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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DO LAZER
"A INFLUÊNCIA DOS AGENTES SOCIAIS NOS INTERESSES FÍSICO-ESPORTIVOS DO LAZER"
0/ívia Cristina Ferreira Ribeiro
CAMPINAS 1997
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0/ívia Cristina Ferreira Ribeiro
"A INFLUÊNCIA DOS AGENTES SOCIAIS NOS INTERESSES FÍSICO-ESPORTIVOS DO LAZER"
Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas.
Orientador: Prof Dr. Antonio Carlos Bramante.
CAMPINAS 1997
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA- FEF
R354i Ribeiro, Olívia Cristina Ferreira
A influência dos agentes sociais nos interesses Jlsico-espmti-vos do lazer.-- Campinas, SP: [s. n.], I 007.
Orientador: Antonio Carlos Bramante Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campi-
pinas, Faculdade de Educação Física.
1. Lazer. 2. Família. 3. Escolas. 4. Trabalho. 5. Socialização. 6. Comunicação de massa. I. Bramantc, Antonio Carlos. 11. Uni-versidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física. lll. Título.
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COMISSÃO JULGADORA:
Prof. Dr. Antonio Carlos Bramante
Profa. Dra. Heloísa Turini Bruhns
Prof. Dr. Paulo de Salles Oliveira
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Este exemplar corresponde à redação
final da Dissertação defendida por
Olívia Cristina Ferreira Ribeiro e
aprovada pela Comissão Julgadora em
22 de agosto de 1997.
o.ta, :z-
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Dedico este trabalho à minha mãe "Dona Rosa" por acreditar sempre em mim ...
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AGRADECIMENTOS
Gostaria de deixar aqui minha sincera gratidão e afeto à todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para este trabalho, especialmente:
Ao orientador e amigo, Antonio Carlos Bramante, o "Brama, o número um", pela orientação e compreensão em todas as fases deste estudo.
Aos professores da pós, Helô, Paulinho e Marcellino - o "Marça", por todas as contribuições.
A todos os praticantes de atividades físicas participantes desta pesquisa, por permitirem a realização das entrevistas.
À Cris, pela construtiva convivência.
Às amigas do "antes e do depois" do mestrado: Maria Cláudia, Elisete, Édila, Bel e Kátia, por serem amigas ...
Aos amigos "do lado de cá" do mestrado que sempre deram a maior força: Fátima, Mônica e Lutti, que ainda colaborou com a revisão gramatical.
À Dilze, por todas as discussões e dicas "sociológicas".
À família Ribeiro, pela força "mineira", especialmente ao Felinho, pelo "summary".
Aos ex-professores e amigos, pelo "eterno" estímulo e carinho, Tati, Mauro, Lílian e Gobbi.
Ao CNPq e ao FAEP pelo auxílio financeiro.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃ0 .......................................................................................... 1
2. REVISÃO DE LITERATURA. ................................................................ 4
2.1. O Lazer como uma dimensão da vida humana ..................................... 5
2.2. A Psicologia Social do Lazer. .............................................................. 1 O
2.3. Socialização no lazer: um processo educativo .................................... 11
2.4. Os Agentes de Socialização no Lazer ................................................. 18
2.4.1. A Família ................................................................................... 19
2.4.2. A Escola .................................................................................... 23
2.4.3. Os Meios de Comunicação de Massa ....................................... 27
2.4.4. O Trabalho ................................................................................ 35
3. OS CAMINHOS DA PESQUISA ........................................................ 42
3.1. Coleta de Dados .................................................................................. 43
3.2. Tratamento dos Dados ........................................................................ 46
4. CONSIDERAÇÕES SOBRE A PESQUISA DE CAMPO
E RECOMENDAÇÕES FINAIS .............................................................. 49
ANEXOS ..................................................................................................... 65
ANEXO 1- ROTEIRO DE ENTREVISTA. .......................................... 66
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 69
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LISTA DE FIGURA
1 . Processo de Socialização no Lazer ............................................................. 15
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RESUMO
Este estudo buscou relacionar o processo de socialização -aprendizagem dos valores culturais de uma sociedade - com os hábitos de lazer dentro dos interesses físico-esportivos (Dumazedier, 1980). É reconhecido que os agentes socializadores, ou seja, os elementos ativos que participam do processo de socialização, têm grande influência no comportamento no lazer.
Baseando-se no referencial teórico da Psicologia Social do Lazer (lso-Ahola, 1980), esta pesquisa teve como objetivo verificar como se dá a formação de hábitos de lazer ligados aos interesses culturais físico-esportivos em adultos, verificando-se o nível de influência de cada um dos agentes socializadores tais como a família, a escola, o trabalho e os meios de comunicação de massa.
A metodologia caracterizou-se por uma combinação de pesquisa bibliográfica e exploratória de campo. Nesta, foram realizadas 34 entrevistas semi-estruturadas, com adultos entre 25-45 anos de idade, que praticavam atividades físicas e esportivas, individuais e coletivas, oferecidas pelos setores público e privado na cidade de Campinas, São Paulo. Os dados foram tratados através da análise de conteúdo (Bardin, 1977). Os participantes desta pesquisa citaram os grupos de referência (pares) como os agentes mais significativos na escolha da atividade física e na continuidade da sua prática. Os outros agentes sociais também tiveram algum tipo de influência na participação, porém de forma não tão significativa. Além dos agentes mencionados, a motivação intrínseca foi também um dos fatores que levaram os entrevistados a criarem o hábito da prática da atividade física/esportiva.
As conclusões deste estudo apontam para a complexidade do tema, recomendando-se a necessidade de se realizar novas pesquisas para melhor compreender os fatores que influenciam o comportamento das pessoas no lazer.
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SUMMARY
This study sought to relate the process of socialization - the learning of a society's cultural values - to the leisure habits in the physical sportive interests (Dumazedier, 1980}. The socializing agents, the active elements that participate in the process of socialization, have a great deal of influence in the behavior related to leisure.
Based on the theoretical reference of the Social Psychology of Leisure and Recreation (lso-Ahola, 1980), this research had as its objective verify how the formation of leisure habits in the adults has taken place, especially in the cultural physical sportive interests, where it was verified the levei of influence of each socializing agent like family, school, work and mass communication means.
The study characterized itself by a combination of bibliographic and field exploratory research. In the latter, it was carried out 34 semi-structured interviews with adults who practiced physical and sportive activities, individually or collectively, offered by the public and private sectors. The data were treated through the analysis of content (Bardin, 1977). The participants of this research mentioned the groups of reference (peers) as the most significant agent in the choice of the physical activity as leisure option and in the continuity of its practice. The other social agents also had some participation for the interviewees. Besides mentioned agents, the intrinsic motivation was one of the factors that led the interviewees to create the habit of the physical activity for their leisure practice. The conclusions drawn from this study point to the complexity of the issue and to the necessity of conducting other researches in order to better understand people's behavior in the leisure time.
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INTRODUÇÃO
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1. INTRODUÇÃO
Os estudos relacionados ao comportamento do brasileiro no lazer são
muito escassos. A análise de determinadas variáveis, como a evolução do
processo político e econômico, o nível de educação da população, o processo
de urbanização crescente, a deteriorização ambiental, entre outros, mostra o
quanto o estudo da dinâmica dos fatos sociais no Brasil está defasada e o
quanto esta situação poderá concorrer para um melhor entendimento do
comportamento do ser humano no lazer (Bramante, 1992).
Apesar do lazer envolver dimensões como o tempo, as atitudes e as
atividades, é necessário buscar uma visão mais abrangente desse tema,
relacionando-o com as outras esferas da vida. Kelly (1987) e lso-Ahola (1980)
enfatizam que o lazer deve ser pesquisado, levando-se em conta o modo como
este se relaciona com as instituições sociais, tais como a família, escola,
comunidade, estado e grupos de referência (pares). Para uma abordagem
mais completa, recomenda-se relacioná-lo, também, com os ambientes de
trabalho, bem como com a influência dos meios de comunicação de massa.
Todas estas instituições sociais funcionam como agentes socializadores, ou
seja, como elementos ativos que participam no processo de socialização
(aprendizagem dos valores culturais de uma sociedade). Estes agentes
influenciam o comportamento no lazer e, conseqüentemente, nas escolhas e
hábitos dessa dimensão da vida humana. Portanto, a decisão de se engajar
numa atividade de lazer não é somente uma questão pessoal. As escolhas e
preferências a certas formas de lazer são influenciadas por outros agentes em
uma extensão variável (lso-ahola, 1980).
Assim, o presente estudo teve como objetivo verificar como se dá a
formação de hábitos de lazer no adulto, especificamente dentro dos interesses
culturais físico-esportivos (Dumazedier, 1980), em face do nível de influência
de cada um dos agentes sociais tais como a família, a escola, o trabalho e os
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meios de comunicação de massa, constatando-se também se houve
predominância de um ou mais sobre os outros.
O segundo capítulo deste trabalho está subdividido em quatro
subintens: o primeiro trata do lazer, enquanto uma dimensão da vida humana,
e nele foram discutidos alguns conceitos de lazer dentro de abordagens como
a sociológica e a psicossociológica.
O segundo subitem trata da Psicologia Social do Lazer, enquanto uma
forma de se estudar o comportamento no lazer, sendo este o referencial
teórico deste estudo.
O terceiro subitem aborda o processo de socialização no lazer, tendo
em vista o processo educativo e o quarto,uma breve retrospectiva dos agentes
de socialização no lazer.
