universidade federal da bahia faculdade de farmÁcia - programa de … · dos momentos de alegria e...

87
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E FÍSICO-QUÍMICA DAS FARINHAS DE MANDIOCA DO VALE DO COPIOBA: UMA CONTRIBUIÇÃO AO REGISTRO DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA Diego Roberto da Cunha Pascoal Salvador 2014

Upload: dohanh

Post on 30-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE FARMÁCIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E FÍSICO-QUÍMICA DAS

FARINHAS DE MANDIOCA DO VALE DO COPIOBA: UMA

CONTRIBUIÇÃO AO REGISTRO DE INDICAÇÃO

GEOGRÁFICA

Diego Roberto da Cunha Pascoal

Salvador

2014

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

DIEGO ROBERTO DA CUNHA PASCOAL

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E FÍSICO-QUÍMICA DAS

FARINHAS DE MANDIOCA DO VALE DO COPIOBA: UMA

CONTRIBUIÇÃO AO REGISTRO DE INDICAÇÃO

GEOGRÁFICA

Orientadora: Profª. Dra. Janice Izabel Druzian

Co-orientadora: Profª. Dra. Lucia Regina Fernandes

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ciências de Alimentos,

Faculdade de Farmácia, Universidade

Federal da Bahia, como parte das exigências

do programa de Pós-graduação em Ciência

de Alimentos para obtenção do título de

Mestre.

Salvador - BA

2014

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

SISTEMA DE BIBLIOTECAS - UFBA

Pascoal, Diego Roberto da Cunha. Caracterização física e físico-química das farinhas de Mandioca do Vale do Copioba : uma contribuição ao registro de indicação geográfica / Diego Roberto da Cunha Pascoal. - 2015. 86 f.: il.

Orientadora: Profª. Drª. Janice Izabel Druzian. Co-orientadora: Profª. Drª. Lucia Regina Fernandes. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Farmácia, Salvador,

2014. 1. Alimentos - Avaliação sensorial. 2. Farinha de mandioca - Recôncavo (BA). 3. Manihot esculenta Crantz. 4. Identidade social - Recôncavo (BA). I. Druzian, Janice Izabel. II. Fernandes, Lucia Regina. III. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Farmácia. IV. Título.

CDD - 664.07 CDU - 664

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos
Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

iv

Dedico

“Esta obra a todos os trabalhadores

do Vale do Copioba do Recôncavo

Baiano, e aos meus PAIS”

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

v

AGRADECIMENTOS

Gratidão ao Criador, que por Amor nos permite, permite que continuemos a amar, e nessa parte dos agradecimentos fica explicito um pouco desse amor, pois sem emoção a razão não teria utilidade. Agradeço a Mãe Gaya que me nutri em seu bendito ventre. Agradeço aos meus pais genitores (Cristina e José), que sem eles eu não conseguiria enxergar o caminho, que por muitas vezes pareceu estreito sem saída, e que ao meu lado ou independente do plano que ele se encontra ELES estão dentro de mim, dentro de minhas veias, dentro do meu sangue, dentro do meu coração, dentro de minha alma e são a força que me co-move. Agradeço muito a minha filha, muito mesmo, que foi por ela que investi todas as noites em que eu não dormi, pois estava estudando, não foi por acaso que a batizei como SOFIA, a princesa do papai. Agradeço a todos os meus familiares, minha irmã Dani, minha queridas avós Terezinha e Aparecida, meus tios Mendes e Flávio, e minha lindas tias Cecília e Márcia, e tantos mais que não vou citar, pois não teria espaço para os resultados na dissertação que me dão amor, me apoiam e me dão incentivos para continuar a caminhada. Agradeço a minha companheira, namorada, amante, amada, amiga, a minha sereia linda Nanda que compartilha comigo dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. Agradeço aos meus amigos que conquistei na vida e aos que conquistei na turma do programa (em especial Adriana e Margareth), essa amizade é a força que mantém a rede unida e nos da coragem e suporte para continuar, pois se fosse passar por tudo que passei sozinho eu não queria. Agradeço a todos os integrantes do projeto de IG do Vale do Copioba, (Márcia, Candice, Ícaro, Nina, Rose) pelo compartilhamento de informações, momentos e conhecimentos. Agradeço a todos os integrantes do Laboratório LAPESCA em especial, Lú, Jaff, Everton, Augusto, Carol, Jânia, Ingrid, Lídia, enriquecendo meu conhecimento e fazendo realmente do laboratório uma escola. Agradeço a professora Denise Viola que me orientou na analise estatística do projeto. Agradeço aos funcionários da limpeza que zelam pelo ambiente da pesquisa. Agradeço a FAPESB (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia) e CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo apoio financeiro. Um agradecimento especial à colaboração dos produtores de farinha de mandioca, também a Associação de Produtores Rural de Nazaré na pessoa de Sr. Reinaldo, a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) na pessoa do Sr. Joselito, EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrário) pela colaboração e excelente assistência. Agradeço a principal responsável pela obra, a querida Dra. Janice Druzian, que possui uma capacidade intelectual admirável, e que suportou e tolerou minhas falhas, me corrigindo e me mostrando o caminho correto da pesquisa, é graças ao empenho dessa educadora que hoje me sinto inicializado no caminho da pesquisa, realmente estou muito grato a Ela por aperfeiçoar a minha capacidade profissional, muito obrigado.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

vi

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ......................................................................................................... VIII

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................. IX

LISTA DE QUADRO ............................................................................................................... X

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 13

2. OBJETIVOS...................................................................................................................... 15 2.1 Geral ............................................................................................................................................ 15

2.2 Específicos ................................................................................................................................... 15

CAPITULO 1: REVISÃO BIBLIOGRAFICA .................................................................... 16

1. PROPRIEDADE INTELECTUAL E PROTEÇÕES COLETIVAS ............................. 16

2. INDICAÇÃO GEOGRÁFICA (IG) .................................................................................. 17

3. FARINHA DE MANDIOCA DE COPIOBA .................................................................. 21

4. PADRÃO DE IDENTIDADE E QUALIDADE DE FARINHA DE MANDIOCA ..... 22

5. SECAGEM POR CONDUÇÃO ........................................................................................ 26

6. OXIDAÇÃO LIPÍDICA E COMPOSTOS VOLÁTEIS ................................................. 33

REFERENCIAS ..................................................................................................................... 41

CAPÍTULO 2 - INFLUÊNCIAS DA ORIGEM GEOGRÁFICA E DO PROCESSAMENTO DE FARINHAS DE MANDIOCA TRADICIONAIS DO RECÔNCAVO BAIANO/ BRASIL, NOS PARÂMETROS DE IDENTIDADE E QUALIDADE, ASSOCIADOS ÀS COMPOSIÇÕES DE ÁCIDOS GRAXOS E DE VOLÁTEIS ............................................................................................................................. 45

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 47

2. MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................................. 49 2.1. Localização e amostragem .......................................................................................................... 49

2.2. Composição centesimal .............................................................................................................. 51

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

vii

2. 3 Padrões de identidade e qualidade ............................................................................................. 52

2.4. Preparação de ésteres metílicos de ácidos graxos (EMAG) de fração de lipídios totais ............... 52

2.5. Determinação da composição de ácidos graxos por cromatografia gasosa com detecção de

ionização de chama (CG-DIC) ............................................................................................................. 53

2.6. Determinação de compostos voláteis por Head Space por Cromatografia Gasosa com

detecção por espectrometria de massas (HS-CG-EM) ........................................................................ 53

2.7. Análise estatística ....................................................................................................................... 54

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 54

4. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 80

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 81

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 82

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

viii

LISTA DE TABELAS

CAPITULO I

Tabela 1. Relação de Indicações Geográficas concedidas no Brasil até julho de 2012 e região de abrangência produto protegido e data de concessão---------------------------------19

Tabela 2. Hidroperóxidos formados pela Autoxidação dos metis Oleato, linoleato, e linolenato de metil a 25°C.---------------------------------------------------------------------------------35

Tabela 3. Principais compostos voláteis formados pela decomposição de hidroperóxidos dos Metis Oleato, Linoleato e linolenato a 25°C.-----------------------------------------------------37

CAPITULO II

Tabela 1. Classificação popular, origem e data de coleta das farinhas de mandioca do Recôncavo baiano, região nordeste do Brasil.-------------------------------------------------------50

Tabela 2 - Composição centesimal e os padrões de identidade e qualidade das farinhas de mandioca amostras do Vale Copioba (Copioba e Comum) e farinha de Copioba produzida fora do Vale Copioba.-------------------------------------------------------------------------57 Tabela 3. Percentual de retenção de partículas a partir de amostras de farinhas Copioba do Vale do Copioba em peneira de diferentes aberturas.-----------------------------------------61 Tabela 4. Percentual de retenção de partículas de farinhas Vale Comum e Copioba fora do Vale em peneira de diferentes aberturas.---------------------------------------------------------61 Tabela 5. Composição de ácidos graxos (%) das amostras de farinha tradicional de Copioba produzidas dentro do Vale Copioba do Recôncavo Baiano. -----------------------63

Tabela6. Composição de ácidos graxos (%) das amostras de farinha comum tradicional produzida dentro do Vale do Copioba, e da farinha de Copioba tradicional de fora do Vale do Copioba, ambos do Recôncavo baiano. ----------------------------------------------------------63

Tabela7. Distribuição média (106) das áreas dos picos dos principais voláteis

identificados em Headspace das amostras de farinha de Copioba tradicional produzida dentro Vale do Copioba do Recôncavo baiano. ND - Não detectado-------------------------68

Tabela8. Distribuição média (106) das áreas dos picos dos principais voláteis

identificados em Headspace das amostras de farinha comum tradicional produzida dentro do Vale do Copioba e a farinha de Copioba de fora do Vale Copioba, ambas do Recôncavo baiano.ND – Não detectado.--------------------------------------------------------------68 Tabela 9. Coeficiente de correlação de Spearman entre os compostos voláteis das amostras de farinhas tradicionais do Recôncavo baiano.-----------------------------------------72

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

ix

LISTA DE FIGURAS

CAPITULO I

Figura 1. Comportamento da atividade de água em função de umidade de processos de secagens).---------------------------------------------------------------------------------------------------27 Figura 2. Típica curva de secagem evidenciando o comportamento da temperatura do produto, da umidade e a velocidade se secagem.--------------------------------------------------28 Figura 3. Velocidade relativa de reações em função da atividade de água.-----------------31 Figura 4. Mecanismo da reação da autoxidação lipídica.-----------------------------------------33

Figura 5. Formação de hidroperóxido a partir do metil linoleato -------------------------------34

Figura 6. Reações de formação de compostos voláteis a partir do dieno 9-hidroperoxido do acil linoleico do triacilglicerol.-------------------------------------------------------------------------35

Figura 7. Reações de formação de compostos voláteis a partir do dieno 13-hidroperoxido do acil linoleico do triacilglicerol.-------------------------------------------------------------------------36 Figura 8. Esquema das principais substâncias formadas durante o processo de oxidação lipídica e as metodologias disponíveis para sua avaliação.---------------------------------------38

CAPITULO II

Figura 1. Ilustração da origem geográfica das quatorze amostras de farinha de mandioca produzida no Vale do Copioba delimitado pelo Rio Copioba que envolve os municípios de Nazaré, Maragogipe e São Felipe, e das seis amostras de farinha produzidas nas regiões geográficas vizinhas (Aratuipe e Muniz Ferreira), ambas do Recôncavo baiano, região nordeste (NE) do Brasil.------------------------------------------------------------------------------------49

Figura 2. Etapas de trituração (moinho martelo) e secagem (forno manual e forno elétrico) do processamento da farinha de Copioba tradicional do Vale do Copioba.------------------54

Figura 3. Distribuição granulométrica das amostras de farinhas em relação ao percentual de retenção de partículas em peneiras de diferentes aberturas (mesh).----------------------62 Figura 4. Cromatograma GC-DIC da separação dos ésteres metílicos de ácidos graxos de farinha de mandioca (amostra 4).--------------------------------------------------------------------62

Figura 5. Teores de lipídios totais x 10, de saturados, de insaturados individuais e totais dos diferentes processamentos de farinha de mandioca.-----------------------------------------64 Figura 6. Cromatogramas (CG-MS) dos voláteis das amostras de farinhas. Picos: 1) 2-octenal; 2) 3,5-octadien-2-one; 3) nonanal; 4) 2-nonenal; 5) decanal; 6) 2-decenal; 7) 2-undodecanona; 8) undecanona; 9) 2-undecenal; e 10) tetradecano.----------------------66

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

x

Figura 7. Espectro de massa (m/z) dos respectivos picos (HS-CG-EM): 1) 2-octenal; 2) 3,5-octadien-2-one; 3) nonanal; 4) 2-nonenal; 5) decanal; 6) 2-decenal; 7) 2-undodecanona; 8) undecanona; 9) 2-undecenal; e 10) tetradecano.---------------------67

Figura 8. Distribuição comparativa dos voláteis individuais por tipo de farinha de mandioca de acordo com a região de processamento. Ocl=2-Octenal; Oce=3,5-Octadien-2-ona; Nal=nonanal (área/10 no primeiro gráfico); Nel=2-Nonenal; Dal=Decanal; Del=2-Decenal; Uoe=2-Undodecanona; Uee=Undecanona; Uel=2-Undecenal; Tde=Tetradecano.--------------------------------------------------------------------------------------------70

Figura 9. Correlação polinomial entre Aw e área dos picos x 106 pA dos compostos voláteis da farinha de mandioca separados por HS-CG-EM.-------------------------------------73

Figura 10. Comportamento dos teores de lipídios totais, do somatório de saturados, dos percentuais de C 18:1n9, C 18:2n6, C 18:3n3 e do somatório das áreas total dos picos (ATP x 106pA) dos voláteis das 20 amostras de farinhas em função da atividade de água.------------------------------------------------------------------------------------------------------------74

Figura 11. Distribuição de voláteis de acordo com o mês de processamento das amostras de farinhas. Ocl=2-Octenal; Oce=3,5-Octadien-2-ona; Nal=nonanal; Nel=2-Nonenal; Dal=Decanal; Del=2-Decenal; Uoe=2-Undodecanona; Uee=Undecanona; Uel=2-Undecenal; Tde=Tetradecano. -----------------------------------------------------------------71

LISTA DE QUADRO

CAPITULO I

Quadro 1. Referencial teórico da composição centesimal de diversos trabalhos realizados com farinhas de mandioca de diferentes regiões do Brasil. ---------------------26

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

xi

RESUMO

Este estudo representa uma caracterização preliminar da identidade e qualidade das farinhas de mandioca Copioba e comuns, tradicionalmente produzidas numa pequena área localizada no Vale do Copioba e em regiões vizinhas pertencentes ao Recôncavo Baiano (Bahia-BR). Foram caracterizadas vinte amostras resultantes de processos e origens diferentes. As farinhas de mandioca Copioba referência do Vale foram obtidas por um processo tradicional, caracterizado por uma etapa de secagem suave em três fornos à lenha com controle manual seguidas por três peneirações consecutivas e alternadas. As demais farinhas de Copioba de dentro e fora do Vale realizam a etapa de secagem em fornos elétricos e apenas uma peneiração. O processamento das farinhas de Copioba emprega temperaturas mais brandas por um maior tempo, quando comparadas as farinhas Comuns. De acordo com a legislação (BRASIL, 2011) contatou-se 100% de

conformidade das farinhas em relação à umidade (< 13%) e cinzas ( 1,4%), e 100 % de conformidade das farinhas de Copioba e Comum do Vale e 83% das farinhas de Copioba de fora do Vale, em relação ao teor de amido (> 80%).Todas são da Classe Seca, Fina

(100% das partículas < 2 mm) e a maioria do Tipo 1 (75% com amido 86%). A composição química, com ênfase nos perfis de ácidos graxos e de voláteis (CG-DIC e CG-EM, respectivamente), foi realizada. As amostras apresentaram baixa atividade de água (0,10-0,61), umidade (1,40-8,42%), cinzas (0,94-1,11%), lipídios totais (0,18-0,62%), proteína bruta (0,85-0,97%), e alto teor de carboidratos (89,31 a 96,84%) especialmente amido (70,53-90,89%), além de elevada acidez (2,13-12,50 meqNaOH 0,1N/100g). A fração volátil apresentou 10 compostos, principalmente aldeídos e cetonas, produtos de degradação da peroxidação lipídica. Entre os aldeídos, o nonanal foi majoritário (40-50% dos voláteis). As farinhas de mandioca Comum possuem um nível de voláteis individuais e totais substancialmente mais altos do que as farinhas de mandioca Copioba produzidas dentro e fora do Vale. Na tentativa de compreender melhor a origem das diferenças de compostos voláteis, os dados obtidos foram comparados e correlacionados entre si, e ao tipo de processamento e origem geográfica das farinhas. As amostras de farinhas foram quimicamente classificadas com base nos estudos de correlação entre a atividade da água, ácidos graxos e os produtos voláteis. A atividade de água é, portanto, importante fator de controle do processamento, manipulação das propriedades e estabilidade das farinhas de mandioca, especialmente das farinhas de Copioba. Estes resultados podem ser explorados, não só para a classificação comercial, mas também para promover o registro de um processo de indicação geográfica (IG) das farinhas de Copioba.

Palavras chave: Identidade, Indicação geográfica (IG), VALE DO COPIOBA, CG-DIC, Headspace, CG-EM, Manihot esculenta Crantz.

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

xii

ABSTRACT

This study represents a preliminary characterization of the identity and quality of cassava flours and Copioba Commons, traditionally produced in a small area located within and outside Vale do Copioba in Recôncavo baiano (Bahia-BR). Twenty samples derived from different sources and processes were characterized. The cassava flour Copioba reference Vale were obtained by a traditional process, characterized by a gentle drying step in three-fired furnaces with manual control followed by three consecutive and alternating screening. The other flours Copioba inside and outside the Valley, despite having only one electric drying ovens and a sifting, this step also employs milder temperatures for a longer time compared to Common flours. According to the legislation (BRAZIL, 2011) is

contacted 100% compliance of flour in relation to humidity (< 13%) and ash ( 1.4% ) , and 100% compliance of flour Copioba and the Common valley and 83% of the flour Copioba outside the valley , compared to starch content (> 80%). All are Class Dry Thin (100% of the particles < 2 mm) and most type 1 (75% with starch ≥ 86%). The chemical composition, with emphasis on fatty acids and volatile (GC-FID and GC-MS, respectively) profiles was performed. The samples showed low water activity (0.10 to 0.61), moisture (from 1.40 to 8.42%), ash (0.94 to 1.11%), total lipids (0.18 to 0,62%), crude protein (0.85-0.97%), and high carbohydrate content (89.31 to 96.84%), especially starch (70.53 to 90.89%) , and high acidity (2.13 to 12.50 meqNaOH 0.1 N/100g). The volatile fraction showed 10 compounds, mainly aldehydes and ketones, degradation products of lipid peroxidation. Among the aldehydes, nonanal was the majority (40-50% volatile). Common cassava flours have a level substantially higher than Copioba cassava flour produced inside and outside the Valley Individual and total volatile. In an attempt to better understand the origin of the differences in volatile compounds, the data were compared and correlated, and the type of processing and geographic origin of flour. The flour samples were chemically classified based on the studies of correlation between the activity of water, fatty acids and volatiles. Water activity is therefore important factor in controlling the processing, handling and stability properties of cassava flours, especially of flour Copioba. These results can be exploited, not only to the commercial classification, but also to promote a process of registration of geographical indication (GI) of flour of Copioba.

Keywords: Identity, Geographical Indication (GI), Valley Copioba, GC-FID, GC-MS, Headspace, Manihot esculenta Crantz.

.

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

13

1. INTRODUÇÃO

O ser humano possui uma inter-relação com o ambiente, que caracteriza a cultura

através dos valores adotados, e o alimento é um dos principais pilares da identidade cultural

e histórica de um povo. A cultura brasileira, e especialmente a Nordestina, possui uma

relação histórica intrínseca com o cultivo e processamento da mandioca (Manihot esculenta

Crantz), que representa um símbolo na expressão popular. De origem Sul Americana a

cultura da mandioca foi herdada pela miscigenação brasileira (SCHNEIDER, 2006).

Em 2010 a produção mundial de mandioca totalizou 235,35 milhões de ton., sendo a

Nigéria o maior produtor com 45,7 milhões de ton.(19,4%), e o Brasil com 24,8 milhões de

ton. ocupa o segundo lugar (10%), seguidos pela Indonésia com 22,5 milhões de ton. (9,6%)

e a Tailândia com 22 milhões de ton. (9,3%), (FAO, 2011). A região Nordeste é a maior

produtora de mandioca do país, detendo 32,2% da produção, seguida pelas Regiões Norte

(28,9%), Sul (24,1%), Sudeste (9,8%) e Centro-Oeste (5,0%) (IBGE, 2011).

A produção de mandioca no Brasil é uma atividade realizada predominantemente por

agricultores familiares e camponeses, com 74,5% do plantio efetuados em áreas inferiores a

10 hectares (IBGE, 2011), por ser uma cultura resistente às intempéries de clima, pela

rusticidade e boa adaptabilidade. No Nordeste, além do uso constante para consumo

humano (in natura, farinha e goma/polvilho), a raiz é largamente utilizada na alimentação

animal (50%) (FAO, 2002). Em 2006, o Estado da Bahia produziu 4,4 milhões de ton. de

farinha de mandioca, ficando em segundo lugar a nível nacional, atrás dos estados do Pará

com 5,1 milhões de ton. (IBGE, 2011). A Bahia tem um consumo per capita de 25, 449

kg/hab./ano é o quarto estado de maior renda de consumo por pessoa, ficando atrás

somente do Pará (43, 988 kg/hab./ano), Amazonas (43, 778 kg/ hab./ ano) e Amapá (32,376

kg/ hab./ ano) (IBGE, 2010). Mesmo assim, o estado da Bahia consome 24% da produção, o

maior estado brasileiro consumidor do produto (EMBRAPA, 2012).

O município de Nazaré inserido no Recôncavo Baiano no estado da Bahia possui a

agricultura como principal atividade econômica, com destaque significativo para o plantio de

mandioca. Porém, é na produção da farinha de mandioca que está à principal fonte de renda

de grande parte da população (MATOS et. al., 2012). A localização do Vale do Copioba esta

entre três municípios do recôncavo baiano: Maragogipe, Nazaré e São Felipe, destacando-

se pela produção de farinha de mandioca de Copioba, porque tem uma localização

geográfica privilegiada, com os fatores ambientais (clima, solo, rios entre outros) favoráveis

ao cultivo de mandioca (RIBEIRO et. al., 1990). A região possui a tradição de casas de

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

14

farinha com produção artesanal, e ganharam notoriedade devido à qualidade organoléptica

com grande aceitação gastronômica. Os consumidores são atraídos pela crocância da

farinha de grãos finos e tom amarelado, sendo denominada “farinha do Copioba”, que

depois passaria a ser conhecida como farinha de Copioba. O prestigio do nome levou a

exploração do mesmo, associado a uma forma de obter maiores lucros na comercialização

(MATOS et al., 2012). Apesar da notoriedade da farinha de mandioca produzida no VALE

DO COPIOBA, a região enfrenta problemas na cadeia produtiva, como os atendimentos as

normas de boas praticas de fabricação (BRASIL, 2011) e fraudes, demonstrando a

necessidade de controlar e monitorar a produção e qualidade do produto.

A Instrução Normativa nº 52 de 07 de novembro de 2011do Ministério de Agricultura

Pecuária e Abastecimento (MAPA) determinam os padrões de identificação e qualidade

(PIQ), para a classificação, armazenamento e rotulagem de farinha de mandioca.

Levantamentos dos parâmetros de qualidade exigidos pela legislação (BRASIL, 2011) são

indispensáveis para garantir a padronização e a qualidade da produção de farinha de

mandioca, agregando valor ao produto e permitindo sua penetração em novos mercados

consumidores.

Associado a esta necessidade, existe uma tendência no mercado liberal em legitimar

a notoriedade de uma região produtora de um produto ou serviço, devido o desenvolvimento

e comercialização de um padrão particular de qualidade ligado a localização geográfica, seja

por motivos ambientais ou históricos. O registro coletivo de Indicação Geográfica (IG),

regulamentado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) através da Lei de

Propriedade Industrial (nº. 9279/96), delimita espaços geográficos aos produtores, no intuito

de relacionar a origem geográfica ao produto ou serviço. Tal possibilidade protege e gera

sustentabilidade operacional às produções, uma vez que valoriza as peculiaridades

regionais diferenciando os produtos dos demais, contribuindo com o reconhecimento de

características particulares do produto decorrentes da região em que é produzido.

Neste contexto, um registro beneficiaria os produtores da farinha de Copioba da

região do Recôncavo Baiano, agregando valor com o seu nome de origem, o Vale do

Copioba, protegendo-o de adulterações através da indicação da IG na rotulagem. Isto

contribuiria para alavancar a cadeia produtiva da região, pois é uma das grandes fontes de

renda dos produtores rurais, atraindo recursos financeiros para a região e reforçando o valor

histórico/cultural que tem a produção de farinha de mandioca, sendo instrumento de

construção social, uma ferramenta importante no desenvolvimento da economia local.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

15

Portanto, o presente trabalho tem como objetivo levantar os parâmetros de qualidade

da farinha de mandioca produzida no Vale do Copioba através de caracterizações físico e

fisico-quimica, buscando dados que lhe confere identidade frente às farinhas produzidas em

outras localidades, contribuindo para um pedido de IG do produto.

