa combinado com outros meacutetodos como o Woumlrter

und Sachen (palavras e coisas) numa abordagem qualiquantitativa foi evidente na relaccedilatildeo da

toponiacutemia que os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos

lugares Nesse iacutenterim nos foi possiacutevel quantificar os topocircnimos em relaccedilatildeo as taxionomias

origem e estrutura morfoloacutegica percebendo as ocorrecircncias em maior frequecircncia

A anaacutelise do ponto de vista etnolinguiacutestico demonstrou a predominacircncia de topocircnimos

originaacuterios da liacutengua indiacutegena um percentual de 36 essa recorrecircncia eacute supostamente devido

agrave internalizaccedilatildeo de nomes de origem tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para

Goiaacutes e agrave presenccedila de iacutendios como jaacute mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo

viveram na regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e

consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)

A liacutengua latina que deu origem agrave liacutengua portuguesa aparece e 29 dos topocircnimos

analisados isso devido aos povos lusoacutefonos que nomeavam os lugares com as caracteriacutesticas

que se estabeleciam com os referidos locais por eles percorridos e habitados E tambeacutem outras

liacutenguas tiveram uma menor frequecircncia como a aacuterabe hebraica preacute-romana sacircnscrito e

115

tambeacutem um topocircnimo de origem obscura fica evidente que outras etnias influenciaram na

nomeaccedilatildeo dos lugares Pode ser pelo fato de o nomeador pertencer a etnia ou ter alguma relaccedilatildeo

indireta

Quanto agrave estrutura morfoloacutegica do toacutepico de acordo com Dick (1992) dos analisados

87 satildeo de formaccedilatildeo simples tendo apenas um formante e 13 satildeo compostos com dois

formantes lexicais assim os compostos revelam mais de uma caracteriacutestica do local nomeado

e caracteriza mais de uma taxionomia

De forma peculiar esta pesquisa aleacutem de proceder com as anaacutelises de classificaccedilatildeo

origemetimologia morfoloacutegica e semacircntico-toponiacutemicas remapeou e cartografou os cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO sem mencionar no revisitar da formaccedilatildeo histoacuterica

deste municiacutepio e da contribuiccedilatildeo com os estudos toponiacutemicos no estado de Goiaacutes

Os topocircnimos aleacutem de servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas

fiacutesicas e sociais da sociedade a que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e

costumes dessa sociedade E ao perceber essas relaccedilotildees de liacutenguaambiente e cultura na

designaccedilatildeo do topocircnimo eacute que propomos para discussatildeo futura doutorado a partir da

ecolinguiacutestica e da toponiacutemia proceder com a anaacutelise da relaccedilatildeo de liacutengua e meio ambiente nos

hidrocircnimos das bacias hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes

116

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pois tambeacutem me tornei saacutebio Professora doutora eterna orientadora Kecircnia Mara de Freitas

Siqueira nenhuma palavra eacute capaz de expressar a gratidatildeo que tenho por vocecirc foram anos de

ensinamentos e agora se concretizam com mais esta fase sou e serei eternamente grato por me

apresentar a Toponiacutemia pois ela me levaraacute a mais um degrau no meio acadecircmico Obrigado

por tudo Deus lhe pague

Aos professores do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem

Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo que muito contribuiacuteram para a construccedilatildeo

desta pesquisa Fabiacuteola Aparecida Sartin Dutra Parreira Almeida Maria Helena de Paula e

Vanessa Regina Duarte Xavier A professora Vivian Regina Orsi Galdino de Souza do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio

de Mesquita Filhordquo cacircmpus Satildeo Joseacute do Rio Preto-SP obrigado pelos seus vastos ensinamentos

e por permitir que cursasse a disciplina ldquoIntroduccedilatildeo aos Estudos Lexicograacuteficosrdquo Mestres

obrigado pelos ensinamentos e momentos de descontraccedilatildeo e alegria vocecircs foram capazes de

mostrar que o universo da pesquisa tambeacutem se constitui na felicidade e prazer

ldquoTodo trabalho aacuterduo traz proveito mas o soacute falar leva agrave pobrezardquo (PROVEacuteRBIOS

1423) O trabalho dignifica o homem palavras estas do livro da vida a biacuteblia sagrada Minha

vida desde a infacircncia foi pautada no estudo e no trabalho assim todos os trabalhos que tive me

possibilitaram crescer enquanto ser humano e profissional Registro aqui os meus mais sinceros

agradecimentos aos colegas e amigos do Coleacutegio Estadual Professor Ivan Ferreira minha eterna

casa pois foi laacute que tive o prazer em estudar e depois retornar como profissional inclusive ser

gestor deste honrado estabelecimento de ensino Aos colegas e amigos do Instituto Federal

Goiano ndash Campus Urutaiacute obrigado por permitirem dividir com vocecircs este espaccedilo de

conhecimento e aprendizado

A banca examinadora deste trabalho professores Karylleila dos Santos Andrade

Vanessa Regina Duarte Xavier e Alexandre Antoacutenio Timbane registro os meus mais sinceros

agradecimentos pelas valorosas contribuiccedilotildees no Exame de Qualificaccedilatildeo e agora na defesa deste

trabalho Deus lhes pague

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de

Goiaacutes Regional Catalatildeo na pessoa da coordenadora Luciana Borges obrigado por dar

possiblidades que novos pesquisadores se formem no acircmbito dos estudos da linguagem

Enfim sozinho natildeo sou nada sempre necessitarei de outros por isso a todos os que

foram meu alicerce para a concretizaccedilatildeo de mais esta etapa em minha vida algo sonhado haacute

muito tempo receba o meu muito obrigado e Deus lhes pague

ldquoO nome eacute um certo sentido a proacutepria coisa dar

nome agraves coisas eacute conhececirc-las e apropriar-se

delas a denominaccedilatildeo eacute o ato da posse espiritualrdquo

(MIGUEL UNAMUNO)

RESUMO

Esta pesquisa centra-se nos estudos toponiacutemicos e tem como objetivo descrever e analisar a

origemetimologia morfoloacutegica e semanticamente dos topocircnimos da hidrografia da cidade de

Pires do Rio-GO para identificar as relaccedilotildees entre esses designativos de lugares e respectivos

fatores contextuais que por ventura possam conter indiacutecios da motivaccedilatildeo toponiacutemica O

levantamento dos topocircnimos foi feito por meio de documentos oficiais mapas do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Instituto Mauro Borges (IBM) numa escala de

1100000 e das cartas topograacuteficas A pesquisa eacute de base documental numa abordagem

qualiquantitativa O meacutetodo da pesquisa eacute o onomasioloacutegico e indutivo parte-se de casos

particulares para uma verdade geral combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica de

estudo das designaccedilotildees com o objetivo de analisar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito

A anaacutelise do corpus da pesquisa deu-se apoacutes o levantamento dos 46 topocircnimos dos cursos

drsquoaacutegua dentre os quais 15 satildeo analisados neste estudo Nesse sentido parte-se do princiacutepio de

que o signo toponiacutemico eacute motivado pois fatores extralinguiacutesticos influenciam o nomeador no

ato de nomear na perspectiva de que a liacutengua recorta a realidade agrave sua maneira (Sapir-Whorf)

sendo que a proacutepria liacutengua eacute um depositaacuterio de cultura assim os topocircnimos revelam fatores

soacutecio-histoacuterico-culturais do lugar que o nomeia A histoacuteria e a geografia do municiacutepio de Pires

do Rio-GO foram fundantes para as anaacutelises que nas bases onomasioloacutegicas e indutivas

evidenciam que o local e suas caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais influenciam o nomeador no ato

do batismo do topocircnimo Perceber as relaccedilotildees de nomeaccedilatildeo e nomeador satildeo fatores que por

meio das classificaccedilotildees taxionocircmicas satildeo revelados sem deixar de perceber tambeacutem que a

origem dos nomes e sua estrutura morfoloacutegica evidencia os fatores contextuais a que da liacutengua

cultura e ambiente estatildeo impregnados no topocircnimo isso tudo agrave vista de quem o designou

Palavras-Chave Toponiacutemia Liacutengua Cultura Pires do Rio Hidrografia

ABSTRACT

This research focuses on the toponymic studies and aims to describe and analyze the origin of

the names morphological and semantic of designatory toponyms of the hydrography of Pires

do Rio-GO city to identify the relations between these designative places and their respective

contextual factors which may by chance contain indications of toponymic motivation The

research of the toponyms was done by means of official documents maps of the Brazilian

Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Mauro Borges Institute (IBM) on a scale of

1 100000 and topographic maps The research is documentary based in a qualitative and

quantitative approach the research method is the onomasiological method combined with other

methods which consists of the study of designations with the purpose of studying the various

names attributed to a concept The analysis of this researchrsquos corpus took place after the survey

of the 46 toponyms of the watercourses from which 15 are analyzed in this study In this sense

it is assumed that the toponymic sign is motivated once extralinguistic factors influence the

nominator in the act of naming in the perspective that the language outlines reality in its own

way (Sapir-Whorf) and the language itself is a depository of culture thus toponyms reveal

socio-historical-cultural factors of the place that names it The history and geography of Pires

do Rio-GO city was the basis for the analyzes which on the onomasiological bases show that

the place and its physical and social characteristics influence the nominator in the moment of

the toponym baptism To perceive naming and nominator relationships are factors that are

revealed through the taxonomic classifications noticing at the same time that the origin of the

names and their morphological structure reveals the contextual factors that are impregnated in

the toponymy of the language culture environment aspects from the point of view of who

appointed it

Keywords Toponymy Language Culture Pires do Rio Hydrography

LISTA DE ABREVIATURAS

ATEGO ndash Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes

ATB ndash Atlas Toponiacutemico Brasileiro

DSG ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito

ETE ndash Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FCA ndash Ferrovia Centro Atlacircntica

GO ndash Goiaacutes

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBM ndash Instituto Mauro Borges

IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano

M ndash Municiacutepio

PEA ndash Populaccedilatildeo Economicamente Ativa

RFFSA ndash Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima

SD ndash Sem data

SE ndash Secccedilatildeo

LISTA DE FICHAS

Ficha 01 ndash Pires do Riohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip67

Ficha 02 ndash Coacuterrego Laranjal89

Ficha 03 ndash Ribeiratildeo Taquaralhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip90

Ficha 04 ndash Ribeiratildeo Cachoeirahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip91

Ficha 05 ndash Coacuterrego Barreiro93

Ficha 06 ndash Coacuterrego Terra Vermelha94

Ficha 07 ndash Coacuterrego Itauacutebi96

Ficha 08 ndash Ribeiratildeo Brumado96

Ficha 09 ndash Rio Corumbaacute98

Ficha 10 ndash Rio do Peixe98

Ficha 11 ndash Rio Piracanjuba99

Ficha 12 ndash Ribeiratildeo Sampaio101

Ficha 13 ndash Ribeiratildeo Bauacute104

Ficha 14 ndash Ribeiratildeo Caiapoacute105

Ficha 15 ndash Ribeiratildeo Marataacute105

Ficha 16 ndash Ribeiratildeo Mucambo106

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Natureza das Taxionomias87

Graacutefico 2 ndash Taxionomias de Natureza Fiacutesica88

Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural101

Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos108

Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos111

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 ndash Pires do Rio(GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio(GO)74

Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)83

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo44

Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos57

Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Recenseamento 76

Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Contagem 76

Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio(GO) 77

Quadro 6 ndash Os cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO) 78

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO20

I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO 25

11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear 25

12 Liacutengua e Cultura 33

13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes 39

14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica 43

15 Linguiacutestica Histoacuterica 47

II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS 51

21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos 51

212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica 53

22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia 57

III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO 66

31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte 66

32 Pires do Rio geograacutefico 74

33 Os cursos daacutegua 78

IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR81

41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural 84

42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos daacutegua de Pires do Rio-GO 87

421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos88

4211 Fitotopocircnimos89

4212 Hidrotopocircnimos91

4213 Litotopocircnimos93

4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos94

4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos95

4216 Meteorotopocircnimos96

4217 Zootopocircnimos97

422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos100

4221 Antropotopocircnimos101

4222 Ergotopocircnimos103

4223 Etnotopocircnimos104

4224 Sociotopocircnimos106

43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos107

44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos111

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS113

REFEREcircNCIAS 116

20

INTRODUCcedilAtildeO

Ao dar nome a seres e objetos o homem tambeacutem os categoriza jaacute que eacute o ato de nomear

que daacute existecircncia a algo ou algueacutem Eacute por meio do nome que haacute identificaccedilatildeo e principalmente

a diferenciaccedilatildeo dos seres e dos objetos No ato da nomeaccedilatildeo diversos aspectos extralinguiacutesticos

podem influenciar o nomeador isso pode caracterizar especificamente a motivaccedilatildeo que subjaz

a qualquer signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica A motivaccedilatildeo por sua vez eacute reveladora de

inuacutemeros aspectos que estatildeo na base da inter-relaccedilatildeo liacutengua cultura e ambiente pois o nome

proacuteprio de lugar como fato da liacutengua identifica e guarda uma significaccedilatildeo precisa oriunda de

aspectos fiacutesicos ou culturais Desta forma busca-se mediante o estudo dos designativos dos

cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO descrever essa relaccedilatildeo (liacutengua cultura e

ambiente) Entende-se assim que um rio um riacho um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que

uma vez nomeados passam a carregar as inuacutemeras memoacuterias do lugar

Em decorrecircncia disso abrem-se possibilidades de inter-relacionar aacutereas do saber

humano com vista a estabelecer algum viacutenculo epistemoloacutegico a fim de proporcionar novos

olhares sobre um objeto jaacute descrito e analisado por outra aacuterea do conhecimento a geografia

mas restrito a um uacutenico niacutevel de anaacutelise linguiacutestica Isso leva a considerar os aspectos da

linguagem dentro de uma visatildeo interdisciplinar que pode trazer entre tantas contribuiccedilotildees o

fato de entendecirc-los na totalidade como em uma rede de relaccedilotildees Em outras palavras oferece

a possibilidade de analisar os fatos linguiacutesticos de maneira holiacutestica uma vez que os fatores

envolvidos na interaccedilatildeo devem ser concebidos como um todo formado por componentes que se

relacionam entre si

Entrecruzar as aacutereas de geografia e da linguiacutestica eacute um trabalho que jaacute se tem feito e

alguns estudiosos como eacute o caso de Menezes e Santos (2007 apud Menezes Santos Santos

2010) tratam a toponiacutemia na geografia como geoniacutemia Para Andrade (2010 p 105-106)

Natildeo se pode pensar em toponiacutemia desvinculada de outras ciecircncias como

histoacuteria geografia antropologia cartografia psicologia e a proacutepria

linguiacutestica Deve ser pensada como um complexo linguiacutestico-cultural um fato

do sistema das liacutenguas humanas Faz parte de uma ciecircncia maior que se

subdivide em toponiacutemia e antroponiacutemia

Assim esta pesquisa eacute relevante para a aacuterea dos estudos da linguagemlinguiacutesticos como

para a geografia sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo histoacuterico-cultural sobre a cidade de

Pires do Rio-GO e levado a conhecimento puacuteblico

21

Fazer esse estudo acerca da hidrografia da cidade de Pires do Rio eacute elementar elencando

natildeo soacute estudos semacircnticos lexicais origemetimologia dos termos mas tambeacutem soacutecio-

histoacuterico-culturais de um povo Algo ainda se faz pertinente na definiccedilatildeo do problema pois foi

assim que surgiu o interesse por este estudo em conversas informais com pessoas da cidade

obtive respostas que aguccedilaram esta pesquisa pois proacuteximo de Pires do Rio-GO cerca de uns

3 km da cidade haacute um determinado ribeiratildeo o qual a comunidade local denomina de Pedro

Teixeira mas na verdade esse nome eacute dado agrave ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo e foi construiacuteda

pelo fazendeiro Sr Pedro Teixeira embora o nome que se apresenta na carta topograacutefica seja

ribeiratildeo Sampaio

Diante da problematizaccedilatildeo qual a origemetimologia dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da

cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do

lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo A partir disso centra-se o

nosso estudo em descrever e analisar a origemetimologia dos termos a morfologia e a

semacircntica investigando e verificando os topocircnimos e as relaccedilotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo

de Pires do Rio-GO

Preliminarmente trabalha-se com a seguinte hipoacutetese de pesquisa pelo seu caraacuteter

motivado o signo toponiacutemico possibilita reconhecer fatores vinculados agrave motivaccedilatildeo que subjaz

agrave escolha dos nomes de lugares o que pode possibilitar o levantamento de fatores soacutecio-

histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua

como iacutendice da estreita relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura A toponiacutemia dos cursos drsquoaacutegua de Pires

do Rio-GO incorpora caracteriacutesticas sociais linguiacutesticas e culturais da regiatildeo a que pertence

Este eacute um dos embates fundantes de nosso estudo assim espera-se com esta pesquisa

cartografar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO com base na

metodologia do ATB (Atlas Toponiacutemico Brasileiro) como sugerido por Dick (1990 2004)

Posto isso ao final responderemos agraves perguntas de pesquisa jaacute mencionadas

anteriormente e ainda contribuiremos com as pesquisas na aacuterea da Onomaacutestica que estatildeo

desenvolvendo-se em Goiaacutes Conveacutem mencionar tambeacutem que uma das contribuiccedilotildees desta

pesquisa aleacutem de revisitar a histoacuteria e a cultura de uma regiatildeo eacute a de auxiliar na construccedilatildeo do

Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes ndash ATEGO

Assim o objetivo da pesquisa constitui-se basicamente em descrever e analisar os

topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua e de outros elementos hidrograacuteficos da regiatildeo do

municiacutepio de Pires do Rio-GO observando noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de

natureza fiacutesica e de natureza antropocultural Para tanto eacute necessaacuterio evidenciar os fatores que

constituem a motivaccedilatildeo que subjaz agrave escolha do nome do lugar o que requer a identificaccedilatildeo de

22

fatos sociais culturais histoacutericos elementos geograacuteficos (quando pertinente) e outras

motivaccedilotildees de diferentes naturezas

De uma maneira peculiar os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo i) remapear os

cursos hiacutedricos mediante o elenco de seus topocircnimos para cartografar os mapas da bacia

hidrograacutefica e dos topocircnimos seguindo a metodologia do Projeto ATB ii) verificar mediante

a anaacutelise linguiacutestica dos topocircnimos a motivaccedilatildeo referente agrave cultura e agrave histoacuteria e

principalmente aos aspectos fiacutesicos dos lugares que iniciaram o processo de nomeaccedilatildeo dos rios

coacuterregos ribeirotildees e quedas drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO (evidenciando o viacutenculo

liacutengua ambiente e cultura) iii) de alguma forma contribuir para o desenvolvimento dos estudos

toponiacutemicos em Goiaacutes

A metodologia consiste de uma pesquisa de natureza documental de abordagem

qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites

e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos puacuteblicos (mapas e cartas

topograacuteficas) e o meacutetodo da pesquisa eacute o de induccedilatildeo com ecircnfase para a observaccedilatildeo do fazer

onomasioloacutegico combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica especialmente o Woumlrter

und Sachen (palavras e coisas) O meacutetodo onomasioloacutegico e indutivo se constitui do estudo das

designaccedilotildees com o objetivo de estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Usando

esse meacutetodo pode-se investigar toda ou pelo menos parte da cultura popular de um local e

priorizar aspectos sincrocircnicos ou histoacutericos se necessaacuterio for Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os

aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos lugares

Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de dissertaccedilatildeo de Mestrado sobre Os

cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio anaacutelise das motivaccedilotildees toponiacutemicas produzida no acircmbito do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem Universidade Federal de Goiaacutes ndash

Regional Catalatildeo que focaliza os topocircnimos hiacutedricos do municiacutepio de Pires do Rio

Desta maneira este trabalho se estrutura em quatro capiacutetulos organizados de forma a

abranger os resultados desta pesquisa que articula por meio da linguagem quesitos histoacutericos

geograacuteficos e culturais

Assim no capiacutetulo I O nome e a atividade de nomeaccedilatildeo satildeo apresentadas

consideraccedilotildees referentes ao nome e ao ato de nomear no sentido de reformular questotildees teoacutericas

necessaacuterias ao levantamento de dados e agrave construccedilatildeo do corpus bem como agrave descriccedilatildeo dos

topocircnimos que designam os elementos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas drsquoaacutegua) do municiacutepio

de Pires do Rio-GO Para tanto o capiacutetulo traz uma revisatildeo dos conceitos de nome (comum

proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes tanto no sistema linguiacutestico

como em relaccedilatildeo agrave cultura e estabelecendo as relaccedilotildees de liacutengua e cultura pois a liacutengua

23

transporta a cultura no tempo e recorta agrave realidade agrave sua maneira Eacute necessaacuterio aqui trazer as

discussotildees teoacutericas acerca da toponiacutemia e do signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica que

sustentam a nossa pesquisa Ainda fazemos uma retomada do surgimento e desdobramento da

Linguiacutestica Histoacuterica pois eacute a partir dela que satildeo criados os meacutetodos de pesquisa os quais

contribuem para a aacuterea de estudo

O capiacutetulo II A metodologia da pesquisa e seus desdobramentos eacute praticamente uma

extensatildeo do primeiro porque procura reavaliar alguns meacutetodos usados em pesquisa onomaacutestica

com o objetivo de coadunar teoria meacutetodo e procedimentos de pesquisa

Neste capiacutetulo eacute possiacutevel rever algumas questotildees sobre os meacutetodos da linguiacutestica o

meacutetodo onomasioloacutegico que investiga as relaccedilotildees de significado e referecircncias partindo das

designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Ainda eacute

apresentada uma siacutentese do comparativismo e do meacutetodo Woumlrter und Sachen de Hugo

Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) pois de acordo com Bassetto (2001)

pode-se verificar pontos em comum que compartilham com o meacutetodo onomasioloacutegico Ao

enfatizar questotildees de ordem semacircntica das palavras ressalta-se a realidade que elas designam

para esses autores a verdadeira etimologia da palavra estaacute no conhecimento dessa realidade

Busca-se assim instruir sobre a necessidade de conhecer se possiacutevel o objeto designado por

um nome para que o significado possa ser explicitado adequadamente

Dados histoacutericos e geograacuteficos referentes agrave capital da estrada de ferro Pires do Rio

compotildeem o terceiro capiacutetulo A capital da estrada de ferro Pires do Rio de modo a traccedilar em

linhas gerais a histoacuteria da fundaccedilatildeo do municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XX em decorrecircncia da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz e da Estaccedilatildeo Feacuterrea Pires do Rio em 09 de novembro de

1922 A importacircncia deste municiacutepio se deve agrave estrada de ferro e obviamente aos primeiros

habitantes que para caacute acorreram acreditando no desenvolvimento da antiga ldquoTeteia do

Corumbaacuterdquo

No capiacutetulo quarto A toponiacutemia e suas relaccedilotildees com o lugar apresentamos a anaacutelise

dos dados as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural e as fichas lexicograacuteficas-

toponiacutemicas dos 15 topocircnimos analisados de acordo com os estudos de Dick (1992)

juntamente com a origem das liacutenguas e estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos daiacute procedemos

agraves anaacutelises das classificaccedilotildees toponiacutemicas que estatildeo presentes nos designativos dos cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO estabelecendo as relaccedilotildees motivacionais e semacircnticas

do topocircnimo com o local nomeado

Na sequecircncia satildeo apresentadas as Consideraccedilotildees Finais que retomam os resultados

obtidos ao teacutermino da pesquisa pautados nos objetivos e perguntas que orientaram este estudo

24

E por fim seguem as Referecircncias que sustentaram a parte teoacuterica e a construccedilatildeo do corpus

coletado

25

I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO

O conhecimento dos nomes natildeo eacute negoacutecio de

importacircncia somenos

(PLATAtildeO 2001)

Este capiacutetulo tem o objetivo de tecer de forma mais geral consideraccedilotildees acerca do nome

e do ato de nomear para reformular questotildees teoacutericas necessaacuterias ao levantamento de dados

para a construccedilatildeo do corpus e descriccedilatildeo dos hidrocircnimos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas

drsquoaacutegua) do municiacutepio de Pires do Rio-GO Para tanto os itens a seguir trazem uma revisatildeo dos

conceitos de nome (comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes

tanto no sistema linguiacutestico como em relaccedilatildeo agrave cultura jaacute que representam inuacutemeros aspectos

que culminam em certos criteacuterios para a nomeaccedilatildeo ou nominaccedilatildeo revelando em certo sentido

especificidades dessa cultura que satildeo evidenciadas na nomeaccedilatildeo Ao dar um nome a um objeto

ou a um lugar natildeo se reduz apenas a indicar mas a classificar situar identificar e sobretudo

uma vez categorizado inscreve-se tambeacutem em um sistema cognitivo permeado por essa mesma

cultura

11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear

O nome eacute a parte que caracteriza a existecircncia de algo ou algueacutem sem a especificidade

do nome o objeto ou a pessoa natildeo eacute identificada Aliaacutes em muitas situaccedilotildees o nome consolida

a existecircncia do objeto que passa a ldquoexistirrdquo como tal em decorrecircncia de ter um nome ou seja

o falante pode perceber no mundo apenas aquilo que conhece pelo nome O nome estaacute presente

em todas as esferas do desenvolvimento da humanidade Eacute parte constitutiva do proacuteprio ser

humano que se reconhece e se afirma face ao nome que carrega eacute tambeacutem o nome que lhe

rompe o anonimato e lhe confere de certa forma uma identidade

Segundo Silva (2000) eacute o nome que diferencia os seres e os objetos do mundo

Identidade e diferenccedila ocorrem simultaneamente como produto de um mesmo processo o da

identificaccedilatildeo Pode-se afirmar que depois de nomeado o objeto passa a ser identificado

tambeacutem pelas diferenccedilas que possui em relaccedilatildeo agravequilo que natildeo eacute ou melhor eacute diferenciado

face aos demais elementos do mundo extralinguiacutestico conferindo-lhe existecircncia Tem um nome

porque existe tornou-se conhecido e eacute reconhecido como elemento cultural importante para a

continuidade de uma populaccedilatildeo como um dos milhares de traccedilos que a caracteriza e desta

26

forma ldquoo processo de nomeaccedilatildeo eacute uma forma pela qual a sociedade cria os seus membros agrave sua

imagemrdquo (CABRAL 2007 p 85)

E em Craacutetilo Platatildeo narra um diaacutelogo entre Demoacutestenes e Craacutetilo acerca da justeza dos

nomes debates no qual Soacutecrates aponta para ambas as possibilidades isto eacute para os socraacuteticos

tanto se pode entender os nomes como vinculados agrave coisa como podem ser vistos como

inteiramente sem elo com as coisas do mundo Platatildeo (2001 p 48) justifica que o ato de nomear

era visto como uma pressuposiccedilatildeo da existecircncia de algo assim ldquoas coisas devem ser nomeadas

como lhes pertence por natureza serem nomeadas e por meio do que devem secirc-lo e natildeo como

noacutes queremos e assim faremos e nomearemos melhor mas de outra maneira natildeordquo

A nomeaccedilatildeo eacute assim uma atividade bastante significativa para o ser humano e se

constitui de uma accedilatildeo complementar do modo como determinada populaccedilatildeo entende o meio em

que vive essa eacute a linha de pensamento tanto de Dick (1990) como de outros estudiosos como

Basso (1988) Langacker (2002) Weisgerber (1977) Wierzbicka (1997) e Worf (1971) dos

fatos da linguagem como evidencia a assertiva que segue

Apreensatildeocompreensatildeo e transmissatildeoparticipaccedilatildeo de um dado qualquer do

saber humano satildeo atuantes de uma mesma e complexa evidecircncia relacional ndash

o ato comunicativo ndash que corporifica em sua expressividade um aglomerado

de situaccedilotildees liacutenguo-soacutecio-psiacutequicas Nele estaacute manifesto ainda que de modo

impliacutecito o registro pelo qual se concretizou a ldquoassimilaccedilatildeo do

mundordquo atraveacutes do coacutedigo de linguagem vivenciado por determinada

comunidade linguiacutestica (DICK 1990 p 29)

Natildeo eacute equivocado afirmar que o nome corporifica aquilo que determinada comunidade

assimilou de seu meio circundante mediante relaccedilotildees estabelecidas entre a liacutengua que

possibilita a representaccedilatildeo daquilo que foi evidenciado e as impressotildees sociopsiacutequicas oriundas

dos objetos do mundo que se tornaram salientes aos olhos do nomeador Assim recebe um

nome tudo aquilo que de uma forma ou de outra tornou-se um item da cultura seja um acidente

fiacutesico-natural (um rio uma espeacutecie botacircnica) ou um item criado culturalmente Em todas as

sociedades conhecidas haacute referecircncia aos nomes e consequentemente agrave accedilatildeo de nomear Muitas

vezes essa atividade humana eacute revestida de mitos e rituais que conferem ao nome poderes

maacutegicos ou sobre-humanos

Nas sociedades primitivas de acordo com Cunha (2004) um nome pode valorar o

sagrado ou o ritual isso pode ocorrer quando acontece a mudanccedila de nome (candombleacute e igreja

catoacutelica) desta forma ao nomear algueacutem eacute tocar-se na personalidade da pessoa e ateacute as partes

da escrita que compotildeem o nome satildeo carregadas de simbologia e forccedilas sobrenaturais Cunha

27

(2004 p 220) ainda acrescenta que ldquonas mais diversas culturas natildeo ter nome eacute natildeo existir

nomear eacute instituirrdquo

Nesse processo de instituir dos rituais de passagem eacute possiacutevel entender que a atividade

de nomeaccedilatildeo adveacutem de fatores que propiciam uma motivaccedilatildeo que resulta na escolha de um

nome No ritual de escolha de um novo Papa (igreja catoacutelica) ou de um novo membro do

candombleacute o indiviacuteduo fica recluso por alguns dias e no momento do ritual apresenta seu

novo nome agrave comunidade fato esse que reside de alguma forma na escolha do novo nome

Desta forma o nome eacute escolhido de acordo com suas caracteriacutesticas psicofiacutesicas e tambeacutem com

as que ele deseja ter a partir do momento de escolha do novo nome

Conforme Biderman (1998) muitas satildeo as culturas que acreditam que o nome estaacute

ligado agrave essecircncia da pessoa Nas culturas arcaicas em geral os nomes atribuiacutedos agraves pessoas

tinham um significado que indicava agraves vezes a vocaccedilatildeo ou o destino do indiviacuteduo o que

corrobora a justeza dos nomes nos rituais de passagem e em outras atividades de nomeaccedilatildeo

O ato de nomear se constitui tambeacutem como algo divino Para Biderman (1998 p 85)

ldquoo gesto criador de Deus identifica-se com esta palavra ontoloacutegica essencialmente divina O

que noacutes homens somos e o que sabemos nasce dessa revelaccedilatildeo primordial da palavra criadora

do gesto divino de dizerrdquo Cunha (2004) evidencia que a palavra jaacute eacute reveladora do poder desde

a antiguidade e isso se expressa de forma clara por meio da biacuteblia sagrada que em vaacuterios textos

conclama que o poder eacute revelado por meio da palavra como percebe-se no livro de Gecircnesis

capiacutetulo I versiacuteculos 19 e 20

19 Tendo pois o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos

e todas as aves dos ceacuteus levou-os ao homem para ver como ele os havia de

chamar e todo o nome que o homem pocircs aos animais vivos esse eacute o seu nome

verdadeiro 20 O homem pocircs nomes a todos os animais a todas as aves dos

ceacuteus e a todos os animais dos campos mas natildeo se achava para ele uma ajuda

que lhe fosse adequada (BIacuteBLIA 1995 p 51)

Dessa forma o cristianismo explica a atividade humana de nomeaccedilatildeo Isso evidencia

que todos os objetos recebem um nome (comum) mediante uma accedilatildeo deliberada de escolha

individual (como em Gecircnesis) ou coletiva Esse nome recebe uma funccedilatildeo de significaccedilatildeo ou

melhor passa a significar algo no mundo sua referecircncia A nomeaccedilatildeo configura-se como um

processo operacional de conhecer e denominar coisas Conforme De Lastra e Garcia (sd apud

DICK 1990) para ser denominado o mundo externo deve antes passar a ser interno (iacutentimo)

Na relaccedilatildeo das praacuteticas de nomeaccedilatildeo segundo Loacutepez (2013) ocorrem fatores internos

e externos da seguinte forma i mudanccedilas internas quando elementos do sistema toponiacutemico

28

que designa lugares passam para o sistema antroponiacutemico que designa pessoas ii mudanccedilas

externas ou forccediladas como as que ocorreram na Europa entre os seacuteculos XVIII e XIX e

obrigaram os judeus a adotarem nomes cristatildeos e abandonarem os seus de origem hebraica

Para os judeus assim como para muitos povos perder o nome eacute o mesmo que perder a histoacuteria

a identidade e a famiacutelia Desta forma as autoridades europeias acreditavam que os judeus

deixariam (perderiam) as suas identidades e constituiriam uma nova uma identidade europeia

Conveacutem ressaltar que o referente1 nem sempre figurou entre os elementos constitutivos

do signo linguiacutestico No Curso de Linguiacutestica Geral Ferdinand Saussure (2008) define o signo

linguiacutestico como a junccedilatildeo de uma imagem acuacutestica (significante) a um (ou vaacuterios) conceitos

(significado) Saussure natildeo inclui nessa definiccedilatildeo a coisa nomeada o objeto do mundo ou em

outros termos o referente

Dito de outro modo os gestos epistemoloacutegicos de Saussure (2008) ao definirem a

liacutengua como objeto proacuteprio de estudo e tambeacutem no sentido de imprimirem cientificidade aos

estudos linguiacutesticos excluem o referente construindo assim um domiacutenio especiacutefico para a

Linguiacutestica diferente de outras aacutereas que tambeacutem se atecircm aos estudos da linguagem humana

A liacutengua para o mestre suiacuteccedilo eacute um sistema de signos que por sua vez abarca entidades

psiacutequicas constituiacutedas por duas faces significante e significado Essas duas faces do signo

linguiacutestico natildeo guardam poreacutem entre si qualquer relaccedilatildeo loacutegica nenhum viacutenculo ou melhor

a relaccedilatildeo entre significante e significado eacute marcada pelo seu caraacuteter imotivado arbitraacuterio para

usar os termos saussurianos Desta forma Kristeva (2007 p 24) afirma que ldquoa palavra

lsquoarbitraacuteriorsquo significa mais exatamente lsquoimotivadorsquo quer dizer que natildeo haacute nenhuma necessidade

natural ou real que ligue o significante e o significadordquo

O nome sempre suscitou uma questatildeo ontoloacutegica2 ou melhor uma questatildeo de

existecircncia A nomeaccedilatildeo eacute apenas uma das funccedilotildees da linguagem mas tem um papel importante

pois o significado dos nomes organiza e classifica as formas de perceber a realidade aleacutem de

estar ligado diretamente a uma cultura ou comunidade Assim para Sapir (1980) a liacutengua

recorta a realidade agrave sua maneira eacute por meio dela que se evidencia a relaccedilatildeo linguagem

pensamento e cultura Desta forma ldquoas palavras da liacutengua significam ao funcionarem no

acontecimento Este funcionamento recorta politicamente o realrdquo (GUIMARAtildeES 2005 p 82)

Nessa perspectiva eacute possiacutevel dizer que a nomeaccedilatildeo ganha relevo quando o assunto eacute a relaccedilatildeo

linguagem e realidade

1 Em um sistema triaacutedico significante significado e o referente 2 Ontoloacutegico ldquoAdj 1 relativo a Ontologia 2 que trata do ser humano na sua essecircncia na sua globalidaderdquo Verbete

inscrito em (BORBA 2004 p 992)

29

Guiraud (1986) chama atenccedilatildeo para a forccedila criadora da linguagem que resulta em uma

funccedilatildeo semacircntica dinacircmica e volaacutetil orientada principalmente por fatores especiacuteficos de uma

dada cultura Assim

[] a motivaccedilatildeo eacute uma forccedila criadora inerente agrave linguagem social que eacute um

organismo vivo de origem empiacuterica somente depois que a palavra eacute criada e

motivada (naturalmente ou intralinguisticamente) eacute que as exigecircncias da

funccedilatildeo semacircntica acarretam um obscurecimento dessa motivaccedilatildeo etimoloacutegica

que pode aliaacutes ao se apagar trazer uma alteraccedilatildeo de sentido (GUIRAUD

1986 p 31)

Motivaccedilatildeo esta que com o decorrer do tempo pode vir a se tornar obscura pelo

distanciamento temporal do fato que lhe deu origem Pode inclusive o nome sofrer inuacutemeras

alteraccedilotildees de sentido sem nenhum viacutenculo semacircntico com o significado original nem com o

fenocircmeno de sua ocorrecircncia primeira No entanto eacute forccediloso ressaltar mais uma vez que o ato

de nomear eacute motivado conforme Guiraud (1986) a nomeaccedilatildeo eacute inerente agrave linguagem e decorre

da relaccedilatildeo entre homem e ambiente ao reconhecer os objetos do mundo extralinguiacutestico

No que tange agrave motivaccedilatildeo Biderman (1998) reafirma a noccedilatildeo de que o nome natildeo eacute

arbitraacuterio ele tem um viacutenculo de essecircncia com a coisa ou o objeto que designa Assim o homem

primitivo acredita que seu nome tem parte vital com o seu ser Nas histoacuterias que nos satildeo

relatadas dos povos primitivos em relaccedilatildeo aos nomes podemos observar que para alguns

quando se sabia o nome da pessoa o inimigo poderia fazer magia negra com ele Essas relaccedilotildees

culturais com os nomes satildeo recorrentes em vaacuterios paiacuteses e histoacuterias da antiguidade claacutessica

De acordo com Frazer (1951) em vaacuterias tribos primitivas o nome era considerado como

uma realidade e natildeo uma convenccedilatildeo artificial podendo servir de intermeacutedio para fazer atuar a

magia sobre a pessoa como se fosse parte do indiviacuteduo como cabelo unha ou qualquer outra

parte fiacutesica Essas crendices ou mitos acerca do nome se estendem por vaacuterias partes do mundo

como para os iacutendios da Ameacuterica do Norte o nome eacute como uma parte de seu corpo e o mau

tratamento (uso) dele pode trazer ferimento fiacutesico Assim o nome natildeo deve ser pronunciado

podendo no ato de sua pronunciaccedilatildeomaterializaccedilatildeo revelar as propriedades reais da pessoa que

o usa e assim tornaacute-la vulneraacutevel perante os seus inimigos

Nas narrativas das sociedades relatadas por Frazer (1951) o homem do povo esquimoacute

recebe um novo nome ao chegar agrave velhice na Aacutefrica as pessoas podem ateacute receber uma duacutezia

de nomes no decorrer de sua vida e em alguns casos no iniacutecio de sua vida recebem dois nomes

um nome de preto usado em casa e junto agrave famiacutelia e outro nome de branco usado na escola e

na sociedade os egiacutepcios tambeacutem recebiam dois nomes um nome pequeno que era bom e

30

usado em famiacutelia e um nome grande que era mau e dissimulado julgamos esse uacuteltimo ser

usado na sociedade

Segundo Frazer (1951) para os Celtas o nome era sinocircnimo da alma e da respiraccedilatildeo

Entre os Yuiacutens (sul da Austraacutelia) e outros povos o pai revela o nome ao filho no momento da

iniciaccedilatildeo e poucas pessoas o conhecem Tambeacutem na Austraacutelia as pessoas deixam de usar o

nome e passam a chamar um ao outro de primo tio sobrinho ou irmatildeo Nessas relaccedilotildees as

historietas dos nomes vatildeo estar sempre entrelaccediladas aos fatores culturais das comunidades

Em muitas culturas Frazer (1951) relata que a natildeo pronunciaccedilatildeo de nomes era tabu

como em Cafres onde as mulheres natildeo podiam pronunciar o nome de seus maridos ou sogros

nem qualquer palavra que se assemelhasse aos nomes Tambeacutem natildeo era permitido pronunciar

nomes de animais plantas reis deuses personagens sagrados considerados perigosos pois isso

seria como invocar o proacuteprio perigo

Frazer (1951) revela uma histoacuteria ocorrida no Egito com o deus Raacute que tinha vaacuterios

nomes mas o seu verdadeiro nome que lhe dava poder sobre os outros deuses natildeo era conhecido

e ao ser enfeiticcedilado pela invejosa deusa Iacutesis ndash picado por uma serpente ndash cujo veneno soacute seria

retirado de seu corpo no momento em que ele revelasse o seu verdadeiro nome Raacute lamenta-se

ldquoEu sou aquele que tem muitos nomes e muitas formas O meu pai e minha matildee disseram-me

o meu nome estaacute escondido no meu corpo desde o meu nascimento para que natildeo se possa dar

nenhum poder maacutegico a algueacutem que me queira lanccedilar uma maldiccedilatildeordquo (FRAZER 1951 apud

KRISTEVA 2007 p 64) O veneno tomou conta do corpo de Raacute e jaacute natildeo conseguia andar Iacutesis

continuou a atormentar o deus e o veneno foi penetrando profundamente e queimava seu corpo

Entatildeo Raacute consentiu que Isis buscasse o seu verdadeiro nome no iacutentimo do seu ser assim ela

fez arrebatou-lhe o verdadeiro nome e ordenou que o veneno que o queimava caiacutesse por terra

e libertasse o deus pois o que ela queria jaacute havia conseguido Acreditava-se assim que quem

conhecesse o verdadeiro nome de um deus (algueacutem) possuiria a sua essecircncia o seu verdadeiro

ser e ateacute o seu poder

Segundo Loacutepez (2013) os nomes variam conforme o momento e o local em que satildeo

escolhidos a pessoa que os escolhe e as normas para o uso Podem indicar gecircnero filiaccedilatildeo

origem geograacutefica religiatildeo e etnia Haacute tambeacutem inuacutemeras crenccedilas de que existe uma relaccedilatildeo

entre a pessoa seu nome e o significado deste inclusive muitos nomes satildeo uacutenicos

Segundo Cunha (2004 p 226) ldquoO nome proacuteprio topocircnimo ou antropocircnimo participa

da literariedade do texto podendo consequentemente enriquecer-se de valores semacircnticos

denotativos e conotativos da mesma forma que as outras palavras que o estruturamrdquo jaacute que

31

quando nomeamos atribuiacutemos simultaneamente um predicado um complemento ao nome uma

caracteriacutestica um adjetivo

Em Guimaratildees (2005) o ato de dar nome eacute tambeacutem um ato de identificar um indiviacuteduo

bioloacutegico como tal para o Estado e para a sociedade e tornaacute-lo sujeito De acordo com esse

ponto de vista ganha interesse o funcionamento determinativo da construccedilatildeo do nome proacuteprio

da pessoa no qual segundo Guimaratildees (2005 p 52) ldquohaacute uma relaccedilatildeo particular entre a

nomeaccedilatildeo e o objeto nomeado que se apresenta por uma materialidade histoacuterica e natildeo fiacutesicardquo

A nomeaccedilatildeo eacute por causa da predicaccedilatildeo um ato que diferencia sendo tambeacutem um ato

que identifica De acordo com Lima (2007 p 51)

o acto (sic) de nomear eacute um dos primeiros momentos de inserccedilatildeo da pessoa

numa categoria social de geacutenero Mas ainda mostra-nos que neste contexto

social nomear eacute uma das formas mais importantes de construir geacutenero e

pessoa dentro da famiacutelia

A inserccedilatildeo da pessoa na sociedade por meio de seu nome eacute uma relaccedilatildeo hierarquizada

construiacuteda agrave luz de valores tanto sociais como familiares Como jaacute sabemos o nome eacute uma

forma de identidade de revelar o que o outro natildeo eacute assim nomear eacute um aspecto crucial da

conversatildeo de qualquer um em algueacutem de acordo com Geertz (1973)

Na conversatildeo mencionada Parkin (1989) justifica que nomear pode ser uma forma de

atribuir direitos3 que daacute autoridade tanto ao nomeado quanto ao nomeador ou uma forma de

objetivaccedilatildeo por meio da escolha de um nome em particular que estabeleccedila controle sobre o

nomeado Nessas situaccedilotildees pode ocorrer que as pessoas antecipem essas consequecircncias

escolhendo ou controlando a atribuiccedilatildeo do seu proacuteprio nome ou em alguns casos como

acontece de o nome possuir uma carga negativa perante a sociedade e a pessoa recorre ao poder

judiciaacuterio para requerer a troca de seu nome

Enfim nomear eacute se apropriar do real eacute nessa perspectiva de nomear e apoderar fato

este que se daacute por meio da linguagem e de acordo com isso Kristeva (2007 p 17) pontua que

Se a linguagem eacute mateacuteria do pensamento eacute tambeacutem o proacuteprio elemento da

comunicaccedilatildeo social Natildeo haacute sociedade sem linguagem tal como natildeo haacute

sociedade sem comunicaccedilatildeo Tudo o que se produz como linguagem tem lugar

na troca social para ser comunicado

3 Livre traduccedilatildeo para Entitling

32

Eacute nessa troca social que acontece por meio da linguagem a nomeaccedilatildeo Assim eacute

necessaacuterio destacar que os nomes proacuteprios de lugares ndash topocircnimos ndash passam a estabelecer

relaccedilotildees materializadas por meio do uso da linguagem Sabe-se que o nome designado eacute

construiacutedo simbolicamente isso porque a linguagem que o constroacutei funciona por estar exposta

ao real e constituiacuteda materialmente pela histoacuteria local a qual motiva o leacutexico topocircnimo e eacute

nesse momento que ele nasce e se institui naquele lugar

De acordo com Biderman (1998) eacute por meio da palavra que as entidades da realidade

passam a ser conhecidas nomeadas e identificadas Essa realidade cria o seu acircmbito

significativo que nos eacute revelado pela linguagem que tambeacutem eacute a responsaacutevel por elencar os

fatores soacutecio-histoacuterico-cultural que permeiam a realidade Aqui no nosso caso esses fatores

satildeo trazidos por meio do leacutexico topocircnimo mais especificamente no ato de nomear um

designativo de lugar

Conforme Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares seja

em homenagem a algueacutem como eacute o caso da cidade de Pires do Rio que recebeu o nome o

patroniacutemico4 do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas (1919-1922) do governo de Epitaacutecio

Pessoa Dr Joseacute Pires do Rio Haacute lugares que recebem o nome em razatildeo de caracteriacutesticas

geograacuteficas Alguns nomes satildeo opacos conceito de Piel (1979) em contraposiccedilatildeo aos

transparentes pois natildeo apresentam relaccedilatildeo alguma com o referente nesse caso haacute de se fazer

uma busca histoacuterica para chegar agrave relaccedilatildeo motivacional

O homem tem a capacidade de associar palavras a conceitos E no ato de nomear

acontece a motivaccedilatildeo que estaacute ligada aos fatores cognitivos Assim o leacutexico que a ele eacute

determinado por meio do uso da linguagem se transporta no tempo sendo capaz de revelar os

fatores culturais e motivacionais que estatildeo nesse nomeleacutexico toponiacutemico (BIDERMAN 1998)

O nome comum no ato de nomeaccedilatildeo de um lugar impregna-se de significaccedilotildees vaacuterias

sejam de fatores histoacutericos culturais sociais econocircmicos Segundo Guimaratildees (2005 p 83)

ldquoo modo de significar os espaccedilos da cidade mostra que eles satildeo espaccedilos poliacuteticos O espaccedilo que

se daacute como objeto por uma descriccedilatildeo (referecircncias) atende a objetividade do discurso

administrativo que nomeia oficialmente os espaccedilos da cidaderdquo Assim o nome cifra a narrativa

histoacuterica local perpassando por fatores ou designativos memoraacuteveis

Essa atividade de nomeaccedilatildeo ou praacutetica de nomeaccedilatildeo eacute especificamente da espeacutecie

humana e resulta do processo de categorizaccedilatildeo inerente ao ser humano De acordo com

Biderman (1998 p 89)

4 De acordo com Cabral (2007) patroniacutemico eacute sobrenome

33

O processo de categorizaccedilatildeo subjaz agrave semacircntica de uma liacutengua natural Os

criteacuterios de classificaccedilatildeo usados para classificar os objetos satildeo muito

diferenciados e variados Agraves vezes o criteacuterio eacute o uso que o homem faz de um

dado objeto agraves vezes eacute um determinado aspecto do objeto que fundamenta a

classificaccedilatildeo agraves vezes eacute um determinado aspecto emocional que um objeto

pode provocar em quem o vecirc e assim por diante

Entatildeo o processo de categorizaccedilatildeo que por via das vezes pode se tornar um legislador

ndash nomeador Essas discussotildees acerca das histoacuterias do ato de nomear revelam formas de

organizaccedilatildeo social e mudanccedilas linguiacutesticas poliacuteticas e culturais Eacute pois por meio do nome que

as pessoas ou lugares permanecem vivos na memoacuteria coletiva de sua linhagem

E nesse processo de nomeaccedilatildeo categorizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo nos estudos na aacuterea da

Onomaacutestica mais precisamente na subaacuterea dos Estudos Toponiacutemicos ndash temaacutetica de nossa

pesquisa ndash natildeo tem como desvencilhar a liacutengua e cultura Assim para Sapir-Whorf a liacutengua

retrata o mundo e a realidade social agrave sua volta expressos por categorias lexicais como os

topocircnimos

12 Liacutengua e Cultura

A liacutengua no contexto soacutecio-histoacuterico-cultural nada mais eacute que o resultado de um

processo histoacuterico um produto revelador da cultura de uma dada comunidade (CAcircMARA JR

1955) Nessas bases inter-relacionar liacutengua e cultura eacute justificar que estatildeo intrinsecamente

interligadas pois a liacutengua revela a visatildeo de mundo e eacute tambeacutem a manifestaccedilatildeo de uma cultura

cultura esta que lhe daacute suporte a liacutengua tambeacutem eacute suporte da cultura

Em seus estudos Paula (2007) menciona que a liacutengua eacute um metassistema ela ldquonatildeo eacute soacute

objeto ela eacute nas relaccedilotildees sociais mais diversamente possiacuteveis tambeacutem instrumento de

investigaccedilatildeo distinto que ajuda a entender os outros sistemas sociaisrdquo (PAULA 2007 p 90)

Nesse contexto eacute possiacutevel evidenciar que por meio da liacutengua satildeo reeditadas e reconfiguradas

as praacuteticas culturais de uma dada comunidade

Posto isso conveacutem rever alguns conceitos que remetem agrave face social da liacutengua seu

caraacuteter eminentemente social mais condizente com o recorte epistemoloacutegico feito por Saussure

(2008 p 17)

Mas o que eacute a liacutengua Para noacutes ela natildeo se confunde com a linguagem eacute

somente uma parte determinada essencial dela indubitavelmente Eacute ao

mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto

34

de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo corpo social para permitir o

exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos Tomada em seu todo a linguagem

eacute multiforme e heteroacuteclita o cavaleiro de diferentes domiacutenios ao mesmo

tempo fiacutesica fisioloacutegica e psiacutequica ela pertence aleacutem disso ao domiacutenio

individual e ao domiacutenio social natildeo se deixa classificar em nenhuma categoria

de fatos humanos pois natildeo se sabe como inferir sua unidade

De acordo com Fiorin (2013 p 17) ldquoA liacutengua natildeo eacute um sistema de mostraccedilatildeo de

objetos porque permite falar do que estaacute presente e do que estaacute ausente do que existe e do que

natildeo existe porque possibilita ateacute criar novas realidades mundos natildeo existentesrdquo A liacutengua eacute um

produto social e por meio dela se criam e recriam realidades podendo entatildeo se justificar as

praacuteticas culturais por meio de atos linguiacutesticos

Com esse movimento epistemoloacutegico ou melhor ao eleger a liacutengua e natildeo a linguagem

nem a fala como objeto de estudo da Linguiacutestica Saussure possibilitou a instituiccedilatildeo da ciecircncia

linguiacutestica e consequentemente seus inuacutemeros desdobramentos posteriores

Sapir (1980) ressalta a estreita ligaccedilatildeo entre liacutengua e cultura jaacute que para o autor

Toda liacutengua tem uma sede O povo que a fala pertence a uma raccedila (ou a certo

nuacutemero de raccedilas) isto eacute a um grupo de homens que se destaca de outros

grupos por caracteres fiacutesicos Por outro lado a liacutengua natildeo existe isolada de

uma cultura isto eacute de um conjunto socialmente herdado por praacuteticas e crenccedilas

que determinam a trama das nossas vidas (SAPIR 1980 p 165)

Nesta perspectiva reafirmando que liacutengua se difere de linguagem mas se entrecruza

com ela ou dela faz parte como uma das inuacutemeras formas de linguagem e ainda considerando-

a um dos fatores de identidade de um povo e que natildeo existe isolada da cultura eacute que se torna

objeto de estudos o que envolve fatores soacutecio-histoacuterico-culturais das comunidades

O autor desta forma ainda nos revela que ldquotoda liacutengua estaacute de tal modo construiacuteda

que diante de tudo que um falante deseje comunicar por mais original ou bizarra que seja a sua

ideia ou a sua fantasia a liacutengua estaacute em condiccedilotildees de satisfazecirc-lorsquo (SAPIR 1969 p 33) Eacute

nessas condiccedilotildees de satisfazer ao falante ou agrave comunidade que ele pertence que a liacutengua se

justifica como um meio de interaccedilatildeo social e revelador da cultura jaacute que ela se configura no

tempo e eacute capaz de transmitir de geraccedilotildees a geraccedilotildees atraveacutes de atos linguiacutesticos as

manifestaccedilotildees culturais Conveacutem ressaltar que

Tudo que ateacute aqui verificamos ser verdade a respeito das liacutenguas indica que

se trata da obra mais notaacutevel colossal que o espiacuterito humano jamais

desenvolveu nada menos do que uma forma completa de expressatildeo para toda

a experiecircncia comunicaacutevel Essa forma pode ser variada de inuacutemeras maneiras

pelo indiviacuteduo sem perder com isso os seus contornos distintivos e estaacute

35

constantemente remodelando-se como sucede com toda arte A liacutengua eacute a arte

mais ampla e maciccedila que se nos depara cuacutemulo anocircnimo do trabalho

inconsciente das geraccedilotildees (SAPIR 1980 p 172)

De acordo com Cacircmara Jr (1955) a liacutengua eacute uma parte da cultura mas ela pode ser

estudada na sua relaccedilatildeo com a cultura ou sem considerar essa inter-relaccedilatildeo Segundo o autor

com essa perspectiva o linguista se destaca do antropoacutelogo Porque os estudos linguiacutesticos

podem prescindir do exame da inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura ou melhor pode-se estudar a

liacutengua em sua imanecircncia ou a relaccedilatildeo da linguagem com outras aacutereas do conhecimento humano

A liacutengua aleacutem de inter-relacionar a cultura nada sociedade atua para que a proacutepria

cultura seja conhecida e levada agrave geraccedilotildees futuras seja por meio de festas religiosas cantigas

e outros fatores que a divulguem Jaacute que na mesma base teoacuterica a liacutengua se justifica como um

fato de cultura assim como qualquer outro e neste iacutenterim integra-se agrave cultura

Cacircmara Jr (1955) reconhece que a liacutengua funciona na sociedade para a comunicaccedilatildeo e

interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e tambeacutem que ela se torna o resultado de uma cultura global pois a

liacutengua depende de toda cultura jaacute que a expressa a todo o momento

assim a liacutengua em face do resto da cultura eacute ndash o resultado dessa cultura ou

sua suacutemula eacute o meio para ela operar eacute a condiccedilatildeo para ela subsistir E mais

ainda soacute existe funcionalmente para tanto englobar a cultura comunicaacute-la e

transmiti-la (CAcircMARA JR 1955 p 54)

Considerada a inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura pode-se ressaltar mais uma vez que a

cultura se manifesta linguisticamente sejam elas integrantes de manifestaccedilotildees da cultura

popular ou da erudita

De modo geral a cultura eacute pensada numa visatildeo polarizante como sendo

cultura popular ou cultura erudita Conveacutem dizer poreacutem que ambas satildeo

formas e conteuacutedos diferentes de expressatildeo de uma dada realidade social e

histoacuterica Entatildeo natildeo devem ser vistas como opostas ou excludentes mas como

maneiras especiacuteficas de ver sentir e expressar a realidade conforme se situam

seus atores na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo do poder (PAULA 2007 p 75)

Neste processo Sapir (1969) menciona que o leacutexico eacute o niacutevel linguiacutestico em que mais

intimamente se interligam liacutengua e cultura Zavaglia (2012) por sua vez reconhece que o leacutexico

estaacute vinculado agrave cultura de um povo de uma naccedilatildeo agrave sua histoacuteria

Para Zavaglia (2012) o leacutexico estaacute relacionado com a memoacuteria humana e se configura

no ato de nomeaccedilatildeo diante do processo em que houve a necessidade de o homem por meio de

36

palavras nomear tudo que o circundava e assim categorizar o que estava a seu redor Pautados

na autora observamos a grandeza do leacutexico pois

Eacute o leacutexico em forma de palavras e por meio da linguagem que ldquocontardquo a

histoacuteria milenar de povo para povo eacute o leacutexico que transmite os elementos

culturais de um conjunto de indiviacuteduos eacute o leacutexico que ldquoeducardquo ou ldquodeseducardquo

eacute o leacutexico que permite a manifestaccedilatildeo dos sentimentos humanos de suas

afeiccedilotildees ou desagrados via oral ou via escrita Eacute o leacutexico que registra o

desencadear das accedilotildees de uma sociedade suas mudanccedilas seu progresso ou

regresso Condivido com Biderman quando diz que o leacutexico eacute o tesouro

vocabular de forma codificada da memoacuteria do indiviacuteduo restando ali estocado

ateacute que seja ativado quando necessaacuterio para que o homem possa expressar ou

se comunicar Eacute ainda por meio do leacutexico que conceitos condutas e costumes

satildeo transmitidos de geraccedilotildees a geraccedilotildees e herdados por elas ldquoEacute o leacutexico que

fisionomiza a culturardquo (ZAVAGLIA 2012 p 233)

O leacutexico eacute o fio condutor da cultura jaacute que a transporta para geraccedilotildees futuras eacute por meio

dele que se registra a histoacuteria e a vida de uma sociedade Para Sapir (1969) a cultura estaacute

nitidamente no leacutexico da liacutengua e este pode ser considerado como todo o conjunto de ideias

interesses e ocupaccedilotildees que abrangem a atenccedilatildeo da comunidade Neste contexto

O estudo cuidadoso de um dado leacutexico conduz a inferecircncias sobre o ambiente

fiacutesico e social daqueles que o empregam e ainda mais que o aspecto

relativamente transparente ou natildeo-transparente do proacuteprio leacutexico nos permite

deduzir o grau de familiaridade que se tem adquirido com os vaacuterios elementos

do ambiente (SAPIR 1969 p 49)

Eacute possiacutevel ressaltar que o leacutexico da liacutengua conteacutem um recorte da realidade feito agrave sua

maneira que revela visotildees de mundo Os elementos culturais que matizam datildeo o colorido de

significaccedilatildeo ao leacutexico mostram de diferentes maneiras as relaccedilotildees que ambas liacutengua e cultura

tecircm com o ambiente seja fiacutesico ou social pois toda complexidade dessa inter-relaccedilatildeo pode ser

anunciada e enunciada no uso da linguagem

Vale entatildeo ressaltar

Que o leacutexico assim reflita em alto grau a complexidade da cultura eacute

praticamente um fato de evidecircncia imediata pois o leacutexico ou seja o assunto

de uma liacutengua destina-se em qualquer eacutepoca a funcionar como um conjunto

de siacutembolos referentes ao quadro cultural do grupo Se por complexidade de

uma liacutengua se entende a seacuterie de interesses impliacutecitos em seu leacutexico natildeo eacute

preciso dizer que haacute uma correlaccedilatildeo constante entre a complexidade

linguiacutestica e cultural (SAPIR 1969 p 51)

37

O conjunto de signos da liacutengua ultrapassa as fronteiras do tempo trazendo para a

atualidade siacutembolos tambeacutem culturais que satildeo revelados por meio de praacuteticas culturais que se

interseccionam com as praacuteticas linguiacutesticas Assim

Natildeo soacute as palavras da liacutengua passam a servir de siacutembolos culturais dispersos

como sucede nas liacutenguas em qualquer periacuteodo de desenvolvimento mas se

pode supor que as proacuteprias categorias e processos gramaticais simbolizariam

tipos correspondentes de pensamento e atividade de significaccedilatildeo cultural Ateacute

certo ponto pode se conceber portanto a cultura e a liacutengua em constante

estado de interaccedilatildeo e em associaccedilatildeo definida por um largo lapso de tempo

Mas tal estado de correlaccedilatildeo natildeo pode continuar indefinidamente (SAPIR

1969 p 60)

Segundo Sapir (1969) a linguagem possui o papel de produzir e organizar o mundo

mediante o processo de simbolizaccedilatildeo Contudo a realidade eacute mostrada por meio da linguagem

o que significa dizer que natildeo haacute mundos iguais visto que natildeo haacute liacutenguas iguais De acordo com

estas observaccedilotildees cabe ressaltar o relativismo linguiacutestico ldquoHipoacutetese de Sapir-Whorfrdquo a

linguagem determina a forma de ver o mundo e consequentemente de se relacionar com esse

mundo

O relativismo linguiacutestico pode ser entendido como a relaccedilatildeo linguagem e pensamento

mediada pela cultura desta forma linguagem pensamento e cultura estatildeo conectados Sapir-

Whorf observam que a realidade social eacute produto linguiacutestico tratando assim as relaccedilotildees de

linguagemcultura e linguagempensamento a cultura pode ser considerada como

conhecimento adquirido socialmente por meio das praacuteticas linguiacutesticas

De maneira geral diz-se que a cultura eacute o conhecimento que as pessoas detecircm acerca de

uma comunidade seja em seus acircmbitos popular ou cientiacutefico os quais ultrapassam o tempo

por meio da liacutengua jaacute que ldquoA cultura eacute o conjunto do que o homem criou na base das suas

faculdades humanas abrange o mundo humano em contraste com o mundo fiacutesico e o mundo

bioloacutegicordquo (CAcircMARA JR 1955 p 51)

Em outras palavras

Cultura eacute o conjunto de praacuteticas sociais situadas historicamente que se

referem a uma sociedade e que a fazem diferente de outra Baseia-se na

construccedilatildeo social de sentidos a accedilotildees crenccedilas haacutebitos objetos que passam a

simbolizar aspectos da vivecircncia humana em coletividade (PAULA 2007 p

74)

A diversidade tambeacutem se reflete na cultura pois de acordo com Bosi

38

[] natildeo existe uma cultura brasileira homogecircnea matriz de nossos

comportamentos e dos nossos discursos Ao contraacuterio a admissatildeo do seu

caraacuteter plural eacute um passo decisivo para compreendecirc-la como um ldquoefeito de

sentidordquo resultado de um processo de muacuteltiplas interaccedilotildees e oposiccedilotildees no

tempo e no espaccedilo (BOSI 1987 p 7)

