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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS José Caetano da Silva Filho Resolução da Estrutura Cristalográfica da Lectina de Sementes da Canavalia maritima (ConM) em Complexo com o Ácido Indole-3- Acético: Caracterização de Dois Novos Sítios de Ligação e Predição de sua Relevância Fisiológica JOÃO PESSOA 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

José Caetano da Silva Filho Resolução da Estrutura Cristalográfica da Lectina de Sementes da Canavalia maritima (ConM) em Complexo com o Ácido Indole-3-

Acético: Caracterização de Dois Novos Sítios de Ligação e Predição de sua Relevância Fisiológica

JOÃO PESSOA

2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

José Caetano da Silva Filho Resolução da Estrutura Cristalográfica da Lectina de Sementes da Canavalia maritima (ConM) em Complexo com o Ácido Indole-3-

Acético: Caracterização de Dois Novos Sítios de Ligação e Predição de Sua Relevância Fisológica

Trabalho Acadêmico de Conclusão de Curso orientado pelo Prof. Dr. Plínio Delatorre e desenvolvido como um dos requisitos para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Paraíba.

JOÃO PESSOA

2011

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José Caetano da Silva Filho

Resolução da Estrutura Cristalográfica da Lectina de Sementes da Canavalia maritima (ConM) em Complexo com o Ácido Indole-3-Acético:

Caracterização de Dois Novos Sítios de Ligação e Predição de Sua Relevância Fisiológica

Este trabalho foi julgado adequado e aprovado para a obtenção do título de Bacharel

em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Paraíba

João Pessoa, _____ de __________________ de 2011

________________________________ Profa. Dra. Eliete Lima de Paula Zárate

Coordenadora do Curso de Ciências Biológicas

BANCA EXAMINADORA:

________________________________ Prof. Dr. Plínio Delatorre

Universidade Federal da Paraíba Orientador

________________________________ Profa. Dra. Tatiane Santi-Gadelha Universidade Federal da Paraíba

Banca

________________________________ Msc. Raphael Batista da Nóbrega Universidade Federal do Ceará

Banca

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AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal da Paraíba, pela oportunidade de desenvolver estágios de

iniciação científica, permitindo, assim, a aplicação dos conhecimentos adquiridos em

sala de aula;

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq), pelo apoio financeiro;

Ao professor Dr. Plínio Delatorre, pela orientação durante esses quase três anos e

pelo apoio e ensinamentos em mim investidos;

A todos os professores do curso de Ciências Biológicas, mas de maneira especial ao

Dr. Carlos Alberto de Almeida Gadelha, pela ajuda no desenvolvimento desse

trabalho, e à Drª. Tatiane Santi-Gadelha, tanto pela ajuda quanto por ter aceitado

participar da banca examinadora;

Ao doutorando Msc. Raphael Batista da Nóbrega, pelos momentos de descontração,

troca de conhecimentos e por ter aceitado participar da banca examinadora;

Aos meus pais, José Caetano e Maria Salomé, por todas as dificuldades enfrentadas

desde que vim morar em João Pessoa e por todo o apoio oferecido para que esse

momento se concretizasse;

À minha esposa, Adlane Florentino, pelo carinho, atenção, compreensão e apoio;

A todos os colegas e amigos da turma 2008.1 do curso de Bacharelado em Ciências

Biológicas da UFPB, por todos os momentos vivenciados, inclusive os extraclasse,

durante todo o curso.

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SUMÁRIO

Resumo ................................................................................................................................. 5

Abstract ................................................................................................................................ 6

1. Introdução ........................................................................................................................ 7

2. Fundamentação Teórica .................................................................................................. 9

2.1 Lectinas Vegetais ......................................................................................................... 9

2.1.1 Lectinas de Leguminosas ....................................................................................... 9

2.1.1.1 ConM, uma lectina extraída da Canavalia maritima........................................ 12

2.1.2 Estrutura das Lectinas ......................................................................................... 13

2.1.3 Domínio de Reconhecimento a Carboidrato ......................................................... 17

2.1.4 Sítios Hidrofóbicos ............................................................................................... 20

2.2. Hormônios Vegetais .................................................................................................. 22

2.2.1 Auxinas ................................................................................................................ 23

2.2.2 Ácido Indole 3-Acético (AIA) ................................................................................ 25

3. Objetivos ......................................................................................................................... 30

4. Materiais e Métodos ....................................................................................................... 31

4.1 Coleta de Dados de Difração de Raios X .................................................................... 31

4.2 Resolução da Estrutura Cristalográfica ....................................................................... 32

5. Resultados e Discussão ................................................................................................ 34

5.1 Difração de Raios X .................................................................................................... 34

5.2 Estrutura Geral ........................................................................................................... 34

5.3 Sítio de Ligação ao Ácido Indole-3-Acético (AIA) ........................................................ 36

5.4 Relevância Fisiológica ................................................................................................ 40

5.5 Ligação do Grupamento Indolil ................................................................................... 43

5.6 O que Indica a Presença do Grupamento Indolil? ....................................................... 47

6. Conclusões ..................................................................................................................... 50

7. Referências Bibliográficas ............................................................................................ 51

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RESUMO

Lectinas representam uma classe de proteínas caracterizadas por sua capacidade

de se ligar específica e reversivelmente a mono- e/ou oligossacarídeos. Todas as

formas de vida existentes expressam essas proteínas, embora aquelas de origem

vegetal, especialmente as extraídas de sementes das leguminosas Diocleinae,

sejam mais estudadas, uma vez que, em detrimento da conservação de suas

estruturas primária, terciária e quaternária, tais proteínas apresentam diferenças

quanto às atividades biológicas desenvolvidas. Nesse sentido, a maioria das funções

atribuídas às lectinas leva em consideração sua capacidade de decifrar os

glicocódigos da superfície celular. Entretanto, é cada vez maior o número de

evidências demonstrando que tais proteínas tem afinidades maiores por compostos

hidrofóbicos, como a adenina e o ácido indole-3-acético (AIA). Assim sendo, o

presente trabalho demonstra, pela primeira vez, a resolução da estrutura

cristalográfica da ConM, uma lectina isolada de sementes da leguminosa Canavalia

maritima, em complexo com o AIA, o qual encontra-se coordenado na cavidade

formada pela associação entre os dímeros canônicos, hipotetizando-se que a lectina

seria uma nova forma de armazenamento desse fitormônio, tornando-o disponível

através da ruptura de seu arranjo quaternário mediante a acidificação do meio

extracelular. Além disso, reportamos a presença do grupamento indolil, a estrutura

base do AIA, sendo coordenado no domínio de reconhecimento a carboidrato da

CML, indicando que essa região é um novo sítio de ligação para compostos

hidrofóbicos.

Palavras-chave: lectina; ConM; AIA; indolil; sítio hidrofóbico.

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ABSTRACT

Lectins are a group of proteins characterized by its ability in interacts specifically and

reversibly with mono- and oligosaccharides. Such macromolecules are expressed in

all forms of life, although those from plants, specifically those extracted from

Diocleinae leguminous seeds, is more studied, once they present different biological

activities, despite their primary, tertiary and quaternary structures conservation. The

majority of biological activities reported to them take into account its capability in

decipher the glycocodes on cell surface. However, several studies have reported the

ability of these proteins in interact with more affinity with hydrophobic compounds,

such as adenine and indole 3-acetic acid (IAA). Thus, in the present work, we report,

for the first time, the crystal structure of ConM, a lectin isolated from leguminous

Canavalia maritima seeds, in complex with IAA, which encounters coordinated in the

cavity formed by association between the canonic dimers, being hypothesized that

the lectin could be a novel storage form of this phytohormone, availabling it through

brake down of its tetrameric arrangement due the acidification of extracellular media.

Furthermore, we report the presence of indole group, the basic structure of IAA,

being coordinated by amino acid residues in the carbohydrate-recognition domain,

indicating that this area could be a novel hydrophobic binding site.

Keywords: lectin; ConM; IAA; indole; hydrophobic site.

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1. INTRODUÇÃO

Segundo Lis & Sharon (1998), lectinas são proteínas de origem não imune

que possuem pelo menos um sítio não-catalítico de ligação reversível a mono- e

oligossacarídeos específicos. Apesar dessa ser a definição mais aceita para essas

proteínas e das mesmas terem a recebido na segunda metade do século passado,

elas vem sendo estudadas desde o final do século XIX, quando Stillmark, em 1888,

isolou a primeira dessas proteínas, a qual foi denominada de ricina devido à planta

da qual foi extraída, Ricinus communis. Devido sua propriedade de aglutinar

eritrócitos (Fig. 1), essa proteína, bem como todas aquelas de origem vegetal que

apresentavam a mesma característica, foi denominada de fitohemaglutinina.

Entretanto, sabe-se hoje que a ricina apresenta uma atividade hemaglutinante

relativamente baixa, sendo caracterizada pela sua alta toxicidade devido à sua

capacidade de inibir a síntese proteica (PEUMANS et al., 2001).

Figura 1 – Esquematização da ação aglutinante das lectinas, mostrando que proteínas com mais de um domínio de ligação podem interagir com os carboidratos na superfície de duas células adjacentes. (Adaptado de KENNEDY et al., 1995).

A partir de seus estudos com o sistema sanguíneo ABO, Boyd & Shapleigh

(1954), corroborando diversos trabalhos que demonstraram que aglutininas oriundas

de diferentes leguminosas reagiam de modo específico com células sanguíneas

(revisado por SHARON & LIS, 2004), passaram a utilizar o termo lectina (do latim

legere – selecionar, escolher) para nomear essas proteínas que ligavam-se com

especificidade aos glicoconjugados da superfície dos eritrócitos que caracterizavam

cada um destes no sistema ABO.

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As lectinas constituem um grupo de proteínas presente em todas as formas

de vida, desde vírus até os mamíferos (KENNEDY et al., 1995). Como seria de se

esperar, cada tipo de organismo apresenta lectinas com a propriedade comum de

reconhecer carboidratos, embora suas sequências de resíduos de aminoácidos bem

como suas estruturas terciárias e quaternárias sejam bastante particulares, criando

um espectro de arranjos biológicos altamente diverso.