2. OBJETIVOS

2.1 Geral

Caracterizar a farinha de mandioca produzida no Vale do Copioba, buscando

identificar a qualidade e identidade que proporcionam a notoriedade do produto, como

contribuição para um registro de Indicação Geográfica do produto.

2.2 Específicos

Avaliar a conformidade dos parâmetros físicos e físico-químicos das farinhas de

mandioca produzida no Vale do Copioba com os estabelecidos pela legislação

vigente classificando-as (BRASIL, 2011).

Estabelecer parâmetros da farinha de mandioca de Copioba e Comum, que possam

ser utilizados como critério de qualidade e identidade da notoriedade do produto.

Contribuir com parâmetros analíticos para o processo de registro de Indicação

Geográfica da farinha de mandioca produzida no Vale do Copioba ou do Recôncavo

baiano, protegendo o produto de adulterações.

Fazer associações entre os parâmetros obtidos com as etapas do processo,

contribuindo no desenvolvimento tecnológico do processo contribuindo para o

fortalecimento da cultura e comercialização local da farinha de mandioca no Vale do

Copioba.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

16

CAPITULO 1: REVISÃO BIBLIOGRAFICA

1. PROPRIEDADE INTELECTUAL E PROTEÇÕES COLETIVAS

Os direitos a propriedade intelectual são instrumentos que permitem uma posição

jurídica de titularidade e uma exclusividade econômica, buscando garantir aos autores e

inventores a recuperação dos investimentos financeiro, intelectual e humano na pesquisa e

desenvolvimento tecnológico, que podem ser públicos ou privados, diretos ou indiretos. De

conceito amplo a propriedade intelectual versa sobre a proteção dos objetos resultantes das

atividades intelectuais humanas que impulsionam o desenvolvimento social que se faz pelos

avanços tecnológicos (TAVARES et. al., 2012).

A cultura de inovação e, mais precisamente, o sistema de propriedade intelectual

adquirem crescente relevância no cotidiano das instituições publicas e privadas no Brasil,

deixando explicito a necessidade das transferências tecnológicas, das pesquisas cientifica

desenvolvidos nos centros públicos ou privados do país para solução de problemas sociais,

pois somente 38 a 40% das tecnologias desenvolvidas nos centros de pesquisa chegam à

sociedade, revelando uma carência no investimento de mão de obra especializada capaz de

realizar a transferência tecnológica (WINTER, 2012).

O registro de propriedade intelectual industrial no Brasil possui algumas modalidades

como registro de Patentes, Marcas e Indicação Geográfica (IG). Essa legitimação judicial

visa uma forma de proteção de mercado as invenções e inovações tecnológicas, que é

respaldado pelo Acordo da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre os Aspectos

dos Direitos de Propriedade Intelectual (TRIPS). A Indicação Geográfica é uma proteção

coletiva importante para a sustentabilidade, a manutenção e o desenvolvimento local, de

pequenos produtores regionais, que possuem um produto ou serviço que ganhou

notoriedade ao longo da história, proporcionando a garantia de um mercado de

consumidores, que são cada vez mais exigentes com a qualidade e origem dos produtos e

serviços (DRUZIAN e NUNES, 2012).

A concessão jurídica do registro de IG é realizada pelo Instituto Nacional de

Propriedade Industrial (INPI), em que sua sede fica localizada na cidade do

Rio de Janeiro-RJ. No pedido é necessário apresentar a Guia de Recolhimento da União

(GRU) paga para este serviço e preencher um formulário de pedido de registro de indicação

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

17

geográfica disponível no site do INPI. O formulário vem solicitando informações como a

identificação dos depositantes, se a apresentação é nominal, mista ou figurativa, se é uma

IG de um produto ou serviço, falando qual é o produto ou serviço e descrevendo qual o

nome da área geográfica e a delimitação da região, sinalizando ainda se o pedido de IG é

brasileiro ou estrangeiro. O pedido de IG pode ser de duas espécies, Indicação de

Procedência (IP) ou Denominação de Origem (DO), pois para cada espécie são necessários

requisitos diferentes. Na IP são imprescindíveis documentos que comprovem ter a área

geográfica se tornado conhecida como indicação de procedência do produto ou da

prestação de serviço, demonstre que os produtores ou prestadores de serviço estiverem

estabelecidos na área geográfica, além de elementos que evidenciem que os mesmos

exercem efetivamente atividades de produção ou de prestação de serviços na área

geográfica. Na DO os documentos para os produtores ou servidores e comprovação de

atividade são os mesmos, além disso, são necessários documentos que comprovem a

características e qualidades físicas do produto ou serviço, além da descrição do processo ou

método de obtenção do produto ou serviço, tornando a DO uma espécie de IG mais

especifica aos elementos geográficos da região (INPI, 2000).

O desenvolvimento de associações e atitudes corporativista entre os produtores é

fundamental, pois junto ao pedido de IG são necessários anexos como o estatuto da

associação, mostrando seus regimentos internos e configurações executivas e gestoras de

modo legislativo. O regulamento técnico do produto ou serviço tem que ter registros da

historia do produto ou serviço, e descrever a delimitação de área geográfica, e estabelecer

quais são os produtos autorizados para comercialização dos produtores ou prestadores de

serviço deixando claro o requisito dos métodos de processamento. Essas atitudes

personificando as identidades dos produtos ou serviços através de parâmetros específicos,

desde o tratamento da matéria prima até os acabamentos como rotulagem e/ou compostos

químicos aceitos na produção de acordo com as legislações vigentes (INPI, 2000).

2. INDICAÇÃO GEOGRÁFICA (IG)

A primeira convenção internacional sobre IG foi a Convenção de Paris para a

Proteção da Propriedade Industrial em 1883, seguida pelo Acordo de Madrid para a

Repressão de Indicações falsas ou enganosas das fontes de mercadorias em 1891, e pelo

Acordo de Lisboa para a Proteção das Denominações de Origem (DO) em 1958

(LILLYWHITE et. al., 2005).

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

18

O Brasil é membro da Organização Mundial do Comércio (OMC), e harmonizou as

suas legislações sobre Propriedade Intelectual (PI) e direitos de propriedade incluindo a IG

sob responsabilidade do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual), que através de

regulamentações específicas estabelece as normas para a tramitação de uma IG, incluindo

o pedido, exame, e a concessão (INPI, 2000).

O primeiro pedido de registro de IG no Brasil foi realizado em 1997 no INPI para um

produto estrangeiro, o presunto de Parma, região localizada na Itália. O pedido foi realizado

pelo Consorzio Del Prosciutto di Parma, e até no ano de 2012 estava em estado de

reconsideração (INPI, 2013), no ano seguinte (1998), realizou se o primeiro pedido de

registro de uma IG para um produto brasileiro do café do cerrado, elaborado em

apresentação mista pelo Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado

(CACCER).

As Indicações Geográficas (IG) no Brasil apresenta um cenário com 40 registros

concedidos até fevereiro de 2013 (Tabela 1), dos quais 82,5% são registros de IGs de

produtos ou serviços brasileiros, sendo que 7 são de produtos de Regiões do Rio Grande do

Sul (21,21%), 6 são de Minas Gerais (18,18%) e 5 do Rio de Janeiro (15,15%),

representando 55% do total das concessões nacionais, e 45% do total das IGs concedidas

no Brasil. Uma única IG abrange dois Estados, a IG200701 do Vale do Submédio São

Francisco (BR/NE), para Uvas de Mesa e Manga oriundas da região sertaneja entre o oeste

do Estado de Pernambuco e norte do Estado da Bahia (INPI, 2013).

No ultimo ano o Brasil teve um crescimento de 15% no número de registros

concedidos, dos quais 87,5% foram de registros brasileiros. O INPI possui 46 registros de IG

concedidos até janeiro de 2014, dos quais 82,6% são registros de IG brasileiras, distribuído

nas áreas de alimentos (63,16%), produtos artesanais/ pedras (34,4%) e prestação de

serviço (2,63%). No território brasileiro as regiões Sul e Sudeste possuem destaque com o

maior numero de IG, só os estados do Rio Grande do Sul (21,05%), Minas Gerais (18,42%)

e Rio de Janeiro (13,16%), representam 43,49% do total das IG concedidas no Brasil (INPI,

2014).

Localizações geográficas diferentes podem conferir características aos atributos dos

produtos ou serviços, sendo o ambiente também um fator determinante para a notoriedade,

identidade e qualidade. Por outro lado uma determinada condição geográfica (vale, colina,

entre outros) pode pertencer a vários municípios (DRUZIAN e NUNES, 2012) como

acontece com o VALE DO COPIOBA, que fica localizado entre três municípios do recôncavo

baiano.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

19

Das 40 IGs concedidas até março de 2013 (Tabela 1) a maioria (67,5%) é de produtos

agrícolas e/ou agroindustriais, e o restante é de outros tipos de produtos, principalmente

(artesanato em capim dourado, panelas de barro, pedras, peças e jóias artesanais), e

produtos relacionados ao setor de couros acabados e processamento como calçados. As

ações nacionais de promoção e disseminação da cultura de IG começam a se tornar mais

efetivas, uma vez que foram concedidas 28 IGs (70% do total) em 2011 e 2012 (Tabela 1).

Apesar da ampla territorialidade e do potencial brasileiro com relação a produtos

agroindustriais e artesanais, das 27 unidades federativas do Brasil somente 16 Estados

(59,3%) tem IGs concedidas (INPI, 2013). Este cenário deve mudar em função das políticas

de incentivo que o governo vem adotando, e que vem desempenhado um papel importante

na disseminação da cultura de proteção de propriedade intelectual no Brasil.

O aumento das IGs é exponencial também a nível mundial (PROFETA et al., 2009 e

2010). Vários países da União Européia possuíam em 2003 cerca de 620 IGs,

majoritariamente de produtos agroindustriais, sendo 55% oriundas da França, Itália e

Portugal (RANGNEKAR, 2004). Em 2011 as concessões dos vários países da União

Européia passaram para aproximadamente 1000, sendo 284, 184, e 116 (58%) das IGs da

Itália, França e Portugal, respectivamente (ANTONELLI e ILBERT, 2012).

Uma IG envolve um plano global e gradual de inovação baseado em iniciativas

destinadas a aumentar a qualidade do produto, o que Niederle e Vitrolles, (2010) relatam

como “sistema de Indicação Geográfica”, onde a qualificação do produto da IG é apenas um

dos objetivos. Um levantamento de potenciais IGs identificou mais de 150 produtos a

maioria alimentícia, entre eles, destaca-se a farinha de mandioca tipo copioba (INPI, 2013).

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

20

Fonte: INPI, (2013).

Tabela 1- Relação de Indicações Geográficas concedidas no Brasil até julho 2012 e Região de abrangência, produto protegido e data da concessão.Item Número Região de abrangência Produto Tipo Concessão

1 IG970002 Região dos Vinhos Verdes (PT) Vinhos Verdes DO 10/08/1999

2 IG980001 Cognac (FR) Destilado vínico ou aguardente de vinho DO 11/04/2000

3 IG200002 Vale dos Vinhedos (BR/RS) Vinhos tinto, branco e espumante IP 19/11/2002

4 IG200101 Franciacorta (IT) Vinhos, vinhos espumantes e bebidas alcoólicas DO 21/10/2003

5 IG990001 Região do Cerrado M ineiro (BR/M G) Café IP 14/04/2005

6 IG200501 Pampa Gaúcho da Campanha M eridional (BR/RS) Carne Bovina e seus derivados IP 12/12/2006

7 IG200602 Paraty (BR/RJ) Aguardentes, tipo cachaça e aguardente composta Azulada IP 10/07/2007

8 IG980003 San Daniele (IT) Coxas de suínos frescas, presunto defumado cru DO 07/04/2009

9 IG200702 Vale do Sinos (BR/RS) Couro Acabado IP 19/05/2009

10 IG200701 Vale do Submédio São Francisco (BR/NE) Uvas de M esa e M anga IP 07/07/2009

11 IG200803 Pinto Bandeira (BR/RS) Vinhos tinto, brancos e espumantes IP 13/07/2010

12 IG200801 Litoral Norte Gaúcho (BR/RS) Arroz DO 24/08/2010

13 IG200704 Região da Serra da M antiqueira (BR/M G) Café IP 31/05/2011

14 IG200907 Costa Negra (BR/CE) Camarão DO 16/08/2011

15 IG200902 Região do Jalapão do Estado do Tocantins (BR/TO) Artesanato em capim Dourado IP 30/08/2011

16 IG200901 Pelotas (BR/RS) Doces finos tradicionais e de confeitaria IP 30/08/2011

17 IG201003 Goiabeiras (BR/ES) Panelas de barro IP 04/10/2011

18 IG201001 Serro (BR/M G) Queijo IP 13/12/2011

19 IG201010 São João del Rei (BR/M G) Peças artesanais em estanho IP 07/02/2012

20 IG201012 Franca (BR/SP) Calçados IP 07/02/2012

21 IG201009 Vales da Uva Goethe (BR/SC) Vinho de Uva Goethe IP 14/02/2012

22 IG201002 Canastra (BR/M G) Queijo IP 13/03/2012

23 IG201014 Pedro II (BR/PI) Opalas preciosas de Pedro II e jó ias artesanais de opalas de Pedro II IP 03/04/2012

24 IG201013 Porto (PT) Vinho generoso (vinho licoroso) DO 17/04/2012

25 IG201006 Região Pedra Cinza Rio de Janeiro (BR/RJ) Gnaisse fitado minolítico de coloração cinza possuindo 3 variedades: "Olho de pombo", "Pinta Rosa" e "Granito Fino"DO 22/05/2012

26 IG201004 Região Pedra Carijó Rio de Janeiro (BR/RJ) Gnaisse fitado minolítico de coloração branca com pontos vermelhos de diâmetro geral inferior a 1 cm DO 22/05/2012

27 IG201005 Região Pedra M adeira Rio de Janeiro (BR/RJ) Gnaisse fitado minolítico de coloração clara com quatro variedades de cor: branca, rosa, verde e amarela DO 22/05/2012

28 IG201007 Cachoeiro de Itapemirim (BR/RJ) M ármore IP 29/05/2012

29 IG201101 M anguezais de Alagoas (BR/AL) Própolis vermelha e extrato de própolis vermelha DO 17/07/2012

30 IG200909 Linhares (BR/ES) Cacau em amêndoas IP 31/07/2012

31 IG200904 Paraiba (BR/PB) Têxteis de algodão naturalmente colorido IP 16/10/2012

32 IG200908 Região de Salinas (BR/M G) Aguardente de cana tipo Cachaça IP 16/10/2012

33 IG201008 Vale dos vinhedos (BR/RS) Vinho DO 25/09/2012

34 IG201106 Napa Valley (US) Vinho DO 11/09/2012

35 IG200903 Norte Pioneiro do Paraná (BR/PR) Café verde em grão e industrializado em grão ou moido IP 25/09/2012

36 IG201103 Porto Digital (BR/PE) Serviço de tecnologia de informação IP 11/12/2012

37 IG201102 Champagne (FR) Vinho espumante DO 11/12/2012

38 BR-4020120002-0 Altos M ontes Vinhoos IP 11/12/2012

38 IG201107 Divina Pastora (BR/SE) Renda de agulha em Iacê IP 26/12/2012

40 IG201104 São Tiago (BR/M G) Biscoito IP 05/02/2013

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

21

3. FARINHA DE MANDIOCA DE COPIOBA

A mandioca é o produto mais popular da alimentação brasileira desde o início da

colonização. Preparada de diferentes formas, a farinha, seu principal produto, é usada

por todas as camadas da população. Os múltiplos e variados aspectos que envolvem o

seu cultivo e transformação em alimento conferem-lhe considerável importância histórica,

econômica e social (CRISTÉ e COHEN, 2010).

A tecnologia de fabricação da farinha é simples, mas exige alguns cuidados no

seu desenvolvimento. A seleção da matéria-prima adequada, a higiene e os cuidados

durante todo o processo de fabricação, são fatores fundamentais para garantir um

produto de qualidade. A farinha de mandioca é oriunda dos povos originários da América

do Sul, aonde o cultivo de sua matéria prima encontra condições favoráveis para seu

desenvolvimento em todos os climas tropicais e subtropicais, que tenham condições

ambientais tais como temperatura entre 20 ºC e 27 ºC, baixa altitude, uma precipitação

pluvial total anual de 1.000 mm a 1.500 mm. O solo deve apresentar textura variando de

franco arenoso a argilo arenoso, possibilitando fácil crescimento das raízes, boa

drenagem e facilidade de colheita, pois o cultivo não possui irrigação (EMBRAPA, 2003).

Atualmente, se mantém a denominação farinha de Copioba para designar farinha

de boa qualidade, isto é, de granulação fina, cor branca e bem torrada, e os municípios

do Vale do Copioba e do Recôncavo Baiano, região que contorna a Baía de Todos os

Santos, ainda mantêm o destaque por produzi-la. O Vale do Copioba esta localizado no

Recôncavo Baiano a onde o material original dos solos vérticos, formou-se sobre rochas

sedimentares argilosas, o clima é tropical úmido, possuindo uma pluviometria média

anual ao redor de 1.800 mm, aonde a temperatura média anual é de 25 ºC (RIBEIRO et

al., 1990). Esses parâmetros geográficos são as condições ideais do cultivo de mandioca

(EMBRAPA, 2003).

A farinha de Copioba é conhecida e comercializada até hoje com essa

denominação em vários locais do país, com destaque sempre para a qualidade

diferenciada, que pode se notar tanto pelas condições geográficas e climáticas do Vale

do Copioba, quanto pelo processo diferenciado. A qualidade dos produtos de IG é

reconhecida e possuem documentos que comprovam os atributos dos produtos ou

serviços, podendo incluir dados de jornais, artigos ou outros tipo de registros. É

necessário que os produtos de IGs, comprovem através de dados objetivos, que os

produtos são diferenciados dos de outras regiões, como exemplo a composição do

produto (DRUZIAN e NUNES, 2012).

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

22

Em linhas gerais, nas casas de farinha o processamento das raízes de mandioca

para a elaboração da farinha compreende nove etapas: recebimento das raízes, lavagem,

descascamento, trituração, prensagem, desintegração, torrefação, peneiração,

acondicionamento e armazenagem, sendo todas as etapas realizadas sem interrupções

(SANTANNA e MIRANDA, 2004; CHISTÉ et al. 2006; MATOS et al., 2012). No entanto, o

que se observa nas casas de farinha de Nazaré, segundo Branco et al. (2012), é um

processo descontínuo, no qual a massa de mandioca triturada fica exposta por um longo

período à temperatura ambiente, principalmente na etapa relativa à prensagem,

resultando em fermentação espontânea e, conseqüente, aumento da acidez do produto.

Tendo em vista a simplicidade ou a natureza mais ou menos artesanal dos

procedimentos de obtenção da farinha, alguns estudos têm levantado preocupações

quanto à qualidade higiênica das farinhas de mandioca da Bahia, pois apesar da baixa

atividade de água limitar o crescimento de contaminantes biológicos, elevadas contagens

de Bacillus cereus foram encontradas em farinhas produzidas em duas unidades de

processamento da zona rural do Recôncavo Baiano, indicando que o tempo e a

temperatura da torrefação não foram suficientes para destruí-los (SANTANNA e

MIRANDA, 2004). Além disso, um diagnóstico higiênico-sanitário direcionado às unidades

de processamento da farinha de mandioca na região Sudoeste da Bahia mostrou 100%

de inconformidade das unidades em todos os requisitos avaliados, comprovando a

necessidade de medidas corretivas, visando garantir a inocuidade e a saúde do

consumidor (OLIVEIRA e REBOUÇAS, 2008).

Portanto, o processo de obtenção de farinha de mandioca deve estar sujeito às

normas gerais de processamento de alimentos, que são ferramentas e procedimentos

que devem ser aplicados desde as etapas de implantação até a operacionalização de

unidades artesanais ou industriais. Tais medidas visam assegurar a qualidade, expandir a

vida útil e, principalmente, minimizar problemas de segurança que possam colocar em

risco a saúde do consumidor.

4. PADRÃO DE IDENTIDADE E QUALIDADE DE FARINHA DE MANDIOCA

Para uma IG é necessário esclarecer não só o modo tradicional como uma farinha

é produzida, mas também as condições de inocuidade do processo de produção.

Entende-se que é inaceitável a presença de contaminantes químicos, físicos ou

biológicos na matéria-prima ou em produtos semi-acabados ou acabados, e a não

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

23

conformidade com o padrão de identidade e qualidade, ou com o regulamento técnico

estabelecido para cada produto, além das demais legislações vigentes.

O Ministério do Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estabeleceu o

Regulamento Técnico da Farinha de Mandioca na forma de Instrução Normativa nº 52 em

07 de novembro de 2011, que define os parâmetros de identificação e qualidade da

farinha de mandioca normatizando a produção e comercialização do produto no Brasil

(BRASIL, 2011), que contempla a produção industrial e em casas de farinha, mostrando

avanços quando comparado com a Portaria nº 554, de 30 de agosto de 1995.

O presente Regulamento Técnico tem por objetivo, definir o padrão oficial de

classificação da farinha de mandioca, considerando seus requisitos de identidade e

qualidade, a amostragem, o modo de apresentação e a marcação ou rotulagem, nos

aspectos referentes à classificação do produto e suas necessidades de fabricação que é

o conjunto de operações por que passa a matéria-prima (mandioca) até a sua

transformação na condição de produto elaborado ou pronto para consumo, envolvendo

todas as fases de seu preparo, processamento, armazenamento, transporte e exposição

à venda. As exigências de fabricação da legislação devem ser atendidas pelos

produtores da farinha de mandioca do Vale do Copioba para o registro de Indicação

Geográfica, necessitando realizar o levantamento da composição centesimal e os

parâmetros de qualidade exigidos, para garantir a uniformidade e a qualidade da

produção de farinha de mandioca (BRASIL, 2011).

Farinha de mandioca é o produto obtido de raízes de mandioca, do gênero

Manihot, submetidas ao processo tecnológico adequado de fabricação e beneficiamento,

possuem características físicas e físico-químicas que definem parâmetros de qualidade e

as que apresentarem aspecto generalizado de mofo ou fermentação, ou mau estado de

conservação, ou odor estranho impróprio ao produto que inviabiliza a sua utilização para

o uso proposto, ou ainda presença de insetos vivos ou mortos, são desclassificadas e

consideradas imprópria para o consumo humano, com a comercialização proibida

(BRASIL, 2011).

A classificação da farinha de mandioca é estabelecida em função dos seus

requisitos de identidade e qualidade. Os requisitos de identidade da farinha de mandioca

são definidos pelo seu processo tecnológico de fabricação. Os requisitos de qualidade da

farinha de mandioca são definidos em função da granulometria e dos parâmetros

estabelecidos na legislação umidade, cinzas total, fibras total, amido e acidez (BRASIL,

2011).

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

24

A farinha de mandioca é classificada em grupos (Seca, D’Água, Bejusada), em

classes (Fina, Média e Grossa) e em tipos (tipo I, tipo II e tipo III). A farinha do VALE DO

COPIOBA se classifica como grupo Seca, que é definido como o produto obtido das

raízes de mandioca sadias, devidamente limpas, descascadas, trituradas, raladas,

moídas, prensadas, desmembradas, peneiradas, secas à temperatura adequada,

podendo novamente ser peneirada e ainda beneficiada (BRASIL, 2011).

A granulometria está relacionada à distribuição das partículas e grânulos que

constituem o produto, segundo os seus tamanhos. Na determinação da Classe utiliza se

peneiras com abertura de malha nominal igual a 1 mm (um milímetro) ou 2 mm (dois

milímetros), diâmetro do aro externo de 20,5 cm (vinte vírgula cinco centímetros) e malha

com diâmetro de 18,5 cm (dezoito vírgula cinco centímetros), compreendendo as

seguintes etapas: Primeiro a farinha de mandioca seca, 100g de amostras é peneirada,

através do conjunto de peneiras com aberturas de malha nominal igual a 1mm (um

milímetro) e 2mm (dois milímetros), com agitação manual ou mecânica, em movimentos

intermitentes, durante o tempo de um minuto, é pesado e anotado as quantidades de

farinha retida na peneira com abertura de malha nominal igual a 1mm (um milímetro) e o

que ficar retido na peneira com abertura de malha nominal igual a 2mm (dois milímetros),

identificando a Classe correspondente (BRASIL, 2011). A farinha de mandioca do Vale do

Copioba é do Grupo Seca devidas suas etapas de processamento, e pertencente à

classe fina de acordo com a sua granulometria (MATOS, 2012).

A umidade é o teor de água livre encontrada no produto, sendo a sua medida

expressa em gramas por 100 gramas do produto. A farinha de mandioca deve ser

comercializada com umidade inferior a 13 g/ 100g, devendo ser rebeneficiada para

valores acima deste limite (BRASIL, 2011).

O teor de cinzas ou resíduo mineral fixo é o total de material mineral presente no

produto, sendo a sua medida expressa em gramas de cinzas por 100 gramas do produto

(%) que não pode ultrapassar o valor de 1,4% (BRASIL, 2011).

