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EFEITO DO TAMPONAMENTO NA REATIVIDADE DE SOLUÇÕES FLUORETADAS COM A DENTINA COM LESÃO DE CÁRIE Piracicaba 2016 EMANUELLE DAYANA VIEIRA DANTAS Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Odontologia de Piracicaba

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EFEITO DO TAMPONAMENTO NA REATIVIDADE DE

SOLUÇÕES FLUORETADAS COM A DENTINA COM LESÃO

DE CÁRIE

Piracicaba

2016

EMANUELLE DAYANA VIEIRA DANTAS

Universidade Estadual de Campinas

Faculdade de Odontologia de Piracicaba

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EMANUELLE DAYANA VIEIRA DANTAS

EFEITO DO TAMPONAMENTO NA REATIVIDADE DE

SOLUÇÕES FLUORETADAS COM A DENTINA COM LESÃO

DE CÁRIE

Tese apresentada à Faculdade de Odontologia de

Piracicaba da Universidade Estadual de

Campinas como parte dos requisitos exigidos

para a obtenção do título de Doutora em

Odontologia, na Área de Cariologia.

Orientadora: Profa. Dra. Cínthia Pereira Machado Tabchoury

Este exemplar corresponde à versão final da tese

defendida pela aluna Emanuelle Dayana Vieira Dantas

e orientada pelo Profa. Dra. Cínthia Pereira Machado Tabchoury.

Piracicaba

2016

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Jacinto e Sônia, pelo amor incondicional e pelo esforço em tornar

possível cada um dos meus sonhos. Obrigada por sempre acreditarem em mim! Todas as minhas

conquistas sempre serão dedicadas a vocês...

Aos meus irmãos, Emanuell e Ellyommany, pela amizade e pela certeza de saber

que sempre poderei contar com vocês.

Ao meu sobrinho, Emanuell Júnior, por me fazer conhecer uma nova forma de

amor e por encher nossa família de alegria.

A Igor, meu amor e melhor amigo, pelo apoio, paciência, generosidade, e por tantas

outras razões que não caberiam aqui em palavras, mas que foram essenciais ao longo desta

jornada. Meu maior incentivador e minha força motriz!

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AGRADECIMENTOS

À Universidade Estadual de Campinas, na figura de seu Magnífico Reitor Prof. Dr.

José Tadeu Jorge.

À Faculdade de Odontologia de Piracicaba, na pessoa do seu diretor, Prof. Dr.

Guilherme Elias Pessanha Henriques.

À Profa. Dra. Cínthia Pereira Machado Tabchoury, coordenadora dos Cursos de

Pós-graduação da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, da Universidade Estadual de

Campinas.

Ao Prof. Dr. Marcelo de Castro Meneghim, coordenador do Curso de Pós-

graduação em Odontologia, Faculdade de Odontologia de Piracicaba.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e

à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão

de bolsa de Doutorado nos períodos de abril/2012 a julho/2013, e de julho de 2015 a julho de

2016, respectivamente.

À Profa. Dra. Cínthia Pereira Machado Tabchoury, minha orientadora e mestre,

pelos ensinamentos, conselhos, disponibilidade e por tudo o que ela certamente acrescentou à

minha formação ao longo desse período. Minha sincera gratidão.

Ao Prof. Dr. Jaime Aparecido Cury, por todos os ensinamentos, discussões

científicas e o tempo dedicado à minha formação. Exemplo de mestre e paixão pela pesquisa e

docência.

À Profa. Dra. Livia Maria Andaló Tenuta, pelos ensinamentos e conselhos.

Admiro sua competência, seu caráter e sua inquietude em busca de conhecimento. Sem dúvida,

uma fonte de inspiração.

À Profa. Dra. Altair Antonina Del Bel Cury, pelos ensinamentos, conselhos e

disponibilidade.

Ao Prof. Dr. Kenio Costa Lima meu ex-professor de graduação, orientador durante

o mestrado, minha referência de mestre e exemplo de paixão pela pesquisa e docência.

Agradeço pelas oportunidades, pelo apoio e amizade construída ao longo destes anos.

Aos Profs. Drs. Jaime Aparecido Cury, Livia Maria Andaló Tenuta, e Antônio

Pedro Ricomini Filho pelas valorosas considerações feitas durante o exame de qualificação.

Aos Srs. Waldomiro Viera Filho e Alfredo José da Silva, técnicos do Laboratório

de Bioquímica, por toda ajuda e disponibilidade, e pela grata convivência durante todo esse

tempo.

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Aos colegas do Programa de Pós-graduação em Odontologia da Faculdade de

Odontologia de Piracicaba, em especial àqueles da Área de Cariologia, pelo companheirismo.

À Juliana Nunes Botelho, Martinna de Mendonça e Bertolini e Samilly

Evangelista de Souza pela amizade cultivada e grande ajuda sempre.

Às amigas Brunna Moreira, Luciana Jácome e Mércia Cunha, amigas desde a

graduação, que foram minha família nesta cidade, agradeço a amizade e o apoio essenciais.

Aos meus amigos em Natal que mesmo à distância sempre me deram o apoio

necessário e compreenderam minha ausência. Em especial, à Mariana Ottoni, Saziane de Sá,

Silvana Nobre, Juliana Costa, Virgínia Vasconcelos e Lavínia Vasconcelos que sempre se

fizeram presente, nos momentos que mais precisei.

À Universidade Potiguar, na pessoa de sua coordenadora do Curso de Odontologia,

Maria Alice Fuscella que desde o primeiro momento, me apoiou e possibilitou que eu

ingressasse como docente na referida universidade, ainda em fase de conclusão deste curso de

Doutorado. Minha profunda gratidão.

Aos alunos que ao longo destes dois últimos anos, permitiram-me concretizar meu

maior sonho: a docência!

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho e

participaram da minha vida durante esta pós-graduação.

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RESUMO

A reatividade do fluoreto com o esmalte com lesão de cárie é potencializada pelo

tamponamento da solução de reação, mas não é conhecido se o mesmo ocorreria com a dentina

e se o efeito dose-resposta em relação à concentração de fluoreto seria mantido diante do

tamponamento. Assim, objetivou-se avaliar o efeito do tamponamento na reatividade de

soluções fluoretadas (SF) com a dentina, com lesão de cárie artificialmente induzida. Foram

conduzidos dois experimentos in vitro, nos quais foram utilizados blocos de dentina radicular

bovina. A lesão de cárie foi induzida pela imersão dos blocos (4x4x2 mm) em solução

desmineralizante e, em seguida, os blocos foram selecionados e aleatoriamente distribuídos nos

respectivos grupos de tratamento (n=12). O primeiro experimento avaliou o efeito do

tamponamento de SF, com diferentes pH, na reatividade do fluoreto com a dentina com lesão

de cárie, a partir de um delineamento fatorial 2 x 4, cujos fatores sob avaliação foram

tamponamento em 2 níveis (com ou sem tampão histidina) e o pH das SF (226 µg F/mL) em 4

níveis (5,0; 5,5; 6,0 e 6,5). O segundo experimento avaliou o efeito do tamponamento na

reatividade de SF, com diferentes concentrações de fluoreto, com a dentina com lesão de cárie,

e envolveu um delineamento fatorial 2 x 4, sendo o tamponamento em 2 níveis (com ou sem

tampão histidina) e a concentração de fluoreto em 4 níveis (113, 226, 452 e 904 µg F/mL). Nos

2 experimentos, os controles foram água purificada e histidina 0,1 M, e a reação dos blocos

dentais com as soluções de tratamento ocorreu sob agitação, por 10 min. Em cada experimento,

o pH das soluções foi determinado antes e após a reação, sendo o ΔpH (pHfinal-pHinicial)

analisado pelos testes Kruskal-Wallis e Mann-Whitney e as concentrações (µg F/cm2) de

fluoreto fracamente (“CaF2”) e firmemente ligado (FA) formados foram analisadas por

ANOVA two-way. O nível de significância foi 5%. No experimento I, observou-se efeito

significativo do tamponamento, mas não do pH ou da interação tampão x pH. O tamponamento

aumentou significativamente as concentrações de “CaF2” (p<0,001) e FA (p=0,02) formados

na dentina. No segundo experimento, os maiores valores de ΔpH foram observados para grupos

sem tampão, porém tal diferença só foi significativa entre os grupos SF 113 e 904 µg F/mL.

Houve efeito significativo do tamponamento (p<0,001) e da concentração de fluoreto

(p<0,001), levando ao aumento das concentrações de “CaF2” e FA na dentina. A interação

destes dois fatores foi significativa para “CaF2” (p<0,001). Assim, conclui-se que a presença de

histidina nas soluções aumentou a reatividade do fluoreto com a dentina com lesão de cárie,

independente do pH das soluções, e o efeito dose-resposta em relação à concentração de

fluoreto e sua reatividade com a dentina com lesão de cárie foi mantido mesmo diante da

presença da histidina nas soluções fluoretadas.

Palavras-chave: Cárie dentária. Dentina. Flúor. Fluoreto de cálcio. Histidina.

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ABSTRACT

The reactivity of fluoride to enamel with carious lesion is enhanced by buffering

the reaction solution, but it is not known whether the same would happen with dentine and

whether the dose-response effect in relation to the fluoride concentration would be maintained

against the buffering. Thus, the objective was to evaluate the effect of buffering on reactivity

of fluoridated solutions (FS) with dentine with artificially induced carious lesion. Two in vitro

experiments were conducted, using bovine root dentine blocks. The caries lesion was induced

by immersion of the blocks (4x4x2 mm) in demineralizing solutions and then the blocks were

selected and randomly distributed in the respective treatment groups (n=12). The first

experiment evaluated the effect of buffering FS, at different pH, on fluoride reactivity with

dentine with caries lesion, using a 2 x 4 factorial design, whose factors under evaluation were

buffering at 2 levels (with or without histidine buffer) and the pH of FS (226 mg F/mL) at 4

levels (5.0; 5.5; 6.0 and 6.5). The second experiment evaluated the effect of buffering on

reactivity of FS, with different concentrations of fluoride, with dentine with caries lesions and

involved a 2 x 4 factorial design, buffering at 2 levels (with or without histidine buffer) and

fluoride concentration at 4 levels (113, 226, 452 and 904 mg F/mL). In both experiments, the

controls were purified water and 0.1 M histidine, and the reaction of dental blocks with the

treatment solutions was performed under agitation for 10 min. In each experiment, the pH of

the solutions was determined before and after the reaction, and the ΔpH (pHfinal-pHinitial) was

analyzed by Kruskal-Wallis and Mann-Whitney tests and the concentrations (µg F/cm2) of

loosely bound fluoride ("CaF2") and firmly bound fluoride (FA) formed were analyzed by two-

way ANOVA. The level of significance was 5%. In experiment I, a significant effect of

buffering was observed, but there was no effect of the pH or pH x buffering interaction.

Buffering significantly increased the concentrations of "CaF2" (p<0.001) and FA (p=0.02)

formed in dentine. In the second experiment, the greatest ΔpH values were observed for groups

without buffer, but this difference was only significant between the SF 113 and 904 µg F/mL

groups. There was a significant buffering effect (p<0.001) and the fluoride concentration

(p<0.001), leading to increasing concentrations of "CaF2" and FA in dentine. The interaction of

these two factors was significant for "CaF2" (p <0.001). Thus, it can be concluded that the

presence of histidine in the solutions increased fluoride reactivity with dentine with caries lesion

independent of pH solutions and the dose-response effect in relation to fluoride concentration

and its reactivity with dentine with caries lesion was maintained even in the presence of

histidine in fluoridated solutions.

Key Words: Calcium fluoride. Dental caries. Dentin. Fluoride. Histidine.

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Lista de Ilustrações

Quadro 1 - Grupos experimentais e respectivas soluções de tratamento, referentes

ao Experimento I.

29

Quadro 2. Grupos experimentais e respectivas soluções de tratamento, referentes

ao Experimento II

30

Gráfico 1. Média da concentração (μg F/cm²) de fluoreto fracamente ligado

(n=12) formado sobre a dentina exposta a soluções fluoretadas (226 µg F/mL),

em diferentes pH, na presença ou não de tampão.

35

Gráfico 2. Média da concentração (μg F/cm²) de fluoreto firmemente ligado

(n=12) formado sobre a dentina exposta a soluções fluoretadas (226 µg F/mL),

em diferentes pH, na presença ou não de tampão.

36

Gráfico 3. Média da concentração (μg F/cm²) de fluoreto fracamente ligado

(n=12) formado sobre a dentina exposta a soluções fluoretadas, em diferentes

concentrações (µg F/mL), na presença ou não de tampão.

