universidade estadual de campinas instituto de...

124
P885e UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTES UM ESTUDO DA IMPROVISACAO NA MUSICA DE HERMETO PASCOAL : TRANSCRI(:OES E ANALISES DE SOLOS IMPROVISADOS JOSE CARLOS PRANDINI CAMPINAS 1996 29629/BC

Upload: others

Post on 18-Oct-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

P885e

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTES

UM ESTUDO DA IMPROVISACAO NA MUSICA DE

HERMETO PASCOAL :

TRANSCRI(:OES E ANALISES DE SOLOS IMPROVISADOS

JOSE CARLOS PRANDINI

CAMPINAS 1996

29629/BC

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

I

I

• • I

• I

• •

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTES

MESTRADO EM ARTES

UM ESTUDO DA IMPROVISACAO NA MUSICA DE

HERMETO PASCOAL :

TRANSCRI(::OES E ANALISES DE SOLOS IMPROVISADOS

JOSE CARLOS PRA!'JDINI

Dissertayao apresentada ao Curso de Mestrado em Artes da UNICAMP como requisito parcial para a obtew;ao do grau de Mestre em Artes sob a orientayao da Prof' Dr" Maria Lucia Senna Machado Pascoal do DM-lA.

CA.MP!NAS - 1996

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

P885e

FICHA CATALOGRAFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UNICAMP

Prandini, Jose Carlos Um estudo da improvisac;ao na musica de Hermeto

Pascoal : transcric;oes e amilises de solos improvisados I Jose Carlos Prandini. - Campinas, SP: [s.n.], 1996.

Orientador: Maria Lucia Senna Machado Pascoal. Dissertac;ao (mestrado)- Universidade Estadual de

Campinas, Institute de Artes.

1. Pascoal, Hermeto. 2. Musica - Brasil 3. lmprovisac;ao (Musica). I. Pascoal, Maria Lucia Senna Machado. II. Universidade Estadual de Campinas. Institute de Artes. Ill. Titulo.

Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

2

COMISSAO JULGADORA

~~ ~·. 0~: ' t\f\ (\ 1 l' L ~ ·. r ')~ : , ~~~~~~ ( \.~~~A

Prof'. Dr•. Ma1

Ilf de Lourde . e av pron a (IA- Unesp) , . Prof. Dr. Maqricy Matos Ma tin (IA- Unicamp) , /lid Prof•. Dr". M!tria Lucia Senna Machado Pascoal (IA- Unicam~ /t-2#~

' ::;; Suplentes: ~? ..

Prof'. Dr". A ::ac:rotaKaYama (IA- Unicamp) Prof'. Dr•. Helena Jank (IA- Unicamp)

Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

AGRADECIMENTOS

As bibliotecas do Instituto de Artes da UNICAMP e da Escola de Comunicay5es e Artes da USP.

Aos professores do Curso de P6s-Graduavao do Instituto de Artes da UNICAl\1P, pela dedica9ao e extrema competencia em suas disciplinas: Prof Dr. Jose Antonio Rezende de Almeida Prado; Prof' Dr" Helena Jank; Prof Dr. Julio Plaza; Prof' Dr" Maria Lucia Senna Machado Pascoal; Prof' Dr" Regina Polo Muller;

Ao professor do Curso de P6s-Gradua9ao do Depto. de Musica da Escola de Comunica<;5es e Artes da USP, Prof Dr. Marcos Branda Lacerda

Ao professor do Curso de P6s-Graduavao do Depto. de Hist6ria da USP, Prof Dr. Amaldo Daraya Contier

Aos musicos e amigos que contribuiram para a obtenyao de materiais de pesquisa utilizados neste estudo: Luciana Sousa Jovino Santos Divanir Gattamorta Felipe Salles Fhivio Corilow

A minha orientadora, Prof' Dr" Maria Lucia Senna Machado Pascoal, pela imensa paciencia e incansavel dedicayao.

A todos os meus familiares, pelo incentivo e apoio permanentes.

A todo o corpo docente, alunos e funcionarios do Depto. de Musica do Instituto de Artes da UNICA'VfP, pelo incentivo it realiza<;ao deste trabalho.

' -'

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

4

iNDICE

RESUMO .............................................................................................. p. 6

ABSTRACT .......................................................................................... p. 7

INTRODU(:AO ... ................................................................................. p. 8

1 - OBJETIVOS ................................................................................... p. 8

2 - JUSTIFICATIV A ........................................................................... p. 8

3 - HIPOTESE. ...... ................................................................................ p. 10

3.1 - IMPROVISA<;:AO EM MUSICA POPULAR ................................. p. l 0 3.2- QUAIS SAO OS PROCESSOS COMPOSICIONAIS DE HERMETO PASCOAL EM SUAS IMPROVISA<;:OES? .............. p. 13

4- METODOLOGIA ............................................................................ p. 14

4.1 - TRANSCRI<;:AO DOS SOLOS ..................................................... p. 14 4.2- 0 PROCESSO DE ANALISE ........................................................ p. 17 4.2.1 - ESCALAS PARA IMPROVISA<;:AO ......................................... p. 21 4.4.2 - SUPERPOSI<;:AO ........................................................................ p. 23

5 - TRANSCRI<;:OES E ANALISES ............................................... p. 24

5.1- SOLO DE H. PASCOAL SOBRE "ILHA DAS GAIVOTAS" ........ p. 24 5.1.1- HARMONIA. ............................................................................... p. 31 5.1.2- RITMO ........................................................................................ p. 32 5.1.3- MELODIA. .................................................................................. p. 33 5.1.4- CONCLUSAO .............................................................................. p. 38

5.2- SOLO DE H. PASCOAL SOBRE "0 TOCADOR QUER BEBER" ...................................................................................... p. 39 5.2.1 - HARMONIA. ............................................................................... p. 43 5.2.2- RITMO ........................................................................................ p. 44 5.2.3- MELODIA. .................................................................................. p. 45 5.2.4- CONCLUSAO ............................................................................. p. 52

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

5

5.3- SOLO DE H. PASCOAL SOBRE "GINGA CARIOCA" ................ p. 54 5.3.1 - HARMONIA ............................................................................... p. 58 5.3.2- RITMO ........................................................................................ p. 62 5.3.3- MELODIA .................................................................................. p. 64 5.3.4- CONCLUSAO .............................................................................. p. 70

5.4- SOLO DE H. PASCOAL SOBRE "SURPRESA" .......................... p. 71 5.4.1 - HARMONIA ............................................................................... p. 76 5.4.2- RITMO ........................................................................................ p. 78 5.4.3- MELODIA .................................................................................. p. 80 5.4.4- CONCLUSAO .............................................................................. p. 88

CONCLUSAO ....................................................................................... p. 89

BIBLIOGRAFIA ................................................................................... p. 92

DISCOGRAFIA ............. ....................................................................... p. 95

ANEXO 1- PARTITURAS DOS SOLOS TRANSCRITOS

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

6

RESUMO

Este estudo tern como objetivo o estudo da estrutura musical empregada em

improvisayoes de Hermeto Pascoal. Para isso, foram realizadas transcri9oes nota a

nota dos solos improvisados a partir de discos editados entre 1985 e 1992, e as

peyas foram posteriormente analisadas quanto ao seu conteudo ritmico, harmonico

e mel6dico.

A conclusao traz uma sintese dos elementos que constituem essa linguagem

musical e espera-se possa ser urn caminho aberto para estudos posteriores nessa

area.

0 trabalho contem ainda partituras dos temas musicais empregados e respectivos

solos improvisados.

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

7

ABSTRACT

This Master Dissertation aims at studying the musical meaning of Hermeto

Pascoal's improvised solos, from 1985 to 1992. In order to analyse those solos,

they were transcribed note by note from the recordings. Concluding, it synthesizes

the main elements that are essentially part of the language and is expect that this

can be a starting point for future studies.

There are also complete transcriptions and their related themes at the end of this

paper.

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

8

UM ESTUDO DA IMPROVISACAO NA MUSICA DE

HERMETO PASCOAL :

TRANSCRI(:OES E ANALISES DE SOLOS IMPROVISADOS

INTRODU<;::AO

1 - OBJETIVOS

1.1 - Transcri9ao de composi9oes de Hermeto Pascoal, harmonia do chorus

principal e dos choruses de impro"isa9ao.

1.2 - Transcri9ao dos solos impro\<isados.

1.3 -Analise do material coletado.

1.4- Aplicayao do material coletado em pesquisa e como repert6rio didatico.

2- JUSTIFICATIVA

Urn dos mais irnportantes e criativos rnusicos bmsileiros de todos OS tempos,

Hermeto Pascoal se tomou run ponto de referencia obrigat6ria no ambito do estudo

da musica brasileira modema ( a partir da decada de 60 ), principalmente no que se

refere ao aspecto da improvisayaO, influenciando varias gera>;oes de musicos

profissionais e em forma9ao.

Pelo fato do autor produzir mna arnpla variedade de estilos, tanto no que se refere

a cornposi<;ao de seus temas quanto as formas de irnprovisav1io neles contidas,

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

9

concentrei o objeto deste trabalho em parte do conteudo extraido de tres

discos', editados entre 1985 e 1992, fase essa que me parece de grande

representatividade dentro do con junto de sua obra.

Em minhas atividades didaticas, como professor no Curso de Graduayao em

Musica na UNICAMP, rnodalidade em Musica Popular, tenho sido constantemente

consultado por aJunos e professores sobre obras de referencia em musica popular

brasileira, tanto para analise quanto para estudo de repert6rio, e a constatayao e de

que, ate o presente momento, rararnente sao encontradas no rneio editorial ou

academico, especialmente aquelas referentes ao tema improvisa<;iio em musica

popular brasileira.

0 desenvolvimento da Musicologia no Brasil ainda e muito recente, e estudos

tecnicos em musica popular brasileira sao particularmente raros, dificultando a

obtenyao de material apropriado para a realizayao de trabalhos de pesquisa e

estudo. Essa lacuna tern sido preenchida parciahnente no quesito repert6rio por

diversas publicayoes, envolvendo compositores como Antonio Carlos Jobirn,

Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros', persistindo entretanto, a

ausencia de estudos sobre improvisayao e principalmente sobre Herrneto Pascoal.

1 PASCOAL,Herrneto - S6 A'ilo l(>ca Quem Nilo Quer/ Som da Gente SDG-03~/87 PASCOAL.Henncto -Brasil Universo/Som da Gente CDSG-012/93 PASCOAL.Herrneto -Festa Dos Deuses! Som da Genie CDSDG-010/92

2 CHEDIAK. Almir. Songbook Bossa Nova. Rio: Lumiar Ed. 199! CHED!AK. /\lmir. Songbook Gilberte Gil. Rio: Lumiar Ed. 1992

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

3- HIPOTESE

A COMPREENSAO DA LINGUAGEM MUSICAL UTILJZADA NA IMPROVISA<";AO DE HERMETO P ASCOAL

3.1 ) IMPROVISA<";AO EM MUSICA POPULAR

Sem pretender neste pequeno estudo definir ou estabelecer conceps;oes te6ricas,

inicialmente destaco uma ideia a respeito de Improvisas;ao na qual a musica

e criada e executada imediatamente pelo executante, sem revisao ou alteras;ao

posterior, a partir de urn tema ou progressao harmonica dados3

lO

Nas consultas bibliograficas ao verbete improvisas;ao4 encontramos referencias ao

assunto relacionadas aos periodos barroco, classico e romantico. Tais referencias

tratam o termo como urn con junto de tecnicas de construs;ao musical voltado

basicamente para o que se convencionou chamar de ornamentac;ao 5 • Nesse tipo

de improvisas;ao, a crias;ao do interprete e bastante circunscrita a modificayaO

(varia9ao) de urn texto mel6dico previamente conhecido (Fig.l).

5 HORSLEY, Imogene, COLLINS, Michael, BADURA-SKODA,Eva, LIBBY. Dennis. JAJR.A.ZBHOY, Nazir. The New Grove Dictionary ofMu.>ic and Musicians. London: MacMillan, 1980. pgs 31 a 56.

4 BUKOFZER,Manfred F. Music in the Baroque Era. New York: W.W.Norton, pgs 370 a 385. :N"EWMAJ\TN, WilliamS. The Sonala in the Baroque Era. New York: W. W. Norton, 1983. pgs. 106/!07. HORSLEY. Imogene, COLLINS. MichaeL BADURA-SKODA, Eva, LIBBY, Dennis, JAlRAZBHOY. Nazir. The Nelr Grove Dictionary of:Jiusic and Afusicians. London: 1\.-1acMillan, 1980, pgs 3l a 56.

5 PARRISH, Carl. The Notation of medieval music. New York: W. W. Norton, 1978. pgs 183 a 194 HORSLEY. Imogene. The Vew Grove Dictionary of Music and ivfusicians. London: MacMillan. 1980. pgs 31 a 48.

Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

II

Figura I 6

Adagio p/ Violino e Baixo Continuo A. Corelli

" a

Tema

"' jp .... ,,_. .-Melodia cl ornamenta.;ao

- .... I "' I ~ "' I I ,

I l:--1 1- ~ I p

... -fl-"f:: ... .... I ..... I :

- -Por outro !ado, no panorama da musica popular improvisada moderna, observamos

que esse enfoque e apenas mna das tecnicas possiveis na criayao de mn solo

improvisado, sendo utilizado raramente ou em pequenos trechos no decorrer da

obra (Figura 2). Figura 2

6 FERAND. Ernest T. Die Improvisation. KO!n: Arno Volk Verlag, 1956, pg. 27

NIEHAUS. Lennie. Jazz !mprovisalion. Hialeah: Studio P/R. 1972. pg 74

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

12

All The Things You Are (J. Kern)

' Tema original

~

,.---::- 1,.------- I

Improvise por Lennie Niehaus

'---.. ~ .........

A~m aj7

,.-------. = -'---- •

'--

Muito mais frequente e a cria9ao de melodias inteiramente novas, sem vincula9ao

com a melodia do tema original, atraves da inven9ao de toda uma coleyao de novos

motivos, varia96es e desenvolvimentos. (Fig. 3)

Figura 3 '

Autumn Leaves (J. Mercer)

fJ I ' Terna

0) ' I r-11 r1-1

~ ' r Solo por H, Hancock

- -Gm7

' . ,-

' """· _,_ • h.

• ..

Este con junto de procedimentos vai alguns passos adiante em rela9ao ao

' DOBBINS. Bill. Herbie Hancock Piano Solos. Rottenburg: Advance Music.l992. pg.35

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

l3

procedimento anterior, pois, ao desvincular-se do tema originalmente dado, a

tarefa criativa e ainda mais ampla, com novas ideias e motivos assumindo papel

preponderante.

A Improvisayao na musica popular utiliza portanto as tecnicas gerais de

composiyiio, nas quais o autor lanya mao dos conhecimentos de todos os

pariimetros musicais e diretrizes harmonicas, melodicas e ritmicas, situando ainda

essa nova obra - o solo improvisado - em urn contexto estetico preciso.

3.2) QUAIS SAO OS PROCESSOS COMPOSICIONAIS DE HERMETO PASCOAL EM SUAS IMPROVISA<;OES?

Este trabalho pretende explorar esse assunto em dois niveis de analise:

a) Que elementos harm6nicos, ritmicos e melodicos sao utilizados?

b) Como sao organizados esses elementos?

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

14

4 - METODOLOGIA

0 processo utilizado neste trabalho consistiu das seguintes fases: A) Transcri9ao do tema.

B) Analise harmonica do tema.

C) Audi9oes repetidas do solo improvisado.

D) Transcri9oes (nota a nota) do solo improvisado para a partitura

computadotizada.

E) Sequenciamento digital do solo no computador .

F) Execm;ao no computador do solo transcrito, simultaneamente ao disco, para

checagem e corre9ao do material.

G) Analise do solo.

H) Conclusoes.

