universidade federal da paraÍba departamento … · obtenção do grau de bacharel em...

71
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Centro de Comunicação, Turismo e Artes Departamento de Comunicação Social Habilitação em Jornalismo Ítalo Rômany de Carvalho Andrade NEOCORONELISMO NAS ELEIÇÕES DE 2014: ANÁLISE DAS MARCAS DISCURSIVAS FOLKCOMUNICACIONAIS João Pessoa 2015

Upload: vuongdat

Post on 14-Jul-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

Centro de Comunicação, Turismo e Artes

Departamento de Comunicação Social

Habilitação em Jornalismo

Ítalo Rômany de Carvalho Andrade

NEOCORONELISMO NAS ELEIÇÕES DE 2014: ANÁLISE DAS MARCAS

DISCURSIVAS FOLKCOMUNICACIONAIS

João Pessoa

2015

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

1

Ítalo Rômany de Carvalho Andrade

NEOCORONELISMO NAS ELEIÇÕES DE 2014: ANÁLISE DAS MARCAS

DISCURSIVAS FOLKCOMUNICACIONAIS

Monografia apresentada ao Curso de

Comunicação Social da Universidade Federal

da Paraíba, como requisito final para a

obtenção do grau de Bacharel em

Comunicação Social, habilitação em

Jornalismo.

Orientador: Prof. Dr. Severino Alves de

Lucena Filho

João Pessoa

2015

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

2

Ítalo Rômany de Carvalho Andrade

NEOCORONELISMO NAS ELEIÇÕES DE 2014: ANÁLISE DAS MARCAS

DISCURSIVAS FOLKCOMUNICACIONAIS

Monografia apresentada ao Curso de

Comunicação Social da Universidade Federal

da Paraíba, como requisito final para a

obtenção do grau de Bacharel em

Comunicação Social, habilitação em

Jornalismo.

Aprovado em: _____/_____/ 2015

BANCA EXAMINADORA

-----------------------------------------------------------------------

Prof. Dr. Severino Alves de Lucena Filho

Orientador

-----------------------------------------------------------------------

Profa. Dra. Suelly Maria Maux Dias

Examinadora

-----------------------------------------------------------------------

Profa. Dra. Zulmira Silva Nóbrega

Examinadora

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

3

Dedico este trabalho aos meus pais, por terem

me ensinado os grandes valores da vida.

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

4

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, pela vida e por ter chegado até aqui!

À minha família, pela compreensão e incentivo durante os meus estudos.

Aos meus avós, que me ensinaram a viver através de seus ensinamentos enriquecedores.

Ao professor e orientador Severino Lucena, pela paciência nos nossos encontros e pelo

incentivo dado durante a carreira acadêmica. Um amigo que levo daqui por diante.

A Bento Júnior, modelo que me inspirou desde criança. Nesse ponto não tenho como esquecer

de Monteiro Lobato, que através de sua literatura infantil fez com que eu viajasse sem sair de

casa. Se concluo o curso de Jornalismo é porque devo muito aos dois.

Aos amigos que conheci na UFPB, em especial Marcelo Calabresi, Diógenes Freire, Juliny

Barreto e Richardson Gray. Esses anos não seriam os mesmos sem vocês!

Aos amigos da vida, em destaque Juliana Gondim, irmã que aprendi a conviver nos últimos

tempos e Edilza Detmering, meu “porre” da vida, companheira nas lutas e vitórias.

Aos professores de toda uma formação. Meu agradecimento profundo a cada um! Com

lembranças de Graça Bezerra, Maria da Graça, Ronilson Santos, Thaïs Barbosa, Ritinha,

Suelly Maux, Thiago Soares, Hildeberto Barbosa, Glória Rabay, Zulmira Nóbrega, Lourdes

Berruecos e Arnulfo Gómez.

Ao México e ao povo mexicano, por terem mudado minha visão de mundo!

Aos chefes que viraram amigos, a exemplo de Costa Filho, Jandira Santos, Jailma Simone e

Alberto Black.

A todas as demais pessoas que colaboraram de alguma forma para a minha formação

profissional.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

5

El periodismo es una pasión insaciable que sólo

puede digerirse y humanizarse por su confrontación

descarnada con la realidad.

(GABRIEL GARCIA MÁRQUEZ)

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

6

ANDRADE, Ítalo Rômany de Carvalho. Neocoronelismo nas Eleições de 2014: Análise das

Marcas Discursivas Folkcomunicacionais. UFPB: Monografia (Bacharelado de Comunicação,

habilitação em Jornalismo). 70 p.

RESUMO

O presente trabalho aborda o processo histórico e social do regime coronelista durante a

República Velha (1889-1930) e suas conotações na atualidade através das marcas

folkcomunicacionais. O objetivo é elaborar o perfil do novo coronel a partir da manutenção

do poder sob uma mesma família, tendo como objeto de estudo o discurso proferido pelo

candidato Cássio Cunha Lima (PSDB) durante as eleições para o governo do Estado da

Paraíba, por meio do portal de internet da coligação, colhidos no período de 8 a 21 de

setembro de 2014. O método aplicado é o da teoria da Folkcomunicação, com foco no

Ativismo Midiático, e o da Análise Crítica do Discurso, onde é possível verificar a relação da

população de baixa renda com a eleição, a definição dos grupos marginalizados e as

características de um líder folk dentro do núcleo que domina. Discute-se ainda o Coronelismo

a partir das oligarquias e da influência dos coronéis no processo eleitoral, como também a

fundamentação do Neocoronelismo, abordados a partir dos conceitos e estudos relacionados

com o discurso político. Conclui-se que o Coronelismo ainda é uma prática vigente em nosso

país, dominando o poder não mais pela violência, mas sim pela personalidade construída na

população.

PALAVRAS-CHAVE: Coronelismo. Neocoronelismo. Folkcomunicação. Ativismo.

Nordeste. Poder.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

7

ANDRADE, Ítalo Rômany de Carvalho. Neocoronelismo en las elecciones de 2014: Análisis

de las marcas discursivas folkcomunicacionales. UFPB: Monografía (Licenciado en

Comunicación, habilitación en Periodismo). 70 p.

RESUMEN

El presente trabajo aborda el proceso histórico y social del régimen coronelista durante la

República Vieja (1889-1930) y sus connotaciones en la actualidad a través de las marcas

folkcomunicacionales. El objetivo es elaborar el perfil del nuevo coronel a partir de la

manutención del poder bajo una misma familia, teniendo como objeto de estudio el discurso

proferido por el candidato Cássio Cunha Lima (PSDB) durante las elecciones para el gobierno

del Estado de Paraíba, por medio del portal de internet de la coligación, colectados en el

período de 8 a 21 de septiembre de 2014. El método aplicado es de la teoría de la

Folkcomunicación, con foco en el Activismo Mediático, y del Análisis Crítico del Discurso,

donde es posible verificar la relación de la población de poca renta con la elección, la

definición de los grupos marginalizados y las características de un líder folk dentro del núcleo

que él domina. Además, se discute la formación del Coronelismo a partir de las oligarquías y

de la influencia del coronel en el proceso electoral, como también la fundamentación del

Neocoronelismo, aborda a partir de los conceptos y estudios relacionados con el discurso

político. Con los resultados de los análisis, se constata que el Coronelismo todavía es una

práctica vigente en nuestro país, dominando el poder ya no por la violencia, sino por la

personalidad construida en la población.

PALABRAS CLAVE: Coronelismo. Neocoronelismo. Folkcomunicación. Activismo.

Noreste. Poder.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

8

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

9

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

10

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACD - Análise Crítica do Discurso

ACM – Antônio Carlos Magalhães

AD – Análise do Discurso

DEM - Democratas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

FAC – Fundação de Ação Comunitária

Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

PEN – Partido Ecológico Nacional

PM – Policia Militar

PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PMN – Partido da Mobilização Nacional

Pnad – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PP – Partido Progressista

PPS – Partido Popular Socialista

PR – Partido da República

PRB – Partido Republicano Brasileiro

PSB – Partido Socialista Brasileiro

PSC – Partido Social Cristão

PSD – Partido Social Democrático

PSDB – Partido Social Democrático Brasileiro

PSDC – Partido Social Democrata Cristão

PT – Partido dos Trabalhadores

PT do B – Partido Trabalhista do Brasil

PTB – Partido Trabalhista Brasileiro

PTN – Partido Trabalhista Nacional

Sabs- Sociedades de Amigos de Bairros

SDD - Solidariedade

Sindifisco-PB - Sindicato dos Servidores Fiscais Tributários da Paraíba

STF – Supremo Tribunal Federal

Sudene – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

11

TCE – Tribunal de Contas do Estado

TRE – Tribunal Regional Eleitoral

TSE – Tribunal Superior Eleitoral

UEPB - Universidade Estadual da Paraíba

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

12

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Concepção da Folkcomunicação........................................................................... 25

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

13

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Divisão dos textos do portal da coligação A Vontade do Povo por temáticas e

quantidades ............................................................................................................................... 60

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

14

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Abordagem geral das matérias a partir das porcentagens ...................................... 60

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

15

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16

1.1 JUSTIFICATIVA .............................................................................................................. 18

1.2 PROBLEMÁTICA ............................................................................................................ 20

1.3 OBJETIVOS ...................................................................................................................... 22

1.3.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 22

1.3.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 22

1.4 METODOLOGIA ............................................................................................................. 22

1.4.1 Procedimentos ................................................................................................................ 22

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 23

2.1 FOLKCOMUNICAÇÃO.................................................................................................... 24

2.1.1 Grupos Marginalizados ................................................................................................. 26

2.1.2 Ativismo Midiático ........................................................................................................ 27

2.2 CORONELISMO NO NORDESTE ................................................................................... 29

2.2.1 Formação Histórica ....................................................................................................... 29

2.2.2 Líder Político .................................................................................................................. 32

2.3 NEOCORONELISMO ...................................................................................................... 34

2.3.1 Famílias Oligárquicas no Nordeste .............................................................................. 37

2.4 DISCURSO ........................................................................................................................ 38

2.4.1 Análise do Discurso (AD) .............................................................................................. 38

2.4.2 Análise Crítica do Discurso (ACD) .............................................................................. 40

2.4.3 Discurso Político ............................................................................................................ 41

3 ANÁLISE DAS MARCAS DISCURSIVAS FOLKCOMUNICACIONAIS E

NEOCORONELISTAS .......................................................................................................... 44

3.1 TRAJETO POLÍTICO DO GRUPO CUNHA LIMA ........................................................ 44

3.1.1 Ronaldo Cunha Lima .................................................................................................... 44

3.1.2 Cássio Cunha Lima ....................................................................................................... 46

3.2 MARCAS FOLKCOMUNICACIONAIS .......................................................................... 48

3.2.1 Relação com os excluídos .............................................................................................. 48

3.2.2 Grupos Marginalizados ................................................................................................. 51

3.2.3 Caravanas ....................................................................................................................... 53

3.3 MARCAS NEOCORONELISTAS .................................................................................... 54

3.3.1 Críticas ao adversário ................................................................................................... 55

3.3.2 Apoios Políticos .............................................................................................................. 57

3.3.3 Tipo de Coronel ............................................................................................................. 59

3.3.4 Panorama Geral ............................................................................................................. 59

3.4 PERFIL DO NOVO CORONEL ........................................................................................ 62

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 65

5 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 68

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

16

1 INTRODUÇÃO

A cada dois anos, a população brasileira vai às urnas eleger os seus representantes nas

eleições. É um momento de reflexão e de mudanças, já que estamos escolhendo os rumos que

o país deve tomar a partir desse momento, levando em consideração as melhores propostas

que possam resolver problemas e trazer soluções. Entretanto, mesmo vivendo em uma

democracia, enfrentamos desafios que foram combatidos no passado e que continuam se

perpetuando de outras formas, iludindo principalmente os mais carentes, como o

Coronelismo, política controlada e comandada pelos coronéis no início do regime republicano

e que se enfeita nos dias de hoje de forma mais sutil; é o chamado Neocoronelismo

(neo=novo), objeto de estudo deste trabalho.

O escritor Ariano Suassuna (1990) exemplificou bem o conceito do que era o

Coronelismo, através da influência do poder e dos favores. No livro Auto da Compadecida, o

coronel Antônio Morais é temido por todos, inclusive pelos religiosos da cidade de Taperoá-

PB. João Grilo, personagem principal da obra, tenta convencer o padre a benzer o cachorro da

mulher do padeiro em latim. Quando a história chega aos ouvidos do padre João, ele recusa a

ideia, principalmente porque o Bispo está na cidade. João Grilo, então, decide mudar os fatos

e, para não perder o dinheiro que a mulher do padeiro prometeu, convence o padre ao afirmar

que o cachorro era, na verdade, de Antônio Morais. Na mesma hora, o sacerdote resolve

mudar de opinião.

Suassuna conseguiu definir o conceito do Coronelismo de uma forma bem cômica,

mas que na realidade ocorria muito pior, já que foi um fenômeno político e social contra o

processo da democratização, durante um tempo em que a sociedade era predominantemente

rural. Um exemplo era o voto de cabresto, onde os coronéis compravam votos para seus

candidatos, trocavam por bens materiais, pares de sapatos, óculos, alimentos, dentaduras,

tijolos etc., ou mandavam capangas para os locais de votação, com o objetivo de intimidar os

eleitores, principalmente aqueles que não sabiam ler e escrever ou dependiam desses coronéis.

As regiões controladas politicamente por esse regime eram conhecidas como currais

eleitorais.

[...] Completamente analfabeto, ou quase, sem assistência médica, não lendo jornais,

nem revistas, nas quais se limita a ver figuras, o trabalhador rural, a não ser em

casos esporádicos, tem o patrão na conta do benfeitor. E é dele, na verdade, que

recebe os únicos favores que sua obscura existência conhece. Em sua situação, seria

ilusório pretender que esse novo pária tivesse consciência do seu direito a uma vida

melhor e lutasse por ele com independência cívica (LEAL, 1986, p. 25).

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

17

De fato, os tempos do Coronelismo não existem mais, isso falando do conceito

propriamente dito. Entretanto, mesmo em pleno século XXI e com predominância1 de uma

sociedade urbana, o sistema “coronelista” funciona nos dias de hoje através do uso dos meios

de comunicação, das promessas falsas, da compra de votos por uma cesta básica ou por um

emprego. São os pobres deste país, principalmente a população do interior nordestino, os mais

marginalizados nesse processo.

A partir dessa questão, o gancho que este trabalho propôs perpassa por um tópico

dentro da teoria estudada por Luís Beltrão, na Folkcomunicação, que é o líder de opinião

como agente de comunicação social, líder folk ou ativista midiático (conceito que será

amplamente discutido no decorrer dessa monografia) e como o papel exercido pelo

“neocoronel” está ligado com as práticas desse tipo. Em outras palavras, como a audiência

folk, formada por grupos marginalizados da sociedade, percebe e se identifica com a postura

de tal candidato. As campanhas políticas veiculadas nos meios de comunicação têm esse

papel e são capazes de conquistar o eleitorado e fixar a imagem do postulante em suas

cabeças.

Dentro desse contexto, propusemos analisar as marcas discursivas dos “neocoronéis”,

através do portal da coligação “A Vontade do Povo”, representada pelo candidato ao Governo

do Estado da Paraíba Cássio Cunha Lima, nas eleições de 2014, a partir das características da

Folkcomunicação e do Ativismo Midiático.

A seguir apresentamos a justificativa de escolha da temática, como também sua

problemática, objetivos, além da metodologia que foi usada para a realização da monografia e

os procedimentos utilizados em cada etapa; no capítulo seguinte, abordamos a

Folkcomunicação e o Ativismo Midiático, discutindo essas teorias a partir de uma enfática

social; logo após, trazemos uma discussão histórica sobre o Coronelismo e o Neocoronelismo,

com enfoque na região Nordeste do país, fazendo uma contraposição entre o passado e o

presente, a partir dos exemplos que foram discutidos para esclarecer as diferenças entre o

sistema político antigo com as práticas neocoronelistas. Ainda nesse tópico discutimos

também a definição e o uso do discurso como elemento dos debates sociais e econômicos, a

partir das teorias da Análise do Discurso (AD) e da Análise Crítica do Discurso (ACD),

trazendo ao debate o uso das emoções no meio político.

1 Censo 2010: População urbana sobe de 81% para 84%. Disponível em:

<http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2010/11/29/censo-2010-populacao-urbana-sobe-de-8125-para-

8435/>. Acesso em: 15 out. 2014.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

18

No capítulo três, analisamos o objeto de estudo da pesquisa, apresentando o perfil do

neocoronelista a partir da ênfase do líder folk, fazendo um contraponto com o histórico da

família Cunha Lima, como também da análise das falas de Cássio, debatendo os sentidos

presentes nos textos. As marcas discursivas folkcomunicacionais foram importantes para

entender o papel exercido por esse novo coronel e na elaboração de seu perfil com as

características marcantes da campanha. Por fim, as conclusões obtidas e uma avaliação geral

sobre a problemática do tema exposto.

1.1 JUSTIFICATIVA

O Nordeste Brasileiro, mesmo sendo uma região em crescimento, ainda enfrenta

problemas em diversas áreas, como, por exemplo, na educação.2 O Coronelismo, muitas vezes

vivido pela literatura como reflexo de um tempo não democrático dentro do Brasil, vive ainda

de forma mais sutil, através das gerações das famílias, dos meios de comunicação, do

clientelismo. Mudam-se somente os personagens, mas a história continua se prologando e

rodeando os mais pobres deste país.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea 2013),3 5,8 milhões de

nordestinos vivem abaixo da linha da pobreza extrema, sobrevivendo com a renda mensal de

até R$ 77, valor limite traçado pelo governo federal. Na Paraíba, por exemplo, 8,17% da

população está nessa situação. Já de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE 2011),4 o Nordeste concentra 52,7% do total de analfabetos do Brasil. O

estudo aponta ainda que 12,9 milhões de brasileiros com mais de 15 anos de idade não sabem

ler nem escrever. Destes, 6,8 milhões estão na região Nordeste, que tem taxa de analfabetismo

de 16,9%, quase o dobro da média nacional, de 8,6%.

Nesse contexto, a Folkcomunicação possibilitou ampliar os conteúdos e

conhecimentos acerca do tema proposto,

já que é uma teoria da comunicac ão, elaborada a partir da relação da teoria da

comunicac ão com a teoria social brasileira, e emerge no Brasil da década de 1960,

2 Norte e Nordeste têm 4 anos de atraso em relação ao Sul e Sudeste na educação. Disponível em:

<http://noticias.universia.com.br/atualidade/noticia/2013/04/17/1017495/norte-e-nordeste-tem-4-anos-atraso-em-

relaco-ao-sul-e-sudeste-na-educaco.html>. Acesso em: 16 out. 2014. 3 Nordeste é única região onde miséria caiu em 2013; Sudeste tem maior alta. Disponível em:

<http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2014/11/06/nordeste-e-unica-regiao-onde-miseria-caiu-em-

2013-sudeste-tem-maior-alta.htm>. Acesso em: 23 nov. 2014. 4 Nordeste concentra 59% da população em extrema pobreza, diz IBGE. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/poder/913829-nordeste-concentra-59-da-populacao-em-extrema-pobreza-diz-

ibge.shtml>. Acesso em: 23 nov. 2014.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

19

num contexto sócio-politico de repressão, problemas sociais como baixa renda per

capita, alto indice de analfabetismo e, também, problemas relacionados a formac ão

jornalistica e a prática da profissão (AMPHILO, 2012, p.18-19).

