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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE PRÁTICAS DE AUTOCUIDADO DE PESSOAS COM DIABETES MELLITUS TIPO 2: IMPLICAÇÕES PARA O CUIDADO CLÍNICO E EDUCATIVO DE ENFERMAGEM Cynthia de Freitas Sampaio FORTALEZA CE 2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE

PRÁTICAS DE AUTOCUIDADO DE PESSOAS COM DIABETES

MELLITUS TIPO 2: IMPLICAÇÕES PARA O CUIDADO CLÍNICO E

EDUCATIVO DE ENFERMAGEM

Cynthia de Freitas Sampaio

FORTALEZA – CE

2012

___________________________________|2

CYNTHIA DE FREITAS SAMPAIO

PRÁTICAS DE AUTOCUIDADO DE PESSOAS COM DIABETES

MELLITUS TIPO 2: IMPLICAÇÕES PARA O CUIDADO CLÍNICO E

EDUCATIVO DE ENFERMAGEM

Dissertação apresentada à Coordenação

do Programa de Pós-Graduação

Cuidados Clínicos em Enfermagem e

Saúde – Nível Mestrado, do Centro de

Ciências da Saúde da Universidade

Estadual do Ceará, como requisito parcial

à obtenção do grau de Mestre em

Cuidados Clínicos em Enfermagem e

Saúde.

Área de Concentração: Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde.

Linha de Pesquisa: Fundamentos e Práticas do Cuidado Clínico em Enfermagem e Saúde.

Orientadora: Profa Dra Maria Vilani Cavalcante Guedes

FORTALEZA – CE

2012

___________________________________|3

CYNTHIA DE FREITAS SAMPAIO

PRÁTICAS DE AUTOCUIDADO DE PESSOAS COM DIABETES

MELLITUS TIPO 2: IMPLICAÇÕES PARA O CUIDADO CLÍNICO E

EDUCATIVO DE ENFERMAGEM

Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação

Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde – Nível Mestrado, do Centro de

Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial à

obtenção do grau de Mestre em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde.

Data da aprovação: 28 de dezembro de 2012.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________

Profa Dra Maria Vilaní Cavalcante Guedes Universidade Estadual do Ceará

Orientadora

_______________________________________

Profa Dra Márcia Barroso Camilo de Ataíde Universidade de Fortaleza

1ª Examinadora

_______________________________________

Profa Dra Lúcia de Fátima da Silva Universidade Estadual do Ceará

2ª Examinadora

_______________________________________

Prof Dr Paulo Cesar de Almeida Universidade Estadual do Ceará

Suplente

___________________________________|4

DEDICATÓRIA:

Dedico este trabalho a pessoa com quem mais aprendi a lutar,

superar obstáculos e vencer desafios, minha querida mãe

Maria Regina. A esta pessoa por quem tenho profunda

admiração, carinho e respeito e que deposita diariamente suas

esperanças em mim. A ela todo o meu amor.

___________________________________|5

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, pois sem a sua permissão nada teria sido

possível.

Aos meus queridos pais, Odilon e Regina, pilares da minha vida e

elementos fundamentais à minha existência. Por todo apoio, carinho, dedicação e

amor incondicional. Especialmente por serem as pessoas que são e sempre terem

investido e acreditado no meu potencial, mesmo quando eu duvidava, lutando em

todos os momentos pela minha vida e bem-estar, colaborando eternamente pela

realização dos meus sonhos.

Aos meus familiares e amigos, por sempre estarem acreditando nas

minhas potencialidades e torcendo pela minha felicidade, compreendendo os longos

períodos de ausência necessários à realização deste trabalho. Agradeço de coração

a cada um de vocês.

A todos os professores, mestres da arte de ensinar, que contribuíram

direta ou indiretamente para a realização desta conquista e em especial às minhas

querida e eterna orientadora Vilaní Guedes por me encorajar diariamente a superar

os meus limites, encontrando-se sempre disponível a me ensinar a arte do cuidar em

enfermagem.

Aos professores Paulo Cesar, Márcia Ataíde e Lucia de Fátima pela

disponibilidade, presteza e contribuições que vêm dando a este trabalho. A estes os

meus sinceros agradecimentos.

___________________________________|6

SAMPAIO, C. F. S. Práticas de autocuidado de pessoas com diabetes mellitus

tipo 2: implicações para o cuidado clínico e educativo de enfermagem. 2012.

134p. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Cuidados Clínicos em Enfermagem e

Saúde) – Programa Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Enfermagem e

Saúde, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza (CE), 2012.

RESUMO: A Enfermagem como ciência do cuidado tem seu foco de atenção o ser

humano em seu ciclo vital e em situações de adoecimentos agudos e crônicos,

como no caso do Diabetes Mellitus (DM). Para o indivíduo com diabetes mellitus tipo

2, o desenvolvimento de habilidades de autocuidado é recomendado visando

alcançar um adequado controle metabólico, prevenindo a ocorrência de

complicações e adquirindo qualidade de vida. O cuidado clínico e educativo de

enfermagem favorecido pelo Sistema de Enfermagem Apoio-Educação de Orem

fundamenta as bases para o autocuidado compreendido como sendo a prática de

atividades realizadas pelo indivíduo em benefício próprio, no intuito de manter a

vida, a saúde e o bem-estar. Ante a problemática deste adoecimento crônico

objetivou-se: conhecer as práticas de autocuidado desenvolvidas por pessoas com

Diabetes Mellitus tipo 2 acompanhadas em um serviço de atenção secundária de

saúde. Estudo descritivo e transversal realizado em serviço de atenção secundária

em Fortaleza-CE-Brasil, aplicando-se um formulário estruturado a 193 pessoas

diabéticas que compareceram a consulta no período de julho a setembro de 2012 e

que atenderam aos critérios de inclusão. Os dados foram processados pelo EPI-

INFO, apresentados em tabelas e gráficos e discutidos a luz da Teoria do Sistema

de Enfermagem Apoio-Educação de Orem e da literatura nacional e internacional

sobre diabetes mellitus. As práticas de autocuidado dos pesquisados relacionam-se

a terapêutica farmacológica, não farmacológica, gerenciamento em complicações

agudas da doença e cuidados com os membros inferiores. Conclui-se que as

praticas de autocuidado desenvolvidas são frágeis quando relacionadas a

terapêutica não farmacológica e especialmente no que tange as complicações

agudas da doença. As melhores práticas desenvolvidas relacionam-se ao

autocuidado com os membros inferiores, entretanto observou-se presença de fatores

de risco com alterações neuropáticas, vasculares e dermatológicas. A viabilidade de

instituir-se atividade educativa permanente com foco no autocuidado deve ser

amplamente discutida em serviços que disponham de populações com as mesmas

características.

Descritores: Enfermagem; Autocuidado; Educação em Saúde; Diabetes Mellitus

___________________________________|7

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Dados sociodemográficos da amostra. Fortaleza-CE, 2012............... Tabela 2. Dados clínicos e relacionados ao tratamento do diabetes mellitus da amostra. Fortaleza-CE, 2012.........................................................

Tabela 3. Dados antropométricos da amostra. Fortaleza-CE, 2012...................

Tabela 4. Dados laboratoriais da amostra. Fortaleza-CE, 2012......................... Tabela 5. Distribuição da frequência simples (f) e percentual (%) das variáveis relacionadas ao autocuidado com os membros inferiores da amostra. Fortaleza-CE, 2012...............................................................

Tabela 6. Distribuição dos tipos de alterações identificadas como fatores de risco para o desenvolvimento de complicações nos membros inferiores da amostra. Fortaleza-CE, 2012.........................................

54 60

68

71

106

111

___________________________________|8

LISTA GRÁFICOS

Gráfico 1. Frequência simples e percentual dos dados relacionados aos hábitos dietéticos dos pacientes com DM2. Fortaleza-CE, 2012........ Gráfico 2. Frequência simples e percentual do número de refeições ao dia dos pacientes com DM2. Fortaleza-CE, 2012.....................................

Gráfico 3. Frequência simples e percentual com que os pacientes com DM2 realizam substituição de alimentos do mesmo grupo. Fortaleza-CE, 2012...................................................................................................

Gráfico 4. Frequência simples e percentual do consumo de álcool e fumo dos pacientes com DM2. Fortaleza-CE, 2012..................................... Gráfico 5. Frequência simples e percentual dos motivos da não administração da medicação nos pacientes com DM2. Fortaleza-CE, 2012.............

Gráfico 6. Frequência simples e percentual dos pacientes com DM2 que fazem uso de insulina e do responsável por administra-la. Fortaleza-CE, 2012............................................................................ Gráfico 7. Frequência simples e percentual da frequência de automonitorização da glicemia capilar dos pacientes com DM2. Fortaleza-CE, 2012.............................................................................

Gráfico 8. Frequência simples e percentual do local onde os pacientes com DM2 realizam a monitorização da glicemia capilar. Fortaleza-CE, 2012............................................................................ Gráfico 9. Frequência simples e percentual do conhecimento relacionado a hipoglicemia dos pacientes com DM2. Fortaleza-CE, 2012................

Gráfico 10. Frequência simples e percentual do conhecimento relacionado a hiperglicemia dos pacientes com DM2. Fortaleza-CE, 2012................

75

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___________________________________|9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ________________________________________________ Justificativa e Relevância..............................................................................

OBJETIVOS___________________________________________________

Objetivo Geral............................................................................................... Objetivos Específicos....................................................................................

REVISÃO DA LITERATURA______________________________________

O panorama das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil e no mundo: foco na magnitude do Diabetes Mellitus e em suas complicações................................................................................................. O Diabetes Mellitus tipo II.............................................................................. Diabetes Mellitus: foco no autocuidado para a promoção da saúde e prevenção de complicações..........................................................................

REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO________________________ METODOLOGIA_______________________________________________

Tipo de estudo.............................................................................................. Campo de estudo.......................................................................................... População e amostra do estudo....................................................................

Aspectos éticos e legais da pesquisa............................................................ Coleta dos dados...........................................................................................

Técnicas de pesquisa e instrumentos de coleta de dados.................

Procedimento de coleta dos dados....................................................

Período de coleta de dados................................................................

Análise dos dados..............................................................................

RESULTADOS – Apresentação e discussão______________________________

Caracterização sociodemográfica da amostra........................................................... Caracterização clínica da amostra............................................................................

11 15

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19

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___________________________________|10

Caracterização antropométrica e laboratorial da amostra................................

Tratamento não-farmacológico do diabete mellitus x Ações de Autocuidado ..................................................................................................

Tratamento farmacológico do diabete mellitus x Ações de Autocuidado Complicações agudas do diabete mellitus x Ações de Autocuidado

Membros inferiores x Ações de Autocuidado.....................................................

CONCLUSÃO_____________________________________________________ REFERÊNCIAS_________________________________________________ APÊNDICES___________________________________________________ APÊNDICE A – CARTA DE APRESENTAÇÃO.................................................. APÊNDICE B – FORMULÁRIO......................................................................... APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO... APÊNDICE D – TERMO DE FIEL DEPOSITÁRIO............................................ ANEXO_______________________________________________________ ANEXO A – PARECER COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA...........................

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___________________________________|11

Introdução

___________________________________|12

A enfermagem é uma ciência cuja essência e especificidade é o cuidado

integral ao ser humano. Seu cuidado clínico e educativo pode ser compreendido

como um processo dialógico enquanto prática de relações entre os atores sociais

envolvidos, enfermeiro e pessoa cuidada, que juntos contribuem para o cuidado

prestado.

Como prática social, materializa-se por seus processos de trabalho, que

buscam atender as necessidades individuais e coletivas das pessoas sob seus

cuidados, em todo o ciclo vital e em situações de adoecimentos agudos e crônicos,

como no caso do diabetes mellitus (DM).

Tal morbidade configura-se como condição crônica de saúde de caráter

progressivo que exige do indivíduo acometido acompanhamento clínico contínuo e

permanente, além de mudanças e adaptações significativas no estilo de vida, na

ânsia de se prevenir complicações e adquirir qualidade de vida.

Contudo, o desenvolvimento destas estratégias exige um convite ao

sujeito para que este participe do cuidado com a própria saúde, assumindo o

controle da sua nova condição de saúde e de vida, sendo responsável por suas

escolhas e coparticipante no processo de manter-se saudável, evitando

complicações advindas deste adoecimento que podem vir a gerar incapacidades ou

óbito.

Na ânsia de prevenir e tratar enfermidades crônicas, a Organização

Mundial da Saúde (OMS) (2003) recomenda a educação para o autocuidado como

instrumento ao desenvolvimento de competências e habilidades de cuidado com a

própria saúde na perspectiva de dar suporte ao aprendizado de se conviver e viver

melhor com a enfermidade, modificando hábitos nocivos ou mantendo os saudáveis,

estimulando a autoconfiança seja qual for o grau de comprometimento ou gravidade

da doença.

No indivíduo com DM, o desenvolvimento de habilidades de autocuidado

é recomendado no intuito de se adquirir um adequado controle metabólico,

prevenindo a ocorrência de complicações e adquirindo qualidade de vida. Segundo a

Sociedade Brasileira de Diabetes (SDB) (2009, p. 201), “a educação é um elemento

crítico no cuidado de todos os pacientes portadores de diabetes, sendo necessária

para obter melhores e maiores resultados com o tratamento instituído”.

Nessa ótica, a educação em saúde desenvolvida junto à pessoa com

diabetes mellitus apresenta-se como a forma essencial de intervenção terapêutica

___________________________________|13

frente a um adequado controle metabólico. Sugere-se como o principal processo de

aprendizado aquele que treina e conscientiza o indivíduo a fazer escolhas saudáveis

e efetivas no seu cotidiano, na perspectiva de assumir o autocuidado em saúde,

utilizando os serviços de saúde como recurso adicional quando necessário.

A OMS (2003) preconiza que para controlar e prevenir as condições

crônicas, as pessoas precisam estar informadas sobre estes agravos, motivadas

para mudar comportamentos e manter estilos de vida saudável, aderindo a

tratamentos de longo prazo e preparando-se para autogerenciar sua cronicidade de

condição.

No diabetes mellitus a terapêutica não farmacológica que se relaciona a

adoção de uma dieta nutricionalmente adequada associada a pratica regular de

exercício físico e abandono do tabagismo e etilismo atua de forma primordial no

tratamento e gerenciamento da doença. Entretanto, em algum momento pode se

fazer necessário a associação da terapêutica farmacológica.

Nesta perspectiva, a SDB (2009) recomenda que a pessoa diabética

participe do monitoramento da doença mediante a escolha consciente de alimentos

mais saudáveis, do número de refeições e da quantidade de alimento, bem como da

prática regular de exercícios físicos, terapêutica medicamentosa em conformidade

com a prescrição médica, respeitando-se as doses e horários previamente

estabelecidos e comparecimento regular as consultas de rotina.

Preconiza-se ainda que os indivíduos realizem o exame periódico dos

pés, a automonitorização da glicemia capilar e que conheçam/reconheçam os sinais

e sintomas de hipo/ hiperglicemia (SBD, 2009). Observa-se, portanto que as

pessoas devem ser esclarecidas não apenas sobre a terapêutica (medicamentosa/

não medicamentosa), mas também sobre as complicações agudas e crônicas da

doença.

As hipoglicemias e hiperglicemias são as complicações agudas mais

frequentes em indivíduos com DM de forma que estes precisam estar preparados

para identificar, tratar e prevenir estas intercorrências.

Dentre as complicações crônicas micro e macrovasculares as quais estão

sujeitas as pessoas com diabetes mellitus se destacam aquelas que acometem os

membros inferiores. Contudo, está comprovado que 85% dos problemas que

acometem os pés das pessoas diabéticas são passíveis de prevenção a partir de

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estratégias preventivas e terapêuticas que incluem cuidados especializados e

educação em saúde ao paciente e seus familiares (SBD, 2009).

Assim, percebe-se o autocuidado em saúde como uma estratégia

permanente e contínua de facilitação de conhecimentos e desenvolvimento de

habilidades necessárias ao autocuidado e gerenciamento da doença constituindo-se

na base da pirâmide da atenção primária em saúde.

Esclarecer o indivíduo sobre sua cronicidade de condição, que requer a

necessidade de tratamento contínuo e mudanças no seu estilo de vida, para o

adequado controle metabólico, com vistas à prevenção de complicações é papel dos

profissionais de saúde que devem desenvolver estratégias clínico-educativas que

favoreçam a promoção da saúde na perspectiva da adoção de um estilo da vida

mais saudável.

O enfermeiro, como educador em saúde, torna-se elemento essencial

nesse processo, devendo o seu cuidado clínico ser compreendido pela relação

estabelecida entre o cuidador (enfermeiro) e o ser cuidado (cliente), de modo que,

conjuntamente, busquem as melhores estratégias de promover o autocuidado em

saúde.

Para Orem (1995), o autocuidado é compreendido como sendo a prática

de atividades realizadas pelo indivíduo em benefício próprio, no intuito de manter a

vida, a saúde e o bem-estar. Nesta ótica, ao explicar o autocuidado como

necessidade humana, a teorista desenvolveu uma teoria de enfermagem, a Teoria

do Déficit de Autocuidado, como uma teoria geral composta por três teorias inter-

relacionadas: a teoria do autocuidado, a teoria do déficit de autocuidado e a teoria

dos sistemas de enfermagem.

Embora haja inter-relação entre estas três teorias, compreende-se que a

teoria dos sistemas de enfermagem se adéqua a realidade de enfermeiros que

acompanham pessoas com diabetes mellitus por estar fundamentada nas

necessidades de autocuidado imprescindíveis aos que convivem com doenças

crônicas.

Planejado pelo profissional, o sistema de enfermagem baseia-se nas

necessidades de autocuidado de cada indivíduo e na sua capacidade para a

execução destas atividades.

Desta forma, para satisfazer os requisitos de autocuidado do indivíduo

(requisitos universais de autocuidado; requisitos de desenvolvimento de

___________________________________|15

autocuidado; requisitos de autocuidado no desvio de saúde), a teorista sugeriu três

classificações de sistemas de enfermagem: sistema totalmente compensatório;

sistema parcialmente compensatório; e sistema de apoio-educação, o qual se

desenvolve quando a pessoa consegue executar, ou pode e deve aprender a

executar medidas de autocuidado terapêutico, cabendo ao enfermeiro promovê-lo

como agente capaz de se autocuidar (OREM, 1995).

As atividades de educação em saúde desenvolvidas pelo enfermeiro junto

ao cliente favorecem o desenvolvimento de competência para o autocuidado em

indivíduos acometidos por adoecimentos crônicos, em particular por diabetes

mellitus.

Esta estratégia viabiliza o desenvolvimento do sistema de enfermagem de

apoio-educação proposto por Orem onde o enfermeiro tem a oportunidade de

desenvolver, em conjunto com o cliente, ações que o preparem para o autocuidado,

encorajando-o a realizar as alterações no estilo de vida que forem necessárias à

obtenção de qualidade de vida.

Nesta perspectiva, ante a problemática desse adoecimento crônico

questiona-se: quais as práticas de autocuidado de pessoas com diabetes mellitus

tipo 2 acompanhados em um serviço de atenção secundária de saúde e as

implicações para o cuidado clínico e educativo de enfermagem?

Com o intuito de subsidiar a abordagem ao autocuidado utilizar-se-á como

fundamentação teórica deste estudo a teoria do sistema de enfermagem apoio-

educação de Dorothea Orem por se compreender que pessoas com condições

crônicas de saúde, em particular com diabetes mellitus tipo 2, devem aprender a

executar medidas de autocuidado terapêutico, cabendo ao enfermeiro promovê-los

como agentes capazes de se autocuidar.

Justificativa e Relevância

O diabetes mellitus é uma das principais condições crônicas que afetam o

homem moderno merecendo destaque ante a elevada incidência, prevalência,

mortalidade e grau de comprometimento de suas complicações, o que o torna

motivo de preocupação no âmbito da saúde clínica e coletiva.

Considerada uma condição de alta prevalência em nosso meio, o DM

atinge no Brasil cerca de 11,0% da população adulta com idade igual ou superior a

___________________________________|16

40 anos, sendo o diabetes mellitus tipo 2 (DM2) a forma mais prevalente da doença

ocorrendo em 90 a 95% dos casos (SBD, 2009).

Esta morbidade configurando-se como um problema de saúde pública,

não apenas em virtude do número de pessoas afetadas, mas também pelo impacto

das suas complicações desencadeadoras de graus variados de incapacidade ou

óbito e geradoras de ônus econômico e social (IDF, 2002).

Mencionada situação exige, portanto cuidados clínicos e intervenções

educativas durante toda a evolução da doença. Nessa perspectiva, o

desenvolvimento de habilidades de autocuidado nestes indivíduos é recomendado

como estratégia permanente e contínua.

O enfermeiro implementa em seu processo de trabalho junto a pessoa

com adoecimento crônico estratégias clínicas e educativas de promoção da saúde

que auxiliam a pessoa na resignificação da sua condição de saúde fomentando

práticas de autocuidado a serem desenvolvidas na busca de um bem viver e viver

melhor.

As ações educativas desenvolvidas pelo profissional, junto ao paciente e

à família, têm papel essencial no controle da enfermidade, tendo em vista que a

prevenção de complicações está intrinsecamente relacionada ao conhecimento para

o cuidado pessoal diário adequado e ao estilo de vida saudável (FAEDA; LEON,

2006).

Desta forma, as atividades clínico-educativas desenvolvidas pelos

enfermeiros devem, em médio prazo, almejar atitudes que levem a mudança de

comportamento, que incluem desde a prática regular de exercício físico e a mudança

de hábitos alimentares, à adequada adaptação psicossocial do individuo,

perpassando a adesão à posologia medicamentosa, a automonitorização da

glicemia capilar, a capacidade de gerenciar e corrigir situações de hipo ou

hiperglicemias e o automanejo em situações especiais como nos dias de doenças

rápidas ou viagens.

Em longo prazo, devem conduzir à melhora clínico-metabólica de forma

que estes apresentem melhora no estado de saúde e na qualidade de vida,

prevenindo e reduzindo complicações crônicas dentre as quais aquelas que

acometem os membros inferiores.

Tais complicações são desencadeadoras de graus variados de

incapacidade e geradoras de ônus econômico e social em todo o mundo, pois

___________________________________|17

causam importante impacto na qualidade de vida dos indivíduos e encargos

financeiros ao sistema de saúde em virtude de tratamentos e internações

prolongadas.

Nesta perspectiva, a temática deste estudo mantém-se revestida de

relevância epidemiológica e social de forma que o conhecimento produzido

contribuirá para aprimorar o cuidado clínico e educativo de enfermagem na

perspectiva de atender as reais e potenciais necessidades de saúde da clientela,

com vista a contribuir com a melhoria da qualidade de vida de pessoas acometidas

por Diabetes Mellitus na busca de um viver mais saudável.

___________________________________|18

Objetivos

___________________________________|19

Objetivo Geral

Conhecer as práticas de autocuidado desenvolvidas por pessoas com

Diabetes Mellitus tipo 2 acompanhadas em um serviço de atenção secundária de

saúde no município de Fortaleza-CE.

Objetivos Específicos

Verificar as práticas de autocuidado dos pesquisados relacionadas a

terapêutica;

Identificar as atitudes de pessoas diabéticas no gerenciamento de

complicações agudas da doença;

Verificar as ações de autocuidado promovidas por pessoas com Diabetes

Mellitus tipo 2 na prevenção de complicações nos membros inferiores.

___________________________________|20

Revisão da Literatura

___________________________________|21

O panorama das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil e no mundo: foco na magnitude do Diabetes Mellitus e em suas complicações

O perfil epidemiológico global sofreu importantes transformações a partir

da segunda metade do século XX, período no qual se assistiu a um predomínio na

ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis em detrimento de reduções nas

taxas de morbimortalidade por doenças infecciosas e parasitárias, estando as bases

para esta transição no movimento sanitarista, que motivou adequações no

abastecimento de água e na rede de saneamento básico, com melhoria nas

condições de vida das populações (LESSA, 2004).

Essa mudança nas condições de saúde da população provocou

alterações profundas na estrutura demográfica que se caracterizou por uma

acentuada queda da mortalidade e diminuição da fecundidade, o que propiciou o

aumento da expectativa de vida das pessoas com consequente envelhecimento

populacional, modificando a forma de adoecer e morrer.

Nessa perspectiva, as doenças crônicas não transmissíveis representam

atualmente a principal causa de mortalidade e incapacidade em nível mundial,

estando relacionadas a mudanças comportamentais ocorridas no estilo de vida das

populações.

Conforme a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) (2003) a

aquisição de maus hábitos alimentares, consumo excessivo de álcool, tabagismo e

prática insuficiente de atividade física predispõem a ocorrência de diversas

comorbidades dentre as quais a dislipidemia, a hipertensão arterial sistêmica (HAS)

e o diabetes mellitus, eventos estreitamente correlacionados ao processo de

urbanização, industrialização e globalização ocorrido no último século.

Seguindo essa tendência mundial, o Brasil tem passado, nas últimas

décadas, por esse processo de transição demográfica e epidemiológica, o que vêm

produzindo mudanças importantes no perfil das doenças que acometem a

população, com aumento significativo na prevalência do adoecimento crônico não

transmissível.

As doenças crônicas não transmissíveis compõem um grupo de entidades

que se caracterizam por apresentar, de uma forma geral, etiologia incerta, contudo

sem origem infecciosa, complexa multiplicidade de fatores de risco, história natural

prolongada, longo curso de latência assintomática, manifestações clínicas

___________________________________|22

remissivas e complicações que acarretam graus variáveis de deficiências e

incapacidades funcionais ou até mesmo o óbito (BRASIL, 2005).

Segundo World Health Organization (WHO) (2002) estas doenças são

responsáveis por 60% de todas as disfunções e 47% da carga de morbidade

mundial, estimando-se para 2020 uma prevalência mundial de 57%, o que tornará tal

adoecimento responsável por ¾ (três quartos) do total de mortes no mundo.

No Brasil, as doenças crônicas foram responsáveis por 62% de todas as

mortes e 39% de todas as hospitalizações registradas no Sistema Único de Saúde

(SUS) em 2001 (SCHRAMM et al., 2004).

Conforme International Diabetes Federation (IDF) (2002) o diabetes

mellitus tem merecido importante destaque frente o considerável aumento, nas

últimas décadas, em sua incidência e prevalência em escala mundial, tornando-o

hoje uma das condições crônicas mais prevalentes em todo o mundo, existindo,

contudo, diferenças marcantes na prevalência da doença entre os diversos países e

grupos étnicos.

A SBD (2009) refere-se a esta doença como uma epidemia em curso,

haja vista que em 1985 estimava-se haver 30 milhões de adultos com DM em todo o

mundo, enquanto que em 1995 este número cresceu para 135 milhões, atingindo

173 milhões em 2002.

Até 2030, estima-se que 366 milhões de pessoas sejam acometidas pela

doença, o que representa um aumento significativo no número de diabéticos, sendo

que aproximadamente 90% destas devam apresentar DM2 (WILD et al., 2004).

Esta epidemia tem maior intensidade em países em desenvolvimento,

onde vivem cerca de 2/3 (dois terços) dos indivíduos com DM, com crescente

proporção de pessoas afetadas em grupos etários mais jovens (SBD, 2009).

No Brasil, a prevalência de DM na população adulta, com idade entre 30-

69 anos, era de 7,6 % no final da década de 1980. Dados mais recentes apontam

taxas mais elevadas para esta mesma faixa etária, com uma prevalência de 15,02%,

segundo estudo realizado em Ribeirão Preto-SP (MORAES et al., 2010). Projeta-se

que em 2030 sejam 11 milhões de brasileiros acometidos por esta condição crônica

de saúde, o que representará um aumento de 100%, tendo em vista os atuais 5

milhões de diabéticos no país (IDF, 2002).

Atualmente, o percentual de indivíduos que referem diagnóstico médico

de DM no conjunto das capitais dos estados brasileiros e no Distrito Federal é de

___________________________________|23

6,3%, sendo maior em mulheres (7%) do que em homens (5,4%). Em ambos os

sexos observa-se que o diagnóstico da doença se torna mais comum com a idade,

atingindo mais de 20% daqueles com 65 anos ou mais (BRASIL, 2011).

Estima-se que entre os anos de 1999 e 2001 tenham ocorrido 327.800

internações na rede pública de saúde brasileira tendo o DM como diagnóstico

principal (ROSA et al., 2007). Dessa forma, a doença representa a quinta indicação

de internação hospitalar no Brasil, estando entre as dez maiores causas de

mortalidade no país (BRASIL, 2008).

Contudo, a mortalidade por DM é um dado de difícil avaliação tendo em

vista a sub-notificação, pois na grande maioria dos casos os atestados de óbito

designam apenas a causa básica da morte, não a relacionando a doenças

associadas.

Nessa perspectiva, American Diabetes Association (ADA) (2011) acredita

que o número de óbitos atribuídos à doença seja subestimado em todo o mundo, de

forma que são as suas complicações, particularmente as cardiopatias e doenças

cardiocerebrovasculares, as causas que figuram nas estatísticas de mortalidade.

Observa-se, em geral, na esfera mundial a prematuridade desses óbitos

que ocorrem quando os indivíduos estão ainda em plena vida laborativa,

contribuindo economicamente para a sociedade. Contudo, a realidade brasileira

aponta que as taxas de mortalidade por DM apresentam significativo aumento com o

progredir da idade (SBD, 2009).

Assim, observa-se que o impacto da doença relaciona-se principalmente

às suas complicações que vão desde complicações agudas como a hipoglicemia, a

cetoacidose diabética e a síndrome hiperosmolar não cetótica à crônicas como as

macroangiopatias (doença cerebrovascular, cardiopatia isquêmica, doença

coronariana de pequenos vasos, doença vascular periférica), microangiopatias

(nefropatia diabética, retinopatia diabética) e neuropatias (ZAGURY; ZAGURY,

2009).

Segundo SBD (2009), o DM contribui com 30 a 50% das internações por

cardiopatia isquêmica, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral, sendo

diabéticos 30% dos pacientes que internam em unidades coronarianas com dor

precordial.

