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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO NA SAÚDE HÉLIDA NÚBIA DE SOUSA EXPERIÊNCIAS ADVERSAS E TENDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS EM CANDIDATOS À CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA Goiânia 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO NA SAÚDE

HÉLIDA NÚBIA DE SOUSA

EXPERIÊNCIAS ADVERSAS E TENDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS EM CANDIDATOS À CIRURGIA

BARIÁTRICA E METABÓLICA

Goiânia 2018

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TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR VERSÕES ELETRÔNICAS DE

TESES EDISSERTAÇÕES NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG

Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás (UFG)

a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG),

regulamentada pela Resolução CEPEC nº 832/2007, sem ressarcimento dos direitos autorais, de

acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de

leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta

data.

1. Identificação do material bibliográfico: [ X ] Dissertação [ ] Tese 2. Identificação da Tese ou Dissertação:

Nome completo do autor: HÉLIDA NÚBIA DE SOUSA Título do trabalho: EXPERIÊNCIAS ADVERSAS E TENDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS EM

CANDIDATOS À CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA

3. Informações de acesso ao documento:

Concorda com a liberação total do documento [ X ] SIM [ ] NÃO1

Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio

do(s) arquivo(s) em formato digital PDF da tese ou dissertação.

Assinatura do(a) autor(a)

Ciente e de acordo:

Assinatura do(a) orientador(a)

Data: 20/04/2018

1 Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A

extensão deste prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Os dados do documento não

serão disponibilizados durante o período de embargo.

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HÉLIDA NÚBIA DE SOUSA

EXPERIÊNCIAS ADVERSAS E TENDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS EM CANDIDATOS À CIRURGIA

BARIÁTRICA E METABÓLICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino na Saúde – nível Mestrado Profissional da Universidade Federal de Goiás para obtenção do Título de Mestre em Ensino na Saúde.

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Chater Taleb

Coorientadora: Prof. Dra. Cleusa Alves Martins

Goiânia 2018

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO NA SAÚDE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SAÚDE

BANCA EXAMINADORA

Aluna: Hélida Núbia de Sousa

Orientador: Dr. Alexandre Chater Taleb

Coorientadora: Dra. Cleusa Alves Martins

Membros:

1. Prof. Dr. Alexandre Taleb – Presidente da Banca

2. Prof. Dr. Maria Goretti Queiroz – Titular

3. Profa. Dra. Telma Noleto Rosa Franco – Membro ACCG e HGG

Suplentes: 1 – Profa. Dra. Maria de Fátima Nunes

2 – Prof. Dr. Tadeu João Ribeiro Baptista

20/03/2018

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Dedico este trabalho a meu “grande guerreiro”, a ele que me amou, me educou, me ensinou, me formou – Meu pai! E, também, a ela – Minha mãe, que na cumplicidade, me apoiou e acreditou que seríamos fortes o suficiente para enfrentar as adversidades.

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AGRADECIMENTOS

A DEUS, que torna tudo possível!

A meu orientador professor, Dr. Alexandre Chater Taleb, pela

oportunidade e confiança.

A minha coorientadora professora, Dra. Cleusa Alves Martins, não

tenho palavras para demonstrar tamanha gratidão, mas também não

tenho dúvidas de que suas palavras de incentivo e sua postura sempre

otimista e confiante, me alimentava. Além do olhar científico voltado às

orientações, jamais esquecerei do seu apoio, da compreensão nos

momentos difíceis pelos quais passei, principalmente no período em

que papai esteve hospitalizado e quando tive que ter forças para

elaborar o luto. Saiba professora que quando te conheci, logo me

encantei.

Ainda sobre a professora Cleusa, não poderia deixar de agradecer

também a sua família. Sempre que necessário, a professora me

acolheu em sua casa e, assim também fui acolhida por sua família.

Que bênçãos dos céus desçam sobre a vida de cada um ...

Agradeço também a todos os professores do MEPES, pois se minha

intenção com o mestrado era avançar, creio que cada um, com seu

papel me auxiliou nesse processo.

Aos meus queridos colegas do mestrado, também deixo aqui meu

agradecimento. Vocês também contribuíram, de alguma forma, para

que eu não desistisse, apesar das dificuldades. Sei que também vocês

tiveram seus empecilhos e, nem por isso, desistiram. Assim, eu

respirava e continuava ...

Agradeço a minha família! Minha família é tudo que tenho! Meus pais,

Jair e Edina, pelas lutas para que eu estudasse. Papai, oh meu PAI,

tão orgulhoso dos meus esforços, feliz pela minha atuação na

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Psicologia. Queria tanto que ele estivesse aqui para me ver alcançar

esta conquista. Mas, durante meus estudos, exatamente durante esse

ano, papai partiu me deixando com choro latente e uma saudade sem

fim. Agradeço a Deus por estar revestindo mamãe com seu consolo e

força. Minhas irmãs, Ebia e Elcia, cada uma me presta apoio à maneira

em que podem. Sou feliz em tê-las, minhas “irmãs”!

Agradeço, por fim, ao meu amor Erick! Sem você eu não teria

começado, não teria continuado, nem tão pouco finalizaria ... Você me

fez ver com entusiasmo meu fazer, minhas possibilidades, meus

dados. Suportou minhas oscilações de humor, chorou comigo em dias

tristes e de despedida, arrancou de mim lágrimas e botou sorrisos.

Rezou comigo, falou com Deus para que acalmasse meu coração

choroso, pediu proteção. Você foi sempre meu companheiro, estudou

comigo e também me orientou. Obrigada por tudo! Deus nos abençoe!

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SUMÁRIO

LISTA DE ANEXOS ................................................................................................. viii

LISTA DE FIGURAS, GRÁFICOS E TABELAS ............................................................ ix

SIGLAS E ABREVIATURAS ....................................................................................... x

RESUMO .................................................................................................................. xi

ABSTRACT ............................................................................................................. xii

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13

2 OBJETIVOS ......................................................................................................... 19

2.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 19

2.2 Objetivos Específicos ...................................................................................... 19

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 20

3.1 - Obesidade – Tratamento Cirúrgico ................................................................ 20

3.2 Imagem corporal ............................................................................................ 28

3.3 A atuação do psicólogo em cirurgia bariátrica ................................................... 32

3.4 Tendências comportamentais e estudos sobre obesidade ................................ 38

3.5 Ensino na saúde e a Bateria Fatorial de Personaliade como instrumento .......... 42

4 METODOLOGIA ................................................................................................... 48

4.1 Cenário ......................................................................................................... 48

4.2 Critérios de inclusão ...................................................................................... 48

4.3 Critérios de exclusão ..................................................................................... 49

4.4 Procedimento para coleta de dados ................................................................ 49

4.5 Análise de dados ........................................................................................... 50

4.6 Aspectos éticos ............................................................................................. 53

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 53

6 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 70

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 71

8 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 73

9 ANEXOS .............................................................................................................. 80

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viii

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 – Protocolo de respostas da Bateria Fatorial de Personalidade

(BFP)

Anexo 2 – Entrevista psicológica – Cirurgia Bariátrica

Anexo 3 – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal

de Goiás

Anexo 4 – Artigo Científico

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ix

LISTA DE FIGURAS, GRÁFICOS E TABELAS

Figura 1 – Posição Percentil dos Respondentes (BFP)

Figura 2 – Quadro do impacto das experiências adversas na infância ao longo

da vida

Figura 3 – Esquema comportamental (1)

Figura 4 – Esquema comportamental (2)

Figura 5 – Esquema comportamental (3)

Gráfico 1 – Média da Posição Percentil dos Respondentes (n = 132)

Tabela 1 – Categorias das experiências adversas

Tabela 2 – Relato de algumas experiências adversas

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x

SIGLAS E ABREVIATURAS

ACE – Adverse Childhood Experiences (Experiências Adversas na Infância)

EAI – Experiências Adversas na Infância

EAA – Experiências Adversas na Adolescência

EAFA – Experiências Adversas na Fase Adulta

BFP – Bateria Fatorial de Personalidade

CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social

CGF – Cinco Grandes Fatores de Personalidade

CFM – Conselho Federal de Medicina

CFP – Conselho Federal de Psicologia

EFN – Escala Fatorial de Neuroticismo

IMC – Índice de Massa Corporal

NEO-FFI-R – Inventário de Personalidade NEO Revisado

OMS – Organização Mundial de Saúde

PAEFI – Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e

Indivíduos

SBCBM – Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.

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xi

RESUMO

Objetivos: Analisar as experiências adversas e o quadro de neuroticismo

em indivíduos com ganho de peso corporal que requerem tratamento

cirúrgico e apresentar esquema de tendência comportamental baseado nos

estudos de correlação entre os resultados da Bateria Fatorial de

Personalidade e experiências adversas. Método: Estudo retrospectivo,

descritivo, analítico e documental, com maior ênfase na abordagem

qualitativa, análise de registros de entrevista semiestruturada e percentis da

escala de neuroticismo - vulnerabilidade, instabilidade, passividade e

depressão - da Bateria Fatorial de Personalidade. Resultados: A amostra

constou de 132 indivíduos, idade média de 36,97 (DP=10,45), 75% (n=99)

do sexo feminino, 25% (n=33) do sexo masculino, classificados com

obesidade grau II (IMC entre 35 e 39,9), com associação de comorbidades,

ou obesidade grau III (IMC ≥ 40), com ou sem doenças associadas. Foram

identificadas 207 experiências adversas (média=1,57 / indivíduo; DP=1,3) e

classificadas em oito categorias temáticas - violência psicológica, violência

física, exposição ao abuso de álcool no ambiente familiar, negligência e

abandono, exposição à violência doméstica, divórcio e/ou separação

parental, trabalho infantil e violência sexual. Correlações positivas foram

encontradas entre experiências adversas na fase adulta (EAFA) e

neuroticismo (r=0,193; p < 0,05), EAFA e abertura (r=0,177; p < 0,05). Trinta

e nove indivíduos apresentaram neuroticismo acima de 70 (média=81,15;

DP=8,31). Conclusão: As correlações encontradas revelam a existência de

um circuito psicodinâmico mediador de tendências comportamentais e

estados psicológicos vulneráveis, que reforçam o ciclo de adversidades do

indivíduo em seu meio, colaborando para a manutenção do quadro de

obesidade.

Descritores: Obesidade, Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Tendências

Comportamentais, Experiências Adversas, Neuroticismo

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xii

ABSTRACT

Objectives: To analyze adverse experiences and neuroticism in individuals

with body weight gain that require surgical treatment and to present a

behavioral tendency scheme based on the correlation studies between the

results of the Factorial Personality Battery and adverse experiences.

Method: Retrospective, descriptive, analytical and documentary study, with a

greater emphasis on the qualitative approach, analysis of semi - structured

interview records and percentiles of the neuroticism scale - vulnerability,

instability, passivity and depression - of the Factorial Personality Battery.

Results: The sample consisted of 132 individuals, mean age of 36.97 (SD =

10.45), 75% (n = 99) females, 25% (n = 33) males, classified as grade II

obesity (BMI between 35 and 39.9), with associated comorbidities, or degree

III obesity (BMI ≥ 40), with or without associated diseases. A total of 207

adverse experiences (mean = 1.57 / individual, SD = 1.3) were identified and

classified into eight thematic categories - psychological violence, physical

violence, exposure to alcohol abuse in the family environment, neglect and

abandon, domestic violence exposure, divorce and / or parental separation,

child labor and sexual violence. Positive correlations were found between

adverse experiences in the adult phase (EAFA) and neuroticism (r = 0.193; p

< 0.05), EAFA and Openness (r = 0.177; p <0.05). Thirty-nine individuals

presented neuroticism above 70 (mean = 81.15, SD = 8.31). Conclusion:

The correlations found reveal the existence of a psychodynamic circuit

mediating behavioral tendencies and vulnerable psychological states, which

reinforce the cycle of adversity of the individual in his/her environment,

contributing to the maintenance of obesity.

Keywords: Obesity, Bariatric and Metabolic Surgery, Behavioral

Tendencies, Adverse Experiences, Neuroticism

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1 INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde, “saúde é um estado de

completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de

doença ou de enfermidade”, definição formulada em sua constituição no ano

de 1946 (OMS, 1946).

A saúde pode ser definida, também, como bem-estar físico, mental e

psíquico, e para que o indivíduo goze de saúde é importante considerar a

estreita correlação entre nutrição, processos comportamentais e fisiológicos.

A qualidade e quantidade da ingestão de alimentos podem levar tanto à

desnutrição quanto à obesidade, responsáveis pelo comprometimento da

qualidade de vida de grande parte da população mundial (AGUIAR;

AGUIAR; GUEDES, 2013).

Para Oliveira, Corsini e Leite (2013), a obesidade é um problema de

saúde pública, fenômeno complexo, de múltiplas causas, onde as

intervenções não predizem a cura, seu controle é de alcance limitado,

fazendo da prevenção o alvo principal das políticas públicas, temática que

necessita ser globalmente abordada.

A Organização Mundial de Saúde define obesidade em termos de

excesso de peso, sendo que o índice de massa corporal (IMC - kg/altura2) é

o primeiro passo para se mensurar o grau de adiposidade e serve também

para mensurar o risco de morbimortalidade. Quanto à classificação, o IMC

entre 20 a 24,9 é considerado normal; 25 a 29,9 sobrepeso; 30 a 34,9

corresponde a obesidade grau I, IMC entre 35 a 39,9 grau II e, maior ou

igual a 40 corresponde ao grau III, ou obesidade mórbida (XIMENES;

XIMENES; LINS, 2009).

Segundo Galvão, Galvão Neto e Ramos (2015), a obesidade (índice

de massa corporal – IMC > 30) é uma doença endêmica que atinge cerca de

1,7 bilhão de pessoas.

Sprengel (2015) afirma que embora haja conhecimento científico das

doenças metabólicas e transtornos alimentares, a sociedade ainda não

reconhece a pessoa obesa como doente. Essa atitude preconceituosa

repercute negativamente na vida daquelas pessoas que sofrem de

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obesidade. Assim, padrões negativos de vergonha, baixa autoestima e

sentimentos de inferioridade afastam as pessoas obesas da vida social,

conjugal, acadêmica e profissional. No isolamento, a comida significa prazer.

Segundo Langaro et al. (2011), a obesidade é uma doença que pode

impactar de forma negativa a qualidade de vida e a autoestima de pessoas,

acarretando danos físicos e psicológicos. De tal modo, o tratamento requer

abordagens eficientes e uma das ferramentas para a redução do peso

corporal é a cirurgia bariátrica.

A ideia de que o procedimento cirúrgico possa “milagrosamente”

transformar as pessoas com obesidade mórbida em pessoas sadias deve

ser evitada. Avaliações acerca da obesidade, principalmente, observando a

dificuldade de pessoas seguirem com sucesso as condutas, estimulou a

ciência médica a desenvolver tratamentos via intervenção cirúrgica

(MARCELINO; PATRÍCIO, 2011).

O Brasil se encontra entre os cinco países com maior prevalência da

obesidade e essa realidade traz, simultaneamente, o aumento pela procura

do procedimento cirúrgico para redução de peso, um dado que é superado

apenas pelos EUA e Canadá. De acordo com a Federação Internacional de

Cirurgia da Obesidade e Doenças Metabólicas - IFSO, em 2013 foram

realizados mais de 80 mil procedimentos bariátricos no país. Este cenário

estimula o aumento das produções científicas sobre o assunto (CAMPOS et

al., 2016).

A partir do ano de 2000, a cirurgia bariátrica, no Brasil, começou a

ser realizada em maior escala, os custos do procedimento passaram a ser

financiados pela rede pública e alguns planos de saúde de caráter privado. A

cirurgia bariátrica tem sido consagrada como uma alternativa para a perda

de peso podendo ser realizada de forma aberta, por via laparotômica ou

laparoscópica (GALVÃO; GALVÃO NETO; RAMOS, 2015; KELLES;

MACHADO; BARRETO, 2014; MARCELINO; PATRÍCIO, 2011).

As técnicas cirúrgicas se diferenciam de acordo com o mecanismo

de ação, podendo ser restritivas, que limitam a capacidade gástrica;

disabsortivas, que interferem na digestão; ou mistas, uma combinação de

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ambas técnicas (GALVÃO; GALVÃO NETO; RAMOS, 2015; OLIVEIRA;

LINARDI; AZEVEDO, 2004).

Para Oliveira, Corsini e Leite (2013), a possibilidade de uma pessoa

desenvolver obesidade em circunstâncias e em idades determinadas está

condicionada ao grau de suscetibilidade individual, bem como, à exposição

contínua e cumulativa a diferentes fatores de risco, os quais podem afetar

tanto a pessoa como a população. Os autores ainda afirmam que entre

todos os fatores envolvidos na etiologia da obesidade, os psicológicos e

psiquiátricos são de grande importância.

Sprengel (2015) aponta alguns fatores que podem predispor ganho

de peso, dentre eles cita as disfunções endócrinas, menopausa, estresse,

insônia, psicotrópicos, sedentarismo e maus hábitos alimentares. Mas de

forma intrigante faz um paralelo comparando as tendências

comportamentais no passado e os hábitos contemporâneos, como fazer

refeições em frente à televisão, em detrimento de um ambiente

psicologicamente saudável, onde o momento da refeição oportunizava

interação, quando os filhos se sentiam alimentados por comida e atenção.

Silva e Maia (2007) estudaram a prevalência de situações avaliadas

como “experiências adversas” na infância de adultos com obesidade

mórbida, candidatos à cirurgia bariátrica. Utilizaram o Questionário

Sociodemográfico e História de Vida (Instrumento da Family Health History –

ACE), e foram observadas as experiências adversas vividas na infância,

categorizadas em: abuso emocional, abuso físico, abuso sexual, exposição à

violência doméstica, abuso de substâncias no ambiente familiar, divórcio ou

separação parental, prisão de um membro da família, doença mental ou

suicídio, negligência física e negligência emocional.

O estudo mostrou que 88% dos participantes relataram a existência

de pelo menos uma experiência adversa, 68% relataram pelo menos quatro

experiências de adversidade. Concluíram que existe elevada prevalência de

experiências de adversidade na infância e sugerem que é preciso

compreender como essas situações se relacionam com o funcionamento

atual, ou seja, como o comportamento alimentar se articula com tais

dimensões (SILVA; MAIA, 2007).

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No que diz respeito a violência psicológica na infância e

adolescência no contexto familiar, se trata de um problema social crescente

que não se limita apenas às áreas da saúde, assistência social ou de justiça.

Essa situação carece de atenção e vigilância social por parte do poder

público (ABRANCHES; ASSIS, 2011).

Langaro et al. (2011) relatam características de personalidade de

mulheres que se submeteram à cirurgia bariátrica e salientam a importância

de estudos em qualquer etapa, antes ou após intervenção cirúrgica, uma vez

que, análises do perfil podem não apenas auxiliar no preparo psicológico dos

indivíduos, mas também possibilitar adesão às recomendações da equipe

multiprofissional após o procedimento cirúrgico.

De acordo com Pereira e Chehter (2011), os alvos de manejo que

contribuem para o tratamento da obesidade são os fatores psicológicos e

ambientais. Dentre os aspectos psicológicos, a impulsividade tem sido

estudada em trabalhos vinculados à obesidade e compulsão alimentar e

quando acentuada, pode interferir na capacidade de julgamento e escolhas.

Porém, Davis (2009 apud PEREIRA; CHEHTER, 2011), salienta que a

população obesa não é homogênea no que se refere aos fatores

psicológicos e estudos devem atentar para a complexidade da matéria.

Oliveira e Yoshida (2009) afirmam que, do ponto de vista da

psicologia, os trabalhos ligados à obesidade são relativamente escassos e

os resultados nem sempre consensuais. Embora, se reconheça que

diferentes fatores psicológicos possam estar associados a essa patologia.

Acrescenta-se ainda que, além dos aspectos sintomatológicos, outras

características definem o modo peculiar de cada pessoa ao enfrentar as

intercorrências na trajetória impostas durante o tratamento clínico e cirúrgico,

representando um caminho fecundo a investigação para promover qualidade

na assistência à população.

As autoras Marcelino e Patrício (2011) também apontam para a

carência de estudos qualitativos que discutem o processo de viver e a saúde

dos indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica. Salientam ser comum

encontrar limitações em equipes de saúde específicas aos indivíduos

submetidos ao procedimento, por desconhecerem a complexidade que esta

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demanda requer, e por dificuldade de compreensão do aspecto subjetivo

ligado a readaptação ao novo estilo de vida.

De acordo com Kelles et al. (2015), acerca da temática cirurgia

bariátrica, a literatura internacional oferece inúmeras publicações, no

entanto, estudos nacionais, que discutem condutas em indivíduos com

indicação cirúrgica, particularmente na realidade local, ainda são incipientes.