Já o candidato ao Governo do Estado da Paraíba pelo PSDB, Cássio Rodrigues da

Cunha Lima, foi escolhido por dois motivos: primeiro, por ser um dos representantes políticos

da família dos Cunha Lima, a exemplo do seu pai, o ex-governador Ronaldo Cunha Lima, e

do Coronel Zé Cunha Lima,5 muito conhecido no município de Areia-PB por manter o

controle da cidade, elegendo deputados e prefeitos na região; segundo, por ser identificado na

Paraíba como uma liderança folk, devido ao seu prestígio em seu grupo político, pois “[...]

age motivado pelos seus interesses e do grupo social ao qual pertence na formatação das

práticas simbólicas e materiais das culturas tradicionais e modernas.” (TRIGUEIRO, 2008, p.

49). Cássio foi superintendente da Sudene,6 prefeito de Campina Grande, deputado federal,

senador e governador (cargo no qual foi cassado em 2007,7 por irregularidades cometidas

durante a campanha de sua reeleição, em 2006). Em 2014, foi novamente candidato ao

Governo da Paraíba, após romper politicamente com o então governador Ricardo Coutinho,

do Partido Socialista Brasileiro (PSB). O tucano8 acabou perdendo as eleições no 2º turno,

obtendo 47,39% dos votos válidos.

Pelo lado da política, podemos considerar que um ativista é aquele que luta por uma

causa. Mas, acima de tudo, é um líder que evoca em seu grupo sentimentos capazes de

levantar bandeiras, de criar ferramentas para lutar pelo propósito, de defender aquilo que

acreditam. Infelizmente, em boa parte dos casos, ao se elegerem em algum cargo, esses

mesmos líderes mudam, desistem do objetivo ou não conseguem o apoio que precisam.

O deputado estadual Toinho do Sopão, por exemplo, utilizava a sopa doada no Parque

Solon de Lucena, em João Pessoa, como forma de conquista de votos e o apoio dos

comerciantes informais do Centro, tornando-se líder dessa categoria.9 No final das contas,

5 Major Cunha Lima, o “barbado” de Areia. Disponível em:

<http://trilhasdeareia.blogspot.com.br/2010/02/major-cunha-lima-o-barbado-de-areia.html>. Acesso em: 22 out.

2014. 6 Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste. 7 TSE cassa mandato do governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima. Disponível em:

<http://wh3.com.br/noticia/34317/tse-cassa-mandato-do-governador-da-paraiba-Cássio-cunha-lima.html>.

Acesso em: 16 out. 2014. 8 Tucano é o termo usado para os filiados do Partido Social Democrático Brasileiro, o PSDB. 9 ANDRADE, I. R. C; FEITOSA, Y. H. S. ; LUCENA FILHO, S. A. ; GADELHA, F. G.. SOPÃO DA

SOLIDARIEDADE: Elemento folkcomunicacional do ativismo social e político. In: XVI CONFERÊNCIA

BRASILEIRA DOS ESTUDOS DA FOLKCOMUNICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL, 2013,

Juazeiro do Norte. GT3: Conteúdos de Folkcomunicação Comunicação Científica, 2013. Disponível em:

<https://drive.google.com/folderview?id=0BykpCRHBEOq2MGhUSFRub1ZJU2M&usp=sharing&tid=0BykpC

RHBEOq2RjU2blFlVDUwNE0>. Acesso em: 11 jan. 2015.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

20

acabou sendo eleito em 2010 como o mais votado das urnas, cujo mesmo feito político não

ocorreu em 2014, onde, ao tentar a reeleição, não conseguiu votos suficientes para continuar

no cargo. Uma de suas críticas foi a falta de apoio do governo com os seus projetos, por estar

na oposição.

Já a escolha da internet para análise dos textos do candidato Cássio Cunha Lima foi

devido ao crescimento desse meio de comunicação no Brasil. Segundo dados da Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2013),10 um pouco mais da metade da população

já possui acesso à internet, fazendo com que ela seja um forte canal de informação e

entretenimento, depois da televisão. Além disso, é no portal oficial da coligação que o

internauta encontrava notícias, agenda de comícios, jingles da campanha, perfil do candidato,

entre outros, facilitando as relações entre o eleitor e o político.

O presente trabalho analisa as marcas discursivas do Neocoronelismo nas eleições de

2014, estudando as problemáticas do Nordeste a partir de uma ênfase histórica, social e

política, através das marcas folkcomunicacionais, partindo do pressuposto do Ativismo

Midiático. Com isso, este trabalho contribui com os estudos do Coronelismo no país, temática

pouco discutida em nossa sociedade nos dias de hoje. Além disso, a escolha se deu também

pelo gosto pessoal com o jornalismo político e sua função essencial na sociedade, o de

resgatar e entender os contextos sociais a partir de uma abordagem política, fugindo do

conceito da “politicagem”, ou seja, das brigas partidárias, das discussões sobre cargos em

governos, dos escândalos que envergonham uma sociedade etc. Jornalismo esse que ajudou

também na busca de informações sobre a temática exposta, na elaboração das análises e na

interpretação final obtida com os resultados deste trabalho. Nisso se configura sua

importância maior, que o justifica.

1.2 PROBLEMÁTICA

Quando falamos de Nordeste, principalmente na mídia, vem à mente o pau-de-arara, a

seca, o chão rachado, o analfabetismo e a imigração. É uma correlação que foi, por muitos

anos, imposta para a região, mesmo com a existência dos mesmos problemas no Sudeste, por

exemplo. Não podemos esquecer o preconceito existente com o sotaque (não pelo próprio

som, mas o que há por trás disso, ou seja, o processo histórico, cultural e econômico) e com a

10 Mais da metade da população tem acesso à internet, aponta a Pnad. Disponível em:

<http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2014/09/18/mais-da-metade-da-populacao-tem-acesso-a-internet-

aponta-a-pnad.htm>. Acesso em: 23 nov. 2014.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

21

presença dos “paraibas” nas ruas das cidades “sudestinas”. “O nordestino sofrerá muitos dos

preconceitos de que é vítima por estar associados a estas imagens e a estes tipos: o nordestino

será visto, quase sempre, como sendo um retirante, um flagelado ou um cangaceiro em

potencial.” (ALBUQUERQUE, 2007, p. 89).

Infelizmente, o nordestino ainda é mostrado nos noticiários como alguém que não tem

condições financeiras, que vive em casas de taipa, que não tem uma educação de qualidade,

entre outros. O que é visto é o anormal, o diferente, o que chama a atenção de todos. De

acordo com o ponto de vista defendido pelo sociólogo Bourdieu (1997, p.159), “o individuo

nada mais é do que o resultado de sua interação com o meio em que vive. Logo, se este

indivíduo reside em uma localidade desfavorecida, as chances de ascensão social do sujeito

serão muito reduzidas, restando a ele continuar a lógica do espaço.”

O Coronelismo foi um retrato social deste país. Entretanto, foi no Nordeste que ele se

ampliou e se fortaleceu, em uma época onde o meio rural predominava sobre o cenário

urbano, atuando “[...] no reduzido cenário do governo local. Seu habitat são os municípios do

interior, o que equivale a dizer os municípios rurais, ou predominantes rurais; sua vitalidade é

inversamente proporcional ao desenvolvimento das atividades urbanas, como sejam o

comércio e a indústria.” (LEAL, 1986, p. 251).

Quando retrocedemos no tempo e voltamos, por exemplo, para as décadas de 1910,

1920 e 1930, encontramos um outro cenário, em comparação com o de hoje, onde a

expectativa de vida, por exemplo, não passava dos 36 anos.11 E no passar do tempo, vemos

que determinados índices sociais melhoraram, porém diversos fatores socioeconômicos

continuam fazendo parte dos problemas, não só do Nordeste, mas do país inteiro.

Ao trazer à tona esta problemática, nossa proposta é discutir e ampliar o debate sobre a

temática no contexto folkcomunicacional, contribuindo com os avanços sociais através de um

processo histórico e ao mesmo tempo econômico, já que são elementos que estão ligados

diretamente.

11 Expectativa de vida ao nascer no Nordeste. Disponível em: <http://dssbr.org/site/2013/07/expectativa-de-

vida-ao-nascer-no-nordeste/>. Acesso em: 22 out. 2014.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

22

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Traçar o perfil do novo coronel tendo como suporte o processo discursivo

folkcomunicacional.

1.3.2 Objetivos Específicos

Promover um levantamento histórico sobre o Coronelismo no Nordeste;

Analisar as formas folkcomunicacionais e neocoronelistas utilizadas pelo candidato

Cássio Cunha Lima nas eleições de 2014;

Discutir a problemática a partir de uma abordagem política e econômica, que ainda

afeta a região Nordeste, contribuindo com os estudos sociais sobre a temática no país.

1.4 METODOLOGIA

1.4.1 Procedimentos

O presente trabalho se fundamenta basicamente através de pesquisa bibliográfica, feita

a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios

escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites.

Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite

ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem porém

pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica,

procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações

ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta

(FONSECA, 2002, p.31-32).

Sendo assim, ela foi desenvolvida nas seguintes etapas:

- Leitura e fichamento de livros e textos. Em relação à Folkcomunicação, trabalhamos

com Beltrão (1980) e Benjamim (2000), para entender melhor a teoria e conhecer os grupos

marginalizados, e com Trigueiro (2008), para auxiliar nos questionamentos sobre o Ativismo

Midiático; no Coronelismo, fizemos um “passeio” histórico na sua formação, desde as

Capitanias Hereditárias até chegar nos tempos do Neocoronelismo. Para ajudar nesse tópico,

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

23

buscamos autores como Barbalho (2007), Leal (1986), Martins (1981), Pang (1979) etc.; por

último, para compreender o conceito de discurso, através da Análise Crítica do Discurso,

pesquisamos Charaudeau (2007), Foucault (1999) e Orlandi (2005);

- Arquivamento dos principais textos retirados do site do candidato Cássio Cunha

Lima (www.cassio45.com.br), no período de 8 a 21 de setembro de 2014 (a escolha pelas

datas se deu por causa da proximidade com a data da realização do 1º turno das eleições, que

ocorreu no dia 5 de outubro). Como foram analisados somente os textos das manchetes

principais, outros meios e canais foram excluídos, a exemplo dos jingles, agenda, vídeos etc.;

- Análise crítica do discurso político do candidato escolhido e identificação das marcas

discursivas folkcomunicacionais. A estrutura usada foi a mesma de Trigueiro (2008), no livro

“Folkcomunicação e Ativismo Midiático”, colocando o titulo da matéria e o trecho do

discurso analisado, como no exemplo a seguir:

Título: Carreata: Cássio é aclamado como campeão de votos

Texto: “O povo nas ruas quer ver Cássio novamente governando a Paraiba e com

muito mais que um milhão de amigos”, destacou Ruy, entusiasmado, observando

que a vontade do povo está expressa, nas fotos, cartazes, faixas, e na divulgação do

número 45 e na longa fila de carros, que se formou na principal via de acesso à zona

sul (Portal do Candidato, 21 set. 2014).

- Elaboração do perfil do neocoronel, a partir dos resultados obtidos através da análise

do discurso, ou seja, as estratégias utilizadas para obtenção dos votos, o público-alvo etc.

Nesse caso, foram analisados a temática de cada notícia, ou seja, se foram sobre promessas,

ataques aos adversários, recebimento de apoios etc. No final, a elaboração de gráficos trouxe

um panorama mais abrangente do exercício desse novo coronel;

- Considerações finais com os resultados das análises.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

24

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Na fundamentação teórica, buscamos compreender os conceitos e as teorias usadas

neste trabalho a partir de uma ênfase social. Em relação ao processo histórico, consideramos

importante, porém para situar a temática em um tempo cronológico, parte do processo de

construção da narrativa temporal, e não como análise para compreensão dos resultados

obtidos na pesquisa. Sendo assim, dividimos este capítulo nos seguintes tópicos:

Folkcomunicação, Coronelismo no Nordeste, Neocoronelismo, e, por último, Discurso.

2.1 FOLKCOMUNICAÇÃO

A Folkcomunicação surgiu a partir dos estudos do pesquisador Luiz Beltrão, através

da tese de doutorado intitulada “Folkcomunicação: um estudo dos agentes e meios populares

de informação de fatos e expressão de ideias”, defendida em 1967. Beltrão queria entender as

diversas formas de comunicação fora do sistema convencional. Ou seja, como cordéis, por

exemplo, eram usados em uma relação interpessoal no cotidiano. Nascia dessa forma uma

nova área de estudos da comunicação no Brasil, contribuindo com a valorização de elementos

antes esquecidos, abrangendo inclusive aqueles que não possuíam acesso aos meios de

comunicação de massa, já que ela “passa a estudar as brechas deixadas de lado pelos

investigadores de comunicação, que até então ignoravam ou não tinham percebido a função

dos comunicadores folk nas redes de comunicações cotidianas.” (TRIGUEIRO, 2008, p.35).

Benjamim (2000, p. 15) explica que a Folkcomunicação é uma relação mútua entre as

diversas manifestações da cultura popular e a comunicação de massa, em suas abordagens de

identificação com o meio e apropriação do folclore. Em outras palavras, o próprio Beltrão

(2001, p. 73) conceitua a Folkcomunicação como “um processo de intercâmbio de mensagens

através de agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao folclore e, entre as suas

manifestações, algumas possuem caráter e conteúdo jornalistico.”

De fato, a Folkcomunicação é a interação entre cultura popular com o modo social,

econômico e político, através dos anseios de uma população que muitas vezes é esquecida

pela grande mídia; é o cordel, que simboliza as histórias folclóricas que passam de geração

em geração; são as rádios comunitárias (ou piratas) que muitas vezes levam informações às

áreas marginalizadas; são os “rolezinhos”, reuniões de jovens da periferia em grandes centros

comerciais. Enfim, qualquer forma de expressão popular pode ser considerada um elemento

folkcomunicacional.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

25

Em outras palavras, a Folkcomunicação é, por natureza e estrutura, um processo

artesanal e horizontal, semelhante em essência aos tipos de comunicação

interpessoal já que suas mensagens são elaboradas, codificadas e transmitidas em

linguagens e canais familiares à audiência, por sua vez conhecida psicológica e

vivencialmente pelo comunicador, ainda que dispersa (BELTRÃO, 1980, p. 28).

Em um quadro, Benjamim (2000) concebe a Folkcomunicação da seguinte maneira:

Quadro 1 - Concepção da Folkcomunicação

TÓPICOS ÁREA DE ESTUDOS

1 A comunicação (interpessoal e grupal) ocorrente

na cultura folk.

Produção/Mensagem

2 A mediação dos canais folk para a recepção da

comunicação de massa.

Recepção

3 A apropriação de tecnologias da comunicação de

massa e o uso dos canais massivos por portadores

da cultura folk.

Produção

4 A presença de traços da cultura de massa

absorvidos pela cultura folk.

Recepção/Efeitos

5 A apropriação de elementos da cultura folk pela

cultura de massa e pela cultura erudita (projeção do

folclore).

Produção/Efeitos da mensagem

6 A recepção na cultura folk de elementos de sua

própria cultura reprocessados pela cultura de

massa.

Recepção/Efeitos

Fonte: BENJAMIM, Roberto Emerson Câmara. Folkcomunicação no contexto de massa. João Pessoa: Editora

Universitária/UFPB, 2000.

A partir desse quadro verificamos que a Folkcomunicação é abordada através das

relações existentes dentro de um mesmo grupo, sejam nas trocas de informações, no contato

realizado com o líder etc. Existe aí um intercâmbio de ideias, principalmente entre os meios

de comunicação de massa e a cultura folk, reconhecidos pela absorção de elementos que

pertencem a cada uma delas, como os modismos na linguagem verbal, influenciando no modo

de vida de cada grupo.

Dessa forma, para que exista de fato uma Folkcomunicação, são necessários alguns

elementos imprescindíveis, a exemplo de um mediador que faça a comunicação e a

apropriação da cultura folk, como também a presença de canais que possam transmitir as

mensagens folkcomunicacionais. No cordel os poetas populares são os líderes de opinião, que

exercem uma influência pessoal, mediando a aceitação ou rejeição do canal folk.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

26

Isso faz com que a Folkcomunicação seja uma área abrangente, não só no Brasil, mas

em qualquer lugar onde exista uma comunicação interpessoal, transmitidos por gerações e

séculos, que perpassam todas as funções da comunicação, pois

preenche o hiato, quando não o vazio, não só da informação jornalística como de

todas as demais funções da comunicação: educação, promoção e diversão, refletindo

o viver, o querer e o sonhar das massas populares excluídas por diversas razões e

circunstâncias do processo civilizatório, e exprimindo-se em linguagem e códigos

que são um desafio ao novo e já vigoroso campo de estudo e pesquisa da Semiologia

(BELTRÃO, 1980, p.26).

2.1.1 Grupos Marginalizados

Estudar as crenças populares, os mitos, os desenhos e grafites espalhados pelos muros

das cidades grandes, entre outros elementos, é de fato um resgate cultural e social de setores

muitas vezes marginalizados pela sociedade. A Folkcomunicação é, acima de tudo,

expressões do cotidiano, impregnadas em grupos do meio social e econômico, divididos por

Beltrão (1980, p. 40) em três categorias:

1 Os grupos rurais marginalizados, sobretudo devido ao seu isolacionismo

geográfico, sua penúria econômica e baixo nível intelectual.

2 Os grupos urbanos marginalizados, compostos de indivíduos situados nos

escalões inferiores da sociedade, constituindo as classes subalternas,

desassistidas, subinformadas e com mínimas condições de acesso.

3 Os grupos culturalmente marginalizados, urbanos ou rurais, que representam

contingentes de contestação aos princípios, à moral ou à estrutura social vigente

(grifo do autor).

No primeiro grupo fazem parte os habitantes que não possuem acesso aos meios de

comunicação de massa ou os analfabetos, que em geral vivem em localidades distantes das

grandes cidades; no segundo, são indivíduos que possuem cargos que não se exige

especialização, como pedreiros, domésticas, garis. Também fazem parte os aposentados,

prostitutas, presidiários etc.; no último, encontramos líderes que são marginalizados por

contestarem as regras vigentes e estabelecidas, seja na religião, na sociedade ou na política,

como foram os cangaceiros.

Desse modo, os grupos excluídos possuem características diferentes, de acordo com a

localidade ou classe que pertencem. No meio urbano, por exemplo, os garis são vistos como

pessoas excluidas por trabalharem com o “imundo”, com o lixo. No final das contas são

“invisiveis” perante a sociedade.

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

27

Dentro desse contexto, buscamos encontrar esses grupos na análise dos textos dos

materiais recolhidos do portal do candidato Cássio Cunha Lima, como forma de saber o

público-alvo que o político buscava para conquista dos votos na eleição.

2.1.2 Ativismo Midiático

Um dos tópicos que os pesquisadores estudam dentro da área da Folkcomunicação é o

ativismo midiático ou líder folk. Esses termos foram essenciais para a compreensão dos

resultados que foram obtidos do material recolhido para análise dessa monografia.

