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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DOUTORADO EM GEOGRAFIA CLESLEY MARIA TAVARES DO NASCIMENTO RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS EM MARACANAÚ-CE: RISCOS SOCIOAMBIENTAIS E SUAS VULNERABILIDADES FORTALEZA CEARÁ 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

DOUTORADO EM GEOGRAFIA

CLESLEY MARIA TAVARES DO NASCIMENTO

RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS EM MARACANAÚ-CE: RISCOS

SOCIOAMBIENTAIS E SUAS VULNERABILIDADES

FORTALEZA – CEARÁ

2017

CLESLEY MARIA TAVARES DO NASCIMENTO

RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS EM MARACANAÚ-CE: RISCOS

SOCIOAMBIENTAIS E SUAS VULNERABILIDADES

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Geografia do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de doutora em Geografia. Área de Concentração: Análise Geoambiental e Ordenação do Território nas Regiões Semiáridas e Litorâneas. Orientadora: Prof.ª. Drª. Maria Lúcia Brito da Cruz

FORTALEZA – CEARÁ

2017

CLESLEY MARIA TAVARES DO NASCIMENTO

RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS EM MARACANAÚ-CE: RISCOS

SOCIOAMBIENTAIS E SUAS VULNERABILIDADES

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Geografia do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de doutora em Geografia. Área de Concentração: Análise Geoambiental e Ordenação do Território nas Regiões Semiáridas e Litorâneas.

Ao RuiFerreira.

AGRADECIMENTOS

Esse é o espaço onde a teoria sistêmica se confirma, onde nossa condição de seres

interdependentes é manifestada, mostrando o quanto dependemos uns dos outros.

Quando queremos realizar algum trabalho mais substancial. Há um provérbio

africano que diz: “Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe,vá em grupo.” A

tecitura de uma tese é longa, por isso precisamos de um grupo de pessoas para nos

auxiliar, uma vez que é impossível tecê-la sozinha.

A presente pesquisa versa sobre risco e vulnerabilidade.Não seio porquêdasupresa

quando me deparei com a minha própria vulnerabilidade. Pensara eu que sairia

imune? Foi essa pergunta que minha orientadora me fez, com sua inata capacidade

de instigar aqueles e aquelas que a rodeiam. Então foi aí que entendi que para falar

sobre vulnerabilidade e risco com propriedade, não poderia escapar desse encontro

fatídico, e nem tão pouco não me arriscar. Quando somos expostas a situações de

riscos, nossa capacidade de resistência e de adaptação é colocada à prova e só

então percebemos o quanto vulneráveis somos e/ou estamos.Na tentativa de

mensurar os níveis dessa vulnerabilidade recorremos a algumas variáveis, e são

nelas que me apoio para tecer a trama da gratidão àqueles e àquelas que dividiram

comigo a trama desta tese.

O índice de vulnerabilidade social foi desenvolvido a partir de três dimensões

básicas: i) infraestrutura; ii) capital humano; iii) trabalho e renda. Devido aos

resquícios de rebeldia, não seguirei a ordem descrita e começo os agradecimentos

pela terceira variável.

Trabalho e renda - Meu agradecimento sincero a Coordenação de Aperfeiçoamento

de Nível Superior – Capes, que durante 30 meses me disponibilizou uma bolsa de

estudo.

Ao trabalho de geoprocessamento realizado, pacientemente, por Iggor Uchôa,

Washington Alves e Gledson Santos.

Infraestrutura - Meus agradecimentos pela oportunidade de usufruir dos

equipamentos do Programa de Pós-Graduação em Geografia – PROPGEO e do

Laboratório de Geoprocessamento da UECE – LABGEO.Ao apoio logístico da

UECE, através do empréstimo do seu micronibus para realização da pesquisa de

campo. À SEMACE, por permitir a coleta dos dados secundários, à colaboração

deDenise Guilherme e Maria da Glória Alves.Ao IBGE – Fortaleza, na pessoa de

Marcelo Gondim pelos esclarecimentos técnicos referentes aos setores censitários.

Capital Humano - Meu agradecimento em especial à minha orientadora e parceira,

dos momentos de baixa e alta vulnerabilidade, Prof.ªDrª Lúcia Brito.Às professoras

doutoras, Cláudia Grangeiro (in memorian) e Lúcia Mendes (pelas dúvidas sanadas

em relação à metodologia) e ao prof.Dr. Humberto Carvalho.À Adriana Lívio e

Julinha Ribeiro, pela competência e disponibilidade em responder com imediatismo

meus e-mails.À equipe do LABGEO, alunos e alunas de graduação e pós-

graduação,Epaminondes Machado Neto, Lucíola Matos, Rafael Reis, Pedro

Henrique, Níveo Rocha, Ramona Pinheiro, Bruna Franklin, Larissa Lima, Felipe

Xavier e Rebeca Rodrigues.Aos colegas de trabalho do Departamento de

Geociências da Universidade Regional do Cariri – URCA, pela compreensão e

solidariedade.Às professoras do Instituto Cearense de Educação de Surdos, Águeda

Leão e Júlia Feitosa.Aos colegas da turma de doutorado, Emanoel Lindemberg,

Fábio Ricardo, Gerardo Neto, Iapony Galvão, Leila Sousa, Luciana Lourenço e

Priscila Romcy.Por último e nem por isso menos importante, agradeço aos meus

ancestrais, à vida e a tudo que há de sagrado nela.

“Ainda que eu falasse as línguas dos

homens e dos anjos, e não tivesse amor,

seria como o metal que soa ou como o

sino que tine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e

conhecesse todos os mistérios e toda a

ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de

maneira tal que transportasse os montes,

e não tivesse amor, nada seria[...]”

(Coríntios 13:1,2)

RESUMO

As indústrias durante a produção de suas mercadorias geram uma quantidade

significativa de resíduos, denominados resíduos industriais. Por apresentarem

propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas, muitos desses resíduos,

quando gerenciados de forma inadequada, podem acarretar riscos à saúde pública

e/ou ao meio ambiente, por isso são considerados perigosos, classificados pela NBR

10.004/2004 como resíduos Classe I. Dado o exposto, a tese se propôs analisar os

riscos e as vulnerabilidades socioambientais decorrentes dos resíduos sólidos

Classe I, gerados no processo produtivo das indústrias do Distrito Industrial I de

Maracanaú-CE.Para tal utilizou-se de uma gama de instrumentos investigativos,

técnicas de geoprocessamento, base de dados cartográficos; imagens de satélite;

fotografias aéreas; levantamento de dados censitários e do IPEA e aplicação de

questionários nos domicílios próximos às indústrias inventariadas.O processamento

das informações levantadas produziu os índices de vulnerabilidade ambiental (IVA);

índice de vulnerabilidade socioambiental (IVSA) e o índice de vulnerabilidade de

resíduos perigosos (IVRP). Os resultados mostraram que os resíduos Classe I

gerados pelas indústrias do DIF I são gerenciados inadequadamente, do

armazenamento à disposição final, expondo a população residente do entorno a

situações de risco e vulnerabilidade socioambiental.

Palavras-chave: Resíduos Classe I. Distrito Industrial. Resíduos Industriais. Risco

Socio ambiental.

ABSTRACT

Industries during the production of their goods generate a significant amount of

waste, called industrial waste. Because of their physical, chemical or infectious-

contagious properties, many of these wastes, when improperly managed, may pose

a risk to public health and / or the environment, and are considered hazardous,

classified by NBR 10.004 / 2004 as Class I waste Given the above, the thesis

proposed to analyze the socioenvironmental risks and vulnerabilities arising from

Class I solid waste generated in the industrial process of the Industrial District I of

Maracanaú - CE. For this purpose a range of investigative tools, geoprocessing

techniques, cartographic database were used; satellite images; aerial photographs;

survey of census data and IPEA and application of questionnaires in households

close to the inventoried industries. The processing of de information collected

produced the indices of environmental vulnerability (EVI); socio-environmental

vulnerability index (SEVI) and the hazardous waste vulnerability index (HWVI). The

results showed that the class I waste generated by the DIF I industries is

inadequately managed from storage to final disposal, exposing the resident

population to situations of risk and socioenvironmental vulnerability.

Keywords: Class IWaste. Industrial District. Industrial Waste. Socio-

environmentalRisk.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 –

Figura 2 –

Figura 3–

Figura 4 –

Figura 5 –

Figura 6 –

Figura7 –

Figura 8 –

Figura 9 –

Figura 10 –

Figura 11 –

Figura 12 –

Figura 13 –

Figura 14 –

Figura 15 –

Figura 16 –

Figura 17 –

Figura 18 –

Figura 19 –

Figura 20 –

Figura 21 –

Destinação final dos resíduos sólidos urbanos coletados no

Brasil –2014..................................................................................

Caracterização e classificação dos resíduos sólidos..............

Gestão de resíduos sólidos ambientalmente adequada.........

Fluxograma das etapas de construção da Tese.......................

Mapa de localização da área de estudo....................................

Fluxograma dos procedimentos operacionais realizados

para a geração do IVA.................................................................

Fluxograma dos procedimentos operacionais realizados

para a geração do IVSA..............................................................

Sambaqui no Litoral de Santa Catarina – BR...........................

Cloaca Máxima da Roma Antiga................................................

Lixão de Eletrônicos em Gana – África.....................................

Mapa Municipal de Maracanaú-CE.............................................

Gráfico Distribuição das Indústrias por Distrito Industrial

emMaracanaú............................................................................

Localização dos Aterros para Resíduos Classe I....................

Mapa de vulnerabilidade Ambiental..........................................

Mapa da área de estudo por UDHs......................................................

Mapa IVS Infraestrutura Urbana.................................................

Mapa IVS Capital Humano por UDHs.........................................

Mapa IVS Trabalho e renda por UDHs.......................................

Mapa de vulnerabilidade socioambiental (IVSA)......................

Gráfico você acredita que as indústrias dão uma destinação

correta aos resíduos que elas geram?......................................

Distribuição Espacial dos ResíduosClasse I por Indústria...

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 –

Tabela 2 –

Tabela 3 –

Tabela 4 –

Tabela 5 –

Tabela 6 –

Tabela 7 –

Tabela 8 –

Tabela 9 –

Tabela 10 –

Tabela 11 –

Tabela 12 –

Tabela 13 –

Tabela 14 –

Tabela 15 –

Tabela 16 –

Tabela 17 –

Tabela 18 –

Tabela 19 –

Grau de vulnerabilidade da modelagem e seus respectivos

pesos..........................................................................................

Distância dos recursos hídricos superficiais e seus

respectivos pesos.....................................................................

Matriz de avaliação do índice de vulnerabilidade..................

Produto Interno Bruto por Setor Econômico – 2010.............

Os cinco maiores municípios quanto à participação do

produto interno bruto (PIB) do Ceará – 2011..........................

Esgotamento sanitário 2012.....................................................

Domicílios particulares segundo tipos de esgotamentos–

2000/2010....................................................................................

Consumo e consumidores de energia elétrica – 2012...........

Os cinco principais casos confirmados das doenças de

notificação compulsória em Maracanaú.................................

Indicadores educacionais de Maracanaú no ensino

fundamental e médio..............................................................

Cobertura vegetal da área de estudo por setores

censitários..................................................................................

IVS infraestrutura urbana por UDHs........................................

IVS capital humano por UDHs..................................................

IVS trabalho e renda por UDHs................................................

Síntese dos índices de vulnerabilidade social das UDHs....

Estado físico dos resíduos Classe I das indústrias

inventariadas.............................................................................

Quantidade de resíduos Classe I inventariados.....................

Valores do tratamento de resíduos Classe I no Ceará..........

Quantidade de resíduos Classe I por indústria......................

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABETRE Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos

e Efluentes

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ADH Atlas de Desenvolvimento Humano

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

ANA Agência Nacional de Águas

APR Análise Preliminar de Riscos

ARCE Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado

do Ceará

BID Banco Internacional de Desenvolvimento

BNB Banco do Nordeste do Brasil

CAGEGE Companhia de Água e Esgoto do Ceará

CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

COHAB Companhia deHabitação

COELCE Companhia Energética do Ceará

DI Distrito Industrial

DI 2000 Distrito Industrial 2000

DIF I Distrito Industrial de Maracanaú I

DIF III Distrito Industrial de Maracanaú III

ETE Estação de Tratamento de Esgoto

FIEC Federação das Indústrias do Estado do Ceará

FUNASA Fundação Nacional de Saúde

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFCE Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará

IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ISS Imposto Sobre Serviços

IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas

IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano

IVA Índice de Vulnerabilidade Ambiental

IVRP Índice de Vulnerabilidade de Resíduos Perigosos

IVS Índice de Vulnerabilidade Social

IVSA Índice de Vulnerabilidade Socioambiental

LDB Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional

NBR Norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas

PEA População Economicamente Ativa

PEV Posto de Entrega Voluntária

PERS Plano Estadual de Resíduos Sólidos

PGRS Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos

PIB Produto Interno Bruto

PLAMEG Plano de Metas Governamentais

PMSB Plano Municipal de Saneamento Básico

PMRS Política Municipal de Resíduos Sólidos

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

RMF Região Metropolitana de Fortaleza

RSU Resíduos Sólidos Urbanos

SEMACE Superintendência Estadual do Meio Ambiente

SEMAM Secretaria de Meio Ambiente de Maracanaú

SESA Secretaria de Saúde do Estado do Ceará

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

SESI PR Serviço Social da Indústria do Paraná

UDH Unidade de Desenvolvimento Humano

SUMÁRIO

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INTRODUÇÃO...........................................................................................

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA METODOLÓGICA.................................

DESAFIOS DA GESTÃO DE RESÍDUOS.................................................

RESÍDUOS SÓLIDOS E SUAS FACETAS...............................................

RESÍDUOS INDUSTRIAIS FOMENTAM ÁREAS DE RISCO...................

TRAJETÓRIA METODOLÓGICA.............................................................

ÍNDICE DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL.........................................

ÍNDICE DE VULNERABILIDADE SOCIAL................................................

ÍNDICE DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL (IVSA).................

RESÍDUOS SÓLIDOS: PRESENÇA E AMEAÇA NO ESPAÇO

GEOGRÁFICO..........................................................................................

RESÍDUOS DO TEMPO DEIXAM MARCAS NO ESPAÇO......................

OS RESÍDUOS NO ESPAÇO MEDIEVAL: AMEAÇA À VISTA................

OS RESÍDUOS NA MODERNIDADE........................................................

RASPAS E RESTOS ME INTERESSAM..................................................

RESÍDUOS SÓLIDOS NA MODERNIDADE LÍQUIDA..............................

UNIVERSO DA PESQUISA: PANORAMA HISTÓRICO

SOCIOAMBIENTAL...................................................................................

UMA OUTRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL................................................

ASPECTOS FÍSICOS................................................................................

INFRAESTRUTURA...................................................................................

SAÚDE.......................................................................................................

EDUCAÇÃO...............................................................................................

TRESULADOS E DISCUSSÕES..............................................................

ÍNDICE DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL (IVA)................................

ÍNDICE DE VULNERABILIDADE SOCIAL (IVS).......................................

ÍNDICE DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL (IVSA)..................

ÍNDICE DE VULNERABILIDADE DE RESÍDUOS PERIGOSOS (IVRP)..

CONCLUSÃO............................................................................................

REFERÊNCIAS....................................................................................................

APÊNDICES..........................................................................................................

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102

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APÊNDICE A -QUESTIONÁRIO DOS INDICADORES DE

VULNERABILIDADE E RISCO SOCIAL...................................................

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO DOS INDICADORES DE

VULNERABILIDADE E RISCOS – RESÍDUOS SÓLIDOS.........................

165

168

16

1 INTRODUÇÃO

A convivência, praticamente obrigatória, entre os resíduos sólidos e os

espaços sociais nos quais estão circunscritos é resultante do modo de vida

capitalista, fundado no processo de produção industrial que produz alterações

substanciais na natureza, tanto no tempo quanto no espaço. Destarte, os resíduos

sólidos tornam-se elementos atuantes na dinâmica de construção do espaço

geográfico, deixando um rastro de sérios problemas socioambientais que afetam

comunidades inteiras e as expõem a situações de vulnerabilidade e risco.

A tipologia dos riscos é vasta (risco natural, risco alimentar, risco

econômico, risco geopolítico, risco social e outros), no entanto este estudo irá deter-

se aos riscos ocasionados pelos resíduos industriais Classe I, considerados

perigosos devido às suas propriedades físicas, químicas ou infecto-químicas

poderem vir ocasionar riscos à saúde pública ou ao meio ambiente quando

gerenciados de forma inadequada.

As indústrias são diretamente afetadas pela gestão do risco, pois a

legislação e as normas técnicas as obrigam. Assim, o trabalho desenvolvido no

interior destas é organizado visando garantir o máximo de segurança, não apenas

para seus funcionários e moradores que circundam a área fabril, mas também para

o meio ambiente de maneira restrita e ampla. Cabe ressaltar que o significado do

risco industrial não é o mesmo para os gestores, os funcionários e a vizinhança, uma

vez que a relação cotidiana com a indústria e com o risco é específica de cada um

desses grupos, assim, as ameaças não são necessariamente vistas como tais,

embora estejam presentes. (VEYRET, 2007)

Diante do exposto, pode-se aferir que o teor de periculosidade destes

resíduos per si, já criam uma situação de vulnerabilidade e risco,

independentemente da existência ou não de acidentes.A presença de domicílios nas

proximidades de áreas industriais enfatiza a exposição ao perigo que os moradores

se encontram, seja devido a possíveis danoscausados a saúde; a propriedade ou a

capacidade de resposta diante de um acidente.

Seguindo os argumentos supracitados, algumas reflexões sobre a

situação dos resíduos sólidos industriais foram levantadas: Que tipo de tratamento é

dado aos resíduos sólidos perigosos produzidos nas indústrias? Qual a sua

17

destinação final? Qual a intensidade e nível de exposição às situações riscos estão

expostos os moradores dos domicílios localizados no entorno de áreas industriais?

Buscando dar concretude a estas reflexões, o recorte espacial para o

desenvolvimento da pesquisa restringe-se ao distrito industrial I de Maracanaú-

Ceará-Brasil. Dentre os motivos que justificam a escolha desse local, estão à

variedade e concentração de indústrias em sua área urbana, densamente

populosa;o principal rendimento do seu produto interno bruto (PIB) municipal ser

proveniente do setor industrial, grande gerador de resíduos Classe I; e ser este o

primeiro distrito industrial do estado do Ceará.

Vale expor que o objetivo maior, da pesquisa em questão, é analisar os

riscos e as vulnerabilidades socioambientais decorrentesdos resíduos sólidos Classe

I, gerados no processo produtivo das indústrias do Distrito Industrial I de Maracanaú-

CE. A ineficácia de uma fiscalização efetiva e a inexistência de um aterro industrial

no estado do Ceará dificulta o gerenciamento adequado deste tipo de resíduos. Esta

realidade corrobora com o levantamento dahipótese de que os resíduos sólidos

industriais,Classe I, gerados no Distrito Industrial de Maracanaú-CE expõem os

moradores a situações conjunturais de risco ambiental e vulnerabilidade social, e

que os mesmos desconhecem a condição de risco a qual se encontram.

Na busca investigativado objetivo explicitado, alguns procedimentos foram

realizados:identificaçãodas principais indústrias geradoras de resíduos sólidos

Classe I, em Maracanaú-CE; levantamentode variáveis socioambientais que afetam

as condições de vida da população autóctone e mapeamentoda área de

vulnerabilidade e risco, através de técnicas de geoprocessamento.

Deste modo, o presente estudo, procuroudesvelar a questão

ambiental dos resíduos sólidos Classe I e seus impactos, abordando tanto os

aspectos objetivos (quantitativos), quanto subjetivos (qualitativos) imbricados na

temática. Pois,acredita-se que a sobreposição desses dois atributos pode fornecer

conhecimentos relevantes para a definiçãode açõesdirecionadas a gestão dos

resíduos industriais, comprometidas com a segurança da população e do meio

ambiente.

18

2 MARCO TEÓRICO

É do conhecimento de estudiosos sobre o assunto, que a temática aqui

abordada requer um aporte multidimensional e interdisciplinar. No entanto vale frisar

que, esta pesquisa em particular, propõe um enfoque teórico centrado,

principalmente, nas postulações da ciência geográfica, o que não impede um diálogo

plurifacetado com outras ciências, como o Direito (no caso da legislação), a

Engenharia, a Saúde e a Gestão Ambiental.

Diante de tais colocações, com relação à abordagem geográfica conferida

à questão dos resíduos sólidos em geral, cumpre destacar os trabalhos de Alerte

MoisésRodrigues (1998), Luciana Ziglio (2005) e Maurício Waldman (2010). Suas

pesquisas discutem questões essenciais sobre a temática aqui abordada, a partir do

olhar horizontal da ciência supracitada; por isso, aqui utilizadas como base teórica.

Na visão de Rodrigues (1998), nas análises referentes à problemática

ambiental, categoria espaço é de suma importância. Deste modo, compreende-se

que sendo os resíduos sólidos per si um problema ambiental, é por essência um

tema, dentre outros, de caráter geográfico.

Corroborando com Rodrigues, mas adicionando outros aspectos,

Waldman (2010) pondera:

Engendrando formas nem sempre reconhecidas pelo nosso olhar, os

resíduos marcaram indelevelmente a paisagem. Primeiramente, pelo fato de

integrarem o processo mais amplo de transformação dos recursos naturais,

seriam, nesta linha de argumentação, inseparáveis do dinamismo de

construção do espaço. Em segundo lugar, concentrando-se ou

dispersando-se em áreas circunscritas, os resíduos se associam à gênese

de formas espaciais inéditas. (p. 12-13)

Mesmo não se tratando em si de um campo especificamente geográfico, a

riqueza da análise das interações espaciais entre os resíduos e outros fenômenos

ou agentes socioeconômicos do meio ambiente, constitui um tema instigante para

esta ciência, que devido a sua horizontalidade que lhe é característica, mostra-se

apta a compreender a complexidade envolvida nesta problemática, fato que legitima

a pretensa abordagem.

19

2.1 DESAFIOS DA GESTÃO DE RESÍDUOS

A problemática ambiental intensificou-se com a revolução industrial, as

pesquisas tecnológicas ocorridas nesse período contribuíram para modernizar o

modo de produção fabril elevando a extração de recursos naturais a níveis

comprometedores ao equilíbrio natural. A ampliação da expectativa de vida, através

dos avanços da medicina preventiva e sanitária, acarretou, por conseguinte o

crescimento demográfico, o qual gerou a necessidade de investimentos em novas

técnicas de produção em massa, visando atender a demanda cada vez mais

crescente de consumo.

A incorporação de novos hábitos de consumo e o aprimoramento de

técnicas cada vez mais modernas de industrializaçãoacarretaram um aumento

significativo no volume de resíduos gerados e dos impactos ambientais adversos,

decorrentes da produção destes.

Destarte, cerca de dois séculos após o advento da revolução industrial, a

gestão dos resíduos sólidos permanece como um dos grandes desafios da

sociedade contemporânea. Segundo Jacobi (2011) desde a Rio92, a gestão

sustentável de resíduos sólidos representa uma mudança paradigmática, que tem

direcionado a atuação dos governos, da sociedade e da indústria.

No caso do Brasil o desafio da gestão dos resíduos sólidos é hercúleo,

pois são raros os casos de destinação final adequada de resíduos, seja por não

possuírem o conjunto de técnicas necessárias à preservação ambiental ou pelo

descaso à proteção da saúde pública.

20

Figura 1 - Destinação final dos resíduos sólidos urbanos

coletados no Brasil -2014

Fonte: Abrelpe - 2014

Cumpre observar que os percentuais apresentados na figura 1, referem-

se ao total de resíduos sólidos urbanos (RSU) coletados, que corresponde cerca de

90% do lixo gerado, os 10% restantes (29. 659.170 t/ano) seguiram para lixões ou

aterros controlados, que do ponto de vista ambiental pouco se diferenciam dos

lixões, uma vez que não possuem sistemas de proteção do meio ambiente e da

saúde pública. (ABRELPE, 2014)

A pressão da opinião pública, de grupos ambientalistas e associações de

catadores, vem exigindo crescentes cuidados com esses impactos sobre o meio

ambiente. A promulgação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) em

2010, Lei 12.305, foi uma das conquistas obtidas e trouxe vários avanços no que se

refere à gestão dos resíduos sólidos no Brasil. Entre estes se destacam: a

abordagem sistêmica, logística reversa, responsabilidade compartilhada, ênfase na

redução e reutilização dos resíduos, educação ambiental, o reconhecimento e

inclusão do catador com ator social.

É inegável a importância da PNRS, considera-se até que demorou demais

a sair, entretanto as metas propostas geraram certa tensão entre sociedade civil,

21

governos municipais, estaduais e governo federal. Principalmente a da erradicação

dos lixões até agosto 2014, os quais deveriam ser substituídos por aterros

sanitários, para onde os resíduos recicláveis não poderão mais ser enviados.

Com a proximidade do fim do prazo legal, prefeitos e entidades

representativas, como a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) alegaram

não possuírem condições econômicas e técnicas para atingir a meta estabelecida, e

solicitaram junto ao governo federal uma prorrogação,só para se ter uma ideia, em

2013, havia 1.196 lixões e apenas 652 aterros sanitários em todo território nacional.

Assim, frente a esta realidade, em 2014, ao invés da extinção, houve uma

prorrogação escalonada do prazo de fechamento dos lixões.

Através do projeto 425/2014 ficou determinado que capitais e municípios

de região metropolitana terão até 31 de julho de 2018 para erradicarem seus lixões,

sendo essa data acrescida de um ano (31/07/2019) para os municípios de fronteira e

os que contam com mais de 100 mil habitantes. Já aqueles que têm entre 50 e 100

mil habitantes terão prazo até 31de julho de 2020 e os com menos de 50 mil

habitantes até a mesma data de 2021.(TORRES, 2015).

Vale frisar que o acesso aos recursos financeiros destinados às

mudanças estabelecidas pela lei é de âmbito federal e está atrelado à apresentação

de planos de gerenciamento de resíduos sólidos (PGRS) por parte das três esferas

governamentais – municipal, estadual e federal. No tocante ao estado do Ceará, o

Plano Estadual de Resíduos Sólidos (PERS) foi finalizado em 2015, entretanto,

grande parte de seus municípios ainda estejam tentando cumprir uma legislação

anterior ao PNRS, a Lei do Saneamento Básico (Lei nº 11. 445/2007).

Em relação aos Planos Municipais de Saneamento Básico - PMSB,

segundo a Fundação Nacional de Saúde - FUNASA e a Agência Reguladora de

Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará - ARCE, em 2012 existiam cinco

planos elaborados (Morada Nova, Limoeiro do Norte, Iguatu, Cariús e Quixelô),

correspondente a 3% dos 184 municípios cearenses. 65 planos estão em

andamento (35% da demanda); 18 municípios estão em análise pela FUNASA para

financiamento (10% da demanda); 52% do total de municípios não possuem planos

encaminhados, ou seja, 96 deles. O contexto revela que as prefeituras estão tendo

dificuldade de fazer o PMSB e já se veem cobradas a elaborarem o Plano Municipal

de Resíduos Sólidos (PMRS).

22

2.2 RESÍDUOS SÓLIDOS E SUAS FACETAS

Em grande medida, as legislações e regulamentações brasileiras

propostas para o gerenciamento de resíduos são caracterizadas por uma definição

geral de resíduos sólidos, o que amiúde, confunde o entendimento conceitual e

evidencia a diversidade e complexidade da temática.

Como se pode ver no Art. 3° da Política Nacional de Resíduos Sólidos,

que os define como:

XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado

resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se

procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados

sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos

cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento em rede pública de

esgotos ou de corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas ou

economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. (2010,

p.03)

Nesse mesmo viés, a ABNT NBR 10004/04, que classifica os resíduos

sólidos quanto aos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública considera,

[...]resíduos sólidos:Resíduos nos estados sólido e semissólido, que

resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar,

comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta

definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água,

aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição

[...]. (2014, p.07)

Observa-se que ambas as definições de resíduos sólidos, comporta os

estados semissólido, líquido e até mesmo gasoso, fato que dificulta, muitas vezes,

sua compreensão por parte dos leigos e de algumas pessoas que sobrevivem do

manejo desse material descartado. Sem falar que para maioria da população o

vocábulo resíduo é usualmente utilizado como sinônimo de lixo, “coisa que se varre

da casa, da rua, e se joga fora” (FERREIRA, 2001, p.462).

Há outras situações em que a conceituação destes resíduos é equivalente

à de rejeitos, “resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de

23

tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e

economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição

final ambientalmente adequada1”. (PNRS, 2010, p.02)

Para uma melhor compreensão das análises e discussões realizadas no

corpo do presente trabalho, é pertinente esclarecer que o termo resíduo sólido será

aqui entendido como, todo material sólido e semissólido resultante de atividades

humanas (industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de

varrição) descartados no meio ambiente devido sua prévia inutilidade.

No que concerne à classificação, os resíduos se diferem conforme sua

natureza física (seco,molhado); composição química (orgânico, inorgânico); riscos

potenciais ao meio ambiente e à saúde pública (perigosos, não perigosos) e a

origem (domiciliar, urbano, comercial, público, industrial, serviços de saúde,

construção civil, agrossilvipastoril, serviços de transporte e mineração).

Decerto, a classificação multifacetária de resíduos transcende o objetivo

desta pesquisa, deste modo, é oportuno elucidar que a explicitação pormenorizada,

a seguir, dos resíduos que oferecem riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde

pública e dos resíduos industriais, deve-se à sua condição de categoria basilar do

presente estudo.

Considerando a crescente preocupação da sociedade com relação às

questões ambientais e a gestão dos resíduos, a Associação Brasileira de Normas

Técnicas – ABNT - criou em 1987 uma norma específica para classificá-los, a NBR

10004 (atualizada em 2004), visando fornecer subsídios para o gerenciamento

adequado dos mesmos.

Nesse sentido, a classificação dos resíduos sólidos, trazida nesta Norma,

envolve uma identificação criteriosa do processo ou atividade que lhes deu origem e

de seus constituintes e características e a comparação destes constituintes com

listagens de resíduos e substâncias cujo impacto à saúde e ao meio ambiente é

conhecido. A segregação dos resíduos na fonte geradora é parte integrante dos

laudos de classificação, onde a descrição de matérias-primas, de insumos e do

processo no qual o resíduo foi gerado devem ser explicitados. (NBR 10004)

1De acordo com a Lei 12.305, disposição final ambientalmente adequada é a distribuição de rejeitos em aterros

observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a

minimizar os impactos ambientais adversos.

24

Segundo a NBR 10004:04, quanto à periculosidade os resíduos são

assim classificados:

1) Resíduos Classe I, considerados perigosos em função de suas

propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas, pode apresentar: a) risco à

saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando seus

índices; b) riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma

inadequada.