Para Silva e Nakano (2011), a personalidade é um construto da

psicologia que, no contexto da avaliação psicológica, sempre foi alvo de

estudos e debates teóricos e metodológicos. A forma de perceber e

conceituar a personalidade e seu processo de desenvolvimento é

influenciada pelo viés teórico e metodológico do profissional que a

compreende.

De acordo com Silva e Nakano (2011), o modelo dos Cinco Grandes

Fatores de Personalidade tem origem nas pesquisas sobre personalidade,

advindos de teorias fatoriais e de traços de personalidade. Para Nunes, Hutz

e Nunes (2010), o modelo tem sido muito estudado por permitir descrever a

personalidade de forma simples, elegante e econômica, pois os demais

modelos fatoriais de personalidade tendem a ser maiores e complexos. Os

autores apontam que esse modelo tem sido utilizado em diversas áreas,

como a psicologia educacional, organizacional, clínica, dentre outros.

Para Jager et. al (2017), esse lugar de destaque que o modelo dos

Cinco Grandes Fatores vem conquistando na psicologia se justifica pois,

traços de personalidade podem oferecer importantes informações acerca do

comportamento de uma pessoa. No Brasil, os Cinco Grandes Fatores,

também conhecido como Big Five Model, denominam-se: Neuroticismo,

Extroversão, Socialização, Realização e Abertura à Experiência. Porém, na

literatura internacional algumas diferenças podem aparecer em relação aos

nomes empregados aos fatores, porém não alteram a essência conceitual de

cada um deles (COSTA; MCCRAE, 1992; SILVA; NAKANO, 2011).

Segundo Ormel et. al (2013), indivíduos com altos índices em

Neuroticismo demonstram uma tendência a experimentar, de forma

distorcida, os estímulos negativos. As evidências de bases psicológicas são

robustas e indicam que o Neuroticismo está correlacionado negativamente

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com atenção, interpretação e busca de informações, e positivamente com

estratégias de enfrentamento ineficientes, baixa regulação emocional, alta

reatividade e variabilidade afetiva.

A psicologia, enquanto área de conhecimento aplicada à saúde de

pessoas com obesidade mórbida, pode contribuir para a compreensão dos

fenômenos que caracterizam a patologia, pois, muitos dos sofrimentos

psicológicos da pessoa portadora de obesidade decorrem dos estigmas

sociais, preconceito social e dificuldade de aceitação, situação que gera auto

depreciação e baixa autoestima (MARCELINO; PATRÍCIO, 2011).

Este estudo decorre da trajetória profissional na área da psicologia

clínica voltada ao preparo e avaliação de candidatos à Cirurgia Bariátrica e,

ainda na área de atenção psicossocial a indivíduos com enfrentamento a

situações de violações de direitos. No percurso, observou-se que alguns

dados psicológicos similares se reproduziam em número significativo.

As reflexões aqui empreendidas instigaram o interesse em realizar

estudo que visa compreender os fatores psicológicos que interferem no

desenvolvimento da obesidade e o estado emocional do candidato à cirurgia

bariátrica, tendo como ferramentas a entrevista psicológica e a Bateria

Fatorial de Personalidade - BFP, respectivamente.

Assim, este estudo com indivíduos com indicação de cirurgia

bariátrica se justifica considerando que nas últimas décadas, compreender o

sofrimento físico e psíquico da pessoa com quadro de obesidade contribui,

de forma isolada ou conjunta, em tomada de decisão terapêutica. Existem

diversas abordagens terapêuticas, dentre elas a clínica farmacológica, dietas

alimentares, atividade física e intervenção cirúrgica. Não obstante, as

intervenções psicoterápicas associadas ao preparo cirúrgico estão diante de

desafios complexos. Aos profissionais interessados no trato desta demanda,

cabe o interesse em aprofundar o conhecimento e compreender que o

paciente que se mostra carrega sua subjetividade.

Acredita-se que o estudo das experiências adversas e quadro de

neuroticismo, por meio de ferramentas da psicologia, contribui para a difusão

do conhecimento, práticas e métodos eficientes na atenção da demanda

específica.

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19

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Analisar as experiências adversas e quadro de neuroticismo em

indivíduos com ganho de peso corporal que requerem como tratamento a

abordagem cirúrgica.

2.2 Objetivos Específicos

Identificar as ocorrências de experiências adversas registradas em

prontuários durante entrevistas de avaliação psicológica para cirurgia

bariátrica;

Identificar os percentis da escala de neuroticismo - vulnerabilidade,

instabilidade, passividade e depressão - da Bateria Fatorial de

Personalidade;

Apresentar esquema de tendência comportamental baseada nos

estudos de correlação entre os resultados da Bateria Fatorial de

Personalidade e experiências adversas.

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20

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 - Obesidade – Tratamento Cirúrgico

Em 1950, a cirurgia bariátrica teve origem quando intervenções

promoviam má absorção foram realizadas para tratar síndromes

hiperlipidêmicas (SBCBM, 2016).

Na década de 1970, com maior frequência os desvios jejunoileais

foram efetuados na tentativa de provocar perda de peso, porém por

induzirem complicações metabólicas, essa técnica foi abandonada. Novas

intervenções foram desenvolvidas gerando maior segurança e menos

morbimortalidades (ILIAS; MATTOS, 2015; MARCELINO; PATRÍCIO, 2011).

No Brasil, a história da cirurgia bariátrica teve início nos anos 1970,

com os trabalhos iniciais do cirurgião Salomão Chaib na Faculdade de

Medicina da USP. Entretanto, o uso das técnicas de derivações jejunoileais

do tipo Payne, as respostas obtidas foram desanimadoras, no que tange aos

resultados limitados e a segurança dos pacientes (SBCBM, 2016).

Na década de 1980, na perspectiva de avançar o tratamento

cirúrgico, Edward Mason, cirurgião americano e membro fundador da

Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, desenvolveu

estudos que mobilizaram o surgimento de técnicas como o bypass gástrico,

gastroplastia horizontal e gastroplastia vertical com utilização do anel de

polipropileno (SBCBM, 2016).

Em 1990, técnicas como a derivação bílio-pancreática de Scopinaro,

bem como derivações gástricas em Y de Roux, ofereceram melhores

resultados, e a gastroplastia vertical com anel, praticada por Mason,

gradativamente, substituída pela banda gástrica ajustável. Também,

surgiram as derivações bilio-pancreáticas “duodenal switch” de Hess e

Marceau (SBCBM, 2016).

Em 2003, teve seu início a gastrectomia vertical, sleeve ou “manga”,

trata-se de um método restritivo onde se remove cerca de 80% do

estômago, promovendo saciedade precoce, eliminando o fundo gástrico, o

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21

que promove a redução do nível de grelina, um hormônio estimulador do

apetite (GALVÃO; GALVÃO NETO; RAMOS, 2015)

De acordo com Ilias e Mattos (2015), as cirurgias como o bypass em

Y de Roux levam a perda de peso sustentada a longo tempo, alterando

consequências metabólicas da obesidade mórbida, induzindo a redução de

mortalidades com melhoria nos níveis lipídicos no quadro de diabetes,

hipertensão, apnéia obstrutiva do sono e, eventos cardiovasculares como

infarto do miocárdio.

O termo cirurgia metabólica tem sido muito difundido e foi

introduzido em meados de 2008, pela Sociedade Brasileira de Cirurgia

Bariátrica e Metabólica (SBCBM), justamente pela eficácia da Cirurgia

Bariátrica no controle das comorbidades. A melhoria nos índices de glicemia

e hipertensão arterial já pode ser notada por volta do terceiro dia de

internação após cirurgia, por vezes, o indivíduo recebe alta hospitalar sem a

necessidade do uso de medicamentos para diabetes, ou pelo menos, com

dosagem diminuída (ILIAS; MATTOS, 2015).

A Portaria N° 424, de 19 de março de 2013, do Ministério da Saúde

define diretrizes como linha de cuidado prioritário da Rede de Atenção à

Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas para a prevenção e tratamento

de pessoas com sobrepeso e obesidade, organizando o acesso à cirurgia,

priorizando os indivíduos que apresentam outras comorbidades associadas

à obesidade e maior risco à saúde.

Nessa Portaria, o Ministério da Saúde considera, como

contraindicações para cirurgia bariátrica, a doença cardiopulmonar grave e

descompensada, hipertensão portal, com varizes esofagogástricas, doenças

imunológicas ou inflamatórias do trato digestivo superior, Síndrome de

Cushing, decorrente de hiperplasia na suprarrenal não tratada e tumores

endócrinos, indivíduo com limitação intelectual significativa sem suporte

familiar, com transtorno psiquiátrico não controlado, uso de álcool ou drogas

ilícitas. Quadros psiquiátricos graves sob controle, obrigatoriamente, não são

contraindicados.

No Brasil, Kelles et al. (2015), identificaram o perfil de pacientes

submetidos à cirurgia bariátrica atendido pelo Sistema Único de Saúde –

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SUS, constataram ainda, que o sistema não possui uma base nacional de

dados com registros clínicos dos indivíduos da demanda reprimida.

Observaram que o perfil de risco e comorbidades dos indivíduos operados

no SUS é semelhante ao apontado em estudos internacionais, exceto pela

elevada prevalência de hipertensão arterial, o que pode provocar situações

adversas no peri e pós a intervenção cirúrgica.

No Brasil, seguindo a tendência de países desenvolvidos a

obesidade tem aumentado ao longo dos anos e, as taxas de mortalidade

intra-hospitalares após a cirurgia bariátrica, tanto no SUS como na rede

privada, confirmam a segurança do procedimento em curto prazo. Dados

nacionais e internacionais apontaram que as taxas variaram entre 0,5 –

3,6% para procedimentos não laparoscópicos realizados nos últimos 10

anos, sendo a maioria das taxas de mortalidade próximas de 0,5% (KELLES;

MACHADO; BARRETO, 2014).

De acordo com Sprengel, (2015), todas as técnicas de cirurgia

bariátrica apresentam vantagens e desvantagens. Todavia, a decisão da

técnica a ser utilizada deve ocorrer após avaliações clínicas, nutricionais,

psicológicas e compartilhada com a equipe multidisciplinar juntamente com o

indivíduo. A autora ressalta que, qualquer cirurgia pressupõe restrição

alimentar e que, iludir-se com propagandas de técnicas milagrosas em que a

pessoa conseguirá comer o que e quanto quiser, sem dúvidas, envolve

riscos.

A obesidade é uma doença crônica, multifatorial, ou seja, pode provir

de fatores genéticos, metabólicos, má escolha dos alimentos e

sedentarismo. O excesso de gordura acumulada após algum tempo de

evolução, prejudica gravemente a saúde e a qualidade de vida, elevando a

taxa de morbidade e mortalidade. É doença multifatorial silenciosa, sendo a

herança genética, fatores ambientais e motivacionais, assim como

mecanismos que modulam a ingestão alimentar e o gasto energético,

condições as quais propiciam o desenvolvimento do ganho de peso corporal

(MARIA; YAEGASHI, 2016; SILVA; MAIA, 2011).

A prevalência da obesidade tem aumentado e é considerada

praticamente doença endêmica, não isenta raça, idade, nível social ou

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nacionalidade. Seria apenas um problema estético se não fossem as

comorbidades. O desenvolvimento de diversos tratamentos, inclusive o

cirúrgico, surgiu devido à preocupação com a obesidade mórbida (SBCBM,

2016).

Portanto, a cirurgia bariátrica não cura ninguém da obesidade. Ao

operar o estômago e o intestino causa-se um efeito metabólico capaz de

propiciar saciedade precoce, então, resolve-se uma pequena parte do

problema. A diferença entre o tratamento clínico e cirúrgico com foco no

emagrecimento é que a cirurgia proporciona uma alteração fisiológica na

forma de emagrecer, por interferir no metabolismo e na absorção de

nutrientes. Pois, a saciedade provocada pela restrição gástrica tende a ser

mais eficiente quando comparada à saciedade obtida por medicamentos

(SPRENGEL, 2015).

Estudos de Ilias e Mattos (2015) mostram que a cirurgia bariátrica

modifica a fisiologia da pessoa gerando benefícios ao metabolismo.

Acrescentam que estudos em andamento sugerem a cirurgia para pessoas

com diabetes de difícil controle com IMC abaixo de 35kg/m². Mas em

conformidade com a Resolução Nº 2.131/2015 do CFM, a cirurgia não deve

ser realizada nesses casos, ou seja, no indivíduo com IMC abaixo de

35kg/m², a liberação responde somente aos casos de protocolos

investigativos com rigoroso controle ético.

O Conselho Federal de Medicina – CFM, considera a obesidade

uma doença cada vez mais comum com prevalência epidêmica, com risco

elevado de doenças associadas. Quanto às intervenções adequadas para

redução de mortalidade associada à obesidade, a cirurgia bariátrica pode ser

eficaz no tratamento da obesidade mórbida, a curto e longo prazo.

É competência do CFM editar normas para definir em caráter

experimental de procedimentos da medicina, autorizar e vedar a prática

médica. Dessa forma, as indicações gerais para a cirurgia bariátrica são

destinadas aos indivíduos com IMC acima de 40 kg/m² e ainda, IMC maior

que 35 kg/m², portadores de comorbidades, e histórico de obesidade

persistente apesar de tratamento clínico prévio insatisfatório durante o

período médio de dois anos.

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Segundo o Conselho Federal de Medicina, acerca da indicação da

cirurgia bariátrica, é preciso atenção sobre o não uso de drogas ilícitas ou

alcoolismo, ausência de quadros de transtornos de humor grave, quadros

psicóticos ou demenciais graves e moderados, a compreensão por parte do

interessado e familiares sobre os riscos, as mudanças de hábitos inerentes à

cirurgia, bem como a necessidade de acompanhamento pós-operatório com

equipe multidisciplinar a longo prazo.

Em relação aos procedimentos, a Resolução CFM N° 2.131/2015,

publicada e retificada em janeiro de 2016, indica o balão intragástrico como

conduta endoscópica para tratamento com finalidade de controle do peso.

As modalidades dos procedimentos cirúrgicos subdividem em: não

derivativos, cirurgias derivativas, cirurgias experimentais e cirurgias

proscritas.

As cirurgias não derivativas são a Banda Gástrica Ajustável e a

Gastrectomia Vertical, a primeira é uma prótese de silicone que inserida em

torno do estômago o faz ter a forma de ampulheta, sendo que o diâmetro

interno da banda pode ser regulado no pós-operatório por injeção de líquido

no reservatório situado no subcutâneo. A Gastrectomia Vertical,

gastrectomia em manga/longitudinal, significa a remoção de 70% a 80% do

estômago proximal ao antro, e interfere em mecanismos neuroendócrinos e

fisiológicos associados (CFM, 2015).

As cirurgias derivativas desviam o trajeto do alimento pelo tubo

digestivo e provocam a má absorção de gorduras levando a perda ponderal

significativa a longo prazo. Essas técnicas modificam a produção de

hormônios gastrintestinais, o que afeta a saciedade e a secreção de insulina

pelo pâncreas, altera a secreção de ácidos biliares secundários e também a

flora bacteriana intestinal (CFM, 2015).

Nesse grupo, a Cirurgia de Derivação Gástrica com Reconstituição

do Trânsito Intestinal em Y de Roux - sem ressecção gastrointestinal/Bypass

Gástrico, tem componente restritivo alimentar e modificação na produção de

hormônios que modulam a fome e à saciedade. É uma técnica cirúrgica

bastante indicada, pois apresenta efeitos metabólicos, devido às

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modificações funcionais e hormonais do tubo digestório, provocando o

controle de comorbidades, como por exemplo, diabetes tipo 2 (CFM, 2015).

Ainda, no grupo das cirurgias derivativas existem a Derivação

Bileopancreática com Gastrectomia Horizontal - Cirurgia de Scopinaro, a

cirurgia de Derivação Bileopancreática com Gastrectomia Vertical e

Preservação do Piloro - Cirurgia de Duodenal Switch. Ambas promovem

modificações funcionais e hormonais do tubo digestório, também atuam no

controle de comorbidades metabólicas, sendo as desvantagens nutricionais,

dentre outras questões, um ponto a ser pensado quanto a escolha da

modalidade cirúrgica (CFM, 2015).

De acordo com a Resolução CFM N° 2.131/2015, são consideradas

cirurgias experimentais ou em investigação aquelas técnicas realizadas

sobre protocolo de pesquisa sob supervisão de Comissões de Ética em

Pesquisa e/ou Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - Conep. Essas

pesquisas devem responder às regulamentações de estudos com seres

humanos e devem estar registradas na Plataforma Brasil do Conep e,

posteriormente, devem ser aprovadas na Câmara Técnica de Novos

Procedimentos e Indicações do CFM, conforme os termos da Resolução Nº

466/12 do CNS, da Resolução Nº 1.499/98 e da Resolução Nº 1.982/2012

do Conselho Federal de Medicina.

Segundo a Resolução CFM N° 2.131/2015, as cirurgias proscritas,

ou seja, censuradas, são as de Derivação Jejunoileal Exclusiva - término-

lateral ou látero-lateral ou parcial, devido à alta incidência de complicações

metabólicas e nutricionais a longo prazo. A grande quantidade de intestino

desfuncionalizado poderá provocar supercrescimento bacteriano, gerando

complicações.

O Ministério da Saúde preconiza que a seleção dos indivíduos para

cirurgia bariátrica seja de pessoa com IMC superior a 40 kg/m², sem

morbidades associadas ou IMC superior a 35 kg/m² com presença de outra

doença associada. É importante verificar se há histórico de insucesso no

tratamento dietético, estabilidade psiquiátrica e capacidade de compreender

a cirurgia como as mudanças resultantes do comportamento alimentar e

estilo de vida (ILIAS; MATTOS, 2015).

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O CFM, por meio da Resolução N° 2.172/2017, divulgou critérios

exigidos para a realização de cirurgia metabólica no Brasil, para os

portadores de diabetes mellitus tipo 2 (DM2) que apresentam IMC entre 30

kg/m2 e 34,9 kg/m2. Os candidatos devem ter idade entre 30 a 70 anos,

diabetes tipo 2 a menos de 10 anos e apresentar refração comprovada ao

tratamento clínico. Para esta demanda, também devem ser observados o

histórico de doença mental, sendo necessário nesses casos avaliação por

psiquiatra e psicólogo. Casos de abuso de álcool, dependência química ou

depressão, com ou sem ideação suicida, respondem à contraindicação. O

acompanhamento multidisciplinar em pós-cirúrgico deve ser regular. Quanto

a técnica cirúrgica para esses casos, prioritariamente a derivação

gastrojejunal em Y-de-Roux (DGJYR), ou uma segunda opção, a

gastrectomia vertical.

No Brasil, são poucos os centros cirúrgicos credenciados pelo

Sistema Único de Saúde com pequena capacidade para atender a

significativa demanda da fila de espera, que aguardam a realização do

procedimento cirúrgico. O retardamento no acesso, possivelmente, piora o

estado de saúde da pessoa com obesidade. Essa demora pode representar

a diferença nos resultados após a cirurgia bariátrica, por vezes, entre os

serviços do SUS e a rede privada (KELLES; MACHADO; BARRETO, 2014).

No país, a procura pela cirurgia é explicada pelo número crescente

da população de obesos mórbidos, está estimada em seis milhões de

pessoas, dado considerado preocupante, uma vez que a obesidade mórbida

reduz em 22% a expectativa de vida, correspondendo, aproximadamente, a

12 anos de vida perdidos. Também, a elevada prevalência da obesidade no

país impulsionou o crescimento do número de procedimentos bariátricos

(FLORES, 2014; ILIAS E MATTOS, 2015),

Jovens entre 16 e 18 anos podem ser submetidos à Cirurgia

Bariátrica desde que haja concordância dos pais ou responsáveis legais,

sendo necessário a consolidação das cartilagens das epífises de

crescimento dos punhos e, analisados riscos e benefícios. Já, a pessoa

acima de 65 anos de idade, deve responder a avaliação individual por uma

equipe multiprofissional, considerando risco-benefício cirúrgico, presença de

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comorbidades, expectativa de vida e benefícios do emagrecimento (MS,

2013; CFM, 2015).

Silva e Maia (2011) afirmam que, devido a etiologia multifatorial da

obesidade, estudos tem apontado para a necessidade de se utilizar

abordagem multidisciplinar, permitindo assim que se conheça com

propriedade a realidade de cada pessoa.

Embora, tenha surgido novas técnicas e abordagens para o

tratamento da obesidade e doenças metabólicas, algumas buscam

evidências científicas. A compreensão de que o tratamento cirúrgico da

obesidade significa mais do que o ato cirúrgico, ampliou a visão da

importância da equipe multidisciplinar, abrindo espaço para nutricionistas,

nutrólogos, psicólogos, psiquiatras, profissionais de educação física e outros.

A ação conjunta evita complicações cirúrgicas imediatas e tardias,

proporcionando resultados satisfatórios (SBCBM, 2016).