39

Gráfico 4. Média dos valores da concentração (μg F/cm²) de fluoreto firmemente

ligado (n=12) formado sobre a dentina exposta a soluções fluoretadas, em

diferentes concentrações (µg F/mL), na presença ou não de tampão.

40

......................................................................................................................................................

. ....................................................................................................................................................

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Lista de Tabelas

Tabela 1 - Valores de pH inicial e média (±dp; n=12) dos valores de pH ao final das

reações dos blocos de dentina com as soluções de tratamento, referentes ao

experimento I. ................................................................................................................

33

Tabela 2 - Valores de ΔpH (mediana/quartis 25 e 75) das soluções de tratamento

referentes aos grupos sem e com tampão (n=12), referentes ao experimento I.

34

Tabela 3. Valores de pH inicial e média (±dp; n=12) dos valores de pH ao final das

reações dos blocos de dentina com as soluções de tratamento, referentes ao

experimento II.

37

Tabela 4 - Tabela 4. Valores de ΔpH (mediana/quartis 25 e 75) e significância

estatística de cada grupo de tratamento (n=12), referentes ao experimento II.

38

Tabela 5 - Tabela 5 – Concentração de fluoreto (µg F/mL) nas soluções de tratamento,

referentes ao experimento I.

53

Tabela 6 - Concentração de fluoreto (µg F/mL) nas soluções de tratamento, referentes

ao experimento II.

54

Tabela 7 - Significância estatística da ANOVA two-way, respectivas fontes de

variação e significâncias estatísticas, referentes à formação de fluoreto fracamente

ligado sobre a dentina com lesão de cárie artificial.

55

Tabela 8 - Média (±dp) da concentração (μg F/cm²) de fluoreto fracamente ligado

(n=12) formado sobre a dentina exposta a soluções fluoretadas (226 µg F/mL), em

diferentes pH, na presença ou não de tampão

55

Tabela 9 - Significância estatística da ANOVA two-way, respectivas fontes de

variação e significâncias estatísticas, na formação de fluoreto firmemente ligado sobre

a dentina com lesão de cárie artificial.

56

Tabela 10 - Média (±dp) da concentração (μg F/cm²) de fluoreto firmemente ligado

(n=12) formado na dentina exposta a soluções fluoretadas (226 µg F/mL), em

diferentes pH, na presença ou não de tampão.

56

Tabela 11 - Significância estatística da ANOVA two-way, respectivas fontes de

variação e significâncias estatísticas, na formação de fluoreto fracamente ligado sobre

a dentina com lesão de cárie artificial.

57

Tabela 12 - Média (±dp) da concentração (μg F/cm²) de fluoreto fracamente ligado

(n=12) formado sobre a dentina exposta a soluções fluoretadas, em diferentes

concentrações (µg F/mL), na presença ou não de tampão.

57

Tabela 13 - Significância estatística da ANOVA two-way, respectivas fontes de

variação, e significâncias estatísticas, na formação de fluoreto firmemente ligado sobre

a dentina com lesão de cárie artificial.

58

Tabela 14- Média (±dp) dos valores transformados da concentração (μg F/cm²) de F

firmemente ligado (n=12) formado sobre a dentina exposta a soluções fluoretadas, em

diferentes concentrações (µg F/mL), na presença ou não de tampão.

58

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 14

2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 16

2.1 Atual cenário da cárie dentária .................................................................... 16

2.2 Uso de soluções fluoretadas no controle da cárie dentária ........................ 18

2.3 Reatividade de soluções fluoretadas com o esmalte dental ......................... 21

3 PROPOSIÇÃO .........................................................................................................

25

4 MATERIAL E MÉTODOS

26

4.1 Delineamento Experimental .........................................................................

26

4.2 Obtenção dos blocos dentais .........................................................................

26

4.3 Seleção dos blocos dentais .............................................................................

28

4.4 Indução de lesão de cárie artificial nos blocos de dentina ..........................

28

4.5 Preparo das soluções de tratamento

29

4.5.1 Experimento I - Efeito do tamponamento de soluções fluoretadas, em

diferentes pH, na reatividade do F com dentina bovina com lesão cariosa artificial

29

4.5.2 Experimento II - Efeito do tamponamento sobre a reatividade de

soluções fluoretadas, com diferentes concentrações de F, com a dentina com lesão

cariosa artificial

30

4.6 Reatividade das soluções de tratamento com os blocos dentais 30

4.7 Determinação do pH das soluções de tratamento após reação com os

blocos dentais

31

4.8 Determinação do fluoreto fracamente ligado

31

4.9 Determinação de fluoreto firmemente ligado

31

4.10 Análise estatística ..........................................................................................

31

5 RESULTADOS ......................................................................................................... 33

5.1 Experimento I - Efeito do tamponamento de soluções fluoretadas, em

diferentes pH, na reatividade do F com dentina bovina com lesão de cárie

artificial ........................................................................................................................

33

5.1.1 pH das soluções .......................................................................................

33

5.1.2 Determinação da concentração de fluoreto fracamente ligado ...............

34

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5.1.3 Determinação da concentração de fluoreto firmemente ligado ..............

35

5.2 Experimento II - Efeito do tamponamento de soluções fluoretadas, sob

diferentes concentrações de F, na reatividade do F com a dentina bovina com

lesão de cárie artificial ..........................................................................................

37

5.2.1 pH das soluções ......................................................................................

37

5.2.2 Determinação da concentração de fluoreto fracamente ligado ...............

38

5.2.3 Determinação da concentração de fluoreto firmemente ligado ..............

.......................................................................................................................................

39

6 DISCUSSÃO 41

7 CONCLUSÃO ...........................................................................................................

44

REFERÊNCIAS ...........................................................................................................

45

APÊNDICES

Apêndice 1 - Dosagem da concentração de fluoreto nas soluções de tratamento

53

Apêndice 2 - Tabelas Experimentos I e II 55

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14

1 INTRODUÇÃO

Há clara evidência na literatura sobre a efetividade do fluoreto no controle da cárie

dental, reduzindo a desmineralização e ativando a remineralização dos tecidos duros dentais

(ten Cate, 1999). Em acréscimo, o significativo declínio na prevalência de cárie dental

observado nas últimas décadas, quer em países desenvolvidos (Bratthall, 1996) ou em

desenvolvimento (Narvai et al., 1999; Brasil, 2010), tem sido atribuído ao uso difundido do

fluoreto pelas populações ao redor do mundo.

Entretanto, a despeito da significativa redução da prevalência e incidência da cárie

dental, esta doença ainda se manifesta e o faz de maneira desigual (Brasil, 2010; Kämppi et al.,

2013). Os dentes atingidos pela doença se concentram numa menor proporção de indivíduos,

fenômeno descrito como polarização e que reflete as disparidades socioeconômicas das

populações (Narvai et al., 2006). Em acréscimo, se levado em consideração o aumento da

prevalência e incidência de lesões de cárie radicular em idosos, fato relacionado à maior

expectativa de vida e, consequentemente, ao maior número de dentes e superfícies de dentina

radicular expostas na cavidade oral desses indivíduos (Anusavice, 2002; Griffin et al., 2004;

Curzon e Preston, 2004; Rihs et al., 2005; Du et al., 2009), pode-se concluir que a adoção de

medidas preventivas e de controle da cárie, dirigidas aos grupos mais vulneráveis da população

(Mascarenhas, 2016), permanece um desafio.

Desta forma, estratégias têm sido propostas a fim de aumentar a biodisponibilidade

do fluoreto nos fluidos bucais, o que poderia resultar em aumento da proteção dos indivíduos

que se apresentam sob maior risco ou atividade da doença. Embora tenham como objetivo

comum o aumento do efeito anticárie dos produtos fluoretados, tais estratégias são pautadas em

diferentes mecanismos, seja pelo aumento da frequência de exposição ao fluoreto (Marinho et

al., 2003a; Souza et al., 2010; Songsiripradubboon et al., 2014; Nóbrega et al., 2016), pelo uso

de dentifrícios de alta concentração de fluoreto (Srinivasan et al., 2014; Yeung, 2014; Ekstrand,

2016) ou pela associação de meios fluoretados adicionalmente àqueles usualmente utilizados

(Souza et al., 2010; Vale et al., 2011; Songsiripradubboon et al., 2014).

As soluções fluoretadas para bochecho são uma boa indicação de fonte adicional de

fluoreto para indivíduos de alto risco e/ou de alta atividade de cárie (Weyant et al., 2013). Há

evidência da efetividade das soluções fluoretadas na redução da incidência de cárie em crianças

e adolescentes (Marinho et al., 2003b) e seu mecanismo de ação é atribuído ao aumento da

biodisponibilidade de fluoreto na saliva e no fluido do biofilme, após o bochecho (Serra e Cury,

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15

1992), e ainda à formação de reservatórios minerais, na forma de fluoreto firmemente ligado

aos tecidos duros dentais (Tabchoury et al., 2005), também chamado fluorapatita (FA) e na

forma de fluoreto fracamente ligado, como o mineral tipo fluoreto de cálcio (“CaF2”) sobre o

esmalte/dentina (Chow e Takagi, 1991; van Strijp et al., 1999). A formação de ambos os

minerais contribuiria para a diminuição da desmineralização e ativação da remineralização,

diante e após um desafio cariogênico, respectivamente (Takagi et al., 2000;

Songsiripradubboon et al., 2014)

A reatividade do fluoreto com o esmalte com lesão de cárie artificial pode ser

aumentada na presença do conservante metilparabeno, conforme relatado por Tabchoury et al.

(2005) e Arthur et al. (2007), que avaliaram a reatividade a partir da formação de FA no esmalte.

Como o metilparabeno apresenta ação tamponante, tal efeito foi melhor estudado (Vieira Júnior,

2010) e verificou-se que o tamponamento de uma solução fluoretada, contendo 226 ppm de

fluoreto, com tampão histidina, aumentou significativamente a reatividade do fluoreto com o

esmalte dental bovino com lesão de cárie artificial, diante da maior formação de “CaF2” e FA,

sendo este efeito mais significativo em pH 5,0. Nesta faixa de pH, a hidroxiapatita

(Ca10(PO4)6(OH)2), principal constituinte do esmalte, sofre dissolução e os íons fosfato (PO4)-3

e hidroxila (OH-) liberados combinam-se com prótons (H+) do meio, resultando assim no

aumento do pH da solução ao longo da reação e, por conseguinte, na diminuição da reatividade

do fluoreto (Arthur et al., 2007), que é dependente do pH. Logo, a ação do tampão em manter

o pH da solução estável, durante a reação, culminaria no aumento da reatividade das soluções

fluoretadas (Vieira Júnior, 2010).

Diante do exposto acima, seria importante avaliar se o efeito do tamponamento das

soluções fluoretadas também ocorreria frente à dentina com lesão de cárie artificialmente

induzida, e ainda, se o aumento da reatividade do fluoreto presente nas soluções fluoretadas,

quando tamponadas, apresentaria um efeito dose-resposta em relação a diferentes

concentrações de fluoreto. A maior reatividade das soluções fluoretadas poderia contribuir na

melhoria do efeito anticárie desses produtos, sendo de grande relevância, principalmente, na

prevenção e no controle da cárie radicular.

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16

2 REVISÃO DA LITERATURA

Com o intuito de tornar a revisão da literatura mais objetiva, essa foi dividida

didaticamente em três tópicos. O primeiro versou a respeito do atual cenário da cárie dentária,

o segundo discorreu sobre o papel das soluções fluoretadas no controle da cárie dentária e por

fim, o terceiro abordou a reatividade de soluções fluoretadas com o esmalte dental.

2.1 Atual cenário da cárie dentária

A cárie dental é uma doença de progressão lenta e localizada, cujas lesões são

decorrentes da desmineralização dos tecidos duros dentais, pela ação de ácidos produzidos por

bactérias presentes no biofilme dentário, a partir da fermentação de carboidratos oriundos da

dieta (Marsh, 1999; Bowen, 2002; Cury et al., 2003). Trata-se, portanto, de uma doença

biofilme e açúcar-dependente (Fejerskov, 2004), onde o acúmulo do biofilme dentário é o fator

necessário, sem o qual a doença não se manifesta, e o consumo de carboidratos fermentáveis, o

fator determinante principal da doença (Tenuta e Cury, 2010).

