mapeamento do uso da terra na microbacia...

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II Simpósio Brasileiro de Geomática Presidente Prudente - SP, 24-27 de julho de 2007 V Colóquio Brasileiro de Ciências Geodésicas ISSN 1981-6251, p. 859-865 A. Moreira; A. Cirolini; R. Cassol; R. Spironello MAPEAMENTO DO USO DA TERRA NA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO LAJEADO GUAMERIM, MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL DO OESTE - SC ANDREISE MOREIRA ANGÉLICA CIROLINI ROBERTO CASSOL ROSANGELA SPIRONELLO Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Centro de Ciências Naturais e Exatas - CCNE Departamento de Geociências - GCC Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPG {andreisem, acirolini, rtocassol, rspironello}@gmail.com RESUMO - O presente trabalho teve por objetivo analisar de forma integrada os elementos que compõem o espaço geográfico da microbacia do Lajeado Guamerim, município de São Miguel do Oeste – SC, através do mapeamento do uso da terra, utilizando dados oriundos de imagem de satélite CBERS. Para efetivação dos trabalhos e aprofundamento em relação ao objetivo proposto, fundamentou-se a pesquisa a partir da abordagem sistêmica. Metodologicamente a pesquisa foi construída baseada na proposta de Libault (1971). Posterior à elaboração dos mapas temáticos, passou-se à análise dos dados. Através do trabalho de campo e elaboração da carta de uso da terra, problemáticas ambientais puderam ser identificadas e analisadas, como: canalização e assoreamento dos cursos de água, culturas em APP e contaminação por dejetos de suínos. A partir desta análise algumas propostas foram sugeridas para a adequação do uso da terra na microbacia em estudo. ABSTRACT - The current work had for objective to analyze in an integrated way the elements that compose the geographical space of the micro basin of Lajeado Guamerim, municipal district of São Miguel do Oeste – SC, through the mapping of the use of the earth, using data originating from CBERS satellite image. For the accomplishment of the works and deepening in relation to the proposed objective, the research was based starting from the systemic approach. Methodologically the research was built based on the proposal of Libault (1971). Subsequent to the elaboration of the thematic maps, the analysis of the data took place. Through the field work and elaboration of the letter of use of the earth, environmental problems could be identified and analyzed, as canalization and obstruction of the courses of water, cultures in APP and contamination by dejections of swine. Starting from this analysis some proposals were suggested for the adaptation of the use of the earth in the studied micro basin. 1 INTRODUÇÃO As intervenções causadas pelo homem no espaço geográfico, em especial na paisagem natural, na busca de saciar as crescentes necessidades da sociedade, têm criado diversos conflitos quanto ao uso desse espaço e de seus recursos naturais. Os modelos econômicos adotados, na sua grande maioria, têm sua base fundamentada no sistema capitalista, o qual busca abarcar lucros em larga escala e num curto espaço de tempo, impondo ao meio ambiente, graves conseqüências. Destas, pode-se destacar: o desmatamento, a poluição e contaminação de nascentes e rios por dejetos de animais e agrotóxicos, uso e ocupação de áreas de preservação e conservação permanente, erosão dos solos, destino inadequado de resíduos sólidos e líquidos do espaço urbano e de indústrias, entre outros. Tais problemáticas podem ser observadas no meio rural e, também, no meio urbano, isso se deve principalmente a expansão industrial e a modernização agropecuária fundamentada nos modos de produção capitalista, alavancados em nosso país, principalmente a partir da década de 70 do século XX, os quais passaram a sustentar as bases da produção, distribuição e comercialização de produtos e serviços. Ao mesmo tempo em que foram responsáveis pelo acelerado processo de concentração populacional gerado pela “oferta” de emprego proporcionado pelas indústrias, fez com que milhões de pessoas abandonassem as áreas rurais e se estabelecessem nas cidades, gerando

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II Simpósio Brasileiro de Geomática Presidente Prudente - SP, 24-27 de julho de 2007

V Colóquio Brasileiro de Ciências Geodésicas ISSN 1981-6251, p. 859-865

A. Moreira; A. Cirolini; R. Cassol; R. Spironello

MAPEAMENTO DO USO DA TERRA NA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO LAJEADO GUAMERIM, MUNICÍPIO DE SÃO

MIGUEL DO OESTE - SC

ANDREISE MOREIRA ANGÉLICA CIROLINI

ROBERTO CASSOL ROSANGELA SPIRONELLO

Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Centro de Ciências Naturais e Exatas - CCNE

Departamento de Geociências - GCC Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPG

