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i UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE BIOLOGIA TESE DE DOUTORADO AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE MICROBIOTA ORIGINADA DE RESERVATÓRIOS DE PETRÓLEO PARA BIORREMEDIAÇÃO EVALUATION OF THE BIOREMEDIATION POTENTIAL OF MICROORGANISMS ORIGINATED FROM PETROLEUM RESERVOIRS Bruna Martins Dellagnezze Campinas- São Paulo Janeiro/ 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE BIOLOGIA

TESE DE DOUTORADO

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE MICROBIOTA ORIGINADA DE

RESERVATÓRIOS DE PETRÓLEO PARA BIORREMEDIAÇÃO

EVALUATION OF THE BIOREMEDIATION POTENTIAL OF

MICROORGANISMS ORIGINATED FROM PETROLEUM RESERVOIRS

Bruna Martins Dellagnezze

Campinas- São Paulo

Janeiro/ 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE BIOLOGIA

BRUNA MARTINS DELLAGNEZZE

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE MICROBIOTA ORIGINADA DE

RESERVATÓRIOS DE PETRÓLEO PARA BIORREMEDIAÇÃO

EVALUATION OF THE BIOREMEDIATION POTENTIAL OF MICROORGANISMS

ORIGINATED FROM PETROLEUM RESERVOIRS

Tese apresentada ao Instituto de Biologia da UNICAMP, obtenção do título de doutora em Genética e

Biologia Molecular, na área de Genética de Microorganismos.

Thesis presented of Biology Institute of University of Campinas in partial fulfillment of the requirements

for the degree of Doctor in Genetics and Molecular Biology, in the area of

Genetics of Microorganisms

Orientadora: Dra. Valéria Maia Merzel

Co-orientadora: Dra. Suzan Pantaroto de Vasconcellos

Este exemplar corresponde á versão final da tese defendida pela aluna Bruna Martins Dellagnezze e orientada pela Dra. Valéria Maia Merzel

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Campinas, 22 de janeiro de 2015

BANCA DE EXAMINADORA

Dra. Valéria Maia Merzel (orientadora)

Profa. Dra. Vânia Maria Maciel Melo __________________

Prof. Dr. Welington Luiz Araújo _______________

Dra. Lucélia Cabral __________________

Profa. Dra. Marta Cristina Teixeira Duarte _________________

Profa. Dra. Fabiana Fantinatti-Garboginni ________________ Prof. Dr. Anderson de Souza Sant'Ana __________________

Prof. Dr. Fernando Dini Andreote _________________

Profa. Dra. Laura Mariscal Ottoboni _______________

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ABSTRACT

Pollution is a global environmental problem widely discussed, including oil spills that occur

accidentally or due to human activities, which cause huge environmental and economic

impacts. Bioremediation process uses biological agents, associated or not to other

compounds like biosurfactants or even their enzymes, to mineralize or complex organic

and inorganic pollutant compounds, transforming them into inert or non-toxic

compounds. Thus, bioremediation represents an ecofriendly and effective way to treat

impacted areas. In this work, the biodegradation potential of clones obtained from

metagenomic libraries and bacterial isolates, all originated from Brazilian petroleum

reservoirs, was evaluated in microcosm and mesocosm scale aiming at a future application

in bioremediation process. In the first assay, microorganisms were evaluated as free cells,

in 50 mL-volume of artificial seawater and using crude oil as sole carbon source. The

experiment was monitored each seven days during 21 days. Further, the best performing

microorganisms were selected, immobilized in chitosan beads and evaluated in microcosm

assays, at different scales, during 21 and 30 days. Finally, in the last experiment, one

consortium containing four metagenomic clones and a Bacillus subtilis strain was

evaluated in mesocosmos assay in 3000 L-volume of non-sterile seawater. Parameters

such as total counting of microorganisms by DAPI and biological oxygen demand (BOD)

were evaluated, and petroleum degradation was monitored by chromatographic analysis.

Results demonstrated the ability of the microorganisms to degrade aliphatic and aromatic

hydrocarbons. In microcosms, using free cells, the strains of Dietzia maris and Micrococcus

sp. showed the best performance, reaching 99% of aliphatic hydrocarbon degradation and

63-99% of aromatic compound degradation in 21 days. Among metagenomic clones, clone

2B presented the best performance to degrade aliphatic (47%) and aromatic hydrocarbons

(94%). In chitosan beads, the microorganisms were also able to degrade crude petroleum,

showing percentages between 90 and 100% for aliphatic hydrocarbons and 70 and 100%

to aromatic. The results gathered in this work demonstrate that a microbial consortium

containing metagenomic clones and one bacterial strain is able to achieve high extents of

hydrocarbon degradation, offering a promising tool to be further used in bioaugmentation

approaches for treating contaminated environments.

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RESUMO

A poluição é um problema mundial amplamente discutido, incluindo os derramamentos

de petróleo ocorridos através de acidentes ou por atividades humana, os quais acarretam

grande impacto ambiental e econômico. O processo de biorremediação utiliza micro-

organismos, associados ou não a outros compostos como biossurfactantes e até mesmo

enzimas, com o objetivo de transformar compostos orgânicos em inorgânicos, levando à

formação de compostos inertes ou não tóxicos. Deste modo, a biorremediação representa

um modo efetivo e sustentável para se tratar áreas contaminadas. Neste trabalho foi

possível avaliar o potencial de clones metagenômicos obtidos a partir da construção de

uma biblioteca fosmidial e de linhagens de bactérias, todos provenientes de amostras de

petróleo de reservatórios brasileiros em escala de microcosmos e mesocosmos, visando

futura aplicação em processos de biorremediação. Em um primeiro ensaio os micro-

organismos foram avaliados na forma livre, em 50 mL de água do mar artificial e petróleo

bruto como única fonte de carbono, a cada sete dias durante 21 dias. Posteriormente, os

micro-organismos com melhor potencial de biodegradação foram selecionados e

aprisionados em esferas de quitosana e testados novamente em microcosmos, em

diferentes escalas, durante 21 e 30 dias. Com base nos resultados observados nos ensaios

de degradação em microcosmos, um último ensaio foi realizado empregando-se um

consórcio contendo quatro clones metagenômicos e uma linhagem de Bacillus subtilis, o

qual foi avaliado em ensaio de mesocosmos em 3000 litros de água do mar não-estéril.

Nesta etapa, parâmetros como a contagem total dos micro-organismos (DAPI) e a

demanda biológica de oxigênio (DBO) foram avaliados, e a cromatografia gasosa (CG) foi

empregada para avaliar a degradação de hidrocarbonetos do petróleo. Os resultados

demonstraram a capacidade desses micro-organismos em degradar compostos do

petróleo bruto, tanto hidrocarbonetos alifáticos como aromáticos. Em microcosmos, na

forma livre, as linhagens de Dietzia maris e Micrococcus sp. apresentaram o melhor

desempenho, alcançando ao final de 21 dias 99% de degradação de hidrocarbonetos

alifáticos e de 63-99% de degradação de aromáticos (fenantreno e metilfenantreno).

Dentre os clones, o clone 2B apresentou o melhor desempenho para degradar tanto

hidrocarbonetos alifáticos (47%) como aromáticos (94%). Na forma aprisionada, os micro-

organismos também apresentaram capacidade para degradar petróleo bruto em

mesocosmos, exibindo valores de degradação de 90 a 100 % para hidrocarbonetos

saturados e 70 a 100% para aromáticos, ao final de 30 dias de avaliação. Os resultados

indicam um resultado promissor e inédito, onde um consórcio combinado contendo

clones metagenômicos e Bacillus subtillis pode ser futuramente utilizado em estratégias

de bioaumento, em sistemas de contenção, como ferramenta para biorremediação de

ambientes contaminados com hidrocarbonetos.

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SUMÁRIO

página

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................................15

2. REVISÃO DA LITERATURA...............................................................................,.............................17

2.1. Microbiologia do petróleo..................................................................................................17

2.2. Derramamentos de petróleo..............................................................................................19

2.3. Biorremediação.................................................................................................................23

2.4. Bioaumentação utilizando organismos geneticamente modificados (OGM)..................... 29

2.5 Biorremediação e o uso de biossurfactantes.......................................................................32

2.6 Genes de degradação de hidrocarbonetos..........................................................................35

2.7 Metagenômica.....................................................................................................................41

2.8 Referências Bibliográficas....................................................................................................46

CAPÍTULO 1. Potencial de microbiota derivada de reservatórios de petróleo para biorremediação …………........................................................................................................53

CAPÍTULO 2. Avaliação e otimização da produção de biossurfactantes por micro-organismos de reservatórios de petróleo.............................................................................63

2.1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................................63

2. MATERIAL E MÉTODOS..................................................................................................................64

2.2.1. Delineamento experimental para otimização da produção de biossurfactantes............65

2.2.2. Ensaios de tensiometria.................................................................................................66

2.2.3. Ensaios de emulsificação (E24)........................................................................................66

2.2.4. Imobilização dos micro-organismos em quitosana.........................................................67

2.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................................69

2.3.1. Otimização da produção de biossurfactante por planejamento Placket-Burman.......... 69

2.3.2. Ensaios de emulsificação (E24)........................................................................................90

2.3.3. Imobilização dos micro-organismos em quitosana.........................................................95

2.4. CONCLUSÕES..............................................................................................................................98

2.5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................................98

CAPÍTULO 3. Avaliação da estratégia de imobilização microbiana para a degradação do petróleo em microcosmos..........................................................................................................103

3.1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................103

3.2. MATERIAL E MÉTODOS.....................................................................................................104

3.2.1. Ensaios de degradação em microcosmos.....................................................................104

3.2.2 Ensaios de degradação em tanques................................................................................106

3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................................109

3.3.1. Ensaios de degradação em microcosmos.......................................................................109

3.3.2. Ensaios de degradação em tanques..............................................................................115

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3.4.CONCLUSÕES.............................................................................................................................119

3.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................................120

CAPÍTULO 4. Avaliação da estratégia de bioaumento utilizando micro-organismos imobilizados para biorremediação de petróleo em mesocosmos....................................123

4.1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................................123

4.2. MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................................................124

4.2.1 Ensaios em mesocosmos .........................................................................................124 4.2.2. Contagem total de micro-organismos.....................................................................125

4.2.3. Demanda Biológica de Oxigênio (DBO)...................................................................125

4.2.4. Contagem dos micro-organismos heterotróficos....................................................126

4.2.5. Análises de cromatografia gasosa (CG- FID)............................................................126

4.2.6. Análise de Escalonamento Multidimensional não–métrico (nMDS)........................127

4.2.7. Sequenciamento das amostras de DNA dos mesocosmos......................................127

4.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................................128

4.3.1. Contagem total de micro-organismos.....................................................................128

4.3.2. Contagem dos micro-organismos heterotróficos....................................................129

4.3.3. Demanda Biológica de Oxigênio (DBO).....................................................................130

4.3.4. Degradação dos hidrocarbonetos saturados............................................................131

4.3.5. Degradação dos hidrocarbonetos aromáticos..........................................................132

4.3.6. Análise de Escalonamento Multidimensional não–métrico (nMDS).........................136

4.3.7. Sequenciamento do gene RNAr 16S das amostras dos mesocosmos........................138

4.4 CONCLUSÕES.............................................................................................................................143

4.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................................146

4.6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................146

ANEXO: Aprovação do Comitê Interno de Biossegurança (CIBio).................................................151

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Agradecimentos

Primeiramente a Deus, que sempre me conduz nos momentos bons e nos mais

difíceis, pois sem Sua força, eu nada seria;

À minha família, meu porto seguro, meus amados pais Rene e Silvana, e minha

querida irmã Beatriz, por todo amor, paciência e apoio, que mesmo de longe pude sempre

contar;

Aos meus queridos tios e tias, primos e primas, que direta ou indiretamente me

ajudaram nessa jornada;

À minha co-orientadora, Dra. Suzan Vasconcellos, pela paciência, apoio,

atenção, dedicação e amizade e que tem me dado desde o mestrado e agora, mesmo mais

distante, obrigada por toda a sua ajuda!

À minha orientadora Dra. Valéria Maia Merzel, uma pessoa que admiro muito,

obrigada por todos esses anos de convivência, por toda a paciência, ensinamentos e por

todo o apoio. Por ter me possibilitado enxergar as coisas de um modo novo! Obrigada

pelas oportunidades que foram tão valiosas para a minha vida profissional, mas

principalmente para minha vida pessoal!

Aos meus queridos amigos de longa data, Vanessa e Paulo, que há muito tempo

estão na minha vida compartilhando tantos altos e baixos! Obrigada por estarem do meu

lado também nessa jornada, sempre dando apoio e incentivo! E tenho certeza que

estaremos compartilhando outras etapas de nossas vidas!

Flávia (Florzinha), e João Kléber amigos queridos que mesmo de longe, obrigada

pelo apoio, amizade e incentivo!

Aos meus queridos do laboratório, Maria Rafa, Natália, Dai, Vivi (por todos os

momentos!!), Alysson, Dani, Júlia, Éricka, Michel, Fernando, Mariana Neri, Mariana

Barato, Gileno, Sanderson, Elmer, Milena, Milene, Jaque, Tulio, Babu, Pati, Claudia,

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Samantha. Com certeza meus dias no laboratório (e fora dele também) foram bem

melhores com vocês por perto!

Á profa. Georgiana Feitosa da Cruz da Universidade Estadual do Norte

Fluminense (UENF) pela parceria ao longo desse trabalho;

Á profa. Vânia Melo, Alysson Angelim e todos os colegas do laboratório de

Ecologia Microbiana da Universidade Federal do Ceará (UFC) pelo apoio e parceria nesse

trabalho;

Ao Dr. Simone Cappello do Instituto per l’Ambiente Marino Costiero (IAMC),

em Messina (Itália), pelo empenho em auxiliar-me nos meus experimentos, por ter me

recebido tão bem em seu laboratório e proporcionado muitos bons momentos de

convivência no melhor estilo italiano!

Aos colegas do mesmo Instituto, Sanny, Gianluca, Anna, Giovanni, Saida,

Martina, Francesco, Gabriele, Francesca, Daniela por tantos bons momentos e apoio nessa

etapa do trabalho!

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo suporte

financeiro, indispensável à realização deste trabalho;

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1. INTRODUÇÃO

O petróleo cru é uma mistura complexa e heterogênea contendo dezenas de

milhares de compostos orgânicos quimicamente distintos (Fernandez-Lima et al., 2009).

Geralmente são agrupados em quatro frações de acordo com sua solubilidade em

solventes orgânicos: hidrocarbonetos saturados, hidrocarbonetos aromáticos, resinas e

asfaltenos. Desde a primeira observação de micro-organismos viáveis em águas de campo

de petróleo (Bastin et al., 1926), tem havido um debate sobre a existência de uma

microbiota autóctone em reservatórios de petróleo (Magot et al., 2000).

Derramamentos acidentais de petróleo no mar vêm sendo reportados ao longo dos

anos (Vieites et al., 2004; Wieczorek et al, 2007; Outdot & Chaillan, 2010). A liberação de

grande quantidade de óleo em sistemas marinhos acarreta grande impacto ambiental,

afetando de maneira geral toda a cadeia trófica envolvida, direta ou indiretamente. Desde

o fitoplâncton até grandes mamíferos são afetados, sendo que o aproveitamento de

recursos é comprometido, influenciando diretamente na alimentação e reprodução

desses organismos (Perelo, 2010; Peterson et al., 2003). Esses danos podem ocorrer

imediatamente e persistir, em alguns casos, por décadas. Além de danos causados ao

meio ambiente, do mesmo modo, vazamentos acidentais de petróleo podem causar

impactos aos seres humanos, ocasionando danos psicológicos e econômicos àquelas

populações que dependem economicamente dos recursos marinhos, como por exemplo,

comunidades de pescadores.

Técnicas de remediação já são descritas e aplicadas a ambientes contaminados,

porém algumas tratam apenas fisicamente, promovendo a remoção da contaminação. A

biorremediação é uma estratégia que utiliza micro-organismos e seu potencial metabólico

para a despoluição e a restauração de ambientes, possibilitando a completa

decomposição de compostos químicos. Essa técnica se apresenta como menos custosa,

mais simples no manejo e ecologicamente mais adequada do que as outras (Lovely, 2003).

O processo de biorremediação envolve duas técnicas principais: bioaumentação e

bioestimulação. A bioestimulação consiste na adição de nutrientes, como fontes de

nitrogênio e fósforo, e outros substratos, como água, oxigênio e até mesmo surfactantes

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(ou biossurfactantes), com o intuito de promover o aceleramento do metabolismo dos

micro-organismos em uma determinada área, aumentando assim a degradação de

compostos xenobióticos (Luqueño et al, 2011). Biossurfactantes são moléculas

estruturalmente diversas sintetizadas biologicamente e classificadas de acordo com sua

estrutura química e sua origem. São constituídas por uma porção hidrofílica,

compreendendo um grupo ácido, peptídeos, mono, di ou polissacarídeos, e uma porção

hidrofóbica, composta por cadeias de ácidos graxos ou de hidrocarbonetos saturados ou

insaturados. Essas estruturas conferem muitas propriedades, incluindo a capacidade de

diminuir a tensão superficial e interfacial entre líquidos e também a formação de

microemulsão entre duas fases diferentes (Banat et al., 2010). A biodegradação de

hidrocarbonetos torna-se mais eficiente com a adição de biossurfactantes, os quais

podem acelerar a biorremediação de solos e águas contaminadas por petróleo através da

diminuição da tensão superficial óleo – água, aumentando a solubilidade e assim a

mobilidade de compostos hidrofóbicos, tais como os hidrocarbonetos (Tango & Islam,

2002).

Bioaumentação consiste na adição de culturas microbiana especializadas, as quais

são cultivadas sob condições ideais para desempenhar determinada função

biorremediadora em um dado ambiente contaminado (in situ ou em biorreator) (Silva &

Alvarez, 2010). Embora as técnicas de cultivo tenham sido aprimoradas, sabe-se que

apenas uma pequena fração da diversidade microbiana presente na natureza pode ser

hoje cultivada em laboratório (Amann et al., 1995). Metodologias moleculares

desenvolvidas nas últimas décadas (extração de ácidos nucléicos, amplificação por PCR,

clonagem e seqüenciamento de DNA) têm sido otimizadas e adaptadas para superar as

limitações impostas pela abordagem clássica de estudo de populações microbianas,

evitando o isolamento e cultivo dos microrganismos. A utilização destas metodologias

vem permitindo uma avaliação mais precisa da diversidade microbiana no ambiente e a

descoberta de novos grupos de organismos, nunca antes cultivados (Hugenholtz et al.,

1998). O uso destas metodologias associado à estratégia de bibliotecas metagenômicas

nos permite ter acesso ao potencial metabólico destes novos organismos. Neste contexto,

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a utilização de OGM com potencial em biorremediação vem sendo relatada (Sayler & Ripp,

2000; Timmis et al., 1999; Pandey et al., 2005; Menn et al., 2008).

O presente trabalho apresenta a avaliação de oito micro-organismos, quatro

linhagens isoladas de reservatórios de petróleo e quatro clones metagenômicos

provenientes de bibliotecas metagenômicas construídas a partir de amostras de petróleo,

em ensaios de biorremediação de petróleo e seus componentes em diferentes em escalas.

Os resultados demonstraram o potencial de um consórcio microbiano contendo clones

metagenômicos e uma linhagem de Bacillus subtilis imobilizados em quitosana para

degradar petróleo bruto em água do mar contaminada, em ambas as escalas de

microcosmos e mesocosmos. O emprego de clones fosmidiais e isolados provenientes de

reservatórios de petróleo constitui uma estratégia inovadora, podendo ser aplicada em

processos de biorremediação em sistema de contenção.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Microbiologia do Petróleo

O petróleo é constituído por uma complexa mistura de hidrocarbonetos, como

compostos aromáticos entre outros compostos como ácidos orgânicos, ácidos naftênicos,

e vanádio e níquel (Van Hamme, 2003; Magot et al., 2000). Hidrocarbonetos são

compostos formados por carbono e hidrogênio e podem ser classificados quanto à sua

estrutura em cíclicos ou alifáticos e aromáticos (benzênicos e policíclicos) (Heider et al.,

1999). Os hidrocarbonetos aromáticos são constituídos por um anel benzênico como parte

de sua estrutura molecular. Os dois principais grupos de hidrocarbonetos aromáticos são

os compostos monocíclicos (benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno) e os hidrocarbonetos

policíclicos aromáticos (HPAs), tais como naftaleno, antraceno, fenantreno, dentre outros

(Holliger & Zehndert, 1996).

O uso do petróleo e seus derivados tem feito de seus hidrocarbonetos grande fonte

contaminadora, tanto em prevalência como em quantidade no meio ambiente. Vários

componentes dentre esses hidrocarbonetos são degradáveis, porém existem outros

compostos de característica recalcitrante, dependendo de sua estrutura química e estado

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físico. O petróleo bruto é composto principalmente de alcanos lineares e ramificados,

cicloalcanos e aromáticos. No entanto, estão presentes também outros compostos

associados a moléculas de oxigênio, nitrogênio, e enxofre, como fenol, indol e tiofeno,

respectivamente. A classe dos alcenos está presente em muitos produtos provenientes do

refino do petróleo, não ocorrendo no petróleo bruto, sendo obtidos principalmente

através do processo de craqueamento em altas temperaturas. Compostos mais pesados,

como asfaltenos, estão presentes no petróleo bruto, mas não em frações refinadas (Tyagi

et al, 2011).

A capacidade de sobrevivência dos micro-organismos em reservatórios de petróleo

depende das características físico-químicas deste ecossistema, como pH, salinidade e

temperatura, sendo esta última o principal fator limitante para o crescimento microbiano.

Diferentes tipos de dados sugerem que a presença de bactérias indígenas aos

reservatórios estaria limitada a um intervalo de temperatura entre 80 e 90oC (Magot et

al., 2000).

Pesquisas realizadas sobre a microbiologia de reservatórios de petróleo têm

evidenciado que a comunidade microbiana associada a este tipo de ambiente é

representada por bactérias e arquéias de distribuição geográfica bastante ampla, e que

diversos destes organismos têm potencial para transformar compostos orgânicos e

inorgânicos, atuando na interface óleo-água dos reservatórios (Coates et al., 1997; Korda

et al., 1997). Na literatura é descrita uma ampla variedade de micro-organismos que tem

sido isolada e/ou identificada a partir de reservatórios de petróleo, incluindo grupos

aeróbios (Bacillus sp., Halomonas sp., Acinetobacter sp.; Rhodococcus sp.) (Oliveira et al.,

2008; Sette et al., 2007; Orphan et al., 2000), anaeróbios facultativos (Deferribacter,

Flexistipes) (Greene et al., 1997; Silva et al. 2012), redutores de sulfato (Desulfovibrio,

Desulfobacter) (Kleikemper et al., 2002; Jing et al., 2013), metanogênicos

(Methanothermococcus, Methanocalculus sp., Methanococcus sp.) (Takai et al., 2002;

Yoshida et al., 2003; Hui et al., 2007 ) e fermentativos.

Entretanto, geralmente, uma só espécie de micro-organismo não é capaz de

promover a degradação completa da mistura de hidrocarbonetos, sendo necessária a

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atuação de consórcios microbianos munidos de uma ampla variedade enzimática capaz de

agir sobre os compostos aromáticos (por exemplo, benzeno, tolueno, naftaleno)

(Okerentungba & Ezeronye, 2003; Kanaly & Harayama, 2000). Nesta situação, os produtos

da biotransformação de um composto podem servir como fonte de carbono e energia

para outras espécies da comunidade (Röling et al., 2003).

2.2 Derramamentos de petróleo

Derramamentos acidentais de petróleo no mar vêm sendo reportados ao longo dos

anos (Vieites et al., 2004; Wieczorek et al, 2007; Outdot & Chaillan, 2010). A liberação de

grande quantidade de óleo em sistemas marinhos acarreta grande impacto ambiental,

afetando de maneira geral toda cadeia trófica envolvida, direta ou indiretamente. Desde o

fitoplâncton até grandes mamíferos são afetados, sendo que o aproveitamento de

recursos é comprometido, influenciando diretamente na alimentação e reprodução

desses organismos (Perelo, 2010; Peterson et al., 2003). Esses danos podem ocorrer

imediatamente e persistir, em alguns casos, por décadas. Além de danos causados ao

meio ambiente, do mesmo modo, vazamentos acidentais de petróleo podem causar

impactos aos seres humanos, ocasionado danos psicológicos e econômicos àquelas

populações que dependem economicamente dos recursos marinhos, como por exemplo,

comunidades de pescadores. Um estudo comparativo realizado no ano de 2012 avaliou a

saúde mental de habitantes de comunidades afetadas nos casos Exxon Valdez e

Deepwater Horizon. Foram observados quadros de elevado estresse e depressão,

principalmente ligados à preocupação com a saúde por exposição ao óleo, perda da

cultura com relação aos recursos naturais, assim como perda econômica e sobrevivência

futura daqueles que não tinham mais os mesmos recursos para explorarem (Gill et al.,

2012).

Alguns casos envolvendo derramamento de petróleo foram amplamente relatados

ao longo dos últimos anos, no entanto nesta seção serão descritos em maior detalhe

apenas os dois principais casos que ocorreram no continente americano, o caso do

petroleiro Exxon Valdez, em 1989, e do poço de exploração Deepwater Horizon, um duto

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que se rompeu, explodindo uma plataforma, envolvendo a empresa British Petroleum

(BP).