Devido à sua ampla distribuição, bem como aos seus aspectos estruturais e

de especificidade a sacarídeos, as lectinas podem ser classificadas de diversas

formas. Neste contexto, Vasconcelos e Oliveira (2004) revisaram essa temática,

destacando que as lectinas podem ser agrupadas levando-se em consideração três

parâmetros: (1) estrutura tridimensional; (2) relação estrutural e evolutiva e (3)

afinidade a monossacarídeos.

Sendo sua principal característica a capacidade de se ligar com

especificidade a carboidratos, as lectinas podem ser utilizadas, por exemplo, como

ferramentas para a detecção, o isolamento e a caracterização de glicoconjugados,

sendo essenciais para o entendimento de mudanças nas superfícies celulares em

processos fisiológicos e patológicos, bem como nos estudos imunológicos e

oncológicos (ETZLER, 1985; SHARON & LIS, 2004; KOMATH et al., 2006).

Entretanto, é cada vez maior o número de evidências que indicam que as

lectinas podem interagir com outros tipos de moléculas, como aminoácidos não-

proteicos (DELATORRE et al., 2007) e compostos hidrofóbicos (ROBERTS &

GOLDSTEIN, 1982; KONONOPOULOS, 2006). Tais observações podem servir

como um indicativo de um amplo espectro de funções e aplicações que,

futuramente, podem determinar a renomeação de lectinas, fato este que pode ser

influenciado pelo presente trabalho.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 LECTINAS VEGETAIS

Lectinas estão presentes em virtualmente todos os representantes do reino

Plantae, desde as mais basais até aquelas caracterizadas pelo desenvolvimento de

flores (ETZLER, 1985).

Suas especificidades a carboidratos, bem como suas estruturas, tem sido

estudadas para uma grande variedade de espécies vegetais, onde se percebe que

lectinas de um determinado grupo taxonômico apresentam características únicas

que as distingue de outras categorias, conforme observado na Tab. 1.

2.1.1 Lectinas de leguminosas

As sementes dos legumes são particularmente ricas em lectinas, embora

estas proteínas possam também ser encontradas em outros órgãos e tecidos. A

família botânica a qual pertence os legumes, Fabaceae (Leguminosae), é muito

estuda com relação a essa classe de proteínas, uma vez que diversos estudos

indicam grande homologia sequencial e estrutural das lectinas, especialmente se as

mesmas são encontradas em espécies de uma mesma tribo ou subtribo (ETZLER,

1985).

É interessante destacar que o estudo de lectinas extraídas de leguminosas

sempre leva em consideração suas homologias com a Concanavalina A (ConA),

extraída de sementes da Canavalia ensiformis e que é a lectina desse grupo

taxonômico mais bem estudada com relação à sua estrutura e suas atividades

biológicas (LIS & SHARON, 1998). A partir de estudos comparativos, constatou-se

grande conservação de sequência e estrutura nos domínios de reconhecimento a

carboidrato e nos sítios hidrofóbicos. Devido a essa grande homologia, as demais

lectinas dessa família são denominadas de ConA-like.

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Tabela 1 – Características das lectinas de diversos grupos taxonômicos vegetais. (Adaptado de

ETZLER, 1985).

A ConA e todas as demais lectinas ConA-like são extraídas de plantas

pertecentes à família Fabaceae, subfamília Papilinoidae e tribo Phaseolae, a qual

agrupa oito subtribos (Cajaninae, Clitoriae, Diocleinae, Erythrinae, Glycininae,

Kennediinae, Ophrestiinae e Phaseolinae). Destas, há especial interesse nos

estudos direcionados às lectinas da subtribo Diocleinae, principalmente com relação

aos gêneros Canavalia e Dioclea, uma vez que as mesmas apresentam grande

homologia em suas sequências e estruturas. Além disso, devido a essa

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característica, que reflete a baixa modificação genética sofrida durante a evolução,

as lectinas podem ser utilizadas como marcadores moleculares em estudos e

investigações quimiotaxonômicas e filogenéticas (MOREIRA et al., 1993; MOREIRA

et al., 1995).

Nas leguminosas, as lectinas são, de maneira geral, sintetizadas em uma

forma imatura, com posterior processamento pós-traducional para a formação de

uma proteína madura, onde há a remoção de um peptídeo sinal na região N-terminal

(LORIS et al., 1998). As etapas desse processamento envolvem clivagem

proteolítica do peptídeo sinal (HIGGINS et al., 1983), trimming do C-terminal

(ETZLER, 1994; MANDAL et al.; 1994; YOUNG et al., 1995), remoção de

carboidratos ligados covalentemente (MIN et al., 1992; SHELDON & BOWLES,

1992), e ligação enzimática das extremidades C- e N-terminais originais

(CARRIGNTON et al., 1985; BOWLES et al., 1986). É interessante destacar que,

apesar das moléculas precursoras serem similares nas diferentes lectinas de

leguminosas, há variações nos processos pós-traducionais que fazem com que

essas proteínas sejam reunidas em três grupos distintos (REEKE & BECKER, 1986;

LORIS et al., 1998): o primeiro contem a ConA, que é um homotetrâmero com 237

resíduos em cada cadeia; no segundo encontra-se a favina, uma proteína dimérica

composta por uma cadeia α e uma β que juntas se assemelham a um monômero da

ConA; e no terceiro grupo encontra-se proteínas de cadeia única, como aquelas

derivadas da Dolichos biflorus. Todos os três grupos apresentam um processo

denominado de permutação circular, onde as extremidades N- e C-terminais da

molécula precursora, que estão espacialmente próximas uma da outra, após a

liberação do peptídeo sinal, são unidas covalentemente para formar,

temporariamente, uma proteína circular. Posteriormente, há a clivagem enzimática

dessa molécula em uma região distinta, criando-se assim novas extremidades

(GOODSELL, 2010) (Fig. 2). Entretanto, outras etapas diferem de uma lectina para

outra. Por exemplo, enquanto na favina há, após a remoção do peptídeo sinal, a

adição covalente de uma molécula glicídica ao resíduo Asn168 e a clivagem

enzimática da cadeia remanescente para a formação das subunidades α e β

(HEMPERLY et al., 1982), na ConA, após a remoção do peptídeo sinal, a cadeia

remanescente é clivada em diversas subunidades menores que, pelo processo de

permutação circular, dão origem à proteína madura (BOWLES et al., 1986).

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Figura 2 – Maturação da ConA através do processo de permutação circular. A molécula precursora (PDB ID 3CNA) possui uma extremidade C-terminal, a qual se encontra próximo ao N-terminal, e um loop extras, ambas as estruturas representadas pelo pontilhado azul claro. No processamento, a cauda C-terminal extra é clivada enzimaticamente e a nova extremidade é unida ao N-terminal para formar uma proteína circular. Posteriormente, o loop extra também é clivado para dá origem às novas extremidades da, agora, proteína madura. (Adaptado de GOODSELL, 2010).

2.1.1.1 ConM, uma lectina extraída da Canavalia maritima

A ConM é uma lectina extraída de sementes da Canavalia maritima, uma

leguminosa presente em regiões tropicais e que é conhecida popularmente como

“feijão-de-praia”. Sua lectina foi purificada inicialmente por Perez et al. (1991), os

quais a caracterizaram como sendo uma proteína com 25 kDa e 237 resíduos de

aminoácidos por monômero, assim como as demais lectinas Diocleinae. Gadelha et

al. a cristalizaram (2005a) e resolveram sua estrutura tridimensional nativa (2005b),

destacando sua capacidade de induzir a produção de óxido nítrico. Além disso, este

trabalho demonstrou que a ConM apresenta 98% de similaridade em sua estrutura

primária quando comparada com a ConA, onde apenas cinco resíduos diferem de

uma proteína para outra (D58G, A70G, M129S, E192D e P202S – as primeiras

letras referem-se à ConA e as segundas à ConM). Delatorre et al. (2006) resolveram

a estrutura tridimensional da ConM complexada com maltose e trealose, observando

que a afinidade dessa lectina por dissacarídeos, previamente reportada por Ramos

et al. (1996), era ocasionada pela interação entre a Tyr12 e o segundo anel dessas

moléculas.

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2.1.2 Estrutura das lectinas

Lectinas provenientes de vegetais e microrganismos são as proteínas dessa

classe mais conhecidas e estudadas. Lectinas de origem animal, classificadas como

tipo C, galectinas (ou tipo S) e tipo P, vem sendo estudadas desde a década de 80 e

suas estruturas cristalográficas vem sendo resolvidas a relativamente pouco tempo.

Estudos indicam que lectinas do grupo das galectinas apresentam uma estrutura

tridimensional muito semelhante àquela de lectinas de leguminosas (DODD &

DRICKAMER, 2001).

De acordo com suas características estruturais, as lectinas são proteínas

ligadoras de carboidrato que se enquadram no grupo II dessa classe, não possuindo

em seu sítio de reconhecimento a sacarídeos atividades enzimáticas ou de

anticorpos (RINI, 1995), fato este utilizado para sua própria definição, como

destacado anteriormente.

As lectinas de leguminosas são excelentes fontes de estudos para se

entender as relações estrutura-função que caracterizam uma proteína, uma vez que

apesar da enorme homologia existente entre suas sequências e suas estruturas

terciárias e quaternárias, as mesmas apresentam distintas especificidades por

mono- e oligossacarídeos (MANOJ & SUGUNA, 2001). Seus monômeros

apresentam um peso médio de 25kDa, possuindo dois sítios de ligação altamente

conservados para os íons divalentes Ca2+ e Mn2+, os quais são essenciais para a

estabilização da proteína e coordenação das moléculas de carboidrato (BECKER et

al., 1975; BREWER et al., 1983). Cada íon está coordenado por seis interações de

hidrogênio (Fig. 3), sendo quatro provenientes da proteína e duas de moléculas de

água. A essencial presença dos íons, particularmente do cálcio, para a ligação das

lectinas a carboidratos pode ser explicada pela capacidade dos resíduos que

compõem o domínio de reconhecimento a carboidrato serem, também, os

responsáveis pela coordenação desse íon (LORIS et al., 1998), conforme observado

na Fig. 3. É interessante ressaltar que existem exceções para essa necessidade de

sítios de ligação para íons divalentes. Por exemplo, as lectinas αAI (amylase

inhibitor) e arcelin (OSBORN et al., 1988; MIRKOV et al., 1994), derivadas da

leguminosa Phaseolus vulgaris, não possuem o loop correspondente aos resíduos

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Pro13-Pro23 de outras lectinas de leguminosas, o qual está envolvido na

coordenação dos íons. Neste caso, a estabilização das proteínas parece ser

efetuada através de interações entre os aneis da Tyr85 e da Phe127, bem como por

duas interações de hidrogênio entre as cadeias principais dos resíduos

Ala84/Thr205 e Gly207/Ala84 (BOMPARD-GILLES et al., 1996; HAMELRYCK et al.,

1996).

