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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA TAYANE LOPES SANTOS CONFLITOS E ENFRENTAMENTOS NO TERRITÓRIO DE SÃO BRAZ, RECÔNCAVO BAIANO: PERSPECTIVA DA GESTÃO COSTEIRA PROMOVIDA PELA COMUNIDADE SALVADOR 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA

TAYANE LOPES SANTOS

CONFLITOS E ENFRENTAMENTOS NO TERRITÓRIO DE SÃO BRAZ,

RECÔNCAVO BAIANO: PERSPECTIVA DA GESTÃO COSTEIRA PROMOVIDA

PELA COMUNIDADE

SALVADOR

2019

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TAYANE LOPES SANTOS

CONFLITOS E ENFRENTAMENTOS NO TERRITÓRIO DE SÃO BRAZ, RECÔNCAVO BAIANO: PERSPECTIVA DA GESTÃO COSTEIRA PROMOVIDA

PELA COMUNIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Graduação em Oceanografia,

Instituto de Geociências, Universidade Federal

da Bahia, como requisito para obtenção do grau

de Bacharel em Oceanografia.

Orientador: Prof. Dr. Miguel da Costa Accioly

SALVADOR

2019

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TAYANE LOPES SANTOS

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel

em Oceanografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia.

Aprovado em ___ de ___________ de _______.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________

Miguel da Costa Accioly – Orientador

Instituto de Biologia

Universidade Federal da Bahia

__________________________________

Francisco Souto

Departamento de Ciências Biologias

Universidade Estadual de Feira de Santana

__________________________________

Marcos Brandão

Conselho Pastoral dos Pescadores

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Dedico este trabalho a todas e a todos que se

engajam na construção de um mundo que

transborde a justiça ambiental e social. Em

especial a comunidade de São Braz.

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AGRADECIMENTO

Gratidão é o que melhor expressa o que sinto perante minha jornada como graduanda

de Oceanografia UFBA e a finalização deste trabalho. Trabalho este que, embora me

tenha como porta voz, foi construído por várias mãos. Mãos que proporcionaram,

mesmo que de forma inconsciente, o meu reencontro com a Oceanografia. Assim, vai

a minha GRATIDÃO por todas estas “mãos” e por todo o processo que colocou estas

pessoas no meu caminho. Em especial ao meu orientador Miguel Accioly por

compreender meu tempo e por compartilhar comigo um pouco de sua experiência de

vida e visão de mundo; ao grupo Marsol por me proporcionar momentos de

desconstrução e construção de ideias e de conhecimentos; ao Conselho Pastoral dos

Pescadores, a Articulação Quilombola Subaé e a Associação Quilombola de São Braz

por confiarem na minha colaboração nos enfrentamentos dos conflitos que vivenciam

as comunidades de pesca; e a comunidade de São Braz pelo acolhimento, pelo

compartilhamento de experiências e pela confiança no meu trabalho. GRATIDÃO a

minha família por serem quem são e por me ensinarem a incluir o amor e a

honestidade em tudo que eu faço na vida. Em especial ao meu pai Elzo, minha mãe

Terezinha, minha tia Laura e meus “porto-seguro” aqui em Salvador: meus tios Eliana

e Vine, minha priminha Lirinha, meu irmão Tássio e minha gatinha Mel. GRATIDÃO a

minha querida psicóloga Val por me auxiliar no processo de construção da minha

autoconfiança. GRATIDÃO aos migxs que a UFBA, a oceanografia, a Empresa Junior

Atlanticus e o Marsol me proporcionaram. Em especial minha turma maravilhosa de

oceanografia-2013 (meu oceano do amor) por transbordar meus dias com muita cor,

muito glitter (biodegradável hahah) e muito conhecimento; e meus Marsolinxs pelo

apoio e por compartilharem comigo a dor e a alegria de lutar por um mundo com justiça

ambiental. GRATIDÃO a Ritinha por me acolher tão bem e por “correr” atrás das

disciplinas comigo. GRATIDÃO a Universidade Federal da Bahia e a

OCEANOGRAFIA por tantos momentos de aprendizagem. GRATIDÃO a todxs que

vieram antes de mim e abriram os caminhos para que eu, uma mulher negra,

conquistasse a entrada em uma universidade pública. GRATIDÃO a Deus, esse ser

que ninguém explica, mas que me faz sentir sua presença de amor em todos os

momentos da minha vida, cuja presença me encoraja a praticar o amor também.

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RESUMO

As zonas costeiras e marinhas oferecem inúmeros serviços ambientais que atraem diversos grupos sociais, como os das comunidades tradicionais litorâneas e os que exercem o modo de apropriação privada. Essa diversidade de uso pode causar impactos e conflitos, necessitando de uma gestão ambiental costeira que os evite ou os mantenha em um nível aceitável. Contudo muitas vezes, os detentores de poder de decisão não levam em consideração a ocupação do território pela pesca artesanal. Isso vem agredindo os territórios tradicionais. Logo, fica para as comunidades tradicionais o papel de promover a gestão para sua própria sustentabilidade. Neste contexto se encontra São Braz, comunidade quilombola e de pesca artesanal, cujo território abrange as jurisdições dos municípios de Santo Amaro/Ba e de São Francisco do Conde/ Ba, na Baia de Todos os Santos. Por conseguinte, este trabalho tem por objetivo descrever os conflitos existentes na vida do território de São Braz e os enfretamentos desses conflitos pelos comunitários, na perspectiva da gestão costeira promovida por eles. Isso aconteceu por meio de pesquisa participante junto a ações do Conselho Pastoral dos Pescados e Articulação Quilombola Subaé e junto as oficinas promovidas pela disciplina ACCS BIOB63 - Mapeamento Biorregional Participativo em Comunidades Costeiras Tradicionais; entrevista informal e consulta a artigos acadêmicos, técnicos e noticiários eletrônicos (internet). Assim sendo, foram identificados conflitos relacionados a fontes de poluição e a alterações/ocupações do território pela administração pública e pelo agronegócio. A Comunidade, então, vem defendendo seu território por meio da articulação com outras comunidades de pesca e com o Conselho Pastoral dos Pescadores. Estratégias que funcionam à medida que mobiliza, promove o diálogo entre diferentes formas de saberes e pressiona o poder público. Contudo, poderia ser mais eficiente se a comunidade de São Braz se organizasse no intuito de construir mecanismos que a possibilitasse ser autora do seu próprio modelo de desenvolvimento, inclusive pautando seus planos e elaborando a execução para o governo realizar. Uma alternativa a isso seria a elaboração de um planejamento territorial participativo construído pelos próprios comunitários, resultante de um diálogo horizontal entre si e entre os conhecimentos técnico e popular. Palavras-Chaves: Comunidades tradicionais; Conflitos ambientais; Gestão Costeira;

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1

2. OBJETIVO ....................................................................................................... 3

2.1. OBJETIVO GERAL .......................................................................................... 3

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................ 3

3. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................... 4

3.1. ZONA COSTEIRA ........................................................................................... 4

3.2. COMUNIDADES TRADICIONAIS LITORÂNEAS E SEU TERRITÓRIO ......... 5

3.3. CONFLITOS E IMPACTOS AMBIENTAIS ....................................................... 7

3.4. GESTÃO AMBIENTAL COSTEIRA .................................................................. 9

4. METODOLOGIA............................................................................................. 14

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 16

5.1. DO TERRITÓRIO DE TERRA E ÁGUA ................................................... 16

5.2. DO CONFLITO ........................................................................................ 47

5.3. DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL AO ENFRENTAMENTO DOS CONFLITOS . 74

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 83

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 86

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Zonas do território de São Braz. ................................................................ 20

Figura 2: Aspectos da zona de moradia: A) Rua da entrada do Quilombo; B) Diversidade de construções de andar e a vista para a maré; C) Rua pavimentada com paralelepípedo; D) Rua sem pavimento; E) Caminhos pavimentado; F) Caminho sem pavimento e construções de Taipa. .......................................................................... 22

Figura 3: Aspectos da Zona de Moradia 2: A) Estatua de Zumbi dos Palmares; B) Placa de identificação da Rua Nova Esperança. ...................................................... 23

Figura 4: Homem transportando bambu. .................................................................. 24

Figura 5: Atividades produtivas na comunidade: A) Catação de marisco; B) Consertando utensilio de pesca; C) Confeccionando artesanato; D) Roda artesanal com pescados. ......................................................................................................... 24

Figura 6: Instituições governamentais de ensino: A) Centro Educacional Municipal Professora Ana Judite de Araújo Melo e B) Escola Municipal Dr. Dorival Guimarães Passos. .................................................................................................................... 25

Figura 7: Estudantes da UFBA e jovens na Comunidade durante uma oficina do ACCS Mapeamento Biorregional 2018.2. ........................................................................... 26

Figura 8:A) Unidade de Saúde da Família; B) e C) Plantas de práticas populares em Saúde presentes na Zona de Moradia. .................................................................... 26

Figura 9: Porto São Braz: A) Placa do Porto; B) Canoas atracadas no porto com a rede ao lado; C) Casa de rede com canoas atracadas no porto. ...................................... 27

Figura 10: Casas Comerciais: A) Mercados e Pousada; B) Casa que vende picolé. 28

Figura 11: Jogo de futebol em São Braz. ................................................................. 28

Figura 12: A) Atual igreja católica de São Braz; B) Ruína da primeira igreja católica da Comunidade............................................................................................................. 29

Figura 13: A) Fonte de São Braz; B) Boi do Bumba-Meu-Boi. .................................. 30

Figura 14: A) Dançando samba chula no final em uma reunião; B) Dançando samba em uma das atividades da ACCS. ............................................................................ 31

Figura 15: Samba Chula: João do Boi. A) João do Boi; B) As sambadeiras do Samba Chula de São Braz ................................................................................................... 31

Figura 16: Bambuzal da entrada da Comunidade (polígono vermelho). ................... 33

Figura 17: Produtos frutos da agricultura familiar em São Braz. ............................... 34

Figura 18: Palitaria: A) Confecção dos palitos; B) Palitos prontos. ........................... 35

Figura 19: Estuário do Rio Subaé ............................................................................ 36

Figura 20: Diferentes formas de pesca na Zona de Maré ......................................... 39

Figura 21:A) Bosques de Mangue; B) Coroa. ........................................................... 42

Figura 22: Mariscagem na coroa: A) Processo de coleta de organismo com o auxílio de uma pequena enxada; B) Pequenas cavidades oriundas do processo de mariscagem. ............................................................................................................ 43

Figura 23: Momentos na coroa: A) e B) Montando piquenique; C) Crianças brincando.................................................................................................................................. 44

Figura 24: Pesca com rede no costeiro de mangue ................................................. 45 Figura 25: Casarão da Ilha de Cajaíba. A) Casarão visto de frente; B) Casarão visto de forma mais aproximada. ...................................................................................... 46

Figura 26:Fluxograma com os agentes externos e seus usos que afetam as Zonas de Maré, Roça e Moradia. ............................................................................................. 48

Figura 27: Localização do lixão municipal, da Plumbum, da Penha Papéis (indústria e departamento) e da fazenda de eucalipto. ............................................................... 49

Figura 28: Entrada do Lixão Municipal de Santo Amaro. .......................................... 51

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Figura 29: Esgoto doméstico in natura saindo das casas e indo para a Zona de Maré.................................................................................................................................. 54

Figura 30: Desativada SAA de São Braz: A) SAA faixada; B) SAA parte interna. .... 55

Figura 31: Penha Papéis e Embalagens/ Unidade de Papel Santo Amaro/Ba ......... 60

Figura 32: : A) Bambuzal em São Braz já cortado ; B) Bambus sendo transportados (polígono vermelho). ................................................................................................ 61

Figura 33: Caminho para o Cocobongo: raízes do bambuzal dentro do manguezal. 62

Figura 34: Represa no rio Pitinga da Penha Papéis. ................................................ 63

Figura 35: Ponto de descarte do efluente da Penha Papéis no rio Pitinga (polígono em vermelho). ................................................................................................................ 64

Figura 36: Foto de Satélite da zona morta A) em 2014 e B) em 2017. ..................... 65

Figura 37: Zona morta em 2019. .............................................................................. 65

Figura 38: Parte da Fazenda de eucalipto. ............................................................... 67

Figura 39: A) A Fazenda de monocultura de eucalipto (amarelo) e as áreas de bambuzal (vermelho) vistas do alto do cemitério da Comunidade; B) A fazenda de eucalipto vista da entrada do Quilombo; C) A fazenda de eucalipto vista do Cocobongo. ............................................................................................................. 68

Figura 40: Ruinas da Cafua: A) Lateral da ruina; B) Foto frontal da ruina. ............... 69

Figura 41: Pescadores de Alagoas. A) Processo de sondagem do sururu; B) Processo de lavagem do sururu. ............................................................................................. 70

Figura 42: Reunião do Núcleo de Desenvolvimento dos Quilombos do Território Recôncavo, em São Braz......................................................................................... 75

Figura 43: A) Seminário sobre o Sururu; B) Encontro de preparação para a Audiência Pública. .................................................................................................................... 78

Figura 44: Audiência Pública organizada pelo CPP e pela Articulação Quilombola Subaé ...................................................................................................................... 80

Lista de Quadros Quadro 1: Zonas que compõem o território de São Braz, com sua composição e principais usos pela Comunidade............................................................................. 19

Quadro 2: Conflitos, último encaminhamento e seus desdobramentos. ................... 75

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1. INTRODUÇÃO

As zonas costeiras e marinhas contêm uma série de ambientes que oferecem

inúmeros serviços ecossistêmicos (LIQUETE et al., 2013). Muitos desses, atraem

diferentes grupos sociais que os utilizam de diversas formas (POLETTE; ASMUS,

2015), dentre esses grupos estão os das comunidades tradicionais litorâneas que

desenvolveram ali um modo de apropriação comunal (DIEGUES, 2001) e os que

desenvolvem um modo de apropriação privada. Pois que, nas últimas décadas os

crescimentos econômicos considerados como de maior significância para o Brasil

atrelaram- se a uma industrialização e uma urbanização concentradas na zona

costeira (POLETTE; ASMUS, 2015, P.504).

Os usos atribuídos aos ambientes costeiros e marinhos podem acarretar em

impactos negativos e conflitos, sendo importante um gerenciamento ambiental

costeiro capaz de evitá-los ou mantê-los em um nível aceitável (POLETTE; ASMUS,

2015, p.512). Contudo, na conjuntura do crescimento econômica atual, os

mecanismos do mercado tem deixado externalidades negativas, degradando o meio

ambiente e pondo em risco a população ao redor (HENRIQUES; PORTO, 2012).

Nesse contexto, os detentores do poder da decisão nem sempre consideram os

interesses e as necessidades dos diversos grupos sociais afetados (QUINTAS;

GUALDA, 1995). Uma vez que, em muitas situações o estado invisibiliza as

especificidades da ocupação do território pela pesca artesanal (RIOS, 2016). Sendo

este modelo desenvolvimentista naturalizado pelos mecanismos e processos movidos

pelo racismo ambiental (HERCULANO, 2006).

Consequentemente, de acordo com ACCIOLY et al. (2014), essa cultura

desenvolvimentista vem agredindo os territórios tradicionais e fragilizando a cultura de

seus povos e comunidades, transformando esses ambientes em espaços de conflito

com o capital. Logo, em meio ao conflito, a invisibilidade e a inexistência/ineficácia

dos instrumentos jurídicos, as comunidades buscam resistir e construir estratégias

para proteção de seu território e garantia de direitos (RIOS, 2016). Ou seja, pela

omissão do Estado, fica para a comunidade o papel de promover uma gestão territorial

para sua própria garantia de sustentabilidade.

Neste cenário de impactos e conflitos ambientais e de luta em defesa do

território se encontra São Braz. Uma comunidade de quilombo e de pesca artesanal,

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cujo território está situado no recôncavo Baiano, nas jurisdições dos municípios de

Santo Amaro/Ba e de São Francisco do Conde/Ba, na Área de Proteção Ambiental

(APA) Estadual Baía de Todos os Santos (BTS) ( decreto nº 7.595 de 05 de junho de

1999), APA que efetivamente não promove a gestão por não ter o plano de manejo, o

zoneamento e o conselho gestor. Assim sendo, este trabalho, no âmbito da

oceanografia social, trata sobre os conflitos ambientais existentes na zona costeira do

território de São Braz e os seus enfrentamentos pela Comunidade1 na perspectiva da

gestão costeira realizada por ela.

1 Neste trabalho, os termos Quilombo e Comunidade com a inicial em maiúscula dizem respeito a comunidade de São Braz.

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2. OBJETIVO

2.1. OBJETIVO GERAL

● Descrever os conflitos ambientais existentes na Zona Costeira do

território de São Braz e os seus enfrentamentos pela Comunidade, sob

a perspectiva da gestão costeira feita pela Comunidade.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

● Sistematizar os elementos da gestão territorial pela abordagem

ecossistêmica: (1) os ecossistemas que envolvem a vida da

Comunidade; (2) os usos dos ecossistemas pela Comunidade e também

pelos diversos atores que estão em conflito com ela; e (3) os conflitos

ambientais que se fazem presentes na vida deste território.

● Descrever as estratégias adotadas pela Comunidade para

enfrentamento dos conflitos.

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3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. ZONA COSTEIRA

A zona costeira apresenta inúmeras definições políticas e oceanográficas

baseadas em limites políticos-administrativos, nos aspectos físicos ou na área de

influência da dinâmica terra e mar (ACUÑA et al., 2004). POLLETE & ASMUS, (2015,

p.500) propõem que “a zona costeira é um espaço de interações entre o mar, a terra,

as águas continentais que chegam ao litoral e a atmosfera”. Já a legislação brasileira

a define por meio do Decreto 5300/2004 da seguinte forma:

Art. 3º A zona costeira brasileira, considerada patrimônio nacional pela

Constituição de 1988, corresponde ao espaço geográfico de interação do ar,

do mar e da terra, incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendo

uma faixa marítima e uma faixa terrestre, com os seguintes limites:

I - faixa marítima: espaço que se estende por doze milhas náuticas,

medido a partir das linhas de base, compreendendo, dessa forma, a

totalidade do mar territorial;

II - faixa terrestre: espaço compreendido pelos limites dos Municípios

que sofrem influência direta dos fenômenos ocorrentes na zona costeira.

(BRASIL, 2004)

Contudo, ao definir limites espaciais para a zona costeira, é interessante

destacar que estes são ambientes complexos. Isso porque as interconexões dos

processos oceanográficos podem extrapolar os limites definidos, ao ponto de que as

atividades que acontecem em uma região mais distante são capazes de influenciar a

costa, assim como atividades desenvolvidas em um ponto limitado dentro da costa

pode afetar outros espaços além deste ponto. Soma-se a isso o fato de que os

ambientes costeiros e sua dinâmica são dinâmicos e transitórios em escalas de tempo

grandes (escala geológica) ou pequenas (de meses a segundos) em função das

atividades humanas e/ou dos processos naturais (BEATLEY et al., 2002, p.16).