{andreisem, acirolini, rtocassol, rspironello}@gmail.com

RESUMO - O presente trabalho teve por objetivo analisar de forma integrada os elementos que compõem o espaço geográfico da microbacia do Lajeado Guamerim, município de São Miguel do Oeste – SC, através do mapeamento do uso da terra, utilizando dados oriundos de imagem de satélite CBERS. Para efetivação dos trabalhos e aprofundamento em relação ao objetivo proposto, fundamentou-se a pesquisa a partir da abordagem sistêmica. Metodologicamente a pesquisa foi construída baseada na proposta de Libault (1971). Posterior à elaboração dos mapas temáticos, passou-se à análise dos dados. Através do trabalho de campo e elaboração da carta de uso da terra, problemáticas ambientais puderam ser identificadas e analisadas, como: canalização e assoreamento dos cursos de água, culturas em APP e contaminação por dejetos de suínos. A partir desta análise algumas propostas foram sugeridas para a adequação do uso da terra na microbacia em estudo. ABSTRACT - The current work had for objective to analyze in an integrated way the elements that compose the geographical space of the micro basin of Lajeado Guamerim, municipal district of São Miguel do Oeste – SC, through the mapping of the use of the earth, using data originating from CBERS satellite image. For the accomplishment of the works and deepening in relation to the proposed objective, the research was based starting from the systemic approach. Methodologically the research was built based on the proposal of Libault (1971). Subsequent to the elaboration of the thematic maps, the analysis of the data took place. Through the field work and elaboration of the letter of use of the earth, environmental problems could be identified and analyzed, as canalization and obstruction of the courses of water, cultures in APP and contamination by dejections of swine. Starting from this analysis some proposals were suggested for the adaptation of the use of the earth in the studied micro basin.

1 INTRODUÇÃO

As intervenções causadas pelo homem no espaço geográfico, em especial na paisagem natural, na busca de saciar as crescentes necessidades da sociedade, têm criado diversos conflitos quanto ao uso desse espaço e de seus recursos naturais.

Os modelos econômicos adotados, na sua grande maioria, têm sua base fundamentada no sistema capitalista, o qual busca abarcar lucros em larga escala e num curto espaço de tempo, impondo ao meio ambiente, graves conseqüências. Destas, pode-se destacar: o desmatamento, a poluição e contaminação de nascentes e rios por dejetos de animais e agrotóxicos, uso e ocupação de áreas de preservação e conservação permanente, erosão

dos solos, destino inadequado de resíduos sólidos e líquidos do espaço urbano e de indústrias, entre outros.

Tais problemáticas podem ser observadas no meio rural e, também, no meio urbano, isso se deve principalmente a expansão industrial e a modernização agropecuária fundamentada nos modos de produção capitalista, alavancados em nosso país, principalmente a partir da década de 70 do século XX, os quais passaram a sustentar as bases da produção, distribuição e comercialização de produtos e serviços.

Ao mesmo tempo em que foram responsáveis pelo acelerado processo de concentração populacional gerado pela “oferta” de emprego proporcionado pelas indústrias, fez com que milhões de pessoas abandonassem as áreas rurais e se estabelecessem nas cidades, gerando

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problemáticas ambientais tanto no meio rural como urbano.

No meio rural, o processo de modernização fez com que os agricultores abandonassem as formas tradicionais de produzir, adotando em seu lugar um pacote tecnológico que modificou praticamente em toda sua totalidade as formas de produção agrícola, em função da introdução de maquinários e insumos que dispensavam a utilização de mão-de-obra familiar nas propriedades agrícolas. Com isso, os pequenos agricultores que possuíam pequenas áreas de terras não conseguiram acompanhar nem se adequar às exigências do novo modelo tecnológico imposto pelas indústrias, apoiadas pelo Estado. Os mesmos venderam suas terras e partiram em direção as cidades na busca por melhores condições de vida e oportunidades de trabalho.

Enquanto que, nas cidades o processo de industrialização fez com que muitas pessoas, atraídas pela oferta de emprego oferecida pelas indústrias, abandonassem o campo e passassem a viver nos centros urbanos. Desta forma, durante e após esse período, outros setores da economia também se desenvolveram contribuindo para um acelerado e desordenado crescimento urbano.

Assim, no meio rural e no meio urbano problemáticas ambientais foram se desenvolvendo ao longo do processo de ocupação e uso destes espaços geográficos. Para tanto, tem-se na área delimitada, a microbacia hidrográfica do Lajeado Guamerim, localizada no município de São Miguel do Oeste – SC, os componentes necessários para um melhor entendimento do processo de ocupação e exploração do espaço geográfico regional e também local.

