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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO COMUNICAÇÃO EM PRODUÇÃO CULTURAL VICTOR DE SÁ FERREIRA KARL HOMUNCULUS UMA EXPERIÊNCIA COM PRÓTESE DE LÁTEX NA REALIZAÇÃO CINEMATOGRÁFICA SALVADOR 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

COMUNICAÇÃO EM PRODUÇÃO CULTURAL

VICTOR DE SÁ FERREIRA KARL

HOMUNCULUS

UMA EXPERIÊNCIA COM PRÓTESE DE LÁTEX NA REALIZAÇÃO

CINEMATOGRÁFICA

SALVADOR

2018

2

VICTOR DE SÁ FERREIRA KARL

HOMUNCULUS

UMA EXPERIÊNCIA COM PRÓTESE DE LÁTEX NA REALIZAÇÃO

CINEMATOGRÁFICA

Memória do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Colegiado do Curso de Comunicação Social da Faculdade de

Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom –

UFBA) como requisito parcial para a obtenção do título de

Bacharel em Comunicação – Habilitação em Produção em

Comunicação em Cultura.

Orientador: Prof. Dr. Leonardo Abreu Reis

Salvador

2018

3

AGRADECIMENTOS

Agraço a Deus, por sempre me guiar e me permitir ter calma e persistência diante de

momentos em que os problemas parecem se acumular, principalmente neste período

estressante que é o da conclusão do curso.

À minha mãe Cristina por sempre incentivar meus estudos e ao mesmo tempo permitir

que eu sonhasse e que eu buscasse aquilo que me fizesse bem, me dando suporte e

atenção durante a minha jornada do TCC.

A meu pai Ulisses por sempre apoiar meus projetos e iniciativas, tendo se deslocado e

participado de diversas formas para que eu pudesse realizar o curta-metragem e o

produto proposto neste memorial.

À minha madrinha e tia Maria, por ser uma segunda mãe, ajudando e se preocupando

sempre que possível, além de ter emprestado seu jaleco para uma das cenas do curta-

metragem e também a toda minha família, por contribuir, de qualquer forma, para que

eu pudesse chegar até essa etapa.

À minha namorada, Ana Lu Simas, por seu amor e apoio incondicional, assumindo

diversos papeis em diversas etapas na execução do projeto para me ajudar e sendo

sempre o meu porto seguro, além de uma ótima conselheira.

Sou grato aos meus gatos Lion, Pantera, Taiga, Nina, Spark, Wolf, Pitty, Mel e Félix, e

ao meu cachorro Chico, por me lembrarem constantemente do lado bom da vida e da

existência do amor puro, sendo verdadeiros terapeutas em momentos de stress.

Agradeço também ao grupo Cosplayers-BA por permitir experiências como Produtor

Cultural em algo que amo e me ajudar a desenvolver habilidades e conceitos que me

direcionaram até o resultado deste memorial. Agradeço aos meus colegas da UFBA,

Adlei Pereira, Jonatas Santos, Jordi Amorim, Mirela Fernanda, Lara Miranda e Heitor

Oliveira por todos os momentos de apoio mútuo e sufoco que passamos juntos e

principalmente por nossas vitórias.

À Faculdade de Comunicação e ao Instituto de Biologia da UFBA, por terem permitido

uso das suas dependências para as filmagens.

Em especial, agradeço àqueles sem os quais meu projeto não passaria de uma das

diversas ideias que habitam minha mente:

À professora Maria Carmen, por ter acreditado no potencial da minha ideia para o TCC

e ter me direcionado. Ao professor Leonardo Reis, que me mostrou que era possível de

realiza-la, me direcionando de forma que eu conseguisse executá-la e me pondo em

contato com pessoas que foram essenciais para o projeto. A Marcus Barbosa, que

protagonizou e planejou as cenas de luta mais intensas que já pude ver sendo gravadas,

realizadas no meu curta-metragem, me dando conselhos sobre a área de audiovisual e

demonstrando sempre comprometimento e bom humor dentro do set.

À equipe de produção, Raphael Maiffre e Lara Miranda, que puderem ajudar mesmo

com seus compromissos pessoais, a Lukas Zdravakov, por ser um excelente

cinegrafista, gravando horas de filmagem e entrando em posições desconfortáveis para

conseguir um plano bom, a Rodrigo Shakira, por correr atrás de soluções de última

4

hora, cumprindo sempre com o que tinha se comprometido, a Mell Marzolla por aceitar

o convite para atuar no curta, ao meu primo Renato Ferreira por ser um excelente ator

mirim e seus pais Mônica e Yadir por permitirem a sua participação no curta-metragem

e ao time de Airsoft Kavock, especialmente a Jan Martinez por ter recrutado todos os

integrantes da equipe tática, e aos integrantes Roger, Alessandro e Bryner por terem

participado até o fim e acreditado no projeto.

5

KARL, Victor. HOMUNCULUS. Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da

Bahia. Salvador, 2018.

Resumo

Este memorial busca discorrer sobre a experiência realizada com próteses de látex no

curta-metragem Homunculus, realizado como material de apoio para demonstração desta

experiência, a qual é o produto do meu Trabalho de Conclusão de Curso em Comunicação

Social com habilitação em Produção em Comunicação e Cultura da Universidade Federal

da Bahia (Facom/UFBA). Através deste, relato detalhadamente minha experiência

durante todo o processo do experimento, desde a concepção da ideia e como surgiu até a

realização cinematográfica e o processo de pós-produção.

Palavras-chave: Prótese de látex, Maquiagem de Efeitos Especiais, Cinema, Cosplay,

Do It Yourself, Cosmaker, Efeitos Práticos, Realização Cinematográfica, Filme de

Monstro, Propmaking.

6

VICTOR DE SÁ FERREIRA KARL

HOMUNCULUS

UMA EXPERIÊNCIA COM PRÓTESE DE LÁTEX NA REALIZAÇÃO

CINEMATOGRÁFICA

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Leonardo Abreu Reis (Orientador)

__________________________________________________

Prof. Dr. Guilherme Maia de Jesus (Avaliador interno)

__________________________________________________

Prof. Dr. Marcelo Rodrigues Souza Ribeiro (Avaliador interno)

__________________________________________________

SALVADOR

2018

7

SUMÁRIO

Introdução........................................................................................................8

1 – Pré-Produção.............................................................................................9

1.1 – Inspirações..........................................................................................9

1.2 – Conceitos Auxiliares..........................................................................11

1.3 – A Criação e o Design da Criatura......................................................13

2– A Experiência Cinematográfica...............................................................16

2.1 – A Fabricação do Homunculus...........................................................16

2.2 – Um Monstro no Set...........................................................................20

2.3 – Cenografia e Figurino.......................................................................22

2.4 – Aspectos Gerais................................................................................24

3 – Pós-Produção...........................................................................................26

3.1 – Criando a atmosfera para a Narrativa...............................................26

3.2 – Dando Vida ao Homunculus............................................................27

3.3 – Impressões gerais.............................................................................27

Considerações Finais....................................................................................28

Anexos............................................................................................................30

1 - Arte Conceitual da Cabeça do Homunculus..............................................30

2 - Modelo Lifecast da minha cabeça em Gesso.............................................31

3 - Processo da escultura e detalhamento do rosto do Homunculus...............33

4 - Detalhes gerais da cabeça..........................................................................34

a) Detalhes da testa (com e sem flash)..........................................................34

b) Detalhes do ouvido...................................................................................35

5 - Escultura finalizada e moldagem de gesso................................................36

6 - Máscara de látex do Homunculus..............................................................37

7 - Detalhamento e pintura da parte traseira do traje......................................38

8 - Figurino completo no set de filmagens.....................................................39

9 - Etapas da confecção da base da Câmara de Contenção............................40

10 – Roteiro do curta-metragem Homunculus...............................................41

Referências....................................................................................................66

8

INTRODUÇÃO

Desde a infância, fui fascinado por monstros e criaturas surreais, apresentados em filmes

de ficção, normalmente produzidos pela indústria cinematográfica de Hollywood. O meu

interesse no design dessas personagens se tornou mais intenso após assistir ao filme

“Alien vs. Predador” (2004), no qual a criatura alienígena ‘Predador’ aparece. Com isso,

tive um desejo muito pessoal em adquirir um traje do predador ou confeccioná-lo, com

apenas 10 anos de idade. Anos depois, iniciei o hobby do Cosplay1, no qual muitos

praticantes confeccionam seus próprios trajes e interpretam a personagem a qual fazem o

cosplay, sendo estes chamados de cosmakers, e graças a isso senti que poderia alcançar

esse sonho de infância. Durante quatro anos fui aprendendo como trabalhar com materiais

por meio da internet e acompanhando o processo de criação de trajes de monstros de

estúdios como o ‘Stan Winston Studio’, responsável pelo design do Predador. Em 2015,

fui bem sucedido em confeccionar uma máscara completa de látex da personagem,

juntamente a ‘roupa de músculos’ revestida também de látex e as peças de armadura do

alienígena, fabricadas em espuma de EVA. A partir disso, comecei a aceitar encomendas

de máscara de látex e vender para outros cosplayers, aos poucos aperfeiçoando a técnica

de moldar em argila, tirar o molde negativo em gesso e pôr o látex no molde para dar

forma à máscara, técnica a qual também é usada por profissionais da indústria

cinematográfica. Ao mesmo tempo em que admirava os designs de monstros criados para

filmes, meu interesse diante do cinema cresceu e o audiovisual se tornou minha área de

interesse profissional.

Por conta das experiências citadas anteriormente, decidi realizar no meu Trabalho de

Conclusão de Curso, um produto que unisse essas duas paixões: A confecção de trajes de

personagens e o audiovisual. Dessa forma, surgiu a proposta da realização do curta-

metragem “Homunculus”, no qual desenvolvi o roteiro que gira ao entorno da

personagem ficcional, que dá nome ao filme. A personagem Homunculus teve seu traje

construído com próteses de látex, na cabeça e mãos, e também um bodysuit de malha, o

qual teve enxertos de espuma para simular a musculatura e detalhamento feito por cola

quente, que foi pintado com uma mistura de tinta acrílica e látex líquido.

Essa experiência tem como objetivo provar a possibilidade de aproveitamento de

habilidades artísticas adquiridas na minha prática como cosplayer, para a maquiagem de

1 Palavra que funde as expressões em inglês ‘Costume’ e ‘Play’, significando Brincar de Interpretar.

9

efeitos especiais práticos2 inserida no contexto de uma realização cinematográfica ou

audiovisual. As próteses de látex, criadas especificamente para dar vida à personagem em

questão, alinhadas à atmosfera presente no produto audiovisual, que conta com efeitos

sonoros, trilha musical, montagem e iluminação, tem como objetivo causar os seguintes

efeitos ao espectador: A sensação de mistério, espanto e tensão, elementos necessários

numa narrativa que aborda uma criatura ficcional como um monstro, mais precisamente

nesse caso, um ser artificialmente criado em um laboratório.

Além de confeccionar o figurino da personagem Homunculus e criar seu design, também

roteirizei, dirigi, produzi e montei o curta-metragem, e fui responsável por atuar como a

personagem e gravar a voz e sons da criatura.

Neste memorial será descrita a experiência citada acima, sendo dividida em cada etapa

do processo, bem como minhas impressões pessoais diante da proposta que desenvolvi e

as minhas motivações para tal. Além disso, trarei uma breve definição dos conceitos de

Cosplay Maquiagem Cinematográfica de Efeitos Especiais e DIY (Do It Yourself ou Faça

Você Mesmo), e como eles se relacionam, de forma que auxilie o entendimento por

completo da experiência realizada.

