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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO USO DA AÇÃO MONITÓRIA COMO MEIO DE COBRANÇA DO CHEQUE PRESCRITO RAFAEL DORVAL DA COSTA Itajaí (SC), junho de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

USO DA AÇÃO MONITÓRIA COMO MEIO DE COBRANÇA DO CHEQUE PRESCRITO

RAFAEL DORVAL DA COSTA

Itajaí (SC), junho de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

USO DA AÇÃO MONITÓRIA COMO MEIO DE COBRANÇA DO CHEQUE PRESCRITO

RAFAEL DORVAL DA COSTA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Direito. Orientador: Professor Esp. Eduardo Erivelton Campos

Itajaí (SC), junho de 2008

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AGRADECIMENTO

Cada dia é uma nova etapa em nossa vida, e um período de trabalho iniciado,

lembremos-nos de agradecer ao pai e a mãe o ensejo que concedeu o filho o seu estudo, preparando-o para executar tarefas, de que esta encarregado, realizando-a com alegria

e boa vontade, agradeço também as minhas irmãs que no intuito de estimular os estudos, fizeram grandes esforços, para que pudesse

chegar ao final esta etapa, por derradeiro agradeço a todas as pessoas que ao longo

da trajetória acadêmica estiveram presentes, incentivando ao estudo.

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DEDICATÓRIA

“Assim como os universos foram criados pela palavra de Deus, assim também nossos

pequenos mundos individuais são criados pelas nossas palavras; e as palavras são a

manifestação dos pensamentos a fim de criar um mundo de paz e beleza, saúde e

felicidade, através de palavras amáveis e delicadas, corteses e animadas”.

Assim como este trabalho começou com palavras amáveis de incentivo, termina

justamente da melhor forma, dedicando esta obra, aqueles que jamais mediram esforços

para o bem, e nos momentos de dificuldade jamais deixaram de acreditar no potencial

que um filho pode alcançar.

Desta forma dedico inteiramente este trabalho acadêmico aos meus pais e minha

família.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a

Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a

Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade

acerca do mesmo.

Itajaí (SC), junho de 2008

Rafael Dorval da Costa Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Rafael Dorval da

Costa, sob o título “O USO DA AÇÃO MONITORIA COMO MEIO DE

COBRANÇA DO CHEQUE PRESCRITO”, foi submetida em 02/06/07 à banca

examinadora composta pelos seguintes professores: Prof. Bernardo Dall’

Agnol Sá (examinador) e Prof. Eduardo Erivelton Campos (orientador), e

aprovada com a nota 10 (dez).

Itajaí (SC), junho de 2008

Profº.Eduardo Erivelton Campos Orientador e Presidente da Banca

Profº MSc Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AC. Acórdão

AP. Apelação

AP. CIV. Apelação Cível

ART. Artigo

CC. Código Cível

CPC. Código de Processo Cível

CRFB. Constituição da Republica federativa do Brasil

DEC. Decreto

DES. Desembargador

LU. Lei Uniforme

Nº. Número

REL. Relator

STF. Supremo Tribunal Federal

STJ. Superior Tribunal de Justiça

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos

operacionais.

Ação monitoria

Conforme ensina Teixeira Filho, é a ação monitoria, ação de conteúdo

cognitivo, submetida ao procedimento especial de jurisdição

contenciosa, mediante o qual a parte pretende obter satisfação de um

crédito, representado por um documento destituído de eficácia

executiva.1

Cheque

Ulhoa, conceitua o cheque como uma ordem de pagamento a vista,

emitida contra um banco, em razão de fundos que o emitente possui junto

ao sacado, proveniente essa de contrato de deposito bancário ou de

abertura de crédito.2

Embargos monitórios

Humberto, a defesa na ação monitória é feita por meio de embargos.

Não se fala em contestação porque o mandado de citação não convida

a defender-se. Sua convocação é feita, de forma injuntiva visando

compeli-lo a realizar desde logo, o pagamento da divida em prazo que

lhe é liminarmente assinado. A instauração do contraditório é, pois,

eventual, e parte do devedor citado para satisfazer o crédito do autor. Daí

1 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Cadernos de processo civil: ação monitória. Vol. 38. São

Paulo: Editora LTr, 2000. pág. 9 2 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 438

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a denominação de embargos aplicada à resposta do demandado, na

espécie.3

Prescrição

Martins, a maioria dos doutrinadores entende que a prescrição é a perda

do direito de ação pela inércia do titular de um direito, ou seja, o direito

permanece intacto em virtude da ação do tempo e da inércia de seu

titular, o que se extingue é a faculdade, do credor de uma obrigação, de

movimentar a maquina judiciária visando à satisfação de seu crédito.4

Título de crédito

título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito

literal e autônomo, nele mencionado. Esse conceito, formulado por

Vivante e aceito pela unanimidade da doutrina comercialista, sintetiza

com clareza os elementos principais da matéria cambial. Nele se

encontram, referencias aos princípios básicos da disciplina do documento

(cartularidade, literalidade e autonomia), de forma que seu detalhamento

permite a apresentação da teoria geral do direito cambiário.5

3 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: procedimentos

especiais. Rio de Janeiro: Forense, 2007. pág. 372 4 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. 11ª ed. Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000.

pág. 01 5 COELHO, Fabio Ulhoa, Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 373

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SUMÁRIO

RESUMO.............................................................................................. XI

INTRODUÇÃO...................................................................................... 1

CAPÍTULO 1........................................................................................ 3

TÍTULO DE CRÉDITO ............................................................................. 3 1.1 HISTÓRICO .......................................................................................................3 1.2 CONCEITO DE TITULO DE CRÉDITO .................................................................8 1.3 CARACTERÍSTICAS .........................................................................................10 1.3.1 CARTULARIDADE ..............................................................................................12 1.3.2 . LITERALIDADE.................................................................................................14 1.3.3 . AUTONOMIA .................................................................................................16 1.3.4 . ABSTRAÇÃO..................................................................................................18 1.3.5 . INOPONIBILIDADE...........................................................................................20 1.4 . NATUREZA DA OBRIGAÇÃO CAMBIAL ......................................................21 1.5 . CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS.............................................22 1.5.1 . QUANTO AO MODELO ....................................................................................22 1.5.2 . QUANTO A ESTRUTURA ....................................................................................23 1.5.3 . QUANTO ÀS HIPÓTESES DE EMISSÃO ..................................................................24 1.5.4 . QUANTO A CIRCULAÇÃO ................................................................................25 1.6 . ESPÉCIES .......................................................................................................27 1.6.1 . LETRA DE CAMBIO..........................................................................................27 1.6.2 . NOTA PROMISSÓRIA.......................................................................................28 1.6.3 . DUPLICATA ...................................................................................................29 1.6.4 . CHEQUE .......................................................................................................31

CAPÍTULO 2...................................................................................... 32

DO CHEQUE ...................................................................................... 32 2.1. BREVE HISTÓRICO .........................................................................................32 2.2. CONCEITO ....................................................................................................35 2.3. NATUREZA JURÍDICA DO CHEQUE ...............................................................38 2.4. CARACTERÍSTICAS JURÍDICAS DO CHEQUE ...............................................42 2.4.1. ORDEM DE PAGAMENTO A VISTA .......................................................................42 2.4.2. ORDEM ESCRITA E INCONDICIONAL....................................................................42 2.4.3. ORDEM DOTADA DE CAMBIARIDADE...................................................................42 2.5. O CHEQUE PÓS-DATADO.............................................................................44 2.6. REQUISITOS ESSENCIAIS ...............................................................................49 2.6.1. DENOMINATIVO “CHEQUE” ..............................................................................50 2.6.2. A ORDEM E SEUS SUJEITOS ................................................................................50 2.6.2.1. Emitente ..................................................................................................51

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2.6.2.2. Capacidade do emitente.....................................................................51 2.6.2.3. Sacado ...................................................................................................52 2.6.2.4. Portador ..................................................................................................53 2.6.3 - QUANTIA .....................................................................................................53 2.6.4 – DATAÇÃO....................................................................................................54 2.6.5. LUGAR DA EMISSÃO.........................................................................................55 2.6.6. ASSINATURA...................................................................................................56

CAPÍTULO 3 ..................................................................................... 59

DA COBRANÇA DO CHEQUE PRESCRITO ATRAVÉS DA AÇÃO MONITORIA ....................................................................................... 59 3.1 . INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA AÇÃO MONITORIA .............59 3.2 . CONCEITOS E ASPECTOS GERAIS DA AÇÃO MONITORIA .......................60 3.2.1 . CONCEITO....................................................................................................60 3.2.2 . CARACTERÍSTICAS ..........................................................................................61 3.2.3 . PRESSUPOSTOS E HIPÓTESES DE CABIMENTO ........................................................62 3.2.4 . LEGITIMIDADE ................................................................................................64 3.2.4.1 . Legitimidade ativa................................................................................64 3.2.4.2 . Legitimidade passiva ...........................................................................65 3.2.5 . NATUREZA JURÍDICA .......................................................................................66 3.2.6 . COMPETÊNCIA ..............................................................................................67 3.3 . DO MANDADO DE PAGAMENTO OU DE ENTREGA ...................................68 3.4 . DOS EMBARGOS MONITÓRIOS...................................................................70 3.5 . DA SENTENÇA DA AÇÃO MONITORIA.......................................................71 3.5.1 . NATUREZA JURÍDICA DA SENTENÇA....................................................................71 3.5.2 . RECURSOS CABÍVEIS.......................................................................................72 3.5.3 . A FASE EXECUTIVA .........................................................................................74 3.6 . DA COBRANÇA DO CHEQUE PRESCRITO ..................................................77 3.6.1 . DA PRESCRIÇÃO DO CHEQUE .................................................................77 3.6.1.1 . Interrupção do prazo prescricional ....................................................79 3.7 . DA COBRANÇA JUDICIAL DO CHEQUE .....................................................81 3.7.1 . DO PROCESSO DE EXECUÇÃO ..........................................................................81 3.7.2 . PROTESTO DO TÍTULO.......................................................................................83 3.7.3 . AÇÃO DE LOCUPLETAMENTO INDEVIDO OU ENRIQUECIMENTO ILÍCITO .....................85 3.8 . AÇÃO MONITORIA ......................................................................................88

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 93

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS................................................. 96

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo inicial, a

realização da Monografia de Conclusão de Curso, com vistas à obtenção

do grau de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí. Para

que este objetivo inicial se alcançasse elaborou-se este trabalho, com

base na legislação pratica e na doutrina atinente ao tema proposto, que

por sua vez foi a “O uso da Ação Monitória como meio de cobrança do

cheque prescrito”. O tema foi abordado de maneira objetiva, buscando

destacar os principais aspectos da modalidade de Ação Monitória e do

cheque como título de crédito dentro da legislação brasileira, assim como

o tratamento dado pelos autores que discorrem acerca do assunto, de

modo a produzir um trabalho monográfico cujo conteúdo se demonstra

de fácil entendimento e assimilação.

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INTRODUÇÃO

A presente monografia foi desenvolvida no campo das

Ciências Jurídicas, com enfoque na Ação Monitoria como meio de

Cobrança do cheque prescrito.

O presente trabalho tem dois objetivos, quais sejam:

institucional, relacionado à produção de Monografia para obtenção de

título de Bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, e

investigatório, subdividido em: a) objetivo investigatório geral, estudar a

possibilidade da utilização da ação monitoria para cobrança de cheque

prescrito; e b) objetivos investigatórios específicos, que são, analisar o

instituto do cheque, fazendo um estudo sobre a sua origem histórica, o seu

conceito, a sua natureza jurídica, etc., analisar o procedimento monitório

fazendo um estudo sobre o seu conceito, natureza jurídica, históricos e

características, etc..., e finalmente fazer uma análise sobre a prescrição, os

meios de cobrança do cheque prescrito e sobre a Ação Monitoria,

explicando como a mesma pode ser usada como um meio eficiente de

cobrança do cheque prescrito.

O tema é atual e relevante, pois a Ação Monitoria tem

sido amplamente utilizada por aqueles que possuem um título sem

eficácia executiva, sendo, porém, muito discutida a possibilidade de ser

usada esta via como meio de cobrança do cheque prescrito.

A investigação foi desenvolvida de forma bibliográfica

e jurisprudencial, sendo essencialmente teórica.

A pesquisa foi desenvolvida tendo como base as

seguintes hipóteses: a) quais os principais títulos de crédito, tomando uma

abrangência geral, b) quais os requisitos formais do título de crédito

“cheque” e até quando o mesmo possui força executiva; c) quais os

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principais aspectos legais e procedimentos da Ação Monitoria no

contexto jurídico brasileiro, quando e como o cheque poderá embasar

uma Ação Monitoria.

Para a investigação do objeto, adotar-se-á o método

dedutivo6

Destarte será apresentada a definição do título de

crédito cheque, bem como a ação monitoria, sendo analisado com

profundidade, a possibilidade da utilização do procedimento monitório

como meio de cobrança do cheque prescrito.

Assim no primeiro capítulo aplicar-se-á os principais

títulos de crédito, abrangendo seu contexto histórico, seus conceitos e a

natureza da obrigação cambial.

No segundo capítulo tratar-se-á do cheque

apresentando os principais conceitos e instituto do “cheque”, abrangendo

seu contexto histórico, conceito e natureza jurídica.

O terceiro capítulo tratar-se-á com mais propriedade

do instituto da Ação Monitoria abordando seu contexto histórico,

conceito, natureza jurídica e demais características, aprofundando a

prescrição, bem como da sua interrupção, como também das ações

judiciais para cobrança do cheque prescrito, como especial ênfase na

Ação Monitória.

Nas considerações finais apresentar-se-ão breves

sínteses de cada capítulo.

.

6 Segundo Passold, o “método dedutivo tema de peculiaridade de requerer a seleção de uma formulação geral que será sustentada pela pesquisa e, por conseguinte, terá tal dinâmica exposta em seu relato de pesquisa. Pratica da pesquisa jurídica – idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, pág. 85.

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CAPÍTULO 1

TÍTULO DE CRÉDITO

1.1 HISTÓRICO

Neste breve histórico do titulo de credito, aborda-se,

origem do dinheiro como meio de troca, surgindo assim o credito, e se

formando o titulo de credito.

O dinheiro é o instrumento de troca por excelência. É a

mercadoria por todos voluntariamente aceita para desempenhar as

funções intermediarias nas aquisições de outras mercadorias e na

obtenção de serviços indispensáveis, satisfazendo as necessidades

humanas no convívio social. 7

Tendo em sua origem como sendo um instrumento de

trocas os produtos de uso comum, como o gado e o sal por exemplo.

Com a atualização da sociedade, e torna-se um processo evolutivo

passando-se a fase metálica, posteriormente, à fase financeira, surgindo

em conseqüência o papel moeda, que representava a moeda padrão,

que também viera a ser chamada de moeda fiduciária. Denominando-se

assim a circulação de notas de papel-moeda, que possuía um elemento a

confiança do estado emissor ou de qualquer estabelecimento que o

poder público se encarrega da emissão e por isso é conversível a qualquer

tempo em moeda padrão.8

7 ALMEIDA, Amador Paes de, Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág.01 8 ALMEIDA, Amador Paes de, Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 01

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4

Assim a chamada economia natural (troca in natura),

passou-se a fase monetária, caracterizada já pela moeda como

instrumento de troca ou denominador comum de valores. Finalmente a

economia monetária chegou à economia creditória, ampliando-se, como

se vê, o conceito de troca.9

Deste modo o credito surgiu da necessidade de se

obter uma circulação mais rápida do que a moeda manual, no intuito de

se obter uma imediata mobilização de riqueza.10

Com a criação do título de crédito, o dinheiro em

espécie é substituído, de inicio operava-se com instrumentos do contrato

de cambio trajecticia, ou seja, operava-se a circulação de dinheiro. 11

O crédito, entendido em seu aspecto econômico

como troca de um bem pelo outro futuro, sempre foi fundamental para o

desenvolvimento da atividade empresarial, na medida em que o

empresário pode utilizar-se de um bem que não lhe pertence,

especialmente recursos financeiros, aplicando-se em seu oficio. Como

resultado dessa operação tem-se a viabilidade do desenvolvimento de

determinada atividade econômica, cujo capital o empresário a principio

não detinha. 12

Segundo o doutrinador Rosa Jr. “a evolução histórica

do título de crédito deve ser dividida em quatro fases: a) período italiano

9 ALMEIDA, Amador Paes de, Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 02 10 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de

acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 39 11 ALMEIDA, Amador Paes de, Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998 pág. 02 12 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 351

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até 1650, b) período francês, de 1650 até 1848, c) período germânico, de

1848 até 1930, d período do direito uniforme, que vigora desde 1930.”13

A primeira fase é o período italiano, que se

desenvolveu na idade média, precisando-se a decisiva influencia dos

mercadores italianos na evolução do título de crédito, haja vista que a

maioria das operações financeiras realizadas naquela época se

encontravam nas cidades marítimas italianas, formando um dos principais

centros de atividades econômicas, pois a feiras realizadas no local

atraiam os grandes mercadores europeus. 14

Todavia cada cidade podia cunhar sua própria

moeda, e essa diversidade de moedas em cursos nas cidades italianas

constituía-se em obstáculo para o desenvolvimento das atividades

comerciais porque os mercadores tinham de transportar a moeda de sua

cidade de origem para aquela onde seria feito negócio, correndo os

riscos do transporte. Por isso, surgiu nas feiras à operação de cambio

manual, realizada pelos cambistas, procedendo, diante das partes

interessadas, à troca entre diversas espécies de moeda. A operação

manual cambial resolveu o problema resultante da diversidade de

moedas, mas não o risco de seu transporte de uma cidade para outra,

persistindo a dificuldade de os mercadores efetuarem pagamentos, em

outras praças com moeda de sua cidade de origem. Assim visando a

resolver esses problemas, a operação de cambio manual evolveu para

operação de cambio ‘trajecticio’, pela qual o banqueiro receberia, em

sua cidade, moeda de certa espécie, e obrigava-se a entregar, em outra

cidade pessoalmente, ou por seu correspondente ao depositante ou ao

seu representante, a mesma soma em dinheiro em outra espécie de

moeda. Essa operação denominava-se trajecticia, por implicar no

13 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de

acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág.. 40 14 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de

acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág.. 40/41

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movimento de transporte da moeda de uma cidade para outra por conta

e risco do banqueiro. Quando o banqueiro recebia o dinheiro para realizar

esta operação, emitia dois documentos a) um, denominado cautio,

traduzia o reconhecimento da divida por ela contraída e a promessa de

entregar o valor equivalente no prazo, lugar e moeda que haviam sido

convencionados, constituindo aprova da realização da operação; b)

outro, rotulado littera cambii, referia-se a uma carta, pela qual o

banqueiro dava ordem a seu correspondente, localizado em outra

cidade, para que efetuasse o pagamento da quantia fixada na moeda

dessa cidade ao credor que havia feito o deposito, ou por pessoa por ele

designada. 15

Na segunda fase da evolução histórica aborda-se

período francês, que teve como marco em seu período a letra de cambio,

no amo de 1650 aparece na França a clausula à ordem, que veio facilitar

a circulação dos títulos de crédito por viabilizar os direitos neles

incorporados. Nesse período a letra de cambio era o meio de

pagamento, em geral, a serviço de dos comerciantes, sobre tudo como

meio de pagamento das mercadorias compradas a crédito, isso ocorreu

porque a praxe deixou de exigir o requisito da distância loci, para emissão

da letra de cambio, pela possibilidade de o documento ser criado em

decorrência de negócios diversos como por exemplo o empréstimo ou

compra e venda de bens a prazo, não dependendo mais de uma

clausula única. 16

No século XVII ocorreu na França a introdução do

endosso, facilitando, a soberania, o desenvolvimento do credito, por ser

meio cambiário próprio para circulação do titulo de credito. O endosso

nasceu despido de qualquer formalismo porque para sua caracterização,

15 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de

acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 41 16 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de

acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 43

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bastava a assinatura do endossante, diferentemente portanto, da cessão

de credito regida pelo direito comum, pela sua natureza contratual, que

exigia assinaturas do cedente e do cessionário, criada a letra de cambio,

o comerciante poderia enviá-la, de imediato, ao seu credor, não

havendo mais a necessidade da intervenção do banqueiro.17

A terceira fase da evolução cambiária dá-se no

período germânico, que iniciou-se em 1848 e perdurou até 1930. Nesta

época marca o aparecimento da Ordenação Geral do Direito Cambiário,

que teve origem na Alemanha, como o próprio nome já diz a Ordenação

Geral do Direito Cambiário, organizou as normas disciplinadoras da

cambial, separando-as do direito comum, que regiam as relações jurídicas

que permitiam o saque da letra de cambio.

