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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO PRODUÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA ANDRÉ LUIZ DE OLIVEIRA SANTOS CUBO ARTE E CULTURA - MEMORIAL DE ATIVIDADES REALIZADAS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Salvador 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO PRODUÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA

ANDRÉ LUIZ DE OLIVEIRA SANTOS

CUBO ARTE E CULTURA - MEMORIAL DE ATIVIDADES REALIZADAS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Salvador 2018

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ANDRÉ LUIZ DE OLIVEIRA SANTOS

CUBO ARTE E CULTURA - MEMORIAL DE ATIVIDADES REALIZADAS.

Memorial apresentado à Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção de grau de bacharel em Comunicação com habilitação em Produção em Comunicação e Cultura.

Professor Orientador: Leonardo Costa

Salvador 2018

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AGRADECIMENTOS

Peço licença a todas as entidades mães, aos meus ancestrais, sobretudo

àqueles que ainda não desvendei por falta de respeito desta nação às nossas

matrizes. Aos meus pais e avós, maiores símbolos de origem que tenho em vida,

fonte de todas as minhas referências. A Salvador-BA e todos os santos e entidades

da cidade que escolhi e que constrói a cada dia os meus valores e histórias. À mãe

natureza, com muito respeito e devoção. Com as devidas licenças, agradeço.

Sete anos e meio após o meu ingresso, chego ao final de uma incrível e

inesquecível jornada. Não apenas àquela condição maior de quem vai em busca do

saber e aceita o desafio de explorar suas faculdades, mas para além delas, a

jornada da auto-investigação do auto-conhecimento, foi aqui, nesta instituição a

quem agradeço primeiramente, que pude exprimentar os meus medos, as minhas

vontades, escancarar desejos, disputar espaços, contestar, me contestar, duvidar de

tudo o que pude e me confortar, daquilo tudo com o que eu me identifiquei e resolvi

trazer comigo. Tenho agora novas bagagens para um novo caminhar.

Em mais essa ruptura, me cabe agora agradecer, primeiro à politica de

ações afirmativas da UFBA, que através das cotas para alunos de escola pública fez

possível a minha existência na Universidade Pública – ato até então impensado no

meu berço familiar de origem simples que reúne de índios a sertanejos esquecidos,

retirantes e massacrados historicamente e ainda assim nos dias de hoje. Sou agora

o primeiro de ambas as casas, a ter reconhecido o grau de bacharel por uma

Universidade Pública Federal, se assim me for de direito.

Nessa caminhada, agradeço também a todos professores e colegas que

conheci e fiz nessa instituição. Ao professor Giovandro Ferreira, que no segundo

semestre de curso me concedeu a oportunidade de integrar o Programa

Permanecer, razão pela qual foi possível me manter em Salvador nos primeiros

períodos. Em seguida ao professor Leonardo Costa, hoje meu orientador, que me

indicou para a primeira oportunidade e seleção de estágio de graduação. Aos meus

coordenadores de estágio Ana Paula Vargas, Leonardo Bião, Alex Oliveira e Tuíris

de Azevedo, à SecultBA e ao IRDEB e todas as equipes. Profissionais e instituições

que me colocaram para entender de frente como sobreviver a cada obstáculo, além

de aceitarem o desafio de descobrir junto comigo, as multifacetas de um produtor

cultural através da prática cotidiana.

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Agradeço imensamente a Tai Oliver, que junto comigo deu corpo e

coração ao Cubo Arte e Cultura, projeto nosso razão pelo qual eu trago hoje esse

memorial, sem ela nada disso seria sequer uma ideia. À Mariana Guedes, Carla

Galrão, Natália Cunha, Driele Coutinho, Quintino Andrade e Raisa Bastos, meus

queridos colegas que me deram suporte amigo em muitos momentos criticos de

manutenção dessa trajetória, além de todas as melhores viagens que já fiz na vida.

Aos meus familiares de Vitória da Conquista-BA e Ibicuí-BA, que

acompanharam todas as lutas para sobreviver com dignidade na capital em busca

do tão sonhado diploma, em especial a Joelma, Uelinton, Jamile, Luana, minha tia

Edilene, meu tio Charles, Maria Clara e Letícia (in memorian) que em Salvador, nos

momentos de necessidade me concederam abrigo e amparo, sobretudo nos

primeiros semestres e nas greves atravessadas.

Aos meus pais Andréia e Paulo, e meus irmãos Paula e José, que mesmo

sem condição fizeram parte dessa caminhada independente de onde estavam e que

seguirão fortes comigo em qualquer caminhada a diante, eu amo vocês.

Agradeço com muito carinho à Natália Arjones, Gabriela e Valentina, que

enquanto estive em São Paulo em 2017, me acolheram em uma das etapas mais

importantes de construção desse trabalho de conclusão.

Ao meu amor e companheiro, Leonardo Vieira que teve toda a paciência

e cuidado com minhas crises de ansiedade no decorrer desse ultimo período.

Com muito louvor, a todos os participantes das Feiras criativas e Mostras

artisticas que apresentarei aqui, sem vocês nada disso seria real, nenhuma

avaliação seria possível.

À minha banca e aos outros dois orientadores que tive durante as

tentativas de formação, o Professor Severino e Professor Sérgio, obrigado por cada

desafio e por cada avaliação.

A todos vocês minha enorme gratidão. E a tantos outros que não foram

citados aqui mas que seguiram eternamente lembrados em meu coração. Estejam

sempre com o Deus de cada um, em paz e com coragem.

Muito Obrigado!

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RESUMO

SANTOS, André Luiz de Oliveira. CUBO ARTE E CULTURA - MEMORIAL DE ATIVIDADES REALIZADAS. 2018. 56 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Comunicação com habilitação em Produção em Comunicação e Cultura. Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2018.

Este trabalho apresenta elementos reflexivos sobre a produção cultural em

Salvador com enfoque na execução de ações de incentivo à produção artesanal e

manufaturada, a partir dos registros de ações realizadas pelo projeto autoral deste

pesquisador, Cubo arte e cultura, entre os anos de 2014 e 2016. O conteúdo

apresenta uma contextualização do ambiente econômico global no período referido,

com referência sobretudo aos efeitos da digitalização dos meios de produção ao

redor do mundo seguido de reflexões sobre o contexto brasileiro e de fatores

constituintes do ambiente em que o projeto acontece, em Salvador.

Palavras-chave: Economia Criativa. Artesanato. Manufatura. Produção Cultural.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................06

1 - LOCALIZANDO O CONTEXTO DE SURGIMENTO DA INICIATIVA ..................... 07

1.1. A economia mundial do simbólico……………........................................ ......... 07

1.2. Economia e Cultura: A diversidade cultural como fator de desenvolvimento

econômico no Brasil..……………………………………...……………..…….....09

1.3. Produção criativa no contexto da Bahia e Salvador….. .............................................15

2 - AS ATIVIDADES REALIZADAS………………………………………………….....20 2.1Feiras e exposições de artesanato………………………………………….......22 2.2Mostras artísticas………………………………………….……………………….34

CONSIDERAÇÕES ………........................................ ............................................................ 43

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................... 47

APÊNDICE A ................................................................................................................................................48

APÊNDICE B ............................................................................................................................................... 50

APÊNDICE C ............................................................................................................................................... 52

ANEXO A: PLANILHA ORÇAMENTÁRIA EDIÇÃO 07 (MODELO) ................................56

ANEXO B: DOCUMENTO OPERACIONAL EDIÇÃO 09 ......................................................57

ANEXO C: DESTAQUES DE IMPRENSA ....................................................................................59

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INTRODUÇÃO

O texto a seguir apresenta elementos reflexivos sobre a produção cultural

em Salvador com enfoque na execução de ações de incentivo à produção artesanal

e manufaturada a partir do registro de ações realizadas durante a construção do

projeto Cubo arte e cultura, entre os anos de 2014 e 2016. Nos capítulos a seguir

apresento uma contextualização do ambiente econômico global no período referido

com referência sobretudo aos efeitos da digitalização dos meios de produção ao

redor do mundo. Após, trago essas reflexões de nível global para o contexto

brasileiro, revelando alguns aspectos de como se dão as políticas culturais no Brasil

e de fatores constituintes do ambiente em que o projeto acontece em Salvador.

Adiante, as reflexões sobre a construção e realização das ações do Cubo

arte e cultura, destacam no decorrer do miolo do texto, as ferramentas e meios

utilizados para interação com os agentes inseridos nas etapas de execução das

propostas, assim como, trazem relatos de experiência de atuação enquanto

produção executiva, em contato com órgãos públicos e na relação com outras

organizações de iniciativas públicas ou privadas. A exposição dessa atuação tem

por finalidade, destacar aspectos práticos e seus desdobramentos como fonte de

informações para produtores, pesquisadores e outros agentes, sobre a produção

criativa em Salvador, inserido num contexto de indústria cultural e de economia

criativa.

Apesar de contribuir com a exposição da experiência, é importante

destacar que os conceitos aqui levantados não são amplamente detalhados, sendo

de fundamental importância para a compreensão, uma pesquisa mais abrangente e

complementar. Destaco ainda, a minha atividade enquanto produtor em todas as

etapas como motivo de observação das áreas de interesse de atuação, assim como,

de fundamental importância para este trabalho, a presença e atuação de Tai Oliver,

idealizadora do Cubo arte e cultura, com quem pude contar em todas as atividades.

Por fim, as considerações não ousam chegar a um ponto de conforto ou

conclusão dos efeitos desse percurso, por compreender a variedade de leituras,

sendo este um exercício de exposição de determinado ponto de vista e de auto-

reflexão sobre o papel da produção cultural na economia criativa.

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LOCALIZANDO O CONTEXTO DE SURGIMENTO DA INICIATIVA

1.1 A economia mundial do simbólico

A interação entre as diferentes economias mundiais experimenta

constantes transformações devido aos efeitos da terceira revolução industrial1.

Impulsionadas a partir da segunda metade do século XX, no final da Segunda

Guerra, o novo ambiente global é pautado pela revolução das mídias e inovações

significativas para a ciência e tecnologia a caminho da convergência digital.

Com o advento da internet e o desenvolvimento de tecnologias como a

robótica e o uso de satélites espaciais, sobretudo pelos investimentos das potências

econômicas em pesquisas voltadas à exploração do espaço e em tecnologias para

ampliar suas forças bélicas, fomos conduzidos à novos ambientes resultantes de

uma dinâmica de comunicação instantânea e em rede ao redor do mundo e até

mesmo fora dele. Os múltiplos ambientes globais gerados cotidianamente dão mais

força aos debates sobre redesenho da organização mundial, ampliando a pesquisa

por formatos de produção que atenda às demandas geradas pelos novos hábitos de

convivência e de consumo.

As mudanças propostas pelas novas experiências a níveis globais tem

provocado constante adaptação dos paradigmas social e econômico sobretudo pela

maior interação entre as economias e um entendimento mais abrangente a respeito

dessa interação internacional, como por exemplo, a substituição da Sociedade das

Nações2 pela Organização das Nações Unidas

3, deixando o caráter específico e

pós-guerra de manutenção da paz para assumir um papel de cooperação entre

diferentes governos em prol da segurança, paz, promoção dos Direitos Humanos,

desenvolvimento econômico, proteção e preservação do meio ambiente, além de 1 As revoluções industriais são marcos históricos de conjuntos de mudanças nos meios e formatos de produção: A primeira aconteceu na Inglaterra em meados do século XVIII com mudanças na produção da indústria têxtil. A segunda, aconteceu com maior força nos Estados Unidos a partir do final do século XIX, com a criação, produção e comercialização dos bens de consumo como carro, televisão, avião e telefone, e a terceira revolução se iniciou após a segunda guerra mundial através de transformações provocadas pela digitalização e a introdução do computador no cotidiano da indústria. Especula-se o advento da quarta revolução industrial com base na convergência entre os sistemas digitais, futuros causadores de grandes transformações no modo de vida humana.

2 Organização internacional em prol da paz entre as nações vencedoras da primeira guerra, fundada em 1919 e extinta em 1945, ano de fundação da Organização da Nações Unidas (ONU).

3 Organização intergovernamental para promover a cooperação internacional, fundada em 1945.

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ajuda humanitária em casos extremos, aspectos que ilustram a tendência

internacional a reconhecer maiores desafios globais.

Sobre o aspecto econômico, levantam-se questões sobre como nos

comportamos e quais as consequências disso em relação aos produtos agregados

ao meio em que vivemos. Em “Introdução à economia: Uma abordagem prática”, o

Economista, Mestre em Urbanismo com ênfase em Economia da Cultura e Doutor

em Economia do Desenvolvimento (PPGE-UFRGS), Leandro Valiati (2009)

apresenta estudos científicos em duas frentes, sendo estas: a macroeconomia e a

microeconomia. Macroeconomia - Tem foco no sistema econômico a partir de análises de dados

estatísticos a níveis amplos e gerais. Conjuntura econômica, contextos globais ou

de macrorregiões ou macrossistemas.

