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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
NILDA CARVALHO LIMA DE OLIVEIRA
A PRODUÇÃO DA RENDA DE BILRO DO MUNICÍPIO DE
SAUBARA/BA: UMA TRADIÇÃO EM PROCESSO DE PRESERVAÇÃO
E VALORIZAÇÃO
SALVADOR
2018
IGEO
NILDA CARVALHO LIMA DE OLIVEIRA
A PRODUÇÃO DA RENDA DE BILRO DO MUNICÍPIO DE
SAUBARA/BA: UMA TRADIÇÃO EM PROCESSO DE PRESERVAÇÃO
E VALORIZAÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Colegiado de
Geografia como requisito à obtenção do titulo de Bacharel em
Geografia pela Universidade Federal da Bahia.
Orientador. Prof. Dr. Alcides dos Santos Caldas
SALVADOR
2018
Ficha Catalográfica
Termo de Aprovação
NILDA CARVALHO LIMA DE OLIVEIRA
A PRODUÇÃO DA RENDA DE BILRO DO MUNICÍPIO DE
SAUBARA/BA: UMA TRADIÇÃO EM PROCESSO DE PRESERVAÇÃO
E VALORIZAÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Colegiado de
Geografia como requisito à obtenção do titulo de Bacharel em
Geografia pela Universidade Federal da Bahia.
Orientador. Prof. Dr. Alcides dos Santos Caldas
Banca Examinadora:
_______________________________________________
Prof. Dr. Alcides dos Santos Caldas (Orientador) Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia
_______________________________________________
Profa. Dra. Ângela Machado Rocha Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia
_______________________________________________
Prof. Dr. André Garcez Ghirardi Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia,
Epígrafe
“Quando a mãe da gente tá grávida e fica com aquela barrigona
Ai fica o som dos bilros
Quando a gente nasce e vê os bilros diz:
A, isso é que é renda!
Porque do som”
(MARIA DO CARMO, RENDEIRA)
Agradecimentos
O percurso desde o primeiro dia que ingressei como discente do curso de Geografia da
Universidade Federal da Bahia até a conclusão desta pesquisa envolveu muitas etapas, algumas
dificuldades, mas também, muitos momentos que valeram a pena e que já deixaram bastantes
saudades. A Geografia hoje representa para mim uma grande paixão que me fez enxergar cada
paisagem com outros olhos e assimilar a dinâmica que constrói o espaço em que vivemos.
Em todas as notas de agradecimento sempre agradecem a Deus, mas não preciso neste
exato momento agradecê-lo, pois, faço isso todos os dias ao acordar e agradecer pela graça de
mais um dia. Desta forma, vou tentar enumerar todos que contribuíram de formas diferentes
para a conclusão de mais uma etapa em minha vida.
Agradeço a toda minha família que me incentivaram a voltar a estudar e galgar essa
graduação que os percalços da vida me impediram alcançar na minha mocidade. O incentivo
dos meus três filhos juntamente com a ajuda que me deram (“Se não sabe fazer uma resenha,
um slide vai para a internet e coloque: como escrever uma resenha, como fazer um slide, ai
você aprende”) foram fundamentais para correr atrás e atingir meus objetivos. Na realidade não
são três filhos, são cinco, contando com minha querida nora e meu estimado genro. Agradeço
ao meu marido, amigo e companheiro que durante os 34 anos que estamos juntos sempre me
apoiou e no transcorrer desta etapa me deu forças para não desistir e ir em frente.
A todos os meus professores do IGEO vai o meu agradecimento, pois, todos de maneiras
diferentes contribuíram para o meu crescimento e chegar até aqui. Não esquecendo também,
dos meus queridos colegas que também engrandeceram minha aprendizagem. A todos muito
obrigada.
Agradecimento especial à comunidade de Saubara: a Dona Maria do Carmo Amorim
(que tem a renda de bilro no coração), a Sra. Lidiane Silva e as demais rendeiras; a Sra. Joanita
Carvalho dos Santos (Secretária Municipal de Cultura, Esporte e Lazer de Saubara-Bahia), o
Sr. Rosildo (Marujada de Saubara) e a toda a população local que tão bem nos acolheram.
E um agradecimento mais que especial ao meu orientador, que considero como amigo,
professor Dr. Alcides Caldas, pela paciência, dedicação, sugestões e reclamações que
resultaram no desenvolvimento deste trabalho e no meu crescimento pessoal.
RESUMO
A presente pesquisa tem por finalidade mostrar e analisar as estratégias utilizadas pelas
rendeiras do município de Saubara/BA, para a preservação e valorização da produção da renda
de bilro produzida tradicionalmente neste município. Aliado aos referenciais teóricos que
nortearam os nossos estudos, foram realizadas observações e entrevistas que tiveram como
objetivo evidenciar os desafios enfrentados pelas mulheres rendeiras para preservar a renda de
bilro: uma tradição transmitida de mãe para a filha, cuja singularidade promove os sentimentos
de pertencimento e de identidade da população local e ao mesmo tempo, configura-se como
uma alternativa econômica. Dentre as ações que buscam a preservação da renda de bilro, além
de ensinar este legado cultural de geração em geração, podemos destacar a fundação e
manutenção da Associação das Artesãs de Saubara/ Casa das Rendeiras, a oferta de cursos
voltados a ensinar o saber fazer da renda de bilro, a divulgação deste artesanato em redes sociais
e a parceria com: Prefeitura Municipal de Saubara/BA, Instituto de Artesanato Visconde de
Mauá, Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e mais recentemente com
a Universidade Federal da UFBA (através do seu Núcleo de Indicações Geográficas e Marcas
Coletivas) e o Governo do Estado da Bahia (por intermédio da Secretaria do Trabalho, emprego,
Renda e Esporte) como objetivo de obter o registro de Indicação Geográfica. Esta é mais uma
ferramenta necessária para a manutenção desta atividade, pois a mesma além de configurar
como um meio para sua salvaguarda, pode fomentar a comercialização e valorização econômica
do produto e atuar como um instrumento mantenedor da cultura e da economia do município.
Palavras-chave: renda de bilro. preservação. valorização.
ABSTRACT
The following research has the purpose of exposing and analyzing the strategies used by the
lacemakers in the municipality of Saubara / BA, for the preservation and valorization of the
production of the bobbin lace, traditionally produced in that municipality. In addition to the
theoretical references that guided our studies, observations and interviews were carried out with
the objective of highlighting the challenges faced by the female lacemakers in order to preserve
bobbin lace: a tradition transmitted from mother to daughter, whose singularity promotes
feelings of belonging and identity of the local population and at the same time, it is an economic
alternative. In addition to teaching this cultural legacy from generation to generation, we can
highlight the foundation and maintenance of the Association of Craftswomen of Saubara / Casa
das Rendeiras, the offer of courses aimed at teaching the know-how of this craft in social
networks and the partnership with the City Hall of Saubara / BA, Visconde de Mauá Handicraft
Institute, Micro and Small Business Support Service (SEBRAE) and more recently with the
Federal University of Bahia (through its Nucleus of Geographical Indications and Collective
Marks) and the Government of the State of Bahia (through the Secretariat of Labor,
Employment, Income and Sport) in order to obtain the registration of Geographical Indication.
This is another necessary tool for the maintenance of this activity, since it is not only a means
of safeguarding it, it can also promote commercialization and economic valorization of the
product and act as an instrument that maintains the culture and economy of the municipality.
Keywords: bobbin lace, preservation, appreciation.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 – Panorâmica do município de Saubara/BA………………………………....…26
FIGURA 02 – Igreja de São Domingos de Gusmão……………………………………..…...29
FIGURA 03 – Estandarte e vestimenta utilizados no Terno de Reis…………………...…….37
FIGURA 04 – Apresentação Rancho do Papagaio……………………………………...…....38
FIGURA 05 – Estandarte do Rancho do Papagaio……………………………………...…....38
FIGURA 06 – Apresentação da Barquinha de Bom Jesus dos Pobres……………………….39
FIGURA 07 – Apresentação Bumba-Meu-Boi…………………………………….......……..39
FIGURA 08– Caretas de Máscara…………………………………………………..…….….41
FIGURA 09 – Caretas do Mingau…………………………………………………...……….41
FIGURA 10 – Lavagem da Igreja de São Domingos de Gusmão…………………...……….42
FIGURA 11– Samba de Roda………………………………………………………...……....43
FIGURA 12 – Chegança dos Marujos Fragata Brasileira……………………………...……..43
FIGURA 13 – Chegança dos Mouros Barca Nova……………………………………..…….44
FIGURA 14 – Chegança de Mouros Barca Nova Feminina………………………..........…...45
FIGURA 15 – Artesanato com Fibra de Ouricuri…………………………………...…....…..45
FIGURA 16 – Artesanato feito com Renda de Bilro………………………………….......….45
FIGURA 17– Artesanato feito de barro – Cerâmica…………………………………….........46
FIGURA 18– Preparo da fibra do coroá /fiação…………………………………………..….49
FIGURA 19 – Fios industriais de algodão, fibra de sisal e de sisal industrializado……….…49
FIGURA 20 – Confecção da Renda de Bilros……………………………………………..…52
FIGURA 21 – Almofada cilíndrica alongada……………………………………………..….53
FIGURA 22 – Almofada giratória………………………………………………………...….54
FIGURA 23 – Almofada redonda achatada………………………………………………......54
FIGURA 24 – Almofada cavalete………………………………………………………….....54
FIGURA 25– Almofada ortogonal……………………………………………………….......54
FIGURA 26 – Almofada quadrada…………………………………………………………...55
FIGURA 27 – Almofada redonda………………………………………………………….....55
FIGURA 28– Bilro com formato de pera………………………………………………….....56
FIGURA 29 – Bilro formado por haste e cabeça……………………………………..………56
FIGURA 30 – Bilro feito de osso e enfeitado com miçangas………………………..……….56
FIGURA 31 – Bilro feito de madeira e enfeitado com miçangas……………………...……..56
FIGURA 32 – Papelão ou pique pronto para ser utilizado…………………………….……..57
FIGURA 33 – Avesso do papelão ou pique picado……………………………………..……57
FIGURA 34 – Suporte de madeira para almofada………………………………………..…..57
FIGURA 35– Suporte para almofada tipo estante…………………………………....…..…..57
FIGURA 36 – Ponto da renda de bilro-Traça………………………………………....…..….65
FIGURA 37 – Ponto da renda de bilro-Tijolinho……………………………..……....……...65
FIGURA 38 – Ponto da renda de bilro – Aranha……………………………..............………66
FIGURA 39– Ponto da renda de bilro – Pata de siri.................................................................66
FIGURA 40 – Ponto da renda de bilro – Cu de pinto………………………...…....................66
FIGURA 41 – Diferenciação entre Indicação de Procedência e Denominação de Origem…..77
FIGURA 42 – Selo e amostra da IP Divina Pastora para renda Irlandesa-Sergipe....…...…...81
FIGURA 43 – Selo e amostra da IP Cariri Paraibano para renda Renascença……….………81
FIGURA 44 – Amostras de renda de bilro do catálogo da Associação…………….…….......86
FIGURA 45 – Blusa com aplicação de renda de bilro e Pala em renda para vestido.......…....86
FIGURA 46 – Almofada na forma cilíndrica ..........................................................................87
FIGURA 47– Bilro de duas peças.............................................................................................87
FIGURA 48 – Alfinetes............................................................................................................87
FIGURA 49– Pique (molde da renda)......................................................................................87
FIGURA 50 – Linha Mercê Crochê 100% algodão..................................................................87
FIGURA 51 – Preparo do pique ..............................................................................................88
FIGURA 52 – Pique sendo preso a almofada e pique preso a almofada..................................88
FIGURA 53 – Prendendo a linha no bilro…………………………………………..………..89
FIGURA 54 – Entrelaçando a linha com o auxílio dos bilros e alfinetes ................................89
FIGURA 55– Rendas com os principais pontos…………………………………….........…..90
FIGURA 56 - Fachada da Associação das Artesãs de Saubara - Casa das Rendeira e Detalhes
da fachada da Associação decorada com conchas....................................................................92
FIGURA 57 - Calçada da Casa da associação decoradas com conchas...................................93
FIGURA 58 - Sala/local de exposição e comercialização e Anexo Oficina/escola..................93
FIGURA 59 – Entremeios (venda a metro) e Paninho para bandeja………………….…….100
FIGURA 60– Pano de copa e Centro de mesa………………………………………..……..101
FIGURA 61 – Saia em renda e blusas femininas com aplicação em renda de bilro….……..101
FIGURA 62 – Página do Facebook Casa das rendeiras de Saubara…………………..…….102
FIGURA 63 – Foto do Whats App da Associação da Artesãs de Saubara…………….……103
FIGURA 64 – Páginas do Instagram da Casa das Rendeiras………………………….……103
FIGURA 65 – Marisqueiras de Saubara/BA…………………………………………...……107
FIGURA 66 – Mulheres rendeiras em Saubara/BA…………………………………....……107
LISTA DE FOTOS
FOTO 01 – Ruas e residências do município de Saubara (Sede)……………………….……29
FOTO 02 – Prefeitura de Saubara……………………………..………………………...……29
FOTO 03 – Câmara Municipal do município de Saubara (sede)………………………...…...29
FOTO 04 – Faixa litorânea na baixa maré………………………………………………..…..30
FOTO 05 – Manguezal do município de Saubara (sede)……………………………..………30
FOTO 06 – Praia em Bom Jesus dos Pobres……………………………………………..…..30
FOTO 07 – Moradias de veraneio em Bom Jesus dos Pobres………………………….…….31
FOTO 08 – Capela Bom Jesus dos Pobres………………………………………………..….31
FOTO 09 – Descarte inapropriado do lixo, praia de Bom Jesus dos Pobres……………..…..32
FOTO 10 – Almofada Cilíndrica………………………………………………...…………...53
FOTO 11– Renda de bilros……………………………………………………………....…...94
FOTO 12– Bolsas feitas de trançado de palha…………………………………………...…...94
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Grau de instrução dos trabalhadores com vínculo empregatício…………..…..35
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – Número de estabelecimentos do município de Saubara por setores de atividades
econômicas…………………………………………………………………….................…..34
QUADRO 2 – Número de estabelecimentos de ensino do município de Saubara………...…36
QUADRO 3 – Definições de Artesanato………………………....…………………….....….47
QUADRO 4 – Definições de Artesanato e Artesão conforme a Base Conceitual de
Artesanato................................................................................................................... ..............51
QUADRO 5 – Exemplos da aculturação da renda de bilros expressada nas diferentes formas
dos apetrechos utilizados na sua produção………………………………………..………….58
QUADRO 6– Locais de produção da renda de bilro no Brasil……………..........…………..61
QUADRO 7 – Apetrechos utilizados na produção da Renda de Bilros nos Estados brasileiros
conforme o seu processo de adaptação cultural…………………………………...………….64
QUADRO 8 – Artesanato brasileiro com Indicação Geográfica………………..……....……80
QUADRO 9 – Resumo do Regulamento de uso de nome geográfico de produção-IP Divina
Pastora para Renda Irlandesa de Sergipe e da IP Cariri Paraibano para Renda Renascença da
Paraíba……………………………………………………………………………....………...82
QUADRO 10 – Tipo de apetrechos utilizados na produção da renda de bilros em Saubara....87
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Pirâmide etária do município de Saubara – 2010………………………….....33
GRÁFICO 2 – Vínculos Empregatícios dos trabalhadores do município de Saubara, 010.....34
GRÁFICO 3 – Rendimentos da população em idade ativa /2010…………………………....35
LISTA DE MAPAS
MAPA 1 – Localização do município de Saubara………………………………………..…..28
MAPA 2 – Localização da produção da renda de bilro no Brasil………………………...…..62
MAPA 3 – Localização das rendeiras no município de Saubara/BA………………….….…..97
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
BA - Bahia
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CESOL – Centro Público de Economia Solidária
CMA – Conselho Mundial de Artesanato
CNPJ – Cadastro Nacional da Pessoal Jurídica
DO – Denominação de Origem
EMBASA – Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A.
FUNARTE – Fundação Nacional de Artes
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IGEO – Instituto de Geociências
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial
IP – Indicação de Procedência
IPAC – Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural
IPAC – Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
LBA – Legião da Boa Vontade
MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
MEC – Ministério da Educação e Cultura
NIG – Núcleo de Indicações Geográficas e Marcas Coletivas
OMC – Organização Mundial do Comércio
OMPI – Organização Mundial da Propriedade Intelectual
PAB – Programa do Artesanato Brasileiro
PROPCI – Pró-Reitoria de Pesquisa, Criação e Inovação
SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SECULT – Secretaria de Cultura do Estado da Bahia
SEI – Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia
SETRE – Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia
SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
TERPI – Território, Propriedade Intelectual e Patrimônio
UFBA – Universidade Federal da Bahia
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
WIPO – World Intellectual Property Organization
Sumário
INTRODUÇÃO................................................................................................................ ........19
Objetivo geral............................................................................................................................22
1.1 Objetivos específicos.........................................................................................................22
1.2 Justificativa........................................................................................................................22
1.3 Questão de pesquisa...........................................................................................................24
1.4 Procedimentos metodológico.............................................................................................24
2 O MUNICÍPIO DE SAUBARA...........................................................................................26
2,1 Aspectos físicos e histórico.................................................................................................26
2,2 Aspectos socioeconômicos.................................................................................................33
2.3 Manifestações culturais.......................................................................................................37
2.4 Artesanatos do município de Saubara ................................................................................44
3 CONTEXTUALIZANDO O ARTESANATO.....................................................................46
4 A RENDA DE BILROS: UMA REPRESENTAÇÃO DA PRODUÇÃO CULTURAL.....52
5 UTILIZAÇÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL E DO PATRIMÔNIO COMO
INSTRUMENTOS DE PRESERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO DA PRODUÇÃO
CULTURAL.............................................................................................................................67
5.1 A importância da salvaguarda do patrimônio cultural no Brasil........................................69
5.2 Processo de normatização das indicações geográficas no Brasil e seus benefícios...........76
5.3 Artesanato brasileiro com indicação geográfica.................................................................80
6 A RENDA DE BILROS DE SAUBARA EM PROCESSO DE OBTENÇÃO DO REGISTRO
DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA...........................................................................................84
6.1 A renda de bilro em Saubara...............................................................................................85
6.2 A entidade representativa da Associação Casa das Rendeiras em Saubara........................92
6.3 Histórico da produção da renda de bilro em Saubara.........................................................98
6.4 Formas de comercialização e de divulgação.....................................................................100
6.5 Parceria UFBA / SETRE / Associação das Artesãs de Saubara – Casa das Rendeiras....104
6.6 Produção da renda de bilro e as relações com as demais atividades econômicas e com as
manifestações culturais do município de Saubara instituições internacionais........................106
7. CONCLUSÃO....................................................................................................................108
REFERÊNCIAS......................................................................................................................111
GLÓSSARIO.................................................................................................................... ......116
APÊNDICES...........................................................................................................................119
19
1 INTRODUÇÃO
Diante de um mundo cada vez mais globalizado, com uma dinâmica considerada
homogeneizadora, a eminência da dissolução das identidades locais (econômicas e culturais)
torna-se cada vez mais plausível (PECQUEUR, 2001). Por outro lado, observa-se que a
diferenciação cultural emerge como uma ferramenta de fundamental importância para o
desenvolvimento de um território (CALDAS, 2013). Perante o exposto, exalta-se a
necessidade da preservação e valorização das expressões culturais não somente pelo seu valor
identitário, mas também pela sua relevância econômica.
Entre as expressões culturais destacamos a Renda de Bilro, configurada como uma das
tipologias artesanais de renda mais difundida no Brasil, segundo os dados da Fundação
Nacional de Artes (FUNARTE, 1986). Uma espécie de tecido, produzido tradicionalmente
através das mãos ágeis de mulheres, que com o seu saber fazer entrelaçam fios com ajuda do
vai e vem dos bilros formando pontos, tramas e desenhos (RAMOS, RAMOS, 1948). Este
artesanato revela características culturais que fazem parte da identidade de determinadas
localidades do Brasil e em particularmente do município de Saubara/BA.
O artesanato pode ser considerado como a materialização da expressão cultural de um
povo. Depositário de um passado, imbuído de usos e costumes cuja trajetória é transmitida
oralmente de geração a geração, possui um importante valor cultural (SERVIÇO DE APOIO
ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, 2010). Definido pelo Conselho Mundial de
Artesanato (CMA), como toda produção que resulta em objetos e artefatos acabados, feitos
manualmente ou com a utilização de meios tradicionais ou rudimentares, configura-se como o
produto da relação do homem com o seu meio ambiente.
Segundo Lody (2011, p. 11), esta relação ocorre a partir da escolha entre os diversos
tipos de materiais disponíveis na natureza (barro, madeira, couro, metal, fibra e palha) e da
utilização das mais variadas técnicas como a tecelagem, a fiação e o trançado, onde o produto
artesanal representa o pertencimento a um território e a uma cultura.
Vale salientar que o artesanato no Brasil pode ser registrado como Indicação
Geográfica, uma modalidade da Propriedade Intelectual, assim como as marcas e patentes
(INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, Lei 9.279/1996), onde sua
eventual certificação pode promover sua valorização mercadológica e servir como um
mecanismo para a sua salvaguarda.
20
No Brasil, segundo a Funarte, a as atividades artesanais são desenvolvidas em todo o
seu território, cuja rica diversidade cultural produz um artesanato bem variado, onde cada
peça expressa uma identidade, seja pelas formas de fazer, pela matéria-prima utilizada, pelos
usos e costumes que retrata. Ainda, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2014), 67% dos municípios brasileiros têm o artesanato presente na economia,
assumindo o papel de fonte geradora de emprego e renda.
Na Bahia, a produção artesanal mostra-se presente e bem diversificada, reflexo da
cultura, da tradição e da história do povo baiano. Observa-se o uso dos mais variados tipos de
matéria-prima e de diferentes técnicas de produção, oriundas de um passado formado pela
miscigenação de raças (indígenas, brancas e negras) que povoaram o território baiano
(BAHIA, 2011).
Entre os municípios baianos que desenvolvem as atividades artesanais destacamos o
município de Saubara. Localizado a 100 km da capital Salvador/Bahia, é uma das
aglomerações urbanas mais antigas do Recôncavo Baiano (1550), que possui um patrimônio
cultural muito rico, representado pela combinação da música, dança e drama e por sua
produção artesanal que tem como representante a tipologia Renda de Bilro. A qual se
configura tanto como elemento identitário cultural, tanto quanto uma alternativa para às
economias de base do município. Uma vez que, o seu processo produtivo é realizado por
mulheres que vivem da pesca artesanal (mariscagem) e têm esta atividade como alternativa
para complementar os rendimentos familiares.
Para nortear a pesquisa foi necessário propor alguns questionamentos que auxiliaram a
fluir com o estudo. Indagou-se: Qual a origem da Renda de Bilro dentro e fora do município
de Saubara/BA? Como e onde ocorre a produção da Renda de Bilro no município de
Saubara/BA? Quais as perspectivas e desafios que enfrentam as produtoras locais? Qual a
representatividade econômica e cultural da produção da Renda de Bilro para o município de
Saubara? A Renda de Bilro pode ser registrada como uma Propriedade Intelectual?
Assim, organizamos esta pesquisa em seis capítulos que evidenciam quais as
estratégias que estão sendo utilizadas pelas rendeiras para a preservação e valorização da
Renda de Bilro de Saubara/BA e qual representatividade socioeconômica e cultural dessa
produção artesanal para o município em questão.