Figura 3 – Coordenação dos íons Ca2+ e Mn2+. Nota-se que a coordenação daquele envolve resíduos de aminoácidos (Tyr12 e Arg228) que participam também da coordenação de moléculas glicídicas no CRD, explicando, assim, a necessidade da presença desse íon para a ligação a carboidratos. (Adaptado de LORIS et al., 1998).

Cada monômero possui uma arquitetura tridimensional denominada de jelly-

rool (SRINIVAS et al., 2001), onde um “sanduiche” é formado por uma parte frontal

contendo sete folhas-β antiparalelas (Fig. 5B) que se sobrepõe a uma porção

posterior com seis folhas-β antiparalelas (Fig. 5C), de modo que estas duas regiões

estão conectadas de um lado por cinco folhas-β, além da existência de diversos

loops (Fig. 5A). Entretanto, as formas biologicamente ativas das lectinas dessa

subtribo se encontram di- ou tetramerizadas, fato este influenciado pelo pH do meio

(SENEAR & TELLER, 1981; OLIVEIRA et al., 2008; NAGANO et al., 2008).

É interessante ressaltar que a maioria das lectinas de leguminosas apresenta

um arranjo dimérico conhecido como dímero canônico (Fig. 5D), onde um monômero

interage com outro lado a lado de modo a formar uma arquitetura contínua, através

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da associação das porções posteriores de cada monômero, de 12 folhas-β

antiparalelas (EDELMAN et al., 1972; HARDMAN & AINSWORTH, 1972; EINSPAHR

et al., 1986) e onde cada um forma uma angulação em relação ao outro. Já a

estrutura tetramérica, descrita primeiramente para a ConA (EDELMAN et al., 1972;

HARDMAN & AINSWORTH, 1972; REEKE et al., 1975), é formada pela associação

entre as partes posteriores de dois dímeros canônicos (Fig. 5E), as quais, sendo

côncavas, formam uma cavidade preenchida com água que na ConA possui um

volume de cerca 5000 Å3. Entretanto, de acordo com a arquitetura dimérica de cada

lectina, que pode ser canônica ou não (PRABU et al., 1998), esta associação pode

se dá de diferentes formas, de modo que variações são detectadas nos arranjos

quaternários (BOUCKAERT et al., 1999; VIJAYAN & CHANDRA, 1999; MANOJ &

SUGUNA, 2001) (Fig. 4), refletindo-se, assim, nas diferenças de atividades

biológicas, como abordado por Sanz-Aparício et al. (1997) para a lectina da

Canavalia brasiliensis (ConBr) .

Figura 4 – Variações das estruturas quaternárias encontradas em lectinas de leguminosas. (Adaptado de VIJAYAN & CHANDRA, 1999).

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Figura 5 – Características gerais das estruturas terciária e quaternária das lectinas Diocleinae

baseada na ConM. (A) Representação do arranjo monomérico conhecido como beta sandwich

(SRINIVAS et al., 2001), destacando-se a sobreposição das sete folhas-β frontais (azul) em relação

às seis posteriores (laranja). (B) e (C) Disposição das sete folhas-β frontais (azul) e das seis

posteriores (verde), respectivamente. (D) Dímero canônico, destacando o arranjo contínuo de 12

folhas-β formado pelas porções posteriores de cada monômero (verde e magenta). (E) Arranjo

tetramérico formado a partir da associação entre dois dímeros canônicos, sendo um destes

constituído pelas cadeias polipeptídicas A (cinza) e B (magenta) e o outro pelas cadeias C (verde) e

D (vermelho). * Cavidade central gerada pela disposição dos dímeros canônicos no tetrâmero (ver

texto).

*

A

(E)

B C

D

(A) (B)

(C) (D)

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Em adição aos sítios de ligação a carboidrato e àqueles destinados à coordenação do Ca2+ e do Mn2+, é cada vez maior o número de trabalhos que evidenciam a existência de sítios hidrofóbicos nas estruturas de lectinas de leguminosas. A caracterização do CRD será abordada na próxima seção e os sítios hidrofóbicos na seguinte.

2.1.3 Domínio de Reconhecimento a Carboidrato

Como já mencionado, lectinas apresentam uma ampla variedade de

especificidade para mono- e oligossacarídeos, podendo ser classificadas em cinco

grupos de acordo com sua afinidade por monossacarídeos (MANOJ & SUGUNA,

2001; VASCONCELOS & OLIVEIRA, 2004): manose/glicose (Man/Glc), galactose/N-

acetilgalactosamina (Gal/GalNAc), N-acetilglicosamina (GlcNAc), fucose e ácido N-

acetilneuramínico.

Esse espectro de possibilidades de interação com carboidratos pode ser

entendido a partir da análise do Domínio de Reconhecimento a Carboidrato (CRD)

(DRICKAMER, 1988), o qual, de maneira geral, possui uma arquitetura muito similar

nas lectinas de leguminosas (Fig. 8), sendo formado por quatro loops presentes na

superfície da região frontal de cada monômero (YOUNG & OOMEN, 1992; SHARMA

& SUROLIA, 1997). Nesse sentido, ressalta-se que lectinas extraídas de plantas

filogeneticamente relacionadas e que possuem a mesma afinidade por

monossacarídeos, como é o caso daquelas pertencentes à subtribo Diocleinae,

apresentam seus CRDs sequencialmente conservados (MANOJ & SUGUNA, 2001)

(Fig. 6), embora a especificidade por carboidratos mais complexos seja diferente

(LIS & SHARON, 1998). A partir disso, constata-se que essa variação se reflete nas

atividades biológicas desempenhadas por essas proteínas, onde, por exemplo,

verifica-se que ConA, ConM e ConBr se diferenciam, dentre outras coisas, quanto

aos efeitos pró- e antiinflamatórios (ALENCAR et al., 1999; ASSREUY et al., 1999;

BENTO et al., 1993), liberação de histamina (GOMES et al., 1994; FERREIRA et al.,

1996), produção de óxido nítrico (ANDRADE et al., 1999), mitogenicidade (BARRAL-

NETO et al., 1992) e produção de citocinas (CAVADA et al., 2001).

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18

Mas como uma região que apresenta extrema conservação em sua sequência

de resíduos de aminoácidos pode apresentar especificidades tão distintas? Uma

resposta para tal questionamento foi dada pelo trabalho de Gadelha e colaboradores

(2005b) ao demonstrar que os CRDs da ConM e da ConA apresentam uma

conformação ligeiramente diferente devido a uma mutação que altera o resíduo 202,

o qual naquela é uma Serina e nesta é uma Prolina, mostrando que essa

modificação deixa o domínio da ConM cerca de 0.70 Å mais aberto que o da ConA ,

permitindo, assim, que carboidratos mais complexos possam interagir com maior

facilidade com aquela proteína.

As moléculas de carboidratos nas lectinas da subtribo Diocleinae são

coordenadas, de maneira geral, pelos resíduos Tyr12, Asn14, Leu99, Tyr100,

Asp208 e Arg228 (LORIS et al., 1998) (Fig. 7) por meio de interações de hidrogênio

e de forças de Van der Waals (PEUMANS & VAN DAMME, 1995). Um sétimo

resíduo pode participar dessa coordenação: o Asp16 via seu átomo de oxigênio O4

que pode interagir com o núcleo do trimanosídeo Manα1-3[Manα1-6]Man, como

demonstrado pela resolução da estrutura cristalográfica da ConA complexada com

esse trissacarídeo (LORIS et al., 1996; NAISMITH & FIELD, 1996).

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Figura 6 – Alinhamento das sequências de resíduos de aminoácidos de algumas lectinas extraídas

de espécies pertencentes à subtribo Diocleinae, destacando a grande homologia existente entre

estas proteínas. As setas indicam os resíduos que compõem os CRDs (ver texto) e as pontas de

flecha aqueles que constituem a cavidade hidrofóbica (ver seção 2.1.4). ConA (C. ensiformis); ConBr

(C. brasiliensis); ConM (C. maritima); Dguia (Dioclea guianensis); Cra (Cratylia mollis); * Resíduos

conservados; : modificações de conservação; . modificações semi-conservadas. (Adaptado de

GADELHA et al., 2005b).

É interessante destacar que lectinas de leguminosas pertencentes a subtribos

e até tribos diferentes, mesmo possuindo resíduos distintos, apresentam

equivalência nos seus CRDs quando suas estruturas são sobrespostas (LORIS et

al., 1998), como ilustrado na Fig. 8 para a ConM e a DBL, a lectina extraída de

sementes da Dolichos biflorus.

Figura 7 - Domínio de Reconhecimento a Caboidrato (CRD) da ConM, destacando-se os resíduos de aminoácidos (cinza) que estabilizam a maltose (azul) (PDB ID 2CYF – Adaptado de DELATORRE et al., 2006).

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Figura 8 – Sobreposição do CRD da ConM (verde – PDB ID 2CYF) e do sítio de ligação a monossacarídeos da DBL [(cinza) PDB ID 1BJQ – HAMELRYCK et al., 1999], mostrando a conservação na arquitetura dessa região em lectinas extraídas de espécies de subtribos diferentes. Além disso, nota-se que alguns dos resíduos da DBL correspondem em posição aos da ConM (D85/D208, G103/R228, L127/Y12, N129/N14 e S215/L99).