Quando as páginas dos jornais estampam a taxa de juros, a taxa de

desemprego, o desempenho do PIB, a atuação do Brasil no comércio

exterior, a taxa de inflação, estes dados são todos eles os tais agregados

macroeconômicos que representam o produto das relações entre os agentes

individuais de forma agregada. (VALIATI, 2009. p. 55).

Microeconomia - Estudo de comportamento com base nas reações e atitudes dos

agentes. Investiga a subjetividade dos processos econômicos cotidianos difundidos

socialmente por determinado ambiente e de um modo geral, trata dos estudos mais

diretos, como por exemplo, da formação de preços, com base nos comportamentos

de consumidores e agentes diretos e indiretos de processos econômicos.

A partir dos estudos da microeconomia, compreende-se as noções de

“mercado”, que em linhas gerais consiste no encontro entre oferta e demanda. É

basicamente sobre os efeitos desse encontro, que se dedicam às pesquisas

econômicas, atentos a resultados que preservem a principal base desse mercado, o

bem-estar.

Um fator importante acerca do que se compreende por bem-estar nos

estudos econômicos, diz respeito a qual perspectiva analitica se debruça cada

estudo. Valiati (2009) apresenta dois esquemas analíticos na avaliação de dados

reais, a abordagem normativa e a positiva. Para o autor, a perspectiva positiva, de

viés ortodoxo, trata das coisas como elas são e debruça-se sobre os modos de

produção em curso para entender a melhor condição de eficiência, e assim otimizar

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o processo produtivo. Na perspectiva normativa, assumida pela escola heterodoxa,

trata-se das coisas como deveriam ser, ligadas a atividades de planejamento, com

finalidade de prezar pelas condições mais favoráveis de distribuição de rendas,

sustentados em princípios éticos e legais, como por exemplo, através de

intervenções na legislação do Estado. Esses dois esquemas propostos, aplicados

ao bem-estar, propõem que a visão positiva considera o acúmulo de bens de

satisfação como alimentação e saúde, e hábitos sociais de consumo, enquanto a

perspectiva heterodoxa ou normativa alinha-se ao estado de bem-estar social,

portanto ligado às atividades de política pública e de justiça distributiva.

As reflexões das últimas décadas a respeito da transgressão dos

modelos de organização social, até então pautados na produção de bens de

consumo aos moldes ortodoxos nos levam a reconhecer a necessidade de pensar

em novos formatos. A economia contemporânea, cada vez mais, se articula através

de outros formatos de operação, em sua maioria, que reconhecem a possibilidade

de produção de bens intangíveis, com base no pensamento humano e toda a sua

subjetividade. É inserido neste contexto que seguimos identificando novos

paradigmas, através das experiências sociais mutáveis que demandem

acompanhamento multidisciplinar constante em um ambiente que retira da matéria

física a centralidade política para gestão do desenvolvimento humano.

Ainda sobre aspectos da interação entre diferentes países, é importante

destacar a criação da United Nations, Educational, Scientific and Cultural

Organization (UNESCO) em 1946, que na visão do Doutor em Filosofia pela

Universidade de São Paulo, professor e pesquisador do Instituto de Arquitetura e

Urbanismo da USP, Rui Lopes (2014), conectou países e ampliou as discussões

que levaram à expansão da compreensão da cultura através do enfoque em sua

dimensão antropológica, enfatizando um desenvolvimento integral de garantia dos

aspectos imateriais.

1.2 Economia e Cultura: A diversidade cultural como fator de desenvolvimento

econômico no Brasil.

No Brasil, são iniciadas a partir de 2002, as discussões políticas acerca

da cultura como “ativo econômico” e via de autonomia das comunidades locais na

expectativa de iguais acessos a itens considerados bens da globalização, assim

como da defesa pela singularidade dos bens culturais e da diversidade cultural,

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marcas do programa de políticas adotadas pela primeira gestão do Governo Lula

(PT), com o então ministro da cultura Gilberto Gil, que proporcionaram ao país uma

experiência inédita com papel decisivo nas Conferências Gerais da UNESCO dos

três anos seguintes. A abertura para tais expectativas levou o Ministério da Cultura,

dentre outras ações relevantes, a criar o Plano Nacional para a pasta com finalidade

de propor um planejamento para implantação de políticas públicas a longo prazo,

com objetivo de garantir a preservação do direito constitucional brasileiro à cultura.

Em 2011, dessa vez na primeira gestão da Presidenta Dilma (PT), tal

cenário provocado pelas gestões anteriores, proporcionou a consolidação de mais

um marco para as políticas culturais no Brasil, com a criação da Secretaria de

Economia Criativa que tinha o intuito, segundo a então ministra da cultura Ana de

Hollanda (2011, p. 7), “de liderar a formulação, implementação e monitoramento de

políticas públicas para um novo desenvolvimento fundado na inclusão social, na

sustentabilidade, na inovação e, especialmente, na diversidade cultural brasileira”.

Figura 1: A economia criativa brasileira e seus principios norteadores

(Plano da Secretaria de Economia Criativa, Minc, 2011, p. 33).

O plano para a secretaria proposto pela gestão do ministério da cultura a

essa altura, tinha compromisso com outros planos de desenvolvimento nacional

como forma inclusive de continuidade de políticas públicas já em curso, como, por

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exemplo, o próprio Plano Nacional de Cultura e o Plano Brasil Sem Miséria4,

destacando o viés social a que se propunha pensar a economia criativa no Brasil,

considerada singular e passível de investigação interna e não de cópia de modelos

internacionais.

[...] Ao planejarmos, através da SEC (Secretaria de Economia Criativa), um

„Brasil Criativo‟, queremos acentuar o compromisso do Plano Nacional de

Cultura com o Plano Brasil sem Miséria, através da inclusão produtiva, e

com o Plano Brasil Maior, na busca da competitividade e da inovação dos

empreendimentos criativos brasileiros. Que esse documento simbolize um

marco para o reposicionamento da cultura como eixo de desenvolvimento do

país. (BRASIL, 2011, p. 4)

A princípio, para introdução da perspectiva nacional sobre a diversidade

cultural como fator de desenvolvimento econômico, serão apresentados alguns

aspectos levantados no Plano de Secretária Criativa, marcos das políticas públicas

no governo brasileiro para o setor que tinha como base a preservação da

diversidade cultural no Brasil.

Sobre os valores econômicos da cultura, ainda de acordo com as

reflexões propostas pelo especialista Leandro Valiati, apresentado anteriormente,

compreende-se a ideia de valor como resultado das cadeias produtivas (quantidade

de empregos, rendas geradas, processos produtivos e economias que fazem parte

do contexto de produção de bens culturais), e a importância da acumulação de

capitais simbólicos que para além das objetividades econômicas, promovem

avaliações e leituras para compreensão do contexto econômico pela ótica da cultura

em função das políticas públicas, alinhados ao desafio econômico do bem-estar

social.

Adiante, seguindo uma tendência internacional da economia do novo

século, o advogado Philippe Kern, a respeito das novas posturas do pensamento

estratégico, ao participar do Congresso Europeu da Cultura na Breslávia (POL) -

2011 falou sobre:

4 Plano Nacional criado em 2011, coordenado pelo Ministério de Desenvolvimento Social ao lado de outros 22 ministérios, com intuito de superar a extrema pobreza. Disponível em http://www.secretariadegoverno.gov.br/iniciativas/internacional/fsm/eixos/inclusao-social/brasil-sem-miseria Acesso em junho de 2018.

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[...] a necessidade de se pensar a cultura não como uma ilha autônoma dentro de

um determinado marco social, mas de deslocá-la para o centro do discurso social e

econômico da nova sociedade [e afirma que essa mudança estratégica], não se

justificaria somente pelo crescimento de empregos criados pela indústria cultural, ou

ainda, pela contribuição da cultura e da criatividade no PIB dos países, mas

especialmente porque a cultura é o nosso primeiro recurso econômico. (KERN,

Philippe, Congresso Europeu de Cultura. 2011).

No mesmo evento, o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, em

reportagem do jornal espanhol El País, disse que “o futuro da Europa depende da

cultura”5, reforçando a partir da perspectiva europeia o que viria a ser absolvido por

grande parte das nações. Esses escritos, destacados na introdução do Plano de

inauguração da Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura (Minc) no

Brasil, aponta um ambiente em que para as sociedades contemporâneas ou pós-

industriais, a diversidade cultural passa a ser o recurso fundamental para o

desenvolvimento, recurso que:

[...] orienta o conteúdo das tecnologias, as escolhas dos governos, as

alternativas econômicas das empresas e, especialmente, os modos de vida

das gentes. Dessa forma, a diversidade cultural não deve mais ser

compreendida somente como um bem a ser valorizado, mas como um ativo

fundamental para uma nova compreensão do desenvolvimento. De um lado,

deve ser percebida como recurso social, produtora de solidariedades entre

indivíduos, comunidades, povos e países; de outro, como um ativo

econômico, capaz de construir alternativas e soluções para novos

empreendimentos, para um novo trabalho, finalmente, para novas formas de

produção de riqueza. (Plano da Secretaria de Economia Criativa, Minc, 2011,

p. 20).

Neste contexto, para a pasta, apresenta-se como de fundamental

importância um alinhamento na definição nacional do significado do termo

“economia criativa” como forma de evitar ruídos para o planejamento, no intuito de

afastar a compreensão de sua atuação do campo da indústria e de uma produção

seriada, convocando o uso do termo “setores criativos” como representação de

inúmeros conjuntos atuantes no campo da cultura que tinham como centro de suas 5 Disponível em https://elpais.com/diario/2011/09/10/cultura/1315605601_850215.html Acesso em junho 2018.

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atividades produtivas um ato criativo de dimensão simbólica, determinante para

identificar o seu valor cultural, econômico e social. Essa amplitude, passou a dar

conta não apenas do setores ligados à produção artístico-cultural, aqueles

elencados com base nas linguagens artísticas como música, teatro, dança, literatura

e artes visuais, mas também a atividades ligadas a outros setores como moda,

design, arquitetura e artesanato, que tenham o fator criativo e a subjetividade do

agente com centralidade e não apenas da sua tecnicidade e tradicionais meios de

produção.

A economia criativa, portanto, é considerada toda a cadeia de produção

gerada a partir de um ato criativo e tenta abarcar os agentes envolvidos nas

diferentes etapas de produção até a obtenção do resultado final. Considera-se como

estrutura base para compreensão dos setores criativos, o escopo desenvolvido pela

Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (Unesco), a

partir de 1986, acolhido e discutido amplamente pela comunidade internacional,

salvo às adaptações de acordo com singularidades nacionais para sua aplicação.

Figura 2 – Escopo dos Setores Criativos – UNESCO (2009)

Fonte: (Plano da Secretaria de Economia Criativa, Minc, 2011, p. 27).

Sobre a definição do termo “economia criativa”, o professor e pesquisador

da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Paulo Miguez sintetiza:

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A economia criativa trata dos bens e serviços baseados em textos, símbolos e imagens e refere-se ao conjunto distinto de atividades assentadas na criatividade, no talento ou na habilidade individual, cujos produtos incorporam propriedade intelectual e abarcam do artesanato tradicional às complexas cadeias produtivas das indústrias culturais. (MIGUEZ, Paulo, 2007. p.96 e 97)

O uso do termo “economia criativa” e as bases que proporcionaram sua

popularização surgem a partir da década de 90 em publicações que destacam

variadas denominações que mapeiam os novos formatos de produção na sociedade

contemporânea, até chegar à sua primeira demonstração acadêmica oficial, em

dezembro de 2002, no evento realizado em Brisbane, na Austrália, New Economy,

Creativity and Consumption Symposium, que reuniu pesquisadores e estudiosos da

Austrália, Londres e Estados Unidos. Desde então, diversos encontros e eventos

acontecem por todo o mundo, ampliando as discussões a respeito das temáticas e o

surgimento de novos conceitos, sobretudo em nações consideradas desenvolvidas.

Em 2005, o termo “economia criativa” foi incorporado oficialmente aos documentos

da UNESCO, integrando a lista de termos oficiais do órgão, quando concluiu e

reconheceu publicamente que as Indústrias Culturais fazem parte da Economia

Criativa. Para a UNCTAD, a economia criativa:

[...] é um conceito em evolução baseado em ativos criativos que potencialmente geram crescimento e desenvolvimento econômico.

● Ela pode estimular a geração de renda, a criação de empregos e a exportação de ganhos, ao mesmo tempo que promove inclusão social, diversidade cultura e desenvolvimento humano.

● Ela abraça aspectos econômicos, culturais e sociais que interagem com objetivos de tecnologia, propriedade intelectual e turismo.

● É um conjunto de atividades econômicas baseadas em conhecimento, com uma dimensão de desenvolvimento e interligações cruzadas em macro e micro níveis para a economia em geral.

● É uma opção de desenvolvimento viável que demanda respostas de políticas inovadoras e multidisciplinares, além de ação interministerial.