2) Resíduos Classe II, considerados não perigosos em função de não

apresentar riscos à saúde pública e ao meio ambiente. São divididos em:

a) Resíduos Classe II A – Não inertes, aqueles que não se enquadram

nas classificações de resíduos classe I ou resíduos classe II B, podendo ter

propriedades como biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.

b) Resíduos Classe II B – Inertes, aqueles que quando submetidos a um

contato com água destilada ou desionizada, à temperatura ambiente, não tem

nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões

de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor.

A figura 2 ilustra a classificação dos resíduos sólidos quanto ao risco à

saúde pública e ao meio ambiente, de acordo com a NBR 10004:04.

Figura 2 – Caracterização e classificação dos resíduos sólidos 2

Fonte: Extraído da ABNT NBR 10004:04

2Os anexos A e B da NBR10004 constituem-se de uma lista contendo o nome dosresíduos perigosos de fontes

não específicas e resíduos perigosos de fontes específicas, respectivamente e o anexo G contém os padrões para

o ensaio de solubilização.

25

A identificação e classificação é parte integrante da etapa inicial do

gerenciamento de resíduos sólidos, composto pelas etapas de coleta, transporte,

transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada. Por sua vez, o

gerenciamento corresponde a uma parte da gestão integrada dos resíduos sólidos, a

qual engloba as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social da

questão, sob a premissa do desenvolvimento sustentável. (PNRS, 2010) (Ver Figura

3)

Figura 3– Gestão de resíduos sólidos ambientalmente adequada

Desenvolvimento Sustentável

Gestão Integrada de

Resíduos

Gerenciamento de

Resíduos

Fonte: Elaboração da autor a partir de PNRS – 2013

Na forma da Lei 12.305, o gerenciamento e a gestão integrada dos

resíduos sólidos devem seguir à ordem de prioridade: não geração, redução,

reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e destinação final

ambientalmente adequada dos rejeitos.

No tocante à definição dos resíduos industriais, a Política Nacional de

Resíduos Sólidos, os define, resumidamente, como os “gerados nos processos

produtivos e instalações industriais.”(2010, p.7).

Já o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) os conceitua de forma

mais específica:

26

Aquele originado nas atividades dos diversos ramos da indústria, tais como

metalurgia, química, petroquímica, papeleira, alimentícia, etc. O lixo

industrial é bastante variado, podendo ser representado por cinzas, lodos,

óleos, resíduos alcalinos ou ácidos, plásticos, papéis, madeiras, fibras,

borrachas, metais, escórias, vidros e cerâmicas. Nesta categoria, inclui-se a

grande maioria do lixo considerado tóxico (Classe I). (2000, p.30)

Em contribuição mais recente Waldman (2010) complementa, os

resíduos industriais são produzidos na extração e transformação de matérias primas,

abrangendo às atividades mineradoras e de obtenção de energia, inclusive a

nuclear. Devido sua singularidade, exigem descarte específico, não apenas o

volume, mas a periculosidade é outro fator de risco.

2.3 RESÍDUOS INDUSTRIAIS FOMENTAM ÁREAS DE RISCO

Com base no exposto, pode-se afirmar que a grande maioria dos resíduos

industriais contém substâncias tóxicas. Diversos produtos utilizados no processo

produtivo industrial possuem metais pesados, nocivos tanto ao meio ambiente

quanto à saúde pública. Estes diferem de outros agentes tóxicos porque não são

sintetizados nem destruídos pelo homem, ou seja, acumulam-se no organismo que é

incapaz de eliminá-los, se ligam às paredes celulares dificultando o transporte de

nutrientes o que pode ocasionar até à morte.

A presença desses metais, muitas vezes, está associada à localização

geográfica de regiões agrícolas e industriais. Os despejos de resíduos industriais na

natureza são as principais fontes de contaminação e poluição ambiental. Quando

lançados como resíduos, na água, no solo ou no ar,podem ser absorvidos por

vegetais e animais, provocando graves intoxicações ao longo da cadeia alimentar.

Cabe ressaltar que todas as formas de vida do planeta podem ser afetadas pela

presença desses metais, dependendo da dosagem e da forma química. (CAMPOS

et al., 2014).

Metais pesados estão presentes na linha de produção de várias

indústrias, tais como indústrias extrativistas de metais, de tintas e pigmentos,

beneficiamento de couro, indústrias de ferro e aço, lavanderias, indústria de

petróleo, e, especialmente, as galvanoplastias, que se espalham em grande número

27

nas periferias das grandes cidades, constituindo-se em verdadeiras áreas de

vulnerabilidadesocioambiental. Por se tratarem de áreas desvalorizadas, existe uma

tendênciados grupos de baixa renda residirnasperiferias, geralmente, lugares com

forte concentração de problemas e riscos sociais e ambientais. (ALVES, 2006)

Outra fonte importante de contaminação do ambiente por metais pesados

são os incineradores de resíduo urbano e industrial, que provocam a sua volatização

e formam cinzas ricas em metais, principalmente mercúrio, chumbo e cádmio.

De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Tratamento,

Recuperação e Disposição de Resíduos Especiais (ABETRE), dos 2,9 milhões de

toneladas de resíduos industriais perigosos gerados anualmente no Brasil, somente

600 mil toneladas recebem tratamento adequado (coprocessamento, incineração,

aterro classe I). Os 78% restantes são depositados indevidamente em lixões, sem

qualquer tipo de tratamento. (apud CAMPOS, 2014).

A legislação promulga que a responsabilidade pelo armazenamento,

transporte, tratamento e destinação adequada dos resíduos industriais, é do

gerador. A explicitação dessa competência permite dirimir qualquer dúvida sobre o

responsável no caso de ocorrência de acidentes, obrigando-o assumir os custos de

recuperação ou de medidas mitigadoras, referentes a um ato prejudicial ao meio

ambiente e/ou à saúde da população. Entretanto, o desconhecimento e a falta de

divulgação dessa informação, faz com que muitas vezes não seja exigido dos

verdadeiros responsáveis arcarem com as devidas providências diante de um

acidente, restando à população o ônus de um dano que ela não causou.

Pode-se observar no quadro 1 os principais efeitos dos metais

pesados na saúde e no meio ambiente.

28

Quadro 1 - Principais efeitos dos metais pesados na saúde e no meio ambiente

Metal Chumbo

(Pb)

Mercúri

o (Hg)

Cádmio (Cd)

Efeito na saúde

Provoca alterações

no sangue e na

urina, ocasionando

doenças graves e

em alguns casos,

invalidez total e

irreversível.

Ocasiona problemas

respiratórios.

Provoca

alterações renais e

neurológicas. As

principais alterações

são no

desenvolvimento

cerebral das

crianças, podendo

provocar o idiotismo.

Apesar de

menos agressivo na

água do que no ar,

depositado nos

ossos, musculaturas,

nervos e rins,

provoca estado de

agitação, epilepsia,

tremores, perda da

capacidade

intelectual e anemia.

Afeta o sistema

nervoso central,

provocando lesões

no córtex e na

capa granular do

cérebro.

Alteraçõ

es em órgãos do

sistema

cardiovascular.

Acumula

-se no sistema

nervoso,

principalmente no

cérebro, medula e

rins.

Provoca

perda de

coordenação dos

movimentos,

dificuldade no falar,

comer e ouvir,

além de atrofia e

lesões renais,

urogenital e

endócrino.

Provoca alterações no

sistema nervoso central e

no sistema respiratório.

Compromete

ossos e rins.

Ocasionaedem

a pulmonar, câncer

pulmonar e irritação no

trato respiratório.

Analogamente

ao mercúrio afeta o

sistema nervoso e os rins.

Provoca perda

de olfato, formação de um

anel amarelo no colo dos

dentes, redução na

produção de glóbulos

vermelhos e remoção de

cálcio dos ossos.

Polui o É Contamina o

(Continua)

29

Efeito

no meio

ambiente

solo, a água e o ar e

desta forma

contamina os

organismos vivos,

devido ao seu efeito

bioacumulativo,

em toda a cadeia

alimentar (trófica).

absorvido pelos

organismos vivos e

vai-se acumulando

de forma contínua

durante toda a

vida. Pela

contaminação da

água ou do solo,

entra com

facilidade na

cadeia alimentar,

representando um

perigo para o

homem que se

alimenta de peixes

ou aves dessas

áreas.

solo, o ar, a água e o

lençol freático.

É

bioacumulativo em toda a

cadeia alimentar (trófica),

provocando intoxicação

nos seres

humanosquandoingerirem

peixes contaminados com

cádmio.

Fonte: <http://www.fernandosantiago.com.br/met90.html>

Esta preocupação legal em definir o responsável por um dano causado ao

meio ambiente ou a população, é decorrente de um processo de luta da sociedade

civil frente aos grandes desastres ambientais ocorridos no século XX, entre os mais

conhecidos, Minamata–Japão (1956), Seveso - Itália (1976), Bophal-Índia (1984).

De origem industrial, esses acidentes chamaram atenção aos riscos reais

da poluição ambiental na qualidade de vida e na sobrevivência da espécie humana,

mostrando a necessidade de se prevenir quanto a sua ocorrência e seus efeitos de

curto e longo prazo. Abordando a questão com uma maior amplitude,Beck (2010)

postula que os riscos fabris são produtos da modernidade, que se revelam sob a

forma de ameaças à vida de plantas, animais e seres humanos.

De maneira geral, o risco sempre transitou na história da humanidade, se

fez e faz presente nos momentos de perigo e nas sensações de ameaça e incerteza,

podendo ser vinculado às ações naturais ou humanas. Entretanto, com a

industrialização e seus efeitos, contrários ao equilíbrio ambiental, as situações de

continuação

(Conclusão)

30

riscos tomaram proporções gigantescas, onde muitas vezes, ações de defesa e

prevenção são ineficazes.

Beck ilustra bem a ideia aqui apresentada:

Contra as ameaças da natureza externa, aprendemos a construir cabanas e

a acumular conhecimentos. Diante das ameaças da segunda natureza,

absorvida no sistema industrial, vemo-nos praticamente indefesos.

Perigosvêm a reboque do consumo cotidiano. (2005, p.9).

Considera-se que a citação do autor “abre caminho” para a discussão de

dois elementos fundamentais do presente trabalho, risco industrial, e os perigos

resultantes do consumo. Nas palavras de Jacobi (2006), o atendimento das

necessidades de consumo exige uma diversidade cada vez maior de produtos, que

acabam gerando resíduos, seja no processo de produção ou após o seu consumo e

com diferentes graus de periculosidade.

Conforme Veyret (2007), diferente do risco natural, familiar aos geógrafos,

o risco industrial foi inicialmente estudado por engenheiros, a partir de uma análise

matemática entre probabilidade/consequência ou frequência/gravidade, que permitiu

quantificar o risco e definir os níveis de aceitabilidade. Entretanto, uma avaliação

profunda da questão não deve se restringir à abordagem puramente tecnicista, a

incerteza que há numa situação de risco advém de fatores geográficos ou humanos,

dificilmente modeláveis.

Fica patente que, “o risco é certamente, um objeto geográfico. É preciso,

portanto, tratá-lo em termos espaciais. Ele se situa na interface entre um espaço

industrial e espaços urbanos (ou rurais) que o englobam.” (VEYRET, 2007, p. 180).

A avaliação normativa de risco industrial o distingue em dois tipos: risco

individual e risco social. O risco individual tem caráter cumulativo e geográfico, ou

seja, leva-se em consideração o risco existente para um indivíduo na vizinhança de

um perigo, em período de tempo definido. O risco social é considerado para um

agrupamento de pessoas presente na vizinhança de um perigo, em período de

tempodefinido. (CETESB, 2011).

Em ambas as definições, tanto o indivíduo quanto o grupo estão expostos

à situação de risco em determinado espaço (vizinhança) e período temporal, esta

realidade os coloca numa posição de vulnerabilidade. Para Hewitt (1997, apud

31

CASTRO, 2005), as situações de risco (risk) e de segurança (safety) são

decorrentes de uma tríade de elementos: os perigos (hazards), a vulnerabilidade e a

intervenção e adaptação às condições de perigo.

Apresentando posição similar, Moser (1998, apud ALVES, 2006)

reconhece que, a exposição ao risco é um dos componentes presentes em

situações de vulnerabilidade, assim como, a incapacidade de reação, e a dificuldade

de adaptação diante da materialização do risco.

A capacidade de resposta e dificuldade de adaptação diante da

concretude do risco está diretamente relacionada a uma gama de recursos:

ambientais, técnicos, humanos, econômicos, sociais e políticos. Entretanto, vale

advertir que, os “fatores socioeconômicos frequentemente aumentam a

vulnerabilidade das populações ameaçadas” (VEYRET, 2007, p.40).

Considera-se que a adaptação às condições de risco, aprioristicamente

passa pela aceitação, que por sua vez só é possível existir se houver confiança.

Para Castro (2005), no caso dos riscos naturais, a relação confiança e risco é

menor; a menos que esteja envolvida nesta relação alguma forma de controle

humano (trabalho/tecnologia) sobre os perigos, fato que demanda confiança da

sociedade (leiga) ao sistema de controle implementado tendo ou não consciência do

perigo ao qual se encontra exposto. Presume-se então que no caso dos riscos

relacionados às ações humanas, a relação confiança e risco seja maior.

Segundo Slovic (1998, apud, CASTRO, 2005), a falta de confiança é cada

vez mais apontada como um fator crítico e implícito nas discussões que envolvem a

gestão de resíduos, principalmente os tecnológicos. Talvez, devido ser tão

comumente utilizada no cotidiano, sua importância para a gestão de riscos ainda

não tenha sido devidamente valorizada.

Balizado nas colocações supracitadas, o termo confiança adentra nos

questionamentos aqui levantados. Qual o nível de risco existente nos resíduos

industriais? Há confiança de que as indústrias estão fazendo o manejo dos resíduos

perigosos de forma adequada? Quais medidas de segurança estão sendo tomadas?

Até que ponto se pode confiar nas precauções tomadas pelas indústrias quanto ao

risco advindo do manejo dos resíduos Classe I?

32

A complexidade existente nos estudos de análise de risco é algo notório,

pois compreender a natureza e determinar o nível de risco envolve não apenas

elementos pragmáticos, mas também subjetivos que varia de indivíduo para

indivíduo. Entretanto, são fundamentais na análise de instalações industriais já em

operação, de modo que o risco residual possa ser avaliado e gerenciado

satisfatoriamente. (CETESB, 2001).

33

3 PERCURSO METODOLÓGICO

A trajetória metodológica para a investigação da situação de

vulnerabilidade e riscos socioambientais referentes aos resíduos sólidos perigosos,

gerados no Distrito Industrial I do município de Maracanaú, em linhas gerais, pode

ser sintetizada em três etapas, sendo a primeira o pré-campo, consistindo no

levantamento bibliográfico, cronograma de atividades e elaboração de questionários;

o trabalho de campo, aplicação de questionários, entrevistas e visitasàs instituições.

Na terceira etapa (pós–campo) houve a sistematização dos dados levantados no

campo, sua análise e registro. (Figura 4)

Buscou-se fazer uma análise entre a situação de vulnerabilidade

socioambiental do Distrito Industrial I e o índice de vulnerabilidade quanto aos

resíduos perigosos gerados pelas indústrias ali localizadas.

Figura 4 – Fluxograma dasetapas de construção da Tese

Fonte: Elaboração da autor (2017)

Pré-campo

O levantamento das indústrias instaladas no Distrito Industrial I, de

Maracanaú, baseou-se no Guia Industrial do Ceará 2012-1013, documento

produzido pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC). Foram

selecionadas, previamente, 20 indústrias, tendo como critérios, o processo

TESE

Pré-campo

-Levantamento bibliográfico

- Cronograma de trabalho

- Elaboração de questionários

Campo- Visitas a instituições públicas e privadas

- Aplicação de questionários

- Entrevistas

- Levantamento bibliográfico

Pós-campo

- Levantamento bibliográfico

- Sistematização dos dados

- Análise dos dados

- Escrita da tese

- Apresentação

34

produtivo, a grande geração de resíduos Classe I e o número de funcionários (≥ de

30 funcionários).

Sendo assim, foram identificadas as seguintes atividades industriais:

a) Indústria de beneficiamento de couro

b) Fabricação de produtos químicos

c) Indústrias metalúrgicas, máquinas e equipamentos

d) Indústrias têxteis

e) Indústrias de alimentos

f) Indústria de bebidas

g) Indústrias de beneficiamento de celulose

h) Indústria de plásticos

i) Indústria de tintas

j) Coleta e tratamento de resíduos

Após esta prévia definição, as indústrias foram contatadas através de

telefonemas, esclarecendo o objetivo da pesquisa, e também via correio eletrônico,

por onde foi enviada uma carta de apresentação solicitando o agendamento de uma

possível visita para a coleta de dados e um questionário (caso preferissem) a ser

preenchido pelo setor ambiental da empresa, contendo perguntas referentes à

gestão dos resíduos industriais por elas gerados. Nenhuma delas preencheu o

questionário ou deu qualquer retorno, fato que demonstra a falta de transparência

das mesmas com relação ao manejo de seus resíduos, entre estes, resíduos de alta

periculosidade, que muitas vezes podem não estar sendo gerenciados como a lei

determina, para que a segurança socioambiental seja contemplada e os riscos de

acidentes suprimidos.

Deste modo, as informações da quantificação do volume dos resíduos

industriais, classe I, gerados no município de Maracanaú, foram obtidas a partir de

dados secundários, por consultas dos Planos de Gerenciamento de Resíduos

Sólidos (PGRS), enviados pelas indústrias à Superintendência de Meio Ambiente do

Ceará – SEMACE. Vale destacar que a permissão para o levantamento dos dados

teve como premissa a condição de manter em sigilo o nome das indústrias

inventariadas.

35

O trabalho de campo

Consistiu-se em visitas a órgãos de instâncias públicas e

privadas:Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE); Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Secretaria de Meio Ambiente de

Maracanaú (SEMAM), Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) e

domicílios particulares.

O levantamento de dados, a partir dos PGRS enviados à SEMACE, deu

origem a uma nova listagem de indústrias, essa segunda configuração foi

apresentada à banca de qualificação a qual sugeriu que fossem inventariadas às

indústrias que gerassem uma quantidade significativa de resíduos perigosos em

detrimento das demais, cuja quantidade era incipiente, como por exemplo, as

indústrias de alimentos e bebidas. Acatando a opinião dos especialistas e

“pressupondo-se que o julgamento coletivo, quando organizado adequadamente, é

melhor que a opinião de um só indivíduo” (SANTIAGO; DIAS, 2012, p. 205), o rol de

indústrias foi mais uma vez reconfigurado, balizado nos seguintes critérios,

quantidade de resíduos Classe I gerados (acima de 5 t/mês), o nível de

periculosidade dos resíduos e sua localização no Distrito Industrial I. (Quadro 2)

Quadro 2 – Indústrias inventariadas do Distrito Industrial I – Maracanaú

N

º

O

rdem

Indústri

as3

Atividade

0

1

A

Beneficiamento de

couro

0

2

B

Beneficiamento de

celulose

3Indústrias – estão sigilosamente representadas por letras do alfabeto romano.

(Continua)

36

0

3

C

Metalurgia

0

4

D

Fabricação de

máquinas e equipamentos

0

5

E

Tinta

0

6

F

Coleta e tratamento

de resíduos

0

7

G

Têxtil

Fonte: Elaboração pelo autora partir de dados da SEMACE (2013)

É pertinente destacar que, embora o Distrito Industrial I seja rodeado

por 43 setores censitários, composto por residências e comércio, a área deste

estudo se restringiu a 12 setores censitários, contando com o Distrito Industrial I.O

recorte teve como referência a localização das indústrias inventariadas e a

proximidade dos domicílios com as mesmas, resultando na coordenada geográfica

do centroide da área 3°51'34” S e 38°36'9”O.

A localização espacial das indústrias determinou a área de aplicação

dos questionários, domicílios próximos ao entorno das mesmas e, por conseguinte a

delimitação espacial da pesquisa, a qual ultrapassa, então, os limites do Distrito

Industrial I ao agregar ao seu contorno as áreas residenciais onde foram aplicados

os questionários. (Figura 5)

A definição da quantidade de questionários a serem aplicados, resultou

da seguinte fórmula matemática:

(Conclusão)

37

Fórmula para o cálculo do tamanho da amostra

n0 =1

(E0)²

n = N . n0

N + n0

n0 = Amostra inicial

E0 = Erro amostral

n = Amostra corrigida

N = Número de domicílios

Os questionários (Ver Apêndice) foram aplicados em

domicíliosdistribuídos no quarteirãomais próximo às indústrias inventariadas, com o

intuito de conhecer e identificar as percepções dos moradores e moradoras, face ao

problema ambiental aqui estudado. Uma vez que, frequentemente, os riscos

existentes no meio ambiente são determinados pelos riscos percebidos, ou seja,

pelo o que a população identifica ou não identifica como um problema ambiental,

tendo como referência aspectos da subjetividade dos moradores urbanos. (JACOBI,

2000).

38

Figura 5 – Mapa de localização da área de estudo

Fonte: Elaborado por Iggor Torres (2017)

Fonte:elaborado pela autora

39

Pós-campo

Constituiu-se na sistematização dos dados levantados na etapa anterior,

os quais nortearam de sobremaneira a elaboraçãodos índices de vulnerabilidade

ambiental, vulnerabilidade social, vulnerabilidade socioambiental e de

vulnerabilidade quanto aos resíduos perigosos.

3.1 ÍNDICEDE VULNERABILIDADE AMBIENTAL

De acordo com seu Plano Diretor (Lei 731/00), toda área territorial de

Maracanaú é considerada de ocupação urbana, sendo assim, é oportuno frisar que o

termo vulnerabilidade ambiental, aqui utilizado, refere-se ao estado de

suscetibilidade que determinada população encontra-se, diante das alterações

ambientais (retirada da vegetação nativa, impermeabilização do solo, poluição e

assoreamento dos recursos hídricos, poluição atmosférica), decorrentes do processo

de urbanização. Para Veyret (2007), é patente que:

O sistema urbano traz os germes da vulnerabilidade. Os efeitos da

concentração e da densidade urbanas, a desigual mobilidade dos cidadãos,

[...], e o impacto das práticas de urbanismo desregrado induzem as

interações entre os agentes destruidores e as construções. (p.86)

As situações de vulnerabilidade e risco surgem à medida que a cidade

se expande espacialmente, aumentando a pressão sobre os recursos naturais,

através da construção de prédios residenciais e comerciais, casas, hospitais,

viadutos, indústrias e demais equipamentos de atração demográfica. Como

apontado por Foucher (1982, apud CASTRO et al 2005, p.22-23), “os riscos naturais

aumentam com o crescimento demográfico e, em uma escala local, aumentam a

partir da urbanização dos sítios, frequentemente vulneráveis (planícies aluviais,

regiões baixas, sopés de encostas etc.) principalmente em países

subdesenvolvidos.”

Em face do exposto, visando operacionalizar o Índice de

Vulnerabilidade Ambiental buscou-se fundamentação metodológica em Alves (2006)

e Rezende (2016), que utilizam a técnica de sobreposição de carta digitais

40

resultantes do geoprocessamento com a malha digital dos setores censitários, de

municípios urbanizados. Mesmos assim, foi necessário realizar algumas adaptações,

no intuito de contemplar as especificidades encontradas durante o trajeto

investigativo.

Para tal, inicialmente foi elaborado um banco de dados utilizado

aplicações de geoprocessamento, processamento digital de imagem, contendo as

bases geocartográficas necessárias para o desenvolvimento da pesquisa. O

software utilizado foi o ArcGIS® 10.4.1 versão trialfree disponibilizado gratuitamente

no link < http://www.esri.com/software/arcgis/arcgis-for-desktop/free-trial >. Esse

Sistema de Informação Geográfica – SIG permitiu o armazenamento, a integração, a

gestão e a derivação dos dados espaciais.

Chegou-se ao Índice de Vulnerabilidade Ambiental – IVA, através da

análise geoespacial multicritério com abordagem por média ponderada. Foram

escolhidas duas variáveis de análise pertinente à modelagem da vulnerabilidade

ambiental que são: a cobertura vegetal e a distância aos recursos hídricos. Desta

forma, fez-se necessário elaborar os mapas (planos de informações) concebidos

como modelos conceituais de campo contínuo.

A variável cobertura vegetal foi escolhida, por considerá-la fundamental

ao equilíbrio da dinâmica ambiental, contribuindo tanto na manutenção de aspectos

físicos (temperatura, solo, recursos hídricos, biodiversidade), quanto sociais

(recreação, lazer, contemplação), fato que demonstra a correlação existente entre

cobertura vegetal e vulnerabilidade. Aprofundando a afirmativa em questão, Crepani

(2001) considera a densidade da cobertura vegetal de uma determinada área,

paisagem natural ou terreno, fator de proteção contra os processos morfogenéticos

erosivos, e correlaciona o grau de densidade de cobertura com o nível de

vulnerabilidade, ou seja, quanto mais alto o adensamento vegetal maior a

estabilidade ambiental e, por conseguinte menor o nível de vulnerabilidade. Por

outro lado, as áreas de baixa densidade de cobertura vegetal apresentam maior

vulnerabilidade.

Visando identificar a densidade da cobertura vegetal da área em análise

foi realizado um mapeamento da cobertura vegetal, com recursos de Processamento

Digital de Imagem PDI. Convém ressaltar que as imagens de satélite utilizadas, por

possuírem alta resolução espacial, validam a escala de mapeamento que é na

grandeza de 1:10.000. A partir das imagens de satélite RapidEye (REIS) foi gerado

41

uma matriz de Índice de Vegetação por Diferença Normalizada – IVDN através da

técnica de aritmética de banda. A data da imagem utilizada foi do dia 11/07/2014,

apesar de existirem outras de datas de aquisição mais recentes do mesmo sensor, a

presença de nebulosidade na área de estudo não possibilitou o uso.

Com esses dados em matriz foi possível categorizar, a partir da

assinatura espectral dos elementos que se encontram na superfície, quatro grupos,

que são:

1- Corpos hídricos,

2- Edificações em geral (foi inserido nessa classe as

informações pertinentes ao solo desnudo e as áreas de pavimentação),

3- Vegetação rasteira,

4- Vegetação arbustiva e arbórea.

Cada grupo representa para a modelagem um grau de vulnerabilidade.

Logo, foi categorizada uma escala de cinco classes que vão de muito baixa

vulnerabilidade a muito alta vulnerabilidade conforme tabela1.

Tabela1 – Grau de vulnerabilidade da modelagem e seus respectivos pesos

GRAU DE

VULNERABILIDADE

PESO

Muito Alta Vulnerabilidade 5

Alta Vulnerabilidade 4

Média Vulnerabilidade 3

Baixa Vulnerabilidade 2

Muito Baixa Vulnerabilidade 1

Fonte: Elaborado pela autora (2017)

Na modelagem os dois primeiros grupos (corpos hídricos e edificações)

ficaram com peso 5; o grupo da vegetação rasteira, por apresentar menor porte,

recebeu peso 2; ao grupo da vegetação arbustiva e arbórea, de maior porte, foi

42

auferido peso 1. Deste modo, ficou determinado que os setores sem cobertura

vegetal sejam de muito alta vulnerabilidade; aqueles com vegetação rasteira, baixa

vulnerabilidade e os com vegetação arbustiva e arbórea, muito baixa

vulnerabilidade. Cabe ainda mencionar que, esse plano de informação obteve um

valor de influência de 40% na derivação da matriz de vulnerabilidade final.

Segundo a Agência Nacional de Águas – ANA (2013), a perda da

cobertura vegetal interfere diretamente na manutenção dos recursos hídricos,

reduzindo a infiltração da água no solo e consequentemente o abastecimento dos

lençóis freáticos, aumentando o escoamento superficial e afetando a dinâmica

fluvial. Deste modo, o desmatamento aumenta a probabilidade de ocorrência de

eventos e acidentes extremos, com intensidade superior à suportável, fato que

amplia a condição de vulnerabilidade ambiental, principalmente nos locais próximo

aos corpos d’água. Como apontado por Rezende (2016), a ocupação irregular

próxima aos cursos d’água desencadeia processos erosivos, muitas vezes

irreversíveis, colocando as pessoas residentes nesses locais em situação de risco,

uma vez que as mesmas ficam expostas a enchentes e às doenças de veiculação

hídrica.

Dito isto, vale enfatizar que, a presente análise da variável proximidade

dos recursos hídricos está pautada em três aspectos principais: o risco de

enchentes, a suscetibilidade às doenças de veiculação hídrica e o potencial de

contaminação dos recursos hídricos.

No que diz respeito ao mapeamento de distância dos recursos hídricos

foram utilizadas, novamente, o potencial das geotecnologias. Os dados foram

construídos através do processamento no Modelo Digital de Elevação – MDE,

oriundo de um levantamento de radar interferométrico da missão SRTM (Shuttle

Radar TopographyMission) que ocorreu entre 11 e 22 de fevereiro de 2000.

No ArcGIS, a partir da caixa de ferramentas Hidrology, foram derivadas

diversas superfícies contínuas intermediárias como a superfície com depressões

preenchidas, superfície de direção de fluxo, superfície de acumulação de fluxo e

superfície condicionante. Dessa forma, foi possível gerar uma rede de drenagem

superficial, a partir da ferramenta Stream Network As Feature, que representam as

áreas de escoamento preferencial numa abordagem automatizada.

Na sequência com intuito de tornar a rede hidrográfica mais próxima

possível da realidade foi utilizada a base cartográfica de hidrografia disponibilizada

43

pela Secretária de Recursos Hídricos do Ceará – SRH e Companhia de Gestão de

Recursos Hídricos – COGERH. Ressalta-se que a escala dos mapeamentos cedidos

não estavam condizentes com a do mapeamento dessa pesquisa, mas serviram

como estrutura norteadora da rede hidrográfica da área, além de fornecer a

toponímia dos recursos hídricos. Desta forma, para refinar o mapeamento de cursos

hídricos, foi necessário associar às técnicas de interpretação de elementos visuais

da imagem RapidEyeaos resultados da rede hidrográfica elaborada de forma

automatizada.

Destaca-se que a imagem de satélite foi utilizada em dois momentos,

tanto para refinar o mapa de cursos hídricos, como também para mapear os corpos

hídricos através de análise visual. Seguidamente, a geração da drenagem dos

recursos hídricos superficiais da área de estudo foi derivada uma superfície de

distância dos mesmos por meio da aplicação Distância Euclidiana.Assim, como no

mapeamento anterior, foi possível a partir dos dados da matriz de distância

categorizar em 5 classes as faixas de distâncias aos recursos hídricos (Ver

Tabela2). Esse plano de informação recebeu um valor de influência de 60% na

derivação da matriz de vulnerabilidade final.

Tabela 2 - Distância dos recursos hídricos superficiais e

seus respectivos pesos

DISTÂNCIA DOS RECURSOS

HÍDRICOS

P

ESO

0 – 50 m 5

50 m – 150 m 4

150m – 250 m 3

250m – 350 m 2

> 350 m 1

Fonte:Elaboração da autora (2017)

Para a integração desses dois planos de informação foi necessário

transformar os dados em números reais (float) para números inteiros (integer) com a

ferramenta Reclass. Em vista disso, a superfície de vulnerabilidade ambiental foi

derivada pela função Weighted Overlay. A figura 6 sumariza os procedimentos

realizados nessa pesquisa que fundamentaram a geração da modelagem da

vulnerabilidade ambiental.

