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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
KATHLEEN ANDERSON ALVES FREITAS
INCLUSÃO:
ATRAVESSANDO OS CAMINHOS
DE UMA EDUCADORA
CAMPINAS
2005
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
KATHLEEN ANDERSON ALVES FREITAS
INCLUSÃO:
ATRAVESSANDO OS CAMINHOS
DE UMA EDUCADORA
Memorial apresentado ao Curso de
Pedagogia Programa Especial de
Formação de Professores em Exercício Nos
Municípios da Região Metropolitana de
Campinas, da Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinas, Como
um dos prérequisitos para Conclusão da
Licenciatura em Pedagogia.
CAMPINAS
2005
Dedico este Memorial a todas as pessoas
que estiveram ao meu lado nesta caminhada, e que
dispuseram seu tempo em favor da minha causa.
AGRADECIMENTOS
À DEUS pela infinita força e coragem, à Ele ofereço todo louvor, honra e glória.
À minha mãe, Hilda, que incansavelmente estimuloume em palavras e orações.
Ao meu marido, Fernando pela compreensão, amor e respeito ao meu desejo
de crescimento.
Ao meu filho, Gabriel, por todas as recepções sorridentes, mesmo tarde da noite.
Aos meus irmãos, Érika, Erick, Alexei e Andrew , que ofereceramme apoio em
árduos momentos.
O professor Sérgio Leite, que tornou viável o sonho da graduação, por meio deste
Curso.
À orientadora, Heloísa Matos, pela dedicação e sensibilidade com nossas angústias.
Finalmente, à Leslie, Leticia, Lúcia, Juliana, Hélen, pela amizade preciosa
que compartilhamos e que guardarei para sempre com carinho .
Na arte de viver,
O homem é ao mesmo tempo
O artista e o objeto de sua arte,
É o escultor e o mármore,
O médico e o paciente
Erich Fromm
APRESENTAÇÃO
Muitas vezes uma imagem, um cheiro, uma música, um objeto evocam
sensações e memórias que já tivemos algum dia.
Como se pressupõe, um memorial sugere uma reflexão sobre uma trajetória.
Aqui, neste memorial, busquei evocar lembranças sobre minha formação, mas também
acabo por depararme com a história da educação relatada ora pelo meu olhar de
criança aluna , ora meu olhar de professora.
Ao longo das páginas expresso e revelo minhas alegrias, esperanças , dúvidas,
perplexidades no caminho da educação.
Saliento que, não foi tarefa fácil, afinal, deveria eu dissertar sobre o que fui? O
que se passou? A estes questionamentos recorri a Magda Soares (2001) que explanou
muito bem que, antes de falar do passado é preciso explicar o presente.
Neste quadro de memórias, ressalto minha formação enquanto profissional e ser
humano, e das responsabilidades desta profissão, que ocupa lugar todos os dias na
vida de muita gente.
Escrever sobre as minhas memórias, levoume a refletir sobre minha identidade
como educadora, minha relação com a vida e a tomar ciência das marcas que a escola
imprime em nossas vidas.
Este memorial teve como foco principal a inclusão, hoje tão comentada e
discutida em nosso cotidiano profissional. Uma realidade social que avança pelas
nossas escolas, que requer reflexão e análise. Situação nada fácil nesta área, na qual
a presença do preconceito derivado da construção histórica é marcante.
Não pretendo analisar a atual situação da educação especial brasileira, mas
apontar, por meio de vivências o que penso e entendo por trabalhar com deficientes.
Tudo faz parte do mundo do professor: tristezas, alegrias e, às vezes, emoções
tão grandes que nem podem ser contadas. Uma batalha por dia, um desafio constante,
em que cada vitória faz renascer a esperança e a vontade de continuar. As condições
de trabalho podem variar, mas o professor é professor, vive cada minuto do seu dia em
classe e gosta do que faz, não importa o lugar.
SUMÁRIO
Capítulo I Reescrevendo a História...........................................................................01
Capítulo II Aprender brincando..................................................................................14
Capítulo III Afetividade................................................................................................21
Capítulo IV Todas as Crianças têm direito à escola................................................28
Considerações Finais...................................................................................................34
Referências Bibliográficas...........................................................................................36
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CAPÍTULO I
Reescrevendo a história...
Existe somente uma idade para a gente ser feliz,...
Essa idade tão fugaz na vida da gente chamase PRESENTE
E tem a duração do instante que passa. Mário Quintana
Nasci em São Paulo , capital , numa manhã nebulosa e fria do dia 20 do mês de
agosto de 1969 ,nesta época, a política nacional convivia com conflitos
governamentais. Momento em que a Aliança Libertadora Nacional (ALN) organizada
por Carlos Marighella e o Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR8) seqüestraram
no Rio de Janeiro o embaixador norteamericano Charles Elbrick. Os ativistas trocaram
o embaixador por 15 presos políticos, que foram enviados para o México. Alguns
grupos de esquerda partem para a luta armada, atuando em guerrilhas em regiões
como o Vale do Ribeira, em São Paulo, o interior do nordeste e a região do Rio
Araguaia. Em outubro, por indicação dos altos militares, o general Emílio Médici
assume a Presidência. Ele comandaria o período mais negro do regime militar,
conhecido como anos de chumbo.
Meu pai, administrador de uma fazenda perto de Vargem Grande, também
atravessava época de conflitos em seu trabalho, não aceitando as condições impostas,
viera para a capital juntamente com minha mãe, que cuidava do lar, onde se sujeitou a
vários tipos de serviços menores ( menos remunerados), mas não desistiu do sonho de
estudar e melhorar sua condição profissional e familiar.
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Poucos anos depois, nasceram meus irmãos . Estabelecemonos na cidade de
Americana, depois de morarmos em várias outras cidades.
Meu pai, na ânsia de crescer como profissional, não suportou a idéia de estar
preso a uma família numerosa e abandonounos ainda pequenos e esta atitude,
certamente, afetou a mim e a meus irmãos de forma arrasadora em nossa constituição
como indivíduos e que nos deixaria seqüelas para sempre.
Minha mãe, até então apenas dedicada à família, viuse em situação de
reviravolta e buscou para si o que não tinha feito ainda: o mergulho no mercado de
trabalho. Não com a mesma intenção de meu pai, mas por uma questão de
sobrevivência. Ação esta, que também modificou nossa estrutura familiar e abalou
nosso sentimento de segurança e de infância ( minha e de meus irmãos). Nesta
jornada, a mãe, agora também a mulher profissional, dividiuse no duplo papel de
pai/mãe e que o faz até os dias de hoje.
Não seria sensato dizer que tive uma infância tranqüila como a de qualquer
criança . No início, na pré escola, por muitas vezes minha mãe deixavame aos
prantos no portão da escola e quantas vezes não escapei enquanto o portão ainda não
havia sido trancado e era trazida de volta para escola pelas mãos de minha mãe?
Sempre tímida e quieta, tive dificuldades em adaptarme as novas situações e não
conseguia fazer amizades; entendia que não era seguro sair de perto da minha mãe.