Geralmente, o tempo de internação são de três dias, e após este

período o indivíduo tem alta com orientação de manter a dieta líquida por 30

dias, quando receberá novas orientações nutricionais, com retornos a

consulta médica, mensalmente, nos três primeiros meses de pós-operatório

e, após este período, a cada três meses, durante o primeiro ano (ILIAS;

MATTOS, 2015).

O acompanhamento pós-cirúrgico é fundamental, tendo em vista que

o ritmo do emagrecimento dependerá da técnica cirúrgica empregada e do

funcionamento de cada organismo. Outras variáveis como idade, sexo,

porcentagem de gordura corporal, tempo em que o indivíduo ficou exposto à

obesidade, fatores genéticos, composição corporal e adesão ao tratamento,

podem também influenciar no emagrecimento. O mais importante é a pessoa

fazer mudança comportamental efetiva, praticar a reeducação alimentar e

adotar a prática de atividade física (SPRENGEL, 2015).

De acordo com Sprengel (2015), aqueles operados que fazem

adesão ao tratamento apresentarão melhores resultados físicos e

emocionais a longo prazo, isto indica que o ato cirúrgico em si não consiste

em milagre, mas sim um instrumento ao indivíduo que está disposto a

controlar a doença.

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3.2 Imagem corporal

De acordo com Stenzel (2006), não somente a forma como os outros

nos vêem, mas a concepção que temos sobre nossa imagem, exercem

impacto em nossas vidas. Para a autora, a concepção interna e subjetiva

sobre o corpo é chamada de imagem corporal, uma experiência psicológica

multifacetada, que não se refere exclusivamente à aparência do corpo,

tampouco pode ser considerada produto exclusivo da atividade intrapsíquica.

Envolvidos no fenômeno da imagem corporal estão a autopercepção

corporal, atitudes, crenças, representações, sentimentos e comportamentos

relativos ao corpo.

Os padrões de beleza impostos pela sociedade potencializam o

descontentamento com a imagem corporal, o qual pode ser o “gatilho” para o

desenvolvimento de transtornos alimentares como a anorexia nervosa,

bulimia nervosa e os transtornos de compulsão alimentar e dismórfico

corporal (SPRENGEL, 2015; VERAS, 2010).

Para Pereira e Brandão (2014), a razão para que obesos sejam

inseguros, emocionalmente instáveis, impulsivos, dependentes, imaturos e

apresentem baixa autoestima, deve-se às alterações nos padrões de beleza,

e também, à pressão que a sociedade impõe por não corresponderem a tais

padrões.

A pessoa com obesidade fica mais propensa às psicopatologias

psiquiátricas como perturbações do humor e da ansiedade, correlação esta

que não pode ser desconsiderada por profissionais de saúde que

acompanham tal demanda. A pessoa que desenvolveu a obesidade desde a

infância teve que “driblar” a aparência sendo simpático, mais engraçado ou

solícito por necessidade de adaptação solitária, triste e até humilhante

(PEREIRA; BRANDÃO, 2014; SPRENGEL, 2015).

Poínhos et al. (2008), ao correlacionar a desejabilidade social e

barreiras ao cumprimento da terapêutica dietética em mulheres com excesso

de peso, considerou a primeira como a propensão que o indivíduo apresenta

com a finalidade de transmitir uma imagem culturalmente aceitável. O estudo

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não revelou evidências que indicassem a dependência da desejabilidade

social frente às dificuldades no cumprimento da terapêutica dietética.

Espíndola, Fortaleza e Menezes (2013) consideram que a cirurgia

bariátrica proporciona benefícios que estão além do emagrecimento,

ressaltando a possibilidade de redução dos sintomas psicopatológicos e a

melhoria na qualidade de vida.

Leal e Baldin (2007), em uma amostra de seis pacientes submetidas

à cirurgia bariátrica constatou que em alguns casos houve a resolução dos

conflitos interpessoais e conjugais, assim como mudanças de traços

definidos de sua personalidade, além de outras alterações.

Para Sprengel (2015), aspectos importantes interferem na

construção de nossa identidade e imagem corporal, tais como a cultura, a

moda, mídia, representações mentais e figurativas do corpo, as relações,

sexualidade, história de vida e intolerância às frustrações. Para que ocorra

uma “transformação psicológica do esquema mental do corpo”, é

indispensável os cuidados com a alimentação e atividade física, pois caso

contrário, o emagrecimento não será mantido a longo prazo.

O culto ao corpo magro no contexto cultural, com seus padrões

estéticos reforçados pela mídia, serve de modelo para o modo como os

indivíduos concebem seus corpos, o que permite a formação de estruturas

cognitivas disfuncionais e transtornos psicológicos. Pensar a construção da

imagem corporal não é tarefa fácil, tendo em vista a complexidade e

abrangência do tema (VERAS, 2010).

De acordo com Marcelino e Patrício (2011), há uma complexidade

envolvida no “ser obeso”, pois a obesidade está centrada no aspecto

comportamental, sendo que atingir peso saudável exige mudança nos

hábitos alimentares, na prática de condicionamento físico e na atenção à

saúde psíquica. As autoras também citam a ênfase midiática à inadequação

do obeso aos padrões de beleza.

A forma em que a pessoa percebe seu corpo e suas tendências

comportamentais é resultado de um individual processamento mental.

Aceitar a condição anterior, fazer pazes com o passado, perceber a

obesidade como doença sob controle, significa respeitar a própria história,

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mantendo um olhar atento para si mesmo, evitando assim, a recidiva do

peso. O contato com o próprio corpo é importante para a manutenção da

imagem corporal mais adequada à realidade, e isso estando bem trabalhado

emocionalmente, as imagens do passado podem ser vistas com significado

de superação (SPRENGEL, 2015).

É importante ressaltar que passar por uma cirurgia bariátrica

significa, necessariamente, passar por uma separação íntima de alguns

aspectos de si mesmo, bem como separar-se de alguns padrões que

propiciam a obesidade, buscando novas formas para o controle da doença.

Muitas vezes, é preciso separar-se de relações nocivas, sentimentos e até

mesmo de trabalhos que já não fazem mais sentido, pois a cirurgia evoca

uma necessidade de mudança pessoal e as relações conjugais são as mais

sensíveis às mudanças. Desse modo, as fantasias de separação permeiam

a mente da pessoa operada e também do cônjuge. Muitas vezes, o sucesso

do emagrecimento gera ciúme e insegurança, mas situações em que haja

cumplicidade e solidez, o casal se beneficia do resgate da autoestima

(SPRENGEL, 2015).

Também, Benedetti (2015) menciona as desestabilizações dos

vínculos conjugais, tendo afirmado que o emagrecimento provoca

modificações no funcionamento familiar.

Pessoas com nível significativo de criticidade ao corpo e baixa

abertura à experiência podem apresentar, em sua estrutura de

personalidade, esquemas iniciais desadaptativos ligados ao isolamento

social, pertencente ao domínio esquemático de desconexão e rejeição

(JAGER et al., 2017).

A família pode ser considerada um ambiente social potencial para a

formação do autoconceito corporal, sendo que padrões cognitivos,

emocionais e comportamentais rígidos, no qual o corpo e a manutenção da

beleza ditadas por padrões sociais culturais, funcionam como controle e

podem tender a contribuir para sofrimento psíquico relacionado ao corpo

(JAGER et al., 2017).

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Para Justino, Barbosa e Pimentel (2017), relações familiares e

sociais sofrem alterações em pós-cirúrgico, podendo surgir situações ligadas

a ciúmes, rivalidades e desejos de liberdade.

Uma tendência comportamental que se observa com frequência,

com maior destaque, em mulheres obesas e com autoestima comprometida,

é o fato de serem muito permissivas, o que pode fazer com que os parceiros,

filhos e demais familiares abusem moralmente. O acompanhamento

psicológico pode contribuir para que se estabeleça novos limites. De forma

geral, relações mais sólidas e construtivas são beneficiadas com o

emagrecimento, em detrimento as relações mais frágeis tendem ao fracasso

(SPRENGEL, 2015).

O exemplo abaixo é carregado de conteúdo emocional ligado à

história da obesidade e demonstra que não se deve desconectar as

vivências das repercussões no corpo (SPRENGEL, 2015):

Uma menina que foi abusada sexualmente na infância começa a comer excessivamente como parte de um quadro depressivo, que se instala na adolescência. Passa a ser obesa e, com isso, sente-se menos ameaçada sexualmente, conseguindo levar a vida escolar, social e familiar apesar do ocorrido e da depressão. Após alguns anos passa pela cirurgia bariátrica, emagrece e entra em contato com um corpo novo, com formas femininas definidas do que quando estava obesa. Assusta-se com o assédio masculino que a remete aos abusos sofridos e deprime-se por não saber como lidar com estas dores, que estavam guardadas e reprimidas de algum modo. Fica mais reclusa e volta a comer alimentos gordurosos e cheios de açúcar, retornando ao corpo obeso “seguro” (2015, p. 75).

Pesquisas na área da psicossomática apontam que manifestações

emocionais podem afetar o corpo físico provocando alterações nas sinapses

dos hormônios no organismo, pois a genética influencia na obesidade

apenas de 20 a 25% (MARIA; YAEGASHI, 2016).

Espíndola, Fortaleza e Menezes (2013) verificaram as condições

afetivo-emocionais de pessoas submetidas à cirurgia bariátrica com quadro

de obesidade mórbida, em uma amostra formada por 28 participantes,

divididos em dois grupos distintos. Utilizou-se a Escala Fatorial de

Neuroticismo – EFN que avalia vulnerabilidade (N1), desajustamento

psicossocial (N2), ansiedade (N3) e depressão (N4). De modo geral, o grupo

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de obesos apresentou mais alterações psicológicas do que o grupo de

operados.

3.3 A atuação do psicólogo em cirurgia bariátrica

A presença obrigatória dos psicólogos em equipes de cirurgia

bariátrica foi oficialmente instituída por meio da Resolução CFM Nº 1.766/05,

publicada no diário oficial da união em 11 de julho de 2005, seção I, p. 114

(GLEISER, 2009).

O papel do psicólogo é avaliar o indivíduo se está apto

emocionalmente para a cirurgia e auxiliá-lo quanto à compreensão de

aspectos decorrentes dos períodos pré e pós-operatórios. Contraindicações

transitórias ocorrem quando o indivíduo apresenta psicopatologia ativa e

descompensada, quadros de depressão aguda, abuso de álcool e drogas e

bulimia nervosa. Nestes casos, é necessária estabilização do quadro

mediante conduta especializada do serviço de psiquiatria. Em situações que

exista “deficiência intelectual”, além da avaliação multidisciplinar, faz-se

necessário um familiar responsável pelo acompanhamento e monitoramento

da alimentação e suplementação (SPRENGEL, 2015).

Flores (2014) afirma que alguns aspectos da vida do candidato

devem ser avaliados por psicólogos. Dentre os fatores psicossociais

apontados, o estudo ressalta a compreensão do indivíduo em relação à

cirurgia, mudanças no estilo de vida, expectativas quanto aos resultados,

habilidade em aderir recomendações, comportamento alimentar,

comorbidades psiquiátricas prévias e atuais, os motivos para realizar a

cirurgia, suporte social, uso de substâncias, situação socioeconômica,

satisfação conjugal, funcionamento cognitivo, autoestima, histórico de

trauma/abuso, qualidade de vida e ideação suicida.

Cabe ao psicólogo avaliar os diversos aspectos de vida que motivou

o indivíduo a optar pela cirurgia, sendo a avaliação psicológica aprofundada,

uma estratégia para redução de riscos e complicações que podem surgir

após o procedimento. Entretanto, não há consenso em relação ao número

de sessões indicadas no preparo psicológico para cirurgia bariátrica, porém

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS … · Tabela 2 – Relato de algumas experiências adversas . x SIGLAS E ABREVIATURAS ACE – Adverse Childhood Experiences (Experiências

33

os estudos sugerem a aplicação de testes psicológicos e realização de

entrevista. No Brasil, observou-se que não há ferramentas específicas para

avaliação psicológica do paciente bariátrico (FLORES, 2014).

Silva e Maia (2011) compreendem como fundamental a necessidade

de se elaborar uma avaliação criteriosa dos candidatos, bem como a

importância do repensar a intervenção cirúrgica. Deve-se atentar à história

de vida, principalmente, às adversidades e características de funcionamento

na idade adulta. Quanto à intervenção, é importante promover aprendizagem

de estratégias de coping saudáveis e adequadas.

A ideia de “mutilar” um estômago saudável a fim de impedir o

indivíduo de alimentar-se livremente era tida como absurda para uma

parcela de profissionais da psicologia. Porém, quando a vida da pessoa com

obesidade está ameaçada pelo excesso de peso, a possibilidade cirúrgica

torna-se viável. Dessa forma, o psicólogo inicia o tratamento no primeiro

contato com o indivíduo e termina quando o mesmo, após a cirurgia, se

sente suficientemente apto para assegurar seu peso baixo e prosseguir com

a vida que o emagrecimento lhe proporcionou (BENEDETTI, 2015).

De acordo com Franques e Benedetti (2015), a ação do psicólogo na

manutenção do peso do indivíduo emagrecido tem início no pré-operatório

quando se inicia a conscientização, desde a anamnese e coleta da história

de vida, ainda que o número de sessões seja reduzido. O psicólogo deve

observar as contraindicações ao procedimento bariátrico determinadas pelo

CFM e Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, e identificar

os reais motivos da opção cirúrgica.

Franques e Benedetti (2015) ainda afirmam que o grau de preparo e

conscientização do indivíduo por meio de processo de orientação pré-

cirúrgica está ligado ao sucesso do tratamento. Em relação à

psicoeducação, o profissional deve esclarecer ao indivíduo que a obesidade

é doença crônica, decorrente de causas múltiplas, orgânicas,

comportamentais, emocionais e a recidiva é uma característica da doença.

As informações estimulam a persistir no seguimento em pós-operatório.

Outra questão relevante é a participação familiar no processo, pois

quando a mesma é orientada se posiciona de forma efetiva, acusando

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS … · Tabela 2 – Relato de algumas experiências adversas . x SIGLAS E ABREVIATURAS ACE – Adverse Childhood Experiences (Experiências

34

menos e envolvendo-se na promoção do emagrecimento e na identificação

de situações problemas que poderão surgir (FRANQUES; BENEDETTI,

2015).

O acompanhamento pós-operatório ofertado pelo cirurgião,

psicólogo e nutricionista tem se mostrado eficaz na manutenção dos

resultados. Dessa forma, o retorno com regularidade às consultas durante o

primeiro ano permite que a equipe avalie se o indivíduo tem respondido bem

emocionalmente e fisicamente, às alterações provocadas pela cirurgia. Em

relação ao acompanhamento psicológico pós-operatório, os encontros

podem ser individuais ou em grupos, em intervalos mensais ou de acordo

com a necessidade, pelo menos até seis meses, considerando a adaptação,

adesão e surgimento ou não de alterações emocionais (FRANQUES;

BENEDETTI, 2015).

Segundo Benedetti (2015), a gastroplastia é apenas uma parte do

tratamento e sua eficácia está ligada a adesão do indivíduo ao tratamento, e

não pelo resultado técnico do procedimento. Os fracassos terapêuticos,

geralmente, se relacionam ao comportamento alimentar abusivo ou

inadequado, desadaptação da pessoa operada ao novo corpo e as novas

demandas e avaliação negativa da qualidade de vida pós-cirúrgica. Por

estas questões, tanto os serviços públicos como privados consideram o

acompanhamento psicológico um procedimento consagrado. Todavia, nem

todos os indicados à cirurgia bariátrica necessitam de acompanhamento

psicoterápico sistemático. Alguns casos respondem às intervenções em

grupos psicoeducativos, outras pessoas resistem à orientação e outros

podem apresentar processos complexos, os quais podem gerar

comportamentos disfuncionais, e a estes estão indicados a psicoterapia.

Para Benedetti (2015), nos grupos psicoeducativos há possibilidade

de troca de informações entre indivíduos do serviço, oportunidade de sanar

dúvidas que prejudicam a adaptação, promover a autopercepção e suporte

da rede social de apoio. Ao psicólogo, intervenções em grupo geram

oportunidade de acompanhar o indivíduo que não está em acompanhamento

psicoterápico.

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35

De acordo com o Protocolo Clínico da Comissão das Especialidades

Associadas (Coesas), votado e aprovado no Fórum de Psicologia realizado

no 16° Congresso de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Rio de Janeiro, 2014,

o acompanhamento psicológico em pós-cirúrgico tem por objetivos:

Ampliar o autoconhecimento do paciente e familiares para

facilitar a compreensão e adaptação ante as mudanças

provocadas e exigidas pela cirurgia (hábitos, imagem

corporal);

Estimular autocuidado, motivação e adesão ao tratamento

e às orientações da equipe;

Avaliar a evolução da adaptação ao novo estilo de vida

(prevenção de deficiências nutricionais e reganho de peso);

Auxiliar o paciente na retomada ou no desenvolvimento de

projetos de vida após a cirurgia;

Facilitar no manejo de estressores cotidianos e na busca

de qualidade de vida (SBCBM, 2017).

Algumas vezes, a desestabilização psicológica provoca no

indivíduo um distanciamento do acomodamento psíquico o qual desfrutava

antes de emagrecer, mesmo que conviver com a obesidade fosse ruim, era

conhecido em suas facetas e promovia uma posição no mundo, situação

esta que o obeso tinha certo grau de clareza e estava acostumado. Quando

tensões geradas pelo emagrecimento leva a perturbações para além da

capacidade do indivíduo de suportá-las e manejá-las, a psicoterapia é

indicada (BENEDETTI, 2015).

Sprengel (2015) afirma que em alguns casos a pessoa operada

pode apresentar alguns momentos de “quietude” e desânimo, pouco

interesse por conversar, traço comportamental diferente das tendências

comportamentais usuais, situação explicada pelo fato de que sair da

condição de obeso envolve um trabalho emocional exigente, fazendo-se

necessário a adoção de novos arranjos emocionais.

Benedetti (2015), acerca da baixa adesão dos indivíduos em fase

pós-operatória, explica que muitas vezes isso acontece devido ao fato de

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estarem felizes e satisfeitos com o resultado da terapêutica, e ainda cita que

os que o fazem, apresentam a tendência de comparecer para compartilhar

com os outros o sucesso de seu tratamento. A autora, psicóloga, pontua que

aqueles que mais precisam não retornam.

Para Martins, Abreu-Rodrigues e Souza (2015), a alta frequência de

uso da internet pode impactar negativamente no seguimento pós-cirúrgico,

sendo que o acesso coloca o indivíduo em contato com grande quantidade

de informações, o que pode provocar a crença de que é desnecessário o

atendimento por um profissional.

A baixa adesão é a maior dificuldade encontrada pela equipe,

principalmente, por psicólogos. Várias discussões sobre a questão são

realizadas, porém pouco resultado efetivo tem se conseguido. Voltar a

ganhar peso gera sofrimento e quebra na autoconfiança e autoestima,

algumas pessoas procuram a equipe após a cirurgia somente quando a

recidiva de peso já atingiu índices preocupantes (FRANQUES; BENEDETTI,

2015).

A pessoa que deseja sucesso no emagrecimento induzido por

cirurgia bariátrica deve valorizar um bom preparo psicológico, nutricional e

clínico, e conscientizar-se que a cirurgia bariátrica é o início do tratamento

da obesidade, que mudanças comportamentais e de hábitos de vida devem

ser para sempre e que o suporte da equipe multidisciplinar nessa caminhada

é fundamental. (FRANQUES; BENEDETTI, 2015; OLIVEIRA; LINARDI;

AZEVEDO, 2004).

Devido às contingências relacionadas ao pós-cirúrgico, a

necessidade de acompanhamento sistemático de profissionais a fim de

monitorar a saúde em todas as suas dimensões, torna-se uma constante na

vida dos indivíduos bariátricos, pois a obesidade é um fenômeno particular

que exige abordagem interdisciplinar (MARCELINO; PATRÍCIO, 2011).

Silva e Maia (2013) consideram que a demanda de indivíduos

bariátricos deveria ser considerada crônica, devendo ser continuamente

acompanhados por uma equipe interdisciplinar com a finalidade de promover

mudanças no estilo de vida, na manutenção da perda de peso e na melhoria

da saúde. Quanto ao insucesso no tratamento é essencial compreender

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37

possíveis erros, considerar outras alternativas, sempre com foco no contínuo

empoderamento dos indivíduos.

Os profissionais envolvidos com acompanhamento aos pacientes

bariátricos devem estar cientes da possibilidade de recidiva de peso.

Mudanças no estilo de vida demandam trabalho de uma equipe

interdisciplinar e de políticas públicas intersetoriais (OLIVEIRA; CORSINI;

LEITE, 2013).