44

Figura 6 - Fluxograma dosprocedimentos operacionais realizados para a geração do IVA

Fonte: Elaborada pela autora (2017)

45

3.2 ÍNDICE DE VULNERABILIDADE SOCIAL

No tocante ao Índice de Vulnerabilidade Social (IVS), este foi

desenvolvido a partir da metodologia do IPEA (2015), mais precisamente do

Mapeamento da Vulnerabilidade Social das Regiões Metropolitanas brasileiras.

Constituído por dezesseis indicadores, relativos a 16 regiões metropolitanas (RMs):

Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Grande São Luís, Grande

Vitória, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, RIDE do Distrito Federal, Rio de

Janeiro, Salvador, São Paulo e Vale do Rio Cuiabá.

Dentre as 16 RMs, encontra-se a de Fortaleza, da qual o município de

Maracanaú faz parte. Além do recorte municipal existem, também, recortes

intramunicipais, conhecidos como Unidades de Desenvolvimento Humano (UDHs),

que são agrupamentos de setores censitários do IBGE localizados dentro de áreas

metropolitanas, podendo ser um bairro inteiro, parte dele, ou até um município

pequeno, os limites são definidos a partir da homogeneidade de aspectos sociais e

econômicos. (IPEA, 2015)

No processo de delimitação das UDHs, foi necessário contar com o

conhecimento e a colaboração técnica de instituições e pesquisadores de

todas as RMs abrangidas pelo ADH para que eles pudessem, a partir de

uma base de informações socioeconômicas em nível de setores censitários,

propor a configuração de recortes espaciais intrametropolitanos mais

homogêneos que atendessem às exigências técnicas do IBGE. [...]

A construção das UDHs, portanto, foi um trabalho que exigiu a articulação

de um conjunto expressivo de parceiros (articulados por meio da Plataforma

Ipea de Pesquisa em Rede – Rede Ipea), que propuseram a configuração

desses espaços intrametropolitanos, respeitando os critérios e as

exigências do IBGE, os quais deveriam ser os mais homogêneos possíveis,

em termos socioeconômicos (homogeneidade), contíguos (contiguidade), e

que fossem reconhecidos por parte da população residente (identidade).

(IPEA, 2015, p. 13)

Através das UDHs, é possível identificar as desigualdades

socioeconômicas intramunicipais, decorrentes da ausência ou insuficiência de

serviços públicos que deveriam estar à disposição dos cidadãos e cidadãs

brasileiras, proporcionando melhores condições de vida, garantido a inserção social.

46

Quanto ao reconhecimento identitário, o nome de uma UDH pode corresponder,

integralmente ou quase integralmente, ao nome de um bairro popularmente

conhecido. Quando ocorre de dois ou mais bairros corresponderem a uma única

UDH, o nome da UDH é composto do nome de todos eles. (IPEA4, 2015)

Considerando os aspectos expostos utilizaram-se as UDHs como

pilares na construção do IVS desta pesquisa. Destarte, foi realizada uma

sobreposição cartográfica entre a delimitação dos 12 setores censitários (onde foram

aplicados os questionários do trabalho de campo) e as UDHs correspondentes,

resultando em um recorte intramunicipal, identificado por nomes de bairros de

Maracanaú (Conjunto Timbó, Distrito Industrial, Novo Maracanaú,

Acaracuzinho/Novo Oriente ePajuçara II), todos localizados na franja urbana

residencial do Distrito Industrial I.

Infraestrutura estrutura urbana; capital humano; trabalho e renda são

as três dimensões bases do IVS. Cada uma é composta por um grupo de

indicadores (Quadro 3), que mostram o acesso, a ausência ou a insuficiência de

serviços, recursos ou estruturas sanitárias básicas que uma determinada população

usufrui.(IPEA, 2015)

Quadro 3 – Subíndices e indicadores de vulnerabilidade social

(continua)

SUBÍNDICE

INDICADOR

IVS

Infraestrutura

Urbana

a) Percentual de pessoas em domicílios com

abastecimento de água e esgotamento sanitário

inadequados

b) Percentual da população que vive em domicílios

urbanos sem serviço de coleta de lixo

c) Percentual de pessoas que vivem em domicílios com

renda per capita inferior a meio salário mínimo e que

gastam mais de uma hora até o trabalho no total de

4 Informações retiradas de http://ivs.ipea.gov.br/ivs/pt/o_atlas/perguntas_frequentes/#33, Acesso em:

20.fev.2017.

47

pessoas ocupadas, vulneráveis e que retornam

diariamente do trabalho.

IVS

Capital Humano

a) Mortalidade até 1 ano de idade

b) Percentual de crianças de 0 a 5 anos que não

frequentam a escola

c) Percentual de pessoas de 6 a 14 anos que não

frequentam a escola

d) Percentual de mulheres de 10 a 17 anos de idade que

tiveram filhos

e) Percentual de mães chefes de família, sem fundamental

completo e com pelo menos um filho menor de 15 anos de

idade, no total de mães chefes de família.

f) Taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais

de idade

g) Percentual de crianças que vivem em domicílios em que

nenhum dos moradores tem o ensino fundamental

completo

h) Percentual de pessoas de 15 a 24 anos que não

estudam, não trabalham e possuem renda domiciliar per

capita igual ou inferior a meio salário mínimo (2010), na

população total dessa faixa etária.

IVS

Renda e Trabalho

a) Proporção de pessoas com renda domiciliar per capita

igual ou inferior a meio salário mínimo (2010)

b) Taxa de desocupação da população de 18 anos ou mais

de idade

c) Percentual de pessoas de 18 anos ou mais sem

fundamental completo e em ocupação informal

d) Percentual de pessoas em domicílios com renda per

capita inferior a meio salário mínimo (de 2010) e

dependentes de idosos

e) Taxa de atividade das pessoas de 10 a 14 anos de

idade

Fonte: Adaptado pela autora de<http://ivs.ipea.gov.br/ivs/pt/o_atlas/perguntas_frequentes/#33>

(Conclusão)

48

O acesso aos serviços de saneamento básico e mobilidade urbana

compõe a dimensão da Infraestrutura Urbana, cada indicador possui um peso

referente à estruturação deste subíndice de vulnerabilidade, ficando os indicadores

de saneamento básico com uma representatividade maior em detrimento ao de

mobilidade urbana.(Ver Quadro 4)

Quadro 4 – Descrição e peso dos indicadores do IVS Infraestrutura Urbana

(continua)

Indicador Descrição Peso

a) Percentual de pessoas

em domicílios com

abastecimento de água e

esgotamento sanitário

inadequados

Razão entre o número de pessoas que

vivem em domicílios cujo abastecimento

de água não provém de rede geral e cujo

esgotamento sanitário não é realizado por

rede coletora de esgoto ou fossa séptica, e

a população total residente em domicílios

particulares permanentes, multiplicada por

100. São considerados apenas os

domicílios particulares permanentes.

0,300

b) Percentual da

população que vive em

domicílios urbanos sem

serviço de coleta de lixo

Razão entre a população que vive em

domicílios sem coleta de lixo e a

população total residente em domicílios

particulares permanentes, multiplicada por

100. Estão incluídas as situações em que

a coleta de lixo é realizada diretamente por

empresa pública ou privada, ou o lixo é

depositado em caçamba, tanque ou

depósito fora do domicílio, para posterior

coleta pela prestadora do serviço. São

considerados apenas os domicílios

particulares

permanentes, localizados em área urbana.

0,300

c) Percentual de pessoas

que vivem em domicílios

com renda per capita

Razão entre o número de pessoas

ocupadas, de 10 anos ou mais de idade,

que vivem em domicílios vulneráveis à

0,400

49

inferior a meio salário

mínimo e que gastam

mais de uma hora até o

trabalho no total de

pessoas ocupadas,

vulneráveis e que

retornam diariamente do

trabalho

pobreza (com renda per capita inferior a

meio salário mínimo, de agosto de 2010) e

que gastam mais de uma hora em

deslocamento até o local de trabalho, e o

total de pessoas ocupadas nessa faixa

etária que vivem em domicílios vulneráveis

à pobreza e que retornam diariamente do

trabalho, multiplicado por 100.

Fonte: IPEA (2015)

Compõem a dimensão Capital Humano, indicadores tradicionais de inclusão

social (saúde e educação). Considerando heterogeneidade do mosaico territorial

brasileiro, os oito indicadores possuem o mesmo peso. (Ver Quadro 5)

Quadro 5 – Descrição e peso dos indicadores do IVS Capital Humano

(continua)

Indicador Descrição Peso

a) Mortalidade até 1 ano

de idade

Número de crianças que não deverão

sobreviver ao primeiro ano de vida, em

cada mil crianças nascidas vivas.

0,125

b) Percentual de crianças

de 0 a 5 anos que não

frequentam a escola

Razão entre o número de crianças de 0 a 5

anos de idade que não frequentam creche

ou escola, e o total de crianças nesta faixa

etária (multiplicada por 100).

0,125

c) Percentual de pessoas

de 6 a 14 anos que não

frequentam a escola

Razão entre o número de crianças de 6 a

14 anos que não frequentam a escola, e o

total de crianças nesta faixa etária

(multiplicada por 100).

0,125

d) Percentual de mulheres

de 10 a 17 anos de idade

que tiveram filhos

Razão entre o número de mulheres de 10

a 17 anos de idade que tiveram filhos, e o

total de mulheres nesta faixa etária

(multiplicada por 100).

0,125

e) Percentual de mães

chefes de família, sem

Razão entre o número de mulheres que

são responsáveis pelo domicílio, que não

(Conclusão)

50

fundamental completo e

com pelo menos um filho

menor de 15 anos de

idade, no total de mães

chefes de família

têm o ensino fundamental completo e têm

pelo menos um filho de idade inferior a 15

anos morando no domicílio, e o número

total de mulheres chefes de família

(multiplicada por 100). São considerados

apenas os domicílios particulares

permanentes.

0,125

f) Taxa de analfabetismo

da população de 15 anos

ou mais de idade

Razão entre a população de 15 anos ou

mais de idade que não sabe ler nem

escrever um bilhete simples, e o total de

pessoas nesta faixa etária (multiplicada por

100).

0,125

g) Percentual de crianças

que vivem em domicílios

em que nenhum dos

moradores tem o ensino

fundamental completo

Razão entre o número de crianças de até

14 anos que vivem em domicílios em que

nenhum dos moradores tem o ensino

fundamental completo, e a população total

nesta faixa etária residente em domicílios

particulares permanentes (multiplicada por

100).

0,125

h) Percentual de pessoas

de 15 a 24 anos que não

estudam, não trabalham e

possuem renda domiciliar

per capita igual ou inferior

a meio salário mínimo

(2010), na população total

dessa faixa etária

Razão entre as pessoas de 15 a 24 anos

que não estudam, não trabalham e são

vulneráveis à pobreza, e a população total

nesta faixa etária (multiplicada por 100).

Definem-se como vulneráveis à pobreza as

pessoas que moram em domicílios com

renda percapita inferior a meio salário

mínimo de agosto de 2010. São

considerados apenas os domicílios

particulares permanentes.

0,125

Fonte: IPEA (2015)

O IVS Renda e Trabalho é constituído por 8 indicadores que retratam

insuficiência e condição de insegurança de renda, balizado no salário mínimo de

2010. (Quadro 6)

(Conclusão)

51

Quadro 6 – Descrição e peso dos indicadores do IVS Renda e Trabalho

Indicador Descrição Peso

a) Proporção de pessoas

com renda domiciliar per

capita igual ou inferior a

meio salário mínimo

(2010)

Proporção dos indivíduos com renda

domiciliar per capita igual ou inferior a R$

255,00 mensais (em reais de agosto de

2010), equivalente a meio salário mínimo

nessa data. O universo de indivíduos é

limitado àqueles que vivem em domicílios

particularespermanentes.

0,200

b) Taxa de desocupação

da população de 18 anos

ou mais de idade

Percentual da população economicamente

ativa (PEA) nessa faixa etária que estava

desocupada, ou seja, que não estava

ocupada na semana anterior à data do censo,

mas havia procurado trabalho ao longo do

mês anterior à data dessa pesquisa.

0,200

c) Percentual de pessoas

de 18 anos ou mais sem

fundamental completo e

em ocupação informal

Razão entre as pessoas de 18 anos ou mais

sem fundamental completo, em ocupação

informal, e a população total nesta faixa

etária, multiplicada por 100. Ocupação

informal implica que trabalham, mas não são:

empregados com carteira de trabalho

assinada, militares do exército, da marinha,

da aeronáutica, da polícia militar ou do corpo

de bombeiros, empregados pelo regime

jurídico dos funcionários públicos ou

empregadores e trabalhadores por conta

própria com contribuição a instituto de

previdência oficial.

0,200

d) Percentual de pessoas

em domicílios com renda

per capita inferior a meio

salário mínimo (de 2010)

e dependentes de idosos

Razão entre as pessoas que vivem em

domicílios vulneráveis à pobreza (com renda

per capita inferior a meio salário mínimo de

agosto de 2010) e nos quais a renda de

moradores com 65 anos ou mais de idade

0,200

(Continua)

52

(idosos) corresponde a mais da metade do

total da renda domiciliar, e a população total

residente em domicílios particulares

permanentes (multiplicada por 100).

e)Taxa de atividade das

pessoas de 10 a 14 anos

de idade

Razão das pessoas de 10 a 14 anos de idade

que eram economicamente ativas, ou seja,

que estavam ocupadas ou desocupadas na

semana de referência do censo entre o total

de pessoas nesta faixa etária (multiplicada

por 100). Considera-se desocupada a pessoa

que, não estando ocupada na semana de

referência, haviaprocuradotrabalho no mês

anterior a essa pesquisa.

0,200

Fonte: IPEA (2015)

Considerando os indicadores e pesos correspondentes, oIPEA

disponibiliza o IVS das UDHs que compõem os municípios das regiões

metropolitanas brasileiras.A partir dessas informações, foi possível obter os índices

de vulnerabilidade social,do Conjunto Timbó, Distrito Industrial, Novo Maracanaú,

Acaracuzinho/Novo Oriente e Pajuçara II.

Visando a espacialização e identificaçãodos setores de vulnerabilidade,

os índices obtidos foram lançados no programa de geoprocessamento ArcGIS®

10.4.1, o qual produziu um mapa de vulnerabilidade social para cada dimensão, ou

seja, os mapas IVS Infraestrutura Urbana, IVS Capital Humano e IVS Renda e

Trabalho.

3.3 ÍNDICE DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL (IVSA)

A vulnerabilidade socioambiental, como o próprio nome aponta, refere-

se à condição de coexistência de duas vulnerabilidades, sociale ambiental, que se

retroalimentam. O entrelaçamento dessas duas dificulta ainda mais a capacidade de

um grupo social reagir diante de um acidente, uma vez que este se encontraem uma

situação “duplamente” vulnerável. Reforçando essa ideia, Alves (2006) considera a

vulnerabilidade socioambiental uma categoria analítica que expressa ainteração

(Conclusão)

53

Arctoolbox Spatial Analyst Map Algebra Raster Calculator

cumulativa, entre situações de degradação ambiental e situações de privação social.

Sendo possível captar e interpretar os fenômenos de sobreposição espacial e a

interação entre os problemas sociais e ambientais.

No que se refere à operacionalização do IVSA, recorreu-se às

informações contidas nos mapas dos índices de vulnerabilidade ambiental e

vulnerabilidade social, transformadas em formato raster. Entretanto, para

possibilitarocruzamento das variáveis ambientais (proximidade dos corpos hídricos,

cobertura vegetal) com as variáveis sociais (infraestrutura urbana, capital humano,

renda e trabalho), foi realizada uma média das três dimensões sociais, com intuito

de obter um IVS geral, no qual as três variáveis estão agregadas.

Dando continuidade ao processo de sistematização, os dados do IVA e

IVS, foram “lançados” no programa ArcGIS® 10.4.1, especificamente utilizando-se

da ferramenta rastercalculator, capaz de executar operações que fazem uso de

expressões comuns e complexas, dependendo de cada caso.Dentro da interface da

ferramenta do rastercalculator foi utilizado uma aritmética simples entre os dois

planos de informações, onde se obteve o Índice de Vulnerabilidade Socioambiental,

através do seguinte fluxograma: (Ver Figura 7)

Figura 7 - Fluxograma dos procedimentos operacionais realizados para a

geração do IVSA

Fonte: Elaboração da autora (2017)

3.4ÍNDICE DE VULNERABILIDADE DECORRENTE DA EXPOSIÇÃO AOS

RESÍDUOS PERIGOSOS

No que concerne à avaliação referente à situação de vulnerabilidade e

risco, decorrentes da potencial exposição da comunidade em relação aos resíduos

gerados pelas indústrias do Distrito Industrial I, esta,se baseou na metodologia do

Índice de Vulnerabilidade Social do IPEA (2015), que reporta ao acesso, ausência

ou insuficiência de bens e serviços públicos no território nacional. Desta forma,

54

elencaram-se três dimensões ou macro variáveis, I) Política/Institucional; II)

Ambiental e III) Conhecimento (educação ambiental e mobilização social). Cada uma

delas é constituída por um conjunto de diversos indicadores, que visam caracterizar

a situação de vulnerabilidade que estão expostas as famílias que vivem no

entornodas indústrias do DIF I, a partir da existência, ausência ou insuficiência de

ações direcionadas à gestão integrada dos resíduos sólidos industriais. O quadro 7

descreve as três dimensões selecionadas baseadas na pesquisa de Santiago e Dias

(2012).

Quadro 7 – Caracterização das três dimensões/variáveis

DIMENSÃO

DESCRIÇÃO

Política/Institucional

Refere-seà observância de ações

referendadas na Política Nacional de

Resíduos Sólidos e, outras ferramentas

legais regulatórias e normativas

relacionadas à gestão integrada de resíduos

sólidos. Em conformidade com as

orientações nacionais e internacionais que

norteiam a prática de instituições públicas e

privadas.

Ambiental

Envolve aspectos diretamente relacionados

à adequada disposição final dos resíduos

sólidos e seu armazenamento. No intuito de

mitigar os impactos adversos causados ao

meio ambiente e garantir a saúde da

população.

Conhecimento

(Educação ambiental e

mobilização social)

Consiste na divulgação de informações

sobre a problemática dos resíduos junto à

comunidade. Primando pela transparência e

pelo diálogo, como base para

estabelecimento de tomadas de decisões

participativas.

Fonte: Adaptado pela autora de: Santiago e Dias (2012) e IPEA(2015)

55

Os indicadores foram elaborados com base, tanto nos estudos de

Santiago e Dias (2012), Ramos (2013), quanto nas respostas dos questionários da

pesquisa de campo aplicados nos domicílios localizados no entorno das indústrias

inventariadas. Sobre o papel dos indicadores como ferramentas representativas da

realidade investigada, Ramos (2013) comenta:

A mensuração e/ou qualificação da realidade, em seus diferentes aspectos,

nos oferece um cenário da mesma, permitindo que sejamos capazes de

melhor compreendê-la, entendendo as múltiplas relações existentes entre

suas diferentes características. Nesse sentido, os indicadores são

ferramentas que instrumentalizam as análises da realidade, fornecendo

subsídios à formulação de estratégias e ações, que nos permitam

transformá-la. (p.27)

Contribuem ainda para o aprofundamento de pesquisas acadêmicas

direcionadas a investigar as mudanças e os mais diversos fenômenos sociais. A

relevância dos indicadores amplifica-se ao possibilitar não só apenas uma maior

compreensão da realidade, mas também ao fortalecer os processos de

transparência e de participação efetiva na melhoria das condições de vida e bem-

estar da população, identificando as prioridades e alertando sobre os riscos. (SESI

PR, 2010)

Partindo das premissas supracitadas, foi elaborada uma matriz

contendo 9 indicadores, com 3 descritores cada e seus respectivos pesos,

distribuídos nas três dimensões, anteriormente mencionadas. Os pesos dados aos

descritores visou auferir um valor quantitativo aos indicadores, permitindo uma

avaliação prévia do nível de vulnerabilidade, variando de 0 a 1, onde: Alta=1;

Média=0,5 e Baixa=0, adaptado da proposta de Bensen (2001), para construção de

indicadores de sustentabilidade de programas de coleta seletiva, embora que

diferente da mensuração de sustentabilidade, aqui quanto mais próximo de 1, mais

vulnerável e quanto mais próximo de 0 menos vulnerável. (Quadro 8, Quadro 9,

Quadro 10)

56

Quadro 8 – Matriz da variável política/institucional, indicadores e pesos

V

ARIÁVEL

I

NDICADOR

DESCRITOR P

ESO

P

olítica/

In

stitucional

C

umpre a

Política

Nacional

de

Resíduos

Sólidos

Sim 0

Parcialmente

0

,5

Não

1

P

ossui

Política

Municipal de

Resíduos

Sólidos

Sim 0

Em processo de

elaboração

0

,5

Não possui

1

A

indústria

possui um

plano de

gerenciame

nto de

resíduos

sólidos

Possui e segue totalmente

as normas técnicas

0

Possui, mas é parcialmente

implementado

0

,5

Não Possui

1

Fonte: Adaptado pela autora de: Santiago e Dias (2012), Ramos (2013) e IPEA(2015). Alta=1;

Média = 0,5; Baixa=0 (BESEN, 2011).

57

Quadro 9 – Matriz da variável ambiental, indicadores e pesos

DIMENSÃO INDICADOR DESCRITOR PESO

A

mbiental

Existência

de

a

terro

sanitário

no

m

unicípio

Sim 0

Em processo de

licenciamento

0

,5

Não

licenciado ou lixão

1

Existência de

aterro para

resíduos

industriais

(Classe I) no

município

Sim 0

Em processo de

construção

0

,5

Não possui

1

Armazename

nto

do

s resíduos

cla

sse I no

interior da

indústria

De acordo com a

CONAMA 313

0

Parcialmente de acordo

com a CONAMA 313

0

,5

Fora da norma CONAMA

313

1

Fonte: Adaptado pela autora de: Santiago e Dias (2012), Ramos (2013) e IPEA(2015). Alta=1;

Média = 0,5; Baixa=0 (BESEN, 2011).

58

Quadro 10 – Matriz da variável conhecimento, indicadores e pesos

DI

MENSÃO

INDI

CADOR

DESCRITOR P

ESO

Co

nhecimento

(educação

ambiental e

mobilização

social)

Infor

mações sobre

a gestão de

resíduos

Classe I

sistematizadas

e

disponibilizadas

para a

população

As informações

são sistematizadas e

divulgadas de forma

proativa para a população.

0

As informações

são sistematizadas,

porém não estão

acessíveis à população.

0

,5

As informações

não são sistematizadas.

1

Mate

rial informativo

sobre os

resíduos

sólidos

Construído

com a comunidade

local.

0

Constr

uído pela equipe

técnica

0

,5

Não tem 1

R

ealização

de

eventos/

temática

ambiental

F

requentes

0

Esporádicos

0,5

I

nexistentes

1

Fonte: Adaptado pela autora de: Santiago e Dias (2012), Ramos (2013) e IPEA(2015). Alta=1;Média =

0,5; Baixa=0 (BESEN, 2011).

Contribuindo também para mensuração da vulnerabilidade decorrente

da exposição aos resíduos perigosos, foram descritas as características de cada um

59

dos indicadores e o grau de vulnerabilidade (mais, menos e moderadamente

vulnerável). No quadro 11 é possível perceber a relação entre indicador/grau de

vulnerabilidade e identificar a condição de vulnerabilidade que as pessoas estão

expostas por residirem na proximidade de uma área industrial, onde

consequentemente são gerados resíduos perigosos.

Quadro 11 – Indicadores e Mensuração do Grau de Vulnerabilidade

(continua)

INDI

CADOR

DESCRIÇÃO

Grau de

Vulnerabilidade

Menos

vulnerável(-);

moderadamente

vulnerável (±) e

mais vulnerável(+).

Políti

ca Nacional de

Resíduos

Sólidos (PNRS)

Estabelece, dentre outras

determinações, a responsabilidade

compartilhada quanto à geração de

resíduos, considerando que todos são

responsáveis pela redução dos impactos

adversos causados à saúde e ao meio

ambiente, decorrentes do ciclo de vida dos

produtos. Aponta um conjunto de ações

destinadas à coleta e restituição dos

resíduos sólidos ao setor empresarial,

logística reversa.

Existência

de PNRS (-)

Inexistênci

a de PNRS (+)

Políti

ca Municipal de

Resíduos

Sólidos (PMRS)

Compete aos municípios

investir em políticas de prestação de

serviços públicos de interesse local, dentre

os quais a gestão de resíduos sólidos,

fundamentais para promover um meio

ambiente mais saudável e com menores

riscos à saúde de seus habitantes.

Existência

de PMRS (-)

Inexistênci

a de PMRS (+)

60

Plano

de

Gerenciamento

de Resíduos

Sólidos

(PGR

S)

A implantação de um PGRS é

fundamental na redução de riscos de

contaminação do meio ambiente, do

trabalhador e da comunidade. É

certamente menos oneroso manusear e

acondicionar resíduos de forma adequada

do que a recuperação de recursos naturais

contaminados, bem como o tratamento de

saúde do pessoal envolvido com os

resíduos. (FIRJAN, 2006)

Existência

de PGRS (-)

Inexistênci

a de PGRS (+)

Aterr

o sanitário

Muni

cipal

Local de destinação final

ambientalmente adequada ao descarte de

resíduos sólidos urbanos. Projetado com

base em estudos de engenharia, visa

evitar riscos à saúde pública e minimizar

impactos ambientais adversos.

Possui(-)

Não

possui (+)

Aterr

o Classe I

Muni

cipal

Local apto a receber com

segurança os resíduos industriais

perigosos, caracterizados por serem

inflamáveis, tóxicos, reativos, corrosivos

e/ou patogênicos.

Possui(-)

Não

possui (+)

Arma

zenamento

Contenção temporária de

resíduos, em área autorizada pelo órgão

de controle ambiental, à espera de

reciclagem, recuperação, tratamento ou

disposição final adequada, desde que

atenda às condições básicas de

segurança. (NBR 12235)

Conforme

a Norma (-)

Parcialme

nte dentro daNorma

(±)

Fora da

Norma (+)

Siste As informações referentes às Sistematiz

(Continuação)

61

matização e

divulgação de

infor

mações da

gestão de

resíduos Classe

I

questões ambientais devem estar à

disposição de todos, inclusive informações

acerca de materiais e atividades perigosas

em suas comunidades. (PRINCÍPIO 10,

DECLARAÇÃO DO RIO)

adas e divulgadas (-)

Sistematiz

adas e não

divulgadas (±)

Não

sistematizadas(+)

Mater

ial informativo

A produção de material

informativo permite a um maior número de

pessoas o acesso à informação sobre os

resíduos. Será mais eficiente se for

construído participativamente com a

comunidade, tornando-se mais uma

ferramenta de mobilização e controle

social.

Construíd

o com a comunidade

(-)

Construíd

o pela equipe técnica

(±)

Inexistent

e (+)

Reali

zação de

eventos/

temática

ambiental

Os eventos são momentos

democráticos de participação, importantes

para o fortalecimento do controle social.

Onde é possível estabelecer o diálogo

entre a comunidade, setores econômicos e

governamentais.

Frequ

entes (-)

Esporádicos (±)

Inexistentes (+)

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de Almeida (2009).

O índice é um indicador sintético, resultante da combinação de

diferentes variáveis, que busca representar um conceito abstrato, simples ou

complexo, em um valor numérico, utilizando em seu cálculo, bases científicas

eprincípios matemáticos básicos. Comumente é empregado como um instrumento

de tomada de decisão. (SICHET et al, 2007), (SESI PR, 2010). Sendo assim, na

tentativa de sintetizar, de maneira simples, as variáveis trabalhadas em relação aos

resíduos industriais perigosos, a presentes pesquisa traz uma proposta de índice de

(Conclusão)

62

vulnerabilidade quanto aos resíduos perigosos (IVRP), a partir do cálculo da média

aritmética entre o somatório da avaliação de cada uma das variáveis e o somatório

da máxima situação de vulnerabilidade em cada variável. Um dos desafios

encontrados na construção desse índice foi encontrar uma fórmula que fosse capaz

de traduzir com a maior fidelidade possível o conceito desejado.

Cálculo do IVRP

IVRP = ∑ dospesos obtidos na avaliação de cada variável

∑ da máxima situação de vulnerabilidade em cada variável

IVRP = ∑ VP + VA + VC

9

VP - variável política/institucional

VA – variável ambiental

VC – variável conhecimento

∑ da máxima situação de vulnerabilidade em cada variável = 9

Cabe destacar que, os pesos auferidos no processo de avaliação estão

pautados principalmente nas respostas dos questionários aplicados nos domicílios,

considerando desta forma, a diversidade dos contextos socioespaciais

testemunhados no decorrer da pesquisa de campo, e nos dados secundários

coletados na SEMACE.

A somatória da máxima situação de vulnerabilidade de cada variável,

corresponde ao peso 1 dado cada um dos 3 indicadores que compõem as 3

variáveis mestras. Para interpretar o IVRP, o valor resultante foi então reconhecido

através de uma matriz de avaliação do índice de vulnerabilidade do IPEA.(Ver

Tabela3)

63

Tabela 3 – Matriz de avaliação do índice de vulnerabilidade

INTERVALOS VULNERABILIDADE

0,501 - 1 Muito alta

0,401 – 0,500 Alta

0,301 – 0,400 Média

0,201 – 0,300 Baixa

0 – 0,200 Muito baixa

Fonte: Adaptado IPEA (2015)

64

4 RESÍDUOS SÓLIDOS: PRESENÇA E AMEAÇA NO ESPAÇO GEOGRÁFICO

Desde tempos mais remotos os resíduos sólidos vêm configurando-se

elementos de construção do espaço geográfico. Há registros deles em diversos

momentos históricos, sendo possível identificá-los no desenrolar da linha

cronológica alusiva a existência humana.

Na visão de Burke (2001) tudo tem uma história, uma vez que tudo sofre mudanças

ao longo dos séculos, seja o clima, a maneira de sociabilidade, os sonhos, os ideais

de limpeza e até o lixo. Para que haja uma compreensão melhor dessas mudanças

é necessário relacioná-las com os acontecimentos da época. Deste modo, este

capítulo se propõe percorrer a trajetória espaço-temporal dos resíduos sólidos,

buscando um entendimento maior sobre essa questão.

4.1 RESÍDUOS DO TEMPO DEIXAM MARCAS NO ESPAÇO

O espaço geográfico resulta da intervenção do ser humano sobre a

natureza, possui caráter social e histórico, por isso dinâmico. Por não se tratar de

um espaço permanente, apresenta-se continuamente inacabado, ou seja, em

constante processo de transformação e reinvenção. Pode também ser considerado

como um amplo acervo natural das mais diversas temporalidades, provenientes de

ações subjetivas e técnicas, alteradoras do meio ambiente.