Neste contexto, a zona costeira agrega um conjunto de ambientes que

oferecem uma série de serviços ecossistêmicos (GERLING et al., 2016). Destacam-

se alguns tais como os de provisão: de alimentos, de água e de materiais genéticos e

bioenergéticos; os de manutenção/regulação: dos ciclos biogeoquímicos, do clima, da

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proteção da costa e da qualidade da água e do ar; e os culturais: valores símbolos e

estéticos, de recreação e turismo e de efeitos cognitivos (LIQUETE et al., 2013). Assim

sendo, para que esses serviços continuem a existir é preciso que sejam considerados

no processo de gestão territorial (ELLSWORTH, 1995).

3.2. COMUNIDADES TRADICIONAIS LITORÂNEAS E SEU TERRITÓRIO

DIEGUES (2001) traz que na zona costeira também se estabeleceram grupos

sociais seculares, cuja existência está diretamente relacionada à existência dos

serviços ecossistêmicos, que desenvolveram ali um modo de apropriação comunal,

que muitas vezes duram até os dias atuais. De acordo com esse autor, esses grupos

sociais subsistem com os ecossistemas naturais, proporcionando em muitos casos, a

proteção ecológica desses ecossistemas e garantindo tanto a diversidade biológica

quanto a diversidade cultural, uma vez que uma não existem sem a outra. Estes são

considerados como Comunidades Tradicionais, reconhecidos pelo Estado brasileiro,

segundo a Política Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais (decreto nº 6.040,

de 7 de fevereiro de 2007), como sendo:

Art. 3º I- [...] grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como

tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e

usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução

cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos,

inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição (BRASIL, 2007).

Dentre as Comunidades Tradicionais estão as de quilombo e as de pesca

artesanal. Podendo uma mesma comunidade ser quilombola e de pesca artesanal,

uma vez que, segundo RIOS (2016) a pesca artesanal é base para a reprodução social

de inúmeras comunidades tradicionais litorâneas e ribeirinhas do estado da Bahia.

Este é o caso da comunidade de São Braz.

Os Quilombos no Brasil de acordo com o decreto nº 4.887, de 20 de novembro

de 2003 são:

Art. 2º [...] grupos étnicos raciais com trajetória histórica própria, dotados de

relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra

relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida (BRASIL, 2003a).

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Já a pesca artesanal é, conforme DIEGUES (1983, p. 197-198), “um conjunto

de conhecimentos e técnicas que permite ao produtor subsistir e se reproduzir

enquanto pescador”. Assim sendo o pescador e a pescadora artesanal é, ainda

segundo o autor, um grupo que se identifica como possuidor da profissão pesca

artesanal, caracterizado não apenas pelo fato de viver da pesca, mas principalmente

de se apropriar dos meios de produção e do controle da arte da pesca. Cujo

conhecimento é “patrimonial, ancestral, que transborda de geração a geração, tanto

pela força da oralidade, como no ato de ver alguém mais velho pescar” (RAMALHO,

2005).

ACCIOLY et al. (2017) acrescentam que

[…] a pesca artesanal é uma atividade de base familiar, que muitas vezes

envolve as mulheres e os filhos, seja na comercialização do pescado, onde

em muitas comunidades a mulher é a responsável, seja na própria captura,

no caso das marisqueiras (ACCIOLY et al., 2017).

Os territórios pertencentes às comunidades tradicionais, os territórios

tradicionais, são de acordo com a Política Nacional dos Povos e Comunidades

Tradicionais (decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007):

Art. 3º II- […] os espaços necessários a reprodução cultural, social e

econômica dos povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de

forma permanente ou temporária (BRASIL, 2007).

De acordo com KUHN & GERMANI (2010), a pescadora e o pescador artesanal

possuem um território de terra e água, uma vez que, o seu modo de ocupação no

território se desenvolve articulado na zona costeira entre os espaços em que a maré

alcança e os espaços em que a maré não alcança. Essas autoras argumentam que

as atividades da pesca artesanal estão vinculadas às atividade de terra, “seja para

garantir o acesso a água, seja para o complemento de renda ou mesmo para manter

as tradições que se exprimem em um modo de vida particular”.

ACCIOLY et al. (2017) trazem que a forma com que o pescador e a pescadora

artesanal se apropriam de seu território,

[...] se organizam e desenvolvem suas atividades a qual é caracterizada por

extremos laços de identidade, aonde são desenvolvidos valores simbólicos e

materiais. O mar, a pescaria, torna-se uma extensão de sua vida, não se trata

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somente de um ambiente marítimo do qual os mesmos retiram o pescado, é

um ambiente acima de tudo, respeitado por estes (ACCIOLY et al., 2017).

Existem maneiras alternativas para regulamentar os territórios pesqueiros, a

exemplo das Unidades de Conservação (Reservas Extrativistas (RESEX) e Reservas

de Desenvolvimento Sustentável (RDS)) que objetivam a preservação do modo de

viver dos povos e comunidades tradicionais ( Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000).

Já com relação ao território que também possui identidade quilombola, é possível

regulamenta-lo. Visto que o artigo 68 do Ato das Disposições Transitórias da

Constituição Federal do Brasil de 1988 reconhece o território quilombola e atribui ao

estado a responsabilidade de emitir a sua titulação a sua referida comunidade.

Atualmente o Instituto Palmares é o responsável por emitir a certidão as

comunidades quilombolas e ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

(INCRA) é encarregado do processo de titulação do território quilombola2. Com

relação a isso, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)

e outros órgãos vem começando a apoiar metodologicamente a elaboração de Planos

de Gestão Territorial Ambiental Quilombola3.

3.3. CONFLITOS E IMPACTOS AMBIENTAIS

Os conflitos ambientais são considerados por ACSELRAD (2004) como sendo

[...] aqueles envolvendo grupos sociais com modos diferenciados de

apropriação, uso e significação do território, tendo origem quando pelo menos

um dos grupos tem a continuidade das formas sociais de apropriação do meio

que desenvolvem ameaçada por impactos indesejáveis – transmitidos pelo

solo, água, ar ou sistemas vivos – decorrentes do exercício das práticas de

outros grupos (ACSELRAD, 2004) .

LAYRARGUES (2000), insere a importância do termo “conflito socioambiental”

para favorecer o “entendimento do problema ambiental não apenas por sua face

ecológica, mas também pelo conflito de interesse existente entre os diversos atores

sociais em questão”. Entretanto, não é o intuito deste trabalho discutir qual termo é o

mais apropriado, assim sendo é utilizado o termo “conflito ambiental” fazendo

referência às duas abordagens trazidas pelos dois autores.

2 De acordo com o decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. 3 Mais informações: http://www.icmbio.gov.br/educacaoambiental/destaques/193-quilombo-caminhos-para-a-gestao-territorial-e-ambiental.html acesso em 1/12/2019

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8

Já os impactos ambientais, no Brasil, são definidos pelo art. 1 da resolução do

Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) 001/86, como sendo qualquer

modificação nas condições físicas, químicas e/ou biológicas do meio ambiente

proveniente de atividades humana que afete:

I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

II - as atividades sociais e econômicas;

III - a biota;

IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V - a qualidade dos recursos ambientais.

(BRASIL, 1986)

Segundo POLETTE & ASMUS (2015, p. 505), entendendo impacto ambiental

como qualquer alteração no ambiente consequente da ação humana, este pode ser

benéfico ou adverso/indesejável. De acordo com estes autores, os adversos que

ocorrem na zona costeira podem estar relacionados, por exemplo, a ações que

impliquem na supressão de certos elementos ambientais, na inserção de elementos

que modifiquem a paisagem ou, ainda em atividades que sobrecarregam o ambiente

com a introdução de elementos além da sua capacidade de suporte. De um modo

geral, os ecossistemas costeiros podem sofrer influências significativas das atividades

antrópicas (BEATLEY et al., 2002, p.14)

Na economia neoclassicista, quando esses impactos são gerados por um

agente econômico sem que os custo desse impacto esteja incluso no orçamento deste

agente econômico, este impacto pode ser considerado como uma externalidade.

Podendo esta ser tanto negativa (no caso dos impactos ambientais adversos), quanto

positiva (no caso dos impactos ambientais benéficos) (VIVIEN, 2011, p. 72).

É observado que os impactos adversos não são distribuídos de forma igualitária

entre os grupos sociais (LAYRARGUES, 2000). HERCULANO (2006) alega que estes

incidem principalmente sobre os grupos sociais tidos como vulneráveis, como os das

comunidades tradicionais, que têm se defrontado com o modelo desenvolvimentista

atual que

[…] os expelem de seus territórios e desorganizam suas culturas, seja

empurrando-os para as favelas das periferias urbanas, seja forçando-os a

conviver com um cotidiano de envenenamento e degradação de seus

ambientes de vida (HERCULANO, 2006).

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9

Estas injustiças sociais e ambientais que recai sobre uma etnia é tratada por

este autor como racismo ambiental.

SILVA (2012) trata da importância do termo racismo ambiental no contexto

brasileiro:

[…] ainda que compreendido como uma forma de injustiça ambiental, acaba

por colocar em evidência a necessária análise dos fatores raciais nas

situações de injustiça, visto que uma abordagem predominantemente

classista acabaria por encobrir e naturalizar o racismo em nossa sociedade.

Para nós, significa dizer que ainda que o racismo e as questões raciais

possam não ser a base de análise de todas as situações em que se identifica

a ocorrência de injustiça ambiental, haverá certamente aquelas que serão

incompreensíveis sem a sua consideração (SILVA, 2012).

3.4. GESTÃO AMBIENTAL COSTEIRA

A constituição do Brasil no art. 225 traz que todos têm direito a um meio

ambiente saudável para a sustentabilidade da sociedade. Para se alcançar este

objetivo a constituição instaura como principais fundamentos o compartilhamento de

responsabilidades entre o poder público e a coletividade (participação popular), a

educação ambiental e a regulamentação no uso do meio ambiente. Assim sendo, as

políticas do meio ambiente trazem uma série de princípios, compartilhamento de

responsabilidades, estratégias e instrumentos com este objetivo. Em especial na Zona

Costeira, há o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro II, regulamentada pelo

decreto de nº 5.300 de 7 de dezembro de 2004, que propõe em seus princípios uma

gestão integrada, com mecanismos de transparência e participativa. Estes,

fundamentos serão rapidamente definidos abaixo:

a) Regulamentação

A regulamentação ambiental brasileira dispõe de dispositivos em níveis federal,

estadual e municipal. Uma vez que, a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) (

lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981) instaura no Art 6º o Sistema Nacional do Meio

Ambiente (SISNAMA) composto por entidades ambientais federais, estaduais e

municipais.

A PNMA também instaura no Art 9º diversos instrumentos. Dentre eles, os

mencionados neste trabalho são:

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● Padrões de qualidade ambiental;

● Licenciamento ambiental e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente

poluidoras;

● Espaços territoriais especialmente protegidos;

● Penalidades disciplinares ou compensatórias;

● Garantia da prestação de informações relativas ao meio ambiente.

Muitos regulamentos já existem, como os citados nesse trabalho, mas muitos

aspectos ainda apresentam lacunas sem referencial de regulamentação adequado.

Principalmente no que se refere aos ambientes costeiros e marinhos (Fundação SOS

Mata Atlantica, 2014).

b) Gestão integrada

POLETTE & ASMUS (2015, p. 514) define o gerenciamento costeiro integrado

como um processo contínuo, dinâmico, que evolui ao longo do tempo e que busca

sanar os impactos e mediar os conflitos que ocorrem no complexo território da zona

costeira. Ainda, segundo os mesmos autores, para isso a integração deve ocorrer nos

níveis:

I. Em níveis de setores econômicos com atividades na zona costeira

harmonizando as diversas atividades setoriais, com vistas ao desenvolvimento

sustentável e minimização de conflitos e impactos;

II. Em níveis de gestão governamentais, não governamentais e de iniciativa

privada, ou seja, buscar uma relação positiva e colaborativa entre os processos

de gestão ambiental nos níveis locais, estaduais, regionais e nacionais;

III. Em níveis espaciais, visto que os processos da zona costeira acontecem

relacionado aos ambientes marinhos e continentais. Assim sendo, é importante

que o gerenciamento das atividades realizadas nessa interface considere,

conjuntamente, os espaços envolvidos (por exemplo, bacia hidrográfica

adjacente, conjuntamente, planícies costeiras, praias, águas costeiras);

IV. Em níveis de conhecimento para servir como base para as tomadas de decisão

pelos gestores ambientais. Esse conhecimento pode caracterizar- se como “o

científico” e “o popular”.

c) Educação Ambiental

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No Brasil, a educação ambiental é definida pela lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999:

Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos

quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,

habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio

ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida

e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

QUINTAS & GUALDA (1995) defende que a educação ambiental é um

processo que cria:

[...] condições para a participação dos diferentes segmentos sociais, tanto na

formulação de políticas para o meio ambiente, quanto na concepção e

aplicação de decisões que afetam a qualidade do meio natural, social e

cultural (QUINTAS; GUALDA, 1995).

d) Participação

A participação cidadã é, como argumentado por ARNSTEIN (2002), “um

sinônimo para poder cidadão”. Esse, segundo a mesma autora, se refere ao

compartilhamento do poder de decisão entre os atores na gestão. A autora ainda

acrescenta que: “a participação sem redistribuição de poder permite àqueles que têm

poder de decisão argumentar que todos os lados foram ouvidos, mas beneficia apenas

a alguns.”

“A participação do indivíduo nas decisões que afetam interesses que lhe dizem

respeito ocorre mediada por formas coletivas de reivindicação e por instâncias

institucionalizadas de participação” (LAYRARGUES, 2000). Como uma prática que

envolve os atores nos projetos e decisões de atividades políticas por meio do diálogo

(ROWE et al., 2004). Com a construção de consensos grupais entre atores locais que

se unem por conta de seus objetivos comuns (DALLABRIDA, 2008).

Existem diferentes níveis de participação cidadã. Há exemplo tem-se como

graus de participação: a informação, a consulta, a cogestão e a autogestão/gestão

comunitária/ controle cidadão. Os dois primeiros representam os níveis mínimos de

concessão de poder de participação, uma vez que proporciona que os cidadãos sejam

ouvidos pelos que tradicionalmente detém o poder, mas não garante que as suas

opiniões sejam consideradas no processo de gestão (ARNSTEIN, 2002; THÉ;

RUFFINO, 2009, p.96). Os dois últimos representam os níveis máximos de poder de

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participação. São constituídos de mecanismos de partilha de poder, favorecendo uma

“participação democrática, ativa e autônoma”, contundo “nem sempre atinja todas as

instâncias da estrutura política”. Cogestão ocorre quando há “o acesso ao poder e sua

partilha, mas com limitações” (THÉ; RUFFINO, 2009, p.96).

Na gestão comunitária, a coletividade capitaneia um grau de poder que os

garante participar da gestão “assumindo as responsabilidades pelas ações e os

aspectos gerenciais, sendo capaz de negociar as condições sob as quais "externos"

poderão introduzir mudanças” (ARNSTEIN, 2002). Esse modelo de participação vem

“evoluindo nas últimas duas décadas como uma abordagem alternativa ao modelo

centralizado do controle estatal dos recursos” (ARMITAGE, 2005). Embora haja

argumentos contrários a esse modelo de participação, os que a defendem

argumentam que todas as outras alternativas de findar com a opressão dos que

tradicionalmente não detém o poder falharam (ARNSTEIN, 2002).

É interessante destacar que, como se trata de um processo de gestão em que

a comunidade tem o nível máximo no poder de decisão, consequentemente, o

desenvolvimento proporcionado é aquele definido pela própria comunidade.

e) Transparência

O acesso a informação é essencial para a participação popular na gestão

pública (ARAUJO, 2016). Dar-se aí a importância dos mecanismos de transparência.

O acesso público aos dados e informações dos órgãos e entidades que compõe o

SISNAMA é regulamentado pela lei nº 10.650, de 16 de Abril de 2003. Em seu artigo

2º consta que:

Art. 2º Os órgãos e entidades da Administração Pública, direta, indireta e

fundacional, integrantes do Sisnama, ficam obrigados a permitir o acesso

público aos documentos, expedientes e processos administrativos que tratem

de matéria ambiental e a fornecer todas as informações ambientais que

estejam sob sua guarda, em meio escrito, visual, sonoro ou eletrônico,

especialmente as relativas a:

I - qualidade do meio ambiente;

II - políticas, planos e programas potencialmente causadores de impacto

ambiental;

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III - resultados de monitoramento e auditoria nos sistemas de controle de

poluição e de atividades potencialmente poluidoras, bem como de planos e

ações de recuperação de áreas degradadas;

IV - acidentes, situações de risco ou de emergência ambientais;

V - emissões de efluentes líquidos e gasosos, e produção de resíduos sólidos;

VI - substâncias tóxicas e perigosas;

VII - diversidade biológica;

VIII - organismos geneticamente modificados.

(BRASIL, 2003b)

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4. METODOLOGIA

É preciso salientar que este trabalho se baseia na gestão territorial costeira de

abordagem ecossistêmica. De acordo com ELLSWORTH (1995) um gerenciamento

que considere os ecossistemas, uma gestão com abordagem ecossistêmica, deve

levar em conta as relações entre os fatores sociais, econômicos e ambientais.

JOHNSON et al.,(2007) com base nas ideias de ABERLEY (1993)4, de IREE (1995)5

e de MITCHELL (1995)6 reflete:

[...] gestão ecossistêmica é baseada numa perspectiva bio-regional, que leva

em conta tanto as características naturais da área quanto o “senso do lugar”

e os padrões de uso da terra das populações locais na definição das unidades

de gestão (JOHNSON et al., 2007).

Daí a necessidade de se conhecer os ecossistemas e as formas de uso. Assim

sendo os conhecimentos acerca destes elementos, dos impactos e conflitos e as

formas de enfrentamento dos conflitos foram coletadas por meio de pesquisa

participante (BORDA, 1983), entrevista informal, pesquisas Bibliográficas em artigos

técnicos e consultas a noticiários eletrônicos (internet) e aos material de campo da

disciplina ACCS BIOB63 - Mapeamento Biorregional Participativo em Comunidades

Costeiras Tradicionais como Ferramenta para Educação Ambiental e Empoderamento

Territorial 2019.

Para OLIVEIRA (2010, p.86), as entrevistas são uma forma eficiente para

manter o contato entre o pesquisador e o entrevistado, obtendo-se as informações

“detalhadas sobre o que está se pesquisando”. Ainda de acordo com o mesmo autor

(2010, p.69) a pesquisa bibliográfica é importante por conseguir pôr o pesquisador em

contato direto com os temas por ele pesquisado.

4 ABERLEY, D. Boundaries of home: Mapping for local empowerment. Gabriola Island, British Columbia: New Society Publishers, 1993.

5 IREE. ecosystem Management: Meeting the Challenges of Community Initiatives. Ottawa, Ontario, Institute for Research on Environment and Economy, University of Ottawa, 1995.

6 MITCHELL, R. Multistakeholder community initiatives. In: ecosystem Management: Meeting the Challenges of Community Initiatives. Ottawa, Ontario: Institute for Research on Environment and Economy, University of Ottawa, 1995. p. 67-68.

