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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS CURSO DE PSICOLOGIA EQUIPES DE TRABALHO: uma perspectiva psicodramática Maurício Castro da Silva Arus Itajaí SC, 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS

CURSO DE PSICOLOGIA

EQUIPES DE TRABALHO: uma perspectiva psicodramática

Maurício Castro da Silva Arus

Itajaí SC, 2009

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MAURÍCIO CASTRO DA SILVA ARUS

EQUIPES DE TRABALHO: uma perspectiva psicodramática

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Elizabeth Navas Sanches, Dra.

Itajaí SC, 2009

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A minha mãe Nívea, por seu amor e carinho em

todos os momentos da minha vida, sem a qual meu

caminho teria sido muito diferente.

A meus irmãos e meu pai, que me ensinaram de

diferentes formas, lições de vida as quais nunca

esquecerei.

A minha companheira Eliane, pelos momentos

felizes que tivemos e as conversas inteligentes que

mantivemos.

A dois grandes mestres: J. L. Moreno e Ueshiba

Sensei, que, cada qual a sua maneira, ensinaram

aos homens formas diferentes de mudar o mundo.

A Amin e Gessi Arus.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a professora Beth por ter aceitado orientar esta

pesquisa, a qual fora realizada com urgência, e por tê-lo feito com maestria

imprescindível, demonstrando que o processo de ensinar é muito mais do que

mostrar um caminho, mas também instigar e incentivar aquele que o seguirá.

A professora Celina, por ter me apresentado o Psicodrama, por ter me

incentivado (a sua maneira) a nunca desistir, por ter me ensinado além dos

conceitos teóricos de uma abordagem, formas de mudar o mundo (nem que seja

apenas o nosso).

A professora Rosana, por ter aceitado fazer parte da minha banca, pois com

ela aprendi (e ainda aprendo) muito sobre a área organizacional. São pequenos

detalhes que talvez a professora (mestre) não perceba, mas que renovam o

processo de ensino aprendizagem.

A professora Maria Isabel (carinhosamente, misabel), que no terceiro

período me falou, durante cinco minutos, palavras que ecoam até hoje (quase quatro

anos depois) na minha mente, e que me incentivam a continuar. E por ter me

ensinado a refletir sobre minha atuação como futuro profissional e como ser

humano.

A estes professores, por compartilharem conhecimentos comigo, gostaria de

demonstrar o quanto aprendi, e compartilhar esta pesquisa com eles.

Agradeço a minha família, hoje e sempre, por estarem presentes, por serem

parte de mim, e compreenderem os momentos em que não pude estar presente por

eles.

A Mario Sensei, que me ensina Aikido (e posso dizer que aprendo muito

mais do que poderia escrever, sobre a vida e muitas coisas mais) e aos meus

colegas nesta arte marcial.

Aos meus amigos dos grupos de RPG (role-playing game) aos quais atribuo

meu interesse nos grupos e equipes e no Psicodrama. A quem também agradeço

pela força, pelas lições ensinadas e aprendidas, pelos momentos de felicidade.

E a Eliane, pelas experiências que vivemos e ajudaram a construir o ser

humano que sou hoje.

Obrigado.

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LISTA DE QUADROS E FIGURAS

Quadro 1: Características diferenciais de grupos e equipes de trabalho. ................ 17

Quadro 2: Fases de um grupo conforme vários autores .......................................... 24

Quadro 3: Hierarquia Tradicional versus Estrutura em Equipes ............................... 28

Quadro 4: Informações adicionais dos sujeitos da pesquisa .................................... 49

Quadro 5: Setores do local de estudo ...................................................................... 50

Quadro 6: Categorias e subcategorias ..................................................................... 50

Quadro 7: Indicadores de grupos e equipes............................................................. 63

Quadro 8: Tipos de grupos ....................................................................................... 65

Quadro 9: Tipos de equipes ..................................................................................... 66

Figura 1: Comparação entre Grupos de trabalho e Equipes de trabalho. ................ 19

Figura 2: Estágios de desenvolvimento das equipes de trabalho. ............................ 22

Figura 3: Estágios de desenvolvimento do grupo. .................................................... 23

Figura 4: Diagrama do local de estudo ..................................................................... 48

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SUMÁRIO

Resumo ...................................................................................................................... 8 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9

