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Universidade
Estadual de
Londrina
PEDRO CAETANO SOUZA
A INFLUÊNCIA DA TÉCNICA BOTTOM TURN NA
ATRIBUIÇÃO DE NOTAS NO SURF DE ALTO RENDIMENTO
LONDRINA 2010
PEDRO CAETANO SOUZA
A INFLUÊNCIA DA TÉCNICA BOTTOM TURN NA
ATRIBUIÇÃO DE NOTAS NO SURF DE ALTO RENDIMENTO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Esporte da Universidade Estadual de Londrina, exigido como requisito parcial para obtenção da graduação em Bacharel em Esporte. Orientador: Prof. Marcos Augusto Rocha
LONDRINA 2010
PEDRO CAETANO SOUZA
A INFLUÊNCIA DA TÉCNICA BOTTOM TURN NA
ATRIBUIÇÃO DE NOTAS NO SURF DE ALTO RENDIMENTO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Esporte da Universidade Estadual de Londrina, exigido como requisito parcial para obtenção da graduação em Bacharel em Esporte..
COMISSÃO EXAMINADORA
___________________________________
Prof. Marcos Augusto Rocha Universidade Estadual de Londrina
___________________________________
Prof. Prof. Dr. Antonio Carlos Dourado
Universidade Estadual de Londrina
___________________________________
Prof. Prof. Dr. Luiz Cláudio Reeberg Stanganelli
Universidade Estadual de Londrina
Londrina, _____de ___________de _____.
Dedico este trabalho a Jayme Rodrigues Caetano. Por ter sido a pessoa mais digna que já conheci. Por ter se dedicado integralmente a sua família e dessa forma contribuído na minha formação. Meu maior exemplo de hombridade.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente aos meus pais que sempre me apoiaram em todas
as escolhas por mais difícil que fosse. Foram eles, juntamente com meus irmãos, as
pessoas que me compreenderam e me incentivaram para seguir em busca de meus
ideais.
A minha namorada e companheira Caroline, por acreditar que meus sonhos
são plausíveis e por todo incentivo e ajuda.
Agradeço aos amigos de escola, bem como os companheiros do surf, que
sempre acreditaram no meu potencial e que me impulsionam nessa empreitada.
Aos meus companheiros da república Uba-ê e Taj Mahall, por me ampararem
nos piores momentos e por estarem presentes para dividir comigo toda a alegria
proporcionada pela vida universitária.
Aos companheiros da turma 9 do curso de Esporte, por terem sido meu
motivo de estímulo para acordar cedo todas as manhãs e enfrentar os longos dias
que passamos dentro da UEL.
Aos meus companheiros do laboratório (CENESP) por trazer alegria mesmo
diante de árduos dias de trabalho.
A pessoa que mesmo em meio a tantos compromissos, me deu dedicação
exclusiva para que este trabalho acontecesse com a qualidade esperada, professor
Marcus Augusto Rocha.
Aos professores Antonio Carlos Dourado e Luiz Cláudio Stanganelli, por
terem me dado a oportunidade e o voto de confiança, me permitindo fazer parte de
seu grupo de pesquisa, bem como a orientação no estágio. Por terem esclarecido
inúmeras dúvidas e pelo exemplo de professor que deixaram.
Ao professor Ronaldo José Nascimento, por ter me aceitado como bolsista e
pela dedicação e atenção que tem por virtude.
Por último, agradeço a todos os docentes do curso de Esporte que, através
da nobre profissão que os compete, dissipam seus conhecimentos e lutam
diariamente em prol de melhorias e reconhecimento de nosso curso.
“Poucos vivem 24 horas o surf
dentro de si, cavalgando não
só as ondas líquidas do mar
onipresente, mas as eternas
ondas dos sonhos construídos
a cada segundo em seus
corações.” (Sidão Tenucci)
RESUMO
As competições de surf no cenário mundial têm apresentado um alto e
homogêneo nível de desempenho por parte dos atletas. Assim, atentou-se à
hipótese de que o bottom turn, curva na base da onda essencial para a construção
de manobras subseqüentes, pode ter influência nos resultados alcançados em
baterias de surf de alta performance. Nesse sentido, o presente estudo teve o
objetivo de quantificar o tempo que os atletas levam na execução de bottom turns
em suas ondas e correlacioná-lo com as notas atribuídas, bem como avaliar se os
surfistas que vencem suas baterias são os que realizam bottom turns mais
duradouros. A amostra da pesquisa foi composta pelos atletas presentes nas
baterias 2 e 3 das quartas de final, bem como nas semifinais e na final do Hang
Loose Santa Catarina Pro 2009. Para o levantamento dos dados, foi feita análise de
vídeo, onde se avaliou cada bottom turn realizado, pelo recurso de corte de vídeo
disponível no programa Windows Movie Maker. Para a análise correlacional, fez-se
uso do software SPSS 18.0, sendo verificado o valor de R de Pearson adotando o
nível de significância de p < 0,05. Os resultados apontaram que em 60% dos casos
os atletas com maiores tempo de bottom turn venceram os confrontos. Para as
correlações, observou-se associação entre as variáveis para 80% dos casos. Pode-
se assim concluir que o bottom turn é um aspecto técnico fundamental na
construção de manobras subseqüentes que se adéqüem aos critérios de julgamento
do surf.
Palavras-chave: Surf 1; Manobras 2; Bottom Turn 3; Desempenho 4.
ABSTRACT
The surf contests all over the world have presented a high and homogeneous
level of performance by the athletes. Thus, the hypothesis that the bottom turn,
curve in the base of the wave essential to the construction of subsequent
maneuvers, might influence the results in high performance competitions has been
observed. In this manner, the present study intends to quantify the time taken in a
bottom turn implemented by the athletes in a wave and correlate it to the scores
awarded, as well as determine whether the surfers that win their heats are the ones
who performed the longest bottom turns. The research sample was composed by
the athletes that participated in the heats 2 and 3 of the quarterfinals, as well as in
the semifinals and final of the Hang Loose Santa Catarina Pro 2009. To the survey,
each realized bottom turn was analyzed by video split feature available in the
Windows Movie Maker program. The correlation analysis was made using SPSS
18.0 software and confirmed the value of R Pearson when the significance level of p
<0.05 was adopted. The results demonstrated that in 60% of cases athletes with the
longest bottom turns won their heats. For the correlations, there was an association
between the variables for 80% of cases. It´s concludable that the bottom turn is a
significant technical aspect in the construction of subsequent maneuvers that suits to
the criteria for judging surf.
Key-words: Surf 1; Maneuvers 2; Bottom Turn 3; Performance 4.
LISTA DE ILUSRAÇÕES
Figura 1: Estrutura da onda vista de frente (face da onda).......................................19
Quadro 1: Grupo M2. Deslizar na parede.................................................................22
Quadro 2: Grupo M3. Virar na base..........................................................................23
Quadro 3: Grupo M4. Virar na parede.......................................................................23
Quadro 4: Grupo M5. Virar no topo...........................................................................24
Quadro 5: Grupo M6. Deslizar por cima....................................................................25
Quadro 6: Grupo M7. Aéreos....................................................................................26
Quadro 7: Grupo M8. Deslizar por dentro.................................................................27
Quadro 8: Grupos de manobras................................................................................28
Figura 2: Correlação entre tempo de bottom turn e nota atribuída. Quartas de final
2................................................................................................................................34
Figura 3: Correlação entre tempo de bottom turn e nota atribuída. Quartas de final
3................................................................................................................................36
Figura 4: Correlação entre tempo de bottom turn e nota atribuída. Semifinal 1......38
Figura 5: Correlação entre tempo de bottom turn e nota atribuída. Semifinal 2......40
Figura 6: Correlação entre tempo de bottom turn e nota atribuída. Final.................42
Figura 7: Correlação entre tempo de bottom turn e nota atribuída em todas as
baterias analisadas...................................................................................................43
Figura 8: Correlação entre tempo de bottom turn e nota atribuída em todas as
baterias analisadas com exclusão da segunda onda do atleta A da primeira
semifinal....................................................................................................................44
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Resultados da segunda bateria de quartas de final..................................33
Tabela 2: Resultados da terceira bateria de quartas de final....................................35
Tabela 3: Resultados da primeira bateria de semifinal.............................................37
Tabela 4: Resultados da segunda bateria de semifinal............................................39
Tabela 5: Resultados da bateria final........................................................................41
SUMÁRIIO
1 INTRODUÇÃO…………………................................................................12
1.1 JUSTIFICATIVA…………………………………………………...........…….14
1.2 OBJETIVOS……………………………………………….............................14
1.2.1 Objetivo Geral………………………………………………….......................14
1.2.2 Objetivos Específicos………………………………….................................14
2 REVISÃO DE LITERATURA....................................................................15
2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO SURF..........................................................15
2.2 SURF DE COMPETIÇÃO.........................................................................17
2.3 ASPECTOS TÉCNICOS DO SURF..........................................................20
2.3.1 Arranque...................................................................................................22
2.3.2 Deslizar na parede....................................................................................22
2.3.3 Virar na base.............................................................................................23
2.3.4 Virar na parede.........................................................................................23
2.3.5 Virar no topo.............................................................................................23
2.3.6 Deslizar por cima......................................................................................24
2.3.7 Aéreos......................................................................................................25
2.3.8 Deslizar por dentro...................................................................................26
2.3.9 Final..........................................................................................................27
2.4 O BOTTOM TURN....................................................................................29
3 MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................30
3.1 AMOSTRA................................................................................................30
3.2 COLETA DE DADOS...............................................................................30
3.3 PROCEDIMENTOS..................................................................................31
3.4 TRATAMENTO ESTATÍSTICO................................................................32
4 RESULTADOS........................................................................................33
4.1 QUARTAS DE FINAL – BATERIA 2.......................................................33
4.2 QUARTAS DE FINAL – BATERIA 3.......................................................35
4.3 SEMIFINAIS – BATERIA 1......................................................................37
4.4 SEMIFINAIS – BATERIA 2......................................................................39
4.5 FINAL.......................................................................................................41
5 DISCUSSÃO...........................................................................................45
6 CONCLUSÃO.........................................................................................48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................50
12
1 INTRODUÇÃO
Para uma maior compreensão dos aspectos que envolvem a modalidade surf,
cabe aqui uma coerente definição da estrutura taxonômica desse esporte, sua
classificação dentro do universo das atividades esportivas. Então, a fim de contribuir
com a evolução do surf, Moreira (2009) em seus estudos classificou esse esporte,
de acordo com os desafios colocados ao praticante, como um desporto de natureza,
rotulado como um desporto de deslize, o qual um surfista em cima de uma prancha,
efetuando os apoios com o afastamento ântero-posterior das pernas ficando um pé
junto a cauda da prancha e o outro a meio desta, desliza na parede da onda em
direção a praia. O mesmo autor afirma que, a expressão da modalidade é revelada
ao nível das manobras, “[...] ações motoras responsáveis pelo movimento do
surfista, e conseqüentemente da prancha, tendo com elas relacionados os aspectos
cognitivos [...]” (MOREIRA, 2009, p. 19).