No que tange a cardiopatia isquêmica, observa-se que esta ocorre em

7,5% dos homens e em 13,5% das mulheres diabéticas entre 45 e 64 anos de idade,

___________________________________|24

ao passo que a doença cérebro vascular atinge 4,8% dos indivíduos diabéticos na

mesma faixa etária (BRASIL, 2001).

Com o progredir da doença, estima-se que 45% dos indivíduos venham a

apresentar doença vascular periférica após vinte anos de diagnóstico, enquanto que

80% devam apresentar algum grau de retinopatia após quinze anos de doença.

Nessa perspectiva, a retinopatia diabética é a complicação que atinge a maior parte

dos indivíduos diabéticos, fato que atribui a esta comorbidade a principal causa de

cegueira no país (BRASIL, 2001).

A amputação de membros inferiores chega a ser cem vezes mais

frequente em indivíduos com DM sendo que, da mesma forma como ocorre com as

complicações anteriormente citadas, a idade e tempo de diagnóstico possuem

estreita relação com alterações nos pés, de forma que a neuropatia, a doença

vascular periférica e o imunocomprometimento são complicações correlacionadas

que contribuem para o risco aumentado de lesões (SBD, 2009).

Quanto a nefropatia diabética, esta corresponde a uma complicação

crônica da doença que acomete cerca de 40% dos portadores de DM, sendo a

causa principal da insuficiência renal crônica (IRC) (SBD, 2009).

Nesta perspectiva, percebe-se que o diabetes mellitus condição crônica

de saúde de caráter progressivo exige do indivíduo acometido acompanhamento

clínico contínuo e permanente, o que acarreta ônus econômico e social para

indivíduos e sistema de saúde, em virtude de suas repercussões econômicas e

sociais que se relacionam à gravidade das complicações e meios necessários para o

controle adequado da doença.

Em termo mundial, os custos diretos com o DM são de cerca de 2,5% a

15% do orçamento anual da saúde, a depender da prevalência e grau de

sofisticação do tratamento disponível. No Brasil, estima-se que os custos diretos nos

três níveis de atenção (primária, secundária e terciária) sejam sem torno de 3,9

bilhões de dólares, estando associados aos programas desenvolvidos na atenção

primária e secundária em saúde que são direcionados a esta população específica,

bem como ao elevado volume de atendimentos e internações decorrentes do

descontrole metabólico e de complicações associadas a esta condição crônica em

especial as nefropatias, neuropatias, complicações cardiocerebrovasculares e suas

sequelas (SBD, 2009).

___________________________________|25

Contudo, os custos indiretos, relacionados à perda de produção

decorrentes do déficit de mão-de-obra, fatores estes que se associam a ocorrência

de complicações da doença que geram incapacidades e morte prematura, podem

ser ainda maiores que os custos diretos.

Associado a este contexto, os custos intangíveis como perda da

qualidade de vida, dor, incomodo, inconveniência, sofrimento físico e psíquico dentre

outros, são difíceis de serem quantificados, mas apresentam impacto significativo na

vida das pessoas acometidas e famílias envolvidas (ZAGURY; ZAGURY, 2009).

Ao que se percebe as repercussões do diabetes mellitus pode vir a afetar

a vida e o cotidiano do indivíduo e de familiares em diversos âmbitos, considerando-

se ainda o incremento de custos associados à prescrição dietética, aos

medicamentos e insumos necessários ao monitoramento domiciliar para o adequado

controle da doença. Nesta perspectiva, o DM pode atuar como fator estressante,

associando-se ainda a sentimentos de exclusão social, dependência e perda

eminente.

Assim, o diabetes mellitus é hoje compreendido como um problema de

saúde pública no Brasil e no mundo, tendo em vista a magnitude da doença e de

suas complicações. Contudo, observa-se que o impacto da doença relaciona-se

principalmente às suas complicações que são altamente limitantes comprometendo

a realização de atividades diárias e produtivas, bem como a qualidade de vida dos

indivíduos.

Segundo Gomes et al. (2001), o controle metabólico mostra-se

indispensável à redução de complicações e da morbimortalidade da doença.

Contudo, o que se observa é que esta meta não é corriqueiramente alcançada haja

vista que o controle glicêmico através da hemoglobina glicosilada (HbAIc) é

alcançado em menos da metade dos indivíduos com DM2 (NORRIS; ENGELGAU;

NARAYAN, 2001).

Desta forma, urge a necessidade de se buscar estratégias efetivas no

atendimento a esta população, exigindo atenção e esforços do sistema e equipes de

saúde.

___________________________________|26

O Diabetes Mellitus tipo 2

Um crescimento global na quantidade de indivíduos acometidos pelo

diabetes mellitus vem, portanto sendo observado, fato este que está intimamente

associado ao aumento da expectativa de vida com consequente envelhecimento

populacional e a uma maior sobrevida de indivíduos acometidos pela doença, bem

como ao crescente processo de urbanização e industrialização, que influenciam

alterações no estilo de vida, em especial no padrão alimentar das populações, que

consequentemente se associa a crescente prevalência de sobrepeso, obesidade e

sedentarismo, fatores que se inter-relacionam e interagem com uma possível

suscetibilidade genética, contribuindo de forma isolada e/ou associada para a

magnitude da doença (SBD, 2009).

O diabetes mellitus é um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos

que apresentam em comum a hiperglicemia, em decorrência de defeitos na ação ou

secreção da insulina, hormônio produzido pelas células beta das ilhotas de

Langerhans no pâncreas, ou ainda em ambos os mecanismos, influenciando o

metabolismo dos glicídios, proteínas e lipídios na sua evolução, sendo a

classificação atual da doença baseada na etiologia (BRASIL, 2006).

O diabetes mellitus tipo 2 é a forma mais prevalente da doença, estando

presente em 90% a 95% dos casos. Esta classe clínica caracteriza-se por defeitos

na ação e na secreção da insulina, estando em geral ambos os defeitos presentes

quando a hiperglicemia se manifesta, podendo haver, contudo predomínio de um

deles (SBD, 2009).

A insulina se liga a receptores específicos presentes na superfície celular

de forma a atuar como mediador do transporte de glicose do meio extra para o

intracelular para que então ocorra a metabolização da glicose. A resistência da

superfície celular à insulina ou defeitos na produção/secreção deste hormônio pelo

pâncreas tornam este mediador menos eficaz na captação de glicose para dentro da

célula, reduzindo a metabolização celular desta molécula. Em consequência a este

evento aumentam os níveis plasmáticos de glicose, desenvolvendo-se a doença

(SMELTZER; BARE, 2011).

Contudo, apesar do defeito na ação e/ou secreção de insulina endógena,

os pacientes acometidos por esta morbidade não são dependentes de insulina

exógena para sobreviverem, todavia, a insulinoterapia pode ser necessária em

___________________________________|27

alguns casos para que se obtenha um adequado controle metabólico (BRASIL,

2006).

O DM2 pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas em geral se observa a

influência da idade na prevalência da doença e na tolerância à glicose diminuída

(SBD, 2009).

Nesta perspectiva, a doença é geralmente diagnosticada na idade adulta,

após os 40 anos de idade, estando intimamente associada à ocorrência de

sobrepeso ou obesidade, de forma que, segundo Aguilar-Salinas et al. (2005), mais

de 90% das pessoas com DM2 padecem de algum grau de sobrepeso ou obesidade

quando do diagnóstico.

Wing et al. (2001) consideram que o baixo peso associado à prática

regular de exercícios físicos pode prevenir ou retardar o desenvolvimento do DM2

em pessoas com alta predisposição para a doença, haja vista serem baixos a

incidência e prevalência desta em indivíduos com índice de massa corpórea (IMC)

abaixo de 21, ao passo que a prevalência da doença acompanha o nível de

obesidade.

Neste contexto, são indivíduos com elevado risco para desenvolver DM2

aqueles com idade superior a 45 anos, obesos, sedentários, dislipidêmicos, usuários

de medicações hiperglicemiantes (corticóides, betabloqueadores, tiazídicos),

portadores de HAS, doença vascular ou coronariana, com presença de doença

vascular aterosclerótica anterior aos 50 anos de idade e histórico obstétrico de

perimortalidade ou abortamento de repetição (GROSS et al.,2002).

A evolução para o DM2 ocorre ao longo de um período de tempo variável,

passando por estágios intermediários que decorrem de uma combinação de

resistência à ação insulínica e disfunção de células beta: glicemia de jejum alterada

e tolerância a glicose diminuída, sendo a aferição no plasma o método preferencial

para determinar a glicemia, tendo em vista as fitas com reagentes não serem tão

precisas quanto às dosagens plasmáticas, não sendo, portanto indicado utilizá-las

para diagnóstico (SBD, 2009).

Atualmente, são critérios aceitos para o diagnóstico de DM: sintomas de

poliúria, polidipsia e perda ponderal acrescidos de glicemia casual, independente do

horário das refeições, acima de 200 mg/dl; glicemia de jejum igual ou superior a 126

mg/dl; glicemia acima de 200mg/dl após duas horas no teste de tolerância a glicose

(ZAGURY; ZAGURY, 2009).

___________________________________|28

Contudo, em julho de 2009 passou-se a recomendar a utilização da

hemoglobina glicosilada, também chamada de glicada, como critério de diagnóstico

para DM com a alegação de que a A1c avalia o grau de exposição à glicemia

durante o tempo, mantendo-se os valores estáveis após a coleta. Dessa forma,

recomenda-se que sejam considerados indivíduos com alto risco para desenvolver

diabetes aquele com A1c entre 6% e 6,5% e diabéticos aqueles com A1c superior a

6,5%, a ser confirmada com coleta subsequente (SBD, 2009).

O tratamento do diabetes mellitus tem como meta o controle glicêmico,

nesta perspectiva, torna-se necessário se dispor de boas estratégias para a

obtenção e manutenção de níveis glicêmicos próximos a normalidade em longo

prazo.

Entretanto, vale salientar que os objetivos do tratamento ao paciente

portador da doença não se deve limitar apenas a este, de forma que o controle

pressórico bem como dos níveis de triglicérides e colesterol devem ser finalidades

do tratamento, com vista à melhoria da qualidade de vida (BRASIL, 2006).

As alterações no estilo de vida das pessoas com DM são consideradas

terapia de primeira escolha para o controle glicêmico. Estas modificações incluem a

suspensão do tabagismo e a ingestão de bebida alcoólica, a orientação nutricional e

o incentivo a prática regular de exercícios físicos.

Conforme Satorelli et al. (2004) a prática regular de exercícios provoca

substancial melhora na sensibilidade à insulina, diminuindo os níveis plasmáticos de

glicose e, de forma expressiva, a circunferência abdominal e a gordura visceral, o

que melhora o perfil metabólico, aumentando os níveis de colesterol de lipoproteína

de alta densidade (HDL-C) e reduzindo os níveis de colesterol de lipoproteína de

baixa densidade (LDL-C) e triglicerídeos.

De acordo com ADA (2012), a primeira meta para portadores de DM deve

ser eliminar a ingestão de gorduras saturadas e trans com a finalidade de reduzir o

risco cardiovascular e melhorar a sensibilidade à insulina.

A terapia nutricional desempenha papel primordial no gerenciamento da

doença, bem como na prevenção do desenvolvimento de complicações, devendo ter

como foco a individualização, considerando os hábitos alimentares e socioculturais

do individuo, assumindo importância substancial no controle de peso corporal.

Conforme ADA (2012) a terapia nutricional deve se basear na promoção

da perda de peso gradual, manutenção do peso adequado e prevenção de ganho

___________________________________|29

ponderal, sendo o exercício físico e a modificação comportamental, agentes

adjuvantes neste processo.

Modeneze (2004) considera que embora a redução do peso corpóreo seja

uma das medidas mais importantes para a melhora da sensibilidade insulínica, ela

pode se constituir em um dos objetivos mais difíceis de serem alcançados, de forma

que se torna fundamental o sucesso de intervenções sobre o estilo de vida.

A importância da terapêutica não medicamentosa que se relaciona a

modificações no estilo de vida é inquestionável. Entretanto, em algum momento do

tratamento pode se fazer necessário a utilização da terapêutica farmacológica com a

utilização de agentes antidiabéticos orais associados ou não a insulina.

Diabetes Mellitus: foco no autocuidado para a promoção da saúde e prevenção de complicações

Um longo processo de discussão sobre um novo paradigma para a saúde

brasileira marcou as décadas de 1970 e 1980, culminando com a proposta de um

Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da Constituição Federal Brasileira de 1988,

regulamentado pela Lei Orgânica da Saúde Nº 8.080 em 1990, que dispõe sobre as

condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, bem como a

organização e funcionamento dos serviços correspondentes (NASCIMENTO;

NASCIMENTO, 2005).

Assim, a partir da regulamentação do SUS, um novo modelo de atenção à

saúde foi instalado o que permitiu a reestruturação dos serviços de saúde de modo a

priorizar ações de caráter preventivo, fundamentadas em informação e orientação

sobre cuidados de saúde, em detrimento de ações curativas, até então

predominantes.

Segundo SBD (2009), os programas de prevenção primária do DM2

fundamentam-se principalmente no estímulo a uma dieta saudável e incentivo à

prática regular de exercícios físicos, visando combater o sobrepeso e a obesidade

em indivíduos com maior risco de desenvolver a doença, particularmente nos com

tolerância à glicose diminuída. A prevenção secundária, contudo objetiva evitar ou

reduzir a ocorrência de complicações agudas ou crônicas decorrentes da doença.

Existem evidências de que o controle metabólico estrito assume

importante papel na prevenção secundária do surgimento ou progressão de

complicações crônicas decorrentes do diabetes mellitus tipo 2.

___________________________________|30

Entretanto, configuram-se como medidas associativas importantes o

tratamento da HAS e da dislipidemia, que reduz o risco de complicações

ocasionadas pela doença; a prevenção de ulcerações nos pés, que reduz a

incidência de amputações; o rastreamento para diagnóstico e tratamento precoce da

retinopatia, tendo em vista sua importante repercussão nos custos diretos, indiretos

e intangíveis da cegueira; bem como o rastreamento para microalbuminúria,

recomendável para prevenir ou retardar a progressão da insuficiência renal (SBD,

2009).

Montenegro Junior (2003) destaca que as medidas de prevenção,

detecção precoce e tratamento adequado nos três níveis de atenção à saúde podem

contribuir com a redução da mortalidade das diversas complicações da doença e

mortalidades associadas a esta condição.

Entretanto, o que se observa é um atendimento pontual a esta clientela

mesmo ante a garantia de seguimento e inserção em uma rede de saúde organizada

e hierarquizada em níveis de atenção que deve ser preconizada, conforme as

diretrizes do SUS, com vista à otimização das ações de prevenção, promoção da

saúde, acompanhamento e tratamento dos indivíduos (BRASIL, 2004).

Conforme Buss (2003) esta discussão no cenário mundial se estende

desde a I Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde realizada

em 1978 em Alma-Ata que foi um dos eventos mais significativos para a saúde

pública em termos mundiais, pelo alcance que teve em quase todos os sistemas de

saúde do mundo, trazendo um novo enfoque para o campo da saúde ao colocar

como meta a “Saúde para Todos no Ano 2000”.

Na esteira deste processo o conceito moderno de promoção da saúde,

bem como sua prática, surge no início da década de 1980 e se desenvolve num

compasso mais vigoroso, de forma que as três importantes Conferências

Internacionais sobre o tema realizadas em Ottawa (1986), Adelaide (1988) e

Sundsval (1991) estabeleceram as bases conceituais e políticas contemporâneas

(BUSS, 2003).

O documento produzido pela I Conferência Internacional sobre Promoção

da Saúde em Otawa/Canadá postula a ideia de saúde como qualidade de vida

resultante de complexo processo condicionado por diversos fatores e reforça a

responsabilidade e os direitos dos indivíduos pela própria saúde, preconizando o

desenvolvimento de habilidades pessoais como um dos cinco campos centrais de

___________________________________|31

ação para a promoção da saúde apresentando, como os três desafios para o

alcance da meta de “Saúde para Todos no Ano 2000”, a redução das desigualdades,

o incremento do esforço preventivo e da capacidade das pessoas no enfrentamento

dos problemas de saúde (BUSS, 2003).

Para transpor estes desafios a Carta de Ottawa sugere três mecanismos

dentre os quais o autocuidado, compreendido como sendo as decisões e ações que

cada indivíduo toma em benefício da própria saúde. O mesmo resgata ainda a

dimensão da educação em saúde como processo de capacitação para a aquisição

de conhecimento através do acesso total e contínuo à informação e às

oportunidades de aprendizagem nesta área de forma que o indivíduo venha a

adquirir poder técnico e consciência política para atuar em prol da própria saúde

(BUSS, 2003).

No DM, a educação em saúde apresenta-se como um dos pontos

fundamentais para retardar as complicações crônicas provenientes da doença e

aliviar os sintomas clássicos, através da modificação do estilo de vida.

Assim, a educação em diabetes mellitus deve voltar-se a construção de

conhecimentos que favoreçam o autocuidado e a autonomia das pessoas, na

perspectiva de buscar uma qualidade de vida satisfatória, mantendo-se saudável

ante a adoção de hábitos de vida favoráveis.

Nesta ótica, a promoção da saúde e a prevenção de doenças podem ser

compreendidas como enfoques complementares no processo saúde-doença de co-

morbidades crônicas, como no caso do DM.

Intervenções que associem ambos os enfoques apresentam vantagens

não apenas pelo simples fato de reduzir o surgimento e desenvolvimento de

complicações, melhorando a letalidade, a mortalidade e o tempo de sobrevida, mas

também por procurar identificar e enfrentar os macrodeterminantes do processo

saúde-doença, buscando transformá-los favoravelmente na direção da saúde.

Para Czeresnia (2003) a prevenção de doenças busca que os indivíduos

fiquem isentos destas orientando-se mais às ações de detenção, controle e

enfraquecimento dos fatores de risco ou fatores causais de grupos de enfermidades,

buscando evitar o surgimento das doenças específicas e reduzir sua incidência e

prevalência nas populações, sendo um de seus objetivos o controle das doenças

degenerativas de forma que os projetos de prevenção e educação em saúde

___________________________________|32

estruturam-se mediante a divulgação de informações cientificas e de

recomendações normativas de mudanças de hábitos.

A promoção da saúde, por sua vez apresenta como foco a modificação

das condições de vida apontando para a transformação dos processos individuais de

tomada de decisão para que sejam predominantemente favoráveis à qualidade de

vida e à saúde, de forma que o seu objetivo é um continuum de nível ótimo de vida e

saúde (Czeresnia, 2003).

Gutierrez (1997) complementa que o termo se refere a um conjunto de

atividades, processos e recursos orientados a propiciar, dentre outros, o

melhoramento de condições de bem-estar que favoreçam o desenvolvimento de

conhecimentos, atitudes e comportamentos favoráveis ao cuidado da saúde e o

desenvolvimento de estratégias que permitam à população um maior e melhor

controle sobre sua saúde e condições de vida, seja a nível individual ou coletivo.

Desta forma, os indivíduos devem ter a oportunidade de conhecer e

controlar os fatores determinantes da sua saúde, estando dentre os principais

elementos capacitantes o acesso à informação, o desenvolvimento de habilidades

para viver melhor e a oportunidades para fazer escolhas mais saudáveis (BUSS,

2003).

Promover a saúde envolve, portanto escolhas. Entretanto, para Czeresnia

(2003) isto não é da esfera do conhecimento verdadeiro, mas do valor, vinculando-

se a processos que não se expressão por conceitos precisos e facilmente

modificados como o comportamento.

Segundo Sousa e Zauszneiewski (2005) o domínio do conhecimento tem

estreita relação com a predisposição do individuo em assumir o autocuidado em

saúde, propiciando a redução do estresse associado à doença, a melhora da auto-

estima, a percepção positiva da saúde e aceitação social, bem como a maior

receptividade ao tratamento (STEED; COOKE; NEWMAN, 2003).

Mas para Pierin (2001) o conhecimento é racional, enquanto que a

mudança de atitude é um processo complexo, que envolve fatores emocionais e

barreiras concretas de ordem prática e logística. Nessa perspectiva, a modulação do

comportamento sofre influencia do sistema de crenças e valores, das redes sociais

de apoio, do grau de empoderamento sobre o processo de saúde-doença e do grau

de autonomia e funcionalidade.

___________________________________|33

Desta forma, Heisler et al. (2005) consideram que embora o

conhecimento seja considerado pré-requisito para o autocuidado ele pode não ser o

único ou principal fator envolvido no processo educativo, tendo em vista que o

mesmo combinado os valores, motivação, metas e a tomada de decisão pelo próprio

indivíduo, levam a atitudes positivas e proativas.

___________________________________|34

Referencial teórico-metodológico

___________________________________|35

O enfermeiro assume papel essencial no processo de prevenção e

promoção da saúde de pessoas com diabetes mellitus atuando como elo facilitador

ao desenvolvimento de competências para o autocuidado por meio do cuidado

clínico e educativo de enfermagem.

Desta forma, ante o aporte teórico fornecido pala Teoria do Sistema de

Enfermagem Apoio-Educação de Dorothea Orem à prática assistencial do

enfermeiro auxiliando-o e amparando-o de forma a atuar como facilitador de uma

assistência de enfermagem voltada ao desenvolvimento de competências para o

autocuidado no indivíduo com adoecimento crônico, a mesma será utilizada como

fundamentação teórica do presente trabalho tendo em vista seus pressupostos

básicos se adequarem às propostas do estudo em questão.

O conceito de autocuidado na enfermagem deu-se a partir dos estudos

realizados por Dorothea Orem em 1958. Para a teorista, o autocuidado é a prática

de atividades realizadas pelo indivíduo em benefício próprio, no intuito de manter a

vida, a saúde e o bem-estar (OREM, 1995). Para Foster e Bennett (2000) o conceito

de autocuidado de Orem possui uma aplicação pragmática na prática de

enfermagem e uma maneira singular de ver o fenômeno de enfermagem.

Ao explicar o autocuidado como necessidade humana, Orem desenvolveu

um modelo teórico-conceitual composto por três teorias inter-relacionadas que em

conjunto delineiam o autocuidado: a teoria do autocuidado, a teoria do déficit de

autocuidado e a teoria dos sistemas de enfermagem sendo a Teoria do Déficit de

Autocuidado da Enfermagem sua teoria geral.

A teoria do autocuidado descreve e explica porque o autocuidado é

necessário para a saúde e bem-estar da pessoa, delineando a prática de cuidados

executados pelo próprio paciente no intuito de manter-se com vida, saúde e bem

estar, ao passo que a teoria do déficit de autocuidado descreve a necessidade de

intervenção quando o individuo não tem competência para executá-lo, explicando

quando e porque a enfermagem é necessária para ajudá-lo (OREM, 1995).

Em contrapartida a teoria dos sistemas de enfermagem tem como base

as necessidades e capacidades dos pacientes para execução de autocuidado o que

determinará o nível de necessidade de intervenção da enfermagem (OREM, 1995).

Em sua teoria Orem descreve sete conceitos básicos interrelacionados, a

saber: ações de autocuidado, agente de autocuidado, capacidade de autocuidado,

___________________________________|36

fatores condicionantes básicos, demanda terapêutica de autocuidado, requisitos de

autocuidado e déficit de autocuidado.

As ações de autocuidado consistem na prática de atividades que os

indivíduos iniciam e realizam para seu próprio beneficio com o objetivo de manter

sua vida, a saúde e o bem-estar. São condutas aprendidas e determinadas pela

cultura do grupo ao qual pertence o indivíduo, compreendido como agente de

autocuidado. Este é caracterizado pela capacidade para realizar ações, reconhecer

e encontrar a demanda terapêutica de autocuidado, envolvendo operações ligadas

ao conhecimento e disposição para identificar as necessidades, alcançando assim o

autocuidado. Desta forma, a função básica do agente de autocuidado é a

capacidade e disposição humana para manter o propósito e o esforço da experiência

humana (OREM, 1995).

A capacidade de autocuidado é descrita pela teorista como o conjunto de

habilidades adquiridas que são específicas para a realização do autocuidado, e que

se referem ao modo de cuidar do agente de autocuidado.

Quando o indivíduo tem habilidades para desenvolver ações que atendam

suas necessidades, ele está apto para o autocuidado, sendo essa capacidade

variável de acordo com o desenvolvimento de cada pessoa durante as etapas da

vida e a aptidão adquirida através do aprendizado, supervisionado por outra pessoa

e favorecido pela curiosidade intelectual de cada um. Estes fatores bem como o

desenvolvimento e operabilidade das capacidades de autocuidado são influenciados

pelos fatores condicionantes básicos (FOSTER; BENNETT, 2000).

Os fatores condicionantes básicos dizem respeito aos fatores internos e

externos aos indivíduos, que afetam ao podem vir a influenciar suas capacidades e

ações para o autocuidado ou a quantidade e/ou qualidade de autocuidado requerido.

Esses fatores são: idade, sexo, estado de desenvolvimento, escolaridade, padrão de

vida, sistema familiar, estado de saúde, experiências de vida, cultura, crenças,

enfermidades, fatores ambientais, sistema de saúde, disponibilidade e adequação

de recursos (OREM, 1995).

O conjunto de ações necessárias de cuidado para a manutenção da vida

e a promoção da saúde e bem-estar em momentos específicos ou durante um

período de tempo para atender aos requisitos de autocuidado são denominados

demanda terapêutica de autocuidado (TAYLOR, 2002).

___________________________________|37

Requisitos de autocuidado se caracterizam pelas ações relacionadas com

as condições internas e externas da manutenção do desenvolvimento humano,

sendo compreendidos em três categorias: requisitos universais de autocuidado,

requisitos de desenvolvimento de autocuidado e requisitos de autocuidado no desvio

de saúde (FOSTER; BENNETT, 2000).

Requisitos universais de autocuidado são requisitos comuns a todos os

indivíduos durante todos os estágios do ciclo vital, sendo básicos e vitais a todos os

seres humanos contribuindo para a manutenção da vida, saúde e bem-estar,

ajustáveis à idade, à fase de desenvolvimento, ao ambiente e a outros fatores

específicos do indivíduo (OREM, 1995).

São requisitos que, de maneira inter-relacionada, estão associados aos

processos vitais e à manutenção da vida e integridade da estrutura e funcionamento

do ser humano e dizem respeito à manutenção suficiente de ar; água; alimento;

provisão de cuidados associados a processos de eliminação e excreção;

manutenção de um equilíbrio entre atividade e repouso; manutenção de um

equilíbrio entre solidão e interação social; prevenção de perigos à vida, ao

funcionamento humano e ao bem-estar social; promoção de normalidade no

funcionamento e desenvolvimento humano (OREM, 1995).

Os requisitos de desenvolvimento de autocuidado oferecem as condições

necessárias para as mudanças que ocorrem ao longo do ciclo vital, permitindo

adaptações para o desenvolvimento do indivíduo, sendo particularidades referentes

aos estágios de desenvolvimento humano que ocorrem em relação às situações

normais (gestação, alterações cognitivas/motoras/físicas provenientes do processo

normal de envelhecimento) ou associadas a eventos significativos (perdas afetivo-

significativas). Já os requisitos de autocuidado no desvio de saúde são definidos

como necessidades de autocuidado que se manifestam na presença de doenças,

incapacidades e tratamentos que sejam necessários para o restabelecimento do

indivíduo (OREM, 1995).

Fazem parte deste requisito de autocuidado: procurar e garantir

assistência médica adequada perante as necessidades; observar e conscientizar-se

dos efeitos e resultados que proporcionam estados patológicos; executar

efetivamente medidas prescritas e recomendadas pelos profissionais da saúde;

modificar o autocuidado e a auto-imagem para a aceitação de si mesmo como

estando em um estado especial de saúde-doença, necessitando de cuidados

___________________________________|38

específicos de saúde; aprender a viver nestas condições, bem como com efeitos de

medidas de diagnóstico e tratamento médico, num estilo de vida que promova o

desenvolvimento pessoal continuo (FOSTER; BENNETT, 2000).

O conceito de déficit de autocuidado constitui o elemento central da

teoria, de forma que expressa e desenvolve a razão pela qual as pessoas

necessitam da enfermagem. Ele pode ser descrito como parcial, quando se limita as

incapacidades de satisfazer um ou mais requisitos de autocuidado, ou completo que

diz respeito a incapacidade total para satisfazer a demanda de autocuidado (OREM,

1995).

Orem acredita que o homem possui habilidades inatas para cuidar de si

mesmo, podendo se beneficiar com o cuidado da equipe de enfermagem quando

apresentar limitações das suas capacidades por alterações de saúde.

Para mostrar o relacionamento entre os seus conceitos a teorista

apresenta um modelo (figura 1), através do qual se pode observar que em qualquer

ocasião a pessoa possui capacidades especificas de autocuidado bem como de

demandas terapêuticas de autocuidado.

Figura 1 – Estrutura conceitual para a enfermagem. (R= relacionamento; < = déficit de relacionamento atual ou projetado). In: OREM, D. E. Nursing: concepts of

practice. 5. Ed. St. Louis: Mosby; 1995. p.435.

A atuação do enfermeiro ocorre e se faz necessária quando a demanda

terapêutica de autocuidado é maior do que a capacidade de autocuidado do agente

___________________________________|39

de cuidado (indivíduo), sendo caracterizado como déficit de autocuidado, podendo

variar ao longo do tempo (figura 2).

Figura 2 – Adequação dos valores do agente de autocuidado em relação à

demanda terapêutica de autocuidado que podem variar ao longo do tempo. In: OREM, D. E. Nursing: concepts of practice. 5. Ed. St. Louis: Mosby; 1995. p..213.

É nesta situação de déficit de autocuidado que se faz necessário o

cuidado de enfermagem para satisfazer os requisitos de autocuidado do indivíduo

(requisitos universais de autocuidado; requisitos de desenvolvimento de

autocuidado; requisitos de autocuidado no desvio de saúde). As ações de

enfermagem a serem desempenhas fundamentam-se conforme as necessidades

que se estabelecem nos três diferentes sistemas de enfermagem classificados pela

teorista como sendo: totalmente compensatório, parcialmente compensatório e de

apoio-educação.