Neste contexto, Moynihan e Kelly (2014), em uma revisão sistemática, ressaltam a

importância de recomendar-se a limitação do consumo de carboidratos, o qual deve ser menor

do que 5% do consumo energético diário (E), para que um indivíduo possa obter benefícios no

controle da cárie dentária ao longo da vida. Tal publicação teve como objetivo pautar, em

evidência científica, a atualização das recomendações vigentes da Organização Mundial de

Saúde (OMS), concernentes a esse assunto, as quais ainda sugeriam um consumo de

carboidratos-livres menor do que 10% do E, para que a população pudesse de fato, obter

benefícios no controle da cárie dentária (Sheiham e James, 2014). A despeito de tais esforços

para limitar o consumo de carboidratos da população, para prevenção da cárie dentária

(Moynihan e Kelly, 2014), a diminuição nos índices de prevalência e incidência desse agravo

tem sido explicada pelo uso de fluoreto pelas populações ao redor do mundo (ten Cate, 2013).

Tal constatação ressalta a importância dos demais fatores etiológicos implicados na

rede de causalidade da cárie dentária, que não apenas o consumo de açúcares, como o fluoreto

- fator determinante positivo (Tenuta e Cury, 2010). O mecanismo de ação do fluoreto no

controle da cárie dental está pautado na sua efetividade em reduzir a desmineralização e ativar

a remineralização dos tecidos duros dentais (ten Cate, 1999). Dessa maneira, o declínio da

prevalência e severidade da cárie dentária observado nas últimas décadas, não apenas em países

desenvolvidos (Bratthall, 1996; Clarkson, 2000), mas também naqueles em desenvolvimento,

como o Brasil (Brasil, 2010), pode ser explicado, principalmente, pela larga exposição dos

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indivíduos aos fluoretos (ten Cate, 2013), além do maior acesso a serviços de atenção à saúde

bucal e melhoria de condições socioeconômicas (Bönecker et al., 2002; Narvai et al., 2006).

Entretanto, embora os índices de cárie tenham diminuído, principalmente entre

crianças e jovens, estudos mais recentes demonstram que esse agravo à saúde bucal ainda é

importante não só na infância e adolescência, mas também, nos demais ciclos de vida

(Bagramian et al., 2009), o que pode ser comprovado, quando adultos e idosos são avaliados

em relação à ocorrência da cárie dentária, na medida em que o aumento da prevalência e da

severidade da doença tem sido correlacionado com o aumento da idade dos indivíduos (Luan

et al., 2000; Edman et al., 2016)

Adicionalmente, tem sido relatado o aumento na prevalência de cárie radicular, em

consequência à manutenção de um maior número de elementos dentários na cavidade bucal de

adultos e idosos (Anusavice, 2002; Griffin et al., 2004; Rihs et al., 2005; Ekstrand, 2016). A

ocorrência de cárie radicular é mais frequentemente associada às sequelas da doença

periodontal, que aumentam a probabilidade de que superfícies radiculares sejam expostas ao

meio bucal, em consequência da recessão gengival, o que culmina no aumento do risco de

desenvolvimento e progressão da cárie nesses grupos etários (Curzon e Preston, 2004; Rihs et

al., 2005; Du et al., 2009).

Nesse sentido, a cárie radicular constitui-se em importante agravo à saúde bucal da

população idosa dentada (Anusavice, 2002; Heijnsbroek et al., 2007) e apresenta prevalência

em torno de 44 (Matthews et al., 2012) a 50% (Zimmer, 2001; Du et al., 2009). De acordo com

Gregory e Hyde (2015), esse agravo é uma das maiores causas de perda dentária em idosos, o

que compromete a qualidade de vida desses indivíduos. Tais achados ressaltam a importância

de que esse grupo populacional é tão suscetível ao desenvolvimento de novas lesões de cárie,

quanto adolescentes e crianças, e que devem ser incluídos em programas preventivos e

terapêuticos, em relação à cárie dentária (Banting et al., 1980; Thomson, 2004; Heijnsbroek et

al., 2007).

Assim, vivencia-se atualmente a existência de dois cenários paralelos, um de clara

redução da experiência de cárie nas populações ao redor do mundo, e outro, no qual há

manutenção e até mesmo aumento da severidade da doença em grupos específicos de indivíduos

– ditos de maior risco, a saber: indivíduos com baixo status socioeconômico, crianças e idosos

(ten Cate, 2013; Edman et al., 2016; Mascarenhas, 2016). Logo, ratifica-se o conhecimento de

que a rede de causalidade que encerra a cárie dentária envolve, além de aspectos biológicos,

fatores socioeconômicos e comportamentais, os quais explicariam as diferentes formas de

acometimento da doença, nas diferentes populações (Narvai et al., 2006). Dessa forma, o que

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se observa atualmente é um novo padrão de ocorrência da doença, descrito a partir do fenômeno

de polarização da cárie dental, caracterizado, de forma sucinta, pela concentração de níveis

elevados da doença e suas necessidades de tratamento em uma menor parcela da população,

geralmente, sob privação social e econômica (Narvai et al., 2006; Carvalho et al., 2011; ten

Cate, 2013).

Ainda, a discussão acerca da polarização da cárie lança luz sobre outro debate: a

necessidade de se propor para essa parcela da população, mais vulnerável ao desenvolvimento

e progressão da doença, estratégias de utilização de fluoretos através de meios adicionais aos

usualmente recomendados (van Strijp et al., 1999; Weyante et al., 2013; Songsiripradubboon

et al., 2014).

2.2 Uso de soluções fluoretadas no controle da cárie dentária

Dentre os meios de utilização de fluoreto, há clara evidência a respeito da eficácia

das soluções fluoretadas sobre a diminuição da incidência de cárie dentária (Marinho et al.,

2003b). As soluções para bochecho, com fluoreto em sua composição, foram apontadas como

responsáveis pela redução, em cerca de 26%, da experiência de cárie em crianças, que fizeram

uso regular e supervisionado desse meio de utilização de fluoreto (Marinho et al., 2003b).

Segundo recomendações da ADA (American Dental Association), suportadas cientificamente

e ainda, pautadas no balanço entre benefício e potencial risco de meios fluoretados individuais

(auto uso e uso profissional), ratifica-se o benefício anticárie das soluções fluoretadas (0,05%

ou 0,2% NaF) para indivíduos entre 6 e 18 anos de idade, sob risco à cárie, bem como, para

prevenir cárie radicular entre adultos e idosos (Weyant et al., 2013).

As soluções para bochecho que contêm fluoreto em sua composição são

classificadas como meios fluoretados individuais, de auto uso, e são indicadas a partir da

detecção de uma condição de alto risco e/ou de alta atividade de cárie (Tenuta e Cury, 2010;

Rugg-Gunn e Banoczy, 2013). Embora as principais evidências recaiam sobre a utilização

diária ou semanal, nas concentrações de 0,05% NaF (225 ppm F), ou 0,2% NaF (900 ppm F),

respectivamente (Marinho et al., 2003b), outros compostos fluoretados podem ser encontrados

na composição dos produtos para bochecho como fluoreto de amina e de estanho, bem como

outras concentrações e frequências de uso (Rugg-Gunn e Banoczy, 2013).

Os resultados de alguns estudos que avaliaram o efeito da associação de dentifrício

e bochecho fluoretados muitas vezes são conflitantes (Marinho et al., 2004). Ringelberg et al.

(1979) apontaram a diminuição da incidência de cárie em indivíduos, que fizeram uso de

soluções contendo fluoreto, diariamente, por 60 dias, em adição ao uso de dentifrício

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fluoretados. Contrariamente, Blinkhorn et al. (1983) não observaram nenhum efeito adicional

do uso diário de bochecho fluoretado, sobre a incidência de cárie de um grupo de 751 crianças,

o mesmo achado foi obtido por Axelsson et al. (1987), em um estudo clínico, conduzido por 3

anos. Nesse último estudo, não houve diferença entre o grupo que fez uso de solução contendo

0,05% NaF e o grupo controle, que usou uma solução placebo, em relação à incidência de lesões

de cárie proximal.

De maneira geral, diferenças no delineamento experimental dos diferentes estudos,

como o momento em que foi realizado o bochecho da solução fluoretada (imediatamente após

a escovação, ou horas depois); a frequência (diária ou semanal); tipo de composto fluoretado,

podem explicar a incoerência dos resultados obtidos (van Strijp et al., 1999; Songsiripradubbon

et al., 2014). O mais aceito hoje é que se a prevalência de cárie da população em estudo é baixa,

o benefício adicional decorrente do uso de soluções fluoretadas pode não ser observado (van

Strijp et al., 1999). Dito de outra forma, as soluções fluoretadas devem ser indicadas de acordo

com o risco ou atividade de cárie (Weyant et al., 2013), visto que o benefício anticárie advindo

de sua combinação a outros meios, como dentifrícios fluoretados, é modesto (Marinho et al.,

2004), se comparado ao uso do dentifrício isoladamente, em indivíduos de baixo risco à cárie

(Tenuta e Cury, 2010).

Entretanto, há situações nas quais a combinação desses meios se justifica, como por

exemplo, no caso de pacientes portadores de aparelhos ortodônticos fixos. Tais dispositivos

sabidamente aumentam o risco de desenvolvimento da cárie dental, visto que favorecem o

acúmulo de biofilme sobre as superfícies dentais, e simultaneamente, dificultam a higienização

bucal por parte do paciente (Marinho et al., 2004; Benson et al., 2004). Adicionalmente, tem

sido sugerido que essa combinação de meios fluoretados, dentifrícios e soluções, seria também

importante para o controle da progressão de lesões de cárie radicular (Fure et al., 1998; Weyant

et al., 2013; ten Cate, 2013). No entanto, a despeito da ampla evidência de que meios contendo

fluoreto são eficazes no controle da cárie em esmalte, pouco é conhecido acerca da eficácia do

fluoreto na redução da desmineralização do tecido dentinário.

Sabe-se que o mineral da dentina é mais solúvel do que o do esmalte, o que torna a

dentina mais susceptível à desmineralização (Hoppenbrouwers et al., 1986). Em acréscimo, a

dentina difere do esmalte por ter cristais menores, com maior conteúdo de carbonato e

consideravelmente maior volume de componentes orgânicos (Nyvad e Fejerskov, 1982; ten

Cate et al., 1998). Logo, devido a diferenças entre suas propriedades, é provável que esses

tecidos dentais apresentem respostas distintas à ação do fluoreto, durante episódios de desafio

cariogênico.

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Nesse contexto, resultados obtidos a partir de um estudo in situ (Kusano et al., 2011)

sugerem que o fluoreto disponível no dentifrício (1100 ppm F; NaF/SiO2) apresenta um efeito

mais pronunciado na redução da perda mineral em esmalte, do que em dentina. De fato, dados

de outro estudo in situ corroboram essa hipótese, na medida em que mostram que a combinação

de aplicação tópica profissional de flúor (flúor fosfato acidulado em gel, 1,23% F) e de uso de

dentifrício fluoretado (1100 ppm F) não apresenta efeito adicional na diminuição da perda

mineral em esmalte (Paes Leme et al., 2004), diferentemente do que ocorre para a dentina, para

a qual, a combinação destes tratamentos apresenta efeito protetor adicional (Vale et al., 2011).

Embora não seja possível afirmar, diante dos resultados apresentados pelos estudos

citados acima, pode ser levantada a hipótese de que concentrações maiores, do que aquelas

usualmente requeridas para o esmalte, sejam necessárias para que o fluoreto exerça diminuição

efetiva da desmineralização da dentina radicular, o que também tem sido apontado por estudos

clínicos (Ekstrand et al., 2013; Srinivasan et al., 2014). Logo, a associação de soluções

fluoretadas e dentifrícios estaria bem indicada na prevenção e controle da cárie radicular. De

maneira geral, as soluções fluoretadas são indicadas como meio adicional de fluoreto, para

aqueles indivíduos com alto risco ao desenvolvimento da cárie, e principalmente para aqueles

já doentes, cuja detecção de lesões de cárie, em franca atividade, denuncia que a escovação com

dentifrício fluoretado, per se, não tem sido suficiente para controlar a doença em tais indivíduos

(Rugg-Gunn e Banoczy, 2013; Marinho et al., 2003b).

O efeito anticárie das soluções para bochecho pode ser explicado por meio de dois

mecanismos. Um deles consiste no aumento da concentração de fluoreto na saliva e no fluido

do biofilme, acima dos níveis basais, por cerca de 1 a 2 h após o bochecho (Serra e Cury, 1992).