2.1.4 Sítios hidrofóbicos

As funções biológicas e fisiológicas propostas para as lectinas vegetais,

especialmente para aquelas extraídas de leguminosas, tais como ativação de

linfócitos e indução de apoptose (NOWELL, 1960; WANG et al., 1975; BARBOSA et

al., 2001), processos de defesa contra herbivoria (JANZEN et al., 1976; PEUMANS

& VAN DAMME, 1995; FITCHES et al., 2001; MURDOCK & SHADE, 2002),

nodulação de raízes (BREWIN & KARDAILSKY, 1997; HIRSCH, 1999) e inibição de

infecção por diversos patógenos, como fungos e vírus (BROEKAERT et al., 1989;

PEUMANS & VAN DAMME, 1995), são consideradas como estando relacionadas a

sua capacidade de decifrar os glicocódigos presentes na superfície das células com

as quais interagem, uma vez que suas propriedades são completo ou parcialmente

inibidas por açúcares específicos. Entretanto, diversos estudos vêm indicando que

lectinas de leguminosas e de outros grupos taxonômicos, bem como de organismos

não-vegetais (STOITSOVA et al., 2003), podem interagir com outras moléculas,

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como aminoácidos não-proteicos (DELATORRE et al., 2007) e compostos

hidrofóbicos (ROBERTS & GOLDSTEIN, 1982; ROBERTS & GOLDSTEIN, 1983;

HARDMAN & AINSWORTH, 1973; EDELMAN & WANG, 1978). Neste caso,

trabalhos tem sido desenvolvidos com as substâncias fluorescentes ANS (ácido 1,8-

analinonaftalenossulfônico) e TNS (ácido 2,6-toluidinilnaftalenossulfônico) (YANG

et al., 1974; ROBERTS & GOLDSTEIN, 1982), adenina (ROBERTS et al., 1986;

GEGG et al., 1992; GEGG & ETZLER, 1994), derivados hidrofóbicos de açúcares

(DE BOECK et al., 1984; KENELLOPOULOS, 1996) e com o ácido indole-3-acético

(AIA) (EDELMAN & WANG, 1978). É interessante destacar que boa parte desses

estudos indica que a afinidade de lectinas por compostos hidrofóbicos chegar a ser

maior que aquela para os próprios carboidratos (revisado por LIS & SHARON,

1986), mostrando, assim, que tais sítios podem ter uma importante relevância para

as atividades biológicas e fisiológicas desempenhadas por estas proteínas

Alguns estudos vêm propondo a existência de dois sítios hidrofóbicos

independentes nas lectinas. Por exemplo, Yang et al. (1974) identificaram um sítio

de ligação de alta afinidade na ConA para um ligante fluorescente. Edelman & Wang

(1978) reportaram que o triptofano e o AIA ligam-se com baixa afinidade à ConA,

propondo que existe um desses sítios em cada uma das quatro subunidades da

lectina. Além disso, Roberts & Goldstein (1982) propuseram a existência de um

único sítio de alta afinidade para o TNS em lectinas extraídas da leguminosa

Phaseolus lunatus e quatro sítios de baixa afinidade para o mesmo composto, um

em cada monômero.

Assim, a partir desses estudos, especula-se que existiria um sítio de alta

afinidade para compostos hidrofóbicos por tetrâmero e um de baixa afinidade por

monômero. O sito de alta afinidade ou cavidade hidrofóbica na ConA, baseado em

alguns estudos (EDELMAN et al., 1972; BECKER et al., 1975), estaria delimitado

pelos seguintes resíduos de aminoácidos: Y54, L81, L85, V89, V91, F111, S113,

V179, I181, F191, F212 e I214. Nesse sentido, é razoável imaginar que tal região

pode, de fato, estar relacionada a alguma função fisiológica e/ou biológica

desempenhada pelas lectinas, uma vez que tais resíduos são extremamente

conservados nos diferentes gêneros que compõem a subtribo Diocleinae (Fig. 6).

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2.2 HORMÔNIOS VEGETAIS

Assim como os animais, as plantas utilizam diversos sinais químicos

extracelulares para a comunicação entre células, conhecidos como hormônios, que

atuam sobre o desenvolvimento e o crescimento do organismo. É interessante

destacar que muitos destes têm similaridades estruturais com aqueles encontrados

em animais, como mostrado na Fig. 9, embora, funcionalmente, aqueles pareçam ter

um espectro bem mais amplo (CHOW & McCOURT, 2006; LUMBA et al., 2010).

Entretanto, até o advento das modernas metodologias da biologia molecular, pouco

se sabia a respeito dos fitormônios devido à dificuldade de purificação de seus

receptores, de modo que a maioria dos estudos se baseava em comparações com

os análogos animais (CHOW & McCOURT, 2006).

Historicamente, os hormônios vegetais são classificados em cinco grupos de

moléculas orgânicas: auxinas, giberelinas, citocininas, etileno e ácido abscísico.

Entretanto, estudos mais recentes indicam a existência de diversos outros

compostos que se enquadram como fitormônios: jasmonatos, brassinosteroides,

óxido nítrico, ácido salicílico e estrigolactonas (LUMBA et al., 2010). De todos estes,

especial interesse é direcionado para auxinas e citocininas, uma vez que os mesmos

parecem ser requeridos de forma constitutiva, já que não se encontrou na natureza

nem em laboratórios, até o presente momento, nenhum organismo mutante que

apresentasse deficiência para estes dois hormônios e fosse viável (TAIZ & ZEIGER,

2004; p. 450).

Como o presente trabalho está focado para o ácido indole-3-acético, que é

uma auxina, as próximas seções serão direcionadas para uma descrição geral sobre

este fitormônio.

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Figura 9 – Semelhanças estruturais entre alguns hormônios vegetais (esquerda) e animais (direita). Os nomes no centro representam as moléculas precursoras. (Adaptado de CHOW & McCOURT, 2006).

2.2.1 Auxinas

Auxina é um termo genérico utilizado para nomear todas aquelas substâncias,

naturais ou sintéticas, cuja função na planta seja semelhante àquela do Ácido

Indole-Acético (AIA) (SIMON & PETRÁŠEK, 2011), o qual foi o primeiro composto

dessa classe a ser identificado como sendo o responsável pelo crescimento

diferencial de coleóptilos em resposta à luz. Além disso, auxinas estão envolvidas

em processos de foto- e gravitropismos, na inibição do crescimento de raízes

primárias e na estimulação do desenvolvimento de raízes laterais (SIMON &

PETRÁŠEK, 2011; CASIMIRO et al., 2001; DELKER et al., 2008).

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De maneira geral, apenas quatro auxinas são produzidas naturalmente pelas

plantas: além do AIA, há a presença do Ácido Indole-Butírico (IBA), do Ácido

FenilAcético (PAA) e do Ácido 4-CloroIndole-Acético (4-Cl-IAA) (KOEPFLI et al.,

1938; PORTER & THIMANN, 1965; WIGHTMAN & LIGHTLY, 1982). Todos esses

compostos apresentam uma estrutura bastante similar (Fig. 10), onde um grupo

substituinte está ligado covalentemente ao átomo de carbono C7 do anel indole

(condensação de um anel aromático de seis átomos de C com um anel pirrólico de

cinco átomos, sendo quatro carbonos e um nitrogênio).

Figura 10 – Estrutura química das quatro auxinas endógenas, destacando a similaridade proporcionada pela presença do grupo indole. (Adaptado de SIMON & PETRÁŠEK, 2011).

Embora estes quatro compostos sejam considerados auxinas endógenas,

apenas o AIA é mais bem compreendido com relação ao seu armazenamento,

transporte, percepção, mecanismo de ação e papel fisiológico (SIMON &

PETRÁŠEK, 2011). Nesse sentido, poucos trabalhos têm focado no papel das

outras auxinas (KOEPFLI et al., 1938; PORTER & THIMANN, 1965). Estudos

indicam que o IBA é uma forma de armazenamento mais estável do AIA (LUDWIG-

MÜLLER & HILGENBERG, 1995), sendo convertido enzimaticamente neste

composto por β-oxidação nos peroxissomos (EPSTEIN & LUDWIG-MÜLLER, 1993;

ZOLMAN et al., 2008). Tal conversão favorece o alongamento de pelos radiculares e

das células dos cotilédones (STRADER et al., 2010), de modo que ainda não se tem

evidência de um papel independente do AIA para o IBA. Já o 4-Cl-AIA, que possui

uma via biossintética não relacionada ao AIA, está presente em consideráveis

quantidades em sementes em desenvolvimento de leguminosas (SIMON &

PETRÁŠEK, 2011), estando envolvido na estimulação do crescimento do pericarpo

(REINECKE et al., 1995). Por sua vez, o PAA, que é o único derivado fenólico, tem

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efeitos mais fracos sobre o alongamento caulinar de leguminosas (SMALL &

MORRIS, 1990), apresentando, entretanto, efeitos bactericidas (SLININGER et al.,

2004; SOMERS et al., 2005).

2.2.2 Ácido Indole-3-Acético (AIA)

Como mencionado anteriormente, o AIA foi a primeira auxina a ser

identificada e isolada. Além dos processos biológicos citados na seção anterior, este

fitormônio atua sobre a divisão, alargamento e diferenciação celular (COMMONER &

MAZIA, 1942; VANNESTE & FRIML, 2009), desenvolvimento do pólen (NI DI-AN et

al., 2002), formação foliar (HE et al., 2000) e embriogênese (AN et al., 2001;

FISCHER-IGLESIAS et al., 2001).

Todas essas funções desempenhadas pelo AIA levam em consideração sua

capacidade de interagir com o receptor nuclear TIR1/AFB da família de proteínas F-

box nas células-alvo. Esse receptor faz parte de um grande complexo proteico

chamado SCF. Em baixos níveis de AIA, a TIR1 se encontra fracamente ligada aos

repressores transcricionais Aux/IAA, os quais estão inibindo a atividade de fatores

transcricionais responsivos ao AIA (ARFs). Quando os níveis desse fitormônio

aumentam e há sua ligação ao TIR1, este estabiliza sua interação com os

repressores Aux/AIA, que passam a ser poliubiquitinizados por proteínas ligases

presentes no complexo para posterior degradação. Após esta etapa, ARFs se

tornam livres para promover a expressão de genes induzidos pelo AIA (revisado por

CALDERON-VILLALOBOS et al., 2010).