A acidez são as mudanças químicas provocadas no produto por microrganismos,

tendo como efeito a formação de compostos mais simples, como a formação de ácidos

orgânicos e conseqüente elevação na acidez, uma propriedade o que confere

característica sensorial ao produto. A acidez aquossolúvel é o teor dos ácidos orgânicos

solúveis em água encontrados no produto, sendo expresso em mili-equivalentes de

solução de NaOH (0,1N) por cem gramas de produto (meq NaOH 0,1N/ 100 g). Esse

valor irá definir se a farinha tem baixa ou alta acidez. Para os grupos seca e bijusada será

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

25

considerada pouco ácida a farinha de mandioca que apresentar valores até 3,0 meq

NaOH 0,1N/ 100 g, ou muito ácida para valores acima de 3,0 mili-equivalente NaOH (0,1

N)/ 100 g. (BRASIL, 2011).

Uma propriedade física química da farinha de mandioca importante é a fibra bruta,

que pode ser quantificada pelo resíduo composto principalmente de celulose e lignina,

obtido por meio de metodologia adequada, sendo a sua medida expressa em gramas de

fibra bruta por 100 gramas de produto (%), e o valor em gramas/100gramas de farinha

não pode ser superior a 2,3% (Brasil, 2011) para o grupo de farinhas seca, a qual se

classifica a farinha do VALE DO COPIOBA (MATOS, 2012).

O teor de amido é soma dos carboidratos amilose e amilopectina presentes no

produto. No grupo de farinhas secas o teor de amido esta relacionado ao tipo da farinha I,

II e III. Através de metodologia adequada, os resultados tem que ser superiores a 80%,

sendo a sua medida expressa em gramas de amido por 100 gramas do produto (%),

sendo que entre 80 e menores que 82%, é considerada farinha do tipo III, entre 82 e 86%

é considerada do tipo II, e farinha com valor de amido superior a 86% é considerada do

tipo I (BRASIL, 2011).

A norma também determina que na embalagem do produto conste tipo:

denominação de venda do produto (a expressão "farinha de mandioca" seguida da marca

comercial do produto, quando houver); Identificação do lote e data de acondicionamento,

que serão de responsabilidade do embalador; Nome empresarial, registro no Cadastro

Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) ou no Cadastro Nacional de Pessoa Física (CPF), o

endereço da empresa embaladora ou do responsável pelo produto e acidez do produto

(BRASIL, 2011). No caso da farinha de mandioca a granel, destinada diretamente à

alimentação humana, o produto deverá ser identificado e as expressões colocadas em

lugar de destaque e de fácil visualização, contendo no mínimo, as informações relativas

ao grupo e ao tipo do produto.

O não atendimento aos padrões exigidos por legislação ou a problemas de

qualidade pela Indústria Rural no Brasil é resultado da pouca atenção à qualidade, às

embalagens e à apresentação. Estas características vão contribuir, quase sempre, para

dificuldades de acesso aos canais modernos de comercialização e uma taxa muito alta

de informalidade (MATOS et. al., 2012). A falta de um padrão geral de qualidade, em

termos de qualidade intrínseca, das embalagens e da apresentação, aliada à baixa

escala de produção, a uma produção quase sempre dispersa, ao desconhecimento de

técnicas mínimas de gestão da produção, faz com que essas atividades se apresentem

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

26

muito frágeis e divergentes do cenário ideal de produção de farinha de mandioca

(FERNANDES FILHOS e CAMPOS, 2003). Uma forma da ferramenta das IGs

contribuírem para a qualificação do produto.

A composição centesimal é entendida como a expressão básica do valor nutritivo

de um alimento através da proporção dos componentes básicos (cinzas, umidade,

lipídeos, proteínas e carboidratos). Para a farinha de mandioca é fundamental a

caracterização do produto, através da composição centesimal, análises físico-químicas e

granulométricas, devendo, portanto, fazer parte do requerimento de indicação geográfica

no requisito de características do produto (BRASIL, 2011).

No Quadro 1 pode-se verificar a variação nos parâmetros físico-químicos das

farinhas produzidas em diferentes localidades do Brasil. Esta variabilidade sugere que as

características do clima e geográficos locais produzem influências nas características do

produto obtido.

5. SECAGEM POR CONDUÇÃO

A fabricação de farinha é basicamente um processo de desidratação das raízes

maceradas. Como indicado por Lima (1982), apesar das raízes serem raladas á seco, a

massa é excessivamente úmida. O excesso de água deve ser eliminado antes da

torração. A prensagem escoa o excesso de água, facilitando a operação de secagem e

evitando a formação de goma (gelificação). Quando sai da prensa, a massa encontra-se

sob a forma de blocos compactos, em razão da pressão exercida. Antes de seguir para a

torração ou secagem provoca-se o esfarelamento desses blocos. A massa esfarelada

apresenta de 45 a 50 % de umidade, devida á água de constituição e deve ser retirada

pela secagem até no mínimo 13% (BRASIL, 2011). Como a massa esfarelada a ser seco

é muito fina e muito úmida, a secagem por condução é o método mais apropriado. O

calor é fornecido ao material úmido por condução (contato) de superfícies aquecidas, que

suportam ou confinam o material, tais como: bandejas, placas, cilindros ou paredes de

secadores. A temperatura do material é maior do que na secagem por convecção e os

coeficientes de transferência de calor do material para a superfície aquecida e da

superfície aquecida para o ar aquecido governam o total de calor transferido para o

material.

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

27

Quadro 1. Referencial teórico da composição centesimal de diversos trabalhos realizados com farinhas de mandioca de diferentes

regiões do Brasil.

Parâmetros físico-químicos

REFERÊNCIAS Umidade (%) Aw Cinzas (%) Lipídios

Totais (%) Proteínas (%) Amido (%)

Fibra Bruta (%)

Acidez (meq NaOH (0,1N)/100g)

Carboidrato (%)

Barbosa et al (2011) Farinha produzida com

subprodutos da indústria de mandioca/ Paraná

5,48±0,42 - 1,20±0,09 7,42±0,93 1,16±0,33 - 6,30±0,65 - 78,44*

Ferreira Neto et al. (2003) farinha de mandioca seca/

Paraíba 7,669±0,138 - - 0,914±0,098 1,250±0,093 - - - 89,009+0,081

Dias e Leonel (2006) Farinha de mandioca seca e

fina/ Segipe 7,73 - 1,12 - 1,06 83,08 2,26 2,08 -

Souza et al. (2008) Farinha de mandioca/Acre

11,33 - 0,84 0,21 0,85 - 2,71 1,46 84,06*

Chisté et al (2006) farinha de mandioca do

grupo seca, subgrupo fina, tipo 1/ Pará

6,85 ± 0,13 0,55 ± 0,01 0,54 ± 0,03 0,18 ± 0,01 0,93 ± 0,05 72,05 ± 0,27 - 5,18 ± 0,06 -

ÁLVARES et al. (2013) farinha de mandioca do

grupo seca, subgrupo fina, tipo 1/ Acre

9,85 0,51 1,31 - 0,98 95,99 1,78 1,82 -

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

28

A desidratação é uma operação unitária comum à maioria dos processamentos de

alimentos. Como método de preservação a secagem assume importância fundamental

por proporcionar baixos custos de embalagem, de armazenamento e de transporte pela

redução do volume e peso do produto final (GAVA, 2008), e aumento da vida de

prateleira, fornecendo propriedades sensoriais únicas do produto final (BEAUDRY et al.,

2004). Isto se dá pela redução do conteúdo de água do alimento a ponto de minimizar o

crescimento microbiano e as reações químicas indesejáveis (RUIZ-LÓPEZ et al., 2008).

O movimento de água do interior do material até à superfície é analisado pelos

mecanismos de transferência de massa, que indicará a dificuldade de secagem dos

materiais. Durante a secagem, para que haja a evaporação de água da superfície do

material ao ambiente, a água deve ser transportada do interior do sólido até a superfície.

Portanto é necessário o fornecimento de calor para evaporar a umidade do material,

também deve haver um sorvedor de umidade para remover o vapor de água formado a

partir da superfície do material a ser seco. Do ponto de vista de fornecimento de calor, os

mecanismos básicos de transferência de calor empregados indicam os possíveis

equipamentos necessários ao processo. A retirada do vapor de água formado na

superfície do material é analisada do ponto de vista de movimento do fluido (mecânica

dos fluidos), indicando também os possíveis equipamentos para esta finalidade

(BEAUDRY et al., 2004; GAVA, 2008). A diferença do conteúdo de umidade inicial do

material e do conteúdo de umidade de equilíbrio (atividade de água) representa a força

motriz para a secagem. A Figura 1 mostra o comportamento da atividade de água em

função da umidade durante a secagem.

Figura 1. Comportamento da atividade de água em função de umidade de processos de secagens, segundo PARK e NOGUEIRA (1992).

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

29

Os produtos são muito diferentes entre si, devido a sua composição, estrutura, e

suas dimensões. As condições de secagem são muito diversas, de acordo com as

propriedades do ar de secagem e a forma como se faz o contato ar-produto: por exemplo,

secagem com ar quente na superfície de um leito de partículas é um caso (a água

estando situada dentro das partículas), ou outro caso é a suspensão de uma partícula em

um fluxo de ar. Uma vez que o produto é colocado em contato com ar quente, ocorre uma

transferência do calor do ar ao produto sob o efeito da diferença de temperatura existente

entre eles. Simultaneamente, a diferença de pressão parcial de vapor d'água existente

entre o ar e a superfície do produto determina uma transferência de matéria (massa) para

o ar. Esta última se faz na forma de vapor de água. Uma parte do calor que chega ao

produto é utilizada para vaporizar a água. A evolução destas transferências simultâneas

de calor e de massa no decorrer da operação de secagem faz com que esta seja dividida

esquematicamente em três períodos. A Figura 2, mostra as curvas de evolução do teor

de água do produto (X), da temperatura (T) e da velocidade de secagem (dX/dt), também

chamada de taxa de secagem, ao longo do tempo, para um experimento utilizando ar de

propriedades constantes.

Figura 2. Típica curva de secagem evidenciando o comportamento da temperatura do produto, da umidade e a velocidade se secagem.

A curva (a) representa a diminuição do teor de água do produto durante a

secagem (conteúdo de umidade do produto, em relação à evolução do tempo de

secagem t), isto é, é a curva obtida pesando o produto durante a secagem numa

determinada condição de secagem. A curva (b) representa a velocidade (taxa) de

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

30

secagem do produto (variação do conteúdo de umidade do produto por tempo, dX/dt em

relação à evolução do tempo t), isto é, é a curva obtida diferenciando a curva (a). A curva

(c) representa a variação da temperatura do produto durante a secagem (variação da

temperatura do produto, T em relação à evolução do tempo (t), isto é, é a curva obtida

medindo a temperatura do produto durante a secagem (Figura 2).

No entanto não existe consenso no estabelecimento uma única relação teórica

que possibilite generalizações para tratamentos na secagem. Estas transferências

internas de massa são influenciadas por dois fenômenos particularmente importantes

para os produtos biológicos: a migração dos solutos e a deformação do produto. Os

métodos de cálculo da cinética de secagem são aplicados de modo diferente

dependendo do período de secagem considerado. No período de taxa de secagem

constante, as transferências de calor e de massa na interface ar-produto governam a

secagem e fixam a velocidade de secagem, enquanto que no segundo período (período

de taxa de secagem decrescente) as transferências internas que são limitantes. Portanto,

a eficiência do processo de secagem depende das propriedades do alimento, das

propriedades do ar de secagem, da umidade relativa, da velocidade do ar de secagem e

da temperatura (PARK e NOGUEIRA, 1992). A secagem tem a finalidade de eliminar um

líquido volátil contido num corpo não volátil, através de evaporação, portanto, é a

operação na qual a atividade de água de um alimento é diminuída pela remoção da água,

através de sua vaporização. O tipo de secagem a ser utilizado depende, dentre outros

fatores, do produto a ser desidratado, da sua constituição química e das características

físicas do produto final desejado.

De acordo com Aguilera e Stanley (1990), define-se como microestrutura de

alimentos a organização dos componentes de um alimento e suas interações. Ao sofrer

processamento, em especial a secagem, a microestrutura do alimento é destruída e

reconstituída, o que poderia ser entendido como uma série de operações de

reestruturação e reorganização. As considerações sobre como água é transportada do

interior do sólido à superfície fundamentam as teorias existentes na secagem. Todas

estas considerações, tais como, conteúdo inicial de umidade do material, conteúdo final

de umidade que o material pode chegar (umidade de equilíbrio), como a água está

relacionada com a estrutura do sólido e como o transporte da água é feito do interior à

superfície do sólido durante a secagem servem para fundamentar o fenômeno de

secagem.

A água residual depois de um processo de secagem está presente em

praticamente todos os alimentos e tem importância em um grande número de reações. A

determinação do teor de água é uma das mais freqüentes análises realizadas nos

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

31

alimentos. A água ocorre em alimentos em diferentes formas de ligação química, sendo

as ligações de hidrogênio ou pontes de hidrogênio as mais importantes. Pelo menos dois

tipos de água são encontrados nos alimentos: um tipo denominado água livre que está

fracamente ligada ao substrato e que funciona como solvente, permitindo o crescimento

de microrganismos, de reações químicas e que é eliminada com facilidade; e outra

denominada água combinada que está fortemente ligada ao substrato, é mais difícil de

ser eliminada e que não é usada como solvente, não permitindo o crescimento de

microrganismos (MORGANO, 2008).

O teor de umidade em farinhas é um importante índice de qualidade, pois este

pode afetar as características da amostra, a preservação do produto e principalmente a

crocância. Um alto teor de umidade pode permitir a atividade de microrganismos e

enzimas e alterar as características sensoriais do produto. Água não ligada (água livre)

envolve a energia para sua evaporação ao nível de calor latente de vaporização, ao

passo que as águas ligadas necessitam maior nível de energia para a sua evaporação.

Consequentemente, os materiais hidrofóbicos apresentam águas livres.

As propriedades dos alimentos “in natura” afetam tanto a transferência de calor

como de massa e ambas podem ter efeitos importantes nas características dos alimentos

secos. Um dos importantes parâmetros do material que será seco é o conteúdo de

umidade do produto. O conteúdo de umidade de um produto é a proporção direta entre a

massa de água presente no material e a massa de material que não contém água, ou

massa seca. A água é um dos mais importantes componentes dos alimentos, afetando

todas as suas propriedades físicas. A forma como a água afeta a natureza física e as

propriedades dos alimentos é complexa devido à interação entre a água e o meio, o que

envolve a estrutura física e a composição química dos diversos solutos incluindo

polímeros e colóides ou partículas dispersas. É possível estabelecer uma relação estreita

entre o teor de água livre no alimento e sua conservação. O teor de água livre é expresso

pela atividade de água (Aw) que é dada pela relação entre a pressão de vapor de água

em equilíbrio sobre o alimento e a pressão de vapor de água pura, à mesma temperatura,

ou seja, a umidade relativa em equilíbrio com o produto na temperatura considerada

(ANTONIO, 2006; PARK, 2006).

O valor máximo de Aw é 1, para a água pura. Nos alimentos ricos em água, com

Aw acima de 0,90 formam soluções diluídas com os alimentos servindo de substrato para

reações químicas e o desenvolvimento microbiano. Entre 0,40 e 0,80 há uma aceleração

das reações químicas pelo aumento da concentração dos substratos. Próximo a 0,60,

cessa a atividade microbiana e para Aw inferior a 0,30 atinge-se a zona de adsorção

primária (Figura 3).

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

32

As isotermas de sorção são as curvas de equilíbrio, compostas pelas umidades de

equilíbrio do material correspondentes às umidades relativas (ou atividade de água) para

uma dada temperatura. Pela isoterma de sorção sabe-se se será possível atingir uma

umidade de equilíbrio boa para conservação do produto, a uma dada temperatura e

umidade relativa ou Aw. O conhecimento destas curvas de sorção é indispensável para

determinar o teor de água final necessário para estabilizar o produto (ALONSO & PARK,

2005). A textura é um dos atributos sensoriais de maior importância em alimentos e está

diretamente relacionada com o seu estado físico.

Figura 3. Velocidade relativa de reações em função da atividade de água (LABUZA,1968).

Durante o processamento e a armazenagem, os alimentos estão sujeitos a uma

série de variações na sua composição e nas condições de temperatura e pressão do

ambiente, as quais levam a alterações no seu estado físico e, conseqüentemente na sua

textura.

Os diversos tipos de farinhas de mandioca são decorrentes de vários fatores que

incluem matéria-prima e processo, como umidade da massa ralada, temperatura do

forno, velocidade e forma de agitação, entre outros. Em razão disto existem no Brasil,

inúmeros tipos e subtipos que não são regulamentados pela Legislação (BRASIL, 2011).

Os critérios de qualidade destas farinhas são discutíveis e muitas vezes dependem

apenas da avaliação subjetiva do consumidor.

As informações sobre a eficiência dos fornos de secagem são limitadas. Segundo

Lima (1982), a torração é uma operação delicada, talvez a que mais influa na qualidade

do produto final. Dela dependem o sabor, a cor e a conservação durante o transporte e

armazenamento, além dos cuidados inerentes ao acondicionamento e armazenamento.

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

33

Existem quatro tipos de fornos mecanizados no mercado. Temperaturas elevadas com

fornos quentes provocam a granulação característica das farinhas d’água da Região

Norte. Fornos giratórios e baixa carga espalhada sobre a superfície promovem a

floculação típica da farinha beiju paulista. Segundo Lima (1982), durante a torração e

esfriamento, há sempre a formação de aglomerados, devido à gelificação da fécula. Após

a trituração a farinha é passada por peneiras, com a finalidade de separar as partes não

trituradas e promover uma classificação. Essa classificação pode ser obtida pela

passagem em uma série de peneiras de crivos diferentes e padronizados, obtendo, em

uma única operação, farinhas de diferentes granulometrias. O processo de secagem

define grande parte das características da farinha. Um forno mais frio proporciona uma

farinha mais fina e branca, enquanto que um forno quente proporciona farinha mais

granulada, de cor mais amarela e aparência cristalina, portanto mais crocante. Além da

qualidade, a eficiência de secagem interfere sobre o custo de produção. Essa diversidade

de técnicas conduz a uma grande variabilidade do produto e à dificuldade em estabelecer

padrões. Para avaliar essa diversidade, Balthaet et al. (2005) analisaram 31 amostras de

farinhas de mandioca coletadas em Campo Grande-MS, encontrando grande diversidade

de tipos e cores, nem sempre coincidentes com a rotulagem. Além de heterogeneidade

dentre e entre fabricantes de uma mesma região, existem muitos tipos de farinha nos

diversos Estados brasileiros.

6. OXIDAÇÃO LIPÍDICA E COMPOSTOS VOLÁTEIS

A oxidação é a principal forma de deterioração da qualidade de óleos e gorduras.

Os níveis de oxidação dependem principalmente das condições de armazenamento,

assim como temperatura, presença de luz e da disponibilidade de oxigênio. Sob

condições favoráveis, a autoxidação, que se constitui em um processo químico via radical

livre, origina hidroperóxidos em sua fase inicial, estes podem se decompor ou polimerizar,

resultando em uma complexa mistura de compostos que possibilitam descrever

parcialmente os níveis oxidativos (KANAVOURAS, 2005).

Basicamente, a autoxidação lipídica consiste na incorporação de oxigênio

molecular a um ácido graxo poliinsaturado para produzir um hidroperóxido lipídico

(LOOH) como produto primário inicial. O início da oxidação dos ácidos graxos

poliinsaturados requer um oxigênio na forma ativada (LIMA e ABDALLA, 2001).

O processo da autoxidação lipídica pode ser dividido em três etapas: iniciação,

propagação e terminação (Figura 1). A fase de iniciação representa o início da

peroxidação, em que o ácido graxo insaturado sofre ataque de uma espécie reativa

capaz de remover um átomo de hidrogênio a partir de um grupo metileno (-CH2-),

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

34

formando um radical de carbono. Este radical é estabilizado para formar um dieno

conjugado, ou seja, duas ligações intercaladas por uma ligação simples (LIMA e

ABDALLA, 2001).

Em meio aeróbio, o radical alquila inicialmente formado se combina com o

oxigênio, formando o radical peroxila, o qual pode remover um hidrogênio alélico de outro

ácido graxo, gerando outro radical de carbono e promovendo a etapa de propagação

(LIMA e ABDALLA, 2001). A reação do radical peroxila com o átomo de hidrogênio

removido gera um hidroperóxido lipídico (ROOH). Peróxidos cíclicos também podem ser

formados, quando o radical peroxila reage com uma dupla ligação na mesma cadeia de

ácido graxo, o que também pode propagar a autoxidação.

A dissociação consiste na decomposição dos hidroperóxido que ocorre primeiro

monomolecular e depois bimolecular, contribuindo também para o aumento na

concentração de radicais livres.

A terceira etapa da reação é a fase da terminação, que se dá pela aniquilação dos

radicais formados originando produtos não radicalares. Os radicais peroxila e alcoxila

também podem: sofrer dismutação ou clivagem b formando aldeídos; formar uma ligação

covalente com resíduos de aminoácidos ou sofrer um rearranjo formando produtos

secundários (derivados hidroxi-, ceto-, ceto-hidroxi- e epoxi-hidroxi-ácido graxo). Todas

as etapas da autoxidação ocorrem simultaneamente em uma complexa reação em cadeia

(LIMA e ABDALLA, 2001).

Figura 4. Mecanismo da reação da autoxidação lipídica (LIMA e ABDALLA, 2001).

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

35

Figura 5. Formação de hidroperóxido a partir do metil linoleato (LIMA e ABDALLA, 2001).

Na etapa de propagação, o radical alquil (ROO•) resultante da remoção do

hidrogênio é estabilizado por ressonância. Como resultado o oxigênio ataca espécie final

alilico. Em ácidos graxos poliinsaturados com duas ou mais duplas ligações separadas

por um grupamento metileno a remoção do hidrogênio é favorecida porque há grupos

metileno duplamente ativados por duas duplas ligações adjacentes. Como mostra a

Figura 2, no ácido linoléico a remoção do hidrogênio acontece no carbono 11, dando

origem ao radical hibrido pentadienil também estabilizado por ressonância, que reage

com oxigênio nos carbonos 9 e 11 produzindo uma mistura de dois dienos conjugados, 9-

e 13-hidroperoxido.

A Tabela 2 mostra os hidroperóxidos formados a partir dos metis oleato, linoleato

e linolenato. Observa-se que com o aumento do número de duplas ligações mais

complexa é a mistura de hidroperóxidos formados, no entanto apresentam menor

estabilidade.

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

36

Tabela 2. Hidroperóxidos formados pela Autoxidação dos metis Oleato, linoleato, e linolenato de metil a 25°C.

Ácido graxo (% de Hidroperóxidos totais)

8-OOH 9-OOH 10-OOH 11-OOH 12-OOH 13-OOH 16-OOH

Me-oleato 26,4 24,2 22,8 26,6

Me-linoleato 48,9 51,2

Me-linolenato 30,6 10,1 10,8 48,6

Fonte: LIMA e ABDALLA,2001

A decomposição dos hidroperóxidos (produtos primários da oxidação) dá origem a

uma mistura de compostos denominados de produtos secundários da oxidação. Dentre

estes cita-se os compostos voláteis com baixo peso molecular gerados pela quebra do

radical alcoxila. Na oxidação lipídica, o flavor de deterioração é causado por pequenas

concentrações de aldeídos, cetonas, alcanos, alcenos, etc.

As Figuras 3 e 4 esquematizam a formação de voláteis a partir dos dienos

conjugados 9- e 13-hidroperóxidos no acil linoleico do triacilglicerol. A partir do 9-

hidroperóxido são formados o 3-nonenal e 2,4-decadienal e a partir do 13-hidroperóxido

são formados o hexanal e o pentano.

Figura 6. Reações de formação de compostos voláteis a partir do dieno 9-hidroperoxido do acil

linoleico do triacilglicerol (LIMA e ABDALLA, 2001).

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

37

Figura 7. Reações de formação de compostos voláteis a partir do dieno 13-hidroperoxido do acil

linoleico do triacilglicerol (LIMA e ABDALLA, 2001).

Os principais compostos voláteis formados a partir dos metis oleato, linoleato e

linolenato são mostrados na Tabela 3.

A perda dos aldeídos está relacionada à volatilização e a reações de oxidação ocorridas

durante a etapa de torra e estocagem, respectivamente. O átomo de hidrogênio ligado à

carbonila faz com que os aldeídos sejam mais susceptíveis a oxidação e mais reativos

em relação a adições nucleofílicas. O hexanal, (Z)-2-nonenal, (E)-2-nonenal, (E,Z)-2-

nonadienal, (E,E)-2,4-nonadienal e os isômeros do 2,4-decadienal são alguns dos

aldeídos provenientes da quebra de hidroperóxidos de lipídios mais conhecidos. Sabe-se

que quando os lipídios são submetidos ao aquecimento em atmosfera de oxigênio, estes

se decompõem em produtos secundários, dentre os quais se destacam os aldeídos, que

ao reagirem com compostos amínicos, como aminoácidos, produzem compostos voláteis

(DART e NURSTEN, 1985; ULLRICH, 1988).