Neste quarto subitem, ainda do segundo capítulo, foi abordado cada
agente social deste estudo tais como a família, a escola, os meios de
comunicação de massa e o trabalho. Discutiu-se, ainda, as características
destes agentes bem como as suas relações no processo de socialização no
lazer, enfatizando-se os interesses físico-esportivos.
No terceiro capítulo foram detalhados os procedimentos metodológicos
da pesquisa e, no quarto, as considerações e discussões sobre as entrevistas,
apontando os resultados finais do estudo e recomendações para trabalhos
futuros.
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REVISÃO DE LITERATURA
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2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. O lazer como uma dimensão da vida humana
A compreensão do termo lazer vem sendo objeto de várias
interpretações nos últimos 20 ou 30 anos. Alguns autores o relacionam com o
fator tempo, outros com a atitude, outros ainda com o espaço e com as
atividades. O lazer ainda pode ser conceituado dentro de diferentes
perspectivas, entre elas a abordagem sociológica e a psicologia social.
Dos autores mais aceitos no Brasil, que conceituam o lazer como
tempo (liberado do trabalho) e as atividades, pode-se destacar o sociólogo
francês Jofre Dumazedier. Para este autor, o lazer "é um conjunto de
ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para
repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para
desenvolver sua formação desinteressada, sua participação social voluntária,
ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das
obrigações profissionais, familiares e sociais (1980, p. 29)". Apesar deste
conceito ser fonte de referência nos estudos do lazer no Brasil, ele é, de certa
forma, criticado devido às funções que este autor menciona para o lazer e,
ainda, por não considerar o lazer enquanto fenômeno sócio-cultural. 1
Entre os autores brasileiros, Ethel Bauzer Medeiros (1971) conceitua o
lazer como "o espaço de tempo não comprometido, do qual podemos dispor
livremente, porque já cumprimos nossas obrigações de trabalho e de vida
(p.3)". Como vários autores, Medeiros salienta que as funções do lazer são o
repouso, a diversão e o desenvolvimento pessoal.
Para Stanley Parker (1978), sociólogo inglês, há três formas de
conceituar o lazer. Uma delas é subtrair das vinte e quatro horas do dia os
1 Como, por exemplo, as considerações tecidas pela autora Maria Isabel F ALEIROS. Repensando o Lazer. Perspectivas, São Paulo, 3, 18,1980.
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períodos que não são de lazer: trabalho, sono, alimentação, atendimento às
necessidades fisiológicas, etc. Segundo este autor, este tipo de conceito pode
ser considerado como "residual" e é evidente que há nisso campo para
divergências: "o que deveria ser eliminado das vinte e quatro horas para
deixar nelas apenas o lazer?" Parker completa exemplificando: "em um
ambiente amistoso e confortável, o tempo ocupado na alimentação não
poderia ser vivido como lazer? (p.20)". Portanto, esta primeira forma de
conceituar o lazer considera principalmente o fator tempo.
A segunda forma de se conceituar o lazer, na visão deste autor, é
considerar a qualidade da atividade a que alguém se dedica. Para Parker, são
definições apoiadas por escritores religiosos e filosóficos que concebem o
lazer como atitude, sendo esta mental, espiritual, da alma, como o caso de
Josef Pieper. Ou, ainda, consideram as qualidades de liberdade, como é o
caso do sociólogo Touraine, citado por Parker, que concebe o lazer como
"liberdade de regras e de modelos de comportamento aceitos ou socialmente
impostos (p.20)".
O terceiro tipo de conceito demonstrado por Parker tenta combinar os
dois anteriores. Neste conceito "é considerado o componente residual ou de
tempo, acompanhado de uma afirmação normativa sobre o que o lazer deveria
ser (p.20)". Ao exemplificar este tipo de conceito, Parker mostra aqueles em
que o tempo livre do trabalho e de outras obrigações é necessariamente
preenchido com atividades prazerosas com o objetivo de descansar, divertir e
se desenvolver.
Parker enfatiza que uma compreensão adequada de lazer exige que
consideremos tanto as suas dimensões de tempo como as de atividade.
Completa que "a quantidade de tempo de que dispomos para o lazer determina
o que podemos fazer neste período - se é possível apenas inserir um breve
intervalo em um horário sobrecarregado, ou empreender um longo processo de
aquisição de nova aptidão lúdica, tal como tocar um instrumento musical ou
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viajar para alguma parte longínqua do mundo." E alerta que é inadequado
considerar o lazer simplesmente como ''tempo livre", pois a disponibilidade de
tempo é o que acontece, por exemplo, com as pessoas que estão
desempregadas ou são aposentadas e têm baixos rendimentos. Elas,
geralmente, ''têm muito tempo de folga, mas é pouco provável que considerem
estar gozando de um verdadeiro lazer, pois lazer imposto é realmente uma
contradição (p.21 )".
Parker mostra, assim, que as dimensões de tempo, atividade e atitude
devem ser combinadas para que melhor se compreenda a conceituação de
lazer.
Na mesma perspectiva que Dumazedier, Renato Requixa (1980), coloca
que o "lazer é uma ocupação não obrigatória, de livre escolha do indivíduo
que a vive e cujos valores propiciam condições de recuperação
psicossomática e de desenvolvimento pessoal e social (p. 35)". Assim, também
aborda funções que o tempo de lazer exerce para a pessoa.
Nelson Carvalho Marcellino (1990) entende o lazer "como a cultura -
compreendida no seu sentido mais amplo - vivenciada (praticada ou fruída) no
tempo disponível (p.31 )". Este autor salienta que "o traço definidor no lazer é o
aspecto desinteressado dessa vivência", buscando somente a satisfação
provocada pela situação. Neste tempo disponível, a pessoa pode optar por
uma atividade prática, uma ocupação ativa ou pelo não-uso do tempo em
atividades, ou seja, a possibilidade de contemplação. Ao considerar a cultura,
este autor evidencia a importância do lazer enquanto dimensão sócio-cultural,
contextualizando-o na sociedade contemporânea. Marcellino completa que,
atualmente, os autores, ao conceituar o lazer, relacionam os dois aspectos, o
tempo disponível {liberado das obrigações) e a atitude.
Dentro da perspectiva de atitude/estado de espírito, Josef Pieper (1963)
aponta que o lazer é uma atitude da mente e uma condição da alma que
fomenta a capacidade de perceber a realidade do mundo. Este autor acredita
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que a cultura depende, em sua própria existência, do lazer e este, por sua vez,
não se concretiza, a menos que seja através de uma duradoura e viva ligação
com o "cultus", isto é, com o culto divino.
Segundo Marcellino, o lazer como atitude é "caracterizado pelo tipo de
relação verificada entre o sujeito e a experiência vivida, basicamente a
satisfação provocada pela atividade (p. 29)". Sendo assim, "qualquer atividade
pode ser lazer, até mesmo o trabalho".
Ainda dentro desta visão de lazer, o psicólogo Mihaly Csikszentmihaly
(1991) desenvolveu uma teoria sobre a experiência máxima, fundamentada no
conceito de "fluir - estado em que as pessoas estão de tal maneira
mergulhadas em uma atividade que nada mais parece ter importância; a
experiência em si é tão agradável que as pessoas a vivenciariam mesmo
pagando um alto preço, pelo simples prazer de senti-la (p. 20)". Segundo este
autor, as atividades que oferecem satisfação são, muitas vezes, as que foram
criadas com este propósito, como os jogos, esportes, formas artísticas e
literárias. Porém, "o trabalho produtivo e as necessárias rotinas da vida diária
também podem ser satisfatórias (p.82)". Assim, qualquer atividade dentro
desta teoria, pode ser lazer, desde que esta proporcione uma "experiência
máxima", ou seja, satisfação ao executante.
Antônio Carlos Bramante (1994), baseando-se em Godbey (1985)
também acredita que o lazer diz respeito à atitude e aponta que o "lazer se
traduz por uma dimensão privilegiada da expressão humana, materializada em
uma experiência pessoal criativa, de prazer, que não se repete no tempo. Ela é
determinada, predominantemente, por uma grande motivação intrínseca e
realizada dentro de um contexto marcado pela percepção de liberdade. É feita
por amor, transcende a existência, e se aproxima a um ato de fé. Sua vivência
está relacionada diretamente às oportunidades de acesso aos bens culturais,
os quais são determinados, via de regra, por fatores sócio-econômicos e
influenciados pelo meio ambiente ". Completa este autor que a experiência de
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lazer "é uma síntese da combinação de três variáveis principais: a
possibilidade da ampliação do chamado "tempo livre", a oportunidade de
acesso a uma gama variada de espaços específicos e não específicos de
lazer, e a sensação de um estado de espírito quase inexplicável de prazer e
realização pessoal (p.1 )".
John Kelly, ainda numa visão sociológica, conceitua o lazer tomando
como referência duas dimensões: diferenciação do trabalho/ liberdade de
ação e orientação social. Em um dos seus estudos, em que procurou fornecer
elementos mensuráveis para verificar se uma atividade era ou não lazer, este
autor desenvolveu uma tipologia, que distingue as orientações sociais em
relação ao papel do trabalho e o papel das outras instituições sociais (1972,
apud Kelly, 1974). O primeiro tipo, denominado pelo autor de Lazer
Incondicional, é aquele em que a atividade é escolhida para o próprio benefício
do indivíduo, independente do trabalho e é livremente escolhida. O segundo,
Lazer Coordenado, é relacionado ao trabalho na forma ou conteúdo, mas não
requerido pelo trabalho. A forma da atividade é relacionada ao trabalho, mas a
pessoa é livre para engajar-se ou não. Um exemplo seria um professor que
aproveita o seu tempo livre para ler o material necessário para preparação da
aula. Já o terceiro, Lazer Complementar, é independente do trabalho na
forma, conteúdo e necessidade. A atividade pode ser complementar ao
trabalho por ser associada às expectativas do papel social (relacionada à
posição social ou status na comunidade e papéis familiares) ou compensatória
do trabalho. O quarto, denominada pelo autor de Atividade Obrigatória, não é
lazer, mas inclui atividades solicitadas pelo trabalho e que devem ser
realizadas para manter a si próprio ou dependentes. Mesmo não relacionando
o fator ''tempo", este está intimamente relacionado com a participação em tais
atividades.
