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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA – UNEB GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS – SEMARH CENTRO DE RECURSOS AMBIENTAIS – CRA NÚCLEO DE ESTUDOS AVANÇADOS DO MEIO AMBIENTE – NEAMA SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI CARLOS RANGEL GOMES PEREIRA LUZINALDO CORREIA COSTA AVALIAÇÃO DO PAPEL DA CAATINGA ALUVIONAR NA PROTEÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DO SEMI-ÁRIDO: Estudo de caso do Riacho do Poço do Magro – Guanambi/BA. Salvador - Bahia 2004

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA – UNEB

GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS –

SEMARH CENTRO DE RECURSOS AMBIENTAIS – CRA

NÚCLEO DE ESTUDOS AVANÇADOS DO MEIO AMBIENTE – NEAMA

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI

CARLOS RANGEL GOMES PEREIRA

LUZINALDO CORREIA COSTA

AVALIAÇÃO DO PAPEL DA CAATINGA ALUVIONAR NA PROTEÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DO SEMI-ÁRIDO: Estudo de caso do Riacho do Poço do Magro – Guanambi/BA.

Salvador - Bahia 2004

CARLOS RANGEL GOMES PEREIRA

LUZINALDO CORREIA COSTA

AVALIAÇÃO DO PAPEL DA CAATINGA ALUVIONAR NA PROTEÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DO SEMI-ÁRIDO: Estudo de caso do Riacho do Poço do Magro – Guanambi/BA.

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Gestão Ambiental Municipal da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, como requisito para a obtenção do Grau de Especialista.

Orientador: Msc Fernando Antonio Esteves de Araújo Silva

Salvador - Bahia 2004

CARLOS RANGEL GOMES PEREIRA

LUZINALDO CORREIA COSTA

AVALIAÇÃO DO PAPEL DA CAATINGA ALUVIONAR NA PROTEÇÃO DOS

RECURSOS HÍDRICOS DO SEMI-ÁRIDO: Estudo de caso do Riacho do Poço do Magro

– Guanambi/BA.

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do título de especialista no 1° Curso

de Pós-Graduação em Gestão Ambiental Municipal, Universidade Estadual da Bahia/UNEB,

pelos seguintes pareceristas:

Fernando Antonio Esteves de Araújo Silva – Orientador

Mestre em Política e Gestão Ambiental pela Universidade de Brasília. Centro de

Desenvolvimento Sustentável.

Salvador-Ba, 29 de Outubro de 2004.

Oferecemos esta monografia às nossas

famílias, principalmente às nossas esposas, filhos

e filhas e a todos os colaboradores deste curso de

especialização.

Carlos Rangel e Luzinaldo Correia Costa

“Planta com fé religiosa. Planta sozinho, silencioso. Cava e planta. Gestos pretéritos, imemoriais. Oferta remota; patriarcal. Liturgia milenária. Ritual de paz. Em qualquer parte da Terra um homem estará sempre plantando , recriando a Vida. Recomeçando o Mundo.”

(CORA CORALINA,1965)

RESUMO

O presente trabalho aborda a avaliação do papel da caatinga aluvionar na proteção dos

recursos hídricos do semi-árido, focalizando em particular o caso do Riacho do Poço do

Magro, localizado no Município de Guanambi, Estado da Bahia, no contexto do seu meio

físico, biótico e antrópico, dentro dos quais, se descreve suas condições climáticas, sua

geologia e geomorfologia, seus recursos hídricos, sua cobertura vegetal, sua fauna, e ainda a

relação do homem com os recursos naturais da região. Essa avaliação se justifica pela

indiscutível importância das matas ciliares, em especial a caatinga aluvionar, na proteção dos

recursos hídricos, influenciando na vida silvestre, tanto animal quanto vegetal, e na vida do

homem, tanto no contexto social, quanto econômico. Neste contexto, destaca-se a realidade

do Riacho Poço do Magro.

UNITERMOS: Riacho Poço do Magro, Mata Ciliar, Caatinga Aluvionar, Recursos Naturais.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA ................................................................. 12

2.1 MEIO FÍSICO ......................................................................................................... 12

2.1.1 Condições climáticas .............................................................................................. 14

2.1.2 Geologia / geomorfologia ....................................................................................... 15

2.1.3 Pedologia ................................................................................................................ 20

2.1.4 Recursos hídricos .................................................................................................... 22

2.2 MEIO BIÓTICO...................................................................................................... 23

2.2.1 Cobertura vegetal .................................................................................................... 24

2.2.1.1 Flora Regional.......................................................................................................... 25

2.2.1.2 Dispersão..................................................................................................................26

2.2.2 Macro fauna ............................................................................................................ 28

2.2.2.1 Mastofauna............................................................................................................... 30

2.2.2.2 Herpetofauna............................................................................................................ 31

2.2.3 Relação fauna x flora .............................................................................................. 32

2.2.3 Meio antrópico ........................................................................................................ 32

3 A IMPORTANCIA DA CAATINGA ALUVIONAR NAS COMUNIDADES

E RECURSOS HIDRICOS DA REGIÃO .......................................................... 33

3.1 AVALIAÇÃO DA CAATINGA ALUVIONAR.....................................................33

3.2 A INTEGRAÇÃO DO HOMEM COM OS RECURSOS NATURAIS..................35

3.3 OS PRINCIPAIS USOS DO RIACHO DO POÇO DO MAGRO...........................37

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 38

5 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 41

6 ANEXOS ................................................................................................................ 44

6.1 MODELO DE QUESTIONÁRIO .......................................................................... 44

6.2 REGISTRO FOTOGRÁFICO ................................................................................ 45

6.2.1 Nascente do Riacho do Poço do Magro, com captação das águas que descem

dos morros, agosto/2004.......................................................................................... 45

6.2.2 Assoreamento do riacho, com crescimento de vegetação, agosto/2004 ................. 45

6.2.3 Desmate para implantação de pastagem e aproveitamento da lenha, julho/2004.... 46

6.2.4 Presença de algarobas nas margens do Riacho, sombra para os animais,

julho/2004 ............................................................................................................... 46

6.2.5 Utilização do Riacho para pesca (indivíduo pescando), agosto/2004...................... 47

6.2.6 Presença de umbuzeiro nas margens do leito do Riacho, agosto/2004.................... 47

6.2.7 Leito do rio com presença de capineira e ao fundo a presençade área desmatada

no morro, setembro/2004. ....................................................................................... 48

6.2.8 Presença de cacimbão no leito do rio, setembro/2004............................................. 48

6.2.9 Utilização de cata-vento para sucção d’água na cisterna perfurada na margem

do Riacho do Poço do Magro, setembro/2004......................................................... 49

6.2.10 Utilização do riacho com fonte de recreação (banho), agosto/2004........................ 49

6.2.11 Barragem do Poço Magro, julho/2004. ................................................................... 50

6.2.12 Margens da Barragem do Poço do magro, julho/2004..................... ....................... 50

6.2.13 III Caminhada do Meio Ambiente, Guanambi, outubro/2004. Participação de

toda sociedade.......................................................................................................... 51

6.2.14 III Caminhada do Meio Ambiente, Guanambi, outubro/2004. Participação da

APAE....................................................................................................................... 51

6.2.15 III Caminhada do Meio Ambiente, Guanambi, outubro/2004. Participação de

Escolas Infantis........................................................................................................ 52

6.3 Mapas ...................................................................................................................... 53

6.3.1 Mapa da região de Guanambi, mostrando o Riacho do Poço do Magro e sua

nascente, bem como pontos onde foram feitas entrevistas, locações e registro

fotográfico................................................................................................................ .53

6.3.2 Mapa do Município de Guanambi, mostrando a situação da cobertura vegetal e o

grau de antropização das mesmas. ............................................................................54

INTRODUÇÃO

Um dos grandes desafios do homem é retirar da natureza os meios para seu

sustento e desenvolvimento, utilizando, de forma equilibrada os recursos naturais. Contudo, a

história está repleta de exemplos da degradação de ecossistemas em diferentes áreas do

mundo (COSTA; ARAUJO; LEOPOUDO, 2004). Na atualidade, o mundo vem sofrendo as

conseqüências diante da situação de degradação do meio ambiente com “mortes” de rios e

lagos, que requer uma maior atenção e maior consideração por parte dos órgãos públicos e da

sociedade como um todo, principalmente aquela que vive e sobrevive na dependência das

águas fluviais e lacustres.