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

38

Tabela 3. Principais compostos voláteis formados pela decomposição de hidroperóxidos dos Metis Oleato, Linoleato e linolenato a 25°C.

Compostos Voláteis Oleato Linileato Linolenato

Aldeídos

8:0 6:0 3:0

9:0 7:1 (2t) 4:1 (2t)

10:0 9:1 (3c) 6:1 (3c)

10:1 (2t) 10:2 (2t 4c) 7:2 (2t 4c)

11:1 (2t) 9:2 (3c 6t)

10:3 (2t 4c 7c)

Hidrocarbonos

7:0 5:0 2:0

8:0 8:1 (2) 5:1 (2)

8:2 (2,5)

Álcoois

7:0 5:0 2:0

8:0 8:1 (2) 5:1 (2)

8:2 (2,5)

Esteres

7:0 8:0 8:0

8:0 11:1 (9) 11:1 (9)

14:2 (9,12)

ω-Oxo-esteres

8:0 8:0 8:0

9:0 10:1 (8) 10:1 (8)

10:0 12:1 (9) 12:1 (9)

10:1 (8) 13:2 (9,11) 13:2 (9,11)

11:1 (9) 15:2 (9,12)

16:3 (9,12,14)

Fonte: Lima e Abdalla, 2001.

A auto-oxidação de lipídios, particularmente dos ácidos graxos insaturados,

também está relacionada à produção de cetonas como, por exemplo, a 2,3-butanodiona e

a hidroxiacetona (DART e NURSTEN, 1985).

A figura 5 abaixo mostra as principais substâncias formadas no processo de

oxidação lipídica e as respectivas metodologias mais utilizadas para detectá-las.

Segundo estudo realizado por Lopes da Silva et al. (2001) verificou que a

liberação dos compostos voláteis é menor na presença de amido, sendo a retenção mais

pronunciada no caso das dispersões não-gelatinizada.

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

39

Figura 8. Esquema das principais substâncias formadas durante o processo de oxidação lipídica e as metodologias disponíveis para sua avaliação (LIMA e ABDALLA, 2001).

Cecchi e Alfei (2013) aplicaram pela primeira vez a técnica de Headspace em fase

sólida micro-extração (HS-SPME) para a amostragem de compostos voláteis de onze

típicos óleos de oliva extra virgem (EVOO) monocultivar italianos. Quarenta e oito

compostos foram caracterizados por GC-MS, algumas das quais foram apenas

ocasionalmente encontradas em outros EVOOs e alguns outros nunca foram detectadas

antes de qualquer EVOO. Os compostos pertencentes principalmente às classes

químicas alcoóis, ésteres, aldeídos, cetonas e hidrocarbonetos caracterizaram os perfis

voláteis. Os principais compostos voláteis detectadas nas EVOOs foram os compostos

C6 derivados de ácidos graxos poli-insaturados, por meio da via da lipoxigenase, em

proporção diferente, de acordo com o cultivo específico. Os resultados sugerem que

fatores genéticos influenciam fortemente a formação de voláteis e hidrocarbonetos

terpénicos são reivindicados ser marcadores adequados da origem geográfica e do

fenótipo do EVOO.

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

40

Enquanto que o estudo realizado por Olivares et al. (2012) objetivou avaliar o uso

de uma técnica de análise direta (SIFT-MS) para medir o processo de oxidação lipídica

em carne embalada sob atmosfera de oxigênio elevado e compará-lo com técnicas

convencionais. Os compostos voláteis foram extraídos por meio de fase sólida em micro-

extração (SPME-GC-MS), detectando um aumento significativo para a maior parte dos

compostos voláteis analisados durante o armazenamento, em especial, em compostos

aldeídicos. Fossem obtidos e elevados esses coeficientes de correlação entre os valores

de aldeídos lineares (C3-C7), medida pelas duas técnicas e isto indica que SIFT-MS

pode ser utilizada para monitorizar alterações de oxidações lipídicas.

A formação dos compostos voláteis é influenciada por fatores como a

temperatura, fato demonstrado no estudo de Domínguez et al. (2014) que observou a

influência de quatro diferentes métodos de cozimento ( assar, grelhar , microondas e

fritura ) sobre a perda por cozimento, oxidação lipídica e perfil aromático da carne potro.

Como esperado, todos os métodos de cozimento aumento do conteúdo de compostos

aldeídicos sugerindo que a temperatura elevada durante o cozimento causa o aumento

da oxidação em bifes potro, este aumento foi significativamente (P<0,001) maior quando

bifes potro foram ao microondas ou assado. Os quatro métodos de cozimento diferentes

levaram ao aumento de compostos voláteis totais (entre 366,7 e 633,1 AU × 106/g de

matéria seca) em comparação com bifes crus (216,4 AU × 106/g de matéria seca). As

carnes assadas mostraram teores de componentes voláteis maiores, indicando que o

aumento da temperatura de cozimento aumenta a formação de compostos voláteis. Os

aldeídos foram os compostos mais abundantes em amostras cozidas, com quantidades

de 217,2, 364,5, 283,5 e 409,1 AU × 106/g de matéria seca em grelhados, microondas,

fritos e assados amostras, respectivamente, enquanto que os ésteres foram os

compostos mais abundantes em amostras brutas, com valores médios de 98,8 AU ×

106/g de matéria seca.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

41

REFERENCIAS

ALONSO, L.F.T., PARK, K. J. Método de seleção de secadores. Ciência e tecnologia de Alimentos, v. 25, n. 2, p. 208-216, 2005.

ÁLVARES, V. S.; COSTA, D. A.; FELISBERTO, F. A. V.; DA SILVA, S. F.; MADRUGA, A. L. S. Atributos físico-químicos da farinha de mandioca artesanal em Rio Branco, Acre. Revista Caatinga, Mossoró, v. 26, n. 2, p. 50-58, 2013. ANTONELLI, A.; ILBERT, H. Legal protection of Mediterranean products. Medi Terra, Chapter 16, p.327-344, 2012.

ANTONIO, G. C. Avaliação do efeito dos pré-tratamentos de desidratação osmótica e secagem HTST na obtenção de snacks de batata doce (Ipomoea batatas Lam). 2006. Tese (Doutor em Engenharia de Alimentos) - Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.

BARBOSA, J. R.; BELTRAME, S. C.; BRAGATTO, M. M.; DÉBIA, P. J. G.; BOLANHO, B. C.; DANESI, E. D. G. Avaliação da composição e dos parâmetros tecnológicos de farinhas produzidas a partir de subprodutos agroindustriais. Revista Tecnológica, Edição Especial V Simpósio de Engenharia, Ciência e Tecnologia de Alimentos, p. 21-28, 2011.

BALTHA, A. D. T. de B.; CEREDA, M. P.; VILPOUX, O. Caracterização de farinhas de mandioca do mercado de campo Grande, MS.XI Congresso Brasileiro de Mandioca. Goiás, Outubro, 2005.

BAUD, G. Avaliação de fornos de fabricação de farinha tipo paulista. Botucatu, Centro de Raízes e Amidos Tropicais, Universidade Estadual Paulista, 1997. 39 p.

BEAUDRY, C.; RAGHAVAN, G. S.V.; RATTI, C.; RENNIE, T. J. Effect of four drying methods on the quality of osmotically dehydrated cranberries.DryingTechnology, v.22, n.3, p.521-539, 2004. BRANCO, N. P. N. C. S.; CAZUMBÁ, I. R. S.; ANDRADE, A. C. B.; CARDOSO, R. C. V.; DRUZIAN, J. I.Projeto de contribuição à Indicação Geográfica para farinha de mandioca de tipo copioba: a construção de indicadores sociais para avaliação de impactos em desenvolvimento. Revista GEINTEC, v. 2, n. 4, p. 396-412, 2012. BRASIL. Instrução Normativa nº 52 de 07 de novembro de 2011. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 08 nov. 2011. BRASIL. Portaria n. 554, de 30 de agosto de 1995. Norma de identidade, qualidade, apresentação, embalagem, armazenamento e transporte da farinha de mandioca. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 01 set. 1995. CECCHI, T.; ALFEI, B. Volatile profiles of Italian monovarietal extra virgin olive oils via HS-SPME–GC–MS: Newly identified compounds, flavors molecular markers, and terpenic profile. Food Chemistry, v. 141, p. 2025–2035, 2013.

CHISTÉ, R. C.; COHEN, K. O.Caracterização físico-química da farinha de mandioca do grupo d’água comercializada na cidade de Belém, Pará. Revista Brasileira de Tecnologia Agroindustrial, v. 04, n. 01, p. 91-99, 2010.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

42

CHISTÉ, R. C.; COHEN, K. O.; MATHIAS, E. A.; RAMOA JÚNIOR, A. G. A. Qualidade da farinha de mandioca do grupo seca. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, 26(4): 861-864, out.-dez. 2006.

DART, S. K.; NURSTEN, H. E. (1986) Volatile components, In Coffee Chemistry (vol. 1); Clarke, R. J.; Macrae, R., Eds.; Elsevier Applied Science Publishers; London, 1985; p. 243.

DIAS, L. T.; LEONEL, M. Caracterização físico-química de farinhas de mandioca de diferentes localidades do Brasil. Ciência Agrotécnica, Lavras, v. 30, n. 4, p. 692-700, 2006.

DOMÍNGUEZ, R.; GÓMEZ, M.; FONSECA, S.; LORENZO, J. M. Effect of different cooking methods on lipid oxidation and formation of volatile compounds in foal meat. Meat Science, v. 97, p. 223–230, 2014.

DRUZIAN, J. I.; NUNEZ, I. L.Indicações geográficas brasileiras concedidas até julho de 2012 e impacto sobre bens agrícolas e/ou agroindustriais. Revista GEINTEC, v. 2, n. 3, p.413-426, 2012.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Disponível em: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Mandioca/mandioca_semiarido/index.htm Acessado em: 20 fev. 2013.

FAO.FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION, Faostat .Disponível em: <http://faostat.fao.org>. Acessado em: 19 dez. 2012

FERNANDES FILHO, F.; CAMPOS F. R. A indústria rural no Brasil. Revista Econômica e Sociologia Rural, v.41, n.4, 2003.

FERREIRA NETO, C. J.; ROSSANA M. F. DE FIGUEIRÊDO, R. M. F.; QUEIROZ, A. J. M. Avaliação físico-química de farinhas de mandioca durante o armazenamento. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.5, n.1, p.25-31, 2003.

GAVA, A. J.; SILVA, C.A.B. da; FRIAS, J. G. Tecnologia de alimentos: Princípios e aplicações. p. 95-98. São Paulo: Nobel, 2008.

IBGE. Instituto Nacional de Geografia e Estatística. Levant. Sistem. Prod. Agríc. Rio de Janeiro v.24 n.01 p.1-80 jan.2011 http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/ lspa/lspa_201009.pdf, Acesso em 11/02/13.

INPI. Instituto Nacional de Propriedade Intelectual. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/menu-esquerdo/indicacao>. Acessado em: 02 mar. 2013.

INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Resolução nº 075/2000, de 28 de novembro de 2000– Estabelece as condições para o registro das indicações geográficas. Rio de Janeiro: INPI, p. 7, 2000.

INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Indicações geográficas. Relação de Indicações Geográficas depositadas e concedidas atualizada em 31/07/2012. Disponível em:<http://www.inpi.gov.br/menu-esquerdo/indicacao>. Acesso em 07 março, 2013.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

43

INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Indicações geográficas. Relação de Indicações Geográficas depositadas e concedidas atualizada em 31/07/2012. Disponível em:<http://www.inpi.gov.br/menu-esquerdo/indicacao>. Acesso em 18 fevereiro, 2014.

KANAVOURAS, A.; CERT,A.; HERNANDEZ,R.J. Oxidation of Olive Oil under Still Air. Food Sci Tech Int; 11(3) :P.183–189, 2005. LABUZA, T.P. Sorption phenomena in foods.Food Technology, [s.n.], v. 22, n. 3, p. 15-24, 1968.

LILLYWHITE, J.; ALLISON, C.; RODRIGUEZ, G. Regional branding in a global market place New Mexico Chile TaskForce Report 21 (http://www.cahe.nmsu.edu/pubs/research/horticulture/CTF21.pdf), 2005.

LIMA, E. S.; ABDALLA, D. S. P. Peroxidação lipídica: mecanismos e avaliação em amostras biológicas. Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences. vol. 37, n. 3, set./dez., 2001.

LIMA, U. de A. Manual técnico de beneficiamento e industrialização da mandioca. São Paulo: Secretaria de Ciência e Tecnologia, 1982. 56 p. (Série Tecnologia Agroindustrial- Programa Adequação, 2).

LOPES DA SILVA J. A., CASTRO S. E DELGADILLO I. Grânulos de amido - matrizes de retenção de compostos de aroma. Qualidade, Segurança & Inovação. Actas do 5º Encontro de Química de Alimentos. PORTO, MAIO 2001.

MATOS, M. F. R.; SILVA, I. R. C.; MENDOÇA, T. A.; SANTOS, L. F. P.; NUNEZ, I. L.; DRUZIAN, J. I. Conformidade das farinhas de mandioca tipo Copioba comercializadas nas feiras de Salvador (BA) com parâmetros da legislação: uma contribuição a Indicação Geográfica (IG) do produto. Revista GEINTEC, v. 2, n. 3, p.307-326, 2012.

MORGANO, M. A.; FARIA, C. G.; FERRÃO, M. F.; BRAGAGNOLO, N.; FERREIRA, M. M. de C. . Determination of moisture in raw coffee by near infra-red reflectance spectroscopy and multivariate regression. Ciência Tecnologia de Alimentos, v. 28, n. 1, p. 12-17, 2008.

NIEDERLE, P.A.; VITROLLES, D. Indicações Geográficas e qualificação no setor vitivinícola brasileiro. Estudos Sociais e Agrícolas, v. 18, n. 1, p. 5-55, 2010.

OLIVARES, A.; DRYAHINA, K.; ŠPANĔL, P.; FLORES, M. Rapid detection of lipid oxidation in beef muscle packed under modified atmosphere by measuring volatile organic compounds using SIFT-MS. Food Chemistry, v. 135, p.1801–1808, 2012.

OLIVEIRA, L. L.; REBOUÇAS, T. N. H. Perfil higiênico-sanitário das unidades de processamento da farinha de mandioca (Manihot esculenta Crantz) na região Sudoeste da Bahia. Alimentos e Nutrição, v. 19, n. 4, p; 393-399, 2008.

PARK, K.J., NOGUEIRA, R.I. Modelos de ajuste de isotermas de sorção de alimentos. In: Engenharia Rural, Piracicaba: ESALQ/USP, v. 3, n. 1, p.81-86, 1992.

PARK, K.J.B. Construção de um simulador para otimização de secadores. 2006.Qualificação (Doutorado em Engenharia Agrícola) – Faculdade de Engenharia Agrícola, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

44

PROFETA, A.; BALLING, R.; SCHOENE, V.; WIRSIG, A. Protected Geographical Indications and Designations of Origin: An Overview of the Status Quo and the Development of the Use of Regulation (EC) 510/06 in Europe, With Special Consideration of the German Situation. Journal of International Food & Agribusiness Marketing, v. 22, p.179-191, 2010.

RANGNEKAR, D. The Socio-Economics of Geographical Indications: a review of empirical evidence from Europe. Issue Paper, ICTSD and UNCTAD, n. 8, Geneva, 2004.

RIBEIRO, L. P.; VOLKOFF B.; MELFI A. J. Evolução Mineralógica das Argilas em Solos Vérticos do Recôncavo Baiano. Revista Brasileira de Ciências do Solo, v.14, p. 263-268,1990.

RUIZ-LÓPEZ, I. I.; MARTÍNEZ-SÁNCHEZ, C. E.; COBOS-VIVALDO, R.; HERMAN-LARA, E. Mathematical modeling and simulation of batch drying of foods. Journal of Food Enginering, v.89, p.310-318, 2008

SANTANNA, M. E. B.; MIRANDA, M. S. Avaliação microbiológica das etapas de produção da farinha de mandioca no Recôncavo Baiano. Magistra, v. 16, n. 1, p. 25-32, 2004.

SANTOS, D. G. D. Modos de dizer e modos de fazer: reflexões sobre linguagem e trabalho. Sitientibus, n.. 29, p. 9-27, 2003.

SANTOS, D. G. D. O léxico da casa de farinha. Dissertação de mestrado. Salvador: UFBA, 1997.

SCHNEIDER, S.(Organizador). A Diversidade da agricultura familiar. Porto Alegre. Editora UFRGS, 2006.

SILVA, F. A. M.; BORGES, F. M.; FERREIRA, M. A. Methods for the evaluation of the degree of lipid oxidation and the antioxidant activity. Química Nova, v. 22, n. 1, p. 94-103, 1999.

TAVARES, L. E. S.; MATOS, L. B. S.; AMARAL, V. G. O. M.; MAIA, V. M. Prospecção, Proteção & Transferência de Tecnologia: um Manual de Propriedade Intelectual- FORTALEZA: REDENIT-CE, 2011.

WINTER, E. I Workshop de Inovação Tecnológica e Empreendedorismo sobre Aplicação das Ferramentas da Propriedade Industrial na Biotecnologia; UFBA; 2012.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

45

CAPÍTULO 2 - INFLUÊNCIAS DA ORIGEM GEOGRÁFICA E DO PROCESSAMENTO DE FARINHAS DE MANDIOCA TRADICIONAIS DO RECÔNCAVO BAIANO/ BRASIL, NOS PARÂMETROS DE IDENTIDADE E QUALIDADE, ASSOCIADOS ÀS COMPOSIÇÕES DE ÁCIDOS GRAXOS E DE VOLÁTEIS

Resumo

Esse estudo analisou a composição química de vinte amostras de farinhas de mandioca,

tradicionalmente produzidas no Vale do Copioba e no Recôncavo Baiano (Brasil), com

ênfase nos perfis de ácidos graxos e de voláteis por técnicas de CG-DIC e CG-EM,

respectivamente. Na tentativa de compreender melhor a origem das diferenças de

compostos voláteis, e obter uma impressão digital dos produtos através destes, os dados

obtidos foram comparados e correlacionados entre si, e ao tipo de processamento e

origem geográfica das farinhas. As amostras produzidas no Vale do Copioba e nas

regiões geográficas vizinhas apresentaram baixa atividade de água (0,10-0,61), umidade

(1,40-8,42%), cinzas (0,94-1,11%), lipídios totais (0,18-0,62%), proteína bruta (0,85-

0,97%), e alto teor de carboidratos (89,31 a 96,84%) especialmente de amido (70,53-

90,89%) além de elevada acidez (2,13-12,50 meqNaOH 0,1N/100g), e granulometria fina.

A fração volátil foi composta por dez compostos principais, principalmente aldeídos e

cetonas, produtos de degradação da peroxidação lipídica. Entre os aldeídos, o nonanal

foi o componente mais abundante. As farinhas de mandioca comum liberaram um nível

de voláteis individuais e totais substancialmente mais altos do que as farinhas de

mandioca Copioba produzidas no Vale do Copioba e nas regiões geográficas vizinhas. As

amostras de farinhas foram quimicamente classificadas com base nos estudos de

correlação entre a atividade da água, ácidos graxos e os produtos voláteis. A atividade de

água é, portanto, importante fator de controle do processamento, manipulação de

propriedades e estabilidade das farinhas de mandioca, especialmente das farinhas de

Copioba.

Palavras chave: Identidade, Indicação geográfica (IG), Vale do Copioba, CG-DIC,

Headspace CG-EM, Manihot esculenta Crantz.

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

46

Abstract

Its study analyzed the chemical composition of the of twenty samples cassava flours,

traditionally produced in Recôncavo baiano (Brazil), with emphasis in volatiles and fatty

acids profiles by GC–MS and GC-FID techniques, respectively. In order to better

understand the origin of the different volatile compounds during the drying in different

processes, the data obtained were compared in order to get a fingerprinting of the volatile

with cassava flours origins. Samples produced inside and outside Copioba Vale presented

low water activity (0.10-0.61), moisture (1.40-8.42%), ash (0.94-1.11%), total lipids (0.18-

0.62%), crude protein (0.85-0.97%), with high carbohydrates content (89.31 a 96.84%)

specialty starch (70,53-90,89%) and high acidity (2.13-12.50 meq NaOH 0,1N/100g) and

fine granulometry (< 2 mm). The volatile fraction was composed of ten main compounds

belonging to different classes, especially aldehydes and ketones, appear to be

degradation products of lipid peroxidation. Aldehydes, in particular nonanal, were the most

abundant component. Common cassava flour released a substantially higher level of total

volatiles than other Copioba cassava flours. The samples of the flours were chemically

classified on the basis by correlation between water activity, fatty acids and volatiles. The

water activity is, therefore an, important factor controlling processability, handling

properties and stability of Copioba cassava flours.

Keywords: Fingerprinting, Geographical Indication (GI), CG-FID, Headspace-CG-MS,

Manihot esculenta Crantz.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

47

1. INTRODUÇÃO

Mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma raiz amilácea pertencente à família

Euphorbiaceae, e uma das fontes de energia mais importante de áreas tropicais do

mundo. Embora a mandioca se desenvolva em solo fértil, sua vantagem, comparativa a

outras culturas mais rentáveis, é a sua capacidade de crescer em solos ácidos de baixa

fertilidade, com chuvas esporádicas ou com longos períodos de seca. A cultura é

amplamente adaptada, uma vez que é cultivada a partir do nível do mar até 1800 metros,

a temperaturas entre 20 e 30 ºC com um ótimo de 24 ºC, umidade relativa entre 50 e 90%

com um ótimo de 72%, e uma precipitação anual entre 600 e 3 000 mm e ideal de 1 500

mm (EMBRAPA, 2003).

Em 2010, a produção mundial de mandioca totalizou 235,35 milhões de toneladas,

sendo a Nigéria o maior produtor com 45,7 milhões de toneladas (19,4% do total),

seguidos pelo Brasil com 24,8 milhões de toneladas (10%), e pela Indonésia com 22,5

milhões de toneladas (9,6%) (FAO, 2011).

O Brasil tem uma grande variedade de sistemas de produção da raiz de mandioca

e concomitantemente da farinha de mandioca, que vai desde o cultivo familiar da

agricultura tradicional realizada por pequenos agricultores em áreas semi-áridas do

Nordeste ou da Amazônia, até o cultivo em grande escala no sul do Brasil, (CHUZEL,

2001; VIEIRA et al., 2011). Neste sentido, a produção de farinha de mandioca é

altamente representativa da grande diversidade tecnológica que pode ser encontrada no

Brasil, associada às tradições profundamente enraizadas. A região Nordeste do Brasil

detém 32,2% da produção do país (IBGE, 2011).

O Recôncavo baiano tem uma geografia peculiar, originado de solos vérticos

formados de rochas sedimentares argilosas, clima tropical úmido, temperatura média

anual de 25 ºC, e média anual de chuvas de 1 800 milímetros (RIBEIRO et al., 1990).

Portanto a região se destaca pelas condições favoráveis para o cultivo de mandioca

(EMBRAPA, 2003). O Vale do Copioba, localizado na região do Recôncavo Baiano,

apresenta condições ainda mais favoráveis para o cultivo da mandioca, e tem vasta

notoriedade na produção de farinha de mandioca (DRUZIAN e NUNES, 2012). Nesta

região existem farinhas de mandioca que são produzidas artesanalmente ou em

pequenas escala, em moinhos de farinha denominados de “casas de farinhas” com

grande, peculiar e ampla aceitação do mercado consumidor devido às suas

características organolépticas únicas. Historicamente as farinhas produzidas no Vale do

Copioba, e que se disseminou por todo o Recôncavo Baiano, são chamadas de "farinha

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

48

de Copioba" e ganharam notoriedade assumindo o papel de referência de qualidade

(DRUZIAN et al., 2013).

A determinação de origem geográfica dos bens e produtos alimentares está se

tornando uma área de pesquisa cada vez mais ativa (ANDERSON e SMITH, 2005). As

origens de alimentos com Indicação Geográfica Protegida (IGP) permitem aos produtores

obter o reconhecimento do mercado e agregar valor ao produto, garantindo qualidade ao

consumidor.

Deste ponto de vista, a utilização de métodos analíticos sofisticados para

determinar a influência da origem geográfica ou humana dos produtos agrícolas é

altamente desejável para os consumidores, agricultores, varejistas e autoridades

administrativas. Este mecanismo de controle de qualidade tem aumentado desde 1980,

ajudando a detectar falsificação de produtos legítimos (LUYKX e RUTH, 2008).

Se os componentes do produto têm poder discriminatório suficiente, a gama de

suas concentrações irá formar um padrão característico ou "impressão digital"

relacionada com a origem geográfica da amostra evitando fraudes e agregando qualidade

e valor ao produto. Assim, a cromatografia em fase gasosa acoplada a espectrometria de

massa (CG-EM) é a técnica mais utilizada para determinação de compostos voláteis de

alimentos, devido à sua identificação conclusiva (PILLONEL et al., 2003).