Aos poucos, fui adequandome às novas conjunturas e inserindome nesta sociedade
da infância escolar, ainda com receio e temor.
Adquiri o gosto pelos livros, estimulada pelas novas descobertas (a
alfabetização), mas que não teve o incentivo da minha mãe , que me colocou no posto
de tutora de meus irmãos menores.
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Nesta época, tempo de muitas brincadeiras na rua e nos quintais, já possuía uma
extensa comunidade de amigos, mas havia uma criança em especial que até hoje me
vem à memória. Era uma menina muito bonita, loira, de olhos azuis, extremamente
falante e sorridente, mas que era também deficiente mental. Seu nome eu não me
lembro, apenas seu apelido: Keca.
Não era comum ver crianças ou adultos assim, por isso, eu tinha receio de
chegar perto dela ( a mãe da Keca deixavaa presa dentro de casa, com o portão
trancado com cadeado); no pouco que víamos o quintal, ela estava gritando, babando
e querendo sair, acenava para todos que via passar pela rua ou pedia para que se
aproximassem dela. Ninguém o fazia. Nem mesmos nós, os vizinhos, então, seu
irmão, carinhosamente ( o que para mim era uma atitude estranha), pegavaa nos
braços e a levava para dentro com seus brinquedos espalhados.
Até sua escola era diferente da nossa. Keca estudava em uma escola que
diziam ser especial para ela. A escola era no fim da rua de minha casa, e não me
lembro de ver crianças entrando ou saindo de lá. Sabia que funcionava, mas tudo era
muito discreto, sigiloso.
Descrevi esse episódio, devido ao fato de estar estudando Educação Especial
com Professora Ana Maria Torezan; docente da Faculdade de Educação da Unicamp e
orientadora da disciplina Educação Especial do curso PROESF (Programa Especial de
Formação de Professores em Exercício).
Quando iniciei a escrita deste memorial, buscava objetivos que realmente
tivessem me tocado como professora e, de todas as disciplinas que já tivemos, esta foi
a mais interessante no meu ponto de vista; devido ao fato de que está se tornando cada
vez mais freqüente a inserção de crianças portadoras de algum tipo de deficiência em
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salas de aula atualmente, e também porque já tive uma experiência com crianças
deficientes ao longo de minha caminhada como professora que adiante descreverei.
Assim sendo, acredito na defesa da cidadania e do direito à educação e que
neste caso em especial, a deficiência , seja ela qual for, já se torna fator real em nosso
cotidiano, e a falta de conhecimento contribui muito para que estas pessoas portadoras
sejam rotuladas, marginalizadas e ignoradas.
Voltando ao relato de minhas vivências, ingressar na escola foi algo tão
marcante que ainda lembro das primeiras aulas. Era interessante que mesmo quando
estava em casa ,a brincadeira predileta passou a ser a imitação do que ocorria na sala
de aula.
Na escola, atividades ligadas ao currículo formal para cada série, traduziam o
pensamento pedagógico na época, que ora centravamse em conteúdos, ora nas
atividades, sem nunca contemplar uma relação entre o aluno e o conhecimento. A
seleção de conteúdos sempre ocorreu a partir de uma concepção positivista de ciência,
fundamentada em uma concepção de conhecimento formalizada, linear e fragmentada.
Contemplando Kuenzer:
Compreender os movimentos e os passos necessários a cada operação, memorizálos e repetilos em uma determinada seqüência, demandava uma pedagogia que objetivasse a uniformidade de respostas para procedimentos padronizados, tanto no trabalho quanto na vida social, ambos regidos por padrões de desempenho que foram definidos como adequados ao longo do tempo( Kuenzer , 1998 pp.33)
Nessa década (1970/80), em que pese toda a movimentação em torno de
mudanças políticas e mudanças no campo da educação e apesar do projeto político
pedagógico, as minhas recordações são de um cotidiano escolar marcadamente
conservador. A ligação com os princípios tradicionais era evidente na postura dos
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professores que se limitavam em realizar exposições verbais dos conteúdos, nesse
momento era terminantemente proibido qualquer desatenção ou conversa paralela; o
silêncio era a principal regra que deveríamos obedecer, depois de ordenados em fileiras
nas salas de aula. Uma grande ênfase era dada à repetição, as rotinas de trabalho na
sala de aula passavam pela leitura individual, e em voz alta das lições. Nesses
momentos, deixar de aplicar a entonação correta, a cada ponto ou vírgula, era motivo
de interrupção brusca e correção impaciente da professora.
Interessante destacar que, muitas vezes enquanto brincava de "escolinha", não
conseguia assumir a postura de algumas das minhas professoras , pelo fato de que
considerava injusto os motivos que levavam uma pessoa a advertir outra, de modo tão
assustador e impaciente. Não queria que meus "aluninhos" tivessem medo de mim.
Reproduzia, sempre, a professora que eu mais gostava, que falava baixinho e que
sorria.
Estudar matemática era frustrante, o que mais assustava era o dia da prova,
para o qual os alunos tinham que ter decorado a tabuada. Cometer um erro, no
momento em que a professora perguntava individualmente, era fatal. Tenho fortes
recordações da separação da turma entre "fileiras dos sabidos e fileiras dos burros". Até
a oitava série, os valores tradicionais estavam presentes, os professores tinham uma
postura autoritária, as aulas praticamente não se diferenciavam quanto à estrutura de
apresentação de conteúdo e aplicação de exercícios, os conceitos e fórmulas deveriam
ser repetidos e memorizados, o intenso controle disciplinar era constante tanto dentro
quanto fora das salas de aula. Dedicarse aos estudos, naquele momento,
representava, em primeiro lugar a chance de ficar isento da vergonha de não saber,
depois a busca da valorização atribuída pelo professor aos alunos que tivessem os
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melhores desempenhos e, por fim, significava entrar no jogo da competição entre
colegas pelas melhores notas. Um dos momentos mais esperados era o resultado final
e a aprovação para a série seguinte, quando um novo ciclo ( série ) recomeçava.
Depois da oitava série, sentime na obrigação de decidir quais os rumos a serem
tomados para a vida profissional, na época só comentavase sobre os cursos técnicos
( um mecanismo criado a fim de produzir mão de obra para o mercado de trabalho),
colegial ou ainda o curso normal. No momento em que foi necessário optar por um dos
cursos técnicos oferecidos pela escola, a opção foi pelo curso de magistério e lá eu
fiquei por quatro anos, até que um dia decidi trilhar os caminhos da Educação Infantil...
Até este momento de minha formação escolar, não havia encontrado alguém
como Keca. Nas escolas que freqüentei , nunca houve uma criança deficiente. Houve
sim, na época do magistério, uma classe dita '"especial " ,que situavase no fundo do
corredor da escola. Mas não tínhamos qualquer tipo de contato, tanto com os alunos ou
com a professora, pois os horários de entrada, intervalo ou saída eram diferenciados
para não haverem encontros.
E não só na escola, mas nos supermercados, farmácias, cinemas, raramente se
via um deficiente circulando pela cidade, a não ser em caso de mendigos.