Segundo Seppo lso-Ahola (1980), na perspectiva da psicologia social,
lazer pode ser conceituado objetivamente ou subjetivamente. "Objetivamente,
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o lazer é o tempo depois do trabalho. Subjetivamente, lazer denota um estado
subjetivo da mente. Tempo livre é empregado para referir aos aspectos
quantitativos de tempo após o trabalho e lazer para os aspectos qualitativos do
'tempo-livre' e atividades executadas nele (p. 8)". Este autor acredita que a
qualidade das experiências de lazer, durante as horas de não-trabalho, podem
ser melhoradas, ampliando a liberdade percebida e a motivação intrínseca da
pessoa. E completa que "lazer é um estado subjetivo da mente experimentado
enquanto um indivíduo é engajado em atividades durante o tempo livre ou nas
horas do não-trabalho (p. 9)".
Esta revisão de literatura enseja diversas taxionomias, tais como as
dimensões tempo/atividade/atitude abordados pelas vertentes sociológica,
psicológica,etc. Para fins deste estudo, será adotado o conceito da psicologia
social do lazer proposto por lso-Ahola (1980).
2.2. A Psicologia Social do Lazer
A psicologia social, segundo Lane (1983), "estuda a relação essencial
entre o indivíduo e a sociedade, esta entendida historicamente, desde como
seus membros se organizam para garantir sua sobrevivência até seus
costumes, valores e instituições necessários para a continuidade da sociedade
(p. 10)". Portanto, estuda o comportamento de indivíduos no que ele é
influenciado socialmente.
Num outro trabalho, esta autora especifica que a psicologia social tem
por objetivo conhecer o indivíduo no conjunto de suas relações sociais, tanto
naquilo que lhe é específico como naquilo em que ele é manifestação grupal e
social.
lso-Ahola (1980), apesar de pertencer a uma outra linha dentro desta
área de estudo, também enfatiza que a influência social é o conceito chave na
análise da psicologia social.
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Especificamente, a psicologia social do lazer e da recreação vem
enfatizando como os sentimentos, pensamentos e comportamentos de um
indivíduo são influenciados pelos sentimentos, pensamentos e
comportamentos de outras pessoas (lso-ahola, 1980). Este ramo de estudos
científicos do lazer tem se preocupado, também, com como as pessoas
formam hábitos e atitudes no lazer e como estes são alterados por influência
de outros indivíduos (lso-ahola, 1987).
Segundo este mesmo autor, para conceituar lazer dentro da perspectiva
da psicologia social, é indispensável incluir dois elementos-chave: um
componente individual e um componente de influência social. Este autor
enfatiza ainda que "o seu foco situa-se na interação individual e na dinâmica
com outros indivíduos, grupos ou culturas durante a experiência de lazer
(p.18)". Ao mencionar esta interação, este autor alerta que ela é dinâmica e,
nela, o indivíduo é, simultaneamente, a causa e a consequência do ambiente
social. Ou seja, aborda a questão de que, se a pessoa influencia e é
influenciada por outras pessoas, ela e o ambiente estão sempre em mudança.
Esta área de estudos utiliza ainda uma abordagem histórica, pois, "o
comportamento social não existe num tempo vácuo e consequentemente não
pode ser adequadamente analisado sem considerar seu passado, seu
contexto histórico (Gergen, 1973, apud lso-ahola, 1980, p. 18)".
Assim, esta linha de estudos do lazer inclui também a questão dos
padrões aprendidos culturalmente, abordada no próximo tópico.
2.3. Socialização no lazer: um processo educativo
"A socialização é um processo que envolve a aprendizagem de normas
de comportamento e valores em um grupo, comunidade e sociedade a qual o
indivíduo pertence" (lso-ahola, 1980, p. 30). Muitos autores enfatizam que o
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foco central do processo de socialização está na interiorização da cultura da
sociedade da qual o indivíduo faz parte. Assim, a socialização é, antes de
mais nada, aculturação, isto é, aquisição e interiorização das maneiras de
atuar, pensar, agir, sentir, próprias da sociedade de que o indivíduo faz parte
{Thines & Lampeeur, 1984). Portanto, é através da socialização que o
indivíduo aprende a viver em sociedade, conforme as normas colocadas por
sua cultura.
Finalizando o entendimento do termo socialização, Guy Rocher {apud
Lakatos, 1977) complementa que "socialização é o processo pelo qual ao
longo da vida a pessoa aprende e interioriza os elementos sócio-culturais do
seu meio, integrando-os na estrutura de sua personalidade sob a influência de
experiências de agentes sociais significativos, e adaptando-se assim ao
ambiente social em que deve viver (p. 87)".
Pode-se concluir, então, que o processo de socialização é um processo
educativo, de aprendizagem dos padrões culturais de uma sociedade. E
apreender estes padrões acaba por ser uma exigência da vida em sociedade.
Para viver na coletividade e não ser "marginalizado" por ela, é necessário
seguir tais normas.
Durkheim (1978) enfatiza esta questão. Este autor afirma que "é uma
ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos como queremos. Há
costumes com relação aos quais somos obrigados a nos conformar (p. 38)".
Completa que ao desrespeitar estes costumes, sofreremos a consequência
disso. Por outro lado, adverte Durkheim, tais costumes e idéias "não fomos
nós, individualmente que os criamos. São o produto da vida em comum e
exprimem suas necessidades (p. 38)". Necessidades estas que estão sempre
se transformando, já que a vida do homem em sociedade é dinâmica.
lso-Ahola (1980) mostra que, ao aprender e internalizar tais elementos
da sociedade, espera-se que o indivíduo concorde com eles, mas "é
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importante notar que as normas são estabelecidas pelo consenso e são
formadas pelo ambiente social, isto é, são mutáveis e variáveis (p. 130)".
Cornik & Savoia (1989) apontam que as pessoas irão agir também,
conforme os papéis sociais (função ou status que possui num grupo social)
que desempenham como por exemplo um pai, uma mãe, um filho, um aluno,
um professor e assim por diante. É importante colocar que o meio social
exerce, então, influências sobre os indivíduos e, estes, assimilam, mas
também possuem uma relação ativa em relação a este meio. Mesmo tendo
que agir de acordo com este meio social, o indivíduo recria e até mesmo
transforma essas influências.
Autores, como Durkheim (1978), apontam ainda que, através da
socialização, o indivíduo se transforma de "ser biológico" em "ser social". Mas,
mesmo antes de nascer, o indivíduo já faz parte de uma determinada
sociedade, o que poderá influenciar seu estilo de viver.
Lapassade (citado por Oliveira, 1993) faz observações importantes
neste sentido. Este autor afirma que é discutível a separação e oposição entre
"nascimento biológico" e "nascimento social", uma vez que o ato de nascer já
é um nascimento social. Completa ainda que, ao longo da existência de cada
um, ocorrerão outros nascimentos sociais (p. 42).
Ao se pensar que o processo de socialização ocorre durante toda a
vida e não só na infância e na adolescência, é importante ainda considerar as
colocações de Lapassade. Ele afirma que "o homem atual surge cada vez mais
como um ser inacabado. O inacabamento da formação tornou-se necessidade
num mundo marcado pela subversão permanente das técnicas, o que implica
uma educação do mesmo modo permanente" (p. 42).
lso-Ahola (1980) também concorda que este processo ocorre ao longo
da vida e enfatiza que a socialização no lazer é vista como "um processo pelo
qual conhecimentos, atitudes, valores e experiências são aprendidos e
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internalizados com resultados socialmente relevantes e recompensas
psicológicas no comportamento do lazer (p. 132)."
Para lso-Ahola as forças culturais e sociais (sistema social, etnia)
estabelecem os limites externos nos quais o processo de socialização, ocorre.
Dentro dos limites externos, os agentes sociais (principalmente pais, pares e
professores de escola) constituem as maiores fontes de influências na
socialização. Estes agentes afetam diretamente as experiências individuais de
lazer.
Os fatores internos resultam das experiências individuais acumuladas
no curso de seu desenvolvimento e socialização nas quais afetam
significantemente a competência percebida. "Competência percebida é a visão
subjetiva da pessoa do nível de sua capacidade para executar dadas tarefas
ou atividades (p. 143)". A auto-determinação, por sua vez, reflete os efeitos
dos valores, normas e conhecimentos internalizados sobre o lazer na
socialização. A vivência de uma experiência de lazer é, portanto, uma função
da auto-determinação e da competência percebida.
A natureza contínua da socialização no lazer é mostrada, na figura 1,
pelo feedback do envolvimento no lazer, ou seja, cada experiência de lazer
modifica diretamente a própria auto-determinação e a competência percebida,
fortalecendo-a ou enfraquecendo-a. De modo semelhante, o envolvimento no
lazer aumenta o repertório de experiências individuais que, por sua vez,
influencia a auto-determinação e a competência percebida. A ampliação do
repertório de experiências individuais também afeta a participação ou os
valores e atitudes dos agentes de socialização no lazer. Portanto, a
socialização é uma "via de mão dupla", em que indivíduos influenciam e são
influenciados por outros.