Esta modalidade teve sua origem a mais de dois mil anos atrás pelos
polinésios, passando por declives e aclives na história de sua popularização, tendo
Duke Kahanamoku como principal símbolo de divulgação da modalidade, reputado
o pai do surf moderno, veio se desenvolvendo e é hoje considerado um esporte em
constante ascendência e amadurecimento. Isso é refletido pela imensa capacidade
de popularização do surf nos tempos atuais. Popularização esta que possui mais
procedência de fatores culturais assegurado pelo famoso e aspirado Life Style
(estilo de vida) dos surfistas e apreciadores do universo do surf do que do surf como
modalidade esportiva, carente de uma estrutura suportada por equipes
multidisciplinares seguidoras dos tradicionais modelos de periodização do
treinamento baseado no controle das cargas de treino (LIU et al., 2006). Este
contexto pode ser reforçado através da tentativa ineficiente de aquisição de
documentos científicos a fim de contribuir com a evolução do treinamento do surf. Já
que, segundo Castelo (2000), o treinamento desportivo é o processo pedagógico,
baseado em exercícios complexos e com fundamento científico, que de maneira
planejada visa desenvolver a aptidão do atleta ou equipe.
Já a estrutura organizacional do surf vem realizando um trabalho
interessante, se desenvolvendo e buscando constante aperfeiçoamento com o
passar dos anos. Isso pode ser notado desde meados da década de noventa em
13
que as competições foram atingindo os maiores níveis de desempenho por parte
dos atletas. Neste período, as entidades responsáveis pelo surf competitivo de alto
rendimento se viram diante de uma reforma, obrigando-se a rever seus conceitos e
adaptar suas regras e decisões a fim de contribuir com a evolução técnica do
esporte. Vale ressaltar que tais reformas ainda não cessaram e os critérios de
julgamento permanecem em constante evolução. Entretanto pode-se considerar que
o critério de julgamento do surf moderno, segundo no livro de regras da ASP (2009)
(associação dos surfistas profissionais), baseia-se em executar de forma controlada
as manobras mais radicais, nas seções mais críticas da onda, com velocidade,
potência e naturalidade, para maximizar o potencial de pontuação.
Ainda conforme as pesquisas de Moreira (2009) há diferentes grupos de
manobras a partir do momento em que o surfista se encontra em pé na prancha,
classificadas em função dos movimentos efetuados bem como das partes da onda
em que são realizados estes movimentos. Assim, as manobras foram distribuídas
em nove grupos: os arranques, os deslizes na parede da onda, as viragens na base
da onda, as viragens na parede da onda, as viragens no topo da onda, os deslizes
por cima da onda, os aéreos, os deslizes por dentro da onda e as finalizações.
Deste modo, abrem-se as possibilidades de estudo de determinado grupo
específico de manobras. Sendo que a presente pesquisa dedica-se a análise do
grupo das viragens na base da onda, com destaque exclusivo ao bottom turn (curva
na base), definido como a viragem na base da onda que permite ganhar velocidade
para subir a parede (MOREIRA, 2009).
Especula-se que quanto mais tempo o surfista permanece num bottom turn,
mais área na base da onda será percorrida, capacitando o surfista a projetar sua
prancha de maneira adequada a fim de aproximar-se o máximo possível dos
critérios de julgamento preconizados pela comissão de arbitragem do surf. Assim
sendo, o estudo visa correlacionar, através de análise de vídeo, o tempo médio de
execução dos bottoms turns realizados numa onda e a respectiva nota atribuída a
esta onda em uma competição de nível mundial. A hipótese é que os surfistas que
realizam bottoms turns mais longos e duradouros em suas ondas, quando
comparados aos seus adversários podem atingir maiores notas nas baterias e,
14
portanto vencer os confrontos. Como conseqüência deve haver correlação entre
tempo de execução de bottom turn e nota atribuída.
Considera-se relevante a pesquisa consoante a escassez de estudos
científicos em prol do surf, principalmente quando se procura abordar aspectos
técnicos da modalidade. Tal pesquisa visa auxiliar no desenvolvimento da
performance de atletas de surf, evidenciando um aspecto técnico que deve ser
levado em consideração no processo de treinamento dos surfistas que visam o
rendimento esportivo.
1.1 JUSTIFICATIVA
Correspondente à evolução técnico-competitiva do surf no cenário mundial e
o emparelhado nível de desempenho apresentado pelos surfistas nas competições
de alto nível de rendimento, as decisões das baterias podem estar sendo definidas
em um detalhe, uma manobra, que parece passar despercebido ou de pouca
expressão, no caso o bottom turn. Levando em conta a possível interferência que o
bottom turn pode exercer na construção das manobras subseqüentes que permitem
ao surfista uma aproximação do que se considera ideal segundo o critério de
atribuição de notas dessa modalidade, parece relevante destinar uma investigação
referente a esta manobra que pode ter influência no resultado final das baterias.
Nesse sentido esse estudo pode contribuir para o desenvolvimento da performance
de atletas de surf evidenciando um aspecto técnico que deve ser levado em
consideração no processo de treinamento dos surfistas que visam o rendimento
esportivo.
1.2 OBJETIVOS
1.2.1Objetivo Geral
O objetivo deste estudo foi analisar a execução de bottom turns efetuados
numa onda e a influencia que esta técnica pode exercer no resultado das baterias.
1.2.2 Objetivos Específicos
15
a) Quantificar o tempo de percurso de cada bottom turn executado nas duas
ondas mais bem pontuadas de cada atleta que disputou as baterias de número dois
e três das quartas de finais, bem como as duas semifinais e a final;
b) Estabelecer uma média de tempo de bottom turn para cada uma das duas
ondas mais bem pontuadas de cada atleta presente nas baterias de número dois e
três das quartas de finais, bem como as duas semifinais e a final;
c) Correlacionar as médias de tempo de bottom turn obtidas em cada onda com
as respectivas notas atribuídas;
d) Verificar se os atletas que venceram suas baterias nas quartas de finais,
semifinais e final foram os atletas que obtiveram maiores média de tempo de bottom
turn em suas ondas quando comparados a seus oponentes.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO SURF
De acordo com a história do surf, é sabido que os primeiros a realizarem tal
feito habitavam as beiras dos mares do pacífico há centenas de anos atrás, no
entanto surgem algumas divergências quando se trata do local exato onde foram
surfadas as primeiras ondas. Diversos autores preconizam que o surf se origina e se
desenvolve no Havaí, sendo que o capitão inglês James Cook, colonizador deste
arquipélago, foi o primeiro europeu a presenciar o surf e realizar os primeiros relatos
sobre tal fenômeno (GUTEMBERG, 1989; LEAL, 1993 apud VAGHETTI, 2004;
SEMES, 1997 apud FERRÃO, 2003; WARSHAW, 2003). Já os estudos de Kampion
e Brown (1998) afirmam que o surf pode ter tido sua origem em mares peruanos,
onde a população nativa, de estreita relação com o mar, retornava de suas
pescarias pegando “carona” nas ondas, em posição bípede, numa embarcação
semelhante a uma canoa, denominada caballitos de totora. No entanto, de acordo
com o desenvolvimento e popularização do surf ao longo da história, nos parece
plausível afirmar que a procedência havaiana do surf tem maior destaque e
influência no progresso da modalidade.
Passados alguns contratempos no processo de popularização do surf, tendo
seu maior declive em meados do século XIX quando os europeus praticamente
extinguiram o surf ao considerarem um esporte imoral frente à igreja, surgem então,
16
a partir do ano de 1900, alguns personagens marcantes no renascimento e
divulgação do surf (KAMPION e BROWN, 1998; MOREIRA, 2009). É nessa época
que um havaiano chamado Duke Kahanamoku se consagra na história do surf.
Duke foi atleta de natação em nível olímpico e ao competir em grandes eventos
internacionais, fazia questão de carregar sua prancha na bagagem e divulgar o surf
nas mais diversas regiões do planeta. Tais feitos lhe renderam os títulos de
embaixador do surf e pai do surf moderno (AJDELSZTAJN e ROBALINHO, 2000
apud FERRÃO, 2003; MOREIRA, 2009; WARSHAW, 2003).
É no período de 1945 a 1966 no estado da Califórnia, nos EUA, que as
aspirações de Duke Kahanamoku se concretizam. É lá, mais precisamente na
região de Malibu, que se inicia a cultura do surf com o surgimento das primeiras
lojas, revistas e filmes específicos do ramo (MOREIRA, 2009). O surf passa a ser
um estilo de vida que atinge proporções mundiais. Há então o surgimento de uma
ampla comunidade de surfistas de hábitos extremamente fiéis a modalidade,
capazes de se vestir, falar e agir conforme transcorre o universo do surf.
