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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE FARMÁCIA ALEXANDRE PEREIRA DOS SANTOS Estudo farmacognóstico, avaliação da atividade antioxidante e da toxicidade aguda dos extratos etanólicos brutos das cascas do caule e folhas de Pterodon emarginatus Vogel (Fabaceae) Goiânia 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE FARMÁCIA

ALEXANDRE PEREIRA DOS SANTOS

Estudo farmacognóstico, avaliação da atividade

antioxidante e da toxicidade aguda dos extratos

etanólicos brutos das cascas do caule e folhas de

Pterodon emarginatus Vogel (Fabaceae)

Goiânia 2008

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ALEXANDRE PEREIRA DOS SANTOS

Estudo farmacognóstico, avaliação da atividade

antioxidante e da toxicidade aguda dos extratos

etanólicos brutos das cascas do caule e folhas de

Pterodon emarginatus Vogel (Fabaceae)

Goiânia 2008

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás, como um dos requisitos necessários à obtenção do título em mestre em Ciências Farmacêuticas. Orientador : Prof. Dr. José Realino de Paula

3

Às minhas duas maiores incentivadoras, Mãe e Avó, que

me propiciaram, sem medir esforços galgar o caminho na

busca do conhecimento, Celina Santos e Maria Gomes(in

memóriam).

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus fonte perene de sabedoria e por ter-me guiado até aqui.

Ao professor Dr. José Realino de Paula, pela orientação, paciência,

dedicação e confiança, exemplo de retidão.

Aos professores Edemilson Cardoso da Conceição e Maria Teresa Bara

pelo incentivo e apoio nos momentos difíceis.

Aos professores Luiz Carlos Cunha, Marize Campos Valadares Bozinis,

Pedro Henrique Ferri, Maria do Rosário Rodrigues pela dedicação, boa-vontade,

demonstrados nas preciosas contribuições que deram a este trabalho.

Às professoras amigas Joelma Abadia Marciano de Paula, Leonice

Manrique Faustino Tresvenzol e Tatiana de Sousa Fiuza, pela ajuda, amizade e

sugestões.

A Profª. Dra. Inês Sabioni Resck do Departamento de Química da

Universidade de Brasília (UnB), pelos espectros de Ressonância Magnética

Nuclear de 1H e de 13C das substâncias isoladas.

À professora Maria Helena Rezende, pelo acesso às dependências ao

laboratório de morfologia vegetal.

Aos amigos, Gilvana, Liúba, Marcelo, Pollyana, Renê, Weuller, pela

amizade, apoio técnico, cordialidade e pelas agradáveis conversas durante os

momentos de descontração.

Em especial aos amigos, Lília Cristina e Daniel Zatta parceiros de todas as

horas e pelo companheirismo.

A CAPES que proporcionou o suporte financeiro para o desenvolvimento

deste trabalho.

Em fim, àqueles sem os quais nenhum conquista em minha vida seria

possível ou valeria a pena: Celina, Sílvia, Eduardo, Lucimir, Terezinha e amados

avós Felix e Maria.

A cada um de vocês o meu muito obrigado.

5

“Do meu telescópio, eu via Deus caminhar! A maravilhosa disposição e harmonia do universo só pode ter tido origem segundo o plano de um

Ser que tudo sabe e que tudo pode. Isto fica sendo minha última e mais elevada

descoberta”.

Isaac Newton

A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao

seu tamanho original.

Albert Einstein

6

RESUMO

A espécie Pterodon emarginatus Vog., conhecida popularmente como sucupira-branca, é uma espécie arbórea, nativa do Cerrado Brasileiro, sendo encontrada nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul. Possui interesse como planta medicinal e fonte de madeira. Vários estudos com o óleo e extratos dos seus frutos demonstraram atividades cercaricida, antimicrobiana e antiinflamatória. Tendo em vista a importância da espécie P. emarginatus como fonte de medicamento o presente trabalho realizou um estudo morfo-anatômico das folhas de P. emarginatus Vog., através de microscopia óptica e de varredura, procurando estabelecer parâmetros da matéria-prima vegetal que possam ser usados futuramente para o controle de qualidade do material botânico, avaliou o perfil de toxicidade aguda oral pelo método de classes (OECD 423) do extrato etanólico bruto das cascas e folhas de P. emarginatus Vog., avaliou a atividade antioxidante in vitro dos extratos e frações da casca do caule e folha pelo método DPPH., determinou o teor de fenóis totais pelo método Hargerman e Butler, verificou possível atividade antifúngica e antibacteriana do óleo essencial de suas folhas, e buscou isolar e elucidar compostos do extrato etanólico brutos das folhas. No estudo morfo-anatômico pode-se verificar que as folhas são hipoestomáticas, apresentam numerosos tricomas tectores unicelulares, têm cavidades secretoras com valor taxonômico para a família, além de detectar a presença de nectários extraflorais e idioblastos ricos em cristais e mucilagem. No teste de atividade antioxidante os extratos e frações, com exceção da fração hexânica mostraram importante atividade antioxidante, sendo a fração diclorometânica a mais potente. O teor de fenóis totais para as amostras testadas foi moderado reforçando a atividade antioxidante observada. A avaliação da toxicidade aguda oral dos extratos etanólicos brutos das cascas do caule e folhas, em camundongos e ratos de ambos os sexos nas doses de 2000mg/kg e 5000mg/kg não promoveu óbito, nem aparecimento de sinais clínicos de toxicidade, sugerindo segurança quanto à utilização de tais extratos. Por fim a análise do óleo das folhas permitiu a identificação de 9 hidrocarbonetos sesquiterpênicos, sendo os majoritários o γ-muuroleno (48,79%) e o biciclogermacreno (22,66%). A atividade in vitro contra os isolados clínicos de Candida, não foi positiva, podendo este resultado ser atribuído à composição do óleo essencial, no teste frente às bactérias o óleo mostrou-se ativo apenas para bactérias Gram-positivas e o estudo químico do extrato das folhas permitiu o isolamento da mistura dos esteróides estigmasterol e β-sitosterol. Todos os resultados obtidos contribuem para a ampliação de informações sobre essa planta amplamente utilizada pela população, podendo afirmar que suas atividades não se restringem apenas às já descritas em literatura.

Palavras-chave : Morfo-anatomia. Atividade Antioxidante. Toxicidade Aguda. Óleo essencial.

7

ABSTRACT

The specie Pterodon emarginatus Vog., known as sucupira-branca, is a tree species, native of the Brazilian Savannah, being found in the states of Minas Gerais, Sao Paulo, Goiás and Mato Grosso do Sul. It’s interest as medicinal plant and source of wood. Several studies with the oil and fruit’s extracts have been showed cercaricid, antimicrobial and antiinflamatory activities. The importance of this specie as medicaments conducted the present study to realize morpho-anatomic analysis of leaves of P. emarginatus Vog. by optical and scanning microscopy, trying to establish parameters of the botanic material that will be used in future to control of quality of botanical material, evaluated the profile acute oral toxicity by the method of classes (OECD 423) of ethanolic extract crude from leaves and bark of P. emarginatus Vog., evaluated the antioxidant activity in vitro of the extracts and fractions of the bark of the stem and leaf by the method DPPH., determined the levels of total phenols by the method Hargerman and Butler, evaluated antifungal and antibacterial activity of essential oil of their leaves, and try to isolate some compound of ethanolic extract of the leaves. In the morpho-anatomic study could be verified that the leaves are hypoetomatics, they have abundant unicellular trichomes, have secretory cavities with taxonomic value for the family, in addition to detect the presence of extrafloral nectaries and idioblasts rich in crystals and mucilage. In the test antioxidant activity of the extracts and fractions, except the fraction hexane showed significant antioxidant activity, and the fraction dicloromethane the most powerful. The content of total phenols in the samples tested was moderate strengthening the antioxidant activity observed. The evaluation of acute oral toxicity of the extracts ethanolics of the bark and leaves, in mice and rats of both sexs at doses of 2000 mg/kg and 5000 mg/kg not caused death, or appearance of clinical signs of toxicity, suggesting security as the use of such extracts. Finally the analysis of the oil from leaves allowed the identification of 9 hydrocarbons sesquiterpenics, with the majority γ-muurolene (48.79%) and biciclogermacrene (22.66%). The in vitro activity against clinical isolates of Candida, wasn’t positive, this result can be attributed to the composition of essential oil, in front of bacteria test the oil proved to be active only for Gram-positive bacteria and chemical study of the extract of the leaves allowed the isolation of the mixture of steroids stigmasterol and β-sitosterol. All results contribute to the expansion of information about this plant widely used by the population and can say that their activities are not restricted only to those described in literature. Keywords : Morfho-anatomy. Antioxidant activity. Acute toxicity. Essential oil.

8

LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1

Figura 1 Vista geral da espécie Pterodon emarginatus Vog. ..............28

CAPÍTULO 2

Figura 1 Aspecto do ramo foliar de P. emarginatus Vog. ....................44

Figura 2 Secção paradérmica da folha de P. emarginatus Vog. A – Aspecto geral da epiderme adaxial; B – Detalhe da epiderme adaxial; C – Aspecto geral da epiderme abaxial; D – Detalhe da epiderme abaxial...........................................48

Figura 3 Microscopia de Varredura das epidermes adaxial e abaxial dos folíolo de P. emarginatus. A – Detalhe da epiderme adaxial, evidenciando tricomas tectores; B – Aspecto geral da epiderme abaxial; C – Detalhe da epiderme adaxial, evidenciando papilas e estômato.................................................................................49

Figura 4 Microscopia de Varredura da epiderme abaxial dos folíolos de P. emarginatus. A – Detalhe da epiderme abaxial, evidenciando tricomas tectores e papilas ; B – Aspecto geral da epiderme abaxial, evidenciando tricomas longos sobre nervuras e presença de papilas; C – Detalhe da epiderme abaxial, evidenciando papilas e estômato.................................................................................50

Figura 5 Secção transversal da folha de P. emarginatus Vog. A – Aspecto geral inter-nervura; B – Detalhe da inter-nerura; C – Detalhe da epiderme adaxial; D – Detalhe da epiderme abaxial ..........................................51

9

Figura 6 Secções transversais dos bordos do folíolo da folha de P. emarginatus Vog. A – Aspecto geral da borda mediana do folíolo B – Aspecto geral da borda da base do folíolo evidenciando bolsa secretora e tricoma tector; C – Aspecto geral da borda mediana evidenciando tricomas tectores...................................................................................52

Figura 7 Secção transversal da nervura principal do folíolo de Pterodon emarginatus Vog. A – Aspecto geral; B – Detalhe do sistema vascular central; C – Detalhe da epiderme abaxial da nervura principal; D – Detalhe da epiderme adaxial; E – Detalhe da bolsa secretora próxima à nervura central....53

Figura 8 Secção transversal da ráquis da folha de P. emarginatus A – Aspecto geral; B – Detalhe da epiderme e parênquima cortical; C – Detalhe do sistema vascular central; D – Nectário extrafloral E – Detalhe dos tricomas tectores unicelulares.....................54

Figura 9 Secção transversal do pecíolo de Pterodon emarginatus Vog. A – Aspecto geral;

B – Detalhe da epiderme até floema; C – Detalhe do parênquima cortical evidenciando cristais prismáticos próximos ao sistema vascular central ................55

Figura 10 Secção transversal do pecíolo de Pterodon emarginatus Vog. A e B – Histoquímica com Ácido Tânico/FeCl3 evidenciando células mucilaginosas. C – Histoquímica com Sudam IV ..........................................56

Figura 11 Secção transversal do pulvino primário de P. emarginatus A – Aspecto geral; B – Detalhe da epiderme e parênquima cortical; C – Detalhe do sistema vascular central ...............................57

CAPÍTULO 3

Figura 1 Esquema químico de um radical livre ...................................72

Figura 2 Esquema da formação das EROs ........................................73

10

Figura 3 Seqüência de fracionamento do extrato etanólico bruto da

casca de Pterodon emarginatus.............................................79

Gráfico 1 Curva padrão para doseamento de fenóis totais para os

extratos e frações de P. emarginatus. Concentração de ácido

tânico versus absorbância. Equação da reta: Absorbância = A

+ B . c. Erro de ajuste (R2) = 0,9983......................................85

Gráfico 2 Perfil da concentração efetiva 50% calculada através de regressão linear, logarítmica do gráfico obtido com os valores encontrados de %AA para cada concentração e amostra.....87

Quadro 1 Doenças relacionadas com a geração de radicais livres ......76

CAPÍTULO 5

Figura 1 Seqüência de fracionamento do extrato etanólico bruto das folhas de Pterodon emarginatus Vog. por meio de coluna filtrante..................................................................................122

Figura 2 Resumo esquemático do isolamento de S1.........................123 Figura 3 Cromatograma do óleo essencial de folhas de Pterodon

emarginatus, onde os picos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 são: α-copaeno (1,07%); β-elemeno (7,10%); E – cariofileno (6,73%); α – humuleno (2,48%); Allo-aromadendreno (0,93%); γ - muuroleno (48,79%); biciclogermacreno (22,66%); Acifileno (7,41) e δ – cadineno (0,70%) respectivamente IR = 100 . N [(tx – tn-1)/(tn –tn-1)] + 100. Cn-1. CBP – 5; 30 m x 0,25 mm x 0,25 µm), fluxo 1 mL/min de Hélio, com o gás de arraste, (60 0C /2min; 3 0C min-1/240 0C; 100C min-1/280 0C; 2080C/10min), 70 eV...........................................................126

Figura 4 Estrutura química dos compostos majoritários do óleo essencial das folhas de P. emarginatus, onde: I, II, III, IV, são γ-muuroleno (48,79%), biciclogermacreno (22,66%), acifileno (7,41%) e β-elemeno (7,10%), respectivamente (ADAMS, 2007)....................................................................................128

Figura 5 Estrutura Química do β-Sitosterol e Estigmasterol..............131

11

Figura 6 Espectro de RMN 1H (300 MHz, CDCl3) de S1...................132 Figura 7 Espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3) de S1...................133 Figura 8 Espectro de RMN 1H (300 MHz) expandido, multipleto

centrado em 3,53 δ, (H-3).....................................................135 Figura 9 Espectro de RMN 1H (300 MHz) expandido, com diagrama de

linhas - duplo dubletos (J =15, e 8,4 Hz) em δH 4,9 e 5,2 ppm......................................................................................136

Figura 10 Espectro de RMN 13C (75 MHz) expandido, evidenciando os

sinais (138,5 e 129,4 δ/ C-22 e C-23) e (140,9 e 121,9 δ / C-5 e C-6)...................................................................................136

Quadro 1 Descrição dos microrganismos utilizados na determinação da

concentração inibitória mínima.............................................120

12

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2

Tabela 1 Espécies reativas do oxigênio (ERO).....................................73

Tabela 3 ERO e antioxidantes .............................................................75

Tabela 3 Rendimento dos extratos e frações .......................................84

Tabela 4 Doseamento de fenóis totais expressos em porcentagem

(p/p)........................................................................................85

Tabela 5 Atividade antioxidante frente ao radical DPPH. .....................86

Tabela 6 Concentração efetiva 50% calculada através de regressão

linear, logarítmica...................................................................87

CAPÍTULO 5

Tabela 1 Componentes do óleo essencial das folhas de P. emarginatus.

.............................................................................................125

Tabela 2 Concentração inibitória mínima (mg/mL) do óleo essencial das folhas de P. emarginatus......................................................129

Tabela 3 Dados do espectro de RMN 13C (75MHz, CDCl3) para S1

(Mistura de esteróides), estigmasterol e β-sitosterol............134

Tabela 4 Dados do espectro de RMN 1H (75MHz, CDCl3) para S1 (Mistura de esteróides), estigmasterol e β-sitosterol............135

13

LISTA DE ABREVIATURAS

NEF – Nectário extrafloral

ERO – Espécie reativa do oxigênio

SOD – Superóxido dismutase

DPPH – 2,2-difenil-1-picril-hidrazil

FHc – Fração hexano da casca

FDMc – Fração diclorometano da casca

FAEc – Fração acetato de etila da casca

FMet/H2Oc – Fração metano/água da casca

%AA – Atividade antioxidante percentual

CE50 – Concentração eficiente 50%

OECD – Organization for Economic Co-operation and Development

DL50 – Dose letal 50

CG/EM – Cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas.

IR – Índice de retenção

DMSO – Dimetilsulfóxido

HCl – ácido clorídrico

UFC – Unidade formadora de colônia

ATCC – The american type culture colletion

DP – Desvio Padrão

FeCl3 – Cloreto férrico

CIM – Concentração inibitória mínima

CCD – Cromatografia em camada delgada

TMS – Tetrametilsilano

CDCl3 – Clorofórmio

FDH – Fração diclorometano

14

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................17

CAPÍTULO 1 Pterodon emarginatus Vogel (LEGUMINOSAE = FABACEAE): UMA BREVE REVISÃO DA LITERATURA ...............................................................................................22

1.1 Considerações Gerais Sobre a Família Leguminosa e e o

Gênero Pterodon .................................................................23

1.2 Aspectos químicos e biológicos de algumas espé cies do

Gênero Pterodon ................................................................. 25

1.3 Espécie Pterodon emarginatus Vog. .................................27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................30

CAPÍTULO 2 ESTUDO MORFO-ANATÔMICO DAS FOLHAS DE

Pterodon emarginatus Vogel (Leguminosae =

Fabaceae) ..............................................................................38

1 INTRODUÇÃO ......................................................................39

2 MATERIAL E MÉTODOS .....................................................41

2.1 Material botânico .................................................................41

2.2 Caracterização morfológica ...............................................41

2.3 Caracterização anatômica ..................................................41

2.3.1 Microscopia óptica ..............................................................41

2.3.2 Microscopia eletrônica de varredura ................................ 42

3 RESULTADOS ......................................................................44

3.1 Descrição macroscópica ....................................................44

3.2 Descrição microscópica .....................................................45

3.2.1 Lâmina foliar ........................................................................45

3.2.2 Ráquis ..................................................................................46

3.2.3 Pecíolo .................................................................................47

3.2.4 Pulvino primário ..................................................................47

4 DISCUSSÃO .........................................................................58

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................63

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................64

15

CAPÍTULO 3 FENÓIS TOTAIS E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE D OS

EXTRATOS E FRAÇÕES DAS CASCAS DO CAULE E

FOLHAS DE Pterodon emarginatus Vog. (Leguminosae =

Fabaceae) .............................................................................70

1 INTRODUÇÃO ......................................................................71

1.1 Metabolismo do oxigênio e sua relação na formaç ão dos

radicais livres ......................................................................71

1.2 Antioxidantes ......................................................................74

2 MATERIAL E MÉTODOS .....................................................78

2.1 Reagentes e equipamentos ................................................78

2.2 Material botânico .................................................................78

2.3 Obtenção do extrato etanólico bruto ................................78

2.4 Fracionamento do extrato etanólico bruto das ca scas do

caule de P. emarginatus .....................................................79

2.5 Doseamento de fenóis totais ..............................................80

2.6 Avaliação da capacidade de reação com 2,2-difen il-1-

picril-hidrazil (DPPH .) ..........................................................82

2.6.1 Cálculo da concentraçã o eficiente 50%(CE50) ................83

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................84

3.1 Rendimento dos extratos etanólicos brutos e d as frações .

...............................................................................................84

3.2 Fenóis totais .........................................................................85

3.3 Atividade antioxidante percentual .....................................86

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................91

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................92

CAPÍTULO 4 AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE AGUDA ORAL DOS

EXTRATOS ETANÓLICOS BRUTOS DAS CASCAS DO

CAULE E FOLHAS DE Pterodon emarginatus Vogel

(Leguminosae = Fabaceae) .................................................98

1 INTRODUÇÃO ......................................................................99

2 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................102

16

2.1 Material botânico ...............................................................102

2.2 Obtenção do extrato etanólico bruto ...............................102

2.3 Toxicidade aguda dose única ..........................................102

2.3.1 Descrição detalhada do protocolo experimental ............103

2.3.2 Animais e condições ambientais de manutenção .........104

2.3.3 Via e modo de administração ...........................................105

2.3.4 Duração do período de observação ................................106

2.3.5 Observação dos sinais de toxicidade .............................106

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .........................................107

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................110

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................111

CAPÍTULO 5 ANÁLISE DO ÓLEO ESSENCIAL EXTRAÍDO DAS F OLHAS

DE Pterodon emarginatus Vogel (Leguminosae =

Fabaceae), AVALIAÇÃO IN VITRO DA SUA ATIVIDADE

ANTIMICROBIANA FRENTE FUNGOS E BACTÉRIAS

PATOGÊNICOS E CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DO

EXTRATO ETANÓLICO BRUTO ........................................114

1 INTRODUÇÃO ....................................................................115

2 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................110

2.1 Reagentes e Equipamentos ..............................................117

2.1.1 Material botânico e extração do óleo essenc ial .............117

2.2 Análise da composição química do óleo essencial ........118

2.3 Avaliação a atividade antifúngica do óleo essen cial das

folhas de P. emarginatus ...................................................119

2.4 Determinação da concentração inibitória mínima do óleo

essencial das folhas de P. emarginatus Vog. frente a

bactérias (atividade antibacteriana) .................................120

2.5 Investigação química do extrato etanólico brut os das

folhas de P. emarginatus Vog. ..........................................121

2.5.1 Isolamento e caracterização de constituintes químicos

das subfrações ...................................................................122

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..........................................125

17

3.1 Rendimento do óleo essencial .........................................125

3.2 Análise da composição química do óleo essencial ........125

3.3 Avaliação da atividade antifúngica do óleo esse ncial das

folhas de P. emarginatus ..................................................128

3.4 Determinação da concentração inibitória mínima do óleo

essencial das folhas de P. emarginatus Vog. frente a

bactérias ..............................................................................129

3.5 Resultado da investigação química do extrato etanólico

brutos das folhas de P. emarginatus Vog. .......................131

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................131

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................140

18

1 INTRODUÇÃO

Recorrer às virtudes curativas de alguns vegetais é uma das mais antigas

manifestações do homem em compreender e utilizar a natureza como recurso

terapêutico. Sendo assim, desde os tempos mais remotos o homem vem

coletando plantas nativas ou cultivando outras nas proximidades de sua casa para

usar como alimento e medicamento (BRANDÃO, 2003).