Neste sentido a cultura se constroacutei a partir das vivecircncias e significados que lhe satildeo

atribuiacutedos pela proacutepria sociedade em suas praacuteticas sociais e constituindo-se tambeacutem em

diferenccedila Para Bosi (1987 p 11) o fundamento da cultura popular ldquoeacute o retorno de situaccedilotildees e

atos que a memoacuteria grupal reforccedila atribuindo-lhes valorrdquo Isso satildeo as marcas identitaacuterias da

comunidade que satildeo deixadas e vivenciadas (ou vivificadas) tempos depois A cultura popular

eacute revelada por meio de praacuteticas culturais e linguiacutesticas que levam a puacuteblico as relaccedilotildees soacutecio-

histoacuterica-culturais de determinadas comunidades

A cultura se constroacutei com base nos valores atribuiacutedos pelos sujeitos agraves relaccedilotildees

cotidianas e nas relaccedilotildees de poder Organiza-se como popular eou erudita Nesse sentido natildeo

existe cultura melhor nem pior cada uma eacute expressa pelo seu grupo social pois cada indiviacuteduo

tem uma forma de ver o mundo modos de vestir de comer os meios para se curar os remeacutedios

os modos de plantar de cultivar e colher os modos de nomear e categorizar os elementos da

natureza e outros tantos mais Desta forma ldquoconforme as pessoas entendem que participam de

uma cultura esforccedilam-se para agir dentro do que julgam ser pertinente a elardquo (PAULA 2007

p 75)

Cultura liacutengua e identidade natildeo satildeo algo fixo pronto e acabado estando sempre em

constituiccedilatildeo uma vez que satildeo produzidas por seres sociais que se encontram em processo de

interaccedilatildeo aprendizado conhecimento e estatildeo inseridos em contextos sociais que passam por

transformaccedilotildees O leacutexico eacute o meio pelo qual a cultura e a identidade se constroem e se

disseminam

Na visatildeo de Paula (2007 p 89) a memoacuteria eacute o depositaacuterio tanto da cultura como da

liacutengua visto que

O modo como se estrutura poliacutetica e economicamente uma sociedade diz

muito de suas estruturas culturais estas por sua vez soacute se fazem possiacuteveis

graccedilas agrave elaboraccedilatildeo cotidiana do arcabouccedilo de memoacuteria coletiva ao modo

como eacute concebida e ao estatuto que lhe eacute dado Expressando estas inter-

relaccedilotildees servindo a elas no cotidiano da comunicaccedilatildeo humana e carregando

em seu funcionamento muito do modo como a sociedade se faz e se refaz estaacute

a liacutengua

39

Os processos culturais que satildeo construiacutedos por meio de atos linguiacutesticos satildeo uma forma

identitaacuteria de dada comunidade que eacute expressa por relaccedilotildees sociais como forma de conduzir e

expressar-se perante as demais comunidades sejam elas internacionais nacionais ou regionais

sabemos que a cultura eacute a miscigenaccedilatildeo de outras culturas

13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes

Embora faccedila parte do cotidiano das pessoas portanto estreitamente ligado agrave cultura natildeo

haacute muita discussatildeo referente ao nome proacuteprio e aos motivos de algueacutem ou um lugar ter o nome

que tem Entretanto conforme Carvalhinhos (2002) jaacute no seacuteculo II aC com o gramaacutetico

Dioniacutesio Traacutecia o estudo sobre o nome jaacute tinha sido pensado e formulado Esses estudos

propiciaram por sua vez o surgimento da Onomaacutestica a ciecircncia que se ocupa dos estudos da

origem e alteraccedilotildees (na forma e no significado) dos nomes proacuteprios A Onomaacutestica eacute um ramo

das ciecircncias linguiacutesticas que pode-se efetuar em duas vertentes a toponiacutemia (estudo do

topocircnimo ou nome de lugar) e a antroponiacutemia (estudo do nome pessoal)

Conforme Dubois (2004) e Houaiss (2004) a Onomaacutestica eacute um ramo da lexicologia e

seu meacutetodo de trabalho deve-se desenvolver em linha documental mediante a observaccedilatildeo de

dados oficiais como mapas listas de nomes ou outros documentos de valor historiograacutefico e

lexicograacutefico Isso possibilita a junccedilatildeo da histoacuteria da nomenclatura com momentos histoacutericos e

sociais mais amplos

No entanto mesmo pertencendo agrave ciecircncia da linguagem a Onomaacutestica se estabelece por

meio do suporte de outras aacutereas do conhecimento como a Antropologia a Etnografia a

Botacircnica a Geografia e a Histoacuteria Neste sentido natildeo eacute equivocado salientar que a Onomaacutestica

eacute um campo de amplo caraacuteter interdisciplinar

Assim a Onomaacutestica ou Onomasiologia eacute o ramo da ciecircncia linguiacutestica que tem o nome

proacuteprio como objeto de estudo e se constroacutei em relaccedilatildeo a outros campos do saber Contudo ao

relacionar o seu conhecimento aos de outras aacutereas ela natildeo os confunde nem os nega

De acordo com Ramos e Bastos (2010) a Onomaacutestica assume uma perspectiva

integralizadora de meacutetodos e demanda um consideraacutevel nuacutemero de conhecimentos de campos

diversos de maneira direta ou indireta e vertical ou horizontal destacando-se a linguiacutestica com

valoraccedilatildeo da pesquisa etimoloacutegica

Conforme dito a Onomaacutestica para efeito de estudo pode ser dividida em dois eixos a

Antroponiacutemia e a Toponiacutemia Estas por sua vez podem apresentar subdivisotildees dependendo

de algumas consideraccedilotildees acerca das caracteriacutesticas que cada uma agrave sua maneira apresenta

40

A Toponiacutemia conforme Piel (1979) de acordo com o objeto de denominaccedilatildeo pode

denominar-se tambeacutem como astroniacutemia hidroniacutemia litoniacutemia odoniacutemia oroniacutemia para citar

apenas alguns termos que correspondem a objetos que constituem ou satildeo constituiacutedos por

formaccedilotildees aquosas astros formaccedilotildees peacutetreas serras vias ou caminhos

Jaacute a Antroponiacutemia volta sua atenccedilatildeo para o estudo dos nomes de batismo dos

sobrenomes patroniacutemicos (ou matroniacutemicos) e ainda das alcunhas dos apelidos e de nomes

diminutivos A Antroponiacutemia agrave semelhanccedila da Toponiacutemia natildeo se constitui de forma

homogecircnea jaacute que haacute uma seacuterie de tradiccedilotildees conforme os povos ou culturas que desenvolveram

esses sistemas antroponiacutemicos Por outro lado eacute consenso afirmar que os nomes pessoais satildeo

um aspecto comum ou universal nas liacutenguas porque as pessoas recebem um nome em algum

momento de suas vidas em todas as sociedades conhecidas do mundo

De acordo com Dick (1992) as intenccedilotildees e as motivaccedilotildees que subjazem agrave escolha dos

nomes em cada sociedade variam bastante Os estudos dos sistemas onomaacutesticos vecircm confirmar

isso porque os nomes existem e satildeo controlados pelas necessidades e praacuteticas sociais as quais

podem variar de acordo com a visatildeo de mundo de um determinado povo

Posto isso conveacutem conceber a Onomaacutestica como uma disciplina que deve focar como

objeto de estudo os sistemas de denominaccedilatildeo que justifiquem os processos de atribuiccedilatildeo de

nomes de uma maneira geral

Em Soliacutes (1997) os nomes satildeo o resultado de algo que os provoca isto eacute o sistema

denominativo elaborado pelas culturas para atribuir nomes agraves coisas apreendidas por sua

atividade cognitiva

Devido ao fato de a Onomaacutestica estender-se a um amplo campo de estudo ou seja que

se volta tanto para o estudo dos nomes proacuteprios de pessoas como agraves designaccedilotildees dos lugares eacute

imperioso delimitar para este estudo apenas o sistema onomaacutestico voltado para os nomes de

lugar isto eacute para a toponiacutemia caracterizando como objeto de estudo os nomes dos cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio

A despeito de incorrer em lugar comum conveacutem rever os constituintes da palavra

toponiacutemia cujo significado etimoloacutegico pode ser assim expresso do grego topos (lugar) e

onoma (nome) A Toponiacutemia se ocupa dos locativos (tambeacutem componentes do leacutexico da liacutengua)

com o fito de estudar a origem as significaccedilotildees e as transformaccedilotildees por que passam ou

passaram esses nomes A Toponiacutemia se dedica ao estudo natildeo apenas dos nomes de comunidades

humanas (cidades povoados vilas) como tambeacutem elementos geograacuteficos a exemplo os cursos

drsquoaacuteguas

41

Os estudos toponiacutemicos propiciam a percepccedilatildeo da relaccedilatildeo entre povo liacutengua e territoacuterio

considerando que esse territoacuterio pode ser fiacutesico eou imaginaacuterio jaacute que as entidades do mundo

que precisam ser nomeadas podem ser pessoas entidades geograacuteficas que fazem parte do

ambiente em que vive determinado povo e que sobretudo tenham importacircncia para esse povo

pois se natildeo tem importacircncia natildeo haacute em contrapartida necessidade de ser nomeado Conveacutem

no entanto ressaltar que nem todas as nomeaccedilotildees ocorrem pela necessidade espontacircnea de

identificaccedilatildeo uma vez que muitas delas refletem a imposiccedilatildeo de forccedilas ideoloacutegicas poliacuteticas e

sociais

Neste sentido surge a necessidade de reconhecer os objetos geograacuteficos da natureza

tais como rios mares lagoas ilhas continentes serras e outros mas haacute outros que precisam

ser denominados tambeacutem principalmente os objetos da cultura aqueles criados pelo homem

dentre os quais podem ser citados os povoados represas moradias (habitaccedilatildeo) ruas

circunscriccedilotildees poliacutetico-territoriais que se situam em algum lugar do universo fiacutesico

Natildeo se pode omitir aqueles lugares cujo universo foi criado pela cultura imaterial o

mundo natildeo fiacutesico Sejam do universo real ou imaginaacuterio as entidades geograacuteficas satildeo os

referentes dos topocircnimos que por sua vez integram a visatildeo de mundo de um povo Isso

constitui uma dificuldade em especificar que referentes existem no mundo fiacutesico ou cultural

em parte porque para isso eacute necessaacuterio considerar uma cultura determinada Em resposta a isso

haacute o reconhecimento da visatildeo de mundo que eacute peculiar a cada cultura

Muitos povos concebem o universo real como um mundo que tem seu correlato miacutetico

com outros mundos e fazem assim surgir universos de nomes toponiacutemicos de variada riqueza

toponomaacutestica porque tecircm lugares para nomear no espaccedilo fictiacutecio criado nesse mundo Assim

aleacutem de serem componentes linguiacutesticos como tal os nomes que compotildeem um sistema de

denominaccedilatildeo satildeo ainda criaccedilotildees socioculturais

Entatildeo cabe agrave Toponiacutemia estudar tanto os nomes de lugares (os topocircnimos) como

componentes de uma liacutengua que satildeo como tambeacutem o sistema de denominaccedilatildeo organizado pelas

sociedades para nomear os objetos fiacutesicos ou imaginaacuterios da sua cultura Devido agraves diferentes

visotildees de mundo tecircm-se diferentes formas de nomear essas entidades Aleacutem da visatildeo de mundo

em sociedades como a brasileira podem contribuir para a formaccedilatildeo de um sistema de nomeaccedilatildeo

os movimentos sociais como forccedila impulsionadora de mudanccedila social Em relaccedilatildeo agrave realidade

brasileira podem-se mencionar as poliacuteticas que vecircm acontecendo durante os mais de 500 anos

de histoacuteria brasileira que tambeacutem resultou em inuacutemeras formaccedilotildees e mudanccedilas de designaccedilatildeo

toponiacutemica no Brasil

42

Cabe reiterar que a toponiacutemia refere-se a nomes de lugares habitados ou natildeo Daiacute uma

definiccedilatildeo apropriada para o termo ldquotopocircnimordquo eacute um nome de qualquer ponto localizaacutevel no

espaccedilo terrestre que tenha recebido denominaccedilatildeo Definiccedilatildeo essa que pode ser estendida para o

nome de qualquer ponto localizaacutevel no mundo real ou em mundos imaginados pelas culturas

em outras palavras daqueles universos que existem por meio da atividade ideacional dos

homens

Assim eacute por meio da relaccedilatildeo povo-territoacuterio que os nomes de lugar satildeo estabelecidos

Inicialmente pela posse do territoacuterio uma vez que segundo Couto (2007) o territoacuterio eacute uma

das primeiras referecircncias para que um agrupamento de pessoas possa receber o status de

comunidade e todo territoacuterio entendido como tal tem de ter um nome um topocircnimo Desta

forma recortam-se os aspectos do meio ambiente mais salientes aos olhos do povo como uma

espeacutecie de acordo que permite a vivecircncia e a convivecircncia em sociedade no territoacuterio apossado

Eacute possiacutevel afirmar que a nomeaccedilatildeo dos lugares surgiu com a proacutepria humanidade Os

registros antigos da histoacuteria da civilizaccedilatildeo ratificam essa accedilatildeo do homem sobre o lugar que

habita ou jaacute habitou satildeo fatores que sugerem uma espeacutecie de posse ou de domiacutenio sobre o lugar

por meio da significaccedilatildeo da organizaccedilatildeo e da orientaccedilatildeo pelo espaccedilo ocupado ou apenas

conhecido Em contrapartida o ato de nomeaccedilatildeo se manifesta como a accedilatildeo do meio fiacutesico e

sociocultural sobre o homem

Eacute nesta perspectiva que se podem considerar os estudos toponiacutemicos em seu acircmbito

interdisciplinar porque congregam vaacuterias aacutereas do conhecimento humano Os nomes de um

lugar satildeo enfocados conforme a observaccedilatildeo dos aspectos fiacutesicos socioculturais mentais e

histoacutericos interligados ou em separados

Assim natildeo eacute equiacutevoco conceber a Toponiacutemia como objeto de estudo da Antropologia

da Geografia da Histoacuteria ou ainda da Psicologia Social para citar apenas algumas disciplinas

Eacute possiacutevel segundo Dick (1992) realizar anaacutelises do fenocircmeno toponiacutemico em

consonacircncia teoacuterica com qualquer uma dessas aacutereas mas para a autora nenhuma delas tomada

isoladamente ou com exclusivismo alcanccedilaria a plenitude do fenocircmeno toponiacutemico Em termos

linguiacutesticos a Toponiacutemia recorre aos conhecimentos da Semacircntica da Lexicologia da

Etnolinguiacutestica da Dialetologia e da Linguiacutestica Histoacuterica

Mais recentemente uma linha de anaacutelise que tem oferecido contribuiccedilotildees importantes

aos estudos dos nomes de lugares eacute a Linguiacutestica Cognitiva Suas pesquisas vecircm enfatizando

natildeo soacute os modelos cognitivos mas tambeacutem os processos de categorizaccedilatildeo principalmente os

processos de analogia e contiguidade proacuteprios da metaacutefora e da metoniacutemia Entendecirc-los eacute

43

essencial para compreender os sistemas de nomeaccedilatildeo como resultados da experiecircncia e da

cogniccedilatildeo humana com o corpo em relevo

Esta perspectiva de anaacutelise coaduna estudos que procuram reconhecer processos

cognitivos expressos na accedilatildeo de denominar a realidade e para tanto fundamentam-se no corpo

Eacute uma forma de nomear os lugares fiacutesicos ou culturais mediante a percepccedilatildeo do denominador

na interaccedilatildeo com meio ambiente fiacutesico e cultural

14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica

Para realizar qualquer estudo onomaacutestico eacute necessaacuterio inicialmente buscar na teoria

linguiacutestica os recursos para se explicar como uma forma linguiacutestica se amaacutelgama a um lugar

configurando uma relaccedilatildeo entre esse lugar suas caracteriacutesticas e o signo linguiacutestico que passa

a designaacute-lo Em outras palavras eacute necessaacuterio buscar conceitos que estejam em consonacircncia

com os preceitos5 onomaacutestico-toponiacutemicos

Eacute por meio da liacutengua que se daacute a interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e a mesma constitui-se de

signos linguiacutesticos Em outras palavras o mundo humano a realidade extralinguiacutestica e a

cultura constituem-se de signos Calcados nas ideias de Charles Sanders Pierce (2005) tem-se

o conceito geral de que o signo eacute ldquoalgo que estaacute por algo para algueacutemrdquo Conveacutem salientar que

ldquoestar porrdquo eacute uma noccedilatildeo bastante ampla pois pode significar uma seacuterie de coisas como

representar caracterizar fazer agraves vezes de indicar entre outros Para Pierce (2005 p 46)

um signo ou representamem eacute algo que sob certo aspecto ou de algum modo

representa alguma coisa para algueacutem Dirige-se a algueacutem isto eacute cria na mente

dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido

Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo

representa alguma coisa seu objeto Representa esse objeto natildeo em todos os

aspectos mas com referecircncia a um tipo de ideia que eu por vezes denominei

fundamento do representamem (Grifos do autor)

Assim seguindo a concepccedilatildeo de Pierce (2005) sobre signo pode-se formular que eacute a

representaccedilatildeo de alguma coisa para algueacutem estaacute no lugar da coisa que ele representa e natildeo eacute a

coisa em si Tem ainda a condiccedilatildeo de perturbar a mente do interpretante i eacute daquele que vecirc

lecirc ou ouve o signo na tentativa de atribuir-lhe um significado Dessa forma eacute possiacutevel verificar

uma relaccedilatildeo de interdependecircncia entre pelo menos trecircs extremos i) a face perceptiacutevel do

5 No capiacutetulo 2 satildeo apresentados os meacutetodos usados na pesquisa

44

signo o representamem ou significante ii) o que ele representa o objeto ou referente e iii) o

que ele significa interpretante ou significado

Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo

Fonte Adaptado a partir do original de Ogden-Richards (1972)

Para Pierce (2005) os signos satildeo elementos tricotocircmicos6 e apresentam trecircs divisotildees

amplas (i) iacutecone (ii) iacutendice e (iii) siacutembolo A despeito de serem conceitos mais pertinentes a

um estudo semioacutetico em grande parte a motivaccedilatildeo que subjaz ao designativo de lugar imprime

caraacuteter icocircnico indicial ou simboacutelico ao nome do lugar o que acarreta uma dada categorizaccedilatildeo

Para Pierce (2005) (i) iacutecones satildeo os signos que apresentam as caracteriacutesticas

especiacuteficas proacuteprias por analogia formam-se pela primeira impressatildeopercepccedilatildeo que o

inteacuterprete tem sobre as coisas do mundo real Eacute um signo que guarda semelhanccedilas entre o

significante e o significado Em outras palavras um iacutecone eacute uma representaccedilatildeo - auditiva visual

ou de outra espeacutecie ndash de alguma coisa Uma fotografia uma pintura as imagens diagramas satildeo

exemplos de iacutecones por evidenciar semelhanccedila com o objeto representado A semelhanccedila tem

de ser estabelecida de forma quase que consciente por quem observa No entanto a semelhanccedila

com o objeto representado pode ser extraordinaacuteria como quando se observam as imagens sacras

ou iacutecones menores aqueles que aparecem na tela do computador ou pode ser mais abstrata

como a que acontece com as placas de sinais em geral

Em relaccedilatildeo aos (ii) iacutendices Pierce (2005) estabelece que satildeo signos que estatildeo numa

relaccedilatildeo direta entre o representamem e o objeto Um iacutendice (ou signo indexical) tem a funccedilatildeo

de indicar o que estaacute nas suas proximidades Nos iacutendices a forma e o significado estatildeo

interligados satildeo contiacuteguos ou seja caracteriza-se pela relaccedilatildeo de contiguidade ou associaccedilatildeo

com aquilo que representa Aquilo que atrai a atenccedilatildeo em um objeto eacute seu iacutendice Apresentam

6 O que difere das caracteriacutesticas dicotocircmicas do signo linguiacutestico para Saussure

Conceito

(Significado)

Palavra Referente

(significante) (elementos da realidade)

45

traccedilos de decirciticos jaacute que os interlocutores podem recuperar o referente por meio de lembranccedilas

de detalhes do objeto

Encontram-se muito difundidos nos sistemas de comunicaccedilatildeo (verbal ou natildeo) Satildeo

amplamente empregados na linguagem miacutemica e gestual no coacutedigo de tracircnsito Os decirciticos satildeo

signos indiciais imprescindiacuteveis pois referem demonstrativamente indicam a pessoa do

discurso o lugar a proximidade7 de espaccedilo e tempo entre outros (iii) Jaacute os siacutembolos satildeo signos

que se referem ao objeto em funccedilatildeo de uma convenccedilatildeo de uma lei ou de associaccedilatildeo geral de

ideias ou melhor por natildeo haver uma relaccedilatildeo de semelhanccedila e nem contiguidade entre o

significante e o significado ela eacute estabelecida por convenccedilatildeo de forma intencional e aprendida

nas relaccedilotildees sociais Os siacutembolos satildeo considerados os signos genuiacutenos estatildeo reservados aos

seres humanos porque as necessidades comunicativas exigem muito mais que indicaccedilotildees

indexicais ou imitaccedilotildees icocircnicas O sistema mais elaborado de signos simboacutelicos certamente

eacute o das liacutenguas naturais na modalidade falada e na escrita tambeacutem sendo que a palavra eacute o

siacutembolo por excelecircncia

Por se constituiacuterem de duas coisas que se encontram em prolongamento uma da outra

i eacute contiacuteguas os signos indexicais podem se substituir mutuamente Tambeacutem os signos

icocircnicos podem tomar o lugar do objeto real Jaacute os simboacutelicos satildeo superiores por permitirem

aos seres humanos ultrapassar os limites de contiguidade e semelhanccedila porque estabelecem uma

relaccedilatildeo simboacutelica entre determinada forma e determinado significado Todas essas relaccedilotildees ndash

icocircnica indexical e simboacutelica ndash estatildeo na base dos sistemas de linguagem

Os signos linguiacutesticos se vinculam agrave noccedilatildeo de siacutembolo uma vez que a relaccedilatildeo com o

objeto referido eacute construiacuteda arbitrariamente em uma espeacutecie de acordo entre os membros de

uma comunidade de fala Para Saussure (2008) o signo linguiacutestico eacute o resultado da associaccedilatildeo

convencional entre o significante e o significado acertada entre os falantes Eacute convencional

porque natildeo haacute nenhum viacutenculo sugestivo entre os dois elementos Essa eacute a noccedilatildeo de

arbitrariedade descrita por Saussure (2008) em relaccedilatildeo aos viacutenculos entre significante e

significado Por outro lado haacute de se considerar situaccedilotildees em que os signos linguiacutesticos

apresentam motivaccedilotildees que podem ser de natureza foneacutetica morfoloacutegica ou semacircntica

Quanto agrave estrutura um topocircnimo pode ser um nome simples ou composto e segue

evidentemente as mesmas regras de formaccedilatildeo de palavras da liacutengua portuguesa Um nome em

funccedilatildeo toponiacutemica pode tambeacutem ser constituiacutedo por frases e oraccedilotildees seguem assim a sintaxe

da liacutengua em que se insere

7 O ldquoeurdquo a pessoa com quem se fala o ldquoeste aquirdquo ldquoesse aiacuterdquo ldquoaquele alirdquo ldquoneste tempordquo ldquonaquele tempordquo

46

Segundo Dick (1992) o signo topocircnimo vincula-se por diversos fatores ao elemento

geograacutefico do qual eacute o referente estabelecendo com ele um conjunto que por sua vez pode ser

separado em partes menores para se distinguirem os seus elementos formadores

Morfologicamente dois elementos baacutesicos podem ser depreendidos dessa relaccedilatildeo um o termo

ou elemento geneacuterico que se relaciona agrave entidade geograacutefica que recebe a denominaccedilatildeo e o

outro o elemento ou termo especiacutefico o topocircnimo propriamente dito que carrega em si mesmo

a noccedilatildeo espacial que identificaraacute e singularizaraacute a entidade denominada das outras semelhantes

Esses elementos ou termos se justapotildeem no sintagma toponiacutemico (Coacuterrego do Ouro) ou se

aglutinam (Rialma) conforme a estrutura da liacutengua em questatildeo

Para Dick (1992) em relaccedilatildeo agrave morfologia os topocircnimos podem apresentar trecircs

diferentes formas (i) topocircnimo ou elemento especiacutefico simples eacute aquele determinado por um

soacute formante que pode apresentar-se acompanhado tambeacutem de sufixaccedilatildeo diminutiva

aumentativa ou de outras origens linguiacutesticas

Eacute comum na formaccedilatildeo de muitos topocircnimos brasileiros a junccedilatildeo de um designativo agraves

terminaccedilotildees -lacircndia em -poacutelis e ndashburgo (normalmente segundo elemento da formaccedilatildeo) Essa

formaccedilatildeo embora apresente dois formantes (de liacutenguas diferentes) satildeo considerados nomes

simples e natildeo compostos pode-se no entanto dizer que em algumas designaccedilotildees satildeo tambeacutem

hiacutebridos jaacute que provecircm de liacutenguas diferentes a saber Maurilacircndia (Maurilo do latim Maurilius

lsquomorenorsquo + lacircndia elemento de origem inglesa) Buritinoacutepolis (Buriti(no) elemento tupi + polis

elemento grego) mas em Friburgo8 natildeo haacute hibridismo

Segundo Siqueira (2012) pode-se ainda indicar a terminaccedilatildeo -(a) nia variaccedilatildeo do sufixo

nominal do latino -anus -ana que se documentam em nomes e modificadores com as noccedilotildees

de proveniecircncia origem entre outras em lembranccedila dos primeiros habitantes da regiatildeo Em

Goiaacutes eacute expressiva a quantidade de topocircnimos que se formaram jungidos a esse elemento

Caiapocircnia Cromiacutenia Goiacircnia Joviacircnia Luziacircnia Silvacircnia (ii) topocircnimo composto ou

elemento especiacutefico composto aquele formado por mais de um elemento de origens diversas

entre si do ponto de vista do conteuacutedo (iii) topocircnimo (composto) hiacutebrido ou elemento

especiacutefico hiacutebrido formado por elementos linguiacutesticos de diferentes procedecircncias

Sobre o caraacuteter imotivado dos signos linguiacutesticos cabe salientar conforme Saussure

(2008) que o viacutenculo que une o significante ao significado eacute arbitraacuterio natildeo haacute relaccedilatildeo loacutegica

ente as duas faces do signo A associaccedilatildeo entre ambos (significante e significado) eacute de natureza

8 Cidades da Alemanha e da Suiacuteccedila no Brasil conforme Machado (2003) haacute uma ldquoFriburgordquo no Amazonas e no

Rio de Janeiro ldquoNova Friburgordquo este sim um hiacutebrido em Minas Gerais haacute tambeacutem o hiacutebrido ldquoCordisburgordquo

cordis do latim lsquocoraccedilatildeorsquo + burgo do alematildeo lsquocidadersquo

47

convencional natildeo natural Assim todo estudo toponiacutemico tem no caraacuteter motivado do signo

toponiacutemico seu ponto de partida ou seja os estudos sobre os topocircnimos se baseiam na

motivaccedilatildeo que subjaz para analisar todas as relaccedilotildees circunscritas a ela

15 Linguiacutestica Histoacuterica

Consideradas como realidades histoacutericas e sociais as liacutenguas satildeo dinacircmicas estatildeo em

contiacutenua transformaccedilatildeo o que leva a afirmar que a liacutengua de hoje natildeo eacute a mesma de ontem

nem se manteraacute idecircntica amanhatilde Posto isso pode-se verificar que o conhecimento mais amplo

da estrutura do leacutexico da semacircntica e ateacute da ortografia pode requerer um estudo linguiacutestico

com perspectivas histoacutericas No acircmbito da linguiacutestica geral destaca-se a Linguiacutestica Histoacuterica

aacuterea cujo interesse recai sobre o que como e por que muda nas liacutenguas no decorrer do tempo

Os estudos acerca da linguagem foram primeiramente postulados pelos filoacutesofos

anteriores ao seacuteculo XIX como Platatildeo e Aristoacuteteles9 que se ativeram ao estudo da linguagem

mediante a anaacutelise da relaccedilatildeo entre som e sentido ignorando qualquer tipo de variaccedilatildeo

linguiacutestica Jaacute a opccedilatildeo filoloacutegica representada principalmente pelos gramaacuteticos alexandrinos

natildeo ignorava a variaccedilatildeo linguiacutestica mas a colocava como desvio configurando-se

possivelmente como a primeira perspectiva normativaprescritiva na histoacuteria dos estudos da

linguagem (MAURER JR 1967)

Por sua vez a linguiacutestica histoacuterica conforme Maurer Jr (1967) estabeleceu relaccedilotildees

culturais entre os povos tornando-se um precioso auxiacutelio para a Histoacuteria e a Antropologia A

linguiacutestica histoacuterica natildeo revela apenas as relaccedilotildees entre duas ou mais liacutenguas mas consegue

tambeacutem evidenciar com facilidade o que eacute herdado de um berccedilo linguiacutestico comum e o que eacute

oriundo de empreacutestimo de outra liacutengua

Consoante estudos recorrentes a linguiacutestica histoacuterica teve seu surgimento no final do

seacuteculo XVIII momento em que se comeccedilava a dar um cunho cientiacutefico agrave mudanccedila linguiacutestica

Natildeo se pode afirmar entretanto que natildeo houvesse uma preocupaccedilatildeo com a linguagem antes

desse periacuteodo haja vista que a criaccedilatildeo da biblioteca de Alexandria por exemplo demonstra

certo interesse pelo assunto pois indica que ao fazer a compilaccedilatildeo das obras antigas da literatura

grega Homero apresentava certa preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura e do passado de

uma eacutepoca

9 Para Aristoacuteteles a linguagem eacute definidora das relaccedilotildees humanas

48

No entanto foi no seacuteculo XVI com a Renascenccedila que houve um acentuado interesse

dos estudiosos pela histoacuteria cultural particularmente pela filologia momento da origem da

histoacuteria literaacuteria No Ocidente renascia o interesse pelo passado que remetia agrave antiguidade

greco-latina

A linguiacutestica histoacuterica consiste segundo Faraco (2006 p 13) em ldquoestudar as mudanccedilas

que ocorrem nas liacutenguas humanas agrave medida que o tempo passardquo A mudanccedila eacute definida como

processo pelo qual a liacutengua viva natildeo fica estagnada mas evolui acompanhando o

desenvolvimento da sociedade que a utiliza como instrumento de comunicaccedilatildeo pois ldquoonde haacute

mudanccedila deve haver histoacuteria do contraacuterio nosso conhecimento do fato permanece incompletordquo

(MAURER JR 1967 p 20)

Nesse contexto estabelece-se o que eacute mais natural a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade

porque uma acaba interferindo na mudanccedila da outra visto que

[] as liacutenguas humanas natildeo constituem realidades estaacuteticas ao contraacuterio sua

configuraccedilatildeo estrutural se altera continuamente no tempo E eacute essa dinacircmica

que constitui o objeto de estudo da linguiacutestica histoacuterica [] as liacutenguas mudam

mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos

necessaacuterios para a circulaccedilatildeo dos significados (FARACO 2006 p 14)

As mudanccedilas natildeo satildeo apenas de ordem lexicais por certo as estruturas gramaticais o

modo de produzir os sons e o significado das palavras se alteram com o tempo bem como novas

palavras surgem para expressar objetos e coisas que satildeo criados Eacute possiacutevel observar ainda que

palavras caem em desuso provocando consequentemente alteraccedilotildees no leacutexico de dada liacutengua

jaacute que

Os estudos de Linguiacutestica Histoacuterica comprovam que as liacutenguas humanas se

transformam no fluxo do tempo ou seja palavras e estruturas que existiam

antes deixam de existir ou sofrem modificaccedilotildees na forma na funccedilatildeo eou no

significado Apesar das transformaccedilotildees sofridas as liacutenguas mudam mas

continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos necessaacuterios

que garantem uma comunicaccedilatildeo eficaz pois as mudanccedilas ocorrem em partes

e natildeo no todo das liacutenguas num processo de mutaccedilatildeo e permanecircncia

(SIQUEIRA AGUIAR 2011 p 385 grifos das autoras)

A linguiacutestica histoacuterica pode ser estudada em duas fases a de 1800 e a poacutes 1900 No

seacuteculo XIX surgiram meacutetodos de abordagem para se estudar as liacutenguas suas combinaccedilotildees

identidade (gecircnese) diferenccedilas (mudanccedilas) Segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 18) ldquoa tradiccedilatildeo

oitocentista portanto recorta descreve e explica os fenocircmenos da linguagem do ponto de vista

do binocircmio gecircnese-evoluccedilatildeordquo

49

O poacutes 1900 partiu da observaccedilatildeo da diacronia e sincronia Com o advento do

estruturalismo de Ferdinand Saussure (2008) no seacuteculo XX a linguiacutestica moderna trouxe como

proposta que o objeto da linguiacutestica ndash a liacutengua ndash pudesse ser estudado separadamente do efeito

tempo (PAIXAtildeO DE SOUSA 2006) Como divisor desse momento na segunda metade poacutes

1900 o objeto da linguiacutestica eacute de ordem bioloacutegica ndash a diacronia estaacute imanente agrave liacutengua pois

de acordo com esta corrente linguiacutestica eacute na liacutengua que reside a heterogeneidade a mudanccedila e

a variaccedilatildeo

Segundo Faraco (2006 p 91) as liacutenguas estatildeo inseridas em um processo de fluxo

temporal de mutabilidade ldquoaparecimentosrdquo e ldquodesaparecimentosrdquo ldquoconservaccedilatildeordquo e

ldquoinovaccedilatildeordquo As liacutenguas tecircm histoacuteria revelam e constituem a todo tempo a realidade e as

transformaccedilotildees ocorridas comno tempo Em relaccedilatildeo a isso

Humboldt convencia-se de que toda liacutengua reflete a psique do povo que a fala

Eacute o resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal

de fala Ele acha por outro lado que a liacutengua de um povo eacute o canal natural

pelo qual aquele povo chega a uma compreensatildeo do universo que circunda o

homem E conclui que existe uma profunda influecircncia de uma liacutengua na

maneira pela qual seus falantes veem e organizam o mundo dos objetos em

torno deles e de sua vida espiritual (CAMARA JR 1975 p 38-39)

A liacutengua eacute um ldquoinstrumentordquo social e estaacute carregada de significaccedilatildeo e considerados

espaccedilo e tempo eacute capaz de revelar o mundo a outros mundos Faraco (2006) faz ainda referecircncia

ao estudo do leacutexico ao reafirmar que a composiccedilatildeo deste pode ser estudada historicamente na

sua origem bem como os empreacutestimos que satildeo feitos de outras liacutenguas Necessaacuterio se faz

reconhecer que o leacutexico eacute uma unidade carregada da histoacuteria cultural de dada comunidade

linguiacutestica natildeo esquecendo conforme Faraco (2006 p 42) que ldquoeacute um dos pontos em que mais

claramente se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e culturardquo

Com o advento estruturalista de Saussure (2008) haacute uma mudanccedila de perspectiva a

visatildeo diacrocircnica dos fatos linguiacutesticos daacute lugar ao enfoque sincrocircnico dos fenocircmenos da

linguagem Eacute preciso observar que consoante a diretriz saussuriana a anaacutelise sincrocircnica

precede a diacrocircnica sendo possiacutevel fazer comparaccedilatildeo entre elas no momento em que tiver a

descriccedilatildeo de pelo menos dois estados da liacutengua Daiacute reforccedilar-se o objetivo do estudo em

descrever sincronicamente um dado especiacutefico da histoacuteria da liacutengua Faraco (2006 p 120)

afirma que ldquoo estudioso se fixa num momento do passado e tomando-o estaticamente

descreve-o com base nos documentos escritos de que se dispotildee criando assim condiccedilotildees para

um posterior estudo diacrocircnicordquo

50

A par disso conveacutem mencionar que nos seacuteculos XVII e XVIII estudos linguiacutesticos

hegemocircnicos observavam a liacutengua como uma realidade estaacutevel diferentemente do pensamento

linguiacutestico do seacuteculo XIX que considerava a liacutengua como uma realidade em transformaccedilatildeo

Desta forma Saussure (2008) estabeleceu duas dimensotildees uma histoacuterica (chamada diacrocircnica)

que tem como centro de suas atenccedilotildees as mudanccedilas porque passa a liacutengua no tempo ou seja a

mutabilidade da liacutengua no tempo a outra eacute estaacutetica (chamada sincrocircnica) que entende a liacutengua

como um sistema estaacutevel num espaccedilo de tempo aparentemente fixo isto eacute a sua imutabilidade

Mas

Diante dos termos sincroniadiacronia natildeo basta apenas entender por alto a

que se referem Eacute preciso antes perceber que essa divisatildeo pressupotildee tambeacutem

na sua origem uma concepccedilatildeo homogeneizante da liacutengua que ndash apesar de sua

indiscutiacutevel funcionalidade e fertilidade para a linguiacutestica contemporacircnea ndash eacute

para muitos estudiosos uma idealizaccedilatildeo excessiva por criar um objeto de

estudo demasiadamente afastado da heterogeneidade linguiacutestica do real

(FARACO 2006 p 106 grifos do autor)

Segundo Faraco (2006) Coseriu em seu livro Sincronia diacronia e histoacuteria de 1973

posiciona-se de forma contraacuteria agrave formulaccedilatildeo de Saussure (2008) (visatildeo estaacutetica de sistema)

pois para ele a liacutengua deve ser vista em permanente sistematizaccedilatildeo em movimento Coseriu

rejeita a ideia de que a descriccedilatildeo (sincronia) e a histoacuteria (diacronia) sejam estudos diferenciados

mas assume a visatildeo de que as liacutenguas satildeo objetos histoacutericos e devem ser estudadas de forma

integrada envolvendo descriccedilatildeo e histoacuteria

Para Rocha Galvatildeo e Gonccedilalves (2011 p 30) ldquoestabelecer a presenccedila ou a viagem das

palavras eacute acompanhar o envolver das proacuteprias comunidades pelo tempo aforardquo Um recorte

sincrocircnico natildeo deve desprezar a interpretaccedilatildeo diacrocircnica o interesse cientiacutefico natildeo estaacute presente

somente num espaccedilo-tempo assim como a representatividade histoacuterica necessita admitir pontos

exatos na representaccedilatildeo da vivecircncia humana

No segundo capiacutetulo apresenta-se uma breve revisatildeo dos meacutetodos de pesquisa que

podem ser combinados com a teoria onomaacutestico-toponiacutemica a fim de compor um quadro

ilustrativo das caracteriacutesticas do meio da cultura dos fatos histoacutericos e dos estados anteriores

da liacutengua que estatildeo de alguma forma impressos na motivaccedilatildeo que subjaz aos topocircnimos em

questatildeo

51

II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS

O povo ldquosenhor dos espaccedilos puacuteblicosrdquo por vezes

adota criteacuterio proacuteprio ao conferir nomes aos

lugares

(IBGE 2008)

A linguagem humana eacute sobretudo interaccedilatildeo e natildeo pode pois ser explicada apenas em

termos de sua estrutura semacircntica e formal mas tambeacutem deve-se analisaacute-la em sua funccedilatildeo

social Desta forma o desenvolvimento linguiacutestico e intelectual do indiviacuteduo caminham juntos

pois ambos satildeo a base da abstraccedilatildeo e categorizaccedilatildeo pois ldquotoda liacutengua reflete as condiccedilotildees da

sociedade e do ciacuterculo cultural que se falardquo (ANDRADE 2010 p 99)

Aspectos linguiacutesticos de diversas ordens satildeo fundamentais para o estudo toponiacutemico jaacute

que eacute por mecanismos linguiacutesticos que o signo comum transmuta-se em designativo de lugar

revelando a identidade do nomeador coletivo ou natildeo Desta maneira ldquoo topocircnimo eacute o resultado

da accedilatildeo do nomeador ao realizar um recorte no plano das significaccedilotildees representaccedilotildees ou seja

praticar um papel de registro no momento vivido pela comunidaderdquo (ANDRADE 2010 p

106)

Acolher uma orientaccedilatildeo ou outra acarreta outrossim na escolha do meacutetodo a ser utilizado

para a pesquisa linguiacutestico-histoacuterica Para situar a escolha por um meacutetodo este capiacutetulo faz uma

breve exposiccedilatildeo de alguns meacutetodos que tecircm sido empregados em pesquisas de abordagem

similar a esta em especial descrevemos detalhadamente os que satildeo usados nesta pesquisa os

quais consideram natildeo somente os aspectos linguiacutesticos bem como os histoacutericos e socioculturais

do lugar indo ao encontro da perspectiva adotada para este trabalho

21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos

Natildeo se deve confundir metodologia com meacutetodo de pesquisa Segundo Silva e Silveira

(2007 p 145) a metodologia consiste de um conjunto de criteacuterios usados para se construir um

conhecimento vaacutelido seguro e de certa forma verdadeiro Jaacute os meacutetodos de pesquisa podem

ser definidos como ldquoprinciacutepios e procedimentos aplicados para construccedilatildeo do saberrdquo Os autores

salientam que se torna mais difiacutecil ficar preso a um uacutenico meacutetodo quando se pode lanccedilar matildeo

do ldquopluralismo metodoloacutegicordquo Deste modo considerando as especificidades de um estudo

toponiacutemico eacute possiacutevel conjugar meacutetodos de forma ordenada e loacutegica Isto quer dizer que se

52

podem utilizar meacutetodos de abordagem (indutivo dedutivo dialeacutetico) em consonacircncia com os

preceitos de um ou mais meacutetodos de procedimento (funcionalista comparativo

fenomenoloacutegico estruturalista)

Uma perspectiva histoacuterica por exemplo abre um amplo espectro de possibilidades de

se estudar um determinado fato linguiacutestico Podem ser citadas diversas maneiras para se tomar

os fenocircmenos linguiacutesticos do ponto de vista histoacuterico tais como a filologia centrada nos

aspectos histoacutericos das transformaccedilotildees a linguiacutestica comparada que aborda os fatos por meio

de comparaccedilotildees entre as liacutenguas de grupos linguiacutesticos relacionados e a etimologia a qual

busca desvendar o significado de origem das palavras aqui centra-se o nosso objeto de estudo

que eacute descrever e analisar a origemetimologia dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua de Pires do

Rio-GO

Os meacutetodos linguiacutesticos podem ainda estudar as transformaccedilotildees linguiacutesticas

correlacionando-as ao contexto sociocultural o que tem contribuiacutedo grandemente para uma

renovaccedilatildeo das abordagens do fenocircmeno da mudanccedila linguiacutestica resultando em inuacutemeras outras

orientaccedilotildees teoacutericas que em certo sentido podem ser vistas como herdeiras dos primeiros

criacuteticos dos estudos comparativos

A linguiacutestica tem a liacutengua como seu principal objeto de estudo a qual eacute produto da

experiecircncia acumulada historicamente na cultura de uma sociedade A liacutengua eacute um fenocircmeno

social pois eacute produzida e determinada socialmente ademais eacute um importante siacutembolo da

identidade de um grupo E eacute no comportamento linguiacutestico de uma dada comunidade que se

reflete a busca de aprovaccedilatildeo social ou a acentuaccedilatildeo de diferenccedilas (COSERIU 1977) Eacute por

meio dela enfim que um indiviacuteduo adquire a cultura do lugar em que vive jaacute que

A funccedilatildeo baacutesica da Linguiacutestica eacute o estudo direto da lsquoliacutengua viva e faladarsquo por

observaccedilatildeo e anaacutelise objetiva de seus fenocircmenos postas de lado todas as

forccedilas e influecircncias que se manifestem muitas vezes atraveacutes dela e todos os

antecedentes que possam ter dado origem ao estado atual (MAURER JR

1967 p 30)

Observa-se na Linguiacutestica Geral de acordo com Maurer Jr (1967) a divisatildeo em dois

setores distintos poreacutem essenciais para compreensatildeo da linguagem a Linguiacutestica Descritiva

(sincrocircnica) que segundo o autor deve ser a base de todo estudo cientiacutefico porque eacute a partir

dela que aprendemos a linguagem em sua funccedilatildeo uacutenica e peculiar e a Linguiacutestica Histoacuterica

(diacrocircnica) que complementa e explica os fatos da primeira e tem uma funccedilatildeo importante no

estudo desse rico patrimocircnio cultural e humano a liacutengua

53

212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica

Para alguns estudiosos a linguiacutestica histoacuterica teve seu apogeu no seacuteculo XIX embora

outros afirmem que tenha ocorrido haacute tempos no Renascimento De acordo com Paixatildeo de

Sousa (2006 p 14)

[] a reflexatildeo linguiacutestica dos 1800 representa um marco divisor na histoacuteria

das histoacuterias do tempo e da linguagem por inaugurar uma concepccedilatildeo

inteiramente nova dos condicionantes dessa relaccedilatildeo e construir um novo

plano para sua anaacutelise Eacute antes de tudo na tentativa de se combinar a esfera

documental com a esfera experimental que aparecem os desdobramentos mais

interessantes dos estudos histoacutericos da liacutengua ao longo do seacuteculo XIX eles

buscaratildeo articular as duas esferas em um mesmo plano de anaacutelise construindo

a abordagem histoacuterico-comparada

Assim a linguiacutestica histoacuterica apoacutes o seacuteculo XIX cria um meacutetodo que permite

ldquocategorizar e justificar a identidade geneacutetica e a evoluccedilatildeo paralela de cada idioma em um grupo

aparentadordquo segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 16) O meacutetodo comparativo segundo Maurer

Jr (1967) busca comparar cuidadosamente formas apresentadas entre si de um grupo

distinguir a origem e estudar a diversificaccedilatildeo das liacutenguas para desvendar e recontar a histoacuteria

de cada liacutengua Ressalte-se que para Faraco (2006 p 125) esse meacutetodo teve sua estruturaccedilatildeo

ldquoao dar um tratamento sistemaacutetico agraves observadas semelhanccedilas entre liacutenguas distantes no espaccedilo

como o latim e o sacircnscritordquo E ainda

constitui um recurso inteligente e racional para a reconstruccedilatildeo de fatos que

dependem de testemunho em todo o terreno Tal como a Paleontologia a

Histoacuteria da Cultura e ateacute na investigaccedilatildeo do crime na Justiccedila esse meacutetodo

submete o testemunho a um estudo preliminar para avaliar seu isolamento sua

coerecircncia etc (MAURER JR 1967 p 31)

O meacutetodo comparativo se baseia na experimentaccedilatildeo (induccedilatildeo) procura descrever os

estaacutegios da liacutengua que natildeo deixaram registros (documentos) como eacute o caso do latim vulgar No

entanto se difere do histoacuterico-comparativo o qual usa documentos histoacutericos para fazer as suas

reconstruccedilotildees acerca da liacutengua Poreacutem ambos os meacutetodos buscam recuperar a histoacuteria da liacutengua

de forma cronoloacutegica

De acordo com Faraco (2006 p 134)

O meacutetodo comparativo eacute o procedimento central nos estudos de linguiacutestica

histoacuterica Eacute por meio dele que se estabelece o parentesco entre liacutenguas O

pressuposto de base eacute que entre elementos de liacutenguas aparentadas existem

54

correspondecircncias sistemaacuteticas (e natildeo apenas aleatoacuterias ou casuais) em termos

de estrutura gramatical correspondecircncias estas passiacuteveis de serem

estabelecidas por meio duma cuidadosa comparaccedilatildeo Com isso podemos natildeo

soacute explicitar o parentesco entre liacutenguas (isto eacute dizer se uma liacutengua pertence

ou natildeo a uma determinada famiacutelia) como tambeacutem determinar por inferecircncia

caracteriacutesticas da liacutengua ascendente comum de um certo conjunto de liacutenguas

No decorrer dos anos vaacuterios satildeo os estudiosos que contribuiacuteram com a formaccedilatildeo e o

aprimoramento do meacutetodo comparativo dentre eles destacamos Bopp (1791-1867) que

buscava estabelecer o parentesco entre as liacutenguas mas natildeo o percurso histoacuterico de um anterior

para um posterior Grimm (1785-1863) que ao estudar o ramo germacircnico das liacutenguas indo-

europeias pocircde estabelecer a sucessatildeo histoacuterica por meio de comparaccedilatildeo ndash comparativo

histoacuterico Rask (1787-1832) tambeacutem desenvolveu trabalhos comparativos importantes para o

momento envolvendo as liacutenguas noacuterdicas as demais liacutenguas germacircnicas o grego o latim o

lituano o eslavo e o armecircnio Foi a partir desses estudiosos que surgiu a ldquofilologia (ou

linguiacutestica) romacircnica nome que se deu ao estudo histoacuterico-comparativo das liacutenguas oriundas

do latimrdquo (FARACO 2006 p 137)

De tal modo da siacutentese que foi apresentada eacute possiacutevel tecer as seguintes consideraccedilotildees

o meacutetodo histoacuterico-comparativo em seu apogeu foi e ainda hoje eacute uacutetil aos estudos da Linguiacutestica

Histoacuterica principalmente no que concerne natildeo soacute agrave reconstruccedilatildeo de fases anteriores das liacutenguas

como tambeacutem eacute bastante indicado para estudos que objetivam a reconstruccedilatildeo interna de uma

liacutengua Esse meacutetodo cumpriu papel importante para o desvelamento de inuacutemeras questotildees

linguiacutesticas das liacutenguas antigas grego latim sacircnscrito

Jaacute os estudos dos neogramaacuteticos possibilitaram o aprimoramento do meacutetodo histoacuterico-

comparativo mediante a verificaccedilatildeo de que muitas mudanccedilas ocorridas nas liacutenguas em

momentos anteriores e registrados em documentos podem ser explicitadas por meio da

explanaccedilatildeo de mudanccedilas ldquosincrocircnicasrdquo sucedidas nas liacutenguas conforme as leis foneacuteticas e a

analogia

Conforme Cacircmara Jr (1975) Gaston Paris traccedilou mapas das linhas isogloacutessicas dando

os primeiros passos para a geografia linguiacutestica a qual na verdade foi efetivamente criada por

seu disciacutepulo suiacuteccedilo Jules Gillieacuteron que dedicou-se agrave dialetologia e no doutoramento em 1879

defendeu a tese sobre o dialeto de Vionnaz Essa nova teacutecnica ldquoteve como base teoacuterica o

conceito de dialeto como uma abstraccedilatildeo essa a razatildeo de focalizar cada mudanccedila linguiacutestica per

se como o verdadeiro dado linguiacutesticordquo (CAcircMARA JR 1975 p 121)

55

A geografia linguiacutestica10 segundo Cacircmara Jr (1975) eacute importante como uma nova

abordagem para o estudo histoacuterico-comparativo pois em vez de recorrer a textos antigos o

pesquisador busca apenas os aspectos contemporacircneos da liacutengua absorvendo as bases

linguiacutesticas no intercacircmbio oral Desta forma

Obteacutem-se uma corrente evolucionaacuteria pela comparaccedilatildeo das muitas variantes

de cada forma cuja distribuiccedilatildeo no espaccedilo pode ser traduzida numa

distribuiccedilatildeo atraveacutes do tempo de acordo com regras metodoloacutegicas O aspecto

foneacutetico da variante ou sua existecircncia num patois relativamente moderno ou

notaacutevel por traccedilos arcaicos constituem a chave para esta investigaccedilatildeo

histoacuterica Por essa razatildeo eacute que atraveacutes da geografia linguiacutestica uma nova

teacutecnica para o estudo histoacuterico da linguagem foi imaginada sob o tiacutetulo de

ldquoreconstruccedilatildeo internardquo (CAcircMARA JR 1975 p 125 grifos do autor)

Essa nova abordagem vem corroborar com os estudos da liacutengua porque de forma

efecircmera reconstroacutei a histoacuteria de uma dada liacutengua contribuindo com a contemporaneidade uma

vez que nos eacute necessaacuterio conhecer a base etimoloacutegica das palavras e depois justificar o seu uso

ou evoluccedilatildeo

Segundo Cacircmara Jr (1975) apoacutes observar que Gaston Paris traccedilou mapas das linhas

isogloacutessicas e Gillieacuterion criou a geografia linguiacutestica muitos anos depois os linguistas italianos

Giulio Bertoni e Matteo Bartoli criaram o meacutetodo de linguiacutestica areal cujo objetivo era

classificar aacutereas linguiacutesticas ndash de uma liacutengua ou grupo de liacutenguas ndash como forma de

representaccedilatildeo da contemporaneidade e do estaacutegio linguiacutestico de desenvolvimento Os

linguistas consoante Cacircmara Jr (1975 p 126) ldquodividiram um territoacuterio linguiacutestico em aacutereas

isoladas aacutereas laterais aacutereas principais e aacutereas desaparecidas (isto eacute aacutereas homogecircneas que

desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)rdquo e desta forma

difundiam mais um meacutetodo linguiacutestico

Destaca ainda que a linguiacutestica histoacuterica compreende dois momentos de exatidatildeo o

primeiro de 1786 a 1878 periacuteodo de formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do meacutetodo comparativo o qual

finalizou com o movimento dos neogramaacuteticos o segundo vai desde 1878 ateacute a

contemporaneidade periacuteodo de tensatildeo entre duas linhas interpretativas uma imanentista ndash

neogramaacutetico estruturalismo e gerativismo que vecirc a mudanccedila como acontecimento interno da

liacutengua e pela proacutepria liacutengua e a outra integrativa ndash primeiros criacuteticos neogramaacuteticos dialetologia

e sociolinguiacutestica cuja mudanccedila da liacutengua estaacute condicionada a fatores contextuais nos quais o

falante estaacute inserido

10 No Brasil a Geografia Linguiacutestica concretizou-se com a produccedilatildeo de Atlas Linguiacutesticos em diferentes Estados

brasileiros

56

Entre os seacuteculos XVIII e XIX ocorreram momentos de grande relevacircncia para a

linguiacutestica histoacuterica Um deles eacute a fundaccedilatildeo da Escola de Estudos Orientais em Paris

(importante centro de investigaccedilatildeo) no ano de 1975 onde estudaram os linguistas alematildees

Friedrich Schlegel (1772-1829) e Franz Bopp (1791-1867) os quais mais tarde desenvolveram

a chamada gramaacutetica comparativa

Assim em 1808 Friedrich Schlegel publicou um texto sobre a liacutengua e sabedoria dos

povos hindus que de acordo com Faraco (2006) eacute considerado o ponto de partida do

comparativismo alematildeo No texto o autor ratifica sobre o parentesco das liacutenguas sacircnscrita com

a latina grega germacircnica e persa

Cabe ainda salientar que os estudos histoacuterico-comparativos antes da uacuteltima metade do

seacuteculo XIX conheceram a obra de August Scheilcher (1821-1868) Sua teoria tomava a liacutengua

como um organismo vivo com existecircncia fora de seus falantes sendo sua histoacuteria vista como

natural devido agraves orientaccedilotildees naturalistas do linguista como sua formaccedilatildeo em botacircnica e

influenciado pela teoria evolucionista de Darwin (FARACO 2006)

Jaacute no seacuteculo XIX as investigaccedilotildees no campo da linguagem eram dominadas por ideias

positivistas que se desenvolviam conforme meacutetodos histoacuterico-comparativos eacutepoca em que se

formaliza o estudo sistemaacutetico das variaccedilotildees sobretudo as de natureza geograacutefica Surge o

interesse pelos dialetos considerados como fontes de conhecimento do modo como se teriam

operado as transformaccedilotildees em fases anteriores das liacutenguas A Geografia Linguiacutestica eacute uma

consequecircncia do interesse pelos estudos dialetais levados a cabo de iniacutecio por vaacuterios estudiosos

europeus Segundo Coseriu (1982) surge um meacutetodo dialetoloacutegico e comparativo que

pressupotildee o registro em mapas especiais de um nuacutemero relativamente elevado de formas

linguiacutesticas (focircnicas lexicais ou gramaticais) recolhidas mediante pesquisa direta e unitaacuteria

numa rede de pontos distribuiacuteda em determinado territoacuterio

Deste modo eacute necessaacuterio compreender que

A linguagem eacute inegavelmente uma heranccedila social cuja histoacuteria se estende

por seacuteculos Uma visatildeo completa um conhecimento detalhado de seu

mecanismo de sua estrutura de sua semacircntica e ateacute de sua ortografia soacute

podem ser obtidos atraveacutes da pesquisa diacrocircnica Os meacutetodos expostos

acima em suas linhas essenciais natildeo deixam duacutevida de que a filologia

romacircnica se desenvolveu com o meacutetodo histoacuterico-comparativo adotado com

mais ecircxito aqui do que no campo para o qual havia sido criado As possiacuteveis

deficiecircncias desse meacutetodo foram sendo corrigidas depois pela geografia

linguiacutestica e pelos outros meacutetodos derivados como a onomasiologia Woumlrter

und Sachen linguiacutestica espacial etc Enquanto o meacutetodo histoacuterico-

comparativo procura as ligaccedilotildees entre o ldquoterminus a quordquo e o ldquoterminus ad

quemrdquo o latim vulgar e as liacutenguas romacircnicas respectivamente os outros

57

meacutetodos tecircm como objeto especificamente o ldquoterminus ad quemrdquo pois

investigam sincronicamente aspectos atuais dessas mesmas liacutenguas cujas

explicaccedilotildees poreacutem devem ser buscadas diacronicamente (BASSETTO

2001 p 85 grifos do autor)

Para Faraco (2006 p 106) ldquooptar por uns ou por outros eacute que vai orientar nossa forma

de entender a mudanccedila linguiacutestica nossa seleccedilatildeo de dados nossas categorias e procedimentos

de anaacutelise nosso processo argumentativordquo Ou seja ao assumirmos uma concepccedilatildeo de base

correlata eacute o que iraacute definir o nosso meacutetodo de trabalho

22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia

Segundo Silva (2010) a onomasiologia eacute um meacutetodo que se constitui do estudo das

designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Pode ser

investigada toda a cultura popular de um local podendo-se priorizar os aspectos sincrocircnicos ou

histoacutericos Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores do que

subjaz agrave nomeaccedilatildeo dos lugares

Pode-se para efeito deste estudo traccedilar o esquema a seguir o qual demonstra as

possibilidades temaacuteticas que esse tipo de pesquisa pode apresentar

Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos

Onomaacutestica

Toponiacutemia Antroponiacutemia

Modalidades Coleta

Imagens mapas cartas e plantas

Documental Texto iacutendicesrepertoacuterio de nomes

Ficcional Natildeo ficcional

Pesquisa de campo Entrevistas etnografia

Mista Documental e Pesquisa de campo

Fonte Adaptado de material da USP ndash Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas 2016

58

A onomasiologia eacute o resultado das tendecircncias mais significativas da evoluccedilatildeo linguiacutestica

na transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX em que a centralidade das investigaccedilotildees passam

do som (foneacutetica) para a palavra (lexicologia) O seu triunfo se deu a partir do desenvolvimento

da Geografia Linguiacutestica pois com o aparecimento de inuacutemeros termos regionais recolhidos

pelos inqueacuteritos linguiacutesticos surgiu a necessidade de um novo meacutetodo que auxiliasse os

dialetoacutelogos a compreenderem o homem regional em sua amplitude por meio da linguagem

Apoacutes a publicaccedilatildeo dos atlas linguiacutesticos a onomasiologia comeccedila a ser utilizada em

vaacuterios estudos jaacute que pelo seu uso eacute possiacutevel caracterizar as atividades de uma regiatildeo e situaacute-

las no tempo Segundo Couto (2012 p 186) ldquoa onomasiologia vecirc a questatildeo da referecircncia para

usar um termo semioacutetico partindo da coisa e indo na direccedilatildeo do nome que ela receberdquo Desta

forma ldquoo meacutetodo onomasioloacutegico permite ver a cultura do povo cuja liacutengua se estuda

costumes ocupaccedilotildees instrumental crenccedilas e crendices moradia enfim sua mundividecircncia

Permite sentir a linguagem viva traduzindo a vivecircncia cultural do povordquo (BASSETO 2001 p

77)

Ressalta-se que

Com pontos em comum com a Geografia Linguiacutestica e ldquoPalavras e Coisasrdquo o

meacutetodo onomasioloacutegico tambeacutem conhecido como onomasiologia isto eacute o

estudo das denominaccedilotildees se propotildee investigar os vaacuterios nomes atribuiacutedos a

um objeto animal planta conceito etc individualmente ou em grupo dentro

de um ou vaacuterios domiacutenios linguiacutesticos Seus objetivos satildeo portanto

semacircnticos e lexicoloacutegicos buscando descobrir os aspectos vivos e as forccedilas

criadoras da linguagem (BASSETO 2001 p 76)

O meacutetodo onomasioloacutegico natildeo ficou a cargo apenas de um pesquisador mas de vaacuterios

pois seus princiacutepios se desenvolveram aos poucos Conforme Bassetto (2001) temos como

predecessores da onomasiologia moderna F Brinkmann (1872) Luigi Morandi (1883)

Friedrich Diez (1875) Fr Pott (1853) Jakob Grimm (1853) e F Miklosich (1868) Todavia o

princiacutepio da onomasiologia cientiacutefica deu-se com Carlo Salvioni (1858-1920) quando estudou

sobre as denominaccedilotildees italianas do vaga-lume (1892) e com Ernest Toppolet (1870-1939) que

referendou em seus estudos o parentesco dos nomes romacircnicos por ele denominados de

ldquolexicologia cientiacuteficardquo

As pesquisas desenvolvidas na aacuterea da onomaacutestica se constituem em uma linha

documental ou de campo seguindo um meacutetodo pelo qual se selecionam observam registram

classificam analisam e interpretam os dados de acordo com a identificaccedilatildeo dos fatores

59

determinantes agrave configuraccedilatildeo dos corpora Essas anaacutelises de dados satildeo baseadas em trecircs

categorias linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica que satildeo reveladas pelo meacutetodo onomasioloacutegico

Segundo Ramos e Bastos (2010) as trecircs perspectivas ndash linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica

ndash satildeo cruciais para revelar as seguintes caracteriacutesticas a) a determinaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica das

diferentes liacutenguas que tenham existido ou existentes num determinado territoacuterio b) o estudo

das terminaccedilotildees caracteriacutesticas de cada palavra c) o estudo das formas gramaticais d) o estudo

da foneacutetica histoacuterica e) a verificaccedilatildeo das formas documentadas as quais se subdividem em ndash

comparaccedilatildeo semacircntica a abordagem dos dados geograacuteficos e a abordagem dos dados histoacutericos

Cabe ainda indicar em linhas gerais algumas concepccedilotildees do meacutetodo Woumlrter und

Sachen de Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) o qual conforme

Bassetto (2001) tem pontos em comum que compartilha com o meacutetodo onomasioloacutegico Visa

ao estudo das questotildees semacircnticas das palavras enfatizando a realidade que elas designam

porque para os estudiosos dessa linha de pensamento a verdadeira etimologia da palavra

encontra-se no conhecimento dessa realidade Procura instruir sobre a necessidade de conhecer

sempre que possiacutevel o objeto designado por um termo para que o significado possa ser

devidamente explicitado Quando se conhece a realidade a natureza a forma o uso as medidas

das coisas do mundo eacute possiacutevel estabelecer a origem e a histoacuteria das palavras com que esses

mesmos objetos foram designados

Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) foram precursores desse

meacutetodo ao considerarem que as coisas existem antes de serem denominadas ou seja as coisas

preexistem agraves suas designaccedilotildees podendo ateacute existir sem que sejam nomeadas Em

contrapartida as palavras dependem das ldquocoisasrdquo estatildeo ligadas a elas Com essa perspectiva