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A pesquisa participante aconteceu entre os anos de 2017 e 2019 nos seguintes

encontros:

• Uma reunião organizada pela Associação Quilombola de São Braz e o

Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP)7 com a Comunidade de São Braz

em setembro de 2017;

• Junto às ações do Conselho Pastoral dos Pescadores e da Articulação

Quilombola Subaé8 de fevereiro a julho de 2018. Quando houveram 12

encontros compostos por reuniões, seminário, georreferenciamento,

oficinas e uma Audiência Pública mediada pela Ouvidoria Cidadã da

Defensoria da Bahia;

• Junto as ações em campos da disciplina ACCS BIOB63 - Mapeamento

Biorregional Participativo em Comunidades Costeiras Tradicionais como

Ferramenta para Educação Ambiental e Empoderamento Territorial 2018,

na Comunidade de São Braz, que incluem oficinas de mapeamento e

discussão com os habitantes;

• Junto a visita técnica organizada pelo GT: Degradação Ambiental e

Racismo em Santo Amaro e Região na indústria Penha Papéis em 2019.

7 O CPP é uma pastoral social de personalidade jurídica presente em diversas regiões do Brasil e vinculada a Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Esta tem como objetivo auxiliar os pescadores e pescadoras artesanais na construção de uma sociedade justa e solidária (CPP, sem ano). Na Baía de Todos os Santos esta organização atua dando suporte às comunidades de pesca local. Além disso, promovem a discussão entre pesquisadores da universidade e a comunidade pesqueira.

8 A Articulação Quilombola Subaé é uma rede de apoio entre as comunidades quilombolas que vivem em volta do estuário do Rio Subaé. Atualmente é formada pelos quilombos de Acupe, Caiera/Cambuta, São Braz e Dom João.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. DO TERRITÓRIO DE TERRA E ÁGUA

O Quilombola de São Braz é constituído por marisqueiros e marisqueiras,

pescadoras e pescadores, caranguejeiros9, agricultoras e agricultores, paliteiras e

paliteiros10, artesãs e artesãos, cozinheiros e cozinheiras, executores de atividades

domésticas, músicos, comerciantes, estudantes (do ensino infantil, fundamental,

médio e superior), entre outras. Sendo que atualmente a pesca e a mariscagem são

as principais atividades desenvolvidas.

O território de água da Comunidade está incluído no encontro das águas da

Baía de Todos os Santos (BTS) com a da Bacia Hidrográfica do Rio Subaé (BHRS).

Sendo a BTS a segunda maior baía do Brasil, com uma área de 1.086 km² (LESSA et

al., 2001) margeada pelos municípios de Santo Amaro, São Francisco do Conde,

Salvador, Simões Filho, Candeias, Itaparica, Vera Cruz, Nazaré, Madre de Deus,

Saubara, Nazaré, Maragogipe, Cachoeira, São Félix, Salinas das Margaridas e

Jaguaripe. Apresentando uma diversidade de sistemas costeiros, considerados um

dos mais ricos e extensos do Brasil (HATJE et al., 2018, p.199).

A Bacia Hidrográfica do Rio Subaé (BHRS) possui um perímetro de 167.56 km

(MOTTA et al., 2017) e está inserida na Região de Planejamento e Gestão das Águas

VI (RPGA - VI) ( Decreto nº 9.936 de 22 de Março de 2006) onde é gerida pelo Comitê

das Bacias Hidrográficas do Recôncavo Norte e Inhambuque (CBHRNI). Esta bacia é

constituída pelo Rio Subaé e seus afluentes, em que os principais são: na margem

esquerda o rio Traripe e na margem direita são os rios Sergi, Sergi Mirim e Pitinga ou

Pitanga (SEMA, 2007). Cortando os municípios de Feira de Santana, de Amélia

Rodrigues, de São Gonçalo dos Campos, de Santo Amaro e de São Francisco do

Conde.

Com relação aos ambientes de terra, FERNANDES (2016), em seu

acompanhamento do processo fundiário da Comunidade, diz que o Território

Quilombola de São Braz engloba áreas antes pertencentes ao antigos Engenhos e

Fazendas. Entretanto, hoje em dia a área de terra onde a Comunidade está situada

se limita aos entornos do antigo Engenho de São Braz, que atualmente é abrangido

9 Caranguejeiro: no entendimento da Comunidade faz referência a quem coleta o caranguejo (JESUS,

2016). 10 Paliteiros e Paliteiras: Denominação formulada pela comunidade de São Braz referente a

profissionais que praticam a técnica artesanal de confecção de palitos.

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pelo município de Santo Amaro. Onde, segundo CALAZANS (2018) dar- se início a

história da formação do povoado da Comunidade.

A região em que havia o Engenho de São Braz estava inclusa uma área

denominada de Parativa (SANTOS, 2014), assim em 1710 esteve sob posse do

capitão da Companhia da Ordenança do Recôncavo da Parativa: Sebastião Borges

de Barros (CALAZANS, 2018). Em 1787 o referido engenho pertencia ao Coronel

Antônio Gomes de Sá que o hipotecou como um polo produtor de cana-de-açúcar

(SANTOS, 2014). Anos depois o Barão do Rio Fundo - Inácio Borges de Barros – se

torna dono do referido engenho por meio do casamento com a filha do antigo

proprietário: Maria Rosa Góis (CALAZANS, 2018). No inventário desta consta que o

nome do engenho era “Engenho de São Braz” (SANTOS, 2014) e, com o tempo a

propriedade passou a ser uma fazenda: Fazenda São Braz, que também ficou

conhecida como Arraial São Braz (SANTOS, 2016; CALAZANS, 2018)

Após a morte de Maria Góis, suas filhas herdaram a propriedade e a vendeu

para o “seu Nenê”/ “Neném”, o João Clímaco de Araújo Silva, no ano de 1942, já no

Brasil-República. Este trouxe para o lugar sua família e trabalhadores e instalou uma

fábrica de Cal que se utilizava das conchas dos organismos e o comercializava para

regiões próximas (JESUS, 2016; SANTOS, 2016; CALAZANS, 2018). FERNANDES

(2016) traz que na época de seu Nenê as pessoas tinham autonomia para viver e

plantar em São Braz. Sendo que, em 1943 este já era considerado povoado

pertencente a província do Rosário (LEAL, 1964, p. 16 APUD SANTOS, 2014), um

dos subdistritos que formava a sede de Santo Amaro (FERREIRA, 1958). Neném

dividiu as terras de São Braz em que uma parte ficou para o município de Santo Amaro

e, após sua morte em 1964, as demais foram vendidas (SANTOS, 2014; SANTOS,

2016; CALAZANS, 2018)

Para SANTOS (2016), as narrativas sobre “pertencimento das terras por seu

Neném” a remeteu as terras que foram abandonadas pelos senhores de engenho e

que, após o fim da escravidão, se tornaram “terras de escravos”, tidas como devolutas

e que depois, de alguma forma, foram “apropriadas” e vendidas. MAIA (2013) APUD

JESUS (2016), com base na história dos engenhos e fazendas próximas a São Braz,

diz que mesmo não havendo registros da fase de decadência desse engenho quando

o mesmo passa a pertencer ao João Clímaco, provavelmente ele foi tomado por

escravizados que foram abandonados por seus antigos senhores. Atualmente, São

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Braz é propriedade de mulheres e homens que se autoafirmam quilombolas,

certificados pela Fundação Palmares desde 2009 e em processo de titulação de terra.

Em virtude das alterações internas e externas do meio em que vivem, sua

ocupação no território também foi se modificando ao longo do tempo. Com isso,

existem áreas que pertencem ao território quilombola de São Braz, mas que não são

mais ocupadas pela Comunidade. Contudo este trabalho se limita apenas às áreas

mencionadas nos encontros. Isso porque as áreas quilombolas demarcadas pelo

Órgão Titulador ainda não foram oficialmente divulgadas, logo, a demarcação do

território quilombola não será disponibilizado neste trabalho.

Assim sendo, no modo de ocupação desta costa por este Quilombo, é possível

serem identificadas 03 Zonas com relação aos principais usos atuais:

I. moradia: área urbanizada utilizada principalmente para a habitação;

II. roça: área utilizada principalmente para o plantio e criação de pequenos rebanhos;

III. maré: área onde a maré alcança, rios e ilhas. O termo “maré” convencionado nesta

Zona faz referência ao significado empregado pela comunidade de São Braz. Uma

vez que para as ciências oceanográficas a maré é definida como uma onda

influenciada pela força gravitacional do sol e da Lua e pelos movimentos do

planeta (GARRISON, 2009, p. 219). Já na concepção desta comunidade, a maré

é, além de um fenômeno cíclico, um ambiente de água salina ou salobra.

Abaixo é apresentado um quadro resumo (Quadro 1) com a composição e

principais usos de cada Zona e uma representação espacial de cada Zona.

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Quadro 1: Zonas que compõem o território de São Braz, com sua composição e principais usos pela Comunidade.

Zona Composição Principais Usos

Moradia

1) ruas; (2) espaços residenciais, comerciais e religiosas, (3) escolas, (4) quadra esportiva e campos de futebol; (5)

praça; (6) portos e casas de rede; (7)

plantas, posto médico e cemitério; e (8)

monumentos históricos e fonte de água

subterrânea.

(1) habitação; (2) discussão sobre o território; (3) manifestações culturais festivas e de

caráter religioso; (4) atividades de apoio à pesca e a mariscagem, beneficiamento do marisco; (5) confecção de palitos, dentre

outros trabalhos artesanais; (6) trabalho nas construções comerciais e nos meios de

transporte; (7) fortalecimento de identidade e de laços afetivos; (8) construção e

compartilhamento de conhecimento pela forma tradicional do Quilombo e por meio de instituições governamentais de ensino; (9)

resgate histórico; e (10) práticas de lazer, de esportes e todas as outras práticas comuns

ao dia-a-dia.

Roça

(1) plantação de quiabo, de banana, de cana-de-

açúcar, de aipim, de abóbora, de manga, de coentro e de limão; (2)

pasto com pequeno rebanho; e (3)

bambuzal.

(1) agricultura de subsistência; (2) criação de pequenos rebanhos; (3) extração do

bambuzal; (3) fortalecimento de identidade e laços afetivos e (4) construção e

compartilhamento do conhecimento tradicional do Quilombo.

Maré

Estuário com (1) manguezal; (2) coroas; (3) canais; (4) costeiros

de mangue; (5) enseadas; e (6) ilha

contendo manguezal, uma série de árvores de frutíferas, edificações do

antigo Engenho de Cajaíba.

(1) pesca e mariscagem; (2) traslado; (3) práticas de lazer; (4) fortalecimento de

identidade e laços afetivos; (4) construção e compartilhamento do conhecimento

tradicional do Quilombo; (5) encontro entre pessoas, histórias e culturas de outras

localidades; e (6) no caso específico da ilha de Cajaíba, também é utilizada como abrigo

em seu interior em momentos de chuvas fortes e tempestades no mar, extração de frutas, resgate histórico (principalmente da resistência negra na região) e símbolo de motivação para o reconhecimento como

remanescentes de quilombo.

Fonte: A autora

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Figura 1: Zonas do território de São Braz.

Fonte: A autora

A seguir serão tratadas sobre as zonas de ocupação do território São Braz e

seus principais modos de uso.

I. Zona de Moradia

A Zona de Moradia tem aproximadamente 12,58 ha² e está sob jurisdição do

município de Santo Amaro/BA. Com base na história descrita acima, a região da costa

onde essa Zona está estabelecida provavelmente foi usada como parte de engenho

de cana-de-açúcar, fazendas, indústria de Cal e áreas de agricultura e pecuária.

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Tendo diversos usuários, incluindo os que se mantiveram neste território,

permanecendo até hoje por meio de seus descendentes.

Em 1957 o número de moradores estimado pelo IBGE para esta Zona era de

370 (FERREIRA, 1958). No ano de 2010, a quantidade de habitantes de São Braz foi

de 745 (IBGE, 2010). Nos anos seguintes os trabalhos acadêmicos apresentaram

algumas estimativas: em 2011 na pesquisa desenvolvida pelo grupo MITO11, JESUS

(2016) traz um total de 742 pessoas e 193 grupos familiares; em 2014 OLIVEIRA

(2014) afirmou que havia um pouco mais de 2.500 habitantes.

As ruas que compõem esta Zona apresentam uma diversidade de aspectos,

sendo totalmente ou parcialmente pavimentadas (Figura 2). SANTOS (2016), relata

em uma entrevista com um dos Idosos que, na época em que as terras “pertenciam”

a seu Nenê, as casas eram de palha. No presente, a quantidade de construções

aumentou, são constituídas de taipa e, em sua maioria, de alvenaria, podendo

também serem de “andar” (Figura 2). Algumas apresentam em suas fachadas paredes

estampadas com artes de grafite. Também há a praça João Damasceno Borges e

uma estátua em homenagem a Zumbi dos Palmares (Figura 3).

11 MITO: Memória, processos identitários e territorialidades no Recôncavo da Bahia

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Figura 2: Aspectos da zona de moradia: A) Rua da entrada do Quilombo; B) Diversidade de construções de andar e a vista para a maré; C) Rua pavimentada com paralelepípedo; D) Rua sem pavimento; E) Caminhos pavimentado; F) Caminho sem pavimento e construções de Taipa.

Fonte: MARSOL (2018)

A) B)

C) D)

E) F)

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Figura 3: Aspectos da Zona de Moradia 2: A) Estatua de Zumbi dos Palmares; B) Placa de identificação da Rua Nova Esperança.

Fonte: MARSOL (2018)

Ao caminhar por entre os bairros, o verde das Zonas de Maré, de Roça e das

árvores da Zona de Moradia se destacam por entre as cores das construções. No

meio desta paisagem há pessoas na rua trafegando a pé, de bicicleta, de moto ou de

carro. A trilha sonora também é diversa: variados estilos musicais, latidos de cachorro,

sons de risadas e conversas, vozes altas chamando pelo nome de alguém e o próprio

som do silêncio. Pessoas observando os movimentos das ruas, jogando dominó e

baralho e/ou pondo os “papos em dia”; crianças correndo e brincando; gatos e cães

atentos aos que trafegam ou cochilando em alguma sombra. Outras pessoas em

frente ou dentro das casas ajustando seus utensílios de pesca e mariscagem,

“catando” e embalando o marisco, “tratando” o peixe, fazendo trabalhos artesanais,

transportando bambu (Figura 4 e Figura 5).

Para SANTOS (2016), em 2014 a comunidade ocupava três grandes

aglomerados residências que estão relacionados ao período de ocupação e a rede de

parentesco e sociabilidade. Na atualidade, há um outro aglomerado residencial

formado pela inserção de pessoas que estão passando a morar em São Braz e que

não foram “compadrinhados”. Sendo citados diversas vezes como os “novos

moradores”.

A) B)

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Figura 4: Homem transportando bambu.

Fonte: MARSOL (2018)

Figura 5: Atividades produtivas na comunidade: A) Catação de marisco; B) Consertando utensilio de pesca; C) Confeccionando artesanato; D) Roda artesanal com pescados.

Fonte: MARSOL (2019)

A) B)

C)

.

D)

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Em se tratando de instituições governamentais de ensino, há duas (Figura 6):

A Escola Municipal Dr. Dorival Guimarães Passos e o Centro Educacional Municipal

Professora Ana Judite de Araújo Melo, também conhecido pela comunidade como

Ginásio. Na primeira funciona o ensino infantil e a creche, já a segunda ocorre o ensino

fundamental e o cursinho pré-vestibular.

Figura 6: Instituições governamentais de ensino: A) Centro Educacional Municipal Professora Ana Judite de Araújo Melo e B) Escola Municipal Dr. Dorival Guimarães Passos.

Fonte: MARSOL (2018)

OLIVEIRA (2014) em sua pesquisa na escola Professora Ana Judite, defende

que o espaço escolar em São Braz contribui na construção da identidade dos jovens.

As escolas também se apresentam como espaço de encontro para as reuniões da

comunidade, além de ceder suas estruturas para projetos que tem por objetivo

contribuir com o Quilombo. A exemplo têm- se o ACCS Mapeamento Biorregional

(2018 e 2019) e o trabalho de OLIVEIRA (2014), onde as oficinas aconteceram no

Ana Judite (Figura 7); e a pesquisa de SANTOS (2014), cujos encontros ocorreram

na Dorival Passos.

Com relação a assistência em saúde do Estado, há a Unidade de Saúde da

Família (USF) Dr. Clovis Silva Lopes e poucos agentes de saúde (Figura 8A). É notada

também a presença de plantas utilizadas nas práticas populares em saúde pela

Comunidade (Figura 8B e 8C), como o preparo de chás e as rezas objetivando a cura

de dores e enfermidades. Algumas dessas práticas são segredos de família, passados

de geração em geração.

A) B)

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Figura 7: Estudantes da UFBA e jovens na Comunidade durante uma oficina do ACCS

Mapeamento Biorregional 2018.2.

Fonte: MARSOL (2018)

Figura 8:A) Unidade de Saúde da Família; B) e C) Plantas de práticas populares em Saúde presentes na Zona de Moradia.

Fonte: A) MARSOL (2018); B) e C) MARSOL (2019)

Como infraestrutura da zona costeira de passagem da “terra” para o mar, há 3

portos onde se atracam as canoas e são feitos o embarque e desembarque. Na parte

de “terra” do porto principal existem 4 Casas de Rede: recinto em que se costura e

ajusta as redes e, de acordo com FERNANDES (2016), onde também se guarda os

apetrechos de pesca (redes, linhas e ganchos) (Figura 9).

A) B

)

C)

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Figura 9: Porto São Braz: A) Placa do Porto; B) Canoas atracadas no porto com a rede ao lado; C) Casa de rede com canoas atracadas no porto.

Fonte: MARSOL (2018)

Na Zona de Moradia também há diversas casas comerciais (Figura 10): bares,

bodegas, restaurantes, mercados, pousada, feirinhas de verduras e de legumes,

casas que vendem “geladinho” e picolé, barraquinha de acarajé. Ambientes que

complementam o emprego e a renda na localidade e atraem visitantes, como é o caso

da mariscada de São Braz.

Muitas dessas casas comerciais citadas no parágrafo acima são, junto com as

praças, ambientes de lazer. Com ressalva aos bares onde as pessoas, comem um

petisco, bebem uma cervejinha, batem papo e jogam um dominó. OLIVEIRA (2014)

conta que em São Braz provavelmente o bar nunca estará vazio, exceto que a maré

esteja cheia. Mas neste espaço de bar, assim como nas escolas, também acontecem

reuniões para discussões inerentes a este território. A exemplo do bar onde ocorreram

as reuniões da comunidade com o Conselho Pastoral dos Pescadores que foram

acompanhadas por este trabalho.

A) B)

C)

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Figura 10: Casas Comerciais: A) Mercados e Pousada; B) Casa que vende picolé.

Fonte: MARSOL (2018)

Na entrada da Zona de Moradia, duas das primeiras construções a serem

avistadas é o campo de futebol de um lado da rua e uma quadra poliesportiva do outro.

Neste quilombo existem 05 campos de futebol que nos fins de semana em que se

desenvolveu este trabalho dificilmente estavam vazios (Figura 11). Sendo esse

esporte observado como praticado de forma frequente. SANTOS (2016) relata que as

mulheres já organizaram times de futebol e JESUS (2016) aponta que os campos e a

quadra são uma área de lazer que reúne os moradores do quilombo.

Figura 11: Jogo de futebol em São Braz.