O sistema de enfermagem totalmente compensatório se desenvolve

quando a capacidade para o autocuidado da pessoa é ou está momentaneamente

limitada/ausente de forma que a mesma mostra-se incapaz de empenhar-se nas

ações de autocuidado, devendo a enfermagem compensar esta incapacidade

mediante apoio e proteção passando o enfermeiro a responder por ações e/ou

decisões necessárias à satisfação dos requisitos de autocuidado ao passo que o

sistema de enfermagem parcialmente compensatório se faz necessário quando as

ações e/ou decisões necessárias à satisfação dos requisitos de autocuidado são

realizadas tanto pelo enfermeiro quanto pela pessoa, havendo alternância no

desempenho do papel de principal agente de autocuidado em função das limitações,

___________________________________|40

conhecimentos e habilidades do paciente, de modo que a enfermagem compensa as

limitações de autocuidado apresentadas pelo paciente, enquanto este realiza ações

de autocuidado que lhe são possíveis (OREM, 1995).

O sistema de enfermagem de apoio-educação ocorre quando a pessoa

tem aptidões e consegue executar as medidas de autocuidado terapêutico, podendo

e/ou devendo aprender a colocá-las em prática. Contudo, esta necessita de apoio

profissional para lhe fornecer informações e apoio suficientes. Neste caso, o

enfermeiro deverá empenhar-se no preparo da pessoa, promovendo-a com agente

capaz de desempenhar ações para o próprio autocuidado (OREM, 1995).

Conforme Luce et al. (1990) a teoria de Orem tem como premissa básica

a crença de que o homem possui habilidades inatas para cuidar de si mesmo,

podendo vir a beneficiar-se da assistência de enfermagem quando apresentar

limitações decorrentes das condições de saúde.

Para proporcionar a assistência no autocuidado a enfermeira dispõe de

cinco métodos de ajuda ao indivíduo descritos pela teorista como sendo: agir ou

fazer pela pessoa; proporcionar apoio físico e psicológico; proporcionar e manter um

ambiente de apoio ao desenvolvimento pessoal; ensinar; guiar e orientar. No

desenvolvimento de sua assistência a enfermeira pode lançar mão de um ou de

todos estes métodos, a depender da necessidade (FOSTER; BENNETT, 2000).

Contudo, o ensino para o autocuidado despaternaliza a assistência de enfermagem,

estimulando a participação da pessoa e inserção familiar.

Nesta perspectiva, a competência do individuo para o autocuidado é

compreendida como a capacidade desenvolvida em distinguir fatores que devem ser

controlados ou administrados para regular seu próprio funcionamento e

desenvolvimento, a fim de decidir o que pode e deve ser feito, reconhecer os

componentes das suas demandas terapêuticas de autocuidado e desenvolver as

medidas de cuidado para atender aos requisitos de autocuidado ao longo do tempo

(OREM, 1995).

Em contrapartida, a competência da enfermagem é a propriedade do

enfermeiro para conhecer e ajudar os outros ao reconhecimento das suas demandas

terapêuticas de autocuidado, atendendo a estas demandas e organizando o

exercício ou desenvolvimento de sua competência para o autocuidado ou

competência para o cuidado dependente (OREM, 1995).

___________________________________|41

Observa-se, portanto que a teoria dos sistemas de enfermagem de Orem

centrada no sistema de enfermagem de apoio-educação é o ponto central para a

atuação do enfermeiro junto ao paciente com diabetes mellitus, tendo em vista este

oferecer uma base conceitual abrangente para a prática de enfermagem centrada na

educação em saúde permanente ao paciente com adoecimento crônico ante a

necessidade de promover-se um processo educacional para torná-los aptos a cuidar

de si, sendo a premissa de autocuidado da teorista condizente aos preceitos de

promoção e manutenção da saúde de forma que o autocuidado passa a ser

associado ao desenvolvimento de uma saúde holística, relevante em termos atuais.

O monitoramento constante através de retornos e consultas de rotina

constitui-se em momento impar para que tais aspectos sejam constantemente

supervisionados e reforçados pelo enfermeiro a cada encontro, considerando que

incorporar mudanças no estilo de vida, essenciais para que as demandas de

autocuidado sejam satisfeitas, exige dedicação e motivação do paciente, não

perdendo de vista as escolhas individuais, visto que o autocuidado é uma atitude de

cada um.

___________________________________|42

Metodologia

___________________________________|43

Tipo de estudo

Trata-se de um estudo descritivo e transversal, por permitir conhecer de

forma objetiva os fenômenos que influenciam a realidade do objeto estudado que

são as práticas de autocuidado de pessoas com DM2 acompanhadas em um serviço

de atenção secundária de saúde e as implicações para o cuidado clínico e educativo

de enfermagem.

O estudo descritivo é o mais amplamente utilizado para se coletar

descrições detalhadas de variáveis existentes, valendo-se dos dados para justificar e

avaliar condições e práticas correntes ou para elaborar um plano com vista a

melhorar as práticas de atenção à saúde (POLIT; BECK, 2006).

Portanto, mostra-se adequado a pesquisa em questão ante sua finalidade

de observar, descrever, explorar e documentar aspectos de uma determinada

situação, descrevendo com riqueza de detalhes fatos e fenômenos do objeto

estudado (POLIT; BECK, 2006; SANTOS, 1999). Contudo, segundo Polit e Beck

(2006) para o delineamento de tal modelo de estudo o pesquisador deve apoiar-se

na fundamentação teórico/prática, o que demanda uma aprofundada revisão de

literatura sobre o objeto de estudo.

Nesta perspectiva, quando bem fundamentado e construído, um estudo

de natureza descritiva pode fornecer uma riqueza de dados sobre um fenômeno

específico de interesse, identificando possíveis relações entre variáveis

(LOBIONDO-WOOD; HABER, 2001; POLIT; BECK, 2006).

A realização de um estudo transversal, também denominado de

seccional, foi considerada ante a proposta de avaliação única dos pacientes com

diabetes mellitus que se deu no momento presente a coleta dos dados. De acordo

com Rouquayrol e Almeida Filho (2006), estudos desta natureza possuem caráter

instantâneo, de forma que a coleta dos dados é realizada em um único momento e o

pesquisador não interfere nos objetos concretos do fenômeno estudado.

Dessa forma, para Medeiros e Ferraz (1998) os estudos transversais

consistem em um “retrato” de um dado momento, de modo que examinam as

características, atitudes, comportamentos e intenções de um grupo, mediante

resposta a perguntas previamente formuladas, seja por meio de entrevista ou

questionário auto-aplicável, com a vantagem de ser um método rápido e de baixo

___________________________________|44

custo para a identificação de casos e detecção de grupos de risco (POLIT; BECK,

2006; HULLEY et al., 2003).

Campo de estudo

O estudo foi realizado em um serviço especializado, referência no

atendimento a pacientes com diabetes mellitus (tipo 1 ou tipo 2), endocrinopatias e

hipertensão arterial sistêmica, pertencente ao nível de atenção secundária em saúde

do Sistema Único de Saúde, de Fortaleza-CE, Brasil. Fundado em 1988, este tem

como objetivo atender pacientes portadores destas condições de saúde,

procedentes da capital e cidades do interior do Estado do Ceará.

Os usuários deste cenário de atenção à saúde apresentam descontrole

metabólico e/ou pressórico, de difícil manejo nos serviços de atenção primária em

saúde sendo referenciados por estes por meio do sistema de referência/contra-

referência da Secretaria Estadual de Saúde do Ceará.

Apenas os pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 1 (DM1) estão

isentos da necessidade de seguir o fluxo descrito (sistema de referência/contra-

referência), pois o serviço também atende a estes por livre demanda. Todos os

atendimentos realizados neste serviço de atenção secundária ocorrem em dias

úteis, de segunda-feira a sexta-feira, no horário de sete às dezessete horas.

A estrutura física do serviço é arejada e dispõe de dois pavimentos, no

piso inferior estão dispostos largos corredores com sala de espera, consultórios

médicos, odontológicos, de enfermagem, de fisioterapia, de nutrição, ambulatório/

leito dia e sala do “pé diabético”. Neste pavimento também está alocado o serviço de

arquivo médico (SAME), o almoxarifado, o auditório, a central de material e

esterilização, a farmácia, a ouvidoria, a cantina e o setor de exames

complementares. Este realiza exames laboratoriais, eletrocardiograma, teste

ergométrico, ecodopplercardiograma e monitorização ambulatorial da pressão

arterial (MAPA).

No pavimento superior estão os demais consultórios médicos, a

biblioteca/centro de estudos, o refeitório/cozinha experimental e serviços

administrativos.

A equipe de saúde do serviço é multidisciplinar e contempla diversas

especialidades, a saber: enfermagem, nutrição, fisioterapia, odontologia, serviço

___________________________________|45

social, farmácia, cardiologia, endocrinologia, clinica médica, angiologia, oftalmologia,

nefrologia, neurologia e psiquiatria.

A equipe de enfermagem é composta por 22 enfermeiras e quatro

técnicas de enfermagem, de forma que estas desempenham suas atividades na

central de material e esterilização e em atendimento no ambulatório de

estomaterapia.

As 22 enfermeiras do serviço distribuem-se da seguinte maneira: uma é

gerente de enfermagem; outra desempenha atividades no ambulatório conjunto;

duas realizam atendimento a pacientes com DM1; três realizam atendimento no

ambulatório de estomaterapia; e as outras quinze cumprem escala de serviço nos

consultórios, realizando consulta de enfermagem em DM2 e HAS e no

ambulatório/leito-dia. Nestes dois últimos setores existe um rodízio onde a cada dia

duas enfermeiras são lotadas no ambulatório/leito-dia (uma enfermeira por turno) e

as outras treze nos consultórios de enfermagem.

O ambulatório/leito-dia dispõe de seis poltronas para atendimento a

pacientes que, após consulta médica e de enfermagem foram avaliados com algum

grau de descontrole metabólico e/ou pressórico, necessitando de medicação,

observação e cuidados de enfermagem imediatos. Dessa forma, o quantitativo de

pacientes atendidos no leito-dia é flutuante, pois atende à livre demanda do próprio

serviço.

No que se refere às consultas de enfermagem, os atendimentos estão

vinculados às consultas médicas, de forma que é variável a depender da agenda e

escala de serviço destes profissionais. Contudo, segundo informação estimada pelo

próprio serviço, cada uma das treze enfermeiras que realiza consulta de

enfermagem por dia faz, em média, quinze consultas por turno de trabalho de quatro

horas diárias.

A instituição é campo de prática e de estágio de diversas especialidades e

categorias profissionais, estando conveniado com universidades públicas e privadas

situadas no município de Fortaleza-CE.

Por ser um serviço especializado de atenção à saúde, a instituição se

torna, inevitavelmente, cenário de desenvolvimento de pesquisas no campo da

saúde que apresentem o DM e/ou a HAS como objeto de estudo, que por sua vez

apresentam delineamento de abordagens metodológicas diversas.

___________________________________|46

População e amostra do estudo

A população do estudo foi constituída por todos os pacientes com

diagnóstico médico de diabetes mellitus tipo 2 que comparecerem ao serviço no

período de coleta de dados que ocorreu de julho a setembro de 2012, seja para

realizar exame pré-agendado ou consulta com quaisquer especialidades.

A população não pode ser quantificada em números absolutos, pois o

serviço não dispunha deste dado com precisão. Contudo, foi feito uma estimativa

desta norteando-se pela média diária de 180 consultas de enfermagem, cujo fluxo

relaciona-se às consultas médicas.

Nesta perspectiva, estima-se que no período de três meses o serviço

realize aproximadamente 10.800 consultas a pacientes diabéticos e/ou hipertensos.

Considerando-se a prevalência do diabetes mellitus no Brasil de 5,2% chegou-se a

uma estimativa de uma população de 562 pacientes com diagnóstico médico de DM

atendidos pelo serviço no período de coleta dos dados (SCHMIDT et al., 2009).

Utilizando-se a fórmula a seguir descrita indicada para populações finitas

(N = 562), calculou-se uma amostra de 218 usuários. Tal valor foi encontrado

fixando-se o nível de significância em 5%, com prevalência (P) de 50% que implica

em tamanho máximo de amostra e erro amostral relativo de 10%.

t25% x P x Q x N n =

e2(N-1) + t25% x P x Q

Os critérios de inclusão foram: pessoas com idade igual ou superior a

dezoito anos completos; de ambos os sexos; com diagnóstico médico de diabetes

mellitus tipo 2 registrado em prontuário de saúde do serviço; acompanhadas neste

há pelo menos dezoito meses.

Estipulou-se este tempo mínimo de acompanhamento haja vista os

indivíduos comparecerem ao serviço em média três vezes ao ano para realizar

consulta com as diversas especialidades. Nesta perspectiva, considera-se relevante

o acompanhamento clínico contínuo dos sujeitos investigados ante o objeto

estudado que são as práticas de autocuidado de pessoas com DM2 acompanhadas

em um serviço de atenção secundária de saúde e as implicações para o cuidado

clínico e educativo de enfermagem. Foram excluídos aqueles que apresentavam

habilidade e capacidade cognitiva comprometida.

___________________________________|47

Participaram do estudo 193 usuários selecionados por acessibilidade e

que atenderam aos critérios de inclusão propostos. Foram excluídos 25 usuários por

serem acompanhados no serviço há menos de dezoito meses ou por apresentarem

habilidade e capacidade cognitiva comprometida.

Aspectos éticos e legais da pesquisa

Os preceitos ético-legais relativos às pesquisas com seres humanos

foram considerados e respeitados no decorrer de todo o estudo, em consonância à

Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) / Ministério da Saúde

(MS) (BRASIL, 1996).

A princípio, foi encaminhada uma cópia do projeto de dissertação ao

serviço cenário da pesquisa. Este concedeu a pesquisadora autorização

(APÊNDICE A) para a realização do estudo após aprovação por Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP). O projeto foi aprovado pelo CEP da Universidade Estadual do

Ceará (UECE), com Parecer favorável, em 25 de maio de 2012, sob protocolo Nº

26917 (ANEXO A).

Em campo, os sujeitos foram convidados a participar da pesquisa e

esclarecidos sobre os seus objetivos e Instrumento de Coleta de Dados (ICD)

(APÊNDICE B).

A garantia de plena liberdade em aceitar ou não o convite, bem como de

permanecer ou não no estudo, sem que isto lhes trouxesse qualquer prejuízo no

atendimento no serviço lhes foi assegurada, bem como o anonimato, de forma a lhes

preservar a identidade, sendo as informações prestadas codificadas e analisadas

em conjunto com a de outros participantes, e utilizadas exclusivamente para os fins

deste estudo.

Os pesquisados foram informados de que a participação no estudo não

acarretaria ônus financeiro ou qualquer remuneração e que os riscos deste seriam

mínimos, de forma que a pesquisadora estaria apta e atenta para solucioná-los.

Foi-lhes esclarecido de que todas as informações coletadas seriam

posteriormente disponibilizadas para a comunidade cientifica através de publicações

em periódicos indexados e apresentações em eventos científicos, após tratamento

metodológico dos dados.

___________________________________|48

Após as devidas informações e esclarecimentos as pessoas que

aceitaram livremente participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE C), respaldando o inicio da coleta dos

dados.

Coleta dos dados

Técnica de pesquisa e instrumento de coleta de dados

Nas últimas décadas, grande ênfase tem sido dada para incorporar os

valores e percepções do cliente acerca do seu estado de saúde, de forma que

diversos instrumentos têm sido desenvolvidos com esta finalidade (BRASIL;

FERRIANI; MACHADO, 2003). Segundo Morais (2004), os instrumentos de medição

em saúde têm sido largamente utilizados e considerados imprescindíveis para

atividades de pesquisa e estudos epidemiológicos, por oferecerem rapidez e

objetividade sobre os problemas investigados.

Nesta perspectiva, para atender aos objetivos e se obter os dados

referentes às variáveis eleitas e definidas para o presente estudo foi utilizada como

técnica de pesquisa a observação direta extensiva que se realizou apoiada em um

formulário como ICD (APÊNDICE B).

Este foi elaborado pela pesquisadora que se baseou na literatura

disponível sobre diabetes mellitus e em estudos de demais pesquisadores da área

para sua formulação (TAVARES, 2006; GUEDES, 2007; BAQUEDANO, 2008;

LANDIM, 2009; COELHO, 2011), bem como no questionário norte-americano

Diabetes Knowledge Questionnaire (DKQ-A) que avalia o grau de conhecimento do

paciente diabético sobre a doença.

O formulário foi estruturado com 73 itens que contemplavam variáveis

sociodemográficas; clínicas e relacionadas ao autocuidado no tratamento

farmacológico, não-farmacológico e em situações de complicações agudas;

antropométricas e laboratoriais bem como exame físico dos pés.

___________________________________|49

Procedimento de coleta dos dados

Em princípio, a pesquisadora realizou aproximação com o serviço de

saúde cenário do estudo e com os profissionais neste inseridos, de forma a

conhecer a dinâmica de trabalho presente e seu contexto, buscando suporte da

equipe multiprofissional envolvida na atenção aos clientes com diabetes mellitus.

Contudo, esta aproximação com o campo de estudo foi na realidade uma

re-aproximação tendo em vista a pesquisadora ter tido contato com este, bem como

com a sua equipe de enfermagem, durante o mês de novembro de 2008, período no

qual este serviço foi campo de estágio da mesma, então graduanda em Enfermagem

pela UECE, durante as atividades do Internato em Enfermagem da referida

instituição.

Após esta reinserção no campo de estudo, a pesquisadora procedeu à

etapa de abordagem aos pesquisados, dando início à coleta dos dados com a

aplicação do formulário (APÊNDICE B) que foi preenchido pela mesma e por outras

três enfermeiras colaboradoras devidamente treinadas para realizar a coleta.

Os usuários que estavam no corredor dos consultórios, aguardando para

a realização de exame ou consulta, foram abordados e questionados sobre a

morbidade que apresentavam (se eram portadores de DM2). O preenchimento do

formulário se deu conforme resposta declarada pelo pesquisado, tendo em vista

todos os dados serem autodeclaráveis, com exceção dos dados antropométricos e

exames físico e laboratorial.

A aferição do perímetro da cintura, circunferência abdominal e quadril

foram realizados conforme as orientações do MS (BRASIL, 2004), através de uma

fita métrica inelástica, particular da pesquisadora, no momento da entrevista.

Para a aferição da circunferência abdominal a fita métrica inelástica foi

posicionada na menor curvatura localizada entre as costelas e a crista ilíaca e para a

medição da circunferência do quadril posicionada na área de maior protuberância

glútea. Na ocasião do exame físico dos pés, as enfermeiras procederam ao exame

clínico criterioso de ambos os pés dos pesquisados.

De acordo com Gil (2010), alguns cuidados devem ser adotados ao se

proceder a coleta de dados com os sujeitos estudados dentre os quais: respeito pelo

entrevistado quanto a sua cultura e valores, bem como ao horário e local adequados

para realização da entrevista, devendo o entrevistador ser capaz de ouvi-lo

___________________________________|50

atentamente e criar um clima de confiança e respeito que estimule o fluxo natural da

entrevista.

Dessa forma, para equacionar o tempo de permanência dos pesquisados

no serviço, minimizando possíveis transtornos pessoais relacionados a este,

procurou-se, sempre que possível proceder à coleta dos dados antes da realização

do exame ou consulta ambulatorial, assegurando-se ambiente reservado para a

realização das entrevistas.

Os demais dados antropométricos e exames laboratoriais foram coletados

do prontuário dos pesquisados, em momento subsequente a entrevista. O acesso a

este documento foi solicitado ao SAME, utilizando-se para tanto o Termo de Fiel

Depositário (APÊNDICE D).

Estes dados costumam ser registrados pela enfermeira do serviço em

formulário padronizado após mensuração realizada em equipamentos da instituição,

calibrados pelo Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INMETRO), na ocasião da

última consulta de enfermagem. Observe-se que a data do registro destes dados

correspondia, em geral, à mesma da entrevista com o pesquisado.

O peso corporal e a altura são mensurados antes da consulta médica/de

enfermagem, conforme rotina do serviço e realizado por funcionárias devidamente

treinadas. O teste da glicemia capilar, bem como a medida da pressão arterial

sistólica e diastólica é realizado rotineiramente pela enfermeira durante a consulta

de enfermagem.

O IMC e a relação cintura/quadril (RCQ) dos pesquisados foram

calculados pela pesquisadora e o valor da hemoglobina glicosilada obtida mediante

consulta ao prontuário.

Período de coleta de dados

A coleta dos dados ocorreu ao longo de um período de três meses, que

se estendeu de julho a setembro de 2012, durante o horário de funcionamento do

serviço, de sete às dezessete horas em todos os dias úteis.

As variáveis do formulário relacionadas a dados presentes nos

prontuários dos pesquisados foram respectivamente preenchidas e coletadas

exclusivamente pela pesquisadora, à medida que a coleta de dados com os

___________________________________|51

pacientes era realizada. Para tanto, os prontuários eram solicitados em uma lista a

chefia do SAME.

Análise dos dados

Os dados foram a princípio organizados em um banco de dados no

programa Excel for Windows e posteriormente transportados para o software EPI-

INFO, onde foram processados.

Foram calculadas as frequências simples, percentual, percentual

acumulado, média, desvio padrão, mínimo e máximo das variáveis. Os dados foram

apresentados por meio de gráficos e tabelas onde foram dispostas as variáveis.

Os resultados foram discutidos a luz da literatura nacional e internacional

atualizada sobre Diabetes Mellitus e da Teoria dos Sistemas de Enfermagem Apoio-

Educação de Dorothea Orem.

___________________________________|52

Resultados - apresentação e discussão

___________________________________|53

Caracterização sociodemográfica da amostra

Os dados coletados na primeira parte do instrumento permitiram a

caracterização socioeconômica e demográfica dos 193 pesquisados e estão

dispostos na Tabela 1.

Os resultados se referem às variáveis sexo, estado civil, idade, religião,

escolaridade, renda familiar, número de pessoas no domicílio, ocupação e

procedência. Observa-se uma amostra predominantemente feminina 141 (73,1%),

casada 120 (62,2%), idosa 140 (72,5%), católica 154 (79,8%), com grau de instrução

de até oito anos de estudo 145 (75,1%), com baixa renda familiar 153 (79,3%),

aposentada/pensionista 129 (66,8%) e procedente da capital 161 (83,4%).

A amostra estudada não apresentou características socioeconômicas e

demográficas divergentes com as de outros estudos, de forma que os sujeitos desta

pesquisa apresentam características semelhantes às descritas por outras

investigações (MARTIN; RODRIGUES; CESARINO, 2011; ROCHA; ZANETTI;

SANTOS, 2009; OCHOA-VIGO et al., 2006).

___________________________________|54

Tabela 1. Dados sociodemográficos da amostra. Fortaleza – CE, 2012 (n=193)

VARIÁVEIS Frequência (f) Percentual (%) Percentual acumulado(%)

Média ± dp(‘)

Sexo

Feminino 141 73,1 73,1 -

Masculino 52 26,9 100,0 -

Estado civil

Casado 120 62,2 62,2 -

Não casado 73 37,8 100,0 - Idade (ano) < 50 10 5,2 5,2 50 ˫ 60 43 22,3 27,5

60 ˫ 70 78 40,4 67,9 64,3 ±9,8

70 ˫ 80 45 23,3 91,2 ≥ 80 17 8,8 100,0

Religião

Católica 154 79,8 79,8 -

Não católica 37 19,2 99,0 - Sem religião 2 1,0 100,0 -

Escolaridade

Analfabeto 21 10,9 10,9 - Ensino Fundamental 124 64,2 75,1 -

Ensino Médio 39 20,2 95,3 - Ensino Superior 9 4,7 100,0 -

Renda familiar (SM)

≤ 01 77 39,9 39,9 ˃ 01 e ≤ 03 76 39,4 79,3

˃ 03 e ≤ 05 21 10,9 90,2 2,7±2,9

˃ 05 e ≤ 10 14 7,2 97,4 ˃ 10 5 2,6 100,0

Nº de pessoas na família

01 14 7,3 7,3

02 a 03 89 46,1 53,4 3,7±2

04 a 05 70 36,3 89,7 ≥ 06 20 10,3 100,0

Ocupação Trabalha 39 20,2 20,2 - Desempregado 10 5,2 25,4 -

Aposentado/Pensionista 129 66,8 92,2 -

Do lar 15 7,8 100,0 - Procedência

Capital 161 83,4 83,4 -

Interior do estado 32 16,6 100,0 -

(‘) desvio padrão

Quanto à predominância do sexo feminino 141 (73,1%) na população

estudada se pode inferir que tal realidade se deva a múltiplos aspectos. Dentre estes

o fato de que, na conjuntura brasileira, este gênero é aquele que mais procura e

frequenta os serviços de saúde, seja em grande parte por sua maior disponibilidade,

necessidade ou por possuir uma visão mais ampliada sobre a importância de cuidar

da saúde (SAMPAIO, 2008; LOPES; OLIVEIRA, 2004).

___________________________________|55

Além disso, observa-se uma política de saúde mais voltada para esta

população, em que se assiste à mulher em todo seu ciclo vital. Acrescido a estes

aspectos está a realidade populacional do estado do Ceará em que 51,3% da

população é feminina (IBGE, 2010).

Resultado semelhante a esta investigação foi observado em outros

estudos com pacientes portadores de diabetes mellitus em que a amostra foi

predominantemente feminina. Martin, Rodrigues e Cesarino (2011) obtiveram

amostra predominantemente feminina (63,46%) em estudo realizado no Hospital

Universitário do noroeste paulista e Nunes et al. (2006) em Sergipe, onde 59% dos

pesquisados eram mulheres.

Ochoa-Vigo et al. (2006), Rocha, Zanetti e Santos (2009), assim como

Miyar-Otero et al. (2010) em estudos realizados na cidade de Ribeirão Preto,

observaram 71,3%; 72,7% e 64,5% da amostra feminina, respectivamente.

Neste estudo, pôde-se ainda observar uma maior receptividade por parte

das mulheres convidadas a participar da pesquisa. O que talvez se deva ao fato de

este gênero parecer sentir-se mais à vontade em verbalizar sobre seu adoecimento

e/ou sua condição de saúde, compartilhando sentimentos e práticas de autocuidado

em saúde.

Quanto ao estado civil dos entrevistados prevaleceram os casados 120

(62,2%). Segundo Otero, Zanneti e Teixeira (2007) e Pace, Nunes e Vigo (2003)

indivíduos portadores de DM que convivem com companheiro apresentam melhores

resultados no tratamento instituído, pois esse é a pessoa mais próxima ao paciente,

estando atento a variações no estado de saúde e identificando possíveis

complicações (LAURINDO et al., 2005).

A faixa etária dos entrevistados variou de 38 a 86 anos, com média de

64,3 ± 9,8 anos. Observa-se que 140 pesquisados (72,5%) possuíam idade superior

a 60 anos. Tal resultado corrobora com o de outros estudos com populações de

diabéticos a exemplo do descrito por Rocha, Zanetti e Santos (2009) que apresentou

56,4% da amostra com idade superior a 60 anos.

O DM2 acomete comumente indivíduos com mais de 40 anos de idade, de

forma que sua incidência aumenta proporcionalmente com o progredir da idade.

Desta forma, ante o atual cenário mundial de envelhecimento populacional com

aumento da expectativa de vida, estima-se o crescimento na quantidade de

___________________________________|56

indivíduos acometidos por esta condição crônica de saúde para as próximas

décadas (BOSI et al., 2009).

Ante a problemática de uma população idosa acometida por adoecimento

crônico como o DM, acrescentam-se as dificuldades e limitações inerentes a idade,

posto que o processo de envelhecimento além de acarretar alterações físicas,

psíquicas e sociais traz consigo uma diminuição gradual e progressiva da

capacidade funcional que pode de alguma forma, comprometer o desenvolvimento e

aprimoramento de habilidades para o autocuidado.

Conforme Rocha, Zanetti e Santos (2009) esta população frequentemente

apresenta déficits cognitivos, com alterações na memória, raciocínio lógico e juízo

crítico. Tal realidade não pode ser negligenciada em estratégias de educação em

saúde que vislumbrem o desenvolvimento de competências para o autocuidado em

pessoas com diabetes mellitus, sendo necessário repensar as abordagens

educativas e assistenciais a esta clientela.

O conceito de competência do indivíduo para o autocuidado é descrito por

Dorothea Orem como sendo a capacidade, desenvolvida pela própria pessoa, de

reconhecer/distinguir os fatores (componentes das suas demandas terapêuticas de

autocuidado) que devem ser controlados/gerenciados para regular o próprio

funcionamento/desenvolvimento a fim de decidir o que pode ou deve ser feito por

meio do desenvolvimento de medidas de autocuidado que atendam aos requisitos

de autocuidado que ora se apresentam (OREM, 1995).

A predominância de católicos 154 (79,8%) na amostra não foi surpresa,

pois mesmo sabendo que o Brasil é palco de uma diversidade cultural e religiosa,

herança da colonização, ocorre que neste país grande parte da população ainda é

predominantemente católica. Conforme o último censo demográfico (IBGE, 2010)

79,2% da população do município de Fortaleza é católica.

No que se refere à escolaridade dos entrevistados 124 (64,2%) cursaram

o ensino fundamental. Percebe-se que esta realidade se equipara à macro realidade

brasileira e dos demais países em desenvolvimento nos quais há uma precária

educação, sendo, portanto uma parcela considerável da população desprovida de

acesso à mesma ou quando muito de qualidade insatisfatória.

Nesta conjuntura, acrescente-se a difícil realidade socioeconômica

enfrentada até os dias atuais por grande parte das famílias brasileiras, que por

___________________________________|57

dificuldades financeiras os filhos são estimulados ou veem-se obrigados a

abandonar os estudos para colaborar no orçamento familiar (SAMPAIO, 2008).