2. EMBASAMENTO TEÓRICO ................................................................................. 14

2.1. Grupos e equipes de trabalho ........................................................................ 14

2.1.1. Tipos de equipes de trabalho nas organizações ..................................... 19

2.2. Etapas do desenvolvimento das equipes de trabalho .................................... 21

2.3. Estrutura das equipes de trabalho ................................................................. 25

2.4. Psicodrama .................................................................................................... 28

2.4.1. Histórico e influências ............................................................................. 28

2.4.2. Espontaneidade, criatividade e conserva cultural ................................... 30

2.4.3. Matriz de Identidade ............................................................................... 32

2.4.4. Teoria dos papéis ................................................................................... 34

2.4.5. Tele-transferência ................................................................................... 36

2.4.6. Teoria da ação ........................................................................................ 38

3. METODOLOGIA ................................................................................................... 41

3.1. Tipo de pesquisa ............................................................................................ 41

3.2. Participantes da pesquisa .............................................................................. 41

3.3. Coleta de dados ............................................................................................. 42

3.3.1. Contato inicial ......................................................................................... 43

3.3.2. O segundo grupo .................................................................................... 44

3.4. Análise dos dados .......................................................................................... 45

3.5. Aspectos éticos .............................................................................................. 46

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS .......................................... 47

4.1. Apresentação do local de estudo ................................................................... 47

4.2. Caracterização dos participantes ................................................................... 48

4.3. Categorias e subcategorias de análise .......................................................... 50

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4.3.1. Grupo ou Equipe? ................................................................................... 62

4.3.2. Perspectiva psicodramática sob as categorias e subcategorias ............. 68

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 72

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 74

7. APÊNDICES ......................................................................................................... 78

A. Protocolo de observação .................................................................................. 78

B. Identificando o processo de trabalho ................................................................ 80

C. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................................................. 81

D. Indicadores de grupos e equipes ...................................................................... 83

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EQUIPES DE TRABALHO: uma perspectiva psicodramática

Orientadora: Elizabeth Navas Sanches, Dra.

Defesa: Novembro de 2009.

Resumo: A psicologia organizacional tem acompanhado as mudanças ocorridas com a globalização da economia e a reestruturação do trabalho, e tem como objeto de estudo as relações entre o contexto de trabalho, a organização e o seu ambiente externo, associando estes ao comportamento do trabalhador. O aumento da competitividade organizacional requer dos profissionais maior capacitação e a abordagem psicodramática apresenta uma metodologia participativa onde é possível trabalhar o grupo neste ambiente. O objetivo geral deste trabalho foi analisar como ocorre o processo de trabalho de uma equipe, sob a perspectiva psicodramática, em uma organização do município de Itajaí; e teve como objetivos específicos: descrever como são definidas as tarefas, investigar o relacionamento entre os membros, analisar características da comunicação e identificar as etapas do processo de trabalho. O método escolhido foi a pesquisa qualitativa do tipo exploratório, utilizando a observação natural e a técnica de entrevista com roteiro semi-estruturado para a coleta de dados, sendo que a população constituiu-se de nove colaboradores de diferentes setores, que trabalham no local de estudo. Os dados foram transcritos e analisados através da técnica de análise de conteúdo, considerando-se os aspectos éticos em pesquisa com seres humanos, como a utilização do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os resultados evidenciaram a influência do desenho dos cargos na definição das tarefas e no processo de trabalho no grupo, a percepção dos relacionamentos da população focada em seu contexto de trabalho e opiniões divergentes no processo de comunicação. De acordo com os indicadores investigados, não foi possível constatar se a população trabalha em uma perspectiva de grupo ou equipe, mas aproximaram-se suas características aos grupos de trabalho formal, permanente ou de comando; e as equipes de trabalho permanentes ou de fluxo de trabalho ou célula. Sob a perspectiva do Psicodrama, foi possível associar os conceitos de papel aos cargos de trabalho, de tele-transferência ao de comunicação, a matriz de identidade como indicativo do momento do colaborador no contexto de trabalho, estando atrelados a estas situações os conceitos de espontaneidade, tele-transferência, ação e diferentes formas de interação entre os papéis. Ainda, propôs-se a possibilidade de utilização da dramatização como ferramenta de intervenção, considerando que no contexto organizacional também se fazem presentes os constructos teóricos do Psicodrama.