O agente folk ou o agente-comunicador tem a capacidade de conhecer, conviver e

sensibilizar no meio popular, tendo seus conhecimentos alargados pelo seu contato fora do

grupo que participa. É a pessoa chave, o que transmite as ideias e os conceitos dentro do seu

“ninho”, tornando-se muitas vezes um ídolo, despertando a admiração e o respeito nas pessoas

que o cerca. Para Beltrão (1980, p.36), a “ascensão a liderança está intimamente ligada à

credibilidade que o agente-comunicador adquire no seu ambiente e à sua habilidade de

codificar a mensagem ao nivel do entendimento de sua audiência.”

No dicionário,12 a palavra ativismo significa uma “doutrina ou uma prática que

preconiza ação política vigorosa e direta.” De forma objetiva, o ativista midiático é aquele que

tem liderança dentro de um grupo, onde a comunicação utilizada é traduzida por seus ideais e

conceitos. No lado da política, por exemplo, podemos considerar um líder folk aquele que luta

por uma causa, mesmo que, em muitos casos, ao se eleger em algum cargo, esse mesmo

agente mude ou desista de seus ideais. “São individuos decididos a manter estruturas de

dominação e opressão vigentes ou revolucionar a ordem política e social em que se

fundamentam as relações entre os cidadãos [...]” (BELTRÃO, 1980, p.104).

Trigueiro (2008, p.47) conceitua o ativista como

[...] um militante que organiza, planeja a participação de outros nos movimentos,

que se posiciona a favor ou contra de determinada situação, domina diversos

conhecimentos, dá primazia a ações que comportam diferentes graus de definições, é

um propagador de ideias [...]

Se pudéssemos resumir o papel do ativista midiático em uma só palavra, ela seria

“propagadora”, pois o agente folk é aquele que possui os conhecimentos necessários para

transmitir as informações ao grupo, para que seja entendida e absorvida pela maioria, esta que

12 FERREIRA, A. B. H. Aurélio século XXI: o dicionário da Língua Portuguesa. 3. ed. rev. e ampl. Rio de

Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

28

o concebe como um líder. Como falamos no item anterior deste capítulo, a Folkcomunicação

só pode existir se vários elementos funcionarem ao mesmo tempo, como a imagem e

organização do agente folk, pois o seu papel é “minimizar as divergências através dos

diálogos, gerar situações que possam viabilizar na estrutura social do seu grupo, as

interligações cirúrgicas dos vasos comunicantes, restabelecendo, na medida do possível, a

compreensão e a solidariedade” (TRIGUEIRO, 2008, p.55).

Citamos, como exemplo de líder folk, Frei Damião. Missionário, natural de Bolzano,

Itália, era um peregrinador, conhecido no Nordeste pelo seu carisma. Por exemplo, quando ele

chegava em um determinado lugar, “[...] por mais que pequena, sua fama de pregador e de

santo o antecede e a audiência se multiplica aos milhares, como gentes vindas de longe para

ouvi-lo, vê-lo e tocá-lo.” (BELTRÃO, 1980, p.138). Dentre as histórias que se escutam no

meio popular, Frei Damião (que levava milhares de pessoas às ruas para, principalmente,

escutar os seus sermões) quando andava, não tocava o chão; ele flutuava.

Há também ativistas midiáticos que usam meios de comunicação popular para

transmitir seus ideais e pensamentos, com o objetivo de “[...] manter atualizado o seu papel de

ator social no seu grupo de convivência, operando com as ofertas do mundo ficcional e do

mundo real midiatizados” (TRIGUEIRO, 2008, p. 108). É o exemplo do ex-deputado estadual

Toinho do Sopão, que se elegeu em 2010 por causa das sopas doadas por ele no Centro de

João Pessoa. Durante o seu mandato, utilizava pequenos quadrinhos de desenhos para mostrar

os diversos trabalhos que o deputado estava realizando em seu mandato legislativo.

Não importa se o líder folk seja religioso, político, cultural ou de outra área; para

identificá-lo, é preciso observar suas características de liderança e sua capacidade de

interpretar certas informações, transmitidas tanto por meios de folk quanto por veículos de

massa. E só existirá uma audiência folk se houver uma comunicação de retorno direto entre os

meios de comunicação de folk e a audiência dos líderes de opinião, que são caracterizados e

identificados pelos seguintes motivos:

1) Prestígio na comunidade, independentemente da posição social ou da situação

econômica, graças ao nível de conhecimentos que possui sobre determinado(s)

tema(s) e à aguda percepção de seus reflexos na vida e costumes de sua gente; 2)

exposição às mensagens do sistema de comunicação social, participando da

audiência dos meios de massa, mas submetendo os conteúdos ao crivo de ideias,

princípios e normas do seu grupo; 3) frequente contato com fontes externas

autorizadas de informação, com as quais discute ou complementa as informações

recolhidas; 4) mobilidade, pondo-se em contato com diferentes grupos, com os quais

intercambia conhecimentos e recolhe preciosos subsídios; e, finalmente, 5)

arraigadas convicções filosóficas, à base de suas crenças e costumes tradicionais, da

cultura do grupo a que pertence, às quais submete ideias e inovações antes de acatá-

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

29

las e difundi-las, com vistas a alterações que considere benéficas ao procedimento

existencial de sua comunidade (BELTRÃO, 1980, p.35).

Ao final, essas características foram importantes para entender o papel do ativista no

âmbito político, levando em consideração as marcas discursivas folkcomunicacionais

discutidas durante o decorrer desta pesquisa. Assim sendo, o carisma e a relação comunicativa

com a população, principalmente as marginalizadas pela sociedade, entre outros, são pontos

fundamentais encontradas em um ativista político, partindo da visão que o líder folk possui

em seu grupo. No meio popular, além de lutar por causas da população, é preciso que haja

uma identificação da sociedade com esse ativista. A retribuição vem de diversas formas,

principalmente pelo voto, mesmo que muitas vezes essa liderança popular não almeja, num

primeiro momento, se eleger em algum cargo. Por exemplo, no bairro do Castelo Branco, em

João Pessoa, “Kiko” é o responsável pelas principais festas do povoado, como do dia das

crianças. Ele organiza todos os eventos com o apoio dos pequenos comerciantes locais. Em

boa parte dos casos, o patrocinio é dado pelo esforço que “Kiko” tem para resolver problemas

da localidade, como, por exemplo, chamando as principais redes de televisão da cidade para

denunciar os descasos das autoridades no Castelo Branco. Entretanto, ele nunca se candidatou

a algum cargo politico. Mesmo assim, “Kiko” pode ser considerado um ativista social por

causa da influência nos habitantes da comunidade.

2.2 CORONELISMO NO NORDESTE

2.2.1 Formação Histórica

O romance literário “Gabriela, Cravo e Canela”,13 do escritor Jorge Amado (2001),

ocorre na cidade de Ilhéus, Bahia, em meados dos anos 1920, numa época onde a sociedade

era conservadora e a “honra” era a coisa mais valiosa que um homem ou moça deveriam

possuir. Nesse recinto, juntamente com o apogeu do cacau, surgem personagens

emblemáticos, a exemplo do coronel Ramiro Bastos, que devido ao seu poder econômico, se

torna um líder político na cidade, mandando e desmandando ao mesmo tempo, principalmente

através do tiro e do derramamento de sangue. Em um momento onde as oligarquias eram

donas das terras e cidades, o Coronelismo foi um sistema político onde a manutenção do

poder econômico sobrevivia através da corrupção, do clientelismo e do mandonismo. Figura

13 Primeira edição foi publicada em 1958.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

30

encontrada em livros de literatura, o coronel fez parte do processo histórico da formação do

país, principalmente quando nos referimos a própria constituição do espaço geográfico e

social do Nordeste.

Já na peça teatral “Como Nasce uma Bicha da Peste”, texto escrito por Bento Júnior,14

a pequena cidade fictícia de Piruacú de Fora é comandada por duas famílias de coronéis. O

enredo começa a partir do nascimento de Tonhão Cabureto, filho (e orgulho) do temido

coronel Antônio Cabureto. Para manter o poder do município, Tonhão precisa seguir os

passos do pai para conseguir ser prefeito. Entretanto, o protagonista se apaixona pelo filho de

Mascarenhas Tejucupapo, principal rival da família Cabureto. Na comédia, Tonhão precisa

mostrar ao pai (que não desconfia que o filho é homossexual) que o importante é o amor e que

as brigas e rixas entre as famílias deveriam terminar para o bem da cidade.

No processo histórico do Coronelismo, a chamada “República Velha”, periodo que se

estende de 1889 a 1930, foi um momento muito conturbado no país, onde várias revoluções

surgiram, a exemplo da Federalista e da Revolta da Armada. Foi também uma fase conhecida

como a politica do “Café com Leite”, onde políticos dos estados de Minas Gerais e São Paulo,

grandes produtores do leite e do café, respectivamente, dominavam o cenário político do país.

Nessa encruzilhada de informações, o Coronelismo, sistema de governança de líderes locais,

tem sua criação, fortalecida pela intermediação das oligarquias, ou seja, "governo de poucos.”

(BOBBIO, 1998, p.835).

E para esse funcionamento do sistema oligárquico da Primeira República, foi

necessário criar uma

[...] relação entre o poder local e o poder regional, isto é, entre os coronéis e as

oligarquias. A fonte de poder dos coronéis se originava no latifúndio e na liderança

de uma vasta clientela e parentes diretos ou indiretos, enlaçados por empregos e

favores. Assim, os coronéis garantiam a chefia política local e/ou regional e a

capacidade de mobilização de correligionários, sobretudo para definir os resultados

das eleições (MORAES, 2005, p.293).

A partir dessa enfática, começamos a entender o que foi verdadeiramente o período do

Coronelismo. O Brasil era governado por uma oligarquia que possuía interesses pessoais e

econômicos pela busca do poder. A ideia, com a criação dos coronéis, era consolidar uma

maior influência, tanto do governo federal como estadual, em pequenas cidades e no meio

rural, pois o que interessava era “[...] fortalecer o poder local por intermédio de coronéis

comprometidos com os acordos políticos e eleitoreiros.” (COLUSSI, 1996, p.18). Na época,

14 Dirigido também por Bento Júnior, a peça teatral tem previsão de estreia para novembro de 2015. O texto

ainda não foi publicado.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

31

para ser coronel, título criado durante a formação da Guarda Nacional, era preciso que o

mandatário tivesse uma certa quantidade de renda, além de um status social que pudesse

facilitar e ampliar os poderes e influência do governo federal.

Com base num levantamento feito a respeito da origem e posição social ocupada

pelos comandantes superiores, [...] dos 18 comandantes em questão, a esmagadora

maioria era composta por grandes proprietários de terras e escravos ou ricos

negociantes. Muitos ainda faziam parte do círculo familiar ou de amizade de figuras

ilustres e influentes no cotidiano da política provincial e, até mesmo, nacional

(GOLDONI, 2012, p. 62).

A Guarda Nacional, criada em 18 de agosto de 1831, durante o Império, tinha como

objetivo principal manter a ordem social do país. Mesmo com a sua decadência, o

Coronelismo continuou no regime republicano tendo, em princípio, os mesmos propósitos,

assumindo uma postura controladora e eleitoreira, já que era a partir desse sistema que o

governo perpetuava suas ações, de acordo com seus interesses pessoais, surgida a partir da

“[...] suposição de formas desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica

e social inadequada [...].” (LEAL, 1986, p.20).

O Coronelismo foi um processo de continuação do controle do poder, que foi

legalmente criada durante a Guarda Nacional, e que tem semelhanças inclusive com a

constituição das Capitanias Hereditárias,15 controle político no Brasil quando era dominado

por Portugal, criado pelo Rei D. João III, em 1534. Esse sistema tinha como objetivo proteger

o território das invasões dos estrangeiros, como também fortalecer o regime, dividindo a então

colônia em 15 faixas de terras, que foram entregues a homens de confiança. Entretanto, o

capitão donatário, título recebido pelo dono da capitania, era proibido de vender as terras e o

processo de posse era passado de pai para filho (daí o nome Capitanias Hereditárias). Ele era,

na verdade,

[...] um governador, subordinado às normas, à orientação e ao controle da

administração portuguesa, que também colocava alguns funcionários seus na

capitania e reservava para si algumas taxas, monopólios e a mais alta instância

judiciária. Quanto às terras da capitania, o donatário deveria distribuí-las

gratuitamente, em sesmarias, aos que tivessem condições de cultivá-las, e reservar

determinada área para uso seu e dos futuros titulares da donataria. Na realidade, as

“sesmarias” eram doadas aos poderosos, que nem sempre cultivavam (SALETTO,

2011, p.18).

15 Capitanias Hereditárias. Disponível em: <http://www.historiadobrasil.net/capitaniashereditarias/>. Acesso

em: 02 dez. 2014.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

32

Ao se estudar o processo de formação do Coronelismo, é preciso fazer um histórico de

fatos anteriores que possuíram um papel fundamental para o seu funcionamento. Ao adentrar

no conteúdo das criações da Guarda Nacional e das Capitanias Hereditárias, vemos que o

Coronelismo foi uma continuação aperfeiçoada, já que absorvia elementos como a

permanência no poder através das famílias e a manutenção da ordem pública, por exemplo.

2.2.2 Líder Político

O coronel era o responsável por manter a ordem da localidade que vivia, como

também estreitar as relações do governo federal e estadual com o município. Na época da

eleição, por exemplo, como o voto era aberto, as pessoas eram obrigadas a votar no candidato

que o coronel local apoiava. Esse fato ficou conhecido como “voto de cabresto”, pois os

eleitores não tinham como reagir, já que o coronel usava, por exemplo, seus homens de

confiança (mais conhecidos como jagunços) para manter a ordem, inclusive usando a

violência. Ou então, para garantia da votação, o coronel usava do clientelismo, ou seja, troca

de favores, ou comprava e trocava os votos por dentaduras, alimentos, água etc.

[...] Não os desafiassem, não lhes ameaçassem as vastas propriedades, não lhes

tirassem a autoridade – e receberiam sua proteção em quaisquer circunstâncias. A

sua palavra era lei, mas não só lei: garantia de segurança, fosse no que tange a

financiamento, assistência ou liberdade mesmo para os que haviam violado a lei

civil ou penal, pois entre as suas funções estavam a provisão econômica, a da

previdência e a judicante (BELTRÃO, 1980, p. 175).

Mas o próprio coronel, para obter os poderes que possuía, recebia do governo certos

“agrados” para manutenção das oligarquias no município. Ou seja, ser da oposição significava

ter uma diminuição dos favores, atingindo também a figura que o coronel exercia para a

perpetuação do dominio politico, pois “sem a liderança do ‘coronel’ – firmada na estrutura

agrária do país -, o governo não se sentiria obrigado a um tratamento de reciprocidade, e sem

essa reciprocidade a liderança do ‘coronel’ ficaria sensivelmente diminuida.” (LEAL, 1986,

p.43). Mas ao mesmo tempo estar do outro lado representava também uma guerra política

pela conquista do poder, principalmente quando famílias inimigas disputavam as eleições,

pois “como, todavia, não é possivel apagar completamente as rivalidades locais, há sempre

‘coronéis oposicionistas, a quem tudo se nega e sobre cujas cabeças desaba o poder público,

manejado pelos adversários.” (LEAL, 1986, p. 254).

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

33

Nessa relação de favores, surge a chamada Política dos Governadores, “cujo elo

primário é a politica dos coronéis” (LEAL, 1986, p.244), que tinha como objetivo fortalecer

todo o sistema de poder controlado pelo regime coronelista. Por exemplo, ao apoiar tal

governador, o coronel tinha em troca envio de verbas para a cidade ou região que controlava,

aumentando a influência perante a população.

O resultado final do domínio dos votos pelos governadores, que decidem a

composição das câmeras federais e da eleição do Presidente da República, é o

compromisso que se estabelece entre o governo federal e os estaduais, com o

fortalecimento de todo o sistema, que vai assentar, em última análise, na estrutura

agrária do país (LEAL, 1986, p. 244).

Entre os exemplos de coronéis, citamos o caso de Padre Cícero, que, para muitas

pessoas, é um santo que realizou muitos milagres. Com o seu carisma e apoio político, fez

com que Juazeiro do Norte, cidade localizada no interior do Ceará, pudesse crescer

economicamente, “o que constitui seu maior milagre.” (BELTRÃO, 1980, p. 125). Com o

poder obtido na região, conseguiu, juntamente com a ajuda de chefes políticos, derrubar o

governo estadual, após romper com ele politicamente em 1914 (BELTRÃO, 1980, p. 126-

127).

Apesar da adoração, existem opiniões contrárias que definem o Padre como coronel

e como protetor de bandidos. Um líder messiânico, como Padre Cícero de Juazeiro

do Norte, Ceará (1870-1934), uma região que produziu muitos jagunços, tornou-se

célebre sobre os camponeses pobres e sobre os jagunços e cangaceiros. Foi ele quem

tentou armar Lampião para lançá-lo contra a Coluna Prestes. Ao contrário, porém,

de outros líderes messiânicos e de outros rebeldes, a rebeldia do Padre Cícero

circunscreveu-se ao interior da Igreja, suspenso de ordens. Fora dela, juntou

jagunços e coronéis, tornando-se ele próprio um poderoso coronel sertanejo que

chegou até depor o governador do Ceará (MARTINS, 1981, p. 61).

Outro exemplo, encontrado aqui na Paraíba, é o do Coronel Zé Cunha Lima, da cidade

de Areia, que ficou conhecido na região do Brejo por ter o poder e a influência de eleger

deputados e prefeitos, características que ainda são encontradas nos dias de hoje. Já o

fazendeiro e líder José Pereira Lima,16 conhecido como Coronel Zé Pereira, foi o responsável

por declarar a cidade de Princesa, em 1930, como território livre, tornando-a autônoma na

Paraíba.

Pang (1979) estruturou o Coronelismo em quatro tipos: familiocráticas, tribais,

colegiadas e personalistas. No primeiro tipo, se “incluia a familia em si, pessoas da mesma

16 Política Oligárquica da Paraíba – Revolta da Princesa. Disponível em:

<http://parahybaheroiversusantiheroi.blogspot.com.br/p/politica-oligarquica-da-paraiba.html>. Acesso em: 12

jan. 2015.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

34

linhagem, parente por afinidade, afilhados de batismo ou de casamento e, às vezes, o povo

dependente do ponto de vista socioeconômico” (PANG, 1979, p.40); os tribais eram coronéis

patriarcas de um clã, que tinham o comando político de muitas outras famílias; nos

colegiadas, encontramos os coronéis que mantinham negócios políticos em comum acordo

com outros coronéis, sem haver disputas; por último, os personalistas eram aqueles que

tinham um carisma pessoal e que eram impossíveis de transmitir por herança.

2.3 NEOCORONELISMO

Com o declínio do Coronelismo a partir da década de 1930, durante o governo de

Getúlio Vargas, o coronel perdeu sua força política, fazendo com que esse sistema oligárquico

chegasse ao seu “fim”. Entretanto, muitas das características encontradas durante o regime

coronelista, a exemplo do controle do poder através das gerações, são encontradas ainda nos

dias atuais, funcionando como uma espécie de herança dos antepassados.