No Nordeste, a escassez de recursos hídricos e a baixa qualidade dos mesmos

na região, tornam atividades primárias como a agricultura, por exemplo, muitas vezes

inviável. A necessidade então de buscar atividades alternativas que não exijam uma demanda

de água significativa ou mesmo nenhuma, tem ocasionado na área, uma má utilização dos

recursos naturais, contribuindo com a devastação da caatinga que é a maior riqueza natural da

região do semi-árido (UFPE, 2001).

Em conseqüência do aumento do processo de expansão agrícola, de

agroindústria e do estabelecimento de usinas hidrelétricas no Brasil, a cobertura florestal

original vem se reduzindo indiscriminadamente (BOBATO; OPAZO; NÓBREGA, 2003).

Destacando-se as coberturas florestais naturais e, em particular, as matas ciliares, Vegetação

que existe às margens dos cursos d’água, que assumem grandes influências sobre a água,

fauna e solo do local (MACHADO, 1989). As condições de fertilidade e de disponibilidade

hídrica atraem agricultores para implantarem lavouras, predominantemente de ciclo curto,

como as hortaliças. Tal fato exerce forte pressão predatória sobre a floresta e a água

(VASCONCELOS SOBRINHO, 1971).

9

Morais (2004) relata que, nas áreas mais populosas do Brasil, as Matas Ciliares foram

reduzidas drasticamente e, quando presentes, normalmente estão reduzidas a vestígios, apesar

de ser garantida pelo Código Florestal (Lei 4.771 de 15/09/65). Segundo esta Lei são

obrigatórias as conservações de:

- 30 m de mata para cursos d’água com até 10 m de largura;

- 50 m de mata para cursos d’água cuja largura varia entre 10 a 50 m;

- 100 m de mata para cursos d’água cuja largura varia entre 50 a 200 m;

- 200 m de mata para cursos d’água cuja largura varia entre 200 a 600 m;

- 500 m de mata para cursos d’água superiores a 600 metros;

- de um raio mínimo de 50 m de mata para nascentes.

A mata ciliar é um tipo de vegetação intimamente relacionada à umidade do solo e do

ar. No cerrado e na caatinga, por exemplo, ela aparece como uma faixa tênue, estreita e

comprida. Já no sul de Minas, a forma mais comum é a "mata de galeria", batizada dessa

forma por nascer no fundo de vales. Em ecossistemas tropicais, ela é mais abundante e pode

se estender por muitos metros. No entanto, uma característica é comum a todos os ambientes:

esteja onde estiver, a mata ciliar é sempre o local de maior diversidade de fauna e flora e

também onde existe maior produção de biomassa – o que torna as margens dos rios locais de

grande fertilidade (FAGUNDES, 2004).

O desmatamento progressivo da floresta, para cultivo agrícola, tende a alterar as

condições microclimáticas locais, pois a mata funciona como uma “esponja biológica”, em

que a água precipitada é liberada gradualmente por evapotranspiração e por infiltração no

solo (BRAGA et al. 2002).

Matas ciliares são aquelas que acompanham o curso dos rios, córregos e ribeirões.

Elas, também, contornam os lagos e açudes e, assim como os cílios de nossas pálpebras

protegem os olhos, elas protegem os mananciais aquáticos da natureza. Estas matas protegem,

10

ainda, os terrenos das margens desses mananciais que, sem elas, seriam levados pelas chuvas,

em processos acelerado de erosão (CLEMENTE; FONCECA; LOBO, 1999).

A função das matas ciliares em relação às águas está ligada a sua influência sobre uma

série de fatores importantes, tais como: escoamento das águas da chuva, diminuição do pico

dos períodos de cheia, estabilidade das margens e barrancos de cursos d‘água, equilíbrio da

temperatura das águas (favorece os peixes), ciclo de nutrientes existentes na água, entre

outros. Assim, os solos sem cobertura florestal reduzem drasticamente sua capacidade de

retenção de água de chuva, ou seja, em vez de infiltrar no solo, ela escoa sobre a superfície

formando enormes enxurradas que não permitem o bom abastecimento do lençol freático,

promovendo a diminuição da água armazenada. Com isso, reduzem-se as nascentes. As

conseqüências do rebaixamento do lençol freático não se limitam as nascentes, mas se

estendem aos córregos, rios e riachos abastecidos por ela. As enxurradas, por sua vez

carregam partículas do solo iniciando o processo de erosão. Se não controladas, evoluem

facilmente para as temidas voçorocas (MORAIS, 2004). A importância das matas ciliares vai

além: oferecem condições de vida a uma variada fauna e são fator econômico da maior

relevância (CLEMENTE; FONCECA; LOBO, 1999).

Avaliar o papel da caatinga aluvionar na proteção dos recursos hídricos do semi-árido,

especificamente no caso do Riacho do Poço do Magro no município de Guanambi, Estado da

Bahia, é o objetivo deste trabalho.

O Riacho do Poço do Magro está localizado nos municípios de Guanambi, Candiba e

Pindai, sendo que a sua maior extensão é no município de Guanambi.

O Riacho do Poço do Magro tem suas nascentes nas serras da Fazenda Salvador,

desaguando no rio Carnaíba de Dentro, a jusante do Município de Guanambi. O rio Carnaíba

de Dentro, por sua vez, é afluente da margem direita do rio São Francisco.

11

Atualmente, o Riacho apresenta-se com paisagem bastante degradada pela ação

antrópica, que se justifica pelas características climáticas da região. A situação do Riacho do

Poço do Magro assemelha-se com a maioria dos mananciais do Brasil, principalmente da

Região Nordeste: Ausência, muitas vezes, total de mata ciliar; Alteração das características

naturais com esgotamento dos recursos naturais e habitantes de suas margens utilizando

recursos naturais de outras regiões.

O presente trabalho se justifica pela importância ecológica, social e econômica do

tema, e pela necessidade de se obter subsídios para estudos de outras localidades semelhantes

ou não, assim como, para a elaboração de futuros projetos de recuperação da mata ciliar do

Riacho do Poço do Magro e de outros mananciais com mesmas características ou não.

Para a realização deste trabalho, elaborou-se plano de trabalho o qual continha as

seguintes etapas:

-Levantamento bibliográfico sobre o tema abordado;

-Levantamento de dados sobre o município de Guanambi, assim como da micro-região onde

se localiza o Riacho do Poço do Magro em arquivos de órgãos como CODEVASF

(Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco) (2ª SR), SEAGRIC (Secretaria

de Agricultura, Indústria e Comércio).

-Elaboração e aplicação de questionário (Anexo 6.1) para levantamento de dados através de

entrevistas da população ribeirinha do local a ser estudado;

-Entrevistas com profissionais liberais ligados ao meio ambiente e ciências agrárias atuantes

na região objeto deste estudo;

-Visita ao local para realização das entrevistas, visualização e registro fotográfico da realidade

atual da área estudada.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA

Para melhor compreensão do presente trabalho e para um melhor conhecimento da

área estudada, levantou-se dados da realidade da região, e organizou-se estes dados dentro de

um contexto que engloba o seu meio físico, onde se aborda as condições climáticas, a

geologia / geomorfologia, a pedologia e os recursos hídricos. Engloba ainda o meio biótico

local e regional, abordando sobre a cobertura vegetal, a macro-fauna e o meio antrópico.

2.1 MEIO FÍSICO

Guanambi tem uma área relativamente pequena: são 1.292 km² quadrados, localizados

numa das ramificações da Serra Geral, a uma altitude de 525 mts acima do nível do mar, mais

ou menos metade da altitude de Vitória da Conquista. Sua área faz limite com Igaporã, ao

norte; Caetité, a nordeste; Pindaí, a leste; Candiba e Sebastião Laranjeiras, ao sul, e Palmas de

Monte Alto, a oeste (Figura 2.1).

13

Mapa 2.1 - Localização dos municípios de Guanambi (BA), Candiba (BA) e Pindai (BA).

Fonte: BAHIA/SEI, 2001.

A cidade registra as seguintes coordenadas geográficas: 14º13'30" de Latitude Sul e

42º46'53" de Longitude Oeste Greenwich. O relevo do município é pouco acidentado, mais

parecendo uma planície, cercada por desníveis considerados isolados, entre os quais a Serra

do Espinhaço, no limite com Caetité. As terras são cortadas pelos rios Carnaíba de Dentro e

14

Carnaíba de Fora, ambos afluentes do Rio das Rãs, que por sua vez é tributário do Rio São

Francisco. Possui, ainda, os rios Rega Pé, Sacouto, Belém, Poço do Magro e Muquém,

temporários, que correm apenas durante as chuvas, geralmente entre dezembro e fevereiro.