Schuchardt (mais do que Meringer) remete ao meacutetodo Woumlrter und Sachen ldquoPalavras e Coisasrdquo

cujo tiacutetulo instituiu o nome do meacutetodo

No entanto conveacutem salientar que jaacute na gramaacutetica grega estava impliacutecita a ideia de que

as coisas precedem as palavras Em outros termos quando se conhece em profundidade a

ldquocoisardquo chega-se ao ldquoeacutetimordquo da palavra que a nomeia alcanccedila-se o significado com que a coisa

foi primeiramente designada Menciona-se que para Schuchardt (apud BASSETO 2013)

Sachen (coisa) significava qualquer realidade i eacute ldquoSachenrdquo podia se referir tanto a

acontecimentos e estados como a objetos ao real e ao irreal ao tangiacutevel11 e ao intangiacutevel ou

em outras palavras tanto a coisas do mundo sensiacutevel como do insensiacutevel

11 ldquoTangiacutevelrdquo do latim tangere tangens lsquotocar aquilo que tocarsquo do mesmo eacutetimo de attingere lsquoaproximar-se e

tocarrsquo

60

O meacutetodo Woumlrter und Sachen (Palavras e Coisas) segundo Campbell (2004) relaciona-

se agraves inferecircncias histoacuterico-culturais que podem ser reveladas por meio da investigaccedilatildeo das

palavras pautadas na sua analisabilidade Campbell (2004) assume que as palavras que satildeo

analisadas em partes transparentes (vaacuterios morfemas) podem ser de criaccedilatildeo mais recente (na

liacutengua) em relaccedilatildeo agraves palavras que natildeo apresentam essa transparecircncia morfecircmica

Essa teacutecnica contribui sobremaneira para traccedilar uma cronologia aproximativa dos

vocabulaacuterios Dias (2016 p31) acentua que

Sobretudo supotildee-se que itens culturais denominados por termos analisaacuteveis

satildeo tambeacutem adquiridos mais recentemente pelos falantes e aqueles que satildeo

expressos por palavras natildeo analisaacuteveis representam itens mais velhos e

instituiccedilotildees Outra estrateacutegia desse meacutetodo envolve fazer inferecircncias por meio

de informaccedilotildees de itens culturais de quem os nomes sofreram visivelmente

mudanccedila de significado

E para Crowly (2003) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo pode ser usado para fazer

reconstruccedilatildeo cultural e chegar ao conteuacutedo de uma protocultura por exemplo jaacute que se eacute

possiacutevel reconstruir uma palavra designativa de alguma coisa na protoliacutengua eacute possiacutevel tambeacutem

supor que a coisa a que ela se refere provavelmente foi de importacircncia cultural na vida dos

seus falantes ou que foi ambientalmente marcante Segundo o autor o meacutetodo pode tambeacutem

dizer muito sobre a terra natal de uma famiacutelia linguiacutestica pode-se ainda por meio do referido

meacutetodo fazer suposiccedilotildees sobre as rotas legiacutetimas seguidas pelos povos para se chegar aos

lugares onde se encontram atualmente12

Destarte segundo Bassetto (2013) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo deu destaque agrave

semacircntica ao estabelecer a etimologia e ateacute a biografia das palavras aleacutem de tornar os estudos

filoloacutegicos mais objetivos Posto isso eacute possiacutevel verificar que o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo

pode ser usado nos estudos semacircnticos lexicais onomaacutesticos toponiacutemicos Quando se busca

relacionar a histoacuteria do nome com a histoacuteria do lugar vincula-se a palavra (o nome) agrave coisa (o

lugar) Nesse sentido pode-se de alguma maneira realizar o estudo natildeo apenas pautado no

meacutetodo onomasioloacutegico mas tambeacutem considerando as intrincadas relaccedilotildees entre nomes e as

coisas do mundo

Cabe ressaltar

Assim como procedimento metodoloacutegico seguido nos estudos

toponomaacutesticos buscamos definir o jaacute definido ou seja o objeto de estudo da

disciplina o seu campo de trabalho especiacuteficos a natureza linguiacutestica da

12 Por exemplo os caminhos que levaram (trouxeram) os bandeirantes agraves terras do iacutendio goyaacute

61

anaacutelise em termos de vinculaccedilatildeo a uma aacuterea do conhecimento Partindo-se da

definiccedilatildeo etimoloacutegica dos elementos gramaticais de origem grega enunciados

por Dioniacutesio de Traacutecia no seacuteculo II a C a Toponiacutemia ficou-se como propocircs

Leite de Vasconcelos (1887) no entendimento dos nomes proacuteprios de lugares

distintos dos nomes comuns delimitados pela teoria da linguagem (DICK

2006 p 96)

A toponomaacutestica entatildeo fundamenta-se nos estudos dos nomes proacuteprios de lugares

estabelecendo relaccedilotildees da liacutengua com o ambiente sendo de extrema necessidade observar os

viacutenculos do nomeador com a coisa nomeada a motivaccedilatildeo que subjaz ao topocircnimo

O meacutetodo da Geografia Linguiacutestica com a concepccedilatildeo basilar de que a distribuiccedilatildeo

geograacutefica dos aglomerados populacionais se reflete na diferenciaccedilatildeo linguiacutestica trouxe grande

contribuiccedilatildeo para o estudo dos nomes em geral pois pode refletir tendecircncias que orientaram o

ato de nomeaccedilatildeo tanto de pessoas como de lugares

Sobre o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo cabe apenas repetir que por enfatizar o aspecto

semacircntico das palavras vinculado agrave realidade que elas denominam contribui com o estudo dos

nomes jaacute que parte do princiacutepio de que as palavras se acham ligadas agraves coisas que elas

designam Uma vez conhecendo a natureza das coisas chega-se na verdadeira etimologia da

palavra contribuiccedilatildeo essa que valoriza a cultura e a histoacuteria das comunidades vendo no ser

humano o sujeito das transformaccedilotildees que ocorrem nas liacutenguas e na cultura

Posto isso considera-se mais uma vez que a onomasiologia busca investigar como uma

noccedilatildeo ou conceito eacute nomeado na liacutengua tendo sempre em mente que quem daacute nome agraves coisas

satildeo os falantes e o fazem em decorrecircncia da cosmovisatildeo de seu grupo O meacutetodo

onomasioloacutegico permite que a cultura do povo pesquisado seja revelada

Entretanto a despeito das contribuiccedilotildees que cada um trouxe para os estudos linguiacutesticos

nenhum desses meacutetodos foi suficiente teoricamente para deslindar os inuacutemeros aspectos que

permeiam o ato de nomeaccedilatildeo o que implica dizer que o mais sensato eacute combinar o que cada

meacutetodo apresenta de mais satisfatoacuterio referentemente ao problema que se pretende resolver o

que requer tambeacutem adaptaccedilotildees e revisotildees constantes de um ou de outro ou ainda da combinaccedilatildeo

deles

Considera-se entatildeo

os aspectos pelos quais entendemos a disciplina como conhecimento

cientiacutefico saber construiacutedo como objeto campo de trabalho e pesquisa

demarcados apesar disto manteacutem-se em intersecccedilatildeo a outros campos sem

perder sua identidade A metodologia que emprega em seus levantamentos eacute

de origem indutivo-dedutiva de acordo com os procedimentos

62

onomasioloacutegico-semasioloacutegicos caracteriacutesticos da pesquisa do leacutexico (DICK

2006 p 98)

E no que tange agrave metodologia aos procedimentos de pesquisa propriamente ditos

segundo Dick (1996) que podem ser aplicados nos estudos toponiacutemicos devem se estabelecer

da seguinte forma a) seleccedilatildeo de fontes primaacuterias (cartas geograacuteficas editadas por oacutergatildeos oficiais

estaduais e municipais em escalas de 150000 ou 1100000 ou listas toponiacutemicas oficiais) e

complementaccedilatildeo a partir de fontes secundaacuterias (trabalhos historiograacuteficos da proacutepria

comunidade acerca do local onde vivem) b) registro dos dados em fichas lexicograacuteficas

padronizadas com a identificaccedilatildeo dos nomes do pesquisador e do revisor fontes e data de

coleta c) anaacutelise de dados que inclui a quantificaccedilatildeo dos nomes e das taxonomias analisando

a maior ou menor frequecircncia de classes ou itens lexicais e do estudo dos nomes a partir de um

enfoque puramente linguiacutestico (etimoloacutegico e estrutural) linguiacutestico-histoacuterico e variacionista

Desta forma a metodologia para este trabalho baseia-se em Dick (1996 2006) e por

conseguinte estabelece relaccedilotildees com as demais pesquisas na aacuterea da toponomaacutestica De acordo

com a autora ldquoTrata-se de modelo semacircntico-motivador das ocorrecircncias toponomaacutesticas que

conformam a realidade designativa da nomenclatura geograacutefica oficial do paiacutesrdquo (Dick 2006 p

104) As taxionomias satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise linguiacutestica do topocircnimo e hoje

se dividem em vinte sete taxes pela importacircncia na ldquoanaacutelise linguiacutestica ou casual dos motivos

determinantes das designaccedilotildees integram as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas em um campo

funcional especiacuteficordquo (Dick 2006 p 106) E a partir destas fichas busca-se a identificaccedilatildeo do

topocircnimo e computar as categorizaccedilotildees motivadoras do designativo

A metodologia de pesquisa aqui proposta se caracteriza por ser de natureza documental

(documentos analoacutegicos eou digitais como as cartas topograacuteficas e levantamento histoacuterico

geograacutefico por meio do Instituto Mauro Borges IBGE e de mapas do municiacutepio de Pires do

Rio-GO) e de abordagem qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a

constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos

puacuteblicos e no levantamento histoacuterico-geograacutefico Os procedimentos consistem na

sistematizaccedilatildeo de leituras documentais e de investigaccedilatildeo de campo o que os vincula agrave induccedilatildeo

e seguem os meacutetodos etnolinguiacutesticos

O percurso apresentado por Dick (1990) isto eacute pautado na induccedilatildeo desenvolveu-se por

meio do plano onomasioloacutegico de investigaccedilatildeo em que a partir de um conceito geneacuterico se

identificam as variaacuteveis possiacuteveis das fontes consultadas Nos registros municipais constam os

63

nomes atuais e os nomes anteriores (quando houve mudanccedilas) dos lugares de toda regiatildeo

municipal Estes e os mapas constituem as fontes primaacuterias desta pesquisa pois

O percurso do fazer onomasioloacutegico e o percurso da produccedilatildeo de significaccedilatildeo

se inserem em direccedilotildees diferentes o fazer interpretativo perfaz um processo

semasioloacutegico por outro lado o fazer onomasioloacutegico eacute uma unidade

conceitual enquanto a definiccedilatildeo eacute o percurso do fazer lexicograacutefico

Entretanto ao conceituar eacute necessaacuterio construir um modelo mental que em

primeira instacircncia corresponda a um recorte cultural para a escolha da

estrutura lexical que melhor pode manifestar a percepccedilatildeo bioloacutegica do fato

que se completa ao analisar e descrever o semema linguiacutestico para reconstruir

esse modelo mental a partir de uma estrutura linguiacutestica manifestada

Ressalta-se o caraacuteter pluridisciplinar do signo toponiacutemico jaacute que por meio

dele pode-se conhecer a histoacuteria dos grupos humanos que viveram (e vivem)

nos limites geograacuteficos de Goiaacutes as especificidades da cultura e do ambiente

do povo o denominador as relaccedilotildees estabelecidas entre os aglomerados

humanos e o ecossistema as caracteriacutesticas fiacutesico geograacuteficas da regiatildeo

(geomorfologia) estratos linguiacutesticos de origem diferente do uso hodierno da

liacutengua ou mesmo de liacutenguas jaacute desaparecidas para se conhecer as motivaccedilotildees

subjacentes aos respectivos topocircnimos (SIQUEIRA 2015 mimeografado)

Para este estudo utilizaram-se inicialmente as Folhas Topograacuteficas editadas pela DSG

(Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito) na escala de 1100 000 Folhas Pires do Rio

SE-22-X-D-III Ipameri SE-22-X-D-VI e Cristianoacutepolis SE-22-X-D-II de 1973 para

identificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio juntamente com o mapa da rede hidrograacutefica do

municiacutepio de Pires do Rio-GO pois satildeo ldquoinstrumentos metodoloacutegicos haacutebeis para o estudo

onomaacutestico a documentaccedilatildeo cartograacutefica referida e a arquivologia que se posicionam como fontes

idocircneas para o estabelecimento das etapas relativas agrave desconstruccedilatildeo e agrave recriaccedilatildeo dos proacuteprios dadosrdquo

(DICK 1999 p 11)

O uso de mapas torna o trabalho relevante jaacute que eles satildeo elementos de comunicaccedilatildeo

visual os quais pertencem agrave linguagem Eles contemplam ainda a aacuterea tecnoloacutegica pois a sua

construccedilatildeo se daacute por meio da utilizaccedilatildeo de equipamentos programas e sites os quais tambeacutem

satildeo utilizados por noacutes para cartografar mapas juntamente com as taxes dos topocircnimos dos

cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO assim

Tomar o mapa como corpus permite tomar tambeacutem a questatildeo da relaccedilatildeo dos

nomes no seu conjunto e sua distribuiccedilatildeo no espaccedilo urbano Pode-se entatildeo

refletir como algo proacuteprio do corpus em anaacutelise sobre a questatildeo da nomeaccedilatildeo

dos espaccedilos da cidade bem como o modo de distribuiccedilatildeo dos nomes pelos

espaccedilos historicamente constituiacutedos (GUIMARAtildeES 2005 p 43)

Tradicionalmente entendidos como uma representaccedilatildeo simboacutelica dos contornos de uma

paisagem fiacutesica ou urbana os mapas se caracterizam por permitirem dois planos de

64

interpretaccedilatildeo o ldquoverbalrdquo expresso nos nomes dos elementos e o ldquonatildeo-verbalrdquo caracterizado

por siacutembolos convencionais distintos segundo a natureza do elemento mapeado (cursos drsquoaacutegua

caminhos serras rodovias estradas vicinais ferrovias vilas povoados cidades)

A propoacutesito

Se o meacutetodo empregado na Toponiacutemia como dissemos eacute aquele da

investigaccedilatildeo do pormenor toacutepico-nominal apreendido no registro das cartas

geograacuteficas (base documental) ou como variaccedilatildeo no exame do terreno ou do

objeto pelo proacuteprio pesquisador o material resultante na maioria das vezes

eacute de origem descontiacutenua e fragmentaacuteria A sequecircncia loacutegica dos termos areais

deve ser buscada o que exige cuidados de intepretaccedilatildeo e reflexatildeo para que

todo esse organismo construiacutedo coletiva ou individualmente em momentos

histoacutericos distintos venha a se construir em material de anaacutelise vaacutelido do

ponto de vista linguiacutestico (DICK 2006 p 99-100)

Desta forma dos 46 (quarenta e seis) topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de

Pires do Rio-GO (coacuterregos ribeirotildees rios e quedas drsquoaacutegua) por noacutes elencados na pesquisa

apenas 15 topocircnimos ndash por razotildees especiacuteficas que seratildeo relatadas no quarto capiacutetulo ndash seratildeo

catalogados em fichas conforme modelo desenvolvido por Dick (2004) Posteriormente

realizaremos as anaacutelises morfoloacutegicas e a classificaccedilatildeo semacircntico-motivacional e toponiacutemica

propriamente dita

O preenchimento das fichas lexicograacuteficas ndash que identificam o elemento designado as

entradas lexicais o pesquisador o revisor e as fontes da coleta ndash eacute a etapa inicial de um conjunto

de fases posteriores que integram o projeto

As etapas da pesquisa foram dividas da seguinte forma a) levantamento dos dados para

construir o corpus e a aquisiccedilatildeo das cartas Topograacuteficas do municiacutepio de Pires do Rio-GO b)

levantamento dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua registrados nas folhas topograacuteficas c) anaacutelise

e reconhecimento dos aspectos ambientais culturais dos designativos nos diferentes topocircnimos

observados e posteriormente cartografados d) investigaccedilatildeo dos provaacuteveis fatores

motivacionais inerentes aos sintagmas toponiacutemicos e) classificaccedilatildeo das taxionomias a partir do

recorte epistemoloacutegico dos dados coletados f) distribuiccedilatildeo quantitativa dos topocircnimos de

acordo com a natureza toponiacutemica (fiacutesica ou antropocultural) g) estudo linguiacutestico dos

sintagmas toponiacutemicos ndash origemetimologia estruturas semacircntica e morfoloacutegica

Por meio da categorizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico

histoacuterico-criacutetico que foi o norte de nossa pesquisa de certa forma revela-se que o topocircnimo foi

determinado pela populaccedilatildeo anterior ou pela presenccedila de imigrados no local o que faz-nos

perceber que as palavras natildeo apenas comunicam o que se quer dizer mas acusam a Histoacuteria

daquilo que foi dito por necessidades dinacircmicas das pessoas repassadas pela tradiccedilatildeo cultural

65

O proacuteximo capiacutetulo apresenta em linhas gerais um pouco da histoacuteria desse lugar que

abriga 46 cursos drsquoaacutegua e inclusive teve seu primeiro nome devido agrave exuberacircncia do reflexo da

lua cheia nas aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute A ldquoTeteia do Corumbaacuterdquo de antes deu lugar ao

municiacutepio nascido dos caminhos abertos pelos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz laacute pelos idos

de 1922

66

III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO

A cidade eacute por si mesma depositaacuteria de

histoacuteria

(ROSSI 1998)

Este capiacutetulo traz uma apresentaccedilatildeo dos dados histoacutericos referentes agrave fundaccedilatildeo e ao

posterior desenvolvimento social e urbano do municiacutepio de Pires do Rio-GO criado em

decorrecircncia da expansatildeo da Estrada de Ferro Goyaz pelo cerrado goiano As informaccedilotildees aqui

revisitadas integram obras de estudiosos como Siqueira (2006) Ferreira (1999) Borges

(1990) Soares (1988) que se detiveram por alguma razatildeo no esclarecimento de controveacutersia

acerca principalmente do verdadeiro fundador do municiacutepio e de fatos que antecederam a

inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo feacuterrea no ano de 1922

31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte

No iniacutecio do seacuteculo XX a Estrada de Ferro Goyaz avanccedilou sobre o territoacuterio de Goiaacutes

e com isso comeccedilaram a surgir vilas arraiais e distritos que com o progresso e passar dos

anos se elevariam a cidades A entatildeo chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no interior do

estado mais precisamente na regiatildeo Sudeste Goiana fez com que no ano de 1922 surgisse a

Estaccedilatildeo Pires do Rio e que se elevaria tatildeo logo a cidade

A estrada de ferro traria progresso agraves cidades e ao estado No entanto de acordo com

Borges (1990) alguns coroneacuteis adversos a qualquer tipo de mudanccedila de caraacuteter progressista

natildeo aceitavam a instalaccedilatildeo da estrada de ferro pois ela representaria uma forccedila nova de

transformaccedilatildeo que poderia ameaccedilar o poder constituiacutedo dos coroneacuteis Mas na formaccedilatildeo de

Pires do Rio-GO a chegada da Estrada de Ferro Goyaz foi aceita pelo coronel Lino Teixeira de

Sampaio e inclusive foi doado o terreno para a construccedilatildeo de uma estaccedilatildeo feacuterrea

Vale ressaltar que

a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro de Goiaacutes resultou primeiro do empenho

poliacutetico de uma fraccedilatildeo da classe dominante ligada a novos grupos oligaacuterquicos

que despontavam como forccedila poliacutetica no Estado a qual contou com apoio do

capital financeiro internacional Em segundo lugar como a ferrovia servia

inteiramente aos interesses da economia capitalista ou seja agrave nova ordem

econocircmica com expansatildeo no Paiacutes este fator direta ou indiretamente

67

pressionaria o Governo Federal a apoiar a construccedilatildeo da linha (BORGES

1990 p 55-56)

O avanccedilo da estrada de ferro na regiatildeo Sudeste do estado de Goiaacutes foi fundamental para

o surgimento da cidade de Pires do Rio-GO Ambas as histoacuterias se entrecruzam e revelam

acontecimentos que corroboraram com a construccedilatildeo de uma cidade promissora Para

(re)escrever esta histoacuteria eacute fundante mostrar a ficha lexicograacutefica-toponiacutemica jaacute que o objeto

desta pesquisa satildeo os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua pertencentes a cidade de Pires do Rio-GO

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 01

Topocircnimo Pires do Rio Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Antropocircnimo

Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Pires + do Rio ndash sobrenome)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Cidade sede do distrito do municiacutepio do termo e comarca de

igual nome Na regiatildeo oriental do municiacutepio entre o ribeiratildeo Sampaio e o Monteiro afluentes

do rio Corumbaacute com estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goiaacutes

Fonte Siqueira (2012) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Como jaacute observando no capiacutetulo I os estudos toponiacutemicos revelam fatores soacutecio-

histoacuterico-culturais de uma dada comunidade e Pires do Rio-GO nos revela isso de forma

peculiar como podemos observar na ficha acima a caracterizaccedilatildeo do topocircnimo em que a

taxionomia eacute de natureza antropocultural antropotopocircnimo relativo a nomes proacuteprios e de

famiacutelia (sobrenome do ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas Dr Joseacute Pires do Rio) A base

etimoloacutegica eacute antropocircnimo a estrutura morfoloacutegica eacute de nome composto e as informaccedilotildees

enciclopeacutedias vecircm ratificar informaccedilotildees jaacute expressas na ficha Essas informaccedilotildees nos satildeo

precisas e no decorrer (re)editaremos partes relevantes da histoacuteria desta cidade

Observar o surgimento do municiacutepio de Pires do Rio eacute reviver a construccedilatildeo da linha

feacuterrea na regiatildeo Sudeste e para tal ato buscamos em algumas literaturas reconstruir em partes

a histoacuteria da cidade de Pires do Rio-GO que carinhosamente foi apelidada de ldquoTeteia do

68

Corumbaacuterdquo devido ao reluzir sobre as aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute a exuberacircncia da lua

cheia

Na histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade haacute controveacutersias pois alguns dizem ter sido o Coronel

Lino Teixeira de Sampaio o fundador mas Wilson Cavalcanti Nogueira filho do Sr Manoel

Cavalcanti Nogueira o primeiro Intendente da cidade em seus estudos revela que o fundador

de Pires do Rio foi o Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida diretor da Estrada de Ferro Goyaz

Nos estudos de Jacy Siqueira (2006) piresino historiador cujo livro Um contrato

singular e outros ensaios de histoacuteria de Goiaacutes descreve a origem da cidade de Pires do Rio

com base em documentos oficiais o autor citado presume a veracidade dos fatos que

contribuem para exposiccedilatildeo histoacuterica deste capiacutetulo jaacute que ldquoo tempo eacute agente terriacutevel a tudo

colhe separa peneira depura e evidencia ndash verdade ou mentira ndash com a forccedila e a violecircncia

decorrentes do pesado braccedilo da Histoacuteria de quem eacute o servidor fiel e mestre implacaacutevelrdquo

(SIQUEIRA 2006 p 65)

Em relaccedilatildeo aos fatos que marcam o iniacutecio da fundaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidade de Pires

do Rio os historiadores remetem a inuacutemeras controveacutersias sobre a fundaccedilatildeo e os reais

fundadores e tambeacutem sobre a existecircncia de um povoado que competia com o Roncador em

1921 que mais tarde nos arquivos seria o Bairro do Fogo hoje Santa Ceciacutelia O local Rua do

Fogo eacute toda a parte situada do outro lado da linha feacuterrea

Rua do Fogo na descriccedilatildeo de Nogueira se formou pela atraccedilatildeo de pessoas de

diversas regiotildees com o intuito de negociar e prestar serviccedilos diversificados

aos operaacuterios da Estrada eram lavadeiras curandeiro sapateiro padeiro

professor primaacuterio fotoacutegrafo meretrizes e aventureiros Configurando um

povoamento tiacutepico do pioneirismo cada dia mais pessoas chegavam

predominantemente aventureiros muitos deles ateacute mesmo com passado

criminal As casas sendo erguidas raacutepidas e improvisadamente perfilaram-se

em ambos lados ao longo de uma rua irregular que era cenaacuterio de constantes

desordens e violecircncias ganhando por isso o nome de Rua do Fogo A

constante chegada de pessoas levou o povoado a competir em dimensatildeo com

a vizinha Roncador jaacute em 1921 (FERREIRA 1999 p 100)

O Porto do Roncador em 24 de agosto de 1921 recebe a visita do Ministro da Viaccedilatildeo

e Obras Puacuteblicas Engenheiro Sr Joseacute Pires do Rio que na qualidade anterior de Inspetor Geral

das Estradas de Ferro havia se posicionado contraacuterio ao prolongamento da ferrovia no Estado

de Goiaacutes Na ocasiatildeo ficou resolvido que a ponte sobre o rio Corumbaacute deveria se chamar Ponte

Pires do Rio e a primeira estaccedilatildeo a seguir Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio Pessoa mas ocorreu o

contraacuterio Essa informaccedilatildeo foi publicada inclusive nos meios de comunicaccedilatildeo da eacutepoca

69

A Informaccedilatildeo Goyana revista fundada por Henrique Silva que se edita no

Rio de Janeiro na sua ediccedilatildeo de agosto de 1921 (Ano V Vol V n ordm 1 p 1)

traz a reportagem ldquoO Ministro de Viaccedilatildeo Visita o Estado de Goiaacutesrdquo Destaca-

se dela

Tem-se resolvido que a primeira estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz aleacutem

Roncador se denomine ndash Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio

A ponte do Corumbaacute segundo solicitaccedilatildeo dos que tomaram parte na recepccedilatildeo

do Sr ministro da Viaccedilatildeo seraacute denominada ndash Ponte Pires do Rio (SIQUEIRA

2006 p 44 grifos do autor)

As obras estavam a todo vapor e enquanto aguardavam a conclusatildeo da ponte sobre o

rio Corumbaacute os serviccedilos de movimentaccedilatildeo de terra eram feitos aleacutem da outra margem do rio

tendo jaacute avanccedilado ateacute Tavares quilocircmetro 303 da ferrovia distante 84 quilocircmetros de

Roncador O local da estaccedilatildeo de Pires do Rio situa-se no quilocircmetro 218 pouco distante do rio

na Comarca de Santa Cruz em terras da Fazenda do Brejo ou do Sampaio de propriedade do

fazendeiro local coronel Lino Teixeira de Sampaio

No dia 13 de julho de 1922 no momento de inauguraccedilatildeo da ponte metaacutelica construiacuteda

sobre o rio Corumbaacute fez-se a inversatildeo do que o Senhor Ministro havia solicitado pois ela

recebeu o nome do presidente da repuacuteblica (Epitaacutecio Pessoa) troca esta feita pelo diretor da

Estrada de Ferro Goyaz o engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida

A execuccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa significou a integraccedilatildeo das demais regiotildees goianas

no desenvolvimento econocircmico uma vez que o rio Corumbaacute representava uma onerosa barreira

econocircmica para a produccedilatildeo dessas regiotildees Pires do Rio primeira estaccedilatildeo na outra margem do

Corumbaacute prometia ser um entreposto regional devido agrave sua possiacutevel ligaccedilatildeo por terra com

antigos e promissores municiacutepios isolados pelo rio e que natildeo foram contemplados com a

ferrovia Santa Cruz de Goiaacutes Bela Vista Piracanjuba Caldas Novas e Morrinhos O que veio

concretizar essa possibilidade foi a disposiccedilatildeo do coronel Lino Teixeira de Sampaio em doar

terras agrave Estrada de Ferro Goyaz para juntamente com a estaccedilatildeo fundar no local uma cidade

Nesse aspecto seu empenho foi aacutegil e eficiente dois planos urbanos que vieram garantir para

os pioneiros a certeza da existecircncia de uma cidade no local (FERREIRA 1999)

Nas bases da histoacuteria da rede feacuterrea segundo Ferreira (1999) quando da inauguraccedilatildeo

da estaccedilatildeo Pires do Rio foi tambeacutem decretada a fundaccedilatildeo da cidade registrada em obelisco

erguido no largo de frente agrave estaccedilatildeo hoje a praccedila do mercado municipal considerando-se como

fundador o engenheiro da ferrovia Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida e designando a cidade

pelo nome (uma homenagem) do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas engenheiro Joseacute

Pires do Rio

70

Houve tambeacutem a intenccedilatildeo por parte do Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida em deixar a

estaccedilatildeo de Pires do Rio como ponta de linha para que se desenvolvesse rapidamente Finda a

raacutepida inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo seguiu tambeacutem o engenheiro no ldquotrem Inauguralrdquo rumo a

Tapiocanga ndash a proacutexima estaccedilatildeo depois de Pires do Rio ndash para inaugurar sua estaccedilatildeo

improvisada em um simples vagatildeo pois era um local onde natildeo havia nenhuma edificaccedilatildeo

passando mesmo assim a ser a ponta de linha

No dia 9 de novembro de 1922 eacute inaugurado o obelisco a cerca de 50 metros da estaccedilatildeo

ferroviaacuteria jaacute edificada considerada a pedra fundamental da cidade de Pires do Rio Encontra-

se grafado no monumento em alto-relevo que o Engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida na

eacutepoca diretor da Estrada de Ferro de Goyaz era o fundador da cidade de Pires do Rio uma

ldquofraserdquo que tem gerado algumas controveacutersias acerca do verdadeiro fundador da cidade

(SIQUEIRA 2006)

Enquanto alguns escritores piresinos e familiares alimentam a disputa ideoloacutegica no

niacutevel da influecircncia poliacutetica do coronel Lino Teixeira de Sampaio corroborada pela doaccedilatildeo de

um terreno para a construccedilatildeo da cidade outros tecircm se debruccedilado sobre as criacuteticas advindas do

meio acadecircmico local uma vez que o aniversaacuterio da cidade natildeo coincide com a data da escritura

de doaccedilatildeo das terras 05 de julho de 1922 mas com a data oficial inscrita na pedra fundacional

feita pelo Diretor da Estrada de Ferro Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida 09 de novembro de

1922

Siqueira (2006) eacute um dos estudiosos que argumentam a favor da tese de que o fundador

da cidade eacute o coronel Lino Teixeira de Sampaio Desta forma para corroborar o ato de doaccedilatildeo

da gleba de terra Siqueira (2006) recorreu aos livros de registros do Cartoacuterio de Imoacuteveis da

Comarca de Santa Cruz de Goiaacutes onde se encontra a escritura puacuteblica lavrada no dia 5 de julho

de 1922 pois na eacutepoca as terras pertenciam a este referido municiacutepio a qual nos informa que

por eles [Lino e Rozalina] foi dito que de suas livres e espontacircneas vontades

e sem coaccedilatildeo alguma doam agrave Estrada de Ferro de Goyaz com (4) alqueires

de terreno de campo divididos e demarcados nesta fazenda do ldquoBrejordquo

conforme consta na planta confeccionada pela dita Estrada de Ferro e bem

assim a aacutegua necessaacuteria ao abastecimento da Estaccedilatildeo jaacute edificada dentro destes

quatros alqueires Declaram mais os doadores que fazem a doaccedilatildeo dos

referidos terrenos agrave Estrada de Ferro de Goyaz sem que a mesma Estrada tenha

obrigaccedilatildeo de espeacutecie alguma cabendo-lhe apenas Dividir o terreno doado em

pequenos lotes para que seja dado iniacutecio agrave edificaccedilatildeo de uma pequena Cidade

excluindo o referido a faixa necessaacuteria agrave Estaccedilatildeo arrendar os lotes e aplicar

as rendas em melhoramentos da futura Cidade e edificaccedilatildeo de um Grupo

Escolar natildeo admitir seja construiacutedo preacutedio algum sem que seja previamente

aprovada pela diretoria da Estrada a respectiva planta (SIQUEIRA 2006 p

29)

71

Entretanto os fatos histoacutericos remetem agrave data de 09 de novembro como sendo de

fundaccedilatildeo da cidade jaacute que essa data se justifica pela inauguraccedilatildeo (documentada) da estaccedilatildeo

ferroviaacuteria Pires do Rio embora para Siqueira (2006) a data de fundaccedilatildeo da cidade seja o dia

05 de julho de 1922 data que coincide com a da escritura puacuteblica de doaccedilatildeo das terras agrave Estrada

de Ferro Goyaz

Siqueira (2006) ainda acrescenta as suas consideraccedilotildees acerca do fato de que o coronel

Lino Teixeira de Sampaio aleacutem de doar os quatro alqueires de terra accedilatildeo que outros

fazendeiros das estaccedilotildees seguintes natildeo tiveram apresentou um projeto urbano (planta) da

cidade a ser erguida nas proximidades da estaccedilatildeo projeto este de autoria de um engenheiro da

Estrada Aacutelvaro Pacca que foi apresentado e aprovado pela direccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz

em 1ordm de janeiro de 1922

De acordo com Ferreira (1999) acredita-se que no local definitivo da estaccedilatildeo por volta

do ano de 1923 apresentou-se outro projeto para a construccedilatildeo da cidade desta vez solicitado

ao topoacutegrafo da Estrada de Ferro Moacir de Camargo A cidade de Pires do Rio ficaria sendo

entatildeo a primeira cidade do Centro-Oeste a nascer com planejamento preacutevio antes de Goiacircnia

ou Brasiacutelia

O momento em que a cidade comeccedila a surgir de acordo com Nogueira (sd) fez com

que a populaccedilatildeo do Roncador migrasse toda para laacute carregando tudo aquilo que lhes pertencia

inclusive o material de construccedilatildeo das casas que foram demolidas construindo novas moradias

no local escolhido para tal fim Esse fato de mudar de um arraial para outro segundo Ferreira

(1999) veio a constituir o fenocircmeno por ele denominado de fagocitose pois para a formaccedilatildeo

da cidade Pires do Rio o arraial do Roncador extinguiu-se para vigorar a nascente cidade como

se observa nos dizeres abaixo

Pires do Rio crescia em terras de Santa Cruz municiacutepio de projeccedilatildeo

econocircmica e poliacutetica no Estado que dominou todo o sudeste e parte do sul de

Goiaacutes O arraial de origem fundado em 1729 teve seu valor econocircmico

firmado na extraccedilatildeo auriacutefera passando agrave Julgado de Santa Cruz em 1809 com

seu territoacuterio de influecircncia sobre uma extensa aacuterea Emancipou-se agrave Vila em

1833 quando Goiaacutes foi dividido em quatro Comarcas sendo Santa Cruz uma

delas Terminado o ciclo do ouro sua economia voltou-se durante o seacuteculo

XIX para a pecuaacuteria extensiva a agricultura e primitivo processamento da

produccedilatildeo agriacutecola sobrepondo-se agraves outras cidades de economia auriacutefera em

estagnaccedilatildeo A emancipaccedilatildeo de seus distritos ao longo do seacuteculo XIX foi-lhe

tirando a extensatildeo de seu poder territorial e de jurisdiccedilatildeo mas natildeo seu poder

econocircmico e poliacutetico no Estado Essa situaccedilatildeo veio a se alterar com a chegada

da Estrada de Ferro Goiaacutes (FERREIRA 1999 p 136)

72

As construccedilotildees jaacute haviam se iniciado e comeccedilara a chegar os novos moradores oriundos

de vaacuterias partes do paiacutes e do mundo que solidificariam a comunidade piresina Os baianos e os

aacuterabes foram os primeiros migrantes a chegarem e fixarem-se acreditando na futura cidade Os

baianos e outros nordestinos foram atraiacutedos pela frente de trabalho criada pela construccedilatildeo da

ferrovia Os italianos e espanhoacuteis tambeacutem se fizeram presentes na comunidade local No

entanto a maioria dos migrantes foram mesmo paulistas e mineiros Os estrangeiros tais como

italianos espanhoacuteis e principalmente aacuterabes foram partes integrantes da elite dominante

(FERREIRA 1999)

Pires do Rio se elevou a distrito do Municiacutepio de Santa Cruz em 23 de agosto de 1924

pela Lei nordm 66 E em 7 de julho de 1930 pela Lei nordm 903 foi criado o municiacutepio de Pires do

Rio E tatildeo logo pelo Decreto de ndeg 522 de 8 de janeiro de 1931 publicado no Correio Officcial

ndeg 1819 paacutegina 3 de 19 de abril do mesmo ano (SIQUEIRA 2006) oficializou a transferecircncia

da Comarca de Santa Cruz para a cidade de Pires do Rio

Na deacutecada de 30 estabelecia-se o comeacutercio na cidade de Pires do Rio natildeo tinha um

centro comercial propriamente dito mas algumas casas de comeacutercio espalhadas pela cidade

(FERREIRA 1999) A instalaccedilatildeo da energia eleacutetrica em 1934 deu um impulso agrave agroinduacutestria

local iniciada com a charqueada em 1924 e logo apoacutes por uma maacutequina beneficiadora de arroz

serraria faacutebrica de manteiga padarias curtume e outros pequenos centros de produccedilatildeo com

isso a necessidade de matildeo-de-obra impulsionava o crescimento da populaccedilatildeo jaacute que muitos

eram empregados pela via feacuterrea desta forma a vinda de imigrantes a nova cidade era

necessaacuterio Com o crescimento da cidade e da sua populaccedilatildeo foram necessaacuterias benfeitorias

que foram ocorrendo no decorrer dos anos

De acordo com Siqueira (2006) Pires do Rio se desenvolveu de forma diferenciada das

centenaacuterias cidades de Goiaacutes visto que a maioria se formou por tradicionais enraizados e

familiocratas grupos poliacuteticos ou simplesmente ldquooligarquiasrdquo o que permitiu uma abertura e

receptividade ao novo e ao desconhecido como paracircmetro coerente para a construccedilatildeo de uma

comunidade nascente No periacuteodo de 1921 a 1940 correspondentemente agrave cidade em sua

afirmaccedilatildeo poliacutetica e urbana foi composta por migrantes e imigrantes que se estabeleciam na

prestaccedilatildeo de serviccedilo agroinduacutestria e comeacutercio tudo isso oriundo da formaccedilatildeo da cidade pela

Estrada de Ferro Goyaz

Um fato ainda natildeo informado eacute que no ano de 1933 o municiacutepio era constituiacutedo de dois

distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Jaacute no decreto-lei nordm 5200 de 08 de dezembro de 1934

Pires do Rio eacute ldquorebaixadordquo agrave categoria de distrito do municiacutepio de Santa Cruz haja vista que

73

em divisotildees territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937 Pires do Rio figura como distrito

de Santa Cruz (IBGE 2016)

Em 03 de marccedilo de 1938 pelo Decreto-lei nordm 557 Pires do Rio retorna agrave categoria de

municiacutepio e Santa Cruz agrave de distrito No periacuteodo de 1939-1943 o municiacutepio aparece constituiacutedo

de trecircs distritos Pires do Rio Santa Cruz e Cristianoacutepolis O distrito de Santa Cruz pelo

Decreto-lei nordm 8305 de 31 de dezembro de 1943 passou a denominar-se Corumbalina Mas

pelo Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias de 20 de julho de 1947 Artigo 61

desmembrou-se do municiacutepio de Pires do Rio e foi elevado agrave categoria de municiacutepio com a

denominaccedilatildeo de Santa Cruz de Goiaacutes (IBGE 2016)

Em divisatildeo territorial datada de 1 de julho de 1950 o municiacutepio eacute constituiacutedo de dois

distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Depois pela lei municipal nordm 221 de 15 de julho 1953

eacute criado o distrito de Palmelo e anexado ao municiacutepio de Pires do Rio A lei estadual nordm 739 de

23 de junho de 1953 desmembra do municiacutepio de Pires do Rio o distrito de Cristianoacutepolis

elevado entatildeo agrave categoria de municiacutepio Rapidamente o distrito de Palmelo pela lei estadual

nordm 908 de 13 de novembro de 1953 eacute desmembrado do municiacutepio de Pires do Rio e elevado agrave

categoria de municiacutepio (IBGE 2016)

A ferrovia foi um marco na histoacuteria de Pires do Rio uma vez que o transporte ferroviaacuterio

era utilizado para escoar a produccedilatildeo Aleacutem disso a instalaccedilatildeo do Frigoriacutefico Brasil Central

estimulou a produccedilatildeo da pecuaacuteria de corte Nas deacutecadas de 1950 e 1960 destacou-se por

exportar o charque e pela produccedilatildeo de cerveja Jaacute com a construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 e a

implantaccedilatildeo das rodovias favoreceu-se a sua interligaccedilatildeo aos outros municiacutepios goianos

O fluxo de cargas e pessoas pela via ferroviaacuteria entre os anos de 1940 a 1950 apresentava

regularidade mas devido agrave construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 de 1965 a 1970 apresentou uma

queda gradativa por deficiecircncia teacutecnica das linhas falta de manutenccedilatildeo delas e dos

equipamentos lentidatildeo do transporte o que provocou em 1970 a desativaccedilatildeo do transporte de

passageiros A Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima (RFFSA) foi privatizada em 1996

e a Ferrovia Centro Atlacircntica (FCA) adquiriu 7080 km de extensatildeo operando 685 km em

Goiaacutes tendo adotado uma nova poliacutetica investindo dois milhotildees de reais na ferrovia

desativando vaacuterias estaccedilotildees (NOVAIS 2014) Na Estaccedilatildeo Pires do Rio ficou funcionando

apenas o escritoacuterio da FCA e o Museu Ferroviaacuterio e na Estaccedilatildeo Roncador uma oficina de

manutenccedilatildeo de vagotildees

Segundo Novais (2014) a ferrovia enquanto elemento modernizador do Sudeste

Goiano e instrumento capaz de aumentar as aglomeraccedilotildees urbanas e dinamizar o progresso da

regiatildeo de acordo com os novos interesses dominantes sempre esteve sob o controle do poder

74

econocircmico estatal ou de grupos Sua expansatildeo justificou-se em detrimento dos interesses

capitalistas e imperialistas Portanto a estrada de ferro eacute um produto da induacutestria capitalista da

Primeira Revoluccedilatildeo Industrial colocada a serviccedilo do capital e resultante das transformaccedilotildees

ocorridas no processo de expansatildeo do capitalismo no Brasil e no mundo (BORGES 1990) O

Estado de Goiaacutes ao inserir-se na dinacircmica capitalista e implantar a via feacuterrea em seu territoacuterio

conseguiu integrar-se ao mercado brasileiro aleacutem de mitigar anos de atraso e isolamento

econocircmico

32 Pires do Rio geograacutefico

O municiacutepio de Pires do Rio localiza-se na Microrregiatildeo do Sudeste Goiano inserida

na Mesorregiatildeo Sul Goiano A Microrregiatildeo eacute reconhecida como a regiatildeo da Estrada de Ferro

Limita-se com os municiacutepios goianos de Orizona Vianoacutepolis Urutaiacute Caldas Novas Satildeo

Miguel do Passa Quatro Santa Cruz de Goiaacutes Palmelo Cristianoacutepolis e Ipameri A aacuterea da

unidade territorial (kmsup2) eacute de 1073361 com uma altitude meacutedia de 75886 O municiacutepio

encontra-se entre as seguintes coordenadas geograacuteficas

Mapa 1 ndash Pires do Rio (GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio (GO)

75

A cidade de Pires do Rio eacute constituiacuteda por riquezas naturais do bioma Cerrado o qual

apresenta uma heterogeneidade na sua fisionomia pois engloba desde formaccedilotildees florestais

como as Matas Ciliares (vegetaccedilatildeo que fica nas margens dos rios) e Cerradatildeo aleacutem do Cerrado

restrito (eacute o Cerrado tiacutepico formado por vegetaccedilotildees arboacutereas de casca grossa e troncos

retorcidos) com formaccedilotildees vegetais ou herbaacuteceas (campo sujo e limpo)

Uma das caracteriacutesticas marcantes do Cerrado eacute sua riqueza em recursos hiacutedricos e Pires

do Rio natildeo foge agrave regra Servindo de fronteiras naturais para o municiacutepio tem-se o rio do Peixe

na parte norte A parte sul do municiacutepio desagua no rio Corumbaacute que tambeacutem eacute utilizado como

fronteira natural e eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio Aleacutem destes tem o rio Piracanjuba

que devido agrave sua estrutura rochosa e seu volume de aacutegua foi palco da construccedilatildeo de uma usina

hidreleacutetrica em meados do seacuteculo XX que abastecia a cidade embora hoje encontre-se em

ruiacutenas

Aleacutem dos trecircs rios o municiacutepio possui ao longo de todo seu o territoacuterio vaacuterias

nascentes coacuterregos ribeirotildees quedas drsquoaacutegua os quais satildeo todos afluentes do rio Corumbaacute

Vale ressaltar que a maioria dos cursos drsquoagua satildeo perenes ou seja tem aacutegua o ano todo por

isso muitos deles tem o nome da regiatildeo em que se encontra pois satildeo objetos marcantes na

paisagem

Segundo o IBGE (1957) a populaccedilatildeo piresina no Recenseamento de 1950 era de

12946 habitantes (inclusive a populaccedilatildeo dos atuais municiacutepios de Cristianoacutepolis e Palmelo ndash

na eacutepoca distritos de Pires do Rio) apresentando quadro urbano e suburbano com uma

populaccedilatildeo de 4836 habitantes sendo 2282 homens e 2554 mulheres A densidade

demograacutefica era de 12 habitantes por quilocircmetro quadrado verificando-se que 53 da

populaccedilatildeo localizava-se no quadro rural

Na deacutecada de 50 o municiacutepio de Pires do Rio tinha um nuacutecleo populacional que era o

povoado de Marataacute aleacutem da sede (como jaacute mencionado no ano de 1953 os distritos de

Cristianoacutepolis e Palmelo satildeo elevados a municiacutepio) Mas com o passar dos anos ele deixa de

existir ficando apenas a Igreja de Satildeo Sebastiatildeo As atividades econocircmicas do municiacutepio eram

predominantemente a produccedilatildeo agriacutecola e pecuaacuteria O municiacutepio apresentava-se como um local

de atraccedilatildeo recreativa pela sua beleza paisagiacutestica a qual pode ser observada na cachoeira do

Salto no rio Piracanjuba jaacute mencionado onde foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica que forneceu

energia agrave cidade ateacute meados do seacuteculo XX

A populaccedilatildeo em 2010 era de 28762 habitantes sendo 14105 homens e 14657

mulheres Predominantemente urbana com 27094 pessoas e apenas 1668 no meio rural Pires

do Rio apresenta uma aacuterea de 1073361 km2 e uma densidade demograacutefica de 2680 habkmsup2

76

O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) do municiacutepio eacute de 0744 A Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa (PEA) eacute de 8717 homens e 6128 mulheres (IBGE 2016)

De acordo com os dados populacionais desde o Recenseamento da deacutecada de 50 (dados

jaacute mostrados anteriormente) a cidade teve um crescimento consideraacutevel como pode ser

observado nos quadros abaixo

Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo recenseamento

Populaccedilatildeo Censitaacuteria

1980 1991 2000 2010

Total de habitantes 19258 22131 26229 28762

Urbano 16670 20537 24473 27094

Zona Rural 2588 1594 1756 1668

Masculino 9498 10904 12948 14105

Feminino 9760 11227 13281 14657

Urbano Masculino 8098 10027 11966 13208

Urbano Feminino 8572 10510 12507 13886

Zona Rural Masculino 1400 877 982 897

Zona Rural Feminino 1188 717 774 771

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Nos dados que satildeo apresentados pelo IBGE (populaccedilatildeo estimada) entre os anos 2001 e

2004 ocorreu uma queda no crescimento populacional em relaccedilatildeo ao ano de 1999 que foi de

28631 e nos demais anos segue 2001 26600 2002 27091 2003 27491 2004 28332 A

respeito desta queda natildeo conseguimos informaccedilotildees Em duas datas especiacuteficas houve uma

contagem da populaccedilatildeo seguem os dados abaixo

Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo contagem

Populaccedilatildeo Contagem

1996 2007

Total de habitantes 25094 26857

Masculino 12403 13232

Feminino 12691 13574

Urbano 23766 25031

77

Zona Rural 1328 1826

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Os dados inseridos no quadro 3 satildeo uma estimativa da populaccedilatildeo informada pelo IMB

e IBGE

Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio (GO)

Populaccedilatildeo Estimada

2011 2012 2013 2014 2015

28956 29145 30232 30469 30703

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Para entreter a populaccedilatildeo o turismo do municiacutepio estaacute relacionado agraves edificaccedilotildees com

relevacircncia arquitetocircnica e cultural como a Ponte Epitaacutecio Pessoa o antigo Frigoriacutefico Brasil

Central as igrejas Satildeo Sebastiatildeo (Patrimocircnio do Marataacute) Satildeo Benedito (Igreja dos Congos) a

Ferrovia Centro Atlacircntica e o Museu Ferroviaacuterio O patrimocircnio material eacute representado pelo

centro histoacuterico principalmente a Igreja Matriz Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus coreto e chafariz da

Praccedila Gaudecircncio Rincon Segoacutevia o Mercado Municipal a Biblioteca Municipal a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria e a casa do Maneco (hoje em ruiacutenas) que formam um conjunto arquitetocircnico

singular como tambeacutem as belezas naturais das Serras da Caverna e das Flores a cachoeira do

Marataacute e Prainha (as margens do rio Corumbaacute)

De acordo com Novais (2014) nos anos de 1980 o municiacutepio conheceu a expansatildeo da

fronteira agriacutecola com a introduccedilatildeo do cultivo da soja logo apoacutes em 1993 atraiu investimentos

com a implantaccedilatildeo do complexo agroindustrial aviacutecola e a industrializaccedilatildeo do setor

contribuindo para o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que perpassou a regiatildeo do Sudeste

Goiano Atualmente a economia piresina eacute voltada para as atividades agriacutecolas como a

produccedilatildeo de soja milho sorgo arroz feijatildeo e mandioca

O comeacutercio a infraestrutura e serviccedilos (sauacutede educaccedilatildeo comeacutercio e prestaccedilatildeo de

serviccedilos) exercem funccedilatildeo de polo atrativo para moradores dos municiacutepios vizinhos Toda a

importacircncia do municiacutepio para a regiatildeo o estado e o paiacutes se deve agrave instalaccedilatildeo da Estrada de

Ferro Goyaz e aos que acreditaram no crescimento de Pires do Rio e investiram em seu

territoacuterio Por esta razatildeo que parte de nossa pesquisa busca reviver fragmentos da histoacuteria desta

cidade que se faz importante para uma regiatildeo estado e paiacutes

78

33 Os cursos drsquoaacutegua

No quadro abaixo apresentamos os nomes dos cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio

levantamento realizado de acordo com os mapas cartas topograacuteficas e vocabulaacuterio do IBGE

(1957)

Quadro 6 ndash Cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO)

Vocabulaacuterio Geograacutefico ndash IBGE (1957)

Rio ndash 3 Paacutegi

na

Descriccedilatildeo Municiacutepio de

Nasceste

Rio Corumbaacute 75 Rio nasce nos arredores de Pirineus

atravessa o municiacutepio como o de Santa

Luzia depois de servir em pequeno trecho

de divisa a Bonfim Adiante separa Ipameri

e Corumbaiacuteba de um lado e Campo

Formoso Pires do Rio Caldas Novas Buriti

Alegre do outro ateacute desaguar no rio

Paranaiacuteba pela margem direita

Corumbaacute

Rio do Peixe 165 Rio nasce na regiatildeo sul-oriental do

municiacutepio que separa dos de Campo

Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio

e o de Caldas Novas desemboca no rio

Corumbaacute pela margem direita

Silvacircnia

Rio Piracanjuba 171 (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce

na serra de Passa Quatro e atravessa o

municiacutepio bem como o de Pouso Alto

Adiante separa Caldas Novas de Morrinhos

e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio

Corumbaacute pela margem direita

Bela Vista

Coacuterrego ndash 34

Coacuterrego Areias 15 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Pires do Rio

Coacuterrego Barreiro - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia

Coacuterrego do

Barreiro

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Piracanjuba

Coacuterrego dos Batista - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Bauzinho 29 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Bauacute

Orizona

Coacuterrego da Braga 37 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Santa Maria

Luziacircnia

79

Coacuterrego Boa Vista 32 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Buracatildeo 40 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Buriti 42 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio dos Bois

Pires do Rio

Coacuterrego Cachoeira 47 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Piracanjuba

Silvacircnia

Coacuterrego Capoeira

Grande

60 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Cachoeira

Orizona

Coacuterrego Carvalho - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego da Caverna 66 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio dos Peixes (M de Pires do Rio)

Pires do Rio

Coacuterrego Corrente - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Domingo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego da Estiva 88 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Brumado

Pires do Rio

Coacuterrego Fundatildeo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Cocalzinho de

Goiaacutes

Coacuterrego Guaraacute 106 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Itauacutebi - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Juca - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Lajinha 124 Coacuterrego afluente da margem direita do

coacuterrego Taperatildeo

Orizona

Coacuterrego Laranjal 126 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Bauacute

Pires do Rio

Coacuterrego Limeira 128 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Ipameri

Coacuterrego Marreco 136 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Bauacute

Orizona

Coacuterrego Mata

Dentro

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego do

Mocambo

144 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

das Antas

Silvacircnia

Coacuterrego Olho

drsquoaacutegua

152 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Piracanjuba

Orizona

Coacuterrego do Pico 168 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Brumado

Pires do Rio

Coacuterrego

Piracanjuba

171 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

igual nome

Morrinhos

Coacuterrego Posse 177 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

coacuterrego do Fundo

Orizona

80

Coacuterrego Satildeo

Jerocircnimo

202 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Caiapoacute

Pires do Rio

Coacuterrego Saltador 193 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute proacuteximo a barra do rio

Alagado

Luziacircnia

Coacuterrego Taquaral 217 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute (M de Pires do Rio)

Pires do Rio

Coacuterrego da Terra

Vermelha

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia

Ribeiratildeo ndash 8

Ribeiratildeo Bauacute 29 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Piracanjuba na divisa do municiacutepio de Pires

do Rio

Orizona

Ribeiratildeo Brumado 33 Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do

rio dos Peixes

Santa Cruz de

Goiaacutes

Ribeiratildeo Cachoeira 47 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Piracanjuba

Orizona

Ribeiratildeo Caiapoacute 50 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Urutaiacute

Ribeiratildeo Marataacute - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Ribeiratildeo Mucambo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Ribeiratildeo Sampaio 194 Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da

margem direita do rio Corumbaacute (M de

Pires do Rio)

Pires do Rio

Ribeiratildeo Taquaral - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Orizona

Quedas drsquoaacutegua ndash 1

Cachoeira do

Marataacute

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Fonte Vocabulaacuterio Geograacutefico IBGE 1957

O quarto capiacutetulo apresenta a descriccedilatildeo e anaacutelise de quinze dos 46 topocircnimos (escolha

esta pela relaccedilatildeo de representaccedilatildeo para a cidade de Pires do Rio-GO) de acordo com os aportes

teoacutericos revisados no primeiro capiacutetulo e em consonacircncia com os meacutetodos apresentados e

discutidos no segundo capiacutetulo apresenta ainda algumas questotildees teoacutericas suscitadas pelas

especificidades dos dados escolhidos

81

IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR

O signo toponiacutemico natildeo abre apenas o nome de

um lugar mas o lugar como um todo tudo que estaacute

relacionado a ele de uma forma ou de outra

(SIQUEIRA 2015)

Nos colocar a serviccedilo desta pesquisa foi o mesmo que redescobrir a cidade de Pires do

Rio-GO Conhecer a sua histoacuteria e poder reeditaacute-la remapear os seus cursos drsquoaacutegua e por fim

buscar na Toponiacutemia as relaccedilotildees de poder que os topocircnimos tecircm sobre cada espaccedilo nomeado

assim tomamos posse do que esta pesquisa nos proporcionou e aqui estaacute o aacutepice dela os dados

e suas anaacutelises

Segundo Dias (2008) o municiacutepio de Pires do Rio-GO tem como principais cursos

drsquoaacutegua o rio Corumbaacute situado na parte sudeste o rio Piracanjuba no nordeste e rio do Peixe

na parte sul os quais correm em direccedilatildeo agrave calha do rio Paranaiacuteba (uma das quatro bacias

hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes) ao sul Os rios do Peixe e Piracanjuba desaguam no

Corumbaacute sendo limites de fronteiras do municiacutepio Aleacutem desses rios a rede hidrograacutefica eacute

formada por vaacuterios ribeirotildees e coacuterregos

Para proceder com as devidas anaacutelises dos topocircnimos nos eacute necessaacuterio partir de algumas

definiccedilotildees de nomenclaturas da aacuterea da geografia mas natildeo tivemos acesso a nenhum dicionaacuterio

terminoloacutegico da aacuterea especiacutefica devido agrave dificuldade de encontrar em bibliotecas puacuteblicas e

na internet desta forma recorremos aos dicionaacuterios Aulete (2011) Borba (2004) e Houaiss et

al (2004 2009) para assim proceder com a definiccedilatildeo de palavras (termos) que satildeo recorrentes

em nossa pesquisa a) curso drsquoaacutegua eacute qualquer corpo de aacutegua fluente b) coacuterrego um rio

pequeno com pouco volume de aacutegua que passa por vaacuterios lugares e sempre desagua em um

curso drsquoaacutegua (coacuterrego ribeiratildeo ou rio) c) queda drsquoaacutegua torrente de aacutegua que cai do alto

cachoeiracascata que satildeo formaccedilotildees geomorfoloacutegicas nas quais os cursos drsquoaacutegua correm por

cima de uma rocha de composiccedilatildeo resistente agrave erosatildeo formando uma suacutebita quebra na vertical

d) ribeiratildeo curso drsquoaacutegua maior que o riacho e menor que o rio afluente de um rio e) rio ou

fluacutemen eacute uma corrente natural de aacutegua que flui continuamente Possui um caudal consideraacutevel

e desemboca no mar num lago ou noutro rio e em tal caso denomina-se afluente Pode

apresentar vaacuterias redes de drenagem

Proceder com estas observaccedilotildees eacute elementar para esta pesquisa pois dos 46 topocircnimos

elencados no municiacutepio de Pires do Rio-GO analisaremos apenas 15 visto que analisar todos

82

os topocircnimos seria uma tarefa aacuterdua e que demandaria mais tempo registramos aqui o que nos

motivou agrave escolha dos cursos drsquoaacutegua para anaacutelise Como satildeo apenas 03 rios eacute viaacutevel e de bom

senso analisaacute-los jaacute que satildeo as maiores bacias e que datildeo destaque agrave regiatildeo os ribeirotildees satildeo

especificamente 08 os quais seratildeo analisados inclusive alguns nomes se repetem aos coacuterregos

tambeacutem 01 queda drsquoaacutegua cachoeira do Marataacute que natildeo seraacute analisada devido ao nome ser o

mesmo de um ribeiratildeo dos 34 coacuterregos analisaremos apenas 04 (Barreiro Itauacutebi Laranjal e da

Terra Vermelha) devido ao grau de importacircncia para a cidade pois os coacuterregos Itauacutebi (nascente)

e Laranjal satildeo os que abastecem a cidade de Pires do Rio-GO Quanto ao Barreiro este estaacute

localizado na regiatildeo do Morro do Cruzeiro localidade que tem o maior nuacutemero populacional

na zona rural do municiacutepio O coacuterrego da Terra Vermelha eacute uma aacuterea que haacute muito tempo foi

espaccedilo de olaria e dela saiacuteram grandes quantidades de tijolos que foram utilizados nas

construccedilotildees de casas na cidade e tambeacutem pertence a uma localidade onde existiu o povoado do

Marataacute na deacutecada de 50

No mapa 2 apresentamos os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do

Rio-GO bem como aparecem em destaque os 15 topocircnimos que analisaremos a seguir os quais

estatildeo catalogados em fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas que estatildeo inseridas neste capiacutetulo

83

Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)

84

41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural

Os modelos das taxionomias foram elaborados por Dick (1992) a fim de possibilitar ao

pesquisador descobrir o significado dos topocircnimos sem ter que retomar especificamente a

passado histoacuterico Os modelos subdividem-se em 11 taxes de natureza fiacutesica e 16 de natureza

antropocultural Assim podemos verificar se o nomeador recorreu a elementos de natureza

fiacutesico ou socioculturais como motivaccedilatildeo no ato da nomeaccedilatildeo Abaixo apresentamos as 27

taxes subdivididas em suas naturezas e devidas especificaccedilotildees exemplificadas com alguns

topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO nos casos de natildeo ter

recorremos a outros topocircnimos

a) Taxionomias de natureza fiacutesica

1 Astrotopocircnimos topocircnimos que se referem aos corpos celestes cidade Estrela do Norte-

GO

2 Cardinotopocircnimos topocircnimos referentes agraves posiccedilotildees geograacuteficas cidade Alvorada do

Norte-GO

3 Cromotopocircnimos topocircnimos relativos agrave escala cromaacutetica coacuterrego da Terra Vermelha (Pires

do Rio-GO)

4 Dimensiotopocircnimos topocircnimos referentes agraves caracteriacutesticas dimensionais dos acidentes

geograacuteficos como extensatildeo comprimento largura espessura altura profundidade coacuterrego

Fundatildeo (Pires do Rio-GO)

5 Fitotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de vegetais rio Corumbaacute (Pires do Rio-

GO)

6 Geomorfotopocircnimos topocircnimos referentes agraves formas topograacuteficas elevaccedilotildees ou depressotildees

do terreno coacuterrego do Pico (Pires do Rio-GO)

7 Hidrotopocircnimos topocircnimos originados de acidentes hidrograacuteficos ribeiratildeo Cachoeira

(Pires do Rio-GO)

8 Litotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de minerais e de nomes relativos agrave

constituiccedilatildeo do solo coacuterrego Barreiro (Pires do Rio-GO)

9 Meteorotopocircnimos topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos ribeiratildeo Brumado

(Pires do Rio-GO)

10 Morfotopocircnimos topocircnimos que refletem o sentido de forma geomeacutetrica cidade Volta

Redonda-RJ

11 Zootopocircnimos topocircnimos de iacutendole animal rio do Peixe (Pires do Rio-GO)

b) Taxionomias de natureza antropocultural

85

1 Animotopocircnimos ou Nootopocircnimos topocircnimos relativos agrave vida psiacutequica e agrave cultura

espiritual coacuterrego Boa Vista (Pires do Rio-GO)

2 Antropotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais ribeiratildeo Sampaio

(Pires do Rio-GO)

3 Axiotopocircnimos topocircnimos que se referem a tiacutetulos e a dignidades que acompanham os

nomes proacuteprios individuais cidade Senador Canedo-GO

4 Corotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes de cidades paiacuteses estados regiotildees e

continentes coacuterrego Posse (Pires do Rio-GO)

5 Cronotopocircnimos topocircnimos que encerram indicadores cronoloacutegicos como novonova

velhovelha cidade Nova Aurora-GO

6 Ecotopocircnimos topocircnimos que fazem referecircncia agraves habitaccedilotildees de um modo geral cidade

Castelacircndia-GO

7 Ergotopocircnimos topocircnimos relacionados aos elementos da cultura material ribeiratildeo Bauacute

(Pires do Rio-GO)