A partir daí o surf se desenvolve e inicia um processo de auto-afirmação
como modalidade esportiva, sendo que em 1964 é realizado o primeiro campeonato
de surf assegurado pela primeira entidade a fim de contribuir com a evolução do surf
como modalidade esportiva, a International Surfing Federation (ISF) (KAMPION e
BROWN, 1998; WARSHAW, 2003). De tal data em diante o surf não para de se
alargar. Deste modo as empresas responsáveis por confeccionar roupas e
equipamentos se desenvolvem em paralelo bem como as instituições
organizacionais (MOREIRA, 2009).
Em 1976 a ISF passa a denominar-se ISA (International Surfing Association)
que com o reconhecimento do Comitê Olímpico Internacional, a partir de 1982
passa a ter a responsabilidade de conduzir o surf amador em nível mundial. Vale
ressaltar que é no mesmo ano que ocorre o nascimento da IPS (International
Professional Surfers), já esta responsável em reger o surf profissional em nível
mundial, com o árduo encargo de organizar o circuito mundial de surf profissional.
No entanto, já em 1982 a IPS é substituída pela atual ASP (Association of Surfing
Professionals) hoje reconhecida como órgão máximo do surf profissional
(MOREIRA, 2009).
17
A verdadeira profissionalização do surf coincide com o período de 1992 até a atualidade, em que a competição atinge os mais elevados níveis de organização e divulgação, com um maior número de competidores a cumprirem programas de treino, acompanhados pelos respectivos treinadores (MOREIRA, 2009, p.13).
Cabe reforçar também que é a partir de 1992 que o maior ícone do surf
mundial, Kelly Slater, inicia sua incrível jornada de campeão ao conquistar seu
primeiro título mundial da ASP, sendo que hoje o atleta já soma nove títulos de
campeão do mundo, ganhando reconhecimento em nível mundial como o melhor
surfista de todos os tempos, sendo capaz de, por quase duas décadas, aperfeiçoar
suas técnicas paralelamente à evolução profissional da modalidade.
2.2 SURF DE COMPETIÇÃO
Partindo para um panorama mais voltado ao surf de competição de alta
performance, vem a ser pertinente a descrição dos fatores organizacionais, do
formato das competições, dos critérios de julgamento da modalidade bem como
uma compreensão de como se comportam as ondas.
Como já foi descrito anteriormente, a ASP é a instituição encarregada em
gerir o surf profissional em nível mundial. Baseada em dois circuitos mundiais, a
ASP promove um campeão mundial por ano. Os dois circuitos funcionam como uma
espécie de duas divisões no cenário mundial. Assim o circuito designado World Tour
(WT), composto por 48 atletas, é a primeira divisão do surf mundial, sendo que o
vencedor consagra-se o campeão do mundo. No entanto para adquirir o acesso ao
seleto WT os atletas buscam a classificação através de um segundo circuito, um
circuito classificatório de acesso designado World Qualifying Series (WQS). A
ligação entre estes dois circuitos se dá através de dois rankings, cada ranking
referente a cada circuito. Assim os 15 primeiros do ranking do WQS se juntam aos
27 primeiros do WT. De forma óbvia os atletas do WT permanecem no circuito para
o próximo ano se mantendo entre os 27 primeiros. Logo o grupo que vai do
vigésimo oitavo ao último (quadragésimo quarto) do WT sofrerá com o rebaixamento
e tentará um novo acesso para a próxima temporada através do circuito WQS. Vale
ressaltar que o ranking do WT conta com 44 atletas sendo eles: os 27 atletas que se
mantêm pelo próprio WT, mais 15 provenientes do WQS e mais dois atletas que
recebem um convite da ASP para integrarem o ranking do WT, convite que é dado
para atletas contundidos na temporada passada.
18
O formato de competição desses dois circuitos se dá de forma similar, apesar
de as diferenças não serem muito relevantes, trata-se aqui exclusivamente do WT,
até porque a amostra da pesquisa é baseada em uma das etapas do WT.
O circuito do WT, onde se encontra a elite do surf mundial, se procede
durante o ano conforme um calendário que envolve de oito a doze eventos (etapas)
ao longo da temporada. Cada etapa é composta por 48 atletas, os 44 do ranking
mais dois convidados pela organização de cada etapa, e apura um campeão que
retém certo número de pontos que será computado no ranking. De acordo com a
colocação em cada etapa o atleta acumula um número correspondente de pontos. A
soma desses pontos que atribuem colocações no ranking irá consagrar o campeão
mundial no fim do ano.
O formato de competição nas etapas do WT transcorre da seguinte maneira.
São sete fases de baterias classificatórias que estabelecerão o campeão. Deste
modo, a competição se inicia com uma primeira fase envolvendo todos os
competidores distribuídos em 16 baterias compostas por três atletas cada. Os
vencedores dessas baterias da primeira fase avançam direto para a terceira fase e
aguardam os vencedores da segunda fase (repescagem realizada com os
perdedores da primeira fase). A partir da segunda fase, até a final, as baterias são
eliminatórias e constituídas por dois atletas, num sistema denominado homem a
homem.
Durante cada bateria, de aproximadamente 30 minutos de duração, os atletas
têm direito a surfar de 10 a 15 ondas no máximo (vale ressaltar que os oponentes
nunca dividem as mesmas partes de uma mesma onda). Notas são atribuídas em
função das manobras realizadas pelo surfista a cada onda surfada e o atleta é
classificado conforme a somatória das duas melhores notas, ou seja, conforme suas
duas melhores ondas (PALMEIRA, 2007). O que leva a concluir que o que
realmente importa é qualidade e não quantidade. E é devido a este fato que os
atletas presentes nas baterias passam a maior parte do tempo aguardando por uma
onda decisiva do que surfando de fato.
O júri é composto por cinco juízes, cada juiz atribuí uma nota de zero a 10 a
cada onda surfada e a nota oficial de cada onda é obtida retirando-se a nota mais
alta e a mais baixa, e calculando a média das outras três intermediárias (MOREIRA,
19
2009). O surfista começa a ser pontuado a partir do momento que se coloca de pé
na prancha para depois realizar sua seqüência de manobras. A nota é estabelecida
de acordo com a prestação do surfista na onda (manobras) seguindo um critério de
julgamento preestabelecido.
Tendo em vista que a execução de manobras expressivas, aplicadas a uma
onda de qualidade é o fator determinante e o principal objetivo dos atletas em busca
do melhor desempenho na competição cabe aqui um melhor entendimento das
ondas e dos critérios de julgamento adotados pela comissão de arbitragem da ASP.
De acordo com Moreira (2009) a estrutura de uma onda que permita que o
surfista aplique manobras em uma competição de surf pode ser descrita conforme
uma nomenclatura específica como sugerida na figura 1.
Figura 1: Estrutura da onda vista de frente (face da onda) (MOREIRA, 2009, p.29) 1- Espuma; 2- Lábio; 3- Bolsa; 4- Crista; 5- Base; 6- Parede; 7- Ombro; 8- Sentido da rebentação;
9- Zona de impacto
A partir das informações contidas na figura fica mais clara a compreensão
dos critérios de julgamento do surf. Segundo o livro de regras da ASP (2009), o
surfista deverá desenvolver a sua performance nas baterias, dentro dos critérios
chaves do Critério de Julgamento da ASP para maximizar o seu potencial de
pontos. Os juízes analisam os seguintes conceitos chaves quando avaliam e
pontuam as ondas surfadas em uma bateria: compromisso e grau de dificuldade das
manobras; manobras inovadoras e progressivas; combinação das principais
20
manobras; variedade de manobras; velocidade, pressão (intensidade com a qual se
aplica as manobras) e fluidez.
Um surfista deve executar de forma controlada as manobras mais radicais, nas secções mais críticas da onda, com velocidade, potência e naturalidade, para maximizar o potencial de pontuação. Manobras inovadoras e progressivas, bem como a variedade de repertório, serão tomadas em consideração beneficiando os surfistas pelo surf convicto. O surfista que executar esses critérios com maior grau de dificuldade e em sintonia com as ondas deve ter as mais altas pontuações (FÉLIX, 2010).
Tais definições estão diretamente relacionadas com a capacidade de o
surfista projetar suas manobras nas secções mais criticas da onda, já que o surfista
só consegue ser veloz, potente e radical ao atacar a parte da onda que promova a
mais forte reação em sua prancha. Sendo assim, conforme as definições das partes
da onda indicadas por Moreira (2009) (figura 1), a parte mais crítica da onda é a que
foi designada como bolsa.
2.3 ASPECTOS TÉCNICOS DO SURF
Durante a prática do surf, os atletas fazem uso de um repertório de técnicas
específicas. Dentre as quais envolvem técnicas de remada, submersão, sentar na
prancha, subir na prancha e as técnicas a partir do momento em que o surfista se
encontra de pé na prancha (manobras). As manobras são as ações técnicas mais
relevantes do surf e caracterizam a modalidade. As manobras são “[...] ações
motoras responsáveis pelo movimento do surfista, e conseqüentemente da prancha,
tendo com elas relacionados os aspectos cognitivos [...]” (MOREIRA, 2009, p. 19).
Palmeira (2007) observou que as manobras executadas pelos surfistas são
de grande complexidade, sendo que o atleta deve manter em todos os momentos o
maior controle sobre sua prancha e sincronia total com a onda em que estiver
surfando. Os movimentos necessitam de uma combinação precisa entre a
coordenação motora, agilidade, velocidade e força de explosão, dentre outras
qualidades físicas (PALMEIRA, 2002).