O conceito do Neocoronelismo foi usado neste trabalho como uma repaginação do que

foi o Coronelismo, praticada de forma mais sutil que antigamente, pois, por exemplo, ainda é

perceptível o uso de favores como a compra de votos. É o caso do deputado Tovar Correia

(PSDB), de Campina Grande, que foi detido nas eleições de 2014 após ser abordado com

cestas básicas e uma lista com nomes de eleitores.17

Porém, o uso do termo “Neocoronelismo” no Nordeste é criticado por Barbalho (2007,

p.31), pois, segundo ele,

o mesmo não se pode dizer quando o foco é o Nordeste, palco de políticas

desenvolvimentistas iniciadas nos anos 1950 e intensificadas durante o regime

militar, levando a industrialização aos grandes centros urbanos e a implantação de

relações capitalistas a zona rural. Essa dificuldade reflete-se, por exemplo, na criação

de outros termos, tais como “novo coronelismo” e “neo-coronelismo”, na tentativa

de atualizar o conceito.

Ou seja, com a industrialização e modernização dos grandes centros urbanos,

juntamente com o êxodo rural, o uso da palavra “neocoronelismo” não é adequada, pois o que

existe são resquícios do que foi o Coronelismo. A mesma situação é defendida por Carvalho

(1987, p.197), quando afirma que “o Estado, via políticas de desenvolvimento rural, unificou

17 Polícia Federal prende candidato a deputado estadual na PB. Disponível em:

<http://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,policia-federal-prende-candidato-a-deputado-estadual-na-

paraiba,1571369>. Acesso em: 14 nov. 2014.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

35

a nova natureza da terra não mais como mera ‘condição natural’ de produção, mas como

equivalente de capital.” Isso significa dizer que o meio rural, onde a atuação do coronel era

mais forte, perde seu valor político para se transformar em uma fonte de renda.

Efetivamente, como já foi discutido, o Coronelismo não existe mais, sendo

caracterizado nos dias de hoje como uma transição. Beltrão (1980, p. 175), por exemplo,

acredita que o novo coronelismo funciona pela

[...] desumanização, pelo desconhecimento dos liderados como pessoas: para esses

‘coronéis’, os quais também não se identificam por nomes ou titulos, mas

geralmente por siglas ou marcas, como gado, os seus interlocutores são igualmente

gado, gente indiferenciada, tipos, classes A, B ou C; não há ‘compadres’ nem

‘afilhados’, mas ‘consumidores’, ‘clientes’, ‘empregados’, ‘massa’ assexuada,

números ímpares, incolores, sem paixões e sem alma.

Dentro desse contexto, discordamos de Barbalho (2007) e de Carvalho (1987) por

entender que o Neocoronelismo ainda é uma prática vigente no país, reconstruído através de

um sistema político que visa o poder pelo poder, sem ter a preocupação com os principais

problemas existentes em cada região.

Em uma entrevista18 concedida ao portal Click PB, em 2007, o então governador da

Paraíba, Cássio Cunha Lima, usou o termo Neocoronelismo para conceituar o uso da mídia

em fins eleitoreiros. Na época, o tucano acusou o Sistema Correio de Comunicação, através

do proprietário Roberto Cavalcanti, de provocar sua cassação, fato que aconteceria dois anos

depois. Nas palavras do ex-governador, Neocoronelismo

é o que Roberto Cavalcanti pratica. É um coronelismo muito mais sofisticado, muito

mais requintado, porque utiliza dos meios de rádio, jornal, televisão e portal para

induzir a opinião pública, manipular a verdade e influenciar até na cabeça de

homens e mulheres de bem. Antigamente os coronéis atuavam nos currais eleitorais.

Hoje este coronelismo é muito mais sofisticado e é exatamente isso que acontece

hoje no Estado da Paraíba (CLICK PB, 2007)

Vimos que a formação do Coronelismo se deu por muitos fatores, principalmente por

causa das oligarquias que controlavam o poder desde a formação das Capitanias Hereditárias.

O coronel da Guarda Nacional tinha resquícios do Capitão Donatário, mas funcionando com

outros pensamentos em um regime diferente; o mesmo aconteceu na transição do Império

para a República, pois o Coronelismo havia se tornando um sistema político, com a intenção

de diminuir as distâncias entre o governo e a população, principalmente na época das eleições.

18 Cássio: “Sou vítima do Neocoronelismo do Correio.” Disponível em:

<http://www.clickpb.com.br/noticias/politica/Cássio-sou-vitima-do-Neocoronelismo-do-correio/>. Acesso em:

11 nov. 2014.

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

36

O Neocoronelismo, mesmo sendo criticado por certos autores, tem seu

reconhecimento, enquanto conceito, a partir da própria trajetória que o antecede. Infelizmente

ainda vemos casos de compra de votos, uso da mídia para favorecer certo candidato (inclusive

quando esse meio de comunicação pertence ao próprio político), troca de favores, manutenção

do poder através das gerações etc. Leal (1986, p.244), por exemplo, cita o papel dos partidos

políticos nessa nova conjuntura eleitoral já que se tornaram meros coadjuvantes, pois “quem

observa a multiplicidade de alianças, que se fizeram nas últimas eleições estaduais e

municipais, não pode deixar de verificar que os nossos partidos são pouco mais que legendas

[...] destinados a atender às exigências técnico-juridicas do processo eleitoral.”

A edição de setembro de 2012 da Revista Fisco,19 por exemplo, trouxe na capa uma

charge com o governador Ricardo Coutinho vestido de coronel; o titulo era “A ameaça do

Neocoronelismo.” O socialista estava sendo criticado pelo Sindicato dos Servidores Fiscais

Tributários da Paraíba (Sindifisco-PB) pela falta de diálogo com a categoria, da arbitrariedade

no governo, pelo desrespeito às leis e prejuízo aos poderes etc.

Nas eleições de 2014 aconteceram várias irregularidades. No dia anterior à votação,

dois homens foram detidos20 pela Polícia Rodoviária Federal, suspeitos de mediar compras de

votos no Agreste paraibano. No carro foram encontrados a quantia de R$ 27 mil, juntamente

com dezenas de “santinhos” da então candidata a deputada estadual Olenka Maranhão

(PMDB). Em outro caso, no sertão de Pernambuco, quatro pessoas foram presas por suspeita

de compra de votos no decorrer da votação.21 Segundo a Secretaria de Defesa Social do

Estado, 101 foram detidas, inclusive o prefeito de Verdejante, que foi encontrado com

aproximadamente R$ 10 mil, como também 12 quilos de material eleitoral. Já na eleição

presidencial, uma moradora do sertão baiano recebeu uma prótese para gravar imagens com a

então candidata à reeleição Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT).22 Além dos

dentes novos, a eleitora também ganhou um fogão à lenha ampliado na semana da chegada da

presidente na cidade.

19 Neocoronelismo em evidência. Revista do Fisco, João Pessoa, a.43, edição extra, set. 2012, p.8-12.

Disponível em: <http://sindifiscopb.org.br/sites/default/files/uploads/noticia/16128/revistafiscolow.pdf>. Acesso

em: 12 jan. 2015. 20 Polícia Federal apreendem R$ 30 mil e prendem três pessoas em flagrante comprando votos na PB.

Disponível em: <http://www.folhadosertao.com.br/portal/abrir.noticia.asp?titulo=policia-federal-apreendem-

r%24-30-mil-e-prendem-tres-pessoas-em-flagrante-comprando-votos%2C-na-pb-veja-

foto&id=8816&offset=210>. Acesso em: 2 dez. 2014. 21 Prefeito de Verdejante, PE, é detido suspeito de compra de votos, diz PF. Disponível em:

<http://g1.globo.com/pernambuco/eleicoes/2014/noticia/2014/10/prefeito-de-verdejante-pe-e-detido-suspeito-de-

compra-de-votos-diz-pf.html>. Acesso em: 2 dez. 2014. 22 Sertaneja diz que ganhou próteses de gravar com Dilma para TV. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/08/1504101-sertaneja-diz-que-ganhou-protese-antes-de-gravar-com-

dilma-para-tv.shtml>. Acesso em: 7 dez. 2014.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

37

Portanto, a temática, por ser abrangente, tem ainda muito por discutir, dependendo da

área que esteja trabalhando.

2.3.1 Famílias Oligárquicas no Nordeste

A manutenção do poder entre os membros de uma mesma família, como já foi

discutido, era uma ação recorrente na época do Coronelismo. Nos dias atuais, as famílias

oligárquicas ainda possuem o domínio político no Nordeste, fazendo com que essa prática

neocoronelista seja uma das mais fortes na região.

É o caso da família Sarney, no Maranhão. Eleito deputado federal em 1958, José

Sarney governou o estado de 1966 a 1971 e acabou se tornando presidente da República no

ano de 1985, com a morte de Tancredo Neves.23 Em 1991, por não conseguir o apoio do

PMDB para disputar o senado, Sarney decide candidatar-se ao mesmo cargo no Amapá,

estado criado quando estava à frente da presidência.24 Já a sua filha Roseana Sarney foi

governadora do Maranhão por quatro mandatos.25

Sarney, que também foi repórter dos Diários Associados, é dono de diversos meios de

comunicação, a exemplo do O Estado do Maranhão. Na eleição de 2006, por exemplo, a

emissora TV Mirante, afiliada da TV Globo que pertence à família Sarney, foi acusada de

favorecer a candidatura de Roseana ao governo do Estado.26

Além disso, o Maranhão possui 161 escolas com nome dos Sarney, mostrando que o

sobrenome tem uma grande força no estado.27

Em outro exemplo, agora no Ceará, a família Alcântara, proveniente do ex-governador

Waldemar de Alcântara, domina várias cidades pequenas do estado, como São Gonçalo,

23 Sarney, o coronelismo e o lulismo. Disponível em: <http://www.marcovilla.com.br/2011/08/sarney-o-

coronelismo-e-o-lulismo.html>. Acesso em: 6 fev. 2015. 24 Após 54 dias ausente por internação, Sarney retorna ao Senado. Disponível em:

<http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/09/apos-54-dias-ausente-por-internacao-sarney-retorna-ao-

senado.html>. Acesso em> 6 fev. 2015. 25 Roseana Sarney renuncia ao governo do Maranhão. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1560261-roseana-sarney-renuncia-ao-governo-do-

maranhao.shtml>. Acesso em: 6 fev. 2015. 26 Meios de comunicação entram em campanha no Maranhão. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1560261-roseana-sarney-renuncia-ao-governo-do-

maranhao.shtml>. Acesso em: 6 fev. 2015. 27 Maranhão tem 161 escolas com nome dos Sarney. Disponível em:

<http://oglobo.globo.com/brasil/maranhao-tem-161-escolas-com-nome-dos-sarney-4828090>. Acesso em: 6 fev.

2015.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

38

comandada pelo grupo desde 1947.28 No Rio Grande do Norte, “o grupo oligárquico familiar

Rosado surgiu com o poder político local em Mossoró, com Jerônimo Rosado que deu origem

ao clã [...] que comanda o município há mais de meio século.” (SILVA, 2011, p.4).

O grupo liderado pelo ex-governador Antônio Carlos Magalhães (ACM) domina os

cargos políticos na Bahia desde 1971, quando ACM tornou-se deputado estadual em 1954.29

Atualmente o seu neto Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM) é prefeito de Salvador.

2.4 DISCURSO

Neste tópico, trazemos para o debate a Análise do Discurso, para que se discuta

posteriormente a teoria da Análise Crítica do Discurso a partir de uma ênfase social da fala.

Por último, apresentamos as marcas encontradas frequentemente no discurso político, ponto

fundamental para entender os resultados recolhidos pela pesquisa.

2.4.1 Análise do Discurso (AD)

A palavra discurso muitas vezes é usada como uma expressão para relacionar com a

oratória que é feita para um público segmentado, ou também para generalizar as intenções e

as ideias de um determinado grupo. Por exemplo, no discurso politico a palavra “mudar”

aparece como um apelo emocional para conquista de votos. Porém, para a Análise do

Discurso (AD), o discurso não é como a comunicação e seus elementos (fonte, canal,

mensagem, codificação, decodificação etc.); consegue perpassar as definições que foram

impostas, transformando em um mesmo nível a emissão e recepção.

[...] Não se trata apenas de transmissão de informação, nem há essa linearidade na

disposição dos elementos da comunicação, como se a mensagem resultasse de um

processo assim serializado: alguém fala, refere alguma coisa, baseando-se em um

código e o receptor capta a mensagem, decodificando-a. Na realidade, a língua não é

só um código entre outros, não há essa separação entre emissor e receptor, nem

tampouco eles atuam numa sequência em que primeiro um fala e depois o outro

decodifica etc. Eles estão realizando ao mesmo tempo o processo de significação e

não estão separados de forma estanque (ORLANDI, 2005, p. 21).

28 Oligarquias municipais têm força no Ceará. Disponível em:

<http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2012/01/24/noticiasjornalpolitica,2772552/oligarquias-

municipais-tem-forca-no-ceara.shtml>. Acesso em: 6 fev. 2015. 29 Antônio Carlos Magalhães morre aos 79 em SP. Disponível em:

<http://noticias.uol.com.br/ultnot/2007/07/20/ult23u456.jhtm>. Acesso em: 6 fev. 2015.

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

39

A Análise de Discurso tem como objetivo estudar o discurso, vendo não somente cada

palavra, mas também seu sentido e ideologia. Ou seja, cada discurso possui uma simbologia,

um caminho percorrido, uma intenção que são essenciais para entender o que existe por trás

do texto, seu significante e significado.30 A partir disso compreendemos melhor qual a função

do discurso estudado, fazendo uma abordagem histórica, semântica e ideológica. Assim

sendo, “o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de

dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nós queremos apoderar.”

(FOUCAULT, 1999, p.10).

Na verdade, o discurso é o que liga os anseios do comunicador, do líder, até o

receptor, o público-alvo. É essencial na busca da compreensão entre os fatores da fala e do

entendimento. Na política, isso se sobressai, muitas vezes, interligado pelas formas de

comunicação e de canais utilizados no objetivo central, ou seja, na vitória. O discurso pode

ser considerado muito mais que o falar; são os recursos de persuasão, as marcas de uma

linguagem, juntamente com os significados existentes nelas, a partir da análise das estruturas

das construções ideológicas.

A AD, no meio linguístico, tem como função identificar a argumentação, os sujeitos

envolvidos, a subjetividade e a construção da realidade. Entretanto, cada discurso terá sua

própria identificação, dependendo da visão e da fala que é impregnada, pois é lançada “sem

que se tenha o total domínio dos efeitos que ela produzirá, mas com a suposição racional de

que ela será interpretada de diferentes maneiras.” (CHARAUDEAU, 2007, p.246).

No livro A ordem do discurso, Foucault (1999, p.8) faz uma indagação: “Mas o que há

de tão perigoso no fato de as pessoas falarem e de seus discursos proliferarem

indefinidamente? Onde afinal está o perigo?” Durante o decorrer da obra, o filósofo questiona

a relação do discurso com o poder. Ou seja, no meio social existe uma interdição e exclusão

de certos segmentos, pois são controlados socialmente. Infelizmente, a voz do pobre e

marginalizado poucas vezes são ouvidas pela sociedade, sendo “excluidas” do discurso social

e econômico.

O discurso nada mais é do que um jogo, de escritura, no primeiro caso, de leitura, no

segundo, de troca, no terceiro, e essa troca, essa leitura e essa escritura jamais põem

em jogo senão os signos. O discurso se anula, assim, em sua realidade, inscrevendo-

se na ordem do significante (FOUCAULT, 1999, p.49).

Em suma, o sentido atribuído pelo receptor em relação ao discurso vai depender da sua

interpretação. Sendo assim, o discurso nunca será fixo, pois cada compreensão e

30 Significante enquanto palavra e imagem; significado como valor ou sentido.

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

40

entendimento do corpo do texto em si terá um ponto de vista diferente em cada aspecto. É o

que a Análise do Discurso tenta buscar em sua teoria.

2.4.2 Análise Crítica do Discurso (ACD)

A Análise Crítica do Discurso (ACD) nasce a partir dos estudos da Análise do

Discurso, porém com uma ênfase mais social, baseada na semiose como processo de

significação, além da sua relação com outros signos, e que inclui tanto a linguagem visual

como a corporal, permitindo uma maior compreensão do sentido ideológico proposto pelo

autor, a partir de uma análise política e econômica (FAIRCLOUGH, 2005).

Ou seja, o discurso se torna importante como elemento da prática social. Na AD, por

exemplo, o objetivo é entender a fala a partir da língua e dos sentidos impostos encontrados

no texto, vendo-o como um todo em seu contexto, buscando entender a intenção do

comunicador ao emitir o discurso, além das interpretações feitas pelo receptor, tornando-se

assim superficial. Já na ACD, o objetivo central é compreender, através da abordagem sócio-

histórica, as relações de poder e de controle. Nesse sentido, a ACD se torna essencial para

entender os contextos econômicos de uma sociedade, além dos problemas existentes

encontrados no presente e os desafios que serão enfrentados no futuro.

A partir dessa enfática, as práticas sociais encontradas na ACD

nos permite combinar as perspectivas de estrutura e de ação – uma prática é, por um

lado, uma maneira relativamente permanente de agir na sociedade, determinada por

sua posição dentro da rede de práticas estruturadas; e, por outro, um domínio de

ação social e interação que reproduz estruturas, podendo transformá-las. Todas são

práticas de produção, arenas dentro das quais a vida social é produzida, seja ela

econômica, política, cultural ou cotidiana (FAIRCLOUGH, 2005, p.308).

A ACD, a partir da semiose, vai trabalhar em três etapas (FAIRCLOUGH, 2005,

p.309-310). Primeiro, busca entender as atividades sociais inseridas nas práticas estruturais

encontradas no discurso. Ou seja, a análise irá a procura das particularidades a partir da

língua. Por exemplo, como se comporta um vendedor de loja ou um governador a partir de

suas atividades; segundo, as representações que cada indivíduo irá produzir, a partir da

posição social que ocupa, fazendo, logo em seguida, uma contextualização do momento; por

último, o desempenho de posições particulares, buscando as posições determinadas pelas

práticas, pois “as pessoas de diferentes classes sociais, sexos, nacionalidades, etnias ou

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

41

culturas, com experiências de vidas diversas, produzem desempenhos distintos.”

(FAIRCLOUGH, 2005, p.310).

Assim, a ACD tem como objetivo (FAIRCLOUGH, 2005, p.312), enquanto ciência

social crítica, focalizar os chamados “perdedores”, ou seja, os marginalizados pela sociedade,

como os homossexuais, mendigos, negros, e assim por diante. Nesse aspecto, a Análise

Crítica do Discurso se encontra com a teoria da Folkcomunicação, pois, como dito no

primeiro tópico deste capítulo, seu propósito é estudar a comunicação que foge dos meios

convencionais, dando voz principalmente aos excluídos socialmente. As representações da

vida social são discutidas pela ACD a partir da ênfase do discurso. “A vida de pessoas pobres,

por exemplo, é representada nas práticas sociais do governo, da política, da medicina, de

ciência social, e os diferentes discursos, [...] correspondem às diversas posições dos atores

sociais” (FAIRCLOUGH, 2005, p.310).