Para que houvesse um melhor entendimento e desenvolvimento do trabalho, a fundamentação teórica baseou-se na Cartografia e no uso de técnicas de geoprocessamento, uma vez que, a utilização de produtos cartográficos, em especial nas pesquisas ambientais, é fundamental para a sistematização do conhecimento geográfico.

Neste sentido, tem-se nos mapas instrumentos de pesquisa que servem de apoio para o planejamento adequado do espaço geográfico, seja ele local ou regional. Como instrumento de trabalho, o planejamento ambiental, para áreas agrícolas e urbanas, torna-se fundamental para análise do espaço local, pois permite maior conhecimento do espaço natural e da ação humana sobre este.

Diante do exposto, a pesquisa teve como objetivo geral, analisar de forma integrada os elementos que compõem o espaço geográfico da microbacia hidrográfica do Lajeado Guamerim, São Miguel do Oeste – SC, através do mapeamento de uso da terra, com base em dados oriundos de imagem de satélite CBERS, objetivando após a elaboração dos mapas temáticos, analisar e identificar possíveis problemáticas ambientais, visando apontar alternativas de uso e adequação para o espaço estudado, no intuito de recuperar as áreas degradadas e/ou preservar as áreas ainda intocadas.

2 PLANEJAMENTO AMBIENTAL E PRODUTIVO EM MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS

A necessidade de elaboração de projetos

ambientais no intuito de planejar o espaço através de ações de manejo voltadas ao uso adequado dos recursos naturais disponíveis e a recuperação de áreas degradadas, de modo a assegurar o bem-estar das comunidades humanas se faz de grande valia no interior de bacias e microbacias hidrográficas.

Tomada como unidade de análise na abordagem sistêmica, é possível em seu interior planejar, coordenar, executar e manejar as melhores formas de apropriação e exploração dos recursos ambientais disponíveis. Destes, podem-se destacar os recursos minerais, florestais, agropecuários, hídricos, entre outros, proporcionando o desenvolvimento socioeconômico das suas respectivas populações e a sustentabilidade dos recursos ambientais, diminuindo ou evitando a degradação da qualidade de vida.

Utilizando a microbacia como objeto de estudo, esta permite analisar e interpretar dados e informações de forma integrada, onde em seu espaço, os elementos físicos e também sociais se relacionam, possibilitando seu uso como instrumento de gestão ambiental, para a implantação de diferentes ações de planejamento e manejo.

Desta forma, diferentes são os conceitos utilizados para bacias e microbacias hidrográficas. A microbacia, entendida como uma sub-divisão da bacia hidrográfica, é definida por Seiffert (1996), como uma unidade natural da superfície da terra, sobre a qual é coletada a água de precipitação (chuva, neve, nevoeiro, granizo e orvalho) e que escoa para um canal de drenagem, que dirige-se a um ponto de saída comum, no qual a água passa a integrar um outro corpo líquido (rio, lago, pântano, represa, oceano). Pode ser pequena (0,5 ha) ou extensa (10.000 ha) e embora seja uma unidade geográfica estática, do ponto de vista hidrológico é uma superfície dinâmica.

Em geral, as bacias e microbacias hidrográficas apresentam as características necessárias para o desenvolvimento de planejamentos ambientais e adequação de uso, uma vez que mantêm em seu interior aspectos físicos, sociais e econômicos, permitindo uma análise integrada e holística destes aspectos.

Para tanto, o planejamento ambiental, constitui-se de uma importante ferramenta na tomada de decisões voltadas ao manejo e recuperação de áreas degradadas em bacias e microbacias hidrográficas. Sob uma perspectiva de análise sistêmica, Christofoletti (2002), considera que o planejamento ambiental envolve-se com programas que utilizam os sistemas ambientais, como elemento condicionante de planos sejam eles em escala local, regional e nacional. Focalizando os ecossistemas e/ou geossistemas, as análises ambientais permitem efetuar estudos numa perspectiva ecológica e/ou geográfica.

O uso da bacia hidrográfica como unidade de estudo e gestão ambiental permite o gerenciamento das diferentes formas de ocupação e o uso de suas

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potencialidades ambientais, visando a manutenção e também a recuperação de áreas degradadas, no intuito de proporcionar uma melhor qualidade de vida ambiental e também social em seu interior.

Nessa perspectiva, o governo do estado de Santa Catarina criou, em 1991, o projeto Microbacias I, com o objetivo de promover a melhoria da qualidade de vida da população por meio de ações integradas que visam ao desenvolvimento econômico, ambiental e social do meio rural catarinense, de forma sustentável e com a efetiva participação dos agricultores e órgãos públicos.