De acordo com Sprengel (2015), as causas mais importantes na

recidiva de peso são: sedentarismo, consumo de bebidas alcoólicas e

refrigerantes, alimentos hipercalóricos, o comportamento de beliscar e ou

compulsão alimentar, pré-existente ou adotada após a cirurgia. A dilatação

da anastomose, passagem do estômago para o intestino, pode ser apontada

como causa para a recidiva, causando prejuízo na função restritiva do

estômago. Ela pode ser provocada pelo modo de se alimentar, fazendo com

que o alimento não fique retido no estômago, diminuindo a sensação de

saciedade. Os operados com acompanhamento médico, nutricional e

psicológico obtém resultados efetivos e duradouros.

Para Bardal, Ceccatto e Mezzomo (2016), os estudos acerca da

recidiva de peso identificam diversos fatores envolvidos e apontam para a

necessidade de colaborações científicas que exponham resultados

sustentáveis.

Para Ilias e Mattos (2015), a recidiva de peso significativo a longo

prazo pode trazer as comorbidades de volta, devendo ser evitado mediante

suporte multidisciplinar. Os autores acrescentam os fatores que provocam a

recidiva de peso referem-se à falta de acompanhamento pós-operatório com

especial atenção ao abandono das orientações psicológicas e nutricionais.

Ainda, afirmam que a depressão nestes indivíduos pode significar um fator

preponderante à recidiva.

Espíndola, Fortaleza e Menezes (2013), reforçam a necessidade do

acompanhamento por uma equipe multidisciplinar durante todas as fases do

tratamento, com finalidade de evitar a recidiva do peso, bem como da

manutenção da qualidade de vida conquistada durante o processo.

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38

De acordo com Bardal, Ceccatto e Mezzomo (2016), para que haja

manutenção do peso após a cirurgia bariátrica é preciso abordagem

multidisciplinar, com associação de diversos tratamentos os quais devem

envolver profissionais da medicina, nutrição, educação física e psicologia.

De acordo com a Portaria n. 424, de 19 de março de 2013, do

Ministério da Saúde, o indivíduo e seus responsáveis devem compreender

os aspectos do tratamento, bem como assumirem o compromisso com o

segmento após a cirurgia, o qual deve ser mantido por tempo a ser

determinado pela equipe.

Observa-se tendência comportamental contemporânea de se

desejar obter resultados práticos, rápidos e de fácil acesso. Postura

imediatista, reforçada talvez pela tecnologia e pelo avanço dos sistemas de

comunicação. Condicionados à praticidade, porém com pouca exposição a

frustrações. O indivíduo em busca da cirurgia, traz consigo esses desejos,

anseios por soluções de fácil acesso. Crenças dessa ordem, podem

provocar pouca adesão ao seguimento pós-cirúrgico, embasados por uma

falsa ideia de que a cirurgia possa ter “resolvido” a situação.

3.4 Tendências comportamentais e estudos sobre obesidade

Apesar da cirurgia bariátrica ser um procedimento importante no

controle da obesidade, alguns eventos adversos podem ocorrer em

indivíduos após o tratamento em consequência da falta de conhecimento

associado a fatores psicossociais relacionados ao período pré-cirúrgico.

(ALMEIDA et al., 2011).

Os estudos se concentram em caracterizar o perfil psicossocial das

pessoas que optam por cirurgia bariátrica, com objetivo de correlacionar as

diferentes variáveis obtidas em entrevista semiestruturada, como por

exemplo aspectos relacionados ao emprego, relacionamentos e peso

corporal, com variáveis resultantes de escalas ou inventários de avaliação,

tais como sintomas de ansiedade, depressão e compulsão alimentar

(ALMEIDA et al., 2011).

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39

Silva e Maia (2011) caracterizaram as experiências de vida na

infância e os problemas de saúde física e mental de um grupo de obesos e

comparou com sujeitos não obesos. Observaram as experiências adversas

na infância, psicopatologia geral, dimensões da personalidade, estilos de

coping, problemas e queixas de saúde. Os resultados demonstraram que

obesos relatam mais problemas de saúde e utilizam poucas estratégias de

coping, mas não apresentam psicopatologia geral.

Observaram ainda baixa prevalência de relato de abuso físico, sexual,

violência doméstica, divórcio ou separação parental, porém quando

comparados os grupos entre si, verificou-se diferenças apenas no relato de

abuso de substâncias no ambiente familiar, sendo que os obesos

apresentaram valores superiores, já no quesito doença mental ou suicídio,

houve mais relatos em sujeitos não obesos. Também não encontraram

diferenças significativas nas dimensões da personalidade entre obesos e

não obesos.

Fletcher e Schurer (2017) realizaram um estudo longitudinal de

experiências adversas na infância para compreender a exposição aos maus

tratos parentais e seus efeitos indiretos na saúde e nos traços de

personalidade de jovens americanos com idade média de trinta anos.

De acordo com Fletcher e Schurer (2017), algumas experiências

adversas na infância predizem significativamente o neuroticismo, a

conscienciosidade e a abertura a experiências, mas não há impacto

consistente sobre agradabilidade e extroversão. Para estes autores, o

neuroticismo é o único traço significativamente associado à experiência de

abuso sexual frequente na infância. Experiências frequentes de negligência

parental são positivamente associadas com neuroticismo e, negativamente

associadas com conscienciosidade e abertura a experiências.

Abuso sexual frequente, comumente, não é denunciado devido ao

estigma e natureza criminal, sendo que as memórias de abuso sexual

podem até serem reprimidas, um fenômeno que pode ser identificado como

amnésia dissociativa, que possui forte suporte científico (FLETCHER;

SCHURER, 2017).

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40

Almeida et al. (2011), em estudo sobre aspectos psicossociais em

cirurgia bariátrica, encontraram associação entre variáveis emocionais,

trabalho, relacionamentos e peso corporal. Optaram por utilizar a entrevista

semiestruturada do Inventário de Depressão de Beck (BDI), Inventário de

Ansiedade de Beck (BAI) e Binge Eating Scale (BES). Identificaram que

pessoas sem emprego são mais propensas a apresentar sintomas

depressivos; aquelas sem emprego são mais propensas a ter IMC elevado e

sintomas de ansiedade; os que tinham um parceiro, desejavam menor peso

e, por fim, sugeriram que pessoas com IMC mais baixo são mais propensas

a desejar menor peso.

De acordo com Silva e Maia (2013), a respeito das características

físicas da saúde e melhorias após a cirurgia bariátrica, recentes estudos

buscaram compreender o perfil psicológico de pacientes obesos e as

consequências de curto e longo prazo. Para as autoras, não há consenso na

literatura sobre o impacto de psicopatologias no sucesso da cirurgia ou nas

mudanças que acontecem após a cirurgia. No caso de alguns pacientes,

psicopatologias podem aumentar o risco de resultados cirúrgicos

insatisfatórios, enquanto que para outros grupos de pacientes, não há

relevância ou impacto nos resultados cirúrgicos.

Os resultados da cirurgia bariátrica e os impactos deste

procedimento nas diferentes dimensões da personalidade são os maiores

tópicos de interesse para profissionais e pesquisadores que trabalham neste

campo. Alguns estudos mostram alta variabilidade associada ao

procedimento e muito pouco é conhecido sobre o motivo de alguns

pacientes perderem mais peso do que outros ou, sobre o impacto da cirurgia

na qualidade de vida e saúde (SILVA; MAIA, 2013).

Assim, Silva e Maia (2013), analisaram um grupo de 30 pacientes

que prosseguiram em acompanhamento em pós-cirúrgico, em relação a

mudanças no peso, problemas de saúde e suas consequências,

psicopatologias e personalidade no período de 6 a 12 meses depois do

procedimento cirúrgico. Neste cenário, estas diferenças incluem significante

perda de peso, diminuição dos problemas de saúde e suas consequências e,

um aumento dos escores de algumas dimensões da personalidade,

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especificamente, conscienciosidade, extroversão e agradabilidade. De

acordo com orientações internacionais, a maioria dos obesos mórbidos

deveria ser considerada candidatos à cirurgia bariátrica, mas é importante

avaliar a capacidade para seguir as demandas do tratamento.

Para Thomas e Castro (2012), a personalidade é um fator

importante, pois pode afetar a saúde da pessoa, já que reforça

potencialidades e influencia seu comportamento. E sobre esse assunto,

afirmam que tem sido encontrado resultados similares nos estudos sobre

personalidade e saúde, realizados em diferentes países.

De acordo com Thomas e Castro (2012), com base em uma revisão

de estudos observa-se que há uma certa predominância nos achados que

associam Neuroticismo e doenças crônicas, legitimando a tendência à

explicação de que os fatores de personalidade predisporiam ou agravariam

os sintomas das doenças. Nos estudos apresentados pelas autoras, o fator

Neuroticismo sugere ser o mais ligado a comportamentos de risco para a

saúde, além de exercer influência negativa no quesito adesão aos

tratamentos médicos, sendo contraponto do fator Realização, tido como

componente positivo para comportamentos saudáveis.

A alimentação parece ser importante estratégia para o

enfrentamento de problemas e emoções, bem como uma fonte importante

de interação social e prazer. Após a cirurgia, o comportamento alimentar

será significantemente restrito, restrição esta que poderá gerar novas

estratégias de enfrentamento (SILVA; MAIA, 2013).

Silva e Maia (2010) realizaram estudo para averiguar prevalência de

experiências de adversidade na infância e tentativas de suicídio em

candidatos à cirurgia bariátrica. Constataram elevada prevalência de

situações de adversidade contra o indivíduo (n = 60, 60%), bem como um

ambiente familiar disfuncional (n = 74, 74%) e situações de negligência (n =

60, 60%). Os participantes referiram ter tido pelo menos uma experiência de

adversidade na infância em 88% dos casos, sendo que 50% relataram cinco

ou mais experiências. Em relação às tentativas de suicídio, 25% (n = 25)

disseram ter realizado pelo menos uma tentativa, sendo que 75% (n = 20)

referiram ter realizado duas ou mais tentativas.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS … · Tabela 2 – Relato de algumas experiências adversas . x SIGLAS E ABREVIATURAS ACE – Adverse Childhood Experiences (Experiências

42

Uma sugestão apresentada por Silva e Maia (2010) é acerca da

importância de se monitorar, acompanhar e avaliar os sujeitos,

longitudinalmente, a fim de se compreender se o risco se mantém em

momento posterior à cirurgia, ou se os sujeitos apresentam maior ou menor

tendência ao suicídio. As autoras também pontuam sobre a importância de

uma avaliação cuidadosa desses candidatos, e discutem sobre o adequado

acompanhamento para esta demanda.

De acordo com Justino, Barbosa e Pimentel (2017) boa parte do

comportamento alimentar em obesos é evocado e mantido por contingências

aversivas, assim, sensações desagradáveis podem ser amenizadas pelo

alimento, o que a longo prazo essa relação passa a ter caráter de esquiva.

Dessa forma, mecanicamente impedido de comer e, sem outros repertórios

alternativos, pode enxergar no ato suicida uma alternativa na classe de

respostas de fuga e esquiva.

Lidar com as mudanças oriundas do processo cirúrgico é, no

mínimo, complexo e exigente, o que sugere que a avaliação do candidato

deva ser criteriosa, sendo que o acompanhamento psicoterápico pré e pós-

cirúrgico deve estimular o desenvolvimento de mudanças comportamentais,

auxiliando na minimização do risco de ideação suicida (JUSTINO;

BARBOSA; PIMENTEL, 2017).

Segundo Leal e Baldin (2007), a comida é tida como fuga de

angústias e estados emocionais desagradáveis e, indivíduos submetidos ao

processo cirúrgico não conseguem repetir este padrão comportamental

diante de eventos estressores, o que pode estimular novos repertórios

comportamentais na tentativa de amenizar estados ansiogênicos, utilizando-

se do álcool ou outras drogas.

3.5 Ensino na saúde e a Bateria Fatorial de Personaliade como instrumento

Para Martins et. al (2015), pensar o ensino na saúde como mediador

para a prática profissional não é uma tarefa usual, sendo que novas formas

de diálogos entre teoria e prática, além da cultura, são elementos

importantes na formulação da práxis de excelência na saúde. As autoras

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS … · Tabela 2 – Relato de algumas experiências adversas . x SIGLAS E ABREVIATURAS ACE – Adverse Childhood Experiences (Experiências

43

afirmam que programas de pós-graduação Stricto Sensu desenvolvem

esforços para o ensino na saúde tendo como foco o compromisso com a

formação adequada de profissionais e a ação profissional, ou seja, dedicam-

se à formação em saúde.

A psicologia da saúde contribui para a compreensão dos fenômenos

que identificam as patologias e suas características. Particularmente, faz-se

importante a promoção do conhecimento técnico-científico ligados às

características comportamentais e psicológicas que predispõem à

obesidade, por ser uma condição crônica e seu tratamento promover o seu

controle.

Sabe-se que a obesidade é uma doença multifatorial, não decorre

somente de fatores genéticos, metabólicos, má escolha dos alimentos e

sedentarismo, mas também tendências comportamentais, eventos adversos

e características de personalidade podem contribuir para surgir ou manter a

doença. É fundamental a elaboração de uma avaliação cuidadosa dos

candidatos à cirurgia bariátrica, bem como proporcionar acompanhamento

adequado para esta demanda.

O processo de ensino sugere mudanças no novo perfil profissional

que reconhece tendências históricas e as potencialidades de ensino e

assistência, atendendo necessidades do mercado, demandas sociais e o

padrão de políticas governamentais em educação e em saúde (MARTINS et.

al, 2015).

Tendo em vista as diferentes variáveis que envolvem a obesidade e a

dimensão cirúrgica, compreende-se a necessidade de processos de

avaliação que alcancem maior quantidade de aspectos de vida do candidato,

bem como a avaliação de repertório atual, aquisição de comportamentos ao

longo de sua vida, bem como suas condições para desenvolver um novo

repertório (JUSTINO; BARBOSA; PIMENTEL, 2017).

No processo de preparo a avaliação psicológica do indivíduo com

indicação de cirurgia bariátrica faz-se importante o uso de instrumentos que

ofereçam dados sobre a estrutura emocional básica. Para tanto, pode-se

utilizar a Bateria Fatorial de Personalidade – BFP. Essa ferramenta é

específica na área da psicologia para avaliação da personalidade, um teste

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44

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Posição Percentil do Respondentes

considerado favorável entre os psicólogos, de acordo com o Conselho

Federal de Psicologia - CFP, tendo em vista que dispõe de propriedades

psicométricas. Testes psicológicos são para os psicólogos tão importantes

como exames são para médicos.

Esse instrumento foi idealizado no Brasil e tem sido utilizado em

diversos contextos de pesquisas científicas. O mesmo apresenta um resumo

dos resultados com base no modelo dos Cinco Grandes Fatores - CGF, os

quais incluem: Extroversão, Socialização, Realização, Neuroticismo e

Abertura a Experiências (NUNES; HUTZ; NUNES, 2010).

Para compreensão do processo de conversão em pontos

percentílicos, vide exemplo da Figura 1, é importante informar que escores

brutos calculados nas dimensões da Bateria Fatorial de Personalidade e

suas facetas devem ser transformados em escores percentílicos, para serem

interpretados. Os pontos percentílicos representam a posição relativa da

pessoa avaliada em relação a um grupo de referência (NUNES; HUTZ;

NUNES, 2010).

Figura 1 - Posição Percentil dos Respondentes (BFP) Fonte: NUNES; HUTZ; NUNES, 2010

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS … · Tabela 2 – Relato de algumas experiências adversas . x SIGLAS E ABREVIATURAS ACE – Adverse Childhood Experiences (Experiências

45

Sabe-se que um traço de personalidade determina comportamentos

importantes para determinado grupo ou comunidade. A BFP, como qualquer

teste de personalidade, permite identificar tendências de comportamentos,

bem como, padrões mais prováveis de atitudes e crenças. Dessa forma, este

instrumento pode ser utilizado para a avaliação do perfil de candidatos à

cirurgia bariátrica (NUNES; HUTZ; NUNES, 2010).

Traços de personalidade apontam a descrição de uma pessoa, além

de sugerir formas de se prever comportamentos. Dessa forma, testes de

personalidade, baseados no modelo dos Cinco Grandes Fatores de

Personalidade, tem sido utilizado para fundamentar avaliações da

personalidade humana, inclusive em pesquisas na saúde (THOMAS;

CASTRO, 2012).

Pessoas com altos índices de Neuroticismo, com escores acima

de 70, apresentam a tendência de vivenciar de forma mais intensa o

sofrimento psicológico, instabilidade emocional e vulnerabilidade, e

geralmente relatam experiências intensas mediante eventos negativos,

dando pouca ênfase aos aspectos positivos dos fatos. Os altos índices estão

associados à ocorrência de sintomas de depressão e ansiedade. Estudiosos

buscam identificar as causas que levam os indivíduos a apresentarem maior

propensão a desenvolverem esses quadros clínicos (NUNES, 2000; NUNES

et al., 2001; BIENVENU et al., 2004 apud NUNES; HUTZ; NUNES, 2010).

O conhecimento dos percentis da escala de Neuroticismo da BFP

(N1 – Vulnerabilidade; N2 – Instabilidade emocional; N3 – Passividade/Falta

de energia; N4 – Depressão), somado a compreensão da história de vida do

indivíduo contribuem para a identificação do quadro emocional da pessoa

interessada em tratar a obesidade por via cirurgia bariátrica. Desta forma, o

entendimento de fatores que predispõem doenças psicossomáticas pode

determinar o diferencial profissional frente aos procedimentos a serem

adotados.

De acordo com Thomas e Castro (2012), estudos com objetivo de

conhecer a personalidade e sua influência na saúde auxiliam profissionais

no desenvolvimento de eficientes estratégias de intervenção. Maria e

Yaegashi (2016) afirmam que a personalidade assume potencial tanto para

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46

risco, como proteção e prevenção do desenvolvimento da obesidade ou

sobrepeso.

Marcelino e Patrício (2011) ao estudar sobre a necessidade do

cuidado integral em indivíduos bariátricos encontrou queixas por parte desta

demanda em relação à dificuldade de encontrar profissionais capacitados

fora dos centros de referência para atender a complexidade dos problemas

de saúde.

Ações com vistas à prevenção da obesidade exigem atenção

interdisciplinar, sendo importante também o papel das instituições

formadoras de profissionais envolvidos com a saúde coletiva, onde se faz

necessário o exercício do papel de mediação, de educação em saúde e de

maior envolvimento nas ações de promoção da saúde em vários contextos

(MARCELINO; PATRÍCIO, 2011).

Às instituições formadoras de profissionais, ressalta-se o quão

importante é seu papel para a mudança da realidade da obesidade no país.

Nesse sentido, atendendo à perspectiva interdisciplinar e intersetorial, é

preciso dar reforço a essa temática em disciplinas e pesquisas nos cursos

das áreas da saúde, da educação e das ciências humanas e sociais, que

reconheçam a importância da saúde coletiva num caminho focado no

cuidado de promoção, capaz de contribuir para remodelar as fontes

midiáticas e as práticas de saúde, particularmente, aquelas relacionadas à

alimentação e aos demais hábitos e estilos de vida promotores da obesidade

(MARCELINO; PATRÍCIO, 2011).

No que tange as experiências de reorientação da formação

profissional em saúde, acredita-se que a divisão entre o modelo biomédico e

aquele que se quer construir, baseado na atenção humanizada e no trabalho

coletivo, é potencializado pela inserção de novos cenários de prática e

modos de educação pelo trabalho, capazes de mobilizar docentes,

estudantes e trabalhadores, para a partir da experiência adotar novas formas

de produção do trabalho e de produção do cuidado (CARNEIRO; COSTA,

2015).

De acordo com Martins et. al (2015), metodologias ativas e tendências

pedagógicas interacionistas, quando articuladas às práticas interdisciplinares

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47

de aprendizagem, contribuem para a construção do conhecimento

originando formas de cooperar para a resolução de problemáticas inerentes

a promoção e prevenção a saúde.

É preciso alimentar ações e políticas nacionais focadas em

determinantes sociais para a saúde a longo prazo. Se a obesidade é uma

doença crônica e multifatorial, que se apresenta em proporções cada vez

mais crescentes, os profissionais envoltos no trato dessa demanda devem

buscar conhecimento continuamente para que o manejo ao interessado pela

cirurgia bariátrica seja o melhor possível. Contrapondo ao modelo atual,

voltado para ações imediatistas, equipes multiprofissionais devem exercer

atenção especial, um trabalho de fato interdisciplinar, que se atente aos

conteúdos encobertos. Em relação aos fatores psicológicos, a história de

eventos adversos e as características de personalidade dos indivíduos

devem ser exploradas, identificadas e trabalhadas.

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48

4 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, analítico e

documental com base na revisão de dois instrumentos - registros de

entrevista individual semiestruturada e dos resultados da Bateria Fatorial de

Personalidade - BFP.