4.1 - TRANSCRI(AO DOS SOLOS

A.mplamente utilizadas no estudo da improvisa<;ao jazzistica, as transcri9oes de

solos improvisados se constituem num dos mais importantes recursos de

aprendizagem de repert6rio e analise em musica popular.

Page 17: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

15

Diversas obras sobre transcriyoes de Jazz, utilizadas como referencia neste

trabalho 9, dao conta da relativa imprecisao neste processo de traduyao de urn

evento sonoro para urn meio grafico. Alem das pr6prias limitayoes inerentes ao

c6digo de notayao musical, o qual nao pode traduzir todas as nuances de

andamento, timbre e dinamicas de urna peya executada ao vivo, o processo de

transcriyao de solos conta ainda com a dificuldade adicional de se tentar transpor

para 0 papel as imprecisoes da forma improvisada: 0 musico improvisador, nao

dispondo de tempo para uma segunda interpretayao ou urna reescritura de seu

texto, convive sempre com a possibilidade de nao executar com perfeiyao todas as

articulayoes, ritrnos e dinamicas. Uma transcriyao com grau aceitavel de fidelidade

ao material sonoro original exige, alem de grande acuidade auditiva do

pesquisador, urna reproduyao (via conhecimento analitico) das intenyoes no

processo de composiyao do solo estudado, naqueles casos onde os eventos

musicais sao executados imprecisamente e portanto, de dificil notayao em

partitura.

Uma traduyao absolutamente literal e sem o auxilio da analise, como aquela feita

9 BAKER David. Charlie Parker, Jazz Monographs Series. New York: Shattinger, 1978 BAKER David. The Jazz Style ofClijjord Brown. Hialeah: Studio P/R, 1982 BRECKER, Michael. Artist Transcriptions- Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp., 1995 DOBBINS, Bill. llerhie Hancock Piano Solos. Rottenburg: Advance Music, 1992 KYNASTON. Trent. Joe Lovano -Jazz Tenor Solos. Kalamazoo: Cof)·bant Productions.l99l KYNASTON, Trent. Michael Brecker, Improvised Saxophone Solos. Hialeah: Studio PiR, 1982 KYNASTON, Trent. Phill Wood,, Improvised Saxophone Solos. Hialeah: Studio P/R, 1981 MIEDEMA Harry. Jazz S(vles & Ana(vsis: Alto Sax Chicago: Maher Pub., 1977 NIEHAUS, Lennie. Dexter Gordon Jazz Saxophone Solos. New York: Almo Publications .. l979 NIEHAUS. Lennie. Jazz Improvisation. Hialeah: Studio PiR, 1972 OSLAND. Miles. Jerry Bergonzi S<J!os. Medfield: Dorn Publications. l 994 SHORTER Wayne. Artist Transcriptions- Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp., 1990 WATTS, Emie. Artist Transcriptions- Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp., 1995

Page 18: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

16

por urn computador dotado de software de gravayao digital e nota9ao musical, nao

traduziria as estruturas precisas da composiyao, conforme pode ser observado na

Figura 4, onde se contrapoem a composiyao original e a transcriyao feita

inteiramente por urn computador a partir de uma interpretayao real de urn pianista.

Page 19: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

17

Sonata Op. 27- 1° Mov. (L.V. Beethoven) Figura 4

Page 20: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

4.2 ) 0 PROCESSO DE ANALISE

E na musica de Jazz, cuja propria defini91io engloba obrigatoriamente o ato de

improvisar, que observamos urn grande desenvolvimento dessa tecnica.

18

Estudando as transcri96es de improvisos de Jazz existentes atualmente no mercado

editorial'", tanto como base para analise, como em aplica96es didaticas,

observamos urn contraste entre a avan9ada tecnica de transcri91io para a partitura

dos solos e o estagio rudimentar das analises , quando o metodo as apresenta: na

maioria das obras encontradas constam apenas as transcri96es e naqueles que

trazem analises, sao atribuidas as frases musicais apenas vincula96es harmonicas

( tonais ou modais) relacionadas a progressao de acordes do tema original sobre o

qual foi desenvolvida a improvisayao, sem maiores aprofundamentos quanto a

constru91io e estruturayao de elementos intemos, motivos ou unidades ainda

menores do texto.

Baker, em Charlie Parker, Jazz !vfonographs Series11, re!aciona ainda

procedimentos puramente interpretativos, como articulay5es e inflexoes mel6dicas,

ao !ado de descri96es de tessitura empregada, preferencias de escalas utilizadas,

padr5es mel6dicos e outros elementos composicionais. Consideramos

particularmente uteis para a compreensao dessas obras a cole9i'io de padr5es

mel6dicos extraidos de cada solo (p. ex. as paginas 38 e 39, op. cit), porem o autor

nao procede a amilises mais detalhadas desse mesmo material coletado, faltando

justamente os elementos mais relevantes para a compreensao do pensamento

'0 BAKER David. Charlie Parker. Jazz Afonographs Series. New York: Shattinger, 1978

BAKER David. The .Jazz Style of Clifford Brown .. Hialeah: Studio P!R 1982 BRECKER Michael. Artist Transcriptions- Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp .. 1995 K'YNASTON, Trent. Joe Lovano- Jazz Tenor Solos. Kalamazoo: Corybant Productions.l99! KYNASTON, Trcnt.lvfichael Brecker, Improvised Saxophone Solos.(Hialeah: Studio P/R .. 1982 K'YNASTON. Trent. Phil/ Woods, Improvised Saxophone Solos. Hialeah: Studio P/R. 1981 MIEDEMA, Harry. Jazz Styles & Analysis: Alto Sax Chicago: Mal1er Pub., I 977 OSLk"'D, Miles. Jerry llergonzi Solos. Medfield: Darn Publications, 1994 SHORTER. Wayne. Artist Transcriptions- Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp., 1990 WATTS, Ernie. Artist Transcriptions- Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp., 1995

11BAKER. David. Charlie Parker, Jazz Monographs Series.pgs 35 a 37 New York: Shattinger.1978

Page 21: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

composicional do improvisador, como identificayao e analise dos motivos

mel6dicos ou segmentos ainda menores do texto musical.

!9

Os trabalhos em amllise de musica tonal ( desde Adler , Riemann, Schenker ate

Salzer) podem servir de modelos para a compreens1io de solos improvisados de

natureza jazzistica, pois as estruturas harmonicas envolvidas nestas peyas, por mais

elaboradas e expandidas que sejam, nao fogem totalmente ao ambito da tonalidade.

Proponho que, para uma melhor compreensao de uma obra improvisada,

devamos incluir uma ampla analise mel6dica, alem daquelas rela9oes harmonicas

mais evidentes a primeira vista.

Utilizei aqui basicamente alguns conceitos livremente adaptados sobre analise de

construyao mel6dica definidos por \J,lhite" e Schoenberg 13 para estudar a

composiyao dos solos de Hermeto Pascoal:

A) Quanto aos procedimentos composicionais:

• Repetiyao (R) - o reaproveitamento de uma ideia pode aparecer apenas em urn

elemento e n1io em outro, por exemplo, a repeti9ao de urn padr1io ritrnico

aplicado a outro material mel6dico.

" Desenvolvimento (D)- a ampliay1io do discurso no sentido de expans1io do

material, tendo como ponto de partida urn motivo ou tema apresentado

anteriormente.

• Varia91io (V)- o reaparecimento de uma ideia modificada, ampliada ou

reduzida

" Novos materiais (N) - o simples aparecimento de elementos de origem diversa,

12 WHITE, John D. The Analysis ofMusic .New Jersey: Prentice-HalL 1976

13 SCHOENBERG. Arnold. Fundamentos da composiqiio Musical. Sao Paulo! Edusp, 1991

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

por exemplo, urna outra escala ou urn outro acorde.

B) Quanto a elementos mel6dicos:

• Motivo - a menor unidade estrutnral que possui identidade tematica .

• Frase - a menor unidade musical que traz urn pensamento completo, porem

sem a identidade tematica caracteristica do motivo.

• Grupo de frases- conjunto de duas ou mais frases que interagem entre si.

20

Procurei utilizar aqui o conceito de (frase) Antecedente e (frase) Consequente-"

0 ptimeiro se referindo a urna frase com sentido de proposic;Cio, a qual demanda

urna conclusCio (Consequente), quase sempre de carater contrastante entre si.

( Tal contraste pode ser obtido atraves de densidades de notas diversas entre as

frases, perfis ou dire~Yoes opostas, intervalos contrastantes ou diferencia9oes

ritrnicas).

• Figuras - eventos nao significativos no conjunto da pe9a, utilizados como

elementos de liga9ao entre motivos, frases ou como acompanhamento (figuras de

acompanhamento, figuras de conexao, etc.)

Na partitnras transcritas alguns eventos foram anotados atraves das siglas:

A e C ( Antecedente e Consequente)

V ( Varia9ao)

D ( Desenvolvimento)

R ( Repeti91io)

N ( Novos materiais)

Inicios e finais de motivos e frases estao delimitados por colchetes:

14 SCHOENBERG. Arnold. Fundamentos da composit;:iio Musical. Sao Paulo: Edusp, 1991. pgs 50i56

Page 23: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

21

Os conceitos, cifragens e demais codifica<;oes relativas a acordes, fun<;oes tonais

e escalas utilizadas nas amilises sao aquelas adotadas na maioria das publica<;oes

especializadas em Jazz e musica popular instrumental", e consagradas como de

uso geral por professores com forma<;ao especifica nessa area.

A harmonia da musica popular criada ap6s a decada de 60 e compreendida dentro

de urn conceito de tonalidade expandida e com trechos de constru<;iio modal.

As fun<;oes harmonicas do sistema tonal- Tonica, Subdominante e Dominante-

quando sao assim identificadas nesse ambiente, muitas vezes aparecem conectadas

fracamente, sendo analizadas diversarnente do ambito da harmonia tradicional,

sendo de uso geral, por exemplo a denomina<;iio "Tonica" para urn acorde

colocado sem prepara<;ao Dominante e sem o subsequente aparecimento de outros

acordes pertencentes a sua area tonal.

Destaco ainda dois conceitos importantes para a compreensao da terminologia

15 CHEDlAK._ Almir. Songbook Bossa Nova. Rio: Lumiar Ed. 199! CHEDlAK, Almir. Songbook Gilberta Gil. Rio: Lumiar Ed. 1992 COKER. Jerry. E/ Lenguage de/Jazz. Buenos Aires: Victor Len"!. 1977 DOBBINS. Bill. Herbie Hancock Piano Solos. Rottcnburg: Advance Music,l992 KYNASTON. Trent. Joe Lovano- Jazz Tenor Solos. Kalamazoo: Corybant Productions.l991 KYNASTON, Trent. Michael Brecker. Improvised .Saxophone Solos. Hialeah: Studio PIR. 1982 KYNASTON. Trent. Phil/ Woods. Improvised Saxophone Solos. Hialeah: Studio P/R. 1981 McGRAIN. Mark J. Music Notation. Boston: Berklcc Press, 1986 MIEDEMA. Harry. Jazz S"tyles & Analysis: Alto Sax Chicago: Maher Pub., 1977 NIEHAUS, Lennie. Dexter Gordon Jazz Saxophone Solos. New York: Almo Publicalions,l979 NIEHAUS. Lennie. Jazz Improvisation. Hialeah: Studio P/R 1972 PRANDINI, Jose Carlos. Principios de Harmonia Afoderna- Jniciat;iio a Improvism;iio. SUo Paulo. Zimbo Edi('OeS. 1984 RICKER, Ramon. Pentatonic Scales for Jazz Improvisations. Lebanon: Studio P/R. 1975 SHORTER, Wayne. Artist Transcriptions- Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp .. 1990 WATTS. Ernie. Artist Transcriptions- Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp .. 1995

Page 24: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

empregada nas amilises:

4.2.1) ESCALAS PARA IMPROVISACAO RELACIONADAS A ACORDES:

De modo geral sao aceitas como de rela<;:iio mais forte com o acorde, aquelas

escalas com maior numero possivel de notas coincidentes as notas das triades e

graus altos ( nonas, decimas primeiras e decimas terceiras). (P.ex., escala Lidia

de Do tocada contra urn acorde de Do maior com setima maior, nona e decima

prime ira aumentada.)

Segue, a titulo de exemplo e consulta, uma tabela basica de escalas mais

comumente empregadas em improvisa<;:iio na musica popular:

22

Page 25: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

T ABELA DE A CORDES E ESCALAS '6

I, 16, 17+ ESCALA JONICA 17+#5 ESCALA LiDIA #5 lm, lm7 ESCALA EOLIA Im6 ESCALA DORICA OU MENOR TONICA lm7 ESCALA MENOR TONICA 17 ESCALA MIXOLIDIA ro ESCALA DIMINLJTA Iib7 ESC ALA MIXOLIDIA 4# Iib7+ ESCALA LIDIA Ilm7, Iim6 ESCALA DO RICA Iim7b5 ESCALA LOCRIA OU LOCRIA 2# Illb0 ESCALA DIMINUTA IIIm7 ESCALA FRIGIA IV7+, IV6 ESCALA LIDIA IVm7, Ivm6 ESCALA DORICA Vbo ESC ALA DIMINUT A V7, V9, Vl3, V7sus 4 ESCALA MIXOLIDIA V7b9, V79+ ESCALA DOMIN ANTE DIMINUT A V7#11 ESC ALA MIXOLIDIA 4# V7#5 ESCALA DE TONS INTEIROS V7#5b9, V7#5#9 ESCALA SUPER LOCRIA Vibm6 ESCALA MENOR TONICA Vib7+ ESCALA LIDIA Vib7 ESCALA MIXOLIDJA 4# Vim7 ESCALA EOLIA VI0 ESCALA DIMINUTA VIIbm7 ESCALA DO RICA VIIb7+ ESCALA LIDIA VIIb7 ESCALA MIXOLIDIA 4# VIIm7b5 ESCALA LOCRIA vm ESCALA MIXOLIDIA 4#

10 PRANDlNL Jose Carlos. Principios de Harmonia Afoderna- lniciaf·do a lmprovisar;:ilo. Sao Paulo. Zimbo Edi9iies, 1984, pgs 24 c 25

23

Page 26: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

4.2.2) SUPERPOSI(,:AO

Alem das escalas constantes da tabela anterior, ontras escalas ( on conjnntos de

notas extraidas dessas escalas, como as chamadas escalas pentat6nicas17 ) sao

empregadas dentro do conceito de snperposi9ii.o. 0 conceito de snperposi9ii.o em

improvisa9ao tern como principio a ntilizayii.o de materiais originarios de ontros

acordes on ontras areas tonais em contraposi9ii.o a urn determinado acorde.

Alguns exemplos possiveis:

1) Uma frase construida sobre a escala de Re maior tocada contra urn

acorde de Do maior.

2) Urn arpejo do acorde de re bemol maior com setima maior tocado

contra urn acorde de Si bemol maior com setima maior.

" RlCKER Ramon. Pentatonic Scales for Jazz Improvisations. Lebanon: Studio P/R. !975

24

Page 27: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

24

5) TRANSCRI(:OES E ANALISES

5.1 SOLO DE H. PASCOAL SOBRE "ILHA DAS GAIVOTAS"

Page 28: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

• • • • • • '

• • • • •

~

. .

Tema

'

....

F#m9 tO·

Ilha das Gaivotas 25

So Niio Toea Quem Niio Querl Som da Gente SDG-034;87 Hermeto Pascoal

2

• -Ill- !!. • b.!! .... - l:l • .. .. ' . '

' i r

F#m!F G~m7&5J C~7(>9) F!~l C~IB Dmaj7 6 6 6· 6 ..

' ···-'

• 3 ,--Ill- _,_ _,_ #:r: !!:_~ ~ _,_ .. _,_ :r: .. *· 4 ... • *· .. #~ ~-~~~-:~~~~~~~~·~~~~~~~~~~====~~~~~~~~· ~~ • I

. ~ • • • •

. .