Palavras-chave: equipes, processo de trabalho, psicodrama nas organizações. Subárea de concentração 7.07.09.00-9 Membros da Banca

Maria Celina Ribeiro Lenzi Professora convidada

Rosana Marques da Silva Professora convidada

Elizabeth Navas Sanches Professora orientadora

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1. INTRODUÇÃO

Para entendermos a configuração das organizações, a atuação do psicólogo

e o mercado de trabalho atual, devemos compreender os fatores que os conduziram

até o presente. Sendo assim, destaca-se o Capitalismo, modelo econômico

estabelecido no final do século XVIII, que possibilitou ao homem mensurar sua força

de trabalho, e que depois da Segunda Guerra Mundial fazia-se presente na maioria

dos países do mundo. Este modelo sofreu uma crise nos anos 70 que levou a uma

nova fase mundial, marcada por mudanças como a globalização da economia e a

reestruturação do trabalho (GOULART, 2002).

O Capitalismo ao longo de três séculos de evolução alterou a configuração

dos modelos de família, de educação, do estado e das organizações. Antigamente o

cenário organizacional era estável. Porém, atualmente, este se apresenta instável e

cada vez mais exige da organização a capacidade de se adaptar às situações que

demandam criatividade e inovação diante de tantos imprevistos (GOULART, 2002).

A mudança organizacional, em decorrência desta instabilidade, nem sempre é

compreendida corretamente colocando em risco a sobrevivência da organização

(ZANELLI, 2002).

No mesmo período em que se estabeleceu o Capitalismo, surge a

Psicologia, marcada pelo trabalho de Wundt e de seu discípulo Münsterberg (cujos

trabalhos influenciaram na emancipação da Psicologia Organizacional e do

Trabalho); outros como Walter Dill Scott, Robert S. Yerkes, Elton Mayo e Fritz J.

Roethlisberger podem ser considerados construtores da Psicologia Organizacional e

do Trabalho (ZANELLI, 2002). O autor ainda descreve que esta área da Psicologia

tem como objetivo estudar as “... relações entre o contexto imediato de trabalho, a

organização e seu ambiente externo, daí derivando fatores associados ao

comportamento das pessoas que trabalham na organização.” (p. 23).

Com a mudança do contexto organizacional, aumentou a competitividade

entre as organizações, e na última década passou-se a exigir dos profissionais

atuantes no mercado de trabalho “... que não fossem somente bons técnicos e

especialistas na área de atuação, mas que também tivessem algumas habilidades e

competências comportamentais para lidar com este cenário” (FONSECA, 2008, p.

1). Por exemplo, podem-se citar os processos de automação, que configuravam as

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empresas-máquinas e pouco a pouco substituíram a maior parte da mão-de-obra,

reduzindo o quadro de pessoal das empresas. Hoje em dia, estes processos nos

mostram que a tecnologia é um instrumento potencial nas mãos de profissionais

qualificados, mas não os substituem completamente (GOULART, 2002).

Atualmente a verdadeira força nas organizações advém de um conceito dos

anos quarenta – a sinergia – que considera o trabalho em grupo mais produtivo e

provedor de melhores resultados do que o do trabalho individual somado

separadamente (GOULART, 2002). Albuquerque e Puente-Palacios (2004) nos

falam sobre a vida do ser humano em grupo, cada vez menos percebida por sua

sutileza, que nos leva a não perceber a importância do outro na nossa existência.

Uma definição formalizada de grupo remete a um conjunto de duas ou mais

pessoas, com um ou mais objetivos em comum, que trabalham juntas e são

dependentes entre si, apenas o período necessário para atingirem estes objetivos

(SCHERMERHORN JUNIOR; HUNT; OSBORN, 1999). Estes autores reforçam a

idéia de que a sinergia é um diferencial dentro das empresas, ajudando estas a

serem competitivas e a alcançarem a prosperidade em longo prazo.

Dentro das transformações atuais, percebem-se os processos de trabalho

deixando de ser individualizados, para se transformarem em atividades de grupo,

solidárias e conjuntas (CHIAVENATO, 2005). O mesmo autor afirma “As pessoas

trabalham melhor e mais satisfeitas quando o fazem juntas.” (p. 4) e constata que

“Equipes, células de produção, times, trabalho conjunto, compartilhamento,

participação, solidariedade, consenso, decisão em equipe (...): estão sendo as

palavras de ordem nas organizações.” (p. 4).