Lagoas e açudes, entre os quais o de Ceraíma, que abastece a cidade, completam o potencial

hidrográfico. O clima é quente e seco, entre 22 e 35 graus centígrados. A precipitação

pluviométrica média é de 715 mm. (VERISSIMO, W. et al., 1995).

2.1.1 Condições climáticas

A área em estudo possui clima quente, seco e salubre. Chove pouco, sendo que as

chuvas acontecem nos meses de novembro a março. Na maioria das vezes, as chuvas são

irregulares, prejudicando a agricultura e a pecuária. A temperatura anual média é 22,6°C, a

máxima 28,6° e a mínima 18,5°C. (BARBOSA, 2002).

Segundo a classificação de Köppen, a área em estudo é do tipo climático AW –

tropical semi-árido, marcado por duas estações bem definidas: uma seca e outra chuvosa

(PEREIRA, 1995).

O município de Guanambi fica localizado na borda leste do Planalto da Conquista, em

uma depressão regional cortada pelo rio São Francisco. Por sua forte continentalidade, quando

a Massa Equatorial Atlântica alcança seu território já não possui mais quase nenhuma

umidade, o mesmo deve ocorrer com a Equatorial Continental que se estende até o referido

planalto (LOUZADA, et al., 2001).

Os dados de temperatura (valores médios) coletados na Estação climatológica de

Ceraima (distrito de Guanambi), mostram que a temperatura permanece elevada durante todo

o ano, média máxima de 27,5°C em dezembro, e média mínima de 23,7°C em julho (Figura

2.1.1).

15

Quadro 2.1.1 Dados meteorológicos de Guanambi/Ba: médias mensais.

Médias mensais. Ano: 2003 Discriminação Jan Fev Mar Abr Mai Jun. Jul. Ago Set Out Nov Dez

Temp. média °C 25,9 27,2 26,9 26,6 25,5 24,9 23,7 24,7 25,8 26,5 26,2 27,5 Umid. Média % 60,3 54,4 57,7 59,1 65,6 66,2 67,6 66,4 67,6 60,4 61,3 61,9 Precipitação – mm 73,0 0,0 65,2 15,0 25,0 0,0 0,0 0,0 10,0 0,0 30,0 57,0 Vento – m/s 0,9 2,3 2,1 2,1 2,2 2,8 3,3 3,8 3,9 4,7 3,6 2,7 ETo Tanque - mm 5,7 6,7 5,7 5,6 5,4 5,6 4,8 5,4 5,9 6,2 6,1 7,0 Fonte: CODEVASF, 2ª. SR – Estação Agrometeorológica de Ceraíma / Guanambi/BA, out/2004.

No decorrer do ano, a temperatura possui um comportamento ascendente de agosto a

março e descendente de abril a julho. Os dados sobre umidade relativa do ar coletados na

Estação Meteorológica de Ceraíma (Guanambi), mostram que os maiores índices ocorrem

entre o verão e o outono (70-80%). A precipitação pluviométrica anual média é de 672,43

mm, para o período de 10 anos (1994-2003). (Figura 2.1.1.1.)

Quadro 2.1.1.1 Dados meteorológicos de Guanambi/Ba: médias anuais.

Média anual. Período: 10 anos DISCRIMINAÇÃO 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Temp. média °C 26,0 26,2 26,5 26,0 26,9 25,2 25,5 25,2 25,6 26,0 Umid. Média % 63,5 62,7 52,1 59,3 59,5 56,9 55,9 57,8 59,4 62,4 Precipitação – mm 611,4 875,6 436,0 809,5 831,1 968,3 743,2 348,1 825,9 275,2 Vento – m/s 2,4 2,4 2,8 2,4 3,5 3,0 2,9 2,9 3,1 2,9 ETo Tanque - mm 4,8 4,7 4,9 4,7 5,2 4,5 4,5 5,0 5,2 5,8 Fonte: CODEVASF, 2ª. SR – Estação Agrometeorológica de Ceraíma / Guanambi/BA, out/2004.

2.1.2 Geologia / geomorfologia

Geologicamente, a região é composta de vários tipos diferentes de rochas. Nas

áreas de planície as rochas prevalecentes têm origem na era Cenozóica (do fim do período

Terciário e início do período Quaternário), as quais se encontram cobertas por uma camada de

solo bastante profunda, com afloramentos rochosos ocasionais, principalmente nas áreas mais

altas Tais solos (latossolos) são solos argilosos (embora a camada superficial possa ser

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arenosa ou às vezes pedregosa) e minerais, com boa porosidade e rico em nutrientes.

Afloramentos de rocha calcarea de coloração acinzentada ocorrem a oeste, sendo habilitados

por algumas espécies endêmicas e raras, como o Mecolcatus azureus (LOUZADA, et al.,

2001).

A região planáltica é composta de arenito metamorfoseado derivado de rochas

sedimentares areníticas e quartziticas consolidadas na era Proterozóica média, uma

concentração alta de óxido férreo dá a estas rochas uma cor de rosa a avermelhada. Os solos

gerados a partir da decomposição do arenito são extremamente pobres em nutrientes e

altamente ácidos, formando depósitos arenosos ou pedregosos rasos, que se tornam mais

profundos onde a topografia permite; afloramentos rochosos é uma característica comum das

áreas mais altas. Estes afloramentos rochosos e os solos pouco profundos formam as

condições ideais para os cactos, e muitas espécies crescem nas pedras, em fissuras ou

depressões da rocha onde a acumulação de areia, pedregulhos e outros detritos, juntamente

com o húmus gerado pela decomposição de restos vegetais, sustenta o sistema radicular destas

suculentas (LOUZADA, et al., 2001).

As unidades geológicas ocorrentes na área da bacia hidrográfica do Riacho do Poço do

Magro, são os aluviões Quaternários, a cobertura detrito-lateritica Terciária – Quaternária e as

rochas Pré-Cambrianas do Batólito de Guanambi (LOUZADA, et al., 2001).

Os aluviões ocorrem nos cursos dos rios Carnaíba de Dentro, dos Riachos do Poço do

Magro, Riacho dos Brindes e seus afluentes. Constituem depósitos recentes e se destacam por

formarem planícies aluviais de inundação em áreas morfologicamente arrasadas (LOUZADA,

et al., 2001).

Os aluviões são constituídos de sedimentação detritica areno-argilosa,

transportada pelos rios e depositada ao longo de suas planícies de inundação. De um modo

geral, sua composição consta de sedimentos predominantemente quartzosos, com

17

granulometria de areia fina, média e grossa. Segundo um perfil transversal ao leito dos cursos

d’água há uma diminuição gradativa na granulometria dos sedimentos, que passam de terraços

aluvionares com leitos de cascalho para sedimentos silto-argilosos nas áreas mais afastadas.

Além da ocorrência no leito ativo dos cursos d’água, aluviões Quaternários ocorrem em

manchas sobre o Batólito de Guanambi, espalhados por toda a área da bacia hidrográfica

ocupando, contudo, uma área de afloramentos restrita com relação a área de afloramento do

Pré-Cambriano (LOUZADA, et al., 2001).

No canal do Riacho do Poço do Magro, ocorrem sedimentos aluvionares sobre o

substrato de rocha cristalina de composição granítica, que é parte do Batólito de Guanambi.

Os sedimentos do canal do riacho são incoerentes, porosos e permeáveis, enquanto que o

substrato no cristalino apresenta coesão, baixa porosidade e permeabilidade com baixas

velocidades de movimento de fluxo da água subterrânea nas fraturas. Com a formação de uma

lagoa a pressão hidrostática aumenta forçando o deslocamento da água subterrânea

aumentando a velocidade de fluxo nas fraturas e podendo acarretar perda d’água

(LOUZADA, et al., 2001).

O modelado de dissecação diferencial nas serras do Espinhaço é controlado pela

estrutura e marcado por escarpas de falha, cristas, barras, sulcos estruturais e monoclinais

(LOUZADA, et al., 2001).

As serras do Espinhaço e Monte Alto apresentam a cota máxima de 1.130 m e

suas altitudes elevadas e escarpas abruptas contrastam com um modelado de superfícies

peneplanizadas, formadas pela erosão da superfície pré-existentes do batólito de Guanambi.