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AGENTES
• • • •
15
/so=rn • ENVOLVI-
--f>.MENTO NO LAZER
• •
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Influência
Figura 1. Processo de socialização no lazer (ISO-AHOLA, 1980, p. 132).
Neste modelo lso-Ahola quis demonstrar que o processo de
socialização no lazer é contínuo e dinâmico. Valores e atitudes anteriores
sobre o lazer estão sendo mudados e novos conhecimentos e habilidades
estão sendo adquiridos. Isto pode acontecer não só em relação a atividades
diferentes vivenciadas no tempo de lazer, mas também numa mesma
atividade.
Kelly (1974), assumindo que a socialização através do lazer é um
processo de aprendizagem e internalização de padrões, valores e sentimentos,
destaca que o mesmo pode acontecer através da família, da escola, pares,
grupos organizados da comunidade e do trabalho. Completa, ainda, que
questões referentes ao "como", "quando", "onde" e "com quem" as atividades
de lazer começam a ser praticadas devem ser respondidas para que se possa
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desenvolver teorias explanatórias do lazer e, a partir daí, melhor planejar
programas nessa área (Kelly, 1974; 1977).
Segundo Gaelzer (1986), é através do processo de socialização que o
indivíduo pode viver em sociedade, segundo os códigos de comportamento
desta. Afirma, ainda, que a socialização estabelece alguns fundamentos da
personalidade e preferências futuras, mas o potencial de socialização e seus
efeitos como contribuição para o estudo do comportamento no lazer são
pouco conhecidos. As pesquisas e estudos sobre o lazer dentro deste assunto,
segundo esta autora, deveriam responder a algumas questões, como por
exemplo: "será que as experiências recreacionais, durante as primeiras fases
da vida, estão relacionadas com o comportamento dos adultos nas atividades
e escolhas para o lazer? Quais seriam os efeitos da participação da família,
dos professores, companheiros, nas futuras opções de lazer dos indivíduos?
(p.11)".
Kelly (1974; 1977) também destaca que as pesquisas no contexto e
natureza da socialização através do lazer são escassas.
Se o processo de socialização no lazer envolve elementos de
aprendizagem, então os agentes responsáveis por ela devem atuar na
perspectiva de educação para o lazer.
Vários autores enfatizam a necessidade de se educar para o lazer.
A educação para o lazer, propõe Requixa (1980), "deve considerar, em
primeiro lugar, a própria importância do lazer (p.56)". Isto é, tomar consciência
de qual o valor que o lazer possui para a nossa própria existência. Em
segundo lugar, Requixa coloca que é necessário um aprendizado para que as
pessoas sejam estimuladas a diversificar a participação nas atividades de
lazer. Realmente, é preciso conhecer os diferentes conteúdos culturais do
lazer e formas de participação, para melhor optar e diversificar as opções no
tempo liberado.
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17
Gaelzer (1986) aponta que a educação para o lazer deve ser uma
atividade institucionalizada em centros comunitários, igrejas, praças e escolas,
visando a despertar a consciência para a importância da educação para o
tempo livre.
Bramante (1992) acredita que a educação para e/ou pelo lazer deve ser
um tema de debates entre os educadores e profissionais das ciências
humanas que lidam direta ou indiretamente com os conteúdos culturais do
lazer. Propõe, também, uma forma de experimentação em todos os níveis de
escolaridade através de uma possível disciplina escolar. Talvez uma disciplina
não abranja os conteúdos culturais do lazer, mas tal experimentação seria
importante dentro da educação para o lazer.
Em agosto de 1993, respresentantes de vários países da Associação
Mundial de Recreação e Lazer (World Leisure Recreation Association -
WLRA)2 reuniram-se num seminário, discutiram e elaboraram a Carta
Internacional de Educação para o Lazer. Com a finalidade de "informar aos
governos, às organizações não-governamentais e às instituições de ensino a
respeito do significado e dos benefícios do lazer e da educação para e pelo
lazer (item 1.1.)", este documento sinaliza com aspectos de grande relevância.
De forma resumida aqui, esta Carta mostra a "Educação para o Lazer"
como "um processo de aprendizado contínuo que incorpora valores,
conhecimentos, aptidões e recursos de lazer (item 4.3.)". Mostra também a
importância do sistema de ensino formal e informal neste processo,
adaptando-se assim "às necessidades locais e às demandas de determinados
países e regiões, levando-se em consideração os diferentes sistemas sociais,
culturais e econômicos (item 4.2., 4.3.)". Trata, ainda, da educação para o
lazer realizada na escola e na comunidade apontando as metas, os princípios
2 A WLRA, com sede no Canadá, "é uma organização internacional não-governamental de serviços, sem fins lucrativos, dedicada a melhorar a vida do individuo e da comunidade através da recreação e lazer". Afiliada a Organização das Nações Unidas para as questões relativas à recreação e lazer, ela realiza seus serviços globalmente através com outras associações internacionais, associações nacionais afiliadas e organizações nacionais.
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e estratégias nesses locais. Outro ponto importante abordado nesse
documento é a questão da preparação e capacitação profissional na educação
para o lazer, mostrando também as metas, os princípios e estratégias para que
se efetue tal processo.
Ao enfatizar a escola, a comunidade e a capacitação de recursos
humanos na educação para o lazer, a referida Carta entende-os como partes
importantes do processo de socialização em que os vários agentes
desempenham um papel imprescindível. É válida a iniciativa de elaborar esta
Carta, uma vez que a educação para o lazer é reconhecida pelos diversos
estudiosos do lazer, mas poucas ações tem sido implementadas
concretamente. Este documento ressalta, também, sua importância, uma vez
que a sociedade contemporânea começa a valorizar o lazer num mundo que
os valores do trabalho sempre foram priorizados.
2.4. Os Agentes de Socialização no Lazer
A socialização se processa através de vários agentes, ou seja, tudo
aquilo que ajuda o ser humano a se integrar na sociedade em que vive. A
socialização é um fator que, de forma ativa, busca a integração do ser
humano à cultura e à sociedade em que vive, bem como promove a
aprendizagem de papéis na sociedade e o desenvolvimento de relações entre
os indivíduos através da interação e da comunicação (Silva et alli, 1986).
Ao tratar dos agentes de socialização, os estudiosos do assunto
habitualmente citam: a família, a escola, os amigos, os meios de comunicação
de massa, a religião (Silva et alli, 1986; Kelly, 1974; 1977; Greendorfer,
1978,1981) e, ainda, os grupos de brincadeira, jardim da infância, de escola.
Outros grupos informais também auxiliam na socialização como, por exemplo,
os grupos de vizinhança.
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19
Alguns autores dividem o processo de socialização em: socialização
primária, em que a família seria o principal agente responsável e socialização
secundária, em que a escola continuaria a desenvolver esta função. Esta é
uma visão estanque do processo de socialização, uma vez que ela acontece
ao longo da existência e sofre a influência de diversos agentes ao mesmo
tempo.
Tendo em vista a complexidade de se estudar todos os agentes sociais
que podem interferir na adoção de hábitos de lazer, este estudo apenas citará
os mais importantes, não pretendendo esgotá-los conceitualmente.
2.4.1. A Família
A família é uma instituição básica que aparece sob as diferentes formas
em todas as sociedades humanas. Para Samara (1986), "a família é uma
instituição social fundamental, de cujas contribuições dependem todas as
outras instituições (p. 7)".
A família, nos seus diversos tipos e formas possui várias funções. Elas
sofreram modificações através da história, perdendo algumas e acrescentado
outras e, segundo Silva et alli (1986), as mais importantes são: "a reprodução
da espécie, a criação e a socialização dos filhos e a transmissão essencial do
patrimônio cultural". Segundo estes mesmos autores, a família é um centro de
solidariedades individuais e um pólo de referências emocionais (p. 459)". A
função de socialização é apontada por diversos autores 3 .
Sparti (1994) considera a família como um fenômeno histórico, uma vez
que ela passou por mudanças e continuará neste processo ressaltando a sua
principal função como agente socializador.
3 Danda PRADO (1991) aponta que as funções de cada família dependem da faixa que cada urna delas ocupa na organização social e na economia ao pais a qual pertence. Para esta autora, toda e qualquer família exerce inúmeras funções e estas correspondem a urna expectativa social. As principais funções são: "identificação social dos indivíduos, reprodução, produção de bens e consumos destes, e a socialização das crianças onde recebe apoio e interferência de outras instituições (p. 36)".
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Segundo Parker (1978), a família é o agente primário de socialização
dentro da sociedade e esta fornece uma estrutura em que se desenvolvem as
atitudes das crianças com relação às outras instituições, inclusive a recreação
e o lazer.
Grande parte do tempo e das atividades de lazer têm lugar dentro do
círculo familiar. Vários autores concordam que a casa ainda é o local onde se
gasta grande parte do tempo disponível para o lazer (Kelly, 1974; Bramante;
1992). É no lar que os membros da família lêem, assistem à T.V., dedicam-se a
hobbies e descansam, segundo Parker (1978). Este autor salienta ainda que,
em todas as fases do ciclo vital, há uma grande proporção de atividades que
têm lugar dentro do círculo familiar.
Os divertimentos familiares, contudo, vêm sofrendo mudanças através
dos tempos. Antigamente, o lazer da família era ligado às festas em datas fixas
como Natal e Páscoa. como mostra Dumazedier (1976). Hoje, através dos
diversos eletrodomésticos, como o rádio, toca discos, "disc laser", o vídeo-
cassete, vídeo-gamas, computador e, principalmente, a televisão e suas
variações como a TV a cabo, enriquecem em quantidade e qualidade as
opções de lazer dentro de casa.