O sistema adotado pela ordenação Alemã é assim

explicado segundo a doutrina de Rosa Jr.:

a) a letra de cambio foi considerada instrumento de circulação no interesse do comercio; b) o título correspondia a uma obrigação literal inteiramente desvinculada de qualquer vinculo formal com o contrato de cambio, e, assim, a criação do título não mais dependia de prévio contrato, pois valia por si mesmo, e o direito cambiário decorre do título em si, e não relação causal que o originou; c) estabeleceu-se a distinção da obrigação decorrente da relação causal e a obrigação emanada do título, viabilizando a circulação da obrigação cambiaria independente da obrigação consubstanciada na relação causal; d) a letra podia circular por endosso independentemente de conter a clausula a ordem, bastando apenas que nela figurasse a sua denominação, mas, inicialmente, só se admitia endosso em branco, ou seja, consistente na mera aposição no título da assinatura do endossante, sem identificar a pessoa do endossatário; e) a pessoa que aceitasse a letra assumia a obrigação de

17 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de

acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 44

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devedora principal perante o sacador e o terceiro portador; f) a obrigação era caracterizada como cambial quando resultasse de título redigido e transmitido de acordo com a lei; g) protegia o terceiro de boa-fé, tornando-o invulnerável às exceções pessoais argüidas pelo devedor, com base na sua relação com o credor originário, e essa proteção justificava-se porque o terceiro não era mais considerado como cessionário, em razão de adquirir pelo endosso direito próprio, novo, autônomo e originário, enquanto o cessionário adquiri direito derivado, vale dizer, mesmo direito do cedente; h) a letra estava desvinculada da sua causa pela consagração da abstração cambiária, e o título de crédito passou a corresponder a documento constitutivo de direito novo (cartular), deixando de ser mero documento probatório da relação causal; i) o título passou a ser considerado como bem móvel e sujeito, portanto, ao principio que rege a circulação de tais bens (a posse de boa-fé vale como propriedade).18

A quarta fase caracteriza-se evolução do título de

credito evidencia-se no período da uniformização da legislação

cambiaria, que se realizou em genebra em 1930, uma convenção

internacional, em face da aprovação das leis uniformes genebrianas sobre

letras de cambio e notas promissórias, e aproximadamente em 1931, sobre

cheques, sendo que foram extremamente influenciadas pela Ordenação

Geral Alemã de 1848. 19 Aprofundaremos no próximo capitulo em relação

a uniformização das leis cambiarias no histórico do cheque.

1.2 CONCEITO DE TITULO DE CRÉDITO

Almeida, que da sua função trajecticia, evoluiu o título

de crédito, assumindo especial relevo nos dias atuais, possibilitando,

outrossim, extraordinária mobilização do credito. Neste sentido define:

18 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de

acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 45/46 19 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de

acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 46

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Assim, título de crédito é um instrumento formal que contem obrigação,

instrumento este que a lei confere direito literal e autônomo. 20

Coelho: “título de crédito é o documento necessário

para o exercício do direito literal e autônomo, nele mencionado”21. Esse

conceito, formulado por Vivante e aceito pela unanimidade da doutrina

comercialista, sintetiza com clareza os elementos principais da matéria

cambial. Nele se encontram, referencias aos princípios básicos da

disciplina do documento (cartularidade, literalidade e autonomia), de

forma que seu detalhamento permite a apresentação da teoria geral do

direito cambiário.

Ressalta Rosa Jr.:

[...]. Este conceito é relevante por ser mais preciso sob o aspecto jurídico por que: a) refere-se expressamente aos princípios cardeais do título de crédito (literalidade e autonomia); alude também, de forma implícita, ao princípio da incorporação, ao mencionar que o direito cambiário está contido no título; c) caracteriza-se o título de crédito como título de apresentação, ao enfatizar que é documento necessário ao exercício do direito cambiário nele contido; d) deixa claro que se trata de documento formal, ao se referir à literalidade, da qual decorre seu rigor formal.22

Ensina Bertoldi, que de fato, nessa definição podemos

vislumbrar as principais características desse instrumento: o título de crédito

é um documento, ou seja, devera ela estar escrito, gravado em um meio

material, normalmente papel, não se admitindo a existência de título de

crédito que não seja escrito, documentado em meio físico. “Esse

20 ALMEIDA, Amador Paes de, Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 8 21 COELHO, Fabio Ulhoa, Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 373 22 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de

acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 52

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documento é necessário para o exercício do direito nele mencionado,

significando dizer que somente com a apresentação do documento é

que o direito crediticio nele encerrado poderá ser efetivamente exigido.

Deverá, o título de crédito, mencionar qual o direito a que faz jus o seu

portador especial a qualificação do devedor, seu emitente, a quantia

devida, a data em que devera ser paga e em que local, praça de

pagamento, entre outras informações.”23

Para Roque, todo título de crédito deve conter uma

declaração da obrigação e também uma confissão de divida, é um

documento confessório. É fonte de obrigação de pagar uma

determinada soma em dinheiro, até certo dia e em determinado lugar, a

quem apresentar o título para pagamento dele. 24

Sendo assim Coelho ensina que, como documento, o

título de crédito reporta um fato, diz que alguma coisa existe. Em outros

termos o título prova a existência de uma relação jurídica,

especificamente de uma relação de crédito, o título constitui prova de

que certa pessoa é credora de outra, ou de que duas ou mais pessoas são

credoras de outras. Se a pessoa “A” assina um cheque e o entrega a

pessoa “B”, o titulo documenta que “B” é credora de “A”. A nota

promissória, letra de cambio, duplicata ou qualquer outra título de crédito

também possuem o mesmo significado, também representam uma

obrigação crediticio. 25

1.3 CARACTERÍSTICAS

A evolução do título de crédito só se tornou possível

com o reconhecimento de que se reveste de determinados princípios, que 23 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 353

24 ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. São Paulo: Ícone, 1997. pág. 21/22 25 COELHO, Fabio Ulhoa, Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 373/374

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emitem cumprir a sua finalidade de ser negociável, e por isso, o legislador

sempre teve a preocupação de proteger o terceiro de boa-fé. Esses

princípios correspondem a verdadeiros atributos do título de crédito para

diferenciá-lo de outros documentos.26

Bertoldi, a evolução e a larga utilização do título de

crédito somente se verificou diante de suas características essenciais. Essas

características permitem a sua circulação, podendo passar pelas mãos de

uma quantidade significativa de pessoas, e, ao contrario dos demais

instrumentos representativos de obrigações, desvincula-se da causa que

lhe deu origem e passa a incorporar o direito nele expresso

independentemente de sua origem. 27

Consoante Coelho, o regime jurídico disciplinador dos

titulo de crédito, podem-se se extrair três princípios cartularidade,

literalidade e autonomia das obrigações cambiais. Como o atributo

característico dos títulos de credito, o elemento que o distingue mais

acentuadamente dos demais documentos representativos de obrigações,

é a negociabilidade, a facilidade da circulação do credito

documentado, e como esse atributo deriva do regime jurídico a que se

submetem não é incorreto apresentar os seus princípios informadores

como fatores essenciais de caracterização dos títulos de crédito. 28

Conforme Almeida, em face da sua extraordinária

função econômica moderna, os títulos de crédito, para que tivessem

circulação pronta e segura, merecem da lei especial atenção. Daí as suas

26 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de

acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 60 27 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 353

28 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 375/376

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principais características que os tornam distintos dos demais títulos de

dívidas. 29

Ensina Bertoldi, que tais características são classificadas

pela doutrina como mediante a utilização dos seguintes princípios:

Cartularidade, Literalidade e Autonomia.30

1.3.1 Cartularidade

Bertoldi, sendo um documento necessário para o

exercício do direito nele mencionado, é fundamental estar o credor de

posse da cártula (documento representativo do título). A cartularidade,

portanto é essencial e permite a ampla negociabilidade do título. Assim

sem o documento não pode ser exercido o direito nele incorporado. Ao

tempo de o credor exigir o seu crédito, deve ser apresentado o original

com a finalidade de que a obrigação nele transcrita possa ser satisfeita.31

De acordo Roque, o título de crédito é uma cártula,

um pedaço de papel. Cártula (do latim “charta”, de que se originou

também “carta” e “cartilha”) é um documento escrito, como uma carta.

A cártula cambiária tem, entretanto, sentido especial de ser um pedaço

de papel escrito, mas dotado de direitos. No papel se incorpora e se

formaliza o título de crédito. Por essa razão, muitos juristas consideram a

cartularidade com aspecto da incorporação. Entre os juristas italianos, há

sugestiva maioria deles que evitam a expressão “direito cambiário”,

preferindo a de “direito cartular”. 32

Aduz o doutrinador Bertoldi: 29 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 03 30 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 354

31 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 354

32 ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. São Paulo: Ícone, 1997. p. 45

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Significa dizer: o possuidor do título de crédito, aos olhos do devedor e de terceiros, representa real credor. Salienta-se, por hora, que o crédito é transmitido com a mudança de titularidade do documento que representa. Dessa forma, o devedor não estará, em princípio, obrigado a adimplir a obrigação se o título de crédito não for apresentado somente que possui o título pode exigir o direito nele gravado. Deve-se registrar que os nossos tribunais, no entanto, têm entendido que poderá ser substituído o original do título por copia autenticada, isso quando aquele anteriormente já tenha figurado em outro processo ou por qualquer motivo se tenha dissipado. 33

Ensina Coelho, o título de crédito é documento

necessário para o exercício do direito literal e autônomo, nele

mencionado. Desse adjetivo do conceito pode-se extrair a referencia ao

princípio da cartularidade, segundo o qual o exercício dos direitos

representados por um título de crédito pressupõe a sua posse. Somente

exibe a cártula (isto é, o papel em que se lançaram os atos cambiários

constitutivos de crédito) pode pretender a satisfação de uma pretensão

relativamente ao direito documentado pelo título. Quem se encontra com

o título a sua posse, não se presume credor. “Não basta a apresentação

de cópia autentica do título, porque o crédito pode ter sido transferido a

outra pessoa e apenas o possuidor do documento será legitimo titular do

direito crediticio.” 34

Para Silva, diz-se que o título de crédito é

documentado por uma cártula (papel). Para que o possuidor exercite os

direitos decorrentes do crédito. Torna-se necessária sua apresentação. 35

33 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 354

34 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e atual. São Paulo: Saraiva 2008. pág. 376

35 SILVA, Vander Brusso da. Direito Comercial. São Paulo: Barros, Fischer e Associados, 2005. pág. 93

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Coelho ressalta, que o título de crédito se revela,

essencialmente, um instrumento de circulação do credito representado, o

princípio da cartularidade é a garantia de que o sujeito que postula a

satisfação do direito é mesmo o titular. Cópias autenticas não conferem a

mesma garantia, porque quem as apresenta não se encontra

necessariamente na pose do documento original, e pode já tê-lo

transferido a terceiros. A cartularidade é desse modo, o postulado que

evita o enriquecimento indevido de quem, tendo sido credor de um título

de crédito de um título de crédito, o negociou com terceiros descontando

em um banco, ou trocando para fazer dinheiro em espécie. Em virtude

deste, quem paga o título deve, cautelarmente, exigir que lhe seja

entregue, para que a cambial embora paga , seja negociada novamente

com terceiros de boa-fé, que terão o direito de exigir novo pagamento.e

para que posteriormente o pagador possa exercer o direito de regresso

aos demais devedores, quando for necessário.36

Nesta linha Coelho discorre:

“pelo principio da cartularidade, o credor do título de credito deve se provar que se encontra na posse do documento para exercer o direito nele mencionado”37

1.3.2 . Literalidade

Conforme Bertoldi, a literalidade significa que somente

é considerado aquilo que no título esta expresso, ou seja, não se levam em

conta os atos gravados em outro documento que não no próprio título.38

36 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 376 37 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 377 38 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 357

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Para Rosa Jr., a literalidade significa que o “direito

cambiário só pode ser exercido com base nos elementos constantes do

título de crédito” 39, ou seja, o direito decorrente do título é literal, no

sentido de que, quanto ao conteúdo, à extensão e as suas modalidades

desse direito, é decisivo exclusivamente do que dele consta.

Coelho, o título de crédito é o documento necessário

para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado. Nessa

passagem, o conceito de Vivante se refere ao princípio da literalidade,

segundo qual somente produzem efeitos jurídico-cambiais os atos

lançados no próprio título de crédito. 40

Aduz Bertoldi:

O principio da literalidade tem razão de ser medida em que propicia segurança jurídica para o adquirente do título. Esclarecendo: o título esta destinado a circular tal como se encontra redigido, sendo a aquisição do direito nele estampado fundamentada tão-somente no termos do que nele vem redigido, de forma que adquirente, de posse do título, tem plenas condições de identificar seu conteúdo, extensão e modalidade dos direitos que representa. Assim, se o aval for dado em um documento apartado do título, este será considerado como inexistente como aval, visto que, para ser considerado, deverá constar no próprio título a assinatura do avalista. 41

Neste sentido entende Coelho:

39 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de

acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 60 40 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 378 41 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 357

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O direito decorrente do título é literal no sentido de que, quanto ao conteúdo, à extensão e às modalidades desse direito, é decisivo exclusivamente o teor do título. 42

Roque, o princípio da literalidade manifesta-se,

portanto, “como uma norma de proteção do interesse do devedor

cartular, que, como tal, é posto a salvo de qualquer exigência do

portador do título que não encontra correspondência no texto do

documento, seja com referencia ao objeto, seja em relação à

modalidade de prestação.”43 A literalidade não constitui uma regra de

proteção só do credor, mas principalmente do devedor.

Desta forma Coelho ressalta, o princípio da literalidade

projeta conseqüências favoráveis e contrarias, tanto para o credor, como

para o devedor. De um lado, nenhum credor pleitear mais direitos do que

resultantes exclusivamente do conteúdo do título de crédito, isso

corresponde, para o devedor, a garantia de que não será obrigado a

mais do que mencionado no documento. 44

1.3.3 . Autonomia

Para Bertoldi, a autonomia dos títulos de crédito

verifica-se em função de que cada obrigação a eles relacionada não

guarda relação de dependência com as demais. Significa dizer que

aquele que adquiri o título de crédito passa a ser o titular autônomo do

direito crediticio ali mencionado, sem que exista qualquer integração com

os adquirentes anteriores. “Essa característica do título de crédito é o que

42 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 378 43 ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. São Paulo: Ícone, 1997. pág. 34 44 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 378

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torna apto a circular entre inúmeras pessoas, mantendo hígido o direito

que nele emerge.” 45

Consoante Roque, a autonomia do direito cartular é a

independência da posição creditória, de que cada um dos portadores do

título, da posição dos portadores precedentes, seja sob a égide da

titularidade, seja em relação ao conteúdo do direito mencionado no

documento, estes aspectos marcam o que difere de cessão de título de

crédito e a cessão do crédito, a posição do cessionário é “via de regra,

rigidamente condicionada à validade do título de aquisição antecedente

e às exceções que este podia opor ao devedor.” 46

Rosa Jr., o título é autônomo porque o possuidor de

boa-fé exercita um direito próprio, que não deve ser restringido ou

destruído em virtude das relações existentes entre os anteriores possuidores

e o devedor. 47

De acordo com Coelho, o título de crédito é o

documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo, nele

mencionado. Agora a referencia do conceito de Vivante alcança o mais

importante dos princípios do direito cambial, que é o da autonomia das

obrigações documentadas no título de crédito. Segundo esse principio,

quando um único título documenta mais de uma obrigação, a eventual

invalidade de qualquer delas não prejudica as demais. 48

Sendo assim, discorre Coelho:

45 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 355

46 ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. São Paulo: Ícone, 1997. p. 41 47 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de

acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 67 48 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 379

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Pelo principio da autonomia das obrigações cambiais, os vícios que comprometem a validade de uma relação jurídica, documentada em título de crédito, não se estende as demais relações abrangidas no mesmo documento. 49

Aduz Bertoldi, a referida autonomia das obrigações

assumidas pelos diferentes agentes que tenham grafado suas assinaturas é

o que gera a segurança do cumprimento dessas obrigações. “quanto

mais o título circule, recebendo assinaturas, tanto mais segurança terá o

portador de que, no momento aprazado, poderá reembolsar-se da

importância mencionada no documento, facultando-lhe a lei recebê-la

não apenas do obrigado principal mas, na falta desse, de qualquer dos

que lançaram suas assinaturas no título e, assim, assumiram a obrigação

de pagá-la, se a isso forem justamente chamados”50.

Roque assina:

Cada declaração cambiária implicará a assunção de obrigação; quem colocar sua assinatura num título de crédito ficará obrigado e poderá ser chamado a pagar seu valor.51

1.3.4 . Abstração

Segundo Coelho, pelo princípio da abstração, o título

de crédito, quando posto em circulação, se desvincula da relação

fundamental que lhe deu origem. 52

Em conformidade Roque, “a abstração não pretende

negar que tenha havido uma relação fundamental, causadora do título

49 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 379 50 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág.355/356

51 ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. São Paulo: Ícone, 1997. p. 42 52 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. .381

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de crédito, mas nega qualquer relevância dessa relação fundamental

com o exercício do direito mencionado no título.” 53 A autonomia também

nega essa relevância, mas a abstração é bem mais ampla e profunda.

Assim sendo, Coelho define:

Quando o título de crédito é posto em circulação, diz-se que se opera a abstração, isto é, a desvinculação do ato jurídico que deu ensejo a sua criação.54

Para Bertoldi, o subprincípio da abstração, derivado da

autonomia da obrigação cambial, refere-se ao fato de que, quando título

passa a circular, encontrando-se nas mãos de alguém, que não participou

da relação causal-base que lhe deu origem, ele se desvincula por

completo do negocio jurídico que ensejou sua criação. Em decorrência

disso o título de crédito não depende de nenhum outro documento para

que seu titular exerça o direito crediticio dele emergente. Essa

característica acaba por gerar a segurança necessária a respeito do título

de crédito, podendo este circular livremente sem a necessária

investigação das causas de seu surgimento. 55

Contudo Coelho ressalta, que a abstração, então,

somente “se verifica se o título circula. Em outros termos, só quando é

transferido para terceiro de boa-fé, opera-se o desligamento entre o

documento cambial e a relação em que teve origem.”56 A conseqüência

disso é de o credor exonerar-se de suas obrigações cambiárias, perante

terceiros de boa-fé, em razão de irregularidades, nulidades ou vícios de

qualquer ordem que contaminem a relação fundamental. E não se

53 ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. São Paulo: Ícone, 1997. pág. 44 54 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 381 55 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág.356

56 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 381

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exonera exatamente porque o título perdeu seus vínculos com tal relação.

Confirmando que a abstração não acrescenta nenhuma conseqüência

de relevo às decorrentes do principio da autonomia, daí seu estatuto de

subprincípio.