Neste contexto o terreno forma uma rampa suave em coberturas coluviais com gradiente em

torno de 3% e com as cotas decrescendo de 600,0 m próximo aos contrafortes das serras para

520,0 m próximo ao eixo da barragem. O nível mais alto dos pedimentos é constituído por

detritos arenosos com uma concentração mais densa de lagoas na margem esquerda do Riacho

18

Carnaíba de Dentro e seu afluente Riacho do Poço do Magro, que aumenta no sentido de sua

declividade, indicando o predomínio de um escoamento difuso na região da baixa declividade

do terreno e do substrato impermeável do batólito de Guanambi. Relacionada aos riachos

intermitentes ocorrem depressões fechadas pseudokársticas (LOUZADA, et al., 2001).

As áreas com grande potencial erosivo correspondem aos metassedimentos das Serras

do Espinhaço e de Monte Alto, devido a sua menor coesão e resistência a erosão, fornecendo

grande quantidade de sedimentos que são transportados durante as chuvas torrenciais, pelos

cursos d’água que tem suas nascentes nestas serras. Com potencial erosivo menor, devido a

grande coesão dos minerais formadores das rochas cristalinas, são os patamares cristalinos da

Serra do Espinhaço e os maciços cristalinos residuais do Pediplano Sertanejo esculpido no

batólito granítico de Guanambi, que forma os “inselbergs” (LOUZADA, et al., 2001).

Os processos de erosão e assoreamento dos cursos d’água locais ocorrem

durante as chuvas mais intensas, quando parte dos sedimentos erodidos mais finos e

transportados em suspensão ou na forma de colóides ficam depositados nas planícies de

inundação da bacia do Riacho do Poço do Magro e do Rio Carnaíba de Dentro. Quando cessa

a inundação, são importantes agentes na fertilização da terra. Por outro lado às frações mais

grosseiras, que são transportadas por arraste ou salteamento, ficam confinadas no canal

principal constituindo os aluviões dos cursos d’água quando diminui a energia de transporte

(Figura 6.2.2). Estes sedimentos mais grosseiros estão de passagem pelos canais dos cursos

d’água locais com destino ao Rio São Francisco, que é o receptor de todo o material erodido

em sua bacia hidrográfica (LOUZADA, et al., 2001).

19

Figura 2.1.2 Mapa de geologia da Bahia.

Fonte: Sei, Bahia/2004

20

2.1.3 Pedologia

Segundo Pereira et al. (1995), os solos predominantes na região em que o riacho do

Poço do Magro está inserido são:

_ Podzólico Vermelho-Amarelo Eutrófico. Nesta classe estão compreendidos solos com

horizonte B textural e seqüência de horizontes A, Bt e C, argila de atividade baixa e saturação

de bases maior que 50%. São solos não hidromórficos, moderadamente ácido a neutro.

Apresentam percentagem de alumínio trocável baixa a nula e profundidade na classe

profundo. O horizonte A é freqüentemente moderado com textura arenosa, média ou argilosa

e coloração variando em junção da quantidade de matéria orgânica presente, sendo as

matrizes normais do tipo 10 YR, 7,5 YR e 5 YR, com valores e cromas baixos e com

espessura variando de 10 a 40 cm. O horizonte Bt tem coloração mais freqüentemente nas 5

YR, 2,5 YR e 1,0 R, valores e cromas variados, comumente na classe vermelho escuro.

Apresentam textura média, argilosa e muito argilosa e estrutura em blocos subangulares com

cerosidade recobrindo as unidades estruturais.

A utilização destes solos tem sido predominantemente para pastagens de capim

colonião e Jaraguá devido á intensa pecuária de corte na região. Apresentam limitações

devido a má distribuição das precipitações e quando ocorrem em relevo movimentado

tornam-se mais susceptíveis a erosão. As ocorrências em relevos planos e suave ondulados

são muito boas do ponto de vista agropecuário, devido às suas fertilidades naturais elevadas,

acidez e saturação baixas.

_ Latossolos Vermelho-Amarelos Álicos e Distróficos. São solos profundos, não

hidromórficos, apresentando seqüência de horizonte A, B e C com características

morfológicas, físicas e químicas semelhantes às descritas para a classe Latossolo Vermelho-

21

Escuro, diferindo desta, essencialmente, por apresentarem cores mais claras, nos matrizes 5

YR a 10 YR, valores e cromas altos, geralmente igual ou superior a 4 teores de ferros baixo,

comumente não superiores a 8.

Os latossolos álicos são fortemente ácidos, saturação com alumínio superior a 50% e

saturação de bases (V%) inferior a 30% mais freqüentemente entre 5 a 15%, sendo os

menores valores correspondentes aos de mais alta saturação com alumínio trocável.

Os latossolos distróficos apresentam valores de saturação de base (V%) inferior a 50,

com variações entre 4 a 46%, saturação com alumínio trocável comumente inferior a 30%.

São fortemente ácidos de textura média com menos de 15% de argila, ainda na classe franco-

arenosa.

Os Latossolos Vermelho-Amarelos álicos e distróficos são aproveitados para pecuária

extensiva em meio à vegetação natural, sendo algumas áreas utilizadas com cultura de

mandioca, milho e plantio de capim-colonião e “buffel grass”. Ao longo dos chapadões estes

solos vêm sendo aproveitados para reflorestamento de eucaliptos e pinus, bem como para

culturas de arroz e soja.

A principal limitação agrícola é junção da baixa pluviosidade anual associada a

saturação com alumínio, forte acidez e baixa saturação de bases. Para uma utilização agrícola

racional, as mesmas providências recomendadas para os latossolos Vermelho-Escuros são

sugeridas para estes latossolos.

_ Solo Litólico. São solos pouco desenvolvidos, rasos, com seqüência de horizonte A e C ou

somente A sobre a rocha matriz. Apresentam o horizonte A dos tipos fraco, moderado e

chernozênico, com espessura entre 10 e 40 cm, de textura arenosa, média e argilosa, estrutura

fraca ou moderadamente desenvolvida em blocos e/ou granular, podendo apresentar-se em

grãos simples. Normalmente apresentam pedregosidade, cascalhos e concreções, relacionados

22

principalmente com a natureza do material originário e estão freqüentemente associados à

afloramentos rochosos, principalmente em áreas de relevo forte ondulado, montanhoso e

escarpado. Apresentam saturação de bases e alumínio trocáveis variáveis em função da

natureza da rocha matriz.

Suas limitações ao uso agrícola são devido, principalmente, à pouca profundidade,

baixa fertilidade natural. Em algumas áreas estas limitações tornam-se maiores devido ao

relevo acidentado e às presenças de pedregosidade e rochosidade.

2.1.4 Recursos hídricos

O Riacho do Poço do Magro é um afluente do rio Carnaíba de Dentro, que por sua

vez, é tributário da margem direita do rio São Francisco. Suas nascentes encontram-se nas

Serras situadas entre o Povoado do Tanque, município de Pindaí e o Distrito de Pilões,

município de Candiba (Mapa 6.3.1). Um dos fortes afluentes do Riacho do Poço do Magro é o

Riachão (Mapa 6.3.1), o qual possui suas nascentes na Serra do Monte Alto, formando curvas

sinuosas e meandros com acumulação de areias nas bordas côncavas. Trata-se de um riacho

intermitente de escoamento difuso nos cursos d’água alimentadores.

Os rios desta área, por ocasião da prolongada estação seca, sofrem uma grande

diminuição de sua descarga, aflorando então os bancos de areia e de seixos. Na área sertaneja

em especial, os cursos de água costumam ser temporários ou intermitentes.

A população residente das margens do Riacho do Poço do Magro faz uso da água

deste principalmente para dar aos animais, uma vez que, não se tem água com quantidade

suficiente e, por ser muito apropriada para uso humano, uma vez que não é tratada. Devido a

este fato, o poder público contemplou e vem contemplando a maioria dos moradores daquela

região com o fornecimento de água tratada provinda da Barragem de Ceraima, localizada no

23

município de Guanambi. Outras formas de fornecimento d’água são através de poços semi-

artesianos perfurados pelos Governos municipais e estadual e federal.

2.2 MEIO BIÓTICO

A caracterização da fauna e da flora da área objeto deste estudo foi feita

primeiramente através levantamento bibliográfico, com o objetivo de obter o maior número

possível de informações das prováveis espécies da fauna e flora na região de inserção do

projeto.

Logo após, realizaram-se visitas aos imóveis rurais situados às margens do Riacho do

Poço do Magro para o conhecimento da fauna, bem como checar as informações obtidas na

bibliografia especializada.

Para a obtenção dos dados de campo foi utilizada a técnica da entrevistas com

moradores representantes da população local, obtendo com este método informações novas,

como também complementares às já levantadas.