A concentração de fluoreto presente na cavidade bucal, decorrente de um bochecho fluoretado

é cerca de duas vezes mais alta, do que aquela encontrada 1 a 2 h após escovação com dentifrício

fluoretados (Zero et al., 1992).

O segundo mecanismo baseia-se na formação de reservatórios minerais,

principalmente, na forma de “CaF2” e fluorapatita (Ögaard et al., 1983). A deposição de um

mineral “tipo fluoreto de cálcio” (“CaF2”) sobre a superfície dos tecidos duros dentais é

decorrente da interação físico-química entre o fluoreto, presente na solução, em concentração

superior a 100 ppm F, e os tecidos dentários (Ögaard et al., 1983; Chow e Takagi, 1991). O

“CaF2” formado irá atuar como reservatório de fluoreto, liberando este íon para o meio em

decorrência de sua solubilização, oportunamente, diante de um desafio cariogênico (Saxegaard

e Rølla, 1989). Em relação à formação de fluorapatita decorrente da utilização de meios

fluoretados, essa tem sido considerada modesta, visto que o principal mecanismo envolvido na

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formação desse tipo reservatório é resultado dos ciclos de desmineralização/remineralização

que ocorrem no meio bucal, na presença do fluoreto (Saxegaard e Rølla, 1989). Entretanto,

devido à incorporação de FA concentrar-se superficialmente, diante de sua menor solubilidade,

em relação à hidroxiapatita, poderia contribuir para a diminuição da desmineralização dos

tecidos dentais, durante um desafio cariogênico (Saxegaard e Rølla, 1989).

Em seu trabalho, van Strijp e colaboradores (1999) avaliaram o efeito in situ da

associação de uma solução fluoretada (250 ppm F - fluoreto de amina/fluoreto de sódio) e

dentifrício fluoretado (1.250 ppm F – fluoreto de amina), sobre a formação de depósitos de

fluoreto no esmalte e dentina com lesão de cárie, e concluíram que o uso da solução fluoretada

(2x/dia) aumentou significativamente a quantidade de F fracamente (“CaF2”) e firmemente

ligado (fluorapatita – FA). Os resultados deste estudo indicam que um enxaguatório fluoretado

usado em combinação com um dentifrício fluoretado pode ter um efeito benéfico na proteção

do esmalte e dentina contra a cárie dental.

Os mecanismos de ação responsáveis pela eficácia das soluções fluoretadas podem

sofrer influência de fatores como: frequência de utilização da solução (Songsiripradubboon et

al., 2014), tipo de composto fluoretado (Laheij et al., 2010), concentração (Ögaard et al., 1983)

e pH da solução (Gonzáles-Cabezas et al., 2012).

2.3 Reatividade de soluções fluoretadas com o esmalte dental

Em seu trabalho, ten Cate (1999) propôs que a otimização da utilização de fluoreto

na prevenção e controle da cárie poderia ser pautada no desenvolvimento de meios fluoretados

especialmente produzidos com o objetivo de aumentar a retenção do fluoreto no meio bucal por

prolongados períodos de tempo. Nesse sentido, a avaliação da influência de fatores como o pH,

composição e concentração dos meios fluoretados comercializados é de suma importância, já

que a presença de determinados componentes presentes na formulação de soluções fluoretadas,

bem como o próprio pH do produto (Friberger, 1975; Delbem e Cury, 2002), podem alterar a

reatividade do fluoreto com os tecidos dentários, e, consequentemente, aumentar ou mesmo

comprometer a eficácia anticárie.

Barkvoll e colaboradores (1988) relataram a incompatibilidade físico-química entre

o digluconato de clorexidina e o monofluorofosfato de sódio (MFP), devido à formação de um

sal insolúvel após reação entre os dois compostos, resultando na menor reatividade do MFP

com o esmalte. Outro componente, que pode estar presente na composição de alguns produtos

fluoretados como detergente, o lauril sulfato de sódio, também parece ser capaz de reduzir a

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reatividade do fluoreto, embora o mecanismo pelo qual essa diminuição ocorra não é conhecido

(Barkvoll, 1991; Franco e Cury, 1994).

Por outro lado, Tabchoury e colaboradores (2005) avaliaram a qualidade de

enxaguatórios contendo NaF 0,05% preparados em farmácias de manipulação. De forma

inesperada, três produtos mostraram-se mais reativos com o esmalte dental desmineralizado do

que o controle positivo (solução de NaF 0,05% preparada no laboratório sem qualquer outro

reagente). Análises realizadas nestes 3 produtos sugeriram que a maior reatividade poderia ser

devido à presença de metilparabeno, um conservante, na sua composição.

Posteriormente, outro estudo (Arthur et al., 2007) avaliou diretamente o efeito de

conservantes presentes em enxaguatórios bucais na reatividade do fluoreto com o esmalte

dental. Para tal, blocos de esmalte bovino, hígidos ou com lesão artificial de cárie, foram

seccionados longitudinalmente. Uma metade de cada bloco foi mantida como controle e a outra

reagiu, durante 10 min, com solução de NaF 0,05% contendo ou não metilparabeno 0,2%,

propilparabeno 0,02% ou benzoato 0,35%. A reatividade do fluoreto com esmalte hígido não

foi afetada pelos conservantes, mas a reatividade da solução de NaF 0,05% com o esmalte com

lesão artificial de cárie foi significativamente aumentada na presença do metilparabeno.

Com base no trabalho anteriormente citado, Tramontino e colaboradores (2010)

avaliaram se o metilparabeno e o propilparabeno aumentariam a incorporação de fluoreto pelo

esmalte dental desmineralizado. Assim, foi delineado um ensaio in vitro, no qual blocos de

esmalte com lesão de cárie foram expostos aos seguintes tratamentos: solução fluoretada (200

ppm F - controle); solução fluoretada + metilparabeno 13 mM; solução fluoretada +

propilparabeno 13 mM em propilenoglicol 35% e solução fluoretada + propilenoglicol 35%.

Todas as soluções foram tamponadas com cacodilato 0,01 M e o pH ajustado para 6,27. Os

grupos de tratamento contendo ambos parabenos e o grupo controle não apresentaram diferença

significativa em relação à formação de FA, entretanto, todos diferiram estatisticamente do

grupo contendo propilenoglicol, o qual mostrou a menor concentração de FA formada. Assim,

os autores concluíram que metilparabeno e propilparabeno, presentes em uma solução

tamponada com pH em torno de 6,27, não foram capazes de aumentar a reatividade das soluções

fluoretadas, e que os resultados anteriormente reportados por Tabchoury e colaboradores (2005)

e Arthur e colaboradores (2007) poderiam ser explicados pelo efeito do pH das soluções (5,6)

e não somente pela ação de conservantes utilizados na sua formulação.

É bem estabelecido que o pH desempenha papel fundamental na reatividade do

fluoreto com o esmalte dental (Frieberger, 1975; Larsen, 1990; Delbem e Cury, 2002). A

diminuição do pH de soluções fluoretadas de 7 para 5,5 é capaz de aumentar, em 4 vezes, a

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reatividade do fluoreto com o substrato dental (Saxegaard e Rolla, 1988). Entretanto, embora

esteja claro que a diminuição do pH da solução fluoretada aumente a reatividade do fluoreto

com o esmalte (Saxegaard e Rolla, 1988), durante a reação da solução fluoretada com o

substrato dental pode haver uma alteração no pH final da solução, na medida em que os íons

fosfato e hidroxilas, que compõem a hidroxiapatita, reagem com os íons H+ livres na solução

(Arthur et al., 2007). Logo, como o pH reflete a concentração de íons H+, a reação citada

anteriormente culminaria no aumento do pH da solução e consequentemente, na diminuição da

reatividade do fluoreto com o substrato dental ao longo da reação (Arthur et al., 2007).

Neste contexto, Vieira Júnior (2010) avaliou a reatividade do fluoreto presente em

soluções fluoretadas tamponadas ou não com histidina e em diferentes pH com o esmalte dental

com lesão de cárie artificial, baseado na hipótese de que se o fluoreto estiver presente em uma

solução tamponada, o aumento do pH ao longo da reação seria menor, devido à ação do tampão

em manter estável o pH da solução. Assim, a manutenção do pH em valores mais baixos durante

toda a reação poderia resultar no aumento da reatividade do fluoreto com o esmalte dental.

Nesse estudo, blocos de esmalte bovino foram submetidos aos seguintes tratamentos: soluções

de NaF 0,05% pH 5,0; 5,5; 6,0 e 6,5 tamponadas com histidina 0,1 M ou com pH ajustado, mas

sem tamponamento. Como controle foi usada solução de histidina 0,1 M sem ajuste do pH

(pH=3,92). Os grupos experimentais, cujas soluções de tratamento foram tamponadas,

apresentaram concentrações de “CaF2” e FA estatisticamente maiores do que os respectivos

grupos sem o tampão, independentemente do pH inicial da solução. A maior concentração de

“CaF2” foi observada no grupo com NaF 0,05%, pH 5,0, com tampão, diferindo

significativamente das demais soluções tamponadas. Os resultados de tal estudo sugerem que

o tamponamento de soluções fluoretadas com baixo pH pode aumentar sua reatividade com o

esmalte com lesão de cárie (Vieira Júnior, 2010).

Adicionalmente, pode ser citado ainda o estudo in vitro de Gonzáles-Cabezas e

colaboradores (2012), que teve como objetivo comparar o efeito de soluções fluoretadas (NaF

2%) sob diferentes pH, na reatividade do esmalte apresentando diferentes perfis de lesões

subsuperficiais, bem como a remineralização dessas. Os autores relataram que soluções

contendo fluoreto em alta concentração são mais efetivas em promover remineralização e

incorporação de fluoreto em lesões subsuperficiais de esmalte, quando sob pH ácido, e

adicionalmente, tal efeito parece ser mais pronunciado em lesões em estágios iniciais, em

comparação com aquelas com desmineralização mais avançada.

Diante do exposto seria relevante avaliar o efeito do tamponamento de soluções

fluoretadas frente à dentina, o que ainda não foi testado e que seria importante para o controle

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da cárie radicular, agravo de prevalência crescente em adultos e idosos. Assim, justifica-se a

realização deste trabalho tendo em vista que a maior reatividade das soluções fluoretadas,

decorrente do seu tamponamento, poderia resultar em um maior efeito anticárie desse meio

fluoretados.

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3 PROPOSIÇÃO

Avaliar o efeito do tamponamento de soluções fluoretadas na sua reatividade com

a dentina com lesão de cárie em função do pH da solução e o efeito dose-resposta em relação à

concentração de fluoreto.

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4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Delineamento Experimental

Dois ensaios in vitro, independentes entre si, foram realizados. Blocos dentais de

dentina radicular bovina (4x4x2 mm) pré-selecionados, inicialmente quanto à dureza de

superfície e, após a indução da lesão de cárie artificial, quanto à porcentagem de perda de dureza

de superfície (%PDS), foram utilizados. A lesão de cárie artificial foi induzida pela imersão dos

blocos dentais em solução desmineralizante, contendo tampão acetato 0,05 M (pH 5,0), 1,4 mM

Ca, 0,91 mM Pi e 0,06 μg F/mL. Após a seleção, os blocos foram aleatoriamente distribuídos

nos respectivos grupos de tratamentos. O primeiro estudo avaliou o efeito do tamponamento de

soluções fluoretadas, em diferentes pH, na reatividade do fluoreto com a dentina com lesão de

cárie artificial, a partir de um delineamento fatorial 2 x 4, cujos fatores sob avaliação foram o

tamponamento, em 2 níveis (com ou sem tampão histidina), e o pH das soluções fluoretadas

(226 µg F/mL) em 4 níveis (5,0; 5,5; 6,0 e 6,5) (n=12/grupo). O segundo estudo avaliou o efeito

do tamponamento na reatividade de soluções fluoretadas, com diferentes concentrações de

fluoreto com a dentina com lesão de cárie artificialmente induzida, e envolveu um delineamento

fatorial 2 x 4, cujos fatores sob avaliação foram o tamponamento, em 2 níveis (com ou sem o

tampão histidina), e a concentração de F nas soluções fluoretadas em 4 níveis (113, 226, 452 e

904 µg F/mL) (n=12/grupo). Em ambos os experimentos, os controles utilizados foram água

purificada e solução de histidina 0,1 M, sem ajuste de pH. No experimento II, as soluções

variaram apenas em relação à concentração de F, apresentando todas o mesmo pH, o qual foi

ajustado para 5,5, a partir dos resultados do primeiro estudo. Nos 2 ensaios, a reação dos blocos

dentais com as respectivas soluções foi realizada sob agitação, durante 10 min. Ao final de cada

experimento, os blocos dentais foram analisados quanto ao efeito dos tratamentos sobre a

reatividade do fluoreto, por meio da determinação da concentração de fluoreto fracamente e

firmemente ligado à dentina. Adicionalmente, o pH das soluções foi mensurado após sua reação

com os blocos dentais. Os resultados obtidos foram analisados estatisticamente de forma

independente (α = 5%).