O caso envolvendo o petroleiro Exxon Valdez na costa do Alasca, no ano de 1989,

provocou grande impacto ambiental, com a liberação de mais de 40 milhões de litros de

petróleo, que se espalhou por mais de 1300 km no golfo do Alasca. A aplicação de

fertilizantes comerciais, como tratamento de bioestimulação, foi empregada ao longo da

costa. Ao todo, 48.600 kg de nitrogênio (N) presente nos fertilizantes foram aplicados

entre 1989 a 1991, envolvendo 2.237 aplicações separadas de fertilizante. Isto representa

o maior uso de biorremediação já realizada. Uma pesquisa feita no período entre maio e

junho de 1992 constatou que a maior parte do óleo foi removida da orla costeira e em 12

de junho de 1992 a Guarda Costeira dos Estados Unidos oficialmente declarou a limpeza

concluída (Atlas, 2011). Porém, mesmo anos após o ocorrido, em estudo toxicológico,

foram relatadas anormalidades em populações de algas, invertebrados, pássaros e

mamíferos marinhos expostas à contaminação crônica do petróleo, mesmo em

quantidades significativamente menores (subletais) (Peterson et al., 2003).

Outro caso mais recente, envolvendo a petroleira British Petroleum, ocorreu em

abril de 2010 com o rompimento de uma tubulação, ocasionando a explosão de uma

plataforma no Golfo do México, com onze funcionários mortos e consequente, vazamento

de petróleo. O mesmo perdurou por 84 dias, com estimativa de liberação de

aproximadamente 780 milhões de litros no oceano, que se espalharam por mais de 1100

Km da costa dos Estados Unidos. Muitas medidas para conter o óleo foram tomadas,

como queima in situ, utilização de barreiras físicas de contenção, coleta do óleo e

utilização de surfactantes comerciais (Chen & Denilson, 2011; Atlas, 2011. A aplicação de

biorremediação não foi uma estratégia utilizada nesse caso devido à enorme quantidade

de óleo, o que poderia levar ao fenômeno de eutrofização. Trabalhos que mencionam

mudanças na microbiota marinha, aumentando significativamente o número de bactérias

degradadoras presentes no oceano durante ou depois do acidente, já são relatados

(Hazen et al., 2010; Kostska et al., 2011).

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Após o vazamento de petróleo no oceano, muitos fatores podem influenciar o

“destino” do óleo no mar e sua contaminação neste ecossistema. Isso está diretamente

ligado com as condições físicas do ambiente, como a direção do vento e das marés (Figura

1). Como consequência do vazamento, o óleo se espalha pela superfície formando uma

camada fina, que por sua vez prejudica a troca de nutrientes e até mesmo a penetração

da luz, influenciando na fotossíntese do fitoplâncton (Carrera-Martínez et al., 2010;

González et al., 2009). Compostos voláteis (geralmente mais tóxicos) e hidrocarbonetos

mais leves acabam evaporando mais rapidamente, dependendo da natureza do próprio

óleo e principalmente das condições ambientais, como temperatura, velocidade do vento

e condições oceânicas. Outra pequena porção pode se aderir a materiais suspensos na

coluna d’agua e contaminar o sedimento mais profundo.

Reações de oxidação pela radiação ultravioleta (UV) solar, chamada de fotólise,

também podem ocorrer. Os produtos derivados dessas reações incluem compostos ácidos

e fenólicos, os quais podem ser mais tóxicos do que os hidrocarbonetos originais. No

entanto, geralmente esses acabam sendo diluídos em grandes quantidades de água, e as

concentrações desses compostos para produzir algum efeito tóxico são muito baixas, não

apresentando significância para o meio ambiente (Kingston, 2002).

Do mesmo modo, ocorre a dissolução dos hidrocarbonetos na coluna de água,

principalmente os de baixo peso molecular, relativamente tóxicos. Essa dissolução é

relativamente pequena, menos de 1%, sendo que aquilo que se torna facilmente

dissolvido, por sua vez, é facilmente degradado. A dispersão é provavelmente

responsável pela remoção natural da maioria do óleo sobre a superfície. O óleo é

“particulado” em pequenas gotas que ficam misturadas à coluna de água até a

degradação através de bactérias (Chen & Denilson, 2011).

Sob certas condições no mar, emulsões “água em óleo” podem ser formadas. Esse

processo pode ocorrer quando gotículas são incorporadas ao óleo na superfície. Essas

emulsões formam uma substancia viscosa denominada “mousse”, sendo que sua

formação e estabilidade dependerá também do tipo de petróleo derramado. A formação

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dessa substância pode aumentar a persistência da camada de óleo no oceano (Kingston,

2002).

Figura 1. Petróleo liberado em ambiente marinho e diversas maneiras de contaminação e transformação. Fonte: Chen & Denison (2011).

A recuperação biológica de um ecossistema impactado por derramamento de

petróleo está relacionada com o nível da toxicidade ou outros elementos que causam

riscos às funções biológicas normais. Deste modo, a recuperação de um ambiente

impactado pode se iniciar a partir da diminuição dos compostos tóxicos em um nível

tolerável para a maioria dos organismos. No entanto, a recuperação dependerá de vários

fatores ambientais, como a época do ano, disponibilidade dos organismos

recolonizadores, interações biológicas e climáticas (Kingston, 2002; Chen & Denison,

2011).

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2.3 Biorremediação

Existem muitas substâncias que são nocivas ao meio ambiente, tornando-se fontes

poluidoras. Na categoria dos resíduos químicos orgânicos estão incluídos os pesticidas,

solventes e óleos. Metais pesados como chumbo (Pb), cádmio (Cd), mercúrio (Hg), zinco

(Zn) e ferro (Fe) também são poluentes e geralmente estão associados a atividades

antrópicas, como a eliminação de resíduos em aterros sanitários, geração de resíduos

químicos e lodo (Mulligan, 2005). A liberação de grande quantidade desses compostos

pode causar sérios impactos no meio ambiente.

Técnicas de remediação já são descritas e aplicadas a ambientes contaminados.

Algumas técnicas convencionais, como a escavação dos solos contaminados, seguida de

tratamento ou disposição em aterros, têm sido utilizadas para efetuar a remediação de

locais contaminados, apesar de apresentarem, muitas vezes, custos elevados, bem como

possibilitarem impactos adicionais ao ambiente. Algumas dessas técnicas apenas

removem ou atenuam áreas contaminadas, como, por exemplo, técnicas de remoção e

redisposição de solos. Outras têm sido aprimoradas, testadas e avaliadas em relação a sua

eficiência/eficácia e custo, incluindo a contenção, dessorção térmica, oxidação química,

extração de vapores, bombeamento e tratamento de águas subterrâneas (Manual

CETESB, cap X, 2000).

A fitorremediação também é uma técnica alternativa de remediação que já vem

sendo descrita na literatura. Associada com micro-organismos (Ramos et al. 2005) ou

aplicada isoladamente (Gerhardt et al., 2009), o conceito da utilização de plantas para

despoluir ambientes contaminados não é novo. Cerca de 300 anos atrás a utilização de

plantas foi proposta para tratamento de águas residuais (Hartman Jr 1975). As espécies

aplicadas para remediação têm como característica o potencial de acumular, imobilizar e

transformar contaminantes recalcitrantes, como os metais pesados. Do mesmo modo,

também podem remover simultaneamente compostos orgânicos e inorgânicos (Pulford e

Watson 2003; Rascio e Navari-Izzo, 2011). No entanto, apresenta baixa aplicação

industrial devido à limitação de crescimento em ambientes contaminados com baixa

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disponibilidade de nutrientes, baixa eficiência ocasional em acessar poluentes e tempo

mais longo para remediação efetiva comparada aos outros métodos.

Diferentemente das técnicas que apenas removem ou atenuam áreas contaminadas,

a biorremediação, que se utiliza de micro-organismos e seu potencial metabólico para a

despoluição e a restauração de ambientes, é uma alternativa viável. Essa técnica se

apresenta como menos custosa, mais simples no manejo e ecologicamente mais

adequada do que as outras (Lovely, 2003). A biorremediação pode resultar na completa

decomposição de compostos químicos ou ainda pode ser combinada com tratamentos

alternativos, como, por exemplo, eletro-biorremediação, uma tecnologia híbrida de

biorremediação e eletrocinética que vem sendo utilizada para remoção de compostos

orgânicos hidrofóbicos (Li et al., 2010).

Boopathy (2000) descreve as técnicas envolvendo biorremediação em uma

classificação mais ampla, entre ex situ (ou “on site”) e in situ. Tratamento ex situ consiste

na remoção física do contaminante e tratamento em outro local, como por exemplo, a

escavação (para solos) ou bombeamento (para águas subterrâneas) do substrato

contaminado e seu acondicionamento em uma área de contenção para ser tratado. Nas

técnicas in situ, o tratamento ocorre no próprio local de contaminação. Alguns exemplos

de tratamento in e ex situ estão descritos abaixo:

1. Land farming: Sistema de tratamento para solos contaminados. Consiste na degradação

biológica de resíduos em uma camada superior de solo, que é periodicamente revolvida

para haver aeração. Pode ser realizado na forma in situ, como ex situ.

2. Compostagem: tratamento aeróbico termofílico no qual o material contaminado é

misturado a um agente espessante. Pode ser feita com a utilização de pilhas estáticas ou

aeradas.

3. Biorreatores: Biodegradação ocorre em um container ou reator. Pode ser aplicado para

tratar líquidos ou lodo.

4. Bioventilação: Método de tratamento para solos contaminados aplicando oxigênio

através do solo com intuito de estimular a atividade microbiana.

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5. Biofiltros: Utilização de colunas microbiológicas para tratar emissões de ar.

6. Bioaumentação: Adição de culturas de bactérias em uma área contaminada. Usada

tanto em sistemas in situ como ex situ.

7. Bioestimulação: Estimulação de população indígena (autóctone) em solos ou águas

subterrâneas através do fornecimento de nutrientes.

8. Atenuação natural: Biorremediação natural de contaminantes sem a utilização de

técnicas adicionais, baseadas apenas no monitoramento da microbiota autóctone.

Um exemplo de atenuação natural recente (biorremediação in situ) foi observada

após o acidente ocorrido através da explosão na plataforma Deepwater Horizon (British

Petroleum), fato citado anteriormente. Hazen e colaboradores (2010) relataram que a

microbiota dos ecossistemas marinhos profundos rapidamente se adaptou à

contaminação do óleo e se tornou dominada pelas bactérias da ordem Oceanospirillales,

pertencentes à classe ϒ-Proteobacteria, a qual inclui os descritos degradadores de

hidrocarbonetos psicrofílicos e micro-organismos provenientes de ambientes

contaminados com petróleo.

O processo de biorremediação envolve duas técnicas principais: bioaumentação e

bioestimulação. A bioestimulação consiste na adição de nutrientes, como fontes de

nitrogênio e fósforo, e outros substratos, como água, oxigênio e até mesmo surfactantes

com o intuito de promover o aceleramento do metabolismo dos micro-organismos em

uma determinada área, aumentando assim a degradação de compostos xenobióticos

(Luqueño et al, 2011). No entanto, para que isso ocorra, os micro-organismos devem ser

capazes de degradar determinado composto tóxico, e sua quantidade (em unidades

formadoras de colônias (UFC/mL ou grama de solo) deve ser abundante. Liu e

colaboradores (2010) relatam a estratégia de bioestimulação em solo contaminado com

hidrocarbonetos poliaromáticos (HPA), adicionado de adubo orgânico. Após 360 dias foi

observada uma redução de 58% dos hidrocarbonetos, comparado ao controle sem a

adição de nutrientes. No entanto, através do método de contagem total, foi possível

observar um número menor de bactérias degradadoras de hidrocarbonetos no controle

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sem a presença de adubo, do que nas amostras com o tratamento. Os autores concluíram

que na quantidade de bactérias abaixo de 105 UFC. g-1, o processo de biorremediação não

ocorreria de forma significativa. Portanto, quanto maior a população de micro-organismos

que degradam o contaminante dentro da área de remediação, mais rápido e mais

eficiente será o processo de biorremediação.

Bioestimulação já é amplamente descrita na literatura, tanto em solos como em

águas, mostrando ser eficiente na remoção de pesticidas (Kanissery et al, 2011), petróleo

e HPA (Nikolopoulou & Kalogerakis, 2008; Nikolopoulou & Kalogerakis, 2009; Dellile et a,

2009; Yu et al, 2011), organohalogenados (Major et al, 2002; Naihiro et al, 2010).

Bioaumentação implica na adição de micro-organismos isolados ou de consórcios de

micro-organismos, já sabidamente degradadores, carreando genes que possam ser

transferidos à microbiota autóctone ou não, em uma determinada área contaminada.

Segundo o documento “gerenciamento de áreas contaminadas” da CETESB, assim como

em alguns trabalhos da literatura, essa técnica deve ser aplicada quando a atenuação

natural ou a bioestimulação não se apresentaram efetivas, como no caso de ambientes

que: (1) não possuem a quantidade suficiente de micro-organismos, (2) micro-organismos

nativos não possuem rotas metabólicas necessárias para metabolizar os compostos

poluentes (Fantroussi e Agathos, 2005; Tyagi et al., 2011).

Processos envolvendo bioaumentação vêm sendo utilizados em alguns setores. Na

agricultura, a inoculação de legumes com bactérias fixadoras de nitrogênio Rhizobium spp.

ocorre desde o século 19. A utilização de bioaumentação com células livres ou micro-

organismos associados a plantas, como Azotobacter ou Azospirillum spp. para aumentar a

produtividade, também já é utilizada. Outra aplicação do bioaumento inclui a inoculação

de sementes de plantas com bactérias promotoras de crescimento ou ainda micro-

organismos antagonistas a patógenos. A inoculação é também utilizada para transformar

os produtos agrícolas em formas mais úteis como silagem de forragem. Em indústrias a

bioaumentação é aplicada na preparação de alimentos, como processos de fermentações

de leite e cerveja (Gentry et al, 2004; Lebeau 2011).

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Bioaumentação pode ser aplicada de diversas formas. A primeira envolve a

reinoculação das bactérias autóctones, onde algumas bactérias utilizadas com este intuito

podem ser isoladas de um ambiente contaminado, posteriormente cultivadas sob

condições laboratoriais e depois reintroduzidas ao mesmo ambiente. A outra

possibilidade é a seleção de micro-organismos apropriados provenientes de ambientes

contaminados similares a uma determinada área alvo para biorremediação, onde os

mesmos serão empregados. Por último, existe ainda a utilização de organismos

geneticamente modificados com o intuito de potencializar os processos de degradação de

poluentes (Mrozik e Piotrowska-Seget, 2010, Hosokawa, 2009). Hosokawa (2009) relata a

o processo de bioaumentação com micro-organismos autóctones (reintrodução dos

micro-organismos) realizado na costa do Japão, na ilha de Hokaido.

Alguns micro-organismos, como bactérias e alguns fungos, já são descritos na

literatura sendo utilizados em processos de bioaumentação para a degradação de vários

compostos xenobióticos (Tabela 1).

Tabela 1: Micro-organismos utilizados em processos de bioaumentação na degradação de várias substâncias poluentes.

Micro-organismo Composto Literatura

Alcanivorax Hidrocarbonetos de petróleo McKew et al, 2007; Gertler, 2009

Bacillus Óleo diesel; quinolona Bento et al., 2005; Bao-hua et al., 2012

Rhodococcus Óleo diesel Kuyukina et al, 2010; Lee et al, 2011

Pseudomonas Petróleo; simazina; tabaco Stallwood et al. 2005; Morgante et al., 2009; Mei-zhen et al., 2012

Bulkhoderia sp

Carbofurano; Etileno diamino tetra acetato (EDTA)

Chen et al., 2005;

Plangklang et al., 2011

Aspergillus sp.

Metais pesados Braud et al., 2006

Penicilium sp.

Petróleo Alleri, 2012;

Ojeda- Morales et al., 2013

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Apesar de suas vantagens, como baixo custo e maior eficiência comparada a outras,

essa técnica apresenta algumas limitações. A seleção das linhagens, a ecologia

microbiana, tipo e concentração do contaminante, restrições ambientais, assim como o

procedimento de inoculação dos micro-organismos podem influenciar na efetividade do

processo. Para uma maior efetividade, além de uma microbiota capaz de degradar os

contaminantes e competir e atuar com sinergia com a microbiota autóctone, outros

parâmetros devem ser levados em conta, como água, oxigênio e fontes utilizáveis de

fósforo e nitrogênio. A falta de qualquer um dos parâmetros mencionados pode acarretar

a ineficiência da biorremediação sob condições naturais (Boopathy, 2000; Tyagi et al,

2011). Gentry (2004) relata algumas abordagens que podem aumentar a persistência e

atividade dos micro-organismos e/ou genes introduzidos no ambiente: (1) métodos para

aumentar a sobrevivência dos micro-organismos inoculados em ambientes contaminados,

como a imobilização em matrizes; (2) o uso de genes “repórter” para monitorar a

atividade ou presença dos micro-organismos introduzidos; (3) o uso de genes suicidas

para controlar a dispersão dos micro-organismos transgênicos.

Trabalhos na literatura mencionam a avaliação tanto de bioestimulação como

bioaumento para a remoção de contaminantes, como hidrocarbonetos, metais pesados e

pesticidas. A combinação de bioaumentação e bioestimulação pode ser uma estratégia

promissora para acelerar a biorremediação. Ambos micro-organismos autóctones e

exógenos podem se beneficiar da bioestimulação devido à adição de nutrientes e

aceptores de elétrons (El Fantroussi e Agos, 2005).

Yu e colaboradores (2005) demonstraram a degradação de três hidrocarbonetos

poliaromáticos (HPA) em sedimentos de mangue contaminado, utilizando três estratégias:

atenuação natural, bioestimulação e bioaumentação, durante 4 semanas. Os resultados

variaram de acordo com o tipo de hidrocarboneto, sendo que para fenantreno e fluoreno,

na primeira semana de avaliação a taxa de degradação foi mais significativa no tratamento

utilizando a atenuação natural, porém ao final de quatro semanas, os três tratamentos

foram estatisticamente equivalentes. No entanto, quando se avaliou a degradação de

pireno, um hidrocarboneto mais pesado, contendo 4 anéis benzênicos, o tratamento com

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maior eficiência foi de bioestimulação, no qual foi descrito 98% de degradação do

composto.

Mrozik e Piotrowska-Seget (2010) relatam alguns trabalhos que obtiveram bons

resultados utilizando a estratégia de bioaumentação e bioestimulação atuando em

conjunto.

Como já descrito, ambas abordagens, combinadas ou não, podem ser utilizadas para

a remediação de ambientes contaminados e sua eficiência dependerá também de fatores

externos.

2.4 Bioaumentação utilizando organismos geneticamente modificados (OGM)

Ao final dos anos 1970 e começo dos anos 1980, se iniciou o aprimoramento de

técnicas moleculares, como a clonagem e caracterização de genes bacterianos codificando

enzimas catabólicas para degradação de compostos recalcitrantes. Logo, muitos

microbiologistas e biólogos moleculares perceberam o potencial da engenharia genética

para biodegradação. O trabalho pioneiro de Gunsalus e Chakrabarty sobre a base genética

da degradação de um conjunto de compostos recalcitrantes por linhagens de

Pseudomonas culminou em 1981 com a concessão de uma patente para uma cepa

desenvolvida por conjugação que poderia degradar cânfora, octano, salicilato e naftaleno

[US Patent 425944], o primeiro organismo vivo a ser submetido a um processo de

propriedade intelectual (Cases e De Lorenzo, 2005).

A aplicação de organismos geneticamente modificados (OGMs) pode ser útil para o

tratamento de ambientes altamente contaminados para fins de biorremediação. A

modificação genética obtida através da clonagem de genes de vias envolvidas nos

processos de biodegradação pode possibilitar o aumento das taxas de biodegradação. No

entanto, é essencial verificar a estabilidade de qualquer OGM antes de sua aplicação no

campo. O destino dos OGMs depende em grande parte da estabilidade do plasmídeo

recombinante presente no organismo (Samanta et al, 2002).

Mesmo havendo micro-organismos naturalmente degradadores, ainda se pode

observar a persistência de muitos compostos químicos no meio ambiente. Deste modo,

vem sendo cada vez mais necessário o desenvolvimento de novos biocatalistas. Timmis e

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Pieper (1999), na década de 90, já discutiam a necessidade do desenvolvimento dos

mesmos, descrevendo várias implicações desse processo, incluindo a descoberta de novas

rotas metabólicas (até então não descritas); ampliação de substratos para a expressão

dessas rotas metabólicas; avaliação da possível síntese de produtos intermediários tóxicos

ou altamente reativos; avaliação da utilização de substratos que não permitam a

acumulação de produtos intermediários, como catecóis; o aumento da estabilidade

genética das atividade catabólicas; e aumento da biodisponibilidade de poluentes

hidrofóbicos. Estudos envolvendo OGMs, objetivando biorremediar compostos nocivos e

recalcitrantes, já são descritos (Ford et al., 1999; Pandey et al., 2005; Menn et al., 2008).

No entanto, a utilização de OGM para biorremediação se depara com a legislação

restritiva que proíbe sua aplicação em ambientes na forma “in situ”. Como já descrito, a

descoberta realizada em 1975 por Gunsalus e Chakrabart, patenteada em 1980, se

encontra ainda sem comercialização.

Não obstante, a aplicação de OGM para biorremediação pode ser uma alternativa

viável e efetiva. É descrito que alguns OGMs têm capacidade para degradar alguns

componentes do petróleo de 10 a 100 vezes mais rápido do que outras linhagens não

transgênicas (Ezekika & Singer, 2010).

Sayler e Ripp (2000) mencionam um estudo de campo realizado com uma linhagem

transgênica de Pseudomonas designada HK44, aplicada para degradação de naftaleno em

solo (em contenção). Essa linhagem continha em seu genoma um plasmídeo responsável

pela degradação de naftaleno e adicionalmente um gene ligado a uma região promotora

(genes da família lux) que produziam bioluminescência. Portanto, quando ocorria contato

dessa linhagem com naftaleno (ou metabólitos intermediários da degradação do mesmo),

ocorria o aumento da expressão de genes catabólicos e também uma resposta

bioluminescente, podendo deste modo ser detectada a quantidade de naftaleno

biodisponível assim como sua degradação no ensaio. Ainda, Strong e colaboradores (2000)

realizaram um teste em escala de campo com uma linhagem de Escherichia coli

superprodutora da enzima atrazina clorohidrolase a fim de degradar o herbicida atrazina,

utilizado na agricultura.

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Nos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental (US EPA) tem autoridade para

regulamentar a liberação de organismos geneticamente modificados, sob a seção 5

prevista na Ata de Controle de Substâncias Tóxicas (TSCA). Para aqueles que objetivam

produzir micro-organismos geneticamente modificados é requerido a submissão de um

documento denominado Aviso de Atividade Microbiológica Comercial (“Microbial

Commercial Activity Notice -MCAN”), no qual deve ser relatado o destino dos OGMs no

meio ambiente, riscos à saúde e propriedades físico-químicas dos propostos micro-

organismos. A modificação de micro-organismos é prevista como alto risco dentro das

regulamentações da agência de proteção ambiental. Embora tenha havido um avanço no

desenvolvimento de culturas agrícolas, novos fármacos e outras inovações biotecnológicas

ao longo das duas últimas décadas, os micro-organismos geneticamente modificados

desenvolvidos para biorremediação ainda não são comercializados. (Ezezika and Singer,

2010).

No Brasil, a legislação que rege a questão dos OGMs e transgênicos é a Lei de

Biossegurança (Lei 11.105/05), em vigência desde 24 de março de 2005. A partir daí,

alterações na regulamentação acerca dos transgênicos foram reordenadas bem como a

ratificação da criação da CTNBio (Conselho Técnico Nacional de Biossegurança) e suas

competências, além de criar o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) e o Sistema de

Informação de Biossegurança (SIB).

A Lei de Biossegurança determina os mecanismos de fiscalização sobre as condutas

que envolvam os organismos geneticamente modificados, sendo elas a condução, cultivo,

produção, manipulação, transporte, transferência, importação, exportação,

armazenamento, pesquisa, comercialização, consumo, liberação no meio ambiente e

descarte, conforme preconiza o art. 1°, de forma a proteger a vida e a saúde humana, dos

animais e das plantas, bem como o meio ambiente (Giehl, 2008).

O processo de comercialização de OGM’s como culturas agrícolas de algodão, milho

e feijão já liberadas para cultivo, envolve órgãos como a CTNBio e CNBS, assim como

órgãos e entidades de registro e fiscalização do Ministério da Saúde, do Ministério da

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Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Ministério do Meio Ambiente, e da Secretaria

Especial de Aqüicultura e Pesca.

Uma das competências da CTNBio, descritas no Artigo 14 da Lei de Biossegurança, é

emitir decisão técnica, caso a caso, sobre a biossegurança de OGM e seus derivados no

âmbito das atividades de pesquisa e de uso comercial de OGM e seus derivados, inclusive

a classificação quanto ao grau de risco e nível de biossegurança exigido, bem como

medidas de segurança exigidas e restrições ao uso.

Ao CNBS cabe analisar, a pedido da CTNBio, quanto aos aspectos da conveniência e

oportunidade socioeconômicas e do interesse nacional, os pedidos de liberação para uso

comercial de OGM e seus derivados.

Por último, cabe aos órgãos e entidades de registro e fiscalização dos Ministérios da

Saúde, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Ministério do Meio Ambiente, e da

Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca registrar e fiscalizar a liberação comercial de

OGM e seus derivados.

2.5 Biorremediação e o uso de biossurfactantes

Compostos tensoativos produzidos por micro-organismos (“microbial surface-active

compounds”) são moléculas estruturalmente diversas classificadas de acordo com sua

estrutura química e sua origem microbiana. São constituídas por uma porção hidrofílica,

compreendendo um grupo ácido, peptídeos, mono, di ou polissacarídeos, e uma porção

hidrofóbica, composta por cadeias de ácidos graxos ou de hidrocarbonetos saturados ou

insaturados. Essas estruturas conferem muitas propriedades, incluindo a capacidade de

diminuir a tensão superficial e interfacial entre líquidos e também a formação de micelas

e microemulsão entre duas fases diferentes. Estes compostos podem ser divididos entre

duas principais classes: compostos de baixo peso molecular, denominados

biossurfactantes, como lipopeptideos, glicolipídeos, proteínas, e compostos de alto peso

molecular, como polímeros complexos de polissacarídeos, lipopolissacarídeos ou

lipoproteínas, denominados bioemulsificantes. Essa última classe de moléculas é mais

efetiva em estabilizar emulsões óleo em água, mas não tão efetiva em diminuir a tensão

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superficial (Banat et al. 2010).