Fonte: MARSOL (2018)

Em São Braz há espaços religiosos de diversas vertentes. Dentre eles está a

atual Igreja católica de São Braz que foi inaugurada em 07 de janeiro de 1951, em

substituição a Capela de São Braz (primeira igreja católica da comunidade). A mesma

A) B)

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é datada do século XVIII. Atualmente, ela se encontra em ruínas e em seu entorno

funciona o cemitério da Comunidade.

Figura 12: A) Atual igreja católica de São Braz; B) Ruína da primeira igreja católica da Comunidade.

Fonte: A) MARSOL (2018); B) Willian Silva (2018), quilombola de São Braz.

Um outro espaço simbólico presente nesta Zona é a fonte de água subterrânea

que foi reestruturada pela prefeitura, a nomeado de “Balneário Águas de Kaú São

Braz”. Nela a comunidade coletava água nos tempos em que não havia água

encanada em suas casas SANTOS (2016) e hoje ainda há pessoas que se banham

nela ao chegar da Zona de Maré (Figura 13A) . A fonte é também importante para os

rituais religiosos que acontecem na festa da Lavagem de São Braz.

A lavagem é considerada um símbolo cultural de São Braz e contém uma parte

religiosa e uma parte não religiosa, onde são realizados shows com diversos estilos

musicais. Além deste festejo, esta Zona de Moradia é/foi palco de reprodução e

fortalecimento de muitas outras manifestações culturais. Como exemplos têm- se: o

Terno de Reis, o Caruru dos Cachorros, as manifestações organizadas por seu

Messias (filho da terra e mestre de capoeira – falecido em 2018): a Reza de São

Roque, o Bumba-Meu-boi (Figura 13B), a Capoeira e a Festa dos Mentirosos (onde

as pessoas se reuniam na praça para competir na contação de mentira). Dessa última

surgiram causos que são lembrados até hoje, como o Lobisomem de São Braz, a

Santa que vagava pela ruína da antiga Igreja Católica e o “pé” de Jaca que anda e

corre.

A) B)

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Figura 13: A) Fonte de São Braz; B) Boi do Bumba-Meu-Boi.

Fonte: MARSOL (2018)

O Samba de Roda é outro símbolo cultural característico da Comunidade. De

acordo com o IPHAN (2004), este samba é uma “manifestação musical, coreográfica

e poética” considerado pela UNESCO como “Obra-Prima do Patrimônio Oral e

Imaterial da Humanidade”. Em São Braz, ele marca presença nos festejos culturais, é

tradição na Reza de São Roque e também foi tocado e dançado nos finais de alguns

encontros aos quais foi construído este trabalho (Figura 14).

O Samba Chula (um dos estilos do Samba de Roda) está entre os responsáveis

por apresentar a Comunidade e seu cotidiano para outros países - Copenhague,

Israel, Bélgica, Holanda e França - por meio do canto do grupo Samba Chula de São

Braz, banda fundada em 1995 por dois quilombolas de São Braz: João do Boi e seu

irmão Alumínio (falecido em 2014). João do Boi é um dos grandes nomes do Samba

Chula do Recôncavo e, atualmente, é líder do grupo: Samba Chula João do Boi.

(“Samba Chula João do Boi,” 2015)

A) B)

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Figura 14: A) Dançando samba chula no final em uma reunião; B) Dançando samba em uma das atividades da ACCS.

Fonte: A) MARSOL (2019); B) MARSOL (2018)

Figura 15: Samba Chula: João do Boi. A) João do Boi; B) As sambadeiras do Samba Chula de São Braz

Fonte: William Silva (2018), quilombola de São Braz

II. Zona de Roça

Em São Braz há dois ambientes para plantio de 2,5 ha e de 0,48 ha e uma

região de pastos de cerca de são 1,27 ha. Esta Zona foi passando por alterações de

tamanho e de uso longo do tempo. Assim como o de moradia, ela está incluída na

jurisdição do município de Santo Amaro/Ba.

De acordo com FERREIRA (1958), em 1950 existiam 61 844 pessoas em

“idade ativa” (10 anos e mais) em Santo Amaro, destas aproximadamente 26,2% se

dedicavam a agricultura, pecuária e silvicultura. Uma vez que, dentre os cultivos

estavam a cana-de-açúcar, a mandioca, o fumo, arroz, amendoim, café, feijão, milho,

verduras e frutas. Já com relação a pecuária, é destacada neste documento a criação

de rebanho de gado leiteiro.

A) B)

A) B)

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Mais especificamente em São Braz, o povoado que foi se formando tinha o

cultivo de insumos agrícolas como principal fonte de renda (JESUS, 2016). Onde este

plantio era bastante diversificado, dentre eles estavam a cana-de-açúcar, a mandioca,

o aipim, o milho e a batata (JESUS, 2016; SANTOS, 2016); chegando a existir casas

de farinha (MASCARENHAS, 2014). Com a reprodução destas práticas ao longo do

tempo, alguns dos insumos e o cotidiano do trabalho na roça foram descritos nas

chulas de João do Boi e Alumínio:

“Plantei um pé de abóbora

Dentro da palha da cana

Eu plantei um pé de abóbora

Dentro da palha da cana

Abobreira não deu nada

Deu sessenta numa rama

Comi abóbora, dei abóbora

Paguei meus trabalhador

Com dinheiro dessa abóbora

Comprei um elevador

Passear com a baiana”

(João do Boi e Alumínio – Roça, Boi e Lobisomem)

MASCARENHAS (2014), em seu trabalho sobre “A Representação do

Cotidiano no Samba Chula do Recôncavo Baiano: As letras da Chula e o Grupo de

Samba Chula de São Braz”, faz uma reflexão sobre esta chula e sua relação com o

dia-dia em que vivia João do Boi e Alumínio no trabalho com o plantio. Nesta análise,

embora o autor entenda que está composição traga um enredo surreal - cujo devaneio

foi, inclusive, assumido por Alumínio-, ele consegue elencar três informações

interessantes sobre a vida na Zona de Roça.

Uma informação refletida pelo autor, é o prazer da fartura para o trabalhador

rural, onde na labuta na roça ele encontra a alegria quando ver seu “farto fruto”. A

outra é a partilha, em que se compartilha o resultado do trabalho com os companheiros

de “labo”. E por fim, o alto nível de entendimento do agricultor artesanal com seu ofício,

ao utilizar tal tecnologia para plantar abóbora. O que é explicado ao autor que, ao

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plantar a abóbora dentro da palha, à sombra do canavial protege as ramas da

abobreira do sol.

SANTOS (2016), nas entrevistas com idosos de São Braz, relata que sempre

houve roça dentro da comunidade e que também havia na região da entrada do

Quilombo. E com o passar do tempo, algumas partes dos antigos ambientes de roça

foram utilizados para a construção de residência pela comunidade, ampliando a zona

de moradia, e outra parte foi expropriada para a monocultura do bambu (Figura 16).

Cujo cultivo em Santo Amaro começou como base para as indústrias de papel12 que

foram se instalando na cidade (FERREIRA, 2012).

Figura 16: Bambuzal da entrada da Comunidade (polígono vermelho).

Fonte: MARSOL (2018)

Com relação a expropriação de Zonas de Roça, CALAZANS (2018) e JESUS

(2016) trazem relatos de que, em 1969 homens armados e tratores invadiram as áreas

de cultivo de pessoas da Comunidade e destruíram as plantações. Houve uma

indenização irrisória, mas nem todos foram contemplados, sendo desconhecido o seu

autor. Em um outro episódio, CALAZANS (2018) retrata que os donos das áreas de

plantio venderam suas roças por um preço muito abaixo do valor real das terras. Isso

porque temiam que, caso não vendesse, suas propriedades seriam tomadas pelos

12 O empreendimento que faz uso atual deste espaço será melhor detalhado mais adiante.

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interessados em comprá-las. Assim sendo, foi implantado a monocultura do Bambu

nesta parte da Zona de Roça de São Braz.

Atualmente, existem poucos roçados e, nos espaços que ainda existem, se

utiliza para o plantio do quiabo, da banana, da cana-de-açúcar, do aipim, da abóbora,

da manga, do coentro e do limão. Estes são cultivados para o autoconsumo e/ou para

serem comercializadas nas feirinhas na porta de casa e/ou nos mercados de São

Braz. Eventualmente também são vendidos para a sede de Santo Amaro ou cidades

vizinhas.

Figura 17: Produtos frutos da agricultura familiar em São Braz.

Fonte: MARSOL (2019)

JESUS (2016) reflete que com a perda do espaço para o plantio, o bambu

também passou a ser utilizado pela Comunidade. Desde aproximadamente 15 anos

atrás ele vem sendo implementado na complementação de renda de São Braz com a

confecção manual de palitos (a palitaria) específicos para churrasco e para queijo.

Desenvolvendo também uma técnica específica para esta produção. Estes são

comercializados para outras cidades.

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Figura 18: Palitaria: A) Confecção dos palitos; B) Palitos prontos.

Fonte: A) William Silva (2018), quilombola de São Braz; B) MARSOL (2019)

Em relação a criação de rebanhos em São Braz, não foram encontrados

trabalhos acadêmicos que tratem com ênfase sobre este assunto, além deste não ter

sido um tema mencionado de forma mais específica nos encontros que deram vida a

esta pesquisa. É contado em umas das entrevistas de SANTOS (2016) a presença de

bois em São Braz para o transporte de lenha e açúcar, ainda na época do engenho-

fazenda. MASCARENHAS (2014) traz a prática de criação de animais por meio de

relatos da vida de João do Boi. Em que seu pai era vaqueiro e sua família sempre

lidou com o plantio e a criação de pequenos rebanhos. João aprendeu o ofício com o

pai e continua com a tradição da criação de seu pequeno rebanho na comunidade:

burros, bois, vacas, bodes e bezerros.

João do Boi ainda menciona ao pesquisador MASCARENHAS (2014) a sua

vivência na criação de seu rebanho, em que ele abre os espaços de “mata fechada”

com seu facão para encontrar um lugar para alimentá-los de forma farta e segura.

Demonstrando assim que esses espaços de criação também podem ser itinerantes.

III. Zona de Maré

A Zona de Maré abrange as jurisdições dos municípios de Santo Amaro e de

São Francisco do Conde. Sendo formada pela interação entre as águas da Bacia

Hidrográfica do Rio Subaé (BHRS) e da Baía de Todos os Santos (BTS), como já

descrito anteriormente, formando o estuário do Rio Subaé (Figura 19).

A) B)

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Figura 19: Estuário do Rio Subaé

Fonte: MARSOL (2017)

Estuário é um termo utilizado pela oceanografia que, segundo GARRISON

(2009, p. 252), diz respeito a região de mistura das águas fluvial e marinha. Contudo,

o termo “estuário” não foi percebido como presente no cotidiano da comunidade tanto

nas visitas a campo, quanto nas bibliografias de pesquisas acadêmicas já

desenvolvidas neste Quilombo. Sendo utilizado por eles os termos mar ou maré ao se

referirem às águas estuarinas. Com ressalva que a maré também é compreendida

pela Comunidade e pela Academia como uma onda, como já descrito no início deste

capítulo.

Os ecossistemas estuarinos estão entre os ambientes costeiros mais

produtivos ecologicamente (BEATLEY et al., 2002). Na BTS a extensão dos estuários

se limitam apenas a regiões próximas a foz dos rios, uma vez que a descarga média

fluvial nesta baía é menor que a descarga da maré pela entrada da baía, implicando

em uma baía com características extremamente marinha (LESSA et al., 2001). Mais

especificamente na Zona de Maré, há a desembocadura dos rios Subaé e

Pitinga/Pitanga, além da do córrego Santo Antônio.

O Rio Subaé é o principal da BHRS, com 55 km de extensão (MOTTA et al.,

2017). Sua nascente se localiza na cidade de Feira de Santana/Bahia, na Lagoa do

Subaé e sua foz está nas proximidades dos municípios de Santo Amaro e de São

Francisco do Conde, na Baía de Todos os Santos (SANTOS et al., 2014). Ele é

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considerado o terceiro mais importante contribuinte de água doce para a BTS13,

apresentando pico de descarga no Outono (LESSA et al., 2009, p. 81). É também a

maior fonte de material particulado em suspensão para esta baía (HATJE et al., 2006).

O rio Pitinga/Pitanga/Timbó/da Penha14 tem sua nascente e foz localizadas no

próprio município de Santo Amaro, cujo percurso é envolvido por cachoeiras. Ele

nasce nas proximidades da Fazenda Pasto de Fora e desemboca no rio Subaé,

próximo a Comunidade da Pitinga/ Fazenda Pitinga, onde recebe o nome de rio

Pitinga.

O Córrego Santo Antônio também se encontra no município de Santo Amaro,

nas proximidades das fazendas Engenho Novo e Santo Antônio, sendo conhecido

pela comunidade como Rio do Engenho. Este córrego deságua no Estuário do Subaé

na região sudoeste da Zona de Moradia, em uma área denominada pela Comunidade

como João Pinto.

Na BTS há a presença de duas massas d’águas: a Água Tropical e a Água

Costeira. A primeira ocorre durante o verão, é caracteristicamente oceânica,

penetrando em toda a baía, exceto na desembocadura do Rio Paraguaçu. A Segunda

é formada localmente dentro da baía, durante o inverno, com o aumento da descarga

dos rios (CIRANO; LESSA, 2007).

A maré, enquanto onda, determina o ritmo da vida da Comunidade, uma vez

que, os horários de muitos dos seus afazeres são definidos de acordo com os horários

da maré. Apresentando também formas particular de classificar os ciclos desta onda,

como de maré cedeira e de maré tardeira.

A onda de maré é a principal forçante de circulação na BTS (LESSA et al., 2009,

p. 93). Ela passa por um aumento gradativo de amplitude da entrada em direção ao

seu interior (LESSA et al., 2001), sendo caracteristicamente semidiurna (CIRANO;

LESSA, 2007), o que significa dizer que ela completa dois ciclos de maré em 24 horas

13 Além da BHRS, a BTS recebe as descargas das Bacias Hidrográficas dos Rios Paraguaçu e Jaguaripe, formando estuários e 03 baías de menor tamanho. De acordo com LESSA et al. (2009 pag. 81) a bacia do Rio Paraguaçu tem a mais importante contribuição de água doce para a BTS e a do Rio

Jaguaripe tem a segunda mais importante.

14 Provável denominação pode estar vinculada ao fato de haver cachoeiras em seu percurso, uma vez que, de acordo com o dicionário de língua portuguesa mini Aurélio, a palavra “penha” significa uma grande rocha, um rochedo. O rio é chamado de Pitinga quando chega nas proximidades da Fazenda/ Comunidade da Pitinga até a sua foz.

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(duas preamar e duas baixamar). Com a subida e descida do nível do mar no decorrer

do dia, é formada a corrente de maré que movimenta a água para dentro (corrente de

enchente) e para fora (corrente de vazante) da baía (GARRISON, 2009, p. 224). Essa

última tem menor duração e fluxo mais intenso que a de enchente na BTS (LESSA et

al., 2009, p. 93).

A Zona de Maré é entendida como de uso compartilhado por São Braz e as

outras comunidades de pesca e mariscagem que vivem em volta do estuário Subaé,

são elas: Roseira, Caiera/ Cambuta, Pitinga, São Bento e Acupe. Dentre elas, além

de São Braz, estavam presentes nos encontros com o CPP as comunidades de

Caieira/Cambuta e Acupe.

A maré é tida como de extrema importância pela Comunidade, uma vez que é

a principal responsável pelo seu “sustento”, como mencionado por ela diversas vezes

nos encontros. Este termo pode ser compreendido tanto do ponto de vista econômico

e nutricional, quanto do ponto de vista da memória e do cultural.

SANTOS (2014) retrata que no período de funcionamento do Engenho de São

Braz, o estuário era utilizado para pesca e, além do ofício de pescador, também havia

o de seu auxiliar. Com o tempo e a formação do povoado, a pesca e a mariscagem

passaram a ser as principais fontes de renda da Comunidade. De acordo com JESUS

(2016), o maior interesse por estas atividades pelo Quilombo teria surgido como uma

alternativa de apropriação do território depois da expropriação das zonas de plantio

para o cultivo do bambuzal. MASCARENHAS (2014), também traz exemplos de

pessoas deste território que eram agricultores e que, depois deste episódio, tiveram

que aprender o ofício de pesca para sobreviver.

A pesca é praticada em diversos pontos dentro do estuário, que variam em

virtude do movimento das marés. FERNANDES (2016) traz um relato de um pescador

de São Braz de 61 anos que diz que desde pequeno vai aprendendo as coisas, uma

vez que, não há livros que ensinem a trajetória para se chegar nessas áreas, nem os

peixes e mariscos que ali existem, nem as características da área (por exemplo, se

há ou não “pedra”). Exemplificando assim que os pontos de pesca são mentalmente

mapeados pelos pescadores e pescadoras artesanais de São Braz.

A atividade pesqueira é executada com o uso de embarcação e de apetrechos.

As embarcações utilizadas são em sua maioria canoas e os apetrechos muitas vezes

variam em relação ao ponto de pesca e ao organismo que se objetiva coletar. Alguns

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exemplos são a rede grande, a rede de espera e a reça (utilizada para coleta de

camarão) produzidas na própria comunidade.

Sendo a pescaria geralmente realizada em grupo. Para a rede grande, por

exemplo, se faz necessário cerca de 5 pessoas com funções pré-estabelecidas: 1)

mestre de rede: responsável por averiguar a posição da maré e da corrente e assim

analisar onde deve ser lançada a rede; 2) abaixador: responsável por ficar imerso na

água organizando a rede; 3) pessoas responsáveis para “puxar a cortiça” da rede; e

4) pessoa para auxiliar no trabalho de todos os envolvidos.

Figura 20: Diferentes formas de pesca na Zona de Maré

Fonte: A) MARSOL (2017); B) MARSOL (2017); C) MARSOL (2019)

Os organismos pescados são comercializados e consumidos pela própria

Comunidade. Dentre os pescados mais consumidos estão a tainha, a arraia, o imbira,

o miroró, a sardinha, o caramuru e o camarão. SOUTO (2004) traz duas espécies de

camarões pescados nesta Zona reconhecidas pelos pescadores de Acupe,

comunidade vizinha a São Braz: o camarão-branco (Litopenaeus schimitti) e o

camarão-rajado (Farfantepenaeus subtilis). Este autor também cita a família das

A) B)

C)

.

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tainhas (tainha (Mugil sp.), a azeteira (M. curema) e a curimã (M. liza)), o miroró

(miroró-verdadeiro ou miroró-mirin (Gobionellus oceanicus)) e o rubalo (rubalo-

camurin (Centropomus paralellus)).

A Zona de Maré também é um ambiente de translado entre uma região e outra,

de encontro entre pessoas, histórias e culturas, de compartilhamento de informações

e de saberes, de práticas consideradas como de divertimento pelas comunidades e

de prática de alguns rituais das religiões de matrizes africana. O rio da Penha, as

regiões do estuário onde fica o Cais e as áreas denominadas como Boca do Porto,

João Pinto e Cocobongo são espaços utilizados para o banho de mar, mergulho e

piquenique. SANTOS (2016) e FERNANDES (2016) trazem relatos das oferendas a

Yemanjá praticadas na maré.

