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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA MYRON PATERSON DE MELO PEREIRA NETO OS MAPAS BIORREGIONAIS: UM ESTUDO DE CASO DO PROJETO DE PESQUISA E EXTENSÃO MARICULTURA FAMILIAR SOLIDÁRIA DA UFBA Salvador 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

MYRON PATERSON DE MELO PEREIRA NETO

OS MAPAS BIORREGIONAIS: UM ESTUDO DE CASO DO PROJETO DE

PESQUISA E EXTENSÃO MARICULTURA FAMILIAR SOLIDÁRIA DA UFBA

Salvador 2014

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MYRON PATERSON DE MELO PEREIRA NETO

OS MAPAS BIORREGIONAIS: UM ESTUDO DE CASO DO PROJETO DE

PESQUISA E EXTENSÃO MARICULTURA FAMILIAR SOLIDARIA DA UFBA

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geografia. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Dária Maria Cardoso Nascimento

Salvador 2014

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___________________________________________________________ P436 Pereira Neto, Myron Paterson de Melo.

Os mapas biorregionais: um estudo de caso do Projeto de Pesquisa e Extensão Maricultura Familiar Solidária da UFBA / Myron Paterson de Melo Neto.- Salvador, 2014.

64 f. : il. Orientador: Profa. Dra. Daria Maria Cardoso Nascimento. TCC (Graduação em Geografia) - Universidade Federal da Bahia,

Instituto de Geociências, 2014.

1. Cartografia – Baixo Sul da Bahia. 2. Desenvolvimento sustentável – Baixo sul da Bahia. 3. Leitura de mapas. 4. Sistemas de informação geográfica. 5. Ostra – Cultivo. I. Nascimento, Daria Maria Cardoso. II. Universidade Federal da Bahia. Instituto de Geociências. III. Título.

CDU: 528.9 (813.8)

_______________________________________________________________

Elaborada pela Biblioteca do Instituto de Geociências da UFBA.

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MYRON PATERSON DE MELO PEREIRA NETO

OS MAPAS BIORREGIONAIS: UM ESTUDO DE CASO DO PROJETO DE

PESQUISA E EXTENSÃO MARICULTURA FAMILIAR SOLIDARIA DA UFBA

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geografia.

Aprovado em:____/_____/____.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________________

Dra. Dária Maria Cardoso Nascimento - Universidade Federal da Bahia.

___________________________________________________________________

Msc. Denise Silva Magalhães – Universidade Federal da Bahia.

___________________________________________________________________

Msc. Erika do Carmo Cerqueira – Universidade Federal da Bahia.

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RESUMO

Os mapas participativos são produtos de uma construção social que apresentam

uma forma horizontal, participativa e coletiva de desenvolvimento. A partir deste

contexto a presente monografia é o resultado de levantamentos bibliográficos

relacionados com vistas aos Mapeamentos Participativos e componentes

Cartográficos, para entendimento do conjunto das feições espacializadas obtidas por

meio das oficinas realizadas em Atividades da Atividade Curricular em Comunidade

(ACC – UFBA), no período de 2012-2013. Deste modo, o presente trabalho teve

como objetivo compreender a construção dos mapas biorregionais: um estudo de

caso do projeto de Extensão e Pesquisa Maricultura Familiar Solidária no estado da

Bahia, as características dos mapas, elementos técnicos cartográficos, o seu caráter

participativo e sua importância para a comunidade envolvida. Por meio da

classificação e descrição das etapas de desenvolvimento dos seus produtos

(mapas) foi possível concluir sobre o caráter participativo dos mapas biorregionais e

as utilizações dadas aos produtos finais pelas comunidades.

Palavras-Chaves: Cartografia. Mapas participativos. Marsol. ACC. Mapeamento

biorregional.

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ABSTRACT

Participatory maps are a social construction products presenting a horizontal ,

participatory and collective form of development . From this context the present

monograph is the result of literature reviews related to seen Participatory Mapping

and Cartographic components to understanding the spatialized set of features

obtained through workshops held in the Activities Curricular Activity in Community (

ACC - UFBa ) , in period 2012-2013 . Thus , this study aimed to understand the

construction of bioregional maps : a case study of project Extension and Research

Partnership Family Mariculture in the state of Bahia , the characteristics of maps ,

cartographic technical elements , its participatory nature and its importance for the

community involved . Through the classification and description of the developmental

stages of their products ( maps ) was concluded on the participatory nature of

bioregional maps and uses given to the final products by the communities .

Keywords: Cartography. Participatory maps. Marsol. ACC. Bioregional mapping.

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 – Apresentação da base cartográfica. Oficina realizada na

comunidade do Kaonge no município de Cachoeira – Bahia 47

Fotografia 2 – Aula expositiva sobre a orientação do norte geográfico na

comunidade de Graciosa localizada no município de Taperoá –

Bahia. 48

Fotografia 3 – Compilação da Base Cartográfica realizada na comunidade

denominada Baixinha no município de Taperoá – Bahia. 49

Fotografia 4 – Inserção de cores na base cartográfica realizada na oficina na

comunidade do Kaonge localizada no município de Cachoeira. 50

Fotografia 5 – Levantamento dos temas realizado na comunidade denominada

Baixinha localizada no município de Taperoá. 51

Fotografia 6 – Definição dos temas a serem inseridos na base cartográfica

realizado na comunidade denominada Baixinha localizada no

município de Taperoá. 52

Fotografia 7 - Ensino dos elementos cartográficos de composição de um mapa

temático realizado na oficina na comunidade denominada

Baixinha no município de Taperoá. 53

Fotografia 8 - Inserção dos conteúdos na base cartográfica. 54

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Áreas em Rosa representam as áreas mapeadas pelo projeto de pesquisa

e extensão Marsol no estado da Bahia . 37

Mapa 2 - Área em Laranja representam os enquadramentos dos mapeamentos

realizados pelas comunidades quilombolas do Vale do Iguape município de

Cachoeira 40

Mapa 3 – Mapa biorregional Água Fonte da Vida. 42

Mapa 4 - O mapa Abre-te campo formoso cheio de tanta alegria. 43

Mapa 5 - O mapeamento biorregional Cultura, Identidade e Resistências das

comunidades quilombolas. 44

Mapa 6 - Sustentabilidade das comunidades quilombolas. 45

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 11

1.1 AS CONCEPÇÕES E OBJETIVOS DO MAPEAMENTO BIORREGIONAL

SEGUNDO O PROJETO DE PESQUISA E EXTENSÃO MARICULTURA FAMILIAR

SOLIDÁRIA (MARSOL) ...................................................................................... 12

1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 13

2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 15

2.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................... 15

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................... 15

3 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 16

3.1 O CONCEITO DE MAPA .............................................................................. 16

3.1.1 As características básicas dos mapas ....................................................... 18

3.2 MAPA TEMÁTICO ........................................................................................ 22

3.3 CARTOGRAFIA PARTICIPATIVA E CARTOGRAFIA SOCIAL .................... 25

3.4 OS TIPOS DE MAPEAMENTOS PARTICIPATIVOS .................................... 28

4 METODOLOGIA ............................................................. ...................................34

4.1 RESULTADOS .............................................................................................. 36

4.2 O HISTÓRICO DO MAPEAMENTO BIORREGIONAL DO PROJETO DE PESQUISA

E EXTENSÃO MARICULTURA FAMILIAR SOLIDÁRIA (MARSOL) .................. 36

4.4 ETAPAS DE CONSTRUÇÃO DOS MAPEAMENTOS BIORREGIONAIS .... 46

5 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 55

6 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 61

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 63

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1 INTRODUÇÃO

As iniciativas relacionadas à Cartografia Participativa surgem na década

de 1970, principalmente em países norte-americanos como o Canadá, envolvendo

comunidades indígenas da região. Ao longo dos anos, outras práticas participativas

utilizando-se de mapeamentos disseminaram-se por diversos continentes como o

africano, europeu, asiático e em outras partes do próprio continente americano.

As denominações dadas para essas atividades passaram a assumir uma

variação de acordo com o local onde se desenvolvem ou se desenvolveram,

podendo ser chamadas de mapeamento participativo, cartografia social, cartografia

participativa, mapeamento cultural, levantamentos etnoecológicos, mapeamento

etno-ambiental, mapeamento dos usos tradicionais dos recursos naturais e formas

de ocupação do território, mapeamento comunitário participativo, macrozoneamento

participativo, etnozoneamento, etnomapeamento, diagnóstico etnoambiental e entre

outros (ACSERALD & COLI 2008, p. 24).

Assim como as denominações foram sendo diversificadas, as

metodologias e ferramentas também assumiram diferentes formas e maneiras na

aplicação do desenvolvimento de mapas participativos. No qual, levou em certa

parte, um desconhecimento das práticas que eram assumidas ao serem construídos

os mapas chamados de participação social. Sendo que os contextos sociopolíticos

nos quais estas atividades são ou foram desenvolvidas são também fatores que não

estimulam a publicação das suas atividades pelos seus autores, pois os produtos

dos mapeamentos participativos, os mapas, articulam uma maior compreensão

espacial do seu território pelas comunidades locais envolvidas no processo.

Os mapas participativos são produtos de uma construção social que

apresentam uma forma horizontal, participativa e coletiva de desenvolvimento.

Sendo uma ferramenta importante, pois promove uma capacidade de gestão do

território em diferentes segmentos como o ambiental, social, político e cultural.

Atuando como ferramentas diretas na capacitação social, desenvolvimento

econômico e aumento da capacidade de diálogo com outros segmentos sociais das

comunidades envolvidas nesses processos. Nos quais, os projetos apresentados

pelo FIDA (2009) em países, a exemplo do Peru, são exemplos concretos das

possibilidades de mudança social que os mapas participativos proporcionam.

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Nesse contexto, cada vez mais os mapas participativos estão presentes

na tentativa de ações de gestão participativas do território e todos os seus

segmentos sociais e ambientais. Proporcionando maiores interesses sociais e

acadêmicos em conhecer, investigar e pesquisar essas atividades na busca pela

compreensão de como esses mapeamentos são desenvolvidos, aplicados e as

modificações sociais que eles são capazes de promover.

1.1 AS CONCEPÇÕES E OBJETIVOS DO MAPEAMENTO BIORREGIONAL

SEGUNDO O PROJETO DE PESQUISA E EXTENSÃO MARICULTURA FAMILIAR

SOLIDÁRIA (MARSOL)

O projeto de pesquisa e extensão Marsol compreende mapeamento

biorregional como uma técnica cartográfica que permite representar os

conhecimentos coletivos biológicos, físicos e culturais de comunidades tradicionais,

ou de qualquer outra instância em mapas temáticos. Permitindo que as

comunidades possam utilizar tais mapas como ferramentas eficientes para a tomada

de decisões que envolvem os seus aspectos territoriais e culturais.

O reconhecimento do saber tradicional dos povos que historicamente

vivem em seu território é o objetivo essencial do mapeamento biorregional

desenvolvido pelo Marsol. No qual, o projeto coloca que esse tipo de mapeamento

revela o conhecimento existente entre os membros da comunidade, tanto quanto

viabiliza entre eles a coleta de novas informações, e consolida toda a informação de

forma concisa, mais completa em um instrumento da própria comunidade.

Nesse sentido, os mapas biorregionais desenvolvidos pelo projeto de

pesquisa e extensão Maricultura Familiar Solidária (Marsol) tem como objetivos

empoderar as comunidades, apresentando em seus produtos instrumentos capazes

de realizarem diagnósticos e planejamentos ambientais, com o objetivo de promover

a sustentabilidade das atividades produtivas nas comunidades, incentivando a

conservação ambiental, a redução dos conflitos de uso entre as atividades

produtivas existentes, o aumento da participação social em espaços de regulação e

a fiscalização institucional.

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1.2 JUSTIFICATIVA

O constante crescimento de atividades participativas que envolvem a

utilização de mapas faz com que seja necessário realizar um levantamento sobre as

metodologias, ferramentas e modos de implementação dessas práticas

participativas. Nesse sentido, é importante realizar um levantamento dos tipos de

mapeamentos participativos – por meio da literatura - para compreender como eles

são desenvolvidos e quais objetivos eles buscam alcançar ao longo do

desenvolvimento dos seus processos e com os seus produtos finais (mapas).