Os dados levantados são para conhecer e compreender melhor o meio biótico da

micro-região do Riacho do Poço do Magro, considerando a sua flora, no contexto da

composição e da dispersão, a macrofauna, citando a mastofauna e a herpetofauna, e o seu meio

antrópico.

24

2.2.1 Cobertura vegetal

Possuindo peculiaridades próprias, as caatingas compõem uma vegetação “sui

generis”, identificável à primeira vista. No entanto, a heterogeneidade da aparência dos tipos e

faciações – e das formas biológicas – é muito expressiva tanto no decorrer das estações

quanto espacialmente. Para efeito de simplificação, as caatingas podem ser classificadas como

Caatinga Arbórea, Caatinga Arbustivo-Arbórea e Caatinga Arbustiva. São compostas por

arvoretas e arbustos decíduos, muito ramificados e freqüentemente armados de espinhos.

Cactáceas e outras plantas suculentas fazem-se presentes ao lado de ervas anuais.

Popularmente, as formas mais altas, sujeitas à secas menos intensas, mais próximas do litoral

são conhecidas como “agreste”. O “sertão”, dominando no interior, constitui a vegetação mais

rala do semi-árido. Além destas, as denominações populares – segundo a fitofisionomia – são

o “carrasco”, o “cariri”e o “seridó”, dentre outras, mas estes nomes se mesclam e se

confundem dependendo dos hábitos da população local. As Florestas Deciduais são altas, com

fustes longos pouco ramificados. Encontram-se distribuídas, a partir do sul, em “arco”,

acompanhando os limites desta área até a sua porção central. As disjunções e área de transição

estão relacionadas aos contatos entre a Caatinga Arbórea e Florestas Deciduais – de difícil

separação – e entre as diversas formas de caatingas e os cerrados. Ressalta-se que, uma vez

condicionada pelo clima, a densidade e a altura da vegetação desta área está diretamente

relacionada às condições de profundidade efetiva e fertilidade natural dos solos

(CERQUEIRA, M. M. et al., 1996.).

Os Ecossistemas da Região das Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste ocupam

uma superfície de 939.391 km². Aproximadamente 60% da área estão recobertas pela

vegetação nativa em maior ou menor estágio de alteração. Esta degradação – que deve superar

os 50% das áreas “naturais”- foi e é provocada pela intensa coleta do recurso lenha, pelo

25

pastoreio excessivo e ocasionalmente pelo fogo. Vale mencionar que, como o estrato

herbáceo desaparece durante a seca – ao contrário do que ocorre nos cerrados – inexiste a

prática do fogo objetivando a melhoria da pastagem natural. O uso e ocupação das terras

antropizadas é essencialmente agrícola de ciclo curto e pecuário. As culturas de ciclo médio e

longo ocorrem localizadamente e possuem pouca expressão territorial. Destacam-se a

produção de frutas e de grãos em áreas irrigadas (CERQUEIRA, M. M. et al., 1996.).

2.2.1.1 Flora regional

A caatinga tem sido muito modificada pela ação do homem, apesar de estudos

mostrarem que a sua flora é muito exuberante, possuindo muitas espécies endêmicas.

A flora da caatinga se destaca por possuir plantas típicas, ambientalmente adaptadas às

condições ambientais, principalmente no que concerne a falta d´água.

Estão presentes na caatinga várias espécies de importância econômica (espécies de

madeiras nobres, plantas forrageiras, melíferas, ornamentais, produtoras de alimento,

medicinais e para uso industrial). Entre as espécies típicas citamos o mandacaru (Cereus

jamacaru) espécie típica da caatinga, as barrigudas (Chorisia e Cavanillesia), o umbuzeiro

(Spondias tuberosa), o juazeiro (Zyzyphus joazeiro) – que mantém suas folhas verdes na

estação seca.

Dentro das áreas de caatinga Florestada temos um estrato herbáceo com baixa

diversidade, caracterizado principalmente pela presença de indivíduos de palma (Opuntia

ficus).

Segundo Veríssimo et al, (1995), O riacho Poço do Magro abrange várias tipologias

vegetais denominadas, conforme Classificação da Vegetação Brasileira como: savana estépica

florestada (Caatinga arbórea densa), savana estépica arborizada (Caatinga arbórea aberta) e

26

áreas antropizadas, predominantemente de pastagem. Esta última é o resultado da ação do

homem sobre a caatinga, nos processos de desmatamento e uso da terra para agricultura ou

pecuária.

Segundo o diagnóstico de vegetação realizado na região para construção da barragem

de Poço do Magro, foram identificadas 75 espécies, pertencentes a 32 famílias botânicas. As

famílias que mais se destacaram em número de espécies foram: Mimosaceae (11 espécies),

Cactaceae (8 espécies), Fabaceae (7 espécie) e Euphorbiaceae (com 6 espécies).

2.2.1.2 Dispersão

Com relação à fauna existente nos rios, as matas ciliares, são grandes fornecedoras de

alimentos, como sementes que alimentarão várias espécies de peixes. Por outro lado, a

redução destes peixes (pesca predatória) ocasionará a diminuição da dispersão de sementes

que prejudicará a mata. Portanto, a preocupação com os animais também deve existir porque a

maior parte das espécies de plantas são polinizadas por insetos, pássaros ou morcegos, sendo

que as sementes, no caso da mata ciliar, na maioria das vezes são dispersas por animais

terrestres, peixes e pela própria água dos rios e riachos.

As classes de dispersão encontradas estão de acordo com as estratégias descritas por

Carvalho, 2002. São caracterizadas as principais estratégias de dispersão de frutos e sementes

utilizadas pelas plantas, com destaque para os principais agentes dispersores como o vento, a

água e, especialmente, os animais.

Em um trabalho sobre aspectos ecológicos das espécies da caatinga a botânica da

UFPE Barbosa (2001), destacou que alguns dos mais curiosos são os recursos adotados pelas

plantas da caatinga para garantir a reprodução onde seus frutos e sementes ‘criam asas’ para

27

se dispersarem. Tratam-se de estruturas que facilitam o vôo na época reprodutiva, que ocorre

uma vez ao ano.

Ainda segundo Barbosa (2001), cerca da metade das frutíferas estudadas dispersam os

frutos e sementes por conta própria, num processo chamado de autocoria. No outro quarto de

espécies, acontece a zoocoria, a dispersão por animais. Ela observou que a autocoria ocorre no

período seco, que predomina na caatinga, e a zoocoria, no chuvoso. O fruto da baraúna é um

dos que têm asa. Já a barriguda possui sementes com um pêlo semelhante ao algodão. Na

aroeira, o fruto fica agarrado a pétalas, permitindo alcançar longas distâncias.

Com relação ao Riacho do Poço do Magro, o que podemos relatar tomando-se por

base referências bibliográficas, visitas a campo e entrevistas com alguns moradores de

imóveis localizados às margens do riacho é a ocorrência da dispersão por anemocoria,

autocoria, zoocoria e ornitocoria.

Anemocoria, ou dispersão pelo vento: Os frutos são secos e deiscentes, com sementes

pequenas e leves, normalmente apresentando estruturas aerodinâmicas que auxiliam o vôo,

sendo por isso conhecidas como sementes aladas. Algumas plantas anemocóricas perdem

todas as folhas no período de dispersão.

Autocoria: é a dispersão por mecanismos da própria planta, que lança suas sementes pelas

redondezas por algum mecanismo particular ou simplesmente libera as sementes diretamente

no solo . Este tipo de dispersão inclui a barocoria ou por gravidade, e barocórica ou explosiva.

Zoocoria, ou dispersão por animais: Grande parte das estratégias de dispersão de sementes,

especialmente nos trópicos, envolve a participação ativa ou passiva dos animais. Após a

alimentação, as sementes não perdem o seu poder de germinação e após serem eliminadas na

28

fezes, voltam a perpetuar a espécie. Como exemplo podemos citar o jatobá (Hymenaea

courbaril ), que é disseminado pela cutia (Dasyprocta aguti)

Ornitocoria: ou dispersão pelas aves está relacionada com a ausência de odor forte e a

presença marcante de coloração nos frutos maduros, uma vez que a visão é o principal sentido

das aves. Frutos vermelhos e roxos são preferidos pelas aves, que entretanto podem vir a

consumir frutos amarelos ou até mesmo verdes. No Riacho do Poço do Magro temos como

exemplo: Schinus terebinthifolius (aroeira-vermelha), a qual é citada por Guimarães (2003),

como sendo umas das plantas da família Anacardiaceae que produzem frutos utilizados pela

avifauna que, de forma comensalística, dispersa seus frutos e sementes.