8 Etnotopocircnimos topocircnimos relativos aos elementos eacutetnicos tribos isolados ou natildeo ribeiratildeo

Caiapoacute (Pires do Rio-GO)

9 Dirrematotopocircnimos topocircnimos construiacutedos por meio de frases ou enunciados linguiacutesticos

cidade Aparecida do Rio Doce-GO

10 Hierotopocircnimos topocircnimos referentes aos nomes sagrados agraves efemeridades religiosas aos

locais de culto cidade Cristianoacutepolis-GO Podem apresentar duas subdivisotildees i)

hagiotopocircnimos topocircnimos que se referem aos santos e agraves santas do hagioloacutegio romano

coacuterrego Satildeo Jerocircnimo (Pires do Rio-GO) ii) mitotopocircnimos topocircnimos referentes agraves

entidades mitoloacutegicas cidade Anhanguera-GO

11 Historiotopocircnimos topocircnimos que se referem a movimentos de cunho histoacuterico-social aos

seus membros ou ainda agraves datas correspondentes cidade Ipiranga de Goiaacutes-GO

12 Hodotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves vias de comunicaccedilatildeo coacuterrego Corrente (Pires

do Rio-GO)

13 Numerotopocircnimos topocircnimos que dizem respeito aos adjetivos numerais cidade Trecircs

Ranchos-GO

14 Poliotopocircnimos topocircnimos constituiacutedos pelos vocaacutebulos vila aldeia cidade povoaccedilatildeo

arraial bairro Vila Nova (Pires do Rio-GO)

15 Sociotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais de trabalho

e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade ribeiratildeo Mucambo (Pires do Rio-

GO)

86

16 Somatotopocircnimos topocircnimos com relaccedilatildeo metafoacuterica agraves partes do corpo humano ou do

animal coacuterrego Olho drsquoaacutegua (Pires do Rio-GO)

Essas classificaccedilotildees taxonocircmicas funcionam como auxiliares no processo de verificaccedilatildeo

que subjaz o topocircnimo sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo da origem e motivaccedilatildeo que

levaram agrave efetivaccedilatildeo de determinado topocircnimo

Aleacutem do mais uma anaacutelise toponiacutemica pressupotildee a busca de particularidades

que natildeo podem ficar apenas nas caracteriacutesticas mais evidentes apresentadas

pelo nome deve-se procurar tanto quanto possiacutevel ou seja tanto quanto as

fontes ou a documentaccedilatildeo o permitirem as origens mais remotas do

denominativo objetivando as eventuais substituiccedilotildees experimentadas e a sua

razatildeo determinante de modo que se possa tentar um equacionamento da

nomenclatura em periacuteodos ou estaacutegios onomaacutesticos ndash senatildeo de toda ela pelo

menos em alguns nomes ndash que talvez reflitam momentos distintivos do pensar

da eacutepoca analisada (DICK 1996 p 15-16)

O leacutexico toponiacutemico eacute carregado de marcas de expressatildeo histoacuterica social cultural

poliacutetica e religiosa de dada comunidade e eacute representativo para o nomeador e seu grupo Desta

forma se determinado local ou coisa passou por vaacuterias nomeaccedilotildees no decorrer dos tempos isso

justifica que cada nomeador observou novas caracteriacutesticas que classificavam ou referenciavam

o topocircnimo de forma precisa e motivada

De acordo com Dick (1990) as vaacuterias facetas significativas que datildeo realce ao nome do

lugar e as inuacutemeras informaccedilotildees que podem ser elencadas dele tornariam no material de um

grande armazenamento de dados e fatos culturais em larga extensatildeo Assim observamos em

Andrade (2010 p 103) que

Os estudos toponiacutemicos dentro do alcance pluridisciplinar de seu objeto de

estudo constituem um caminho possiacutevel para o conhecimento do modus

vivendi das comunidades linguiacutesticas que ocupam ou ocuparam um

determinado espaccedilo Quando um indiviacuteduo ou comunidade linguiacutestica atribui

um nome a um acidente humano ou fiacutesico revelam-se aiacute tendecircncias sociais

poliacuteticas religiosas culturais (Grifos da autora)

Satildeo nessas caracteriacutesticas em que reside a motivaccedilatildeo do topocircnimo e por meio delas nos

satildeo reveladas a histoacuteria e cultura de uma dada comunidade por isso vemos o quanto os estudos

toponiacutemicos satildeo de extrema relevacircncia natildeo soacute para a aacuterea dos estudos da

linguagemlinguiacutesticos mas tambeacutem para as outras aacutereas do conhecimento jaacute que o topocircnimo

eacute plurissignificativo tendo assim um alcance pluridisciplinar

87

Posto isto pode-se evidenciar os estudos toponiacutemicos como um eixo norteador para se

verificar as relaccedilotildees soacutecio-histoacuterico-culturais de um povo jaacute que o topocircnimo estaacute intimamente

vinculado agrave cultura de um povo uma naccedilatildeo e portanto agrave sua histoacuteria Assim tomaremos por

anaacutelise os graacuteficos que se seguem e as taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua

do municiacutepio de Pires do Rio-GO

42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO

Nesta pesquisa os 15 topocircnimos analisados baseados na classificaccedilatildeo enquadram-se

na divisatildeo das naturezas fiacutesica e antropocultural Em alguns topocircnimos eacute possiacutevel ainda

evidenciar mais de uma categoria classificatoacuteria por exemplo o coacuterrego da Terra Vermelha

que se classifica como litotopocircnimo e cromotopocircnimo

Nos graacuteficos abaixo apresentamos e analisamos em base qualiquantitivas as naturezas

das taxionomias fiacutesicas e antropoculturais e a origemetimologia dos topocircnimos estratos

linguiacutesticos

Grafico1 Natureza das Taxionomias

As taxionomias nos permitiram analisar e interpretar os designativos de lugares com

maior precisatildeo e seguranccedila do ponto de vista semacircntico sendo estudados enquanto formas de

liacutengua e de acordo com a causa de seu emprego O produto resultante aqui no nosso caso os

88

topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO ganham vida proacutepria passando

a ter caraacuteter motivado e natildeo apenas arbitraacuterio

As taxes encontradas nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO que tiveram maior proporccedilatildeo foram as de natureza fiacutesica assim o nomeador caracterizou

os fatores fiacutesicos do ambiente ou que chamaram sua atenccedilatildeo Desta forma as nomeaccedilotildees satildeo

motivadas e estabelecem relaccedilotildees com o nomeador e o lugar nomeado

421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos

Os principais topocircnimos analisados neste trabalho confirmaram uma tendecircncia da

toponiacutemia brasileira em geral ou seja a predominacircncia de topocircnimos classificados de acordo

com as taxionomias de natureza fiacutesica uma vez que na nomenclatura onomaacutestica dos

elementos fiacutesicos da regiatildeo analisada haacute um percentual de 67 (10 topocircnimos) que satildeo

classificados como taxes de natureza fiacutesica e 33 (05 topocircnimos) que se enquadram nas taxes

de natureza antropocultural

Graacutefico 2 Taxionomias de Natureza Fiacutesica

O graacutefico apresentado nos revelam que a incidecircncia em sua maioria das taxionomias

de natureza fiacutesica evidencia a influecircncia do ambiente fiacutesico no ato de nomeaccedilatildeo percebe-se

entatildeo que no ato do batismo os povos recorreram a elementos e caracteriacutesticas circundantes

aos lugares nomeados demonstrando que o meio ambiente exerce grande influecircncia no homem

no ato de nomear os lugares

0

05

1

15

2

25

3

Taxionomias de Natureza Fiacutesica

89

Ao atribuir topocircnimos agraves taxionomias de natureza fiacutesica eacute possiacutevel comprovar a forccedila

de elementos fiacutesicos como motivadores no ato de nomear os lugares O que eacute observaacutevel no

graacutefico II os topocircnimos com maior incidecircncia nos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO sendo eles fitotopocircnimos hidrotopocircnimos litotopocircnimos litotopocircnimos e

cromotopocircnimos litotopocircnimos e fitotopocircnimos meteorotopocircnimos e zootopocircnimos que no

decorrer desse trabalho seratildeo analisados

4211 Fitotopocircnimos

De acordo com o observado a taxionomia de origem fitotoponiacutemica (originada de

nomes de vegetais) atingiu em segundo lugar o maior nuacutemero de frequecircncia dentre os

topocircnimos de natureza fiacutesica 20 (02 topocircnimos) satildeo eles coacuterrego Laranjal e ribeiratildeo

Taquaral Eacute observaacutevel que a flora foi uma das grandes motivaccedilotildees para os designativos dos

cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO E segundo Dick (1990 p 146)

O importante talvez seria natildeo perder de vista que a vegetaccedilatildeo eacute parte

integrante de um conjunto natural em que o relevo constituiccedilatildeo do solo

acidentes geograacuteficos regimes climaacuteticos compotildeem um verdadeiro

biossistema imprescindiacutevel ao homem e agrave qualidade de vida que nele pretenda

instalar ou pelo menos usufruir

Eacute nessas relaccedilotildees de importacircncia para o homem que podemos compreender a nomeaccedilatildeo

destes elementos fiacutesicos fazendo referecircncia a aspectos que chamaram a sua atenccedilatildeo e

motivaram a nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua Isso se revela pelo caraacuteter de necessidade agrave vida

humana tanto do nome como do que por ele foi nomeado essa relaccedilatildeo nomeador-objeto-nome

eacute que ressalta a importacircncia da vegetaccedilatildeo no meio social local do vivente Assim tambeacutem

justifica Pereira (2009 p 143) que ldquopossivelmente seja esse o motivo de o

denominadorenunciador registrar as caracteriacutesticas locais de uma regiatildeo na nomeaccedilatildeo dos

acidentes geograacuteficos por meio do topocircnimordquo

Ao trazer as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas eacute perceptiacutevel a motivaccedilatildeo que subjaz

cada topocircnimo como observamos abaixo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 02

Topocircnimo Coacuterrego Laranjal Localizaccedilatildeo Pires do Rio

90

Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia la-ran-jal Sm plantaccedilatildeo ou pomar de laranjas (p827)

Laranja sf lsquofruto da laranjeira planta da fam das rutaacuteceasrsquo XIV Do aacuter nāranğa deriv do

persa nāranğ laranjAL -gal XVI (p382)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino laranja- + -al sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Coacuterrego afluente da margem direita do ribeiratildeo Bauacute (M de

Pires do Rio)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 03

Topocircnimo Ribeiratildeo Taquaral Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ta-qua-ral Sm 1 plantaccedilatildeo de taquara tabocal 2 terreno onde crescem

taquaras (p1337)

Taquara sf lsquoplanta da fam das gramiacuteneas taboca bambursquo 1627 tacoara c 1584 etc

tacoaacutera 1817 Do tupi takṷara taquarAL 1783 (p623)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino taquara- + -al sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ao observar as informaccedilotildees trazidas nas fichas apresentadas dos fitotopocircnimos

possivelmente as motivaccedilotildees que influenciaram o nomeador satildeo perspicazes as referecircncias

locais que de acordo com cada topocircnimo relacionamos i coacuterrego Laranjal evidentemente em

sua localidade apresentava no momento de nomeaccedilatildeo a plantaccedilatildeo de laranjas e tambeacutem o

coacuterrego favorecia a essas plantaccedilotildees ii ribeiratildeo Taquaral assim como analisado o topocircnimo

91

anterior o que tenha influenciado ao nomeador deve estar relacionado com o a quantidade de

taquaras na regiatildeo em se encontra o determinado ribeiratildeo

A ocorrecircncia dos topocircnimos de iacutendole vegetal ora pesquisados pode ter a sua

justificativa pela relevacircncia que as plantas tecircm junto a vida humana bem como necessaacuterias para

a conservaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua e suas nascentes assim justificamos a tendecircncia de valoraccedilatildeo

do vegetal no processo de batismo dos elementos fiacutesicos

4212 Hidrotopocircnimos

O topocircnimo de equivalecircncia hidroniacutemica (originado de acidentes hidrograacuteficos) aparece

no em ribeiratildeo Cachoeira Sabe-se que a aacutegua eacute de fundamental importacircncia para a vida

humana por isso a tendecircncia de o nomeador no ato de batismo do topocircnimo valer-se do nome

relacionado ao elemento aacutegua para designar o lugar

E de acordo com Dick (1990 p 196) ldquoO aparecimento de topocircnimos nos mais

diferentes ambientes revestindo uma natureza hidroniacutemica propriamente dita vincula-se agrave

importacircncia dos cursos drsquoaacutegua para as condiccedilotildees humanas de vidardquo Possivelmente o nomeador

a considera o elemento aacutegua vital para a sua existecircncia ainda sabemos que os cursos drsquoaacutegua

em muitas ocasiotildees servem de caminhos para comeacutercio como tambeacutem foi por meio deles que

se configuraram na histoacuteria do Brasil o achamento e a colonizaccedilatildeo do paiacutes pelos portugueses

Nas ficha abaixo trazemos informaccedilotildees relevantes para anaacutelise dos topocircnimos de origem

hidrograacutefica

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 04

Topocircnimo Ribeiratildeo Cachoeira Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Hidrotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ca-cho-ei-ra Sf 1queda drsquoaacutegua em rio ou ribeiratildeo cujo leito apresenta

forte declive cascata 2 trecho de rio onde as aacuteguas correm raacutepido devido agrave inclinaccedilatildeo do

terreno corredeira (p213)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba (M

de Campo Formoso)

Referecircncias Borba (2004) IBGE (1957)

92

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Por mais que apenas 10 (01) dos topocircnimos de natureza fiacutesica tenham referecircncia agrave

iacutendole hidroniacutemica a regiatildeo de Pires do Rio-GO tem seus limites poliacutetico e fiacutesico (geograacuteficos)

feita por rios sem mencionar a grande importacircncia que esses cursos exercem nas atividades da

regiatildeo

Ainda observamos em Dick (1990 p 197) que

Agraves vezes poreacutem rompe-se o equiliacutebrio que ela [a aacutegua] representa em

qualquer meio desprendendo-se de suas possibilidades de aproximar culturas

distintas e assumindo papel um tanto oposto ao se transformar em ldquoobstaacuteculordquo

agrave difusatildeo dos interesses coletivos Circunscrevendo o homem em seu proacuteprio

espaccedilo quando o transcurso se torna difiacutecil impede os contatos entre grupos

vizinhos Se o isolamento por um lado tende a manter tanto quanto possiacutevel

inalterados os valores comuns preservando por isso a tradiccedilatildeo socioloacutegica

do homem ao retardar a dinacircmica da comunidade em favor de uma estaacutetica

desestimulante e viciosa

A par desta citaccedilatildeo observamos que foi o que aconteceu a cidade de Pires do Rio-GO

a partir do rio Corumbaacute o principal para o municiacutepio que ateacute a deacutecada de 1920 era isolado dos

demais municiacutepios por falta de uma ponte que estabelecesse tal ligaccedilatildeo Com a vinda da Estrada

de Ferro Goyaz e a construccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa surgem as primeiras casas e a

efetivaccedilatildeo do municiacutepio bem como a ligaccedilatildeo com as principais cidades da regiatildeo e as relaccedilotildees

econocircmicas e poliacuteticas que auxiliaram no crescimento do municiacutepio e da regiatildeo

Observamos ainda no contexto do municiacutepio de Pires do Rio-GO que a aacutegua em suas

potencialidades eacute de grande relevacircncia e meio de sobrevivecircncia para a vida humana pois

Na parte sul encontra-se o rio Corumbaacute que eacute maior curso drsquoaacutegua do

municiacutepio Nele eacute feito a extraccedilatildeo de areia para construccedilatildeo civil suas ilhas

servem de pontos de recreaccedilatildeo para vaacuterios moradores e as suas margens satildeo

praticamente ocupadas pelas pequenas propriedades (DIAS 2008 p 84)

Posto isso no efetivar do topocircnimo a partir da importacircncia da aacutegua o nomeador

diferencia o elemento geograacutefico dos demais auxiliando na orientaccedilatildeo do homem no espaccedilo

que o cerca proporcionando subsiacutedios para um melhor (re)conhecimento do local Assim

hipoteticamente acreditamos que o topocircnimo ndash ribeiratildeo Cachoeira ndash no contexto estudado

93

pode ter a sua motivaccedilatildeo pelo proacuteprio ambiente fiacutesico uma vez recupera caracteriacutesticas

hidroniacutemicas do lugar

4213 Litotopocircnimos

Notando-se as relaccedilotildees dos topocircnimos de origem mineral os litotopocircnimos coacuterrego

Barreiro representam o percentual de 10 (01 topocircnimo) dos analisados Cabe mencionar que

os minerais foram um dos principais atrativos dos colonizadores portugueses nas terras

brasileiras E de acordo com Dick (1990) os topocircnimos de origem mineral estatildeo relacionados

tanto a caracteriacutesticas do solo quanto do terreno e assim estabelecem duas relaccedilotildees fiacutesicas que

estatildeo ligadas agraves regiotildees da terra neste caso satildeo areia barro lama pedra terra E outro fator

satildeo os histoacutericos que podem ser evidenciados no processo de colonizaccedilatildeo do Brasil por meio

das relaccedilotildees entre solo flora e relevo que satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de uma nova

sociedade

O litotopocircnimo apresentado abaixo por meio de descriccedilatildeo e anaacutelise revela a influecircncia

do local sobre o ato de nomear

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 05

Topocircnimo Coacuterrego Barreiro Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia bar-rei-ro Sm terra alagada lamaccedilal (p164)

Barreira -eirar -eiro ejar rarr BARRO

Barro sm lsquotipo de argilarsquo lsquosubstacircncia utilizada no assentamento da alvenaria de tijolo em

obras provisoacuterias obtida pela mistura de argila com aacuteguarsquo XIV De origem preacute-romana

Relaciona-se neste verbete uma seacuterie de vocaacutebulos etimologicamente correlacionados com

o radical barr- de origem preacute-romana barrEIRA sf lsquoargileirarsquo lsquoparapeitorsquo 1500 barrEIRmiddotAR

bareyrar XV barrEIRO XVIII (p82)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino barro- + ndasheiro sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

94

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Observando Sapir (1969) podemos trazer a reflexatildeo acerca da relaccedilatildeo entre liacutengua e

ambiente que vale a compreensatildeo dos fatores fiacutesicos neste caso os aspectos geograacuteficos

incluindo aleacutem dos elementos fauna e flora os recursos minerais Assim o litotopocircnimo

coacuterrego Barreiro estabelece relaccedilotildees com o local quando foi nomeado ainda compreende-se

que a localidade era de lamaccedilalbarro um dos motivadores por determinado coacuterrego ser

batizado com o referido topocircnimo

Assim como observado em Dick (1990 p 125) os referidos topocircnimos de origem

mineral se referem ao primeiro caso que eacute o de ldquoiacutendole geneacutericardquo aspectos fiacutesicos e especiacuteficos

agraves regiotildees da terra revelando assim caracteriacutesticas minerais da regiatildeo em que estaacute localizado

determinado coacuterrego

4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos

No conjunto dos topocircnimos analisados em um percentual de 10 (01 topocircnimo) do

total encontramos um topocircnimo de estrutura composta mas natildeo hiacutebrido pois eacute formado por

duas palavras de origem latina a saber coacuterrego da Terra Vermelha litotopocircnimo (origem de

nomes de minerais e de nomes relativos agrave constituiccedilatildeo do solo) e cromotopocircnimo (relativo agrave

escala cromaacutetica) E que de acordo com Isquerdo e Seabra (2010 p 91) ldquo[] a motivaccedilatildeo dos

hidrotopocircnimos de estrutura composta normalmente valoriza mais de uma caracteriacutestica do

meio ambiente como foco denominativordquo O mesmo se estabelece com o topocircnimo ora

analisado como descreve na ficha abaixo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 06

Topocircnimo Coacuterrego da Terra Vermelha Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo e

Cromotopocircnimo

Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ter-ra Sf i elemento da superfiacutecie terrestre que misturado com aacutegua

transforma-se em barro ii parte soacutelida da superfiacutecie terrestre chatildeo firme (p1351)

Terra sf lsquoterritoacuterio regiatildeorsquo lsquosolo chatildeorsquo XIII Do lat tĕrra (p631)

95

Vermelho adj lsquoda cor do sanguersquo XIII Do lat vĕrmῐcŭlus (p674)

Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Substantivo Feminino + Adjetivo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Segundo Dias (2008 p 119-122) na maior parte da regiatildeo do municiacutepio de Pires do

Rio-GO o solo eacute ldquoLatossolos Vermelhosrdquo ou ldquoLatossolos Vermelho Amareladordquo assim

hipoteticamente uma das motivaccedilotildees fundamentais para a denominaccedilatildeo do topocircnimo estaacute

ligado a caracteriacutesticas do local o que influenciou o denominador a fazer referecircncia agrave Terra

juntamente com a cor vermelha

E ainda Dias (2008 p 117) justifica que ldquoas caracteriacutesticas da vegetaccedilatildeo natural

muitas das vezes tecircm como fator determinante o tipo de solo porque eacute dele que elas retiram a

maioria dos elementos que precisam para sua nutriccedilatildeordquo Nesta regiatildeo tem a predominacircncia da

agricultura e agropecuaacuteria influecircncias do solo que contribui para tais praacuteticas

Contudo o batismo do coacuterrego com o topocircnimo Terra Vermelha traz em sua motivaccedilatildeo

as caracteriacutesticas que satildeo observadas na localidade e que de certa forma influenciaram o

nomeador Aleacutem do coacuterrego uma regiatildeo rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tambeacutem eacute

conhecida pelo referido nome

4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos

O topocircnimo coacuterrego Itauacutebi eacute um nome composto litotopocircnimo (de origem mineral) e

fitotopocircnimo (de origem vegetal) e representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos

analisados Sua estrutura morfoloacutegica segundo Dick (1992) eacute um topocircnimo composto formado

por ita- (pedra) + -ubi (palmeira) ambos de origem tupi na formaccedilatildeo de palavras se constitui

em uma composiccedilatildeo por justaposiccedilatildeo E hipoteticamente a regiatildeo em que se encontra o

coacuterrego eacute de um terreno pedregulho ou pode ser que o proacuteprio coacuterrego tenha em sua calda um

acuacutemulo maior de pedras que o normal E consequentemente uma regiatildeo em que a vegetaccedilatildeo

tenha ou lembre uma localidade com plantaccedilotildees de palmeiras

96

Assim a ficha lexicograacutefica-toponiacutemia abaixo nos auxiliou na descriccedilatildeo e anaacutelise do

topocircnimo coacuterrego Itauacutebi aclarando para um efetiva interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo do corpus desta

pesquisa

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 07

Topocircnimo Coacuterrego Itauacutebi Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo e Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia Ita ndash pedra eacute o termo mais comum nos topocircnimos brasileiros algumas

vezes aparece sem o i inicial Ta-nhenga (ilha do Rio de Janeiro) Ta-ratatilde (localidade da

Bahia) (p 174)

Ubi ndash nome comum a vaacuterias palmeias dos gecircneros Genoma Bactris e Calyptrogyne (p 190)

Estrutura morfoloacutegica Nome composto (ita- substantivo feminino + -ubi substantivo

feminino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Tibiriccedila (1985)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Segundo Dias (2008) o coacuterrego Itauacutebi eacute um dos afluentes do ribeiratildeo Marataacute e tambeacutem

um dos coacuterregos que abaste ao municiacutepio de Pires do Rio-GO juntamente com o coacuterrego

Laranjal Assim eacute possiacutevel notar a importacircncia deste curso drsquoaacutegua para o municiacutepio e a sua

relevacircncia em anaacutelise para a nossa pesquisa

4216 Meteorotopocircnimos

A meteorotoponiacutemia refere-se a topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos e no

contexto pesquisado representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos analisados sendo

ribeiratildeo Brumado que proveacutem do termo latino bruma lsquoinvernorsquo especificando como nevoeiro

neblina e cerraccedilatildeo (CUNHA 2010) Dados esses especificados abaixo na ficha lexicograacutefica-

toponiacutemica que nos auxiliou na interpretaccedilatildeo e anaacutelise do topocircnimo

97

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 08

Topocircnimo Ribeiratildeo Brumado Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Meteorotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia Bruma bru-ma Sf nevoeiro neblina cerraccedilatildeo (p203)

Bruma sf lsquonevoeiro neblina cerraccedilatildeorsquo XVI Do lat bruma lsquoinvernorsquo (p103)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino bruma- + sufixo ndashado)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do rio dos Peixes (M

de Pires do Rio)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ao observarmos em Sapir (1969) em que o leacutexico de uma liacutengua reflete claramente o

ambiente fiacutesico e social do falantes provavelmente o que influenciou o nomeador em recorrer

ao batismo do topocircnimo Brumado em determinado ribeiratildeo pode ter sido devido a ocorrer na

localidade neblinanevoeiro na estaccedilatildeo do ano inverno jaacute que a proacutepria raiz da palavra bruma

faz referecircncia ao ldquoinvernordquo

Nas leituras realizadas em alguns pesquisadores da aacuterea da toponiacutemia como Almeida

(2012) Carvalhinhos (2002 2003) Dick (1990 1992 1996 1999 2000 2001 2004 2006)

Isquerdo e Seabra (2010) Pereira (2009) Siqueira (2012 2015) natildeo foi recorrente

encontrarmos algum meteorotopocircnimo analisado ou que nos desse qualquer sustentaccedilatildeo ou

informaccedilotildees para proceder com algum confrontamento de dados mediante a isso

subentendemos que os topocircnimos de iacutendole dos fenocircmenos atmosfeacutericos natildeo tenham uma certa

frequecircncia como os demais

4217 Zootopocircnimos

Nas denominaccedilotildees de iacutendole animal zootopocircnimos no estudo corrente referem ao

percentual de 30 (03 topocircnimos) dos extratos pesquisados ndash rio Corumbaacute rio do Peixe e rio

Piracanjuba Precisamente em dois topocircnimos o fator motivador foi o animal peixe que

possivelmente influenciou o nomeador A saber que a caccedila e pesca era o meio de sobrevivecircncia

98

da comunidade primitiva desta forma possivelmente a comunidade que habitava nos referidos

locais tambeacutem foi influenciada por essas razotildees e daiacute batizando ambos os rios com os referidos

topocircnimos

Ao observamos os topocircnimos de iacutendole animal aqui presentes vamos contrapor ao que

Dauzat (1922 apud DICK 1990) constatou ter uma menor frequecircncia dos zootopocircnimos em

relaccedilatildeo a outras categorias na toponiacutemia francesa bem como agrave perspectiva de Backheuser

(1952 apud DICK 1990) de que na toponiacutemia brasileira os nomes de animais satildeo menos

recorrentes

As relaccedilotildees de denominaccedilatildeo toponiacutemica de uma dada regiatildeo pode ser diferente de outra

de acordo com isso as relaccedilotildees de motivaccedilotildees estatildeo estritamente ligadas ao nomeador pois

cada qual atribui a caracteriacutesticas inerentes ao local a que faz referecircncia Assim as fichas

lexicograacuteficas-toponiacutemicas abaixo evidenciam em suas descriccedilotildees e nos auxiliam a proceder

com a anaacutelise toponiacutemica dos designativos bem como a quantificar que os zootopocircnimos foram

os de maior frequecircncia em nossas anaacutelises

Nordm de ordem 09

Topocircnimo Rio Corumbaacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia cid Mato Grosso do Sul de corumbaacute caacutegado (p44) Origem Tupi

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio nasce nos arredores de Pirineus atravessa o municiacutepio

como o de Santa Luzia depois de servir em pequeno trecho de divisa a Bonfim Adiante

separa Ipameri e Corumbaiacuteba de um lado e Campo Formoso Pires do Rio Caldas Novas

Buriti Alegre do outro ateacute desaguar no rio Paranaiacuteba pela margem direita (M de Corumbaacute)

Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 10

Topocircnimo Rio do Peixe Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

99

OrigemEtimologia pei-xe Sm (Zool) 1 espeacutecime de classe animal vertebrado que nasce e

vive na aacutegua respira por guelras e se locomove por meio de barbatanas (p1048)

sm lsquo(Zool) animal cordado gnastomado aquaacutetico com nadadeiras com pele geralmente

coberta de escamas que respira por bracircnquiasrsquo XIII Do lat piscis -is peixADA XX

peixARIA XX peixeiro peyxero XIII Cp pescar piscatoacuterio (p485)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio (do) nasce na regiatildeo sul-oriental do municiacutepio que separa

os de Campo Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio e o de Caldas Novas desemboca

no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bonfim)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) (IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 11

Topocircnimo Rio Piracanjuba Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia cid de Goiaacutes de piracanjuba uma var de peixe de rio etim piraacute-

acatilde-juba peixe de cabeccedila amarela (p97) Origem Tupi

piraacute sm lsquodesignaccedilatildeo geneacuterica de peixe em tupirsquo piracanjuva sf lsquoespeacutecie de douradorsquo 1792

Do tupi pirakaᶇlsquoḭuṷa (p498)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce na serra de Passa

Quatro e atravessa o municiacutepio bem como o de Pouso Alto Adiante separa Caldas Novas de

Morrinhos e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bela

Vista)

Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

100

Segundo Dias (2008) o rio Corumbaacute eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio dele se extrai

areia para a construccedilatildeo civil e suas ilhas e margens servem para abrigar pequenas propriedades

inclusive para a recreaccedilatildeo e turismo O rio do Peixe eacute um dos trecircs maiores cursos drsquoaacutegua e

fronteiriccedilo na regiatildeo sul entre Pires do Rio Cristianoacutepolis Vianoacutepolis e Satildeo Miguel do Passa

Quatro tem como principal afluente o ribeiratildeo Brumado e tambeacutem eacute o principal afluente do

rio Corumbaacute O rio Piracanjuba tambeacutem estaacute entre os principais do municiacutepio na regiatildeo norte

faz fronteira entre Pires do Rio Orizona Urutaiacute e Ipameri sua principal relevacircncia foi na

deacutecada de 1950 por aiacute ter funcionado uma usina hidreleacutetrica que abastecia o municiacutepio de Pires

do Rio-GO

A anaacutelise zootoponiacutemica na localidade pesquisada evidenciou a valorizaccedilatildeo da fauna

local pois ao utilizar o nome de animais recuperou-os para nomear lugares como os rios

Observamos que os nomes de animais que estabelecem a sua origem nas liacutengua tupi

(Piracanjuba e Corumbaacute) e latina (Peixe) motivaram a nomeaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e

de alguma forma estatildeo vinculados agrave vida do nomeador estabelecendo assim relaccedilotildees

extralinguiacutesticas com os topocircnimos pesquisados E segundo Theodoro Sampaio (1914 apud

DICK 1990) dificilmente o nome do animal estaria desvinculado de sua existecircncia na

localidade

Os elementos de natureza fiacutesica mais evidentes na motivaccedilatildeo que subjazem aos

topocircnimos ora analisados foram os de origem vegetal mineral e animal (peixe) Percebemos

assim que o nomeador teve influecircncia das caracteriacutesticas do local para designar o referido

topocircnimo A partir desta anaacutelise nos eacute pertinente ao proacuteximo subtoacutepico proceder com as

anaacutelises das taxionomias de natureza antropocultural

422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos

Os topocircnimos de natureza antropocultural representam 33 (05 topocircnimos) do corpus

analisado destacando-se os antropotopocircnimos ergotopocircnimos etnotopocircnimos e

sociotopocircnimos O nomeador obteve suas motivaccedilotildees de iacutendole antropocultural fazendo

homenagem a pessoas importantes da cidade recuperando elementos da cultura material do

povo revelando elementos eacutetnicos isolados ou natildeo e por fim referenciando a atividades

profissionais ou pontos de encontro de pessoas da comunidade Assim identificando a

influecircncia do homem no meio em que se encontra

101

Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural

O graacutefico 3 nos traz em sua amplitude os topocircnimos de origem antropocultural e a partir

dele eacute que procederemos com as anaacutelises no decorrer do texto observando as regecircncias e

distintas influecircncias do nomeador no ato do batismo

4221 Antropotopocircnimos

Dentre os topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais em nossa pesquisa foi

encontrado apenas o ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo correspondendo ao percentual de

20 (01) dos topocircnimos de natureza antropocultural analisados Na toponiacutemia brasileira eacute

recorrente encontrarmos antropotopocircnimos especialmente lugares como cidades praccedilas ruas

e outros acabam recebendo nomes proacuteprios em homenagem a algueacutem A ficha lexicograacutefica-

toponiacutemica 12 em sua amplitude nos auxilia a perceber a influecircncia do antrotopocircnimo

analisado pois refere-se a uma figura puacuteblica da comunidade piresina

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 12

Topocircnimo Ribeiratildeo Sampaio Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia sm ldquomarinhordquo Sampaio eacute um sobrenome presente na onomaacutestica

portuguesa atraveacutes de raiacutezes tipicamente toponiacutemicas devido ao nome de uma vila localizada

0

02

04

06

08

1

12

14

16

18

2

ANTROPOTOPOcircNIMO ERGOTOPOcircNIMO ETNOTOPOcircNIMOS SOCIOTOPOcircNIMO

Taxionomias de Natureza Antropocultural

102

em Traacutes-os-Montes em Portugal e que teria sido adotado como sobrenome pelos senhores

deste local Alguns etimologistas acreditam que o nome Sampaio tenha surgido a partir do

latim Sanctus Pelagius (traduzido como ldquosanto marinhordquo) que significa Santo Pelagius e

com o passar do tempo tenha sofrido alteraccedilotildees na grafia passando para Sam Peaio Satildeo

Payo e por fim Sampaio Origem hebraica

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Proacuteprio ndash sobrenome)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da margem direita

do rio Corumbaacute (M de Pires do Rio)

Referecircncias Dicionaacuterio online de Nomes Proacuteprios (sd) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Este antropotopocircnimo foi o norteador motivacional para esta pesquisa pois o ribeiratildeo

Sampaio em um de seus limites por boa parte da populaccedilatildeo (inclusive eu) eacute conhecido como

Pedro Teixeira (que na verdade eacute o nome da ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo) soacute tempos depois

conheci o seu verdadeiro nome

E Dick (1990 p 286) assegura que

Os aspectos semacircnticos que podem ser encontrados nos nomes de pessoas

ligam-se portanto ao papel que exercem de verdadeiras manifestaccedilotildees

culturais dos povos e onde transparecem os mais diversos motivos

determinantes de sua escolha Talvez a proacutepria maneira pela qual se concebia

o nome em eacutepocas remotas como uma substacircncia revestida de poderes

miacutesticos seja a responsaacutevel pela variedade das motivaccedilotildees em uma ou em

outras sociedades

Os aspectos motivacionais para o topocircnimo em estudo eacute uma homenagem ao coronel

Lino Teixeira de Sampaio neste caso de acordo com Cabral (2007) eacute um patroniacutemico

sobrenome e faz referecircncia ao doador das terras em que fundou-se a cidade de Pires do Rio-

GO Segundo Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares ou

homenagem ou ateacute mesmo por caracteriacutesticas geograacuteficas inerentes ao local Em alguns casos

os nomes satildeo opacos pois natildeo apresentam nenhuma relaccedilatildeo com o referente nesta situaccedilatildeo haacute

de se fazer uma busca histoacuterica para chegar as relaccedilotildees motivacionais que natildeo eacute o nosso caso

Observando em estudos acerca dos topocircnimos de iacutendole de nomes proacuteprios individuais

constatamos que

103

Nomes proacuteprios de pessoas satildeo obscurecidos em seu conteuacutedo leacutexico-

semacircntico pela opacidade do proacuteprio signo que os conforma distanciados na

maioria das ocorrecircncias do foco original Integram o inventaacuterio mais fechado

da linguagem cuja origem remonta no Brasil aos primeiros nomes de

famiacutelias portuguesas para aqui imigradas (DICK 2001 p 83)

Assim foi possiacutevel observar que o patroniacutemico Sampaio ratifica a citaccedilatildeo de Dick

(2001) pois ele estaacute presente na onomaacutestica portuguesa evidenciado nas raiacutezes tipicamente

toponiacutemicas relacionado ao nome de uma vila localizada em Traacutes-os-Montes em Portugal que

supostamente teria sido adotado como sobrenome pelos senhores deste local (DICIONAacuteRIO

DE NOMES PROacutePRIOS sd)

A importacircncia desse referido ribeiratildeo para o municiacutepio de Pires do Rio-GO justifica-se

desde a sua nomeaccedilatildeo pela razatildeo de sua nascente ser em terras que eram de propriedade do

coronel Lino Teixeira de Sampaio e tambeacutem pelo motivo de

O ribeiratildeo Sampaio eacute utilizado como um dos limiacutetrofes das aacutereas urbana e

rural tambeacutem depositaacuterio da Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE)

consequentemente recebendo a aacutegua do esgoto depois de feito seu devido

tratamento Neste ribeiratildeo encontram-se os menores pontos altimeacutetricos da

aacuterea urbana o que favoreceu a construccedilatildeo da ETE (DIAS 2008 p 84)

Neste contexto eacute evidente que a motivaccedilatildeo para o topocircnimo Sampaio eacute uma

homenagem a uma pessoa que tem uma importacircncia para o local a cidade de Pires do Rio-GO

E assim podemos evidenciar que o ato de nomear aqui institui as relaccedilotildees de poder

possivelmente a de coacuterrego do senhor coronel Lino Teixeira de Sampaio estabelecendo as

relaccedilotildees de poder que o proacuteprio coronel mantinha sobre o local a cidade

4222 Ergotopocircnimos

Os topocircnimos referente a elementos da cultura material ergotopocircnimos nas anaacutelises

desta pesquisa tiveram um percentual de 20 (01) dos topocircnimos analisados ribeiratildeo Bauacute

assim observamos que o denominador foi motivado pelas relaccedilotildees da cultura material que o

cerca Jaacute observado em Sapir (1969) pois no leacutexico toponiacutemico reflete o ambiente social do

falante assim o topocircnimo no qual o objeto bauacute eacute de origem da cultura material e de uso

humano possivelmente as caracteriacutesticas do objeto como fundura largura e formato do bauacute

foram vitais para a nomeaccedilatildeo do ribeiratildeo

104

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 13

Topocircnimo Ribeiratildeo Bauacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Ergotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia ba-uacute (fr) Sm (Co) 1 mala de madeira recoberta de couro com tampa

conversa 2 moacutevel em forma de caixa de folha ou madeira onde se guardam roupas e demais

objetos (p169)

sm lsquotipo de caixa ou mala com tampa convexa na parte externarsquo baul XVI bau XVII bahu

Do ant baul deriv do a fr bahur (hoje bahut) de origem obscura (p84) 1805

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba na

divisa do municiacutepio de Pires do Rio (M de Campo Formoso)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Desta forma ldquoa lsquoescolharsquo do nome se daacute segundo um agenciamento enunciativo

especiacutefico este acontecimento de nomear recorta como memoraacuteveis os nomes disponiacuteveis

como contemporacircneos proacuteprios de sua eacutepocardquo (GUIMARAtildeES 2005 p 36-37) Eacute necessaacuterio

observar na citaccedilatildeo de Guimaratildees (2005) que no ato do batismo o nomeador faz referecircncia ao

contemporacircneo ou proacuteprio de sua eacutepoca no caso de uso do termo bauacute configura-se como essa

afirmaccedilatildeo eacute relativa a algo realmente usado em determinada eacutepoca

Eacute evidente que o topocircnimo apresentou como fonte motivacional a relaccedilatildeo existente entre

a cultura material e seu nomeador ou seja uma motivaccedilatildeo toponiacutemica de ordem

antropocultural assim essas designaccedilotildees que recuperam elementos da cultura material do

povo da localidade identifica a influecircncia do homem no meio em que se vive

4223 Etnotopocircnimos

Uma das taxionomias de natureza antropocultural de maior ocorrecircncia nesta pesquisa

com o percentual de 40 (02) topocircnimos dos analisados foram os etnotopocircnimos topocircnimos

105

relativos a elementos eacutetnicos isolados ou natildeo sendo o ribeiratildeo Caiapoacute e ribeiratildeo Marataacute que

no decorrer satildeo apresentados nas fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 14

Topocircnimo Ribeiratildeo Caiapoacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia rio do E de Goiaacutes nome de uma tribo fam linguiacutestica Jecirc que habitou

a regiatildeo (p34)

cai-a-poacute (Tupi) S 1 indiviacuteduo de um povo indiacutegena de Mato Grosso Sm [Pl] 2 esse povo

(p217)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Corumbaacute (M de

Pires do Rio)

Referecircncias Tibiriccedila (1985) Borba (2004) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 15

Topocircnimo Ribeiratildeo Marataacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Marata ndash sm 1 indiviacuteduo dos maratas 2 liacutengua indo-europeia do ramo

indo-iraniano sub-ramo indo-aacuterico falada no Oeste e Centro da Iacutendia esp no Estado de

Maharashtra por aprox 50 milhotildees de pessoas Eacute uma das liacutenguas oficiais da Iacutendia Sacircnsc

mahaacuteraacutestra o grande reino pelo hind marhatta id

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas afluente da margem direita do ribeiratildeo Caiapoacute (M de Pires

do Rio)

Referecircncias Houaiss (2009) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

106

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Na justeza dos nomes podemos evidenciar que ao batizar o ribeiratildeo Caiapoacute o nomeador

se valeu de fatores antropoculturais em relaccedilatildeo aos iacutendios caiapoacutes lsquokayapoacutersquo que segundo fatos

da histoacuteria estiveram em terras goianas desta forma ao se valer do uso do topocircnimo a

motivaccedilatildeo para tal ato de batismo pode ser referente a esses povos terem influecircncias de alguma

forma sobre o nomeador no ato do batismo do topocircnimo

Jaacute o topocircnimo ribeiratildeo Marataacute traz em sua bases semacircnticas como i ldquoliacutengua indo-

europeiardquo ii ldquoindiviacuteduos dos maratasrdquo segundo Houaiss et al (2009) E possivelmente a

motivaccedilatildeo do designativo foi a influecircncia de grupos europeus que tambeacutem passaram por estas

terras jaacute que o paiacutes foi colonizado por Portugal e na formaccedilatildeo da sociedade goiano e piresina

terem a presenccedila de vaacuterias etnias inclusive europeia

Desta forma eacute evidente que os etnotopocircnimos estatildeo relacionados agrave presenccedila e influecircncia

de grupos de distintas etnias no Brasil visto que a histoacuteria local e nacional revelam a presenccedila

de vaacuterios povos na formaccedilatildeo do sociedade brasileira

4224 Sociotopocircnimos

Tomando por anaacutelise os topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais

de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma dada comunidade dentre os

sociotopocircnimos numa frequecircncia de 20 (01) dos topocircnimos analisados foi encontrado o

designativo ribeiratildeo Mucambo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 16

Topocircnimo Ribeiratildeo Mucambo Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Sociotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Mocambo sm lsquoesconderijo refuacutegio dos negros (escravos) fugidorsquo

1535 mocano Do quimb mursquokamu lsquoescondrijorsquo Embora se documente em vaacuterios textos

quinhentistas relativos aos antigos domiacutenios portugueses na Aacutefrica foi no Brasil que o voc

Se difundiu intensamente desde o periacuteodo colonial em decorrecircncia do intenso conviacutevio dos

brancos com os negros escravos da africanos (p431)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

107

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

O topocircnimo tem sua origem no termo mocambo que se refere a esconderijo de escravos

fugidos (CUNHA 2010) Possivelmente assim como jaacute observado nos fatores motivacionais

de outros topocircnimos a relaccedilatildeo de grupos eacutetnicos terem passado ou habitado na regiatildeo pode ter

influenciado na nomeaccedilatildeo do designativo Na regiatildeo observada viveram escravos negros que

formaram um comunidade rural desta forma podem ter influenciado o nomeador no ato do

batismo do ribeiratildeo Mucambo

A partir do sociotopocircnimo analisado observamos em Carvalhinhos (2003 p 172) que

Os atuais estudos onomaacutesticos no Brasil vecircm justamente resgatando a histoacuteria

social contida nos nomes de uma determinada regiatildeo partindo da etimologia

para reconstruir os significados e posteriormente traccedilar um panorama

motivacional da regiatildeo em questatildeo como um resgate ideoloacutegico do

denominador e preservaccedilatildeo do fundo de memoacuteria

Desta forma ao traccedilar um panorama dos topocircnimos analisados eacute elementar que o

nomeador ao longo das nomeaccedilotildees buscou em suas bases motivacionais preservar a memoacuteria

local seja nos fatores fiacutesicos e ou sociais Para configurar tais dados no proacuteximo subtoacutepico

analisaremos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados

43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos

Analisar as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos estratos linguiacutesticos antes de mais

nada eacute perceber as influecircncias das etnias que povoaram o nosso paiacutes e regiatildeo Sabemos que no

iniacutecio do seacuteculo XVI quando os povos lusoacutefonos chegaram em terras brasileiras os iacutendios jaacute

as habitavam embora fossem os donos da terra tatildeo logo os portugueses se instalaram e se

fizeram os novos donos Mas no decorrer dos seacuteculos outros povos foram chegando e tambeacutem

se instalando no local daiacute retiramos a origem dos estratos linguiacutesticos dos topocircnimos analisados

nesta pesquisa

De acordo com Dick (1992 p 81)

108

a formaccedilatildeo etno-histoacuterica do Brasil acusa a existecircncia de estratos

populacionais diversos como os ameriacutendios distribuiacutedos em vaacuterios troncos e

famiacutelias Os portugueses os africanos e os de procedecircncia estrangeira jaacute em

eacutepoca posterior agrave colonizaccedilatildeo propriamente dita Essa origem heterogecircnea

deixou reflexos diferenciados na liacutengua nos usos e costumes nas tradiccedilotildees

regionais e consequentemente na toponiacutemia do paiacutes

Perceber essa heterogeneidade linguiacutestica na formaccedilatildeo dos topocircnimos eacute fundamental

visto que dos 15 topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO a sua maioria

eacute de origem indiacutegena isso revela que apesar do processo de colonizaccedilatildeo e imposiccedilatildeo da liacutengua

portuguesa a liacutengua dos nativos ainda prevaleceu ao menos na designaccedilatildeo toponiacutemica E no

graacutefico abaixo apresentamos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados

Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos

Analisar as origens dos topocircnimos eacute reconhecer segundo Dick (2006) que a Toponiacutemia

pode conviver com dois movimentos vivenciados de linguagem i) a nativa (linguagem

indiacutegena) e ii) a advena ou seja de iacutendole civilizatoacuteria pois ambas colaboraram para a

formaccedilatildeo dos brasileirismos e regionalismos mas natildeo apenas presentes na liacutengua Podemos

assim constatar em nossas anaacutelises que o vivenciado de acordo com a linguagem ldquonativardquo foi

a que teve maior frequecircncia neste estudo

Observamos no graacutefico IV a frequecircncia das liacutenguas que deram origem aos 15 topocircnimos

dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO e no que se segue procedemos com as

anaacutelises e logo apoacutes a estrutura morfoloacutegica

005

115

225

335

445

5

OrigemEtimologia dos Topocircnimos

109

O topocircnimo coacuterrego Laranjal eacute de origem Aacuterabe a influecircncia dessa liacutengua em nossa

regiatildeo nos eacute evidenciada no iniacutecio do seacuteculo XX com a fundaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio-

GO os aacuterabes foram um dos primeiros imigrantes que aqui chegaram bem como tiveram um

destaque na aacuterea comercial possivelmente este topocircnimo tenha relaccedilotildees com esse fato No que

tange agrave frequecircncia a liacutengua Aacuterabe (esta liacutengua influenciou imensamente o leacutexico da Liacutengua

Portuguesa) corresponde a 7 (01) dos topocircnimos analisados

Ainda contatamos outras liacutenguas como a Hebraica ndash ribeiratildeo Sampaio Preacute-romana ndash

coacuterrego Barreiro Sacircnscrito ndash ribeiratildeo Marataacute e ainda de Origem Obscura ndash ribeiratildeo Bauacute

Cada uma dessas liacutenguas correspondem agrave frequecircncia de 7 (01) dos topocircnimos analisados

provavelmente as devidas nomeaccedilotildees se devem ao fato da vinda de pessoas de outros

continentes em busca de melhores condiccedilotildees de vida e assim contribuiacuterem com a formaccedilatildeo

dos designativos dos cursos drsquoaacutegua

Os dados da toponiacutemia brasileira em relaccedilatildeo agrave origem dos topocircnimos satildeo de origem da

Liacutengua Portuguesa devido a colonizaccedilatildeo jaacute que os povos lusoacutefonos aqui chegaram e segundo

Dick (1995 p 60)

os primeiros topocircnimos funcionavam portanto como verdadeiros ldquosign-

postsrdquo ou marcas semioacuteticas de identificaccedilatildeo dos lugares usadas com a

finalidade de distinguir as caracteriacutesticas de espaccedilos semelhantes uma forma

uma silueta o perfil de uma paisagem se apresentando como recortes de uma

corografia maior a ser detalhada

Os povos lusoacutefonos nomeavam os lugares de acordo com caracteriacutesticas do lugar

Assim os topocircnimos por nograves analisados ndash coacuterrego Brumado coacuterrego da Terra Vermelha

ribeiratildeo Cachoeira e rio do Peixe ndash satildeo de origem latina liacutengua que deu origem agrave Liacutengua

Portuguesa e entre os topocircnimos estudados referem ao percentual de 29 (04 topocircnimos) dos

analisados

No processo de colonizaccedilatildeo do Brasil os portugueses necessitavam de matildeo-de-obra

mas como natildeo tiveram ecircxito com os iacutendios entatildeo foi necessaacuterio a busca de outros povos com

isso trouxeram os escravos E no processo de nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de

Pires do Rio-GO a Liacutengua Portuguesa (Aacutefrica) um percentual de 7 (01) dos topocircnimos ndash

ribeiratildeo Mucambo ndash que eacute especificado como o local esconderijo de escravos fugitivos Haacute

relatos de que na regiatildeo da zona rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tem uma localidade

que foi constituiacuteda em sua maioria populacional por escravos provavelmente pode esse

topocircnimo ter sido influenciado por tal fato

110

Em sua maioria 36 (05) dos topocircnimos analisados satildeo de origem Tupi ndash coacuterrego

Caiapoacute coacuterrego Itauacutebi ribeiratildeo Taquaral rio Corumbaacute e rio Piracanjuba ndash e segundo Bearzoti

Filho (2002 p 43) ao tratar das designaccedilotildees de origem tupi assinala que ldquoem grande parte

trata-se de topocircnimos atribuiacutedos natildeo por iacutendios mas por bandeirantes que como jaacute vimos

utilizavam a liacutengua geral como idioma de comunicaccedilatildeo ordinaacuteria em suas expediccedilotildeesrdquo

E de acordo com Sampaio (1928 p 02)

ao europeu poreacutem ou aos seus descendentes cruzados que realizaram as

conquistas dos sertotildees eacute que se deve a maior expansatildeo do tupi como liacutengua

geral dentro das raias atuais do Brasil As levas que partiam do litoral a

fazerem descobrimentos falavam no geral o tupi pelo tupi designavam os

novos descobertos os rios as montanhas os proacuteprios povoados que fundavam

e que eram outras tantas colocircnias espalhadas nos sertotildees falando tambeacutem o

tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo

Ao firmar o ato de nomeaccedilatildeo das localidades constatamos que o tupi liacutengua de origem

do maior nuacutemero de topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO

possivelmente deve-se agrave influecircncia das seguintes relaccedilotildees a internalizaccedilatildeo de nomes de origem

tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para Goiaacutes e a presenccedila de iacutendios como jaacute

mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo viveram regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da

colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)

Ainda consoante Pereira (2009 p 27) observamos que

A toponiacutemia brasileira como um todo reuacutene uma grande quantidade de nomes

de base indiacutegena na nomeaccedilatildeo de acidentes geograacuteficos que evidenciam

marcas da presenccedila de vaacuterias etnias na nomenclatura geograacutefica brasileira Um

estudo toponiacutemico numa dimensatildeo etnolinguiacutestica analisa desde a origem

dos nomes ateacute as influecircncias socioculturais da populaccedilatildeo que habita o espaccedilo

geograacutefico em estudo na forma de nomear os acidentes fiacutesicos verificando se

no momento da designaccedilatildeo de um lugar o designador apropriou-se de nomes

cuja origem procedeu de estratos linguiacutesticos de base portuguesa ou de outras

liacutenguas que influenciaram a formaccedilatildeo do leacutexico do portuguecircs brasileiro

principalmente as liacutenguas indiacutegenas e africanas

Ao analisarmos os topocircnimos dos cursos drsquoagua do municiacutepio de Pires do Rio-GO

podemos constatar que em sua maioria as liacutenguas que lhe deram origem foram as indiacutegenas e a

latina as outras que representaram um percentual menor possivelmente estatildeo ligadas agrave vinda

de outras etnias que ajudaram na formaccedilatildeo populacional do Brasil e de Goiaacutes

111

44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos

Com vistas nos paracircmetros teoacuterico-metodoloacutegicos da pesquisa seguindo o que eacute

estabelecido por Dick (1992) ao que se refere a estrutura morfoloacutegica o topocircnimo pode ser

classificado como simples composto e composto hiacutebrido que de acordo Dick (1992 p 14)

ldquotopocircnimo que em sua estrutura haacute a presenccedila de duas bases linguiacutesticas distintas por exemplo

tupi + portuguecircsrdquo mas natildeo encontrado em nossa pesquisa A partir disto tomamos o graacutefico V

para procedermos com a anaacutelise

Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos

Dos 15 sintagmas toponiacutemicos catalogados uma representaccedilatildeo de 87 (13 topocircnimos)

satildeo de estrutura simples que no processo de nomeaccedilatildeo o nomeador utilizou apenas um

formante ou seja um elemento designativo Jaacute os compostos aparecem em um percentual de

13 (02 topocircnimos) formados por mais de um formante lexical

Ao trazermos essas informaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos topocircnimos observamos que

como uso de substantivos e adjetivos o denominador acaba por trazer caracteriacutesticas do local

onde nomes comuns passam a formar nomes proacuteprios e segundo Dick (2006 p 108)

o topocircnimo integraraacute natildeo uma categoria descritiva de nomes nem um iacutendice

cromaacutetico desvinculado de outras consideraccedilotildees culturais e sim o que

chamamos na teoria de nomes transplantados deslocados ou transferidos de

seu lugar de origem para outros pontos distantes formando uma nova

sequecircncia nominal

0

2

4

6

8

10

12

14

SIMPLES COMPOSTO

Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos

112

No processo de nomeaccedilatildeo o nomeador faz uso de designativos que aleacutem de sofrer

certos deslocamentos como jaacute mencionado de nome comum para nome proacuteprio haacute tambeacutem

casos de alguns topocircnimos sofrerem alteraccedilotildees em suas estruturas morfoloacutegicas como o caso

do designativo ribeiratildeo Mucambo que em suas origens traz a grafia de mocambo

No decorrer deste estudo e anaacutelises foi possiacutevel perceber que os topocircnimos aleacutem de

servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais da sociedade a

que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e costumes da sociedade E ao final foi

notoacuterio perceber nas liacutenguas que deram origem aos topocircnimos a estreita relaccedilatildeo com o

ambiente pois de alguma forma o nomeador obteve motivaccedilatildeo tanto do espaccedilo meio ambiente

como da liacutengua propriamente dita

113

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao propormos estudar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO tomamos por base caracterizar o ato de nomear e dele reiteramos e pode ser observado em

sua totalidade a relaccedilatildeo de poder pois nomear eacute instituir E eacute por meio do batismo do topocircnimo

que ele se instaura e revela as relaccedilotildees do meio ambiente com o homem eou do homem com

meio que o circunda As consideraccedilotildees finais ora apresentadas referem-se aos estudos

toponiacutemicos relacionados apenas ao contexto local desta pesquisa mas muito ainda haacute de ser

estudado na aacuterea em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia em Goiaacutes

Os objetivos da pesquisa constituem-se basicamente em descrever e analisar os

topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO observando

noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural Assim em

sua maioria os elementos fiacutesicos sobressaiacuteram sobre os demais pois no total de 15 topocircnimos

analisados um percentual de 67 (10 topocircnimos) foram motivados pelos aspectos fiacutesicos

sendo que os de origem vegetal fitotopocircnimos e animal zootopocircnimos tiveram maior

recorrecircncia Assim concretizamos que o ambiente influenciou o nomeador no ato do batismo

estabelecendo as relaccedilotildees entre liacutengua e ambiente inclusive com os aspectos extralinguiacutesticos

A maior incidecircncia de taxionomias de natureza fiacutesica nesta pesquisa demonstra a

tendecircncia do denominador de nomear os lugares com nomes dos elementos fiacutesicos da natureza

circundante numa constataccedilatildeo de que o meio ambiente exerce grande influecircncia sobre o

homem refletindo-se tambeacutem no processo de nomeaccedilatildeo dos lugares

Jaacute no que tange agraves taxionomias de natureza antropocultural em nossas anaacutelises com um

percentual de 33 (05 topocircnimos) os etnotopocircnimos que fazem referecircncia a elementos eacutetnicos

foram os com maior frequecircncia Observamos nas taxes de natureza antropocultural que os

fatores culturais foram os motivadores para a designaccedilatildeo dos topocircnimos analisados

evidenciando as relaccedilotildees do homem com o ambiente que o cerca Para tanto foi necessaacuterio

identificar os fatores que constituem a motivaccedilatildeo que subjazem agrave escolha do nome do lugar

que foi possibilitado por meio da caracterizaccedilatildeo de fatores sociais culturais histoacutericos que nos

auxiliaram nas anaacutelises dos topocircnimos

A hipoacutetese inicial da pesquisa foi de que pelo caraacuteter motivado o signo toponiacutemico

possibilita reconhecer fatores vinculados ao que subjaz agrave escolha dos nomes de lugares e assim

nos possibilitou o levantamento de fatores soacutecio-histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave

anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua como iacutendice de estreita relaccedilatildeo entre

liacutenguaambiente e cultura E pudemos observar que os topocircnimos estabelecem relaccedilotildees da

114

liacutengua e meio ambiente no que concerne agrave anaacutelise das taxionomias de natureza fiacutesica e a

posteriori as relaccedilotildees de liacutengua e cultura que foram evidenciadas nas taxionomias de natureza

antropocultural Nas taxes analisadas foi possiacutevel detectar que o ambiente e o contexto satildeo

fundantes nas motivaccedilotildees que subjazem aos topocircnimos analisados Desta forma entende-se que

um rio um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que uma vez nomeados passam a carregar as

inuacutemeras memoacuterias do lugar

Os fatores soacutecio-histoacutericos-culturais do municiacutepio de Pires do Rio-GO foram

imprescindiacuteveis no processo de anaacutelise dos designativos dos lugares pois no caso do topocircnimo

ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo ficou evidente que o fato motivador foi a relaccedilatildeo de poder

do nome devido ao ribeiratildeo ter sua nascente em terras que eram do coronel Lino Teixeira de

Sampaio e tambeacutem por ter sido ele o doador das terras em que surgiu o referido municiacutepio

Ao levantar as perguntas de pesquisa qual a origem dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da

cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do

lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo Apoacutes ter analisado os 15

topocircnimos fica evidente que todos os nomes estatildeo registrados nas cartas topograacuteficas e satildeo

oficializados pelo IBGE mas provavelmente os nomes foram dados pela comunidade que

habitou nas localidades ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas que foram levantadas nos designativos

fazendo referecircncia ao local

Por meio da caracterizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico

onomasioloacutegico que foi o norte da pesquisa combinado com outros meacutetodos como o Woumlrter

und Sachen (palavras e coisas) numa abordagem qualiquantitativa foi evidente na relaccedilatildeo da

toponiacutemia que os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos

lugares Nesse iacutenterim nos foi possiacutevel quantificar os topocircnimos em relaccedilatildeo as taxionomias

origem e estrutura morfoloacutegica percebendo as ocorrecircncias em maior frequecircncia

A anaacutelise do ponto de vista etnolinguiacutestico demonstrou a predominacircncia de topocircnimos

originaacuterios da liacutengua indiacutegena um percentual de 36 essa recorrecircncia eacute supostamente devido

agrave internalizaccedilatildeo de nomes de origem tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para

Goiaacutes e agrave presenccedila de iacutendios como jaacute mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo

viveram na regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e

consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)

A liacutengua latina que deu origem agrave liacutengua portuguesa aparece e 29 dos topocircnimos

analisados isso devido aos povos lusoacutefonos que nomeavam os lugares com as caracteriacutesticas

que se estabeleciam com os referidos locais por eles percorridos e habitados E tambeacutem outras

liacutenguas tiveram uma menor frequecircncia como a aacuterabe hebraica preacute-romana sacircnscrito e

115

tambeacutem um topocircnimo de origem obscura fica evidente que outras etnias influenciaram na

nomeaccedilatildeo dos lugares Pode ser pelo fato de o nomeador pertencer a etnia ou ter alguma relaccedilatildeo

indireta

Quanto agrave estrutura morfoloacutegica do toacutepico de acordo com Dick (1992) dos analisados

87 satildeo de formaccedilatildeo simples tendo apenas um formante e 13 satildeo compostos com dois

formantes lexicais assim os compostos revelam mais de uma caracteriacutestica do local nomeado

e caracteriza mais de uma taxionomia

De forma peculiar esta pesquisa aleacutem de proceder com as anaacutelises de classificaccedilatildeo

origemetimologia morfoloacutegica e semacircntico-toponiacutemicas remapeou e cartografou os cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO sem mencionar no revisitar da formaccedilatildeo histoacuterica

deste municiacutepio e da contribuiccedilatildeo com os estudos toponiacutemicos no estado de Goiaacutes

Os topocircnimos aleacutem de servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas

fiacutesicas e sociais da sociedade a que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e

costumes dessa sociedade E ao perceber essas relaccedilotildees de liacutenguaambiente e cultura na

designaccedilatildeo do topocircnimo eacute que propomos para discussatildeo futura doutorado a partir da

ecolinguiacutestica e da toponiacutemia proceder com a anaacutelise da relaccedilatildeo de liacutengua e meio ambiente nos

hidrocircnimos das bacias hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes

116

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delas a denominaccedilatildeo eacute o ato da posse espiritualrdquo

(MIGUEL UNAMUNO)

RESUMO

Esta pesquisa centra-se nos estudos toponiacutemicos e tem como objetivo descrever e analisar a

origemetimologia morfoloacutegica e semanticamente dos topocircnimos da hidrografia da cidade de

Pires do Rio-GO para identificar as relaccedilotildees entre esses designativos de lugares e respectivos

fatores contextuais que por ventura possam conter indiacutecios da motivaccedilatildeo toponiacutemica O

levantamento dos topocircnimos foi feito por meio de documentos oficiais mapas do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Instituto Mauro Borges (IBM) numa escala de

1100000 e das cartas topograacuteficas A pesquisa eacute de base documental numa abordagem

qualiquantitativa O meacutetodo da pesquisa eacute o onomasioloacutegico e indutivo parte-se de casos

particulares para uma verdade geral combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica de

estudo das designaccedilotildees com o objetivo de analisar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito

A anaacutelise do corpus da pesquisa deu-se apoacutes o levantamento dos 46 topocircnimos dos cursos

drsquoaacutegua dentre os quais 15 satildeo analisados neste estudo Nesse sentido parte-se do princiacutepio de

que o signo toponiacutemico eacute motivado pois fatores extralinguiacutesticos influenciam o nomeador no

ato de nomear na perspectiva de que a liacutengua recorta a realidade agrave sua maneira (Sapir-Whorf)

sendo que a proacutepria liacutengua eacute um depositaacuterio de cultura assim os topocircnimos revelam fatores

soacutecio-histoacuterico-culturais do lugar que o nomeia A histoacuteria e a geografia do municiacutepio de Pires

do Rio-GO foram fundantes para as anaacutelises que nas bases onomasioloacutegicas e indutivas

evidenciam que o local e suas caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais influenciam o nomeador no ato

do batismo do topocircnimo Perceber as relaccedilotildees de nomeaccedilatildeo e nomeador satildeo fatores que por

meio das classificaccedilotildees taxionocircmicas satildeo revelados sem deixar de perceber tambeacutem que a

origem dos nomes e sua estrutura morfoloacutegica evidencia os fatores contextuais a que da liacutengua

cultura e ambiente estatildeo impregnados no topocircnimo isso tudo agrave vista de quem o designou

Palavras-Chave Toponiacutemia Liacutengua Cultura Pires do Rio Hidrografia

ABSTRACT

This research focuses on the toponymic studies and aims to describe and analyze the origin of

the names morphological and semantic of designatory toponyms of the hydrography of Pires

do Rio-GO city to identify the relations between these designative places and their respective

contextual factors which may by chance contain indications of toponymic motivation The

research of the toponyms was done by means of official documents maps of the Brazilian

Institute of Geography and Statistics (IBGE) and Mauro Borges Institute (IBM) on a scale of

1 100000 and topographic maps The research is documentary based in a qualitative and

quantitative approach the research method is the onomasiological method combined with other

methods which consists of the study of designations with the purpose of studying the various

names attributed to a concept The analysis of this researchrsquos corpus took place after the survey

of the 46 toponyms of the watercourses from which 15 are analyzed in this study In this sense

it is assumed that the toponymic sign is motivated once extralinguistic factors influence the

nominator in the act of naming in the perspective that the language outlines reality in its own

way (Sapir-Whorf) and the language itself is a depository of culture thus toponyms reveal

socio-historical-cultural factors of the place that names it The history and geography of Pires

do Rio-GO city was the basis for the analyzes which on the onomasiological bases show that

the place and its physical and social characteristics influence the nominator in the moment of

the toponym baptism To perceive naming and nominator relationships are factors that are

revealed through the taxonomic classifications noticing at the same time that the origin of the

names and their morphological structure reveals the contextual factors that are impregnated in

the toponymy of the language culture environment aspects from the point of view of who

appointed it

Keywords Toponymy Language Culture Pires do Rio Hydrography

LISTA DE ABREVIATURAS

ATEGO ndash Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes

ATB ndash Atlas Toponiacutemico Brasileiro

DSG ndash Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito

ETE ndash Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FCA ndash Ferrovia Centro Atlacircntica

GO ndash Goiaacutes

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBM ndash Instituto Mauro Borges

IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano

M ndash Municiacutepio

PEA ndash Populaccedilatildeo Economicamente Ativa

RFFSA ndash Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima

SD ndash Sem data

SE ndash Secccedilatildeo

LISTA DE FICHAS

Ficha 01 ndash Pires do Riohelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip67

Ficha 02 ndash Coacuterrego Laranjal89

Ficha 03 ndash Ribeiratildeo Taquaralhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip90

Ficha 04 ndash Ribeiratildeo Cachoeirahelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip91

Ficha 05 ndash Coacuterrego Barreiro93

Ficha 06 ndash Coacuterrego Terra Vermelha94

Ficha 07 ndash Coacuterrego Itauacutebi96

Ficha 08 ndash Ribeiratildeo Brumado96

Ficha 09 ndash Rio Corumbaacute98

Ficha 10 ndash Rio do Peixe98

Ficha 11 ndash Rio Piracanjuba99

Ficha 12 ndash Ribeiratildeo Sampaio101

Ficha 13 ndash Ribeiratildeo Bauacute104

Ficha 14 ndash Ribeiratildeo Caiapoacute105

Ficha 15 ndash Ribeiratildeo Marataacute105

Ficha 16 ndash Ribeiratildeo Mucambo106

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 ndash Natureza das Taxionomias87

Graacutefico 2 ndash Taxionomias de Natureza Fiacutesica88

Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural101

Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos108

Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos111

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 ndash Pires do Rio(GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio(GO)74

Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)83

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo44

Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos57

Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Recenseamento 76

Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo Contagem 76

Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio(GO) 77

Quadro 6 ndash Os cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO) 78

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO20

I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO 25

11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear 25

12 Liacutengua e Cultura 33

13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes 39

14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica 43

15 Linguiacutestica Histoacuterica 47

II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS 51

21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos 51

212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica 53

22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia 57

III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO 66

31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte 66

32 Pires do Rio geograacutefico 74

33 Os cursos daacutegua 78

IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR81

41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural 84

42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos daacutegua de Pires do Rio-GO 87

421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos88

4211 Fitotopocircnimos89

4212 Hidrotopocircnimos91

4213 Litotopocircnimos93

4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos94

4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos95

4216 Meteorotopocircnimos96

4217 Zootopocircnimos97

422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos100

4221 Antropotopocircnimos101

4222 Ergotopocircnimos103

4223 Etnotopocircnimos104

4224 Sociotopocircnimos106

43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos107

44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos111

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS113

REFEREcircNCIAS 116

20

INTRODUCcedilAtildeO

Ao dar nome a seres e objetos o homem tambeacutem os categoriza jaacute que eacute o ato de nomear

que daacute existecircncia a algo ou algueacutem Eacute por meio do nome que haacute identificaccedilatildeo e principalmente

a diferenciaccedilatildeo dos seres e dos objetos No ato da nomeaccedilatildeo diversos aspectos extralinguiacutesticos

podem influenciar o nomeador isso pode caracterizar especificamente a motivaccedilatildeo que subjaz

a qualquer signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica A motivaccedilatildeo por sua vez eacute reveladora de

inuacutemeros aspectos que estatildeo na base da inter-relaccedilatildeo liacutengua cultura e ambiente pois o nome

proacuteprio de lugar como fato da liacutengua identifica e guarda uma significaccedilatildeo precisa oriunda de

aspectos fiacutesicos ou culturais Desta forma busca-se mediante o estudo dos designativos dos

cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO descrever essa relaccedilatildeo (liacutengua cultura e

ambiente) Entende-se assim que um rio um riacho um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que

uma vez nomeados passam a carregar as inuacutemeras memoacuterias do lugar

Em decorrecircncia disso abrem-se possibilidades de inter-relacionar aacutereas do saber

humano com vista a estabelecer algum viacutenculo epistemoloacutegico a fim de proporcionar novos

olhares sobre um objeto jaacute descrito e analisado por outra aacuterea do conhecimento a geografia

mas restrito a um uacutenico niacutevel de anaacutelise linguiacutestica Isso leva a considerar os aspectos da

linguagem dentro de uma visatildeo interdisciplinar que pode trazer entre tantas contribuiccedilotildees o

fato de entendecirc-los na totalidade como em uma rede de relaccedilotildees Em outras palavras oferece

a possibilidade de analisar os fatos linguiacutesticos de maneira holiacutestica uma vez que os fatores

envolvidos na interaccedilatildeo devem ser concebidos como um todo formado por componentes que se

relacionam entre si

Entrecruzar as aacutereas de geografia e da linguiacutestica eacute um trabalho que jaacute se tem feito e

alguns estudiosos como eacute o caso de Menezes e Santos (2007 apud Menezes Santos Santos

2010) tratam a toponiacutemia na geografia como geoniacutemia Para Andrade (2010 p 105-106)

Natildeo se pode pensar em toponiacutemia desvinculada de outras ciecircncias como

histoacuteria geografia antropologia cartografia psicologia e a proacutepria

linguiacutestica Deve ser pensada como um complexo linguiacutestico-cultural um fato

do sistema das liacutenguas humanas Faz parte de uma ciecircncia maior que se

subdivide em toponiacutemia e antroponiacutemia

Assim esta pesquisa eacute relevante para a aacuterea dos estudos da linguagemlinguiacutesticos como

para a geografia sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo histoacuterico-cultural sobre a cidade de

Pires do Rio-GO e levado a conhecimento puacuteblico

21

Fazer esse estudo acerca da hidrografia da cidade de Pires do Rio eacute elementar elencando

natildeo soacute estudos semacircnticos lexicais origemetimologia dos termos mas tambeacutem soacutecio-

histoacuterico-culturais de um povo Algo ainda se faz pertinente na definiccedilatildeo do problema pois foi

assim que surgiu o interesse por este estudo em conversas informais com pessoas da cidade

obtive respostas que aguccedilaram esta pesquisa pois proacuteximo de Pires do Rio-GO cerca de uns

3 km da cidade haacute um determinado ribeiratildeo o qual a comunidade local denomina de Pedro

Teixeira mas na verdade esse nome eacute dado agrave ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo e foi construiacuteda

pelo fazendeiro Sr Pedro Teixeira embora o nome que se apresenta na carta topograacutefica seja

ribeiratildeo Sampaio

Diante da problematizaccedilatildeo qual a origemetimologia dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da

cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do

lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo A partir disso centra-se o

nosso estudo em descrever e analisar a origemetimologia dos termos a morfologia e a

semacircntica investigando e verificando os topocircnimos e as relaccedilotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo

de Pires do Rio-GO

Preliminarmente trabalha-se com a seguinte hipoacutetese de pesquisa pelo seu caraacuteter

motivado o signo toponiacutemico possibilita reconhecer fatores vinculados agrave motivaccedilatildeo que subjaz

agrave escolha dos nomes de lugares o que pode possibilitar o levantamento de fatores soacutecio-

histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua

como iacutendice da estreita relaccedilatildeo entre liacutengua e cultura A toponiacutemia dos cursos drsquoaacutegua de Pires

do Rio-GO incorpora caracteriacutesticas sociais linguiacutesticas e culturais da regiatildeo a que pertence

Este eacute um dos embates fundantes de nosso estudo assim espera-se com esta pesquisa

cartografar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO com base na

metodologia do ATB (Atlas Toponiacutemico Brasileiro) como sugerido por Dick (1990 2004)

Posto isso ao final responderemos agraves perguntas de pesquisa jaacute mencionadas

anteriormente e ainda contribuiremos com as pesquisas na aacuterea da Onomaacutestica que estatildeo

desenvolvendo-se em Goiaacutes Conveacutem mencionar tambeacutem que uma das contribuiccedilotildees desta

pesquisa aleacutem de revisitar a histoacuteria e a cultura de uma regiatildeo eacute a de auxiliar na construccedilatildeo do

Atlas Toponiacutemico de Goiaacutes ndash ATEGO

Assim o objetivo da pesquisa constitui-se basicamente em descrever e analisar os

topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua e de outros elementos hidrograacuteficos da regiatildeo do

municiacutepio de Pires do Rio-GO observando noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de

natureza fiacutesica e de natureza antropocultural Para tanto eacute necessaacuterio evidenciar os fatores que

constituem a motivaccedilatildeo que subjaz agrave escolha do nome do lugar o que requer a identificaccedilatildeo de

22

fatos sociais culturais histoacutericos elementos geograacuteficos (quando pertinente) e outras

motivaccedilotildees de diferentes naturezas

De uma maneira peculiar os objetivos especiacuteficos desta pesquisa satildeo i) remapear os

cursos hiacutedricos mediante o elenco de seus topocircnimos para cartografar os mapas da bacia

hidrograacutefica e dos topocircnimos seguindo a metodologia do Projeto ATB ii) verificar mediante

a anaacutelise linguiacutestica dos topocircnimos a motivaccedilatildeo referente agrave cultura e agrave histoacuteria e

principalmente aos aspectos fiacutesicos dos lugares que iniciaram o processo de nomeaccedilatildeo dos rios

coacuterregos ribeirotildees e quedas drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO (evidenciando o viacutenculo

liacutengua ambiente e cultura) iii) de alguma forma contribuir para o desenvolvimento dos estudos

toponiacutemicos em Goiaacutes

A metodologia consiste de uma pesquisa de natureza documental de abordagem

qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites

e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos puacuteblicos (mapas e cartas

topograacuteficas) e o meacutetodo da pesquisa eacute o de induccedilatildeo com ecircnfase para a observaccedilatildeo do fazer

onomasioloacutegico combinado a outros meacutetodos da Linguiacutestica Histoacuterica especialmente o Woumlrter

und Sachen (palavras e coisas) O meacutetodo onomasioloacutegico e indutivo se constitui do estudo das

designaccedilotildees com o objetivo de estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Usando

esse meacutetodo pode-se investigar toda ou pelo menos parte da cultura popular de um local e

priorizar aspectos sincrocircnicos ou histoacutericos se necessaacuterio for Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os

aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos lugares

Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa de dissertaccedilatildeo de Mestrado sobre Os

cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio anaacutelise das motivaccedilotildees toponiacutemicas produzida no acircmbito do

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos da Linguagem Universidade Federal de Goiaacutes ndash

Regional Catalatildeo que focaliza os topocircnimos hiacutedricos do municiacutepio de Pires do Rio

Desta maneira este trabalho se estrutura em quatro capiacutetulos organizados de forma a

abranger os resultados desta pesquisa que articula por meio da linguagem quesitos histoacutericos

geograacuteficos e culturais

Assim no capiacutetulo I O nome e a atividade de nomeaccedilatildeo satildeo apresentadas

consideraccedilotildees referentes ao nome e ao ato de nomear no sentido de reformular questotildees teoacutericas

necessaacuterias ao levantamento de dados e agrave construccedilatildeo do corpus bem como agrave descriccedilatildeo dos

topocircnimos que designam os elementos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas drsquoaacutegua) do municiacutepio

de Pires do Rio-GO Para tanto o capiacutetulo traz uma revisatildeo dos conceitos de nome (comum

proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes tanto no sistema linguiacutestico

como em relaccedilatildeo agrave cultura e estabelecendo as relaccedilotildees de liacutengua e cultura pois a liacutengua

23

transporta a cultura no tempo e recorta agrave realidade agrave sua maneira Eacute necessaacuterio aqui trazer as

discussotildees teoacutericas acerca da toponiacutemia e do signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica que

sustentam a nossa pesquisa Ainda fazemos uma retomada do surgimento e desdobramento da

Linguiacutestica Histoacuterica pois eacute a partir dela que satildeo criados os meacutetodos de pesquisa os quais

contribuem para a aacuterea de estudo

O capiacutetulo II A metodologia da pesquisa e seus desdobramentos eacute praticamente uma

extensatildeo do primeiro porque procura reavaliar alguns meacutetodos usados em pesquisa onomaacutestica

com o objetivo de coadunar teoria meacutetodo e procedimentos de pesquisa

Neste capiacutetulo eacute possiacutevel rever algumas questotildees sobre os meacutetodos da linguiacutestica o

meacutetodo onomasioloacutegico que investiga as relaccedilotildees de significado e referecircncias partindo das

designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Ainda eacute

apresentada uma siacutentese do comparativismo e do meacutetodo Woumlrter und Sachen de Hugo

Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) pois de acordo com Bassetto (2001)

pode-se verificar pontos em comum que compartilham com o meacutetodo onomasioloacutegico Ao

enfatizar questotildees de ordem semacircntica das palavras ressalta-se a realidade que elas designam

para esses autores a verdadeira etimologia da palavra estaacute no conhecimento dessa realidade

Busca-se assim instruir sobre a necessidade de conhecer se possiacutevel o objeto designado por

um nome para que o significado possa ser explicitado adequadamente

Dados histoacutericos e geograacuteficos referentes agrave capital da estrada de ferro Pires do Rio

compotildeem o terceiro capiacutetulo A capital da estrada de ferro Pires do Rio de modo a traccedilar em

linhas gerais a histoacuteria da fundaccedilatildeo do municiacutepio no iniacutecio do seacuteculo XX em decorrecircncia da

construccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz e da Estaccedilatildeo Feacuterrea Pires do Rio em 09 de novembro de

1922 A importacircncia deste municiacutepio se deve agrave estrada de ferro e obviamente aos primeiros

habitantes que para caacute acorreram acreditando no desenvolvimento da antiga ldquoTeteia do

Corumbaacuterdquo

No capiacutetulo quarto A toponiacutemia e suas relaccedilotildees com o lugar apresentamos a anaacutelise

dos dados as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural e as fichas lexicograacuteficas-

toponiacutemicas dos 15 topocircnimos analisados de acordo com os estudos de Dick (1992)

juntamente com a origem das liacutenguas e estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos daiacute procedemos

agraves anaacutelises das classificaccedilotildees toponiacutemicas que estatildeo presentes nos designativos dos cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO estabelecendo as relaccedilotildees motivacionais e semacircnticas

do topocircnimo com o local nomeado

Na sequecircncia satildeo apresentadas as Consideraccedilotildees Finais que retomam os resultados

obtidos ao teacutermino da pesquisa pautados nos objetivos e perguntas que orientaram este estudo

24

E por fim seguem as Referecircncias que sustentaram a parte teoacuterica e a construccedilatildeo do corpus

coletado

25

I O NOME E A ATIVIDADE DE NOMEACcedilAtildeO

O conhecimento dos nomes natildeo eacute negoacutecio de

importacircncia somenos

(PLATAtildeO 2001)

Este capiacutetulo tem o objetivo de tecer de forma mais geral consideraccedilotildees acerca do nome

e do ato de nomear para reformular questotildees teoacutericas necessaacuterias ao levantamento de dados

para a construccedilatildeo do corpus e descriccedilatildeo dos hidrocircnimos (rios ribeirotildees coacuterregos e quedas

drsquoaacutegua) do municiacutepio de Pires do Rio-GO Para tanto os itens a seguir trazem uma revisatildeo dos

conceitos de nome (comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar) verificando as funccedilotildees dos nomes

tanto no sistema linguiacutestico como em relaccedilatildeo agrave cultura jaacute que representam inuacutemeros aspectos

que culminam em certos criteacuterios para a nomeaccedilatildeo ou nominaccedilatildeo revelando em certo sentido

especificidades dessa cultura que satildeo evidenciadas na nomeaccedilatildeo Ao dar um nome a um objeto

ou a um lugar natildeo se reduz apenas a indicar mas a classificar situar identificar e sobretudo

uma vez categorizado inscreve-se tambeacutem em um sistema cognitivo permeado por essa mesma

cultura

11 O nome comum o proacuteprio e o proacuteprio de lugar consideraccedilotildees sobre o ato de nomear

O nome eacute a parte que caracteriza a existecircncia de algo ou algueacutem sem a especificidade

do nome o objeto ou a pessoa natildeo eacute identificada Aliaacutes em muitas situaccedilotildees o nome consolida

a existecircncia do objeto que passa a ldquoexistirrdquo como tal em decorrecircncia de ter um nome ou seja

o falante pode perceber no mundo apenas aquilo que conhece pelo nome O nome estaacute presente

em todas as esferas do desenvolvimento da humanidade Eacute parte constitutiva do proacuteprio ser

humano que se reconhece e se afirma face ao nome que carrega eacute tambeacutem o nome que lhe

rompe o anonimato e lhe confere de certa forma uma identidade

Segundo Silva (2000) eacute o nome que diferencia os seres e os objetos do mundo

Identidade e diferenccedila ocorrem simultaneamente como produto de um mesmo processo o da

identificaccedilatildeo Pode-se afirmar que depois de nomeado o objeto passa a ser identificado

tambeacutem pelas diferenccedilas que possui em relaccedilatildeo agravequilo que natildeo eacute ou melhor eacute diferenciado

face aos demais elementos do mundo extralinguiacutestico conferindo-lhe existecircncia Tem um nome

porque existe tornou-se conhecido e eacute reconhecido como elemento cultural importante para a

continuidade de uma populaccedilatildeo como um dos milhares de traccedilos que a caracteriza e desta

26

forma ldquoo processo de nomeaccedilatildeo eacute uma forma pela qual a sociedade cria os seus membros agrave sua

imagemrdquo (CABRAL 2007 p 85)

E em Craacutetilo Platatildeo narra um diaacutelogo entre Demoacutestenes e Craacutetilo acerca da justeza dos

nomes debates no qual Soacutecrates aponta para ambas as possibilidades isto eacute para os socraacuteticos

tanto se pode entender os nomes como vinculados agrave coisa como podem ser vistos como

inteiramente sem elo com as coisas do mundo Platatildeo (2001 p 48) justifica que o ato de nomear

era visto como uma pressuposiccedilatildeo da existecircncia de algo assim ldquoas coisas devem ser nomeadas

como lhes pertence por natureza serem nomeadas e por meio do que devem secirc-lo e natildeo como

noacutes queremos e assim faremos e nomearemos melhor mas de outra maneira natildeordquo

A nomeaccedilatildeo eacute assim uma atividade bastante significativa para o ser humano e se

constitui de uma accedilatildeo complementar do modo como determinada populaccedilatildeo entende o meio em

que vive essa eacute a linha de pensamento tanto de Dick (1990) como de outros estudiosos como

Basso (1988) Langacker (2002) Weisgerber (1977) Wierzbicka (1997) e Worf (1971) dos

fatos da linguagem como evidencia a assertiva que segue

Apreensatildeocompreensatildeo e transmissatildeoparticipaccedilatildeo de um dado qualquer do

saber humano satildeo atuantes de uma mesma e complexa evidecircncia relacional ndash

o ato comunicativo ndash que corporifica em sua expressividade um aglomerado

de situaccedilotildees liacutenguo-soacutecio-psiacutequicas Nele estaacute manifesto ainda que de modo

impliacutecito o registro pelo qual se concretizou a ldquoassimilaccedilatildeo do

mundordquo atraveacutes do coacutedigo de linguagem vivenciado por determinada

comunidade linguiacutestica (DICK 1990 p 29)

Natildeo eacute equivocado afirmar que o nome corporifica aquilo que determinada comunidade

assimilou de seu meio circundante mediante relaccedilotildees estabelecidas entre a liacutengua que

possibilita a representaccedilatildeo daquilo que foi evidenciado e as impressotildees sociopsiacutequicas oriundas

dos objetos do mundo que se tornaram salientes aos olhos do nomeador Assim recebe um

nome tudo aquilo que de uma forma ou de outra tornou-se um item da cultura seja um acidente

fiacutesico-natural (um rio uma espeacutecie botacircnica) ou um item criado culturalmente Em todas as

sociedades conhecidas haacute referecircncia aos nomes e consequentemente agrave accedilatildeo de nomear Muitas

vezes essa atividade humana eacute revestida de mitos e rituais que conferem ao nome poderes

maacutegicos ou sobre-humanos

Nas sociedades primitivas de acordo com Cunha (2004) um nome pode valorar o

sagrado ou o ritual isso pode ocorrer quando acontece a mudanccedila de nome (candombleacute e igreja

catoacutelica) desta forma ao nomear algueacutem eacute tocar-se na personalidade da pessoa e ateacute as partes

da escrita que compotildeem o nome satildeo carregadas de simbologia e forccedilas sobrenaturais Cunha

27

(2004 p 220) ainda acrescenta que ldquonas mais diversas culturas natildeo ter nome eacute natildeo existir

nomear eacute instituirrdquo

Nesse processo de instituir dos rituais de passagem eacute possiacutevel entender que a atividade

de nomeaccedilatildeo adveacutem de fatores que propiciam uma motivaccedilatildeo que resulta na escolha de um

nome No ritual de escolha de um novo Papa (igreja catoacutelica) ou de um novo membro do

candombleacute o indiviacuteduo fica recluso por alguns dias e no momento do ritual apresenta seu

novo nome agrave comunidade fato esse que reside de alguma forma na escolha do novo nome

Desta forma o nome eacute escolhido de acordo com suas caracteriacutesticas psicofiacutesicas e tambeacutem com

as que ele deseja ter a partir do momento de escolha do novo nome

Conforme Biderman (1998) muitas satildeo as culturas que acreditam que o nome estaacute

ligado agrave essecircncia da pessoa Nas culturas arcaicas em geral os nomes atribuiacutedos agraves pessoas

tinham um significado que indicava agraves vezes a vocaccedilatildeo ou o destino do indiviacuteduo o que

corrobora a justeza dos nomes nos rituais de passagem e em outras atividades de nomeaccedilatildeo

O ato de nomear se constitui tambeacutem como algo divino Para Biderman (1998 p 85)

ldquoo gesto criador de Deus identifica-se com esta palavra ontoloacutegica essencialmente divina O

que noacutes homens somos e o que sabemos nasce dessa revelaccedilatildeo primordial da palavra criadora

do gesto divino de dizerrdquo Cunha (2004) evidencia que a palavra jaacute eacute reveladora do poder desde

a antiguidade e isso se expressa de forma clara por meio da biacuteblia sagrada que em vaacuterios textos

conclama que o poder eacute revelado por meio da palavra como percebe-se no livro de Gecircnesis

capiacutetulo I versiacuteculos 19 e 20

19 Tendo pois o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos

e todas as aves dos ceacuteus levou-os ao homem para ver como ele os havia de

chamar e todo o nome que o homem pocircs aos animais vivos esse eacute o seu nome

verdadeiro 20 O homem pocircs nomes a todos os animais a todas as aves dos

ceacuteus e a todos os animais dos campos mas natildeo se achava para ele uma ajuda

que lhe fosse adequada (BIacuteBLIA 1995 p 51)

Dessa forma o cristianismo explica a atividade humana de nomeaccedilatildeo Isso evidencia

que todos os objetos recebem um nome (comum) mediante uma accedilatildeo deliberada de escolha

individual (como em Gecircnesis) ou coletiva Esse nome recebe uma funccedilatildeo de significaccedilatildeo ou

melhor passa a significar algo no mundo sua referecircncia A nomeaccedilatildeo configura-se como um

processo operacional de conhecer e denominar coisas Conforme De Lastra e Garcia (sd apud

DICK 1990) para ser denominado o mundo externo deve antes passar a ser interno (iacutentimo)

Na relaccedilatildeo das praacuteticas de nomeaccedilatildeo segundo Loacutepez (2013) ocorrem fatores internos

e externos da seguinte forma i mudanccedilas internas quando elementos do sistema toponiacutemico

28

que designa lugares passam para o sistema antroponiacutemico que designa pessoas ii mudanccedilas

externas ou forccediladas como as que ocorreram na Europa entre os seacuteculos XVIII e XIX e

obrigaram os judeus a adotarem nomes cristatildeos e abandonarem os seus de origem hebraica

Para os judeus assim como para muitos povos perder o nome eacute o mesmo que perder a histoacuteria

a identidade e a famiacutelia Desta forma as autoridades europeias acreditavam que os judeus

deixariam (perderiam) as suas identidades e constituiriam uma nova uma identidade europeia

Conveacutem ressaltar que o referente1 nem sempre figurou entre os elementos constitutivos

do signo linguiacutestico No Curso de Linguiacutestica Geral Ferdinand Saussure (2008) define o signo

linguiacutestico como a junccedilatildeo de uma imagem acuacutestica (significante) a um (ou vaacuterios) conceitos

(significado) Saussure natildeo inclui nessa definiccedilatildeo a coisa nomeada o objeto do mundo ou em

outros termos o referente

Dito de outro modo os gestos epistemoloacutegicos de Saussure (2008) ao definirem a

liacutengua como objeto proacuteprio de estudo e tambeacutem no sentido de imprimirem cientificidade aos

estudos linguiacutesticos excluem o referente construindo assim um domiacutenio especiacutefico para a

Linguiacutestica diferente de outras aacutereas que tambeacutem se atecircm aos estudos da linguagem humana

A liacutengua para o mestre suiacuteccedilo eacute um sistema de signos que por sua vez abarca entidades

psiacutequicas constituiacutedas por duas faces significante e significado Essas duas faces do signo

linguiacutestico natildeo guardam poreacutem entre si qualquer relaccedilatildeo loacutegica nenhum viacutenculo ou melhor

a relaccedilatildeo entre significante e significado eacute marcada pelo seu caraacuteter imotivado arbitraacuterio para

usar os termos saussurianos Desta forma Kristeva (2007 p 24) afirma que ldquoa palavra

lsquoarbitraacuteriorsquo significa mais exatamente lsquoimotivadorsquo quer dizer que natildeo haacute nenhuma necessidade

natural ou real que ligue o significante e o significadordquo

O nome sempre suscitou uma questatildeo ontoloacutegica2 ou melhor uma questatildeo de

existecircncia A nomeaccedilatildeo eacute apenas uma das funccedilotildees da linguagem mas tem um papel importante

pois o significado dos nomes organiza e classifica as formas de perceber a realidade aleacutem de

estar ligado diretamente a uma cultura ou comunidade Assim para Sapir (1980) a liacutengua

recorta a realidade agrave sua maneira eacute por meio dela que se evidencia a relaccedilatildeo linguagem

pensamento e cultura Desta forma ldquoas palavras da liacutengua significam ao funcionarem no

acontecimento Este funcionamento recorta politicamente o realrdquo (GUIMARAtildeES 2005 p 82)

Nessa perspectiva eacute possiacutevel dizer que a nomeaccedilatildeo ganha relevo quando o assunto eacute a relaccedilatildeo

linguagem e realidade

1 Em um sistema triaacutedico significante significado e o referente 2 Ontoloacutegico ldquoAdj 1 relativo a Ontologia 2 que trata do ser humano na sua essecircncia na sua globalidaderdquo Verbete

inscrito em (BORBA 2004 p 992)

29

Guiraud (1986) chama atenccedilatildeo para a forccedila criadora da linguagem que resulta em uma

funccedilatildeo semacircntica dinacircmica e volaacutetil orientada principalmente por fatores especiacuteficos de uma

dada cultura Assim

[] a motivaccedilatildeo eacute uma forccedila criadora inerente agrave linguagem social que eacute um

organismo vivo de origem empiacuterica somente depois que a palavra eacute criada e

motivada (naturalmente ou intralinguisticamente) eacute que as exigecircncias da

funccedilatildeo semacircntica acarretam um obscurecimento dessa motivaccedilatildeo etimoloacutegica

que pode aliaacutes ao se apagar trazer uma alteraccedilatildeo de sentido (GUIRAUD

1986 p 31)

Motivaccedilatildeo esta que com o decorrer do tempo pode vir a se tornar obscura pelo

distanciamento temporal do fato que lhe deu origem Pode inclusive o nome sofrer inuacutemeras

alteraccedilotildees de sentido sem nenhum viacutenculo semacircntico com o significado original nem com o

fenocircmeno de sua ocorrecircncia primeira No entanto eacute forccediloso ressaltar mais uma vez que o ato

de nomear eacute motivado conforme Guiraud (1986) a nomeaccedilatildeo eacute inerente agrave linguagem e decorre

da relaccedilatildeo entre homem e ambiente ao reconhecer os objetos do mundo extralinguiacutestico

No que tange agrave motivaccedilatildeo Biderman (1998) reafirma a noccedilatildeo de que o nome natildeo eacute

arbitraacuterio ele tem um viacutenculo de essecircncia com a coisa ou o objeto que designa Assim o homem

primitivo acredita que seu nome tem parte vital com o seu ser Nas histoacuterias que nos satildeo

relatadas dos povos primitivos em relaccedilatildeo aos nomes podemos observar que para alguns

quando se sabia o nome da pessoa o inimigo poderia fazer magia negra com ele Essas relaccedilotildees

culturais com os nomes satildeo recorrentes em vaacuterios paiacuteses e histoacuterias da antiguidade claacutessica

De acordo com Frazer (1951) em vaacuterias tribos primitivas o nome era considerado como

uma realidade e natildeo uma convenccedilatildeo artificial podendo servir de intermeacutedio para fazer atuar a

magia sobre a pessoa como se fosse parte do indiviacuteduo como cabelo unha ou qualquer outra

parte fiacutesica Essas crendices ou mitos acerca do nome se estendem por vaacuterias partes do mundo

como para os iacutendios da Ameacuterica do Norte o nome eacute como uma parte de seu corpo e o mau

tratamento (uso) dele pode trazer ferimento fiacutesico Assim o nome natildeo deve ser pronunciado

podendo no ato de sua pronunciaccedilatildeomaterializaccedilatildeo revelar as propriedades reais da pessoa que

o usa e assim tornaacute-la vulneraacutevel perante os seus inimigos

Nas narrativas das sociedades relatadas por Frazer (1951) o homem do povo esquimoacute

recebe um novo nome ao chegar agrave velhice na Aacutefrica as pessoas podem ateacute receber uma duacutezia

de nomes no decorrer de sua vida e em alguns casos no iniacutecio de sua vida recebem dois nomes

um nome de preto usado em casa e junto agrave famiacutelia e outro nome de branco usado na escola e

na sociedade os egiacutepcios tambeacutem recebiam dois nomes um nome pequeno que era bom e

30

usado em famiacutelia e um nome grande que era mau e dissimulado julgamos esse uacuteltimo ser

usado na sociedade

Segundo Frazer (1951) para os Celtas o nome era sinocircnimo da alma e da respiraccedilatildeo

Entre os Yuiacutens (sul da Austraacutelia) e outros povos o pai revela o nome ao filho no momento da

iniciaccedilatildeo e poucas pessoas o conhecem Tambeacutem na Austraacutelia as pessoas deixam de usar o

nome e passam a chamar um ao outro de primo tio sobrinho ou irmatildeo Nessas relaccedilotildees as

historietas dos nomes vatildeo estar sempre entrelaccediladas aos fatores culturais das comunidades

Em muitas culturas Frazer (1951) relata que a natildeo pronunciaccedilatildeo de nomes era tabu

como em Cafres onde as mulheres natildeo podiam pronunciar o nome de seus maridos ou sogros

nem qualquer palavra que se assemelhasse aos nomes Tambeacutem natildeo era permitido pronunciar

nomes de animais plantas reis deuses personagens sagrados considerados perigosos pois isso

seria como invocar o proacuteprio perigo

Frazer (1951) revela uma histoacuteria ocorrida no Egito com o deus Raacute que tinha vaacuterios

nomes mas o seu verdadeiro nome que lhe dava poder sobre os outros deuses natildeo era conhecido

e ao ser enfeiticcedilado pela invejosa deusa Iacutesis ndash picado por uma serpente ndash cujo veneno soacute seria

retirado de seu corpo no momento em que ele revelasse o seu verdadeiro nome Raacute lamenta-se

ldquoEu sou aquele que tem muitos nomes e muitas formas O meu pai e minha matildee disseram-me

o meu nome estaacute escondido no meu corpo desde o meu nascimento para que natildeo se possa dar

nenhum poder maacutegico a algueacutem que me queira lanccedilar uma maldiccedilatildeordquo (FRAZER 1951 apud

KRISTEVA 2007 p 64) O veneno tomou conta do corpo de Raacute e jaacute natildeo conseguia andar Iacutesis

continuou a atormentar o deus e o veneno foi penetrando profundamente e queimava seu corpo

Entatildeo Raacute consentiu que Isis buscasse o seu verdadeiro nome no iacutentimo do seu ser assim ela

fez arrebatou-lhe o verdadeiro nome e ordenou que o veneno que o queimava caiacutesse por terra

e libertasse o deus pois o que ela queria jaacute havia conseguido Acreditava-se assim que quem

conhecesse o verdadeiro nome de um deus (algueacutem) possuiria a sua essecircncia o seu verdadeiro

ser e ateacute o seu poder

Segundo Loacutepez (2013) os nomes variam conforme o momento e o local em que satildeo

escolhidos a pessoa que os escolhe e as normas para o uso Podem indicar gecircnero filiaccedilatildeo

origem geograacutefica religiatildeo e etnia Haacute tambeacutem inuacutemeras crenccedilas de que existe uma relaccedilatildeo

entre a pessoa seu nome e o significado deste inclusive muitos nomes satildeo uacutenicos

Segundo Cunha (2004 p 226) ldquoO nome proacuteprio topocircnimo ou antropocircnimo participa

da literariedade do texto podendo consequentemente enriquecer-se de valores semacircnticos

denotativos e conotativos da mesma forma que as outras palavras que o estruturamrdquo jaacute que

31

quando nomeamos atribuiacutemos simultaneamente um predicado um complemento ao nome uma

caracteriacutestica um adjetivo

Em Guimaratildees (2005) o ato de dar nome eacute tambeacutem um ato de identificar um indiviacuteduo

bioloacutegico como tal para o Estado e para a sociedade e tornaacute-lo sujeito De acordo com esse

ponto de vista ganha interesse o funcionamento determinativo da construccedilatildeo do nome proacuteprio

da pessoa no qual segundo Guimaratildees (2005 p 52) ldquohaacute uma relaccedilatildeo particular entre a

nomeaccedilatildeo e o objeto nomeado que se apresenta por uma materialidade histoacuterica e natildeo fiacutesicardquo

A nomeaccedilatildeo eacute por causa da predicaccedilatildeo um ato que diferencia sendo tambeacutem um ato

que identifica De acordo com Lima (2007 p 51)

o acto (sic) de nomear eacute um dos primeiros momentos de inserccedilatildeo da pessoa

numa categoria social de geacutenero Mas ainda mostra-nos que neste contexto

social nomear eacute uma das formas mais importantes de construir geacutenero e

pessoa dentro da famiacutelia

A inserccedilatildeo da pessoa na sociedade por meio de seu nome eacute uma relaccedilatildeo hierarquizada

construiacuteda agrave luz de valores tanto sociais como familiares Como jaacute sabemos o nome eacute uma

forma de identidade de revelar o que o outro natildeo eacute assim nomear eacute um aspecto crucial da

conversatildeo de qualquer um em algueacutem de acordo com Geertz (1973)

Na conversatildeo mencionada Parkin (1989) justifica que nomear pode ser uma forma de

atribuir direitos3 que daacute autoridade tanto ao nomeado quanto ao nomeador ou uma forma de

objetivaccedilatildeo por meio da escolha de um nome em particular que estabeleccedila controle sobre o

nomeado Nessas situaccedilotildees pode ocorrer que as pessoas antecipem essas consequecircncias

escolhendo ou controlando a atribuiccedilatildeo do seu proacuteprio nome ou em alguns casos como

acontece de o nome possuir uma carga negativa perante a sociedade e a pessoa recorre ao poder

judiciaacuterio para requerer a troca de seu nome

Enfim nomear eacute se apropriar do real eacute nessa perspectiva de nomear e apoderar fato

este que se daacute por meio da linguagem e de acordo com isso Kristeva (2007 p 17) pontua que

Se a linguagem eacute mateacuteria do pensamento eacute tambeacutem o proacuteprio elemento da

comunicaccedilatildeo social Natildeo haacute sociedade sem linguagem tal como natildeo haacute

sociedade sem comunicaccedilatildeo Tudo o que se produz como linguagem tem lugar

na troca social para ser comunicado

3 Livre traduccedilatildeo para Entitling

32

Eacute nessa troca social que acontece por meio da linguagem a nomeaccedilatildeo Assim eacute

necessaacuterio destacar que os nomes proacuteprios de lugares ndash topocircnimos ndash passam a estabelecer

relaccedilotildees materializadas por meio do uso da linguagem Sabe-se que o nome designado eacute

construiacutedo simbolicamente isso porque a linguagem que o constroacutei funciona por estar exposta

ao real e constituiacuteda materialmente pela histoacuteria local a qual motiva o leacutexico topocircnimo e eacute

nesse momento que ele nasce e se institui naquele lugar

De acordo com Biderman (1998) eacute por meio da palavra que as entidades da realidade

passam a ser conhecidas nomeadas e identificadas Essa realidade cria o seu acircmbito

significativo que nos eacute revelado pela linguagem que tambeacutem eacute a responsaacutevel por elencar os

fatores soacutecio-histoacuterico-cultural que permeiam a realidade Aqui no nosso caso esses fatores

satildeo trazidos por meio do leacutexico topocircnimo mais especificamente no ato de nomear um

designativo de lugar

Conforme Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares seja

em homenagem a algueacutem como eacute o caso da cidade de Pires do Rio que recebeu o nome o

patroniacutemico4 do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas (1919-1922) do governo de Epitaacutecio

Pessoa Dr Joseacute Pires do Rio Haacute lugares que recebem o nome em razatildeo de caracteriacutesticas

geograacuteficas Alguns nomes satildeo opacos conceito de Piel (1979) em contraposiccedilatildeo aos

transparentes pois natildeo apresentam relaccedilatildeo alguma com o referente nesse caso haacute de se fazer

uma busca histoacuterica para chegar agrave relaccedilatildeo motivacional

O homem tem a capacidade de associar palavras a conceitos E no ato de nomear

acontece a motivaccedilatildeo que estaacute ligada aos fatores cognitivos Assim o leacutexico que a ele eacute

determinado por meio do uso da linguagem se transporta no tempo sendo capaz de revelar os

fatores culturais e motivacionais que estatildeo nesse nomeleacutexico toponiacutemico (BIDERMAN 1998)

O nome comum no ato de nomeaccedilatildeo de um lugar impregna-se de significaccedilotildees vaacuterias

sejam de fatores histoacutericos culturais sociais econocircmicos Segundo Guimaratildees (2005 p 83)

ldquoo modo de significar os espaccedilos da cidade mostra que eles satildeo espaccedilos poliacuteticos O espaccedilo que

se daacute como objeto por uma descriccedilatildeo (referecircncias) atende a objetividade do discurso

administrativo que nomeia oficialmente os espaccedilos da cidaderdquo Assim o nome cifra a narrativa

histoacuterica local perpassando por fatores ou designativos memoraacuteveis

Essa atividade de nomeaccedilatildeo ou praacutetica de nomeaccedilatildeo eacute especificamente da espeacutecie

humana e resulta do processo de categorizaccedilatildeo inerente ao ser humano De acordo com

Biderman (1998 p 89)

4 De acordo com Cabral (2007) patroniacutemico eacute sobrenome

33

O processo de categorizaccedilatildeo subjaz agrave semacircntica de uma liacutengua natural Os

criteacuterios de classificaccedilatildeo usados para classificar os objetos satildeo muito

diferenciados e variados Agraves vezes o criteacuterio eacute o uso que o homem faz de um

dado objeto agraves vezes eacute um determinado aspecto do objeto que fundamenta a

classificaccedilatildeo agraves vezes eacute um determinado aspecto emocional que um objeto

pode provocar em quem o vecirc e assim por diante

Entatildeo o processo de categorizaccedilatildeo que por via das vezes pode se tornar um legislador

ndash nomeador Essas discussotildees acerca das histoacuterias do ato de nomear revelam formas de

organizaccedilatildeo social e mudanccedilas linguiacutesticas poliacuteticas e culturais Eacute pois por meio do nome que

as pessoas ou lugares permanecem vivos na memoacuteria coletiva de sua linhagem

E nesse processo de nomeaccedilatildeo categorizaccedilatildeo e motivaccedilatildeo nos estudos na aacuterea da

Onomaacutestica mais precisamente na subaacuterea dos Estudos Toponiacutemicos ndash temaacutetica de nossa

pesquisa ndash natildeo tem como desvencilhar a liacutengua e cultura Assim para Sapir-Whorf a liacutengua

retrata o mundo e a realidade social agrave sua volta expressos por categorias lexicais como os

topocircnimos

12 Liacutengua e Cultura

A liacutengua no contexto soacutecio-histoacuterico-cultural nada mais eacute que o resultado de um

processo histoacuterico um produto revelador da cultura de uma dada comunidade (CAcircMARA JR

1955) Nessas bases inter-relacionar liacutengua e cultura eacute justificar que estatildeo intrinsecamente

interligadas pois a liacutengua revela a visatildeo de mundo e eacute tambeacutem a manifestaccedilatildeo de uma cultura

cultura esta que lhe daacute suporte a liacutengua tambeacutem eacute suporte da cultura

Em seus estudos Paula (2007) menciona que a liacutengua eacute um metassistema ela ldquonatildeo eacute soacute

objeto ela eacute nas relaccedilotildees sociais mais diversamente possiacuteveis tambeacutem instrumento de

investigaccedilatildeo distinto que ajuda a entender os outros sistemas sociaisrdquo (PAULA 2007 p 90)

Nesse contexto eacute possiacutevel evidenciar que por meio da liacutengua satildeo reeditadas e reconfiguradas

as praacuteticas culturais de uma dada comunidade

Posto isso conveacutem rever alguns conceitos que remetem agrave face social da liacutengua seu

caraacuteter eminentemente social mais condizente com o recorte epistemoloacutegico feito por Saussure

(2008 p 17)

Mas o que eacute a liacutengua Para noacutes ela natildeo se confunde com a linguagem eacute

somente uma parte determinada essencial dela indubitavelmente Eacute ao

mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto

34

de convenccedilotildees necessaacuterias adotadas pelo corpo social para permitir o

exerciacutecio dessa faculdade nos indiviacuteduos Tomada em seu todo a linguagem

eacute multiforme e heteroacuteclita o cavaleiro de diferentes domiacutenios ao mesmo

tempo fiacutesica fisioloacutegica e psiacutequica ela pertence aleacutem disso ao domiacutenio

individual e ao domiacutenio social natildeo se deixa classificar em nenhuma categoria

de fatos humanos pois natildeo se sabe como inferir sua unidade

De acordo com Fiorin (2013 p 17) ldquoA liacutengua natildeo eacute um sistema de mostraccedilatildeo de

objetos porque permite falar do que estaacute presente e do que estaacute ausente do que existe e do que

natildeo existe porque possibilita ateacute criar novas realidades mundos natildeo existentesrdquo A liacutengua eacute um

produto social e por meio dela se criam e recriam realidades podendo entatildeo se justificar as

praacuteticas culturais por meio de atos linguiacutesticos

Com esse movimento epistemoloacutegico ou melhor ao eleger a liacutengua e natildeo a linguagem

nem a fala como objeto de estudo da Linguiacutestica Saussure possibilitou a instituiccedilatildeo da ciecircncia

linguiacutestica e consequentemente seus inuacutemeros desdobramentos posteriores

Sapir (1980) ressalta a estreita ligaccedilatildeo entre liacutengua e cultura jaacute que para o autor

Toda liacutengua tem uma sede O povo que a fala pertence a uma raccedila (ou a certo

nuacutemero de raccedilas) isto eacute a um grupo de homens que se destaca de outros

grupos por caracteres fiacutesicos Por outro lado a liacutengua natildeo existe isolada de

uma cultura isto eacute de um conjunto socialmente herdado por praacuteticas e crenccedilas

que determinam a trama das nossas vidas (SAPIR 1980 p 165)

Nesta perspectiva reafirmando que liacutengua se difere de linguagem mas se entrecruza

com ela ou dela faz parte como uma das inuacutemeras formas de linguagem e ainda considerando-

a um dos fatores de identidade de um povo e que natildeo existe isolada da cultura eacute que se torna

objeto de estudos o que envolve fatores soacutecio-histoacuterico-culturais das comunidades

O autor desta forma ainda nos revela que ldquotoda liacutengua estaacute de tal modo construiacuteda

que diante de tudo que um falante deseje comunicar por mais original ou bizarra que seja a sua

ideia ou a sua fantasia a liacutengua estaacute em condiccedilotildees de satisfazecirc-lorsquo (SAPIR 1969 p 33) Eacute

nessas condiccedilotildees de satisfazer ao falante ou agrave comunidade que ele pertence que a liacutengua se

justifica como um meio de interaccedilatildeo social e revelador da cultura jaacute que ela se configura no

tempo e eacute capaz de transmitir de geraccedilotildees a geraccedilotildees atraveacutes de atos linguiacutesticos as

manifestaccedilotildees culturais Conveacutem ressaltar que

Tudo que ateacute aqui verificamos ser verdade a respeito das liacutenguas indica que

se trata da obra mais notaacutevel colossal que o espiacuterito humano jamais

desenvolveu nada menos do que uma forma completa de expressatildeo para toda

a experiecircncia comunicaacutevel Essa forma pode ser variada de inuacutemeras maneiras

pelo indiviacuteduo sem perder com isso os seus contornos distintivos e estaacute

35

constantemente remodelando-se como sucede com toda arte A liacutengua eacute a arte

mais ampla e maciccedila que se nos depara cuacutemulo anocircnimo do trabalho

inconsciente das geraccedilotildees (SAPIR 1980 p 172)

De acordo com Cacircmara Jr (1955) a liacutengua eacute uma parte da cultura mas ela pode ser

estudada na sua relaccedilatildeo com a cultura ou sem considerar essa inter-relaccedilatildeo Segundo o autor

com essa perspectiva o linguista se destaca do antropoacutelogo Porque os estudos linguiacutesticos

podem prescindir do exame da inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura ou melhor pode-se estudar a

liacutengua em sua imanecircncia ou a relaccedilatildeo da linguagem com outras aacutereas do conhecimento humano

A liacutengua aleacutem de inter-relacionar a cultura nada sociedade atua para que a proacutepria

cultura seja conhecida e levada agrave geraccedilotildees futuras seja por meio de festas religiosas cantigas

e outros fatores que a divulguem Jaacute que na mesma base teoacuterica a liacutengua se justifica como um

fato de cultura assim como qualquer outro e neste iacutenterim integra-se agrave cultura

Cacircmara Jr (1955) reconhece que a liacutengua funciona na sociedade para a comunicaccedilatildeo e

interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e tambeacutem que ela se torna o resultado de uma cultura global pois a

liacutengua depende de toda cultura jaacute que a expressa a todo o momento

assim a liacutengua em face do resto da cultura eacute ndash o resultado dessa cultura ou

sua suacutemula eacute o meio para ela operar eacute a condiccedilatildeo para ela subsistir E mais

ainda soacute existe funcionalmente para tanto englobar a cultura comunicaacute-la e

transmiti-la (CAcircMARA JR 1955 p 54)

Considerada a inter-relaccedilatildeo liacutengua e cultura pode-se ressaltar mais uma vez que a

cultura se manifesta linguisticamente sejam elas integrantes de manifestaccedilotildees da cultura

popular ou da erudita

De modo geral a cultura eacute pensada numa visatildeo polarizante como sendo

cultura popular ou cultura erudita Conveacutem dizer poreacutem que ambas satildeo

formas e conteuacutedos diferentes de expressatildeo de uma dada realidade social e

histoacuterica Entatildeo natildeo devem ser vistas como opostas ou excludentes mas como

maneiras especiacuteficas de ver sentir e expressar a realidade conforme se situam

seus atores na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo do poder (PAULA 2007 p 75)

Neste processo Sapir (1969) menciona que o leacutexico eacute o niacutevel linguiacutestico em que mais

intimamente se interligam liacutengua e cultura Zavaglia (2012) por sua vez reconhece que o leacutexico

estaacute vinculado agrave cultura de um povo de uma naccedilatildeo agrave sua histoacuteria

Para Zavaglia (2012) o leacutexico estaacute relacionado com a memoacuteria humana e se configura

no ato de nomeaccedilatildeo diante do processo em que houve a necessidade de o homem por meio de

36

palavras nomear tudo que o circundava e assim categorizar o que estava a seu redor Pautados

na autora observamos a grandeza do leacutexico pois

Eacute o leacutexico em forma de palavras e por meio da linguagem que ldquocontardquo a

histoacuteria milenar de povo para povo eacute o leacutexico que transmite os elementos

culturais de um conjunto de indiviacuteduos eacute o leacutexico que ldquoeducardquo ou ldquodeseducardquo

eacute o leacutexico que permite a manifestaccedilatildeo dos sentimentos humanos de suas

afeiccedilotildees ou desagrados via oral ou via escrita Eacute o leacutexico que registra o

desencadear das accedilotildees de uma sociedade suas mudanccedilas seu progresso ou

regresso Condivido com Biderman quando diz que o leacutexico eacute o tesouro

vocabular de forma codificada da memoacuteria do indiviacuteduo restando ali estocado

ateacute que seja ativado quando necessaacuterio para que o homem possa expressar ou

se comunicar Eacute ainda por meio do leacutexico que conceitos condutas e costumes

satildeo transmitidos de geraccedilotildees a geraccedilotildees e herdados por elas ldquoEacute o leacutexico que

fisionomiza a culturardquo (ZAVAGLIA 2012 p 233)

O leacutexico eacute o fio condutor da cultura jaacute que a transporta para geraccedilotildees futuras eacute por meio

dele que se registra a histoacuteria e a vida de uma sociedade Para Sapir (1969) a cultura estaacute

nitidamente no leacutexico da liacutengua e este pode ser considerado como todo o conjunto de ideias

interesses e ocupaccedilotildees que abrangem a atenccedilatildeo da comunidade Neste contexto

O estudo cuidadoso de um dado leacutexico conduz a inferecircncias sobre o ambiente

fiacutesico e social daqueles que o empregam e ainda mais que o aspecto

relativamente transparente ou natildeo-transparente do proacuteprio leacutexico nos permite

deduzir o grau de familiaridade que se tem adquirido com os vaacuterios elementos

do ambiente (SAPIR 1969 p 49)

Eacute possiacutevel ressaltar que o leacutexico da liacutengua conteacutem um recorte da realidade feito agrave sua

maneira que revela visotildees de mundo Os elementos culturais que matizam datildeo o colorido de

significaccedilatildeo ao leacutexico mostram de diferentes maneiras as relaccedilotildees que ambas liacutengua e cultura

tecircm com o ambiente seja fiacutesico ou social pois toda complexidade dessa inter-relaccedilatildeo pode ser

anunciada e enunciada no uso da linguagem

Vale entatildeo ressaltar

Que o leacutexico assim reflita em alto grau a complexidade da cultura eacute

praticamente um fato de evidecircncia imediata pois o leacutexico ou seja o assunto

de uma liacutengua destina-se em qualquer eacutepoca a funcionar como um conjunto

de siacutembolos referentes ao quadro cultural do grupo Se por complexidade de

uma liacutengua se entende a seacuterie de interesses impliacutecitos em seu leacutexico natildeo eacute

preciso dizer que haacute uma correlaccedilatildeo constante entre a complexidade

linguiacutestica e cultural (SAPIR 1969 p 51)

37

O conjunto de signos da liacutengua ultrapassa as fronteiras do tempo trazendo para a

atualidade siacutembolos tambeacutem culturais que satildeo revelados por meio de praacuteticas culturais que se

interseccionam com as praacuteticas linguiacutesticas Assim

Natildeo soacute as palavras da liacutengua passam a servir de siacutembolos culturais dispersos

como sucede nas liacutenguas em qualquer periacuteodo de desenvolvimento mas se

pode supor que as proacuteprias categorias e processos gramaticais simbolizariam

tipos correspondentes de pensamento e atividade de significaccedilatildeo cultural Ateacute

certo ponto pode se conceber portanto a cultura e a liacutengua em constante

estado de interaccedilatildeo e em associaccedilatildeo definida por um largo lapso de tempo

Mas tal estado de correlaccedilatildeo natildeo pode continuar indefinidamente (SAPIR

1969 p 60)

Segundo Sapir (1969) a linguagem possui o papel de produzir e organizar o mundo

mediante o processo de simbolizaccedilatildeo Contudo a realidade eacute mostrada por meio da linguagem

o que significa dizer que natildeo haacute mundos iguais visto que natildeo haacute liacutenguas iguais De acordo com

estas observaccedilotildees cabe ressaltar o relativismo linguiacutestico ldquoHipoacutetese de Sapir-Whorfrdquo a

linguagem determina a forma de ver o mundo e consequentemente de se relacionar com esse

mundo

O relativismo linguiacutestico pode ser entendido como a relaccedilatildeo linguagem e pensamento

mediada pela cultura desta forma linguagem pensamento e cultura estatildeo conectados Sapir-

Whorf observam que a realidade social eacute produto linguiacutestico tratando assim as relaccedilotildees de

linguagemcultura e linguagempensamento a cultura pode ser considerada como

conhecimento adquirido socialmente por meio das praacuteticas linguiacutesticas

De maneira geral diz-se que a cultura eacute o conhecimento que as pessoas detecircm acerca de

uma comunidade seja em seus acircmbitos popular ou cientiacutefico os quais ultrapassam o tempo

por meio da liacutengua jaacute que ldquoA cultura eacute o conjunto do que o homem criou na base das suas

faculdades humanas abrange o mundo humano em contraste com o mundo fiacutesico e o mundo

bioloacutegicordquo (CAcircMARA JR 1955 p 51)

Em outras palavras

Cultura eacute o conjunto de praacuteticas sociais situadas historicamente que se

referem a uma sociedade e que a fazem diferente de outra Baseia-se na

construccedilatildeo social de sentidos a accedilotildees crenccedilas haacutebitos objetos que passam a

simbolizar aspectos da vivecircncia humana em coletividade (PAULA 2007 p

74)

A diversidade tambeacutem se reflete na cultura pois de acordo com Bosi

38

[] natildeo existe uma cultura brasileira homogecircnea matriz de nossos

comportamentos e dos nossos discursos Ao contraacuterio a admissatildeo do seu

caraacuteter plural eacute um passo decisivo para compreendecirc-la como um ldquoefeito de

sentidordquo resultado de um processo de muacuteltiplas interaccedilotildees e oposiccedilotildees no

tempo e no espaccedilo (BOSI 1987 p 7)

Neste sentido a cultura se constroacutei a partir das vivecircncias e significados que lhe satildeo

atribuiacutedos pela proacutepria sociedade em suas praacuteticas sociais e constituindo-se tambeacutem em

diferenccedila Para Bosi (1987 p 11) o fundamento da cultura popular ldquoeacute o retorno de situaccedilotildees e

atos que a memoacuteria grupal reforccedila atribuindo-lhes valorrdquo Isso satildeo as marcas identitaacuterias da

comunidade que satildeo deixadas e vivenciadas (ou vivificadas) tempos depois A cultura popular

eacute revelada por meio de praacuteticas culturais e linguiacutesticas que levam a puacuteblico as relaccedilotildees soacutecio-

histoacuterica-culturais de determinadas comunidades

A cultura se constroacutei com base nos valores atribuiacutedos pelos sujeitos agraves relaccedilotildees

cotidianas e nas relaccedilotildees de poder Organiza-se como popular eou erudita Nesse sentido natildeo

existe cultura melhor nem pior cada uma eacute expressa pelo seu grupo social pois cada indiviacuteduo

tem uma forma de ver o mundo modos de vestir de comer os meios para se curar os remeacutedios

os modos de plantar de cultivar e colher os modos de nomear e categorizar os elementos da

natureza e outros tantos mais Desta forma ldquoconforme as pessoas entendem que participam de

uma cultura esforccedilam-se para agir dentro do que julgam ser pertinente a elardquo (PAULA 2007

p 75)

Cultura liacutengua e identidade natildeo satildeo algo fixo pronto e acabado estando sempre em

constituiccedilatildeo uma vez que satildeo produzidas por seres sociais que se encontram em processo de

interaccedilatildeo aprendizado conhecimento e estatildeo inseridos em contextos sociais que passam por

transformaccedilotildees O leacutexico eacute o meio pelo qual a cultura e a identidade se constroem e se

disseminam

Na visatildeo de Paula (2007 p 89) a memoacuteria eacute o depositaacuterio tanto da cultura como da

liacutengua visto que

O modo como se estrutura poliacutetica e economicamente uma sociedade diz

muito de suas estruturas culturais estas por sua vez soacute se fazem possiacuteveis

graccedilas agrave elaboraccedilatildeo cotidiana do arcabouccedilo de memoacuteria coletiva ao modo

como eacute concebida e ao estatuto que lhe eacute dado Expressando estas inter-

relaccedilotildees servindo a elas no cotidiano da comunicaccedilatildeo humana e carregando

em seu funcionamento muito do modo como a sociedade se faz e se refaz estaacute

a liacutengua

39

Os processos culturais que satildeo construiacutedos por meio de atos linguiacutesticos satildeo uma forma

identitaacuteria de dada comunidade que eacute expressa por relaccedilotildees sociais como forma de conduzir e

expressar-se perante as demais comunidades sejam elas internacionais nacionais ou regionais

sabemos que a cultura eacute a miscigenaccedilatildeo de outras culturas

13 A toponiacutemia e o estudo dos nomes

Embora faccedila parte do cotidiano das pessoas portanto estreitamente ligado agrave cultura natildeo

haacute muita discussatildeo referente ao nome proacuteprio e aos motivos de algueacutem ou um lugar ter o nome

que tem Entretanto conforme Carvalhinhos (2002) jaacute no seacuteculo II aC com o gramaacutetico

Dioniacutesio Traacutecia o estudo sobre o nome jaacute tinha sido pensado e formulado Esses estudos

propiciaram por sua vez o surgimento da Onomaacutestica a ciecircncia que se ocupa dos estudos da

origem e alteraccedilotildees (na forma e no significado) dos nomes proacuteprios A Onomaacutestica eacute um ramo

das ciecircncias linguiacutesticas que pode-se efetuar em duas vertentes a toponiacutemia (estudo do

topocircnimo ou nome de lugar) e a antroponiacutemia (estudo do nome pessoal)

Conforme Dubois (2004) e Houaiss (2004) a Onomaacutestica eacute um ramo da lexicologia e

seu meacutetodo de trabalho deve-se desenvolver em linha documental mediante a observaccedilatildeo de

dados oficiais como mapas listas de nomes ou outros documentos de valor historiograacutefico e

lexicograacutefico Isso possibilita a junccedilatildeo da histoacuteria da nomenclatura com momentos histoacutericos e

sociais mais amplos

No entanto mesmo pertencendo agrave ciecircncia da linguagem a Onomaacutestica se estabelece por

meio do suporte de outras aacutereas do conhecimento como a Antropologia a Etnografia a

Botacircnica a Geografia e a Histoacuteria Neste sentido natildeo eacute equivocado salientar que a Onomaacutestica

eacute um campo de amplo caraacuteter interdisciplinar

Assim a Onomaacutestica ou Onomasiologia eacute o ramo da ciecircncia linguiacutestica que tem o nome

proacuteprio como objeto de estudo e se constroacutei em relaccedilatildeo a outros campos do saber Contudo ao

relacionar o seu conhecimento aos de outras aacutereas ela natildeo os confunde nem os nega

De acordo com Ramos e Bastos (2010) a Onomaacutestica assume uma perspectiva

integralizadora de meacutetodos e demanda um consideraacutevel nuacutemero de conhecimentos de campos

diversos de maneira direta ou indireta e vertical ou horizontal destacando-se a linguiacutestica com

valoraccedilatildeo da pesquisa etimoloacutegica

Conforme dito a Onomaacutestica para efeito de estudo pode ser dividida em dois eixos a

Antroponiacutemia e a Toponiacutemia Estas por sua vez podem apresentar subdivisotildees dependendo

de algumas consideraccedilotildees acerca das caracteriacutesticas que cada uma agrave sua maneira apresenta

40

A Toponiacutemia conforme Piel (1979) de acordo com o objeto de denominaccedilatildeo pode

denominar-se tambeacutem como astroniacutemia hidroniacutemia litoniacutemia odoniacutemia oroniacutemia para citar

apenas alguns termos que correspondem a objetos que constituem ou satildeo constituiacutedos por

formaccedilotildees aquosas astros formaccedilotildees peacutetreas serras vias ou caminhos