Concluí-se, através de definições propostas por diversos autores (PALMEIRA
e CAMPOS, 2005; PALMEIRA 2007; PALMEIRA e WICHI, 2007; LOWDON e
PATEMAN, 1980; ILHA et al., 2004; VAGHETTI et al., 2004; VAGHETTI; ROESLER;
ANDRADE, 2007; ROPERO, 2006; CORRÊA et al.; CARLET; FAGUNDES;
MILISTEDT, 2007), que o surf, levando em conta a trajetória de um surfista numa
21
onda a partir do momento em que este fica em pé na prancha até o fim desta
mesma onda, como um esporte que utiliza prioritariamente a fonte energética
anaeróbia, com alternância dos sistemas alático e/ou lático consoante o tempo total
de sua viagem numa onda, tempo este que pode variar de 2 até 40 segundos.
Retornando a um direcionamento dos aspectos técnicos, vale uma descrição
do posicionamento corporal do surfista em relação à sua prancha. Prontamente,
assumida a posição de pé na prancha, com o afastamento ântero-posterior das
pernas (um pé junto à cauda da prancha e o outro ao meio desta), o surfista deve
adotar a posição base, essa que é a posição fundamental para daí em diante iniciar
sua jornada de manobras. Para tal, o pé de trás deve ficar perpendicular à
longarina, perto da cauda, por cima das quilhas, enquanto o pé da frente deve ficar
oblíquo à longarina e próximo do centro de flutuação da prancha (meio da prancha).
Os membros inferiores devem estar em flexão com o tronco próximo a coxa da
frente. Os membros superiores ficam um de cada lado da prancha, com os braços
fletidos (ALDERSON, 1996).
[...] fica definido que o braço da frente é o homolateral da perna da frente e o braço de trás homolateral da perna de trás, ficando definido também que, na prancha, o bordo da frente é do lado dos dedos dos pés e o bordo de trás é o do lado dos calcanhares (MOREIRA, 2009, p. 85).
Ao deslizar na onda, o surfista pode projetar seu percurso, de acordo com o
sentido da rebentação, para o lado direito ou esquerdo. Sendo assim, este pode se
encontrar de frente para onda (frontside), com os dedos dos pés, joelhos e peito
virados para a parede da mesma. Ou de costas para a onda (backside), com os
calcanhares e as costas apontados para a parede. A partir daí define-se também
que o bordo da prancha em contato com a parede refere-se ao bordo interno,
enquanto que o bordo do lado oposto considera-se como bordo externo (MOREIRA,
2009).
Ainda conforme as pesquisas de Moreira (2009) há diferentes grupos de
manobras a partir do momento em que o surfista se encontra em pé na prancha,
classificadas em função dos movimentos efetuados bem como das partes da onda
em que são realizados estes movimentos. Assim, o autor distribuiu as manobras em
nove grupos: os arranques, os deslizes na parede da onda, as viragens na base da
22
onda, as viragens na parede da onda, as viragens no topo da onda, os deslizes por
cima da onda, os aéreos, os deslizes por dentro da onda e as finalizações.
2.3.1 Arranques
Os arranques representam o primeiro grupo de manobras (M1). Estão
relacionados com a técnica de passagem da posição deitado para a posição de pé
(take-off). Se durante o take off o nariz da prancha estiver apontado para a base da
mesma denomina-se vertical take off. Se o take off é realizado com a prancha
inclinada denomina-se angled take off (MOREIRA, 2009)
2.3.2 Deslizar na parede
Os deslizes na parede correspondem ao segundo grupo de manobras (M2).
Neste grupo relaciona-se o drop, angled drop, reverse drop, 180 drop, reverse 180
drop, air drop, trim, hopping e stalling. Tais manobras estão relacionadas com a
técnica de deslizar na parede.
DESLIZAR NA PAREDE (M2)
Drop É a descida da parede da onda, com o deslize em direção à base da mesma
Angled drop
É a descida da parede da onda, com o deslize em direção ao ombro da mesma
Reverse drop
Conseqüência do movimento efetuado numa manobra anterior em que a prancha termina com as quilhas para frente. Efetuando o deslize nessa posição
180 drop Conseqüência do movimento efetuado numa manobra anterior em que a prancha termina com as quilhas para frente. Realizando uma rotação de 180 graus no eixo ântero-posterior da prancha no sentido do bordo interno
Reverse 180 drop
Conseqüência do movimento efetuado numa manobra anterior em que a prancha termina com as quilhas para frente. Realizando uma rotação de 180 graus no eixo ântero-posterior da prancha no sentido do bordo externo
Air drop É a descida da parede da onda, perdendo contato com a mesma, terminando na base
Trim Deslizar ao longo da parede da onda paralelamente ao percurso da rebentação
Hopping Pressão no centro da prancha almejando-se ganhar velocidade
Stalling Pressão efetuada na cauda da prancha quando o interesse é brecar
Quadro 1: Grupo M2. Deslizar na parede (MOREIRA, 2009).
23
2.3.3 Virar na base
As viragens na base são inseridas no terceiro grupo de manobras (M3). Estão
relacionadas às manobras realizadas na base da onda. São elas: bottom turn, 180
bottom turn e reverse 180 bottom turn.
VIRAR NA BASE (M3)
Bottom turn O bottom turn é a viragem na base da onda que permite ganhar velocidade para subir a parede
180 bottom turn Rotação no eixo ântero-posterior da prancha realizada na base da onda e no sentido da parede
Reverse 180 bottom turn
Rotação no eixo ântero-posterior da prancha realizada na base da onda e no sentido oposto ao da parede
Quadro 2: Grupo M3. Virar na base (MOREIRA, 2009).
2.3.4 Virar na parede
O grupo 4 de manobras é representado pelas viragens efetuadas na parede
da onda (M4). São aqui relacionadas: fade, pump turn, mid face turn, cutback, round
house e rebound.
VIRAR NA PAREDE (M4)
Fade Viragem na parede que permite fazer uma travagem para aproximar o surfista da bolsa ou para entrar no tubo
Pump turn Sucessão de viragens no eixo ântero-posterior da prancha, num ângulo inferior a 60 graus, criando energia para o deslize na parede
Mid face turn O mesmo que o pump tur, porém num ângulo superior a 60 graus
Cutback É uma viragem com uma amplitude entre 130 e 180 graus, alternando o sentido do deslize para voltar do ombro da onda para junto da bolsa
Round house Semelhante ao cutback, mas nesse caso a viragem supera 180 graus
Rebound Viragem no topo da onda, junto da bolsa, mas na continuação do roundhouse, para voltar a deslizar no sentido da rebentação
Quadro 3: Grupo M4. Virar na parede (MOREIRA, 2009).
2.3.5 Virar no topo
As viragens no topo, realizadas na seqüência de um bottom turn, são
efetuadas no eixo ântero-posterior da prancha, com o nariz da prancha a virar em
direção a base, com a rotação para o lado do bordo externo (MOREIRA, 2009). As
viragens na base estão incluídas no quinto grupo de manobras (M5). Fazem parte
24
desse grupo: top turn, vertical turn, over vertical turn, extended vertical turn, snap,
360, reverse 270, reverse 360.
VIRAR NO TOPO (M5)
Top turn Viragem no topo da onda antes de a prancha se encontrar na vertical em relação à linha do horizonte
Vertical turn A prancha inicia a viragem a partir de uma posição vertical relativamente a linha do horizonte
Over vertical turn A prancha inicia a viragem estando além da vertical em relação à linha do horizonte
Extended vertical turn
Seguindo uma projeção vertical, realiza-se uma rotação de 180 graus da prancha
Snap Viragem no topo, antes de a prancha se encontrar vertical em relação à linha do horizonte e com uma amplitude inferior a 270 graus
360 Viragem no topo realizando uma rotação completa para o lado do bordo interno
Reverse 270 Viragem de 270 graus para o lado do bordo externo terminando com a cauda da prancha para frente
Reverse 360 Rotação completa para o lado do bordo externo terminando com a cauda para frente
Quadro 4: Grupo M5. Virar no topo (MOREIRA, 2009).
2.3.6 Deslizar por cima
Os deslizes por cima surgem quando a onda tem uma seção que rebenta à
frente do surfista, sendo necessário deslizar horizontalmente, por cima desta, para
continuar no percurso da rebentação (MOREIRA, 2009). Neste sexto grupo de
manobras (M6) se inserem: curtain floater, floater reentry, lip floater, foam floater,
reverse 180 floater, 360 out floater e lip slide.
DESLIZAR POR CIMA (M6)
Curtain floater Quando no deslize por cima há uma viragem para o lado do bordo externo
Floater reentry O deslize por cima é efetuado com a trajetória horizontal transpondo a seção que rebentou, para terminar na seção seguinte, perto da bolsa, de forma a poder descer a parede da onda
Lip floater O deslize é efetuado ao longo do lábio da onda, na seção que começa a rebentar à frente do surfista
Foam floater Inicia na espuma e termina na espuma após o deslize horizontal
Reverse 180 floater
Uma viragem de 180 graus com a rotação para o lado do bordo externo, em simultâneo com o deslize, terminando com uma rotação de 90 graus para o lado do bordo interno, com a prancha perpendicular a linha da rebentação
360 out floater
Uma viragem com a rotação para o lado do bordo interno, em simultâneo com o deslize, acompanhando a rebentação e terminando com a prancha perpendicular a linha da rebentação
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Lip slide
Manobra iniciada com um top turn seguido de um deslize horizontal por cima, com a prancha perpendicular a linha da rebentação
Quadro 5: Grupo M6. Deslizar por cima (MOREIRA, 2009).
2.3.7 Aéreos
Manobras realizadas acima da onda (manobras aéreas) tendo a onda como
uma rampa de decolagem. Vale ressaltar que ao retornar à onda após um aéreo,
manobras dos grupos M4 e M6 são prováveis de transcorrer (MOREIRA, 2009). São
elas as manobras aéreas (M7): air, 90 air, 180 air, reverse 180 air, reverse 270 air,
360 air, reverse 360 air, 90 switch stance air, reverse 180 switch stance air, long
axis 360 air, transverse axis 90 air, transverse axis 360 air, transverse 90 frontal 90
air.