Nesta perspectiva, as mulheres muitas vezes são as primeiras a

abandonar a educação formal, sendo desviadas para os afazeres domésticos. Esse

cenário da realidade educacional do Brasil é expresso pelo censo 2010 sobre

educação que demonstrou que 9,6% da população brasileira de 15 anos ou mais de

idade é analfabeta (BRASIL, 2012).

A maior taxa de analfabetismo nesta população específica encontra-se na

região nordeste, de forma que para o estado do Ceará este indicador é de 18,8%

(BRASIL, 2012).

A baixa escolaridade observada na amostra deste estudo corrobora com

outros onde se observa a predominância de níveis básicos de educação entre

pacientes diabéticos. Ochoa-Vigo et al. (2006) observaram 8,9% da amostra sem

escolaridade e 63% com um a quatro anos de estudo. Em estudo realizado na

Paraíba, Morais et al. (2009) obtiveram 18,0% da amostra de participantes sem

escolaridade e 50,0% com apenas quatro anos de estudo.

Entre os autores, há um consenso de que situações socioeconômicas

desta natureza são desfavoráveis e desencadeadoras de complicações crônicas

relacionadas ao diabetes mellitus, haja vista que ocorre uma eminente limitação

quanto ao acesso e compreensão das informações discutidas em estratégias

educativas para o autocuidado preventivo em DM (OCHOA-VIGO et al., 2006;

MARTIN; RODRIGUES; CESARINO, 2011).

Para Laurindo et al. (2005) a baixa escolaridade dificulta o processo de

ensino e aprendizagem. Dessa forma, indivíduos que tiveram acesso precário à

educação apresentam maior risco de desenvolver complicações.

No entanto, ressalta-se que tal condição pode até comprometer de

alguma forma as práticas de autocuidado dos entrevistados, mas não se constitui

fator determinante. A compreensão desta conjuntura justifica a necessidade de se

adequar as ações de educação em saúde desenvolvidas no sistema de enfermagem

de apoio-educação a pessoa portadora de DM, para que haja uma maior

compreensão por parte do grupo, atingindo resultados mais eficazes.

Em geral, observa-se que a baixa escolaridade apresenta estreita relação

com a renda familiar, estando ambos os indicadores presentes em países

caracterizados como subdesenvolvidos.

___________________________________|58

A renda familiar média dos entrevistados foi de 2,7 ± 2,9 salários mínimos

(SM). Constatou-se uma variação de elevada amplitude, que foi de menos de um a

22 SM. Contudo, ante esta discrepância, percebe-se que nesta amostra houve a

predominância de renda familiar considerada baixa haja vista que 153 (79,3%)

pesquisados possuem renda familiar de até três SM.

A baixa renda familiar entre indivíduos com DM também foi observada por

outros autores. Em pesquisa realizada por Rocha, Zanetti e Santos (2009) 72,7% da

amostra possuía renda familiar de até cinco SM, ao passo que Martin, Rodrigues e

Cesarino (2011) estudaram população em que 88,46% da amostra apresentava

renda familiar de no máximo dois SM.

Uma baixa renda familiar também pode representar fator limitante ao

adequado controle metabólico em indivíduos com DM, no que se refere a diversos

fatores. Entretanto, da mesma forma que a baixa escolaridade, não constitui fator

determinante. Mas há de se considerar a influência que exerce na adequação

alimentar de pessoas com DM, haja vista que esta agrega um custo elevado o que

dificulta a adesão à dieta prescrita, podendo contribuir para se negligenciar o

cuidado alimentar.

Por vezes o indivíduo portador de DM acredita, erroneamente, que a dieta

que deve seguir é pautada exclusivamente em alimentos rotulados como diet. Estes

por serem industrializados e embutirem tecnologia alimentar, agregam valor

econômico, aumentando o custo. Entretanto, há outras formas de se adquirir um

adequado controle metabólico através da dieta. O conhecimento dos grupos

alimentares e o papel dos carboidratos na elevação do índice glicêmico podem

contribuir de forma favorável neste controle.

Por meio da fundamentação teórico-conceitual do sistema de

enfermagem apoio-educação o enfermeiro é capaz de desenvolver estratégias

clínico-educativas com a pessoa diabética tornando-a apta a cuidar de si mesmo

ante situações adversas ao autocuidado como nestes casos de situações

socioeconômicas desfavoráveis.

Dos 193 entrevistados, 103 (53,4%) relataram residir em domicílio com no

máximo mais duas pessoas, de forma que a média do número de indivíduos na

residência que vive com a renda familiar foi 3,7 ± 2 pessoas.

Tal realidade revela-se favorável ao indivíduo portador de adoecimento

crônico ante a possibilidade de apoio familiar em especial à população estudada que

___________________________________|59

é de mulheres, idosas e portadoras de DM. O ambiente é um dos metaparadigmas

conceituados por Orem e representados pela família, cultura e comunidade. Por ser

um dos fatores condicionantes básicos externos o sistema familiar pode vir a

influenciar na capacidade e ação de autocuidado do indivíduo ou até mesmo na

quantidade/qualidade de autocuidado requerido (OREM, 1995).

Quanto à ocupação, observa-se que parte considerável da amostra foi

constituída por aposentados/pensionistas 129 (66,8%), fato também constatado em

estudos de Martin et al. (2012) em Ribeirão Preto onde 66,7% dos participantes

eram aposentados e Barbui e Cocco (2002) em Campinas em que 53,1% da

amostra era de aposentados.

No presente estudo, tal estatística tem estreita relação com a faixa etária

dos entrevistados, que são indivíduos predominantemente idosos 140 (72,5%).

Contudo, cinco destes (4%) que são aposentados, referiram exercer atividade

laboral para complementar a renda familiar.

Caracterização clínica da amostra

Os dados autodeclarados coletados na segunda parte do instrumento,

bem como aqueles obtidos no prontuário de cada entrevistado possibilitaram a

caracterização clínica da amostra e estão apresentados na Tabela 2.

Os resultados fazem menção às variáveis relacionadas a tempo de

diagnóstico do DM, tempo de tratamento no serviço de atenção secundária, número

de consultas no último ano, acompanhamento médico, comorbidades e

complicações.

Observou-se que parte predominante da amostra é diabética há mais de

dez anos 151 (78,2) e é acompanhada pelo serviço há no máximo dez anos 105

(54,4%). Compareceu ao serviço para realizar consulta com as diversas

especialidades médicas três a quatro vezes nos últimos doze meses anteriores a

coleta dos dados 103 (53,4%), sendo o atendimento pelo mesmo o único a que se

tem acesso parte significativa da amostra 173 (89,6%). Hipertensão arterial

sistêmica 172 (89,1%), sobrepeso/obesidade 158 (81,9%) e dislipidemia 145

(75,1%) foram as comorbidades mais presentes. Dentre as complicações

predominaram a macroangiopatia 49 (25,4%), nefropatia 45 (23,3%) e neuropatia 40

(20,7%).

___________________________________|60

A amostra estudada apresentou características clínicas semelhantes as

de outros estudos com populações de diabéticos em que houve elevada prevalência

de diabéticos hipertensos, obesos e dislipidêmicos com macroangiopatias,

nefropatia e neuropatia como complicações predominantes. Entretanto, os dados

relacionados ao tempo médio de doença dos participantes deste estudo e de

acompanhamento no serviço foram maiores do que o observado em outros estudos

analisados (MARTIN; RODRIGUES; CESARINO, 2011; ROCHA; ZANETTI;

SANTOS, 2009; OCHOA-VIGO et al., 2006).

Tabela 2. Dados clínicos e relacionados ao tratamento do diabetes mellitus da amostra.

Fortaleza – CE, 2012 (n=193)

(‘) desvio padrão

(‘‘) mais de uma resposta

VARIÁVEIS Frequência (f) Percentual (%) Percentual acumulado(%)

Média ± dp(‘)

Tempo de diagnóstico (anos) ≤ 5 10 5,2 5,2 ˃ 5 ≤ 10 32 16,6 21,8

˃10 ≤ 15 59 30,6 52,3 15,0±7,6

˃15 ≤ 20 44 22,8 75,1 ˃20 ≤ 25 33 17,1 92,2 ˃ 25 15 7,8 100,0

Tempo de acompanhamento (ano)

≤ 5 53 27,5 27,5 ˃ 5 ≤ 10 52 26,9 54,4

˃10 ≤ 15 49 25,4 79,8 9,7±6,1

˃15 ≤ 20 25 13,0 92,7 ≥ 20 14 7,3 100,0

Nº de consultas no último ano 1 consulta 18 9,3 9,3 2 consultas 35 18,1 27,4

3 consultas 58 30,1 57,5 3,4±1,5

4 consultas 45 23,3 80,8

5 consultas 21 10,9 91,7 ≥ 6 consultas 16 8,3 100,0

Acompanhamento médico

Rede pública (exclusivo) 173 89,6 89,6 -

Rede pública + Particular 4 2,1 91,7 -

Rede pública + Convênio 12 6,2 97,9 - Rede pública + Particular + Convênio 4 2,1 100,0 -

Comorbidades(‘‘)

HAS 172 89,1 - - Sobrepeso/obesidade 158 81,9 - - Dislipidemia 145 75,1 - -

Cardiopatia 31 16,1 - - AVE 18 9,3 - -

Complicações(‘‘)

Macroangiopatia 49 25,4 - - Nefropatia diabética 45 23,3 - - Neuropatia diabética 40 20,7 - -

Úlcera/pé diabético 35 18,1 - - Retinopatia diabética 31 16,1 - - Amputação por DM 16 8,3 - -

___________________________________|61

O tempo de diagnóstico do diabetes mellitus variou de dois a 46 anos, de

forma que o tempo médio foi de 15 ± 7,6 anos. Dos pesquisados, 151 (78,2%) são

portadores da doença há mais de dez anos.

Quanto ao tempo de acompanhamento no serviço de atenção secundária,

cenário do estudo, observou-se uma variação de dezoito meses a 26 anos, com

tempo médio de 9,7 ± 6,1 anos. A predominância foi de pacientes acompanhados há

no máximo dez anos 105 (54,4%) neste cenário assistencial.

Tais dados corroboram com o perfil de pacientes que se estima ser

atendidos em serviços de atenção secundária em diabetes mellitus: indivíduos que

sejam portadores da doença há certo tempo e que não atinjam adequado controle

metabólico em serviços primários de atenção à saúde sendo, portanto referenciados

para serviços especializados.

Constatou-se que cada um dos participantes deste estudo compareceu ao

serviço em média 3,4 ± 1,5 vezes nos últimos doze meses anteriores a coleta dos

dados para realizar consulta ambulatorial com as diversas especialidades médicas.

Estima-se que para se alcançar um adequado controle metabólico o

paciente deva realizar acompanhamento ambulatorial contínuo com enfermeiro e

endocrinologista. Reconhece-se que as frequências das consultas ambulatoriais

possuem estreita relação com a sua condição clínica, podendo a depender desta,

ser realizada a intervalos mais longos.

Contudo, para avaliar se a frequência com que os indivíduos deste estudo

comparecem ao serviço para realização de consulta ambulatorial atende

adequadamente as necessidades da clientela, alguns aspectos clínicos, abordados

nas próximas sessões (Tabela 3 e Tabela 4), devem ser levados em consideração.

Dentre os entrevistados, observa-se a prevalência do acompanhamento

do diabetes mellitus exclusivamente pela rede SUS 173 (89,6%). Dentre os vinte

pacientes que utilizam o acompanhamento da rede pública e privada de atendimento

a saúde dezesseis (8,3%) o faz por intermédio de plano de saúde.

Observa-se que dos 193 indivíduos que fizeram parte desta investigação

apenas oito (4,2%) relataram que recorrem a atendimento médico particular na rede

privada em associação ao realizado no serviço de atenção secundária do SUS,

cenário deste estudo. Infere-se que estes dados possuem estreita relação com as

condições socioeconômicas desta clientela, discutidas na sessão anterior (Tabela 1).

___________________________________|62

Dentre as comorbidades mais frequentes na amostra estudada,

destacam-se a HAS 172 (89,1%), o sobrepeso/obesidade 158 (81,9%) e a

dislipidemia 145 (75,1%). Apenas dois pacientes (1%) não apresentaram nenhuma

comorbidade associada ao DM.

A hipertensão arterial e o diabetes mellitus são condições clínicas que

frequentemente se associam, podendo ocorrer também de forma isolada. Contudo,

quando comparada à população geral, a HAS é cerca de duas vezes mais frequente

entre indivíduos diabéticos, podendo estar presente em cerca de 40% dos pacientes

portadores de DM2 no momento do seu diagnóstico (SBD, 2009).

Tal realidade pôde ser observada no presente estudo que constatou que

dos 193 pesquisados 172 (89,1%) eram portadores de HAS em associação ao DM.

Contudo, não foi possível especificar qual destes adoecimentos crônicos ocorreu

primeiramente.

Segundo Zagury e Zagury (2009), quando associada ao DM, a HAS

aumenta substancialmente o risco de acidente vascular encefálico (AVE),

retinopatia, nefropatia e doença coronariana (DC), acrescentando em 85% o risco de

doença cardiovascular (DCV) ao diabético.

Estas comorbidades são descritas como complicações micro e

macrovasculares da doença ou como lesões em órgão-alvo e podem vir a afetar o

paciente diabético independente à coexistência de HAS, contudo a ocorrência desta

aumenta a susceptibilidade.

No Brasil, as doenças cardiovasculares (DCVs) estão entre as principais

causas de morte. Pacientes portadores de DM2 por si só estão duas a quatro vezes

mais susceptíveis a estas quando comparados a indivíduos não diabéticos, de forma

que 75% das mortes nesta população específica são atribuídas a DCV sendo pelo

menos 50% delas por doença arterial coronariana (DAC) (SBD, 2009).

Conforme Zagury e Zagury (2009) é indiscutível que o DM de forma

isolada predisponha o paciente a um alto risco para eventos cardiovasculares,

contudo, quando esta comorbidade coexiste com a HAS, o risco de

macroangiopatias como o AVE e a DC dobram e a ocorrência de estágios

avançados de doença renal aumentam 5 a 6 vezes.

A ocorrência de eventos cardiovasculares importantes pôde ser

observada nesta investigação tendo em vista que dezoito (9,3%) dos pesquisados

tinham sofrido pelo menos um evento isquêmico cerebral (AVE), enquanto que 31

___________________________________|63

(16,1%) apresentavam cardiopatia dentre as quais DAC, já tendo sido acometido por

infarto agudo do miocárdio (IAM) ou se submetido à revascularização miocárdica.

Desta forma, o tratamento da HAS mostra-se particularmente importante

em pacientes diabéticos, tanto para prevenir a ocorrência de doença cardiovascular

quanto para minimizar a progressão da doença renal e retinopatia. As evidencias

indicam que níveis pressóricos mais baixos que os usuais precisam ser atingidos

para que se obtenha máxima proteção contra estas complicações (ZAGURY;

ZAGURY, 2009; SBD, 2009).

Nesta ótica, preconiza-se que níveis pressóricos inferiores a 130/80mmHg

devem ser almejados em todos os indivíduos portadores de DM, enquanto que em

pacientes com comprometimento renal estes níveis devem se aproximar de

120/75mmHg (SBD, 2009). Entretanto, para o alcance de tais metas pressóricas

nesta população específica exige-se a necessidade de uma terapêutica combinada

de anti-hipertensivos de diversas classes.

Na mesma perspectiva, níveis de pressão arterial acima de 120x70 mmHg

aumentam substancialmente o risco de complicações e a ocorrência de IAM, bem

como a taxa de mortalidade geral em diabéticos. Mais de 50% das DCVs poderiam

ser evitadas reduzindo-se os principais fatores de risco cardiovasculares dentre os

quais figuram a hipertensão arterial, o diabetes mellitus, a dislipidemia e o

sobrepeso/obesidade. Tais componentes quando associados configuram a

denominada síndrome metabólica (ZAGURY; ZAGURY, 2009).

Segundo SDB (2009), os portadores de DM2 apresentam frequentemente

uma série de fatores de risco para a ocorrência de doenças aterotrombóticas como a

doença vascular periférica (DVP), doença cerebrovascular e DAC, comorbidades

estas responsáveis por três em cada quatro mortes entre pessoas com DM2.

Contudo, a dislipidemia é provavelmente o fator de risco que exerce o

papel mais importante para doença cardiovascular em pacientes diabéticos, cuja

influência é maior que as demais (SDB, 2000; SBD 2009; ZAGURY; ZAGURY,

2009).

Conforme Zagury e Zagury (2009) a resistência à insulina está associada

a alterações no metabolismo glicídico e conduz a perfil lipídico caracterizado por

hipertrigliceridemia e diminuição do HDL, eventos que facilitam a deposição de

colesterol nos vasos.

___________________________________|64

Observa-se, que entre indivíduos diabéticos e não diabéticos, a

concentração média de LDL não apresenta diferenças quantitativas. Entretanto, do

ponto de vista qualitativo apresenta elevada aterogenicidade pela maior proporção

das partículas pequenas e densas de LDL (SBD, 2009).

Nos pacientes estudados, a dislipidemia esteve presente em parcela

significativa da amostra 145 (75,1%). Em 158 pesquisados (81,9%) observou-se a

presença de algum grau de sobrepeso ou obesidade, epidemiologia similar a

encontrada na literatura.

Segundo SBD (2009), a obesidade ou o excesso de peso está presente

em mais de 80% dos pacientes portadores de DM2, o que agrava a situação

metabólica, predispondo a dislipidemia e HAS. Nestes indivíduos o controle

adequado do peso corporal pode melhorar os níveis pressóricos, o perfil lipídico, a

sensibilidade insulínica e o controle glicêmico, reduzindo a mortalidade.

Observa-se, portanto que a hipertensão arterial sistêmica, a dislipidemia e

a obesidade são fenômenos importantes que colaboram para a morbimortalidade do

diabetes mellitus de forma isolada ou combinada, influenciando ainda nos níveis de

cada uma delas isoladamente.

No presente estudo considera-se a visível ocorrência da síndrome

metabólica dentre os entrevistados tendo em vista a prevalência destas três

comorbidades na amostra estudada associada ainda a ocorrência significativa de

eventos cardiovasculares.

Quanto à ocorrência de complicações relacionadas ao DM, constatou-se

que 64 pesquisados (33,2%) não as possuíam. Para Smeltzer e Bare (2011) as

complicações crônicas relacionadas ao DM estão se tornando cada vez mais

prevalentes, haja vista a sobrevida dos indivíduos acometidos ter aumentado e a

ocorrência de tais comprometimentos possuir estreita relação com o tempo de

diagnóstico da doença, sendo pouco comum ocorrerem nos primeiros cinco a dez

anos de diagnóstico.

Dentre os 129 (66,8%) indivíduos que apresentavam algum tipo de

complicação, observou-se que a macroangiopatia 49 (25,4%) foi a mais prevalente,

seguida de nefropatia 45 (23,3%), neuropatia 40 (20,7%) e pé diabético 35 (18,1%).

A macroangiopatia diabética ou doença macrovascular do diabético

corresponde à doença aterosclerótica que incide sobre as grandes artérias

___________________________________|65

cerebrais, coronárias e dos membros inferiores resultando em alterações nos vasos

sanguíneos de médio e grosso calibre (SBD, 2009).

Conforme Smeltzer e Bare (2011) a cardiopatia coronariana, doença

vascular cerebral e doença vascular periférica são as principais complicações

macrovasculares que ocorrem na população diabética, corroborando com a

magnitude das isquemias cerebrais e miocárdicas.

Isto decorre do fato de a aterosclerose no paciente diabético ocorre com

maior frequência quando comparada a população em geral, além de acontecer de

forma mais precoce e mais grave, de forma que o risco de estes indivíduos vir a

desenvolver doença cardiovascular equipara-se ao mesmo de uma pessoa não

diabética que já tenha tido um evento cardíaco (SBD, 2009).

Contudo, Smeltzer e Bare (2011) enfatizam que as complicações

cardiovasculares são ainda mais prevalentes entre os indivíduos idosos com DM2 e

do sexo masculino.

A doença microvascular diabética ou microangiopatia caracteriza-se por

espessamento da membrana basal capilar, sendo a retina e os rins as áreas

afetadas por esta alteração (SMELTZER; BARE, 2011).

A nefropatia diabética corresponde a principal causa de insuficiência renal

crônica. A microalbuminúria ou nefropatia incipiente representa o estágio inicial da

doença e se caracteriza pela presença de pequenas quantidades de albumina na

urina. No estágio mais avançado a nefropatia é denominada de macroalbuminúria,

proteinúria ou nefropatia clínica, podendo atingir de 5% a 20% dos pacientes

portadores de DM2 (SBD, 2009).

Smeltzer e Bare (2011) relatam que aproximadamente 20 a 30% das

pessoas com DM desenvolvem a doença. Contudo, observa-se que os pacientes

com DM2 a desenvolvem um pouco mais precocemente, dentro de dez anos de

diagnóstico, quando comparados aos com DM1 que apresentam os sinais iniciais de

doença renal depois de dez a quinze anos de doença.

A retinopatia diabética esteve presente em 31 (16,1%) dos 193 pacientes

que participaram deste estudo. Representa uma complicação tardia comum em

indivíduos diabéticos sendo encontrada em cerca de 97% dos pacientes insulino-

dependentes e em 80% dos não insulino-dependentes após quinze anos de doença

(SILVA et al., 2005).

___________________________________|66

Tal complicação é considerada a principal causa de cegueira em pessoas

na idade produtiva, sendo que pacientes com diagnóstico médico de DM1 tem maior

risco de vir a desenvolver a doença do que pacientes com DM2. Entretanto, o risco

de perda visual e cegueira são substancialmente reduzidos com a detecção precoce,

em que as alterações irreversíveis na retina ainda não estão presentes (SBD, 2009).

Com o progredir do diabetes mellitus, complicações neuropáticas e

vasculares importantes podem vir a ocorrer nos membros inferiores de pacientes

acometidos pela doença, corroborando de maneira isolada ou combinada para a

ocorrência de lesões e ulcerações.

A neuropatia diabética consiste na diminuição da sensibilidade térmica e

dolorosa como perda de um mecanismo de proteção contra lesões traumáticas e é

uma das formas mais frequentes de complicação do DM (BONA et al. 2010).

Em geral esta complicação está comumente relacionada com a

ocorrência de lesões e ulcerações nos membros inferiores, o que pôde ser

constatado no presente estudo, tendo em vista que quarenta pacientes

apresentavam diagnóstico de neuropatia diabética (20,7%) e 35 possuíam ulcera/pé

diabético (18,1%).

A neuropatia diabética está presente em 8 a 12% dos pacientes com DM2

no momento do diagnóstico e em 50 a 60% dos indivíduos após 20 a 25 anos de

doença. A princípio, as alterações neuropáticas afetam os pés progredindo

posteriormente em direção à perna (BOIKE; HALL, 2002).

Quanto a doença vascular periférica esta tem incidência quatro vezes

maior em indivíduos diabéticos em detrimento da população em geral, apresentando

estreita relação com o aumento gradual da idade e duração da doença. Este agravo

também se constitui em importante fator de risco para ulceração e amputação, pois

acarreta comprometimento da perfusão sanguínea dos membros inferiores (LEVIN,

2002).

Os dados relacionados à ulceração e amputação serão mais bem

descritos na última sessão reservada a discussão dos achados referentes aos

membros inferiores, na categoria denominada membros inferiores x ações de

autocuidado.

___________________________________|67

Caracterização antropométrica e laboratorial da amostra

Os dados antropométricos coletados na última parte do instrumento foram

relevantes para correlacionar à comorbidades como HAS e sobrepeso/obesidade,

observadas na amostra e discutidas na sessão anterior (Tabela 2). Estes dados

fazem menção às variáveis circunferência abdominal, RCQ, IMC e pressão arterial e

estão apresentados nas Tabelas 3.

Os dados relacionados a circunferência abdominal e RCQ estão

apresentados conforme os valores de referência para ambos os sexos. Os dados

relacionados ao IMC seguiram os mesmo critérios acrescidos da faixa etária

específica.

___________________________________|68

Tabela 3. Dados antropométricos da amostra. Fortaleza – CE, 2012 (n=193)

VARIÁVEIS Frequência (f) Percentual (%) Mínimo Máximo Média ± dp(‘)

Índice de massa corpórea (IMC) Faixa etária até 65 anos ≥ 18,6 < 25 (peso ideal) 15 14,9

≥ 25 < 30 (sobrepeso) 35 34,7 18,9 51,2 30,6±5,8

≥ 30 < 35 (obesidade grau I) 29 28,7 ≥ 35 < 40 (obesidade grau II) 15 14,9 ≥ 40 (obesidade grau III) 7 6,9

Sexo feminino (acima de 65 anos) < 22 (abaixo do peso) 3 4,1 ≥ 22 ≤ 27 (peso ideal) 20 27,0

˃ 27 ≤ 32 (sobrepeso) 29 39,2 19,0 43,5 29,5±5,0

˃ 32 ≤ 37 (obesidade grau I) 17 23,0 ˃ 37 < 42 (obesidade grau II) 0 0,0 ≥ 42 (obesidade grau III) 5 6,8

Sexo masculino (acima de 65 anos) < 22 (abaixo do peso) 0 0,0 ≥ 22 ≤ 27 (peso ideal) 7 38,9

˃ 27 ≤ 30 (sobrepeso) 6 33,3 23,1 33,7 28,1±2,8

˃ 30 ≤ 35 (obesidade grau I) 5 27,8

˃ 35 < 40 (obesidade grau II) 0 0,0 ≥ 40 (obesidade grau III) 0 0,0

Circunferência abdominal (cm) Sexo masculino

≤ 102 17 32,7 84,5 132,0 106,2±11,3

˃ 102 35 67,3

Sexo feminino

≤ 88 7 5,0 79,0 156,0 104,3±11,4

˃ 88 134 95,0

Razão cintura/quadril Sexo masculino

≤ 0,95 20 38,5 0,8 1,9 1,0±0,2

˃ 0,95 32 61,5

Sexo feminino

≤ 0,8 4 2,8 0,6 1,2 0,9±0,1

˃ 0,8 137 97,2

Pressão Arterial (mmHg) Pressão Arterial Sistólica < 120 (Ótima) 22 11,4 ≥ 120 < 130 (Normal) 26 13,5

≥ 130 < 140 (Limítrofe) 32 16,6 90 221 141,4±23,4

≥ 140 < 160 (Hipertensão estágio I) 67 34,7 ≥ 160 < 180 (Hipertensão estágio II) 0 0,0 ≥ 180 (Hipertensão estágio III) 46 23,8

Pressão Arterial Diastólica < 80 (Ótima) 39 20,2 ≥ 80 < 85 (Normal) 78 40,4

≥ 85 < 90 (Limítrofe) 3 1,6 60 130 83,4±10,9

≥ 90 < 100 (Hipertensão estágio I) 50 25,9 ≥ 100 < 110 (Hipertensão estágio II) 0 0,0 ≥ 110 (Hipertensão estágio III) 23 11,9

(‘) desvio padrão

O Índice de Massa Corporal (IMC) é um índice frequentemente utilizado

em estudos epidemiológicos como preditor de sobrepeso e obesidade. Segundo

___________________________________|69

a OMS, a tabela de IMC para idosos é diferente da tabela de IMC dos adultos. Isto

porque pós 65 anos de idade as pessoas costumam perder massa óssea, bem como

massa muscular e o corpo passa a acumular mais gordura (BRASIL, 2006).

Nesta perspectiva, foram calculados os valores de IMC de todos os

pesquisados pela fórmula padrão da razão entre peso (Kg) e altura (m2), tomando-se

como referência os valores específicos para sexo e faixa etária.

No que tange os indivíduos pertencentes à faixa etária de até 65 anos de

idade 101 (52,3%) foi observado um IMC médio bastante elevado (30,6 ± 5,8 Kg/m2),

sendo possível classifica-los em obesidade grau I 29 (28,7%) ou grau II 15 (14,9%).

Para esta mesma faixa etária, 86 pesquisados (85,1%) apresentam algum grau de

sobrepeso/obesidade.

A análise dos dados revelou que 92 (47,7%) pesquisados possuíam mais

de 65 anos e que destes 18 (9,4%) eram do sexo masculino e 74 (38,3%) do

feminino. Observa-se que o IMC médio dos pesquisados que têm 65 anos ou mais

apresentou variação quando relacionado ao sexo.

Nos pacientes do sexo masculino pertencente a esta faixa etária

específica o IMC médio foi de 28,1 ± 2,8 Kg/m2 o que demonstra que em média os

indivíduos deste grupo possuem algum grau de sobrepeso ou obesidade, o que

corresponde a 11 (61,1%).

Quando comparados com os dados observados para o sexo feminino da

mesma faixa etária se percebe um aumento do IMC médio que foi da ordem de 29,5

± 5 Kg/m2, mas que também continua a enquadrar parte prevalente do grupo na

classificação de sobrepeso/obesidade 51 (69,0%).

Vale ressaltar que apesar da precisão do IMC este apresenta algumas

limitações. Dentre as quais superestimar a gordura em pessoas com hipertrofia

muscular e subestimar a gordura corporal de pessoas que perderam massa

muscular, como no caso de idosos (SBD, 2009).

Nesta perspectiva, para o diagnóstico de sobrepeso e obesidade em

adultos se convencionou associar a este índice a avaliação de outros indicadores,

como a Circunferência Abdominal (CA), que tem sido apontada como a medida

antropométrica melhor correlacionada à quantidade de tecido adiposo visceral

(ZAGURY; ZAGURY, 2009).

É possível observar que a CA média dos entrevistados do sexo masculino

(106,2 ± 11,3 cm) e feminino (104,3 ± 11,4 cm) é bem superior aos valores limítrofes

___________________________________|70

preconizados para ambos os sexos de 102 cm para homens e 88 cm para mulheres

(DIRETRIZES, 2006).