Mirmecoria: ou dispersão por formigas. Como exemplo Schinus terebinthifolius.

2.2.2 Macro fauna

Louzada (2001), demonstra que a fauna da região é característica das regiões de

caatinga, tendo sido amostrados os grupos de répteis, anfíbios, mamíferos e aves. As

densidades populacionais da fauna tendem a serem muito baixas, chegando a níveis críticos

para muitas espécies. Isto se deve à ausência de grandes áreas vegetadas, às condições

climáticas reinantes e à pressão de caça sobre esta fauna. Das 185 espécies catalogadas no

presente trabalho, duas encontram-se ameaçadas de extinção (tatu Tolypeutes tricintus e gato

do mato Leopardus tigrinus) e seis espécies são endêmicas da caatinga (salamanta epicatres

cenchia xerophilus, lagartixa Gymnodactylus geckoides, periquito Aratinga cactorun, pica-

pau Picumnus pygmaeus, i cardeal Dasyprocta prymnolopha e mocó Kerodon rupreste).

29

Louzada et al. (2001), relatam que, comparando com estudos anteriores quando foi

realizado outro levantamento faunístico nas áreas de influência da Barragem Poço do Magro

teve-se uma ampliação de espécies identificadas, relacionando o total de espécies de cada

classe de vertebrados terrestres inventariados nos dois estudos:

Quadro 2.2.2. Quadro de comparação entre levantamentos de espécies realizados em 1997 e 2001.

Total de Espécies/Ano Classe 1997 2001

Anfíbios 06 04 Répteis 21 25 Aves 128 125 Mamíferos 14 31

Total geral 169 185 Fonte: Louzada et al. (2001).

Comparando-se as listas de fauna terrestre de 2001 e 1997, fica constatado que 56

espécies foram registradas exclusivamente no inventário de 2001, enquanto as identificadas

apenas em 1997 totalizaram 35.

Os ecossistemas aquáticos relacionados ao Riacho do Poço do Magro estão associados

ao regime de intermitência a que este curso d’água está submetido. São ambientes muito

fragilizados em relação à ação humana, sendo muito comum sofrerem ações irreversíveis.

Nesse ambiente, somente os organismos adaptados a condições extremas de sobrevivência são

capazes de aproveitar, ao máximo, os curtos períodos favoráveis por ocasião da ocorrência de

águas temporárias, com crescimento e reprodução rápidos e um período bem determinado de

latência.

Na área do reservatório do Riacho do Poço do Magro, a eutrofização do sistema

aquático tornar-se-á preocupante caso ocorra mudança radical no uso da terra na sua bacia de

drenagem, propiciada pela perenização da fonte da água. A inexistência de aglomerações

humanas, atualmente, nas proximidades do riacho, diminui o risco do lançamento contínuo de

resíduos orgânicos domésticos. Da mesma forma, o desmatamento previamente ao

30

enchimento do reservatório evitará a eutrofização que seria causada pela decomposição da

vegetação ali existente.

2.2.2.1 Mastofauna

A mastofauna é representada pelo grupo dos mamíferos que compreende os animais

com temperatura corporal constante (homeotérmicos), que apresentam pêlos em algum

momento de sua vida e a glândulas sudoríparas, sebáceas e mamárias. Destas, as glândulas

mamárias são as de maior relevância, pois permitem que as fêmeas alimentem seus filhotes

nos primeiros estágios do seu desenvolvimento (TIRIRA, 1999).

No planeta, é um dos grupos com a mais ampla distribuição, praticamente não

existindo habitat onde não possam ocorrer, entretanto, sua maior diversidade apresenta-se nas

zonas tropicais. Os mamíferos têm uma grande heterogeneidade em sua biologia, ecologia,

comportamento e anatomia, com uma grande variedade de tamanho (de 4 cm e 2 g., do

musaranho, até 30 m e 100 ton., da baleia azul) e de formas, com adaptações para correr,

saltar, escavar, nadar, mergulhar, escalar e voar (TIRIRA, 1999).

Barbosa (2004) relata a presença dos seguintes mamíferos que ocorrem na região em

que está inserido o Riacho do Poço do Magro:

Figura 2.2.2.1 Relação de indivíduos da mastofauna na região de Guanambi.

Nome comum Nome cientifico Caititu Tayassu tajacu Cutia Dasyprocta aguti Gambá Didelphis marsupialis Mocó Kerodon rupreste Porco do mato Cerdocyum thours Preá Cavea aperea Raposa do campo Pseudolo pexvetulus Tatu peba Euphractus excinctus Veado catingueiro Mazama gouazoupira Fonte: Licenciamento ambiental, BARBOSA, 2001.

31

2.2.2.2 Herpetofauna

Cercados de mitos, devido ao desconhecimento popular, os anfíbios e répteis são

organismos extremamente interessantes. A grande diversidade de cor, forma, uso de habitat,

estratégias reprodutivas e histórias de vida, encontrada nesses animais, não é observada em

nenhum outro grupo de vertebrados terrestres. Tal diversidade tem encantado pesquisadores e

seduzido entusiastas, em todo o mundo. Uma prova disso é o intenso comércio, muitas vezes

ilegal, de determinadas espécies de répteis e anfíbios (ZERBINI, BRANDÃO, [2004]).

A herpetofauna compreende os animais comumente conhecidos como répteis

(tartarugas, lagartos, cobras-de-duas-cabeças, serpentes e jacarés) e anfíbios (sapos, rãs,

pererecas e cobras-cegas). Embora, geralmente, estudados em conjunto, esses dois grupos

animais não possuem a mesma linhagem evolutiva e apresentam diferenças ecológicas

marcantes. Os anfíbios são animais com grande dependência de ambientes úmidos, pois

apresentam reprodução com fecundação externa, possuem respiração cutânea (pele permeável

a gases e água, sempre úmida) e fase larval (girinos) aquática. Dessa forma, são mais

abundantes em veredas, lagoas, brejos e matas de galeria. Os répteis, por outro lado, possuem

maior independência da água no ambiente, pois apresentam pele impermeável, fecundação

interna, ovos amnióticos com casca e respiração pulmonar (ZERBINI, BRANDÃO, [2004])..

Assim, podem viver em ambientes onde não existem corpos d’água. No entanto, certos

répteis possuem uma forte associação com a água, como os jacarés, diversas tartarugas e

cágados, além de algumas serpentes. Alguns desses animais, menos exigentes na escolha do

habitat, são beneficiados com a formação de barragens, enquanto outros, mais sensíveis,

sofrem com a fragmentação e a modificação dos ambientes naturais e com outras atividades

humanas (ZERBINI, BRANDÃO, [2004])..

32

2.2.3 Relação fauna x flora

Com relação à fauna existente nos rios, as matas ciliares, são grandes fornecedoras de

alimentos, como sementes que alimentarão várias espécies de peixes. Por outro lado, a

redução destes peixes (pesca predatória) ocasionará a diminuição da dispersão de sementes

que prejudicará a mata. Portanto, a preocupação com os animais também deve existir porque a

maior parte das espécies de plantas são polinizadas por insetos, pássaros ou morcegos, sendo

que as sementes, no caso da mata ciliar, na maioria das vezes são dispersas por animais

terrestres, peixes e pela própria água dos rios e riachos (MORAIS, 2004).

2.2.4 Meio antrópico

Os municípios de Guanambi, Pindai e Candiba estão localizados na região econômica

da Serra Geral, tendo seu território completamente abrangido pelo “Polígono das Secas”,

situando-se na bacia do Rio São Francisco. A região Serra Geral da Bahia abrange uma área

de 33.847 km², equivalente a 5,81% do território do Estado, sendo composta por 29

municípios, cuja população, em 2000, somava 572.083 habitantes (LOUZADA et al., 2001).

Segundo dados do Censo IBGE realizado em 2000-2001, o município de Guanambi

possuía uma população de 71.728, habitantes, sendo que 54.003 residentes na zona urbana e

17.725 na zona rural.

3 A IMPORTANCIA DA CAATINGA ALUVIONAR NAS COMUNIDADES E

RECURSOS HIDRICOS DA REGIÃO.

3.1 AVALIAÇÃO DA CAATINGA ALUVIONAR

As matas ciliares são comunidades vegetais típicas de terrenos aluvionares, que sofrem

e refletem os efeitos das cheias dos cursos d'águas, em época chuvosas, ou então das

depressões alagáveis durante o ano. (BAHIA, 1995)

Após visita ao local constatou se que a área do entorno é formada predominantemente

por pastagens e áreas de culturas com presença de manchas isoladas com pequenas dimensões

de caatinga, e mesmo estas já degradadas. As matas ciliares do riacho Poço do Magro são

raras e limitam-se aos resquícios já degradados, de onde ainda se verifica vestígios de

exploração.