Para testar o relacionamento entre as experiências anteriores da vida e
o comportamento no lazer, Sofranko e Nolan (1972) pesquisaram a
participação de 700 caçadores e pescadores nestas atividades de lazer. Os
resultados mostraram que a participação na adolescência estava diretamente
relacionada com o nível de participação na idade adulta e que tais atividades
foram introduzidas em suas vidas por seus pais.
Um estudo semelhante. porém mais elaborado. foi realizado por
Yoesting e Burkhead (apud lso-Ahola, 1980). Os entrevistados (137 habitantes
da área rural com 20 anos de idade ou mais) deveriam, definir em uma lista de
35 atividades ao ar livre, quais delas tinham participado na infância e na
adolescência. Os resultados indicaram que o nível de participação individual
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21
tanto na infância (6-11 anos) quanto na adolescência (12-17 anos), foi
positivamente relacionado com o nível de participação na idade adulta. Isto
significa que os respondentes participaram em muitas atividades ao ar livre
quando eram jovens e continuaram a participar quando adultos.
Kelly (1974) também demonstrou a importância predominante da família
sobre os outros agentes sociais no comportamento no lazer. Ele entrevistou
adultos americanos e encontrou que 63% de todas as atividades questionadas
haviam sido iniciadas com a família e o restante (37%) refletiu influências
combinadas dos pares, escolas e comunidade. Ao separar pelos interesses
culturais do lazer, Kelly (1974) mostrou que 71% das atividades relacionadas
aos interesses físico-esportivos e 82% ligadas aos interesses sociais foram
iniciadas com a família.
Ao repetir tal estudo, em 1977, com uma amostra mais representativa,
este autor encontrou que 67% de todas as atividades foram ditas iniciadas com
a família. Quando foi considerado o tipo de atividade, ele mostrou que 14% de
todas as atividades foram iniciadas sozinhas, 42%, quando crianças, com a
família, 8%, quando crianças, com amigos, 6%, na escola, 20%, quando
adultos, com a família e 10% quando adultos com os amigos.
Muitos estudos têm focalizado a influência da família na socialização de
uma atividade física e esportiva. Algumas destas pesquisas focalizaram o
processo de socialização nestas atividades, enfatizando as diferenças entre os
sexos.
Mcpherson (1973) examinou a hipótese de que a família, o grupo de
pares, a escola e a comunidade têm influência no processo de socialização no
esporte. Para isso, pesquisou adolescentes e encontrou que: para os do sexo
masculino, em ordem de importância, os pares foram os mais significativos,
seguidos da família e da escola; para as do sexo feminino, a família foi a mais
importante na socialização do esporte, seguida dos pares e a comunidade.
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22
Ao repetir este estudo em 1976, novamente com adolescentes, este
autor encontrou que a aprendizagem de um esporte sofreu influência coletiva
da família, pares, escola e da comunidade. Enfatizou novamente que a
socialização nestas atividades varia conforme o sexo.
Snyder e Spreitzer (1973) também se preocuparam em como as
pessoas se socializam no esporte. Estes autores trabalharam com as variáveis
sexo, idade, educação e ocupação, as quais foram correlacionados com a
participação no esporte. Eles ainda buscaram operacionalizar o envolvimento
no esporte; considerando as dimensões comportamentais, afetivas e
cognitivas. Encontraram que a família foi o agente social mais importante para
ambos os sexos.
Cratty (1974) acredita que a atitude das crianças diante da atividade
física e do esporte se relaciona com a atitude e a importância que seus pais
dão a esta questão. Este autor alerta que a família enquanto expectadora e os
pais enquanto instrutores podem motivar as crianças a participar de atividades
físicas e esportivas.
A família pode estimular a prática de atividades físicas e esportivas de
diferentes formas: levando os filhos, esposos, etc para assistir a jogos e
competições de diversas modalidades esportivas; iniciando a aprendizagem de
esportes e, ainda, praticando junto com os membros de sua família. O hábito
da família de ler revistas e livros referentes às atividades físicas, assistir
programas de TV e vídeos específicos pode também auxiliar neste processo.
Alguns estudos realizados com adultos reportam também a importância
da família como estimuladora na prática de atividades físicas e esportivas. Um
desses estudos, realizado na Noruega, pelo Comitê Internacional de
Sociologia do Esporte, entrevistou 373 adultos e mostrou que os pais foram os
que forneceram interesse e estímulo para a participação de esportes na vida
adulta.
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Ao estudar a influência da família e dos pares na socialização do
esporte de mulheres irlandesas, na faixa etária de 22 a 50 anos, Hope (1987)
encontrou que estes agentes foram determinantes na participação delas no
esporte. Os resultados desta pesquisa também indicaram que o envolvimento
com o esporte na infância se relacionou com o envolvimento na vida adulta.
2.4.2. A Escola
A escola nada mais é que a institucionalização do ensino. Além da sua
função mais importante, que é a transmissão, de modo formal e programático,
do património cultural de uma sociedade, que então promove a socialização
das crianças e adultos, Gillin & Gillin (apud Silva et alli, 1986) apontam outras
funções da escola a saber: a) proporcionar formação profissional
especializada; b) promover investigação especializada em determinado ramo
do saber e c) oferecer ao indivíduo uma formação social, isto é, esquemas de
ajustamento ao ambiente e à complexidade de relações sociais (p.407).
A escola aparece como um agente socializador significativo, uma vez
que a frequentamos durante muitos anos da nossa vida.
Parker (1978) aponta que o "volume e o tipo de instrução que
recebemos influenciam o modo como aproveitamos o lazer, o âmbito de
nossas atividades e o fato dessas atividades afetarem ou não as outras
esferas da vida (p. 11 O)". Este autor cita levantamentos feitos na Grã-Bretanha
e nos Estados Unidos onde o interesse e a participação em muitas atividades
de lazer, especialmente as artes e as iniciativas culturais, relacionam-se
intimamente à extensão da educação que estas pessoas receberam na escola.
A escola é considerada como um equipamento não-específico de lazer,
ou seja, não é um espaço construído especificamente para tal. Sua principal
função, como já foi dito, é a educação, muito mais voltada para a produção do
que para a expressão do conhecimento, mas ela pode ser usada também para
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24
um rico aproveitamento do lazer. Requixa (1980) aponta que a escola poderia
dispor de seus espaços em momentos de ociosidade, para que a população a
utilize na prática do lazer. Seria importante observar o potencial existente para
a vivência do lazer na escola, já que nesses espaços existem não só salas de
aulas como também quadras e auditórios que poderiam ser aproveitados nas
atividades de lazer.
A escola pode não fornecer a maioria das experiências de lazer para o
indivíduo na vida adulta devido a necessidade de novos hábitos continuarem
através do curso da vida, mas ela pode, muito bem, contribuir na educação
para o lazer e, conseqüentemente, numa melhoria na qualidade de vida do
indivíduo, segundo lso-Ahola (1980). Neste caso, a escola deveria ser o local
mais apropriado para a iniciação dos conteúdos culturais do lazer, uma vez
que possui disciplinas diretamente relacionadas a essa vivência, tais como a
educação física e a educação artística. Estas disciplinas deveriam explorar
conteúdos diversificados, visando a ampliar a base de conhecimentos e
vivências das pessoas nessa dimensão da vida.
Para provar que o lazer no espaço da escola é possível, Semente
(1992), através de pesquisa participante, elaborou programas que foram
implantados numa escola de periferia de lndaiatuba, SP. Ela contou com o
auxílio da direção escolar, dos professores e dos alunos. Os formandos da
oitava série deram sua contribuição como animadores voluntários. Durante a
pesquisa foram desenvolvidas atividades abrangendo a maioria dos
conteúdos culturais do lazer, nos gêneros da "prática" e do "assistir". Estas
atividades constaram da feira de criatividade organizada pelos professores de
geografia em que as criações eram feitas em maquetes conforme o conteúdo
da disciplina. Essa experiência contou também com apresentação de vídeos
(uma vez que a cidade não possui cinema), com organização de brincadeiras
dançantes e campeonatos de futebol e voleibol. Foram deixadas livres, ainda,
algumas quadras para que as pessoas pudessem utilizá-las da forma que
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25
quisessem. Estes programas de lazer foram oferecidas aos finais de semana e
houve a participação não só de alunos da própria escola como também de
membros da comunidade local. Ao final da pesquisa, ela observou que, além
de ser um espaço de lazer importante, a democratização de seu uso contribuiu
para diminuir a depredação e os atos de vandalismo para com o prédio
escolar. Segundo a pesquisadora, a experiência foi tão positiva que o projeto
foi reestruturado e ampliado para um trabalho de ação comunitária em
conjunto com a associação de amigos do bairro.
Dentro dos interesses físico-esportivos, tema deste estudo, a escola
tem um papel importante na iniciação destes conteúdos. Aqui o professor de
educação física aparece como principal agente de socialização. Neste sentido,
o conteúdo de suas aulas deveria ser o mais rico e diversificado possível para
que o aluno, tendo conhecimento das várias atividades físicas e esportivas,
possa escolher quais e como praticá-las no seu tempo de lazer. Muitas destas
atividades exigem materiais, equipamentos e espaços caros e/ou sofisticados,
não compatíveis com o orçamento da escola. Neste caso, o professor de
educação física poderia oferecer este conteúdo, estimulando os alunos
através dos outros gêneros como o consumo e o conhecimento4 , como é o
caso da ginástica olímpica e o tênis, por exemplo. Existem, porém, outros
conteúdos que, mesmo não necessitando de materiais caros nem espaços
específicos, não são, infelizmente, trabalhados pelos professores de educação
física, como nos mostra Betti (1995).