No segundo capítulo, expomos a localização, os aspectos físicos, socioeconômicos e
culturais do município de Saubara/BA. No que tange as informações quantitativas, utilizamos
dados estatísticos disponibilizados por órgãos oficiais, como Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), Ministério da Educação e Cultura (MEC) e Instituto Nacional de
21
Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP). Estas informações nos auxiliaram na elaboração de
quadros e gráficos estatísticos, que facilitaram expor os dados socioeconômicos do município
e consequentemente proporcionou uma maior compreensão. Os dados qualitativos foram
viabilizados por intermédio da Secretaria da Cultura, Esporte e Lazer do município de
Saubara e pela Entidade municipal Ponto de Cultura de Saubara.
No terceiro capítulo abordamos um dos objetos da nossa pesquisa que é o artesanato,
para isso trazemos autores como Pereira (1979), Servetto (1998), Lima (2003) que expõem a
criatividade e a técnica empregada nesta atividade. Ainda, por ser o artesanato uma expressão
cultural sentimos a necessidade recorremos a autores como Arantes (1981) e Warnier (2001)
para discurtirmos os conceitos de cultura, revelando que ela está intrinsecamente ligada ao
cotidiano de cada indivíduo configurando como um elemento determinador da sua identidade.
No quarto capítulo, foram levantadas informações sobre a Renda de Bilro. Recorremos
aos autores Ramos, Ramos (1948) e Oiticica (1974), que debatem a aculturação da Renda de
Bilro dentro e fora do Brasil representada em cada ponto e trama entrelaçada e ainda
debatemos com Pellegrine e Funari (2008) que explanam sobre a materialidade e a
imaterialidade desta produção artesanal.
No quinto capítulo, com o auxílio dos módulos do curso Propriedade Intelectual
disponibilizado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) junto ao
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), Catálogo de Artesanato com Indicação
Geográficas no Brasil (SEBRAE, INPI) e reportagens abrimos uma discussão sobre
Propriedade Intelectual, Patrimônio Cultural e Indicações Geográficas. Dando continuidade
ao capítulo sentimos a necessidade de expor a importância da preservação do Patrimônio
Cultural. Desta forma, levantamos quais são as medidas que visam garantir a viabilidade da
sua salvaguarda estipuladas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (UNESCO), pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
e pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).
Ainda no quinto capítulo, abordamos o processo de normatização das Indicações
Geográficas no Brasil, descrevendo quais os possíveis benefícios que podem advir para um
produto que consiga esse registro e finalizamos expondo quais as produções artesanais
brasileiras que já receberam o registro de Indicação Geográfica, para isso recorremos ao
material fornecido pelos órgãos supracitados.
No sexto capítulo, apresentamos evidências das estratégias que estão sendo utilizadas
para preservação e valorização da Renda de Bilro de Saubara. Para isso, realizamos
entrevistas estruturadas com as responsáveis pela administração da Associação das Artesãs –
22
Casa das Rendeiras e com as rendeiras do município (10 ao total); contextualiazamos a Renda
de Bilro de Saubara com seu sistema de produção e histórico; levantamos informações sobre a
estrutura e o funcionamento da Associação das Artesãs de Saubara – Casa das Rendeiras:
abrangendo não somente a produção, venda e divulgação do produto, mas também a respeito
da conscientização das associadas sobre a importância cultural desta produção e a construção
do processo que pleteia a obtenção de registro de Indicação Geográfica para a Renda de Bilro.
Ainda, recorrendo a entrevistas realizadas com a Secretaria da Cultura, Esporte e Lazer e com
a Presidência da Câmara de Vereadores do município de Saubara podemos observar a
veracidade dos dados estatísticos de natureza socioeconômicos fornecidos pelo IBGE e
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), os quais revelam a
carência e a necessidade da geração emprego e renda para a população local.
1.1 OBJETIVO GERAL:
Mostrar quais são as estratégias utilizadas pelas rendeiras de Saubara para a
preservação e valorização da renda de bilro e ao mesmo tempo expor a sua
importância socioeconômica e cultural para o município em questão.
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Analisar os aspectos socioeconômicos e culturais do município de Saubara/BA;
Averiguar a importância cultural do artesanato no Brasil;
Evidenciar, através de um breve histórico a origem da renda de bilro dentro e fora do
Brasil;
Expor não somente a importância da salvaguarda, mas também, da valorização da
produção cultural por intermédio da Propriedade Intelectual e do Patrimônio Cultural;
Pesquisar como e onde ocorre a produção da renda de bilro no município de
Saubara/BA e sua importância econômica e cultural para a comunidade local.
1.3 JUSTIFICATIVA:
O avanço da globalização traz como uma das suas consequências à massificação das
culturas que segundo Haesbaert e Limonad ((2009, p. 40)) põe em risco de dissolução tanto as
identidades locais, tanto quanto as economias. Uma vez que, o processo de despersonalização
cultural e econômica atua de maneira desigual desfavorecendo as economias mais fragilizadas
frente a um mercado cada vez mais competitivo torna-se cada vez mais imprescindível
preservar e valorizar as expressões culturais locais.
23
Desta forma, diante do processo de globalização, enfatizamos a luta pela preservação
de uma atividade artesanal realizada no município de Saubara/BA: a Renda de Bilro. Uma
tipologia artesanal tradicional, cujo saber-fazer vem sendo transmitido de geração em geração,
realizado por mulheres que vivem da coleta, cata (retirada dos moluscos das colchas) e venda
de mariscos e que complementam a sua renda familiar produzindo peças de renda de bilro.
Salienta-se que o município de Saubara no Estado da Bahia possui uma economia
fragilizada, cujos dados coletados mostram a falta de oferta de empregos, onde a maioria da
população não possui uma renda fixa, o que os obrigam a ter o mercado informal como forma
de sustento (principal fonte de recursos: pesca, coleta e venda de frutos do mar).
O tema proposto surgiu após a autora, graduanda no curso de Bacharelado em
Geografia e integrante do grupo de pesquisa Território, Propriedade Intelectual e Patrimônio
(TERPI) da Universidade Federal da Bahia, constatar em estudos neste grupo, que as
mulheres rendeiras de Saubara/BA precisavam de auxílio para preservar e valorizar a renda de
bilro. Neste contexto, além da autora ser mais uma aliada nesta luta, esta pesquisa busca
demonstrar as estratégias utilizadas pelas rendeiras de Saubara para alcançar esses objetivos e
ao mesmo tempo expor a importância socioeconômica e cultural da produção da Renda de
Bilro para o município.
Vale destacar que a obtenção do registro de Indicação Geográfica representa uma
ferramenta capaz de ajudar no processo de preservação e valorização da Renda de Bilro de
Saubara. Desta forma o trabalho proposto, alcançando qualidade e profundidade necessária,
poderá contribuir com os estudos na construção do processo de obtenção deste registro.
Esta pesquisa também se justifica, pois, após várias leituras (monografias, dissertações
e teses de doutorado) que abordassem o tema renda de bilro, a única que era direcionada ao
município de Saubara/BA (Dissertação de Mestrado: Design dialógico: Uma estratégia para a
gestão criativa de tradições. GANEM, Márcia Luiza, 2013) apesar de também abordar a renda
de bilro pelo seu viés cultural, o foco maior da pesquisa era a rejeição dos designers em
utilizar esta tipologia artesanal em seus trabalhos, ao mesmo tempo em que propunha uma
inovação nesta tradição a partir da utilização de novas matérias-primas.
1.4 QUESTÃO DE PESQUISA:
Quais são as estratégias utilizadas pelas rendeiras de Saubara para a preservação e
valorização da produção da renda de bilro produzida tradicionalmente no município?
24
1.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para realização desta pesquisa foi necessário levantar dados qualitativos e
quantitativos. Os primeiros foram baseados a partir de pesquisas bibliográficas: livros, artigos,
Dissertações de Mestrado, Teses de Doutorado e documentos oficiais disponibilizados na
rede: Fundação Nacional de Artes (FUNARTE); Organização Mundial da Propriedade
Intelectual (OMPI); Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO), Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).
As pesquisas bibliográficas foram utilizadas para compreender o que vem a ser
cultura; a maneira como ela se manifesta determinando a identidade de cada povo; conhecer
toda a particularidade que envolve a tradicional produção artesanal da Renda de Bilro no
município de Saubara/BA, entender a importância protetiva e mercadológica da Propriedade
Intelectual e compreender a materialidade e a imaterialidade de um Patrimônio Cultural.
Os quantitativos foram fundamentados em levantamento de dados estatísticos
disponibilizados por órgão oficiais, como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE),
Superintendência de Estudos Sociais e Econômicos (SEI); Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Ministério da Educação e Cultura (MEC), Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) e entrevistas. Estas informações
auxiliaram na elaboração de quadros e gráficos estatísticos que facilitaram expor dados
socioeconômicos.
Quanto aos procedimentos e as técnicas de pesquisa foram utilizadas observações e
entrevistas como base nos trabalhos de campo realizados em duas etapas. A primeira entre os
dias 04 e 05 de fevereiro de 2018, objetivou-se fazer o reconhecimento do município de
Saubara/BA como um todo: desde a Associação das Artesãs de Saubara – Casa das Rendeiras;
as instituições públicas oficiais, o manguezal (fonte de renda da maioria da população); o
comércio; os distritos de Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres até os aspectos culturais da
população local.
A segunda etapa foi realizada no dia 18 de maio do mesmo ano, quando foram
realizadas entrevistas com a Secretária da Cultura, Esporte e Lazer de Saubara, com o
Presidente da Câmara de Vereadores, com a Tesoureira e a Presidente da Associação das
25
Artesãs e Saubara – Casa das Rendeiras e com 10 rendeiras. O tipo de entrevista aplicada foi a
Padronizada ou Estruturada.
As entrevistas serviram como instrumento metodológico para coletar dados sobre a
produção da renda de bilros atrelada as estratégias que estão sendo adotadas pelas rendeiras
direcionadas para a preservação e valorização dessa produção tradicional, bem como a sua
relação econômica e cultural com o município. Para uma análise mais profunda foram
realizadas entrevistas com as rendeiras da Associação das Artesãs de Saubara /BA - Casa das
Rendeiras onde foram coletados dados referentes à quantidade de integrantes da associação,
idade, grau de escolaridade, rendimento mensal, a representatividade desta tradição para elas.
As direcionadas para as instituições municipais oficiais originaram informações de teor
econômico vinculado à cultura do fazer renda de bilro.
Esse levantamento de dados quantitativos e qualitativos proporcionou compreender a
atividade artesanal da produção da Renda de Bilro no município de Saubara/BA. Sua
relevância cultural e socioeconômica para os atores locais, uma vez que, cada peça produzida
carrega consigo uma identidade cultural, cujo saber-fazer foi transmitido oralmente de
geração em geração e que possui um valor mercadológico.
26
2 O MUNICÍPIO DE SAUBARA/BA
Para podermos analisar onde e como ocorre a produção da Renda de Bilro de Saubara
se fez necessário levantar alguns dados estatísticos, históricos e culturais do município. Desta
forma, nesse capítulo abordamos temas como: localização, aspectos físicos, histórico da sua
fundação, aspectos socioeconômicos e suas manifestações culturais.
Figura 01 – Panorâmica do município de Saubara/BA
Fonte: Catálogo: Ponto de Cultura – Saubara em Movimento
2.1 ASPECTOS FÍSICO E HISTÓRICO
O município de Saubara no Estado da Bahia, localizado entre as coordenadas
38°45’32” a 38°44’14” Oeste e 12°43’59” a 12°47’06” Sul, limita-se ao norte com o
município de Santo Amaro, ao sul com o município de Salinas da Margarida, ao leste com a
Baía de Todos os Santos e ao oeste com o município de Cachoeira. Configura-se como uma
das aglomerações urbanas mais antigas e que faz parte do Território Identidade do
Recôncavo, cujo nome de origem indígena significa “terra dos comedores de formiga”
(BARROS, 2006).
Com área territorial de 163,428 km2 (Instituto Brasileiro Geográfico e Estatístico,
2016), dista de Santo Antônio de Jesus 119 km e de Cruz das Almas 78,7 km que são as
principais cidades do Território Identidade do Recôncavo. Quanto a Salvador, capital do
Estado, são 100 km que os distancia, cujo acesso é feito pela BR 324, BR 320 e pela BA 878.
Apresenta clima úmido a subúmido com temperatura média de 25°C, pluviosidade média
anual entre 1600 mm e 1800 mm (BAHIA, 1994), altitude média de 44 metros acima do nível
27
do mar e geomorfologia composta por Planícies Marinhas e Fluviomarinhas e Tabuleiros do
Recôncavo (SEI, 2013).
O município é dividido em três distritos1: Saubara (sede), Bom Jesus dos Pobres,
Cabuçu e uma zona costeira com praias típicas da Baía de Todos os Santos, cuja característica
principal é as ondas relativamente fracas que na baixa da maré revela um extenso manguezal2.
Ecossistema rico em espécies de moluscos e crustáceos (BRASIL, 1965; 2002, apud JESUS;
PROST, 2011, p. 132), que representa para a maioria da população local uma fonte de
recursos, cuja coleta de mariscos realizada predominante por mulheres, configura-se na
maioria das vezes como uma única fonte de renda familiar. Vale ressaltar, que dentro desse
universo feminino muitas delas são rendeiras, que complementam seus rendimentos com o
fabrico da renda de bilro.
De acordo com o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) o município em
questão, surgiu em um local chamado Ponta de Saubara (1550), que a partir da construção de
uma igreja católica dedicada a São Domingos de Gusmão da Saubara em 1685, deu origem ao
Povoado de Saubara. A sua formação político-administrativa ocorreu em 1876, quando foi
elevado à categoria de distrito (Distrito de Saubara), subordinado ao município de Santo
Amaro. E, em 13 de junho de 1989 conseguiu a sua emancipação política pela da Lei Estadual
de número 5.007/1989.
______________
1 Divisão territorial, IBGE, 2005.
2As espécies do manguezal mais coletadas são o chumbinho ou bebe-fumo (Anomalocardia brasiliana), a ostra
(Crassostrea rhizophorae), o siri (Callinectes danae) e o sururu (Mytella falcata) (JESUS, PROST, 2011).
28
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a 1:
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bar
a
29
O município de Saubara configura-se da seguinte forma: Saubara (sede): possui
características bem bucólicas, típicas de cidadezinha do interior, que transmite o sentimento
do tempo passando lentamente. Apresenta residências modestas, ruas pavimentadas,
prefeitura, pequena câmara municipal, mercados (estilo antigos armazéns); vendedores de
hortaliças e verduras nas esquinas; sorveterias; estabelecimentos
comerciais destinados a venda de frutos do mar e uma longa área litorânea que na baixa maré
expõe um extenso manguezal. As fotos a seguir mostram um pouco dessas características:
Figura 02 - Igreja de São Domingos de Gusmão Foto 01 - Ruas e residências do município
em de Saubara (Sede) de Saubara (Sede)
Fonte: https://rotasciags.wordpress.com/category/ Fonte: Acervo próprio, 2018
historia/historia-saubara/
Foto 02 - Prefeitura de Saubara/BA Foto 03 - Câmara Municipal de Saubara/BA
Fonte: Acervo próprio, 2018
Fonte: Acervo próprio, 2018
30
Fotos 04 e 05 - Faixa litorânea na baixa maré – manguezal do município de Saubara (sede), 2018
Fonte: Acervo próprio, 2018. Fonte: Acervo próprio, 2018.
Os distritos praieiros de Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres: têm como principal
atividade econômica o turismo, possuem características bem diferentes da Saubara (sede).
Apresentam praias com ondas calmas; residências com padrões de maior poder aquisitivo
(casas de veraneio- segunda residência), comércio bastante movimentado principalmente no
período de alta estação (primavera e verão); pousadas e restaurantes cuja culinária tem como
ponto forte frutos do mar. Abaixo fotos do distrito de Bom Jesus dos Pobres.
Foto 06 - Praia em Bom Jesus dos Pobres, 2018
Fonte: Acervo próprio, 2018
31
Foto 07 – Moradias de veraneio em Bom Jesus dos Pobres
Fonte: Acervo próprio, 2018.
Foto 08 - Capela Bom Jesus dos Pobres
Fonte: Acervo próprio, 2018.
32
A análise das condições dos domicílios do município com base em três indicadores:
abastecimento de água, coleta de lixo e esgotamento sanitário adequado revelou a seguinte
situação:
1. Abastecimento de água: 96,3% dos domicílios (residenciais e comerciais) são abastecidos
com água potável, destes 96,5% corresponde ao serviço de água encanada fornecido pela
Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A. (EMBASA), 2,7% contam com poço ou
nascente dentro da sua propriedade e 0,8% recorrem a poços ou nascentes fora de suas
residências. (IBGE, 2010)
2. Coleta de lixo: 88% dos domicílios são atendidos pelo serviço de coleta de lixo
diariamente. As residências onde não há cobertura do recolhimento dos resíduos sólidos
(12%) recorrem para o descarte a métodos poluentes como: 0,4% enterram o lixo em suas
propriedades; 0,1% jogam no mar ou em lagos; 4,5% descartam em terrenos baldios ou
logradouros e 7% queimam em suas propriedades (IBGE, 2010). Abaixo foto que demonstra
o descarte inapropriado do lixo no mar, provocando poluição e perigo tanto para a vida
marinha, tanto quanto para a população local.
Foto 09 - Descarte inapropriado do lixo, praia de Bom Jesus dos Pobres, 2018
Fonte: Acervo próprio, 2018.
3. Esgotamento sanitário: apenas 27,3% dos domicílios do município são cobertos pelo
serviço de esgotamento sanitário doméstico. Para solucionar está carência os moradores
recorrem à construção de fossas sépticas, as quais colocam a população em situação de risco,
uma vez que podem atuar como veículo de contaminação do solo, rios e mar (SEI, 2010).
33
2.2 ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS
A população total do município era de 11.201 habitantes, conforme os dados do IBGE
referente ao Censo Demográfico do ano 2010. Deste total, 10.948 habitantes configuram
como residentes da zona urbana, o equivalente a 97,7% da população do município, enquanto
a rural era representada por apenas 2,3%, ou seja, 253 habitantes. A análise da sua Pirâmide
Etária (Gráfico 1) evidencia que a maioria dos habitantes encontram-se entre as faixas etárias
de 10 a 54 anos (população em Idade Ativa, IBGE).
Gráfico 01: Pirâmide etária do município de Saubara - 2010
Elaborado: Nilda Oliveira, 2017
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.
A economia do município que outrora se baseava na agricultura (produção de
melancia, mandioca, fumo, arroz, piaçava e principalmente azeite-de-dendê) e na pesca
artesanal (BARROS, 2006, p. 63), possui atualmente como principal fonte econômica o setor
de comércio e serviços (71,8%), sendo este motivado pelos seus distritos praieiros de Bom
600 400 200 0 200 400 600
0 a 4
5 a 9
10 a 14
15 a 19
20 a 24
25 a 29
30 a 34
35 a 39
40 a 44
45 a 49
50 a 54
55 a 59
60 a 64
65 a 69
70 a 74
75 a 79
80 a 84
85 a 89
90 a 94
95 a 99
100 ou mais
Mulheres
Homens
34
Jesus dos Pobres e Cabuçu, os quais, principalmente nos períodos de alta estação (primavera e
verão), atraem um grande número de pessoas, que movimentam não somente os serviços de
hospedagens e restaurantes como também todo o comércio local.
A segunda fonte de rendimentos fica a cargo da agropecuária (17,2%) e finalizando a
indústria (11,0%), dados que podem ser observados a partir da tabela (1) abaixo, onde os
números de estabelecimentos dedicados ao comércio e a serviços aparecem em maior número
desde o ano de 20143.
Quadro 01: Número de estabelecimentos do município de Saubara por setores de atividades econômicas, ano
2014
Construção Civil Comércio Serviços Administração
Pública
Agropecuária;
Extração vegetal,
Caça e Pesca
03
39
19
02
03
Elaborado: Nilda Oliveira, 2018
Fonte: Brasil, 2015 (SEI, 2016)
Em Saubara assim como em outros municípios baianos, registra-se pouca oferta de
emprego, deixando como alternativa para uma parcela da população economicamente ativa
trabalhar por conta própria (28%). Ainda, de acordo com dados fornecidos pelo IBGE (2010),
35% do pessoal empregado não possui vínculo empregatício e apenas 12,7% trabalham com
carteira profissional assinada.
Gráfico 02: Vínculos Empregatícios dos trabalhadores do município de Saubara, 2010
Elaborado: Nilda Oliveira, 2017
Fonte: (IBGE, 2010)
_________________ 3 Dados fornecidos pelo IBGE/SEI, 2016),
COM CARTEIRA ASSINADA - 12,7%
MILITARES E FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
ESTATUTÁRIOS - 2,7%
SEM CARTEIRA ASSINADA - 35%
AUTÔNOMOS - 28%
EMPREGADORES - 0,4%
TRABALHA PARA CONSUMO PRÓPRIO - 21,2%
35
Salienta-se que, a análise do grau de instrução dos empregados com vínculo
empregatício do município de Saubara/BA revela que a maioria dos trabalhadores 53,3%
possui o Ensino Médio completo e apenas 1% tem Educação Superior completa (graduação),
conforme tabela abaixo:
Tabela 01: Grau de instrução dos trabalhadores com vínculo empregatício, 2010
GRAU DE INSTRUÇÃO
2010
Analfabeto 0,0
Até o 5°ano incompleto do Ensino Fundamental 0,5
5° ano completo do Ensino Fundamental 1,5
Do 6° ao 9° ano incompleto do Ensino Fundamental 3,6
Ensino Fundamental completo 18,0
Ensino Médio incompleto 19,3
Ensino Médio completo 53,3
Educação Superior incompleta 3,0
Educação superior completa 1,0
Mestrado completo 0,0
Doutorado completo 0,0
Elaborado: Nilda Oliveira, 2018
Fonte: Ministério do Trabalho, RAIS, 2010 (SEI, 2013)
Com ajuda do Gráfico 3 sobre a renda mensal da população economicamente ativa do
município de Saubara/Ba, percebe-se que uma grande parcela 37% não possui nenhum tipo de
remuneração e os que recebem na sua maioria (50,5%) os valores são muito irrisórios, menos
de 1(um) salário mínimo. Desta forma, conclui-se que o nível socioeconômico do município é
baixo, uma vez que a maioria dos habitantes 87,5% possui rendimento de 0 (zero) a 1 salário
mínimo mensal, enquanto apenas 12,5% recebem entre 1 a 10 salários mínimos.
Gráfico 03: Rendimentos da população em idade ativa /2010
Elaborado: Nilda Oliveira, 2018
Fonte: IBGE, 2010
Sem remuneração = 37%
Mais de 1/2 a 1 salário mínimo = 50,5%
Mais de 1 a 2 salários mínimos = 8%
Mais de 2 a 3 salários mínimos = 2,5%
Mais de 3 a 5 salários mínimos = 1,4%
Mais de 5 a 10 salários mínimos = 0,6%
36
Destaca-se que em 2012, o número de famílias beneficiadas no município em questão
pelo Programa Bolsa Família chegou a 2.060 (SEI, 2013), um indicativo da necessidade de
geração de renda para a população economicamente ativa. Ainda em relação a emprego e
renda, vale ressaltar que a pesca artesanal, a qual engloba a mariscagem (coleta de mariscos,
atividade predominantemente feminina), ainda hoje, é uma das principais fontes de sustento
para a população local, cuja produção é vendida de porta em porta, nos restaurantes locais e
em feiras livres das cidades mais próximas do município como Santo Amaro, Feira de
Santana e Salvador. Aliado a está atividade está o artesanato, mais precisamente a produção
da renda de bilro executada tradicionalmente por mulheres que procuram garantir para suas
famílias mais uma fonte de rendimento.