1 – PRÉ-PRODUÇÃO

1.1 – Inspirações:

Como abordei na Introdução, desde criança tive fascínio pelas criaturas surreais

produzidas para filmes e outros produtos audiovisuais. Por sempre ter sido uma criança

com imaginação fértil e criatividade, costumava me imaginar e me inserir dentro de

histórias com monstros e seres fantásticos, através de desenhos e brincadeiras, nas quais

muitas vezes eu me representava por meio de tais figuras. Estas práticas lúdicas, me

impulsionaram a interpretar personagens, gostar de me fantasiar e também a entrar num

curso de teatro quando criança. Foi também, primariamente, o que me fez abraçar o hobby

2 Efeitos especiais práticos referem-se aos efeitos especiais, técnicas utilizadas para simular situações

surreais dentro do audiovisual, que não utilizam computação gráfica para gerar tais efeitos, valendo-se de

maquiagens protéticas, truques de perspectiva ou maquetes.

10

do Cosplay, que já pratico à sete anos e se tornou o ponto de partida para o produto que

trago neste Memorial.

Além das motivações com caráter intrapessoal, a ideia incipiente para a criação do

produto, teve como inspiração dois programas televisivos distintos os quais abordam o

processo de criação de efeitos visuais e confecção de um traje de monstro, sendo estes

respectivamente “Cinelab”, série brasileira do Universal Channel, no qual é mostrado

como produzir efeitos visuais em filmagens usando a criatividade e um baixo orçamento,

enquanto o segundo é o “Face-Off”, reality show estadunidense produzido pelo canal

SyFy. Neste, a cada semana, os competidores devem criar um personagem relacionado a

diversos temas propostos no “Spotlight Challenge”, ao mesmo tempo em que tem contato

com grandes nomes dos efeitos práticos na indústria do cinema hollywoodiano e tem a

disposição um estúdio de maquiagem com uma vasta gama de materiais a serem utilizados

para completar cada desafio. Ao longo de três dias, esses competidores devem criar o

conceito de seu personagem e fabricar o traje deste a partir do que lhes é disponibilizado

no estúdio, devendo apresentar o personagem ao fim do terceiro dia para uma banca de

jurados que criteriosamente avaliará a viabilidade do uso para fins cinematográficos,

através da aplicação da maquiagem e a coerência desta diante do tema e da história de

fundo criada pelo participante. No primeiro programa, o aspecto da utilização de

materiais de baixo custo para criação de efeitos visuais e a produção de um curta

mostrando a aplicação destes foi levado para o meu projeto, enquanto no segundo foi o

processo de realização de uma maquiagem ou traje de monstro e suas etapas (design,

modelagem e aplicação) que serviu de apoio para a construção do meu próprio traje de

monstro e sua utilização dentro da proposta cinematográfica.

Por fim, tive como impulso para a minha ideia um concurso promovido pela “Cinema

Makeup School”, Escola de Maquiagem e Efeitos Especiais para Cinema em Los

Angeles, chamado “The Next Level of Cosplay” (O Próximo Nível do Cosplay), que

oferece uma bolsa de estudos completa para artistas que façam seus próprios cosplays,

com habilidades de fabricação e maquiagem, e desejem estudar na CMS. A existência

desse concurso, permite o reconhecimento das capacidades artísticas de

cosplayers/cosmakers e a possibilidade da sua utilização dentro da indústria

cinematográfica, para efeitos especiais práticos e maquiagens, provando, portanto, a

viabilidade da associação de habilidades artísticas desenvolvidas no cosplay e seu uso

numa narrativa cinematográfica.

11

1.2 – Conceitos Auxiliares

De forma que possa fundamentar a experiência descrita neste Memorial, abordo neste

tópico alguns conceitos que interliguei, para construir a base do meu projeto do TCC,

começando pelo significado de Cosplay. A palavra Cosplay consiste na junção das

palavras do idioma inglês “costume” e “play”, e pode ser traduzida como brincar de

fantasiar-se ou interpretar uma personagem a qual esteja trajado à caráter. Esta nomeia o

hobby, surgido em 1939 durante a primeira WorldCon, quando Forrest J Ackerman e

Myrtle R vestiram fantasias pela primeira vez durante um evento, sendo o primeiro traje

chamado de “futurecostume” e o segundo uma versão baseada no vestido do filme

“Things to Come” (1936)3. Desde então, o hábito de usar fantasias consolidou-se em

eventos com a temática ficção-científica e mais tarde se estendeu para os fãs de

quadrinhos e fantasia em geral, ganhando força e grande popularidade ao chegar no Japão,

durante a década de 1980, graças a Nobuyuki Takahashi4, que se surpreendeu com o

hobby ao visitar o evento onde este surgiu. Enquanto a forma inicial de fazer Cosplay,

surgida nos EUA, permitia a criação de personagens e versões daqueles que já existiam,

a japonesa buscava a caracterização fiel de personagens existentes, e esta segunda

maneira difundiu-se pelo mundo junto com a popularização do Anime nos anos 1990.

Em território nacional, apesar de fãs de RPG e “Star Trek” se fantasiarem em convenções

no final dos anos 1980, o Cosplay propriamente dito só começou a surgir no fim da década

de 1990, em eventos de Anime e Mangá. Atualmente, graças ao advento da internet e

grande visibilidade dada à cultura “nerd/geek” devido ao boom de filmes com essa

temática, o hobby tem ganhado maior visibilidade e espaço em ambientes outrora

excludentes.

Aliado ao ato de se vestir como o personagem, muitos cosplayers também confeccionam

seus próprios trajes, dedicando-se ao hobby de maneira intensiva e desenvolvendo novas

capacidades em ramos que não necessariamente estão ligados a uma competência

profissional deste indivíduo, sendo exemplos disso a costura, maquiagem, modelagem de

espuma EVA, estilização de perucas, marcenaria, eletrônica, escultura e fabricação de

máscaras. A lista de habilidades adquiridas pode se estender a outras que não foram

citadas, dependendo apenas da criatividade e materiais disponíveis para cada ‘cosmaker’

(Fusão das palavras Costume e Maker, ou seja, criador de fantasias.) como são chamados

3 ASHCRAFT, Brian. Cosplay World. Reino Unido: Prestel Publishing, 2014, p 9. 4 Ibid., p 19.

12

aqueles que confeccionam ‘props’ (Acessórios de uma forma geral.) ou trajes de Cosplay.

Estes cosmakers podem tanto realizar tais atividades artesanais para uso próprio, quanto

transformá-las em um ofício, no qual aceitam encomendas e comercializam peças

confeccionadas pelos mesmos, variando em nível de complexidade que em alguns casos

podem ser consideradas verdadeiras réplicas do item original. Neste projeto, a atividade

de cosmaker, atrelada ao hobby do Cosplay foi o ponto de partida para a realização do

produto final, que foi a criação de próteses de látex para a narrativa audiovisual.

E é a partir daí que chegamos ao segundo conceito, a Maquiagem Cinematográfica de

Efeitos Especiais. Sendo uma prática artística surgida nos anos 1900 nos Estados Unidos,

funcionava de forma diferente dos dias de hoje para melhor visualização em filmes em

preto e branco. Naquela época, os materiais utilizados para a criação de tais maquiagens

também eram distintos, sendo eles comumente Massa de Vidraceiro, Cera Funerária,

Colódio e Spirit Gum (Goma Espírito ou Verniz para Bigode)5. Os três primeiros

materiais eram usados para modelagem e criação de volumes, enquanto o último servia

para fixar as próteses na pele. O pioneiro nessa arte foi Jack Pierce, tendo trabalhado em

filmes de monstros, que mais tarde se tornariam clássicos, como “Frankenstein” (1931),

“Drácula” (1931), “A Múmia” (1932) e “O Lobisomem” (1941)6.

Foi apenas em 1939, com o filme “O Mágico de Oz”, que próteses de látex começaram a

se popularizar, devido a sua praticidade de aplicação e remoção e capacidade de

reutilização. Anteriormente, no entanto, o material não era tão bem conhecido, e látex

líquido tinha sido utilizado sem supervisão para criar um efeito junto a uma máscara de

látex no filme “O Médico e o Monstro” (1931), e na hora da remoção, acabou arrancando

a pele do ator que precisou ficar semanas no hospital, se recuperando. Com a

popularização de filmes de ficção científica na década de 50, a demanda por monstros e

criaturas mais complexas cresceu, e o látex se tornou um material obrigatório para dar

realismo a tais seres. Peças, trajes e próteses de látex eram fabricadas, como pode-se ver

5 MSFX. A arte da transformação. Acessado em Junho, 2018. Disponível em:

http://www.oocities.org/themsfx/maq1b4.htm

6 SPECIAL EFFECTS MAKEUP. The History of Special Effects Makeup. Acessado em Junho, 2018.

Disponível em:

http://fms507sreevesgbravenewworld.blogspot.com/2015/11/the-history-of-special-effects-makeup.html

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no filme “O Monstro da Lagoa Negra”, no qual o ator vestiu um traje completo de látex,

além de peças menores e uma máscara para dar vida à icônica criatura. Através disso,

justifico a escolha do material utilizado para a fabricação do traje do Homunculus.

O terceiro e último conceito, trata-se do DIY (Do It Yourself ou Faça Você Mesmo), uma

prática presente em ambos conceitos apresentados anteriormente e de certa forma

responsável pelo nascimento do Cosplay. Apesar da ação de fazer algo por conta própria

ter acompanhado a humanidade desde seus primórdios, o termo DIY surgiu nos anos 50,

se popularizando em 1970, através da disseminação de ideias anticapitalistas e

anticonsumo, sendo considerada também uma ‘filosofia de vida’. Do It Yourself, em

suma, descreve a atividade de fabricar objetos como móveis e objetos de decoração, ao

invés de compra-los, permeando o ramo da decoração e da arte, além de ser um tipo de

hobby.

Através dos conceitos apresentados, busco neste projeto demonstrar que a capacitação

gerada pela experiência de criação de Cosplay pode ser canalizada na construção de um

traje de monstro a ser usado numa narrativa cinematográfica ficcional, demonstrando o

potencial de uma atividade proporcionada pela cultura do Do It Yourself (‘Faça você

mesmo’) dentro da indústria cinematográfica.

1.3 – A Criação e o Design da Criatura:

Para desenvolver a aparência e o conceito do Homunculus, primeiro criei seu

background e a narrativa, ricamente inspirada pela ficção científica, no qual a personagem

se inseria, um ser artificialmente gerado em laboratório. A partir deste ponto, decidi

abordar a criatura como uma tentativa de um grupo de cientistas de desenvolver um ser

humano superior, que fosse imune a doenças e danos físicos, com uma capacidade

adaptativa e regenerativa muito acima a de um ser humano. Para alcançar tais

capacidades, me inspirei na ótica transhumanista7 para justificar as atitudes dos cientistas

responsáveis pelo “Projeto Homunculus”, que quebrariam barreiras éticas em nome do

progresso científico. O DNA humano por si só, no entanto, não era suficiente para que a

cobaia pudesse se desenvolver, e então material genético de outros animais e seres vivos

foi hibridizado para que o espécime pudesse se desenvolver por completo.

7 Filosofia que busca aprimorar o ser humano através de avanços tecnológicos, como biotecnologia,

neurotecnologia e nanotecnologia.

14

Algumas das amostras de DNA que integraram o Homunculus, justificam traços de sua

aparência e foram integrados no design final da criatura. O Homunculus foi criado em

laboratório com a finalidade de ser um tipo de evolução do Homo Sapiens, então levei

isso em conta para mantê-lo como uma criatura bípede e humanoide, tendo a maior parte

do seu material genético humano e uma porcentagem de DNA de Morcego, Baleia

Jubarte, Gorila, Estrela-do-Mar, Cracas e Coral. A junção do DNA humano com outros,

para possibilitar o desenvolvimento do espécime e alcançar o resultado desejado, também

causou algumas deformações e atrofiamento da fisionomia humana predominante. Tais

deformações consistiram na má formação da epiderme e cartilagens, impossibilidade de

desenvolvimento dos cinco sentidos, atrofia facial e dos globos oculares e ausência de

sistema reprodutor.