Por derradeiro Almeida em sua obra, versa a cerca de

abstração no sentido que, todavia, há títulos que adquirem eficácia

cambiaria independente da causa debendi, numa completa abstração

ao negocio que lhe deu origem, a obrigação cambial não é, certamente,

uma obrigação sem causa, mas é uma obrigação cuja causa é a letra, e

sobre a causa da letra nenhuma influencia direta pode exercer. 57

1.3.5 . Inoponibilidade

Bertoldi, inoponibilidade das exceções ao terceiro de

boa-fé quer significar que, “quando o devedor principal venha a ser

instado a pagar o valor ao qual se obrigou quando da emissão do título,

não poderá alegar, para se esquivar do pagamento, possíveis exceções

relacionadas com a relação causal que deu origem a dívida

consubstanciada no título” 58, ou seja, se o título se originou de compra e

venda, o emitente do título, não poderá alegar ao terceiro de boa-fé, ao

vir este lhe apresentar esse título para pagamento que o objeto adquirido

apresentou-se em desconformidade com as qualidades que deles se

esperavam.

Segundo Coelho, pelo princípio da inoponibilidade das

exceções pessoais aos terceiros de boa-fé, o executado em virtude de um

57 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 6 58 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 356

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título de crédito não pode alegar, em seus embargos, matéria de defesa

estranha a sua relação direta com o exeqüente.59

A inoponibilidade das exceções esta prevista na Lei

Uniforme em seu artigo 17, que estabelece:

Art. 17. as pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor. 60

O Código Civil em seu artigo 916, estabelece:

Art. 916 – as exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.61

1.4 . NATUREZA DA OBRIGAÇÃO CAMBIAL

Coelho, diz-se que os devedores de um título de

crédito são solidários. Há, inclusive, quem identifique na solidariedade

entre os obrigados cambiais um postulado fundamental da disciplina

jurídica dos títulos de crédito. Por outro lado, a própria lei preceitua que o

sacador, aceitante, endossantes ou avalistas são solidariamente

responsáveis pelo pagamento letra de cambio. Sendo incorreta a

afirmação de que os devedores de um título de crédito são solidários. 62

59 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 382 60 Dec. 57.663/66 61 NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 39 ed.

Atual até 16 de janeiro de 2007.São Paulo: Saraiva, 2007. art. 916 62 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 383

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22

1.5 . CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS

Toda classificação desempenha papel relevante no

mundo jurídico para melhor compreensão de qualquer instituto porque faz

sobressair todos os seus aspectos, permitindo conhecê-los sob a óticas

distintas. Entretanto qualquer classificação só terá interesse se baseada no

direito positivo no estado onde se proceda ao estudo de determinado

instituto, embora ajude a esclarecer o instituto atual o conhecimento de

classificações baseadas no direito positivo.

1.5.1 . Quanto ao modelo

Os títulos de créditos quanto ao modelo podem ser

classificados como livres e vinculados, no título de crédito livre não um

padrão definido para sua confecção, podendo ser emitidos de forma

livre, desde que observados os requisitos da lei, como no caso da nota

promissória e a letra de câmbio, no título de crédito vinculado a lei lhes

conferiu ou atribuiu um padrão especifico, não permitindo sua livre

confecção, como caso do cheque e da duplicata. 63

De acordo com Bertoldi, são vinculados aqueles títulos

cujo formato obedecem a padrões previamente fixados, não podendo as

partes alterá-los, sob pena de invalidade.64

Ainda com entendimento de Bertoldi, são títulos livres,

por outro lado, aqueles cujo formato não seguem um rigor absoluto,

63 SILVA, Vander Brusso da. Direito Comercial. São Paulo: Barros, Fischer e Associados,

2005. pág. 94 64BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág.359

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podendo ser confeccionado quanto a sua forma, da maneira que melhor

atenda os interesses das partes. 65

Nesta linha Coelho ensina:

Há títulos de crédito que podem adotar qualquer forma, desde que atendidos os requisitos da lei (são os de modelo livre), e há os que devem atender a um padrão obrigatório (os de modelo vinculado). 66

1.5.2 . Quanto a estrutura

Os títulos de crédito se classificam quanto a estrutura

podendo ser promessa de pagamento e ordem de pagamento, quanto

estrutura por promessa de pagamento o título apresenta duas relações

jurídicas o emitente (sacador) e o beneficiário (tomador), a exemplo da

nota promissória, quanto a estrutura por ordem de pagamento o saque do

título enseja três relações jurídicas a do sacador (que dá a ordem), a do

sacado (destinatário da ordem) e a do tomador (beneficiário da ordem),

nessa qualidade encontram-se o cheque, a duplicata e a letra de

câmbio.67

Coelho: Na ordem, o sacador do título de crédito

manda que o sacado pague determinada importância; na promessa, o

sacador assume o compromisso de pagar o valor do título. 68

65 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 359

66 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 385

67 SILVA, Vander Brusso da. Direito Comercial. São Paulo: Barros, Fischer e Associados, 2005. pág. 94

68 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 386

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1.5.3 . Quanto às hipóteses de emissão

Os título de crédito classificam quanto as hipóteses de

emissão, podendo ser títulos não causais ou abstratos e títulos causais, nos

títulos não causais ou abstratos sua criação independe de sua origem, por

exemplo a nota promissória e o cheque, nos títulos causais necessitam

obrigatoriamente de uma origem para sua criação, como no caso da

duplicata mercantil, por representar o crédito oriundo de uma compra e

venda mercantil.69

Consoante Bertoldi, são títulos de crédito abstratos os

que se desvinculam completamente da causa que lhe deu origem, ou

seja, a relação fundamental não tem relevância diante do terceiro de

boa-fé, mas tão somente entre o credor e o devedor original. Os títulos

causais também chamados de impróprios ou imperfeitos, ao contrário,

vinculam-se necessariamente as causas que lhe deram origem, ao

negocio jurídico fundamental, porque somente podem ser emitidos

quando da realização de um determinado negocio jurídico, nos termos

determinados em lei. 70

Para Coelho, pelo terceiro critério de classificação que

leva em conta as hipóteses de emissão, os títulos podem ser causais,

limitados e não causais (ou abstratos), os que somente podem ser emitidos

nas hipóteses autorizadas por lei, a exemplo da duplicata mercantil.os

títulos limitados são os que podem ser emitidos em algumas hipóteses

circunscritas pela lei, a letra de câmbio, por exemplo, não pode ser

sacada pelo comerciante, para documentar o crédito nascido da

compra e venda mercantil. Por fim os títulos não causais podem ser

69 SILVA, Vander Brusso da. Direito Comercial. São Paulo: Barros, Fischer e Associados,

2005. pág. 94 70 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág.358

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criados em qualquer hipótese. São dessa categoria o cheque e a nota

promissória. 71

Neste âmbito Coelho explica:

Há títulos que só podem ser emitidos em determinados hipóteses autorizadas pó lei (causais); há os que não podem ser emitidos em certos casos (limitados); e finalmente, os que podem ser emitidos em qualquer situação (não causais).

1.5.4 . Quanto a circulação

Encontramos na doutrina diversas classificações

relativas aos títulos de credito. Merece especial destaque aquela que

analisa os títulos quanto ao modo de circulação podendo ser ao portador

ou nominativo.

Os títulos de crédito classificam-se também quanto a

circulação que subdividem-se em títulos ao portador e títulos nominativos,

os título ao portador é aquele em que o emitente não identifica seu

beneficiário, presumindo-se como credor aquele que portar. Quanto a

circulação divide-se também quanto ao título nominativo são aqueles em

que o emitente identifica o beneficiário, registrando-os em livro próprio. 72

Segundo Bertoldi, são ao portador os títulos nos quais

não consta o nome do beneficiário, do titular do direito nele incorporado,

neste caso, a pessoa que detêm a sua posse é quem incorpora as

obrigações dele emergentes.73

71 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 386 72 Silva, Vander Brusso da. Direito Comercial. São Paulo: Barros, Fischer e Associados, 2005.

pág. 94 73 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág.357

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Por sua vez Bertoldi entende, que os títulos nominativos

são aqueles nos quais se verifica o nome do credor, sendo que, para esta

espécie de titulo circule, é necessário o endosso, que faz pelo antigo

credor ao seu sucessor.74

Os títulos nominativos, no entanto, podem apresentar-

se na modalidade à ordem ou não à ordem.

Conforme Coelho, a diferença entre a categoria ao

portador, nominativo à ordem e nominativo não à ordem, reside no ato

opera a circulação do crédito. “Os títulos ao portador não ostentam o

nome do credor e, por isso, circulam por mera tradição, isto é, basta a

entrega do documento, para que a titularidade do crédito se transfira do

antigo detentor da cártula para o novo. Os nominativos à ordem

identificam o titular do crédito e se transferem por endosso, que é o ato

típico da circulação cambiária. Os nominativos não a ordem circulam por

cessão civil de crédito. 75

Bertoldi leciona:

A adoção da clausula à ordem foi o fato mais importante na evolução dos títulos de crédito, por possibilitar, mediante endosso, a rápida transferência dos direitos incorporados nos documentos. Também foi mencionado que certo títulos admitem a clausula não à ordem, o que, de certo modo, parece ferir a natureza desses títulos, cujo escopo é a circulação. Tal, entretanto, não acontece, pois o documento, em si, permanece como um titulo de crédito, já que atesta uma operação em que a confiança é requisito principal. Mas, fazendo com que o título não circule livremente, a clausula não à ordem retira do mesmo uma das suas principais funções, permitindo que o crédito não

74BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág.357

75 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 387

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seja facilmente usado pela circulação através do endosso. Entretanto o título não a ordem também pode circular, apenas essa circulação se faz através de uma cessão que requer um termo de transferência, assinado pelo cedente e pelo cessionário, em relação aos posteriores possuidores do título. Contudo o direito de crédito, incorporado ao título, permanece. 76

1.6 . ESPÉCIES

Diversos são os títulos de crédito, todos eles regulados

por leis especiais. Os mais usuais e que sobressaem pela importância são:

I – Letra de Câmbio

II – Nota Promissória

III – Duplicata

IV – Cheque

1.6.1 . Letra de Cambio

A letra de câmbio não foi a primeira espécie de

crédito a surgir, antes dela havia a nota promissória. No entanto tendo em

vista sua larga utilização no período de construção e sedimentação de

toda a tória que envolve os títulos de crédito, além de sua estrutura

peculiar, foi a letra de câmbio eleita, pela unanimidade dos autores que

tratam deste assunto, o título que melhor serve como padrão para o

estudo do fundamentos básicos.

Roque, a letra de câmbio é o protótipo dos títulos de

crédito, como todo título de crédito é uma cártula, um pedaço de papel,

no qual serão feitas as declarações cambiárias. “Nessa cártula incorpora- 76 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág.358

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se direito creditórios decorrentes de uma relação jurídica triangular o

sacador, o sacado e o favorecido.”77 A cártula ainda é utilizada em seus

dois lado, a parte frontal é chamada pela lei de anverso, sendo ainda

conhecida como fronte ou face, a parte posterior é legalmente chamada

de verso, mas também conhecido como dorso ou costas. O anverso

destina-se a assinatura do sacador e do aceite e, no verso da letra de

câmbio poderá conter muitas declarações cambiárias, não havendo

limite para o numero de endossantes e avalistas. Ainda poderá ser a letra

de câmbio alongada em um pedaço de papel, para qual a lei reserva o

nome de anexo.

Bertoldi, a letra de câmbio é “uma ordem de

pagamento que determinada pessoa passa a outra, perante a qual

detém o crédito, para que pague, a um terceiro, a soma em dinheiro nela

indicada.” 78verifica-se nesta espécie de título a figura de três pessoas o

sacador, o sacado e o beneficiário.

1.6.2 . Nota Promissória

Ensina Rosa Jr., a nota promissória é título de credito

abstrato, formal pelo qual uma pessoa, denominada emitente, faz a outra

pessoa, designada beneficiário, uma promessa pura e simples de

pagamento de quantia determinada, à vista ou prazo, em seu favor ou a

outrem à sua ordem, nas condições dela constantes.79

77 ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. São Paulo: Ícone, 1997. pág. 85 78 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 68

79 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 487

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Coelho: A nota promissória é uma promessa do

subscritor de pagar quantia determinada ao tomador, ou à pessoa a

quem esse transferir o título. 80

Segundo Roque, a Nota promissória é o documento

pelo qual uma pessoa denominada emitente promete pagar a outra,

denominada favorecido, ou à sua ordem, certo valor em dinheiro, num

determinado dia e num determinado lugar, mediante apresentação do

documento.81

De acordo com Rosa Jr., na nota promissória só

intervêm, necessariamente, duas figuras jurídicas: uma o emitente, que a

subscreve e faz a promessa de pagamento, e a outra, o beneficiário, em

favor de quem é feita a mencionada promessa.82

Ensina Coelho, para que produza os efeitos de uma

nota promissória, o documento deve atender a determinados requisitos.

Somente se revestido da formalidade prescrita em lei, o instrumento escrito

poderá ser transferido e cobrado, sob o regime do direito cambiário. 83

1.6.3 . Duplicata

Consoante Bertoldi, a duplicata é uma espécie de

título de crédito criada pelo direito brasileiro, que, ao regrar a forma com

que a compra e venda mercantil deveria ser representada, estabelecia:

“Nas vendas em grosso ou por atacado entre comerciantes, o vendedor é

obrigado a apresentar ao comprador por duplicado no ato da entrega

das mercadorias, a fatura ou conta dos gêneros vendidos, as quais serão

80 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 433 81 ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. São Paulo: Ícone, 1997. pág. 57 82 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de

acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 488 83 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 433/434

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por ambos assinados, uma para ficar na mão do vendedor, e outra na do

comprador”.84

Conforme Coelho, a duplicata, assim é o título nascido

como instrumento de controle de incidência de tributos. Os comerciantes,

ao realizarem operações de venda, estavam obrigados a emitir a

duplicata e, ao assiná-las, deveriam inutilizar estampilhas previamente

adquiridas nas repartições ficais. Provavelmente deve-se à ligação com o

procedimento tributário a vulgarização do instituto e o larguissímo uso das

duplicatas pelos comerciantes do Brasil. 85

Para Roque, a duplicata é um título de crédito sacado

por uma empresa, contendo uma ordem de pagamento ao sacado, para

que pague determinado valor ao próprio sacador. Sendo uma ordem de

pagamento, é marcante sua semelhança com a letra de câmbio, mas na

duplicata o sacador e o favorecido são a mesma pessoa e só poderá ser

uma empresa individual ou coletiva, mercantil ou civil. 86

Deste modo Silva conceitua, duplicata é um título de

crédito de origem brasileira, cuja finalidade consiste em documentar as

operações mercantis. Quanto a sua estrutura representa uma ordem de

pagamento, na qual existem três figuras o sacador, o sacado e o

beneficiário. Sendo assim a duplicata é um título causal, pois somente

pode ser emitida para documentar uma compra e venda mercantil ou

uma prestação de serviço. 87

84 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág.440

85 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 457

86 ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. São Paulo: Ícone, 1997. pág. 151 87 SILVA, Vander Brusso da. Direito Comercial. São Paulo: Barros, Fischer e Associados, 2005.

pág.108

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1.6.4 . Cheque

Leciona Coelho, o cheque “é 88uma ordem de

pagamento a vista, emitida contra um banco, em razão de provisão que

o emitente possui junto ao sacado, proveniente essa de contrato de

deposito bancário ou de abertura de crédito”.

Será abordado no segundo capitulo com uma ênfase

sobre o cheque, fazendo um breve histórico, conceituando, trazendo a

sua natureza jurídica, suas características, seus elementos e requisitos.

88 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 437

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CAPÍTULO 2

DO CHEQUE

2.1. BREVE HISTÓRICO

Ainda que de forma breve, será relatado a história do

cheque, para entender o sentido e o alcance de um instituto, que

transcorreu séculos.

Para Martins, a origem do cheque é bastante

discutida, pois vários autores procuram antecedentes na mais remota

Antigüidade. Podendo assim dizer que alguns documentos possuíam

características de cheque, tais documentos datados de sua existência no

Egito antigo, estes documentos tinham em seu conteúdo ordens de

pagamento em favor de terceiros. Contudo esta prática, teria

influenciado a Grécia e Roma, onde estas ordens de pagamento também

foram encontradas.89

É bastante controvertida a doutrina, em relação a

origem do cheque. Vários autores chegam a identificar na Idade Média a

origem do cheque, que segundo Bertoldi e Ribeiro “era instrumento

utilizado para facilitar o transporte da moeda mediante ordens de

pagamento”.90

Ainda aduz Bertoldi, “que foi na Inglaterra do século

XVII, que essa espécie de título de crédito teve utilização generalizada,

89 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. 11ª ed. Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000.

pág. 05 90 BERTOLDI, Marcelo M., RIBEIRO, Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 426

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época em que os soberanos entregavam a seus credores ordem de

pagamento dirigidas ao tesouro por meio dos chamados “exchequer bill”

ou “bills of exchequer”, que mais tarde passou a se chamar cheque.

Leciona Martins:

Na Idade Média, como se disse, os reis costumavam a dar aos seus credores ordens de pagamento a seus credores contra o tesouro. Essas ordens de pagamento se chamavam bills of saccario, posteriormente bills of chequer. [...], com o correr do tempo, tais ordens de pagamento foram tomando outra forma e seu uso se expandindo. Autores aventam a idéia de que o cheque foi introduzido na Inglaterra em 1557 por Tomas Grescham, a sua maior expansão se verificou com as Goldsmith notes, emitidas no século XVII, por banqueiros, autorizando a emissão por parte de seus clientes, de títulos nominativos ou à ordem, que seriam pagos no ato da apresentação.91

Ensina Martins, em 1694 foi criado o Banco da

Inglaterra, que posteriormente passaria a ser um banco de emissão, mais

precisamente em 1742. Com maço nesta data, começou a evolução do

título de crédito, em virtude de o Banco emitir ordens de pagamento aos

seus depositantes contra os depósitos dos mesmos, difundindo-se assim a

prática de serem sacadas contra os bancos letras de câmbio à vista,

podendo entender, como foi mencionado, que o direito inglês ainda hoje

caracteriza o cheque como letra de câmbio.92

Bertoldi, em 1882, o cheque juntamente com a letra de

câmbio e anota promissória, foi regulado pela lei inglesa conhecida como

bill of af Exchequer Act, que disciplinou aqueles títulos surgidos do costume

91 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. 11ª ed. Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000.

pág. 05 92 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. 11ª ed. Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000.

pág. 05

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e encontrados em precedentes jurisdicionais e legislações esparsas,

“concebendo o cheque como letra de cambio à vista”.93

Com o decorrer dos anos o uso do cheque passou da

Inglaterra para os Estados Unidos e servindo de exemplo para outros

países, como por exemplo a França que, desde 1826, “conhecia os

mandatos bancários” possibilitando aos clientes do Banco da França

retirarem dinheiro.94

Na França entretanto, é que surgiu a primeira

legislação que disciplinou a cerca do cheque, diferenciando-o da letra de

câmbio, esta lei marcou data no dia 14 de julho de 1865. No Brasil a

primeira regulamentação a respeito do cheque foi pela Lei 1.083, de 22 de

agosto de 1860, que disciplinou a atividade bancária. Após tal Lei surgiram

outras regulamentações na legislação Brasileira, destacando-se a edição

da Lei 2.591, de 7 agosto de 1912, que no conteúdo de seus 17 artigos

deixaram expressos os requisitos que o cheque deveria conter, seu prazo

de apresentação, a disciplina do cheque marcado e cruzado.95

A primeira referencia que se tem do uso do cheque no

Brasil segundo Fran Martins, data-se de 1845, consoante do regulamento

da província da Bahia, aprovado pelo Decreto nº. 438, de 13 de

novembro de 1845. Regulamentando-se “que o Banco receberia

gratuitamente dinheiro de quaisquer pessoas, cabendo-lhe igualmente,

verificar o pagamento e transferências, por meios de cautelas cortadas

dos talões, que devem existir no banco, com a assinatura da proprietária

na tarja, contando que tais cautelas não sejam de quantia menor que

93 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 427

94 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. 11ª ed. Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000. pág. 06

95 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 427

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cem mil réis.” Transcorridos quinze anos, edita-se a lei nº. 1.083, que

disciplina a atividade bancaria.96

Havendo uma necessidade da uniformização das

normas do cheque, na data de 1931 realizou-se em Genebra uma

Conferência Interbacional, nesta conferência adotaram uma Lei Uniforme

sobre o Cheque, sendo que o Brasil aderiu a esta lei em 1942, onze anos

depois da conferência, no entanto, somente aprovou a Lei Uniforme em

mediante o Decreto Legislativo nº. 54, de 1964, com determinação de

aplicação pelo Decreto do Poder Executivo 57.595, de 1966.

posteriormente surgiu a Lei 7.357, de 2 de setembro de 1985, denominada

Lei do Cheque, que disciplina o cheque mediante a sistematização e

consolidação dos dispositivos da Lei Uniforme.97

2.2. CONCEITO

Aos ensinamentos de Bertoldi e Ribeiro, o cheque trata-

se de uma ordem de pagamento à vista, de um sacado emitida contra

um banco ou instituição financeira assemelhada, para que esta pague a

pessoa à pessoa indicada ou ao seu portador quantia previamente

depositada pelo emitente da ordem.98

O cheque é uma ordem de pagamento a vista, para

uma entidade bancária, dada por alguém a si ou a terceiro. Segundo

Médice “o cheque é o titulo mais difundido nas transações econômicas

96 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. 11ª ed. Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000.

pág. 06 97 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 427

98 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 426

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financeiras. Sob o critério da origem histórico-jurídica, está classificado

como título cambiariforme”.99

Leciona Martins:

Entende-se por cheque uma ordem de pagamento, à vista, dada a um banco ou instituição assemelhada por alguém que tem fundos disponíveis no mesmo em favor próprio ou de terceiro.100

O cheque é “um titulo revestido de determinadas

formalidades legais contendo uma ordem de pagamento à vista,

passando em favor próprio ou de terceiro,”101 na definição do doutrinador

Almeida.