4.2 Obtenção dos blocos dentais

Conforme mencionado anteriormente, os experimentos I e II foram realizados de

forma independente. Entretanto, devido à semelhança metodológica entre os experimentos,

optou-se por descrevê-los conjuntamente, a partir deste tópico, ressaltando-se suas diferenças,

quando necessário.

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Foram utilizados incisivos bovinos hígidos e, antes de qualquer procedimento

experimental, tais elementos dentais foram mantidos em solução de formol 2%, por um período

mínimo de 30 dias, para desinfecção (White, 1987). Para obtenção dos blocos dentais de

dentina, foi utilizada cortadeira elétrica (Buehler – Isomet), bem como discos diamantados de

dupla face (Buehler Diamond Wafering Blade nº 11-4243 da série 15 HC). Os dentes foram

fixados em placas de acrílico com auxílio de cera pegajosa e levados à cortadeira elétrica para

que fossem seccionados na porção cervical, separando a porção coronária da radicular.

Usando 2 discos diamantados posicionados paralelamente e separados por um

espaçador de acrílico com 4 mm de espessura, foram obtidos blocos dentais a partir do corte

das raízes dentais, no sentido mésio-distal. Os fragmentos de dentina foram correspondentes ao

primeiro terço da raiz. Estas fatias foram novamente fixadas a placas de acrílico e seccionadas

no sentido mésio-distal para obtenção de blocos dentais medindo 4 x 4 x 2 mm. Os cortes foram

sempre feitos sob refrigeração (água purificada) para evitar trincas.

A altura dos blocos foi ajustada para 2 mm, utilizando-se lixa de granulação 320

(Carbimet® Paper Discs – nº 30-5108-320 Buehler®) e politriz APL-4 Arotec®, verificando-

se a espessura do bloco com paquímetro digital. Para tal, a superfície vestibular do bloco foi

fixada com cera pegajosa sobre um disco de resina acrílica pré-fabricado, para que a superfície

oposta pudesse ser ajustada/planificada. Em seguida, os blocos foram lavados em ultrassom

(T7, Thornton®) com água purificada, para remoção das partículas de lixa. Os blocos dentais

foram removidos do respectivo disco de resina, e novamente fixados, desta vez com superfície

vestibular do bloco voltada para cima, para que esta fosse planificada, lixada e polida. A

planificação foi iniciada a partir da lixa de granulação 600 e, posteriormente, foi utilizada lixa

de granulação 1200 por 2 min, para que se procedesse o polimento das superfícies dos blocos

dentais. A cada mudança de granulação das lixas, os blocos foram colocados em ultrassom para

remoção dos resíduos da lixa anteriormente utilizada. Ao final, os blocos de dentina foram

imersos em uma solução detergente, visando remoção completa dos resíduos da lixa. O

polimento foi realizado com panos auto-adesivos, previamente banhados com suspensão

contendo partículas de diamante 1 µm, por 2 min. Em seguida, os blocos foram imersos em

uma solução detergente (Ultramet®) diluída na proporção de 20:1 em água purificada, por 2

min.

Os blocos de dentina obtidos foram armazenados em geladeira em potes

devidamente vedados e cobertos com papel toalha umedecido com água purificada, para evitar

o ressecamento da superfície e a ocorrência de rachaduras.

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28

4.3 Seleção dos blocos dentais

Previamente à determinação da dureza de superfície, os blocos foram mantidos à

temperatura ambiente para secagem, durante30 min (Vale et al., 2011). A seguir, a dureza de

superfície dos blocos foi determinada, utilizando–se o microdurômetro Future Tech modelo FM

– 7 acoplado a um software FM – ARS e penetrador tipo Knoop, com carga de 5 g por 5 s (Hara

et al., 2003). Foram realizadas 3 endentações, distantes 100 µm entre si, na região central dos

blocos dentais e os critérios de seleção foram baseados na média e desvio padrão de dureza de

cada bloco. Foram excluídos, de cada experimento, blocos dentais que apresentaram desvio

padrão maior que 10% de sua média individual (variabilidade intra-blocos) e aqueles que

apresentaram sua média individual de dureza maior ou menor do que 10% da média de dureza

calculada para todos os blocos inicialmente obtidos (variabilidade entre blocos). Em relação ao

Experimento I, a média de dureza de superfície dos blocos selecionados para indução de cárie

foi 33,9 (± 2,1), e 36,2 (± 2,1) para os blocos do Experimento II.

4.4 Indução de lesão de cárie artificial nos blocos de dentina

Cada bloco dental, previamente selecionado, teve a área da superfície vestibular

medida, e com exceção dessa, que foi exposta à solução desmineralizante, teve as demais faces

isoladas com cera do tipo utilidade. Anteriormente à imersão dos blocos de dentina na solução

desmineralizante, esses foram tratados com saliva artificial (1,5 mM Ca, 0,9 mM P, 150 mM

KCl e 0,1 M de tampão Tris, pH 7,0) durante 24 h, a 37°C, sem agitação. Tal tratamento teve o

objetivo de minimizar a variabilidade dos blocos com relação ao desenvolvimento da lesão de

cárie (Hara et al., 2003). Posteriormente, os blocos foram imersos na solução desmineralizante,

50% saturada em relação à dentina bovina, contendo tampão acetato 0,05 M (pH 5,0), 1,4 mM

Ca, 0,91 mM Pi e 0,06 μg F/mL (2 mL de solução/mm2 de área do bloco), durante 16 h a 37°C,

sem agitação (Nóbrega et al., 2016).

Após a indução das lesões de cárie, uma nova linha de três endentações, distante

100 µm da primeira, foi realizada para mensuração da dureza de superfície dos blocos foi feita,

de acordo com a descrição do item 4.3. Posteriormente, foi calculada a porcentagem de perda

de dureza de superfície (%PDS) para cada bloco, de acordo com a fórmula:

%PDS = microdureza inicial – microdureza após a lesão induzida x 100

microdureza inicial

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29

Então, foram excluídos, de cada experimento, os blocos dentais que apresentaram

desvio padrão maior ou menor do que 10% de sua média de %PDS individual (variabilidade

intra-blocos) e aqueles que apresentaram sua média individual maior ou menor do que 10% da

média de %PDS calculada para todos os blocos inicialmente obtidos (variabilidade entre

blocos). Em relação ao Experimento I, a média de %PDS dos blocos selecionados foi 63,2

(±3,8), e 65,5 (± 3,1) para os blocos selecionados para o Experimento II.

4.5 Preparo das soluções de tratamento

4.5.1 Experimento I – Efeito do tamponamento de soluções fluoretadas, em diferentes pH, na

reatividade do F com dentina bovina com lesão cariosa artificial

As soluções foram preparadas com água purificada e apresentaram a mesma

concentração de fluoreto (226 µg F/mL), diferindo entre si com relação ao valor do pH (5,0;

5,5; 6,0 e 6,5) e à presença ou não do tampão histidina 0,1 M. Foram utilizadas como controle

água purificada e solução de histidina 0,1 M, sem ajuste do pH (Vieira Júnior, 2010). O ajuste

do pH das soluções foi realizado com o auxílio de um eletrodo de pH e peagômetro calibrado

com soluções de pH 4,0 e 7,0, a partir da adição de soluções de HCl ou NaOH. Após o preparo

das soluções, alíquotas das mesmas foram diluídas e misturadas com TISAB II (tampão acetato

1 M, pH 5,0, contendo NaCl 1 M e CTDA 0,4%) para a determinação da concentração de

fluoreto, em triplicata e utilizando eletrodo íon-específico ORION 96-06 e analisador de íons

EA 940, previamente calibrados. A determinação da concentração de fluoreto foi realizada

anteriormente à utilização das soluções (Apêndice 1, Tabela 5). O Quadro 1 mostra as soluções

que foram preparadas para os respectivos grupos de tratamento.

Quadro 1. Grupos experimentais e respectivas soluções de tratamento, referentes ao

experimento I

GRUPOS DE TRATAMENTO SOLUÇÕES DE TRATAMENTO

Controle água água purificada

Controle histidina histidina 0,1 M

SF pH 5,0 226 µg F/mL, pH 5,0

SF + tampão pH 5,0 226 µg F/mL e histidina 0,1 M, pH 5,0

SF pH 5,5 226 µg F/mL, pH 5,5

SF + tampão pH 5,5 226 µg F/mL e histidina 0,1 M, pH 5,5

SF pH 6,0 226 µg F/mL, pH 6,0

SF + tampão pH 6,0 226 µg F/mL e histidina 0,1 M, pH 6,0

SF pH 6,5 226 µg F/mL, pH 6,5

SF + tampão pH 6,5 226 µg F/mL e histidina 0,1 M, pH 6,5

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30

4.5.2 Experimento II - Efeito do tamponamento sobre a reatividade de soluções fluoretadas,

com diferentes concentrações de F, com a dentina com lesão cariosa artificial

As soluções foram preparadas com diferentes concentrações de fluoreto (113, 226,

452 e 904 µg F/mL) e foram tamponadas ou não com histidina 0,1 M. Todas as soluções foram

preparadas com água purificada e o pH foi ajustado para 5,5, exceto as soluções dos grupos

controle (água purificada e histidina 0,1 M), que não tiveram o pH ajustado, apenas aferido

antes e depois da reação com os blocos dentais. O pH 5,5 foi definido, após análise dos

resultados do experimento I. A determinação da concentração de fluoreto foi realizada em

triplicata, utilizando eletrodo íon-específico ORION 96-06 e analisador de íons EA 940,

previamente calibrado, anteriormente à utilização das soluções (Apêndice 1, Tabela 6). O

Quadro 2 mostra as soluções que foram preparadas para os respectivos grupos de tratamento.

Quadro 2. Grupos experimentais e respectivas soluções de tratamento, referentes ao

experimento II.

GRUPOS DE TRATAMENTO SOLUÇÕES DE TRATAMENTO

Controle água água purificada

Controle histidina histidina 0,1 M

SF 113 µg F/mL 113 µg F/mL*

SF 113 µg F/mL + tampão 113 µg F/mL e histidina 0,1 M*

SF 226 µg F/mL 226 µg F/mL*

SF 226 µg F/mL + tampão 226 µg F/mL e histidina 0,1 M*

SF 452 µg F/mL 452 µg F/mL*

SF 452 µg F/mL + tampão 452 µg F/mL e histidina 0,1 M*

SF 904 µg F/mL 904 µg F/mL*

SF 904 µg F/mL + tampão 904 µg F/mL e histidina 0,1 M*

*O valor do pH foi ajustado para 5,5.

4.6 Reatividade das soluções de tratamento com os blocos dentais

Cada bloco de dentina com lesão de cárie artificial foi individualmente transferido

para tubos contendo as soluções de tratamentos, na proporção de 2 mL de solução por mm2 da

superfície exposta do bloco dental, e mantidos sob agitação (100 rpm), em temperatura

ambiente, por 10 min (Tabchoury et al., 2005). Decorrido esse tempo, os blocos foram

removidos da solução, lavados com água purificada e armazenados a 4ºC em ambiente úmido.

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31

4.7 Determinação do pH das soluções de tratamento após reação com os blocos dentais

Após a remoção dos blocos de dentina dos respectivos tubos, o pH das soluções de

tratamento foi determinado, utilizando-se eletrodo de pH e peagômetro calibrado com soluções

padrões de pH 4,0 e 7,0. A variação do pH foi calculada e expressa sob a forma de ΔpH (ΔpH

= pH final – pH inicial).

4.8 Determinação do fluoreto fracamente ligado

Em seguida, os blocos de dentina foram imersos individualmente em 0,5 mL de

solução de KOH 1 M a temperatura ambiente e mantidos sob agitação (100 rpm em mesa

agitadora), por 24 h (Caslavska et al., 1975). Transcorrido esse tempo, a solução foi neutralizada

com 0,5 mL de TISAB II contendo HCl 1 M e analisada com eletrodo específico para íon flúor

acoplado a analisador de íons, previamente calibrado. O fluoreto fracamente ligado formado e

extraído dos blocos de dentina foi expresso em µg F/cm².