Voltando às minhas memórias, esta decisão de optar pelo magistério, permitiria
me continuar a fazer o que sempre gostei: ler, estudar, aprender e que na visão da
minha mãe, facilitaria a minha inserção no disputado mercado de trabalho, um
enfrentamento necessário, para que pudesse contribuir com a renda de minha família.
Estou completando quinze anos nesta função, e como não poderia deixar de ser,
as experiências que vivi fizeramme mais forte e confiante, entretanto com muito
esforço e sacrifício.
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Acredito que, o mais difícil de qualquer inicio de carreira é a falta da experiência,
mas no meu caso foi descobrir que o que aprendi na sala de aula, tanto das séries
iniciais , quanto do curso específico de magistério, não se comparava com a realidade
que encontrei.
Comecei a trabalhar com uma classe na época ( 1992), denominada classe do
período integral, ou seja, alunos que ficavam o dia todo na escola. Nesta classe haviam
várias idades, desde crianças com quatro anos até as mais velhas que eram as de
quase sete anos. Uma realidade que eu sequer sabia que existia.
No bairro em que se situava a escola, não havia creche pública, então a
Prefeitura fez um "arranjo" para que as crianças das quais as mães trabalhavam
pudessem permanecer na escola.
Entretanto, do meu ponto de vista, o arranjo só foi pensado visando a petição
popular que exigia um local público para seus filhos menores estarem, enquanto as
mães trabalhavam. Ou seja, um lugar seguro, para a criança, onde seria alimentada e
assistida. Assim como nas palavras de Kramer (2001, pp.27): "...um conceito de
assistência social para crianças pequenas, sendo ressaltada a sua importância para a
comunidade na medida em que liberava a mulher para trabalhar... "
Os alunos passavam o período da manhã com aulas regulares, com papéis,
pastinhas , atividades individuais, aproximação para a alfabetização. As professoras
destes alunos eram, no entender das famílias, as reais professoras de seus filhos.
Já, as professoras do período integral não pertenciam ao rol das educadoras,
mas eram aquelas que ficavam com as crianças depois das aulas.
Este foi também, um momento de desigualdade social, dentro da própria rede de
ensino. Acontecia aqui a polarização entre assistência e educação, como se fossem
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ambas, incompatíveis. Kuhlmann ( 1998, pp.60) complementa: "Preocuparse em
assistir, preocuparse com o cuidado, com a guarda da criança não seria "desviarse"
da oportunidade de "proporcionar uma educação de qualidade..."
Professores e escola, não estavam preparados para o arranjo. Não havia espaço
físico suficiente, materiais e brinquedos adequados. Tudo partia da improvisação e da
criatividade da professora. Fica claro que na educação infantil, a identidade do
professor às vezes se assemelha a uma colcha de retalhos, expressa também pela
variedade de denominações recebidas: auxiliar de desenvolvimento infantil, professor,
educador, babá de creche. A falta de identidade na função de educador infantil, reflete a
indefinição presente na própria área , resultado tanto das diferentes políticas públicas
implementadas para a infância, quanto a modismos pedagógicos. Sendo assim, Rios
(2002, pp.59) cita:
Se o professor pensa que sua tarefa é ensinar o ABC e ignora a pessoa de seus estudantes e a condição em que vivem, obviamente não vai aprender a pensar politicamente ou talvez vá agir politicamente em termos conservadores prendendo a sociedade em laços do passado, ao subterrâneo da cultura e da economia...
A multiplicidade de rótulos que o educador recebe é um legado histórico. Foi a
época em que ingressavam as teorias de Emília Ferreiro. Nesta fase ficou clara a
discrepância pela qual passei da teoria do Magistério, passando daquele modelo
tradicional , em que o professor é o detentor do conhecimento. Na prática encontrei um
aluno real repleto de uma bagagem histórica e cultural.
Relembrando Morin ( 1998, pp.335): " ... uma teoria não é conhecimento, ela permite o
conhecimento. Uma teoria não é a chegada, é a possibilidade de uma partida. Uma
teoria não é uma solução; é a possibilidade de tratar um problema..."
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Trabalhei por cinco anos, como professora do período integral.
Depois, comecei a trabalhar nos ditos períodos regulares (1997), outra realidade,
completamente diferente da que eu havia vivenciado até então. A classe era de pré
escola, com crianças entre cinco e seis anos; a sala ficava no interior de uma creche,
denominada CAIC ( Centro de Atendimento Integrado à Criança), sem espaço físico
suficiente, nem mesmo para as mesinhas ( algumas mesas comportavam até cinco
crianças, sendo que a mesma só poderia comportar apenas quatro). Tínhamos que
revezar: trabalhar um pouco dentro da sala e um pouco fora. Ruas de terra, casas
populares e comunidade carente, falta de estrutura para a préescola, falta de recursos
como: materiais pedagógicos, papéis coloridos básicos, que incontáveis vezes eu
mesma comprava.
Quando chovia, os ônibus não entravam no bairro para não ficarem atolados,
então, éramos obrigados a amarrar sacolinhas nos pés para não nos sujar nos
atoleiros.
Nesta época, recebi uma aluna que com certeza não irei esquecer: foi a minha
primeira criança portadora de deficiência. E agora?
Como já citei anteriormente, eu sequer havia visto uma criança deficiente em
minhas aulas regulares ou de formação.
Automaticamente, minhas memórias voltaram àquele passado, no qual se
encontrava Keca, a menina que eu tinha receio de aproximação.
Entretanto esta aluna, a qual chamarei de Alice, tinha uma diferença em relação
a Keca, ela era negra, com leve deficiência auditiva, visual e mental, mas para piorar a
situação, a mãe da criança não admitia que a menina necessitava de cuidados
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especiais, tanto é que ela passou a freqüentar a escola quase completos seus seis
anos de idade.
Fui buscar auxílio com os profissionais que estavam mais próximos de mim:
colegas de trabalho, coordenadora e por fim a pedagoga encarregada pelo setor, da
qual recebi como resposta aos meus questionamentos a simples frase: ...Deixea
apenas sentadinha, porque ela não irá aprender nada mesmo!
Não era a resposta que eu esperava. Percebi que tanto Alice quanto eu
estávamos sozinhas .
Não cruzei meus braços e fui buscar nos poucos materiais que encontrei, alguma
direção para meu problema, e foi quando vi que as atividades obviamente teriam que
ser diferenciadas para aquela menina sorridente que estava contando comigo. Busquei
alternativas, superei dificuldades, no entanto o mais cruel obstáculo estava ainda por
vir: a rejeição pela diferença.
Relutantemente percebi, que a própria escola reagia de maneira excludente e
manifestavase de maneiras perversas e diversas, ignorando a criança enquanto
cidadã, a mim, enquanto educadora, e principalmente tapando os olhos para a
realidade.
Não é fácil romper com este cerco de pessimismo, fracasso, incertezas, mas a
transformação de nossa sociedade depende de enfrentarmos desafios, ultrapassarmos
obstáculos buscando sempre uma nova possibilidade fazendo com que nós,
educadores, possamos nos sentir capazes de realizar este movimento de
transformação do mundo, enxergálo e vivêlo de um modo diferente.