Jaacute a Antroponiacutemia volta sua atenccedilatildeo para o estudo dos nomes de batismo dos

sobrenomes patroniacutemicos (ou matroniacutemicos) e ainda das alcunhas dos apelidos e de nomes

diminutivos A Antroponiacutemia agrave semelhanccedila da Toponiacutemia natildeo se constitui de forma

homogecircnea jaacute que haacute uma seacuterie de tradiccedilotildees conforme os povos ou culturas que desenvolveram

esses sistemas antroponiacutemicos Por outro lado eacute consenso afirmar que os nomes pessoais satildeo

um aspecto comum ou universal nas liacutenguas porque as pessoas recebem um nome em algum

momento de suas vidas em todas as sociedades conhecidas do mundo

De acordo com Dick (1992) as intenccedilotildees e as motivaccedilotildees que subjazem agrave escolha dos

nomes em cada sociedade variam bastante Os estudos dos sistemas onomaacutesticos vecircm confirmar

isso porque os nomes existem e satildeo controlados pelas necessidades e praacuteticas sociais as quais

podem variar de acordo com a visatildeo de mundo de um determinado povo

Posto isso conveacutem conceber a Onomaacutestica como uma disciplina que deve focar como

objeto de estudo os sistemas de denominaccedilatildeo que justifiquem os processos de atribuiccedilatildeo de

nomes de uma maneira geral

Em Soliacutes (1997) os nomes satildeo o resultado de algo que os provoca isto eacute o sistema

denominativo elaborado pelas culturas para atribuir nomes agraves coisas apreendidas por sua

atividade cognitiva

Devido ao fato de a Onomaacutestica estender-se a um amplo campo de estudo ou seja que

se volta tanto para o estudo dos nomes proacuteprios de pessoas como agraves designaccedilotildees dos lugares eacute

imperioso delimitar para este estudo apenas o sistema onomaacutestico voltado para os nomes de

lugar isto eacute para a toponiacutemia caracterizando como objeto de estudo os nomes dos cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio

A despeito de incorrer em lugar comum conveacutem rever os constituintes da palavra

toponiacutemia cujo significado etimoloacutegico pode ser assim expresso do grego topos (lugar) e

onoma (nome) A Toponiacutemia se ocupa dos locativos (tambeacutem componentes do leacutexico da liacutengua)

com o fito de estudar a origem as significaccedilotildees e as transformaccedilotildees por que passam ou

passaram esses nomes A Toponiacutemia se dedica ao estudo natildeo apenas dos nomes de comunidades

humanas (cidades povoados vilas) como tambeacutem elementos geograacuteficos a exemplo os cursos

drsquoaacuteguas

41

Os estudos toponiacutemicos propiciam a percepccedilatildeo da relaccedilatildeo entre povo liacutengua e territoacuterio

considerando que esse territoacuterio pode ser fiacutesico eou imaginaacuterio jaacute que as entidades do mundo

que precisam ser nomeadas podem ser pessoas entidades geograacuteficas que fazem parte do

ambiente em que vive determinado povo e que sobretudo tenham importacircncia para esse povo

pois se natildeo tem importacircncia natildeo haacute em contrapartida necessidade de ser nomeado Conveacutem

no entanto ressaltar que nem todas as nomeaccedilotildees ocorrem pela necessidade espontacircnea de

identificaccedilatildeo uma vez que muitas delas refletem a imposiccedilatildeo de forccedilas ideoloacutegicas poliacuteticas e

sociais

Neste sentido surge a necessidade de reconhecer os objetos geograacuteficos da natureza

tais como rios mares lagoas ilhas continentes serras e outros mas haacute outros que precisam

ser denominados tambeacutem principalmente os objetos da cultura aqueles criados pelo homem

dentre os quais podem ser citados os povoados represas moradias (habitaccedilatildeo) ruas

circunscriccedilotildees poliacutetico-territoriais que se situam em algum lugar do universo fiacutesico

Natildeo se pode omitir aqueles lugares cujo universo foi criado pela cultura imaterial o

mundo natildeo fiacutesico Sejam do universo real ou imaginaacuterio as entidades geograacuteficas satildeo os

referentes dos topocircnimos que por sua vez integram a visatildeo de mundo de um povo Isso

constitui uma dificuldade em especificar que referentes existem no mundo fiacutesico ou cultural

em parte porque para isso eacute necessaacuterio considerar uma cultura determinada Em resposta a isso

haacute o reconhecimento da visatildeo de mundo que eacute peculiar a cada cultura

Muitos povos concebem o universo real como um mundo que tem seu correlato miacutetico

com outros mundos e fazem assim surgir universos de nomes toponiacutemicos de variada riqueza

toponomaacutestica porque tecircm lugares para nomear no espaccedilo fictiacutecio criado nesse mundo Assim

aleacutem de serem componentes linguiacutesticos como tal os nomes que compotildeem um sistema de

denominaccedilatildeo satildeo ainda criaccedilotildees socioculturais

Entatildeo cabe agrave Toponiacutemia estudar tanto os nomes de lugares (os topocircnimos) como

componentes de uma liacutengua que satildeo como tambeacutem o sistema de denominaccedilatildeo organizado pelas

sociedades para nomear os objetos fiacutesicos ou imaginaacuterios da sua cultura Devido agraves diferentes

visotildees de mundo tecircm-se diferentes formas de nomear essas entidades Aleacutem da visatildeo de mundo

em sociedades como a brasileira podem contribuir para a formaccedilatildeo de um sistema de nomeaccedilatildeo

os movimentos sociais como forccedila impulsionadora de mudanccedila social Em relaccedilatildeo agrave realidade

brasileira podem-se mencionar as poliacuteticas que vecircm acontecendo durante os mais de 500 anos

de histoacuteria brasileira que tambeacutem resultou em inuacutemeras formaccedilotildees e mudanccedilas de designaccedilatildeo

toponiacutemica no Brasil

42

Cabe reiterar que a toponiacutemia refere-se a nomes de lugares habitados ou natildeo Daiacute uma

definiccedilatildeo apropriada para o termo ldquotopocircnimordquo eacute um nome de qualquer ponto localizaacutevel no

espaccedilo terrestre que tenha recebido denominaccedilatildeo Definiccedilatildeo essa que pode ser estendida para o

nome de qualquer ponto localizaacutevel no mundo real ou em mundos imaginados pelas culturas

em outras palavras daqueles universos que existem por meio da atividade ideacional dos

homens

Assim eacute por meio da relaccedilatildeo povo-territoacuterio que os nomes de lugar satildeo estabelecidos

Inicialmente pela posse do territoacuterio uma vez que segundo Couto (2007) o territoacuterio eacute uma

das primeiras referecircncias para que um agrupamento de pessoas possa receber o status de

comunidade e todo territoacuterio entendido como tal tem de ter um nome um topocircnimo Desta

forma recortam-se os aspectos do meio ambiente mais salientes aos olhos do povo como uma

espeacutecie de acordo que permite a vivecircncia e a convivecircncia em sociedade no territoacuterio apossado

Eacute possiacutevel afirmar que a nomeaccedilatildeo dos lugares surgiu com a proacutepria humanidade Os

registros antigos da histoacuteria da civilizaccedilatildeo ratificam essa accedilatildeo do homem sobre o lugar que

habita ou jaacute habitou satildeo fatores que sugerem uma espeacutecie de posse ou de domiacutenio sobre o lugar

por meio da significaccedilatildeo da organizaccedilatildeo e da orientaccedilatildeo pelo espaccedilo ocupado ou apenas

conhecido Em contrapartida o ato de nomeaccedilatildeo se manifesta como a accedilatildeo do meio fiacutesico e

sociocultural sobre o homem

Eacute nesta perspectiva que se podem considerar os estudos toponiacutemicos em seu acircmbito

interdisciplinar porque congregam vaacuterias aacutereas do conhecimento humano Os nomes de um

lugar satildeo enfocados conforme a observaccedilatildeo dos aspectos fiacutesicos socioculturais mentais e

histoacutericos interligados ou em separados

Assim natildeo eacute equiacutevoco conceber a Toponiacutemia como objeto de estudo da Antropologia

da Geografia da Histoacuteria ou ainda da Psicologia Social para citar apenas algumas disciplinas

Eacute possiacutevel segundo Dick (1992) realizar anaacutelises do fenocircmeno toponiacutemico em

consonacircncia teoacuterica com qualquer uma dessas aacutereas mas para a autora nenhuma delas tomada

isoladamente ou com exclusivismo alcanccedilaria a plenitude do fenocircmeno toponiacutemico Em termos

linguiacutesticos a Toponiacutemia recorre aos conhecimentos da Semacircntica da Lexicologia da

Etnolinguiacutestica da Dialetologia e da Linguiacutestica Histoacuterica

Mais recentemente uma linha de anaacutelise que tem oferecido contribuiccedilotildees importantes

aos estudos dos nomes de lugares eacute a Linguiacutestica Cognitiva Suas pesquisas vecircm enfatizando

natildeo soacute os modelos cognitivos mas tambeacutem os processos de categorizaccedilatildeo principalmente os

processos de analogia e contiguidade proacuteprios da metaacutefora e da metoniacutemia Entendecirc-los eacute

43

essencial para compreender os sistemas de nomeaccedilatildeo como resultados da experiecircncia e da

cogniccedilatildeo humana com o corpo em relevo

Esta perspectiva de anaacutelise coaduna estudos que procuram reconhecer processos

cognitivos expressos na accedilatildeo de denominar a realidade e para tanto fundamentam-se no corpo

Eacute uma forma de nomear os lugares fiacutesicos ou culturais mediante a percepccedilatildeo do denominador

na interaccedilatildeo com meio ambiente fiacutesico e cultural

14 O signo linguiacutestico em funccedilatildeo toponiacutemica

Para realizar qualquer estudo onomaacutestico eacute necessaacuterio inicialmente buscar na teoria

linguiacutestica os recursos para se explicar como uma forma linguiacutestica se amaacutelgama a um lugar

configurando uma relaccedilatildeo entre esse lugar suas caracteriacutesticas e o signo linguiacutestico que passa

a designaacute-lo Em outras palavras eacute necessaacuterio buscar conceitos que estejam em consonacircncia

com os preceitos5 onomaacutestico-toponiacutemicos

Eacute por meio da liacutengua que se daacute a interaccedilatildeo dos indiviacuteduos e a mesma constitui-se de

signos linguiacutesticos Em outras palavras o mundo humano a realidade extralinguiacutestica e a

cultura constituem-se de signos Calcados nas ideias de Charles Sanders Pierce (2005) tem-se

o conceito geral de que o signo eacute ldquoalgo que estaacute por algo para algueacutemrdquo Conveacutem salientar que

ldquoestar porrdquo eacute uma noccedilatildeo bastante ampla pois pode significar uma seacuterie de coisas como

representar caracterizar fazer agraves vezes de indicar entre outros Para Pierce (2005 p 46)

um signo ou representamem eacute algo que sob certo aspecto ou de algum modo

representa alguma coisa para algueacutem Dirige-se a algueacutem isto eacute cria na mente

dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido

Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo O signo

representa alguma coisa seu objeto Representa esse objeto natildeo em todos os

aspectos mas com referecircncia a um tipo de ideia que eu por vezes denominei

fundamento do representamem (Grifos do autor)

Assim seguindo a concepccedilatildeo de Pierce (2005) sobre signo pode-se formular que eacute a

representaccedilatildeo de alguma coisa para algueacutem estaacute no lugar da coisa que ele representa e natildeo eacute a

coisa em si Tem ainda a condiccedilatildeo de perturbar a mente do interpretante i eacute daquele que vecirc

lecirc ou ouve o signo na tentativa de atribuir-lhe um significado Dessa forma eacute possiacutevel verificar

uma relaccedilatildeo de interdependecircncia entre pelo menos trecircs extremos i) a face perceptiacutevel do

5 No capiacutetulo 2 satildeo apresentados os meacutetodos usados na pesquisa

44

signo o representamem ou significante ii) o que ele representa o objeto ou referente e iii) o

que ele significa interpretante ou significado

Quadro 1 ndash Triacircngulo da significaccedilatildeo

Fonte Adaptado a partir do original de Ogden-Richards (1972)

Para Pierce (2005) os signos satildeo elementos tricotocircmicos6 e apresentam trecircs divisotildees

amplas (i) iacutecone (ii) iacutendice e (iii) siacutembolo A despeito de serem conceitos mais pertinentes a

um estudo semioacutetico em grande parte a motivaccedilatildeo que subjaz ao designativo de lugar imprime

caraacuteter icocircnico indicial ou simboacutelico ao nome do lugar o que acarreta uma dada categorizaccedilatildeo

Para Pierce (2005) (i) iacutecones satildeo os signos que apresentam as caracteriacutesticas

especiacuteficas proacuteprias por analogia formam-se pela primeira impressatildeopercepccedilatildeo que o

inteacuterprete tem sobre as coisas do mundo real Eacute um signo que guarda semelhanccedilas entre o

significante e o significado Em outras palavras um iacutecone eacute uma representaccedilatildeo - auditiva visual

ou de outra espeacutecie ndash de alguma coisa Uma fotografia uma pintura as imagens diagramas satildeo

exemplos de iacutecones por evidenciar semelhanccedila com o objeto representado A semelhanccedila tem

de ser estabelecida de forma quase que consciente por quem observa No entanto a semelhanccedila

com o objeto representado pode ser extraordinaacuteria como quando se observam as imagens sacras

ou iacutecones menores aqueles que aparecem na tela do computador ou pode ser mais abstrata

como a que acontece com as placas de sinais em geral

Em relaccedilatildeo aos (ii) iacutendices Pierce (2005) estabelece que satildeo signos que estatildeo numa

relaccedilatildeo direta entre o representamem e o objeto Um iacutendice (ou signo indexical) tem a funccedilatildeo

de indicar o que estaacute nas suas proximidades Nos iacutendices a forma e o significado estatildeo

interligados satildeo contiacuteguos ou seja caracteriza-se pela relaccedilatildeo de contiguidade ou associaccedilatildeo

com aquilo que representa Aquilo que atrai a atenccedilatildeo em um objeto eacute seu iacutendice Apresentam

6 O que difere das caracteriacutesticas dicotocircmicas do signo linguiacutestico para Saussure

Conceito

(Significado)

Palavra Referente

(significante) (elementos da realidade)

45

traccedilos de decirciticos jaacute que os interlocutores podem recuperar o referente por meio de lembranccedilas

de detalhes do objeto

Encontram-se muito difundidos nos sistemas de comunicaccedilatildeo (verbal ou natildeo) Satildeo

amplamente empregados na linguagem miacutemica e gestual no coacutedigo de tracircnsito Os decirciticos satildeo

signos indiciais imprescindiacuteveis pois referem demonstrativamente indicam a pessoa do

discurso o lugar a proximidade7 de espaccedilo e tempo entre outros (iii) Jaacute os siacutembolos satildeo signos

que se referem ao objeto em funccedilatildeo de uma convenccedilatildeo de uma lei ou de associaccedilatildeo geral de

ideias ou melhor por natildeo haver uma relaccedilatildeo de semelhanccedila e nem contiguidade entre o

significante e o significado ela eacute estabelecida por convenccedilatildeo de forma intencional e aprendida

nas relaccedilotildees sociais Os siacutembolos satildeo considerados os signos genuiacutenos estatildeo reservados aos

seres humanos porque as necessidades comunicativas exigem muito mais que indicaccedilotildees

indexicais ou imitaccedilotildees icocircnicas O sistema mais elaborado de signos simboacutelicos certamente

eacute o das liacutenguas naturais na modalidade falada e na escrita tambeacutem sendo que a palavra eacute o

siacutembolo por excelecircncia

Por se constituiacuterem de duas coisas que se encontram em prolongamento uma da outra

i eacute contiacuteguas os signos indexicais podem se substituir mutuamente Tambeacutem os signos

icocircnicos podem tomar o lugar do objeto real Jaacute os simboacutelicos satildeo superiores por permitirem

aos seres humanos ultrapassar os limites de contiguidade e semelhanccedila porque estabelecem uma

relaccedilatildeo simboacutelica entre determinada forma e determinado significado Todas essas relaccedilotildees ndash

icocircnica indexical e simboacutelica ndash estatildeo na base dos sistemas de linguagem

Os signos linguiacutesticos se vinculam agrave noccedilatildeo de siacutembolo uma vez que a relaccedilatildeo com o

objeto referido eacute construiacuteda arbitrariamente em uma espeacutecie de acordo entre os membros de

uma comunidade de fala Para Saussure (2008) o signo linguiacutestico eacute o resultado da associaccedilatildeo

convencional entre o significante e o significado acertada entre os falantes Eacute convencional

porque natildeo haacute nenhum viacutenculo sugestivo entre os dois elementos Essa eacute a noccedilatildeo de

arbitrariedade descrita por Saussure (2008) em relaccedilatildeo aos viacutenculos entre significante e

significado Por outro lado haacute de se considerar situaccedilotildees em que os signos linguiacutesticos

apresentam motivaccedilotildees que podem ser de natureza foneacutetica morfoloacutegica ou semacircntica

Quanto agrave estrutura um topocircnimo pode ser um nome simples ou composto e segue

evidentemente as mesmas regras de formaccedilatildeo de palavras da liacutengua portuguesa Um nome em

funccedilatildeo toponiacutemica pode tambeacutem ser constituiacutedo por frases e oraccedilotildees seguem assim a sintaxe

da liacutengua em que se insere

7 O ldquoeurdquo a pessoa com quem se fala o ldquoeste aquirdquo ldquoesse aiacuterdquo ldquoaquele alirdquo ldquoneste tempordquo ldquonaquele tempordquo

46

Segundo Dick (1992) o signo topocircnimo vincula-se por diversos fatores ao elemento

geograacutefico do qual eacute o referente estabelecendo com ele um conjunto que por sua vez pode ser

separado em partes menores para se distinguirem os seus elementos formadores

Morfologicamente dois elementos baacutesicos podem ser depreendidos dessa relaccedilatildeo um o termo

ou elemento geneacuterico que se relaciona agrave entidade geograacutefica que recebe a denominaccedilatildeo e o

outro o elemento ou termo especiacutefico o topocircnimo propriamente dito que carrega em si mesmo

a noccedilatildeo espacial que identificaraacute e singularizaraacute a entidade denominada das outras semelhantes

Esses elementos ou termos se justapotildeem no sintagma toponiacutemico (Coacuterrego do Ouro) ou se

aglutinam (Rialma) conforme a estrutura da liacutengua em questatildeo

Para Dick (1992) em relaccedilatildeo agrave morfologia os topocircnimos podem apresentar trecircs

diferentes formas (i) topocircnimo ou elemento especiacutefico simples eacute aquele determinado por um

soacute formante que pode apresentar-se acompanhado tambeacutem de sufixaccedilatildeo diminutiva

aumentativa ou de outras origens linguiacutesticas

Eacute comum na formaccedilatildeo de muitos topocircnimos brasileiros a junccedilatildeo de um designativo agraves

terminaccedilotildees -lacircndia em -poacutelis e ndashburgo (normalmente segundo elemento da formaccedilatildeo) Essa

formaccedilatildeo embora apresente dois formantes (de liacutenguas diferentes) satildeo considerados nomes

simples e natildeo compostos pode-se no entanto dizer que em algumas designaccedilotildees satildeo tambeacutem

hiacutebridos jaacute que provecircm de liacutenguas diferentes a saber Maurilacircndia (Maurilo do latim Maurilius

lsquomorenorsquo + lacircndia elemento de origem inglesa) Buritinoacutepolis (Buriti(no) elemento tupi + polis

elemento grego) mas em Friburgo8 natildeo haacute hibridismo

Segundo Siqueira (2012) pode-se ainda indicar a terminaccedilatildeo -(a) nia variaccedilatildeo do sufixo

nominal do latino -anus -ana que se documentam em nomes e modificadores com as noccedilotildees

de proveniecircncia origem entre outras em lembranccedila dos primeiros habitantes da regiatildeo Em

Goiaacutes eacute expressiva a quantidade de topocircnimos que se formaram jungidos a esse elemento

Caiapocircnia Cromiacutenia Goiacircnia Joviacircnia Luziacircnia Silvacircnia (ii) topocircnimo composto ou

elemento especiacutefico composto aquele formado por mais de um elemento de origens diversas

entre si do ponto de vista do conteuacutedo (iii) topocircnimo (composto) hiacutebrido ou elemento

especiacutefico hiacutebrido formado por elementos linguiacutesticos de diferentes procedecircncias

Sobre o caraacuteter imotivado dos signos linguiacutesticos cabe salientar conforme Saussure

(2008) que o viacutenculo que une o significante ao significado eacute arbitraacuterio natildeo haacute relaccedilatildeo loacutegica

ente as duas faces do signo A associaccedilatildeo entre ambos (significante e significado) eacute de natureza

8 Cidades da Alemanha e da Suiacuteccedila no Brasil conforme Machado (2003) haacute uma ldquoFriburgordquo no Amazonas e no

Rio de Janeiro ldquoNova Friburgordquo este sim um hiacutebrido em Minas Gerais haacute tambeacutem o hiacutebrido ldquoCordisburgordquo

cordis do latim lsquocoraccedilatildeorsquo + burgo do alematildeo lsquocidadersquo

47

convencional natildeo natural Assim todo estudo toponiacutemico tem no caraacuteter motivado do signo

toponiacutemico seu ponto de partida ou seja os estudos sobre os topocircnimos se baseiam na

motivaccedilatildeo que subjaz para analisar todas as relaccedilotildees circunscritas a ela

15 Linguiacutestica Histoacuterica

Consideradas como realidades histoacutericas e sociais as liacutenguas satildeo dinacircmicas estatildeo em

contiacutenua transformaccedilatildeo o que leva a afirmar que a liacutengua de hoje natildeo eacute a mesma de ontem

nem se manteraacute idecircntica amanhatilde Posto isso pode-se verificar que o conhecimento mais amplo

da estrutura do leacutexico da semacircntica e ateacute da ortografia pode requerer um estudo linguiacutestico

com perspectivas histoacutericas No acircmbito da linguiacutestica geral destaca-se a Linguiacutestica Histoacuterica

aacuterea cujo interesse recai sobre o que como e por que muda nas liacutenguas no decorrer do tempo

Os estudos acerca da linguagem foram primeiramente postulados pelos filoacutesofos

anteriores ao seacuteculo XIX como Platatildeo e Aristoacuteteles9 que se ativeram ao estudo da linguagem

mediante a anaacutelise da relaccedilatildeo entre som e sentido ignorando qualquer tipo de variaccedilatildeo

linguiacutestica Jaacute a opccedilatildeo filoloacutegica representada principalmente pelos gramaacuteticos alexandrinos

natildeo ignorava a variaccedilatildeo linguiacutestica mas a colocava como desvio configurando-se

possivelmente como a primeira perspectiva normativaprescritiva na histoacuteria dos estudos da

linguagem (MAURER JR 1967)

Por sua vez a linguiacutestica histoacuterica conforme Maurer Jr (1967) estabeleceu relaccedilotildees

culturais entre os povos tornando-se um precioso auxiacutelio para a Histoacuteria e a Antropologia A

linguiacutestica histoacuterica natildeo revela apenas as relaccedilotildees entre duas ou mais liacutenguas mas consegue

tambeacutem evidenciar com facilidade o que eacute herdado de um berccedilo linguiacutestico comum e o que eacute

oriundo de empreacutestimo de outra liacutengua

Consoante estudos recorrentes a linguiacutestica histoacuterica teve seu surgimento no final do

seacuteculo XVIII momento em que se comeccedilava a dar um cunho cientiacutefico agrave mudanccedila linguiacutestica

Natildeo se pode afirmar entretanto que natildeo houvesse uma preocupaccedilatildeo com a linguagem antes

desse periacuteodo haja vista que a criaccedilatildeo da biblioteca de Alexandria por exemplo demonstra

certo interesse pelo assunto pois indica que ao fazer a compilaccedilatildeo das obras antigas da literatura

grega Homero apresentava certa preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo da cultura e do passado de

uma eacutepoca

9 Para Aristoacuteteles a linguagem eacute definidora das relaccedilotildees humanas

48

No entanto foi no seacuteculo XVI com a Renascenccedila que houve um acentuado interesse

dos estudiosos pela histoacuteria cultural particularmente pela filologia momento da origem da

histoacuteria literaacuteria No Ocidente renascia o interesse pelo passado que remetia agrave antiguidade

greco-latina

A linguiacutestica histoacuterica consiste segundo Faraco (2006 p 13) em ldquoestudar as mudanccedilas

que ocorrem nas liacutenguas humanas agrave medida que o tempo passardquo A mudanccedila eacute definida como

processo pelo qual a liacutengua viva natildeo fica estagnada mas evolui acompanhando o

desenvolvimento da sociedade que a utiliza como instrumento de comunicaccedilatildeo pois ldquoonde haacute

mudanccedila deve haver histoacuteria do contraacuterio nosso conhecimento do fato permanece incompletordquo

(MAURER JR 1967 p 20)

Nesse contexto estabelece-se o que eacute mais natural a relaccedilatildeo entre liacutengua e sociedade

porque uma acaba interferindo na mudanccedila da outra visto que

[] as liacutenguas humanas natildeo constituem realidades estaacuteticas ao contraacuterio sua

configuraccedilatildeo estrutural se altera continuamente no tempo E eacute essa dinacircmica

que constitui o objeto de estudo da linguiacutestica histoacuterica [] as liacutenguas mudam

mas continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos

necessaacuterios para a circulaccedilatildeo dos significados (FARACO 2006 p 14)

As mudanccedilas natildeo satildeo apenas de ordem lexicais por certo as estruturas gramaticais o

modo de produzir os sons e o significado das palavras se alteram com o tempo bem como novas

palavras surgem para expressar objetos e coisas que satildeo criados Eacute possiacutevel observar ainda que

palavras caem em desuso provocando consequentemente alteraccedilotildees no leacutexico de dada liacutengua

jaacute que

Os estudos de Linguiacutestica Histoacuterica comprovam que as liacutenguas humanas se

transformam no fluxo do tempo ou seja palavras e estruturas que existiam

antes deixam de existir ou sofrem modificaccedilotildees na forma na funccedilatildeo eou no

significado Apesar das transformaccedilotildees sofridas as liacutenguas mudam mas

continuam organizadas e oferecendo a seus falantes os recursos necessaacuterios

que garantem uma comunicaccedilatildeo eficaz pois as mudanccedilas ocorrem em partes

e natildeo no todo das liacutenguas num processo de mutaccedilatildeo e permanecircncia

(SIQUEIRA AGUIAR 2011 p 385 grifos das autoras)

A linguiacutestica histoacuterica pode ser estudada em duas fases a de 1800 e a poacutes 1900 No

seacuteculo XIX surgiram meacutetodos de abordagem para se estudar as liacutenguas suas combinaccedilotildees

identidade (gecircnese) diferenccedilas (mudanccedilas) Segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 18) ldquoa tradiccedilatildeo

oitocentista portanto recorta descreve e explica os fenocircmenos da linguagem do ponto de vista

do binocircmio gecircnese-evoluccedilatildeordquo

49

O poacutes 1900 partiu da observaccedilatildeo da diacronia e sincronia Com o advento do

estruturalismo de Ferdinand Saussure (2008) no seacuteculo XX a linguiacutestica moderna trouxe como

proposta que o objeto da linguiacutestica ndash a liacutengua ndash pudesse ser estudado separadamente do efeito

tempo (PAIXAtildeO DE SOUSA 2006) Como divisor desse momento na segunda metade poacutes

1900 o objeto da linguiacutestica eacute de ordem bioloacutegica ndash a diacronia estaacute imanente agrave liacutengua pois

de acordo com esta corrente linguiacutestica eacute na liacutengua que reside a heterogeneidade a mudanccedila e

a variaccedilatildeo

Segundo Faraco (2006 p 91) as liacutenguas estatildeo inseridas em um processo de fluxo

temporal de mutabilidade ldquoaparecimentosrdquo e ldquodesaparecimentosrdquo ldquoconservaccedilatildeordquo e

ldquoinovaccedilatildeordquo As liacutenguas tecircm histoacuteria revelam e constituem a todo tempo a realidade e as

transformaccedilotildees ocorridas comno tempo Em relaccedilatildeo a isso

Humboldt convencia-se de que toda liacutengua reflete a psique do povo que a fala

Eacute o resultado do modo peculiar no qual as pessoas tentam realizar o seu ideal

de fala Ele acha por outro lado que a liacutengua de um povo eacute o canal natural

pelo qual aquele povo chega a uma compreensatildeo do universo que circunda o

homem E conclui que existe uma profunda influecircncia de uma liacutengua na

maneira pela qual seus falantes veem e organizam o mundo dos objetos em

torno deles e de sua vida espiritual (CAMARA JR 1975 p 38-39)

A liacutengua eacute um ldquoinstrumentordquo social e estaacute carregada de significaccedilatildeo e considerados

espaccedilo e tempo eacute capaz de revelar o mundo a outros mundos Faraco (2006) faz ainda referecircncia

ao estudo do leacutexico ao reafirmar que a composiccedilatildeo deste pode ser estudada historicamente na

sua origem bem como os empreacutestimos que satildeo feitos de outras liacutenguas Necessaacuterio se faz

reconhecer que o leacutexico eacute uma unidade carregada da histoacuteria cultural de dada comunidade

linguiacutestica natildeo esquecendo conforme Faraco (2006 p 42) que ldquoeacute um dos pontos em que mais

claramente se percebe a intimidade das relaccedilotildees entre liacutengua e culturardquo

Com o advento estruturalista de Saussure (2008) haacute uma mudanccedila de perspectiva a

visatildeo diacrocircnica dos fatos linguiacutesticos daacute lugar ao enfoque sincrocircnico dos fenocircmenos da

linguagem Eacute preciso observar que consoante a diretriz saussuriana a anaacutelise sincrocircnica

precede a diacrocircnica sendo possiacutevel fazer comparaccedilatildeo entre elas no momento em que tiver a

descriccedilatildeo de pelo menos dois estados da liacutengua Daiacute reforccedilar-se o objetivo do estudo em

descrever sincronicamente um dado especiacutefico da histoacuteria da liacutengua Faraco (2006 p 120)

afirma que ldquoo estudioso se fixa num momento do passado e tomando-o estaticamente

descreve-o com base nos documentos escritos de que se dispotildee criando assim condiccedilotildees para

um posterior estudo diacrocircnicordquo

50

A par disso conveacutem mencionar que nos seacuteculos XVII e XVIII estudos linguiacutesticos

hegemocircnicos observavam a liacutengua como uma realidade estaacutevel diferentemente do pensamento

linguiacutestico do seacuteculo XIX que considerava a liacutengua como uma realidade em transformaccedilatildeo

Desta forma Saussure (2008) estabeleceu duas dimensotildees uma histoacuterica (chamada diacrocircnica)

que tem como centro de suas atenccedilotildees as mudanccedilas porque passa a liacutengua no tempo ou seja a

mutabilidade da liacutengua no tempo a outra eacute estaacutetica (chamada sincrocircnica) que entende a liacutengua

como um sistema estaacutevel num espaccedilo de tempo aparentemente fixo isto eacute a sua imutabilidade

Mas

Diante dos termos sincroniadiacronia natildeo basta apenas entender por alto a

que se referem Eacute preciso antes perceber que essa divisatildeo pressupotildee tambeacutem

na sua origem uma concepccedilatildeo homogeneizante da liacutengua que ndash apesar de sua

indiscutiacutevel funcionalidade e fertilidade para a linguiacutestica contemporacircnea ndash eacute

para muitos estudiosos uma idealizaccedilatildeo excessiva por criar um objeto de

estudo demasiadamente afastado da heterogeneidade linguiacutestica do real

(FARACO 2006 p 106 grifos do autor)

Segundo Faraco (2006) Coseriu em seu livro Sincronia diacronia e histoacuteria de 1973

posiciona-se de forma contraacuteria agrave formulaccedilatildeo de Saussure (2008) (visatildeo estaacutetica de sistema)

pois para ele a liacutengua deve ser vista em permanente sistematizaccedilatildeo em movimento Coseriu

rejeita a ideia de que a descriccedilatildeo (sincronia) e a histoacuteria (diacronia) sejam estudos diferenciados

mas assume a visatildeo de que as liacutenguas satildeo objetos histoacutericos e devem ser estudadas de forma

integrada envolvendo descriccedilatildeo e histoacuteria

Para Rocha Galvatildeo e Gonccedilalves (2011 p 30) ldquoestabelecer a presenccedila ou a viagem das

palavras eacute acompanhar o envolver das proacuteprias comunidades pelo tempo aforardquo Um recorte

sincrocircnico natildeo deve desprezar a interpretaccedilatildeo diacrocircnica o interesse cientiacutefico natildeo estaacute presente

somente num espaccedilo-tempo assim como a representatividade histoacuterica necessita admitir pontos

exatos na representaccedilatildeo da vivecircncia humana

No segundo capiacutetulo apresenta-se uma breve revisatildeo dos meacutetodos de pesquisa que

podem ser combinados com a teoria onomaacutestico-toponiacutemica a fim de compor um quadro

ilustrativo das caracteriacutesticas do meio da cultura dos fatos histoacutericos e dos estados anteriores

da liacutengua que estatildeo de alguma forma impressos na motivaccedilatildeo que subjaz aos topocircnimos em

questatildeo

51

II A METODOLOGIA DA PESQUISA E SEUS DESDOBRAMENTOS

O povo ldquosenhor dos espaccedilos puacuteblicosrdquo por vezes

adota criteacuterio proacuteprio ao conferir nomes aos

lugares

(IBGE 2008)

A linguagem humana eacute sobretudo interaccedilatildeo e natildeo pode pois ser explicada apenas em

termos de sua estrutura semacircntica e formal mas tambeacutem deve-se analisaacute-la em sua funccedilatildeo

social Desta forma o desenvolvimento linguiacutestico e intelectual do indiviacuteduo caminham juntos

pois ambos satildeo a base da abstraccedilatildeo e categorizaccedilatildeo pois ldquotoda liacutengua reflete as condiccedilotildees da

sociedade e do ciacuterculo cultural que se falardquo (ANDRADE 2010 p 99)

Aspectos linguiacutesticos de diversas ordens satildeo fundamentais para o estudo toponiacutemico jaacute

que eacute por mecanismos linguiacutesticos que o signo comum transmuta-se em designativo de lugar

revelando a identidade do nomeador coletivo ou natildeo Desta maneira ldquoo topocircnimo eacute o resultado

da accedilatildeo do nomeador ao realizar um recorte no plano das significaccedilotildees representaccedilotildees ou seja

praticar um papel de registro no momento vivido pela comunidaderdquo (ANDRADE 2010 p

106)

Acolher uma orientaccedilatildeo ou outra acarreta outrossim na escolha do meacutetodo a ser utilizado

para a pesquisa linguiacutestico-histoacuterica Para situar a escolha por um meacutetodo este capiacutetulo faz uma

breve exposiccedilatildeo de alguns meacutetodos que tecircm sido empregados em pesquisas de abordagem

similar a esta em especial descrevemos detalhadamente os que satildeo usados nesta pesquisa os

quais consideram natildeo somente os aspectos linguiacutesticos bem como os histoacutericos e socioculturais

do lugar indo ao encontro da perspectiva adotada para este trabalho

21 Fundamentos Histoacuterico-Metodoloacutegicos

Natildeo se deve confundir metodologia com meacutetodo de pesquisa Segundo Silva e Silveira

(2007 p 145) a metodologia consiste de um conjunto de criteacuterios usados para se construir um

conhecimento vaacutelido seguro e de certa forma verdadeiro Jaacute os meacutetodos de pesquisa podem

ser definidos como ldquoprinciacutepios e procedimentos aplicados para construccedilatildeo do saberrdquo Os autores

salientam que se torna mais difiacutecil ficar preso a um uacutenico meacutetodo quando se pode lanccedilar matildeo

do ldquopluralismo metodoloacutegicordquo Deste modo considerando as especificidades de um estudo

toponiacutemico eacute possiacutevel conjugar meacutetodos de forma ordenada e loacutegica Isto quer dizer que se

52

podem utilizar meacutetodos de abordagem (indutivo dedutivo dialeacutetico) em consonacircncia com os

preceitos de um ou mais meacutetodos de procedimento (funcionalista comparativo

fenomenoloacutegico estruturalista)

Uma perspectiva histoacuterica por exemplo abre um amplo espectro de possibilidades de

se estudar um determinado fato linguiacutestico Podem ser citadas diversas maneiras para se tomar

os fenocircmenos linguiacutesticos do ponto de vista histoacuterico tais como a filologia centrada nos

aspectos histoacutericos das transformaccedilotildees a linguiacutestica comparada que aborda os fatos por meio

de comparaccedilotildees entre as liacutenguas de grupos linguiacutesticos relacionados e a etimologia a qual

busca desvendar o significado de origem das palavras aqui centra-se o nosso objeto de estudo

que eacute descrever e analisar a origemetimologia dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua de Pires do

Rio-GO

Os meacutetodos linguiacutesticos podem ainda estudar as transformaccedilotildees linguiacutesticas

correlacionando-as ao contexto sociocultural o que tem contribuiacutedo grandemente para uma

renovaccedilatildeo das abordagens do fenocircmeno da mudanccedila linguiacutestica resultando em inuacutemeras outras

orientaccedilotildees teoacutericas que em certo sentido podem ser vistas como herdeiras dos primeiros

criacuteticos dos estudos comparativos

A linguiacutestica tem a liacutengua como seu principal objeto de estudo a qual eacute produto da

experiecircncia acumulada historicamente na cultura de uma sociedade A liacutengua eacute um fenocircmeno

social pois eacute produzida e determinada socialmente ademais eacute um importante siacutembolo da

identidade de um grupo E eacute no comportamento linguiacutestico de uma dada comunidade que se

reflete a busca de aprovaccedilatildeo social ou a acentuaccedilatildeo de diferenccedilas (COSERIU 1977) Eacute por

meio dela enfim que um indiviacuteduo adquire a cultura do lugar em que vive jaacute que

A funccedilatildeo baacutesica da Linguiacutestica eacute o estudo direto da lsquoliacutengua viva e faladarsquo por

observaccedilatildeo e anaacutelise objetiva de seus fenocircmenos postas de lado todas as

forccedilas e influecircncias que se manifestem muitas vezes atraveacutes dela e todos os

antecedentes que possam ter dado origem ao estado atual (MAURER JR

1967 p 30)

Observa-se na Linguiacutestica Geral de acordo com Maurer Jr (1967) a divisatildeo em dois

setores distintos poreacutem essenciais para compreensatildeo da linguagem a Linguiacutestica Descritiva

(sincrocircnica) que segundo o autor deve ser a base de todo estudo cientiacutefico porque eacute a partir

dela que aprendemos a linguagem em sua funccedilatildeo uacutenica e peculiar e a Linguiacutestica Histoacuterica

(diacrocircnica) que complementa e explica os fatos da primeira e tem uma funccedilatildeo importante no

estudo desse rico patrimocircnio cultural e humano a liacutengua

53

212 Os meacutetodos da linguiacutestica histoacuterica

Para alguns estudiosos a linguiacutestica histoacuterica teve seu apogeu no seacuteculo XIX embora

outros afirmem que tenha ocorrido haacute tempos no Renascimento De acordo com Paixatildeo de

Sousa (2006 p 14)

[] a reflexatildeo linguiacutestica dos 1800 representa um marco divisor na histoacuteria

das histoacuterias do tempo e da linguagem por inaugurar uma concepccedilatildeo

inteiramente nova dos condicionantes dessa relaccedilatildeo e construir um novo

plano para sua anaacutelise Eacute antes de tudo na tentativa de se combinar a esfera

documental com a esfera experimental que aparecem os desdobramentos mais

interessantes dos estudos histoacutericos da liacutengua ao longo do seacuteculo XIX eles

buscaratildeo articular as duas esferas em um mesmo plano de anaacutelise construindo

a abordagem histoacuterico-comparada

Assim a linguiacutestica histoacuterica apoacutes o seacuteculo XIX cria um meacutetodo que permite

ldquocategorizar e justificar a identidade geneacutetica e a evoluccedilatildeo paralela de cada idioma em um grupo

aparentadordquo segundo Paixatildeo de Sousa (2006 p 16) O meacutetodo comparativo segundo Maurer

Jr (1967) busca comparar cuidadosamente formas apresentadas entre si de um grupo

distinguir a origem e estudar a diversificaccedilatildeo das liacutenguas para desvendar e recontar a histoacuteria

de cada liacutengua Ressalte-se que para Faraco (2006 p 125) esse meacutetodo teve sua estruturaccedilatildeo

ldquoao dar um tratamento sistemaacutetico agraves observadas semelhanccedilas entre liacutenguas distantes no espaccedilo

como o latim e o sacircnscritordquo E ainda

constitui um recurso inteligente e racional para a reconstruccedilatildeo de fatos que

dependem de testemunho em todo o terreno Tal como a Paleontologia a

Histoacuteria da Cultura e ateacute na investigaccedilatildeo do crime na Justiccedila esse meacutetodo

submete o testemunho a um estudo preliminar para avaliar seu isolamento sua

coerecircncia etc (MAURER JR 1967 p 31)

O meacutetodo comparativo se baseia na experimentaccedilatildeo (induccedilatildeo) procura descrever os

estaacutegios da liacutengua que natildeo deixaram registros (documentos) como eacute o caso do latim vulgar No

entanto se difere do histoacuterico-comparativo o qual usa documentos histoacutericos para fazer as suas

reconstruccedilotildees acerca da liacutengua Poreacutem ambos os meacutetodos buscam recuperar a histoacuteria da liacutengua

de forma cronoloacutegica

De acordo com Faraco (2006 p 134)

O meacutetodo comparativo eacute o procedimento central nos estudos de linguiacutestica

histoacuterica Eacute por meio dele que se estabelece o parentesco entre liacutenguas O

pressuposto de base eacute que entre elementos de liacutenguas aparentadas existem

54

correspondecircncias sistemaacuteticas (e natildeo apenas aleatoacuterias ou casuais) em termos

de estrutura gramatical correspondecircncias estas passiacuteveis de serem

estabelecidas por meio duma cuidadosa comparaccedilatildeo Com isso podemos natildeo

soacute explicitar o parentesco entre liacutenguas (isto eacute dizer se uma liacutengua pertence

ou natildeo a uma determinada famiacutelia) como tambeacutem determinar por inferecircncia

caracteriacutesticas da liacutengua ascendente comum de um certo conjunto de liacutenguas

No decorrer dos anos vaacuterios satildeo os estudiosos que contribuiacuteram com a formaccedilatildeo e o

aprimoramento do meacutetodo comparativo dentre eles destacamos Bopp (1791-1867) que

buscava estabelecer o parentesco entre as liacutenguas mas natildeo o percurso histoacuterico de um anterior

para um posterior Grimm (1785-1863) que ao estudar o ramo germacircnico das liacutenguas indo-

europeias pocircde estabelecer a sucessatildeo histoacuterica por meio de comparaccedilatildeo ndash comparativo

histoacuterico Rask (1787-1832) tambeacutem desenvolveu trabalhos comparativos importantes para o

momento envolvendo as liacutenguas noacuterdicas as demais liacutenguas germacircnicas o grego o latim o

lituano o eslavo e o armecircnio Foi a partir desses estudiosos que surgiu a ldquofilologia (ou

linguiacutestica) romacircnica nome que se deu ao estudo histoacuterico-comparativo das liacutenguas oriundas

do latimrdquo (FARACO 2006 p 137)

De tal modo da siacutentese que foi apresentada eacute possiacutevel tecer as seguintes consideraccedilotildees

o meacutetodo histoacuterico-comparativo em seu apogeu foi e ainda hoje eacute uacutetil aos estudos da Linguiacutestica

Histoacuterica principalmente no que concerne natildeo soacute agrave reconstruccedilatildeo de fases anteriores das liacutenguas

como tambeacutem eacute bastante indicado para estudos que objetivam a reconstruccedilatildeo interna de uma

liacutengua Esse meacutetodo cumpriu papel importante para o desvelamento de inuacutemeras questotildees

linguiacutesticas das liacutenguas antigas grego latim sacircnscrito

Jaacute os estudos dos neogramaacuteticos possibilitaram o aprimoramento do meacutetodo histoacuterico-

comparativo mediante a verificaccedilatildeo de que muitas mudanccedilas ocorridas nas liacutenguas em

momentos anteriores e registrados em documentos podem ser explicitadas por meio da

explanaccedilatildeo de mudanccedilas ldquosincrocircnicasrdquo sucedidas nas liacutenguas conforme as leis foneacuteticas e a

analogia

Conforme Cacircmara Jr (1975) Gaston Paris traccedilou mapas das linhas isogloacutessicas dando

os primeiros passos para a geografia linguiacutestica a qual na verdade foi efetivamente criada por

seu disciacutepulo suiacuteccedilo Jules Gillieacuteron que dedicou-se agrave dialetologia e no doutoramento em 1879

defendeu a tese sobre o dialeto de Vionnaz Essa nova teacutecnica ldquoteve como base teoacuterica o

conceito de dialeto como uma abstraccedilatildeo essa a razatildeo de focalizar cada mudanccedila linguiacutestica per

se como o verdadeiro dado linguiacutesticordquo (CAcircMARA JR 1975 p 121)

55

A geografia linguiacutestica10 segundo Cacircmara Jr (1975) eacute importante como uma nova

abordagem para o estudo histoacuterico-comparativo pois em vez de recorrer a textos antigos o

pesquisador busca apenas os aspectos contemporacircneos da liacutengua absorvendo as bases

linguiacutesticas no intercacircmbio oral Desta forma

Obteacutem-se uma corrente evolucionaacuteria pela comparaccedilatildeo das muitas variantes

de cada forma cuja distribuiccedilatildeo no espaccedilo pode ser traduzida numa

distribuiccedilatildeo atraveacutes do tempo de acordo com regras metodoloacutegicas O aspecto

foneacutetico da variante ou sua existecircncia num patois relativamente moderno ou

notaacutevel por traccedilos arcaicos constituem a chave para esta investigaccedilatildeo

histoacuterica Por essa razatildeo eacute que atraveacutes da geografia linguiacutestica uma nova

teacutecnica para o estudo histoacuterico da linguagem foi imaginada sob o tiacutetulo de

ldquoreconstruccedilatildeo internardquo (CAcircMARA JR 1975 p 125 grifos do autor)

Essa nova abordagem vem corroborar com os estudos da liacutengua porque de forma

efecircmera reconstroacutei a histoacuteria de uma dada liacutengua contribuindo com a contemporaneidade uma

vez que nos eacute necessaacuterio conhecer a base etimoloacutegica das palavras e depois justificar o seu uso

ou evoluccedilatildeo

Segundo Cacircmara Jr (1975) apoacutes observar que Gaston Paris traccedilou mapas das linhas

isogloacutessicas e Gillieacuterion criou a geografia linguiacutestica muitos anos depois os linguistas italianos

Giulio Bertoni e Matteo Bartoli criaram o meacutetodo de linguiacutestica areal cujo objetivo era

classificar aacutereas linguiacutesticas ndash de uma liacutengua ou grupo de liacutenguas ndash como forma de

representaccedilatildeo da contemporaneidade e do estaacutegio linguiacutestico de desenvolvimento Os

linguistas consoante Cacircmara Jr (1975 p 126) ldquodividiram um territoacuterio linguiacutestico em aacutereas

isoladas aacutereas laterais aacutereas principais e aacutereas desaparecidas (isto eacute aacutereas homogecircneas que

desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)rdquo e desta forma

difundiam mais um meacutetodo linguiacutestico

Destaca ainda que a linguiacutestica histoacuterica compreende dois momentos de exatidatildeo o

primeiro de 1786 a 1878 periacuteodo de formaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do meacutetodo comparativo o qual

finalizou com o movimento dos neogramaacuteticos o segundo vai desde 1878 ateacute a

contemporaneidade periacuteodo de tensatildeo entre duas linhas interpretativas uma imanentista ndash

neogramaacutetico estruturalismo e gerativismo que vecirc a mudanccedila como acontecimento interno da

liacutengua e pela proacutepria liacutengua e a outra integrativa ndash primeiros criacuteticos neogramaacuteticos dialetologia

e sociolinguiacutestica cuja mudanccedila da liacutengua estaacute condicionada a fatores contextuais nos quais o

falante estaacute inserido

10 No Brasil a Geografia Linguiacutestica concretizou-se com a produccedilatildeo de Atlas Linguiacutesticos em diferentes Estados

brasileiros

56

Entre os seacuteculos XVIII e XIX ocorreram momentos de grande relevacircncia para a

linguiacutestica histoacuterica Um deles eacute a fundaccedilatildeo da Escola de Estudos Orientais em Paris

(importante centro de investigaccedilatildeo) no ano de 1975 onde estudaram os linguistas alematildees

Friedrich Schlegel (1772-1829) e Franz Bopp (1791-1867) os quais mais tarde desenvolveram

a chamada gramaacutetica comparativa

Assim em 1808 Friedrich Schlegel publicou um texto sobre a liacutengua e sabedoria dos

povos hindus que de acordo com Faraco (2006) eacute considerado o ponto de partida do

comparativismo alematildeo No texto o autor ratifica sobre o parentesco das liacutenguas sacircnscrita com

a latina grega germacircnica e persa

Cabe ainda salientar que os estudos histoacuterico-comparativos antes da uacuteltima metade do

seacuteculo XIX conheceram a obra de August Scheilcher (1821-1868) Sua teoria tomava a liacutengua

como um organismo vivo com existecircncia fora de seus falantes sendo sua histoacuteria vista como

natural devido agraves orientaccedilotildees naturalistas do linguista como sua formaccedilatildeo em botacircnica e

influenciado pela teoria evolucionista de Darwin (FARACO 2006)

Jaacute no seacuteculo XIX as investigaccedilotildees no campo da linguagem eram dominadas por ideias

positivistas que se desenvolviam conforme meacutetodos histoacuterico-comparativos eacutepoca em que se

formaliza o estudo sistemaacutetico das variaccedilotildees sobretudo as de natureza geograacutefica Surge o

interesse pelos dialetos considerados como fontes de conhecimento do modo como se teriam

operado as transformaccedilotildees em fases anteriores das liacutenguas A Geografia Linguiacutestica eacute uma

consequecircncia do interesse pelos estudos dialetais levados a cabo de iniacutecio por vaacuterios estudiosos

europeus Segundo Coseriu (1982) surge um meacutetodo dialetoloacutegico e comparativo que

pressupotildee o registro em mapas especiais de um nuacutemero relativamente elevado de formas

linguiacutesticas (focircnicas lexicais ou gramaticais) recolhidas mediante pesquisa direta e unitaacuteria

numa rede de pontos distribuiacuteda em determinado territoacuterio

Deste modo eacute necessaacuterio compreender que

A linguagem eacute inegavelmente uma heranccedila social cuja histoacuteria se estende

por seacuteculos Uma visatildeo completa um conhecimento detalhado de seu

mecanismo de sua estrutura de sua semacircntica e ateacute de sua ortografia soacute

podem ser obtidos atraveacutes da pesquisa diacrocircnica Os meacutetodos expostos

acima em suas linhas essenciais natildeo deixam duacutevida de que a filologia

romacircnica se desenvolveu com o meacutetodo histoacuterico-comparativo adotado com

mais ecircxito aqui do que no campo para o qual havia sido criado As possiacuteveis

deficiecircncias desse meacutetodo foram sendo corrigidas depois pela geografia

linguiacutestica e pelos outros meacutetodos derivados como a onomasiologia Woumlrter

und Sachen linguiacutestica espacial etc Enquanto o meacutetodo histoacuterico-

comparativo procura as ligaccedilotildees entre o ldquoterminus a quordquo e o ldquoterminus ad

quemrdquo o latim vulgar e as liacutenguas romacircnicas respectivamente os outros

57

meacutetodos tecircm como objeto especificamente o ldquoterminus ad quemrdquo pois

investigam sincronicamente aspectos atuais dessas mesmas liacutenguas cujas

explicaccedilotildees poreacutem devem ser buscadas diacronicamente (BASSETTO

2001 p 85 grifos do autor)

Para Faraco (2006 p 106) ldquooptar por uns ou por outros eacute que vai orientar nossa forma

de entender a mudanccedila linguiacutestica nossa seleccedilatildeo de dados nossas categorias e procedimentos

de anaacutelise nosso processo argumentativordquo Ou seja ao assumirmos uma concepccedilatildeo de base

correlata eacute o que iraacute definir o nosso meacutetodo de trabalho

22 O meacutetodo onomasioloacutegico da toponiacutemia

Segundo Silva (2010) a onomasiologia eacute um meacutetodo que se constitui do estudo das

designaccedilotildees e tem como objetivo estudar os diversos nomes atribuiacutedos a um conceito Pode ser

investigada toda a cultura popular de um local podendo-se priorizar os aspectos sincrocircnicos ou

histoacutericos Em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores do que

subjaz agrave nomeaccedilatildeo dos lugares

Pode-se para efeito deste estudo traccedilar o esquema a seguir o qual demonstra as

possibilidades temaacuteticas que esse tipo de pesquisa pode apresentar

Quadro 2 ndash Meacutetodo Onomaacutestico e seus desdobramentos

Onomaacutestica

Toponiacutemia Antroponiacutemia

Modalidades Coleta

Imagens mapas cartas e plantas

Documental Texto iacutendicesrepertoacuterio de nomes

Ficcional Natildeo ficcional

Pesquisa de campo Entrevistas etnografia

Mista Documental e Pesquisa de campo

Fonte Adaptado de material da USP ndash Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas 2016

58

A onomasiologia eacute o resultado das tendecircncias mais significativas da evoluccedilatildeo linguiacutestica

na transiccedilatildeo do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX em que a centralidade das investigaccedilotildees passam

do som (foneacutetica) para a palavra (lexicologia) O seu triunfo se deu a partir do desenvolvimento

da Geografia Linguiacutestica pois com o aparecimento de inuacutemeros termos regionais recolhidos

pelos inqueacuteritos linguiacutesticos surgiu a necessidade de um novo meacutetodo que auxiliasse os

dialetoacutelogos a compreenderem o homem regional em sua amplitude por meio da linguagem

Apoacutes a publicaccedilatildeo dos atlas linguiacutesticos a onomasiologia comeccedila a ser utilizada em

vaacuterios estudos jaacute que pelo seu uso eacute possiacutevel caracterizar as atividades de uma regiatildeo e situaacute-

las no tempo Segundo Couto (2012 p 186) ldquoa onomasiologia vecirc a questatildeo da referecircncia para

usar um termo semioacutetico partindo da coisa e indo na direccedilatildeo do nome que ela receberdquo Desta

forma ldquoo meacutetodo onomasioloacutegico permite ver a cultura do povo cuja liacutengua se estuda

costumes ocupaccedilotildees instrumental crenccedilas e crendices moradia enfim sua mundividecircncia

Permite sentir a linguagem viva traduzindo a vivecircncia cultural do povordquo (BASSETO 2001 p

77)

Ressalta-se que

Com pontos em comum com a Geografia Linguiacutestica e ldquoPalavras e Coisasrdquo o

meacutetodo onomasioloacutegico tambeacutem conhecido como onomasiologia isto eacute o

estudo das denominaccedilotildees se propotildee investigar os vaacuterios nomes atribuiacutedos a

um objeto animal planta conceito etc individualmente ou em grupo dentro

de um ou vaacuterios domiacutenios linguiacutesticos Seus objetivos satildeo portanto

semacircnticos e lexicoloacutegicos buscando descobrir os aspectos vivos e as forccedilas

criadoras da linguagem (BASSETO 2001 p 76)

O meacutetodo onomasioloacutegico natildeo ficou a cargo apenas de um pesquisador mas de vaacuterios

pois seus princiacutepios se desenvolveram aos poucos Conforme Bassetto (2001) temos como

predecessores da onomasiologia moderna F Brinkmann (1872) Luigi Morandi (1883)

Friedrich Diez (1875) Fr Pott (1853) Jakob Grimm (1853) e F Miklosich (1868) Todavia o

princiacutepio da onomasiologia cientiacutefica deu-se com Carlo Salvioni (1858-1920) quando estudou

sobre as denominaccedilotildees italianas do vaga-lume (1892) e com Ernest Toppolet (1870-1939) que

referendou em seus estudos o parentesco dos nomes romacircnicos por ele denominados de

ldquolexicologia cientiacuteficardquo

As pesquisas desenvolvidas na aacuterea da onomaacutestica se constituem em uma linha

documental ou de campo seguindo um meacutetodo pelo qual se selecionam observam registram

classificam analisam e interpretam os dados de acordo com a identificaccedilatildeo dos fatores

59

determinantes agrave configuraccedilatildeo dos corpora Essas anaacutelises de dados satildeo baseadas em trecircs

categorias linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica que satildeo reveladas pelo meacutetodo onomasioloacutegico

Segundo Ramos e Bastos (2010) as trecircs perspectivas ndash linguiacutestica histoacuterica e geograacutefica

ndash satildeo cruciais para revelar as seguintes caracteriacutesticas a) a determinaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica das

diferentes liacutenguas que tenham existido ou existentes num determinado territoacuterio b) o estudo

das terminaccedilotildees caracteriacutesticas de cada palavra c) o estudo das formas gramaticais d) o estudo

da foneacutetica histoacuterica e) a verificaccedilatildeo das formas documentadas as quais se subdividem em ndash

comparaccedilatildeo semacircntica a abordagem dos dados geograacuteficos e a abordagem dos dados histoacutericos

Cabe ainda indicar em linhas gerais algumas concepccedilotildees do meacutetodo Woumlrter und

Sachen de Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) o qual conforme

Bassetto (2001) tem pontos em comum que compartilha com o meacutetodo onomasioloacutegico Visa

ao estudo das questotildees semacircnticas das palavras enfatizando a realidade que elas designam

porque para os estudiosos dessa linha de pensamento a verdadeira etimologia da palavra

encontra-se no conhecimento dessa realidade Procura instruir sobre a necessidade de conhecer

sempre que possiacutevel o objeto designado por um termo para que o significado possa ser

devidamente explicitado Quando se conhece a realidade a natureza a forma o uso as medidas

das coisas do mundo eacute possiacutevel estabelecer a origem e a histoacuteria das palavras com que esses

mesmos objetos foram designados

Hugo Schuchardt (1842-1929) e Rudolf Meringer (1859-1913) foram precursores desse

meacutetodo ao considerarem que as coisas existem antes de serem denominadas ou seja as coisas

preexistem agraves suas designaccedilotildees podendo ateacute existir sem que sejam nomeadas Em

contrapartida as palavras dependem das ldquocoisasrdquo estatildeo ligadas a elas Com essa perspectiva

Schuchardt (mais do que Meringer) remete ao meacutetodo Woumlrter und Sachen ldquoPalavras e Coisasrdquo

cujo tiacutetulo instituiu o nome do meacutetodo

No entanto conveacutem salientar que jaacute na gramaacutetica grega estava impliacutecita a ideia de que

as coisas precedem as palavras Em outros termos quando se conhece em profundidade a

ldquocoisardquo chega-se ao ldquoeacutetimordquo da palavra que a nomeia alcanccedila-se o significado com que a coisa

foi primeiramente designada Menciona-se que para Schuchardt (apud BASSETO 2013)

Sachen (coisa) significava qualquer realidade i eacute ldquoSachenrdquo podia se referir tanto a

acontecimentos e estados como a objetos ao real e ao irreal ao tangiacutevel11 e ao intangiacutevel ou

em outras palavras tanto a coisas do mundo sensiacutevel como do insensiacutevel

11 ldquoTangiacutevelrdquo do latim tangere tangens lsquotocar aquilo que tocarsquo do mesmo eacutetimo de attingere lsquoaproximar-se e

tocarrsquo

60

O meacutetodo Woumlrter und Sachen (Palavras e Coisas) segundo Campbell (2004) relaciona-

se agraves inferecircncias histoacuterico-culturais que podem ser reveladas por meio da investigaccedilatildeo das

palavras pautadas na sua analisabilidade Campbell (2004) assume que as palavras que satildeo

analisadas em partes transparentes (vaacuterios morfemas) podem ser de criaccedilatildeo mais recente (na

liacutengua) em relaccedilatildeo agraves palavras que natildeo apresentam essa transparecircncia morfecircmica

Essa teacutecnica contribui sobremaneira para traccedilar uma cronologia aproximativa dos

vocabulaacuterios Dias (2016 p31) acentua que

Sobretudo supotildee-se que itens culturais denominados por termos analisaacuteveis

satildeo tambeacutem adquiridos mais recentemente pelos falantes e aqueles que satildeo

expressos por palavras natildeo analisaacuteveis representam itens mais velhos e

instituiccedilotildees Outra estrateacutegia desse meacutetodo envolve fazer inferecircncias por meio

de informaccedilotildees de itens culturais de quem os nomes sofreram visivelmente

mudanccedila de significado

E para Crowly (2003) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo pode ser usado para fazer

reconstruccedilatildeo cultural e chegar ao conteuacutedo de uma protocultura por exemplo jaacute que se eacute

possiacutevel reconstruir uma palavra designativa de alguma coisa na protoliacutengua eacute possiacutevel tambeacutem

supor que a coisa a que ela se refere provavelmente foi de importacircncia cultural na vida dos

seus falantes ou que foi ambientalmente marcante Segundo o autor o meacutetodo pode tambeacutem

dizer muito sobre a terra natal de uma famiacutelia linguiacutestica pode-se ainda por meio do referido

meacutetodo fazer suposiccedilotildees sobre as rotas legiacutetimas seguidas pelos povos para se chegar aos

lugares onde se encontram atualmente12

Destarte segundo Bassetto (2013) o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo deu destaque agrave

semacircntica ao estabelecer a etimologia e ateacute a biografia das palavras aleacutem de tornar os estudos

filoloacutegicos mais objetivos Posto isso eacute possiacutevel verificar que o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo

pode ser usado nos estudos semacircnticos lexicais onomaacutesticos toponiacutemicos Quando se busca

relacionar a histoacuteria do nome com a histoacuteria do lugar vincula-se a palavra (o nome) agrave coisa (o

lugar) Nesse sentido pode-se de alguma maneira realizar o estudo natildeo apenas pautado no

meacutetodo onomasioloacutegico mas tambeacutem considerando as intrincadas relaccedilotildees entre nomes e as

coisas do mundo

Cabe ressaltar

Assim como procedimento metodoloacutegico seguido nos estudos

toponomaacutesticos buscamos definir o jaacute definido ou seja o objeto de estudo da

disciplina o seu campo de trabalho especiacuteficos a natureza linguiacutestica da

12 Por exemplo os caminhos que levaram (trouxeram) os bandeirantes agraves terras do iacutendio goyaacute

61

anaacutelise em termos de vinculaccedilatildeo a uma aacuterea do conhecimento Partindo-se da

definiccedilatildeo etimoloacutegica dos elementos gramaticais de origem grega enunciados

por Dioniacutesio de Traacutecia no seacuteculo II a C a Toponiacutemia ficou-se como propocircs

Leite de Vasconcelos (1887) no entendimento dos nomes proacuteprios de lugares

distintos dos nomes comuns delimitados pela teoria da linguagem (DICK

2006 p 96)

A toponomaacutestica entatildeo fundamenta-se nos estudos dos nomes proacuteprios de lugares

estabelecendo relaccedilotildees da liacutengua com o ambiente sendo de extrema necessidade observar os

viacutenculos do nomeador com a coisa nomeada a motivaccedilatildeo que subjaz ao topocircnimo