A abordagem é qualitativa, pois fundamenta-se do raciocínio indutivo,

com base em uma leitura subjetiva. Estudos podem expressar variáveis em

forma de dados numéricos, em resposta a métodos matemáticos (Campos et

al., 2016).

4.1 Cenário

Para coleta de dados utilizou-se prontuários de indivíduos obesos

com indicação ao preparo psicológico em avaliação para cirurgia bariátrica.

Necessariamente, para o procedimento cirúrgico é preconizado atendimento

psicológico. Os dados do estudo foram extraídos de entrevistas e resultados

da Bateria Fatorial de Personalidade registrados e armazenados em

prontuários de uma instituição privada (CT Diagnóstico Médico), na região

central de Goiânia.

4.2 Critérios de inclusão

Os participantes do estudo foram indivíduos com indicação de cirurgia

bariátrica, de ambos os sexos, com faixa etária entre 20 e 62 anos, IMC ≥

35, que foram submetidos ao preparo e avaliação psicológica, entre o

período de 2013 a 2016 e assinaram o campo “Autorizo uso sigiloso em

pesquisa” do Protocolo de Respostas da BFP (Anexo 1).

A amostra consta de 132 prontuários de indivíduos que apresentaram

capacidade de leitura e interpretação do Caderno de Aplicação da BFP,

sendo estes classificados com obesidade grau II (IMC entre 35 e 39,9), com

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49

associação de comorbidades, ou obesidade grau III (IMC ≥ 40), com ou sem

doenças associadas.

4.3 Critérios de exclusão

Foram excluídos os testes que não tiveram a assinatura do indivíduo

no campo - “Autorizo o uso sigiloso em pesquisa”, no Protocolo de

Respostas da Bateria Fatorial de Personalidade (Anexo 1).

Também foram excluídos da amostra, aqueles indivíduos que

apresentaram diagnóstico prévio de doenças psicopatológicas sem

acompanhamento médico psiquiátrico e sem acompanhamento familiar.

4.4 Procedimento para coleta de dados

O estudo se refere a análise de dados com base em prontuários. A

entrevista psicológica (anexo 2), que compõe o prontuário, guarda registros

como os dados pessoais, genetograma, história de vida, história do ganho

de peso, hábitos e informações acerca do procedimento cirúrgico, dados

coletados na anamnese em consulta inicial. Consta também no prontuário o

instrumento de avaliação de personalidade – BFP. Ambos documentos

integram o arquivo de uma equipe multiprofissional na qual a pesquisadora

atua como psicóloga na função de preparo e avaliação psicológica para

cirurgia bariátrica.

O levantamento dos escores brutos da Bateria Fatorial de

Personalidade é realizado através do sistema informatizado, disponibilizado

pela Editora Casa do Psicólogo (http://www.casadopsicologo.com.br), para

correção eletrônica dos dados, apresentando uma síntese de interpretação

de cada fator. A Bateria Fatorial de Personalidade não informa que o

indivíduo possui determinada característica, mas sim, permite ao profissional

identificar as tendências comportamentais, possíveis atitudes e crenças

(NUNES; HUTZ; NUNES, 2010).

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50

4.5 Análise de dados

A coleta de dados foi realizada de agosto de 2013 a janeiro de 2016,

período em que durante a aplicação da Bateria Fatorial de Personalidade e

entrevista psicológica, não tinha definido o objetivo de pesquisa, conduta

esta que evita “contaminação dos dados”, ou seja, interferência nos

resultados da pesquisa.

Para Tesch (1990), a análise qualitativa tradicional deve ser feita em

constante interação com os dados. Costumeiramente, dados são palavras

escritas, obtidas de documentos escritos ou orais, previamente transcritos,

como entrevistas e depoimentos. Os dados encerram sentidos que devem

ser descobertos por meio de uma segmentação. Pedaços de texto com

sentido próprio e relevante para o estudo do fenômeno em pauta - unidades

de sentido - destacados e rotulados no processo de codificação. Essa

codificação é o eixo fundamental da pesquisa qualitativa e permite o

entendimento do fenômeno, pois dela nascerão explicações e a descoberta

de eventuais regularidades.

A análise de dados de um estudo pode ser interpretativa, estrutural e

reflexiva. A primeira visa analisar detalhadamente os dados colhidos com

finalidade de organizar e classificar categorias, as quais possam explorar e

explicar o fenômeno em estudo. A estrutural tem por finalidade encontrar

padrões que expliquem a situação. A reflexiva visa interpretar ou mesmo

avaliar o fenômeno a ser estudado, por julgamento ou intuição do

investigador (TESCH, 1990).

Utilizando-se da análise interpretativa de Tesch (1990), onde a

sequência responde a duas fases, a “De-contextualização”, ou seja, a

organização dos dados e, a “Re-contextualização” que significa a

interpretação, o presente estudo, no que tange à abordagem qualitativa,

procurou seguir estes passos.

Desta forma, inicialmente, separou-se do contexto as porções

relevantes dos dados iniciando assim a etapa de organização, realizou-se a

leitura e releitura exaustiva dos prontuários dos indivíduos, especificamente,

no instrumento - entrevista psicológica (Anexo 2).

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51

Os conteúdos foram organizados e tabulados no software Microsoft

Excel 2016, sendo coletados na mesma base de dados, respectivamente: 1 -

data em que o indivíduo iniciou o preparo e avaliação psicológica para a

cirurgia bariátrica, 2 - as iniciais do nome, 3 - sexo, 4 - idade, 5 - período em

que iniciou o ganho de peso, 6 - as ocorrências de experiências adversas

durante a história de vida.

Em relação a parte de interpretação das experiências adversas, os

pontos de maior atenção na entrevista foram: o genetograma, a história da

infância, adolescência e vida adulta, sendo observados fatores como o

relacionamento intrafamiliar, principalmente relação pai/mãe, vivências na

escola, relações com família, amigos, hábitos na adolescência, namoros, e

relações e contingências da fase adulta.

Na etapa de codificação das temáticas levantou-se oito categorias

de experiências adversas, respectivamente aqui listadas: 1 – Violência

psicológica, 2 – Violência física, 3 – Exposição ao abuso de álcool no

ambiente familiar, 4 – Negligência e abandono, 5 – Exposição à violência

doméstica, 6 – Divórcio e/ou separação parental, 7 – Trabalho infantil e, 8 –

Violência sexual.

Ainda nesta etapa, foram tabulados no software Microsoft Excel

2016 os percentis referentes a cada faceta dos Cinco Grandes Fatores –

CGF - de personalidade, quais sejam: Neuroticismo (N1 - Vulnerabilidade,

N2 - Instabilidade, N3 - Passividade, N4 - Depressão), Extroversão (E1 -

Nível de Comunicação, E2 - Altivez, E3 - Dinamismo, E4 - Interações

Sociais), Socialização (S1 - Amabilidade, S2 - Pró-sociabilidade, S3 -

Confiança), Realização (R1 - Competência, R2 - Ponderação, R3 -

Empenho) e Abertura (A1 - Abertura a ideias, A2 - Liberalismo, A3 - Busca

por novidades).

Apesar de ter sido utilizada a tabela de apuração dos percentis dos

CGF, atenção maior foi dada às facetas que compõem o Neuroticismo, por

se tratar de um dos objetivos deste estudo. A escolha por identificar os

percentis desta escala se deu, por sua vez, pelo fato de que o fator de

Neuroticismo tem sido considerado, no modelo dos CGF, o mais associado

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às características emocionais das pessoas como os estados de angústia,

aflições, por exemplo (NUNES; HUTZ; NUNES, 2010).

Conforme supracitado, os dados coletados foram tabulados e

analisados, primariamente, utilizando as ferramentas de análise de dados do

Microsoft Excel 2016. Nesta etapa, buscou-se a consolidação de uma base

de dados única, contemplando as dimensões qualitativas e quantitativas dos

dados.

Apesar do enfoque qualitativo da pesquisa, para a abordagem

quantitativa dos dados foi utilizado o software IBM SPSS v25.0. Os dados da

Bateria Fatorial de Personalidade – BFP, apresentaram uma distribuição

normal na amostra estudada, fato que nos permitiu o uso de testes

paramétricos. Estatística descritiva e estudos de correlação foram aplicados

para a avaliação entre os dados das experiências adversas, encontrados

nos prontuários e os resultados da Bateria Fatorial de Personalidade.

Diante da perspectiva teórica-prática, o sucesso do trabalho

cooperativo entre abordagens quantitativas e qualitativas é baseado em três

pilares opostos e complementares: 1 – um profundo respeito pelos campos

disciplinares; 2 – habilidade de perceber e relativizar a visão individual

fragmentada; e 3 – capacidade de diálogo dos pesquisadores diante de

propostas teóricas e metodológicas que confrontam suas rotinas usuais de

pesquisa (MINAYO, 2017).

Esta triangulação de perspectivas também contribui para o

enriquecimento de teorias, análises, e publicações do campo original do

conhecimento de cada pesquisador. A pesquisa é realizada através de uma

combinação de métodos, permitindo que os pesquisadores publiquem

estudos em outras formas de comunicação científica, onde a atividade

colaborativa é evidenciada. A colaboração entre áreas, métodos e técnicas,

permite que os envolvidos recebam o influxo da interfertilização do

conhecimento que, de certa forma, rompe barreiras práticas, teóricas e

epistemológicas (MINAYO, 2017).

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53

4.6 Aspectos éticos

Inicialmente, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa

- CEP, aprovado conforme parecer número 1.749.268 (Anexo 3) e atende as

diretrizes e normas regulamentadoras de acordo com a Resolução Nº

466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS, 2012). A Resolução em seu

capítulo IV é enfática em relação à obtenção do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido – TCLE, exige que toda pesquisa se processe após a

anuência dos participantes manifestarem à participação na pesquisa.

Entretanto, em seu capítulo IV, §8 reconhece algumas situações especiais

onde o TCLE pode ser dispensado.

A aquiescência dos participantes ocorreu previamente, durante o

atendimento psicológico. Para a coleta de dados foram utilizados somente

os prontuários onde o indivíduo do serviço concordou em participar do

estudo assinando o campo - “Autorizo o uso sigiloso em pesquisa”,

localizado no protocolo de respostas da Bateria Fatorial de Personalidade -

BFP (Anexo 1).

Dessa forma, a coleta de dados ocorreu após aprovação do CEP,

seguindo assim, os princípios éticos em pesquisa.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente estudo objetivou analisar as experiências adversas em

indivíduos com indicação ao preparo e avaliação psicológica em candidatos

à cirurgia bariátrica, e identificar, através da Bateria Fatorial de

Personalidade, os percentis da escala de Neuroticismo.

A população estudada totalizou 132 participantes, sendo que destes

75% (n= 99) são do sexo feminino e 25% (n=33) masculino.

A idade média foi de 36,97 anos (DP=10,45), não havendo diferença

relevante quando verificado a média de idade por sexo (feminino = 37,07,

DP=8,32; e masculino = 36,67, DP=9,17).

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Em relação ao início do ganho de peso, a análise de prontuários

mostrou que, embora muitos dos candidatos à cirurgia reportassem o início

de ganho de peso em fase adulta, observando, porém, a história da infância

através da entrevista, a maior parte da demanda relatava que desde criança

já sofria com o ganho de peso. Considerando esta evidência, foi possível

identificar que os 54,55 % dos candidatos masculinos relataram início do

ganho de peso na infância, 6,06% na adolescência e 39,39% na fase adulta.

Quanto à demanda feminina, 42,71% na infância, 10,42% na adolescência e

46,87% na fase adulta.

Em um estudo realizado por Turcato, Lima e Serralta (2017) com

objetivo de investigar se indivíduos obesos diferem de indivíduos de peso

normal, quanto a características de personalidade e níveis de sofrimento

psíquico, observaram que a obesidade na infância foi, significativamente,

mais frequente entre obesos em comparação aos não obesos.

Silva e Maia (2007) identificaram que a obesidade na infância ocorreu

em 13,3% (n = 75) dos casos, sugerindo que a maioria dos indivíduos se

descreveu como não obeso durante a infância.

No que tange à análise interpretativa referente às experiências

adversas, os dados qualitativos dos prontuários foram explorados com base

no modelo do Questionário da História da Adversidade na Infância - ACE

(Experiências Adversas na Infância), citado nos estudos de Silva e Maia

(2007, 2010 e 2011), Bellis (2013) e Lodhia et al. (2015). Esse modelo

evidencia categorias de adversidade, sendo elas: abuso emocional, abuso

físico, abuso sexual, negligência física, negligência emocional, exposição à

violência doméstica, abuso de substâncias no ambiente familiar,

divórcio/separação parental, prisão de um membro da família e, doença

mental ou suicídio.

Tendo como exemplo as categorias supracitadas, foram identificadas

oito categorias. O adicional aqui foi a observação da ocorrência em três

fases: infância, adolescência e fase adulta.

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Categorias

EAI

EAA

EAFA

Total EA

n % n % n % n %

1 - Violência Psicológica 41 26,80 16 69,57 18 58,06 75 36,23

2 - Violência Física 24 15,69 5 21,74 6 19,35 35 16,91

3 - Exposição ao Abuso de Álcool no Ambiente Familiar 25 16,34 0 0,00 6 19,35 31 14,98

4 - Negligência ou Abandono 24 15,69 0 0,00 0 0,00 24 11,59

5 - Exposição à Violência Doméstica 11 7,19 0 0,00 1 3,23 12 5,80

6 - Divórcio e/ou Separação Parental 11 7,19 1 4,35 0 0,00 12 5,80

7 - Trabalho Infantil 10 6,54 0 0,00 0 0,00 10 4,83

8 - Violência Sexual 7 4,58 1 4,35 0 0,00 8 3,86

TOTAL

153

73,91%

23

11,11%

31

14,98%

207

100%

EAI - Experiências Adversas na Infância

EAA - Experiências Adversas na Adolescência

EAFA - Experiências Adversas na Fase Adulta

TOTAL EA - Total de Experiências Adversas

Tabela 1 - Categorias das experiências adversas Elaborado pela autora

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Na amostra estudada (n=132 indivíduos), 207 experiências adversas

foram identificadas, perfazendo uma média de 1,57 eventos por indivíduo

(DP= 1,3). Quanto à fase de ocorrência destes eventos adversos, 73,91%

foram reportados na infância, 11,11% na adolescência e 14,98 % na fase

adulta, conforme Tabela 1.

Não obstante, 25% dos indivíduos (n=33), não relataram ocorrências

de experiências adversas. Vale pontuar que o protocolo de preparo para a

cirurgia bariátrica é breve e focal, ou seja, destinado à avaliação e

psicoeducação. Assim, a entrevista, instrumento onde no prontuário foram

quantificados os eventos adversos, foi efetuada no primeiro encontro com a

profissional. Esse dado, por si só, pode interferir na realidade dos fatos, pois

trata-se de um momento ainda de formação de vínculo para que o candidato

à cirurgia tivesse confiança suficiente para emitir dados da mais pura

intimidade.

Adicionalmente, 99 indivíduos (n=75) expuseram a ocorrência de pelo

menos um evento adverso. Assim, 25,75% (n=34) relataram ocorrência de

um evento; 27,27% (n=36) dois eventos; 14,39% (n=19) três; 4,54% (n= 6)

quatro experiências e, 3,03% (n=4) cinco situações.

Silva e Maia (2007) identificaram o abuso físico, emocional, sexual e,

a negligência física e emocional como as categorias mais descritas na

população estudada. Neste estudo, as categorias mais descritas,

respectivamente, foram a violência psicológica, violência física, exposição ao

abuso de álcool no ambiente familiar e negligência ou abandono, o que

significa 79,71% das ocorrências de experiências adversas.

Na tabela abaixo, podemos identificar alguns dos relatos dos

indivíduos em relação às experiências adversas sofridas, bem como o

processo utilizado para avaliação das mesmas.

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Tabela 2 – Relato de algumas experiências adversas Elaborado pela autora

Experiências Adversas Violência

Psicológica Violência

Física

Exposição ao

Abuso de Álcool no Ambiente

Familiar

Negligência ou

Abandono

Exposição à Violência

Doméstica

Abuso Sexual

C.V.V.F., feminino, 33 anos: Pai - Uso de bebida

alcoólica (Agressividade). "[...] Meu pai bebia muito, então brigavam muito, muito ciumento... Fiquei muito

dividida" (Com a separação); Aos 34 anos - Desemprego: "[...] quanto mais tinha preocupações

mais eu comia"

X

X

X

F.C.S., feminino, 27 anos: Pai - Violência Física e

Psicológica. " [...] Minha infância não foi boa ... Meu pai era muito ignorante, brigava demais, xingava

demais ... Nós apanhávamos". Mágoa, 06 anos sem conversar com o pai.

X X

M. F. P. J, masculino, 54 anos: Pai - Uso de bebida

alcoólica (Agressividade). "[...] Meu pai era agressivo com minha mãe"; Aos 34 anos, após a descoberta da

sua traição pela esposa, iniciou o ganho de peso.

X

X

X

W. E. C. S, masculino, 35 anos: Pai - violência física:

"[...] Pai autoritário, agressivo fisicamente ...". Negligência financeira e abandono paterno. "[...] Meus

irmãos não perdoam meu pai ..."

X

X

Y. F. A. C. S. B, masculino, 26 anos: Abuso sexual na

infância. Ausência do pai: "[...] Sinto raiva ainda do meu pai por isso ..."

X

X

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Nunes (2015) realizou uma pesquisa com base nos relatórios

qualiquantitativos dos Centros de Referência Especializados de Assistência

Social - CREAS, a fim de traçar um perfil das vítimas de violações de

direitos, dados do município de Goiânia no ano de 2014. Os dados

respondem ao Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias

e Indivíduos – PAEFI, que naquele ano totalizou 628 atendimentos,

identificando que 55% das pessoas vitimadas são do sexo feminino, sendo

que a violência mais encontrada foi a violência intrafamiliar (Física e

Psicológica), a violência sexual, somada ao abuso sexual e a exploração

sexual, responde ao segundo lugar, e o terceiro maior número de violências

foi seguido por pessoas vítimas de negligência.

Também, observou que em alguns CREAS, o número de violências

identificadas é superior aos casos registrados, sugerindo que as violências

não ocorrerem de forma única, mas sim atreladas a outras. Identificou-se

ainda que, em situações de violações de direitos praticadas contra crianças

e adolescentes, grande parte das violências acontece no núcleo familiar,

sendo que dos 625 agressores identificados, destes 458 possuem laços

familiares ou de parentesco com as vítimas, sendo o pai um dos principais

agressores (103 registros). O estudo revelou que 70% dos casos de

violações de direitos, o público mais vitimado é crianças de 0 a 12 anos.

Segundo Bellis et. al (2013), comunidades carentes tendem a ter

maior prevalência em experiências adversas na infância – ACE,

independente de fatores como criminalidade, violência, desemprego, índices

educacionais. O impacto das ACE’s em comunidades carentes potencializa

um ciclo de adversidades que expõem as crianças a situações de risco

social e ou vulnerabilidades.

Silva e Maia (2007, 2011), avaliaram experiências adversas na

infância em adultos com obesidade mórbida candidatos à cirurgia bariátrica,

68% relataram pelo menos quatro experiências de adversidade. E,

afirmaram que existem evidências da relação entre adversidade na infância

e a obesidade. Assim, experiências negativas podem exacerbar riscos

sociais e estão associadas ao desenvolvimento e manutenção da obesidade,

depressão, distúrbios da imagem corporal, dificuldades interpessoais, baixa

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autoestima e desenvolvimento de compulsão alimentar. A ingestão alimentar

compulsiva pode ser considerada estratégia para lidar com a emoção

negativa. Uma história prévia de adversidade pode levar o indivíduo a uma

forma de focar a atenção em sensações imediatas, desfocando dos

sentimentos negativos que pode estar experimentando.

Lodhia et al. (2015) afirmam que as experiências adversas na infância

podem auxiliar na explicação da heterogeneidade dos resultados após a

cirurgia bariátrica, assim identificaram que, pacientes submetidos ao

procedimento com alto índice de ACE (Experiências Adversas na Infância),

apresentam os piores resultados pós-cirúrgicos em relação ao IMC,

colesterol total e colesterol LDL.

Enquanto a cirurgia bariátrica auxilia indivíduos a perderem grande

quantidade de peso e permite o controle de comorbidades relacionadas à

obesidade, indivíduos com histórico de abuso infantil, negligência e

disfunções familiares podem não alcançar todos os benefícios deste

procedimento (LODHIA et al., 2015).

Lodhia et al. (2015) enfatizam que a persistência e resiliência são

fatores preponderantes sobre a perda de peso quando comparados a não

adesão à dieta. O histórico de eventos adversos na infância pode prejudicar

a resiliência necessária para a manutenção da perda de peso.