4.9 Determinação de fluoreto firmemente ligado

Duas camadas de dentina foram removidas sequencialmente, por extração ácida, de

cada bloco dental. Para remoção da primeira camada, cada bloco foi imerso em 0,25 mL de HCl

0,5 M, durante 15 s, sob agitação; em seguida, foram adicionados 0,25 mL de tampão TISAB

II, contendo 20 g de NaOH/L. O bloco foi então removido do tubo e a concentração de fluoreto

presente na solução remanescente foi analisada por meio de eletrodo íon-específico, acoplado

a um potenciômetro. A espessura média da primeira camada removida foi 9,9 µm (± 1,9), para

os blocos do Experimento I, e 9,4 µm (± 2,1), para os blocos do Experimento II. A remoção da

segunda camada foi realizada, repetindo-se os procedimentos anteriormente citados. A

espessura média da segunda camada removida foi de 7,1 µm (± 1,2), para os blocos do

Experimento I, e 6,9 µm (± 1,2), para os blocos do Experimento II. A concentração total de

fluoreto firmemente ligado formado (FA total) foi calculada a partir do somatório das médias

das concentrações de fluoreto firmemente ligado obtidas em cada uma das camadas extraídas,

e expressa em µg F/cm2 (Tabchoury et al., 2005).

4.10 Análise estatística

Os resultados obtidos nos experimentos I e II foram analisados de forma

independente, assim, a análise estatística realizada para cada um dos experimentos será descrita

separadamente.

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32

Para o experimento I, os resultados obtidos foram inicialmente avaliados quanto à

normalidade e homogeneidade de suas variâncias. Assim, os dados referentes ao ΔpH foram

analisados estatisticamente pelos testes de Kruskal-Wallis e Mann-Whitney, pois não

apresentaram distribuição normal. Os dados referentes às concentrações de fluoreto fracamente

e firmemente ligado foram avaliados por ANOVA two-way, em esquema fatorial 4 x 2 +1 (pH x

tampão + controles), seguida do teste de Bonferroni, considerando como fatores o

tamponamento, em dois níveis (com e sem histidina), e o pH, em quatro níveis (5,0; 5,5; 6,0; e

6,5). A comparação entre os grupos de tratamento e os grupos controles foi realizada pelo teste

de Dunnett.

Os resultados obtidos no experimento II também foram avaliados quanto à

normalidade e homogeneidade de suas variâncias. De maneira semelhante, os dados referentes

ao ΔpH foram analisados estatisticamente, utilizando-se os testes de Kruskal-Wallis e Mann-

Whitney, pois não apresentaram distribuição normal. Os dados referentes às concentrações de

fluoreto fracamente e firmemente ligado foram avaliados por ANOVA two-way, em esquema

fatorial 4 x 2 +1 (pH x tampão + controles), seguida do teste de Bonferroni, considerando como

fatores o tamponamento, em dois níveis (com e sem histidina), e a concentração de fluoreto nas

soluções, em quatro níveis (113, 226, 452 e 904 µg F/mL). A comparação entre os grupos de

tratamento e os grupos controles foi realizada pelo teste de Dunnett. Em relação aos dados de

FA total, após análise exploratória, os dados foram transformados em raiz cúbica, para atender

aos pressupostos da análise de variância. Análise de regressão foi realizada entre a concentração

de fluoreto nas soluções e as respectivas concentrações de “CaF2”e FA formadas sobre a dentina

com lesão de cárie.

O nível de significância utilizado para todos os testes, nos 2 experimentos, foi de

5%. Os dados foram analisados no programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences),

versão 21.0.

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5 RESULTADOS

5.1 Experimento I - Efeito do tamponamento de soluções fluoretadas, em diferentes pH,

na reatividade do F com dentina bovina com lesão de cárie artificial.

5.1.1 pH das soluções

A tabela 1 apresenta o pH inicial e a média e o desvio-padrão dos valores de pH

final das respectivas soluções de tratamento após reação com os blocos de dentina.

Tabela 1. Valores de pH inicial e média (±dp; n=12) dos valores de pH ao final das reações dos

blocos de dentina com as soluções de tratamento, referentes ao experimento I.

Grupos de Tratamento pH inicial pH final

Controle água 5,72 5,92 ± 0,04

Controle histidina 3,92 3,96 ± 0,05

SF pH 5,0 5,00 5,09 ± 0,03

SF + tampão pH 5,0 5,01 5,01 ± 0,02

SF pH 5,5 5,52 5,61 ± 0,04

SF + tampão pH 5,5 5,50 5,53 ± 0,02

SF pH 6,0 6,00 6,09 ± 0,03

SF + tampão pH 6,0 6,01 6,04 ± 0,01

SF pH 6,5 6,50 6,64 ± 0,03

SF + tampão pH 6,5 6,51 6,52 ± 0,04

SF: soluções fluoretadas contendo 226 µg F/mL.

Tampão histidina 0,1 M.

Ao se avaliar os valores de pH apresentados na Tabela 1, pode ser observado que o

aumento do pH das soluções, após a reação com os blocos dentais, foi numericamente mais

pronunciado para os grupos cuja solução fluoretada não foi tamponada e para o grupo controle

água. Os dados referentes à variação de pH estão apresentados na Tabela 2, que mostra a

mediana dos valores de ΔpH e respectivos quartis 25 (Q25) e 75 (Q75), para cada grupo de

tratamento.

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34

Tabela 2. Valores de ΔpH (mediana/quartis 25 e 75) das soluções de tratamento referentes aos

grupos sem e com tampão (n=12), referentes ao experimento I.

Grupos Sem tampão Com tampão

SF pH 5,0 0,09 (0,08/0,11) *Aa 0,00 (-0,02/0,01)*Ba

SF pH 5,5 0,10 (0,09/0,12) *Aa 0,04 ( 0,02/0,06) Bb

SF pH 6,0 0,09 (0,08/0,10) *Aa 0,02 ( 0,02/0,04) Bb

SF pH 6,5 0,16 (0,13/0,17) *Ab 0,00 (-0,02/0,06) Bab

SF: soluções fluoretadas contendo 226 µg F/mL.

Medianas seguidas de letras distintas (maiúsculas na horizontal e minúsculas na vertical) diferem

estatisticamente entre si (p<0,05).

Todos os grupos diferiram estatisticamente em relação ao grupo controle água (ΔpH = 0,21; 0,18/0,23).

*Grupos que diferiram estatisticamente do grupo controle histidina (ΔpH = 0,03; 0,02/0,06).

De acordo com a Tabela 2, independente do pH inicial das soluções de tratamento,

após a reação com os blocos de dentina, houve menor variação de pH nos grupos com tampão

(p<0,001). Nos grupos sem tampão, a maior variação de pH ocorreu no grupo SF pH 6,5, o qual

diferiu estatisticamente dos demais (p<0,05). Nos grupos com tampão, embora a menor

variação tenha ocorrido no grupo SF tampão pH 5,0, este não diferiu estatisticamente do SF

tampão pH 6,5 (p>0,05), o qual, por sua vez, não diferiu dos demais grupos com tampão

(p>0,05).

5.1.2 Determinação da concentração de fluoreto fracamente ligado

Os resultados obtidos após análise estatística (Apêndice 2, Tabela 7) apontam que

apenas a presença do tampão foi significativa (p<0,001) para explicar a diferença encontrada

entre os grupos experimentais, não havendo, portanto, efeito significativo do pH das soluções

(p>0,05). Adicionalmente, não foi detectado o efeito da interação entre o tampão e o pH.

Segundo o modelo utilizado para esta análise, os fatores tamponamento e pH foram capazes de

explicar em quase 60% a formação de fluoreto fracamente ligado, nas condições experimentais

testadas. O gráfico 1 apresenta as concentrações de fluoreto fracamente ligado formado sobre a

dentina com lesão de cárie artificial, para cada grupo de tratamento.

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35

Gráfico 1. Média da concentração (μg F/cm²) de fluoreto fracamente ligado (n=12) formado

sobre a dentina exposta a soluções fluoretadas (226 µg F/mL), em diferentes pH, na presença

ou não de tampão.

Letras maiúsculas distintas indicam diferença estatisticamente significativa (p<0,05) entre os grupos

com e sem tampão, independente do pH. Letras minúsculas distintas apontam diferença estatística

(p<0,05) entre os grupos de diferentes pH, em cada tipo de solução, tamponada ou não.

Barras indicam desvio-padrão.

Todos os grupos diferiram estatisticamente em relação aos grupos controles água (0,26 ± 0,08 μg F/cm²)

e histidina (0,45 ± 0,12 μg F/cm²), os quais não diferiram entre si.

De acordo com o Gráfico 1, o tamponamento das soluções fluoretadas provocou

aumento significativo das concentrações de fluoreto fracamente ligado sobre a dentina,

independentemente do pH avaliado.

5.1.3 Determinação da concentração de fluoreto firmemente ligado

Os resultados referentes à concentração de fluoreto firmemente ligado formado na

primeira e na segunda camada de dentina removida foram somados e expressos como FA total

(µg F/cm2), o que pode ser visto no Gráfico 2.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

SF pH 5,0 SF pH 5,5 SF pH 6,0 SF pH 6,5

"C

aF

2"

g F

/cm

2)

Tratamentos

Sem tampão Com tampão

A B A B A B A B

a

a

a

a

a

a

a

a

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Gráfico 2. Média da concentração (μg F/cm²) de fluoreto firmemente ligado (n=12) formado

sobre a dentina exposta a soluções fluoretadas (226 µg F/mL), em diferentes pH, na presença

ou não de tampão.

Letras maiúsculas distintas indicam diferença estatisticamente significativa (p<0,05) entre os grupos

com e sem tampão, independente do pH. Não houve diferença estatística (p>0,05) entre os grupos de

diferentes pH, em cada tipo de solução, tamponada ou não.

Barras indicam desvio-padrão.

Todos os grupos diferiram estatisticamente em relação aos grupos controles água (1,78 ± 0,60 μg F/cm²)

e histidina (1,34 ± 0,41 μg F/cm²), os quais não diferiram entre si.

Em relação ao Gráfico 2, verifica-se que o tamponamento das soluções fluoretadas

provocou aumento significativo (p<0,001) da concentração de FA total na dentina,

independente do pH avaliado. A avaliação dos resultados referentes à formação de fluoreto

firmemente ligado mostra que apenas o fator tampão foi significativo (p=0,02) para explicar a

diferença encontrada entre os grupos experimentais (Apêndice 2, Tabela 9). Adicionalmente,

não foi verificado qualquer efeito decorrente da interação entre tampão e pH sobre a formação

de FA (p>0,05). Por fim, segundo o modelo utilizado para esta análise, os fatores tamponamento

e pH, nas condições experimentais avaliadas, só foram capazes de explicar, em 15%, a formação

de fluoreto firmemente ligado.

0

1

2

3

4

5

pH 5,0 pH 5,5 pH 6,0 pH 6,5

FA

g F

/cm

2)

Tratamentos

Sem tampão Com tampão

A

A A A A

B A B A B A B

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5.2 Experimento II - Efeito do tamponamento de soluções fluoretadas, sob diferentes

concentrações de F, na reatividade do F com a dentina bovina com lesão de cárie artificial.

5.2.1 pH das soluções

A tabela 3 apresenta o pH inicial e a média e os desvios-padrão dos valores de pH

final das respectivas soluções de tratamento após as reações com os blocos de dentina.

Tabela 3. Valores de pH inicial e média (±dp; n=12) dos valores de pH ao final das reações dos

blocos de dentina com as soluções de tratamento, referentes ao experimento II.

Grupos de Tratamento pH inicial pH final

Controle água 5,66 5,90 ± 0,05

Controle histidina 3,94 3,92 ± 0,01

SF 113 µg F/mL 5,50 5,66 ± 0,03

SF 113 µg F/mL + tampão 5,50 5,59 ± 0,01

SF 226 µg F/mL 5,50 5,53 ± 0,02

SF 226 µg F/mL + tampão 5,50 5,54 ± 0,03

SF 452 µg F/mL 5,50 5,54 ± 0,03

SF 452 µg F/mL + tampão 5,50 5,52 ± 0,01

SF 904 µg F/mL 5,50 5,55 ± 0,02

SF 904 µg F/mL + tampão 5,50 5,53 ± 0,02

SF: soluções fluoretadas.

Tampão histidina 0,1 M.