● No centro da economia criativa, localizam-se as indústrias criativas. (UNCTAD, 2010, p. 10)

Sobre Industrias Criativas, Paulo Miguez cita a formulação do Ministério da Cultura

Inglês, criado em 1997:

As indústrias criativas são aquelas indústrias que têm sua origem na criatividade, habilidade e talento individuais e que têm um potencial para geração de empregos e riquezas por meio da geração e exploração da propriedade intelectual. Isto inclui propaganda, arquitetura, o mercado de

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artes e antiguidades, artesanatos, design, design de moda, filme e vídeo, software de lazer interativo, música, artes cênicas, publicações, software e jogos de computador, televisão e rádio. (BRITISH COUNCIL, 2005, p.5).

Definições com esse mesmo teor são encontradas nos planos

estratégicos e documentos de governo dedicados ao setor, de países referência no

aprofundamento dessas analises como, Austrália, Nova Zelândia e Cingapura. Todo

esse destaque se deve ao reconhecimento deste fator criativo como chave da

economia do conhecimento, aspecto motivador para quase todos os governos no

mundo, atualmente. Muito se deve ao fato da economia criativa tratar de um novo

ambiente social, revolucionado pela experiência digital constante, novidades que

tornam a definição de conceitos como esse ainda em processo, principalmente pelo

fato de anunciar novos modos de recepção e de compreensão de tempo e espaço.

De um modo geral, no decorrer dos últimos vinte anos, muitas foram a

polarizações a respeito do que de fato englobam as definições de economia criativa,

assim como indústria criativa, economia da cultura e industrial cultural. No conteúdo que

apresenta o Plano da Secretária de Economia Criativa, a representante da pasta,

Claudia Leitão6, nos leva a aspectos peculiares do cenário nacional a respeito dessas

políticas, recordando o potencial criativo brasileiro como parte constituinte de nossas

dinâmicas sociais ao longo da história, com ações efetivas realizadas antes mesmo do

surgimento desses conceitos como por exemplo, a criação do Museu de Arte Popular

em Salvador pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi entre os anos de 1950 e 1960, que

tinha como proposta, estabelecer o diálogo entre estudos acadêmicos e mestres

artesãos na busca de um desenho original e brasileiro.

1.3 Produção Criativa no contexto da Bahia e Salvador

Salvador é uma cidade histórica e que tem na base de sua economia

atual as atividades voltadas para o Turismo como principal motor econômico.

Primeira capital política do Brasil desde sua fundação em 1549, possui maior

concentração de população negra do país, com auto declaração de negros superior

a 80%, de acordo com dados do último censo IBGE, de 2014. Construída sob uma 6 Claudia Leitão foi responsável pela criação da Secretária da Economia Criativa (SEC) do MinC, tendo sido sua primeira gestora, entre os anos de 2011 a 2013. É consultora em Economia Criativa para a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), assim como para o Sebrae, governos federal, estaduais e municipais, empresas e outras organizações.

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perspectiva cosmopolita, uma cidade planejada e proposta para ser a porta de

entrada para o Brasil, torna-se referência em turismo no início do século XX.

Repleta de atrativos à disposição de quem chega, não importa de onde

vem e nem para qual finalidade, as opções de lembranças para levar na bagagem é

algo determinante para quem visita e vive em Salvador. Um dos fatores que

influenciam esse aspecto é ter esse caráter nacional, tendo uma variedade de

produções manuais que representam diferentes regiões do país. Além disso por ser

Nordeste, macrorregião brasileira que mais explora a cultura popular, reúne duas

das regiões mais secas do Brasil, sendo o Agreste e o Sertão, historicamente

negligenciadas pelas políticas públicas de distribuição de renda, assim como todas

as regiões fora do eixo sudeste-sul da costa ao leste do território nacional. Esses

aspectos geográficos são peculiares por destacar a realidade dos grupos sociais

aglomerados na região, que por não ter acesso a satisfatória distribuição de renda,

cria alternativas para dinamização e circulação monetária - a exemplo do artesanato

que é produzido através de referências das diversas culturas miscigenadas,

enaltecedoras de saberes ancestrais e vindas de diversas partes do mundo

símbolos da nossa história que contam aspectos de nossas misturas, modos de vida

e comportamento.

Em Salvador, a produção artesanal sempre esteve presente como parte

significativa da economia local. Em 1939 as políticas públicas voltadas para a

produção artesanal tomaram forma com a criação do Instituto Mauá, inicialmente

sob a responsabilidade do Instituto Industrial Feminino Visconde de Mauá e

vinculado à Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio com a finalidade de

manter e direcionar a indústria de confecção em domicílio. Dezesseis anos mais

tarde, o Instituto ganha status de autarquia, subjugada à Secretaria do Trabalho e

Bem Estar Social, mas com autonomia administrativa e financeira, e personalidade

jurídica. A prioridade agora era estimular a produção artesanal com atividades

voltadas para o ensino do trabalho artesanal em todo o estado, através dos cursos

de capacitação e núcleos de produção em Salvador e cidades do interior.

Em 1983, é oficializado enquanto Instituto de Artesanato Visconde de

Mauá. Nove anos após, a Lei nº 6074 modifica a estrutura organizacional da

Administração Pública e o extingui, direcionando as suas atribuições à Coordenação

de Artesanato da Secretaria do Trabalho e Ação Social por um ano, até a reativação

do Instituto Mauá que em 1992 também assume a responsabilidade pela

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comercialização do artesanato produzido na Bahia com duas lojas situadas em

Salvador. Em 2015, o Instituto é extinto novamente, dando lugar mais uma vez à

Coordenação de Fomento ao Artesanato com o objetivo de coordenar a política de

preservação, incentivo, promoção e divulgação da produção regional, deixando um

contingente de mais de onze mil artesãos cadastrados no estado e sessenta

servidores públicos estaduais ou em caráter de regime especial de direito

administrativo, além de atividades presentes em mais de duzentos dos quatrocentos

e dezessete municípios da Bahia.

Atualmente, o Governo do Estado, por meio da Secretaria do Trabalho,

Emprego, Renda e Esporte, lançou o edital 2017 do Programa de Certificação do

Artesanato Baiano, que confere o selo de qualidade “A Bahia Feita à Mão”. A

iniciativa realiza sua segunda edição com histórico de certificação de mais de 190

produtos, seguindo os critérios da base conceitual do Programa do Artesanato

Brasileiro. Entre 2012 e 2016, o Ibametro certificou noventa e cinco artesãos, de

vinte e cinco municípios baianos, como Abaíra, Ribeira do Pombal e outros

localizados na Região Metropolitana de Salvador. Além do Programa de Certificação

do Artesanato Baiano, a Coordenação de Fomento ao Artesanato realiza atividades

de apoio ao artesão com a comercialização de produtos que recebem o selo “A

Bahia Feita à Mão”, além da emissão da Carteira Nacional do Artesanato, que

permite a participação dos artesãos e artesãs em todas as feiras nacionais. Na

Bahia, existem artesãos em praticamente todas as localidades, divididos em

inúmeras categorias dos mais diversos ramos artesanais, a exemplo de cerâmica,

madeira, metal, couro, cestaria, trançado, tecelagem manual, rendas, bordados,

confecção de instrumentos musicais e artesanato mineral.

Além disso, em 2004, a XI UNCTAD (Conferência das Nações Unidas

sobre Comércio e Desenvolvimento) realizada em São Paulo, foi um marco para

avanço das pesquisas sobre economia criativa no país, sobretudo para a Bahia, em

um painel inteiramente voltado ao tema, que reuniu especialistas, técnicos da

Organização Mundial das Nações Unidas e representantes de vários governos, em

que foi sugerida a criação de uma instituição internacional dedicada à economia

criativa na perspectiva do fortalecimento e desenvolvimento deste setor nos países

do Sul, sugestão acolhida pelos representantes do governo brasileiro, sendo a

Bahia, o estado escolhido para sua sede. Desde então, diversas atividades e

eventos estão sendo atraídos e realizados em torno das atividades que fazem parte

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do processo de instalação da instituição, a exemplo do Fórum Promovendo a

Economia Criativa: rumo ao Centro Internacional das Indústrias Criativas (ciic) /

Enhancing the Creative Economy: Shaping na International Centre on Creative

Industries e do Seminário Indústrias Criativas – a cultura no século XXI, com o

objetivo de ampliar o debate sobre a temática da economia criativa no estado.

Em 2014, com o objetivo de desenvolver ações de apoio, de capacitação

e fomento a iniciativas de economia criativa foi criada a Incubadora Bahia Criativa,

com o intuito de se tornar um centro de inovação e empreendedorismo voltado para

a interação multisetorial, com a parceria do Senac e do Sebrae. A organização

tornou-se um escritório público de atendimento e suporte a profissionais e

empreendedores que atuam nos setores criativos, fruto de um convênio firmado

entre o Ministério da Cultura e o Governo da Bahia, o equipamento é gerido pela

Secretaria de Cultura do Estado e tem como objetivo proporcionar qualificação

ligada à gestão e sustentabilidade econômica de atividades criativas,

proporcionando informação, capacitação, consultorias e assessorias técnicas

voltados para a qualificação da gestão de projetos, serviços e empreendimentos

criativos.

Já se tratando das políticas públicas municipais, a Prefeitura Municipal de

Salvador, com investimento na ordem R$3 bilhões de reais, lançou em maio de

2017, o Salvador 360 - “o maior e mais audacioso programa de planejamento para

impulsionar o desenvolvimento econômico de Salvador, que busca soluções para

problemas que atrapalham a geração de emprego e renda na cidade” 7(SECOM-

Prefeitura Municipal de Salvador). Dentre as propostas do projeto que reúne as

diversas iniciativas promovidas pelos órgãos municipais com foco na geração de

emprego e renda, e atração e promoção de empreendimentos está o eixo 6, que

visa desenvolver projetos e criar incentivos que permitam o fortalecimento e

potencialização da economia criativa em Salvador. A iniciativa pretende promover

incentivos ao desenvolvimento de mais de dez setores da economia criativa, a

exemplo de música, audiovisual, cinema, moda e gastronomia. As principais

atividades englobam a criação de um Polo de Economia Criativa, além de incentivos

7 Disponível em http://www.comunicacao.salvador.ba.gov.br/index.php/todas-as-noticias-4/50067-salvador-360-pretende-impulsionar-economia-da-cidade-nos-proximos-quatro-anos Acesso em julho de 2018

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e regulamentação específica a empresas do segmento para facilitar, fortalecer e

apoiar o setor em Salvador.

Dentre as iniciativas da sociedade civil, a cidade passou a experimentar

diversas atividades de dinamização da economia criativa local, como as feiras em

espaços públicos ou privados e mais recente, as lojas colaborativas. A partir de

2014, projetos como as feiras do Cubo arte e Cultura, sendo elas a “Feira de

Multinguagens” e a “Feira de Empreendedoras criativas”, além da “Feira Zona” e do

“Mercadilho” foram importantes para a construção de um novo momento de

escoamento da produção criativa e do artesanato local, sobretudo pela falta de

iniciativas relevantes por parte do poder público municipal e estadual que não

davam conta de incluir novos moldes aos seus programas. De todo modo, ainda

assim, essas iniciativas foram singelas comparadas ao quantitativos de produtores e

cadeias produtivas do artesanato na cidade e no estado, tendo iniciado apenas um

novo direcionamento com grande potencial de abrangência, se tivessem acontecido

de forma articulada e em rede.

Neste ambiente, a gestão municipal do então prefeito ACM Neto (2014),

em um forte movimento de incorporação dos conceitos de economia criativa como

um dos principais motores de desenvolvimento e argumento para projetos de

reestruturação urbana na cidade, deu vazão a outras iniciativas que tinham como

foco a produção artesanal e manufaturada na cidade, sendo elas a “Big Chef’s de

Rua”, “Feira da Cidade” e “Feira Boa Praça”, em sua maioria atreladas ao viés

gastronômico e com atrações de entretenimento que passaram a ocupar os espaços

revitalizados pela gestão com apoio da prefeitura e com grande apelo de mídia,

alinhados à construção de um imaginário local de uso dos “novos” espaços públicos.

Em um intervalo de nove meses, a “Feira da Cidade” por exemplo, já

havia realizado mais de 20 edições contando com uma equipe de mais de 250

expositores entre fixos e rotativos. Esse cenário, ampliou a cada mês a capacidade

das novas feiras, diminuindo a realização dos projetos menores, criando um novo

foco de circulação da rede de produtores locais nessas grandes feiras. Porém, por

se tratarem de atividades sem consistência ou aparato de coordenação que

envolvesse políticas públicas integradas, as grandes feiras de ruas acabaram por

consolidar redes independentes que ganharam ainda mais força no âmbito privado

impulsionando a criação de lojas colaborativas (espaços compartilhados por

produtores indendentes), que em Salvador começam a chegar aos pontos turisticos

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nesses formatos a partir de 2015 e que ganham os shopping centers a partir de

2016. A essa altura, as feiras de rua perderam em números de expositores e

passaram a existir de forma mais direcionada e com foco em públicos especificos da

cidade, algumas inclusive se adaptaram às novas tendências de mercado e

inauguraram lojas colaborativas no intuito de manter a atividades de suas marcas.