A maré também tem um significado simbólico por esta envolvida na história que

dá origem ao nome da Comunidade. Uma vez que, foi na Zona de Maré onde foi

encontrado a imagem do Santo São Braz e, por conta desse achado, o engenho

recebeu o nome de São Braz. Com o decorrer da história deste Quilombo, a

Comunidade também manteve o nome de São Braz, em homenagem ao santo.

Além das práticas na maré já listadas até agora, há utilizações específicas em

determinados sistemas costeiros dentro do estuário. Segue abaixo os ecossistemas e

as atividades identificadas.

a. Manguezal e Coroas

De acordo com o código florestal brasileiro ( Lei de n.º 12.651, de 25 de maio

de 2012) que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa, o mangue é uma

vegetação e o manguezal é o ecossistema onde ocorre este tipo de vegetação:

Ar 3º XIII - manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos,

sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas,

às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida

como mangue, com influência fluviomarinha, típica de solos limosos de

regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira,

entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina (BRASIL, 2012) .

Em São Braz foi notado o uso das expressões mangue e manguezal para se

referir aos bosques/florestas das espécies de vegetação de mangue. Embora o termo

mangue tenha sido observado como de uso mais frequente.

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Sendo a Zona de Moradia bordeada pelo manguezal, o mesmo é entendido

pela Comunidade como o principal ecossistema inserido em sua Zona de Maré. Nas

ciências acadêmicas este ambiente também é tido como de suma importância uma

vez que, oferece inúmeros serviços ecológicos: o substrato, raízes (aéreas e

submersas), troncos, folhas e galhos do manguezal abrigam uma série de organismos

invertebrados; desempenham também o papel de “viveiro” para espécie de peixes

juvenis que, quando adultos, migram para outros ecossistemas; protegem e

estabilizam a linha de costa entre muitos outros serviços (KATHIRESAN; BINGHAM,

2001).

Na BTS as florestas de mangues são uma das maiores entre as baías

brasileiras (SANTOS et al., 2015). Mais especificamente na Zona de Maré deste

trabalho, há cerca de 20,96 km² de cobertura de mangue, onde são encontradas,

segundo COSTA et al. (2015), as espécies de mangue Rhizophora mangle,

Laguncularia racemosa, Avicennia schaueriana e Avicennia germinans.

Os manguezais são bem adaptados para lidar com agentes de estresse

naturais - por exemplo, temperatura, salinidade, anoxia, UV -, no entanto, podem ser

particularmente sensíveis a distúrbios como os criados por atividades humanas

(KATHIRESAN; BINGHAM, 2001). Assim sendo e mediante o grande valor ecológico

desse ecossistema, no Código Florestal do Brasil ele é considerado como uma Área

de Proteção Permanente (APP). Onde apenas é permitido o uso para atividades de

baixo impacto ambiental, de utilidade pública ou de interesse social. E em especial o

manguezal, em casos que a sua função ecológica se encontra comprometida, também

é permitida a sua supressão ou intervenção para a construção de obras habitacionais

e de urbanização em projetos de interesse social em áreas urbanas ocupadas por

populações de baixa renda.

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Figura 21:A) Bosques de Mangue; B) Coroa.

Fonte: A) MARSOL (2017); B) MARSOL (2019)

As Coroas, na concepção da comunidade, fazem referência a bancos

compostos de areia e lama que ficam expostos durante a maré baixa. Na Zona de

Maré foram identificadas 10 coroas, onde duas destas - Coroa de Brotas e Coroa de

Duro Tapioca/ Tarioba – estavam incluídas entre os pontos de coleta de substrato de

MARIANO (2012). No trabalho deste autor constata haver a predominância de areia

fina e muito fina e do somatório das frações de silte e argila em ambos os pontos.

Os manguezais e Coroas são utilizados pela Comunidade principalmente para

a coleta de organismos na mariscagem. FERNANDES (2016) e JESUS (2016) relatam

o uso do manguezal na mariscagem: as vezes é necessário que se percorra por

longas distâncias até o local de coleta; na maioria das vezes se faz necessário se

posicionar sentado, agachado, com joelhos flexionados, ajoelhado ou de quatro no

substrato; a coleta é realizada por unidade, podendo ser desenvolvida com o contato

direto das mãos no substrato (rochas, raízes expostas do mangue, lama) ou com a

utilização de ferramentas.

JESUS (2016) traz em depoimento com marisqueiras da Comunidade que o

trabalho por entre a flora do manguezal é bastante instável, o que exige bastante

conhecimento acerca deste ambiente de quem irá exercê-lo. A mesma autora também

relata que no momento em que a maré está cheia, as atividades de coleta são findadas

e volta-se para a Zona de Moradia para começar a etapa de beneficiamento.

No que rege a mariscagem nas coroas foi observado que a coleta é realizada

por meio da escavação no substrato a procura das conchas dos organismos, sob o

A) B)

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auxílio de uma enxada ou apenas com o uso das mãos (FIGURA 22). Sendo a Coroa

de Dentro, a Coroa de Fora e a Coroa Grande como de maior uso por São Braz.

Figura 22: Mariscagem na coroa: A) Processo de coleta de organismo com o auxílio de uma pequena enxada; B) Pequenas cavidades oriundas do processo de mariscagem.

Fonte: MARSOL (2017)

Assim como os organismos pescados, os mariscados também são

comercializados e consumidos pelo Quilombo. Sendo estes organismos a principal

fonte de alimento da dieta alimentar da Comunidade. Dentre estes organismos os

mais consumidos são sururu, ostra, siri e aratu. SOUTO (2004), SOUTO; MARQUES

(2006) SOUTO (2007) e SOUTO; MARTINS (2009) trazem alguns organismos

bentônicos presentes nestes ambientes mais próximos da comunidade de Acupe

como a Crassostrea rhizophorae (ostra-de-mangue), Anomalocardia brasiliana

(“bebe-fumo” ou “papa-fumo”), Mytella guyanensis (sururu-de-mangue), Brachidontes

exustus (machadinha), Cyrtopleura costata (sururu-de-velho), Callinectes exasperatus

(siri-de-mangue) e o caranguejo Ucides cordatus (Uçá), Charybdis danae (siri-de-

coroa) e Mytella charruana (sururu-de-coroa/sururu-de-pisada).

As coroas são um dos principais ambientes da Maré de lazer para a

Comunidade. Foi notado durante o processo de georreferenciamento que havia a

presença de crianças, mulheres e homens coletando mariscos e se divertindo neste

ambiente, o que também foi encontrado por JESUS (2016) e FERNANDES (2016).

Nas oficinas do ACCS BIOB 63 discutiu-se que nessas áreas as famílias reúnem-se

para conversar, brincar e beber. JESUS (2016) traz que as pessoas da Comunidade

vão as coroas com as finalidades de trabalhar e de se divertir, sendo muito comum

unir estes dois propósitos, o que faz esta área um importante espaço de socialização.

A) B)

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Figura 23: Momentos na coroa: A) e B) Montando piquenique; C) Crianças brincando.

Fonte: A) e B) MARSOL (2019); C) MARSOL (2017)

b. Enseadas, Costeiros e Canais

Na concepção da Comunidade, as enseadas são regiões do estuário que

apresentam um fluxo de corrente menos intenso. O que pode ser, por exemplo, um

remanso na curva de um rio, uma região por trás de uma coroa, ou qualquer outro

local de menor hidrodinamismo. Já os costeiros são definidos por SOUTO (2004) na

percepção dos pescadores de Acupe, tanto como a faixa entre a maré baixa e maré

alta ou a faixa a cima da maré alta. Nesta Zona, foi citado o costeiro dos mangues

(Figura 24) que junto com as enseadas são comumente utilizadas para a pesca em

São Braz.

Os canais foram entendidos como a região de água entre os bosques de

mangue também chamados de “braços de mangue”. Sendo considerada como uma

reentrância dentro da vegetação de mangue. Um dos canais é o canal Canal de São

Braz, chamado também de Rio São Braz. Situado após a foz do Rio da Penha, quando

o estuário passa por uma bifurcação por conta da presença de uma ilha (a Ilha de

Cajaíba que será melhor descrita no próximo item). Sendo este canal, a região do

estuário localizada do lado oeste desta ilha.

A) B) C)

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Figura 24: Pesca com rede no costeiro de mangue

Fonte: MARSOL (2017)

c. Ilha de Cajaíba

A Ilha de Cajaíba está inserida na jurisdição municipal de São Francisco do

Conde/ BA, apresentando uma área de aproximadamente 11,2 km² e um perímetro

de 24,5 km. Segundo FERNANDES (2016), na concepção das comunidades por ela

estudada15 a Ilha compreende tanto a sua área geográfica quanto às regiões de sua

proximidade. Sendo entendida pela autora como um arquipélago.

Nas extremidades da Ilha há a presença da vegetação de mangue, que

corresponde a cerca de 55,2% da sua área total. Já sua parte interior reúne uma série

de árvores de frutíferas como cajá, jenipapo, tamarindo, banana, dendê, araçá, manga

entre outros (SANTOS, 2013). Nesta parte da Zona também está estabelecido

edificações do antigo Engenho de Cajaíba (figura 25).

As comunidades utilizam a Ilha de Cajaíba de diversas formas: trabalhadores

da maré se abrigam em seu interior em momentos de chuvas fortes e tempestades no

mar; marisqueiros (as) mariscam em seu extenso manguezal; pescadoras (es) tem as

áreas do estuário ao seu redor como referência de boa pescaria, como é trazido por

FERNANDES (2016) em entrevista com moradores de São Braz; em seu interior é

realizado a extração de frutas, em especial o cajá, como fonte de renda complementar

15 Acupe, Dom João e São Braz

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e de alimento, principalmente em períodos climáticos em que o exercício da atividade

de pesca é inviabilizado16.

Figura 25: Casarão da Ilha de Cajaíba. A) Casarão visto de frente; B) Casarão visto de forma mais aproximada.

Fonte: MARSOL (2017)

O casarão e outros elementos que sobraram do Engenho de Cajaíba são

utilizados pelos quilombolas ao redor como elementos de resgate histórico

(principalmente da resistência negra na região) e como símbolo de motivação para o

reconhecimento como remanescentes de quilombo17. FERNANDES (2016) traz que

este fator simbólico de resistência étnica é notado principalmente na Comunidade de

São Braz que traz uma série de relatos com relação ao tratamento do negro pelo

Barão de Cajaíba, história estas transmitidas oralmente de geração em geração.

Entendida então como território pesqueiro e quilombola, este sistema costeiro

é um marco na questão do reconhecimento das comunidades quilombolas que as

circundam como remanescentes de quilombo. Isso porque, em 2009 o grupo

empresarial Property Logic Brazil tinha a intenção de privatizar a Ilha, transformando-

a em um eco resort de luxo denominado: Eco Resort Ilha de Cajaíba (FERNANDES,

2016). Este empreendimento iria inviabilizar as diversas utilizações da Ilha pelas

comunidades e causar possível impacto negativo na qualidade ambiental da área.

Assim, como estratégia de luta frente a possibilidade de perder esta parte da Zona

utilizada por elas a gerações, as comunidades quilombolas uniram-se para reivindicar

16 Carta em Defesa do Território Quilombola da Ilha de Cajaíba, 2011.

17 Carta em Defesa do Território Quilombola da Ilha de Cajaíba, 2011.

A) B)

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a posse deste território, dando abertura ao processo de regulamentação fundiária no

INCRA.

5.2. DO CONFLITO

5.2.1. Principais atores externos e seus usos que desrespeitam a vida

da Comunidade e de seu território

Os agentes ou atores externos considerados neste trabalho dizem respeito aos

grupos sociais que não são integrantes do Quilombo, cujos usos têm influência nas

Zonas de Roça, de Moradia ou/e de Maré e que entram em conflitos com São Braz.

O grupos sociais identificados pertencem aos setores privados e estatais, são eles: a

administração Pública, a Desativada Companhia Brasileira de Chumbo (COBRAC)/

Plumbum Mineração e Metalurgia Ltda, a Unidade de Papel Santo Amaro/Ba, o

Fazendeiro de Eucalipto e o “Patrão” de Alagoas. Estes estão sistematizados no

fluxograma da figura 26 e sua representação espacial está na figura 27.

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Figura 26:Fluxograma com os agentes externos e seus usos que afetam as Zonas de Maré, Roça e Moradia.

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Figura 27: Localização do lixão municipal, da Plumbum, da Penha Papéis (indústria e departamento) e da fazenda de eucalipto.

Fonte: A autora

Abaixo estão elencados os agentes externos que estão em conflito com São Braz,

sua forma de uso do ambiente e os impactos e conflitos ambientais gerados por este

uso.

I. Administração Pública

A Administração Pública faz referência tanto a função, quanto aos que têm

responsabilidade de aplicá-la. Uma vez que, segundo MORAES (2003), objetivamente

a administração pública é entendida como as “atividades concretas e imediatas a

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consecução dos interesses coletivos”. E subjetivamente, de acordo com o mesmo

autor, é entendida como o “conjunto de órgãos e pessoas jurídicas aos quais a lei

atribui o exercício da função administrativa do Estado”. Assim sendo, a Administração

Pública é formada por contratados pelo estado para executar suas funções “de

prestação de serviços públicos, fiscalização, regulação e exercício de funções de

soberania” (COSTIN, 2010, p. 4).

QUINTAS & GUALDA (1995) trazem que no Brasil o Estado é o principal

mediador no processo de gestão ambiental. Assim sendo, segundo os mesmos

autores o Estado

[…] é detentor de poderes, estabelecidos na legislação, que lhe permitem

promover desde o ordenamento e controle do uso dos recursos ambientais

(incluindo a criação de mecanismos econômicos e fiscais) até a reparação e

a prisão de indivíduos pelo dano ambiental. Neste sentido, o Poder Público

estabelece padrões de qualidade ambiental, avalia impactos ambientais,

licencia e revisa atividades efetiva e potencialmente poluidoras, disciplina a

ocupação do território e o uso de recursos naturais, cria e gerencia áreas

protegidas, obriga a recuperação do dano ambiental pelo agente causador,

promove o monitoramento, a fiscalização, a pesquisa, a educação ambiental

e outras ações necessárias ao cumprimento da sua função mediadora

(QUINTAS; GUALDA, 1995).

Assim sendo, também é função do setor público “produzir ou induzir” as

externalidades positivas e “coibir ou atenuar” as externalidades negativas (COSTIN,

2010, p. 6).

Os conflitos existentes entre a comunidade de São Braz e a Administração

Pública estão descritos nos tópicos abaixo:

a. Administração de Resíduos Sólidos do Município

O município de Santo Amaro tem o manejo e a coleta de resíduos sólidos

urbanos e de serviços de saúde realizados pela MM Consultoria Construções e

Serviços LTDA18. Já a destinação final dos Resíduos Sólidos Urbanos é realizada no

Lixão Municipal de Santo Amaro (Figura 28) que se localiza a aproximadamente 1,03

Km da Zona de Moradia de São Braz, mas dentro do seu território quilombola, e

próximo às margens do Córrego Santo Antônio.

18 Relatório de Fiscalização Ambiental (2017) cedido pelo INEMA (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Governo da Bahia).

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Figura 28: Entrada do Lixão Municipal de Santo Amaro.

Fonte: MARSOL (2017)

O lixão de Santo Amaro esteve em processo de construção no ano de 1999

como Aterro Sanitário19 (CEZARINHO, 2017), fazendo parte do programa Bahia Azul20

(BAHIA, 2000 APUD SANTOS et al., 2007). Recebeu uma Licença de Operação em

2004 como Aterro (Processo n° 2003- 001586/ TEC/ LO – 0031). Entretanto, desde

de 2005 é de conhecimento do órgão ambiental estadual que ele vem operando como

um lixão recebendo notificações, advertências e multas desde então. Sendo também

instaurado um Inquérito Civil com relação a degradação ambiental decorrente da má

disposição de resíduos sólidos no município de Santo Amaro (BAHIA, 2007).

Neste empreendimento há a presença de trabalhadores contratados pelas

gerências do lixão e da empresa de coleta e transporte de resíduos sólidos e

catadores e catadoras de lixo. Este último foi observado no Relatório de Fiscalização

Ambiental DO INEMA de 2017 e também no relatório do Ministério Público da Bahia

de 2007. CEZARINHO (2017) descreve-os: são em torno de 40 homens e mulheres

19 O Aterro Sanitário é uma obra da engenharia para destinação final de resíduos sólidos, cuja técnicas de construção busca depositá-los sem causar riscos à saúde da população do entorno e ao meio ambiente (ELK, 2007).

20 O Bahia Azul foi um programa de Saneamento que englobava os municípios do entorno da Baía de Todos os Santos (BTS) que tinha como principal objetivo sanar a degradação ambiental da BTS. Sendo considerado, até 2007, como um dos maiores programas de Saneamento ambiental do Brasil. (SANTOS et al., 2007).

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que moram em regiões periféricas de Santo Amaro ou em barracos no próprio lixão

que exercem essa atividade para “sanar suas necessidade e vontades”.

CEZARINHO (2017) revela em sua experiência e em conversas com catadoras

e catadores do Lixão de Santo Amaro que os resíduos chegam a este ambiente

misturados; o chorume é separado, mas não tratado; não há sistema para captar e

tratar o metano; a quantidade de lixo que chega é desproporcional ao suportado; e o

trator que serve para compactar o lixo foi presenciado diversas vezes sem óleo para

funcionar. Dentre as observações da inspeção realizada pelo INEMA em 2017 no

Lixão Municipal21, estão a grande quantidade de moscas e urubus na área e drenos e

lagoas de chorume em más condições. Ainda de acordo com o INEMA, estas lagoas

foram povoadas por vegetação e uma delas estava rompida sucedendo em infiltração

direta do chorume no solo. A Comunidade queixa- se de haver escoamento de

chorume e lixo do lixão para regiões da Zona de Maré.

No relatório do Ministério Público da Bahia de 2007 se apontou irregularidades

deste empreendimento, que neste documento foi tratado como Aterro Sanitário.

Dentre elas estavam que o lixão se encontra em uma área de declividade inadequada

(maior ou igual a 15°)22, ocupando uma Área de Preservação Permanente (APP)23 e

com residências distantes a menos de 1Km. Contudo, no RFA de 2017 consta que o

lixão está em uma região de declividade plana e em distâncias consideráveis de

residências, Área de Proteção Ambiental (APA) e áreas agrícolas, demonstrando uma

certa incoerência entre as informações.

Em março de 2017 o portal web Jacuípe Notícias, reporta uma intervenção no

lixão realizada pela a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e a Prefeitura Municipal de

Santo Amaro para reordenar os resíduos, otimizar os espaços e combater focos de

incêndio. Pois estes incêndios vinham incomodando os moradores da região,

principalmente de São Braz.

21 Relatório de Fiscalização Ambiental (2017) cedido pelo INEMA (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Governo da Bahia).

22Com uma declividade inadequada (alta) o aterro pode ter dificuldade para a conformação da massa de lixo, maior facilidade para o escoamento superficial do chorume e maior dificuldade de acesso à célula, nos períodos chuvosos (BAHIA, 2007).