É pertinente destacar que, as transformações ocorridas na natureza não

se restringem apenas àquelas visivelmente detectadas, possuidoras de uma

exterioridade imediata. Sua capacidade de alcance é bem mais ampla e complexa,

chega a atingir a existência dos seres orgânicos e inorgânicos que a compõe.

Amiúde, o modo como essas alterações acontecem terminam definindo a qualidade

de vida dos elementos que a constitui, não só no plano social, mas também no

planetário.

Conforme relatado por Corrêa (1986), as primeiras intervenções humanas

na natureza foram impulsionadas pelas necessidades básicas, de fome, sede e frio,

desta forma, gradualmente a natureza foi sendo incorporada ao cotidiano do homem

como meio de subsistência, através da produção de alimentos, tecidos, móveis,

cerâmicas e ferramentas, transformando a natureza primitiva em segunda natureza

por meio do trabalho. Para Santos (1997, p.88) “toda ação humana é trabalho e todo

65

trabalho é geográfico”, considera-se, portanto, que tudo que resulta do trabalho é

também objeto de estudo da geografia.

Balizada nessa premissa, convém lembrar que, nem todos os recursos

envolvidos no processo de construção do espaço a partir do trabalho são

aproveitados ou absorvidos, e findam gerando resíduos que se acumulam no

ambiente, tornando-se elementos da paisagem artificial5. Os sambaquis são

evidências irrefutáveis do acúmulo de resíduos incorporados à paisagem. (Ver

Figura 8)

Esses amontoados de conchas (daí a origem do nome), ossos humanos,

utensílios pré-históricos, equipamentos rudimentares de caça e pesca como ponta

de flechas e arpões podem ser encontrados nas áreas costeiras, em todo o mundo,

principalmente no litoral do Atlântico, assim como na foz de grandes rios. Configura-

se em uma espécie de depósito de resíduos a céu aberto que sofreu fossilização

química, petrificando os detritos e ossadas ali existentes.

De formato cônico ou semiesférico, os sambaquis6 chegam atingir 30

metros de altura, o equivalente a um prédio de 10 andares. No Brasil podem ser

encontrados no litoral brasileiro, no baixo Amazonas e no Xingu, e datam cerca de

5.000 anos. Pesquisas sobre estas construções ajudaram a montar um retrato sobre

o modo de vida dos homens pré-históricos do litoral brasileiro, entretanto não há

uma unanimidade entre os pesquisadores quanto à finalidade dos sambaquis,

podendo ser diversas: depósitos de restos de alimentos, de carcaças e ossadas de

animais, cemitério e até moradias. Apesar de serem patrimônio da União, os

sambaquis continuam sendo destruídos, através da extração de cal, construção de

casas de veraneio e estradas.

5 Paisagem artificial – A paisagem artificial é a paisagem transformada pelo homem. Milton Santos em

Metamorfose do Espaço Habitado – 1997. 6 Fonte:<http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-sao-sambaquis>,

<http://www.infoescola.com/arqueologia/sambaqui/ Fonte: http://www.panoramio.com/photo/76669694>

66

Figura 8 - Sambaqui no Litoral de Santa Catarina – BR

A relação entre o trabalho e a produção do espaço acontece

simultaneamente, assim, como também a relação entre os meios de produção e a

geração de resíduos.

Em princípio, deve-se esclarecer que as atividades humanas sempre

geraram lixo, na verdade, diz-se que a arqueologia trabalha com restos e

rastros deixados pelas atividades do homem, a partir destes resíduos são

feitas interpretações sobre a vida de um passado distante.7 (LARA, 2003,

p.70, tradução nossa).

Waldman (2010) segue a mesma linha de pensamento quando considera

que, a geração de resíduos é indissociável das atividades humanas, tanto no tempo

quanto no espaço, ou seja, é um fenômeno que permeia a trama histórica das

sociedades, associado à origem de novas formas espaciais. Estudos arqueológicos

revelaram que na pré-história já se queimavam resíduos, supostamente para

eliminar o mau odor, e destinavam as cinzas e ossos em locais próprios, distantes

da área de convívio (EIGENHEER, 2009).

Cabe lembrar que, apesar de acompanhar a trajetória da humanidade,

nem sempre a destinação final dos resíduos na natureza foi vista como um

7Enprincipio se tiene que aclarar que las actividades del ser humano siempre han generado basura, de hecho, se

dice que la arqueología trabaja con los restos y los rastros que dejaron las actividades del hombre, a partir de

estos residuos se hacen interpretaciones sobre la vida en un pasado lejano.

67

imbróglio. Quando o ser humano vivia de forma nômade sua permanência em um

mesmo local era fugaz, não dava tempo de produzir grandes quantidades ou

acumular resíduos, caracterizados por uma constituição orgânica. Os problemas

começaram a surgir a partir da fixação dos grupos em aldeias, e se agravaram com

a tecnificação dos meios de produção e o surgimento das cidades.

Apresentando uma perspectiva mais aprofundada, Barles(2014) postula

que “a história dos resíduos reflete as sociedades que os produziram, e sua relação

com o meio ambiente e os recursos que mobilizaram.”8 (p.199, tradução nossa).

Destarte, pode-se concluir que o espaço sempre reflete o nível de desenvolvimento

das forças produtivas que o forjaram, quanto mais simples sua organização,

menores são as necessidades de vida da população, menor o consumo, menos

recursos são extraídos da natureza e menos resíduos são gerados.

Burke (2001) considera os resíduos uma espécie de indicador cultural, por

isso varia de uma cultura para outra, revelando os valores locais e temporais. Na

China antiga, por exemplo, qualquer pedaço de papel contendo algum escrito era

considerado valioso, de modo que não deveria ser descartado levianamente, mas

sim ritualisticamente queimado com todo respeito.

Conforme pesquisa histórica realizada por Eigenheer (2009), na

Mesopotâmia os resíduos eram basicamente de constituição orgânica,

biodegradáveis, sendo absorvidos facilmente pela natureza. Os povos da

Mesopotâmia, sumérios, babilônios e assírios, já demonstravam cuidados com os

efluentes, possuíam um sistema de duto, feito de barro, usados para escoamento de

águas servidas, enviadas para canais maiores.

Cabe ainda mencionar a Cloaca Máxima (Ver Figura 9), considerada o

mais antigo sistema de esgoto do mundo. Inserida na paisagem urbana da Roma

antiga, originalmente era um dreno aberto que levava os dejetos da cidade romana

até o rio Tíber, onde eram lançados sem nenhum tipo de tratamento. Com o passar

dos anos foi sendo gradualmente coberto, à medida que o espaço urbano foi se

valorizando, tinha ainda a função de recolher as águas que desciam das colinas e

drenar a área pantanosa de Roma.

8 The history of waste mirrors that of the societies that produced it, and their relationship with the environment

and the resources they mobilized

68

Figura 9 - Cloaca Máxima da Roma Antiga

Fonte:http://romantigua.webnode.es/historia-de-roma-desde-su-fundacion/los-reyes-

tradicionales/lamonarquia-etrusca/ICloaca Máxima da Roma Antiga

Atualmente, após algumas reformas, a cloaca máxima (o grande esgoto)

ainda integra o sistema de drenagem da cidade de Roma, e tornou-se um espaço

subterrâneo de pesquisas arqueológicas referentes à história da sociedade ocidental

antiga.

Diante das colocações expostas, cabe ainda outra, referenciada nas

postulações teóricas dos autores supracitados. A indelével presença dos resíduos

na construção do espaço geográfico, seja in natura como no caso dos sambaquis,

seja cultural ou através das edificações urbanas construídas com a função de dar a

estes uma disposição adequada, que prime pela saúde da população e a

preservação do meio ambiente.

4.2 OS RESÍDUOS NO ESPAÇO MEDIEVAL: AMEAÇA À VISTA

A forma de organização econômica, social, política e espacial que

caracterizou a idade média foi o feudalismo. Porém cabe destacar que este período

histórico não foi estanque, as mudanças econômicas, religiosas, políticas e culturais

69

decorrentes da dinâmica temporal caracterizou-o,categoricamente, em duas fases:

alta idade média e baixa idade média.

O período conhecido como alta idade média foi marcado pelas relações

de suserania e vassalagem, que se davam através do trabalho agrícola, sendo o

suserano o proprietário de terras (senhor feudal) e o vassalo (servo). A paisagem

rural era predominante, e o espaço agrícola era “esculpido” por rudimentares

técnicas agrícolas, proporcionando uma baixa produtividade. Os gêneros agrícolas

produzidos eram utilizados para abastecer os feudos e mantê-los praticamente

autossuficientes; as relações comerciais eram incipientes e aconteciam

principalmente nos burgos. Quanto aos resíduos, as práticas de higiene se

restringiam à eliminação de águas servidas e fezes arremessadas por cima das

muralhas para as áreas limítrofes dos burgos, ficando os resíduos dispostos a céu

aberto.

Na baixa idade média, os avanços tecnológicos na agricultura, o arado de

ferro com rodas, o moinho hidráulico, o carro de boi, promoveram um aumento

significativo na produção agrícola, os excedentes passaram a ser comercializados, e

os servos começaram a migrar para os burgos, onde havia um grande fluxo de

pessoas para consumirem suas mercadorias e uma certa segurança contra os

salteadores. Esta gama de mudanças não passou despercebida, materializou-se no

espaço vivido. A paisagem rural que “reinava” na alta idade média foi perdendo seu

posto para a paisagem urbana alavancada pelo ressurgimento do comércio e o

surgimento de uma nova classe social, a burguesia, constituída por pequenos

mercadores, artesãos, banqueiros e donos de companhias de comércio.

Com o advento da urbanização, o adensamento populacional aumentou

consideravelmente, entretanto não foi acompanhado dos cuidados sanitários

existentes na antiguidade, que foram deixados para trás. Esse retrocesso

caracterizou-se pela inexistência de canalização da água e de preocupação com as

águas servidas, não havia coleta de lixo, nem destinação adequada para as

carcaças de animais e cadáveres. De acordo com Burke (2001), no medievo, na

cidade francesa de Bordeaux, as pilhas de resíduos fora dos portões da cidade eram

tão altas que facilitavam escalar as muralharas, colocando em risco a segurança da

cidade, isso sem falar no perigo à saúde da população.

Os resíduos que se acumularam ao redor das muralhas dos burgos atraíram vetores

transmissores de doenças e causaram grandes epidemias, a mais conhecida delas

70

foi a Peste Negra, que entre 1347 a 1351 dizimou um terço da população europeia.

Existem registros literários do século XVI, que falam da estreita relação entre a

inadequada disposição dos resíduos e a Peste Negra, e podem ser encontrados na

seção de obras raras da Biblioteca Geral de Coimbra, nas obras de Ursino e

Dessenius. (VELLOSO, 2008)

Na análise de Pereira (2005), a urbanização medieval procedeu com

pessoas recém-saídas do campo, acostumadas a uma economia de

autossubsistência, a um cotidiano rural, onde geralmente os rejeitos eram

reaproveitados como adubos, forragens ou lavagens para animais. Por sua utilidade

imediata, os dejetos não eram vistos como perigosos ou nocivos à saúde. Os outros

resíduos que não tinham essa destinação, eram produzidos e descartados em

quantidade e velocidade que lhes permitiamser incorporados pela natureza, fato que

refreava os acúmulos. Deste modo, formou-se uma categoria de citadinos preso

ainda a hábitos rurais, que reproduziam nos espaços urbanos comportamentos

equivalentes aos do campo, principalmente no que se refere à destinação dos

resíduos, que passam a ser depositados nas ruas, praças e demais locais públicos

sem qualquer tipo de constrangimento. Entretanto, o espaço urbano evidentemente

não tinha a capacidade de digerir os detritos produzidos pelos moradores, e assim

foi se instalando na cidade medieval o reino da peste.

Porém, cabe ainda reconhecer que, a experiência traumática resultante

da falta de cuidados sanitários, vivenciada na idade média, terminou contribuindo

para o surgimento de serviços públicos referentes à limpeza urbana, criando

inclusive segmentos especificamente voltados para o gerenciamento dos resíduos

sólidos urbanos, serviços de armazenamento, coleta e disposição final. Como

mostram os estudos feitos por Burke (2001),

Na Itália, uma das partes mais urbanizadas da Europa no final da Idade

Média, o controle do lixo era levado especialmente a sério. Em Siena, por

exemplo, a municipalidade contratava porcos para manter as ruas mais ou

menos limpas, enquanto em Bolonha a disposição do lixo foi regulamentada

por uma série de leis, desde o século 13 até o 16. (p. 2)

Ainda sobre a situação dos resíduos na idade média, Eigenheer (2009)

declara que, nas cidades europeias, as reformas na limpeza urbana aconteceram

paulatinamente, e, na maioria delas não tiveram continuidade. Somente a partir de

71

16669 foi organizado em Londres um sistema de limpeza urbano, que consistia em

sortear alguns cidadãos (scarvagens) com intuito de responsabilizá-los pela limpeza

de determinadas áreas das cidades; como a tarefa não era aceita de bom grado este

sistema não teve continuidade. As dificuldades financeiras, logísticas, educacionais

e sociopolíticas dificultavam a implantação de um sistema de limpeza eficiente,

restringindo-o a pequenas áreas urbanas.

As pesquisas dos autores supracitados se complementam, propiciando

uma visão mais abrangente sobre a temática abordada, ajudando a compreender

como os resíduos foram configurando-se em presença ameaçadora do e no espaço

urbano medieval. Fazendo com que obrigatoriamente sua existência não fosse mais

negligenciada, seja como elemento de construção ou de destruição do espaço

geográfico.

4.3 OS RESÍDUOS NA MODERNIDADE

Diante da gama de elucidações referentes à modernidade, é possível

destacar dois aspectos característicos, o primeiro é de cunho ideológico, suas raízes

estão arraigadas no pensamento iluminista. Na ideia de utilizar o acúmulo de

conhecimento para dominar a natureza, uma vez que “o domínio científico da

natureza prometia liberdade da escassez, da necessidade e da arbitrariedade das

calamidades naturais” (HARVEY, 2004, p. 23).

O segundo é de cunho socioeconômico, a sensação de prosperidade e

progresso fomentada pela revolução industrial ocorrida no século XVIII na Inglaterra

e na França, trouxe transformações significativas não apenas na forma de ver o

mundo, mas também no modo de vida societário. A partir de então, nunca mais a

Terra e a humanidade foram as mesmas, “a noção de um universo orgânico, vivo e

espiritual foi substituída pela noção do mundo como máquina, e a máquina do

mundo tornou-se a metáfora dominante da era moderna” (CAPRA, 2003, p.34).

Seguindo essa mesma linha do pensamento, Santos (1994) complementa:

9Período de transição entre a idade média e moderna.

72

A história do homem sobre a Terra é a história de uma rotura progressiva

entre o homem e o entorno. Esse processo se acelera quando,

praticamente ao mesmo tempo, o homem se descobre como indivíduo e

inicia a mecanização do Planeta, armando-se de novos instrumentos para

tentar dominá-lo. A natureza artificializada marca uma grande mudança na

história humana da natureza. ( p.5)

As novas descobertas científicas e tecnológicas foram responsáveis

por essa mudança radical. Embora tenham facilitado a sobrevivência humana em

seus “espaços de vida”10, cada vez mais urbanos, contribuíram também para uma

desenfreada degradação dos recursos naturais, paradoxalmente colocando em risco

diversas formas de vida do planeta. Ao desconsiderar o limite dos recursos naturais

e seu delicado equilíbrio ecológico, as inovações técnico-científicas aceleraram o

processo de rotura entre o homem e o entorno, gerando um descompasso, não

somente na relação espaço-tempo como também nas relações sociais.

O vertiginoso crescimento urbano decorrente da Revolução Industrial

acarretou sérios problemas ambientais e sanitários, que atingiram tanto os bairros

operários quanto os bairros nobres. Segundo Eigenheer (2009), na metade do

século XIX ocorreram modificações significativas na limpeza urbana, inclusive em

aspectos técnicos, passou-se a dar maior importância à qualidade da água, e foi

estabelecida a necessidade de se separar esgoto de resíduos sólidos. Houve um

aperfeiçoamento referente ao tratamento de resíduos sólidos, que passaram a ser

incinerados e reaproveitados através do trabalho de catadores e usinas de triagem.

Contudo, vale destacar que apesar destas inovações, a situação da destinação final

dos resíduos continuou precária, a maioria quando coletada era jogada nos rios, no

mar ou a céu aberto, quando não, incinerada.

O primeiro incinerador foi projetado por Alfred Fryer em 1874, na

Inglaterra, consistia em um forno extremamente simples, que funcionava à base de

carvão mineral, onde tanto a disposição dos resíduos, quanto o controle da emissão

de gases eram feitas manualmente. No tocante ao aspecto espacial, o uso dessa

tecnologia não passou despercebido, muito pelo contrário, além das chaminés das

fábricas, as chaminés dos incineradores passaram a compor a paisagem da cidade

moderna, de modo que “em 1900 a Inglaterra já dispunha de 121 incineradores”

10Milton Santos: Técnica espaço tempo – Globalização e meio técnico-científico-informacional.

73

(HÖSEL, 1990, apud EIGENHEER, 2009, p.71) distribuídos entorno das áreas

urbanas.

A presença dos incineradores, não se restringiu a paisagem dos países

europeus, segundo Calderoni (2003), em 1896 foi instalado na cidade de Manaus, o

primeiro incinerador do Brasil, com capacidade de processar 60t/dia de lixo

doméstico, sendo o mesmo desativado em 1958, pouco mais de meio século depois

de instalado, devido problemas de manutenção.

Ao se considerar os efeitos da incineração no meio ambiente, pode-se

identificar tanto aspectos positivos quanto negativos. Waldman (2010) coloca que

este tipo de tratamento térmico vem sendo defendido por estudos que exaltam suas

vantagens, como por exemplo, esterilização, destoxicação, a redução de 75% da

massa e de 90% do volume de resíduos. Contudo, o mesmo autor apresenta

também estudos que se contrapõem à utilização dos incineradores:

Entretanto, contrapondo-se aos aspectos considerados positivos existem

objeções sérias quanto à operação dos incineradores. [...] assinale-se que

os compêndios admitem ser a incineração responsável por componentes

tóxicos presentes nos gases e cinzas da combustão do lixo. Dentre os

poluentes em estado gasoso, constatam-se dioxinas e furanos, poluentes

persistentes de natureza tóxica e carcinogênica. A estes, somam-se

compostos clorados, metais pesados, gases sulfurosos, monóxido de

carbono e óxidos de nitrogênio. (2010, p.163-164).

Na realidade, o processo de industrialização além de ampliar o volume de

resíduos gerados, também alterou a composição físico-química dos mesmos,

tornando-os cada vez mais artificializados, inorgânicos e, por conseguinte de difícil

degradação e com alto teor tóxico, bem diferentes daqueles gerados nos períodos

históricos anteriores, caracterizados em sua maioria por sua constituição orgânica.

Deste modo, pode-se observar que a inversão na composição e o aumento na

quantidade de resíduos ampliaram os problemas já existentes quanto a uma

destinação final adequada desses materiais.

Cumpre ainda assinalar que a preocupação dos países europeus, na

segunda metade do século XIX, com a saúde pública e com a higiene nos espaços

urbanos, promoveu uma mudança radical nas formas de manejo dos resíduos, tendo

74

inclusive influenciado o modelo de limpeza urbana no resto do mundo, pelo menos

no que se refere ao hemisfério ocidental.

A partir de então, no decorrer do século XX, as técnicas de limpeza

urbana foram se aperfeiçoando cada vez mais. De acordo com Eigenheer (2009),

era comum na Alemanha a cobrança de taxas pelos serviços de saneamento e já

em 1901, aproximadamente 75% das casas em Berlim separavam os resíduos

domésticos em vasilhames padronizados, próprios para o acondicionamento do lixo.

Ainda na primeira metade do século supracitado, nos Estados Unidos,

aproveitavam-se as depressões de terrenos para depositar os resíduos e depois

aterrá-los, a intenção era evitar a proliferação de insetos, a fumaça oriunda da

queima do lixo e o mau cheiro. Esses terrenos foram denominados de

“sanitarylandfills”.

O aterramento de resíduos é uma prática antiga, utilizada por diversas

sociedades em diferentes momentos históricos e que foi sendo aperfeiçoada no

decorrer do tempo, através do desenvolvimento de técnicas, máquinas (tratores,

escavadeiras, etc) e projetos de engenharia. Inicialmente os resíduos eram apenas

cobertos por camadas de areia, não existia uma preocupação com os “produtos”

derivados, como por exemplo, chorume e gás metano, poluentes altamente tóxicos

ao meio ambiente. Sem as medidas sanitárias cabíveis, esses locais de deposição

findaram e ainda terminam tornando-se verdadeiros lixões, que passam a compor e

a destruir a estética paisagística.

Os maiores lixões do mundo estão localizados nos países

subdesenvolvidos, esta realidade deve-se a algumas práticas, não apenas locais,

mas também globais. A inexistência de um sistema regular de coleta de lixo perdura

no cotidiano da população dos continentes asiático, africano e latino americano, fato

que demostra a falta, quando não, a precariedade de políticas públicas de

saneamento básico, que garantam a saúde da população e a conservação do meio

ambiente. Esses depósitos a céu aberto, além de acumularem os detritos gerados

nacionalmente, “recebem” anualmente milhares de toneladas de resíduos oriundos

dos países desenvolvidos europeus, Estados Unidos, Canadá e Japão,

considerados referências mundiais no tratamento de seus resíduos.

Contrapondo-se aos lixões, os aterros sanitários são locais onde o

processo de aterramento de resíduos é acompanhado por técnicas de engenharia

como, impermeabilização do solo, sistema de drenagem de lixiviados e de gases,

75

monitoramento ambiental e geotécnico. Todo esse cuidado visa minimizar os

impactos ambientais decorrentes dos resíduos; garantir a segurança e a saúde

pública; principalmente da população do entorno.

Por outro lado, embora seja considerada a destinação final mais

adequada para os resíduos sólidos, por permitir um controle seguro e eficiente de

seu manejo, a instalação de aterros sanitários requer espaços, e isso se torna um

problema para os países de pequenas dimensões territoriais, como o Japão e a

Suíça, que encontram na incineração a melhor alternativa de destinação final,

incinerando respectivamente o montante de 72% e 88% de seus resíduos.

É pertinente destacar que, incineradores, usinas de triagem e aterros

sanitários são formas espaciais visíveis, criadas com a função de tornarem-se locais

de destinação adequada dos resíduos sólidos, resultantes da estrutura

socioeconômica capitalista. Segundo Corrêa (1986) no processo de organização

espacial a relação entre forma e função é direta, uma vez que a primeira é criada

para desempenhar uma ou mais funções, enquanto a segunda tem sempre uma

forma correspondente, daí a impossibilidade de dissociar uma da outra.

Em conformidade com o pensamento exposto, o que se pretende

ressaltar é que a inter-relações entre as categorias espaciais de forma, função,

estrutura e processo é um caminho que pode permitir desvelar e compreender as

mudanças ocorridas na espacialização dos resíduos ao longo da história,

fomentando condições de debates sobre esta problemática, que ultrapassem a

tautologia e o olhar míope que lhe é outorgado.

4.4 RASPAS E RESTOS ME INTERESSAM

Muitas das conquistas dos sistemas de limpeza urbana europeu foram

arruinadas com a Segunda Guerra Mundial e a problemática da destinação final dos

resíduos sólidos se agravou significativamente, de modo que até hoje ainda há

registros de poluentes químicos em áreas anteriormente utilizadas como vazadouros

pela indústria da guerra. (EIGENHEER, 2009).

Com o fim do conflito bélico mundial, os países industrializados sentiram a

necessidade de aquecer sua economia devastada pela guerra. O consumo em

massa passou então a ser estimulado, principalmente a partir da década de 1950,

76

acarretando, em contrapartida, um aumento exacerbado na quantidade de resíduos

gerados, além de uma concentração espacial dos mesmos na natureza.

Nesta época, como as fontes de energia eram baratas e os recursos

naturais aparentemente abundantes acreditavam-se não haver limites para

o desenvolvimento. Todavia não existiam preocupações sobre o meio

ambiente, quanto à origem da matéria-prima nem sobre o destino dos

resíduos gerados. (CARVALHO, 2011, p.17)

Velloso (2008)postula:

Somente a partir da década de 1970, o lixo começa a ser considerado uma

questão ambiental. A preservação do meio ambiente foi assumindo caráter

global, com as conferências de Estocolmo, em 1972, a ECO 92, no Rio de

Janeiro e a de Tibilisi, em 1997. A crescente participação da mídia também

contribuiu significativamente para esse processo, devido à rapidez com que

as informações são transmitidas, de um lugar a outro do mundo. (p.1962).

Em 1998, uma reportagem de televisão comoveu o Brasil quando

mostrou o caso de crianças intoxicadas e hospitalizadas, após comerem carne de

um lixão de Pernambuco, suspeitava-se que era carne humana de restos de lixo

hospitalar, depositados de forma inadequada. A notícia deu visibilidade a um

segmento de trabalhadores esquecidos, mas que já lutavam por melhores condições

de trabalho e de vida, os catadores de materiais recicláveis. (PINHEL; AMORIM,

2013)

Esta não foi a primeira vez que a falta de uma fiscalização mais

rigorosa referente à destinação inadequada de resíduos perigosos deixou vítimas e

ganhou espaço na mídia. Em 1987, o acidente com Césio-137 foi transmitido em

rede nacional como um dos maiores acidentes radioativos ocorridos no mundo,

classificado como nível 5, segundo a Escala Internacional de Acidentes Nucleares

que varia de zero a sete. Na cidade de Goiânia, dois catadores encontraram um

aparelho de radioterapia no prédio onde funcionava o Instituto Goiano de

Radioterapia, após desmontá-lo levaram algumas partes do aparelho para suas

casas e outras venderam para um depósito de ferro velho, o qual repassou para

77

outros sucateiros, promovendo uma reação em cadeia onde centenas de pessoas

foram contaminadas e outras vieram a óbito.

As pessoas que morreram foram enterradas em caixões

de chumbo extremamente robustos para que não contaminassem o solo

ainda mais. Este fato deixa-nos inclusive uma reflexão a respeito do

descarte do lixo que até hoje não vem sendo tratado com a importância que

deveria tornando o trabalho dos catadores ainda mais perigoso, além de

colocar em risco a sociedade como um todo. (PEDROLO, 2016, p.1)

O agravo ou o conhecimento da problemática ambiental decorrente dos

resíduos da sociedade do descartável findou incorporando-se às preocupações

cotidianas, trazendo o ‘monstro’ do lixo para mais perto das pessoas. A partir daí

encontrar soluções para seu acúmulo tornou-se uma necessidade, fosse através da

incineração, do reaproveitamento ou da reciclagem. (RODRIGUES, 1998).

Na reciclagem, o produto que iria ser descartado é reintegrado ao ciclo

produtivo com suas características físicas alteradas, ocorrendo nesse processo uma

economia significativa de matéria prima, de energia e recursos hídricos. Isso sem

falar na redução de controle ambiental e no prolongamento do tempo de vida útil dos

aterros sanitários. Papel, metal, vidro, plástico e orgânico são os principais materiais

reciclados.

Nos países desenvolvidos os cidadãos estão inseridos no ciclo da

reciclagem dos resíduos, ficando responsáveis por sua separação prévia nos

domicílios (coleta seletiva) e levá-los para locais ou pontos de entrega voluntária

(LEV ou PEV). Na análise de Calderoni (2003), a efetivação da prática da coleta

seletiva nesses países é decorrente, em grande medida, das dificuldades ocorridas

na2ª Guerra, que resultou numa conscientização social, no tocante ao

reaproveitamento dos materiais pretensamente descartados, iniciada nas escolas,

mas que atualmente permeia o cotidiano da população, ou seja, é praticada nas

residências, nas lojas, supermercados e até em centros de lazer.

Apresentando uma realidade oposta a esta, o tratamento dispensando

aos resíduos, nos países do sul, encontram-se há anos luz de distância da realidade

acima descrita. Só para ter uma ideia, a erradicação dos lixões na Europa data do

ano de 1972, enquanto que no Brasil, ainda hoje eles são uma realidade espacial

incontestável, mesmo que a Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei 12.305/2010

78

tenha decretado o extermínio destes, até agosto 2014 e depois prorrogado para

201711. Além do que só deverão ser destinados aos aterros sanitários os rejeitos, ou

seja, aqueles resíduos que não podem ser recuperados por processos tecnológicos

disponíveis e/ou financeiramente inviáveis, fato que torna a coleta seletiva

praticamente obrigatória.

Cabe ressaltar que a coleta seletiva não é um hábito ainda internalizado

pela maioria do povo brasileiro. Os materiais reciclados continuam sendo destinados

aos aterros sanitários, que parecem mais verdadeiros lixões, e a segregação dos

resíduos é feita principalmente por catadores e catadoras, figuras emblemáticas,

presentes nas ruas, nos aterros e lixões do país.

Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB, 2008),

existem aproximadamente 70,5 mil catadores informais atuando em ruas e

lixões, e 30.390 organizados em cooperativas ou associações. As entidades

do setor acreditam, porém que esses números não condizem com a

realidade, pois a PNSB se baseia nas informações geradas pelas

prefeituras municipais, que, na grande maioria dos casos, não têm um

cadastro dos catadores da cidade. (PINHEL, 2013, p.18).

Atualmente os catadores e catadoras de resíduos são os principais

agentes responsáveis pela segregação dos materiais socialmente descartados,

contribuindo na gestão dos resíduos sólidos urbanos. Geralmente, trabalham em

ambientes altamente insalubres, na maioria das vezes sem qualquer tipo de

equipamento de proteção individual (EPI), em condições não muito diferentes

daquelas dos scarvagensdo medievo. Entretanto, quando conseguem se organizar

em cooperativas, sua situação de vulnerabilidade e semiclandestinidade tende a ser

superada, juntamente com o crescimento do mercado da reciclagem e da

consciência social. (CALDERONI, 2003).

Vale esclarecer que as cooperativas brasileiras são formadas por

quatro principais grupos de catadores/as: pessoas desempregadas, que acreditam

estar exercendo a atividade temporariamente; catadores/as que trabalham em lixões

11Diante das dificuldades dos municípios de cumprirem em tempo hábil o que a lei determinava, esse prazo foi

prorrogado para 2017, agora restando um ano para o encerramento deste novo prazo, as condições da realidade

atual não difere muito da data inicialmente determinada.

79

ou aterros; catadores/as que percorrem as ruas das cidades com carroças puxadas

por tração animal (carroceiros) e por aqueles que puxam seus próprios carrinhos.