Do conceito de cheque que se extrai dos

ensinamentos de Coelho:

O cheque é um titulo de credito de modelo vinculado, só podendo ser eficazmente emitido no papel fornecido pelo banco sacado (em talão ou avulso). Por essa razão, não costuma gerar incertezas a eficácia chéquica de certo documento papel, apresentando os mais variados padrões, já que é titulo de modelo livre. Assim, por vezes, discute-se um documento em particular, a que se denominou nota promissária, efetivamente produz efeitos cambiários de uma. A superação do problema depende, no caso, da análise dos requisitos legais relativos à promessa. Mas o mesmo quadro raramente se encontra, na hipótese de credito documentado em cheque, devido a sua qualidade de titulo de modelo vinculado. De qualquer forma, para se definir se determinado papel, que embora atenda os parâmetros regulamentares de padronização do cheque,

99 MÉDICE, Octávio. Cheque: Pratica, Processo e Jurisprudência. 8 ed. v. 23. Curitiba: Juruá

Editora, 1999, pág. 9 100 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. 11ª ed. Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000.

pág. 03 101 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 95

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teve sua eficácia cambial posta em questão, o critério será a aferição do atendimento aos requisitos legais do título.102.

Neste sentido Coelho, conceitua o cheque como uma

ordem de pagamento a vista, emitida contra um banco, em razão de

fundos que o emitente possui junto ao sacado, proveniente essa de

contrato de deposito bancário ou de abertura de crédito.103

Conforme o doutrinador Rosa Jr.:

..., tomando-se por base a lei nº. 7.357/85, cheque é o título cambiário abstrato, formal, resultante de mera declaração unilateral de vontade, pelo qual uma pessoa, designada emitente ou sacador, com base em prévia e disponível provisão de fundos em poder do banco ou instituição financeira a ele assemelhada por lei, denominado sacado, dá contra o banco, em decorrência de convenção expressa ou tácita, uma ordem incondicional de pagamento à vista, em seu próprio benefício ou em favor de terceiro, intitulado tomador ou beneficiário, nas condições estabelecidas no título.104

É importante ressaltar que, por conseguinte, da

significativa função econômica que tem o como substitutivo do dinheiro, o

cheque, atualmente está em cada dia que passa entrando em desuso. O

uso dos títulos escriturais, como o caso, do cartão de banco instantâneo e

o cartão de credito é cada vez mais comum. Assim, tal título tem

importância econômica tão grande ou maior que o cheque.

102 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 438 103 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 438 104 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada,

de acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 510/511

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2.3. NATUREZA JURÍDICA DO CHEQUE

A doutrina diverge em relação a natureza jurídica do

cheque, existindo três correntes doutrinarias, “a primeira corrente entende

que o cheque não pode ser considerado um titulo de crédito por faltar o

elemento crédito, que não esta inserido em seu mecanismo, sendo assim,

um mero título de exação, ou seja, um instrumento de pagamento de vida

brevíssima e que se extingue com o pagamento do seu valor pelo banco

ao sacado. A segunda corrente considera o cheque um título de crédito

impróprio quando circula, mediante endosso, porque aparece o elemento

crédito, ficando o endossante vinculado à responsabilidade do

pagamento da importância mencionada no documento. A terceira

corrente caracteriza como o título de credito mesmo quando não circula,

desde que emitido em favor de terceiro, que por confiar no emitente, o

recebeu em lugar de dinheiro, embora de vida brevíssima, em geral, o

título de crédito, com a feição característica de documento necessário ao

exercício ao direito literal e autônomo que nele se contém.”105

Ressalta Martins:

Tem-se procurado caracterizar a natureza jurídica dessa ordem de pagamento dada pelo sacador ao sacado. Para alguns autores essa ordem é um mandato, outorgado pelo sacador ao sacado, que ao pagar a ordem estaria representando o sacador ou mandante.106

Sustenta Almeida, em sua obra, e classifica a natureza

jurídica como:

A questão, das mais controvertidas, ensejou o aparecimento de inúmeras teorias que objetivam esclarecer

105 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada,

de acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 522/523 106 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. 11ª ed. Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000.

pág. 11/12

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a verdadeira natureza jurídica do cheque, destacando-se a teoria contratualista, insistindo em ver no cheque um contrato sui generis, em tudo semelhante ao contrato de compra e venda de moedas, a teoria de cessão, para qual haveria uma cessão no ato do deposito bancário. Há ainda a teoria do mandato, pelo qual o emitente daria ordem ao sacado de pagar ao beneficiário.107

Diz ainda Pires:

Na verdade, existem inúmeras teorias que procuram definir a natureza jurídica do cheque. Historicamente, em primeiro lugar, alguns doutrinadores entendiam que o cheque seria, na verdade, mero contrato de compra e venda de moeda. Esta a chamada teoria contratualista. Em razão da teoria da cessão se entendia que no momento em alguém faz um deposito bancário, está cedendo seus direito sobre aquela coisa. Outros sustentam que o cheque é o verdadeiro mandato, que na ordem de pagamento á vista está implícito um mandato, uma autorização para este pagamento á vista.108

Segundo Médice, para compreender a natureza

jurídica do cheque, “é necessário pesquisar as relações fixadas entre as

pessoas que ordinariamente participam da circulação do titulo: sacador,

beneficiário e sacado”. Outras pessoas podem vincular-se a circulação,

como endossadores e avalistas para chegar à sua essência, basta analisar

aquelas relações. 109

Em conformidade com o doutrinador Pires, que aborda

ser a natureza jurídica do cheque, um dos problemas teóricos, doutrinários,

mais controvertidos. Entendem alguns doutrinadores, [...], que, sendo

107 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 96 108 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 114/115 109 MÉDICE, Octávio. Cheque: Pratica, Processo e Jurisprudência. 8 ed. v. 23. Curitiba:

Juruá Editora, 1999. pág. 18

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cheque uma ordem de pagamento à vista, não se erigiria em título de

crédito. Em outras palavras: na medida em que a própria palavra

“crédito” faz presumir a idéia de obrigação a prazo, sendo cheque uma

ordem de pagamento à vista, segundo esta corrente doutrinaria estaria à

margem dos títulos de crédito.110

Almeida, deixando de lado tais aspectos que

envolvem mais relações entre sacador e sacado, na realidade o cheque

é uma ordem de pagamento. A faculdade circulatória mediante

endossos sucessivos entre contrariar a sua própria natureza jurídica é que

lhe empresta a feição de título de crédito.

Já Coelho, menciona que para parte da doutrina

comercializa, trata-se de titulo de credito impróprio, melhor definido como

meio de pagamento, do que como instrumento de circulação crediticio. É

o entendimento, por exemplo, de Fran Martins, que conclui da

necessidade da provisão de fundos, do emitente junto ao sacado, a

descaracterização do crédito em abstrato. Também Pontes de Miranda

nega o cheque, expressamente, a condição de título de crédito,

afirmando tratar-se de instrumento de apresentação e resgate, de perfil

cambioforme. A maioria dos autores brasileiros, no entanto, afirmam a sua

natureza de crédito próprio, isto é, sujeito as regras de circulação e

cobrança do direito cambiário. Da discussão não seguem conseqüências

de relevo, porque a legislação disciplinar do cheque é satisfatoriamente

detalhada. Se ela fosse lacunosa, ai sim poderia existir dúvidas sobre a

constituição e circulação do documento. 111

110 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória,

cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 114/115 111 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 437

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Ressalta Pires, que partindo do princípio da

circulabilidade do crédito, encontra no cheque os dois requisitos

indispensáveis a qualquer título de crédito: confiança e o prazo112

Neste sentido Almeida discorre:

[...], se, porém, o conteúdo do cheque é uma ordem cujo beneficiário aceito o titulo de pagamento, em lugar do dinheiro que lhe deve o emitente, se o cheque substitui, embora por prazo brevíssimo, mesmo de horas ou minutos, o dinheiro devido, a qualquer título, pelo emitente, se verificam-se pois, em relação ao cheque, os dois elementos que caracterizam uma operação de credito, a confiança e o prazo que intervêm entre a promessa do devedor e a sua realização futura, é claro que o cheque apesar de não passar normalmente de mero instrumento de retirada de fundos, ou de movimentação de conta bancaria, é também titulo de crédito.113

Conclui-se que, nestas condições, à evidencia de que,

apesar de aproximado de muitos outros meios de cumprimento de

obrigações, o cheque detêm a natureza autônoma, alegando o

doutrinador de um estatuto particular para torná-lo próprio a preencher

sua função econômica de instrumento de pagamento à vista e de

compensação.sendo assim, constitui desse modo, o cheque, um

documento emitido pelo sacador contra o sacado, em cujas mãos possui

provisão, em proveito próprio ou de terceiros, considerando-se, como um

instrumento utilizado para que o sacado pague à vista importâncias que

possui o sacador, importâncias de que é devedor em virtude de,

recebendo dinheiro em deposito.114

112 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória,

cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 115 113 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 96/97 114 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. 11ª ed. Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000.

pág. 12/13

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2.4. CARACTERÍSTICAS JURÍDICAS DO CHEQUE

O instituto do cheque possui as seguintes

características:

2.4.1. Ordem de pagamento a vista

O cheque é um ordem de pagamento à vista. Pelo

conceito, o cheque pode parecer uma letra de cambio, mas esta pode

ser à vista ou a prazo. Diz este autor que as vezes o cheque tem função de

servir de saque mediante dinheiro pelo próprio sacador,o que leva a crer

que este poderá somente ser uma ordem de pagamento à vista, não

podendo, inclusive, se prestar a lastrear empréstimo em dinheiro.115

2.4.2. Ordem escrita e incondicional

Pires, o cheque é a ordem de pagamento a vista não

admite qualquer tipo de condição. Não se subordina a qualquer outra

obrigação. Daí conter em seu bojo a expressão pague-se a, isto é, é uma

ordem de pagamento incondicional.116

2.4.3. Ordem dotada de cambiaridade

Segundo Coelho, corresponde à “clausula cambial”,

isto é, a manifestação da vontade do emitente no sentido de se obrigar

por título cuja circulação e cobrança seguem em regime próprio do

direito cambiário. Quando alguém assinala um cheque, expressa sua

concordância com a negociação do crédito, pelo sacado, junto a

terceiros desconhecidos, perante o qual não poderão ser opostas

exceções fundadas na relação originária do título. Todo o complexo

normativo decorrente dos princípios da cartularidade, literalidade e

115.ROQUE, Sebastião José. Títulos de crédito. São Paulo: Ícone, 1997. pág. 123 116 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória,

cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 117

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autonomia das obrigações cambiais, e demais regras próprias aos títulos

de crédito são, desse modo, aceitas pelo emitente, no momento do

saque,...117

Os títulos de crédito são literais porque valem

exatamente a medida neles declarada.118isto é, o título de crédito, seja

qual for vale exatamente a importância que nele se contém, nem mais

nem menos.119

De acordo com Pires:

... cártula é o sinônimo de título de crédito. Por esse princípio, o direito e documento que os representam se confundem. Há uma frase latina citada por Pontes de Miranda que define muito bem o principio da cartularidade: “quod non est in cambio non est mundo”. É um principio básico do direito cambiário, que define o princípio da cartularidade, e quer dizer: “aquilo que não esta no titulo, não existe no mundo cambiário.120

Consoante o doutrinador Coelho, pelo princípio da

cartularidade o credor do título de crédito deve provar que se encontra

na posse do documento para exercer o direito nele mencionado.121

Pires, em função deste princípio, cada um dos

participes do título de crédito tem sua responsabilidade e sua obrigação

autônomas e independentes das demais.122

117 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 438 118 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 3 119 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória,

cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 20 120 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória,

cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 24 121 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 377 122 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória,

cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 21

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Aduz Coelho:

Pelo princípio da autonomia das obrigações cambiais, os vícios que comprometem a validade de uma relação jurídica, documentada em título de crédito, não se estendem relações abrangidas no mesmo documento.123]

Neste sentido quando um único título documenta mais

de uma obrigação, a eventual invalidade de qualquer uma delas, não

prejudica ás demais.124

2.5. O CHEQUE PÓS-DATADO

Segundo Almeida, o cheque pós-datado, “é

vulgarmente denominado de cheque pré-datado”, é aquele com data

posterior à data em que efetivamente foi emitido.125

Pires entende neste seguimento me relação ao

cheque pós-datado, vulgarmente não se atribui esse tipo de cheque esta

denominação. É o erroneamente chamado “pré-datado”, pois pré-

datado seria ao contrário, às avessas. É pós-datado,porque quando é

emitido, contém uma data posterior, e, evidentemente, data posterior

àquela de emissão efetiva do cheque. Por vezes, o cheque menciona a

data em que foi emitido, porém com observação em anexa, no sentido

que deve ser depositado a posteriori, mas a “obediência” à data futura

fica a exclusivo critério do beneficiário do cheque.126

Sendo assim, Almeida entende, a sua crescente

adoção pelo sistema de crediário em lojas e congêneres ampliou

123 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 379 124 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 379 125 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 113 126 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória,

cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 119/120

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sensivelmente a sua circulação, antes restrita à agiotagem. Contudo, em

casos tais, os cheques assim emitidos têm alterada sensivelmente a sua

função, a rigor perdendo a sua natureza de cheque, transformando-se em

mera promessa de pagamento, conquanto mantenham sua eficácia

executiva extrajudicial: _“O cheque pós-datado emitido em garantia de

divida não se desnatura como título cambiariforme, tampouco como título

executivo extrajudicial”.127

Coelho, o cheque tem se revelado, no mercado

consumidor brasileiro, o instrumento mais frágil e apropriado à

documentação do credito concedido pelos empresários, fornecedores de

mercadorias e serviços. Ao se parcelar o preço do fornecimento em duas

ou mais vezes, tem-se preferido geralmente, para comodidade de ambas

as partes, a entrega pelo consumidor de tantos cheques quantas forem as

parcelas, emitidas com data futura. O crescente uso desse tipo de

cheque representa sem duvida, certo desvio da natureza do titulo, criado

para instrumentalizar pagamentos à vista. A lei checaria fulmina com

ineficácia absoluta a inserção, no titulo de qualquer menção contraria ao

seu pagamento à vista. Ou seja, o banco deve pagar o cheque de que

conste a data posterior ao da apresentação, atendidos evidentemente os

demais pressupostos da liquidação.128

Aduz Pires, o cheque como é ordem de pagamento ,

evidentemente, pode ser apresentado para pagamento junto ao banco

em qualquer momento, independentemente da solicitação do

emitente.129

Neste âmbito Coelho ressalta:

127 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 113 128 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 445 129 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória,

cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 120

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O cheque pós-datado é importante instrumento de concessão de crédito ao consumidor. Embora a pós-datação não produza efeitos ao banco sacado, na hipótese de apresentação para liquidação, ela representa um acordo entre o tomador e o emitente. A apresentação precipitada do cheque representa um descumprimento do acordo.130

Para Pires, “age com negligencia quem deposita o

cheque pré-datado antes do prazo acertado e, assim, dá causa a ato de

negativação dos nomes dos emitentes sacados com sua inscrição no

cadastro dos Emitentes de Cheques sem Fundos, devendo, por isso,

indenização pelos danos morais causados.131

Coelho entende que, se o cheque pós-datado,

portanto, apresentado ao sacado antes da data combinada entre o

consumidor (emitente) e fornecedor ( tomador), for liquidado, cabe a

indenização pela inadimplência da obrigação de não fazer,

contratualmente assumida, por via oral ou escrita, através de publicidade

(CDC art. 30) ou de outro meio, pelo credor. A indenização corresponderá

à perda do consumidor em virtude de antecipação do desembolso, e

será medida pelos padrões gerais de remuneração de capital no período,

ou pelos e encargos derivados da utilização do credito aberto pelo

sacado (isto é, pelo uso do limite do cheque especial), ou, ainda, pela

não remuneração do correntista alocados em aplicações financeiras

(fundos de investimentos geridos pelo banco sacado), com ou sem

clausula de resgate automático.132

Afirma Coelho, alem da responsabilidade pelos danos

materiais experimentados pelo consumidor, “cabe a condenação do 130 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 445 131 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória,

cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 120 132 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 446

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credor do cheque pós-datado de apresentação precipitada, pelos danos

morais que o emitente sofre na hipótese de devolução por insuficiência de

fundos. [...], pessoas honestas, que nunca passaram cheques sem fundo,

vêem dificultado ou mesmo bloqueado o acesso ao crédito, em diversos

estabelecimentos empresariais, em decorrência na verdade do

descumprimento, pelo fornecedor, da obrigação que havia assumido de

não apresentar o cheque à liquidação, antes de certa data”. Tais

constrangimentos justificam a condenação do tomador do cheque pós-

datado, no pagamento de indenização moral.133

Aduz Bertoldi:

Se, por um lado é correto que, com base ma lei do cheque, poderá o portador do título exigir seu pagamento imediato e desconsiderar a indicação relativa à sua apresentação futura, por outro também é verdadeiro que aquele que não cumpre com o ajustado, apresentação do cheque em data futura, deverá arcar com as conseqüências de tal ato, seja no que se refere aos danos matérias (pagamento de taxas, juros, correção monetária, etc...), seja quanto a possíveis danos morais (devolução do cheque por falta de provisão de fundos, inscrição do nome do sacador no cadastro de emitentes de cheques sem fundos etc...)134

Explica melhor o doutrinador Pires em sua obra, “por

exemplo, alguém da um cheque e pede para ser apresentado dia 11 de

outubro. Se o beneficiário quiser, reterá o cheque em seu poder até esta

data. Entretanto, se, por qualquer razão, resolver apresentá-lo dia 7 de

outubro e houver fundos no banco, este irá pagar, ainda que conste com

data do dia 11 de outubro”135, porém o beneficiário que adotar a

133 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 447 134 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág.432

135 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória, cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 121

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situação de apresentar o cheque antes do prazo estipulado entre as

partes, arcará com os prejuízos decorrentes da responsabilidade dos seus

atos, perdas e danos, inclusive em alguns casos em donos morais.