Entretanto, diversos estudos indicam que outras funções associadas ao AIA

não poderiam estar relacionadas à sua ligação com receptores nucleares, uma vez

que este hormônio vegetal induz respostas celulares rápidas, tais como ativação de

H+-ATPases (HAGER et al., 1991; HAGER, 2003), aumento dos níveis citosólicos de

cálcio (SHISHOVA & LINDBERG, 2004), ativação de espécies reativas de oxigênio

(SCHOPFER & LISZKAY, 2006) através da atividade da fosfatidilinositol-3-quinase

(JOO et al., 2005) e inibição de endocitose (PACIOREK et al., 2005).

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Além desses fatores, as diversas funções morfogenéticas desempenhadas

pelo AIA estão relacionadas com a formação de um gradiente de concentração, o

qual é dependente de seu transporte polar (distribuição intra- e intercelular) e do

balanço existente entre sua síntese, conjugação e degradação (SIMON &

PETRÁŠEK, 2011).

O transporte polar diz respeito à direcionalidade, primariamente observada

nos experimentos pioneiros do século XIX onde o AIA, ainda não identificado àquela

época, movia-se sempre do ápice para a base do coleóptelo (transporte basípeto).

Com o avanço das técnicas e das metodologias de estudos, verificou-se que essa

característica era proporcionada pela distribuição diferencial de carreadores de

efluxo e de influxo ao longo da membrana plasmática das células (Fig. 11)

(PETRÁŠEK & FRIML, 2009). Os primeiros, representados pelas proteínas PIN

(GÄLWEILER et al, 1998; KŘEČEK et al., 2009), são os determinantes primários

desse transporte polar, existindo evidências de que subgrupos desses carreadores

estejam presentes no retículo endoplasmático, mediando o fluxo de AIA entre essa

organela, que é um local para sua degradação (WOODWARD & BARTEL, 2005), e o

citosol. Por sua vez, os carreadores de influxo podem ser representados pela

AUX1/LAX (BENNETT et al., 1996) e pelos ortólogos vegetais para os

transportadores ABCB de proteínas resistentes a múltiplas drogas (NOH et al., 2001;

GEISLER & MURPHY, 2006). Além disso, o AIA pode adentrar passivamente à

célula através de sua forma protonada ou por meio de um mecanismo ativo quando

encontrado sob sua forma desprotonada (SIMON & PETRÁŠEK, 2011). Assim

sendo, todos esses processos que influenciam a unidirecionalidade do transporte do

AIA contribuem para suas atividades, como exemplificado pelo crescimento

diferencial de coleóptilos quando de uma estimulação luminosa.

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Figura 11 – Esquematização da distribuição assimétrica dos carreadores de influxo (círculos laranjas)

e efluxo (círculos roxos) do AIA ao longo da membrana plasmática de células vegetais, a qual é

responsável pela unidirecionalidade do transporte desse fitormônio. As setas tracejadas representam

a entrada por difusão passiva de moléculas de AIA protonadas. (Adaptado de KRAMER & BENNETT,

2006).

O outro fator que está relacionado com a formação de um gradiente de

concentração do AIA é o balanço existente entre sua síntese, conjugação e

degradação. Diversos estudos indicam que o mecanismo metabólico de biossíntese

do AIA é dependente de triptofano (Trp) (GORDON, 1958). Nesse sentido, há

evidências de que esse processo ocorre por meio de quatro vias distintas (Fig. 12),

sendo que apenas três parecem ocorrer em plantas. Entretanto, o trabalho de Wright

et al. (1991) evidenciou a existência de uma rota biossintética independente do Trp,

onde milhos (Zea mays) mutantes para o gene codificador da triptofano sintase não

eram capazes de converter esse aminoácido no AIA, embora a concentração do

fitormônio fosse aproximadamente 50 vezes maior nesses mutantes. A conjugação

refere-se à ligação covalente do AIA com outros compostos, como açúcares,

aminoácidos e peptídeos (ANDREAE & GOOD, 1955; WOODWARD & BARTEL,

2005; SEIDEL et al., 2006; NORMANLY, 2010), sendo estas as formas inativas

desse hormônio vegetal. Acredita-se que o metabolismo dessas formas conjugadas

seja o principal regulador dos níveis de AIA livre, sendo sua formação, bem como

degradação, que ocorre enzimaticamente (RAMPEY et al., 2004), influenciadas por

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fatores ambientais, como luz e gravidade. Pensa-se que a conjugação seja um meio

de armazenamento, transporte e proteção contra a oxidação, atuando sobre a

remoção e o catabolismo desse fitormônio (TAIZ & ZEIGER, 2004, p. 455; DELKER

et al., 2008). O último fator que influencia o gradiente de concentração do AIA é sua

degradação, que parece ocorrer através de oxidação enzimática por múltiplas rotas

(TAIZ & ZEIGER, 2004, pp. 455, 456).

Figura 12 – Rotas metabólicas responsáveis pela produção do ácido indole-3-acético a partir do

triptofano. A rota (A) é a única que não ocorre em plantas, estando as enzimas presentes apenas em

bactérias assinaladas com um asterisco. (Adaptado de TAIZ & ZEIGER, 2004; p. 454).

Nesse sentido, o presente trabalho mostra a resolução da estrutura

cristalográfica da lectina isolada de sementes da leguminosa Canavalia maritima

(ConM) complexada com o ácido indole-3-acético, descrevendo, por meio de

substituição molecular, um novo sítio de ligação nessa proteína, o qual está de

acordo com estudos prévios realizados com a ConA “soaked” com outros compostos

hidrofóbicos (HARDMAN & AINSWORTH, 1973). A partir disso, hipotetiza-se as

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possíveis implicações fisiológicas relacionadas com esse trabalho, mostrando uma

nova forma de armazenamento e transporte para o AIA, bem como ampliando o

espectro de funções desempenhadas por essas proteínas, o qual, nesse caso,

parece não ser influenciado pela interação com mono- ou oligossacarídeos. Além

disso, demonstra-se a existência de um novo sítio hidrofóbico próximo ao CRD.

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3. OBJETIVOS

Geral

• Resolver a estrutura cristalográfica da lectina extraída das sementes da

Canavalia maritima (ConM) em complexo com o ácido indole-3-acético (AIA).

Específicos

• Verificar como ocorre a coordenação do AIA na estrutura tridimensional da

ConM;

• Analisar as mudanças conformacionais ocorridas na estrutura tridimensional

da ConM mediante a ligação do AIA;

• Inferir a possível relevância fisiológica da interação da ConM com o AIA a

partir da análise de sua estrutura tridimensional complexada.

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4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 COLETA DE DADOS DA DIFRAÇÃO DE RAIOS X

Cocristais da lectina de Canavalia maritima (ConM) complexada com o ácido

indole-acético (AIA) foram submetidos a experimentos de Difração de Raios X na

estação experimental MXI do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS),

localizado em Campinas, São Paulo. Padrões de difração foram obtidos utilizando-

se um comprimento de onda λ de 1.433 Å, sendo obtido um conjunto com 120

imagens (1° de oscilação) semelhantes àquela mostrada na Fig. 13B através de um

detector CCD (MAR Research).

Nesse processo, elétrons são acelerados em uma estrutura circular a uma

velocidade relativística (próxima à velocidade da luz – 3 x 108 m/s) de tal maneira

que imãs eletromagnéticos posicionados em pontos estratégicos provocam seu

desvio tangencial como um espectro de luz contendo todos os comprimentos de

ondas. No caso das estações experimentais destinadas a difração de raios X, essa

luz passa por um aparelho que permite a passagem apenas dos raios com

comprimento de onda referente aos raios X (cerca de 1 Å). Essa radiação é utilizada

nesse tipo de procedimento devido a seu comprimento, uma vez que é a única

capaz de permitir a visualização de ligações entre carbonos, os quais se distanciam

um do outro em aproximadamente 1.5 Å (LATTMAN & LOLL, 2008; pp. 1-3).

Os raios X são então incididos sobre os cristais, os quais contêm um arranjo

ordenado e periódico da proteína em estudo. Nesse processo, os raios incidentes

são desviados pelos elétrons que orbitam cada átomo da proteína, sendo, então,

captados por um detector localizado a uma determinada distância do cristal, gerando

um padrão que representa a disposição dos elétrons em uma determinada posição

(Fig. 13A) (LATTMAN & LOLL, 2008; pp. 19, 20). Como nosso interesse é elucidar a

estrutura tridimensional da macromolécula, os cristais são rotacionados em

determinados ângulos para que seja possível obter um conjunto de dados com o

maior número possível de spots a fim de se ter um alto grau de completeza, o que

representa visualizar o maior número de resíduos de aminoácidos.

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Por se tratar de uma técnica de microscopia, desejamos conhecer as

estruturas formadoras dos cristais. Entretanto, diferentemente de outras técnicas, a

difração de raios X não faz uso de lentes, mas sim de cálculos computacionais que

mimetizam seu uso (LATTMAN & LOLL, 2008; p. 3). Assim, os padrões gerados

passam por um processamento matemático que recria as coordenadas posicionais

de cada átomo a partir das informações contidas ali, permitindo, portanto, a

resolução da estrutura tridimensional da proteína.

Figura 13 – Padrão de difração. (A) Esquematização de como um padrão de difração é gerado a partir da incidência de Raios X sobre um cristal proteico, destacando-se a ordenação das moléculas (Adaptado de LATTMAN & LOLL, 2008; p. 20). (B) Padrão obtido a partir da incidência de Raios X sobre o cristal da ConM complexada com o AIA. Cada ponto escuro, denominado spot ou “reflexão”, representa a soma de todos os raios difratados pelos elétrons dos átomos em uma determinada posição.