Esta autora alerta para o fato de que o esporte tem sido o veículo mais
utilizado na escola como difusão do movimento corporal. E, apesar dos
4 Joffre DUMAZEDIER (1980) propõe uma análise dos conteúdos do lazer através de três gêneros: a prática, que constitue uma participação na própria atividade em si; o consumo que seria uma participação na atividade enquanto expectador e o conhecimento que envolve a busca de informações sobre a atividade, através de várias fontes como livros, palestras, videos com o objetivo de aprender mais sobre ela. Exemplificando , dentro do interesse físico-esportivo, uma pessoa pode jogar vôlei (gênero da prática), assistir a uma partida de vôlei (gênero do consumo)e pode ler um livro sobre vôlei (gênero do conhecimento).
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26
currículos das instituições de ensino superior incluírem esportes como
atletismo, ginástica artística e disciplinas como dança, capoeira, judô,
atividades expressivas, ginástica, folclore e outras, somente o futebol, o
basquete e o voleibol fazem parte do conteúdo das aulas de educação física.
Vários motivos podem estar relacionados à pouca utilização destes conteúdos:
falta de espaço, de motivação, de material, comodismo, falta de aceitação
destes pela sociedade, enfatiza Betti (1995). Afirma ainda a autora que alguns
professores acabam desenvolvendo apenas os conteúdos com os quais têm
maior afinidade.
A escola acaba por oferecer, assim, tão somente as atividades
esportivas ''tradicionais", enquanto os outros esportes (incluído aqui também
os considerados esportes "radicais"- como o alpinismo, por exemplo) somente
terão oportunidade de aprendê-los e praticá-los/assistí-los, aqueles que
tiverem condições financeiras de suportar os gastos decorrentes de sua
prática e do acesso aos locais onde são oferecidos (como os clubes e
academias).
Algumas pesquisas têm mostrado a importância dos agentes de
socialização na participação em atividades esportivas na vida adulta. Um
estudo realizado por autores já mencionados aqui, Snyder & Spreitzer (1983),
comparou corredores, jogadores de raquetebol e pessoas da comunidade dos
Estados Unidos, mostrando que a participação nas atividades esportivas na
escola e na comunidade foi favorável para a participação nestas na vida
adulta.
Outra pesquisa (Nakashima & Tubota, 1975) investigou a influência
da escola na participação nos esportes de alunos que já haviam saído destas.
Os resultados encontrados mostraram que a participação na escola teve uma
grande contribuição na participação no esporte posterior na vida. Este estudo
apontou ainda que a escola forneceu habilidades necessárias para a
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participação nestas atividades esportivas assim como estimulou o interesse
por elas.
A escola mostra-se, assim, como fundamental agente no processo de
socialização no lazer, através do aproveitamento do seu espaço e da iniciação
dos diversos conteúdos culturais do lazer, particularmente os físico-esportivos.
2.4.3. Os Meios de Comunicação de Massa
massa
Wright (citado por Silva et alli, 1986) destaca que comunicação de
"é uma forma especial de comunicação dirigida ao grande público, isto é,um número de seres humanos vasto, heterogêneo e anônimo. Dela se exclui, por meio da técnica, toda relação pessoal e privada como nos telegramas e telefonemas, por exemplo (p.227)".
O fundamental, segundo este autor, é que se dirija a uma multidão de
pessoas através de meios técnicos de transmissão do som e da imagem: rádio,
televisão, cinema, jornal e assim por diante. Cada um destes é chamado de
meios de comunicação de massa, denominação correspondente "à inglesa
originária de mass media comunication (p. 227)."
Segundo Thines & Lampeeur (1984), meios de comunicação de massa
"em sentido lato, são todos os meios técnicos de deslocamento de pessoas, objetos, informações no tempo e no espaço: comboio, avião, automóvel, rádio, jornal, cartaz de propaganda e TV".
Em sentido restrito e mais usual,estes autores colocam que
"são meios de informação de massa: imprensa, rádio e TV que visam a produção e à distribuição massiva e rápida das mensagens junto de audiências vastas e freqüentemente heterogêneas (p. 513)".
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28
Lasswell, um dos pioneiros estudiosos da comunicação de massa
observa que "uma maneira conveniente para descrever um ato de
comunicação consiste em responder às seguintes perguntas: quem? diz o
que? para quem? em que canal? com que efeito? (p.1 05)". Explica este autor
que o estudo científico do processo de comunicação tende a se concentrar em
uma dessas questões. Assim, é chamada de análise de controle, quando se
estuda o "quem" , o comunicador; análise de conteúdo é para quem se
preocupa com "diz o que". Para os estudiosos que se interessam pelo rádio,
imprensa, cinema e outros canais de comunicação, fazem a análise de meios
(media) e, finalmente, quando o principal problema diz respeito às pessoas
que são atingidas pelos meios de comunicação, trata-se de análise de
audiência. Conclui o autor que se fala de análise de efeitos, quando se quer
ver o impacto sobre as audiências, que é a que interessa para este trabalho.
Apesar de ser atraente elaborar categorias, o ato comunicativo deve ser
pesquisado como um todo em relação ao processo social global, adverte o
autor.
Bosi (1973) critica esta divisão de Lasswell colocando que essa
enumeração ("quem ", "o que", "como", "a quem") "não ressalta problemas
relativos ao contexto (p.20)". Segundo esta autora as abordagens que
estudam o contexto, estudam o ser que se comunica, integrando ao seu
ambiente.5
Bosi também coloca pontos importantes sobre a comunicação de
massa evidenciando que, a partir de 1950, os pesquisadores perceberam que,
ao estudar os meios de comunicação de massa, não bastava estudar os
fatores analíticos, como os citados por Lasswell, para esgotar o seu sentido
global. Segundo Bosi, os estudiosos do assunto começaram a perceber que,
enquanto manifestação peculiar às sociedades modernas, o fenômeno da
5 Ecléa BOSI exemplifica que as abordagens qne visam ao domínio do contexto (entendida pela antora nnm sentido amplo) ao qual se refere a informação são a sociológica, a histórica, a econômica, a demográfica, a política, e assim por diante (op. cit.,21).
-
29
comunicação de massa deveria ser estudado como um todo, ou seja, deveria
ser analisado em si, exigindo os "carateres próprios que o fenômeno
comunicação de massa foi assumindo na civilização industrial do após guerra
(p.21 )", caracteres estes que vêm ao encontro do próprio conceito de meios
de comunicação de massa.
Assim, a comunicação de massa foi alvo de diversos estudiosos,
principalmente os cientistas sociais americanos. Surge assim, segundo Bosi,
uma teoria funcionalista que estudou a interação dos indivíduos na rede social,
mediante os meios de comunicação de massa, utilizando, então, um conceito
psicossociológico, ao invés do macro-estrutural (classe, sociedade).
Bosi cita Charles R. Wright, como seguidor desta teoria, ao colocar os
objetivos da comunicação de massa: "a) Detecção prévia do meio ambiente;
b) Interpretação e orientação c) Transmissão de cultura e d) Entretenimento
(apud Bosi, 1973, p. 25)". Estas últimas, as mais interessantes para este
estudo, uma vez que os meios de comunicação de massa atuam tanto como
agente socializadores, influenciando a adoção de novos comportamentos no
tempo de lazer, como também constituindo-se uma experiência de lazer.
Cada um desses objetivos, coloca Bosi, pode exercer funções e
também disfunções - efeitos indesejáveis do ponto de vista do bem-estar da
sociedade (p.25), as quais podem ser manifestas (efeitos pretendidos) ou
latentes (efeitos não-pretendidos). Ambas, funções e disfunções, enfatiza a
autora, "existem para a sociedade, para os subgrupos, para os sistemas
culturais e para o indivíduo (p. 25)". Isto mostra que a influência dos meios de
comunicação sobre a pessoa é complexa, uma vez ela pode ter um objetivo
nesta influência e alcançar outro.
Lasswell também aponta que "o processo de comunicação na sociedade
desempenha três funções: a) vigilância sobre o meio ambiente; revelando
ameaças e oportunidades que afetam a posição da comunidade e de suas
partes componentes ao nível de valores; b) correlação dos componentes da
-
30
sociedade, na sua resposta ao meio ambiente e c) transmissão da herança
social (p.117)". Considerando estas funções, fica evidente a importância dos
meios de comunicação de massa como agentes socializadores, visto que as
mensagens e informações transmitidas referem-se aos valores culturais da
sociedade global.
Outros autores, Riley Jr & Riley, ao discutirem sobre a comunicação de
massa e o sistema social, argumentam que os efeitos precisos da
comunicação de massa são pouco entendidos, apesar de surgirem enfoques
de pesquisa com este tema e de aumentarem as descobertas empíricas. Estes
autores sugerem o desenvolvimento de um ponto de vista sociológico da
comunicação de massa, em que se tentaria ajustar as muitas mensagens e as
inúmeras reações individuais dentro de um processo e de uma estrutura social
integrada (p.118). Assim, eles abordam que as percepções e respostas de
uma pessoa a uma mensagem dos mass media vai depender da relação desta
com seus grupos significativos como a família, seus amigos, seus
companheiros de trabalho, chamados estes de grupos primários. Para estes
estudiosos, "as experiências e valores tendem a governar o que ele percebe e
como ele percebe". Apesar destes autores entenderem de uma forma limitada
o processo de socialização (dividida em primária e secundária, já discutidas
anteriormente), suas colocações quanto à influência da mídia no
comportamento humano são importantes. Eles confirmam que o processo de
socialização ocorre com os vários agentes interagindo com o indivíduo ao
mesmo tempo.