Coelho diz que importante tomar conhecimento

“sobre a pós datação, cabe, pro fim, considerar alguns desdobramentos

da definição do cheque como titulo ‘bancável’. Explique-se: as instituições

financeiras, no desenvolvimento de suas atividades típicas, descontam

titulo de credito (duplicatas e notas promissórias, fundamentalmente),

antecipando ao seu credor o valor do credito a se realizar em data futura,

na verdade, parte desse valor, para lucrar com a diferença, e recebendo-

os por endosso. Em princípio, o cheque, no rigor de seu perfil tradicional de

ordem de pagamento à vista, não se presta ao desconto. Contudo, o

larguissímo uso da pós-datação como forma de documentar a concessão

do crédito ao consumidor, e a aceitação desse instrumento por empresas

de fornecimento mercantil (factoring), forçou as suas autoridades

monetárias a autorizarem os bancos o desconto de cheques pós-datado,

como a de qualquer outro titulo de crédito.”136

De acordo com Coelho: “O cheque pós-datado pode

servir de titulo negociável, para fins de descontos bancário ou cessão

para empresa de fornecimento mercantil”.137

Sendo assim Coelho, discorre: “em decorrência, se o

empresário concede crédito ao consumidor, propondo documentar a

operação através do recebimento de cheques pós-datados, é cabível o

desconto desse titulo, evidentemente antes da data que consta como de

emissão, junto a qualquer instituição financeira, inclusive o banco

sacado”. Assim, é necessário diferenciarem-se duas situações, em que o

136 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 447 137 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 448

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portador do cheque pós-datado apresenta o titulo ao banco sacado,

antes da data que consta como de sua emissão: a apresentação para fins

de liquidação e para fins de desconto. Somente a primeira hipótese

verifica-se o descumprimento da obrigação de não fazer contratada

como emitente do cheque. Na outra, o cheque é mero título bancável e

o processamento da liquidação terá inicio na pós-data.138

2.6. REQUISITOS ESSENCIAIS

O art. 1º da lei nº. 7.357/85, trata da forma de emissão

do cheque, a formalidade e toda a regra a que se esta imposta, e esta é

bastante perceptível, pois o legislador deixou claro os requisitos a serem

seguidos, para que o título, esteja devidamente formalizado.

Art. 1º: O cheque deve conter:

I – a denominação “cheque” inscrita no contexto do titulo e expressa na língua em que este é redigido;

II – a ordem incondicional de pagar quantia determinada;.

III – o nome em branco ou da instituição financeira que deve pagar;

IV – a indicação do lugar do pagamento;

V – a indicação da data e do lugar de emissão;

VI – a assinatura do emitente ( sacador), ou de mandatário com poderes especiais.

O titulo a que falte um destes requisitos não vale como

cheque.

138 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 448

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Conforme Almeida, dos requisitos mencionados, na

verdade, não são essenciais o “do lugar do pagamento e o da emissão”,

já que na falta de tais indicações é considerado lugar do pagamento o

lugar designado junto ao nome do sacado (banco); designados vários

lugares, o cheque é pagável no lugar de sua emissão. Não indicando o

lugar de sua emissão, considera-se emitido o cheque no lugar indicado

junto ao nome do emitente (sacador).139

2.6.1. Denominativo “cheque”

Ensina Pires, deve, obrigatoriamente conter a

denominação cheque, na língua do pais em que é emitido.pode ser um

papel datilografado contendo os requisitos essenciais. Neste caso, dito

“papel” vale como cheque.140

Coelho, Ninguém está obrigado a documentar sua

divida por cheque; se o faz, concorda em vir a pagar, eventualmente, o

valor do título a terceiro portador de boa-fé, mesmo que tenha razões

juridicamente validas para questionar a existência ou extensão da dívida,

perante credor originário. Não se trata, assim, de mera formalidade,

encerrada em si mesma, a exigência da palavra cheque no texto do

documento.141

2.6.2. A ordem e seus sujeitos

Entende Coelho, no atendimento ao segundo requisito,

a ordem incondicional de pagar quantia determinada, o cheque precisa

do valor que o banco deve pagar ao credor do titulo. Entre a indicação

por extenso e em algarismos, a primeira prevalece em caso de

139 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 98 140 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória,

cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 116 141 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 438

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51

divergência (LC art. 12). Por outro lado, é proibida a previsão de juros,

para cobrir o lapso entre o saque do cheque e o dia de sua liquidação

pelo sacado (LC, art. 10); os juros somente poderão ser exigidos na

cobrança judicial do cheque não liquidado, quando incidem a partir da

data da entrega do título ao banco sacado (LC, art. 53, II).142

Para Almeida, ordem incondicional de pagar, a

emissão de cheques consubstancia verdadeira ordem, como facilmente

se percebe na expressão “paga-se à”...143

2.6.2.1. Emitente

Conforme Siodu emitente é, pessoa que cria um titulo

cambiário (letra de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata), para

pô-lo em circulação como ordem de pagamento, promessa de

pagamento ou meio de pagamento.144

De acordo com Almeida, o sacador, emitente, é quem

emite ou saca o cheque. A Lei nº. 7.357/85, no seu art. 1º, VI, exige, como

requisito essencial do cheque assinatura do emitente (sacador), principio

já estabelecido pela lei uniforme, no seu artigo 1º alínea 6ª.145

2.6.2.2. Capacidade do emitente

No intuito de absorver melhor o titulo sobre

capacidade do emitente relembraremos a capacidade civil,

“capacidade é a medida da personalidade. A que todos possuem, é a

capacidade de direito (de aquisição ou gozo de direitos). Mas nem todos

possuem capacidade de fato (exercício do direito), que é a aptidão para

142 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 438/439 143 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 99 144 SIDOU, J. M. Othon. Dicionário Jurídico. 2 ed. Ver. e atualizada. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1991. pág. 219 145 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 104

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exercer, por si só, os atos da vida civil, também chamada de ‘capacidade

de ação’. Os recém-nascidos e os loucos têm somente capacidade de

direito, podendo por exemplo herdar. Mas não têm capacidade de fato

(exercício).”146

Martins leciona acerca da capacidade do emitente,

para criar e emitir um cheque, os atos que, em principio ficam sujeitos ao

fato de ter o sacador fundos disponíveis em poder do sacado, havendo

convenção tácita ou expressa, de que, para retirar tais fundos, poderão

ser utilizados cheques, o sacador deve ser capaz, fazendo-se essa prova

de capacidade através do contrato existente entre o sacador e o

sacado, no caso um estabelecimento bancário ou instituição financeira

assemelhada. Regem os princípios da capacidade as regras do

comum.147

2.6.2.3. Sacado

De acordo com Sidou, sacado é aquele contra quem

se emite um titulo de crédito. No cheque, o mandatário do emitente, ou

seja, o banqueiro.148

Conforme Coelho, o nome do banco a quem a ordem

é dirigida deve também constar no titulo, o nome do banco a quem a

ordem é dirigida, sendo comum a designação de uma agencia da

instituição financeira sacada, em que se encontra centralizada a

administração de fundos titularizados pelo emitente do cheque.149

146 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: parte geral. volume 1. 12 ed. De acordo com

o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2005. pág. 35/36 147 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. 11ª ed. Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000.

pág. 24 148 SIDOU, J. M. Othon. Dicionário Jurídico. 2 ed. Ver. e atualizada. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1991. pág. 505 149 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 439

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Consoante Pires, nome do banco ou instituição

financeira, o cheque deve conter o nome do sacado e, eventualmente, a

agência e a cidade do banco que deverá efetuar o pagamento.150

2.6.2.4. Portador

Conforme Sidou, portador é, pessoa a quem o banco

sacado paga o cheque também chamado, beneficiário ou

representante.151

Para Almeida, o beneficiário, é aquele a favor de

quem é dada a ordem de pagamento, e que poderá ser o próprio

emitente (sacador) ou terceiro.

Ensina Pires, portador é aquele onde não consta o

nome do beneficiário, a lei permite, ao contrario da nota promissória e da

letra de câmbio, em relação a circulabilidade, que o cheque ao portador

se transmita por simples tradição.152

Conclui Almeida, o cheque ao portador, como o

próprio nome indica, é pagável a quem apresentar ao sacado (ao

banco), sendo transferível mediante simples traditio.153

2.6.3 - Quantia

Almeida, a ordem incondicional de pagar quantia

determinada. A quantia deve ser lançada em algarismo por extenso,

prevalecendo, na hipótese de divergência, o valor por extenso.154

150 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória,

cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 117 151 SIDOU, J. M. Othon. Dicionário Jurídico. 2 ed. Ver. e atualizada. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1991. pág. 428 152 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória,

cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 119 153 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 110

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2.6.4 – Datação

A data é um requisito essencial do cheque, o dec.

2.591/12 era categórico em seu artigo 2º, letra “c”, pois não restringia

salientar que o cheque deveria conter a data do saque ou emissão:

ordenava sua enunciação completa, dia, mês e ano por extenso.

Correspondia, esse rigorismo, à necessidade de acrescer espaços no título,

fim de neles ser colocada a frase inteira, maior ou menos, representativa

de data, e ainda, a perda inútil de tempo. Era tão grande o exagero ou

excesso de cautela que, pouco mais de dois anos depois a prática

demonstrou a premência de modificação. Foi promulgado a lei 2.919/14,

mandando escrever por extenso apenas o nome do mês.155

Ensina Coelho, a data do cheque deve ser expressa

pelo dia, mês e ano em que o sacador preencheu o cheque. Como se

trata de ordem de pagamento à vista, não caberia, em princípio, a

inserção de qualquer outra data no instrumento. Desenvolveu-se, no Brasil,

no entanto, a prática de utilizar o cheque como meio de documentar a

concessão de crédito ao consumidor, com indicação de data futura no

campo próprio do título(pós-datação), representando o acordo das

partes quanto ao momento em que o título deve ser liquidado. O direito

brasileiro já contemplou obrigando que o mês se indicasse por extenso no

cheque. Era o dec. nº. 22.393/33, que alguns autores ainda reputam em

vigor. De qualquer forma, é da conveniência do sacador que o mês se

escreva extensivamente, e não em algarismos para que se reduzam as

possibilidades de adulteração da data.156

154 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 101 155 MÉDICE, Octávio. Cheque: Pratica, Processo e Jurisprudência. 8 ed. v. 23. Curitiba:

Juruá Editora, 1999. pág. 39 156 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 439

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2.6.5. Lugar da emissão

Segundo Pires, lugar do pagamento e lugar de

emissão,podem não constar no bojo do cheque, porque há presunção

legal. Em relação ao lugar do pagamento, se ele faltar, diz a lei que se

presumirá ser aquele abaixo do nome do banco. Se constarem vários

locais, também diz a lei que prevalecerá o primeiro mencionado como

lugar de pagamento, e, se nada constar, prevalecerá o lugar da data de

emissão. Em relação ao local de emissão ocorre o mesmo. Se não contiver

o local de emissão, presume-se que o local indicado antes da data.157

Almeida, o cheque deve conter a data e o lugar da

emissão. O lugar da emissão, entretanto não é requisito essencial, pois o

art. 1º, II, da Lei nº. 7.357/85 declara que, não indicado o lugar da emissão,

considera-se emitido o cheque no lugar indicado junto ao nome do

emitente.158

Coelho, o lugar do saque é aquele em que se

encontra o sacador, no momento em que preenche o cheque. Sua

importância é fundamental, porque o prazo para apresentação do título

ao banco sacado varia de acordo com a coincidência, ou não, entre

município do local do saque e o da agencia pagadora. Quando

coincidentes o cheque se considera da mesma praça e deve ser

apresentado ao sacado no prazo de 30 dias seguintes ao da emissão; se

incoincidentes, ele é de praças diferentes, e o prazo de apresentação se

alarga para 60 dias. Note-se que o sacador deve informar o lugar em que

ele se encontra, quando expede a ordem de pagamento. A força do

hábito, no entanto, faz com que a maioria de nós lancemos, como local

de emissão, o município de nossa residência, ainda que estejamos em

157 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória,

cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 118 158 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 101

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viajem pelo país. A segurança das relações jurídicas importa a presunção

absoluta de o escrito é verdadeiro; quer dizer, não interessa onde fato se

encontrava o sacador, no momento do saque, mas exclusivamente o

constante no título. O credor, ao receber sem oposição o cheque,

manifestou sua concordância com a redução do prazo de

apresentação.159

A indicação do lugar da emissão. A Lei do Cheque

esclarece que, na falta de indicação do lugar de emissão será

considerado emitido no lugar indicado junto ao nome do Emitente (art. 2º,

II). A indicação da data tem como fito verificar, sobretudo, se, ao sacar o

título, tinha o Emitente capacidade para tanto, sendo ainda de suma

importância para se averiguar o prazo de apresentação e prescrição.

2.6.6. Assinatura

Médici, entre os requisitos legais da cártula chéquica,

sem dúvida, o de maior relevo é o 6º “a assinatura do cheque de quem

passa o cheque (sacador)”, conforme também disciplina a lei 7.357/85,

art. 1º, VI.160

Entende Pires, a exemplo dos demais títulos de crédito,

ela é do próprio punho do emitente, e no cheque há importância ainda

maior em relação ao fato da assinatura, porque a instituição bancária,

antes de pagar, verifica a assinatura coincide com aquelas que ele

guarda em seus arquivos. Daí a necessidade de assinatura de próprio

punho ou de mandatário, vale dizer, alguém pode outorgar a outrem

para assinar cheques, com ressalva de que, neste caso, o mandatário

deve, previamente, deixar uma via daquela procuração com poderes

expressos para emitir cheques em poder do Banco e vai, inclusive, assinar

159 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 439/440 160 MÉDICE, Octávio. Cheque: Pratica, Processo e Jurisprudência. 8 ed. v. 23. Curitiba:

Juruá Editora, 1999. pág. 32

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também ficha do Banco com assinatura autorizada para pagamento de

cheques.161

Ensina Almeida, a assinatura, é o principal dos

requisitos, sem ela não havendo título. Há de ser de próprio punho, o que

afasta a possibilidade do analfabeto, por si mesmo, emitir cheques, só

podendo fazê-lo por procurador munido de poderes especiais para sacar

cheques, necessariamente por meio de mandato por instrumento público.

Também não se admite a assinatura a rogo, ou seja, assinatura posta em

documentos a pedido de analfabeto. Da mesma forma não se admite

assinatura por carimbo, porém, a assinatura abreviada, também

assinatura autorizada, ou seja, aquela que corresponde a assinatura em

poder do banco, faculta também a assinatura mecanizada, assim

considerada obtida com empregos de maquinas e instrumentos especiais,

hipótese em que mister se faz a prévia convenção entre sacador

(emitente) e sacado (banco), havendo necessidade de prévio registro da

chancela, isto é, da gravura da assinatura, no Cartório de Registro de

Títulos e Documentos. O cheque pode ainda ser assinado por

representação, o que ocorre, por exemplo, com as pessoas jurídicas, em

que os cheques de sua emissão são assinados por seus representantes

legais.162

Leciona Coelho:

Também é requisito essencial do cheque a assinatura do emitente, que pode ser mecânica, ou por processo equivalente, por exemplo eletrônico (LC, art. 2º, § único). O sacador deve estar, por outro lado, identificado no cheque, através de seu nome e do número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), em razão do disposto no art. 3º da

161 PIRES, José Paulo Leal Ferreira. Títulos de Crédito: letra de câmbio, nota promissória,

cheque e duplicata. São Paulo: Malheiros Editores Ltda. 1997. pág. 117 162 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito. 18 ed. Ver. Atual. E

ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. pág. 101/102

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Lei 6.268/75, e da disciplina regulamentar do Banco Central.163

Explica Médici, o livro de cheques é de propriedade e

posse do depositante, que recebeu licitamente do Banco onde mantém

fundos disponíveis. Assim, um cheque, ao sair de suas mãos e passar para

outras, deve receber sua assinatura. O ato correspondente ao saque, e o

domínio do título transfere-se para aquele que recebeu o papel das mãos

do sacador, direta ou indiretamente. Alias, qualquer pessoa que estiver na

posse nominada de um título de crédito, só transfere legalmente, após,

firmá-lo, ou seja, depois de no título opor sua assinatura, no espaço

designado na lei. Efetuando o pagamento, por meio da provisão

bancária, aquele domínio transmite-se ao sacado.164

Neste sentido Médici, ressalta:

A falta de assinatura do sacador retira ao cheque, totalmente, sua cambiaridade. Não é cheque, “não produz efeito como cheque”, conforme se lê no art. 2º, I, da Lei Uniforme (Dec. 57.595/66, Anexo I e da Lei 7.357/85).165

No terceiro Capitulo tratar-se-á acerca da ação

monitória como meio de cobrança do cheque prescrito,

destacando um breve histórico da ação monitória, seu conceito e

suas características, assim como seus pressupostos e hipóteses de

cabimento, no intuito de facilitar a compreensão de seu

procedimento, fazendo uma junção entre o cheque prescrito e os

meios de cobrança do mesmo.

163 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 440 164 MÉDICE, Octávio. Cheque: Pratica, Processo e Jurisprudência. 8 ed. v. 23. Curitiba:

Juruá Editora, 1999. pág. 32 165 MÉDICE, Octávio. Cheque: Pratica, Processo e Jurisprudência. 8 ed. v. 23. Curitiba:

Juruá Editora, 1999. pág. 32

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CAPÍTULO 3

DA COBRANÇA DO CHEQUE PRESCRITO ATRAVÉS DA AÇÃO MONITORIA

3.1 . INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO DA AÇÃO MONITORIA

A Ação Monitoria surgiu para se buscar um provimento

judicial mais célere, o que realmente ocorreu em muitos paises, com o

pronto pagamento chegando a quase noventa por cento das ações

propostas em alguns países.

O legislador ao criar tal ação quer possibilitar que as

dívidas que não se assentem em títulos executivos possam ter uma solução

rápida, sendo esta a sua principal razão de ser.

Neste contexto foram sendo descobertos novos

modelos processuais ou sendo revigoradas velhas estruturas. A Ação

Monitoria foi um desses novos instrumentos processuais destinados a dar

mais celeridade e efetividade na prestação jurisdicional.

Para melhor compreender este dispositivo implantado

no Código de Processo Civil, analisaremos a experiência do Direito

Europeu em relação à matéria.

Teixeira filho, pode-se dizer que a Ação Monitoria teve

a sua origem remota no final do século XII, através de um procedimento

simplificado, que, recebeu a denominação de um “processo sumario

indeterminado", recebendo posteriormente a denominação de “processo

sumario determinado”, porém a origem histórica mais recente deste

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60

instituto dá-se através da assinação dos dez dias, oriunda do direito

português.166

A lei nº. 9.079de 14 de julho de 1995, com o vacacio

legis de 60 dias, introduziu um capitulo novo no livro IV do Código de

Processo Civil, em que se criou um novo procedimento especial relativo à

ação monitoria.