23 Possivelmente as margens do Córrego Santo Antônio

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A Política Nacional de Resíduos Sólidos ( lei nº 12.305 de 2 de agosto de 2010)

estipulou um prazo de até 2014 para implantação de um ambiente adequado para

deposição final do lixo. Entretanto, esse prazo foi estendido até 2021 pelo parecer 385

de 2015. Como o município de Santo Amaro apresenta entre 50.000 e 100.000

habitantes, de acordo com esse parecer, o prazo limite é de até 2020. Sendo assim,

espera- se que a situação se regularize até este prazo, entretanto, em nenhum

momento dos encontros foram citadas pelas comunidades, iniciativas do governo

municipal para solucionar esta situação. Inferindo- se assim que não está havendo

iniciativas e/ou não está existindo diálogo entre governo e sociedade.

b. Esgotamento Sanitário

O Sistema de Esgotamento Sanitário em São Braz é inexistente. Por conta

disso, que é de responsabilidade do estado, o esgoto é lançado in natura no

manguezal tanto de forma direta, quanto indireta. Essa última ocorre por meio da rede

pluvial que direciona este resíduo doméstico para este ecossistema (figura 29).

Esta situação não é um fato isolado, ocorrendo também em muitas outras

regiões povoadas da Baía de Todos os Santos. De acordo com HATJE et al. (2010),

dentre os principais estuários da BTS, o Subaé é o que apresenta menor taxa de

oxigenação, por conta da presença dos resíduos domésticos e industriais. Sendo que,

em diversos locais ao longo do rio foi notado pela autora diversos pontos de despejo

de esgoto doméstico.

Em 2010 59,1% dos domicílios em Santo Amaro possuíam esgotamento

sanitário adequado (IBGE, 2010). Contudo, se faz preciso estar atento às condições

em que o resíduo do tratamento da SES está chegando a seu destino final. Como

exemplo tem- se a comunidade de Cambutá/ Caieira em Santo Amaro, onde há um

canal de despejo do efluente da EMBASA no Rio Subaé, no porto do Campo, próximo

a uma feirinha de marisco. No momento da visita em setembro de 2017, o líquido

apresentava mau cheiro e aparentava não está devidamente apto a ser descartado

neste ambiente24. As pessoas da comunidade de Cambuta que estavam no local,

mencionaram que isto vem ocorrendo com frequência.

24 A resolução Conama CONAMA n° 357/2005 “Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes”. Nela consta que o odor é uma característica ausente em águas com boas condições de qualidade independente de qual seja a sua classificação de uso predominante (BRASIL, 2005).

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Figura 29: Esgoto doméstico in natura saindo das casas e indo para a Zona de Maré.

Fonte: MARSOL (2019)

c. Alterações na Zona de Moradia

Nos encontros foram relatadas intervenções realizadas dentro da Zona de

Moradia pela administração pública sem compartilhar com a Comunidade o poder de

decisão. Uma delas foi a reforma da fonte subterrânea de São Braz, sendo nomeada

como “Balneário Águas de Kaú São Braz”, onde alguns aprovaram a reforma, outros

entendem que esta foi totalmente descaracterizada. Outra foi a desativação da

Estação de Tratamento de Água (ETA) de São Braz.

No município de Santo Amaro, o Sistema de Abastecimento de Água (SAA) é

de responsabilidade da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (EMBASA). Uma

companhia criada em 1971 pela lei Estadual de nº 2.929, em que o governo do estado

da Bahia é acionista majoritário. Neste contexto, o fornecimento de água para São

Braz vem da Estação de Tratamento da sede do município, Santo Amaro, que capta

água da estação Pedra do Cavalo (GEOHIDRO, 2015), no Rio Paraguaçu. Entretanto,

antes de estar integrada ao SAA da Sede de Santo Amaro, a ETA funcionava no

próprio Quilombo (Figura 30).

A ETA de São Braz começou a operar no ano de 1986, coordenado pelo

escritório da EMBASA da sede municipal de Santo Amaro (EMBASA, 1977). Além de

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ser tratada no própria Comunidade, a água bruta era captada do manancial superficial

do Rio Timbó/Pitinga/da Penha (EMBASA, 1977). Esses fatos eram motivo de orgulho

para a comunidade de São Braz por serem abastecidos pela água de seu próprio

Quilombo.

Figura 30: Desativada SAA de São Braz: A) SAA faixada; B) SAA parte interna.

Fonte: MARSOL (2018)

A desativação do SAA de São Braz fez parte do Plano de Abastecimento de

Água da Região Metropolitana de Salvador, Santo Amaro e Saubara (PARMS) do

governo do estado (GEOHIDRO, 2015). Este projeto se intitula participativo por ter

realizado reuniões com a população dos municípios para diagnóstico e apresentar às

alternativas apresentadas e uma consulta pública virtual (GEOHIDRO, sem ano).

Entretanto as pessoas da Comunidade que estavam presentes nos encontros do

ACCS não sabiam o motivo da desativação do SAA de São Braz e se mostravam

insatisfeitas com o feito.

No diagnóstico do PARMS de 2015 consta que a água bruta captada do Rio

Pitinga apresentava considerável grau de degradação uma vez que a maioria dos

parâmetros analisados não tinham conformidade com a resolução CONAMA n°

357/2005. Assim sendo, isso influenciaria o modo de tratamento da água para que ela

seja considerada potável, influenciando também nos custos do tratamento.

II. Desativada Companhia Brasileira de Chumbo/ Plumbum Mineração e

Metalurgia Ltda

A) B)

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A área onde era a Companhia Brasileira de Chumbo (COBRAC) localiza- se a

100 metros do Rio Subaé, na sede do município de Santo Amaro. Ela começou a

operar na cidade em 1960 pela empresa francesa Peñarroya para produção de ligas

de chumbo (ANJOS; SÁNCHEZ, 2001) e exportação de zinco (FERRAN, 2007).

Autorizada pelo decreto nº 35.930, de 29 de julho de 1954 (BRASIL, 1954). Na época

não existia regulamentação específica com relação a esse tipo de atividade (ANJOS,

2003). E como as atividades nas fazendas e nas usinas de cana de açúcar estavam

em decadência na região, a vinda da fábrica foi vista pelos santo-amarenses como

símbolo de crescimento econômico, uma vez que a mesma significava maior

recolhimento de impostos e oferta de vagas de emprego (PORTELLA et al., 2009).

Em 1989 a Peñarroya vendeu a metalúrgica de Santo Amaro que passou a

funcionar como Plumbum Mineração e Metalúrgica sob direção de um novo grupo

empresarial (ANJOS; SÁNCHEZ, 2001). De acordo com MACHADO et al. (2004) este

grupo já atuou com vários nomes como Plumbum, Grupo Trevo e TREVISAN. No

período de apropriação da metalúrgica Plumbum o então grupo respondia pela razão

social de LUXMA. Que também havia adquirido a mineradora de Boquira (FERRAN,

2007) e em abril de 1992 passou a se chamar grupo TREVO.

Durante seu funcionamento, a usina utilizou o Rio Subaé para destino de seus

efluentes líquidos; da porção da atmosfera ao seu entorno para expelir seu material

particulado gasoso por meio de chaminé e do solo para a deposição de parte de sua

escória por meio da bacia de rejeito (ANJOS, 2003; MACHADO et al., 2004). Sendo

esta escória contendo chumbo (Pb), Zinco (Zn), Cádmio (Cd), Ferro (Fe) entre outros

elementos químicos (LIMA; BERNARDEZ, 2011).

No ano de 1993, como grupo TREVO, a Plumbum deixou de funcionar

abandonando cerca de 490.000 toneladas de escória (ANJOS; SÁNCHEZ, 2001) e

um imenso passivo ambiental decorrente dos produtos manuseados nas atividades

da indústria.

Desde de 1960 a COBRAC/ Plumbum atuou como fonte direta de metais

tóxicos para o solo, o rio Subaé e a atmosfera à medida que foi utilizando destes

compartimentos, descritos nos parágrafos acima. E mesmo quando iniciou- se o

processo de controle de poluição pela empresa as medidas adotadas foram

insuficientes, havendo inclusive extravasamento da bacia de rejeitos adicionando mais

contaminantes ao rio Subaé (SILVANY-NETO et al., 1996). De acordo com

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CARVALHO et al. (1984) cerca de 2,5 toneladas de cádmio foram despejados

diretamente no rio Subaé, outras 1,5 toneladas deste elemento foram emitidos para a

atmosfera. Já a quantidade de chumbo liberada para o ambiente, segundo este autor,

é de difícil estimativa.

Mesmo após o fim da operação da fábrica, a escória contendo de 1 a 3% de

chumbo (SILVANY-NETO et al., 1996) ainda continuou estocada de forma indevida

no pátio da fábrica. Onde, segundo HATJE et al. (2009, p. 259), a sua lixiviação para

o lençol freático, seu escoamento superficial e sua poeira atuam como fonte atual de

metais para o rio Subaé, e consequentemente para biota aquática.

MACHADO et al. (2004) relata que durante os períodos de 1960 e 1970 parte

da escória contendo elementos tóxicos foram doados para a população e prefeitura

de Santo Amaro para a utilização em diversas construções como a pavimentação de

ruas, jardins, praças, quintais de casa, entre outros. Aumentando a chance de

exposição da população aos contaminantes. Ainda de acordo com o autor, alguns

pontos dos bairros da área urbana de Santo Amaro onde houve utilização da escória

foram pavimentados, diminuindo assim a chance de exposição da população, a

infiltração da água de chuva com consequente lixiviação e a remobilização dos

contaminantes pelo vento. Não há relatos de que este material tenha sido utilizado

para as pavimentações de São Braz. Assim, considera-se que este passivo é um é

um impacto negativo apenas a Zona de Maré da Comunidade.

Por mais de 40 anos, foram desenvolvidos inúmeros estudos técnicos e

acadêmicos de caráter multi e interdisciplinar que constatam a presença de metais em

níveis muito maiores que os aceitáveis na vegetação, no solo, no ecossistema do

Subaé, na atmosfera e em animais terrestres. Também houveram constatações de

intoxicação de crianças, mulheres grávidas e embriões, antigos operários da fábrica e

pescadores por estes metais (principalmente Cádmio e Chumbo) (EGLER; SOUZA,

2012; ANDRADE; MORAES, 2013)25.

A intoxicação por Chumbo pode provocar inúmeros efeitos crónicos e agudos

na saúde humana. Entre os crônicos estão arteriosclerose precoce, alterações na

função cognitiva e motora, retardo no desenvolvimento, dificuldade de concentração

e memorização, hiperatividade, diminuição da acuidade visual e auditiva, nefropatia

25 Estes autores desenvolveram uma lista bibliográfica com relação às publicações referentes a este

caso.

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crônica irreversível, insuficiência renal crônica, diminuição da mobilidade e número de

espermatozóides, aumento do número de abortos e nascimentos prematuros,

hipotonia muscular (dedos, punhos, extensores do antebraço, tornozelos),

descalcificação óssea, inibição do crescimento físico e da estatura, anemia, câncer

entre outros (BRASIL, 2017a).

O jornal Correio fez em 2019 uma série de reportagens com alguns santo-

amarenses que ainda sofrem com as sequelas deixadas pela COBRAC/PLUMBUM.

De acordo com esta reportagem a Associação das Vítimas por Contaminação por

Chumbo, Mercúrio e Outros Elementos Químicos do Estado da Bahia (AVICCA),

estima que cerca de mil pessoas já morreram vítimas da contaminação pelos metais

em concentrações tóxicas.

A PLUMBUM foi condenada pelo Tribunal Regional Federal (TRF) em 2014

(processo n° 2003.33.00.000238-4) ao ressarcimento dos danos ambientais causados

a um valor de 10% do seu faturamento bruto mês a mês decorrente do funcionamento

de 1989 a 1993. Sendo esta quantia destinada às ações de recuperação ambiental

das áreas atingidas pela contaminação oriundas de sua operação no município de

Santo Amaro. Além disso, a justiça também ordenou que a mesma tomasse

providências quanto a área da indústria desativada, tal como: cercamento das áreas

da fábrica e vigilantes para que não permita o acesso de animais e pessoas nessas

áreas e o encapsulamento da escória para que a mesma não atinja mais o leito do rio

Subaé (BRASIL, 2014). Contudo de acordo com o Ministério Público Federal, pelo

menos até 2017, as medidas executadas pela indústria com relação ao isolamento da

escória foram ineficientes. Há exemplo têm-se que, a vistoria realizada pelo INEMA

em Setembro de 2014 detectou que esta não impedia o contato do material com o

lençol freático e na vistoria de 2015 observou- se que o nível da água da bacia de

contenção estava alta, podendo ocasionar um transbordamento em períodos de

chuvas mais intensas (BRASIL, 2017b).

Em 2014 o Tribunal Regional Federal também, sentenciou a União e a

Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) a construção de um centro de referência

para tratamento de pacientes vítimas de contaminação por metais pesados no

município de Santo Amaro em um prazo máximo de seis meses (processo n°

2003.33.00.000238-4) (BRASIL, 2014). Entretanto, o município ainda não dispõe de

tal estrutura. Assim sendo, em 2019 as duas instituições foram condenadas pela TRF

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por não adotarem tal medida: "foi patente a omissão de ambas, cada uma em sua

área de competência, em adotar as medidas para coibir e para reparar os danos

ambiental e humano” (MPF, 2019).

Na sede de Santo Amaro, quando é preciso realizar serviços em que há uma

perfuração das áreas que foram pavimentadas com o material da Plumbum, este

material é exposto novamente (MACHADO et al., 2004). Um exemplo deste caso

ocorreu em setembro de 2019, quando se precisou perfurar algumas ruas das da sede

de Santo Amaro para a implantação de um sistema de escoamento de água pluvial

pela prefeitura, desenterrando assim o material contaminado, sem que haja nenhum

cercamento em volta da área escavada e nenhuma medida para conter a poeira

gerada (CORREIO, 2019b). Demonstrando também, a negligência com que a

Administração Pública Municipal em Santo Amaro vem tratando este caso.

III. Grupo Penha/Penha Papéis/ Unidade de Papel Santo Amaro/Ba

A Penha Papéis é uma empresa fundada em 1984 que tem como objetivo a

produção de chapas e embalagens de papelão ondulado e de papéis reciclado no

mercado nacional (PENHA, sem ano a, sem ano b). O grupo responsável pela

empresa é o Grupo Penha que conta atualmente conta com 8 unidades distribuídas

nos estados de São Paulo, Bahia e Paraná. Sendo que, na Bahia dispõe de unidades

em Salvador, em Santo Amaro e em Feira de Santana (PENHA, sem ano c).

Em Santo Amaro, há três unidades da Penha, entretanto, na atualidade apenas

duas delas está ativa. A inoperante se encontra na BA-084, cerca de 6km da sede do

município, nas instalações da antiga Bacraft S/A Indústria de Papel S.A Penha Papéis

e Embalagens Ltda (BAHIA, 2014). As ativas são a Penha Agro-Florestal (CNPJ

09.601.193/0001-00) e a Penha Papéis e Embalagens/ Unidade de Papel Santo

Amaro/Ba. Essa seção faz referência a esta última, localizada na Fazenda Pitinga

(BR- 420), nas instalações da desativada Indústria de Papéis da Bahia LTDA (IPB),

dentro do território quilombola da Comunidade.

A Unidade de Papel Santo Amaro/Ba começou a operar em 2006 (PENHA, sem

ano b). E produz o papel tipo Kraft por meio da reciclagem de papel corrugado

(papelão) que é enviada para as outras unidades para a confecção de embalagens26.

26 Visita Técnica a Penha Papéis dia: 06.11.2019

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O Portal Eletrônico Brasil237 (2013) e Portal Ecodesenvolvimento (2013) reportaram

o discurso do até então diretor-administrativo da Penha, onde o mesmo diz que o

material que a Penha aproveita como matéria prima para reciclagem são papelões

recolhidos em diversos pontos do território baiano (cerca de 132 toneladas por ano)

por grupos organizados em cooperativas de catadores.

Figura 31: Penha Papéis e Embalagens/ Unidade de Papel Santo Amaro/Ba

Fonte: MARSOL (2017)

Segundo o Portal Eletrônico Brasil237 (2013), em 2013 além da mão de obra

das cooperativas envolvendo uma estimativa de 28 mil pessoas, a Penha gerava

aproximadamente 1,5 mil empregos diretos. Neste mesmo ano, de acordo com

SANTOS (2013), ela empregava cerca de 10 pessoas da Comunidade de São Braz.

Os produtos deste empreendimento recebem o selo da Forest Stewardship

Council (FSC) (Código de licença: FSC-C100310) na modalidade Cadeia de Custódia

(CoC) (padrão: FSC-STD-40-004) por meio da Associação Portuguesa de Certificação

(APCER) (PENHA, sem ano d). Nesta categoria é certificado que o material

comercializado é originário de florestas certificadas pela FSC, de madeiras

controladas (padrões: FSC-STD-40-005 e FSC-DIR-40-005) e/ ou de produtos

recuperados (padrão: FSC-STD-40-007) (FSC, 2017). No caso específico da Penha a

certificação é referente a esta última situação.

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a. Cultivo/ manutenção do bambuzal

Como mencionado anteriormente, há em São Braz a presença da monocultura

do Bambu que foi implantado por meio da expropriação da Zona de Roça. Atualmente

a Penha Papéis é considerada proprietária desses espaços alegando que foram

herdados em 2005 da fábrica de papel anterior (GUARNETTI, 2013).

Assim sendo, a Penha colhe o bambuzal manualmente em um ciclo de corte

de 3 anos e utiliza sua biomassa como fonte de energia (GUARNETTI, 2013; SANTI,

2015). Por isso é considerada auto suficiente no seu processo de produção no que se

refere a este tipo de geração de energia (MOREIRA, 2012). Sendo elogiada em 2013

pelo então secretário da Indústria, Comércio e Mineração da Bahia como “um caso

extraordinário” (“Portal Eletrônico Brasil237, 2013).

Figura 32: : A) Bambuzal em São Braz já cortado ; B) Bambus sendo transportados (polígono vermelho).

Fonte:MARSOL (2018)

.

É relatado que atualmente o cultivo deste insumo vem avançando sob as Zonas

de São Braz e ocupando novos espaços dentro da comunidade. Na região a caminho

do Cocobongo ( figura 33) é possível visualizar a presença de raízes do bambuzal

dentro do manguezal, na parte em que marés de maiores amplitudes alcançam.

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Figura 33: Caminho para o Cocobongo: raízes do bambuzal dentro do manguezal.

Fonte: MARSOL (2018)

O Grupo Penha também se diz proprietário de fazendas de bambuzal

distribuídas nos municípios de Cachoeira/Ba e São Francisco do Conde/Ba (Portal

Ecodesenvolvimento, 2013) Entretanto a indústria foi denunciada por tentativa de

grilagem pela casa Ilê Axé Icimimó Aganju Didê, do município de Cachoeira. Terreiro

este considerado desde 2015 Patrimônio Cultural do Estado da Bahia e que está em

processo de tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(Iphan). Segundo o Jornal Correio (2019), em fevereiro de 2019 funcionários da

fábrica passaram a demarcar terras dentro da cercania do Terreiro, alegando que este

era de posse da Fábrica desde 2005. Armados ameaçaram o líder religioso do Icimimó

por estar podando o bambuzal que se encontrava dentro das cercanias e ameaçaram

derrubar todas as estruturas do Terreiro. Entretanto, em entrevista ao Correio,

membros do Terreiro informaram que a Casa está aberta desde 1736 e que desde de

1916 possuem a escritura da terra. O Ministério Público do Estado (MPE-BA) emitiu

uma nota em que dizia (MPBA, 2019)

[…] o Terreiro Ilê Axé Icimimó Aganjú Didè possui prova da propriedade do

imóvel que ocupa, e que é frequente a grilagem de terras na região do

município de Cachoeira, sendo que de forma recorrente empresas privadas

utilizam-se deste artifício para invadir áreas de matriz africana pertencentes

aos terreiros de candomblé (MPBA, 2019).