É importante destacar que em todos esses movimentos, desde os

projetos com redes menores, não são considerados os devidos instrumentos de

inclusão social de produtores que utilizam dessa economia como meio de

subsistência, essas iniciativas na Bahia ficaram a cargo de outras iniciativas como

do Centro Público de Economia Solidária (CESOL) integrado à Secretaria do

Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, como politica pública do governo estadual

pautados na Economia Solidária8. Ao passo em que destaca-se também, no caso

do Cubo arte e cultura, o exercício em reduzir ao máximo as taxas de participação

dos expositores, além de pontuais inciativas visando a inclusão de cooperativas de

artesanato, além da insenção dos custos de produção e design realizados por mim

e por Tai Oliver durante todo o período de atuação.

2 - AS ATIVIDADES REALIZADAS

O Cubo Arte e cultura é fruto do meu encontro e parceria com Tai Oliver,

artista visual e gestora cultural soteropolitana, a partir de ideias geradas por

reflexões o escoamento de produção artística e manufaturada. Tai é uma amiga e

parceira que conheci enquanto atuei como estagiário de produção da ASCOM9 da

Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA), entre os anos de 2012 e

2013, onde tive a oportunidade, para além do aprendizado e contribuição nos

fazeres cotidianos do setor em que estava alocado, de conhecer pessoas e

parceiros nas mais diversas redes de cultura da Bahia das quais pude ter acesso.

O Cubo foi criado como um projeto de dinamização de produções

artísticas para o Quartoamarelo ateliê | design, ateliê criado por Tai Oliver para

assinar a sua produção. A proposta de criar o Cubo, através do Quartoamarelo

8 Economia Solidária: Alternativa de gestão economica que presa os seguintes princípios: auto-

gestão, democracia, solidariedade, cooperação, equidade, valorização do meio ambiente, valorização do trabalho humano, valorização do saber local, igualdade de gênero, geração, etnia e credo. Com base nas diretrizes disponíveis em www.cesol3.org.br. Acesso em maio de 2018 9 Assessoria de Comunicação

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ateliê, tinha a finalidade de estimular a distribuição da produção e capacitação de

agentes dedicados ao artesanato e manufatura, assim como, ampliar os espaços de

circulação das mais diversas linguagens e expressões. Em 2013, quando começou

a ser desenhado este projeto, o Brasil tratava da cultura com um enfoque bem

publicitário para a economia criativa, o “faça você mesmo”, “faça e venda”,

microempreendedorismo, dentre outros estimulos de viés econômico.

Acredito que não por acaso, mais uma vez, tenhamos encontrado juntos,

naquele momento, algumas supostas chaves para questões práticas a respeito da

distribuição da produção manufaturada em Salvador. Para além disso, a esta altura,

era notável a expansão e atrativos para formalização de trabalhadores autônomos

através do título de Microempreendedor Individual (MEI), iniciado em 2008 no Brasil,

com foco na formalização empresarial de profissionais liberais com atividades até

então consideradas informais. Esse cenário da formalização do trabalho autônomo,

atrelado ao foco das políticas culturais no trabalho criativo como força para o

desenvolvimento social através da economia criativa e das áreas em torno da

indústria cultural, proporcionou o ambiente para os acontecimentos que apresento

adiante.

A partir desta introdução e do que seguirá nos subcapítulos decorrentes,

apresentarei um registro das atividades realizadas pelo Cubo arte e cultura entre

2014 e 2016, em um relato atemporal, que se distribui através das áreas

identificadas como predominantes de acordo com os registros de atividades

realizadas. Para situar um pouco esse percurso, foram listadas todas as atividades

do projeto até o ano presente, incluindo as que ainda não haviam acontecido ou que

aconteceram durante a construção deste trabalho, mas que já estavam previstas no

planejamento para o período. Após essa listagem de atividades, foram identificados

os eixos de atuação com base nos grupos de eventos semelhantes em formato e

execução, ou de singularidade da atuação para que fosse possível mapear todas as

etapas realizadas.

A partir deste mapeamento, foi estabelecido o recorte de período referido

entre 2014 e 2016, com base no quantitativo de informações sobre cada execução,

de modo a compreender que os resultados das atividades posteriores a essas ainda

não estariam parcialmente ou totalmente aferidos. A construção deste memorial

gerou conteúdos e documentos, assim como colheu fragmentos dos processos de

produção pelos quais as atividades foram submetidas, acompanhados de alguns

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dados e históricos que poderão servir como material de apoio a essa leitura. Esses

fragmentos foram documentados por mim, Tai Oliver e pelas equipes envolvidas na

execução das diferentes etapas que coordenamos neste período.

Reitero a finalidade de observação a que caberão ser apresentados estes

dados, assim como a possível necessidade de outras bases de leituras para melhor

observação destas reflexões. No total, desde a sua primeira atuação em 2014,

foram realizadas 14 atividades, entre elas, 10 feiras e exposições de artesanato, 04

mostras artísticas, 01 publicação de catálogo de produção manufaturada, em um

total de 16 campanhas de comunicação incluindo as campanhas de atividades

canceladas. Esse conjunto de eventos movimentaram redes locais de produção

cultural de forma não-linear em um quantitativo de em média, 200 agentes

envolvidos em todas as atividades ao longo dos seus cinco anos de atuação

2.1 Feiras e exposições de artesanato

O Cubo nasceu com a missão de proporcionar novos ambientes de

exposição para os produtores criativos que circulavam em feiras livres, bazares e

brechós de Salvador. A motivação para suprir essa demanda se deu a partir das

percepções de Tai Oliver, a respeito do fazer criativo na cidade e principalmente das

estruturas que eram disponibilizadas para realização dos eventos para

comercialização e exposição. Outro grande incômodo era a respeito dos atrativos

desses eventos e seus formatos que em sua avaliação, costumavam ter estrutura

precária e aspecto desinteressante para produtores, artistas e frequentadores.

A realidade vivenciada por Tai Oliver e tantos outros expositores, com

eventos desanimados, cansativos, com pouco engajamento e nenhuma relação com

a dinâmica dos espaços que ocupavam e até mesmo com os novos meios de

interação social, a exemplo dos dispositivos digitais, influenciava no desempenho da

produção e distribuição de suas peças artesanais e exclusivas para o ateliê, o que

inclusive fazia com que ela não apenas se dedicasse aos eventos de exposição,

feiras e bazares, como também, dedicasse uma carga horária quase que

intermitente para produzir, divulgar, promover e entregar. No final das contas, era

inevitável colocar o sacolão no ombro para apresentar as suas criações pela cidade,

em uma dinâmica que acabava por esgotar sua saúde física e mental para

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conseguir administrar o trabalho formal, os eventos que participava e o tempo que

dispunha a todas as etapas.

Tai Oliver nasceu em Salvador e cresceu no bairro da Liberdade, formou-

se em design pela UNIFACS em 2009 e desde muito cedo despertou e desenvolveu

suas habilidades artísticas como música, pintura, ilustração e trabalhos manuais até

chegar à faculdade, que lhe proporcionou o aperfeiçoamento técnico e prático da

produção gráfica da formação em design. Tornou-se designer da assessoria de

comunicação da Secult-BA onde permaneceu até 2015, período em que realizou

inúmeros trabalhos artísticos de produção gráfica visual, ilustrando, diagramando e

criando campanhas, relatórios e publicações da Secretaria. Criou o Quartoamarelo

ateliê e design em 2007 para representar toda a variedade de sua produção gráfica

digital independente assim como seus artesanatos e artes visuais, e sempre esteve

de “pé atrás” com os espaços legitimados da produção artesanal na cidade, visto

que por se tratar de uma mulher, preta e de periferia, nunca se via representada

pelos formatos a que eram submetidos os demais profissionais/artistas, ainda

sequer enxergados como profissionais ou como artistas.

Em 2013, dividia seu tempo disponível entre o ateliê no bairro do

Comércio e à Secult, na praça municipal. Do primeiro, se dedicava a produzir como

investimento a fim de construir um conceito sólido e de acordo com suas

expectativas estéticas, do outro dividia entre o sustento e os investimentos que fazia

para o primeiro. Das produções que gerava no ateliê, pouco retorno, muitos elogios,

muitas opiniões e palpites, mas nada que se convertesse em resultados financeiros

significativos ao ponto de tornar-se sustentável economicamente. Entre as suas

avaliações do cenário que vivia, aumentava a inquietude em ver artistas serem

desrespeitados ou desistirem de suas habilidades por não terem oportunidade nos

espaços institucionalizados que dispunham, e tudo isso foi configurando uma

verdadeira revolução para as reflexões de Tai. Neste ano, nos conhecemos e juntos

encontramos diversas afinidades que fizeram expor um para o outro, todas as

nossas observações a respeito das relações que estabelecemos com a cidade e o

mundo a nossa volta, eu pude então me deparar com essa realidade de opiniões

acerca de seu trabalho e com isso, muitas das suas vontades. Começamos uma

empreitada rumo ao novo lugar, me dispus a Tai para me dedicar a tornar possível

as mudanças em tudo o que tanto lhe incomodava e que dificultava a continuidade

da sua produção independente e junto a isso, da manutenção da estrutura que

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custeava. Naquele momento, demos vida a um laboratório constante de produção,

atrelando comunicação, design e cultura em busca de um melhor cenário para a

produção de artistas independentes, com intuito de impulsionar o escoamento dessa

produção. Neste período, sem outra alternativa para manutenção dos custos, Tai se

desfez do ateliê que dividia com uma marca de confecção no bairro do Comércio,

para dividir um apartamento no Politeama, com seu ateliê e mais outros dois amigos

estilistas que utilizavam desse novo espaço para morar e produzir também.

Neste novo lugar, em abril de 2014 foi realizada a primeira edição do

CUBO arte e cultura reunindo nove marcas de produções artesanais e

manufaturadas de Salvador, além da estilista Sara Prado que também fazia parte da

equipe de produção desse primeiro evento e era uma das residentes do novo ateliê,

além do próprio Quartoamarelo ateliê e design com as produções de Tai. A

produção do evento aconteceu no decorrer de um mês, entre a convocação dos

expositores e a montagem e realização do evento. Todas as etapas realizadas por

mim e por Tai Oliver com destaque para a disponibilidade dos participantes, que no

dia do evento puderam contribuir com elementos de decoração e outros ajustes para

otimizar o uso dos espaços, ainda assim, foi uma pré-definição dessa ocasião,

mapear, construir layout, realizar curadoria de localização dos expositores a tempo

de recebê-los com os seus itens de exposição para serem acomodados e deixá-los

livres para receber os visitantes e convidados.

Cumprindo com as etapas de pré produção, através de mapeamento do

quartoamarelo ateliê | design, reunimos os contatos de expositores e artistas para

participar deste primeiro encontro. Após contato por e-mail, optamos por criar um

Manual do Expositor para convocação dos participantes, com todas as instruções e

comunicados a respeito da realização do evento, assim como, foram

disponibilizados às vésperas do evento, o roteiro de realização com horários de

chegada, montagem, desmontagem e retirada das estruturas no dia.

Outro grande desafio para a primeira atividade do projeto foi a construção

e confecção das estantes para exposição dos itens de cada artista e expositor. Em

reunião, optamos por trazer características cotidianas para o mobiliário, além de

pensar em uma mobília reutilizável e que coubesse no pouco recurso disponível

para investir. Decidimos por comprar caixotes de madeira, utilizados para o

transporte de frutas e legumes entre as feiras e centrais de abastecimento, pela

grande quantidade ofertada nesses centros e pelo baixo custo de aquisição e

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restauro. Fomos à feira de São Joaquim, no bairro da Calçada, em Salvador e em

longa pesquisa com barraqueiros e feirantes, fomos desbravando o cotidiano da

feira, descobrindo a cada passo um pouco mais sobre a dinâmica dos caixotes que

tomavam conta daquele lugar. Entre preços que variam entre cinquenta centavos e

três reais, encontramos um fornecedor que mantinha estoque de caixotes para

venda, no valor de um real, cada. Nem todos em perfeitas condições, mas com

qualidade suficiente para reutilização.

Desenhamos algumas possibilidades de montagem até chegar ao

primeiro esboço, em que as estantes seriam formadas com caixas empilhadas e

fixadas com prendedores de papel de metal, para que ficassem ainda mais firmes.

Aos poucos fomos garantindo a estabilidade das pilhas de caixotes sem auxílio dos

prendedores, começamos a brincar com diferentes possibilidades. Chegamos por

fim na estrutura em forma de cubo, em que cada face deixaria algumas

possibilidades de prateleiras ou até mesmo, uma estrutura de madeira para fixar

pinos e alfinetes de pressão para penduricalhos. As ideias foram sendo exploradas

aos montes pelos expositores, que a cada edição passou a entender melhor as

possibilidades da mobília fornecida. Em sua primeira edição, adquirimos 120

caixotes, todos posteriormente lixados e higienizados.

Fotografia 1 - Mapa de estantes (esboço de planta baixa). Cubo - abril/2014

Fonte: Acervo pessoal.