Os principais Códigos europeus, diante desta particular

situação do credor munido de relativa certeza de seu direito, mas privado

de título executivo extrajudicial, engendram forma de sumaria cognitio,

sem contraditório do devedor, em que à base de prova documental do

credor, ou diante de determinadas relações jurídicas materiais, se permite

ao juiz “o imediato pronunciamento de uma decisão, suscetível de

constituir título executivo judicial.167

O Código de Processo Civil Brasileiro em Vigor adotou

em matéria de execução o melhor sistema europeu, de modo que temos

entre nós um processo executivo puro, enérgico, sem qualquer mescla de

conhecimento que lhe possa embaraçar o curso, mesmo nos casos de

títulos executivos extrajudiciais, critério preconizado pelas concepções

mais atualizadas da cultura jurídica ocidental romanistica.

3.2 . CONCEITOS E ASPECTOS GERAIS DA AÇÃO MONITORIA

3.2.1 . Conceito

Consoante Teixeira filho, o conceito de ação monitoria

pode ser tomado, em larga medida, ao próprio art. 1.102a do CPC, é a

ação de conteúdo cognitivo, submetida ao procedimento especial de

jurisdição contenciosa, mediante a qual a parte pretende obter a 166 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Cadernos de processo civil: ação monitória. Vol. 38.

São Paulo: Editora LTr, 2000. pág. 07 167 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: procedimentos

especiais. Rio de Janeiro: Forense, 2007. pág. 358

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61

satisfação de um crédito, representado por documento destituído de

eficácia executiva.168

Conforme Cruz e Tucci, a Ação Monitoria pode ser

conceituada como meio pelo qual o credor de quantia certa ou coisa

determinada, cujo crédito esteja comprovado por documento hábil,

requerendo a prolação de provimento judicial consubstanciado, em

ultima analise, num mandado de pagamento ou entrega de coisa, visa

obter a satisfação de seu direito.169

O artigo 1102ª, introduzido ao Código de Processo Civil,

pela lei nº. 9.079/95 dispõe que:

Art. 1102ª – Ação Monitoria compete a quem pretender, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento em soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel.”

No entendimento de Teixeira Filho, o conceito de Ação

Monitoria pode ser extraído do próprio art. 1102 a do CPC, é a ação, de

conteúdo cognitivo submetida ao procedimento especial de jurisdição

contenciosa, mediante a qual a parte pretende obter satisfação de um

crédito, representado por um documento destituído de eficácia

executiva.170

3.2.2 . Características

Nos ensina Cruz e Tucci, que o contexto que

estabelece o art. 1.102a do CPC, a Ação Monitoria dá-se por

168 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Cadernos de processo civil: ação monitória. Vol. 38.

São Paulo: Editora LTr, 2000. pág. 09 169 CRUZ E TUCCI, José Rogério. A ação monitória: Lei 9079/95. São Paulo: Revista dos

Tribunais. 1995. pág. 60 170 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Cadernos de processo civil: ação monitória. Vol. 38.

São Paulo: Editora LTr, 2000. pág. 27

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Procedimento monitório documental, que se caracteriza pela prova

escrita do crédito, desprovido de eficácia executiva.171

Theotônio Negrão em sua obra, estabelece que a

prova escrita, exigida pelo art. 1.102a do CPC é:

todo documento que embora não prove, diretamente, o fato constitutivo, permite ao órgão judiciário deduzir, através de presunção a existência do direito alegado.172

No tocante do que se refere acerca da sua natureza, o

doutrinador Friede, relata que a Ação Monitória podemos encontrá-los

relacionados entre os procedimentos especiais de jurisdição contenciosa,

evidenciando-se tratar de uma subdivisão ou derivação do procedimento

ordinário, entendendo-se que se aproveitam as regras de postulação e a

instrução do pedido.173

3.2.3 . Pressupostos e hipóteses de cabimento

Gediel Junior, a Ação Monitoria tem cabimento

quando o credor de quantia certa, de coisa fungível ou de determinado

bem móvel, munido com documento escrito sem eficácia de título

executivo, desejar efetuar a cobrança judicial do que lhe é devido.174

Ensina Santos, é importante observar que, para se

instaurar o procedimento monitório contenta-se comprova escrita, mas

não necessariamente de valor definitivo e absoluto, bastando que gere

indicio sério de existência da dívida, não se exigindo também do

171 CRUZ E TUCCI, José Rogério. A ação monitória: Lei 9079/95. São Paulo: Revista dos

Tribunais. 1995. pág.i 60 172 NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 39 ed.

Atual até 16 de janeiro de 2007.São Paulo: Saraiva, 2007. pág. 1073 173 FRIEDE, Reis. Comentários ao Código de processo civil. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1998. pág. 3203 174 ARAÚJO JUNIOR, Gediel Claudino de. Pratica no processo civil: cabimento ou ações

diversas, competência, procedimentos, petições, modelos. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2007. pág.338

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requerente descrição minuciosa da causa, sendo suficiente a simples

referencia da prova juntada.175

Neste sentido Theodoro ressalta, a prova escrita, em

Direito Processual Civil, tanto é a pré-constituída formando-se por

instrumento elaborado no ato da realização do negocio jurídico para

registro da declaração de vontade, como a causal que se caracteriza por

escrito surgido sem a intenção direta de documentar o negocio

jurídico,mas que é suficiente para demonstrar sua exigência.176

Para Santos, os requisitos dos títulos executivos dividem-

se em três, a certeza, a liquidez e a exigibilidade. No entanto a que falar

que a divida pode ser certa, liquida e exigível e não se formar em título

executivo. Para efeitos processuais, certeza, liquidez e exigibilidade não

têm sentido de definição final, determinando-se, por elas, apenas,

hipoteticamente a obrigação a se cumprir dentro de precisas

limitações.177

Embora constitua meio mais rápido para a obtenção

de um título executivo judicial, a ação monitoria tem como exigência

básica a prova escrita sem eficácia de título executivo, normalmente um

orçamento assinado pelo devedor, um contrato de prestação de serviços,

assinado pelo devedor, um cheque comprazo para execução vencido.

Mesmo assim a que se atentar no tocante aos

ensinamentos de Theotônio Negrão, haja vista que menciona em sua

dobra que o papel escrito com singelos cálculos que não indicam a sua

175 175 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Civil: procedimentos especiais

codificados e da legislação esparsa, jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária. 11ª ed. 3 vol. São Paulo: Saraiva, 2007. pág.184

176 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: procedimentos especiais. Rio de Janeiro: Forense, 2007. pág. 367

177 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Civil: procedimentos especiais codificados e da legislação esparsa, jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária. 11ª ed. 3 vol. São Paulo: Saraiva, 2007. pág.182

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origem ou as partes eventualmente vinculadas têm no máximo, a

natureza do documento escrito, jamais de prova escrita de débito.178

Para propor a ação monitoria com base em cheque

prescrito não se exige que o autor invoque o negocio jurídico

correspondente. Este é o entendimento do STJ:

Ação Monitoria. Cheque prescrito. Apresentado pelo autor o cheque, o ônus da prova da inexistência do debito cabe ao réu. A prova inicial municiada pelo cheque, é o bastante para a comprovação do direito do autor ao crédito reclamado, cabendo ao lado adverso reclamar eficazmente o contraditório.(STJ 4ªT. Resp. 285.223-MG)179

Por derradeiro, qualquer pessoa que estiver na posse

de título despido de executividade poderá intentar com a Ação monitoria

no intuito de reaver seu crédito.

3.2.4 . Legitimidade

A que considerar quem poderá ser o sujeito ativo e o

sujeito passivo da ação monitória.

3.2.4.1 . Legitimidade ativa

Theodoro, pode manejar a ação monitoria todo

aquele que se apresentar como credor de obrigação de soma em

dinheiro, de coisa fungível ou de coisa certa móvel, tanto que o credor

originário, como o cessionário ou sub-rogado, podem ainda usar,

ativamente, o procedimento monitório tanto as pessoas físicas como as

jurídicas, de direito publico ou privado.180

178 NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 39 ed.

Atual até 16 de janeiro de 2007.São Paulo: Saraiva, 2007. pág.1073 179 NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 39 ed.

Atual até 16 de janeiro de 2007.São Paulo: Saraiva, 2007. pág.1075 180 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: procedimentos

especiais. Rio de Janeiro: Forense, 2007. pág. 365

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Aduz Cruz e Tucci, que como a ação monitoria visa

proteger o crédito que não esta adimplido e que não pode ser protegido

pela execução, será legitimado ativamente o credor, aquele que veio a

juízo apoiado em um crédito a seu favor, representado pela prova escrita

com a inicial.181

3.2.4.2 . Legitimidade passiva

Conforme Theodoro, sujeito passivo da ação monitória

haverá de ser aquele que, na relação obrigacional de que é titular o

promovente da ação figure como obrigado ou devedor por soma de

dinheiro, coisa fungível ou coisa certa móvel. O mesmo se diz de seu

sucessor universal ou singular.182

Ressalta Cruz e Tucci, diz que além da demanda pode

ser ajuizada contra o devedor, poderá haver vinculo da solidariedade

passiva, ocasião em que esta poderá ser aforada também contra um ou

todos os coobrigados, entendendo ainda que se a ação monitoria for

ajuizada exclusivamente contra o fiador, este não poderá valer-se do

chamamento ao processo, visto que a especificidade do procedimento

traçado para este tipo de demanda não comporta esta forma de

intervenção, porém, se o réu oferecer embargos, assume a posição do

autor, viabilizando-se a denunciação a lide quando for ele titular de

eventual direito contra um terceiro.183

Theodoro, o falido ou o insolvente civil não pode ser

demandado pela via do procedimento monitório porque não dispõe

capacidade processual e também e também porque não pode haver

execução contra tais devedores fora do curso universal. Em relação às

181 CRUZ E TUCCI, José Rogério. A ação monitória: Lei 9079/95. São Paulo: Revista dos

Tribunais. 1995. pág.33 182 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: procedimentos

especiais. Rio de Janeiro: Forense, 2007. pág. 366 183 CRUZ E TUCCI, José Rogério. A ação monitória: Lei 9079/95. São Paulo: Revista dos

Tribunais. 1995. pág.65/66

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pessoas jurídicas de direito privado não haverá restrição alguma quanto

ao emprego da ação monitoria, sendo possível utilizá-la também contra

os sócios, sempre que configurada sua responsabilidade solidária ou

subsidiária, segundo o direito material. 184

3.2.5 . Natureza jurídica

Alvim, em sede doutrinaria é bastante controvertido a

natureza jurídica do procedimento monitório ou injuncional. Para uns é

procedimento provisório (Segni), para outros é definitivo (Garbagnati).

Questiona-se na doutrina, se o procedimento de injunção configura uma

espécie de procedimento monitório, ou, mais particularmente, de

procedimento monitório documental, ou deva qualificar como

procedimento documental executivo, ou como um misto de

procedimento monitório e procedimento monitório puro.185

Ensina Friede, a ação monitoria encontra-se entre os

procedimentos especiais de jurisdição contenciosa. Tratando-se de uma

derivação do procedimento ordinário, no sentido de que lhe aproveitam

as regras sobre a postulação e a instrução do pedido.186

Teixeira filho, não se pode negar que também na ação

monitória haja cognição. O que se discute em doutrina, é se essa carga

cognitiva é suficiente para introduzir a referida ação nos domínios do

processo de conhecimento. Se considerarmos que se tem reconhecido,

tradicionalmente, a existência de três processos: de conhecimento, de

execução e cautelar, devemos concluir que a ação monitoria pertence

ao primeiro, pois a cognição será estabelecida no tocante aos fatos da

causa, materializados em documentos, ou seja, em prova pré-constituída.

184 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: procedimentos

especiais. Rio de Janeiro: Forense, 2007. pág. 366/367 185 ALVIM, J. E. Carreira. Processo monitório. 4ª ed. 2º tir. Curitiba: Juruá, 2003. pág. 42/43 186 FRIEDE, Reis. Comentários ao Código de processo civil. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1998. pág. 3203

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É evidente que se trata de um processo cognitivo sui generis, que não se

ajusta, por inteiro, aos moldes clássicos. Justamente por essa peculiaridade

é que alguns estudiosos têm considerado a ação monitoria comum

terceiro gênero, colocando-a entre os processos de conhecimento e de

execução.187

Consoante Theodoro, a ação monitoria tal como no

código peninsular, foi incluída entre os procedimentos especiais de

jurisdição contenciosa, devendo, por isso, ser vista como uma especial

modalidade de procedimento de acertamento (cognição) com

“prevalente função executiva”. Isto porque sua característica maior esta

na função que cumpre propiciar ao autor, o mais rápido possível, a título

executivo e, com isso, o imediato acesso à execução forçada.188

3.2.6 . Competência

Em conformidade com o doutrinador Teixeira Filho, por

princípio, a ação monitória deverá ser proposta no foro do domicilio do

réu, salvo se as partes elegerem outro foro, sendo assim via de regra se

nada expresso estiver estipulado, elege-se o domicilio do réu, consoante

no art. 94 do CPC, que dispõe:189

Art. 94. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicilio do réu.

Ensina Negrão, ponderando ser tal competência de

caráter relativo, mas fazendo-a prevalecer no caso concreto sobre a

187 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Cadernos de processo civil: ação monitória. Vol. 38.

São Paulo: Editora LTr, 2000. pág.10 188 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: procedimentos

especiais. Rio de Janeiro: Forense, 2007. pág. 361 189 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Cadernos de processo civil: ação monitória. Vol. 38.

São Paulo: Editora LTr, 2000. pág. 16

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clausula de eleição de foro para tutela da parte hipossuficiente na

relação contratual.190

Segundo Alvim, em razão do valor, reparte-se a

competência entre os órgãos judiciais, cabendo aos juizados especiais, ou

as varas comuns, federais ou estaduais, conforme o respectivo valor.191

Neste sentido Teixeira aduz, que a competência para

apreciar a ação monitoria se o valor da causa não exceder a quarenta

salários mínimos. Desta maneira pode-se dizer que a lei 9.099/95 estatui,

em seu art. 3º que:192

O juizado especial civil tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:

I – as causas cuja valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo.

3.3 . DO MANDADO DE PAGAMENTO OU DE ENTREGA

Conforme Teixeira, estatui o art. 1.102b do CPC que se

a petição inicial estiver devidamente instruída (com prova escrita, a que

se refere o art. 1.102a), “o juiz deferirá de plano a expedição do mandado

de pagamento ou entrega de coisa no prazo de 15 dias”.193

Estabelece o art. 1.102b:

Art. 1.102b. estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá de plano a expedição do mandado de pagamento da coisa no prazo de 15 dias.

190 NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 39 ed.

Atual até 16 de janeiro de 2007.São Paulo: Saraiva, 2007. pág. 229 191 ALVIM, J. E. Carreira. Processo monitório. 4ª ed. 2º tir. Curitiba: Juruá, 2003. pág.64 192 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Cadernos de processo civil: ação monitória. Vol. 38.

São Paulo: Editora LTr, 2000. pág. 16 193 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Cadernos de processo civil: ação monitória. Vol. 38.

São Paulo: Editora LTr, 2000. pág.36

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Alvim discorre que, embora não diga expressamente a

lei, deve a petição inicial conter os requisitos do artigo 282, e estar

acompanhada de prova (documento) escrita (art. 1.102a). Como se trata

de uma ação, apenas com contraditório “eventual” e “diferido” para a

fase da defesa (embargos), não há dúvida que se impõe a citação do

réu, não para contestar, mas para pagar ou entregar, devendo constar

do mandado que , se não forem opostos embargos, no prazo de 15 dias,

constituir-se-á, de pleno direito, p título executivo judicial, convertendo-se

o mandado inicial em mandado executivo.194

Para Corrêa, assemelha-se, neste caso, o mandado

monitório ao do processo de execução, é necessário que o réu saiba,

com exatidão, qual a obrigação que esta sendo exigida dele, seja para

cumpri-la, seja para atacar o pedido, por meio dos embargos.195

Segundo Friede, o disposto no art. 1.102b do CPC, com

a redação determinada pela lei nº. 9.079/95, caberá ao interessado

ajuizar a referida ação monitória, através da petição inicial com todos os

requisitos básicos exigíveis e devidamente instruída, particularmente com a

prova documental que se deseja indiretamente outorgar eficácia

executiva, para que possa o juiz, com base nesta sorte de considerações,

deferir de plano a expedição do competente mandado de pagamento

(na hipótese de pagamento de soma em dinheiro) ou de entrega de

coisas (nos casos de entrega de coisa fungível ou de entrega de

determinado bem móvel) no prazo de 15 dias, período temporal em que o

réu poderá, se desejar oferecer embargos que terão o condão de

suspender a eficácia do mandado inicial.196

194 ALVIM, J. E. Carreira. Processo monitório. 4ª ed. 2º tir. Curitiba: Juruá, 2003. pág. 66/67 195 CORRÊA, Orlando de Assis. Ação Monitória. Rio de Janeiro, 1997. pág. 46 196 FRIEDE, Reis. Comentários ao Código de processo civil. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1998. pág. 3204

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3.4 . DOS EMBARGOS MONITÓRIOS

De acordo com Theodoro, a defesa na ação monitória

é feita por meio de embargos. Não se fala em contestação porque o

mandado de citação não convida a defender-se. Sua convocação é

feita, de forma injuntiva visando compeli-lo a realizar desde logo, o

pagamento da divida em prazo que lhe é liminarmente assinado. A

instauração do contraditório é, pois, eventual, e parte do devedor citado

para satisfazer o crédito do autor. Daí a denominação de embargos

aplicada à resposta do demandado, na espécie.197

Santos que, o devedor ao receber mandado de

entrega ou de pagamento, poderá embargar, no prazo de 15 dias sem

necessidade de segurança do juízo (art. 1.102c), mesmo porque o estado

ainda não se encarregou de forma executória.198

Ensina Theotônio Negrão, o prazo para embargos é

contado da data de juntada aos autos o aviso de recebimento da

citação postal ou da mandado cumprido. Os embargos, no caso,

equivalem a resposta do réu, não se admitindo, portanto, a contestação

por negação geral. Neles o réu articulará, em uma só peça processual,

toda a sua defesa: em primeiro lugar, as exceções, e em segundo lugar, a

matéria da contestação. Em relação à liquidez do debito e à

oportunidade de o devedor discutir os valores a forma de cálculo e a

própria legitimidade da divida, assegura-lhe a lei a via dos embargos,

previstos no art. 1.102c, que instauram o amplo contraditório e levam a

causa para o procedimento ordinário.199

197 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: procedimentos

especiais. Rio de Janeiro: Forense, 2007. pág. 372 198 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Civil: procedimentos especiais

codificados e da legislação esparsa, jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária. 11ª ed. 3 vol. São Paulo: Saraiva, 2007. pág. 187

199 NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 39 ed. Atual até 16 de janeiro de 2007.São Paulo: Saraiva, 2007. pág.1078

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Consoante Theodoro, manifestados os embargos

dentro do prazo de 15 dias previstos no art. 1.102b, o mandado de

pagamento fica suspenso, e a matéria ou processual, que tivesse

pertinência com a ação ordinária de cobrança, poderá ser aventada na

resposta à ação monitória. Ao contrario do que se passa na execução, os

embargos aqui não são autuados a parte. São processados nos próprios

autos, como a contestação no procedimento ordinário (art. 1.102c, §

2º).200

3.5 . DA SENTENÇA DA AÇÃO MONITORIA

3.5.1 . Natureza jurídica da sentença

Para Alvim, a questão relativa aos efeitos da decisão

liminar e da sentença monitoria, e suas implicações com o recurso, é

assunto que desperta algumas indagações.201

Wambier, havendo defeito insanável, a exemplo da

impossibilidade do pedido de cobrança de divida de jogo, litispendência,

ou “apresentar novos documentos que eventualmente ajudem na

formação do convencimento do juiz ou não havendo novos documentos

a juntar, emendar sua inicial, optando pelo processo comum de

conhecimento, não se dispondo o autor a emendar sua inicial, o juiz

proferirá sentença extinguindo o processo monitório, que contra esta

decisão caberá apelação. Ressalta ainda que se o réu não apresentar

embargos ao mandado no prazo de 15 dias, nem pagar, a decisão que

havia concedido a expedição de tal mandado se converterá em título

executivo judicial. A doutrina ainda discuti intensamente se tal decisão

não embargada faz coisa julgada material, ou seja, se seria ou não

200 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: procedimentos

especiais. Rio de Janeiro: Forense, 2007. pág. 372 201 ALVIM, J. E. Carreira. Processo monitório. 4ª ed. 2º tir. Curitiba: Juruá, 2003. pág.106