No que tange a educação salienta-se que em Saubara ela é ministrada através das redes
estadual, municipal e pelas instituições privadas. A pré-escola e as aulas dos cinco primeiros
anos do ensino fundamental são ofertadas pelas escolas municipais e pelas instituições
privadas. Enquanto fica sobre a responsabilidade da rede estadual o ensino médio. Segundo o
MEC no ano de 2015, do total de alunos matriculados na Pré-escola, 62% corresponde a rede
municipal e 38% a instituições particulares. Em relação ao Ensino Fundamental 86% das
matrículas são da rede pública municipal e apenas 14% dos estabelecimentos privados.
Quadro 02: Número de estabelecimentos de ensino do município de Saubara
ESTABELECIMENTOS
DE ENSINO
NÚMERO DE
ESTABELECIMENTO
ALUNOS
MATRICULADOS
Pré-escola /Rede Municipal
07
229
Pré-escola / Instituição Privada
04
141
Ensino Fundamental / Municipal
11
1.543
Ensino Fundamental / Privado
01
255
Ensino Médio / Rede Estadual
01
340
Elaborado: Nilda Oliveira, 2018
Fonte: Ministério da Educação e Cultura, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
- INEP - Censo Educacional 2015. (SEI, 2016).
37
2.3 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DO MUNICÍPIO DE SAUBARA/BA
O Recôncavo Baiano tem como uma das suas principais características a diversidade
cultural que é representada por várias manifestações populares. Estas representações culturais
estão presentes em todos os municípios que compõem este território, a exemplo de Bembé do
Mercado (Santo Amaro da Purificação), a Capoeira (Cabaçeiras do Paraguaçu), o Carnaval de
Maragogipe (Maragogipe) e a Festa da Boa Morte (Cachoeira) (IPAC, 2015). E, em Saubara a
diversidade cultural é mantida pela sua população com a finalidade de manter viva as suas
tradições culturais.
Esta diversidade cultural é expressa através de várias manifestações populares, tanto
pelo artesanato representado pelas mulheres rendeiras através da renda de bilros e do trançado
de palha de Ouricuri, tanto quanto por outros tipos de representações tais como:
Terno de Reis
Manifestação popular realizada no período de 22 de dezembro a 06 de janeiro. Conta a
história do nascimento do menino Jesus por intermédio das pastorinhas acompanhadas pelos
Reis Magos através de canções de cunho religioso. É realizada no período natalino e possui
uma forte adesão da comunidade (PONTO DA CULTURA – SAUBARA EM
MOVIMENTO, 2018; SECRETARIA DA CULTURA, ESPORTE E LAZER DO
MUNICÍPIO DE SAUBARA, 2018).
Figura 03 - Estandarte e vestimenta utilizados no Terno de Reis
Fonte: https://rotasciags.wordpress.com/category/cultura/cultura-saubara/
38
Rancho do Papagaio
Manifestação popular que se assemelha a um reisado, ocorre no mês de janeiro durante
a Festa de Reis. Consiste em uma roda de samba que tem como personagens: o papagaio, o
caçador, a porta estandarte e as pastorinhas, cuja apresentação começa com as pastorinhas
fazendo um convite em forma de música ao papagaio para entrar na roda. Toda apresentação é
acompanhada por versos entoados com músicas utilizando como instrumentos: prato e faca,
tábuas, palmas, pandeiros e atabaques. Conta a história de um pássaro (papagaio) que canta e
dança e que durante a encenação é morto pelo caçador, mas ressuscita e continua cantando e
dançando (PONTO DA CULTURA – SAUBARA EM MOVIMENTO, 2018; SECRETARIA
DA CULTURA, ESPORTE E LAZER DO MUNICÍPIO DE SAUBARA, 2018).
Figura 04 - Apresentação Rancho do Papagaio Figura 05 - Estandarte do Rancho do Papagaio
Fonte: https://rotasciags.wordpress.com/category/
cultura/cultura-saubara/
Barquinha de Bom Jesus dos Pobres
Tradição relacionada a atividade pesqueira, cuja origem remonta dos tempos em que
mulheres de pescadores saíam as ruas no dia 31 de dezembro carregando uma barca, na qual
era levada presentes de agradecimento a rainha do mar Yemanjá, e o pedido de um ano novo
próspero (como de fartura aos pescadores). O cortejo é composto por músicos percursionistas
que acompanham as mulheres, tocando diversas músicas dentre elas, o tradicional samba de
roda. As mulheres (sambadeiras) se apresentam trajadas com saias rodadas coloridas, camisas
Fonte: Ponto da Cultura - Projeto Cultura de
Saubara (2013)
39
e colares (PONTO DA CULTURA – SAUBARA EM MOVIMENTO, 2018; SECRETARIA
DA CULTURA, ESPORTE E LAZER DO MUNICÍPIO DE SAUBARA, 2018).
Figura 06 - Apresentação da Barquinha de Bom Jesus dos Pobres
Fonte: Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer do município de Saubara, 2018.
Bumba-Meu-Boi
Tradição passada de geração a geração, consiste em uma dança com os seguintes
personagens: o boi, a fateira e o vaqueiro que fazem toda a plateia rir, dançar e cantar. A
confecção do boi é realizada da seguinte forma: a cabeça é feita com uma armação revestida
de papelão e barro e o corpo é feito de modo artesanal com tábuas pregadas e panos. A
história consiste na fateira que tenta roubar os fatos (intestino) do boi, com o vaqueiro
tentando proteger o animal e o boi que corre para enfiar seus chifres na mulher na tentativa de
se defender. Toda brincadeira é puxada com muito samba e modinhas (SECRETARIA DA
CULTURA, ESPORTE E LAZER DO MUNICÍPIO DE SAUBARA, 2018).
Figura 07 - Apresentação Bumba-Meu-Boi
Fonte: Secretaria da Cultura, Esporte e Lazer do município de Saubara, 2018
40
Caretas de Máscara
Manifestação que acontece em julho (mês de comemoração da Independência da
Bahia). Tradição originada da representação cultural Caretas do Mingau, tem como principal
característica grandes máscaras feitas de papelão e barro utilizadas pelos integrantes da
brincadeira, que saem aos domingos pelas ruas de Saubara/BA amedrontando a todos que
cruzam os seus caminhos e culmina com um concurso para escolher qual a máscara foi a mais
feia (no penúltimo domingo de mês) (SECRETARIA DA CULTURA, ESPORTE E LAZER
DO MUNICÍPIO DE SAUBARA, 2018).
Figura 08 - Caretas de Máscara
Fonte: Secretaria da Cultura, Esporte e Lazer do município de Saubara, 2018.
Caretas do Mingau
Manifestação popular que acontece anualmente na madrugada do dia 02 de julho, a
qual lembra a participação da Vila de Saubara, nas lutas em prol da consolidação da
Independência da Bahia. Historicamente as Caretas do Mingau foi uma estratégia de guerra
onde mulheres saíam pela escuridão da madrugada, cobertas com panos brancos carregando
panelas, assombrando os soldados portugueses. Era uma forma de despistar os soldados e
levar além de comidas, armas e informações para os refugiados que se escondiam nas matas
(SECRETARIA DA CULTURA, ESPORTE E LAZER DO MUNICÍPIO DE SAUBARA,
2018).
41
Figura 09 - Caretas do Mingau.
Fonte: Secretaria da Cultura, Esporte e Lazer do município de Saubara, 2018
Lavagem da Igreja de São Domingos de Gusmão de Saubara
Ocorre no último domingo do mês de julho, antes do dia dedicado as homenagens ao
padroeiro do município São Domingos de Gusmão (04 de agosto). O cortejo é composto por
mulheres trajadas de baianas, com o tradicional branco, colares de contas carregando jarros e
cestos com flores que fazem a lavagem do adro da Igreja de São Domingos de Gusmão
(SECRETARIA DA CULTURA, ESPORTE E LAZER DO MUNICÍPIO DE SAUBARA,
2018).
Figura 10 - Lavagem da Igreja de São Domingos de Gusmão
Fonte: Secretaria da Cultura, Esporte e Lazer do município de Saubara, 2018
42
Samba de Roda
Manifestação cultural que consiste na mistura da cultura dos negros africanos
escravizados no Brasil com traços de influência portuguesa representada pela introdução dos
instrumentos musicais como viola e o pandeiro. A representação começa quando o solista
entoa cantigas que é seguido em couro pelo grupo de dança, acompanhados pelos atabaques,
ganzá, reco-reco e violão. Em Saubara destacam-se os grupos: Raízes de Saubara, Raparigas e
Samba do Rosário (SECRETARIA DA CULTURA, ESPORTE E LAZER DO MUNICÍPIO
DE SAUBARA, 2018).
Figura 11 - Samba de Roda
Fonte: Secretaria da Cultura, Esporte e Lazer do município de Saubara, 2018
Chegança dos Marujos Fragata Brasileira
Uma belíssima manifestação cultural que abrange oito ritmos diferentes com mais de
cinquenta canções acompanhadas por uma orquestra de pandeiros, acontece no dia 05 de
agosto dedicado ao padroeiro da cidade São Domingos de Gusmão. Homens vestidos de
marinheiros contam através de cantos, a história de uma marinha de guerra genuinamente
brasileira que participou da guerra da independência da Bahia, cujo objetivo principal foi
defender a Baía de Todos os Santos contra os invasores portugueses. (SECRETARIA DA
CULTURA, ESPORTE E LAZER DO MUNICÍPIO DE SAUBARA, 2018).
43
Figura 12 - Chegança dos Marujos Fragata Brasileira
Chegança de Mouros Fragata Barca Nova
Grupo de homens trajados com roupas de marinheiros encenam episódios que
aconteceram na luta entre mouros e cristãos tudo acompanhado com cantos e danças. Ocorre
no mês de agosto (mês do padroeiro do município) e em outubro durante os festejos do bairro
da Rocinha. (PONTO DA CULTURA- SAUBARA EM MOVIMENTO, 2018)
Figura 13 - Chegança dos Mouros Barca Nova
Fonte: Secretaria da Cultura, Esporte e Lazer do município de Saubara, 2018
A Chegança Feminina
Manifestação composta por grupo de mulheres que resolveram inovar nas tradições,
uma vez que só existiam até então, as duas Cheganças masculinas. Sua formação, história e
Fonte: Ponto da Cultura - Projeto Cultura de Saubara (2013)
44
cânticos são os mesmos da Chegança Barca Nova Masculina. Apresenta-se nas datas festivas
de Saubara, como 13 de junho, 06 de janeiro e 04 de Agosto (SECRETARIA DA CULTURA,
ESPORTE E LAZER DO MUNICÍPIO DE SAUBARA, 2018).
Figura 14 - Chegança de Mouros Barca Nova Feminina
Fonte: Secretaria da Cultura, Esporte e Lazer do município de Saubara, 2018
2.4 ARTESANATOS DO MUNICÍPIO DE SAUBARA
O artesanato, representação cultural expressada através da confecção de objetos, em
Saubara é representado através do trançado feito com as fibras da palmeira Ouricuri e da
beleza resultante do cruzamento de fios de linha de algodão que faz surgi as mais lindas
rendas, as rendas de bilros de Saubara, feitas pelas mãos hábeis das mulheres rendeiras da
Associação dos Artesões de Saubara Casa das Rendeiras. O artesanato feito a partir do
trançado das fibras da palmeira Ouricuri origina uma variedade de peças como: bolsas,
chapéus, esteiras, luminárias e sacolas. O mesmo pode ser observado com os confeccionados
com a renda de bilro que vão desde panos para bandejas, colchas para camas, barras para
toalha de banho, blusas, saias até mesmo vestidos de casamento (SECRETARIA DA
CULTURA, ESPORTE E LAZER DO MUNICÍPIO DE SAUBARA, 2018).
45
Figura 15 – Artesanato feito com palha de Ouricuri.
Fonte: Acervo próprio, 2018.
Figura 16 - Artesanato feito com Renda de bilro
Fonte: Acervo próprio, 2018.
46
3 CONTEXTUALIZANDO O ARTESANATO
O artesanato, produto final de uma produção cultural, possui um viés simbólico
(materialização da expressão cultural de um povo) e outro econômico. Presente em todas as
regiões do Brasil apresenta-se das mais diversas formas, como um retratista de uma grande
diversidade cultural. Ao mesmo tempo, representa uma fonte geradora de emprego e renda
para diversas famílias brasileiras (SEBRAE, 2014, p. 07). Entre as diversas tipologias
artesanais se encontra a renda de bilro, desta forma se fez necessário dedicar um capítulo
abordando esse tema. O capítulo em questão traz uma discussão sobre o artesanato com suas
definições, seu valor simbólico e social.
Figura 17 - Artesanato feito de barro - Cerâmica
Fonte: https://revistapegn.globo.com/Empreendedorismo/noticia/2016/
O artesanato, considerado como o primeiro produto da relação do homem com a
natureza, que através das suas habilidades manuais e do seu poder criativo conseguiu criar
artefatos das mais diversas utilidades (LODY, 2011, p.11), recebe as mais diferentes e
complexas formas de definições:
47
Quadro 03: Definições de Artesanato
Pesquisador ou Órgão / Ano
Definição
Conselho Mundial de Artesanato (CMA) / 2012
Toda produção que resulta em objetos e artefatos acabados, feitos manualmente ou com a utilização de meios tradicionais ou
rudimentares.
UNESCO / 1997
Produtos artesanais são aqueles confeccionados por artesãos, seja
totalmente à mão, com o uso de ferramentas ou até mesmo por
meios mecânicos, desde que a contribuição direta manual do
artesão permaneça como o componente mais substancial do
produto acabado.
PEREIRA / 1979
Conjunto de atividades de natureza manual, através dos quais o
homem manifesta a criatividade espontânea (PEREIRA, 1979, p.
1)
LIMA / 2003
Um fazer ou o objeto que tem por origem o fazer ser
eminentemente manual. Isto é, são mãos que executam o trabalho. São elas o principal, senão o único, instrumento que o homem
utiliza na confecção do objeto. O uso de ferramentas, inclusive
máquinas, quando e se ocorre, se dá de forma apenas auxiliar,
com um apêndice ou extensão das mãos, sem ameaçar sus
predominância (LIMA, 2003, p.1)
SERVETTO et.al / 1998
Trabalho predominantemente manual; utilização de recursos
naturais locais; conhecimentos transmitidos pelas gerações
passadas; caráter utilitário e funcional da obra; bagagem cultural
plasmada na criação individual; expressão de uma cultura e fator
de identidade. (SERVETTO et.al. 1998, p. 12 apud NUNES,
2013, p. 24)
Instituto de Artesanato Visconde de
Mauá / 2010
Expressão espontânea da cultura popular, manifestada através de
objetos produzidos manualmente ou com ajuda de equipamentos e
ferramentas, elaborados por um indivíduo ou grupo, utilizando
matéria-prima natural e/ ou reciclável, regional, técnicas
tradicionais, expressando simbologias.
Elaborado: Nilda Oliveira, 2018.
Fonte: Diversas (DISSERTAÇÕES DE MESTRADO; UNESCO, 1997; SEBRAI, 2012; BAHIA, 2010)
Ressalta-se que todas as definições acima convergem para dois pontos principais: o
uso das mãos como principal ferramenta de trabalho e a transformação das matérias-primas
(recursos naturais locais) utilizando a criatividade aliada ao saber-fazer (técnicas) que foi
transmitido através dos séculos de geração a geração.
Com relação a sua classificação, a Base Conceitual do Artesanato (2010) o define
conforme a origem, a natureza de criação e de produção, as peculiaridades de quem produz e
a representatividade potencial do produto. E ainda recorre como determinante aos valores
48
históricos e culturais do local onde é produzido. Dessa forma, o artesanato possui 5 (cinco)
categorias de classificação:
Artesanato Tradicional - conjunto de artefatos mais expressivos da cultura de um
determinado grupo, representativo de suas tradições e incorporados à vida cotidiana,
sendo parte integrante e indissociável dos seus usos e costumes. A produção,
geralmente de origem familiar ou comunitária, possibilita e favorece a transferência de
conhecimentos de técnicas, processos e desenhos originais.
Artesanato Indígena - resultado do trabalho produzido no seio de comunidades e etnias
indígenas, onde se identifica o valor de uso, a relação social e cultural da comunidade.
Os produtos, em sua maioria, são resultantes de trabalhos coletivos, incorporados ao
cotidiano da vida tribal.
Artesanato de Referência Cultural - sua principal característica é o resgate ou releitura
de elementos culturais tradicionais da região onde é produzido. Os produtos, em geral,
são resultantes de uma intervenção planejada com o objetivo de diversificar os
produtos, dinamizar a produção, agregar valor e otimizar custos, preservando os traços
culturais com o objetivo de adaptá-lo às exigências do mercado e necessidades do
comprador.
Artesanato Contemporâneo-Conceitual – Forma estética é concebida a partir da
releitura de elementos culturais tradicionais da região onde são produzidos. Utiliza
matérias-primas mais elaboradas, mesclando ou reciclando outros materiais visando
atender tendências de mercado.
Artesanato de Reciclagem - É o resultado do trabalho produzido a partir da utilização
de matéria-prima que é reutilizada. (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, 2010).
Destaca-se que de acordo com o PAB (Programa do Artesanato Brasileiro) a tipologia
do artesanato é determinada de acordo com a matéria-prima4 predominante utilizada na
confecção do objeto. E essas podem ser de origem natural ou terem passado por algum tipo de
processo físico ou químico:
______________
4Toda substância principal, de origem vegetal, animal ou mineral, utilizada na produção artesanal, que sofre tratamento e/ou transformação de natureza física ou química, resultando em bem de consumo. Ela pode ser
utilizada em estado natural, depois de processadas artesanalmente/industrialmente ou serem decorrentes de
processo de reciclagem/reutilização. (Base Conceitual do Artesanato, 2010, p. 18).
49
Matéria-prima natural: Areia colorida; Borracha; Cera, gesso e parafina; Chifres e
ossos, dentes e cascos (que não sejam de espécies constantes na lista oficial da fauna
brasileira ameaçada de extinção); Conchas e escamas de peixes; Couro, peles, penas,
casca de ovos e crinas de cavalo; Fibras vegetais: Fios e tecidos (naturais: como a seda
e a lã); Madeira; Metais; Papel; Pedras; Sementes, cascas, raízes e folhas secas; Vidro.
Matéria-prima processada-artesanal, Industrial e com processos mistos: Argila (barro);
Fios e tecidos (químicos e artificiais)
Figuras 18 - Preparo da fibra do coroá /fiação. Figura 19 - Fios industriais de algodão, fibra de sisal e de
sisal industrializado
Tomando o artesanto pelo seu viés simbólico, Servetto (1998) expõe que o artesanato
é uma expressão cultural e fator de identidade de um povo. Arantes (1981, p.12), tem a
cultura como um conjunto de códigos e convenções simbólicas presentes em todas as ações
humanas (no vestuário, na culinária, na língua (entoada de diferentes modos), seja na área de
trabalho, das relações conjugais, da produção da economia ou artística, do sexo, da religião,
das formas de dominação ou de solidariedade).
Arantes (1981, p.17) ainda nos diz que estas ações ao passarem por sucessivas
modificações e recriações sempre carregadas de contextos históricos, possibilitam a
construção de novos significados culturais capazes de construir diversos núcleos de
identidades dos vários agrupamentos humanos. Nesse contexto, a cultura torna-se um
instrumento diferenciador de um determinado lugar, ou seja, assume o papel de referência de
identidade.
Fonte: Instituto de Artesanato Visconde de Mauá, 2014
50
Corroborando com Arantes, Warnier (2001, p.10) ratifica que a cultura configura-se
como um dos elementos responsáveis pela definição da identidade. Para ele, a cultura e a
língua associadas a um conjunto de repertório de ações definem a identidade, a qual permite a
um indivíduo não somente se reconhecer como pertencente a um determinado grupo social
como também identificar-se com ele.
Vale ressaltar, que para Warnier (2001, p.15) toda cultura é única, responsável pelo
papel central no processo de diferenciação de um grupo social (de um povo). Desta forma, em
um mundo cada vez mais globalizado, a cultura pode ser tomada como uma ferramenta de
identificação de um lugar, pois promove a sua singularidade.
Toda cultura es singular, geográficamente y socialmente localizada, objeto de
expresión discursiva dentro de una lengua determinada, factor de identificación
para los grupos y los individuos, y de diferenciación con respecto a los otros, así
como de orientación de los actores unos respecto a su medio.(WARNIER, 2001, p.
5)
A partir do contexto acima podemos afirmar que o artesanato possui um grande valor
cultural, pois representa a identidade de um povo expressada através do seu poder criativo,
mas, além da sua importância simbólica possui também um importante viés econômico.
Considerado como uma excelente lembrança de viagem para muitos turistas estima-se que
atualmente a sua comercialização já movimente R$ 50 bilhões ao ano na economia brasileira
(MDIC) e que 10 milhões de brasileiros vivam da sua comercialização (IBGE).
Segundo o Sebrae (2010, p.07), a atividade artesanal desempenha um importante papel
social, pois:
Promove a inserção da mulher e do adolescente no mercado de trabalho;
Fixa o artesão rural no seu local de origem;
Estimula a prática do associativismo;
Fomenta o resgate cultural;
Fortalece a identidade regional.
Para efeito de informação, destaca-se que em 2010, o Programa do Artesanato
Brasileiro (PAB) em consonância com as Coordenações Estaduais do Artesanato criaram a
Base Conceitual do Artesanato (Portaria SCS/MDIC n°29, de 05 de outubro de 2010) com o
objetivo de normatizar os conceitos do artesanato brasileiro além de classificar a produção
artesanal de acordo com a sua origem e sua matéria-prima. A criação da Base Conceitual teve
o propósito sistematizar a produção artesanal para promover o seu desenvolvimento de uma
51
maneira mais estruturada, a partir do entendimento do que seria realmente Artesanato e
Artesão, conforme mostra o quadro abaixo:
Quadro 04 – Definição de Artesanato e Artesão conforme a Base Conceitual de Artesanato
ACEITO PELA BASE CONCEITUAL
DE ARTESANATO
NÃO ACEITO PELA BASE
CONCEITUAL DE ARTESANATO
ARTESANATO:
Compreende toda a produção resultante da
transformação de matérias- primas, com
predominância manual, por indivíduo que
detenha o domínio integral de uma ou
mais técnicas, aliando criatividade,
habilidade e valor cultural (possui valor
simbólico e identidade cultural), podendo
no processo de sua atividade ocorrer o
auxílio limitado de máquinas, ferramentas,
artefatos e utensílios.
Não é ARTESANATO:
-- Trabalho realizado a partir de simples
montagem, com peças industrializadas e/ou
produzidas por outras pessoas; --
Lapidação de pedras preciosas;
-- Fabricação de sabonetes, perfumarias e
sais de banho, com exceção daqueles
produzidos com essências extraídas de
folhas, flores, raízes, frutos e flora
nacional.
-- Habilidades aprendidas através de
revistas, livros, programas de TV, dentre
outros, sem identidade cultural.