As mutações e deformações causadas pela mistura genética, foram os fatores principais

para o surgimento de características físicas monstruosas no Homunculus e portanto,

importantes para o design final da criatura. Embora tenha demorado alguns meses para

alcançar o visual desejado, sempre tive em mente que a criatura não teria olhos, para a

tornar mais estranha e desconfortável visualmente, uma vez que não poderia passar

emoções através do olhar nem permitir uma identificação do espectador por meio de

características faciais semelhantes às de uma pessoa. Desta forma, adicionei diversas

fendas circulares na região dos olhos, e em algumas partes da cabeça e corpo, para acionar

a sensação da ‘tripofobia’8, e também como uma decisão prática para a máscara, pois me

permitiria enxergar parcialmente através destes buracos, ao mesmo tempo que não

deixasse meus olhos a mostra. A presença dessas fendas se explica conceitualmente pela

presença do DNA de Cracas e também porque a cobaia precisava ser constantemente

perfurada para retirada de sangue para exames e monitoramento, e alimentada por tubos

de alimentação de nutrientes para seu desenvolvimento e antibióticos.

O design da cabeça do Homunculus foi inspirado numa mescla da forma de um embrião

de Morcego visto de frente com o formato do crânio humano e suas características ósseas,

enquanto há elementos de um nariz de morcego em formato de folha na fenda nasal do

Homunculus, embora a criatura não tenha desenvolvido áreas de cartilagem, como nariz

e orelhas. Outro aspecto importante no design é a dentição humana atrofiada, contando

com apenas os dentes incisivos superiores e dando lugar às cerdas bucais, presentes em

8 Nome proposto para identificar a aversão que algumas pessoas sentem ao olhar para padrões irregulares

ou agrupamentos de pequenos buracos.

15

baleias, para se alimentar de nutrientes na solução aquosa o qual a criatura era mantida,

desde o seu nascimento. O surgimento das cerdas bucais foi um efeito colateral e uma

espécie de ‘evolução espontânea’ da cobaia. Essa decisão criativa foi tomada para fugir

do conceito ‘comum’ de monstros, onde estes costumam ter presas afiadas para rasgar

suas vítimas, e a ausência de uma arcada dentária deste tipo na criatura também age como

uma dica para revelar que a mesma não apresenta natureza predatória.

Já o corpo da criatura se assemelha ao de um humano pela sua forma humanoide, mas

traz características que o tornam distinto, como a ausência total de pelos, devido a sua

vivência num ambiente completamente aquático, musculatura torácica e dos braços

desenvolvida, graças ao DNA de Gorila, e filamentos de exoesqueleto espalhados pelo

corpo, desenvolvidos de forma aleatória, por conta da presença do DNA de Coral. As

mãos do Homunculus também têm aparência humana, exceto pelas suas garras,

decorrentes de uma das mutações genéticas. Outra característica criada para o design da

criatura, é sua pele espessa, com características provenientes do DNA de Baleia e de

Gorila. A cor de sua pele, cinza com nuances escuras no corpo, foi escolhida como uma

decisão criativa para tornar mais fácil a capacidade de camuflagem da criatura no escuro,

buscando causar uma sensação maior de mistério e suspense na narrativa audiovisual.

Conceitualmente, também foi inspirada pelo tom destes dois últimos animais, embora

tenha sido majoritariamente escolhida para caracterizar um ser criado em laboratório,

despigmentado, com uma coloração fria e monocromática, como algo sem aparência viva

ou natural.

A escolha das espécies e seres vivos usados para compor tanto conceitualmente, quanto

no design do Homunculus foi feita ao longo do segundo semestre de 2017, no qual fiz

esboços e rascunhos do design até atingir um resultado agradável, em Janeiro de 2018.

Busquei não apenas trazer algo visualmente adequado, mas que fizesse sentido no campo

científico, mesmo se tratando de uma ficção científica distante da realidade. Fiz pesquisas

sobre o assunto, nas quais descobri que o sistema imunológico dos Morcegos tem uma

forma de lidar com infecções, câncer e envelhecimento melhor que o dos seres humanos,

o que despertou a curiosidade dos cientistas em saber como se dava esse processo, além

da capacidade de regenerar DNA danificado, relacionado diretamente a capacidade

adquirida de voar. Também aproveitei a capacidade regenerativa das Estrelas-do-mar no

conceito do Homunculus, além do exoesqueleto existente nos Corais e o couro mais

resistente dos Gorilas para adicionar essa característica à criatura. Por fim, apresento de

16

forma sutil a capacidade de eco localização do Homunculus, herdada pelo material

genético de baleias e morcegos, presente no curta-metragem como fator de interferência

em sinais de rádio ou celular.

2. A EXPERIÊNCIA CINEMATOGRÁFICA

2.1 – A Fabricação do Homunculus:

Embora eu tenha três anos de experiência em próteses de látex, ao escolher a

confecção de um monstro para uma narrativa audiovisual com este material, como

produto para meu Trabalho de Conclusão de Curso, decidi que teria que trabalhar num

nível acima dos anteriores para que pudesse satisfazer a proposta daquele material que

seria filmado. Desta maneira, em Agosto de 2017, decidi fazer um modelo ‘lifecast’ da

minha cabeça e pescoço, que consiste numa réplica precisa das minhas características,

feita em gesso. O uso de um lifecast para esculpir uma máscara, é essencial no ramo da

maquiagem cinematográfica de efeitos especiais e permite que a escultura tenha uma

proporção e medidas quase idênticas às do modelo/ator, tendo um encaixe mais preciso e

mais realista daquela peça de látex, ao contrário de cabeças de manequins produzidas em

escala, por exemplo.

Para confeccionar um lifecast da minha cabeça, contei com a ajuda da minha namorada,

Ana Lu Simas, uma vez que o processo necessita que eu fique mais de uma hora com a

cabeça coberta de atadura gessada, impossibilitando que eu enxergasse e respirasse, o que

impedia que eu o fizesse por conta própria. Usando uma touca de natação, é necessário

que eu tenha a menor quantidade de pelos no rosto, pois a atadura pode arrancá-los na

hora da remoção, portanto raspei a barba para esse processo e passei vaselina nas

sobrancelhas e cílios, para que não colassem no gesso. Após a aplicação de três a quatro

camadas de atadura gessada molhada, aguarda-se a secagem e o molde é cortado

lateralmente, e os formatos da minha cabeça e rosto são preservados no lado negativo do

molde de atadura gessada. O processo se finaliza quando o molde tem suas faces unidas

por gesso e seu interior, ou lado negativo, impermeabilizado com vaselina sólida, assim,

17

gesso líquido é despejado no interior do molde até a sua borda. Ao endurecer, esse gesso

se torna uma réplica da cabeça que foi moldada, depois de pronta é só lixar a réplica de

gesso afim de corrigir imperfeições. Para preencher completamente o molde, usei 12kg

de gesso no total.

De posse do meu modelo de cabeça, pude começar a esculpir próteses que não teriam

problemas de proporção ou medida diferentes das minhas, e a primeira etapa para dar

início a construção do Homunculus havia sido concluída. Ainda em busca de alcançar um

resultado de qualidade superior aos meus trabalhos no hobby do cosplay, decidi usar uma

massa de escultura a base de óleo profissional, chamada comumente de ‘Clay’, para

esculpir a máscara do Homunculus. Anteriormente, havia usado apenas Argila natural a

base da água para esculturas, que é um material mais acessível financeiramente, com

baixa durabilidade e com impurezas como pedaços de cascalho, o que pode prejudicar a

escultura caso não sejam removidos. Ao contrário da Argila, o Clay não trinca e racha ao

secar e pode ser reaproveitado e modelado por diversas vezes, permitindo uma maior

flexibilidade e intervalos no período da escultura e modelagem. Entretanto, existem várias

‘durezas’ de Clay, sendo elas a macia, média e dura, servindo para propósitos e estilos de

escultura diferente, dependendo da escolha do artista. Para saber qual escolher, consultei

um cosplayer e escultor experiente, chamado Esdras Nogueira; Ele tinha sido a pessoa

que me deu dicas e conselhos para a confecção da minha primeira máscara de látex, e

também pôde me ajudar nesta decisão. Dessa forma, escolhi a Clay Média, da fabricante

DimClay, uma vez que é a que possibilita a aplicação de detalhes na escultura devido a

sua dureza, e não necessita do uso de um forno especial para se tornar modelável.

Em 26 de Fevereiro de 2018, fiz o pedido do material para fabricação do Homunculus:

2,5kg de Clay Médio e 5 Litros de Látex Pré-Vulcanizado para Máscaras, que chegou

após um mês, devido ao atraso dos Correios. Neste período, me engajei em outros núcleos

de produção do curta-metragem Homunculus, que engloba meu produto e situa

narrativamente as próteses e a personagem descritos neste memorial, escrevendo o roteiro

do mesmo, convidando pessoas para integrar a equipe e elenco do filme e também me

reunindo com a produção para estabelecer o calendário de filmagens. Com isso, precisei

iniciar o processo de escultura e confecção em meados de Abril, com um prazo apertado

diante do início das filmagens, que teriam início em 5 de Maio. Felizmente, o primeiro

dia de gravação no qual a personagem apareceria era 12 de Maio.

18

A confecção do traje do Homunculus se dividiu na fabricação de 3 peças distintas: A

Cabeça, o Corpo e as Mãos. Para a fabricação da Cabeça, peça principal do figurino, a

fabricação se dividiu em quatro etapas: Escultura, Moldagem em gesso, fabricação em

látex e pintura. Na primeira etapa, esculpi por três dias no meu modelo lifecast com a

Clay Média, material que até então não havia utilizado. Aos poucos pude me adaptar ao

material, cortando-o em peças menores para que eu aquecesse com um secador de cabelo

e modelasse com mais facilidade em cima da cabeça de gesso. Levei uma média de quatro

horas por dia para executar a escultura, buscando deixar o mais próxima possível do

conceito original, enquanto aprendia intuitivamente a trabalhar com a Clay. No fim do

terceiro dia, entrei na segunda etapa e comecei a fazer o molde bipartido, técnica para

fazer máscaras de látex que cubram a totalidade da cabeça. Nessa técnica é utilizado gesso

para formar o negativo da escultura, dividida em duas partes para possibilitar o

reaproveitamento do molde uma vez que a máscara de látex tenha ‘curado’. Por dois dias

usei gesso para fazer o molde, capturando os detalhes da escultura e reforçando a estrutura

externa do molde para que o mesmo não quebrasse.

Para abordar as etapas cronologicamente, antes de completar a descrição da fabricação da

máscara, trarei neste parágrafo o processo de criação do corpo. Para esta peça do figurino,

contei com a ajuda da minha namorada Ana Lu Simas mais uma vez, para costurar um

bodysuit de malha e enxertar espumas, simulando a musculatura da criatura. Uma vez

terminado o bodysuit, o vesti num manequim com minhas medidas, feito de fita adesiva

e sacos plásticos, confeccionado em 2015 para aplicação de látex em trajes de músculos,

feitos de malha e espuma. Devido ao prazo curto para a confecção, entretanto, não pude

seguir o passo a passo da impermeabilização completa do traje por látex antes da pintura,

e tomei a decisão de aplicar uma mistura da tinta acrílica ao látex, para obter um resultado

similar. Antes deste processo da pintura com látex, utilizei cola de silicone aplicada por

pistola de cola quente no bodysuit, para criar estruturas semelhantes a um exoesqueleto e

obter um resultado visualmente mais orgânico.

Já em relação às mãos, tive que reaproveitar os moldes de gesso criados para o cosplay

da personagem ‘Venom’, vilão do super-herói ‘Homem Aranha’, que fiz em 2016, devido

a impossibilidade de realizar todo o processo de escultura e moldagem das mãos esquerda

e direita, por conta do prazo. O resultado, no entanto, foi satisfatório; Fiz uma pintura

diferente nas luvas com nuances de cinza e unhas negras para condizer com o

Homunculus e as próteses serviram seu propósito. A fabricação das luvas de látex se deu

19

no mesmo dia em que confeccionei a máscara de látex do Homunculus, a partir do molde

de gesso bipartido, que foi a véspera do primeiro dia em que a personagem participaria

da gravação, dia 11 de Maio. Este foi provavelmente o ponto mais estressante da produção

do traje, uma vez que trabalhei continuamente das 16:00 do dia 11, até às 11:00 do dia

12, com breves pausas e alguns obstáculos, tendo apenas duas horas de sono até o

momento em que se iniciariam as filmagens.