Com esse mesmo mobiliário e formato, foram realizadas três edições em

que toda essa estrutura residia no quartoamarelo ateliê | design, uma em cada mês

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entre abril e junho de 2014, nelas foram reunidos no total, 17 expositores, somados

a seis exposições de artes visuais sendo três exposições de fotografia, duas de

pintura e uma exposição de ilustração. Dentre as experiências mais marcantes,

destaco algumas parcerias proporcionadas por essas interações, como o

lançamento da primeira estampa da camiseteria “Pé no dendê”, que estreou no

nosso primeiro evento, lançando a primeira coleção assinada por Tai Oliver, através

do quartoamarelo ateliê | design, assim como o lançamento do jogo desembaralho -

parte do projeto que originou a publicação do livro “Desembaralho da Tipografia

Brasileira” dos autores Edileno Capistrano e Paulo Fernando de Almeida em 2013,

que teve seu jogo lançado no ano seguinte, na nossa edição especial do dias das

mães.

Na terceira e última edição desse primeiro ciclo, em junho de 2014,

pudemos ampliar as propostas trazendo um espaço de massagem, sarau de poesia

e música voz e violão na tentativa de inserir atividades de mais linguagens,

proporcionando uma maior vivência dos frequentadores no espaço. Sem dúvida, o

fator mais destacado pelas nossas experiências à essa altura era o de provocar

debates e novos olhares dos expositores que puderam experimentar outra

experiência de atenção e dedicação, além de se motivar com ambientes mais

agradáveis e desenvolvidos com foco em cada umas das suas atividades.

Fotografia 2 - Cubo Arte e Cultura – Politeama – abril de 2014

Fonte: Acervo Cubo arte e Cultura

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A procura crescente no decorrer das três primeiras edições por novos

expositores, assim como o número de público visitante nas datas, tornou a

realização deste formato inviável para a estrutura do local e para o mobiliário que

tínhamos disponível, fator motivador da expansão que experimentou a seguir. A

quarta edição do CUBO arte e cultura aconteceu no Cabaré dos Novos do Teatro

Vila Velha, em setembro de 2014, reunindo 20 artistas e expositores em espaço

mais amplo e com acesso ao estacionamento do Passeio Público, além de ampliar a

presença de outras linguagens como show musical, discotecagem, exposição e

oficinas que ocuparam o palco do Cabaré.

Fizemos o evento com as mesmas bases que experimentamos nas

primeiras edições, podendo dessa vez ampliar nas devidas proporções, algumas

etapas como logística e programação. A logística, por agora ser necessário o

transporte de mobiliário por carreto, e a programação por dispor de mais espaço e

mais estrutura para inserir mais atrações à dinâmica do evento. Foi possível por

exemplo, abrir chamada para oficina de turbantes, incluir na programação um show

voz e violão e discotecagem, ampliar a quantidade de vagas de expositores de

manufatura, trazer novos artistas para exposição de artes visuais, além de contar

com participação do Café do Vila, com lanches e bebidas a serviço do público

visitante.

A primeira Feira de Multilinguagens no Teatro Vila Velha teve como

destaque na sua divulgação, a nossa chegada ao espaço e as comemorações dos

cinquenta anos do teatro. A identidade visual foi concebida por Tai que propôs um

aglomerado de legos para ilustrar a nossa campanha e junto a ela, uma campanha

de arrecadação de alimentos como valor de entrada para a Feira, que seria

posteriormente doado a comunidades carentes.

Para a nova ação foi necessário ampliar a quantidade de caixotes de

modo a conseguir construir todas as estantes necessárias para o novo contingente

de expositores, além da confecção de dois biombos de madeira que serviriam para

exposição de quadros e pinturas. Mais uma vez, todas as etapas de produção do

evento ficaram a cargo de mim e Tai, era um compromisso nosso com os

expositores, não incluí-los na concepção e montagem, o intuito era de que o

expositor ou artista, tivesse a tranquilidade de pagar a taxa de inscrição e estar no

dia e horário agendado para arrumar seu stand e monitorá-lo durante a feira. Nos

incomodava saber que a maioria das montagens de outros projetos, senão a

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totalidade, não dava o devido acompanhamento e atenção aos expositores, que

ficavam descobrindo entre si, o que e como fazer para ter o mínimo de conforto

durante o período de exposição. A essa altura, esses relatos de insatisfação

deixaram de ser apenas de Tai para ganhar novas proporções com tantos outros

que nos queixavam dos tratamentos nos outros eventos cidade a fora.

Levar a Feira para o teatro nos trouxe mais um desafio, além dos já

citados, que foi a necessidade de assumir um custo de pauta para realizar o evento,

visto que antes eles aconteciam no apartamento de Tai sem muitas despesas, por

ser ali também o seu próprio ateliê. Agora não, junto ao teatro foi necessário

estabelecer uma parceria em forma de permuta em serviços gráficos, oferecida por

Tai, através do quartoamarelo ateliê | design. Essas permutadas foram a moeda de

realização do Cubo em todas as três edições que aconteceram em 2014 no Teatro,

o que de certo modo pesava na dinâmica de trabalho de Tai em seu cotidiano, que

precisava incluir periodicamente, uma cota de serviços em suas demandas, por

vários meses, para além das expectativas de disponibilidade.

De todo modo, pudemos nesse ambiente, construir mais duas edições de

sucesso para o projeto, totalizando a circulação de mais de 30 expositores e artistas

nos meses de setembro e outubro de 2014. A segunda edição da Feira no Teatro

Vila Velha aconteceu no dia 11 de outubro comemorando o dia das crianças com a

temática “A Magia do circo”. Foi também destaque dessa atividade, a exposição de

molduras em gesso proposto pelo stand “Linha da Rosa”, que decorou o palco de

discotecagem. Outro elemento surpresa foi a performance dos artistas Odre

Consiglio e Sandro que fizeram respectivamente, um número de dança do ventre

com a cobra e a animação do espaço com personagem de Perna de Pau que fez a

alegria da criançada presente no evento e que passeava no Passeio Público em

frente ao teatro. A edição, por se tratar do mês das crianças, optou por arrecadar

neste mês, brinquedos para doação a crianças carentes.

Ainda em 2014, foram reservadas as pautas para a Feira de Natal em

dezembro, mas a essa altura, as feiras de rua itinerantes tomavam cada vez mais

força na programação dos finais de semana da cidade, sempre com muitos

expositores, ocupação de espaço público, shows de artistas de expressividade na

cena local, food trucks, atividades recreativas, oficinas, dentre outros. Por

insegurança, optamos por cancelar a data e suspender as atividades das feiras para

a construção de um novo planejamento.

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Nesse intervalo, nasceu a Festa Kubalanço que será apresentada no

subcapítulo a seguir, e também surgiu o convite de Cristina Castro, curadora do

VIVADANÇA Festival Internacional, para integrar a programação do festival em abril

do ano seguinte (2015). Foram nessas expectativas que dedicamos nossas forças

para começar o ano, com intuito de apresentar a feira no mesmo lugar, mas dessa

vez sem custo de pauta por essa ser uma contrapartida do Festival, o que nos daria

mais liberdade de produção e junto ao VIVADANÇA, melhor condição de atuação

pelo contexto de fazer parte de uma programação do mês da dança, o que já traria

um público. A expectativa foi tanta, que pedimos o uso de três espaços do Teatro, o

Cabaré dos Novos - que já costumávamos usar, e dessa vez a galeria de exposição

e o foyer de entrada no subsolo do teatro, optamos também em realizar a feira em

dois dias.

A edição foi marcada para a abertura do Festival, mas às vésperas de

acontecer, uma forte chuva na cidade fez com que inúmeras programações fossem

canceladas e nós, por saber que a condição do tempo inviabilizaria a mobilidade de

inúmeros expositores, assim como do público, optamos por adiar para o final do

mês, na última semana do festival. Preparamos a feira nos mesmos moldes que no

ano anterior, e ainda tivemos alcance a novos expositores, convidamos a artista

Marla Sampaio para propor uma exposição de mobiliários e quadros de decoração

com itens reutilizados que ficaram na galeria do Teatro, outra atração da nossa

programação foi o grupo de teatro Griô, que trouxe uma performance de samba de

roda, incluindo a dança popular na programação do Festival. O orçamento

redimensionado pela subtração da pauta do espaço, nos possibilitou iniciar a

construção do nosso primeiro catálogo de expositores, reunindo dentre todos os

inscritos para a feira, aqueles que tinham interesse em compor uma caderneta de

expositores locais, com fotos das produções e contatos para mais detalhes. Para

participar do catálogo, era acrescida uma taxa ao valor da inscrição para viabilizar a

produção, impressão e distribuição dos catálogos prontos.

Por falta de recursos e pelo pouco interesse dos expositores nos eventos

privados, neste mesmo ano, em outubro, realizamos a CUBO Pocket, uma feira em

formato reduzido para atender apenas os produtores interessados, realizada no

Café Mirante dos Aflitos, no Largo dos Aflitos. Nessa ocasião, tivemos de optar em

sair do Teatro Vila Velha e mudar todo o mobiliário, substituindo os caixotes que

demandam muita logística, por biombos de madeira e nichos que podiam ser

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instalados de acordo com a montagem do expositor e que ocupavam menos espaço

no armazenamento.

No ano seguinte, o projeto foi incluído como Feira de Empreendedoras

Criativas do Festival MINAVU, projeto aprovado pelo Fundo de Cultura do estado da

Bahia com produção da Multi Planejamento Cultural e do coletivo Minavu formado

por uma rede de mulheres artistas de Salvador. Mais uma vez, a realização só foi

viabilizada por estar atrelado a um projeto de âmbito maior que nos possibilitaria

parcerias e agilidade na viabilização. A edição previa a realização de uma feira

mensal durante a programação que se estendia entre os meses de março a junho,

ao final, foram realizadas apenas duas feiras, uma em março e outra em maio, a

edição de abril foi cancelada por conta da votação do impeachment da presidente

Dilma que aconteceu no dia do evento, e a edição do mês de junho acabou sendo

cancelada por falta de adesão de expositores. A proposta integrava a programação

de um festival de arte de mulher, e portanto foram convocadas apenas mulheres

para ocupar todos os 14 espaços propostos para a Feira. Além das expositoras,

intervenções como a performance de dança do grupo Batekoo aconteceram no pátio

em frente ao Cine Teatro Solar Boa Vista, onde aconteciam as demais atividades do

Festival.

Realizado no ainda degradado Parque Solar Boa Vista, no Engenho

Velho de Brotas, às margens do Dique do Tororó, em Salvador, o evento ocupou o

pátio em frente ao Cine Teatro. A localidade onde está o parque, é o centro de uma

área residencial popular que fica no topo do morro, no entorno do antigo Solar,

prédio público que já serviu de sede para a Prefeitura de Salvador e para a

Secretaria de Educação do Estado, incendiado e em ruínas desde 2013.

Produzir a feira em área pública e a céu aberto foi um grande desafio,

sobretudo por se tratar de um espaço da cidade de pouco prestígio para gestão

pública. Após o incêndio do Solar, ainda enquanto sediava a Secretária de

Educação, toda a área foi nitidamente abandonada pela gestão estadual e

municipal, tendo apenas as ações de manutenção dos demais equipamentos do

parque que ainda estavam em atividade, como o Cine Teatro. Essas manutenções

eram em sua maioria restrita às instalações dos espaços, como no caso do Cine

Teatro, que respondia pela manutenção e funcionamento “das portas do teatro para

dentro”, como fui informado por telefone ao ligar para a Diretoria de Espaços

Culturais da Secretaria de Cultura do Estado que faz a gestão desse e dos demais

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espaços da capital e do interior do estado, alegando responsabilidade da Prefeitura

de Salvador, quando solicitado apoio para revitalização da área externa em frente,

onde aconteceria a feira.

Como em todas as edições, costumavamos desenhar mapa da

disposição dos expositores na feira para facilitar o entendimento do uso do espaço e

necessidade de instalações, rotas de segurança, acessibilidade, dentre outros

mapeamentos. No caso das edições do Cine Teatro, por se tratar também de um

espaço público, era necessário prever o uso de iluminação pública, disponibilizar

banheiros químicos, limpeza e manutenção da limpeza do espaço, assim como a

responsabilidade em não depredar qualquer parte do patrimônio público, como rege

as leis em vigor. Acontece que feito o mapeamento e entendidas as necessidades,

fomos em busca de suporte dos órgãos responsáveis, visto que eu estavamos

representados pelo festival, com carta de apresentação de um projeto cultural

aprovado pela lei de incentivo e submetido a mecanismos de financiamento de

ações culturais propostas pela secretaria de estado. A princípio, por ter sido

autorizado pela Secult-BA através da empresa que realizava o festival, busquei

apoio da Diretoria de Espaço Culturais para limpeza, requisição de banheiros e

autorização de uso de energia de poste público para as datas de realização, mas

como citado acima, fui informado que era de responsabilidade da Prefeitura.