4.2 RESOLUÇÃO DA ESTRUTURA CRISTALOGRÁFICA DA CML COMPLEXADA

COM O IAA

As imagens foram processadas na Unidade de Proteômica Estrutural (UPE)

do Departamento de Biologia Molecular (DBM) da Universidade Federal da Paraíba

(UFPB) para se obter e analisar o modelo tridimensional da CML, verificando se

havia ou não presença de ligante.

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O processamento se deu a partir do uso de softwares específicos e seguiu as

seguintes etapas:

1 – Integração das imagens: as 120 imagens foram integradas para formar uma

única através do software iMOSFLM (LESLIE, 1992), disponível no pacote de

programas CCP4 (Collaborative Computacional Project, Number 4, 1994);

2 – Escalonamento: a imagem foi transformada em uma matriz de linguagem binária

através do software SCALA (Collaborative Computacional Project, Number 4, 1994),

sendo analisados parâmetros como resolução, completeza e multiplicidade;

3 – Substituição molecular: os cálculos computacionais utilizados no processamento

recuperam apenas uma parte das informações contidas nos padrões de difração, a

qual representa a amplitude dos raios difratados. A fase destes é “perdida” [fato este

referido como “problema da fase” (LATTMAN & LOLL, 2008; pp. 3,5; McPHERSON,

2009, pp. 15, 16)], de modo que utilizamos procedimentos adicionais para recuperá-

la. Em nosso estudo, utilizou-se o método da substituição molecular através do

programa MolRep (VARGIN & TEPLYAKOV, 1997), utilizando-se como modelo para

a geração das coordenadas atômicas a molécula da ConM complexada com

maltose, depositada no Protein Data Bank sob o código 2CYF (DELATORRE et al.,

2006). Nesse caso, analisou-se os parâmetros wRfac e Score, que representam,

respectivamente, o quanto os dados obtidos pelo experimento de difração discordam

e concordam com o modelo utilizado.

O modelo tridimensional gerado a partir da substituição molecular foi

analisado e modelado através do programa COOT (EMSLEY & COWTAN, 2004),

onde se observou a presença ou não de densidade eletrônica para o ligante (AIA),

bem como se realizou a modelagem molecular para adequar o modelo à densidade

eletrônica obtida (mapas de densidade eletrônica Fo-Fc e 2Fo-Fc foram gerados a

2σ após refinamento posicional por restrições). A estrutura passou por diversos

ciclos de refinamentos de rotação e translação através do programa RefMac5

(MURSHUDOV et al., 2011), de modo que o modelo final foi refinado

anisotropicamente por restrição após a adição de moléculas de água às densidades

não explicadas do mapa Fo-Fc.

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34

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 DIFRAÇÃO DE RAIOS X

A estrutura cristalográfica da ConM complexada com o ácido-3-indole acético,

depositada no banco de estruturas proteicas Protein Data Bank sob o código 3SNM,

foi resolvida com uma resolução de 2.15 Å, onde os cristais, pertencentes ao grupo

espacial ortorrômbico I222, apresentaram uma célula unitária com os seguintes

parâmetros (Å): a = 67.190, b = 70.740 e c = 97.750. A unidade assimétrica

apresentou apenas uma molécula (237 resíduos de aminoácidos), com um

coeficiente de Matthews (MATTHEWS, 1968) igual a 2.32 Å3 Da-1 e um conteúdo de

solvente aproximadamente igual a 47,1%. Dados escalonados encontram-se

descritos na Tab. 2. A substituição molecular indicou um coeficiente de correlação

(Scor) de 72,9 % e um wRfactor de 39,3 %.

5.2 ESTRUTURA GERAL

Como reportado pelo trabalho de Gadelha et al. (2005b), os primeiros a

caracterizarem sua estrutura tridimensional, a ConM possui 98% de similaridade em

sua sequência de resíduos de aminoácidos com a ConA, apresentando também

grande homologia em seu arranjo quaternário, seja este analisado do ponto de vista

mono-, di- ou tetramérico. Nesse sentido, o monômero da ConM, além da

conservação dos resíduos que formam os sítios hidrofóbico, de ligação aos íons

divalentes e do CRD, bem como dos que constituem as folhas-β, é caracterizado

pela presença de três pequenas α-hélices, as quais, aqui identificadas como αI, αII e

αIII, são formadas, respectivamente, pelos resíduos Asn14-Gly18, Asp80-Val84 e

Thr226-Leu230, estando a primeira e a terceira presentes na região próxima ao

CRD. Tais características conformacionais são preservadas quando da interação

entre a proteína e moléculas de carboidratos (DELATORRE et al., 2006).

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35

Tabela 2 – Dados estatísticos da resolução da estrutura tridimensional da ConM complexada com o AIA.

Parâmetros Valores

Coleta dos dados

Número total de observações 83.787

Número total de observações únicas 12.629

Rmerge (%) 24,4

Limite de resolução (Å) 24,36-2,15

Completeza (%) 97,2

Multiplicidade 3,2

(I)/σ 2,8

Comprimento de onda (Å) 1,433

Grupo espacial I222

Parâmetros de cela (Å) a = 67,190

b = 70,740

c = 97,750

Refinamento

Limite de resolução (Å) 24,44-2,15

Rfactor (%) 20,6

Rfree (%) 22,5

Número de aminoácidos no arranjo biológico 237

Número de moléculas de água 60

RMS desvios dos valores ideais

Comprimento das ligações (Å) 0,026

Ângulos das ligações (graus) 2,654

Fatores de temperature

Média do B-fator para toda a proteína (Å2) 28,1

Gráfico de Ramachandran

Resíduos nas regiões mais favorecidas 90,75

Resíduos em regiões adicionalmente permitidas 9,25

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36

A lectina extraída de sementes da leguminosa Canavalia maritima (ConM)

complexada com o AIA apresenta sua estrutura tridimensional de forma truncada, ou

seja, com uma pequena sequência de resíduos de aminoácidos, correspondente ao

loop formado entre o resíduo Ser117 e o Glu122, que não pôde ser modelada

através do programa COOT devido à baixa densidade eletrônica observada nessa

região, a qual, de forma geral, apresenta-se com grande instabilidade na maioria das

lectinas tipo ConA (BEZERRA et al., 2011). O mesmo resultado foi encontrado para

a ConM complexada com maltose e trealose (DELATORRE et al., 2006), embora em

sua estrutura nativa esse loop tenha sido modelado com êxito (GADELHA et al.,

2006). Além disso, outras regiões de loop, como aqueles compreendidos pelos

resíduos 149-151 e 160-163, apresentaram-se instáveis, produzindo densidades

eletrônicas fracas, como reportado pelos trabalhos anteriores.

Apesar dessas semelhanças, nosso estudo demonstrou que a ligação do AIA

produziu mudanças conformacionais consideráveis em algumas regiões da estrutura

tridimensional da ConM, como nas α-hélices αI e αIII (discutidas adiante), as quais

não foram formadas, e em algumas folhas-β (dados não mostrados).

5.3 SÍTIO DE LIGAÇÃO AO ÁCIDO INDOLE-3-ACÉTICO (AIA)

Um mapa Fo-Fc característico para o AIA foi observado próximo aos resíduos

Ser108 e Asn 131, sendo sua molécula, cujas coordenadas foram obtidas a partir da

plataforma eletrônica HICUP (www.xray.bmc.uu.se/hicup - KLEYWEGT, 2007),

adicionada para modelagem. Após seu posicionamento, adição das moléculas de

água, ciclos de refinamento e criação de um modelo tetramérico baseado em

cálculos de simetria através do programa PyMol (DELANO, 2004), verificou-se que o

AIA se encontra na interface dimérica do tetrâmero (Fig. 15), sendo coordenado por

oito ligações hidrofílicas (interações de hidrogênio) e cinco forças de Van der Waals

pelos resíduos Ser 108 e Asn131 do monômero A, pela Thr123 do monômero C,

pela molécula de AIA coordenada pelo monômero D e por três moléculas de água

(Fig. 14). As distâncias e os átomos que fazem a coordenação do AIA estão listadas

na Tab. 3. É importante ressaltar que baseado em sua localização, a estabilização

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do AIA também pode ocorrer através de sua interação com outros resíduos que

fazem parte do loop 117-122, o qual, como já destacado na seção anterior, não pôde

ser modelado no presente trabalho.

Figura 14 – Sítio de ligação do ácido indole-3-acético. Como destacado no texto, a molécula de AIA (amarelo) presente na interface tetramérica é coordenada pelos resíduos Ser108 e Asn131 do monômero A (verde), Thr123 do monômero C (cian) e com a molécula de AIA coordenada pela cadeia D (magenta). Além disso, o AIA é estabilizado por três moléculas de água (esferas vermelhas).

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Tabela 3 – Distâncias em ângstrons (Å) relativas entre os átomos que coordenam a molécula do AIA em seu sítio de ligação. O = oxigênio; OD = oxigênio delta; OG = oxigênio gama; N = nitrogênio; C = carbono; CB = carbono beta; HOH = molécula de água.

AIA Ser108/A Asn131/A HOH26 HOH31 HOH37 Thr123/C AIA/D

OG CB O OD1 CB C C5

O2 3.07 3.82 3.48 3.35

O3 2.84 4.09 2.23

N 3.82

C 3.98

C4 3.54

C5 3.98 3.88

C18 3.14

Como destacado anteriormente (ver seção 2.1.4), diversos estudos indicam

que lectinas de leguminosas podem interagir com ligantes hidrofóbicos com

especificidades maiores que aquelas apresentadas para a coordenação de

carboidratos. Nesse sentido, vários trabalhos propõem a existência de dois sítios de

ligação para esses compostos: um de maior afinidade e quatro com menor afinidade,

sendo, neste caso, um em cada monômero. O trabalho de Hardman & Ainsworth

(1973), através da substituição isomórfica múltipla, mostrou que alguns compostos

hidrofóbicos soaked com ConA apresentam picos relativamente fracos na região

onde encontra-se o resíduo Asn131, indicando que este seria o sítio de baixa

afinidade. Interessantemente, o resultado aqui apresentado está de acordo com

essa ideia, uma vez que demonstramos que o AIA é coordenado, dentre outros, pelo

resíduo Asn131 da ConM. Além disso, pela análise do modelo tetramérico,

observamos a existência de quatro moléculas de AIA sendo coordenadas na

cavidade formada pelos dímeros (Fig. 15), corroborando, assim, a presença de um

sítio em cada monômero. Deste modo, propomos que essa região representa os

sítios de baixa afinidade referidos por trabalhos anteriores. Como o sítio de alta

afinidade é extremamente hidrofóbico, como verificado pelos resíduos de

aminoácidos que o constituem (ver seção 2.1.4 e Fig. 7), acreditamos que moléculas

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como AIA, que são hidrofóbicas em sua natureza, mas apresentam grupos químicos

que permitem a formação de interações hidrofílicas, não possam se ligar na

cavidade hidrofóbica, a qual se encontra a 29 Å do local onde o AIA está

coordenado na ConM (distância entre os átomos Cα da Tyr54 e da Asn131) , devido

a um impedimento estereoquímico gerado por esses grupamentos iônicos.