ARTESÃO:
É o trabalhador que de forma individual
exerce um ofício manual, transformando a
matéria-prima bruta ou manufaturada em
produto acabado. Tem o domínio técnico
sobre materiais, ferramentas e processos
de produção artesanal na sua
especialidade, criando ou produzindo
trabalhos que tenham dimensão cultural,
utilizando técnica predominantemente
manual, podendo contar com o auxílio de
equipamentos, desde que não sejam
automáticos ou duplicadores de peças.
Não é ARTESÃO aquele que:
I – Trabalha de forma industrial, com o
predomínio da máquina e da divisão do
trabalho, do trabalho assalariado e da
produção em série industrial;
II – Somente realiza um trabalho manual,
sem transformação da matéria-prima e
fundamentalmente sem desenho próprio,
sem qualidade na produção e no
acabamento;
III – Realiza somente uma parte do
processo da produção, desconhecendo o
restante.
Elaborado: Nilda Oliveira, 2018
Fonte: Brasil, 2012, p. 11
52
4 A RENDA DE BILRO UMA REPRESENTAÇÃO DA PRODUÇÃO CULTURAL
A Renda de Bilro é uma espécie de tecido confeccionado através do cruzamento e
entrelaçamento sucessivo de fios com a ajuda de bilros, manejados sobre um esboço de papel
(guia para a construção da peça) fixado na superfície de uma almofada firme que com ajuda
de alfinetes guiam a passagem dos fios que vão marcando os pontos, formando tramas e
desenhos (RAMOS, RAMOS, 1948).
Figura 20 - Confecção da Renda de Bilros
Fonte: https://lojadela.files.wordpresss.com/2012/04/rendas-jan-2012.
Bayard descreve o fabrico da renda de maneira mais minuciosa:
As rendas de bilros são executadas numa almofada ou coxim sobre o qual se reproduz um desenho por meio de buraquinhos. Alfinetes enfiados nestes furinhos
dirigem e prendem o entrecruzamento dos fios que estão presos a bobinas. É
cruzando, misturando e entremeando essas bobinas, que os fios dão nós. Se
misturam e entrecruzam, figurando assim, segundo a vontade do desenho, retículas
mais ou menos fechadas; modelando, numa palavra, os motivos expressos
(BAYARD; apud RAMOS; RAMOS, 1948, p. 19).
Configura como uma expressão cultural predominantemente feminina, uma tradição
que é passada de mãe para filha de geração em geração. “La tradición se define como
“aquello que del pasado persiste en el presente o que es transmitido, sobrevive activamente y
53
es aceptado por aquellos que la reciben y que, en el curso de las generaciones, la
transmiten”(POUILLON,1991, p. 710; apud WARNIER, 2001, p.07).
Representa uma manifestação cultural que demonstra o saber-fazer (a técnica) e as
histórias vividas passada por gerações, ou seja, são práticas que integram a identidade de um
local, desta maneira, constitui um Patrimônio Cultural de natureza material e imaterial
(IPHAN). O fazer que é a união dos bilros, das linhas e das mãos junto ao saber das rendeiras
é de natureza imaterial e a peça (renda) pronta de natureza material (PELLEGRINE e
FUNARI, 2008, p.27).
Para a sua produção são utilizados materiais específicos (apetrechos) que conforme a
região de origem pode apresentar forma, composição e denominação diferentes:
Almofada: Espécie de coxim sobre o qual se afixa o papel ou pique (padrão), que
guia os pontos da renda, onde são enfiados os alfinetes que dirigem e prendem o
entrecruzamento dos fios que estão presos aos bilros (RAMOS, RAMOS 1948, p.
44). Apresentam as seguintes formas: a) Cilíndrica; b) Cilíndrica alongada; c)
Giratória; d) Redonda achatada; e) Vertical ou cavalete; f) Ortogonal; g)
Quadrada; h) Redonda.
a) Foto 10 - Almofada Cilíndrica – Utilizada em
Portugal e no Brasil
Fonte: Acervo próprio, 2018
a) Figura 21 - Almofada cilíndrica alongada –
utilizada na Espanha
Fonte: Marina Martins www.blogspot.com.renda
54
c) Figura 22 - Almofada giratória – utilizada na
Espanha
Fonte: aracne-aracne.blogspot.com.br/2013/11/
renda-de-bilros
d) Figura 23 - Almofada redonda achatada-
utilizadas na Bélgica
Fonte: https://startupfashion.com/how-lace-is-made
e) Figura 24 - Almofada cavalete – utilizada em no
Brasil (Rio de Janeiro)
Fonte: Amélia Zaluar / Arraial do Cabo, 1978 apud
As Rendeiras de Bilro do Estado do Rio de Janeiro,
1978, p. 10
f) Figura 25 - Almofada ortogonal utilizada em Portugal
Fonte: Van Sciver Bobbi Lacen, 2012 apud Matsusaki,
2016
55
g) Figura 26 - Almofada quadrada – utilizada no
Brasil (Rio de Janeiro e Florianópolis)
h) Figura 27 - Almofada redonda – utilizada Bélgica e
Portugal
Fonte: Van Sciver Bobbi Lacen, 2012, apud Matsusaki, 2016
Bilros: peça de madeira formada de duas extremidades – cabo e cabeça – na qual se
enrola linha que prende nos alfinetes (RABELLO; apud OITICICA, 1974, p.37). Sua
composição pode variar, podem ser feitos de chumbo (Veneza, as primeiras rendas),
osso, marfim e madeira. Assim como, sua forma, tamanho e peso.
Como exemplos:
a) Formado de um único corpo com composição em madeira, formato de pera
alongada;
b) Formado de dois corpos com composição em madeira e semente de buriti;
formato com haste e cabeça;
c) Formado de um único corpo com composição em osso e enfeitado com
miçangas;
d) Formado por um corpo comcomposição em madeira e enfeitado com
miçangas.
Fonte: https://startupfashion.com/how-lace-is-made
56
a) Figura 28 - Bilro com formato de pera – utilizado
em Portugal e Brasil
Fonte: Fonte Bianca do Carmo Matsusaki, 2012 apud
Matsusaki, 2012
b) Figura 29 - Bilro formado por haste e cabeça –
utilizado no Brasil
Fonte Bianca do Carmo Matsusaki, 2012 apud
Matsusaki, 2012
c) Figura 30- Bilro feito de osso e enfeitado/ miçangas
utilizados na Bélgica
Fonte: Terry & Brenda’s home page, 2013
d) Figura 31 - Bilro feito de madeira miçangas
utilizados no Brasil (Trairi-CE)
Fonte: Terry & Brenda’s home page, 2013
Pique: tira de papelão em que é feito o desenho da renda por meio de furos, nos quais
se enfiam alfinetes com a respectiva linha de cada bilro (RABELLO; apud OITICICA,
1974, p. 40).
57
Figura 32 - Papelão ou pique pronto para ser utilizado
Fonte: Bianca do Carmo Matsusaki, 2012 apud
Matsusaki, 2012
Figura 33 - Avesso do papelão ou pique picado
Suporte para almofada: em algumas regiões pode ser encontrado feito de madeira cuja
altura pode ser regulada; em outras se apresenta como uma estante, com a parte
inferior cheia e a superior escavada (espaço para ser colocada a almofada). Em
algumas regiões as rendeiras não utilizam nenhum tipo de suporte específico, repousa
a almofada diretamente no solo, em cima de um caixote e ou de uma cadeira ou
mesmo sobre suas pernas (RAMOS, RAMOS, 1948, p. 44)
Figura 34 - Suporte de madeira para almofada Figura 35 - Suporte para almofada tipo estante
utilizado em Portugal utilizado em Portugal e no Brasil
(Florianópolis)
Fonte: desacato.info/renda
Fonte Bianca do Carmo Matsusaki, 2012 apud
Matsusaki, 2012
Fonte: desacato.info/renda
Fonte: desacato info / renda
58
Quadro 05: Exemplos da aculturação da renda de bilros expressada nas diferentes formas dos apetrechos
utilizados na sua produção
Países
Formato da almofada
Formato do bilro
Papel utilizado para
molde da renda
Bélgica
Redondas achatadas e
pequenas
Bilros de um único corpo
de tamanho pequeno
Cartolina / pergaminho
França
Cilíndrica
Bilros utilizados possuem
um único corpo com a
forma fina e alongada
As rendeiras utilizam
cartolina ou pergaminho
ao invés do papelão
Portugal
A mais utilizada é a
cilíndrica / Redonda /
ortogonal
Bilros são
confeccionados no
formato de uma haste
com uma das suas
extremidades na forma de
uma pera alongada.
Registra-se o uso da
cartolina, tingida com
mistura de gema de ovo
mais açafrão, para ganhar
a cor amarelada, com a
finalidade de distinguir a
renda branca do fundo do
desenho
Espanha
Cilíndrica mais alongada
/ Formato diferente, o
qual consiste em repousar
a almofada sobre um
cilindro móvel fixado nas
extremidades por dois
engates, o que permite
mover a renda a
proporção que é
trabalhada.
Bilros são
confeccionados no
formato de uma haste
com uma das suas
extremidades na forma de
uma esfera / forma de
apenas uma haste
Cartolina / pergaminho
escurecidos
Brasil
De acordo com a Funarte
(1986) observa-se
formatos diferentes de
almofadas conforme a
região de produção no
país. Registra-se o uso
das formas quadrada,
redonda, vertical ou
cavalete (consiste em um
travesseiro costurado em
um cavalete de madeira)
e cilíndrica (a mais
utilizada pelas rendeiras
brasileiras).
Observa-se bilros
confeccionados em uma
única peça apresentando
uma das suas
extremidades no formato
de uma pera e bilros
formados por duas peças
(haste e esfera)
Conforme o local de
produção observa-se o
uso do papelão e da
cartolina
Elaborado: Nilda Oliveira, 2018
Fonte: Ramos, Ramos, 1948, p. 44 e 45 e Funarte, 1986
59
Quanto à origem da renda de bilro todas as conjecturas não conseguem convergir para
um mesmo ponto. Segundo Ramos, Ramos (1948, p. 19) a sua forma atual da Renda de Bilros
vem do final do século XV. Porém, quanto a sua procedência não há um consenso a esse
respeito entre pesquisadores, os quais conjecturam que pode ter sido na Itália ou na Bélgica.
Ainda segundo os autores supracitados, é da Itália, mais precisamente de Milão, a
primeira referência histórica (1493) registrada sobre a renda de bilro, que consiste em um
documento de partilha entre duas irmãs de uma faixa de renda trabalhada a doze bilros, e,
outro de 1535, conservado na Biblioteca Real de Munique, o qual infere que a renda de bilro
foi introduzida na Alemanha via negociantes da Itália e de Veneza (RAMOS, RAMOS, 1948,
p. 20).
Desta forma, para Ramos, Ramos (1948, p. 20) as rendas de bilros parecem ter surgido
na Itália setentrional no século XV (com Milão e Gênova configurando-se com as duas
cidades onde se iniciaram a produção) e depois ter sido disseminada por toda península e nos
demais países vizinhos através das relações de comércio, daí se explica a sua introdução em
Flandres (Bélgica) no começo do século XVI.
As relações de comércio entre Itália setentrional e a Flandres explicam a introdução,
em data muito antiga, das rendas de bilros na Bélgica em começos do século XVI.
Os artistas belgas iam em grande número à Itália, estudar pintura e é fácil
compreender que esses negociantes e esses artistas tivessem transportado à Flandres
a arte da renda de bilros (RAMOS; RAMOS, 1948, p. 21).
A partir do século XVIII a renda de bilros adquire prestígio na França, com a renda de
Valenciannes, cidade de Flandres francesa. Neste contexto, Itália, Bélgica e França
configuram como as principais fontes de produção da renda de bilros. Ao mesmo tempo em
que ocorre a sua difusão entre os demais países da Europa, como exemplo: Suíça, Alemanha,
Hungria, Rússia, Escócia, Dinamarca, Suécia, Portugal, Espanha e Holanda (RAMOS,
RAMOS, 1948, p. 23)
No primeiro momento, a renda de bilros era utilizada somente na ornamentação das
igrejas e conventos, nas vestes sacerdotais e toalhas de altares. Mais tarde, começou a fazer
parte do vestuário de reis, rainhas e depois foram introduzidas nos vestuários e roupas de
cama, mesa e banho de damas da alta sociedade, tornando-se indicativo de diferenciação
social. (RAMOS, RAMOS, 1948, p.16).
Vale salientar, que culturalmente os trabalhos manuais como a tecelagem, fiação,
bordado e a costura sempre foram relacionadas ao ideário feminino. Dentro deste contexto, a
60
renda de bilros caracteriza-se como uma atividade praticada predominantemente por mulheres
cujo saber-fazer é transmitido oralmente.
Para analisarmos o processo de adaptação cultural da renda de bilros no Brasil é
necessário conhecer as discussões sobre sua origem. Quanto a sua procedência pode-se
afirmar que é europeia, porém, devido à quase inexistência de documentos históricos escritos
não se conclui sobre a sua nacionalidade. Acredita-se que tenha sido primeiramente
introduzida por intermédio das mulheres portuguesas que migraram para o país com os seus
familiares.
Abandonamos assim, qualquer tentativa de reconstrução histórica através de documentos escritos pelas razões aludidas da sua quase inexistência. Poderíamos
apenas inferir que as rendas de bilros entraram no Brasil com as primeiras mulheres
portuguesas vindas, com suas famílias, de pontos de Portugal onde tradicionalmente
se fazem rendas de bilros, como nas áreas costeiras do Minho à Estremadura e ao
Algarve. (RAMOS; RAMOS, 1948, p.36)
Ao mesmo tempo, em que a diversidade de modelos dos apetrechos utilizados para
produção da renda de bilros, encontrados nas diferentes regiões do Brasil, levanta a
possibilidade de procedências distintas.
Não obstante a escassez de fontes escritas, não podemos descartar a possibilidade de
múltiplas origens, tendo sido a técnica aqui introduzida em diferentes momentos
históricos como resultado do fluxo migratório de diversos grupos humanos, como
aliás sugere a variação nos tipos de almofadas encontradas no Brasil. (DANTAS,
2005, p. 21; apud BRUSSI, 2015, p. 17).
Neste contexto, o que se pode afirmar é que a renda de bilros foi introduzida no Brasil
via colonização, cujas técnicas foram difundidas pelas mulheres europeias que mesmo longe
das suas origens queriam manter viva as suas tradições.
A feitura da renda de bilros para as famílias europeias mais abastardas fazia parte da
instrução apropriada para as moças. Contudo, no percorrer do seu processo de difusão no
Brasil, deixou de ser um conhecimento exclusivo das classes mais altas e foi assimilado por
mulheres de todas as classes sociais. Desta forma, a renda de bilros passou a representar para
as mulheres de classes mais pobres uma oportunidade para complementar a renda familiar.
Compreende esta arte a renda de fabrico das senhoras de alta sociedade ou mesmo
das burguesas que fazem renda para entretenimento ou para “matar o tempo” quando
descansam dos trabalhos caseiros; é por isto que disse antes que a indústria da renda é a “de não fazer nada”, porque havendo outro que-fazer, a almofada está desprezada
em um canto da casa [...]. (OITICICA, 1974, p.12)
61
Ainda, de acordo com Ramos, Ramos (1948, p. 37), apesar da renda de bilros ter sido
assimilada em várias regiões do Brasil, a maior concentração dos centros de produção se
encontra nas áreas costeiras, nas margens dos rios, áreas culturalmente pobres de pescadores.
[...] Em todas as povoações de pescadores fabricam-se rendas de onde o aforisma:
“onde há redes, há rendas”. Essa arte é transmitida de geração em geração, entre as
mulheres das classes pobres, embora tenha havido fases em que as moças de alta
sociedade aprenderam a fazer rendas de bilros nos conventos. (RAMOS; RAMOS,
1948. p.31).
No Brasil, a região Nordeste configura-se como o maior centro de expressão da
renda de bilros, encontrada segundo a Funarte (1986) em oito dos noves estados da Região,
com exceção da Paraíba.
Quadro 06 - Localidades de produção da renda de bilro no Brasil.
Estados
Localidades
Alagoas São Sebastião
Pernambuco Ilha de Itamaracá; Caruaru
Rio Grande do Norte Praia de Ponta Negra; Pirangi; Maracaju; Muriú; Genipabu; Goianinha;
Cabaceiras, Pipa; Tibau
Maranhão Praia da Raposa
Sergipe Porto da Folha; Riachão dos Dantas
Bahia Salvador (Ilha de Maré), Bom Jesus dos Passos, Salinas da Margarida;
Saubara, São Francisco do Conde; Lençóis
Ceará Aquiraz; Trairi; Flecheiras
Piauí Praia da Parnaíba
Santa Catarina
Lagoa da Conceição; praia da Joaquina; Barra da Lagoa; Rio
Vermelho; Aranhas,; Ingleses; Ratones; Vargem Pequena; Canavieiras;
Ponta de Canas; Rio da Várzea; Jurerê; Praia do Forte; Campeche; Rio
Tavares; Armação; Alto do Ribeirão; Ribeirão da Ilha; Imarui; Laguna
Minas Gerais Viagem da Lapa; Berilo; Turmalina; Capelinha; Jequitai; Januária; São
Francisco; São Romão; Manga; Montalvânia
Rio de Janeiro Cabo frio; Arraial do Cabo; Campos; Laje do Muriaé; Saquarema; São
Gonçalo; Porciúncula; Valença
Espírito Santo Praia de Nova Almeida; Guarapari; Meaípe
Elaborado: Nilda Oliveira
Fonte: Funarte, 1986
Na Bahia a produção da renda de bilros atualmente é encontrada nos município de
Saubara, Dias D’Ávila, Camaçari, Salvador (Ilha de Maré) e em Caldeirão do Uibaí.
62
Map
a 2:
Lo
cali
zaçã
o d
a P
roduçã
o d
a R
enda
de
Bil
ros.
63
Salienta-se, que o processo da adaptação cultural da renda de bilro no Brasil pode ser
observado entre as regiões que realizam sua produção, expresso nos materiais (apetrechos)
utilizados na sua confecção bem como nos pontos empregados pelas rendeiras nas diferentes
regiões do país. Com relação aos apetrechos utilizados naprodução da renda de bilro pode-se
observar que:
A almofada a mais utilizada pelas rendeiras brasileiras é a de formato cilíndrico. A
partir de um pedaço de tecido cortado em forma retangular, de maneira que quando costurado
nas extremidades adquire um formato roliço. O seu enchimento pode ser feito com palha de
bananeira seca, macela, capim do campo ou Barba de Velho e o tecido mais preferido para ser
utilizado como forro é a chita por ser multicolorido. No Brasil, de acordo com a Funarte
(1986) esta forma cilíndrica da almofada pode variar conforme a tradição do local da
produção;
Os bilros confeccionados em madeira cujas hastes se apresentam de formas
diferenciadas conforme a tradição local. Podem ser feitos somente em uma peça com uma das
suas extremidades na forma de pera alongada ou serem produzidos em duas peças (uma haste
e no final da sua extensão é colocado uma esfera que pode ser um coquinho ou outra semente
mais dura);
O pique, molde (desenho), que dá forma a renda. Pode ser feito de um papel grosso
que permita a perfuração como o papelão, a cartolina ou o pergaminho. Nas regiões
brasileiras recebe denominações diferentes;
Os alfinetes confeccionados de metal branco inoxidável, têm a finalidade de fixar os
pontos da renda ao pique. Para isso são utilizados os mais grossos e compridos na produção
de rendas mais grosseira e os menores e mais finos para rendas mais delicadas. Algumas
rendeiras além dos alfinetes utilizam-se de espinhos retirados de algumas cactáceas como o
mandacaru;
Os Fios utilizados para feitura da renda de bilros fios de algodão com predominância
para a cor branca, porém algumas regiões ainda se utilizam de outras cores.
O quadro abaixo demonstra a adaptação cultural da renda de bilro no Brasil
representado através dos materiais utilizados para sua produção que se apresentam de formas
diferenciadas:
64
Quadro 07: Apetrechos utilizados na produção da Renda de Bilros nos Estados brasileiros conforme o seu
processo de adaptação cultural
Estado
Forma da
almofada
Tipo de bilro
Nomes dados ao
papel (molde da
renda)
Alfinetes e ou
espinhos
Cores e
espessuras dos
fios de linha
Ceará
Cilíndrica
Bilros de uma peça
/ Bilros de duas
peças
(cuja cabeça é feita
da semente do coco
do buriti, são os preferidos da
maioria das
rendeiras por serem
mais leves)
Papelão / Pique
(as rendeiras
utilizam folhas de
papel ‘panamá’,
um tipo de
papelão grosso, que é cortado em
tiras e pedaços
menores)
Alfinetes e
espinhos de
mandacaru
Fios com
espessura
grossa
(predominância)
e fina / Cores
branca, verde e rosa
Santa
Catarina
Cilíndrica
Bilro de uma única
peça feitos de
madeira, a cabeça
ou pêndulo na
forma de um pião
(brinquedo)
Pique
Alfinetes e
espinhos de
laranjeira
Fios com
espessura
grossa e fina /
Cores branca,
verde e rosa
Sergipe
Redonda
Bilros de uma peça
Papelão de renda
Alfinetes e
espinhos de
mandacaru
Fios com
espessura
grossa e fina /
Cor branca
Rio de
Janeiro
Quadrada,
vertical ou de
cavalete
Bilros de duas
peças
Pique
Alfinetes e
espinhos de
laranjeira
Fios com
espessura
grossa e
fina/Cores branca, branca e
rosa; branca e
azul.
Alagoas
Redonda e cilíndrica
Bilros de uma peça
Papelão picado ou
simplesmente
picado
Alfinetes e
espinhos de
mandacaru
Fios com
espessura
grossa e fina /
Cores branca,
verde e rosa
Bahia
Formato mais
utilizado é o
cilíndrico,
verifica-se
também em
menor escala o
emprego de
almofadas de
cavalete,
redonda
Bilros de uma peça
/ Bilros de duas
pecas (haste em
madeira e na ponta
uso de uma semente
dura)
Papelão / Pique /
Picado
Alfinetes de aço
inoxidável /
Espinhos de
mandacaru e de
laranjeira
Uso de linha
com espessura
grossa e fina
Cores:
predominância
cor branca
Elaborado: Nilda Oliveira, 2018
Fonte: Ramos, Ramos, 1948, p. 47, 50, 51, 52; Funarte, 1986.
65
De acordo com Ramos, Ramos (1948, p.61), a renda de bilros possui vários aspectos
culturais os quais estão implícitos em todas as fases da sua produção. Desde os materiais
utilizados para a sua confecção, que recebem variações regionais, conforme foi abordado
acima, até os nomes populares dados aos pontos e padrões empregados na sua feitura.
Ainda, segundo os autores supracitados (1948, p. 54), estas terminologias exprimem o
cotidiano das mulheres rendeiras, fazem analogia a fauna, flora, ao ambiente em seu entorno.
Dentre as variedades de pontos que expressão a adaptação cultural da renda de bilro, os mais
comuns nas diversas regiões do Brasil são:
Traça: são quatro fios trançados, denominação comum em todas as regiões do nome é
uma analogia ao animalzinho que come as roupas, deixando-as com furos.