A obesidade abdominal ou a obesidade andróide é definida pelo acúmulo

de tecido adiposo na região abdominal, demonstrando a obesidade central, e sendo

reconhecida como fator de risco para doenças cardiovasculares, diabetes mellitus e

síndrome metabólica (BRASIL, 2006).

No que diz respeito à distribuição de gordura, 137 (97,2%) das mulheres

apresentaram razão cintura quadril (RCQ) inadequada, e nos homens esta

prevalência foi de 32 (61,5%).

As recomendações pressóricas aos pacientes portadores de DM foram

discutidas anteriormente. Observou-se que a PAS média dos pesquisados foi de

141,4 ± 23,4 mmHg e a PAD 83,4 ± 10,9 mmHg, valores bem superiores aos

recomendados.

Por se tratar de pacientes de alto risco para eventos cardiovasculares, as

metas a serem atingidas em pessoas com DM devem ser de no máximo 130/80

mmHg. Estudos demonstraram não haver benefícios adicionais com redução da PA,

em diabéticos, inferiores a esses valores (DIRETRIZES, 2010).

Conforme SBD (2009) estudo aleatório mostrou que um incremento de

10mmHg na PAS em pessoas com DM2 pode elevar o risco de apresentar

enfermidade coronariana em até 2%.

Dos 193 pesquisados, apenas 48 (24,9%) apresentaram PAS e 39

(20,2%) PAD dentro dos níveis pressóricos preconizados. O que revela baixo

controle pressórico dos participantes deste estudo.

Os dados laboratoriais relacionados às variáveis glicemia capilar e

hemoglobina glicada, coletados na última parte do instrumento, possibilitaram o

conhecimento do perfil glicêmico dos pesquisados e estão dispostos na Tabela 4.

SBD (2009) define em 7% como valor limite da hemoglobina glicada em

diabéticos e preconiza que pessoas com DM que utilizam antidiabéticos orais devem

manter glicemia de jejum < 100mg/dl e pós-prandial < 140mg/dl.

Desta forma, para a apresentação dos dados relacionados a hemoglobina

glicada e glicemia capilar utilizou-se 7% e 140mg/dl como valor de referência,

respectivamente.

Este valor de referência para a glicemia capilar se justifica pelo fato de

que 161 (83,4%) indivíduos pesquisados fazem uso de algum antidiabético oral,

___________________________________|71

associado ou não a insulina e os demais 32 (16,6%) uso exclusivo de

insulinoterapia. Além disto, observou-se que a glicemia capilar registrada geralmente

fez menção a glicemia pós-prandial.

Todos estes dados foram obtidos por meio de pesquisa ao prontuário de

cada entrevistado. Buscaram-se os registros das três últimas glicemias capilares

realizadas no serviço, assim como o registro do primeiro e último resultado de

hemoglobina glicada.

Tabela 4. Dados laboratoriais da amostra. Fortaleza – CE, 2012 (n=193)

VARIÁVEIS Frequência (f) Percentual (%) Mínimo Máximo Média ± dp

Última glicemia (mg/dl)

≤ 140 59 30,6 60 435 201,7±86,7

˃ 140 134 69,4

Penúltima glicemia (mg/dl)

≤ 140 54 28,0 56 600 199,2±89,3

˃ 140 139 72,0

Antepenúltima glicemia (mg/dl)

≤140 53 27,5 59 580 214,5±101

˃140 140 72,5

Última HBA1C (%)

< 7 33 23,4 4,2 15,3 8,7±2,2

≥ 7 108 76,6

Primeira HBA1C (%)

< 7 34 24,8 4,7 16,6 8,5±2,1

≥ 7 103 75,2

Observou-se que quantidade significativa da amostra manteve níveis

glicêmicos bem acima de 140mg/dl nas três últimos resultados de medidas

registradas. Além disto, constatou-se que a glicemia média manteve-se elevada

nesta amostra em todos estes registros.

Entretanto, há de se considerar uma discreta redução nos valores da

glicemia média verificada da antepenúltima para a última. Mas esta não é capaz de

assegurar um adequado controle glicêmico dos pesquisados.

Ao contrário da glicemia de jejum que auxilia na análise do controle

glicêmico nas últimas horas, a hemoglobina glicada (HbA1c) atua como parâmetro

para avaliar o estado da glicemia nos últimos 3 meses.

A HbA1c é resultante de uma ligação entre uma molécula de glicose e

uma de hemoglobina que se dá por meio de uma reação não enzimática. Quanto

___________________________________|72

maior a exposição da hemoglobina a concentrações elevadas de glicose no sangue,

maior é a formação daquela. Como esta reação é irreversível, a hemoglobina glicada

permite identificar a concentração média de glicose no sangue durante períodos

longos de tempo, ignorando alterações de concentração episódicas (ZAGURY;

ZAGURY, 2009).

Como as hemácias tem uma vida de 120 dias, este é o tempo em que

cada uma fica exposta a glicose no sangue, fazendo com que a hemoglobina glicada

seja um espelho da glicemia média nos últimos 3 meses. Isto tem grande utilidade

na avaliação do nível de controle glicêmico e da eficácia do tratamento (BRASIL,

2006).

Entretanto, conforme SBD (2009) a controle glicêmico é melhor avaliado e

mais clinicamente fundamentado pela combinação dos resultados da

automonitorização domiciliar da glicemia e dos níveis de hemoglobina glicada, uma

vez que as informações que fornecem se complementam.

A Sociedade preconiza ainda que todos os pacientes com DM devem

medir rotineiramente, pelo menos duas vezes ao ano, a hemoglobina glicada para

documentar o grau de controle glicêmico. Contudo, pacientes que se submetem a

alterações do esquema terapêutico ou que não estejam atingindo os objetivos

recomendados com o tratamento vigente devem realizá-la a cada três meses.

Observou-se que dos 193 pesquisados apenas 137 (71,0%) possuíam

registro de hemoglobina glicada pregressa e que mesmo assim não correspondia a

realizada na ocasião de início do tratamento (baseline). Destes que tinham registro

parte predominante apresentava valores acima de 7%, com uma média de 8,5 ± 2,1.

O tratamento atual do DM define 7% como o limite superior recomendado,

acima do qual está indicado a revisão do esquema terapêutico proposto. Um nível

de hemoglobina glicada de 7% corresponde a uma glicemia média de 170mg/dl.

Níveis superiores a este estão associados a um risco progressivamente maior de

complicações crônicas (SBD, 2009).

Conforme, Pereira et al. (2004) e Rubin et al. (2006) altos níveis de

HbA1c, independente da duração da DM, estão diretamente associados à incidência

e progressão das complicações crônicas, além de propiciarem alterações funcionais

e anatômicas.

Níveis de HbA1c elevados são significativamente importantes ao se

considerar que a formação de tal molécula é irreversível. Nesta perspectiva, esta

___________________________________|73

passa tempo suficiente, em torno de 120 dias, circulando livremente por todo o

organismo predispondo diversas estruturas como vasos de grosso calibre,

periféricos e microvasos aos efeitos deletérios de uma glicemia elevada. A

importância clínica disto está nas manifestações micro e macrovasculares da

doença.

O último registro de hemoglobina glicada esteve presente no prontuário

de 141 (73,0%) dos entrevistados e revelou que destes apenas 33 (23,4%)

apresentaram valores de HbA1c inferior ao preconizado, com média de 8,7 ± 2,2.

Estes dados remetem a duas situações. Uma delas diz respeito a oferta

dos serviços de saúde para atender as recomendações de monitoramento da

HbA1c, útil para avaliar os efeitos do tratamento e necessidade de ajustes, dentre

outros aspectos.

Constatou-se que parte significativa dos entrevistados 52 (27%) não

possuía qualquer registro desta no prontuário de saúde, e quando presentes se

davam de modo extremamente irregular, muito longe da recomendação de duas

avaliações anuais.

Tal situação é extremamente preocupante tendo em vista que quando

elevados os níveis de HbA1c predispõem a risco de complicações da doença. Além

disto, este é um marcador importante para avaliar a conduta terapêutica e

necessidade de ajustá-la.

Entretanto, há de se considerar que em grande parte das vezes a

dosagem de HbA1c é solicitada, mas nem sempre é realizada. Esta realidade pôde

ser observada no prontuário de quantidade significativa dos entrevistados onde

havia outros exames laboratoriais anexados e o impresso relacionado ao resultado

da HbA1c estava em branco, com uma chamada para a falta de reagente.

Esta realidade remete a uma avaliação crítica do sistema de saúde que

ainda prioriza recursos humanos, materiais e financeiros a ações curativas em

detrimento das preventivas.

De fato, a dosagem de HbA1c tem um custo elevado. Entretanto,

compreende-se que este é superado ante a possibilidade de, em última instância,

reduzir os custos diretos e indiretos relacionados a tratamento, internações,

aposentadorias precoces e mortes prematuras de pessoas acometidas por

complicações micro e macrovasculares do DM.

___________________________________|74

Outra ponto a ser considerado diz respeito ao pobre controle metabólico

da amostra deste estudo. Tal fato justifica-se não apenas pela análise da HbA1c

mas também pelo perfil glicêmico das últimas glicemias capilares registradas. Estes

resultados sugerem um autocuidado ineficiente.

Contudo, compreende-se que para designa-lo como tal há a necessidade

de se avaliar outros aspectos como as ações de autocuidado relacionadas a

terapêutica não farmacológica e farmacológica, bem como aquelas referentes a

situações de complicações agudas e o autocuidado com os membros inferiores.

Nesta perspectiva, as sessões a seguir se destinam a apresentar e

discutir as ações de autocuidado dos indivíduos entrevistados numa perspectiva

mais ampla, bem como as implicações do cuidado clínico de enfermagem à pessoa

portadora de DM fundamentado no sistema de enfermagem apoio-educação

proposto por Orem.

Tratamento não-farmacológico do diabete mellitus x Ações de Autocuidado

O tratamento do diabetes mellitus objetiva a manutenção do controle

metabólico e possui suas bases em dois grandes eixos que juntos corroboram para

o adequado controle glicêmico, prevenindo à morbimortalidade da doença: a

terapêutica farmacológica e a não-farmacológica.

A terapêutica não-famacológica atua de forma complementar ao

tratamento farmacológico, porém não menos importante e tem seu foco de ação

sobre os principais fatores ambientais modificáveis que se relacionam às mudanças

no estilo de vida.

Estas mudanças incluem o abandono do tabagismo e da ingestão de

bebida alcoólica e a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis, bem como à

prática regular de exercício físico. O sinergismo destas ações possibilita um estilo de

vida mais saudável que associado à terapia farmacológica adequada possibilita o

alcance de resultados terapêuticos significativos.

A terapia nutricional, baseada na orientação e no estabelecimento de um

plano alimentar personalizado, associada a prática de exercício físico é considerada

terapia de primeira escolha para o controle do DM e contribuem para melhorar a

sensibilidade à insulina, diminuir os níveis plasmáticos de glicose, reduzir a

___________________________________|75

circunferência abdominal e a gordura visceral, melhorando o perfil lipídico e

reduzindo o risco cardiovascular (SBD, 2009).

O principal objetivo do tratamento do diabetes é controlar a glicemia. A

manutenção dos níveis glicêmicos dentro da normalidade, a médio e longo prazo,

evita o desenvolvimento de complicações micro e macrovasculares, objetivos

inalcançáveis sem um adequado plano alimentar.

Nesta perspectiva, bons hábitos alimentares são fundamentais para o

tratamento do DM. Conforme ADA (2009) a terapia nutricional desempenha papel

primordial na prevenção e no gerenciamento da doença, bem como na prevenção do

desenvolvimento de complicações, devendo ter como foco a individualização,

considerando os hábitos alimentares e socioculturais do individuo, assumindo

importância substancial no controle de peso corporal.

Em virtude de ser a educação alimentar um dos pontos fundamentais no

tratamento do DM buscou-se neste estudo investigar as práticas de autocuidado dos

pesquisados a esta relacionada. Os resultados estão apresentados a seguir no

Gráfico 1.

Refeição fora do domicílio

Orientado a modificar hábitos alimentares

Mudança nos hábitos alimentares

Orientado quanto substituição de

alimentos

13,0%

(f=25)

85,0% (f=164)

85,0%(f=164)

85,5%(f=165)

87,0%(f=168)

15,0% (f=29)

15,0%(f=29)

14,5%(f=28)

GRÁFICO 1: Frequência simples e percentual dos dados relacionados aos hábitos dietéticos dos pacientes com DM2 . Fortaleza-CE, 2012

Sim Nãon=193

O autocuidado é descrito por Dorothea Orem como uma necessidade

humana. No indivíduo com DM2 este corresponde a prática de atividades realizadas

pelo sujeito em beneficio próprio na perspectiva da promoção da propria saúde e

bem-estar.

Tais atividades são moduladas pelo cuidado clínico e educativo da

enfermagem que se utiliza do sistema de enfermagem apoio-educação descrito por

___________________________________|76

Orem como veículo para poporcionar orientação e apoio ao desenvolvimento

pessoal do indivíduo.

Observa-se que quantidade significativa dos participantes deste estudo

relataram que foram orientados a modificar os hábitos alimentares após o

diagnóstico de DM. Da mesma forma, número considerável referiu que houve

mudança no consumo alimentar diário.

Dentre as mudanças mais relatadas estão: o consumo reduzido de

macarrão, açucar e doces de uma meneira geral, bem como a substituição do leite

integral pelo desnatado e o abandono do consumo de alimentos regionais

gordurosos como a panelada e a feijoada.

Contudo, averiguou-se que parte significativa dos entrevistados revelou

insatisfação em ter que abolir ou pelo menos diminuir o consumo de massa e amido

de milho necessárias para fazer cuscuz e tapioca, respectivamente. Também

relataram a dificuldade de consumir a quantidade de arroz e feijão recomendada,

pois acham muito pouca a quantidade preconizada pela dieta.

Tais relatos possuem estreita relação com os hábitos culturais dos

sujeitos pesquisados tendo em vista que na região nordeste há a crença de que para

ser nutritiva a refeição precisa “pesar no estômago”. Além do mais, estes alimentos

são habitualmente consumidos como parte da refeição principal de grande parte do

povo nordestino, de forma que são hábitos culturalmente apreendidos.

Estes fatores ambientais, experiências de vida, hábitos culturais, crenças

e valores são descritos por Orem como fatores condicionantes básicos e dizem

respeito a fatores internos e externos dos indivíduos que podem de alguma forma vir

a influenciar suas ações de autocuidado.

Ao cuidar de pessoas com DM2 a enfermagem não pode negligenciar

fatores condicionantes básicos de natureza cultural haja vista que esta influencia

não apenas o modo de viver mas também o de comer.

Quanto ao local onde é realizada as refeições, 168 (87,0%) referiram ser

o domicílio o local preferencial. Quando questionados sobre quem prepara as

refeições na própria residência 107 (55,4%) entrevistados relataram que eles

mesmos são responsáveis enquanto que em 73 (37,8%) é algum outro familiar e em

13 (6,7%) a secretária.

___________________________________|77

Os dados sugerem que parte considerável da amostra possui

conhecimento sobre a necessidade de adequar a dieta a nova condição de saúde e

que tal realidade foi inserida nos hábitos alimentares cotidianos.

São hábitos que favorecem o desenvolvimento destas mudanças o fato

de fazer as refeições predominantemente no domicílio e de ser a própria pessoa

aquela que prepara os alimentos o que possibilita a realização de escolhas mais

saudáveis.

Nos últimos anos tem havido consideráveis modificações nas

recomendações nutricionais para indivíduos com DM. Com a melhor compreensão

do processo de absorção dos alimentos ingeridos demonstrou-se que os

carboidratos são os principais responsáveis pela elevação pós-prandial da glicemia

e que os outros nutrientes pouco ou quase nada interferem nesse processo

(ZAGURY; ZAGURY, 2009).

Este conhecimento fundamentou as bases da dieta por contagem de

carboidratos que veio a melhorar consideravelmente a vida da pessoa diabética. Isto

porque ela é uma das formas de alimentação das mais práticas que permite a

inclusão de mais alimentos, facilitando a socialização do indivíduo, aproximando-se

a hábitos de vida e alimentação da maioria das pessoas.

Entretanto, para beneficiar-se deste tipo de dieta a pessoa diabética

precisa ser treinada a avaliar a quantidade de carboidratos em gramas dos

alimentos que serão ingeridos e estimar a quantidade necessária de insulina de

ação rápida que deve ser aplicada para impedir a elevação exagerada da glicemia

(ZAGURY; ZAGURY, 2009).

A dieta por contagem de carboidratos pode parecer complicada e de difícil

manejo. Contudo ela possibilita um melhor controle glicêmico por contribuir para

uma menor variação de glicemia nos períodos pós-alimentares.

Segundo SBD (2006) estão entre as vantagens do uso da contagem de

carboidratos a maior liberdade de escolha dos alimentos e horários e a menor

possibilidade de ocorrência de hipoglicemia o que contribui para o bom controle

glicêmico.

Mesmo que a pessoa diabética opte por não aderir a dieta por contagem

de carboidratos, o indivíduo deve ser esclarecido desde o início do diagnóstico do

DM sobre a contribuição dada pelos carboidratos na elevação do índice glicêmico

pós-prandial.

___________________________________|78

Observa-se que pessoas com DM2 em geral tem aptidão e são capazes

de executar medidas de autocuidado terapêutico, mas necessitam de auxilio

profissional para fornecer-lhes informação e apoio suficientes.

Nesta ótica, a enfermagem por meio do sistema de enfermagem apoio-

educação assume papel desafiador ao orientar o indivíduo a otimizar seu controle

glicêmico pelo autogerenciamento da dieta em uma perspectiva favorável ao

controle da doença.

Dentre as orientações nutricionais imprescindíveis se destacam as

relacionadas aos grupos alimentares e o incremento destes no perfil glicêmico das

refeições. Estas recomendações são particularmente importantes em serviços que

não dispõem de nutricionista.

Conforme Zagury e Zagury (2009) a quantidade de carboidrato ingerida é

geralmente o maior determinante de resposta glicêmica pós-prandial. No entanto,

esta também pode ser afetada pelo tipo de carboidrato consumido. Outras variáveis

que podem interferir nesta resposta glicêmica são o tipo de amido, a forma de

preparo do alimento, o tempo de cozimento, o grau de processamento, o teor de

proteínas e gorduras da refeição.

Quando ingeridos, os carboidratos fazem o nível glicêmico se elevar

rapidamente, cerca de 15 minutos após o início da refeição, de forma que duas

horas após quase todos os carboidratos já estão convertidos em glicose. Desta

forma, o que hoje se preconiza é que o nível glicêmico sofre mais influência da

quantidade total de carboidratos consumidos em detrimento da qualidade, como se

imaginava anteriormente (ZAGURY; ZAGURY, 2009; SBD, 2006).

Quando questionados sobre qual grupo de alimentos “se transforma em

açúcar” no organismo após ingeridos 129 (66,8%) fizeram menção aos carboidratos.

Observou-se, contudo que uma quantidade maior de indivíduos pesquisados

respondeu adequadamente sobre quais eram os alimentos que faziam parte de tal

grupo 145 (75,1%).

Compreende-se que para um adequado controle glicêmico se tornam

imprescindíveis conhecimentos básicos sobre este grupo de alimentos o que inclui

reconhecer sua contribuição no incremento do teor glicêmico das refeições e suas

principais fontes como leite, mel, açúcar, geleia, frutas, cereais, tubérculos,

leguminosas e outros vegetais.

___________________________________|79

A pessoa portadora de DM2 precisa saber que o açúcar refinado não é o

único carboidrato que necessita de controle. Depois de ingeridos todos os

carboidratos serão metabolizados em glicose. Assim, porções extras de arroz, pão, e

fruta também aumentam a glicemia.

Dos pesquisados, 145 (75,1%) reconheceram ser fonte de carboidratos o

arroz, o macarrão, a farinha de mandioca, pães, torradas, biscoitos em geral, batata

inglesa, massa de milho e amido de milho. Os outros 48 (24,9%) relataram não

saber identificar quais são as principais fontes de carboidrato ou referiram

equivocadamente ser a carne vermelha, o ovo, o leite, a manteiga e o queijo.

Quando se relaciona estes dados com o conhecimento sobre o grupo de

alimentos que “se transformam em açúcar no organismo” observa-se que os

indivíduos apresentam maior conhecimento sobre quais são estes alimentos em

detrimento do discernimento sobre a qual grupo alimentar este pertence.

Verificou-se que de maneira informal os entrevistados revelaram relativo

desconhecimento sobre o papel desempenhado pelas frutas no incremento do perfil

glicêmico.

Em virtude da cultura de que “fruta sempre faz bem” muitos negligenciam

ou mesmo desconhecem que estas são fonte de carboidrato e como tal podem e

devem ser consumidas, não em demasia, no entanto, muitas pessoas esquecem-se

de que além de serem importantes fontes de vitaminas e minerais as frutas também

são fontes de outros nutrientes dentre os quais os carboidratos, de forma que o

consumo destas pode alterar desfavoravelmente a glicemia. A quantidade

consumida é a principal causa da elevação glicêmica em detrimento do tipo de fruta

(SBD, 2009) .

Os carboidratos devem representar 50 a 60% do valor calórico total da

dieta dos pacientes com DM, tendo em vista serem importantes fontes de energia.

Entretanto, preferência deve ser dada aos carboidratos complexos e ricos em fibra

como os alimentos integrais (ZAGURY; ZAGURY, 2009). Isto se deve ao fato de

serem os carboidratos complexos formados por cadeias mais complexas de

açucares, o que favorece uma digestão e absorção mais prolongada (SBD, 2009).

Esta especificidade do metabolismo deste grupo de alimento auxilia na

prevenção de hipoglicemia já que são digeridos mais lentamente pelo organismo,

liberando a glicose em pequenas doses. Quando ricos em fibra, promovem ainda

___________________________________|80

uma maior saciedade além de propiciarem a menor absorção de glicose pelo

organismo, pois melhoram a ação da insulina.

São exemplos de carboidratos complexos os cereais e derivados como

arroz, trigo, centeio, cevada, milho, aveia, farinhas, massas, pães, biscoitos,

macarrão; tubérculos como batata-doce, batata inglesa, inhame e mandioca; e

leguminosas como feijões, ervilha, lentilha, grão-de-bico e soja (SBD, 2006).

No que tange o consumo de frutas é fundamental que a enfermagem

oriente o consumo moderado de frutas hipercalóricas e bastante amadurecidas.

Estas, muitas vezes, são as maiores responsáveis por elevar os níveis glicêmicos

pós-prandiais. A orientação de preferir o consumo a fruta em detrimento do suco da

mesma também é válida.

Embora muito saudáveis, os sucos geralmente consomem as três porções

de frutas que o diabético tem direito durante todo o dia e são capazes de elevar

consideravelmente a glicemia como acontece com o suco da laranja. Além disto, na

fruta in natura as fibras estão preservadas e no suco são parcialmente trituradas.

O consumo de 20-35g de fibras ao dia sob a forma de hortaliças,

leguminosas, grãos integrais e frutas deve ser recomendado e encorajado, pois além

de serem essenciais a uma alimentação saudável auxiliam na menor absorção de

glicose e gordura pelo organismo produzindo efeitos benéficos sobre o controle

glicêmico e lipídico (SBD, 2009).

As fibras solúveis encontradas em frutas, hortaliças e leguminosas, são

de maior importância para o diabético, pois podem interferir no controle glicêmico,

retardando a absorção de glicose, reduzindo sua concentração no sangue e

aumentando a sensibilidade à insulina, além de provoca a sensação de saciedade

pois retardam o esvaziamento gástrico por meio de sua viscosidade (ZAGURY;

ZAGURY, 2009).

As recomendações dietéticas à pessoa com DM envolvem ainda um

plano alimentar fracionado de seis refeições diárias, sendo três destas principais

(SBD, 2009). O fracionamento da dieta é importante em diversos aspectos dentre os

quais manterem níveis glicêmicos estáveis e próximos à normalidade evitando picos

de hiper ou hipoglicemia e os desconfortos causados por estes.

Nesta perspectiva, os entrevistados foram questionados quanto ao hábito

de se fracionar a dieta. Os dados estão apresentados no Gráfico 2.

___________________________________|81

61,1% (f=118)

36,3%(f=70)

2,6% (f=5)

2 a 5 6 7 a 8

GRÁFICO 2: Frequência simples e percentual do número de refeiçãoes ao dia dos pacientes com DM2. Fortaleza-CE, 2012

n=193

Dos entrevistados, parcela significativa relatou realizar o fracionamento

adequado da dieta em seis refeições diárias. Os demais revelaram intervalos

maiores ou menores para o consumo alimentar o que predispõe a episódios de

hipoglicemia ou picos hiperglicêmicos sustentados, respectivamente.

O enfermeiro deve reforçar as vantagens do fracionamento alimentar e da

importância de se incluir na rotina diária a refeição noturna especialmente em

pacientes que façam uso de insulina, o que evita picos de hipoglicemia na

madrugada. Esta última refeição do dia deve ser leve e conforme SBD (2009)

composta preferencialmente por alimentos fonte de carboidratos complexos.

O reconhecimento dos grupos alimentares favorece o adequado

gerenciamento da dieta, pois viabiliza o paciente a fazer substituições dos alimentos

em cada refeição sem comprometer as necessidades nutricionais. A frequência

simples e percentual com que os pesquisados realizam substituição de alimentos do

mesmo grupo estão dispostos no Gráfico 3.

71,0% (f=137)

11,9%(f=23)

17,1%(f=33)

Sempre algumas Nunca

GRÁFICO 3: Frequência simples e percentual com que os pacientes com DM2 realizam substituição de alimentos do mesmo grupo. Fortaleza-CE, 2012

n=193

Dos pesquisados, 165 (85,5%) relataram ter sido orientados quanto a

substituição de alimento na rotina alimentar (Gráfico 1), contudo, observa-se que 33

___________________________________|82

(17,1%) não costumam realizá-la o que torna a dieta pouco prazerosa e difícil de ser

seguida por ficar demasiadamente rígida.

Ao investigarem os entraves ao adequado controle glicêmico Dalewitz,

Khan e Hershey (2000) observaram que os 77 participantes de um estudo realizado

com adultos norte-americanos não referiram dificuldade no uso e administração de

insulina, contudo, 32 (41,6%) demonstraram dificuldade em relação ao seguimento

da dieta.

Observa-se que em geral esta dificuldade está relacionada às privações

necessárias ao adequado controle metabólico e especialmente a rigidez das dietas

restritivas o que dificulta a adesão a esta, predispondo ao descontrole da doença.

Desta forma, é de primordial importância ações de educação em saúde

voltadas a substituição de alimentos, o que favorece a possibilidade da flexibilidade

alimentar que se relaciona diretamente ao autocuidado em saúde, pois permite ao

indivíduo a autonomia para fazer escolhas conscientes e saudáveis, desde que

capacitados para tal.

A capacidade de autocuidado é descrita por Orem como o conjunto de

habilidades adquiridas que são específicas para a realização do autocuidado, e que

se referem ao modo de cuidar do agente de autocuidado (FOSTER; BENNET,

2000).

Observa-se, portanto, que para o alcance do almejado controle

metabólico a pessoa portadora de DM (agente de autocuidado) deve adquirir

habilidades específicas que, dentre outras, se relacionam às adequações

alimentares necessárias na perspectiva de tornar-se capacitada para assumir ações

de autocuidado.

Entretanto para que a meta final de controle glicêmico e redução da

morbimortalidade seja atingida, faz-se necessário o incremento de outras ações

dentre as quais o combate ao sedentarismo. A prática regular de exercícios físicos é

indicada a todos os pacientes com DM, sendo a promoção desta considerada

prioritária (BRASIL, 2006).

Há de se considerar que independentemente de potencializarem a perda

ponderal a prática regular de exercício físico melhora substancialmente a qualidade

de vida dos indivíduos ante a ação das endorfinas, encorajando ainda a

socialização.

___________________________________|83

Além disso, melhora o controle glicêmico ao aumentar a sensibilidade dos

receptores periférico da insulina contribuindo para melhorar o metabolismo dos

carboidratos reduzindo assim os níveis plasmáticos de glicose e a hemoglobina

glicosilada bem como o risco cardiovascular, prevenindo o aparecimento da doença

em indivíduos com risco elevado (SBD, 2009).

Satorelli et al. (2004) consideram também outros benefícios como a

redução dos níveis pressóricos, da circunferência abdominal e da gordura visceral, o

que melhora o perfil metabólico, aumentando os níveis de colesterol de lipoproteína

de alta densidade (HDL-C) e reduzindo os níveis de colesterol de lipoproteína de

baixa densidade (LDL-C) e triglicerídeos.

Para a SBD (2009) há de se observar que os conceitos exercício e

atividade física possuem definições diferentes, sendo o primeiro uma atividade

planejada, estruturada e repetida para melhorar ou manter a performance física

como ocorre na prática de vários esportes, na caminhada, na corrida ou ao andar de

bicicleta. A prática de tais atividades promove alterações metabólicas e endócrinas

crônicas, distintas daquelas observadas em uma única sessão de exercícios. Em

contrapartida, atividade física refere-se ao movimento do corpo em atividades de

rotina.

Nesta perspectiva, percebe-se ser a prática regular e contínua de

exercício físico um importante indicador de autocuidado ante os efeitos benéficos e

contribuições para a meta de controle metabólico no indivíduo portador de DM.

Dos 193 participantes do estudo, apenas 114 (59,1%) referiram realizar

exercícios físicos. Contudo, parte significativa destes demonstrou realizá-los de

maneira irregular e não sistemática. Desta forma, os efeitos benéficos relacionados

a esta prática físicos ficam comprometidos.

Os fatores mais comumente associados a não realização foram

complicações do DM como amputações nos membros inferiores e outras

comorbidade osteo-articulares como artrite/artrose, condições de saúde que têm

prevalência aumentada com o progredir da idade.

Conforme SBD (2009) existem casos de contraindicação ou

recomendações específicas para a prática de exercícios em para pessoas

diabéticas. Estes incluem contraindicação de exercícios aeróbicos ou de resistência

de alta intensidade na presença de retinopatia proliferativa devido ao risco de

hemorragia vítrea ou descolamento da retina e a prática de atividades sem efeito da

___________________________________|84

gravidade nos casos de neuropatia com redução da sensibilidade em membros

inferiores.