No que diz respeito aos fatores que interferem no insucesso das

cirurgias bariátricas, Teixeira e Maia (2011) identificaram algumas variáveis

preditoras de resultados insatisfatórios na gastrobandoplastia e, salientaram

que a cirurgia bariátrica nem sempre resulta em sucesso desejado. O

estudo citou que a presença de psicopatologia, características de

personalidade, experiências de vida adversas, dentre outros fatores, podem

determinar o insucesso do procedimento.

No estudo apresentado pelas autoras Thomas e Castro (2012), o fator

neuroticismo sugere ser o mais ligado a comportamentos de risco para a

saúde, além de exercer influência negativa no quesito adesão aos

tratamentos médicos, sendo contraponto o fator realização, pois foi tido

como componente positivo para comportamentos saudáveis.

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60

Maria e Yaegashi (2016) realizaram uma revisão de literatura com

objetivo de investigar conflitos emocionais e traços de personalidade no

desenvolvimento e instalação da obesidade, sendo apontados

respectivamente maiores registros para Neuroticismo (n=42), Impulsividade

(n=27), Ansiedade (n=24), Depressão (n=22) e Estresse (n=13).

No presente estudo, a média dos escores percentílicos do fator de

neuroticismo foi de 49,58 (DP=26,13), dado considerado dentro da faixa

média (30 a 70) – Gráfico 1. São considerados indivíduos com traços de

neuroticismo desfavoráveis aqueles que apresentam percentis acima de 70

(NUNES; HUTZ; NUNES, 2010).

Silva e Maia (2013), observaram através do acompanhamento de

pacientes em seguimento de pós-cirúrgico, entre o período de 6 a 12 meses,

que há aumento nos percentis dos fatores de conscienciosidade,

agradabilidade e extroversão, porém em relação aos fatores de neuroticismo

e abertura, estes permaneceram inalterados.

Indivíduos com alto fator de neuroticismo e baixa conscienciosidade

são emocionalmente vulneráveis, pois estão associados a comportamentos

de risco que contribuem para o surgimento e manutenção de sobrepeso, e

ainda se acredita que estes fatores respectivamente estão relacionados com

ciclos de ganho e perda de peso (SUTIN et al., 2011).

Segundo Keller e Siegrist (2015), pessoas emocionalmente instáveis

e com alto percentil de neuroticismo tendem a adotar comportamentos de

alimentação emocional e fora de casa. As pessoas com altos percentis de

realização tendem a seguir orientações dietoterápicas.

Turcato, Lima e Serralta (2017) em uma análise de características de

personalidade, com base no NEO-FFI-R (Inventário de Personalidade NEO

Revisado), não identificaram diferenças estatisticamente significativas entre

os grupos, obesos e indivíduos de peso normal, pontuando somente o fator

de conscienciosidade baixo no grupo de obesos.

As facetas que compõem o fator Neuroticismo são, respectivamente,

N1 – Vulnerabilidade; N2 – Instabilidade; N3 – Passividade e N4 –

Depressão (NUNES; HUTZ; NUNES, 2010). Na base de dados estudada,

considerados os valores isoladamente, foi possível encontrar as seguintes

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61

médias: N1 – 45 (DP=25,35), N2 – 45 (DP=23,12), N3 – 50 (DP=21,62), e

N4 – 65 (DP=16,79). Assim, observa-se que a amostra estudada apresenta

uma tendência a destacar o percentil de depressão.

Para a Bateria Fatorial de Personalidade, a escala de Depressão

avalia padrões que os indivíduos apresentam em relação aos eventos que

ocorrem ao longo de suas vidas. Assim, escores altos nessa faceta podem

traduzir expectativas negativas em relação ao futuro e uma vida monótona e

sem emoção. Além disso, indivíduos com esse perfil podem sentir-se

solitários, pois desconfiam de sua capacidade para resolver eventuais

dificuldades e alto nível de desesperança (NUNES; HUTZ; NUNES, 2010).

Para Sutin et al. (2011), a depressão está associada a flutuações de

peso, sendo que esta faceta na escala de neuroticismo mede a

suscetibilidade ao humor negativo, não exatamente os sintomas físicos do

humor deprimido (mudanças no apetite).

No presente estudo, assim como no estudo de Turcato, Lima e

Serralta (2017), apesar do percentil geral de depressão ter sido maior que os

demais, a associação entre depressão e obesidade não está suficientemente

constatada.

A Bateria Fatorial de Personalidade é um instrumento psicológico com

fins de avaliação da personalidade e que se baseia no modelo dos Cinco

Grandes Fatores (CGF) sendo eles o Neuroticismo, Extroversão,

Socialização, Realização e Abertura. Neste estudo, verificou-se as seguintes

médias: Neuroticismo – 49,58 (DP=26,13); Extroversão – 44,85 (DP=27,52);

Socialização 56,82 (DP= 24,15), Realização 52,35 (DP=23,97) e Abertura

28,75 (DP= 22,97), conforme gráfico 1. Nunes, Hutz e Nunes (2010)

identificam a faixa média dos valores dos fatores da BFP entre 30 e 70.

Cabe ao profissional da psicologia, avaliar individualmente cada faceta,

buscando observar possíveis tendências ao comportamento de risco.

Para Nunes, Hutz e Nunes (2010), abertura refere-se a

comportamentos exploratórios e de reconhecimento da importância de ter

novas experiências. Percentis baixos nessa faceta sugerem indivíduos com

tendência a ser convencionais em relação às crenças e atitudes,

conservadoras, dogmáticas, e rígidas no que tange as suas preferências.

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS … · Tabela 2 – Relato de algumas experiências adversas . x SIGLAS E ABREVIATURAS ACE – Adverse Childhood Experiences (Experiências

62

De acordo com Jager et. al (2017), baixos níveis no fator de abertura

a experiências tendem a caracterizar pessoas mais convencionais em suas

atitudes, e que se apresentam de forma mais dogmáticas, conservadoras em

suas escolhas, sugerindo indicadores para um contexto de desenvolvimento

de interações sociais disfuncionais. Altos níveis de abertura a experiências

caracterizam sujeitos com tendências comportamentais à curiosidade,

imaginação, criatividade, maior aceitação frente a novos padrões e ideias,

pessoas pouco convencionais.

O traço de personalidade abertura influencia diretamente o consumo

de alimentos. A neofobia alimentar, relutância em comer novos alimentos,

principalmente vegetais e frutas, está relacionada negativamente com o

traço de abertura (KELLER; SIEGRIST, 2015).

Padrões comportamentais, emocionais e cognitivos associados aos

traços de personalidade contribuem para o surgimento e manutenção da

obesidade, sendo que identificar os traços associados ao ganho de peso

pode contribuir para a elucidação dos mecanismos da progressão desta

doença multifatorial (SUTIN, et al. 2011) .

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS … · Tabela 2 – Relato de algumas experiências adversas . x SIGLAS E ABREVIATURAS ACE – Adverse Childhood Experiences (Experiências

63

Gráfico 1 – Média da Posição Percentil dos Respondentes na BFP (n = 132) Elaborado pela autora

45,57 45,8 48,6

64,7

49,58 50,15 44,13 44,39

49,17 44,85

63,07 63,67

43,18

56,82 56,43 52,54 51,97 52,35

34,7 33,64 36,59

28,75

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

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Posição Percentil dos Respondentes

Média

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64

Traços de personalidade são estáveis, porém hábitos de consumo

deveriam ser mais relacionados às intervenções de prevenção contra a

obesidade (KELLER; SIEGRIST, 2015).

Há evidências científicas quanto à importância do acompanhamento

psicológico dos indivíduos em tratamento cirúrgico para perda de peso. A

literatura aqui apresentada, CFM, Gleiser (2009), Silva e Maia (2010, 2013),

Marcelino e Patrício (2011), Espíndola, Fortaleza e Menezes (2013), Ilias e

Mattos (2015), Sprengel (2015), Justino, Barbosa e Pimentel (2017),

McGrice e Paul (2015), evidencia que o acompanhamento psicológico deve

ser constante e contínuo.

Benedetti (2015) alerta para a baixa adesão dos operados no

seguimento psicológico em pós-cirúrgico. A autora acredita que o

acompanhamento psicológico sistemático não deve ser, necessariamente,

indicado a todos, pois alguns terão suas demandas trabalhadas por meio

dos grupos psicoeducativos em pós-cirúrgico.

Pacientes bariátricos deveriam ser considerados crônicos e,

continuamente, serem monitorados de acordo com suas necessidades

individuais, avaliados por equipes interdisciplinares para promover

mudanças no estilo de vida, manutenção da perda de peso e melhorias na

saúde de forma geral. Em caso de insucesso no tratamento, é importante

compreender o que não deu certo, e considerar outras alternativas para o

contínuo empoderamento dos indivíduos (SILVA e MAIA, 2013).

Silva e Maia (2007, 2011), Teixeira e Maia (2011), Flores (2014),

LODHIA et al., (2015), consideram que a exposição a eventos adversos na

história do indivíduo, candidato à cirurgia bariátrica, pode interferir

negativamente nos resultados. E ainda, Fletcher e Schurer (2017), afirmam

que experiências adversas predizem o neuroticismo, e que este traço de

personalidade é o que mais sugere estar ligado ao histórico de abuso sexual

na infância. Neste estudo, não foi possível identificar tais correlações.

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65

Figura 2 – Quadro do impacto das experiências adversas na infância ao

longo da vida

Elaborado pela autora - Baseado em Fletcher e Schurer (2017)

Três esquemas comportamentais (Esquema 1, Esquema 2 e

Esquema Geral) foram elaborados. Análises de estatística descritiva e testes

de correlação de Pearson foram utilizados para identificar a relação entre os

dados da Bateria Fatorial de Personalidade e das Experiências Adversas na

Infância, Adolescência e Fase Adulta (n = 132 indivíduos). Os níveis de

significância foram ajustados para p < 0,01 e p < 0,05. Os dados foram

testados, inicialmente, quanto à sua distribuição normal e lateralidade. As

ferramentas utilizadas foram os softwares Microsoft Excel e IBM SPSS

v25.0.

Os Esquemas 1 e 2 foram elaborados considerando, basicamente, o

índice de Neuroticismo da amostra. O Esquema 1 contempla os indivíduos

com Neuroticismo ≤ 70 (n = 93 indivíduos). O Esquema 2, Neuroticismo > 70

(n = 39 indivíduos). O Esquema Geral contempla todos os indivíduos (n =

132). Todos os esquemas apresentam as principais correlações encontradas

na análise dos dados.

Segundo a revisão de literatura realizada por Bordignon et al. (2017),

foram observados que os menores e maiores graus de perda de peso estão

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66

associados, respectivamente, às disfunções externalizantes e características

de persistência, que podem ser identificadas na avaliação psicológica pré-

operatória. As desordens psicológicas e emocionais no pós-operatório foram

associadas às disfunções emocionais ou internalizantes.

Depois da cirurgia bariátrica, é possível que aconteça melhoras

significativas em algumas desordens de personalidade (obessivo-

compulsivo, anti-social, borderline, etc.), indicadas pelas reduções em seus

índices de prevalência, melhora na relação interpessoal, aumento dos

índices de extroversão, e maior estabilidade emocional, redução dos índices

de neuroticismo (BORDIGNON et al., 2017).

Bordignon et al. (2017) afirmam que a avaliação das características

de personalidade, como parte de investigação preditiva, e o

acompanhamento pós-cirúrgico das mesmas e suas prevalências, podem

auxiliar na compreensão dos diferentes prognósticos cirúrgicos.

A perda de peso sustentável em indivíduos bariátricos requer suporte

e acompanhamento contínuo de profissionais de saúde qualificados.

Baseado na revisão de literatura, as principais recomendações são:

psicoeducação (pré e pós) sobre o procedimento cirúrgico e seus desafios,

acompanhamento multiprofissional, utilização de estratégias de auto-

monitoramento, prática de suplementação nutricional, adoção de dieta

saudável (frutas e vegetais), restrição de hábitos alimentares de risco (comer

fora de casa e ingesta de alimentos altamente calóricos), prática de atividade

física regular (MCGRICE; PAUL, 2015).

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Figura 3 – Esquema comportamental (1) Elaborado pela autora

Esquema 1 Neuroticismo ≤ 70

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Figura 4 – Esquema comportamental (2) Elaborado pela autora

Esquema 2 Neuroticismo > 70

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Figura 5 – Esquema comportamental (3) Elaborado pela autora

Esquema Geral

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70

6 CONCLUSÃO

Este estudo buscou analisar as experiências adversas e quadro de

neuroticismo em indivíduos com ganho de peso corporal que requerem

como tratamento a abordagem cirúrgica. Estudos de correlação foram

realizados e esquemas de tendências comportamentais elaborados,

identificando um grupo de risco que requer um acompanhamento

interdisciplinar com maior ênfase (Neuroticismo > 70). Evidências científicas

suportam maior tendência de recidiva e menor perda de peso desta

demanda específica, bem como, maior probabilidade às novas intervenções.

As experiências adversas na fase adulta e as dimensões de

neuroticismo e abertura se mostraram como um circuito psicodinâmico

mediador de tendências comportamentais interdependentes. Neste estudo,

isto pode ser observado através da relação significativa encontrada entre os

traços de personalidade, abertura e neuroticismo, e experiências adversas

na fase adulta, que podem explicar, parcialmente, estados psicológicos

vulneráveis que reforçam o ciclo de adversidades do indivíduo em seu meio.

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71

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Trata-se de um estudo inédito, baseado na atuação da autora ao

longo de 13 anos com pessoas com indicação ao preparo psicológico para

cirurgia bariátrica, atenção em saúde, e o trabalho com pessoas vítimas de

violações de direitos, atenção psicossocial, o que fez despertar o interesse

em pesquisar a relação entre as duas temáticas. O trabalho da psicologia

não se distingue, não se fragmenta, ocupa-se, justamente, no sentido de

acolher o indivíduo e auxiliá-lo em processos de ressignificação. A história

de vida é um processo contínuo e o quadro de obesidade pode ser

caracterizado como sintoma psicossomático. A psicologia, à medida em que

acolhe a demanda manifesta, pode contribuir para processos de tomada de

consciência e enfrentamentos. Entraves encobertos podem interferir,

negativamente, na psicodinâmica da pessoa, muito mais do que a própria

consciência possa compreender.

Estudos acerca da cirurgia bariátrica, algumas vezes, concentram-se

no sucesso do tratamento sob a perspectiva de perda de peso e melhoria de

comorbidades em reposta à intervenção. Visão rasa, imediatista, que isenta

os interessados de compromisso. Quando na verdade o processo exige pró-

sociabilidade. Pesquisas psicológicas baseadas em dados qualitativos

facilitam a captura de detalhes da experiência psicossocial durante o pré e

pós-operatório. Neste estudo, a abordagem teve como foco o histórico de

experiências adversas e a estrutura de personalidade dos usuários,

respectivamente.

A falta de implementação de estratégias comportamentais,

alimentação não saudável e comportamento sedentário podem contribuir

para a perda de peso insuficiente e recidiva. Conquistar uma perda de peso

sustentável pode ser um desafio, todavia, usuários orientados e

acompanhados por equipes multiprofissionais (psicólogo, nutricionista,

médico, profissional de educação física) tem maior probabilidade de

controlar a obesidade. Assim, equipes devem estar atentas para não

negligenciar os cuidados no seguimento de pós-cirúrgico, da mesma forma,

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72

os usuários devem estar conscientes sobre a complexidade da obesidade,

evitando também, comportamentos de negligência.

Observa-se, empiricamente, uma tendência à comercialização da

cura da obesidade, com propostas milagrosas e banalização do preparo e

acompanhamento psicológico. Há profissionais que emitem parecer no

primeiro encontro com o usuário. Conduta em resposta à não compreensão

do papel do psicólogo? Conduta em resposta à pressão comercial? Conduta

em resposta à pressão do próprio candidato ao procedimento? De fato,

estas tendências promovem o descrédito e desvalorização da função do

psicólogo, que por sua vez, perde a oportunidade de acessar seu próprio

objeto de trabalho, o ser humano.

Apesar das limitações e compreendendo que generalizações devem

ser evitadas, os achados deste estudo podem auxiliar os profissionais de

saúde no planejamento de intervenções mais eficientes. A investigação das

experiências adversas ao longo da vida do usuário e a utilização de

instrumentais psicométricos, capazes de acessar as estruturas emocionais

básicas e de personalidade, podem nortear os psicólogos na identificação de

conteúdos encobertos.

Trabalhos futuros podem buscar melhor compreensão sobre esta

dinâmica e a replicação destas interações e seus efeitos longitudinais.

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS … · Tabela 2 – Relato de algumas experiências adversas . x SIGLAS E ABREVIATURAS ACE – Adverse Childhood Experiences (Experiências

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80

9 ANEXOS

ANEXO 1 – Protocolo de respostas da Bateria Fatorial de Personalidade

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82

ANEXO 2 - Entrevista psicológica – Cirurgia Bariátrica

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

OBESIDADE Psic. Hélida Núbia de Sousa

Psicologia Clínica e Hospitalar

I – Identificação

Nome:_________________________________________________

Pront.:__________

Endereço:____________________________________________________________

Tel. Res.:_________________cel._____________________rec.________________

Profissão:__________________Estado civil:_____________Religião:____________

Escolaridade:_______________________ Sexo:_____ D.N_______________Idade:

Data____________

II – Genetograma:

III – HP:

1 – Infância (relações com pai/mãe, escolaridade, relacionamento extra familiar,

DNPM)

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

2 – Adolescência: (relações com família, amigos, namoros)

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

3 – Vida Adulta:

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

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83

IV – HMA:

1 – Peso Atual:___________ P.Máx._________ P.min.____________

IMC:________________

2 – Quando iniciou quadro de obesidade? Progressivo ou imediato? Aconteceu

algum fato diferente nesta época?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

3 – Como se sentiu? Fez algo para mudar a situação? (outros tratamentos, resultados)

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

4 – Como se sente em relação a sua obesidade? E ao seu corpo? (atual)

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

5 – Como deseja que o corpo fique com o tratamento?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

6 – Já apresentou alguma comorbidade/doença relacionada a obesidade?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

7 – Antecedentes Pessoais (Histórico familiar/obesidade)

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

8 – Hábitos:

Fumante [ ] Uso de bebida alcóolica [ ] Uso de entorpecentes [ ]

V – História Alimentar:

1 – Como está sua alimentação atualmente?

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84

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

2 – Tem algum momento do dia que é mais difícil seguir a dieta? O que faz nesses

momentos?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

3 – Tem ou já teve comportamento de comer vários alimentos da geladeira com a

sensação de não obter saciedade? (Explique melhor essa conduta)

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

4 – Já sentiu alguma vez que perdeu o controle e comeu exageradamente?

Sim [ ] Não [ ]

Nessas situações:

Usou laxante [ ]

Induziu vômito [ ] Quantas vezes? ______ Em qual frequência? ______

Tomou algum produto? Sonrisal [ ] Epocler [ ] Engov [ ]

VI – Cirurgia Bariática:

1 – O que conhece da cirurgia? Onde colheu essas informações?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

2 – Você conhece os riscos cirúrgicos?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

3 – O que você sabe do pós-cirúrgico? (hábitos que deverão mudar)

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

4 – Conhece alguém que já fez a cirurgia?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

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85

ANEXO 3 - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal

de Goiás

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86

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87

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88

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89

ANEXO 4 – Artigo Científico

Submetido para a Revista Brasileira em Promoção da Saúde

EXPERIÊNCIAS ADVERSAS E TENDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS EM

CANDIDATOS À CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA

Adverse Experiences and Behavioral Tendencies of Bariatric and Metabolic Surgery

Candidates

Título Resumido: CIRURGIA BARIÁTRICA E COMPORTAMENTO

Hélida Núbia de Sousa. Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Medicina, Aluna do

Programa de Pós-Graduação em Ensino na Saúde – Mestrado Profissional. E-mail:

[email protected]

Erick Rodrigues de Sousa. Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Medicina, Aluno do

Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – Mestrado Acadêmico. E-mail:

[email protected]

Cleusa Alves Martins. Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Enfermagem, Professora

Adjunta. E-mail: [email protected]

Alexandre Chater Taleb. Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Medicina, Professor

Adjunto. E-mail: [email protected]

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:

Hélida Núbia de Sousa

Rua 235 esq. com 5ª Avenida, s/n, Setor Universitário – Goiânia-GO | CEP 74605-050

[email protected]

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90

RESUMO

Objetivos: Analisar as experiências adversas e o quadro de neuroticismo em indivíduos com

ganho de peso corporal que requerem tratamento cirúrgico e apresentar esquema de tendência

comportamental baseado nos estudos de correlação entre os resultados da Bateria Fatorial de

Personalidade e experiências adversas. Método: Abordagem mista, quanti-qualitativa,

retrospectivo e documental, com base em registros de entrevista semiestruturada e percentis

da escala de neuroticismo - vulnerabilidade, instabilidade, passividade e depressão - da

Bateria Fatorial de Personalidade. Resultados: A amostra constou de 132 indivíduos, idade

média de 36,97 (DP=10,45), 75% (n=99) do sexo feminino, 25% (n=33) do sexo masculino,

classificados com obesidade grau II (IMC entre 35 e 39,9), com associação de comorbidades,

ou obesidade grau III (IMC ≥ 40), com ou sem doenças associadas. Foram identificadas 207

experiências adversas (média=1,57 / indivíduo; DP=1,3) e classificadas em oito categorias

temáticas - violência psicológica, violência física, exposição ao abuso de álcool no ambiente

familiar, negligência e abandono, exposição à violência doméstica, divórcio e/ou separação

parental, trabalho infantil e violência sexual. Correlações positivas foram encontradas entre

experiências adversas na fase adulta (EAFA) e neuroticismo (r=0,193; p < 0,05), EAFA e

abertura (r=0,177; p < 0,05). Trinta e nove indivíduos apresentaram neuroticismo acima de 70

(média=81,15; DP=8,31). Conclusão: As correlações encontradas revelam a existência de um

circuito psicodinâmico mediador de tendências comportamentais e estados psicológicos

vulneráveis, que reforçam o ciclo de adversidades do indivíduo em seu meio, colaborando

para a manutenção do quadro de obesidade.