Nessa ocasião, precisei fazer algumas reformas nos moldes das mãos, que apresentavam

leves rachaduras, e também no molde da máscara, que teve a borda danificada ao ser

separado da escultura. Houve a necessidade de lixar o gesso do último utilizando uma

micro retífica, de forma que a lacuna entre o encaixe das duas partes fosse reduzida, além

da utilização de massa de modelar neste espaço, para evitar vazamentos. Por um descuido,

esqueci de envolver o molde da cabeça com uma borracha de câmara de ar de uma

bicicleta, necessária para unir as duas partes e evitar que se separem e desperdice o látex

líquido dentro deste. Infelizmente foi isso que acabou ocorrendo. Haviam

aproximadamente 6 litros de látex dentro do molde da máscara, para finalidade de

alcançar a maior área do negativo possível num espaço de tempo menor, e enquanto eu

checava por vazamentos na barreira construída por massinha, os dois lados se abriram,

despejando o látex no chão e na caixa usada para apoiar o molde de cabeça para baixo

durante a aplicação do látex. Com a ajuda de Ana Lu, pudemos recuperar a maior parte

do látex que havia caído, mas pelo menos 2 litros se perderam nesse momento.

Frustrado comigo mesmo pelo meu descuido, decidi seguir em frente por não haver tempo

para lamentações e despejei novamente o látex no molde da máscara, dessa vez

devidamente seguro. Ao longo da madrugada, usei um secador de cabelo para ajudar na

cura do látex, que ocorre com o calor, revezando entre o molde da máscara e das mãos.

Ao mesmo tempo, Ana terminava de costurar as espumas restantes no bodysuit de malha,

tendo se atrasado por conta de uma febre que teve no mesmo dia. Quando a parte de

costura foi concluída, dei início ao processo de texturização por cola quente e a pintura

feita com a solução de látex e tinta acrílica. Ao amanhecer, abri os moldes e removi as

rebarbas das próteses de látex, dando início ao processo de pintura, simultaneamente com

o traje. Às 11:00, eu estava exausto e muito estressado, além de não ter conseguido atingir

o tom de cinza desejado, por conta da pouca quantidade de camadas de tinta possíveis de

serem passadas no tempo que tive e decidi descansar para a filmagem que ocorreria a

tarde.

20

Felizmente, haviam outras cenas a serem filmadas naquele dia, o que permitiu a

regravação da cena que foi feita com o traje não-finalizado numa outra ocasião, também

por conta de outros fatores que geraram atraso e a necessidade de terminar as gravações

na locação em outro dia. Com isso, tive uma semana para corrigir e aprimorar o traje do

Homunculus para a próxima gravação do dia 19 de Maio, acrescentando detalhes

orgânicos tanto no bodysuit quanto na máscara, e corrigindo as cores das próteses de

látex. Nesta gravação, houve um plano em que as costas da criatura eram mostradas, então

adicionei mais detalhes ao exoesqueleto feito de cola quente com essa finalidade. Por fim,

utilizei esmalte incolor para dar brilho às peças de látex, simulando umidade, de forma

que parecessem mais orgânicas. Vale lembrar também, que em nenhuma cena os pés da

criatura são visíveis, logo, não foram confeccionadas próteses para estes, levando em

conta o enquadramento e a montagem possibilitada dentro da realização cinematográfica.

É importante ressaltar que não recebi nenhum tipo de patrocínio ou incentivo para a

confecção deste traje, sendo todos os materiais comprados por conta própria, através de

fundos que estava guardando desde 2017, com a finalidade de pagar o orçamento

referente ao meu produto de TCC. Os gastos totais apenas para os materiais usados na

confecção do traje foram de R$ 400,00, tendo também sido investidas por mim quase 50

horas de trabalho para a fabricação das próteses referentes a personagem Homunculus.

2.2 – Um Monstro no Set:

Ao decidir seguir em frente com este projeto, tive em mente que estaria desenvolvendo

uma produção de minha completa autoria, o que implicava uma carga de responsabilidade

em funções em diferentes esferas da realização do curta-metragem, como roteirista,

diretor, produtor e designer de criaturas e ator, essas duas últimas compondo o foco da

proposta trazida neste Memorial. Entretanto, tive que aprender a lidar com minhas outras

funções além destas, e o momento em que mais senti o peso destas responsabilidades foi

quando precisei filmar o Homunculus no set.

Para otimizar o tempo de gravação, eu vestia o bodysuit aproximadamente com uma hora

de antecedência para as cenas em que a personagem participaria, tendo que dirigir as

outras cenas com as limitações e dificuldades trazidas pelo traje. O látex é, por exemplo,

na forma sólida, uma borracha completamente impermeável, o que impede a ventilação

das áreas em que ele cobre, causando uma grande sensação de calor. Felizmente, graças

à aplicação mista que fiz na pintura do bodysuit, com látex e tinta acrílica, o traje não

21

estava completamente coberto de látex, possuindo áreas que permitiam a ventilação

graças a estrutura primária de malha e amenizando parcialmente o calor, evitando o

superaquecimento do figurino.

Por outro lado, isso não acontecia com as próteses compostas exclusivamente de látex,

como a cabeça e mãos do Homunculus, que eu vestia apenas na hora das filmagens em

que a personagem estava em cena, devido ao desconforto causado pelas mesmas. Para

colocar as peças durante as filmagens, era necessário que Ana Lu me auxiliasse, uma vez

que ela estava no cargo de figurinista e monitorava o posicionamento das próteses no traje

do Homunculus quando era colocado em mim. Para vestir as luvas de látex, usava-se

talco, de forma que ajudasse o látex a deslizar e não prender nos pelos das minha mão. Já

para a cabeça, eu trajava uma balaclava de malha costurada no bodysuit, esticando e

cobrindo a região do pescoço e permitindo que a máscara de látex fosse vestida de forma

suave e não forçasse meus cabelos, além de ocultar completamente qualquer pele poderia

estar visível na emenda do pescoço e cabeça.

A máscara do Homunculus, além de ser a peça mais importante do figurino, também era

a mais difícil de usar. Ela abafava minha audição e limitava meu campo de visão a

algumas fendas na região dos olhos, superaquecendo se usada por muito tempo, como

numa ocasião em que foi necessária a repetição da filmagem de cenas. Contudo, por ter

sido fabricada num molde com minhas medidas, a máscara não apertava meu rosto e era

fácil de vestir e tirar.

Durante os dias de filmagem nos quais o Homunculus estava em cena, era necessário que

eu estivesse vestido com o bodysuit mesmo enquanto dirigisse outras cenas, uma vez que

para vestir o traje completo eu levava em média 15 minutos. Nas cenas em que estava

participando, foram necessárias pausas para que eu pudesse remover a máscara e ver o

resultado da filmagem de cada plano, uma vez que eu não enxergava completamente

vestindo-a. Como estou acostumado com o calor causado por vestir trajes e máscaras de

látex para cosplays, o calor não me afetou em demasia, como poderia acontecer com uma

pessoa sem esse tipo de experiência prévia. Entretanto, em uma ocasião de filmagem,

acabei sentindo enxaqueca, por ter decidido não descansar entre as gravações ou me

alimentar, me mantendo vestido até o fim daquele dia, afim de otimizar o tempo.

De maneira geral, sinto que a experiência do uso do traje com próteses de látex no set foi

dentro do esperado e teve um resultado positivo. Em alguns momentos até me surpreendi

22

por não ter me sentido mais desconfortável ou com calor, como já ocorreram em

experiências de cosplay, possibilitando que eu levasse a experiência em frente sem

impedimentos. A reação da equipe do curta ao ver o figurino completo, no escuro e pronto

para filmar também agradável e recompensadora; Houveram atores que se assustaram

com a aparência do Homunculus, influenciada atmosfera do ambiente, mesmo quando eu

não estava atuando.

2.3 – Cenografia e Figurino:

Apesar do Homunculus ter um papel central na narrativa cinematográfica apresentada no

curta-metragem de mesmo nome, a cenografia também foi importante para o

estabelecimento do mundo trazido na filmagem e sua atmosfera, através da confecção e

organização de objetos cênicos e soluções para situações que se mostravam como

obstáculos. A equipe de cenografia contou com três pessoas além de mim, todas

convidadas para participar da realização do curta-metragem por serem cosplayers e

cosmakers há bastante tempo, foram elas: Ana Lu Simas, Moabi Arthur e Tiago

Calheiros. Ana trabalhou também na produção, figurino e figuração, enquanto Moabi e

Tiago confeccionaram especificamente a peça de cenário equivalente à câmara de

contenção do Homunculus quebrada, presente no laboratório do qual a personagem

escapou. Para estabelecer os ambientes presentes no mundo onde a narrativa ocorre,

utilizamos cinco locações distintas, nas quais aproveitamos qualidades cenográficas

presentes nestes e também adicionamos novos elementos para auxiliar na composição da

cena e da atmosfera.

Dos cenários que buscávamos estabelecer, o laboratório foi o que contou com mais

objetos cênicos e planos fabricados, pela necessidade de adaptarmos uma sala de aula a

este propósito. A sala 07A da Faculdade de Comunicação da UFBA foi a escolhida para

este cenário, devido à sua amplitude e a disposição de elementos presentes nela,

adaptáveis e semelhantes ao que havia concebido mentalmente. Por conta do estilo de

filmagem para a cena que se passa no laboratório, era possível modificar apenas parte da

sala para o objetivo que tínhamos, uma vez que a filmagem seria de planos-detalhe

montados de forma rápida e sequenciada na pós produção, ajudando a estabelecer

continuidade mesmo que não houvesse essa disposição cênica no set. Um exemplo disso,

é o plano dos microscópios, que teve de ser filmado no Instituto de Biologia. Nele, tive o

cuidado junto com Lukas Zdravakov, o operador de câmera, entretanto, de filmar próximo

23

a uma parede e mesa que fossem semelhantes ao que havia na sala 07A, para que não

destoasse do restante dos planos.

A câmara de contenção, maior objeto cênico criado para a narrativa, representava

conceitualmente o equipamento que permitiu o desenvolvimento físico do Homunculus e

sua sobrevivência durante o experimento realizado pelos cientistas. Ao fugir do

laboratório, esta câmara de contenção foi destruída pela criatura, sendo, portanto, uma

peça cênica que exigia um cuidado maior na composição da cena. A princípio, Ana, Tiago

e Moabi fabricaram uma base circular com EVA de 4mm, um emborrachado muito

comum para a construção de peças para cosplay, capaz de simular diversas superfícies,

inclusive metálicas, como foi neste caso. Após isso, aplicou-se “primer de fundo” para

neutralizar a cor original do EVA e tinta spray cromada, para dar aparência metálica ao

objeto. Em seguida, foi confeccionado um trilho que acompanhava a forma circular, e

nele foram fixados pedaços de acetato, com o objetivo de simular o vidro que se quebrou

com a fuga do Homunculus. No dia da filmagem, para dar realismo, adicionamos alguns

outros materiais. Inseri tubos de silicone contendo sangue falso, presos à base da câmara

de contenção, cabos e fios ao fundo, além de substâncias viscosas como uma maquiagem

de efeitos especiais chamada “queimadura falsa”, um líquido preto que espalhei pelo

acetato fixado à peça e uma gosma fabricada por Ana, com pó de gelatina, maisena e

corante preto, simulando as secreções deixadas pelo Homunculus em sua fuga.

Utilizamos também água e sabonete líquido para dar brilho e umedecer essas substâncias,

também construindo um rastro por onde a criatura havia passado. Por fim, para este

cenário, imprimi papeis cenográficos com informações fictícias, para simular relatórios e

informações dos cientistas que trabalhavam neste laboratório.