Esse projeto foi concluído no ano de 1999, porém, objetivando dar continuidade na manutenção e melhoria da qualidade de vida da população rural deu-se início, em 2002, ao projeto Microbacias II, o qual visa a promover o desenvolvimento sustentável nas propriedades rurais, envolvendo a participação dos pequenos agricultores, empregados rurais e comunidades indígenas, tendo a microbacia hidrográfica como unidade de trabalho. O projeto será executado em 879 microbacias hidrográficas do estado de Santa Catarina e atenderá a um número de 105 mil famílias, com duração de 6 anos, tendo sua fase conclusiva no ano de 2008.

Projetos deste porte são necessários e importantes, pois, levando-se em conta a atual realidade ambiental da região Extremo Oeste de Santa Catarina, observa-se que esta sofre com a poluição por dejetos animais, domésticos e industriais, como também com o processo de desmatamento próximo às nascentes e ao longo dos cursos d’água entre outros.

Desta maneira, a elaboração de projetos que visem um planejamento adequado ao uso e manejo de bacias e microbacias hidrográficas se torna uma necessidade cada vez mais constante no que se refere à implantação de formas alternativas de conservação do meio ambiente, visando a uma relação coerente entre ambiente “sustentável” e o desenvolvimento econômico local e regional.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E TÉCNICOS

Procurando atender aos objetivos da pesquisa, a

metodologia esteve baseada nos trabalhos de Libault (1971), o qual aborda “Os quatro níveis da pesquisa

geográfica”, sendo: Nível Compilatório, Nível Correlatório, Nível Semântico e Nível Normativo.

Na fase inicial dos trabalhos da pesquisa (Nível Compilatório), foram realizados os trabalhos de seleção da área de estudo, levantamento bibliográfico e o desenvolvimento do referencial teórico.

A escolha da microbacia do Lajeado Guamerim, para a efetivação do diagnóstico ambiental, com análise da área e levantamento das problemáticas ambientais, se deu, uma vez que a microbacia possui suas nascentes localizadas na área urbana da cidade de São Miguel do Oeste – SC, apresentando parte de seus afluentes canalizados e os que estão sem canalização encontram-se desprotegidos, sem mata ciliar, o que fere o Código

Florestal em seu Artigo 2º. Ainda, destaca-se a ausência de estudos envolvendo a temática ambiental em todo o município e também na região Oeste do estado de Santa Catarina.

Procurando analisar de forma integrada os elementos que compõem o espaço geográfico da microbacia em estudo, optou-se por elaborar diferentes mapas temáticos: mapa base, carta da rede hidrográfica, carta de uso da terra 2005 e carta clinográfica a partir do software Spring 4.2.

3.1 Elaboração Mapa Base/ Carta da Rede Hidrográfica

Para delimitar a área de estudo elaborou-se o mapa

base, utilizando-se cartas topográficas da DSG (Diretoria do Serviço Geográfico do Exército), na escala 1:50.000.

Assim, para obter o mapa base digital, as cartas topográficas (São Miguel do Oeste e Descanso) foram transferidas do modo analógico para digital raster via scanner. Em meio digital, fez-se o mosaico das cartas topográficas com o programa Computacional Adobe

Photoshop. No aplicativo Impima do SIG Spring fez-se a mudança do arquivo TIFF para GRIB e no Programa Computacional Spring 4.2 realizou-se o registro (georreferenciamento) da imagem para, posteriormente, fazer a digitalização via tela do computador, dos seguintes planos de informação: limite da área, estradas, rede de drenagem e área urbana. A diagramação do mapa foi realizada por meio do aplicativo Scarta do SIG Spring e Corel DRAW 12.

3.2 Elaboração da Carta de Uso da Terra A carta de uso e ocupação da terra foi elaborada

em meio digital, com base na imagem de satélite CBERS, datada de 15/11/2005, bandas 2, 3 e 4. A composição 2, 3 e 4 foi escolhida por discriminar de maneira clara os limites entre as classes. A referida imagem foi adquirida no Laboratório de Hidrogeologia da Universidade Federal de Santa Maria - RS. A aquisição da imagem nesta data justifica-se por ser uma das imagens mais recentes, e praticamente sem a presença de nuvens.