Hidroperóxidos são os produtos primários da oxidação de lipídios e têm, em

conjunto com os radicais livres que os precedem, praticamente nenhum impacto sobre as

propriedades sensoriais. Em contraste, os produtos secundários da oxidação de lipídios,

tais como os aldeídos, formados por clivagem dos hidroperóxidos lipídicos, têm um

profundo impacto sobre as propriedades sensoriais e funcionais (MINKYU et al., 2010;

FRANKEL, 1984; FRANKEL et al., 1992).

Nos últimos anos, a cadeia produtiva da mandioca e derivados tem sido estudada

do ponto de vista genotípico e fenotípico, com ênfase particular na caracterização

molecular de cultivares tradicionais (EMBRAPA, 2003). O atual mercado de farinha de

mandioca e de produtos tradicionais oferece novas perspectivas para os produtores. Por

esta razão, as especificações de qualidade comercial, em termos de características

nutricionais e organolépticas, são agora obrigatórias. Portanto, o presente estudo tem por

objetivo determinar os parâmetros de identidade e qualidade de farinhas de mandioca

produzidas no Vale do Copioba e regiões geográficas vizinhas pertencentes ao

Recôncavo Baiano, associados à composição de ácidos graxos e voláteis, buscando

contribuir para a chancela de uma indicação geográfica protegida do produto.

Nenhum outro estudo sobre a análise da composição de ácidos graxos e de

voláteis de farinhas de mandioca tem sido descrito individualmente ou simultaneamente,

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

49

e este é um estudo preliminar que utilizou a cromatografia instrumental, em especial

extração por Headspace acoplado ao CG-EM. Esta é a primeira vez que farinhas de

mandioca de diferentes locais e processamentos são analisadas em paralelo com as

mesmas técnicas instrumentais e, por conseguinte, permite uma descrição preliminar

tanto da fração volátil, como da variabilidade no perfil volátil entre as amostras

analisadas, associados à origem e processo produtivo.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Localização e amostragem

As amostras de farinhas de mandioca foram coletadas de diferentes pontos

localizados na região do Recôncavo baiano (Brasil), em particular no Vale do Copioba

nas encostas do rio Copioba que envolve os municípios São Felipe, Maragogipe e

Nazaré (Bahia-BR) (Figura 1).

Foi realizado um levantamento de dados nas “casas de farinhas” ou de

estabelecimentos processadores da farinha de mandioca no Vale do Copioba, assim

como das etapas do processamento. No total foram coletadas vinte amostras de 2 kg

cada de farinha de mandioca, sendo que dezesseis de farinha de Copioba das quais dez

foram produzidas em casas localizadas no Vale do Copioba e quatro amostras de farinha

comuns também produzidas no Vale. Todas as amostras foram acondicionadas em

embalagens (polimérica) e armazenadas em temperatura de 18 °C para a realização das

analises analíticas. As coletas foram realizadas entre 13 abril e 25 de outubro de 2012

(Tabela 1).

As amostras foram analisadas em relação à composição centesimal, parâmetros

de identidade e qualidade, e composições de ácidos graxos e de voláteis. Todas as

análises foram realizadas em triplicatas.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

50

Figura 1 - Ilustração da origem geográfica das quatorze amostras de farinha de mandioca produzida no Vale do Copioba delimitado pelo Rio Copioba que envolve os municípios de Nazaré, Maragogipe e São Felipe, e das seis amostras de farinha produzidas nas regiões geográficas vizinhas (Aratuipe e Muniz Ferreira), ambas do Recôncavo baiano, região nordeste (NE) do Brasil.

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

51

Tabela 1 - Classificação popular, origem e data de coleta das farinhas de mandioca do

Recôncavo baiano, região nordeste do Brasil.

Farinha Amostras

Classificação

popular Origem Data da coleta

Co

pio

ba d

o

Vale

C

op

iob

a

1* Copioba Vale Copioba 12/04/2012

2* Copioba Vale Copioba 13/04/2012

3 Copioba Vale Copioba 13/04/2012

4 Copioba Vale Copioba 13/04/2012

5 Copioba Vale Copioba 20/08/2012

6 Copioba Vale Copioba 10/08/2012

7 Copioba Vale Copioba 13/04/2012

8 Copioba Vale Copioba 13/04/2012

9 Copioba Vale Copioba 25/10/2012

10 Copioba Vale Copioba 31/10/2012

Co

mu

m d

o

Vale

Co

pio

ba

11 Comum Vale Copioba 13/04/2012

12 Comum Vale Copioba 13/04/2012

13 Comum Vale Copioba 13/04/2012

14 Comum Vale Copioba 13/04/2012

Co

pio

ba d

e f

ora

do

Vale

Co

pio

ba

15 Copioba Muniz Ferreira 21/04/2012

16 Copioba Muniz Ferreira 20/04/2012

17 Copioba Aratuipe 23/08/2012

18 Copioba Aratuipe 23/08/2012

19 Copioba Aratuipe 23/08/2012

20 Copioba Aratuipe 23/08/2012

*Amostras de farinhas de Copioba produzidas pelo método tradicional (2ª geração).

2.2. Composição centesimal

O teor de umidade das farinhas foi determinado pelo método de secagem em

estufa segundo método 925.09 (AOAC, 2005), em que as amostras pré-pesadas

(aproximadamente 3g) foram secas em estufa a 105 ºC durante 24 h. O teor de umidade

foi considerado como sendo a perda de peso, expressa em percentagem do peso relativa

a amostra original.

O teor de “proteína bruta” foi determinado por meio do método de Micro-Kjeldahl,

segundo método 926.86 (AOAC, 2005), em que ”proteína bruta” é medida como o

nitrogênio orgânico total multiplicado por um fator específico (N x 5,75).

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

52

O teor de cinzas foi calculado pela incineração em temperatura elevada numa

mufla elétrica (550 ºC) e expresso como uma percentagem do peso da amostra inicial,

segundo método 923.03 (AOAC, 2005).

O conteúdo de lipídios totais foi extraído em uma só fase de solvente composto do

sistema clorofórmio / metanol / água e quantificados gravimetricamente de acordo com o

método Bligh e Dyer (1959) e também expresso como uma percentagem do peso da

amostra original.

Os valores em percentagem de carboidratos totais foram calculados pela

diferença entre 100 e o somatório em percentual dos valores de umidade, cinzas,

proteína bruta e lipídios totais.

2. 3 Padrões de identidade e qualidade

As amostras foram também analisadas em relação à atividade de água (Aw)

usando um equipamento AquaLab Lite ® de acordo com orientações do fabricante.

A acidez total foi analisada por titulação com uma solução de hidróxido de sódio

normalizada, utilizando fenolftaleína como indicador (AOAC, 2005).

O teor de amido foi determinado de acordo com o método baseado na hidrólise

ácida parcial seguida de titulação subseqüente com a solução de Fehling (IAL, 2008).

A distribuição de tamanho de grânulos das farinhas foi determinada tal como

descrito por Cereda e Catâneo (1986). Para determinar o tamanho das partículas das

farinhas, foi usado um agitador eletromagnético Bertel®. O agitador é composto por nove

tamises com aberturas de diferentes diâmetros: 0,075 milímetros, 0,125 milímetros, 0,250

milímetros, 0,425 milímetros, 0,710 milímetros, 0,850 milímetros, 1,00 mm, 1,4 mm, e 2,0

mm. Em todas as determinações, foram usadas 100 g de farinha e submetido a uma

agitação uniforme de 1 minuto. A quantidade de amostra retida em cada tamis foi pesada,

e calculados os percentuais relativos à massa da amostra inicial.

2.4. Preparação de ésteres metílicos de ácidos graxos (EMAG) de

fração de lipídios totais

Uma alíquota (25 mg) da fração dos lipídios totais foi submetida a processo de

transesterificação, segundo Joseph & Ackman (1992). Para a saponificação foi

adicionado 1,5 mL de NaOH metanólico a 0,50 mol/L e aqueceu-se a 100 °C por 15 min.

Após resfriamento à temperatura ambiente, foi adicionado 2 mL de solução metanólica de

BF3 (12%), aquecido a 100 °C por 30 min. Em seguida, resfriado com água corrente.

Após a adição de 2 mL de iso-octano e da agitação por 5 min, foram adicionados 5 mL de

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

53

solução de cloreto de sódio saturada com agitação por 2 min. Após a separação das

fases, a fase superior,contendo os EMAG, foi recolhida. As soluções de EMAG foram

armazenadas sob atmosfera inerte (N2) em um freezer a -18 °C, até o momento da

analise de cromatografia gasosa.

2.5. Determinação da composição de ácidos graxos por cromatografia

gasosa com detecção de ionização de chama (CG-DIC)

Os ésteres metílicos dos ácidos graxos foram separados por cromatografia em

fase gasosa em um cromatógrafo (Varian, CP 3800), equipado com coluna CP - Wax (25

m x 0,25 milímetros × 0,20 µm) e um detector de ionização de chama (CG - DIC). Os

parâmetros de análise foram: temperatura do injetor de 250 ºC, temperatura do detector

de 280 ºC, fluxo do gás de arraste He de 1,0 ml/ min; temperatura da coluna fixada em

150 ºC durante 16 min, com aumento de 2 ºC/min até 180 ºC, onde permaneceu 25 min,

aumentando para 21 ºC a 5 ºC/min, com permanência de 10 minutos, seguida de

aumento para 230 ºC a 10 ºC/min em que foi mantida por 16 min. As injeções de 1 µL das

soluções de EMAG foram realizadas em triplicatas.

A identificação dos EMAG foi realizada através da comparação entre os tempos

de retenção (tR) dos picos das amostras com os de EMAG da mistura de padrões,

separados nas mesmas condições cromatográficas. A mistura de padrões é composta

por 37 EMAG de C4:0 a C 24:0 (189-19, Sigma, EUA). A quantificação dos ácidos graxos

foi realizada por normalização das áreas dos picos, e os resultados foram expressos

como percentagem de área relativa (%).

2.6. Determinação de compostos voláteis por Head Space por Cromatografia

Gasosa com detecção por espectrometria de massas (HS-CG-EM)

Para analise da fração volátil, cerca de 3,0 g de cada amostra de farinha foi

armazenada em frascos hermeticamente selados, e analisados por injetor Head Space

(HS, modelo Perkin Elmer Turbo Matrix 16) acoplados ao aparelho de cromatografia

gasosa com detector de espectrometria de massas (CG-EM) (Perkin Elmer, modelo

Clarus 500 MS). O HS foi operado nas seguintes condições: tempo de extração a 100 ºC

por 60 minutos, agulha e linha de transferência a 150 °C. Tempo de pressurização de 3

min, e o tempo de injeção de 1 min.

A CG-EM foi realizada no modo de inserção split less, utilizando uma câmara de

vaporização com um diâmetro interno de 2 mm, e temperatura de injeção de 150 °C. A

coluna usada foi HP - FFAP (50 m x 0,2 mm x 0,33 µm) com uma temperatura inicial de

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

54

50 °C/ 20 min, com aumento na taxa de 3 °C/ min até 200 °C, seguido de novo aumento

para 230 °C/ 7 min a uma taxa de 10 °C/ min, totalizando 80 min por cada corrida. O gás

de arraste foi o hélio a 1mL/ min. A fragmentação de moléculas no espectrômetro de

massas foi obtido por ionização por impacto de elétrons (EI) com energia de 70 eV. A

identificação dos picos dos produtos voláteis das amostras foi realizada por comparação

dos seus espectros de massa com os espectros da base de dados referência do National

Institute of Standards and Technology (NIST). A quantificação foi expressa como áreas

totais e compostos de cada pico.

2.7. Análise estatística

Foi feito um experimento para comparar se existe diferença na farinha de

mandioca para quatro tratamentos: Farinha de Copioba de Referencia produzida no Vale,

Farinha de Copioba do Vale Copioba, Farinha comum do Vale do Copioba, Farinha de

Copioba do Recôncavo Baiano. As variáveis respostas foram: umidade (medida em

porcentagem), atividade de Água, cinzas (medida em porcentagem), lipídeos (medida em

porcentagem), proteínas, amido (medida em porcentagem) e acidez (medida em

NaOH/100g), EMAG (medida em porcentagem) e compostos voláteis. Foi feito o teste de

aleatorização utilizando a estatística do teste de Kruskal-Wallis nos níveis de 1% e 5% de

significância. A hipótese nula (H0) é que as amostras são provenientes da mesma

população, ou seja, que não existe diferença entre os tratamentos. O conjunto de dados

foi aleatorizado 10.000 vezes. Os resultados foram analisados utilizando o software

ASSISTAT versão 7.6 beta (INPI 0004051-2.2011)

Foi aplicado um teste não paramétrico para o cálculo do coeficiente de correlação

de Spearman rho utilizados para teste não paramétricos das variáveis analisadas,

avaliando o nível de significância da correlação. Foi calculada a equação da reta, o

coeficiente de correlação R2 e realizado a construção gráfica dos diferentes compostos

voláteis com os valores de Aw buscando identificar parâmetros de qualidade.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A produção de farinha de mandioca no norte do Brasil é realizada em "casas de

farinha", tendo uma estimativa de 400 000 casas no país (CHUZEL, 2001). O IBGE

(2010) relaciona um total de 566 993 habitantes no Recôncavo Baiano (31,30%

população rural) distribuídos em 20 municípios (Figura 1). O Recôncavo baiano contém

mais de 3 500 famílias em pequenas propriedades tradicionais onde a farinha é

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

55

processada pelos membros destas famílias, sendo este produto a principal fonte de

receita para a maioria dos produtores.

No levantamento do número de “Casas de farinha” do Vale do Copioba (Figura 1)

foram encontradas 68 unidades produtivas, sendo que 94% estão localizadas no

município de Nazaré (64 unidades). Na região geográfica do Vale do Copioba foram

coletas amostras de 14 casas de farinha (22% do total). Constatou-se que essas

unidades produtivas são geralmente empresas de gestão familiar, onde os pequenos

produtores têm a capacidade de produzir 100 kg por dia, enquanto os maiores produtores

chegam a produzir de 500 a 1 000 kg por dia.

Neste contexto, apesar do reconhecimento popular da qualidade da farinha de

Copioba, pouco se conhece sobre o seu processo de produção e as características que a

diferenciam das demais farinhas. No Vale do Copioba a farinha é produzida por meio de

um processo tradicional que inclui etapas manuais auxiliadas por equipamentos elétricos,

o que resulta em um processo diferenciado, e que se expandiu ao longo do tempo

também para o Recôncavo Baiano (Bahia-BR) Figura 2. Em linhas gerais, o

processamento industrial das raízes de mandioca para a elaboração da farinha de

mandioca, tanto de Copioba como comum, produzidas na região do Vale do Copioba e na

região geográfica vizinha, compreendem 9 etapas: recepção das raízes, descascamento,

trituração, prensagem, desintegração (ceivar), torrefação, peneiração, acondicionamento

e armazenagem. Pequenas diferenças nestas etapas do processamento diferenciam o

processo da farinha de Copioba da farinha comum.

Figura 2. Etapas de trituração (moinho martelo) e secagem (forno manual e forno elétrico) do processamento da farinha de Copioba tradicional do Vale do Copioba.

A colheita das raízes, geralmente localizada próxima à área de processamento,

transporte e recepção das raízes para o local de processamento é realizado com auxilio

de pequenos veículos ou animais. No processo em pequena escala que é dominante

dentro do Vale do Copioba, na etapa de raspagem a casca das raízes é removida por

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

56

facas, entretanto pode ser encontrado fora do Vale do Copioba processo em maior escala

e utilização de equipamentos abrasivos. Na trituração, as raízes descascadas são

trituradas em moinho martelo. A prensagem que visa eliminar parte substancial da água

das raízes maceradas e aumentar a superfície exposta à retificação de ar quente durante

secagem, é realizada em prensas de madeira tradicionais normalmente de um dia para o

outro. No processo de torrefação em algumas casas de farinha utilizam-se fornos

manuais, mas a maioria das casas de farinha utiliza forno motorizado com rotações

constante e velocidades controladas; e na peneiração, a farinha é passada através de

malhas que definem os tamanhos das partículas. A embalagem é realizada em sacos

plásticos de 50 Kg para a distribuição.

Todas estas etapas são utilizadas no processo de produção de farinhas de

Copioba e Comum. O processo da farinha de Copioba tradicional (processo de 2ª

geração, amostras 1 e 2, Tabela 1), empregado atualmente por um número reduzido de

famílias do Vale do Copioba, diferencia-se principalmente por envolver 3 fases

consecutivas de torrefação e peneiração, realizados em fornos de lenha artesanais. No

primeiro estágio a farinha de mandioca passa pelo processo de secagem rápida á uma

menor temperatura do primeiro forno, em seguida a farinha é peneirada e levada para o

segundo forno com uma temperatura intermediária, e o último estágio da torrefação, que

possui a maior temperatura do processo, seguida de nova peneiração. Produzir

pequenas quantidades de farinha de Copioba é desvantagem quando se trata da fase de

secagem/ torrefação, uma vez que estas envolvem o lançamento manual da farinha

sobre a chapa de aço circular, e requer de 3 a 8 horas para secar um lote de cerca de 90

kg de farinha. Nas casas de farinhas de 1ª geração que não existe mais empregava se o

processo manual (ÁLVARES et al., 2011).

A grande maioria das casas de farinhas de dentro e fora do Vale do Copioba

substituiu os fornos manuais por fornos mecânicos (processo de 3ª geração, demais

amostras Tabela 1). Entretanto, as temperaturas das etapas de torrefação do processo

da farinha de Copioba tendem a ser mais brandas do que as temperaturas das farinhas

comuns, e este pode ser um dos principais parâmetros do processo responsável por

proporcionar intervalos menores nos teores de umidade e atividade de água das farinhas

de Copioba quando comparados com as farinhas comuns (Tabela 2). A etapa de

peneiração neste processo de segunda geração é realizada uma única vez depois da

farinha torrada, separando somente a “flor da farinha”, denominação utilizada na região

do Vale. Esse método peculiar de produção da região garante a notoriedade da farinha

de Copioba do Vale que é identificada pelos consumidores.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

57

Neste contexto, a Tabela 2 apresenta a composição química das farinhas estudadas,

compreendendo um produto composto principalmente de carboidratos, mas sugere que o

arranjo químico da matriz alimentícia é muito mais complexo do que as análises

relatadas. As variações de umidade e demais componentes minoritários, tais como os

lipídios, as proteínas e as cinzas, resultam em grandes alterações da qualidade

dependendo dos tipos de processo utilizado.

Considerando que o teor de matéria seca de raiz de mandioca oscila entre 30 e

40%, (1,0 a 2,0% fibras; 0,5% a 1,0% gorduras; 1,5 a 2,5% de cinzas e minerais; e 2,0%

de proteínas) e amido representa a maior parte dos carboidratos (96%) (FAO, 2007),

constata-se que o processamento das farinhas elimina grande quantidade de água,

resultando em teores de sólidos totais que varia de 92 a 99% (Tabela 2), mas de acordo

com CHARLES et al., (2005), a composição depende da variedade de mandioca. As

amostras produzidas dentro e fora do Vale apresentaram baixa atividade de água (0,10-

0,61), umidade (1,40-8,42%), cinzas (0,94-1,11%), lipídios totais (0,18-0,62%), proteína

bruta (0,85-0,97%), e alto teor de carboidratos (89,31 a 96,84%).

A farinha de mandioca não deve ter o teor de umidade superior a 13% nas

condições de transporte e durante armazenamento (CODEX STAND 176, 1989; BRASIL

2011), condição das legislações atendida por todas as amostras analisadas.

Segundo Chisté et al., (2006), na fabricação da farinha de mandioca do grupo seca, da

maioria das regiões do Brasil, o processo se inicia com a lavagem e descascamento das

raízes de mandioca, seguindo, posteriormente, para a trituração, prensagem,

desintegração e torrefação; sendo todas as etapas realizadas sem interrupções. No

entanto, o que se observa nas Casas de Farinha do Vale do Copioba, tanto para farinha

de Copioba como a comum, é um processo descontínuo, onde a massa de mandioca in

natura triturada fica exposta por um longo período à temperatura ambiente, às vezes de

um dia para o outro, principalmente na etapa relativa à prensagem, resultando em

fermentação espontânea e conseqüente aumento da acidez do produto (Tabela 2). A

legislação atual (BRASIL, 2011) não estipula um limite para a acidez titulável, mas

determina um valor de 3,0 meq NaOH (0,1N)/ 100g, sendo menor ou igual a este limite

classificadas como de “baixa acidez”, e com acidez maior classificadas como de “alta

acidez”. As farinhas analisadas apresentaram grande variação deste parâmetro (2,13-

12,50 meq NaOH 0,1N/ 100g), e a maioria (95%) consideradas de alta acidez. Segundo

Chisté e Cohen (2010), o aumento da acidez com o aumento do tempo de fermentação

das raízes resulta em melhor pontuação em testes de ordenação de preferência, o que

pode ser um parâmetro de qualidade de preferência utilizado pelos consumidores da

farinha de Copioba do Recôncavo baiano.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

58

Tabela 2 - Composição centesimal e os padrões de identidade e qualidade das farinhas de mandioca amostras do Vale do Copioba (Copioba e Comum) e farinha de Copioba produzida fora do Vale do Copioba.

**As amostras de referência de farinhas Copioba produzidos pelo método tradicional, totalmente artesanal. Letras iguais na mesma coluna indicam que não há diferença significativa entre os resultados do teste de Kruskal-Wallis (p <0,05). Cada valor foi obtido sob a forma de média ± desvio padrão de três réplicas.

Tratamento Amostras Umidade

(%) Aw

Cinzas (%)

Lipídios Totais (%)

Proteínas (%)

Amido

(%) Carboidratos

(%) Acidez (meq

NaOH 0,1N/100g)

Copioba do Vale (referencia)

1* 1,84 ± 0,08 0,40 ± 0,01 0,93 ± 0,01 0,19 ± 0,01 1,05 ± 0,19 97,16 ± 1,47 95,99 3,21 ± 0,07

2* 0,96 ± 0,04 0,33 ± 0,01 1,12 ± 0,00 0,18 ± 0,01 0,90 ± 0,12 78,59 ± 0,96 96,84 6,10 ± 0,23

Média ± Desvio 1,40 ± 0,44b 0,37±0,04

a 1,03±0,10

a 0,19±0,01

c 0,98±0,08

a 87,88±9,29

a 96,40±0,60

a 4,66±1,45

a

Copioba do Vale

3 6,08 ± 0,06 0,21 ± 0,00 1,10 ± 0,02 0,50 ± 0,03 1,45 ± 0,04 89,49 ± 0,66 90,87 3,66 ± 0,07

4 8,42 ± 0,05 0,36 ± 0,00 0,92 ± 0,03 0,52 ± 0,01 0,81 ± 0,03 88,79 ± 2,43 89,32 6,77 ± 0,22

5 4,85 ± 0,10 0,12 ± 0,00 0,97 ± 0,03 0,55 ± 0,02 1,20 ± 0,05 90,89 ± 1,44 92,43 6,95 ± 0,27

6 5,61 ± 0,01 0,15 ± 0,00 1,09 ± 0,01 0,56 ± 0,03 0,50 ± 0,02 89,44 ± 1,23 92,24 2,13 ± 0,05

7 4,73 ± 0,19 0,36 ± 0,00 1,19 ± 0,04 0,47 ± 0,03 0,82 ± 0,11 85,02 ± 0,47 92,79 5,02 ± 0,20

8 6,23 ± 0,14 0,53 ± 0,01 1,09 ± 0,04 0,40 ± 0,02 1,07 ± 0,10 78,87 ± 0,67 91,21 4,40 ± 0,09

9 6,46 ± 0,06 0,24 ± 0,00 1,01 ± 0,02 0,43 ± 0,01 0,92 ± 0,03 88,72 ± 4,48 91,18 5,78 ± 0,24

10 4,68 ± 0,05 0,17 ± 0,01 0,87 ± 0,01 0,40 ± 0,00 1,28 ± 0,04 86,93 ± 0,78 92,77 12,50 ± 0,62

Média ± Desvio 5,88±2,36a

0,27±0,11a

1,03±0,31a 0,46±0,23

b 1,01±0,05

a 79,56±24,88a 91,62±1,19

a 5,90±0,22

a

Comum do Vale

11 3,83 ± 0,14 0,10 ± 0,00 1,21 ± 0,03 0,62 ± 0,02 0,82 ± 0,03 88,79 ± 3,20 93,52 5,48 ± 0,25

12 5,17 ± 0,16 0,19 ± 0,00 1,17 ± 0,03 0,56 ± 0,01 0,60 ± 0,02 86,01 ± 0,81 92,50 6,88 ± 0,06

13 6,63 ± 0,14 0,25 ± 0,00 1,11 ± 0,01 0,53 ± 0,02 0,96 ± 0,02 80,3 ± 1,65 90,77 7,10 ± 0,16

14 5,74 ± 0,12 0,20 ± 0,00 0,95 ± 0,04 0,60 ± 0,01 1,01 ± 0,03 84,52 ± 3,40 91,70 6,64 ± 0,12

Média ± Desvio 5,34±1,17a

0,19±0,06a

1,11±0,11a 0,58±0,04

a 0,85±0,18

a 84,91±3,54a 92,12±1,16

a 6,53±0,72

a

Copioba fora do Vale

15 5,19 ± 0,11 0,49 ± 0,01 1,03 ± 0,04 0,28 ± 0,01 0,57 ± 0,06 81,96 ± 0,88 92,93 6,39 ± 0,04

16 7,22 ± 0,18 0,61 ± 0,00 1,02 ± 0,03 0,24 ± 0,03 0,78 ± 0,03 85,62 ± 0,51 90,74 6,20 ± 0,02

17 1,90 ± 0,12 0,23 ± 0,01 1,06 ± 0,01 0,40 ± 0,02 1,13 ± 0,05 84,12 ± 0,35 95,57 5,14 ± 0,05

18 2,67 ± 0,04 0,29 ± 0,01 0,83 ± 0,09 0,35 ± 0,01 1,42 ± 0,06 87,26 ± 1,01 94,73 4,88 ± 0,06

19 2,41 ± 0,15 0,27 ± 0,00 0,98 ± 0,01 0,37 ± 0,03 0,96 ± 0,04 81,19 ± 0,76 95,28 5,37 ± 0,02

20 4,04 ± 0,16 0,56 ± 0,00 1,05 ± 0,03 0,17 ± 0,01 0,84 ± 0,04 70,53 ± 1,20 93,90 6,19 ± 0,06

Média ± Desvio 3,91±2,02a

0,41±0,16a

1,00±0,09a

0,30±0,09d

0,95 ± 0,30a 81,78 ± 5,95

a 93,84±1,80

a 5,70 ± 0,64

a

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

59

Atividade de água (Aw) de 0,60 é o limite mínimo, abaixo do qual se considera

incompatível o desenvolvimento de microrganismos, dai o fato de alimentos desidratados,

como a farinha, possuírem elevada estabilidade microbiológica. As amostras analisadas

apresentaram valores de atividade de água abaixo deste limite (Tabela 2), sendo

consideradas microbiologicamente estáveis, e são menores (0,10-0,61) que os

encontrados por Chisté et al. (2006) para farinhas do Grupo Seca do Estado do Pará

norte do Brasil (0,31 a 0,60).