Por isso que, quando se faz uma análise crítica do discurso, referente ao objeto de

estudo, é imprescindível identificar elementos como os meios de produção, as identidades e os

valores culturais que estão envolvidos numa relação de poder. Portanto, a fala precisa ser

estudada com mais profundidade, vendo o momento histórico como um processo social

material do discurso. Identificar o problema social e os obstáculos, além de refletir

criticamente sobre a temática, são os desafios da teoria da Análise Crítica do Discurso.

2.4.3 Discurso Político

No discurso político podemos encontrar promessas, mudanças, críticas, assim por

diante. Dentro de uma eleição, por exemplo, o discurso tem como objetivo convencer o eleitor

de que o melhor caminho para melhorar a vida da população é votar em tal político; durante

uma inauguração de uma obra importante, o discurso perpassa pela qualidade da construção e

sua funcionalidade no avanço social da região. No final das contas, a persuasão se torna

elemento essencial na aprovação do governo e na manutenção do poder. Cada discurso possui

uma finalidade, carregando consigo uma ideologia e a escolha de uma posição, partidária ou

não, como já foi discutido.

Charaudeau (2007) estuda o discurso político a partir do âmbito das emoções. Nesse

aspecto, segundo o autor, a persuasão também passa pelo uso emotivo do discurso, criando

uma representação social com o receptor, nesse caso o eleitor.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

42

A relação entre esse sujeito e esse objeto se faz pela mediação de representações. É

pelo fato das emoções se manifestarem em um sujeito ‘em função de’ alguma coisa

que esse sujeito se faz representar enquanto tal. Digamos que seja por isso que essas

emoções podem ser ditas representacionais (CHARAUDEAU, 2007, p.241).

Além disso,

em uma perspectiva da análise do discurso, os sentimentos não podem ser

considerados nem como uma sensação, nem como um experimentado, nem como

expresso, pois, se de um lado, o discurso pode ser portador e desencadeador de

sentimentos e emoções, de outro, não é nele que se encontra a prova de

autenticidade do que se sente (CHARAUDEAU, 2007, p.241).

Desse modo, dentro do discurso político, o ethos se encontra como fator essencial na

busca de convencer o público-alvo. Constituído por Aristóteles na antiguidade, o ethos é

formado, não só pelo texto, mas também pela reputação do político, pelo tom de voz, pelas

expressões utilizadas durante o discurso (PLANTIN, 2008, p.112). Dessa forma, o carisma

proferido à população se torna algo sedutor, principalmente entre os excluídos da sociedade,

que muitas vezes só querem ser escutados, mesmo que diante dos problemas encontrados nas

localidades em que moram. “[...] O ethos consiste em um recurso usado para incitar a emoção

através do discurso e se refere, grosso modo, à construção de imagens de si. Ao lado do

pathos, ou seja, da paixão ou dos sentimentos, ele é o responsável por garantir a adesão dos

ouvintes.” (LIMA, 2009, p.43).

Vejamos, como exemplo, a morte do ex-candidato a Presidente da República Eduardo

Campos, ex-governador de Pernambuco, que faleceu no dia 13 de agosto de 2014, em um

acidente aéreo na cidade de Santos, São Paulo, durante a campanha presidencial.31 Eduardo,

então presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), era um candidato desconhecido em

âmbito nacional, mesmo após a filiação da ex-ministra do Meio Ambiente no governo Lula

(2003-2010), Marina Silva, ao PSB (que depois veio a ser vice-presidente na chapa

encabeçada pelo socialista). As pesquisas eleitorais indicavam Eduardo em terceiro lugar,

com 9% dos votos, enquanto mostravam Dilma Rousseff (PT) em primeiro, com 38%, e

Aécio Neves (PSDB), em seguida, com 23%.32

Com a morte precoce do presidenciável no decorrer do processo eleitoral, além da

cobertura que os meios de comunicação fizeram em todo o país, as pessoas começaram a se

31 Eduardo Campos morre em Santos após queda do avião em que viajava. Disponível em:

<http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/08/eduardo-campos-morre-apos-queda-do-aviao-em-que-

viajava.html>. Acesso em: 30 nov. 2014. 32 Ibope: Dilma tem 38%, Aécio, 23%, e Campos, 9% das intenções de voto. Disponível em:

<http://eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/2014/08/07/ibope-dilma-tem-38-aecio-23-e-campos-9-das-intencoes-

de-voto.htm>. Acesso em: 30 nov. 2014.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

43

comover com a situação, fazendo com que a candidata que substituiu Eduardo, nesse caso

Marina, subisse nas pesquisas assumindo a primeira posição na disputa. Mesmo com a caída

da ex-ministra nas últimas semanas e a ascensão de Aécio, a morte precoce de Eduardo

Campos mudou todo o jogo, fazendo com que a eleição, antes atípica, tivesse outros

ingredientes que chamassem a atenção dos eleitores. Dilma, que antes do acontecimento

venceria as eleições no primeiro turno, acabou indo pro 2º round com o tucano Aécio, sendo

reeleita com uma margem apertada (51,64% contra 48,36%).

Nesse caso, o acontecimento não previsto em uma eleição e a morte de um candidato

cujo governo era bem avaliado em Pernambuco,33 mudaram o cenário político do país,

colocando a emoção, num primeiro momento, como elemento fundamental para ganhar as

eleições. Em seus discursos, Marina Silva usava o bordão de Eduardo (dito em entrevista ao

Jornal Nacional um dia antes da tragédia), “Não Vamos Desistir do Brasil”, para exaltar a

imagem do político, criando na população um sentimento de luto. Isso fez com que ela

disparasse em primeiro lugar nas pesquisas nas primeiras semanas. Entretanto, com a

desconstrução da imagem de Marina feita pelos seus adversários, a candidata acabou

deixando a disputa em terceiro lugar, com pouco mais de 22 milhões de votos. Ainda assim, a

socialista ficou em primeiro lugar na terra de Eduardo, Pernambuco, vencendo34 o PT com

48,05% dos votos, onde também Paulo Câmara (PSB), que também era desconhecido na

disputa pelo Governo do Estado, venceu as eleições no primeiro turno com 68%.35

Assim sendo, a emoção utilizada no discurso político foi fundamental para entender os

resultados da análise do discurso de Cássio Cunha Lima, estratégia usada inclusive pelo seu

pai, o ex-governador e poeta Ronaldo Cunha Lima, principalmente para conquistar os

eleitores de Campina Grande, reduto político da família.

33 Governo de Eduardo Campos é o mais popular do país, diz CNI/Ibope. Disponível em:

<http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2013/07/25/eduardo-campos-cniibope.htm>. Acesso em: 30

nov. 2014. 34 Em PE, Dilma perde em votos, mas vence na maioria das cidades. Disponível em:

<http://g1.globo.com/pernambuco/eleicoes/2014/noticia/2014/10/em-pe-dilma-perde-em-votos-mas-vence-na-

maioria-das-cidades.html>. Acesso em: 30 nov. 2014. 35 Sob a lembrança de Eduardo Campos, PSB vence em PE. Disponível em:

<http://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,sob-a-lembranca-de-eduardo-campos-psb-vence-em-

pe,1571816>. Acesso em: 30 nov. 2014.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

44

3 ANÁLISE DAS MARCAS DISCURSIVAS FOLKCOMUNICACIONAIS E

NEOCORONELISTAS

Dividimos esse capítulo em três etapas: primeiro, fizemos uma abordagem política da

trajetória do grupo dos Cunha Lima, através das figuras de Ronaldo e Cássio; em seguida,

realizamos a análise crítica dos discursos encontrados nos textos do portal do candidato,

identificando as marcas discursivas folkcomunicacionais, com ênfase no ativismo midiático e

social; logo após, com o mesmo material, traçamos as atitudes neocoronelistas encontradas no

discurso do tucano. Com a junção das marcas encontradas, elaboramos o perfil do novo

coronel, discutindo o público-alvo, a relação com os grupos marginalizados, as críticas aos

adversários, os apoios políticos, as formas de comunicação utilizadas por Cássio, as

estratégias da campanha, entre outros.

3.1 TRAJETO POLÍTICO DO GRUPO CUNHA LIMA

3.1.1 Ronaldo Cunha Lima

Ronaldo José da Cunha Lima36 nasceu em Guarabira, Brejo da Paraíba, no dia 18 de

março de 1936. Filho do ex-prefeito de Araruna Demóstenes Cunha Lima e formado em

Ciências Jurídicas, Ronaldo foi casado com Maria da Glória Rodrigues da Cunha Lima, com

quem teve quatro filhos: Cássio Cunha Lima (senador), Ronaldo Cunha Lima Filho (atual

vice-prefeito de Campina Grande), Glauce Cunha Lima e Savigny Cunha Lima.

Durante sua trajetória política, Ronaldo foi vereador, deputado estadual, deputado

federal, senador e governador. Em 1969 foi eleito prefeito de Campina Grande, cargo que teve

que deixar após o mandato ser cassado pela ditadura militar. Em 1983 volta para a prefeitura

de Campina, onde constrói o Parque do Povo, local da realização do “Maior São João do

Mundo”, evento que acontece durante 30 dias nas festividades dos santos juninos. Assim,

Ronaldo consegue criar uma identidade forte com a cidade, frutos que recompensam a família

até os dias de hoje.

Independentemente das partes sinuosas de sua trajetória política, Ronaldo Cunha

Lima é quase um mito para significativa parcela da população

36 Ronaldo Cunha Lima construiu quase 50 anos de carreira política. Disponível em:

<http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2012/07/ronaldo-cunha-lima-construiu-quase-50-anos-carreira-

politica.html>. Acesso em: 10 dez. 2014.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

45

campinense, perfil positivo em muito decorrente do papel de mentor e criador do

Maior São João do Mundo, de modo que a simbologia de grandiosidade do evento

acaba se confundindo com a imagem do político (NÓBREGA, 2014, p.126-127).

Em 1993, durante seu mandato de governador, tentou assassinar Tarcísio Burity, seu

antecessor no cargo.37 Após entrar no restaurante Gulliver, em João Pessoa, e se deparar com

Burity, Ronaldo disparou dois tiros. Um, atingiu a boca, e, o outro, no tórax. O ex-governador

conseguiu sobreviver, falecendo 10 anos depois, vítima de problemas cardíacos.

A tentativa de homicídio foi motivada por críticas que Burity teria feito a Cássio

Cunha Lima, então diretor da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).

Ronaldo foi detido pela Polícia Federal, mas o caso nunca foi julgado pela Justiça. Em 2007,

às vésperas do Supremo Tribunal Federal julgar a ação penal, Ronaldo renuncia ao cargo de

deputado federal. Com isso, ele perdia o foro privilegiado e responderia ao crime como um

cidadão comum. Na época, o ministro do SFT Joaquim Barbosa disse que o fato era uma

vergonha para a justiça brasileira, “especialmente para com o Supremo Tribunal Federal.”38

Ronaldo também era conhecido como poeta, devido às suas obras literárias.39 Em

1994, assume a cadeira de número 14 na Academia Paraibana de Letras. Quando inaugurava

alguma obra, fazia versos no lugar dos discursos normais, como, por exemplo, na inauguração

do Parque do Povo: “Que este meu gesto marque/ O nascer de um tempo novo/ O povo pediu

o parque/ Eu fiz o Parque do Povo.” Em 1988 chegou a vencer o programa Sem Limite, da

Rede Manchete, após 10 rodadas respondendo em versos perguntas sobre a vida e obra do

poeta paraibano Augusto dos Anjos, levando nacionalmente o nome da cidade de Campina

Grande.

O ex-governador acabou falecendo em 7 de julho de 2012, por causa de um câncer no

pulmão que descobriu em 2011. Ronaldo conseguiu construir um espaço dedicado aos Cunha

Lima na Paraíba, através da sua relação e estratégias com os excluídos, referência que abrange

nos dias de hoje o restante da família no meio político.

37 Senado faz homenagem a ex-senador que atirou em rival. Disponível em:

<http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/senado-fara-homenagem-a-ex-senador-que-atirou-em-desafeto>. Acesso

em: 10 dez. 2014. 38 Ministro afirma que com renúncia do deputado Federal Ronaldo Cunba Lima ação penal não será

julgada pelo STF. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=75737>. Acesso em: 11 jan. 2015. 39 Ronaldo Cunha Lima morre na Paraíba. Disponível em:

<http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2012/07/morre-ronaldo-cunha-lima-na-paraiba.html>. Acesso em: 10

dez. 2014.

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

46

Entretanto, para o historiador José Octávio, existia uma diferença na relação com a

população entre Ronaldo e Cássio.40 Segundo ele, o poeta era mais admirado pelos mais

humildes porque vivia nas ruas conversando com eles, diferentemente do filho, pois

Ronaldo Cunha Lima ligou-se às chamadas Sabs (Sociedades de Amigos de

Bairros), em Campina Grande. Era visto nas ruas e nos bares, conversando com o

povo, fato que o diferencia do filho, Cássio, que só é visto nas ruas de Campina

Grande durante as campanhas eleitorais, uma característica de político de classe

média. A base de Ronaldo em Campina é o bairro da Liberdade, que reúne pequenos

burgueses e populares. Cássio não tem o viés do pai. [...] Na sua administração, ele

era aconselhado a se aproximar do povo (VITRINE DO CARIRI, 2010).

3.1.2 Cássio Cunha Lima

Cássio Rodrigues da Cunha Lima nasceu no dia 5 de abril de 1963, na cidade de

Campina Grande, Paraíba.41 Filho do ex-governador Ronaldo Cunha Lima e formado em

Direito pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Cássio iniciou sua trajetória política

como presidente do Centro Acadêmico de Direito da UEPB. Depois, foi eleito deputado

federal constituinte em 1986; dois anos depois é eleito prefeito de Campina Grande com

53.720 votos, sucedendo o seu pai no executivo municipal, estratégia que foi usada em sua

campanha eleitoral, como no jingle do candidato: “Plantar o grão/ Pra colher o milho/ Depois

do pai/ Sempre vem o filho/ Continuar por amor é a sina/ Francisco Lira,42 Cássio Cunha

Lima.” 43

Em 1995 é eleito deputado federal novamente, tornando-se vice-líder do seu partido na

Câmara. No ano seguinte, volta a ser eleito prefeito de Campina Grande, agora com 72.185

votos, onde é reeleito quatro anos depois com 71,35%. Em 2001, os Cunha Lima, que

dominavam a Prefeitura de Campina Grande desde 1983, brigam com o então governador Zé

Maranhão, do PMDB, e deixam o partindo, seguindo para o PSDB.44 Isso fez com que Cássio

ganhasse força política para disputar o Governo do Estado dois anos depois. Em um embate

acirrado com Roberto Paulino, o tucano leva a melhor no 2º turno com 889. 922 votos.

40 Oligarquias e populismo dominam política da Paraíba. Disponível em:

<http://www.vitrinedocariri.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=27809>. Acesso em: 12 jan.

2015. 41 Trajetória política retirada do portal do candidato Cássio Cunha Lima. Disponível em:

<http://www.cassiocunhalima.com.br/index.php/biografia>. Acesso em: 7 dez. 2014. 42 Vice-prefeito na chapa encabeçada por Cássio. 43 Ronaldo Cunha Lima: poeta, político, homem do povo. Disponível em:

<http://www.paraiba.pb.gov.br/52411/ronaldo-poeta-politico-homem-do-povo.html>. Acesso em: 10 dez. 2014. 44 Ronaldo Cunha Lima (1983 – 1988); Cássio Cunha Lima (1989 – 1992 e 1997 - 2002); Félix Araújo Filho

(1993 – 1996).

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

47

Em sua primeira gestão, Cássio é lembrado pela realização de programas sociais que

beneficiaram os mais carentes, a exemplo dos programas A Casa é Sua, onde quitou o saldo

devedor das casas de 55 mil famílias, e Leite da Paraíba, com a distribuição gratuita de leite e

pão para as famílias paraibanas. Já em 2006, o senador Zé Maranhão resolve disputar o

governo. Em uma das eleições mais disputadas da história, Cássio é reeleito com mais de um

milhão de votos, a maior votação que um político havia recebido na Paraíba. Entretanto, a

campanha do governador foi acusada de muitos escândalos. Entre eles, a distribuição irregular

de 35 mil cheques do programa de assistência social da Fundação de Ação Comunitária

(FAC). 45

A partir desse fato, Cássio começa a enfrentar dificuldades em seu governo, até que

em 2007 é cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB). Em 2009, o tucano

deixa o cargo após os recursos julgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em seu lugar

assume o então senador José Maranhão.

Em 2010, Cássio surpreende a todos quando decide apoiar o então prefeito de João

Pessoa, Ricardo Coutinho (PSB), ex-aliado de Maranhão, para o governo da Paraíba. O ex-

governador entraria na disputa pelo Senado. Ricardo vence as eleições no 2º turno, com

1.079.164 votos, tornando-se o governador com mais votos da história do estado,

ultrapassando a votação que o tucano obteve quatro anos atrás. Já Cássio é eleito senador com

1.004.183 votos.46 Entretanto, ele só assume o cargo em 8 de novembro de 2011, após o STF

entender que a Lei da Ficha Limpa47 não poderia atingir Cássio, já que ela só entraria em

vigor a partir das eleições municipais de 2012.

Já no mês de fevereiro de 2014, Cássio resolve romper politicamente com o

governador Ricardo Coutinho. Nas eleições, volta a disputar pela terceira vez o governo da

Paraíba. O tucano chegou a ficar em primeiro lugar no 1º turno da votação. Porém, com o

apoio dado pelo PMDB ao PSB, Ricardo vira a disputa, sendo reeleito com 52,61%.48

Entretanto, essa eleição foi muito importante para o grupo dos Cunha Lima. Cássio

conseguiu eleger seu filho, Pedro Cunha Lima, como deputado federal; Tovar Correia Lima,

genro do seu tio, e seu primo Bruno Cunha Lima, neto de Ivandro Cunha Lima, como

45 Eleição em xeque. Disponível em:

<http://www.istoe.com.br/reportagens/detalhePrint.htm?idReportagem=3245&txPrint=completo>. Acesso em: 7

dez. 2014. 46 Ricardo Coutinho é eleito governador na Paraíba. Disponível em: <http://noticias.r7.com/eleicoes-

2010/noticias/ricardo-coutinho-e-eleito-governador-na-paraiba-20101031.html>. Acesso em: 10 dez. 2014 47 Lei aprovada em 2010 que tem como objetivo impedir o político condenado de disputar cargos eletivos. 48 Ricardo Coutinho vence Cássio Cunha Lima e é reeleito governador da Paraíba. Disponível em:

<http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2014/10/26/ricardo-coutinho-vence-Cássio-cunha-lima-e-e-

reeleito-governador-da-paraiba.htm>. Acesso em: 10 dez. 2014.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

48

deputados estaduais. Além disso, já estão no poder o seu irmão Ronaldo Cunha Lima Filho

como vice-prefeito de Campina Grande, e Romero Rodrigues, primo, como prefeito da

mesma cidade. No Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, o ex-deputado estadual Arthur

Cunha Lima é atual vice-presidente da corte. O poder se renova tendo o mesmo sobrenome.