Hlm9 ~ ..

'' r

E/D

6

F~m!E

()

!! ....

-GiF

6

' '

Dmaj7 GIF () •

1. ... i

r G~m7&5) BIA" ' 'i'f' .. ..

i

D/C B!M Bm!A G~m7&5l D/C F;IE

• tr • • () ()

.. -Ill- -Ill- !! .. -Ill- _,_ •• b. !!. .. .. ~ '

' ..•

I I

DiC DIC F;m9 Fm9 D;m7&5J E/D i i ... ... 6 6 •• •

' '

Page 29: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

• • • • • 9 10

26

• ::J ~ ,._,,_ ! .__ #~I ,:. 1*- ~ f: £t:"• ~ • • ~ij fifE t I • EJ ~ r E;Tc r ftft#r f u-c; a I

~:1~5~):~~~E~~D~r~~7~;~~~~r~G~~~~;~~~-~--~;~~~r~~;~D~;~9~D~r~~~, I • • •• 1

• • •' ~ • I

• • • .13

• • • ·: ~ ~ I

• • • • •

. .

. .

•• 5

• 1\ c-FM.--

.~

1,

1*- 1*- ~#~ ~ ~ ,:. ~~ f:- # ~ ~.~. ~ f= ~~ ' '

'

F;m9 GIF Amm E/C D/C~ C~/A I ,. ""

M/F~ AIF '

<> • • • • • • • ' --

14 .. +±·· f.:- .,._f:-i .,:.f.:- .. ' '

I Bm9 C~m9 D~m9 f#m9 G;m9 A~m9 NG; I D/C •• • • • • • • I •

'

FIE 0/A NG Bm9 C~m9 mm9 Fm9 A;m9

~

~ ,:. .L 1*- !±.~. 1*-' ''

~

Dm9JM G~m9JD~ FlO C#!B D/C

• • • • • ' '

1*- .L +± • • '

' I

FIE C~m9 Bm9 o;m9 c;m9 NG • • • • • •

' '

I Am9 Hm9 D;!m9 Dm9 F~m9 FIE I

:~lv~:~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ i '

r j j j j r j ', j j r j • ' r I I I I '

• • I

Page 30: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

27

GIF D/C C/B~ D/C Glfll • • • • • '

19 F~mii 20 F~mii

1\ '

t)

=---_. .. _. ..

=-.- 7 7 ' =---_. .. _. .. ~.- ~.-7

• I

~ I - .r-"'"1 ' -r""l

,.,. ~

•• . . ' '

' j+• ~--- ~ ........ j+• o.....J . •

Motivo 2

jJ j I CONSEQUENTE (C

2)_-il

I £J 26 27 Motivo l ( V)

Page 31: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

• ~ I

• u

• • • I'

• ~·

• (\

• • v

• • • . . I

j!•

I<

Motivo 2 ( V) 29

-H ... ~-" '

,....

'

' I I r -c 3 I

- r-, -""'--!

- 3 l

.., 3 3 3 37

I

I

- r--. I '

...._. Tl

,;;;;;;:;

I r---'

~~

,_3

.. 1""1 I , '

28

Motivo 2 ( V) 30 31

r-oo= === -J w ' ,, ' - - c

- i""""'' '

fl• #4- ~ -.....!

c

38 39 Motivo 3 ----- (R) '

3 .7

' .,.!., ....... ~~· ,11" •• ~ .......... i""""''

' '

~ ... ~·

42

~-,------(D)

43

I

~

I

.... -.It I

-.J

Page 32: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

• ~ 4V

~

• • . .

• 48

fl

IU

.I • • • • • 52

~

. .

Motivo 4

._ ~~-~H.-1 , I II ~~-,, 45 3 46

;'' ' ' '

l r i 1T ··~· -. ~ -+ I •I c

- r--, ~ i"""'-- _r-, ' '

flo• -.... ~-- r•

49 ~#~

50J!IP_· ~~ • ~ ··*· 1!:- j!;;:. 1-~r-

' ·i== . v ' I ,...._

_j Lc I I A - r--, r"""' i""'- - r--,

' flo• ~" ~-- r•

#~ ._ _,_ *· .f/1- _,_ "' • _,_ *• II I. •' 53 54

' ' ' ' ' '

29

47 (D)

._~ H •

'

II l_j / i ' L ' c

--i-1

~· ~ ........

51 !!:: #~ ._ _,_

'

I c I I '

'.

~· ~ ........

' ·- I r 55

' ' ' • • it.! i I~ l-J 1 I ,

I .._

I ~ I I 'I 1'

I "L .. ·~· I ....... -i c I ' 1-.,

J13 J J • . ' ~--- # ~---• (R) (R) (R)

c I

ul!o I

• )-6 5" <g -9 • =-r-:~ , ~""""'~= =-r-; ~ ~""""'~= 1:'-r-:: ) I~ .

:~· ~~~JJ~~~~~~~---~~~~ • I ~ •I I i I

:·h~)=~#J~: ~R3~·. ~EJ~· il'o~~ #~fJ~#·~~~· l,~w ~·~F]J§•FJ~I0~. ~0~· c§~)l~~ I • • •

Page 33: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

60 61

.. -' . ' ~ . " I

I ~ ~ li I . '

• * ' I . . • +I~ ..... '-i -

65

1\ ... k•

'

t)' -- I '

l"""'l . r---,l . . ' ' .... """"'-~

~ 68 Motivo 6

69 ~ ~~· ~. -r-

• • ~ c

• 1"'--~ . '

' ~ • ' ~72

'l

'

t) ~4------· T

. . '

Tl''"'

30

Motivo I ( V) 62 61~

.... l±. • ~J~t:e 1!:-~t:e ~ ·~;~-_!2

'

I -........, ' r--.

~---

Motivo 5 66

'

Tl'-

... ".. .. r~~ ...

A

r"" r---. !

~· Tl''"'

,-, 70

.:1

~

1"--1

~ ' '

73

~ # "' ~· -J I

I ' ' '

"

A I I

- r-,1

~-- I,..J .....

67 ~

~ ....... .,_ .f'--~ ~ .,.",. • .f'- -fl- T

1"'- I

' '

!!* 1.--1 --.1

71

c

I .... ....

~--

I '

'

l I

Page 34: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

Fig. 5

5.1.1- Harmonia (Fig. 5)

Dha das gaivotas - An:illse Harmonica

lm. ( 7,9,ll) Flm7(9J(1!J

!If ! :t Acorde completo, posiJ;ao f1ll'ldamental : Dominante

Flm 7(91 (11)

I

0 solo improvisado apresenta urn imico acorde, com fun9ao tonica: Fa sustenido

menor com setima, acrescido de nona e decima primeira. ( Nao foram analisadas

aqui as sequencias hannonicas do tema, as quais nao ocorrem durante o solo

improvisado)

31

0 caminho dos baixos ( Figura 6) - executado pelo saxofone baritono e

contrabaixo atraves de uma figura em ostinato a partir do compasso 18- sugere

algumas tensoes cadenciais superpostas ao acorde Tonica. A cadencia Dominante

(V~ I) e sugerida pela presen9a da sensivel (Mi sustenido, compassos 19 e 21)

da escalade Fa sustenido ( ter9a do acorde Dominante), notadamente nas duas

notas finais do ostinato, onde esta aparece antecedida da nota Do sustenido,

fundamental do acorde Dominante.

Figma6

I~': fe I II" j#e I .. ll· I,., II F

Page 35: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

5.1.2- Ritmo

Os padroes litmicos encontrados (Fig. 7) sao extremamente valiados e derivados

da subdivisao em semicolcheias, predominantes durante a maior parte da pe~a.

Figura 7 llha das Gaivotas - Padroes Ritmicos

JJ5JJJJJJJJ J 'I " y-

II

32

Como elemento contrastante em rela~ao as semicolcheias, sao empregados padroes

desenvolvidos em tercinas ( padroes de numero 3 e 5 ).

Page 36: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

33

5.1. 3- Melodia

0 autor expoe de forma bastante clara nos primeiros compassos o primeiro motivo

mel6dico, - antecedente - construido sobre a escala menor mel6dica de Fa

sustenido (Fig. 8). Em sentido ascendente, seu padrao intervalar e fonnado

predominantemente por graus conjuntos ( segundas ), com excevao do ultimo

grupo de semicolcheias.

Figura 8 MOTIVO 1 ( Compasso 22 ) : Frue diatonica ascendente sobre a Escala Menor Mel6dica de Fa sustenidD

Na Variavao I (Figura 9) a diferenciavao e principahnente ritmica, com altemancia

de colcheias e semicolcheias e a inclusao de intervalos de teryas e sextas.

Figura 9 V AlllA(:il.O I (Compasso 27 )

11@ , J ,JJ JJ t!r 11l

VA!llACAO II (Compasso 33)

ll5t: •c tr ur [ f •f!J ,J J J J I J

A segunda Varia;;;ao apresenta o mesmo padrao intervalar do motivo original,

porem com uma quebra na linha ascendente no terceiro tempo (Figura 9).

Na Variavao HI, onde nao ocorrem alteravoes de intervalos e de sentido, a

Page 37: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

modifica~iio e ritmica, com inclusiio de diversas sincopes nas repeti~oes do Do sustenido (Figura l 0).

FigulaiO VARIACAO lll (Compassos 61, 62 e 63)

ufi 'A[[TYC'$1 Ef~ffff-U/Hft

Nas Variayoes IV e V o autor utiliza simultaneamente a inversiio de

senti do ( descendente) e a aurnenta~iio ritmica ( colcheias e tercinas de colcheias)

(Figura 11 ).

Figure. 11 VARIACAO IV (Compassos 45, 46 )

VARIACAO IV (Compassos 51, 52 e 53)

II

34

0 segundo motivo ( consequente) utiliza a mesma escalade Fa sustenido e os

mesmos intervalos de segundas (Figura 12) e se contrapoe ao primeiro pela

inversao de senti do ( descendente ), pelo padriio repetitivo - quase urn ostinato - e

por alternancias de sentido ( ascendente/ descendente). lmportante tambem ressaltar

a diferencia~ao ritmica com inclusao de colcheias pontuadas, que se opoe ao

carater "corrente", "deslizante" do primeiro.

Page 38: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

Figura 12

MOTIVO 2 (Compassos 24, 25 e 26) Frase cliatonica descendent• sobre a Escala Meror Natural de Fa SJJS!enido

Na Varia<;ao I observamos a inversao de sentido eo aparecimento de tercinas

(Figura 13). Nas Varia<;oes II e III surge mna amplia<;ao do motivo, com mn

atnnento na densidade ritmica, permanecendo o sentido descendente original.

Na segtmda Varia<;ao esse atnnento de densidade ritmica aparece sob a forma de

semicolcheias enquanto que na terceira, sob a forma de tercinas (Figura 13).

Figure 13 V AruA;;:.i\o l (Cornpassos 28 e 29)

9 9

VA!UACAO II (Compassos 30, 31 e 32)

VA!UACAO Ill (Compassos 35 a 38)

35

quarta Varia<;ao (Figura 14), que encerra o solo, utiliza mna aumenta<;ao ritmica

(compassos 54 e 55), causando urn efeito de rallentando, contribuindo para a

finaliza<;iio da se<;iio improvisada.

Page 39: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

36

Figure14

VAR1At;;AO !\.' (Compassos 70 a 73)

0 motivo 3, construido sobre a escala menor natural de Fa sustenido

consiste em urn padrao diatonico ascendente em dois tempos, que se repete tres

vezes em graus conjuntos da escala (Figura 15). A essa repetiviio de urn padrao de

dois tempos distribuidos em urn compasso temario, causando urn deslocamento

nas acentuavoes, damos o nome de hemiola 18 .

0 quarto motivo (Figura 15) pode ser interpretado como urna inversao do primeiro

motivo, pelo fato de utilizar a escala menor harmonica tambem por graus

con juntos, embora no sentido descendente.

Figura 15

MOT!VO 3 (Compasso 39)

JJJjJ MOT!VO 4 (Compassos 45 e 46)

0 motivo 5, ascendente, inclui uma variedade maior de intervalos, tervas e

quartas ( Figura 16), e inicia uma nova se91io na pe>;a onde o ritmo apresenta

18 MIEDEMA, Harry. Jazz Styles & AnaZvsis: Alto Sax. Chicago: Maher Pub., 1977, pg 4.

Page 40: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

37

maior ocorrencia de sincopes.

0 sexto motivo ( Figura 16) apresenta uma nova sonoridade causada pelo

aparecimento de quintas, dentro de urn padrao ritmico com notas de tres quartos de

tempo repetidas, configurando outra hemiola.

Figma 16 MOTIV05

II

Page 41: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

38

5.1.4 - CONCLUSAO

No que diz respeito a ritmica, observamos que, a semelhauc;:a do primeiro Motivo,

sao utilizadas sincopes com frequencia, principalmente nas resoluc;:oes de frases

( compassos 6, 12, 15, 21, 42 e 46).

Notas longas foram empregadas na finalizac;:ao de frases ( compassos 6, 9,

11, 15, 17, 46 e 55), com exce9ao da nota Fa sustenido no compasso 33,

coincidindo com o ponto mais alto da tessitura empregada.

Restrita apenas a urn acorde (Fig. 5), a pe9a oferece possibilidades limitadas de

constru9ao mel6dica com enfase em acordes, e fica evidente, ao Iongo de toda a

pe9a, a intenc;:ao fraucamente diatonica e horizonta/ 19 , da composic;:ao, pelo uso

constante das tres escalas menores de Fa sustenido (mel6dica, naturale

harmonica), sem ressaltar tensoes ou arpejos relacionados a outras progressoes

harmonicas.

19 0 pensamento horizontal. escalar, em contraposi9ao ao vertical, harmOnico, cordal. Mesmo ao utilizar intervalos maiores que segunda. como por exemplo no motivo 6. o autor o faz transpondo-os descendentemente por graus conjuntos, num procedimento dia!Onico.

Page 42: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

39

5.2 SOLO IMPROVISADO DE H. PASCOAL SOBRE "0 TOCADOR QUER BEBER"

Page 43: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

0 Tocador Quer Beber 40 Brasil Universal Sam da Gente CDSG 0Ji93

, "' ~ , "' , ry ~ He~111~to ~ascoal ! 1 i F '2c B'• ! 3 J F '4 i B07

, s.oforu 11 * ~· 1 j;'(i EfFH tr i JJ J J15 gal be [fer go IJ JjJtl wJ ~""51 ( 3 vezes) F l6' B~7 i7l F !81 B~7 !9i F

i* •k II= ~l'f1crr;l mmgaicrUcrr;GJJMJ~II ~(Erbr:o-1 ~ 'l () ~~ ~\, ~

I"" ' f' ~1, ~~" " ~l7j

I ll"~i

B~7 ill] F

F Ao ~ sem repeti91io

C [ [ f 6 j jJ I r r r F 6 j jJ II F

F """· F F

Page 44: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

~········. !42! ;

t ' ;48:

• •

l'i 1@.)

' t

~ ..

Motivo 2 F

1~.---d ___ A ____ II~.--____ _ c

Motivo 3 Motivo 3 (V)

F B>7

~ r: f:':S() ! ..

A A

C-----'~ A

41

F

• i47i r--.:z,,' ~ '46'

_ _____ _,~1 I.__ Motivo 2 (V)

~- B>7

~ :51Jf r:

c

Motivo 4 (V) Motivo 5 Motivo 5 (R) ~- Bb7 -, . F -· . B'7 F F

r ' --...1

,,'tbti"~ r!gr i"&r :t.~"~C~--;_(_7

c_r _:_f.!~ I A

! !