Denominação utilizada em Alagoas, Paraíba e Bahia. O mesmo ponto é denominado
de Barata ou Baratinha no Ceará, Palmas em Sergipe, Matachinha ou Bananinha no
Rio de Janeiro e Bananinha em Santa Catarina;
Tijolo, Tijolinho ou Cocada: consiste em uma variedade do ponto traça, nome
utilizado no estado de Alagoas. No Ceará recebe o nome de Dado, Bordão ou
Dedinho; Tijolinho ou Sopapinho em Sergipe; Ponto Solto ou Laçada Frouxa no Rio
de Janeiro;
Cu de pinto: consiste em um ponto padrão que lembra a conformação da cloaca de um
pinto. Comum em Alagoas, Sergipe, Bahia e no Ceará.
Mosca ou Aranha: em Alagoas, Sergipe e no Rio de Janeiro recebe a denominação de
Caramujinho.
Pata de siri: denominação comum em toda a região Nordeste; o desenho formado
lembra as patas do crustáceo (siri).
Figura 36 - Ponto da renda de bilro-Traça
Fonte: Ramos, Ramos, 1948, p.
Figura 37 - Ponto da renda de bilro-Tijolinho
Fonte: Ramos, Ramos, 1948, p.
66
Figura 38 - Ponto da renda de bilro - Aranha
Fonte: Ramos, Ramos, 1948, p.
Figura 40 - Ponto da renda de bilro – Pata de siri
Figura 39 - Ponto da renda de bilro - Cu de Pinto
Fonte: Ramos, Ramos, 1948, p.
Ressalta-se que, o entrelaçamento destes e de outros pontos formam desenhos
geométricos e figuras que originalmente tinham um viés europeu, mas, ao serem assimilados
no Brasil, passaram por aculturações e receberam modificações tanto estruturais, tanto quando
em relação a sua denominação (RAMOS, RAMOS, 1948, p. 57). Observa-se mais uma vez,
que as terminologias empregadas estão diretamente ligadas ao cotidiano das mulheres
rendeiras, ou seja, configura-se como uma expressão cultural.
Fonte: Ramos, Ramos, 1948, p.
67
5 UTILIZAÇÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL E DO PATRIMÔNIO COMO
INSTRUMENTOS DE PRESERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO DA PRODUÇÃO
CULTURAL
A Propriedade Intelectual configura-se como um dos meios de proteção dos elementos
da expressão cultural oral ou não registrada, que garante a sua exploração mercadológica de
forma legal. (INPI, 2009). Vale salientar, que define-se como Propriedade Intelectual toda
propriedade que resulta da capacidade inventiva do intelecto humano (a qual engloba o
conhecimento, a tecnologia e os saberes) (OMPI, 1967).
obras literárias, artísticas e científicas; às interpretações dos artistas intérpretes e às
execuções dos artistas executantes, aos fonogramas e às emissões de radiodifusão; às
invenções em todos os domínios da atividade humana; as descobertas científicas; os
desenhos e modelos industriais; às marcas industriais, comerciais e de serviço, bem
como às firmas comerciais e denominações comerciais; à proteção contra a concorrência desleal e “todos os outros direitos inerentes à atividade intelectual nos
domínios industrial, científico, literário e artístico (Lista dos direitos relativos a
Propriedade Intelectual redigida pelos Estados. Artigo 2, § viii, Organização
Mundial da Propriedade Intelectual- OMPI, 1967).
Destaca-se que, diante de um mundo cada vez mais globalizado com a massificação
das culturas, a diferenciação cultural surge como uma ferramenta de fundamental importância
para o desenvolvimento de um território.
A ideia de globalização, no fim do século XX remete de imediato a uma imagem de
homogeneização sócio cultural, econômica e espacial. Homogeneização esta que tenderia a uma dissolução das identidades locais, tanto econômicas quanto culturais,
em uma única lógica, e que culminaria em um espaço global despersonalizado.
(HAESBAERT e LIMONAD, 2007, p. 40).
Visto que, as diferenças culturais e territoriais cooptadas pelo sistema capitalista
tornaram-se instrumentos de promoção do mercado global. Desta forma, dentro de uma visão
mercadológica é imprescindível valorizar e preservar a cultura, a identidade e o saber-fazer de
um local.
O retorno ao passado acontece para integrar as pautas de formação de preço, nas
quais a história, os costumes, o saber-fazer, o patrimônio material e imaterial podem
ser envelopados com nova máscara e etiqueta na qual, o marketing territorial passa a ser uma ferramenta fundamental para a promoção de mercado (CALDAS, 2013, p.
127)
68
Ressalta-se ainda que os direitos obtidos por meio da Propriedade Intelectual além de
promover a preservação e a valorização cultural ainda podem proporcionar retorno econômico
para os atores que investem esforço e trabalho no desenvolvimento de criações intelectuais
(OMPI, INPI, 2009). Esses direitos agrupam-se em dois grupos distintos: direitos autorais e
direitos da propriedade industrial:
Classicamente, a propriedade intelectual é tida como um gênero, que pode ser
dividido em dois grandes ramos do direito. Um se dedica ao estudo dos direitos
autorais, sendo alocado dentro do Direito Civil, enquanto o outro ramo inclui a
chamada propriedade industrial e tem seu estudo sistematizado principalmente no âmbito do Direito Comercial (LEMOS, 2011, p.03 apud ALEXANDRIA, 2015,
p.59).
Os Direitos Autorais refere-se a direitos concedidos aos autores de obras intelectuais,
que incluem: a) obras literárias, artísticas e científicas; b) interpretações artísticas e
execuções, fonogramas e transmissões por radiofusão e c) programas relacionados à
informática (OMPI, INPI, 2009).
Enquanto os Direitos da Propriedade industrial são os direitos concedidos com a
finalidade de promover a criatividade pela proteção, disseminação e aplicação industrial de
seus resultados: a) Patentes; b) Desenho industrial; c) Marcas; d) Indicações Geográficas
(OMPI, INPI, 2009).
Destaca-se que o gerenciamento de tratados e acordos internacionais referentes a
Propriedade Intelectual são de responsabilidade da Organização Mundial da Propriedade
Intelectual (OMPI) órgão das Nações Unidas. E, é tratada no âmbito do comércio
internacional pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
No Brasil, o órgão responsável pela normatização da Propriedade Idustrial é o Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (INPI) o qual é responsável pela análise dos pedidos de
Patentes, Marcas, Desenho Industrial, Indicação Geográfica, Programa de Computador e
Topografia de Circuito Integrado. (OMPI, INPI, 2009).
Vale salientar, que aliada a Propriedade Intelectual estão várias normas estabelecidas
pela Unesco em consonância com os Estados Partes (entre eles o Brasil) destinadas a
salvaguarda e valorização da cultura configurada como Patrimônio Cultural.
69
5.1 IMPORTÂNCIA DA SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO CULTURAL NO BRASIL
O Patrimônio Cultural, segundo o artigo 216 da Constituição Federal Brasileira,
entende-se como um legado cultural e histórico que foi construído e transmitido de geração
em geração, o qual, não somente diferencia um grupo social, ao formar e afirmar a sua
identidade, mas que, também desperta o sentimento de pertencimento dos indivíduos com o
espaço geográfico onde praticam diferentes tipos de relações (econômicas, afetivas,
ambientais, culturais entre outras). Ou seja o” Patrimônio cultural de um povo é formado pelo
conjunto dos saberes, fazeres, expressões, práticas e seus produtos, que remetem à história, à
memória e à identidade desse povo” (IPHAN).
Patrimônio Cultural é tudo o que faz parte da construção histórica e cultural do ser
humano em um determinado espaço físico, entendendo-se cultura como complexo
que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões e
hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade (INSTITUTO DO
PATIMÔNIO ARTÍSTICO E CULTURAL DA BAHIA).
Destaca-se que o patrimônio cultural representa uma peça chave no processo de
formação da identidade de um povo, assim, cabe a Geografia tomá-lo como objeto de estudo,
uma vez que, todos os fenômenos que ocorrem com o homem são orquestrados simbólica e
materialmente nele.
O patrimônio torna-se um atributo que contribui para a afirmação de processos de
identificação individuais e coletivos. E à Geografia interessa considerar o
patrimônio como campo de tensões sociais e assim revelar como o passado é
lembrado e representado e as implicações que isso no presente e na construção das
relações de “pertencimento” (NIGRO, 2010, p. 69, apud, SANTOS, 2014, p. 20, 21).
Em relação a sua natureza o Patrimônio Cultural é composto de bens materiais e
imateriais. Segundo Pellegrini e Funari (2008, p. 27), a materialidade é expressada através de
algo concreto, palpável, enquanto a imaterialidade é manifestada por intermédio dos saberes
orais do povo e pelo saber-fazer da produção de um espécie artesanal.
A Unesco compreende a materialidade como algo palpável que represente um valor
histórico, estético ou etnológico na vida de uma comunidade.
Patrimônio Cultural: os monumentos: obras arquitetônicas, esculturas ou pinturas
monumentais, objetos ou estruturas arqueológicas, inscrições, grutas e conjuntos de
valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência; os
conjuntos: grupos de construções isoladas ou reunidas, que, por sua arquitetura,
70
unidade ou integração à paisagem, têm valor universal excepcional do ponto de vista
da história, da arte ou da ciência; os sítios: obras do homem ou obras conjugadas do
homem e da natureza, bem como áreas, que incluem os sítios arquitetônicos, de
valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou
antropológico (UNESCO, Art. 1, 1972).
Ainda abordando sobre sua natureza, a Unesco define a imaterialidade como
expressões, representações, o saber-fazer, as crenças, ou seja, tudo o que singulariza um
determinado povo dando-lhe uma identidade.
Patrimônio Cultural Imaterial: as práticas, representações, expressões,
conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares
culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns
casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural.
Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é
constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de
sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural
e à criatividade humana (UNESCO, Art. 2, 2003).
Vale ressaltar, que a preservação do Patrimônio Cultural é de fundamental
importância não somente para a valorização e manutenção da memória coletiva, como
também, para afirmação da identidade de um grupo social. Além de manter a criatividade de
um povo e o enriquecimento da sua cultura.
A preservação tem por objetivo guardar a memória dos acontecimentos, suas
origens, sua razão de ser. Torna-se também imprescindível relacionar os indivíduos e a comunidade com o edifício a ser preservado, visto que uma cidade, no seu viver
cotidiano, tem sua identidade refletida nos lugares cuja memória os indivíduos
constroem no dia-a-dia. Preservar o patrimônio histórico é relacioná-lo com as
interações humanas a ele ligadas. O que torna um bem dotado de valor patrimonial é
a atribuição de sentidos ou significados que tal bem possui para determinado grupo
social, justificando assim sua preservação [...] (TOMAZ, 2010, p. 6, apud SANTOS,
2014, p. 15).
Diante deste contexto, em 1972, a Unesco em conformidade com os Estados-parte, na
iminência da ameaça a destruição do patrimônio cultural e do patrimônio natural estabeleceu
recomendações e resoluções para garantir sua conservação e proteção.
Constando que o patrimônio cultural e o patrimônio natural se encontram cada vez
mais ameaçados de destruição não somente devido a causas naturais de degradação,
mas também ao desenvolvimento social e econômico agravado por fenômenos de alteração de destruição ainda mais preocupantes (UNESCO, 1972).
71
Assim, foi acordado em Convenção realizada em 1972, que cada Estado Parte tem a
responsabilidade de identificar, proteger, conservar, valorizar e transmitir às próximas
gerações o seu patrimônio cultural e natural. Tendo como suporte, tanto recursos próprios,
tanto quanto, se houver necessidade, assistência e cooperação internacional referente a planos
financeiros, artístico, científico e técnico. (Art. 4, UNESCO,1972).
Cada Estado-parte responsabilizou-se em empenhar-se a:
1. adotar uma política geral com vistas a atribuir função ao patrimônio cultural e
natural na vida coletiva e a integrar sua proteção aos programas de planejamento;
2. instituir no seu território, caso não existam, um órgão (ou vários órgãos) de
proteção, conservação ou valorização do patrimônio cultural e natural, dotados de
pessoal capacitado, que disponha de meios que lhe permitam desempenhar suas
atribuições;
3. desenvolver estudos, pesquisas científicas e técnicas e aperfeiçoar os métodos de
intervenção que permitam ao estado enfrentar os perigos ao patrimônio cultural ou
natural;
4. tomar decisões jurídicas, científicas, técnicas, administrativas e financeiras
cabíveis para identificar, proteger, conservar, valorizar e reabilitar o patrimônio;
5. fomentar a criação ou desenvolvimento de centros nacionais ou regionais de
formação em matéria de proteção, conservação ou valorização do patrimônio
cultural e natural e estimular a pesquisa científica nesse campo. (Art. 5, UNESCO,
1972).
Com relação à imaterialidade do patrimônio cultural, a Unesco em 2003, reconheceu a
ausência de meios destinados a sua salvaguarda e elaborou em Convenção, instrumentos
normativos para suprimir essa lacuna.
Reconhecendo que o processo de globalização e de transformação social, ao mesmo
tempo em que criam condições propícias para o diálogo renovado entre
comunidades geram também, da mesma forma que o fenômeno de intolerância,
graves riscos de deterioração, desaparecimento e destruição do patrimônio cultural
imaterial, devido em particular à falta de meios da sua salvaguarda (UNESCO,
2003).
Desta forma, para assegurar a salvaguarda e o fortalecimento do patrimônio Cultural
imaterial a Unesco instituiu que cada Estado Parte responsabilizar-se em:
1. adotar uma política geral visando promover a função do patrimônio cultural
imaterial na sociedade e integrar sua salvaguarda em programas de planejamento;
72
2. designar ou criar um ou vários organismos competentes para salvaguarda do
patrimônio cultural imaterial presente no seu território;
3. fomentar estudos científicos, técnicos e artísticos, bem como metodologias de
pesquisa, para salvaguarda eficaz do patrimônio cultural imaterial, e em particular
do patrimônio cultural imaterial que se encontre em perigo;
4. adotar medidas de ordem jurídica, técnica, administrativa e financeira adequada
para:
a) favorecer a criação ou fortalecimento de instituições de formação e gestão do
patrimônio cultural imaterial, bem como a transmissão desse patrimônio nos foros
e lugares destinados à sua manifestação e expressão;
b) garantir o acesso ao patrimônio cultural imaterial, respeitando ao mesmo tempo os
costumes que regem o acesso a determinados aspectos do referido patrimônio;
c) criar instituições de documentação sobre o patrimônio cultural imaterial e facilitar
o acesso a elas. (Art.13, UNESCO, 2003).
É importante salientar, que a Unesco ao ponderar sobre a salvaguarda do patrimônio
cultural imaterial, colocou a educação e a informação como fatores de extrema relevância
para garantir a sua proteção, fortalecimento e o mais importante a sua valorização. Ficando
assim conciliado Unesco com os Estados parte a:
1. assegurar o reconhecimento, o respeito e a valorização do patrimônio cultural
imaterial na sociedade, em particular mediante;
2. programas educativos, de conscientização e de disseminação de informações
voltadas para o público, em especial para os jovens;
3. programas educativos de capacitação específicos no interior das comunidades e
dos grupos envolvidos;
4. atividades de fortalecimento de capacidades em matéria de salvaguarda do
patrimônio cultural imaterial, e especialmente de gestão de pesquisa científica;
5. meios não formais de transmissão de conhecimento.
6. manter o público informado das ameaças que pesam sobre esse patrimônio e das
atividades realizadas nas Convenções;
7. promover a educação para a proteção dos espaços naturais e lugares de memória,
cuja existência é indispensável para que o patrimônio cultural imaterial possa se
expressar. (Art. 14, UNESCO, 2003).
73
Dentro da realidade brasileira, apesar de toda a sua diversidade cultural, somente a
partir de 1936 é que foram implantadas políticas mais abrangentes para a preservação do seu
Patrimônio Cultural. Neste contexto, foi criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (SPHAN), órgão federal de proteção ao patrimônio cultural brasileiro, cuja
promulgação ocorreu em 13 de janeiro de 1937, Lei nº 378 (BRASIL, 1937, art. 46). Perdurou
até 1946, tornando-se a partir desta data o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN).
As primeiras ações políticas implantadas no Brasil para preservação do seu patrimônio
cultural vinculava a ideia de patrimônio a fatos históricos ocorridos no país que tivessem certa
relevância. Não faziam referência a cultura nem a imaterialidade dos bens patrimoniais.
O conjunto de bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de
interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil,
quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou
artístico (BRASIL, 1937, art. 25).
Esse conceito perdurou cinquenta e um anos até ser alterado pela Constituição
Federal Brasileira de 1988, a qual substituiu a nomenclatura de Patrimônio Histórico e
Artístico para Patrimônio Cultural Brasileiro. A Carta Magna de 1988, em consonância com a
Unesco, ampliou o conceito de patrimônio cultural ao reconhecer a existência de bens
culturais de natureza material e imaterial:
Carta Magna: Art.216 – Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência de identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira, nos quais incluem:
I – as formas de expressão;
II – os modos de criar, fazer e viver;
III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais;
V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL
DE 1988, art. 216).
Neste contexto, pode-se dizer que a Constituição Brasileira de 1988 trouxe novas
perspectivas para patrimônio cultural, inovando em diversos sentidos.
Primeiro, consagrou a ideia de que nação é uma realidade plural, internamente
diversificada e socialmente heterogênea. Segundo, incluiu no domínio do patrimônio
tantos bens culturais materiais como imateriais. Terceiro, destacou não apenas a
qualidade excepcional, histórica, estética e etnográfica do patrimônio, mas também
74
os significados a ele atribuídos pelos diversos grupos que constituem a comunidade
nacional, reconhecendo a relação desse campo com questões efetivamente cadentes,
como a construção da identidade, da ação da memória desses grupos (ARANTES,
2008, p.184).
Ainda, em relação à salvaguarda do Patrimônio Cultural Brasileiro, ressalta-se que o
IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural) atua de forma integrada e em
articulação com a sociedade e os poderes públicos estaduais e municipais. No estado da
Bahia, esse órgão trabalha em conjunto com o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da
Bahia (IPAC), autarquia vinculada à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SECULT).
Desta forma, com base no Decreto-lei federal n° 99.602 de 13 outubro de 1990, o
IPAC e as demais autarquias devem:
1. executar, por intermédio das prefeituras, ou diretamente, o controle e a fiscalização
dos conjuntos e núcleos tombados;
2. elaborar e propor o tombamento de bens culturais;
3. exercer a fiscalização e a liberação de bens culturais;
4. determinar o embargo de ações que contrariam a legislação em vigor;
5. executar diretamente a identificação, o cadastramento, o controle e a fiscalização
do patrimônio arqueológico em sua área de atuação;
6. contribuir para a formação da política de preservação do patrimônio cultural,
propor normas e procedimentos e desenvolver metodologias, refletindo a
pluralidade e diversidade cultural brasileira.
Ainda, como relação a salvaguarda de patrimônio cultural material e imaterial,
ressalta-se que seus instrumentos legais de proteção são o Tombamento e o Registro, os quais
diferenciam-se da seguinte forma:
Tombamento utilizado no que diz respeito aos bens materiais – edificações, monumentos,
objetos, através da aplicação de legislação específica (Lei Estadual nº. 8.895, de 16 de
dezembro de 2003), para bens de valor histórico, cultural, arquitetônico e também de valor
afetivo para a população. Registrados nos seguintes livros conforme sua especificidade:
1. Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico - onde são inscritos os bens
culturais em função do valor arqueológico, relacionado a vestígios da ocupação
humana pré-histórica ou histórica; de valor etnográfico ou de referência para
determinados grupos sociais; e de valor paisagístico, englobando tanto áreas naturais,
quanto lugares criados pelo homem aos quais é atribuído valor à sua configuração
75
paisagística, a exemplo de jardins, mas também cidades ou conjuntos arquitetônicos
que se destaquem por sua relação com o território onde estão implantados;
2. Livro do Tombo Histórico Neste livro são inscritos os bens culturais em função do
valor histórico. É formado pelo conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no
Brasil e cuja conservação seja de interesse público por sua vinculação a fatos
memoráveis da história do Brasil. Esse Livro, para melhor condução das ações do
Iphan, reúne, especificamente, os bens culturais em função do seu valor histórico que
se dividem em bens imóveis (edificações, fazendas, marcos, chafarizes, pontes,
centros históricos, por exemplo) e móveis (imagens, mobiliário, quadros e
xilogravuras, entre outras peças);
3. Livro do Tombo das Belas Artes - Reúne as inscrições dos bens culturais em função
do valor artístico. O termo belas-artes é aplicado às artes de caráter não utilitário,
opostas às artes aplicadas e às artes decorativas;
4. Livro do Tombo das Artes Aplicadas - Onde são inscritos os bens culturais em função
do valor artístico, associado à função utilitária. Essa denominação (em oposição às
belas artes) se refere à produção artística que se orienta para a criação de objetos,
peças e construções utilitárias: alguns setores da arquitetura, das artes decorativas,
design, artes gráficas e mobiliário, por exemplo (IPHAN).
Registro aplicado aos bens culturais imateriais – festividades, ofícios e técnicas, saberes e
outras expressões culturais (Decreto n° 3.551, 2000). Assim como o Tombamento também
possui seus livros de registro:
1. Livro de Registro dos Saberes – para a inscrição de conhecimentos e modos de fazer
enraizados no cotidiano das comunidades.
2. Livro de Registro das Celebrações – para rituais e festas que marcam a vivência
coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida
social.
3. Livro de Registro das Formas de Expressão – para as manifestações literárias,
musicais, plásticas, cênicas e lúdicas, produzidas por coletividades e que tenham
transmissão geracional de seus saberes e práticas.
4. Livro de Registro dos Lugares – destinado à inscrição de espaços representativos de
identidades, como mercados, feiras, praças e santuários onde se concentram e
reproduzem práticas culturais coletivas (IPAC).
76
5.2 PROCESSO DE NORMATIZAÇÃO DAS INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS NO
BRASIL E SEUS BENEFÍCIOS
As Indicações Geográficas podem ser definidas como indicações que identificam
produtos ou serviços em razão da sua origem geográfica, além de agregarem atributos como
reputação e fatores naturais e humanos, propiciando aos produtos ou serviços uma
singularidade, pois, carregam consigo a identidade e a cultura de um local. (OMPI, INPI,
2016, módulo 05, p.02).
Segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) e o Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (INPI) a proteção das Indicações Geográficas pode ser
para produtos industriais e agrícolas, e em alguns países, como exemplo o Brasil, incluem os
serviços e o artesanato.
No Brasil, as Indicações Geográficas são definidas e amparadas pela Lei 9.279/1996,
que as definem como:
Indicação de Procedência (IP) – indica o nome geográfico que tenha se tornado
conhecido pela produção ou fabricação de determinado produto, ou prestação de
determinado serviço (art. 177);
Denominação de Origem (DO) – indica o nome geográfico do local que designa o
produto, ou serviço, cujas qualidades ou características se devam exclusivamente ou
essencialmente ao meio geográficos, incluindo os fatores naturais e humanos (art.
178).
O esquema abaixo resume a diferença básica entre as modalidades de Indicações
Geográficas conforme a legislação brasileira:
77
Figura. 41 – Diferenciação entre Indicação de Procedência e Denominação de Origem
Indicação de Procedência Denominação de Origem
Fonte: Bruch (2009).