Em civilizações antigas como as das regiões do Egito, Assíria e Oriente, os

eruditos reuniam seus conhecimentos e procediam à classificação de numerosas

plantas medicinais, indicando-lhes o uso. Os gregos, posteriormente os romanos,

liberaram essas práticas puramente empíricas do seu aspecto um tanto místico,

conferindo emprego racional às plantas. No século XVIII, surgiam as grandes

classificações das famílias vegetais e no século XIX, os progressos da química

levaram às experiências de extração dos princípios ativos das plantas

(CHATONET, 1983).

Ao tratar esse tema produtos naturais, deve-se ter bem claro que planta

medicinal é aquela, utilizada sob qualquer forma e por alguma via ao homem,

exercendo algum tipo de ação farmacológica. A aplicação das plantas é vasta,

pois além de seu uso na medicina popular, tem contribuído, por décadas, para a

obtenção de fármacos, amplamente utilizados na clínica (CALIXTO, 2000).

O conhecimento sobre plantas medicinais e sua utilização representam um

dos principais usos da biodiversidade, além de serem o único ou mais importante

recurso terapêutico de muitos grupos étnicos ou comunidades (MACIEL, et al.,

2002). As espécies vegetais são vistas como importantes mananciais de

substâncias úteis ao tratamento, prevenção ou cura de enfermidades que

acometem os seres humanos, o que vem sendo confirmado através de pesquisas

científicas, especialmente nas áreas da química e farmacologia (MONTANARI e

BOLZANI, 2001).

Segundo Fetrow e Ávila (1999) é pequena a porcentagem de plantas

medicinais adequadamente estudadas quanto a sua atividade farmacológica. É

difícil a seleção de espécies a investigar quanto ao potencial farmacológico,

considerando a grande quantidade de espécies a explorar. Neste contexto, os

relatos da medicina popular, investigados através da etnobotânica, funcionam

19

como base empírica para o desenvolvimento de estudos que possam respaldar a

obtenção de produtos naturais bioativos (AMOROZO, 2002).

Portanto, a abordagem etnobotânica é utilizada como instrumento que

coleta e analisa as informações populares que o homem tem sobre o uso das

espécies vegetais. Através dela é possível verificar o perfil de uma comunidade e

seus usos em relação às plantas, uma vez que cada comunidade é caracterizada

por seus costumes. As informações etnobotânicas obtidas são extremamente

relevantes, visto que revelam dados restritos a determinados grupos ou regiões

(MARTINS et al., 2005).

Tratando-se da utilização popular de plantas medicinais no Brasil, esta, foi

fruto da mistura do conhecimento de índios, africanos e europeus que data desde

a colonização (ALBUQUERQUE e ANDRADE, 2005), sendo difundida ao longo

dos tempos por raizeiros, curandeiros e bezendeiras. Até a década de 50 os

medicamentos utilizados eram quase que exclusivamente de origem vegetal. Com

o desenvolvimento da tecnologia farmacêutica, a produção de fármacos via

síntese química, e a ausência de comprovações científicas de eficácia e

segurança das substâncias de origem vegetal, aliada as dificuldades de controle

físico-químico, farmacológico e toxicológico dos extratos vegetais até então

utilizados, impulsionaram a substituição destes por fármacos sintéticos, e de alto

custo para o doente (RATES, 2001).

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, 80% da

população de países em desenvolvimento dependem dos recursos naturais como

fonte de atenção primária a saúde. Estimativas mostram que o mercado de

produtos farmacêuticos movimenta uma margem de US$ 320 bilhões/ano, dos

quais US$ 22 bilhões são oriundos de fontes naturais (BRESOLIN e FILHO,

2003).

Percebe-se que a medicina pelas plantas vem se libertando daquele seu

caráter empírico original e de sua aura misteriosa, tornando-se uma janela de

oportunidades na indústria de medicamentos, pois este mercado possibilita que

as novas moléculas descobertas assegurem a competitividade na produção de

novos medicamentos patenteados (VILLA-LOBOS e GADELHA, 2007), já que sua

eficácia pode ser constatada clínica e cientificamente. Apesar disso, ainda

20

existem muitas espécies que requerem ter sua eficácia e segurança comprovadas

cientificamente (RIBEIRO et al., 2002).

Observa-se que na última década, o interesse em trabalhar com plantas

medicinais tem então ressurgido. Fato constatado pela busca de novas

substâncias derivadas de espécies vegetais, que possam ser futuramente usadas

como protótipos para síntese de moléculas de interesse medicinal e pelo

crescente número de publicações nessa linha de pesquisa (CALIXTO, 2000).

Entretanto, a descoberta de novos fármacos consiste num processo longo,

complexo e de alto custo, que envolve algumas etapas como a descoberta, o

desenvolvimento e a comercialização. Não há dúvidas que na primeira fase desse

processo, ou seja, a descoberta, o Brasil possua qualificação e condições para

atuar com excelência, visto que é um dos maiores celeiros de plantas,

principalmente de angiospermas do planeta, e por ser detentor de uma ampla

biodiversidade, a qual se encontra inserida em cinco domínios morfoclimáticos e

fitogeográficos (MONTANARI e BOLZANI, 2001). Dentre estes domínios destaque

para o bioma Cerrado, descrito por Ribeiro e Walter (1998) como sendo o

segundo maior em área do país, abrangendo cerca de 23% do território nacional,

o equivalente a dois milhões de Km2.

O Cerrado encontra-se localizado basicamente no planalto central sendo

considerado um dos maiores complexos vegetacionais de heterogeneidade

fitofisionômica. Toda área ocupada pelo cerrado abrange os estados de Goiás,

Tocantins e o Distrito Federal, parte dos estados do Ceará, Maranhão, Bahia,

Mato Grosso entre outros (SANO e ALMEIDA, 1998). Segundo Pires e Santos

(2000), estimativas sugerem que o Cerrado possua cerca de seis mil espécies de

árvores, muitas utilizadas para fins medicinais. Calcula-se ainda, que a maior

parte das plantas lenhosas e das gramíneas que abarca sejam endêmicas. Em

trabalho de Mendonça et al., (1998), o bioma Cerrado é apontado como detentor

de 6.671 táxons nativos, distribuídos em 170 famílias e 1.140 gêneros. Nesta

mesma pesquisa são relatados 11 novos táxons (GUARIM-NETO e MORAIS,

2003). Em outros estudos realizados por Naves e Chaves (2001), em 98 áreas

representativas do Cerrado, foram encontradas 534 espécies lenhosas, sendo

que 158 delas (30%) ocorreram em um único local e apenas 28 espécies foram

encontradas em mais de 50% das áreas. Nenhuma espécie ocorreu em todos os

21

locais estudados. Este panorama de distribuição e espacialização das espécies

do Cerrado é um importante aspecto a ser levado em consideração na definição

de estratégias de conservação deste bioma.

O Cerrado fisionomicamente é caracterizado pela existência de um estrato

herbáceo constituído fundamentalmente por gramíneas e por um estrato arbóreo/

arbustivo de caráter lenhoso. Estas alternâncias no ecossistema do Cerrado

ocorrem principalmente pela relação entre nível do lençol freático, da fertilidade

do solo, da geomorfologia do relevo e da topografia ou altimetria do mesmo

(RIGONATO e ALMEIDA, 2003).

Tratando-se ainda das fitofisionomias do Cerrado, estas são classificadas

em: Cerradão, Cerrado Rupestre de Altitude, Cerrado "stricto sensu", Campo

Limpo, Mata Galeira, Mata Ciliar e Veredas. Em todas estas áreas são

encontradas as mais diversas espécies de plantas usadas para fins alimentícios

ou medicinais, e estudos têm revelado que a flora do Cerrado constitui uma

preciosa fonte de moléculas com atividade biológica (SANO e ALMEIDA, 1998). O

Cerradão, por exemplo, composto por uma vegetação florestal xeromorfa, com

árvores em maior desenvolvimento que as das outras fitofisionomias, devido aos

solos mais profundos e úmidos, e com algumas camadas de folhas em

decomposição, encontra-se nos chapadões ou nas encostas úmidas. O Cerradão

apresenta dossel praticamente contínuo e cobertura arbórea que pode variar de

59 a 90%. A altura mediana do estrato arbóreo oscila de 8 a 15 metros,

proporcionando condições de luminosidade que favorecem à formação de

estratos arbustivos e herbáceos diferenciados (SANO e ALMEIDA, 1998). É

comum neste estrato a presença de árvores altas como jatobá de mata

(Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex Hayne) , o tingui (Magonia pubescens St. Hil.) ,

a pimenta de macaco (Xylopia aromatica Lam.), a sucupira branca (Pterodon

emarginatus Vog.) e a preta (Bowdichia virgilioides Kunth.) (RIGONATO e

ALMEIDA, 2003; SANO e ALMEIDA, 1998 ).

Dentre as várias famílias vegetais que compõem o domínio Cerrado,

destaca-se a família Fabaceae, também designada de Leguminosae, pertencente

à ordem Fabales, sendo uma das maiores famílias de angiospermas (POLHILL,

1981, JUDD et al., 1999, SOUZA e LORENZI 2005). Neste contexto, Cerrado e

plantas medicinas, este trabalho busca avaliar o extrato etanólico das cascas do

22

caule e das folhas de Pterodon emarginatus Vog. (sucupira branca), planta

largamente empregada pela população devido as suas propriedades

antiinflamatórias e antimicrobianas.

Não foram encontradas, no levantamento bibliográfico informações

toxicológicas relacionadas aos extratos das cascas do caule e das folhas de

Pterodon emarginatus Vog. Dados morfo-anatômicos das folhas da mesma

espécie são restritos. O que se observa são produções científicas voltadas à

atividade biológica e farmacológica de extratos dos frutos. Tendo em vista a

importância do estudo químico e biológico da nossa flora nativa, considerando a

função representativa do gênero Pterodon no contexto Cerrado e ainda a

escassez de estudos dos órgãos selecionados (casca e folha), este trabalho visa

avaliar o perfil de toxicidade aguda oral do extrato etanólico bruto das cascas e

folhas de P. emarginatus Vog., visando obter informações confiáveis e

extrapoláveis para humanos dos limites de exposição a essa planta utilizada pela

população como medicinal, realizar estudo morfo-anatômico das folhas de

P. emarginatus Vog., através de microscopia óptica e de varredura, visando

estabelecer parâmetros da matéria-prima vegetal para o controle de qualidade,

avaliar a atividade antioxidante in vitro dos extratos e frações pelo método DPPH,

e verificar possível atividade antifúngica do óleo essencial de suas folhas, bem

como a sua composição.

Acreditamos que, propor à sociedade a utilização de um determinado

fitoterápico requer, antes de tudo, a avaliação pragmática da efetividade e

toxicidade das plantas medicinais, isto para aumentar o seu valor agregado e

possibilitar a exploração do potencial terapêutico na saúde pública regional. Desta

forma, a realização das análises mencionadas é de grande valia, proporcionando

segurança aos demais pesquisadores na avaliação da utilização terapêutica de

tais extratos.

23

_________________________________________________________________

CAPÍTULO 1

Pterodon emarginatus Vogel (Leguminosae = Fabaceae):

UMA BREVE REVISÃO DA LITERATURA _________________________________________________________________

24

1 Considerações gerais sobre a família Leguminosae e o gênero Pterodon

A família Leguminosae, também designada de Fabaceae, pertence à

ordem Fabales, sendo uma das maiores famílias de angiospermas, com cerca de

650 gêneros e 18.000 espécies (POLHILL 1981, JUDD et al., 1999, SOUZA e

LORENZI 2005). No Brasil são encontrados cerca de 200 gêneros e 1.500

espécies. A família Leguminosae possui distribuição cosmopolita, sendo

representada por espécies arbustivas, herbáceas, arbóreas e liana, apresentando

grande importância econômica (SOUZA e LORENZI, 2005). No bioma Cerrado,

constitui a família mais representativa em número, com cerca de 777 espécies,

distribuídas em aproximadamente 101 gêneros (RATTER et al., 1977,

MENDONÇA et al., 1998).

Possui grande diversidade nos seus modos de reprodução e defesa, com

reservas centradas em áreas de variedade topográfica e de climas sazonais. A

sua versatilidade justifica seu amplo emprego sendo economicamente importante.

É também, uma das mais ricas na flora brasileira, encontrando-se representada

nas várias formações fitogeográficas do país (POLHILL e RAVEN, 1981;

HARBONE et al., 1971).

As leguminosas fornecem os mais diversos produtos para o homem, como

alimentos e forragem para a criação de gado, são excelentes fornecedoras de

substâncias medicinais, pesticidas, combustíveis e produtos industriais

(HARBONE et. al., 1971; SCHWANTES e WEBERLING, 1981). Convém lembrar

a importante capacidade de fixação simbiótica com o nitrogênio, através do

processo de nodulação, freqüente em raízes de leguminosas, fator este de grande

interesse na conservação de solos (POLHILL e RAVEN, 1981).

Segundo Solereder (1908), a família Leguminosae abrange

anatomicamente três subordens ou como descrito por alguns autores

subfamílias: Papilionaceae (Faboideae), Caesalpinoideae e Mimosoideae,

enquanto que Cronquist (1988), ressalta que o conjunto das subfamílias estão

englobadas nas famílias Mimosaceae, Caesalpiniaceae e Fabaceae

(Papilionaceae), ou seja são famílias distintas. Entretanto, este autor não é aceito,

por especialistas em leguminosas, com base no fato destas três sub-famílias não

constituírem grupos monofiléticos (SOUZA e LORENZI, 2005). As subfamílias

25

Caesalpinieae e Mimoseae ocorrem principalmente nas regiões tropicais e

subtropicais. O hábito é muito variado nas três subfamílias, apresentando

exemplares desde árvores de grande porte até pequenas ervas anuais (LEWIS,

1987).

De acordo com a classificação taxonômica de Polhill (1981), a subfamília

Papilionoideae (Faboideae) compreende 30 tribos englobando 440 gêneros e

1.200 espécies, apresentando ampla distribuição em florestas úmidas, até

desertos secos e frios. Vegetação arbórea e lianas ocorrem principalmente na

Amazônia, com notáveis disjunções para a Ásia Tropical e Austrália. Os principais

exemplares desta subfamília são encontrados no Planalto Brasileiro, no México,

Leste da África, Madagascar e região Sino-Himalayana (HARBONE et al., 1971;

POLHILL e RAVEN, 1981).

Quando comparada com as outras subfamílias, as características

essenciais das Papilionoideae são as flores papilionóides, com cálice na forma de

tubo, pétala adaxial em botão e pétalas menores alojadas na parte fértil. Outra

característica marcante é a presença de uma válvula hilar na semente, com

capacidade biossintética para alcalóides quinolizidínicos e isoflavonas

(HARBONE et al., 1971; POLHILL e RAVEN, 1981). Segundo Souza e Lorenzi

(2005), os espécimes da subfamília Papilionoideae apresentam folhas

imparipinadas, trifolioladas ou unifolioladas, as flores possuem corola com

prefloração imbricada descendente ou vexilar, estames frequentemente em

número duplo ao das pétalas, observando geralmente nove estames unidos entre

si e um livre (androceu diadelfo) ou todos unidos (androceu monadelfo), A maioria

das Papilionoideae podem sintetizar aminoácidos não protéicos, assim como a

canavanina, não encontrada em outro lugar. Raízes nodulares são regularmente

formadas como na maioria das Mimosoideae ao contrário da maioria das

Caesalpinoideae.

Dentre as diversas tribos que compõem a subfamília Papilionoideae, figura

a Dipteryxeae Polhill. Os gêneros abarcados pela tribo Dipteryxeae ocorrem

somente na América Central e do Sul, principalmente na região da Amazônia

(POLHILL, 1981; OLIVEIRA e PAIVA, 2005). A tribo Dipteryxeae caracteriza-se

pela presença de um único óvulo subapical no ovário. Suas sementes são

fusiforme-oblongas à ovóides (POLHILL, 1981).

26

O gênero Pterodon sistematicamente incluso na tribo Dipteryxeae é

composto de cinco espécies nativas brasileiras: Pterodon abruptus Benth., P.

appariciori, Pedersoli, P. emarginatus Vog., P. polygalaeflorus Benth. e P.

pubenscens Benth. (ALMEIDA et al., 1998). Estudos fitoquímicos do gênero

Pterodon têm revelado a presença de alcalóides na casca (TORRENEGRA et al.

1989), isoflavonas e alguns triterpenos no caule (MARQUES et al. 1998) e

diterpenos (FASCIO et al. 1976; ARRIAGA et al., 2000) e isoflavonas (BRAZ e

GOTTLIEB, 1971) em óleo das sementes. Quatorze furanosditerpenos foram

descritos e isolados de frutos do gênero Pterodon, entre outras substâncias

(BRAS e GOTTLIEB, 1971).

Os extratos alcoólicos obtidos a partir das sementes destas espécies são

usados pela medicina popular devido algumas propriedades, tais como: anti-

reumático, antiinflamatório (dores de garganta) e analgésico, quando ingeridos

por via oral em pequenas administrações e em tempos regulares (CORRÊA,

1975). Até 1980, ensaios biológicos com óleo dos frutos do gênero Pterodon,

descritos na literatura, apresentaram atividade anti-cercária para as espécies P.

apparicioi, P. emarginatus, P. polygalaeflorus e P. pubescens; ação

antimicrobiana in vitro e inibição do desenvolvimento de culturas de Crithidia

fasciculata e Trypanosoma cruzi, para o óleo da espécie P. pubescens (MORS, et

al. 1967; MAHAJAN e MONTEIRO, 1970; FASCIO et al. 1976; SANTOS e SARTI,

1980).

1.2 Aspectos químicos e biológicos de algumas espéc ies do gênero

Pterodon

Diversos estudos já foram realizados com as espécies do gênero e dentre

eles, destacam-se a espécie Pterodon pubescens. O óleo dos frutos desta

espécie mostrou-se como eficaz quimioprofilático contra as cercárias de

Schistosoma mansoni (MAHJAN e MONTEIRO, 1973), ação essa atribuída ao

diterpeno 14, 15- epoxigeranilgeraniol (SANTOS et al., 1987), e atividade

antiinflamatória (FALCÃO et al., 2005). O extrato hidroalcoólico das sementes de

P. pubescens apresentou importante atividade anti-artrite depois de prolongado

tratamento via oral em animais com artrite colágeno II - induzida

27

(SABINO et al., 1999). A partir do extrato etanólico das sementes e das frações

hexânica e diclorometânica, obtidas do fracionamento líquido-líquido, foi possível

verificar atividade antinociceptiva em animais (COELHO et al., 2005) e estudos

fitoquímicos realizados por Braz e Gottlieb, (1971), permitiram o isolamento de

isoflavonas. No que se refere à espécie P. apparicioi, existem apenas estudos

relatando o isolamento de isoflavonas (GALIRA e GOTTLIEB, 1974).

Outra espécie do gênero Pterodon amplamente estudada é a

P. polygalaeflorus, também conhecida como faveiro-azul, sucupira-branca,

sucupira-lisa, faveiro e sucupira (LORENZI, 2002), usada popularmente para o

tratamento de bronquite, amigdalites, reumatismo e como tônico (ARRIAGA et al.,

2000). Desta espécie foi isolado o diterpeno ácido 6α,7β-dihidroxivouacapan-17β

óico, a partir do óleo dos frutos, exibindo importante atividade antiinflamatória

(NUNAN et al., 1982) e efeitos analgésicos e antinociceptivos (DUARTE et al.,

1996). Mediante a realização de estudos fitoquímicos em folhas e alas dos frutos

de P. polygalaeflorus (FONSECA et al., 2004), foram identificados nos extratos

das folhas: leucoantocianidinas, flavonóides, catequinas, quinonas, saponinas e

taninos. No extrato do revestimento da semente foram observados: xantonas,

flavonóides, flavonas, quinonas, fenóis e flavonóis. MARQUES et al. (1998),

isolaram os isoflavonóides: 6,7-dimetoxiisoflavona, 3’,4’-metilenodioxiisoflavona,

4’-hidroxi-3’,6,7-trimetoxiisoflavona, 3,4,6,7-tetrametoxiisoflavona, 7-hidroxi-6-

metoxiisoflavona, 3,4-metilenodioxiisoflavona, 2’,6,7-trimetoxiisoflavona, 3’,4’ –

metilenodioxiisoflavona, 2’,3’,4’,7,7-pentametoxiisoflavona e 2’,4’,5,6,7-

pentametoxiisoflavona, os triterpenóides lupeol e betulina e o ácido 4-

metoxibenzóico dos extratos acetônicos do alburno e do cerne de

P. polygalaeflorus. Dois anos depois, Arriaga et al., (2000) isolaram o novo

diterpeno 6α-hidroxivouacapano e os conhecidos diterpenóides 6α,7β,14β,19-

tetrahidroxivouacapano, 6α,7β-diidroxivouacapan-17β-oato de metila e o

flavonóide taxifolina. Outros estudos fitoquímicos do extrato hexânico e

metanólico dos frutos permitiram também, o isolamento de 3 diterpenos furânicos:

6-α-acetoxivouacapano, 6-α-hidroxivouacapano e voucapano, sendo este último

relatado pela primeira vez como produto natural. Neste mesmo estudo ainda foi

possível verificar a ação larvicida do extrato hexânico dos frutos de

P. polygalaeflorus sobre Aedes aegypti (PIMENTA et al., 2006). Quanto à

28

composição do óleo essencial obtido a partir do extrato hexânico das sementes

da referida espécie, por arraste a vapor foram identificados os seguintes

constituintes: ilageno, α- capaeno, β-cariofileno, α-humuleno, γ- elemeno e δ-

cadineno (CAMPOS et al., 1990).

1.3 Espécie Pterodon emarginatus Vog.

A espécie Pterodon emarginatus Vog. (Fig. 1) conhecida popularmente

como sucupira-branca ou faveira é uma espécie arbórea, nativa dos cerrados

brasileiros, podendo ser encontrada nos Estados de Minas Gerais, São Paulo,

Goiás e Mato Grosso do Sul, seu uso, destaca-se pela importância medicinal e

florestal, apresentando sementes com baixo poder germinativo (LORENZI, 2002).