Descritores: Obesidade, Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Tendências Comportamentais,

Experiências Adversas, Neuroticismo.

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91

ABSTRACT

Objectives: To analyze adverse experiences and neuroticism in individuals with body weight

gain that require surgical treatment and to present a behavioral tendency scheme based on the

correlation studies between the results of the Factorial Personality Battery and adverse

experiences. Method: Mixed, quantitative-qualitative, retrospective and documental

approach, based on semi-structured interview records and percentiles of the neuroticism scale

- vulnerability, instability, passivity and depression - of the Factorial Personality Battery.

Results: The sample consisted of 132 individuals, mean age of 36.97 (SD = 10.45), 75% (n =

99) females, 25% (n = 33) males, classified as grade II obesity (BMI between 35 and 39.9),

with associated comorbidities, or degree III obesity (BMI ≥ 40), with or without associated

diseases. A total of 207 adverse experiences (mean = 1.57 / individual, SD = 1.3) were

identified and classified into eight thematic categories - psychological violence, physical

violence, exposure to alcohol abuse in the family environment, neglect and abandon, domestic

violence exposure, divorce and / or parental separation, child labor and sexual violence.

Positive correlations were found between adverse experiences in the adult phase (EAFA) and

neuroticism (r = 0.193; p < 0.05), EAFA and Openness (r = 0.177; p <0.05). Thirty-nine

individuals presented neuroticism above 70 (mean = 81.15, SD = 8.31). Conclusion: The

correlations found reveal the existence of a psychodynamic circuit mediating behavioral

tendencies and vulnerable psychological states, which reinforce the cycle of adversity of the

individual in his/her environment, contributing to the maintenance of obesity.

Keywords: Obesity, Bariatric and Metabolic Surgery, Behavioral Tendencies, Adverse

Experiences, Neuroticism

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92

INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde, “saúde é um estado de completo bem-

estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença ou de enfermidade”,

definição formulada em sua constituição no ano de 1946(1)

.

A saúde pode ser definida, também, como bem-estar físico, mental e psíquico, e

para que o indivíduo goze de saúde é importante considerar a estreita correlação entre

nutrição, processos comportamentais e fisiológicos. A qualidade e quantidade da ingestão de

alimentos podem levar tanto à desnutrição quanto à obesidade, responsáveis pelo

comprometimento da qualidade de vida de grande parte da população mundial(2)

.

A obesidade é uma doença que pode impactar de forma negativa a qualidade de

vida e a autoestima de pessoas, acarretando danos físicos e psicológicos. De tal modo, o

tratamento requer abordagens eficientes e uma das ferramentas para a redução do peso

corporal é a cirurgia bariátrica(3)

.

A obesidade é uma doença crônica, multifatorial, ou seja, pode provir de fatores

genéticos, metabólicos, má escolha dos alimentos e sedentarismo. O excesso de gordura

acumulada após algum tempo de evolução, prejudica gravemente a saúde e a qualidade de

vida, elevando a taxa de morbidade e mortalidade. É uma doença multifatorial silenciosa,

sendo a herança genética, fatores ambientais e motivacionais, assim como mecanismos que

modulam a ingestão alimentar e o gasto energético, condições as quais propiciam o

desenvolvimento do ganho de peso corporal(4,5)

.

A prevalência da obesidade tem aumentado e é considerada praticamente doença

endêmica, não isenta raça, idade, nível social ou nacionalidade. Seria apenas um problema

estético se não fossem as comorbidades. O desenvolvimento de diversos tratamentos,

inclusive o cirúrgico, surgiu devido à preocupação com a obesidade mórbida(6)

.

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93

A ideia de que o procedimento cirúrgico possa “milagrosamente” transformar as

pessoas com obesidade mórbida em pessoas sadias deve ser evitada. Avaliações acerca da

obesidade, principalmente, observando a dificuldade de pessoas seguirem com sucesso as

condutas, estimulou a ciência médica a desenvolver tratamentos via intervenção cirúrgica(7)

.

O Brasil se encontra entre os cinco países com maior prevalência da obesidade e

essa realidade traz, simultaneamente, o aumento pela procura do procedimento cirúrgico para

redução de peso, um dado que é superado apenas pelos EUA e Canadá. De acordo com a

Federação Internacional de Cirurgia da Obesidade e Doenças Metabólicas - IFSO, em 2013

foram realizados mais de 80 mil procedimentos bariátricos no país. Este cenário estimula o

aumento das produções científicas sobre o assunto(8)

.

No Brasil, estudo foi realizado acerca do perfil de pacientes submetidos à cirurgia

bariátrica atendido pelo Sistema Único de Saúde – SUS, constatou-se que o sistema não

possui uma base nacional de dados com registros clínicos dos indivíduos da demanda

reprimida. O perfil de risco e comorbidades dos indivíduos operados no SUS é semelhante ao

apontado em estudos internacionais, exceto pela elevada prevalência de hipertensão arterial, o

que pode provocar situações adversas no peri e pós a intervenção cirúrgica(9)

.

A possibilidade de uma pessoa desenvolver obesidade em circunstâncias e em

idades determinadas está condicionada ao grau de suscetibilidade individual, bem como, à

exposição contínua e cumulativa a diferentes fatores de risco, os quais podem afetar tanto a

pessoa como a população. Entre todos os fatores envolvidos na etiologia da obesidade, os

psicológicos e psiquiátricos são de grande importância(10)

.

Não somente a forma como os outros nos veem, mas a concepção que temos sobre

nossa imagem, exercem impacto em nossas vidas. A concepção interna e subjetiva sobre o

corpo é chamada de imagem corporal, uma experiência psicológica multifacetada, que não se

refere exclusivamente à aparência do corpo, tampouco pode ser considerada produto

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94

exclusivo da atividade intrapsíquica. Envolvidos no fenômeno da imagem corporal estão a

autopercepção corporal, atitudes, crenças, representações, sentimentos e comportamentos

relativos ao corpo(11)

.

Os padrões de beleza impostos pela sociedade potencializam o descontentamento

com a imagem corporal, o qual pode ser o “gatilho” para o desenvolvimento de transtornos

alimentares como a anorexia nervosa, bulimia nervosa e os transtornos de compulsão

alimentar e dismórfico corporal(12,13)

.

A razão para que obesos sejam inseguros, emocionalmente instáveis, impulsivos,

dependentes, imaturos e apresentem baixa autoestima, deve-se às alterações nos padrões de

beleza, e também, à pressão que a sociedade impõe por não corresponderem a tais padrões(14)

.

Pessoas com nível significativo de criticidade ao corpo e baixa abertura à

experiência podem apresentar, em sua estrutura de personalidade, esquemas iniciais

desadaptativos ligados ao isolamento social, pertencente ao domínio esquemático de

desconexão e rejeição(15)

.

A personalidade é um construto da psicologia que, no contexto da avaliação

psicológica, sempre foi alvo de estudos e debates teóricos e metodológicos. A forma de

perceber e conceituar a personalidade e seu processo de desenvolvimento é influenciada pelo

viés teórico e metodológico do profissional que a compreende(16)

.

O modelo dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade tem origem nas pesquisas

sobre personalidade, advindos de teorias fatoriais e de traços de personalidade. O modelo tem

sido muito estudado por permitir descrever a personalidade de forma simples, elegante e

econômica, pois os demais modelos fatoriais de personalidade tendem a ser maiores e

complexos. Autores apontam que esse modelo tem sido utilizado em diversas áreas, como a

psicologia educacional, organizacional, clínica, dentre outros(16,17)

.

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95

Esse lugar de destaque que o modelo dos Cinco Grandes Fatores vem

conquistando na psicologia se justifica pois, traços de personalidade podem oferecer

importantes informações acerca do comportamento de uma pessoa(15)

. No Brasil, os Cinco

Grandes Fatores, também conhecido como Big Five Model, denominam-se: Neuroticismo,

Extroversão, Socialização, Realização e Abertura à Experiência. Porém, na literatura

internacional algumas diferenças podem aparecer em relação aos nomes empregados aos

fatores, porém não alteram a essência conceitual de cada um deles(16,19)

.

Indivíduos com altos índices em Neuroticismo demonstram uma tendência a

experimentar, de forma distorcida, os estímulos negativos. As evidências de bases

psicológicas são robustas e indicam que o Neuroticismo está correlacionado negativamente

com atenção, interpretação e busca de informações, e positivamente com estratégias de

enfrentamento ineficientes, baixa regulação emocional, alta reatividade e variabilidade

afetiva(19)

.

Algumas experiências adversas na infância predizem significativamente o

neuroticismo, a conscienciosidade e a abertura a experiências, mas não há impacto consistente

sobre agradabilidade e extroversão. O neuroticismo é o único traço significativamente

associado à experiência de abuso sexual frequente na infância. Experiências frequentes de

negligência parental são positivamente associadas com neuroticismo e, negativamente

associadas com conscienciosidade e abertura a experiências(20)

.

Boa parte do comportamento alimentar em obesos é evocado e mantido por

contingências aversivas, assim, sensações desagradáveis podem ser amenizadas pelo

alimento, o que a longo prazo essa relação passa a ter caráter de esquiva. Dessa forma,

mecanicamente impedido de comer e, sem outros repertórios alternativos, pode enxergar no

ato suicida uma alternativa na classe de respostas de fuga e esquiva(21)

.

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96

Silva e Maia (2007) estudaram a prevalência de situações avaliadas como

“experiências adversas” na infância de adultos com obesidade mórbida, candidatos à cirurgia

bariátrica. Utilizaram o Questionário Sociodemográfico e História de Vida (Instrumento da

Family Health History – ACE), e foram observadas as experiências adversas vividas na

infância, categorizadas em: abuso emocional, abuso físico, abuso sexual, exposição à

violência doméstica, abuso de substâncias no ambiente familiar, divórcio ou separação

parental, prisão de um membro da família, doença mental ou suicídio, negligência física e

negligência emocional(22)

.

O estudo mostrou que 88% dos participantes relataram a existência de pelo menos

uma experiência adversa, 68% relataram pelo menos quatro experiências de adversidade.

Concluíram que existe elevada prevalência de experiências de adversidade na infância e

sugerem que é preciso compreender como essas situações se relacionam com o

funcionamento atual, ou seja, como o comportamento alimentar se articula com tais

dimensões(22)

.

Lidar com as mudanças oriundas do processo cirúrgico é, no mínimo, complexo e

exigente, o que sugere que a avaliação do candidato deva ser criteriosa, sendo que o

acompanhamento psicoterápico pré e pós-cirúrgico deve estimular o desenvolvimento de

mudanças comportamentais, auxiliando na minimização do risco de ideação suicida(21)

.

Estudos com objetivo de conhecer a personalidade e sua influência na saúde

auxiliam profissionais no desenvolvimento de eficientes estratégias de intervenção(23)

. A

personalidade assume potencial tanto para risco, como proteção e prevenção do

desenvolvimento da obesidade ou sobrepeso(4)

.

Este estudo tem como objetivo analisar as experiências adversas e quadro de

neuroticismo em indivíduos com ganho de peso corporal que requerem como tratamento a

abordagem cirúrgica.

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS … · Tabela 2 – Relato de algumas experiências adversas . x SIGLAS E ABREVIATURAS ACE – Adverse Childhood Experiences (Experiências

97

MÉTODO

Estudo descritivo, retrospectivo, analítico, de abordagem mista, qualitativa e

quantitativa, e caráter documental, tendo como base a revisão de dois instrumentais – registros

de entrevista individual semiestruturada e dos resultados da Bateria Fatorial de Personalidade

- BFP.

Os participantes do estudo foram indivíduos com indicação de cirurgia bariátrica,

de ambos os sexos, com faixa etária entre 20 e 62 anos, que foram submetidos ao preparo e

avaliação psicológica, entre o período de 2013 a 2016, e assinaram o campo “Autorizo uso

sigiloso em pesquisa” do Protocolo de Respostas da Bateria Fatorial de Personalidade - BFP.

Os dados foram extraídos de prontuários de uma instituição privada, na região central de

Goiânia – Goiás (Brasil).

A amostra constou de 132 prontuários de indivíduos que apresentaram capacidade

de leitura e interpretação do Caderno de Aplicação da BFP, sendo estes classificados com

obesidade grau II (IMC entre 35 e 39,9), com associação de comorbidades, ou obesidade grau

III (IMC ≥ 40), com ou sem doenças associadas.

Em relação a parte de interpretação das experiências adversas, os pontos de maior

atenção na entrevista foram: o genetograma, a história da infância, adolescência e vida adulta,

sendo observados fatores como o relacionamento intrafamiliar, principalmente relação

pai/mãe, vivências na escola, relações com família, amigos, hábitos na adolescência, namoros,

e relações e contingências da fase adulta.

Na etapa de codificação das temáticas levantou-se oito categorias de eventos

adversos, respectivamente aqui listadas: 1 – Violência psicológica, 2 – Violência física, 3 –

Exposição ao abuso de álcool no ambiente familiar, 4 – Negligência e abandono, 5 –

Exposição à violência doméstica, 6 – Divórcio e/ou separação parental, 7 – Trabalho infantil

e, 8 – Violência sexual.

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS … · Tabela 2 – Relato de algumas experiências adversas . x SIGLAS E ABREVIATURAS ACE – Adverse Childhood Experiences (Experiências

98

Ainda nesta etapa, foram tabulados no software Microsoft Excel 2016 os percentis

referentes a cada faceta dos Cinco Grandes Fatores – CGF - de personalidade, quais sejam:

Neuroticismo (N1 - Vulnerabilidade, N2 - Instabilidade, N3 - Passividade, N4 - Depressão),

Extroversão (E1 - Nível de Comunicação, E2 - Altivez, E3 - Dinamismo, E4 - Interações

Sociais), Socialização (S1 - Amabilidade, S2 - Pró-sociabilidade, S3 - Confiança), Realização

(R1 - Competência, R2 - Ponderação, R3 - Empenho) e Abertura (A1 - Abertura a ideias, A2 -

Liberalismo, A3 - Busca por novidades).

Apesar de ter sido utilizada a tabela de apuração dos percentis dos CGF, atenção

maior foi dada às facetas que compõem o Neuroticismo, por se tratar de um dos objetivos

deste estudo. A escolha por identificar os percentis desta escala se deu, por sua vez, pelo fato

de que o fator de Neuroticismo tem sido considerado, no modelo dos CGF, o mais associado

às características emocionais das pessoas como os estados de angústia e aflições(17)

.

Conforme supracitado, os dados coletados foram tabulados e analisados,

primariamente, utilizando as ferramentas de análise de dados do Microsoft Excel 2016. Nesta

etapa, buscou-se a consolidação de uma base de dados única, contemplando as dimensões

qualitativas e quantitativas dos dados.

Para a abordagem quantitativa dos dados foi utilizado o software IBM SPSS

v25.0. Os dados da Bateria Fatorial de Personalidade – BFP apresentaram uma distribuição

normal na amostra estudada, fato que nos permitiu o uso de testes paramétricos. Estatística

descritiva e estudos de correlação foram aplicados para a avaliação entre os dados das

experiências adversas, encontrados nos prontuários e os resultados da Bateria Fatorial de

Personalidade.

Autorização do Comitê de Ética em Pesquisa (Universidade Federal de Goiás): 1.749.268

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99

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A população estudada totalizou 132 participantes, sendo que destes 75% (n= 99)

são do sexo feminino e 25% (n=33) masculino. A idade média foi de 36,97 anos (DP=10,45),

não havendo diferença relevante quando verificado a média de idade por sexo (feminino =

37,07, DP=8,32; masculino = 36,67, DP=9,17).

Em relação ao início do ganho de peso, a análise de prontuários mostrou que,

embora muitos dos candidatos à cirurgia reportassem o início de ganho de peso em fase

adulta, observando, porém, a história da infância através da entrevista, boa parte da demanda

relatava que desde criança já sofria com o ganho de peso. Considerando esta evidência, foi

possível identificar que 54,55% dos candidatos masculinos relataram início do ganho de peso

na infância, 6,06% na adolescência e 39,39% na fase adulta. Quanto à demanda feminina,

42,71% na infância, 10,42% na adolescência e 46,87% na fase adulta.

Em estudo com objetivo de investigar se indivíduos obesos diferem de indivíduos

de peso normal, quanto a características de personalidade e níveis de sofrimento psíquico,

observaram que a obesidade na infância foi, significativamente, mais frequente entre obesos

em comparação aos não obesos(24)

.

Em outra pesquisa, identificaram que a obesidade na infância ocorreu em 13,3%

(n = 75) dos casos, sugerindo que a maioria dos indivíduos se descreveu como não obeso

durante a infância(22)

.

Sobre a análise interpretativa referente às experiências adversas, dados

qualitativos dos prontuários foram explorados com base no modelo do Questionário da

História da Adversidade na Infância - ACE (Experiências Adversas na Infância). Esse modelo

evidencia categorias de adversidades, sendo elas: abuso emocional, abuso físico, abuso

sexual, negligência física, negligência emocional, exposição à violência doméstica, abuso de

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100

substâncias no ambiente familiar, divórcio/separação parental, prisão de um membro da

família e, doença mental ou suicídio (5,22,25,26,27)

.

Tendo como exemplo as categorias supracitadas, foram identificadas oito

categorias (Tabela I). O adicional aqui foi a observação da ocorrência em três fases: infância,

adolescência e fase adulta.

Categorias EAI EAA EAFA Total EA

n % n % n % n %

1 - Violência Psicológica 41 26,80 16 69,57 18 58,06 75 36,23

2 - Violência Física 24 15,69 5 21,74 6 19,35 35 16,91

3 - Exposição ao Abuso de Álcool no Ambiente Familiar 25 16,34 0 0,00 6 19,35 31 14,98

4 - Negligência ou Abandono 24 15,69 0 0,00 0 0,00 24 11,59

5 - Exposição à Violência Doméstica 11 7,19 0 0,00 1 3,23 12 5,80

6 - Divórcio e/ou Separação Parental 11 7,19 1 4,35 0 0,00 12 5,80

7 - Trabalho Infantil 10 6,54 0 0,00 0 0,00 10 4,83

8 - Violência Sexual 7 4,58 1 4,35 0 0,00 8 3,86

TOTAL 153 73,91% 23 11,11% 31 14,98% 207 100%

EAI - Experiências Adversas na Infância

EAA - Experiências Adversas na Adolescência

EAFA - Experiências Adversas na Fase Adulta

TOTAL EA - Total de Experiências Adversas

Tabela I – Categorias das experiências adversas

Na amostra estudada (n=132 indivíduos), 207 experiências adversas foram

identificadas, perfazendo uma média de 1,57 eventos por indivíduo (DP= 1,3). Quanto à fase

de ocorrência destes eventos adversos, 73,91% foram reportados na infância, 11,11% na

adolescência e 14,98 % na fase adulta, conforme Tabela I.

Não obstante, 25% dos indivíduos (n=33), não relataram ocorrências. Vale

pontuar que o protocolo de preparo para a cirurgia bariátrica é breve e focal, ou seja,

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101

destinado à avaliação e psicoeducação. Assim, a entrevista, instrumento onde no prontuário

foram quantificados os eventos adversos, foi efetuada no primeiro encontro com a

profissional. Esse dado, por si só, pode interferir na realidade dos fatos, pois trata-se de um

momento ainda de formação de vínculo para que o candidato à cirurgia tivesse confiança

suficiente para emitir dados da mais pura intimidade.

Adicionalmente, 99 indivíduos (n=75) expuseram a ocorrência de pelo menos um

evento adverso. Assim, 25,75% (n=34) relataram ocorrência de um evento; 27,27% (n=36)

dois eventos; 14,39% (n=19) três; 4,54% (n= 6) quatro experiências e, 3,03% (n=4) cinco

situações.