Os valores da composição centesimal das farinhas de mandioca obtidos neste

trabalho são semelhantes aos obtidos por Chisté e Cohen (2010) para farinhas de

mandioca produzidas em Belém. Os valores de lipídios totais (0,17 a 0,75%), proteínas

(0,82 a 1,56%) e carboidratos (90,81 a 96,85%), (Tabela 1), também são compatíveis

com os obtidos por outros autores para o grupo de farinhas secas do Acre, Pará e

Sergipe, regiões Norte, Norte e Nordeste brasileiro respectivamente (SOUZA et al., 2008;

CHISTÉ et al. 2006;). Assim as amostras analisadas são similares em termos dos

parâmetros de: atividade de água, cinzas, carboidrato, proteína, amido e acidez. Os

únicos parâmetros com diferença significativa num intervalo de confiança de 99% entre

as médias das diferentes farinhas, revelando que os tratamentos não fazem parte da

mesma população foram: a umidade e os lipídios totais (Tabela 2). Portanto, as farinhas

produzidas no Recôncavo da Bahia (Tabela 2) apresentam grandes variações nos teores

de umidade (0,96 ± 0,04 a 8,42 ± 0,05%), similar às produzidas em outros locais e

unidades federativas do Brasil (Paraná, Paraíba, Sergipe, Acre, Pará) (1,45 ± 0,07 a

11,31 ± 0,16%), característica de produção em pequena escala com variações nos

processos (DIAS LEONEL, 2006; SOUZA et al., 2008; CHISTÉ e COHEN, 2010;

ÁLVARES et al., 2011).

Os teores médios de umidade das farinhas referência de Copioba (amostras 1 e

2) produzidos dentro do Vale do Copioba são significativamente menores (p < 0,05) do

que as demais farinhas analisadas, (Tabela 2). Este resultado pode estar relacionado

principalmente com a etapa do processo de secagem (torrefação) que utiliza um tempo

de aquecimento longo, resultando nas características da identidade do produto, a

crocância. Este parâmetro associado à coloração característica é utilizado pelos

consumidores como um dos principais parâmetros de identidade e notoriedade da farinha

de Copioba do Vale.

As diferenças de umidades entre os tipos de amostras e a distribuição interna na

farinha é um dos principais fatores que afeta a textura. A distribuição de umidade dos

produtos alimentícios é determinada pela composição da matéria-prima, pela temperatura

de aquecimento, além do processo de migração de umidade, que é influenciada pelo

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

60

tempo de secagem ou tempo de têmpera, temperatura usada, e o nível do teor de

amilose da mandioca, além de outros fatores.

Durante o processo de têmpera da secagem, a estabilização da matriz de gel de

amido gelatinizado e a evaporação da água irão produzir um material sólido. O material é

constituído do polímero de cadeia interligado, proporcionado por uma força de tração

considerável. Estes processos determinam a quantidade de água retida no produto que

vai afetar a velocidade de retrogradação e também as características das farinhas, tais

como elasticidade, coesão e densidade. Um tempo de têmpera curto produzirá um

produto viscoso, que está relacionada com maior quantidade de água na superfície como

resultado da maior velocidade de migração da água. Em contrapartida, um tempo de

têmpera longo irá desidratar o produto com velocidade de evaporação diferenciada,

aumentando a crocância da farinha. Assim o tempo mais longo de têmpera pode

aumentar o alinhamento das moléculas de amilose livre e a cristalização do amido que

conduzem à diminuição da capacidade de ligação de água do sistema, resultando no

aumento de moléculas livres de água e, assim, aumentando a Aw, (KULCHAN et al.,

2010; KOJIMA et al., 2004; YAO et al., 2003).

A migração de água na etapa de secagem da farinha também é conseqüência de

uma série de mecanismos coexistentes de transporte de umidade, reforçados pela

complexidade da estrutura da matriz alimentícia (por exemplo, a porosidade e a

composição), além da interação da água com a umidade externa ao alimento. Valores

mais baixos da Aw e do teor de umidade (0,54 e 6%) podem ser considerados como

pontos críticos de perda de crocância. Este valor crítico de Aw corresponde a produtos

alimentícios formados por matrizes de amido que passaram por um processo de

secagem e possuem o atributo de crocância, e o limite para percepção da alteração

dessa propriedade também é relatado por KULCHAN et al., (2010), com variações com

valores inferiores a 0,5.

As farinhas estudadas apresentaram variações na umidade, Aw e lipídios totais,

além de outros parâmetros, mas sem correlações direta ou indiretamente proporcionais

significativas entre qualquer das variáveis (Tabela 2). O maior tempo de contato da

farinha de Copioba com o metal (aço) do equipamento de secagem, as diferenças na

temperatura e peneiração quando comparada a farinha Comum, são responsáveis por

provocar as alterações nestes parâmetros.

O teor de lipídios totais é uma boa medida de conteúdo de triglicerídeos residuais.

A Tabela 2 mostra que os lipídios totais apresentam pequena variação entre as amostras

estudadas. As farinhas de Copioba, em especial as produzida dentro do Vale, além do Aw

entre 0,2-0,6, apresentam também um menor teor deste parâmetro.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

61

Em contraste, apesar do baixo teor, a estabilidade da gordura pode variar ao

longo da secagem ou armazenamento, e mesmo considerando que os teores de lipídios

totais dos diferentes tipos de farinhas diferem significativamente (Tabela 2), podem

resultar em diferentes teores de degradação, principalmente se associados Aw do

produto, que podem estar relacionados com as características organolépticas das

diferentes farinhas e com a maior ou menor notoriedade. Pequenas alterações no

conteúdo de lipídios das farinhas podem também estar associadas a uma mudança no

teor de fosfolipídios remanescentes na farinha. A causa pode ser as mudanças no

processo de extração, distribuição dos cultivares, ou tempo e pode ter implicações na

farinha. Os lipídios residuais são fontes de degradação por oxidação. Possivelmente a

mais importante destas é a classe dos compostos hidroperóxidos, formados como um

dos primeiros produtos da reação de oxidação que começa na parte de hidrocarbonetos

insaturados dos ácidos graxos. A formação destes hidroperóxidos é catalisada por

metais, promovidas por altas temperaturas, e requerem a presença de oxigênio,

condições existentes na etapa de secagem das farinhas de mandioca.

As Tabelas 3 e 4 mostram as distribuições granulométricas através do percentual

de tamanhos de partículas das farinhas, e a Figura 3 a distribuição média e os

percentuais de partícula entre 0-0,25 mm para cada tipo de farinha. De acordo com o

Codex stand 176 (1989), uma farinha de mandioca é “Fina” quando, pelo menos, 90 %

das partículas passar por uma malha de 0,6 mm, e “Grossa” quando 90 % atravessar

uma malha de 1,20 mm e até 10% atravessar a malha de 0,6 mm. Portanto, todas as

farinhas estudadas são consideradas finas uma vez que 86-100 % das partículas

passaram por uma malha de 0,425 mm.

A distribuição granulométrica média é muito similar quando comparadas as

farinhas de Copioba referência e as farinhas de Copioba do Vale. As farinhas produzidas

dentro do Vale apresentaram um maior percentual de partículas de menor tamanho (60-

70% entre 0,075 - 0,250 mm) não apresentando diferença significativa entre os diferentes

tratamentos de dentro do Vale, o mesmo não ocorreu quando comparado com às

farinhas de Copioba produzidas fora do Vale, com o tamanho das partículas maiores

(46 % > 0,25 mm) (Tabelas 3 e 4, Figura 2).

As diferenças: granulométrica, nos teores de umidade, de A e amido (Tabela 2)

podem indicar a identidade das farinhas e justificar a preferência do consumidor. As

farinhas de mandioca Copioba têm uma quantidade de água livre e lipídios totais em

determinados intervalos. Isso pode contribuir para maior ou menor oxidação dos lipídios e

para o fortalecimento da estrutura de gel, aumentando a coesão e produzindo um produto

menos viscoso e mais crocante.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

62

Tabela 3. Percentual de retenção de partículas a partir de amostras de farinhas Copioba do Vale do Copioba em peneira de diferentes aberturas. Abertura (mm)

1*

2* Média ±

desvio 3 4 5 6 7 8 9 10

Média ± desvio

1,4 0,10 0,00 0,05±0,05a

0,37 0 0 0,12 0 0,02 0,13 0,31 0,11±0,14a

1,0 0,06 0,04 0,05±0,01a

0,55 0,42 0,47 0,46 0 0 0,29 0,56 0,34±0,22a

0,850 0,04 0,00 0,02±0,02a

0,93 0,2 0,18 2,21 0 0,06 0,09 0,22 0,48±0,75a

0,710 0,62 0,41 0,52±0,10b

4,92 3,3 2,63 10,06 2,88 0,85 5,5 1,99 4,01±2,86b

0,425 35,16 31,93 33,55±1,62a

28,93 30,52 28,68 39,57 49,38 37,73 35,79 20,14 33,84±8,80a

0,250 39,96 42,62 41,29±1,33a

32,37 37,5 37,9 28,1 35,56 38,96 30,08 36,83 34,66±3,99b

0,125 22,56 24,34 23,45±0,89ab

24,33 23,76 24,28 16,45 12,31 21,51 21,69 31,48 21,97±5,71ab

0,075 1,90 0,99 1,45±0,46a

6,27 4,09 4,3 2,45 0,58 0,87 3,81 7,42 3,72±2,39a

0-0,425 99,58 99,88 99,74a

91,90 95,87 95,16 86,57 97,83 99,07 91,37 95,87 94,19a

* Amostras de referência da farinha de Copioba produzido pelo método tradicional, totalmente artesanal. Letras iguais na mesma linha indicam não haver

diferença significativa entre a média de resultados para o teste de Kruskal-Wallis (p <0,01). Cada valor foi obtido na forma de média ± desvio padrão de três repetições.

Tabela 4. Percentual de retenção de partículas de farinhas Vale Comum e Copioba fora do Vale em peneira de diferentes aberturas.

Abertura (mm)

Comum do Vale Média ± desvio

Copioba de fora do Vale Média ± desvio 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

1,4 0,55 0 0,46 0,64 0,41±0,28b

0,31 0 0 0 0 0 0,05±0,13a

1,0 1,37 0,04 1,17 0,98 0,89±0,58a

0,74 2,77 0 0,05 0 0,24 0,63±1,08a

0,850 0,53 0 1,74 0,63 0,72±0,73a

1,96 4,16 2,77 0,03 0 3,06 2,00±1,69a

0,710 4,26 0,41 4,52 2,86 3,01±1,88b

6,63 12,54 11,61 9,88 12 11,46 10,69±2,18a

0,425 22,13 31,93 16,99 20,75 22,95±6,36a

23,46 35,01 36,96 57,67 55,15 28,86 39,52±13,94a

0,250 35,35 42,62 31,23 33,69 35,72±4,89ab

30,48 26,85 31,45 25,51 23,43 29,96 27,95±3,17c

0,125 28,68 24,34 34,88 31,71 29,90±4,48a

29,02 15,38 17,07 7,32 9,06 21,98 16,64±8,10b

0,075 6,02 0,99 7,06 7,46 5,38±2,99a

5,35 1,8 0,58 0,23 0,33 2,68 1,83±1,97a

0-0,425 92,18 99,88 90,16 93,61 93,95a

88,31 79,04 86,06 90,73 87,97 83,48 85.94b

Letras iguais na mesma linha indicam não haver diferença significativa entre a média de resultados para o teste de Kruskal-Wallis (p <0,01).

Cada valor foi obtido na forma de média ± desvio padrão de três repetições.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

63

Figura 3. Distribuição granulométrica das amostras de farinhas em relação ao percentual de retenção de partículas em peneiras de diferentes aberturas (mesh).

Na tentativa de investigar os efeitos da origem geográfica e do processo associadas

a decomposição dos lipídios das farinhas de mandioca foram determinados os perfis dos

ácidos graxos livres das amostras estudadas (Figura 3, Tabelas 5 e 6). Na fração lipídica

de todas as farinhas (<1%, Tabela 2) foi identificado 7 ácidos graxos, sendo 4 insaturados

(ácido láurico, C12:00; ácido mirístico, C14:00; ácido palmítico, C16:0; e ácido esteárico,

C18:0), e 3 saturados (ácido oléico, C18:1n9; ácido linoléico, C18:2n6, e ácido linolênico,

C18:3 n3).

Figura 4. Cromatograma GC-DIC da separação dos ésteres metílicos de ácidos graxos de farinha de mandioca (amostra 4).

0

10

20

30

40

50

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Referência Copioba

Copioba Vale

Comum Vale

Copioba fora do Vale

0

20

40

60

80

Referência Copioba

Copioba Vale

Comum Vale

Copioba fora Vale

0-0

,25 m

m (

%)

%

mm

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

64

Tabela 5. Composição de ácidos graxos (%) das amostras de farinha tradicional de Copioba produzidas dentro do Vale Copioba do Recôncavo Baiano. ND – Não detectado.

Tratamento Referencia de Copioba (LT % =0,19±0,01) Copioba do Vale (LT % =0,46±0,23)

Amostras 1*

2* Média ± desvio 3 4 5 6 7 8 9 10 Média ± desvio

12:00 0,78 ± 0,01 2,73 ± 0,02 1,76 ± 0,98a

0,43 ± 0,00 0,30 ± 0,13 0,43 ± 0,02 0,21 ± 0,01 0,33 ± 0,15 0,56 ± 0,01 0,22 ± 0,07 0,47 ± 0,00 0,45 ± 0,18a

14:00 0,46 ± 0,00 1,19 ± 0,03 0,83 ± 0,37a

0,27 ± 0,02 0,25 ± 0,15 0,44 ± 0,01 0,18 ± 0,04 0,36 ± 0,10 0,34 ± 0,02 0,10 ± 0,10 0,27 ± 0,01 0,27 ± 0,35a

16:00 23,73 ± 0,10 25,1 ± 0,29 24,42 ± 0,68a

24,37 ± 0,05 24,52 ± 1,86 26,26 ± 0,03 26,29 ± 0,11 27,21 ± 4,38 25,45 ± 0,20 22,92 ± 0,24 24,24 ± 0,18 24,31 ± 3,34a

18:00 1,75 ± 0,02 1,78 ± 0,00 1,77 ± 0,02a

1,74 ± 0,02 1,76 ± 0,26 1,96 ± 0,09 2,26 ± 0,07 2,11 ± 0,15 1,61 ± 0,04 1,73 ± 0,03 1,88 ± 0,09 1,81 ± 0,24a

18:1n9 40,08 ± 0,17 38,43 ± 0,18 39,26 ± 0,83a 35,49 ±

0,16 34,51 ± 0,79 35,57 ± 0,09 39,55 ± 0,2 41,25 ± 0,33 43,01 ± 0,07 38,17 ± 0,06 38,27 ± 0,04 36,88 ± 2,35

a

18:2n6 24,18 ± 0,03 23,08 ± 0,35 23,63 ± 0,55a 29,14 ±

0,02 27,66 ± 2,32 25,29 ± 0,12 23,54 ± 0,01 22,4 ± 3,69 23,44 ± 0,15 26,09 ± 0,10 27,42 ± 0,07 28,28 ± 3,64

a

18:3n3 9,02 ± 0,00 7,69 ± 0,21 8,36 ± 0,66a

8,56 ± 0,08 11,01 ± 0,88 10,03 ± 0,01 7,96 ± 0,04 6,34 ± 0,80 5,58 ± 0,08 10,76 ± 0,09 7,46 ± 0,01 8,01 ± 2,33a

Saturado 26,72 30,80 28,76 ± 2,04a

26,81 26,83 29,10 28,94 30,01 27,96 24,98 26,86 26,84 ± 3,78a

Insaturado 73,28 69,20 71,24 ± 2,04a

73,19 73,17 70,90 71,06 69,99 72,04 75,02 73,14 73,17 ± 3,78a

*Referencia da farinha de Copioba produzida pelo método tradicional, totalmente artesanal, feito a mão. Letras iguais na mesma linha indicam não haver diferença significativa entre

a média de resultados para o teste de Kruskal-Wallis (p <0,05). Cada valor foi obtido na forma de média ± desvio padrão de três repetições.

Tabela 6. Composição de ácidos graxos (%) das amostras de farinha comum tradicional produzida dentro do Vale do Copioba, e da farinha de Copioba tradicional de fora do Vale do Copioba, ambos do Recôncavo baiano. ND – Não detectado.

Tratamento Comum do Vale (LT % =0,58±0,04) Copioba de fora do Vale (LT % =0,30±0,09)

Amostras 11 12 13 14 Média ± desvio 15 16 17 18 19 20 Média ± desvio

12:00 0,29 ± 0,00 0,35 ± 0,01 0,34 ± 0,01 0,25 ± 0,02 0,31 ± 0,05a

1,51 ± 0,02 1,56 ± 0,03 0,59 ± 0,05 0,10 ± 0,10 1,58 ± 0,00 0,12 ± 0,12 0,91 ± 0,72a

14:00 0,27 ± 0,00 0,39 ± 0,04 0,25 ± 0,01 0,20 ± 0,02 0,28 ± 0,08a

0,76 ± 0,01 0,74 ± 0,01 0,56 ± 0,01 0,37 ± 0,37 0,61 ± 0,05 0,18 ± 0,18 0,54a ± 0,22a

16:00 22,71 ± 0,12 23,86 ± 0,19 24,14 ± 0,09 23,10 ± 0,34 23,45 ± 0,66a

29,89 ± 0,00 29,89 ± 0,00 30,70 ± 0,02 30,94 ± 2,36 25,89 ± 0,14 25,18 ± 0,75 28,75 ± 2,53a

18:00 1,98 ± 0,00 1,90 ± 0,06 1,93 ± 0,02 1,71 ± 0,11 1,88 ± 0,12a

2,30 ± 0,01 2,32 ± 0,01 2,09 ± 0,20 2,20 ± 0,03 1,86 ± 0,03 0,94 ± 0,94 1,95 ± 0,52a

18:1n9 41,79 ± 0,29 37,84 ± 0,27 37,98 ± 0,07 35,18 ± 0,23 38,2 ± 2,72a

35,5 ± 0,03 35,48 ± 0,04 38,17 ± 2,38 40,58 ± 0,48 37,63 ± 0,16 35,05 ± 0,48 36,66 ± 2,14a

18:2n6 23,76 ± 0,09 25,58 ± 0,02 26,40 ± 0,12 27,68 ± 0,03 25,86 ± 1,64a

20,76 ± 0,05 20,62 ± 0,07 21,84 ± 2,31 21,39 ± 1,05 22,24 ± 0,16 28,67 ± 0,28 22,59 ± 3,04a

18:3n3 9,21 ± 0,22 10,07 ± 0,09 8,96 ± 0,02 11,87 ± 0,13 10,03 ± 1,32a

9,28 ± 0,05 9,41 ± 0,07 6,05 ± 0,55 4,42 ± 0,57 10,20 ± 0,06 9,86 ± 0,03 8,20 ± 2,38a

Saturado 25,25 26,51 26,66 25,27 25,92 ± 0,77a

34,46 34,50 33,94 33,61 29,94 34,50 32,14 ± 3,29a

Insaturado 74,75 73,49 73,34 74,73 74,08 ± 0,77a

65,54 65,50 66,06 66,39 70,06 65,50 67,86 ± 3,29a

Letras iguais na mesma linha indicam não haver diferença significativa entre a média de resultados para o teste de Kruskal-Wallis (p < 0,05). Cada valor foi obtido na forma de média ± desvio padrão de três repetições.

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

65

Apesar do baixo nível de lipídios totais (Tabelas 2), o teor dos somatórios de

ácidos graxos insaturados é alto (70%), e o de poliinsaturados também (34 % de

C18:2n6; C18:2n3), que apresentam maior possibilidade de oxidação. Para os ácidos

graxos saturados foi encontrado um percentual de 26 %, entre os quais há uma

predominância de C16:0 (25%). De acordo com os dados das Tabelas 5 e 6, de um

modo geral, as médias dos ácidos graxos individuais diferem significativamente (p < 0,05)

entre os diferentes grupos de amostras. Os somatórios de ácidos graxos saturados e

insaturados médios da farinha de Copioba de fora do Vale diferem significativamente (p <

0,05) das demais farinhas.

A Figura 4 mostra a distribuição dos teores de lipídios totais, de saturados, de

insaturados individuais e totais dos diferentes grupos de farinha de mandioca avaliadas.

Figura 5. Teores de lipídios totais x 10, de saturados, de insaturados individuais e totais

dos diferentes processamentos de farinha de mandioca.

As farinhas comuns apresentaram um maior percentual de lipídios totais (Tabela

2), e conseqüentemente um maior teor de ácidos graxos insaturados, uma vez que os

mesmos foram quantificados em percentual relativo (Tabelas 5 e 6), o que pode resultar

no aumento da oxidação e menor notoriedade destas quando comparadas as farinhas de

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

66

Copioba. Esta diferença pode também estar associada à qualidade do solo e as

condições de sazonalidade da produção de raízes de mandioca dentro e fora do Vale.

Em geral também há pequenas diferenças no processo de preparação de farinhas de

Copioba dentro e fora do Vale. O calor gerado a partir da secagem mais rápida

empregada fora do Vale, a temperatura de secagem, a velocidade de rotação da farinha

em contato com o forno e a fricção produzida no processo dentro do Vale são mais

brandas. Além disso, há um controle maior na velocidade de rotação da placa de metal

para suprimir o aumento da temperatura.

No entanto, parece existir uma influência do processo de produção, e da farinha e

da origem geográfica das raízes de mandioca em alguns dos parâmetros de composição

centesimal e de identidade, e também nos ácidos graxos insaturados. As farinhas de

mandioca Copioba de dentro e de fora do Vale, e especialmente as farinhas Copioba

referencia (processo tradicional) demonstraram qualidades mais favoráveis, como

atividade de água em determinado intervalo (0,25 a 0,60, Tabela 2), teores de lipídios

totais menores (Tabela 2, 5 e 6). A oxidação lipídica leva à formação de off-flavor em

alimentos. Torna-se especialmente importante controlar essas reações quando os ácidos

graxos poliinsaturados instáveis estão envolvidos no meio. Em óleos e gorduras e

sistemas modelos, os mecanismos de oxidação são bastante complexos, mas

conhecidos (MINKYU et al., 2010; FRANKEL, 1984; FRANKEL et al., 1992), entretanto os

mecanismos de oxidação de lipídios em fases dispersas de matrizes estruturais com

composição heterogênea ainda não estão estabelecidos (PARTANEN et al., 2008).

Uma vez que os voláteis são uma medida da formação de produtos secundários

de oxidação, sendo responsáveis pelo impacto sensorial de oxidação lipídica, foram

avaliados (Figuras 4 e 5, Tabelas 7 e 8).

Devido à natureza da fração volátil e as diferentes técnicas de análise utilizadas,

torna-se difícil obter resultados quantitativos por CG e estes são normalmente expresso

em função da área de cada pico cromatográfico, ou como apresentado neste estudo

através da percentagem relativa da área de cada pico em relação à área total dos picos

(Tabelas 7 e 8).