Os surfactantes se concentram em interfaces (sólido-líquido, líquido-líquido ou

vapor-líquido). A interface é formada entre duas fases imiscíveis, sendo que a porção

hidrofóbica do surfactante se volta para a superfície, enquanto que a porção hidrofílica

está em contato com a solução (Mulligan, 2005).

Como já descrito, biossurfactantes são surfactantes produzidos biologicamente. A

atividade biossurfactante pode ser determinada através de mudanças nas tensões

interfaciais e superficiais de alguns “sistemas”, ou interfaces, como, por exemplo,

água/óleo e ar/água e essas mudanças podem ser medidas com auxílio de tensiômetro

(Desai & Banat, 1997). Devido à sua estrutura anfifílica, as moléculas dos biossurfactantes

tendem a se aglomerar e formar pequenas estruturas como vesículas, lamelas ou micelas

quando adicionados a esses sistemas e, deste modo, reduzem a tensão superficial até um

nível crítico (Figura 2). Esta medida é conhecida como “concentração micelar crítica”

(CMC) e é utilizada para definir a qualidade e eficiência do biossurfactante, de acordo com

suas propriedades como detergência, formação de espuma, emulsificação e dispersão.

Esse processo dinâmico é baseado na habilidade dos biossurfactantes de reduzir a tensão

superficial pelo rearranjo molecular, pelo qual ocorre o acúmulo de suas moléculas na

superfície de compostos insolúveis, influenciando as ligações de hidrogênio e outras

interações hidrofóbico-hidrofílicas.

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Figura 2. Esquemas representando as estruturas formadas por biossurfactantes quando em contato com interfaces (Fonte: Champion et al., 1995).

Surfactantes considerados eficientes apresentam baixa concentração micelar crítica

(ou seja, menos surfactante é necessário para reduzir a tensão superficial). Um

surfactante ideal seria aquele que apresenta baixa concentração micelar crítica e tensão

superficial com valores menores que 30 mN/m (Ashby et al., 2008; Desai & Banat, 1997;

Mulligan, 2005). As interações de surfactantes nas interfaces são objeto de muitos

estudos. Essas reações não ocorrem somente em relação à porção hidrofóbica dessas

moléculas, mas também com a parte hidrofílica, que pode apresentar carga elétrica

aniônica, catiônica, anfotérica ou não-iônica (Neu, 1996).

Os hidrocarbonetos de petróleo e de outros óleos pesados, quando em contato com

o meio ambiente, se aderem fortemente a partículas de solo. Dentre os hidrocarbonetos,

a classe dos HAPs (Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos) são os maiores contaminantes

(Mulligan, 2005; Bordoloi & Konwar, 2009). A biodegradação de hidrocarbonetos torna-se

mais eficiente com a adição de biossurfactantes, os quais podem acelerar a

biorremediação de solos e águas contaminadas por petróleo através da diminuição da

tensão superficial óleo – água, aumentando a solubilidade e assim a mobilidade de

compostos hidrofóbicos, tais como os hidrocarbonetos (Tango & Islam, 2002).

Calvo e colaboradores (2009) mencionam que a degradação associada ao emprego

de surfactantes torna-se eficiente de acordo com alguns fatores, como por exemplo, a

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taxa de nutrientes disponíveis no solo. Estes nutrientes (nas formas de nitrogênio e

fósforo) promovem o crescimento e, conseqüentemente, o aumento da população

indígena do solo contaminado, aumentando a taxa de degradação.

Vários trabalhos têm descrito o emprego de biossurfactantes na degradação de

hidrocarbonetos, principalmente utilizando ramnolipídeos (Rahman et al., 2003; Nguyen

et al., 2008; Souza et al., 2014) e surfactina (Mulligan et al., 1999; Cubitto et al., 2004;

Whang et al., 2008).

Além de atuar em processos de biodegradação de hidrocarbonetos, alguns

biossurfactantes são capazes de remover metais pesados, como cádmio, cobre, chumbo e

zinco em solos contaminados (Mulligan, 2005; Asci et al, 2009). Ao contrário dos

hidrocarbonetos, os metais pesados não são degradáveis e apresentam alta toxicidade,

mesmo em quantidades pequenas, representando uma ameaça para a saúde e meio

ambiente.

Mulligan e colaboradores (2001) analisaram a utilização de três diferentes

biossurfactantes (surfactina, ramnolipídeos e soforolipídeos) na remoção de metais em

sedimentos contaminados com cobre e zinco, onde os glicolipídeos (ramnolipídeos e

soforolipídeos) apresentaram-se como mais efetivos.

2.6 Genes de degradação de hidrocarbonetos

Hidrocarbonetos são compostos constituídos exclusivamente de carbono e

hidrogênio. Devido à ausência de grupos funcionais, os hidrocarbonetos são geralmente

apolares e exibem baixa reatividade química em temperatura ambiente. As diferenças em

reatividade são primariamente determinadas pelo tipo e arranjo das ligações insaturadas.

Sua classificação geralmente se dá pelas características das ligações entre os carbonos: 1)

hidrocarbonetos alifáticos, que incluem os de cadeia linear (n-alcanos); hidrocarbonetos

de cadeia ramificada e compostos cíclicos e 2) hidrocarbonetos aromáticos que incluem

hidrocarbonetos mono ou policíclicos, que também podem conter cadeias alifáticas, como

os alkibenzenos (Sierra- Garcia & Oliveira, 2013).

Os hidrocarbonetos podem ser degradados de duas formas, aeróbica e

anaerobicamente. Em organismos aeróbicos, como a maior parte fungos e algumas

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bactérias, o ataque inicial de hidrocarbonetos sempre requer a molécula de oxigênio

como um co-substrato (Heider et al., 1999). No entanto, em alguns ambientes o oxigênio

não está presente, como em sedimentos profundos e reservatórios de petróleo, e deste

modo a degradação pode ocorrer em condições anóxicas. Estudos têm demonstrado que

o mecanismo de degradação por essas bactérias difere das aeróbicas. Nas bactérias

aeróbicas o O2 não é somente um aceptor de elétrons para os processos respiratórios,

mas também um indispensável “reagente” na ativação do mecanismo de degradação.

Através das monooxigenases (em hidrocarbonetos alifáticos) e dioxigenases (em

hidrocarbonetos aromáticos) um ou dois átomos são incorporados, levando à geração de

produtos hidroxilados (Widdel & Rabus, 2001).

Degradação aeróbica

Na maioria das rotas de degradação descritas na literatura, o substrato n-alcano é

oxidado ao álcool correspondente através das enzimas substrato-específicas

monooxigenases/ hidroxilases. O álcool é então oxidado ao correspondente aldeído e

finalmente convertido em ácido graxo. Ácidos graxos são conjugados à coenzima A (CoA)

e processados através de β – oxidação para gerar acetil- CoA. A hidroxilação terminal

pode ser realizada por diversas enzimas pertencentes a diferentes classes: (1) propano-

monoxigenase (C3), (2) classes diferentes de butano-monooxigenase (C2-C9), (3) CYP153

monooxigenases (C5-C12), (4) AlkB- relacionada com não-heme ferro monooxigenase (C3-

C10 ou C10-C20), (5) monooxigenase ligada à flavina -AlmA (C20-C36), (6) monooxigenase

LadA flavina-dependente (C10-C30), (7) dioxigenase cobre flavina-dependente (C10-C30).

Entre as enzimas ativas ligadas à degradação de alcanos, a não-heme ferro (AlkB),

presente em membranas, é a mais bem caracterizada.

Micro-organismos que degradam alcanos de cadeias médias (C5-C11) e longas

(>C12) vêm sendo frequentemente relatados portando o gene alkB e a presença do

mesmo tem sido utilizada como biomarcador para estudos de caracterização de

populações envolvendo bactérias aeróbias degradadoras de alcanos em várias amostras

ambientais, assim como em processos de biorremediação (Sierra- Garcia & Oliveira, 2013).

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A degradação que envolve o sistema enzimático alk, sistema de degradação de alcanos, é

o mais amplamente distribuído em procariotos (van Beilen et al., 2003; Marchant et al.,

2006). Porém, outros dois sistemas implicados na oxidação inicial de alcanos existem em

bactérias, embora menos comuns, como a citocromo P450 mononoxigenase e uma

dioxigenase detectada em algumas cepas de Acinetobacter (Heiss-Blanquet et al., 2005).

Em particular, o sistema enzimático alk foi primeiramente descrito em

Pseudomonas oleovorans GPo1 (posteriormente classificada como cepa de Pseudomonas

putida). Este contém dois operons: alkBFGHJKL e alkST (van Beilen et al., 1994), sugerindo

que um operon pode regular o outro. Em contraste, os genes que codificam o complexo

alkB em Acinetobacter sp. APD1 parecem ter um arranjo totalmente irregular. A

degradação de alcanos em Acinetobacter é altamente dependente da expressão de no

mínimo cinco genes e alkR é conhecido por regular a expressão do cluster completo

(Marchant et al., 2006). Em cepas de Rhodococcus Q15 e NRRI, no mínimo quatro alcano-

monooxigenases têm sido identificadas (alkB1 a alkB4) (Marchant et al., 2006).

A Figura 3 mostra a principal reação enzimática da degradação aeróbica de

hidrocarbonetos. O ataque inicial intracelular a poluentes orgânicos consiste em um

processo oxidativo, no qual ocorre a ativação, assim como a incorporação de oxigênio,

uma reação enzimática chave catalisada pelas enzimas oxigenase e peroxidase. Vias de

degradação “periféricas” convertem poluentes orgânicos, passo a passo, em compostos

intermediários. A síntese de biomassa ocorre a partir dos metabólitos precursores

centrais, por exemplo, acetil-CoA, succinato, piruvato. Os açúcares necessários para

biossíntese e crescimento são produzidos por gliconeogênese (Das & Chandran, 2010).

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Figura 3. Esquema indicando a principal via de degradação aeróbica. Fonte: Das & Chandran, 2010.

Outro sistema enzimático, o que envolve a enzima citocromo P450, também já é

descrito na literatura. Esse sistema foi encontrado envolvido com a biodegradação de

hidrocarbonetos do petróleo inicialmente em eucariotos. A capacidade de várias espécies

de leveduras em utilizar n- alcanos ou outros compostos alifáticos como fonte única de

carbono e energia é mediada pela existência de múltiplas formas de citocromo P450.

Essas enzimas têm sido isoladas a partir de algumas espécies de leveduras, como Candida

maltosa, Candida tropicalis e Candida apicola (Das & Chandran, 2011). Citocromo P450 é o

grupo mais comum de oxigenases utilizadas em processos de degradação em eucariotos,

embora tenha um papel secundário em bactérias (Fuchs et al., 2011).

A degradação de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) pelas bactérias

também tem sido amplamente estudada. Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos

(HPA) estão classificados em uma outra classe de compostos orgânicos constituídos de um

ou mais anéis benzênicos ligados de forma linear ou angular. São encontrados no meio

ambiente após o despejo de resíduos relacionados ao processamento de carvão, petróleo

(lodo), asfalto, creosoto e madeira e podem persistir nos ecossistemas por anos, devido às

suas características de baixa solubilidade e capacidade de adsorção em partículas sólidas.

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A descontaminação de ambientes contaminados com HPA é de vital importância, pois

além de sua intrínseca estabilidade química e resistência a muitas formas de degradação,

muitos destes compostos tóxicos são conhecidos como carcinogênicos e mutagênicos

(Collins et al., 1999; Habe & Omori, 2014). Como já descrito, algumas estratégias de

remoção consistem na aplicação de micro-organismos que podem degradar os HPAs.

Estes podem ser utilizados como fonte de carbono e energia por diversos micro-

organismos que adaptaram suas habilidades de utilização desses substratos.

A degradação de HPAs por bactérias sob condições aeróbicas começa com a adição

da molécula de oxigênio ao anel aromático pela enzima dioxigenase. As dioxigenases

pertencem a uma grande família conhecida como dioxigenases que hidroxilam anéis

aromáticos (ARHDs). Todos os membros dessa família possuem uma ou duas proteínas

transportadoras de elétron, dependendo do substrato e da origem da enzima (Gibson &

Parales, 2000).

ARHDs como benzoato, naftaleno, bifenilo, tolueno e benzeno dioxigenases são

complexos enzimáticos formados por três ou quatro subunidades protéicas. Estes

complexos catalisam uma reação redox na qual dois oxigênios moleculares são

incorporados no anel aromático do substrato à custa da oxidação de NADH (Gibson &

Parales, 2000). Posteriormente, intermediários podem ser catalisados por dois tipos de

enzimas, intradiol e estradiol dioxigenases, que representam duas classes de proteínas

relacionadas filogeneticamente. Essas enzimas têm papel chave na degradação de

compostos aromáticos e muitas dessas proteínas e suas sequencias vêm sendo descritas,

purificadas e caracterizadas nas últimas décadas (Sierra-Garcia & Oliveira, 2013).

Degradação anaeróbica

Muitos ambientes contaminados apresentam baixa ou nenhuma disponibilidade de

oxigênio, como aquíferos, sedimentos aquáticos e solos submersos, ocorrendo desta

forma a degradação de compostos poluentes através de micro-organismos estritamente

anaeróbicos ou anaeróbios facultativos.

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O ataque inicial de hidrocarbonetos permanece como etapa crítica para

subsequente transformação desses compostos apolares. Como já descrito, em processos

aeróbicos a incorporação de um oxigênio às moléculas de hidrocarbonetos através da

ação das oxigenases é um processo bioquímico estritamente oxigênio-dependente e

energicamente favorável (Chakraborty & Coates 2004; Wentzel et al. 2007). No entanto,

na ausência de oxigênio, a biodegradação de hidrocarbonetos é dificultada pela inércia

química das ligações carbono-carbono. Por sua vez, os micro-organismos tiveram que

desenvolver alternativas, reações independentes de oxigênio e enzimas para o ataque

inicial sob condições anóxicas. Deste modo, a biodegradação é realizada através de micro-

organismos estritamente anaeróbicos ou anaeróbios facultativos, utilizando aceptores

alternativos de elétrons como nitrato (micro-organismos desnitrificantes), sulfato (sulfato-

redutores), Fe (ferro-redutores), CO2 (metanogênicos), ou outros aceptores (clorato, Mn,

Cr, U, etc.) (Diaz, 2004; Mbadinga et al., 2011).

Um dos mecanismos anaeróbicos mais bem descritos na literatura é a adição de

fumarato aos hidrocarbonetos, com a formação de succinato. Essa reação tem sido

caracterizada pela ativação em benzeno assim como n-alcanos. No entanto, o processo de

adição de fumarato ativando hidrocarbonetos é mais bem compreendida em estudos

utilizando tolueno (Sierra-Garcia & Oliveira, 2013). A enzima principal desse processo é a

benzil-succinato sintase. Todas as enzimas necessárias para β-oxidação de benzilsuccinato

são sintetizadas através do operon bbs. Os genes relacionados às vias de adição de

fumarato estão organizados em dois operons. Um deles inclui 3 genes estruturais

relacionados à proteína catalisadora da adição de fumarato e o outro inclui genes

necessários para converter succinato a benzoil-CoA. Sequências de genes e sua

organização são relativamente conservadas entre as bactérias nitrato-redutoras, diferindo

um pouco da ferro-redutora Geobacter metallireducens. A via relacionada à

desidrogenação hidrocarbonetos é, da mesma forma, organizada em dois operons. Um

contém genes estruturais para as primeiras duas reações (etilbenzeno desidrogenase e 1-

feniletanol desidrogenase) e o outro contém genes estruturais (Sierra-Garcia & Oliveira,

2013; Mbadinga et al.,2011)

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Mbadinga e colaboradores (2011) relatam grupos de bactérias utilizando diferentes

aceptores de elétrons na degradação de hidrocarbonetos alifáticos. O atual panorama

inclui isolados degradadores de alcanos utilizando nitrato como substrato (nitrate

respiring bacteria- NRB), as quais são afiliadas à Classe Beta-proteobacteria. Com relação

aos que utilizam enxofre (sulfidogênicos), bactérias redutoras de sulfato (SRB)

recuperadas de ambientes anóxicos são predominantemente afiliadas com membros da

família Desulfobacteraceae, dentro da Classe Delta-proteobacteria. A maioria dos

representantes dessa família são anaeróbios estritos que realizam a completa oxidação de

compostos orgânicos.

A metanogênese se refere à formação biológica de metano, a qual é realizada por

micro-organismos anaeróbios estritos. As arquéias são micro-organismos capazes de

produzir metano, incluindo os membros do gênero Methanosaeta, responsável por

formar metano e CO2 a partir de acetato, assim como Metanospirillum e Methanoculleus,

que convertem CO2 e H2 em metano. Com relação aos hidrocarbonetos aromáticos, de

Desulfococcus oleovorans e Desulfotomaculum spp. já foram descritos como degradadores

de antraceno e fenantreno. Bactérias pertencentes à Classe Deltaproteobacteria já foram

descritas degradando naftaleno de forma anaeróbica (Meckenstock & Mouttaki, 2011).

2.7 Metagenômica

Metodologias baseadas em cultivo, apesar de serem extremamente importantes

para o entendimento do potencial fisiológico de micro-organismos isolados, não fornecem

informação abrangente sobre a diversidade e abundância de comunidades microbianas

(van Hamme et al., 2003). Embora as técnicas de cultivo tenham sido aprimoradas, sabe-

se que apenas uma pequena fração da diversidade microbiana na natureza, em torno de 1

a 10%, pode ser hoje cultivada em laboratório (Ward et al., 1990; Amann et al., 1995).

Metodologias moleculares desenvolvidas nas últimas décadas (extração de ácidos

nucléicos, amplificação por PCR, clonagem e seqüenciamento de DNA) têm sido

otimizadas e adaptadas para superar as limitações impostas pela abordagem clássica de

estudo de populações microbianas, evitando o isolamento e cultivo dos micro-organismos.

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A utilização destas metodologias vem permitindo uma avaliação mais precisa da

diversidade microbiana no ambiente e a descoberta de novos grupos de organismos,

nunca antes cultivados (Amann et al. 1995; Hugenholtz et al., 1998). O uso destas

metodologias associado à estratégia de bibliotecas metagenômicas nos permite ter acesso

ao potencial metabólico destes novos organismos. Esta estratégia consiste na utilização de

vetores do tipo BAC (Bacterial Artificial Chromosome), cosmídeos ou fosmídeos para a

clonagem de fragmentos grandes de DNA (40 a 100 kb) obtidos diretamente da

comunidade microbiana (metagenoma) de ambientes como solo, sedimento ou lodo, e

análise das bibliotecas resultantes em busca da expressão da atividade biológica de

interesse na linhagem hospedeira de Escherichia coli (Handelsman et al., 1998; Rondon et

al., 1999; Rondon et al., 2000) (Figura 4).

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Figura 4. Comparação esquemática das estratégias de cultivo (esquerda) e metagenoma (direita) para obtenção de novos compostos com atividade biológica. Com a estratégia de cultivo, apenas uma fração da diversidade microbiana existente pode ser obtida em cultura pura. Os micro-organismos não cultivados só podem ser acessados através de seus genomas. Assim, com a estratégia de metagenoma, os genomas de todos os micro-organismos em um dado habitat são isolados e clonados em hospedeiros para subseqüente seleção e expressão do composto de interesse. Fonte: Lorenz et al. (2002).

Chen e Patcher (2005) definiram metagenômica como a aplicação de técnicas

modernas de genômica ao estudo de comunidades de micro-organismos diretamente em

seus ambientes naturais, ignorando a necessidade de isolamento e cultivo das espécies

individuais no laboratório. Apesar dos diferentes nomes utilizados para descrever os

mesmos métodos, o termo “metagenômica” foi aprovado pela revista científica

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Enviromental Microbiology. A definição exclui o uso de primers para amplificar cassetes de

genes ou primers aleatórios para acessar genes de interesse (Handelsman, 2004;

Riesenfeld et al., 2004; Handelsman, 2007). O propósito da metagenômica inclui (1)

entendimento dos processos ecológicos (por exemplo, reações catabólicas) atuando em

um ecossistema de interesse e (2) busca de novos genes a partir de organismos não

cultivados que poderiam ser biotecnologicamente importantes (Watanabe e Kassai, 2008).

Embora existam outras espécies de hospedeiros empregados em estudos com

abordagem metagenômica, Escherichia coli é a que vem sendo mais utilizada. No entanto,

outras espécies como Streptomyces lividans e Pseudomonas putida vêm sendo

desenvolvidas como hospedeiros alternativos. As técnicas envolvendo metagenômica, por

um lado, possibilitam a elucidação de genomas de micro-organismos não cultivados para

uma melhor compreensão sobre ecologia microbiana. Por outro lado, essa mesma técnica

tem sido empregada visando atender ao aumento da demanda biotecnológica por novas

enzimas e biomoléculas (Schmeisser et al., 2007).

Os nichos microbianos investigados são diversos, englobando desde solos de

margens de rios (Henne et al., 1999), ambientes marinhos (Hårdeman e Sjöling, 2007) a

ambientes extremos, tais como águas profundas (Beja et al., 2000), sedimentos e lagos do

continente Antártico (Moreira et al., 2006), reservatórios de petróleo (Vasconcellos et al,

2009; Li & Hendry, 2008), dentre outros.

No caso de comunidades microbianas biodegradadoras, as bibliotecas

metagenômicas constituem-se em uma ferramenta que abre a perspectiva de descoberta

de novas vias catabólicas a partir de membros da microbiota, principalmente de micro-

organismos fastidiosos ou ainda não-cultivados, ou mesmo daqueles que vivem em

consórcios e não podem ser recuperados isoladamente. Ainda, a partir de uma biblioteca

de metagenoma, uma variedade maior de atividades catabólicas pode ser obtida

simultaneamente, em comparação ao método tradicional baseado em isolamento, cultivo

e triagem de linhagens puras de micro-organismos.

A triagem das bibliotecas metagenômicas, com conseqüente seleção de genes de

interesse, pode ser feita com base em similaridade de seqüência do inserto ou na

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expressão da atividade biológica (Lorenz et al., 2002). Esta última estratégia, denominada

como triagem funcional, oferece a vantagem de poder acessar seqüências gênicas ainda

totalmente desconhecidas e de detectar apenas enzimas que estão ativas.

O método de triagem de bibliotecas metagenômicas baseado em seqüência é mais

conservador, uma vez que os oligonucleotídeos necessários para identificar os genes-alvo,

utilizando PCR ou métodos de hibridização, são desenhados com base em regiões

conservadas das seqüências de aminoácidos, de forma a garantir uma alta probabilidade

de pareamento com seqüências gênicas desconhecidas presentes no ambiente. Esta

estratégia é atraente, pois qualquer gene que apresente homologia com a seqüência de

DNA utilizada será detectado, independente da sua expressão na célula hospedeira

(Lorenz et al., 2002).

A triagem funcional é mais direta e tem tido sucesso na descoberta de genes

catabólicos (Galvão et al., 2005). Genes que codificam para funções metabólicas

importantes são freqüentemente pouco conservados, tornando difícil a comparação das

seqüências dos clones com seqüências homólogas. Ainda, o catabolismo de poluentes

específicos pode ser muitas vezes obtido por duas ou mais bactérias, cada espécie

contribuindo com parte da via catabólica, como no caso de bifenilas policloradas

(Abraham et al., 2002). Portanto, a estratégia funcional de triagem de bibliotecas

metagenômicas permite o estudo de consórcios de clones (combinação de múltiplos

clones) em meio líquido, na busca da atividade de degradação desejada.

Estes estudos podem revelar, ainda, importantes vias metabólicas

microbianas, contribuindo para a compreensão da fisiologia de micro-organismos não-

cultivados presentes no ambiente, e possibilitando a identificação de novos genes

biocatalíticos e biossintéticos.

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2.8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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_____________________________________CAPÍTULO 1

Potencial de biorremediação de micro-organismos derivados de

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Bruna Martins Dellagnezze, Gabriel Vasconcelos de Sousa, Laercio Lopes Martins, Daniela Ferreira Domingos, Elmer E.G. Limache, Suzan Pantaroto de Vasconcellos; Georgiana Feitosa da Cruz, Valéria Maia de Oliveira. Bioremediation potential of microorganisms derived from petroleum reservoirs. Marine Pollution Bulletin, 2014.

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63

_____________________________________CAPÍTULO 2

Avaliação e otimização da produção de biossurfactantes por

micro-organismos de reservatórios de petróleo

2.1 INTRODUÇÃO

Como já mencionado, a aplicação de biossurfactantes em processos de

bioestimulação é descrita na literatura, pois estes compostos são capazes de aumentar a

solubilidade de poluentes de ambientes contaminados, como solo, e deste modo

melhorar sua biodisponibilidade. Além da estratégia de bioestimulação, a abordagem de

bioaumentação também é descrita. Uma das técnicas para aumentar a efetividade dos

micro-organismos no ambiente, seja com tratamento in situ ou ex situ, consiste na

imobilização dos mesmos em matrizes biológicas (Gentry et al., 2004). A imobilização ou

encapsulamento de bactérias pode oferecer um melhor suporte à sobrevivência

ambiental em condições de estresse, possibilitando, deste modo, processos de

biodegradação mais eficientes quando comparados à utilização de células livres. O

encapsulamento controla o fluxo de nutrientes, diminui a concentração de compostos

tóxicos no microambiente das células, minimiza os danos à membrana celular e a

exposição direta aos compostos poluentes e protege da predação e competição,

imitando um “reator em miniatura” no ambiente (Tyagi et al, 2011).