Assim sendo, os mapeamentos participativos biorregionais construídos

pelo Programa de Extensão e Pesquisa Maricultura Familiar Solidária (Marsol) da

Universidade Federal da Bahia (UFBA) é um estudo de caso relevante pelo tempo

em que essa atividade se desenvolve (2009 – 2013) em diferentes comunidades do

estado da Bahia, presentes nas regiões do Baixo Sul, Paraguaçu e Recôncavo

Baiano. Sendo que entre os mapas já desenvolvidos pelo grupo, a partir do

levantamento histórico de suas atividades, os quatro mapas biorregionais

construídos pelas comunidades quilombolas do distrito do Vale do Iguape, município

de Cachoeira, foram escolhidos para análise por apresentarem todos os produtos

concluídos e sendo utilizados pelas comunidades como ferramentas diretas no

auxilio do turismo étnico, atividade conhecida como Rota da Liberdade que conta

histórias sobre as tradições e modos de vida das comunidades do Kaonge, Dendê,

Kalembá, Engenho da Praia e Engenho da Ponte em suas correlações diretas com

os costumes e histórias afro-brasileiras.

Os mapeamentos biorregionais do Marsol são significativos para

compreender o panorama dos mapeamentos participativos no estado da Bahia.

Onde suas atividades são aplicadas, as ferramentas utilizadas e as utilizações

dadas aos seus produtos finais pelas comunidades envolvidas nas atividades

propostas pelo projeto de pesquisa. Além disso, classificar os produtos

desenvolvidos pelo Marsol e realizar uma descrição das suas etapas de construção,

por meio da participação em oficinas e com o auxilio direto da literatura especifica

sobre mapeamentos participativos e Cartografia são relevantes para salientar os

questionamentos existentes no referido projeto como: Os mapas biorregionais

podem ser considerados mapas e mapas temáticos? Os mapas biorregionais podem

ser considerados mapas participativos? Nesse sentido, buscar na literatura práticas

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semelhantes serve para embasar as práticas desenvolvidas pelo projeto Marsol e

validam as suas etapas de construção, ferramentas e produtos finais.

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2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Compreender a construção dos mapas biorregionais: um estudo de caso

do projeto de Extensão e Pesquisa Maricultura Familiar Solidária no estado da

Bahia.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Levantar os tipos de mapas participativos;

Comparar os mapas biorregionais em relação aos mapas participativos;

Verificar os elementos técnicos cartográficos dos quatro mapas

biorregionais do território quilombola do Vale do Iguape no município de

Cachoeira – Bahia.

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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 O CONCEITO DE MAPA

Martinelli (2008, p.7) associa a compreensão de mapa com a Geografia,

pois segundo ele: [...] “É um aspecto cultural. Os mapas, portanto representariam a

Geografia, tudo que é geográfico. Tais construtos seriam a própria Geografia,

portanto, sinônimos”. Desta forma, esse autor coloca que o mapa surge como uma

representação simbólica da ciência geográfica.

Para Harley (1988, 1991); Jacob (1992); Wood (1992); Thrower (1996)

apud Martinelli (2013,p.8) “Os mapas, junto a qualquer cultura, sempre foram, são e

serão formas de saber socialmente construído; portanto, uma forma manipulada do

saber.” Além dessa concepção conceitual sobre o mapa, eles também são

compreendidos como uma linguagem que está associada a uma prática histórica.

Ainda segundo Martinelli o conceito de mapa refere-se

Como linguagem, conjugam-se como a prática histórica, podendo revelar

diferentes visões de mundo. Carregam um simbolismo que pode estar associado ao conteúdo neles representado. Constituem um saber que é produto social, ficando atrelados ao processo de poder, vinculados ao exercício da propaganda, vigilância, detendo influência política sobre a sociedade” (MARTINELLI, 2008, p.8).

Oliveira, C. (1993, p.17) traz a concepção de mapa enquanto um

instrumento da linguagem humana, afirmando que “o mapa é, de todas as

modalidades da comunicação gráfica, uma das mais antigas da humanidade, nesta

premissa: todo povo, sem exceção, nos legou mapas [...]”. Reforçando esta ideia,

Oliveira, L. (2013, p.16), afirma que:

O mapa sempre foi um instrumento usado pelos homens para se orientarem, se localizarem, se informarem, enfim para se comunicarem. O mapa é uma forma de linguagem mais antiga que a própria escrita. Povos pré-históricos, que não foram capazes de registrar os acontecimentos em expressões escritas, o fizeram em expressões gráficas, recorrendo ao mapa como modo de comunicação (OLIVEIRA, L, 2013, p.16).

Nogueira (2009, p.30) acrescenta pontos importantes que reforçam o

mapa enquanto elemento da comunicação visual. Embora, traga uma busca por uma

conceituação mais técnica do mapa relativo à Cartografia. Segundo a autora: “[...] o

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mapa é uma forma de comunicar o conhecimento, o que se efetiva somente se o

usuário, o leitor do mapa, conseguir obter tal conhecimento ao lê-lo”. Sendo assim, o

mapa como instrumento de comunicação exige tanto do seu criador como do seu

leitor conhecimentos relativos à Cartografia.

Todavia, apesar do mapa, enquanto instrumento comunicativo, exigir

tanto do seu construtor como do seu leitor conhecimentos científicos cartográficos,

quando não há este pressuposto, o mapa não pode ser desconsiderado como

ferramenta comunicativa, pois é analisado por Nogueira (2009) como “[...]

extremamente eficiente para expressar, manipular e analisar ideias, formas e

relações que ocorrem no espaço bi e/ou tridimensional” (NOGUEIRA, 2009, p.30).

Nogueira (2009) nos indica que o termo mapa e mapeamento são

utilizados por outros ramos do conhecimento científico, no qual, os produtos e o ato

de mapear são diferentes daqueles conhecidos no âmbito da Cartografia. Segundo a

autora “A palavra mapeamento tem assumido um significo mais amplo no

vocabulário” (NOGUEIRA, 2009, p.31). Ideia esta retificada por Oliveira, L (2013,

p.16) que coloca que o mapa é “empregado pelo administrador, pelo planejador,

pelo viajante e pelo professor. [...] em algum momento, com maior ou menor

frequência [...], recorrem ao mapa para se expressarem espacialmente”.

Porém, apesar dos diferentes produtos e atos de mapeamento

promovidos por outros ramos do conhecimento científico, os mapas da Cartografia

possuem características singulares que os classificam. Para Nogueira (2009, p.31)

“[...] eles representam elementos selecionados em um determinado espaço

geográfico, de forma reduzida, utilizando simbologia e projeção cartográfica”.

Ainda na busca por uma definição do conceito sobre o que seria um

mapa, Cosgrove (2003 apud NOGUEIRA 2009, p.31) diz que o mapa é “um dos

instrumentos que servem para aumentar a capacidade do corpo humano [...] ele nos

permite ver em escalas impossíveis para os olhos descobertos e sem precisar

movermo-nos fisicamente no espaço”. Ainda na conceituação de Cosgrove (2003

apud NOGUEIRA 2009), o mapa é uma etapa no desenvolvimento do mapeamento

que somente é complementado com a compreensão do conteúdo inserido nele. No

qual, para obter essa compreensão é necessário inserir o mapa no contexto histórico

que ele emergiu e sobre o qual ele atua.

O mapa pode também ser definido como uma representação gráfica do

meio. Segundo Dent (1996 apud NOGUEIRA (2009, p.31), o meio “[...] inclui todos

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os aspectos culturais e físicos do ambiente, inclusive as abstrações mentais que não

estão explicitas fisicamente na paisagem geográfica”. Desta maneira, os mapas são

definidos como modelo da realidade e dessa forma são subjetivos e não podem ser

considerados como [...] “fotografias da realidade ou a própria realidade reduzida”

(NOGUEIRA, 2009, p.32).

Os cartógrafos, em geral, consideram o mapa como veículos de

transmissão do conhecimento e uma representação gráfica de um limitado espaço

geográfico. Nogueira (2009, p.33) menciona que os mapas são

[...] concebidos para transmitir a visão subjetiva ou o conhecimento de alguém ou de poucos para muitos. Ainda segundo a autora: os mapas são produtos construídos a partir de um sistema de signos naturalizados por tais forças conservativas, em que estes signos são dispostos a serviço de um mito de que o mundo mostrado em um mapa é natural (NOGUEIRA, 2009, p.33).

Finalmente, Nogueira (2009) conceitua o mapa como uma forma de

comunicação de dados e que servem como instrumento de visualização científica.

Sendo, a Cartografia capaz de conectar igualmente a análise, a visualização e a

comunicação de dados em um único instrumento científico, o mapa. Ele é também

considerado como um sistema de informação espacial que possibilita respostas para

questões relativas à área representada. Assim, o mapa é capaz de responder

indagações relativas ao tamanho de áreas, a distância entre dois pontos e suas

posições no espaço geográfico e distribuição de certos padrões, sem a necessidade

de ajuda ou implementações.

3.1.1 As características básicas dos mapas

No Brasil há uma dificuldade no consenso da definição dos termos mapa,

carta e planta. No qual, Nogueira (2009) indica que a confusão na definição dessas

três palavras [...] “tem origem no uso popular de documentos cartográficos, ou seja,

as pessoas que usavam mapas foram cristalizando ideia que acabaram por criar a

presente situação”. Segundo Fitz (2000, p.26), os mapas e cartas podem ser

classificados de diversas formas, entre as possibilidades de classificação, estão por

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meio dos seus objetivos e dimensões escalares. Para o autor, segundo os seus

objetivos, os mapas podem ser classificados como:

mapas genéricos ou gerais, que não possuem uma finalidade específica, servindo basicamente para efeitos ilustrativos, normalmente desprovidos de grande precisão, apresentando alguns aspectos físicos e obras humanas, visando a um usuário leigo e comum. Ex: Mapa contendo a divisão política de um Estado ou País. (...) Mapas especiais ou técnicos, que são elaborados para fins específicos, com a precisão bastante variável, de acordo com a sua aplicabilidade. Ex: mapas astronômico, meteorológico, turístico, zoogeográfico (FITZ, 2000, p.26).

Oliveira (1993) especifica que no Brasil existe uma tendência em designar

o termo mapa quando se trata de um tipo de documento cartográfico mais simples

ou mais diagramático. Sendo que documentos cartográficos mais complexos, ou

mais detalhados são normalmente denominados de carta. Fitz (2000, p.26), em uma

abordagem mais técnica, procura salientar, por meio de uma classificação, em

termos de representação de escala, as diferenciações existentes entre plantas e

cartas. Para o referido autor, as classificações são as seguintes:

plantas, quando trabalha-se com escalas muito grandes, maiores do que 1:1.000. As plantas são utilizadas quando há a exigência de um detalhamento bastante minucioso do terreno como, por exemplo, redes de água, esgoto etc; (FITZ, 2000, p.27).

carta cadastral, extremamente detalhada e precisa, com grandes escalas,

maiores do que 1:5.000, utilizadas, por exemplo, para cadastro municipal. Estas cartas são elaboradas a partir de levantamentos topográficos e/ou aerofotogramétricos; (FITZ, 2000, p.27).

carta topográfica, que compreende as escalas médias, situadas entre

1:25.000 e 1:250.000, contendo detalhes planimétricos e altimétrico. As cartas topográficas normalmente são elaboradas a partir de levantamentos aerofotogramétricos com o apoio de bases topográficas já existentes; (FITZ, 2000, p.28).

carta geográfica: com escalas pequenas (menores do que 1:500.000),

apresentando simbologia diferenciada para as representações planimétricas (exagerando os objetos) e altimétricas, através de curvas de nível ou com cores hipsométricas (FITZ, 2000, p.28).

Nogueira (2009, p. 34) também busca conceitos de mapa, carta e plantas.