AÉREOS (M7)
Air A prancha perde contato com a onda de forma semelhante ao top turn. Efetua-se a uma rotação de aproximadamente 90 graus para o lado do bordo externo e finaliza com a recepção a onda
90 air
Inicia-se de modo semelhante ao vertical turn, efetuando-se a trajetória aérea, numa rotação de aproximadamente 90 graus (eixo ântero-posterior da prancha) para o lado do bordo interno e aterrissando de volta com a cauda da prancha para frente, o que implica deslizar no sentido da rebentação da onda na posição invertida e com a base trocada (inversão da posição dos pés. Pé esquerdo na frente e direito atrás ou vice-versa). Manobra também conhecida como alley-oop
180 air
Inicia-se de modo semelhante ao top turn, efetuando-se a trajetória aérea, numa rotação de aproximadamente 180 graus (eixo ântero-posterior da prancha) para o lado do bordo interno e aterrissando de volta com a cauda da prancha para frente, o que implica deslizar no sentido da rebentação da onda na posição invertida e com a base trocada (inversão da posição dos pés. Pé esquerdo na frente e direito atrás ou vice-versa)
Reverse 180 air
Inicia-se de modo semelhante ao vertical turn, efetuando-se a trajetória aérea, numa rotação de aproximadamente 180 graus (eixo ântero-posterior da prancha) para o lado do bordo externo e aterrissando de volta com a cauda da prancha para frente, o que implica deslizar no sentido da rebentação da onda na posição invertida e com a base trocada (inversão da posição dos pés. Pé esquerdo na frente e direito atrás ou vice-versa)
Reverse 270 air
Inicia-se de modo semelhante ao vertical turn, efetuando-se a trajetória aérea, numa rotação de aproximadamente 270 graus (eixo ântero-posterior da prancha) para o lado do bordo externo e aterrissando de volta com a cauda da prancha para frente, o que implica deslizar no sentido da rebentação da onda na posição invertida e com a base trocada (inversão da posição dos pés. Pé esquerdo na frente e direito atrás ou vice-versa)
360 air
Inicia-se de modo semelhante ao vertical turn, efetuando-se a trajetória aérea, numa rotação de aproximadamente 360 graus (eixo ântero-posterior da prancha) para o lado do bordo interno e aterrissando de volta na onda (MOREIRA,2009).
Reverse 360 air Inicia-se de modo semelhante ao top turn, efetuando-se a trajetória aérea, numa rotação de aproximadamente 450 graus (eixo ântero-posterior da prancha) para o lado do bordo externo e aterrissando de volta na onda
26
90 switch stance air
Inicia-se de modo semelhante ao vertical turn, efetuando-se a trajetória aérea, numa rotação de aproximadamente 90 graus (eixo ântero-posterior da prancha) para o lado do bordo interno, sem no entanto fazer a rotação do corpo, o que permite finalizar com a recepção na onda, com a cauda da prancha para frente, o que implica deslizar no sentido da rebentação da onda na posição invertida e com a base trocada (inversão da posição dos pés. Pé esquerdo na frente e direito atrás ou vice-versa)
Reverse 180 switch stance air
Inicia-se de modo semelhante ao top turn, efetuando-se a trajetória aérea, numa rotação de aproximadamente 180 graus (eixo ântero-posterior da prancha) para o lado do bordo externo, sem no entanto fazer a rotação do corpo, o que permite finalizar com a recepção na onda, com a cauda da prancha para frente, o que implica deslizar no sentido da rebentação da onda na posição invertida e com a base trocada (inversão da posição dos pés. Pé esquerdo na frente e direito atrás ou vice-versa) (MOREIRA,2009). Esta manobra também é conhecida como pop shuvit
Long axis 360 air
Inicia-se de modo semelhante ao vertical turn, efetuando-se a trajetória aérea, numa rotação de aproximadamente 360 graus, no eixo longitudinal da prancha, para o lado do bordo interno, retornando a onda com a cauda para frente
Transverse axis 90 air
Inicia-se de modo semelhante ao top turn, efetuando-se a trajetória aérea, numa rotação de aproximadamente 90 graus, no eixo transversal da prancha, para o lado do convés, seguida de uma rotação inversa, para o lado do fundo da prancha, finalizando com a recepção na onda
Transverse axis 360 air
Inicia-se de modo semelhante ao vertical turn, efetuando-se a trajetória aérea, numa rotação de aproximadamente 360 graus, no eixo transversal da prancha, para o lado do convés, sendo a finalização com a cauda da prancha para frente, deslizando no sentido da rebentação em posição invertida. Manobra também conhecida como rodeo
Transverse 90 frontal 90 air
Inicia-se de modo semelhante ao top turn, efetuando-se a trajetória aérea, numa rotação de aproximadamente 90 graus, no eixo transversal da prancha, para o lado do convés, e no eixo ântero-posterior, para o lado do bordo interno, seguida da rotação inversa, para o lado do bordo externo e do fundo da prancha, de forma a finalizar com a recepção na onda
Quadro 6: Grupo M7. Aéreos (MOREIRA, 2009).
2.3.8 Deslizar por dentro
Os deslizes por dentro são os conhecidos tubos. Acontecem quando o
surfista desliza por dentro da onda, ou seja, quando a rebentação (momento em que
o lábio despenca sobre a base (figura 1)) cria uma cortina de água capaz de
encobrir o surfista. Neste grupo (M8) encontram-se: cover up, tube, one grab tube e
stand up tube.
27
DESLIZAR POR DENTRO (M8)
Cover up Deslize na parede com a espuma a passar por cima, ficando dentro da onda, mas sempre visível
Tube
Deslize na parede coberto pela cortina de água resultante da rebentação, ficando dentro da onda para depois reaparecer saindo do tubo
One grab tube
Permite deslizar, por dentro da onda, com três pontos de contato, já que além dos pés há uma pega simples no bordo. Implicando uma grande flexão do tronco e das pernas
Stand up tube O surfista desliza dentro do tubo em pé e com a sua máxima altura
Quadro 7: Grupo M8. Deslizar por dentro (MOREIRA, 2009).
2.3.9 Final
Ao finalizar uma onda, o atleta pode executar uma série de técnicas
específicas (M9) conforme sua situação em relação à onda. O atleta finaliza uma
onda por desistência desta, ou seja, quando ele acredita não haver mais potencial
de pontuação, ou até mesmo por queda da prancha. Moreira, 2009, p. 105,
descreveu essas técnicas em sua obra. No entanto não serão aqui descritas cada
uma delas e sim, apenas citadas. São elas: kik out; pull out; step off; nose dive; bail
out dive; bail out jump; uncontrolled wipe out
Para melhor compreensão segue abaixo um quadro elaborado por Moreira
(2009) o qual é apresentado os grupos de manobras acima citados:
28
M1
Arranque
M2
Deslizar
na parede
M3
Virar na
base
M4
Virar na
parede
M5
Virar no
topo
M6
Deslizar
por cima
M7
Aéreo
M8
Deslizar
por dentro
M9
Final
Take-off Drop Bottom
turn
Fade Top turn Curtain
floater
Air Cover up Kick out
Angled
take-off
Angled
drop
180
bottom
turn
Pump turn Vertical
turn
Floater
reentry
90 Tube Pull out
Vertical
take-off
Reverse
drop
Reverse
180
bottom
turn
Mid face
turn
Over
vertical
turn
Lip floater Reverse 90 One grab
tube
Step off
180 drop Cutback Extended
vertical
turn
Foam
floater
180 Stand up
tube
Nose dive
Reverse
180 drop
Round
house
Snap Reverse
180
floater
Reverse 180 Bail out dive
Air drop Rebound 360 360 out
floater
Reverse 270 Bail out jump
Trim Reverse
270
Lip slide 360 Uncontrolled
wipe out
Hopping Reverse
360
Reverse 360
Stalling 90 switch
stance
Reverse 180
switch stance
Long axis
360
Transverse
axis 360
Transverse
axis 360
Transverse
90 frontal 90
Quadro 8: Grupos de manobras (MOREIRA, 2009)
29
2.4 O BOTTOM TURN
Tendo em vista que a presente pesquisa visa abordar especificadamente o
bottom turn, além do que ficou definido acima por Moreira (2009) cabe aqui um
complemento dado pelo mesmo autor em torno desta manobra. O bottom turn deve
ser executado, quando de frontside, através da flexão e inclinação do tronco à
frente, com os ombros paralelos à longarina, de forma a colocar o bordo interno da
prancha na água, seguida de uma extensão do tronco e das pernas ao longo da
viragem, até se iniciar a subida da parede. Por outro lado, quando efetuado de
backside, implica a rotação do tronco no mesmo sentido do deslize, com o braço da
frente na direção da parede da onda, para que os ombros fiquem perpendiculares à
longarina, possibilitando a aproximação do quadril à parede da onda, de forma a
colocar o bordo interno da prancha na água.
Além da definição dada acima por Moreira (2009) inserindo tal manobra no
grupo das viragens na base, encontra-se outras definições para tal. Dicas e Treino
Técnico (2009) preconizou que o bottom turn é a manobra mais importante do surf.
É considerado algo ignorado o qual se evitam perder tempo em seu
aperfeiçoamento. Nada mais é do que um conjunto de movimentos em “U” realizado
pelo surfista durante sua trajetória na onda.
Já para Leal (2006) o bottom turn pode ser definido como a manobra onde o
surfista faz uma curva na base da onda em direção da crista da mesma.
Brasil, Ramos e Terme (2010) definem tal manobra como: virada ou curva na
base da onda após o drop, definindo a direção a ser seguida (esquerda ou direita) e
antecedendo as manobras.
De forma a complementar as definições dadas de antemão, define-se aqui o
botoom turn como uma manobra caracterizada por uma curva na base da onda a
qual o surfista deve realizar com intuito de projetar-se à crista da mesma e efetuar
outra manobra em conseqüência desta.