O trabalho descrito neste capítulo avaliou oito micro-organismos diferentes, 4

clones metagenômicos, provenientes de uma biblioteca fosmidial construída a partir de

amostras de petróleo da Bacia Potiguar (RN) e 4 linhagens de bactérias isoladas de

reservatórios de petróleo da Bacia de Campos (Achromobacter xylosoxidans, Bacillus

subtillis, Micrococcus sp. e Dietzia maris), quanto à produção de biossurfactantes. Ensaios

de tensiometria e emulsificação (E24) foram empregados para a avaliação da produção de

biossurfactantes.

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É importante ressaltar que nessa etapa do trabalho os micro-organismos com

melhor performance nos ensaios de degradação apresentados no capítulo 1 foram

selecionados e imobilizados em esferas de quitosana. Posteriormente esse micro-

organismos imobilizados foram novamente testados para a biodegradação do petróleo em

ensaios de microcosmos, que serão apresentados no Capítulo 3.

2.2 MATERIAL E MÉTODOS

Dentre os oito micro-organismos selecionados, as linhagens de bactérias já haviam

sido previamente descritas quanto à produção de EPS (Vasconcellos et al., 2011). Porém,

os clones metagenômicos foram avaliados para a produção de biossurfactantes ao longo

deste trabalho, utilizando diferentes fonte de carbono, nitrogênio e sais. Os micro-

organismos avaliados e sua proveniência estão descritos na Tabela 2.1.

Tabela 2.1: Micro-organismos avaliados para a produção de biossurfactantes.

Micro-organismos Fonte

Clone 1A Biblioteca metagenômica, Bacia Potiguar, RN (Vasconcellos et al., 2010)

Clone 2B Biblioteca metagenômica, Bacia Potiguar, RN (Vasconcellos et al., 2010)

Clone 9E Biblioteca metagenômica, Bacia Potiguar, RN (Vasconcellos et al., 2010)

Clone 10A Biblioteca metagenômica, Bacia Potiguar, RN (Vasconcellos et al., 2010)

Micrococcus sp. CBMAI 636 Água de formação, Bacia de Campos, RJ (Vasconcellos et al., 2009)

Dietzia maris CBMAI 705 Amostras de óleo, Bacia de Campos, RJ (Vasconcellos et al., 2009)

Bacillus subtilis CBMAI 707 Amostras de óleo, Bacia de Campos, RJ (Vasconcellos et al., 2009)

Achromobacter xylosoxidans CBMAI 709

Água de formação, Bacia de Campos, RJ (Vasconcellos et al., 2009)

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Foram realizados ensaios preliminares com diferentes fontes de carbono antes de se

chegar à otimização dos substratos para a produção de biossurfactantes pelos micro-

organismos em estudo através da estratégia de delineamento experimental. Ensaios em

meio mineral foram realizados utilizando substratos diversos, como glicerol, hexadecano,

óleo de soja e glicose (dados não apresentados). Sabe-se que a fonte de carbono está

diretamente relacionada com a produção de compostos tensoativos Makkar & Cameotra,

2010; Mukherjee et al., 2008) e, desta maneira, foi realizada uma seleção de fontes de

carbono, nitrogênio e sais para se aplicar ao delineamento e, deste modo, obter um

melhor resultado quanto à produção de composto tensoativos.

2.2.1. Delineamento experimental para otimização da produção de biossurfactantes

Nesta etapa do trabalho foi aplicado o método de delineamento experimental

utilizando o modelo Plackett-Burman (P&B) para verificar as melhores condições da

produção de biossurfactantes. Um total de doze variáveis foi testado (Tabela 2.2),

incluindo fontes de carbono, nitrogênio e fósforo.

Todas as diferentes variáveis foram preparadas em dois níveis, designados como -1

para o inferior e +1 para o superior (Tabela 2.2). Três ensaios no ponto central foram

acrescentados à matriz para a determinação do erro padrão durante a análise dos

resultados. Os micro-organismos foram inoculados em 50 mL de meio de cultura em

frascos Erlenmeyer de 125 mL. A composição do meio de cultura, bem como as

concentrações neste primeiro P&B para a produção de biossurfactante, está descrita na

Tabela 1. Em todos os frascos foi adicionado 0,01% de solução de elementos traços (0,625

g EDTA; 2,74 g ZnSO4; 1,25 g FeSO4.7H2O; 0,385 g MnSO4.7H2O; 0,098 g CuSO4.5H2O;

0,044g Na2B4O7.10H2O). As condições de incubação foram 5 dias a 150 rpm, com

temperatura de 30°C para as linhagens de bactérias e 37°C para os clones.

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Tabela 2.2. Componentes do meio de cultura utilizados nos experimentos de Plackett-Burman e

suas respectivas concentrações.

Variáveis Constituintes

do meio Unidade -1 0 +1

F1 Sacarose % 0 0,5 1

F2 Hexadecano % 0 0,5 1

F3 Glicerol % 0 0,5 1

F4 Óleo de soja % 0 0,5 1

F5 Glicose % 0 0,5 1

F6 Uréia g/L 0 2,5 5

F7 (NH4)2SO4 g/L 0 2,5 5

F8 Peptona g/L 0 2,5 5

F9 Ex. levedura g/L 0 2,5 5

F10 K2HPO4 g/L 0 1 2

F11 KH2PO4 g/L 0 1 2

F12 NaCl % 0 1,5 3

2.2.2. Ensaios de tensiometria

Os ensaios de tensiometria foram realizados através do método do anel (Du Nouy),

utilizando tensiomêtro Kruss (Easy Dyne), com o sobrenadante livre de células

proveniente dos ensaios de delineamento experimental P&B. Os resultados foram

analisados pelo software STATISTICA 8. O nível de significância de 10% (p <0,1) foi

considerado para as variáveis que tiveram influência significativa na redução da tensão

superficial.

2.2.3. Ensaios de emulsificação (E 24)

Do mesmo modo, os ensaios de emulsificação foram realizados utilizando o

sobrenadante livre de células proveniente dos ensaios de delineamento experimental.

Querosene e óleo diesel foram empregados como hidrocarbonetos. Em um tubo de

ensaio com rosca (10 x 130 mm) foi adicionado 1 mL do sobrenadante da cultura livre de

células e 1 mL de um dos diferentes óleos. A solução foi homogeneizada vigorosamente

em vórtex por 1 minuto e deixada em repouso por 24 horas à temperatura ambiente.

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Após 24 horas, a altura da emulsão (fase do óleo) foi mensurada. Os valores foram

aplicados na seguinte fórmula:

E24 = ℎ (𝑒𝑚𝑢𝑙𝑠𝑖𝑓𝑖𝑐𝑎çã𝑜)

ℎ (𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙) × 100

2.2.4. Imobilização dos micro-organismos em quitosana

Esta etapa do trabalho foi realizada no Laboratório de Ecologia Microbiana e

Biotecnologia, na Universidade Federal do Ceará, sob a supervisão da Profa. Vânia Maria

Melo. A metodologia utilizada foi baseada no trabalho de Angelim e colaboradores

(Angelim et al., 2013).

2.2.4.1. Ensaio de resistência à quitosana e tripolifosfato de sódio (TPP)

Inicialmente, foram selecionados os micro-organismos que tiveram melhor

desempenho na biodegradação de petróleo em microcosmos, realizados com os micro-

organismos na forma livre (descritos no Capítulo 1), a saber: os 4 clones na forma de pool,

o clone 2B, e as linhagens CBMAI 705, 636 e 707. Testes preliminares de resistência à

quitosana e TPP (tripolifosfato de sódio) foram realizados. Os ensaios foram realizados em

triplicata. Um gel de quitosana 3%, assim como a solução de TPP 1%, pH 9.0, e solução

salina 0,9%, foram preparados e autoclavados por 15 minutos, exceto o gel de quitosana.

As soluções, assim como o gel, foram distribuídas em tubinhos de vidro no volume de 1

mL e, posteriormente, foram adicionados de 100 microlitros da cultura de micro-

organismos, previamente cultivados em caldo nutriente (ATGE-Ágar, triptona, glicose e

Extrato de levedura) e LB acrescidos de cloranfenicol. Tempos de contato de 3 e 6 horas

foram verificados. A solução salina foi utilizada como controle negativo. Os micro-

organismos que resistiram à quitosana foram posteriormente imobilizados.

2.2.4.2. Imobilização dos micro-organismos

Para realizar a imobilização, foram feitos separadamente um pré-inóculo em 5 mL

de caldo TGE (triptona, glicose e extrato de levedura) para a linhagem CBMAI 707 e em

LB+ cloranfenicol para os clones metagenômicos. Para o preparo do inóculo (5%), as

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células foram inoculadas em frasco Erlenmeyer contendo 200 mL de meio de cultivo na

densidade óptica (DO600) ajustada para 0,1. O inóculo foi incubado por 24 horas, 150 rpm,

a 37°C para os clones e 30°C para a linhagem CBMAI 707. Após esse período, novamente

foi mensurada a densidade óptica (DO600), sendo que neste caso o valor deveria estar

acima de 1,0. Posteriormente, as células foram centrifugadas por 15 minutos a 9000 rpm.

O pellet celular foi suspenso em solução salina e adicionado a um gel de quitosana 3%,

homogeneizado cuidadosamente, com auxílio de bastão de vidro, no qual permaneceu em

“repouso” por 30 minutos. Após esse período, o gel foi colocado em seringas estéreis de

10 mL acopladas em agulhas (0,70 x 25 mm) e gotejado em um frasco contendo uma

solução de TPP. Durante o processo de gotejamento, um bastão de vidro foi utilizado para

mexer a solução à medida que as beads eram formadas, com intuito de não haver a

formação de um aglomerado e, desta forma, evitar perdas (Figura 2.1).

Figura 2.1. Processo de imobilização de micro-organismos. (A) Gotejamento do gel de quitosana em solução de TPP. (B) Pequenas esferas já formadas no fundo do frasco.

Após o gotejamento do conteúdo total do gel de quitosana contendo micro-

organismos, as esferas foram deixadas por 3 horas imersas na solução de TPP. Procedeu-

se então à lavagem das mesmas, utilizando peneiras e solução de fosfato de potássio

bibásico (K2HPO4) 0,15 M. A lavagem foi feita por 3 vezes, com intervalos de repouso de

10 minutos. Ao final das três lavagens, foram acondicionadas em frascos estéreis

contendo solução de K2HPO4 0,15 M e mantidas a 4°C.

A B

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2.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.3.1. Otimização da produção de biossurfactante por planejamento Placket-

Burman (P&B)

Visando otimizar a produção de biossurfactantes, a avaliação das condições físico-

químicas do processo pode ser considerada como um fator relevante. Neste sentido, o uso

de abordagens estatísticas tem sido amplamente empregado. Assim, o objetivo desta

etapa foi avaliar o efeito de componentes do meio de cultura, a fim de maximizar a

produção de biossurfactante pelos micro-organismos que apresentaram os melhores

resultados em ensaios prévios de tensiometria. A estratégia utilizada foi um planejamento

experimental do tipo Plackett-Burman, esta abordagem é recomendada quando se deseja

avaliar um grande número de fatores através de uma triagem experimental com foco na

redução do número de ensaios (Rodrigues e Iemma, 2005).

Foram avaliadas inicialmente 12 variáveis, dentre elas cinco fontes de carbono

(sacarose, glicose, glicerol, óleo de soja e hexadecano), quatro fontes de nitrogênio (uréia,

(NH4)2SO4, extrato de levedura e peptona) e três fontes de sais (NaCl, K2HPO4 e KH2PO4).

Os valores centrais dos níveis estudados (Ponto Central), bem como os constituintes do

meio são dados disponíveis na literatura (Sanket et al., 2007; Franzetti et al., 2009; Onwosi

& Odibo, 2012).

Nas Figuras 2.2 a 2.10 é demonstrado o efeito das variáveis utilizadas no

delineamento Placket-Burman com melhor resposta na redução de tensão superficial,

avaliadas nos ensaios de tensiometria para os diferentes clones e as linhagens de

bactérias.

Clone 1A

Como já observado em ensaios anteriores, os valores de tensão não diferiram muito

em comparação aos experimentos utilizando somente meio mineral +

hexadecano/glicerol. Os valores de tensiometria do clone 1A estão representados na

Tabela 2.3.

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Tabela 2.3. Valores de tensiometria exibidos pelo clone 1A utilizando o planejamento P&B.

Para o clone 1A, não foi observado nenhum efeito negativo das variáveis. Dentre as

fontes de carbono, óleo de soja teve um maior efeito dentre as outras variáveis, o que

pode ser observado nos testes de emulsificação e tensiometria (Figura 2.2). O menor valor

de tensiometria alcançado foi de 44,3, no tratamento 13, que leva em sua composição

peptona e hexadecano, ao invés de óleo de soja. Entre as fontes de nitrogênio, peptona

demonstra ser a fonte que mais influenciou os resultados. Na Tabela 2.4 estão

representados os efeitos das variáveis, assim como o valor p. As variáveis mais

significativas apresentam o valor p abaixo de 0,1 (p<0,1), representadas em vermelho.

Tratamento Valores (mN/m)

1 50,5

2 52,8

3 56,9

4 47,9

5 50,9

6 49

7 54,1

8 52,3

9 46,7

10 47,9

11 48,9

12 49,7

13 44,3

14 54,2

15 48

16 71

17 45,9

18 45,6

19 45

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Figura 2.2. Efeito das variáveis que apresentaram melhor resposta no P&B para o clone 1A.

Tabela 2.4: Efeito de cada variável e estimativa do valor p para o clone 1A.

Efeito Erro Padrão t(6) valor p

Mean/Interc. 19,17368 1,107329 17,31525 0,000002

Sacarose 1,56250 2,413369 0,64744 0,541315

Hexadecano 2,56250 2,413369 1,06179 0,329187

Glicerol 0,93750 2,413369 0,38846 0,711085

Óleo de soja 4,13750 2,413369 1,71441 0,137281

Glicose 3,33750 2,413369 1,38292 0,215953

Uréia 2,36250 2,413369 0,97892 0,365424

Sulfato 0,48750 2,413369 0,20200 0,846592

Peptona 6,38750 2,413369 2,64672 0,038196

Ext. levedura 2,61250 2,413369 1,08251 0,320600

K2HPO4 3,56250 2,413369 1,47615 0,190361

KH2PO4 1,38750 2,413369 0,57492 0,586239

NaCl 2,91250 2,413369 1,20682 0,272918

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Clone 2B

Para o clone 2B, o mesmo ocorreu como observado para o clone 1A, os valores de

tensiometria não diferiram com relação aos ensaios anteriores. O menor valor observado

foi de 44,1 mN/m, no tratamento 12, composto por óleo de soja e KH2PO4 (Tabela 2.5).

Tabela 2.5. Valores de tensiometria utilizando o planejamento P&B para o clone 2B.

Dentre as variáveis nos ensaios, óleo de soja e KH2PO4 tiveram maior efeito positivo,

influenciando na redução da tensão superficial. No entanto, nenhuma variável atingiu o

valor p menor que 1, o que é estatisticamente colocado como efeito (Figura 2.3 e Tabela

2.6).

Tratamento Valores (mN/m)

1 54,7

2 49,4

3 47,4

4 45,2

5 48,9

6 45,2

7 52,6

8 51,4

9 45,4

10 45,1

11 48

12 44,1

13 45,3

14 51,9

15 45,9

16 71

17 43,8

18 43,2

19 45,8

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Figura 2.3. Efeito das variáveis que apresentaram melhor resposta no delineamento P&B para o

clone 2B.

Tabela 2.6. Efeito de cada variável e estimativa do valor p para o clone 2B.

Efeito Erro Padrão t(5) valor p

Mean/Interc 23,04667 1,020914 22,57455 0,000003

Sacarose 1,58917 2,268519 0,70053 0,514845

Hexadecano 2,46417 2,268519 1,08624 0,326942

Glicerol 1,51417 2,268519 0,66747 0,534037

Óleo de soja 3,46417 2,268519 1,52706 0,187277

Glicose 0,46417 2,268519 0,20461 0,845944

Uréia -0,01083 2,268519 -0,00478 0,996374

(NH4)2SO4 1,33917 2,268519 0,59033 0,580641

Peptona 2,03917 2,268519 0,89890 0,409905

Ext. Levedura 0,41417 2,268519 0,18257 0,862306

K2HPO4 4,68917 2,268519 2,06706 0,093589

KH2PO4 -0,01083 2,268519 -0,00478 0,996374

NaCl 1,76417 2,268519 0,77767 0,471937

Clone 9E

Para o clone 9E, os valores de tensiometria ficaram entre 41,7 e 63 mN/m, sendo

que os menores valores de tensão foram observados para os tratamentos 11 e 13. Do

mesmo modo, neste ensaio foram observados baixos valores de tensão superficial para os

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tratamentos relacionados ao ponto central em triplicata (17, 18 e 19; entre 41,7 e 43,8

mN/m). Diferentemente de todos os outros tratamentos, onde algumas variáveis estão

ausentes, nos tratamentos do ponto central todas as variáveis adicionadas estão

presentes (Tabela 2.7).

Tabela 2.7. Valores de tensiometria utilizando o planejamento P&B para o clone 9E.

Nos ensaios envolvendo esse clone, algumas variáveis apresentaram efeito negativo,

como sacarose, (NH4)2SO4 e KH2PO4. Essa variáveis seriam descartadas no caso de um

próximo ensaio envolvendo delineamento experimental (Figura 2.4). Dentre as fontes de

carbono, o óleo de soja teve maior efeito na redução da tensão superficial, assim como a

peptona (p<0,1) (Tabela 2.8). Nos tratamentos 11 e 13, a peptona está presente como

componente, porém o óleo de soja compõe apenas o ensaio 11. Nos ensaios 17, 18 e 19,

Tratamento Valores mN/m

1 51,2

2 56,9

3 64,1

4 45

5 48,1

6 48

7 57

8 51,8

9 47,2

10 45,1

11 44,9

12 49,4

13 44,9

14 55,5

15 46,9

16 71

17 43,8

18 41,7

19 43,4

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está o ponto central (em triplicata), tratamento no qual estão presentes todas as variáveis

testadas. Para o clone 9E, o ponto central apresentou um valor semelhante aos

tratamentos 11 e 13.

Figura 2.4. Efeito das variáveis que apresentaram melhor resposta no delineamento P&B para o

clone 9E.

Tabela 2.8. Efeito de cada variável e estimativa do valor p para o clone 9E.

Efeito Erro Padrão t(5) valor p

Mean/Interc 21,31333 1,667183 12,78404 0,000052

Sacarose -1,48167 3,704561 -0,39996 0,705703

Hexadecano -0,00667 3,704561 -0,00180 0,998634

Glicerol 1,26833 3,704561 0,34237 0,745995

Óleo de soja 5,26833 3,704561 1,42212 0,214260

Glicose 2,86833 3,704561 0,77427 0,473773

Uréia 0,51833 3,704561 0,13992 0,894187

Sulfato -2,35667 3,704561 -0,63615 0,552653

Peptona 7,49333 3,704561 2,02273 0,099025

Ext. Levedura 2,34333 3,704561 0,63255 0,554819

K2HPO4 2,01833 3,704561 0,54482 0,609285

KH2PO4 -1,25667 3,704561 -0,33922 0,748226

NaCl 2,44333 3,704561 0,65955 0,538707

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Clone 10 A

Para o clone 10 A, os valores de tensiometria variaram entre 41 a 61 mN/m, atigindo

a maior redução no tratamento 4 (Tabela 2.9).

Tabela 2.9. Valores de tensiometria utilizando planejamento P&B para o clone 10A.

Tratamento Valores (mN/m)

1 52,3

2 48,1

3 61

4 41

5 47,5

6 50

7 48

8 51,9

9 47,6

10 47,8

11 48,9

12 50

13 44,9

14 55,2

15 46,5

16 71

17 47

18 46,8

19 46,1

Algumas variáveis apresentaram efeito negativo nos ensaios, como sacarose,

glicerol, (NH4)2SO4 e fosfato de potássio bibásico (KH2PO4), que seriam eliminados se

houvesse um próximo experimento (Figura 2.5). As variáveis óleo de soja (p<0,1) e

peptona, que também compõem o tratamento 4, tiveram maior efeito para este clone

(Tabela 2.10).

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Figura 2.5. Efeito das variáveis que apresentaram melhor resposta no delineamento P&B para o

clone 10 A.

Tabela 2.10. Efeito de cada variável e estimativa do valor p para o clone 10A.

Efeito Erro Padrão t(5) valor p

Mean/Interc 21,77000 1,038867 20,95552 0,000005

Sacarose -0,79125 2,308413 -0,34277 0,745713

Hexadecano 3,45875 2,308413 1,49832 0,194322

Glicerol -1,14125 2,308413 -0,49439 0,641986

Óleo de soja 5,05875 2,308413 2,19144 0,079951

Glicose 1,08375 2,308413 0,46948 0,658488

Uréia 0,53375 2,308413 0,23122 0,826308

Sulfato -2,81625 2,308413 -1,21999 0,276866

Peptona 4,45875 2,308413 1,93152 0,111273

Ext. Levedura 0,08375 2,308413 0,03628 0,972463

K2HPO4 0,13375 2,308413 0,05794 0,956041

KH2PO4 -0,39125 2,308413 -0,16949 0,872056

NaCl 3,40875 2,308413 1,47666 0,199800

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E. coli EPI 300

A linhagem hospedeira dos clones fosmidiais E. coli EPI 300 também foi submetida

aos ensaios utilizando a estratégia P&B para fins de comparação. Os valores de

tensiometria não diferiram muito dos valores observados nos ensaios com os clones

metagenômicos, variando entre 42 e 59 mN/m. O tratamento 10 foi o que apresentou o

menor valor de tensão, 42,7 mN/m (Tabela 2.12).

Tabela 2.11. Valores de tensiometria utilizando planejamento P&B para E. coli EPI 300.

Tratamento Valores (mN/m)

1 51,9

2 46,3

3 48,1

4 49,3

5 46,1

6 50,3

7 46

8 53,3

9 47

10 42,7

11 48,1

12 49,8

13 49

14 59,4

15 48,3

16 71

17 46,2

18 48,4

19 46,6

Para a E. coli EPI 300, todas as variáveis tiveram efeito positivo. No entanto, o efeito

das fontes de carbono diferiu em relação ao observado para os clones. Neste ensaio, o

hexadecano teve o maior efeito positivo na redução da tensão superficial, em relação ao

óleo de soja (Figura 2.6). No entanto, o óleo de soja também apresentou efeito positivo,

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assim como fosfato de potássio bibásico, apresentando o valor p abaixo de 0,1 (Tabela

2.12). O tratamento 10 contém em sua composição hexadecano e fosfato de potássio

bibásico. Para um próximo experimento, se necessário, essas três variáveis seriam fixadas.

Figura 2.6. Efeito das variáveis que apresentaram melhor resposta no delineamento P&B para

E.coli EPI 300.

Tabela 2.12. Efeito de cada variável e estimativa do valor p para a E.coli EPI 300.

Efeito Erro Padrão t(6) p-valor

Mean/Interc. 21,58947 1,009018 21,39652 0,000001

Sacarose 1,88750 2,199104 0,85830 0,423680

Hexadecano 7,26250 2,199104 3,30248 0,016357

Glicerol 1,56250 2,199104 0,71052 0,504052

Óleo de soja 4,66250 2,199104 2,12018 0,078264

Glicose 3,61250 2,199104 1,64271 0,151549

Uréia 1,03750 2,199104 0,47178 0,653750

Sulfato 2,23750 2,199104 1,01746 0,348194

Peptona 3,48750 2,199104 1,58587 0,163863

Ext. levedura 3,06250 2,199104 1,39261 0,213154

K2HPO4 5,23750 2,199104 2,38165 0,054645

KH2PO4 0,48750 2,199104 0,22168 0,831914

NaCl 0,51250 2,199104 0,23305 0,823470

0,000001,000002,000003,000004,000005,000006,000007,000008,00000

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Pode-se concluir que, para a maioria dos clones, o óleo de soja e a peptona foram as

duas variáveis que tiveram o maior efeito na redução da tensão superficial. Houve

também diferenças entre a linhagem hospedeira e os clones, como já verificado em

ensaios prévios neste trabalho.

Em comparação com resultados anteriores de tensiometria observados em

experimentos anteriores (dados não mostrados), os valores de redução da tensão

superficial utilizando o sobrenadante dos clones não foram alterados, mesmo aplicando

diferentes condições de cultivo. Isso poderia ser explicado pela hipótese de que os clones

podem não carregar uma via metabólica inteira nos seus insertos, e elementos

regulatórios poderiam eventualmente estar ausentes. Já é descrito na literatura que vias

relacionadas com a produção de biossurfactante estão organizadas em grandes operons.

Surfactina, por exemplo, é sintetizada por um operon de 25 kb (Sen, 2010), assim como

Emulsan, um biossurfactante de alto peso molecular, é sintetizado por um cluster de

genes de 27 kb (Satpute et al., 2010). Por outro lado, algum composto tensoativo parece

estar sendo produzido, pois, mesmo que em valores não significantes é possível perceber

uma pequena redução na tensão superficial do meio e a formação de emulsão (item

2.3.2).

Dietzia sp. CBMAI 705

O gênero Dietzia já é descrito com relação à sua capacidade de degradação de

hidrocarbonetos (Nakano et. al, 2011). No entanto, na literatura existe ainda pouca

informação sobre produção de biossurfactantes por esse gênero. Os valores de

tensiometria observados para esta bactéria variaram entre 40 a 62 mN/m, sendo o menor

valor observado quando aplicado o tratamento 5. Este tratamento é composto de óleo de

soja e NaCl (Tabela 2.13).

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Tabela 2.13. Valores de tensiometria utilizando planejamento P&B para Dietzia sp. CBMAI 705.