Já Campina Grande se tornou o “curral eleitoral” de Cássio. Foi a única cidade

nordestina de grande porte em que o candidato Aécio Neves ganhou. O mesmo fato aconteceu

em 2010, com o então candidato José Serra, conquistando 43% dos votos.49 Com 263.489

eleitores, a terra do “Maior São João do Mundo” também deu a Cássio uma votação bem

expressiva: saiu vitorioso com 60,8%.

Cássio teve, em 2014, sua primeira derrota eleitoral. Entretanto, construiu uma base

sólida na política paraibana, a partir dos ensinamentos do seu pai, Ronaldo Cunha Lima, e da

identidade que Campina Grande criou com o poeta, e que continuará através das gerações. É

provável que daqui a alguns anos outros nomes da família disputem mais cargos, a exemplo

de Pedro Cunha Lima, perpetuando assim a manutenção do poder.

3.2 MARCAS FOLKCOMUNICACIONAIS

3.2.1 Relação com os excluídos

Ao romper politicamente com o governador Ricardo Coutinho, Cássio Cunha Lima

usou como motivo a falta de atenção do governo com os que mais precisavam. O tucano

criticava, por exemplo, o fechamento de escolas públicas e de delegacias na Paraíba.50 Daí

surge o nome da coligação da campanha “A Vontade do Povo”, ou seja, a vitória de Cássio

representava o retorno de ações populares que beneficiassem os paraibanos, principalmente os

mais carentes. Por exemplo, no dia 8 de setembro, o portal do candidato publica o seguinte

texto:

Título: Cássio lamenta números negativos da PB no Ideb51

Texto: Fazer um governo mais técnico para aperfeiçoar os serviços e atender melhor

os que mais precisam. Essas são duas das bases centrais do plano administrativo do

49 Em Campina Grande, ‘ilha tucana’ resiste no Nordeste. Disponível em:

<http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2014/10/26/ricardo-coutinho-vence-Cássio-cunha-lima-e-e-

reeleito-governador-da-paraiba.htm>. Acesso em: 10 dez. 2014. 50 Cássio crítica fechamento de escolas na gestão de Ricardo. Disponível em:

<http://www.parlamentopb.com.br/Noticias/?cassio-critica-fechamento-de-escolas-na-gestao-de-ricardo-

16.07.2014>. Acesso em: 11 dez. 2014. 51 Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

49

senador Cássio Cunha Lima (PSDB), candidato a governador do Estado pela

Coligação A Vontade do Povo (Portal do Candidato).

Nesse momento, o candidato resumia seu principal objetivo caso chegasse ao Palácio

da Redenção.52 Cássio, em seus discursos, prometia recuperar e melhorar certos serviços para

a população que, na visão do senador, estavam abandonados pelo atual governo. É o que se

confirma em outra matéria publicada no dia 9 de setembro.

Título: Prefeito de Bom Jesus e vereadores anunciam apoio

Texto: Segundo o prefeito, ele conversou com o senador em duas oportunidades.

“Vejo nele um homem com disposição para mudar o quadro político da Paraíba,

acabar com a perseguição aos prefeitos, respeitar os funcionários públicos e não

oprimir os pequenos agricultores que usam motocicletas”, declarou. Segundo

Roberto Baima, o município de Bom Jesus não recebeu benefícios do governo do

Estado por conta da sua posição politica. “Isso é um absurdo. O governo não pode

prejudicar a população de um munícipio por conta dos posicionamentos do

prefeito”, lamenta ele (Portal do Candidato).

Percebe-se que a estratégia da campanha é desconstruir a imagem de gestor de Ricardo

Coutinho. Ao mesmo tempo, Cássio assume o papel de “salvador dos oprimidos”, pois ele

seria o único que “traria” paz à Paraíba, através das suas ações políticas. Ricardo, quando

entrou no governo, cortou gratificações de funcionários, demitiu prestadores de serviços, entre

outros.53 Essas atitudes, segundo Cássio, trouxeram muitos problemas para o povo paraibano.

O tucano assume o papel de liderança política, e ao mesmo tempo “messiânica”, ao prometer

uma Paraíba mais justa.

Título: Cássio leva caravana a seis cidades do sertão

Texto: [...] os dois grupos politicos de Maturéia apoiam o tucano. “Estamos unidos

em torno da candidatura do senador Cássio Cunha Lima porque acreditamos na sua

capacidade de administrar e sabemos que ele fará um governo em defesa dos mais

pobres e mais humildes, como já provou a frente do Governo do Estado”, justificou

o prefeito Daniel Dantas. [...] Já no município de Juru o ex-prefeito Doutor Toinho

foi receber Cássio na entrada da cidade e realizou uma grande carreata juntamente

com seus amigos e correligionários. “Vamos lhe dar uma vitória esmagadora aqui

em Juru, porque o povo desta cidade acredita no seu trabalho”, disse Doutor Toinho

(Portal do Candidato, 10 set. 2014).

Título: Circuito volta ao Vale do Piancó e Itaporanga

Texto: Logo na sequência, a caravana do candidato da Coligação A Vontade do

Povo, que garante acabar com a perseguição na Paraíba e conciliar o governo com a

sociedade, vai passar por Caiana, Igaracy, Aguiar e Itaporanga [...] (Portal do

Candidato, 16 set. 2014).

52 Sede do governo estadual da Paraíba. 53 Governo de Ricardo Coutinho é denunciado ao Congresso Nacional. Disponível em:

<http://www.clickpb.com.br/noticias/politica/governo-de-ricardo-coutinho-e-denunciado-ao-congresso-

nacional/imprimir/>. Acesso em: 11 dez. 2014.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

50

O papel de Cássio era servir a população mais carente, ao mesmo tempo trazer novos

tempos para a Paraiba, libertando ela do “Neocoronelismo” que havia se instalado por

Ricardo Coutinho, segundo o tucano. Em muitos trechos dos textos analisados, Cássio

criticava o atual governo, principalmente pela falta de respeito com os humildes.

Título: Cássio reúne milhares de lideranças na Capital

Texto: Emocionado, Cássio disse que as pessoas no interior do estado estão

assustadas com a perseguição do governo, com a apreensão de motos e com a

demissão em massa de funcionários comissionados do Estado. “O que se faz com

essas pessoas é um gesto desumano. Voltamos à década de 30. A Paraíba precisa de

um governo que promova a reconciliação do povo com a sociedade”, bradou o

senador do PSDB (Portal do Candidato, 18 set.2014)

Título: Governador impede mais um médico de trabalhar

Texto: “A Paraiba não tem dono; a Paraiba não é aceita mais cabresto, já acabou

esse tempo. Eu, com muita tranquilidade, estou pronto para servir ao meu povo e

não vai ser uma figura dessa qualidade que vai inibir, cercear e dificultar o meu

trabalho”, destacou o cirurgião que atua no funcionalismo público desde 1971

(Portal do Candidato, 17 set. 2014).

O interessante é que o senador Cássio falava que o “povo” não fazia parte da

“sociedade”, como se a primeira palavra não fosse sinônimo da segunda. Nesse caso, o

candidato generaliza os mais humildes como “povo”, e a “sociedade” como se fosse um

ambiente democrático onde pessoas tinham direitos e deveres iguais. A reconciliação, dita no

primeiro texto acima, mostra que, no fundo, Cássio gostaria de “quebrar” as atitudes do atual

governo, fazendo com que os mais carentes pudessem ter uma vida mais digna, onde não

fossem “perseguidos” e “maltratados”. Já no primeiro texto, a campanha do governador tenta

detalhar com palavras os gestos de Cássio perante o público, “humanizando” a figura do

tucano.

Em poucos textos, certas marcas do ativista midiático caracterizados por Trigueiro

(2008) são identificadas no discurso da coligação “A Vontade do Povo”, como, por exemplo,

o prestígio perante a comunidade, independentemente de quaisquer posições sociais. A

relação de Cássio com os mais pobres é identificada em outros momentos, se tornando o

público-alvo preferido do candidato.

Título: Cássio reúne multidões durante circuito de visitas

Texto: Logo na entrada da cidade, o senador e comitiva visitaram algumas

residências e não foram poucas as queixas da população sobre segurança, educação e

saúde. “Aqui na cidade de Mato Grosso os que possuem motos são vitimas da

perseguição do governo do Estado, que determina a apreensão das motos, alegando

falta de documentos”, revelou o agricultor José Bernardino da Silva (Portal do

Candidato, 12 set. 2014).

Título: Cássio anuncia o retorno do Cheque Moradia

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

51

Texto: Segundo Cássio, é preciso facilitar o acesso da casa própria às famílias de

baixa renda. “É por isso que vamos trazer de volta o Cheque Moradia, que foi um

programa muito bem sucedido que fizemos no nosso governo e que, infelizmente, o

atual governo acabou. Vamos trazer de volta, principalmente, para gradativamente

erradicar as casas de taipas e atender com prioridade as famílias que vivem em área

de risco”, respondeu (Portal do Candidato, 13 set. 2014).

Título: Cássio encerra em Paulista circuito de visitas

Texto: Quando teve a palavra, Cássio lembrou do programa Ciranda de Serviços,

criado em 2005 e que beneficiou mais de 500 mil paraibanos. “Fui o primeiro

governador da história de São Bento a ficar na rua ouvindo e atendendo a

população”, disse o senador. (Portal do Candidato, 12 set. 2014).

No primeiro texto acima, uma das estratégias utilizadas por Cássio é visitar diversas

casas para escutar as reclamações da população, como um gesto de aproximação do candidato

com o eleitor; no segundo, o candidato promete voltar com o programa de sua antiga gestão, o

Cheque Moradia, fazendo com que as pessoas de baixa renda tenham mais facilidade para

comprar uma casa; no último, Cássio traz outra promessa voltada novamente para os mais

humildes, o Ciranda de Serviços, onde o próprio governador comparecia nas cidades para

atender a população, levando serviços de várias secretarias, facilitando assim a comunicação

do governo com o povo.

Cássio nasceu em um âmbito político, tendo como professor o seu pai, Ronaldo Cunha

Lima. A relação popular criada com a população também veio dessa época, fortalecida pelos

programas sociais criados por ambos. Isso fez com que a população mais carente identificasse

em Cássio um líder político, capaz de resolver os problemas da comunidade. O candidato

assume essa postura na captação de votos, como foi mostrado durante o decorrer desse tópico.

3.2.2 Grupos Marginalizados

Já ficou claro, nas primeiras análises realizadas até o momento, que o público-alvo de

Cássio era os mais humildes do estado. Nesse tópico, entretanto, identificamos quem eram os

grupos marginalizados que o candidato buscava para conquista de votos, a partir da divisão

feita por Beltrão (1980).

Em diversos textos, o candidato Cássio dirige a palavra, principalmente, aos grupos

rurais, a exemplo dos habitantes que ainda vivem em casas de taipa.

Título: Cássio anuncia o retorno do Cheque Moradia

Texto: Segundo Cássio, é preciso facilitar o acesso da casa própria às famílias de

baixa renda. “É por isso que vamos trazer de volta o Cheque Moradia, que foi um

programa muito bem sucedido que fizemos no nosso governo e que, infelizmente, o

atual governo acabou. Vamos trazer de volta, principalmente, para gradativamente

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

52

erradicar as casas de taipas e atender com prioridade as famílias que vivem em área

de risco”, respondeu (Portal do Candidato, 12 set. 2014).

Título: Cássio reúne milhares de lideranças na Capital

Texto: [...] Cássio disse que as pessoas do interior do estado estão assustadas com a

perseguição do governo, com a apreensão de motos e com a demissão em massa de

funcionários comissionados do Estado. [...] “O que se faz com essas pessoas é um

gesto desumano [...]” (Portal do Candidato, 18 set. 2014).

A reclamação de agricultores e trabalhadores sobre a apreensão das motos é

constantemente encontrada nos textos do portal do candidato, fazendo, inclusive, com que a

temática saia do meio rural e venha para o urbano.

Título: Cássio realiza três comícios na grande João Pessoa

Texto: Mas o que deixou o governador abismado foi quando ele abordou o

problema da apreensão de motos que existe no interior da Paraíba e algumas pessoas

se manifestaram dizendo que, em Cabedelo, cidade portuária e próxima à capital do

Estado, o problema também existe. “Assim danou-se! Porque eu pensava que esse

problema estava restrito ao interior do Estado. Mas ele também chegou ao Litoral da

Paraiba também”, espantou-se o senador tucano (Portal do Candidato, 14 set. 2014).

Cássio, no texto acima, utiliza expressões do cotidiano nordestino, a exemplo do

“danou-se”, para se aproximar com mais naturalidade com a população. O uso de adjetivos

para expressar os gestos de Cássio é usado mais uma vez, como “abismado” e “espantado”.

Desde que assumiu o governo em 2011, Ricardo vem ampliando o número de blitzes na

Paraíba, através das campanhas da Lei Seca. Com isso, houve um aumento no número de

apreensões de motos, já que boa parte estão com os documentos vencidos. Desde então, os

motociclistas reclamam da atitude “arbitrária” do governador. Porém, durante as duas

semanas de análise, Cássio não promete resolver a questão dessas motos.

São também os grupos rurais as principais fontes encontradas nos textos da Coligação:

Título: Cássio reúne multidões durante circuito de visitas

Texto: “Aqui na cidade de Mato Grosso os que possuem motos são vitimas da

perseguição do governo do Estado, que determina a apreensão das motos, alegando

falta de documentos”, revelou o agricultor José Bernardino da Silva (Portal do

Candidato, 13 set. 2014).

Durante as duas semanas de análise dos textos, foi identificada, em relação aos grupos

urbanos, somente uma passagem sobre os aposentados e nada sobre os "culturalmente

marginalizados".

Título: Cássio lamenta números negativos da PB no Ideb

Texto: “Hoje, um PM quando vai para a reforma, ele é punido, castigado, essa é a

verdade, pois perde mais de 40% dos seus vencimentos. Isso porque o atual governo

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

53

acabou com a equiparação entre ativos e reformados que nós haviamos deixado”,

explicou o tucano, estendendo o exemplo de forma geral para aposentados e

pensionistas do Governo da Paraíba (Portal do Candidato, 8 set. 2014).

A campanha de Cássio, como foi percebida, não se preocupou em especificar as

promessas realizadas para os grupos marginalizados. Existe uma tentativa de conquista de

votos entre os moradores do meio rural, o que não é tão visível no urbano. O candidato

prefere fazer abordagens gerais, se preocupando com os mais carentes, sem identificar tais

grupos. Já em outros momentos, a campanha realiza passeatas como a Caminhada das

Mulheres. Entretanto, nos textos discutidos, nenhuma promessa é feita para elas. O que

aparece são críticas ao gestor Ricardo Coutinho.

Título: Cássio pede engajamento de todos

Texto: “Muito obrigado a todos vocês que nos acompanharam desde o Parque do

Povo até aqui em mais uma Passeata das Mulheres. Nós vamos entrar nessa

quinzena final de campanha com garra, coragem e determinação para que possamos

consolidar nossa vitória já no primeiro turno da eleição”, discursou o senador [...].

“Como se não bastasse ser perseguidor, esse governo que ai está é incompetente.

Deixou Campina, que sempre foi uma cidade pacata, se transformar numa das mais

violentas do Brasil. E pela primeira vez, nesses últimos 20 ou 25 anos, Campina

Grande pode ter a chance de receber a ação conjunta da prefeitura com o Governo

do Estado. Para isso, precisamos do engajamento de todos”, reiterou o candidato do

PSDB (Portal do Candidato, 20 set. 2014).

3.2.3 Caravanas

Entre as marcas folkcomunicacionais encontradas nos textos do portal do candidato

Cássio Cunha Lima, as caravanas, nome dado pela coligação para os eventos realizados em

várias cidades de uma mesma região da Paraíba, se torna um movimento social que tem como

fundamento aproximar a coligação “A Vontade do Povo” com a população em geral, como

também fortalecer os apoios políticos dos prefeitos.

Título: Cássio leva caravana a seis cidades do Sertão

Texto: “A Caravana da Vitória”, como está sendo batizada por Cássio a mobilização

que envolve várias cidades da mesma região, incluiu desta vez os municípios de

Matureia, Imaculada, Água Branca, Juru, Tavares e chegou ao fim em Princesa

Isabel, com um grande comício. [...] Já em Imaculada, Cássio foi recepcionado pelo

prefeito Dada Lustosa, que apoia a candidatura do senador, juntamente com um

grupo de vereadores. Cássio também conta na cidade com a solidariedade do ex-

prefeito Dedé Pereira. “Vamos marchar com Cássio por uma Paraiba unida e que

saiba respeitar os desejos da população”, disse Dada. [...] Em Água Branca, quem

recebeu a comitiva de Cássio foi o ex-prefeito Siduca, uma das lideranças da cidade.

(Portal do Candidato, 10 set. 2014).

Título: Cássio encerra em Paulista circuito de visitas

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

54

Texto: Faltando pouco mais de 20 dias para as eleições gerais, foi através das ruas

lotadas e decoradas de amarelo que, na noite dessa sexta-feira (12), em mais quatro

cidades do Alto Sertão receberam com festa a Caravana da Vitória do senador

Cássio Cunha Lima (PSDB), candidato a governador pela Coligação A Vontade do

Povo. [...] Passava das 23h40 quando Cássio chegou a Paulista para o último

comício da noite. O avançado da hora não impediu a população de ocupar as ruas e

fachadas de casas e prédios, numa demonstração de que a mensagem de mudança da

coligação “A Vontade do Povo” é bem-vinda em toda a Paraíba (Portal do

Candidato, 13 set. 2014).

No primeiro texto, o próprio senador batiza as mobilizações como “A Caravana da

Vitória”. Em cada cidade, Cássio é recebido por uma autoridade que o apoia, como forma de

mostrar na região qual o grupo político que estava junto com ele. Na cidade de Imaculada, o

prefeito Dada Lustosa é o anfitrião; em Água Branca, foi o ex-prefeito Siduca. E assim por

diante.

No segundo texto, o portal faz referência à alegria da população das cidades que estão

recebendo a comitiva do candidato, como a decoração das ruas com o amarelo, cor oficial da

coligação “A Vontade do Povo”. A Caravana da Vitória se torna um grande evento, fazendo

com que a população vá escutar Cássio como se fosse um show de música. É nessa

encruzilhada que Cássio vai se tornando, não só um ativista político, mas também um artista

que leva multidões à “loucura”, como no exemplo abaixo:

Título: Cássio é aclamado como campeão de votos

Texto: “O campeão chegou/ Cássio governador!”. Foi sob essa aclamação, que

Cássio Cunha Lima (PSDB), candidato ao governo da Paraíba comandou o início da

Carreata da Vitória, promovida pela Coligação A Vontade do Povo, neste domingo

(21), em João Pessoa. Ao lado dos companheiros de chapa [...], Cássio foi bastante

festejado como o futuro governador do Estado [...], observando que a vontade do

povo está expressa nas fotos, cartazes, faixas, e na divulgação do número 45 e na

longa fila de carros, que se formou na principal via de acesso à zona sul (Portal do

Candidato, 21 set. 2014).