------~11._ __ A __ _,.,.}1 1~-.-__ c __ ..JI IL,.___ A I

F B>7 Motivo 6 (V) F B'7 Motivo 6 (R) F _...--_

f:. f::.~ f:_ ~ f- ~+---- I +-

A

Page 45: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

Figura 17

~ ' f :

5.2.1- Harmonia (Fig 17)

0 TOCADOR QUER BEBER- Amilise Harmonica

t •

F .I

I F£maior

Fu:ru;ao Tonica

c

~ Domaior

Fl.lllt;OO Dominante

~ Si Bemol Maior cl Selima

Fun<;ao Subdo:mirumte (Cadihu:ia do Blues)

43

A sequencia harmonica da pe9a consiste basicamente de uma altemilncia obstinada

entre o acorde de Fa maior eo de Si bemol maior com setima (Subdominante

maior com setima).

0 aparecimento do quinto gran (Dominante) ocmTe em apenas urn trecho da

exposiyao do tema ( compassos 27 a 30), nao voltando a ser utilizado durante os

choruses de improvisayiio.

Page 46: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

44

5. 2. 2 - Ritmo ( Fig. 18)

Iniciando o solo improvisado com urn padrao de tercinas- padrao 1-, o autor

se fixa em padroes de semicolcheias a partir do compasso 47- padroes 2, 3, 4, 5, 6

e 9 -, neles permancendo durante a maior parte da pe~a.

Figwa 18 0 TOCADOR QUER BEBER - Padroes Ritmicos

l H' i ~ n r r f r I

2ll' $ 1r .r 1 rrrr u[u 3 11 ' 1 r ; r r ti£ r r?r 4 ll' j r r f I r r r r r r r r I

sjj'

6 !I' 7!1, rrrrrrrrrrrr,

a a s a

sll' 9 li£

rrrrrrrrgrrrrrr% r if r;£ II

Observamos o aparecimento de tercinas de semicolcheias no padrao 7 e no padrao

8 a ocorrencia de fusas, geradas claramente como diminui~ao ritmica das

semicolcheias.

Page 47: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

45

5. 2. 3 - Afelodia

0 Motivo 1 (Fig. 19) e construido a partir do arpejo de uma triade -re, fa e la

bemol - (de origem provavel na ten;;a, quinta e setima do acorde da Subdominante,

Si bemol maior c/ setima), desenvolvido em perfil de arco, ascendente e

descendente, e com a inclusao de uma nota diatonica de passagem na se9ao

descendente.

0 TOCADOR QUER BEBER Figura 19

MOTIVO 1 (COMPASSOS 40141) : F'""e baseacla em aco:rclt a1pejado, com Mta alllilm

&7 j F

·~ cJ ~r @r ((t)J) 1 r 9

Na Varia9ao I Henneto utiliza apenas a transposiyao do motivo para quinta justa

acima, mudando apenas a nota final (terya acima).

Observamos que a colocayao dessa variayao no periodo harmonico segue a mesma

posiyao anterior, ou seja, tanto a primeira apariyao do motivo quanto a sua

variayao, ocorrem nos compassos hannonizados com o acorde de Si bemol c/

setima. Este fato gera urn forte contraste entre melodia e harmonia no caso da

vmia9iio: a triade arpejada -Ia, do e mi bemol - nao coincide ( como ocorre

anterionnente nos compassos 40/41) como acorde de Si bemol presente,

Page 48: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

46

definindo, ao contnirio, urn acorde de Fa maior ci setima e gerando uma

superposi9ao dos dois acordes (Fig. 20). Esse procedimento revela urn

pensamento muito mais horizontal do que vertical, no sentido em que a

dissoniincia gerada - sentido horizontal - pelo choque dos dois acordes (Si bemol

na harmonia e Fa maior com setima na melodia) se toma menos aparente do que a

propria repeti9iio transposta do motivo - sentido vertical- , de reconhecimento

auditivo mais evidente.

Figura 20 VAIDACAO I ( Compassos 42143)

B>7

~f@r ctp F ,, rf f!:. f j I s

No Motivo 2 (Fig. 21) encontramos urna frase diatonica descendente construida

sobre a escala mixolidia de Fa. Aqui novamente o pensamento horizontal se

sobrepoe ao vertical: ao inves da utilizayiio da escala mixolidia de Si bemol , o

autor prefere a superposi9iio da escala mixolidia de Fa ao acorde de Si bemol

maior com setima.

Figura 21

MOTIVO 2 (Compassos 44146) : Frese cliatonica descencle!tle sabre a escala MiiDbclia de Fa.

~7 F ~7

'I ~f r f ~PI I r r F

As tres primeiras notas de sse motivo diio origem a V aria9iio I e II com urn

Page 49: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

47

padrao sincopado de semicolcheias no Iugar das tercinas originais (Fig. 22). Na

Varia<;ao II a frase e finalizada com uma mudan<;a brusca na modalidade,

caracterizando, com a inser<;ao da nota Si natural, a escala Lidia de Fa, gerando

uma nova superposi<;ao.

Figula 22 VARIACAO! (COMPASSOS 52153)

Bl7 F Fig. f ~f ~ f f ~ ,, "" J f

v ARIACAO !I (COMPASSOS 57158)

Fig. ~t/r ~ ~t f ~ ,, r r

0 Motivo 3 tambem e puramente diatOnico: construido unicamente sobre a escala

mixolidia de Fa, o autor prefere nao alterar nenhum grau da mesma na presen<;a do

acorde de Si bemol c/ setima ( por exemplo, alterando a nota La para La. bemol),

preferindo manter como nos motivos anteriores uma unidade no sentido horizontal,

gerando nova superposi<;ao (Fig. 23).

Figula 23

0 TOCADOR QUER BEBER

MOT!VO 3 (COMPASSOS 47149) Fl<!Se clialolrica descenclente sobre a escal.a Mil<Dlirl.ia de Fa

F ~· F

EJ1 E br; t e tltr'a

Page 50: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

h i88i r--

lioi<

• u

I

F

F

~::

F

42 Motivo4 (V) ---c B07 ~ F __ B~7

y1ll'! l"'r j rr Efi~"ttrr:'lb[[U i

F

Motivo 6 (V) Motivo 6 (R) Motivo 6 (R)

~ v itf&fth(tftrFb;['lif£.rtrr@[r&tfr: Motivo 6 (V)

(N) !!(J2i

~. ~

1 r

F ~,.

!.93]

F Motivo 6 (R)

~~

A Motivo 6 (V)

A

Motivo 6 (R)

F

B77 F B~7

!103j '104 .. .. '

c -----11 I 9

-----

:wgi

Motivo 6 (R)

B~7

F (N) B>7

'J()§1 t ~ f:-r-~-~

!105·

c _3_...,~1 I

F Fala e mido de animais il Hl -~~~,.~~~~,.~~,.~~~,.-~~,.

Page 51: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

48

0 processo de transfonnayaO utilizado na VariayiiO I e a transposiyaO literal do

motivo ter9a menor acima, com modifica9iio apenas da nota final, enquanto na

Varia9ao II ocorre, alem da transposi9ao de varias notas, mna altemancia dos dois

grupos ritrnicos no compasso 56 e mna inversao no perfil atraves da finaliza9iio

ascendente (Fig. 24).

Figura 24

Fig., I

VAPJM;AO II (COMPASSOS 55 E56) F B~7 F

r ' 1

r= ~w rt r r;E 0 Motivo 4 tern origem no mesmo material utilizado no Motivo 1, mn arpejo do

acorde fonnado pelas notas re, fa e Ia bemol , porem com estrutura ritmica

bastante diversa, com uso intensivo de semicolcheias, sem sincopes (Figura 25).

Figura 25 MOTIVO 4 (COMPASSOS 59160) : Frase baseacla em acolcl;, arpejado, com mta

auxiliar.

r

A Varia9iio I utiliza apenas as mesmas notas do motivo de origem, com alguma

varia((iio litmica mas ainda sem uso de sincopes. Estas ocorrem na Varia9iio II,

onde o autor tambem expande o nfunero de notas atraves da inclusao das notas Do

Page 52: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

e La naturais (Figura 26).

V AIUA(:AO l (COMP ASSOS 63164)

F ~r

B~7

~r r F c r E 1 V AIUAi;AO ll (COMPASSOS 79183)

Br7 F B'7 F

16 ~tcr 1 rc r rL ~rjtrr rf ~tl£~rr[f ~t 1 rnt 1

0 procedimento composicional utilizado na cria.,;ao do Motivo 5 e o mesmo dos

motivos 1 e 4, ou seja , partindo do arpejo de runa triade adicionada de runa nota

diatonica auxiliar, desta vez com run acorde de Si Bemol maior (Fig. 27).

Fig.27

0 TOCADOR Q"I:JER BEBER

MOT!VO 5 (COMPASSOS 65!66) : Baseado em acorn.

~ I

F a:rpejado, com nola au.xiliar. Bf 7

00 ~ --~ (f~~ cr;t1

t t

Os padroes ritmicos desse motivo sao similares aos da Varia9ao II do motivo

anterior. Na Variayao I (Figura 28) observamos a inversao de direyao no trecho

final, chegando ate a nota Fa. Cabe ainda ressaltar a presen9a da nota Mi natural

colocada contra o acorde de Si bemol c/ setima, denotando a clara inten9ao de

49

utiliza-la como sensivel para a nota final, relegando a segundo plano a dissonilncia

harmonica assim criada, como ocorrera nos motivos 1, 2 e 3.

Page 53: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

50

lJARIACAO I (COMPASSOS 69nl)

F z4l 11---.._ :t:- F

c r ; f Fp ¥ f £ I t Figu:re28

0 Motivo 6 se diferencia dos anteriores, principalmente por nao se iniciar em

anacruse e nao utilizar sincopes. Ele e construido sobre a mesma triade utilizada na

varia~ao do Motivo 1 -la, doe mi bemol -,com a inclusao da mesma nota re

auxiliar (Figura 29).

Fig.29 MOTilJO 6 (COMPASSOS nn3) : Baseado em acorde aipejado, com nota a1lXiliar.

B'7~t @ rf @f F c--~~i? f feF)I I' - - ~ - - ..- I t vr r i~ ;;;: f lL

A Varia~ao I apresenta pouquissima mudan~a em rela~ao ao motivo de origem,

apenas repetindo notas on suprimindo repeti9oes dentro do mesmo compasso. Na

Varia-;;ao II novamente observamos a inversao do perfil na finaliza9ao da frase

( ascendente), sem outras altera9oes( Figura 30).

Figu:re30 VARJACAO I ( COMPASSOS 14f!5)

''B'"~r r r f r r f: 9 t F F f I , V ARIACAO II ( COMPASSOS 76n7)

,,B>7 ~f t f: f t t f

A Varia9ao !II (Fig. 31) consiste na repeti9iio - praticamente nm ostinato- das

Page 54: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

51

primeiras notas do motivo, transpostas ter9a men or abaixo.

Figundl VARlACAO III ( COMPASSOS 84ffi7) B~' F B>7

LetJffttl Lf~ttff£tl ff~t;JftJI VARlACAO IV ( COMPASSOS 88191)

Na Varia9ao IV (Fig. 31) o autor amplia o procedimento adotado na Varia9ao l,

repetindo obstinadamente as tres primeiras notas.

A ultima Varia9ao V (Fig. 32) pode ser interpretada como uma extensao da

varia9ilo anterior (IV), pois ele repete as mesmas notas, apenas dividindo os

valores por 2, substituindo semicolcheias por fusas.

Figma 32 VARlACAO V (COMPASSOS 93 A 100) F B'' F

,, err rHffffcrtt ff f ftrff[fffm Wrrrrrffffftn

Page 55: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

52

5.2.4 - CONCLUSAO

A construyaO do tema e bastante fie! a reproduyaO, tanto harmonica quanto

ritmicamente, de urn estilo musical tipico do folclore nordestino - o fbrr6 - , nao

recorrendo a maiores ampliavoes das progressoes harmonicas presentes nos forr6s

originais, com acordes maiores de primeiro, quarto e quinto graus.

A pe9a e estruturada basicamente na progressao Subdominante Maior + Tonica,

na qual o autor insere o acorde de quinto grau (apenas nos compassos 27 a 30),

mas sem a presenva da setima menor, formadora da tensao do tritono ; alem desse

fator de enfraquecimento da tensao dominante, a direvao dessa progressao ( V +

IV+ I) contraria a resoluyao mais usual da Dominante diretamente na Tonica (

IV+ V + I), diminuindo dessa forma a forva de polarizavao da funvao

Dominante.

A ausencia de uma Dominante claramente definida e a repetiviio intensiva da

progressao Subdominante ( IV7 -+ I ) contribuem para o carater

predominantemente modal da obra.

A presenva de setima menor no acorde Subdominante, aqui referida como

Cadencia de Blues, - assim chamada porter sido amplamente utilizada em peyas

deste genero 20-, determina urn predominio do modo mixolidio (em Si bemol)

sobre outras escalas utilizadas.

20 AEBERSOLD. James. Blues in All Keys. New Albany:J. Aebersold PubL !988, pg. 4

Page 56: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

A criat,:ao desse ambiente modal mixolidio detennina a utilizat,:ao desta escala

tambem sobre o acorde de Fa maior ( por simples transposit,:ao ), e nao somente

sobre o acorde Subdominante de Si bemol maior com setima.

Considerando o aspecto ritmico, na resolut,:ao das frases ou motivos destaca-se a

utilizat,:ao das sincopes, principalmente pelo contraste com as tenninat,:6es teticas

(coincidentes com os tempos); como exemplo, nos compassos 60 a 63.

53

Urn fator que confere grande unidade ritrnica ao solo eo fato da maioria dos

motivos( com exce~ao apenas do Motivo 6, figura 29 ) se iniciarem em anacruse.

Observamos no compasso 78 urn linico aparecimento de tercinas de semicolcheias

( confonne destacado na Figura 18, padrao 7) e nos compassos 93 a 100 notamos as

fusas como elemento gerador na varia<;:ao do motivo original.

Page 57: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

5.3 SOLO IMPROVISADO DE H. P ASCOAL SOBRE "GINGA CARIOCA"

54

Page 58: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

• • • • • •

~17!

~ • •

I!

~ ~ ;j ~

~ . ( f ; .. *I

3

GINGA CARIOCA Festa dos Deuses /Polygram 510 407-2 1992

. "it,.~~ I~! Ill

~I=JJ= ~ ~ I ;j '

---- ,----

}1; B~l3 !22

R I! tJJJjJI, Solo

; Motivo I (V) Motivo l (V)

l23! Dm7 Fm7

55

Hermeto Pascoal

~ .. E ;;j ~ ~ I

~p £J J

~§ = .. ~ . • ,, J ~ j J .. i :i't 0 [rer[rrf 0 J.U [rcr •JJ,;JJJJBJJ,i I . Mot1vo 1 (v}

Motivo l Mot1vo l (V)

Page 59: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

• • l!zs!