Riley Jr & Riley ainda observam que existem, também, pesquisas que
têm começado a explorar a estrutura das organizações e instituições mais
abrangentes que circundam o receptor - aquele que recebe a mensagem.
Nestas pesquisas, fica claro o papel dos meios de comunicação de massa
como um dos agentes socializadores.
-
31
Klapper, em seu artigo intitulado "os efeitos da comunicação de massa';
enfatiza que há, tanto no público leigo quanto nos pesquisadores, um certo
grau de pessimismo quanto a estes efeitos. Este autor coloca que tal
sentimento é normal, uma vez que muitas perguntas não estão sendo
respondidas. Como exemplo, cita: "se a violência nos mídia gera deliquência,
se os mídia elevam ou diminuem o gosto do público, e o que podem fazer os
mídia para a persuasão política de suas audiências (p.163)". Mas, não se pode
dar respostas definitivas a essas perguntas, justifica o autor. O mesmo
concorda com autores já citados, colocando que "há um desvio na tendência
que considera a comunicação de massa como causa necessária e suficiente
dos efeitos de audiência, para um enfoque dos mídias como influências,
trabalhando juntamente com outras influências, numa situação total (p. 165)."
Ou seja, "as tentativas de fixar um estímulo, que se supunha atuar
isoladamente, por uma avaliação do papel que tal estímulo desempenha num
fenômeno obervado de maneira total {p.166)". Assim, para estes estudiosos da
comunicação de massa, um determinado comportamento não pode ser efeito
único da mídia e ,sim, um efeito articulado com outros fatores do universo da
pessoa. Conclui este autor: "a comunicação de massa geralmente não atua
como uma causa necessária e suficiente dos efeitos de audiência mas sim
funciona entre e através de um nexo de fatores e influências mediadoras
(p.167)".
Uma pesquisa realizada por Comstock {1978) sobre a influência da
televisão em instituições americanas mostrou que esta reforça e intensifica
certos comportamentos, principalmente nos jovens de idade escolar. Neste
estudo, o autor confirmou que a televisão funciona como um agente de
socialização, mas alerta também que o grau de sua influência é incerta.
Ao analisar o campo do lazer, Parker cita levantamentos que apontam
que a TV, o rádio e os jornais ocupam cerca de trinta horas semanais do
cidadão britânico. Naquele país, expõe Parker, ainda pode-se calcular que
-
32
90% de todos os lares possuem uma televisão, pelo menos. O jornal, o rádio e
televisão são um interesse de lazer em si próprios e também catalisadores
para outros interesses. A televisão estimula as pessoas a um engajamento
pessoal, sendo também um meio através do qual grande quantidade de
pessoas adquirem experiências específicas (Parker, 1978}.
Klapper (s. d.} cita uma pesquisa em que mostra que a mídia, mesmo
raramente, desempenha um papel nas preferências de adultos. Nesta
pesquisa foram estudados os hábitos de 700 pessoas que escutavam
emissoras de música clássica regularmente. Em 53% dos casos o rádio foi
responsável pelo interesse por este tipo de música, pouco exercitado
anteriormente. Porém, alerta o autor, o rádio funcionou como um "agente
estimulante" e não como causa necessária e suficiente. Os ouvintes tinham
sido estimulados por outros agentes sociais como amigos, noivos ou por
acreditarem que, ouvindo este tipo de música, poderia aumentar seu prestígio
social.
Outros estudos, de diversos países, também confirmam estes dados.
Van-Payrs (1974) aponta que a mídia ocupa grande parte do tempo de lazer
dos belgas e que ela é usada não só como entretenimento, mas também como
fonte de informação. Um pesquisador chinês também encontrou uma
preferência em assistir televisão e ler jornais como atividades de lazer mais
freqüentes num estudo realizado com trabalhadores de 60 empresas naquele
país (Wen, 1981). A preferência pela mídia como lazer também foi confirmado
por um estudo longitudinal feito com trabalhadores húngaros (Gyorgy, 1982).
No Canadá, Horna (1988) estudou casais e examinou os padrões de
participação, as preferências e a percepção de atividades pertencentes à
mídia e ao lazer. Nesta pesquisa, a maioria dos expectadores procurou, na
mídia, entretenimento e relaxamento. Para muitos, lazer e mídia foram
praticamente sinônimos.
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Na Alemanha, Helmut & Kilborn (1990) procuraram analisar o papel da
mídia no cotidiano dos alemães e encontraram que a televisão foi a primeira
procurada no tempo de lazer. Em seguida, foram citadas as leituras e, depois,
música e rádio. Karig & Stiehler (1992) também mostraram que o uso da mídia
e jogos de computadores têm aumentado entre os estudantes alemães nos
últimos anos.
No Brasil, Pinto (1986) pesquisou trabalhadores de Minas Gerais e
encontrou que suas atividades de lazer e recreação estão vinculadas ao lar,
mais especificamente à assistir televisão 6 •
Bramante (1992) acredita que "a indústria cultural, com sua abordagem
consumista, tende a influenciar, interferir e abarcar o tempo disponível para as
práticas de atividades de lazer (p. 163)".
Trigo (1995), também discutindo o crescimento da indústria do lazer,
cita uma pesquisa realizada nos Estados Unidos sobre a "Economia do
entretenimento" e mostra que, em 1993, os americanos gastaram bilhões de
dólares com o lazer, sendo que a televisão e os vídeos vieram em segundo
lugar; os livros, revistas e jornais, em terceiro; e a TV a cabo, em quinto.
Numa pesquisa realizada pelo SESC (1997) sobre os hábitos culturais
do paulistano, ficou evidente que a TV e o rádio são os meios de comunicação
mais populares e 67 % dos entrevistados assistem à TV todos os dias e 68%
ouvem rádio diariamente.
Todos estes dados confirmam o quanto a comunicação de massa vem
crescendo e como ela está presente no cotidiano e, conseqüentemente, no
tempo de lazer de toda a população mundial. Ela é importante como uma
forma de lazer em si e na divulgação de muitas outras atividades de lazer.
6 Ainda no Brasil, Luis Otávio de Lima CAMARGO (1986) aponta que os estudos de orçamento-tempo mostram que quase metade do tempo livre da nossa população é gasta com um lazer produzido pela indústria cultural, vindo a TV em primeiro lugar, seguido de longe pelo rádio e, mais longe ainda, pelos livros, discos, jornais e revistas.
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Parker (1978) confirma que não há dúvida de que os meios de
comunicação de massa constituem uma influência poderosa na demanda de
uma grande variedade de atividades e interesses de lazer.
Especificamente nos interesses físico-esportivos, podemos notar sua
presença na mídia, de diversas formas. Em todos os canais de televisão
existem, pelo menos, um programa referente aos esportes, principalmente o
futebof. Nas TVs por assinatura, existem canais em que são transmitidos
jogos e campeonatos de todo o mundo e das mais diversas modalidades
esportivas. 8
Quanto às revistas, também são várias as existentes no mercado
referentes a esportes e às atividades físicas9 . Nos jornais, pesquisas
confirmam que a parte mais lida é o caderno de esportes. 10
Outro aspecto importante a considerar é a procura para a prática de
diversos esportes, quando este foi destaque em eventos mundiais, como por
exemplo a Copa do Mundo de futebol e as Olimpíadas11 . Nestes casos,
também a mídia tem grande contribuição.
7 Exemplificando: Na Globo, além do "Globo Esporte", são exibidos ainda o "Placar Eletrônico", o "Esporte Espetacular" e a novela "Malhação", que é gravada dentro de uma academia. Na Manchete é exibido o programa "Manchete Esportiva". Na Record, no programa "Note e Anote" são mostrados aulas de ginástica aeróbica. Na Cultura uma aula de condicionamento físico é mostrada no programa "Energia. Neste canal é exibido também o "Cartão Verde" e na Bandeirantes o "Apito Final" , ambos sobre futebol. A característica principal da Rede Bandeirantes é cobrir diversos eventos esportivos. Eia ainda exibe o programa "Esporte Total" e "Dia- a- dia", que possue um qudro "De bem com a Vida" com aulas de ginástica localizada e alongamento para o telexpectador. Em eventos de grande importància dentro dos esportes como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, a programação da Rede Bandeirantes é alterada para uma maior cobertura destes.
8 Como por exemplo a "Sportv" e "ESPN".
9 Existem no mercado as revistas "Boa Forma", "Corpo a Corpo" e "Placar", entre outras.
10 Na pesquisa realizada pelo SESC (1997), já mencionada, as seções mais lidas dos jornais foi a esportiva.
11 O jornal " Cruzeiro do Sul", de Sorocaba, SP, em 4 de agosto de 1996, mostrou a enorme procura de adolescentes para integrar o projeto de revelação e formação de novas atletas de voleibol pelo Técnico Sérgio Negrão, com o apoio da Nestlé. Esta seleção atraiu 848 interessadas, sendo estas não só de Sorocaba e região, ruas de todo o país. O técnico apontou que a procura iria ser grande devido ao crescimento e à popularização deste esporte no país. É interessante observar que isto ocorreu em época de plena Olimpíada, na qual a seleção brasileira feminina de vôlei teve sua melhor campanha, ficando com a medalha de bronze.
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Dumazedier (1976), discutindo a influência da televisão nas outras
atividades de lazer, mostra que a prática de esportes encontra, nesta, uma
forma de se tornar mais conhecida. Este autor mostra que no caso do Rugby,
na França, a transmissão dos encontros nacionais e internacionais foi uma
propaganda eficiente para este tipo de esporte, registrados por dirigentes da
Federação Francesa. Ele ainda mostra que, na Grã-Bretanha, isto também
ocorreu, sendo atribuída à influência da televisão o interesse de jovens pela
prática de esportes. Como já discutido por outros autores, a mídia influencia os
diversos hábitos, mas não de maneira determinante como coloca Dumazedier.