Para a citada autora, os três conceitos são os seguintes, respectivamente:

Mapa: representação dos aspectos físicos naturais ou artificiais, ou aspectos

abstratos da superfície terrestre, numa folha de papel ou monitor de vídeo, que se destina para fins culturais, ilustrativos e para análises qualitativas ou quantitativas genéricas. Geralmente é concebido em escalas pequenas.

Carta: representação dos aspectos físicos naturais ou artificiais da Terra, destinada para fins práticos da atividade humana, permitindo a avaliação

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precisa das distâncias, direções e localização geográfica de pontos, áreas e detalhes. Geralmente concebida em escalas médias a grandes.

Planta: representação concebida em escala muito grande (1:500 a 1:200),

de áreas suficientemente pequenas que podem ser assimiladas, sem erro sensível às superfícies planas, isto é, onde a curvatura da Terra pode ser desconsiderada. A projeção desta superfície para o plano de projeção é ortogonal; portanto, a escala é preservada em qualquer ponto ou direção, o que não acontece com mapas e cartas, que terão variações conforme a projeção cartográfica escolhida para representar a superfície curva da Terra.

Exemplificado as definições complementares relativas aos termos mapa,

carta e planta. Nogueira (2009) traz que nos mapas há características básicas que

os definem. Segundo ela, essas características são: localização, atributos, escala e

projeção cartográfica. Nogueira (2009), explica que a localização e os atributos são

dois elementos da realidade, no qual os mapas são concebidos. A localização seria

“dada por suas posições no espaço (coordenadas) bidimensional ou

tridimensional e os atributos são as qualidades ou magnitudes, ou ainda podem ser compreendidos como uma variável temática, como: temperatura, clima, tipo de solo e tipos de religiões” (NOGUEIRA, 2009, p.35).

Ainda nas características básicas dos mapas, Nogueira (2009, p.36) traz

a definição de escala e projeção cartográfica. Segundo a autora: “Os mapas são

representações reduzidas do mundo real. E ao se definir a relação dimensional entre

a representação gráfica e a realidade, caracteriza-se a Escala” (Nogueira, 2009,

p.36) Para a autora a escala mostra:

[...] a quantidade de redução do mundo real, quando representado na forma

gráfica. Tecnicamente, a escala é definida como a razão entre a distância gráfica (d), a distância real (D), em que cada distância é expressa na mesma unidade de medida e reduzida de tal forma que o numerador seja representado pela unidade. Exemplo: 1:20000. Neste caso sabe-se que, 1(cm):20 000 (cm); quer dizer, um centímetro gráfico, corresponde a vinte mil centímetros da realidade, ou seja, duzentos metros (NOGUEIRA, 2009, p.35).

A autora especifica que há três formas de se representar a escala nos

mapas: a descrição verbal (escala falada), representação unitária ou numérica e

representação gráfica, por meio de uma barra de escala. No qual, relata que “A

seleção da escala tem consequências importantes na aparência do mapa e no seu

potencial de comunicação. Quanto menor a escala, maior será a generalização e

simbolização no mapa” (NOGUEIRA, 2009, p.35).

A projeção cartográfica surge da necessidade de trazer para uma

representação plana, a forma esférica ou elipsoidal do planeta Terra. Oliveira (1993,

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p.57) relata que a projeção cartográfica tenta solucionar “O maior drama que em

cartografia é, assim, o de termos que transferir tudo o que existe numa superfície

curva, que é a Terra, para uma superfície plana, que é o mapa”. Para Nogueira

(2009, p.36) [...] “pode-se desconsiderar a superfície curva da Terra nas plantas

porque se representam pequenas áreas”. Todavia, no caso geral [...] “a

representação de superfícies consideráveis nas quais a curvatura da Terra não pode

ser negligenciada, a representação plana desta superfície envolve dificuldades tais,

que exigem laboriosas soluções”.

Nogueira (2009, p.37) explica que “qualquer sistema de projeção

representará a superfície da Terra com deformações, as quais serão tanto maiores

quanto mais extensa for a área em consideração”. Entretanto, ela resalta que há

“sistemas desenvolvidos para representar a área em verdadeira grandeza, outros

para manter os comprimentos em certas direções”. Porém, a autora coloca que não

há a possibilidade de representar em uma superfície plana, todas as características

da área da Terra representada em mapa ou carta. Sempre, nas projeções

cartográficas, haverá alguma deformidade ou perda de informação. Salientando

essa concepção, Oliveira (1993) traz que não há nenhuma projeção que elimine

todos os tipos de deformações oriundas da transformação da esfera em um plano.

Para o autor:

[...] Torna-se possível que uma carta “conserve a mesma escala em todas

as direções e em todos os pontos; em outras palavras, uma carta não pode representar com toda precisão o tamanho ou a forma dos acidentes geográficos em todos os pontos da carta” (OLIVEIRA, C., 1993, p.59).

Sendo assim, para Oliveira (1993), é necessário escolher entre as

propriedades das projeções cartográficas, que atenda melhor os objetivos da

representação cartográfica. No qual, essas propriedades seriam: conformidade,

equivalência e equidistância. Assim, conformidade é a manutenção da verdadeira

forma das áreas. A equivalência, a inalterabilidade das dimensões relativas à área e

a equidistância seria “a constância das relações entre as distâncias dos pontos

representados e as distâncias dos seus correspondentes” (OLIVEIRA, C., 1993,

p.59).

Nogueira (2009), também coloca a conformidade, equivalência e

equidistância entre as propriedades fundamentais das projeções cartográficas. A

autora define essas propriedades, respectivamente, da seguinte maneira:

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Conformidade: Ausência de deformação angular. Em tal caso, é mantida a similitude entre as regiões representadas, ou seja, a forma ou fisionomia dos elementos desenhados no mapa mantém-se igual áquela da superfície terrestre. Para conseguir manter a similitude das formas, são alteradas as áreas [...] (NOGUEIRA, 2009, p.37).

Equivalência: Conserva a relação entre as áreas da superfície terrestre e as representadas no mapa. As projeções deste tipo mantêm a proporção de tamanho entre a superfície real e a do desenho. Em tais tipos, para que a relação entre as áreas seja mantida, é alterada a forma ou a fisionomia das regiões representadas no mapa [...] (NOGUEIRA, 2009, p.38).

Equidistância: Conserva inalterada a relação entre os comprimentos medidos em certas direções. Esta questão implica na relação de comprimento dos paralelos e meridianos reais com aqueles desenhados nos mapas (NOGUEIRA, 2009, p.38).

3.2 MAPA TEMÁTICO

Martinelli (2008) descreve que a cartografia temática não tem um

surgimento espontâneo, mas que é historicamente posterior a visão topográfica de

mundo. Segundo o autor, a evolução progressiva do conhecimento científico e sua

conseqüente sistematização foram responsáveis pelo surgimento de outro tipo de

cartografia, denominada de cartografia temática.

A progressiva especialização e diversificação das realizações da cartografia científica, operadas desde os séculos XVII e XVIII e cristalizadas do século XIX, em atendimento às crescentes necessidades de aplicação confirmadas com o florescimento e a sistematização dos diferentes ramos de estudos constituídos com a divisão do trabalho científico, no fim do século XVIII e inicio do século XIX, culminaram com a definição de outro tipo de cartografia. Seria a cartografia temática o domínio dos mapas temáticos” (MARTINELLI, 2008, p.27).

Martinelli (2008) apresenta definições relacionadas aos mapas temáticos,

baseado na capacidade desse tipo de cartografia em participar de diferentes

abordagens geográficas relacionadas a um mesmo território, através da sua

pluralidade temática.

A pluralidade dos mapas temáticos para um mesmo território pode participar da abordagem geográfica para qual se conjugam as interseções dos diferentes conjuntos espaciais que cada tema desenha e se articulam os diversos níveis escalares de representação condizentes com a ordem de grandeza da manifestação espaço-temporal dos fenômenos considerados naqueles temas [...] (MARTINELLI, 2008, p.28).

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A partir dessa concepção da capacidade dos mapas temáticos de

representarem as manifestações espaço-temporais inseridas no espaço geográfico,

por meio dos diferentes tipos de representações escalares, Yves Lacoste (1976

apud MARTINELLI 2008. p. 30) traz a seguinte definição sobre a cartografia

temática. Para o geógrafo frances, o mapa temático “[...] reportaria certo número de

conjuntos espaciais resultantes da classificação dos fenômenos que integram o

objeto de estudo de determinado ramo especifico, fruto da divisão do trabalho

científico”.

Oliveira (1993) trabalha o conceito de mapa temático como documentos

que estão representados em qualquer escala que são desenvolvidos sobre um fundo

geográfico básico. Para o autor nos mapas temáticos são representados “[...] os

fenômenos geográficos, geológicos, demográficos, econômicos, agrícolas, etc,

visando ao estudo, á análise e à pesquisa dos temas, no seu aspecto espacial”

(OLIVEIRA, C., 1993, p.32). Oliveira comenta:

A simbologia empregada na representação de tantos e diversificados assuntos é a mais variada que no existe no âmbito da comunicação cartográfica, uma vez que, na variação de tantos temas a salientar, suas formas de expressão podem ser, ora qualitativas, ora quantitativas (OLIVEIRA, C., 1993, p.32).

Fitz (2000, p.26) coloca que nos mapas temáticos são representados

determinados aspectos, ou temas sobre outros mapas já existentes, os

denominados mapas-base. Para o citado autor, o mapa temático “utiliza-se de

simbologias diversas para a representação dos fenômenos espacialmente

distribuídos na superfície”. Segundo Fitz (2000) qualquer mapa que apresente nas

suas informações qualquer informação que não seja somente “o terreno”, pode ser

inserido na classificação de mapa temático.

Nogueira (2009, p.30) em uma concepção técnica relacionada ao mapa

temático especifica que os mesmo também podem ser denominados de propósitos

especiais. No qual, para International Cartographic Association (ICA), o mapa

temático é “designado para mostrar feições ou conceitos particulares”. Sendo assim,

os mapas temáticos estão correlacionados com o mapeamento de fenômenos

físicos, culturais ou ideias abstratas. Além disso, Dent (1996 apud NOGUEIRA 2009,

p. 32) traz a concepção de que o mapa temático [...] “também inclui distâncias e

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direções, padrões de localização ou atributos espaciais de mudanças de tamanho e

magnitude”.

Os mapas temáticos são divididos em duas categorias: qualitativos e

quantitativos. Ambos apresentam objetivos diferentes no que tange a representão

espacial dos fenômenos. Os mapas temáticos qualitativos, [...] “têm por objetivo

principal mostrar a distribuição espacial ou localização de algum fenômeno

geográfico” (NOGUEIRA, 2009, p.46). Os mapas temáticos quantitativos

representam a distribuição espacial dos dados números, ou seja, são responsáveis

por realizarem uma transposição dos dados estatísticos tabulares para um formato

de mapa. Desta forma, Nogueira (2009) destaca:

Os mapas quantitativos, por outro lado, mostram os aspectos espaciais de

dados numéricos, ou seja, ilustram “quanto” de alguma coisa está presente na área mapeada. Para tanto, é preciso transformar dados tabulares em um formato especial de mapa e obter-se-á uma generalização dos dados originais. Por isso, quando o usuário requer quantidades exatas, o melhor caminho é o uso de tabelas ou diagramas, pois o mapa temático lhe dará apenas uma ideia da distribuição espacial das quantidades (NOGUEIRA, 2009, p.46).

Além disso, em uma classificação anterior e complementar a de Nogueira

(2009), Barbosa (1967 apud OLIVEIRA, 2000), classifica os mapas temáticos em

três tipos: notação, estatísticos e síntese. Os mapas temáticos de notação seriam os

que “registram os fenômenos, na sua distribuição espacial, sob a forma de cores ou

tonalidades muito variadas, complementadas, muitas vezes, por sinais gráficos

característicos” (OLIVEIRA, C., 1993, p.32).