Quanto às características botânicas, a árvore pode atingir até 16 metros,

obscuramente pubérula nos ramos, pecíolo e, às vezes, face dorsal das folhas. A

espécie é hermafrodita, com flores de coloração rósea que podem às vezes se

tornar brancas, e são encontradas no período da seca entre os meses setembro e

outubro. As flores, frutos e face ventral das folhas são glabras. O fruto alado

possui endocarpo, podendo ser observado na sua lateral uma margem fibrosa e

ao centro uma rede de vasos ricos em óleo bem resinoso. Segundo Barroso et al.,

(1999), o fruto é uma criptossâmara com endocarpo lenhoso contendo bolsas

resiníferas aderidas às sementes. A maturação destes frutos se dá nos meses de

junho a julho com a planta já quase totalmente sem folhas, permanecendo,

entretanto, na árvore por mais algum tempo. A casca apresenta coloração cinza-

claro, levemente áspera, soltando placas. O tronco é liso e pode atingir cerca de

50 cm de diâmetro. Sua madeira é pesada (densidade 0,94 g/cm3), com tecido

compacto, sendo utilizada na construção civil e naval, pilares de pontes, carvão e

lenha. A árvore pode ser empregada com sucesso na arborização de ruas, praças

e reflorestamentos, por se tratar de uma planta tolerante a luz direta e pouco

exigente em solos (ALMEIDA et al., 1998; LORENZI, 2002).

29

Figura 1 – Vista geral da espécie Pterodon emarginatus Vog.. A. P. Santos, 04/04/2007.

Pela utilização popular brasileira, os extratos alcoólicos feitos, a partir, das

sementes de P. emarginatus Vog. são usados como anti-reumático,

antiinflamatório para garganta, problemas de coluna, depurativo e fortificante. Os

frutos são usados para o tratamento de dores musculares, torções, artrite e até

mesmo em casos de artrose, apresentando ação antiinflamatória e analgésica

(MORS et al., 1967). Na região Centro-Oeste, a população utiliza o chá das

cascas do caule para infecções ginecológicas (LEITE DE ALMEIDA e GOTTLIEB,

1975). O óleo dos frutos de P. emarginatus é aromático sendo usado também no

combate ao reumatismo e diabetes. Esse óleo é descrito como amargo e quando

30

misturado com água é empregado sob a forma de gargarejo (BRANDÃO et al.,

2002).

Novos diterpenóides foram obtidos das sementes de P. emarginatus por

MAHJAN e MONTEIRO (1970). CARVALHO (1998), a partir do extrato bruto dos

frutos de P. emarginatus, verificou a atividade antiinflamatória desta espécie,

atribuindo esta ação farmacológica à presença de compostos terpênicos.

Outros estudos mostram a ação protetora do extrato hexânico bruto dos

frutos de P. emarginatus contra o stress oxidativo e nitrosativo induzido por

exercícios agudos em ratos (PAULA et al., 2005).

A avaliação farmacognóstica e atividade antimicrobiana dos extratos da

casca já foram realizadas contra algumas bactérias patogênicas e constatada a

presença de flavonóides, heterosídeos saponínicos, resinas, traços de esteróides

e triterpenóides (BUSTAMANTE et al., 2005).

31

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38

_________________________________________________________________

CAPÍTULO 2

ESTUDO MORFO-ANATÔMICO DAS FOLHAS

DE Pterodon emarginatus Vogel (Leguminosae = Fabaceae)

_________________________________________________________________

39

1 INTRODUÇÃO

A família Leguminosae (Fabaceae) compreende 650 gêneros e 1.800

espécies sendo a família mais representativa de angiospermas depois de

Compositae e Orquidaceae (POLHILL e RAVEN, 1981). Comparada às demais

famílias, a Leguminosae é notavelmente generalista. Devido a suscetibilidade de

ecossistemas das florestas tropicais úmidas, as leguminosas são consideradas,

como na silvicultura, para a re-vegetação de áreas degradadas (MAGALHÃES et

al., 1982).

Compondo a tribo Dipteryxeae Polhill, um dos gêneros conhecidos é o

Pterodon, que como já descrito compreende cinco espécies nativas brasileiras:

P. abruptus Benth., P. appariciori Pedersoli, P. emarginatus Vog., P.

polygalaeflorus Benth. e P. pubescens Benth. Pelo exposto, observa-se que o

conhecimento das espécies que compõem esta grande família, é fundamental

para investigações científicas em diversos ramos da botânica pura, como

anatomia, morfologia e taxonomia, assim como em fisiologia, ecologia,

fitogeografia e agricultura.

Para Di Stasi (1996) a análise morfo-anatômica é importante para o

controle de qualidade da matéria-prima vegetal na indústria farmacêutica,

justificando que esta análise fornece subsídios para a padronização dos insumos

e diferenciação inclusive de espécies botanicamente próximas. Dentre os ensaios

anatômicos destacam-se os referentes à histoquímica, pois estes visam auxiliar

na caracterização de drogas e no monitoramento de análises fitoquímicas, bem

como no aproveitamento racional da droga vegetal. A indústria farmacêutica tem

dado ênfase na obtenção de parâmetros macro e microscópicos de drogas

vegetais, devido o baixo custo e tempo reduzido dos ensaios, que apresentam

alto grau de reprodutibilidade. Esta prática é contemplada nas resoluções que

normatizam, desde a década de 90 os procedimentos no controle de qualidade

das drogas utilizadas para a produção de fitoterápicos (MARQUES, 1999).

A agência Nacional de Vigilância Sanitária, por intermédio da resolução

RDC 48, de 16 de março de 2004, estabeleceu que a solicitação do registro de

produtos fitoterápicos só ocorrem mediante vários documentos, entre eles a

identificação botânica oficial da planta que compõe a matéria prima de origem,

40

além de laudos de identificação macro e microscópica do órgão vegetal utilizado,

emitido por profissional competente (ANVISA, 2004).

Com a finalidade de colaborar para a geração de fitoterápicos com

qualidade em sua matéria-prima, este capítulo teve por objetivo determinar

parâmetros morfo-anatômicos, visando o controle de qualidade de P. emarginatus

como insumo farmacêutico.

41

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Material botânico

Para a realização dos estudos, o material botânico (cascas do caule e

folhas de Pterodon emarginatus Vog.) foi coletado no município de Bela Vista-GO

(847 m de Altitude, 17002’1,1” S / 48049’0,3” W). A espécie foi identificada pelo

Prof. Dr. José Realino de Paula e a exsicata encontra-se depositada no Herbário

da Universidade Federal de Goiás sob o número UFG – 27.155.

2.2 Caracterização morfológica

A caracterização morfológica das folhas foi realizada à vista desarmada, de

acordo com as descrições de Oliveira e Akissue (1993) e Vidal e Vidal (2000).

2.3 Caracterização anatômica

2.3.1 Microscopia óptica

Para a análise anatômica foram utilizadas folhas livres de injúrias, com o

limbo completamente expandido. Destas folhas, foram retirados folíolos

medianos. De cada folíolo foram utilizados fragmentos da região mediana e desta,

amostras da nervura central, entrenervuras e bordo. Os pulvinos, pecíolos e as

ráquis estudadas foram aquelas cujas folhas estão inseridas, ou seja, na região

mediana. Neste estudo foi adotado o conceito de pulvino primário empregado por

FLEURAT-LESSARD (1981), para o espessamento localizado na base do

pecíolo, ligando a folha ao caule. O material vegetal coletado foi fixado em FAA

(formaldeído, ácido acético glacial e álcool) 50% por 48 horas e posteriormente

preservado em álcool 70%, até o momento de se executar os cortes (JOHANSEN,

1940).

De acordo com as técnicas usuais na Microtécnica Vegetal, a confecção

das lâminas histológicas foi realizada a partir de secções transversais, obtidas à

mão livre. As secções foram clarificadas em hipoclorito de sódio a 10-12% e

42

posteriormente lavadas em água destilada e submetidas à dupla coloração com

azul de astra 0,3% e fucsina básica 0,1%. Os cortes paradérmicos foram obtidos

a partir da técnica de dissociação da epiderme de GHOUSE e YUNUS (1972). As

secções paradérmicas foram coradas com azul de metileno 1% e safranina 1%.

Após, as secções foram desidratadas em série alcoólica crescente (30%, 50%,

70%, 90% e 100%), pós-desidratadas em xilol e álcool (1:1) e xilol puro, de

acordo com JOHANSEN (1940). Montaram-se lâminas permanentes, utilizando-se

resina Verniz Vitral incolor (PAIVA et al., 2006).

As secções transversais foram submetidas a testes histoquímicos aos

seguintes reagentes:

- Reagente de Steinmetz (COSTA, 1970), para identificação de amido,

celulose, lignina, suberina, lipídeos diversos, compostos fenólicos, cutina e látex;

- Floroglucinol acidificado para identificação de lignina (FOSTER, 1949);

- Lugol, para identificação de amido (BERLYN e MIKSCHE, 1976);

- Cloreto férrico, para reações com compostos fenólicos (JOHANSEN,

1940);

- Sudan IV para evidenciar compostos lipídicos (GERLACH, 1984).

- Ácido tânico 5% / Cloreto de ferro III, para reação com mucilagens

(PIZZOLATO e LILLIE, 1973 apud ASCENSÃO, 2003) – a reação com Cloreto

férrico anteriormente realizada serviu como controle.

As fotomicrografias foram realizadas em fotomicroscópio ZEISS Axioskop,

utilizando-se filme Kodacolor ASA 100 e as escalas que acompanham foram

obtidas nas mesmas condições ópticas.

2.3.2 Microscopia eletrônica de varredura

Fragmentos da porção mediana dos folíolos de Pterodon emarginatus

Vogel foram fixados em solução de Karnovsky modificada, composta por

glutaraldeído 2%, paraformaldeído 2% em tampão cacodilato de sódio pH 7,2

0,05 M por 24 horas. Após esse tempo, os fragmentos foram submetidos a três

lavagens em tampão cacodilato 0,05 M, com duração de 10 minutos cada,

deixando-os em tampão, acondicionados em eppendorf devidamente identificado.

43

Foram armazenados em refrigerador, fazendo trocas temporárias quando o

tampão se apresentasse escuro (BOZZOLA e RUSSEL, 1992).

Após, os fragmentos foram submetidos a tampão cacodilato de sódio e

tetróxido de ósmio (1:1) por 1 hora, a seguir lavados em água destilada de 2 a 3

vezes e posteriormente, foram desidratados em série etanólica crescente (30%,

50%, 70% e 90%) com duração de 15 minutos cada e 3 vezes em etanol 100%,

10 minutos cada (BOZZOLA e RUSSEL, 1992). No Laboratório de Microscopia

Eletrônica, da Universidade de Brasília (UnB), os fragmentos foram levados à

secagem ao ponto crítico de CO2, utilizando-se o Aparelho de Secagem ao Ponto

Crítico da Balzers CPD30 e logo após, metalizados em ouro, com camada de

cobertura de aproximadamente 40 nm por 2 minutos, em Aparelho Metalizador

Zeiss DSM-962. A análise foi realizada em Microscópio de Varredura JEOL-JSM

840A.

As eletromicrografias foram obtidas em filme FUJI NEOPAN Asa 100. As

escalas e feixes de elétrons encontram-se registradas nas fotos.

44

3 RESULTADOS

3.1 Descrição macroscópica

Figura 1 - Aspecto do ramo foliar de P. emarginatus Vog.

Como já descrito por Almeida et al., (1998) as folhas são alternas,

compostas pinadas, imparipinadas e pecioladas. Inflorescência em panícula

terminal e nas axilas das folhas superiores, com cerca de 80 a 200 flores . A

lâmina foliar é oblonga, forma mais longa que larga, os bordos são paralelos e

inteiros. O ápice apresenta-se retuso e a base foliar atenuada.

As flores com aproximadamente 1 cm de comprimento, pediceladas, cálice

petalóide, róseo, com 3 dentes diminutos e 2 maiores, oblongos, ciliados,

semelhante a um vexilo, corola papilionácea, rósea ou lilás, ovário súpero,

unilocular, longo-estipitado, com um só óvulo parietal inserido no meio do lóculo.

Existe uma controvérsia sobre a possível existência de uma ou duas

espécies de sucupira-branca, quando unidas, o nome dado para a espécie é P.

emarginatus. Mas estudos recentes de taxonomia molecular usando RAPD dá

base para manter a divisão tradicional em duas espécies: P. polygalaeflorus

Benth que possui flores de coloração roxa e folhas glabras e P. pubescens Vogel

que possui flores de coloração rosa (ALMEIDA et al., 1998).

45

3.2 Descrição microscópica

3.2.1 Lâmina foliar

Em secção paradérmica a epiderme adaxial dos folíolos de Pterodon

emarginatus Vogel apresentaram células epidérmicas com tamanhos variados,

paredes anticlinais retas e espessadas (Fig. 2A e 2B), às vezes dispostas em

círculo nos locais de inserção dos tricomas tectores (Fig. 2B). Na epiderme

abaxial observa-se ainda a presença de estômatos, caracterizando uma folha

hipoestomática (Fig. 2D). A epiderme adaxial possui tricomas tectores curtos e

esparsos (Fig. 2A) e a epiderme abaxial apresenta tricomas tectores com maior

freqüência sobre as nervuras (Fig. 2C)

Em microscopia de varredura é possível verificar de forma detalha a

presença de tais tricomas tectores curtos, eretos, de ápice pontiagudo e superfície

variando de lisa a verrucosa (Figs. 3A, 4A e 4B) em ambas as epidermes. Na

epiderme abaxial as células epidérmicas estão especializadas em papilas (Figs

3B e 3C). Nos locais de inserção dos estômatos as papilas se dispõem ao redor

das células guardas (Fig. 3C e 4C), além disso percebe-se que o estômato

posiciona-se em nível inferior a estas células especializadas, encontrando-se

protegido.

Em secção transversal, a epiderme adaxial é unisseriada com cutícula

espessa apresentando franjas (Fig. 5C), e a epiderme abaxial também é

unisseriada, podendo ser observado a presença de papilas com estrias (Fig. 5D).

Em ambas as epidermes adaxial e abaxial, pode-se visualizar a presença de

tricomas tectores (Fig. 5A e Fig. 5B).

O mesofilo apresenta até 3 camadas de parênquima paliçádico,

abrangendo 2/3 do mesofilo e uma camada de parênquima lacunoso (Fig. 5A e

5B). Observa-se a presença de cavidades secretoras (esquizolisígenas) e feixes

vasculares de menor calibre, estando protegidos por dois grupos de fibras

esclerenquimáticas, que se estendem em direção às duas faces da lâmina do

folíolo, podendo apresentar extensão de bainha (Figs. 5A e 5B).

Em secção transversal do bordo do folíolo observou-se cutícula espessa e

epiderme unisseriada, feixe vascular colateral protegido por dois grupos de fibras

46

esclerenquimáticas (Figs. 6A e 6B). É possível ainda visualizar a presença de

tricomas tectores curtos e unicelulares, principalmente na epiderme adaxial (Figs.

6B e 6C). Pode-se encontrar também na extremidade da borda a presença de

cavidades secretoras (Fig.6B).

A nervura principal (ou central) do folíolo de P. emarginatus apresenta

epidermes adaxial e abaxial unisseriadas com cutícula espessa, sendo que na

epiderme abaxial foram observadas papilas (Figs. 7A, 7B e 7C). Tricomas

tectores curtos podem ser observados em ambas as epidermes. Observa-se

pequena quantidade de colênquima entre a epiderme abaxial e o sistema vascular

central (Fig. 7C). O sistema vascular central apresenta um grupo de fibras

esclerenquimáticas na porção superior e inferior e porções de floema abaixo do

xilema (Figs. 7A e 7B). Pode-se observar a presença de cavidades secretoras

próximo ao sistema vascular central (Figs. 7A, 7B e 7E). Próximo ao sistema

vascular central nota-se ainda a presença de cristais prismáticos tanto do lado

adaxial quanto abaxial (Figs. 7C e 7D).

3.2.2 Ráquis

Em sessão transversal a ráquis apresenta aspecto geral biconvexo, com a

face adaxial aguda (Fig. 8A). A epiderme é unisseriada em toda sua extensão,

com cutícula espessa apresentando franjas (Fig. 8B), e tricomas tectores curtos

unicelulares em toda sua extensão (Figs. 8D e 8E). O sistema vascular central

apresenta-se totalmente envolto por uma bainha esclerenquimática, ninhos de

floema externo ao xilema e um parênquima medular na região central (Figs. 8A e

8C). Observa-se a presença de cristais prismáticos no parênquima cortical

próximo a bainha esclerenquimática do sistema central (Fig. 8C).

Conforme relatado por Paiva et al., (2001) observa-se a presença de

nectários extraflorais, localizados na inserção de cada pecíolo. Os nectários

consistem numa pequena elevação, cuja porção apical é fortemente invaginada,

resultando em uma depressão, o pólo secretor. O tecido secretor consiste de

células parênquimáticas com citoplasma denso. Todo sistema secretor é coberto

pelos tricomas tectores unicelulares curtos (Fig. 8D)

47

3.2.3 Pecíolo

O pecíolo de P. emarginatus Vog. apresenta epiderme unisseriada com

cutícula espessa em toda sua extensão (Fig. 9A, 9B). Observa-se também a

presença de tricomas tectores (Fig. 9A, 9B) e raros tricomas glandulares (Fig.

10C). Células pétreas são observadas no parênquima cortical logo abaixo da

epiderme (Fig. 9B). Cristais prismáticos estão presentes no parênquima cortical

próximo ao sistema vascular central (Fig. 9C). O sistema vascular central

apresenta aspecto circular envolto por um grupo contínuo de fibras de

esclerênquima (Fig. 9A).

Na região cortical, observam-se dois feixes vasculares colaterais menores

também envoltos por esclerênquima. No sistema vascular central, o floema

encontra-se externo ao xilema e parênquima medular central apresentando

pontuações (Figs. 9A e 9B).

Reações histoquímicas com ácido tânico e cloreto férrico (FeCl3)

evidenciam a presença de células mucilaginosas próximas à epiderme (Figs. 10A

e 10B) e cavidades secretoras podem ser observadas no parênquima cortical

(Figs. 10A).

3.2.4 Pulvino primário

Em secção transversal o pulvino primário de P. emarginatus é dorsiventral

a cilíndrico com contorno irregular, devido às reentrâncias e protuberâncias (Fig.

11A). Sua epiderme é unisseriada com cutícula espessa apresentando tricomas

tectores (Figs. 11A e 11B). O parênquima cortical é bem desenvolvido com

células de forma e tamanho variados, podendo ser observada a presença de

cavidades secretoras (Fig. 11A). O sistema vascular central apresenta-se envolto

por uma bainha esclerenquimática, floema externo ao xilema e parênquima

medular reduzido na região central (Figs. 11A, 11C).

48

Figura 2 - Secção paradérmica da folha de P. emarginatus Vog. A – Aspecto geral da epiderme adaxial; B – Detalhe da epiderme adaxial; C – Aspecto geral da epiderme abaxial; D – Detalhe da epiderme abaxial; A, C e D – Coloração com Safranina. B. Azul de Metileno. Ttc – tricoma tector, Es – Estômato.

49

Figura 3 – Microscopia de Varredura das epidermes adaxial e abaxial dos folíolo de P. emarginatus. A – Detalhe da epiderme adaxial, evidenciando tricomas tectores; B – Aspecto geral da epiderme abaxial; C – Detalhe da epiderme abaxial, evidenciando papilas e estômato.

50

Figura 4 – Microscopia de Varredura da epiderme abaxial dos folíolos de P. emarginatus. A – Detalhe da epiderme abaxial, evidenciando tricomas tectores e papilas ; B – Aspecto geral da epiderme abaxial, evidenciando tricomas longos sobre nervuras e presença de papilas; C – Detalhe da epiderme abaxial, evidenciando papilas e estômato.

51

Figura 5 - Secção transversal da folha de P. emarginatus Vog. A – Aspecto geral inter-nervura; B – Detalhe da inter-nerura; C – Detalhe da epiderme adaxial; D – Detalhe da epiderme abaxial; A e B – Dupla coloração Alcian/Safranina, C e D – Steinmetz. Epa – Epiderme adaxial, Epb – Epiderme abaxial, Pp – Parênquima paliçádico, Cs – Cavidade secretora, Fv – Feixe vascular, Tt – Tricoma tector, Cut – Cutícula.

52

Figura 6 - Secções transversais dos bordos do folíolo da folha de P. emarginatus Vog. A – Aspecto geral da borda mediana do folíolo em dupla coloração: Azul de Astra/Fucsina Básica; B – Aspecto geral da borda da base do folíolo evidenciando bolsa secretora e tricoma tector; C – Aspecto geral da borda mediana evidenciando tricomas tectores. B e C – Histoquímica com reagente Steinmetz. Epa – Epiderme adaxial, Epb – Epiderme abaxial, Fv – Feixe vascular, Esc – Esclerênquima, Cs – Cavidade secretora, Ttc – Tricoma tector curto.

53

Figura 7 - Secção transversal da nervura principal do folíolo de Pterodon emarginatus Vog. em dupla coloração Azul de Astra/Fucsina Básica. A – Aspecto geral; B – Detalhe do sistema vascular central; C – Detalhe da epiderme abaxial da nervura principal; D – Detalhe da epiderme adaxial; E – Detalhe da bolsa secretora próxima à nervura central. Epa – Epiderme adaxial, Epb – Epiderme abaxial, Cs – Cavidade secretora, Esc – Esclerênquima, Xi – Xilema, Fl – Floema, Co – Colênquima, Cpr – Cristais prismáticos, Fv – Feixe vascular, Ttc – Tricoma tector curto.

54

Figura 8 – Secção transversal da ráquis da folha de P. emarginatus A, B, C em dupla coloração Azul de astra/fucsina básica; D e E Histoquímica com Sudam IV. A – Aspecto geral; B – Detalhe da epiderme e parênquima cortical; C – Detalhe do sistema vascular central; D – Nectário extrafloral e E – Detalhe dos tricomas tectores unicelulares. Ep – Epiderme, Cut - Cutícula, Pc – Parênquima cortical, Esc – Esclerênquima, Fl – Floema, Xi – Xilema, Pm – Parênquima medular, Ttc – Tricoma tector, Ps – Pólo secretor, Prs – Parênquima secretor, Cpr – Cristal prismático.

55

Figura 9 - Secção transversal do pecíolo de Pterodon emarginatus Vog. em dupla coloração Azul de Astra/Fucsina Básica. A – Aspecto geral; B – Detalhe da epiderme até floema; C – Detalhe do parênquima cortical evidenciando cristais prismáticos próximos ao sistema vascular central. Ep – Epiderme, Esc – Esclerênquima, Fl – Floema, Xi – Xilema, Cp – Célula pétrea, Cpr – Cristal prismático, Cs – Cavidade secretora, Pm – Parênquima medular.