Conforme as atribuições dos critérios de julgamento do surf, nota-se que a
execução de manobras na bolsa é fator determinante. No entanto, não há nada que
sugira uma prestação significativa na base da onda para que se atinja a bolsa
respeitando os critérios preestabelecidos. Daí o interesse e relevância do
30
desenvolvimento dessa pesquisa, procurando evidenciar que, quando a curva na
base da onda (bottom turn) é executada num maior tempo, permitindo que se
alargue esta curva, o surfista pode projetar melhor sua prancha e as manobras
subseqüentes de modo a atingir melhores resultados.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Tendo em vista que o objetivo do estudo é verificar a influencia de uma
variável quantitativa sobre outra, na modalidade esportiva “surf”, mediante analise
de vídeo, a presente pesquisa é caracterizada como descritiva observacional e
correlacional (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2007)
3.1 AMOSTRA
A pesquisa aborda a etapa brasileira da primeira divisão do circuito mundial
de surf profissional, o Hang Loose Santa Catarina Pro 2009. Dentro deste evento, o
estudo se limita as baterias de número dois e três das quartas de finais, bem como
as duas semifinais e a final, realizadas no dia 3/7/2009. Tais decisões são tomadas
a partir do momento em que se considera que houve estimável similaridade do
tamanho e formação das ondas neste dia, bem como da qualidade e do número de
manobras executadas pelos surfistas presentes nestas baterias. Vale advertir que a
partir das quartas de final se encontraram apenas os oito melhores surfistas desse
evento, sendo que tais baterias foram compostas por dois atletas cada, no sistema
de confronto denominado homem a homem com caráter eliminatório.
Para a realização da pesquisa, foi utilizado o recurso de vídeo onde se
analisou todas as duas ondas mais bem pontuadas, com os respectivos bottom
turns, de cada atleta presentes nas baterias referidas acima, num total de 20 ondas
analisadas com uma média de 6,80±1,44 bottoms turns efetuados por onda num
total de 136 reproduções desta manobra.
3.2 COLETA DE DADOS
Os vídeos, bem como os resultados, foram coletados do site oficial do evento,
o Hang Loose Santa Catarina Pro 2009 e permitiu plenas condições para a análise
31
observacional da técnica (bottom turn) analisada no estudo. Tais vídeos estão
disponíveis em Clicrbs (2009).
Considera-se a validade e confiabilidade das medidas a partir da elaboração
de um estudo piloto realizado com as duas baterias das semifinais a fim de verificar
a aptidão do avaliador em manusear o equipamento, bem como da reprodutibilidade
das medidas obtidas no estudo piloto através da análise de avaliação intra-
observador, a qual encontrou-se correlação muito alta de 0,924.
Para possibilitar a análise dos vídeos, foi feito o download dos vídeos através
do programa VDownloader. Já para a análise seletiva de cada bottom turn realizado,
foi utilizado o recurso de corte de vídeo, que permite selecionar e coletar trechos
específicos de um vídeo, disponível no programa Windows Movie Maker (Windows
Vista). Tais análises foram realizadas mediante um computador (notebook) Toshiba
Satellite® L305D-S5934.
3.3 PROCEDIMENTOS
Foram analisados todos os bottom turn efetuados em cada onda surfada.
Realizou-se um corte de vídeo para início e outro para o fim de cada representação
desta manobra, estabelecendo-se um trecho específico de vídeo o qual o tempo
desse trecho em segundos corresponde ao tempo de execução do bottom turn.
Para realizar o corte de início e fim dos trechos específicos do vídeo que
deve corresponder à execução do bottom turn adotou-se os seguintes critérios: o
bottom turn, curva na base da onda, deverá começar a ser computado a partir do
momento em que o surfista inicia uma única curva na base da onda que lhe permita
uma projeção contínua até a execução de uma manobra de ataque. Considera-se
que o bottom turn não é analisado como uma curva realizada exclusivamente na
base da onda, podendo este ter início na parede, no entanto passando
necessariamente pela base e voltando a terminar na parede ou no topo da onda
conforme a característica da manobra de ataque subseqüente. Fica definido aqui
que uma manobra de ataque corresponde aos grupos m4, m5, m6 e m7 propostos
por Moreira (2009). Para o grupo m5 (com exceção do snap), o bottom turn deixa de
existir a partir do momento que se considera que o fundo da prancha atingiu o lábio
32
da onda. Já para os grupos m4, m6 e m7 (incluindo o snap) o momento em que a
prancha se encontrar paralela ao lábio da onda caracterizará o fim do bottom turn.
A partir da obtenção dos dados referentes aos tempos de execução de cada
bottom turn, se estabeleceu uma média de tempo de bottom turn para cada onda
analisada. Tais médias de tempo de execução dessa manobra foram
correlacionadas com as notas atribuídas às respectivas ondas.
Já com o intuito de verificar se os atletas que venceram suas baterias nas
quartas de finais, semifinais e final foram os atletas que obtiveram maiores média de
tempo de bottom turn em suas ondas quando comparados a seus oponentes,
realizou-se, para cada bateria, a soma da média de tempo de bottom turn das duas
ondas de cada atleta para posteriormente comparar tais somas e averiguar se os
atletas que venceram os confrontos foram os que prolongaram os bottons turn em
suas ondas.
3.4 TRATAMENTO ESTATÍSTICO
Os dados foram agrupados em valores de médias e desvios padrão mediante
estatística descritiva.
A fim de verificar a normalidade dos dados que compõe as variáveis: média
de tempo de bottom turn a cada onda surfada e notas atribuídas às respectivas
ondas, adotou-se o teste de Shapiro-Wilk. Posteriormente, analisou-se o grau de
relação entre tais variáveis indicado pelo valor do “r” (coeficiente de correlação)
através da correlação linear de Pearson, adotando o nível de significância de
p < 0,05. Para o processamento desse tratamento utilizou-se o software SPSS 18.0.
O mesmo tratamento estatístico de correlação foi utilizado na mensuração da
reprodutibilidade do estudo piloto para se estabelecer a avaliação intra-observador.
33
4 RESULTADOS
As tabelas a seguir apresentam os dados coletados de cada bateria
analisada. Nelas são apresentados os tempos de execução de todos os bottom
turns realizados em cada onda, bem como a média de tempo de bottom turn por
onda e as respectivas notas atribuídas pelos juízes da competição. Na forma de
gráficos, são apresentadas as correlações encontradas em cada bateria entre as
variáveis tempo de bottom turn e nota atribuída, bem como as correlações entre as
mesmas variáveis, porém, tratando-se de todas baterias analisadas.
4.1 QUARTAS DE FINAL – BATERIA 2
Tabela 1: Resultados da segunda bateria de quartas de final. Atleta A contra atleta B. Duas melhores ondas de cada atleta.
Onda 1 (A) Onda 2 (A) Onda 1 (B) Onda 2 (B)
Tempo BT 1 (s) 1.37 1.20 1.63 1.47
Tempo BT 2 (s) 1.03 1.23 1.77 1.33
Tempo BT 3 (s) 1.10 1.00 1.20 1.43
Tempo BT 4 (s) 0.87 1.23 1.30 1.23
Tempo BT 5 (s) 0.93 1.07 1.00 1.17
Tempo BT 6 (s) 1.10 1.00 0.97 1.07
Tempo BT 7 (s) 0.93 0.77 0.97
Média de tempo BT (s) 1.07 1.09 1.23 1.24
Notas ASP 6.17 6.87 8.00 8.73
Legenda: BT - Bottom Turn. (s) – segundos. A - Atleta A. B - Atleta B. Notas ASP – Notas atribuídas
pelos juízes do evento que são vinculados a ASP.
Os resultados apresentados na tabela acima (tabela 1), quartas de final de
número 2 apontam uma similaridade no número de execuções de bottom turn por
onda. No entanto, observa-se valores superiores em relação a tempo de bottom turn
por parte do atleta B, sendo que as primeiras representações por onda são as que
apresentam maiores tempos. Além disso, percebe-se que a capacidade do atleta
em manter altos tempos de bottom turn durante seu percurso contribui de forma
significativa no estabelecimento de uma alta média de tempo de bttom turn.
Através da soma das médias de tempo de bottom turn das duas ondas de
cada atleta, constatou-se que o atleta que realizou bottom turns mais duradouros
venceu o duelo:
Soma de tempo de bottom turn do atleta A: 1.07 + 1.09 = 2.16
Soma de tempo de bottom turn do atleta B: 1.23 + 1.24 = 2.47
34
Figura 2: Correlação entre tempo de bottom turn (T_BT) e nota atribuída. Quartas de final 2
Observa-se também, segundo a figura 2, que há associação entre as duas
variáveis. Os maiores tempos de bottom turn se correlacionam com as maiores
notas. Neste caso, a correlação encontrada de 0,962 entre as variáveis tempo de
bottom turn e nota atribuída é muito alta (PESTANA & GAGEIRO, 2008).
35
4.2 QUARTAS DE FINAL – BATERIA 3
Tabela 2: Resultados da terceira bateria de quartas de final. Atleta A contra atleta B. Duas melhores ondas de cada atleta.
Onda 1 (A) Onda 2 (A) Onda 1 (B) Onda 2 (B)
Tempo BT 1 (s) 1.47 0.93 1.83 1.13
Tempo BT 2 (s) 1.30 1.23 1.27 1.03
Tempo BT 3 (s) 1.30 1.20 1.00 0.90
Tempo BT 4 (s) 1.23 0.93 1.13 1.03
Tempo BT 5 (s) 1.07 1.10 0.83 1.07
Tempo BT 6 (s) 1.17 0.97 0.80 1.17
Tempo BT 7 (s) 0.87 0.93
Tempo BT 8 (s) 0.93 1.13
Tempo BT 9 (s) 1.07
Tempo BT 10 (s) 0.80
Tempo BT 11 (s) 1.17
Média de tempo BT (s) 1.26 1.02 1.14 1.04
Notas ASP 7.50 5.67 6.50 7.10
Legenda: BT - Bottom Turn. (s) – segundos. A - Atleta A. B - Atleta B. Notas ASP – Notas atribuídas pelos juízes do evento que são vinculados a ASP.