Prontamente, me programei e fui à Prefeitura-bairro responsável pela

área onde está o parque, e feitas as mesmas solicitações fui surpreendido com a

informação genérica do atendimento de que essa reivindicação caberia novamente

ao poder estadual de quem era a posse do terreno e responsabilidade pela gestão

dos demais equipamentos. Ainda assim, o atendimento da Prefeitura sinalizou que

mesmo não sendo de sua responsabilidade, estava prevendo para logo em breve

uma manutenção do capim na área, fizeram até uma ligação na minha frente para o

agente que faria o direcionamento do servidor para antecipar a manutenção - que

nunca aconteceu, além disso, fui encaminhado para outro órgão que faria a

liberação do banheiro químico, a SEMOP - Secretaria de Manutenção da Ordem

Pública, através de requerimento preenchido e entregue com carta de apresentação

e solicitação anexa, na sede da secretaria municipal. Como requerido, dei entrada

no pedido de banheiro químico na sede da SEMOP, em Pirajá, e ainda assim, os

banheiros nunca foram disponibilizados.

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Fotografia 3 - Feira de Empreendoras – Festival Minavu – Maio de 2016

Fonte: Acervo Cubo Arte e Cultura

Por fim, optamos por alterar a área que pretendia usar por não ter recurso

para arcar com a limpeza do capim no local, e arcamos junto com a Multi

Planejamento Cultural e a fornecedora de equipamento de iluminação Total Stage,

com as despesas na instalação das gambiarras para iluminar o espaço durante a

noite. Quanto aos banheiros, fomos autorizados pela coordenação do Cine Teatro a

usar o banheiro que ficava no acesso da sala de espetáculo, dentro do espaço

cultural, visto que os banheiros químicos nunca foram entregues. As duas feiras de

empreendedoras ocorridas no Solar Boa Vista em 2016, foram as últimas

experiências em gestão de feira do Cubo arte e cultura.

Em resumo, nossos orçamentos eram gerados a cada edição com um

custo minimo aos expositores que variou entre R$50,00 e R$120,00 que

possibilitava a manutenção e gestão das estruturas, arcava com os custos de

realização como contratação de carreto, patrocinios de divulgação em redes sociais

e impressão de cartazes, assim como a realização de projetos especiais como a

impressão do catálogo, em nenhuma das edições conseguimos sequer retirar

desses orçamentos uma taxa que pudesse arcar com a atuação da equipe de

realização, exceto em casos pontuais de contração de técnico de som, artistas, Djs,

fora esses, eu e Tai Oliver sobretudo, nunca conseguimos nos pagar, ao contrário,

na maioria das atuações, disponibilizamos permuta com os nossos serviços para

compor as despesas de realização, como no caso da relação que estabelecemos

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ccom o Teatro Vila Velha, por duas edições. Deste modo, chegamo a um ponto de

impossibilidade de sustentar novos custos e até mesmo de disponibilidade, visto que

nosso tempo precisava ser dedicado a atividades de remuneração prevista, para

manutenção das dinâmicas economicas individuais. Ao final das contas,

construimos um ambiente propicio ao fomentos dos produtores e artistas, mas nao

obtivemos exito na gestão dos recursos impossibilitando a nossa continuidade.

Em 2017, entendendo que tinhamos em mãos uma rede estabelecida que

ansiava por novas propostas da marca, o Cubo arte e cultura inaugurou a sua

primeira loja colaborativa em Salvador, seguindo a tendência do mercado naquele

momento, reunindo 20 marcas de produtores independentes da capital e do interior

do estado, e assumiu o caráter de Espaço Criativo, articulando além da dinâmica de

loja colaborativa, a realização de oficinas, consultorias e acompanhamento das

marcas parceiras. A loja, inaugurada em abril de 2017, no Centro Comercial Vila 14,

no Rio Vermelho, permaneceu aberta até outubro do mesmo ano, fechada por não

corresponder às expectativas econômicas para manter todos os custos da estrutura

mais uma vez, além de não ter gerado retorno significativos para algumas das

marcas associadas após o término do primeiro ciclo de gestão com duração de seis

meses.

Fotografia 4 - Tai Oliver e Ariane Veloso – Ação do CUBO Espaço Criativo no Sofar Sounds

Foto: Heder Novais - junho de 2017

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2.2 Mostra Artística

O Cubo arte e cultura, desde o início de suas atividades em abril de 2014,

foi fundamental para construção do meu modo de produção e gestão de atividades.

Quando começamos a desenvolver o projeto, eu dividia o tempo entre as aulas de

graduação, as atividades do estágio e as demandas de produção das feiras.

Realizar todas essas atividades contribuiu, dentre outros fatores, para ampliar as

conexões e com isso me inserir em diversas redes de produtores e artistas, pude

também captar freelas de produção executiva que contribuíram muito para essa

formação, no exercício da técnica de áreas relacionadas ao meu curso, assim como

em aspectos financeiros, que mesmo ainda pouco remunerado, era o que me valia

para gestão do mês, sobretudo após o término do estágio, período em que

dinamizei as minhas despesas apenas com trabalhos autônomos.

Uma dessas redes em que pude permear, era considerada ainda como

cena alternativa da música de Salvador, por se tratar de uma parcela de artistas,

cantores, instrumentistas, intérpretes, compositores e técnicos que não faziam parte

das bandas e equipes do Axé, e que circulavam em sua maioria entre as casas de

shows e espaço de eventos do Rio Vermelho. Apesar de “alternativos”, os projetos

que movimentavam a noite no bairro, recebiam artistas e equipes que circulavam

entre o interior e a capital, dos mais variados pontos da cidade, diferentes nichos e

estilos musicais e até mesmo, grupos artísticos de outras cidades, sobretudo das

cenas que surgiam pela web que ainda não tinham suporte nas grandes mídias.

Permear esses ambientes, possibilitou-me abrir novas possibilidades aos

projetos pessoais como o Cubo o que gradativamente passou a ser cada vez mais

intrínseco às minhas concepções de formatos, o que se alinhava também às

intenções de Tai Oliver, visto que desde o primeiro evento fizemos questão de

integrar diversas linguagens artísticas. Passou a ser um objetivo do nosso cotidiano

incluir e aceitar o desafio de articular as necessidades básicas para realização de

cada evento. Nesse ambiente, em diversas reuniões questionamos em quais

lugares poderiam circular as produções artísticas que estavam na feira, quais seriam

as barreiras e dificuldades para espalhar cada vez mais a produção autoral na

cidade e como enfrentar esses desafios, optamos por não responder e colocar em

prática na construção da Festa Kubalanço. Esperávamos inclusive, que a

experiência de incorporar uma marca na noite da cidade, pudesse trazer resultados

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financeiros que dessem conta da gestão da festa e das feiras, o intuito era de

conseguir ampliar o orçamento, retirando dele a nossa remuneração e ampliando as

propostas do projeto que pretendia dar cada vez mais atenção à rede que se

formava e que buscava investigar essa atuação a partir dessa rede e do contexto

que se inseria na cidade.

Em novembro de 2014, produzimos uma festa de músicas africanas e

latinas que aconteceu por três edições no Commons Studio Bar, Rio Vermelho –

Salvador, apresentando show musical, discotecagem, performance, exposições de

fotografias e ilustrações, além de reunir três marcas de expositores de artesanato

que faziam parte da rede construída nas feiras já realizadas. A primeira edição da

festa do Cubo deu início a um dos braços do projeto que tinha dessa vez o foco em

produção de shows articulando a produção criativa em um ambiente fora do

contexto de feiras e bazares, trazendo para a noite da cidade um pouco das

exposições, assim como a inserção dessas produções manufaturadas a um outro

contexto. O tema, misturava os elementos africanos e latino-americanos, em uma

programação com show de músicos locais, entre eles o percussionista Japa System

(da banda Baiana System), discotecagem afro-futurista do Dj Riffs, performance

artística de Odre Consiglio, exposição de peças que participaram das feiras, além da

exposição de pinturas dos Orixás de Rodolfo Carvalho e da exposição de fotografia

documental de Daniel Pita.

Para realizar a festa, atravessamos algumas etapas de produção,

diferentes das já utilizadas nas cinco primeiras feiras, a festa era a sexta ação do

projeto e trazia um universo completamente diferente de execução. Definimos o

conceito, conseguimos a pauta do espaço numa parceria de arrecadação da

bilheteria, montamos a programação, contratamos os artistas com a articulação de

cachês simbólicos ou permutas, convidamos os expositores das feiras que tinham

foco de produção no trabalho afro ou em volta dos temas de matrizes culturais afro-

latinas e marcamos a data, no mês da consciência negra. Mais uma vez, todas as

etapas de trabalho para realização foram cumpridas por mim e por Taiane, exceto a

produção do cartaz, para o qual convidamos a multiartista Natália Arjones, amiga e

colega de faculdade com que tive a oportunidade de interagir profissionalmente pela

primeira vez.

Com o cartaz e materiais de divulgação arrecadados com todos incluídos

na programação, divulgamos sobretudo pelas redes sociais, além do trabalho

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cotidiano de assessoria de imprensa, que possibilitou algumas pautas em sites da

mídia local. No dia do evento, tivemos de lidar com a ansiedade e o risco de não ter

público suficiente para cobrir os custos e não conseguir cumprir com o pagamento

de toda a equipe, nossa gestão financeira mantinha cada ação por sua vez, não

tínhamos caixa pra poder compensar qualquer necessidade, nem recurso próprio.

Para nossa surpresa, nos deparamos com a casa lotada, e de surpresa pudemos

contar ainda com a participação do cantor Russo Passapusso do Baiana System,

que estava no evento e foi convidado ao palco para cantar parte do repertório do

show da banda ao lado do percussionista Japa System e do músico Fael Primeiro,

que faziam o show da noite.

O resultado da primeira Festa Kubalanço foi um marco para nossa

atuação naquele ano e ainda possibilitou dar conta de parte da planilha financeira

do evento, sem prever nela os nossos cachês mais uma vez, mas foi possível

compreender o formato e identificar como otimizar melhor na próxima experiência.

Esse evento encerrou a agenda de atividades do Cubo em 2014, visto que a feira

que era prevista para o mês de dezembro teve de ser cancelada. Como a festa foi

bem sucedida, reservamos nova data ainda em 2014 para o mês de fevereiro do

ano seguinte, optamos por iniciar o planejamento da festa com dois meses de

antecedência, por precaução.

No ano seguinte, a primeira data de festa estava marcada para seis de

fevereiro, a programação da edição anunciava show de estreia do novo projeto do

Dj Rafa Dias, o ATTOOXXA seguido de discotecagem afro-futurista do Dj Riffs e do

Dj Jack (BATEKOO), além da exposição de estampas de camisetas “Black Pim”,

das porcelanas decoradas do “quartoamarelo ateliê | design” e os turbantes de

“Com Amor, Dora!”. A produção gráfica da edição ficou por conta da designer Isabel

Abreu, que na época trabalhava na assessoria de comunicação do Teatro Castro

Alves e foi parceira do nosso evento.

Para mim, recém inserido na dinâmica de eventos na cidade, certamente

seria um sucesso realizar um evento cuja data estava agendada com dois meses de

antecedência e divulgação iniciada desde então, ainda mais após uma experiência

de casa cheia na noite de estreia, mas não foi bem o que experimentamos. A quinze

dias do evento, a divulgação estava na maioria das agendas culturais online da

cidade, tinha campanha no Instagram, evento no Facebook, enquanto rolavam os

ajustes de pré-produção. Nosso evento era no ínicio do mês, na semana de

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intervalo entre a festa de Iemanja e o carnaval, e com base no mapeamento de

eventos previstos para data, não constava nenhum choque de proposta ou grande

atração que pudesse esvaziar nossa noite, quando foi finalmente anunciado sem

aviso prévio, a lavagem do Habeas Copus, tradicional evento pré-carnavalesco da

cidade agendado para a mesma data do nosso evento. Ainda assim acreditamos e

seguimos com a programação, inevitavelmente tivemos que concorrer com um

evento de rua, às vésperas do carnaval, e mesmo cobrando um ingresso a dez

reais, não tivemos público além de quinze pagantes. O evento aconteceu, mas

acabamos cobrindo os prejuízos da noite no decorrer dos meses seguintes e o que

pretendia ser uma alternativa de fonte de recursos para o projeto, acabou virando

mais uma grande despesa.

Apesar do entusiasmo em fazer com que a proposta acontecesse e da

ótima experiência da primeira noite, os resultados da festa, assim como os da feira

não atingiam as metas mínimas para cobrir os custos básicos de realização, o que

dificultava cada vez mais na nossa disponibilidade em realizar, visto que era

necessário não apenas manter a sustentabilidade financeira de cada um, como

também ter que cobrir os prejuízos assumidos até então, tivemos alguns dilemas em

decidir continuar com as propostas e optamos por nos investigar para tornar as

ações mais objetivas. Diante dessas reflexões, ficamos receosos de confirmar novas

datas até receber o convite de Cristina Castro do VIVADANÇA Festival Internacional

[como citado no subcapítulo Feiras e exposições de artesanato. p. 30]. Naquele

momento entendemos que poderia ser uma alternativa, realizar eventos atrelados a

outras propostas, compondo uma programação, como seria no festival, oferecemos

então um projeto completo, agendamos uma grande feira de dois dias e ainda

reservamos uma data para a festa, inserindo-a na programação como parte das

nossas atividades e como opção para uma reunião lúdica da equipe do festival,

assim como das atrações participantes. A programação da terceira edição da Festa

Kubalanço foi construída de forma mais enxuta, convidamos apenas o residente Dj

Riffs que fizera todas as edições anteriores e o Dj Pureza, além de um set

experimental de música latina que apresentei ao lado de Matheus Tanajura, meu

companheiro na ocasião.