Para as outras locações, houveram pequenas alterações ou adições nos cenários. Na

segunda filmagem que ocorreu nos corredores da FACOM, estávamos gravando uma

cena passada durante a noite, mas precisávamos começar a gravação a tarde, então

utilizamos edredons para diminuir a entrada de luz, prendendo-os no “cobogó” da parede,

por onde entrava a maior quantidade de luz. Dessa forma, pudemos mudar drasticamente

a quantidade de iluminação no ambiente e gravar a cena sem problemas. Outra alteração

que realizamos foi adicionar elementos no corredor que deixassem o ambiente mais

parecido com um corredor de prédio residencial, como quadros, vaso de planta e lixeiras

de corredor. Já na filmagem que ocorreu na casa do produtor do curta, Raphael Maiffre,

filmamos em três ambientes diferentes: A sala, cozinha e o quarto dele mesmo. Para tal,

24

não foram necessárias muitas alterações, pois o quarto da Raphael possui diversas

miniaturas e bonecos que poderiam ser associados à personagem Jorge, a criança que é

filha do protagonista do filme. Adicionamos alguns bichos de pelúcias, emprestados por

Ana Lu para uma cena específica e alteramos a posição de alguns objetos do quarto para

que funcionassem melhor na cena, adicionando também a máscara que a personagem

Jorge usa no curta, como um elemento integrante do quarto. Já em relação à sala, os únicos

elementos adicionados foram porta-retratos, feitos com o objetivo de tornar mais crível a

existência daquela família. As duas últimas locações, o playground e garagem do meu

prédio, não tiveram adição de nenhum objeto cenográfico, tendo apenas algumas

alterações no posicionamento dos elementos de cena.

Outros objetos cênicos fabricados foram a Arma Tranquilizante, um protótipo

desenvolvido pelo laboratório para conter o Homunculus em caso de emergência, e uma

capsula de bala amassada. Ambos foram confeccionados por Ana Lu, e feitos de EVA e

massa de Biscuit, respectivamente. Para organizar os objetos cênicos, uma lista havia sido

criada por mim, dividindo todos os objetos nas cenas em que estariam, definindo quais

seriam aproveitados e quais teriam que ser confeccionados pela equipe de cenografia.

Após a criação da lista, entreguei-a para a equipe, e confeccionamos aqueles necessários,

enquanto eu providenciava os outros que não seriam fabricados.

Em relação ao figurino, os atores usaram acervo próprio e apenas o do traje do

Homunculus foi completamente fabricado para o curta-metragem. Poucas alterações

foram feitas em relação aos atores, sendo apenas a aplicação de sangue falso no rosto das

personagens envolvidas na cena de luta, Marcus, Capitão Bradley e Cabo Rogério e a

utilização de uma peruca pela personagem Helena, devido à atriz ter cortado o cabelo

durante a produção.

2.4 – Aspectos Gerais:

A etapa das filmagens foi, sem dúvidas, a mais desafiadora deste projeto. Embora o foco

do produto deste Trabalho de Conclusão de Curso seja a aplicação de próteses de látex

numa narrativa cinematográfica, o meu envolvimento no curta-metragem se desenvolveu

de diversas outras formas, uma vez que o projeto havia sido concebido por mim desde a

trama ficcional até o design do Homunculus. Por ser um projeto independente, eu não

contei com nenhum tipo de patrocínio, então todos os envolvidos no projeto estavam

participando de forma voluntária, sem nenhum incentivo financeiro. Isso tornou minha

25

responsabilidade diante da equipe muito grande, devido a possibilidade deles

abandonarem a produção e eu não poder impedi-los disso, o que era uma preocupação

constante para mim. Com isso, sempre tentava estabelecer um ambiente agradável a todos

no set e fazê-los confortáveis em estarem participando da produção, oferecendo lanches

e bebidas nos intervalos de filmagem.

Felizmente, houveram poucos contratempos e obstáculos de uma forma geral, e a equipe

que se estabeleceu participou até o fim. Logo de início, entretanto, precisamos substituir

um dos atores que não apareceu no primeiro dia de filmagem e o papel dele foi entregue

para outra pessoa, o que acarretou em atraso, precisando compensar aquele dia de

filmagem com outro extra. Houveram duas vezes que a produção sofreu com situações

adversas que geraram atraso e dois dias extras precisaram ser marcados para concluir

aquelas cenas.

A greve dos caminhoneiros, por exemplo, interrompeu as gravações em duas semanas, o

que fez com que as filmagens terminassem depois do prazo combinado, que seria na

primeira semana de Junho. O período geral de gravações, portanto, durou um mês e meio,

tendo início em 5 de Maio e a última filmagem no dia 20 de Junho. Durante esse período,

aprendi a lidar com dificuldades e imprevistos surgidos num set de filmagem, as

peculiaridades de cada ator e pessoa, e também pude experimentar as etapas necessárias

para fazer uma filmagem funcionar, além de acabar me dividindo entre algumas

responsabilidades.

Um ponto positivo de ter escolhido a temática de filme de monstro para realizar o

experimento das próteses de látex numa narrativa audiovisual, é que a estrutura narrativa

deste tipo de filme acaba criando suspense e tensão diante de uma figura desconhecida,

que se revela parcialmente e em planos rápidos, de forma que o mistério ainda exista. Isso

ocorre em filmes como ‘Jurassic Park’ (1993), no qual o Tiranossauro Rex aparece

apenas no terceiro ato, no filme ‘Aliens: O Resgate’ (1986), com o Alien Rainha e também

em ‘O Predador’ (1987), no qual a criatura que dá nome ao filme se revela apenas na

sequência final. Vale lembrar que em todos os exemplos que citei, as criaturas foram

feitas através de efeitos especiais práticos, sem utilizar computação gráfica e mantendo o

realismo através de próteses de látex e uso de animatrônicos.

Devido a essa linha de raciocínio, pude dirigir a maior parte das cenas sem a dificuldade

de estar inserido nelas com o traje que traz limitações e é quente demais para ser usado

26

em Salvador, permitindo uma visualização das cenas e dinamicidade na função de diretor

que não seria viável caso a personagem estivesse num número grande de cenas. Com isso,

creio que o resultado geral da etapa de filmagens foi satisfatório, ainda que tenham

ocorrido situações problemáticas, como atores insatisfeitos com atrasos que se

sucederam, pude conversar com eles posteriormente e explicar a situação e eles

continuaram até o fim do projeto, resolvendo-as e pudemos ser bem sucedidos nesta parte

da proposta.

3. – PÓS-PRODUÇÃO

3.1 – Criando a atmosfera para a Narrativa:

A montagem de um filme é a etapa na qual o tom e atmosfera da realização audiovisual

são definidos, sendo essencial para que a narrativa atinja seu objetivo de forma correta e

possa transmitir ao espectador a história contada por meio desta. No caso do curta-

metragem Homunculus, busco estabelecer uma atmosfera de tensão e mistério, uma vez

que a situação em que as personagens se encontram é de desconfiança e perigo. Para isso,

julgo fundamental o uso de uma trilha e efeitos sonoros, além do próprio uso do silêncio

ter a capacidade de tornar uma situação tensa, e também filtros de cores, cortes de cena e

tipos de transição.

Além de utilizar um filtro de cor fria para cenas escuras, diminui a iluminação original

nestas e também inseri um ponto de luz vermelho digitalmente, na sequência em que há

um apagão e a fuga do casal protagonista, para dar a ideia de continuidade à luz vermelha

presente na escada na cena anterior. Originalmente, todas as cenas pós-apagão teriam uma

iluminação de emergência vermelha, mas isso não foi possível pelo fato do responsável

pela iluminação não conseguir o mesmo holofote de LED para outros dias de filmagem.

Dessa forma, decidi limitar tal característica de iluminação às escadas.

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A edição do curta-metragem foi realizada no programa Adobe Premiere Pro CS5,

contando com seus recursos básicos e plug-ins e os efeitos sonoros e músicas utilizadas

foram de acervos virtuais grátis para uso, baixadas dos sites Freemusicarchive.org e

Freesound.org, por possuírem uma variedade adequada para o que seria necessário no

curta-metragem.

3.2 – Dando Vida ao Homunculus:

Assim como o curta-metragem de uma forma geral, a personagem Homunculus requer

um cuidado especial no momento da montagem do filme, uma vez que os sons emitidos

por ele, tanto vocalizados quanto relacionados aos passos e movimentos externos, serão

inseridos nesta etapa do projeto. Outro aspecto importante na montagem, é a atenção

necessária para que qualquer imperfeição no traje ou elemento que não passe veracidade

da criatura para o espectador seja removido, alterado ou ocultado de alguma forma, com

o objetivo de tornar o mais crível possível a criatura que ali está apresentada dentro da

narrativa.

É importante citar que eu mesmo dublei e fiz os sons vocais da criatura, que foram

gravados no último dia de filmagem. Tais sons foram parcialmente modificados no

GoldWave, para distanciar a vocalização que fiz de algo que pareça humano, utilizando

efeitos de desaceleração da voz, tornando-a mais grave e tornando os sons mais estranhos.

Todas as cenas em que o Homunculus aparece são propositalmente realizadas com pouca

iluminação, para tornar mais misteriosa e sombria a atmosfera na qual o personagem está

envolto. Na pós-produção, foi utilizado filtro de cor fria para reforçar a proposta de um

ser não-natural, criado em laboratório, um ambiente insensível, esterilizado e artificial.

3.3 – Impressões gerais:

O processo de pós-produção, ao contrário da etapa das filmagens, pode ser realizado por

um número pequeno de pessoas, além da possibilidade de flexibilização de horários de

trabalho na montagem do filme. Inicialmente realizei a decupagem dos vídeos filmados

e pesquisei sons e trilhas sonoras que se adequassem a cada cena. A montagem da

sequência da luta foi realizada por Marcus Barbosa, coreógrafo e ator protagonista do

filme, uma vez que ele possui experiência e conhecimento de planos de ação e dos sons

adequados para o ‘foley’ da sequência. Já a montagem das outras foi realizadas por mim,

iniciando pelas quais a personagem Homunculus participa, por necessitarem de uma

28

atenção maior e mais específica, e pelo fato de serem aquelas que determinam o resultado

da proposta que apresentei neste memorial.

Por estar sem placa de vídeo no computador, após um problema que ocorreu

recentemente, decidi editar e montar cada cena separada e depois juntar o material já

renderizado. Desta forma, não exigia tanta capacidade de processamento do programa de

edição, Adobe Premiere Pro CS5, e poderia dar uma atenção especial para as cenas,

evitando confusões e possíveis problemas caso trabalhasse com todo o filme no mesmo

arquivo e ‘linha do tempo’.

Das etapas de realização do curta-metragem, a montagem é a que eu tenho uma

experiência e bagagem maior, por gostar de editar e montar vídeos desde os 12 anos de

idade. Senti uma certa pressão, devido ao prazo curto que acabei tendo para realizar a

montagem, mas creio que isso não chegou a afetar negativamente a execução desta

função, uma vez que trabalhei diariamente na pós-produção até sua conclusão,

finalizando ao menos uma sequência a cada dia de trabalho e iniciando a seguinte.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização deste projeto foi, sem dúvidas, o maior desafio que já me propus dentro do

âmbito acadêmico. Desde a concepção inicial da ideia, buscava realizar uma proposta que

pudesse ser direcionada para a área na qual desejo atuar, o audiovisual e que estivesse

contextualizada o suficiente no curso, para que pudesse ser aceita. Com isso pude unir a

técnica que havia desenvolvido no hobby do Cosplay para este viés relacionado a

maquiagem de efeitos especiais práticos na área, unindo dois dos meus maiores interesses.

Por meio desta proposta, almejei demonstrar uma visão pouco difundida no meio cosplay,

a qual permitisse este desenvolvimento voltado para o mercado audiovisual e não apenas

para o hobby por si só.

Desde a produção do anteprojeto, na disciplina COM116 - Elaboração de Projeto Em

Comunicação, até a realização da proposta em COM118 - Trabalho De Conclusão De

Curso Em Comunicação, pude me manter fiel à ideia original, adequando-a por meio da

orientação do Professor Leonardo Reis e aproximando o projeto de uma visão mais

29

criativa, como eu pretendia desde o início, mas temia que ficasse descontextualizado com

a proposta do curso. Por meio disso, tive uma experiência mais motivadora e um

aprendizado maior durante o processo, conhecendo tanto o que compõe uma realização

audiovisual e como ela se dá, quanto a forma em que minha proposta experimental cabe

e se insere dentro desta.