Tratamento Valores (mN/m)

55,6

2 50,1

3 62,2

4 45

5 40

6 42

7 55,1

8 54,8

9 44,1

10 47,3

11 46,2

12 42,7

13 46,7

14 59,8

15 42,3

16 71

17 48,2

18 40

19 46,6

Algumas variáveis apresentaram efeito negativo, como sacarose, uréia, (NH4)2SO4 e

KH2PO4. O óleo de soja teve efeito positivo ( valor p < 0,1), assim como NaCl (Figura 2.7 e

Tabela 2.14).

Dietzia é um gênero frequentemente encontrado em ambientes salinos

(Kleinsteuber et al., 2006). A linhagem em estudo (CBMAI 705) foi isolada de reservatórios

de petróleo (Vasconcellos et al., 2009), onde a salinidade geralmente é elevada, e isso

pode explicar o efeito maior dessa variável no experimento.

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82

Figura 2.7. Efeito das variáveis que apresentaram melhor resposta no P&B para Dietzia sp. CBMAI

705.

Tabela 2.14. Efeito de cada variável e estimativa do valor p para Dietzia sp. CBMAI 705.

Achromobacter xylosoxidans CBMAI 709

Os valores de tensiometria para Achromobacter xylosoxidans variaram de 45 a 63

mN/m, sendo que o tratamento 4 apresentou o menor valor na redução de tensão

superficial, 45 mN/m (Tabela 2.15).

Efeito Erro Padrão t(5) valor p

Mean/Interc 22,54000 1,210116 18,62632 0,000008

Sacarose -0,88250 2,688936 -0,32820 0,756061

Hexadecano 2,11750 2,688936 0,78749 0,466669

Glicerol 0,41750 2,688936 0,15527 0,882685

Óleo de soja 10,39250 2,688936 3,86491 0,011821

Glicose 3,69250 2,688936 1,37322 0,228065

Uréia -1,45750 2,688936 -0,54204 0,611067

Sulfato -3,83250 2,688936 -1,42529 0,213394

Peptona 2,74250 2,688936 1,01992 0,354552

Ext. Levedura 3,29250 2,688936 1,22446 0,275317

K2HPO4 3,36750 2,688936 1,25235 0,265827

KH2PO4 -5,08250 2,688936 -1,89015 0,117337

NaCl 4,39250 2,688936 1,63355 0,163282

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Tabela 2.15. Valores de tensiometria utilizando planejamento P&B para Achromobacter xylosoxidans CBMAI 709.

Algumas variáveis apresentaram efeito negativo, como o glicerol, uréia, sulfato de

amônio e fosfato de potássio, podendo ser eliminadas em um próximo ensaio, se

necessário (Figura 2.8).

As variáveis com maior efeito foram óleo de soja, peptona e fosfato de potássio

bibásico (K2HPO4). O tratamento 4, onde foi observado o menor valor de tensão

superficial, é composto de óleo de soja e peptona. Outras variáveis, como hexadecano e

glicose, tiveram o valor p abaixo de 0,1, no entanto com menor efeito em comparação ao

óleo de soja e peptona (Tabela 2.16).

Achromobacter xylosoxidans já é descrita na literatura com relação à sua capacidade

de degradação de hidrocarbonetos (Nielsen et al., 2006; Ghevariya et al., 2011). Assim

Tratamento Valores (mN/m)

1 50

2 49

3 57

4 45

5 49,4

6 49,7

7 52,9

8 52,2

9 49,1

10 47,8

11 48,6

12 48,4

13 48,7

14 63

15 48

16 71

17 51,6

18 49,4

19 53,9

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como Dietzia, o gênero Achromobacter é pouco relatado produzindo biossurfactantes

(Tambekar et al., 2012).

Figura 2.8. Efeito das variáveis que apresentaram melhor resposta no P&B para a linhagem

Achromobacter xylosoxidans CBMAI 709.

Tabela 2.16. Efeito de cada variável e estimativa do valor p para Achromobacter xylosidans CBMAI

709.

Efeito Erro Padrão t(5) valor p

Mean/Interc 19,76000 0,560220 35,27185 0,000000

Sacarose 2,23250 1,244837 1,79341 0,132881

Hexadecano 2,60750 1,244837 2,09465 0,090364

Glicerol -0,84250 1,244837 -0,67680 0,528575

Óleo de soja 4,55750 1,244837 3,66112 0,014578

Glicose 2,55750 1,244837 2,05449 0,095098

Uréia -0,96750 1,244837 -0,77721 0,472186

Sulfato -2,26750 1,244837 -1,82152 0,128158

Peptona 4,98250 1,244837 4,00253 0,010297

Ext. Levedura 1,00750 1,244837 0,80934 0,455091

K2HPO4 3,03250 1,244837 2,43606 0,058939

KH2PO4 -1,06750 1,244837 -0,85754 0,430322

NaCl 1,40750 1,244837 1,13067 0,309494

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Micrococcus sp. CBMAI 636

O gênero Micrococcus é relatado em trabalhos que mencionam a produção de

biossurfactantes (Das et al., 1998; Tuleva et al., 2009; Palme et al., 2010). Para a linhagem

de Micrococcus sp. em estudo, os valores de tensiometria não variaram muito com

relação aos ensaios anteriores (dados não mostrados), sendo que o menor valor

observado foi de 45 mN/m, no tratamento 4 (Tabela 2.17).

Tabela 2.17. Valores de tensiometria utilizando planejamento P&B para Micrococcus sp. CBMAI

636.

A maioria dos compostos utilizados teve efeito positivo, destacando-se como fonte

de carbono o óleo de soja e a peptona. Sulfato de amônio e fosfato de potássio

apresentaram efeito negativo (Figura 2.9 e Tabela 2.18). Assim como ocorreu com

Tratamento Valores mN/m

1 54,7

2 57,4

3 64,3

4 45

5 51,4

6 52,2

7 57

8 54,1

9 49,4

10 52,8

11 51

12 51,3

13 48,7

14 60

15 48,9

16 71

17 50,7

18 49,9

19 50,2

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Achromobacter, o tratamento 4 para essa linhagem foi o que apresentou menor valor de

tensão, que continha, dentre vários compostos, de óleo de soja e peptona. Das e

colaboradores (1998) relataram a capacidade de redução de tensão em algumas espécies

de Micrococcus, cultivadas na presença de diferentes hidrocarbonetos e açúcares. Os

valores variaram entre as fontes hidrofóbicas e hidrofílicas, entre 45,2 (dodecano) e 58,3

mN m-1 (octadecano), no caso dos hidrocarbonetos, e 51,4 (sacarose) e 57,5 mN m-1

(glicose), no caso dos açúcares, valores semelhantes aos observados para este

experimento. Tuleva e colaboradores (2009) relataram um tipo de biossurfactante

produzido por uma linhagem de Micrococcus luteus que foi capaz de reduzir a tensão

superficial da água de 72 a 24,1 mN m-1. Esta eficiência não foi observada para os micro-

organismos em estudo.

Figura 2.9. Efeito das variáveis que apresentaram melhor resposta no P&B para a linhagem

Micrococcus sp. CBMAI 636.

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Tabela 2.18. Efeito de cada variável e estimativa do valor p para Micrococcus sp. CBMAI 636.

Bacillus subtilis CBMAI 707

Para Bacilus subtilis CBMAI 707, já era esperada uma maior redução nos valores de

tensão superficial, pois como já mencionado, essa linhagem possui genes relacionados à

produção de surfactina. Parte do operon relacionado com a síntese de surfactina foi

detectada na linhagem CBMAI 707 através de reação de PCR com primers específicos

(Dellagnezze, 2010). O gênero Bacillus é um dos mais bem descritos em relação à

produção de biossurfactantes (Sullivan, 2008; Mukherjee et al., 2008; Ghribi et al., 2011).

Neste ensaio, os valores de tensiometria ficaram entre 37 e 56 mN/m. Os menores valores

foram observados nos tratamentos 5 (39,4), 9 (37,8) e 11 (37,4) (Tabela 2.19).

Efeito Erro Padrão t(5) valor p

Mean/Interc 17,73333 0,825133 21,49149 0,000004

Sacarose 0,55833 1,833486 0,30452 0,772999

Hexadecano 1,15833 1,833486 0,63177 0,555294

Glicerol -0,04167 1,833486 -0,02273 0,982748

Óleo de soja 6,10833 1,833486 3,33154 0,020744

Glicose 2,10833 1,833486 1,14990 0,302195

Uréia 0,20833 1,833486 0,11363 0,913955

Sulfato -1,79167 1,833486 -0,97719 0,373353

Peptona 6,50833 1,833486 3,54971 0,016393

Ext. Levedura 0,65833 1,833486 0,35906 0,734214

K2HPO4 1,00833 1,833486 0,54995 0,606014

KH2PO4 -0,34167 1,833486 -0,18635 0,859496

NaCl 3,45833 1,833486 1,88621 0,117933

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Tabela 2.19. Valores de tensiometria utilizando o planejamento P&B para Bacillus subtilis CBMAI

707.

Algumas variáveis tiveram efeito negativo, como sacarose, sulfato de amônio,

fosfato de potássio e cloreto de sódio (Figura 2.10). Assim como em todos os ensaios, o

óleo de soja teve o maior efeito positivo, com valor p menor que 0,1. Dentre as fontes de

nitrogênio, extrato de levedura também apresentou o maior efeito para a redução de

tensão superficial (Tabela 2.20). Os tratamentos que apresentaram menores valores de

tensão possuem, em sua composição, óleo de soja, extrato de levedura e peptona.

Ainda que a linhagem de Bacillus subtilis tenha apresentado os menores valores de

tensão superficial entre as linhagens avaliadas, linhagens da mesma espécie foram

relatadas com melhor eficiência, reduzindo a tensão da água para 29, 5 mN/m, quando

cultivadas em glicose (Joshi et al., 2011) e 26,6 mN/m quando cultivadas em resíduos de

Tratamento Valores mN/m

1 49,4

2 55,5

3 53,7

4 47,9

5 39,4

6 46,8

7 55,9

8 53,2

9 37,8

10 43,6

11 37,4

12 46

13 46,4

14 53,2

15 48,5

16 71

17 41,2

18 48

19 43,4

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mandioca (Nitschke & Pastore, 2006). Isso pode variar de acordo com a linhagem e seus

genes, e ainda o tipo de biossurfactante produzido. Linhagens do gênero Bacillus podem

produzir até 9 tipos de isômeros da surfactina (Tang et al., 2007).

Figura 2.10. Efeito das variáveis que apresentaram melhor resposta no P&B para a linhagem

Bacillus subtilis CBMAI 707.

Tabela 2.20. Efeito de cada variável e estimativa do valor p para Bacillus subtilis CBMAI 707.

Efeito Erro Padrão t(5) valor p

Mean/Interc 23,19333 1,455779 15,93191 0,000018

Sacarose -0,60917 3,234811 -0,18832 0,858033

Hexadecano 1,91583 3,234811 0,59226 0,579446

Glicerol 3,16583 3,234811 0,97868 0,372686

Óleo de soja 7,04083 3,234811 2,17658 0,081463

Glicose 1,79083 3,234811 0,55361 0,603687

Uréia 0,41583 3,234811 0,12855 0,902725

Sulfato -1,00917 3,234811 -0,31197 0,767653

Peptona 5,91583 3,234811 1,82880 0,126963

Ext. Levedura 6,39083 3,234811 1,97564 0,105162

K2HPO4 2,49083 3,234811 0,77001 0,476081

KH2PO4 -0,50917 3,234811 -0,15740 0,881087

NaCl -0,55917 3,234811 -0,17286 0,869542

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90

2.3.2. Ensaios de emulsificação (E24)

Os ensaios de emulsificação foram realizados com o sobrenadante livre de células

proveniente do planejamento experimental P&B.

Duas fontes de carbono foram utilizadas, óleo diesel e querosene, já utilizadas em

ensaios prévios (dados não mostrados). Os valores estão representados na Tabela 2.21.

Para os clones, querosene foi a única fonte de hidrocarboneto que permitiu a

formação de emulsão estável após 24 horas. É possível observar que somente no

tratamento 9 foi formada emulsão por todos os clones (Figura 2.11), assim como para a

célula hospedeira EPI 300, alcançando valores em até 25% (Tabela 2.21). Com esse

tratamento foi possível também observar grande quantidade de massa de células, quando

as mesmas foram centrifugadas para a avaliação da tensiometria. O tratamento 9 é

composto de variáveis como sacarose, óleo de soja e hexadecano como fonte de carbono

e, do mesmo modo, várias fontes de nitrogênio, como uréia, sulfato de amônio

((NH4)2SO4), peptona e extrato de levedura. Já é conhecido que todos os compostos

utilizados para o cultivo do micro-organismo funcionam como fator limitante para a

produção de biossurfactantes.

Como pode ser observado na Tabela 2.21, apesar de ocorrer a formação de emulsão

em alguns dos tratamentos (2, 9 e 13), os valores de emulsificação da E. coli EPI 300 são

inferiores aos dos clones e, geralmente, pouco significativos. Porém, nos ensaios de

tensiometria, a linhagem também apresentou redução na tensão superficial, não diferindo

dos clones (item 2.3.2). Ainda não foi determinada a natureza da produção de possíveis

compostos tensoativos pela linhagem hospedeira. No caso do tratamento 9 do ensaio de

emulsificação, a E. coli EPI 300 apresentou índice de emulsificação igual ao do clone 9E, o

que poderia ser investigado em maior detalhe futuramente a fim de comparar os possíveis

compostos tensoativos sintetizados por cada um. Entretanto, como o objetivo principal

deste trabalho é verificar a capacidade de biorremediação, seja por meio de degradação

de hidrocarbonetos e/ou pela produção de biossurfactantes, os clones de uma maneira

geral demonstraram possuir atributos para essa finalidade, como o clone 2B, que

apresentou excelente capacidade de degradação do petróleo bruto e capacidade para

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emulsificação em querosene, o que o torna um ótimo candidato para estudos mais

detalhados e extremamente interessante para aplicação biotecnológica futura.

Tabela 2.21. Ensaio de emulsificação (E24) com clones metagenômicos utilizando querosene. Valores correspondem à média dos resultados obtidos para triplicatas.

Ensaio EPI 300 Clone 1ª Clone 2B Clone 9E Clone 10 A

2 16% _________ _________ _________ _________

4 _________ _________ _________ _________ 28%

9 25% 30% 35% 25% 31%

13 8% _________ _________ _________ _________

Deve ser ressaltado que as emulsões variaram entre os tratamentos para o mesmo

micro-organismo. No caso do clone 10 A, para o tratamento 4 foi verificada uma

“inversão” da emulsão, que se concentrou na fase aquosa (Figura 2.11).

Figura 2.11. Teste de emulsificação E24 com os clones metagenômicos utilizando querosene como fonte de hidrocarboneto. A) Clone 2B, Tratamento 9 (a e b); B) Clone 9E, controle negativo e Tratamento 9 (a e b); C) Clone 10 A, tratamentos 4 e 9, respectivamente.

Para as linhagens de bactérias foi realizado o mesmo ensaio (Figura 2.12). Na Tabela

2.22 estão representados os índices de emulsificação frente ao querosene, demonstrando

que somente em alguns tratamentos foi observada a formação de emulsão estável após

24 horas.

A B C

a) b) a) b) 4 9

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Tabela 2.22. Ensaio de emulsificação (E24) com linhagens de bactérias utilizando querosene. Valores correspondem à média dos resultados obtidos para triplicatas.

Ensaio Dietzia sp. CBMAI 705

Bacillus subtilis CBMAI 707

A. xylosoxidans

CBMAI 709

1 45% 37%

3 _________ 25% _________

5 _________ 10% 15%

10 14% _________ 22%

11 _________ 22% _________

12 _________ 20% _________

14 _________ 14% _________

17 22% 25% 25%

18 19% 20% 22%

19 _________ 20% 18%

Figura 2.12. Teste de emulsificação E24 com as linhagens de bactérias utilizando querosene como fonte de hidrocarboneto. (A) Dietzia sp. Tratamentos 10 (b e c) e 18; (B) Achromobacter xylosoxidans, (1) Tratamento 1 (a e b); (2) Tratamentos 17, 18 e 19; (C) Bacillus subtilis; (1) Tratamento 1 (a e b); (2) Tratamentos 11 e 14; (3) Tratamentos 3 e 10, respectivamente.

B

A B

1 2 10b) 10c) 18 a) b) 17 18 19

C

1 2 3 a) b) 11 14 3 10

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Apesar de ser mencionada a capacidade de produção de biossurfactantes por

Micrococcus na literatura (Banat et al., 2002; Tuleva et al., 2009), a linhagem avaliada não

produziu emulsão em nenhuma das fontes utilizadas (querosene e óleo diesel).

Dietzia sp. CBMAI 705 formou emulsões em um número menor de tratamentos, e

possivelmente menos estáveis (Figura 2.12 A). Existem na literatura trabalhos que

mencionam a capacidade de produção de biossurfactante desse gênero. Nakano e

colaboradores (2011) descreveram uma linhagem capaz de reduzir a tensão superficial

para 31 mN.m-1 e de emulsificar hexadecano. Do mesmo modo, é descrita a capacidade

desemulsificante desse gênero (Liu et al., 2009).

Achromobacter xylosoxidans CBMAI 709 apresentou emulsões estáveis apenas no

tratamento 1 e nos tratamentos 17, 18 e 19 (Figura 2.12 B). Bacillus subtilis CBMAI 707

apresentou formação de emulsões em um maior número de tratamentos (Figura 2.12 C).

Como já relatado, o genêro Bacillus é amplamente descrito como produtor de

biossurfactantes e com capacidade para emulsificação (Jacques et al. 1999; Mehdi & Giti,

2008; Oliveira et al., 2013).

As emulsões formadas variaram também entre os tratamentos de um mesmo micro-

organismo, assim como entre os micro-organismos. É importante ressaltar que, não houve

relação entre os tratamentos que proporcionaram uma maior redução de tensão

superficial e os tratamentos em que foi observada a formação de emulsão. Mais uma vez

é necessário mencionar que as moléculas de biossurfactantes e bioemulsificantes diferem

entre si. Na verdade, elas são divididas em dois grupos principais, as de alto peso

molecular, e as de baixo peso molecular. Essa diferença na estrutura química influencia

em sua função; biossurfactantes de alto peso molecular são descritos como

bioemulsificantes, e tem como principal característica estabilizar emulsões, aumentando a

área de superfície e disponibilizando hidrocarbonetos para degradação. Já os de baixo

peso tendem a diminuir a tensão superficial do meio, através da formação de micelas.

Acima da concentração micelar crítica (CMC), uma fração dos hidrocarbonetos

(contaminantes) se liga às micelas, aumentando assim a biodisponibilidade dos

hidrocarbonetos para a degradação pelos micro-organismos (Banat et al., 2010).

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Para o óleo diesel, a formação de emulsão foi observada para apenas duas linhagens

(Tabela 2.23), porém com resultados não significativos.

Bacillus subtilis CBMAI 707 apresentou um melhor desempenho, formando

pequenas emulsões em mais tratamentos, porém com menores índices de emulsificação.

Apesar do óleo de soja ter o maior efeito no ensaio, o melhor valor de emulsão observado

foi de 45% em querosene, utilizando uma combinação de dois açúcares (glicose e

sacarose) como fontes de carbono e duas fontes de nitrogênio (peptona e extrato de

levedura). Pereira e colaboradores (2013) investigaram a produção de biossurfactante em

três linhagens diferentes de Bacillus subtilis e observaram valores entre 37,3 a 52,7% de

emulsificação em hexadecano quando fontes diferentes de nitrogênio e carbono foram

utilizadas.

Tabela 2.23. Ensaio de emulsificação (E24) com linhagens de bactérias utilizando óleo diesel. Valores correspondem à média dos resultados obtidos para triplicatas.

TRATAMENTO CBMAI 707 CBMAI 709

1 10%

3 8%

10 -------------------- 19%

17 20%

18 13%

19 15%

O óleo diesel é utilizado em ensaios de emulsificação (Rahman et al., 2002), mas é

um óleo mais pesado do que o querosene, o que pode dificultar sua emulsificação.

Considerando que um biossurfactante efetivo deve reduzir a tensão superficial para

30 mN/m (Ashby et al., 2008; Desai & Banat, 1997), os resultados de tensiometria e de

emulsificação obtidos para os micro-organismos em estudo não foram satisfatórios.

Ainda, a busca por rotas metabólicas (dados não mostrados) associadas à produção de

tensoativos nos clones fosmidiais não resultou na identificação de genes conhecidos

efetivamente relacionados à síntese destes compostos. No entanto, vale ressaltar que,

mesmo não alcançando valores considerados ideais, as linhagens e clones metagenômicos

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foram capazes de reduzir a tensão superficial do meio e apresentaram formação de

emulsão, o que deve ser investigado mais profundamente em trabalhos futuros. Porém,

em função dos baixos valores observados, é provável que a degradação de

hidrocarbonetos do petróleo pelos clones se deva exclusivamente à ação de enzimas

envolvidas nas etapas de degradação de compostos alifáticos e aromáticos.

2.3.3. Imobilização dos micro-organismos em quitosana

2.3.3.1 Ensaio de resistência à quitosana e TPP

Os resultados de cromatografia (Capítulo 1) permitiram selecionar os melhores

degradadores de hidrocarbonetos para a etapa de imobilização. No entanto, um teste

preliminar de resistência a reagentes envolvendo o processo de imobilização foi realizado.

Como descrito anteriormente, 3 linhagens de bactérias (CBMAI 636, 705 e 707), o clone

2B e o consórcio de clones foram submetidos ao contato com quitosana, tripolifosfato de

sódio (TPP) e solução salina, como controle. Neste trabalho são apresentados apenas os

resultados referentes aos ensaios com as linhagens de bactérias, pois a E.coli EPI 300 já

havia sido previamente testada pelo grupo da Profa. Vânia Melo (Universidade Federal do

Ceará), apresentando resultados positivos de resistência tanto para quitosana como para

TPP.

Na tabela 2.24, são mostrados os resultados após 3 e 6 horas de contato.

Tabela 2.24. Ensaio de resistência à quitosana e TPP com as diferentes linhagens de bactérias.

Quitosana TPP Salina

3 h 6 h 3 h 6 h 3 h 6 h

Bacillus subtilis CBMAI 707 + + + + + +

Micrococcus sp. CBMAI 636 - - + + + +

Dietzia sp. CBMAI 705 - - + + + +

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Como pode ser observado, apenas a linhagem de Bacillus resistiu ao contato com

todas as soluções. As linhagens de Micrococcus e Dietzia não resistiram à quitosana, o que

impediu de seguir com o processo de imobilização neste composto. Estes resultados

foram similares àqueles obtidos por Angelim e colaboradores (2013), onde os micro-

organismos pertencentes ao Filo Actinobacteria não resistiram ao contato com a

quitosana. A quitosana tem, naturalmente, uma função antimicrobiana, o que em

determinados casos pode dificultar o emprego da técnica de imobilização de micro-

organismos nesta matriz.

Portanto, em função dos resultados obtidos, foram realizadas 3 imobilizações: uma

contendo apenas o clone 2B, outra contendo apenas Bacillus subtilis CBMAI 707 e um

consórcio contendo os quatro clones e Bacillus subtilis CBMAI 707.

2.3.3.2 Imobilização dos micro-organismos em quitosana

Após os processos de imobilização (descrito no item 3.5), foi realizada a contagem

das células. As beads foram maceradas e suspensas em solução salina e a partir daí foi

feita uma diluição seriada. As diluições foram plaqueadas pelo método de spread plate e

após 24 horas foi feita a contagem de unidades formadoras de colônias (UFC).

Para o clone 2B, a contagem inicial foi de 8,2 x 108 UFC/mL e a final foi de 2,32 x 106

UFC/mL. Para Bacillus subtilis CBMAI 707, a contagem inicial foi de 2,9 x 108 UFC/mL e a

final foi de 1,27 x 107 UFC/mL. Para o consórcio, inicialmente foram feitas 2 contagens,

uma utilizando LB + cloranfenicol e a outra NB sem cloranfenicol para a contagem das

células de Bacillus. No entanto, os bacilos cresceram muito pouco, em vista da maior

quantidade de células de E. coli, pois o pool é composto de 4 clones e 1 bacilo. Por fim, foi

considerado o número total de células, sem distinguir as células de Bacillus ou E. coli, já

que se trata de um consórcio, sendo que o intuito é avaliar a atividade dos micro-

organismos em conjunto. A contagem inicial do consórcio foi de 7,9 x 108 UFC/mL e a final

de 1,08 x 107 UFC/mL. A redução na contagem é esperada, pois o processo envolve uma

mudança drástica de pH, no gel em torno de 3, passando para 9 quando na solução de

TPP. Mesmo havendo a redução na contagem, o processo pode ser considerado bem

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sucedido, pois a quantidade de células aprisionadas (106-107 UFC/mL) nas beads é a

quantidade também utilizada em outros trabalhos na literatura (Chen et al., 2007; Hsieh

et al., 2008).

A quitosana é um polímero obtido através de reações de desacetilação da quitina,

um polissacarídeo presente em crustáceos, como camarões e lagostas. Apresenta algumas

características vantajosas em relação a outros materiais para ser utilizada no meio

ambiente, como biodegradabilidade e disponibilidade na natureza, além de não

apresentar toxicidade (Angelim et al., 2013). A estrutura principal da quitosana é

composta de grupos amina e hidroxila. Os grupos amina possibilitam a dissolução em

ácidos fracos, como ácido acético, utilizado neste protocolo. Quando a quitosana entra em

contato com a solução de tripolifosfato de sódio (TPP), ocorre uma modificação química

na qual os radicais amina se ligam com grupos fosfato da solução de TPP, o que torna a

estrutura da quitosana reticulada, uma forma mais estável.