O resultado da terceira tentativa de consolidar a festa no Commons

Studio Bar mais uma vez não foi equivalente à expectativa, tivemos um público

reduzido que só foi atingido devido à equipe de produção do festival que era

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convidada, que usufruiu de numa noite divertida, dançante, porém pouco rentável

mais uma vez. A festa Kubalanço era prevista para acontecer uma semana após as

duas datas da feira, mas devido à chuva que adiou as datas do evento no Cabaré

dos Novos para o final do mês, acabou sendo a primeira ação do calendário do

projeto, o que nos fez perder oportunidade de engajar as equipes do festival para a

noite, além de ter sido executada com dificuldade para conseguir dar conta da

transferência de data da feira. No final, tudo aconteceu, mas outra vez inserido em

um contexto desmotivador. A essa altura, já não tinha mais tantos esforços de Tai

desde a edição de fevereiro, quando decidiu apenas colaborar nos dias de festa na

execução, decidimos então não agendar novas datas no Commons Studio Bar.

A Festa Kubalanço havia acabado, eu não me sentia satisfeito com as

tentativas realizadas, Tai Oliver também não achava que era prudente insistir em

algo que nos cansava ainda mais e continuava sem nos dar o mínimo retorno ou

garantia de pelo menos a sustentabilidade. O Cubo na verdade, passava já por sua

crise de identidade iniciada com o novo ano de trabalho em que não tinha tantas

agendas como antes, estávamos exaustos e desmotivados, mas ainda assim, a

festa não morreu pra mim, pelo menos. Os resultados anteriores me davam certeza

de que não podia seguir, não daquele jeito, naquele formato, optei por iniciar em

2015, uma jornada de pesquisa, sem prática, sem experimentar nada, apenas reunir

dados, consultar referências, passei a questionar todos os fatores que levaram a

festa ao fim e me dediquei a construir um novo lugar.

Desde então, dividi a pesquisa do Kubalanço com as poucas ações que

realizamos naquele ano e com as minhas outras agendas. Durante a pesquisa

compreendi que não queríamos uma festa, mas sim um ambiente de troca entre

artistas, com exposição de trabalhos artísticos de preferência local. Construí um

mapa de referências online para buscar cores, personagens, texturas e tudo mais

que fosse possível, esse mapa me trouxe mais um filtro, não se tratava de uma

temática afro-latina a se explorar, fui encontrando nas referências latinas um

caminho para aproximar a cultura brasileira das dos nossos países vizinhos, como

Argentina, Chile, Peru. Apesar de incorporar nessa temática as influências de

cultura africana na América Latina, optei pelo recorte no intuito de consolidar um

ambiente de troca entres artistas que circulavam pelo nosso continente.

Após o Festival MINAVU que acabou em junho de 2016, em que o Cubo

realizou duas feiras de empreendedoras criativas no Solar Boa Vista [como citado

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no subcapítulo Feiras e exposições de artesanato. p. 31], optamos por encerrar a

gestão de feiras criativas e ficamos sem planejamento para o período. Foi nesse

tempo em que consolidei a reformulação da festa Kubalanço a transformando em

Mostra Artística, que em dezembro de 2016, aconteceu como Mostra Kubalanço

Latino-america, reunindo 11 artistas em uma casa no bairro do Santo Antônio Além

do Carmo, com intervenção de artes visuais, exposição de fotografia, loja

colaborativa, discotecagem latina experimental, performance Drag, show de Cumbia

e intervenções urbanas com a criação de Parklet10

com o projeto do Dj Virgulinux

“bike-vitrola” que consistia em uma bicicleta com vitrola acoplada e som autonomo

em que o Dj discotecava apenas com discos de vinil ou arquivos isentos de direitos

autorais. A noite teve ainda um encerramento com ocupação da Rua do Carmo com

roda de Cumbia.

A realização da primeira Mostra foi um grande desafio, mas se tornou

completamente realidade sobretudo pela força de vontade de todos os parceiros e

envolvidos. Eu assumi completamente a produção gerindo as diferentes equipes

montadas e criando o formato do evento, deixando Tai Oliver com a criação de

peças gráficas de divulgação e gestão de parte do cardápio da cozinha pro evento.

Nesta produção os artistas foram voluntários, sendo a arrecadação para

alguns custos de transporte e os custos de estrutura assumidos por mim, além de

todas as parcerias, como a da casa Carmo68, gerida por Raphael Gazotti para

hospedagens no bairro do Santo Antônio, onde pudemos realizar o evento sem

limitação de espaços. A casa nessa época ainda estava sendo montada, dispunha

de alguns cômodos vazios além de proporcionar uma varanda com vista para o

bairro do Comercio e a baía de todos os santos. Outra parceria foi com a festa latina

Ay Jurema, que circulava por espaços da cidade com discotecagem de música

latina, realizada por um grupo de mulheres de Salvador que produziam eventos,

faziam música, experimentações e animação. Elas entraram na parceria para

compor o cardápio do evento com Abarás e cachaça de cravinho, além de integrar a

programação com discotecagem latina experimental da instrumentista, cantora e Dj

Andrea Martins. Por fim, e não menos importante, ressaltar a parceria de todos os

outros artistas que foram voluntários e se dispuseram a realizar essa produção. 10 Parklets: áreas contíguas onde são construídas estruturas a fim de expandir o espaço de pedestres. Costumam ocupar vagas de estacionamento de carros em frente a comércios e outros espaços privados.

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A discotecagem latina experimental , além de Andrea Martins contou com

os improvisos e construções musicais de Natália Arjones e do Dj Fino, outro parceiro

que fazia parte do projeto Jabuticaba, que propunha eventos também de música

latina e mapping na cidade. Foi a primeira vez que eles juntaram os seus trabalhos

em uma única apresentação, fato inédito como a exposição de fotografia

“Aclimatarse” que trouxe fotografias da artista Thamires Tavares de uma exposição

construída durante vivência artística no Equador e que foi adaptada em nova versão

com biombos de dois metros de cumprimento, que formavam dípticos apresentando

duas fotografias e seus paralelos visuais. A exposição foi produzida com biombos

construídos para a feira Cubo Pocket [como citado no subcapítulo anterior. p. 31], a

impressão das fotografias em adesivo foram custeadas por mim e pela fotografa

com intuito de consolidar o mobiliário da exposição para que se tornasse uma

atração itinerante nas galerias de Salvador após o evento.

Fotografia 5 - Exposição “Aclimatarse” de Thamires Tavares

Fonte: Acervo Mostra Kubalanço - dezembro/2016

A realização propôs um formato de arrecadação voluntária para os

visitantes que foram sugeridos a contribuir com valores a partir de dois reais, a

atitude gerou uma arrecadação extremamente restrita com registro de mais de 200

pessoas circulando durante todo o evento de forma rotativa que gerou um caixa de

apenas cento e vinte e cinco reais que serviram para cobrir os custos de logistica do

som e dos equipamentos para discotecagem.

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Outro destaque da Mostra foram as intervenções artisticas que

aconteceram durante o evento. A programação era iniciada com a abertura do

Casarão que já tinha a intervenção da Bike-vitrola do Dj Virgulinux no Parklet em

frente à entrada, além de 03 ambientes em atividade, sendo eles, a cozinha, a loja

colaborativa com as marcas “Guapa”, “Com amor, Dora”, “Quartoamarelo, ateliê |

design” e as produções artísticas do tatuador e artista visual Tiago Petit e o terceiro

espaço, o quarto-galeria com a instalação e exposição da fotografa Thamires

Tavares.

No decorrer da tarde começavam as perfomances musicais com a

interação dos Djs Fino, Andrea Martins e Natália Arjones aproveitando o por do sol

que podia ser visto pela varanda, outros momentos foram atravessando as

atividades como a performance visual de Tiago Petit com colagem de lambes na

construção de um painel temático em outra área externa da casa. No ínicio da noite,

com total liberdade de atuação, as Drags Queens Mary Jane Beck e Babi Lon

Labatut, artistas locais, chegaram ao evento montando suas ordens de

apresentação e compondo a programação dos Djs com as perfomances individuais

que pegaram os visitantes de surpresa.

O evento seguiu com a banda Som de Cumbia, formada por artistas de

colombianos e chilenos que propunha um repertório de músicas de cumbia com

diversos intrumentos, além das cantoras e dançarinas que realizavam oficinas de

dança típica enquanto cantavam as músicas tradicionais, a banda iniciou sua

apresentação dentro do espaço e seguiu levando todos os visitantes para a frente

da casa na rua do Carmo, o evento foi encerrado com uma verdadeira festa de largo

que parou a rua e agregou ainda o público que estava nos bares e no Largo da Cruz

do Pascoal e se aproximava para participar.

Após essa edição, a Mostra Kubalanço teve um intervalo que durou

pouco mais de um ano até sua nova formação em 2018, atualmente dedicada para

a construção de projeto cultural para inscrição em edital público para captação de

recurso, com intuito de gerir programação cultural na cidade no próximo ano. Nesta

nova fase, o projeto contou com a formação de duas novas equipes, que realizaram

dois novos eventos que trataram sobre performatividade artistica de corpos Queers,

dedicando seus espaços para artistas que se debruçam sobre temátias relacionadas

como perfomance Drag Queer, exposições, produção de ensaios fotográficos,

discotecagem e bazar.

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Figura 3 - Cartazes produzidos para a última edição da Mostra Kubalanço - Abril/2018

Fonte: Acervo Mostra Kubalanço

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CONSIDERAÇÕES

Este memorial surge a partir da necessidade de documentar ações

realizadas pelo Cubo arte e cultura, um projeto com foco no incentivo da produção

criativa de Salvador com intuito de potencializar sobretudo, o escoamento da

produção de artesanato e produtos manufaturados, além de construir um ambiente

propício para a interação de artistas de múltiplas linguagens. Os relatos apontaram

situações e desafios enfrentados pela iniciativa na tentativa de se tornar uma

ferramenta de relevância para a produção manual e para a cena cultural da cidade.

Com base no recorte de tempo estabelecido, sendo ele entre os anos de

2014 e 2016, é importante ressaltar o contexto em que se dão as ações do Cubo

arte e cultura, numa tentativa de cruzar informações sobre os ambientes das mais

diferentes esferas de atuação, com base em alguns posicionamentos dos meios

público e privado. Os relatos se fazem necessários para compreender o ambiente

em que se dão as atividades do projeto que destacam realizações inclusive após o

recorte estabelecido com o intuito de mostrar além da atuação, os desdobramentos

e continuidades dos processos. Nesse percurso, destaca-e a trajetória política da

cultura no Brasil que para elucidar esse contexto é resgatada desde a gestão do ex-

ministro Gilberto Gil, na primeira fase do governo Lula em 2002, quando se inicia

uma efetiva proposta de política pública para a cultura pelo viés do desenvolvimento

econômico e com base na preservação e garantia da diversidade cultural e suas

singularidades.

O ambiente construído ao longo da gestão alinhava-se ao contexto das

discussões a nível global sobre novas perspectivas para o desenvolvimento social e

garantia do bem-estar, ao ponto de ser referência dos encontros e debates sobre a

temática. Tal relevância inseriu o Brasil em um novo momento de institucionalização

de políticas públicas para a cultura, ampliando a atuação da indústria na construção

de um desenvolvimento social com base nos atos criativos, mas que atrelado a

descontinuidade e inconsistência das ações políticas nas fases e gestões seguintes,

levou a um quadro de instabilidade dos princípios e com isso de maior abertura para

disputas econômicas no âmbito da cultura, sobretudo nos aspectos destacados

através deste relato ao que se refere à produção artesanal e manufaturada.

Inseridos em um contexto de grande incentivo à formalização do trabalho

autônomo, o novo quadro ampliou a perspectiva do setor do ponto de vista da

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competitividade de mercado em um momento de ascensão de conceitos como o

empreendedorismo11

e de grande incentivo à formalização empresarial. Com isso,

acredito que tenham sido fragilizadas as bases que norteavam essas atuações,

afastando-as cada vez mais das expectativa de desenvolvimento social brasileiro,

que antes estavam muito mais atrelados a propósitos de resgate de populações de

baixa renda ou em condição de extrema pobreza, assim como de preservação da

nossa diversidade que costumam ser sempre ameaçadas pelo abandono dessas

parcelas da população consideradas à margem.