Nas palavras de Freire (1996, pp. 107):
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Quanto mais penso na prática educativa, reconhecendo a responsabilidade que ela exige de nós, tanto mais me convenço do dever nosso de lutar no sentido de que ela seja realmente respeitada. O respeito que devemos como professores aos educandos dificilmente se cumpre, se não somos tratados com dignidade e decência pela administração privada ou pública da educação.
Diante desta realidade que eu considerava bastante comprometida, mas que
assumi o meu papel de professora, julgando dar o melhor de mim, veiome um
sentimento de necessidade de atualização na minha formação. A faculdade sempre foi
um sonho que esperava alcançar um dia, mas que ainda não tinha condições para
sustentar financeiramente.
As reuniões pedagógicas pouco tinham a acrescentar, normalmente, dividida em
setores, cada pedagoga era responsável em capacitar uma turma de professores, que
já haviam trabalhado no período contrário. Muitas vezes, fui direto da escola para a
reunião em que éramos obrigados a engolir a seco, os programas oficiais, que a
burocracia dita, com os quais os alunos iriam aprender uma boa educação e de
qualidade.
A proposta exposta pelas pedagogas já era empacotada sem ter havido antes
uma discussão conosco, professoras, que éramos as maiores interessadas no assunto.
Diante disso, evocando Larocca ( 1996, pp.39) : "A prática, por sua vez, não pode ser
tratada como implicação, colagem ou transposição direta de uma teoria, a não ser para
nos situar historicamente nas tendências educacionais de uma maneira didática..."
Movida por uma sensação enorme de buscar algo mais, fui procurar outras
formas de aperfeiçoamento.
Comecei a procurar cursos e oficinas para melhorar minha prática, minhas
concepções, indo para Paulínia/SP em busca de aprimoramento.
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Passava minhas férias e semanas inteiras em cursos de capacitação, ouvindo
relatos de experiências, oficinas práticas e congressos. Minha preocupação era com
minha prática, se eu realmente fazia a diferença para meus alunos, porque muitas
vezes como qualquer ser humano dotado de sensibilidade, sentiame impotente diante
de alunos mais difíceis que não se dispunham a aprender, causando uma sensação de
que algo não estava certo, foram momentos de inquietações e reflexões sobre minha
prática.
Comecei então, a trabalhar em uma outra unidade de educação infantil ( 2000) ,
no centro de Americana .
Mais uma vez , uma realidade oposta a todas as outras com as quais trabalhei.
Crianças bem vestidas, pais universitários, abundância de materiais e recursos
pedagógicos, uma sala ampla, tudo o que parecia ser necessário para um bom
trabalho. Estou nesta unidade até os dias de hoje e tenho aprendido muito lá.
Neste mesmo ano, surgiu na classe de uma colega de trabalho uma criança
Síndrome de Down. A criança estava em período contrário ao meu , ou seja, eu
trabalhava de manhã e ela estudava à tarde, pouco contato tive com ela, mas sentia a
necessidade de estar a par de tudo o que acontecia em sala de aula. Não era muito
bem recebida, então afastei me e observava a distância. Gostaria de salientar que nem
todas as colegas de trabalho gostam de estar dividindo suas conquistas ou suas
frustrações, e neste caso com a criança deficiente, a professora não se sentia à
vontade para conversar sobre o assunto. Pouco pude fazer, mas serviume de
parâmetro tanto no sentido de apoio pedagógico, quanto a infraestrutura local.
Sem querer, o trabalho com deficientes começou a surgir silenciosamente, mas
não em meio a protestos dos docentes. O medo do novo e do desconhecido afetava
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diretamente nós, professores, fazendonos sentir incapazes de assumir tal tarefa, seja
pelas condições espaciais da instituição, pela falta de capacitação ou de recursos, ou
mesmo o suporte especializado.
Em recente entrevista, Mantoan ( 2005, pp.24) destaca que o professor deve
sentirse privilegiado por participar do movimento de inclusão, em suas próprias
palavras "...Inclusão é um privilégio de conviver com as diferenças..."
Acredito que, o trabalho com crianças com qualquer tipo de deficiência é uma
lição de vida, é exercitar o respeito pela diferença.
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CAPÍTULO II
Aprender brincando
Brincar com criança não é perder tempo, é ganhálo;
se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda
é vêlos sentados enfileirados, em salas sem ar, com
exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem.
(Drummond)
De um modo geral a brincadeira é um momento de interação e troca entre as
crianças. Momento de prazer, alegria e troca de afeto, criando situações de negociação
de significados.
Nesta perspectiva, buscar elementos que possam auxiliar em sala de aula é uma
constante. Busca esta, feita pelo professor inteiramente só, por seus próprios meios e
recursos, muitas vezes desamparadas pelo sistema educacional. Entretanto, este
mesmo sistema, faznos pensar que estamos aptos o suficiente para atuar em
qualquer situação .
Na educação infantil, não é diferente. Nós professores da Rede Municipal de
Americana não adotamos livros didáticos, mas procuramos fontes: livros, enciclopédias,
para a confecção do planejamento que é um dos elementos constitutivos da prática
pedagógica do professor, trabalhase em algo a ser utilizado como parâmetro durante o
ano letivo.
Assim sendo, é possível entender as atividades lúdicas, desde que bem
direcionadas e com objetivos claros, como um importante meio de educação pois
carregam o que Bourdieu (1989) chama de poder simbólico.
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Adaptando os jogos ao contexto da educação inclusiva, é possível vislumbrálos
como uma forma de facilitar o processo de inclusão do aluno deficiente na classe
comum; tendo como estratégia, o fato de que sempre que a brincadeira promove a
sociabilização e integração entre os elementos do grupo.
É muito comum os pais dizerem que as crianças vão ao parquinho para apenas
brincar com as "tias", apesar que este termo foi abolido, a muitos anos pela rede
Municipal de Americana, mas que ainda vive nas concepções dos pais. Mais uma vez ,
isto causa me um sentimento de inferioridade. Talvez devido ao fato de que apenas o
ensino Fundamental seja obrigatório, destinado a todas as crianças a partir do sete
anos, enquanto a Educação Infantil não se destina a todos, principalmente as crianças
da creche, sem deixar de mencionar que, até os dias de hoje, existam pais que insistem
em chamar as professoras de "tias".
Para as crianças qualquer espaço serve para brincar, a infância no atual
contexto, é diferente da realidade que eu vivi. Brincar na rua era normal e gostoso,
havia espaço e muitos amigos. De modo geral, na sociedade, as crianças restringem
se a ambientes fechados, poucos lugares para movimentação e brincadeiras, então os
pais vêem a instituição infantil como o local ideal e seguro para o filho brincar, sem
reconhecerem o real conceito do brincar nesta fase da vida da criança.
O professor neste momento é o mediador, e auxiliado pelas crianças partilham
novas experiências, caminhos e propostas com as brincadeiras na construção do
conhecimento.