Ao se avaliar os valores de pH presentes na tabela 3, o aumento do pH após a reação

foi semelhante entre os respectivos grupos com e sem tampão, para todas as concentrações de

fluoreto testadas, exceto para os grupos SF 113, onde o aumento de pH após a reação foi mais

pronunciado para o grupo cuja solução fluoretada não foi tamponada.,

A tabela 4 apresenta a mediana dos valores de ΔpH e respectivos quartis 25 e 75

para cada grupo de tratamento.

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Tabela 4. Valores de ΔpH (mediana/quartis 25 e 75) e significância estatística de cada grupo de

tratamento (n=12), referentes ao experimento II.

Grupos Sem tampão

(p<0,001) Com tampão

(p<0,001) p

SF 113 µg F/mL 0,15 (0,14/0,19) Aa 0,09 (0,08/0,10) Ba p<0,001

SF 226 µg F/mL 0,03 (0,01/0,05) Ab 0,03 (0,02/0,05) Ab p>0,05

SF 452 µg F/mL 0,04 (0,01/0,06) Ab 0,03 (0,01/0,03) Ab p>0,05

SF 904 µg F/mL 0,05 (0,05/0,07) Ab 0,04 (0,01/0,04) Bb p=0,04

SF: soluções fluoretadas.

Tampão histidina 0,1 M.

Medianas seguidas de letras distintas (maiúsculas na horizontal e minúsculas na vertical) diferem

estatisticamente entre si.

Todos os grupos diferiram estatisticamente (p<0,001) em relação aos grupos controles água (ΔpH =

0,24; 0,21/0,28) e histidina (ΔpH = - 0,02; -0,03/-0,01), os quais também diferiram entre si (p<0,001).

Segundo os dados observados na Tabela 4, a diferença de variação de pH, entre os

respectivos grupos com e sem tampão, só foi significativa para os grupos SF 113 e SF 904. Ao

se comparar apenas os grupos cuja solução foi tamponada, a maior variação de pH ocorreu para

o grupo SF 113, a qual diferiu estatisticamente dos demais grupos e tal comportamento se

repetiu para os grupos sem tampão. Os valores de ΔpH dos grupos SF 226, SF 452 e SF 904,

com ou sem tampão, não diferiram estatisticamente entre si.

5.2.2 Determinação da concentração de fluoreto fracamente ligado

Em relação à formação de “CaF2” sobre a dentina com lesão de cárie artificialmente

induzida, houve efeito significativo do tamponamento e da concentração de fluoreto, bem como

da interação destes dois fatores (Apêndice 2, Tabela 11). Segundo o modelo utilizado para esta

análise, os fatores tamponamento e concentração da solução fluoretada foram capazes de

explicar em 87% a formação de fluoreto fracamente ligado, nas condições experimentais

testadas.

O gráfico 3 mostra que ocorreu aumento da formação de fluoreto fracamente ligado,

com aumento da concentração de fluoreto na solução, quer na presença ou na ausência do

tampão. Para todas as concentrações testadas, o efeito do tamponamento da solução fluoretada

resultou na formação de fluoreto fracamente ligado em concentração maior que o dobro daquela

obtida na ausência do tampão (p<0,001).

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39

Gráfico 3. Média da concentração (μg F/cm²) de fluoreto fracamente ligado (n=12) formado

sobre a dentina exposta a soluções fluoretadas, em diferentes concentrações (µg F/mL), na

presença ou não de tampão.

Letras maiúsculas distintas indicam diferença estatisticamente significativa (p<0,05) entre os grupos

com e sem tampão, independente da concentração de fluoreto. Letras minúsculas distintas apontam

diferença estatística (p<0,05) entre os grupos de diferentes concentrações de fluoreto, em cada tipo de

solução, tamponada ou não.

Barras indicam desvio-padrão.

Todos os grupos diferiram estatisticamente em relação aos grupos controles água (0,31 ± 0,12 μg F/cm²)

e histidina (0,39 ± 0,12 μg F/cm²), os quais não diferiram entre si. Regressão linear: r2=0,773, p<0,001 (sem tampão); r2=0,776, p<0,001 (com tampão).

De acordo com o Gráfico 3, verifica-se que houve efeito dose-resposta em relação

à concentração de fluoreto nas soluções e à formação de “CaF2”, quer na ausência ou na

presença do tampão.

5.2.3 Determinação da concentração de fluoreto firmemente ligado

Segundo os resultados da análise de variância realizada, houve efeito significativo

do tamponamento e da concentração de fluoreto da solução frente à formação de fluoreto

firmemente ligado na dentina com lesão de cárie artificialmente induzida. Em contrapartida,

não foi verificado efeito significativo da interação dos dois fatores testados (Apêndice 2, Tabela

13). De acordo com o modelo utilizado para esta análise, os fatores tamponamento e

concentração da solução fluoretada foram capazes de explicar em 52% a formação de fluoreto

firmemente ligado, nas condições experimentais testadas.

Os dados apresentados no Gráfico 4 demonstram que houve aumento da formação

de fluoreto firmemente ligado, com aumento da concentração de fluoreto na solução, quer na

presença ou na ausência do tampão. Entretanto, as concentrações de fluoreto firmemente ligado

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

SF 113 SF 226 SF 452 SF 904

"C

aF

2"

g F

/cm

2)

Tratamentos

Sem tampão Com tampão

A B A B A B A B a

a b

b c

c d

d

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40

obtidas para os grupos de SF 226 e SF 452 não diferiram estatisticamente entre si (p>0,05).

Para todas as concentrações testadas, o efeito do tamponamento das soluções fluoretadas

resultou em uma maior formação de fluoreto firmemente ligado, quando comparados aos

respectivos grupos sem tampão (p<0,001).

Gráfico 4. Média dos valores da concentração (μg F/cm²) de fluoreto firmemente ligado (n=12)

formado sobre a dentina exposta a soluções fluoretadas, em diferentes concentrações (µg

F/mL), na presença ou não de tampão.

Letras maiúsculas distintas indicam diferença estatisticamente significativa (p<0,05) entre os grupos

com e sem tampão, independente da concentração de fluoreto. Letras minúsculas distintas apontam

diferença (p<0,05) entre os grupos de diferentes concentrações de fluoreto, em cada tipo de solução,

tamponada ou não.

Barras indicam desvio-padrão.

Todos os grupos diferiram estatisticamente em relação aos grupos controles água (1,07 ± 0,09 μg F/cm²)

e histidina (1,04 ± 0,16 μg F/cm²), os quais não diferiram entre si.

Regressão linear: r2=0,463, p<0,001 (sem tampão); r2=0,453, p<0,001 (com tampão).

*Os dados foram transformados em raiz cúbica para a análise estatística.

De acordo com o Gráfico 4, verifica-se que houve efeito dose-resposta em relação

à concentração de fluoreto nas soluções e à formação de FA, quer na ausência ou na presença

do tampão.

0

1

2

3

4

5

6

SF 113 SF 226 SF 452 SF 904

FA

g F

/cm

2)

Tratamentos

Sem tampão Com tampão

A B A B A B A B

a

a b

b b b

c

c

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6 DISCUSSÃO

O presente estudo propôs avaliar o efeito do tamponamento de soluções fluoretadas

sobre sua reatividade com a dentina com lesão de cárie artificialmente induzida e, de acordo

com os resultados obtidos, pode-se afirmar que o tamponamento das soluções de reação

aumentou a reatividade do fluoreto com o substrato dental. As soluções foram tamponadas com

L-histidina, aminoácido e tampão, cujo pKa é igual a 6,0 (Simpkins et al., 2007), apresentando,

portanto, capacidade de tamponamento coerente com as faixas de pH utilizadas nos dois

experimentos realizados neste trabalho (pH=5,0/5,5/6,0/6,5).

Ao se avaliar os valores de pH inicial e final das soluções de tratamento do

experimento I, percebe-se que houve aumento do pH após a reação com os blocos dentais em

todos os grupos. Tal achado está de acordo com Arthur e colaboradores (2007) e pode ser

explicado pelo fato de que durante a reação dos blocos dentais com as soluções de tratamento

a dentina, assim como o esmalte, é dissolvida e os íons fosfato (PO4-3) e hidroxila (OH-),

liberados da hidroxiapatita, combinam-se com prótons (H+) do meio, resultando assim, em

aumento do pH final da solução (Arthur et al., 2007; Vieira Júnior, 2010). Ainda em relação à

variação de pH, esta foi significativamente menor nas soluções tamponadas, evidenciando a

eficácia da histidina em evitar variações no pH das soluções fluoretadas, mesmo nas diferentes

faixas de pH avaliadas (5,0/5,5/6,0/6,5). Tal observação fica clara diante dos resultados de ΔpH,

que não diferiram estatisticamente entre os grupos tamponados de pH 5,5; 6,0 e 6,5; apenas os

grupos 5,0 e 6,5 diferiram entre si (Tabela 2).

Assim, a menor variação do pH das soluções fluoretadas ao longo da reação, devido

à presença do tampão, poderia explicar a maior concentração de fluoreto fracamente e

firmemente formada na dentina com lesão de cárie artificial, denotando aumento significativo

da reatividade das soluções fluoretadas. Estes achados estão em concordância com os resultados

obtidos por Vieira Júnior (2010), nos quais a reatividade das soluções fluoretadas com o esmalte

com lesão de cárie artificial também foi aumentada, devido ao tamponamento com histidina em

diferentes valores de pH.

Entretanto, no presente trabalho com blocos de dentina, não foi observado efeito

significativo do pH, nem da interação entre os fatores avaliados (pH x tamponamento), quer

seja na formação de “CaF2” ou FA, diferentemente do relatado por Vieira Júnior (2010). Sabe-

se que a diminuição do pH de soluções fluoretadas aumenta sua reatividade com o substrato

dental (Saxegaard e Rolla, 1988). Logo, seria esperado que houvesse diferença entre os grupos

de diferentes pH em relação à formação dos reservatórios de fluoreto. E ainda que o grupo

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tratado com solução fluoretada em pH 5,0 apresentassem maior formação de “CaF2” em relação

aos demais, como verificado por Vieira Júnior (2010) para esmalte dental, o que não ocorreu

no presente estudo para dentina com lesão de cárie.

Uma possível explicação para a discordância entre os resultados citados

anteriormente seriam as diferenças entres as propriedades físico-químicas do esmalte e da

dentina. A saber, o menor tamanho dos cristais de hidroxiapatita que compõe a dentina resulta

em uma maior área de superfície em relação ao volume, e, por conseguinte, uma fase mineral

mais reativa (Nyvad e Fejerskov, 1982; ten Cate et al., 1998). Assim, a maior reatividade da

dentina frente ao fluoreto pode não ter permitido a observação de efeito do pH na formação de

“CaF2” e FA nos grupos de tratamento. No experimento II também foi observada a tendência

de aumento do pH, após a reação entre as soluções fluoretadas e os blocos dentais. Neste

segundo experimento, semelhantemente ao já descrito para o experimento I, e também de

acordo com outros estudos (Arthur et al., 2007; Vieira Júnior, 2010), a maior variação de pH

ocorreu nos grupos sem tampão, com exceção dos grupos de solução fluoretada com 226 e 452

µg F/mL que não apresentaram diferença significativa na presença ou não do tampão. A

pequena variação do pH após a reação para as soluções não tamponadas pode estar relacionada

à capacidade tampão do ácido fluorídrico (HF), formado na solução diante do pH ácido (5,5) e

que parece estar relacionada à concentração de NaF, quando em solução aquosa. Tal hipótese

também explicaria a ausência de diferença entre os grupos SF 226, SF 452, SF 904, com ou

sem tampão, visto que apenas o grupo de menor concentração SF 113 diferiu significativamente

dos demais.

Adicionalmente, no experimento II foi verificado efeito significativo do

tamponamento e da concentração de fluoreto, bem como da interação destes dois fatores frente

à formação de fluoreto fracamente ligado sobre a dentina e, segundo o modelo estatístico

utilizado, estes fatores foram capazes de explicar a formação de “CaF2” em 87%. No referido

experimento, para todas as concentrações testadas, o efeito do tamponamento da solução

fluoretada resultou na formação de “CaF2” em concentração maior que o dobro daquela obtida

na ausência do tampão. Em acréscimo, na presença do tampão, uma solução fluoretada

apresentou equivalência de reatividade em relação à outra, com o dobro da concentração de F,

mas sem o tampão. Logo, sugere-se que seria possível potencializar o efeito anticárie da solução

fluoretada, sem, no entanto, aumentar a concentração de fluoreto na solução. No entanto,

estudos adicionais, de ciclagem de pH ou in situ, são necessários para testar esta hipótese.