A etapa de lavagem das esferas é necessária, pois remove o ácido e o TPP residual,

melhorando assim as condições dos micro-organismos imobilizados. Hsieh e

colaboradores (2008) investigaram diferentes soluções para a lavagem das beads, como

água, tampão PBS e fosfato de potássio bibásico (KH2PO4), e concluíram que a solução de

fosfato de potássio foi a mais efetiva e possibilitou a formação de microporos em sua

estrutura. Poros permitem a troca de nutrientes entre os meios externo e interno das

esferas, aumentando assim a “colonização” e possível formação de biofilmes no interior

das beads. A formação dessa estrutura de superfície porosa também é explicada pelas

cargas presentes na solução de fosfato de potássio, que permitem que através da alta

força iônica da solução ocorra um desmembramento das ligações dos compostos

quitosana e TPP presentes (Figura 2.13).

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2.4. Conclusões

Os clones metagenômicos e as linhagens de bactérias investigadas foram capazes

de reduzir a tensão superficial e produzir emulsões frente querosene, porém os valores

obtidos não foram significativos nas condições utilizadas quando comparados à literatura;

Bacillus subtillis CBMAI 707 foi a linhagem que apresentou melhores resultados

para redução da tensão superficial (37,4 mN/m) e de formação de emulsão em querosene

(45%);

As variáveis que apresentaram maior efeito, influenciando positivamente as

repostas dos ensaios de tensiometria e emulsificação foram óleo de soja e peptona, as

quais podem ser utilizadas em ensaios futuros de delineamento experimental;

2.5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Figura 2.13 a) Estrutura molecular da quitosana em ácido e tripolifosfato de sódio; b) ligações iônicas entre quitosana e TPP. Fonte: Hsieh et al., 2008.

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103

___________________________________Capítulo 3

Avaliação da estratégia de imobilização microbiana para a

degradação do petróleo em microcosmos

3.1. INTRODUÇÃO

Pesquisas realizadas sobre a microbiologia de reservatórios de petróleo têm

evidenciado que a comunidade microbiana associada a este tipo de ambiente é

representada por bactérias e arquéias de distribuição geográfica bastante ampla, e que

diversos destes organismos têm potencial para transformar compostos orgânicos e

inorgânicos, atuando na interface óleo-água dos reservatórios (Coates et al., 1997; Korda

et al., 1997). Na literatura é descrita uma ampla variedade de micro-organismos que tem

sido isolada e/ou identificada a partir de reservatórios de petróleo, incluindo grupos

aeróbios (Bacillus sp., Halomonas sp., Acinetobacter sp.; Rhodococcus sp.) (Oliveira et al.,

2008; Sette et al., 2007; Orphan et al., 2000), anaeróbios facultativos (Deferribacter,

Flexistipes) (Greene et al., 1997; Silva et al. 2013), redutores de sulfato (Desulfovibrio,

Desulfobacter) (Kleikemper et al., 2002; Jing et al., 2013), metanogênicos

(Methanothermococcus, Methanocalculus sp., Methanococcus sp.) (Takai et al., 2002;

Yoshida et al., 2003; Hui et al., 2007) e fermentativos.

Entretanto, geralmente, uma só espécie de micro-organismo não é capaz de

promover a degradação completa da mistura de hidrocarbonetos, sendo necessária a

atuação de consórcios microbianos munidos de uma ampla variedade enzimática capaz de

agir sobre os compostos aromáticos (por exemplo, benzeno, tolueno, naftaleno)

(Okerentungba & Ezeronye, 2003; Kanaly & Harayama, 2000). Nesta situação, os produtos

da biotransformação de um composto podem servir como fonte de carbono e energia

para outras espécies da comunidade (Röling et al., 2003).

A estratégia de imobilização ou encapsulamento de micro-organismos pode oferecer

um melhor suporte à sobrevivência ambiental em condições de estresse, possibilitando,

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104

deste modo, processos de biodegradação mais eficientes quando comparados à utilização

de células livres (Tyagi et al., 2011).

O encapsulamento controla o fluxo de nutrientes, diminui a concentração de

compostos tóxicos no microambiente das células, minimiza os danos à membrana celular

e a exposição direta aos compostos poluentes e protege da predação e competição.

Alguns materiais utilizados para imobilização incluem matrizes naturais, como alginato de

cálcio e carragena, e polímeros sintéticos, como álcool polivinílico (PVA) e triacetato de

celulose (CTA). O aprisionamento celular vem sendo estudado e aplicado principalmente

em tratamento de resíduos para a remoção de poluentes, como fenol e corantes

(Siripattanakul & Khan 2010). Neste capítulo são apresentados ensaios de degradação de

petróleo em microcosmos, avaliando-se linhagens de bactérias e clones metagenômicos

provenientes de reservatórios de petróleo imobilizadas em quitosana.

3.2. Material e Métodos

Como já descrito no Capítulo anterior, clones metagenômicos e a linhagem de

Bacillus subtilis CBMAI 707 foram previamente selecionados e imobilizados em quitosana.

A partir dessa etapa, novos ensaios de degradação em microcosmos foram realizados

utilizando os micro-organismos imobilizados.

3.2.1 Ensaios de degradação em microcosmos

Como descrito anteriormente, ensaios utilizando microcosmos com água do mar

artificial, contaminada com petróleo bruto, foram realizados com a finalidade de avaliar o

potencial de degradação de oito diferentes micro-organismos, sendo 4 linhagens de

bactérias e 4 clones metagenômicos. Como base nos resultados de degradação do

petróleo observados para cada micro-organismo (Capítulo 1), apenas a linhagem de

Achromobacter xylosoxidans não foi selecionada para a etapa de imobilização em

quitosana. Testes para observar a resistência dos micro-organismos à quitosana foram

realizados, sendo que apenas a linhagem Bacillus subtilis CBMAI 707 e os quatro clones

metagenômicos resistiram. Deste modo, três imobilizações foram realizadas: i) contendo

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105

apenas o clone 2B, ii) contendo apenas Bacillus subtilis CBMAI 707 e iii) contendo um

consórcio dos quatro clones + Bacillus subtilis CBMAI 707. Os ensaios foram realizados de

duas formas: o primeiro foi realizado em água do mar artificial estéril (ASW), e o segundo

foi conduzido em água do mar natural não–estéril.

3.2.1.1 Ensaios em água do mar artificial (ASW)

Os micro-organismos imobilizados em quitosana foram avaliados em ensaios de

microcosmos utilizando água do mar artificial estéril (artificial seawater- ASW). Os ensaios

foram conduzidos em frascos Erlenmeyer, contendo 40 mL de ASW, 0,1% de extrato de

levedura e 1% de petróleo bruto, os quais foram incubados a 30° C por 21 dias. A

avaliação da degradação do petróleo e da contagem total de micro-organismos foi

realizada a cada 7 dias por 21 dias. Como controle negativo, foi utilizado ASW nas mesmas

condições, porém sem a presença dos micro-organismos. Como descrito anteriormente, o

conteúdo total dos frascos Erlenmeyer contendo os microcosmos foi submetido à

extração da fase aquosa, seguindo o protocolo descrito por Cruz et al. (2008). As amostras

foram lavadas por três vezes com 40 mL de diclorometano (CH2Cl2) em funil de separação,

descartando-se a fase aquosa e transferindo-se a fase orgânica para um novo frasco

Erlenmeyer. Posteriormente, foi adicionado sulfato de sódio anidro (Na2SO4) como agente

secante. Por fim, foi realizada a filtração em algodão e rota-evaporação das amostras para

completa evaporação do solvente. A etapa da extração das amostras foi realizada em

nosso laboratório (DRM - CPQBA/UNICAMP), e posteriormente, análises de CG-EM foram

realizadas em colaboração com a Profa. Georgiana Feitosa da Cruz, do Laboratório de

Engenharia e Exploração de Petróleo-LENEP, da Universidade Estadual do Norte

Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).

3.2.1.2 Ensaios em água do mar não-estéril (SW)

Esses ensaios foram conduzidos apenas com o objetivo de observar se os micro-

organismos seriam capazes de degradar petróleo em água do mar não-estéril, sendo assim

um ensaio preliminar, comparado aos ensaios em maior escala (mesocosmos).

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106

A água do mar foi coletada na praia de Beira Mar, na cidade de Fortaleza e apenas

filtrada em papel de filtro. Os frascos Erlenmeyer foram autoclavados vazios e,

posteriormente, preenchidos com 40 mL de água do mar não-estéril. Petróleo bruto (1%)

e 2 g de beads de cada tratamento foram adicionados. As avaliações foram realizadas em

7, 21 e 40 dias. De maneira similar ao experimento em ASW, o conteúdo total dos frascos

Erlenmeyer contendo os microcosmos foi submetido à extração da fase aquosa, seguindo

protocolo descrito por Cruz et al. (2008).

3.2.1.3. Análises de cromatografia para os ensaios em frascos Erlenmeyer (ASW e SW)

A extração de petróleo para a análise de cromatografia seguiu o mesmo protocolo

descrito por Cruz et al. (2008), como já mencionado no Capítulo 1.

Para os dois ensaios (ASW e SW) as condições das análises de cromatografia gasosa

CG-DIC (ou GC-FID) foram as mesmas: cromatógrafo em fase gasosa Agilent 6890N, com o

detector do tipo ionização em chama (flame ionization detector, FID) com ar sintético, H2 e

N2 como gases de chama, e com coluna capilar de sílica fundida HP-5 (30 m x 0,32 mm x

0,25 μm). A programação de temperatura utilizada foi: temperatura inicial de 40oC

mantida por 1 minuto, seguida por aquecimento a uma taxa de 6 °C /min até 310oC, e

finalmente permanecendo nesta temperatura por 19 minutos. A temperatura do injetor

foi de 290oC e do detector de 320oC. O gás de arraste utilizado foi o hélio, com injeção

sem divisão de fluxo. Foi injetado 1 µL da amostra diluída em diclorometano na

concentração de 0,02 mg/µL.

3.2.2 Ensaios de degradação em tanques

É importante ressaltar que os ensaios de microcosmos realizados em tanques (90 L),

assim os como os ensaios em escala de mesocosmos (Capítulo 4), foram realizados no

Instituto per l`Ambiente Marino Costiero (CNR-IAMC), na cidade de Messina, Itália. Além

das análises de cromatografia, outros parâmetros foram avaliados, como a contagem total

de bactérias por DAPI, descrita no item 3.3.2.2 e demanda biológica de oxigênio (DBO),

descrita no item 3.3.3.3.

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107

Este ensaio teve caráter preliminar para definir, entre os sete micro-organismos

imobilizados, os mais eficientes em degradar petróleo bruto, para posteriormente serem

avaliados em ensaio de biorremediação em uma escala maior, utilizando mesocosmos

(tanques com 3000 L). Por apresentarem grande potencial para a degradação de petróleo

bruto (Capítulo 1), também foram avaliadas as linhagens Dietzia maris CBMAI 705 e

Micrococcus sp. CBMAI 636 aprisionadas em ágar (Vassileva et al., 2003), uma vez que

essas duas linhagens não resistiram ao processo de imobilização em quitosana.

Os ensaios foram conduzidos em tanques com capacidade para 90 litros,

preenchidos com 70 litros de água do mar, captada diretamente do mar de Messina

(Itália). Antes de entrar nos tanques, a água do mar foi filtrada por uma membrana de

nylon (200 lmnylon mesh), para remover metazoários e detritos maiores, e então

contaminada com 0,1 % de petróleo (10 mL) como única fonte de carbono, simulando

poluição crônica. Os micro-organismos imobilizados em esferas de quitosana (beads)

foram acondicionados dentro de “colunas”, desenvolvidas a partir de tubos “Falcon”, as

quais foram fixadas nas paredes do tanque, impedindo desse modo que as esferas

afundassem (Figura 3.1). Uma pequena bomba foi utilizada para promover a oxigenação

do sistema. A avaliação da degradação do petróleo bruto foi feita nos tempos 5, 10, 20 e

30 dias. Três ensaios foram conduzidos: i) clone 2B aprisionado em quitosana, ii) consórcio

de 4 clones + Bacillus subtilis CBMAI 707, também aprisionado em quitosana; iii) consórcio

somente com as linhagens de bactérias Bacillus subtilis CBMAI 707 + Micrococcus sp.

CBMAI 636 + Dietzia maris CBMAI 705, aprisionadas em ágar.

O experimento nos tanques foi conduzido em sistema aberto, no qual o fluxo de

entrada e saída de água do mar foi contínuo.

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108

3.2.2.1 Contagem Total de micro-organismos

A contagem total de células foi realizada através da coloração utilizando DAPI (4'-6

diamidino-2-fenilindol 2 HCl, Sigma-Aldrich). Amostras de água do tanque foram coletadas

e fixadas em formaldeído (com concentração final de 4%), de acordo com Porter e Feig

(1980). As lâminas foram analisadas em microscópio de fluorescência Axioplan 2 Imaging

(Carl Zeiss, Thornwood, NY,USA). Os resultados foram expressos em números de células.

mL-1. As amostras foram coletadas e medidas nos pontos 5, 10, 20 e 30 dias.

3.2.2.2 Demanda Biológica de Oxigênio (DBO)

A Demanda Biológica de Oxigênio (DBO) foi quantificada nos ensaios em tanques

utilizando um sensor específico, na escala de 90 ppm (VELP Scientifica), seguindo as

instruções do fabricante. As amostras foram coletadas e medidas nos pontos 5, 10, 20 e

30 dias.

3.2.2.3 Análises de Cromatografia (CG -FID)

A degradação de petróleo bruto foi analisada através de análise cromatográfica de

alta resolução utilizando o Master GC Fast Gas Chromatograph System (DANI Instrument

S.p.A., Milão). A identificação dos hidrocarbonetos alifáticos foi realizada pela comparação

das respectivas áreas com os correspondentes padrões (Chem Service Inc, West Chester,

B A

Figura 3.1. A) Tanques contendo as armadilhas com as beads; B) Armadilhas feitas a partir de tubos “Falcon”.

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109

PA, USA). Os hidrocarbonetos alifáticos foram calculados de acordo com as concentrações

de n-alcanos. A programação de temperatura foi: temperatura inicial de 50 °C por 4

minutos, seguido de aquecimento a uma taxa de 5°C/min até 155°C, sendo mantida esta

temperatura por 6 minutos. Uma nova rampa de aquecimento foi estabelecida, partindo

de 155°C, com taxa de aquecimento de 4°C/min, chegando a 215°C. Nova rampa numa

taxa de aquecimento de 6°C/min até 240°C, depois 8°C/min até atingir 325°C, mantido por

10 minutos e finalmente uma taxa de aquecimento de 15°C/min até atingir 350°C.

No entanto, como esse ensaio teve caráter preliminar para avaliar a capacidade dos

micro-organismos em degradar petróleo na condição mais próxima da in situ, a análise da

degradação para esse experimento foi somente baseada na relação pristano/ fitano.

3.3.Resultados e Discussão

3.3.1. Ensaios de degradação em microcosmos

3.3.1.1 Ensaios de degradação em água do mar artificial (ASW)

A distribuição dos componentes do petróleo obtidos por CG-DIC (análise whole oil

ou fingerprint) é um dos parâmetros mais usados no monitoramento da biodegradação de

hidrocarbonetos saturados, visto que estes são os primeiros compostos a serem

consumidos pelos micro-organismos. Neste ensaio, as porcentagens de degradação de

hidrocarbonetos saturados foram monitoradas ao longo de 21 dias (Figuras 2 e 3).

Do mesmo modo, foi realizada a contagem de UFC através do método de spread

plate em todos os pontos de amostragem (7, 14 e 21 dias), o que demonstrou um

aumento de células no 14o dia do experimento, mantendo-se constante ao final de 21

dias.

Duas imobilizações em quitosana foram realizadas nessa primeira etapa de

avaliação: i) contendo apenas o clone 2B; ii) um consórcio contendo os quatro clones

metagenômicos + Bacillus subtilis CBMAI 707.

A Figura 3.2 mostra as taxas de degradação dos hidrocarbonetos saturados pelo

consórcio de clones + Bacillus subtilis CBMAI 707.

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110

Como já descrito, o petróleo e seus derivados são misturas complexas constituídas

de milhares de compostos usualmente agrupados em 4 frações: i) alifáticos, ii) aromáticos,

iii) resinas, que são compostos polares com heteroátomos e estrutura mais simples que os

asfaltenos; e iv) asfaltenos, que são compostos ricos em heteroátomos com alta

aromaticidade, mais polares e com estrutura mais complexa que as resinas.

Hidrocarbonetos alifáticos consistem em n- alcanos, alcanos ramificados e alcanos cíclicos

(naftenos). A susceptibilidade dos hidrocarbonetos ao ataque microbiano ocorre na

seguinte ordem: n-alcanos- isoalcanos- aromáticos de baixo peso molecular- naftenos

(Gojgic-Cvijovic et al., 2012).

Os resultados da cromatografia mostraram que a maior degradação dos

hidrocarbonetos saturados se deu ao final de 21 dias, sendo que para a maioria dos

compostos a degradação foi em torno de 100%, com exceção dos isoprenóides pristano e

fitano, utilizados como biomarcadores para se avaliar a biodegradação.

Para o clone 2B, as taxas de degradação estão mostradas no gráfico abaixo (Figura

3.3).

Figura 3.2: Porcentagens de degradação de hidrocarbonetos saturados do petróleo avaliadas em água do mar artificial contendo consórcio de clones + Bacillus subtilis CBMAI 707 durante 21 dias

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111

Comparado ao consórcio (Figura 3.2), as porcentagens de degradação apresentadas

pelo clone 2B foram menores. Os hidrocarbonetos (leves e pesados) tiveram degradação

similar (em torno de 55% em 14 dias; em torno de 60% em 7 dias e entre 65 e 80% em 21

dias). No entanto, as porcentagens de degradação foram maiores no tratamento em que

se utilizou o consórcio com clones e Bacillus, atingindo em torno de 100% ao final de 21

dias, para quase todos os compostos. Trabalhos que utilizam consórcios de micro-

organismos já são relatados na literatura como sendo mais eficientes que linhagens

isoladas (Sathishkumar et al., 2008; Rahman et al., 2002).

Como mencionado anteriormente, os clones metagenômicos avaliados nesse

trabalho possuem vetor do tipo fosmídeo com insertos em torno de 40 kb. O clone 2B foi

caracterizado geneticamente no trabalho de Sierra-Garcia e colaboradores (2014), que

demonstrou a presença de vias metabólicas relacionadas com degradação de aromáticos,

o que talvez possa explicar uma menor eficiência na degradação dos hidrocarbonetos

mais simples.

3.3.1.2. Ensaios de degradação em água do mar não -estéril (SW)

Como já descrito, este ensaio teve caráter preliminar, com o intuito de verificar se os

micro-organismos em estudo conseguiriam sobreviver e promover a degradação do

petróleo em uma situação de competição com outros micro-organismos presentes na

Figura 3.3: Porcentagens de degradação de hidrocarbonetos saturados do petróleo

avaliadas em água do mar artificial contendo clone metagenômico 2B durante 21 dias.

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112

água do mar. Os mesmos tratamentos foram utilizados (as mesmas duas imobilizações

avaliadas previamente em água do mar artificial), porém com um tratamento a mais, a

linhagem de Bacillus subtilis CBMAI 707 imobilizada isoladamente em quitosana.

A Figura 3.4 mostra as porcentagens de biodegradação dos compostos presentes na

amostra de petróleo comparadas ao controle, água do mar não-estéril e petróleo, (0% de

degradação), utilizando Bacillus subtilis CBMAI 707, sendo possível observar que ao fim do

experimento (40 dias) quase todos os compostos saturados foram degradados, com

menor índice de degradação os isoprenóides pristano e fitano.

Essa alta porcentagem de degradação pode ser explicada pela presença da

microbiota presente na água do mar, uma vez que nesse experimento foi utilizada água

não-estéril. A presença de petróleo pode ter selecionado bactérias degradadoras

presentes na água, aumentando seu número. Bactérias marinhas degradadoras de

hidrocarbonetos são amplamente relatadas na literatura (Yakimov et al, 2007; Head et al.,

2006), sendo que podem se sobressair em número quando em contato com uma fonte de

hidrocarboneto. A ação degradadora das bactérias autóctones da água do mar em

conjunto com a da linhagem CBMAI 707 pode ter levado ao consumo maior dos

compostos presentes no petróleo. A espécie Bacillus subtilis já é descrita em trabalhos

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Controle SW 707 7D SW 707 21D SW 707 40D

Figura 3.4. Porcentagens de degradação de hidrocarbonetos saturados do petróleo avaliadas em

água do mar artificial contendo linhagem de Bacillus subtilis CBMAI 707 durante 40 dias.

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113

que enfocam a produção de biossurfactantes (Mulligan, 2005; Banat et al., 2010;

Vasconcelos et al., 2011) e também a degradação de hidrocarbonetos (Das e Mukherjee,

2007; Das e Chandran, 2011). No trabalho de Dellagnezze e colaboradores (2014) foi

constatado que essa linhagem possui o gene alkB, relacionado à degradação de alcanos.

A Figura 3.5 mostra as porcentagens de degradação ao longo de 40 dias no

experimento em microcosmos contendo o clone 2B imobilizado em quitosana,

isoladamente.

Foi possível observar que as porcentagens de degradação para alguns compostos

atingiram 100% ao final de 40 dias, não sendo totalmente degradados os hidrocarbonetos

mais pesados, ficando entre 60 e 80% de degradação. Em um trabalho anterior do grupo,

esse clone foi descrito contendo vias para degradação de compostos saturados, como

hexadecano, e aromáticos, como fenantreno e naftaleno, apresentando alta eficiência na

degradação de hexadecano (70%) e fenantreno (44%) (Vasconcellos et al 2010; Sierra-

Garcia et al., 2013).

Similarmente aos resultados observados para Bacillus subtilis CBMAI 707, quase

todos os compostos saturados presentes no petróleo foram degradados ao final de 40

dias no microcosmo contendo o consórcio de 4 clones mais a linhagem de Bacillus subtilis

CBMAI 707 (Figura 3.6).

Figura 3.5: Porcentagens de degradação de hidrocarbonetos saturados do petróleo avaliadas em água do mar artificial contendo o clone metagenômico 2B aprisionado em quitosana durante 40 dias.

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Controle Sw 2B 7D SW 2B 21D SW 2B 40D

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114

Os hidrocarbonetos considerados leves são os primeiros a serem degradados pelos

micro-organismos (Van Hamme et al., 2003), o que explica a alta porcentagens de

degradação destes compostos ao final de 40 dias, observada para o consórcio (pool),

assim como para o clone 2B e para a linhagem CBMAI 707 de Bacillus subtilis.

Como já mencionado, na natureza a degradação de compostos é realizada mais

efetivamente através da ação de consórcios microbianos (Head et al., 2007) e, na

literatura, trabalhos sobre biorremediação mencionam a utilização de consórcios

microbianos (Cerqueira et al, 2011; Owsianiak et al., 2009). No entanto, em vista dos

resultados observados nesse experimento, quando comparados ao experimento

utilizando micro-organismos isolados (como a linhagem de Bacillus aprisionada

isoladamente), ao final de 40 dias, a quantidade de compostos remanescentes no

tratamento empregando o consórcio, foi maior.

Mesmo com pouca diferença, nesse experimento, foram observadas maiores

porcentagens de degradação do petróleo, com a maioria dos compostos alcançando

100%, no tratamento utilizando a linhagem Bacillus subtilis CBMAI 707. Uma hipótese

para explicar essa eficiência na degradação é que pode ter ocorrido a produção de

biossurfactantes pela mesma linhagem, uma vez que ela é sabidamente produtora de

surfactina. Já é conhecido que biossurfactantes aumentam a biodisponibilidade dos

Figura 3.6: Porcentagens de degradação de hidrocarbonetos saturados do petróleo avaliadas em água do

mar artificial contendo consórcio com 4 clones metagenômicos + Bacillus subtilis CBMAI 707 durante 40 dias

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daç

ão

Controle SW Pool 7D SW Pool 21D SW Pool 40D

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115

hidrocarbonetos, consequentemente aumentam o acesso dessa fonte de carbono para a

degradação (Calvo et al., 2009). Este fato pode ter aumentado a degradação do petróleo

tanto pela linhagem de Bacillus como pelas bactérias hidrocarbonoclásticas presentes na

água do mar, ao final de 40 dias. Um outro fator que pode ter contribuído para as maiores

porcentagens de degradação observadas para o Bacillus subtilis CBMAI 707 isoladamente

é a quantidade de bactérias aprisionadas utilizadas. Todas as imobilizações (clone 2B,

Bacillus subtilis e consórcio clones + Bacillus subtilis) apresentaram em torno de 106 UFC/

g bead. Porém, no consórcio, essa quantidade era dividida entre os 5 micro-organismos

(quatro clones e Bacillus), ao contrário da cultura aprisionada isoladamente.

3.3.2. Ensaios de degradação em tanques

Como já descrito anteriormente, para esse ensaio, três condições foram testadas: i)

clone 2B imobilizado em quitosana; ii) consórcio de quatro clones metagenômicos +

Bacillus subtilis CBMAI 707 imobilizados em quitosana, denominado pool Q; iii) consórcio

apenas de linhagens de bactérias (Dietzia maris + Micrococcus sp. + Bacillus subtilis),

denominado pool A; e o controle, contendo apenas água do mar + petróleo.

3.3.2.1. Avaliação da degradação por Cromatografia (CG -FID)

Como já descrito anteriormente, esse experimento teve caráter preliminar no

sentido de avaliar a capacidade de degradação dos micro-organismos na situação mais

próxima da in situ. Para avaliar a degradação foi empregada a relação pristano/fitano. Foi

aplicada a seguinte fórmula de relação entre pristano e fitano, a saber: (C17/Pr+C18/Ph)/2

(Marty, 1994). Esse valor diminui conforme a biodegradação aumenta.

A Tabela 1 mostra os valores obtidos através de cromatografia ao final de 30 dias de

avaliação.

Tabela 3.1. Valores da relação pristano/fitano para avaliação da degradação do petróleo bruto em 30 dias.