As áreas com vegetação limitam-se aos relevos (morrotes) presentes em pequeno

número nos limites do futuro reservatório e seu entorno.

Nas áreas abertas com formação de pastagens e de culturas abandonadas predominam

o algodão de seda.

Adotando-se a classificação descrita por Veríssimo, et al. (1995) são identificadas 3

fisionomias na área do Riacho do Poço do Magro.

-Caatinga alta, caatinga arbórea aberta (média e baixa) e matas de galeria.

A – Caatinga alta

Esta fisionomia ocorre em pequenas parcelas na área, predominando nas encostas dos

morros e seus encraves mais úmidos, apresentando árvores de até 15 metros de altura e o

espaçamento entre as árvores varia em torno de3 a 5 metros. Pedrominam nestas áreas a

aroeira (Astronium urundeuva), a braúna (Schinopsis brasiliensis), o (Tabebuia sp.), a

imburana (Bursera leptophloeos) e exemplares isolados da barriguda (Cavanilesia sp.). O

34

estrato herbáceo é ralo com presença de algumas comunidades de bromélias (Neoglaziovia

variegata).

Destaca-se nesta fisionomia o predomínio, nas áreas mais altas, do pau d’arco,

formando porções de mata quase homogêneas, entremeadas por poucos exemplares de

aroeira.

Suas características originais encontram-se alteradas devido a exploração madeireira e

pelo uso da pecuária.

B – Caatinga arbórea aberta (média e baixa)

Das fisionomias identificadas esta é a que predomina na área, ocupando as áreas

planas ou sob leve relevo, formada por árvores e arvoredos de até 7 m de altura com grande

espaçamento entre elas, em torno de 5 m. O estrato herbáceo praticamente inexiste.

Observam-se algumas aroeiras como indivíduos emergentes, com aproximadamente 19 m de

altura e ocorrendo espaçadamente. Esta fisionomia é decídua, apresentando poucas espécies

perenifólias, que se destaca na paisagem como o juazeiro (Zizyphu joazeiro) e a baraúna

(Schinops brasiliensis).

Da mesma forma que a área em geral, esta formação encontra-se sob forte pressão

antropica apresentando-se bem degradada.

C – Matas de galeria

Estas matas encontram-se presentes em estreitas faixas em pontos disjuntos do riacho

Poço do Magro, apresentando faixas muito degradadas, onde se verifica o corte de árvores.

Algumas árvores podem alcançar 15 m de altura, onde predominam pequenos bandos de sagüi

(Callithrix penincillata). Nestas áreas podem ser observadas a aroeira, ipê, imburana, braúna,

guatambu (Aspidosperma parvifolium) e o angico (Piptadema sp.).

35

As fitofisionomias identificadas bem como as áreas antropicas serão delimitadas e

apresentadas no mapa de vegetação e uso do solo.

3.2 A INTEGRAÇÃO DO HOMEM COM OS RECURSOS NATURAIS

Na região localizada às margens do Riacho do Poço do Magro, os moradores das

propriedades rurais vêm ao longo dos anos procurando manter uma relação harmoniosa com o

meio ambiente principalmente com a vegetação. Porém a necessidade pela utilização da

madeira, quer seja como paus para cercas, nas instalações rurais nas moradias ou até como

lenha e carvão, faz com que a cada ano ocorra a diminuição tanto da mata ciliar como também

do restante da vegetação. Por outro lado observamos também uma utilização racional por

parte destes mesmos moradores rurais. Segundo Drumond et al (2000) “Em termos

forrageiros, a caatinga mostra-se bastante rica e diversificada” e “A produção total de

fitomassa da folhagem das espécies lenhosas e da parte aérea das herbáceas na caatinga

atinge, em média, 4.000 kg/ha, constituindo se em forragem para caprinos, ovinos, bovinos e

muares.”

A caatinga naquela região vem sendo utilizada para criação de animais, onde os

criadores após promoverem o desmate e implantação das pastagens, acabam deixando

algumas árvores para que os animais possam repousar em sua sombra, muitas vezes servindo

até mesmo de alimento, como é o caso da algaroba (Prosoppis juliflora D.C.) citada por

Manera e Nunes (2001), como sendo uma árvore que poderá contribuir muito para o

melhoramento da pecuária nordeste brasileiro, devido às suas características de produção sem

grandes exigências de solo e água (chuva).

Outra forma de utilização da vegetação pela população rural na região de Guanambi,

Pindai e Candiba é quanto a exploração econômica por parte de alguns raizeiros, os quais

comercializam nas feiras livres, mercados e calçadas destas cidades, as folhas, cascas e raízes

36

das plantas que comumente nascem e crescem ao longo das margens do Riacho do Poço do

Magro. Entre as espécies exploradas, observamos em visitas de campo a aroeira

(adstringente), o pau-ferro (antiasmática e anticéptica), angico (adstringente), o juazeiro

(estomacal) e também o pau d’arco.

De forma mais tímida, porém também presente observamos a utilização de algumas

plantas frutíferas, características da caatinga ocorrendo nos trechos onde deveria existir a

mata ciliar do Riacho do Poço do Magro pela população rural. Os frutos segundo os

moradores são utilizados para alimentação e principalmente para comercialização nos

mercados de Guanambi, Candiba, Pindai e outras cidades situadas na mesma região. Como

exemplo podemos citar o umbuzeiro (Spondias tuberosa - Anacardiaceae), o jatobá

(Hymenaea spp -Caesalpinaceae), o juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart. - Rhamnaceae), murici

(Byrsonima spp. - Malpighiaceae) e também o Licuri, (Syagrus coronata – Arecaceae).

A aroeira e umbuzeiro foram proibidas pela legislação florestal de serem usadas como

fonte de energia, a fim de evitar a sua extinção na região.

Os moradores das propriedades situadas às margens do Riacho do Poço do Magro

possuem uma relação de certa forma intima com o riacho, os quais aprenderam ao longo do

tempo em que residem ali, a respeitá-lo de modo a retirar dele e de sua depauperada mata

ciliar o que lhes é necessário, quer seja na forma da madeira para ser utilizada das diversas

formas, do fruto das árvores que devido às suas características de plantas da caatinga só

produzem uma vez no ano, da água utilizada de forma limitada principalmente pelo fato do

mesmo ser intermitente e permanecer seco a maior parte do ano em grande parte de sua

extensão ou até mesmo para se refrescarem nas suas águas no período das chuvas. De maneira

geral, o Riacho do Poço do Magro vem cumprindo o seu papel de levar a água que escorre dos

morros iniciando o seu curso na sua “nascente” até desaguar no rio Carnaíba de Dentro, antes,

porém passando na Barragem construída recentemente ao longo do seu percurso.

37

3.3 OS PRINCIPAIS USOS DO RIACHO DO POÇO DO MAGRO

Por ser um riacho intermitente, o Riacho do Poço do Magro tem a sua utilização

limitada. Através de visitas a campo e entrevista com moradores dos imóveis rurais por onde

o riacho passa, pudemos comprovar que a sua utilização está intimamente ligada

principalmente aos períodos chuvosos, época em que o mesmo corre. Segundo os produtores a

sua principal utilização é para os animais beberem, sendo que de forma secundária as águas

do riacho também são utilizadas para recreação dos moradores locais, bem como de

moradores da zona urbana. Outro uso do riacho é para molhar algumas plantas que as esposas

dos produtores regularmente plantam nos quintais da sede, formando assim pequenos

pomares. Devido a esta característica de intermitência, os produtores não têm utilizado o

riacho para a irrigação propriamente dita. As propriedades desprovidas de algum reservatório

d´água que armazenam a água das chuvas recolhidas com o uso do telhado e também sem

nenhuma forma de provimento d´água, também utilizam a água do riacho para todas as

tarefas domésticas e até mesmo para beberem. Tal uso é verificado principalmente durante o

período em que o riacho está correndo, prorrogando-se pelo tempo em que mesmo não

correndo ainda tem água parada naquele trecho.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Região Nordeste, por natureza, é caracterizada por condições climáticas que

oferecem a seus habitantes, muitas dificuldades de sobrevivência. A exploração desta região

vem ocorrendo a várias décadas de maneira indiscriminada no que diz respeito ao uso do solo,

dos recursos hídricos, vegetais e animais. Sendo assim, torna necessário uma conscientização

por parte da população como um todo, no sentido de preservação destes recursos.