3.3 MARCAS NEOCORONELISTAS

Como já foi abordado neste trabalho, as marcas neocoronelistas podem ser

encontradas de diversas formas. Trabalhamos com a manutenção do poder através das

famílias, neste caso com os Cunha Lima. A seguir, abordamos qual foi a tática utilizada pelo

senador Cássio durante as eleições para conquista dos votos, verificando as diferenças entre o

Coronelismo e o Neocoronelismo. As marcas discursivas folkcomunicacionais, discutidas no

tópico anterior, também fazem parte das estratégias utilizadas pelo tucano, além da construção

do perfil neocoronelista, incluída no gráfico com os resultados finais.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

55

3.3.1 Críticas ao adversário

Uma das características do Coronelismo era a de criticar os adversários políticos.

Primeiramente, para enfraquecê-los perante o curral eleitoral; segundo, para ampliar os apoios

políticos na região. Entretanto, essa atitude não nasceu durante esse regime oligárquico, mas

se fortaleceu, pois as brigas partidárias entre os coronéis se intensificavam com o decorrer dos

tempos, chegando inclusive a matar o adversário caso o oposicionista acabasse com sua

honra, exemplo que aconteceu com Ronaldo Cunha Lima ao tentar assassinar o ex-governador

Burity; em outros casos, as disputas eram mais acirradas por causa da obtenção do apoio do

governo estadual, pois era uma forma de trazer mais obras e investimentos para seu curral

eleitoral.

[...] As correntes políticas municipais se digladiam com ódio mortal, mas

comumente cada uma delas o que pretende é obter as preferências do governo do

Estado; não se batem para derrotar o governo no território do município, a fim de

fortalecer a posição de um partido estadual ou nacional não-governista: batem-se

para disputar, entre si, o privilégio de apoiar o governo e nele se amparar (LEAL,

1986, p. 48-49).

Durante as análises dos textos do portal do candidato Cássio Cunha Lima, foram

encontradas diversas críticas ao gestor Ricardo Coutinho, utilizando inclusive do discurso que

o socialista era um neocoronel, como já foi abordado no tópico anterior. Na segurança, por

exemplo, o tucano criticava o aumento da violência, apontando diversos fatores que fizeram

com que a insegurança na Paraíba estivesse tão crítica.

Título: Cássio lamenta números negativos da PB no Ideb

Texto: Sobre a segurança pública, o candidato do PSDB relembrou que o efetivo da

polícia Militar, atualmente com cerca de 9.100 homens e mulheres, diminuiu ao

invés de aumentar para 15 mil, número ideal segundo especialistas da área.

Apontando a realização de concursos públicos como uma das alternativas para

resolução do problema, Cássio garantiu que além dos militares, os bombeiros,

policiais civis e agentes penitenciários serão valorizados no que diz respeito aos

vencimentos (Portal do Candidato, 8 set. 2014).

Título: Violência: Números oficiais justificam crescimento

Texto: Os números oficiais mostram o que todo mundo sente nas ruas. A Violência

e a insegurança são grandes e estão aumentando. O número de roubos cresceu 73%

no primeiro trimestre deste ano em comparação com o do ano passado. No

município de Campina Grande, a PM registrou um aumento de 19% nos roubos a

pessoa, 30% às residências e de 178% em transportes coletivos, segundo evidencia

um dos últimos guias eleitorais do Cássio Cunha Lima (PSDB), candidato ao

governo do Estado pela Coligação A Vontade do Povo (Portal do Candidato, 11 set.

2014).

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

56

Em outro momento, Cássio denunciou a perseguição do governo com os funcionários,

a exemplo do texto publicado no dia 19 de setembro, na qual o candidato trazia à tona a

demissão de uma funcionária pro-tempore porque estava com câncer.

Título: Atual governo demite servidora com câncer.

Texto: Sem nunca ter faltado um só dia ao trabalho na escola, Maria da Luz teve de

pedir licença médica, no final de abril de 2014, para se submeter a um tratamento de

câncer, mais especificamente uma neoplasia maligna. Para sua surpresa, em julho,

mesmo com a legislação trabalhista dando amparo e estabilidade provisória, a

servidores foi sumariamente afastada dos cargos e das funções, sem qualquer

processo administrativo. [...] Em 18 de agosto último, Maria da Luz ingressou com

uma ação judicial contra o Governo do Estado, em Guarabira. Recorrendo à Justiça

Gratuita, a servidora pede para ser indenizada pelo constrangimento e por ter seus

direitos atropelados por mera perseguição política, sem direito à defesa ou

comunicação prévia (Portal do Candidato).

Vale salientar que Cássio usou o discurso da funcionária, não só como crítica ao

governo, mas também como uso da emoção para barganhar votos. A história de uma

demissão, sem justa causa, como também a doença, foram usadas pelo candidato para

fortalecer a ideia de que Ricardo Coutinho era um gestor sem “coração”, ou seja, sem

piedade, ao mesmo tempo para criar a imagem que Cássio era o governante dos mais

humildes e opressivos. Assim sendo, essas características fizeram parte do discurso político

do ex-governador, diferentemente dos tempos do Coronelismo, onde a força bruta era usada

para ganhar as eleições.

As criticas ao “sem coração” Ricardo Coutinho são identificadas em outros trechos.

Título: Comícios gigantes em Itaporanga e Pedra Branca

Texto: Da presidente ao trabalhador rural, todos nós só temos apenas um voto. E

devemos usá-lo como a expressão maior do nosso compromisso com uma sociedade

mais justa, humana, para que o poder seja exercido, sobretudo, com solidariedade.

Por isso que julgo importante olhar, como primeira análise, para o comportamento e

prática política de quem está no governo. Tem gente que prefere ser temido do que

ser querido (Portal do Candidato, 17 set. 2014).

Título: Cássio: Quero criar um ambiente de diálogo, de paz.

Texto: Durante entrevista ao programa JPB 1ª Edição, das TVs Cabo Branco e

Paraíba, afiliadas da Rede Globo, [...] o senador Cássio Cunha Lima (PSDB) voltou

a criticar duramente a postura de intransigência e perseguição política da atual

gestão estadual. E destacou seu compromisso de reconciliar o governo com a

sociedade. “Chega de briga, quero criar um ambiente de diálogo, de paz”, afirmou o

candidato tucano (Portal do Candidato, 17 set. 2014).

A partir disso, verifica-se que Cássio Cunha Lima fez o uso do discurso emotivo como

ferramenta fundamental para chegar ao Palácio da Redenção, através das críticas construídas

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

57

para “danificar” a imagem do adversário. Mostra-se também que nos dias de hoje a

aproximação com os mais carentes é uma das características do Neocoronelismo no Nordeste,

apontadas consoante o discurso do político.

Em suma, a desconstrução da imagem do opositor, utilizada no sistema coronelista,

continua, não tão forte, mas como elemento de um embate eleitoreiro e político. Através dos

textos do portal da coligação “A Vontade do Povo”, verificou-se que, para diminuir a

exposição do governador e o uso da máquina pública para a reeleição, atacá-lo era

imprescindível para ganhar as eleições, fato que não ocorreu no final.

3.3.2 Apoios Políticos

O prestígio de Cássio perante as autoridades políticas era um fator muito importante

na campanha. Por causa das pesquisas que indicavam a vitória de Cássio no primeiro turno,54

diversos prefeitos romperam com Ricardo para apoiar o tucano, a exemplo da prefeita do

Conde, Tatiana Medeiros. Cássio ganha uma grande conjuntura de alianças para a eleição,

como o vice-governador Rômulo Gouveia (que briga com Ricardo após perder a vaga de

senador para o petista Lucélio Cartaxo), a ex-secretária de Finanças Aracilba Rocha, entre

outros. O candidato, em muitos momentos, agradece o apoio dado pelas lideranças políticas,

criando assim um vínculo eleitoreiro visando seu projeto pessoal.

Título: Cássio reúne multidões durante circuito de visitas

Texto: “A politica serve para isso, para unir e servir as pessoas. Quero agradecer

aqui ao prefeito Hugo e ao ex-prefeito Capuchinho pela compreensão em torno do

nosso projeto”, disse o senador Cássio (Portal do Candidato, 12 set. 2014).

Título: Cássio leva caravana a seis cidades do Sertão

Texto: No município de Tavares, Cássio tem o apoio do prefeito Ailton Suassuna e

do ex-candidato a prefeito Coco de Adálio. Os dois grupos políticos se uniram em

torno da candidatura do senador. “Em diversos municipios essa cena se repete, com

a união de todas as forças políticas em torno da nossa candidatura”, celebrou o

candidato do PSDB ao governo (Portal do Candidato, 11 set. 2014).

Como ocorria no Coronelismo, os apoios políticos eram importantes quando

chegavam as eleições. A partir das alianças era possível prever quem ganharia o pleito,

dependendo de quem apoiasse tal candidato. No Neocoronelismo percebe-se que tal prática

continua fazendo parte do meio político. Com o apoio de tal família ou grupo para um

54 Na pesquisa espontânea do Ipespe Cássio também tem ampla vantagem. Disponível em:

<http://paraibaonline.com.br/noticia/932626-na-pesquisa-espontanea-do-ipespe-cassio-tambem-tem-ampla-

vantagem.html>. Acesso em: 11 dez. 2014.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

58

candidato, as chances dele ganhar aumentam. Ricardo, por estar no cargo, naturalmente teve o

apoio de muitos prefeitos. Cássio, mesmo na oposição, conseguiu reunir também um bom

número de lideranças ao seu lado. Verifica-se, nesse caso, que a força política dos Cunha

Lima ainda era muito forte, mesmo longe do governo.

Título: Grupo de 23 lideranças de Cabedelo anuncia apoio

Texto: Um grupo de 23 lideranças do município de Cabedelo, região metropolitana

de João Pessoa, anunciou em bloco apoio à candidatura do senador Cássio Cunha

Lima (PSDB), da Coligação A Vontade do Povo, na manhã desta quinta-feira, 11.

Ex-vereadores, suplentes e lideranças comunitárias entregaram um manifesto a

Cássio, justificando a adesão e formalizando pleitos em favor da cidade portuária

(Portal do Candidato, 11 set. 2014).

Título: Cássio reúne milhares de lideranças na Capital

Texto: O Ginásio do Clube Cabo Branco ficou pequeno para caber correligionários

do senador Cássio Cunha Lima, que participaram do Encontro de Lideranças

Políticas na tarde desta quinta-feira (18) que apoiam a chapa majoritária da

Coligação A Vontade do Povo. Prefeitos, ex-prefeitos, vereadores e líderes políticos

de todas as regiões do Estado se fizeram presentes ao Cabo Branco para manifestar

seu apoio à candidatura do senador ao governo e de Wilson Santiago ao Senado

Federal (Portal do Candidato, 18 set. 2014).

Título: Cássio leva caravana a seis cidades do Sertão

Texto: Já no município de Juru o ex-prefeito Doutor Toinho foi receber Cássio na

entrada da cidade e realizou uma grande carreata juntamente com seus amigos e

correligionários. “Vamos lhe dar uma vitória esmagadora aqui em Juru, porque o

povo desta cidade acredita no seu trabalho”, disse Doutor Toinho (Portal do

Candidato, 10 set. 2014).

Nesses três trechos, percebemos as formas que o portal do candidato Cássio Cunha

Lima usava para se referir aos apoios políticos. No primeiro, a intenção era exaltar as novas

forças políticas que estavam anunciando apoio ao senador. Vale salientar que Cássio teve

dificuldades em conquistar votos na grande João Pessoa e, por isso, ao receber esses apoios, o

tucano tinha como objetivo amenizar a diferença de votos que tinha com o governador

Ricardo Coutinho; no segundo, os apoios políticos eram mostrados para engrandecer os

eventos da campanha. A ideia era reunir, em um mesmo local, um grande número de

lideranças e correligionários para dizer que a campanha da coligação tinha força política,

mesmo estando fora do governo; no último, cada vez que Cássio chegava em uma cidade, era

recebido por um político que o apoiava, como acontecia nas caravanas realizadas pelo tucano.

Em geral, os apoios partidários foram fundamentais para Cássio, inclusive para

fortalecer sua campanha nos meios de comunicação. Faziam parte da coligação 14 partidos

(PSDB, PEN, PSC, PP, PTB, PR, PPS, PSDC, PSD, SDD, PMN, PT do B, PRB e PTN) que

deram a Cássio o maior tempo no guia eleitoral, com 7 minutos e 13 segundos, contra 5

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

59

minutos e 23 segundos da coligação A Força do Trabalho, encabeçada pelo governador

Ricardo Coutinho.

No final, percebe-se que os apoios recebidos foram fundamentais para que Cássio

chegasse ao 2º turno na frente. Entretanto, ao receber o apoio do PMDB, Ricardo consegue

adentrar em cidades que antes não estavam votando no governo, fazendo com que as “armas”

utilizadas por Ricardo fossem mais fortes, vencendo as eleições de 2014.

3.3.3 Tipo de Coronel

Dentre os tipos de coronéis citados por Pang (1979) e de acordo com os resultados da

análise do discurso, o candidato Cunha Lima tem semelhanças com os “familiocráticas” e

“personalistas”.

Em relação à primeira característica, a linhagem política dos Cunha Lima, a partir de

Ronaldo, vem crescendo com o decorrer dos anos. Esse clã que começou pelo poeta e que

continuou nas mãos de Cássio, se perpetua com outros nomes da família, a exemplo de Pedro

Cunha Lima, neto de Ronaldo, e de Romero Rodrigues, primo de Cássio. Portanto, o tucano é

incluído como um familiocrática, por causa da relação de poder através das gerações.

E personalista, por causa do carisma pessoal. Entretanto, nesse caso, a característica

que marcou o poeta Ronaldo foi passada para o filho, fazendo com que esse fator se tornasse

“hereditário”. Cássio age pela relação que tem com a população, criando uma identidade forte

com eles. Ronaldo era conhecido pelas conversas com as pessoas nos mercados ou áreas

periféricas; Cássio, pela execução de programas sociais. Portanto, esse tipo de coronel, a

partir do que já foi discutido, tem semelhanças com a atuação do ativista social e político.

3.3.4 Panorama Geral

Até agora, percebemos que o papel do novo coronel possui algumas similaridades e

diferenças com o antigo regime coronelista. Nesse tópico, trouxemos uma abordagem geral

sobre o que foi a campanha do candidato Cássio Cunha Lima a partir das temáticas de cada

texto publicado no portal da coligação A Vontade do Povo. Dessa maneira, identificamos as

ideias mais importantes que o tucano utilizou para atrair eleitores.

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

60

No total, durante as duas semanas de análise do material,55 foram publicados 49 textos,

sem levar em consideração as publicações referentes aos vídeos ou outros meios, a exemplo

das redes sociais. Abaixo segue como foi dividida as temáticas56 de cada nota informativa:

Tabela 1- Divisão dos textos do portal da coligação A Vontade do Povo por temáticas e quantidades

TEMÁTICA QUANTIDADE

Promessas 7

Críticas ao adversário 13

Caravanas/Eventos 14

Apoios Políticos 2

Campanha57 4

Gestão58 3

Outros59 6

Fonte: Próprio autor

O gráfico a seguir detalha, em porcentagens,60 os resultados dessa amostra:

55 8 a 21 de setembro de 2014. 56 As temáticas foram definidas a partir dos títulos de cada postagem. 57 Notícias relacionadas com a campanha, interna ou externa, a exemplo de convites para eventos, horários de

carreatas etc. 58 Notícias relacionadas com as ações desenvolvidas por Cássio na sua primeira gestão como governador, 2002-

2009. 59 Notícias que não se encaixam nas alternativas anteriores. 60 Com valores aproximados, totalizando 99,98%.

Gráfico 1- Abordagem geral das matérias a partir das porcentagens

Fonte: Próprio autor

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

61

No gráfico 1, ilustramos as porcentagens de cada temática discutida pelo candidato no

portal da coligação. A partir desses dados, verificamos como foi desenhado as estratégias

utilizadas por Cássio Cunha Lima nas eleições de 2014, mesmo que durante um pequeno

espaço de tempo.

Em geral, em uma sociedade preocupada com o futuro da sua localidade, as promessas

seriam muito importantes na decisão do voto. No caso do tucano, somente 14,28% dos textos

tinham como temática alguma proposta para a Paraíba. Na verdade, a campanha do candidato

se preocupou em atacar o adversário ou divulgar a agenda das caravanas, com 26,53% e

28,57% respectivamente.

Nessa conjuntura, percebemos que, para o novo coronel, o ataque aos adversários é

mais importante do que discutir ideias que possam transformar o estado. Além disso, as

propostas discutidas sempre vinham com alguma crítica ao governador Ricardo Coutinho,

como no exemplo citado abaixo, em relação à violência.

Título: Manzuá: Cássio critica desmonte de Segurança

Texto: Ainda na segurança pública, o candidato da Coligação A Vontade do Povo

anunciou que vai realizar concursos todos os anos para aumentar os quadros das

polícias Civil e Militar, que foram reduzidas na atual gestão. Quando Cássio deixou

o governo, a PM contava com 10.539 homens e a Polícia Civil com 2.136. Hoje, o

efetivo das polícias conta com 9.134 e 1.850, respectivamente (Portal do Candidato,

11 set. 2014).

Ou seja, em vez de se preocupar em discutir ações importantes para a Paraíba, Cássio

utilizava as críticas ao socialista como forma de mostrar à população que a atual gestão não

tinha cumprido as promessas feitas em 2010, e que o tucano era a opção mais segura para

trazer investimentos e melhorias. Como já foi abordado neste capítulo, a aproximação com os

humildes tinha também esse objetivo.

A quarta temática mais discutida nos textos da coligação A Vontade do Povo, com

12,24%, foram referentes as notícias que não tinham alguma relação com os outros temas ou

com o candidato Cássio Cunha Lima, como, por exemplo, depoimentos do candidato ao

Senado Wilson Santiago (PTB); em outros textos, Cássio respondia a denúncias feitas pelo

governador ou comemorava seu registro de candidatura, já que haviam muitas dúvidas se o

tucano era inelegível, por causa da Lei Ficha Limpa.

Título: Cássio comemora resultado no TSE: Agora é no voto

Texto: Visivelmente emocionado, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB), candidato

a governador pela Coligação A Vontade do Povo, em sua primeira participação no

debate promovido pela TV Clube, na noite desta quinta-feira, 11, comemorou a

decisão instantes antes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que parcialmente, por

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

62

maioria dos votos, aprovou o registro de sua candidatura. “O Tribunal Superior

Eleitoral acaba de confirmar o que eu sempre disse: sou elegivel”, celebrou Cássio

[...] (Portal do Candidato, 11 set. 2014).

Logo em seguida, com 8,16%, prevaleceram as notícias referentes à campanha do

candidato. Percebe-se que o portal de Cássio era a forma que os eleitores tinham para ficarem

sabendo da agenda do tucano. Já com 6,12%, a gestão no governo do Estado, quando Cássio

era governador, ficou em sexto lugar. Com isso, o tucano também tinha a preocupação de

mostrar aos eleitores as ações que foram realizadas por ele, no período de 2003 a 2009,

interrompidos pela cassação do mandato.