Controle Consórcio linhagens (em ágar)

Consórcio clones + Bacillus (em quitosana)

Clone 2B

2,832886 1,025998 0,760344 1,151429

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Os resultados demonstraram que o tratamento que apresentou o menor valor foi

aquele contendo o consórcio constituído de quatro clones metagenômicos + Bacillus

subtillis CBMAI 707. Isso pode ser explicado pela robustez das próprias linhagens (E. coli e

Bacillus) em suportar condições mais adversas. A água permaneceu em torno de 17°C, a

oxigenação não foi tão intensa como observada nos experimentos anteriores (realizados

em frascos Erlenmeyer). Essas bactérias comparadas, por exemplo, com Dietzia maris

CBMAI 705, apresentaram tempo de geração mais rápido (dados não mostrados), o que

pode ter contribuído para que se sobressaíssem e conseguissem um melhor desempenho

da degradação do petróleo bruto, mesmo que em competição com a microbiota indígena.

A quantidade adicionada de petróleo (0,01%), simulando a quantidade em situações de

poluição crônica, foi menor do que nos experimentos anteriores (1%), e mesmo assim,

esse consórcio foi capaz de degradar mais eficientemente o petróleo presente na água.

Desse modo, o mesmo foi selecionado para ser avaliado em ensaios em maior escala,

mesocosmos contendo 3000 L de água do mar.

3.3.2.2.Contagem total de bactérias

A contagem total de células foi realizada através da coloração utilizando DAPI (4'-6

diamidino-2-fenilindol 2 HCl, Sigma-Aldrich). O número de células foi expresso em células.

mL -1 e está mostrado na Figura 3.7.

Foram observadas flutuações no número de células em todos os ensaios. O Pool Q e

o clone 2B atingiram um número maior de células no dia 10 (na escala de 106), enquanto

que o pool A no dia 20. Já o controle se manteve constante, atingindo um número maior

de células no dia 30. A quantidade superior de células observadas ao longo de 30 dias para

os ensaios contendo os consórcios e o clone isolado já era esperada, e deve–se

justamente à adição destes micro-organismos na comunidade microbiana presente na

água do mar. A quantidade de células nos pools A e Q, assim como no ensaio com o clone

2B, foi na ordem de 105 células por grama de beads (no tempo 0). Já os picos na

quantidade de células, observados principalmente nos ensaios que continham os clones

metagenômicos (pool Q e 2B) após 10 dias, quando comparado ao controle, poderiam ser

explicados pelo rompimento das beads de quitosana.

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Figura 3.7. Quantidade de células observadas nos três ensaios e no controle nos dias 5, 10, 20 e 30

utilizando coloração com DAPI.

Foram observadas flutuações no número de células em todos os ensaios. O Pool Q e

o clone 2B atingiram um número maior de células no dia 10 (na escala de 106), enquanto

que o pool A no dia 20. Já o controle se manteve constante, atingindo um número maior

de células no dia 30. A quantidade superior de células observadas ao longo de 30 dias para

os ensaios contendo os consórcios e o clone isolado já era esperada, e deve–se

justamente à adição destes micro-organismos na comunidade microbiana presente na

água do mar. A quantidade de células nos pools A e Q, assim como no ensaio com o clone

2B, foi na ordem de 105 células por grama de beads (no tempo 0). Já os picos na

quantidade de células, observados principalmente nos ensaios que continham os clones

metagenômicos (pool Q e 2B) após 10 dias, quando comparado ao controle, poderiam ser

explicados pelo rompimento das beads de quitosana.

Angelim e colaboradores (2013) observaram em solo contaminado, que a partir do

12° dia as beads se romperam, causando a liberação de uma quantidade bem maior no

meio externo. O mesmo fato pode ter ocorrido nos ensaios em água do mar, pois além da

grande quantidade de células observada no 10° dia de avaliação, ao final do experimento

as beads não se encontravam mais íntegras como no início. As beads de quitosana, assim

como as de ágar, possuem poros que permitem a troca de nutrientes entre os meios

interno e externo, assim como a saída dos micro-organismos (Hsieh et al., 2008). No

1,00E+04

1,00E+05

1,00E+06

1,00E+07

5 10 20 30

log

cell.

ml-

1

Tempo (dias)

controle

Pool Q

Pool A

clone 2B

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118

entanto, dependendo da matriz na qual é realizada o processo de imobilização, podem

ocorrer algumas variações na dimensão dos poros. Isto poderia explicar uma liberação

mais lenta das células do pool A na água do mar, assim como características das próprias

linhagens em se aclimatarem às condições presentes.

É importante ressaltar que no experimento de microcosmos em tanques de 90 L, as

condições foram completamente distintas das previamente avaliadas. A média da

temperatura ficou em torno de 17°C, não sendo a temperatura ideal de crescimento para

nenhuma das linhagens e clones. Além disso, houve a presença da microbiota indígena, o

que criou um ambiente de competição por recursos.

Na literatura já é descrito que a comunidade marinha autóctone, frente a um

composto considerado tóxico, como o petróleo bruto, pode ser modificada de maneira

que os micro-organismos com maior capacidade de degradação dos hidrocarbonetos se

sobressaem em relação aos outros micro-organismos (Eun-Hee Lee et al., 2010; Capello et

al., 2006). Esse fato foi observado em alguns trabalhos a partir do 15o dia (Capello et al.,

2007), o que poderia explicar o aumento do número total de bactérias no tempo 20 dias

para o controle, o qual contém apenas a microbiota autóctone e petróleo.

O teste em água do mar não estéril é de grande importância, pois em princípio,

processos de biorremediação necessitam ser implementados em um ambiente não estéril

e natural, no qual a capacidade de degradação de compostos xenobióticos deverá se

expressar frente aos fatores abióticos e bióticos (Pandey et al., 2008).

3.3.3.3. Demanda Biológica de Oxigênio (DBO)

A demanda biológica de oxigênio também foi avaliada durante o experimento. Os

resultados foram expressos em ppm de oxigênio (Figura 3.8).

A demanda biológica de oxigênio é a quantidade de oxigênio consumida pelos

micro-organismos para a degradação de algum composto orgânico. É um parâmetro

utilizado principalmente em estudos aplicados envolvendo tratamento de efluentes, assim

como estudos em ecologia (Schindler et al., 2008) e de degradação de poluentes (Mazzeo

et al., 2010). Do mesmo modo, a DBO pode estar relacionada com a quantidade de

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119

matéria orgânica, sendo que quando há uma maior concentração de matéria orgânica, a

demanda biológica também aumenta (Hassanshahian et al., 2014).

Figura 3.8. Valores da DBO (em ppm) observada nos três ensaios e no controle nos dias 5, 10, 20 e

30.

Com exceção do controle, foi observado um pico da DBO no tempo 10, o que pode

estar relacionado com a maior quantidade de bactérias presentes no mesmo tempo

avaliado, em todos os tratamentos. O controle apresentou um aumento constante da DBO

a partir do 10º dia, o que é compatível com o aumento da biomassa ao longo de 30 dias.

3.4 CONCLUSÕES

Os micro-organismos aprisionados em quitosana foram capazes de degradar os

hidrocarbonetos saturados presentes no petróleo bruto em todos os ensaios

apresentados.

No ensaio realizado em tanques de 90 L em água de mar não-estéril, as

porcentagens de degradação foram mensuradas se baseando apenas na relação entre

pristano/fitano, o que permitiu a seleção do consórcio com quatro clones metagenômicos

e a linhagem de Bacillus subtilis para estudo em mesocosmos;

A combinação entre os clones fosmidiais com capacidade de degradação de

hidrocarbonetos e a linhagem de Bacillus subtilis, produtora de biossurfactante e também

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

5 10 20 30

pp

m O

2.L

-1

Tempo (dias)

controle

pool Q

Pool A

clone 2B

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120

degradadora de hidrocarbonetos, mostrou excelentes resultados de degradação de

hidrocarbonetos, tornando essa estratégia promissora para aplicação tecnológica.

Os resultados foram considerados inéditos e muito bons, uma vez que deve ser

levado em conta que, no caso dos clones metagenômicos, trata-se de um sistema de

expressão heteróloga.

3.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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123

__________________________ CAPÍTULO 4

Avaliação da estratégia de bioaumento utilizando micro-

organismos imobilizados para biorremediação de petróleo em

mesocosmos

4.1. INTRODUÇÃO

Bioaumentação consiste na adição (aumentação) de micro-organismos

especializados, capazes de crescer em condições específicas, com o intuito de

desempenhar uma função remediadora em ambientes poluídos, possibilitando dessa

forma melhorar e aumentar a biodegradação de compostos recalcitrantes (Silva & Alvarez,

2010). A utilização de micro-organismos encapsulados ou imobilizados em matrizes é uma

estratégia para aumentar o desempenho de micro-organismos alóctones em um

determinado ambiente, pois favorece a proteção dos mesmos em condições de estresse

(Siripattanakul & Khan, 2010).

A avaliação de micro-organismos em estudos de biorremediação empregando

ambientes não-estéreis e em condições mais próximas às naturais, é de absoluta

importância, pois permite verificar a capacidade de degradação de compostos

xenobióticos frente aos fatores abióticos e bióticos (Pandey et al, 2009). Os mesocosmos

representam a extensão de estudos que utilizam o método de microcosmos, oferecendo

maior amplitude de escala e permitindo a incorporação e a avaliação de parâmetros que

envolvem complexidade ecológica melhor do que pode ser observado em microcosmos. A

vantagem de se utilizar mesocosmos implica no controle de uma maior quantidade de

variáveis (química, física ou parâmetros biológicos), além de possibilitar o controle da

interação dessas variáveis em diferentes regiões de espaço e tempo com grande

capacidade de replicação e reprodutibilidade comparados àqueles realizados em

ecossistemas naturais (Capello & Yakimov, 2010).

A utilização de micro-organismos geneticamente modificados (OGM) já vem sendo

estudada desde o começo da década de 90 (Brokamp & Schmidt, 1991; Fulthorpe &

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124

Wyndham, 1991). Exemplos do uso de OGM em estudos de biodegradação de compostos

poluentes incluem a degradação de 2,4-D (Dejonghe et al., 2000), fenol (Watanabe et al.,

2002), tolueno, clorobenzeno, indol, e transformação de mercúrio em forma menos tóxica

(Lange et al., 1998). Alguns tipos de micro-organismos são frequentemente

disponibilizados comercialmente e podem ser adquiridos através de empresas. No

entanto, se por um lado os OGM’s têm sido amplamente utilizados em estudos em escala

de laboratório (Moza, 2005), por outro sua robustez e impactos associados ao ciclo de

vida de longo prazo ainda precisam ser avaliados, o que pode incluir a transferência de

genes entre espécies exógenas, afetando potencialmente a biodiversidade e estrutura de

comunidades biológicas. Essa questão dá origem a muita especulação e polarização sobre

as consequências da manipulação genética in vitro, o que representa uma barreira política

significativa para a utilização de OGM na biorremediação (Silva & Alvarez, 2010).

Neste Capítulo está descrita a etapa do trabalho na qual foi avaliado o potencial de

um consórcio contendo 4 clones metagenômicos + Bacillus subtilis CBMAI 707

encapsulado em quitosana para degradação de petróleo bruto em água do mar em ensaio

de mesocosmos durante 30 dias.

4.2 MATERIAL E MÉTODOS

4.2.1 Ensaios em mesocosmos

Os ensaios em escala de mesocosmos foram realizados no Istituto per l'Ambiente

Marino Costiero/ Centro Nazionale delle Richerce (IAMC-CNR), na cidade de Messina,

Itália. Os ensaios foram realizados em tanques com capacidade para 3000 L. Água do mar

natural foi captada diretamente do mar, e filtrada por macrofiltração para eliminação de

detritos e metazoários. Foram adicionados 250 g de beads de quitosana contendo os

micro-organismos imobilizados, acondicionadas em colunas fixadas nas paredes do tanque

(Figura 4.1), e 50 mL de petróleo, simulando condição de poluição crônica. Como controle

foi utilizado apenas água do mar e petróleo nas mesmas condições descritas. Com base

nos resultados de cromatografia obtidos dos ensaios em tanques de 90 L, o consórcio

contendo 4 clones metagenômicos + Bacillus subtilis CBMAI 707, denominado pool Q, foi

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125

selecionado para a avaliação em escala de mesocosmos. O experimento em mesocosmos

foi conduzido em sistema aberto, no qual o fluxo de entrada e saída de água do mar foi

contínuo. A avaliação foi realizada nos tempos 0, 5, 10, 20 e 30 dias.

Figura 4.1. Ensaios em mesocosmos. Tanque com capacidade para 3000 L de água. As setas vermelhas indicam as armadilhas contendo as beads, fixadas nas paredes do tanque.

4.2.2. Contagem total de micro-organismos

A contagem total de células foi realizada através da coloração utilizando DAPI (4'-6

diamidino-2-fenilindol 2HCl, Sigma-Aldrich). Amostras foram coletadas nos dias 0, 5, 10,

20 e 30 e fixadas em formaldeído (com concentração final de 4%), de acordo com Porter &

Feig (1980). As lâminas foram analisadas em microscópio de fluorescência Axioplan 2

Imaging (Carl Zeiss, Thornwood, NY, USA). Os resultados foram expressos em números de

células. mL-1.

4.2.3. Demanda Biológica de Oxigênio (DBO)

A Demanda Biológica de Oxigênio (DBO) foi quantificada nos ensaios de

mesocosmos utilizando um sensor específico, na escala de 90 ppm (VELP Scientifica),

seguindo as instruções do fabricante. As amostras foram coletadas e avaliadas nos dias 0,

5, 10, 20 e 30.

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126

4.2.4. Contagem dos micro-organismos heterotróficos

Alíquotas de água do mar previamente contaminada om petróleo foram coletadas e

diluídas para 10 -1, 10 -3 e 10 -5 em meio ONR7a (Dyksterhouse et al., 1995) adicionado

com 100 µL de petróleo bruto, a fim de selecionar o crescimento de possíveis micro-

organismos degradadores e /ou resistentes à presença de petróleo. As diluições foram

plaqueadas pelo método de spread plate e incubadas por 5 dias em temperatura

ambiente (aproximadamente 23°C). Após esse período foi realizada a contagem das

unidades formadoras de colônia (UFC).

4.2.5. Análises de cromatografia gasosa (CG- FID)

O mesmo procedimento para as análises de cromatografia gasosa de alta resolução

(CG-FID) foi utilizado para os ensaios em tanques de 90 L (microcosmos) e de 3000 L

(mesocosmos). Foram coletadas alíquotas de 1 L de água do mar contaminada com

petróleo, diretamente dos tanques. As amostras foram lavadas três vezes com

diclorometano (CH2Cl2) (10% v/v) em funil de separação, descartando-se a fase aquosa e

transferindo-se a fase orgânica a um frasco Erlenmeyer. Posteriormente, foi adicionado

sulfato de sódio anidro (Na2SO4) como agente secante a fim de remover a água residual.

Por fim, foi realizada filtração em algodão, e seguiu-se à rota-evaporação das amostras

para completa evaporação do solvente. Posteriormente, seguiu-se a análise

cromatográfica de alta resolução Master GC Fast Gas Chromatograph System (DANI

Instrument S.p.A., Milan). A identificação dos hidrocarbonetos alifáticos foi realizada pela

comparação das respectivas áreas com os correspondentes padrões (Chem Service Inc,

West Chester, PA, USA). Os hidrocarbonetos alifáticos foram calculados de acordo com as

concentrações de n-alcanos. As concentrações individuais de cada alcano de n-C10 a n-

C28, pristano (Pr) e fitano, e n-alcanos totais foram calculadas para cada amostra.

Petróleo Árabe Leve (0,03%) foi utilizado como substrato nos mesocosmos.

A degradação dos hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos foi expressa como

porcentagem em relação às frações remanescentes no controle (tempo 0). A eficiência de

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127

degradação baseada na diminuição da concentração de hidrocarbonetos foi calculada

usando a fórmula descrita por Hassanshahian et al. (2013):

100 – (As*100/Aac)

Onde As equivale à área do pico em cada amostra e Aac equivale à área do pico no

controle correspondente.

4.2.6. Análise de Escalonamento Multidimensional não–métrico (nMDS)

As análises estatísticas foram realizadas através do método de Escalonamento

Multidimensional não–métrico (nMDS), utilizando o software PAleontological STatistics

(PAST) versão 1.32, baseando-se nos valores de cromatografia gasosa.

4.2.7. Sequenciamento das amostras de DNA dos mesocosmos

Alíquotas de 400 mL foram coletadas diretamente dos sistemas de mesocosmos nos

diferentes tempos de amostragem e submetidas à extração de DNA metagenômico

segundo protocolo descrito por Chomsczynski & Saki, 1987. Amostras de DNA da

microbiota presente no controle e no ensaio de bioaumento foram submetidas ao

sequenciamento em larga escala de um fragmento do gene RNA ribossomal 16S para

avaliação da diversidade microbiana. O sequenciamento das amostras e o processamento

dos dados foram realizados pela empresa MR DNA (www.mrdnalab.com, Shallowater, TX,

USA) utilizando a plataforma MiSeq (Illumina), seguindo instruções do fabricante.

Os primers 515/806, com “barcode” no primer foward, foram utilizados em reação

de PCR para a amplificação da região variável V4 do gene RNAr 16S. As reações foram

realizadas através de kit comercial HotStarTaq Plus Master Mix Kit (Qiagen, USA) nas

seguintes condições: 94°C por 3 minutos, seguido por 28 ciclos de 94°C por 30 segundos,

53°C por 40 segundos e 72°C por 1 minuto, com uma etapa final de extensão a 72°C por 5

minutos. Após a amplificação, os amplicons foram observados em gel de agarose 2% para

determinação da intensidade das bandas. Para o sequenciamento as amostras de DNA

foram misturadas em proporções similares. As amostras em pool foram purificadas

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128

utilizando esferas Ampure XP previamente calibradas. A partir do produto purificado, as

bibliotecas de DNA foram preparadas seguindo o protocolo Illumina TruSeq DNA.

4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.3.1. Contagem total de micro-organismos

Similarmente ao experimento em tanque de 90 L previamente descrito, também

foram observadas flutuações nas quantidades de células ao longo do ensaio em

mesocosmo, sendo observada quantidade maior de células do pool Q no dia 10, enquanto

que o controle apresentou uma quantidade maior no dia 20 (Figura 4.2).

Figura 4.2. Quantidade de células observadas para o consórcio (pool Q), linha representada com quadadros, e no controle(linha representada com losangos) nos dias 5, 10, 20 e 30 utilizando DAPI.

O tanque permaneceu aberto durante o período de avaliação, sendo que o fluxo de

entrada e saída de água foi contínuo. No entanto, nos primeiros 5 dias de incubação (do

tempo 0 ao 5) o sistema permaneceu fechado, a fim de promover uma aclimatação dos

micro-organismos imobilizados inseridos no tanque. Assim, do mesmo modo como

observado no experimento realizado em tanques de 90 L, esse fato pode ter contribuído

para uma maior quantidade de células no tempo de 10 dias. Além desse fator, pode ter

ocorrido também o rompimento das esferas, causando a liberação de uma quantidade

maior de micro-organismos no meio externo. Como já mencionado, esse fato foi

observado por Angelim e colaboradores (2013). As esferas podem se romper no caso de

1,00E+04

1,00E+05

1,00E+06

1,00E+07

0 5 10 20 30

log

cell

ml-

1

Tempo (dias)

CONTROLE POOL Q

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129

degradação da quitosana através da ação de quitosanase (Hsieh et al., 2008). Foi

observado que ao fim deste experimento, as esferas de quitosana não se encontravam

íntegras, o que difere da observação realizada nos experimentos com as esferas de

quitosana em frascos Erlenmeyer.

4.3.2. Contagem dos micro-organismos heterotróficos

Do mesmo modo como observado para a contagem total de micro-organismos

através de DAPI, houve um pico na quantidade de células no tempo 10 dias (Figura 4.3).

Neste ensaio foram selecionadas bactérias que suportaram crescer na presença de

petróleo bruto, sugerindo se tratar de possíveis bactérias degradadoras.

Figura 4.3. Quantidade de bactérias heterotróficas observadas no consórcio (pool Q), linha

representada com quadadros, e no controle (linha representada com losangos) nos dias 5, 10, 20 e

30.

É interessante ressaltar que o mesmo perfil observado nos microcosmos se repetiu

nos experimentos em mesocosmos, com um aumento no número de células,

possivelmente em função do rompimento das esferas entre os dias 5 e 10 decaindo após

esse período. Também pode ter ocorrido um aumento na própria população autóctone da

água do mar.

Quanto ao controle, foi observado um aumento no número de células a partir do dia

20. Já é descrito que frente à contaminação com petróleo em um determinado ambiente,

1,00E+01

1,00E+02

1,00E+03

1,00E+04

1,00E+05

1,00E+06

0 5 10 20 30

log

cell

ml-

1

Tempo (dias)

CONTROLE POOL Q

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130

ocorre uma alteração na microbiota indígena, situação em que bactérias

hidrocarbonoclásticas podem se sobressair em relação às outras (Rolling et al., 2004;

Kostka et al., 2011; Hazen et al, 2010). Geralmente, isto pode ser observado a partir de 15

dias (Capello et al, 2007). Entretanto, quando se trabalha com amostras ambientais, sabe-

se que apenas uma fração de 1% a 10% dos micro-organismos pode ser cultivada (Amann

et al., 1995), o que poderia explicar a diferença da quantidade de bactérias avaliada com

DAPI e a contagem de micro-organismos heterotróficos.

4.3.3. Demanda Biológica de Oxigênio (DBO)

Em paralelo, para avaliar a biodegradação, o consumo de O2 foi mensurado durante

os quatro pontos de amostragem. Baseado no consumo de oxigênio é possível inferir a

degradação da matéria orgânica pelos micro-organismos (Mazzeo et al, 2010).

Para o consórcio contendo os clones e linhagem de Bacillus, um aumento no

consumo de oxigênio (DBO) foi observado no dia 10, o que pode estar associado à

quantidade maior de biomassa observada tanto nas análises através da contagem total,

como através da contagem dos micro-organismos heterotróficos (Figura 4.4). Para o

controle, contendo apenas a microbiota autóctone e petróleo, apesar de não ser

observado um aumento na biomassa no tempo 10, foi observado um pico da DBO,

indicando que, mesmo em quantidade menor de biomassa, a atividade degradadora pode

ter atingido o seu máximo nesse ponto.

Figura 4.4. Valores de DBO (em ppm) observados para o pool Q e para o controle nos dias

5, 10, 20 e 30.

0

2

4

6

8

10

12

14

0 5 10 20 30

pp

m.O

2. L

-1

Tempo (dias)

CONTROLE

POOL Q

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131

4.3.4. Degradação dos hidrocarbonetos saturados

A degradação do petróleo bruto foi avaliada em 0, 5, 10, 20 e 30 dias. A

concentração dos componentes foi normalizada e os valores obtidos foram mensurados.

Pode-se observar que as taxas de degradação aumentaram a partir do décimo dia. A

concentração obtida para cada componente na amostra inicial (tempo 0) foi definida

como 100% e as porcentagens referentes aos n-alcanos totais, correspondentes aos

diferentes períodos de avaliação, estão representadas na figura 4.5.

Como já mencionado, o sistema permaneceu fechado para aclimatação das

bactérias utilizadas como bioaumento, permitindo deste modo um aumento na biomassa.

Porém, aos 5 dias não foi observada degradação da maioria dos compostos do petróleo.

Em estudos envolvendo degradação aeróbia de hidrocarbonetos em microcosmos, os

ensaios são avaliados por vários dias (Mazzeo et al., 2010) ou por meses (da Cruz et al.,

2010) para se observar a degradação. No entanto, a degradação em mesocosmos pode

ocorrer a partir do quinto dia. Hassanshahian e colaboradores (2014) descreveram um

trabalho em mesocosmos utilizando bioestimulação e bioaumento, com monitoramento

através de PCR em tempo real (PCRq), onde observaram que a partir do 5º dia ocorreu um

0

20

40

60

80

100

0 5 10 20 30

% b

iod

egr

adaç

ão

Tempo

controle

pool

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

C1

0

C1

1

C1

2

C1

3

C1

4

C1

5

C1

6

C1

7

Pri

stan

e

C1

8

Ph

ytan

e

C1

9

C2

0

C2

1

C2

2

C2

3

C2

4

C2

5

C2

6

C2

7

C2

8

C2

9

C3

0

C3

1

C3

2

C3

3

C3

4

C3

5

C3

6

C3

7

% B

iod

egrd

ação

10 dias

controle pool Q

Figura 4.5.Porcentagens de degradação de hidrocarbonetos saturados totais observadas para o consórcio contendo clones metagenômicos+ Bacillus subtilis CBMAI 707 imobilizados em quitosana e para o controle nos diferentes tempos amostrados.

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132

aumento no número de cópias do gene alk B ligado à degradação de alcanos, assim como

a degradação de 30% dos alcanos totais.

Por outro lado, aos 10 dias a maioria dos hidrocarbonetos se mostrou com mais de

90% de degradação, tanto no ensaio controle como no ensaio utilizando o consórcio como

bioaumento (Figura 4.6). Porém, as taxas de degradação foram superiores no tratamento

utilizando o consórcio. Nesse tempo, possivelmente ocorreu uma maior atividade

degradadora dos micro-organismos, o que pode ser corroborado pelo aumento no

número de células e no consumo de oxigênio, mencionado anteriormente.

Similar ao tempo 10, aos 20 dias a maioria dos hidrocarbonetos presentes foi quase

que totalmente degradada. Mesmo para os hidrocarbonetos mais pesados, as taxas de

degradação foram altas, em torno de 100% para alguns compostos.

Após 30 dias de monitoramento, praticamente todos os hidrocarbonetos alifáticos

foram totalmente degradados, em ambos os experimentos, controle e pool Q.