O meacutetodo da Geografia Linguiacutestica com a concepccedilatildeo basilar de que a distribuiccedilatildeo

geograacutefica dos aglomerados populacionais se reflete na diferenciaccedilatildeo linguiacutestica trouxe grande

contribuiccedilatildeo para o estudo dos nomes em geral pois pode refletir tendecircncias que orientaram o

ato de nomeaccedilatildeo tanto de pessoas como de lugares

Sobre o meacutetodo ldquoPalavras e Coisasrdquo cabe apenas repetir que por enfatizar o aspecto

semacircntico das palavras vinculado agrave realidade que elas denominam contribui com o estudo dos

nomes jaacute que parte do princiacutepio de que as palavras se acham ligadas agraves coisas que elas

designam Uma vez conhecendo a natureza das coisas chega-se na verdadeira etimologia da

palavra contribuiccedilatildeo essa que valoriza a cultura e a histoacuteria das comunidades vendo no ser

humano o sujeito das transformaccedilotildees que ocorrem nas liacutenguas e na cultura

Posto isso considera-se mais uma vez que a onomasiologia busca investigar como uma

noccedilatildeo ou conceito eacute nomeado na liacutengua tendo sempre em mente que quem daacute nome agraves coisas

satildeo os falantes e o fazem em decorrecircncia da cosmovisatildeo de seu grupo O meacutetodo

onomasioloacutegico permite que a cultura do povo pesquisado seja revelada

Entretanto a despeito das contribuiccedilotildees que cada um trouxe para os estudos linguiacutesticos

nenhum desses meacutetodos foi suficiente teoricamente para deslindar os inuacutemeros aspectos que

permeiam o ato de nomeaccedilatildeo o que implica dizer que o mais sensato eacute combinar o que cada

meacutetodo apresenta de mais satisfatoacuterio referentemente ao problema que se pretende resolver o

que requer tambeacutem adaptaccedilotildees e revisotildees constantes de um ou de outro ou ainda da combinaccedilatildeo

deles

Considera-se entatildeo

os aspectos pelos quais entendemos a disciplina como conhecimento

cientiacutefico saber construiacutedo como objeto campo de trabalho e pesquisa

demarcados apesar disto manteacutem-se em intersecccedilatildeo a outros campos sem

perder sua identidade A metodologia que emprega em seus levantamentos eacute

de origem indutivo-dedutiva de acordo com os procedimentos

62

onomasioloacutegico-semasioloacutegicos caracteriacutesticos da pesquisa do leacutexico (DICK

2006 p 98)

E no que tange agrave metodologia aos procedimentos de pesquisa propriamente ditos

segundo Dick (1996) que podem ser aplicados nos estudos toponiacutemicos devem se estabelecer

da seguinte forma a) seleccedilatildeo de fontes primaacuterias (cartas geograacuteficas editadas por oacutergatildeos oficiais

estaduais e municipais em escalas de 150000 ou 1100000 ou listas toponiacutemicas oficiais) e

complementaccedilatildeo a partir de fontes secundaacuterias (trabalhos historiograacuteficos da proacutepria

comunidade acerca do local onde vivem) b) registro dos dados em fichas lexicograacuteficas

padronizadas com a identificaccedilatildeo dos nomes do pesquisador e do revisor fontes e data de

coleta c) anaacutelise de dados que inclui a quantificaccedilatildeo dos nomes e das taxonomias analisando

a maior ou menor frequecircncia de classes ou itens lexicais e do estudo dos nomes a partir de um

enfoque puramente linguiacutestico (etimoloacutegico e estrutural) linguiacutestico-histoacuterico e variacionista

Desta forma a metodologia para este trabalho baseia-se em Dick (1996 2006) e por

conseguinte estabelece relaccedilotildees com as demais pesquisas na aacuterea da toponomaacutestica De acordo

com a autora ldquoTrata-se de modelo semacircntico-motivador das ocorrecircncias toponomaacutesticas que

conformam a realidade designativa da nomenclatura geograacutefica oficial do paiacutesrdquo (Dick 2006 p

104) As taxionomias satildeo de grande importacircncia para a anaacutelise linguiacutestica do topocircnimo e hoje

se dividem em vinte sete taxes pela importacircncia na ldquoanaacutelise linguiacutestica ou casual dos motivos

determinantes das designaccedilotildees integram as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas em um campo

funcional especiacuteficordquo (Dick 2006 p 106) E a partir destas fichas busca-se a identificaccedilatildeo do

topocircnimo e computar as categorizaccedilotildees motivadoras do designativo

A metodologia de pesquisa aqui proposta se caracteriza por ser de natureza documental

(documentos analoacutegicos eou digitais como as cartas topograacuteficas e levantamento histoacuterico

geograacutefico por meio do Instituto Mauro Borges IBGE e de mapas do municiacutepio de Pires do

Rio-GO) e de abordagem qualiqualitativa para o levantamento dos dados uma vez que a

constituiccedilatildeo (sub-regiatildeo limites e fronteiras) dos ldquolugaresrdquo estaacute registrada em documentos

puacuteblicos e no levantamento histoacuterico-geograacutefico Os procedimentos consistem na

sistematizaccedilatildeo de leituras documentais e de investigaccedilatildeo de campo o que os vincula agrave induccedilatildeo

e seguem os meacutetodos etnolinguiacutesticos

O percurso apresentado por Dick (1990) isto eacute pautado na induccedilatildeo desenvolveu-se por

meio do plano onomasioloacutegico de investigaccedilatildeo em que a partir de um conceito geneacuterico se

identificam as variaacuteveis possiacuteveis das fontes consultadas Nos registros municipais constam os

63

nomes atuais e os nomes anteriores (quando houve mudanccedilas) dos lugares de toda regiatildeo

municipal Estes e os mapas constituem as fontes primaacuterias desta pesquisa pois

O percurso do fazer onomasioloacutegico e o percurso da produccedilatildeo de significaccedilatildeo

se inserem em direccedilotildees diferentes o fazer interpretativo perfaz um processo

semasioloacutegico por outro lado o fazer onomasioloacutegico eacute uma unidade

conceitual enquanto a definiccedilatildeo eacute o percurso do fazer lexicograacutefico

Entretanto ao conceituar eacute necessaacuterio construir um modelo mental que em

primeira instacircncia corresponda a um recorte cultural para a escolha da

estrutura lexical que melhor pode manifestar a percepccedilatildeo bioloacutegica do fato

que se completa ao analisar e descrever o semema linguiacutestico para reconstruir

esse modelo mental a partir de uma estrutura linguiacutestica manifestada

Ressalta-se o caraacuteter pluridisciplinar do signo toponiacutemico jaacute que por meio

dele pode-se conhecer a histoacuteria dos grupos humanos que viveram (e vivem)

nos limites geograacuteficos de Goiaacutes as especificidades da cultura e do ambiente

do povo o denominador as relaccedilotildees estabelecidas entre os aglomerados

humanos e o ecossistema as caracteriacutesticas fiacutesico geograacuteficas da regiatildeo

(geomorfologia) estratos linguiacutesticos de origem diferente do uso hodierno da

liacutengua ou mesmo de liacutenguas jaacute desaparecidas para se conhecer as motivaccedilotildees

subjacentes aos respectivos topocircnimos (SIQUEIRA 2015 mimeografado)

Para este estudo utilizaram-se inicialmente as Folhas Topograacuteficas editadas pela DSG

(Diretoria do Serviccedilo Geograacutefico do Exeacutercito) na escala de 1100 000 Folhas Pires do Rio

SE-22-X-D-III Ipameri SE-22-X-D-VI e Cristianoacutepolis SE-22-X-D-II de 1973 para

identificaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio juntamente com o mapa da rede hidrograacutefica do

municiacutepio de Pires do Rio-GO pois satildeo ldquoinstrumentos metodoloacutegicos haacutebeis para o estudo

onomaacutestico a documentaccedilatildeo cartograacutefica referida e a arquivologia que se posicionam como fontes

idocircneas para o estabelecimento das etapas relativas agrave desconstruccedilatildeo e agrave recriaccedilatildeo dos proacuteprios dadosrdquo

(DICK 1999 p 11)

O uso de mapas torna o trabalho relevante jaacute que eles satildeo elementos de comunicaccedilatildeo

visual os quais pertencem agrave linguagem Eles contemplam ainda a aacuterea tecnoloacutegica pois a sua

construccedilatildeo se daacute por meio da utilizaccedilatildeo de equipamentos programas e sites os quais tambeacutem

satildeo utilizados por noacutes para cartografar mapas juntamente com as taxes dos topocircnimos dos

cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio-GO assim

Tomar o mapa como corpus permite tomar tambeacutem a questatildeo da relaccedilatildeo dos

nomes no seu conjunto e sua distribuiccedilatildeo no espaccedilo urbano Pode-se entatildeo

refletir como algo proacuteprio do corpus em anaacutelise sobre a questatildeo da nomeaccedilatildeo

dos espaccedilos da cidade bem como o modo de distribuiccedilatildeo dos nomes pelos

espaccedilos historicamente constituiacutedos (GUIMARAtildeES 2005 p 43)

Tradicionalmente entendidos como uma representaccedilatildeo simboacutelica dos contornos de uma

paisagem fiacutesica ou urbana os mapas se caracterizam por permitirem dois planos de

64

interpretaccedilatildeo o ldquoverbalrdquo expresso nos nomes dos elementos e o ldquonatildeo-verbalrdquo caracterizado

por siacutembolos convencionais distintos segundo a natureza do elemento mapeado (cursos drsquoaacutegua

caminhos serras rodovias estradas vicinais ferrovias vilas povoados cidades)

A propoacutesito

Se o meacutetodo empregado na Toponiacutemia como dissemos eacute aquele da

investigaccedilatildeo do pormenor toacutepico-nominal apreendido no registro das cartas

geograacuteficas (base documental) ou como variaccedilatildeo no exame do terreno ou do

objeto pelo proacuteprio pesquisador o material resultante na maioria das vezes

eacute de origem descontiacutenua e fragmentaacuteria A sequecircncia loacutegica dos termos areais

deve ser buscada o que exige cuidados de intepretaccedilatildeo e reflexatildeo para que

todo esse organismo construiacutedo coletiva ou individualmente em momentos

histoacutericos distintos venha a se construir em material de anaacutelise vaacutelido do

ponto de vista linguiacutestico (DICK 2006 p 99-100)

Desta forma dos 46 (quarenta e seis) topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de

Pires do Rio-GO (coacuterregos ribeirotildees rios e quedas drsquoaacutegua) por noacutes elencados na pesquisa

apenas 15 topocircnimos ndash por razotildees especiacuteficas que seratildeo relatadas no quarto capiacutetulo ndash seratildeo

catalogados em fichas conforme modelo desenvolvido por Dick (2004) Posteriormente

realizaremos as anaacutelises morfoloacutegicas e a classificaccedilatildeo semacircntico-motivacional e toponiacutemica

propriamente dita

O preenchimento das fichas lexicograacuteficas ndash que identificam o elemento designado as

entradas lexicais o pesquisador o revisor e as fontes da coleta ndash eacute a etapa inicial de um conjunto

de fases posteriores que integram o projeto

As etapas da pesquisa foram dividas da seguinte forma a) levantamento dos dados para

construir o corpus e a aquisiccedilatildeo das cartas Topograacuteficas do municiacutepio de Pires do Rio-GO b)

levantamento dos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua registrados nas folhas topograacuteficas c) anaacutelise

e reconhecimento dos aspectos ambientais culturais dos designativos nos diferentes topocircnimos

observados e posteriormente cartografados d) investigaccedilatildeo dos provaacuteveis fatores

motivacionais inerentes aos sintagmas toponiacutemicos e) classificaccedilatildeo das taxionomias a partir do

recorte epistemoloacutegico dos dados coletados f) distribuiccedilatildeo quantitativa dos topocircnimos de

acordo com a natureza toponiacutemica (fiacutesica ou antropocultural) g) estudo linguiacutestico dos

sintagmas toponiacutemicos ndash origemetimologia estruturas semacircntica e morfoloacutegica

Por meio da categorizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico

histoacuterico-criacutetico que foi o norte de nossa pesquisa de certa forma revela-se que o topocircnimo foi

determinado pela populaccedilatildeo anterior ou pela presenccedila de imigrados no local o que faz-nos

perceber que as palavras natildeo apenas comunicam o que se quer dizer mas acusam a Histoacuteria

daquilo que foi dito por necessidades dinacircmicas das pessoas repassadas pela tradiccedilatildeo cultural

65

O proacuteximo capiacutetulo apresenta em linhas gerais um pouco da histoacuteria desse lugar que

abriga 46 cursos drsquoaacutegua e inclusive teve seu primeiro nome devido agrave exuberacircncia do reflexo da

lua cheia nas aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute A ldquoTeteia do Corumbaacuterdquo de antes deu lugar ao

municiacutepio nascido dos caminhos abertos pelos trilhos da Estrada de Ferro Goyaz laacute pelos idos

de 1922

66

III A CAPITAL DA ESTRADA DE FERRO PIRES DO RIO

A cidade eacute por si mesma depositaacuteria de

histoacuteria

(ROSSI 1998)

Este capiacutetulo traz uma apresentaccedilatildeo dos dados histoacutericos referentes agrave fundaccedilatildeo e ao

posterior desenvolvimento social e urbano do municiacutepio de Pires do Rio-GO criado em

decorrecircncia da expansatildeo da Estrada de Ferro Goyaz pelo cerrado goiano As informaccedilotildees aqui

revisitadas integram obras de estudiosos como Siqueira (2006) Ferreira (1999) Borges

(1990) Soares (1988) que se detiveram por alguma razatildeo no esclarecimento de controveacutersia

acerca principalmente do verdadeiro fundador do municiacutepio e de fatos que antecederam a

inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo feacuterrea no ano de 1922

31 Os trilhos avanccedilam depois da ponte

No iniacutecio do seacuteculo XX a Estrada de Ferro Goyaz avanccedilou sobre o territoacuterio de Goiaacutes

e com isso comeccedilaram a surgir vilas arraiais e distritos que com o progresso e passar dos

anos se elevariam a cidades A entatildeo chegada dos trilhos da Estrada de Ferro no interior do

estado mais precisamente na regiatildeo Sudeste Goiana fez com que no ano de 1922 surgisse a

Estaccedilatildeo Pires do Rio e que se elevaria tatildeo logo a cidade

A estrada de ferro traria progresso agraves cidades e ao estado No entanto de acordo com

Borges (1990) alguns coroneacuteis adversos a qualquer tipo de mudanccedila de caraacuteter progressista

natildeo aceitavam a instalaccedilatildeo da estrada de ferro pois ela representaria uma forccedila nova de

transformaccedilatildeo que poderia ameaccedilar o poder constituiacutedo dos coroneacuteis Mas na formaccedilatildeo de

Pires do Rio-GO a chegada da Estrada de Ferro Goyaz foi aceita pelo coronel Lino Teixeira de

Sampaio e inclusive foi doado o terreno para a construccedilatildeo de uma estaccedilatildeo feacuterrea

Vale ressaltar que

a implantaccedilatildeo da Estrada de Ferro de Goiaacutes resultou primeiro do empenho

poliacutetico de uma fraccedilatildeo da classe dominante ligada a novos grupos oligaacuterquicos

que despontavam como forccedila poliacutetica no Estado a qual contou com apoio do

capital financeiro internacional Em segundo lugar como a ferrovia servia

inteiramente aos interesses da economia capitalista ou seja agrave nova ordem

econocircmica com expansatildeo no Paiacutes este fator direta ou indiretamente

67

pressionaria o Governo Federal a apoiar a construccedilatildeo da linha (BORGES

1990 p 55-56)

O avanccedilo da estrada de ferro na regiatildeo Sudeste do estado de Goiaacutes foi fundamental para

o surgimento da cidade de Pires do Rio-GO Ambas as histoacuterias se entrecruzam e revelam

acontecimentos que corroboraram com a construccedilatildeo de uma cidade promissora Para

(re)escrever esta histoacuteria eacute fundante mostrar a ficha lexicograacutefica-toponiacutemica jaacute que o objeto

desta pesquisa satildeo os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua pertencentes a cidade de Pires do Rio-GO

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 01

Topocircnimo Pires do Rio Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Antropocircnimo

Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Pires + do Rio ndash sobrenome)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Cidade sede do distrito do municiacutepio do termo e comarca de

igual nome Na regiatildeo oriental do municiacutepio entre o ribeiratildeo Sampaio e o Monteiro afluentes

do rio Corumbaacute com estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goiaacutes

Fonte Siqueira (2012) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Como jaacute observando no capiacutetulo I os estudos toponiacutemicos revelam fatores soacutecio-

histoacuterico-culturais de uma dada comunidade e Pires do Rio-GO nos revela isso de forma

peculiar como podemos observar na ficha acima a caracterizaccedilatildeo do topocircnimo em que a

taxionomia eacute de natureza antropocultural antropotopocircnimo relativo a nomes proacuteprios e de

famiacutelia (sobrenome do ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas Dr Joseacute Pires do Rio) A base

etimoloacutegica eacute antropocircnimo a estrutura morfoloacutegica eacute de nome composto e as informaccedilotildees

enciclopeacutedias vecircm ratificar informaccedilotildees jaacute expressas na ficha Essas informaccedilotildees nos satildeo

precisas e no decorrer (re)editaremos partes relevantes da histoacuteria desta cidade

Observar o surgimento do municiacutepio de Pires do Rio eacute reviver a construccedilatildeo da linha

feacuterrea na regiatildeo Sudeste e para tal ato buscamos em algumas literaturas reconstruir em partes

a histoacuteria da cidade de Pires do Rio-GO que carinhosamente foi apelidada de ldquoTeteia do

68

Corumbaacuterdquo devido ao reluzir sobre as aacuteguas caudalosas do rio Corumbaacute a exuberacircncia da lua

cheia

Na histoacuteria de fundaccedilatildeo da cidade haacute controveacutersias pois alguns dizem ter sido o Coronel

Lino Teixeira de Sampaio o fundador mas Wilson Cavalcanti Nogueira filho do Sr Manoel

Cavalcanti Nogueira o primeiro Intendente da cidade em seus estudos revela que o fundador

de Pires do Rio foi o Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida diretor da Estrada de Ferro Goyaz

Nos estudos de Jacy Siqueira (2006) piresino historiador cujo livro Um contrato

singular e outros ensaios de histoacuteria de Goiaacutes descreve a origem da cidade de Pires do Rio

com base em documentos oficiais o autor citado presume a veracidade dos fatos que

contribuem para exposiccedilatildeo histoacuterica deste capiacutetulo jaacute que ldquoo tempo eacute agente terriacutevel a tudo

colhe separa peneira depura e evidencia ndash verdade ou mentira ndash com a forccedila e a violecircncia

decorrentes do pesado braccedilo da Histoacuteria de quem eacute o servidor fiel e mestre implacaacutevelrdquo

(SIQUEIRA 2006 p 65)

Em relaccedilatildeo aos fatos que marcam o iniacutecio da fundaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da cidade de Pires

do Rio os historiadores remetem a inuacutemeras controveacutersias sobre a fundaccedilatildeo e os reais

fundadores e tambeacutem sobre a existecircncia de um povoado que competia com o Roncador em

1921 que mais tarde nos arquivos seria o Bairro do Fogo hoje Santa Ceciacutelia O local Rua do

Fogo eacute toda a parte situada do outro lado da linha feacuterrea

Rua do Fogo na descriccedilatildeo de Nogueira se formou pela atraccedilatildeo de pessoas de

diversas regiotildees com o intuito de negociar e prestar serviccedilos diversificados

aos operaacuterios da Estrada eram lavadeiras curandeiro sapateiro padeiro

professor primaacuterio fotoacutegrafo meretrizes e aventureiros Configurando um

povoamento tiacutepico do pioneirismo cada dia mais pessoas chegavam

predominantemente aventureiros muitos deles ateacute mesmo com passado

criminal As casas sendo erguidas raacutepidas e improvisadamente perfilaram-se

em ambos lados ao longo de uma rua irregular que era cenaacuterio de constantes

desordens e violecircncias ganhando por isso o nome de Rua do Fogo A

constante chegada de pessoas levou o povoado a competir em dimensatildeo com

a vizinha Roncador jaacute em 1921 (FERREIRA 1999 p 100)

O Porto do Roncador em 24 de agosto de 1921 recebe a visita do Ministro da Viaccedilatildeo

e Obras Puacuteblicas Engenheiro Sr Joseacute Pires do Rio que na qualidade anterior de Inspetor Geral

das Estradas de Ferro havia se posicionado contraacuterio ao prolongamento da ferrovia no Estado

de Goiaacutes Na ocasiatildeo ficou resolvido que a ponte sobre o rio Corumbaacute deveria se chamar Ponte

Pires do Rio e a primeira estaccedilatildeo a seguir Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio Pessoa mas ocorreu o

contraacuterio Essa informaccedilatildeo foi publicada inclusive nos meios de comunicaccedilatildeo da eacutepoca

69

A Informaccedilatildeo Goyana revista fundada por Henrique Silva que se edita no

Rio de Janeiro na sua ediccedilatildeo de agosto de 1921 (Ano V Vol V n ordm 1 p 1)

traz a reportagem ldquoO Ministro de Viaccedilatildeo Visita o Estado de Goiaacutesrdquo Destaca-

se dela

Tem-se resolvido que a primeira estaccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz aleacutem

Roncador se denomine ndash Estaccedilatildeo Presidente Epitaacutecio

A ponte do Corumbaacute segundo solicitaccedilatildeo dos que tomaram parte na recepccedilatildeo

do Sr ministro da Viaccedilatildeo seraacute denominada ndash Ponte Pires do Rio (SIQUEIRA

2006 p 44 grifos do autor)

As obras estavam a todo vapor e enquanto aguardavam a conclusatildeo da ponte sobre o

rio Corumbaacute os serviccedilos de movimentaccedilatildeo de terra eram feitos aleacutem da outra margem do rio

tendo jaacute avanccedilado ateacute Tavares quilocircmetro 303 da ferrovia distante 84 quilocircmetros de

Roncador O local da estaccedilatildeo de Pires do Rio situa-se no quilocircmetro 218 pouco distante do rio

na Comarca de Santa Cruz em terras da Fazenda do Brejo ou do Sampaio de propriedade do

fazendeiro local coronel Lino Teixeira de Sampaio

No dia 13 de julho de 1922 no momento de inauguraccedilatildeo da ponte metaacutelica construiacuteda

sobre o rio Corumbaacute fez-se a inversatildeo do que o Senhor Ministro havia solicitado pois ela

recebeu o nome do presidente da repuacuteblica (Epitaacutecio Pessoa) troca esta feita pelo diretor da

Estrada de Ferro Goyaz o engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida

A execuccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa significou a integraccedilatildeo das demais regiotildees goianas

no desenvolvimento econocircmico uma vez que o rio Corumbaacute representava uma onerosa barreira

econocircmica para a produccedilatildeo dessas regiotildees Pires do Rio primeira estaccedilatildeo na outra margem do

Corumbaacute prometia ser um entreposto regional devido agrave sua possiacutevel ligaccedilatildeo por terra com

antigos e promissores municiacutepios isolados pelo rio e que natildeo foram contemplados com a

ferrovia Santa Cruz de Goiaacutes Bela Vista Piracanjuba Caldas Novas e Morrinhos O que veio

concretizar essa possibilidade foi a disposiccedilatildeo do coronel Lino Teixeira de Sampaio em doar

terras agrave Estrada de Ferro Goyaz para juntamente com a estaccedilatildeo fundar no local uma cidade

Nesse aspecto seu empenho foi aacutegil e eficiente dois planos urbanos que vieram garantir para

os pioneiros a certeza da existecircncia de uma cidade no local (FERREIRA 1999)

Nas bases da histoacuteria da rede feacuterrea segundo Ferreira (1999) quando da inauguraccedilatildeo

da estaccedilatildeo Pires do Rio foi tambeacutem decretada a fundaccedilatildeo da cidade registrada em obelisco

erguido no largo de frente agrave estaccedilatildeo hoje a praccedila do mercado municipal considerando-se como

fundador o engenheiro da ferrovia Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida e designando a cidade

pelo nome (uma homenagem) do entatildeo Ministro da Viaccedilatildeo e Obras Puacuteblicas engenheiro Joseacute

Pires do Rio

70

Houve tambeacutem a intenccedilatildeo por parte do Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida em deixar a

estaccedilatildeo de Pires do Rio como ponta de linha para que se desenvolvesse rapidamente Finda a

raacutepida inauguraccedilatildeo da estaccedilatildeo seguiu tambeacutem o engenheiro no ldquotrem Inauguralrdquo rumo a

Tapiocanga ndash a proacutexima estaccedilatildeo depois de Pires do Rio ndash para inaugurar sua estaccedilatildeo

improvisada em um simples vagatildeo pois era um local onde natildeo havia nenhuma edificaccedilatildeo

passando mesmo assim a ser a ponta de linha

No dia 9 de novembro de 1922 eacute inaugurado o obelisco a cerca de 50 metros da estaccedilatildeo

ferroviaacuteria jaacute edificada considerada a pedra fundamental da cidade de Pires do Rio Encontra-

se grafado no monumento em alto-relevo que o Engenheiro Balduiacuteno Ernesto de Almeida na

eacutepoca diretor da Estrada de Ferro de Goyaz era o fundador da cidade de Pires do Rio uma

ldquofraserdquo que tem gerado algumas controveacutersias acerca do verdadeiro fundador da cidade

(SIQUEIRA 2006)

Enquanto alguns escritores piresinos e familiares alimentam a disputa ideoloacutegica no

niacutevel da influecircncia poliacutetica do coronel Lino Teixeira de Sampaio corroborada pela doaccedilatildeo de

um terreno para a construccedilatildeo da cidade outros tecircm se debruccedilado sobre as criacuteticas advindas do

meio acadecircmico local uma vez que o aniversaacuterio da cidade natildeo coincide com a data da escritura

de doaccedilatildeo das terras 05 de julho de 1922 mas com a data oficial inscrita na pedra fundacional

feita pelo Diretor da Estrada de Ferro Sr Balduiacuteno Ernesto de Almeida 09 de novembro de

1922

Siqueira (2006) eacute um dos estudiosos que argumentam a favor da tese de que o fundador

da cidade eacute o coronel Lino Teixeira de Sampaio Desta forma para corroborar o ato de doaccedilatildeo

da gleba de terra Siqueira (2006) recorreu aos livros de registros do Cartoacuterio de Imoacuteveis da

Comarca de Santa Cruz de Goiaacutes onde se encontra a escritura puacuteblica lavrada no dia 5 de julho

de 1922 pois na eacutepoca as terras pertenciam a este referido municiacutepio a qual nos informa que

por eles [Lino e Rozalina] foi dito que de suas livres e espontacircneas vontades

e sem coaccedilatildeo alguma doam agrave Estrada de Ferro de Goyaz com (4) alqueires

de terreno de campo divididos e demarcados nesta fazenda do ldquoBrejordquo

conforme consta na planta confeccionada pela dita Estrada de Ferro e bem

assim a aacutegua necessaacuteria ao abastecimento da Estaccedilatildeo jaacute edificada dentro destes

quatros alqueires Declaram mais os doadores que fazem a doaccedilatildeo dos

referidos terrenos agrave Estrada de Ferro de Goyaz sem que a mesma Estrada tenha

obrigaccedilatildeo de espeacutecie alguma cabendo-lhe apenas Dividir o terreno doado em

pequenos lotes para que seja dado iniacutecio agrave edificaccedilatildeo de uma pequena Cidade

excluindo o referido a faixa necessaacuteria agrave Estaccedilatildeo arrendar os lotes e aplicar

as rendas em melhoramentos da futura Cidade e edificaccedilatildeo de um Grupo

Escolar natildeo admitir seja construiacutedo preacutedio algum sem que seja previamente

aprovada pela diretoria da Estrada a respectiva planta (SIQUEIRA 2006 p

29)

71

Entretanto os fatos histoacutericos remetem agrave data de 09 de novembro como sendo de

fundaccedilatildeo da cidade jaacute que essa data se justifica pela inauguraccedilatildeo (documentada) da estaccedilatildeo

ferroviaacuteria Pires do Rio embora para Siqueira (2006) a data de fundaccedilatildeo da cidade seja o dia

05 de julho de 1922 data que coincide com a da escritura puacuteblica de doaccedilatildeo das terras agrave Estrada

de Ferro Goyaz

Siqueira (2006) ainda acrescenta as suas consideraccedilotildees acerca do fato de que o coronel

Lino Teixeira de Sampaio aleacutem de doar os quatro alqueires de terra accedilatildeo que outros

fazendeiros das estaccedilotildees seguintes natildeo tiveram apresentou um projeto urbano (planta) da

cidade a ser erguida nas proximidades da estaccedilatildeo projeto este de autoria de um engenheiro da

Estrada Aacutelvaro Pacca que foi apresentado e aprovado pela direccedilatildeo da Estrada de Ferro Goyaz

em 1ordm de janeiro de 1922

De acordo com Ferreira (1999) acredita-se que no local definitivo da estaccedilatildeo por volta

do ano de 1923 apresentou-se outro projeto para a construccedilatildeo da cidade desta vez solicitado

ao topoacutegrafo da Estrada de Ferro Moacir de Camargo A cidade de Pires do Rio ficaria sendo

entatildeo a primeira cidade do Centro-Oeste a nascer com planejamento preacutevio antes de Goiacircnia

ou Brasiacutelia

O momento em que a cidade comeccedila a surgir de acordo com Nogueira (sd) fez com

que a populaccedilatildeo do Roncador migrasse toda para laacute carregando tudo aquilo que lhes pertencia

inclusive o material de construccedilatildeo das casas que foram demolidas construindo novas moradias

no local escolhido para tal fim Esse fato de mudar de um arraial para outro segundo Ferreira

(1999) veio a constituir o fenocircmeno por ele denominado de fagocitose pois para a formaccedilatildeo

da cidade Pires do Rio o arraial do Roncador extinguiu-se para vigorar a nascente cidade como

se observa nos dizeres abaixo

Pires do Rio crescia em terras de Santa Cruz municiacutepio de projeccedilatildeo

econocircmica e poliacutetica no Estado que dominou todo o sudeste e parte do sul de

Goiaacutes O arraial de origem fundado em 1729 teve seu valor econocircmico

firmado na extraccedilatildeo auriacutefera passando agrave Julgado de Santa Cruz em 1809 com

seu territoacuterio de influecircncia sobre uma extensa aacuterea Emancipou-se agrave Vila em

1833 quando Goiaacutes foi dividido em quatro Comarcas sendo Santa Cruz uma

delas Terminado o ciclo do ouro sua economia voltou-se durante o seacuteculo

XIX para a pecuaacuteria extensiva a agricultura e primitivo processamento da

produccedilatildeo agriacutecola sobrepondo-se agraves outras cidades de economia auriacutefera em

estagnaccedilatildeo A emancipaccedilatildeo de seus distritos ao longo do seacuteculo XIX foi-lhe

tirando a extensatildeo de seu poder territorial e de jurisdiccedilatildeo mas natildeo seu poder

econocircmico e poliacutetico no Estado Essa situaccedilatildeo veio a se alterar com a chegada

da Estrada de Ferro Goiaacutes (FERREIRA 1999 p 136)

72

As construccedilotildees jaacute haviam se iniciado e comeccedilara a chegar os novos moradores oriundos

de vaacuterias partes do paiacutes e do mundo que solidificariam a comunidade piresina Os baianos e os

aacuterabes foram os primeiros migrantes a chegarem e fixarem-se acreditando na futura cidade Os

baianos e outros nordestinos foram atraiacutedos pela frente de trabalho criada pela construccedilatildeo da

ferrovia Os italianos e espanhoacuteis tambeacutem se fizeram presentes na comunidade local No

entanto a maioria dos migrantes foram mesmo paulistas e mineiros Os estrangeiros tais como

italianos espanhoacuteis e principalmente aacuterabes foram partes integrantes da elite dominante

(FERREIRA 1999)

Pires do Rio se elevou a distrito do Municiacutepio de Santa Cruz em 23 de agosto de 1924

pela Lei nordm 66 E em 7 de julho de 1930 pela Lei nordm 903 foi criado o municiacutepio de Pires do

Rio E tatildeo logo pelo Decreto de ndeg 522 de 8 de janeiro de 1931 publicado no Correio Officcial

ndeg 1819 paacutegina 3 de 19 de abril do mesmo ano (SIQUEIRA 2006) oficializou a transferecircncia

da Comarca de Santa Cruz para a cidade de Pires do Rio

Na deacutecada de 30 estabelecia-se o comeacutercio na cidade de Pires do Rio natildeo tinha um

centro comercial propriamente dito mas algumas casas de comeacutercio espalhadas pela cidade

(FERREIRA 1999) A instalaccedilatildeo da energia eleacutetrica em 1934 deu um impulso agrave agroinduacutestria

local iniciada com a charqueada em 1924 e logo apoacutes por uma maacutequina beneficiadora de arroz

serraria faacutebrica de manteiga padarias curtume e outros pequenos centros de produccedilatildeo com

isso a necessidade de matildeo-de-obra impulsionava o crescimento da populaccedilatildeo jaacute que muitos

eram empregados pela via feacuterrea desta forma a vinda de imigrantes a nova cidade era

necessaacuterio Com o crescimento da cidade e da sua populaccedilatildeo foram necessaacuterias benfeitorias

que foram ocorrendo no decorrer dos anos

De acordo com Siqueira (2006) Pires do Rio se desenvolveu de forma diferenciada das

centenaacuterias cidades de Goiaacutes visto que a maioria se formou por tradicionais enraizados e

familiocratas grupos poliacuteticos ou simplesmente ldquooligarquiasrdquo o que permitiu uma abertura e

receptividade ao novo e ao desconhecido como paracircmetro coerente para a construccedilatildeo de uma

comunidade nascente No periacuteodo de 1921 a 1940 correspondentemente agrave cidade em sua

afirmaccedilatildeo poliacutetica e urbana foi composta por migrantes e imigrantes que se estabeleciam na

prestaccedilatildeo de serviccedilo agroinduacutestria e comeacutercio tudo isso oriundo da formaccedilatildeo da cidade pela

Estrada de Ferro Goyaz

Um fato ainda natildeo informado eacute que no ano de 1933 o municiacutepio era constituiacutedo de dois

distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Jaacute no decreto-lei nordm 5200 de 08 de dezembro de 1934

Pires do Rio eacute ldquorebaixadordquo agrave categoria de distrito do municiacutepio de Santa Cruz haja vista que

73

em divisotildees territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937 Pires do Rio figura como distrito

de Santa Cruz (IBGE 2016)

Em 03 de marccedilo de 1938 pelo Decreto-lei nordm 557 Pires do Rio retorna agrave categoria de

municiacutepio e Santa Cruz agrave de distrito No periacuteodo de 1939-1943 o municiacutepio aparece constituiacutedo

de trecircs distritos Pires do Rio Santa Cruz e Cristianoacutepolis O distrito de Santa Cruz pelo

Decreto-lei nordm 8305 de 31 de dezembro de 1943 passou a denominar-se Corumbalina Mas

pelo Ato das Disposiccedilotildees Constitucionais Transitoacuterias de 20 de julho de 1947 Artigo 61

desmembrou-se do municiacutepio de Pires do Rio e foi elevado agrave categoria de municiacutepio com a

denominaccedilatildeo de Santa Cruz de Goiaacutes (IBGE 2016)

Em divisatildeo territorial datada de 1 de julho de 1950 o municiacutepio eacute constituiacutedo de dois

distritos Pires do Rio e Cristianoacutepolis Depois pela lei municipal nordm 221 de 15 de julho 1953

eacute criado o distrito de Palmelo e anexado ao municiacutepio de Pires do Rio A lei estadual nordm 739 de

23 de junho de 1953 desmembra do municiacutepio de Pires do Rio o distrito de Cristianoacutepolis

elevado entatildeo agrave categoria de municiacutepio Rapidamente o distrito de Palmelo pela lei estadual

nordm 908 de 13 de novembro de 1953 eacute desmembrado do municiacutepio de Pires do Rio e elevado agrave

categoria de municiacutepio (IBGE 2016)

A ferrovia foi um marco na histoacuteria de Pires do Rio uma vez que o transporte ferroviaacuterio

era utilizado para escoar a produccedilatildeo Aleacutem disso a instalaccedilatildeo do Frigoriacutefico Brasil Central

estimulou a produccedilatildeo da pecuaacuteria de corte Nas deacutecadas de 1950 e 1960 destacou-se por

exportar o charque e pela produccedilatildeo de cerveja Jaacute com a construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 e a

implantaccedilatildeo das rodovias favoreceu-se a sua interligaccedilatildeo aos outros municiacutepios goianos

O fluxo de cargas e pessoas pela via ferroviaacuteria entre os anos de 1940 a 1950 apresentava

regularidade mas devido agrave construccedilatildeo de Brasiacutelia em 1960 de 1965 a 1970 apresentou uma

queda gradativa por deficiecircncia teacutecnica das linhas falta de manutenccedilatildeo delas e dos

equipamentos lentidatildeo do transporte o que provocou em 1970 a desativaccedilatildeo do transporte de

passageiros A Rede Ferroviaacuteria Federal Sociedade Anocircnima (RFFSA) foi privatizada em 1996

e a Ferrovia Centro Atlacircntica (FCA) adquiriu 7080 km de extensatildeo operando 685 km em

Goiaacutes tendo adotado uma nova poliacutetica investindo dois milhotildees de reais na ferrovia

desativando vaacuterias estaccedilotildees (NOVAIS 2014) Na Estaccedilatildeo Pires do Rio ficou funcionando

apenas o escritoacuterio da FCA e o Museu Ferroviaacuterio e na Estaccedilatildeo Roncador uma oficina de

manutenccedilatildeo de vagotildees

Segundo Novais (2014) a ferrovia enquanto elemento modernizador do Sudeste

Goiano e instrumento capaz de aumentar as aglomeraccedilotildees urbanas e dinamizar o progresso da

regiatildeo de acordo com os novos interesses dominantes sempre esteve sob o controle do poder

74

econocircmico estatal ou de grupos Sua expansatildeo justificou-se em detrimento dos interesses

capitalistas e imperialistas Portanto a estrada de ferro eacute um produto da induacutestria capitalista da

Primeira Revoluccedilatildeo Industrial colocada a serviccedilo do capital e resultante das transformaccedilotildees

ocorridas no processo de expansatildeo do capitalismo no Brasil e no mundo (BORGES 1990) O

Estado de Goiaacutes ao inserir-se na dinacircmica capitalista e implantar a via feacuterrea em seu territoacuterio

conseguiu integrar-se ao mercado brasileiro aleacutem de mitigar anos de atraso e isolamento

econocircmico

32 Pires do Rio geograacutefico

O municiacutepio de Pires do Rio localiza-se na Microrregiatildeo do Sudeste Goiano inserida

na Mesorregiatildeo Sul Goiano A Microrregiatildeo eacute reconhecida como a regiatildeo da Estrada de Ferro

Limita-se com os municiacutepios goianos de Orizona Vianoacutepolis Urutaiacute Caldas Novas Satildeo

Miguel do Passa Quatro Santa Cruz de Goiaacutes Palmelo Cristianoacutepolis e Ipameri A aacuterea da

unidade territorial (kmsup2) eacute de 1073361 com uma altitude meacutedia de 75886 O municiacutepio

encontra-se entre as seguintes coordenadas geograacuteficas

Mapa 1 ndash Pires do Rio (GO) Microrregiatildeo de Pires do Rio (GO)

75

A cidade de Pires do Rio eacute constituiacuteda por riquezas naturais do bioma Cerrado o qual

apresenta uma heterogeneidade na sua fisionomia pois engloba desde formaccedilotildees florestais

como as Matas Ciliares (vegetaccedilatildeo que fica nas margens dos rios) e Cerradatildeo aleacutem do Cerrado

restrito (eacute o Cerrado tiacutepico formado por vegetaccedilotildees arboacutereas de casca grossa e troncos

retorcidos) com formaccedilotildees vegetais ou herbaacuteceas (campo sujo e limpo)

Uma das caracteriacutesticas marcantes do Cerrado eacute sua riqueza em recursos hiacutedricos e Pires

do Rio natildeo foge agrave regra Servindo de fronteiras naturais para o municiacutepio tem-se o rio do Peixe

na parte norte A parte sul do municiacutepio desagua no rio Corumbaacute que tambeacutem eacute utilizado como

fronteira natural e eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio Aleacutem destes tem o rio Piracanjuba

que devido agrave sua estrutura rochosa e seu volume de aacutegua foi palco da construccedilatildeo de uma usina

hidreleacutetrica em meados do seacuteculo XX que abastecia a cidade embora hoje encontre-se em

ruiacutenas

Aleacutem dos trecircs rios o municiacutepio possui ao longo de todo seu o territoacuterio vaacuterias

nascentes coacuterregos ribeirotildees quedas drsquoaacutegua os quais satildeo todos afluentes do rio Corumbaacute

Vale ressaltar que a maioria dos cursos drsquoagua satildeo perenes ou seja tem aacutegua o ano todo por

isso muitos deles tem o nome da regiatildeo em que se encontra pois satildeo objetos marcantes na

paisagem

Segundo o IBGE (1957) a populaccedilatildeo piresina no Recenseamento de 1950 era de

12946 habitantes (inclusive a populaccedilatildeo dos atuais municiacutepios de Cristianoacutepolis e Palmelo ndash

na eacutepoca distritos de Pires do Rio) apresentando quadro urbano e suburbano com uma

populaccedilatildeo de 4836 habitantes sendo 2282 homens e 2554 mulheres A densidade

demograacutefica era de 12 habitantes por quilocircmetro quadrado verificando-se que 53 da

populaccedilatildeo localizava-se no quadro rural

Na deacutecada de 50 o municiacutepio de Pires do Rio tinha um nuacutecleo populacional que era o

povoado de Marataacute aleacutem da sede (como jaacute mencionado no ano de 1953 os distritos de

Cristianoacutepolis e Palmelo satildeo elevados a municiacutepio) Mas com o passar dos anos ele deixa de

existir ficando apenas a Igreja de Satildeo Sebastiatildeo As atividades econocircmicas do municiacutepio eram

predominantemente a produccedilatildeo agriacutecola e pecuaacuteria O municiacutepio apresentava-se como um local

de atraccedilatildeo recreativa pela sua beleza paisagiacutestica a qual pode ser observada na cachoeira do

Salto no rio Piracanjuba jaacute mencionado onde foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica que forneceu

energia agrave cidade ateacute meados do seacuteculo XX

A populaccedilatildeo em 2010 era de 28762 habitantes sendo 14105 homens e 14657

mulheres Predominantemente urbana com 27094 pessoas e apenas 1668 no meio rural Pires

do Rio apresenta uma aacuterea de 1073361 km2 e uma densidade demograacutefica de 2680 habkmsup2

76

O Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) do municiacutepio eacute de 0744 A Populaccedilatildeo

Economicamente Ativa (PEA) eacute de 8717 homens e 6128 mulheres (IBGE 2016)

De acordo com os dados populacionais desde o Recenseamento da deacutecada de 50 (dados

jaacute mostrados anteriormente) a cidade teve um crescimento consideraacutevel como pode ser

observado nos quadros abaixo

Quadro 3 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo recenseamento

Populaccedilatildeo Censitaacuteria

1980 1991 2000 2010

Total de habitantes 19258 22131 26229 28762

Urbano 16670 20537 24473 27094

Zona Rural 2588 1594 1756 1668

Masculino 9498 10904 12948 14105

Feminino 9760 11227 13281 14657

Urbano Masculino 8098 10027 11966 13208

Urbano Feminino 8572 10510 12507 13886

Zona Rural Masculino 1400 877 982 897

Zona Rural Feminino 1188 717 774 771

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Nos dados que satildeo apresentados pelo IBGE (populaccedilatildeo estimada) entre os anos 2001 e

2004 ocorreu uma queda no crescimento populacional em relaccedilatildeo ao ano de 1999 que foi de

28631 e nos demais anos segue 2001 26600 2002 27091 2003 27491 2004 28332 A

respeito desta queda natildeo conseguimos informaccedilotildees Em duas datas especiacuteficas houve uma

contagem da populaccedilatildeo seguem os dados abaixo

Quadro 4 ndash Populaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio(GO) segundo contagem

Populaccedilatildeo Contagem

1996 2007

Total de habitantes 25094 26857

Masculino 12403 13232

Feminino 12691 13574

Urbano 23766 25031

77

Zona Rural 1328 1826

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Os dados inseridos no quadro 3 satildeo uma estimativa da populaccedilatildeo informada pelo IMB

e IBGE

Quadro 5 ndash Populaccedilatildeo estimada da cidade de Pires do Rio (GO)

Populaccedilatildeo Estimada

2011 2012 2013 2014 2015

28956 29145 30232 30469 30703

Fonte IBM ndash Instituto Mauro Borges IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016)

Para entreter a populaccedilatildeo o turismo do municiacutepio estaacute relacionado agraves edificaccedilotildees com

relevacircncia arquitetocircnica e cultural como a Ponte Epitaacutecio Pessoa o antigo Frigoriacutefico Brasil

Central as igrejas Satildeo Sebastiatildeo (Patrimocircnio do Marataacute) Satildeo Benedito (Igreja dos Congos) a

Ferrovia Centro Atlacircntica e o Museu Ferroviaacuterio O patrimocircnio material eacute representado pelo

centro histoacuterico principalmente a Igreja Matriz Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus coreto e chafariz da

Praccedila Gaudecircncio Rincon Segoacutevia o Mercado Municipal a Biblioteca Municipal a Estaccedilatildeo

Ferroviaacuteria e a casa do Maneco (hoje em ruiacutenas) que formam um conjunto arquitetocircnico

singular como tambeacutem as belezas naturais das Serras da Caverna e das Flores a cachoeira do

Marataacute e Prainha (as margens do rio Corumbaacute)

De acordo com Novais (2014) nos anos de 1980 o municiacutepio conheceu a expansatildeo da

fronteira agriacutecola com a introduccedilatildeo do cultivo da soja logo apoacutes em 1993 atraiu investimentos

com a implantaccedilatildeo do complexo agroindustrial aviacutecola e a industrializaccedilatildeo do setor

contribuindo para o processo de reestruturaccedilatildeo produtiva que perpassou a regiatildeo do Sudeste

Goiano Atualmente a economia piresina eacute voltada para as atividades agriacutecolas como a

produccedilatildeo de soja milho sorgo arroz feijatildeo e mandioca

O comeacutercio a infraestrutura e serviccedilos (sauacutede educaccedilatildeo comeacutercio e prestaccedilatildeo de

serviccedilos) exercem funccedilatildeo de polo atrativo para moradores dos municiacutepios vizinhos Toda a

importacircncia do municiacutepio para a regiatildeo o estado e o paiacutes se deve agrave instalaccedilatildeo da Estrada de

Ferro Goyaz e aos que acreditaram no crescimento de Pires do Rio e investiram em seu

territoacuterio Por esta razatildeo que parte de nossa pesquisa busca reviver fragmentos da histoacuteria desta

cidade que se faz importante para uma regiatildeo estado e paiacutes

78

33 Os cursos drsquoaacutegua

No quadro abaixo apresentamos os nomes dos cursos drsquoaacutegua de Pires do Rio

levantamento realizado de acordo com os mapas cartas topograacuteficas e vocabulaacuterio do IBGE

(1957)

Quadro 6 ndash Cursos drsquoaacutegua da cidade de Pires do Rio(GO)

Vocabulaacuterio Geograacutefico ndash IBGE (1957)

Rio ndash 3 Paacutegi

na

Descriccedilatildeo Municiacutepio de

Nasceste

Rio Corumbaacute 75 Rio nasce nos arredores de Pirineus

atravessa o municiacutepio como o de Santa

Luzia depois de servir em pequeno trecho

de divisa a Bonfim Adiante separa Ipameri

e Corumbaiacuteba de um lado e Campo

Formoso Pires do Rio Caldas Novas Buriti

Alegre do outro ateacute desaguar no rio

Paranaiacuteba pela margem direita

Corumbaacute

Rio do Peixe 165 Rio nasce na regiatildeo sul-oriental do

municiacutepio que separa dos de Campo

Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio

e o de Caldas Novas desemboca no rio

Corumbaacute pela margem direita

Silvacircnia

Rio Piracanjuba 171 (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce

na serra de Passa Quatro e atravessa o

municiacutepio bem como o de Pouso Alto

Adiante separa Caldas Novas de Morrinhos

e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio

Corumbaacute pela margem direita

Bela Vista

Coacuterrego ndash 34

Coacuterrego Areias 15 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Pires do Rio

Coacuterrego Barreiro - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia

Coacuterrego do

Barreiro

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Piracanjuba

Coacuterrego dos Batista - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Bauzinho 29 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Bauacute

Orizona

Coacuterrego da Braga 37 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Santa Maria

Luziacircnia

79

Coacuterrego Boa Vista 32 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Buracatildeo 40 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Buriti 42 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio dos Bois

Pires do Rio

Coacuterrego Cachoeira 47 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Piracanjuba

Silvacircnia

Coacuterrego Capoeira

Grande

60 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Cachoeira

Orizona

Coacuterrego Carvalho - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego da Caverna 66 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio dos Peixes (M de Pires do Rio)

Pires do Rio

Coacuterrego Corrente - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Domingo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego da Estiva 88 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Brumado

Pires do Rio

Coacuterrego Fundatildeo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Cocalzinho de

Goiaacutes

Coacuterrego Guaraacute 106 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Luziacircnia

Coacuterrego Itauacutebi - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Juca - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego Lajinha 124 Coacuterrego afluente da margem direita do

coacuterrego Taperatildeo

Orizona

Coacuterrego Laranjal 126 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Bauacute

Pires do Rio

Coacuterrego Limeira 128 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute

Ipameri

Coacuterrego Marreco 136 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Bauacute

Orizona

Coacuterrego Mata

Dentro

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Coacuterrego do

Mocambo

144 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

das Antas

Silvacircnia

Coacuterrego Olho

drsquoaacutegua

152 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Piracanjuba

Orizona

Coacuterrego do Pico 168 Coacuterrego afluente da margem direita do

ribeiratildeo Brumado

Pires do Rio

Coacuterrego

Piracanjuba

171 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

igual nome

Morrinhos

Coacuterrego Posse 177 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

coacuterrego do Fundo

Orizona

80

Coacuterrego Satildeo

Jerocircnimo

202 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

ribeiratildeo Caiapoacute

Pires do Rio

Coacuterrego Saltador 193 Coacuterrego afluente da margem esquerda do

rio Corumbaacute proacuteximo a barra do rio

Alagado

Luziacircnia

Coacuterrego Taquaral 217 Coacuterrego afluente da margem direita do rio

Corumbaacute (M de Pires do Rio)

Pires do Rio

Coacuterrego da Terra

Vermelha

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Silvacircnia

Ribeiratildeo ndash 8

Ribeiratildeo Bauacute 29 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Piracanjuba na divisa do municiacutepio de Pires

do Rio

Orizona

Ribeiratildeo Brumado 33 Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do

rio dos Peixes

Santa Cruz de

Goiaacutes

Ribeiratildeo Cachoeira 47 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Piracanjuba

Orizona

Ribeiratildeo Caiapoacute 50 Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio

Corumbaacute

Urutaiacute

Ribeiratildeo Marataacute - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Ribeiratildeo Mucambo - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Ribeiratildeo Sampaio 194 Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da

margem direita do rio Corumbaacute (M de

Pires do Rio)

Pires do Rio

Ribeiratildeo Taquaral - Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Orizona

Quedas drsquoaacutegua ndash 1

Cachoeira do

Marataacute

- Natildeo consta no vocabulaacuterio do IBGE (1957) Pires do Rio

Fonte Vocabulaacuterio Geograacutefico IBGE 1957

O quarto capiacutetulo apresenta a descriccedilatildeo e anaacutelise de quinze dos 46 topocircnimos (escolha

esta pela relaccedilatildeo de representaccedilatildeo para a cidade de Pires do Rio-GO) de acordo com os aportes

teoacutericos revisados no primeiro capiacutetulo e em consonacircncia com os meacutetodos apresentados e

discutidos no segundo capiacutetulo apresenta ainda algumas questotildees teoacutericas suscitadas pelas

especificidades dos dados escolhidos

81

IV A TOPONIacuteMIA E SUAS RELACcedilOtildeES COM O LUGAR

O signo toponiacutemico natildeo abre apenas o nome de

um lugar mas o lugar como um todo tudo que estaacute

relacionado a ele de uma forma ou de outra

(SIQUEIRA 2015)

Nos colocar a serviccedilo desta pesquisa foi o mesmo que redescobrir a cidade de Pires do

Rio-GO Conhecer a sua histoacuteria e poder reeditaacute-la remapear os seus cursos drsquoaacutegua e por fim

buscar na Toponiacutemia as relaccedilotildees de poder que os topocircnimos tecircm sobre cada espaccedilo nomeado

assim tomamos posse do que esta pesquisa nos proporcionou e aqui estaacute o aacutepice dela os dados

e suas anaacutelises

Segundo Dias (2008) o municiacutepio de Pires do Rio-GO tem como principais cursos

drsquoaacutegua o rio Corumbaacute situado na parte sudeste o rio Piracanjuba no nordeste e rio do Peixe

na parte sul os quais correm em direccedilatildeo agrave calha do rio Paranaiacuteba (uma das quatro bacias

hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes) ao sul Os rios do Peixe e Piracanjuba desaguam no

Corumbaacute sendo limites de fronteiras do municiacutepio Aleacutem desses rios a rede hidrograacutefica eacute

formada por vaacuterios ribeirotildees e coacuterregos

Para proceder com as devidas anaacutelises dos topocircnimos nos eacute necessaacuterio partir de algumas

definiccedilotildees de nomenclaturas da aacuterea da geografia mas natildeo tivemos acesso a nenhum dicionaacuterio

terminoloacutegico da aacuterea especiacutefica devido agrave dificuldade de encontrar em bibliotecas puacuteblicas e

na internet desta forma recorremos aos dicionaacuterios Aulete (2011) Borba (2004) e Houaiss et

al (2004 2009) para assim proceder com a definiccedilatildeo de palavras (termos) que satildeo recorrentes

em nossa pesquisa a) curso drsquoaacutegua eacute qualquer corpo de aacutegua fluente b) coacuterrego um rio

pequeno com pouco volume de aacutegua que passa por vaacuterios lugares e sempre desagua em um

curso drsquoaacutegua (coacuterrego ribeiratildeo ou rio) c) queda drsquoaacutegua torrente de aacutegua que cai do alto

cachoeiracascata que satildeo formaccedilotildees geomorfoloacutegicas nas quais os cursos drsquoaacutegua correm por

cima de uma rocha de composiccedilatildeo resistente agrave erosatildeo formando uma suacutebita quebra na vertical

d) ribeiratildeo curso drsquoaacutegua maior que o riacho e menor que o rio afluente de um rio e) rio ou

fluacutemen eacute uma corrente natural de aacutegua que flui continuamente Possui um caudal consideraacutevel

e desemboca no mar num lago ou noutro rio e em tal caso denomina-se afluente Pode

apresentar vaacuterias redes de drenagem

Proceder com estas observaccedilotildees eacute elementar para esta pesquisa pois dos 46 topocircnimos

elencados no municiacutepio de Pires do Rio-GO analisaremos apenas 15 visto que analisar todos

82

os topocircnimos seria uma tarefa aacuterdua e que demandaria mais tempo registramos aqui o que nos

motivou agrave escolha dos cursos drsquoaacutegua para anaacutelise Como satildeo apenas 03 rios eacute viaacutevel e de bom

senso analisaacute-los jaacute que satildeo as maiores bacias e que datildeo destaque agrave regiatildeo os ribeirotildees satildeo

especificamente 08 os quais seratildeo analisados inclusive alguns nomes se repetem aos coacuterregos

tambeacutem 01 queda drsquoaacutegua cachoeira do Marataacute que natildeo seraacute analisada devido ao nome ser o

mesmo de um ribeiratildeo dos 34 coacuterregos analisaremos apenas 04 (Barreiro Itauacutebi Laranjal e da

Terra Vermelha) devido ao grau de importacircncia para a cidade pois os coacuterregos Itauacutebi (nascente)

e Laranjal satildeo os que abastecem a cidade de Pires do Rio-GO Quanto ao Barreiro este estaacute

localizado na regiatildeo do Morro do Cruzeiro localidade que tem o maior nuacutemero populacional

na zona rural do municiacutepio O coacuterrego da Terra Vermelha eacute uma aacuterea que haacute muito tempo foi

espaccedilo de olaria e dela saiacuteram grandes quantidades de tijolos que foram utilizados nas

construccedilotildees de casas na cidade e tambeacutem pertence a uma localidade onde existiu o povoado do

Marataacute na deacutecada de 50

No mapa 2 apresentamos os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do

Rio-GO bem como aparecem em destaque os 15 topocircnimos que analisaremos a seguir os quais

estatildeo catalogados em fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas que estatildeo inseridas neste capiacutetulo

83

Mapa 2 ndash Rede Hidrograacutefica de Pires do Rio (GO)

84

41 Os topocircnimos de acordo com as taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural

Os modelos das taxionomias foram elaborados por Dick (1992) a fim de possibilitar ao

pesquisador descobrir o significado dos topocircnimos sem ter que retomar especificamente a

passado histoacuterico Os modelos subdividem-se em 11 taxes de natureza fiacutesica e 16 de natureza

antropocultural Assim podemos verificar se o nomeador recorreu a elementos de natureza

fiacutesico ou socioculturais como motivaccedilatildeo no ato da nomeaccedilatildeo Abaixo apresentamos as 27

taxes subdivididas em suas naturezas e devidas especificaccedilotildees exemplificadas com alguns

topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO nos casos de natildeo ter

recorremos a outros topocircnimos

a) Taxionomias de natureza fiacutesica

1 Astrotopocircnimos topocircnimos que se referem aos corpos celestes cidade Estrela do Norte-

GO

2 Cardinotopocircnimos topocircnimos referentes agraves posiccedilotildees geograacuteficas cidade Alvorada do

Norte-GO

3 Cromotopocircnimos topocircnimos relativos agrave escala cromaacutetica coacuterrego da Terra Vermelha (Pires

do Rio-GO)

4 Dimensiotopocircnimos topocircnimos referentes agraves caracteriacutesticas dimensionais dos acidentes

geograacuteficos como extensatildeo comprimento largura espessura altura profundidade coacuterrego

Fundatildeo (Pires do Rio-GO)

5 Fitotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de vegetais rio Corumbaacute (Pires do Rio-

GO)

6 Geomorfotopocircnimos topocircnimos referentes agraves formas topograacuteficas elevaccedilotildees ou depressotildees

do terreno coacuterrego do Pico (Pires do Rio-GO)

7 Hidrotopocircnimos topocircnimos originados de acidentes hidrograacuteficos ribeiratildeo Cachoeira

(Pires do Rio-GO)

8 Litotopocircnimos topocircnimos originados de nomes de minerais e de nomes relativos agrave

constituiccedilatildeo do solo coacuterrego Barreiro (Pires do Rio-GO)

9 Meteorotopocircnimos topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos ribeiratildeo Brumado

(Pires do Rio-GO)

10 Morfotopocircnimos topocircnimos que refletem o sentido de forma geomeacutetrica cidade Volta

Redonda-RJ

11 Zootopocircnimos topocircnimos de iacutendole animal rio do Peixe (Pires do Rio-GO)

b) Taxionomias de natureza antropocultural

85

1 Animotopocircnimos ou Nootopocircnimos topocircnimos relativos agrave vida psiacutequica e agrave cultura

espiritual coacuterrego Boa Vista (Pires do Rio-GO)

2 Antropotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais ribeiratildeo Sampaio

(Pires do Rio-GO)

3 Axiotopocircnimos topocircnimos que se referem a tiacutetulos e a dignidades que acompanham os

nomes proacuteprios individuais cidade Senador Canedo-GO

4 Corotopocircnimos topocircnimos relativos aos nomes de cidades paiacuteses estados regiotildees e

continentes coacuterrego Posse (Pires do Rio-GO)

5 Cronotopocircnimos topocircnimos que encerram indicadores cronoloacutegicos como novonova

velhovelha cidade Nova Aurora-GO

6 Ecotopocircnimos topocircnimos que fazem referecircncia agraves habitaccedilotildees de um modo geral cidade

Castelacircndia-GO

7 Ergotopocircnimos topocircnimos relacionados aos elementos da cultura material ribeiratildeo Bauacute

(Pires do Rio-GO)

8 Etnotopocircnimos topocircnimos relativos aos elementos eacutetnicos tribos isolados ou natildeo ribeiratildeo

Caiapoacute (Pires do Rio-GO)

9 Dirrematotopocircnimos topocircnimos construiacutedos por meio de frases ou enunciados linguiacutesticos

cidade Aparecida do Rio Doce-GO

10 Hierotopocircnimos topocircnimos referentes aos nomes sagrados agraves efemeridades religiosas aos

locais de culto cidade Cristianoacutepolis-GO Podem apresentar duas subdivisotildees i)

hagiotopocircnimos topocircnimos que se referem aos santos e agraves santas do hagioloacutegio romano

coacuterrego Satildeo Jerocircnimo (Pires do Rio-GO) ii) mitotopocircnimos topocircnimos referentes agraves

entidades mitoloacutegicas cidade Anhanguera-GO

11 Historiotopocircnimos topocircnimos que se referem a movimentos de cunho histoacuterico-social aos

seus membros ou ainda agraves datas correspondentes cidade Ipiranga de Goiaacutes-GO

12 Hodotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves vias de comunicaccedilatildeo coacuterrego Corrente (Pires

do Rio-GO)

13 Numerotopocircnimos topocircnimos que dizem respeito aos adjetivos numerais cidade Trecircs

Ranchos-GO

14 Poliotopocircnimos topocircnimos constituiacutedos pelos vocaacutebulos vila aldeia cidade povoaccedilatildeo

arraial bairro Vila Nova (Pires do Rio-GO)

15 Sociotopocircnimos topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais de trabalho

e aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade ribeiratildeo Mucambo (Pires do Rio-

GO)

86

16 Somatotopocircnimos topocircnimos com relaccedilatildeo metafoacuterica agraves partes do corpo humano ou do

animal coacuterrego Olho drsquoaacutegua (Pires do Rio-GO)

Essas classificaccedilotildees taxonocircmicas funcionam como auxiliares no processo de verificaccedilatildeo

que subjaz o topocircnimo sem mencionar o processo de revisitaccedilatildeo da origem e motivaccedilatildeo que

levaram agrave efetivaccedilatildeo de determinado topocircnimo

Aleacutem do mais uma anaacutelise toponiacutemica pressupotildee a busca de particularidades

que natildeo podem ficar apenas nas caracteriacutesticas mais evidentes apresentadas

pelo nome deve-se procurar tanto quanto possiacutevel ou seja tanto quanto as

fontes ou a documentaccedilatildeo o permitirem as origens mais remotas do

denominativo objetivando as eventuais substituiccedilotildees experimentadas e a sua

razatildeo determinante de modo que se possa tentar um equacionamento da

nomenclatura em periacuteodos ou estaacutegios onomaacutesticos ndash senatildeo de toda ela pelo

menos em alguns nomes ndash que talvez reflitam momentos distintivos do pensar

da eacutepoca analisada (DICK 1996 p 15-16)