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possível o réu propor depois disso outra demanda, pedindo a inexistência

do direito do autor).202

Friede discorre, a grande dúvida, de cunho doutrinário,

que traz o instituto é, sem dúvida, a questão concernente a sentença da

ação monitoria que, em princípio, não possui nenhuma forma tradicional

de resposta do réu.203

Ressalta ainda Friede, o juiz proferirá uma sentença

declaratória positiva, que leva a consolidação do título executivo. Sem a

resistência do réu, passa o título a ter eficácia executiva, pelo

estabelecimento da preclusão quanto aos fatos afirmados pelo autor e

por meio da declaração do juiz, na sentença.204

Por fim Teixeira Filho aduz, para classificarmos a

matéria, a sentença que rejeita os embargos do réu possui certo “traço”

de condenação, pois, de certa forma, ao reconhecer o direito afirmado

pelo autor, impõe o réu a correspondente satisfação, ao mesmo tempo

em que dota o autor de um título executivo. Todavia, a sentença que

acolhe os embargos denota a predominância de um eficácia constitutiva

negativa, pois faz extinguir a relação creditória existente entre as partes.205

3.5.2 . Recursos Cabíveis

Leciona Teixeira Filho, em primeiro lugar, o legislador,

que sempre aludiu ao réu (art. 1.102c, caput e §1º), após declarar que, se

os embargos forem rejeitados, constituindo-se, de pleno direito o título

executivo judicial, intimar-se-á o devedor. Essa mudança de terminologia, 202 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de processo civil: processo cautelar e

procedimentos especiais. Vol. 3. 8º ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. pág. 253/254

203 FRIEDE, Reis. Comentários ao Código de processo civil. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998. pág. 3208

204 FRIEDE, Reis. Comentários ao Código de processo civil. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998. pág. 3209

205 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Cadernos de processo civil: ação monitória. Vol. 38. São Paulo: Editora LTr, 2000. pág. 47

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a nosso ver, não foi obra do acaso ou produto de inadvertência do

legislador, ao contrario foi propositadamente feita para demonstrar que a

sentença seria irrecorrível, pois a intimação não seria feita ao réu, mas ao

devedor. Em segundo lugar, a possibilidade haver apelação da sentença

conspira contra o ideal de celeridade, que animou a instituição monitória,

em seu objetivo de dotar o credor, quanto antes, de um título executivo

judicial. Ainda assim, teremos duas apelações no procedimento monitório,

a saber, a primeira é da sentença que rejeitar os embargos ao mandado

inicial, e a segunda é da sentença que julgar os embargos à execução,

fazendo com que o procedimento seja retardado consideravelmente.206

De acordo Friede, da sentença do juiz podem as

partes ou terceiro prejudicado apelar. Ai ocorrerá a seguinte dualidade

que representa uma falha do legislador, nos embargos após a citação

para ação monitoria e nos embargos após a citação da execução na

mesma ação e no mesmo processo, haja visto, que, na sentença da ação

monitoria encontramos quatro decisões em que caberá apelações, das

quais a sentença proferida nos embargos rejeitando-os liminarmente ou

julgando-os improcedentes, a apelação é recebida apenas no efeito

devolutivo; a sentença proferida diretamente nos autos da ação monitória

consolidando o título executivo, à falta de qualquer dispositivo legal

excepcionando a hipótese, a apelação é recebida no duplo efeito; a

sentença acolhendo os embargos e desconstituindo o título, a apelação é

recebida no duplo efeito; da sentença extintiva da ação monitória, a

apelação é recebida no duplo efeito.207

Consoante Wambier, o recurso cabível contra

sentença de acolhimento ou rejeição de embargos é apelação (art. 513),

a ser recebida no duplo efeito. Alguns autores negaram que a sentença

206 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Cadernos de processo civil: ação monitória. Vol. 38.

São Paulo: Editora LTr, 2000. pág.46 207 FRIEDE, Reis. Comentários ao Código de processo civil. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1998. pág. 3209

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com rejeição dos embargos tenha efeito suspensivo. Invocam a aplicação

análoga ao 520, V, que trata da sentença que rechaça os embargos à

execução, mas as hipóteses de apelação sem efeito suspensivo do art.

520, em nosso sistema atual, são exceções a regra geral, motivo porque

não aparece apropriado interpretá-la ampliativamente, ainda que se

reconheça que seria melhor se o legislador tivesse negado o duplo efeito

para sentença que rejeita os embargos ao mandado.

3.5.3 . A fase executiva

Ensina Wambier, decorrido o prazo para embargos ou

sendo estes rejeitados , automaticamente a decisão inicial concessiva da

tutela torna-se elemento autorizador do inicio da execução. Constituindo

o “título executivo e já sendo possível executar, ingressa-se, sem solução

de continuidade, na fase executiva do processo. A execução no

procedimento monitório, independe de novo demanda. Ocorre no

mesmo processo em que se a autorizou, porque o caput e o § 3º da art.

1.102c, alterados pela lei 11.232/2005, manteve essa característica do

processo monitório, de ingressar diretamente na fase executiva, tão logo

esteja aperfeiçoado o título executivo. No entanto, a execução passou a

fazer-se pelas regras sobre o “cumprimento de sentença” de acordo com

o art. 457J e seguintes.208

Conforme Theodoro, precisamente por não existir

solução de continuidade entre as etapas de cognição e de execução,

não há nova citação do réu, pois ele não é chamado a participar de um

novo processo. O ato que lhe dá a ciência é o mandado executivo,

abrindo-lhe oportunidade para pagar em juízo, é intimação operada no

curso do processo. Quanto a matéria do cumprimento da sentença, deixa

208 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de processo civil: processo cautelar e

procedimentos especiais. Vol. 3. 8º ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. pág. 257/258

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de existir a oportunidade de nomear bens a penhora. Sendo assim, o

devedor intimado desde logo da penhora.209

Negrão, antes da nova lei de 2005 que versa sobre tal

assunto, a intimação da penhora seria feita diretamente a pessoa da

parte e não ao seu patrono constituído, ou seja, teria que ser intimado o

réu e não seu advogado, com a nova lei esta diretriz foi alterada,

podendo então fazer a intimação da penhora na pessoa do advogado

do devedor.210

Wambier, antes da lei 11232/95, não havendo o

cumprimento do mandado executivo, uma vez garantido o juízo, cabem

embargos a execução. A possibilidade destes embargos deflui da não

exclusão, para a disciplina do processo monitório, do art. 669. Conquanto

cabíveis embargos à execução, estes apenas poderão veicular matéria

superveniente à constituição do título.211

Aduz ainda Wambier, isso é confirmado pelo emprego

do adjetivo judicial para qualificar o título que se forma. Confere-se-lhe o

regime dos título executivos judiciais, o qual tem a única peculiaridade em

relação aos dos títulos extrajudiciais: a limitação da matéria defesa

suscitável mediante impugnação prevista no art. 475L, entre essas defesas,

a única que pode ser alegada e que tem causa anterior ao fim da fase

cognitiva é a do inciso I (nulidade da citação na fase de conhecimento,

se não houver comparecimento tempestivo do réu, regre essa que se

209 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: procedimentos

especiais. Rio de Janeiro: Forense, 2007. pág.360 210 NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 39 ed.

Atual até 16 de janeiro de 2007.São Paulo: Saraiva, 2007. pág.1079 211 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de processo civil: processo cautelar e

procedimentos especiais. Vol. 3. 8º ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. pág. 258

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aplica extensivamente aos outros dois casos de falta de pressuposto

processual de existência).212

Segundo Teixeira, a inércia do réu, que deixou de opor

embargos ao mandado monitório, não da ensejo a que seja apenado

com medidas restritivas de defesa. Tendo em vista a cognição sumaria

procedida pelo juiz a expedição de mandado monitório, a preclusão d a

defesa, aqui, tem menor abrangência do que decorrente de revelia no

processo de conhecimento amplo. Assim o novos embargos oposto na

execução nada obstante tratar-se de execução fundada em título

judicial.213

Neste sentido Wambier finaliza a fase de execução, tal

limitação da matéria de impugnação ao cumprimento de sentença

ocorre inclusive quando o título executivo se constitui não pela

interposição dos embargos do mandado. O que hora se firma não é

incompatível com que se lançou acima, acerca da inexistência de coisa

julgada neste caso. O que impede que matérias alheias ao art. 475-L

sejam argüidas, nessa hipótese, não é coisa julgada material, mas mera

preclusão, e, portanto, essas matérias, cuja veiculação é vedada na

impugnação, poderão ser ventiladas em ação autônomas.

Diferentemente do que aqui se sustenta, alguns doutrinadores negam a

possibilidade de embargos a fase de execução, outros estão no extremo

posto, aceitam de defendem qualquer matéria que poderiam ser

apresentadas e não só as do 475-L. Entendimento acima defendido

ganha cada vez mais espaço no mundo jurídico. Em lugar de embargos

de executado passou a caber impugnação ao cumprimento da

212 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de processo civil: processo cautelar e

procedimentos especiais. Vol. 3. 8º ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. pág. 258

213 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Cadernos de processo civil: ação monitória. Vol. 38. São Paulo: Editora LTr, 2000. pág.48

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sentença, a ser formulada 15 dias a partir da juntada no autos do

comprovante da intimação da penhora.214

3.6 . DA COBRANÇA DO CHEQUE PRESCRITO

3.6.1 . DA PRESCRIÇÃO DO CHEQUE

Bertoldi, a ação cambial como objetivo de executar o

cheque sem provisão de fundos prescreve em 6 meses contados da

expiração do prazo prescricional do título. Assim, tratando-se de cheque

da mesma praça, a ação cambial prescreve em 30 dias mais 6 meses.

Tratando-se de cheque de outra praça, o prazo prescricional será de 60

dias mais 6 meses.215

Para Rosa Jr., a ação executória fundada no cheque,

movida pelo portador contra o sacado e demais obrigados, devedores

diretos ou indiretos, prescrevem em 6 meses, contados da data da

expiração do prazo de apresentação (LC, art. 59), quando o cheque for

apresentado ao sacado após o mencionado prazo. Se no entanto, a

apresentação do cheque ocorrer dentro do prazo legal, o termo inicial do

prazo prescricional para a ação cambiária será a data da apresentação

e da recusa de pagamento pelo sacado porque neste momento

consuma-se o dano ao patrimônio do credor, que já tem o direito de

acionar os obrigados no cheque.216

Conforme Coelho, a regra de contagem do prazo

prescricional a partir do termino do de apresentação comporta exceção

unicamente no caso de cheque pós-datado, se apresentado a liquidação

214 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de processo civil: processo cautelar e

procedimentos especiais. Vol. 3. 8º ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. pág. 259

215 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 433

216 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág.. 647/648

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antes da data de emissão nele escrita. A aplicação da regra geral neste

caso, de fato importaria ao beneficio ao credor que descumpriu a

obrigação de não-fazer assumida perante o emitente, isto é, a de não

liquidar o cheque antes da data acertada de comum acordo entre eles.

Os 6 meses prescricionais, na hipóteses de apresentação precipitada de

cheque pós-datado, conta-se como se tivesse sido realizado na data da

primeira apresentação ao sacado.217

Aduz Rosa Jr., no caso de emissão de cheque com

data futura o prazo prescricional deve fluir a partir da apresentação ao

sacado e ao da data de emissão, porque o cheque consubstancia uma

ordem de pagamento à vista, considerando-se não-escrita qualquer

menção em contrario, e o cheque apresentado para pagamento antes

do dia indicado como data de emissão é pagável no dia da

apresentação.218

Ressalta Bertoldi, que a doutrina entende que essa

regra de contagem de prazo essa contagem de prazo prescricional

comporta somente uma execução, referente ao caso de cheque pós-

datado. Nesse caso, a contagem de prazo prescricional tem inicio a partir

da data da apresentação do cheque ao sacado, mesmo que a data do

título seja posterior a sua apresentação, isso porque o cheque é

considerado ordem de pagamento à vista, considerando-se não-escrita

qualquer menção no sentido contrário.219

Assim, verifica-se que, mesmo que o direito de ajuizar

determinada ação esteja prescrito, poderá, ainda, o credor valer-se de

outros meios judiciais para receber o seu crédito, que não esta perdido. 217 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 453 218 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada,

de acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 648 219 BERTOLDI, Marcelo M. e RIBEIRO Márcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito

Comercial. 3. ed. Reform., atual. E ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pág. 433

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Em relação ao parágrafo supramencionado, o art. 59

da lei 7357/85 dispõe o seguinte:

Art. 59 – Prescrevem em 6 meses, contados da expiração do prazo de apresentação, a ação que o art. 47 desta lei assegura ao portador.

Parágrafo único. A ação de regresso de um obrigado ao pagamento do cheque contra outro prescreve em 6 meses, contados do dia em que o obrigado pagou o cheque ou do dia em que foi demandado.

Para Rosa Jr., a ação de regresso que relata o art. 59

supracitado, aduz que se o obrigado de regresso pagar o cheque

amigavelmente, o prazo prescricional para a ação de reembolso fluirá da

data do pagamento, mas se o pagamento ocorrer por força de demanda

judicial visando à cobrança da soma cambiária, o prazo prescricional

para ação de regresso contar-se-á da data em que foi citado.220

3.6.1.1 . Interrupção do prazo prescricional

Consoante aos dizeres de Sampaio, o prazo

evidenciado como necessário no intuito da configuração da prescrição

corre continuamente, no entanto, porém, este prazo poderá ser

interrompido de acordo com os atos das partes, ou qualquer evento

legalmente estipulado e atacado para tal fim. 221

O legislador consagrou a interrupção da prescrição e

suas hipóteses no art. 202 do Código Civil Brasileiro, reformulado em 2002.

Que dispõe o seguinte:

Art. 202 – A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:

220 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada,

de acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 649 221 SAMPAIO, Pedro. A lei de cheques. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. pág. 233

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I – por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenara citação, se o interessado a promover no prazo e na formada lei processual;

II – por protesto, nas condições do inciso antecedente;

III – por protesto cambial;

IV – pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;

V – por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;

VI – por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.

Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do ultimo ato do processo para interromper.

Rosa Jr., as obrigações cambiárias são autônomas e

independentes (LC, art. 13), e na solidariedade cambiária entre os

obrigados existem tantos vínculos jurídicos quantos sejam as obrigações

consubstanciadas no cheque. Daí o art. 60 da LC estatuir que a

interrupção da prescrição produz efeito somente contra o obrigado em

relação ao qual foi promovido o ato interruptivo. Assim, se portador

promoveu a interrupção do prazo prescricional da ação cambiária

quanto ao emitente do cheque, o prazo prescricional continuará a fluir no

que toca aos demais obrigados.222

Há que se mencionar no tocante a prescrição

supramencionada que apenas trata-se do prazo para que possibilite o

credor cheque promover a execução do título, sendo que, mesmo

222 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada,

de acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. r. 650

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estando prescrita a cártula, isto é, poderá o credor abrir mão de outros

meios para receber seu crédito.

3.7 . DA COBRANÇA JUDICIAL DO CHEQUE

3.7.1 . Do processo de execução

Conforme Gediel Jr., ocorrendo inadimplência do

devedor quanto a uma obrigação envolvendo o pagamento de certa

quantia em dinheiro, o credor pode exigir o seu cumprimento por meio de

ajuizamento de uma “ação de execução por quantia certa”, também

conhecida pela doutrina como execução genérica, que segundo o art.

646 do CPC, tem como objetivo a expropriação de bens do devedor, a

fim de satisfazer ao direito credor. A referida expropriação pode envolver

atos de alienação de adjudicação ou até de usufruto de bens do

executado, conforme norma do art. 647 do CPC.223

A execução por quantia certa cabe, ademais, como

maneira de se cobrar obrigação substitutiva (perdas e danos), quando

não for possível por exemplo, a execução especifica (obrigação de dar,

fazer, ou não fazer).

De acordo com Rosa Jr., a ação de execução com

base em título executivo extrajudicial tem natureza cambiária porque

fundada no cheque, por ser documento caracterizado como título de

crédito cambiforme abstrato, formal, completo, líquido, certo e exigível. A

lei nº. 7357/85 silencia sobre o processo aplicável à cobrança judicial

executória do cheque, devendo ser aplicada as normas do livro II do

CPC.224

223 ARAÚJO JUNIOR, Gediel Claudino de. Pratica no processo civil: cabimento ou ações

diversas, competência, procedimentos, petições, modelos. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2007. pág.219

224 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada, de acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 635/636

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No intuito de uma efetiva tutela do direito do crédito,

adquirida por meio do processo de execução, o legislador implementou

no CPC em seu art. 585, os títulos de crédito, procurando enumerar com

grande amplitude os títulos executivos extrajudiciais.

Art. 585 – São títulos executivos extrajudiciais:

I – a letra de cambio, a nota promissória a duplicata, a debênture e o cheque;

II – a escritura publica ou outro documento público, assinado pelo devedor, o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas, o instrumento de transação referendado pelo ministério publico ou pelos advogados dos transatores;

III – os contratos de hipoteca, de penhor, de anticrese e de caução, bem como o seguro de vida e de acidentes pessoais de que resulte morte ou incapacidade;

IV – o crédito decorrente de foro, laudêmio, alugue ou renda de imóvel, bem como encargo de condomínio desde que comprovado por contrato escrito;

V – o crédito de serventuário da justiça, de perito, de interprete, ou de tradutor, quanto à custa, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial;

VI – a certidão de dívida ativa da fazenda pública da União, Estado, Distrito Federal, Território e Município, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;

VII – todos os demais títulos, a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.