56

Figura 10 - Secção tranversal do pecíolo de Pterodon emarginatus Vog. A e B – Histoquímica com Ácido Tânico/FeCl3 evidenciando células mucilaginosas. C – Histoquímica com Sudam IV. Cs – Cavidade secretora, Fv – Feixe vascular, Ep – Epiderme, Cm – Células mucilaginosas, Esc – Esclerênquima, Fl – Floema, Xi – Xilema, Pm – Parênquima medular, Tt – Tricoma tector, Tg – Tricoma glandular, Cut – Cutícula, Pc – Parênquima cortical.

57

Figura 11 – Secção transversal do pulvino primário de P. emarginatus A, B, C em dupla coloração Azul de Astra/Fucsina Básica A – Aspecto geral; B – Detalhe da epiderme e parênquima cortical; C – Detalhe do sistema vascular central; Cut - Cutícula, Pc – Parênquima cortical, Esc – Esclerênquima, Fl – Floema, Xi – Xilema, Pm – Parênquima medular, Ttc – Tricoma tector.

58

3 DISCUSSÃO

A análise da arquitetura foliar, os detalhes e as variações que ocorrem nos

tecidos vegetais contribuem para a identificação correta de várias espécies e

conseqüentemente no controle de qualidade de drogas vegetais. Em relação à

análise microscópica de P. emarginatus foi verificado que as características

morfológicas da folha não destoam do gênero como um todo.

A análise microscópica revelou a ocorrência de estômatos do tipo

paracítico (células-guarda acompanhada de cada lado por duas células

subsidiárias paralela à fenda estomática). Em Papilionoideae existe variedade

anatômica quanto à classificação dos estômatos, porém em algumas espécies é

comum verificar células subsidiárias paralelas ao ostíolo (SOLOREDER, 1908),

como observado para P. emarginatus. A grande variabilidade morfológica e

anatômica dos estômatos pode estar associada a adaptações dos vegetais em

locais com restrição de água (SENA et al., 2007).

Os estômatos encontram-se em depressões da epiderme abaxial

marcando o tipo xerofítico para P. emarginatus. Segundo Alquini e Bona (2006),

de acordo com o ambiente é comum a localização de estômatos em amplas

depressões, sendo estas denominadas de criptas estomáticas. Para Idu et al.,

(2000) estômatos anomocíticos e paracíticos podem ocorrer em representantes

de Fabaceae localizando-se exclusivamente na face abaxial. Ainda na epiderme

abaxial a presença de pequenas projeções da parede periclinal externa das

células epidérmicas caracterizam as papilas. A função das papilas é controversa,

visto que para alguns autores possui importância taxonômica, enquanto que para

outros funcionam apenas como refletores da luz solar (ALQUINI e BONA, 2006).

Em ambas as epidermes deve ser destacada a presença de tricomas tectores

unicelulares concordando com a descrição citada para a sub-família

Papilionoideae descrita por SOLEREDER (1908). Tricomas desempenham

importante papel na adaptação em ambientes xéricos, pois fornecem uma

atmosfera saturada em vapor de água em torno da folha (FAHN 1986). Além de

contribuir para a redução da transpiração, os tricomas podem interferir na

economia de água das plantas através da regulação da temperatura pela reflexão

dos raios solares que chegam às folhas (SALATINO et al., 1986; ELIAS, et al.,

59

2003). Recentemente alguns estudos consideram os tricomas como barreiras

físicas para redução da herbivoria (PRESS, 1999).

Outra característica marcante na epiderme de todas as regiões foliares

estudadas refere-se à espessa cutícula. Segundo, Vannuci e Rezende (2003),

cutículas espessas ocorrem em plantas que vivem em ambientes secos, e sua

estrutura atrai o interesse de pesquisadores no que tange aos problemas

relacionados à permeabilidade de certos produtos químicos, tais como nutrientes

minerais, fungicidas e herbicidas. A cutícula que é formada pelo processo de

impregnação de cutina, possui de modo geral a função de reduzir a perda

excessiva de água das plantas. Rodrigues e Machado (2004), relatam cutícula

espessa constituída por células papilosas em pulvino, pecíolo e ráquis de P.

pubescens.

Na anatomia foliar de espécies do gênero Pterodon, um aspecto que pode

ser útil em sua diagnose, é a formação de uma camada esclerenquimática junto

às nervuras de grande porte. Conforme Zanetti et al., (2004) a disposição destas

fibras junto aos feixes vasculares funciona como reforço mecânico evitando o

murchamento. Sugere-se que a presença de cavidades presentes em vários

gêneros da sub-família Papilionoideae, como por exemplo Amicia, Derris,

Dipteryx, Myroxylon, Pterodon entre outros (SOLEREDER, 1908), possa ser

utilizada no controle de qualidade destas espécies.

Segundo Castro e Machado (2005) os idioblastos secretores – células

individualizadas podem apresentar taninos, óleos, mucilagens, cristais em seu

conteúdo em vários grupos de plantas, conferindo valor taxonômico. Na lâmina

foliar, ráquis e pecíolo foi possível detectar a presença de idioblastos contendo

cristais prismáticos. Para algumas espécies da sub-família Papilionoideae já foi

relatada a presença de cristais de oxalato. Entretanto, neste caso o conteúdo do

idioblasto não apresenta valor taxonômico visto o grande número de espécies que

compõem esta sub-família possuírem idioblastos. Apesar disso a distribuição dos

idioblastos constitui caráter diagnóstico para P. emarginatus, outras espécies da

Família Leguminosae, sub-família Papilionoideae, como as do gênero Indigofera

L. apresentaram idioblastos contendo compostos fenólicos (reação positiva para

cloreto férrico), associados a compostos nitrogenados (reação positiva para

reagente de Wagner e ácido pícrico) apresentando variações entre as espécies

60

(MARQUIAFÁVEL et al., 2007). Em reações de histoquímica com ácido tânico e

cloreto férrico observam-se idioblastos ricos em mucilagem, localizados no

parênquima cortical do pecíolo próximo a epiderme. Solereder (1908), relata a

presença de células secretoras com mucilagem ou resinas em diversas espécies

da família Papilionaceae, sendo que a presença destas estruturas caracteriza

marcante distinção para esta família.

Em Papilionoideae, o esclerênquima pode se apresentar como um anel

ininterrupto ou não e também como grupos isolados de fibras. Em P. emarginatus

ele se apresenta disposto em calotas esclerenquimáticas contínuas na ráquis e

pecíolo. A presença de anéis contínuos e multisseriados de esclerênquima

geralmente caracteriza ordens e gêneros (SOLEREDER, 1908). Em Pterodon a

disposição destas calotas ou anéis tem valor unificador para as espécies já

estudadas.

Rodrigues e Machado (2004), descreveram a anatomia comparada do

pulvino, pecíolo e ráquis de Pterodon pubescens Benth., e Machado e Rodrigues

(2004), a anatomia e ultra-estrutura do pulvino primário de Pterodon pubescens

Benth., associando os eventos fisiológicos responsáveis pelos movimentos

foliares lentos com características estruturais da folha. Para estes autores a

posição e composição do cilindro vascular são responsáveis pela grande

flexibilidade do pulvino e maior rigidez do pecíolo. Um dos principais caracteres

que diferenciam Fabaceae das demais famílias da ordem Fabales é a ocorrência

de folhas compostas com pulvinos bem evidentes (JUDD et al., 1999). Segundo

Campbell e Thomson (1977), os pulvinos consistem em espessamento da base

foliar, sendo responsáveis pelos movimentos foliares rápidos ou lentos, mediante

a estímulos externos ou endógenos.

Em muitas espécies de leguminosas os movimentos foliares têm sido

atribuídos a mecanismos fisiológicos correlacionados às características

estruturais do pulvino. Dentre estas características, relatadas, destacam-se córtex

amplo constituído por células parênquimáticas, denominadas células motoras por

Toriyama (1953), ausência ou redução de tecidos lignificados, medula reduzida ou

ausente e sistema vascular em posição central. Paredes sinuosas ou dobradas

são evidências de modificações no compartimento apoplástico (FLEURAT-

61

LESSARD, 1988; MOYSSET e SIMÓN, 1991). Todas essas características

podem ser observadas para o pulvino primário de P. emarginatus.

No bioma Cerrado, como as plantas estão sujeitas às intempéries

climáticas como radiação excessiva, temperatura elevada, a morfologia foliar

torna-se importante na adaptação do meio ambiente (CALDAS et al., 1997). Em

estudo da anatomia comparada do pulvino primário de leguminosas realizado por

Rodrigues e Machado (2006), nove espécies de leguminosas nativas do cerrado

são descritas, mencionando a velocidade de movimento foliar destas. Para as

espécies analisadas da sub-família Faboideae foi observado movimento

heliotrópico e nictinástico lentos. A organização do pulvino de P. emarginatus é

similar a destas espécies analisadas, e demais leguminosas como descrito em

literatura (TORIYAMA, 1953; RODRIGUES e MACHADO, 2006). A ocorrência de

parênquima cortical amplo foi um dos parâmetros que diferenciou o pulvino

primário das demais regiões foliares, especialmente do pecíolo e ráquis.

Recentemente algumas pesquisas têm tentado estabelecer características

distintas das espécies do gênero Pterodon, entre elas P. polygalaeflorus Benth e

P. pubescens Benth que foram enquadradas taxonomicamente como sinônimos

para P. emarginatus (LEWIS, 1987). Entretanto estas espécies possuem

caracteres morfo-anatômicos que as diferem discretamente uma da outra, como

por exemplo, a estrutura dos nectários extraflorais (NEFs). Estas estruturas

secretoras estão localizadas nos órgãos vegetativos, podendo ocorrer nas folhas,

caule, cotilédone e outros. O tecido secretor nectarífero às vezes encontra-se

restrito a epiderme ou compreendido em toda a sua camada e também as células

parênquimáticas subjacentes. Os NEFs são definidos como glândulas que

elaboram soluções açucaradas denominadas néctar. A grande variabilidade

estrutural deles, bem como sua ampla ocorrência em vários táxons é destacada

em várias revisões bibliográficas (SCHNELL et al., 1963; VANNUCI e REZENDE,

2003). Estimativas mostram que o número de famílias de Angiospermas dotadas

de NEFs é superior a 90 (BLÜTHGEN e REIFENRATH, 2003), com

aproximadamente 2200 espécies (KELLER, 1989). Na flora arbórea dos cerrados

do Sudeste do Brasil, os NEFs estão presentes entre 15 a 22% e, no Centro-

Oeste, entre 21 a 26% das espécies (OLIVEIRA e LEITÃO-FILHO, 1987).

62

Diversos estudos relatam que os NEFs, estão envolvidos na proteção

contra a herbivoria. A proteção contra herbívoros é dependente em certos casos

da interação benéfica entre plantas e formigas, sendo estas atraídas pelos

produtos dos NEFs (KOPTUR et al., 1998; OLIVEIRA e FREITAS, 2004).

Na família Fabaceae os NEFs ocorrem com maior freqüência em

espécimes da sub-família Mimosoideae, sendo também observados em

Caesalpinoideae, e menor freqüência nas Faboideae (ELIAS, 1983; PAIVA e

MACHADO, 2006). A ocorrência, morfologia, densidade e disposição dos NEFs,

são características que possuem valor taxonômico (METCALFE e CHALK, 1979).

No presente estudo a espécie P. emarginatus apresentou NEFs assim como as

outras duas espécies do gênero já estudas. Em pesquisa realizada por PAIVA et

al., 2001), nectários extraflorais foram encontrados na ráquis abaixo da inserção

de cada pecíolo de P. polygalaeflorus e P. pubescens. O NEF observado em P.

emarginatus apresenta morfologia semelhante consistindo de uma elevação na

porção apical e profunda depressão, onde se localiza o pólo secretor. Tricomas

tectores ocorrem ao longo da ráquis. Numerosos tricomas são observados

também na ráquis de P. pubescens, sendo mais raros em P. Polygalaeflorus, por

essa característica o NEF de P. emarginatus aproxima-se ao de P. pubescens,

descrito por Paiva et al., (2000).

O tecido secretor em ambas as espécies é semelhante, apresentando

células parênquimáticas com citoplasma denso. Cristais prismáticos podem estar

presentes nas células parênquimáticas, associados ao floema. Em P.

polygalaeflorus a ocorrência dos cristais de oxalato é mais abundante, porém

essa diferença pode estar relacionada à disponibilidade de cálcio no solo, desde

que haja correlação entre a suplementação de cálcio e a formação de cristais de

oxalato de cálcio nos tecidos vegetais (ZINDLER-FRANK, 1995; PAIVA et al.,

2001). O sistema vascular e a estrutura anatômica dos NEFs é similar entre P.

emarginatus e as outras duas espécies estudadas por Paiva et al., (2001), não

conferindo identificação taxonômicas entre estas três espécies. A presença dos

NEFs permite a inclusão destas em estudos ecológicos do bioma Cerrado.

63

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em conclusão, pode-se afirmar que a partir das características analisadas,

tais como folhas pinadas, imparipinadas e pecioladas, folha hipoestomática,

tricomas tectores unicelulares, epiderme com cutícula espessa, sistema vascular

envolto por fibras esclerenquimática, rica presença de cavidade secretoras,

pulvino com córtex bem desenvolvido, existe um padrão geral de organização

anatômica comum entre P. emarginatus e as outras espécies que compõem o

gênero, sub-família e família a qual pertence. Além disso, os vários parâmetros

listados são significativos para a diagnose de P. emarginatus podendo

futuramente serem utilizados no controle de qualidade desta espécie enquanto

insumo farmacêutico. Assim sendo, o presente estudo contribui para a

caracterização desta planta e complementam informações morfológicas para o

gênero Pterodon.

64

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70

____________________________________________________________

CAPÍTULO 3

FENÓIS TOTAIS E ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DOS EXTRATOS E FRAÇÕES DAS CASCAS DO CAULE E FOLHAS DE Pterodon emarginatus Vog. (Leguminosae =

Fabaceae)

_________________________________________________________________________

71

1 INTRODUÇÃO

As primeiras formas vivas a povoarem a superfície da terra eram

unicelulares e obtinham seu ATP na ausência de oxigênio, porém a partir de

sucessivas modificações físico-químicas na atmosfera terrestre, as absorções dos

efeitos danosos da radiação ultravioleta, conduziram à evolução das espécies

mais complexas, até chegar ao homem e muitos organismos passaram a utilizar o

oxigênio como fonte de energia para garantir sua existência (OLSZEWER, 1995).

O surgimento do oxigênio, por sua vez, foi acompanhado pelo aparecimento da

camada de ozônio (O3) na atmosfera (HALLIWELL e GUTTERIDGE, 1989).

1.1 Metabolismo do oxigênio e sua relação na formaç ão dos radicais livres

Normalmente organismos aeróbicos derivam a maior parte de seu ATP

(adenosina trifosfato) celular pela redução de 4 elétrons de oxigênio à água

através do transporte de elétrons por meio da via mitocondrial ou retículo

endoplasmática. Cerca de 95-98% do oxigênio consumido penetra no interior da

célula, sendo reduzido pela ação da citocromo-oxidase. Durante esse processo o

oxigênio pode aceitar menos que 4 elétrons para formar metabólitos oxigenados

que são citotóxicos (OLSZEWER, 1995).

O2

+� 4H+ � 4e - 2H

2O

As fontes que fornecem os cátions de hidrogênio e os elétrons para esta

reação são provenientes basicamente do NADH (nicotinamida adenina

dinucleotídeo), FADH (flavina adenina dinucleotídeo) e a ubiquinona ou coenzima

Q (LEHNINGER et al., 2000; HALLIWELL e GUTTERIDGE, 1989).

O oxigênio tem a sua atividade fundamental no metabolismo celular

aeróbico. Desta forma, a geração de radicais livres pelo organismo em condições

normais é inevitável. Havendo, portanto uma relação direta entre o oxigênio e a

gênese dos radicais livres. Toda molécula possui um número específico de

espaços a serem ocupados por elétrons, entretanto às vezes nem todos os

espaços disponíveis são ocupados, o que determina características importantes

nestas moléculas. Serão redutoras (ganham elétrons) aquelas que apresentaram

maior número de elétrons ocupando estes espaços e oxidantes (doam elétrons)

72

aquelas cujo número de elétrons, ocupando espaços nas órbitas for menor que a

metade dos espaços disponíveis. Para se encontrar num estado de equilíbrio toda

molécula precisa possuir um número pareado de elétrons na sua órbita externa,

caso isso não ocorra, haverá a formação um radical livre (HALLIWELL e

GUTTERIDGE, 1989), figura 1.

Molécula Normal Radical Livre (n0 não pareado

e- na órbita externa)

Figura 1 – Esquema químico de um radical livre (HAL LIWELL e GUTTERIDGE, 1989)

Portanto, um radical livre nada mais é do que qualquer átomo, íon ou

molécula, que possui um ou mais elétrons desemparelhados na sua órbita

externa. Esta partícula eletricamente instável, com vida média muito curta, é

extremamente reativa, sendo capaz de captar elétrons de um composto que

esteja próximo independente dele ser uma molécula, uma célula ou tecido do

organismo. Embora o ataque inicial vise promover a estabilização ou

neutralização do radical livre, outro radical livre é formado no processo resultando

numa reação em cadeia celular (KALIORA et al., 2006).

Estes intermediários altamente reativos são denominados de Espécies

Reativas do Oxigênio (ERO), Tabela 1. A formação dos ERO se dá inicialmente a

partir do radical superóxido (O2.-), que pode sofrer ação da enzima superóxido

dismutase (SOD), convertendo-se em peróxido de hidrogênio (H2O2). No

organismo atuam duas SODs, principais, uma citoplasmática (CuZnSOD)

contendo Cobre-Zinco e a outra mitocondrial (MnSOD) contendo Manganês

(HALLIWELL e GUTTERIDGE, 1989). A Figura 2 demonstra a formação das

ERO.

73

2% a 5% Fe+2

Peróxido de Hidrogênio

GSH - Peroxidase

H2O + GS-SH

OH. (Radical Hidroxila)

H2O

95% a 98% 4e- + 4H

O2 O2. - (Superóxido)

H2O2

Figura 2 – Esquema da Formação das EROs. SOD – Superóxido dismutase, Cat – Catalase, O2

- - Superóxido, O2 – Oxigênio, GSSH – Glutadiona Oxidada, GSH – Glutadiona Peroxidase, H2O – Água, OH. – Radical Hidroxila, GSH – Glutadiona Reduzida, H2O2 – Peróxido de Hidrogênio, (OLSZEWER, 1995).

Tabela 1 - Espécies reativas do oxigênio (ERO).

O2. - Ânion superóxido ou radical superóxido

HO2. Radical perhidroxil

H2O2 Peróxido de hidrogênio

OH. Radical hidroxila

RO. Radical alcoxil

ROO. Radical peroxil 1O2 Oxigênio singlet

ROOH Hidroperóxido orgânico (ex.: lipoperóxido)

Fonte: (SIES, 1991)

SOD (Zn/Cu ou Mn)

Cat (Fe)

H2O + ½ O2 Fe+2

Vitamina C e E Beta Caroteno

Haber Weiss

74

1.2 Antioxidantes

Antioxidantes são compostos capazes de proteger o sistema biológico

contra o efeito nocivo de processos ou reações que possam causar oxidação

excessiva (KRINSKY, 1994). Como os radicais livres são gerados

endogenamente em conseqüência do metabolismo do oxigênio molecular e

também em condições não-fisiológicas, como a exposição da célula a

xenobióticos, o organismo lançou mão de dois sistemas enzimáticos de defesa.

Um deles atua como detoxificador do agente antes que ele induza a lesão e o

outro promove o reparo da lesão ocorrida.

O primeiro sistema é composto por Glutadiona Reduzida (GSH) que

protege a célula contra a lesão resultante da exposição a agentes como íons

ferro, oxigênio hiperbárico, radiação e luz ultravioleta; a Superóxido-Dismutase

(SOD) que catalisa a dismutação do radical superóxido em H2O2 e O2, além de

proteger o DNA de lesões provocadas pela sobrecarga de Fe3+; a Catalase, que

catalisa a redução do H2O2 a H2O e O2 e inibe lesões oxidativas do DNA;

glutadiona-peroxidase (GSH-Px) que catalisa a redução do peróxido de

hidrogênio e peróxidos orgânicos para seus correspondentes álcoois; e vitamina

E, que confere proteção à membrana celular por agir como quelante dos

oxidantes produzidos durante a peroxidação lipídica. O segundo sistema envolve

a participação do Ácido ascórbico que neutraliza diretamente os radicais livres;

glutadiona-redutase (GSH-Rd) que promove a recuperação da enzima GSH

mantendo íntegro o sistema de proteção celular; e GSH-Px, entre outros

(FERREIRA e MATSUBARA, 1997). A Tabela 2 resume as ERO e seus

respectivos antioxidantes. Além destes sistemas enzimáticos, os organismos

aeróbicos podem receber auxílio dos antioxidantes não enzimáticos, em sua

maioria exógenos, e compostos principalmente, pelas vitaminas, polifenóis,

flavonóides, carotenóides e licopeno (VELIOGLU et al., 1998; POLYAKOV et al.,

2001; SANTOS, 2006).

Dietas ricas em antioxidantes protegem a saúde humana contra várias

enfermidades (Quadro 1) e como já mencionado esse efeito protetor pode ser

atribuído a nutrientes antioxidantes presentes em plantas (KARIOLA et al., 2006).

A terapia antioxidante é uma importante ferramenta no tratamento de desordens

75

causadas por radicais livres e isso justifica a pesquisa de fontes antioxidantes

naturais (BRIANTE et al., 2002). Os vegetais constituem uma importante fonte de

moléculas bioativas e nos últimos anos, a prevenção de doenças como o câncer e

doenças neurodegenerativas está associada à ingestão de vegetais como fontes

de antioxidantes naturais (JOHNSON, 2001). Várias são as evidências de que alta

ingestão de tais compostos está associada a um baixo risco de mortalidade por

doenças como diabetes mellitus, aterosclerose, envelhecimento precoce e outras

que estejam relacionadas com o estresse oxidativo (GÜLCIN et al., 2003; SORG,

2004; CHANWITHEESUK et al., 2005)

Tabela 2 - ERO e antioxidantes

ERO Antioxidantes Endógenos Exógenos

Superóxido O2. - Superóxido dismutase (SOD)

a) citoplasmática: Zinco-Cobre b) mitocondrial: Manganês

Vitaminas, zinco, cobre, manganês, picnogenol, EDTA

Peróxido de hidrogênio (H2O2)

Catalase Fé+2

Peróxido lipídico (COOH_)

Glutadiona peroxidase, selênio, cisteína

Vitamina E, selênio

Radical hidroxila (OH.)