Como mostra o esquema acima, a diferença básica entre as IGs consiste que na IP
(Indicação de Procedência) o produto ou a prestação de serviço é responsável pela
notoriedade do seu local de origem, enquanto na DO (Denominação de Origem) é o meio
geográfico com elementos naturais (solo, clima, água, etc) e humanos (saber-fazer) que dão
uma qualidade essencial ao produto ou serviço, promovendo a singularidade do local de onde
são produzidos ou prestados (INPI, 2013).
Cabe salientar que a normatização das Indicações Geográficas suscitou grandes debates,
realizados ao longo de vários anos, cujo foco das discussões era a Propriedade Intelectual, os
quais permitiram definir claramente os seus conceitos, sua legalidade, sua utilização e seus
benefícios (OMPI, INPI, 2009).
Após percorrer todo um processo de construção, a Indicação Geográfica é na
atualidade conforme Caldas (2013, p.134), um elemento de diferenciação dos produtos que
recebem essa certificação, uma vez que, estes carregam consigo sua identidade territorial e
cultural as quais configuram como elementos agregadores de valor representando um ganho
de vantagem competitiva.
Signo distintivo
Nome
Geográfico
Produto
Notoriedade/
Reputação
Serviço
Signo distintivo
Nome
Geográfico
Produto
Serviço
Fatores
Naturais e
Humanos
78
Ainda segundo Caldas (2013, p.134) as Indicações Geográficas são lugares que
apresentam as seguintes características:
1. São regulados pela OMC e pela OMPI no cumprimento dos acordos, leis e
procedimentos definidos na escala internacional (Acordos sobre Aspectos dos
Direitos da Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio – Acordo TRIPS).
2. Cumprem as normas estabelecidas pelo Estado Nacional, determinadas pelos
acordos internacionais, os quais pressionam os sujeitos das ações para a
implementação das normas internacionais (Decreto nº 1.355, de 30/12/1994 e a
Lei nº 9.279, de 14 de maio de1996).
3. Apresentam uma base física comum (solo, relevo, vegetação, hidrografia,
geologia) e contígua de produção, a qual particulariza e individualiza a origem do
produto, cartograficamente delimitada.
4. Apresentam o saber-fazer singular, com características homogêneas, e se
diferenciam de outros locais de produção.
5. São reconhecidos pelo uso do nome do lugar, consagrado pela fabricação do
produto como consequência das características qualitativas do produto.
6. São regulados pelas instituições locais (associações e cooperativas de produtores)
regionais e internacionais.
7. São protegidas pelo marco regulatório instituído, o que impede que os outros
produtores, não incluídos no território de produção delimitado, utilizem o nome da
indicação geográfica reconhecida.
8. São territórios nos quais a conservação do meio ambiente tem um sentido de
agregação de valor ao produto, que associa a produção à ideia de defesa/cuidado
com a natureza.
Vale salientar que as Indicações Geográficas podem acarretar benefícios, tanto para os
atores envolvidos na sua produção, tanto quanto para o território onde é desenvolvida a
atividade (OMPI, INPI, 2016). Desta forma, a certificação de um produto com Indicação
Geográfica pode fomentar:
1. Aumento do valor agregado dos produtos ou serviços, diferenciando-os dos demais.
2. Preservação das particularidades dos produtos ou serviços, patrimônio das regiões
específicas.
3. Estímulo dos investimentos na própria área de produção, com valorização das
propriedades, aumento do turismo, do padrão tecnológico e da oferta de emprego.
79
4. Minimiza o êxodo rural em certas regiões.
5. Aumento da autoestima da população local e em determinados casos até do país.
6. Criação de vínculo de confiança com o consumidor, que sob o sinal distintivo da
indicação geográfica, sabe que vai encontrar um produto ou serviço de qualidade e
com características regionais.
7. Melhora na comercialização dos produtos ou serviços, facilitando o acesso aos
mercados através da propriedade coletiva. Alcance de maior competitividade no
mercado nacional e em determinados casos no internacional, uma vez que as
Indicações Geográficas vinculam uma imagem associada à qualidade, à tipicidade do
produto ou do serviço, promovem a garantia da qualidade, da reputação e da
identidade do produto.
8. Propiciam interação entre os membros da cadeia produtiva e entidades de fomento,
universidades, centro de pesquisas, sejam na estruturação do pedido de registro seja o
controle da produção ou prestação de serviços. (OMPI, INPI, 2009, módulo 05, pp.02
e 03).
Caldas (2013) reitera a importância da Indicação Geográfica em nível de
competitividade e de proteção jurídica.
Assim, a IG possibilita, empiricamente, a distinção do produto no mercado,
fornecendo-lhe uma vantagem competitiva (juridicamente protegida), na medida em
que valoriza e o diferencia a partir das especificidades típicas relacionadas à qualidade, à reputação e as características de um determinado território [...]
(CALDAS, 2013, p. 133)
As Indicações Geográficas além da sua importância econômica, também podem ser
entendidas como um elemento de salvaguarda do Patrimônio Cultural Material e Imaterial.
Uma vez que, os sistemas de produção a que estão vinculadas são tradicionais possuidores de
uma herança histórico-cultural inerente aos atores e ao local da produção. (INPI, SEBRAE,
2014, p. 10).
80
5.3 ARTESANATO BRASILEIRO COM INDICAÇÃO GEOGRÁFICA
Segundo dados do INPI (2017), existem atualmente no Brasil 53 certificações de
Indicações Geográficas espalhadas por quase todo o seu território. Encontradas nos estados do
Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Alagoas, Espírito Santo, Paraíba, Paraná,
Pernambuco, Piauí, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Bahia e Tocantins, presente em mais
de 200 municípios brasileiros se apresentam de forma diversificada:
a) Agroalimentares - arroz, biscoitos, cacau, camarão, carne bovina, doces, própolis,
queijos;
b) Artesanato – renda, cerâmica e estanho
c) Bebidas – café e cachaça
d) Produção mineral – gnaisse, mármore, opalas preciosas;
e) Tecnologia de informação
f) Vestuário – sapatos e couro
No que tange ao artesanato brasileiro, são sete o total de produtos artesanais com
registro de Indicação Geográfica (Lei n° 9.279/96). Vale salientar, que estes são certificados
na modalidade Indicação de Procedência. O quadro abaixo expõe os nomes dessas IGs
vinculados aos seus locais de origem e a data de seus registros:
Quadro 08: Artesanato brasileiro com Indicação Geográfica
Origem
Indicação de Procedência
Data do registro
São João do Cariri /
Paraíba
Cariri Paraibano – Renda Renascença
24/09/2013
Divina Pastora / Sergipe
Divina Pastora – Renda Irlandesa
26/12/2012
Campo Grande / Paraíba
Paraíba - Têxteis em algodão colorido
16/10/2012
Vitória / Espirito Santo
Goiabeiras – Panelas de barro
04/10/2011
Região do Jalapão /
Tocantins
Artesanato em Capim Dourado do Jalapão
30/08/2011
São João Del Rei / Minas
Gerais
São João Del Rei – Peças artesanais em estanho
07/02/2012
Pedro II / Piauí
Pedro II - Opala preciosa de Pedro II e joias artesanais
de opalas de Pedro II
03/04/2012
Elaborado: Nilda Oliveira, 2018
Fonte: Sebrae, 2014
81
De acordo com o quadro acima, entre as tipologias artesanais certificadas encontram-
se as rendas Irlandesa e a Renascença. Comparando-as com a renda de bilro de Saubara
verifica-se que as três diferem entre si quanto às técnicas de produção (bilros / agulhas), mas
se assemelham em relação ao gênero e ao meio socioeconômico (são produzidas
predominantemente por mulheres pobres e na maioria das vezes representa uma única fonte
de renda familiar) (INPI, SEBRAE, 2014, p. 08, 23).
Figura 42 - Selo da IP Divina Pastora para renda Irlandesa-Sergipe / Amostra da Renda Irlandesa
Fonte: INPI, 2017 Fonte: INPI, SEBRAE, 2014
Figura 43 - Selo da IP Cariri Paraibano para renda Renascença / Amostras da Renda Renascença
Fonte: INPI, 2017. Fonte: INPI, SEBRAE, 2014.
A titulo de informação ressalta-se, que todo produto ou serviço com certificação de
Indicação Geográfica deve seguir as normas estabelecidas pelo Regulamento de uso de nome
geográfico de produção. Para efeito de exemplos seguem os resumos desse regulamento da IP
Divina Pastora para Renda Irlandesa e da IP Cariri Paraibano para a Renda Renascença:
82
Quadro 09: Resumos dos Regulamentos de uso de nome geográfico de produção- IP Divina Pastora para Renda Irlandesa de Sergipe e IP Cariri Paraibano para Renda
Renascença da Paraíba
Capítulos
IP Divina Pastora para Renda Irlandesa de Sergipe
IP Cariri Paraibano para Renda Renascença da Paraíba
I - Da produção
Art. 1° Delimitação da área de produção:
O município localiza-se na região leste do Estado de Sergipe,
limitando-se com os municípios de Siriri e Nossa Senhora das
Dores (ao norte); Riachuelo (ao sul); Santa Rosa de Lima (ao oeste)
e Maruin e Rosário do Catete (ao leste).
Art. 2° Instrumentos de trabalho utilizados no processo de
produção da renda:
Agulha, papel transparente (seda); papel grosso (craft), almofada
para apoiar o papel sobre o qual a renda é tecida, tesourinha, dedal
e papel roliço.
Art. 1° Delimitação da área de produção:
Divisas políticas dos municípios de: Monteiro, São João do Tigre, São
Sebastião do Umbuzeiro, Camalaú, Zabelê, Sumé e Prata todos situados
dentro do estado da Paraíba,
Art. 2° Instrumentos de trabalho utilizados no processo de produção da
renda: Agulha, papel transparente (seda); papel grosso (craft), almofada para
apoiar o papel sobre o qual a renda é tecida, tesourinha, dedal e pauzinho
roliço, alfinetes e broches, caneta com ponto porosa, lápis grafite, cola,
régua e borracha. II - Matéria-prima Art.4° - Matérias-primas utilizadas na confecção da renda:
Cordão lacê fabricado pela YPU e comercializado pelo código
610600, linha âncora, papel craft e papel seda;
Art.4° - Matérias-primas utilizadas na confecção da renda:
Cordão lacê fabricado pela YPU e comercializado pelo código 610600, artes
e renda sob o código 5101, linha âncora, papel craft , papel seda, viés, linho,
cambraia de linho, percal 100% algodão, malha. III -Tipologia das
rendas Art. 5°
15 tipos de
renda que foram certificadas
mostradas através de esquemas
(desenhos) com os respectivos
nomes. Conforme figura ao lado.
Art. 5°-
100 tipos de pontos mais utilizados
que foram certificados
mostradas através de fotos com nomes.
Como mostra e figura ao lado
IV - Produtos
autorizados Produtos feitos com rendas irlandesas autorizados a receber a
denominação: Divina Pastora:
Toalha de mesa banquete, toalha de lavabo mini, vestido, almofada-
capa, almofada-espelho, barra de renda, barra de renda para colcha,
blusa, bolsa social, busto, caminho de mesa, carteira, centro de
mesa redondo, concha casal, colete, conjunto para jarra e copo,
gola, guardanapo, jogo americano, pano de bandeja e sapato para
recém-nascido
Produtos feitos com renda renascença autorizados a receber a
denominação: Cariri Paraibano:
Toalha de mesa banquete, toalha de lavabo mini, vestido, almofada-capa,
almofada-espelho, barra de renda, barra de renda para colcha, blusa, bolsa
social, busto, caminho de mesa, carteira, centro de mesa redondo, concha
casal, colete, conjunto para jarra e copo, gola, guardanapo, jogo americano,
pano de bandeja, vestido de noiva, saia, shorts, peças íntimas, tops,
echarpes, flores em alto relevo, porta papel, bomboniere, porta toalha, porta
pão, porta saboneteira, porta celular, roupa para bonecas, chapéus, cobertura para bolsas e sapatos, enxovais para recém-nascidos, cobertura para
garrafas, trilho de mesa, xales e marcador de páginas.
Elaborado: Nilda Oliveira, 2018 Fonte: INPI, 2018
83
Na elaboração do quadro acima exposto, optou-se em abordar os quatros primeiros
capítulos do Regulamento de Uso do nome geográfico de produção, os quais se referem a:
Capítulo I – Da produção:
a) Art. 1° – Refere-se à delimitação da área de produção;
b) Art. 2° - Instrumentos de trabalho utilizados no processo de produção da renda;
c) Art. 3° – Descreve todo o processo de produção, desde o desenhar no papel até a
finalização da renda.
Capítulo II - Matéria-prima
a) Art.4° - Enumera quais as matérias-primas são utilizadas na confecção da renda.
Capítulo III – Tipologia das rendas
a) Art.5° - Refere-se aos tipos de pontos ou tramas que foram certificadas.
Capítulo IV - Produtos autorizados
a) Nomeia quais os produtos feitos com rendas irlandesas são autorizados a receber a
denominação Divina Pastora e os da renda Renascença o nome Cariri Paraibano.
Ao confrontar os dois regulamentos observa-se que:
1. A delimitação da área geográfica da IP Cariri Paraibano não se limita a apenas
uma região administrativa, diferentemente da IP Divina Pastora cuja produção
restringe-se ao município de mesmo nome;
2. Os instrumentos e as matérias-primas utilizados na produção das duas tipologias
de renda são semelhantes, diferem muito pouco;
3. Com relação ao saber-fazer nota-se uma grande diferença expressos nos pontos
empregados na confecção da renda.
4. A IP Divina Pastora possui certificação para quinze tipos de renda (pontos ou
tramas) enquanto a IP Cariri Paraibano tem registrado mais de cem pontos.
5. Quanto aos produtos autorizados a receberem a denominação geográfica observa-
se que as duas IPs produzem peças semelhantes, porém a IP Cariri Paraibano tem
uma gama maior de produtos registrados.
84
6 A RENDA DE BILRO DE SAUBARA EM PROCESSO DE OBTENÇÃO DO
REGISTRO DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA.
A Renda de Bilro de Saubara é um dos artesanatos baianos que está pleiteando o
registro de Indicação Geográfica. Cabe ressaltar que, apesar da Indicação Geográfica no
Brasil ser considerada de natureza declaratória (desenvolvida pelos produtores e prestadores
de serviços e identificada pelos consumidores), necessita atender uma série de exigência do
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) para conseguir a formalização e o
reconhecimento. (OMPI, INPI, 2009, módulo 5, p. 11)
A solicitação do pedido de registro no INPI somente pode ser feita pelos produtores ou
prestadores de serviços por meio de uma entidade representativa (associação, sindicato, etc).
Sendo necessário apresentar os seguintes elementos:
Documento que comprove a legitimidade do solicitante;
O nome geográfico e a descrição do produto;
Levantamento histórico cultural que representa uma etapa fundamental, a qual visa
buscar informações e elementos comprobatórios da notoriedade da região;
A delimitação da área geográfica, para garantir o uso devido do sinal distintivo da
Indicação Geográfica pelos produtores ou prestadores de serviço localizados nesta
delimitação;
O regulamento de uso, onde são estabelecidas as regras de produção, disciplina e
sanções ao não cumprimento das ditas regras;
A estrutura de controle, que vai garantir a observância ao estabelecido no regulamento
de uso, comprovação da reputação da região ou do meio geográfico que afeta o
produto ou serviço, entre outros elementos;
Comprovação de que os produtores ou prestadores de serviços estão estabelecidos na
área geográfica exercendo efetivamente suas atividades. (OMPI, INPI, 2009, módulo
5, p. 11).
Desta forma, para dar subsídios ao processo de solicitação do registro, foi assinado no
final do mês de março de 2017 um acordo de cooperação entre a Universidade Federal da
Bahia (UFBA) e o Governo do Estado da Bahia via Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e
Esporte (SETRE), o qual consiste em disponibilizar para a Associação das Artesãs de
Saubara/BA - Casa das Rendeiras um suporte contando com especialistas e outros apoios
técnicos, como exemplo: pesquisadores da UFBA das áreas de História, Geografia,
Propriedade Intelectual, Ciências Contábeis, Mobilização Social e Design.
85
Além de técnicos disponibilizados pelo Governo do Estado da Bahia via Secretaria de
Trabalho, Emprego, Renda e Esporte para acompanhar o desenvolvimento artesanal e elaborar
os relatórios correspondentes. Segundo a Coordenadora de Propriedade Intelectual da Pró-
reitora de Pesquisa, Criação e Inovação (PROPCI), professora Dra. Ângela Rocha, é muito
importante esse acordo firmado entre a UFBA e o Governo do Estado para ajudar no pleito da
Associação da Casa das Rendeiras de Saubara, uma vez que, seria difícil para a comunidade
realizar todas as especificações exigidas pelo INPI.
Ressalta-se que os levantamentos preliminares para a elaboração dos documentos
indispensáveis aos pedidos de Indicação Geográfica de Saubara são de responsabilidade do
grupo de pesquisa Território, Propriedade Intelectual e Patrimônio (TERPI), do Instituto de
Geociências (IGEO).
6.1 RENDA DE BILRO EM SAUBARA/BA
A renda de bilro é uma das mais ricas manifestações culturais, pois para o seu saber-
fazer se necessitam de habilidade, destreza e criatividade para dar forma e beleza a fios de
linha, que são entrelaçados com o auxílio dos bilros. No município de Saubara, toda essa
riqueza é expressa pelas mãos de mulheres humildes que vivem da coleta, cata e venda de
mariscos, mas que na sua segunda jornada de trabalho têm a almofada e os bilros não somente
como uma fonte de renda, mas também, como uma maneira de expressarem suas identidades
e sentirem-se valorizadas através de cada peça produzida por elas.
Vale ressaltar, que a renda de bilro produzida em Saubara/BA possui uma
singularidade a qual promove uma identidade ao município, ou seja, a notoriedade desta
produção remete ao nome da sua origem. E, desenvolve na população local um sentimento de
pertencimento, pois conseguem se identificar com o território em que vivem (WARNIER,
2001, p.10). Destaca-se, que a singularidade da produção é graças não somente a utilização de
fios de linha com espessura mais fina (conforme relato da rendeira Dona Maria do Carmo),
mais também por todo um contexto social e histórico que carrega cada peça produzida pelas
rendeiras locais.
Essa singularidade pode ser observada em cada peça produzida pelas mãos habilidosas
das rendeiras que com o seu saber-fazer inovam a cada dia ao criarem uma diversidade de
produtos que vão desde cama, mesa e banho até vestuário. Como mostram as imagens a
seguir:
86
Figura 44 - Amostras de renda de bilro do catálogo da Associação das Artesãs de Saubara – Casa das Rendeiras
Fonte: Pagina do Facebook – Casa das Rendeiras de Saubara
Figura 45 - Blusa com aplicação de renda de bilro e Pala em renda para vestido
Fonte: Acervo próprio, 2018
Para o fabrico das rendas de bilros as rendeiras do município de Saubara/BA utilizam
os seguintes apetrechos, os quais passaram por adaptações culturais, uma vez que foram
adequados conforme as necessidades e as disponibilidades locais:
87
Quadro 10: Tipo de apetrechos utilizados na produção da renda de bilro de Saubara.
Apetrechos
utilizados na
produção da renda
Descrição Foto
Almofada
As rendeiras utilizam as almofadas do
formato cilíndrico, feitas por elas com
tecido de algodão (chita, o mais utilizado)
e preenchidas com folhas de bananeira
secas retiradas dos seus quintais.
a) Fonte: Acervo próprio, 2018
Bilros
Utilizam bilros de duas peças: a haste é
confeccionada com um pedaço de madeira (a Paraíba) e a esfera (cabeça) é feita com
a utilização da semente de Ouricuri, feitos
por encomenda.
b) Fonte: Facebook – Casa das Rendeiras de
Saubara
Alfinetes
e /ou espinhos
No passado utilizavam os espinhos
retirados do mandacaru, mas, atualmente
foram substituídos pelos alfinetes
(confeccionados de metal branco
inoxidável). De acordo com os relatos da
rendeira Dona Maria do Carmo, os
espinhos de mandacaru foram substituídos
por alfinetes, pois, ofereciam risco para as
crianças (filhos das rendeiras).
c) Fonte: Facebook – Casa das Rendeiras de
Saubara
Nome dado aos
moldes
(Gráficos em papel)
Os mais utilizados são pique, papelão e
picado
d) Fonte: Facebook – Casa das Rendeiras de
Saubara
Fios utilizados na
confecção
As rendeiras utilizam os fios de linha de
espessura mais fina, 100% algodão do tipo
mercê crochê, a cor mais utilizada é
branca, mas utilizam outras cores de
acordo com a encomenda. e) Fonte: casadacosturaearte.com.br
Marcas Mercê Crochê n° 20
Elaboração: Nilda Oliveira, 2018 Fonte: Dona Maria do Carmo Amorim, 2018 (rendeira de Saubara/BA).
Fotos: a) Figura 46 – Almofada em formato cilíndrico; b) Figura 47– Bilro de duas peças: c) Figura 48
Alfinetes; d) Figura 49- Pique (molde); e) Figura 50 - Linha Mercê Crochê 100% algodão.
88
Vale salientar, que a partir do que se pretende produzir, que pode ser uma renda
estreita, uma mais larga ou até mesmo uma concha surge a necessidade de ter em mãos o
tamanho certo do pique e quantidade adequada de bilros para serem utilizados na produção.
Após a seleção do material necessário, a confecção da renda de bilro segue os seguintes
passos:
Primeiro passo – Fazer o pique (molde da renda), pega o papelão ou cartolina e risca o
desenho da renda, se já existe o esquema e se deseja fazer uma espécie de decalque (xerox
manual), coloca o risco em cima do novo pique e vai furando (daí o nome de picado dado ao
pique por muitas rendeiras). Em seguida com o auxílio de alfinetes prende o pique na
almofada.
Figura 51 - Preparo do pique
Fonte: Acervo próprio, 2018
Figura 52 - Pique sendo preso na almofada e Pique preso a almofada
Fonte: Acervo próprio, 2018
89
Segundo passo - prende-se a linha ao bilro: enrola a linha na extremidade do bilro até encher a
cavidade, a qual é presa por uma volta feita de modo especial, de maneira que a linha se
desprende à proporção que vai sendo enrolada de um bilro em outro ou outros conforme a
trama da renda.
Figura 53 - Prendendo a linha no bilro
Fonte: Iara revista da Moda, Cultura e Arte, 2011
Terceiro passo – prendem-se os alfinetes tantos quantos forem os furos do pique, na
extremidade superior deste e coloca-se sobre cada um deles os fios de linha presos dois a dois.
A renda sempre é feita a partir de 4 bilros (sempre aos pares). Segue entrelaçando a linha com
auxílio dos bilros seguindo o esquema do pique e vai formando as tramas até terminar a peça
desejada.
Figura 54 - Entrelaçando a linha com auxílio dos bilros e alfinetes.
Fonte: Acervo próprio.
90
Oiticica (1974) descreve o fazer renda da seguinte forma:
Instalada a almofada entre os joelhos da rendeira ou sobre a cadeira, estando a
rendeira sentada em outra, adapta-se, por alfinetes a costura, o pique ao desenho da
renda [...]. Começa-se, como aliás em toda renda, por tomar o número de bilros
necessários à largura do pique adaptado à rotundidade da almofada, com os
necessários alfinetes. Enchem-se as cabeças dos bilros, conjugados dois a dois e, pelo centro da linha que os prende, coloca-se o primeiro alfinete da fila destes
pregados na extremidade superior do picado [...] ( OITICICA, 1974, p. 22).