Em relação à formação de fluoreto firmemente ligado na dentina, houve efeito

significativo do tamponamento e da concentração de fluoreto da solução, entretanto, não foi

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observado efeito significativo da interação dos dois fatores testados no experimento II. O efeito

do tamponamento e da concentração de fluoreto nas soluções, apesar de provocar aumento

significativo das concentrações de FA formadas, apresenta efeito mais modesto do que aquele

apresentado sobre à formação de fluoreto fracamente ligado. Neste contexto, Saxegaard e Rölla

(1988) ressaltam que após uma aplicação tópica de fluoreto sobre os substratos dentais, mais

de 70% do reservatório de fluoreto formado ficaria depositado sobre o substrato, e não

intrínseco a ele, visto que o principal mecanismo envolvido na formação de fluorapatita é

resultado dos ciclos de desmineralização/remineralização que ocorrem no meio bucal, na

presença do fluoreto.

O aumento da concentração de fluoreto nas soluções apresentou efeito dose-

resposta em relação à formação de “CaF2” e FA na dentina com lesão de cárie, e este efeito foi

mantido diante do tamponamento das soluções. A partir dos resultados obtidos para as variáveis

que avaliaram a reatividade das soluções fluoretadas (“CaF2” e FA), em ambos os experimentos

realizados, é possível afirmar que água purificada e solução de histidina 0,1 M apresentaram-

se adequadamente como controles, em relação aos grupos experimentais utilizados.

Outro ponto que merece ser discutido é que o aumento da reatividade das soluções

fluoretadas, decorrente da presença do tampão histidina, poderia não ser devido apenas à sua

capacidade de manter o pH da solução estável, visto que no experimento I ela aumentou a

formação de “CaF2” e FA independente do pH. Na faixa de pH testada nos experimentos I e II,

entre 5,0 e 6,5, a histidina pode apresentar sua cadeia lateral protonada ou não (pKa = 6,0),

conferindo carga positiva à sua molécula (HistH+). Assim, hipoteticamente, poderia reagir com

o fluoreto (F-) e frente à dentina, esse composto formado (HistHF) poderia, de alguma maneira,

aumentar a reatividade do fluoreto com o substrato dental. Embora esteja claro que o tampão

histidina foi efetivo em aumentar significativamente a reatividade das soluções fluoretadas,

frente à dentina com lesão de cárie, ainda se faz necessário elucidar o mecanismo por meio do

qual a histidina exerce tal efeito sobre o fluoreto em solução. Uma outra avaliação importante

seria se o efeito dose-resposta em relação à concentração de fluoreto nas soluções e a formação

de “CaF2” e FA na dentina, mantido diante do tamponamento, também ocorreria para o esmalte

dental. Por fim, diante das limitações metodológicas dos experimentos realizados, seria

relevante a condução de estudos capazes de avaliar se a maior formação dos reservatórios

minerais, tipo fluoreto de cálcio e fluorapatita, resultante do tamponamento das soluções

fluoretadas, poderia de fato aumentar seu potencial anticárie, frente a um desafio cariogênico.

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7 CONCLUSÃO

Os resultados dos experimentos realizados permitem concluir que:

A presença de histidina nas soluções aumentou a reatividade do fluoreto

com dentina bovina com lesão de cárie artificial, independente do pH da

solução.

Foi observado efeito dose-resposta em relação à concentração de fluoreto e

sua reatividade com a dentina com lesão de cárie, o qual foi mantido mesmo

diante da presença de histidina nas soluções fluoretadas.

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53

Apêndice 1 – Dosagem da concentração de fluoreto nas soluções de tratamento

Tabela 5 – Concentração de fluoreto (µg F/mL) nas soluções de tratamento, referentes ao

experimento I.

Solução de

tratamento

Concentração de fluoreto

nas amostras (µg F/mL)

Média da

concentração Esperado

Coeficiente de

Variação (%)

Controle

água

0,01

0,01*

0,01 0 100,0

0,01

Controle

histidina 0,1

M

0,01

0,01*

0,01 0 100,0

0,01

SF pH 5,0

234,6

234,9

234,6 226,0 3,8

235,5

SF + tampão

pH 5,0

228,3

228,8

230,0 226,0 1,2

228,3

SF pH 5,5

230,0

231,8

232,7 226,0 2,5

232,7

SF + tampão

pH 5,5

228,3

228,8

229,1 226,0 1,2

229,1

SF pH 6,0

229,1

230,6

230,9 226,0 2,0

231,8

SF + tampão

pH 6,0

225,6

228,3

228,3 226,0 1,0

230,9

SF pH 6,5

226,5

230,0

231,8 226,0 1,8

231,8

SF + tampão

pH 6,5

227,4

230,3

230,9 226,0 1,9

232,7

SF: soluções fluoretadas.

Tampão histidina 0,1 M.

* valores abaixo do limite de sensibilidade do eletrodo pela técnica de dosagem utilizada.

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Tabela 6. Concentração de fluoreto (µg F/mL) nas soluções de tratamento, referentes ao

experimento II.

Solução de

tratamento

Concentração de

fluoreto nas amostras

(µg F/mL)

Média

da concentração Esperado

Coeficiente de

Variação (%)

Controle água

purificada

0,01

0,01* 0 100,0 0,01

0,01

Controle

histidina 0,1 M

0,01

0,01* 0 100,0 0,01

0,01

113 µg F/mL

113,4

113,2 113,0 0,2 113,8

112,5

113 µg F/mL +

Tampão

112,9

114,1 113,0 1,0 114,7

114,7

226 µg F/mL

223,9

227,2 226,0 0,5 229,2

228,3

226 µg F/mL +

Tampão

225,7

226,9 226,0 0,4 226,6

228,3

452 µg F/mL

449,3

450,5 452,0 -0,3 451,1

451,1

452 µg F/mL +

Tampão

451,1

449,9 452,0 -0,5 449,3

449,3

904 µg F/mL

895,0

903,0 904,0 -0,1 901,8

912,3

904 µg F/mL +

Tampão

888,1

899,6 904,0 -0,5 905,3

905,3 SF: soluções fluoretadas.

Tampão histidina 0,1 M.

* valores abaixo do limite de sensibilidade do eletrodo pela técnica de dosagem utilizada.

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Apêndice 2 – Tabelas Experimentos I e II

Experimento I - Efeito do tamponamento de soluções fluoretadas, em diferentes pH, na

reatividade do F com dentina bovina com lesão de cárie artificial.

Tabela 7. Significância estatística da ANOVA two-way, respectivas fontes de variação e

significâncias estatísticas, referentes à formação de fluoreto fracamente ligado sobre a dentina

com lesão de cárie artificial.

Fonte Soma dos

quadrados

Graus de

liberdade Variâncias F p

Tampão 793,33 1 793,33 115,22 <0,001

pH 46,56 3 15,52 2,25 0,088

Tampão*pH 4,14 3 1,38 0,20 0,996

Resíduo 605,93 88 6,89

Total 12387,78 95

R2 = 0,58.

Tabela 8. Média (±dp) da concentração (μg F/cm²) de fluoreto fracamente ligado (n=12)

formado sobre a dentina exposta a soluções fluoretadas (226 µg F/mL), em diferentes pH, na

presença ou não de tampão.

Grupos Sem tampão A Com tampão B

SF pH 5,0 a 8,46 ± 1,16 13,87 ± 3,61

SF pH 5,5 a 8,56 ± 1,70 14,35 ± 4,07

SF pH 6,0 a 7,20 ± 1,58 13,61 ± 1,67

SF pH 6,5 a 6,97 ± 2,16 12,36 ± 3,36

Médias seguidas de letras distintas (maiúsculas na horizontal e minúsculas na vertical) diferem

estatisticamente entre si (p<0,05).

Todos os grupos diferiram estatisticamente em relação aos grupos controles água (0,26 ± 0,08 μg F/cm²)

e histidina (0,45 ± 0,12 μg F/cm²).

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Tabela 9. Significância estatística da ANOVA two-way, respectivas fontes de variação e

significâncias estatísticas, na formação de fluoreto firmemente ligado sobre a dentina com lesão

de cárie artificial.

Fonte Soma dos

quadrados Graus de liberdade Variâncias F p

Tampão 2,27 1 2,27 5,77 0,02

pH 2,57 3 0,86 2,18 0,10

Tampão*pH 1,38 3 0,46 1,17 0,32

Resíduo 34,58 88 0,39

Total 841,50 95

R2 = 0,15.

Tabela 10. Média (±dp) da concentração (μg F/cm²) de fluoreto firmemente ligado (n=12)

formado na dentina exposta a soluções fluoretadas (226 µg F/mL), em diferentes pH, na

presença ou não de tampão.

Grupos Sem tampão A Com tampão B

SF pH 5,0 a 2,66 ± 0,62 2,90 ± 0,73

SF pH 5,5 a 3,01 ± 0,51 3,25 ± 0,89

SF pH 6,0 a 2,67 ± 0,43 3,38 ± 0,67

SF pH 6,5 a 2,69 ± 0,59 2,77 ± 0,51

Médias seguidas de letras distintas (maiúsculas na horizontal e minúsculas na vertical) diferem

estatisticamente entre si (p<0,05).

Todos os grupos diferiram estatisticamente em relação aos grupos controles água (1,78 ±0,60 μg F/cm²)

e histidina (1,34 ±0,41 μg F/cm²).

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Experimento II - Efeito do tamponamento de soluções fluoretadas, sob diferentes

concentrações de F, na reatividade do F com a dentina bovina com lesão de cárie artificial.

Tabela 11. Significância estatística da ANOVA two-way, respectivas fontes de variação e

significâncias estatísticas, na formação de fluoreto fracamente ligado sobre a dentina com lesão

de cárie artificial.

Fonte Soma dos

quadrados

Graus de

liberdade Variâncias F p

Tampão 2228,48 1 2228,48 144,27 <0,001

Concentração 6024,67 3 2008,22 130,01 <0,001

Tampão*concentração 655,08 3 218,36 14,14 <0,001

Resíduo 1359,34 88 15,45

Total 25809,12 95

R2 = 0,87.

Tabela 12. Média (±dp) da concentração (μg F/cm²) de fluoreto fracamente ligado (n=12)

formado sobre a dentina exposta a soluções fluoretadas, em diferentes concentrações (µg

F/mL), na presença ou não de tampão.

Grupos Sem tampão Com tampão

SF 113 µg F/mL 2,19 ± 0,44 Aa 6,68 ± 2,01 Ba

SF 226 µg F/mL 4,51 ± 1,46 Ab 10,38 ± 2,57 Bb

SF 452 µg F/mL 8,79 ± 2,68 Ac 19,07 ± 3,70 Bc

SF 904 µg F/mL 16,15 ± 4,12 Ad 34,04 ± 8,53 Bd

Médias seguidas de letras distintas (maiúsculas na horizontal e minúsculas na vertical) diferem

estatisticamente entre si.

Todos os grupos diferiram estatisticamente em relação aos grupos controles água (0,31 ±0,12 μg F/cm²)

e histidina (0,39 ±0,12 μg F/cm²), os quais não diferiram entre si.

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Tabela 13. Significância estatística da ANOVA two-way, respectivas fontes de variação, e

significâncias estatísticas, na formação de fluoreto firmemente ligado sobre a dentina com lesão

de cárie artificial.

Fonte Soma dos

quadrados

Graus de

liberdade Variâncias F p

Tampão 0,262 1 0,262 19,86 <0,001

Concentração 1,017 3 0,339 25,71 <0,001

Tampão*concentração 0,004 3 0,001 0,09 0,96

Resíduo 1,160 88 0,013

Total 190,192 95

R2 = 0,52.

Tabela 14. Média (±dp) dos valores transformados da concentração (μg F/cm²) de F firmemente

ligado (n=12) formado sobre a dentina exposta a soluções fluoretadas, em diferentes

concentrações (µg F/mL), na presença ou não de tampão.

Grupos Sem tampão A Com tampão B

SF 113 µg F/mL a 1,20 ± 0,08 1,31 ± 0,12

SF 226 µg F/mL b 1,33 ± 0,13 1,42 ± 0,11

SF 452 µg F/mL b 1,37 ± 0,13 1,49 ± 0,05

SF 904 µg F/mL c 1,49 ± 0,12 1,59 ± 0,14

Médias seguidas de letras distintas (maiúsculas na horizontal e minúsculas na vertical) diferem

estatisticamente entre si.

Todos os grupos diferiram estatisticamente em relação aos grupos controles água (1,07 ±0,09 μg F/cm²)

e histidina (1,04 ±0,16 μg F/cm²), os quais não diferiram entre si.