Segundo os dados expostos na tabela acima, observa-se que na primeira
onda do atleta A, além de iniciar sua onda com alto tempo de bottom turn (1,47s),
percebe-se uma alta capacidade em manter bottom turns longos no decorrer da
onda. Tal fato explica a alta média de tempo dessa manobra na onda 1 do atleta A.
Observa-se entretanto, que o inverso ocorre para a segunda onda do atleta A,
acarretando numa baixa média de tempo (1.02s).
Já na primeira onda do atleta B, observa-se que o fato de não ser capaz de
manter execuções prolongadas de bottom turn durante o percurso contribuí na
diminuição da média de tempo de bottom turn. Em contra partida, a segunda onda
do atleta B demonstra a possibilidade de se manter os tempos de bottom turn
durante a trajetória numa onda, sendo que este, diferentemente de todos os demais,
foi capaz de realizar seu melhor tempo na realização da última manobra.
Ao analisar os dados provenientes da terceira bateria das quartas de final
(tabela 2) observa-se que parte da hipótese do estudo não se concretiza. Os
resultados apontam que o atleta que obteve maiores médias de tempo de bottom
turn não foi o vencedor do confronto:
Soma de tempo de bottom turn do atleta A: 1.26 + 1.02 = 2.28
36
Soma de tempo de bottom turn do atleta B: 1.14 + 1.04 = 1.18
Figura 3: Correlação entre tempo de bottom turn (T_BT) e nota atribuída. Quartas de final 3.
Contudo, conforme a figura 3, observa-se, segundo Pestana e Gageiro (2008)
uma moderada correlação de 0.681 entre as variáveis tempo de bottom turn e notas
atribuídas. Tal correlação pode ser explicada pelo fato de que a maior e menor nota
tiveram o maior e menor tempo de bottom turn respectivamente.
37
4.3 SEMIFINAIS – BATERIA 1
Tabela 3: Resultados da primeira bateria de semifinal. Atleta A contra atleta B. Duas melhores ondas de cada atleta.
Onda 1 (A) Onda 2 (A) Onda 1 (B) Onda 2 (B)
Tempo BT 1 (s) 1.30 2.20 1.37 1.87
Tempo BT 2 (s) 1.90 1.30 1.40 1.80
Tempo BT 3 (s) 1.40 1.50 1.63 0.97
Tempo BT 4 (s) 1.30 0.97 1.53 1.00
Tempo BT 5 (s) 1.07 0.93 0.93
Tempo BT 6 (s) 0.93 0.90 1.20
Tempo BT 7 (s) 1.03
Tempo BT 8 (s) 0.87
Tempo BT 9 (s) 0.93
Média de tempo BT (s) 1.19 1.49 1.29 1.30
Notas ASP 6.93 6.93 6.70 8.27
Legenda: BT - Bottom Turn. (s) – segundos. A - Atleta A. B - Atleta B. Notas ASP – Notas atribuídas
pelos juízes do evento que são vinculados a ASP.
A primeira bateria da semifinal, representada pela tabela 3, apresenta certa
complexidade nos dados que serão mais bem discutidos no capítulo seguinte.
Contudo, observa-se valores ressaltantes na segunda onda do atleta A. Há valores
elevados e que se sustentam no decorrer das manobras. No entanto adverte-se que
houve queda da prancha por parte do atleta na seqüência do quarto bottom turn.
Nas outras ondas, observa-se também valores elevados de bottom turn, porém, com
menores médias de tempo pelo fato de haver mais reproduções dessa manobra.
Ainda de acordo com os dados da tabela 3, nota-se que os mesmos não são
condizentes com a hipótese do estudo. O atleta vencedor não realizou bottom turns
mais duradouros em comparação ao seu adversário:
Soma de tempo de bottom turn do atleta A: 1.49 + 1.19 = 2.68
Soma de tempo de bottom turn do atleta B: 1.29 + 1.30 = 2.59
38
Figura 4: Correlação entre tempo de bottom turn (T_BT) e nota atribuída. Semifinal 1.
A correlação muito baixa, segundo Pestana e Gageiro (2008) de -0,064,
ilustrada na figura4, também não é a que se esperava segundo a hipótese do
estudo.
39
4.4 SEMIFINAIS – BATERIA 2
Tabela 4: Resultados da segunda bateria de semifinal. Atleta A contra atleta B. Duas melhores ondas de cada atleta.
Onda 1 (A) Onda 2 (A) Onda 1 (B) Onda 2 (B)
Tempo BT 1 (s) 1.07 1.20 1.23 1.37
Tempo BT 2 (s) 1.10 1.37 1.67 1.67
Tempo BT 3 (s) 1.03 1.07 1.20 1.63
Tempo BT 4 (s) 0.80 1.03 1.13 1.20
Tempo BT 5 (s) 1.00 1.13 0.87 0.93
Tempo BT 6 (s) 0.90 0.60 0.80 0.90
Tempo BT 7 (s) 1.20
Média de tempo BT (s) 0.98 1.07 1.15 1.27
Notas ASP 3.93 5.90 5.33 6.83
Legenda: BT - Bottom Turn. (s) – segundos. A - Atleta A. B - Atleta B. Notas ASP – Notas atribuídas
pelos juízes do evento que são vinculados a ASP.
Na tabela acima (tabela 4), observa-se certa linearidade dos dados. Os
bottom turns realizados por onda seguem uma decrescente. Percebe-se que os
maiores tempos de bottom turn estão inseridos nas ondas com maiores médias
dessa manobra.
A tabela ainda apresenta dados que corroboram com a hipótese desse
estudo. De fato o atleta com maiores valores de tempo médio de bottom turn venceu
o confronto:
Soma de tempo de bottom turn do atleta A: 0.98 + 1.07 = 2.05
Soma de tempo de bottom turn do atleta B: 1.15 + 1.27 = 2.42
40
Figura 5: Correlação entre tempo de bottom turn (T_BT) e nota atribuída. Semifinal 2.
Encontrou-se, segundo Pestana e Gageiro (2008) alta correlação de 0,879
entre as variáveis tempo de bottom turn e notas atribuídas, ilustrada na figura 5.
41
4.5 FINAL
Tabela 5: Resultados da bateria final. Atleta A contra atleta B. Duas melhores ondas de cada atleta.
Onda 1 (A) Onda 2 (A) Onda 1 (B) Onda 2 (B)
Tempo BT 1 (s) 1.07 1.53 1.57 1.30
Tempo BT 2 (s) 1.10 1.17 1.07 1.27
Tempo BT 3 (s) 1.03 1.27 1.80 1.73
Tempo BT 4 (s) 0.90 1.57 2.07 1.27
Tempo BT 5 (s) 0.90 1.23 1.13 1.57
Tempo BT 6 (s) 1.23 1.00 0.93 0.90
Tempo BT 7 (s) 0.87 1.13 1.43
Tempo BT 8 (s) 1.07
Média de tempo BT (s) 1.04 1.23 1.39 1.32
Notas ASP 6.67 8.00 8.67 9.27
Legenda: BT - Bottom Turn. (s) – segundos. A - Atleta A. B - Atleta B. Notas ASP – Notas atribuídas
pelos juízes do evento que são vinculados a ASP.
Na bateria final do evento (tabela 5), observa-se alguns altos valores de
tempo de bottom turn por parte dos dois atletas. No entanto, a maior capacidade de
sustentação dos tempos dessa manobra por onda culminou nas maiores médias de
tempo (ondas 1 e 2 do atleta B).
A hipótese desse estudo se concretizou nesse caso. O atleta com maiores
valores de tempo médio de execução de bottom turn venceu o confronto:
Soma de tempo de bottom turn do atleta A: 1.04 + 1.23 = 2.27
Soma de tempo de bottom turn do atleta B: 1.39 + 1.32 = 2.71
42
Figura 6: Correlação entre tempo de bottom turn (T_BT) e nota atribuída. Final.
Há, mais uma vez, correlação muito alta entre as variáveis tempo de
execução de bottom turn e notas atribuídas: 0.916
43
Ao fazer uma análise correlacional a fim de verificar o grau de associação
entre as variáveis média de tempo de execução de bottom turn por onda com as
respectivas notas atribuídas em todas as baterias analisadas (figura 7), encontrou-
se uma moderada correlação de 0.653.
Figura 7: Correlação entre tempo de bottom turn (T_BT) e nota atribuída em todas as baterias analisadas.
44
Ao excluir dessa análise a segunda onda do atleta A na primeira semifinal,
onda em que houve queda precoce da prancha por eventual erro do atleta,
percebe-se um aumento no valor da correlação (figura 8), encontrando-se assim
uma alto nível de correlação: 0.773.
Figura 8: Correlação entre tempo de bottom turn (T_BT) e nota atribuída em todas as baterias analisdas com exclusão da segunda onda do atleta A da primeira semifinal.
Percebe-se então a influência negativa que uma queda da prancha pode
exercer.
45
5 DISCUSSÃO
Conforme os resultados obtidos nessa investigação, frente ao problema que
condiz que quanto mais tempo se leva na execução de bottom turns, melhores
resultados podem ser alcançados em competições de alto nível de rendimento na
modalidade “surf”, algumas considerações podem ser arrogadas.
Segundo os critérios de julgamento preestabelecidos pela entidade
responsável em gerir o surf profissional em nível mundial, a ASP, o surfista deve
executar de forma controlada as manobras mais radicais, nas seções mais críticas
da onda, com velocidade, potência e naturalidade, para maximizar o potencial de
pontuação. Entretanto, conforme tais atribuições dos critérios, não há nada que
sugira uma prestação significativa na base da onda para que se atinja a bolsa
(seção mais crítica da onda) respeitando os critérios preestabelecidos.