Conforme discutido, a neuropatia, a retinopatia e a amputação estiveram

presentes em 40 (20,7%), 31 (16,1%) e 16 (8,3%) da amostra, respectivamente

(Tabela 2). Entretanto, a incidência destas comorbidades e de outras, como as

osteoarticulares, relatadas pelos participantes do estudo não justifica a não

realização de exercícios. Isto porque existem exercícios de baixo impacto que

podem ser realizados conforme indicação de cada caso específico.

Quanto ao tipo de exercício realizado os aeróbicos foram os mais

mencionados dentre os 114 (59,1%) pesquisados que referiram realizar exercícios.

A caminhada e a hidroginástica foram os mais relatados.

Conforme Church et al. (2010) a prática de exercícios aeróbicos como

caminhada, ciclismo, corrida, natação e dança é recomendada sendo contudo, a

prática regular de exercícios físicos de resistência de eficácia comprovada na

melhora do controle glicêmico no DM2, pois correspondem a movimentos que

utilizam a força muscular para movimentar um peso ou contra uma carga com

intensidade moderada com duração de 30 a 60 minutos por dia e frequência mínima

de três vezes por semana.

A redução dos níveis glicêmicos é possível mediante associação de

exercícios aeróbicos com estas características aos hábitos alimentares saudáveis e

administração correta da terapia medicamentosa. A análise acurada dos dados

deste estudo aponta que os pesquisados foram descuidados no que se refere a tal

prática, desempenhando um autocuidado considerado insatisfatório neste aspecto.

Esta realidade pôde ser considerada tendo em vista que todos os 193

(100%) participantes do estudo referiram que foram devidamente orientados sobre a

necessidade e importância de realizar exercícios físicos de forma regular. Isto

demonstra que a atitude de não praticar exercícios físicos não se deve a falta de

conhecimento.

Conforme Funnel e Anderson (2004) os programas educativos em DM

são importantes para desenvolver nos educandos conhecimento sobre a doença.

Entretanto, vale ressaltar que a aquisição de conhecimento não significa mudança

de comportamento o que torna tal prática complexa, pois além de orientar o

educador necessita desenvolver técnicas para transpor resistências e promover

mudanças no estilo de vida dos indivíduos.

___________________________________|85

A literatura evidencia os benefícios da terapia nutricional associada à

prática regular de exercícios físicos, mas também demonstra a insatisfatória adesão

a estes para que se obtenha o adequado controle da doença, constituindo-se em

desafio para os profissionais de saúde (BOULÉ et al., 2003; LOUREIRO, 2007).

Zagury e Zagury (2009) consideram ainda que a inatividade física

associada ao consumo de álcool e ao tabagismo relaciona-se à resistência insulínica

e ao aumento do estado trombótico.

Ao considerarem-se os efeitos maléficos do consumo de álcool e fumo à

pessoa portadora de DM foi questionado aos pesquisados o uso de tais sustâncias.

O Gráfico 4 contempla a frequência simples e percentual do consumo

destas pelos indivíduos investigados.

95,3%(f=184)

93,8%(f=181)

4,7% (f=9) 6,2% (f=12)

Alcool Fumo

Não Sim

GRÁFICO 4: Frequência simples e percentual do consumo de álcool e fumo dos pacientes com DM2. Fortaleza-CE, 2012

n=193

Observa-se que grande parte dos pesquisados negaram o hábito de

fumar e relataram não fazer uso de álcool. A análise de tais dados sugere uma

estatística satisfatória, tendo em vista que a quase totalidade dos pacientes

estudados não fazem uso de tabaco nem ingerem bebida alcoólica,

desconsiderando, contudo a utilização pregressa de tais substâncias em quantidade

e tempo não determinados pelo presente estudo.

Entretanto, Ahmed, Karter e Liu (2006) ponderam a interpretação de tais

relatos, em estudo realizado pelos pesquisadores na Califórnia sobre adesão ao

autocuidado em pessoas diabéticas observou-se que o consumo de álcool foi

relatado por 50,8% dos adultos pesquisados. Concluiu-se que o consumo de álcool

___________________________________|86

é um marcador de baixa adesão ao autocuidado em DM e que em geral há

subnotificação destes dados quando eles são autorrelatados.

Por serem dados autodeclarados torna-se inviável se certificar da

veracidade dos dados relacionados ao consumo de álcool bem como os que fazem

menção ao tabagismo. O que torna tal realidade um dos fatores limitantes deste

estudo.

Contudo, vale considerar o que Schaan, Harzheim e Gus (2004)

ponderam que é esperado encontrar menor quantidade de indivíduos fumantes

dentre os portadores de doenças crônicas como o DM, em virtude de grupos desta

natureza geralmente frequentar os serviços de saúde de forma mais regular em

detrimento daqueles não portadores de adoecimento crônico, sendo, portanto alvo

de diversas intervenções dentre as quais a suspensão do tabagismo. Tais

considerações também são válidas para o consumo de álcool.

Nesta mesma perspectiva Gamba et al. (2004) sugerem que o tabagismo

e da ingestão de bebida alcoólica são hábitos que podem ser modificados sob a

influência de programas de educação em saúde, e manifestados pela aquisição de

um comportamento positivo em pessoas com DM para mudanças essenciais nestes

fatores modificáveis.

Nesta perspectiva, cabe a pessoa portadora de DM2 enquanto agente de

autocuidado conscientizar-se dos efeitos maléficos do álcool e fumo que agravam

seu estado de saúde atendendo aos requisitos de autocuidado no desvio de saúde.

Enfatiza-se a importância e a necessidade de a enfermagem desenvolver

estratégias contínuas de cuidados clínicos e educativos para pacientes diabéticos

fundamentadas no autocuidado terapêutico que favoreçam o diálogo pautado nos

efeitos deletérios do uso de substâncias como o álcool e o tabaco no organismo do

portador de DM interferindo favoravelmente na adoção de um estilo de vida mais

saudável.

No que tange ao uso de álcool a pessoa diabética precisa ser informada e

estar ciente dos efeitos adversos potenciais, dentre os quais se destaca a

predisposição ao ganho de peso excessivo (a partir do elevado teor calórico), a

ocorrência de hiperglicemia (principalmente com licores e bebidas mistas) e

episódios de hipoglicemia. Este último representa o principal perigo a que está

sujeito o diabético, sobretudo aqueles que fazem uso de insulina. Isto porque o

___________________________________|87

álcool pode interferir na gliconeogênese, comprometendo a produção de glicose

(SMELTZER; BARE, 2011).

Conforme SBD (2009) o álcool, quando consumido, deve ser moderado e

de preferência com as refeições, sendo o limite diário de 10-20g de álcool/dia.

Contudo, pacientes com mau controle metabólico ou com hiperglicemia não devem

ingerir qualquer tipo de bebida alcoólica.

Segundo Smeltzer e Bare (2011) caso o indivíduo portador de DM

consuma álcool com o estomago vazio, existe uma probabilidade maior de que

ocorra hipoglicemia. Além disso, a ingestão excessiva de álcool pode comprometer a

capacidade de julgamento do paciente para reconhecer sinais de hipoglicemia e

tratá-la.

Se a pessoa com DM2 faz uso de sulfoniluréia de primeira geração

(clorpropamida) um efeito colateral potencial do consumo de álcool é uma reação do

tipo dissulfiram (Antabuse), que envolve rubor facial, calor, cefaleia, náusea, vômito

e sudorese ou sede logo após o consumo de álcool (SMELTZER; BARE, 2011).

Vieira Santos et al. (2008) enfatizam que o consumo de álcool deve ser

abolido pois além de alterar os níveis glicêmicos, também interferem no perfil

lipídico, aumentando principalmente os triglicerídeos e a fração de colesterol LDL

favorecendo o processo de aterosclerose.

O tabagismo potencializa as complicações do DM e aumenta a

morbimortalidade da doença em virtude das diferentes reações metabólicas que

produz reduzindo a sensibilidade à insulina, interferindo negativamente no perfil

lipídico, no metabolismo glicídico, nos marcadores inflamatórios e no endotélio.

Devido seus efeitos sob os vasos, constitui-se em fator independente de risco

cardiovascular, particularmente importante para a pessoa diabética que já possuem

este risco aumentado. Contudo, a resistência à insulina parece ser a principal

responsável pelo aumento deste (ZAGURY; ZAGURY, 2009).

Conforme os autores o desenvolvimento da síndrome metabólica e da

resistência insulínica relacionada ao tabagismo aumenta o risco cardiovascular que

já é elevado entre as pessoas portadoras de DM, correspondendo a 65% dos óbitos

dessa população e aumentando o risco de amputação e de AVE.

Em relação à doença microvascular o hábito de fumar piora a retinopatia

e aumenta a incidência de neuropatia em cerca de duas vezes mais nos diabético

fumantes (ZAGURY; ZAGURY, 2009).

___________________________________|88

Conforme Van Dam et al. (2002) o tabagismo aumenta a progressão da

micro para a macroalbuminúria de forma que este hábito deve ser abolido

especialmente por, dentre outros fatores, predispor em indivíduos com DM a

progressão da nefropatia.

De acordo com Zagury e Zagury (2009) induzir o diabético a abandonar o

fumo tem a mesma importância que o controle de perfil lipídico e da HAS. Observa-

se que diabéticos tabagistas apresentam pior controle glicêmico e menor sensação

de bem-estar em relação aos não fumantes e se beneficiam da interrupção do hábito

de fumar, em virtude da tendência à normalização do perfil lipídico e melhora à

resistência insulínica e pressão arterial.

Contudo, em estratégias de educação em saúde pautadas no

autocuidado terapêutico há de se considerar que os padrões de autocuidado dos

indivíduos são estabelecidos a partir de condutas repetidas em diversas

circunstâncias cotidianas e sofrem a influência dos sistemas de valores de ordem

particular e da rede social de apoio que compreende grupos sociais e participação

em eventos políticos, econômicos e sociais que caracterizam o estilo de vida

(LANDIM, 2009).

Estas considerações fazem refletir que o autocuidado relacionado a

terapêutica não-farmacológica é em geral de difícil manejo por parte considerável de

pessoas acometidas por diabetes mellitus porque envolve mudanças estruturais

significativas no estilo de vida das pessoas e estão atreladas a fatores

condicionantes básicos, sendo tal realidade expressa nos dados aqui analisados.

Tratamento farmacológico do diabete mellitus x Ações de Autocuidado

Para o alcance da meta de controle glicêmico se torna imprescindível que

o paciente compreenda a magnitude e cronicidade da doença, bem como a

necessidade e possibilidade de controle metabólico para prevenir os efeitos da

morbimortalidade do diabetes mellitus.

Ante o conhecimento destes aspectos se faz necessário que a pessoa

adote medidas de autocuidado terapêutico para o gerenciamento da doença que

possui característica crônica.

Uma perspectiva ampliada da prática de autocuidado em indivíduos

portadores de DM envolve o comprometimento da pessoa em responsabilizar-se

___________________________________|89

pelo desenvolvimento de ações que favoreçam um estilo de vida mais saudável o

que envolve a adoção de um padrão alimentar pautado no consumo adequado de

fibras, carboidratos, proteínas e gorduras, bem como a prática regular de atividade

física.

Contudo, apesar de ser necessária e inquestionável a importância da

terapêutica não-medicamentosa, em algum momento do tratamento será necessário

a utilização de agentes antidiabéticos, com o objetivo de controlar a glicemia e

promover a queda da hemoglobina glicosilada (BRASIL, 2006).

Desta forma, ante esta nova necessidade a pessoa portadora de DM

deverá ampliar suas ações de autocuidado para o gerenciamento da doença, o que

envolve a administração dos fármacos da forma correta e em horários pré-

estabelecidos, conforme orientação médica, para que estes tenham a ação

esperada. Cabe a enfermagem esclarecer as eventuais dúvidas do indivíduo e

capacita-lo como agente de autocuidado.

Dos participantes do estudo, apenas 25 (13%) referiram que o

monitoramento da medicação (oral ou injetável) é realizado por algum familiar, os

outros 168 (87,0%) as autoadministram.

Entretanto, os entrevistados foram questionados se eventualmente

deixam de fazer uso da medicação por esquecimento ou propositalmente por se

sentirem melhor ou pior. A frequência simples e percentual dos motivos da não

administração da medicação foram reunidas e apresentadas no Gráfico 5.

55,4% (f=107)

76,7% (f=148)

40,4% (f=78)

20,7% (f=40)

4,10% (f=8) 2,60% (f=5)

esquecer de tomar deixar de tomar (iniciativa própria)

nunca as vezes sempre

GRÁFICO 5: Frequência simples e percentual dos motivos da não administração da medicação nos pacientes com DM2. Fortaleza-CE, 2012

n=193

___________________________________|90

Pelos dados apresentados percebe-se que os sujeitos pesquisados

assumem o papel de agentes promotores de autocuidado ao se evidenciar que parte

significativa destes se responsabilizam pela administração da própria medicação.

Entretanto, fica evidente que na amostra estudada a irregularidade na

administração da medicação está mais relacionada ao esquecimento em detrimento

de deixar de tomá-la por iniciativa própria, seja pela ilusão de não estar sentindo

qualquer desconforto que justifique fazer uso da medicação ou por estar se sentindo

mal.

A regularidade no uso da medicação é essencial para que a terapêutica

farmacológica atinja a meta glicêmica a que se propõe e a pessoa portadora de DM

precisa estar ciente disto. Desta forma, é imprescindível tomar ou administrar

diariamente os antidiabéticos orais e a insulina, respectivamente, nos horários pré-

estabelecidos e na dosagem apropriada.

A inserção da insulinoterapia como terapêutica combinada com uso de

antidiabéticos orais pode ser necessária em alguma fase do tratamento do DM de

modo a favorecer uma melhor e mais adequada disponibilidade de insulina ao

paciente, que continua se beneficiando das ações dos antidiabéticos orais (SBD,

2009).Observou-se que 98 (50,8%) fazem uso de terapêutica combinada, enquanto

que o uso exclusivo de antidiabéticos orais é realizado por 63 (32,6%) pesquisados

e insulina por 32 (16,6%).

Foi constatado que grande parte dos pacientes que fazem uso exclusivo

de antidiabéticos orais 63 (32,6%) utiliza a combinação de mais de uma classe de

fármaco, de forma que a combinação de sulfoniluréia e biguanida é a mais utilizada

34 (17,6%). Dos que utilizam a insulina como terapia exclusiva 32 (16,6%), a

combinação de insulina humana regular e insulina humana HPH (Neutral Protamine

de Hagedorn) foi a mais encontrada 20 (10,4%).

A terapêutica combinada mais receitada foi a associação de biguanida

com insulina regular e insulina HPH para 35 (18,1%) dos 193 pesquisados.

A necessidade de incremento da terapêutica combinada pode ser

necessária em virtude de diversos aspectos, dentre os quais a baixa aderência ao

esquema terapêutico proposto inicialmente com negligência do paciente na

administração da medicação ou em virtude da progressão da doença.

A natureza crônica e progressiva do DM imprime por vezes a necessidade

de se aumentar a dose das medicações ou acrescentar outras no curso da doença,

___________________________________|91

para que se possa alcançar o máximo de eficácia através da combinação de

agentes com diferentes mecanismos de ação. De acordo com SBD (2009) a melhor

terapia dependerá da capacidade secretória do pâncreas de cada paciente.

Nesta perspectiva, o perfil da terapêutica farmacológica das pessoas

portadoras de DM2 participantes deste estudo, com associação de fármacos de

diversas classes, corrobora com o esperado para o perfil da clientela que é atendida

em centros especializados de referência a pessoas com DM2.

Do ponto de vista clinico a combinação de insulinoterapia com o uso de

antidiabéticos orais se baseia na obtenção de um melhor e mais adequado controle

glicêmico, menor ganho de peso, redução das doses de insulina administradas e

menor incidência de hipoglicemias. Além disto, associa-se ao fato de ter a

terapêutica combinada uma melhor receptividade por parte do paciente ao uso da

insulina tendo em vista a ocorrência de barreiras a uma introdução precoce da

insulinoterapia em pacientes com DM2 (SBD, 2009).

Para a SBD (2009) os agentes antidiabéticos orais são substâncias que

têm a finalidade de baixar a glicemia e mantê-la em nível inferior a 100mg/dl no

jejum e 140mg/dl pós-prandial, podendo ser subdivididos de acordo com o seu

mecanismo de ação.

As biguanidas têm sua ação na redução da gliconeogênese hepática,

melhorando ainda a ação da insulina na célula ao aumentar a sensibilidade dos

tecidos periféricos a esta, sem interferir na sua produção. Desta forma, não leva à

hipoglicemia. É especialmente indicado para diabéticos com excesso de peso, pois

além de não promover o incremento do peso corporal tende a reduzir dois a três

quilos, durante os primeiros seis meses de tratamento (BRASIL, 2006).

Dentre estes e outros benefícios as biguanidas, mais representadas pela

metformina comercializada também com o nome de glifage, têm se mostrado uma

classe de fármacos segura a longo prazo, sendo geralmente a medicação de

escolha para a maioria dos portadores de DM2. Contudo, como toda medicação,

apresenta contraindicações relacionadas principalmente a pacientes nefropatas e

hepatopatas, bem como portadores de insuficiência cardíaca e pulmonar (BRASIL,

2006; SBD, 2009).

As sulfoniluréias reduzem a glicose no sangue através do incremento à

secreção pancreática de insulina, atuando predominantemente na redução da

glicemia pós-prandial. Por isto, estes medicamentos podem vir a causar hipoglicemia

___________________________________|92

se tomados em doses elevadas ou se o paciente não se alimentar após utilizá-las.

Além disso, podem favorecer o ganho de peso em torno de 2Kg que pode ser

minimizado quando são combinadas a outros antidiabéticos orais como acarbose e

biguanidas (ZAGURY; ZAGURY, 2009).

Dentre outras, são representadas pela glibenclamida, gliclazida

(diamicron MR) e glimepirida e podem complementar a metformina no controle

glicêmico. Da mesma forma que as biguanidas, as sulfoniluréias são contra

indicadas à pacientes com comprometimento da função renal e hepática (SBD,

2009).

A acarbose (aglucose/glucobay) retarda a absorção de carboidratos, de

forma que seu principal efeito, como as sulfoniluréias, ocorre sobre a glicemia pós-

prandial. Contudo, por não provocar hiperinsulinemia não causa hipoglicemia como

aquelas (BRASIL, 2006).

É uma classe de antidiabéticos orais segura para idosos e particularmente

útil em pacientes diabéticos que permanecem com hiperglicemia moderada apesar

da terapêutica não-farmacológica instituída (dieta + exercícios físicos). Pode ser

frequentemente utilizada como monoterapia, logo após o diagnóstico de DM ou de

forma combinada com sulfoniluréias ou biguanidas (ZAGURY; ZAGURY, 2009).

Com a progressão do DM observa-se a necessidade de se associar

diversas classes de fármacos e mesmo assim por vezes o controle glicêmico se

mantém insatisfatório. Desta forma, a medida que a hiperglicemia se mantêm

sustentada e a hemoglobina glicosilada elevada se torna imprescindível a

insulinização do paciente.

Deste modo, Zagury e Zagury (2009) ressaltam que é imprescindível

pessoas com DM2 em uso de insulina seguir as recomendações dietéticas e um

programa de exercícios físicos, pois o não cumprimento destas pode reduzir os

efeitos e benefícios da insulina e conduzir a um círculo vicioso com progressivo

aumento das doses da medicação, sem contudo os almejados resultados no

controle glicêmico.

O mercado hoje dispõe de diversos tipos de insulina que variam, dentre

outras classificações, em seu tempo de ação podendo ser de ação rápida,

ultrarrápida, intermediária e prolongada (SMELTZER; BARE, 2011). No Brasil, as

mais difundidas e utilizadas são a de ação rápida (insulina regular) e a de ação

intermediária (NPH), especialmente por terem seu fornecimento gratuito pelo SUS.

___________________________________|93

A insulina regular possui aspecto cristalino e por ser uma solução, não

precisa ser agitada antes da administração. Pode ser aplicada por via subcutânea ou

endovenosa e só pode ser misturada a insulina NPH (ZAGURY; ZAGURY, 2009).

Inicia sua ação aproximadamente trinta minutos após sua aplicação, com

pico de ação duas a três horas após, durando somente seis a sete horas. Por sua

ação rápida, além de ser utilizada como agente complementar do tratamento com

outras insulinas de ação intermediária é também útil para o controle glicêmico em

situações de emergências (SBD, 2009).

Em virtude do seu pico de ação a insulina regular tende a fazer

hipoglicemia caso a pessoa diabética não se alimente após a administração usual da

medicação. Este é um dos conhecimentos básicos que o indivíduo precisa ter ante a

utilização desta, de forma que cabe a enfermagem fornecer as informações

adequadas e servir de suporte para eventuais questionamentos e dúvidas.

A insulina NPH, por se tratar de uma suspensão possui aspecto leitoso,

devendo o frasco ser agitado antes da utilização para que se consiga a

homogeneização. Deve ser administrada exclusivamente pela via subcutânea,

podendo ser misturada a insulina regular (ZAGURY; ZAGURY, 2009).

O início de ação da insulina NPH ocorre duas a três horas após a

administração e dura em torno de treze a dezesseis horas, sendo seu pico de cinco

a seis horas. Em virtude disto ela se destina ao controle diário do diabético (SBD,

2009).

Devido ao seu pico de ação, os pacientes que fazem uso de insulina NPH

no período noturno devem ser orientados a fazer uma refeição leve ao deitar,

prevenindo assim eventos hipoglicêmicos.

No Gráfico 6 estão dispostas a frequência simples e percentual dos

pesquisados que fazem uso de insulina e do responsável pela administração.

32,6% (f=63)

46,1% (f=89)

21,2% (f=41)

67,4% (f=130)

Não Usa Insulina Adminstra Não Adminstra

GRÁFICO 6: Frequência simples e percentual dos pacientes com DM2 que fazem uso de insulina e do responsável por administra-la. Fortaleza-CE, 2012

Segurança 44,5%Insegurança 1,6%

n=193

___________________________________|94

Como observado, dos 193 pacientes que fizeram parte do estudo 130

(67,4%) fazem uso de insulinoterapia. Destes, parte predominante 89 (46,1%)

realiza a autoadministração da insulina e 85 (44,5%) relataram ter segurança no

modo de conservação, preparo e administração.

Quando iniciam o tratamento com insulina os pacientes devem receber

orientações sobre diversos aspectos para que sejam capazes de gerenciar seu

autocuidado. Em geral, a enfermagem assume este papel na perspectiva de orientar

o paciente a desenvolver sua autonomia.

A Teoria de Orem tem como premissa básica a crença de que o ser

humano possui habilidades inatas para cuidar de si mesmo podendo vir a beneficiar-

se da assistência de enfermagem quando apresentar limitações decorrentes de

condições de saúde (OREM, 1995).

A falta de conhecimento prévio sobre insulinoterapia se constitui fator

limitante a pessoa com DM2. Entretanto, ao proporcionar uma assistência

fundamentada na perspectiva do autocuidado através do método de ensino e

orientação a enfermagem pode auxiliar a pessoa a transpor esta condição,

estimulando o indivíduo a participar do cuidado com a própria saúde,

despaternalizando a assistência de enfermagem.

Fazem parte das orientações indispensáveis a insulinoterapia o

armazenamento, preparo, administração e descarte adequados da insulina e dos

insumos necessários (seringa e agulha).

Segundo SBD (2009) a utilização de insulina exógena requer aprendizado

de vários aspectos, pois sua ação está diretamente relacionada a fatores que

envolvem desde sua armazenagem até a aplicação efetiva. Desta forma, o

desenvolvimento de habilidades especifica deverá ser o foco principal do enfermeiro.

De acordo com as recomendações do fabricante, os frascos fechados de

insulina devem ser armazenados em geladeira (2º a 8ºC), fora de embalagem

térmica, na gaveta dos legumes ou na primeira prateleira mais próxima desta. A

porta da geladeira não é uma opção adequada, devido a maior variação de

temperatura e mobilidade do frasco a cada abertura (SMELTZER; BARE, 2011).

Após aberto, o frasco pode ser mantido sob refrigeração (2º a 8ºC) ou em

temperatura ambiente, entre 15º e 30ºC. Em ambas as condições o produto pode

ser utilizado no período máximo de 30 dias. Quanto ao preparo, quando

___________________________________|95

acondicionado sob refrigeração, o frasco de insulina deve ser retirado 10 a 20

minutos antes da aplicação para garantir melhor conforto, pois insulina gelada causa

dor após aplicação, além de produzir irritação no sítio de aplicação (SBD, 2009).

A insulina NPH deve ser previamente homogeneizada rolando o frasco

com movimentos interpalmares suaves, com cuidado para não agitar o frasco

vigorosamente. Logo após, procede-se a desinfecção da borracha do frasco de

insulina com algodão embebido em álcool 70% (SMELTZER; BARE, 2011).

Deve-se introduzir no frasco a mesma quantidade de ar que a prescrita de

insulina antes de aspirá-la, o que impede a formação de vácuo, facilita a aspiração e

promove a retirada correta da dose. Sem retirar a agulha, posicionar o frasco de

cabeça para baixo e puxar o embolo até a dose prescrita. Se houver presença de

bolhas de ar é possível eliminá-las golpeando-as com as pontas dos dedos

(SMELTZER; BARE, 2011; SBD, 2009).

Contudo, a pessoa portadora de DM deve ser esclarecida de que a

presença de pequenas bolhas de ar na seringa não são perigosas à saúde se

injetadas, mas sua presença reduz a quantidade de insulina a ser administrada.

A aplicação da insulina deve ser realizada no tecido subcutâneo sendo as

regiões mais recomentadas o abdome (região lateral direita e esquerda distantes

quatro a seis centímetros da cicatriz umbilical), face posterior dos braços, face

anterior e lateral das coxas e quadrante superior lateral externo da região glútea. A

cada região atribui-se uma velocidade de absorção, sendo esta maior no abdome,

seguido de braço, coxas e região glútea (SMELTZER; BARE, 2011).

Para aplicação, deve-se fazer uma prega cutânea antes de introduzir a

agulha e soltá-la antes de injetar a insulina. O ângulo de aplicação deve ser de 90º

quando utilizado o tamanho adequado de agulha que deverá ser avaliado conforme

o IMC do paciente. A aspiração após introdução da agulha é desnecessária quando

se utiliza equipamento adequado (SBD, 2009).

Como observado, dos 130 entrevistados que fazem uso de insulina (89)

68,5% administram a própria insulina. Tal realidade gera autonomia para o indivíduo

e para a família, evitando que a medicação deixe de ser administrada no horário pré-

estabelecido caso uma terceira pessoa que aplique não esteja presente.

Outro ponto a ser analisado é que dos 89 participantes que administram a

própria insulina 85 (95,5%) relatam segurança quanto ao armazenamento, preparo,

administração e descarte do frasco de insulina, agulha e seringa.

___________________________________|96

Entretanto, observou-se pelos relatos que por vezes estes referiram

desconhecer algumas ações. Dentre estas a contraindicação de deixar a insulina na

porta da geladeira, a indicação de se injetar ar no frasco antes de aspirar a insulina e

a velocidade de absorção dos locais de aplicação.

Outras ações desconhecidas dizem respeito a possibilidade de reutilizar a

seringa e agulha, preparar insulina regular e NPH na mesma seringa e administrá-la

em conjunto e aplicar a medicação apenas no tecido subcutâneo em um ângulo de

90º.

O hábito de fazer o rodízio dos locais de aplicação foi o mais relatado. O

rodízio sistemático dos locais de aplicação é de extrema importância, uma vez que

possibilita a manutenção da flexibilidade da pele, favorecendo a absorção uniforme

da insulina e a prevenção de complicações tais como a lipodistrofia (BRASIL, 2006).

Há de se considerar os entraves econômicos relacionados a obtenção de

seringas e agulhas por parte de diabéticos insulinodependentes. No que tange a

reutilização de seringas e agulhas esta é terminantemente proibida em nível hospital

público ou privado, entretanto, nenhuma legislação vigente cita esta prática em nível

domiciliar (SBD, 2009).

Em situações de extrema necessidade a reutilização pode ser feita se

seguida algumas recomendações e critérios dentre os quais a técnica asséptica que

deve ser rigorosamente observada. A seringa deve ser reencapada após o uso, sem

lavá-la em água corrente ou passar álcool e o acondicionamento deve ser feito em

local limpo e seco. É indicado aspirar pequena quantidade de ar para evitar a

obstrução da agulha (SBD, 2009).

Quanto ao descarte de seringas e agulhas a nível domiciliar não existe

normatização governamental a respeito (SBD, 2009). O usuário deve ser encorajado

a encontrar soluções para minimizar os riscos de contaminação e acidentes o que

inclui envolver a agulha com fita adesiva e realizar o descarte em recipiente rígido e

tampado. Todos estes cuidados necessários com a terapêutica farmacológica são

imprescindíveis para que o paciente venha não só a alcança a meta glicêmica, mas

adquirir qualidade de vida.

Observou-se que os indivíduos entrevistados acreditam ter conhecimento

suficiente e desempenharem adequadas práticas de autocuidado relacionado à

terapêutica farmacológica. Contudo averiguou-se que estas não são totalmente

satisfatórias e merecem ser amplamente discutidas, numa abordagem conjunta e

___________________________________|97

participativa para que sejam desmitificadas e aprimoradas na busca de um cuidado

mais autônomo, vivendo mais saudável.

Complicações agudas do diabete mellitus x Ações de Autocuidado

A monitorização da glicemia capilar da pessoa com DM2 faz parte do

grupo de medidas fundamentais para o sucesso do tratamento. Conforme Zagury e

Zagury (2009) a ADA e a SBD consideram a monitorização elemento fundamental

no acompanhamento clínico do DM, podendo ser realizada por diferentes técnicas e

recursos. Entretanto, as mais utilizadas na prática clínica são a monitorização pela

HbA1c e a automonitorização da glicemia capilar.