Para realizar a classificação digital de imagens, inicialmente, realizou-se o georreferenciamento da imagem, utilizando 18 pontos de controle. Em seguida, na classificação da imagem, optou-se pela classificação digital supervisionada, e parâmetros estatísticos de Máxima Verossimilhança com classificação “pixel a pixel”. Nessa, partiu-se, inicialmente, coletando amostras sobre a área a ser classificada, sendo que as mesmas serviram de base para que o programa realizasse a classificação.

As classes de uso da terra foram estabelecidas com base no objetivo do trabalho, o qual visa identificar os principais usos da terra encontrados na área em estudo (Figura 1). Para tal, efetuou-se, inicialmente, um trabalho de campo prévio para a identificação dos diferentes tipos de uso da terra. Assim, foram definidas dentro da unidade

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simples de mapeamento, cinco classes de uso da terra, sendo elas: Florestas, Culturas, Campos, Águas e Área Urbana. Finalmente, vencida a etapa de classificação, partiu-se para a edição (toponímia) do mapa no Aplicativo Scarta 4.2 e, posteriormente, no Corel Draw 12.

Figura 1 – Carta de Uso da Terra da Microbacia Hidrográfica do Lajeado Guamerim, município de São Miguel do Oeste – SC – 2005.

3.3 Carta Clinográfica

Para elaborar a carta clinográfica foram

consideradas as classes de declividade sugeridas por De Biasi (1992), sendo: < 5%, 5-12%, 12-30%, 30-47% e > 47%, conforme Figura 2. O mesmo autor recomenda que se utilizem as classes de declividade já estabelecidas por leis para os diferentes usos e ocupação territorial.

Assim, diante da realidade da área de estudo, optou-se em manter as classes de declividade estabelecidas, conforme exposto acima. Assim, com as classes já definidas e conhecendo a eqüidistância entre as curvas de nível, partiu-se para a construção do ábaco, seguindo a metodologia proposta por De Biasi (1992).

Desta maneira, a carta clinográfica foi inicialmente elaborada no modo analógico com uso do ábaco de declividade. Posteriormente, foi transferida para o meio digital com o uso de scanner. Em meio digital, no aplicativo Impima, do SIG Spring, fez-se a mudança do arquivo TIFF para o GRIB, realizando no Spring 4.2 o registro (georreferenciamento) da imagem para, então,

fazer a digitalização, via tela do computador, dos planos de informação que correspondem a cada classe de declividade. A área de abrangência de cada classe de declividade foi obtida através da operação medição de área, em hectares. A edição do mapa foi realizada por meio do aplicativo Scarta do SIG Spring 4.2 e Corel

DRAW 12.

Figura 2 – Carta Clinográfica da Microbacia Hidrográfica do Lajeado Guamerim, município de São Miguel do Oeste – SC. 4 RESULTADOS

O levantamento e classificação de uso da terra em diferentes áreas de abrangência, como estado, região ou município, é de fundamental importância e possibilita a elaboração de análises detalhadas e a compreensão dos padrões de organização nesses espaços. Objetivando conhecer e também compreender como se dá a organização, utilização e manejo do uso da terra no município de São Miguel do Oeste – SC definiu-se e delimitou-se a microbacia hidrográfica do Lajeado Guamerim como área de estudo. Para a efetivação dos trabalhos e obtenção dos resultados, elaborou-se a carta de uso da terra de 2005 e a carta de declividade da microbacia hidrográfica do Lajeado Guamerim. Utilizando-se desses produtos cartográficos, possíveis problemáticas ambientais

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puderam ser identificadas, levantadas, analisadas e discutidas. Assim, questionamentos e sugestões de recuperação da área em estudo foram trazidos à tona, objetivando a elaboração de um planejamento adequado à microbacia do Lajeado Guamerim, voltado à recuperação das áreas degradadas, bem como ao uso e manejo correto da terra. Para efetuar a classificação do uso da terra, cinco classes de uso foram previamente estabelecidas, de acordo com os objetivos e a bibliografia utilizada na pesquisa. Essas classes estão representadas por culturas, florestas, campos, água e área urbana. Desta maneira, a distribuição das classes de uso da terra na microbacia hidrográfica do Lajeado Guamerim, no município de São Miguel do Oeste – SC no ano de 2005 estão assim classificadas.

Classes Área (ha) %

Florestas 183,070 9,26

Campos 281,612 14,24

Culturas 1016,829 51,45

Área Urbana 485,082 24,54

Água 10,160 0,51

TOTAL 1.976,753 100

Quadro 1 – Classes de uso da terra na Microbacia Hidrográfica do Lajeado Guamerim, município de São Miguel do Oeste – SC – 2005.