Os mapas temáticos de relação estatística e síntese são segundo

Barbosa (1967 apud Oliveira 1993, p.33), respectivamente:

Os mapas da relação estatística, ainda que este objetivo possa sugerir que eles se afastam do campo cartográfico, é uma questão apenas de forma.” Os elementos primários do tema que serão elaborados cartograficamente, diz Barbosa, são originários da técnica estatística, tanto no que se refere aos elementos físicos, quanto aos humanos. [...] acima de tudo, a finalidade explicativa em que a representação de um fenômeno, em seu conjunto, é realizada mediante as suas relações externas. (...) os mapas de síntese, que expressam “o conjunto dos elementos de diferentes fatos ou fenômenos”, formam “uma abstração intelectual”, “apresentando-os” (estes fatos ou fenômenos)” de forma global”. Podem ser considerados de síntese os mapas econômicos complexos, os de áreas homogêneas e polarizadas, os morfoestruturais, os geomorfológicos, os históricos, etc.

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Fitz (2000, p. 52) coloca que entre os variados elementos que são

passíveis de estarem presentes em mapa temático, alguns merecem ser

destacados:

O título do mapa: realçado, preciso e conciso;

As convenções utilizadas;

As referências (autoria, data de confecção, fontes etc);

Indicação da direção norte;

A escala;

O sistema de projeção utilizado;

Os sistemas de coordenadas utilizado(s) (gratículas e/ou quadrículas).

3.3 CARTOGRAFIA PARTICIPATIVA E CARTOGRAFIA SOCIAL

A partir dos anos de 1990 dão-se de maneira ampla processos de

mapeamento com a inclusão de populações locais. Segundo Acserald & Coli (2008,

p.15):

Estas práticas têm envolvido diversas instituições tais como agências governamentais, ONGs, organizações indígenas, organismos multilaterais e de cooperação internacional, fundações privadas, universidades, entre outras. Utilizando-se de diversas terminologias, tais atividades são reconhecidas, no debate internacional, como iniciativas de “mapeamento participativo.

O mapeamento participativo para Herlihy e Knapp (2003 apud

ACSERALD & COLI 2008, p.15) é “aquele que reconhece o conhecimento espacial e

ambiental de populações locais e os insere em modelos mais convencionais de

conhecimento” apud Acserald & Coli (2008, p.15). No qual, segundo os autores:

suas raízes metodológicas estariam ligadas ao que as agências promotoras do

“desenvolvimento” chamaram de “observação participativa” e “metodologias de

pesquisa colaborativa. Os autores Herlihy e Knapp (2003), segundo Acserald & Coli

(2008) mencionam que os:

[...] métodos de pesquisa participativa combinados com tecnologias como

as dos SIG – Sistemas de Informação Geográfica, dos Global Positioning Systems (GPS) e do sensoriamento remoto foram adotados para a elaboração dos mapas, gerando um novo horizonte de produção e uso de tais instrumentos de representação espacial (Herlihy e Knapp, 2003), assim como também um novo espaço de intervenção para as referidas agências de desenvolvimento (ACSERALD & COLI, 2008, p.15).

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A cartografia social para Tetamanti (2012, p.14) “é um método de

construção de mapas que tenta ser coletivo, horizontal e participativo”. Para o

referido autor os âmbitos coletivo, horizontal e participativo que envolve a construção

dos mapas participativos, por meio da cartografia social, podem ser analisados da

seguinte maneira:

Esta particularidad, que a primera vista parece responder a la moda actual

en lós métodos de intervención e investigación, rescata lós modos más antiguos de construcción de mapas: el colectivo. Este modo colectivo hace fuerza sobre todo en dos cuestiones: inicialmente considera al conocimiento del espacio banal (SANTOS 1996), al territorio como plural de modo que quienes participan en la «obra» del mapa poseen saberes diversos sobre «el lugar»; y por otro lado, contempla que el resultadode ese mapeo es colectivo y horizontal; por lo que para obrar del mapa debe existir un intercambio, un debate y un consenso (TETAMANTI, 2012, p.14).

Ainda na compreensão de Tetamanti (2012) os mapas participativos

oriundos da cartografia social ou participativa são uma tarefa compartilhada, com um

forte intercâmbio de ideias, um debate sobre ações, objetos e conflitos que gera

possivelmente um consenso entre os autores envolvidos. O autor analisa os

mapeamentos participativos e os mapas de instituições geográficas realizando

comparativos entre as formas como ambos são concebidos:

En la Cartografía Social se desliga de esa neutralidad y objetividad. El mapa

es subjetivo y comunitario. Es un mapa festivo y aparentemente caótico, porque es dinámico y vive; en contrapartida al solitario mapa de los Institutos Geográficos. Esto no implica que uno sea más valioso que el otro; lo que marca el límite es una diferencia de génesis. Mientras que el mapa tradicional nace normado, el social lo hace consensuado; mientras que el tradicional es obrado de modo vertical, el social es horizontal. Sin embargo, ambos comparten el poder de la cartografia (TETAMANTI, 2012, p. 16).

Segundo o Fundo Internacional de Desarrolo Agrícola (FIDA) (2009, p. 6)

a “cartografia participativa é um processo de levantamento de mapas que trata de

tornar visível a associação entre a terra e as comunidades locais utilizando uma

linguagem reconhecida e compreendida pela Cartografia”. Ainda na definição e

características da cartografia participativa o FIDA (2009) coloca:

Como cualquier tipo de mapa, los mapas participativos presentan

información espacial a distintas escalas. Pueden representar información detallada del trazado y la infraestructura de una aldea (por ejemplo, los ríos, las carreteras y los caminos, los medios de transporte o la ubicación de las casas). También se pueden usar para representar uma zona amplia (por ejemplo, toda la superficie de las zonas que utiliza tradicionalmente uma comunidad, incluyendo información sobre la distribución de los recursos naturales y los límites territoriales( FIDA, 2009, p.6).

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Chambers (2006 apud FIDA 2009, p.6) coloca que “nos diversos métodos

de desenvolvimento participativos que são adotados, adaptados e aplicados, a

cartografia participativa é a que mais se tem difundido em um contexto mundial”.

Sendo assim, em um estabelecimento de parâmetros, devido a um crescimento

constante de iniciativas que envolvem a cartografia participativa, o Fundo

Internacional de Desarollo Agrícola (2009, p.7) estabelece alguns critérios para que

um mapeamento seja reconhecido e denominado como mapa comunitário e/ou

participativo:

La cartografía participativa se define por el proceso de producción. Los

mapas participativos se planean en torno a um objetivo común y a una estrategia de empleo, y a menudo se realizan com aportaciones de toda una comunidad em un proceso abierto e incluyente. Cuanto mayor sea el nivel de participación de todos los miembros de la comunidad, más beneficioso será el resultado, porque El mapa final reflejará la experiencia colectiva del grupo que lo haya producido.

La cartografía participativa se define por un producto que representa el

ideario de la comunidad. La producción de mapas se lleva a cabo por comunidades para mostrar información que es pertinente e importante para sus necesidades y que está destinada a su uso.

La cartografía participativa se define por el contenido de los mapas que

representa conocimientos e información locales. Los mapas contienen los nombres de los lugares de una comunidad, sus símbolos, escalas y características prioritarias y representan sistemas de conocimientos locales.

La cartografía participativa no se define por el nivel de observancia de las

convenciones cartográficas oficiales. Los mapas participativos no se limitan a los medios oficiales: el mapa de una comunidad puede ser un dibujo hecho en la arena, lomismo que puede estar incorporado em un sofisticado SIG informático. En tanto que los mapas ordinarios buscan La conformidad, los comunitarios asumen la diversidad de presentación y de contenido. Dicho esto, para que resulten útiles a los grupos ajenos a la comunidad, como las autoridades estatales, cuanto más de cerca sigan las convenciones cartográficas reconocidas, mayor será la probabilidad de que se los considere instrumentos de comunicación eficaces.

Finalmente, corroborando com as concepções anteriores relativas às

definições sobre mapeamento participativo, cartografia participativa ou cartografia

social, e suas possibilidades de uso pelos agentes comunitários, Colchester (2002

apud Acserald & Coli 2008) considera que os mapas participativos revelaram-se

como ferramentas importantes para mobilizar a comunidade e gerar debates sobre

as possíveis demandas existentes correlacionadas à terra e o manejo de recursos

naturais.

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3.4 OS TIPOS DE MAPEAMENTOS PARTICIPATIVOS

Para o FIDA (2009) diversas iniciativas de mapeamentos participativos

surgiram nos últimos vinte anos. Tanto em países desenvolvidos, como em países

em desenvolvimento. Essas inúmeras práticas acabaram por desenvolver diversos

tipos de metodologias, como complementam e afirmam Acserald & Coli (2008, p.16):

Uma grande variedade de metodologias desenvolveu-se a partir destas

práticas, desde abordagens consideradas “altamente participativas” envolvendo mapas de esboço em vilarejos até esforços de caráter mais técnico, com uso de Sistemas Geográficos de Informação (SIG). Segundo os mesmos autores, a literatura sobre o tema é desigual e irregular, com o Canadá e o Alasca possuindo o maior número de estudos desde os anos 1970, entre atlas, guias e textos histórico analíticos. Embora nem todos estes trabalhos sejam abertos ao público, a quantidade disponível é suficiente para permitir um entendimento compreensivo das questões, contextos e metodologias concernentes a estas regiões.

Para Chapin et al. (2005 apud ACSERALD & COLI 2008) os autores

envolvidos em mapeamentos participativos não “encontraram motivação” ou tempo

para escrever sobre as experiências participativas em comunidades, o que torna a

publicação sobre a Cartografia social ou mapas participativos difícil de serem

encontrados e com isso as metodologias aplicadas muitas vezes são desconhecidas

no meio acadêmico ou social. Para os referidos autores a pouca publicação sobre o

tema é atribuída a questões de instabilidade política no qual essas ações

participativas são aplicadas:

[...] os atores envolvidos nestes mapeamentos não encontraram incentivo

ou tempo para escrever sobre suas experiências ou então são relutantes em torná-las públicas por conta das sensibilidades políticas, legais, econômicas e culturais envolvidas. Para estes autores, “a relutância em publicar mapas e acompanhamento de dados nos países mais politicamente voláteis do Terceiro Mundo, onde o Estado de Direito é freqüentemente fraco ou não-existente, é ainda mais pronunciada (ACSERALD & COLI, 2008, p.17).

Além de fatores políticos e sociais que envolvem a dificuldade de

publicação sobre o tema, o material que se encontram publicados são realizados por

acadêmicos e não há uma produção escrita que apresente o ponto de vista da

população local sobre esse tipo de experiência participativa envolvendo as

comunidades. Como afirmam Chapin et al. (2005 apud ACSERALD & COLI 2008,

p.17):

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Ainda segundo os mesmos autores, deve-se destacar que muitos dos textos disponíveis foram produzidos por não-indígenas, a maioria sendo escritos por acadêmicos e, mais recentemente, por especialistas em SIG, o que leva as perspectivas dos indígenas a serem freqüentemente representadas “de maneira incompleta

Corbett et al. (2006 apud ACSERALD & COLI 2008, p.21) trazem algumas

práticas metodológicas e ferramentas que são utilizadas para construir os

mapeamentos participativos em diferentes partes do mundo. Segundo os autores

existem as seguintes práticas aplicadas e divulgadas internacionalmente:

Cartografia efêmera: Este método muito básico envolve o traço de mapas

no chão. Os participantes utilizam matérias-primas, tais como terra, seixos, gravetos e folhas para representar a paisagem física e cultural.

A cartografia de esboço é um método ligeiramente mais elaborado. Esboça-

se um mapa com base na observação ou memória. Não conta com medidas exatas, tais como escala consistente ou referências geográficas. Normalmente envolve o desenho de símbolos em folhas grandes de papel para representar as características da paisagem.

A cartografia de escala é um método de produção de mapas mais

sofisticado, que visa a gerar dados de referências geográficas. Isso permite o desenvolvimento de mapas de escala relativamente exata e com referências geográficas que podem ser comparadas diretamente com outros mapas.

A Modelagem 3D integra os conhecimentos geográficos com os dados de

elevação, produzindo modelos de relevo tridimensionais autônomos, de escala e com referências geográficas. Assinalam-se no modelo as características geográficas relativas aos usos da terra e sua cobertura usando tachas (pontos), estames (linhas) e tintas (polígonos). Ao completar o modelo, aplica-se uma grade de escala e geo-referências para facilitar a extração ou importação de dados. Os dados representados no modelo podem ser digitalizados e marcados graficamente.