Embora os estudos realizados anteriormente tenham reportado a existência

de apenas um sítio de alta afinidade por tetrâmero, acreditamos que esse não seja o

fato real, uma vez que o mesmo está presente em todos os monômeros. Assim

sendo, trabalhos futuros devem ser realizados para verificar se a ligação de

compostos hidrofóbicos a esse sítio ocorre em apenas um dos monômeros e, nesse

caso, se sim, se há alguma relevância fisiológica, ou se a metodologia utilizada não

permitiu a coordenação dessas moléculas nos demais domínios.

Figura 15 – Modelo tetramérico da ConM complexada com o AIA (amarelo), mostrando a presença

de quatro moléculas da auxina na cavidade formada pela interação entre os dímeros canônicos,

corroborando, assim, diversos trabalhos que indicaram a presença de quatro sítios de baixa afinidade

para compostos hidrofóbicos nas lectinas vegetais (ver texto).

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40

5.4 RELEVÂNCIA FISIOLÓGICA

Diante dos resultados aqui apresentados e de informações provenientes da

literatura científica, propomos um possível novo papel fisiológico para as lectinas

durante o processo de germinação.

Auxinas são hormônios vegetais cujas concentrações aumentam

drasticamente nas sementes quando do início do processo de germinação. Por

exemplo, Tillberg (1977) demonstrou que a concentração do AIA em sementes da

leguminosa Phaseolus vulgaris atinge um pico de aproximadamente 400% em

relação ao peso seco após 36 horas do início do processo, tendo, após esse

período, seus níveis diminuídos rapidamente, possivelmente devido sua capacidade

de inibir o desenvolvimento de certos tecidos, como proposto pela própria autora.

Assim, fica evidente que as auxinas são de extrema importância para o início da

germinação, mas que o subsequente estabelecimento de tecidos vegetais depende

de sua baixa disponibilidade na forma livre.

Anteriormente ao início da germinação, as auxinas encontram-se conjugadas

de forma covalente a aminoácidos, açúcares e peptídeos, de modo que sua

disponibilidade na forma livre, quando de condições favoráveis, torna-se possível a

partir da quebra enzimática desses complexos (ver seção 2.2.2.). A partir de sua

liberação, as auxinas, como AIA, promovem suas respostas fisiológicas de acordo

com seu transporte ou ligação a receptores intra- e extracelulares. No primeiro caso,

estudos indicam que o AIA pode se difundir passivamente pela membrana

plasmática ou pode ser translocado por um transportador dependendo de seu

estado de ionização. No interior da célula, a auxina pode induzir transcrição gênica a

partir do receptor nuclear F-boxTIR1 ou pode ser convertido em IBA no retículo

endoplasmático (SIMON & PETRÁŠEK, 2011). Por outro lado, como já destacado, o

AIA pode induzir respostas mais rápidas, o que pode ocorrer, dentre outras formas,

através de sua interação com o receptor ABP1, presente na superfície externa da

membrana celular (SAUER & KLEINE-VEHN, 2011). Nesse caso, a ligação do AIA

promove uma transdução de sinal (ainda não identificada) que culmina com a

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ativação de H+-ATPases presentes na membrana, as quais liberam íons H+ no meio

externo à membrana plasmática, acidificando-o.

A partir desse momento, a lectina, que se encontra nesse ambiente em seu

estado tetramérico e complexado ao AIA, sofre uma mudança conformacional em

sua estrutura quaternária, deixando de ser um tetrâmero para se tornar dois

dímeros. Esse processo é referido como equilíbrio dímero-tetrâmero e diversos

estudos indicam que lectinas da subtribo Diocleinae se encontram em um estado

dimerizado em pH com valores relativamente ácidos e como tetrâmeros em pH

relativamente básico (OLIVEIRA et al., 2008; NAGANO et al., 2008). Embora

nenhum trabalho tenha demonstrado o intervalo de valores onde a ConM se

encontra di- ou tetramerizada, é de se imaginar que, devido à já reconhecida

homologia existente entre as lectinas Diocleinae, a nossa proteína de estudo

apresente comportamento similar, de modo que no pH extracelular de uma célula

vegetal, referido como estando em torno de 5,0 a 5,5 (SAUER & KLEINE-VEHN,

2011), a ConM se encontre como uma mistura desses arranjos quaternários. Nesse

sentido, é importante ressaltar que a maioria dos resíduos de aminoácidos que

participam da formação tetramérica da ConM, os quais são virtualmente os mesmos

reportados para outras lectinas Diocleinae (NAGANO et al., 2008), apresenta valores

de pI (potencial isoelétrico) relativamente ácidos (Tab. 4), indicando que a

diminuição do pH do meio provocada pela ligação do AIA livre à proteína ABP1

facilita sua protonação, de modo que a formação tetramérica é desfeita. Assim

sendo, nossa hipótese de trabalho é que as moléculas de ConM tetramerizadas

estejam fracamente associadas nesse arranjo quaternário devido ao pH do meio

extracelular e às propriedades da maioria dos resíduos de aminoácidos que

participam dessa formação, de modo que a ativação de ATPases de membrana pela

ABP1 favoreça a liberação de mais AIA mediante ruptura da estrutura tetramérica da

ConM.

Nossa hipótese também se baseia em alguns estudos que indicam que as

lectinas participam do processo de germinação, uma vez que suas concentrações

solúveis se tornam mais altas a partir do início dessa etapa do desenvolvimento

vegetal (OLIVEIRA et al., 1998), quando do princípio do desenvolvimento da plúmula

e da raiz, atingindo um determinado pico e posteriormente tendo seus níveis

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42

reduzidos rapidamente (LAW & STRIJDOM, 1984; TOGUN et al., 2008),

possivelmente devido ao estabelecimento e maturação desses tecidos. Nesse

sentido, é razoável imaginar que esse aumento na concentração total de lectinas

nos primeiros momentos da germinação é resultado da ruptura de sua estrutura

quaternária, de modo que os dímeros formados a partir desse processo podem

contribuir para tal crescimento.

Esse pensamento é válido uma vez que Oliveira et al. (1998) demonstraram

que o conteúdo total de lectinas presentes nos cotilédones de sementes em

germinação da leguminosa Erythrina velutina forma aurantiaca aumenta desde o

início do processo até o 21° dia, indicando, ainda, que tal crescimento não era

proporcionado pela síntese “de novo” dessas proteínas. Assim, tais dados reforçam

nossa ideia inicial de que, provavelmente, a participação das lectinas na fisiologia

das sementes em germinação esteja ligada, também, à disponibilidade de auxinas

através da ruptura de seu arranjo tetramérico.

Portanto, hipotetizamos que a ConM possa servir como uma nova forma de

armazenamento e de controle da disponibilidade do AIA. Além disso, por esse

processo não ser realizado de forma covalente, não precisando assim de atividade

enzimática, propomos que a liberação do AIA a partir da mudança na estrutura

quaternária da ConM proporcionada pela acidez do meio possa ser um mecanismo

mais rápido para a disponibilidade desse hormônio, podendo, inclusive, ser o

processo primário.

Resíduo de aminoácido

pI Quantidade

Asn 5,41 4

Asp 2,77 4

Arg 10,76 4

His 7,59 4

Ser 5,68 10

Thr 5,87 4

Tabela 4 – Relação dos resíduos de aminoácidos que interagem entre si para a formação da estrutura tetramérica da ConM, destacando seus respectivos potenciais isoelétricos (pI) (LEHNINGER, 2002, p. 90) e a quantidade total de cada um destes.

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43

5.5 LIGAÇÃO DO GRUPAMENTO INDOLIL

A resolução da estrutura da ConM complexada com o AIA nos mostrou a

presença do grupo indolil, formado pela condensação de um anel aromático com um

pirrólico e que é a estrutura base das auxinas, próximo ao CRD (Fig. 16). Esse

grupamento químico encontra-se coordenado por interações de hidrogênio e forças

de Van der Waals pelos resíduos Asn14, Asp16 e Arg228, estando estes últimos

envolvidos também na estabilização de moléculas glicídicas. A Tab. 5 lista os

átomos que participam da interação e suas respectivas distâncias relativas.

Figura 16 – Sítio de ligação do grupamento indolil, destacando os resíduos de aminoácidos que fazem sua coordenação. Como abordado no texto e na Fig. 8, estes são os mesmos resíduos que fazem parte do CRD nas lectinas Diocleinae.

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Tabela 5 - Distâncias (Å) relativas entre os átomos que coordenam o grupamento indolil no sítio próximo ao CRD. Nota-se que a coordenação desse grupo químico é realizado principalmente por interações hidrofóbicas entre os átomos de carbono. C = carbono; CA = carbono alfa; CB = carbono beta; CD = carbono delta; CG = carbono gama; N = nitrogênio; NE = nitrogênio épsilon; NH = nitrogênio etá.