Conforme levantamento realizado, a área representada por florestas compreende todos os tipos de vegetação arbórea, sendo: mata nativa, mata implantada (reflorestamentos), capoeira e capoeirões, os quais ocupam 183,070 ha, correspondendo a 9,26% da área total da microbacia. Pode-se observar na Figura 1, que nenhuma das nascentes do Lajeado Guamerim encontra-se protegida por mata nativa e/ou implantada. Ainda, em praticamente toda a extensão do curso d'água, pode-se perceber apenas algumas manchas de florestas.

Em sua maioria, toda a extensão próxima ao curso d'água do Lajeado Guamerim é utilizada para a produção agrícola, não respeitando os limites propostos no Código Florestal, caracterizando a ocupação e uso do solo na microbacia, principalmente, com a prática agrícola.

Nessa perspectiva, as áreas de campo ocupam uma área de 281,612 ha, ou seja, 14,24% do total da microbacia. As áreas de campo são representadas por todos os tipos de vegetação herbácea e subarbustiva, naturais ou implantadas. Essa área caracteriza-se, principalmente, pelo manejo do solo, ocupado com plantação de pastagens, as quais servem de alimento para o gado de corte e leiteiro, que representam uma das principais atividades agrícolas desenvolvidas no interior da microbacia.

A área coberta por culturas representa um total de 1.016,829 ha, correspondendo a 51,45% da área total da microbacia. As principais atividades destinadas ao cultivo agrícola são: milho, fumo, feijão, mandioca e cultivo de

árvores frutíferas como laranja e bergamota, as quais foram identificadas na realização do trabalho de campo.

A classe de uso da terra representada pela área urbana ocupa 485,082 ha, ou seja, 24,54% da área da microbacia. Tal representatividade se deve ao fato de que as nascentes da microbacia do Lajeado Guamerim e também de outros lajeados, encontram-se localizadas principalmente na área urbana do município de São Miguel do Oeste – SC. A ocupação desse espaço é decorrente do processo de colonização realizado por imigrantes, principalmente por descendentes de italianos, alemães, poloneses e outros, vindos do Rio Grande do Sul, no início do século XX. As áreas eram ocupadas, inicialmente, nos arredores das nascentes e ao longo do curso d'água dos lajeados existentes no município, hoje compreendido pela área urbana.

Em função da ocupação desordenada e, posteriormente, do processo de urbanização, essas nascentes e lajeados encontram-se parcial ou totalmente desprotegidos, sem nenhum tipo de cobertura vegetal. Sendo utilizados em sua maioria, para a produção agrícola, ou como depósito de lixo e para escoamento do esgoto produzido na área urbana.

Ainda de acordo com a Figura 1, pode-se observar que quatro nascentes do Lajeado Guamerim encontram-se localizadas no perímetro urbano do município de São Miguel do Oeste – SC, não havendo em torno destas nenhum tipo de cobertura vegetal. Isso demonstra que o processo de ocupação ocorreu sem nenhum tipo de orientação, agravando os impactos ambientais na microbacia em estudo. Com o avanço do processo de urbanização, muitas nascentes do Lajeado Guamerim foram aterradas e as que restaram encontram-se totalmente desprotegidas, tendo seu curso d'água canalizado. Acredita-se, por outro lado, que a falta de conhecimento e/ou instrução dos colonizadores, ou até mesmo por uma questão cultural, não se tinha uma consciência ecológica e uma percepção de que os recursos naturais poderiam se tornar finitos em tão curto espaço de tempo.

Outra classe de uso da terra que teve uma pequena representatividade foi a da água, ocupando 10,160 ha, ou seja, 0,51%, da área total da microbacia. Esta representa a área ocupada pelas nascentes, açudes e o curso d'água do Lajeado Guamerim, o qual se estende desde área urbana até a área rural, percorrendo, praticamente, todo o município de São Miguel do Oeste – SC.

Muito debatida na atualidade, a falta de água potável em várias regiões do mundo e também do Brasil, caracteriza uma das principais preocupações da sociedade atual. O uso inadequado e o desperdício de água, a falta de políticas públicas que visem a minimizar os impactos causados pela falta de saneamento básico, com tratamento adequado de água e esgoto, contribuiu e vem contribuindo de forma significativa para o aumento da falta de água potável, não somente para as famílias que residem na microbacia do Lajeado Guamerim, mas para toda a população que reside no município de São Miguel do Oeste - SC.