Os foto-mapas são impressões de fotografias aéreas (ortofotografias) que

são corrigidas geometricamente e dotadas de referências geográficas. Os mapas de ortofotografias constituem uma fonte de dados precisos, obtidos por sondagem remota, que podem ser utilizados para projetos cartográficos comunitários de grande escala. Os membros da comunidade podem delinear o uso de terras e outras características significativas em transparências sobrepostas no foto-mapa. As informações colocadas nas transparências podem ser posteriormente digitalizadas e dotadas de geo-referências.

O Fundo Internacional de Desarollo Agrícola - FIDA (2009) traz algumas

experiências práticas de mapeamentos participativos realizados em países como

Peru, Tailândia, Gana e Mindanao Setentrional. Apresenta as metodologias

realizadas em cada mapeamento, bem como a intencionalidade de cada ação

participativa e seus objetivos, sendo essas iniciativas: A cartografia cultural no Peru,

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Planejamento Participativo do uso da terra na Tailândia e o Mapeamento de terras

ancestrais no Norte de Mindanao.

O projeto do mapeamento cultural no Peru foi desenvolvido com os

objetivos de fortalecimento dos mercados, diversificação da renda e a melhoria das

condições de vida em Sierra Sur. Esse projeto foi desenvolvido pelo FIDA no ano de

2005. O projeto utilizou croquis de mapas que representavam o passado, presente e

futuro do território local e toda região ao seu redor.

O mapeamento relativo ao planejamento participativo do uso da terra na

Tailândia teve como ponto principal tornar os membros da comunidade capacitados

em realizar a análise do ordenamento local e regional da terra e fossem capazes de

trazerem soluções. Foram realizados uma série de mapeamentos participativos com

o intuito de realizar um levantamento dos recursos naturais presentes nas aldeias.

Os recursos naturais das aldeias da região da tailandesa denominada Mae Hong

Son foram mapeadas e tiveram por meio da capacitação dos membros da

comunidade, esse mapeamentos foram utilizados para o uso sustentável da terra,

água e florestas. Reabilitação de bacias hidrográficas e intensificação da produção

agricola.

No Norte do Mindanao (Filipinas), os mapeamento de terras ancestrais foi

desenvolvido com o intuito de restaurar e resgatar terras aos indigenas que os

perteciam desde épocas ancestrais. Nessa caso, o governo Filipino já tinha o

conhecimento das revindicações dos indigenas por suas terras, por meio do seu

Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais. Entretanto, as terras não tinham

sidas bem identificadas e os limites dos territórios também não eram identificados.

Isto levava o governo local não conceder o direito à terra aos indigenas. O projeto

aconteceu em três anos (2003 - 2006) e proporcionou a recuperação de 100.000

hectares de terras ancestrais e abrangeu mais de 12.000 indigenas de 1.600 familias

de nove comunidades.

Acserald & Coli (2008, p.23,24) reforçam e trazem experiências sobre a

cartografia participativa, no qual estas estão associadas as questões territoriais,

fundiárias, étnicas, e políticas. Entre os exemplos apresentados pelos autores estão

países como África do Sul, México, Filipinas, Camarões, Indonésia e entre outros:

[...] África do Sul, por exemplo, experiências foram desenvolvidas no

contexto da reconstituição da geografia histórica dos deslocamentos forçados de população operados no tempo do apartheid, na definição de potenciais socio-ecológicos do solo, em políticas de acesso à terra, água e

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recursos em biomassa, assim como políticas de desenvolvimento requeridas para os usos tidos como apropriados da terra (Weiner et al. 1995). No Camarões, buscou-se identificar os recursos espaciais em suas relações com as regras de uso da terra e de manejo dos recursos por cada grupo familiar na interface agricultura-floresta.

Em Chiapas, no México, fez-se o zoneamento camponês de áreas de flora

e fauna. Na Indonésia, tratou-se de assegurar os direitos territoriais de povos tribais reclamados com maior visibilidade a partir do final do regime ditatorial de Suharto. Na Tailândia, buscou-se aumentar a segurança de posse da terra e acesso a recursos naturais por grupos socioculturais com territorialidades fluidas e complexas.

No Rajesthan, Índia, empregou-se o mapeamento para manejar conflitos

por uso da terra, enquanto em New Delhi, para o planejamento da oferta de serviços de água e infra-estrutura em assentamentos informais urbanos. Na Guatemala, foram feitos mapeamentos dos locais em que houve massacres perpetrados contra a população durante a guerra civil, de modo a abrir espaço para a cultura dos direitos humanos no país.

No Brasil, segundo Correia (2007 apud ACSERALD & COLI 2008)

descreve sobre casos de projetos de cartografia participativa no país. Para Correia,

as terminologias utilizadas no Brasil relacionadas à cartografia participativa são as

seguintes: “levantamentos etnoecológicos”, “mapeamento etno-ambiental dos povos

indígenas”, “mapeamento dos usos tradicionais dos recursos naturais e formas de

ocupação do território”, “mapeamento comunitário participativo”, “mapeamentos

culturais”, “macrozoneamento participativo”, “etnozoneamento”, “etnomapeamento”,

“diagnóstico etnoambiental” e “cartografia social”. Os dados do primeiro semestre,

apresentados pelos autores, do ano de 2008 demonstraram que havia 118 casos de

casos de mapeamentos participativos no citado país (Quadro 1). No qual, estes

mapeamentos estavam associados com os seguintes objetivos: delimitação de

territórios, territorialidades identitárias, oferecer subsídios para planos de manejo em

unidades de conservação, oferecer subsídios para uma discussão sobre o

desenvolvimento local e promoção de etnozoneamento em terras indígenas.

Entre as distintas práticas de mapeamentos participativos no Brasil,

Acserald & Coli (2008) destacam duas práticas, pois para eles essas práticas

funcionaram de formas “paradigmáticas” e “inaugurais”. Desta maneira, as duas

experiências são as seguintes: “o conjunto de iniciativa conhecida como Guerra dos

mapas” e o “projeto Mamirauá”.

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A iniciativa denominada Guerras dos mapas aconteceu com o objetivo de

contribuir para a afirmação territorial de grupos sociais atingidos pelo Projeto Grande

Carajás (ACSERALD & COLI, 2008, p.26). No qual, identificou-se e sistematizou

diferentes áreas de conflitos que havia em torno da região: suas unidades de

conservação, áreas de reservas extrativistas e propriedades privadas. Segundos os

autores o projeto consistiu no seguinte:

Procurou-se então identificar e sistematizar os diferentes tipos de conflitos

na região: em torno das áreas das UC – unidades de conservação ambiental, das RESEX-reservas extrativistas, das TI – terras indígenas, em torno das áreas reservadas militares, das áreas concedidas, adquiridas e das pretendidas pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), das reservas garimpeiras e das províncias auríferas, das áreas desapropriadas para projetos agrícolas e cooperativas, além dos conflitos situados em pontos variados nos territórios de grande predominância de babaçuais e castanhais, bem como a resistência dos ocupantes das terras que eram ocupadas tradicionalmente há muitas gerações, conhecidas como terras de preto, de santo, da igreja e de índio (ACSERALD & COLI, 2008, p.30).

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O Projeto Mamirauá, segundo Acserald & Coli (2008) está localizado no

estado brasileiro do Amazonas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de

Mamirauá e teve o seu inicio formal no ano de 1992. Tendo como um dos objetivos

se beneficiar do mapeamento participativo como ferramenta para os planos de

manejo florestal na unidade de conservação de Mamirauá e tendo como

pressuposto a conservação e preservação da biodiversidade. Sendo que Queiroz

(2005 apud ACSERALD & COLI 2008, p.34) traz que o mapeamento participativo

dessa área teve como objetivo principal a “identificação dos usos tradicionais, de

potenciais conflitos entre assentamentos humanos, assim como entre os interesses

da população e os resultados das pesquisas ambientais desenvolvidas”.

Ainda no que tange a esse projeto Acserald & Coli (2008, p.34) trazem a

seguinte informação:

Durante esta experiência, busca-se paralelamente incentivar o sentido

comunitário do manejo florestal, levantar questionamentos, esclarecer dúvidas e avaliar o grau de interesse e envolvimento dos comunitários com relação ao manejo. É utilizado um modelo de metodologia replicado em reuniões nas comunidades. As propostas de cada grupo são negociadas em uma reunião de setor, programada especialmente para esta finalidade. O produto final é a elaboração do Mapa Oficial de Uso Sustentado dos Recursos Florestais do Setor, onde consta a demarcação das áreas de manejo florestal de cada comunidade e a área a ser manejada no ano I de implantação do manejo florestal comunitário.

Finalmente, Acserald & Coli (2008) concluem que as práticas de

mapeamentos participativos, possuem uma correlação direta com “conjunturas

macro-políticas, contextos territoriais conflituosos, e processos localizados de

organização de sujeitos de grupos sociais e étnicos subalternos”.

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4 METODOLOGIA

A primeira etapa de desenvolvimento do trabalho constitui-se em uma

revisão de literatura sobre a Cartografia abordando os seus conceitos,

características e produtos por meio de livros acadêmicos desenvolvidos sobre o

tema, com o objetivo de ter uma sustentação teórica sobre os principais aspectos

que envolvem a Cartografia e suas representações espaciais. Ainda na etapa inicial

do trabalho, houve um levantamento bibliográfico sobre as definições e diferentes

abordagens da Cartografia Participativa. No qual, destacando os autores Acserald &

Coli (2008), FIDA (2009) e Tetamanti (2012) realizou-se um levantamento dos tipos

de mapas participativos: metodologias, ferramentas utilizadas e contextos

sociopolíticos. O levantamento bibliográfico teve como meio a literatura especifica

inserida em livros, bem como trabalhos de organizações não governamentais que

realizaram atividades participativas vinculadas à cartografia participativa em diversos

contextos culturais, sociais e políticos. Tendo como objetivo identificar os conceitos e

abordagens da Cartografia Participativa, bem como suas diferentes possibilidades

de aplicação e uso.

A etapa seguinte de desenvolvimento foi à realização de um levantamento

histórico dos trabalhos envolvendo os mapas biorregionais produzidos pelo projeto

de pesquisa e extensão Maricultura Familiar Solidária (Marsol) da Universidade

Federal da Bahia em trabalho conjunto com comunidades tradicionais em diferentes

regiões do estado da Bahia, entre 2009 e 2013. Este levantamento teve como

objetivo compreender o universo dos trabalhos envolvendo os mapas biorregionais

realizados pelo referido grupo, assim como verificar os mapas concluídos e em

desenvolvimento, etapas de construção, os conteúdos abordados e utilizações

dadas aos produtos finais pelas comunidades envolvidas. Essa etapa permitiu a

escolha de quatro dos mapas biorregionais que serviram como objetos de análise

dos produtos finais. Sendo esses, os mapas biorregionais das comunidades do

território quilombola do vale do Iguape, localizado no distrito de Santiago do Iguape

no município de Cachoeira - Bahia. As comunidades produziram os seguintes

mapas: Água: Fonte da Vida; Abre-te Campo Formoso Cheio de Tanta Alegria;

Cultura, Identidade e Resistência; Sustentabilidade das comunidades quilombolas

do Iguape.

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A terceira etapa de desenvolvimento foi a descrição das etapas de

construção que envolve a elaboração de todos os mapas biorregionais que foram

desenvolvidos pelo Marsol. Assim como, a análise (elementos componentes de um

mapa temático) dos produtos finais – mapas biorregionais – selecionados, das

comunidades quilombolas do vale do Iguape por meio do levantamento histórico

realizado relacionado aos trabalhos já desenvolvidos.