Motivo 2 Motivo 2 (D)

Am7('5l Dl3 7

Motivo 2 (V)

G7+

56

d !jJ)JaJJJJJd.Oo~~JJ 1 n40 JlJJJ§' 1 • • Motivo 2 (V) Motivo 2 (D)

• ....___ A _ ___. c ~::;t. q~ I

I M t' ' (V) · Motivo 3 (D) r 1 0 IVO .J Motlvo 3 (V)

~, , Motivo 3 !28 Bm7

129] c;m7 6 f3_<t C7(5+)(9+)

! ',pT.JJ A 1-Jfi'l~ tfl;iJ,JJPI J .Jj dJ ~JJ~·ft:~HJGJJ Motivo 4

G7(5+J(·9) Cm7

I Motivo 4 (V) Motivo 4 (V) ~34! Am7(i•S) p;m7(o5)

Motivo 4 (V) (N) f7(5+X9+) B~7(5+)(9+)

l' oJJP JJJJ* I JJ~J Jj~1J1J; 1;J! JjJiJiiO}JA I

--------------' '--------· --- c r-.-1 Motivo 5

3 '------- A ------' c

w4t; Motivo 4 (V) ,42 : --= Dm7

l' ,J J J14J J J J 1

>J

Motivo 4 (V) 43 Motivo 4 (V)

I I .-. G7(~ll)

A --------------------------~

Page 60: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

57

Motivo 6

Dm7

1 J J J tJ J ~ J J J 3 nl a g j I J #JJ ; /J s~ r #r F r t r T; I A

3

!,J j ~~ J ~J J qj J j J j J jj J J ll ---C LA_j

Page 61: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

u:

[I

lli

5.3.1- Harmonia (Figura 33 e 33-a)

Figura33 GINGA CARIOCA- Analise Hannonica

:

:

~7 ~7 Dm' [1] Fm' -'

I TOnica menor TOnica rnenor

. . 1Im7~LS) _____ V7_,~l3) ~ 17+ V!Im7

Am7P5l Dt' w G'+ Fl ,,

-~ ~' , "' Extensao da Cadencia T (mica maior

Subdo:rrdnante menor Do:roinante (Cicio de 2":; )

17+

F'+

TOnica m.aior

Vllbm7 ~7 J;"~m7 B:rn7 - w

Extens8o cia Cadencia ~

~7 c 7 m

- ' Subdorainante menor TOnica :menor TOnica :menor

(Cicio de 2":;)

V7(5+) (!'+) ~7 V!Im'i(Sb)

C'P'Il''l

w~r Bm?I5J [jQ]

. ..,_ ' I

[1]

~7 ~~ ? ~m

'

~ TOnica me:nor

1Im7(S)

Drt ?ISJ

Dominante T Carica me nor Dorninante Extensao da Cadencia

V'i(S+)(!I-)

G7(5•)(9-J

i

((adJncia deceptiva) Subdo:m:inante menor (Cadencia decepliva)

58

Page 62: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

59

Figma33- a lhn7(b5) Vllm7 17+ V'1(5+)(ll+)-+

17+ Vllm7

[.il [)1>7+ Cm'l Am7~SJ Flm7~5)

Ill! F'l+ C715•ll'•l

llil I

,- '1! ·~ 'I!>

TOnica mai.or Extensao da Cadencia Do:m.i.nante TOnica maior Do:mi:na:nte Subdomi:na:nte rrumor ( Ca.a"'encia deceptiva)

:

V'1(5+)(9+) + Ilh7(5+)(9+) + 17+ 17+ 17+ V'1(4)

lli ,F'tJI9·) B>715•)19•J WJA'+ C7+ lliJ Bl7+ A 7sus4

I ' ~~ n ~~ ~ ~ ~ Dorrrirtante Dominante TOnica maior TOnica maior

Dominante TOnica rt'lalDr (Cicio de 3"s)

:

V'1(4) V'1(4) Im7 [iJ C'lsl.J$4 llil El7sus4 llil Dm'

' . I

.,. I

Domi:na:nte Dontinante (Cicio de 3"s) TOrrica menor

: .

IV'1(ll+) bll'1 -+ lhn7(5b) V'1(!l-) -+ @ G 7(!11) IW Bf13 llil tEm'~5) A'~'l

.-vl I #~ Carliru;ia Subdomi:na:nte I Extensao da Carlincia Dominarlte Dominante da Do:minante

da Blues Subdo:mlltaitte menor

. .

Iniciando com urn acorde de Re menor com setima, a harmonia evolui para Fa

menor com setima, e dali para Sol maior com setima maior ( Compassos 3 e 4 ).

A presew;;a do acorde de Fa sustenido menor ( Compasso 4) com setima se

Page 63: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

justifica mais pela existencia de urn ciclo de segundas para o acorde de Fa maior

com setima maior e o de Mi bemol menor com setima ( Compasso 5) do que

propriamente polarizar a tonalidade de Sol atraves da fun9iio de setimo grau com

quinta alterada, aqui elevada para justa.

60

0 ciclo de segundas iniciado no compasso 4 se extende ate o acorde de Mi bemol

menor com setima, este ultimo podendo ser interpretado como subdominante

men or de Fa, mas aqui exercendo uma funyao mais ativa como parte integrante do

citado ciclo do que como subdominante.

A seguir se inicia mais urn ciclo de segundas (Figura 34) no compasso 5, com

acorde menores ate o compasso 8, onde se encerra num acorde dominante, a qual

nao e resolvida no compasso seguinte (cadencia deceptiva).

Ap6s a subita altemiincia para uma tOnica men or ( Sol sustenido menor com

setima), ocorre uma progressao bern definida tonalmente, com acordes do campo

harrnonico de Do, nos compassos 9 e l 0. Esta progressao nao evolui para a

esperada resoluyao em Do, configurando-se em mais uma cadencia deceptiva, e dai

para a tonica Re bemol maior com setima maior.

Novamente aqui o autor utiliza o setimo grau com a quinta justa (Do menor com

setima).

No compasso 12, repetindo basicamente o mesmo procedimento utilizado nos

compassos 9 e 10, o compositor cria uma progressao subdominante-dominante sem

concluir na tonica esperada, atraves de uma nova cadencia deceptiva.

Page 64: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

61

Na nova tonica de Fa maior com setima maior o autor nao se fixa mais que urn

compasso (I3), logo se iniciando uma progressao dominante para a tonica de La

maior, que por sua vez parte para Do maior e deste para Si bemol maior

(compassos 15 e 16).

Urn ciclo de ter;;:as ocorre nos compassos 16 a 18, com acordes com setima e

quarta, num segmento praticamente sem polariza;;:ao tonal (Figura 34).

GINGA CARIOCA Figu:ra34

2 3 4 5 ' 7 • Batmsj5f: e 1$ L. e ~& I ~+l!~ I '" I 'JP" jl h

#<)' (ltil)'

9 10 11 12 l3 l4 15

1?\,~ \ e J h \be [" I~· #oJ

I I L. [ " e ih be (ltio 9

!6 17 18 19 20 >! 22:

I ~r: t e j I jbu I I h

lb~ ,., II h e

$t d

0 trecho final de quatro compassos, ao contrario dos anteriores, define claramente

a tonalidade do inicio da pe;;:a, Re menor. Atraves de acordes com fun;;:oes tonais

claramente definidas ( subdominantes e dominantes) , essa se;;:ao e repetida e serve

como ponte para a volta ao inicio, atraves da dominante de Re no ultimo

compasso.

5.3.2- Ritmo (Fig. 35)

Page 65: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

Figun35

2 ,,

3 \'

4 ,, 5 ,,

6 ,,

GINGA CARIOCA • Padroes Ritmicos

~ r::r:!JJJJ)JJJJJJJ I , I

JJJJJ

J J Jd )'

rn y !D y 8 ..

J J J J J J

)I J J 4;' •

JJJJJJJ

n. .... r

Jj J '*;

.. J J J

l J l

• J J J

D

J

J I

II

Os padroes 1, 3, 4 e 6 sao compostos basicamente por semicolcheias e as poucas

colcheias presentes nao apresentam maior significancia para o aspecto ritmico

geraL

62

0 padrao numero 2 relaciona quialteras de semicolcheias colocadas sem inten~ao

de definir claramente uma altera~ao ritmica, mas, ao contrario, de origem na

propria constru~ao motivica.

Este procedimento e bastante utilizado na improvisa~ao jazzistica, onde o musico,

pelas pr6prias imprecisoes inerentes ao ato de improvisar, condensa urn numero de

notas excedentes a metrica mais usual, no caso em questao, mais de quatro notas

Page 66: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

63

num so tempo (Figura 36)21

Live Your Dreams Figma36

E. Watts

Como excevao as semicolcheias predominantes na pe9a, o padrao de numero 5

relaciona tercinas utilizadas com clara intew,;ao de alteraviio ritmica, tanto pelo

aparecimento obstinado- compassos 32 a 35 e 40 a 43-, quanto pela estreita

vinculavao e ate mesmo subordinaviio dos segmentos mel6dicos a essa tripla

subdivisao de tempos.

21 WATTS, Ernie. Artist Transcriptions- Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp., 1995. pg. 61

Page 67: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

64

5. 3. 3 - Melodia

0 Motivo 1 (Fig. 37) e construido a partir do arpejo do acorde de Re menor com

setima, acrescentado de nona e decima primeira, no sentido descendente. Com o

aparecimento da Varia<;ao I, simples transposi<;ao do motivo para o acorde de Sol

maior com setima, fica claramente caracterizada a abordagem modal (modo d6rico,

definido pel a presen<;a da nota Si natural) neste compasso harmonizado em Re

menor. A Varia<;ao II consiste no retorno ao arpejo de Re menor,desta vez iniciado

uma ter<;a abaixo do motivo original.

Figura37 GIN"GA CARIOCA

MOTIVO 1 (Co:mpasso 23) · Frase baseada em acorde a1pejaclo

D ;r ariaJ;OO I (Cmnpasso 23)

16 ~ f r r

V ariai;ao !I (Compasso 23) Dm7

16 s J J j l

A Varia<;ao HI, transposi<;iio do motivo para o acorde de Do maior, gera urna

superposi<;iio contra o acorde de Fa rnenor com setirna, enquanto a quarta Varia<;iio

Page 68: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

65

consiste novamente na transposi9iio do motivo original para Fii menor com setima

(Figura 38).

Figura38 ,,

I'

Var',a,;ao Ill (Compasso 24) Fm7

f f F f

V~ao IV (Compasso 24) Fm7

J &J j d j II

J 3 j J 3 1 J 4tti) I

Uma outra hip6tese poderia ser levantada a respeito do pensamento composicional

gerador deste motivo e suas varia9oes: ao inves da origem a partir de urn acorde,

organizado prirneiro vertical e depois disposto horizontalrnente, urna simples

sucessao mel6dica (horizontal) de ter9as descendentes dentro das escalas D6ricas

de Re e Fii.

No Motivo 2 (Figura 39) observamos urna constru9ao diatonica ern movirnentos

ascendentes e descendentes alternados a partir da escala super16cria de Re22

Observamos ainda a tessitura bastante limitada - restrita a urna quinta justa - deste

rnotivo e suas varia96es descritas a seguir.

02 Dcnominada de Supcrlocria por Persichctti em *Armonia del siglo pg. 42, essa esca!a e mclhor compreendida - qnaudo usada em contexto tonal, sabre um acordc de fun9ii0 dominante como o trecho em questao - como uma cscala mixolidia com segunda menor, segunda aumcntada e quarta aumentada. *PERSJCHETTJ.. Vincent. Armonia del sig/o XJ;'. Madrid: Real Musical. 1985

Page 69: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

Figu:re 39 GINGA CARIOCA

MOTIVO 2 (Compassos 25121): Frase diatonica sobre a escala Super16cria de R.e

Am7~5J on ,-

J J i) J 0 J J J J llj ,J .s J J ,,J J

Nas Varia96es I e II, encontramos o mesmo perfil mel6dico, com altemi\ncias de

66

movimentos ascendentes e descendentes, aplicados a escalas Lidias em Sol e Fa (

Figura 40).

Figu:re 40 V AIUAt;:AO I ( Compasso26) Frase diatonica sobre a escala I.idia

de Sol F!m7

J 1 J 1 j #1 5 j J ?j }'

8 n ie

VAIUAt;:AO II ( Compasso 2"7) · Frase diat6nica

F7+ 7

JSJ JJ]J

sobre aescala I.idia de Fi.

II

0 Motivo 3 aparenta fraca conexiio com a harmonia corrente no periodo; pela

curta dura9iio dos segmentos mel6dicos, compostos basicamente por tres notas e

intercalados com pausas distribuidas irregularmente, apresenta urn resultado

son oro bastante fragmentado (Figura 41 ).

Page 70: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

61

GINGA CARIOCA

F%,"'1lTh 41

MOTIVO 3 (COMPASSO 28): Baseado em motivo ritrnioo de tres notas~ sem 'Vi:n.culai;OO tonal aparente com a ha:nuonia cmren.te.

Bm7 Cm7

J 1 J I -.r ~J. I p

"!'

Dada essa grande fragmenta~ao, seria possivel argmnentar a falta de elementos

suficientes para a sua caracteriza~ao como motivo, nao fosse o seu reaparecimento

atraves das Varia~5es I, II e III, onde Hermeto utiliza claramente os mesmos

elementos do motivo original: segmenta~ao mel6dica de tres notas e pausas

intercaladas (Figru·a 42).

Figura42 VARJAt;:AO I (COMPASSO 29)

Clm7

VARJAt;:fo.O ll (COMPASSO 29)

Chn7 ~

y 1 ,J j y ~ #)1 J J ,J ~J J &l V ARJAC:P:.O lil (COMP ASSO 39)

C7sus4

'I • })JJl 'I •t I

A origem do Motivo IV (Figura 43) e estreitamente relacionada a sua ritrnica em

tercinas, e este se apresenta fortemente vinculado aos acordes do periodo como os

Motivos I e II.

Page 71: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

GIN"GA CARIOCA Figura 43

MOT!VO 4 (Compasso 33) : Baseado m repeli<;ao cle uma Mla, com molusao cle sel'ISivoL

Dfr+

16 1 j 1 d 1 ] Nas Varia<;;oes I, II e III desse motivo, o autor reduz o padrao a tres notas,

68

transpostas descendentemente a outros acordes (Figura 44). Observamos ainda que

na Varia<;;ao mas notas envolvidas criam superposi<;;oes contra o acorde de Fa

mawr.

Nas Varia<;;oes de niunero IV, V e VI Henneto utiliza a escala Superlocria:

primeiramente na Varia<;;ao IV ele antecipa o acorde de Sol maior com setima,

superpondo a escala Superlocria de Sol contra o acorde de Re menor, criando com

isto uma tensao a ser resolvida na entrada do acorde de Sol citado, onde pennanece

na mesma escala (Varia<;;ao V). Na ultima varia<;;ao, continua na mesma escala

Superlocria, porem transposta para Si bemol. A pennanencia na mesma escala e a

unifonnidade ritrnica confere a este trecho uma grande unidade tematica (Figura

45).

Page 72: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

69

Figura 45 V ARJACAO IV (Compasso 41 ) Dm7 ,,

d J J J J 1 J J J -G'll1ll VARJACAO V (Compasso 42) ,,

~ ~J J J ~J J~J J J V ARJACAO VI (Compasso 43 )

B~13 ,, (Q# J J ~J qJ_J

Page 73: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

70

5.3.4- CONCLUSAO

Construido fundamentalmente em semicolcheias e algmnas combinayoes destas

com colcheias , o solo apresenta como principio ritmico unificador a densidade de

notas, bastante uniforme ao Iongo de toda a peya.

Tonalidade expandida e mudanyas de area tonal sucessivas sao constantes durante

toda essa composiyao, definindo mna harmonia bastante complexa e elaborada.

Alem das cadencias dominantes e subdominantes, muito comuns em musicas

populares, Hermeto utiliza aqui mn recurso nao tao frequente: as progressoes por

ciclos de segundas e de ten;;as, como recurso para expandir os centros tonais.

As superposi<;oes de escalas contra os acordes correntes e a ocorrencia de diversos

segmentos mel6dicos fragmentados contribuem para o caniter geral de fraca

definiyao tonal.

Page 74: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

71

5.4 SOLO IMPROVISADO DE H. P ASCOAL SOBRE "SURPRESA"

Page 75: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

l

Piano I' j b

' Gm7 12

~ I' F F

' J (l:()w

SURPRESA

F#7sus4

E

Cm/B>

' ! lift

!

~·~ .,j

13 Nmaj7

t1?r E'maj7

' 14

-f/1

b 2

72

Hermeto Pascoal

B7sus4

r Fm9

7

,J 1J a 1 car~J

Em7('5)

~r j -

IJD>maf

E>maj7

I'" J I! .. J

B>m7

' bJ)

j

'15 Em7 D~maj7 B0m7 16 Cmaj7 Dmaj7 17 Emaj7 Bm7 !8 Nm7(f5J Gm7('5)

= I

I£ =J_ ~ I[J. #j!J ,01 j #rr rjF 1frl g:r 1 ~Er!H Am7 Fmaj7

!9 20 21

I' trPrr 1 : n ba•g)i r 1 br 22

lj E"

• J I • d d

DiC l.D'maj7 f?(;9) 2. D'maj7 C>7(;!9J Bmaf 23 •)

~ '

I' i "'

:f ! i F I ~, J ' ~j (tj)J =II J t21" ~r r I • ..