Cooperativas de catadores/as, centros de triagem, depósitos ou

sucatas, indústrias recicladoras, áreas de transbordo, aterros sanitários, lixões e

incineradores configuram-se uma organização espacial criada especificamente para

atender a demanda dos resíduos. De acordo com Corrêa (1986), a organização

espacial é uma expressão material humana, resultante do trabalho social e como tal

refletirá as características do grupo que a criou, assim como a natureza classista da

produção e do consumo de bens materiais. Com efeito, não se pode deixar de

reconhecer que o descarte de resíduos integra a dinâmica da formação espacial,

considerando que nos mais diversos processos de produção capitalista sempre

algum tipo de resíduo será gerado e o mesmo terá que ser disposto, mais cedo ou

mais tarde, na superfície terrestre.

As indústrias em geral, o comércio, as residências, as escolas, os

hospitais e demais equipamentos urbanos, assim como as pessoas que vivem e/ou

transitam por esses locais, estão todas imbricadas na teia do espaço capitalista, seja

através do trabalho, do consumo e da geração de resíduos. “Aparecem então

padrões locacionais relativos às operações econômicas e ao sistema de controle e

decisão.” (CORRÊA,1986, p. 56).

Cabe lembrar que os lixões são em geral, distantes das áreas residenciais

denominadas “nobres”, pois ocasionam problemas de contaminação por

doenças, por causa do mau cheiro, dos gases, etc. Mas na segregação

socioespacial urbana considera-se que os moradores pobres podem

conviver com estes problemas (afinal é uma sociedade descartável). Ou

seja, as áreas menos nobres, as que têm menor preço de mercado, podem

ser objeto de depósito de lixo e, portanto, de problemas. São também muito

os indivíduos que vivem do “lixo”. (RODRIGUES, 1998, p.156).

Diante do exposto, algumas reflexões são levantadas, por que os

depósitos de lixo se localizam forçosamente nos bairros onde reside a população de

baixa renda? Onde e quem decide que os moradores “pobres” podem conviver com

o lixo e os problemas ocasionados por este?

É possível perceber o teor classista da organização espacial, no controle

que as classes dominantes (proprietárias dos meios de produção) exercem sobre as

80

classes menos favorecidas, desenvolvendo padrões de segregação espacialmente

cristalizados. Expondo os habitantes das periferias urbanas aos efeitos nocivos dos

impactos ambientais oriundos dos resíduos descartados, enquanto resguardam os já

privilegiados moradores dos bairros “nobres” dessa dura convivência, mesmo sendo

estes últimos os que mais consomem e, por conseguinte que geram resíduos.

Penna (1999) é categórico ao afirmar que apesar do significativo

crescimento da reciclagem dos resíduos sólidos ocorrida nas duas últimas décadas

do século XX nos países desenvolvidos, um dos maiores desafios que os centros

urbanos tiveram e ainda tem que enfrentarem é onde depositar, de forma adequada,

os resíduos gerados pela sociedade de consumo e do desperdício. A avidez em

obter um número cada vez maior de produtos diversos (carro, celular, aparelho de

som, etc), produz resultados tão espantosos que parecem ficção para a grande

maioria das pessoas.

4.5 RESÍDUOS SÓLIDOS NA MODERNIDADE LÍQUIDA

Nunca em nenhum outro período histórico se produziu tantos resíduos

quanto na contemporaneidade, longe de ser uma eventualidade, trata-se de um

efeito colateral dos valores que regem a modernidade. Segundo Baudrillard (1995),

“encontramo-nos em pleno foco de consumo enquanto organização total da vida

quotidiana.” (p.20). Ou seja, as relações sociais estabelecidas no trabalho, na

família, no lazer e no mundo estão pautadas na aquisição de objetos, produzidos

massivamente, deixando como rastro, uma natureza dilapidada. As relações

passaram a ser mediadas por mercadorias, assim, os objetos tornam-se a “ponte” de

ligação entre eu e o outro, entre eu e o mundo, desprovidos de sentido e de

sentimentos, eles coisificam as relações, tornando-as superficiais e fugidias. Na

concepção de Penna (1999):

A profunda necessidade humana de valorizar-se e ser respeitado pelos

seus semelhantes manifesta-se, de forma crescente, através do consumo. A

simples compra de bens seria uma prova de autoestima e um meio de

aceitação social. Esse aspecto psicossocial [...] estimula as pessoas a

comprarem sempre mais. Como alguém já observou, comentando sobre a

cultura do consumo, as pessoas gastam um dinheiro que não possuem,

81

para comprar coisas de que não necessitam, para impressionar pessoas

que não conhecem. (p.52).

A lógica do consumo mascara as relações sociais, e simultaneamente dá

ênfase a artificialidade, o efêmero, a fluidez, a volatilidade, a liquidez, que

caracterizam a contemporaneidade, em detrimento das certezas, dos princípios

morais, dos dogmas e da lógica linear da modernidade de outrora, denominada por

Bauman como modernidade sólida. Distinguindo sólido e líquido, o autor profere:

Enquanto os sólidos têm dimensões espaciais claras, mas neutralizam o

impacto e, portanto, diminuem a significação do tempo (resistem

efetivamente ao seu fluxo ou o tornam irrelevante), os fluidos não se atem

muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propensos) a

mudá-la; assim para ele o que conta é o tempo, mais do que o espaço que

lhes toca a ocupar, espaço que, afinal, preenchem ‘por apenas um

momento’. Em certo sentido, os sólidos suprimem o tempo; para os líquidos,

ao contrário, o tempo é que importa. (2001, p.08).

Diante do exposto, pode-se afirmar que, na atualidade, vive-se um

período de mutação, onde o que antes era sólido, hoje “escorre” entre os dedos da

mão do tempo. Ou seja, o estado de solidez que constituía as certezas do período

moderno dissolveu-se no espaço, e surge polimorfamente nas e das incertezas da

Modernidade Líquida,12 conhecida mais amplamente como Pós-modernismo.

Entretanto, cabe mencionar que, mudou-se a forma mas não o conteúdo, pois não

houve um rompimento com o sistema econômico capitalista, uma vez que o intuito

do,

[...] efeito líquido é moldar a trajetória e a forma do desenvolvimento

capitalista de modos cuja compreensão vai além da análise das transações

de mercado. Além disso, as propensões sociais e psicológicas, como o

individualismo e o impulso de realização pessoal por meio da

autoexpressão, a busca de segurança e identidade coletiva, a necessidade

de adquirir respeito próprio, posição ou alguma outra marca de identidade

individual, têm um papel na plasmação de modos de consumo e estilos de

vida. (HARVEY, 2004, p.118).

12BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. São Paulo: Zahar, 2001.

82

Na opinião de Baudrillard (1995),

Quando se fala de Produção e Consumo – trata-se de um só e idêntico

processo lógico de reprodução amplificada das forças produtivas e do

respectivo controlo. Tal imperativo, que pertence ao sistema, passa para a

mentalidade, para a ética e ideologia quotidiana – eis a grande astúcia – na

forma inversa: sob a capa de libertação das necessidades, do

desabrochamento do indivíduo, de prazer e abundância, etc. (p. 82).

Deste modo, observa-se, no cotidiano, cada vez mais uma legitimação

ideológica do consumo, através da utilização exacerbada de eletros eletrônicos, TV,

computadores, aparelhos celulares, notebooks, tablets, videogames, micro-ondas,

filmadoras e demais produtos da microinformática que são praticamente

descartáveis devido à obsolescência programada e perceptiva. Em geral esses

produtos são compostos por cabos, placas de circuito, equipamentos de

visualização (telas de tubos catódicos, telas de cristais líquidos) disjuntores, pilhas,

baterias e etc. Trazem em sua constituição metais pesados como mercúrio, chumbo,

cádmio, cromo, amianto, arsênio, substâncias halogenadas, gases de efeito estufa,

dentre outros componentes tóxicos prejudiciais à segurança e saúde dos

ecossistemas terrestres. Essa realidade remete a seguinte reflexão, qual o destino

desses resíduos? Pela lógica seriam os locais onde foram gerados, entretanto, a

resposta é bem mais complexa do que lógica.

Grande parte do lixo eletrônico (e-lixo, como é conhecido), símbolo da

sociedade pós-moderna e do consumo inconsequente da população dos países do

norte são descartados, nos países do sul, outorgando-lhes por assim dizer, mais

uma função espacial, a de “lixeira” mundial. China e Índia são os maiores receptores

dos resíduos eletrônicos do continente asiático, enquanto Gana abriga o maior

“lixão” de eletrônicos europeu (Ver Figura 10). A superprodução desse tipo de

resíduos está diretamente ligada ao lançamento de novos produtos eletrônicos no

mercado global.

83

Figura 10 – Lixão de Eletrônicos em Gana – África

Fonte: <http://www.recicladoraurbana.com.br/images/imagens/ghana-lixo-capa.jpg>. (Acesso

em 23/02/2017)

As “montanhas” de carcaças eletrônicas erguidas sob o “altruísmo”

europeu da inclusão digital da população pobre de Gana (esmagadoramente negra)

no mundo digital, viraram uma “cartão postal”, às avessas, do bairro periférico de

Agbogbloshie, juntamente com suas casas, “estilo” ficção científica, construídas com

restos de madeira, plástico e metais oriundos dos eletroeletrônicos descartados pelo

mundo rico em solo africano, apesar de veementemente condenado pela Convenção

da Basileia de 198913. (LOPES, 2015)

Sobre o fenômeno da destinação de resíduos localizarem-se em bairros

pobres, Waldman (2010) revela que esses detritos representam fator de perecimento

das condições de vida das minorias excluídas, imensamente desprotegidas e

negligenciadas quanto às mazelas da coabitação com os resíduos. Reforçando

políticas de “punição da pobreza”, deslocando as áreas e os equipamentos de

deposição como lixões, preferencialmente para locais habitados pelas pessoas de

baixa renda.

O Brasil aderiu à Convenção da Basiléia em 1993, através do Decreto

875 que regulamenta o trânsito desses materiais com base no consentimento prévio

para a importação de resíduos perigosos e coibi o tráfico ilícito desses refugos.

13 Convenção de Basiléia tratado Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu

Depósito.Foi concluída em Basiléia, Suíça, em 22 de março de 1989.

84

Entretanto, a promulgação do decreto constitui-se apenas o primeiro passo nas

negociações transfronteiriças da movimentação de resíduos, é necessário ainda que

o governo introduza normas em sua legislação interna que sejam observadas em

todo o território nacional. (ZIGLIO, 2005)

Enfim, após o exposto, referente às peculiaridades geográficas e

temporais, pode-se dizer que a espacialidade dos resíduos na superfície terrestre é

um fenômeno inegável, constituído de robusta materialidade. A compreensão e

soluções dos problemas que os mesmos acarretam, requer uma visão

multidimensional, que perpassa pelo conhecimento multi-interdisciplinar dos

aspectos físicos, sociais, ambientais, políticos, culturais e até mesmo psicológicos. O

fluxo de navios que cruzam os oceanos transportando resíduos perigosos, na

maioria das vezes, dos países ricos aos países pobres, retrata a dinâmica de

“globalização” dos resíduos, além de ser um indicador da permanência da

subjugação do colonialismo mercantil através de suas naus.

85

5 UNIVERSO DA PESQUISA: PANORAMA HISTÓRICO SOCIOAMBIENTAL

Maracanaú traz em sua etimologia a herança do passado

indígena,maraka´nã (maracanã) e´y(rio) “lagoa onde bebe as maracanãs”, haja visto

que originalmente era habitado pelas etnias Pitaguary, Jaçanaú, Mucunã e Cágado

(IBGE, 2010). Em meados doséculo XVII passa a categoria de aldeamento,

configurada no povoamento lagoa de Maracanaú. Conforme pesquisa histórica

realizada por Farias (2009), os aldeamentos (missões jesuítas) eram espécies de

aldeias artificiais onde era imposta uma organização socioespacial, de origem

europeia era imposta, vinculada ao capitalismo nascente, bastante diferentes das

aldeias originais dos nativos.

As mudanças ocorridas na organização espacial e política tem

continuidade, e no final do século XIX, especificamente no ano de 1882, o povoado

supracitado torna-se Vila do Santo Antônio do Pitaguary. Em 1906, início do século

XX, é criado o distrito de Maracanaú, subordinado ao município de Maranguape.

Ainda neste mesmo século, Maracanaú emancipa-se de Maranguape através da lei

estadual nº 10811, de 04 de julho de 1983. (IBGE, 2010).

Atualmente, integra a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF),

localizado a 22 km de distância da capital cearense, situado mais precisamente a 3º

52' 36" latitude Sul e 38º 37' 32" longitude Oeste. Limita-se com os seguintes

municípios: Fortaleza e Caucaia ao norte, Maranguape e Pacatuba ao sul, Fortaleza

e Pacatuba ao leste, Maranguape e Caucaia a oeste. (Ver Figura 11).

Com uma área de 105,70 km², essencialmente urbana, com um dos

maiores índices do estado 99,31%, Maracanaú é uma cidade de 209.057 mil

habitantes, caracterizada por uma substancial densidade demográfica, 1.877,75

hab/km², espacialmente distribuídas em 02 distritos: Maracanaú (sede) e Pajuçara.

(IPECE, 2013).

Em face do exposto cabe ressaltar que a densa concentração

demográfica de Maracanaú é decorrente da instalação de distritos industriais, e dos

megaconjuntos habitacionais implantados em seu território na década de 1970

(MOURÃO; CAVALCANTE, 2006). Entre as décadas de 1970 e 1980, foram

construídos na cercania do primeiro distrito industrial de Fortaleza - DIF I (sediado

em Maracanaú), seis conjuntos habitacionais custeados pela Companhia de

Habitação - COHAB e pelo Banco Nacional de Habitação (BNH).Os conjuntos

86

COHABs terminaram sendo resultado da política de “barramento” da migração rural,

marcada principalmente por retirantes da seca que saiam do interior para a capital

em busca de melhores condições de vida. Os do BNH tiveram como fonte de

financiamento o Fundo de Garantia por Tempo de Serviços (FGTS), ou seja, o fundo

de poupança dos trabalhadores. (GOMES, 2015).

87

Figura 11- Mapa Municipal de Maracanaú-CE

Fonte: Elaboração de Igor Torres (2017)

88

Seguindo um modelo indicado pelas políticas públicas voltadas para a

criação de parques industriais, esta intervenção espacial agravou os problemas

socioambientais decorrentes da falta de um planejamento urbano, como por

exemplo, mobilidade urbana deficiente, especulação imobiliária, concentração de

renda, pressão sobre os recursos naturais, dentre outros. Desta forma, em virtude

dos fatos mencionados, observa-se que uma política industrial possui grande

capacidade de afetar a qualidade de vida dos habitantes de um lugar, tanto de

maneira positiva, quanto de maneira negativa, seja através de transformações

sociais ou espaciais. Torna-se, assim, evidente que Maracanaú é hoje um lugar

“completamente diverso do que fora na aurora dos tempos históricos” (SANTOS,

1988, p.44).

5.1 UMA OUTRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

O processo de industrialização do Ceará é recente, remonta aos

investimentos efetuados pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste –

SUDENE, nas décadas de 1960 e 1970. Como apontado por estudos históricos

realizados por Farias (2009), foi no governo de Virgílio Távora (1963 a 1966) que

pela primeira vez no Ceará foi organizado um plano de ação governamental

baseado nos planos de metas desenvolvimentistas nacionais do governo

Kubistcheck e no Plano Trienal de João Goulart.

Nesse contexto foi criado primeiro Plano de Metas Governamentais

(PLAMEG I) do Ceará, constituído por uma série de medidas econômicas e

administrativas a serem aplicadas pelo governo, visando, prioritariamente,a

industrialização cearense e a ascendência no cenário industrial nacional.

Para tal empreitada, foram realizadas diversas obras de infraestrutura

(redes de energia, transporte e comunicação), financiadas com recursos de

instituições internacionais como o Banco Internacional de Desenvolvimento (BID) e a

Aliança Para o Progresso (programa governamental norte americano contrário às

esquerdas latinas), e de órgãos federais como a SUDENE e o Banco do Nordeste do

Brasil - BNB. Datam deste governo, a criação da Companhia Docas do Ceará; a

Fábrica de Asfalto do Mucuripe; uma linha de transmissão de energia da usina de

Paulo Afonso e a criação do I Distrito Industrial em Maracanaú - DI (FARIAS, 2009).

A inauguração do DI de Maracanaú ocorrida em março de 1966 contou com a

89

presença de seu cearense mais ilustre, o então presidente da república, Humberto

Castelo Branco.

Conforme pesquisa geográfica realizada por Carvalho (2009), a criação

do I Distrito Industrial de Maracanaú, beneficiado por incentivos fiscais, surge

visando cumprir um plano político com um aporte estrutural capaz de sustentar um

grande contingente industrial. Entretanto, inicialmente, não atraiu o quantitativo de

indústrias esperado, pelo fato de apresentar, naquele momento, uma gama de

deficiências estruturais não condizentes com os padrões exigidos pelas indústrias de

grande porte, para sua implantação, apesar dos benefícios fiscais oferecidos.

A otimização do polo industrial só veio ocorrer duas décadas após sua

criação, mas nem por isso pode ser considerada menos avassaladora. Como

apontado por Mourão e Cavalcante (2006), no curto intervalo que vai de 1970 a

1990, Maracanaú passou de uma cidadezinha com características rurais para uma

cidade eminentemente industrial.

Por conseguinte, é possível considerar que a complexidade característica

do processo produtivo industrial foi incorporada ao espaço maracanauense até

então existente. Entretanto, vale advertir, apresentando argumento de Santos

(1988), que uma variável externa só é capaz de se integrar a um local, se este

possuir internamente as condições para poder aceitá-la, ou seja, a internalização do

externo não se dá à revelia, mas a partir da combinação entre variáveis externas e

internas que darão origem a outro arranjo espacial.

A política de incentivos governamentais proporcionou a Maracanaú as

condições internas necessárias à implantação de um polo industrial em seu território.

Em sua página da internet14 a prefeitura expõe uma série de incentivos direcionados

às indústrias que desejam ali instalar-se, como por exemplo: redução de impostos

municipais (ISS e IPTU), doação de terrenos e subvenção de locação de galpões,

além de mencionar a parceria com o Governo do Estado para disponibilização de

infraestrutura adequada até o limite do terreno do empreendimento.

Atualmente, o município de Maracanaú possui três distritos industriais15

(DIF I, DIF III e DI 2000) os quais concentram 100 indústrias16 atuando em diversas

14www.maracanaú.ce.gov.br .(Acesso em fevereiro de 2016) 15 A prefeitura de Maracanaú consideratambém a existência de mais dois DIs, o distrito industrial do Alto Alegre

II com 02 indústrias instaladas e o distrito industrial de Piratininga sem indústrias instaladas, até o momento.

Devido a incipiente quantidade de indústrias instaladas, não irão compor o universo da pesquisa.

90

atividades produtivas, como têxtil, beneficiamento de couro, metalurgia e mecânica,

papel e papelão, alimento, elétrico, químico e de tintas.

Figura 12 – Gráfico Distribuição das Indústrias por Distrito Industrial em

Maracanaú

Fonte: Elaboração da autora a partir de dados da PMM – 2013

O DIF I possui 73 indústrias instaladas numa área de 1.013 hectares, a

maior área industrial do estado do Ceará. Entre os três distritos é o que apresenta

melhor infraestrutura, sistema de abastecimento de água e energia (elétrica e de gás

natural), transporte público rodoviário e metrô, rede de esgoto, contendo uma das

maiores estações de tratamento de efluentes (ETE) da América do Sul, com 70 ha

de área, além de uma moderna rede de comunicação.

As indústrias intaladas nos outros dois distritos somam um total de 27,

sendo 19 delas pertencentes ao DIF III e 8 ao DI 2000, distribuídas respectivamente

numa área de 164ha e 40,5ha. O DIF III, apesar de ter sido criado há quase duas

décadas(1998) e ser o segundo em número de indústrias, apresenta ainda uma

infraestrutura elementar, composta por sistema de tratamento de água e esgoto,

comlagoa de estabilização, energia elétrica e uma malha de transporte público

precária, ou seja, condições pouco atrativas para potenciais investidores. De acordo

com Carvalho (2009), além dos problemas de infraestrutura, esse Distrito é palco de

conflitosreferentes ao uso e ocupação do solo, resultantes de questões jurídicas que

16O conceito de indústria refere-se à atividade de produção de mercadorias, desconsiderando assim os

estabelecimentos que se restringe à comercialização dos produtos manufaturados.

73%

19%8%

DIF I DIF III DI 2000

INDÚSTRIAS POR DISTRITO

INDUSTRIAL(%)

91

envolvemo não pagamento dos terrenos, aos antigos donos, pelos

empreendimentos privados. Com a inadimplência, as indústrias, não possuem o

direto de propriedade dos terrenos, acarretando o desinteresse de novos

investidores.Possuidor da mesma infraestrutura, o DI 2000, caracteriza-se por

possuir uma área industrial pouco significativa, formada principalmente por

empresas do setor têxtil e da construção civil.

Estes dados revelam as disparidades socioespaciais e econômicas

existentes entre os distritos industriais mais recentes (DIF III e DI 2000)17 e o mais

antigo (D I). Convém destacar que os problemas de uso e ocupação do solo e

infraestuturais, principalmente no que se refere ao sistema público de transporte,

terminam por obstacularizar a implantação de mais equipamentoa fabris nos distritos

industriais menores.

Entretanto, o fato de seus distritos não operarema todo vapor, não impede

que Maracanaú seja considerado o maior centro industrial do Ceará, sendo seu

Produto Interno Bruto (PIB) balizado, fundamentalmente, no setor industrial com um

percentual de 52,20%, quase o dobro de todo o Estado 23,70% (Ver Tabela 4). O

setor de serviço também é um grande gerador de divisas (47,71%) e a agropecuária,

atividade característica do setor primário, tradicionalmente rural, representa menos

de 1% do PIB.

Tabela 4 – Produto Interno Bruto por Setor Econômico – 2010

DISCRIMINAÇÃO

MUNICÍPIO

ESTA

DO

PIB a preços de mercado

(R$ mil)

4.100.336

77.86

5.415

PIB per capita (R$ 1,00) 19.549 9.217

PIB por setor (%)

Agropecuária 0,09 4,20

Indústria 52,20 23,70

Serviço 47,71 72,10

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) / Instituto de Pesquisa e Estratégia

Econômica do Ceará (IPECE).

17DI F III foi criado no ano de 1998 e o DI 2000 foi criado em 1993.

92

Ainda com relação ao PIB, Maracanaú detém a maior participação

(5,45%) no Produto Interno Bruto estadual ficando atrás apenas da capital, Fortaleza

(Ver Tabela 5). Cumpre observar que esta colocação de destaque no ranking da

economia cearense é decorrente das atividades industriais desenvolvidas no

município.

Tabela 5 – Os cinco maiores municípios quanto à participação do produto

interno bruto (PIB) do Ceará – 2011

MUNICÍPIO PIB 2011

(R$ Mil)

(%)

Fortaleza

42.010.111

47,75

Maracanaú 4.797.82

4

5,45

Caucaia 3.239.40

3

3,68

Sobral 2.436.46

3

2,77

Juazeiro do Norte 2.249.64

5

2,56

Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados do IPECE e IBGE.

5.2 ASPECTOS FÍSICOS

Maracanaú está edificada sobre unidade geomorfológica de Tabuleiro

Pré-litorâneo constituído por sedimentos areno-argilosos do Grupo Barreiras

assentado diretamente sobre o embasamento cristalino, datado do Terciário-

Quaternário. Apresenta topografia modesta (48m de altitude), devido ao fraco poder

de entalhamento da drenagem.

Quanto ao aspecto pedológico é constituída de planossolonátricos e

argissolo vermelho-amarelo, o primeiro caracteriza-se por apresentar elevados

teores de sódio nos horizontes superficiais, restrições ao uso de atividades

93

agrícolas, seja pela deficiência de água no período seco e excesso de água no

período chuvoso, além da grande suscetibilidade à erosão. O segundo, são solos

fortemente ácidos e de baixa fertilidade natural, contém argila de atividade baixa,

quartzo e outros materiais resistentes ao intemperismo. (IPECE, 2013)

No tocante à questão climática, devido sua proximidade a linha do

Equador, a área em estudo, apresenta intensa insolação durante a maior parte do

ano, caracterizando-a como uma área típica de climas tropicais, quente,subúmido,

com temperatura média variando entre 26º a 28º C. (Ibidem)

Com pluviosidade anual de 1.399,9 mm existe em Maracanaú uma

irregularidade pluviométrica acentuada. A maior parte das precipitações ocorre nos

meses de janeiro, fevereiro, março e abril (quadra chuvosa), os demais meses do

ano apresentam baixos índices pluviométricos, cuja consequência local é uma

significativa redução do volume de água nas lagoas e rios.

A vegetação embora bastante descaracterizada, em grande medida pela

instalação dos distritos industriais e construção dos conjuntos habitacionais como o

Conjunto Jereissati, um dos maiores da América Latina, comporta uma variada

cobertura vegetal, com espécies da zona litorânea, floresta subcaducifólia tropical

pluvial, floresta subperenifóliaplúvio-nebular e caatinga arbustiva densa. (IPECE,

2013)

Quanto à hidrografia, o município é cortado por dois dos principais rios da

RMF, rio Maranguapinho e rio Cocó, além do rio Maranguape. Os riachos: Santo

Antônio, Timbó, Taboqueira e Urucutuba; e as lagoas: Maracanaú, Jaçanaú, Jupaba

e do Mingau, terminam de compor a rede hidrográfica de Maracanaú, pertencente à

bacia metropolitana do estado do Ceará. A exclusão social de parte da população

tem acentuado o uso e a ocupação desordenada do solo, criado áreas de risco nas

margens dos rios e das lagoas da cidade.

5.3 INFRAESTRUTURA

É inegável a importante contribuição que teve a implantação do DIF I

para a melhoria da infraestrutura de Maracanaú, que era antes desse advento,

praticamente inexistente. Segundo dados da Companhia de Água e Esgoto do

Ceará – CAGECE, em 2011, a taxa de cobertura urbana foi de 77,52%, ou seja, a

maioria da população e acesso à água tratada. No que se refere ao esgotamento

94

sanitário observa-se, na tabela 6, que a cobertura da rede de esgoto segue o baixo

padrão estadual de atendimento deste serviço sanitário, apenas 32,13% de todo o

esgoto produzido no município é coletado.

Tabela 6 – Esgotamento Sanitário 2012

DISCRIMINAÇÃO Esgotamento Sanitário

M

unicípio

E

stado

%

sobre o total do

Estado

Ligações reais 1.991 493.930

0,40

Ligações ativas 1.897 468.501

0,40

Taxa de cobertura urbana de esgoto (%) (1)32,13 34,62

-

Fonte: Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE).Dados referentes a 2011.

Tabela 7–Domicílios particulares segundo tipos de esgotamentos– 2000/2010

Tipos de

Esgotamentos

Sanitário

s

Município

2

000

% 2

010

%

Total(1) 42.263 100 57.890

100,00

Rede geral ou pluvial 19.385 45,87 29.527

51,01

Fossa séptica 2.728 6,45 10.694

18,4

Outra 17.656 41,78 17.295

(Continua)

95

29,88

Não tinham banheiros 2.494 5,90 374

0,65

Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados do IPECE. Incluídosos domicílios sem

declaração da existência de banheiro ou sanitário.

Diante das informações trazidas nas tabelas 6 e 7, pode-se presumir que

a ineficácia da rede coletora de esgotos, pode acarretar ligações clandestinas

vinculadas à rede pluvial e o lançamento de efluentes, sem tratamento, nos rios e

lagoas, além do despejo de resíduo a céu aberto.

Quanto aos resíduos sólidos, cerca de96% dos domicílios de Maracanaú

são atendidos pelo serviço de coleta de lixo (CENSO, 2010), e tem sua disposição

final no Aterro Metropolitano Sul. De acordo com a Coordenação de Limpeza

Pública, a coleta é realizada em duas a três vezes por semana, dependendo do

bairro, com exceção do Centro da cidade, onde é realizada diariamente.

A legislação brasileira estabelece que seja de responsabilidade da

prefeitura a gestão do lixo doméstico, cabendo-lhe a missão de garantir sua coleta e

disposição final. Por outro lado, no que concernem os resíduos industriais, objeto

deste estudo, o transporte e disposição final é de responsabilidade do gerador, o

qual fica sujeito aos regulamentos e à fiscalização do poder público.

Vale advertir que, não existe em Maracanaú, apesar de seu significativo

polo industrial, um aterro para resíduos Classe I, nem tampouco incinerador18 ou

empresa de coprocessamento19, locais ambientalmente adequados para disposição

final deste tipo de resíduo. Então, grande parte do resíduo industrial gerado é

remetida para fora do município, e os resíduos que não são coprocessados ou

incinerados dentro do estado, vão para outros estados do nordeste, como

Pernambuco e Bahia, haja vista também a inexistência de aterro Classe I no Ceará

(Ver Figura 13).

18 Incinerador – equipamento projetado para o tratamento térmico de resíduos sólidos com temperaturas acima de

800° C. (IPT, 2000) 19Coprocessamento -tecnologia de destruição térmica de resíduos e passivos ambientaisem fornos de cimento.

(Conclusão)

96

Figura 13 – Localização dos Aterros para Resíduos Classe I

Observa-se na figura 13, através da espacialização geográfica das

unidades receptoras de resíduos industriais no Brasil, que a quantidade de aterros

Classe I está muito aquém da necessidade nacional, concentrando-se mais nas

regiões sul e sudeste. Para as pequenas e médias empresas localizadas nas

regiões norte e centro-oeste, o custo do transporte consiste em um grande obstáculo

para o tratamento e disponibilização de seus resíduos.

Em relação ao fornecimento de energia elétrica, a tabela 8 apresenta o

consumo e consumidores de energia elétrica de Maracanaú, de forma a identificar o

atendimento deste serviço por classes: residencial, industrial, comercial, rural,

serviço público e próprio. Nota-se o intervalo gritante que há entre o setor industrial e

os demais. O primeiro consome 710.040 mwh, o que corresponde a 73,97%,

acompanhado, com uma distância considerável, pelo consumo de energia pública

(11,42%); as demais classes respondem por 14,61% do total de energia elétrica

consumida. Esta realidade confirma o protagonismo do setor industrial neste

município.

97

Tabela8 – Consumo e consumidores de energia elétrica – 2012

Classes de Consumo Consumo

(mWh)

Cons

umidores

Total 959.839 69.65

4

Residencial 83.163 65.27

6

Industrial 710.040 219

Comercial 54.536 3.125

Rural 2.079 187

Público 109.537 840

Próprio 485 7

Fonte: Companhia Energética do Ceará (COELCE).

5.4 SAÚDE

Segundo a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (SESA -2012), em

Maracanaú, o número de unidades de saúde/1000 hab. é 0,27, sendo que 82,46%

das unidades de saúde ligadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) são da rede

pública, enquanto 17,54% são da rede privada, o que demonstra uma sobrecarga

nos atendimentos em hospitais e postos de saúde públicos. O número de leitos

confirma a precariedade deste serviço, 1,21 leitos para cada 1000 habitantes.