Embora buscasse realizar um produto completamente inserido no audiovisual, tive poucas

oportunidades para experiências na área durante os meus estudos no curso de Produção

Cultural na Universidade Federal da Bahia. Como demonstrava interesse na área de

audiovisual desde o Ensino Médio, ao prestar vestibular para a UFBA, busquei um curso

que pudesse abrir o leque de informações sobre o tema, embora de forma ampla, como o

de Produção Cultural. Nesta época, eu desconhecia o fato que Bacharelado

Interdisciplinar de Artes possuir uma área de concentração em audiovisual e optei pelo

curso de Produção Cultural. Desde então, fora matérias como “Oficina de Audiovisual”

presentes neste, também frequentei algumas matérias eletivas do BI de Artes voltadas

para o audiovisual e participei de cursos extracurriculares e palestras sobre o tema.

A falta desta familiaridade, no entanto, foi um dos obstáculos para mim durante a

produção, sendo amenizado por membros da equipe que a possuíam e me ajudavam a

tomar decisões mais bem direcionadas por conta disso. O tempo em que toda a produção

ocorreu, no entanto, acabou sendo abreviado, por conta da grande carga de funções que

atribuí a mim mesmo. Eu tinha a responsabilidade de criar um roteiro completo para o

filme, ao mesmo tempo em que desenvolvia o design do Homunculus e sondava pessoas

que demonstravam interesse e disponibilidade para participar do projeto, realizando

reuniões nas quais discutíamos os aspectos do curta-metragem e as conhecia. Ocorreram

algumas situações nas quais as pessoas não participaram das reuniões, por motivos

adversos, e eu acabava despendendo um tempo me deslocando até o local da reunião que

era inutilizado, e poderia ter sido investido em outra etapa do projeto.

Houveram contratempos, desistências e alguns mal-entendidos ao longo do caminho, que

foram resolvidos com sucesso, mas consumiram tempo. E por conta destes atrasos e o

encurtamento do prazo para a realização do projeto, foi necessário, na confecção, por

exemplo, que eu realizasse em um dia, um trabalho que deveria ser executado ao longo

de uma semana, comprometendo meu bem-estar físico e mental. Tenho ciência de que

ocorrem atrasos, por mais que haja planejamento prévio, no entanto sinto que eu

possivelmente me sobrecarreguei e poderia ter evitado isso, se possuísse mais

30

familiaridade com a prática da realização audiovisual. Apesar das situações

problemáticas, considero que a experiência foi um sucesso. Com paciência, proatividade

e cooperação da equipe, pude concretizar um conceito e narrativa criados por mim,

buscando atingir o objetivo proposto. Foi um experimento desafiador e exaustivo, mas se

mostrou possível e foi bem-sucedido.

Através deste Memorial, concluo que a minha proposta abre um leque de possibilidades

para aqueles que buscam se profissionalizar na área de audiovisual através das suas

habilidades artísticas desenvolvidas no Cosplay, ou qualquer outro hobby que incentive

o desenvolvimento de técnicas que, de alguma forma, possam ser assimiladas para

maquiagens de efeitos visuais práticos. Pude observar também, que até mesmo na aurora

do cinema, eram utilizados materiais experimentais para a criação de maquiagens e

próteses de efeitos visuais, o que demonstra que sempre há uma forma de desenvolver

novas técnicas, provenientes de outras origens e da experimentação, buscando tornar

palpável aquilo que só era possível na imaginação até ser trazido à vida pelo cinema,

reforçando a ideia de que com criatividade e inventividade, pode-se criar qualquer tipo

de personagem, seja um monstro ou criatura fantástica.

31

ANEXOS

1. Arte Conceitual da cabeça do Homunculus

32

2. Modelo Lifecast da minha cabeça em gesso

33

3. Processo da escultura e detalhamento do rosto do Homunculus

34

4. Detalhes gerais da cabeça na escultura

a) Detalhes da testa (Sem e com flash)

35

b) Detalhes do ouvido

36

5. Escultura finalizada e moldagem de gesso

Face frontal do molde de gesso bipartido.

37

6. Máscara de látex do Homunculus pré e pós aplicação das cerdas bucais

38

7. Detalhamento e pintura da parte traseira do traje

39

8. Figurino completo no set de filmagens

40

9. Etapas da confecção da base da Câmara de Contenção (Danificada) do

Homunculus - Cenografia

41

10. Roteiro do curta-metragem Homunculus

“HOMUNCULUS”

Um roteiro

de

Victor Karl

42

“HOMUNCULUS”

FADE IN:

FUSÃO PARA:

INT. LABORATÓRIO DESTRUÍDO – NOITE

As luzes do teto no laboratório piscam constantemente. As

paredes são cobertas de azulejos brancos. Há vidros

quebrados, folhas de anotações rasgadas e equipamentos

caídos no chão do laboratório, que está parcialmente alagado.

Existe uma bancada com livros, telas de monitoramento e

microscópios na lateral da sala. Duas cadeiras vazias ao

lado da bancada e uma delas possui um jaleco envolvendo seu

encosto.

No centro da sala, uma plataforma circular de metal com pouco

mais de um palmo de altura é cercada por fios de grossuras

diferentes e alimentada por 3 canos presos a sua base. Uma

estrutura de vidro quebrado está fixada em seu entorno.

As cenas a seguir serão passadas enquanto a narração

acontece.

CLOSE UP – GRAVADOR

O gravador usado nessa narração está ligado, no canto de uma

mesa.

DR. FELIPE TEOFRASTO (V.O.)

(Animado/ Voz com efeito de gravação)

Diário pessoal do Doutor Felipe Teofrasto,

registro de áudio do dia um no Projeto Homunculus.

(Pausa) Finalmente começaremos nossas atividades

nesta iniciativa revolucionária e até então tudo

parece surreal! (Pausa) (Falando mais baixo) Nem

mesmo pude saber a localização do laboratório, o

que é um pouco estranho, mas compreensível por

conta da natureza desse trabalho.

CLOSE UP – ANOTAÇÕES

Estão espalhadas a partir de um monte em cima de uma mesa,

há desenhos de musculatura humana, contratos e relatórios

científicos.

43

DR. FELIPE TEOFRASTO (V.O.)

(Curioso/Pensativo/Voz com efeito de gravação)

Ao me convidar para o projeto, o Dr. Celso Danúbio

me explicou a origem do nome que o batizou. (Pausa)

A palavra vem do latim e significa pequeno homem,

além de caracterizar na alquimia uma vida humana

criada artificialmente, como um clone. (Pausa)

(Bem-humorado) Um pouco irônico e ilegal, parando

para pensar. (Suspiro) Espero que Danúbio saiba o

que está fazendo.

CLOSE UP – BANCADA

A bancada contém livros, um microscópio e papeis espalhados.

DR. FELIPE TEOFRASTO (V.O.)

(Animado/Voz com efeito de gravação)

Os resultados do projeto são surpreendentes!

(Pausa) Apesar das duas primeiras cobaias

falharem, o terceiro embrião se desenvolveu

completamente e o espécime agora se aproxima da

fase adulta! (Pausa) Nunca tinha visto nada assim!

(Pausa) Com o cruzamento de DNA de diferentes

espécies, milagrosamente, a cobaia se mantém viva!

CLOSE UP – JALECO ABANDONADO

Um jaleco está caído no chão, ao lado de duas cadeiras

vazias.

DR. FELIPE TEOFRASTO (V.O.)

(Pensativo/Um pouco preocupado/Voz com efeito de gravação)

Não sei se a humanidade está pronta para isso. Dar

o próximo passo na escala evolutiva. (Pausa) O

44

Homunculus atingiu a fase adulta e tem sinais

estáveis. (Pausa) Houveram alguns efeitos

colaterais no seu desenvolvimento que podem ser

tidos como “perturbadores” por parte da equipe,

mas não comprometeram o objetivo principal do

projeto, que visa unicamente o benefício da

humanidade.

CLOSE UP – TELAS DE MONITORAMENTO

Há uma animação simulando o DNA humano e imagens de atividade

cerebral, pulsação e respiração, todas indicando zero.

DR. FELIPE TEOFRASTO (V.O.)

(Sério/Voz com efeito de gravação)

Hoje, será a primeira vez que a cobaia será

retirada do seu suporte vital. (Pausa) (Suspiro)

Infelizmente, também será a última, uma vez que o

espécime será eutanasiado para estudo e para o

aproveitamento de tecidos a serem convertidos em

soros e vacinas, que potencializarão o ser humano.

(Pausa) Um sacrifício o qual fui contra, mas

necessário para o progresso da ciência...

(Som de maquinas funcionando, seguido de

interferência)

(Surpreso) Mas o quê!?

(Incisivo) Interrompa o processo AGORA!

(ALARME DE ERRO CRÍTICO)

Isso é impossível! Precisamos evacuar–

(INTERFERÊNCIA, SOM DE ALARME, GRITOS E CORRERIA)

(A GRAVAÇÃO É CORTADA)

CLOSE UP – LUZES DE EMERGÊNCIA

Piscam em vermelho repetidamente.

CLOSE UP – CÂMARA DE CONTENÇÃO QUEBRADA

Há um liquido transparente espalhado no chão, levando à base

da câmara, que tem estilhaços de vidro. Na chapa de metal

45

lateral, é possível ver o logotipo da indústria que a

construiu.

Próximo ao fim do último áudio que registra a fuga do

Homunculus, volta para a cena do gravador, que já está em

silêncio. Uma sombra passa rapidamente em frente ao gravador.

CORTA PARA uma tela preta, revelando o título do filme.

FUSÃO PARA:

INT. QUARTO DO SÍNDICO – NOITE – 2:03 A.M.

O som irritante do INTERFONE se propaga pela casa. MARCUS

acorda lentamente, levantando da cama e se espreguiçando.

Sua esposa HELENA continua deitada.

HELENA

(Incomodada/Com sono)

Ai Marcus...o que aconteceu agora?

MARCUS

(Suspirando)

Algum morador deve ter esquecido a chave...já virou

costume nesse prédio.

Helena levanta da cama, bocejando.

HELENA

(Coçando os olhos)

Que saco isso em pleno feriado! (Respira fundo)

Vou ver se o Jorge acordou com esse barulho

chato.

Marcus concorda com a cabeça e sai do quarto, indo atender

o INTERFONE.

46

CORTA PARA:

INT. SALA DE ESTAR – NOITE

MARCUS ENTRA em cena e alcança o INTERFONE, que repousava

sobre uma mesa encostada na parede. Ele para de tocar.

CLOSE SHOT – INTERFONE

Marcus pega o interfone e o coloca no ouvido.

MARCUS

Alô? Quem fala?

CAPITÃO BRADLEY (V.O.)

Boa noite, me chamo Bradley Thomas. Peço desculpas

por incomodar a essa hora, mas se trata de um

assunto de extrema importância. Falo com Marcus

Castelo, o síndico deste prédio?

Marcus expressa estranheza quanto ao nome e o conhecimento

do homem e se acautela, falando novamente ao interfone.

MARCUS

Estou confuso quanto ao assunto, senhor Bradley

Thomas. Poderia me explicar com mais clareza?

CAPITÃO BRADLEY (V.O.)

Certamente. Sou capitão da Equipe de Extração e

Captura da Vida Selvagem em Ambientes Urbanos e

rastreamos um espécime que estava em observação e

escapou do nosso Centro de Pesquisa e Reabilitação

até este condomínio. Gostaria da sua permissão

para localizar e capturar o animal nas

dependências do prédio.

HELENA e JORGE conversam ao fundo, curiosos sobre o assunto.

Marcus olha para eles com um olhar de confusão.

47

MARCUS

(Supira)

Entendo. Irei encontra-lo no portão do prédio,

para que possa me explicar melhor a situação e o

que será feito.