Vitamina C, picnogenol, dimetil sulfóxido, EDTA, ácido dimercapto succínico e manitol

Oxigênio singlet (1O2) β-caroteno Hidroxiperóxidos de ácidos graxos orgânicos (ROOH)

Glutadiona peroxidase

Fonte: BIANCH e ANTUNES (1999)

76

Quadro 1 -Doenças relacionadas com a geração de radicais livres

Artrite Parkinson Aterosclerose Alszheimer Diabetes Mellitus Câncer Catarata Envelhecimento Esclerose Múltipla Cardiopatias Inflamações Crônicas Enfisemas Doenças do sistema imune Disfunção cerebral

Fonte: BIANCH e ANTUNES (1999)

Diversas técnicas têm sido empregadas para determinação da atividade

antioxidante in vitro, de forma a permitir rápida seleção de substâncias e/ou

misturas potencialmente interessantes (PÉREZ-JIMÉNEZ e SAURA-CALIXTO,

2006). Estes métodos podem ser baseados na captura do radical peroxila, poder

de redução do metal, captura do radical orgânico, quantificação de produtos

formados durante a peroxidação de lipídios (oxidação do LDL, co-oxidação do β-

caroteno) (FRANKEL e MEYER, 2000; SÁNCHES-MORENO et al., 1998;

ARUOMA, 2003).

Em função de possíveis problemas causados pelo consumo de

antioxidantes de origem sintética, várias são as pesquisas voltadas atualmente

para a descoberta de produtos naturais, isolados ou mesmo de extratos de

plantas e suas frações com atividade antioxidante, os quais permitirão a

substituição dos sintéticos ou possíveis associações entre eles (PAREJO et al.,

2003; SILVA et al., 2005). A espécie eleita para a determinação da atividade

antioxidante foi a Pterodon emarginatus Vog. (Sucupira-Branca ou Faveira, nome

vulgar), família Leguminosae/Fabaceae, usada pela medicina popular para o

tratamento de dores na garganta, reumatismo, problemas de coluna, como

depurativo e tônico. Esta espécie é nativa dos Cerrados brasileiros, sendo

encontrada nas regiões de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás

(COELHO et al.,1999; COELHO et al., 2001). Quimicamente, as espécies deste

gênero acumulam diversos metabólitos tais como: alcalóides, triterpenos,

diterpenóides, isoflavonas entre outras substâncias (BRAZ e GOTTLIEB, 1971;

FASCIO et al., 1976; MARQUES et al. 1998; ARRIAGA et al., 2000). Embora

existam vários relatos na literatura relacionados às atividades farmacológicas e

biológicas dos extratos dos frutos e sementes, informações referentes à atividade

77

antioxidante do material botânico selecionado são inexistentes, justificando a

realização deste ensaio, uma vez que grande parte da população faz uso desta

espécie para o tratamento de diversos males.

Considerando o exposto acima, o objetivo deste capítulo foi avaliar o

potencial antioxidante do extrato etanólico bruto da casca do caule e das folhas,

além de frações do extrato etanólico bruto da casca do caule de P. emarginatus

(FABACEAE), através do ensaio espectrofotométrico com o radical 2,2-difenil-1-

picril-hidrazil (DPPH.), amplamente empregado para determinar a capacidade de

espécies vegetais na captura de radicais livres.

78

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Reagentes e equipamentos

Padrão: α-tocoferol foi obtido da Sigma, o 2,2-difenil-1-picril-hidrazil

(DPPH.) da Sigma-Aldrich. Os reagentes, hexano, diclorometano, acetato de etila

e metanol e etanol foram obtidos da QUIMEX (P.A). A água utilizada foi obtida

pelo processo de destilação. Dos equipamentos, a balança analítica utilizada foi a

da marca Bioprecisa/Eletronic Balance, modelo: FA2104N, Espectrofotômetro

modelo FEMTO 432C da Tecnal, Moinho de facas tipo WILLYE, Evaporador

Rotativo (MARCONI) acoplado a bomba a vácuo (STRUBBER modelo TE-152

com vácuo entre 600 e 700 atm) e Refrigerador (TECNAL modelo TE -184).

2.2 Material botânico

Para a realização dos estudos, o material botânico (cascas do caule e

folhas de Pterodon emarginatus Vog.) foi coletado no município de Bela Vista-GO

(847 m de Altitude, 17002’1,1” S / 48049’0,3” W). A espécie foi identificada pelo

Prof. Dr. José Realino de Paula e a exsicata encontra-se depositada no Herbário

da Universidade Federal de Goiás sob o número UFG – 27.155.

As cascas e as folhas foram submetidas a secagem em estufa com

circulação forçada de ar 400C (FABBE-PRIMA), durante 48 horas e

posteriormente submetidas a moagem em moinho de facas do tipo WILLYE

(TENCNAL – Modelo: TE 650), até forma de pó. O pó foi empregado no preparo

dos extratos etanólicos e frações.

2.3 Obtenção dos extratos etanólicos brutos

O material pulverizado foi submetido a um processo de maceração a frio,

por três dias, com agitação ocasional utilizando como líquido extrator, etanol

96°GL P.A. A proporção utilizada foi de uma parte d o material pulverizado, para

cinco partes do etanol. Após a maceração, foi realizada uma filtração em papel de

filtro, o extrato obtido foi concentrado em evaporador rotativo a uma temperatura

79

Extrato Etanólico da Casca

de 40º C. O resíduo vegetal foi extraído por mais três vezes de maneira análoga à

primeira, obtendo assim o extrato etanólico bruto da casca do caule e das folhas

de P.emarginatus Vog. (FERRI, 1996).

2.4 Fracionamento do extrato etanólico bruto das ca scas do caule de P.

emarginatus

Para o fracionamento do extrato etanólico bruto das cascas, foi feita a

dissolução deste na mistura metanol/água na proporção de 7:3, a qual foi

submetida a sucessivas partições líquido-líquido com hexano, diclorometano e

acetato de etila. Desta forma, foram obtidas 4 frações: fração hexânica (FHc),

fração diclorometano (FDMc), fração acetato de etila (FAEc), e fração

metanol/água (FMet/H2Oc). As frações obtidas foram empregadas no teste de

atividade antioxidante através da reação com DPPH.. A Figura 2 esquematiza o

fracionamento realizado.

Suspensão em MetOH/H2O 7:3

Figura 3 - Seqüência de fracionamento do extrato etanólico bruto da casca de Pterodon emarginatus Vog.

Fração Metanol/Água Fração Hexânica

Fração Acetato de Etila Fração Diclorometano

Fração Metanol/Água

80

2.5 Doseamento de fenóis totais

Para o doseamento dos fenóis totais contidos nos extratos e frações de P.

emarginatus foi empregado o método de Hargerman e Butler (MOLE e

WATERMAN, 1987) descrito a seguir. Todo o ensaio foi realizado em triplicata.

Para o preparo das soluções a serem dosadas, pesou-se 100mg de cada

amostra (extrato bruto da casca do caule e folhas e frações hexano,

diclorometano, acetato de etila e metanol/água obtidas a partir do extrato bruto da

casca do caule), em seguida transferiu-se cada amostra para um balão

volumétrico de 100 mL, completando-se o volume com 40 mL de metanol 50% e o

restante com água destilada. Em caso de sedimentação durante a solubilização

das amostras filtração foi efetuada com auxílio de papel de filtro.

Adicionou-se em um tubo de ensaio 2 mL de solução de Lauril Sulfato de

Sódio/Trietanolamina1 e 1 mL de solução cromogênica de FeCl32. adicionou-se a

esse tubo 1 mL da solução da amostra obtida anteriormente. Deixou-se em

repouso por 15 minutos e fez-se a leitura da absorbância a 510 nm. Utilizou-se

como branco uma solução contendo 2 mL de solução de Lauril Sulfato de

Sódio/Trietanolamina e 1 mL de solução cromogênica de FeCl3 e 1 mL de água

destilada.

Curva padrão de ácido tânico: pesou-se 100mg de ácido tânico e

transferiu-se para um balão de 100 mL, completou-se o volume com 40 mL de

metanol 50% (V/V) e o restante com água destilada. Retirou-se alíquotas desta

solução que variam de 200 µL a 800 µL, dependendo da faixa de concentração

que se pretendia cobrir, e transferiu-se para tubos de ensaio contendo 2 mL de

solução de Lauril Sulfato de Sódio/Trietanolamina e 1 mL de solução cromogênica

de FeCl3 e completou-se o volume para 4 mL com água destilada. Deixou-se em

repouso por 15 minutos e fez-se a leitura da absorbância a 510 nm.

Confeccionou-se uma curva padrão de ácido tânico utilizando o programa

“GraphPad Prism 5”.

_____________________________ 1 Lauril sulfato de sódio 1% (p/V), Trietanolamina 5% (V/V) e isopropano 20% (V/V) em quantidade suficiente de água destilada para completar o volume de 10 mL.

2 1,62 g de FeCl3 em 1 L de solução de HCl 0,001M.

81

Através da curva padrão de ácido tânico e das diluições das amostras a

porcentagem de fenóis totais foi calculada, utilizando as seguintes fórmulas

Onde:

c = concentração de ácido tânico em mg

Os resultados apresentado para o doseamento dos fenóis totais

correspondem à média das três repetições (n=3) ± desvio padrão da média.

c = Absorbância – A B % fenóis totais = c x 100 x 10-3 x 100 0,1

82

2.6 Avaliação da capacidade de reação com 2,2-difen il-1-picril-hidrazil (DPPH.)

O método DPPH. (BRAND-WILLIAM et al., 1995) é baseado na captura do

radical cromóforo DPPH (2,2-difenil-1-picril-hidrazil), de coloração púrpura por

antioxidantes, produzindo um decréscimo da absorbância a 517nm. Por ação de

um antioxidante (AH) ou uma espécie radicalar (R.), o DPPH. é reduzido ao difenil-

picril-hidrazina, de coloração amarela, com conseqüente desaparecimento da

absorção. A partir dos resultados de absorbância obtidos em espectrofotômetros,

pode-se, determinar a atividade antioxidante ou seqüestradora de radicais livres

e/ou a porcentagem de DPPH. remanescente no meio reacional, (BRAND-

WILLIAM et al., 1995). Este método foi modificado por Sánches-Moreno et al.,

(1998) para mensurar parâmetros cinéticos.

A porcentagem de atividade antioxidante (%AA) corresponde à quantidade

de DDPH consumida pelo antioxidante, sendo que a quantidade de antioxidante

necessária para reduzir a concentração inicial de DPPH em 50% é denominada

concentração eficiente (CE50), também designada de concentração inibitória

(CI50). Quanto maior for o consumo do radical livre DPPH. por uma amostra,

menor será a sua CE50 e maior a sua atividade antioxidante.

Para avaliar o potencial antioxidante, foram feitos e testados 2 extratos

etanólicos brutos (casca do caule e folhas) e as 4 frações do extrato etanólico

bruto da casca do caule acima mencionados. A avaliação da atividade

antioxidante frente ao radical DPPH. foi então realizada através de medidas

espectrofotométricas do consumo do radical livre, na presença de possíveis

substâncias antioxidantes (BRAND-WILLIAMS et al., 1995), com modificações. As

amostras foram diluídas em duplicata, com concentrações finais de 25 mg mL-1 à

0,0122 mg mL-1(12 concentrações no total) em metanol, partindo-se da Solução-

Mãe de 50 mg mL-1. Uma solução metanólica de DPPH. a 100 mM foi preparada,

e alíquotas de 1 mL, desta, foram adicionadas em cubetas contendo 50 µL de

cada amostra (A), à cada concentração. As reações transcorreram à temperatura

ambiente (em torno de 25 0C) por 30 minutos, ao abrigo da luz. Após transcorridos

os 30 minutos foram feitas as leituras das absorbâncias, a 517 nm. Metanol

(1,0 mL) mais 50 µL de cada amostra em cada concentração foram usados como

brancos (B) e a solução de DPPH. (1,0 mL; 100 mM) mais metanol (50 µL) foi

83

usada como controle (C). Os valores de absorbância foram convertidos em

atividade antioxidante percentual (AA%) usando a seguinte fórmula (MENSOR, et

al., 2001).

A vitamina E (α-tocoferol) foi usada como controle positivo com

concentrações de 25 mg mL-1 à 0,0122 mg mL-1. Uma alíquota contendo apenas

metanol foi utilizada como branco para zerar o espectrofotômetro.

2.6.1 Cálculo da concentração eficiente 50% (CE50)

O resultado de CE50 é utilizado para obtenção de parâmetros numéricos

que permitam verificar se a planta possui substâncias antioxidantes e observar

sua eficiência frente a radicais livres no modelo teste. Os valores de AA% e das

concentrações de cada amostra foram relacionados utilizando o programa

“GraphPad Prism 5”, obtendo-se, para cada amostra a concentração efetiva 50%.

A determinação da CE50 foi obtida, então por regressão linear dos pontos

plotados graficamente (MENSOR, et al., 2001). Para a plotagem dos pontos,

foram usados os valores de AA% obtidos de duplicatas realizadas para cada um

dos testes. A mensuração de CE50 configura o valor necessário para produzir

metade (50%) de um efeito máximo estimado em 100% para as amostras

testadas (BOSCOLO et al., 2007; VICENTINO e MENEZES, 2007).

AA% = 100 – { [ (ABSA – ABSB) X100] /ABSC}

84

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Rendimento dos extratos etanólicos brutos e das frações

Das 400 g do pó da casca e 260 g do pó das folhas de Sucupira-branca

processadas através da técnica de maceração empregada, seguida da rota-

evaporação, obteve-se 129,92 g de extrato etanólico bruto da casca da Sucupira

e 42,78g de extrato etanólico bruto das folhas de Sucupira. A partir desse valor o

rendimento obtido foi equivalente a 32,48% para casca e 16,45% para folhas.

Após o fracionamento do extrato etanólico bruto da casca obtido da

amostra coletada, obteve-se 10,65% de rendimento para a fração hexânica,

4,50% para a fração diclorometano, 32,36% para a fração acetato de etila e 34%

para a fração aquosa. A Tabela 3 resume o rendimento de todos os extratos e

frações obtidas.

Tabela 3 - Rendimento dos extratos e frações

.

Amostra Rendimento (%)

Extrato Etanólico da Casca 32,48

Extrato Etanólico da Folha 16,45

Fração Hexânica Casca 10,65

Fração Diclorometano da Casca 4,50

Fração Acetato de Etila da Casca 32,36

Fração Metanol/Água da Casca 34

85

3.2 Fenóis Totais

Os Resultados do doseamento dos fenóis totais encontram-se na Tabela 4, e

o Gráfico 1 representa a curva padrão do ácido tânico empregado no doseamento

pelo método Hargerman e Butler (MOLE e WATERMAN, 1987)

Tabela 4 – Doseamento de fenóis totais expressos em porcentagem (p/p).

.

DP – Desvio Padrão da média correspondente às três repetições

Gráfico 1 – Curva padrão para doseamento de fenóis totais para os extratos e frações de P. emarginatus. Concentração de ácido tânico versus absorbância. Equação da reta: Absorbância = A + B . c. Erro de ajuste (R2) = 0,9983.

Amostras % de fenóis totais ± DP

Extrato Etanólico Bruto da Casca do Caule 0,8416 ± 0,07

Fração Hexânica da Casca 0,0464 ± 0,04

Fração Diclorometano 7,9733 ± 0,15

Fração Acetato de Etila 4,0720 ± 0,15

Fração Metanol/Água 4,7926 ± 0,14

Extrato Etanólico Bruto das Folhas 22,882 ± 0,3

86

3.3 Atividade antioxidante percentual

A média das absorbâncias obtidas referentes a cada concentração foi

utilizada para calcular a AA% conforme já descrito em material e métodos. Os

valores de porcentagem de atividade antioxidante das amostras e do padrão (25 a

0,0122 mg/mL) frente ao radical livre DPPH. estão representada na Tabela 5.

Tabela 5 - Atividade antioxidante frente ao radical DPPH.

Concentração Atividade antioxidante %

mg/mL EEC FHc FDMc FAEc FMet/H2Oc EEF Padrão α-tocoferol

25mg/mL 95,98 63,68 95,78 95,84 94,69 96,04 92,94

12,5mg/mL 94,64 61,13 95,44 94,84 92,44 95,98 92,85

6,25mg/mL 84,72 33,46 94,89 94,03 90,20 95,64 92,64

3,125mg/mL 56,46 22,62 91,42 80,17 62,85 93,56 92,55

1,56mg/mL 31,07 14,48 77,82 49,56 35,37 90,95 92,43

0,78mg/mL 16,14 10,68 56,66 28,33 15,91 61,41 92,38

0,39mg/mL 5,291 9,690 38,70 11,31 13,87 34,29 92,21

0,1953mg/mL 4,755 7,592 22,10 8,640 1,632 16,61 83,75

0,0976mg/mL 2,478 6,943 17,75 4,688 1,088 10,24 75,68

0,0488mg/mL 1,473 6,243 3,129 2,880 0,884 6,229 51,82

0,0244mg/mL 1,071 4,945 0,544 1,540 0,204 5,023 39,11

0,0122mg/mL 0,267 4,695 0,204 0,267 0,190 3,348 32,78

ECC: Extrato etanólico da casca do caule; FHc: Fração hexânica da casca; FDMc: Fração diclorometano da casca; FAEc: Fração acetato de etila da casca; FMet/H2Oc: Fração metanol-água da casca; EEF: Extrato etanólico da folha. As atividades antioxidantes observadas foram dose-dependente,

permitindo calcular o valor de CE50 (concentração necessária para inibir 50% da

atividade do DPHH.). Os valores obtidos a partir desta mensuração podem ser

observados na Tabela 6 e a partir do Gráfico 1 é possível analisar o perfil traçado

pelos valores de CE50.

87

Tabela 6 – Concentração efetiva 50% calculada através de regressão linear, logarítmica.

Gráfico 2 – Perfil da concentração efetiva 50% calculada através de regressão linear, logarítmica do gráfico obtido com os valores encontrados de %AA para cada concentração e amostra. ECC: Extrato etanólico da casca do caule; FHc: Fração hexânica da casca; FDMc: Fração diclorometano da casca; FAEc: Fração acetato de etila da casca; FMet/H2Oc: Fração metanol-água da casca; EEF: Extrato etanólico da folha.

Amostras Estudadas CE50*

Extrato Etanólico Bruto da Casca do Caule 2,888

Fração Hexânica da Casca 6,336

Fração Diclorometano 0,1843

Fração Acetato de Etila 1,392

Fração Metanol/Água 1,760

Extrato Etanólico Bruto das Folhas 0,2733

Padrão – α-tocoferol -3,632

CE50*= Concentração efetiva 50% calculada através de regressão linear, logarítmica do gráfico obtido com os valores encontrados de %AA para cada concentração.

88

Várias substâncias naturais, obtidas de plantas, têm sido identificadas

como seqüestradoras de espécies reativas do oxigênio, conferindo proteção ao

organismo humano dos efeitos nocivos das mesmas (GÜLCIN et al., 2003).

Moléculas com núcleos fenólicos vêm se destacando como excelentes captadores

radicalares, como demonstrado por Gyamfi et al., (2001), Kujala et al., (2000),

Halliwell et al., (1995), Andrade et al., (2007) e outros autores.

O padrão α-tocoferol (vitamina E) demonstrou ser significativamente mais

ativo que as demais amostras. A fração diclorometano do extrato etanólico bruto

da casca do caule apresentou atividade antioxidante consideravelmente maior

que as demais frações, bem como do próprio extrato bruto da casca, sendo

interessante os valores obtidos, uma vez que esta fração acumula moléculas mais

apolares, não sendo comum a atividade verificada para esta fração, entretanto

compostos terpênicos possuem importante atividade antioxidante (CANDAN et al.,

2003; SACCHETTI et al., 2005), e estudos com essa fração realizados por

Moraes (2007), permitiram o isolamento de compostos terpênicos como lupeol e

betulina. Outra amostra com atividade antioxidante interessante foi a fração

acetato de etila. Tal resultado equipara-se a outros trabalhos que também têm

demonstrado maior potência para essa fração. Zanon (2006) num estudo de

Vernonia tweedieana Baker testou extratos de diversas polaridades, constatando

maior porcentagem no índice de inibição para a fração acetato de etila. Na fração

acetato de etila é comum a extração de compostos com núcleos fenólicos.

Metabólitos com estas estruturas estão presentes em praticamente todas as

plantas, além disso, compostos fenólicos possuem capacidade de doar átomos de

hidrogênio e, portanto inibir as reações em cadeia provocadas pelos radicais

livres (HARTMAN e SHANKEL, 1990).

O extrato etanólico bruto das folhas de P. emarginatus, também

demonstrou interessante atividade antioxidante quando comparada com o extrato

da casca e as frações deste extrato. Tal resultado pode ser justificado pela

presença de clorofila, pigmento com atividade antioxidante já constatada.

Comparativamente podemos então atribuir as melhores atividades

antioxidantes a fração diclorometano da casca e ao extrato etanólico bruto das

folhas, alcançando os valores de EC50 de 0,1843 e 0,2733 respectivamente.

Estas amostras quando tratadas com o DPPH. apresentaram rápido e forte

89

decaimento das absorbâncias, acompanhados de rápida descoloração da solução

de púrpura para amarelo. Este comportamento pode ser entendido pela presença

de substâncias com grupos hidroxilas, capazes de doarem hidrogênio. Existem

compostos que reagem rapidamente ao DPPH. e outros que apresentam

comportamento mais lento (TSIMOGIANNIS e OREPOULOU, 2004) , como

observado para a fração hexânica da casca. A partir dos resultados foi possível

ainda verificar uma correlação positiva entre os fenóis totais e a CE50 dos

extratos e frações. A análise realizada permite também sugerir que existe algum

constituinte que contribui particularmente e mais efetivamente para a ação

seqüestradora de radicais livres, na fração diclorometano.

Vários compostos de origem vegetal possuem potencial antioxidante. E

como já comprovado por CHOI (2002) componentes fitoquímicos como

aminoácidos, vitaminas, e pigmentos podem atuar sinergicamente fortalecendo a

atividade antioxidante. Muitas são as plantas que já tiveram seu uso popular

comprovado a partir de estudos etnobotânicos. Como exemplos podem ser

citados a aroeria, a embaúba e o jambo branco, que apresentam grande potencial

antioxidante (BOSCOLO et al., 2007).