O aspecto pedagógico da Educação reduzido ao ensino escolarizante , torna a
aprendizagem e a brincadeira , muitas vezes vistas como ações opostas. Isto posto,
reportome a Vygotsky ( 1989, pp.117):
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...O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal da criança. No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento.
O brinquedo ou a brincadeira, elemento facilitador para inclusão de deficientes
na classe comum, tem em vista a importância que o lúdico possui na vida das crianças
e a simbologia que envolve essas atividades; dentre elas os jogos cantados, os
brinquedos populares, e as brincadeiras de roda.
O objetivo principal do brinquedo é facilitar o processo de inclusão do aluno,
deficiente ou não, utilizando atividades de domínio público, que normalmente já são
desenvolvidas na Educação Infantil e Ensino Fundamental, às vezes, adaptadas ao
contexto da escola inclusiva, trabalhando com a simbologia embutida nestas atividades,
buscando tornar o processo de inclusão em algo prazeroso, divertido e interativo,
fazendo que os alunos internalizem os conceitos trabalhados, que é o fator principal
para que haja uma mudança de comportamento, e um processo de ruptura nas
relações interpessoais frente à deficiência.
Acredito na necessidade em equilibrar jogo e educação, para que o contexto
formativo não seja superado pelo lúdico, sem que este perca suas características de
liberdade, prazer e diversão.
Para que se possa entender o papel do brinquedo como fator de
desenvolvimento da criança é necessário a convivência com a fantasia para que possa
reestruturar suas relações com o mundo. Para a criança, a brincadeira é a melhor
maneira de se comunicar, um meio para perguntar e explicar, um instrumento que ela
tem para se relacionar com outra criança.
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Para Vygosty (1984),o brincar é definido pela situação imaginária criada pela
criança, e que tende a suprir necessidades que mudam conforme a idade. Com o
crescimento surgem novas necessidades que poderão ser satisfeitas através da
capacidade imaginária da criança.
Vygotsky entende a brincadeira como uma atividade movida pela imaginação,
atividade consciente, que se desenvolve conforme seu crescimento. Isto significa que
as crianças muito pequenas ainda não possuem tal capacidade. Vygotsky dá
importância à ação e ao significado no brincar. Segundo ele, uma criança com menos
de três anos não consegue envolverse em uma situação imaginária, pois é só
brincando que ela pode começar a compreender o objeto não da forma que ele é, mas
como gostaria que fosse. É na brincadeira que o objeto perde sua característica real e
passa a ter o significado que lhe dão.
Para Wallon (NEGRINE, 1994,pp. 29 30) :
O jogo para as crianças é expansão , e nesse sentido, se opõe à atividade “séria” que é o trabalho. (...) A compreensão infantil é tão somente uma simulação que vai do outro a si mesmo, e de si mesmo ao outro. A imitação como instrumento dessa fusão representa uma ambivalência que explica certos contrastes nos quais o jogo encontra alimento.
Sabese que cada criança, seja portadora ou não de alguma necessidade
especial, possui alguma dificuldade que se destaca em relação ao outro.
Por esta razão, acredito que a melhor forma de trabalhar com o aluno incluído é
dentro da sala de aula, com toda a turma, pois é através de um jogo adaptado às
necessidades especiais deste aluno, que ele terá chances de se destacar frente aos
demais, ser respeitado e visto como alguém capaz de participar e, porque não dizer, de
superar suas dificuldades. Pelo pouco que trabalhei e observei durante meus anos de
docência, as crianças incluídas tiveram uma sensível valorização de sua autoestima e
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seus atos passaram a ter maior consideração perante seus colegas. No início percebia
uma certa dificuldade nos contatos entre os pares, mas aos poucos, trabalhando em
com o lúdico, o comportamento discriminatório por parte das crianças tidas como
“normais” aos seus colegas especiais diminuiu.
A importância dos companheiros de brincadeiras na socialização de crianças é
de fundamental importância. Uma das mais recentes e completas revisões sobre o
processo de socialização de crianças e adolescentes foi elaborada por Harris (1999),
mostrando que os pais não são os principais protagonistas na determinação da
personalidade adulta de seus filhos, apesar de serem os principais agentes
socializadores, aqueles que mais precocemente atuam sobre a criança. Não sendo os
pais os únicos e nem os principais agentes influenciadores de seus filhos, afirmase a
importância do grupo no processo de socialização. De acordo com a teoria da
socialização de grupo de Harris (1999, pp.335): “(...) as crianças se identificam com um
grupo constituído dos pares delas, que talham o comportamento delas às normas do
grupo e que os grupos contrastam com outros grupos e adotam normas diferentes” .
É na brincadeira que a criança está pensando, buscando, explorando,
construindo e reconstruindo, simbolizando e dando outros sentidos ao mundo que a
cerca. É o seu momento de experimentação, criação e resignificação de todo um
conjunto de valores partilhados com seus pares.
Acredito que muitas vezes, a minha passividade em aceitar novas propostas,
métodos e a avalanche de conteúdos que a serem despejados nos alunos, deixava
perderse um pouco, das inúmeras contribuições que a brincadeira pode trazer para a
criança. E a atividade da docência tornou se uma rotina comum, sem que se pergunte
se ela implica ou não decisões contínuas, constantes e precisas, a partir de um
19
conhecimento adequado no processo educativo na sociedade. Estas afirmações
reportamme a Saviani ( 2002, pp.98):
...não se busca um senso crítico do papel do educador no processo educativo; não se exige do educador uma preparação adequada para o exercício da docência, tanto do ponto de vista de compromisso político, quanto do ponto de vista da competência técnica e científica que ela exige.
Minha ingenuidade em meu próprio julgamento de praticar de forma coerente a
docência, muitas vezes abalaram meu auto conhecimento e minha auto estima,
desdobrando me em avaliar o aluno nos mais diferentes aspectos do diaadia, nas
observações de atitudes, comportamentos, progressos ou avanços que supunha ser
fundamental para a compreensão do universo infantil e suas necessidades.
Mas era mais do que isso, um investimento profundo na práxis é que traria sem
dúvida, a ampliação de oportunidades no campo do desenvolvimento e do
enriquecimento das relações entre adulto e criança. E foram estes anos de formação na
graduação (PROESF Programa Especial de Formação de Professores em Exercício)
que vieram a tornar claro para mim esta necessidade, algo que eu já buscava.
Suponho que está claro que este é um longo caminho a ser percorrido e que
transformar a sala de aula em um local aberto à ludicidade é uma tarefa bastante árdua,
em vista da própria formação docente, das condições estruturais das instituições e da
visão equivocada de que brinquedo é tudo, menos coisa séria. É necessário que o jogo
deixe de ser visto apenas como um recurso de emergência no final de uma aula
conturbada para ocupar o seu papel principal: ser o eixo do processo inclusivo.
Freire (1996) declara que, se na verdade, o sonho que nos anima é democrático
e solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo, como se fôssemos
20
os portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar,
mas é escutando que aprendemos a falar com eles.
Nem sempre uma visão crítica da realidade, imediatamente, conduz a uma
intervenção também crítica, mas é um começo, desde que haja clareza da necessidade
do momento .Sendo assim, Freire ( 1996, pp.73) explica:
O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor malamado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca."