Ensina Gediel, como ocorre com as execuções em

geral, o que da arrimo à ação de execução contra devedor solvente é a

existência de título com força executiva. No caso deste capítulo, o arrimo

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da ação são os títulos extrajudiciais (art. 585 do CPC), documentos que o

legislador considerou já terem contidos em si mesmos a norma jurídica

disciplinadora das relações entre as partes, com suficiente certeza para

que o credor se tenha por habilitado a pleitear, desde logo, a realização

dos atos materiais tendentes a efetivá-la, usando, para tanto, diretamente

da ação de execução.225

3.7.2 . Protesto do título

Destacando Sidou, protesto é a “providencia, de

natureza judicial ou extra judicial, tendente a prevenir responsabilidade,

prover a conservação e ressalva de direitos ou manifestar qualquer

intenção de modo formal.”226

Coelho, o protesto é o ato formal e solene pelo qual se

prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em

títulos de crédito e outros documentos de divida.227

Consoante aos ensinamentos de Costa Leite, há em

direito pelo menos três tipo de protesto: o cambiário, o falimentar e o

judicial. Os dois primeiros se realizam por uma serventia de registro público,

que é o tabelionato de protestos, podendo nos termos do art. 1º da lei

9.492/97, efetivar-se quanto aos títulos de crédito e “outros documentos de

dívida”.228

Segundo Sidou, em relação ao protesto cambiário,” o

ato registrável, passado pelo oficial competente, por meio do qual o

portador de título cambiário, vencido e não pago, declara sua intenção 225ARAÚJO JUNIOR, Gediel Claudino de. Pratica no processo civil: cabimento ou ações

diversas, competência, procedimentos, petições, modelos. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2007. pág. 219

226 SIDOU, J. M. Othon. Dicionário Jurídico. 2 ed. Ver. e atualizada. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991. pág. 452

227 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 426

228 COSTA LEITE, Andréa Silva da. O cheque nos dias de hoje. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000. pág. 35/36

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de conservar os direitos dele decorrentes contra os respectivos

obrigados”.229

Em conformidade com Rosa Jr., ao rezar que a recusa

do pagamento do cheque pode ser comprovado pelo protesto ou por

declaração do sacado, escrita e datada sobre o cheque com indicação

dia da apresentação, ou ainda, por declaração escrita e datada de

câmara de compensação, dispondo da mesma forma que o art. 40 da

LUG. Assim, mantêm os direitos do portador em relação aos devedores

indiretos não depende necessariamente de protesto, porque qualquer das

declarações referidas no mencionado dispositivo dispensa protesto e

produz os efeitos deste. O § 2º do art. 47 prescreve que os signatários

respondem pelos danos causados por declarações inexatas relativas à

recusa de pagamento do cheque.230

Ensina Sampaio que “o protesto, em relação ao

cheque, tem como finalidade comprovar a apresentação a pagamento

no prazo prescrito em lei, e a existência de fundos suficientes. A despeito

dessa função comparativa o protesto pode ser levado com o fim de

compelir o devedor a cumpri o pagamento. O protesto pode deixar de ser

tirado para atestar a apresentação tempestiva e a falta de fundos, se

estes atos forem certificados pelo banco sacado através de declaração

datada e assinada, ou então pelo serviço de compensação de cheque.

De igual maneira se oposta no cheque uma declaração de dispensa do

protesto”231

Rosa Jr., o art. 48 da LC determina que o protesto ou as

declarações do seu art. 47 devem fazer-se no lugar do pagamento ou do

domicilio do emitente, tendo o art. 41 da LUG silenciado sobre a matéria A

229 SIDOU, J. M. Othon. Dicionário Jurídico. 2 ed. Ver. e atualizada. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1991. pág. 452 230 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada,

de acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 630 231 SAMPAIO, Pedro. A lei de cheques. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. pág.186

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regra é que o protesto seja promovido no lugar do pagamento do

cheque, só se efetuando no domicilio do emitente se este for distinto do

lugar de pagamento, dispondo da mesma forma o art. 6 da lei nº.

9.492/97.232

3.7.3 . Ação de locupletamento indevido ou enriquecimento ilícito

Ensina Médice, “que a pretensão à ação por

decadência do direito ou por prescrição, extingui-se para o titular de

crédito cambiário, não podendo mais mover a ação cambial específica,

que é a execução.”233

Leciona Coelho:

... as ações cambiais do cheque são duas: a execução, que prescreve no 6 meses seguintes ao termino do prazo de apresentação; e a de enriquecimento indevido, que tem natureza cognitiva e pode ser proposta nos 2 anos seguintes à prescrição da execução. Nas duas, operam-se os princípios do direito cambiário e, assim, o demandado não pode argüir, na defesa matéria estranha à sua relação com o demandante.234

Conforme Rosa Jr., a LUG silencia sobre a ação de

enriquecimento sem causa, mas o art. 25 do seu anexo II conferiu as partes

contratantes liberdade para discipliná-la nos casos de decadência ou

prescrição, como já previa o art. 48 do decreto nº. 2.044/1908. a

decadência ocorre quando o portador não apresenta o cheque ao

sacado, ou não protesta, ou também a declaração equivalente nos

prazos legais, gerando a perda de seus direitos em relação aos devedores

indireto, ou seja, endossantes e respectivos avalistas, nos termos do inciso II

232 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada,

de acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 631 233 MÉDICE, Octávio. Cheque: Pratica, Processo e Jurisprudência. 8 ed. v. 23. Curitiba:

Juruá Editora, 1999. pág. 98 234 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 452

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do art. 47 da LC. A prescrição da pretensão jurisdicional executiva do

portador ocorre nos prazos do art. 59 e seu § único, em relação ao

emitente, endossantes e respectivos avalistas. Assim, em matéria de

cheque, a decadência só diz respeito a devedor indireto, enquanto a

prescrição ocorre no que toca a devedores direto e indireto. O governo

brasileiro adotou a reserva do art. 25 do anexo II, e, assim, o art. 61 da LC

reza que a ação de enriquecimento contra emitente e outros obrigados,

que se locupletaram injustamente com o não pagamento do cheque,

prescreve em 2 anos, contados do dia em que se consumar a prescrição

da execução. No direito comum a ação de enriquecimento com fulcro no

art. 884 do Código Civil atual, pelo qual todo aquele que recebeu a

prestação indevida fica obrigado a restituí-la. A ação de enriquecimento

sem causa cabe em todos os casos em que ocorre desoneração da

responsabilidade cambiária resultante da ação de execução, decorrente

de prescrição ou decadência.235

Consoante Coelho, prescrita a execução, o portador

do cheque sem fundos poderá, nos 2 anos seguintes, promover a ação de

enriquecimento indevido contra o emitente, endossantes e avalistas. Trata-

se de modalidade de ação cambial, de natureza não executiva. O

portador do cheque, através de processo de conhecimento, pede a

condenação judicial de qualquer devedor cambiário no pagamento do

valor título, sob o fundamento de que se operou o enriquecimento

indevido. De fato, se o cheque esta sem fundos, o demandado

locupletou-se sem causa lícita, em prejuízo do demandante, e é essa, em

principio, a matéria de discussão na ação.236

Coelho assevera, como ação de enriquecimento

indevido é cambial, se o demandante é o endossatário do cheque e o

235 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada,

de acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág.. 651 236 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 452

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demandado é o emitente, não poderá este ultimo na contestação,

suscitar matérias pertinentes ao negocio jurídico originário do título,

matérias que perante terceiros de boa-fé, não são oponíveis, no regime

de direito cambiário. 237

De acordo com Rosa Jr., a ação de enriquecimento

sem causa é ação cambiária, porque fundada em cheque não pago,

que perde sua força executiva, mas não deixa de ser título cambiforme, e,

por isso, em regra, não há necessidade da prova da causa que

originou.238

Aduz Rosa Jr., tanto é ação cambiária que esta

prevista no art. 61 da LC, enquanto a ação fundada na causal é referida

no art. 62. trata-se de ação cambiária mediante procedimento ordinário

ou sumário, visando ressarcir o autor dos prejuízos decorrentes do não

pagamento de cheque prescrito. Na ação contra o emitente do cheque

não pago por ausência de provisão, na posse do portador, presume seu

prejuízo e o enriquecimento sem causa do emitente, e vale por si mesmo,

cabendo ao devedor elidir a presunção. Todavia, quando a ação for

movida em face de endossante, o portador deve comprovar seu dano

concreto, porque este não se presume, como ocorre em relação do

emitente pela ausência de provisão de fundos.

Leciona Rosa Jr., que os pressupostos da ação de

enriquecimento indevido são: a existência de cheque valido, que

preencha os requisitos legais para produzir efeitos como título

cambiariforme, que não tenha sido pago; perda da ação cambiaria de

execução por ocorrência de prescrição ou tenha o autor decaído de seus

237 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. v. 1. 12 ed. Ver.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. pág. 452 238 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada,

de acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 651/652

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direitos em relação aos devedores indiretos; enriquecimento injusto do

sacador ou endossante; e por final a existência do dano.239

Possui a ação de locupletamento indevido, rito

ordinário, sendo regulada, pelo processo ordinário do CPC.

3.8 . AÇÃO MONITORIA

Consoante Alvim, a ação monitória apresenta cargas

de conhecimento, de execução e de cautela, que a fazem diferente das

espécies tradicionais de ação. Não propriamente desconhecida do nosso

ordenamento processual , pois trata-se de parente próximo de uma velha

conhecida, que regressa com outra roupagem e renovado espírito, para

ocupar o seu espaço. Quem não se lembra da antiga ação de execução

do código civil de 1939, disciplinada no livro IV, titulo I, que se iniciava com

a citação do réu para pagar dívida em 24 hr, e, contestada, prosseguia

com o rito ordinário. Era processo que se iniciava por mandado, que é

sinônimo de monitório e de preceito. Dizer processo monitório é o mesmo

que dizer processo de mandado, processo de preceito.240

Teixeira, com o passar dos anos formou-se a praxe de

pedir ao juiz a expedição de mandado, sem a citação do réu, mesmo nos

casos em que o crédito do autor não estava contido em documento. Esse

mandado judicial, que impunha ao rei a prestação solicitada pelo autor,

propiciava a este promover a correspondente execução. Esse mandatum

de solvendo justificava-se segundo a clausula de que, se o devedor

pretendesse oferecer exceções, poderia fazê-lo de determinado prazo.

Essa clausula foi chamada de justificativa.241

239 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de crédito. 3. ed. Revista e atualizada,

de acordo do o novo código civil, Rio de Janeiro: renovar, 2004. pág. 652/653 240 ALVIM, J. E. Carreira. Processo monitório. 4ª ed. 2º tir. Curitiba: Juruá, 2003. pág. 23/24 241 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Cadernos de processo civil: ação monitória. Vol. 38.

São Paulo: Editora LTr, 2000. pág.8

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Alvim, no entanto, o procedimento da antiga ação

executiva era diverso do prescrito para a atual ação monitória art. 1.102a

a 1.102c, embora ambas tenham em comum o mandado monitório,

implícito na executiva e explicito na monitória.apenas os fatos constitutivos

das ações a que serviam de instrumento exigiam um monitório de colorido

diverso: a primeira, um título executivo extrajudicial; na segunda, um título

quase-executivo.242

Para Friede, a ação monitória introduzida em nosso

direito pela lei nº. 9.079/95, assemelha-se à extinta ação executiva, do

CPC de 1939. ambas destinavam-se a acelerar a possibilidade de

execução quanto a certas hipóteses, sem, porém dispensar uma fase

abreviada de cognitiva.243

Theodoro ressalta que, anteriormente ao advento da

ação monitoria, o credor, de posse de um título executivo extrajudicial

prescrito, para fazer valer seu direito, necessitava buscar amparo na tutela

jurisdicional, através de ações de procedimento comum, sumario ou

ordinário, dependendo do valor da causa, ações estas geralmente

denominadas de cobrança ou enriquecimento ilícito, como no caso de

cheques prescritos, ficando, assim, sujeito às intempéries e procrastinações

de um procedimento por demais longo, embora não pudesse se socorrer

com mais argumentos, em virtude sua desídia, pois é de cobrança geral

no mundo jurídico.244

Assevera Theodoro, com o advento da ação

monitória, esta situação modificou-se, eis que, extreme de duvidas, ter a

ação monitória um procedimento intermediário entre o da execução e o

242 ALVIM, J. E. Carreira. Processo monitório. 4ª ed. 2º tir. Curitiba: Juruá, 2003. pág.24 243 FRIEDE, Reis. Comentários ao Código de processo civil. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1998. pág. 3203 244 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: procedimentos

especiais. Rio de Janeiro: Forense, 2007. pág.3671

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comum, sendo a ação de procedimento especial de jurisdição

contenciosa.245

Conforme Costa Leite, seguindo a linha da reforma do

CPC, desencadeado a partir de 1992, no sentido de maior efetividade à

atuação de jurisdicional, foi introduzida ao CPC pela lei nº. 9.079/95, o

Capitulo XI com os seguintes artigos 11202 a, 1102 b e 1102 c, instituindo

ação monitória.

Desta forma dispõe sobre a ação monitoria em seu

artigo 1102 a:

Art. 1102 a – A ação monitória compete a quem pretender, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel.

Martins, os títulos cambiais ou cambiariformes prescritos

podem ser cobrados nesta sede processual. Acrescenta-se que esta

cobrança não tem nenhuma relação com o negocio subjacente que

ensejou a emissão do título.246

Ensina Negrão, a ação monitoria é uma faculdade do

autor, que, não obstante preenchidos os requisitos do art. 1102 a, pode

optar pelo procedimento comum ou sumario. A ação monitoria tem a

natureza de processo cognitivo sumario e a finalidade de agilizar a

prestação jurisdicional, sendo facultada a utilização, em nosso sistema, ao

credor que possuir prova escrita de debito, sem força de título

executivo.247

245 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: procedimentos

especiais. Rio de Janeiro: Forense, 2007. pág.368 246 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. 11ª ed. Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000.

pág. 3 247 NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 39 ed.

Atual até 16 de janeiro de 2007.São Paulo: Saraiva, 2007. pág.1073

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Aduz Theodoro, que não se pode deixar de alertar que

ao se intentar uma Ação Monitória, utilizando como prova escrita, um

cheque, promissória, ou qualquer outro título extrajudicial, não se esta

restaurando sua característica executória, porque, com a prescrição

operada, jamais voltará a existir. O que se obtém com a monitoria é, sim,

outro título executivo, agora judicial.248

Sendo assim, para Costa Leite, a ação monitória, em

questão cambiária, tem função muito grande, pois substitui o

procedimento ordinário. Em situações que antes o credor teria que se

valer da ação ordinária, poderá hoje utilizar-se da ação monitória.249

Neste sentido também entende a maioria dos tribunais,

dos quais colhe-se alguns julgados como os abaixo-mencionados:

É cabível ação monitoria para cobrança de cheque prescrito, uma vez que tal procedimento não restitui a força executória dessa cambial, mas tão somente torna disponível, para obtenção de título executivo judicial, uma via processual mais célere do que a ação ordinária de cobrança, em nada restando agredido o instituto da prescrição. (TAMG – Ap. nº 02179086-4/00 –Teófilo Otoni – 6ª C. Civ. – Rel. Juiz Pedro Henriques – DJU 11.09.96).

AÇÃO MONITORIA – 2. O cheque prescrito para cobrança via execução, é hábil para aparelhar o pedido monitório. 3. Improvimento do recurso. TJRJ – AC 15728/2001 – 4ª C.Civ. – Rel. Dês. Mario dos Santos Paulo – J. 23.10.2001).

Conclui-se que, a ação monitória, como se apresenta,

mesmo com alguns entendimentos doutrinários desfavoráveis, com passar

dos anos mostrou-se um instrumento processual de que pode se valer o

248 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: procedimentos

especiais. Rio de Janeiro: Forense, 2007. pág.58 249 COSTA LEITE, Andréa Silva da. O cheque nos dias de hoje. Rio de Janeiro: Lúmen Júris,

2000. pág. 57

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credor de posse de um titulo executivo judicial prescrito, notadamente, o

cheque.

No entanto, o cheque, embora o cheque desprovido

de sua eficácia absoluta para execução, constitui-se em prova escrita

suficiente ao procedimento monitório, uma vez que demonstra, por si, a

existência de um direito de crédito líquido e certo.

O importante saber neste tipo de ação é que a

finalidade da mesma é a constituição, o mais rápido possível, do título

executivo judicial, neste sentido Friede conclui que, “a sua finalidade é

abreviar de forma inteligente e hábil, o caminho do título executivo,

controlando o geralmente moroso e caro procedimento ordinário”.250

250 FRIEDE, Reis. Comentários ao Código de processo civil. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1998. pág. 3201/3202

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Teve a presente monografia o objetivo de investigar, à

luz da legislação, da doutrina e da jurisprudência prática, a forma como

se dá a cobrança do cheque prescrito e como pode, a ação monitoria

através de seu procedimento, ser eficaz a esta cobrança.

O interesse pelo tema deu-se por tratar de um ramo do

direito muito utilizado na prática, dotando-se de uma diversidade

doutrinaria e jurisprudencial, havendo uma diversidade de entendimentos.

Desenvolveu-se esta monografia dividido-a em três

capítulos.

Sendo que o primeiro capitulo abordou os títulos de

crédito, apresentando o histórico dos títulos, suas características, a

natureza da obrigação cambial, suas classificações, e suas espécies e os

principais títulos de crédito bem como o seu conceito.

Em conformidade com o disposto no primeiro capitulo

podemos averiguar com maior clareza como surgiu o instituto dos títulos

de crédito, tanto no direito estrangeiro como no direito brasileiro, e ainda,

os variados entendimentos doutrinários a respeito das suas características.

Quando surgi o título de crédito, o dinheiro em espécie

é substituído, de inicio operava-se com instrumentos do contrato de

cambio, ou seja, operava-se a circulação de dinheiro. Sendo assim, todo

título de crédito deve conter uma declaração da obrigação e também

uma confissão de divida, é um documento confessório. É fonte de

obrigação de pagar uma determinada soma em dinheiro, até certo dia e

em determinado lugar, a quem apresentar o título para pagamento do

mesmo.

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Já no segundo capitulo destinou-se ao título de crédito

em especifico o “cheque”, fazendo uma ligação do primeiro capitulo

com o segundo, entre títulos de crédito e aprofundando sobre o cheque

no segundo capitulo.

O segundo capitulo abordou com ênfase o cheque,

discorrendo seu aspecto histórico, o conceito de cheque, a sua natureza

jurídica, suas características jurídicas, os requisitos essenciais, e explanando

sobre o cheque pós-datado.

No segundo capitulo, obteve-se uma noção de como

surgiu o instituto do cheque no direito estrangeiro e brasileiro, contudo

observa-se que quanto a sua origem é uma matéria um tanto

controvertida, haja vista que, a doutrina não traz uma unanimidade em

seu aspecto histórico, no entanto, ao analisarmos o cheque chega-se a

conclusão de que este apareceu pela primeira vez, no fim do século

passado.

Tendo como conceito uma ordem de pagamento à

vista, é considerado um título de crédito, no entanto, é necessário

observar os requisitos essenciais que possuem, suas características são uma

ordem de pagamento à vista, escrita e incondicional, dotada de

cambiaridade, e quanto a sua natureza jurídica a doutrina diverge

tornando-se bastante controvertida na doutrina.

No tocante aos seus requisitos é necessário observar, o

denominativo do cheque, quais os seus sujeitos, quem é o emitente, se o

emitente tem capacidade civil, verificar qual instituição financeira será o

sacado, quem será o portador do título que por sua vez poderá ser o

sacador, analisar com atenção o lugar da emissão do cheque bem como

a data em que foi emitido, não esquecendo da sua assinatura e do seu

valor.

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Por derradeiro no terceiro e ultimo capitulo, estudou-se

o tema principal da pesquisa, da cobrança do cheque prescrito através

da ação monitória.

Ao analisarmos o instituto da ação Monitória,

investigamos a sua origem no ordenamento jurídico brasileiro, o seu

conceito, seus pressupostos, requisitos de admissibilidade, legitimidade

ativa e passiva, etc.

Através do estudo deste instituto pode-se observar que

o mesmo possui um rito especial, que não se enquadra dentro do rito

ordinário, nem dentro do rito executivo, muito embora possa um pouco de

ambos.

Muito embora haja alguns doutrinadores entendam

não ser a ação monitoria o a via judicial adequada para a cobrança do

cheque prescrito, haja visto que este instituto tem seu próprio estatuto,

qual seja, a lei do cheque, a grande maioria da doutrina e tribunais, não

vêem óbice algum para que aquele que seja credor de certa quantia em

dinheiro, porém munido de cheque sem poder executivo, se valha da via

monitoria para recebê-lo.

Por fim a conclusão a que se chegou foi de que a

ação monitória, desde o seu surgimento, tem-se mostrado um instrumento

eficaz de que se pode valer aquele credor que possua uma prova

executiva sem eficácia executiva, principalmente aquele possuidor de um

cheque prescrito, e que desta maneira não precisara recorrer a via judicial

no procedimento ordinário para receber seu crédito.

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