Hassanshahian e colaboradores (2013) compararam a estratégia de bioaumento

empregando dois micro-organismos com o controle, utilizando apenas a microbiota

autóctone. Este último apresentou, ao final de 20 dias, 80% de degradação, sendo que o

tratamento de bioaumentação apresentou 70%. Portanto, a microbiota autóctone

também pode ser alterada e atingir altas taxas de degradação, assim como a estratégia de

bioaumento pode não ser efetiva, devido a inúmeros fatores abióticos, incluindo a

competição com a microbiota autóctone.

4.3.5. Degradação dos hidrocarbonetos aromáticos

Com relação à degradação dos hidrocarbonetos aromáticos, foi monitorada a

degradação de três componentes: benzopireno, benzoantraceno e benzofluoranteno.

Esses compostos são parte de um grupo específico de hidrocarbonetos, os

hidrocarbonetos poliaromáticos (HPAs), os quais são constituídos por dois ou mais anéis

benzênicos fundidos, arranjados em diversas formas estruturais. Esses compostos têm

como características alta persistência no ambiente e potencial carcinogênico, devido

principalmente à sua pouca solubilidade (Bamforth & Singleton, 2005).

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133

Nas figuras 4.6 e 4.7 estão representadas as taxas de degradação do benzopireno,

benzoantraceno e benzofluoranteno nos controles e no pool Q, respectivamente.

Similarmente ao observado para os hidrocarbonetos saturados, no quinto dia não

foi observada degradação dos HPAs para o controle ou para o consórcio. Para os

hidrocarbonetos aromáticos isso já seria esperado, pois devido a sua complexidade

estrutural a degradação requer um tempo maior. No entanto, a partir do dia 10, foi

observada uma taxa em torno de 90% de degradação de benzopireno para o ensaio

controle. Estruturalmente esses compostos são diferentes, benzopireno (C20H12) possui

cinco anéis benzênicos, benzoantraceno (C18H12) quatro e benzo(k)fluoranteno (C20H12) é o

mais complexo de todos, possuindo cinco anéis, no entanto disposto de uma forma

diversa da do benzopireno. Ao final de 30 dias de experimento o benzopireno foi o

composto mais biodegradado no ensaio controle. Trabalhos prévios de literatura

mencionam a degradação de hidrocarbonetos aromáticos por bactérias marinhas,

geralmente relacionadas aos gêneros Alcanivorax e Cycloclasticus (Kasai et al., 2002;

Yakimov et al., 2007; Kotska et al., 2011).

Para o consórcio, as taxas de degradação de HPAs observadas foram superiores

quando comparadas ao controle, ao final de 30 dias de experimento. O

Figura 4.6. Taxas de degradação de hidrocarbonetos aromáticos observadas para o controle ao longo de 30 dias.

0102030405060708090

100

5 10 20 30

% b

iod

egra

daç

ão

dias

controle

benzoantraceno benzofluoranteno benzopireno

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134

benzo(K)fluoranteno, que teve cerca de 35% de degradação no controle, atingiu 70% de

degradação no ensaio do consórcio, enquanto que o benzopireno foi totalmente

degradado (100%). O acesso a diferentes hidrocarbonetos depende da biodisponibilidade

e da estrutura de cada composto, assim como da composição genética de cada micro-

organismo, o que pode explicar uma maior degradabilidade do benzopireno em relação

aos outros dois compostos pelos micro-organismos presentes no consórcio avaliado. Os

resultados obtidos para os HPAs demonstraram a habilidade do consórcio em acelerar a

degradação de compostos recalcitrantes.

A quantidade inicial de cada composto separadamente não foi calculada, porém é

descrito que mesmo em concentrações muito baixas, os HPAs são os hidrocarbonetos

mais difíceis de serem degradados (Phale et al., 2007). Além da concentração do

contaminante, a concentração dos micro-organismos também influencia na

biodegradação. Este fator pode ter contribuído para uma maior degradação desses

compostos no consórcio. Enquanto a quantidade de micro-organismos crescendo na

presença de petróleo ficou em torno de 103 UFC/mL no controle ao longo dos 30 dias, o

consórcio teve um aumento no décimo dia de avaliação, apresentando uma quantidade

de 105 UFC/mL. Como já mencionado ao longo desse trabalho, quando se pretende a

Figura 4.7. Taxas de degradação de hidrocarbonetos aromáticos observadas para o consórcio contendo clones metagenômicos + Bacillus subtilis CBMAI 707 imobilizados em quitosana ao longo de 30 dias.

0102030405060708090

100

5 10 20 30

% b

iod

egra

daç

ão

dias

consórcio

benzoantraceno benzofluoranteno benzopireno

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135

aplicação da estratégia de bioaumento, a quantidade de micro-organismos é um fator

limitante para a eficiência da técnica (Silva & Alvarez, 2010).

Como já descrito anteriormente, os clones metagenômicos presentes nesse

consórcio foram avaliados em estudo prévio quanto à degradação de hidrocarbonetos,

onde foi obtido até 98% de degradação de hexadecano (Vasconcellos et al., 2010) e, para

alguns deles, entre 44-49% de degradação de fenantreno entre 10 e 14 dias (Sierra-Garcia

et al., 2014). Dos cinco clones avaliados no trabalho de Sierra-Garcia et al. (2014), três

compõem o consórcio avaliado no presente trabalho, a saber: clones 2B, 1A e 10A. O

clone 9E foi selecionado com base em ensaios prévios de tensiometria não mostrados. As

sequências presentes nos insertos dos fosmídeos foram anotadas funcionalmente

utilizando a plataforma RAST, através da base de dados KEGG. A análise funcional permitiu

a caracterização das sequencias em várias categorias, sendo que a maioria foi relacionada

com degradação de xenobióticos, aminoácidos, geração de energia e metabolismo

envolvendo carboidratos (Sierra-Garcia et al., 2014).

Do mesmo modo, quando o petróleo bruto foi utilizado, os clones metagenômicos

2B e 10A foram capazes de degradar compostos aromáticos, como metilfenantreno e

fenantreno, em até 80% (Capítulo 1; Dellagnezze et al., 2014).

O gênero Bacillus vem sendo extensivamente descrito como relacionado a

ambientes contaminados com petróleo (Cerqueira et al., 2010), a processos associados à

produção e exploração de petróleo, como MEOR (McInerney et al., 2005), com a produção

de biossurfactantes (Banat et al., 2010; Domingos et al., 2014), degradação de

hidrocarbonetos (Kim et al., 2000; Lily et al., 2009) e aplicação em biorremediação

(Ruberto et al., 2003; Bento et al., 2005), o que corrobora os resultados encontrados e

torna essas bactérias ferramentas adequadas para aplicação em processos de

descontaminação de ambientes.

A linhagem Bacillus subtilis CBMAI 707 foi isolada de amostras de petróleo,

provenientes da Bacia de Campos, RJ (Vasconcellos et al., 2009), e foi selecionada para

este trabalho em função dos resultados de produção de EPS obtidos anteriormente

(Vasconcellos et al., 2011), assim como dos resultados de degradação de petróleo bruto e

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136

de resistência ao processo de imobilização em quitosana obtidos ao longo deste trabalho.

Essa espécie é relacionada à produção de surfactina, um biossurfactante com ampla

aplicação (Mulligan, 2005; Banat et al., 2010), e à degradação de hidrocarbonetos

(Nwaogu et al., 2008; Das e Mukherjee, 2007).

4.3.6. Análise de Escalonamento Multidimensional não–métrico (nMDS)

Para a análise estatística foi utilizado o método de Escalonamento Multidimensional

não–métrico. Essa análise possibilita avaliar a dinâmica populacional ou um evento, como

por exemplo, degradação de compostos xenobióticos (Beazley et al., 2012; Stauffert et al.,

2014).

Na figura 4.8 estão plotados os pontos que representam a degradação de n-alcanos

pelo controle (K), indicados por setas vermelhas, e os pontos que representam o sistema

contendo os micro-organismos como bioaumento (M), indicados por setas azuis. A

distância entre os valores representa o nível de similaridade na degradação entre os dois

sistemas, pontos mais próximos são mais similares.

A condição presente no início do experimento (M5) e (K5) se modifica a partir do

tempo 10, sendo que os valores de degradação se aproximam, obtendo-se no final do

experimento (tempo 30) um cluster, significando que as taxas de degradação dos n-

alcanos se tornam similares. Estes resultados mostram que a eficiência de degradação

para n-alcanos foi similar entre a microbiota autóctone e o bioaumento no tempo 30 dias.

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137

Figura 4.8. Plotagem da análise pelo método de Escalonamento Multidimensional não–métrico (nMDS) para degradação de n-alcanos. As setas vermelhas indicam o tratamento controle, enquanto que as azuis indicam o tratamento de bioaumento. No tempo 5 pode ser observada uma distância maior, e 30 dias, os valores mostram-se mais próximos formando um cluster (indicado pelo círculo).

Na figura 4.9 estão plotados os dados de degradação dos hidrocarbonetos

aromáticos, evidenciando as distâncias entre os tratamentos controle (K) e bioaumento

(M). Os pontos que indicam o tratamento com bioaumento estão bem mais distantes dos

pontos que representam a degradação pelo controle. Neste caso, é possível observar uma

degradação para os pontos do controle K5, K10 e K20, presumivelmente ligada à

microbiota autóctone no controle. No tratamento utilizando a estratégia de bioaumento,

o processo de degradação apresentou-se mais homogênea, resultado de um trabalho com

uma população microbiana específica. No controle (K), a população foi selecionada

naturalmente e a degradação se torna progressiva ao longo do tempo.

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138

Figura 4.9: Plotagem da análise pelo método de Escalonamento Multidimensional não–métrico (nMDS) para degradação de aromáticos. As setas vermelhas indicam o tratamento controle, enquanto que as azuis indicam o tratamento de bioaumento.

4.3.7. Sequenciamento do gene RNAr 16S das amostras dos mesocosmos

A diversidade microbiana foi avaliada através do sequenciamento em larga escala de

parte do gene RNA ribossomal 16S, para ambos os ensaios contendo o consórcio

imobilizado em quitosana e o controle contendo a microbiota autóctone da água do mar

contaminada com petróleo.

As espécies encontradas em maior abundância no mesocosmos contendo o

consórcio, nos tempos 0, 5, 20 e 30, estão demonstradas na figura 4.10.

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139

Figura 4.10. Diversidade de procariotos encontrada no sistema de mesocosmos contendo o

consórcio imobilizado em quitosana.

Sequências relativas ao gênero Escherichia ocorreram exclusivamente nesse ensaio,

porém em baixa abundância, em torno de 0,1% no tempo 0 e 1%, no tempo 20 Com

relação ao gênero Bacillus, esse gênero foi encontrado em baixa abundância também no

tempo 20, porém foram encontradas sequências relativas a esse gênero no controle. A

espécie Bacillus galactosidilyticus foi encontrada com menos de 1% de abundância no

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Arenimonas spp.

Acinetobacter schindleri

Caulobacter vibrioides

Oleispira spp.

Acinetobacter calcoaceticus

Pseudomonas aeruginosa

Escherichia_Shigella spp.

Salinimicrobium spp.

Sarcina spp.

Comamonas aquatica

Sediminibacterium spp.

Alcanivorax venustensis

Holospora spp.

Acinetobacter johnsonii

Herbaspirillum spp.

Stenoxybacter spp.

Anaeromyxobacter dehalogenans

Mesorhizobium spp.

Methylobacterium radiotolerans

Massilia timonae

Alcanivorax borkumensis

Bacillus galactosidilyticus

Bacillus sp.

Abundância %

Esp

écie

s

30 20 5 0

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controle e com 10% no tempo 20 no mesocosmos com o bioaumento. Essa espécie foi

relatada em alimentos de origem láctea (Heyndrickx et al., 2004).

Sarcina spp., Mesorhizobium spp., Caulobacter vibrioides mostraram-se abundantes

no tempo 0, porém Mesorhizobium spp. exibiu a maior abundância no tempo 20

(aproximadamente 36%) e Caulobacter vibrioides se sobressaiu, com aproximadamente

75%, ao final do experimento, no tempo 30. Herbaspirillum spp. foram verificadas no

tempo 20 (aproximadamente 5%) que mesmo em abundância foram apenas para o

tratamento contendo consórcio. Essas espécies são usualmente relatadas como fixadoras

de nitrogênio (Elbetagy et al., 2001), porém, já é relatado em trabalhos que mencionam

degradação de compostos xenobióticos, como o 4- clorofenol, um composto presente em

herbicidas e resíduos industriais, e em efluente de refinaria de petróleo (Im et al., 2004;

Das & Kazy, 2014). Espécies de Sarcina já foram relatadas como componentes da

microbiota presente em espécies de peixes, como o salmão (Cahill, 1990). Também já

foram descritas em ambientes contaminados com hidrocarbonetos, como solo

contaminado com querosene (Adetitun et al., 2014). Mesorhizobium spp. foram descritos

associados a ambientes contendo metais pesados (Mahieu et al, 2011), assim como solo

contaminado com petróleo (Liang et al, 2011). Geralmente é decrito em solos

contaminados, porém esse genêro já foi relatado em ambientes marinhos (Jimenez et al,

2011; Cappello et al, 2012). Caulobacter vibrioides já foi descrita em ambientes marinhos,

vivendo em associação com diatomáceas (Zakharova et al., 2010), e do mesmo modo, é

relatada em ambientes contaminados com hidrocarbonetos poliaromáticos (Benedek et

al., 2013).

No tempo 5, Alcanivorax venustensis e Oleispira spp. foram os grupos mais

abundantes, decaindo gradativamente até o fim do experimento (tempo 30 dias). Yakimov

e colaboradores (2007) descreveram esses gêneros, dentre outros, como integrantes de

um grupo específico de degradadoras de hidrocarbonetos, as bactérias

hidrocarbonaclásticas obrigatórias (obligate hydrocarbonoclastic bacteria -OHCB), no qual

estando em baixíssima abundância ou em níveis indetectáveis, aumentam

significativamente após um evento de poluição, como derramamento de petróleo.

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141

Aos 30 dias, as espécies mais abundantes, além de Caulobacter vibrioides, foram

Mesorhizobium spp. (5%), Anaeromyxobacter dehalogenans (7%), relacionada à redução

de metais pesados e degradação de aromáticos (North et al., 2004; Jones et al, 2008; Vila

et al, 2010) e Holospora spp. (5%), associadas à microbiota de ciliados marinhos (Rautian

& Wackerow-Kouzova, (2013).

Na figura 4.10 estão demonstradas as espécies que foram detectadas nos diferentes

tempos no sistema de mesocosmos controle.

Figura 4.11: Diversidade de procariotos encontrada no sistema de mesocosmos controle (água do mar + petróleo).

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Arenimonas spp.

Acinetobacter schindleri

Caulobacter vibrioides

Oleispira spp.

Acinetobacter calcoaceticus

Pseudomonas aeruginosa

Escherichia_Shigella spp.

Salinimicrobium spp.

Sarcina spp.

Comamonas aquatica

Sediminibacterium spp.

Alcanivorax venustensis

Holospora spp.

Acinetobacter johnsonii

Herbaspirillum spp.

Stenoxybacter spp.

Anaeromyxobacter dehalogenans

Mesorhizobium spp.

Methylobacterium radiotolerans

Massilia timonae

Alcanivorax borkumensis

Bacillus galactosidilyticus

Bacillus sp.

abundância %

esp

écie

s

30 20 5 0

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142

Algumas espécies em comum foram encontradas nos dois sistemas. Como já

relatado, o gênero Sarcina teve maior abundância no controle, sendo que no tempo 0

representou 37% da microbiota, aumentando sua abundância no tempo cinco para mais

de 80%. Isso não foi observado no sistema com o bioaumento, onde ocorreu o oposto, ou

seja, sua abundância caiu drasticamente no tempo 5 e se manteve baixa até o fim do

experimento. As abundâncias das outras espécies relatadas no sistema com o bioaumento

também foram similares no controle, como no caso da espécie Caulobacter vibrioides, que

foi a mais abundante ao final de 30 dias, porém com menor valor (40%). Vale ressaltar um

aumento das espécies de Alcanivorax no tempo 30, onde Alcanivorax venustensis

representou 6% da microbiota e Alcanivorax borkumensis 6,5%, o que não foi observado

no bioaumento. Isso pode corroborar os resultados de degradação observados nas

análises estatísticas (item 4.3.6), que indicam que a degradação no controle foi gradual e

progressiva, podendo estar relacionada ao crescimento das degradadoras obrigatórias

frente às outras bactérias presentes na microbiota autóctone. Ao final de 30 dias do

experimento foi encontrada uma diversidade maior, porém com baixa abundância. Além

de Alcanivorax spp., Caulobacter vibrioides e Holospora spp. (estas últimas também

observadas no tratamento de bioaumentação), também foram encontradas as espécies

Acinetobacter calcoaceticus, com 5% e Acinetobacter johnsonii, com 4%. As espécies de

Acinetobacter são comumente relatadas em ambientes contaminados com petróleo (Luo

et al., 2010; Okoro et al., 2010). Sediminibacterium spp. também ocorreram,

representando 13% da microbiota, e estão relacionadas com ambientes de petróleo e

degradação (Al-Awadhi et al., 2013).

Vários estudos vêm demonstrando que a estratégia de bioaumentação pode

influenciar a microbiota autóctone (Morgante et al., 2009; McKew et al., 2007), o que

pode explicar as diferenças observadas entre as comunidades microbianas presentes nos

dois sistemas.

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143

4.4. Conclusões

Os resultados demonstraram que o consórcio contendo quatro clones

metagenômicos + Bacillus subtillis CBMAI 707 apresentou porcentagens similares de

degradação dos compostos do petróleo bruto no sistema de mesocosmos em relação ao

controle contendo apenas a microbiota autóctone.

Condições consideradas não-ideais em sistema de mesocosmos, como a

temperatura (em torno de 16°C), baixa aeração, competição com microbiota marinha, e

escassez de nutrientes, uma vez que a única fonte de carbono acessível foi o petróleo

adicionado, pode ter resultado em uma eficiência na degradação de hidrocarbonetos

saturados similar à do controle.

Com relação à degradação dos compostos aromáticos, ao final de 30 dias, o

consórcio contendo os clones e Bacillus subtilis foi mais eficiente em relação ao controle

contendo apenas a microbiota autóctone.

A utilização do consórcio composto por clones metagenômicos com capacidade de

degradação de hidrocarbonetos (aromáticos e alifáticos), combinado com linhagem

produtora de biossurfactante, Bacillus subtilis, abre perspectiva de ser aplicado como

estratégia em sistemas de contenção para o tratamento de ambientes contaminados com

HPAs.

4.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foi possível avaliar o potencial de clones metagenômicos obtidos a

partir da construção de uma biblioteca fosmidial e de linhagens de bactérias, todos

provenientes de amostras de petróleo de reservatórios brasileiros, em escala de

microcosmos e mesocosmos, visando futura aplicação em processos de biorremediação.

Na primeira etapa, foram realizados ensaios em microcosmos para avaliação da

degradação de petróleo, com quatro clones metagenômicos e quatro linhagens isoladas,

avaliados na forma livre, em 50 mL de água do mar artificial e petróleo bruto como única

fonte de carbono, a cada sete dias durante 21 dias. Os resultados foram satisfatórios e

inovadores, uma vez que foi relatada a utilização de clones fosmidias portando vias de

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144

degradação de hidrocarbonetos, para biorremediação, gerando a publicação do artigo

“Bioremediation potential of microorganisms derived from petroleum reservoirs”, na

revista Marine Pollution Bulletin. Neste artigo estão descritos os ensaios em microcosmos

com água do mar e as taxas de degradação de petróleo obtidas através da ação dos micro-

organismos, avaliada por Cromatografia gasosa-Espectrometria de Massas (CG-EM), nos

quais se destacaram as linhagens isoladas Dietzia maris CBMAI 705 e Micrococcus sp.

CBMAI 636, atingindo taxas de até 99% de degradação de hidrocarbonetos saturados

(Capítulo 1). Foi possível verificar a capacidade dos clones metagenômicos e das linhagens

isoladas para degradação de hidrocarbonetos presentes no petróleo, tanto para alifáticos,

como para aromáticos em ensaios de microcosmos. Esses resultados foram relevantes,

principalmente a performance dos clones 2B, 1A e 10A, uma vez que deve ser levado em

conta que os genes presentes nesses clones atuam em sistema de expressão heteróloga.

Concomitante aos primeiros ensaios de degradação em microcosmos, foram

realizados ensaios de tensiometria e emulsificação (E24) para a avaliação da produção de

biossurfactantes pelos micro-organismos em estudo. Inicialmente foram realizados

ensaios simples, utilizando apenas uma fonte de carbono, como hexadecano e glicerol

(não mostrados ao longo desse trabalho), porém os baixos valores de tensiometria e

emulsificação encontrados levaram à escolha de empregar o método de delineamento

experimental, modelo Plackett-Burman (P&B), testando ao mesmo tempo várias fontes de

carbono, nitrogênio e sais. Ainda assim, os resultados não foram muito satisfatórios, com

valores não significativos com relação à redução da tensão superficial e formação de

emulsão, através do teste E24, com a linhagem Bacillus subtilis CBMAI 707, já descrita

quanto à degradação de hidrocarbonetos e produção de biossurfactantes, apresentando

melhores valores de redução de tensão e de emulsificação em querosene. O método de

delineamento experimental, modelo Plackett-Burman (P&B) foi eficiente para avaliar a

produção de compostos tensoativos, no entanto a melhor linhagem isolada testada foi

Bacillus subtilis, apresentando o menor valor de tensão superficial e melhor índice de

emulsificação entre os clones e linhagens avaliadas. Baseado nos resultados de

degradação descritos no artigo, as linhagens e os clones metagenômicos foram

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145

selecionados para serem imobilizados em quitosana. Dietzia maris CBMAI 705 e

Micrococcus sp. CBMAI 636 não resistiram ao processo de encapsulamento. Seguiu-se

então com a imobilização dos quatro clones metagenômicos e da linhagem de Bacillus

subtilis CBMAI 707, a qual foi bem sucedida e permitiu dar continuidade aos experimentos

de degradação nas escalas de micro e mesocosmos. Os ensaios para a verificação da

produção de biossurfactantes, assim como a descrição do processo de imobilização em

quitosana estão descritos no Capítulo 2.

Na segunda etapa do trabalho foram realizados novos ensaios em microcosmos para

avaliar a degradação de petróleo, utilizando os micro-organismos imobilizados. Nos

ensaios envolvendo água do mar estéril, ao final de 21 dias, a taxa de degradação dos

hidrocarbonetos saturados ficou em torno de 65 a 80% para o clone 2B e 95 a 100% para o

consórcio. Nos ensaios em água do mar não-estéril, as taxas ao final de 40 dias, foram de

60 a 100% para o clone 2B, 80 a 100% para o consórcio e de 95 a 100% para o Bacillus

subtilis CBMAI 707. No último ensaio, realizado em tanques de 90L em água de mar não-

estéril, foi utilizado um consórcio em ágar contendo três linhagens isoladas, um consórcio

imobilizado em quitosana contendo 4 clones metagenômicos e Bacillus subtilis e um clone

2B imobilizado isoladamente, e as taxas de degradação foram mensuradas baseando-se

apenas na relação pristano/fitano, permitindo a seleção do consórcio com quatro clones

metagenômicos e a linhagem de Bacillus subtilis, posteriormente avaliado em ensaios de

mesocosmos. Foi possível observar que os micro-organismos, mesmo na forma

imobilizada foram capazes de degradar os hidrocarbonetos do petróleo bruto. Algumas

variações foram notadas quando avaliados juntamente com a microbiota autóctone em

água do mar não-estéril e nas condições mais próximas da situação in situ. Mesmo assim,

os micro-organismo avaliados foram capazes de degradar petróleo bruto.

Na última etapa do trabalho, foi avaliado um único consórcio imobilizado em

quitosana, contendo quatro clones metagenômicos e a linhagem de Bacilus subtilis CBMAI

707 em sistemas de mesocosmos, em tanques de 3.000 L preenchidos com água do mar

não-estéril. Esse consórcio foi selecionado baseando-se nos resultados de degradação de

petróleo bruto nos experimentos já descritos. Parâmetros como quantidade total de

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146

bactérias (utilizando DAPI), contagem heterotrófica, e demanda biológica de oxigênio

(DBO) foram mensurados, assim como a degradação de petróleo através de cromatografia

gasosa (CG), além da caracterização da microbiota através de sequenciamento de DNA em

larga escala. As análises estatísticas revelaram similaridades nas taxas de degradação do

petróleo entre o tratamento com bioaumentação e o controle, no caso dos

hidrocarbonetos saturados. Porém, para os HPAs o tratamento com bioaumentação

revelou taxas superiores de degradação, abrindo perspectivas para aplicação futura na

remediação de contaminação com compostos recalcitrantes. Sequencias relacionadas aos

gêneros Escherichia e Bacillus foram encontradas apenas no tratamento utilizando o

consórcio, embora em baixas abundâncias. Porém ao final do experimento, foi observada

a prevalência de alguns grupos em comum, como Caulobacter vibrioides, Holospora spp. e

Mesorhizobium spp. Isso pode indicar que o consórcio com clones metagenômicos e

Bacillus subtilis pode não ter tido sucesso nas condições que simulam o ambiente natural,

contendo as bactérias autóctones da água do mar. Isso poderia ser explicado pelas

condições ambientais adversas nos sistemas de mesocosmos, diferentemente das

observadas em condições controladas de laboratório, assim como a competição com a

microbiota indígena. É possível que mesmo estando imobilizados em quitosana, os micro-

organismos não tenham tido muito sucesso na proliferação nos sistemas de mesocosmos.

Ainda assim, a utilização do consórcio pode ser interessante, uma vez que esses

clones possuem capacidade para degradar tanto hidrocarbonetos saturados como

aromáticos, além de capacidade para produzir biossurfactante, deste modo abrindo

perspectiva de ser utilizado em sistemas de contenção para o tratamento de ambientes

contaminados.

4.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Anexo

Aprovação do Comitê Interno de Biossegurança (CIBio) para a manipulação

de organimos geneticamente modificados (OGM)

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