A interação de uma espécie química antioxidante com o DPPH. depende,

de vários fatores, como a especificidade pela conformação estrutural do Radical

Livre. Por isso, determinados extratos de plantas e suas frações classificados em

alguns trabalhos como compostos não antioxidantes, devem ser testados por

outras metodologias, a fim de confirmar esse resultado (MENSOR, 2001). Este

ensaio in vitro pode ser visto como ponto de partida para estudos posteriores

como o isolamento, a purificação e a elucidação estrutural das substâncias que

podem atuar como antioxidantes (BOSCOLO et al., 2007). Recentemente

metodologias de muitos trabalhos têm proposto uma correlação quantitativa entre

a morfologia e a composição micromolecular característica de cada espécie

(GOTTLIEB e BORIN, 2002; GOTTLIEB et al., 1994). Muitas destas metodologias

mostraram que alguns grupos de plantas apresentam correlações entre a

evolução morfológica e a biossíntese de classes específicas de metabólicos

secundários, de função também antioxidante (GOTTLIEB, 1990).

90

Os resultados obtidos para P. emarginatus confirmam efeitos antioxidantes

importantes, podendo atribuir essa atividade biológica a possível presença de

substâncias fenólicas em algumas frações e nos extratos das folhas.

91

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos são bons indicativos de que a planta Pterodon

emarginatus Vog. (Sucupira-branca) possui constituintes químicos capazes de

capturarem radicais livres e formar compostos estáveis, configurando assim

importante atividade antioxidante. Assim sendo, pressupõe-se que as frações

acetato de etila e diclorometano do extrato etanólico da casca do caule bem como

o extrato etanólico bruto das folhas da espécie estudada possam ser exploradas

na busca por fármacos antioxidantes promissores e utilizadas para o tratamento

de doenças decorrentes do stress oxidativo, aumentando ainda mais as

possibilidades farmacológicas, visto que já foram isoladas várias moléculas com

atividade antinociceptiva e antiinflamatória dos extratos estudados da referida

espécie. Entretanto, testes in vitro não permitem a extrapolação para humanos,

visto que muitas moléculas ativas na reação com o DPPH. são inativas em testes

mais específicos, com inibição enzimática. Desta forma, testes in vivo devem ser

realizados, pois assim possibilitarão o uso industrial desta planta em formulações

farmacêuticas e cosméticas com fins antioxidantes.

92

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98

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CAPÍTULO 4

AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE AGUDA ORAL DOS EXTRATOS ETANÓLICOS BRUTOS DAS

CASCAS DO CAULE E FOLHAS DE Pterodon emarginatus Vogel (Leguminosae = Fabaceae)

_________________________________________________________________

99

1 INTRODUÇÃO

Ervas medicinais, como a maior parte dos remédios na medicina

tradicional, têm sido empregadas na prática médica por centenas de anos e

contribuído para saúde humana. A utilização das espécies vegetais é passada de

geração a geração, integrando parte da cultura de grupos étnicos. Segundo dados

da Organização Mundial da Saúde é inegável que a maioria da população de

baixa renda recorra às plantas medicinais como único lenitivo para seus males e

que cerca de 35% dos princípios ativos das formulações farmacêuticas,

desenvolvidos pela indústria mundial são provenientes de vegetais. No Brasil e

no mundo, o estudo de plantas cresce anualmente, e o interesse sobre plantas,

seus princípios ativos e seus efeitos terapêuticos têm despertado a atenção dos

pesquisadores (TOMAZZONI et al., 2006; CALIXTO, 2001). Vários são os

exemplos de medicamentos desenvolvidos de fontes naturais, especialmente de

plantas incluindo entre outros a morfina, os curares, os digitálicos e diversos

outros medicamentos usados no tratamento do câncer como a vimblastina,

vincristina e o taxol (BRAGGIO, 2003). Entre os adeptos do uso medicinal de

plantas, é comum a idéia de que a utilização popular destas fontes naturais já foi

testada e homologada, por isso, seriam remédios eficazes e seguros, sem os

efeitos colaterais comuns aos produtos sintéticos, não sendo necessário a

avaliação exigida para esse tipo de medicamento (SIMÕES et al., 2004).

Apesar de possuírem potencial curativo, as plantas possuem substâncias

que, dependendo da dose, podem tornar-se tóxicas ao organismo, causando

reações indesejáveis ou até mesmo levando ao óbito. Dentre os principais

princípios ativos responsáveis pelo potencial tóxico das plantas podemos destacar

os alcalóides, glicosídeos, taninos, saponinas, oxalatos, entre outros (SIMÕES et

al., 2004). Quando utilizada como medicamento a planta configura um

xenobiótico, isto é, um produto estranho ao organismo. Como qualquer outra

substância os produtos de sua biotransformação são potencialmente tóxicos e

assim devem ser encarados até prova em contrário. Portanto, o uso popular, e

mesmo tradicional, não são suficientes para atestar as plantas medicinais como

medicamentos eficazes e seguros (BRASIL, 1995).

100

Nesse sentido, a avaliação toxicológica das plantas é alvo de pesquisas e

investigações de muitos estudiosos desde as antigas civilizações, pois quando

utilizadas com critério, só tem a contribuir para a saúde (DI STASI, 1996). A

avaliação da segurança, ou seja, a relação risco/benefício, é a finalidade dos

estudos toxicológicos pré-clinicos e clínicos de medicamentos. De modo geral,

muitas normas estipulam os testes de toxicidade para avaliação do risco de um

novo medicamento. Nos testes gerais, as espécies mais utilizadas são

camundongos e ratos, machos e fêmeas, de linhagens exogâmicas e o número

de animais em cada teste deve seguir os Princípios Éticos da Experimentação

Animal (COBEA, 1991).

A principal fonte de guias para a regulamentação em âmbito mundial da

avaliação toxicológica de medicamentos fitoterápicos é a Organização Mundial de

Saúde. Dado o caráter multilateral dessa organização, suas diretrizes não têm

força de lei em nenhum país, mas influenciam fortemente na elaboração de

legislações nacionais. Desta forma a partir de 1981 a WHO elaborou diversas

normas técnicas, entre elas: Guidelines for the assessment of herbal medicine –

Normas para a avaliação dos medicamentos fitoterápicos; Research Guidelines

for Evaluating the Safety and Efficacy of Herbal Medicines – Normas de pesquisas

para a avaliação da eficácia e segurança dos medicamentos fitoterápicos (WHO,

2000). No que se refere à realização de ensaios toxicológicos pré-clínicos de

sustâncias químicas, os critérios para realização dos mesmos estão bem

especificados, por exemplo, nas normas da Organization for Economic Co-

Operation and Development (OECD) – Organização para Cooperação Econômica

e Desenvolvimento.

Existe uma tendência mundial para reavaliar a utilização de animais em

experimentos visando reduzir custos, tempo, e o mais preconizado sugere

critérios bioéticos, diminuindo o sofrimento desnecessário de animais de

laboratório. Várias alternativas foram sugeridas com base no princípio do

programa dos 3Rs: Reduction (redução do número de espécies e animais

utilizados nos procedimentos), Refinement (refinamento da técnica utilizada) e

Replacement (substituição de cobaias por modelos fabricados sem, no entanto,

prejudicar os resultados). Para isso, há a elaboração de protocolos de estudo

(guidelines) que são publicados quando a nova proposta de ensaio já foi avaliada,

101

validada e aprovada pelos órgãos competentes (ICCVAM e NICEATM – Estados

Unidos, ECVAM – Comunidade Européia). O ensaio de toxicidade aguda oral era

um dos ensaios toxicológicos mais duramente criticado e discutido frente ao

programa dos 3Rs: devido à utilização do grande número de animais e do grande

sofrimento submetido aos mesmos.

Em 1986, a Organization for Economic Co-operation and Development

(OECD) anunciou alterações nos guidelines de toxicidade aguda oral e dérmica.

No que se refere à toxicidade aguda oral foi sugerido o método de classe de dose

aguda tóxica (Acute Toxic Class Method – OECD 423) adotado em 1996 e

extensamente validado. O procedimento do teste preconiza o uso de três animais

do mesmo sexo por dose. Dependendo da mortalidade ou do estado moribundo

dos animais outras doses intermediárias são necessárias para que se admita um

critério da toxicidade aguda na sustância-teste. A classificação da substância

administrada é feita de acordo com o Globally Harmonised System (GHS).

A toxicidade aguda manifesta-se imediatamente ou com 14 dias após a

exposição de uma dose única de um xenobiótico por ingestão, inalação ou

através da pele em animais ou humanos. O propósito dos testes de toxicidade

aguda é identificar uma dose claramente tóxica, sub-letal ou letal, para identificar

os órgãos alvos da substância em estudo, e para gerar um banco de dados para

seleção de doses em testes subseqüentes de toxicidade (BRESOLIN e FILHO,

2003).

Em revisão bibliográfica da espécie P. emarginatus não foram encontrados

estudos referentes à avaliação toxicológica dos extratos etanólicos brutos da

casca do caule e folhas, justificando a realização e apresentação deste capítulo.

Várias diretrizes são utilizadas para determinar a toxicidade aguda oral e validar

plantas medicinais e outros produtos como seguros ou tóxicos. A diretriz

escolhida para a avaliação da toxidade aguda oral dos extratos acima

mencionados foi a OEDC 423 (Método de Classes). Como a sucupira branca

constitui fonte imediata e viável de medicamento para enfermidades como

infecções ginecológicas, reumatismo, dores de garganta, entre outras, faz-se

necessário, portanto a investigação do seu potencial toxicológico.

102

2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Material botânico

Para a realização dos estudos, o material botânico (cascas do caule e

folhas de Pterodon emarginatus Vog.) foi coletado no município de Bela Vista-GO

(847 m de Altitude, 17002’1,1” S / 48049’0,3” W). A espécie foi identificada pelo

Prof. Dr. José Realino de Paula e a exsicata encontra-se depositada no Herbário

da Universidade Federal de Goiás sob o número UFG – 27.155.

As cascas e as folhas foram submetidas a secagem em estufa com

circulação forçada de ar 400C, durante 48 horas e posteriormente submetidas a

moagem em moinho de facas do tipo WILLYE, até forma de pó. O pó foi

empregado no preparo dos extratos etanólicos.

2.2 Obtenção do extrato etanólico bruto.

O material pulverizado foi submetido a um processo de maceração a frio,

por três dias, com agitação ocasional utilizando como líquido extrator, etanol

96°GL P.A. A proporção utilizada foi de uma parte d o material pulverizado, para

cinco partes do etanol. Após a maceração, foi realizada uma filtração em papel de

filtro, o extrato obtido foi concentrado em evaporador rotativo a uma temperatura

de 40º C. O resíduo vegetal foi extraído por mais três vezes de maneira análoga à

primeira, obtendo assim o extrato etanólico bruto da casca do caule e das folhas

de P.emarginatus Vog. (FERRI, 1996).

2. 3 Toxicidade aguda dose única .

A investigação da toxicidade aguda proposta seguiu, em linhas gerais, as

diretrizes da OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development)

e, no mínimo, as diretrizes da Portaria 116/96 do Ministério da Saúde, para

avaliação da toxicidade aguda oral de substâncias químicas e estudos de

toxicidade de dose única de novas drogas.

103

Os grupos experimentais de camundongos e ratos de ambos os sexos foram

compostos ao acaso, com animais de diferentes ninhadas, com o cuidado de que

a variação de peso entre eles não excedesse à 20% do peso médio. Os

camundongos foram agrupados em até três animais por gaiola e os ratos, até 3

animais por gaiola também.

Experimentos independentes foram realizados para avaliação da toxicidade

aguda oral dose única (métodos de classe) em camundongos e ratos machos e

fêmeas. Os resultados foram comparados na tentativa de evidenciar qualquer

diferença entre gêneros quanto à toxicidade aguda. O período total de observação

após administração da dose única foi de 14 dias.

Para a administração do fármaco/medicamento, no estudo de toxicidade

oral, os animais foram privados de alimento 12 horas antes da administração da

droga. O alimento foi restituído 3 a 4 horas após a administração da droga por via

oral. Excetuando-se este período de jejum, os animais tiveram livre acesso à

ração e à água.

2.3.1 Descrição detalhada do protocolo experimental

(Guideline OECD 423): Três animais são usados para cada dose. A dose

inicial foi selecionada entre as doses fixas de 5, 50, 300 e 2000mg/kg, sendo

aquela mais propensa a produzir mortalidade com base em relatos de dose com

toxidade evidente, quando possível, ou através de relatos evidenciados com base

na estrutura química. Na ausência de ambas, a informação pode iniciar o estudo

de triagem com a dose de 200mg/kg.

Quando informações avaliadas sugerem que a mortalidade significativa não

seja iniciada com o nível maior de dose (2000 mg/kg de peso corpóreo), o teste

para se conhecer o limite deve ser conduzido. Excepcionalmente, e somente

quando justificado por necessidades específicas, o uso de um nível de dose maior

de 5000 mg/kg pode ser considerada. O tempo de intervalo entre o tratamento

dos grupos é determinado pelo início, duração e gravidade dos sinais tóxicos. O

tratamento de animais com a próxima dose deve ser esperado até que se

confirme a sobrevivência de um animal previamente doseado.

104

A base da técnica consiste em se administrar a grupos de três animais

doses seqüenciais menores a partir da máxima de 2000 mg/kg caso se observe a

morte de mais de 1 animal. Isto possibilita a estimativa de uma DL50 conforme os

padrões da GHS.

Dependendo da mortalidade ou do estado moribundo dos animais outras

doses intermediárias são necessárias para que se admita um critério da

toxicidade aguda na substância–teste. A classificação da substância administrada

é feita de acordo com o Globally Harmonised System. Uma das três ações é

requerida: parar no teste que atribui a classificação do risco apropriado; testar em

uma dose fixa maior ou em uma menor.

Dose 2000 mg/kg: Inicia-se a administração da dose de 2000 mg/kg a três

animais. Caso haja a morte de um ou nenhum animal há duas opções: a amostra

não é classificada ou entra na classe 5 cuja DL50 varia até 5000 mg/kg sendo

maior que 2000 mg/kg. A morte de 2 ou 3 animais implica na administração de

uma dose de 300 mg/kg.

Dose 300 mg/kg: A sobrevivência de todos os animais ou mesmo a morte

de apenas um deles implica na classe 4 (DL50 maior que 300 mg/kg até o valor

de 2000 mg/kg). A morte de pelo menos 2 requer uma terceira dose no valor de

50 mg/kg.

Dose 50 mg/kg: A morte de no máximo um camundongo classifica a

substância na classe 3 (DL50 maior que 50 mg/kg e no máximo 300 mg/kg). Caso

dois ou mais camundongos morram administra-se a quarta dose de 5 mg/kg .

Dose 5 mg/kg: A morte de um ou nenhum camundongo determina uma

DL50 maior de 5 mg/kg e máximo de 50 mg/kg pertencendo à classe 2. a morte

do 2 ou 3 animais implica na classe 1, a DL50 equivale a no máximo 5 mg/kg o

que a caracterizaria como altamente tóxica.

2.3.2 Animais e condições ambientais de manutenção

Animais . Foram utilizados no presente estudo duas espécies de roedores:

camundongos albinos (Swiss), pesando de 20 a 25 g e ratos (Wistar), com peso

de 180 a 250 g, não-isogênicos, de ambos os sexos, com fêmeas nulíparas e não

prenhas, provenientes de colônias mantidas no Biotério da UNICEUB, ou oriundos

105

de outras fontes fidedignas e aclimatados (para observação do comportamento,

dos hábitos e das condições sanitárias dos mesmos).

Condições de Manutenção . O Biotério de manutenção foi provido de um

sistema de barreiras de modo a garantir condições sanitárias adequadas para

estudo toxicológico. O pessoal em contato direto com os animais utilizou

vestimenta especial (luvas, máscaras, aventais, toucas, sapatos, óculos). A

temperatura ambiente (23 ± 2 oC), a umidade relativa do ar (50 – 70%), a

renovação de ar (20 trocas de ar por hora) e o ciclo claro/escuro (12 horas claro/l2

horas escuro) foram monitorados.

A maravalha (de pinho-branco ou equivalente) foi autoclavada, portando

laudo de procedência para garantir a inocuidade da mesma. Foram utilizadas

gaiolas de polipropileno (42 x 34 x l7 cm) para a manutenção dos animais.

Dieta. Os animais foram alimentados com ração comercial de boa

qualidade e adequada às necessidades de nutrientes de ratos e camundongos

(Labina®- Purina). Uma estimativa destas necessidades pode ser encontrada no

Nutrient Requirements of Laboratory Animals da National Academy of Sciences,

dos Estados Unidos.

.

2.3.3 Via e modo de administração

Os extratos testados foram administrados em dose única, a via oral, que é

a preconizada para uso humano, sendo efetuada através de entubação gástrica

com cânulas apropriadas. O extrato da casca foi administrado na forma de

solução aquosa (diluente: 5% DMSO) e o extrato da folha em solução aquosa

(diluente: 5% Tween®). O volume administrado não excedeu a 1 mL/100g de peso

corporal, mantendo constante ajustamento das concentrações de acordo com o

nível de dose. O ponto de partida para a administração correspondeu a uma dose

de 2000 mg/kg. Na ausência de mortalidade e ou sinais de toxicidade a dose foi

aumentada para 5000 mg/Kg. Em todos os testes foi incluído um grupo controle,

tratado apenas com os veículos.

106

2.3.4 Duração do período de observação

O período total de observação na primeira etapa foi de 14 dias a partir da

administração dos extratos. No décimo quarto dia, os animais foram sacrificados e

necropsiados, avaliados à vista desarmada e não sendo necessária a remoção de

fragmentos de órgãos para o estudo histopatológico.

2.3.5 Observação dos sinais de toxicidade

Os animais foram observados em intervalos regulares e todos os sinais de

toxicidade, a época do seu aparecimento, a intensidade, a duração e a

progressão dos mesmos foram registradas. Dados como morte (latência) e o

modo pelo qual o animal morre também poderiam ser documentados. O peso dos

animais foi registrado ao final do experimento.

Observações comportamentais sistemáticas (screening hipocrático:

atividade geral, frênito vocal, irritabilidade, resposta ao toque, resposta aperto

cauda, contorção, posição trem posterior, reflexo endireitamento, tonus do corpo,

força para agarrar, ataxia, reflexo auricular, reflexo corneal, tremores, convulsões,

straub, hipnose, anestesia, lacrimação, ptosis, micção, defecação, piloereção,

hipotermia, respiração, cianose, hiperemia, morte) foram realizadas a intervalos

variados no dia de administração da droga (10 min., 30 min., 1h, 2h, 4h, 6h, 12h e

24h) e, a partir de então, diariamente, até o décimo quarto dia.

As intensidades dos eventos foram tabuladas de 0 a 4, correspondendo,

respectivamente a: ausente, raro, pouco, moderado, intenso. As alterações

encontradas na observação comportamental e exame clínico sistemático dos

animais foram registrados em protocolo impresso com a lista de sinais a serem

investigados. Esta lista e a pesquisa de sinais foram baseadas no modelo

proposto por MALONE e ROBICHAUD, 1962 e MALONE, 1977.

107

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os estudos de toxicidade aguda foram realizados empregando-se a via

intra-gástrica como já mencionado em material e métodos, baseado no fato de

que P. emarginatus é utilizada por humanos exclusivamente por via oral. As

doses administradas correspondentes a 2000 mg/kg e 5000 mg/kg não

demonstraram sinais de toxicidade nem dano fatal aos camundongos e ratos

machos e fêmeas. No estudo realizado observou-se que nem mesmo a maior

dose de 5000 mg/kg provocou dano considerável, o que descarta a determinação

de uma DL50.

É bom ressaltar que o método (OECD 423), não objetiva determinar DL50,

mas permitir, a determinação definida de ranques de exposição onde a letalidade

é esperada. Entretanto, ela permite mensurar o valor de DL50 quando as duas

últimas doses resultam em mortalidade maior que 0% e menor que 100%.

VALADARES (2006), em exposição do processo evolutivo dos testes de

toxicidade aguda aponta a tendência de desuso do cálculo da DL50 nesse tipo de

estudo.

As intensidades dos eventos relacionados às observações

comportamentais sistemáticas, receberam em todos os grupos testados o valor 0

correspondendo a ausência do evento observado no screening hipocrático.

Sensibilidade entre as espécies e sexo dos animais não foram constatadas. Na

análise macroscópica dos órgãos realizada a partir da necropsia sugerida pela

OECD 423, não foram constatadas alterações nos órgãos selecionados para

análise como o fígado, rim e baço, não sendo necessária a remoção de

fragmentos dos órgãos para o estudo histopatológico. Os dois primeiros possuem

papéis importantes no metabolismo e excreção de xenobióticos e o terceiro órgão

é capaz de fornecer sinais de toxicidade para o sistema imune dos animais

(HAYES e DIPASQUALE, 2001).

Em trabalho realizado por Sabino et al., (1999), com óleo das sementes de

P. pubescens, uma outra espécie do gênero, e para alguns autores sinonímia

botânica de P. emarginatus, foi verificado que o tratamento oral de camundongos

com esse óleo não induziu mortalidade ou o aparecimento de sinais clínicos de

toxicidade. Neste mesmo estudo análises histopatológicas dos tecidos também

108

não demonstraram nenhuma lesão. Resultados toxicológicos como este

envolvendo o óleo da semente e extrato etanólico bruto da casca e folha são de

grande importância, haja vista, que estes produtos são utilizados popularmente

como medicamentos naturais. Estudos toxicológicos in vivo têm reportado que os

resultados referentes à toxicidade variam muito de acordo com a rota de

administração. De acordo com Luz Dias et al., (1995), camundongos submetidos

em tratamento dérmico, também não apresentaram genotoxicidade, mas injeção

de doses de 0,5 e 1,0 mL de óleo das sementes de P. pubescens (dose esta

extremamente mais alta do que a usada popularmente) induziu efeitos tóxicos

causando morte de 25 a 50% dos animais respectivamente.

É importante observar que a os efeitos anti-reumáticos, antiinflamatórios,

tônicos da espécie estudada, dependem da administração oral, e felizmente, esta

foi exatamente a rota de administração que não mostrou nenhuma toxicidade para

os extratos testados.

A metodologia utilizada preconiza o uso de roedores, de preferência

fêmeas. Embora, as amostras tenham sido testadas em animais de ambos os

sexos e em duas espécies diferentes. Objetivando verificar a sensibilidade entre

sexo e espécies (OECD 423, 2001).