I

Page 76: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

Sole 73

A'm7 27 28

A----------------~

Pm7 Motive 1 (V) 30

c ------' c -------'

Motive 2 :/. Motive l (V) 32 -------

A I L-----c-----'

Motive 3 Motive 3 (V)

34 R

R R ---A ____ ---..~.._ _______ c -----------

Cmaj?

Am7 D

Motive 4

Motivo 2 (V)

D Motivo 2 (V) 3

~-----------------------C

:/. Motive 4 (V) Motive 2 (V)

38 Motivo 2 (V)

D

Page 77: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

74

Motivo 2 (V) Motivo 1 (V)

I A~7 :/. 39 40

Motivo I (V)

~ F ~ ~ A I c I ~---- A~-------

Motivo 3 (V) :/. R I

G7(\ll I) 42 41 R R R R I

c

Motivo 5 :/. I

G>maj7 44 43

~~ ~~ J GJ ~ J ~' ~r ~

~ ~ ~ ~j F • f-

A

Motivo 5 (V) :/. E'm7 I

~. I 46

~e 45 IJf I I

F I' -j 6 I f or :~ c E ~ b ~ j I

A

Motivo 5 (V) :/. 1

47 D7(;9)

48

J j J J I' fi ~ • • J f F E I r j = F r ~ ~ I I 3

c

:/. Motivo I (V)

A--------' L------ A------

Page 78: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

15!

1-3 ~-

155

Cmaj7

Am7

~

A'>m7

D

I e' ~

3 A

G7(tll)

D

c

Motivo 1 (V)

3

D

75

Motivo 6 :/. Motivo 6 (V)

~

A

:/. Motivo 1 (V) 54 3

~ ~ ~~

c

Motivo 2 (V) :/. Motivo 2 (V)

D

Page 79: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

:

7

. .

17+ G~maj'

TOnica maior

V7ll+ G 7(111)

Dij onunante

th

L

5.4.1- Harmonia (Fig 46)

SURPRESA - Analise Hannonica

s

.

17+ Cmaj1

-&

TOnica maior

hll7 ll+ 8 G 7(111)

D!!.inante

V79+

3 D7ft9J

·~

Domimnte

Vlm7 6 A:m'l

<>

Ciclo de segu:ndas menores

I

Foram analisadas aqui apenas os acordes da seyao de improvisos, a qual tern

sequencia harmonica diversa do tema principal.

A tonica inicial e definida em Sol bemol maior com setima maior, seguida do

acorde Mi bemol maior com setima, sexto gran, Tonica relativa.

A seguir, Henneto Pascoal utiliza o acorde de Re maior com setima e nona

76

aumentada, exercendo a funyao de Dominante da Dominante, atraves da resoluyao

no acorde de Sol maior com setima e decima primeira amnentada. Este ultimo

exerce a funyao de Dominante do novo acorde Tonica, Do maior com setima

Page 80: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

mawr.

Repetindo a sequencia dos dois acordes iniciais, essa nova Tonica e seguida do

acorde de sexto grau, Ut menor com setima. Neste ponto tern inicio urn ciclo de

segundas menores descendentes, atraves dos acordes de La bemol menor com

setima, Sol maior com setima

77

e decima primeira aumentada e deste para o acorde inicial, Sol bemol maior com

setima maior. Esta ultima resolw;:ao envolve alem da fon;a de polariza.,:ao do ciclo

de segundas, a propria cadencia Dominante exercida pelo acorde de Sol maior com

setima e decima primeira aumentada.

Page 81: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

5.4. 2 - Ritmo ( Fig. 4 7)

SURPRESA - Padroes Ritmicos Figula4?

l ,, i

2 1&

J. a J J J .. n n:=-11 q I

------ -------------- -------JJJJJJJJJJJJJJJJ

I $

JJJJJJJ r:m J " I

J. J

j JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 5 ttl&~~~~~~~~

--------------------------------------------

6 1& J_ J J J J _JJJJJJJJ

I

j 1 J 1 J J. J J J J J )

9 8 $ 9 $ 9

1:1.m .J J .J J n J :~ I

(

J J j j J "I

1 nm JHJBJbJB mm.~~ 9 l~:r I II 'Ill

78

Os padroes estao anotados nesta figura por ordem de seu aparecimento na peya. 0

padrao de nillnero 2 - fusas - representa o evento litmico de maior frequencia de

Page 82: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

aparecimento durante o solo.

Os padroes de nfunero 1, 4, 6 e 7 tratam do aparecimento de semicolcheias e

algumas combina96es sincopadas.

79

0 padrao de nfunero 5 descreve urn imico trecho (Anexo l - Fig. 4, compassos 41

e 42) onde ocOITem semifusas.

Grupos ritmicos incluindo tercinas estao descritos nos padroes 3 e 8.

No padrao de numero 9 observamos uma mesma celula ritmica aparecendo

repetidas vezes ao final do solo ( compassos 56 ae 58) , ritmo este que se

comporta como urn elemento gerador do proprio motivo mel6dico em questao.

Page 83: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

80

5.4.3 -Melodia

0 Motivo 1 e diatonico e descendente,utilizando exclusivamente as notas da escala

Lidia de Sol bemol, em graus conjuntos (Figura 48).

Figura 42

Mo!ivo 1 (Compassos 27{}.8) - lin1a clia!6nica d.sceru:lente sobre a escala Lidia d. Sol bemol

1 f i r ! &r q .. &g !r I J J )! -

A maior dura~tao da nota Do em rela~tao as outras, no compasso 27, enfatiza a

principal caracteristica desta escala, a quarta aurnentada.

As Varia~toes I e II sao utiliza~toes diatonicas da mesma escala, porem em sentido

inverso do motivo original. (Figura 49)

Figura49 V mW;ilo I (Compasso 29)

dJid&JdJ VmW;ilo !I (Compasso 30) ,, y d j d a d J ~~

A Variayao III utiliza as mesmas ideias intervalares e ritmicas do Motivo l e

Varia96es anteriores, porem com a substitui9ao da escala antetior pel a escala

Superl6cria de Re (Figura 50).

Page 84: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

81

Figura 50 Varia.;l!o Ill (Compasso 32)

Escala Superl6cria de Re

I ' 0 ~ 0 f• lo t~ 0 0 0

As Varia9oes IV e V tornam a apresentar as rnesmas ideias das variavoes

anteriores, com a utilizavao da escala D6rica de La bemol (Figura 51).

Figura 51 Varia.;l!o IV (Compasso 40)

Varia.;l!o V (Compasso 40)

'r r r ------

As Varia9oes de numero Vl e repetem o procedimento adotado na Variavao

III, com o uso da escala Superl6cria de Sol ( Figura 52).

Page 85: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

82

Fjgu:ra52 Vat:io>;i!o Vl (Compasso 49)

IJ-E II :f I b~~ ~ 1'm r r r ¥f 4 ~ : ~

,, Escala Superl6cria de Sol

" = , .. e io In u

Vat:io>;i!o VII (Compasso 50)

I~ ~[ 1'5 • r F ~£ If t f r y E

j

Nas Varia96es VIII e IX alem de observarrnos novamente a utilizayiio das escalas

D6ricas de Ut e Ut bernol, e introduzida urna nova ritrnica, corn a inclusao de

tercinas (Figura 53).

Fig>Jia53 Variaqi!o Vlll (Compasso 53) .. ' ' f f r [ r2tJ J 3 I /jJ

Variaqi!o IX (Compasso 54155) 9 $

bJ J J I·J 0 I r !'r br I

Page 86: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

0 Motivo 2, baseado na utilizayao diatonica da escala superl6cr:ia de Re ,

diferencia-se do primeiro Motivo pelo uso de graus disjuntos (Figura 54).

Figura 54

MotivD 2 (Compasso 31) - Linlla diatonica sobre a escala Superl6cria de R.e , com graus disjuntos.

Escala Superl6cria

Q

83

A Variayao I segue o mesmo perfil descendente, altemando arpejos: no compasso

36, hi! urn arpejo do acorde de Mi maior, polarizando os acordes de Ut menor

arpejados no compasso 37; em seguida, no compasso 38, hi! urn arpejo do acorde

de Sol maior. Uma outra interpretayao possivel sobre a origem desses acordes seria

a de simples transposiyoes de teryas descendentes sobre a escala D6rica de La

( Figura 55).

Figura 55 Vario!;ao l (Compasso 36 a 38)

As Variayoes de numero II e III sao construidas a partir de simples transposiv5es

do motivo original, em perfis de arpejos quebrados, para as escalas relacionadas

aos acordes: Lidia de Do, na Va1ias;ao I e D6rica de La bemol na Varia<;ao II,

(Figura 56).

Page 87: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

84

Figura 56 Varia>;ao II (Compasso 51)

Varia>;ao Ill (Compasso 56)

-

A quarta Varia9iio se desenvolve sobre a escala Super16cria de Sol, em arpejos

quebrados descendentes (Figura 57).

Figura 57

Varia>;ao IV (Compasso 56 a 58)

Fo I

0 Motivo 3 e diatonico- escalas Dominante Diminuta e Tons Inteiros- e

basicamente desenvolvido em graus con juntos; tern como principal fator de

diferencia9iio em rela9ao aos motivos anteriores, a sua constru9ao ritmica

uniforme, em semifusas (Figura 58).

Page 88: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

Figura 58

Mo!ivo 3 (Compassos 33134- Lin.lu! diatonica sob:re escalas Dominant•- Diminu!a e de Tons Inteiros

I @ i kJ J J J d aJ t] 9 f [ f [ f f [ bf I 'r •r r r r r r r J J J J 9 J J 3 I Escala Domirumte-Diminuta

Escalade tons Inte:i:ros

0 e

As repeti9oes de notas- quase urn ostinato- da Varia~tiio I tern como origem os

grupos de notas do compasso 34 no motivo original, utilizando exclusivamente a

escala Dominante Diminuta de Sol ( Figura 59).

Figura 59 Varia<;ilo I (Compasses 41142)

Esc-ala Donrinante-Dirni..'"tuta

" e

0 quarto Motivo e sua Varia91io utiliza a escala Lidia de Do, altemando perfis

ascendentes em ter~tas e descendentes por graus con juntos (Figura 60).

85

Page 89: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

86

Figura 60

MotivD IV (Compassos 35136) - Linha diatorri.ca sobre a escala Uclia de Do

Escala Uclia

" n •

"

0 Motivo 5 utiliza a escala Lidia de Sol bemol, em movimentos por graus

con juntos.

Diferencia-se basicamente dos motivos anteriores em escalas Lidias e tambem com

graus conjuntos, pela diminui91io ritmica apresentada, de fusas para colcheias

(Figma 61).

Figura61

Mot:i\oo 5 (Compassos 43145) - Linha diatorrica sobre a escala Uclia de Sol bemol

I ' I ~F t r 1'F r I E be br r J I.J J -= I F

Escala Uclia

As Varia9oes I e II consistem de simples transposiyoes do motivo original para as

escalas D6rica de Mi bemol e Mixolidia de Re, respectivamente, sem altera;;oes

ritrnicas ou intervalares (Figura 62).

Page 90: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

87

Figura 62

Variar;oo II (Compasses 47149)

,, 1C[ r r f I D s f r j Jj h l

~J'' II

0 Motivo 6 e sua Varia<;ao, tern urna caracteristica ritrnica propria, de efeito rnais

sincopado pela rnescla de sernicolcheias e fusas (Figura 63), apesar de apresentar

urna estreita rela<;ao corn o Motivo 4, pela utiliza<;ao da escala Lidia de Do e a

disposi<;ao por ter<;as.

Figma63

Motivo 6 (Compasses 51!52)- Linl;asobre a escala l.idla de Do

!@ &

Escala l.idla

lo u 0

0 m

Va.'ia(oo l (Compasses 52!53) ,...-..

trrfrrfl ~ II

Page 91: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

5.4.4- CONCLUSAO

0 autor utiliza nesta pe<;a urn recurso encontrado em pe<;as do repert6rio jazzistico

situado ap6s a decada de 70: ao inves de criar urn solo sobre a sequencia harmonica do

tema, ele inclui uma sequencia harmonica criada especialmente para a se<;ao de

improvisa<;ao, quase uma outra pequena pe<;a dentro do tema original.

88

Esse tato poderia explicar a fraca conexao entre o improviso e o tema, tanto em tennos

dos materiais harmonicas utilizados como pelos padroes ritmicos e me16dicos envolvidos,

nao ocorrendo cita<;oes ou referencias a eventos utilizados na constru<;ao do tema.

0 ritmo mais utilizado ao Iongo da pe<;a e o de fusas, com interpreta<;ao pouco rigida,

incluindo varios trechos em rubato. Alem dos padroes em semifusas nos compassos 41 e

42, semicolcheias nos compassos 43 a 48 e as tercinas dos compassos 54 e 55, as demais

figuras ritmicas devem ser compreendidas como tradu96es gnificas de ritmos com algum

grau de liberdade metrica.

0 Motivo mel6dico de numero I e o elemento mais utilizado ao Iongo de toda a perya,

com nove varia9oes, constituindo-se num elemento de perfil diatonico unificador do solo.

Como o primeiro, os demais motivos sao diatonicos, no entanto com diferentes

caracteristicas ritmicas.

Observamos como outro tator fortemente unficador do solo, o uso das escalas Lidia e

Superl6cria, em diversos trechos e em diversas transposi<;oes.

Page 92: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

89

CONCLUSAO

Os elementos ritmicos utilizados por Hermeto Pascoal nos solos aqui estudados

sao extremamente variados, e com ampla utilizayao de padroes sincopados. A

maioria dos ritmos musicais brasileiros atuais tern origens evidentes em generos do

nosso folclore, e como aqueles, apresentam como uma caracteristica importante o

aparecimento frequente de sincopes.

As composi9oes e os solos improvisados de Hermeto nao fogem a essa tendencia,

podendo ser entendidas como forr6s ( 0 tocador quer beber ), cirandas ( Ilha das

Gaivotas) ou sambas (Ginga Carioca e Surpresa), ainda que bastante modificadas

em compara9ao as suas formas folcl6ricas de origem. Dentre os solos transcritos, o

que mais se aproxima do genero folcl6rico original e 0 tocador quer beber, com

ritmica desenvolvida basicamente em padroes de semicolcheias, a semelhanya do

tern a.

As demais composi9oes apresentadas nos parecem estilisticamente mais afastadas

de suas origens folcl6ricas, e nos solos correspondentes, os padroes ritmicos sao

menos vinculados a composi9ao.

Em llha das Gaivotas, a se9ao de improvisa9ao nao somente se desenvolve em

apenas mn acorde, em contraposiyao ao grande nillnero de acordes empregados no

tema, mas ainda dentro de uma formula de compasso diversa do restante da

Page 93: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

90

composiyao. Esses aspectos divergentes entre composiyao e improviso contribuem

para a concepyao de urn solo com uma ritrnica em semicolcheias e tercinas

enquanto o tema se constitui basicamente de colcheias.

Urn fator comum entre os quatro solos quanto a questao Iitrnica e justamente a

utilizayao de notas de curta durayao, semicolcheias, tercinas e fusas, em

detrimento de notas de maior durayao, colcheias, seminimas ou figuras de maior

valor. Esse fato provoca uma grande uniformidade quanto a densidade de notas,

urn grande adensamento de notas em todos os trechos de cada solo.

0 pensamento diat6nico comparece ao trabalho do autor como principal elemento

de construyao mel6dica, com menor ocorrencia de padroes verticais ( ou

simplesmente arpejos de acordes).