21
CAPÍTULO III
Afetividade
Como o ensino não pode e não deve ser algo estático e unidirecional, devemos
lembrar de que a sala de aula não é apenas um lugar para transmitir conteúdos
teóricos; é, também, local de aprendizado de valores e comportamentos, de aquisição
de uma mentalidade científica lógica e participativa, que poderá possibilitar ao
indivíduo, bem orientado, interpretar e transformar a sociedade e a natureza em
benefício do bemestar coletivo e pessoal. Tão bem nos lembra GRISI ( 1971, pp.91):
"Toda aula, em resumo, seja qual for o objetivo a que vise, e por mais claro, preciso,
restrito, que este se apresente, tem sempre uma inelutável repercussão mais ou menos
ampla, no comportamento e no pensamento dos alunos.”
Na visão de Levin ( 2001) a criança, na contemporaneidade, está atravessada
pela urgência temporal; mal começa a andar improvisando os primeiros passos, já o
adulto está pensando em quando ela vai poder falar e bastaa articular e formar os
fonemas iniciais, que já o adulto está pensando em quando ela vai conseguir escrever,
mal consegue soletrar, é colocada para ler direito, e assim por diante, sem pausa.
Quanto mais conhecimento ela acumular e mais rapidamente, melhor condição terá
para adequarse às novas regras e competências do mercado.
Nesta busca desenfreada ao conhecimento, perguntome onde se situa a criança
que apresenta deficiência e quantas expectativas, angústias e incertezas sobre sua
22
inclusão no mercado de trabalho e na vida social ao se tornar adulto? Aprender a lidar
com o tempo desta criança é o desafio da sociedade, da família, especialistas e de
muitos educadores.
Diante do desafio de adequar a sociedade para a inclusão social, a começar na
educação, tornase necessário que profissionais especialistas possam acompanhar e
orientar com técnicas específicas o desenvolvimento de competências e habilidades,
além de informar o perfil da criança atendida, sendo comunicada aos educadores da
escola, pelo qual, está inclusa.
É imprescindível que tanto o educador quanto os profissionais envolvidos tenham
perspectivas claras e concretas sobre o que buscar nas intervenções, como intervir e
para quem encaminhar, porque a singularidade da diferença humana estende a cada
sujeito independente de seu estilo de adquirir e expressar conhecimento e sentimentos,
é preciso desenvolver um olhar especial naqueles que lidam diretamente com as
crianças deficientes. Observase no processo de inclusão que educadores que iniciam
a primeira experiência com crianças deficientes se angustiam por não alcançarem
respostas aos trabalhos de intervenção e reeducação em curto prazo. Como eu me
angustiei pelo simples fato de saber que teria uma criança deficiente em sala de aula e
não tinha respaldo teórico para amparar. Entendo que, da mesma forma que os
crianças aprendem a somar, a conhecer a natureza e a se apropriar da escrita, é
fundamental para suas vidas que conheçam a si mesmos e a seus colegas, e as
causas e conseqüências dos conflitos cotidianos.
Assim, por um lado, os sentimentos, as emoções e os valores podem ser
encarados como objetos de conhecimento como: tomar consciência, expressar e
controlar os próprios sentimentos. Talvez seja um dos aspectos mais difíceis para
23
resolução de conflitos. Por outro lado, a educação da afetividade pode levar as crianças
a se conhecerem e a compreenderem melhor; suas próprias emoções e as das pessoas
com quem interagem no dia a dia.
Trabalhando dessa maneira, por meio de situações que solicitem a resolução de
conflitos, a educação atinge o duplo objetivo de preparar as crianças para a vida
cotidiana, ao mesmo tempo que não fragmenta as dimensões cognitiva e afetiva no
trabalho com as disciplinas curriculares.
Na perspectiva de Wallon (1992), inteligência e afetividade estão integradas: a
evolução da afetividade depende das construções realizadas no plano da inteligência,
assim como a evolução da inteligência depende das construções afetivas.
Diante dos conflitos pertinentes considero que cada progresso adquirido pela
criança pode acontecer lentamente, o que significa para o educador e a família uma
postura emocional de paciência e persistência em insistir durante algum tempo em
alguns conceitos e competências .
Portanto, acredito na fundamental importância do ingresso da criança na
educação infantil, neste espaço e tempo institucionalizados na qual poderá encontrar
oportunidades de interações fora da família, o que a estimulará a socialização e
autonomia (mesmo que necessite de monitoramento de apoio).
Mas para que este ambiente possa oferecer uma inclusão de qualidade, é
necessário que profissionais especializados possam orientar os educadores
adequadamente dandolhes suporte teórico e técnico para atuarem no trabalho
pedagógico.
Por experiência, penso que o educador diretamente envolvido com a criança
deve conhecer, através dos profissionais da saúde e educação especializada o tipo de
24
deficiência, o nível da deficiência, o estilo da aprendizagem, os aspectos emocionais e
de personalidade, as relações parentais e o ritmo de aprendizagem.
No geral, diante da experiência que já possuo, as crianças com necessidades
educativas especiais se integram sem maiores problemas tanto na sala de aula quanto
na escola. Estudam, brincam, correm, e brigam como os demais. Ou seja, independente
das suas dificuldades, usufruem o mesmo contexto escolar de todos os alunos, com
todas as vantagens, fragilidades e limitações pedagógicas pertinentes ao processo
escolar.
Percebo nas dificuldades dos alunos possibilidades de desafios profissionais, no
qual a partir desses desafios poderei enriquecer a minha prática.
A discussão sobre a integração de alunos com necessidades educativas
especiais no ensino regular é polêmica, necessária e ganha corpo à medida que, por
força da lei, os sistemas de ensino estão inserindo um número cada vez maior de
crianças antes consideradas clientela do ensino especial. Anteriormente segregadas
em instituições de ensino especial, hoje continuam segregadas, só que agora dentro da
escola regular, dita para todos.
Compreender o homem numa perspectiva sóciohistórica significa retirar o foco
dos problemas dos sujeitos isoladamente. É preciso deixar claro que todos os
indivíduos se desenvolvem, com ou sem adversidades. Mas, se sabemos o que fazer
para impulsionar o desenvolvimento, para garantir o direito de apropriação do
conhecimento, para contribuir com a ruptura dos estigmas de fracasso e de
incapacidade, devemos levar este saber para as instituições escolares, onde, a cada
dia, se produzem e consolidam rótulos que incapacitam muitos alunos de exercer o seu
direito à escolarização.
25
Sem dissociar afeto e intelecto, e compreendendo o caráter históricocultural da
cognição, entendo que a deficiência é, antes de tudo, um produto social e cultural.
Ainda assim, acredito na possibilidade de mudança, trabalhando no sentido de criar
situações que não reproduzam as condições de marginalidade já cristalizadas em
nossa sociedade.