A presença do grupo indolil induziu uma mudança conformacional no resíduo

Asp16, de modo que a α-hélice da qual o mesmo fazia parte (αI) não pôde ser

formada. Como demonstrado na figura 17A, a cadeia lateral assume uma

conformação bem distinta daquela apresentada pelo mesmo resíduo nas estruturas

nativa (GADELHA et al., 2006) e complexada com açúcar (DELATORRE et al.,

2006), impossibilitando, assim, a interação entre seus átomos OD1 e N, os quais são

importantes para a formação da estrutura secundária. Além disso, essa alteração faz

com que o oxigênio do resíduo Thr15 fique a 4,12 Å do nitrogênio da ligação

peptídica da Gly18, desestabilizando a estrutura secundária. Como analisado por

Lehninger (2002, pp. 126-127), a interação de hidrogênio entre o oxigênio

eletronegativo da carbonila da ligação peptídica na extremidade N-terminal de uma

α-hélice, nesse caso representada pela Thr15, e o nitrogênio eletropositivo da

ligação peptídica no quarto resíduo que compõe uma volta nessa estrutura,

representado nesse caso pela Gly18, é de essencial importância para a formação de

uma α-hélice. Como a distância entre esses dois átomos na ConM impossibilita essa

interação, a α-hélice presente nessa região nas outras duas estruturas (nativa e

complexada com açúcar) é desfeita (Fig. 17A).

GRUPO INDOLE

Asn14 Asp16 Arg228

ND2 C CA CB CG CA CB NE NH1 CD

N1 3.57 3.42 2.63

C2 3.82

C5 3.94

C6 3.48 3.33 3.37 4.04 3.80

C7 4.00 3.70 3.11 3.79 4.01

C8 3.81 4.00 3.66

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Por sua vez, a não formação da α-hélice αIII, que contém um resíduo de

arginina (R228) que estabiliza a molécula do indolil, parece não ser resultado, pelo

menos de maneira direta, da presença desse grupamento químico, já que nenhuma

mudança conformacional significativa é observada nos resíduos de aminoácidos que

compõe essa estrutura secundária. De fato, o que parece ocorrer, quando

comparamos essa região com aquela das estruturas nativa e complexada com

açúcar (Fig. 17B), é que a R228 não interage com moléculas de água, como o faz

nestas duas situações (a Tabela 6 compara as distâncias entre esses resíduos e as

moléculas de água correspondentes nas três estruturas). Assim, é razoável imaginar

que a presença dessas moléculas estabilizaria o resíduo, de modo que o mesmo

proporcionaria a formação da α-hélice. Como sua cadeia lateral é grande e bastante

flexível, promovendo diversas possibilidades de conformação, a não estabilização da

R228 em uma configuração adequada pela ausência de moléculas de água poderia

ser a responsável pela não formação da α-hélice.

(A)

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Figura 17 – Mudanças conformacionais ocorridas na região de ligação do grupamento indolil e

comparação com as estruturas da ConM nativa (PDB ID 2CWM; amarelo) e complexada com maltose

(PDB ID 2CYF; cinza). (A) Sobreposição dos resíduos que fazem parte das α-hélices αI e αIII,

mostrando que na estrutura da ConM complexada com o AIA/índole (verde) essa estrutura

secundária não é formada. Nota-se a mudança conformacional ocorrida no resíduo Asp16 (verde), a

qual ocasionou a desestabilização da α-hélice αI (ver texto). (B) Destaque da Arg228 nas três

estruturas, mostrando que no caso da ConM nativa e daquela complexada com açúcar esse resíduo

de aminoácido se encontra estabilizado por duas moléculas de água (esferas amarelas e cinzas,

respectivamente), ao passo que na da ConM com AIA/indole, as moléculas correspondentes se

encontram distantes do resíduo (ver Tab. 6), impossibilitando, assim, sua estabilização e a

consequente formação da α-hélice αIII.

Tabela 6 – Distâncias (Å) entre os átomos da Arg228 nas estruturas da ConM nativa, complexada

com maltose e com o grupamento indole e duas moléculas de água, mostrando que nesta as

distâncias são relativamente longas, impossibilitando a estabilização do resíduo de aminoácido e, por

conseguinte, da α-hélice.

Molécula de água

Nativa Maltose Indole

NE NH2 NE NH1 NE NH2

I

II

3,1

2,9

2,9

3,2

5,0

3,9

I I

I

II

II

II

(B)

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5.6 O QUE INDICA A PRESENÇA DO GRUPAMENTO INDOLIL?

A coordenação do indolil indica que compostos com arquitetura similar podem

interagir no mesmo sítio. Isso fica claro quando comparamos a coordenação do

grupo indolil com aquela da base nitrogenada adenina para a mesma lectina (PDB

ID 3S0S) (Fig. 18), indicando assim que essa região tem especificidade para

compostos hidrofóbicos, pelo menos com essa arquitetura básica. Além disso,

quando enfocamos a relevância fisiológica desse resultado, percebemos que esse

sítio próximo ao CRD pode servir para ligação de citocininas, que são hormônios

vegetais relacionados principalmente com a regulação da divisão celular e que são

derivados das bases púricas, como a adenina (SCHMÜLLING, 2004) (a Figura 19

ilustra a estrutura química de algumas citocininas).

Outros trabalhos demonstraram que lectinas tanto de leguminosas quanto de

outros grupos taxonômicos também podem interagir com a adenina (BOGOEVA et

al., 2004; BOGOEVA & RUSSEV, 2008; GEGG et al., 1992; GEGG & ETZLER,

1994; HAMELRYCK et al., 1999; KAVITHA et al., 2009; STOITSOVA et al., 2003).

Entretanto, nossos trabalhos indicam que, pelo menos na subtribo Diocleinae, essa

base nitrogenada pode se ligar em um sítio totalmente diferente daqueles reportados

anteriormente, onde sua coordenação é realizada na interface dimérica

(HAMELRYCK et al., 1999), semelhantemente à estabilização da molécula do Abu

pela CGL, uma lectina de sementes da C. gladiata (DELATORRE et al., 2007).

Nesse sentido, é interessante ressaltar que nosso resultado indica uma

característica inovadora para as lectinas, mostrando que resíduos que estabilizam

as moléculas de carboidratos no CRD também podem interagir com compostos

hidrofóbicos. Embora estudos indiquem a presença de um sítio para ligação de

compostos hidrofóbicos próximo ao CRD, como demonstrado por Kanellopoulos

(1996) para derivados não-polares de carboidratos, o resultado aqui apresentado

mostra a existência de outra região.

Raphael Batista da Nóbrega
Não seria interessante mostrar uma figura pymol dessas regiões, comprovando isso de que são em locais diferentes? E portanto, inovador?
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Figura 19 – Estruturas químicas de citocininas de ocorrência natural e sintética (thidiazuron). Destaca-se a arquitetura básica desses hormônios formada a partir do anel purínico da adenina. Além disso, nota-se que as citocininas podem ocorrer na forma conjugada de ribosídeos (ZR), ribotídeos (ZRMP) ou glucosídeos (ZOG). (Adaptado de SCHMÜLLING, 2004).

Figura 18 – Coordenação da molécula de adenina, destacando que os resíduos que o fazem são os mesmos que estabilizam a molécula do indolil. Além disso, vê-se que a adenina está posicionada de uma maneira muito similar ao indolil, com o anel de seis átomos mais próximo ao Asp16 e o de cinco átomos mais próximo da Arg228.

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Os mesmos estudos que caracterizaram a interação de lectinas com

compostos hidrofóbicos, como a adenina, mostraram que essa ligação não interferia

com a capacidade de associação dessas proteínas com carboidratos, corroborando,

assim, o fato desses dois sítios não estarem relacionados, como mostrado por

Edelman & Wang (1978), que indicaram uma distância aproximadamente igual a

20Å entre o CRD e a cavidade hidrofóbica da ConA. Entretanto, poder-se-ia pensar

que o fato do grupamento indolil estar sendo coordenado por resíduos que fazem

parte do CRD bloquearia ou impediria a ligação de moléculas glicídicas. Mas isso

não é o que ocorre com a ConM. A sobreposição de nossa estrutura cristalográfica

com aquela da ConM complexada com maltose, ilustrada na Fig. 20, mostra

claramente que o modo como o grupamento indolil está sendo coordenado não

afetaria a interação da lectina com carboidratos. Entretanto, é necessário destacar

que a presença do indolil e da adenina nesse sítio pode ser indicativo de que

compostos mais complexos, como as citocininas, podem interagir na mesma região,

embora, por terem grupos substituintes mais extensos, estes hormônios vegetais

possam de alguma forma impedir a interação da proteína com moléculas de

carboidratos.

Figura 20 – Sobreposição dos CRDs da ConM complexada com maltose (cinza) e com o grupamento indole (verde), mostrando que a presença deste não impediria a ligação de moléculas de carboidrato. Entretanto, como destacado no texto, moléculas mais complexas, como as citocininas, podem se ligar na mesma região, o que provocaria a não interação das lectinas com carboidratos.

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6. Conclusões

• A resolução da estrutura cristalográfica da ConM complexada com o AIA

mostrou que esse fitormônio se encontra coordenado, dentre outros, pelo

resíduo Asn131, assim como reportado por estudos anteriores para outros

compostos hidrofóbicos;

• Pela geração do modelo tetramérico do complexo foi visto que quatro

moléculas do fitormônio estão coordenadas na cavidade formada pela

associação entre os dímeros canônicos, cada uma destas por um monômero;

• Hipotetizamos que o sítio de ligação ao AIA em cada monômero representa o

sítio de baixa afinidade a moléculas hidrofóbicas reportadas por diversos

estudos para lectinas vegetais;

• Hipotetizamos, ainda, baseado nos resultados aqui apresentados, que

lectinas de leguminosas podem também ter a capacidade e função de uma

nova forma de armazenamento e de disponibilidade do AIA para a planta, a

qual ocorreria a partir da ruptura do tetrâmero mediante a acidificação do

meio extracelular, proporcionada pela ligação do fitormônio ao seu receptor

de membrana ABP1;

• A análise da estrutura tridimensional da ConM mostrou, ainda, a presença do

grupamento indolil, a estrutura base das auxinas, coordenado por três

resíduos de aminoácidos que fazem parte do CRD;

• A presença do indolil promoveu mudanças conformacionais nas α-hélices que

delimitam o CRD;

• A comparação entre a coordenação do indolil e a da adenina pelos mesmos

resíduos de aminoácidos indica que essa região é um novo sítio de ligação

para compostos hidrofóbicos.

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