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De acordo com análises realizadas pelo Laboratório de Pesquisa e Diagnóstico em Microbiologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina, Campus de São Miguel do Oeste – SC, nos quais utilizaram-se amostras de águas residuais coletadas de esgoto de um hospital localizado no extremo Oeste de Santa Catarina, constatou-se que a água residual hospitalar apresenta-se contaminada por cepas de Escherichia coli resistentes a antimicrobianos. “Os valores referentes à presença de Escherichia coli, encontrados nas águas residuais foram considerados elevados, demonstrando níveis altos de resistência aos antimicrobianos” (NEGRI, 2005, p. 46). Isso significa que as águas residuais coletadas encontram-se contaminadas e são canalizadas diretamente para o curso d'água do Lajeado Guamerim, apresentando risco à saúde pública municipal.

Identificada essa problemática, faz-se necessário pensar políticas de planejamento que busquem solucionar esse e outros problemas aqui descritos, visando melhorias no tratamento de água e esgoto, bem como nas formas de manejo e uso da terra, no município de São Miguel do Oeste – SC.

Para melhor compreender a dinâmica de relações que se estabelece entre a sociedade e a natureza, no contexto da microbacia hidrográfica, elaborou-se a carta clinográfica.

A carta clinográfica é um produto muito utilizado em estudos ligados ao levantamento de uso da terra e também como método de análise, o qual auxilia no desenvolvimento de planejamentos para a organização do espaço. Quando associado à outros produtos cartográficos, contribui de forma significativa no desenvolvimento de pesquisas não só em nível local, mas também regional (SPIRONELLO, 2001).

A Figura 2 e a Tabela 2 apresentam a distribuição das classes de declividades, conforme a metodologia adotada por De Biasi (1992).

Classes (%) Área (ha) %

0 - 5 527,643 26,70

5 - 12 833,509 42,16

12 - 30 313,765 15,87

30 - 47 248,954 12,59

> 47 52,882 2,68

Total 1.976,753 100

Quadro 2 - Classes de declividades da microbacia do Lajeado Guamerim, no município de São Miguel do Oeste - SC.

Observando o Quadro 2, pode-se notar que a classe de declividade de 0 – 5%, ocupa um total de 527,643 ha, ou seja, 26,70% da área da microbacia. Esta distribui-se em todo o espaço da microbacia, mas principalmente ao longo de todo o curso do Lajeado Guamerim e em alguns pontos isolados, como: ao centro da microbacia e a

sudeste desta, podendo, assim, ser utilizada sem restrições.

A classe 5 – 12% ocupa uma área equivalente a 833,509 ha, ou 42,16% do total. Também, esta encontra-se distribuída de forma homogênea em toda a extensão da área da microbacia. Isso significa que a microbacia do Lajeado Guamerim possui uma grande área em que o uso e ocupação do espaço pode ser utilizado sem restrições, objetivando a ocupação do espaço, principalmente, com atividades agrícolas. Conforme a metodologia de De Biasi (1992, p. 47) nesta classe define-se “o limite máximo para o emprego da mecanização na agricultura”.

A classe de declividade 12 – 30% ocupa uma área de 313,765 ha, ou seja, 15,87% do total da microbacia hidrográfica em estudo. Percebe-se a presença desta, principalmente na área urbana do município de São Miguel do Oeste – SC. Com suave ondulação, a utilização destas áreas deve ser feita com algumas restrições, De Biasi (1992, p. 47) esclarece que nesta classe, define-se “[...] o limite máximo para urbanização sem restrições, a partir do qual toda e qualquer forma de parcelamento far-se-á através de exigências específicas”.

Contrapondo isso, percebeu-se que o uso da área pela urbanização constitui-se uma problemática, pois, sem a devida orientação e planejamento adequado deste espaço, diversos pontos foram sendo ocupados por construções, abertura de ruas e aterramentos. Destaca-se que duas nascentes do Lajeado Guamerim foram sendo aterradas ou canalizadas, característica evidente do processo de ocupação e urbanização do espaço geográfico.

Ainda, ao centro da microbacia do Lajeado Guamerim e na porção sudoeste pode-se constatar a presença da classe de declividade 12 – 30%. Essas áreas são ocupadas principalmente com atividades agrícolas, sem a devida orientação da ocupação, sendo possível o desencadeamento dos processos de erosão, uma vez que a falta de proteção do solo com florestas em áreas que apresentam leve declividade, pode iniciar um processo de desgaste do solo.

A classe de declividade de 30 – 47% ocupa uma área de 248,954 ha, ou 12,59% do total da área da microbacia. Essa classe encontra-se distribuída por todas as porções da microbacia, destacando-se em alguns pontos como: na porção centro sul e sudoeste da microbacia do Lajeado Guamerim e também ao norte e noroeste.