Tabela 9 - Os cinco principais casos confirmados das doenças de notificação

compulsória em Maracanaú – 2012

98

Discriminação Casos Confirmados das

Doenças

de Notificação

Compulsória

Dengue 2.282

Tuberculose 84

Hanseníase 72

AIDS 53

Leishmaniose Visceral 15

Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados da SESA.

Analisando os dados da tabela 9 como um todo, observa-se que há uma

diferença exorbitante entre a 1º colocação(dengue) e as demais. Deste modo, é

pertinente lembrar que a melhor forma de evitá-la é combatendo os focos de

acúmulo de água, em latas, pneus velhos, vasinhos de plantas e lixeiras, entre

outros. Ou seja, sua prevenção está intrinsecamente associada aos aspectos de

saneamento básico (tratamento de água, esgoto, drenagem e coleta de lixo).

Inicialmente a Leishmaniose Viral (5ª colocada), conhecida popularmente

como calazar, barriga d’água, entre outras denominações, era caracterizada como

uma doença eminentemente rural; entretanto as transformações ocorridas no

ambiente, desmatamento, urbanização, processo migratório, esvaziamento rural,

acarretaram uma redução do espaço ecológico da doença, facilitando a ocorrência

de epidemias, principalmente nas periferias dos grandes centros urbanos.

A proliferação de todas as doenças acima listadas, com exceção da AIDS,

Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, está fortemente associada aos altos

indicadores de pobreza e precárias condições de higiene. O conjunto de doenças e

agravos mencionados reflete as condições de saúde da população, isso permite

concluir que tanto a atenção curativa (hospitalar) quanto a preventiva (saneamento

básico) estão muito aquém das necessidades dos munícipes.

5.5 EDUCAÇÃO

99

A gestão do sistema de educação de Maracanaú é realizada através de

diversos órgãos públicos, Secretaria de Educação (órgão executivo); Conselho

Municipal de Educação – CME (órgão normativo), Conselhos do FUNDEB e

Alimentação Escolar (órgãos de controle social), Núcleo de Tecnologia Educacional

de Maracanaú – NUTEM (oferece formação continuada em informática educativa) e

o Departamento de Treinamento – DETRE (destinado ao desenvolvimento dos

profissionais do magistério). (CAMURÇA, 2013)

No tocante as unidades de ensino, há um total de 108 da rede pública,

sendo 90 escolas municipais, 17 estaduais e 1 Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).Quanto à rede particular há 70 unidades,

contemplando os três níveis de ensino (fundamental, médio e superior). Porém,

para autora supracitada, no que concerne à educação básica municipal,

[...] não existem, ainda, escolas suficientes para um pleno atendimento,

com qualidade, à demanda por atendimento educacional no município.

Embora universalizado, 57 ocorre, em grande parte, em prédios locados

e/ou cedidos que, em muitos casos, não foram projetados para esse fim. É

importante salientar ainda que, em geral, os prédios alugados não dispõem

de uma estrutura adequada ao atendimento escolar. Muitos deles

encontram-se bastante distanciados, em termos estruturais, do atendimento

aos padrões básicos de funcionamento do ensino. Podemos afirmar que

cerca de 43% dos alunos do total da rede municipal são subatendidos em

prédios com condições precárias, que não oferecem condições físicas e

ambientais estimulantes à educação de crianças. Os sujeitos do processo

educacional em Maracanaú reclamam das condições objetivas de trabalho a

que estão submetidos, tanto os trabalhadores quanto os estudantes.

(CAMURÇA, 2013, p. 56-57)

A diferença que há entreas informações referentes à realidade

representada por dados quantitativos e qualitativos é nítida. Pois é comum que

dados numéricos “camuflem” muitas das necessidades da população residente,

principalmente a de baixa renda. Quando não, visam apenas alcançar metas

destinadas à obtenção de subsídios de bancos internacionais.

Tabela 10 – Indicadores educacionais de Maracanaú no ensino

fundamental e médio

100

Discriminaçã

o

Ensino

Fundamental (%)

Ensino Médio

(%)

Escolarização Líquida 100,00

54,01

Aprovação 92,03

73,97

Reprovação 6,16

10,18

Abandono 1,81

15,86

Alunos por Sala de Aula 31,41

52,20

Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados da Secretaria de Educação Básica (SEDUC 2012).

A partir dos indicadores educacionais (Ver Tabela 10), é possível verificar

a discrepância entre as taxas de escolarização líquida20do ensino fundamental e do

médio. Na primeira modalidade de ensino, a taxa é de 100%, entretanto cai quase

pela metade no ensino médio 54,01%, o que demostra um percentual de evasão de

46% do ensino fundamental para o ensino médio. Muitas vezes, esses jovens não

dão continuidade a seus estudos, por se verem pressionados a contribuírem na

renda familiar e não conseguirem conciliar a jornada de trabalho com a escola. A

taxa de aprovação do ensino médio é inferior ao do ensino fundamental, enquanto

que as demais, reprovação, abandono e aluno por sala de aula são todas superiores

ao do ensino fundamental. Isso dá uma dimensão das adversidades

socioeconômicas existentes, que impedem os jovens em idade escolar de

participarem plenamente do processo educacional ou nele permanecerem.

Convém mencionar, queos aspectos físicos e os indicadores

socioeconômicos (PIB, infraestrutura, educação), apresentados neste capítulo

20 Taxa de escolarização líquida é a percentagem de estudantes de um determinado grupo etário em relação ao

total de pessoas do mesmo grupo etário. Trata-se de um indicador que tem como objetivo verificar o acesso ao

sistema educacional daqueles que se encontram na idade recomendada para cada um dos três níveis

(fundamental, médio e superior). Indica a porcentagem da população que está matriculada no nível adequado à

sua faixa etária. (IBGE)

continuação

101

permeiam a discussão referente às situações de vulnerabilidade e riscos

socioambientais, que se encontram a população circunvizinha do Distrito Industrial

I.A correlação desses indicadores com as condições de vulnerabilidade e risco foi

examinada com mais ênfase e aporte teórico no capítulo 6.

102

6 RESULTADOSE DISCUSSÕES

6.1 ÍNDICE DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL (IVA)

Ao observar o mapa de vulnerabilidade ambiental (Ver Figura 14) é lícito

identificar um mosaico espacial composto de 5(cinco) níveis de vulnerabilidade:

muito alta, alta, moderada, baixa e muito baixa, distribuído assimetricamente nos

setores censitários pesquisados. A miscelânea de padrões representados por cores

traduz uma condição de vulnerabilidade própria, uma espécie de “digital do risco”,

construída a partir da sobreposição binária das variáveis, cobertura vegetal e

proximidade dos recursos hídricos.

As áreas de vulnerabilidade muito alta correspondem aos locais que

margeiam os corpos hídricos, fato revelado através de imagem de satélite Rapideye

e confirmado na pesquisa de campo. As áreas de alta vulnerabilidade encontram-se

principalmente no interior do Distrito Industrial I, mais especificamente no entorno

das lagoas do Acaracuzinho, da Pajuçara,do riacho Maracanaú e do afluente do rio

Timbó.

Segundo a Agência Nacional de Águas – ANA (2013), o setor industrial

brasileiro ocupa o terceiro lugar, em termos de vazão e retirada de água e, o quarto

em consumo. As indústrias de celulose (fabricação de papel e seus derivados) e de

metalurgia básica apresentam maior vazão hídrica, ou seja, tem grande rapidez no

volume de escoamento d’água, respondendo respectivamente por 24% e 19% do

uso desse recurso. Para termos uma ideia, são necessários 21,67 a 216,0 m³ de

água para produzir uma tonelada de celulose e 26,73m³/t para produtos

metalúrgicos.Como alerta Castro, “a apropriação e uso dos recursos naturais através

de processos produtivos e a própria dinâmica dos processos da natureza e dos

processos sociais tendem a gerar riscos [...].”(CASTRO, 2005, p.27).

Dado o exposto, considera-se pertinente mencionar que, dentro do

conjuntode indústrias pesquisadas, existe uma de fabricação de celulosee outra de

metalurgia, ambas instaladas no DIF I, fato que se apresenta como uma ameaça

potencial à conservação dos recursos hídricos seja pelo uso ou por seu teor

poluidor.

Nos setores censitários localizados nas adjacências do Distrito Industrial

Ipredominam áreas de vulnerabilidade alta e moderada.O adensamento

103

urbanodecorrente dos conjuntos habitacionais ali existentes indicam uma densa

impermeabilização do solo e um baixo índice de cobertura vegetal. O excesso de

impermeabilização interfere negativamente no ciclo hidrológico, ao impossibilitar a

infiltração da água no solo sobrecarrega o sistema de drenagem pluvial,

aumentando o volume de escoamento das águas superficiais, o que pode ocasionar

o transporte de resíduos e sedimentos para as margens de corpos hídricos

dispostos em locais de baixa declividade, comprometendo a saúde da população,

que fica mais exposta a contrair doenças de veiculação hídrica, além de

potencializar a ocorrência de alagamento e enchentes. Com o solo impermeabilizado

os lençóis freáticos não são alimentados, fato que compromete o reabastecimento

da água na natureza e o abastecimento da população.

O baixo índice de cobertura vegetal também impacta adversamente o

solo, ao deixá-lo desnudo, facilita a erosão causada pelas águas da chuva,

fomentando o processo de assoreamento de rios e lagoas urbanas. Áreas combaixa

cobertura vegetal tendem a absorver mais calor, por isso apresentam temperaturas

mais altas e maior sensação de desconforto térmico. Durante apesquisa de campo

foi identificada uma substancialperda de vegetação nos setores censitários

localizados ao norte, ao sul e ao leste do DIF I, sendo estas áreas consideradas

duplamente vulneráveis, por se encontrarem mais próximas a cursos d’água

.

104

Tabela 11 - Setores Censitarios

Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados do IBGE (2010)*Sem dados de população

Observando atabela 11 acima, contendo dados do IBGE (2010) referentes

à cobertura vegetal por setor censitário da área de estudo, é possível verificar a

similitude existente entre o levantamento das informações percebidas no“campo” e

as informações governamentais. Os setores censitários com ausência de vegetação

Setores

Censitários

População

(hab)

Área(m²)

Cobertura

Vegetal/Habitante

(m²/hab)

%

Cobertura

Vegetal

230765005000022 1 566 2 775,00 1,77 0,06

230765005000028 744

65

616,50 88,19

1,55

230765005000132 738 8 782,92 11,90 0,21

230765005000129 316 425,00 1,34 0,01

230765005000130 777 4 380,82 5,64 0,10

230765005000017 13

3 755

230,00 288 863,85

89,05

230765005000009 513

265

871,00 518,27

6,30

230765005000014 1 070 257,70 0,24 0,00

230765030000006 706 5 854,55 8,29 0,14

230765030000007 927

21

346,10 23,03

0,50

230765030000031 542 7 691,74 14,19 0,18

230765005000172 *

78

514,10 *

1,86

TOTAL *

4 216

745,43 *

100

105

correspondem,justamente, aos locais onde estão instalados os conjuntos

habitacionais. Nota-se que na maioriados setores (sete deles) o índice de cobertura

vegetal por habitante não chega a 15m².

Em termo de porcentagem, considerando a cobertura vegetal total por

setor, verifica-se uma discrepância significativa entre os mesmos, pois a soma de

oito deles não atinge 10% da área pesquisada, enquanto que,cerca de 89% do total

de vegetaçãoexistente (rasteira, arbustiva e arbórea) encontra-se no

setor230765005000017, outro fato que merece atenção, é que em dez setores

censitários este percentual encontra-se abaixo de 5%. De acordo com Oke (1973,

apud NUCCI,1999), o índice de cobertura vegetal capaz de proporcionar um balanço

térmico adequado em áreas urbanas é de 30%, sendo as áreas, com índice de

arborização inferior a 5%, consideradas semelhantes a de um deserto.Dado o

exposto, percebe-se o quão distante de uma realidade ambientalmente satisfatória,

encontra-se a área investigada e quão vulnerável às consequências resultantes

desse desmatamento está a população residente no perímetro do distrito industrial.

Como bem afirmaNucci (1999), a cobertura vegetal é um fator

determinante da qualidade ambiental e de vida, desempenha uma gama de funções

na malha urbana, entre elas, a estabilização de determinadas superfícies, obstáculo

contra o vento, minimização da poeira em suspensão e de material particulado,

equilibra o índice de umidade, protege a qualidade da água, além de minimizaros

ruídos.

No tocante a vulnerabilidade ambiental como um todo, observa-se no

mapa do IVA, que os locais de baixa e muito baixa vulnerabilidade estão restritos a

pequenas “manchas” esverdeadas, pulverizadas em partes dos setores

230765005000017,230765005000009 e 230765005000014. Nos demais setores

aparecem de forma extremamente incipientes, quando não, totalmente ausentes,

como por exemplo, no de número 230765005000014.

106

Figura 14 – Mapa de vulnerabilidade Ambiental

Fonte: Elaborada pela autora

107

6.2 ÍNDICE DE VULNERABILIDADE SOCIAL (IVS)

Para iniciar esta análise é essencial destacar que a mesma,

aprioristicamente, fundamenta-se na percepção de risco de Veyret (2007), quando

esta o considera, antes de tudo, um objeto social, visto que “não há risco sem uma

população ou indivíduo que o perceba e que poderia sofrer seus efeitos. [...] O risco

é a tradução de uma ameaça, de um perigo para aquele que está sujeitoa ele e o

perceba como tal.” (p. 11)

O fato acima mencionado, nãodesconsidera a percepção de autores,

como Egler (1996, apud CASTRO et al, 2005)que particularizam o elemento social,

apresentando-o como um segmento dos estudos sobre risco, neste caso, risco

social. Definido como o risco resultante das carências sociais, ou seja, da

defasagem das condições mínimas de habitabilidade; do não acesso aos serviços

básicos de saneamento, água tratada, rede de esgoto e coleta de lixo; condições de

emprego, renda, educação, dentre outros.É interessante destacar que, as variáveis

trazidas pelo autor, na definição de risco social, são semelhantes as do IPEA, base

do IVS desta pesquisa.

Dito isto, no que concerne a espacialização dos dados do IPEA referentes

ao índice de vulnerabilidade social da área de estudo, cabe novamente mencionar

que os mesmos são apresentados em recortes espaciais denominados Unidades de

Desenvolvimento Humano – UDHs, configuração criada a partir dos setores

censitários com o intuito de captar as situações de desigualdades encontradas no

interior das regiões metropolitanas, relacionadas ao desenvolvimento humano de

forma mais incisiva, atendendo os critérios e as exigências técnicas do IBGE. (IPEA,

2015)

Visando um melhor entendimento das análises feitas sobre os níveis de

vulnerabilidade das áreas pesquisadas, foi elaborado um mapa ilustrando a

correlação entre os setores censitários e as UDHs (Ver Figura 15). Pode-se observar

que o recorte espacial da área de estudo permanece o mesmo, e os 12 setores

censitários codificados numericamente, passaram a compor as cincoUDHs,

representando recortes espaciais próprios do IPEA. Deste modo temos:

Acaracuzinho/Novo Oriente (1 setor censitário); Distrito Industrial21 (3 setores

21Distrito Industrial do IPEA corresponde ao bairro Conjunto Industrial.

108

censitários correspondente ao bairro Conjunto Industrial); Novo Maracanaú (2

setores censitários); Pajuçara II (3 setores censitários); Conjunto Timbó22 (3 setores

censitários).

Infraestrutura urbana, capital humano, trabalho e renda, são as três

dimensões que compõem o IVS.A medição do índice de vulnerabilidade vai de 0 a 1

(Ver Tabela 12), quanto mais próximo de 1 maior a situação de vulnerabilidade, e a

necessidade de intervenções do poder público.Os municípios que apresentam IVS

entre 0,501 e 1 possui vulnerabilidade muito alta; entre 0,401 e 0,500 são

considerados de alta; entre 0,301 e 0,400 são de média vulnerabilidade; valores

entre 0,201 e 0,300 indicam baixa e entre 0 e 0,200 são considerados de muito

baixa vulnerabilidade.

22Conjunto Timbó do IPEA engloba o DIF I.

109

Figura 15 – Mapa da área de estudo por UDHs

Fonte: Elaborada pela autora

110

Tabela 12 - IVS infraestrutura urbana por UDHs

Fonte: Elaborado pela autora, IPEA

(2015)http://ivs.ipea.gov.br/ivs/pt/o_atlas/perguntas_frequentes/#33

*UDHs com indicadores idênticos correspondem a recortes espaciais que

foram agregados para fins de extração de dados.

Espa

cialidades

(UDH

s)

% de

pessoas em

domi

cílios com

abas

tecimento de

água

e esgotamento

sanit

ário

inadequados

2010

% de

vulneráveis

que

gastam mais de

uma hora

até o trabalho

na

população

ocupada

vulnerável.

2010

%

da

população

em

do

micílios sem

coleta de

lixo

20

10

IVS

Infraestrutura

Urb

ana

2010

Acar

acuzinho / Novo

Oriente

0,67 11,64 0,8

4

0,27

1*

Conj

unto Timbó 0,67 11,64

0,8

4

0,27

1*

Distri

to Industrial 0,97 15,92

1,5

9

0,37

4*

Novo

Maracanaú 0,97 15,92

1,5

9

0,37

4*

Pajuç

ara II 0,46 4,38

4,1

3

0,12

6

111

Quanto ao IVS infraestrutura urbana por UDHs (Ver Tabela 12) é

possível verificar três situações de vulnerabilidade distintas: muito baixa; baixa e

média; neste IVS não foram encontrados índices de vulnerabilidade alta e muito alta

(Ver Figura 16). Distrito Industrial e Novo Maracanaú são áreas com situação de

vulnerabilidade média, ambas com índice de 0,374.Os indicadores que mais

contribuíram para esse resultado foram o da mobilidade urbana e da coleta de lixo.

Acaracuzinho/Novo Oriente e o Conjunto Timbóapresentaram um

índice de baixa vulnerabilidade (0,271), sendo a mobilidade urbana o único indicador

com percentual acima de 1%. O referido indicador aparece também como o maior

nas demais UDHs, isso aponta para a necessidade de políticas públicas destinadas

à melhoria da acessibilidade de pessoas no espaço urbano, através de

investimentos em transportes públicos coletivos eficientes, com tempo de viagem

reduzido e sem superlotação.

Pajuçara II apresenta vulnerabilidade muito baixa, isto se deve aos

baixos percentuais dos indicadores, principalmente no que se refere ao

abastecimento de água e esgotamento sanitário inadequados (0,46%). Cabe lembrar

que a função dos indicadores é sinalizar o acesso, a ausência ou a insuficiência de

alguns serviços que proporcionam o bem estar da população e garantem seu direito

à cidadania. Porém, apesar da condição de menos vulnerável, Pajuçara II tem o

maior percentual da população em domicílios sem coleta de lixo.

Para Moser (1998, apud ALVES, 2006) a vulnerabilidade ocorre quando

estão presentes três elementos: i) exposição ao risco; ii) incapacidade de reação; iii)

dificuldade de adaptação diante da materialização do risco. Deste modo, considera-

se que para identificar o nível de vulnerabilidade de um grupo social é imprescindível

conhecer a percepção, que o mesmo tem, sobre a situação de vulnerabilidade a qual

se encontra. Partindo dessa premissa serão apresentados a seguir os dados da

pesquisa de campo.

Do total de domicílios pesquisados,100% têm acesso à rede pública de

água, cuja fonte hídrica é o conjunto de reservatórios dos Açudes Gavião, Riachão,

Pacoti, Pacajus e Canal do Trabalhador (Rio Jaguaribe). No tocante a cobertura da

rede de esgoto, 74% das residências lançam seu esgoto diretamente na rede

pública. Nos casos de insuficiência da rede de esgoto (26%), os efluentes são

destinados às fossas sépticas.

112

Quanto ao serviço de coleta de lixo, 97% das residências dispõem desse

serviço, sendo os resíduos domésticos, em sua maioria (63%), coletados três vezes

por semana; em outros locais, duas vezes na semana (30%) e todos os dias em 7%

dos domicílios. Apenas um entrevistado declarou não existir em sua rua o serviço de

coleta, o que o levava a queimar o resíduo por ele gerado.

Os dados primários mostram discrepânciasem relação aos dados

secundários, entretanto, estas não chegam a ser significativas, no que se refere ao

abastecimento de água e à cobertura de esgoto. No que diz respeito à coleta de

resíduos sólidos urbanos, a diferença é maior, ocorreu com os dados do

Acaracuzinho/Novo Oriente e Conjunto Timbó, cujo percentual da população em

domicílio sem coleta de lixo é menor do que 1% contra os 3% da encontrados no

campo.

No caso da mobilidade urbana, no questionário aplicado, não havia

nenhuma pergunta sobre o tempo gasto no deslocamento do percurso casa-

trabalho. Por outro lado, ao responderem sobre o local onde trabalhavam, 26%

afirmaram desenvolver sua atividade laboral dentro de casa, 19% correspondem aos

aposentados e desempregados, enquanto 55% trabalham fora de casa. Estes

últimos participam do tráfego urbano com maior frequência que os demais,

dependendo, portanto da eficiência da mobilidade urbana, seja através do transporte

individual (carros, motos, bicicletas.), seja através do uso de transportes coletivos

(ônibus, metrôs, trem).

Segundo Scaliotti (2016), a prefeitura de Maracanaú conseguiu junto ao

Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID um financiamento para a

implantação do Programa de Transporte e Logística – Translog, destinado a

melhorias no sistema de transporte intra e intermunicipal. As obras serão realizadas

nas principais ruas e avenidas da cidade, dentro da proposta está a interligaçãodos

bairros periféricos com a região central do município, através da integração das

diversas modalidades de transportes (ônibus, metrôs, bicicletas); a construção de

ciclovias e ciclofaixas; o alargamento do entorno do Distrito Industrial, otimizando a

logística para o escoamento da produção industrial.

113

Figura 16 – Mapa IVS Infraestrutura Urbana

Fonte: elaborada pela autora

114

Tabela 13 - IVS Capital Humano por UDHs

Espacialidades

(UDHs)

% de

mulheres

de 10 a 17

anos que

tiveram

filhos

2010

% de mães

chefes

de família sem

fundamental e

com filho

menor

no total de

mães

chefes de

família

2010

% de crianças

em

domicílios em

que

ninguém tem

fundamental

completo

2010

% de

crianças

de 0 a 5

anos

fora da

escola

2010

% de

crianças

de 6 a 14

fora da

escola

2010

% de pessoas

de

15 a 24 anos

que não

estudam,

não trabalham

e

são

vulneráveis,

na população

dessa faixa

2010

Mortalidade

infantil

2010

Taxa de

Analfabetismo

15 anos ou

mais

2010

IVS

Capital

Humano

2010

Acaracuzinho

/ Novo Oriente 2,97* 35,71* 12,68* 56,82* 0,41* 16,31* 18* 4,46

0,382

Conjunto Timbó 2,97* 35,71* 12,68* 56,82* 0,41* 16,31* 18* 7,93 0,393

Distrito 0,67* 11,04* 4,69* 36,90* 1,89* 10,27* 16* 4,13 0,206

(Continua)

115

Fonte: Elaborada pela autora a partir, IPEA (2015)<http://ivs.ipea.gov.br/ivs/pt/o_atlas/perguntas_frequentes/#33>*UDHs com indicadores idênticos

correspondem a recortes espaciais que foram agregados para fins de extração de dados.

Industrial

Novo

Maracanaú 0,67* 11,04* 4,69* 36,90* 1,89* 10,27* 16* 4,60

0,208

Pajuçara II 2,11 44,78 23,45 48,27 2,15 25,42 30 12,43 0,473

(Conclusão)

116

Assim como na dimensão anterior, foram encontrados três níveis de

vulnerabilidade no IVS capital humano, porém, com um intervalo diferente. Na

variável capital humano, os níveis detectados foram: baixa, média e alta

vulnerabilidade. (Ver Figura 17)

Pajuçara II, que na dimensão infraestrutura aparecia com o menor índice

de vulnerabilidade, aqui é a única UDH com vulnerabilidade alta, fato diretamente

relacionado à baixa escolaridade da população deste bairro, caracterizada pelo

significativo percentual de pessoas sem o ensino fundamental completo e uma taxa

de analfabetismo superior àtaxa nacional de 9,6% (IBGE, 2010). O alto índice de

analfabetismo apresentado (12,43%) reflete a diferença na qualidade do ensino, e a

necessidade de intervenções para modificar este cenário emerge como um

importante desafio. (Ver Tabela 13)

Dentro da faixa de alta vulnerabilidade, cabe ainda destacar o percentual

de pessoas de 15 a 24 anos que não estudam e não trabalham (25,42%), estas se

encontram duplamente vulneráveis, sem o exercício de ocupações que possam lhes

proporcionar uma expectativa de futuro melhor. Os indicadores de escolaridade além

de sinalizarem acesso, qualidade, tempo de permanência, repetência e evasão

escolar, remetem a diferentes relações entre a escolaridade e outros desfechos do

indivíduo, como por exemplo, a dependência química, outro fator de risco, que

embora não tenha sido comtemplado pelo IVS do IPEA, foi averiguado na pesquisa

de campo. Dentre o total de entrevistados, 26% afirmaram ter dependentes químicos

em casa.Um dado essencial a mencionar é que a maioria destes pertenceàs

residências localizadas na Pajuçara II.

Estudos realizados sobre o perfil sociodemográficos de dependentes

químicos, revelaram que a maioria apresenta baixa escolaridade (ensino

fundamental incompleto).Quanto à situação empregatícia é significativo o número de

desempregados ou com profissão indefinida. Resultados como estes explicam a

estreita relação existente entre a baixa escolaridade dos dependentes químicos e o

desenvolvimento da dependência, que se torna preocupante à medida que a

carência escolar ocasiona uma baixa qualificação profissional e, consequentemente,

uma baixa expectativa de vida(CAPISTRANO et al, 2013). Para Frei Betto, membro

117

do programa Todos Pela Educação23, “a descolaridade provoca na criança e no

adolescente baixa autoestima, tornando-os vulneráveis a propostas ilusórias de

enriquecimento e consumismo fáceis através do tráfico de drogas e outras práticas

criminosas.” (2017, p. 1)

Espaços de alta vulnerabilidade tendem à insegurança, não foi por acaso

que nos questionários aplicados na Pajuçara II, os depoentes apontaram o

poloesportivo, a praça e a quadra como locais de lazer, mas 60% afirmaram que não

deixam as crianças brincarem neles devido à falta de segurança. As escolas ali

situadas terminam sendo o principal equipamento social de referência daquela

comunidade, como consequência, as mesmas fortalecem o isolamento sociocultural

da vizinhança, reproduzindo no seu interior padrões de segregação urbana,

restringindo desta maneira, as possibilidades de interação com outros grupos sociais

(CENPEC, 2011)24.

No que concerne à condição de vulnerabilidade mediana, estase encontra

nas UDHsAcaracuzinho/Novo Oriente e Conjunto Timbó. A porcentagem de crianças

de 0 a 5 anos fora da escola é algo que merece atenção(56,82%).De acordo com a

Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional - LDB (2004) é dever do Estado

assegurar o atendimento de crianças de 0 a 6 anos em creches e pré-escola,

período correspondente à educação infantil, que tem como objetivodesenvolvimento

integral da criança, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,

complementando a ação da família e da comunidade. Considerando a importância

do desenvolvimentodesses atributos para o indivíduo, onão acessoà educação

infantil termina comprometendo o desempenho da criança em toda sua trajetória

escolar, levando-a muitas vezes a abandonar seus estudos no ensino fundamental,

acentuando assim, as desigualdades.

Vale colocar que a insuficiência de creches e pré-escolas é uma realidade

presente, não apenas em Maracanaú, mas na maioria dos municípios que integram

as grandes regiões metropolitanas brasileiras, potencializando situações deexclusão

social e, por conseguinte de vulnerabilidade. Principalmente nas zonasperiféricas,

23Fundado em 2006, o Todos Pela Educação é um movimento da sociedade brasileira que tem como

missão engajar o poder público e a sociedade brasileira no compromisso pela efetivação do direito das crianças e

jovens a uma Educação Básica de qualidade.https://www.todospelaeducacao.org.br/

24CENPEC - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. Educação em

territórios de alta vulnerabilidade social na metrópole. 2011.

118

caracterizadas pelo adensamento de pessoas de baixa renda e pelas dificuldades de

acesso a bens de serviços.

Prosseguindo a análise dos indicadores de média vulnerabilidade, outro

aspecto que merece reflexão é o alto índice de mães chefes de família sem ensino

fundamental e com filho menor (35,71%). Segundo Costa e Marra (2013) muitos são

os fatores de riscos que permeiam as mulheres chefes de família. A condição de

chefia as obriga a se responsabilizarem pela manutenção, proteção e sobrevivência

da casa e da família, afastando-as de seus lares por longas horas diárias e de

grande parte do tempo de vida de seus filhos. Essa sobrecarga de função familiar e

a limitação financeira, agravada pelas extensivas horas de trabalho geralmente mal

remuneradas, as colocam em situação de vulnerabilidade social, pois diminui sua

capacidade de empoderamento.

Partindo da premissa que o gênero estabelece o grau de vulnerabilidade

diante do risco, uma vez que as dificuldades de superação para homens e

mulheresnão se assemelham, buscou-se conhecer o gênero do chefe das famílias

domiciliadas na área de estudo. Do total pesquisado45% declararam que o

responsável pela família é do sexo masculino, 32% do sexo feminino e 23%

declararam que a responsabilidade é do casal.

Além da similitude no percentual de mulheres chefe de família, entre os

dados secundários e primários, um fato que chamou à atenção foi os entrevistados

salientarema responsabilidade compartilhada, demonstrandouma nova forma de

perceber a contribuição do trabalho feminino no orçamento doméstico, outrora

considerado apenas como complemento.É uma recognição do papel da mulher, uma

vez que, “o ‘dinheiro ganho por conta própria’ não tem unicamente seu valor

material, senão também valor social e simbólico. Ele altera as relações de poder no

casamento e na família.” (BECK, 2010, p.118)

O Distrito Industrial e o Novo Maracanaú foram identificados como

espaços de baixa vulnerabilidade, 0,206 e 0,208 respectivamente. Percebe-se na

tabela 14 que as áreas de menor vulnerabilidade social mostram um nível de

escolaridade maior.O fato demonstra que locais com nível socioeconômico

semelhante, apresentando dificuldades comuns para atingir uma educação de

qualidade dentro de uma realidade de segregação espacial, distante de

equipamentos culturais urbanos, podem apresentar níveis de vulnerabilidade social

diferentes, conforme o acesso e a qualidade dos serviços de educação ofertados.