Portanto, discutir a integração das crianças no ensino regular envolve questões
tais como as diferentes concepções de deficiência, e com ela todo o problema da
avaliação, diagnóstico daqueles indivíduos que não correspondem à expectativa de
normalidade colocada pelos padrões da sociedade. Alegando que a essência do
homem é social, Vygotski (1991,pp.99) enfatiza o papel fundamental do processo
ensino/aprendizagem e das interações sociais para o desenvolvimento humano: "[...] o
aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através
do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que a cercam”. Assim sendo,
acredito que o desenvolvimento humano se dá nas e pelas interações sociais.
Sem a chance de interagir socialmente e o rompimento dos estigmas de
fracasso, pessoas com algum tipo de deficiência serão identificadas como incapazes,
improdutivas e, conseqüentemente, excluídas da escola, do mercado de trabalho, da
sociedade.
Acredito que, ao respeitar na criança o desenvolvimento que esta adquiriu
através de suas experiências de vida (conhecimentos já assimilados); idade e
desenvolvimento mental, são imprescindíveis. A meu ver, a relação estabelecida entre
professores e alunos constitui o cerne do processo pedagógico. É impossível
desvincular a realidade escolar da realidade de mundo vivenciada pelas crianças, uma
vez que essa relação é uma “rua de mão dupla”, pois ambos (professores e alunos)
26
podem ensinar e aprender através de suas experiências. Assim sendo, Gadotti
(1999,pp.2) explica:
"Para por em prática o diálogo, o educador não pode colocarse na posição ingênua de quem se pretende detentor de todo o saber; deve, antes, colocarse na posição humilde de quem sabe que não sabe tudo, reconhecendo que o analfabeto não é um homem “perdido”, fora da realidade, mas alguém que tem toda a experiência de vida e por isso também é portador de um saber.”
O professor de educação infantil não pode partir para a homogeneização e
simplesmente ignorar as particularidades das crianças. É necessário que entenda a
respeitar as especificidades das crianças, sendo que cada uma é dona de uma forma
própria de ver o mundo e a si mesma.
Neste sentido, com a educação infantil devese primeiramente partir para uma
rica observação e continuar com seu olhar sensível a tudo que passa ao redor,
buscando caracterizar a identidade do grupo e individual, para assim poder
compreender suas crianças de forma a propor um planejamento flexível que contemple
o que elas questionam, desejam, querem saber e conhecer.
Depois do meu ingresso na universidade ( PROESF), foi que o mundo real se
abriu diante de mim, e o singelo mundo da minha sala de aula tornou se um desafio . A
educação é algo relacionado ao movimento, e é este movimento entre teoria e prática
que eu buscava compreender. Ficou muito claro que não bastava ser uma educadora
competente, era preciso fundamentação teórica e compromisso político. Ou seja, não
basta que se ensine a criança a ler, a escrever, a contar. É necessário que a ensine
também a falar e a ouvir. Mas este movimento, num sentido pedagógico, significa
trabalhar a democracia; construindoa, exercitandoa. Mas estas mesmas atitudes
27
servem especialmente para os próprios educadores que estão cada vez mais
comprometidos com a educação, a darem os primeiros passos para uma transformação
em nossa sociedade.
Nesta caminhada na graduação posso dizer que fiz minha própria aprendizagem,
ensinando e aprendendo. Neste raciocínio Gadotti ( 2004, pp.134) diz: "Não é suficiente
"melhorar" a escola burguesa para que esta cumpra seu destino histórico, como
instituição social e política, e se engaje na construção do futuro e não apenas
reprodução do passado”.
28
CAPÍTULO IV
A ESCOLA QUE É PARA TODAS AS CRIANÇAS
O desenvolvimento complicado pela deficiência constitui um processo criador ( orgânico e psicológico) de construção da personalidade da criança, sobre a base da reorganização de todas
as funções de adaptação, da formação de novos processos, quer dizer, superestruturadores, substituidores e equilibradores, originados
pela deficiência, e do surgimento de novas vias de rodeio para o desenvolvimento
(Vygotsky, 1989)
A inclusão cresce a cada ano e, com ela, o desafio de garantir uma educação de
qualidade para todos. E é na escola, que os alunos aprendem a conviver com as
diferenças e se tornam cidadãos solidários, mas para isto acontecer, a participação e
conscientização do professor é essencial.
Percorrer pelo caminho da história da deficiência e suas várias representações
sociais, é uma forma de entender e compreender porque estes indivíduos foram
afastados do nosso convívio, não sendo possível conhecêlos. No imaginário das
pessoas é bastante forte as representações e categorização generalizada destas
pessoas, em que um cego é igual em sua deficiência a um deficiente auditivo ou um
indivíduo com deficiência física. O tratamento é dado da mesma maneira.
No século XVII, na Europa, a internação dessas pessoas era um grande
movimento, um período de segregação e categorização dos indivíduos, internando a
loucura pela mesma razão que a devassidão e a libertinagem . Os indivíduos excluídos
eram alienados, separados em grupos, entre os quais, indigentes, vagabundos e
29
mendigos; prisioneiros; pessoas ordinárias; mulheres caducas; velhas senis ou
enfermas; velhas infantis; pessoas epilépticas; inocentes malformados e disformes,
pobres bons; moças incorrigíveis. (Foucault, 2002)
Uma das grandes incertezas vivenciadas pela escola atualmente é a inclusão de
crianças com necessidades especiais junto à classe ditas “normais”. São grandes as
dúvidas e receios por parte da maioria dos educadores. A palavra inclusão é muito
falada, mas pouco compreendida. As diferentes formas de desenvolvimento do
processo inclusivo ainda são fatores desconhecidos pela maioria dos professores que
tentam trabalhar da melhor maneira possível, mas totalmente desamparados em termos
de referenciais não só dentro da escola como também fora dela.
A criança com deficiência é reconhecida por apresentar transtornos na
aprendizagem, manifestações de conduta, problemas emocionais produzidas pela
interação entre suas características e as dificuldades impostas pelo meio físico e social.
Em linhas gerais, isso quer dizer que a criança deficiente, apresenta algum
problema de aprendizagem ao longo de sua escolarização, que exige uma atenção
mais específica e maiores recursos educacionais do que os necessários para os
colegas de sua idade.
Atualmente o capital é tido como o mecanismo propulsor da humanidade, e
produzir para o capital consiste na melhor forma de atuar dentro da sociedade.
Vivese hoje em uma realidade que dá mais ênfase à questão do mercado –
competitivo e discriminatório do que à problemas sociais. Isso esclarece a segregação
e exclusão de uma parcela significativa da população mundial representada pelos
idosos, desempregados, negros, mulheres, deficientes, etc. que são considerados em
muitos casos um “peso para o sistema”.
30
É em meio a este contexto que algumas alterações no tratamento de pessoas
portadoras de deficiência começam a acontecer. De conceitos e versões grosseiras
sobre deficiência e seus “tratamentos” no passado, lentamente a mobilização social
passa a oferecer novas concepções, que geram outras atitudes e valores éticos, o que
pode produzir novas relações com portadores de necessidades especiais.
Segundo SASSAKI (1997,pp.27):
Os conceitos são fundamentais para o entendimento das práticas sociais. Eles moldam nossas ações. E nos permitem analisar nossos programas, serviços e políticas sociais, pois os conceitos acompanham a evolução de certos valores éticos, como aqueles em torno da pessoa portadora de deficiência .(...)