Nesse sentido, buscou-se analisar as metodologias e etapas de

construção dos mapas biorregionais por meio de correlações com a literatura

especifica relativa à Cartografia participativa observando as semelhanças

metodológicas e ferramentas utilizadas no desenvolvimento de outros tipos de

mapeamento participativos com as metodologias e ferramentas utilizadas nos

mapeamentos construídos pelo Marsol. Ainda nessa etapa, foram analisados os

quatro mapas biorregionais das comunidades quilombolas do vale do Iguape,

tomando-os como estudo de caso específico para avaliar todos os produtos finais

(mapas) do Marsol segundo os aspectos técnicos cartográficos que são

característicos dos mapas produzidos pela Cartografia. Tomando como base a

literatura especifica relativa aos conhecimentos da Cartografia segmento da ciência

geográfica.

Ainda como aspecto metodológico houve a observação participativa nas

oficinas realizadas pelo projeto de extensão e pesquisa Maricultura Familiar

Solidária nos anos de 2012 – 2013 através das ACC/UFBA nas comunidades do

Galeão, Ilha de Tinharé, município de Cairu, a comunidade do Engenho da Cruz,

localizada no município de Cachoeira, e a comunidade de Matarandiba, localizada

na ilha de Matarandiba, município de Vera Cruz. Sendo todas situadas no estado da

Bahia. Esta etapa de observação participativa nas oficinas permitiu a verificação das

etapas de desenvolvimento dos mapas biorregionais nos seus aspectos

metodológicos e ferramentas utilizadas permitindo realizar a descrição de cada

etapa desenvolvida.

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4.1 RESULTADOS

4.2 O HISTÓRICO DO MAPEAMENTO BIORREGIONAL DO PROJETO DE

PESQUISA E EXTENSÃO MARICULTURA FAMILIAR SOLIDÁRIA (MARSOL)

O primeiro trabalho com o mapeamento desenvolvido pelo Marsol

aconteceu no Baixo Sul do estado da Bahia e teve a participação direta do

canadense Doug Aberley – professor da universidade de Vancouver - que introduziu

as técnicas e metodologias dos mapeamentos biorregionais que são realizados no

Canadá. Nesta atividade, que contou com a presença de diversas comunidades

costeiras tradicionais da referida região, foi produzido um único mapa denominado a

Cultura Beiradeira do Baixo Sul. Tendo o seu processo de construção e formação o

mês de março do ano de 2009, entre os dias 6, 7 e 8. Este mapeamento, apesar de

todo o processo de reconhecimento socioeconômico cultural que envolve sua

construção, não teve uma utilização posterior. Apenas serviu para divulgação da

ferramenta pelo Marsol.

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Mapa 1 - Áreas em Rosa representam as áreas mapeadas pelo projeto de pesquisa

e extensão Marsol no estado da Bahia .

Fonte: Google Earth.

Como consequência da primeira atividade, a comunidade de Graciosa

localizada na região do Baixo Sul, município de Taperoá, foi objeto da atividade

curricular em comunidade (ACC/UFBA), projeto de extensão, nomeada

“Mapeamento Biorregional Participativo em comunidades costeiras tradicionais como

ferramenta para educação ambiental”. Na comunidade foram produzidos quatro

mapeamentos que têm os seus conteúdos vinculados ao território quilombola,

pesca, mariscagem e cultura. A ACC foi realizada com a participação dos alunos da

Universidade Federal da Bahia de diferentes cursos de graduação durante o

primeiro semestre de 2011.

Os mapeamentos produzidos na comunidade quilombola de Graciosa

serviram como ferramentas base para a produção de novos mapeamentos

biorregionais direcionados a obtenção de cessão de águas voltada para ostreicultura

no ano de 2012. Sendo confeccionados três mapeamentos, ainda em fase de

ajustes técnicos no âmbito da cartografia temática (2013), em escalas distintas

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(1:40.000 e 1:20.000) e temas correlacionados as questões socioambientais e

planejamento do uso da água. Funcionando como ferramentas a serem

posteriormente utilizados na formação de processo para obtenção da cessão de

águas junto aos órgãos governamentais estaduais responsáveis pelo licenciamento.

Além disso, os mapeamentos do primeiro semestre de 2011 foram utilizados para

questões de mobilidade e propostas de planejamento territorial da comunidade junto

a instituições governamentais no âmbito estadual.

Ainda em 2011, segundo semestre, o Kaonge, comunidade tradicional

quilombola, localizada no vale do Iguape município de Cachoeira na Bahia, foi objeto

da atividade de extensão do Marsol (mesmo projeto de extensão aplicado em

Graciosa). Onde foram elaborados quatro mapeamentos com temas sobre a água,

sustentabilidade (produção e atividades extrativistas), história e cultura local. Os

mapas foram finalizados e tiveram como objetivo auxiliar a comunidade em questões

voltadas para o turismo (rota da liberdade), diálogo com instituições, mobilização

comunitária, educação e ensino. As áreas mapeadas pelos extensionistas e atores

comunitários abordaram outras cincos comunidades tradicionais que compõe o

território quilombola do vale do Iguape.

O ano de 2012 marcou o desenvolvimento de vários mapeamentos

participativos em comunidades tradicionais como Galeão, e outras no município de

Taperoá, vinculados ao projeto de extensão da ACC/UFBA, e Engenho da Cruz que

foi desenvolvido por um grupo de bolsistas extensionistas do Marsol, responsáveis

pelo desenvolvimento e aperfeiçoamento das técnicas cartográficas (escala,

coordenadas geográficas) e metodologias do mapeamento participativo biorregional.

No primeiro semestre de 2012 houve a realização do trabalho na

comunidade do Galeão, localizada na Ilha de Tinharé, Baixo Sul do estado da Bahia.

Nesta, um mapeamento com o tema Fontes: Água da Vida foi parcialmente

produzido, pois ao longo do processo de construção, houve greves relacionadas à

UFBA e o estabelecimento de datas para as atividades na comunidade ficaram

prejudicadas. Sendo assim, ainda hoje, ano de 2014, o mapeamento do Galeão

ainda está esperando datas para que a conclusão seja feita junto com os autores

comunitários.

A comunidade conhecida como Baixinha localizada no município de

Taperoá apresenta mapeamentos não finalizados. A referida comunidade também

foi objeto de projeto de extensão correlacionado a ACC. Há três mapeamentos com

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temas que integram religião, cultura, práticas extrativistas e meio ambiente

abordados em diferentes escalas. Porém, como não foram concluídos, os mapas

não estão sendo utilizados pela comunidade integrante do Baixo Sul da Bahia.

Em situação semelhante ao Galeão e Taperoá/Baixinha, no que tange a

não finalização dos mapeamentos propostos, a comunidade do vale do Iguape,

Engenho da Cruz, apresenta quatro mapeamentos incompletos. Essa comunidade

foi o primeiro mapeamento realizado pelo grupo de bolsistas extensionistas do

Marsol, iniciado no ano de 2012 e que continua em produção em 2014. Os temas

que integram os mapas são sobre o desenvolvimento histórico da comunidade, rios,

cultura, serviços e produção. Os problemas técnicos relacionados à cartografia

(escala), constituição da base cartográfica (compilação da ortofoto), foram os

principais problemas identificados para a não conclusão do trabalho na supracitada

comunidade.

O início de 2013, além da continuidade dos mapeamentos biorregionais

não finalizados, marcou o começo de novos trabalhos na comunidade de

Matarandiba (localizada na ilha de Matarandiba, Baía de Todos-os-Santos), com a

atividade curricular em comunidade (ACC), semestre 2013.1 e o mapeamento

biorregional direcionado a dragagem do estaleiro que está em construção no rio

Paraguaçu no estado da Bahia. A obra desenvolvida pela Petrobrás vem

apresentando fatos prejudiciais ao desenvolvimento das atividades de pesca das

comunidades tradicionais que residem próximo às obras da dragagem. Gerando

problemas sociais relevantes. O mapeamento da dragagem do estaleiro do

Paraguaçu serviu como ferramenta para formação de processo, enviada ao

Ministério Público da Bahia, contra as obras em desenvolvimento pela empresa

estatal brasileira.

4.3 OS MAPAS PARTICIPATIVOS BIORREGIONAIS DAS COMUNIDADES DO

TERRITÓRIO QUILOMBOLA DO VALE DO IGUAPE.

Foram analisados os quatro mapeamentos biorregionais produzidos pelas

comunidades do território quilombola do vale do Iguape. Durante a análise verificou-

se que nos produtos apresentados as comunidades representadas são: Kaonge,

Dendê, Kalembá, Engenho da Ponte e Engenho da Praia. Sendo estas, integrantes

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do território quilombola do Vale do Iguape localizado no município de Cachoeira –

BA.

Mapa 2 - Área em Laranja representam os enquadramentos dos

mapeamentos realizados pelas comunidades quilombolas do Vale do Iguape

município de Cachoeira.

Fonte: Google Earth.

Os quatro mapeamentos biorregionais das comunidades quilombolas

possuem temas relacionados à cultura, história, sustentabilidade, Identidade, modos

de vida e recursos naturais. Os mapeamentos são denominados de Água: a fonte da

vida (mapa 1); Abre-te Campo Formoso cheio de tanta alegria (mapa 2); Cultura,

Identidade e Resistência das comunidades quilombolas: Kaonge, Kalembá, Dendê,

Engenho da Praia, Engenho da Ponte (mapa 3) e Sustentabilidade das comunidades

quilombolas: Kaonge, Dendê, Kalembá, Engenho da Ponte, Engenho da Praia

(mapa 4). A análise dos mapas consistiu na verificação dos seus conteúdos e

aspectos técnicos cartográficos presentes nos mapas desenvolvidos pela

Cartografia Temática como: título, convenções, base cartográfica, referências

(autoria, data de confecção, fontes), indicação do norte, escala, sistema de projeção,

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sistema de coordenadas. Com base nesses critérios de análise foram verificados os

quatro mapeamento participativos biorregionais, como explicado a seguir:

O mapa biorregional Água: a fonte de vida (1) aborda em seu conteúdo os

recursos hídricos presentes na área onde está inserida a comunidade quilombola do

Kaonge. Entre os corpos hídricos destacados estão às fontes de água, cisternas e

rios. O mapa Abre-te campo formoso cheio de tanta alegria (2) contempla em seu

conteúdo as histórias antigas das comunidades do Kaonge, Kalembá, Dendê,

Engenho da ponte e Engenho da praia. Apresentando os principais lugares, por

meio de fotografias, com importância histórica para as comunidades. O mapeamento

biorregional Cultura, Identidade e Resistências das comunidades quilombolas:

Kaonge, Kalembá, Dendê, Engenho da Praia, Engenho da Ponte (3) traz

informações sobre as principais atividades e lugares com importância cultural que

são desenvolvidas pelas comunidades. Sendo as atividades correlacionadas à

cultura negra. O último mapeamento denominado Sustentabilidade das

comunidades quilombolas: Kaonge, Dendê, Kalembá, Engenho da Ponte, Engenho

da Praia (4) apresenta em seu conteúdo as atividades extrativistas praticadas pelas

citadas comunidades como: apicultura, agricultura e pesca.

Os conteúdos abordados nos mapas são apresentados em formas de

textos informativos, fotografias e diversas simbologias não convencionais. Os textos

informativos trazem as informações sobre o ponto de vista das comunidades locais

representadas nos mapas, pois são desenvolvidos e escritos pelos membros

comunitários apresentando histórias, modos de vida, uso da terra, festividade e etc.

Porém, no que tange a análise dos itens relativos aos mapas temáticos, os mapas

biorregionais, produzidos pelas comunidades do vale do Iguape, sem exceção, não

possuem informações de referência sobre a data de confecção, informações sobre

as fontes dos conteúdos, informações sobre a origem da base cartográfica e o

sistema de projeção utilizado. No entanto, os mapas participativos biorregionais das

comunidades apresentam título, legenda, orientação do norte, autores e escala. No

qual, o mapa (1) está representado na escala espacial de 1:15.000 e os outros três

na escala 1:10.000.

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Mapa 3 – Mapa biorregional Água Fonte da Vida.

Fonte: Marsol/UFBA.

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Mapa 4 - O mapa Abre-te campo formoso cheio de tanta alegria.

Fonte: Marsol/UFBA.

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Mapa 5 - O mapeamento biorregional Cultura, Identidade e Resistências das comunidades quilombolas.

Fonte: Marsol/UFBA.