Para a confecção das rendas, cada rendeiras do município de Saubara/BA confecciona
sua almofada (forma cilíndrica); os bilros são encomendados a um morador local (feitos de
madeira Paraíba para o corpo e semente de Ouricuri para a cabeça); a linha é adquirida nos
municípios de Salvador e Feira de Santana (mercê-crochê 100% algodão com espessura fina e
tradicionalmente com a cor branca). Ressalta-se que a compra da linha é feita pela Associação
das Artesãs de Saubara – Casa das Rendeiras (compradas com recursos próprios, via atacado)
e repassada para as rendeiras de maneira a manter a uniformidade do trabalho produzido.
Os pontos mais utilizados pelas rendeiras de Saubara são: Trança; Zig-Zag; Paninho
aberto; Palma (traça); Paninho fechado; Gripê e Simpatia.
Figuras 55- Rendas com os principais pontos
Fonte: Facebook Casa das Rendeiras
A delicadeza e a beleza das rendas de bilros de Saubara /BA, já promoveram à sua
premiação por duas vezes. Em 2004 e 2016 foram contempladas com a premiação do Sebrae
com o prêmio Top 100. Prêmio este, que tem como objetivo identificar e premiar as unidades
91
produtoras de artesanato mais competitivas do Brasil, as quais são avaliadas da seguinte
forma:
Práticas de inovação;
Qualidade dos produtos;
Iidentidade e compromisso cultural;
Embalagem; e) condições de trabalho
Sustentabilidade ambiental; organização da produção;
Adequação econômica dos produtos;
Práticas comerciais;
Responsabilidade social;
Planejamento e gestão.
Especifica-se mais uma vez, que a produção da renda de bilros no município de
Saubara é feita predominantemente por mulheres que vivem da pesca artesanal, mas
precisamente da coleta de mariscos. Desta forma, a produção local fica atrelada as subidas e
descidas da maré. Na maré alta as rendeiras são artesãs, pegam suas almofadas e dedicam-se
as rendas, na baixa maré tornam-se marisqueiras, retiram do manguezal o sustento da sua
família uma vez que, o retorno financeiro da venda do marisco é muito mais rápido e pontual
do que o da comercialização das rendas.
Ressalta-se que para município de Saubara/BA a renda de bilros além da sua grande
representatividade cultural, ainda se configura como uma alternativa para alavancar a
economia local. Uma vez que, a receita oriunda da comercialização da produção é injetada no
comércio por intermédio das rendeiras e por consumidores que chegam de outras localidades,
para não somente comprar as rendas, mas também, conhecer a história e os costumes envoltos
nesse artesanato, que aliado às amenidades do território, promove o desenvolvimento da
atividade turística e consequentemente melhoram desempenho econômico municipal.
92
6.2 ENTIDADE REPRESENTATIVA DAS RENDEIRAS – ASSOCIAÇÃO DOS
ARTESÃOS DE SAUBARA - CASA DAS RENDEIRAS
A Associação das Artesãs de Saubara – Casa das Rendeiras foi fundada a partir da
necessidade de organizar, capacitar e facilitar a comercialização da produção artesanal da
renda de bilro das rendeiras saubarenses. Localizada na sede do município de Saubara/BA,
mais precisamente na Rua Francisco Borges dos Reis, n° 65, bairro Rocinha. É uma
instituição civil, fundada em 1991, inicialmente como Casa das Rendeiras de Saubara e mais
tarde em 1999, devido a necessidade de ter o número do Cadastro Nacional da Pessoal
Jurídica (CNPJ) para melhor viabilizar as suas articulações financeiras, mudou a razão social
tornando-se Associação dos Artesãos de Saubara/BA - Casa das Rendeiras.
Suas atividades são voltadas para produção artesanal da renda de bilro e do trançado
de palha (palma de Ouricuri). Instalada em um imóvel próprio, adquirido via doação, está
estruturada da seguinte forma:
a) Instalação Física - consiste uma casa de três cômodos (sala, sanitário, copa-
cozinha), um anexo (oficina / escola voltada ao ensino da técnica da renda de bilro) e mais um
quintal com árvore frutífera e plantas. A fachada da casa, a calçada e o piso da sala são
decorados com conchas de mariscos o que lembra o vínculo da vida das mulheres rendeiras de
Saubara com o mar, uma vez que todas as artesãs são também marisqueiras. Como pode ser
visto nas fotos abaixo:
Figura 56 - Fachada da Associação das Artesãs de Saubara - Casa das Rendeira e Detalhes da fachada da
Associação decorada com conchas
Fonte: Acervo próprio, 2018
93
Figura 57 - Calçada da Casa da associação decoradas com conchas
Fonte: Acervo próprio, 2018
Figura 58 – Sala/local de exposição e comercialização e Anexo – Oficina/escola
Fonte: Acervo próprio
b) Gestão da Associação - Possui 110 associadas, destas 53 são atuantes; livro de
registro das associadas; pastas de despesas, gastos e pagamentos, organizadas pela tesoureira
Dona Maria do Carmo. A presidência é de responsabilidade da Sra. Lidiane Silva dos Santos.
c) Formas de sustentação - em relação aos recursos financeiros, não existe nenhuma
taxa estipulada para ser paga pelas associadas, a receita é oriunda da comercialização da
produção, onde 30% de cada peça vendida ficam para a associação. A verba arrecadada é
destinada ao pagamento de todas as despesas da casa e para a compra de matéria-prima.
Ressalta-se que, a produção da tipologia artesanal trançado de palha é proveniente do
extrativismo vegetal realizado com princípios de sustentabilidade, cuidado na retirada da
palma da palmeira (Ouricuri) sem prejudicar a planta e mantendo sua produtividade.
Destaca-se que a associação não consegue estipular qual o rendimento mensal de uma
associada, uma vez que, não existe uma produção fixa, depende de encomendas e saída de
94
produtos, onde a média de preço da renda de bilros é de R$ 15,00 a R$ 45,00 o metro e do
trançado de palha de R$ 5,00 a R$ 50,00 a peça. Ainda em relação ao trançado de palha,
salienta-se que os grande compradores são pousadas e lojas que utilizam o trançado (mais
especificamente a esteira – espécie de tapete) como decoração e como forro de teto (em
substituição da madeira ou do PVC) (Dona Maria do Carmo, tesoureira)
Fotos: 11 e 12 - Rendas de bilro ( a- R$15,00; b- R$35,00 m) ; Bolsas feitas de trançado de palha R$ 30,00
Fonte: Acervo próprio, 2018 Fonte: Acervo próprio,2018
d) Perfil das associadas - idade média de 14 a 90 anos; grau de escolaridade, do não
alfabetizado até superior completo. Com base nas entrevistas realizadas com as rendeiras
observa-se que: a média do número de filhos é de 1 a 3; a maioria delas é solteira, não tendo
assim com quem dividir a responsabilidade do sustento da família; todas são ou já foram
marisqueiras (aposentadas), desta forma elas têm que administrar as suas horas diárias com a
coleta, cata e venda de mariscos, com a produção da renda de bilros e com os afazeres
domésticos.
A maioria delas aprendeu o saber-fazer renda de bilro com as mães, avós ou com as
madrinhas e ensinaram as suas filhas (mas somente algumas dessas produzem a renda
comercialmente, a maioria exerce uma atividade remunerada). Todas as entrevistadas têm
noção da importância da preservação e valorização da produção da renda de bilros e
demostram interesse em ajudar a manter viva essa tradição.
Ao serem indagadas sobre o sentimento que possuem para com o manguezal e o fazer
a renda de bilro podemos concluir que:
O manguezal representa para elas uma fonte de recursos imediata: coletou, aferventou,
catou e vendeu. Se não conseguem escoar a produção então a consomem:
a
b
95
“Do manguezal tiramos o nosso sustento, pois quando as vendas não estão boas,
comemos nossa mercadoria” (Sra. G. S. M., rendeira e marisqueira, 50 anos)
“O manguezal é o nosso ganha pão” (Sra. L. C. D., rendeira e marisqueira, 44 anos).
A renda de bilro configura como uma fonte complementar de renda e também, uma
maneira delas expressarem suas identidades, se sentirem valorizadas a cada peça que
produzem. A maioria delas relatou que quando estão tecendo a renda esquece seus
problemas, o fazer renda de bilro para elas é uma terapia com retorno financeiro:
“Para mim é uma terapia, esqueço-me da vida, ela é importante em tudo” (Sra. G. S.
M., rendeira e marisqueira, 50 anos).
“Tenho amor em fazer renda, mesmo se não tiver encomenda faço assim mesmo” (Sra
A. M. C., rendeira e marisqueira, 54 anos).
“Para mim a renda me realiza, fico feliz, vejo o mundo de outra forma, me sinto
valorizada, nasci para fazer renda, desde pequena aprendi a fazer o pique sozinha. Se
todo mundo fizesse renda ninguém tinha tempo para fazer o mau” (M. C. A., rendeira
e marisqueira aposentada, 71 anos).
“A renda de bilro é muito importante porque é uma tradição secular, feita de geração a
geração mantendo famílias como uma renda complementar” (L. S. S., rendeira e
marisqueira, 38 anos).
e) Parcerias - de acordo com as informações obtidas via entrevista com a tesoureira
Dona Maria do Carmo a Associação das Artesãs de Saubara /BA – Casa das Rendeiras, em
2016 conseguiu o apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) de forma a fomentar o desenvolvimento, a valorização e preservação da
produção da renda de bilros do município de Saubara (não especificou exatamente o tipo de
ajuda). A associação faz articulação com a Prefeitura do Município de Saubara/BA, onde
juntas mantêm a escola da Casa das Rendeiras destinada ao ensino gratuito da técnica da
renda de bilros para a comunidade local.
Segundo informações a prefeitura paga o salário as rendeiras que administram as aulas
no curso. O objetivo deste convênio é não somente desenvolver, mas também, valorizar e
preservar a tradição da produção da renda de bilros da região.
Atualmente a escola conta de 10 alunas cuja média de idade é de 14 anos (mas não há
objeção de faixa etária), todas muito bem aplicadas e interessadas em aprender o saber-fazer
renda de bilros. Ressalta-se que segundo relatos da rendeira Dona Maria do Carmo, quando as
alunas (adolescentes) ficam muito “entretidas com o saber-fazer renda de bilros, começam a
96
dar menos importância aos estudos (ensino formal)”. Desta forma, a associação se mostra
atenta e empenhada em fazê-las compreender a importância de saber conciliar as duas
aprendizagens.
Observa-se que a associação é também um centro de convivência, aonde as associadas
chegam expõem seus problemas, sua dificuldades, incertezas, compartilham suas agruras do
cotidiano. Mas também, brincam, contam piadas, cantam e falam das suas esperanças. Ou
seja, configura-se como uma grande família. Unidas pela associação as artesãs de Saubara
/BA tornaram-se mais forte e estão conseguindo manter a identidade local e sobreviver em
mercado bastante competitivo e desigual.
Destaca-se que a renda de bilro é produzida tanto na sede do município como também
no Distrito de Bom Jesus dos Pobres, conforme mostra o mapa a seguir:
97
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98
6.3 HISTÓRICO DA PRODUÇÃO DA RENDA DE BILRO EM SAUBARA/BA
A origem da renda de bilro no município de Saubara/BA é incerta. Cogita-se que tenha
chegado da Europa do mesmo modo que adentrou em todo o Brasil, por intermédio das
mulheres europeias (via colonização) que trouxeram consigo suas almofadas e bilros e entre
as suas horas do nada fazer e dos afazeres domésticos entrelaçavam fios e confeccionavam as
suas rendas utilizadas nas roupas de cama, mesa e banho e no vestuário. Com o passar dos
tempos o saber-fazer da renda de bilro foi assimilado pelas mulheres que trabalhavam na
condição de escravas nas casas das europeias e foi se difundindo entre as habitantes locais
(FLEURY, 2002, p. 73).
A tradição da renda provavelmente chegou ao Brasil pelas mãos das mulheres
portuguesas que vieram acompanhando seus maridos marinheiros. O ditado popular
“onde há rede há renda” bem justifica a permanência dessa arte junto ao litoral e ao
longo dos rios. No entanto, não há indicação precisa sobre a data em que foi
introduzida e o ponto de partida. Alguns autores consideram que, no Nordeste, sua
introdução poderá ter sido feita pelos holandeses, já que Flandres era um importante
centro de produção de rendas, tanto de agulhas como de bilros. (FLEURY, 2002,
p.73).
Apesar de não ter como comprovar as suas origens, pois, não existem registros
escritos, pode-se observar é que o saber-fazer renda de bilro no município em questão segue
as mesmas observações levantadas por alguns autores como Ramos, Ramos, 1948 e Fleury,
2002, os quais unem a renda de bilro com o universo das mulheres ligadas ao mar,
representado em Saubara pelas marisqueiras.
O que se pode afirmar é que essa atividade artesanal é uma tradição passada oralmente
de mãe para filha de geração a geração. Que de acordo com as rendeiras de Saubara, elas
despertam o interesse em aprender desde bem pequeninas e a partir dos sete anos começam as
suas primeiras aulas. Iniciam sua aprendizagem utilizando apenas quatro bilros e com o passar
dos anos chegam a manusear mais de cem na confecção de uma única peça de renda.
A pesquisa de campo não conseguiu coletar dados que pudessem construir a sua
historicidade, pois, quase todas as rendeiras entrevistadas não possuíam o conhecimento de
como o saber-fazer renda de bilro começou a ser assimilado pelas mulheres saubarenses. O
que todas reconhecem é a sua importância econômica e cultural, pois, representa uma fonte
complementar de renda para o sustento das suas famílias e através dessa arte conseguem
expressar a sua identidade e se sentirem valorizadas.
99
Salienta-se que, uma das rendeiras entrevistadas cogitou que a renda de bilro foi
introduzida em Saubara pelas mãos das portuguesas que se instalaram na localidade e mais
tarde assimilada pelas mulheres escravizadas. Com o decorrer do tempo se espalhou por todo
o município. “Eu acho que a renda de bilro chegou em Saubara na época da colonização pelas
mãos das portuguesas, que ensinaram as suas escravas e depois estas ensinaram as outras
mulheres e foi se espalhando por toda essa região” (L. S. S. rendeira e marisqueira formada
em Pedagogia, 30 anos). Porém tanto pela falta de documentos escritos, tanto pelo fato de que
para alguns pesquisadores, segundo Barros (2006, p. 16), afirmarem que em 1600 os
holandeses unidos aos portugueses dominaram Saubara no chamado Canto do Norte1, não se
consegue afirmar a origem portuguesa ou holandesa da renda de bilro no município.
O que se pode afirmar é que as mulheres rendeiras espalhadas por quase todo
município, cuja maioria reside no bairro da Rocinha (onde está instalada a Associação), lutam
diariamente pela preservação e valorização da produção da renda de bilro. Inicialmente
contaram com a ajuda de freiras canadenses que com o apoio da Legião da Boa Vontade
(LBA) compravam as linhas para as rendeiras e divulgavam a produção. E em 1992, com
ajuda financeira de uma representante das Cárita (Sra. Antonina Néri) conseguiram fundar a
Casa das Rendeiras (BARROS, 2006, p. 138), primeiro passo frente a alcançar os seus
objetivos que vão além preservação e valorização da renda de bilro, que consiste no
reconhecimento da importância cultural dessa produção artesanal para o município.
______________ 6 Por volta de 1600 os holandeses juntos aos portugueses de forma clandestina, pois Portugal estava sobre
domínio da Coroa Espanhola, dominaram Saubara como Canto do Norte e usavam a localidade para realizarem
festas e banquetes.(BARROS, 2006, p. 16).
100
6.4 FORMAS DE COMERCIALIZAÇÃO E DE DIVULGAÇÃO
A renda de bilro produzida no município de Saubara/BA é comercializada e divulgada
por intermédio da Associação das Artesãs de Saubara/BA – Casa das Rendeiras. A
comercialização é realizada nas seguintes formas:
a) Por encomendas: que podem ser solicitadas:
Via telefone: (71) 3676-1895;
Facebook: Casa das Rendeiras de Saubara
Whatsapp: (71) 98308-7481
E-mail: [email protected]
Na própria associação.
Ao receber a solicitação do pedido, a Associação das Artesãs informa ao cliente o
tempo de espera para o recebimento do produto, que depende da quantidade, do tamanho da
peça, do tipo, dos pontos empregados, da trama e também da demanda. A entrega da
mercadoria é realizada das seguintes formas: a) Via correio para longas distâncias; b) Pela
própria associação para localidades próximas; c) Cliente recebe na própria associação. O
pagamento das encomendas é feito 50% no ato do pedido e 50% no recebimento da
mercadoria via depósito bancário ou transferência bancária.
b) Por exposição na própria Associação: são comercializadas peças colocadas em
exposição a exemplo: marcador de página de livro, bicos, entremeios, palas, jogos
americanos, toalhas de mesa, blusas, coletes, saias, vestidos e panos de bandeja. Desta
forma, a Associação funciona como uma pequena loja de departamento onde o
consumidor pode encontrar artigos de cama, mesa e vestuário.
Figura 59- Entremeios (venda a metro) e Paninho para bandeja.
Fonte: Facebook Casa das Rendeiras de Saubara
101
Figura 60 - Pano de copa e Centro de mesa
Fonte: Facebook Casa das Rendeiras de Saubara
Figura 61 - Vestuários: Saia em renda e blusas femininas com aplicação em renda de bilro:
Fonte: Acervo próprio, 2018
c) Em feiras artesanais de grande porte promovidas pelo Instituto de Artesanato
Visconde de Mauá.
d) Via consignação: a Associação comercializa via consignação com o Instituto de
Artesanato Visconde de Mauá e o Centro Público de Economia Solidária (CESOL) do
Recôncavo nos municípios de Cruz das Almas e de Cachoeira.
Ressalta-se a importância da produção artesanal da renda de bilro para economia do
município de Saubara, uma vez que, para as rendeiras esta atividade artesanal configura-se
como uma renda complementar. E de acordo com as informações obtidas via entrevista com
as instituições oficiais municipais, essa comercialização ajuda a vitalizar as atividades
102
turísticas que são de fundamental importância para a comunidade local carente de fontes de
recursos.
“Reconhecemos a importância da produção da renda de bilro para o município de
Saubara, uma vez que gera uma renda a mais para as rendeiras que vivem do
marisco, pois aqui na cidade existe uma carência de oferta de empregos. E, além
disso, atrai gente que vem comprar a renda e aproveitam para fazer turismo”. (Sr.
Gecivaldo de Jesus Rocha, ex. Presidente da Câmara de Vereadores do Município de Saubara)
Destaca-se que a carência de recursos financeiros no município foi observada durante
a pesquisa de campo (primeira etapa). Representada tanto pela presença de vendedores de
frutos do mar nas calçadas, tanto quanto, pela configuração de que a cada dez casas, uma
possuir um pequeno negócio (venda de balas, geladinhos, chocolates e doces em geral)
confirmando assim os dados estatísticos econômicos fornecidos pelo IBGE (2010), os quais
registram a falta de oferta de empregos associada aos baixos salários pagos (50,5% da
população economicamente ativa recebem até 1 salário mínimo).
A divulgação da renda de bilro é realizada pela Associação das Artesãs de Saubara –
Casa das Rendeiras nos seguintes moldes:
a) Via Facebook: Acesso – https://pt-br.facebook.com/pages/biz/44.220,000/Casa-das-
Rendeiras-de-Saubara-1588855564545663/
Figura 62 – Página do Facebook Casa das Rendeiras de Saubara
Fonte: Facebook Casa das Rendeiras
103
b) Whatshapp: (71) 98308-7481
Figura 63 - Foto do Whatsapp da Associação das Artesãs de Saubara – Casa das Rendeiras
Fonte: Whatsapp da Associação das Artesãs de Saubara – Casa das Rendeiras
c) Via Instagram: Acesso - rendeira_saubara
Figura 64 - Páginas do Instagram da Casa das Rendeiras
Fonte: Instagram da Associação das Artesãs de Saubara – Casa das Rendeiras
104
d) De boca em boca
Salienta-se que, esse tipo de divulgação utilizando recursos de comunicação (via rede
social) coloca em evidência não somente a renda de bilro, fato bastante relevante no seu
processo de preservação e valorização, mas também promove uma maior visibilidade do
nome do município funcionando desta forma como veículo de atração turística. Ressalta-se
que o Turismo representa uma importante fonte de recursos para Saubara, uma vez que
movimenta toda a economia local desde o vendedor ambulante até o serviço de hospedagens.
Demostrando mais uma vez a importância socioeconômica da renda de bilro tanto para os
atores envolvidos na sua produção, tanto quanto para a comunidade local.
6.5 PARCERIA UFBA / SETRE / ASSOCIAÇÃO DAS ARTESÃS DE SAUBARA – CASA
DAS RENDEIRAS
O número de registros de Indicações Geográficas tem aumentado substancialmente
nos últimos anos, motivado pela descoberta da sua importância tanto a nível protecionista
tanto quanto de mercado. No Brasil, observa-se o crescente interesse acadêmico, profissional
e mercadológico sobre esse tema, o que fez emergir a necessidade de se formar grupos de
pesquisas voltadas ao seu estudo e para atuar junto à sociedade civil possibilitando o acesso a
subsídios necessários ao processo de solicitação de registros.
De acordo com o exposto, na Bahia em 2016, foi criado o Núcleo de Indicações
Geográficas e Marcas Coletivas (NIG) da Universidade Federal da Bahia, resultado do
empenho de professores e pesquisadores que se identificavam com os estudos e pesquisas
voltadas para as indicações geográficas. Vale salientar, que o NIG é fruto do trabalho em
conjunto do Instituto de Geociências (Departamento de Geografia/Programa de Pós-
graduação em Geografia - IGEO), da Faculdade de Farmácia (Departamento de Análises
Bromatológica/Programa de Pós-graduação em Ciências dos Alimentos); do Instituto de
Nutrição (Departamento de Ciências dos Alimentos/Programa de Pós-graduação em
Alimentos, Nutrição e Saúde), do Instituto de Ciências da Saúde (Departamento de
Biotecnologia) e da Faculdade de Ciências Contábeis (Programa de Pós-graduação em
Contabilidade).
105
Destaca-se que o NIG/UFBA foi criado com o objetivo de contribuir para a
organização dos processos de construção das Indicações Geográficas em articulação técnica
com as diversas áreas da UFBA, realizando assim, ações específicas de:
a) Mapear e articular com grupos de pesquisa que estudam as indicações geográficas
em centros de pesquisa e/ou programa de pós-graduação de universidades,
brasileiras, latino-americanas e europeias;
b) Mapear e georreferenciar os territórios com possibilidades de criação de
indicações geográficas no território baiano;
c) Caracterizar os elementos singulares (patrimônio material e imaterial) que torna o
território reconhecido;
d) Analisar os aspectos socioeconômicos de cada território identificado;
e) Estimular a rede de agentes sociais, locais, estaduais, regionais, federais, públicos,
privados e da sociedade civil organizada envolvida no processo de organização da
cadeia produtiva de valorização dos produtos locais, destacando os objetivos e
estratégias de cada segmento envolvido;
f) Analisar a infraestrutura de gestão dos processos de produção, comercialização e
distribuição dos produtos locais e o marketing territorial;
g) Analisar as normas e a padronização dos parâmetros de produção, distribuição e
circulação de mercadorias das cadeias produtivas identificadas nos territórios de
identidade do estado da Bahia;
h) Organizar o processo de construção do projeto de solicitação do registro de
Indicação Geográfica ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI;
i) Organizar e implementar ações de melhoria tecnológica nos processos de
produção, comercialização e distribuição da produção dos território de Indicação
Geográfica.