Provavelmente, a execução de uma curva na base da onda pouco alargada
implicará numa projeção fora desses critérios, fazendo com que o surfista se afaste
dos aspectos exigidos.
Os resultados apresentados nas tabelas 1, 4 e 5, as quais apontam que as
somas das médias de tempo de bottom turn das duas melhores ondas dos atletas
vencedores foram superiores as somas das médias de tempo de bottom turn de
seus oponentes, corroboram com parte da hipótese do estudo que sugere que os
atletas que realizam bottom turns mais duradouros em suas baterias, quando
comparados a seus oponentes, podem vencer o duelo. Deste modo, pode-se
enaltecer a relevância do tempo de percurso de bottom turn, inferindo que, em 60%
dos casos, os atletas que se atenuaram a este aspecto levaram vantagem nos
confrontos. Vale ressaltar também que os altos valores encontrados na bateria final
(tabela 5) pode ser explicado pelo fato de se tratar da final do evento, onde
naturalmente encontram-se os atletas de nível técnico mais elevado. Logo, os
atletas buscaram realizar apresentações o mais eficazes possível. Já que se infere
que só com uma prestação de alto nível seria possível vencer o oponente.
Em contra partida, as tabelas 2 e 3 apresentam dados que conflitam com os
argumentos a cima. As somas das médias de tempo de bottom turn dos atletas
derrotados foram superiores as de seus oponentes. No entanto algumas discussões
46
podem ser feitas em torno dessa situação. No caso da tabela 2, quartas de final de
número 3, ressalta-se que o atleta B em sua melhor onda (onda 2) realizou 11
reproduções de bottom turn contra 6 da melhor do atleta A, concluindo-se que o
atleta B pode ter alcançado uma boa nota (7,10) pelo fato de ter sido capaz de
sustentar, por surpreendentes 11 vezes, seus tempos de bottom turn mesmo
quando a onda perdia tamanho, sendo que este foi capaz de realizar seu mais longo
bottom turn na execução de sua última manobra. Já na semifinal de número 1
(tabela 3), vale advertir que na segunda onda do atleta A, há queda da prancha na
realização da quarta manobra, fato este que influencia negativamente na atribuição
da nota, independente dos tempos de bottom turn. Já que a partir da média de
reprodução dessa manobra por onda (6,80±1,44), os quatro primeiros bottons turns
correspondem a aproximadamente a metade de execuções em uma onda,
contribuindo de forma negativa na atribuição da nota, pelo fato de o atleta deixar de
percorrer grande parte, aproximadamente metade, da extensão da onda que era
surfada.
Já em relação as correlações, observa-se que há associação entre as
variáveis tempo de bottom turn e notas atribuídas em 4 das 5 baterias estudadas
(80%). Segundo Pestana e Gageiro (2008) as figuras 2 e 6 apresentam um nível
muito alto de correlação (0,962 e 0,916 respectivamente), enquanto a figura 3
apresenta nível moderado (0,681) e a figura 5 apresenta um alto nível de
correlação (0,879). Concluindo que há um alto a muito alto nível de correlação para
60% dos casos. Tais correlações podem ser explicadas pelo fato de que quanto
mais tempo o surfista permanece num bottom turn, mais área na base da onda
pode ser percorrida, capacitando o surfista a projetar sua prancha de maneira
adequada, de tal modo que lhe permita desenvolver uma trajetória ideal que
subsidiará a manobra subseqüente e assim por diante.
No entanto, não foi encontrada correlação muito baixa para a primeira bateria
da semifinal. Neste caso, a correlação -0,064 pode ser justificada pelo fato de o
atleta A sofrer queda da prancha aproximadamente na metade do percurso que lhe
era oferecido nessa onda (onda 2), sendo que o mesmo vinha realizando bottom
turns bastante demorados. Ou seja, cair na metade de uma onda tem um maior
peso que contribui de forma negativa na atribuição da nota do que uma possível
elevação da nota por conta do tempo de execução dos bottom turns. No entanto
47
pode-se perceber, com exceção da onda de queda, que houve certa relação entre
tempo de bottom turn e notas atribuídas que evidencia um aumento de nota
consoante um aumento de média de tempo de bottom turn.
A análise correlacional geral, ou seja, envolvendo todas as notas e médias de
tempo de bottom turn investigadas na presente pesquisa, demonstrou que há, de
fato associação entre as variáveis. O nível moderado de 0,653 encontrado nessa
correlação foi negativamente influenciado pela onda de queda na primeira semifinal
(onda 2 do atleta A). Nesse sentido, ao excluir tal onda dessa análise percebeu-se
um aumento no valor da correlação (figura 8), encontrando-se assim uma alto nível
de correlação de 0.773 para as variáveis estudadas.
Entretanto, vale ressaltar que a metodologia adotada no estudo tem suas
limitações. Numa modalidade onde velocidade é um dos componentes do critério
de julgamento, parece antagônico direcionar uma pesquisa que supõe que quanto
mais tempo se gasta numa determinada ação, melhor será o resultado alcançado.
Outros estudos no mesmo âmbito, porém, com adaptações metodológicas podem
ser de legitimidade considerável.
Deve-se também considerar que a reprodução desse estudo em outras
situações, outros eventos com outras características de ondas, será de grande
relevância. Uma possível aquisição de resultados semelhantes em outras ocasiões
fortaleceria a afirmação de que se obtêm melhores resultados quando se atenta a
execução de bottom turns.
Considera-se a contribuição do estudo pelo fato de colocar em prova que
uma manobra que ocasionalmente, ou equivocadamente foi considerada, segundo
Dicas e Treino Técnico (2009) algo ignorado pelos colaboradores da modalidade
pode, na realidade, ser fator contribuinte no rendimento esportivo de atletas de surf.
Entretanto, cabe advertir que a escassez de estudos científicos em torno
desta modalidade, dificultou no processo de formulação desta discussão. O fato de
não haver estudos que se relacionem com o tema em questão, impediu que se
houvessem possíveis comparações com os resultados aqui encontrados.
48
6 CONCLUSÃO
Conforme os objetivos estabelecidos inicialmente no estudo que implica em
analisar a execução de bottom turns efetuados numa onda e a possível influência
que esta técnica pode exercer no resultado das baterias. Atentou-se a hipótese que
sugere que os surfistas que realizam bottoms turns mais longos e duradouros em
suas ondas, quando comparados aos seus adversários podem atingir maiores notas
nas baterias e, portanto vencer os confrontos. Por conseqüência disso pode haver
correlação entre tempo de execução de bottom turn e nota atribuída.
Os resultados apresentados dão subsídio à esta hipótese e enaltecem a
relevância do bottom turn. De acordo com as cinco baterias investigadas,
constatou-se que em 60% dos casos, os atletas que executam bottom turns mais
duradouros quando comparados aos seus oponentes vencem os confrontos.
Percebeu-se também que foi encontrada associação entre as variáveis para 4 das 5
baterias analisadas, ou seja, para 80% dos casos. Sendo que 60% das correlações
podem ser consideradas altas a muito altas (PESTANA & GAGEIRO, 2008). Por fim
ao realizar uma correlação geral, ou seja, uma correlação entre todos os tempos
médios de bottom turn com todas as notas atribuídas, encontrou-se uma moderada
correlação de 0,653, sendo que ao excluir dessa análise a onda de queda (onda 2
do atleta A na primeira semifinal) verificou-se uma alta correlação de 0,773.
Como ficou evidenciado, há associação entre as variáveis estudadas.
Podendo assim concluir que o bottom turn é um aspecto técnico fundamental na
construção de manobras subseqüentes que se adéqüem aos critérios de julgamento
do surf. É possível, de fato, obter melhores resultados quando se atenta a esse
feitio. Quanto mais tempo o surfista permanece num bottom turn, mais área na base
da onda será percorrida, capacitando o surfista a projetar sua prancha de maneira
adequada a fim de aproximar-se o máximo possível dos critérios de julgamento
preconizados pela comissão de arbitragem do surf.
Releva-se a contribuição dessa investigação em prol do surf pelo fato de
colocar em prova importância do bottom turn. O fato de haver associação entre
curva na base da onda com o rendimento demonstra que um detalhe pode fazer a
diferença nas competições de alto nível. Uma manobra que parece passar
despercebida pode estar influenciando nos resultados, nas condições de atribuição
49
de notas por parte dos juízes. Nesse sentido esse estudo pode contribuir para o
desenvolvimento da performance de atletas de surf evidenciando um aspecto
técnico que deve ser levado em consideração no processo de treinamento dos
surfistas que visam o rendimento esportivo.
No entanto, a realização de novos estudos na área do surf se faz necessária
na atualidade. Numa modalidade onde se é concedido ao Brasil o posto de terceira
potência mundial, parece inconcebível a escassez de estudos científicos que
venham a colaborar com o desenvolvimento desse esporte. Sendo assim, espera-se
que aqueles que convergem com esse objetivo em comum sejam passiveis a
disseminação de seus conhecimentos, para daí então se iniciar um processo de
profissionalismo em nível de treinamento, já que só há um processo eficaz de
treinamento esportivo a partir do momento que se dispõe de ciência, pesquisas que
sejam capazes de subsidiar o treinamento do surf direcionado ao alto rendimento.
50
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52
GLOSSÁRIO
Bordo da prancha: Está relacionado com as bordas da prancha, as extremidades
laterais da mesma.
Cauda da prancha: Extremidade inferior da prancha. É nesta parte da prancha que
se apóia o pé traseiro. Também chamada de rabeta.
Fundo da prancha: Parte da prancha que está em contato com a superfície da água
durante o surf.
Longarina da prancha: Linha de madeira inserida no meio da prancha paralelo aos
bordos que vai da extremidade superior a inferior.
Quilhas da prancha: São inseridas no fundo da prancha, próximas a cauda e tem
por função dar controle a prancha.
Seção da onda: Parte da parede da onda que quebra a frente do surfista.