Neste contexto, é notável também a inconsistência das diferentes

interpretações no âmbito político acerca da atuação e função da economia criativa

na gestão pública, como por exemplo, se tratando da minha experiência, pela

conduta dos projetos executados na gestão do prefeito ACM Neto em Salvador,

iniciada em 2013 e ainda em curso, que em muitos casos estão diretamente

atreladas ao “incentivo à economia criativa” ou que tem como agregadas, as

funções de “incentivo à produção local”. Como na inauguração da nova Barra,

projeto de requalificação da orla do bairro, que foi inaugurada com feira

gastronômica e deu origem ao mais divulgado projeto de dinamização criativa da

cidade atualmente, a “Feira da cidade” apoiado pela prefeitura e executado por uma

empresa local, que percorreu e ainda percorre inúmeras praças requalificadas pela

gestão entre 2014 e 2018.

Sem fazer avaliações dos resultados obtidos nas requalificações, nem

nas realizações da feira, e a partir das reflexões alcançadas durante a construção

deste trabalho, coloco como primeira questão a relevância dessa atuação da

prefeitura em incentivo a essas ações, por conhecê-las e por ter participado delas

como expositor ou até mesmo como equipe de trabalho e saber de que se tratava

de um apoio meramente publicitário por parte da prefeitura, que em nenhuma das

ocasiões em que estive dedicou suporte técnico ou acompanhamento da cultura que

era movimentada por esses agentes, nem mesmo foi capaz de manter as iniciativas

que foram saturadas pela quantidade de desafios que emergiram a cada edição.

11 Empreendedor é aquele que toma a iniciativa de empreender, de ter um negócio próprio. É aquele que sabe identificar as oportunidades e transformá-las em uma organização lucrativa. O empreendedor é aquele indivíduo que é criativo, inovador, arrojado, que estabelece estratégias que vão delinear seu futuro. (Sebrae. Disponível em http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae Acesso em junho de 2018)

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Além disso, por ser produtor de um projeto com este mesmo viés e não

ter tido sequer o suporte mínimo para realização de feira de rua por nenhum dos

poderes públicos, municipal e estadual, mesmo tendo uma atuação constante e

independente na cidade, que não me serviu nem pra conseguir um atendimento

básico que pudesse receber a minha proposta e analisá-la, [como citado no relato

sobre a Feira de Empreendedoras Criativas no subcapítulo anterior. p. 31]. Reforço

o questionamento sobre qual política pública, as gestões públicas baianas e

soteropolitanas assumem para os setores criativos e quais são os seu verdadeiros

interesses frente a uma rede de produção artesanal local que se encontra

precarizada e estratificada?

Ao me deparar com os resultados obtidos em dois anos de trabalho com

o Cubo arte e cultura, identifico também uma grande parcela de imaturidade na

minha atuação enquanto produtor cultural, para além dos fatores econômicos que

contextualizam esse ambiente e que de certo modo configuram os resultados

obtidos, mesmo que estes ainda não tenham a devida clareza do que puderam

alcançar. Mas reconheço que ainda com a minha formação em curso, pude assumir

papéis fundamentais para interferir nessas condições de existência apresentadas

frente aos diferentes setores que enfrentei, e que hoje avalio não ter tido a

amplitude e afastamento das questões para atuar com maior lucidez e conseguir

melhores resultados para a rede que fui capaz de gerir.

Essas realizações são também, motivos pelos quais tenha atrasado a

minha conclusão na faculdade e até mesmo demorado pra encontrar neste trabalho

um contexto favorável de análise e até mesmo de compilação, sobretudo por ainda

se tratar de acontecimentos muito recentes, fatores que pra mim significam como

obstáculos cotidianos de superação de avaliações constantes que faço de mim e da

minha atuação a cada registro encontrado. Em todo este período, de 2014 até aqui,

foram fundamentais todas as conversas com Tai Oliver e com tantos outros agentes

que participaram dos eventos de forma a investigar a cada experiência, o que

pensavam as pessoas sobre tais iniciativas, tanto as que realizava como as que se

assemelhavam e que eu experienciei. No início eu recordo não ter noção dos

conceitos que hoje tenho acesso para esta análise, nem mesmo do contexto político

ou de como eram as atuações dos diferentes setores, todos os ambientes foram a

cada edição de trabalho e a cada nova tentativa de concluir o curso, sendo

desvelados por mim e por todos produtores, parceiros e agentes que atuaram

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comigo, e também os professores Sérgio Sobreira, José Roberto Severino e o meu

orientador Leonardo Costa, com quem pude conversar sobre tais questões, assim

como as experiências que me propus de investigação de atuações na área, como a

visita à Feira de Santelmo em Buenos Aires - Argentina, em junho/2014 e às lojas

colaborativas e feiras permanentes que pude visitar na primeira tentativa de

construção do trabalho final, em julho e agosto de 2017, em São Paulo.

Por fim, desejo resgatar lá do primeiro capítulo os esquemas analíticos

propostos pelo especialista em economia da cultura, Leandro Valiati que apresenta

as perspectivas normativas e positivas para avaliações econômicas, a partir das

quais me coloco a serviço da produção cultural como investigador do papel de

produtores culturais na formação de planejamentos e condições favoráveis de

relações de trabalho no âmbito da cultura, para além dos setores criativos, dando

continuidade a uma perspectiva sustentada aos princípios éticos e legais que me

trouxeram até aqui, com a finalidade de contribuir para a formulação de alternativas

e se possível, de políticas públicas que preservem e acompanhem, vivenciando as

experiências da diversidade cultural no Brasil com a proposição de ambientes de

troca de experiências e superação de necessidades.

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REFERÊNCIAS:

VALIATI, Leandro. Introdução à economia: Uma abordagem prática”. Economia da cultura: Ideias e vivências. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Gestão Cultural, 2009.

MIGUEZ, Paulo. Algumas notas sobre a economia da cultura. COSTA, Frederico Lustoso. Política e gestão cultural: perspectiva Brasil e França. Salvador: Edufba, 2013.

MIGUEZ, Paulo. Economia criativa: uma discussão preliminar. Teorias e políticas da cultura: visões multidisciplinares. Salvador: EDUFBA, p. 95-114, 2007.

BRASIL, MINC. Plano da Secretaria da Economia Criativa–Políticas, diretrizes e ações 2011 a 2014. Brasília: Ministério da Cultura, 2011.

RUBIM, Antonio Albino Canelas; BARBALHO, Alexandre Almeida; CALABRE, Lia. Políticas culturais no governo Dilma. EDUFBA, 2015.

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APÊNDICE A – Ficha de Inscrição Online (exemplo)

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APÊNDICE B – Manual da Expositora (exemplo)

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https://drive.google.com/file/d/0BzFtCXUYLUEEUHhkSUs3dDlQeXM/view

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APÊNDICE C – Historico de Ações realizadas

>> FEIRAS

Feira CUBO - 05.04.2014 Feira CUBO - 10.05.2014

Feira CUBO - 07.06.2014

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Feira de Multilinguagens - 06.09.2014 Feira de Multilinguagens - 11.10.2014

Feira CUBO Festival Vivadança 2015 - 11 e 12.04.2015 | CUBO Pocket - 12.12.2015

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Feira das Mulheres - Festival Minavu > 20.03.2016 - 12.04.2016

>> FESTAS E MOSTRAS

Kubalanço - 01.11.2014 Kubalanço - 06.02.2015

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Kubalanço - 17.04.2015 Mostra Kubalanço - 08.12.2016

Mostra Kubalanço – Fevereiro/2018

Mostra Kubalanço – Abril/2018

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RECEITA

E X P O S I T O R E S - (stands)

Expositores Responsável Links Telefone Email Inscrição (R$) Dias Itens Expositor COMUNICAÇÃO

@instagram

Facebook/sonbrille

1 Sonbrille Katiane pereira Www.sonbrille.com.b +557192687123 [email protected] 120 12 de dezembro óculos de sol estante de caixotes ou biombo 02 peças prontas no drive | 01 divulgada

facebook.com/dentro Moda praia masculina e

2 Mar Jefferson Ribeiro instagram: @dentrod (71) 981494411 0 12 de dezembro calçados Arara e base de caixotes 02 peças prontas no drive | 01 divulgada

3 Yaya João 0 12 de dezembro Sabonetes artesanais estante de caixotes ou biombo 02 peças prontas no drive | 00 divulgada

https://www.instagra Acessórios feminino e

4 By Aninha Ana Paula https://www.facebook 7132403324 [email protected] 100 12 de dezembro masculino estante de caixotes ou biombo 02 peças prontas no drive | 01 divulgada

ARTESANATO

5 Linha da Rosa Rose Mary Gomes Rodrigues https://www.facebook 73 91116950 71 92830896 [email protected] 120 12 de dezembro Decoração e presentes estante de caixotes ou biombo 01 peças prontas no drive | 01 divulgada

6 OFluxo 120

7

8 Quartoamarelo ateliê Decoração e presentes estante de caixotes ou biombo 01 peça pronta e divulgada

460 TOTAL

460 TOTAL RECEITA

INVESTIMENTO Standby

DESPESAS

Motivo Pagador Links Telefone Pagamento Custo Dias Itens Observações

1 Espaço Tai Oliver realizado 200 12 de dezembro ESTRUTURA

2 Carreto Jacir realizado 100 12 de dezembro | 02 viagens LOGISTICA

3 Tabuas Tai Oliver realizado 80 09 de dezembro ESTRUTURA

4 Dobradiças realizado 20 09 de dezembro ESTRUTURA

5 Corte Tai Oliver realizado 30 09 de dezembro

6 Carreto realizado 60 09 de dezembro

7 Banner

8 Cartaz COMUNICAÇÃO

9 Panfleto COMUNICAÇÃO

10 Patrocinios de Facebook André Oliveira 41,31 COMUNICAÇÃO

531,31 TOTAL

531,31 TOTAL INVESTIMENTO

RECEITA 460 L E G E N D A S

INVESTIMENTO 531,31 inscrição valores itens

-71,31 LUCRO TOTAL PAGO 12/12/2015 CUBO 1 (decoração)

CONFIRMADO CUBO 2 (Acessórios)

CUBO 3 (Arara)

Outros

Exposição

Gatronomia

Atrações

itens despesas

ESTRUTURA

COMUNICAÇÃO

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ANEXO B: DOCUMENTO OPERACIONAL EDIÇÃO 09

OPERACIONAL CUBO arte & cultura

CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO – SOLAR BOA VISTA

> Sábado: 09h - Montagem de Toldo 11h - Retirar placas de marcas

> Domingo (pré-produção):

10h30 - Carreto no Politeama

11h00 - Chegada no Solar Boa Vista 14h00 - Abertura da Feira 18h00 - Desmontagem 18h30 - Carreto Solar Boa Vista 19h00 - Encerramento

Contatos Expositores

KOMBTA CHOPP

TRUCK MARIANA SILVA MALTEZ 71 98721 6309 [email protected]

Blackpim Iele Ferreira Portugal 71992395903 [email protected]

Balanganda

Acessórios Gabriela Brito de Almeida 71991193665 [email protected]

Gengibre com (71)99610047

Limão Ingrid Lessa Leal 0 [email protected]

Sketchzitos Gabriela Silva dos Santos 71991039677 [email protected]

Quiombos & Flores

- estamparia

brasileira Elizandra Barbosa 93384483 [email protected]

Adynkra

Veluma Oliveira Vieira dos

Santos 71992620701 [email protected]

Container

[email protected]

Tai Oliver 71 992202041 m

Contatos fornecedores e apoio

Instituição / Motivo Responsável Telefone Email

Minavu Natália Arjones (71) 9 9719-0131 [email protected]

[email protected],

Multi Renata Hasseman (71) 9 9995-5958 [email protected]

Solar Boa Vista Simone Braz (71) 3116 2010 [email protected]

SEMOP Valquíria

(71) 3202-5000

Prefeitura de Bairro

(71) 3202-6550

Ian Mariane [email protected]

Detalhe Toldos Sérgio (71) 3230-1778 [email protected]

Mesas e cadeiras

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(71) 9 9901-2637

[email protected]

Star ambiental Guilherme Café r

Carreto Jacir (71) 9 9629-6926

Segurança Sergio (71) 9 8732-2482

(71) 9 9699-1415

Gambiarra Luciano (71) 9 8845-5905

Equipe

Responsável Função Telefone Email

Tai Oliver Coordenação (71) 9 9220-2041 [email protected]

André Oliveira Suporte (71) 9 9203-5440 [email protected]

Demais contatos para parcerias a partir de maio.

Responsável Função Telefone Email

Food Trucks Alessandra 9 9998-3010 [email protected]

3283-6164 /

Edufba 3283-6160

3374-0459 /

Decoração Icza Coutinho 88903156

Mauá Lincon 3116-6185

SPM - Secretária de Politica para as

Mulheres Ramon 3116-5705

[email protected]

SEBRAE protocolo: 261101885 0800 570 0800 r

3023-0785 / 9

CESOL Karla 8741-5640 [email protected]

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ANEXO C: DESTAQUES DE IMPRENSA