Como exemplo de solo construido dentro de uma concepyao mais diat6nica,

destaco Surpresa, com todos os motivos baseados em padroes diat6nicos.

Encontramos maior utilizayao de padroes verticais em 0 tocador quer beber, solo

de concepyao menos sofisticada, - talvez pelo seu maior vinculo com a tematica

folcl6rica - principalmente em termos de superposi9oes de elementos originarios

de outras areas tonais, ou emprego de tonalidade expandida como ocorre nas

outras pe9as.

As escalas Lidia, Superl6cria e D6rica sao as de maior frequencia de utilizavao,

comparecendo ainda: Menor Me16dica, Mixolidia e Tons Inteiros.

Quanto a organizayao dos elementos composionais na construyao dos motivos e

varia~;oes, Hermeto praticamente nao utiliza referencias mel6dicas aos temas

correspondentes, optando por partir de ideias novas para a cria9iio da

improvisayao.

A surpreendente originalidade dessas ideias e a grande variedade de procedimentos

Page 94: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

composicionais empregados, resultam em improvisayoes extremamente bern

concebidas e fmalizadas, podendo ser ouvidas e estudadas independentemente de

seus temas de origem, demonstrando complexidade e nivel artistico de

composiyoes previamente elaboradas.

91

Page 95: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

BIBLIOGRAFIA

AEBERSOLD, James. Blues in All Keys. New Albany:J. Aebersold Publ., 1988

AUSTIN,William. Music in the 20th Century. New York: W.W.Norton,l966

BAKER, David. Charlie Parker, Jazz Monographs Series. New York: Shattinger, 1978

BAKER, David. The Jazz Style of Clifford Brown. Hialeah: Studio P/R, 1982

BENT, Ian. Ana~vsis. New York: Norton.1987

BERENDT, Joachim E. 0 Jazz- Do Rag ao Rock. Sao Paulo: Perspectiva, 1975

BERNSTEIN,Leonard. The Infinite Variety ofMusic. New York: Plume Books, 1970

BRECKER, Michael. Artist Transcriptions- Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp., 1995

BUKOFZER,Manfred F. Music in the Baroque Era. New York: W.W.Norton, 1947

CALADO,Carlos. 0 Jazz como e5petaculo. Sao Pau1o: Perspectiva, 1990

CHEDIAK, Almir. Songbook Bossa Nova. Rio: Lumiar Ed. 1991

CHEDIAK, Almir. Songbook Gilberta Gil. Rio: Lumiar Ed. 1992

COKER, Jerry. El Lenguage del Jazz. Buenos Aires: Victor Leru, 1977

COLLIER, James. Louis Armstrong. Rio: Globo, 1988

CROCKER, Richard L. A History ojlvlusical Style. (New York: McGraw Hill, 1966

DANK WORTH, Avril. Jazz- An Introduction To Its Musical Basis. London: Oxford University Press, 1968

DAVIE. Cedric Musical Stmcture and Design. New York: Dover Pub., 1966

92

DOBBINS, Bill. Herbie Hancock Piano Solos. Rottenburg: Advance Music, 1992

Page 96: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

ECO, Urnberto; NATTIEZ,J.; RUWET, N.; MOLINO, J. Semiologia da Musica. Lisboa:Vega, 1976

ECO, Urnberto; Como se faz uma tese. Sao Paulo: Perspectiva, 1995

FERAND, Ernest T Die Improvisation. Koln: Arno Yolk Verlag, 1956

FRANCIS,Andre. Jazz. Sao Paulo:, Martins Fontes, 1987

GAINZA,Violeta H. La improvisacion musical. Buenos Aires: Ricordi, 1983

HODEIR, Andre. Jazz: Its Evolution and Essence. New York,: DaCapo Press,l975

KYNASTON, Trent. Joe Lovano- Jazz Tenor Solos. Kalamazoo: Corybant Productions, 1991

KYNASTON, Trent. Michael Brecker. Improvised Saxophone Solos. Hialeah: Studio P/R, 1982

KYNASTON, Trent. Phill Woods, improvised Saxophone Solos. Hialeah: Studio P/R, 1981

McGRAIN, Mark J. A1usic Notation. Boston: Berklee Press, 1986

MIEDEMA, Harry. Jazz Styles & Analysis: Alto Sax Chicago: Maher Pub., 1977

93

NATTIEZ, Jean-Jacques. Semiologia musical e pedagogia da analise. In Opus,n° 2, Porto Alegre: UFRG, pg. 50/58,1990

NEWMA~'N, WilliamS. The Sonata in the Baroque Era. New York: W. W. Norton, 1983

NIEHAUS, Lennie. Dexter Gordon Jazz Saxophone Solos. New York: Almo Publications, 1979

NIEHAUS, Lennie. Jazz Improvisation. Hialeah: Studio P/R, 1972

OSLAND, Miles. Jerry Bergonzi Solos. Medfield: Dorn Publications, 1994

PARRISH, Carl. The Notation ofmedieval music. New York: W. W. Norton, 1978

PERSICHETTI, Vincent Armonia del siglo XX. Madrid: Real Musical, 1985

Page 97: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

PRANDINI, Jose Carlos. Principios de Harmonia Mode rna- Inicia~'iio a Improvisar;iio. Sao Paulo, Zimbo Edi96es, 1984

94

RICKER, Ramon. Pentatonic Scales for Jazz Improvisations. Lebanon: Studio P/R, 1975

SADIE, Stanley (Ed.). The New Grove Dictionary ofMusic and Musicians. London: MacMillan, 1980

SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da composir;iio Musical. Sao Paulo: Edusp, 1991

SHORTER, Wayne. Artist Transcriptions- Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp., 1990

SQUEFF,Enio & Wisnik,J.M. 0 Nacional e o Popular na Cultura Brasileira. S. Paulo: Brasiliense, 1982

STEARNS, Marshall. A Hist6ria do Jazz. Sao Paulo: Martins, 1964

WATTS, Ernie. Artist Transcriptions -Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp., 1995

WHITE, John D. The Analysis ofMusic .New Jersey: Prentice-Hall, 1976

WISNIK, Jose Miguel. 0 some o sentido. Sao Paulo: Companhia das Lett·as, 1989

Page 98: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

DISCOGRAFIA

ASSIS BRASIL, Victor- Pedrinho!EMI-Odeon 0644228560

ASSIS BRASIL, Victor- Quinteto!EMI-Odeon 0644228440

AYRES, Nelson - Mantiqueira!Som da Gente

BERNSTEIN, Leonard -0 que e Jazz/CBS 225013

COLTRANE, John -A Love Supreme

COLTRANE, John - The Gentle Side of John Coltrane

COSTITA, Hector - 1981/Som da Gente 002-81

D'ALMA - D'Alma/Som da Gente 019/83

DAVIS, Miles - Kind of Blue/Columbia 8163

DAVIS, Miles -;\lites Davis!Imagem 6005

DOLPHY, Eric -Live in Europe Vol.JI/Prestige

GALWAY, James -Bach Suites BMG 6517-2RG

G!SMONTl, Egberto - Danc;a das Cabec;as1ECM 1-1157

GISMONTI, Egberto - Magic01ECM

GISMONTI, Egberto - Palhac;o/EMI ODEON

GISMONTI, Egberto - Circense I EMI ODEON 064.422.861D

GOULD, Glenn - Gould interpreta Bach/CBS 111.122

HAEBLER, Ingrid -Mozart Concertos

MCFERRIN, Bobby -The Voice!Elektra-WEA 604.7199

PARKER, Charlie -One Night in Birdland!CBS 225015

PARKER, Charlie - The Verve Years; CBS

P ASCOAL, Hermeto - Slaves Mass

PASCOAL,Hermeto - St5 Niio Toea Quem Niio Querl Som da Gente SDG-034/87

PASCOAL,Hermeto -Brasil Universo/Som da Gente CDSG-012/93

95

Page 99: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

PASCOAL.Henneto -Festa Dos Deuses/Som da Gente CDSDG-010/92

PASCOAL,Henneto - Lagoa da Canoa Municipio de Arapiracal Som da Gente CDSDG-0 11/92

SION,Roberto

WOODS, Phil

WOODS, Phil

ZIMBOTRIO

ZIMBO TRIO

-Happy HozmE!dorado 86.0509

- I Remember .. .!OMNISOUND

-Phil Woods/Lew 7abackin!Omnisound 1033

- Zimbo convidwCiam

- Zimbo/Clam 1.47404.001

96

Page 100: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

89

CONCLUSAO

Os elementos ritmicos utilizados por Hermeto Pascoal nos solos aqui estudados

sao extremamente variados, e com ampla utiliza;;ao de padroes sincopados. A

maioria dos ritmos musicais brasileiros atuais tern origens evidentes em generos do

nosso folclore, e como aqueles, apresentam como uma caracteristica importante o

aparecimento frequente de sincopes.

As composi;;oes e os solos improvisados de Henneto nao fogem a essa tendencia,

podendo ser entendidas como forr6s ( 0 tocador quer heber), cirandas ( Jlha das

Gaivotas) ou sambas (Ginga Carioca e SUipresa), ainda que bastante modificadas

em compara;;ao as suas formas folcl6ricas de origem. Dentre os solos transcritos, o

que mais se aproxima do genero folcl6rico original e 0 tocador quer heber, com

ritmica desenvolvida basicamente em padroes de semicolcheias, a semelhan;;a do

tern a.

As demais composi9oes apresentadas nos parecem estilisticamente mais afastadas

de suas origens folcl6ricas, enos solos conespondentes, os padroes ritmicos sao

menos vinculados a composi;;ao.

Em Jlha das Gaivotas, a se;;ao de improvisa;;ao nao somente se desenvolve em

apenas urn acorde, em contraposi;;ao ao grande numero de acordes empregados no

tema, mas ainda dentro de urna formula de compasso diversa do restante da

Page 101: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

90

composiyao. Esses aspectos divergentes entre composiyao e improviso contribuem

para a concep9ao de urn solo com uma ritmica em semicolcheias e tercinas

enquanto o tema se constitui basicamente de colcheias.

Urn fator comum entre OS quatro solos quanto a questao ritmica e justamente a

utilizayao de notas de curta durayao, semicolcheias, tercinas e fusas, em

detrimento de notas de maior dura9ao, colcheias, seminimas ou figuras de maior

valor. Esse fato provoca uma grande uniformidade quanto a densidade de notas,

urn grande adensamento de notas em todos os trechos de cada solo.

0 pensamento diatonico comparece ao trabalho do autor como principal elemento

de constru9ao mel6dica, com menor ocorrencia de padroes verticais ( ou

simplesmente arpejos de acordes).

Como exemplo de solo construido dentro de uma concep9iio mais diatOnica,

destaco Surpresa, com todos os motivos baseados em padroes diatonicos.

Encontramos maior utiliza9iio de padroes verticais em 0 tocador quer beber, solo

de concepyao menos sofisticada, - talvez pelo seu maior vinculo com a tematica

folc16rica - principalmente em termos de superposi9oes de elementos origimirios

de outras areas tonais, ou emprego de tonalidade expandida como ocorre nas

As escalas Lidia, Super16cria e D6rica sao as de maior freqiiencia de utiliza~tiio,

comparecendo ainda: Menor Mel6dica, Mixolidia e Tons Inteiros.

Quanto a organiza~tao dos elementos composionais na constru~tiio dos motivos e

variavoes, Hermeto praticamente nao utiliza referencias mel6dicas aos temas

correspondentes, optando por partir de ideias novas para a cria9iio da

improvisa9ao.

A surpreendente originalidade dessas ideias e a grande variedade de procedimentos

Page 102: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

composicionais empregados, resultam em improvisayoes extremamente bern

concebidas e finalizadas, podendo ser ouvidas e estudadas independentemente de

seus temas de origem, demonstrando complexidade e nivel artistico de

composiyoes previamente elaboradas.

91

Page 103: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

BIBLIOGRAFIA

AEBERSOLD, James. Blues in All Keys. New Albany:J. Aebersold PubL, 1988

AUSTIN, William Music in the 20th Century. New York: W.W.Norton,1966

BAKER, David. Charlie Parker, Jazz Monographs Series. New York: Shattinger, 1978

BAKER, David. The Jazz Style o{Clijjbrd Brown. Hialeah: Studio P/R, 1982

BENT, Ian. Analysis. New York: Norton.l987

BERENDT, Joachim E. 0 Jazz- Do Rag ao Rock. Sao Paulo: Perspectiva, 1975

BEful\fSTEIN,Leonard. The Infinite Variety ofMusic. New York: Plume Books, 1970

BRECKER, Michael. Artist Transcriptions- Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp., 1995

BUKOFZER,Manfred Music in the Baroque Era. New York: W.W.Norton, 1947

CALADO,Carlos. 0 Jazz como espetaculo. Sao Paulo: Perspectiva, 1990

CHEDIAK, Almir. Songbook Bossa Nova. Rio: Lumiar Ed. 1991

CHEDIAK, Almir. Songbook Gilberto Gil. Rio: Lumiar Ed. 1992

COKER, Jerry. HI Lenguage del Jazz. Buenos Aires: Victor Leru, 1977

COLLIER, James. Louis Armstrong. Rio: Globo, 1988

CROCKER, Richard L. A History o{Musical Siyle. (New York: McGraw Hill, 1966

DANK WORTH, Avril. Jazz- An Introduction To Its Musical Basis. London: Oxford University Press, 1968

DAVIE, Cedric Musical Structure and Design. New York: Dover Pub., 1966

92

DOBBINS. Bill. Herbie Hancock Piano Solos. Rottenburg: Advance Music, !992

Page 104: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

ECO, Umberto; NATTIEZ,J.; RUWET, N.; MOLINO, J. Semiologia da Mtlsica. Lisboa:Vega, 1976

ECO, Umberto; Como se faz uma tese. Sao Paulo: Perspectiva, 1995

FERAND, Ernest T. Die Improvisation. Koln: Arno Volk Verlag, 1956

FRANCIS,Andre. Jazz. Sao Paulo:, Martins Fontes, 1987

GAJNZA,Violeta H. La improvisacion musical. Buenos Aires: Ricordi, 1983

HODEIR, Andre. Jazz: Its Evolution and Essence. New York,: DaCapo Press,l975

KYNASTON, Trent Joe Lovano- Jazz Tenor Solos. Kalamazoo: Corybant Productions, 1991

KYNASTON, Trent Michael Brecker, Improvised Saxophone Solos. Hialeah: Studio P/R, 1982

K'i~ASTON, Trent Phill Woods, Improvised Saxophone Solos. Hialeah: Studio P/R, 1981

McGRAIN, Mark J. Music Notation Boston: Berklee Press, 1986

MIEDEMA, Harry. Jazz Styles & Analysis: Alto Sax Chicago: Maher Pub., 1977

93

NATTIEZ, Jean-Jacques. Semiologia musical e pedagogia da analise. In Opus, no 2, Porto Alegre: UFRG, pg. 50/58,1990

NEWMANN, WilliamS. The Sonata in the Baroque Era. New York: W. W. Norton, 1983

NIEHAUS, Lennie. Dexter Gordon Jazz Sa>:ophone Solos. New York: Almo Publications, 1979

NIEHAUS, Lennie. Jazz Improvisation. Hialeah: Studio P/R, 1972

OSLAND, Miles. Jerry Bergonzi Solos. Medfield: Dom Publications, 1994

PARRISH, Carl. The Notation ofmedieval music. New York: W. W. Norton, 1978

PERSICHETTI, Vincent. Armonia del siglo X¥. Madrid: Real Musical, 1985

Page 105: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

PRANDINI, Jose Carlos. Principios de Harmonia Mode rna -lnicia~·ao a !mprovisac;i'io. Sao Paulo, Zimbo Edi<;5es, 1984

94

RICKER, Ramon. Pentatonic Scales for Jazz Improvisations. Lebanon: Studio P/R, 1975