Como visto anteriormente, os estudos pré-clínicos são extremamente

importantes para o desenvolvimento de um produto fitoterápico, incluindo a

toxicologia, como a evidente necessidade de aliar a segurança à eficácia e se

potência. Podemos perceber isso no volume de trabalhos publicados e

relacionados com a toxicidade de plantas medicinais como Averrhoa carambola L.

(PROVASI et al., 2001), Synadenium umbellatum (OLIVEIRA, 2005) Jatropa

gossypiifolia L. (MARIZ, et al., 2006), entre outras.

No passado o uso tradicional das diversas plantas que compõem nossa

biodiversidade baseado no conhecimento popular, aliado à crença de que não

provocam males à saúde, excluiu de certa forma a avaliação de sua toxicidade

em estudos pré-clínicos. No que se refere à legislação para medicamentos

fitoterápicos no Brasil, várias modificações estão sendo feitas pela Agência

Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Essa preocupação das autoridades

regulatórias com a normatização de produtos naturais permite a avaliação de

aspectos importantes, como a eficácia e segurança do uso destes medicamentos.

109

Apesar dos avanços já conquistados, a regulamentação de produtos naturais

permanece em aberto, mesmo em países como a Alemanha e França onde são

mais comercializados (TUROLLA e NASCIMENTO, 2006).

110

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que o uso indiscriminado e conhecimento sobre a toxicidade de

plantas é uma vertente atual, e que para a maioria da população, toda erva é um

recurso natural e benéfico. Em conseqüência disso têm-se emergente importância

trabalhos que visem elucidar cada vez mais o potencial tóxico das plantas

utilizadas como medicinais. O resultado desta prática só tem a contribuir

fundamentalmente para a utilização racional das plantas, com base na utilização

tradicional cabendo aos profissionais de saúde, estarem atentos quanto à

orientação e utilização de plantas medicinais. Os resultados obtidos no presente

estudo contribuem de forma significativa para complementação de banco de

dados, sugerindo a ausência ou baixa toxicidade dos extratos etanólicos brutos

das cascas do caule e folhas de P. emarginatus. Entretanto estudos toxicológicos

subcrônicos e crônicos em animais são necessários nesta triagem.

111

REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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114

_________________________________________________________________

CAPÍTULO 5

ANÁLISE E ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DO

ÓLEO ESSENCIAL E OCORRÊNCIA DE ESTERÓIDES NAS FOLHAS DE Pterodon emarginatus

Vogel (Leguminosae = Fabaceae)

_________________________________________________________________

115

1 INTRODUÇÃO

O termo óleo essencial tem sido empregado para designar líquidos oleosos

voláteis fortemente aromáticos, extraídos de plantas. Seus principais constituintes

são os monoterpenos (C10), sesquiterpenos (C15), alguns diterpenos (C20), além

de outros compostos alifáticos com baixo peso molecular. A geração destes se dá

por diversas vias metabólicas, cuja distribuição é restrita a algumas famílias,

gêneros ou mesmo espécies. Dependendo da família, eles podem ocorrer em

estruturas secretoras especializadas, como pêlos glandulares (Lamiaceae),

células parenquimáticas diferenciadas (Lauraceae, Piperaceae, Poaceae), e

bolsas lisígenas ou esquizolisígenas (Pinaceae, Rutaceae). O estoque destes

óleos ocorre em diversos órgãos, tais como flores, folhas, frutos, cascas do caule

entre outros (DORMAN e DEANS, 2000; ARAÚJO et al., 2001; SIMÕES e

SPITZER, 2004).

A utilização de óleos essencias pela indústria farmacêutica reside no fato

de que grande parte de seus constituintes já possuem descrição de diversas

atividades farmacológicas. Tais como ação carminativa, antiespamódica,

secretolítica, estimulante, antiinflamatória e antimicrobiana. Vale ressaltar que

estas atividades são atribuídas ao óleo isolado e não necessariamente à

farmacógenos ricos em óleos essencias, pois a presença de outros constituites

somam para a predominância de determinada atividade farmacológica (COSTA,

1994; SIMÕES, e SPITZER, 2004; DE PAULA, 2006).

Óleos essenciais de plantas apresentam uma atividade antimicrobiana

contra um grande número de bactérias incluindo espécies resistentes a

antibióticos e antifúngicos (CARSON et al., 1995; CARSON e RILEY, 1995). Estes

compostos podem atuar contra bactérias Gram-positivas, Gram-negativas e ainda

contra leveduras e diversas cepas de fungos filamentosos. Embora as indústrias

farmacêuticas empreguem cada vez mais esforços para a obtenção de novos

antibióticos nas três últimas décadas, a resistência destes microorganismos para

estes fármacos tem aumentado (NASCIMENTO et al., 2000).

A atividade microbiana e antifúngica dos óleos essenciais depende do tipo,

composição e concentração, do tipo do microrganismo testado, a composição do

substrato, processamento e condições de estocagem (MARINO et al., 2001). O

116

problema da resistência microbiana tem aumento e a perspectiva para o

desenvolvimento de fármacos antimicrobianos no futuro é ainda imprecisa. Sendo

assim, ações devem ser tomadas com o intuito de reduzir este problema, como

uso racional dos antibióticos, desenvolvimento de pesquisas para medicamento

sintéticos ou naturais que possam atuar contra estes microorganismos

patogênicos (NASCIMENTO et al., 2000; BERTINI et al., 2005).

A busca de novos compostos antifúngicos a partir de plantas da flora

latinoamericana, baseada principalmente no seu uso etnofarmacológico, tem sido

tema do projeto de pesquisa X.7 do CYTED (Ciencia y Tecnologia para el

Desarrollo) “Proyecto Iberoamericano de Búsqueda y Desarrollo de Antifúngicos

Naturales y Análogos” (FENNER et al., 2006).

Em 1981 Gottlieb et al., descreveram triagem realizada da flora odorífera

da Amazônia com o objetivo de encontrar novas fontes de óleos essenciais

comercializáveis, apresentando monografias referentes a 25 espécies

pertencentes a 11 famílias. Dentre as famílias analisadas no estudo, consta duas

espécies da sub-família Papilionoidae pertencente a família Leguminosae. Para

os representantes da família Leguminosae os gêneros mais estudados quanto à

composição do seu óleo essencial são Bauhinia e Copaifera (sub-família

Caesalpinoideae).

O estudo referente a óleos essenciais no gênero Pterodon restringe-se

apenas ao óleo obtido das sementes de seus frutos, não havendo pesquisas

relacionadas à sua extração a partir de folhas. Como esta família não compõe as

classicamente estudas no que tange a óleos essenciais como, por exemplo, a

família Myrtaceae, e baseado no contexto anteriormente descrito, desenvolveu-se

esta pesquisa com o objetivo de analisar o teor e composição química, bem como

atividade antimicrobiana do óleo essencial da folhas de P. emarginatus.

117

2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Reagentes e Equipamentos

Os reagentes utilizados para os ensaios descritos no seguinte capítulo

foram: hexano, diclorometano, acetato de etila, ácido clorídrico (HCl), clorofórmio

metanol e etanol foram de procedência QUIMEX e/ou MERCK, especificação pró-

análise. A água utilizada foi obtida pelo processo de destilação. Meio RPMI

(Invitrogen). Para a detecção nas cromatografias, foi utilizado solução de reagente

cromogênico vanilina ácida. Os equipamentos utilizados para pesagem e

obtenção do extrato encontram-se sumarizados no item 2.1 do capítulo 3.

2.1.1 Material botânico e extração do óleo essencia l Para a análise do óleo essencial de P. emarginatus foram coletadas folhas

no município de Bela Vista-GO (847 m de Altitude, 17002’1,1” S / 48049’0,3” W). A

espécie foi identificada pelo Prof. Dr. José Realino de Paula e a exsicata

encontra-se depositada no Herbário da Universidade Federal de Goiás sob o

número UFG – 27.155. Para maior uniformidade as folhas foram coletadas do

mesmo indivíduo, por volta das 10 horas da manhã.

Após a coleta as folhas foram dessecadas em estufa com circulação

forçada de ar 400C (FABBE-PRIMA), durante 48 horas e posteriormente

submetidas à moagem em moinho de facas do tipo WILLYE (TENCNAL – Modelo:

TE 650), até forma de pó, que foi devidamente identificado e armazenado até a

extração do óleo essencial.

Para extração do óleo essencial 120 g do material botânico foi submetido à

hidrodestilação em aparelho do tipo Clevenger por 2 horas. O volume de óleo

essencial foi medido no tubo graduado do próprio aparelho e o rendimento e

porcentagem, foram calculados em relação à quantidade inicial de pó empregado

na extração. O óleo essencial obtido foi acondicionado em recipiente livre de

impureza e hermeticamente fechado e estocado a baixa temperatura até a

utilização.

118

2.2 Análise da composição química do óleo essencial O óleo essencial foi submetido à análise cromatográfica, em fase gasosa,

acoplada à espectrometria de massas (CG/EM) em aparelho SHIMADZU

QP5050A. Utilizou-se uma coluna capilar de sílica fundida (CBP – 5; 30 m x 0,25

mm x 0,25 µm), manteve-se um fluxo 1 mL/min de Hélio, com o gás de arraste,

aquecimento com temperatura programada (60 0C /2min; 3 0C min-1/240 0C; 100C

min-1/280 0C; 2080C/10min) e energia de ionização de 70 eV. O volume de injeção

de 1 µL da amostra diluída em CH2Cl2 na proporção de 1:5. Os componente

químicos do óleo essencial foram identificados por comparação dos espectros de

massa e índices de retenção com os descritos na literatura para os componentes

mais comuns de óleos essenciais (ADAMS, 2007). Os índices de retenção foram

calculados através da coinjeção de uma mistura de hidrocarbonetos C9 – C22, e

utilização da equação de Van Den Dool e Kratz (1963).

Equação de Van Den Dool e Kratz

Onde:

N = Cn – Cn-1

Cn = número de carbonos do n-alcano que elui após a substância analisada

Cn-1 = número de carbonos do n-alcano que antes da substância analisada

tx = Tempo de retenção da substância analisada

tn = tempo de retenção do n-alcano que elui após a substância analisada

tn-1 = tempo de retenção do n-alcano que elui antes da substancia analisada.

IR = 100 . N [(tx – tn-1)/(tn –tn-1)] + 100. Cn-1

119

2.3 Avaliação da atividade antifúngica do óleo esse ncial das folhas de P. emarginatus

Para a avaliação da atividade antifúngica in vitro do óleo essencial das

folhas de P. emargintaus Vog. foi utilizado o método de microdiluição em caldo

(NCCLS / M27-A2, 2002) nas concentrações de 1 a 512 µg/mL sobre 5 isolados

de Candida pertencentes ao Laboratório de Micologia Médica do Instituto de

Patologia Tropical e Saúde Pública – UFG. O óleo foi diluído em 1mL de

dimetilsulfóxido (DMSO) até se obter uma concentração de 1024 µg/mL.

O meio RPMI foi tamponado a pH 7,0 ± 0,1 em temperatura ambiente de

25 0C, levando em conta que a solução tampão não antagonize os agentes

antifúngicos. Para tal foi usado uma solução-tampão considerada satisfatória nos

testes de sensibilidade a antifúngicos, o HCl (0,1M). Em seguida foi procediada

filtragem da solução de RPMI através de membrana-filtro (Milli-Pore: Membrana

GS em éster de celulose 0,22 UM de poro, 47mm de diâmetro). Para o preparo do

inóculo, cultivou-se a colônia de Candida em Ágar Sabouraud a temperatura

ambiente por 48 horas. Em seguida, fez-se a suspensão em salina 0,85% estéril,

sendo esta ajustada à escala 0,5 Mc Farland, obtendo-se um UFC de 1.106. Em

seguida preparou-se uma diluição 1:50, com 10 µL do inóculo em salina em 0,5

mL de RPMI. A partir da diluição 1:50, realizou-se uma diluição 1:20 com 79 µL da

diluição 1:50 em 1,5mL de RPMI. Estas diluições sucessivas são realizadas para

obtenção de uma concentração de 5,0x102 a 2,5x103 células por mL2.

Para o preparo da microplaca, colocou-se 100 µL de RPMI em cada well

(poço) a partir da segunda fileira vertical. Na primeira fileira vertical, pipetou-se

200 µL do óleo e a partir daí, fez-se a diluição sucessiva. Finalmente, em cada

fileira horizontal, pipetou-se 100 µL do inóculo. A placa foi incubada a 350C

durante 48h-72h. A cepa padrão utilizada foi a (ATCC), Candida parapsilosis

22019. Transcorrido o tempo necessário para o crescimento do inóculo,

procedeu-se a leitura das placas.

120

2.4 Determinação da concentração inibitória mínima do óleo essencial das folhas de P. emarginatus Vog. frente a bactérias (atividade antibacteriana)

A determinação da concentração inibitória mínima (CIM) foi realizada pelo

método da diluição em ágar conforme recomendação do NCCLS (2003).

Primeiramente, realizaram-se diluições seriadas em duplicata com o óleo da

seguinte forma: pesou-se, em tubo de ensaio estéril, 1 g do óleo essencial e

completou-se o volume para 2 mL com etanol 95% (V/V), P. A. (tubo 1).

Adicionou-se 1 mL de água destilada estéril a uma seqüência de mais 8 tubos de

ensaio esterilizados (tubos 2 a 9). Retirou-se uma alíquota de 1 mL do tubo 1 e

adicionou-se ao tubo 2, retirou-se uma alíquota de 1 mL do tubo 2 e adicionou-se

ao tubo 3 e, assim, sucessivamente, até o tubo 9 desprezando-se ao final uma

alíquota de 1 mL.

Em seguida, cada um destes tubos adicionou-se 19 mL de ágar Müller

Hinton liquefeito (aproximadamente 50ºC), homogeneizou-se e verteu-se

rapidamente em placas de Petri estéreis. Desta forma obteve-se placas contendo

o óleo essencial em análise em concentrações que variaram de 50 mg/mL até

0,78 mg/mL. Prepararam-se também placas controle contendo o solvente utilizado

na extração e contendo apenas ágar Müller Hinton.

Foram utilizados, para este ensaio, os microganismos descritos na Quadro 1 mantidos na bacterioteca do Laboratório de Bacteriologia do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás. Quadro 1 – Descrição dos microrganismos utilizados na determinação da concentração inibitória mínima. Microrgan ismos Usados na Avaliação da Atividade Antimicrobia na Bactéria Gram -Positivas Staphylococcus aureus 2592 Staphylococcus epidermidis 12228 Micrococcus roseus 1740 Micrococcus luteus ATCC 9341 Bactérias Gram -Positivas Esporuladas Bacillus atropheus 6633 Bacillus cereus 14756 Bacillus stearothermophylus 1262 Bactérias Gram -Negativas Enterobacter cloaceae HMA/FT502 Enterobacter aerogenes ATCC 13048 Escherichia coli ATCC 8739 Escherichia coli ATCC 11225 Pseudomonas aeruginosa ATCC 9027 Serratia marcescens ATCC 14756

121

Estes microrganismos foram repicados para caldo tioglicolato e incubados

a 37°C por 24 – 48 horas para reativação. Em seguid a, foram repicados em

placas ASI e incubados novamente a 37° C por 24 hor as. Após o

desenvolvimento microbiano, inóculos de cada microrganismo foram suspensos

em 2 mL de solução salina esterilizada 0,85% (p/V) até obtenção de uma turvação

correspondente a metade do tubo n° 1 da escala Mac Farland. Transferiu-se 100

µL de cada uma dessas suspensões para o inoculador de Steers (STEERS;

FOLTZ; GRAAVES, 1959) e aplicou-se na superfície das placas de Petri contendo

as diluições dos extratos das plantas em ágar Müller Hinton e os controles. As

placas foram incubadas a 37° C por 24 horas. Foi co nsiderada CIM a menor

concentração capaz de inibir o desenvolvimento microbiano.

2.5 Investigação química do extrato etanólico bruto s das folhas de P. emarginatus Vog.

Para a realização do estudo químico do extrato etanólico bruto das folhas

de P. emarginatus foi realizado fracionamento do extrato a partir de coluna

filtrante. As frações foram obtidas por coluna filtrante, sendo cromatografado 10 g

do extrato etanólico bruto das folhas de P. emarginatus Vog. Como fase

estácionária foi utilizada sílica (40 g) (MN Kieselgel 60, 0,063-0,2mm/70-230 mesh

ASTM für die Säulen-Chromatographie (Macherey-Nagel). Para realização da

coluna filtrante foram então eluídos 100 mL de cada sistema: Hexano,

Hexano/diclorometano 1:1, Diclorometano, Diclorometano/Acetato de Etila 1:1,

Acetato de Etila, Acetato de Etila/Metanol 1:1 e Metanol, respectivamente. Para

cada sistema eluente foram coletadas 10 frações cada uma de 10 mL, conforme

Figura 1.

A partir de análise em cromatografia de camada delgada (25DC-Alufolien

20x20cm / Kieselgel 60 F254, Merck) e revelação no ultravioleta nos comprimentos

de onda 254 e 365 nm e reação com vanilina ácida1 seguida de aquecimento

1000C, em chapa aquecedora, as frações que apresentaram o mesmo perfil

cromatográfico foram reunidas em subfrações para posterior análise.

_____________________________ 1Solução cromogênica de vanilina ácida: 45 mL etanol, 1g vanilina, 45 mL água, 10mL H2SO4.

122

Figura 1 - Seqüência de fracionamento do extrato etanólico bruto das folhas de Pterodon emarginatus Vog. por meio de coluna filtrante.

2.5.1 Isolamento e caracterização de constituintes químicos das subfrações

A partir das cromatografias nos sistemas eluentes descritos as frações que

apresentaram o mesmo perfil cromatográfico foram reunidas, sendo que a fração

que se mostrou mais interessante e próxima ao isolamento foi a do sistema:

fração hexano/diclorometano (FHD).

As frações FHD6 a FHD8 (200 mg) apresentaram interessante perfil frente à

reação com vanilina ácida, com fatores de retenção (Rf) bem definidos. Tais

frações foram reunidas e nomeadas de C1. A nova fração foi cromatografada em

coluna com 20 g de Florisil® (0,150-0,250 mm, MERCK), no intuito de separar

Extrato Etanólico da Folha

Fração Hexânica

Fração Hexano/Diclorometano(1:1)

Fração Diclorometano

Fração Diclorometano/Acetato de Etila (1:1)

Fração Acetato de Etila

Fração Acetato de Etila/Metanol(1:1)

Fração Metanol

Coluna MN Kieselgel 60

H1, H2, H3, H4, H5, H6, H7, H8, H9, H10

HD1, HD2, HD3, HD4, HD5, HD6, HD7, HD8, HD9, HD10

D1, D2, D3, D4, D5, D6, D7, D8, D9, D10

DA1, DA2, DA3, DA4, DA5, DA6, DA7, DA8, DA9, DA10

A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7, A8, A9, A10

AM1, AM2, AM3, AM4, AM5, AM6, AM7, AM8, MA9, MA10

M1, M2, M3, M4, M5, M6, M7, M8, M9, M10

123

Coluna Filtarante MN Kieselgel 60 (40 g)

Florisil® (20 g) / Hexano:Acetato de Etila (90:10)

Coluna MN Kieselgel 60 (15 g) / Hexano:Acetato de Etila (95:05)

pigmentos como a clorofila dos demais componentes. Nesta análise foi usado

como eluente hexano:acetato de etila (90:10) em sistema isocrático, coletando-se

10 mL para cada subfração. O novo fracionamento foi acompanhado por CCD e

revelação com vanilina ácida para reunião das amostras com perfil cromatográfico

semelhante, permitindo a reunião das seguintes frações: C1.10 a C1.13 (68,1 mg).

Esta nova amostra obtida da reunião das frações mencionadas foi codificada de

C2 e submetida a uma terceira coluna cromatógrafica com sílica MN Kieselgel 60

(15 g), usado como eluente hexano:acetato de etila (95:05) em sistema isocrático.

Desta coluna foram coletadas 50 subfrações. Da fração C2.10 a C2.30 foram

observados cristais de coloração branca. Após CCD no sistema eluente

Hexano:Acetato de Etila 15% com revelação em vanilina ácida foi possível

detectar a presença de um composto, designado de S1 (C2.27 a C2.30), com

massa de 8,8 mg. A amostra foi enviada à Universidade de Brasília (UNB) para

realização de Ressonância Magnética Nuclear de próton e carbono, para

elucidação da molécula isolada. A Figura 2 ilustra de forma esquemática o

isolamento.

Figura 2 – Resumo esquemático do isolamento de S1

Extrato Etanólico da Folha (10 g)

Fração Hexano/Diclorometano – (1:1) /(FHD)

FHD6 à FHD8 (200 mg) = C1

C1.10 à C1.13 = C2 (68,1 mg)

C2.27 à C2.30 = S1 (8,8 mg)

C1.1 – C1.50

C2.1 – C2..50

124

Uma vez purificada por cromatografia em coluna e cromatografia em

camada delgada a substância isolada S1, foi caracterizada por ressonância

magnética nuclear de hidrogênio (RMN 1H) e de carbono (RMN 13C). Para a

análise dos espectros de RMN de 1H e 13C de S1 foi utilizado o programa

“ACDLabes/Spec Manager 4.0”, e para desenho das estruturas o programa

“ChemWindow”. As análises de RMN foram realizadas à temperatura ambiente

em um espectrômetro Mercury plus da VARIAN (7,05 T), utilizando uma sonda de

5 mm e pulsos de 45º para o hidrogênio e carbono. Os deslocamentos químicos

no RMN de 1H (300 MHz) foram referenciados aos padrões internos TMS

(tetrametilsilano; 0,0 ppm) para o solvente clorofórmio (CDCl3). Nos espectros de

RMN de 13C (75,46 MHz), foram referenciados ao CDCl3 (77,0 ppm).

125

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Rendimento do óleo essencial O rendimento do óleo essencial em porcentagem (p/V), calculado a partir

da amostra analisada foi de 2%.

3.2 Análise da composição química do óleo essencial

Os resultados da análise por CG/EM do óleo essencial extraído das folhas

de P. emarginatus com os respectivos teores de cada componente expressos em

porcentagem encontram-se descritos na Tabela 1.