Marcus desliga o interfone e caminha até a porta da frente

e se vira para Helena, que está parada no corredor com seu

filho Jorge.

MARCUS

Querida, tenho que descer para resolver uma coisa,

parece que um animal selvagem ficou preso no prédio

e uma equipe veio captura-lo. Ponha o Jorginho para

dormir que volto logo.

HELENA

Espere, Marcus! Tá muito estranho isso a essa hora

da madrugada!

Antes que Helena pudesse completar a frase, seu marido já

tinha saído e fechado a PORTA DE CASA.

CLOSE SHOT – Helena suspira.

Ela se vira para seu filho Jorge, que estava abraçado à sua

perna.

HELENA

(Atenciosa)

Hora de dormir, Jorginho. Papai foi resolver uma

coisa de síndico e mamãe vai ter que ir ajudar ele.

Helena faz um cafune em seu filho e leva ele até o quarto,

segurando sua mão carinhosamente.

CORTA PARA:

INT. QUARTO DE JORGE – NOITE

48

O quarto do garoto tem uma cama de solteiro, brinquedos e

bichos de pelúcia amontoados num canto e uma mesa de

cabeceira com um abajur. Jorge deita na cama e Helena o cobre

com o lençol até os ombros.

JORGE

(Sonolento)

Mãe, posso ajudar a procurar o animal também?

HELENA

Já está tarde, Jorginho, hora de criança dormir.

Amanhã de manhã a gente procura junto, ok?

JORGE

Tá bom...Então posso ficar com a lanterna para

procurar quando eu acordar?

Helena concorda com a cabeça e dá um beijo na testa do filho,

pegando uma LANTERNA na gaveta da mesa de cabeceira e

deixando ao lado de Jorge. Ela deseja uma boa noite, apaga

a luz do quarto e SAI.

FUSÃO PARA:

EXT. PORTÃO DO PRÉDIO – NOITE

Marcus desce as escadas até o portão. Do outro lado da grade

está o CAPITÃO BRADLEY e os cabos ROGÉRIO, JONAS, GUSTAVO e

BRUNO, homens da equipe de extração, conversando baixo, de

costas para o portão.

MARCUS

Boa noite, Capitão Bradley?

Os homens se viram, revelando que portavam ARMAS DE FOGO e

possuíam indumentária semelhante a de uma equipe militar,

trajando COLETES e CAPACETES. Marcus encara com desconfiança

e surpresa o líder da equipe.

49

CLOSE UP – ARMA ESPECIAL

O soldado Jonas portava uma arma com pintura branca,

diferente das outras.

CAPITÃO BRADLEY

(Virando-se para Marcus)

Boa noite, senhor Marcus! (Ele percebe que Marcus

está encarando as armas de fogo) Não há motivo para

preocupação, a maioria delas está equipada com

munição não-letal ou tranquilizantes. (Bradley

segura sua arma e sorri para Marcus, numa tentativa

de tirá-lo da defensiva)

MARCUS

(Desconfiado)

A maioria?

CAPITÃO BRADLEY

(Sério)

É, a maioria. Afinal, é melhor prevenir do que

remediar. Estamos atrás de um raro animal que

apresenta comportamento hostil quando cercado,

além de uma disfunção no sistema nervoso que pode

fazê-lo atacar indiscriminadamente.

MARCUS

(Compreensivo)

Tem razão, é melhor prevenir do que remediar. Por

sinal, você disse que era qual animal mesmo?

CLOSE SHOT: Capitão Bradley mente.

CAPITÃO BRADLEY

(Improvisando)

50

É um primata, um tipo de...gorila. Acredite em mim

é melhor nem querer saber como ele é.

Nesse momento, HELENA ENTRA EM CENA, descendo as escadas e

vai em direção a Marcus, olhando desconfiada para a equipe

do outro lado do portão ela dá boa noite para o grupo e se

volta para o marido.

HELENA

(Sussurrando)

Marcus! Você não esperou nem eu terminar de falar

e saiu! Por que esses homens estão armados?

MARCUS

(Falando baixo)

Desculpa, amor. Eu só queria resolver isso logo

para poder voltar a dormir. Não se preocupe que as

armas estão com tranquilizantes.

HELENA

(Sussurrando/Nervosa)

Não sei não, Marcus! É muito estranho! Vou ligar

para a polícia!

Helena tira o CELULAR do bolso e vira de costas para o

portão.

CLOSE UP – CELULAR

Ela digita o número da polícia e põe no ouvido. Após alguns

segundos, vê que está sem sinal.

Os homens da equipe se entreolham e Marcus suspira, enquanto

faz carinho no ombro da esposa.

CAPITÃO BRADLEY

(Insistente)

51

Por favor, senhor Marcus e senhora (Nessa hora

Helena responde com seu nome). Sei que é nossa

presença é incomoda a essa hora, mas é perigoso

deixar um animal como este a solta num ambiente

urbano. Minha equipe está preparada para esta

situação e estamos diante de uma emergência.

Pensem no bem dos moradores, senhores. É melhor

que acordem para serem protegidos do que para uma

tragédia.

Helena respira fundo, se acalma e olha para Marcus, que a

encara, compreensivamente e com as mãos nos seus ombros. Ela

depois para dentro do prédio e guarda o celular.

HELENA

Eu vou falar com os moradores que não viajaram

nesse feriado e explicar a situação. Marcus, por

favor, tome cuidado.

MARCUS

Obrigado, querida. Ficarei com a equipe no

playground pra explicar como é a estrutura do

prédio e falar com os moradores quando chegarem.

Volte assim que todos saírem e tome cuidado também,

meu amor.

O Capitão Bradley agradece e orienta seus homens a ficarem

próximos dele. Marcus abre o PORTÃO e a equipe se reúne do

lado de dentro.

FUSÃO PARA:

INT. SALA DE ESTAR – NOITE

O apartamento do síndico está escuro, iluminado apenas por

uma fraca luz que adentra a sala de estar. Passos abafados

são ouvidos e um vulto entra pela janela numa fração de

segundos. Há um ESPELHO DECORATIVO na parede, próximo a uma

estante com FOTOGRAFIAS DA FAMÍLIA.

52

O ombro do HOMUNCULUS surge no canto direito da cena,

iluminado pela luz vinda da janela. Sua forma não pode ser

vista muito bem. A criatura para diante do espelho, encarando

sua própria imagem que está oculta pela escuridão do

ambiente. Ele movimenta a cabeça, se inclinando levemente

sobre a estante e observando as fotografias e outros

pertences da família.

CLOSE UP – FOTOGRAFIAS

Um porta-retratos da família está na estante. A CÂMERA FOCA

EM JORGE.

MATCH CUT:

INT. QUARTO DE JORGE – NOITE

JORGE abre os olhos e pega a LANTERNA, parecendo bem

acordado. Ele levanta da cama e pega um BONECO.

JORGE

(Animado)

Vamos procurar o animal selvagem!

O garoto pega OUTRO BONECO no chão do quarto e PULA de volta

na cama.

JORGE

(Animado)

Te achei!

Ele brinca com os dois bonecos, fazendo efeitos sonoros com

a boca.

INSERT – LANTERNA

A lanterna rola para o chão, o som da queda faz o garoto

parar de brincar.

VOLTA À CENA.

53

Jorge desliza para o chão, caindo de joelhos, e pega a

lanterna.

POV DE JORGE

Ele passa o feixe de luz pelo quarto escuro e encontra uma

MÁSCARA DE MONSTRO de um dos seus personagens favoritos.

VOLTA À CENA

Ele engatinha até a máscara e a veste, quando um SOM DE

EMPURRÃO vem da PORTA DO SEU QUARTO, que está entreaberta.

JORGE

(Tira a máscara/Curioso)

Mãe? Pai? Vocês estão ai?

O garoto caminha até a porta, apontando a lanterna para o

lado de fora.

POV DE JORGE

Ele põe a cabeça para fora e vê que tudo está escuro e

silencioso.

VOLTA À CENA

Jorge chama mais uma vez por seus pais.

JORGE

(Curioso)

Já voltaram? Encontraram o animal selvagem?

Um som baixo, semelhante a um RONRONAR DE ANIMAL, chama sua

atenção, vindo do seu quarto.

Jorge se volta para a origem do som e aponta a lanterna para

o MONTE DE BRINQUEDOS no canto do seu quarto.

JORGE

54

(Sussurrando)

Olá?

POV DO HOMUNCULUS

A criatura observa Jorge na escuridão de dentro do monte de

brinquedos.

VOLTA À CENA

Há uma leve movimentação no monte, e alguns brinquedos caem

no chão. A MÃO HUMANOIDE do Homunculus alcança o lado externo

do monte de brinquedos, juntamente com o antebraço que se

movia lenta e cuidadosamente para fora deste.

Jorge arregala os olhos, fazendo o Homunculus hesitar. O

menino mantém a luz da lanterna fixa na criatura e veste a

máscara, se aproximando devagar.

Um estende a mão na direção do outro.

CORTA PARA:

EXT. PLAYGROUND/SAGUÃO PRINCIPAL – NOITE

Quatro moradores do prédio se preparam para evacuar o prédio,

enquanto MARCUS conversa com um deles. AUGUSTO e ANA arrumam

seus pertences para descer as ESCADAS e deixar o prédio,

CRISTINA tira o CARRO da garagem e AMANDA FALA NO CELULAR

com um parente, pedindo para passar a noite na sua casa. O

cabo JONAS estava no portão, BRUNO vistoriava a GARAGEM onde

o carro havia acabado de sair e o CAPITÃO BRADLEY conversava

ROGÉRIO e GUSTAVO no playground, próximo a Marcus.

MARCUS

E é por isso que precisamos evacuar o prédio, Sr.

Augusto. Não sabemos o quão perigoso é esse animal

e a equipe não pode garantir a segurança de todos.

Não se preocupe, assim que estiver tudo resolvido

ligo para o senhor voltar para casa.

AUGUSTO assente com a cabeça e vai rumo a saída principal do

prédio.

55

INSERT – MORADORES DEIXANDO O PRÉDIO

Moradores descendo a escadaria do playground e saindo pelo

portão

VOLTA À CENA

HELENA chega no playground e vai falar com Marcus.

HELENA

(Suspira)

Acho que consegui falar com todos os moradores que

não tinham viajado. (Pausa, olha ao redor.) Ué,

cadê aqueles caras da equipe de extração?

MARCUS

Boa pergunta, me distrai e os perdi de vista. (Olha

na direção da escada) Pensando bem, vi eles indo

para a garagem, devem estar patrulhando por lá.

Os dois terminaram de conversar e desceram as escadas para

a garagem. Os moradores haviam deixado o prédio e a Equipe

Tática se agrupava no HALL DO ELEVADOR na GARAGEM.

INT. GARAGEM - NOITE

CORTA PARA:

CABO ROGÉRIO

(Exclamando)

Perímetro estabelecido! O prédio foi isolado às

02:25 da manhã do Sábado, começando buscas pelo

espécime.

CLOSE SHOT – REAÇÃO DO CASAL

Marcus e Helena se viram para a equipe tática, assustados

com a exclamação do CABO ROGÉRIO.

56

CLOSE UP – MÃO DE HELENA

Helena aperta forte o braço de Marcus e ambos caminham até

o grupo.

O Capitão Bradley cumprimenta-os com a cabeça e os

interrompe antes que falassem algo.

CAPITÃO BRADLEY

(Amigável)

Agradeço por terem ajudado a evacuar o prédio, a

partir daqui nós assumimos. Para a segurança de

vocês, peço que fiquem em outro local até que o

animal seja capturado.

O Capitão sinaliza para os soldados Jonas e Bruno, que sobem

as ESCADAS DO PRÉDIO imediatamente.

MARCUS

(Confuso)

Espere! (Estende a mão em direção aos soldados,

mas estes já haviam subido) Não foi isso que

combinamos! Como síndico, devo acompanhar as

buscas e além disso, meu filho ainda está no

apartamento!

HELENA

(Nervosa)

Ai Meu Deus! O Jorginho! Precisamos tirar ele de

lá agora!