Esta última deve fazer parte de todo plano de tratamento para pessoas

com DM, façam elas uso de insulina, de hipoglicemiante oral ou apenas adotem

medidas para alteração do estilo de vida. A frequência dependerá não apenas do

tipo de tratamento (não medicamentoso ou medicamentoso, seja ele combinado ou

não), mas, também de eventuais intercorrências que interfiram na variação glicêmica

(ZAGURY; ZAGURY, 2009).

Segundo Brasil (2006) a frequência do monitoramento depende do grau

de controle da doença, do tratamento farmacológico instituído e de situações

específicas. Pacientes em uso apenas de insulina ou durante intercorrências clínicas

devem realizar medidas frequentes da glicose capilar, pelo menos antes das

refeições principais e ao deitar.

No Gráfico 7 estão dispostos a frequência simples e percentual da

frequência com que os pesquisados realizam a automonitorização da glicemia

capilar.

17,6% (f=34)

23,3% (f=45)

59,1% (f=114)

Sempre As vezes Nunca

GRÁFICO 7: Frequência simples e percentual da frequência de automonitorização da glicemia capilar dos pacientes com DM2 .Fortaleza-CE, 2012

n=193

___________________________________|98

Quando questionados sobre a frequência com que realizam a

automonitorização pela glicemia capilar apenas 34 (17,6%) relatam que sempre a

realizam. Entretanto, destes somente 23 pesquisados a fazem no mínimo uma vez

ao dia. Os outros onze realizam a monitorização glicêmica semanalmente.

Os horários mais importantes para a automonitorização são jejum, duas

horas após a primeira alimentação do dia, antes do almoço, duas horas após o

almoço, antes do jantar, duas horas após o jantar e ao deitar. Entretanto, quando os

níveis glicêmicos são estáveis e a doença está controlada a monitorização glicêmica

pode ser realizada apenas uma a duas vezes ao dia, em horários variados (SBD,

2009).

Contudo, como observado na Tabela 4 não há estabilidade nos níveis

glicêmicos de parte significativa dos pesquisados o que não justifica a

automonitorização semanal.

Há de se considerar que a principal desvantagem do método da

automonitorização pela glicemia capilar ainda é o custo de fitas e aparelhos que se

constitui barreira para grande parte das pessoas portadoras da doença, uma vez

que nem todas têm poder aquisitivo para comprar estes insumos e que nem todos

os serviços têm como disponibilizar estes recursos para o uso domiciliar.

Esta realidade pôde ser observada neste estudo haja vista que dentre os

entrevistados apenas 98 (50,8%) relataram possuir glicosímetro. Entretanto, grande

parte destes revelou que o custo das fitas inviabilizava a regularidade da

monitorização.

Desta forma, quando não fica inutilizado pela falta de fitas, o glicosímetro

costuma ser utilizado apenas em situações de urgência para avaliar ocorrência de

hipo ou hiperglicemia. Tal realidade é evidenciada quando se observa que apesar de

98 (50,8%) pesquisados possuírem glicosímetro, apenas 34 (17,6%) realizam a

automonitorização da glicemia capilar no mínimo uma vez por semana.

Vale ressaltar que esta frequência está longe de ser a preconizada. Esta

é uma situação social importante à qual está submetida parcela significativa de

pessoas acometidas por esta condição crônica, não devendo ser desconsiderada

pelos profissionais.

Trata-se, portanto de um fator condicionante básico relacionado à

disponibilidade e adequação de recursos necessários ao desempenho adequado

___________________________________|99

das ações de autocuidado, vindo a influenciar na capacidade do indivíduo para

desempenhá-lo.

A frequência simples e percentual do local onde os pesquisados realizam

a monitorização da glicemia capilar estão apresentadas no Gráfico 8.

39,9% (f=77)

1,0% (f=2)

58,5% (f=113)

0,5% (f=1)

Domicílio UBS Consultório Farmácia

GRÁFICO 8: Frequência simples e percentual do local onde os pacientes com DM2 realizam a monitorização da glicemia capilar. Fortaleza-CE, 2012

n=193

Quando questionados sobre em qual local costumam realizar a

monitorização glicêmica 113 (58,5%) relataram que esta só é realizada no momento

da consulta ambulatorial de rotina, o que representa um hiato na avaliação

adequada do controle glicêmico, haja vista que as consultas ocorrem em geral

trimestralmente.

Conforme Zagury e Zagury (2009) a monitorização pela glicemia capilar

possibilita um perfil de variação glicêmica diária o que facilita ajustes terapêuticos

mais individualizados e, consequentemente, mais eficazes.

Nesta perspectiva, a monitorização da glicemia capilar em ocasiões

pontuais, como as que acontecem apenas em consultas ambulatoriais, não favorece

ao paciente o acompanhamento adequado.

Através de uma prática educativa voltada ao autocuidado em saúde a

enfermagem deve encorajar as pessoas com DM2 sob seus cuidados a monitorar a

glicemia capilar. Quando não for viável desenvolver esta atividade de cuidado com a

própria saúde em um ambiente doméstico os serviços de apoio, como unidades

básicas de saúde, devem ser utilizados.

Um dos maiores benefícios da monitorização pela glicemia capilar é a

rapidez dos resultados e a portabilidade dos aparelhos o que torna este recurso

bastante prático para diagnosticar e corrigir eventuais intercorrências que levem a

hipo ou hiperglicemia.

___________________________________|100

Define hipoglicemia como sendo a glicemia plasmática <45mg/dl.

Entretanto, os sinais e sintomas podem estar presentes em níveis glicêmicos um

pouco mais elevados. Desta forma a suspeita diagnóstica pode ser conclusiva caso

os sinais e sintomas sugestivos de hipoglicemia revertam após a administração de

glicose, independente do nível glicêmico no soro ou plasma (SBD, 2009).

Trata-se da complicação aguda mais frequente do tratamento do DM e

pode ter inúmeras causas. Entretanto, é comumente observada em pessoas que

fazem uso de insulina ou hipoglicemiantes orais.

Conforme Zagury e Zagury (2009) o tratamento intensivo do DM aumenta

em três vezes a possibilidade de episódios hipoglicêmicos. Os autores asseguram

que cerca de 10 a 25% das pessoas diabéticas apresentam, pelo menos, um

episódio de hipoglicemia grave por ano e em média dois sintomáticos por semana.

Nesta perspectiva, a hipoglicemia se configura como um risco inerente ao

tratamento e vêm ficando cada vez mais frequente haja vista a necessidade de se

intensificar as doses para que se obtenham níveis glicêmicos mais próximos da

normalidade.

Entretanto, existem evidências consideráveis de que os riscos associados

à hipoglicemia são absolutamente superados pelos benefícios do controle intensivo

na prevenção das complicações microvasculares. Nesta perspectiva, todo diabético

deve ser estimulado a controlar a glicemia da melhor maneira possível (ZAGURY;

ZAGURY, 2009).

Diante desta realidade torna-se de fundamental importância que o

indivíduo e família sejam devidamente treinados para identificar e tratar episódios de

hipoglicemia.

Trata-se de ações de autocuidado simples, mas indispensáveis à

sobrevida do paciente, pois tão importante quanto evitar níveis glicêmicos elevados

é não permitir que atinjam picos reduzidos, pois a falta de glicose interfere nas

funções cerebrais, já que o cérebro é dependente de glicose como fonte de energia.

Nesta ótica, buscou-se averiguar o conhecimento sobre hipoglicemia da

amostra do estudo. Os dados foram agrupados e apresentados no Gráfico 9.

___________________________________|101

Significado Causa Sinais Tratamento

Não Sabe 20,7% 19,7% 10,9% 11,4%

Errado 1,0% 51,3% 57,0% 68,9%

Certo 78,2% 29,0% 32,1% 19,7%

GRÁFICO 9: Frequência simples e percentual do conhecimento relacionado a hipoglicemia dos pacientes com DM2. Fortaleza-CE, 2012

n=193

Observa-se que 151 (78,2%) pesquisados referiram ser a hipoglicemia a

quantidade reduzida de glicose disponível na corrente sanguínea. Entretanto,

apenas 56 (29,0%) souberam identificar corretamente os principais motivos que

levam a um episódio hipoglicêmico.

Erro na dosagem de insulina e supressão de refeições são as principais

causas associadas a episódios hipoglicêmicos em diabéticos. Quantidades

excessivas de insulina podem ser administradas acidentalmente por pessoas com

déficit de conhecimento da técnica de preparo ou por aquelas com déficits visuais.

Soares et al. (2010) relatam em seu estudo sobre cuidado e autocuidado

de idosos insulinodependentes que um dos entrevistados costumava administrar

equivocadamente uma seringa inteira de insulina NPH, o equivalente a 1ml, por

acreditar que a mesma correspondia a dose de 10UI da prescrição médica. O

resultado desta ação é que inevitavelmente os familiares costumavam encontrar o

idoso desacordado.

Desta forma, um dos cuidados indispensáveis que a enfermagem deve ter

é de orientar adequadamente a pessoa diabética quanto à técnica de aspiração da

insulina e as apresentações de seringas disponíveis no mercado, haja vista as

diferenças de graduação que podem interferir substancialmente na dose

administrada.

O cuidado clínico e educativo permanente fundamentado no sistema de

enfermagem apoio-educação mostra-se indispensável para suprir as demandas

terapêuticas de autocuidado do indivíduo portador de DM2 insulinodependente.

___________________________________|102

Ante o risco de superdosagem, pessoas com déficit visual ou idosos, por

limitações na acuidade visual próprias da idade, devem ter esta atividade de

autocuidado supervisionada por uma terceira pessoa devidamente treinada.

Além disto, segundo Zagury e Zagury (2009) os idosos merecem maiores

cuidados, principalmente os que apresentam alguma disfunção hepática ou renal, já

que estas prolongam a atividade hipoglicemiante de drogas como as sulfoniluréias.

A ingestão de quantidade insuficiente de alimentos ou omissão de uma

refeição está entre as causas mais frequentes de hipoglicemia, principalmente em

pessoas tratadas com insulina.

É imprescindível que pessoas diabéticas sejam orientadas a fracionar a

dieta de forma a garantir a ingestão de alimentos a cada três horas, prevenindo

episódios hipoglicêmicos. Michels et al. (2010) enfatizam ainda a importância de se

adequar a necessidade energética às atividades diárias e à prática de exercícios

físicos.

A prática não programada de exercícios físicos também é um evento que

pode predispor a picos de hipoglicemia. Conforme McMahon et al. (2007) exercícios

físicos devem ser preferencialmente programados de forma a se evitar a aplicação

de insulina em áreas próximas aos músculos que serão utilizados durante o

exercício. Isto porque o aumento do fluxo sanguíneo na musculatura exercitada

pode aumentar a absorção da insulina e favorecer a hipoglicemia.

Além disto, os autores ponderam que exercícios físicos aumentam a

capacitação da glicose pelos músculos esqueléticos, de forma que nas 36 horas

subsequentes a sensibilidade à insulina aumenta expressivamente mantendo-se a

captação de glicose. Desta forma, episódios hipoglicêmicos podem vir a ocorrer

várias horas após o exercício. Para reduzi-los a dose de insulina deve ser ajustada

ou uma cota extra de carboidratos ingerida.

Os quadros de hipoglicemia manifestam-se de diferentes formas a

depender de cada pessoa e se modificam com o passar do tempo (ZAGURY;

ZAGURY, 2009). Para isto o indivíduo deve ter conhecimento dos sinais e sintomas

clássicos e se tornar apto a identificar os efeitos da hipoglicemia no próprio

organismo.

Dos entrevistados, apenas 62 (32,1%) reconheceram os sinais e sintomas

clássicos de hipoglicemia (fraqueza, transpiração e visão turva).

___________________________________|103

As manifestações da hipoglicemia ocorrem em consequência da resposta

do sistema nervoso autônomo e do baixo metabolismo dos neurônios, podendo ser

classificadas clinicamente de acordo com a gravidade e o grau de comprometimento

do sistema nervoso central e correspondem ao aprofundamento do

comprometimento cerebral à medida que os níveis glicêmicos diminuem na corrente

sanguínea (ZAGURY; ZAGURY, 2009).

Em hipoglicemias leves predominam os sintomas adrenérgicos como

tremor, sudorese, palidez cutânea, taquicardia, sensação de fome, náuseas e

vômitos, que em geral manifestam-se previamente aos sintomas neuroglicopênicos

como cefaleia, turvação visual, tontura, fraqueza e parestesia, que caracterizam

estados clínicos moderados (NERY, 2008).

Conforme a autora sintomas de torpor, coma e convulsão caracterizam

estados hipoglicêmicos graves em que o nível de consciência do indivíduo fica

comprometido.

Segundo Zagury e Zagury (2009) não há estudos bem controlados que

demonstrem quais valores de glicemia estariam associados a sequelas, mas é

prudente que o tratamento seja instituído o mais precocemente possível evitando a

progressão do quadro.

Quando questionados sobre quais ações de autocuidado o diabético deve

realizar na ocorrência desta complicação aguda do DM apenas 38 (19,7%)

pesquisados responderam corretamente que deve-se ingerir imediatamente algum

alimento açucarado (fonte de carboidrato) além de suspender a próxima dose de

insulina/hipoglicemiante oral e ficar em repouso.

Em quadros hipoglicêmicos de leve a moderado que o nível de

consciência se mantêm preservado a pessoa diabética deve ser orientada a ingerir

algum alimento rico em carboidrato, dando preferência a carboidratos simples.

Devido sua estrutura química estes são facilmente digeridos e absorvidos, elevando

a glicose rapidamente. Estão presentes nos doces em geral: mel, rapadura, balas,

refrigerante (MACHADO et al., 2012).

De acordo com a ADA (2012), em situações de hipoglicemia, devem ser

ofertados alimentos que contenham de 15 a 20 gramas de carboidrato de rápida

absorção, tais como: suco de laranja, suco de uva, glicose gel, torta doce, balas de

goma, tabletes de mel ou refrigerante.

___________________________________|104

As manifestações hiperglicêmicas também possuem importância clínica e

o indivíduo diabético deve ser capaz de reconhecê-las. Desta forma, buscou-se

averiguar o conhecimento dos participantes deste estudo sobre tal aspecto. Os

dados foram agrupados e apresentados no Gráfico 10.

Significado Causa Sinais Tratamento

Não Sabe 35,2% 17,6% 23,8% 23,3%

Errado 0,5% 65,3% 46,6% 54,9%

Certo 64,2% 17,1% 29,5% 21,8%

GRÁFICO 10: Frequência simples e percentual do conhecimento relacionado a hiperglicemia dos pacientes com DM2. Fortaleza-CE, 2012

n=193

Dos pesquisados, apenas 124 (64,2%) soberam reconhecer corretamente

que o termo hiperglicemia se relaciona a níveis elevados de glicose na corrente

sanguínea.

As crises hiperglicêmicas agudas mais graves na pessoa diabética são a

cetoacidose diabética e o estado hiperglicêmico hiperosmolar cujos critérios

diagnósticos configuram-se por desequilíbrio acidobásico e glicemia ˃ 250mg/dl e ˃

600mg/dl, respectivamente (SBD, 2009).

Quantidade ainda menor de entrevistados 33 (17,1%) soube identificar os

principais motivos que levam a um pico hiperglicêmico. Dentre os quais se destacam

o não seguimento das orientações farmacológica com supressão das medicações ou

administração de subdoses e transgressão alimentar. Além de ocorrência de

infecções cujas etiologias mais comuns estão as que acometem o trato urinário e

respiratório.

Quando questionados sobre os sinais e sintomas de hiperglicemias

apenas 56 (29,5%) pesquisados souberam identificar e 42 (21,8%) referiram o teste

da glicemia capilar e a administração de insulina de ação rápida como ações a

serem desempenhadas, além de procurar ajuda médica.

___________________________________|105

Conforme Brasil (2006) as crises hiperglicêmicas agudas são quadros

clínicos de evolução lenta e progressiva dos sinais e sintomas de diabetes

descompensada que incluem sonolência, torpor, poliúria, polidipsia, hipotonia

muscular dentre outros.

Quando instituído tratamento precoce a adequado os quadros

hiperglicêmicos podem ser revertidos mais facilmente, não evoluído para casos

graves de acidose, choque e morte.

O sistema de enfermagem apoio-educação se faz necessário no cuidado

clínico e educativo de enfermagem a pessoa com DM2 na perspectiva do manejo em

situações de hipoglicemia e hiperglicemia enquanto complicações agudas.

Cabe a enfermagem como profissão facilitadora fornecer informações e

apoio suficientes para que o indivíduo (agente de autocuidado) seja capaz de

desempenhar ações de autocuidado reconhecendo as causas, sinais/sintomas e

desenvolvendo ações necessárias para que se reverta situações deste tipo de forma

a minimizar possíveis danos a sua saúde.

Membros inferiores x Ações de Autocuidado

O impacto epidemiológico e social do diabetes mellitus se relaciona

essencialmente com suas complicações, dentre as quais aquelas que acometem os

membros inferiores. Nesta perspectiva, na pessoa portadora de DM2 estes merecem

atenção primordial, pois constituem uma das regiões mais vulneráveis à ocorrência

de complicações.

Assim recomendações para prevenção e intervenção adequadas incluem

o reconhecimento dos fatores de risco como neuropatia diabética, doença arterial

periférica e deformidades estrutural, bem como fundamentos para o autocuidado

específico com os pés, intervindo precocemente em caso de lesões (BATISTA et al.,

2009).

Tais estratégias dependem de ações de saúde paradoxalmente simples e

de interação interdisciplinar fundamentadas na educação em saúde ao usuário

(CAIAFA et al., 2011). Estas atividades são reconhecidas como de tecnologia leve

em saúde, pois adotam técnicas e instrumentos de baixo custo.

Nesta perspectiva, a prevenção e detecção precoce dos agravos

relacionados aos membros inferiores configuram-se como elementos essenciais, de

___________________________________|106

forma que medidas de autocuidado em saúde desempenham papel facilitador deste

processo.

Como profissão apoiadora e facilitadora compete à enfermagem

intermediar o processo de empoderamento do usuário portador de DM

desenvolvendo estratégias clinicas e educativas que favorecem a promoção da

saúde na perspectiva de prevenir e minimizar a ocorrência de complicações nos

membros inferiores.

Ante a problemática das complicações que acometem os membros

inferiores das pessoas portadoras de DM2 buscou-se conhecer as ações de

autocuidado desenvolvidas pelos entrevistados para prevenir o desenvolvimento

destas e identificar a presença de fatores de risco para a sua ocorrência.

A Tabela 5 reúne os achados relacionados às atividades de autocuidado

com os membros inferiores desenvolvidas pelos pesquisados, distribuídas em

frequência simples e percentual.

Tabela 5. Distribuição da frequência simples (f) e percentual (%) das variáveis relacionadas

ao autocuidado com os membros inferiores da amostra. Fortaleza – CE, 2012 (n=193)

AUTOCUIDADO COM OS MEMBROS INFERIORES

n % n % n % n %

Compra sapatos no período da: Manhã Tarde Noite Tanto faz 91 47,2 25 12,9 19 9,8 58 30,1

Sempre Às vezes Nunca

Sapatos novos são usados aos poucos 55 28,5 114 59,1 24 12,4 Costuma calçar sapatos que machucam os pés 2 1,0 32 16,6 159 82,4

Anda descalço 3 1,6 19 9,8 171 88,6 Examina os pés diariamente 133 68,9 55 28,5 5 2,6

Usa creme hidratante adequado para os pés 102 52,9 73 37,8 18 9,3

Forma como corta as unhas Reta/horizontal Retira cantos Tanto faz 156 80,8 34 17,6 3 1,6

Quem remove calos/unhas encravadas Profissional especializado

Próprio paciente

Outro

74 38,3 108 56,0 11 5,7

Em relação ao uso de calçados, observou-se que apenas 25 pesquisados

(12,9%) compravam sapatos no período do dia ideal, que é o da tarde e que parte

significativa dos entrevistados não tinha o hábito de usar sapatos novos aos poucos,

como forma de acomodá-los aos pés paulatinamente, no intuito de reduzir a

ocorrência de eventuais calos/calosidades e áreas de pressão.

___________________________________|107

Contudo, parte predominante afirmara que não utiliza sapatos que

machuquem os pés, preferindo os que são confortáveis, acolchoados e quando

possível ortopédico. O uso de calçados inadequados predispõem os pés a traumas

extrínsecos e contribuem como fator precipitante em até 85% dos casos de

ulceração nos membros inferiores. Desta forma, ante o risco de desenvolver

complicações, a pessoa portadora de DM deve priorizar o uso de calçado apropriado

ou fazê-lo sob medida, conforme características padronizadas pelo Consenso

Internacional do Pé Diabético (2001).

Para a pessoa diabética é imprescindível usar calçado fechado, macio e

confortável, com o mínimo de costura interna, devendo o forro permitir a evaporação

do suor. Estas características buscam evitar umidade e zonas de pressão que

predisponham lesões traumáticas. É importante ainda que os calçados cubram

totalmente dedos e calcanhar e que sejam confeccionados com couro macio ou

lona, com sistema de fechamento ajustável (velcro ou cadaço) (OCHOA-VIGO;

PACE, 2005).

Conforme Dahmen (2001) o uso de calçados adequados em indivíduos

que apresentam redução da sensibilidade plantar pode contribuir para diminuir o

cisalhamento, a pressão e absorver o impacto de traumas. Desta forma, a confecção

de calçados terapêuticos para pacientes com neuropatia é considerado um dos

fatores mais importantes para prevenir ulcerações.

Andrade et al. (2010) consideram que o uso de calçado terapêutico é um

dos fatores mais importantes para prevenir o pé diabético. Na mesma perspectiva

Rocha, Zanetti e Santos (2009) enfatizam que o uso destes deve ser prévio ao

aparecimento de complicações, como deformidades e ulcerações, e deve atender às

características individuais do modo de vida do usuário, de acordo com sua atividade

laboral e a prática de atividade física.

O hábito de andar sempre calçado foi revelado por parte significativa dos

pesquisados. O hábito de andar descalço é inadequado para a pessoa portadora de

DM e deve ser abolido, pois este predispõe a eventos traumáticos que podem vir a

desenvolver lesões e ulcerações nos pés (CARVALHO; CARVALHO; MARTINS,

2010).

O exame diário dos pés é realizado por grande parte da amostra.

Conforme Rocha (2005) este é um dos cinco pilares para os adequados cuidados

com os membros inferiores.

___________________________________|108

A hidratação regular dos pés é um hábito relatado por parte significativa

da amostra. Os indivíduos devem ser estimulados a aderir a tal prática, tendo em

vista a sua importância para evitar o ressecamento da pele e ocorrência de

eventuais fissuras e rachaduras.

Contudo, deve-se atentar para não realiza-la entre os dedos, pois os

espaços interdigitais nunca devem ser deixados úmidos tendo em vista favorecer o

desenvolvimento de micose interdigital. Da mesma forma, os pés e dedos devem ser

bem enxutos após lavagem com água e sabão neutro.

Conforme Ochoa-Vigo e Pace (2005) a umidade interdigital favorece a

ocorrência de fissuras que possibilitam a entrada de micro-organismos causadores

de infecção levando ao desenvolvimento de úlceras.

Na pessoa diabética, o corte das unhas deve ser realizado de forma reta

e horizontal o que evita encravá-las. Em contrapartida, o corte arredondado e a

retirada de cutícula não são recomendados. Segundo Moreira et al. (2008) quando

os cantos das unhas são retirados com frequência uma porção profunda e intacta da

unha é deixada no sulco ungueal distal, que acaba crescendo dentro da pele,

provocando lesão e dor.

Rocha (2005) destaca que menos de um quarto das pessoas diabéticas

que tem conhecimento do corte de unha da forma adequada a realizam e um dos

entraves é a acuidade visual prejudicada.

Dentre os 193 pesquisados, observou-se que o corte adequado das

unhas é referido por 156 (80,8%). Contudo, quando questionados sobre quem

remove eventuais calos ou unhas encravadas apenas 74 participantes (38,3%)

relataram recorrer a profissional especializado, o que é um dado preocupante, pois

muitas vezes o próprio paciente ou pessoa despreparada os realiza com material

inapropriado e sem indicação médica favorecendo a ocorrência de complicações nos

membros inferiores.

O indivíduo portador de DM deve ser orientado ainda a desempenhar

outros cuidados também essenciais para com os pés. Estes incluem não usar bolsa

de água quente ou fazer escalda-pés, pois a diminuição da sensação térmica

causada pela neuropatia diabética predispõe a ocorrência de queimaduras.

Paccanaro et al. (2009) consideram que os pés são os mais acometidos

por queimaduras em pessoas diabéticas, em virtude da associação da

___________________________________|109

insensibilidade decorrente da neuropatia periférica com a cultura do uso de escalda-

pés como método de limpeza ou tratamento.

Destacam-se ainda outros cuidados primordiais com os pés como verificar

os calçados antes de usá-los, investigando quanto a presença de animais

peçonhentos ou objetos que possam vir a causar trauma.

O uso de meias de algodão (acolchoadas) sem elástico com sapato

fechado é também um cuidado importante e preferível em detrimento das sintéticas.

Isto porque aquelas auxiliam a reduzir a pressão evitando a fricção e cisalhamento

do pé diretamente no calçado, além de absorver o suor dos pés (ANDRADE et al.,

2010).

Conforme Barbui e Cocco (2002) por vezes o paciente tem conhecimento

dos cuidados adequados com os pés, mas o comportamento de autocuidado é

inadequado e esta atitude é um dos maiores desafios para o estabelecimento do

diagnóstico precoce em pessoas diabéticas em risco de ulcerações.

Entretanto, há de se considerar os entraves de ordem social e econômica

a que estão sujeitas as pessoas portadoras de DM2 que dificultam a aquisição de

calçados apropriados, palminhas, cremes e outros artefatos necessários a

prevenção de problemas nos pés (ROCHA; ZANETTI; SANTOS, 2009).

Laurindo et al. (2005) também ponderam que os calçados adequados

para diabéticos têm em geral custo elevado, dificultando o acesso à parte

considerável dos pacientes.

Além disto, o avanço da idade, a acuidade visual prejudicada, a

obesidade, a mobilidade limitada, problemas cognitivos, o tipo de atividade laboral

do indivíduo e a ausência de apoio familiar também são fatores dificultadores ao

adequado cuidado diário dos membros inferiores.

Estes são fatores condicionantes básicos que se relacionam a fatores

internos como a idade e externos como a disponibilidade e adequação de recursos,

padrão de vida e fatores ambientais, podem vir a influenciar diretamente a

capacidade e ações de autocuidado do indivíduo enquanto agente de autocuidado

para o adequado cuidado com os membros inferiores o que vem a comprometer o

atendimento dos requisitos de autocuidado no desvio de saúde.

Na pessoa diabética estes são definidos como as necessidades de

autocuidado para que se reestabeleça ou se prolongue o estado de bem-estar,

___________________________________|110

mantendo-se afastados estados patológicos que podem ser evitados mediante

ações de autocuidado preventivo.

Nesta perspectiva, cabe ao enfermeiro por meio do seu cuidado clínico e

educativo exercer atividades de intervenção educacional contínua, permanente e de

início precoce, orientando e motivando a pessoa diabética a adotar comportamento

adequado quanto aos cuidados diários com os pés.

Um olhar acurado sobre a análise dos dados relacionados ao autocuidado

com os membros inferiores aponta que os cuidados básicos necessários para se

evitar complicações são realizados por parte significativa mas não expressiva dos

pesquisados, especialmente no que tange a hidratação dos pés, a pessoa

responsável por remover calos e unhas encravadas e ao período do dia mais

adequado para comprar sapatos.

Quanto à incidência de complicações nos membros inferiores observa-se

que estas possuem estreita relação com o progredir da doença e sofrem influência

de alterações neurológicas, vasculares, infecciosas e ortopédicas, que colaboram de

maneira isolada ou combinada para o surgimento de lesões e ulcerações que podem

convergir em amputações (SBD, 2009; CAIAFA et al., 2011).

Segundo SBD (2009) todos estes agravos afetam a população diabética

duas vezes mais do que a não diabética. Quanto a ocorrência de lesão no pé,

estima-se que cerca de 15% dos indivíduos portadores da doença venham a

desenvolve-la ao longo da vida.

Observa-se, pois que as complicações que acometem os membros

inferiores apresentam prevalência elevada e são decorrentes de uma complexidade

de condições que influenciam neste desfecho, além da prevenção ineficaz ou

inexistente e de meses ou anos de atendimento inespecífico. Um dos grandes

desafios para o diagnóstico precoce de pessoas portadoras de DM em risco de

ulceração é a inadequada ou a não realização de um simples exame dos pés

(SBD,2009).

Desta forma, na ânsia de se avaliar a condição clínica dos membros

inferiores dos sujeitos pesquisados se procedeu ao exame físico criterioso dos pés

no intuito de se identificar a presença de alterações dermatológicas, circulatórias e

neuropáticas, que de forma isolada ou combinada predispõe ao desenvolvimento de

complicações. Estes achados estão dispostos na Tabela 6.

___________________________________|111

Tabela 6. Distribuição dos tipos de alterações identificadas como fatores de risco para o desenvolvimento de complicações nos membros inferiores da amostra. Fortaleza-CE, 2012

(n=193)

TIPO DE ALTERAÇÕES SINAIS E SINTOMAS n %

Alterações dermatológicas

Onicomicose Úlcera

Unha encravada

42 21,8 37 19,2 10 5,2

Alterações neuropáticas autonômicas Ressecamento Fissura

122 63,2 30 15,5

Alterações neuropáticas motoras Calos e calosidades 119 61,7 Alterações neuropáticas sensitivas

Formigamento 127 65,8 Queimação 96 49,7

Adormecimento 66 34,2 Câimbra 50 25,9

Alterações circulatórias

Pulso pedioso alterado 89 46,1 Pulso tibial alterado 88 45,6

Edema 85 44,0 Varizes 38 19,7 Rubor 11 5,7

Em geral, as úlceras constituem a mais comum das complicações que

acometem os membros inferiores, tornando-se infectadas em 50% dos casos. E é

este binômio úlcera/infecção que constitui a causa mais comum de internações

prolongadas (SBD, 2009).