Ao norte e noroeste da microbacia, localiza-se a área urbana do município de São Miguel do Oeste - SC, dessa maneira, conclui-se que com declividade acentuada, o uso dessas áreas precisaria ser pensado de forma que a preservação e conservação do solo seja uma constante. Ao contrário disso, a ocupação da área pelo processo de urbanização contrapõe os limites estipulados por De Biasi (1992), constituindo impactos ambientais ao que confere o Código Florestal. Com base em De Biasi (1992, p. 47), “[...] esta classe de declividade fixa o limite máximo para o corte raso, sendo que a partir do qual a exploração só será permitida se sustentada por cobertura florestal”.

II Simpósio Brasileiro de Geomática Presidente Prudente - SP, 24-27 de julho de 2007

V Colóquio Brasileiro de Ciências Geodésicas

A. Moreira; A. Cirolini; R. Cassol; R. Spironello

Já a classe de declividade > de 47% ocupa uma área de 52,882 ha, ou 2,68% do total. Essa encontra-se distribuída de forma pontual, principalmente na porção centro sul da área da microbacia e em alguns pontos a sudoeste da mesma. Conforme De Biasi (1992, p. 47), “[...] nesta classe de declividade, de acordo com o Código Florestal, é proibida a derrubada de florestas, sendo tolerada a extração de toros quando em regime de utilização racional que vise a rendimentos permanentes”.

5 CONCLUSÕES

A partir desta análise observa-se que o desenvolvimento de projetos de planejamento ambiental que visem à recuperação, preservação e adequação do espaço geográfico da microbacia hidrográfica do Lajeado Guamerim se faz sem muitas restrições.

Nesse sentido, sugere-se que seja feito o plantio de árvores nativas ao longo do curso d’água do Lajeado Guamerim, bem como nas encostas com declividade superior a 45º e em topos de morro, adequando-se assim ao Código Florestal.

Deve-se realizar a coleta seletiva do lixo, tanto na área urbana como na área agrícola. O recolhimento de embalagens de agrotóxicos na área agrícola, visando que estes produtos não sejam colocados em locais inadequados e nem sejam utilizados de forma incorreta, podendo acarretar danos ainda maiores ao meio natural, bem como a população.

Outras práticas ainda podem ser desenvolvidas, como ampliação do plantio direto. Essa prática não necessita revolver o solo, é eficiente no controle da erosão e melhora as condições físicas, químicas e biológicas do solo.

Dar destino adequado aos dejetos de suínos com a construção de esterqueiras, uma vez que essas captam todos os dejetos dos animais, onde posteriormente, poderão ser distribuídos de maneira adequada no solo, como adubo orgânico.

Estas e outras atividades são possíveis desde que a sociedade e repartições públicas trabalhem em conjunto, objetivando, alcançar juntos, resultados positivos, no intuito de recuperar as áreas degradadas e preservar as áreas ainda intocadas. Isso depende de um esforço conjunto, no que se refere à implantação de formas alternativas de conservação do meio ambiente, visando a uma relação coerente entre ambiente “sustentável” e o desenvolvimento econômico local e regional. REFERÊNCIAS CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais. Edgard Blücher, São Paulo, 2002. DE BIASI, M. A Carta Clinográfica. Os Métodos de Representação e sua Confecção. Revista do Departamento de Geografia. FFLCH/USP, São Paulo, Nº6/1992, p. 45-60.

IBAMA/SUPES/RS. Código Florestal. Lei 4.771, 09/1965. LIBAULT, A. Os Quatro Níveis da Pesquisa Geográfica. Métodos em Questão. IGEO/USP, São Paulo, Nº 1/1971. NEGRI, A. P. Presença de plasmídeos em cepas de escherichia coli isoladas de água residual hospitalar. Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas, Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC – Campus de São Miguel do Oeste – SC, 2005. PROJETO de Recuperação Ambiental e de Apoio ao Pequeno Produtor Rural: Microbacias II. Construindo qualidade de vida no meio rural. Disponível em: http://www.microbacias.sc.gov.br/projeto/mbhIndex.jps. Acesso: 18 outubro 2006. SEIFFERT, N. F. Uma contribuição ao processo de otimização do uso dos recursos ambientais em Microbacias Hidrográficas. Tese (Doutorado em Engenharia da Produção) – Programa de Pós – Graduação em Engenharia da Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1996. SPIRONELLO, R. L. Mapeamento do uso da terra em função das classes de declividades no Município de Iporã do Oeste - SC. 2001. Monografia (Monografia de Especialização) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria. 2001.