Helena vai em direção a ESCADARIA, mas os Cabos Rogério e

GUSTAVO bloqueiam o caminho.

CABO ROGÉRIO

57

(Autoritário)

Daqui cê não passa, senhora. Deixa eu e meus

colegas trabalharem que talvez seu filho fique em

segurança.

HELENA

(Irritada)

Como é que é?! Eu vou buscar meu filho agora, Deus

sabe o que pode acontecer se eu ficar esperando

vocês fazerem sei lá o que com esse animal!

MARCUS

(Respirando fundo)

Preciso que vocês liberem a passagem agora. Vamos

buscar nosso filho e depois sairemos do prédio.

Cooperamos até agora com vocês e gostaria de um

pouco de compreensão também.

CAPITÃO BRADLEY

(Tentando apaziguar)

Vamos todos nos acalmar, pessoal. Desculpem a

atitude do Rogério, ele apenas não quer

comprometer nossa operação. Vou pedir para meus

homens checarem o apartamento de vocês e trazer

seu filho em segurança, tudo bem?

HELENA

(Séria)

É o mínimo que podem fazer, mas acho difícil ele

abrir a porta para um desconhecido. Nosso

apartamento é o 303.

CAPITÃO BRADLEY

(Falando no rádio)

Câmbio, 04, preciso de uma extração de civil

prioritária no apartamento 3-0-3, é uma criança

chamada Jorge. Filho do síndico do prédio. Câmbio.

58

CLOSE SHOT: Marcus e Helena, preocupados.

CABO JONAS

(V.O./Rádio)

Afirmativo. Aqui é o 04, terminando ronda no

segundo andar e indo para o apartamento 3-0-3

realizar a extração. Câmbio.

Há um breve silêncio, no qual os soldados se entreolham e o

Capitão olha discretamente para o Cabo Rogério com

desaprovação. Helena fita o RÁDIO na mão de Bradley e Marcus

observa a escada e os soldados, nessa ordem.

MARCUS

Posso subir para buscar meu filho, também. Será

mais reconfortante e fácil tirá-lo do apartamento

se ele ver um rosto conhecido, além disso o que

acontece no prédio é de minha responsabilidade.

Marcus encara o Capitão e se põe a frente de Helena.

MARCUS

(Incisivo)

Minha esposa fica aqui em segurança e subo para

buscar o Jorge. Não levarei nem cinco minutos.

Há um breve silêncio, enquanto o Capitão encara Marcus. O

Cabo Gustavo ajeita o capacete e o Cabo Rogério olha para o

casal e para o capitão. Um som de INTERFERÊNCIA vindo do

rádio do capitão chama a atenção de todos ali. Ele tenta

sintonizar o rádio e os soldados se afastam para deixa-lo

passar. O casal se entreolha e se aproxima do capitão.

CAPITÃO BRADLEY

(Sério)

59

Câmbio, 04, não consigo ouvi-lo. Repita qual é a

situação, Câmbio.

CABO JONAS

(V.O./Rádio)

Possível contato! A porta do apartamento estava

aberta e não encontramos a criança nele. Começando

busca no terceiro andar, Câmbio.

Marcus e Helena arregalam os olhos ao ouvirem as palavras

que saíram do rádio do Capitão.

CABO JONAS

(V.O./Rádio)

Mas o que!? Algo acabou de atravessar o corredor!

Câmbio!

Neste momento, o som de INTERFERÊNCIA volta ao rádio do

Capitão e dos demais soldados, que se curvam tampando os

ouvidos. O prédio também sofre um APAGÃO, e o casal aproveita

o momento para correr escadas acima, Helena toma a

iniciativa, EMPURRANDO os soldados em seu caminho.

MATCH CUT:

INT. CORREDOR DO TERCEIRO ANDAR – NOITE

HELENA e MARCOS chegam ao terceiro andar, ouvindo ao longe

a voz do capitão que GRITAVA com os soldados para os

seguirem. Helena usa a LANTERNA DO CELULAR para iluminar o

caminho.

Rapidamente chegaram à PORTA do seu apartamento que estava

aberta, sem sinais de arrombamento.

HELENA

(Preocupada)

Jorginho? Você tá ai? Responde, por favor!

60

Não há nenhuma resposta. As LANTERNAS dos soldados iluminam

o corredor, os CABOS ROGÉRIO, GUSTAVO e o CAPITÃO BRADLEY

sobem as escadas com as ARMAS em punho. Eles apontam a luz

para o casal.

CAPITÃO BRADLEY

(Engole seco)

Não poderei permitir que façam isso novamente.

Soldado, contenha os civis.

CABO ROGÉRIO

(Sarcástico)

Já estava na hora. Fiquem quietinhos se não vou

ter que machucar vocês.

Ele tira ALGEMAS do seu cinto e vai em direção à Marcus,

enquanto Gustavo vai em direção a Helena, que se afastava

devagar.

Nesse momento um GRITO é ouvido pelo rádio e um SOM DE QUEDA

é ouvido no fim do corredor. Todos param por um momento e

Bradley sinaliza com a cabeça para Gustavo checar a origem

do som. Ele aponta com a lanterna na direção do corpo caído

de bruços de um soldado, ao lado dele havia uma ARMA COM

PINTURA BRANCA, destruída.

ÂNGULO DE FILMAGEM: Do chão, acima da cabeça do soldado

caído, com Bruno se aproximando.

CABO BRUNO

(Sério)

Senhor, é o Jonas! E a arma tranquilizante está

destruída!

CLOSE-UP: ARMA QUEBRADA

Os outros dois membros da equipe tática encaram o corpo

caído do companheiro, enquanto Marcus respira fundo e

Helena vê a cena com medo de que o mesmo tivesse acontecido

com o filho.

61

CLOSE-UP: ROSTO COM A REAÇÃO DO CAPITÃO

CAPITÃO BRADLEY

Merda...

O Cabo Rogério se volta para prender Marcus, mas é ATINGIDO

por ele no rosto e cambaleia para trás, caindo por cima do

Capitão. Marcus CHUTA AS ARMAS de ambos para longe e se

preparar para entrar em combate corporal com os soldados.

MARCUS

(Gritando)

VÁ HELENA! ENCONTRE E SALVE NOSSO FILHO!

O Cabo Gustavo ainda estava agachado ao lado de JONAS e

ficou sem ação, tendo tomado um susto com o barulho e o

grito de Marcus. Antes que pudesse perceber, Helena desviou

dele e subiu às escadas, enquanto Marcus dominava o Cabo

Rogério no combate corpo-a-corpo. O Capitão Bradley se

levanta, limpa o SANGUE DA BOCA e engatilha uma PISTOLA,

apontando para Marcus.

CAPITÃO BRADLEY

(Surpreso)

Então o síndico também é um lutador! Essa noite

está ficando cada vez mais interessante. (Dá um

sorriso sarcástico) Se eu não precisasse te matar

depois de tudo que você viu, poderia ser um bom

soldado.

O Cabo Gustavo se aproxima, também apontando a sua ARMA

para Marcus. BRUNO surge no fundo do corredor com o rifle.

Marcus estende as mãos para cima e se afasta.

Cabo Bruno

(Ofegante)

62

Senhor! O Quadro de Luz desse prédio já era!

CORTA PARA:

INT. QUINTO ANDAR – NOITE

HELENA chega ao último andar do prédio, ofegante. Ela se

apoia no CORRIMÃO para recuperar o fôlego. Assim que ela se

levanta, se esbarra com um VULTO. A mulher usa a LUZ DO

CELULAR para iluminar os arredores e vê seu filho, JORGE,

parado diante dela, usando a MÁSCARA DE MONSTRO.

HELENA

(Ofegante/Aliviada)

Filho! (Se agacha e o abraça) O que você tá fazendo

aqui, Jorge!? Você tá bem?

JORGE

(Sussurrando/Inocente)

Shh! (Leva o dedo indicador até a altura da boca)

Tô brincando de esconde-esconde com meu novo

amigo! Não fala muito alto senão ele vai descobrir

onde a gente tá!

HELENA

(Confusa)

Quê? Você tem que vir comigo agora, Jorge! Eu e

seu pai estávamos procurando você e o prédio não

é mais seguro!

Um ROSNADO ecoa pelo corredor escuro e Helena vira-se em

direção ao som. Quando percebe, seu filho havia sumido

novamente.

CAPITÃO BRADLEY (O.S.)

(Autoritário)

63

É melhor a senhora ficar quietinha e vir fazer

companhia ao seu marido se quer que ele continue

vivo.

BRADLEY, ROGÉRIO, GUSTAVO E BRUNO surgem pelas escadas,

levando MARCUS, que apresenta cortes superficiais no rosto,

como refém. Todos estão empunhando suas ARMAS. Helena se

aproxima devagar do grupo, o Cabo Rogério a agarra pelo braço

e a empurra pro lado do marido.

HELENA

(Preocupada/Falando baixo)

Minha nossa, amor! O que fizeram com você?

MARCUS

(Sério/Sussurrando)

Tô bem, Helena. Mas a gente precisa sair daqui,

esses caras são perigosos. Não acho que isso vai

acabar bem.

HELENA

(Sussurrando)

Não sem o Jorginho! Ele tá aqui, mas o perdi de

vista.

CABO GUSTAVO

(Apontando a lanterna para o casal)

É melhor os dois pararem de conversinha, ouviram

bem!?

Uma RISADA INFANTIL ecoa pelo corredor e a equipe se volta

para a origem do som e caminha devagar, em pares.

Um VULTO seguido por SOM DE PASSOS passa por trás da equipe

e eles se dividem. O casal tenta se afastar do grupo. Uma

FIGURA PEQUENA SALTA na frente da equipe tática.

64

JORGE (O.S)

(Animado)

Mãe-

Por impulso, Capitão Bradley se vira e ATIRA.

O flash de luz clareia todo o corredor, mas a bala não atinge

o garoto.

CLOSE UP – ARMA DISPARADA

Ela treme na mão de Bradley e fumaça sai do seu cano.

A CÂMERA SE VIRA E O ÂNGULO ABRE REVELANDO O HOMUNCULUS, que

surgiu numa fração de segundo, com o braço esticado e a BALA

amassada na palma da sua mão.

INSERT – BALA AMASSADA

O monstro movimenta a mão e os dedos, fazendo a bala cair,

junto com algumas gotas de sangue escuro.

VOLTA A CENA

Todos ficam paralisados. A criatura adota uma postura

defensiva, entre os soldados e a criança, ROSNANDO E

SIBILANDO para a equipe.

CAPITÃO BRADLEY

(Gritando)

CONTATO!!!

Todos os membros da equipe SE PREPARAM PARA ABRIR FOGO contra

a criatura, ao mesmo tempo que Jorge CORRE para os braços

dos pais.

CLOSE-UP – MÃOS DE MARCUS

Marcus consegue se libertar das ALGEMAS.

Ele é notado pelo Cabo Rogério, que investe agressivamente

contra a família.

65

A criatura ATACA a equipe, ao passo que a mesma ATIRAVA,

ineficazmente, em sua direção.

Marcus NOCAUTEIA Rogério, enquanto escoltava sua família

escada abaixo.

Os TIROS ecoam pelo PRÉDIO por alguns segundos, junto a

breves GRITOS e param.

FUSÃO PARA:

CRÉDITOS FINAIS

CORTA PARA:

INT. PÉ DA ESCADARIA DO PRÉDIO - DIA – AMANHECENDO

A MÁSCARA DE JORGE está caída na escada. O ÂNGULO ABRE PARA

REVELAR MARCUS, HELENA e JORGE que estão sentados no chão,

encostados na parede e um no outro. Todos parecem exaustos

e encaram o nada, pensativos.

Um som de PASSOS PESADOS se aproxima da família, que olha

para cima, em direção à criatura.

A tela fica preta.

HOMUNCULUS

(O.S./Voz inumana)

O-obrigado...estou...livre.

FADE OUT

FIM

66

REFERÊNCIAS

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DUNCAN, Jody. The Winston Effect: The Art & Story of Stan Winston Studio. Reino

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1ª ed.

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