SADIE, Stanley (Ed.). The New Grove Dictionary ofMusic and Musicians. London: MacMillan, 1980

SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da composic;i'io Musical. Sao Paulo: Edusp, 1991

SHORTER, Wayne. Artist Transcriptions- Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp., 1990

SQUEFF,Enio & Wisnik,J.M. 0 Nacional eo Popular na Cultura Brasileira. S. Paulo: Brasiliense, 1982

STEARNS, Marshall. A Hist6ria do Jazz. Sao Paulo: Martins, 1964

WATTS, Ernie. Artist Transcriptions- Saxophone Collection. Milwaukee: Hal Leonard Corp., 1995

WHITE, John D. The Analysis ofMusic .New Jersey: Prentice-Hall, 1976

WISNIK, Jose Miguel. 0 som eo sentidc!. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1989

Page 106: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

DISCOGRAFIA

ASSIS BRASIL, Victor- Pedrinho;EM1-0deon 064422856D

ASSIS BRASIL, Victor- Quinteto!EMI-Odeon 064422844D

AYRES, Nelson - lvfantiqueira/Som da Gente

BERNSTEIN, Leonard - 0 que e Jazz/CBS 225013

COLTRA_NE, John -A Love 5'upreme

COLTRANE, John - The Gentle Side o{John Coltrane

COSTITA, Hector - 1981/Som da Gente 002-81

D'ALMA - D'Alma/Som da Gente 019/83

DAVIS, Miles -Kind of Blue/Columbia 8163

DAVIS, Miles -Miles Davis!Imagem 6005

DOLPHY, Eric -Live in Europe Vol.JJ/Prestige

GALWAY, James -Bach Suites BMG 6517-2RG

GISMONTI, Egberto - Dan~'a das Cabeqas/ECM 1-1157

GIS MONTI, Egberto - Magico;ECM

GISMONTI, Egberto - Palhaqo/ EMI ODEON

GISMONTI, Egberto - Circense I EMI ODEON 064.422.86lD

GOULD, Glenn - Gould interpreta Bach/CBS 111.122

HAEBLER, Ingrid -Mozart Concertos

MCFERRIN, Bobby -The v·oice/Elektra-WEA 604.7199

PARKER, Charlie -One Night in Birdland!CBS 225015

PARKER, Charlie -The Verve Years' CBS

P ASCOAL, Hermeto - Slaves Mass

PASCOAL,Hermeto - S6 Niio Toea Quem Niio Quer! Som da Gente SDG-034/87

PASCOALHenneto -Brasil Universo/Som da Gente CDSG-012/93

95

Page 107: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

PASCOAL,Henneto -Festa Dos Deuses/Som da Gente CDSDG-010/92

PASCOAL,Henneto - Lagoa da Canoa Municipio de Arapiraca/ Som da Gente CDSDG-0 11/92

SION,Roberto

WOODS, Phil

WOODS, Phil

ZIMBOTRIO

ZIMBOTRIO

-Happy Hour;Eldorado 86.0509

-1 Remember .. .;OMNISOUND

-Phil Woods/Lew Tabackin/Omnisound 1033

- Zimbo convida/C!am

- Zimbo/Clam 1.47404.001

96

Page 108: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

ANEXO 1 - PARTITURAS DOS SOLOS TRANSCRITOS

Page 109: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

--------------------------~------------- ----

Ilha das Gaivotas I

~

• •

u

fl

~

~

. .

. .

. .

l4 ~ ~ !)=

So Niio Toea Quem Niio Queri Som da Gente SDG-034187 Hermeto Pascoal

Tema 2

·~~ :a abai±a ~ • ~ • ~~ I . - r ' r

F~m9 C~/B F~m/F Dmaj7 G#m7&5J oP&9J F;~ 6· 6 6 6· 6 • • :

I

4

(""~ !'- .11- ~~r:- f:- f:- +- !- ~ !'- ~ • tta lt . i±a • ~ ~~ I I

f;lm9 F~m/E Dmaj7 G/F D/C BIM Bm/A G~m7&5J D/C ~IE

~. 6 6 • • • • • 6 6

: :

i±a ll I. ll. • • ~!±. ~ f'- *• lola !±a ~~~ ~-I

' - r

E!D GIF G~m7&5J B/A~ D/C D/C F~m9 Fm9 D#m7&5l E!D

6 6 • • • ~. 6 6 • • I

I

8

1 :% I

G~m7('5) G!F I G/F Em!D NG F~m9 I

~. I r 1r e r r 1

D/C CtB~ am

L" P--t r

Page 110: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

10

• 1\ II ±±. _,.. $I- Jr: 1'- _,.. _,.. ~. ~ .f'- _,.. ~ ±J:. II. • • i !

' ' u I

F#m/E Dmaj7 DIC A!G G/F F~m9 E/D Bm9 Dmaj7

6 • D D •· .~. • D • . ' . '

~ F~m9 G/F Am/F~ EIC DIC~ c;;A I A~m A/F Dm91A# G~m91rn FlO C~IB DIC

• r r r r r r r ~ r r r j j p>= I

.13 ±±.~:r: ~ :r: l+ ~

14

(\ II [-·· .1'-:r: II. _,.. 1'-l±. • '

~u

Bm9 Om9 ~m9 F~m9 G~m9 A~m9 AJm DIC FIE C~m9 Bm9 D~m9 C~m9 A!G • • • • • • • • • • • • • • . ' ' . ' '

' t) ! I

F/E c;;A AIG Bm9 Oim9 D~m9 Fm9 ~A~m9 Am9 F;m9 D;m9 Dm9 F~m9 FiE

'

I • r + j • j j

!

j j j + t j r 5): I '

I I I

Page 111: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

I

• 1!7 ,. .. I fl f= ~ ~ tt• I!

1\

~ v I

• •

. .

122 Solo

" .

u

. .

G!F

r

7

fio•

[_

'

~

~

r•

f'

C~IB D!C Bm7&5J D!C

r r r

19 F~mll

#-.• =41.-

- r--, '

lJ.

'

~---

• '

'

"'~· '

26

II. r--

' ~

r

::jl.- =4il.-

' ........

23

' '

I

I

~---

3

CIB~ D!C GfFi;

r w

[ II 20 F~mll 21 ~mil

::jl.- _.. _. .. 7 =iii!.- =4i .,-

~r-"1 ,.

1""-o

' f+• ......,., ~-411

24

!-. ' . . . .

r---I

I

' '

f.,...' ....... r•

27

I ,

I I '

I

Page 112: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

29 30 3!

I jj, ~. ,_ ~ •II '"' ; ; ' I

I ; ;

I ' • t ' I ~ ~ J ; ;

3 3 .... • I

r--, - 1""""1 - ...... I -I . ···- ;

• . ;

'

7 ' ;

• flo• ~ 1T ~ ~--- ~ --- ~ .. ~ ~ rir, Iii • fl .. ;L I ~

33 34 35 3 3

: ;; ' ;

• ~ ; ;

.i @) '~-4~4 .... II

I ., ~ - ~ F' ; -- I

• . ; ; . ; ; ; '

• ' ; ; ' flo• ; .. flo• ~--- 1.,....1 "--

- -fl

3 3 -3 I 1- 3 ~ ~ ; ' '

3 3 17 38 39

' I ,: ;

' ' I

• t) • ·~· • ~---~-----.-~ 7-· ~liT .•• • ..

---• • - i"""""'' i F"'1 ~ - 1""""1 i I . . ' ; ' : I ' '

flo• o......l ~ .. flo• ;• ~ "--

4! 42 43

fl ,........., ~ l! .. ~ .. ~~

I I

I ;

' ;

I!) ~---•.. _._. • • i ~ I ..

I ; ;

II ~ rF' ~ r--, i - -. I I

I . '

I flo• -......Jl"f ~--- !+• ~--- I,.....J ~

Page 113: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

I 1\

t)

. .

.48

• " u

• •I '

• 52

I

' ~ 4!

. .

ff•

• I

!!•

• •I

:I ?' I; • • 56

I

,_

- 1""-1

'

,_ ._,_ ~ ... '

I.,._ l._

- 1""-1

!!:. ,_ --- "· I

I

1.-. I I looo..,.,,

45 i-3 -~ I ---· J*· II '

I 1'1''

.,.,....

~ n

49 #---· (11-+-

.

I

I ~ I

I

' --.J

53

1'- • +'• I

I

i!.-'

46 3 r- I -I I

I

~--- .. ~ • ~ ..... r-

I

''## 7

50~· c~ !!:. ~~==. -/"'1-

r-. - 1""-1 I ,,

#~ ff•

54

•+ • !.' ' .,,u

....,J I T·

I -- ' I

I ........

47 ,_ ___

I

#* ~

51 ..,_ #1': ,_ '-,

I

....

I I

' I

#* I~

55

!. I.

.. I T

1-I

I;J

5

!!.

ll

looo..,.,,

I

""-1

I

'

·#~ I

:~~~~~~~~~~~~~~~~if~~~~~~~~~~~~~; • • ;~~~==~~~~~-~-~~~~~~~~~==~~~~~~~~~~~~~· . --- ~ • • •

Page 114: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

r 160 6l

I I I

• ' ~

I I I, . . ' ' I I '64 65 66

I I

~

I

' . .

I I

II I I I ! F"'j I .~ ,.......

' ' I I 172

~0

/0

I ' ' I

' @)

~-&c------------- ti _. I .. ~--- ...

' ' ' ' ' ' '

. . l'i"'

I '

' '

-

J 71

r""

T' ~-41

Page 115: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

0 Tocador Quer Beber Brasil Universo/ Som da Gente CDSG 01/93

!~ F

Hermeto Pascoal

3 F

1 Sanfona

14 5 ( 3 vezes) F 6 B~7 7 F I

I .. ., I - -I 18 B~7 9 F 10 Bb7 11 F

1 ' '" JJ J J • ~ J ~:II b f U U ft I U H SF Pt I b fff U [{

• @.

• • • !7

I

~' ~k • • ~l

~' ~k

r r F

B~7

~ F r F j • J

!6

13 F 14 B>7

I f [ • 6 F f • I r ~ r r 6 F f • c j j j

~ sem repeti~ao

Ao

-

F _,_ ~t ~ ~ _,_ 23 I ' I ' F ,_ I I '

1

Page 116: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

2

~25 F F c B~ F

27 28

~ ~ F E ~ I

C B~ F F B'7 rm~o-.1------,1 ., 2. 32

' • ~I • I'

qc b!t E r r~ I F E r E v =II c u c r r; I J J J J J J J J I

F F 34 35 36

crUEEr;l JJjJJJjJirrffEqyl JJjJJJJJI

39 F 40 B~7 1 41 F Solo Pill- • .~

( r U [ E U I J J j J J J j J II J t I 7 cf E pl I f

I B'7 F B'7 F B'7

::~152~~~ ~,._~ +-fl-~t-~~~f:-~ .f:-~{!::~· t5~~~ .-..~~~ii'-~~~54~~L~·~~~~~,-,~~~· ~· -r~~§1'-~~f:-~~f-1'-t56~~~~~~~,-..~f~f:-~f:=jc, ~~

~

~

I

Page 117: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

.67

~~

v • • mo

~1,

F

11-

'f ~=E ool

F

t

F

t~B I

63 F

B~7

tjrg 69

I _, ::1

B~7

72t !'- f t= t ;-

I I

F B~7

F

c f

f

F 65

~r= J

F 73

3

~~ ~ 70 f= ~ t !-

I t= i =

I

f r r' ,. b r F j I

r F f 76 t t t ~ t= t t= q

F

F

~--- 6 II L-' I y - J •

Page 118: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

I 93

~107 F

F

104

108

4

F B'7 105 106~· tf

I t

I 3 3

F (Fala e ruido de animais)

ll 0 .~~~~~~~~~~···~~"""""'"'·~

Page 119: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

• .13

GINGA CARIOCA l

Festa dos Deuses /Polygram 510 407-2 1992

Hermeto Pascoal

G7+ P.m7 5 P+ 6

b ~ i j c rJ I H; u ' ' &3 ! ' t t1 ' U[; I 3 3

C7(5+J(9+J G#m7

Q7(5+X9+J Cm7

3

F7+ C7(5+X9+J f7(5+X9+) B'7(5+)(9+) l4 l5

l~ r , dtt , rifl r ~!" vc~Lt I r r ' Y :;tt#g I

f f

20 21 B'13

n 1' cJ J J ). J ~ I [*Is~~-E t , { CJ r 3

Solo

Page 120: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

2

24 Fm7 I 1\ - ~ • t • ~ ~ ~ f ~ ~~ ~ ~ I, I I

v r • •••••

Am 7('5J Dl3 7

tj J j j J J j j J #j GJ ~J J j qj j 26 (}7+ F;rn7

I J)Jjj ~JDjJqJO' s

F7+ 7 E'm7 5

J i J J J J J ¥ !O ~J j J 3 ~J I ~

129 C~rn 7 30 Cf(5+X9+J

l* ms~~ vJfiv• ~JPJ~JI h..LJ,.a~JJ pdtJ&J)JUJiJI I I

(}~m7 Brn7(>5) Drn7c>s) (}7(5+X-9) 1)>7+ Cm7 131 32 3 33

l ' lJJ,JJM WJ,JJ* iJJltj 3d Ju A: I JJJ~J ~ J i1 h I I I

P4 Am7!,5) F#m7(~5) 35

F7+ C7(5+X9+) 36

f7(S+J(9+l B>7(5+X9+J

l* d j;' JJ]J 1 I ;J1JJ co'gjOJJ~J~;J .. dJPiilf#J I

I .,,7

l4

. ~

38 . 39 40 . A 7+ C7+ B'7+ A7sus4 C7sus4 Eb7sus4

'·paW J J I ,.JlJ jJ J#J I ,.)jl, i ~J i ,.~~ttr:ftJJ~-.fQ I 3

Page 121: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

I

I - .. . 41 Dm 1 42 G7(ml 43 Bel3 I

:'JJH@JJ JJbJJ,JJJ JJ 1 ~JJJq.tJ ....._, __. ~ -.._. '-'

I I

45 Dm7

3

146 G7(i!l) 3 47 B>l3 I

l' 6l a.n Q j J JJ J j Ji3 J H I r ~ 't r t c T 11J &J ~ ! • •

Em7('5l

Page 122: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

Introdw;ao

E~7sus4 l

SURPRESA

Hermeto Pascoal

B7sus4

1

:Piano~l ~~~ ~~~~~ ~~g~~ ~

• • B~7 sus4 A 7 sus4 p7C!i9l D7C~9J

J3 '~

:' =u· r 11 c 8 Cm7&5J

• •

, ~n

5

p7('9)

• II D>maj7 Bkm7 12 Gm7

~' • • h4

~'

I

• ~ 22

:1,

J. '---"

Am7

C"

I bJ)

E'maj7

• i] J

19

Fmaj7

I" J • • d

p a (!VJ ,

EID 23

j = J j

G~maj7 E~m 7 Em 7(i>5J Gm 7 6

c1 1'jf CFI ~( ~J d J I

B•m 7f N 1 o d>maj7 A'maj7

; &i Jj I

CmiB' 13 A'maj7 Ei>maj7

b I

;Tr I!~ i b

, I d

20 21

DIC 1. ol>maj7 f7(;9)

,o ! J #0 <11)j =II

Page 123: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

2

Solo

2. D>maj7 c>7Ci!9l Bmaj? Nm7 G7<1:9J ahmaj7 15

" i ~~ I •r Lb Ll .!'""'. I I

~ ~ I j I ~ ~ ~ w t) I -28 29

30

I G7C~lll

32 33 '

Am7

A"m7

39

Page 124: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTESrepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/285080/1/Prandini_J… · Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros',

3

G7C#lll

41

I~

y.

r~j~rrJ

y.

'rilk'qt•pETI D7C~9l G7C~ll)

48 49 ,...__

3

3

·~ ,. 55 A'm7

G7(#ll 1 3