2.4.4. O Trabalho
É possível alguém socializar-se a alguma experiência de lazer no
ambiente de trabalho?
Buscando um conceito para melhor compreender o que é o trabalho,
Japiassu & Marcondes (1989) o definem, em sentido genérico, "como a
atividade através da qual o homem modifica o mundo, a natureza, de forma
consciente e voluntária, para satisfazer suas necessidades básicas de
alimentação, habitação, vestuário etc (p. 236)".
Silva et alli (1986) destacam que, dentro do termo trabalho pode-se
distinguir os seguintes pontos: a) uma ação ou uma obra; b) desempenhada
por seres humanos; c) que supõe determinado dispêndio de energia; d)
dirigida para um fim determinado e conscientemente desejado; e) executada
sempre mediante uma participação de energia física e de inteligência; f)
acompanhada geralmente de um auxílio instrumental e g) que, de algum modo,
produz efeitos sobre a condição do agente.
Segundo os vários estudiosos do assunto, o importante é que no
trabalho humano está presente a consciência, a intencionalidade e a liberdade
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(uma pessoa pode parar de fazer o que está fazendo, mesmo que venha a
sofrer conseqüências por causa deste seu gesto) e o trabalho é o elemento
básico de toda a vida em sociedade. Segundo Oliveira (1991 ), é indispensável
considerar também as condições históricas desta atividade humana, pois são
estas que lhe dão validade e estabelecem o seu limite.
Friedmann (1973) também aponta para o trabalho como sendo "um
traço característico da espécie humana" e por isso "um denominador comum e
uma condição de toda vida humana em sociedade (p.19)." Ao supor que o
trabalho exige a transformação da natureza para se realizar, supõe-se também
que existe uma finalidade deste. O trabalho comporta uma finalidade, alerta
Friedmann (1973), mas "não pode ser considerado em si como um fim (p.21 )".
Segundo este autor, não existe uma finalidade universal do trabalho. É
necessário considerar os diversos grupos sociais, étnicos, e no interior destes
grupos, deve-se individualizar e relativizar os enfoques e julgamentos.
Friedmann (1973) enfatiza ainda que "uma definição de trabalho deve conter
referências à variedade de suas formas concretas segundo as sociedades, as
culturas, as civilizações(p.22-23)."
O fenômeno lazer tem sido tradicionalmente estudado em contraposição
ao trabalho, mostrando uma relação entre ambos. Apesar de distintas, são
duas esferas da vida humana que podem ser simbolizadas, segundo Pinto
(1992), "como dois lados de uma mesma moeda (p.29)", ou seja, lazer e
trabalho têm uma relação profunda.
Ao abordar o trabalho e o lazer nos dias de hoje, Parker (1978) também
mostra contradições referentes a valores dados ao trabalho e ao lazer. Ele
coloca que existem três abordagens em relação ao tema: a primeira, que vê o
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trabalho como o mais importante e o lazer como um simples subsidiário; a
segunda, que vê o lazer como o grande objetivo da vida e a terceira, que vê o
lazer e trabalho integrados, em que cada um é capaz de enriquecer o outro,
sendo partes de um todo. Esse autor destaca uma pesquisa realizada por
Robert Dubin. Nesta, o pesquisador utilizou uma forma de se descobrir qual a
prioridade na vida das pessoas fazendo a seguinte questão: "qual o seu
interesse central na vida". Neste estudo, realizado com operários industriais, o
trabalho não foi o interesse central. Porém, um outro pesquisador, Louis
Orzack, usando a mesma questão para um grupo de enfermeiras profissionais,
encontrou que o trabalho era o interesse central de suas vidas. Segundo
Parker, esses estudos mostram que as pessoas se identificam mais ou menos
com o trabalho, dependendo da gratificação que o mesmo lhe traz. Ele alerta
contudo que "as pessoas que dizem que o trabalho é extremamente
importante, interessante etc, em suas vidas, não estão necessariamente
dizendo que suas vidas são desprovidas de experiências de lazer". Continua,
''talvez sejam capazes de extrair do trabalho algumas das satisfações que
outras pessoas extraem do lazer" (p.81 ). Estas duas esferas da vida podem
até mesmo se confundir, como foi demonstrado na pesquisa realizada com
grandes empresários paulistas por Forjaz (1988). Nesta pesquisa, foram
entrevistados empresários, suas esposas e seus filhos com o objetivo de
investigar "as práticas e representações acerca do lazer e consumo de bens
culturais na área metropolitana de São Paulo (p.99)". Os resultados mostraram
que a ruptura lazer/trabalho é menos nítida nesta camada da população. Eles
possuem o controle sobre o ritmo de vida e não são submetidos a horários
fixos de trabalho, sendo este vivenciado com prazer e com satisfação. Na
pesquisa, é explicitado o caso das viagens de negócios, que podem ser
aproveitadas para descansar, assim como um jantar ou uma festa, ser
aproveitados para os dois motivos. 12
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Parker destaca que o trabalho pode influenciar o lazer de diversas
maneiras: "o horário de trabalho determina quanto tempo é disponível para o
lazer e a natureza do trabalho pode afetar a quantidade e o tipo de energia
que sobram para o lazer (p.82)". Este autor ainda salienta que um mesmo tipo
de trabalho pode afetar o lazer de diversas maneiras, dependendo das
diferenças culturais e mostra resultados de pesquisas em vários países que
confirmam tal questão.
Como no trabalho nós passamos a maior parte da vida adulta, o nosso
comportamento em relação a esta atividade pode refletir também no nosso
comportamento fora dele, ou seja, no lazer. Friedman confirma essa assertiva,
mostrando que as reações do indivíduo ao trabalho não modelam somente o
comportamento durante as horas que passa no interior da "oficina", mas
também o seu comportamento fora do trabalho (p.27). Este autor deixa claro
que a atitude das pessoas em relação à própria família, às suas relações
sociais e escolha das suas ocupações, o conteúdo dos seus lazeres, tem
influência do trabalho. Destacando ainda para este assunto Friedmann coloca
que "trabalho e não-trabalho se encontram em relações de causalidade
recíproca (p.27)", ou seja, ambos possuem uma relação de causa e efeito.
Num outro estudo de Parker et alli (1975), em que tratam da
"sociologia da indústria", estes autores mostram a importância do trabalho no
sistema econômico da sociedade e como as organizações de trabalho se
estruturam por meio do relacionamento sistemático de papéis. Estes papéis
profissionais - "definidos objetivamente como um aspecto das organizações, e
subjetivamente como a maneira pela qual as pessoas se orientam com relação
a esses papéis e ao que fazem dentro deles (p.18)" - estão relacionados com
outros papéis que o indivíduo desempenham na sua vida fora do trabalho,
mostrando assim mais uma vez, a relação que trabalho tem com o lazer.
12 Luiz Otávio de Lima CAMARGO (1986) alerta, contudo, que trabalho e lazer se confundem apenas para uma pequena parte da população ativa como artistas, artesãos, cientistas e como no caso mostrado por Forjaz (1988), empresários e executivos.
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Ainda neste estudo, estes autores vão ao encontro com o pensamento
de lso-Ahola (1980). Relacionando lazer e trabalho, estes autores abordam a
questão individual e da influência social. Eles afirmam que esta relação
dependerá "das características de personalidade dos indivíduos implicados" e,
também, "do resultado de padrões de cultura que influenciam as normais
gerais de comportamento", ou seja, do processo de socialização. Dependerá,
ainda, "da função da profissão que o indivíduo segue (p.186)" , mostrando,
mais uma vez, resultados de pesquisas de vários países confirmando estas
afirmações.
Assim, se na escola passamos grande parte de nossa infância e
adolescência e na vida adulta, grande parte do nosso tempo é gasto no
trabalho e este tem relação com o lazer, surgem algumas questões: como o
ambiente do trabalho influencia o lazer? Existem algumas atividades
específicas de lazer que são estimuladas pelo contexto do trabalho? De que
forma os companheiros do trabalho e chefes estimulam e incentivam os
hábitos de lazer, especificamente os de atividade física praticados no tempo
disponível?
Camargo (1990) observa que, na década de 80, muitas empresas
investiram no lazer dos seus empregados. Isto fez com que despertasse um
setor de serviços de recreação, interessado em explorar essa nova demanda
por esportes, turismo e outras atividades. Esse autor faz ainda uma colocação
importante, afirmando, que já que é impossível uma humanização imediata do
trabalho, a empresa pode contribuir ao menos para que o tempo livre seja
mais rico.
Pereira da Costa (1990) também analisa que, a partir de um encontro
organizado pelo BANESPA, em 1981, com o objetivo de trocar informações
sobre esporte e lazer na empresa, vem crescendo o número de empresas que
têm investido no lazer dos seus empregados. Ao relacionar as 31 empresas
participantes deste encontro, este autor mostra que as principais atividades
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oferecidas são exercícios físicos e atividades esportivas. O número de
trabalhadores que participam destas atividades também tem aumentado.
Este mesmo autor realizou uma pesquisa em 21 empresas brasileiras,
de diversos setores, com o objetivo de descrever a evolução das atividades de
esportes e lazer oferecidas aos funcionários destas. Os resultados mostraram
que o que gerou a prática esportiva de lazer, neste grupo selecionado de
empresas, foi a existência de equipes de futebol (de campo e posteriorm