Tabela 1 – Componentes do óleo essencial das folhas de P. emarginatus

IR Componentes Teor (%)

1376 α - copaeno 1,07

1390 β - elemeno 7,10

1419 E - cariofileno 6,73

1454 α - humuleno 2,48

1460 Allo-aromadendreno 0,93

1479 γ - muuroleno 48,79

1500 biciclogermacreno 22,66

1497 Acifileno 7,41

1523 δ - cadineno 0,70

IR – Índice de retenção

O rendimento encontrando para o óleo essencial de P. emarginatus que foi

de 2% representa valor considerável quando comparado a amostras de plantas

cuja extração de óleo essencial é tradicional, como por exemplo, o óleo extraído

de espécies como Pseudocaryophyllus (Gomes) L. R. Landrum Myrtaceae (0,8%),

Bauhinia forficata (0,02%), Dipteryx lacunifera Ducke (0,62%) estas duas últimas

pertencentes à família Leguminosae (CORREA e SARTORELLI, 1995; DE

PAULA, 2006, JÚNIOR et al., 2007). O considerável rendimento do óleo obtido

das folhas de P. Emarginatus pode ser justificado pela alta incidência de

cavidades secretoras observadas no estudo morfo-anatômico de suas folhas.

126

A utilização da Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de

Massas (CG/EM), permitiu detectar 9 compostos, sendo todos identificados.

Destes 100% são hidrocarbonetos sesquiterpênicos. Compostos sesquiterpênicos

são amplamente encontrados em plantas, fungos e algas. Mais de 100

sesquiterpenos são conhecidos, e sua estrutura compreende 15 átomos de

carbono, relacionando-se com o constituinte trans-cis-farnesol ou o trans-trans-

farnesol (COSTA, 1994). A maioria dos sesquiterpenos apresenta propriedades

biológicas como inseticida e antibiótica (DEY, 1997). Os componentes majoritários

foram γ – muuroleno e o biciclogermacreno, Tabela 1 e Figura 3. Essas

substâncias apresentam esqueletos carbônicos com ampla atividade

antibacteriana, anti-fúngica, antioxidante, inseticida e inibidores enzimáticos

(ABRAHAM, 2001; YANG et al., 2003; KIM et al., 2003). Óleos essências ricos

nos compostos identificados têm demonstrado atividade larvicida frente ao Aedes

aegypti (SANTOS et al., 2006). O composto bibiclogermacreno, por exemplo, tem

apresentado atividade fungitóxica (SILVA et al., 2007), o β-elemeno apresenta

atividade antitumoral in vitro e in vivo em humanos (YANG, et al., 1996), atividade

antitumoral por mecanismo imunoprotetor (WU et al., 1999), exerce efeito

citotóxico em células leucêmicas (K562) por indução de apoptose (YANG, et al.,

1996; ZOU, et al., 2001), além de exibir importante efeito antiproliferativo em

células de glioma (ZHOU, et al., 2003). Plantas que apresentam altas

concentrações de γ – muuroleno têm apresentado atividade antimicrobiana

(PORTER e WIEKINS, 1998).

Figura 3 - Cromatograma do óleo essencial de folhas de Pterodon emarginatus, onde os picos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 são: α-copaeno (1,07%); β-elemeno (7,10%); E – cariofileno (6,73%); α – humuleno (2,48%); Allo-aromadendreno (0,93%); γ - muuroleno (48,79%); biciclogermacreno (22,66%); Acifileno (7,41) e δ – cadineno (0,70%) respectivamente. IR = 100 . N [(tx – tn-1)/(tn –tn-1)] + 100. Cn-1. CBP – 5; 30 m x 0,25 mm x 0,25 µm), fluxo 1 mL/min de Hélio, com o gás de arraste, (60 0C /2min; 3 0C min-1/240 0C; 100C min-1/280 0C; 2080C/10min), 70 eV.

127

Os compostos E – cariofileno e α – humuleno têm demonstrado atividade

antiinflamatória e citoprotetora (TAMBE, et al., 1996). Óleos essências que

possuem o cariofileno, como composto majoritário, exibiram moderada atividade

contra bactérias gram-positivas e uma grande atividade contra Helicobater pylori

(TZAKAU e SKALTSA, 2003); demonstraram, ainda, moderada atividade

antifúngica contra dermatófitos (FLANCH et al., 2002).

Conforme relatado por Simões e Spitzer (2004), a composição química dos

óleos essenciais pode sofrer variações por diversos fatores como influência

genética decorrente de aspectos ambientais. Óleos obtidos de diferentes órgãos

de uma mesma planta podem acumular diferente constituintes, por exemplo, o

óleo das cascas da canela é rico em aldeído cinânico, enquanto que os das folhas

e raízes desse mesmo vegetal são ricos em eugenol e cânfora, respectivamente.

Em estudo realizado por Polo et al., (2004), análise qualitativa e quantitativa do

óleo essencial bruto dos frutos de P. emarginatus revelaram a presença dos

seguintes constituintes: α-pineno, mirceno, metil eugenol, etil eugenol, eugenol

geraniol, cariofileno. Os compostos observados para a folha diferem

significativamente, sendo apenas o cariofileno comum aos dois órgãos

vegetativos. Fato interessante vale ser ressaltado quanto à composição química

entre o óleo essencial dos frutos de P. polygalaeflorus obtido por Campos et al.,

(1990), (ilangeno, α – capaeno, β-cariofileno, α-humuleno, γ-elemeno e δ-cadineno

e o óleo das folhas de P. emarginatus. A composição química se assemelha muito

aos compostos observados na presente pesquisa (Tabela 1).

A abundância destes compostos provém da rota metabólica dos

isoprenóides, que culmina na formação do sesquiterpeno cujo precursor é o

farnesildifostato. Esse precursor, com a ação de monoxigenases (enzimas

ativadas pelo oxigênio) formam trans-cariofileno, germacreno-δ, α-humuleno,

entre outros (BUCCHANAM et al., 2002), os quais segundo a literatura

apresentam atividades antibacterianas, fungicidas e inseticidas. A Figura 4

apresenta a estrutura química dos quatro compostos majoritários observados para

o óleo essencial das folhas de P. emarginatus.

128

E

E

H

H

H

Figura 4 – Estrutura química dos compostos majoritários do óleo essencial das folhas de P. emarginatus, onde: I, II, III, IV, são γ-muuroleno (48,79%), biciclogermacreno (22,66%), acifileno (7,41%) e β-elemeno (7,10%), respectivamente (ADAMS, 2007).

3.3 Avaliação da atividade antifúngica do óleo esse ncial das folhas de P. emarginatus

No teste de suscetibilidade em microdiluição em caldo para determinar a

atividade antifúngica (isolados de Candida) o resultado foi negativo, ou seja, não

satisfatório, visto que o óleo não inibiu nenhum inóculo em nenhuma

concentração. Entretanto, óleos com capacidade antifúngica sobre Candida são

ricos em mirceno γ-terpineno, cimeno, timol e β-cariofileno. A atividade biológica

dos óleos essenciais tem se mostrado dependente da composição de seus

constituintes químicos como citral, pineno, cineol, cariofileno, elemeno,

furanodieno, limoneno, eugenol, eucaliptol, carvacrol e outros. Estes constituintes

são responsáveis pelas propriedades antissépticas, antibacteiranas, antifúngicas

e antiparasíticas (CRAVEIRO et al., 1981; SOUZA et al., 2005), e estes

( I ) ( II )

( III ) ( IV )

129

compostos não foram detectados ou estão presentes em quantidades ínfimas na

amostra estudada, Tabela 1. Em pesquisa realizada por Silva et al., (2005) o

extrato dos frutos inibiu o desenvolvimento micelial de Alternaria brassicae,

Fusarium oxysporum, Rhizoctonia solani e Ceratoxystis fimbriata (fungos

fitopatogênicos), mostrando-se como alternativa econômica e ecológica.

3.4 Determinação da concentração inibitória mínima do óleo essencial das folhas de P. emarginatus Vog. frente a bactérias

Os valores da concentração inibitória mínima (CIM) encontram-se

expressos na Tabela 2.

Tabela 2 – Concentração inibitória mínima (mg/mL) do óleo essencial das folhas de P. emarginatus.

NI= não houve inibição do crescimento microbiano nas concentrações utilizadas neste ensaio.

Na concentração de 0,78 mg/mL o óleo essencial das folhas de P.

emarginatus inibiu apenas Micrococcus luteus ATCC 9341. Na concentração de

6,25 mg/mL foi capaz de inibir todas as bactérias Gram-Positivas testadas com

exceção de S. aureus 2592 (CIM = 50 mg/mL) e S. epidermidis 12228 (CIM =

12,5 mg/mL), o que perfaz 70% destes microrganismos Gram-positivos avaliados.

Em relação às bactérias Gram-negativas nenhuma das concentrações do óleo

testadas neste ensaio foram capazes de inibir tais microrganismos. A ausência de

atividade inibitória do óleo essencial das folhas de P. emarginatus, sobre

Microrganismos CIM Bactéria Gram -Positivas

Staphylococcus aureus 2592 Staphylococcus epidermidis 12228 Micrococcus roseus 1740 Micrococcus luteus ATCC 9341

50 12,5 6,25 0,78

Bacillus atropheus 6633 Bacillus cereus 14756 Bacillus stearothermophylus 1262

6,25 6,25 6,25

Bactérias Gram -Negativas Enterobacter cloaceae HMA/FT502 Enterobacter aerogenes ATCC 13048 Escherichia coli ATCC 8739 Escherichia coli ATCC 11225 Pseudomonas aeruginosa ATCC 9027 Serratia marcescens ATCC 14756

NI NI NI NI NI NI

130

bactérias Gram-negativas, pode estar relacionada com as diferenças estruturais

que estas bactérias apresentam em relação às Gram-positivas como presença de

uma membrana externa sobre o peptideoglicano, presença de cápsula, porinas

(KONEMAN et al., 2001). Estas diferenças podem dificultar a ação dos

componentes bioativos do óleo usado na análise. Outra suposição para esta

resistência pode estar relacionada a baixas concentrações das substâncias

potencialmente ativas contra as bactérias Gram-negativas, ou mesmo que estas

não exerçam nenhuma atividade sobre estes microrganismos.

O óleo essencial analisado como já descrito anteriormente é rico em

compostos hidrocarbonetos sesquiterpênicos. Provavelmente estes compostos

estejam envolvidos na inibição dos microrganismos Gram-positivos, com atividade

antibacteriana já comprovada (ABRAHAM, 2001). Deve-se levar em conta ainda

que a moderada atividade antimicrobiana da amostra analisada possa estar

relacionada pelo grau de dificuldade observado na difusibilidade do óleo no meio

de cultura, observado pela sua baixa solubilidade em água. Portanto, a

solubilidade do óleo pode ter sido fator limitante para uma boa atividade

antibacteriana. Os principais grupos de compostos com propriedades

antimicrobianas, extraídos de plantas incluem entre outros terpenóides e óleos

essenciais (TORSSEL, 1989). Rodrigues (1996), cita diversas árvores nativas

conhecidas pela etnobotânica por terem propriedades antimicrobianas e que ao

mesmo tempo, podem preencher critérios de preservação ambiental e manejo

auto-sustentável tais como Anacardium occidentale (cajueiro), Pterodon

emarginatus (sucupira), Copaifera langsdorffii (copaíba). Em estudo realizado por

Silva et al., (2005), o óleo bruto extraído das favas moídas de P. emarginatus

inibiu o desenvolvimento micelial de Alternaria brassicae, Fusarium oxysporum,

Rhizoctonia solani e Ceratocystis fimbriata, bem como de colônias bacterianas de

Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis, Xanthomonas campestris e

Pseudomonas syringae. Pelos resultados observados o óleo essencial das folhas

e óleo bruto dos frutos de P. emarginatus constituem fonte interessante de

compostos que podem ser extraídos para serem empregados no tratamento de

doenças bacterianas e fúngicas.

131

OH

H

H H

1

3 5

28

26

27

24

2120

1911

9

7

15

17

18

13

OH

H

H H

1

3 5

28

26

27

24

2120

1911

9

7

15

17

18

13

22

23

22

23

3.5 Resultado da investigação química do extrato etanólico brutos da s folhas de P. emarginatus Vog.

Pela análise das camadas delgadas realizadas, notou-se que as frações

C2.27 à C2.30 estavam puras e tratavam-se do mesmo composto, sendo reunidas, e

codificadas de S1 com rendimento de 8,8 mg. A substância S1 foi analisada por

RMN de 1H e 13C, e sua elucidação estrutural é apresentada. A partir da análise

dos espectros de RMN de 1H e 13C foi possível constatar que S1 trata-se de uma

mistura de fitoesteróides β-sitosterol e estigmasterol de ampla ocorrência nos

vegetais, Figura 5. Nas Figuras 6 e 7 são apresentados os espectros de RMN de

1H e 13C, obtidos para S1.

I - β-Sitosterol II - Estigmasterol

Figura 5 – Estrutura Química do β-Sitosterol e Estigmasterol

132

9.5 9.0 8.5 8.0 7.5 7.0 6.5 6.0 5.5 5.0 4.5 4.0 3.5 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 -0.5

0.950.030.02 0.020.02 0.01 0.000.000.000.000.00

TMS

CDCl3

0.00

0.68

0.70

0.80

0.86

1.01

1.03

1.13

1.25

1.43

1.48

1.83

1.962.00

2.02

2.29

2.31

3.493.51

3.52

3.54

3.56

4.97

5.005.

025.

055.11

5.14

5.195.

36

7.26

OH

H

H H

1

3 5

28

26

27

24

2120

1911

9

7

15

17

18

13

OH

H

H H

1

3 5

28

26

27

24

2120

1911

9

7

15

17

18

13

22

23

22

23

Figura 6 – Espectro de RMN 1H (300 MHz, CDCl3) de S1

Estigmasterol

β-Sitosterol

Hidrogênio Carbonílico (H-3) (H-23) (H-6)

133

230 220 210 200 190 180 170 160 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 -10 -20

CDCl3

12.0

912.2

812

.49

19.2

019.6

421

.34

23.2

825

.64

28.4

829

.16

29.9

432

.12

36.7

437

.47

40.7

442

.52

50.3

651

.46

56.1

557

.0872

.04

76.8

277

.25

77.6

7

104.

99

121.

95

129.

47

138.

5514

0.96

OH

H

H H

1

3 5

28

26

27

24

2120

1911

9

7

15

17

18

13

OH

H

H H

1

3 5

28

26

27

24

2120

1911

9

7

15

17

18

13

22

23

22

23

Figura 7 – Espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3) de S1

Estigmasterol

β-Sitosterol

Carbono carbinólico

(C-3)

134

Nas Tabelas 3 e 4 são apresentados os dados de RMN 13C (75 MHz) e

RMN 1H (300MHz) respectivamente.

Tabela 3 - Dados do espectro de RMN 13C (75MHz, CDCl3) para S1 (Mistura de esteróides), estigmasterol e β-sitosterol.

Carbono S1 (mistura) (δ) Estigamsterol (δ)* β-sit osterol (δ)*

1 37,1 37,2 37,2

2 31,8 31,8 31,8

3 72,0 71,5 71,5

4 42,4 42,2 42,2

5 140,9 140,7 140,7

6 121,9 121,6 121,6

7 32,1 33,6 33,6

8 34,1 33,6 33,6

9 50,3 50,1 50,1

10 36,7 36,4 36,4

11 21,2 21,1 21,1

12 39,8 39,7 39,7

13 42,5 42,2 42,2

14 56,2 56,7 56,7

15 24,5 24,2 24,2

16 28,4 28,3 28,3

17 56,1 56,0 56,0

18 12,0 12,1 12,1

19 19,1 19,2 19,2

20 39,9 40,3 40,3

21 20,6 20,5 18,7

22 138,5/33,7 137,9 33,9

23 129,4/26,2 129,8 26,0

24 51,1/46,3 51,2 45,8

25 32,2/29,3 31,9 29,1

26 19,6 21,2 19,8

27 19,6 19,8 19,0

28 25,6/23,2 25,4 23,0

29 12,09 11,9 11,8

* KOJIMA et al., 1990.

135

3.70 3.65 3.60 3.55 3.50 3.45 3.40 3.35 3.30 3.25 3.20

Tabela 4 - Dados do espectro de RMN 1H (300MHz, CDCl3) para S1 (Mistura de esteróides), estigmasterol e β-sitosterol.

Sinal (δ) Multiplicidade

0,70 s, CH3 – C -18

0,78 s, CH3 – C -18

0,82 – 0,85 CH3 – C -19

3,53 m, HO - 3

4,9 dd, J = 8,4 e 15Hz

5,2 dd, J = 8,4 e 15 Hz

5,36 d, J= 4,73Hz

s – singleto, m – multipleto, dd – duplo dubleto, J – constante de acoplamento

O espectro de RMN 1H apresentou acúmulo de sinais relativos a

hidrogênios metílicos, metilênicos e metínicos, na região de 0,70 -2,27 δ, o que

indicou a presença de esteróides. O dubleto largo em 5,36 δ, (H-6; J = 5,0 Hz) e o

multipleto (Figura 8) centrado em 3,53 δ, (H-3) caracteriza o β-sitosterol na

mistura. Já a presença do estigmasterol foi deduzida pelos duplo dubletos, em δH

4,9 e 5,2 ambos com constantes de acoplamento (JHH) de 15 e 8,4 Hz, relativos

aos hidrogênios vinílicos da cadeia lateral, conforme pode ser visto na análise do

diagrama de linhas Figura 9, estes dois sinais têm deslocamento de acoplamento

similar aos reportados para o estigmasterol (KOJIMA, et al., 1990).

Figura 8 - Espectro de RMN 1H (300 MHz) expandido, multipleto centrado em 3,53 δ, (H-3).

H-3

136

145 140 135 130 125 120

C5

Figura 9 – Espectro de RMN 1H (300 MHz) expandido, com diagrama de linhas - duplo dubletos (J =15, e 8,4 Hz) em δH 4,9 e 5,2 ppm.

O espectro de 13C-RMN apresentou sinais em 140,9 e 121,9 δ

característico da ligação dupla (sp2) entre C - 5 e C - 6 e o sinal em 72,0 δ

atribuído ao C – 3 (carbono carbinólico) do β-sitosterol. Os sinais 138,5 e 129,4 δ

característicos da ligação dupla entre C - 22 e C - 23 do estigmasterol foram

observados, Figura 10.

Figura 10 – Espectro de RMN 13C (75 MHz) expandido, evidenciando os sinais (138,5 e 129,4 δ/ C-22 e C-23) e (140,9 e 121,9 δ / C-5 e C-6).

5.25 5.20 5.15 5.10 5.05 5.00 4.95 4.90 4.85 4.80 4.75 4.70

JHH=15 Hz

JHH=8,4 Hz

C6 C23

C22

137

A elucidação dos componentes ativos presentes nas plantas, bem como

seus mecanismos de ação, vem sendo um dos maiores desafios para a química

farmacêutica, bioquímica e a farmacologia. As plantas contêm inúmeros

constituintes e seus extratos, quando testados podem apresentar efeitos

sinérgicos entre os diferentes princípios ativos devido à presença de compostos

de classes ou estruturas diferentes contribuindo para a mesma atividade (MACIEL

et al.,2002).

O estigmasterol e β-sitosterol pertencem ao grupo dos fitoesteróides que

constituem uma classe de lipídios derivados de um anel saturado de quatro

membros, com um grupo hidroxil na terceira posição. No organismo, atuam na

diminuição da absorção de colesterol no intestino delgado por um mecanismo de

competição, com conseqüente aumento na excreção fecal. Isso ocorre porque a

estrutura química dos fitoesteróides é semelhante à do colesterol, diferindo

apenas no tamanho da cadeia. Biogeneticamemente estão relacionados aos

triterpenos com um esqueleto cíclico base igual os triterpenóides tetracícliclos,

apresentam-se como sólidos incolores, cristalinos, opticamente ativos, e ponto de

fusão ligeiramente inferior a 200 oC. Já foram descritos vários esteróides obtidos

de plantas e suas formas mais comuns são o campesterol, sitosterol e

estigmasterol, sendo encontrados principalmente em óleos vegetais, nozes e

hortaliças (VOLPATO, 2005).

Em estudo realizado com plantas do gênero Phyllantus, conhecidas como

“quebra-pedra” foi observado potentes efeitos analgésicos, das frações semi-

purificadas, onde obteve-se os dois fitoesteróides estigmasterol e β-sitosterol. Os

resultados farmacológicos obtidos indicaram ação equipotente à aspirina.

(SANTOS, et al., 1993; NIERO, et al., 1994). Outros estudos relatam importantes

propriedades antiinflamatórias além de demonstrar que estes compostos, quando

associados a outros esteróides, são efetivos no tratamento da hiperplasia benigna

de próstata (GOMEZ et al., 1999; SENATORE, et al., 1989). Cordeiro (2006)

relata o uso de esteróides como o estigmasterol e β-sitosterol, entre outros como

marcadores moleculares da contaminação fecal em sistema estuarino para

investigação da contaminação de esgotos domésticos. Além das atividades já

descritas Missau et al., (2006), comenta importante atividade antifúngica do

estigmasterol isolado de Poygala paniculata (barba-de-São-João, barba de bode,

138

vassourinha branca), frente a Candida albicans, C. krusei, C. glabrata, C.

parapsilosis, C. tropicalis além de Sporothrix shenkii. Pelo exposto observa-se

que os dois esteróides isolados das folhas de P. emarginatus são importantes

moléculas bioativas para o tratamento de diversas doenças.

139

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O rendimento óleo essencial das folhas de P. emarginatus apresentou-se

bem superior quando comparado ao de outras espécies observadas em revisão

bibliográfica. A análise da composição do óleo essencial mostrou semelhança a

de frutos de outra espécie do gênero e diferente dentro da mesma espécie.

Possíveis atividades anti-bacterianas e antifúngicas podem ser atribuídas aos

compostos identificados. A atividade antifúngica não verificada frente às

Candidas testadas para o óleo essencial pode estar relacionada à sua

composição. Entretanto, a presença dos compostos hidrocarbonetos

sesquiterpênicos pode conferir atividade contra outros tipos de fungos

filamentosos. A atividade antibacteriana foi moderada frente a bactérias Gram-

positivas, e ausente para bactérias Gram-negativas, porém possui significado

clínico, uma vez que a espécie em estudo é usada para tratamento de

determinadas infecções. No estudo químico do extrato etanólico bruto das folhas

foi possível isolar e identificar mistura dos esteróides estigmasterol e β-sitosterol

de ampla atividade biológica. Mediante os resultados obtidos, pode-se inferir que

o óleo essencial e os compostos isolados das folhas de P. emarginatus possuem

potencial farmacológico e econômico, podendo este farmacógeno ser explorado

para a obtenção dos compostos bioativos identificados, pois o seu processo de

obtenção utiliza as folhas sem comprometer a sobrevivência das árvores.

140

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