119

Figura 17– Mapa IVS Capital Humano por UDHs

Fonte: elaborada pela autora

120

Trabalho e Renda

Sendo a capacidade de resposta frente a um desastre ou exposição ao

risco, um dos atributos definidores de vulnerabilidade, torna-se impossível

desconsiderar trabalho e renda como um de seus indicadores sociais. A renda,

provável resultado do trabalho, é fator imprescindível na capacidade de resolução

e/ou adaptação do indivíduo diante de um dano, a relação aqui existente é

diretamente proporcional. Ou seja, quanto maior a renda, maior a possibilidade de

superação do “desastre” sofrido e à medida que essa renda diminui, as chances de

adaptação vão se reduzindo também.Abordando a questão com uma maior

amplitude, Barcellos e Oliveira postulam que“em geral, mais do que a intensidade de

furacões, tufões e ciclones, a diferença está nos recursos que uma população tem

para enfrentar um evento de grande magnitude.” (2008, p.10)

A insegurança econômica amplifica assituações de vulnerabilidade, “as tentativas de

responder a essas situações de insegurança remetem a políticas públicas urbanas

(social, econômica, cultural, urbanística...), cuja eficácia se revela desigual

(VEYRET, 2007, p. 244)”. Fazendo um contraponto com a presente pesquisa, a

tabela 14 retrata duas situações desiguais, uma de média e outra de alta

vulnerabilidade referente ao trabalho e renda por UDHs.

121

Tabela 14 - IVStrabalho e renda por UDHs

Espacialida

des

(UDHs)

Taxa

de

ativida

de

10 a

14

anos

2010

Taxa de

desocupaç

ão

18 anos ou

mais

2010

%

pessoas

de

18 anos

ou

mais sem

fundamen

tal

completo

e em

ocupação

informal

2010

% de

vulnerávei

s

e

dependent

es

de idosos

2010

Renda

domicili

ar

per

capita

igual

ou

inferior

a

R$255,0

0

2010

IVS

Renda

e

Trabal

ho

2010

Acaracuzinh

o / Novo

Oriente

3,89* 10,02* 30,71* 1,86* 161,86*

0,323*

Conjunto

Timbó 3,89* 10,02* 30,71* 1,86* 161,86*

0,323*

Distrito

Industrial 3,72* 13,01* 22,81* 2,40* 173,92*

0,322*

Novo

Maracanaú 3,72* 13,01* 22,81* 2,40* 173,92*

0,322*

Pajuçara II 4,92 10,63 36,81 4,18 155,04 0,427

Fonte: Elaborada pela autora a partir, IPEA (2015) --

<http://ivs.ipea.gov.br/ivs/pt/o_atlas/perguntas_frequentes/#33>*UDHs com indicadores idênticos

correspondem a recortes espaciais que foram agregados para fins de extração de dados.

Observa-se que Pajuçara II corresponde à área de alta vulnerabilidade

(0,427) do IVS trabalho e renda. Apresenta a maior taxa de atividade de 10 a 14

anos (4,92), esse indicador social revela a existência de trabalho infantil, uma vez

que de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) no

122

seu Art. 2º considera criança, a pessoa até 12 anos incompletos; e no Art. 60 proíbe

qualquer tipo de trabalho para menores de 14 anos, salvo na condição de aprendiz.

O percentual de dependentes de idosos (4,18%) é bem superior às

demais UDHs, quase o dobro. Segundo IBGE (2010) o número de famílias que

sobrevivem da aposentadoria de idosos vem crescendo no Brasil. Em grande

medida, ocrescimento do número de domicílios onde o idoso é o provedor, decorre

de vários fatores, o envelhecimento da população, o aumento das taxas de

desemprego, o aumentodo número de divórcio, que traz entre outras

consequências,o retorno dos filhos à casa dos pais, com o acréscimo dos netos.

Deste modo, a aposentadoria do idoso, direito adquirido por anos de trabalho e que

deveria ser gasto para suprir as necessidades básicas de uma única pessoa

(alimentação, mobilidade, remédios, etc), é destinada a manutenção financeira de

um grupo, a família. Essa situação se agrava nas famílias de baixo poder aquisitivo,

onde o salário do idoso (geralmente o mínimo) é muitas vezes a única fonte de

renda.

Do total de entrevistados, na pesquisa de campo, 13% dos chefes de

família são aposentados. Quando questionados sobre quem ficava responsável pela

casa na ausência do chefe de família, 6% responderam que eram os avós.Quando

consultados a respeito da idade da pessoa responsável, na ausência do chefe da

família, 15% têm acima de 60 anos. O cruzamento desses dados faz senão

confirmar a dinâmica de dependência dos membros da família em relação aos

idosos.As situações descritas demostrama participação financeira destes no

orçamento familiar, principalmente nas famílias de baixa renda, pois além do salário

da aposentadoria, ao ficarem responsável pela casa, os idosos terminampoupando o

dinheiro que seria gasto com o pagamento de uma empregada doméstica.

Os setoresde vulnerabilidade média se estendem por quase toda área

pesquisada (Ver Figura 18), apresentam uma receita inferior a meio salário

mínimo25, circunstância determinante do estado de pobreza e, por conseguinte, de

exclusão social. A condição de pobreza, quase sempre, ergue uma barreira que

obstaculariza o acesso aos serviços de educação, saúde, mobilidade urbana e ao

mercado de trabalho, gerando um círculo vicioso difícil de ser rompido.

25R$ 510,00 era o valor do salário mínimo brasileiro em 2010 (ano da pesquisa do IPEA).

123

Em face do exposto, é possível concluir que o IVS trabalho e renda não

se restringem apenas à insuficiência de recursos financeiros e às atividades

diretamente atreladas (ocupação informal, taxa de desocupação e renda per capita),

mas também a composição familiar e o nível de escolaridade, fundamental para a

obtenção de um trabalho que possibilite uma remuneração digna.

124

Figura 18 – Mapa IVS Trabalho e renda por UDHs

Fonte: elaborado pela autors

125

Em resumo, no tocante ao índice de vulnerabilidade social em questão, os

dados contidos na tabela 15 mostram que em termo de estrutura urbana, a

população encontra-se numa situação de baixa vulnerabilidade, diferente do IVS

capital humano e IVS trabalho e renda, ambos na faixa de média vulnerabilidade,

assim com também o IVS geral, resultado da médiaaritmética do IVS das três

dimensões.O conhecimento dessas informações é fundamental para identificar a

diversidade dosníveis de vulnerabilidade em áreas intrametropolitanas, em termos

de infraestrutura, capital humano e trabalho e renda.O mapeamento dos locais onde

se concentram parcelas da população mais vulnerável facilita a implementaçãode

intervenções governamentais destinadas a reduzir as desigualdadessocioespaciais.

Tabela 15–Síntese dos índices de vulnerabilidade social das UDHs

Espacialidade

(UHHs)

IVS

Infraestrutura

Urbana 2010

IVS

Capital

Humano

2010

IVS

Trabalho e

Renda

2010

IVS

2010

Conjunto Timbó 0,271* 0,393 0,323* 0,329

Distrito Industrial 0,374* 0,206 0,322* 0,301*

Novo Maracanaú 0,374* 0,208 0,322* 0,301*

Acaracuzinho/Novo

Oriente

0,271* 0,382 0,323* 0,325

Pajuçara II 0,126 0,473 0,427 0,342

Total 0,283 0,332 0,343 0,319

Fonte: Elaborado pela autora a partir http://ivs.ipea.gov.br/

*UDHs com indicadores idênticos correspondem a recortes espaciais que foram agregados para fins

de extração de dados.

126

6.3 ÍNDICE DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL (IVSA)

Figura 19 – Mapade vulnerabilidade socioambiental (IVSA)

Fonte: elaborado pela autora

127

A figura 19 ilustra um gradiente multifacetado, de cinco níveis de

vulnerabilidade socioambiental: muito baixa, baixa, média, alta e muito alta,

pulverizados nos setores censitários que compõem a área de estudo. Com

exceção do setor 230765005000172 situado a noroeste, que apresenta dois

níveis de vulnerabilidade (alta e muito alta), todos os outros, são compostos por

pelo menos três faixas de vulnerabilidade coexistindo dentro de um mesmo

espaço, fato revelador da complexidade vivenciada cotidianamente pela

população local.

As áreas com vulnerabilidade muito alta são

identificadasprincipalmente nas proximidades dos cursos d’água. As

instalações de indústrias (dentro do DIF I) e de conjuntos residenciais no

entorno do DIF I, acarretaram vários impactos ambientais adversos, como por

exemplo, a retirada da vegetação ea poluição dos recursos hídricos, decorrente

do despejo de efluentes nos leitos de rios e lagoas, sem qualquer tipo de

tratamento. Sobre a poluição industrial de Maracanaú, Almeida (2005)

comenta:

[...] não é raro encontrarem-se depósitos clandestinos de resíduos sólidos

provenientes das indústrias do DIF I, por exemplo, às margens dos

principais corpos d’água de Maracanaú, como é recorrente na lagoa de

Pajuçara, que se localiza inteiramente dentro do DIF I. Além disso, nota-se

uma forte relação entre poluição do solo e a da água, através da disposição

de efluentes líquidos industriais (provenientes de resíduos sólidos ou

líquidos) sobre o solo sem que haja qualquer tipo de impermeabilização,

acarretando também a poluição do aquífero e dos mananciais superficiais.

(p.123)

De acordo com a CETESB (2006), as principais fontes de

contaminação das águas subterrâneas advêm da disposição inadequada de

resíduos: lixões; acidentes com substâncias tóxicas; manuseio e

armazenamento impróprio de produtos, efluentes e resíduos de atividades

industriais. Avulnerabilidade de um aquífero está estritamente relacionada o

quanto ele pode ser afetado pela carga de poluentes que são despejados nele,

considerado a tipologia do aquífero (livre a confinado), profundidade do nível

d’água e as características dos estratos, em termos de consolidação e litologia

128

(argila e cascalho). A despoluição das águas subterrâneas é dispendiosa e

necessita de um tempo considerável para se renovar por isso as medidas

preventivas são as melhores opções de conservação.

Com base nas citações trazidas, comprova-se o protagonismo dos

resíduos industriais na poluição de recursos hídricos, promovendo, desta

maneira, vulnerabilidade e risco nos locais e nas populações por eles

afetadas.Vale enfatizar que, muitas vezes, a população não tem conhecimento

do risco que corre, pois acredita que as indústrias deem destinação adequada

aos resíduos que geram. Buscando conhecer o nível de confiança dos

moradores em relação às indústrias, foi perguntado a estes se acreditavam que

as mesmas davam destino correto aos resíduos por elas gerados (Ver Figura

20).

Figura 20–Gráfico você acredita que as indústrias dão uma destinação

correta aos resíduos que elas geram?

Fonte: Elaborado pela autora a partir da pesquisa de campo (2016)

Quanto à percepção dos moradores, 45% não acreditam que as

indústrias destinem corretamente seus resíduos; 39% acreditam que as

indústrias destinam adequadamente os resíduos que geram, entre os principais

motivos apontados estão:devido à fiscalização, por que o governo obriga,

porque as indústrias onde trabalham dão destinação correta, por não ver

39%

45%

16%

Sim

Não

Não sei

129

resíduos jogados na rua e pessoas reclamando, destinado ao aterro de

Maracanaú, porque as indústrias são responsáveis. Já 16% declararam não

saberem a destinação dada pelas indústrias aos resíduos gerados.

Embora a maiorianão acredite na destinação adequada, dada pelas

indústrias aos seus resíduos, considera-se 39% um percentual significativo de

confiança, pois desconsiderando àqueles que disseram não saber responder,

essa proporção passa a ser de 44,4%. Aprofundando a reflexão sobre

confiança X vulnerabilidade, Castro (2005) esclarece que, geralmente, a não

percepção ou identificação do risco deve ser creditada ao fator confiança,

entretanto, se a confiança pressupõe a falta de conhecimento referente aos

procedimentos dos sistemas de segurança, a sociedade ou parte dela está

vulnerável aos riscos derivados da falha nos sistemas em questão.

Grande parte da população desconhece que a responsabilidade

pelos resíduos industriais (na maioria perigosa) é do gerador, sendo exigido

deste, a elaboração de um plano de gerenciamento de resíduos sólidos,

contendo os procedimentos relativos às etapas do gerenciamento, baseados

no diagnóstico dos resíduos gerados. Este diagnóstico deve conter a origem, o

volume e a caracterização dos resíduos, incluindo os passivos ambientais,

além de ações preventivas e corretivas a serem executadas em situações de

gerenciamento incorreto ou acidentes. (PNRS, 2010).

Como parte componente do levantamento do estado físico dos

resíduos industriais Classe I foram encontrados três padrões: sólido, pastoso e

líquido (Ver Tabela 16) e três grandezas de medidas diferentes (toneladas,

unidades e litros). Considerando que, na presente pesquisa o termo resíduo

sólido refere-se tanto aos materiais sólidos, quanto aos semissólidos.Os

resíduos em estado pastoso foram inseridos nas análises aqui desenvolvidas,

ficando de fora, os resíduos líquidos e os sólidos mensurados por unidade, pois

a escassez de dados referentes à densidade dos mesmos impossibilitou

transformá-los em única grandeza.

130

Tabela 16 – Estado físico dos resíduos Classe I das indústrias

inventariadas

Código (Conama

313)

Estado Físico Quantidade/Mês

S

Sólido

119,989 t

1.178 uni

P Pastoso 23,147 t

L Líquido 22.907,623 L

Fonte: Elaborado pela autora a partir da pesquisa de campo – 2013

No que concerne à tipificação dos resíduos Classe I, de maneira

geral, foram identificados nas indústrias inventariadas, 15 tipos de resíduos

perigosos, o detalhamento da tipificação destes resíduos pode ser verificado

noquadro12, onde é possível também observar seus constituintes perigosos e

o teor da periculosidade, a serem avaliados com a finalidade de estabelecer

seu potencial de risco à saúde humana e ao meio ambiente. É pertinente

colocar que os resíduos líquidos (F130, F230) foram listados apenas a título de

identificação, não constando nas tabelas posteriores, devido seu estado físico.

Quadro 12-Resíduos Classe I Inventariados por Código do

Conama 313

Cód.

Resíduo

Classe I

Descrição do Resíduo Constituinte

Perigoso

Periculosida

de

01 D099

Outros resíduos perigosos -

especificar Não aplicável Tóxico

02 F044

Lâmpada com vapor de mercúrio

após o uso Mercúrio Tóxico

03 F104

Embalagens vazias contaminadas

não especificadas na Norma NBR

10.004

Não aplicável* Tóxico

(Continua)

131

04 F105

Solventes contaminados (especificar

o solvente e o principal

contaminante)

Solvente Inflamável

Tóxico

05 F130

Óleo lubrificante usado ou

contaminado Não aplicável* Tóxico

06 F230 Fluído e óleo hidráulico usado Não aplicável* Tóxico

07 K053 Restos e borras de tintas e

pigmentos

Cromo,

chumbo

hexavalente

Tóxico

08 K193

Aparas de couro provenientes de

couros curtidos ao cromo

Cromo

hexavalente

Tóxico

09 K194

Serragem e pós de couro

provenientes de couros curtidos ao

cromo

Cromo

hexavalente

Tóxico

10

K195

Lodos provenientes do tratamento de

efluentes líquidos originados no

processo de curtimento de couros ao

cromo

Cromo

hexavalente

Tóxico

11 K207

Borra do re-refino de óleos usados

(borra ácida) Não aplicável* Tóxico

12 K209

Poeiras provenientes do sistema de

controle de emissão de gases

empregado nos fornos Cubilot

empregados na fundição de ferro

Cromo,

chumbo,

arsênio

Tóxico

13 K213 Estopas contaminadas com óleos

e/ou graxas Não aplicável*

Inflamável

tóxico

14 K214 Pilhas e Baterias em geral

Chumbo,

cádmio,

mercúrio

Tóxico

15 CONAMA

358

Tratamento e a disposição final dos

resíduos dos serviços de saúde Não aplicável*

Contaminant

e

Infectante

Fonte: Elaboração da autora a partir do CONAMA 313 e NBR 10004

(Conclusão)

132

*Não aplicável – termo empregado quando o resíduo enquadra-se

como perigoso pela presença de um grande número de constituintes perigosos

ou pelo efeito conjunto destes.

Vale destacar que, os resíduos industriais são fontes potenciais de

contaminação dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, não só quando

são despejados nos leitos de rios e lagoas, mas também quando dispostos em

lixões e aterros impróprios ou até mesmo armazenados inadequadamente. Isto

decorre do fato, em termos normativos, destes resíduos serem depositados em

aterros com critérios não condizentes com a NBR 10.157/8726 a qual “fixa as

condições mínimas exigíveis para projeto e operação de aterros de resíduos

perigosos, de formaa proteger adequadamente as coleções hídricas

superficiais e subterrâneas próximas, bem como os operadores destas

instalações e populações vizinhas”.Assim, como também, o descumprimentoda

NBR 12.235/9227, que trata do armazenamento apropriado de resíduos sólidos

perigosos de forma a proteger a saúde pública e o meio ambiente.

Na avaliação da ANA (2013), a falta de coleta e a disposição

inadequada dos resíduos sólidos são fatores potenciais da poluição hídrica.

Tanto diretamente, quando são dispostos em áreas alagadas ou carreados por

falta de coleta, como indiretamente, disposição feita sem o controle adequado,

podendo, assim, contaminar o solo e, por conseguinte, as águas subterrâneas

e demais corpos hídricos em suas proximidades.

Quanto às condições de armazenamento destes resíduos no interior

das indústrias inventariadas e a destinação dada a estes, foram verificadas

irregularidades em ambos os procedimentos. (Ver Quadro 13)

26NBR 10157/87 Aterros de resíduos perigosos - Critérios para projeto, construção e operação. Disponível em:

http://licenciadorambiental.com.br/wp-content/uploads/2015/01/NBR-10.157-ARIP-Construção-Operação.pdf 27NBR 12235/92 Armazenamento de resíduos sólidos perigosos. Disponível em:

http://wp.ufpel.edu.br/residuos/files/2014/04/nbr-12235-1992-armazenamento-de-resíduos-perigosos.pdf.

133

Quadro 13 – Armazenamento e Destinação Final dos Resíduos Classe I

(continua)

RESÍDUOS ARMAZENAMENTO DESTINAÇÃO FINAL

D099

Tambor c/ tampa

Área coberta c/ piso impermeável

Baias cobertas

A granel

Coprocessamento

Reciclagem

F044 Caixas de madeira

Galpão coberto c/ piso

impermeável

Descontaminação

F104

Área coberta

Baias

A granel em galpão coberto c/

piso impermeável

Galpão coberto

Conteiner

A granel

Reciclagem

ASMOC

Coprocessamento

F105 Conteiner plástico Destilação

K053

Conteiner coberto

Galpão coberto

Baias

Baldes

Aterro Classe I – PE

Coprocessamento

Reaproveitamento

K193

Área coberta c/ piso impermeável

Sacos de ráfia

Baias cobertas

Aterro Classe I – PE

Coprocessamento

K194 Área coberta c/ piso impermeável Aterro Classe I – PE

K195 Caçamba c/ cobertura ASMOC

K207 Galpão coberto c/ piso

impermeável

Coprocessamento

K209 Big Bag - galpão coberto c/ piso Coprocessamento

134

impermeável

K213

Tambor c/ tampa – área externa

Galpão coberto c/ piso

impermeável

Tambor de plástico

Coprocessamento

K214

Galpão coberto c/ piso

impermeável

Caixa de madeira

Devolvido ao fabricante

Conama

358

Galpão coberto c/ piso

impermeável

Coletor específico

Conteiner

Incineração

Fonte: Elaboração da autora a partir de dados da – FIEC/SEMACE -2013

* ASMOC – Aterro Sanitário Metropolitano Oeste de Caucaia

Quantoà disposição final,o envio dos resíduos K104 e K195para

o Aterro Sanitário Metropolitano Oeste de Caucaia - ASMOC é

incontestavelmente inapropriado, uma vez que este aterro foi construído

visando receber resíduos sólidos urbanos (RSU) Classe II, ou seja, não

perigosos. O mesmo acontece com o resíduo F104, embalagens vazias

contaminadas, que algumas indústrias declararam à SEMACE, através de seus

PGRS, que reciclavam as embalagens, quando a destinação correta é o

coprocessamento. Este fato mostra a falta de conhecimento e o despreparo

dos profissionais responsáveis pelo gerenciamento deresíduos Classe I.

Observa-se ainda que, o aterro Classe I citado, está localizado no

estado de Pernambuco, pois como anteriormente mencionado, no Ceará não

há aterros especificamente destinados aos resíduos dessa classe, com

exceção dos particulares (2)28, construídos para atender à demanda interna

própria.

28As duas organizações que possuem aterro industrial próprio estão localizadas no município de Cascavel – CE,

ambas são do segmento de beneficiamento de couro.

(Conclusão)

135

Quanto ao armazenamento, percebe-se que não há uma

homogeneidade entre as indústrias para o armazenamento de um mesmo

resíduo; além de quecontêineres e tambores devem ser acondicionados em

áreas cobertas, bem ventiladas e colocados sobre base de concreto ou outro

material que impossibilite a lixiviação e percolação de substâncias para o solo e

águas subterrâneas. Quando os resíduos são armazenados a granel, devem

ser guardados em locais cobertos com piso impermeável, devido às

características de corrosividade de determinados resíduos (NBR 12.235/92,

1992). Com efeito, constata-se que a maioria das informações referentes ao

armazenamento dos resíduos são incompletas, quando não indicam que vem

sendo realizado de maneira inadequada, comopor exemplo, em sacos de ráfia

e baldes.

O conhecimento dessas informações evidencia a necessidade

e urgência de uma fiscalização mais incisiva junto às indústrias do DIF I, pois

diante do apresentado, é notória a condição de vulnerabilidade e risco industrial

que a população se encontra exposta, sejam os moradores dos bairros

adjacentes ou os operários. Sobre riscos industriais é preciso entender que:

[...] riscos industriais estão associadas às atividades de armazenagem de

produtos tóxicos, à produção e ao transporte de materiais perigosos. Em

muitos casos, essas atividades estão inseridas no tecido urbano, o que

causa apreensão em virtude dos efeitos em cadeia, uma série de

acontecimentos dificilmente previsíveis e domináveis. (VEYRET, 2007, p.70)

O fato de essas atividades estarem inseridas no tecido

urbanoaumenta o grau de exposição a acidentes como, explosão, vazamento

de produto tóxico e incêndio, considerados pela autora supracitada, as maiores

fontes de riscos industriais.

Alta vulnerabilidade

Quanto à identificação das áreas de alta vulnerabilidade,

estasse concentram,sobretudo,nas zonas limítrofes do DIF I e dos conjuntos

habitacionais;caracterizadas, neste caso em particular, pela presença de

136

edificações residenciais e industriais. As transformações decorrentes do

adensamento urbano e das atividades industriais comprometem a qualidade de

vidanão só das pessoas, mas também da fauna e da flora local.

Nos países do norte, os espaços de forte concentração urbana e as

regiões metropolitanas, geralmente, possuem uma alta vulnerabilidade, devido

entre outros fatores, ao não acesso, quando não, a ineficiência dos serviços de

infraestrutura, educação e saúde.Entretanto, vale enfatizar quea espacialização

da vulnerabilidade dentro de uma mesma região metropolitana é heterogênea,

não uniforme, está vinculada aos estratos sociais urbanos.

Ou seja, são as populações menos favorecidas, por características derenda,

escolaridade, cor, gênero, que residem ou utilizam os territórios de maior

vulnerabilidade ambiental, o que as coloca numa situação de risco ao

desastre ambiental, já que se sobrepõem vulnerabilidades sociais à

exposição a riscos ambientais. (BARCELLOS; OLIVEIRA, 2008, p.10)

E ainda,

Ora, é sabido que uma grande parcela da população urbana pobre só

consegue acesso a terra e habitação invadindo áreas não valorizadas pelo

mercado imobiliário, como encostas íngremes,margens de rios sujeitas a

inundações, ecossistemas frágeis, áreas de represas ou áreas sujeitas a

riscos industriais. (BARCELLOS; OLIVEIRA, 2008, p.10)

Em relação à construção de habitação em áreas sujeitas a riscos

industriais, cabe mencionar que a construção dos conjuntos habitacionais em

Maracanaú, na década de 1970, está atrelada às políticas de industrialização e

consolidação do Distrito Industrial I. A localização desses conjuntos nos

arredores do DIF I foi amaneira que o governo encontrou de solucionar o

problema de proximidade de mão de obra, apontada pelos empresários, como

um empecilho para a instalação de suas indústrias naquele local (CARVALHO,

2009).

A circunstânciahistórica apresentada mostra o descaso do poder

público em relação à segurança da população de baixa renda,poispara atender

uma demanda da classe empresarial, ogoverno estimulou, através de

137

financiamentos do BNH e da COHAB, a construção de conjuntos residenciais

na circunvizinhança do distrito industrial, mesmo ciente de ser ali, uma área de

risco.

Além dos riscos oriundos da poluição atmosférica, causada pela

fumaça emitida das chaminés das indústrias, do referido distrito, vale destacar

as toneladas de resíduos perigosos que são gerados mensalmente pelos

processos produtivos das mesmas e são potenciais poluidores do solo e dos

recursos hídricos (Ver Tabela 17)

Tabela 17 – Quantidade de resíduos Classe I inventariados

Ordem Resíduo

Conama 313

t/mês %

01 D099 7,891 5,512

02 F044 0,007 0,004

03 F104 10,620 7,419

04 F105 1,871 1,307

05 K053 27,92 19,505

06 K193 11,391 7,958

07 K194 5,16 3,604

08 K195 56,265 39,308

09 K207 0,58 0,405

10 K209 14,49 10,123

11 K213 6,88 4,806

12 K214 0,013 0,009

13 CONAMA 358 0,048 0,033

TOTAL 143,136 100

Fonte: Elaboração da autora a partir de dados da SEMACE -2013

Respondendo por aproximadamente39% do total de resíduos

gerados, o K195 - Lodos provenientes do tratamento de efluentes líquidos,

originados no processo de curtimento de couros ao cromo são os resíduos

138

mais gerados.Vale registrar que apenas uma indústria é geradora desse tipo de

resíduo,seguido pelo K053 - Restos e borras de tintas e pigmentos – com

19,5%, encontrado em cinco das sete indústrias investigadas. Cabe destacar

que o K053 e K195 têm em comum o constituinte cromo hexavalente,

reconhecido por colocar em risco a estabilidade de ecossistemas e como um

carcinogênico humano. O K209 - Poeiras provenientes do sistema de controle

de emissão de gases empregado nos fornos Cubilot empregados na fundição

de ferro - aparece em terceiro lugar com 10%, seguido pelo K193 - aparas de

couro proveniente de couros curtidos ao cromo, com praticamente 8% e o F104

- embalagens vazias contaminadas não especificadas (7,4%).

Com o percentual inferior a uma tonelada/mês aparecem os

resíduos F044, K207, K214, (todos tóxicos) e o CONAMA 358 (contaminante e

infectante), que devido ao grave nível de risco à saúde e ao meio ambiente,

não puderam ser desconsiderados. O D099 é composto, neste caso específico,

aos cartuchos de impressoras; resíduos contendo cola utilizada na fabricação

de papel ondulado; equipamentos de proteção individual usados (EPIs) ;

contêineres e tambores metálicos contaminados, respondendo ao todo, por

5,5%. Os demais resíduos (F105, K194 e K213) somam 9,7%.

A Figura 21 proporciona uma visão panorâmica da distribuição

espacial desses resíduos e da proximidade das indústrias com as áreas

domiciliares, onde foram aplicados os questionários. Nota-se que grande parte

das indústrias inventariadas está localizada próximaaos corpos hídricos, o que

potencializa a contaminação destes no caso de um acidente causado por uma

destinação ou armazenamento inadequado.

139

Figura 21 – Distribuição Espacial dos Resíduos Classe I por Indústria

Fonte: Elaborado por Iggor Uchôa Torres (2017), a partir de dados da SEMACE (2013)

140

No tocante à localização das indústrias, a lei 6.803/8029, no seu

Art 2°, regula que as zonas de uso estritamente industrial destinam-se,

preferencialmente, à instalação de indústrias cujos resíduos sólidos, líquidos e

gasosos, ruídos, vibrações, emanações e radiações possam causar perigo à

saúde, ao bem-estar e à segurança das populações, mesmo após a utilização

de métodos adequados de controle e tratamento de efluentes. Entretanto, ela

não determina a distância preventiva que essas zonas industriais devem

manter de áreas residenciais e/ou comerciais, para que a segurança da

população e do meio ambiente seja minimamente garantida.

No percurso empírico da pesquisa foram encontradas três situações

distintas: i) núcleos residenciais, comerciais e educacionais (IFCE) a menos de

100m de distância das indústrias; ii) domicílios construídos no interior do DIF I

e iii)a ausência total de residências e de comércio no entorno das fábricas,

motivo da não aplicação de questionários nesses locais.

Diante do exposto, pode-se declarar que dessas três situações, as

duas primeiras não estão em conformidade com a lei. Outrasinobservâncias

foram detectadas, entre elas a do inciso III, ainda do art. 2º, o qual determina

que no contorno das zonas industriais devam ser mantidos anéis verdes de

isolamento capazes de proteger as áreas circunvizinhas contra possíveis

efeitos residuais e acidentes.

O contorno do Distrito Industrial I de Maracanaú tem a seguinte

configuração, ao norte – Anel Viário; ao sul – Av. do Contorno Norte; ao leste –

CE 060 e oeste – Rua 20, são rodovias com um fluxo substancial de veículos

de grande porte(carretas, caminhões) carregados de produtos e mercadorias

produzidas no próprio distrito.Diferente do que rege a lei, caracteriza-se por ser

um perímetro não vegetado e fortemente asfaltado, consequências do

processo de urbanização e da logística do escoamento da produção industrial.

A pavimentação do solo impermeabiliza-o, impedindo a infiltração das águas

pluviais e a manutenção dos aquíferos e intensifica a drenagem superficial,

contribuindo para a ocorrência de enchentes. Com aausênciados anéis verdes

de isolamento, ou seja, da barreira vegetal,as pessoas ficam mais expostasaos

29 Lei 6.803/80- Dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição, e

dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6803.htm.

141

ruídos externos;às doenças alérgicas e respiratórias; e aos demais problemas

referentes à ocupação de áreas socioambientalmentes vulneráveis.

Na pesquisa de campo, quando consultados sobre o tempo que ali

residiam, 81% declararam que moram no bairro há mais de 10 anos, fato que

mostra um forte vínculo dos moradores com o lugar, e19% residem entre 1 e

10 anos. A maioria destes domicílios (87%) são próprios; 6,5% alugados e

6,5% cedidos.

Ao responderem sobre o que os levaram a residir naquele bairro,os

principais motivos apontados pelos entrevistados foram o fato das casas terem

sido construídas através de mutirão, considerado como uma oportunidade de

realizarem o “sonho” da casa própria, independentemente do local. Outro

motivo bastante mencionado está relacionado ao fator de consanguinidade, ou

seja, ficar próximo a parentes e familiares.

O cruzamento das respostas, descritas, permite perceber a baixa

renda dos depoentes, porém visando traçar um perfil mais detalhadosobre a

condição socioeconômica daquela comunidade, buscou-se conhecer sua

média salarial mensal.Deste modo, os dados coletados identificaram que 42%

dos moradores sobrevivem com uma renda mensal de até um salário mínimo30;

29% vivem com até 2 salários mínimos; seguido por 22,5% com renda acima

de 2 salários. O percentual de domicílios com renda entre 1 e 2 salários

mínimos foi de 6%.