Silva e Maia (2007) identificaram o abuso físico, emocional, sexual e, a

negligência física e emocional como categorias mais descritas na amostra estudada(22)

. No

presente estudo, as categorias mais descritas, respectivamente, foram a violência psicológica,

violência física, exposição ao abuso de álcool no ambiente familiar e negligência ou

abandono, o que significa 79,71% das ocorrências de experiências adversas.

Um estudo foi realizado com base nos relatórios qualiquantitativos do Centro de

Referência Especializados de Assistência Social - CREAS, a fim de traçar um perfil das

vítimas de violações de direitos, dados do município de Goiânia no ano de 2014. Os dados

respondem ao Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos –

PAEFI, que naquele ano totalizou 628 atendimentos, identificando que 55% das pessoas

vitimadas são do sexo feminino, sendo que a violência mais encontrada foi a violência

intrafamiliar (Física e Psicológica), a violência sexual, somada ao abuso sexual e a exploração

sexual, respondem ao segundo lugar, e o terceiro maior número de violências foi seguido por

pessoas vítimas de negligência(28)

.

Também observou que, em alguns CREAS, o número de violências identificadas

é superior aos casos registrados, sugerindo que as violências não ocorrerem de forma única,

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102

mas sim atreladas a outras. Identificou-se ainda que, em situações de violações de direitos

praticadas contra crianças e adolescentes, grande parte das violências acontece no núcleo

familiar, sendo que dos 625 agressores identificados, destes 458 possuem laços familiares ou

de parentesco com as vítimas, sendo o pai um dos principais agressores (103 registros). O

estudo revelou que em 70% dos casos de violações de direitos, o público mais vitimado é o de

crianças de 0 a 12 anos(28)

.

Comunidades carentes tendem a ter maior prevalência em experiências adversas

na infância – ACE, independente de fatores como criminalidade, violência, desemprego,

índices educacionais. O impacto das ACE’s em comunidades carentes potencializa um ciclo

de adversidades que expõem as crianças a situações de risco social e ou vulnerabilidades(26)

.

Em pesquisa sobre experiências adversas na infância em adultos com obesidade

mórbida candidatos à cirurgia bariátrica, 68% relataram pelo menos quatro experiências de

adversidade, o que sugere evidências da relação entre adversidade na infância e a obesidade.

Assim, experiências negativas podem exacerbar riscos sociais e estão associadas ao

desenvolvimento e manutenção da obesidade, depressão, distúrbios da imagem corporal,

dificuldades interpessoais, baixa autoestima e desenvolvimento de compulsão alimentar. A

ingestão alimentar compulsiva pode ser considerada estratégia para lidar com a emoção

negativa. Uma história prévia de adversidade pode levar o indivíduo a uma forma de focar a

atenção em sensações imediatas, desfocando dos sentimentos negativos que pode estar

experimentando(5,22)

.

As experiências adversas na infância podem auxiliar na explicação da

heterogeneidade dos resultados após a cirurgia bariátrica, sendo que pacientes submetidos ao

procedimento com alto índice de ACE (Experiências Adversas na Infância), apresentam os

piores resultados pós-cirúrgicos em relação ao IMC, colesterol total e colesterol LDL(27)

.

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS … · Tabela 2 – Relato de algumas experiências adversas . x SIGLAS E ABREVIATURAS ACE – Adverse Childhood Experiences (Experiências

103

Enquanto a cirurgia bariátrica auxilia indivíduos a perderem grande quantidade de

peso e permite o controle de comorbidades relacionadas à obesidade, indivíduos com histórico

de abuso infantil, negligência e disfunções familiares podem não alcançar todos os benefícios

deste procedimento(27)

.

A persistência e resiliência são fatores preponderantes sobre a perda de peso

quando comparados a não adesão à dieta. O histórico de eventos adversos na infância pode

prejudicar a resiliência necessária para a manutenção da perda de peso(27)

.

No que diz respeito aos fatores que interferem no insucesso das cirurgias

bariátricas, algumas variáveis são preditoras de resultados insatisfatórios na

gastrobandoplastia. A presença de psicopatologia, características de personalidade,

experiências de vida adversas, dentre outros fatores, podem determinar o insucesso do

procedimento(29)

.

O fator neuroticismo sugere ser o mais ligado a comportamentos de risco para a

saúde, além de exercer influência negativa no quesito adesão aos tratamentos médicos, sendo

contraponto o fator realização, pois foi tido como componente positivo para comportamentos

saudáveis(23)

.

Uma revisão de literatura com objetivo de investigar conflitos emocionais e traços

de personalidade no desenvolvimento e instalação da obesidade, apontou respectivamente

maiores registros para Neuroticismo (n=42), Impulsividade (n=27), Ansiedade (n=24),

Depressão (n=22) e Estresse (n=13) (4)

.

A Bateria Fatorial de Personalidade é um instrumento psicológico com fins de

avaliação da personalidade e que se baseia no modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF),

sendo eles: Neuroticismo, Extroversão, Socialização, Realização e Abertura. Neste estudo,

verificou-se as seguintes médias: Neuroticismo – 49,58 (DP=26,13); Extroversão – 44,85

(DP=27,52); Socialização – 56,82 (DP= 24,15), Realização – 52,35 (DP=23,97) e Abertura –

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104

45,57 45,8 48,6

64,7

49,58 50,15 44,13 44,39

49,17 44,85

63,07 63,67

43,18

56,82 56,43 52,54 51,97 52,35

34,7 33,64 36,59 28,75

0102030405060708090

100

N1

- V

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e

N3 -

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N4 -

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AB

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TU

RA

Posição Percentil dos Respondentes

Média

28,75 (DP= 22,97), conforme Gráfico I. A faixa média dos valores dos fatores da BFP está

entre 30 e 70(17)

. Cabe ao profissional da psicologia, avaliar individualmente cada faceta,

buscando observar possíveis tendências ao comportamento de risco.

Gráfico I – Média da Posição Percentil dos Respondentes (n = 132)

Um estudo observou o acompanhamento de pacientes em seguimento de pós-

cirúrgico, entre o período de 6 a 12 meses, verificou-se o aumento nos percentis dos fatores de

conscienciosidade, agradabilidade e extroversão, porém em relação aos fatores de

neuroticismo e abertura, estes permaneceram inalterados(30)

.

Indivíduos com alto fator de neuroticismo e baixa conscienciosidade são

emocionalmente vulneráveis, pois estão associados a comportamentos de risco os quais

contribuem para o surgimento e manutenção de sobrepeso, e ainda acredita-se que estes

fatores, respectivamente, estão relacionados com ciclos de ganho e perda de peso(31)

.

Pessoas emocionalmente instáveis e com alto percentil de neuroticismo tendem a

adotar comportamentos de alimentação emocional e fora de casa. As pessoas com altos

percentis de realização tendem a seguir orientações dietoterápicas(32)

.

As facetas que compõem o fator Neuroticismo são, respectivamente, N1 –

Vulnerabilidade; N2 – Instabilidade; N3 – Passividade e N4 – Depressão(17)

. Na base de dados

do presente estudo, considerados os valores isoladamente, foi possível encontrar as seguintes

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105

médias: N1 – 45 (DP=25,35), N2 – 45 (DP=23,12), N3 – 50 (DP=21,62), e N4 – 65

(DP=16,79). Assim, observa-se que a amostra estudada (n=132) apresentou uma tendência a

destacar o percentil de depressão.

Para a Bateria Fatorial de Personalidade, a escala de Depressão avalia padrões que

os indivíduos apresentam em relação aos eventos que ocorrem ao longo de suas vidas. Escores

altos nessa faceta podem traduzir expectativas negativas em relação ao futuro e uma vida

monótona e sem emoção. Além disso, indivíduos com esse perfil podem sentir-se solitários,

pois desconfiam de sua capacidade para resolver eventuais dificuldades e alto nível de

desesperança(17)

A depressão está associada a flutuações de peso, sendo que esta faceta na escala

de neuroticismo mede a suscetibilidade ao humor negativo, não exatamente os sintomas

físicos do humor deprimido (mudanças no apetite) (31)

.

No presente estudo, apesar do percentil geral de depressão ter sido maior que os

demais, a associação entre depressão e obesidade não está suficientemente constatada. Outros

autores também não encontraram tal relação(24)

.

Abertura refere-se a comportamentos exploratórios e de reconhecimento da

importância de ter novas experiências. Percentis baixos nessa faceta sugerem indivíduos com

tendência a ser convencionais em relação às crenças e atitudes, conservadoras, dogmáticas, e

rígidas no que tange as suas preferências(17)

.

Baixos níveis no fator de abertura a experiências tendem a caracterizar pessoas

mais convencionais em suas atitudes, e que se apresentam de forma mais dogmáticas,

conservadoras em suas escolhas, sugerindo indicadores para um contexto de desenvolvimento

de interações sociais disfuncionais. Altos níveis de abertura a experiências caracterizam

sujeitos com tendências comportamentais à curiosidade, imaginação, criatividade, maior

aceitação frente a novos padrões e ideias, pessoas pouco convencionais(15)

.

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS … · Tabela 2 – Relato de algumas experiências adversas . x SIGLAS E ABREVIATURAS ACE – Adverse Childhood Experiences (Experiências

106

O traço de personalidade abertura influencia diretamente o consumo de alimentos.

A neofobia alimentar, relutância em comer novos alimentos, principalmente vegetais e frutas,

está relacionada negativamente com o traço de abertura(32)

.

Padrões comportamentais, emocionais e cognitivos associados aos traços de

personalidade contribuem para o surgimento e manutenção da obesidade, sendo que

identificar os traços associados ao ganho de peso pode contribuir para a elucidação dos

mecanismos da progressão desta doença multifatorial(31)

.

Traços de personalidade são estáveis, porém hábitos de consumo deveriam ser

mais relacionados às intervenções de prevenção contra a obesidade(31)

Pacientes bariátricos deveriam ser considerados crônicos e, continuamente, serem

monitorados de acordo com suas necessidades individuais, avaliados por equipes

interdisciplinares para promover mudanças no estilo de vida, manutenção da perda de peso e

melhorias na saúde de forma geral. Em caso de insucesso no tratamento, é importante

compreender o que não deu certo, e considerar outras alternativas para o contínuo

empoderamento dos indivíduos(30)

.

A exposição a eventos adversos na história do indivíduo, candidato à cirurgia

bariátrica, pode interferir negativamente nos resultados(5,22,27,29,33)

. As experiências adversas

predizem o neuroticismo, e este traço de personalidade é o que mais sugere estar ligado ao

histórico de abuso sexual na infância(20)

.

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107

Figura 1 – Quadro do impacto das experiências adversas na infância ao longo da vida

Três esquemas comportamentais (Esquema 1, Esquema 2 e Esquema Geral) foram

elaborados. Análises de estatística descritiva e testes de correlação de Pearson foram

utilizados para identificar a relação entre os dados da Bateria Fatorial de Personalidade e das

Experiências Adversas na Infância, Adolescência e Fase Adulta (n = 132 indivíduos). Os

níveis de significância foram ajustados para p < 0,01 e p < 0,05. Os dados foram testados,

inicialmente, quanto à sua distribuição normal e lateralidade. As ferramentas utilizadas foram

os softwares Microsoft Excel e IBM SPSS v25.0.

Os Esquemas 1 e 2 foram elaborados considerando, basicamente, o índice de

Neuroticismo da amostra. O Esquema 1 contempla os indivíduos com Neuroticismo ≤ 70

(n=93). O Esquema 2, Neuroticismo > 70 (n=39). O Esquema Geral contempla todos os

indivíduos (n=132). Todos os esquemas apresentam as principais correlações encontradas na

análise dos dados.

Os menores e maiores graus de perda de peso estão associados, respectivamente,

às disfunções externalizantes e características de persistência, que podem ser identificadas na

avaliação psicológica pré-operatória. As desordens psicológicas e emocionais no pós-

operatório foram associadas às disfunções emocionais ou internalizantes(34)

.

Depois da cirurgia bariátrica é possível que aconteça melhoras significativas em

algumas desordens de personalidade (obessivo-compulsivo, anti-social, borderline, etc.),

indicadas pelas reduções em seus índices de prevalência, melhora na relação interpessoal,

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108

aumento dos índices de extroversão, e maior estabilidade emocional, redução dos índices de

neuroticismo. A avaliação das características de personalidade, como parte de investigação

preditiva, e o acompanhamento pós-cirúrgico das mesmas e suas prevalências, podem auxiliar

na compreensão dos diferentes prognósticos cirúrgicos(34)

.

A perda de peso sustentável em indivíduos bariátricos requer suporte e

acompanhamento contínuo de profissionais de saúde qualificados. Baseado na revisão de

literatura, as principais recomendações são: psicoeducação (pré e pós) sobre o procedimento

cirúrgico e seus desafios, acompanhamento multiprofissional, utilização de estratégias de

auto-monitoramento, prática de suplementação nutricional, adoção de dieta saudável (frutas e

vegetais), restrição de hábitos alimentares de risco (comer fora de casa e ingesta de alimentos

altamente calóricos), prática de atividade física regular(35)

.

Figura 2 – Esquema comportamental (1)

Esquema 1 Neuroticismo ≤ 70

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Figura 3 – Esquema comportamental (2)

Figura 4 – Esquema comportamental (Geral)

Esquema Geral

Esquema 2 Neuroticismo > 70

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110

CONCLUSÃO

Este estudo buscou analisar as experiências adversas e quadro de neuroticismo em

indivíduos com ganho de peso corporal que requerem como tratamento a abordagem

cirúrgica. Estudos de correlação foram realizados e esquemas de tendências comportamentais

elaborados, identificando um grupo de risco que requer um acompanhamento interdisciplinar

com maior ênfase (Neuroticismo > 70). Evidências científicas suportam maior tendência de

recidiva e menor perda de peso desta demanda específica, bem como, maior probabilidade às

novas intervenções.

As experiências adversas na fase adulta e as dimensões de neuroticismo e

abertura se mostraram como um circuito psicodinâmico mediador de tendências

comportamentais interdependentes. Neste estudo, isto pode ser observado através da relação

significativa encontrada entre os traços de personalidade, abertura e neuroticismo, e

experiências adversas na fase adulta, que podem explicar, parcialmente, estados psicológicos

vulneráveis que reforçam o ciclo de adversidades do indivíduo em seu meio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudos acerca da cirurgia bariátrica, algumas vezes, concentram-se no sucesso do

tratamento sob a perspectiva de perda de peso e melhoria de comorbidades em reposta à

intervenção. Visão rasa, imediatista, que isenta os interessados de compromisso. Quando na

verdade o processo exige pró-sociabilidade. Pesquisas psicológicas baseadas em dados

qualitativos facilitam a captura de detalhes da experiência psicossocial durante o pré e pós-

operatório. Neste estudo, a abordagem teve como foco o histórico de experiências adversas e

a estrutura de personalidade dos usuários, respectivamente.

A falta de implementação de estratégias comportamentais, alimentação não

saudável e comportamento sedentário podem contribuir para a perda de peso insuficiente e

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recidiva. Conquistar uma perda de peso sustentável pode ser um desafio, todavia, usuários

orientados e acompanhados por equipes multiprofissionais (psicólogo, nutricionista, médico,

profissional de educação física) tem maior probabilidade de controlar a obesidade. Assim,

equipes devem estar atentas para não negligenciar os cuidados no seguimento de pós-

cirúrgico, da mesma forma, os usuários devem estar conscientes sobre a complexidade da

obesidade, evitando também, comportamentos de negligência.

Observa-se, empiricamente, uma tendência à comercialização da cura da

obesidade, com propostas milagrosas e banalização do preparo e acompanhamento

psicológico. Há profissionais que emitem parecer no primeiro encontro com o usuário.

Conduta em resposta à não compreensão do papel do psicólogo? Conduta em resposta à

pressão comercial? Conduta em resposta à pressão do próprio candidato ao procedimento? De

fato, estas tendências promovem o descrédito e desvalorização da função do psicólogo, que

por sua vez, perde a oportunidade de acessar seu próprio objeto de trabalho, o ser humano.

Apesar das limitações e compreendendo que generalizações devem ser evitadas,

os achados deste estudo podem auxiliar os profissionais de saúde no planejamento de

intervenções mais eficientes. A investigação das experiências adversas ao longo da vida do

usuário e a utilização de instrumentais psicométricos, capazes de acessar as estruturas

emocionais básicas e de personalidade, podem nortear os psicólogos na identificação de

conteúdos encobertos.

CONFLITOS DE INTERESSE

Os autores declaram que não existem conflitos de interesse.

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De: 'Hélida Sousa' via Revista Brasileira em Promoção da Saúde <[email protected]>

Data: 12 de março de 2018 00:16

Assunto: [RBPS] Agradecimento pela Submissão

Para: Hélida Sousa <[email protected]>

Prezado(a) autor(a)Hélida Sousa,

Agradecemos a submissão do seu manuscrito "EXPERIÊNCIAS ADVERSAS E

TENDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS EM CANDIDATOS À CIRURGIA BARIÁTRICA

E METABÓLICA" para Revista Brasileira em Promoção da Saúde. Para toda

correspondência futura relativa ao mesmo, por favor, refira-se ao número gerado pelo sistema

SEER.

Tão logo quanto possível, V.Sa será notificado(a) a respeito do processo para consideração de

eventuais sugestões dos revisores ou sobre a aprovação ou rejeição do manuscrito.

Aproveitamos para informá-lo(a) que caso o manuscrito não seja considerado com mérito

para publicação, será aceito somente mais uma ressubmissão do mesmo por v.sa (após o

processo de revisão por pares, contendo a correção de todas as considerações).

Além disso, a Revista Brasileira em Promoção da Saúde vem desenvolvendo uma política de

ampliação de seu impacto, com vistas à indexação em outras bases de dados nacionais e

internacionais, para o que é imprescindível a publicação de manuscritos em outro idioma

(língua inglesa).

Assim, informamos que:

1) O artigo tramitará em português ou espanhol e somente quando for aprovado em última

versão pelos editores é que os autores providenciarão a versão em inglês.

2) Os custos com a tradução serão de responsabilidade dos autores.

3) A Revista Brasileira em Promoção da Saúde recomenda tradutores especializados a ser

informado posteriormente.

4) Caso não haja interesse na publicação do seu manuscrito na língua inglesa solicitamos

breve manifestação para cancelamento do processo de avaliação. Recomendamos a busca de

outro periódico.

5)Para as submissões na língua inglesa não se faz necessário a tradução para o outro idioma.

Reiteramos a relevância dessa política no aumento da visibilidade internacional das

publicações, e agradecemos sua valiosa colaboração com a Revista Brasileira em Promoção

da Saúde.

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Através da interface de administração do sistema, utilizado para a submissão, será possível

acompanhar o progresso do documento dentro do processo editorial, bastando logar em:

URL do Manuscrito: http://periodicos.unifor.br/RBPS/author/submission/7649

Em caso de dúvidas, envie suas questões para este email. Agradecemos mais uma vez

considerar nossa revista como meio de transmitir ao público seu trabalho.

Paula Borges Jacques

Revista Brasileira em Promoção da Saúde

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Produto Técnico (Videoaula na Plataforma Telemedicina UFG)

URL: https://tele.medicina.ufg.br/

Atividades docentes desenvolvidas durante o Mestrado

Data Local (Goiânia) Atividade - Tema Público-Alvo Metodologia Carga Horária

15/09/2017 Colégio Atlanta LTDA –

Parque Industrial João Braz Alimentação saudável – Transtornos Alimentares

Alunos, pais e/ou

responsáveis

Oficinas durante Feira

Cultural 10 horas

20/09/2017

Escola Municipal Marcos

Antônio Dias Batista – Cond.

Estrela Dalva

Experiências Adversas na Infância e Adolescência

– Consequências para a Saúde Psíquica Alunos e Professores

Aulas expositivas e

dialogadas 21 horas

31/10/2017

NEPSIH – Núcleo de Estudos

em Psicologia Hospitalar –

Jardim América

Preparo e Avalição Psicológica de Candidatos à

Cirurgia Bariátrica e Metabólica

Profissionais da

Psicologia da Saúde e

Hospitalar

Aula expositiva,

dialogada e estudo

clínico

4 horas

04/04/2018

Sala 3 – Faculdade de

Medicina/ UFG

Disciplina: Políticas de Saúde

da Mulher e as Práticas de

Integração – Universidade e

Serviços

Experiências Adversas e Tendências

Comportamentais em Candidatos à Cirurgia

Bariátrica e Metabólica

Alunos do MEPES Aula expositiva e

dialogada 4 horas

24/04/2018 Telemedicina - UFG

Experiências Adversas e Tendências

Comportamentais em Candidatos à Cirurgia

Bariátrica e Metabólica

Profissionais da Saúde Videoaula 30 min.

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