O leacutexico toponiacutemico eacute carregado de marcas de expressatildeo histoacuterica social cultural

poliacutetica e religiosa de dada comunidade e eacute representativo para o nomeador e seu grupo Desta

forma se determinado local ou coisa passou por vaacuterias nomeaccedilotildees no decorrer dos tempos isso

justifica que cada nomeador observou novas caracteriacutesticas que classificavam ou referenciavam

o topocircnimo de forma precisa e motivada

De acordo com Dick (1990) as vaacuterias facetas significativas que datildeo realce ao nome do

lugar e as inuacutemeras informaccedilotildees que podem ser elencadas dele tornariam no material de um

grande armazenamento de dados e fatos culturais em larga extensatildeo Assim observamos em

Andrade (2010 p 103) que

Os estudos toponiacutemicos dentro do alcance pluridisciplinar de seu objeto de

estudo constituem um caminho possiacutevel para o conhecimento do modus

vivendi das comunidades linguiacutesticas que ocupam ou ocuparam um

determinado espaccedilo Quando um indiviacuteduo ou comunidade linguiacutestica atribui

um nome a um acidente humano ou fiacutesico revelam-se aiacute tendecircncias sociais

poliacuteticas religiosas culturais (Grifos da autora)

Satildeo nessas caracteriacutesticas em que reside a motivaccedilatildeo do topocircnimo e por meio delas nos

satildeo reveladas a histoacuteria e cultura de uma dada comunidade por isso vemos o quanto os estudos

toponiacutemicos satildeo de extrema relevacircncia natildeo soacute para a aacuterea dos estudos da

linguagemlinguiacutesticos mas tambeacutem para as outras aacutereas do conhecimento jaacute que o topocircnimo

eacute plurissignificativo tendo assim um alcance pluridisciplinar

87

Posto isto pode-se evidenciar os estudos toponiacutemicos como um eixo norteador para se

verificar as relaccedilotildees soacutecio-histoacuterico-culturais de um povo jaacute que o topocircnimo estaacute intimamente

vinculado agrave cultura de um povo uma naccedilatildeo e portanto agrave sua histoacuteria Assim tomaremos por

anaacutelise os graacuteficos que se seguem e as taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua

do municiacutepio de Pires do Rio-GO

42 As taxionomias presentes nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO

Nesta pesquisa os 15 topocircnimos analisados baseados na classificaccedilatildeo enquadram-se

na divisatildeo das naturezas fiacutesica e antropocultural Em alguns topocircnimos eacute possiacutevel ainda

evidenciar mais de uma categoria classificatoacuteria por exemplo o coacuterrego da Terra Vermelha

que se classifica como litotopocircnimo e cromotopocircnimo

Nos graacuteficos abaixo apresentamos e analisamos em base qualiquantitivas as naturezas

das taxionomias fiacutesicas e antropoculturais e a origemetimologia dos topocircnimos estratos

linguiacutesticos

Grafico1 Natureza das Taxionomias

As taxionomias nos permitiram analisar e interpretar os designativos de lugares com

maior precisatildeo e seguranccedila do ponto de vista semacircntico sendo estudados enquanto formas de

liacutengua e de acordo com a causa de seu emprego O produto resultante aqui no nosso caso os

88

topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO ganham vida proacutepria passando

a ter caraacuteter motivado e natildeo apenas arbitraacuterio

As taxes encontradas nos topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO que tiveram maior proporccedilatildeo foram as de natureza fiacutesica assim o nomeador caracterizou

os fatores fiacutesicos do ambiente ou que chamaram sua atenccedilatildeo Desta forma as nomeaccedilotildees satildeo

motivadas e estabelecem relaccedilotildees com o nomeador e o lugar nomeado

421 As taxionomias de natureza fiacutesica presentes nos topocircnimos

Os principais topocircnimos analisados neste trabalho confirmaram uma tendecircncia da

toponiacutemia brasileira em geral ou seja a predominacircncia de topocircnimos classificados de acordo

com as taxionomias de natureza fiacutesica uma vez que na nomenclatura onomaacutestica dos

elementos fiacutesicos da regiatildeo analisada haacute um percentual de 67 (10 topocircnimos) que satildeo

classificados como taxes de natureza fiacutesica e 33 (05 topocircnimos) que se enquadram nas taxes

de natureza antropocultural

Graacutefico 2 Taxionomias de Natureza Fiacutesica

O graacutefico apresentado nos revelam que a incidecircncia em sua maioria das taxionomias

de natureza fiacutesica evidencia a influecircncia do ambiente fiacutesico no ato de nomeaccedilatildeo percebe-se

entatildeo que no ato do batismo os povos recorreram a elementos e caracteriacutesticas circundantes

aos lugares nomeados demonstrando que o meio ambiente exerce grande influecircncia no homem

no ato de nomear os lugares

0

05

1

15

2

25

3

Taxionomias de Natureza Fiacutesica

89

Ao atribuir topocircnimos agraves taxionomias de natureza fiacutesica eacute possiacutevel comprovar a forccedila

de elementos fiacutesicos como motivadores no ato de nomear os lugares O que eacute observaacutevel no

graacutefico II os topocircnimos com maior incidecircncia nos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO sendo eles fitotopocircnimos hidrotopocircnimos litotopocircnimos litotopocircnimos e

cromotopocircnimos litotopocircnimos e fitotopocircnimos meteorotopocircnimos e zootopocircnimos que no

decorrer desse trabalho seratildeo analisados

4211 Fitotopocircnimos

De acordo com o observado a taxionomia de origem fitotoponiacutemica (originada de

nomes de vegetais) atingiu em segundo lugar o maior nuacutemero de frequecircncia dentre os

topocircnimos de natureza fiacutesica 20 (02 topocircnimos) satildeo eles coacuterrego Laranjal e ribeiratildeo

Taquaral Eacute observaacutevel que a flora foi uma das grandes motivaccedilotildees para os designativos dos

cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO E segundo Dick (1990 p 146)

O importante talvez seria natildeo perder de vista que a vegetaccedilatildeo eacute parte

integrante de um conjunto natural em que o relevo constituiccedilatildeo do solo

acidentes geograacuteficos regimes climaacuteticos compotildeem um verdadeiro

biossistema imprescindiacutevel ao homem e agrave qualidade de vida que nele pretenda

instalar ou pelo menos usufruir

Eacute nessas relaccedilotildees de importacircncia para o homem que podemos compreender a nomeaccedilatildeo

destes elementos fiacutesicos fazendo referecircncia a aspectos que chamaram a sua atenccedilatildeo e

motivaram a nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua Isso se revela pelo caraacuteter de necessidade agrave vida

humana tanto do nome como do que por ele foi nomeado essa relaccedilatildeo nomeador-objeto-nome

eacute que ressalta a importacircncia da vegetaccedilatildeo no meio social local do vivente Assim tambeacutem

justifica Pereira (2009 p 143) que ldquopossivelmente seja esse o motivo de o

denominadorenunciador registrar as caracteriacutesticas locais de uma regiatildeo na nomeaccedilatildeo dos

acidentes geograacuteficos por meio do topocircnimordquo

Ao trazer as fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas eacute perceptiacutevel a motivaccedilatildeo que subjaz

cada topocircnimo como observamos abaixo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 02

Topocircnimo Coacuterrego Laranjal Localizaccedilatildeo Pires do Rio

90

Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia la-ran-jal Sm plantaccedilatildeo ou pomar de laranjas (p827)

Laranja sf lsquofruto da laranjeira planta da fam das rutaacuteceasrsquo XIV Do aacuter nāranğa deriv do

persa nāranğ laranjAL -gal XVI (p382)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino laranja- + -al sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Coacuterrego afluente da margem direita do ribeiratildeo Bauacute (M de

Pires do Rio)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 03

Topocircnimo Ribeiratildeo Taquaral Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ta-qua-ral Sm 1 plantaccedilatildeo de taquara tabocal 2 terreno onde crescem

taquaras (p1337)

Taquara sf lsquoplanta da fam das gramiacuteneas taboca bambursquo 1627 tacoara c 1584 etc

tacoaacutera 1817 Do tupi takṷara taquarAL 1783 (p623)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino taquara- + -al sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ao observar as informaccedilotildees trazidas nas fichas apresentadas dos fitotopocircnimos

possivelmente as motivaccedilotildees que influenciaram o nomeador satildeo perspicazes as referecircncias

locais que de acordo com cada topocircnimo relacionamos i coacuterrego Laranjal evidentemente em

sua localidade apresentava no momento de nomeaccedilatildeo a plantaccedilatildeo de laranjas e tambeacutem o

coacuterrego favorecia a essas plantaccedilotildees ii ribeiratildeo Taquaral assim como analisado o topocircnimo

91

anterior o que tenha influenciado ao nomeador deve estar relacionado com o a quantidade de

taquaras na regiatildeo em se encontra o determinado ribeiratildeo

A ocorrecircncia dos topocircnimos de iacutendole vegetal ora pesquisados pode ter a sua

justificativa pela relevacircncia que as plantas tecircm junto a vida humana bem como necessaacuterias para

a conservaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua e suas nascentes assim justificamos a tendecircncia de valoraccedilatildeo

do vegetal no processo de batismo dos elementos fiacutesicos

4212 Hidrotopocircnimos

O topocircnimo de equivalecircncia hidroniacutemica (originado de acidentes hidrograacuteficos) aparece

no em ribeiratildeo Cachoeira Sabe-se que a aacutegua eacute de fundamental importacircncia para a vida

humana por isso a tendecircncia de o nomeador no ato de batismo do topocircnimo valer-se do nome

relacionado ao elemento aacutegua para designar o lugar

E de acordo com Dick (1990 p 196) ldquoO aparecimento de topocircnimos nos mais

diferentes ambientes revestindo uma natureza hidroniacutemica propriamente dita vincula-se agrave

importacircncia dos cursos drsquoaacutegua para as condiccedilotildees humanas de vidardquo Possivelmente o nomeador

a considera o elemento aacutegua vital para a sua existecircncia ainda sabemos que os cursos drsquoaacutegua

em muitas ocasiotildees servem de caminhos para comeacutercio como tambeacutem foi por meio deles que

se configuraram na histoacuteria do Brasil o achamento e a colonizaccedilatildeo do paiacutes pelos portugueses

Nas ficha abaixo trazemos informaccedilotildees relevantes para anaacutelise dos topocircnimos de origem

hidrograacutefica

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 04

Topocircnimo Ribeiratildeo Cachoeira Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Hidrotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ca-cho-ei-ra Sf 1queda drsquoaacutegua em rio ou ribeiratildeo cujo leito apresenta

forte declive cascata 2 trecho de rio onde as aacuteguas correm raacutepido devido agrave inclinaccedilatildeo do

terreno corredeira (p213)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba (M

de Campo Formoso)

Referecircncias Borba (2004) IBGE (1957)

92

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Por mais que apenas 10 (01) dos topocircnimos de natureza fiacutesica tenham referecircncia agrave

iacutendole hidroniacutemica a regiatildeo de Pires do Rio-GO tem seus limites poliacutetico e fiacutesico (geograacuteficos)

feita por rios sem mencionar a grande importacircncia que esses cursos exercem nas atividades da

regiatildeo

Ainda observamos em Dick (1990 p 197) que

Agraves vezes poreacutem rompe-se o equiliacutebrio que ela [a aacutegua] representa em

qualquer meio desprendendo-se de suas possibilidades de aproximar culturas

distintas e assumindo papel um tanto oposto ao se transformar em ldquoobstaacuteculordquo

agrave difusatildeo dos interesses coletivos Circunscrevendo o homem em seu proacuteprio

espaccedilo quando o transcurso se torna difiacutecil impede os contatos entre grupos

vizinhos Se o isolamento por um lado tende a manter tanto quanto possiacutevel

inalterados os valores comuns preservando por isso a tradiccedilatildeo socioloacutegica

do homem ao retardar a dinacircmica da comunidade em favor de uma estaacutetica

desestimulante e viciosa

A par desta citaccedilatildeo observamos que foi o que aconteceu a cidade de Pires do Rio-GO

a partir do rio Corumbaacute o principal para o municiacutepio que ateacute a deacutecada de 1920 era isolado dos

demais municiacutepios por falta de uma ponte que estabelecesse tal ligaccedilatildeo Com a vinda da Estrada

de Ferro Goyaz e a construccedilatildeo da ponte Epitaacutecio Pessoa surgem as primeiras casas e a

efetivaccedilatildeo do municiacutepio bem como a ligaccedilatildeo com as principais cidades da regiatildeo e as relaccedilotildees

econocircmicas e poliacuteticas que auxiliaram no crescimento do municiacutepio e da regiatildeo

Observamos ainda no contexto do municiacutepio de Pires do Rio-GO que a aacutegua em suas

potencialidades eacute de grande relevacircncia e meio de sobrevivecircncia para a vida humana pois

Na parte sul encontra-se o rio Corumbaacute que eacute maior curso drsquoaacutegua do

municiacutepio Nele eacute feito a extraccedilatildeo de areia para construccedilatildeo civil suas ilhas

servem de pontos de recreaccedilatildeo para vaacuterios moradores e as suas margens satildeo

praticamente ocupadas pelas pequenas propriedades (DIAS 2008 p 84)

Posto isso no efetivar do topocircnimo a partir da importacircncia da aacutegua o nomeador

diferencia o elemento geograacutefico dos demais auxiliando na orientaccedilatildeo do homem no espaccedilo

que o cerca proporcionando subsiacutedios para um melhor (re)conhecimento do local Assim

hipoteticamente acreditamos que o topocircnimo ndash ribeiratildeo Cachoeira ndash no contexto estudado

93

pode ter a sua motivaccedilatildeo pelo proacuteprio ambiente fiacutesico uma vez recupera caracteriacutesticas

hidroniacutemicas do lugar

4213 Litotopocircnimos

Notando-se as relaccedilotildees dos topocircnimos de origem mineral os litotopocircnimos coacuterrego

Barreiro representam o percentual de 10 (01 topocircnimo) dos analisados Cabe mencionar que

os minerais foram um dos principais atrativos dos colonizadores portugueses nas terras

brasileiras E de acordo com Dick (1990) os topocircnimos de origem mineral estatildeo relacionados

tanto a caracteriacutesticas do solo quanto do terreno e assim estabelecem duas relaccedilotildees fiacutesicas que

estatildeo ligadas agraves regiotildees da terra neste caso satildeo areia barro lama pedra terra E outro fator

satildeo os histoacutericos que podem ser evidenciados no processo de colonizaccedilatildeo do Brasil por meio

das relaccedilotildees entre solo flora e relevo que satildeo responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de uma nova

sociedade

O litotopocircnimo apresentado abaixo por meio de descriccedilatildeo e anaacutelise revela a influecircncia

do local sobre o ato de nomear

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 05

Topocircnimo Coacuterrego Barreiro Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia bar-rei-ro Sm terra alagada lamaccedilal (p164)

Barreira -eirar -eiro ejar rarr BARRO

Barro sm lsquotipo de argilarsquo lsquosubstacircncia utilizada no assentamento da alvenaria de tijolo em

obras provisoacuterias obtida pela mistura de argila com aacuteguarsquo XIV De origem preacute-romana

Relaciona-se neste verbete uma seacuterie de vocaacutebulos etimologicamente correlacionados com

o radical barr- de origem preacute-romana barrEIRA sf lsquoargileirarsquo lsquoparapeitorsquo 1500 barrEIRmiddotAR

bareyrar XV barrEIRO XVIII (p82)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino barro- + ndasheiro sufixo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

94

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Observando Sapir (1969) podemos trazer a reflexatildeo acerca da relaccedilatildeo entre liacutengua e

ambiente que vale a compreensatildeo dos fatores fiacutesicos neste caso os aspectos geograacuteficos

incluindo aleacutem dos elementos fauna e flora os recursos minerais Assim o litotopocircnimo

coacuterrego Barreiro estabelece relaccedilotildees com o local quando foi nomeado ainda compreende-se

que a localidade era de lamaccedilalbarro um dos motivadores por determinado coacuterrego ser

batizado com o referido topocircnimo

Assim como observado em Dick (1990 p 125) os referidos topocircnimos de origem

mineral se referem ao primeiro caso que eacute o de ldquoiacutendole geneacutericardquo aspectos fiacutesicos e especiacuteficos

agraves regiotildees da terra revelando assim caracteriacutesticas minerais da regiatildeo em que estaacute localizado

determinado coacuterrego

4214 Litotopocircnimos e Cromotopocircnimos

No conjunto dos topocircnimos analisados em um percentual de 10 (01 topocircnimo) do

total encontramos um topocircnimo de estrutura composta mas natildeo hiacutebrido pois eacute formado por

duas palavras de origem latina a saber coacuterrego da Terra Vermelha litotopocircnimo (origem de

nomes de minerais e de nomes relativos agrave constituiccedilatildeo do solo) e cromotopocircnimo (relativo agrave

escala cromaacutetica) E que de acordo com Isquerdo e Seabra (2010 p 91) ldquo[] a motivaccedilatildeo dos

hidrotopocircnimos de estrutura composta normalmente valoriza mais de uma caracteriacutestica do

meio ambiente como foco denominativordquo O mesmo se estabelece com o topocircnimo ora

analisado como descreve na ficha abaixo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 06

Topocircnimo Coacuterrego da Terra Vermelha Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo e

Cromotopocircnimo

Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia ter-ra Sf i elemento da superfiacutecie terrestre que misturado com aacutegua

transforma-se em barro ii parte soacutelida da superfiacutecie terrestre chatildeo firme (p1351)

Terra sf lsquoterritoacuterio regiatildeorsquo lsquosolo chatildeorsquo XIII Do lat tĕrra (p631)

95

Vermelho adj lsquoda cor do sanguersquo XIII Do lat vĕrmῐcŭlus (p674)

Estrutura morfoloacutegica Nome Composto (Substantivo Feminino + Adjetivo)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Segundo Dias (2008 p 119-122) na maior parte da regiatildeo do municiacutepio de Pires do

Rio-GO o solo eacute ldquoLatossolos Vermelhosrdquo ou ldquoLatossolos Vermelho Amareladordquo assim

hipoteticamente uma das motivaccedilotildees fundamentais para a denominaccedilatildeo do topocircnimo estaacute

ligado a caracteriacutesticas do local o que influenciou o denominador a fazer referecircncia agrave Terra

juntamente com a cor vermelha

E ainda Dias (2008 p 117) justifica que ldquoas caracteriacutesticas da vegetaccedilatildeo natural

muitas das vezes tecircm como fator determinante o tipo de solo porque eacute dele que elas retiram a

maioria dos elementos que precisam para sua nutriccedilatildeordquo Nesta regiatildeo tem a predominacircncia da

agricultura e agropecuaacuteria influecircncias do solo que contribui para tais praacuteticas

Contudo o batismo do coacuterrego com o topocircnimo Terra Vermelha traz em sua motivaccedilatildeo

as caracteriacutesticas que satildeo observadas na localidade e que de certa forma influenciaram o

nomeador Aleacutem do coacuterrego uma regiatildeo rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tambeacutem eacute

conhecida pelo referido nome

4215 Litotopocircnimos e Fitotopocircnimos

O topocircnimo coacuterrego Itauacutebi eacute um nome composto litotopocircnimo (de origem mineral) e

fitotopocircnimo (de origem vegetal) e representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos

analisados Sua estrutura morfoloacutegica segundo Dick (1992) eacute um topocircnimo composto formado

por ita- (pedra) + -ubi (palmeira) ambos de origem tupi na formaccedilatildeo de palavras se constitui

em uma composiccedilatildeo por justaposiccedilatildeo E hipoteticamente a regiatildeo em que se encontra o

coacuterrego eacute de um terreno pedregulho ou pode ser que o proacuteprio coacuterrego tenha em sua calda um

acuacutemulo maior de pedras que o normal E consequentemente uma regiatildeo em que a vegetaccedilatildeo

tenha ou lembre uma localidade com plantaccedilotildees de palmeiras

96

Assim a ficha lexicograacutefica-toponiacutemia abaixo nos auxiliou na descriccedilatildeo e anaacutelise do

topocircnimo coacuterrego Itauacutebi aclarando para um efetiva interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo do corpus desta

pesquisa

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 07

Topocircnimo Coacuterrego Itauacutebi Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Litotopocircnimo e Fitotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia Ita ndash pedra eacute o termo mais comum nos topocircnimos brasileiros algumas

vezes aparece sem o i inicial Ta-nhenga (ilha do Rio de Janeiro) Ta-ratatilde (localidade da

Bahia) (p 174)

Ubi ndash nome comum a vaacuterias palmeias dos gecircneros Genoma Bactris e Calyptrogyne (p 190)

Estrutura morfoloacutegica Nome composto (ita- substantivo feminino + -ubi substantivo

feminino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Tibiriccedila (1985)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Segundo Dias (2008) o coacuterrego Itauacutebi eacute um dos afluentes do ribeiratildeo Marataacute e tambeacutem

um dos coacuterregos que abaste ao municiacutepio de Pires do Rio-GO juntamente com o coacuterrego

Laranjal Assim eacute possiacutevel notar a importacircncia deste curso drsquoaacutegua para o municiacutepio e a sua

relevacircncia em anaacutelise para a nossa pesquisa

4216 Meteorotopocircnimos

A meteorotoponiacutemia refere-se a topocircnimos relativos a fenocircmenos atmosfeacutericos e no

contexto pesquisado representa um percentual de 10 (01) dos topocircnimos analisados sendo

ribeiratildeo Brumado que proveacutem do termo latino bruma lsquoinvernorsquo especificando como nevoeiro

neblina e cerraccedilatildeo (CUNHA 2010) Dados esses especificados abaixo na ficha lexicograacutefica-

toponiacutemica que nos auxiliou na interpretaccedilatildeo e anaacutelise do topocircnimo

97

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 08

Topocircnimo Ribeiratildeo Brumado Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Meteorotopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia Bruma bru-ma Sf nevoeiro neblina cerraccedilatildeo (p203)

Bruma sf lsquonevoeiro neblina cerraccedilatildeorsquo XVI Do lat bruma lsquoinvernorsquo (p103)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Feminino bruma- + sufixo ndashado)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem esquerda do rio dos Peixes (M

de Pires do Rio)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ao observarmos em Sapir (1969) em que o leacutexico de uma liacutengua reflete claramente o

ambiente fiacutesico e social do falantes provavelmente o que influenciou o nomeador em recorrer

ao batismo do topocircnimo Brumado em determinado ribeiratildeo pode ter sido devido a ocorrer na

localidade neblinanevoeiro na estaccedilatildeo do ano inverno jaacute que a proacutepria raiz da palavra bruma

faz referecircncia ao ldquoinvernordquo

Nas leituras realizadas em alguns pesquisadores da aacuterea da toponiacutemia como Almeida

(2012) Carvalhinhos (2002 2003) Dick (1990 1992 1996 1999 2000 2001 2004 2006)

Isquerdo e Seabra (2010) Pereira (2009) Siqueira (2012 2015) natildeo foi recorrente

encontrarmos algum meteorotopocircnimo analisado ou que nos desse qualquer sustentaccedilatildeo ou

informaccedilotildees para proceder com algum confrontamento de dados mediante a isso

subentendemos que os topocircnimos de iacutendole dos fenocircmenos atmosfeacutericos natildeo tenham uma certa

frequecircncia como os demais

4217 Zootopocircnimos

Nas denominaccedilotildees de iacutendole animal zootopocircnimos no estudo corrente referem ao

percentual de 30 (03 topocircnimos) dos extratos pesquisados ndash rio Corumbaacute rio do Peixe e rio

Piracanjuba Precisamente em dois topocircnimos o fator motivador foi o animal peixe que

possivelmente influenciou o nomeador A saber que a caccedila e pesca era o meio de sobrevivecircncia

98

da comunidade primitiva desta forma possivelmente a comunidade que habitava nos referidos

locais tambeacutem foi influenciada por essas razotildees e daiacute batizando ambos os rios com os referidos

topocircnimos

Ao observamos os topocircnimos de iacutendole animal aqui presentes vamos contrapor ao que

Dauzat (1922 apud DICK 1990) constatou ter uma menor frequecircncia dos zootopocircnimos em

relaccedilatildeo a outras categorias na toponiacutemia francesa bem como agrave perspectiva de Backheuser

(1952 apud DICK 1990) de que na toponiacutemia brasileira os nomes de animais satildeo menos

recorrentes

As relaccedilotildees de denominaccedilatildeo toponiacutemica de uma dada regiatildeo pode ser diferente de outra

de acordo com isso as relaccedilotildees de motivaccedilotildees estatildeo estritamente ligadas ao nomeador pois

cada qual atribui a caracteriacutesticas inerentes ao local a que faz referecircncia Assim as fichas

lexicograacuteficas-toponiacutemicas abaixo evidenciam em suas descriccedilotildees e nos auxiliam a proceder

com a anaacutelise toponiacutemica dos designativos bem como a quantificar que os zootopocircnimos foram

os de maior frequecircncia em nossas anaacutelises

Nordm de ordem 09

Topocircnimo Rio Corumbaacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia cid Mato Grosso do Sul de corumbaacute caacutegado (p44) Origem Tupi

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio nasce nos arredores de Pirineus atravessa o municiacutepio

como o de Santa Luzia depois de servir em pequeno trecho de divisa a Bonfim Adiante

separa Ipameri e Corumbaiacuteba de um lado e Campo Formoso Pires do Rio Caldas Novas

Buriti Alegre do outro ateacute desaguar no rio Paranaiacuteba pela margem direita (M de Corumbaacute)

Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 10

Topocircnimo Rio do Peixe Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

99

OrigemEtimologia pei-xe Sm (Zool) 1 espeacutecime de classe animal vertebrado que nasce e

vive na aacutegua respira por guelras e se locomove por meio de barbatanas (p1048)

sm lsquo(Zool) animal cordado gnastomado aquaacutetico com nadadeiras com pele geralmente

coberta de escamas que respira por bracircnquiasrsquo XIII Do lat piscis -is peixADA XX

peixARIA XX peixeiro peyxero XIII Cp pescar piscatoacuterio (p485)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Rio (do) nasce na regiatildeo sul-oriental do municiacutepio que separa

os de Campo Formoso e Pires do Rio entre cujo territoacuterio e o de Caldas Novas desemboca

no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bonfim)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) (IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 11

Topocircnimo Rio Piracanjuba Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Zootopocircnimo Natureza Fiacutesica

OrigemEtimologia cid de Goiaacutes de piracanjuba uma var de peixe de rio etim piraacute-

acatilde-juba peixe de cabeccedila amarela (p97) Origem Tupi

piraacute sm lsquodesignaccedilatildeo geneacuterica de peixe em tupirsquo piracanjuva sf lsquoespeacutecie de douradorsquo 1792

Do tupi pirakaᶇlsquoḭuṷa (p498)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas (Piracanjuba ou Paracanjuba) ndash Rio nasce na serra de Passa

Quatro e atravessa o municiacutepio bem como o de Pouso Alto Adiante separa Caldas Novas de

Morrinhos e Buriti Alegre ateacute desaguar no rio Corumbaacute pela margem direita (M de Bela

Vista)

Referecircncias Tibiriccedilaacute (1985) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

100

Segundo Dias (2008) o rio Corumbaacute eacute o maior curso drsquoaacutegua do municiacutepio dele se extrai

areia para a construccedilatildeo civil e suas ilhas e margens servem para abrigar pequenas propriedades

inclusive para a recreaccedilatildeo e turismo O rio do Peixe eacute um dos trecircs maiores cursos drsquoaacutegua e

fronteiriccedilo na regiatildeo sul entre Pires do Rio Cristianoacutepolis Vianoacutepolis e Satildeo Miguel do Passa

Quatro tem como principal afluente o ribeiratildeo Brumado e tambeacutem eacute o principal afluente do

rio Corumbaacute O rio Piracanjuba tambeacutem estaacute entre os principais do municiacutepio na regiatildeo norte

faz fronteira entre Pires do Rio Orizona Urutaiacute e Ipameri sua principal relevacircncia foi na

deacutecada de 1950 por aiacute ter funcionado uma usina hidreleacutetrica que abastecia o municiacutepio de Pires

do Rio-GO

A anaacutelise zootoponiacutemica na localidade pesquisada evidenciou a valorizaccedilatildeo da fauna

local pois ao utilizar o nome de animais recuperou-os para nomear lugares como os rios

Observamos que os nomes de animais que estabelecem a sua origem nas liacutengua tupi

(Piracanjuba e Corumbaacute) e latina (Peixe) motivaram a nomeaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e

de alguma forma estatildeo vinculados agrave vida do nomeador estabelecendo assim relaccedilotildees

extralinguiacutesticas com os topocircnimos pesquisados E segundo Theodoro Sampaio (1914 apud

DICK 1990) dificilmente o nome do animal estaria desvinculado de sua existecircncia na

localidade

Os elementos de natureza fiacutesica mais evidentes na motivaccedilatildeo que subjazem aos

topocircnimos ora analisados foram os de origem vegetal mineral e animal (peixe) Percebemos

assim que o nomeador teve influecircncia das caracteriacutesticas do local para designar o referido

topocircnimo A partir desta anaacutelise nos eacute pertinente ao proacuteximo subtoacutepico proceder com as

anaacutelises das taxionomias de natureza antropocultural

422 As taxionomias de natureza antropocultural presentes nos topocircnimos

Os topocircnimos de natureza antropocultural representam 33 (05 topocircnimos) do corpus

analisado destacando-se os antropotopocircnimos ergotopocircnimos etnotopocircnimos e

sociotopocircnimos O nomeador obteve suas motivaccedilotildees de iacutendole antropocultural fazendo

homenagem a pessoas importantes da cidade recuperando elementos da cultura material do

povo revelando elementos eacutetnicos isolados ou natildeo e por fim referenciando a atividades

profissionais ou pontos de encontro de pessoas da comunidade Assim identificando a

influecircncia do homem no meio em que se encontra

101

Graacutefico 3 ndash Taxionomias de Natureza Antropocultural

O graacutefico 3 nos traz em sua amplitude os topocircnimos de origem antropocultural e a partir

dele eacute que procederemos com as anaacutelises no decorrer do texto observando as regecircncias e

distintas influecircncias do nomeador no ato do batismo

4221 Antropotopocircnimos

Dentre os topocircnimos relativos aos nomes proacuteprios individuais em nossa pesquisa foi

encontrado apenas o ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo correspondendo ao percentual de

20 (01) dos topocircnimos de natureza antropocultural analisados Na toponiacutemia brasileira eacute

recorrente encontrarmos antropotopocircnimos especialmente lugares como cidades praccedilas ruas

e outros acabam recebendo nomes proacuteprios em homenagem a algueacutem A ficha lexicograacutefica-

toponiacutemica 12 em sua amplitude nos auxilia a perceber a influecircncia do antrotopocircnimo

analisado pois refere-se a uma figura puacuteblica da comunidade piresina

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 12

Topocircnimo Ribeiratildeo Sampaio Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Antropotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia sm ldquomarinhordquo Sampaio eacute um sobrenome presente na onomaacutestica

portuguesa atraveacutes de raiacutezes tipicamente toponiacutemicas devido ao nome de uma vila localizada

0

02

04

06

08

1

12

14

16

18

2

ANTROPOTOPOcircNIMO ERGOTOPOcircNIMO ETNOTOPOcircNIMOS SOCIOTOPOcircNIMO

Taxionomias de Natureza Antropocultural

102

em Traacutes-os-Montes em Portugal e que teria sido adotado como sobrenome pelos senhores

deste local Alguns etimologistas acreditam que o nome Sampaio tenha surgido a partir do

latim Sanctus Pelagius (traduzido como ldquosanto marinhordquo) que significa Santo Pelagius e

com o passar do tempo tenha sofrido alteraccedilotildees na grafia passando para Sam Peaio Satildeo

Payo e por fim Sampaio Origem hebraica

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Proacuteprio ndash sobrenome)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Sampaio ou Corrente ndash ribeiratildeo afluente da margem direita

do rio Corumbaacute (M de Pires do Rio)

Referecircncias Dicionaacuterio online de Nomes Proacuteprios (sd) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Este antropotopocircnimo foi o norteador motivacional para esta pesquisa pois o ribeiratildeo

Sampaio em um de seus limites por boa parte da populaccedilatildeo (inclusive eu) eacute conhecido como

Pedro Teixeira (que na verdade eacute o nome da ponte que estaacute sobre o ribeiratildeo) soacute tempos depois

conheci o seu verdadeiro nome

E Dick (1990 p 286) assegura que

Os aspectos semacircnticos que podem ser encontrados nos nomes de pessoas

ligam-se portanto ao papel que exercem de verdadeiras manifestaccedilotildees

culturais dos povos e onde transparecem os mais diversos motivos

determinantes de sua escolha Talvez a proacutepria maneira pela qual se concebia

o nome em eacutepocas remotas como uma substacircncia revestida de poderes

miacutesticos seja a responsaacutevel pela variedade das motivaccedilotildees em uma ou em

outras sociedades

Os aspectos motivacionais para o topocircnimo em estudo eacute uma homenagem ao coronel

Lino Teixeira de Sampaio neste caso de acordo com Cabral (2007) eacute um patroniacutemico

sobrenome e faz referecircncia ao doador das terras em que fundou-se a cidade de Pires do Rio-

GO Segundo Crystal (2012) muitas satildeo as razotildees para designar o nome de lugares ou

homenagem ou ateacute mesmo por caracteriacutesticas geograacuteficas inerentes ao local Em alguns casos

os nomes satildeo opacos pois natildeo apresentam nenhuma relaccedilatildeo com o referente nesta situaccedilatildeo haacute

de se fazer uma busca histoacuterica para chegar as relaccedilotildees motivacionais que natildeo eacute o nosso caso

Observando em estudos acerca dos topocircnimos de iacutendole de nomes proacuteprios individuais

constatamos que

103

Nomes proacuteprios de pessoas satildeo obscurecidos em seu conteuacutedo leacutexico-

semacircntico pela opacidade do proacuteprio signo que os conforma distanciados na

maioria das ocorrecircncias do foco original Integram o inventaacuterio mais fechado

da linguagem cuja origem remonta no Brasil aos primeiros nomes de

famiacutelias portuguesas para aqui imigradas (DICK 2001 p 83)

Assim foi possiacutevel observar que o patroniacutemico Sampaio ratifica a citaccedilatildeo de Dick

(2001) pois ele estaacute presente na onomaacutestica portuguesa evidenciado nas raiacutezes tipicamente

toponiacutemicas relacionado ao nome de uma vila localizada em Traacutes-os-Montes em Portugal que

supostamente teria sido adotado como sobrenome pelos senhores deste local (DICIONAacuteRIO

DE NOMES PROacutePRIOS sd)

A importacircncia desse referido ribeiratildeo para o municiacutepio de Pires do Rio-GO justifica-se

desde a sua nomeaccedilatildeo pela razatildeo de sua nascente ser em terras que eram de propriedade do

coronel Lino Teixeira de Sampaio e tambeacutem pelo motivo de

O ribeiratildeo Sampaio eacute utilizado como um dos limiacutetrofes das aacutereas urbana e

rural tambeacutem depositaacuterio da Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE)

consequentemente recebendo a aacutegua do esgoto depois de feito seu devido

tratamento Neste ribeiratildeo encontram-se os menores pontos altimeacutetricos da

aacuterea urbana o que favoreceu a construccedilatildeo da ETE (DIAS 2008 p 84)

Neste contexto eacute evidente que a motivaccedilatildeo para o topocircnimo Sampaio eacute uma

homenagem a uma pessoa que tem uma importacircncia para o local a cidade de Pires do Rio-GO

E assim podemos evidenciar que o ato de nomear aqui institui as relaccedilotildees de poder

possivelmente a de coacuterrego do senhor coronel Lino Teixeira de Sampaio estabelecendo as

relaccedilotildees de poder que o proacuteprio coronel mantinha sobre o local a cidade

4222 Ergotopocircnimos

Os topocircnimos referente a elementos da cultura material ergotopocircnimos nas anaacutelises

desta pesquisa tiveram um percentual de 20 (01) dos topocircnimos analisados ribeiratildeo Bauacute

assim observamos que o denominador foi motivado pelas relaccedilotildees da cultura material que o

cerca Jaacute observado em Sapir (1969) pois no leacutexico toponiacutemico reflete o ambiente social do

falante assim o topocircnimo no qual o objeto bauacute eacute de origem da cultura material e de uso

humano possivelmente as caracteriacutesticas do objeto como fundura largura e formato do bauacute

foram vitais para a nomeaccedilatildeo do ribeiratildeo

104

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 13

Topocircnimo Ribeiratildeo Bauacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Ergotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia ba-uacute (fr) Sm (Co) 1 mala de madeira recoberta de couro com tampa

conversa 2 moacutevel em forma de caixa de folha ou madeira onde se guardam roupas e demais

objetos (p169)

sm lsquotipo de caixa ou mala com tampa convexa na parte externarsquo baul XVI bau XVII bahu

Do ant baul deriv do a fr bahur (hoje bahut) de origem obscura (p84) 1805

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Piracanjuba na

divisa do municiacutepio de Pires do Rio (M de Campo Formoso)

Referecircncias Borba (2004) Cunha (2010) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Desta forma ldquoa lsquoescolharsquo do nome se daacute segundo um agenciamento enunciativo

especiacutefico este acontecimento de nomear recorta como memoraacuteveis os nomes disponiacuteveis

como contemporacircneos proacuteprios de sua eacutepocardquo (GUIMARAtildeES 2005 p 36-37) Eacute necessaacuterio

observar na citaccedilatildeo de Guimaratildees (2005) que no ato do batismo o nomeador faz referecircncia ao

contemporacircneo ou proacuteprio de sua eacutepoca no caso de uso do termo bauacute configura-se como essa

afirmaccedilatildeo eacute relativa a algo realmente usado em determinada eacutepoca

Eacute evidente que o topocircnimo apresentou como fonte motivacional a relaccedilatildeo existente entre

a cultura material e seu nomeador ou seja uma motivaccedilatildeo toponiacutemica de ordem

antropocultural assim essas designaccedilotildees que recuperam elementos da cultura material do

povo da localidade identifica a influecircncia do homem no meio em que se vive

4223 Etnotopocircnimos

Uma das taxionomias de natureza antropocultural de maior ocorrecircncia nesta pesquisa

com o percentual de 40 (02) topocircnimos dos analisados foram os etnotopocircnimos topocircnimos

105

relativos a elementos eacutetnicos isolados ou natildeo sendo o ribeiratildeo Caiapoacute e ribeiratildeo Marataacute que

no decorrer satildeo apresentados nas fichas lexicograacuteficas-toponiacutemicas

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 14

Topocircnimo Ribeiratildeo Caiapoacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia rio do E de Goiaacutes nome de uma tribo fam linguiacutestica Jecirc que habitou

a regiatildeo (p34)

cai-a-poacute (Tupi) S 1 indiviacuteduo de um povo indiacutegena de Mato Grosso Sm [Pl] 2 esse povo

(p217)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Ribeiratildeo afluente da margem direita do rio Corumbaacute (M de

Pires do Rio)

Referecircncias Tibiriccedila (1985) Borba (2004) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 15

Topocircnimo Ribeiratildeo Marataacute Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Etnotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Marata ndash sm 1 indiviacuteduo dos maratas 2 liacutengua indo-europeia do ramo

indo-iraniano sub-ramo indo-aacuterico falada no Oeste e Centro da Iacutendia esp no Estado de

Maharashtra por aprox 50 milhotildees de pessoas Eacute uma das liacutenguas oficiais da Iacutendia Sacircnsc

mahaacuteraacutestra o grande reino pelo hind marhatta id

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas afluente da margem direita do ribeiratildeo Caiapoacute (M de Pires

do Rio)

Referecircncias Houaiss (2009) IBGE (1957)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

106

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

Na justeza dos nomes podemos evidenciar que ao batizar o ribeiratildeo Caiapoacute o nomeador

se valeu de fatores antropoculturais em relaccedilatildeo aos iacutendios caiapoacutes lsquokayapoacutersquo que segundo fatos

da histoacuteria estiveram em terras goianas desta forma ao se valer do uso do topocircnimo a

motivaccedilatildeo para tal ato de batismo pode ser referente a esses povos terem influecircncias de alguma

forma sobre o nomeador no ato do batismo do topocircnimo

Jaacute o topocircnimo ribeiratildeo Marataacute traz em sua bases semacircnticas como i ldquoliacutengua indo-

europeiardquo ii ldquoindiviacuteduos dos maratasrdquo segundo Houaiss et al (2009) E possivelmente a

motivaccedilatildeo do designativo foi a influecircncia de grupos europeus que tambeacutem passaram por estas

terras jaacute que o paiacutes foi colonizado por Portugal e na formaccedilatildeo da sociedade goiano e piresina

terem a presenccedila de vaacuterias etnias inclusive europeia

Desta forma eacute evidente que os etnotopocircnimos estatildeo relacionados agrave presenccedila e influecircncia

de grupos de distintas etnias no Brasil visto que a histoacuteria local e nacional revelam a presenccedila

de vaacuterios povos na formaccedilatildeo do sociedade brasileira

4224 Sociotopocircnimos

Tomando por anaacutelise os topocircnimos relacionados agraves atividades profissionais aos locais

de trabalho e aos pontos de encontro dos membros de uma dada comunidade dentre os

sociotopocircnimos numa frequecircncia de 20 (01) dos topocircnimos analisados foi encontrado o

designativo ribeiratildeo Mucambo

Ficha lexicograacutefica-toponiacutemica

Nordm de ordem 16

Topocircnimo Ribeiratildeo Mucambo Localizaccedilatildeo Pires do Rio

Taxionomia Sociotopocircnimo Natureza Antropocultural

OrigemEtimologia Mocambo sm lsquoesconderijo refuacutegio dos negros (escravos) fugidorsquo

1535 mocano Do quimb mursquokamu lsquoescondrijorsquo Embora se documente em vaacuterios textos

quinhentistas relativos aos antigos domiacutenios portugueses na Aacutefrica foi no Brasil que o voc

Se difundiu intensamente desde o periacuteodo colonial em decorrecircncia do intenso conviacutevio dos

brancos com os negros escravos da africanos (p431)

Estrutura morfoloacutegica Nome Simples (Substantivo Masculino)

107

Informaccedilotildees enciclopeacutedicas Natildeo encontrada

Referecircncias Cunha (2010)

Data da coleta Ago2015 a Jul2016

Pesquisador Cleber Cezar da Silva

Revisor Profordf Dra Kecircnia Mara de Freitas Siqueira

O topocircnimo tem sua origem no termo mocambo que se refere a esconderijo de escravos

fugidos (CUNHA 2010) Possivelmente assim como jaacute observado nos fatores motivacionais

de outros topocircnimos a relaccedilatildeo de grupos eacutetnicos terem passado ou habitado na regiatildeo pode ter

influenciado na nomeaccedilatildeo do designativo Na regiatildeo observada viveram escravos negros que

formaram um comunidade rural desta forma podem ter influenciado o nomeador no ato do

batismo do ribeiratildeo Mucambo

A partir do sociotopocircnimo analisado observamos em Carvalhinhos (2003 p 172) que

Os atuais estudos onomaacutesticos no Brasil vecircm justamente resgatando a histoacuteria

social contida nos nomes de uma determinada regiatildeo partindo da etimologia

para reconstruir os significados e posteriormente traccedilar um panorama

motivacional da regiatildeo em questatildeo como um resgate ideoloacutegico do

denominador e preservaccedilatildeo do fundo de memoacuteria

Desta forma ao traccedilar um panorama dos topocircnimos analisados eacute elementar que o

nomeador ao longo das nomeaccedilotildees buscou em suas bases motivacionais preservar a memoacuteria

local seja nos fatores fiacutesicos e ou sociais Para configurar tais dados no proacuteximo subtoacutepico

analisaremos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados

43 As liacutenguas que deram origem aos topocircnimos

Analisar as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos estratos linguiacutesticos antes de mais

nada eacute perceber as influecircncias das etnias que povoaram o nosso paiacutes e regiatildeo Sabemos que no

iniacutecio do seacuteculo XVI quando os povos lusoacutefonos chegaram em terras brasileiras os iacutendios jaacute

as habitavam embora fossem os donos da terra tatildeo logo os portugueses se instalaram e se

fizeram os novos donos Mas no decorrer dos seacuteculos outros povos foram chegando e tambeacutem

se instalando no local daiacute retiramos a origem dos estratos linguiacutesticos dos topocircnimos analisados

nesta pesquisa

De acordo com Dick (1992 p 81)

108

a formaccedilatildeo etno-histoacuterica do Brasil acusa a existecircncia de estratos

populacionais diversos como os ameriacutendios distribuiacutedos em vaacuterios troncos e

famiacutelias Os portugueses os africanos e os de procedecircncia estrangeira jaacute em

eacutepoca posterior agrave colonizaccedilatildeo propriamente dita Essa origem heterogecircnea

deixou reflexos diferenciados na liacutengua nos usos e costumes nas tradiccedilotildees

regionais e consequentemente na toponiacutemia do paiacutes

Perceber essa heterogeneidade linguiacutestica na formaccedilatildeo dos topocircnimos eacute fundamental

visto que dos 15 topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO a sua maioria

eacute de origem indiacutegena isso revela que apesar do processo de colonizaccedilatildeo e imposiccedilatildeo da liacutengua

portuguesa a liacutengua dos nativos ainda prevaleceu ao menos na designaccedilatildeo toponiacutemica E no

graacutefico abaixo apresentamos as liacutenguas que deram origem aos topocircnimos jaacute analisados

Graacutefico 4 ndash OrigemEtimologia dos Topocircnimos

Analisar as origens dos topocircnimos eacute reconhecer segundo Dick (2006) que a Toponiacutemia

pode conviver com dois movimentos vivenciados de linguagem i) a nativa (linguagem

indiacutegena) e ii) a advena ou seja de iacutendole civilizatoacuteria pois ambas colaboraram para a

formaccedilatildeo dos brasileirismos e regionalismos mas natildeo apenas presentes na liacutengua Podemos

assim constatar em nossas anaacutelises que o vivenciado de acordo com a linguagem ldquonativardquo foi

a que teve maior frequecircncia neste estudo

Observamos no graacutefico IV a frequecircncia das liacutenguas que deram origem aos 15 topocircnimos

dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO e no que se segue procedemos com as

anaacutelises e logo apoacutes a estrutura morfoloacutegica

005

115

225

335

445

5

OrigemEtimologia dos Topocircnimos

109

O topocircnimo coacuterrego Laranjal eacute de origem Aacuterabe a influecircncia dessa liacutengua em nossa

regiatildeo nos eacute evidenciada no iniacutecio do seacuteculo XX com a fundaccedilatildeo da cidade de Pires do Rio-

GO os aacuterabes foram um dos primeiros imigrantes que aqui chegaram bem como tiveram um

destaque na aacuterea comercial possivelmente este topocircnimo tenha relaccedilotildees com esse fato No que

tange agrave frequecircncia a liacutengua Aacuterabe (esta liacutengua influenciou imensamente o leacutexico da Liacutengua

Portuguesa) corresponde a 7 (01) dos topocircnimos analisados

Ainda contatamos outras liacutenguas como a Hebraica ndash ribeiratildeo Sampaio Preacute-romana ndash

coacuterrego Barreiro Sacircnscrito ndash ribeiratildeo Marataacute e ainda de Origem Obscura ndash ribeiratildeo Bauacute

Cada uma dessas liacutenguas correspondem agrave frequecircncia de 7 (01) dos topocircnimos analisados

provavelmente as devidas nomeaccedilotildees se devem ao fato da vinda de pessoas de outros

continentes em busca de melhores condiccedilotildees de vida e assim contribuiacuterem com a formaccedilatildeo

dos designativos dos cursos drsquoaacutegua

Os dados da toponiacutemia brasileira em relaccedilatildeo agrave origem dos topocircnimos satildeo de origem da

Liacutengua Portuguesa devido a colonizaccedilatildeo jaacute que os povos lusoacutefonos aqui chegaram e segundo

Dick (1995 p 60)

os primeiros topocircnimos funcionavam portanto como verdadeiros ldquosign-

postsrdquo ou marcas semioacuteticas de identificaccedilatildeo dos lugares usadas com a

finalidade de distinguir as caracteriacutesticas de espaccedilos semelhantes uma forma

uma silueta o perfil de uma paisagem se apresentando como recortes de uma

corografia maior a ser detalhada

Os povos lusoacutefonos nomeavam os lugares de acordo com caracteriacutesticas do lugar

Assim os topocircnimos por nograves analisados ndash coacuterrego Brumado coacuterrego da Terra Vermelha

ribeiratildeo Cachoeira e rio do Peixe ndash satildeo de origem latina liacutengua que deu origem agrave Liacutengua

Portuguesa e entre os topocircnimos estudados referem ao percentual de 29 (04 topocircnimos) dos

analisados

No processo de colonizaccedilatildeo do Brasil os portugueses necessitavam de matildeo-de-obra

mas como natildeo tiveram ecircxito com os iacutendios entatildeo foi necessaacuterio a busca de outros povos com

isso trouxeram os escravos E no processo de nomeaccedilatildeo dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de

Pires do Rio-GO a Liacutengua Portuguesa (Aacutefrica) um percentual de 7 (01) dos topocircnimos ndash

ribeiratildeo Mucambo ndash que eacute especificado como o local esconderijo de escravos fugitivos Haacute

relatos de que na regiatildeo da zona rural do municiacutepio de Pires do Rio-GO tem uma localidade

que foi constituiacuteda em sua maioria populacional por escravos provavelmente pode esse

topocircnimo ter sido influenciado por tal fato

110

Em sua maioria 36 (05) dos topocircnimos analisados satildeo de origem Tupi ndash coacuterrego

Caiapoacute coacuterrego Itauacutebi ribeiratildeo Taquaral rio Corumbaacute e rio Piracanjuba ndash e segundo Bearzoti

Filho (2002 p 43) ao tratar das designaccedilotildees de origem tupi assinala que ldquoem grande parte

trata-se de topocircnimos atribuiacutedos natildeo por iacutendios mas por bandeirantes que como jaacute vimos

utilizavam a liacutengua geral como idioma de comunicaccedilatildeo ordinaacuteria em suas expediccedilotildeesrdquo

E de acordo com Sampaio (1928 p 02)

ao europeu poreacutem ou aos seus descendentes cruzados que realizaram as

conquistas dos sertotildees eacute que se deve a maior expansatildeo do tupi como liacutengua

geral dentro das raias atuais do Brasil As levas que partiam do litoral a

fazerem descobrimentos falavam no geral o tupi pelo tupi designavam os

novos descobertos os rios as montanhas os proacuteprios povoados que fundavam

e que eram outras tantas colocircnias espalhadas nos sertotildees falando tambeacutem o

tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo

Ao firmar o ato de nomeaccedilatildeo das localidades constatamos que o tupi liacutengua de origem

do maior nuacutemero de topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO

possivelmente deve-se agrave influecircncia das seguintes relaccedilotildees a internalizaccedilatildeo de nomes de origem

tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para Goiaacutes e a presenccedila de iacutendios como jaacute

mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo viveram regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da

colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)

Ainda consoante Pereira (2009 p 27) observamos que

A toponiacutemia brasileira como um todo reuacutene uma grande quantidade de nomes

de base indiacutegena na nomeaccedilatildeo de acidentes geograacuteficos que evidenciam

marcas da presenccedila de vaacuterias etnias na nomenclatura geograacutefica brasileira Um

estudo toponiacutemico numa dimensatildeo etnolinguiacutestica analisa desde a origem

dos nomes ateacute as influecircncias socioculturais da populaccedilatildeo que habita o espaccedilo

geograacutefico em estudo na forma de nomear os acidentes fiacutesicos verificando se

no momento da designaccedilatildeo de um lugar o designador apropriou-se de nomes

cuja origem procedeu de estratos linguiacutesticos de base portuguesa ou de outras

liacutenguas que influenciaram a formaccedilatildeo do leacutexico do portuguecircs brasileiro

principalmente as liacutenguas indiacutegenas e africanas

Ao analisarmos os topocircnimos dos cursos drsquoagua do municiacutepio de Pires do Rio-GO

podemos constatar que em sua maioria as liacutenguas que lhe deram origem foram as indiacutegenas e a

latina as outras que representaram um percentual menor possivelmente estatildeo ligadas agrave vinda

de outras etnias que ajudaram na formaccedilatildeo populacional do Brasil e de Goiaacutes

111

44 A estrutura morfoloacutegica dos topocircnimos

Com vistas nos paracircmetros teoacuterico-metodoloacutegicos da pesquisa seguindo o que eacute

estabelecido por Dick (1992) ao que se refere a estrutura morfoloacutegica o topocircnimo pode ser

classificado como simples composto e composto hiacutebrido que de acordo Dick (1992 p 14)

ldquotopocircnimo que em sua estrutura haacute a presenccedila de duas bases linguiacutesticas distintas por exemplo

tupi + portuguecircsrdquo mas natildeo encontrado em nossa pesquisa A partir disto tomamos o graacutefico V

para procedermos com a anaacutelise

Graacutefico 5 ndash Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos

Dos 15 sintagmas toponiacutemicos catalogados uma representaccedilatildeo de 87 (13 topocircnimos)

satildeo de estrutura simples que no processo de nomeaccedilatildeo o nomeador utilizou apenas um

formante ou seja um elemento designativo Jaacute os compostos aparecem em um percentual de

13 (02 topocircnimos) formados por mais de um formante lexical

Ao trazermos essas informaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos topocircnimos observamos que

como uso de substantivos e adjetivos o denominador acaba por trazer caracteriacutesticas do local

onde nomes comuns passam a formar nomes proacuteprios e segundo Dick (2006 p 108)

o topocircnimo integraraacute natildeo uma categoria descritiva de nomes nem um iacutendice

cromaacutetico desvinculado de outras consideraccedilotildees culturais e sim o que

chamamos na teoria de nomes transplantados deslocados ou transferidos de

seu lugar de origem para outros pontos distantes formando uma nova

sequecircncia nominal

0

2

4

6

8

10

12

14

SIMPLES COMPOSTO

Estrutura Morfoloacutegica dos Topocircnimos

112

No processo de nomeaccedilatildeo o nomeador faz uso de designativos que aleacutem de sofrer

certos deslocamentos como jaacute mencionado de nome comum para nome proacuteprio haacute tambeacutem

casos de alguns topocircnimos sofrerem alteraccedilotildees em suas estruturas morfoloacutegicas como o caso

do designativo ribeiratildeo Mucambo que em suas origens traz a grafia de mocambo

No decorrer deste estudo e anaacutelises foi possiacutevel perceber que os topocircnimos aleacutem de

servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas fiacutesicas e sociais da sociedade a

que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e costumes da sociedade E ao final foi

notoacuterio perceber nas liacutenguas que deram origem aos topocircnimos a estreita relaccedilatildeo com o

ambiente pois de alguma forma o nomeador obteve motivaccedilatildeo tanto do espaccedilo meio ambiente

como da liacutengua propriamente dita

113

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao propormos estudar os topocircnimos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-

GO tomamos por base caracterizar o ato de nomear e dele reiteramos e pode ser observado em

sua totalidade a relaccedilatildeo de poder pois nomear eacute instituir E eacute por meio do batismo do topocircnimo

que ele se instaura e revela as relaccedilotildees do meio ambiente com o homem eou do homem com

meio que o circunda As consideraccedilotildees finais ora apresentadas referem-se aos estudos

toponiacutemicos relacionados apenas ao contexto local desta pesquisa mas muito ainda haacute de ser

estudado na aacuterea em relaccedilatildeo agrave toponiacutemia em Goiaacutes

Os objetivos da pesquisa constituem-se basicamente em descrever e analisar os

topocircnimos designativos dos cursos drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO observando

noccedilotildees pertinentes agrave elaboraccedilatildeo de taxionomias de natureza fiacutesica e antropocultural Assim em

sua maioria os elementos fiacutesicos sobressaiacuteram sobre os demais pois no total de 15 topocircnimos

analisados um percentual de 67 (10 topocircnimos) foram motivados pelos aspectos fiacutesicos

sendo que os de origem vegetal fitotopocircnimos e animal zootopocircnimos tiveram maior

recorrecircncia Assim concretizamos que o ambiente influenciou o nomeador no ato do batismo

estabelecendo as relaccedilotildees entre liacutengua e ambiente inclusive com os aspectos extralinguiacutesticos

A maior incidecircncia de taxionomias de natureza fiacutesica nesta pesquisa demonstra a

tendecircncia do denominador de nomear os lugares com nomes dos elementos fiacutesicos da natureza

circundante numa constataccedilatildeo de que o meio ambiente exerce grande influecircncia sobre o

homem refletindo-se tambeacutem no processo de nomeaccedilatildeo dos lugares

Jaacute no que tange agraves taxionomias de natureza antropocultural em nossas anaacutelises com um

percentual de 33 (05 topocircnimos) os etnotopocircnimos que fazem referecircncia a elementos eacutetnicos

foram os com maior frequecircncia Observamos nas taxes de natureza antropocultural que os

fatores culturais foram os motivadores para a designaccedilatildeo dos topocircnimos analisados

evidenciando as relaccedilotildees do homem com o ambiente que o cerca Para tanto foi necessaacuterio

identificar os fatores que constituem a motivaccedilatildeo que subjazem agrave escolha do nome do lugar

que foi possibilitado por meio da caracterizaccedilatildeo de fatores sociais culturais histoacutericos que nos

auxiliaram nas anaacutelises dos topocircnimos

A hipoacutetese inicial da pesquisa foi de que pelo caraacuteter motivado o signo toponiacutemico

possibilita reconhecer fatores vinculados ao que subjaz agrave escolha dos nomes de lugares e assim

nos possibilitou o levantamento de fatores soacutecio-histoacuterico culturais e ambientais necessaacuterios agrave

anaacutelise linguiacutestica dos nomes dos cursos drsquoaacutegua como iacutendice de estreita relaccedilatildeo entre

liacutenguaambiente e cultura E pudemos observar que os topocircnimos estabelecem relaccedilotildees da

114

liacutengua e meio ambiente no que concerne agrave anaacutelise das taxionomias de natureza fiacutesica e a

posteriori as relaccedilotildees de liacutengua e cultura que foram evidenciadas nas taxionomias de natureza

antropocultural Nas taxes analisadas foi possiacutevel detectar que o ambiente e o contexto satildeo

fundantes nas motivaccedilotildees que subjazem aos topocircnimos analisados Desta forma entende-se que

um rio um ribeiratildeo um coacuterrego satildeo lugares que uma vez nomeados passam a carregar as

inuacutemeras memoacuterias do lugar

Os fatores soacutecio-histoacutericos-culturais do municiacutepio de Pires do Rio-GO foram

imprescindiacuteveis no processo de anaacutelise dos designativos dos lugares pois no caso do topocircnimo

ribeiratildeo Sampaio antropotopocircnimo ficou evidente que o fato motivador foi a relaccedilatildeo de poder

do nome devido ao ribeiratildeo ter sua nascente em terras que eram do coronel Lino Teixeira de

Sampaio e tambeacutem por ter sido ele o doador das terras em que surgiu o referido municiacutepio

Ao levantar as perguntas de pesquisa qual a origem dos nomes dos cursos drsquoaacutegua da

cidade de Pires do Rio Os nomes satildeo os oficiais atribuiacutedos pelo IBGE ou eacute a comunidade do

lugar que os nomeia a partir de fatos que lhe chamaram atenccedilatildeo Apoacutes ter analisado os 15

topocircnimos fica evidente que todos os nomes estatildeo registrados nas cartas topograacuteficas e satildeo

oficializados pelo IBGE mas provavelmente os nomes foram dados pela comunidade que

habitou nas localidades ateacute mesmo pelas caracteriacutesticas que foram levantadas nos designativos

fazendo referecircncia ao local

Por meio da caracterizaccedilatildeo dos topocircnimos estabelecidos pelo ideal metodoloacutegico

onomasioloacutegico que foi o norte da pesquisa combinado com outros meacutetodos como o Woumlrter

und Sachen (palavras e coisas) numa abordagem qualiquantitativa foi evidente na relaccedilatildeo da

toponiacutemia que os aspectos histoacutericos satildeo bastante reveladores da accedilatildeo de nomeaccedilatildeo dos

lugares Nesse iacutenterim nos foi possiacutevel quantificar os topocircnimos em relaccedilatildeo as taxionomias

origem e estrutura morfoloacutegica percebendo as ocorrecircncias em maior frequecircncia

A anaacutelise do ponto de vista etnolinguiacutestico demonstrou a predominacircncia de topocircnimos

originaacuterios da liacutengua indiacutegena um percentual de 36 essa recorrecircncia eacute supostamente devido

agrave internalizaccedilatildeo de nomes de origem tupi na liacutengua falada pelos bandeirantes que vieram para

Goiaacutes e agrave presenccedila de iacutendios como jaacute mencionamos haacute indiacutecios que os iacutendios lsquokayapoacutersquo

viveram na regiatildeo nas bandeiras na eacutepoca da colonizaccedilatildeo do interior do Brasil e

consequentemente do sertatildeo goiano (PEREIRA 2009)

A liacutengua latina que deu origem agrave liacutengua portuguesa aparece e 29 dos topocircnimos

analisados isso devido aos povos lusoacutefonos que nomeavam os lugares com as caracteriacutesticas

que se estabeleciam com os referidos locais por eles percorridos e habitados E tambeacutem outras

liacutenguas tiveram uma menor frequecircncia como a aacuterabe hebraica preacute-romana sacircnscrito e

115

tambeacutem um topocircnimo de origem obscura fica evidente que outras etnias influenciaram na

nomeaccedilatildeo dos lugares Pode ser pelo fato de o nomeador pertencer a etnia ou ter alguma relaccedilatildeo

indireta

Quanto agrave estrutura morfoloacutegica do toacutepico de acordo com Dick (1992) dos analisados

87 satildeo de formaccedilatildeo simples tendo apenas um formante e 13 satildeo compostos com dois

formantes lexicais assim os compostos revelam mais de uma caracteriacutestica do local nomeado

e caracteriza mais de uma taxionomia

De forma peculiar esta pesquisa aleacutem de proceder com as anaacutelises de classificaccedilatildeo

origemetimologia morfoloacutegica e semacircntico-toponiacutemicas remapeou e cartografou os cursos

drsquoaacutegua do municiacutepio de Pires do Rio-GO sem mencionar no revisitar da formaccedilatildeo histoacuterica

deste municiacutepio e da contribuiccedilatildeo com os estudos toponiacutemicos no estado de Goiaacutes

Os topocircnimos aleacutem de servirem como indicadores espaciais refletem caracteriacutesticas

fiacutesicas e sociais da sociedade a que pertencem por isso mantecircm relaccedilotildees com os usos e

costumes dessa sociedade E ao perceber essas relaccedilotildees de liacutenguaambiente e cultura na

designaccedilatildeo do topocircnimo eacute que propomos para discussatildeo futura doutorado a partir da

ecolinguiacutestica e da toponiacutemia proceder com a anaacutelise da relaccedilatildeo de liacutengua e meio ambiente nos

hidrocircnimos das bacias hidrograacuteficas do estado de Goiaacutes

116

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