Título: Cássio destaca obras realizadas por seu governo

Texto: O candidato tucano ao Governo enumerou uma série de obras que fez em

João Pessoa e destacou o esgotamento sanitário em diversos bairros da cidade, o

abastecimento de água do Conjunto Valentina Figueiredo, a criação do Conjunto

Colinas do Sul e outras realizações. Cássio também lembrou a quitação de 55 mil

casas que estavam construídas em diversos conjuntos habitacionais de João Pessoa,

mas faltava o documento que dava ao inquilino a posse com a escritura do imóvel

[...]. Através de uma solução criativa, o Estado pagou o seguro e o inquilino passou

a ser o proprietário em definitivo do imóvel (Portal do Candidato, 14 set. 2014).

O interessante é ressaltar que, mesmo sendo uma das estratégias mostrar os apoios

políticos conseguidos pelo tucano, somente 4,08% dos textos faziam referência

exclusivamente a essa temática. Vale salientar que, nesse caso, foram contabilizados somente

as notícias referentes aos novos apoiadores da campanha. Nos textos sobre as caravanas, por

exemplo, sempre havia a figura de um líder político da cidade. Mesmo assim, durante o

período de análise dos textos do portal da coligação A Vontade do Povo, poucos foram os

novos aliados, mostrando assim as dificuldades em obter apoios quando se está na oposição.

A partir desse panorama geral, fica mais claro as estratégias utilizadas por Cássio para

ganhar as eleições. Em relação ao caso específico, o neocoronel prefere debater a imagem do

governo que discutir ideias e propostas para o futuro; prefere obter a atenção da população a

partir do carinho que conquistar votos através das promessas nas áreas da educação, saúde,

esportes etc. No final, mesmo tendo vencido a disputa no primeiro turno, Cássio perde as

eleições para o governo do Estado, regressando para o Senado Federal por mais quatro anos.

3.4 PERFIL DO NOVO CORONEL

A partir do que foi discutido neste capítulo, o perfil abaixo foi constituído a partir da

junção dos resultados das marcas discursivas folkcomunicacionais e neocoronelistas.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

63

Cássio Cunha Lima foi concebido, nessa monografia, como um “coronel” a partir de

um fator importante do Neocoronelismo que é a manutenção do poder a partir das gerações da

família. Seu pai, o ex-governador Ronaldo Cunha Lima, também foi filho de políticos,

entretanto não chegou ao poder pelo sobrenome, já que seu pai, prefeito de Araruna, tinha

falecido quando ele era ainda muito jovem, tendo que sustentar a família trabalhando de

diversas formas em Campina Grande, como, por exemplo, de garçom. Mas a partir da

trajetória construída por Ronaldo, os Cunha Lima conseguiram se perpetuar na Paraíba,

através de outros nomes.

A relação de amor da população com Cássio se inicia a partir das ações populares que

Ronaldo tomou antes da vinda do filho para o meio político. O tucano conseguiu continuar o

movimento, criando programas sociais que pudessem abranger a maior parte dos mais

humildes da Paraíba. Essa foi a principal marca encontrada nos textos do portal do candidato.

Portanto, durante a eleição, o foco de Cássio foi buscar nos pobres e oprimidos a crítica maior

ao governador Ricardo Coutinho.

Em cada cidade que Cássio chegava, os textos mostravam que a população se

contagiava com as caravanas. Não se preocupavam nas promessas e sim na “liberdade” que

Cássio traria caso chegasse ao governo. Observa-se que o principal feito do tucano seria

acabar com as perseguições com os mais pobres, melhorando a vida de cada um.

A partir dos resultados obtidos, outra característica marcante desse novo coronel são

as críticas ao adversário. Cássio se preocupava mais em atacar o governo do que propor

medidas e estratégias que pudessem melhorar a vida da população.

Abaixo, segue o perfil do novo coronel:

Líder popular, preferindo ser amado que temido;

Conquista de votos a partir do carisma com a população de baixa renda;

Lider “messiânico”, prometendo trazer liberdade e justiça para o estado;

Líder político, com prestigio no grupo que domina;

Uso de emoções para sensibilizar a população;

Promessas de cunho popular, alcançando os mais carentes;

Na oposição, é um líder que busca, nas críticas, atingir o governo, mostrando à

população os erros da gestão, principalmente através do uso de emoções;

No governo, é um aliado político, um líder carismático;

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

64

Liderança política dentro da família, responsável por ampliar o domínio

político do estado através das gerações;

Busca pelo poder.

Ou seja, toda a preocupação do neocoronel se resume em uma única frase: busca pelo

poder. Para tanto, o uso da imagem se faz necessário para que o eleitor se sinta mais próximo

do candidato. O discurso emotivo é uma característica pertinente, conquistando votos

daqueles que não se apoquentam com o bem estar ou com os problemas existentes na

comunidade.

Outro fator importante é o uso da internet na consolidação de um projeto político,

principalmente através das redes sociais. Cresce cada dia as interações entre o eleitor e o

candidato, fazendo com que haja uma relação mútua que não existia, por exemplo, com a

televisão. Os laços são construídos e fidelizados a partir da intimidade proposta pelo político.

Assim sendo, o neocoronel domina, não mais pela violência, como se via na República

Velha, mas sim na construção intimista com a população, através do discurso emotivo, da

aproximação com o eleitor, do uso de meios de comunicação, principalmente da internet,

entre outros.

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

65

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De certa forma, Cássio Cunha Lima construiu, através da figura do seu pai, uma

grande trajetória política, perpassando por vários cargos, desde deputado federal até

governador. Soube produzir, na população paraibana, um sentimento de carinho e de afeto,

principalmente com os mais humildes do estado, como foi verificado durante o decorrer deste

trabalho; criou uma identidade e uma personalidade que são marcas de poucos políticos na

Paraíba.

O Coronelismo ainda é um processo vigente em nosso país, mesmo com o avanço da

democracia e as fiscalizações rigorosas da Justiça, Em todas as eleições, infelizmente,

continuamos escutando casos de troca e compra de votos, corrupção, uso dos meios de

comunicação para favorecer certo candidato etc. Por isso, através deste trabalho, percebe-se

que esses casos, provenientes do regime coronelista, funcionam de forma sutil e às vezes

silencioso nos dias de hoje. Dessa forma, tenho que discordar de Barbalho (2007) e de

Carvalho (1987) quando afirmam que é errôneo usar o termo “Neocoronelismo” em relação à

região Nordeste.

O novo coronel é muito diferente do antigo, como na relação pessoal com a população.

Não temos mais os votos de cabresto, entretanto, os currais eleitorais continuam funcionando

como meros locais que dão força política ao regime. É o caso de Campina Grande, que

reverencia o tucano com boa parte dos votos.

Por isso, a Folkcomunicação foi importante na análise discursiva desse neocoronel. A

relação popular entre o líder e o povo é uma marca forte dos Cunha Lima e, portanto, a teoria

criada por Luiz Beltrão ajudou a perceber melhor a campanha da coligação A Vontade do

Povo, nome que fortalece esse vínculo. Além de ter posições neocoronelistas, Cássio é

identificado como um agente folk, dentro desse contexto social, segundo os estudos de

Trigueiro (2008).

Durante as duas semanas de análise do material do portal da candidatura, foram quase

escassas as promessas que realmente podiam mudar alguma coisa. Cássio prometia retornar

programas sociais que o atual governador havia abandonado, porém pouco discutia novos

rumos na educação, na saúde etc. A relação com os excluídos pela sociedade não é uma

crítica. Mas é preciso que haja investimentos concretos para que as pessoas possam melhorar

suas vidas sem se preocuparem se tal político é carinhoso ou não, fator esse, citado por Pang

(1979) como uma marca do neocoronel. Os votos são conquistados, não mais pela violência,

mas sim pela personalidade e pelo carisma construídos numa relação mútua com os eleitores.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

66

A eleição de 2014 foi marcada por muitos embates e poucas propostas. De um lado,

Ricardo prometia cumprir em mais quatro anos o que não havia feito no primeiro governo

dele; Cássio, cumprir no mesmo período o que não fez em sete anos. Enquanto isso, a

população paraibana continuava em dúvida sobre em quem votar, em quem confiar. No final,

Ricardo venceu a disputa. Nas ruas, inclusive na imprensa, a vitória do socialista representava

o fim das oligarquias na Paraíba. Porém, para ganhar o pleito, Ricardo teve que adaptar o

discurso para que o PMDB, liderado pelo senador José Maranhão, o apoiasse. Sendo assim,

continuamos divididos em dois grupos. De certa forma, por não vim de um berço político,

Ricardo mostrou que não é preciso ter “sobrenome” para vencer as eleições. Isso mostra que

certas coisas vêm mudando na Paraíba. Mas não é só de discurso e de números que o estado

cresce. É preciso mais atenção com os paraibanos, tão esquecidos por nossos governantes.

Cássio, mesmo com todo seu prestígio político, não conseguiu repetir a vitória que

obteve no primeiro turno, perdendo assim sua primeira eleição. Entretanto, o tucano terá mais

quatro anos no Senado e ainda não se sabe o que fará no futuro.

No novo coronelismo o que importa é o resultado, não se preocupando com o início ou

desenvolvimento dos fatos, sendo motivado pela crítica aos adversários políticos; em suas

promessas, não traz soluções para os grupos marginalizados; prefere ser querido do que

temido; é o messias vestido de cordeiro.

Entretanto, podemos encontrar outras características do Neocoronelismo em outros

personagens. Nesta monografia, trabalhamos com a manutenção do poder através das

gerações, como foi o caso dos Cunha Lima. Isso vai depender da área que vamos estudar. Por

exemplo, tal político tem uma emissora de rádio. Ele vai ser candidato a prefeito da cidade

que está instalada esse meio de comunicação. A pergunta é: Como é que tal rádio vai se

comportar em relação ao seu dono? Será que ela será neutra no processo? A partir disso o

Neocoronelismo terá uma outra face.

Com este trabalho, a ideia foi contribuir com os estudos nessa área. Durante a pesquisa

de material bibliográfico, poucos foram os textos que tratavam sobre o assunto. Beltrão

(1980), por exemplo, traz um outro significado para o Neocoronelismo, relacionando-o com

as grandes marcas produtoras. Sendo assim, abrange-se o leque de opções que podem

esclarecer e ajudar a entender a temática.

Discutir as problemáticas sociais e políticas de uma região são importantes para

entender o atual cenário econômico do nosso país. A partir disso, podemos criar alternativas

que possam mudar essa situação, mecanismos que tragam mais rigorosidade ao processo.

Investir em educação, aumentar as fiscalizações, são exemplos de como podemos avançar na

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

67

democracia. O Coronelismo ainda é um retrato social da região Nordeste e é preciso que esse

regime possa se enfraquecer ainda mais. Isso, claro, depende também da população em querer

mudanças que possam trazer, realmente, novos caminhos. Houve, de certo modo, um novo

pensamento nas eleições de 2014, com a renovação de boa parte dos deputados, por exemplo.

É um ciclo que continua e é nosso dever fazer com que ele cesse suas atividades. A derrota de

Cássio, na Paraíba, é um exemplo disso.

Em relação aos objetivos propostos na introdução deste trabalho, foram realizados,

desde a análise das marcas discursivas folkcomunicacionais e neocoronelistas, até a

elaboração do perfil do novo coronel, processos que ajudaram a entender um pouco mais a

situação política, não só da Paraíba, mas também da região Nordeste como um todo, pois a

questão da manutenção do poder no âmbito familiar não é uma exclusividade do território

paraibano. No Maranhão, quem domina é a família Sarney; na Bahia, o grupo Magalhães

ainda possui influência no estado.

Vale salientar que os dados obtidos neste trabalho poderiam ser diferentes, caso

fossem usados outros canais, a exemplo da propaganda gratuita veiculadas na televisão e no

rádio. Ou, se o objeto de estudo fosse outro. Entretanto, teríamos que mudar o tipo de

neocoronelismo que estava sendo praticado. Se fossemos trabalhar com o governador Ricardo

Coutinho, as marcas discursivas seriam analisadas a partir do âmbito do uso da máquina

pública na eleição, prática usada recorrente por políticos que estão disputando a reeleição.

É provável também que no futuro o filho de Cássio, Pedro Cunha Lima, seja candidato

à Prefeitura de Campina Grande ou até mesmo ao Governo do Estado. O interessante seria

fazer uma comparação das marcas discursivas encontradas na eleição disputada por Pedro

com os resultados deste trabalho, para verificar se as atitudes e estratégias tomadas seriam as

mesmas.

Que a Paraíba possa avançar nos próximos anos, tornando-se “independente” de

qualquer grupo político. E que a população tenha mais consciência do voto. Não adianta ficar

reclamando de tal político durante quatro anos e na eleição subsequente votar nele. Acredito

que a Lei Ficha Limpa foi uma grande vitória da sociedade. Mas é preciso outros grandes

saltos para que tenhamos mais confiança na democracia.

Observa-se, portanto, que não estão esgotadas as possibilidades de investigação a

respeito do objeto pesquisado.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

68

5 REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE Jr., Durval Muniz de. O preconceito contra o nordestino. In:

ALBUQUERQUE Jr., Durval Muniz de. Preconceito contra a origem geográfica e de

lugar: as fronteiras da discórdia. São Paulo: Cortez, 2007.

AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela. 85. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.

AMPHILO, Maria Isabel. A Gênese da Folkcomunicação. RIF, Ponta Grossa/PR, Volume

10, Número 21, p.13-30, set./dez. 2012. Disponível em:

<http://www.revistas.uepg.br/index.php?journal=folkcom&page=article&op=viewFile&path

%5B%5D=1545&path%5B%5D=1092>. Acesso em: 8 fev. 2015.

ANDRADE, I. R. C; FEITOSA, Y. H. S.; LUCENA FILHO, S. A.; GADELHA, F. G.

SOPÃO DA SOLIDARIEDADE: Elemento folkcomunicacional do ativismo social e

político. In: XVI CONFERÊNCIA BRASILEIRA DOS ESTUDOS DA

FOLKCOMUNICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL, 2013, Juazeiro do Norte. GT3:

Conteúdos de Folkcomunicação Comunicação Científica, 2013. Disponível em:

<https://drive.google.com/folderview?id=0BykpCRHBEOq2MGhUSFRub1ZJU2M&usp=sha

ring&tid=0BykpCRHBEOq2RjU2blFlVDUwNE0>. Acesso em: 11 jan. 2015.

BARBALHO, Alexandre. Os modernos e os tradicionais: cultura política no Ceará

contemporâneo. In: Estudos de Sociologia, Araraquara, v.12, n.22, p.27-42, 2007. Disponível

em: < http://seer.fclar.unesp.br/estudos/article/viewFile/347/211>. Acesso em: 13 nov. 2014.

BELTRÃO, Luís. Folkcomunicação: a comunicação dos marginalizados. São Paulo: Cortez,

1980.

______. Folkcomunicação: um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de

fatos e expressões de ideias. Porto Alegre: EDIPUC, 2001.

BENJAMIM, Roberto Emerson Câmara. Folkcomunicação no contexto de massa. João

Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2000.

BOURDIEU, Pierre. Efeitos de Lugar. In: ________(org) A miseria do mundo. Petrópolis,

RJ: Vozes, 1997.

CARVALHO, Rejane. Coronelismo e Neocoronelismo: eternização do quadro de análise

política do Nordeste? Recife: Caderno de Estudos Sociais, v.3, 1987, p.193-206. Disponível

em: < http://periodicos.fundaj.gov.br/CAD/article/view/1025/745>. Acesso em: 13 out. 2014.

CHARAUDEAU, Patrick. Pathos e discurso político. Trad. Emília Mendes. In:

MACHADO, Ida Lucia; MENZES, William; MENDES, Emília (orgs.). As emoções no

discurso. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.

COLUSSI, Eliane Lucia. Estado Novo e Municipalismo Gaúcho. Passo Fundo: EDIUPF,

1996.

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

69

FAIRCLOUGH, Norman. Análise Crítica do Discurso como Método em Pesquisa Social

Científica. In: WODAK; MEYER (orgs.). Methods of critical discourse analysys. Londres:

Sage, 2 ed., 2005, p.121-138. Disponível em:

<www.revistas.usp.br/linhadagua/article/download/47728/51460>. Acesso em: 29 nov. 2014.

FARIAS, Airton. Historia do Ceará: dos indios a geração cambeba. Fortaleza: Tropical

Editora, 1997.

FERREIRA, A. B. H. Aurélio século XXI: o dicionário da Língua Portuguesa. 3. ed. rev.

e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UECE, 2002. Disponível

em: < http://books.google.com.br/books?id=oB5x2SChpSEC&printsec=frontcover&hl=pt-

BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 11 jan. 2015.

FOUCAULT, Michael. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 5ª ed., 1999. Disponível

em: <http://projetophronesis.files.wordpress.com/2009/08/foucault-michel-a-ordem-do-

discurso-aula-inaugural-no-college-de-france.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2014.

GOLDONI, Aline Cordeiro. Estabelecendo a ordem: a formação da Guarda Nacional e sua

importância na manutenção da ordem interna durante a guerra com o Paraguai (1864-1870).

In: Dossiê História Política do Brasil: historiografia, história e memória. Catalão:

Universidade Federal de Goiás, 2012.

LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no

Brasil. 5. Ed. São Paulo: Alga-Omega, 1986.

LIMA, Helcira. O réu: um olhar vigilante. In: MILANEZ, Nilton; SANTOS, Janaina de Jesus

(org). Análise do discurso: sujeito, lugares e olhares. São Carlos: Claraluz, 2009.

MARTINS, José de Souza. Os Camponeses e a Política no Brasil, Petrópolis:

Vozes, 1981.

MORAES, José G. V. de. História Geral e Brasil. São Paulo: Atual Editora, 2005.

NÓBREGA, Zulmira. A festa do Maior São João do Mundo: Dimensões culturais da festa

junina na cidade de Campina Grande. João Pessoa: CCTA/UFPB, 2014.

ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 6. ed. –

Campinas: Pontes, 2005.

PANG, Eul-Soo. Coronelismo e Oligarquias -1889-1934: A Bahia na Primeira República

Brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.

PLANTIN, Christian. A argumentação: história, teorias, perspectivas. Trad. Marcos

Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2008.

SALETTO, Nara. Donatários, colonos, índios e jesuítas: o início da colonização no Espírito

Santo. Vitória: Arquivo do Estado do Espírito Santo, 2011.

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento … · obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Aprovado ... Se concluo o curso de Jornalismo

70

BOBBIO, Norberto. Oligarquia. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO,

Gianfranco (Orgs.). Dicionário de Política. Brasília: Universidade de Brasília, 1998.

Disponível em: <http://www.filoczar.com.br/Dicionarios/Dicionario_De_Politica.pdf>.

Acesso em: 10 jan. 2015.

SILVA, Adriana Elias da. Acumulação de riqueza e relações de poder: particularidades

sócio históricas do Rio Grande do Norte. In: V Jornada Internacional de Políticas Públicas,

São Luiz, 2011. Disponível em:

<http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2011/CdVjornada/JORNADA_EIXO_2011/DES

IGUALDADES_SOCIAIS_E_POBREZA/ACUMULACAO_DE_RIQUEZA_E_RELACOE

S_DE_PODER.pdf>. Acesso em: 6 fev. 2015.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 25ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1990.

TRIGUEIRO, Osvaldo Meira. Folkcomunicação & ativismo midiático. João Pessoa:

Editora Universitária da UFPB, 2008, 162p.