As matas ciliares, as quais já se sabe ter indiscutível importância na “vida” de um

manancial e dos seres que ali convivem, são chamadas de matas aluvionares devido ao

fenômeno de cheias em determinada época do ano, o qual remove parte do solo das margens

destes rios formando aluviões nas calhas dos mesmos, onde poderá vir a ser a base de uma

nova vegetação.

A presença destas matas nestes locais torna-se indispensável por todas as utilidades

que uma mata ciliar possui, mas ainda, por prevenir e evitar que o fenômeno das cheias

desloque o solo local causando o assoreamento do leito destes rios, provocando uma cadeia de

conseqüências que influencia em toda forma de vida da micro-região.

As margens do Riacho do Poço do Magro, infelizmente encontram-se em condições de

emergência, em se tratando da presença de mata ciliar, melhor dizendo, a não presença da

mata ciliar. A exploração inadequada daquela região, por parte de seus proprietários na

produção pecuária e agrícola reduziu a mata ciliar em resquícios, que provocou a completa

transformação da paisagem e da vida local existente.

Encontra-se no Riacho do Poço do Magro, em fase final, a construção de uma

barragem com capacidade para armazenamento de 30.000.000 m3 de água.

Segundo alguns depoimentos de moradores da região, a construção do reservatório,

trará benefícios futuros para a região. A perenização de parte do riacho será de grande valia

39

para alguns produtores, sendo que para outros não haverá influencia por estarem localizados

longe da área alcançada pelo recuo da água da barragem.

Um fato interessante e que merece ser apresentado, é de alguns moradores não se

interessarem na preservação e até mesmo restauração da mata ciliar de sua propriedade pelo

motivo da mesma está enquadrada como área a ser inundada pelas águas da barragem, sendo

assim, segundo os mesmos “é perda de tempo preservar ou restaurar uma mata que logo não

existirá mais”.

Sabe-se que, a construção de barragens de portes adequados e em pontos estratégicos,

é uma das soluções empregadas para a perenização parcial ou completa de leitos de rios

intermitentes. Contudo, é necessário um programa de educação e conscientização ambiental,

como a realização da caminhada (Figura 6.2.13 e Figura 6.2.14) associado a uma eficaz

fiscalização voltada para a recuperação e preservação da mata ciliar, não só no entorno do

reservatório, mas também em todo o curso do riacho. Assim como, a promoção de educação

ou reeducação da população local, da correta utilização dos recursos naturais, oferecendo

alternativas práticas e adequadas para a sua sobrevivência.

Diante da atual situação, fica evidente a necessidade da realização de estudos que

forneçam subsídios para melhor se conhecer a composição, a dinâmica e estrutura da mata

ciliar existente, estudos estes que objetivem traçar ações visando a recuperação das áreas

degradadas de forma técnica e racional, utilizando-se principalmente plantas adaptadas à

micro-região.

As ações devem visar a recuperação das áreas já degradadas, porém também é

conveniente buscar a preservação do pouco de mata existente, procurando colocá-la no

contexto da recuperação.

A implementação das ações deve-se dar em vários níveis organizacionais, quer seja no

poder público ou sociedade civil.

40

- Valoração dos recursos ambientais.

- Incentivo financeiro aos produtores rurais, procurando incentivá-los para que os mesmos

possam realizar a recuperação das matas através do extrativismo racional e sustentável. Como

exemplo, pode-se citar um programa de crédito do Banco do Nordeste, o PRONAF

FLORESTAL.

Ações globais:

- Inclusão de disciplinas como “Meio ambiente, conservação e recuperação” na grade escolar

principalmente das escolas localizadas na zona rural;

- Promoção de cursos, dias de campo, palestras e outras formas de disseminar o conhecimento

sobre o meio ambiente para os produtores rurais;

- Colocar as Leis ambientais em prática;

- Promover e divulgar ações e atividades ecologicamente corretas;

- Alertar a nova geração para necessidade da conservação do meio ambiente;

- Implantação de disque denúncia ambiental a nível federal, estadual e municipal;

Ações locais:

-Levantamento florístico e fitossociológico das áreas a serem preservadas e/ou recuperadas,�

tais levantamentos são importantes porque permitem conhecer as espécies vegetais que

compõem a mata ciliar daquele ambiente;

- Coleta de sementes das espécies atualmente presente na mata ciliar existente;

- Instalação de viveiros para produção de mudas;

- Distribuição das mudas e orientações técnicas para realização do plantio e manutenção das

mesmas.

5 REFERÊNCIAS

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Recursos Hídricos – Plano Diretor de Recursos Hídricos. Bacia dos rios verde e jacaré.

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43

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6 ANEXOS

6.1. MODELO DE QUESTIONÁRIO

Data: Localidade:

Coordenadas:

Produtor (a):

Conjugue:

Propriedade: Área:

Município: Tempo de aquisição/moradia:

Quantidade de moradores na propriedade:

Uso do solo:

Largura do imóvel na margem do Riacho do Poço do Magro:

Largura/faixa média da mata ciliar:

No seu entendimento o que é mata ciliar?

Qual a importância da mata ciliar?

O porque da sua preservação?

No seu entendimento porque existem tão poucas áreas de mata ciliar?

Qual a utilização da água do riacho?

Quais as outras fontes de abastecimento hídrico? Comentar:

Qual a utilização da madeira e qual a origem?

Já participou de alguma reunião falando a respeito de meio ambiente, da necessidade e

preocupação na conservação e se necessária, a restauração da mata ciliar?

Qual época do ano que o riacho “corre”?

Qual a época do ano que o riacho fica mais “seco”?

O riacho seca totalmente naquele trecho?

Quais as atividades no período em que o riacho corre menos ou mesmo quando seca?

Tem pretensão em restaurar/replantar a mata ciliar?

Precisa de que tipo de apoio para realização da restauração?

A construção da barragem tem beneficiado na perenização do riacho naquele trecho?

Outros comentários:

45

6.2 REGISTRO FOTOGRÁFICO

Figura 6.2.1 Nascente do Riacho do Poço do Magro, com captação das águas

que descem dos morros, agosto/2004.

Figura 6.2.2 Assoreamento do riacho, com crescimento de vegetação,

agosto/2004.

46

Figura 6.2.3 Desmate para implantação de pastagem e aproveitamento da

lenha, julho/2004.

Figura 6.2.4 Presença de algarobas nas margens do Riacho, sombra para os

animais, julho, 2004.

47

Figura 6.2.5 Utilização do Riacho para pesca (indivíduo pescando),

agosto/2004.

Figura 6.2.6 Presença de umbuzeiro nas margens do leito do Riacho,

agosto/2004.

48

Figura 6.2.7 Leito do rio com presença de capineira e ao fundo a presença

de área desmatada no morro, setembro/2004.

Figura 6.2.8 Presença de cacimbão no leito do rio, setembro/2004.

49

Figura 6.2.9 Utilização de cata-vento para sucção d’água na cisterna

perfurada na margem do Riacho do Poço do Magro, setembro/2004.

Figura 6.2.10 Utilização do riacho com fonte de recreação (banho),

agosto/2004.

50

Figura 6.2.11 Barragem do Poço Magro, julho/2004.

Figura 6.2.12 Margens da Barragem do Poço do magro, julho/2004.

51

Figura 6.2.13 III Campanha do Meio Ambiente, Guanambi, outubro/2004.

Campanha de preservação do meio ambiente com participação de toda

sociedade.

Figura 6.2.14 III Campanha do Meio Ambiente, Guanambi, outubro/2004.

Campanha de Preservação do Meio Ambiente. Participação da APAE.

52

Figura 6.2.15 III Campanha do Meio Ambiente, Guanambi, outubro/2004.

Campanha de Preservação do Meio Ambiente. Participação de Escolas

Infantis.

53

6.3 MAPAS

6.3.1 Mapa da região de Guanambi, mostrando o Riacho do Poço do Magro e sua nascente,

bem como pontos onde foram feitas entrevistas, locações e registro fotográfico.

Fonte: IBGE, Departamento de Cartografia, Folha SD.23-Z-B-II, 1998.

(modificado)

54

6.3.2 Mapa do Município de Guanambi, mostrando a situação da cobertura vegetal e o grau

de antropização das mesmas.

Fonte: Mapeamento da Cobertura Vegetal do Estado da Bahia, Diretoria de Desenvolvimento

Florestal - DDF, 1998.