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Mapa 6 - Sustentabilidade das comunidades quilombolas.

Fonte:Marsol/UFBA

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4.4 ETAPAS DE CONSTRUÇÃO DOS MAPEAMENTOS BIORREGIONAIS

Foram descritas as etapas de construção dos mapeamentos

biorregionais, por meio das observações participativas, com o objetivo de

compreender as metodologias implementadas pelo projeto de extensão e pesquisa

Maricultura Familiar Solidária – Marsol - durante o desenvolvimento dos trabalhos

nas comunidades. Essas etapas são aplicadas em todos os mapas biorregionais

desenvolvidos pelo citado projeto de pesquisa e extensão. A partir disso, verificou-se

que todos os mapeamentos biorregionais seguem as seguintes etapas:

Escolha da base cartográfica: imagem de satélite ou ortofoto.

Orientação do norte geográfico.

Compilação da base cartográfica.

Inserção de cores na base cartográfica.

Levantamento dos temas.

Definição dos temas a serem inseridos na base cartográfica.

Ensino dos elementos cartográficos de composição de um mapa temático:

título, legenda, orientação, sistema de coordenadas, escala e referências.

Levantamento de pesquisas relacionadas aos temas selecionados.

Inserção dos conteúdos temáticos na base cartográfica.

Apresentação da base cartográfica (foto 1): As informações obtidas para a

elaboração das bases cartográficas a serem utilizadas nos mapeamentos

biorregionais são provenientes de imagens de satélite ou fotografias áreas

ortorretificadas (foto 1). Normalmente, as imagens de satélite utilizadas são as

fornecidas pelo programa de geoprocessamento Google Earth e as Ortofotos

fornecidas por Instituições governamentais do estado da Bahia (Inema, Conder).

Essa etapa é desenvolvida pelos docentes e estudantes da Universidade Federal da

Bahia com o objetivo da apresentação da base, reconhecimento do espaço

geográfico e identificação do território pelos membros das comunidades.

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Fotografia 1 - Apresentação da base cartográfica. Oficina realizada na comunidade do Kaonge no município de Cachoeira – Bahia.

Fonte: Marsol/UFBA

Orientação do norte geográfico (foto 2): A orientação do norte do mapa-base é

definida em conjuntos com os integrantes comunitários que fazem parte do

desenvolvimento das oficinas. Essa orientação do norte tem por referência a “visão”

dos moradores locais sobre o seu território. A partir disso o mapa-base é girado nos

sentidos horários ou anti-horários até que se defina em que posição o norte

geográfico é melhor identificado visualmente pelos membros comunitários.

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Fotografia 2 - Aula expositiva sobre a orientação do norte geográfico na comunidade de Graciosa localizada no município de Taperoá – Bahia.

Fonte: Marsol/UFBA.

Compilação da base cartográfica (foto 3): nessa etapa são copiadas da base

cartográfica as informações consideradas importantes para composição do mapa

temático como: planimetria (rios, estradas e localidades), áreas urbanas, relevo e

vegetação. As definições das informações a serem compiladas da base cartográfica

são feitas pelos membros da comunidade participante das oficinas. O processo é

desenvolvido pelos membros comunitários e alunos da universidade. Utilizando-se

de papel do tipo vegetal.

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Fotografia 3 - Compilação da Base Cartográfica realizada na comunidade denominada Baixinha no município de Taperoá – Bahia.

Fonte: Marsol/UFBA

Inserção de cores na base cartográfica (foto 4): essa etapa consiste na pintura das

informações (pontos, linhas e polígonos) que são retiradas da base cartográfica

como rios, vegetação, áreas urbanas e entre outros. A partir disso, o mapa-base

constituído a partir da base cartográfica, passa a ser pintado as cores escolhidas

pelos membros comunitários participantes das oficinas. As cores são inseridas nas

informações planimétricas em um processo de pintura que utiliza materiais como:

tintas de diferentes tipos, lápis, giz de cera e hidrocor.

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Fotografia 4 - Inserção de cores na base cartográfica realizada na oficina na comunidade do Kaonge localizada no município de Cachoeira.

Fonte: Marsol/UFBA

Levantamento dos temas (foto 5): os temas a serem trabalhos como possíveis

informações que serão partes integrantes dos mapas biorregionais são definidos por

meio das oficinas realizadas entre os alunos integrantes da UFBA e os membros

comunitários. Os temas são levantados a partir de palavras-chaves sugeridas pela

comunidade local correlacionadas às características do modo de vida, lugares,

cultura, história, religião e etc. A palavras-chaves são separas em painéis e

correlacionadas por semelhança temática.

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Fotografia 5 - Levantamento dos temas realizado na comunidade denominada Baixinha localizada no município de Taperoá.

Fonte: Marsol/UFBA

Definição dos temas a serem inseridos no mapa-base (foto 6): essa etapa é

realizada com o auxílio da sistematização das palavras-chaves, agregadas por

temas, por meio de painéis. A partir dessa sistematização a comunidade seleciona

os temas que possuem maior relevância para serem inseridos na base cartográfica.

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Fotografia 6 - Definição dos temas a serem inseridos na base cartográfica realizado na comunidade denominada Baixinha localizada no município de Taperoá.

Fonte: Marsol/UFBA

Ensino dos elementos cartográficos de composição de um mapa temático (foto 7):

essa etapa é realizada por meio de aulas expositivas promovidas pelos alunos e

docentes integrantes da universidade para os membros comunitários por meio de

oficinas. Os mesmos ensinam, com o auxílio de ferramentas (papeis, lápis, imagens,

fotografias), os principais elementos cartográficos dos mapas temáticos como: título,

legenda, escala, orientação, sistema de coordenadas e referências (autores e

fontes). Essa etapa tem como objetivo melhorar a capacidade de leitura cartográfica

dos membros comunitários.

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Fotografia 7 - Ensino dos elementos cartográficos de composição de um mapa temático realizado na oficina na comunidade denominada Baixinha no município de Taperoá.

Fonte: Marsol/UFBA

Levantamento de pesquisas relacionadas aos temas selecionados: essa etapa é

desenvolvida pelos membros da comunidade local e os alunos integrantes da

universidade. Os temas são separados por grupos que ficam responsáveis pelos

levantamentos bibliográficos de determinado tema por meio de pesquisas em livros,

fotografias, internet e registros de histórias levantadas por diálogos junto a membros

da comunidade.

Inserção dos conteúdos na base cartográfica (foto 8): após a etapa de pesquisa,

todo o material é selecionado e sistematizado para serem inseridos nas bases

cartográficas para composição do mapa temático. A partir disso, os textos,

fotografias e ícones são colocados na base cartográfica formando um mapa

temático.

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Fotografia 8 - Inserção dos conteúdos na base cartográfica.

Fonte: Marsol/UFBA

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5 DISCUSSÃO

O levantamento bibliográfico sobre a Cartografia participativa possibilita a

compreensão sobre os diferentes objetivos com que essas práticas participativas

são aplicadas em diferentes comunidades ao redor do mundo. No entanto, Acserald

& Coli (2008) colocam que essas iniciativas participativas que envolvem os

mapeamentos são direcionadas as classes sociais menos favorecidas que sofrem

com o processo de segregação política, social e cultural. Buscando por intermédio

dos mapeamentos participativos o fortalecimento territorial, cultural, político, social e

a gestão dos recursos naturais presentes no território de domínio comunitário.

O Fundo Internacional de Desarollo Agrícola (FIDA) 2009 ressalta que

entre as práticas de gestão participativas que envolvem comunidades, as

metodologias e ferramentas relacionadas aos mapeamentos participativos são as

que mais cresceram nos últimos vinte anos. Nesse contexto, há inúmeros

questionamentos relativos à validade desses mapas no universo da Cartografia, por

serem um tipo de produção cartográfica não atribuída a instituições formais de

ensino ou governamentais, e também se todos os mapas participativos podem ser

considerados de fato participativos.

Nesse contexto é importante analisar os mapeamentos participativos

biorregionais produzidos pelo grupo Maricultura Familiar Solidária – Marsol – no

intuito de observar se as metodologias e ferramentas os classificam como

mapeamentos de fato participativos e no que tange ao âmbito da Cartografia se as

suas características dos seus produtos são passíveis de serem classificados

enquanto mapas da Cartografia e mapas temáticos.

Assim sendo, baseado na literatura especifica vinculada à Cartografia, os

mapas participativos biorregionais desenvolvidos pelos Marsol podem sem

considerados de fato mapas, pois eles são instrumentos de linguagem que

comunicam, orientam, localizam e informam, pois para Martinelli (2008), os mapas

têm as funções de comunicação, orientação, localização e de informação. Na visão

de Oliveira (1993) os mapas são saberes construído de forma social, um produto

social e uma comunicação representada graficamente. Segundo Cosgrove (2003

apud NOGUEIRA 2009), os mapas são representações gráficas do meio que

incluem aspectos culturais e físicos do ambiente, incluindo representações mentais

que não são explicitas de forma concreta no espaço geográfico. O que reforça a

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ideia dos mapeamentos participativos biorregionais serem considerados mapas, pois

eles representam graficamente o meio, são produtos de uma construção social e

incluem nas suas representações manifestações não presentes concretamente no

espaço geográfico como aspectos culturais diversos das comunidades tradicionais.

Além disso, aos mapas biorregionais podem ser-lhes atribuídos à

classificação de mapas da Cartografia, pois na visão de Nogueira (2009) os mapas

ditos da Cartografia representam elementos selecionados de um determinado

espaço geográfico, utilizando-se de simbologias e projeção cartográfica oriundas das

bases cartográficas utilizadas. Ainda nesse sentido, a autora reforça que as

características básicas dos mapas da Cartografia são: localização, atributos, escala

e projeção cartográfica.

Dessa maneira, os mapas participativos biorregionais podem não ser

somente classificados enquanto mapas, mas também inseridos no grupo dos mapas

da Cartografia, pois nas suas estruturas estão presentes as escalas, as localizações,

os atributos e todos são dotados de projeção cartográfica que são, segundo

Nogueira (2009,p.31) elementos cartográficos pertencentes aos mapas

denominados da Cartografia. Esta distinção entre mapas e mapas da Cartografia se

torna importante na análise dos mapas biorregionais desenvolvidos pelo grupo

Marsol, pois como é relatado por Nogueira (2009, p.31), o termo mapeamento e

mapa assumiram diferentes significados e uso dentro da sociedade, devido ao

desenvolvendo de diferentes produtos que se utilizam das nomenclaturas mapas ou

mapeamento, mas que apresentam características distintas dos produtos (mapas)

desenvolvidos pela Cartografia ciência interdisciplinar que realiza diálogos com

diversos ramos da ciência.

Ainda em termos de característica, os atributos estão presentes nos

mapas biorregionais, pois eles são classificados por Nogueira (2009) como a

variação temática e nos biorregionais são apresentadas diferentes abordagens

temáticas como: religião, história, cultura e entre outros. Nesse sentido, os mapas

biorregionais podem ser considerados mapas, pois são:

Instrumentos de linguagem.

Comunicam, orientam, localizam e informam.

São construídos socialmente e são produtos sociais.

São representações gráficas do meio.

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Além disso, em aspectos pontuais, os mapas participativos biorregionais

podem ser considerados mapas da Cartografia, pois também apresentam:

Representações de determinados espaços geográficos.

Escala.

Atributos (variação temática)

Localização.

As características atribuídas aos mapas temáticos também são

encontradas nos mapas participativos biorregionais. Os mapas temáticos são

classificados em qualitativos e quantitativos (Nogueira 2009), sendo que os

qualitativos apresentam a distribuição espacial e localização dos fenômenos. Os

mapas biorregionais podem ser classificados como mapas temáticos qualitativos,

pois nele há a distribuição e localização espacial dos fenômenos nos espaço

geográfico como: áreas urbanas, manifestações culturais, áreas de extrativismos de

diferentes tipos e entre outros aspectos do modo de vida das comunidades

tradicionais. No qual, todo fenômeno representado pelos mapas são localizados com

o auxilio das coordenadas geográficas.