Segundo Riber (2002) as úlceras em pessoas com DM são responsáveis

pela significativa ocorrência de morbimortalidade e hospitalização, tendo um período

de internação 59% mais prolongado do que as pessoas sem processos ulcerativos.

Observa-se ainda que além de prolongadas, as hospitalizações causadas por estas

são geralmente recorrentes (HARRINTONG, 2000).

Conforme Vedolin et al. (2003) as úlceras do pé diabético localizam-se

frequentemente nos dedos, nas faces laterais de zonas de compressão interdigital e

nos bordos laterais do pé. As infecções podem assumir um caráter superficial

estando limitadas à pele e ao tecido celular subcutâneo, mas podem se estender em

profundidade, envolvendo fáscias, tendões e estruturas osteoarticulares.

Rocha, Zanetti e Santos (2009) destacam que são fatores de risco para o

desenvolvimento de ulcerações nos membros inferiores a presença de onicomicose,

unhas encravadas, ressecamento e fissura nos pés, calos, formigamento,

adormecimento, câimbras, pulso tibial alterado, edema e varizes.

As alterações dermatológicas mais observadas nos membros inferiores

dos pesquisados foi a onicomicose, seguida da presença de úlcera. Contudo, dentre

___________________________________|112

as alterações mais prevalentes na amostra estudada se destacaram as neuropáticas

sejam elas sensitivas, autonômicas ou motoras.

As alterações neuropáticas ocasionam diminuição da sensibilidade

térmica e dolorosa com perda do mecanismo de proteção contra lesões traumáticas.

Em virtude do comprometimento causado às fibras sensitivas, motoras e

autonômicas, esta complicação constitui fator significante no desenvolvimento

dessas lesões, estando presente em aproximadamente 80% a 85% dos casos

(BOIKE; HALL, 2002).

O componente sensitivo que desencadeia sinais e sintomas de

formigamento, queimação, adormecimento e câimbra produz perda gradual da

sensibilidade à dor, percepção da pressão plantar e temperatura. Quanto ao

componente autonômico, este suprime a transpiração nos pés, deixando-os

ressecados e predispostos a rachaduras e fissuras, além de desencadear alterações

arteriovenosas. Já o componente motor desencadeia deformidades e alterações no

modo de caminhar (SUMPIO, 2000).

Conforme SBD (2009) a neuropatia diabética afeta cerca de 50% das

pessoas com DM com mais de 60 anos e é inquestionavelmente o fator mais

importante para o surgimento de úlceras em membros inferiores, podendo estar

presente antes da detecção da perda da sensibilidade protetora o que resulta em

maior vulnerabilidade a trauma, acarretando um risco de ulceração de sete vezes

mais.

Alterações circulatórias significativas também estiveram presentes em

parte considerável da amostra. Dos 193 pesquisados 85 (44%) apresentaram algum

grau de edema nos membros inferiores, 89 (46,1%) alteração no pulso pedioso e 88

(45,6%) no pulso tibial.

A neuropatia periférica e a doença vascular periferia são complicações

que afetam a população com DM duas vezes mais do que os indivíduos sem a

doença. Estima-se que 30% dos indivíduos com mais de 40 anos de idade

apresentem estes agravos (SBD, 2009).

A vasculopatia surge mediante lesões microangiopáticas responsáveis

pela perturbação da microcirculação, dificultando a nutrição dos tecidos periféricos

(BONA et al., 2010).

As lesões e ulcerações que acometem os membros inferiores dos

indivíduos portadores de DM costumam ser denominadas de pé diabético, um

___________________________________|113

estado fisiopatológico complexo que envolve múltiplos aspectos, que geralmente

decorre de trauma proveniente do uso de calçados inapropriados, manipulações

incorretas dos pés ou dermatoses comuns, mas que em 90% dos casos se associam

a neuropatia periférica (OCHOA-VIGO, 2005; NATHER, 2008).

Traumas constituem fator importante à ocorrência de lesão nos membros

inferiores e estão frequentemente associados ao uso de calçados inadequados,

micoses, inapropriado corte de unhas e quedas (SBD, 2009).

Estas lesões, que geralmente decorrem de trauma, estão sujeitas a

distúrbios imunológicos e intrínsecos para a cicatrização. Tais eventos tendem a

predispor a ocorrência de infecção até mesmo por bactérias que colonizam a própria

pele, tendo fissuras e micoses interdigitais como porta de entrada de patógenos que

estão envolvidos em maior ou menor grau na ocorrência de processos ulcerativos

(BRASIL, 2006).

No indivíduo portador de DM a neuropatia associada a alterações na

circulação vascular periférica colaboram para que a ocorrência de infecção seja mais

frequente e o controle desta pelo sistema imunológico mais precário (SADER;

DURAZZO, 2003).

Desta forma, a de se considerar que ambas as complicações

comprometem o sistema imune da pessoa portadora de DM, predispondo à

frequente ocorrência de infecções. Tal fato justifica a maior suscetibilidade desta

população em desenvolver úlceras infectada após eventos traumáticos nos

membros inferiores.

Desta forma, quando não se institui tratamento precoce e adequado as

lesões e ulcerações tendem a evoluir com gangrena e infecção, as quais podem

progredir ocasionando amputação do membro, condição que chega a ser cem vezes

mais frequente em portadores de DM e que em 85% dos casos é precedida por

ulcerações (OCHOA-VIGO, 2005; BOULTON, 2004).

Observou-se que dezesseis pesquisados (8,3%) possuíam alguma

amputação no membro inferior, seja amputação suprapatelar, de artelho ou

pododáctilo. Constatou-se ainda a ocorrência de reabordagem cirúrgica em alguns

destes entrevistados.

Segundo Dias et al. (2007) a frequência de amputação não traumática é

de dez a quinze vezes maior em diabéticos que em não diabéticos, correspondendo

___________________________________|114

a 50% das amputações não traumáticas. Observa-se ainda que a incidência

aumenta com o progredir da idade e são maiores no sexo masculino.

Nesta perspectiva, compreende-se o pé diabético como uma das mais

mutilantes complicações crônicas do DM em virtude do considerável número de

casos que evoluem para amputação. Estas acarretam não apenas impacto

socioeconômico, mas também interferem na capacidade produtiva e na qualidade de

vida do indivíduo (LAURINDO et al., 2005).

Contudo, para Coelho et al. (2009) apesar da neuropatia e isquemia

serem os principais fatores causais do binômio úlcera/amputação em pessoas com

DM, a atuação de um fator ambiental que predisponha à lesão está geralmente

envolvido o que vai desde o uso de sapatos que machucam até a ocorrência de

traumas ou queimaduras.

Nesta perspectiva, o indivíduo portador de DM deve ser orientado a

desempenhar ações de autocuidado com os pés que são em geral de fácil manejo e

de baixa complexidade, mas imprescindíveis à prevenção de complicações.

A enfermagem ao fomentar práticas de autocuidado na perspectiva de

uma abordagem mais colaborativa implementa estratégias de educação e promoção

da saúde fundamentadas no autocuidado em saúde. Entretanto, para alcançar as

metas da educação em diabetes, o paciente deve ser estimulado a desenvolver uma

postura pró-ativa em relação ao seu autocuidado.

Faz parte desta estratégia encorajar o indivíduo a assumir a

responsabilidade e controle sobre sua condição de saúde e de vida, envolvendo-o

em todas as fases do processo educativo, pois para assumir a responsabilidade do

papel terapêutico, o indivíduo precisa dominar conhecimentos e desenvolver

habilidades que o capacitem para o autocuidado.

Desta forma, as ações de autocuidado a serem desenvolvidas pela

pessoa diabética no cuidado com os membros inferiores são moduladas e

favorecidas pela enfermagem na construção de alianças entre o usuário e o serviço

de saúde assessorando e empoderando aquele a desenvolver práticas de

autocuidado, utilizando os serviços de saúde como recurso adicional quando

necessário.

___________________________________|115

Conclusão

___________________________________|116

O diabetes mellitus como condição crônica de saúde de caráter

progressivo exige do indivíduo acometido acompanhamento clínico contínuo e

permanente, além de mudanças e adaptações significativas no estilo de vida, na

ânsia de se prevenir complicações e adquirir qualidade de vida.

Tal realidade justifica a necessidade de o individuo aprender a viver e

conviver com a doença da melhor forma possível prolongando o estado de bem-

estar.

Observou-se que apesar dos entraves relacionados à adoção de hábitos

alimentares saudáveis, os entrevistados demonstram desenvolver práticas de

autocuidado nesta situação. Entretanto, pode-se concluir que a amostra demonstra

ser sedentária haja vista que a realização de exercício físico não ocorre de forma

regular.

As práticas de autocuidado relacionadas à terapêutica farmacológica,

demonstraram ser frágeis no que se refere a administração de insulina e as

relacionadas a complicações agudas da doença. A falta de conhecimento

substancial a estas relacionadas é clara, especialmente o que se refere as causas,

sinais e sintomas e tratamento de situações de hipo ou hiperglicemia.

O cuidado com os pés é realizado por parte expressiva dos pesquisados,

contudo observa-se a ocorrência de fatores de risco significativos para lesão.

As ações educativas desenvolvidas pelo enfermeiro, junto ao paciente

com adoecimento crônico, têm papel essencial no controle da enfermidade, tendo

em vista que a prevenção de complicações está intrinsecamente relacionada não

apenas ao conhecimento para o cuidado pessoal diário, mas também ao

desenvolvimento de habilidades.

Desta forma, as atividades clínico-educativas desenvolvidas pelos

enfermeiros devem objetivar aumentar conhecimentos e habilidades do individuo

tornando-o capaz de autogerenciar sua condição de saúde.

Em médio prazo estas atividades devem almejar atitudes que levem a

mudança de comportamento, que incluam desde a prática regular de exercício físico

e a mudança de hábitos alimentares, à adequada adaptação psicossocial do

individuo, perpassando a adesão à posologia medicamentosa, a automonitorização

da glicemia capilar e a capacidade de gerenciar e corrigir situações de hipo ou

hiperglicemias.

___________________________________|117

Em longo prazo, devem conduzir à melhora clínico-metabólica de forma

que estes apresentem melhora no estado de saúde e na qualidade de vida,

prevenindo e reduzindo complicações crônicas.

Nesta perspectiva, ante os resultados apresentados e a necessidade da

pessoa portadora de DM2 adquirir habilidades para o cuidado com a própria saúde

sugere-se ao serviço a implementação de atividade educativa permanente voltada a

facilitação do conhecimento na perspectiva de fomentar em pessoas com diabetes

mellitus competência para o autocuidado.

___________________________________|118

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TAYLOR, S. G. Dorothea E. Orem: teoria do déficit de autocuidado de enfermagem. In: TOMEY, A. M; ALLIGOOD, M. R. Teóricas de enfermagem e sua obra: modelos e teorias de enfermagem. Loures: Lusociência; 2002. p. 211-35. VEDOLIN, A.C. et al. Pé diabético: estudo comparativo entre diferentes formas de apresentação clínica e tratamentos. Rev. Angiol. Cir. Vasc. v.12, p.15-21. 2003. WILD, S. et al. Global prevalence of diabetes: estimates for the year 2000 and projections for 2030. Diabetes Care, Alexandria, v.27, n.5, p1047-1053, may. 2004.

WING, R. R. et al. Behavioral Science Research in Diabetes. Diabetes Care, Alexandria, v.24, n.1, p.117-123, jan. 2001. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). The World Health Organization Report, 2002: reducing risks, promoting healthy life. Geneva: WHO, 2002. ZAGURY L., ZAGURY R.L. Tratamento atual do Diabetes Mellitus. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2009.

___________________________________|126

Apêndices

___________________________________|127

APÊNDICE A – CARTA DE APRESENTAÇÃO

Fortaleza, 04 de abril de 2012

Senhora Diretora,

Venho por meio desta, apresentar ao Centro Integrado de Diabetes e

Hipertensão (CIDH) cópia do Projeto de Dissertação A COMPETÊNCIA DE PESSOAS

COM DIABETES MELLITUS TIPO II PARA O AUTOCUIDADO EM UM SERVIÇO DE

ATENÇÃO SECUNDÁRIA de autoria da Enfermeira pesquisadora Cynthia de Freitas

Sampaio mestranda do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Saúde e

Enfermagem – Nível Mestrado, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual

do Ceará.

Referido projeto objetiva conhecer a competência de pacientes portadores de

diabetes mellitus tipo II para o autocuidado acompanhados em um serviço de saúde de

atenção secundária; verificar o conhecimento do paciente diabético sobre a doença e

gerenciamento em intercorrências clínicas; identificar a competência de pacientes

portadores de diabetes mellitus tipo II para o autocuidado em saúde; verificar as atitudes

destes sobre a doença e seu tratamento.

Em consonância aos preceitos éticos e legais relativos a pesquisa com seres

humanos o mesmo aguarda apreciação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)

da Universidade Estadual do Ceará (UECE), para que se dê início a coleta dos dados.

Nestes termos, a pesquisadora solicita a anuência do CIDH enquanto campo de

coleta dos dados, comprometendo-se a encaminhar cópia do parecer do CEP, quando

devidamente disponibilizado, iniciando o teste piloto do Instrumento de Coleta dos Dados

(ICD) somente após aprovação do projeto pelo referido comitê. Compromete-se ainda a não

interferir no fluxo normal deste Serviço e apresentar-lhe cópia da Dissertação ao final dos

trabalhos.

Certa de contar com a colaboração deste Serviço apresenta antecipadamente

cordiais agradecimentos.

____________________________________________ Enfa. Esp. Cynthia de Freitas Sampaio Pesquisadora ____________________________________________ Ilma. Senhora Dra. Adriana Forti MD Diretora do Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDH)

___________________________________|128

APÊNDICE B – FORMULÁRIO

Nº_______ Iniciais___________ Nº do prontuário_______________ Data:_____/_______/ ______ II.. DDAADDOOSS SSOOCCIIOOEECCOONNÔÔMMIICCOOSS

1. Sexo

1( ) Masculino 2( ) Feminino

2. Estado civil

1( ) Casado(a) 2( ) Não casado(a)

3. Idade (anos completos)___________________

4. Religião

1( ) católica 2( ) não católica 3( ) sem religião

5. Anos de estudo: 1( )analfabeto 2( )ensino fundamental incompleto 3( ) ensino fundamental Completo

4( )ensino médio incompleto 5( )ensino médio completo 6( )superior incompleto 7( )superior completo

6. Renda familiar:____________________________

7. No de pessoas que vivem com a renda familiar:___________________________________________

8. Ocupação

1. Trabalha ( ) 2. Desempregado ( ) 3. Pensionista/aposentado ( ) 4. ( ) outra:__________________

9. Procedência

1( ) Fortaleza 2( ) interior do Estado do Ceará

IIII.. DDAADDOOSS CCLLÍÍNNIICCOOSS EE RREELLAACCIIOONNAADDOOSS AAOO TTRRAATTAAMMEENNTTOO FFAARRMMAACCOOLLÓÓGGIICCOO

10.Tempo de diagnóstico de DM _______meses

11. Tempo de acompanhamento no serviço _______meses

12. Nº consultas médicas/de enfermagem no serviço nos últimos 12 meses:_____________ 13. Acompanhamento médico

1( ) rede pública 2( ) particular 3( ) plano de saúde

14. Co-morbidades associadas

1( ) nenhuma 2( ) hipertensão arterial sistêmica 3( ) dislipidemia 4( ) sobrepeso/obesidade 5( ) cardiopatia__________ 6( ) acidente vascular encefálico

15. Complicações crônicas

1( ) nenhuma 2( ) macroangiopatia 3( ) nefropatia 4( ) neuropatia 5( ) úlcera/pé diabético 6( )retinopatia 7( ) amputação por diabetes mellitus

16. Terapêutica farmacológica

1( ) Nenhuma 2( ) Somente hipoglicemiante oral 3( ) Somente insulina 4( ) Hipoglicemiante oral + insulina 5 Qual hipoglicemiante?___________ Dose ____________ 6 Qual insulina? ___________ Dose __________

17. Quem monitora a administração da medicação?

1( ) a própria pessoa 2( ) familiar

18. Caso faça uso de insulina, quem a administra?

1( ) a própria pessoa 2( ) familiar __________________

19. Alguma vez esqueceu-se de tomar a medicação/ administrar a insulina?

1( ) Nunca 2( ) Algumas vezes 3( ) Sempre

20. Alguma vez deixou de tomar a medicação/administrar a insulina, por iniciativa própria, por sentir-se melhor ou pior?

1( ) Nunca 2( ) Algumas vezes 3( ) Sempre

AAss qquueessttõõeess aa sseegguuiirr ddeevveemm sseerr aapplliiccaaddaass aaooss ppaacciieenntteess qquuee ffaazzeemm uussoo ddee iinnssuulliinnaa::

21.Caso seja o próprio paciente que a administre: têm segurança na conservação (insulina/seringa/agulha), preparo e administração da insulina?

1( ) sim 2( ) não – descreva-a:_________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

55 DDAADDOOSS RREELLAACCIIOONNAADDOOSS AAOOSS HHÁÁBBIITTOOSS DDEE SSAAÚÚDDEE EE AAOO TTRRAATTAAMMEENNTTOO NNÃÃOO--FFAARRMMAACCOOLLÓÓGGIICCOO

22. Hábito de fumar 1( ) não 2( ) sim 23. Ingestão de bebida alcoólica.1( ) não 2( ) sim

___________________________________|129

Dieta

24. Costuma fazer quantas refeições/dia____________________________

25. Realiza refeições fora do domicílio? 1( ) Não 2( ) Sim, com frequência semanal de__________________

26. Quem prepara seu alimento na residência?

1( )a própria pessoa 2( )algum familiar 3( )secretária doméstica 4( )outro______________________

27.Recebeu alguma orientação para modificar hábitos alimentares a partir do diagnóstico?

1( ) Sim 2( ) Não

28. Tem havido mudança nos hábitos alimentares desde o diagnóstico de DM?

1( ) Sim. Cite exemplos:____________________________________________________________________ 2 ( ) Não, motivo:_________________________________________________________________________

29. Qual grupo de alimentos “transformam-se em açucares” no organismo, após ser ingerido?

1( ) carboidratos 2( ) proteínas 3 ( ) gorduras 4( )minerais e vitaminas 5( ) não sei

30. São exemplos de carboidratos

1 ( ) arroz, macarrão, farinha de mandioca, pões,torradas, biscoitos em geral, batata inglesa,massa de milho e amido de milho 2 ( ) carne vermelha, ovo, leite, manteiga, queijo. 3 ( ) não sei

31. Foi orientado para substituir um alimento por outro, considerando o grupo de alimentos?

1( ) Sim 2( ) Não

32. Realiza a substituição de alimentos do mesmo grupo em sua rotina diária?

1( ) Sempre 2( ) Algumas vezes 3( ) Nunca

EExxeerrccíícciiooss ffííssiiccooss

33. Pratica exercícios físicos?

1( ) Sim 2( ) Não, por que?____________________________________________________________

34. Caso pratique, qual é o tipo? ___________________________Frequência semanal:__________________

35. Recebeu alguma recomendação para a prática de exercícios físicos a partir do diagnóstico de DM?

1 ( ) Sim 2 ( ) Não

IIVV.. DDAADDOOSS RREELLAACCIIOONNAADDOOSS AAOO CCOONNHHEECCIIMMEENNTTOO EEMM DDIIAABBEETTEESS MMEELLLLIITTUUSS EE AAUUTTOOCCUUIIDDAADDOO EEMM

SSAAÚÚDDEE EE EEMM SSIITTUUAAÇÇÕÕEESS DDEE DDEESSCCOONNTTRROOLLEE MMEETTAABBÓÓLLIICCOO

36. Realiza auto monitorização por meio da análise da glicemia capilar?

1( ) Sempre 2( ) As vezes 3( ) Nunca

37. Caso a realize, esta ocorre em qual local?

1 ( ) no próprio domicílio 2( ) na UBS 3( ) na farmácia 4 ( ) apenas na consulta médica/de enfermagem

38. Com que frequência a realiza?_________________________________

39. Possui aparelho para verificação da glicemia capilar (glicosimetro)? 1( ) Sim 2( ) Não

40. Hipoglicemia significa:

1( ) pouco açúcar no sangue 2( ) muito açúcar no sangue 3( ) não sei

41. Hiperglicemia significa:

1( ) muito açúcar no sangue 2( ) pouco açúcar no sangue 3( ) não sei

42. O açúcar no sangue fica baixo quando:

1( ) ocorre erro para mais na dose de insulina/hipoglicemiante 2( ) não se ingere alimentos 3( )presença de vômitos/diarreia 4( ) todas as anteriores 5( ) nenhuma das anteriores 6( ) não sei

43. Quais os principais sinais quando o açúcar no sangue fica baixo?

1( ) fraqueza 2( ) transpiração 3( ) visão turva 4( ) todas as anteriores 5( ) nenhuma das anteriores 6( ) não sei

44. O que deve-se fazer quando apresentar fraqueza, transpiração e visão turva?

1( ) beber água açucarada/suco de laranja/comer doce imediatamente 2( ) suspender a próxima dose de insulina e/ou hipoglicemiante 3( ) ficar em repouso 4( ) todas as anteriores 5( ) nenhuma das anteriores 6( ) não sei

45. O açúcar no sangue fica alto quando:

1( ) se ingere muito alimento açucarado/carboidrato 2( ) existe alguma infecção no corpo 3( ) ocorre erro para menos na dose de insulina/hipoglicemiante 4( ) todas as anteriores 5( ) nenhuma das anteriores 6( ) não sei

46. Quais os principais sinais quando o açúcar no sangue fica alto?

1( )sonolência 2( )câimbras musculares 3( )sede, secura na boca, hálito com odor adocicado “maçã passada” 4( ) todas as anteriores 5( ) nenhuma das anteriores 6( ) não sei

47.O que o diabético deve fazer imediatamente quando apresentar sonolência, hálito adocicado secura na boca e câimbras?

___________________________________|130

1( )testar glicemia capilar 2( )aplicar insulina conforme resultado do teste da glicemia capilar 3( ) procurar orientação médica 4( ) todas as anteriores 5( ) nenhuma das anteriores 6( ) não sei

48. Examina os pés diariamente? 1( ) Sempre 2( ) As vezes 3( ) Nunca

49. Anda descalço? 1( ) Nunca 2( ) As vezes 3( ) Sempre

50. Usa creme hidratante adequado para os pés? 1( ) Sempre 2 ( ) As vezes 3( ) Nunca

51. Costuma calçar sapatos que machucam? 1( ) Nunca 2( ) As vezes 3( ) Sempre

52. Sapatos novos são usados aos poucos? 1( ) Sempre 2 ( ) As vezes 3( ) Nunca 53. Compra sapatos em que período do dia?

1( ) tarde 2( ) manhã 3( ) Noite 4( ) tanto faz 54. De que forma corta as unhas?

1( ) reta e horizontalmente 2( ) retira os cantos 3( ) tanto faz

55. Quem realiza remoção de eventuais calos ou unhas encravadas?

1( ) profissional especializado 2( ) A própria pessoa 3( ) Outro:______________

VV.. DDAADDOOSS AANNTTRROOPPOOMMÉÉTTRRIICCOOSS EE DDEE EEXXAAMMEESS FFÍÍSSIICCOO EE LLAABBOORRAATTOORRIIAALL

EExxaammee ffííssiiccoo ddooss ppééss

56. Pés com sensação de: 1( ) queimação 2( ) formigamento 3( ) adormecimento 4( ) câimbra 5( ) NDA

57. Pés com presença de: 1( ) ressecamento 2( ) fissuras 3( ) onicomicoses 4( ) unha encravada 5( ) pêlos 6( ) calos e calosidades 7( ) edema 8( ) varizes 9( ) ulcera 10( ) rubor 11( ) Amputação 12 ( ) NDA

58. Pulso pedioso-------------- 1( ) normal 2( ) diminuído 3( ) ausente

59. Pulso tibial------------------ 1( ) normal 2( ) diminuído 3( ) ausente

DDaaddooss aannttrrooppoommééttrriiccooss

60. Medida da circunferência abdominal: ________cm 61. Medida da cintura:_______cm 62. Medida do quadril: ________________________cm 63. Relação cintura/quadril:_______________________ 64. Peso:________Kg 65. Altura:________m 66. IMC:________ 67. PA sistólica:_____mmHg 68. PA diastólica:_____mmHg

EExxaammeess LLaabboorraattoorriiaaiiss

Últimas 3 Glicemias capilares 69.1 data:___/___/___ 69.2 Dx:_____mg/dl; 70.1 data:___/___/___ 70.2 Dx:_____mg/dl; 71.1 data:___/___/__ 71.2 Dx:_____mg/dl

Hemoglobina Glicada 72.1 Primeira HbA1c: ____% 72.2 data:___/___/____ 73.1 Última HbA1c: ______% 73.2 data:___/____/____

___________________________________|131

APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, Cynthia de Freitas Sampaio, enfermeira, aluna do Programa de Pós-Graduação Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde e Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Ceará e pesquisadora estou desenvolvendo uma pesquisa intitulada A competência de pessoas com diabetes mellitus tipo II para o autocuidado em um serviço de atenção secundária, com o objetivo de conhecer a competência de pacientes portadores de diabetes mellitus tipo II para o autocuidado acompanhados em um serviço de saúde de atenção secundária.

Gentilmente, convido o(a) senhor(a) a participar deste estudo, respondendo um formulário, aplicado pela própria pesquisadora, com informações socioeconômicas clínicas e relacionadas ao tratamento farmacológico do diabetes mellitus; hábitos de saúde e tratamento não-farmacológico da doença; conhecimento em diabetes mellitus e autocuidado em situações de descontrole metabólico; autocuidado em saúde; antropométricas e laboratoriais bem como exame físico dos pés. Estas informações contribuirão para aprimorar o cuidado clínico-educativo de enfermagem na perspectiva de atender as reais e potenciais necessidades de saúde da clientela, capacitando-a para o desenvolvimento de competência para o autocuidado em saúde, com vista a contribuir com a melhoria da qualidade de vida de pessoas acometidas por Diabetes Mellitus na busca de um viver mais saudável.

O(a) senhor(a) terá plena liberdade em aceitar ou não este convite, bem como em permanecer ou não neste estudo, sem que isto lhe traga qualquer prejuízo para o seu atendimento neste serviço. Esclarecemos que não haverá gastos nem qualquer remuneração por sua participação no estudo e que os riscos deste serão mínimos, de forma que estarei apta e atenta para solucioná-los. Ser-lhe-á garantido anonimato, de forma que sua identidade jamais será divulgada e conhecida por outros, sendo as informações prestadas codificadas e analisadas de forma coletiva, em conjunto com a de outros participantes, e utilizadas exclusivamente para os fins deste estudo. As informações fornecidas serão disponibilizadas para a comunidade cientifica através de publicações em periódicos indexados e apresentações em eventos científicos.

A orientadora desta pesquisa, Profa. Dra Maria Vilani Cavalcante Guedes e eu estamos à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas sobre este estudo, através dos telefones: 31019823 e 86792349(oi), respectivamente ou na secretaria do PPCCLIS situado na Av. Paranjana, 1700 – Campus do Itaperi – Fortaleza-CE. O Comitê de Ética em Pesquisa da UECE, que se situa no mesmo endereço, também se encontra disponível para esclarecer dúvidas deste estudo, bem como através do telefone 31019890.

Este termo será preenchido e assinado em duas vias de igual teor, ficando uma destas com o pesquisado e a outra com a pesquisadora.

Atenciosamente Maria Vilani Cavalcante Guedes (orientadora da pesquisa)

Cynthia de Freitas Sampaio (pesquisadora) Eu, _________________________________declaro que após ter sido devidamente

esclarecido(a) pela pesquisadora e ter entendido o que me foi explicado, concordo livremente em participar da pesquisa.

Fortaleza, ______ de ______________ de 2012.

_________________________________ ________________________________ Assinatura do pesquisador responsável, Assinatura / Impressão digital quem recebeu o consentimento do pesquisado

___________________________________|132

APÊNDICE D - TERMO DE FIEL DEPOSITÁRIO

Ao SAME

A instituição: CIDH – Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão

Estabelecida: Rua Silva Paulet, nº 2406 – Dionísio Torres

Estou desenvolvendo uma pesquisa sobre diabetes mellitus intitulada: A

competência de pessoas com diabetes mellitus tipo II para o autocuidado em

um serviço de atenção secundária. Com este estudo objetivo conhecer a

competência de pacientes portadores de diabetes mellitus tipo II para o autocuidado

acompanhados em um serviço de saúde de atenção secundária; verificar o

conhecimento do paciente diabético sobre a doença e gerenciamento em

intercorrências clínicas; identificar a competência de pacientes portadores de

diabetes mellitus tipo II para o autocuidado em saúde; verificar as atitudes destes

sobre a doença e seu tratamento.

Assim, venho através desta solicitar a autorização para coletar dados nos

prontuários dos pacientes atendidos nesta instituição. Esclareço que as informações

coletadas nos prontuários somente serão utilizadas para os objetivos da pesquisa e

ficarão em sigilo, preservando o anonimato dos pacientes.

Em caso de esclarecimento entrar em contato com a pesquisadora

responsável:

Cynthia de Freitas Sampaio

Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Saúde e Enfermagem

– Av. Paranjana, 1700 – Bairro: Serrinha – CEP: 60740-000 – Fone: 3101.9823

Assumo perante o Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão e o SAME,

a responsabilidade pelo termo.

Fortaleza, _____ de ____________ de 2012.

____________________________________________

Enfa. Esp. Cynthia de Freitas Sampaio

Pesquisadora

___________________________________|133

Anexos

___________________________________|134

ANEXO A – PARECER COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA (CEP)