As diferenças no perfil dos compostos voláteis identificados nas amostras

analisadas foram essencialmente quantitativas (Figura 5). Foram identificados por EM

dez compostos (Figura 6, 2-octenal; 3,5-octadien-2-ona; nonanal; 2-nonenal; decanal; 2-

decenal; 2-undodecanona; undecanona; 2-undecenal; e tetradecano) na fração de

voláteis da maioria das amostras, sugerindo uma oxidação significativa dos ácidos graxos

insaturados, uma vez que as farinhas contem 70% desses ácidos graxos (Tabelas 5 e

6) Entre os voláteis, o pico 3 do nonanal apresentou a maior área (Tabelas 7 e 8).

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

67

Figura 6. Cromatogramas (CG-MS) dos voláteis das amostras de farinhas. Picos: 1) 2-octenal; 2) 3,5-octadien-2-one; 3) nonanal; 4) 2-nonenal; 5) decanal; 6) 2-decenal; 7) 2-undodecanona; 8) undecanona; 9) 2-undecenal; e 10) tetradecano.

De VASCONCELOS et al. (2007), relatam esses mesmos compostos voláteis em

farinhas de castanha, e constataram que o aquecimento suave durante um período

relativamente longo, em condições de oxidação pode ser suficiente para induzir a

peroxidação lipídica, seguida por degradação a aldeídos e cetonas.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

68

Figura 7. Espectro de massa (m/z) dos respectivos picos (HS-CG-EM): 1) 2-octenal; 2) 3,5-octadien-2-one; 3) nonanal; 4) 2-nonenal; 5) decanal; 6) 2-decenal; 7) 2-undodecanona; 8) undecanona; 9) 2-undecenal; e 10) tetradecano.

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

69

Tabela7. Distribuição média (106) das áreas dos picos dos principais voláteis identificados em Headspace das amostras de farinha de Copioba tradicional produzida dentro Vale do

Copioba do Recôncavo baiano. ND - Não detectado Tratamento Referencia de Copioba Copioba do Vale

Amostras 1 2 Média ±

Desvio 3 4 5 6 7 8 9 10

Média ±

Desvio

2-Octenal ND 0,60 ± 0,03 0,30 ± 0,42a

2,57 ± 0,87 ND 5,73 ± 0,96 2,66 ± 1,43 0,76 ± 0,07 2,40 ± 0,78 0,94 ± 0,02 1,48 ± 0,03 2,07 ± 1,76a

3.5-Octadien-2-ona 0,46 ± 0,08 0,95 ± 0,03 0,70 ± 0,34a

0,92 ± 0,54 0,72 ± 0,35 4,03 ± 1,17 1,86 ± 0,33 0,69 ± 0,08 0,86 ± 0,44 0,41 ± 0,01 1,24 ± 0,00 1,34 ± 1,17a

Nonanal 1,29 ± 0,40 1,23 ± 0,01 1,26 ± 0,04a

8,33 ± 2,70 3,70 ± 1,20 45,07 ± 0,12 23,93 ± 5,46 3,73 ± 0,98 4,04 ± 1,59 5,10 ± 0,04 8,27 ± 0,03 12,77 ± 14,67a

2-Nonenal ND ND NDa

ND 0,67 ± 0,29 3,02 ± 0,20 1,37 ± 0,86 0,41 ± 0,12 0,88 ± 0,17 ND ND 0,79 ± 1,02a

Decanal 0,44 ± 0,03 0,16 ± 0,00 0,30 ± 0,20a

1,33 ± 0,45 0,63 ± 0,08 8,65 ± 0,15 6,49 ± 2,31 0,47 ± 0,08 2,04 ± 0,75 1,17 ± 0,01 1,61 ± 0,02 2,80 ± 3,04a

2-Decenal ND 0,11 ± 0,01 0,05 ± 0,08a

0,95 ± 0,40 0,48 ± 0,22 5,21 ± 0,66 3,30 ± 1,99 0,53 ± 0,23 1,26 ± 0,80 0,9 ± 0,01 1,37 ± 0,06 1,75 ± 1,66a

2-Undodecanona ND ND NDb

0,24 ± 0,15 0,35 ± 0,07 ND 0,54 ± 0,38 0,11 ± 0,02 0,17 ± 0,02 0,13 ± 0,00 0,85 ± 0,02 0,30 ± 0,28b

Undecanona ND ND NDa

0,24 ± 0,15 0,12 ± 0,02 1,64 ± 0,21 0,52 ± 0,40 0,08 ± 0,08 0,16 ± 0,17 0,46 ± 0,00 0,37 ± 0,00 0,45 ± 0,51a

2-Undecenal ND ND NDa

0,72 ± 0,29 0,82 ± 0,24 3,97 ± 0,66 2,75 ± 1,62 0,40 ± 0,14 0,94 ± 0,54 1,01 ± 0,00 1,37 ± 0,05 1,50 ± 1,23a

Tetradecano 0,13 ± 0,00 ND 0,06 ± 0,09a

0,37 ± 0,19 0,58 ± 0,0,7 ND 0,22 ± 0,14 ND ND 0,74 ± 0,00 0,32 ± 0,02 0,28 ± 0,28a

Referencia da farinha de Copioba produzida pelo método tradicional, totalmente artesanal, feito a mão. Letras iguais na mesma linha indicam não haver diferença significativa entre a média de resultados para o teste de Kruskal-Wallis (p <0,01). Cada valor foi obtido na forma de média ± desvio padrão de três repetições.

Tabela8. Distribuição média (10

6) das áreas dos picos dos principais voláteis identificados em Headspace das amostras de farinha comum tradicional produzida dentro do Vale do

Copioba e a farinha de Copioba de fora do Vale do Copioba, ambas do Recôncavo baiano. ND – Não detectado.

Tratamento Comum Vale Copioba de fora do Vale

Amostras 11 12 13 14 Média ± Desvio

15 16 17 18 19 20 Média ± Desvio

2-Octenal 5,41 ± 0,38 4,53 ± 0,47 1,57 ± 0,44 0,27 ± 0,10 2,94 ± 2,42a

0,25 ± 0,07 2,16 ± 1,22 0,71 ± 0,00 2,42 ± 0,03 1,62 ± 0,13 1,72 ± 0,06 1,48 ± 0,84a

3.5-Octadien-2-ona 4,55 ± 0,35 3,09 ± 0,57 0,86 ± 0,30 0,86 ± 0,30 2,34 ± 1,81a

0,26 ± 0,04 0,53 ± 0,11 1,96 ± 0,08 0,97 ± 0,05 0,49 ± 0,20 1,64 ± 0,00 0,98 ± 0,68a

Nonanal 31,97 ± 2,39 25,82 ± 2,62 7,53 ± 1,76 1,16 ± 0,27 16,62 ± 14,63a

1,42 ± 0,63 4,48 ± 0,68 2,88 ± 0,05 5,39 ± 0,12 8,92 ± 0,18 4,57 ± 0,14 4,61 ± 2,54a

2-Nonenal ND ND ND ND NDa

0,82 ± 0,37 0,51 ± 0,02 0,47 ± 0,00 0,94 ± 0,05 1,13 ± 0,01 0,98 ± 0,02 0,81 ± 0,27a

Decanal 5,36 ± 0,36 5,23 ± 0,46 1,40 ± 0,56 0,29 ± 0,07 3,07 ± 2,61a

1,19 ± 0,46 1,01 ± 0,03 0,55 ± 0,00 1,14 ± 0,01 1,20 ± 0,01 0,88 ± 0,03 0,99 ± 0,25a

2-Decenal 4,86 ± 0,27 5,18 ± 0,43 1,11 ± 0,72 0,23 ± 0,09 2,84 ± 2,54a

1,09 ± 0,36 0,67 ± 0,02 0,36 ± 0,00 1,03 ± 0,02 1,68 ± 0,05 0,65 ± 0,04 0,91 ± 0,46a

2-Undodecanona 4,86 ± 0,06 3,86 ± 0,04 1,11 ± 0,3 0,63 ± 0,15 2,61 ± 2,07a

0,49 ± 0,12 0,97 ± 0,07 0,36 ± 0,00 0,83 ± 0,00 1,08 ± 0,00 0,65 ± 0,00 0,73 ± 0,28b

Undecanona 0,94 ± 0,10 0,99 ± 0,25 0,21 ± 0,16 0,32 ± 0,08 0,62 ± 0,41a

0,22 ± 0,16 0,14 ± 0,06 0,27 ± 0,00 0,39 ± 0,02 0,41 ± 0,04 0,29 ± 0,05 0,29 ± 0,10a

2-Undecenal 3,91 ± 0,26 4,39 ± 0,40 1,08 ± 0,66 0,44 ± 0,08 2,45 ± 1,99a

1,20 ± 0,54 0,60 ± 0,10 ND 0,60 ± 0,01 1,06 ± 0,01 ND 0,58 ± 0,51a

Tetradecano 0,24 ± 0,02 1,05 ± 0,14 0,17 ± 0,05 0,24 ± 0,05 0,42 ± 0,42a

0,50 ± 0,19 ND 0,57 ± 0,06 0,73 ± 0,03 0,89 ± 0,08 0,33 ± 0,10 0,50 ± 0,31a

Letras iguais na mesma linha indicam não haver diferença significativa entre a média de resultados para o teste de Kruskal-Wallis (p <0,01). Cada valor foi obtido na forma de média ± desvio padrão de três repetições.

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

70

Os seis aldeídos (2-octenal, nonanal, 2-nonenal, decanal, 2-decenal, 2-undecenal,

Tabelas 7 e 8) estão presentes na fração volátil de todas as amostras com exceção da

amostra referencia, sugerindo uma oxidação significativa dos ácidos graxos insaturados.

Níveis elevados de 2-octenal, nonanal, 2-decenal e 2-undecenal são encontrados em

óleos ricos em ácido oléico como de oliva, óleo de palma e óleo de girassol (De MARCO

et al., 2007), e este também é o ácido graxo predominante da fração lipídica das farinhas

(Tabela 2).

O conjunto de voláteis pode indicar a origem da identidade da farinha a partir da

concentração dos compostos e/ou da combinação destes diferentes compostos. Dos

compostos voláteis o 2-octenal, 3,5-octadien-2-ona, nonanal, 2-nonenal, e 2-decenal

(Tabelas 7 e 8), segundo De VASCONCELOS et al., (2007), possuem os respectivos

odores característicos de verde, gordura, aldeído, verde e ceroso. Os compostos voláteis

obtidos para as farinhas são presentes também em óleos oxidados, podendo contribuir

para o ranço dos produtos.

Neste sentido, dos compostos identificados por HS-CG-EM, os que mais

contribuem para os perfis de voláteis das farinhas de mandioca são aldeídos (67 a 86%

da área total), seguido de cetonas (13 a 24,5%) e baixo percentual de tetradecano (0,5 a

13%). Entre eles, o majoritário em todas as amostras é o nonanal (40 a 50% do total de

voláteis) com odor aldeído, e 3,5-octadien-2-ona (6 a 26%) ou 2-octenal (8 a 12%) ou

decanal (8 a 12%), também presentes em percentuais intermediários, dependendo do

tipo de farinha. Portanto, os seis voláteis 2-octenal; 3,5-octadien-2-ona; decanal; 2-

decenal, 2-undodecanona, 2-undecenal estão presentes em percentagens médias que

somados também totalizam entre 40 a 50%, com característica de odores de verde,

gordura, não caracterizado, ceroso, não caracterizado, e não caracterizado (De

Vasconcelos et al., 2007). A Figura 7 mostra a distribuição comparativa dos voláteis

individuais por tipo de farinha de mandioca de acordo com a região de processamento.

Entre os mesmos grupos de amostras, constata-se grande variação na área de todos os

voláteis, característica do emprego de processamentos diversificados entre as casas de

farinhas.

Os voláteis remanescentes (2-nonenal, undecanona e tetradecano) estão

presentes em menores percentuais (entre 1 a 6%). Ao lado de aldeídos e cetonas, foi

identificado um único hidrocarboneto, o tetradecano, embora apenas em baixos níveis

(na faixa de não detectado a 1%), que é produto final da reação de oxidação lipídica,

originado da reação de terminação entre os radicais livres. Durante a fase de

propagação, a taxa de formação de hidroperóxido é maior do que a taxa da sua

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

71

decomposição e esta situação é invertida na fase de decomposição (FRANKEL, 1984;

FRANKEL at al.,1992).

Ocl Oce nal/10 Nel Dal Del Uoe Uee Uel Tde

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

5,5

6,0

6,5

Referencia de Copioba do Vale

Copioba do Vale

Comum do Vale

Copioba de fora do Vale

%

Voláteis

Ocl Oce nal Nel Dal Del Uoe Uee Uel Tde

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

26

28

Vale Copioba

Fora do Vale Copioba

%

Voláteis

Figura 8. Distribuição comparativa dos voláteis individuais por tipo de farinha de

mandioca de acordo com a região de processamento. Ocl=2-Octenal; Oce=3,5-Octadien-2-ona;

Nal=nonanal (área/10 no primeiro gráfico); Nel=2-Nonenal; Dal=Decanal; Del=2-Decenal; Uoe=2-

Undodecanona; Uee=Undecanona; Uel=2-Undecenal; Tde=Tetradecano.

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

72

As áreas dos picos dos aldeídos voláteis são significativamente menores (p <

0,05) nas amostras de farinha de Copioba referência do Vale (Tabelas 7 e 8, Figura 6).

Este fato pode ser atribuído aos menores valores de lipídios totais associados à Aw em

torno de 0,4 (Tabela 2) em função do tratamento tecnológico. Dos diferentes tratamentos

o das amostras de farinha Comum obtive a maior média dos compostos voláteis (Figura

7). O menor percentual de aldeídos nas farinhas de Copioba pode estar relacionado às

etapas de secagem do processamento, que possuem temperaturas mais brandas com a

massa macerada e maior tempo relação ao processamento das farinhas comuns. A faixa

de resultados encontrados para a Aw das amostras de farinhas de Copioba foi de 0,2 a

0,6, pois é nessa faixa de valores que a velocidade da reação de oxidação lipídica é

mínima. De uma forma generalizada a qualidade sensorial irá diminuir com o aumento de

temperatura de secagem.

Em particular, todos os aldeídos das farinhas apresentaram cadeia linear e podem

resultar da oxidação degradativa de ácidos graxos insaturados, em particular ácido

oléico, linoléico e linolênico (Tabelas 5 e 6). Aldeídos aromáticos não foram encontrados

nas amostras de farinhas, provavelmente como resultado da baixa degradação dos

aminoácidos aromáticos sob condições de secagem.

Neste contexto, a ocorrência de hidroperóxidos oriundos da oxidação primária dos

ácidos graxos, é muito limitada devido à sua grande instabilidade em altas temperaturas.

A partir deles, uma vasta gama de produtos de oxidação secundária é formada, como

aldeídos saturados e insaturados, cetonas, hidrocarbonetos, além de lactonas, alcoóis,

ácidos e ésteres (DOUGAN et al., 1983; COSGROVE et al., 1987; FRANKEL et al.; 1992;

WAGNER et al.; 1994; MINKYU et al.; 2010) que não foram detectados pelo método de

separação utilizado neste estudo.

Considerando que os produtos voláteis são removidos em grande parte da farinha

durante a secagem, os compostos não voláteis que continuam na farinha são absorvidos

pelo alimento seco, e isto também tem implicações no sabor, modificando também as

propriedades nutricionais e fisiológicas. O flavor dos voláteis desenvolvido durante

processos de secagem é descrito como característico de frutas, gramíneo, amanteigado,

queimado, noz, e peixe (DOUGAN et al., 1983; SAYASLAN et al., 2000; CIRLINI et al.,

2012; PETERSEN et al., 1999; BLANDA et al., 2010; GRUBER, 2010). A oxidação do

ácido linolênico durante a secagem aumenta o odor de peixe e diminui o de fruta. De

VASCONCELOS et al. (2007) relatam que 2-heptenal, 2-octenal, D-limonene 2-

pentylfuran, 1-pentanol, octanal, 2-heptanol, 1-hexanol, 2-nonanone, nonanal 1-octen-3-

ol, 1-heptanol, furfural, benzofuran, 3,5-octadien-2-one, 2-nonenal, 1-octanol 5-

methylfurfural, 2-ecenal, foram os principais compostos voláteis identificados em farinha

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

73

de castanha. Por outro lado, sabor desejável típico de fritura foi produzido em uma

concentração ótima de oxigênio. Pequenas quantidades de oxigênio produziram sabores

pobres e fracos, e altos níveis de oxigênio produziram off-flavors nas farinhas.

Tabela 9. Coeficiente de correlação de Spearman rho entre os compostos voláteis das amostras de farinhas tradicionais do Recôncavo baiano.

Avaliando as correlações entre os diferentes compostos voláteis através dos

valores do coeficiente de correlação de Spearman rho, a maioria dos compostos mostra

uma correlação diretamente proporcional entre si, apresentando uma grande variação de

0,06 a 0,92 (Tabela 9). Pode-se constatar, por exemplo, que a formação do aldeído

majoritário, o nanonal, tem alta correlação com 2-octenal, decanal, 2-decenal,

undecanona e 2-undecenal, indicando que podem ser originados do mesmo mecanismo

de oxidação.

O estudo ainda continuou na correlação polinomial dos compostos voláteis

identificados nas vinte amostras analisadas, assim foi realizado o estudo graficamente da

correlação dos valores de Aw com os valores das áreas dos picos dos compostos voláteis

(Figura 8) e a correlação dos valores de Aw com os valores dos ácidos graxos principais

suspeitos do mecanismo de formação dos aldeídos volteis (Figura 9).

N Parâmetros I II III IV V VI VII VIII IX X

I 2-Octenal 1,00 0,75 0,81 0,66 0,74 0,81 0,22 0,81 0,62 -0,27

II 3,5-Octadien-2-ona

1,00 0,65 0,59 0,63 0,69 0,10 0,88 0,51 0,07

III Nonanal

1,00 0,36 0,92 0,92 0,48 0,82 0,85 -0,17

IV 2-Nonenal

1,00 0,38 0,41 -0,17 0,59 0,22 -0,16

V Decanal

1,00 0,98 0,58 0,84 0,92 -0,09

VI 2-Decenal

1,00 0,52 0,87 0,93 -0,09

VII 2-Undodecanona

1,00 0,29 0,65 -0,08

VIII Undecanona

1,00 0,72 0,07

IX 2-Undecenal

1,00 -0,06

X Tetradecano

1,00

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

74

y = 562,19x2 - 471,54x + 97,4 R² = 0,6886

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

-0,1 6E-16 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

No

nan

al A

rea x

10

6

pA

AAw

y = 33,773x2 - 28,186x + 6,0904

R² = 0,6571

0

1

2

3

4

5

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

3,5

-Octa

die

n-2

-o

ne A

rea x

10

6 p

A

Aw

y = 53,44x2 - 42,36x + 8,684

R² = 0,6288

0

1

2

3

4

5

6

7

-0,1 6E-16 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

2-o

cte

nal A

rea x

10

6

pA

Aw

y = 66,607x2 - 55,099x + 11,228

R² = 0,6217

-2

0

2

4

6

8

10

-0,1 6E-16 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

Dec

an

al

Are

a x

10

6

pA

Aw Aw Aw

y = 44,188x2 - 37,186x + 7,8204

R² = 0,605

-1

0

1

2

3

4

5

6

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

2-D

ecen

al

Are

a x

10

6 p

A

y = 530,23x2 - 448,04x + 99,268

R² = 0,7041

0

20

40

60

80

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

AT

pic

o x

10

6 p

A

A

Figura 9. Correlação polinomial entre Aw e a área dos picos x (106 pA) dos compostos voláteis da farinha de mandioca, separados por HS-CG-

EM.

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

75

Figura 10. Comportamento dos teores de lipídios totais, do somatório de saturados, dos percentuais de C 18:1n9, C 18:2n6, C 18:3n3 e do somatório das áreas total dos picos (ATP x 106pA) dos voláteis das 20 amostras de farinhas em função da atividade de água.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

To

tal

lip

idio

s (%

)

Aw

20

25

30

35

40

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

Sa

tura

do

(%

)

Aw

30

33

36

39

42

45

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

18:1n9 %

Aw

10

15

20

25

30

35

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

18:2n6

Aw

%

0

3

6

9

12

15

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

C18:3n3 %

Aw

y = 530,23x2 - 448,04x + 99,268

R² = 0,7041

0

20

40

60

80

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

AT

pic

o x

10

6 p

A

Aw

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

76

‘Os compostos voláteis identificados apresentam o mesmo comportamento frente

à faixas de Aw das amostras, os picos máximos dos compostos voláteis foram atingidos

para os resultados de Aw abaixo de 0,2, os menores picos foram encontrados para os

valores de 0,2 < Aw ≤ 0,4, enquanto os picos intermediários foram encontrados quando

os valores Aw foram superiores a 0,4, o que coincide com o comportamento estabelecido

da curva de oxidação lipídica, um comportamento polinomial de segunda ordem obtendo

valores R2 superiores a 0,6. Em ambas Aw, mais altas e baixas, as taxas de oxidação de

lipídios e formação de voláteis são elevadas em comparação com Aw em torno a 0,4.

Portanto a Aw das farinhas exerce profunda influência na velocidade de reação de

oxidação dos ácidos graxos insaturados e conseqüentemente na formação de voláteis.

O efeito da Aw em alimentos tem sido extensivamente estudado. Em geral, a

oxidação lipídica é mais baixa em atividades de água próximas à

monocamada de água, que se localiza entre 0,2 e 0,3 para a maioria dos alimentos,

devido a uma diminuição do efeito catalítico de metais de transição, de extinção de

radicais livres e oxigênio e/ou retardo da decomposição de hidroperóxidos. No entanto, a

taxa de oxidação de lipídios aumenta rapidamente em atividades de água abaixo ou

acima da monocamada (FRANKEL, 1984; GROSCH, 1987; PARTANEN et al., 2008;

MINKYU et al., 2010; KULCHAN et al., 2010), principalmente durante processamento

e/ou armazenamento. Portanto, a qualidade da farinha de mandioca, principalmente do

grupo seca, pode ser grandemente afetada por pequenas mudanças dentro do intervalo

de Aw entre 0,1 a 0,6 e, conseqüentemente, a estabilidade oxidativa e formação de

voláteis, os quais têm como principal conseqüência à modificação do flavor e o

aparecimento de odores e gostos característicos do ranço.

Os ácidos graxos que permanecem nas farinhas depois de processadas também

parecem apresentar certa relação com a Aw das amostras, sendo que em Aw mais baixas

do intervalo, os teores de lipídios totais e de insaturados são maiores quando

comparados aos de Aw mais altas e intermediárias do intervalo (0,1 a 0,6). Entretanto,

não se pode excluir a possibilidade de que as farinhas submetidas a processamento que

resultaram em Aw ao redor de 0,4 podem resultar na proteção oxidativa dos ácidos graxos

insaturados, mas também a dificuldade da extração dos lipídios totais pelo método

desenvolvido por Bligh e Dyer (1959).

A Figura 9 mostra a distribuição de voláteis de acordo com o mês de

processamento das amostras de farinhas independente do tipo de processo ou local de

produção, onde se constatam que as concentrações de compostos voláteis das amostras

de abril foram as maiores, e as amostras coletadas em outubro apresentaram as

menores concentrações. Isto demonstra que a variável sazonalidade e o tempo de

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

77

armazenamento podem exercer grande influência na concentração de voláteis das

farinhas e conseqüentemente na qualidade, apesar da diferença no numero de amostras

de cada mês de coleta.

Ocl Oce nal Nel Dal Del Uoe Uee Uel Tde --

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

26

28

30

Abril

Agosto

Outubro

%

Voláteis

Figura 11. Distribuição de voláteis de acordo com o mês de processamento das amostras de farinhas. Ocl=2-Octenal; Oce=3,5-Octadien-2-ona; Nal=nonanal; Nel=2-Nonenal; Dal=Decanal; Del=2-Decenal; Uoe=2-Undodecanona; Uee=Undecanona; Uel=2-Undecenal; Tde=Tetradecano.

A composição de ácidos graxos foi semelhante em todas as amostras analisadas,

como mostrado nas Tabelas 5 e 6, mas o total de lipídios não foi (Tabela 2). Portanto, o

maior teor de lipídios totais das farinhas e, conseqüentemente, dos insaturados, em

especial C18:2n6 e C18:3n3, associado à atividade de água está correlacionado ao maior

teor de compostos voláteis e possuem off-flavors. Constata-se que existe um

comportamento padrão de oxidação entre os compostos de aroma dos voláteis e Aw e

também entre os lipídios totais e conteúdo de ácidos graxos insaturados e Aw, portanto, a

qualidade das farinhas e sua diferenciação ou notoriedade tem relação com os produtos

de oxidação dos ácidos graxos. Ou seja, uma mínima produção de compostos voláteis foi

obtida quando a Aw se encontra na faixa de 0,2 a 0,4, intermediária entre 0,4 a 0,6, e a

produção de compostos voláteis foi máxima em Aw inferiores a 0,2 (Figuras 7).

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

78

Considerando que o teor de voláteis depende da atividade de água das farinhas

de mandioca obedecendo a uma curva de oxidação típica, pode-se inferir que este

parâmetro analítico, tem o potencial para discriminar a qualidade das farinhas e que pode

ser usado, como indicador do desempenho de secagem e qualidade do processo.