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b. Uso do Rio Pitinga

O Riacho Pitinga é utilizado por esta indústria para a captação de água por

meio de uma represa para o abastecimento industrial (Figura 34) e, a montante da

represa, como destino final de seus resíduos líquidos (Figura 35). Este resíduo líquido

é resultado da lavagem do papelão que, segundo a empresa, é utilizado nesse

processo apenas a água. Antes de chegar ao seu destino final ele passa por um

tratamento de duas etapas: a primeira é feita por meio de bactérias que degradam a

matéria orgânica presente no líquido. A segunda parte envolve produtos químicos com

a adição do hipoclorito de cálcio para matar as bactérias27.

Figura 34: Represa no rio Pitinga da Penha Papéis.

Fonte: MARSOL (2019)

27 Visita Técnica a Penha Papéis dia: 06.11.2019

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Figura 35: Ponto de descarte do efluente da Penha Papéis no rio Pitinga (polígono em vermelho).

Fonte: MARSOL (2019)

O descarte do efluente da fábrica é tida pelas comunidades que utilizam da

Zona de Maré como fontes de poluição para o rio Pitinga, havendo testemunhas de

verem os organismos que habitam no rio “agonizando” e morrendo. De acordo com

as comunidades, estes produtos chegam no manguezal por meio do rio Pitinga,

principalmente quando estes são despejados em maré cheia, assim, na maré vazante

o efluente alcança o manguezal. Esta região do manguezal que primeiro recebe esse

efluente foi chamada de Zona Morta nos encontros do ACCS, por serem descritas

como um ambiente de mortandade do mangue (Figuras 36 e 37).

SOUZA (2015) fez um trabalho de determinação de Interferentes Endócrinos28

em Ambientes Estuarinos ao longo do Estuário do Subaé, na maré vazante. Detectou

concentrações de bisfenol A (BPA) nas amostras de água na estação que recebe os

efluentes da fábrica, na Zona Morta, capaz de danificar a biota. Em humanos o

composto BPA pode interferir negativamente de diversas formas, principalmente nos

sistemas endócrino, reprodutor e nervoso central (OLIVEIRA et al., 2017).

28 São substâncias químicas (de origem antrópica ou natural) capazes de comprometer o funcionamento natural do sistema endócrino de espécies animais (GHISELLI; JARDIM, 2007).

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Figura 36: Foto de Satélite da zona morta A) em 2014 e B) em 2017.

Fonte: MARSOL (2019)

Figura 37: Zona morta em 2019.

Fonte: MARSOL (2019)

A)

B)

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No Relatório de Fiscalização Ambiental (RFA) do INEMA (2016) (n° RFA –

2672/2016-29816), há dados do monitoramento do ano de 2013 referentes à

efetividade da estação de tratamento dos resíduos da Penha e às concentrações do

Oxigênio Dissolvido (OD) e da Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)29 à montante

e à jusante do ponto de lançamento de efluentes desta fábrica no rio Pitinga. O

primeiro consta como de eficiência mais baixa que o ideal. Já os dados de OD e de

DBO revelam que à jusante do ponto de lançamento há uma menor concentração de

OD e uma maior de DBO. Isso foi associado a elevada carga de matéria orgânica

presentes nos dejetos da fábrica.

Na Bahia existe o Monitora, uma ferramenta criada em 2007 pelo governo do

estado que se dispõe monitorar a qualidade das águas das Regiões de Planejamento

e Gestão das Águas da Bahia. No rio Pitinga havia dois pontos de monitoramento, um

à montante e outro à jusante do ponto onde há o lançamento do efluente da Penha.

No ponto a jusante só houve uma campanha, que ocorreu no primeiro semestre do

ano de 2008. Nesta campanha os resultados já constavam um valor de DBO deste

ponto 16,5 vezes maior do que a montante. Contudo, este ponto está inativo desde

então, demonstrando a ineficiência desta ferramenta para a gestão costeira neste

caso em específico.

Em 2012 foi registrado pelo órgão ambiental uma denúncia com relação a

mortandade de peixes no Subaé. No mesmo ano, a indústria recebeu uma penalidade

de interdição temporária por estar lançando seu efluente no rio Pitinga sem a devida

outorga. Em 2013, a Penha recebeu multa por lançar o efluente no rio fora dos padrões

estabelecidos. Em 2014, recebeu mais duas multas por lançar seu efluente sem a

devida outorga e por lança-lo bruto no Rio Pitinga. Em 2016 a Penha recebeu outra

multa por aumentar seu sistema de tratamento de efluente sem a autorização do

Órgão Ambiental.30 Em 2019 a fábrica alega que o descarte de seu efluente segue as

normas das resoluções do CONAMA31.

29 O DBO é um teste padrão onde se deseja quantificar o oxigênio necessária para a oxidação da matéria orgânica por meio da ação de microrganismos (DERISIO, 2013, p. 46 e 47). Sendo assim, uma forma indireta de quantificar a matéria orgânica.

30 RFA – INEMA n° RFA – 2672/2016-29816

31 Visita Técnica a Penha Papéis dia: 06.11.2019

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IV. Fazendeiro de Eucalipto

O Eucaliptal é considerado pela Quilombo como de responsabilidade de um

médico fazendeiro conhecido por eles. Nas reuniões discutiu- se que há suspeitas de

que estas terras são arrendadas de várias pessoas que se dizem “proprietárias” das

mesmas. O cultivo deste insumo teria começado há pouco tempo. SANTOS (2016),

que manteve contato com a Comunidade entre os anos de 2011 e 2014, observou a

presença da plantação de eucalipto no final de 2014. Até então, não é de

conhecimento dos que estavam presentes nos encontros a finalidade da plantação

deste eucaliptal.

Figura 38: Parte da Fazenda de eucalipto.

Fonte: MARSOL (2017)

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Figura 39: A) Monocultura de eucalipto (amarelo) e as áreas de bambuzal (vermelho) vistas do alto do cemitério da Comunidade; B) Monocultura de eucalipto vista da entrada do Quilombo; C) Monocultura de eucalipto vista do Cocobongo.

Fonte: MARSOL (2018)

O cultivo de Eucalipto está situada em uma a área onde há a “cafua”, ruína que

crer-se ter sido construída no fim do século XVII ou início do século XVIII como

pertencente ao sobrado do Engenho de São Braz (SANTOS, 2014). Tempos depois

ela serviu de ambiente para punição de alunos (SANTOS, 2016), fazendo parte da

primeira escola de São Braz. Isso representa o avanço deste cultivo do agronegócio

sobre monumentos históricos da Comunidade.

A) B)

C)

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Figura 40: Ruinas da Cafua: A) Lateral da ruina; B) Foto frontal da ruina.

Fonte: MARSOL (2017)

V. “Patrão” de Alagoas

Entre 2017 e 2018 a Comunidade observou a constante presença de

pescadores desconhecidos vindos de outro estado e indo mariscar na sua Zona de

Maré. Em uma entrevista informal com Miguel Accioly ( professor da UFBA e

orientador deste trabalho) com estes pescadores/ marisqueiros, foi dito por eles que

vinham do estado de Alagoas coletar uma espécie específica de sururu, Mytella

charruana, para ser comercializado em seu estado.

O Mytella charruana é um molusco bivalve considerado como um patrimônio

cultural do estado de Alagoas, principalmente do Complexo Estuarino Lagunar

Mundaú-Manguaba. Este sururu se destaca como principal recurso pesqueiro da

Lagoa de Mundaú sendo, além de uma fonte de alimento, a principal ou única fonte

de renda para uma maioria de pescadores / marisqueiros da região (SILVA et al.,

2007; BEZERRA; NETO, 2014; TAMANO et al., 2015).

Os pescadores de Alagoas entrevistados relataram que este organismo

bentônico estava escasso nas regiões onde pescavam no seu estado. De acordo com

reportagem da TV Gazeta Rural/G1 (2017) a quantidade de sururu do Complexo

Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba/AL sempre diminui no período do inverno, mas,

no ano de 2017 a dificuldade para encontrar este marisco foi muito maior que nos

anos anteriores. A Salinidade é entendida como um dos fatores abióticos mais

importantes na regulação da distribuição e abundância deste organismo na Lagoa de

Mundaú (SILVA et al., 2007). Além desta, a degradação ambiental que vem ocorrendo

em Mundaú também é defendida como um dos fatores que influenciam a diminuição

na abundância do sururu (DELIÊ, 2011).

A) B)

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Os trabalhadores alagoanos eram trazidos para Bahia como funcionários de um

homem ao qual chamavam de “patrão”. Conforme esse “patrão”, a cada 15 dias seus

funcionários que estavam na região voltavam para seu estado de origem, enquanto

que uma nova turma vinha de Alagoas para a região, ficando abrigados em uma casa

alugada na comunidade de Caieira/ Cambuta.

Foi constatado na visita do dia 19 de dezembro de 2017, que a coleta deste

sururu é praticada da seguinte forma: primeiro é feita uma sondagem com uma vara

para identificar os bancos onde contém o molusco. Depois, com equipamentos de

mergulho (máscara, nadadeira e cilindro de mergulho) é retirado o sururu do

sedimento e colocado dentro do barco. Em seguida este sururu é lavado no próprio

barco com uma técnica em que se afunda o barco e lava-se o sururu com os pés.

Todos os equipamentos, incluindo os barcos, eram trazidos de Alagoas pelo patrão.

Segundo a Comunidade, estes funcionários coletam o sururu em grande

quantidade, sem o selecionamento de tamanho e, por conta dos seus equipamentos

de scuba, conseguem pegar o marisco tanto em maré baixa quanto em maré alta.

Assim sendo, este modo de uso poderia acarretar no esgotamento do marisco.

Figura 41: Pescadores de Alagoas. A) Processo de sondagem do sururu; B) Processo de lavagem do sururu.

Fonte: MARSOL (2017)

Dentre a pouca informação com relação a estes pescadores e seu “Patrão” há

reflexões a serem feitas:

● Tem- se então, prováveis impactos ambientais e mudanças climáticas

sazonais no estado de Alagoas levando a escassez de um marisco. Esta

situação consequentemente acentua uma crise social no estado uma vez

que a coleta deste organismo é tida como meio de sustento econômico e

A) B)

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nutricional de uma parte de marisqueiras (os )/ pescadoras (pescadores) de

Alagoas.

● Com essa problemática, estes são contratados por um “empreendedor de

pesca itinerante”, com a função de coletar estes organismos na Bahia em

uma estadia de 15 dias, ficando alojados em casas alugadas por este

“empreendedor”, como já mencionado anteriormente. Este fato então

provoca inúmeras questões: Quem é este “Patrão”/ Empreendedor? A qual

regime trabalhista seus funcionários estão submetidos? Em quais

condições estão sendo alojados? Os órgãos responsáveis estão cientes

deste empreendimento?

● Foram vistos adolescentes entre os empregados, assim sendo este “Patrão”

poderia estar fazendo uso do trabalho infantil? De acordo com reportagem

de 2017 da TV Gazeta/G1, segundo a Secretaria de Assistência e

Desenvolvimento Social (SEADS) em 2015 havia 31 mil crianças e

adolescentes trabalhando em Alagoas, sendo a cata de sururu o principal

ramo do trabalho infantil.

5.2.2. Efeitos das externalidades negativas para São Braz

Os impactos gerados pelas ações dos atores externos ocasionam

externalidades negativas para a comunidade de São Braz. Estes serão tratados

abaixo:

I. Efeitos consequentes das fontes de poluição da Zona de Maré

De acordo com BARROS et al. (2009, p. 217) as principais atividades

poluidoras na bacia do rio Subaé são as industriais, o lançamento de resíduos sólidos

e esgoto doméstico sem tratamento e os agroquímicos utilizados nas plantações. Nos

encontros, a Comunidade denunciou como fontes de poluição o Lixão Municipal de

Santo Amaro, a Penha Papéis, a passivo ambiental deixado pela Plumbum e a

ineficiência do saneamento básico do município.

A contaminação/ poluição da Zona de Maré inviabiliza/ dificulta inúmeros usos

listados no capítulo anterior desta Zona pela Comunidade, como a perda de espaços

que antes eram utilizados para práticas de lazer. Como é o caso do Apicum Prainha,

onde antes era uma zona de prática de esportes, banho e brincadeiras infantis, mas,

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na atualidade, com o aumento do número de residências e consequente recebimento

direto de esgoto, tais práticas é inviabilizada.

Com relação às fontes de contaminação/ poluição da maré, a pesca e a

mariscagem são consideradas como atividades especialmente ameaçadas. Uma vez

que, de acordo com a percepção das comunidades (Acupe, São Braz, Dom João e

Cambuta/Caeira) está havendo modificações na estrutura ecológica de organismos

marinhos: animais que antes eram encontrados com maior facilidade, na atualidade

quase que não são vistos; enquanto outro organismo, o Sururu de Pisada/ de coroa

(Mytella Charruana), vem se alastrando na maré de São Braz. Sendo a poluição

considerada por elas como uma das prováveis hipóteses para estes acontecimentos.

Assim, esse fato interfere de forma negativa e significativa na quantidade e

diversidade de organismos disponíveis para a coleta no exercício da pesca e da

mariscagem.

Uma outra questão levantada nos encontros é a dificuldade na venda de

mariscos frente a publicidade da poluição. Deixando-os muitas vezes temerosos em

denunciar as fontes poluidoras, embora tenham consciência de que a sua saúde seja

a maior ameaçada.

Foi considerado como ameaça à saúde das pessoas da Comunidade, o fato de

que, como mencionado anteriormente, os animais marinhos por eles coletados são os

principais componentes de sua dieta alimentar. O chumbo e o manganês, por

exemplo, têm a via oral como uma das principais portas de entrada no organismo

humano (NEVES et al. 2009).

II. Efeitos consequentes da fumaça oriunda do Lixão e da Penha Papéis

De acordo com a Comunidade em períodos de maiores temperaturas o lixão

entra em combustão e produz uma fumaça que atinge São Braz. Isso os impossibilita

de executar atividades comuns do dia-a-dia durante a manhã, além de provavelmente

está relacionada aos casos de problemas respiratórios entre as crianças e idosos da

Comunidade.

A fumaça que sai da chaminé da Penha Papéis frequentemente incomoda as

pessoas que passam nas proximidades da fábrica. Uma vez que, São Braz

frequentemente utiliza de inúmeros serviços instalados na sede de Santo Amaro, com

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isso, no percurso até a sede, eles transitam pelas proximidades da fábrica. A exemplo,

tem- se que, como não há instituição de ensino médio no Quilombo, os estudantes de

ensino médio transitam diariamente para a sede com o intuito de ir para a sua

instituição de ensino.

III. Efeitos consequentes da alteração das Zonas pela Administração Pública e

pelo Agronegócio

As modificações feitas pela Administração Pública sem compartilhar o poder de

decisão com a comunidade, deixa-os “de fora” da gestão pública. Já com relação ao

Bambuzal, é dito que que por conta desse avanço do bambuzal sob as Zonas do

Quilombo, ele vem perdendo espaço de se desenvolver em termos de infraestruturas

urbanas, e de terrenos para pasto e plantio. Contribuindo com que haja poucos

roçados na comunidade. SANTOS (2016) apresenta a entrevista com uma idosa que

diz que nos dias de hoje encontra dificuldade para comer aipim e batata por conta da

falta de espaço para o plantio. Esta diminuição de espaço para o plantio também

influencia o hábito alimentar da comunidade, que vem consumindo mais produtos

industrializados.

A comunidade de São Braz também associa a monocultura implantada em seu

território com um aumento nos casos de escorpião se refugiando dentro das casas na

Zona de Moradia. Na percepção deles, este aumento começou na mesma época em

que se deu início ao cultivo do eucalipto na região, relacionando o primeiro caso com

o segundo. Isso preocupa a população que não conta com a assistência de um soro

antiescorpiônico no posto médico local.

IV. Efeitos consequentes da ação do Patrão de Alagoas e seus funcionários

Ao navegar pela “maré” em 2017 foi notório a presença dos pescadores

alagoanos, “exóticos” aos olhos das comunidades de pesca locais, enchendo suas

embarcações de sururu. Por conta dos seus equipamentos de scuba este

“empreendimento” tem maiores vantagens com relação ao modelo de mariscagem

tradicional.

As comunidades se mostravam divididas com relação a considerar este

empreendimento conflituoso para eles ou não. Os que se sentiam atingidos

argumentavam que a presença de desconhecidos na maré provoca a insegurança de

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marisqueiras (os), principalmente nas mulheres. Os que não se sentiam atingidos por

este conflito indagavam que o “Patrão” também compra o marisco coletado pelas

comunidades ou/ e o sururu é um presente de Deus e por isso, não há problema em

dividi-lo com quem está precisando.

5.3. DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL AO ENFRENTAMENTO DOS CONFLITOS

Atualmente a organização social para a gestão costeira em São Braz acontece por

meio de uma instituição interna, por redes com outras comunidades tradicionais e com

o apoio do Conselho Pastoral dos Pescadores, já mencionado neste trabalho. A

primeira se trata da Associação Quilombola de São Braz, fundada em 2009 quando

iniciou- se o processo para autoafirmação quilombola e de regularização fundiária pela

Comunidade (JESUS, 2016). A Associação Quilombola de São Braz trata das políticas

públicas que envolvem a questão quilombola na Comunidade e está à frente de outras

demandas que vão sendo levantadas pelo Quilombo.

As organizações em redes ocorrem por meio da inserção de lideranças de São

Braz no Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP), na Articulação

Quilombola Subaé e no Núcleo de Desenvolvimento dos Quilombos do Território

Recôncavo. A principal estratégia de organização em redes em comum nestes três

coletivos é a de fortalecer cada comunidade e pressionar o poder público no

atendimento de demandas específicas e/ou comum de cada uma.

O MPP é um coletivo que reúne pescadoras e pescadores artesanais do Brasil

que tem como principal missão a defesa do direito e do território das comunidades

pesqueiras. Este movimento se fortalece por meio da formação de base nas

comunidades e se organiza em coordenações locais, regionais, estaduais e nacional32.

Assim como a Articulação Quilombola Subaé, JESUS, (2016) descreve que o MPP

utiliza como estratégia na resolução de conflitos a articulação entre comunidades com

demandas parecidas para reivindicar por soluções.