Com relação ao nosso objeto de estudo, vale salientar, que o NIG/UFBA junto a
Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (SETRE) e a Associação das
Artesãs de Saubara/BA- Casa das Rendeiras, desde 2017, estão trabalhando em conjunto no
projeto de construção da obtenção do registro de Indicação Geográfica para a Renda de Bilro
de Saubara/BA na categoria de Indicação de Procedência realizando estudos e pesquisas
voltadas para esse objetivo.
106
6.6 A PRODUÇÃO DA RENDA DE BILRO E SUAS RELAÇÕES COM AS DEMAIS
ATIVIDADES ECONÔMICAS E COM AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DO
MUNICÍPIO DE SAUBARA/BA
No decorrer da história da humanidade, culturalmente, sempre foram destinados para
as mulheres os trabalhos manuais, delicados, devido a sua suposta “fragilidade” imposta pela
sua “condição sexual” e para homens foram relacionados os trabalhos braçais, pesados por
serem biologicamente “mais fortes”. Essa teoria vem a chão quando se observa o dia a dia da
mulher rendeira, a qual precisa labutar todos os dias para garantir o sustento da sua família.
Em Saubara as mulheres rendeiras possuem a delicadeza nas mãos ao entrelaçarem as
linhas com ajuda dos bilros e formarem as mais lindas tramas. Mas, essas mesmas mãos tão
ágeis e delicadas na descida da maré transformam-se em mãos fortes e hábeis, as quais
enfrentam todas as adversidades da pesca artesanal ao se tornarem mãos das mulheres
marisqueiras.
Essas mulheres aparentemente frágeis que em um turno são rendeiras, quando se
tornam marisqueiras uma hora têm que enfrentar o sol quente de Saubara, que queima suas
peles e as envelhecem mais rápido, outra hora é a chuva que encharca as suas roupas e
dificulta a sua caminhada no manguezal. Mas, o trabalho na maré não consiste somente na
coleta, a qual é bastante árdua, pois, precisam carregar em cima de suas cabeça baldes ou
bacias cheias de mariscos que pesam muito e que depois de serem ferventados, a cata revela
uma quantidade bem inferior ao peso carregado. Depois ainda tem a venda, que segundo
relatos da Sra. Gil nem sempre é fácil a comercialização: “A gente vive mais é do marisco, do
manguezal tiramos o sustento, quando tá difícil de vender agente come” (Sra. G. S. M,
rendeira-Marisqueira, 50 anos).
Mas quem pensa que a labuta das mulheres rendeiras/marisqueiras acabou? Ainda tem
os afazeres domésticos e muitas para ajudar complementar o sustento da família recorrem a
venda de geladinhos, transformam a pequena varanda de suas casas em bomboniere
(comercializam chocolates, balas, pipocas doce, chicletes) e outras vendem bijuterias. Assim,
as mulheres rendeiras/marisqueiras garantem o sustento de suas famílias e injetam capital na
economia do município.
107
Como nem tudo na vida é somente trabalho, as mulheres rendeiras/marisqueiras ainda
participam de grupos culturais locais. Umas fazem parte dos grupos de samba de roda, outras
dos ternos dos reis; brincam com o bumba meu boi, saem amedrontando na madrugada do dia
02 de julho vestidas de almas carregando panelas de mingau na cabeça ou simplesmente são
mulheres rendeiras representantes das manifestações culturais do município de Saubara.
Figura 65 - Marisqueiras de Saubara/BA
Fonte:http://gshow.globo.com/Rede-Bahia/Aprovado/noticia/2015/07/renda-de-bilro-e-manifestacoes-culturais-
sao-tradicao-de-saubara.html
Figura 66 - Mulheres rendeiras em Saubara /BA
Fonte:http://gshow.globo.com/Rede-Bahia/Aprovado/noticia/2015/07/renda-de-bilro-e-manifestacoes-culturais-
sao-tradicao-de-saubara.html
108
CONCLUSÃO
Esta pesquisa objetivou promover uma análise reflexiva de modo a elucidar quais
estratégias são utilizadas pelas rendeiras de Saubara para preservação e valorização da
produção tradicional da renda de bilro em face de sua importância socioeconômica e cultural
para o município. A pesquisa realizada nos ajudou a compreender de uma forma mais clara, a
dinâmica das artesãs responsáveis por manter viva essa tradição, que buscam através de cada
peça produzida manifestar sua identidade cultural e ao mesmo tempo complementar a sua
renda familiar, visto que todas são marisqueiras que retiram do manguezal o seu sustento.
A análise decorreu de observações realizadas em pesquisa de campo no município em
questão e no contexto da Associação das Artesãs de Saubara/BA – Casa das Rendeiras, onde
as rendeiras foram incentivadas e expor (entrevista estruturada) qual a importância cultural e
econômica da produção da renda de bilro na vida de cada uma delas. Observou-se que apesar
desta tradição ter um imensurável valor simbólico para as artesãs, existe também a
necessidade de um retorno financeiro, uma vez que todas elas têm que encarar diariamente o
desafio de manter o sustento da sua família.
No desenvolvimento dessa pesquisa, pode-se verificar que a produção artesanal da
renda de bilro gera renda para os atores envolvidos em sua produção, aumentando desta forma
o fluxo de capital dentro do município. Fato de grande relevância uma vez que o
levantamento de dados estatísticos junto aos órgãos oficiais revelou a carência de fontes de
recursos financeiros (apenas 12,7 % da população ativa são trabalhadores formais ao mesmo
tempo em que a média salarial municipal é de um e meio salário mínimo).
Ainda, durante o percorrer do estudo, por ser a renda de bilro uma tipologia artesanal
trouxe em voga a importância cultural e econômica de um artesanato tanto para os atores
envolvidos na sua produção, tanto quanto para o seu local de origem. Uma vez que, cada peça
produzida carrega consigo a história e os costumes culturais, ou seja, uma identidade, a qual
dá uma singularidade ao território onde são produzidas. Fato observado em Saubara onde a
produção da renda de bilro promove a notoriedade do município, evidenciando assim a
importância da preservação e da valorização desta atividade artesanal.
Neste contexto, a pesquisa abordou o Patrimônio Cultural e a Propriedade Intelectual
utilizados como instrumentos para salvaguarda e valorização de uma produção cultural. Fato
evidenciado no Brasil, representado pelo crescente número de produtos com registros de
Indicações Geográficas (uma modalidade de Propriedade Intelectual).
109
Mesmo diante da constatação que a produção da renda bilro está atrelada as subidas e
descidas da maré, visto que as mulheres produtoras deste artesanato são marisqueiras
(atividade econômica em que o retorno financeiro é mais pontual), as rendeiras de Saubara
através da tradição oral, mantém viva o vai e vem das mãos e linhas para preservar a cultura e
o sentimento de pertencimento local.
Assim, as rendeiras de Saubara guardiãs do saber-fazer renda de bilro reuniram-se
com o objetivo de articular estratégias para não somente preservar mais também valorizar esta
atividade artesanal. A primeira ação tomada foi fundar a Casa das Rendeiras, cujo objetivo
inicial era voltado para organizar e melhor comercializar os seus produtos. A segunda
consistiu em mudar a razão social para Associação das Artesãs de Saubara /BA – Casa das
Rendeiras, visto que, como uma associação poderiam conseguir articulações com instituições
públicas ou privadas voltadas para dar continuidade aos seus planos.
Dessa forma, as estratégias para preservação e valorização vêm sendo desenvolvidas
por intermédio da Associação das Artesãs de Saubara/BA – Casa das Rendeiras que estão
permanentemente tentando colocar a produção da renda de bilro em evidência para melhor
conseguir parceiros que possam ajudar a dar continuidade a esse trabalho. Assim, a
Associação vem ao longo dos anos tentando dar uma maior visibilidade a renda de bilro de
Saubara: participando de concursos de premiação, onde já foram agraciadas por duas vezes no
Prêmio Top 100 Artesanato do Sebrae (publicação em um catálogo nacional, expondo fotos
da sua produção junto com os demais ganhadores); utilizam as páginas das redes sociais,
como Facebook, Whatsapp, Instagram para maior divulgação e venda da sua produção, além
de colocar o nome do município em evidência e dessa forma estimular a atividade turística
(muito importante para a economia do município).
Outras estratégias utilizadas observadas durante a pesquisa são as aulas oferecidas
gratuitamente para a comunidade local em parceria com a Prefeitura Municipal de
Saubara/BA. E o mais recente projeto que tem o objetivo de pleitear o registro de Indicação
Geográfica para a renda de bilro de Saubara/BA, ferramenta necessária para manutenção desta
atividade, pois garante medidas protecionistas que asseguram o produto contra o perigo de
falsificações. Além de promover um maior destaque ao nome de origem da produção e desta
forma pode fomentar benefícios para as artesãs e para o município de Saubara com a melhora
da comercialização e valorização econômica do produto.
Em relação a esse projeto a pesquisa revelou que para a sua construção Associação das
Artesãs de Saubara/BA- Casa das Rendeiras assinou em 2017 um acordo de parceria com a
Universidade Federal da Bahia (através do seu Núcleo de Indicações Geográficas e Marcas
110
Coletivas) junto a Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (SETRE) para
a realização de estudos e pesquisas voltadas a conseguir atender as exigências do Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e conseguir a o registro de Indicação de Geográfica
na categoria de Indicação de Procedência.
Com relação aos estudos e pesquisas voltados para a obtenção do registro de Indicação
Geográfica, salientamos que a autora juntamente com o seu orientador fazem parte do grupo
de pesquisa Território, Propriedade Intelectual e Patrimônio (TERPI), cujos estudos
acadêmicos são voltados para o desenvolvimento do território com base na Propriedade
Intelectual na modalidade Indicações Geográficas.
Ressalta-se que a renda de bilro de Saubara possui uma singularidade, fruto não
somente do uso da linha de espessura mais fina (Mercê Crochê 100% algodão), da maneira de
entrelaçar os fios produzindo uma renda mais firme e mais bela, mas também por toda história
e costume que cada peça carrega consigo, que a faz ser identificada com o nome que remete
para o seu local da origem “Renda de Bilro de Saubara”. Com base neste contexto e em todos
os dados levantados por este trabalho ousamos a dizer que a renda de bilro de Saubara tem
condições de conseguir o registro de Indicação Geográfica.
Em suma, a pesquisa revela as mais diversas estratégias que as mulheres rendeiras
utilizam na luta pela preservação e valorização dessa produção cultural interagindo com o seu
saber-fazer artesanal da renda de bilro: a fundação e manutenção da Associação das Artesãs
de Saubara/BA – Casa das Rendeiras; a oferta de cursos gratuitos; a divulgação da renda em
redes sociais; a parceria com o Sebrae; e mais recentemente com a Universidade Federal da
Bahia (através do NIG) e o Governo do Estado, através da Secretaria do Trabalho, Emprego,
Renda e Esporte da Bahia (SETRE) em busca da obtenção do registro de Indicação
Geográfica são as ferramentas utilizadas pelas artesãs nesta batalha.
Preservar a tradição de um povo é exaltar a sua memória. Os cruzamentos das linhas
junto ao som dos bilros fazem parte da história do município de Saubara e as mulheres
rendeiras são sujeitas ativas neste processo. Esta arte passada de geração em geração faz parte
de um povo e o desafio de preservar e valorizar esta tradição, é importante não somente pelo
seu viés econômico (muito importante para o sustento de suas famílias), mas também para
preservar a memória e a identidade da população local.
111
REFERÊNCIAS
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116
GLOSSÁRIO
Almofada: cilindro de pano grosso, recheado com capim ou palha de bananeira e
arrepanhado nas duas bases.
Amostra: pequeno pedaço de renda que serve de modelo para a confecção de uma outra
similar.
Aplicação: tipo de renda com a forma de quadrado, losango, triângulo, flor, palma, coração,
estrela, borboleta, etc., que prega em pano como motivo ornamental.
Aroeira: árvore da família das Anacardiáceas (Schinus terebinthifolius), de lenho muito duro
e de cor vermelha.
Assentar renda: começar a renda depois de colocados os alfinetes no pique e cheios de linha
os bilros.
Bico: tipo de renda em que uma das ourelas tem forma caprichosamente curva ou em pontas.
Bilro: peça de madeira formada de duas partes – o cabo e a cabeça – na qual se enrola linha
que pende dos alfinetes. No sertão nordestino é comum encontrar-se bilros feitos com caroços
de várias palmeiras.
Bilro descansado: bilro que não está sendo usado no momento.
Bilro seco: bilro vazio de linha.
Bunda: parte de maior diâmetro do bilro, que é segurado pela rendeira nos movimentos de
fazer a renda.
Buriti: espécie de palmeira (Mauritia vinifera), também denominada buritizeiro.
Cabeção: parte da camisa de mulher que cobre o peito e onde geralmente se aplicam rendas e
bicos. As pretas que vendiam tapiocas usavam até bem pouco cabeção e saia na cidade de
Salvador.
Cabo: é a parte longa do bilro com pequena protuberância para não deixar escapar o fio na
extremidade superior.
Cocadinha: adorno em malha fechada que enfeita algumas rendas. Certamente o nome deriva
da semelhança com a cocada feita de açúcar e coco.
Carreira: fios equidistantes que correm em todo o comprimento da renda.
Carro: nome que no Nordeste se dá a carretel de linha.
Carrapeta: pequeno pião para brinquedo dos meninos. Consiste em cortar e afilar o bilro em
seu terço inferior, próximo da “bunda”. A carrapeta não é usada com barbante como pião.
117
Coentro: desenho que parece uma flor com as pétalas despontadas. Também nome que se dá
à retícula de malhas quadrangulares.
Cordão: linha de meada e brilhante que se prolonga em volta, em toda extensão da renda.
Coração-de-negro: árvore da família das Leguminosas (Albizzia lebbeck) comum no sertão
nordestino.
Cu de pinto: ponto feito em várias localidades do Nordeste e que lembra o ânus do pinto.
Com ele se faz a mais simples das rendas.
Encontros: furos do pique onde se enfiam os alfinetes e os fios da linha se entrelaçam.
Entremeio: renda em que as duas ourelas são retas e usadas entre dois panos que ornamenta.
A renda é entremeio; o bico, não.
Escoras: longos alfinetes ou espinhos de mandacaru que são colocados de cada lado da
almofada. Em número de dois, servem de suporte ao amontoado dos bilros.
Estrada de ferro: tipo de renda muito complicado em que se empregam 43 pares de bilros, e
cujo desenho, com cordão e carreiras sobre o pano aberto, parece uma via férrea.
Filó: tecido delicado de malhas regulares, geralmente hexagonais, de onde se destacam os
pontos do desenho.
Franja: pano arrendado que se prega às bordas da rede.
Galão: tipo de renda feito com linha grossa de meada e que apresenta uma espécie de bico,
nas duas orlas, com um cordão que as mantém.
Grade: tecido de malhas quadradas regulares que pode ser feito com fios torcidos ou em
ponto de trança.
Imburana: árvore da família das Leguminosas (Torresia acreana). No Nordeste a sua entre-
casca serve para o preparo de lambedor contra a tosse.
Labirinto: tipo de renda feita no pano desfiado.
Levantar o pique: tirar a renda do papelão a fim de assentá-la no seu começo.
Macaíba: também denominada macaúba ou “coco de catarro”. Espécie de palmeira
Acrocomia sclerocarpa), comum no Nordeste.
Melindre: tecedura que enche, fazendo destacar certos desenhos da renda.
Mosca: ponto que lembra a forma do inseto deste nome.
Olho-de-boi: sementes encontradas nas vagens de certa leguminosa (Mucunã Gigante), e que
parecendo com o órgão visual do boi, assim são chamadas. Seu grande volume se presta ao
118
uso dos bilros, como também o caroço de mucunã ou coco de catarro e ainda o coco de
Ouricuri e do buriti.
Ourela: ponto que serve para firmar as bordas retas ou curvas de renda.
Ouricuri: nome comum a duas espécies de palmeiras. (Cocos Coronota e Cocos shizophylla).
Também denominada “Ouricuri” e aricuri”.
Padrão: é o desenho formado pelos pontos, como estrada de ferro, folha do mar, cu de pinto,
casa de abelha, pé de galinha, etc..
Pano: tecido formado por fios que se entrelaçam.
Pano aberto: tipo de renda cujo pano é formado com pequenos círculos que rodeiam as
traças.
Pano fechado: tipo de renda cujo pano é cheio com o tecido que lhe é peculiar.
Percevejo: pequeno ponto feito no centro de quadradozinho ao qual se acha preso pelas
pernas.
Picoté: bico de desenho delicado cujo nome foi tirado da rendaria francesa.
Pique: tira de papelão em que é feito o desenho da renda por meio de furos, nos quais se
enfiam os alfinetes com a respectiva linha de cada bilro.
Pontos: são elementos constitutivos do desenho da renda, como trança, traça, cordão, etc..
Renda “do centro”: tipo de renda difícil de fazer, que mostra pontinhos no meio de
pequenos quadros.
Roquete: sobrepeliz de pano enfeitado de rendas que sacerdotes usam em atos litúrgicos.
Traça: ponto que tem a forma do animalzinho do mesmo nome. Também é conhecido pelo
nome de barata ou baratinha.
Trança: ponto composto de quatro fios entrançados e que constitui o elemento básico de
desenhos posteriores mais complexos.
Trocar bilros: mover os bilros de uma mão para outra, a fim de cruzar os fios no pique.
Compreende várias operações: cruzar, torcer, trançar.
Vara: antiga medida de comprimento equivalente a 1,10m. No tempo da vara, existia
igualmente o côvado, com 0,66m.
RABELLO, Sylvio. Apud RAMOS, RAMOS, 1948.
119
ENTREVISTA NA ASSOCIAÇÃO DAS ARTESÃS DE SAUBARA / BA- CASA DAS
RENDEIRAS
Nome: Cargo:
1. Nome da Associação
2. Quando foi fundada?
3. Com qual objetivo foi fundada a associação?
4. O imóvel é próprio?
( ) Sim
( ) Não
5. Foi adquirido com recursos da associação?
6. Além da renda de bilros existe (m) outro (s) produtos produzidos pela associação?
7 Quantas associadas a casa possui atualmente?
8. Qual a média de idade das associadas?
9. Qual o nível de escolaridade das associadas?
10 As associadas pagam alguma taxa para a associação?
11. Todas participam ativamente?
120
12. Como está organizada a associação (organograma)?
13. Qual a média de arrecadação mensal da associação?
14. Quanto em média uma associada consegue ganhar por mês com a venda da sua produção
via associação?
15. Quantas horas diárias são empregadas pelas associadas na produção artesanal da
associação?
16. Existem projetos, convênios e parceria em andamento com instituições oficiais ou
privadas para melhorar e valorizar a produção da renda de bilros no município?
17. Como você considera o trabalho das autoridades (municipal, estadual e federal) na
melhoria, valorização e preservação do trabalho das rendeiras?
18. Quais as dificuldades enfrentadas pela associação?
19.Quem está interessado na implementação de um processo de valorização para a renda de
bilros de Saubara?
20. O que a associação tem feito para preservar, desenvolver e valorizar a produção da renda
de bilros? Existe algum projeto?
21. Quais são as perspectivas que tem a associação ?
22. Descreva o fabrico da renda de bilros:
121
23. Qual o tipo de almofada mais utilizado pelas rendeiras de Saubara? Quem confecciona al
almofadas? Como elas são feitas?
24. Qual o tipo de bilro mais utilizado? Quem fabrica os bilros? Qual o tipo de madeira
utilizada?
25. Quais os tipos de pontos são mais utilizados pelas rendeiras? Quais os nome mais
empregados para denominar peças das rendas de bilros?
26. Qual tipo de linha é utilizado pelas rendeiras?
27. Onde é comprada a linha e os demais materiais utilizados na produção da associação?
28. Existe alguma parceria ou convênio da associação com algum órgão para compra do
material (linha)?
29. Qual a média de preço do metro da renda de bilros?
30. Com relação a produção da renda de bilros, que tipo de peças são produzidas pelas
rendeiras?
31. Com relação ao trançado com a palha: Qual tipo de fibra é utilizado? Que peças são
produzidas e a média de preços?
32. Como é realizada a produção da renda?
33. Como é realizado o marketing para a venda das rendas?
122
34. Na comercialização da produção da associação quanto em porcentagem fica para
associação ?
35. Como é feita a comercialização das rendas?
36. Quais são os seus maiores compradores?
37. Quais são as características específicas do produto? Em que o produto é diferente de
outros da mesma classe de produtos vendidos no mercado?
38. Os consumidores diferenciam a renda de Saubara entre este outros da mesma categoria?
39. Que atributos o produto atraem os compradores ou consumidores?
40.Onde é produzida a renda de bilros no município de Saubara? Somente na cidade ou
também nos seus distritos?
41. A renda de bilros feita em Saubara é conhecida pelo nome geográfico (Renda de bilros de
Saubara)? Ou outros nomes? Existem outros identificadores para o produto?
42. Os consumidores conhecem a qualidade específica do produto? Existe diferença de preço
em relação a outros produtos?
43. Existem imitações do produto produzido? Quais são as imitações que diferenciam do
produto original?
123
ENTREVISTA COM AS RENDEIRAS DE SAUBARA
1. Nome:
2. Idade:
3. Escolaridade:
4. Estado civil:
5. Tem filhos? Quantos?
6. Com quem aprendeu a fazer renda de bilros? Ensinou essa arte a(s) sua(s) filha(s)?
7. Alguém mais na sua família faz renda de Bilros?
8. Financeiramente qual a importância da produção da renda de bilros na renda familiar?
9. Possui outra fonte de rendimento além da renda de bilros?
10. Recorre a atividade da coleta e venda de mariscos? Qual a importância do manguezal
para você?
11. Tem noção da importância da preservação da tradição da produção da renda de bilros?
12. O que significa a renda de bilros para você?
124
ENTREVISTA COM A CÂMARA DE VEREADORES DO MUNICÍPIO DE
SAUBARA
1. Nome do entrevistado:
2. Cargo:
3. Existe algum Projeto de Lei de iniciativa da Câmara para beneficiar a produção da renda de
bilros no município?
4. A renda irlandesa do município Divina Pastora em Sergipe foi registrada pelo IPHAN
como Patrimônio Cultural (o fazer renda irlandesa). Existe algum projeto no município junto
a Casa das Rendeiras que pleiteei tornar a Renda de Bilros de Saubara um Patrimônio
Cultural?
125
ENTREVISTA COM PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SAUBARA
1. Nome do entrevistado:
2. Cargo:
3. Existe algum projeto ou convênio para beneficiar a produção da renda de bilros no
município? Qual ou quais?
4. A produção da Renda de bilros traz algum retorno financeiro que possa ser observado nas
demais atividades econômicas do município?
126
ENTREVISTA COM SECRETARIA DE CULTURA, ESPORTE E LAZER DO
MUNICÍPIO DE SAUBARA
1. Nome do entrevistado:
2. Cargo:
3. A Secretaria da Cultura possui algum projeto voltado para o desenvolvimento, preservação
e valorização da produção da renda de bilros de Saubara? Qual / quais?
4. Existe alguma manifestação cultural do município que tenha ou faça relação com a
produção da renda de bilros? Qual/quais?