Para além do grau de insaturação dos ácidos graxos, a taxa de autooxidação é

dependente das estruturas dos lipídios. Assim, conforme mostrado por Cosgrove et al.,

(1987) e Wagner et al., (1994), os radicais são dependentes do número de metilenos bis-

alílicos presentes nos ácido graxos. A taxa oxidação é menor para substratos

monoinsaturados, como o ácido oléico, do que para substratos poliinsaturados, porque os

hidrogênios do metileno são mais resistentes à abstração de H e formação do radical

iniciador da oxidação em cadeia. As taxas relativas de oxidação de ácidos oléico,

linoléico e linolênico são da ordem 1:40:80 (HOLMAN e ELMER 1947). Neste contexto,

considerando o grau de insaturação dos ácidos graxos das farinhas, C 18:2n6 e C 18:3n3

devem sofrer maior oxidação e os compostos voláteis são aqueles esperados,

provenientes dos seus principais hidroperóxidos (Figura 6). Petersen et al., (1999)

identificaram pentanal, hexanal, nonanal, 2-octenal, 2,4-heptadienal, 2-nonenal, 2,4-

decadienal e 2,4-nonadienal como compostos que contribuem para sabores

desagradáveis de batata cozida. Blanda et al. (2010) constataram uma forte correlação

entre off-flavors e altos teores de 2-pentenal, 2-hexenal, 2-heptenal, 2-pentylfuran e 2-

decenal, em produtos submetidos a secagem. Miyakelet al., (2006) também relatam que

o teor de produtos de oxidação de lipídios foi maior em farinhas de trigo que passaram

pelo processo de alta extração do que farinhas de trigo convencionalmente branqueadas.

O desenvolvimento de poderosas plataformas de análise de voláteis é um pré-

requisito para obter mais conhecimento sobre as vias de formação dos voláteis e também

na identificação dos efeitos genéticos e ambientais na produção da identidade de

alimentos. O amido de mandioca também contém alguns voláteis, destacando-se entre

eles os compostos aldeídos e cetonas, e a maioria são produtos de degradação da

peroxidação lipídica (DUFOUR e O’BRIEN, 1996).

A introdução de motores elétricos para secagem da farinha de Copioba e comum

(amostras 3 até 20) em comparação com as farinhas Copioba de referências do Vale do

Copioba (amostras 1 e 2) obtidas pelo processo convencional e quase artesanal e que

resultam em máxima notoriedade junto ao consumidor, pode levar a um aumento de

lipídios totais das farinhas, e por conseqüência um aumento dos compostos voláteis com

sabor desfavorável, mas este método tem uma capacidade maior de produção do que o

processamento totalmente artesanal, apesar da qualidade da farinha produzida não

parecer ser necessariamente igual.

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

79

Em geral, as farinhas de mandioca de Copioba são melhores em termos de

qualidade, quando comparadas às farinhas comuns, por possuir um processamento

brando, sem tanto farelo ou casca, pois emprega temperaturas mais brandas à

velocidades de rotação menores. No entanto, como resultado, os métodos de secagem e

peneiração podem ser considerados a melhor forma de preparar a farinha de Copioba

apesar da pequena escala. Nestas circunstâncias, considera-se que novos métodos de

secagem devem ser avaliados para a substituição do método artesanal visando o

aumento da escala de produção, com manutenção da qualidade da farinha de mandioca

de Copioba.

O perfil de voláteis, porém, foi capaz de diferenciar os 4 tratamentos de farinha de

mandioca produzidas no Recôncavo Baiano (referencia de Copioba, Copioba do Vale,

Comum do Vale e Copioba de fora do Vale) e revelou interações entre eles, incluindo a

participação dos ácidos graxos insaturados e a atividade de água. Apesar das diferenças

encontradas, não é fácil avaliar diretamente a influência das diferentes variáveis

envolvidas na produção dos 4 tratamentos das farinhas e a simples análise da atividade

de água, teor de lipídios e composição de voláteis de uma amostragem mais

representativa, pode ser considerado uma conjunção de parâmetros eficazes e adequado

à diferenciação das farinhas de mandioca de Copioba, justificando a sua notoriedade.

Outra questão importante a ser avaliada está relacionada ao armazenamento,

estabilidade e vida de prateleira das farinhas de mandioca, independentemente do tipo,

uma vez que a distribuição comercial é realizada em sacos de 50 kg, e vendida aos

consumidores a granel. Neste contexto, mais pesquisas devem ser realizadas para

estabelecer estes importantes parâmetros durante armazenamento seguro,

principalmente de regiões de clima tropical, tendo em conta as necessidades locais de

qualidade e estabilidade da farinha de mandioca, buscando prolongar a vida de

prateleira, assim como, o estudo de embalagens adequadas (1 a 5 Kg) que possam

contribuir para prolongar a vida de prateleira e evitar a adulteração do produto.

No entanto, a farinha de mandioca Copioba continua a ser um produto local,

popular em toda a região por suas qualidades tradicionais e artesanais. Como tantos

bens populares, com diferenças bastante peculiares, a farinha de Copioba vem sendo

imitada e falsificações são comuns, principalmente em mercados consumidores urbanos.

Os produtores regionais e intermediários reconhecem que outros tipos de farinha são

vendidos como farinha de Copioba. Cada família tem características peculiares nas

etapas do processo, com base em conhecimentos e habilidades transmitidas através das

gerações, apesar de utilizar um processo comum no Vale, onde a mais expressiva

mudança é a introdução de equipamentos elétricos de trituração e secagem buscando

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

80

facilitar o processamento. Maiores estudos que esclareçam a influência física da

granulometria, da distribuição do tamanho da partícula, da porosidade, da atividade da

água, entre outros sobre a taxa de oxidação e formações de voláteis são essenciais para

a seleção de variáveis de processamento apropriado, visando maior estabilidade das

farinhas de mandioca. Trabalhos de investigação também precisam ser realizados para

estabelecer as relações entre a composição volátil e atributos sensoriais, altamente

relacionados com os valores de limiar de odor e as interações dos diferentes compostos

na mistura complexa de compostos voláteis das farinhas de mandioca.

4. CONCLUSÃO

Este estudo representa uma das primeiras tentativas que visam à caracterização

da identidade por correspondente comparação das farinhas de mandioca Copioba e

comuns tradicionais produzidas no Vale do Copioba e regiões geográficas vizinhas do

Recôncavo Baiano-BA. Em particular, foi um estudo preliminar, da caracterização de

vinte amostras resultantes de processos e origens diferentes. As demais farinhas de

mandioca de Copioba referência do Vale foram obtidas por um processo tradicional,

caracterizado por uma etapa de secagem suave em três fornos à lenha com controle

manual, seguidas por três peneirações consecutivas e alternadas. As farinhas de

Copioba de produzidas dentro e fora do Vale do Copioba apesar de apresentar somente

uma secagem em fornos elétricos e uma peneiração, estas etapas também empregam

temperaturas mais brandas por um maior tempo, quando comparadas as farinhas

comuns. Os ácidos graxos obtidos por GC-DIC demonstraram que a fração de lipídios

totais (0,18-0,62% da farinha) mesmo sendo <1% apresenta alto teor de instaurados

(70% dos lipídios totais). A fração de voláteis das farinhas foram identificados e

quantificados analiticamente 10 compostos por HS-CG-EM, possuindo principalmente em

sua composição aldeídos e cetonas, sendo o nonanal o majoritário (40-50% dos voláteis),

produto da reação de oxidação dos ácidos graxos. As farinhas de Copioba em

comparação com as farinhas comuns, mostraram uma diminuição significativa na

quantidade de voláteis, associada a menores teores de lipídios totais e atividade de água

entre 0,2-0,6, faixa de menor velocidade de reação de oxidação. Assim as farinhas

comuns têm maiores teores de voláteis e de lipídios totais, e atividade de água entre 0,1 -

0,3, intervalo este a onde ocorre a velocidade máxima de oxidação. Esta diferença está

associada ao tratamento térmico durante a etapa de secagem dos diferentes

processamentos das farinhas (Copioba e Comum). A atividade de água é, portanto, um

importante fator de controle do processo, permitindo o manuseio das propriedades e

estabilidade das farinhas de Copioba, justificando sua maior notoriedade. Estes

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

81

resultados podem ser explorados, não só para a classificação comercial, mas também

para promover o registro de um processo de indicação geográfica (IG) do produto.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo representa uma caracterização preliminar da identidade e qualidade

das farinhas de mandioca Copioba e Comuns, tradicionalmente produzidas numa

pequena área localizada dentro e fora Copioba do Vale do Recôncavo Baiano/BA. Foram

caracterizadas vinte amostras resultantes de processos e origens diferentes.

A presente obra realizou um estudo de caráter inédito na literatura acadêmica ao

trabalhar com a composição química da farinha de mandioca através das analises de

voláteis, composição centesimal, e ácidos graxos, na tentativa de compreender melhor a

origem das diferenças de compostos voláteis.

As farinhas de mandioca de Copioba de referência do Vale foram obtidas por um

processo tradicional, caracterizado por uma etapa de secagem suave em três fornos à

lenha com controle manual seguidas por três peneirações consecutivas e alternadas.

As amostras de farinhas foram quimicamente classificadas com base nos estudos

de correlação entre a atividade da água, ácidos graxos e os produtos voláteis. Observou

se que atividade de água é, portanto, importante fator de controle do processamento,

manipulação das propriedades e estabilidade das farinhas de mandioca, especialmente

das farinhas de Copioba.

As farinhas analisadas apresentarem em conformidade com a legislação brasileira

vigente, no qual se observou que os parâmetros de umidade, atividade de água e voláteis

são parâmetros de qualidade e identidade da farinha de Copioba do Vale.

Mesmo sendo uma caracterização preliminar espera se que esses resultados

possam ser explorados, não só para a classificação comercial, mas também para

contribuir para o registro de um processo de indicação geográfica (IG) do produto.

O presente trabalho sugeri ainda a continuidade com pesquisas sobre a

qualidade da farinha de Copioba do Vale, com uma amostragem maior além de buscar

correlacionar parâmetros do processo, principalmente tempo e temperatura de secagem

e tempo de prensa, com os valores de atividade de água, na busca de obter parâmetros

de controle de qualidade do processamento da farinha de mandioca de Copioba

comparando os processos de etapas continuas e integradas e as etapas descontinuas.

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

82

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ÁLVARES, V. de S.; PAPA, D. de A.;GOMES, F. C. da R.;SANTANA, A. S de; SOUZA, J. M. L. de; SANTOS FILHO, M. D.;SANTIAGO, A. C. C. Perfil da produção de farinha de mandioca artesanal no Território da Cidadania do Vale do Juruá, Acre – Rio Branco, AC: Embrapa Acre, 2011. 50 p. (Documentos/ Embrapa Acre, ISSN 0104-9046; 121).

ANDERSON, K. A.; SMITH, B. W. Chemical profiling to differentiate geographic growing origin of coffee. Journal Agriculture Food Chemistry. V. 50, 2068-2075, 2002. ANTONELLI, A.; ILBERT, H. Legal protection of Mediterranean products. MediTerra, Chapter 16, p.327-344, 2012. AOAC.Association of Official Analytical Chemists. Official methods of analysis of the AOAC International.18.ed. Arlington, AOAC, 2005. ARYEE, F.; ODURO, I.; ELLIS, W.; AFUAKWA, J. The physicochemical properties of flour samples from the roots of 31 varieties of cassava. Food Control, v. 17, n. 11, p.916 -922, 2006.

ASSISTAT. Assistência estatística. Versão 7.6 beta. Registro INPI 0004051-2. 2011.

BLANDA, G.; CERETTANI, L.; COMANDINI, P.; GALLINA TOSCHI, T.; LERCKER, G. Investigation of off-odour and off-flavour development in boiled potatoes. Food Chemistry, v. 118, p. 283-290, 2010.

BLIGH, E. G.; DYER, W. J.A rapid method of total lipid extraction and purification.Cand. Biochemistry Physiology, v.37, n.8, p.911-917, 1959.

BRASIL. Instrução Normativa nº 52 de 07 de novembro de 2011. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 08 nov. 2011.

CEREDA, M. P.; CATÂNEO, A. Avaliação de parâmetros de qualidade da fécula fermentada de mandioca. Revista Brasileira de Mandioca, v. 5, n. 2, p. 55-62, 1986. CHARLES, A.; SRIROTH, K.; HUANG, T. Proximate composition.mineral contents. hydrogen cyanide and phytic acid of 5 cassava genotypes. Food Chemistry, v. 92, n. 4, p.615-6120, 2005. CHEETHAM.N.; TAO. L. Variation in crystalline type with amylose content in maize starch granules: an X-ray powder diffraction study. Carbohydrate Polymers, v.36, n. 4. p. 277- 284, 1998. CHISTÉ, R. C.; COHEN, K. de O. Caracterização físico-química da farinha de mandioca do grupo d’água comercializada na cidade de Belém, Pará. Revista Brasileira de Tecnologia Agroindustrial, v. 4, n. 1, p. 91-99, 2010.

CHISTÉ, R. C.; COHEN, K. O.; MATHIAS, E. A.; RAMOA JÚNIOR, A. G. A. Qualidade da farinha de mandioca do grupo seca. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 26, n. 4, 861-864, 2006.

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

83

CHOE.E.; MIN. D. B. Chemistry of deep-fat frying oils. Journal Food Science. v. 72. p. 77-86. 2007. CHUZEL, G. The Cassava Processing Industry in Brazil: Traditional Techniques,Technological Developments, Innovations and New Markets.The African Journal of Food and Nutritional Securit, v. 1, n. 1, p. 46-59, 2001.

CIRLINI, M.; DALL’ASTA, C.; SILVANINI, A.; BEGHÉ, D,; FABBRI, A.; GALAVERNA, G.; GANINO, T. Volatile fingerprinting of chestnut flours from traditional Emilia Romagna (Italy) cultivars. Food Chemistry, V. 134, n. 2, p. 662-668, 2012.

CODEX Stand 176-1989. Norma del codex para laharina de yucacomestible. Disponível em: http://www.codexalimentarius.org, acessoem 26 novembro 2013. COSGROVE, J. P.; CHURCH, D. F.; PRYOR, W. A. The Kinetics of the autoxidation of polyunsaturated fatty acids. Lipids, v.22, p. 299–304, 1987.

De MARCO, E.; SAVARESE, M.; PARISINI, C.; BATTIMO, I.; FALCO S.; SACCHI R. Frying performance of a sunflower/palm oil blend in comparison with pure palm oil. European Journal of Lipid Science and Technology, v. 109, p. 237-246, 2007.

De VASCONCELOS MENDES, M. D. C. B.; BENNETT, R. N.; ROSA, E. A. S.; CARDOSO, J. V. F. Primary and Secondary Metabolite Composition of Kernels from Three Cultivars of Portuguese Chestnut (Castanea sativa Mill.) at Different Stages of Industrial Transformation. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 55.p. 3508-3516, 2007. DEVORE J. L. Probabilidad y Estadística para Ingeniería y Ciencias.7th. Ed. Thomson Learning. San Luis Obispo. CA.2000.768 pp. DIAS, L. T.; LEONEL, M. Physic-chemical characteristics of cassava flours from different regions of Brazil. Ciência e Agrotecnologia, v. 30, n. 4, p. 692-700, 2006.

DOUGAN, J.; ROBINSON, J. M.; SUMAR, S.; HOWARD, G. E.; COURSEY, D. G.Some flavouring constituents of cassava and of processed cassava products. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 34, n. 8, p. 874-884, 1983.

DRUZIAN, J. I.; NUNES, I. L. Indicações Geográficas brasileiras e impacto sobre bens agrícolas e/ou agroindustriais. Revista GEINTEC, v. 2, n. 4, 413-426, 2012.

DRUZIAN, J. I.; SOUZA, C. O.; PASCOAL, D. R. da C.; NUNES, I. L. Farinha de copioba e seu potencial para indicação geográfica (IG). In: Raul Lody. (Org.). Farinha de mandioca o sabor brasileiro e as receitas da Bahia. 1ed.São Paulo: Senac São Paulo, 2013, v. 1, p. 131-161. DUFOUR, D.; O’BRIEN, G. M. Cassava flour and starch: progress in research and development. Montpellier, France, Centre de CoopérationInternationale en RechercheAgronomique pour le Développement, Département des SystèmesAgroalimentaires et Ruraux ; Cali, Colombia, Centro Internacional de Agricultura Tropical, 1996, 409 p. (CIAT publication; no. 271). ISBN 958-9439-88-8.

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

84

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Disponível em: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Mandioca/mandioca_semiarido/index.htm Acessado em: 20 fev. 2013.

FAEB. FUNDAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO ESTADO DA BAHIA. Disponível em <http://faeb.org.br/perfil-de-territorios/Recôncavo.html>. Acesso em: 17 de novembro de 2013.

FAO - Food and Agriculture Organization.(2007). Guía técnica para producción y análisis de almidón de Yuca. Roma: FAO. ISSN. 1020-4334. Available from: http://www.fao.org/docrep/010/a1028s/a1028s00.htm

FERNANDES, L. R.; DRUZIAN, J. I.; NUNES, G.; LIMA, M. S.; PEREIRA, J. P.; UETANABARO, A. P. INDICAÇÃO GEOGRÁFICA. In: Gabriel Francisco da Silva; Suzana Leitão Russo. (Org.). Capacite: os caminhos para a inovação tecnológica. 1ed.São Cristóvão, Sergipe.:Editora UFS, 2014, v. 1, p. 1-182. FRANKEL, E. N. Lipid Oxidation: Mechanisms, Products and Biological Significance. Journal Americal Oil Chemical Society,v. 61, p. 1908-1917, 1984. FRANKEL, E. N.; SELKE, E.; NEFF, W. E.; MIYASHITA, K. Autoxidation of Polyunsaturated Triacylglycerols. IV. Volatile Decomposition Products from Triacylglycerols Containing Linoleate and Linolenate, Lipids, v.27, p. 442-446, 1992. GROSCH, W. Reactions of Hydroperoxides-Products of Low Molecular Weight, in Autoxidation of Unsaturated Lipids (Chan, H.W.S., ed.) pp. 95–139, Academic Press, London, 1987. GRUBER, M. A. The flavor contributions of kilned and roasted products to finished beer styles. Technical Quarterly - Master Brewers Association of the Americas, v. 38, p. 227–233, 2010. HOLMAN, R.T. Autoxidation of fats and related substances. Progress Chemical Fats Other Lipids, v. 2, p. 51-98, 1954. IAL. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz: métodos químicos e físicos para análises de alimentos, v. 1, São Paulo: IAL, 2008.

IBGE. Instituto Nacional de Geografia e Estatística. Levantamento Sistemático da produção Agrícola. Setembro, 2010. 120p. 2010. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/ lspa/lspa_201009.pdf. Acesso em 12/10/13.

IBGE. Instituto Nacional de Geografia e Estatística. Levant. Sistem. Prod. Agríc. Rio de Janeiro v.24 n.01 p.1-80 jan.2011 http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/ lspa/lspa_201009.pdf, Acesso em 11/02/13.

INPI - INSTITUTO NACIONAL DE PROPRIEDADE INTELECTUAL. Indicações geográficas. Relação de Indicações Geográficas depositadas e concedidas atualizada em 31/07/2012. Disponível em:<http://www.inpi.gov.br/menu-esquerdo/indicacao>. Acesso em 02 fevereiro, 2014.

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

85

JOSEPH, J. D.; ACKMAN, R. G. Capillary column gas chromatography method for analysis of encapsulated fish oil and fish oil ethyl esters: collaborative study. Journal AOAC International, v.75, p.488-506, 1992. KAREL, M. Chemical effects in food stored atroom temperature. Journal Chemical Education, v.61, p. 335-339, 1984.

KOJIMA,T. I.; HORIGANE, A. K.; NAKAJIMA,H.; YOSHIDA, M.; NAGASAWA, A. T2 Map, Moisture Distribution, and Texture of Boiled Japanese Noodles Prepared from Different Types of Flour. Cereal Chemistry, V. 81, n. 6, p. 746-751, 2004.

KULCHAN, R.; BOONSUPTHIP, W.; SUPPAKUL, P. Shelf life prediction of packaged cassava-flour-based baked product by using empirical models and activation energy for water vapor permeability of polyolefin films. Journal of Food Engineering, v. 100, n. 3, p. 461-467, 2010.

LUYKX, D. M. A. M.; RUTH, S. M. V. An overview of analytical methods for determining the geographical origin of food products. Food Chemistry. v. 107. p. 897-911, 2008

MATOS, M. F. R.; “Cor e corantes como parâmetros de diferenciação da origem geográfica da farinha de mandioca do tipo Copioba”. Em Anais do II Simposio Internacional de Indicações Geográfica, vol. 1, Fortaleza-BR, 2012.

MINKYU, J,; JAEMIN, L.; WAN-IL, C.; JAEHWAN, L. Correlation of volatiles and fatty acids in thermally oxidized fattyacid model systems using statistical approaches. Food Science and Biotechnology, v. 19, n. 5, p. 1233-1239, 2010. MIRANDA-LOPEZ.R.; LIBBEY. L. M.; WATSON. B. T.; MCDANIEL. M. R. Odor analysis of Pinot noir wines from grapes of different maturities by a gas chromatography-olfactometry technique (Osme). Journal of Food Science, v. 57, n. 4, p. 985-993, 1992. MIYAKEl, K.; MAEDA, T.; UBUKATA, Y.; MORITA, N. Quality of buckwheat flour prepared by low temperature milling of buckwheat grains.Fagopyrum, v. 23, p. 67-73, 2006. MULUALEM, T.; AYENEW, B. Cassava (Mannihot esculenta Cranz) varieties and harvesting stages influenced yield and yield related components. Journal of Natural Sciences Research, v. 2, n. 10, p. 122-129, 2012. PARTANEN, R.; RAULA, J.; SEPPA¨NEN, R.; BUCHERT, J.; KAUPPINEN, E.; FORSSELL, P. Effect of relative humidity on oxidation of flaxseed oil in spray dried whey protein emulsions. Journal Agricultural of Food Chemistry, 56, 5717–5722, 2008. PÉREZ, E.; AMAIZ, M.; GONZÁLEZ, Z.; TOVAR. J. Production and characterization of Cassava (Manihot esculenta crantz) flours using different thermal treatments. Interciência, v. 32, n. 9, p. 615-619, 2007. PETERSEN, M. A.; POLL, L.; LARSEN, M. L. Identification of compounds contributing to boiled potato off-flavour "POF". Lebensmittel-Wissenschaft und-Technologie, v. 32, p.32-40, 1999.

PILLONEL, L., BADERTSCHER, R., FROIDEVAUX, P., HABERHAUER, G., HO¨ LZL, S., HORN, P. Stable isotope ratios, major, trace and radioactive elements in emmental cheeses of different origins. Lebensmittel- Wissenschaft-Und-Technologie- Food Science and Technology, 36, 615–623.

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA - Programa de … · dos momentos de alegria e de tristeza me incentivando na luta. ... 2.4. Preparação de ésteres metílicos

86

RAGNARSSON, J.O.; LABUZA, T.P. Accelerated Shelf-Life Testing for Oxidative Rancidity In Foods-A Review. Food Chemistry, v. 2, p. 291–308, 1977.

RANGNEKAR, D. The Socio-Economics of Geographical Indications: a review of empirical evidence from Europe. IssuePaper, ICTSD and UNCTAD, n. 8, Geneva, 2004. RIBEIRO, L. P.; VOLKOFF B.; MELFI A. J. Evolução Mineralógica das Argilas em Solos Vérticos do Recôncavo Baiano. Revista Brasileira de Ciências do Solo, v.14, p. 263-268,1990.

ROCA, E.; GUILLARD, V.; BROYART, B.; GUILBERT, S.; GONTARD, N. Effective moisture diffusivity modelling versus food structure and hygroscopicity. Food Chemistry, V. 106, n. 4, p. 1428-1437, 2008. RODRÍGUEZ-SANDOVAL, E.; FERNÁNDEZ-QUINTERO, A.; CUVELIER, G.; RELKIN, P.; BELLO-PÉREZ. L. Starch retrogradation in cassava flour from cooked parenchyma. Starch-Stärke, v. 60, n. 3-4, p. 174-180, 2008. SAYASLAN, A.; KIM CHUNG, O.; SEIB, P. A.; SEITZ, L. M. Volatile Compounds in Five Starches. Cereal Chemistry, v. 77, n. 2, p. 248-253, 2000.

SOUZA, J. M. L.; NEGREIROS, J. R. S.; ÁLVARES, V. S.; LEITE, F. M. N.; SOUZA, M. L.; REIS, F. S.; FELISBERTO, F. A. V. Variabilidade físico-química da farinha de mandioca. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 28, n. 4, 907-912, 2008.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS – UNICAMP. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos: TACO. 2 ed. Campinas, 2006. Disponível em: <http://www.unicamp.br/nepa/taco/contar/taco_versao2.pdf>. Acesso em: 20 novembro 2013.

WAGNER, B.A.; BUETTNER, G.R.; BURNS, C.P. Free radical-mediated lipid peroxidation in cells: Oxidizability is a function of cell lipid bis-allylic hydrogen content. Biochemistry, v. 33, p. 4449-4453, 1994 YAO, Y.; ZHANG, J.; DING, X. Retrogradation of starch mixtures containing rice starch. Journal of Food Science, v. 68, n. 1, p.260-265, 2003.