Ainda nas acepções teóricas relativas aos mapas temáticos, eles também

são compreendidos, na concepção de Oliveira (1993), como mapas representados

em diversas escalas sobre um fundo geográfico básico, ou seja, um mapa-base ou

base cartográfica. Sendo assim, como os mapeamentos participativos biorregionais

possuem uma variação escalar nos seus diferentes produtos e suas representações

espaciais são feitas sobre bases cartográficas oriundas de imagens de satélite e/ou

ortofotos. Estas acepções teóricas sobre os mapas temáticos reforçam a ideia dos

mapas biorregionais produzidos pelo Marsol serem classificados também enquanto

mapas temáticos.

Fitz (2000) corrobora com a mesma compreensão de Oliveira (1993) de

que os mapas temáticos são mapas que representam determinados aspectos e

temas sobre um tipo de mapa-base. Ainda nesse sentido, os mapas temáticos

utilizam-se de diversas simbologias para a representação espacial dos fenômenos

distribuídos na superfície terrestre. Sendo que para Fitz (2000) qualquer mapa que

não seja uma “mera representação do terreno”, pode ser considerado um mapa

temático. Além disso, o autor coloca que nos mapas temáticos estão presentes os

seguintes elementos: título, convenções utilizadas, base cartográfica, as referências,

indicação da direção norte, a escala, sistema de projeção e sistemas de

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coordenadas. Nesse sentido, os mapas participativos biorregionais podem ser

considerados temáticos, pois possuem as seguintes características:

São qualitativos (representação espacial e localização dos fenômenos)

Escalas de representações.

Variações temáticas.

Simbologias.

Título.

Escala.

Referências (autores e fontes).

Indicação do norte.

Sistema de coordenadas.

O único item pertencente aos mapas temáticos que não são encontrados

nas informações nos produtos finais dos mapas biorregionais são os sistemas de

projeções cartográficas que são utilizados nas bases cartográficas utilizadas

(imagem de satélite e ortofoto). Entretanto, esse déficit informacional não

compromete a classificação dos produtos do Marsol enquanto a serem classificados

como mapas temáticos.

Os mapeamentos participativos são aqueles que reconhecem o

conhecimento ambiental e espacial das comunidades e os insere em modos mais

tradicionais de conhecimento, segundo as concepções de Herlihy e Knapp (2003

apud ACSERALD & COLI 2008), ainda nesse sentido os mapas participativos estão

associados a métodos de pesquisas colaborativas. Ainda sendo, por meio das

análises das etapas construtivas dos mapeamentos biorregionais é possível analisar

se os mesmos podem ser considerados mapas participativos a partir de critérios

adotados que determinam se os mapas podem ser considerados participativos ou

não.

Segundo a concepção de Tetamanti (2012), os mapeamentos

participativos são construídos de forma coletiva, participativa e horizontal. Sendo

assim, analisando as metodologias construtivas do mapeamento biorregional

observamos que em todas as suas etapas, os membros comunitários são inseridos e

constroem diretamente com a orientação dos alunos e docentes da universidade.

Sendo, a etapa de escolha da base cartográfica a única que não envolve a

comunidade de forma direta ou indireta.

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Acserald & Coli (2008) coloca que os métodos utilizados nos mapas

participativos, em alguns casos, mesclam-se com a utilização das tecnologias

ligadas ao Sensoriamento Remoto. Isto é observado em três das etapas do trabalho

do Marsol: a escolha da base cartográfica, compilação da base cartográfica e a

orientação de norte. Estas etapas envolvem diretamente a utilização de imagens de

satélite e ortofotos.

Ainda na associação em metodologias utilizadas nos mapeamentos

participativos, que se utilizam do sensoriamento remoto e divulgadas

internacionalmente, o mapeamento biorregional, em sua metodologia construtiva,

assemelha-se com a metodologia denominada de foto-mapa, exemplificada por

Acserald & Coli (2008, p.21). No qual, os autores revelam que o foto-mapa são

impressões de fotografias aéreas (ortofotos) “que são corrigidas geometricamente e

dotadas de referências geográficas”. Sendo “os mapas de ortofotografias

constituídos de uma fonte de dados precisos, obtidos por sondagem remota, que

podem ser utilizados para projetos cartográficos comunitários de grande escala”.

Deste modo, os membros da comunidade podem delinear o uso de terras e outras

características significativas em transparências sobrepostas no foto-mapa

(ACSERALD & COLI, 2008 p.21).

Esta metodologia divulgada internacional é extremamente semelhante a

metodologia adotada pelo grupo Marsol, pois os mapas participativos em questão

são desenvolvidos por meio de bases cartográficas oriundas de imagens de satélite

ou ortofotos que passam pelo processo de compilação, a partir de informações que

são definidas como importantes para os membros da comunidade em relação aos

seus modos de vida, usos da terra e aspectos culturais em seus diferentes sentidos

e posteriormente estas informações são inseridas de uma forma georreferenciada.

Os mapas participativos, assim como qualquer outro tipo de mapa,

apresentam informações espaciais utilizando diferentes escalas. Representando

informações detalhadas sobre os tamanhos dos territórios das comunidades, rios,

infraestrutura, modos de vida e etc. O FIDA (2009, p.9) coloca que os mapas

participativos seguem determinadas características que os identificam. Seriam

característicos dos mapas participativos produtos que representem o ideário da

comunidade, são desenvolvidos pela própria comunidade e apresentam informações

que são importantes para as necessidades comunitárias e tenham o objetivo de uso

para tentar trazer soluções para as questões problemáticas.

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Ainda na compreensão das características dos mapas participativos,

segundo os critérios do FIDA (2009, p.12), eles possuem em seus conteúdos

informações sobre lugares e aspectos do modo de vida e cultura das comunidades

locais, sendo representados em diversos tipos de escalas por meio de símbolos,

nomes particulares que remetem ao sistema de conhecimentos locais.

Os mapas biorregionais demonstram, ao analisar os critérios do FIDA

(2009), que definem os mapas enquanto participativos ou não, em conjunto com as

etapas de desenvolvimento que são aplicadas na construção dos seus produtos, o

seu caráter participativo. A descrição das suas etapas, junto aos produtos finais

elaborados (mapas biorregionais) das comunidades do Vale do Iguape, que foram

analisados tendo como ponto principal à análise dos elementos técnicos

cartográficos de composição de um mapa temático permite afirmar que as

características que definem um mapa como participativo estão presentes nos mapas

construídos pelo projeto de pesquisa Marsol. Nos mapas do território quilombola do

Vale do Iguape há representações espaciais que apresentam o ideário das

comunidades envolvidas (Kaonge, Dendê, Kalembá, Engenho da Ponte, Engenho

da Praia) por meio das suas histórias, modos de vida e produção, atividades e

manifestações culturais, utilizando linguagens e simbologias que fazem alusões

diretas à compreensão e entendimento das comunidades tradicionais quilombolas

sobre os aspectos sociais e naturais que abarcam o seu território.

Nesse contexto, baseando-se na literatura referente a mapas

participativos, podemos classificar os mapas biorregionais desenvolvidos pelo

Marsol como participativos, pois neles existem as seguintes características:

Apresentam construções participativas, horizontais e coletivas.

Apresentam metodologias participativas com tecnologias do Sensoriamento

Remoto.

Apresentam metodologias de construção dos mapas semelhantes às

desenvolvidas internacionalmente (foto-mapa).

Apresentam informações espaciais em diferentes escalas.

Apresentam informações socioculturais sobre as comunidades.

Apresentam linguagens e simbologias que são características das

comunidades.

Apresentam o sistema de conhecimentos locais sobre o seu território.

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6 CONCLUSÃO

As revisões de literatura relativas à Cartografia tradicional, ciência

interdisciplinar, auxiliado a um levantamento bibliográfico sobre a Cartografia

Participativa, as descrições relativas às etapas de construção dos mapeamentos

biorregionais desenvolvidos pelo projeto de pesquisa e extensão Maricultura Familiar

Solidária (Marsol) – pesquisa sobre o seu histórico de trabalho, análise das

metodologias e produtos – permitiram desenvolver as seguintes conclusões relativas

ao seu caráter participativo e suas características cartográficas:

Em um contexto geral a cartografia participativa é utilizada no intuito de

fortalecimento de grupos sociais que são desfavorecidos socialmente,

apresentando perda dos seus territórios, dos aspectos culturais, da identidade

e costumes tradicionais. As comunidades quilombolas do Vale do Iguape, por

meio do mapeamento biorregional desenvolvido pelo Marsol, passaram a

utilizar os mapas para uma melhor gestão do território. Identificando

problemas enfrentados dos recursos naturais disponíveis no território –

principalmente os recursos hídricos – e trabalhos de fortalecimento cultural

por meio de atividades em escolas e a promoção do turismo étnico com a

atividade denominada Rota da Liberdade.

A cartografia participativa possui diversos tipos de ferramentas e

metodologias que são desenvolvidas e aplicadas de acordo com as

necessidades encontradas nos territórios onde são aplicadas e os contextos

sociopolíticos são motivos de dificuldades para a publicação sobre esses tipos

de iniciativas. O projeto de pesquisa e extensão Marsol encontra dificuldades

– na maioria dos seus trabalhos - na utilização posterior dos mapas pelas

comunidades. A falta de compreensão dos membros comunitários em como

utilizar as ferramentas elaboradas em conjunto com o Marsol, acaba por

deixar – em grande parte – os mapas sem usos posteriores. Sendo assim,

apesar do processo construtivo mostra-se participativo utilizando-se do

sensoriamento remoto – imagens de satélite e/ou ortofotos – para uma melhor

compreensão do espaço geográfico pela comunidade no reconhecimento e

identificação do seu território, a má formação básica do ensino dos membros

comunitários é um fator de dificuldade na compreensão das metodologias

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aplicadas, principalmente no que tange a compreensão dos elementos

técnicos da cartografia como escala e coordenadas geográficas.

Os mapas participativos são desenvolvidos de forma horizontal, participativo e

coletivo. Apresentando em seus produtos o conhecimento das comunidades

locais sobre os aspectos ambientais e sociais do espaço por meio de

simbologias e linguagens características desses grupos sociais. Trazendo em

seus conteúdos informações que são consideradas importantes para os

membros da comunidade;

Os mapeamentos participativos são instrumentos que buscam o diagnóstico

dos territórios das comunidades procurando promover a sustentabilidade das

atividades produtivas nas comunidades. Incentivando também a conservação

ambiental, a redução de conflitos de uso dos territórios produtivos, o aumento

da participação social em espaços de regulação e a fiscalização institucional.

Nesses aspectos, a comunidade localizada no município de Taperoá

conhecida como “Baixinha” foi a que se utilizou dos mapeamentos

participativos biorregionais para dialogar com órgãos ambientais no estado da

Bahia responsáveis pelo uso e concessão das águas para o cultivo de ostras.

Os mapas biorregionais da “Baixinha” foram apresentados aos técnicos do

Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e os seus conteúdos

abordavam informações e especificações técnicas sobre a área de pesca,

área de cultivo, tipos de cultivos, principais espécies pescadas (nomes

científicos e tradicionais) e as características sócio ambientais do território da

comunidade.

Os mapas biorregionais são participativos e integrantes do grupo de mapas

da Cartografia Participativa, pois em suas etapas de construção a

participação das comunidades é efetiva mostrando que os seus produtos são

uma construção social realizada de forma horizontal, participativa e coletiva;

Os mapas biorregionais são participativos, pois apresentam em seus

conteúdos os conhecimentos das comunidades por meio da apresentação

dos seus lugares, costumes, cultura, manifestações, atividades de uso e

modos de vida. Utilizando de linguagens e simbologias que retratam as

características particulares das comunidades e trazem a sistematização dos

seus conhecimentos.

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2000.

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para educação ambiental. Disponível em: <http://marsol-

ufba.blogspot.com.br/p/acc-mapeamento-biorregional.html>. Acesso em: 02 de

fevereiro de 2014.

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janeiro de 2014.

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TETAMANTI, Juan Manuel Diez. Cartografía Social: investigaciones e

intervención desde la ciencias sociales: métodos y experiencias de aplicacion.

Rivadavia: Universitaria de la Patagonia, 2012.