Portanto, a trajetória das pessoas com necessidades educativas especiais, ou
seja, as pessoas portadoras de deficiência, é marcada pela exclusão, pois elas não
eram consideradas pertencentes à maioria da sociedade, eram abandonadas ou
mortas. Depois, iniciouse o atendimento em instituições especializadas, sendo assim
uma prática segregativa. Em seguida, passouse à prática da integração social e,
recentemente à prática da inclusão social.
O modelo de integração social nada mais é do que a busca de uma inserção do
deficiente a uma sociedade que lhe exige certas capacidades para a sua sobrevivência.
SASSAKI (1997,pp.34), considera que a integração: (...)" tem consistido no esforço de
inserir na sociedade pessoas com deficiência que alcançaram um nível de competência
compatível com os padrões sociais vigentes."(...) desde que ele esteja de alguma forma
capacitado a superar as dificuldades que irá encontrar.
31
A integração social não toma a sociedade como responsável principal neste
processo, pois é o portador da deficiência que deverá adequarse à estrutura oferecida,
ou seja, deverá moldarse aos mais diversos procedimentos e papéis sociais que lhe
forem exigidos, para que possa ser aceito.
No que se refere à Inclusão, partese da premissa de uma mudança na
sociedade como primeira etapa para que o portador de necessidades especiais, seja
aluno ou não, possa construir seu desenvolvimento e desempenhar o seu papel de
cidadão. O conceito de Inclusão defende a idéia de que todas as crianças podem
aprender e fazer parte de uma vida escolar e comunitária.
Criar uma realidade inclusiva resulta na mudança de toda a sociedade para que
esta possa atender as necessidades de cada indivíduo.
A inclusão é para SASSAKI (1997,pp.41):
(...) um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas ainda excluídas e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos.
Relacionando o processo inclusivo à instituição ( escola) definir se ela será
inclusiva quando procurar educar todos os alunos em salas de aula regulares, isto
significa permitir a educação e a freqüência de todos na escola regular, bem como
oferecer a todos uma série de desafios e oportunidades que sejam adequadas às suas
habilidades e necessidades.
O primeiro passo para a escola ser inclusiva é o reconhecimento e a aceitação
das diferenças individuais, pois as necessidades educativas especiais pressupõe outras
32
estratégias de ensinoaprendizagem que não as usadas rotineiramente com a maioria
dos alunos.
A escola Inclusiva se adapta para que todas as crianças, deficientes ou não
tenham as mesmas oportunidades de aprendizagem. Incluir é respeitar e aceitar a
individualidade, as diferenças de cada um e aprender com elas. Porém, aceitar e
respeitar não é suficiente. É necessário criar condições para que a inclusão aconteça
para todos. Dentro desse processo existem inúmeras formas de trabalho junto aos
alunos especiais.
A minha proposta, enquanto professora de educação infantil, é buscar nos jogos
e brinquedos a estimulação de relações interpessoais mais dinâmicas e livres de
preconceitos entre alunosalunos e professoresalunos .
Assim sendo, ensinar na perspectiva inclusiva, significa ressignificar o papel do
professor, da escola, da educação e de práticas pedagógicas que são usuais no
contexto excludente do nosso sistema de ensino. Para isto, é necessário a interação
dos professores entre si, estudando juntos, estando abertos a colaborar, com seus
pares, em busca de novos caminhos pedagógicos para inclusão. Particularmente,
acredito que os conteúdos curriculares são tantos que nos tornam: alunos, professores
e pais, reféns de um programa que abre pouco espaço para trabalhar os talentos das
crianças. Mais do que criar condições para os deficientes, a inclusão é um desafio que
implica mudar a escola como um todo, no projeto pedagógico, na postura diante dos
alunos, na filosofia.
Por experiência e já descrita neste texto, posso assegurar que ainda não
estamos preparados para a nova responsabilidade, mas também considerome
suficientemente capaz de trilhar este novo caminho, afinal, as crianças não podem ficar
33
esperando a escola ou os professores se prepararem, elas já estão aí, prontas para
freqüentar a instituição, e no mínimo, temos que estar prontos para a diversidade, para
estimular a prática de responsabilidade social.
34
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fazer da diversidade um recurso de ensino significa mostrar que todos são iguais porque todos
podem aprender... Guiomar Namo de Mello (Fundação Victor Civita)
Durante todos estes anos de Magistério, acreditava ter visto tudo em relação a
criança, a docência, a trabalhar em equipe.
Nestes anos na Universidade (PROESF), percebi que a observação e o registro
foram as marcas mais fortes de todos estes anos de prática.
Nesta perspectiva, ter acesso a teoria, depois de anos de prática, oportunizou
me uma reconstrução do conhecimento, a habilidade da reflexão de meu cotidiano
diante do intenso ritmo das mudanças de nossa sociedade.
Aprendi muito sobre a criança, seu histórico, suas necessidades e a importância
da aproximação com o contexto social de cada turma.
Muitas vezes impressioneime comigo mesma diante de cada situação surgida
em sala de aula, em que me pegava refletindo criticamente sobre uma decisão ou um
acontecimento, sobre aquilo que li, ou ouvi em palestras. E quantas discussões dentro
da escola, com os colegas de trabalho, sobre determinado autor ou suas obras. A
curiosidade começa com o professor, que é a etapa básica para que uma prática
investigativa se estabeleça, e que é uma qualidade fundamental a ser estimulada junto
aos alunos. Senti que a flexibilidade, a polivalência, a capacidade de continuar
aprendendo para adaptarse às mudanças no trabalho e nas práticas sociais, na
35
tentativa de construir sentido no mundo e em minha própria vida, fazem parte do
currículo do professor.
Neste mundo competitivo, as informações renovamse com rapidez e a formação
é essencial em qualquer profissão, principalmente na educação, que nos delega a
função de construir conhecimentos e reestruturar saberes. Não basta obter a
informação, mas saber como processála.
Aprendi, produzi, sobrevivi.
Envolvi e convivi com situações concretas. Entendi que a idéia é que o professor
não ensina sozinho, também depende do aluno, e sobretudo, de uma conexão, uma
verdade comum entre os dois.
Esta verdade, mostroume que as diferenças existem e são palpáveis. O termo
normais ou iguais pressupõe superioridade. Uma superioridade camuflada pelo medo
do novo e do desconhecido, alimentada pela ignorância.
Valorizar as peculiaridades de cada aluno, atender a todos na escola, incorporar
a diversidade, sem nenhum tipo de distinção. Quanto às diferenças, e não digo apenas
às relacionadas aos deficientes, não devem ser só aceitas, mas também acolhidas
como subsídio para completar o cenário escolar.
Estudar e entender a Educação Especial, disciplina com a qual melhor
identifiqueime, fez perceber, que o que vale, é oferecer atividades complementares,
adotar práticas criativas em sala de aula, adaptar o projeto pedagógico, rever posturas
e construir uma nova filosofia educativa.
36
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