O resultado do estudo mostrou que a população dos domicílios

situadosnos arredores do DIF I é, preponderantemente, de baixa renda. Fato

que confirma a estreita relação que há entre baixa condição econômica e a

presença da alta vulnerabilidade.

Em virtude dos fatos mencionados, entende-se que a situação

da desigualdade na distribuição dos riscos pode ser atribuída a dois fatores: em

primeiro lugar, a precariedade da renda das populações, que lhes permite o

acesso à moradia somente em áreas mais desvalorizadas, caracterizadas pela

fragilidade ambiental; em segundo lugar, a baixa posição ocupada por estas

populações na escala social, faz com que as mesmas não consigam resistir a

processos antrópicos de fragilização do ambiente. (BARCELLOS;OLIVEIRA,

30Salário mínimo brasileiro em 2016 (ano que os questionários foram aplicados) – R$ 880,00 -Decreto

8.618/2015

142

2008). Deste modo, pode-se considerar que “[...]a própria dinâmica dos

processos da natureza e dos processos sociais tendem a gerar riscos à

sociedade, relacionando-se à sua dinâmica sócio espacial.” (CASTRO et al,

2005, p.27)

Média, baixa e muito baixa vulnerabilidade.

Os setores caracterizados com média vulnerabilidade estão

localizados em grande medida dentro do DIF I, assim, possuem uma baixa

densidade demográficaresidente e correspondemmajoritariamente, às áreas de

proteção ambientais pertencentesàs indústrias, previstas pela lei de

zoneamento industrial.

Percebe-se que os espaços de média vulnerabilidade são

mesclados por pequenas áreas, de baixa e muito baixa vulnerabilidade, que

correspondem aos segmentos da malha urbana não consolidados;onde ainda

há a presença de espécies arbóreas e vegetação rasteira, de modo que esses

setores tendem a apresentar uma maior estabilidade socioambiental, como por

exemplo, grande parte do conjunto Novo Maracanaú, localizado na parte

sudoeste.

Outro fato observado (Ver Figura 19) e que chama atenção, é o

quantoas áreas de baixa e muito baixa vulnerabilidade são reduzidas,

tornando-se cada vez mais difícil encontrá-las nas regiões metropolitanas.Por

isso devem ser conservadas, através da manutenção de seus aspectos

ambientais e da observância dos instrumentos legais referentes ao uso e

ocupação do solo urbano.

Ao final dessa análise foi possível constatar que, no espaço

correspondente ao objeto de estudo do presente trabalho, as áreas de média e

alta vulnerabilidade socioambiental predominam em detrimento aos demais

níveis identificados. Considera-se que a baixa renda e escolaridade da

população residente, nas adjacências do Distrito Industrial I, são as principais

variáveis que potencializam a condição de vulnerabilidade social que se

encontram. A baixa renda por reduzir as possibilidades de ocuparem locais

com uma melhor infraestrutura urbana e a baixa escolaridade por fomentar a

falta de conhecimento diante do risco a qual estão expostas.

143

6.4Índice de Vulnerabilidadedos Resíduos Perigosos (IVRP)

O índice referente à situação de vulnerabilidade e risco daspessoas

residentes no entorno do DIF I, em relação aos resíduosClasse I gerados pelas

indústrias, mostrou que as mesmas encontram-se em um nível de muito alta

vulnerabilidade (0,722), resultante da média aritmética de três variáveis: i)

Política/institucional; ii) Ambiental e iii) Conhecimento.

IVRP = ∑ VP + VA + VC

9

IVRP = 2,0 + 2,5 + 2,0

9

IVRP = 0,722

Através desses indicadores foi possível perceber os pontos

nevrálgicos da gestão dos resíduos Classe I que vem sendo desenvolvida tanto

pelas indústrias quanto pela prefeitura deMaracanaú.Aspectos básicos do

gerenciamento integrado estão sendo negligenciados, e não é por falta de

regulamentação, pois a Política Nacional de Resíduos Sólidos prevêas

diretrizes relativas à gestão integrada dos resíduos sólidos, inclusive os

perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público. (PNRS,

2010)

144

Quadro 14 – Matriz da variável política/institucional, indicadores e pesos

VARIÁVEL

INDICADOR DESCRITOR PESO

Política/

Institucional

Cumpre a

Política

Nacional

de

Resíduos

Sólidos

Sim 0

Parcialmente

0,5

Não

0

Possui

Plano

Municipal de

Resíduos

Sólidos

Sim 0

Em processo de elaboração

0

Não possui

1

A indústria

possui um

plano de

gerenciame

nto de

resíduos

sólidos

(PGRS)

Possui e segue totalmente as normas

técnicas

0

Possui,mas parcialmente

implementado

0,5

Não Possui

0

Total 2,0

Fonte: Adaptado pela autora de: Santiago e Dias (2012), Ramos (2013) e IPEA(2015). Alta=1; Média=

0,5; Baixa=0 (BESEN, 2011). Dados pesquisa de campo.

Percebe-se no quadro 14 a omissão, senão a inobservânciada

PNRS pelos gestores públicos e privados. A começar pela inexistência de um

plano municipal de resíduos sólidos, previsto na seção IV da PNRS, como

condição para os municípios terem acessoaos recursos da União, destinados

145

ao gerenciamento integrado dos resíduos sólidos, da limpeza pública a

financiamentos de créditos de entidades federais.

Paradoxalmente, os gestores municipais alegam a falta de recursos

financeiros como o principal motivo da gestão inadequada dos resíduos

gerados nos municípios, entretanto, como já mencionado no capítulo II, a

maioria dos municípios cearenses ainda não possui este instrumento de

gerenciamento de resíduos, mesmo sabendo que ele é a “chave” que abre as

portas para o financiamento. Diante do exposto, vale colocar alguns

questionamentos: por que as prefeituras não elaboram seus planos municipais

de gestão integrada de resíduos sólidos? Quem são os maiores prejudicados

com o manejo inadequado desses resíduos? Em que medida o poder público

municipal está comprometido com a saúde esegurança da população e do

meio ambiente?

Outro dado que cabe enfatizar é que, apesar das indústrias

inventariadas possuírem um PGRS, este é implementado parcialmente. Em

outras palavras, isso quer dizer que os procedimentos estabelecidos no plano

em questão, não estão sendo realizados com a excelência que deveria, e que a

lei 12.305/2010 determina em seu capítulo IV, específico para resíduos

perigosos.

No período em que a pesquisa estava sendo realizada haviam 07

empresas, licenciadas na SEMACE, que fazem o tratamento de resíduos

Classe I no estado do Ceará (Ver Quadro 15). A Votorantim Cimentos

localizada no município de Sobral- CE, além de fabricar o cimento Poty,

oferece o serviço de coprocessamento de resíduos. As indústrias que utilizam o

tratamento de coprocessamento, consideram que não deveriam pagar por ele,

uma vez que os resíduos, por elas destinados, são utilizados como combustível

na produção de cimento, e assim a cimenteira estaria ganhando

duplamente.Isso sem contabilizar os ganhos oriundos domarketing de empresa

comprometida com a sustentabilidade ambiental.

Por outro lado, em contraste com a ideia da sustentabilidade do

coprocessamento, Santi e Sevá (1999) asseguram que,

Na realidade, essa “alternativa energética”, co-queimar resíduos perigosos,

passa a carregar um passivo não desprezível de custos ambientais e

146

sociais, o que põe novamente a indústria do cimento, e junto com ela as

indústrias geradoras desses tipos de resíduos, no alvo da dúvida quanto à

sustentabilidade. (p.10)

Percebe-se que o compromisso com a sustentabilidade ambiental

deve transcender o tratamento considerado adequado, pois este também gera

resíduos, assim se faz necessária uma fiscalização maior da gestão de

resíduos, tanto no setor produtivo, quanto junto às empresas de tratamento dos

mesmos.

Quadro15 - Empresas de tratamento de resíduos Classe I

licenciadas na SEMACE

Nº EMPRESA TRATAMENTO MUNICÍPIO

1 Votorantim N/NE S.A. Coprocessamento/

incineração

Sobral

2 Flamax Soluções

Ambientais

Incineração Juazeiro do

Norte

3 Incinerador Marquise Incineração Fortaleza

4 INK Flex Ind. de Tintas e

Serviços Ltda

Recuperação de

Solvente

Fortaleza

5 Transágua Transporte de

água Ltda

Descontaminação de

Lâmpada

Fortaleza

6 Biolight Reciclagens Descontaminação de

Lâmpada

Fortaleza

7 Climatech Solução Descontaminação de

Lâmpada

Fortaleza

Fonte: Elaboração da autora a partir de dados da SEMACE – 2013

Segundo a Abetre31 o setor de tratamento de resíduos industriais

brasileiro deve crescer 26% nos próximos cinco anos. A necessidade das

indústrias se adequarem às direstrizes estabelecidas na Política Nacional de

31Abetre – Associação brasileira de empresas detratamento de resíduos e efluentes. Disponível

em:http://www.abetre.org.br/imprensa/noticias-do-setor/

147

Resíduos Sólidos impulsionou o mercado das empresas de proteção ambiental,

de modo que o tratamento de resíduos tornou-se um negócio rentável. No

Ceará, algumas empresas deste segmento vem se destacando, os valores

cobrados por algumas delas estão organizados na tabela 18.

Tabela 18 - Valores do tratamento de resíduos Classe I no Ceará

Nº EMPRESA Valor(R$)

1. Votorantim N/NE S.A. 0,32kg

2. Flamax Soluções

Ambientai

300,00até 180kg

500,00até 300kg

1.000,00 até 600kg

1.500,00 até 1.000kg

3. Incinerador Marquise Não informado

4. INK Flex Ind. de Tintas

e Serviços Ltda

0,10L

Fonte: Elaborado pela autora a partir da pesquisa de campo – 2014.

Cabe esclarecer que o valor cobrado pela Votorantim é referente ao

coprocessamento, não estão incluídos os serviço de transporte e blendagem32.

O da Flamax inclui os serviços de coleta, transporte e icineração. O preço da

INK Flex refere-se, apenas,à recuperação de solvente, já a Marquise recusou-

sefornecerinformação.

32Blendagem – tecnologia utilizada para misturar resíduos compatíveis, transformando-os em matriz energética

para a indústria cimenteira.

148

Quadro 16 – Matriz da variável ambiental, indicadores e pesos

DIMENSÃO INDICADOR DESCRITOR PESO

Ambiental

Existência

de

aterro

sanitário

no

município

Sim 0

Em processo de

licenciamento

0

Não licenciado ou

lixão

1

Existência de

aterro para

resíduos industriais

(Classe I) no

município

Sim 0

Em processo de construção

0

Não possui

1

Armazenamento

dos resíduos

Classe I no interior

da indústria

De acordo com a CONAMA 313 0

Parcialmente de acordo com a

CONAMA 313

0,5

Fora da norma CONAMA 313 0

Total 2,5

Fonte: Adaptado pela autora de: Santiago e Dias (2012), Ramos (2013) e IPEA(2015). Alta=1; Média

= 0,5; Baixa=0 (BESEN, 2011). Dados pesquisa de campo.

Os resultados referentes ao aspecto ambiental contidos no quadro

16, demostram a gravidade da situação de risco originada diretamente do

manejo inadequadodos resíduosClasse I. Deve-se lembrar de que, consta no

PGRS das indústrias inventariadas (entregues à SEMACE) o tipo de resíduos

gerados; a quantidade; a forma de armazenamento e a sua disposição final.

Então é do conhecimento do órgão ambiental responsável, que essas

indústrias geram mais de 6 t/mês de resíduos classe I (Ver Tabela 19) e que

esses resíduos não vêm sendo gerenciados de acordo com as normas técnicas

e a legislação vigente.

149

Tabela 19 – Quantidade de resíduos Classe I por indústria

IND. D099 F044 F104 F105 K053 K193 K194 K195 K207 K209 K213 K214

Conama

358 TOTAL

A 0 0 0 1,871 9,935 5,895 5,16 56,265 0 0 0 0 0 79,126

B 3 0 0 0 4,89 0 0 0 0 0 0 0 0 7,89

C 0,58 0,007 0,313 0 0,733 0 0 0 0,58 14,49 0,58 0,013 0,002 17,298

D 0 0 0 0 6,08 0 0 0 0 0 6,3 0 0 12,38

E 0 0 0 0 6,282 0 0 0 0 0 0 0 0 6,282

F 3 0 0 0 0 5,496 0 0 0 0 0 0 0 8,496

G 1,311 0 10,307 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,046 11,664

Total 7,891 0,007 10,62 1,871 27,92 11,391 5,16 56,265 0,58 14,49 6,88 0,013 0,048 143,136

Fonte:Elaborado pela autora a partir de dados da SEMACE (2013).

150

O descompromisso dos setores públicos e privados frente à questão dos

resíduos é gritante. Como explicar um município que tem seu PIB balizado,

sobretudo, no setor industrial não possuir um aterro industrial? E ainda, encontrar-se

com o único “aterro sanitário”, instalado em seu território, com a licença de operação

vencida33. Não foi por acaso que a variável ambiental apresentou o maior somatório

dentre os indicadores de vulnerabilidade avaliados.

Sabe-se que diversidade de condições de vulnerabilidade assumem

significados variados entre os sujeitos envolvidos. Por isso considerou-se

importante, conhecer a percepção que a população circunvizinha do DIF I tem em

relação aos resíduos que são gerados pelas indústrias instaladas próximas às suas

residências.

Primeiramente questionou-sese as pessoas tinham conhecimento do que

era um resíduo perigoso; 55% afirmaram saber o que era um resíduo perigoso e

todos utilizaram de exemplos para defini-los, sendo a toxicidade e a patogenicidade

desses resíduos (coisa tóxica, comida estragada, aqueles que causam doença, lixo

hospitalar) as características mais apontadas para identificá-los como perigosas. As

respostas dadas através de uma definição simplória em detrimento de uma definição

conceitual mais científica podem ser justificadas pelo grau de escolaridade dos

depoentes, pois do total (54,83%) que cursaram o ensino fundamental, 41% não

chegaram a concluí-lo.

Quanto ao desconhecimento do que seria um resíduo perigoso, 45%

responderam não saber ou responderam erroneamente. Vale lembrar que, a baixa

escolaridade acentua a condição de vulnerabilidade das pessoas que vivem em

situação de risco, uma vez que as mesmas tornam-se menos capazes de reivindicar

seus direitos e, por conseguinte melhorar às condições de suas vidas.

Do total de entrevistados que responderam saber o que era resíduo

perigoso 65% disseram ter conhecimento de que as indústrias próximas às

residências deles produzem resíduo perigoso e 35% desconhecem o fato. Dentre

aqueles que têm conhecimento sobre as indústrias gerarem resíduos perigosos,

45% não têm ideia para onde esses resíduos são destinados, enquanto 55%

indicaram diversos locais de destinação, entre eles, lançados na rede de esgoto;

33De 2013, ano de início desta pesquisa, até o primeiro trimestre de 2017, ano de finalização da pesquisa, o

Aterro Sanitário de Maracanaúpermanecia com sua licença de operação não renovada, segundo a SEMACE.

151

jogados no canal; lançados no ar; levados por carros apropriados e levados para o

aterro de Maracanaú, ou seja, todos, destinos inadequados.Contudo, os

entrevistados não demonstraram qualquer preocupação ou se sentiram ameaçados

com as possíveis consequências decorrentes desta disposição imprópria, como por

exemplo, a contaminação ambiental e/ou humana por substâncias carcinogênicas.

Correlacionando os dados secundários aos primários, decorrentes dos

questionários aplicados na pesquisa de campo, foi possível registrar o expressivo

nível de desinformação e imprecisão das respostas dos moradores, quanto ao

gerencimento dos resíduos oriundos das indústrias circunvizinhas.

Isso se deve, em grande parte, a não socialização dessas informações e

a parca mobilização comunitária (Ver Quadro 17), seja pela falta de eventos

socioeducativos ou de material informativo.Sabe-se que as indústrias inventariadas

têm essas informações sistematizadas, visto que enviam seus PGRS’s para

aSEMACE, porém a população não tem acesso aos mesmos, permanecendo no

estado de ignorância diante do risco ao qual está exposta.O não entrelaçamento do

fluxo dessas informações contribui significativamente para a condição de altíssima

vulnerabilidade que esse grupo social se encontra, “à ameaça propriamente dita,

soma-se a perda de soberania sobre a avaliação dos perigos, aos quais se está

irremediavelmente entregue.” (BECK, 2010, p.65)

O poder público, o setor empresarial e a coletividade são responsáveis

por garantir a implementação da PNRS, sendo assim, a transparência das ações

destinadas ao manejo dos resíduos perigososé fundamental, de tal forma a

possibilitar não apenas o acesso às informações, mas, sobretudo, a soberania das

comunidades menos favorecidas.

152

Quadro 17 – Matriz da variável conhecimento, indicadores e pesos

DIMENSÃO INDICADOR DESCRITOR PESO

Conhecimento

(educação

ambiental e

mobilização

social)

Informações

sobre a gestão

de resíduos

Classe I

sistematizadas

e

disponibilizadas

para a

população

As informações são sistematizadas e

divulgadas de forma proativa para a

população

0

As informações são sistematizadas,

porém não estão acessíveis à

população

0,5

As informações não são

sistematizadas

0

Material

informativo

sobre os

resíduos

sólidos

Construído com a comunidade local

0

Construído pela equipe técnica

0

Não tem 1

Realização

de eventos/

temática

ambiental

Frequentes

0

Esporádicos 0,5

Inexistentes

0

Total 2,0

Fonte: Adaptado pela autora de: Santiago e Dias (2012), Ramos (2013) e IPEA(2015). Alta=1; Média

= 0,5; Baixa=0 (BESEN, 2011). Dados pesquisa de campo.

No tocante ao material informativo, o ideal seria que fosse construído

com a comunidade local, no intuito de aumentar significativamente as possibilidades

de alcance dos objetivos propostos. No entanto, as respostas dos questionários e

entrevistas revelaram a inexistência de qualquer material informativo em relação aos

resíduos sólidos, sobretudo aos perigosos.

153

Os eventos ambientais, em geral, visamsensibilizar as populações sobre

a urgência da mudança de atitudes diante da problemática ambiental vigente. Os

conteúdos teóricos socializados estão direcionados para uma prática reflexiva e

transformadora da realidade, assim, contempla o caráter interdisciplinar,

interinstitucional e Inter setorial dos participantes. Nesse sentido, visando verificar os

aspectos relacionados à educação ambiental, mobilização social e vulnerabilidade,

os entrevistados foram questionados sobre a existência de campanhas/eventos

ambientais.

Do total, 74% afirmaram que nunca houve uma campanha educativa com

o tema lixo; 19% disseram que já ocorreu campanha com esse tema e 6% não

souberam informar.Dos que declararam que houve campanha educativa 67%

participaram da campanha e 33% não participaram;o que revela que há interesse da

população em adquirir informações sobre a gestão de resíduos, já que a maioria dos

que foram informados sobre o curso, participaram do evento.

Segundo os depoentes, essas campanhas foram patrocinadas pela

prefeitura municipal e/ou pela associação do bairro, cabe enfatizar que o setor

empresarial privado não foi citado por nenhum dos entrevistados. Isto éreflexodo

descompromisso empresarial, com ações educativas e de informação junto às

comunidades do entorno.

Enfim, no geral, o nível de desinformação e imprecisão das respostas dos

entrevistados, a inobservância da PNRS e das ferramentas normativas, por parte

dos gestores públicos e privados, demonstram a altíssima vulnerabilidade existente

na área de estudo, decorrente da exposição aos riscos oriundos dos resíduos

Classe I gerados nos processos produtivos das indústrias do DIF I.Entende-se que a

administração desses riscos é conjuntamente um assunto político, técnico,

socioeconômico e de educação ambiental, e que as soluções perpassam,

indubitavelmente, por umaredistribuição de renda mais justa.

154

7 CONCLUSÃO

Assim como os riscos, os resíduos sólidos tem origem natural (cinzas de

vulcão, restos de animais, etc) e sociais, logo sempre estiveram presentes na

paisagem do planeta Terra, muitas vezes, ajudando a elucidar fatos históricos de um

passado remoto. Os resíduosresultam de ações naturais e/ou sociais, configuram-

se, portanto,indubitavelmente, em objeto de estudo da geografia.

Sabe-se que no decorrer do tempo, a intervenção humana na natureza foi

espacialmente se expandindo e gerando cada vez mais resíduos, principalmente

com o advento da industrialização. Deste modo, as indústrias foram tornando-se um

vórtice gerador de resíduos de um alcance inimaginável. Entretanto, a presente

pesquisa se propôs analisar os riscos e as vulnerabilidades socioambientais

decorrentes dos resíduos sólidos Classe I, gerados no processo produtivo das

indústrias do Distrito Industrial I de Maracanaú-CE.

Inicialmente,constatou-se que o aporte teórico alusivo aos resíduos

industriais é escasso quando se fala em Brasil, e mais diminuto quando serefereao

estado do Ceará. Deste modo, pode-se afirmar que falar sobre os resíduos gerados

no intramuro fabril não é uma tarefa fácil, pois as informações são insuficientes e

translúcidas quando deveriam ser transparentes, sobretudo, por se tratar de uma

questão de risco.

A postura do poder público municipal e estadual com relação à situação

de vulnerabilidade socioambiental estabelecida é de ausência e omissão. Os

motivos da inércia do governo podem estar relacionados à falta de capacitação

técnica; à insuficiência quantitativa de fiscais; às dificuldades de aparelhamento

administrativo e, ainda, aos acordos políticos firmados com os empresários, poucos

comprometidos com a sustentabilidade socioambiental.

Haja vista que a construção de residências na circunvizinhança do Distrito

Industrial I ocorreu para solucionar o problema de proximidade de mão de obra,

apontada pelos proprietários, como um empecilho para a instalação de suas

indústrias. Mesmo sabendo que as áreas industriais são de risco, o governo

subsidiou, através de financiamentos do BNH e da COHAB, a construção dos

icônicos conjuntos habitacionais de Maracanaú.

Do ponto de vista legal, no que se refere à proximidade entre áreas

residenciais e industriais, apesar de constar em leis e normas que as áreas

155

industriais requeiram uma distância indispensávelao bem-estar e a segurança das

populações quanto aos resíduos sólidos, líquidos e gasosos, nenhuma delas

especifica, através de metragem, o distanciamentonecessário para garantir, pelo

menos minimamente, a segurança da população e a preservação do meio ambiente.

Através dos questionários constatou-se que a população do entorno, por

sua vez não tem noção do real nível de periculosidade dos resíduos industriais que a

cerca,confia na gestão dada pelos donos das indústrias aos resíduos, e no

governoque autoriza a instalação das mesmas. Cabe enfatizar que quando a

confiança decorre da falta de conhecimento quanto aos procedimentos que devem

ser concedidos ao gerenciamento integrado dos resíduos sólidos, o grupo social se

encontra vulnerável aos riscos derivados de qualquer falha no gerenciamento, que

venha ocorrer.

Os resultados da pesquisa mostraram ainda que a população domiciliada

no entorno do DIF I é preponderantemente de baixa renda e com pouca

escolaridade, confirmando a estreita relação existente entre condição

socioeconômica e a desigual distribuição de riscos no espaço geográfico.Diante das

restrições impostas pelo adensamento urbano, os menos favorecidos vão ocupando

locais onde a sobrevivência é possível, e morar próximo a áreas industriais, muitas

vezes é considerada uma dupla oportunidade, de moradia e trabalho, então acabam

convivendo, passivamente, com o risco em detrimento a um olhar mais crítico

perante a situação.

Para alterar essa passividade é preciso que informações referentes aos

resíduos sólidos industriais sejam divulgadas às pessoas, proporcionando-lhes a

oportunidade de se tornarem protagonistas dentro do espaço urbano. Isto significa a

possibilidade de mudança de comportamento frente à omissão e ao descaso do

poder público; representa uma compreensão mais aprofundada dos direitos e

deveres societários, baseada na defesa do interesse coletivo.

Com a aplicação da metodologia proposta foi possível identificar e

quantificar os resíduos industriais Classe I. Verificou-se então, que são geradas

143,136 t/mês de resíduos, que trazem em sua constituição substâncias altamente

tóxicas, como por exemplo, cromo hexavalente, cádmio, mercúrio, arsênio e

chumbo. A maneira como esses resíduos vêm sendo armazenados e destinados

põem em risco a conservação dos recursos ambientais (solo, água, ar, vegetação) e,

por conseguinte a qualidade de vida da população. Confirmando a hipótese central

156

de que os resíduos perigosos, gerados no processo produtivo industrial, expõem a

população residente na cercania do DIF Iàs situações de risco e vulnerabilidade

socioambiental.

Considera-se que a vulnerabilidade socioambiental promovida pela

gestão inadequada dos resíduos é potencializada pela falta de socialização de

informações a respeito dos mesmos. Pois o acesso a esses dados são

indispensáveis para definir ações de políticas públicas destinadas à superação das

desigualdades sociais.

A metodologia utilizada neste estudo demostrou que pode contribuir

significativamente para a localização espacial de áreas concentradoras dos

segmentos sociais mais vulneráveis, considerados alvos prioritários de políticas

públicas e intervenções do Estado.

157

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164

APÊNDICES

165

APÊNDICE A -Questionário dos Indicadores de Vulnerabilidade e Risco Social

QUESTIONÁRIO – INDICADORES DE VULNERABILIDADE E RISCO SOCIAL

Data______/_______/2016Pesquisador/a_______________________Nº Quest.___

Área________________Indústria_________________________________________

___

Coordenada:

____________________________________________________________

IDENTIFICAÇÃO PESSOAL ENTEVISTADO/A

Sexo:( ) Masculino ( ) Feminino

Idade: |___|___| anos

Estado civil: ( )Casado/a ( )Solteiro/a ( ) Divorciado/a ( )

Outros___________________

Escolaridade: ( ) Analfabeto/a ( )Fundamental I ( ) Fundamental II

( ) Ensino médio ( ) Superior ( ) Pós-graduação

1) Você mora em casa: ( )própria ( )alugada ( )cedida (

)Outros____________________

2) Há quanto tempo reside neste bairro? |___|___|

3) Por que escolheu morar neste

bairro?____________________________________________

4) Quantos cômodos (compartimentos) tem na casa? |___|___|

5) A casa tem água encanada? ( )SIM ( ) NÃO

6) A casa tem esgoto? ( )SIM ( ) NÃO

7) Somente se respondeu SIM na questão 06. Para onde vai o esgoto?

( ) Rede de esgoto ( ) Lançado a céu aberto

8) Na sua rua tem coleta de lixo? ( )SIM ( ) NÃO

8.1)Somente se respondeu SIM na questão 08. Quantos dias por semana o lixo é

coletado? |___|___|

8.2)Somente se respondeu NÃO na questão 08. Qual o destino?

( ) queimado ( )jogado na rua ( )incinerado (

)Outros:_________________________

9) Você utiliza material reciclado? ( )SIM ( ) NÃO

166

9.1) Somente se respondeu SIM na questão 09. Que

tipo______________________________

Onde conseguiu?

_______________________________________________________________

9.2)Somente se respondeu Não na questão 09. Conhece alguém que utiliza? (

)SIM ( ) NÃO

10) Existe alguma Unidade Básica de Saúde -UBS, no bairro? ( )SIM ( ) NÃO

Se sim,

qual?_______________________________________________________________

__

11) Quantas pessoas moram no domicílio? |___|___|

12) Quantas são homens? |___|___|

13) Quantas são mulheres? |___|___|

14) Qual a idade deles/as?

Idade – H Idade - M

|___|___|menos de 1 ano |___|___|menos de 1 ano

|___|___|anos de idade |___|___|anos de idade

|___|___| anos de idade |___|___|anos de idade

|___|___| anos de idade |___|___|anos de idade

15) Chefe da família (pessoa que mantém) – Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )

16) O chefe da família trabalha onde? ( )Fora de casa ( ) Dentro de casa ( )

Desempregado

17) Média salarial mensal:

( )menos de 1 salário mínimo ( ) 1 salário mínimo ( ) 2 salários mínimos

( ) 3 salários mínimos ( )acima de 3 salários mínimos

18) Quem fica responsável pela casa quando o chefe da família está fora?

( )pai ( )mãe ( )irmão ( )avós (

)Outros____________________________________

19) Qual a idade da pessoa que fica responsável pela casa? |___|___| anos

20) Existem pessoas com algum tipo de limitação/deficiência física ou mental que

tenha dificuldade de andar? ( )NÃO ( )SIM.

Qual?______________________________________

21)Tem pessoas na família que mora na rua? ( )SIM ( ) NÃO

22) Tem pessoas na família que mora em abrigo? ( )SIM ( ) NÃO

167

23)Tem pessoas na família com dependência química? ( )SIM ( ) NÃO

24) Existem áreas de lazer no bairro? ( ) NÃO ( )SIM.

Qual?__________________________

Somente se respondeu SIM na questão 24.

24.2) As Crianças costumam brincar na

rua?________________________________________

24.3) A Comunidade tem acesso às áreas de lazer do distrito

industrial?_________________

APÊNDICE B – Questionário dos Indicadores de Vulnerabilidade e Riscos –

Resíduos Sólidos

168

INDICADORES DE VULNERABILIDADE E RISCOS – RESÍDUOS SÓLIDOS

1) Você sabe o que é um resíduos perigoso? ( )SIM ( ) NÃO

2) Somente se respondeu SIM na questão 01. O que você entende por resíduo

perigoso?

___________________________________________________________________

__________

3) Sabe dizer se as indústrias próximas a sua casa geram resíduos perigosos?

( )SIM ( ) NÃO

4) Somente se respondeu SIM na questão 03. Você sabe para onde vão esses

resíduos?

( )SIM ( ) NÃO

5) Somente se respondeu SIM na pergunta 04. Destinação dada aos resíduos

perigosos.

( ) Reciclados ( ) Queimados (Incinerados) ( ) Coprocessados

( ) Reutilizados ( ) Enviado para aterro sanitário.

Qual?___________________________

( )

Outros______________________________________________________________

______

6) Você já viu algum desses resíduos perigosos serem jogados em locais

inadequados (rua, terreno baldio, dentro de rio e/ou lagoa, etc.)? ( )SIM ( )

NÃO

7) Somente se respondeu SIM na pergunta 06. Onde?

( ) Rua ( ) Terreno baldio ( ) Rio ( )Lagoa ( )

Outros__________________________

169

8) Já houve no bairro alguma campanha educativa com o tema lixo?

( )SIM ( ) NÃO

9) Somente se respondeu SIM na questão 08. Quem foi que patrocinou a

campanha?

( )Prefeitura ( )Associação de bairro ( )Indústrias do bairro ( )Não sei

11)Somente se respondeu SIM na questão 08. Você participou?

( )SIM ( ) NÃO

12)Você acredita que as indústrias dão uma destinação correta para os resíduos

sólidos que elas geram? ( )Não ( )Sim. Por quê?

___________________________________________