O Núcleo de Desenvolvimento dos Quilombos do Território Recôncavo tem

como principal objetivo cooperar com a promoção do desenvolvimento dos quilombos

integrantes, dentro da concepção de desenvolvimento de cada comunidade. São Braz

32 Carta do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais. https://cppnorte.wordpress.com/carta-%20do-movimento-dos-pescadores-e-pescadoras-artesanais/ acesso em 04.09.2019

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passou a integrar- ló em 2019, quando elegeu dois de seus moradores para

representá-lo neste coletivo. Ao integrar este movimento cada comunidade elabora

uma carta de demanda e a entrega ao Núcleo. Este, então, irá se mobilizar junto com

a comunidade para que as demandas sejam atendidas.

Figura 42: Reunião do Núcleo de Desenvolvimento dos Quilombos do Território Recôncavo, em São Braz

Fonte: MARSOL (2019)

São Braz, articulada com as instituições descritas acima, organiza-se no

processo de enfrentamento dos conflitos. Essas articulações acontecem na formação

de espaços de discussão por meio de reuniões, oficinas e seminários. É de

conhecimento que essas ações de enfrentamento têm sido denúncias, audiência

pública e o próprio processo de titulação de terra. Segue no Quadro 2 um a síntese

dos conflitos, últimos encaminhamentos de enfrentamento dos conflitos e seus

desdobramentos.

Quadro 2: Conflitos, último encaminhamento e seus desdobramentos no território de São Braz.

Problema/Conflito Encaminhamento Desdobramentos

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Tentativa de Privatização da Ilha de Cajaíba

Processo de Titulação de Território Quilombola

A espera da publicação do RTID no diário oficial

da união

Passivo Ambiental do COBRAC/ Plumbum

Audiência Pública com a ouvidoria do estado

GT: Degradação Ambiental e Racismo em Santo Amaro e Região

Lixão Audiência Pública com a

ouvidoria do estado -

Esgoto Doméstico "In Natura"

- -

Poluição/ Contaminação da Zona de Maré pela

Penha Papéis

Audiência Pública com a ouvidoria do estado

(1) GT: Degradação Ambiental e Racismo em Santo Amaro e Região

(2) Visita técnica a Penha Papéis pelo GT

Bambuzal da Penha avançando sobre a Zona

de Moradia e de Roça

Audiência Pública com a ouvidoria do estado

-

Fumaça vinda das chaminés da Penha

Papéis

Audiência Pública com a ouvidoria do estado

GT: Degradação Ambiental e Racismo em Santo Amaro e Região

Eucaliptal do Fazendeiro com aumento no número

de escorpião

Audiência Pública com a ouvidoria do estado

-

"Patrão" de Alagoas/pescadores

“exóticos” Seminário sobre o Sururu -

Reforma da Fonte Subterrânea

- -

Alteração da SAA - -

Fonte: A autora

Como mencionado no capítulo anterior, o processo de autoafirmação de São

Braz como comunidade quilombola e abertura do processo de titulação de terra

começou em torno de um conflito, como estratégia para não privatização da Ilha de

Cajaíba, sendo que este processo ainda está em aberto no INCRA. Segundo

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FERNANDES (2016) o licenciamento do empreendimento não foi a frente por conta

da mobilização entre as comunidades quilombolas que compartilham da Ilha e as

instituições governamentais e não governamentais de apoio às comunidades

tradicionais e por conta da crise econômica que atingiu as empresas que investiam no

projeto do Eco Resort Ilha de Cajaíba.

O processo começou em 2009, entretanto ainda nos dias atuais, o Relatório

Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) ainda não foi publicado no diário oficial.

A lentidão do processo de regularização do território quilombola levou as comunidades

quilombolas da Bahia, incluindo representantes da Comunidade de São Braz, a

ocuparem a sede do INCRA-Ba em Salvador em novembro de 2019 (MASSA!, 2019).

No ano de 2017 o incómodo causado pelos pescadores exóticos de Alagoas e

as dúvidas acerca do Mytella Charruana levou a Associação Quilombola a conduzir

esta situação ao Conselho Pastoral dos Pescadores. Estes então contataram o

laboratório Marsol (UFBA), que investigou a espécie do organismo e sua procedência

na Baía de Todos os Santos e buscou informações a respeito dos pescadores

exóticos. Depois foi organizada uma reunião com a comunidade de São Braz e o CPP

para o repasse dessas informações. Neste encontro a Comunidade expôs prováveis

motivos para o aumento na quantidade do Sururu e se mostrou dividida a respeito de

como gerir o caso dos pescadores exóticos. Também expuserem os conflitos com a

Penha Papéis e o Lixão Municipal.

Um outro passo foi a realização de um Seminário sobre o Sururu organizado

em janeiro de 2018 pelo CPP que tinha como objetivo

[…] apresentar os dados dos levantamentos, refletir sobre os impactos no

ambiente e na vida das comunidades pesqueiras locais e construir

perspectivas de ação frente a este fenômeno, bem como sobre outros

aspectos relacionados como a presença de pescadores de outro estado nas

comunidades e a condição de trabalho destes pescadores. A ideia era de

levantar hipóteses sobre os prováveis motivos da proliferação do molusco e

aprofundar a possibilidade da relação com a poluição química das águas.

Estavam presentes pesquisadores de universidades e lideranças das

comunidades de Acupe, Cambuta/ Caeira, Dom João, Itapema e São Braz.

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Figura 43: A) Seminário sobre o Sururu; B) Encontro de preparação para a Audiência Pública.

Fonte:MARSOL (2018)

Os presentes no seminário também se mostravam bastante divididos com

relação a aprovar ou não a mariscagem pelos “pescadores exóticos e seu Patrão” e

como proceder neste caso. Foram propostos alguns planos de ação, entretanto não

houve encaminhamento de nenhum. Assim, ao longo dos encontros que se

sucederam, tanto nos que haviam a presença das outras comunidades quanto os que

havia a presença apenas de São Braz, esta temática foi se esvaindo ao ponto de ser

raramente mencionado.

Já com relação ao sururu (Mytella Charruana), as comunidades refletiram que

estava havendo modificação na composição dos organismos principalmente em

regiões da maré que recebem maior carga de contaminantes. Com isso, chegou-se à

conclusão que a alternativa mais viável seria a construção de uma audiência pública

específica para a questão da poluição marinha e outras irregularidades.

A Audiência Pública foi organizada pela Articulação Quilombola Subaé e

Conselho Pastoral dos Pescadores em parceria com a Ouvidoria Cidadã da

Defensoria da Bahia e com o apoio da Associação dos Sambadores e Sambadeiras

do Estado da Bahia (ASSEBA). Para a construção desse evento houveram 9

encontros de preparação, sendo que 4 destes foram em forma de oficina com cada

comunidade integrante para se discutir os conflitos específicos de cada uma. Por fim,

os objetivos da audiência se resumiram a:

● Cobrar os direitos das comunidades, denunciar as irregularidades e as

poluições causadas por vários fatores e agentes na região do município de

Santo Amaro. Com as seguintes pautas de denúncia: poluição pelo efluente

industrial da Penha Papéis, passivo ambiental da COBRAC/PLUMBUM, lixão

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municipal, efluente do SES da EMBASA na comunidade de Caeira/ Cambuta,

carcinicultura na comunidade de Acupe e Eucalipto e Bambuzal na

Comunidade de São Braz.

● Comprometer os órgãos e instituições governamentais responsáveis para a

construção de saídas da situação de poluição.

● Buscar informações dos órgãos e instituições governamentais competentes

sobre a situação da poluição e problemas de saúde e os encaminhamentos já

realizados.

Na mesa havia representantes da Secretaria de Meio Ambiente do estado e do

município, da EMBASA, da AVICCA, da Vigilância Sanitária do Município e do Estado,

do Instituto Palmares e uma vereadora de Santo Amaro (Figura 44). As comunidades

expuseram suas denúncias e os pesquisadores das universidades expuseram suas

experiências e pesquisas que corroboram com estas denúncias. Como

encaminhamento da audiência foi criado pela defensoria pública o Grupo de Trabalho

(GT) “Degradação Ambiental e Racismo em Santo Amaro e Região” (portaria nº

209/2019), que tem como eixos temáticos a poluição decorrente da Penha Papéis e

do Passivo Ambiental da COBRAC/PLUMBUM.

Se faz preciso destacar que as comunidades quilombolas do estuário do Subaé

vinham a vários anos fazendo denúncias com relação ao efluente da fábrica Penha

Papéis e ao avanço do bambuzal. Já com relação ao passivo ambiental da PLUMBUM

é de conhecimento que existe uma certa pressão junto ao município para a construção

do Hospital Especializado, citado no capítulo anterior.

Como visto nos parágrafos acima, a organização em redes foi eficaz pois

promoveu o compartilhamento de vivências e conhecimento entre as comunidades de

pesca acerca dos problemas vivenciados na Zona de Maré. Além de proporcionar a

formulação de ações/ estratégias de enfrentamento de forma conjunta entre esses

grupos, o que se torna um diferencial no processo de resolução de conflitos na Zona

Costeira. Uma vez que este é um ambiente de uso comum destas comunidades.

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Figura 44: Audiência Pública organizada pelo CPP e pela Articulação Quilombola Subaé

Fonte: MARSOL (2018)

O apoio do CPP no processo de enfrentamento dos conflitos também se

apresentou eficiente à medida que articulou espaços de diálogos entre os

conhecimentos acadêmico e tradicional das comunidades, por meio dos encontros

com a presença dos acadêmicos e das comunidades de pesca. Estas ações também

se tornam importantes no processo de resolução dos conflitos, uma vez que um

fundamento importante para o gerenciamento costeiro é a integração dos

conhecimentos técnico e popular. Além disso, a união com o CPP também foi eficaz

no processo de pressionar o poder público, levando-se em consideração que a

Audiência Pública teve como desdobramento a formação do Grupo de Trabalho para

tratar especificamente das questões que envolvem a Penha Papéis e o Passivo

Ambiental da Plumbum/ COBRAC.

Contudo foi observado a ausência de uma discussão entre a comunidade de

São Braz sobre qual o futuro desejado para o seu território. Destacando que existem

desejos individuais, mas ainda não há um “cenário futuro almejado” para o território

que seja construído pelo comunitários por meio dos acordos coletivos entre si,

tornando-os autores de seu próprio desenvolvimento. Sendo mais comum a discussão

para assegurar o seu território em função dos conflitos com os fatores externos.

GAWORA (2010) traz que esta situação é muito comum as comunidades tradicionais

por conta dos grupos sociais que ocuparam ou que desejam ocupar seu território, uma

vez que o modelo de desenvolvimento no contexto atual da política brasileira favorece

a esses grupos.

Essa falta de decisão sobre onde se quer chegar acaba também influenciando

de forma negativa no próprio processo de resolução de conflitos com os atores

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externos e pode fazê-los caminhar por qualquer caminho que aponte algum tipo de

solução, causando assim um certo “desgaste” que poderia ser amenizado. Como por

exemplo, denuncia-se os conflitos que envolvem a fábrica de papel, mas não se

constrói um consenso se desejam o fechamento da fábrica ou melhorias no sistema

de tratamento de seus efluentes ou qualquer outra alternativa. Apenas querem o fim

da poluição/ contaminação da Penha por se sentirem afetados por ela, pondo a

decisão de como solucionar este conflito na mão da administração Pública à espera

que ela compartilhe o poder de decisão com a Comunidade.

Além desses, há também os conflitos que não tiveram um encaminhamento de

enfrentamento de conhecimento por este trabalho, embora estes continuem a existir.

Há exemplo da falta de um sistema de esgotamento sanitário na comunidade, as

reformas na Zona de Moradia realizadas pela administração pública sem o

consentimento da Comunidade e os pescadores exóticos e seu “Patrão”, que eram

tidos como uma questão conflitante durante os primeiros encontros, mas com o passar

do tempo deixaram de ser comentado. A de se dizer que com relação ao “patrão” de

Alagoas e seus funcionários o conflito que relaciona eles e as comunidades

aparentemente se resolveu sem uma necessidade de intervenção. Mas, e se vierem

outros “patrões”?

Outra questão é, embora a alta gravidade do passivo da PLUMBUM, nos

encontros do ACCS em São Braz, formado principalmente por pessoas mais jovens,

este tema não estava presente. Este fato leva a uma necessidade de reflexão com

relação a geração de pessoas de Santo Amaro que já nasceu vivenciando os impactos

deste passivo.

Os aspectos discutidos nos parágrafos anteriores podem estar relacionados a

inúmeros fatores que podem estar atrelados um ao outro. Alguns foram observados

no decorrer dos encontros, tais como:

● a falta de informação sobre os atores externos, o que não colabora com o

monitoramento de suas atividades;

● a falta de apropriação dos direitos e das políticas públicas federais, estaduais

e municipais;

● a falta de apropriação sobre as questões técnicas, tanto do ponto de vista das

possíveis consequências de prováveis impactos negativos, quanto do ponto de

vista das formas de recuperação e prevenção;

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● não acreditar que tem força o suficiente para intervir nas irregularidades dos

atores externos e de ter suas demandas atendidas;

● não confiar no Estado e nem na academia, uma vez que houve o caso do

Passivo Ambiental da Plumbum em que houveram inúmeras pesquisas

acadêmicas e recomendações do ministério público, entretanto quase nada

houve em ações de intervenção;

● o medo de se expor no enfrentamento dos conflitos temendo uma reação

agressiva dos atores externos.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A comunidade de São Braz atualmente utiliza seu território na zona costeira de

inúmeras formas, dentre elas as de maior destaque são a moradia, a pesca, a

mariscagem, os movimentos culturais e a roça. Sendo este lugar da zona costeira

composto por elementos materiais e imateriais que contam sua história, formam sua

identidade e que são essenciais para o fortalecimento de seu bem viver. Entendidos

como uma comunidade tradicional, pode-se considerar, de acordo com DIEGUES

(2001), que estes desenvolvem em seu território um modo de apropriação comunal.

Em contrapartida a este modelo de apropriação comunal do território

desenvolvida pela Comunidade, os grupos sociais da indústria e do agronegócio que

atuam nesta zona costeira desenvolvem um modelo de apropriação privada. Estes

acabam por acarretar externalidades adversas que afetam o ambiente em que atuam.

Contudo no meio ambiente, em especial na Zona Costeira, a forma que um ator utiliza

dos recursos naturais, pode impactar o usufruto dos outros atores (BEATLEY et al.,

2002, p.16).

Neste contexto, têm-se que com o declínio da economia santo-amarense por

meio da agricultura de cana-de-açucar, a vinda da Plumbum para o município foi bem

vista uma vez que significava uma maior quantidade de emprego e renda para o

município. Entretanto, esta deixou como externalidades negativa um imenso passivo

ambiental para o município e para o rio Subaé. Tempos depois, a Penha Papéis

instala-se no local com a promessa de ser “ambientalmente correta” e de geração de

emprego, contudo, enquanto emprega alguns, pode estar desempregando muitos

outros por meio das externalidades negativas geradas por seu efluente líquido. Além

desses também há a implantação do agronegócio de base para as indústrias como o

bambuzal e o eucaliptal que trazem como principais externalidades negativas a perda

de espaço para outros modelos de agricultura e para o crescimento urbano.

Do outro lado está a Administração Pública que deveria agir como agente

mediador entre os interesses dos diversos atores e como regulador, aplicando

normas, instrumentos e fiscalizando com o intuito de combater as externalidades.

Entretanto este se omite à medida que não vem apresentando um planejamento

organizado para enfrentar os conflitos e agir. E quando não se omite, acaba por tomar

decisões de forma a não compartilhar com a comunidade o poder de participação.

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Por esse viés, na luta pela sobrevivência o quilombo São Braz sai em proteção

do seu território tendo como linha de frente a Associação Quilombola, por meio das

redes com outras comunidades de pesca artesanal e com o apoio do Conselho

Pastoral dos Pescadores, a fim de traçar estratégias de defesa para seu território. As

estratégias formuladas por eles funcionam à medida que mobilizam, dialogam com

diversas formas e fontes de saberes e pressionam o poder público. Neste sentido as

discussões para manutenção do território de São Braz e do seu bem viver estão

comumente atreladas às medidas de defesa do território dos atores externos.

Entretanto as estratégias de proteção do território poderiam ser ainda melhores se

construíssem mecanismos que os possibilitasse serem autores do seu próprio modelo

de desenvolvimento. Ao invés de esperar da administração pública que, por sua vez,

como dito acima, é ineficiente.

Assim sendo, os principais grupos sociais que fazem uso dessa parte da Zona

Costeira (comunidades de pesca, agronegócio, indústria e administração pública) vão

atuando neste ambiente cada um por si, tendo que sobreviver com as externalidades

negativas deixadas um pelo outro. Este modo de atuação vai contra os fundamentos

para a gestão ambiental trazidas na Constituição do Brasil de 88 e no Plano Nacional

de Gerenciamento Costeiro II, uma vez que:

I. não há uma gestão integrada na região marinha e continental entre as

atividades setoriais desenvolvidas;

II. não há uma gestão participativa para a Comunidade;

III. não há uma gestão com mecanismos de transparência, visto que um

ator não tem conhecimento necessário sobre as intenções e ações do

outro.

IV. a regulamentação é ineficiente, pois que as atividades que necessitam

de uma regulamentação para funcionar (1) ora funcionam sem a devida

licença (2) ora possuem as licenças mas não cumprem com as normas

ambientais, (3) ora aparentam fazer o mínimo requisitado pela lei, mas

na prática, não parece ser o suficiente para manter os serviços

ecossistêmicos do ambiente.

Desse modo, é possível inferir que no território estudado não há gestão

ambiental costeira pública. Entretanto, é preciso deixar nítido que neste contexto a

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comunidade de São Braz, assim como as outras comunidades de pesca artesanal,

pode ser considerada como a mais prejudicada pelas externalidades negativas

deixadas pelo setor privado, pela ineficiência da administração pública e pela falta de

um gerenciamento costeiro propriamente dito. Isso porque este modelo

desenvolvimentista vem avançando sobre a Comunidade tanto por terra quanto por

mar e ameaçando a forma como a mesma utiliza seu território.

Ciente de todas as questões abordadas até aqui neste trabalho, poderia ser

interessante por parte da Comunidade uma mobilização no sentido de definir clara e

objetivamente as responsabilidades da administração pública na solução de

problemas. Ou seja, que pautem seus planos e elabore a execução para o governo

realizar.

Com esse viés uma alternativa é a elaboração de um planejamento territorial

participativo construído pelos próprios comunitários. Fruto de um processo de diálogo

horizontal entre si e entre os conhecimentos técnico e popular, onde a Comunidade

possa entrar em acordo sobre “o que deseja para o futuro de São Braz”. E assim os

mesmos possam traçar estratégias de forma integrada para que possam propiciar a

intervenção dos conflitos que já existem, para evitar conflitos futuros e para valorizar

seu modo de ocupação do seu território. Mantendo o seu bem viver e uma Zona

Costeira saudável sem a perda dos seus serviços ecossistêmicos. Uma vez que, logo

a titulação de território quilombola será conquistada e será preciso reocupar terras

invadidas pelo agronegócio e fortalecer a luta contra a poluição das águas e pela a

remediação das áreas degradadas.

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REFERÊNCIAS

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ACCIOLY, M. DA C.; RÊGO, J. C. V.; MORAES, R. P. Mapeamento Biorregional como elemento orientador para a gestão de comunidades tradicionais. urbBA, Cidade, Urbanismo e Urbanidade, v. 14, 2014.

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