Para Schermerhorn Jr., Hunt e Osborn (1999, p. 148) “Os grupos de trabalho

também são equipes” caracterizando-se equipe como um pequeno grupo de

pessoas, com habilidades complementares e que trabalham juntas para atingirem

um objetivo comum pelo qual se consideram coletivamente responsáveis. Ainda

reforçam que para haver o trabalho em equipe, deve-se enfatizar a

complementaridade das respectivas habilidades de cada individuo, e que estes

devem saber “... ouvir e reagir de forma construtiva às opiniões dos demais, dar aos

demais o benefício da dúvida, prover apoio e reconhecer os interesses e as

realizações dos outros membros.” (p. 149).

O Psicodrama, abordagem criada por Jacob Levy Moreno, tem sua origem

nos pequenos grupos, e a partir destes desenvolveu conceitos que abrangem uma

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perspectiva de homem e de mundo, uma teoria de personalidade e uma teoria de

desenvolvimento humano. Apresentado no início do século XX, época cujas

transformações abriram portas aos trabalhos com grupos, o Psicodrama “... busca

sua eficácia numa relação mais ‘horizontal’ entre os sujeitos” (SIQUEIRA, s/d, p. 2).

A autora afirma que o Psicodrama oferece “... uma determinada ‘leitura’ ou

interpretação de homem e de mundo, dos fenômenos humanos e de suas

possibilidades de transformação.” (p. 2).

Relatos de estudos e pesquisas internacionais mostram a eficácia de

técnicas psicodramáticas, por exemplo, em desenvolvimento de lideranças,

habilidades de relacionamento interpessoal e capacidade de comunicação; e

também mostram de forma positiva a aplicação das técnicas de role-play em

situações de coaching e feedback (FONSECA, 2008). Assim, sobre a aplicação do

Psicodrama nas organizações, Gonçalves (2007) pontua que “Uma das maneiras de

provocar mudanças de atitude duradouras é trabalhar com uma metodologia

participativa onde o grupo se co-responsabiliza pelo resultado obtido ao final do

processo.” (p. 20).

O Psicodrama ajuda o indivíduo a redescobrir sua capacidade de agir de

maneira eficiente e eficaz diante dos estímulos, e reflete sobre a afirmativa de que “A

espontaneidade é a capacidade de agir de modo ‘adequado’ diante de situações

novas, criando uma resposta inédita ou renovadora ou, ainda, transformadora de

situações preestabelecidas.” (GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988, p. 47)

colocando que o homem responsável por suas atitudes e capaz de agir

“adequadamente”, faz a diferença em uma organização (GONÇALVES, 2007).

Já os autores Cardoso Neto e Botomé (2006) fazem uma análise das idéias

de Lúcia Almeida apresentadas em seu livro “O trabalhador no mundo

contemporâneo: psicodrama nas organizações” de 2004, em que a autora identifica

no trabalhador moderno, sofrimentos psicológicos resultantes das rápidas mudanças

no mundo do trabalho, representadas por novas tecnologias de informação,

globalização do mercado e outros fatores que requerem a mudança comportamental

deste trabalhador.

Segundo a análise destes autores “Trabalhar em equipe, apresentar

criatividade, iniciativa, autonomia e responsabilidade são alguns dos ‘predicados’

exigidos do trabalhador” (CARDOSO NETO; BOTOMÉ, 2006, p. 88) e comentam

sobre a pesquisa que a autora relata no livro, quando, passando por um momento

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de mudança organizacional, requere-se dos trabalhadores que “... apresentem

comportamentos proativos, de iniciativa, de criatividade e que constituem uma

efetiva capacidade de trabalhar em equipes.” (p. 88).

Ainda colocam que a autora destaca a necessidade do trabalhador de refletir

sobre sua condição, atitude que afirma ser possível através da utilização do

Psicodrama nas organizações. Concluem que os constructos do Psicodrama,

baseados nos conceitos de espontaneidade-criatividade “... articulados com a

realidade vivida pelo grupo, podem auxiliar na compreensão da relação do

trabalhador com sua organização ou com seu contexto de trabalho.” (CARDOSO

NETO; BOTOMÉ, 2006, p. 88).

Desta forma, considerando a abrangência da ciência psicológica e a

complexidade do cenário organizacional, pode-se afirmar que existem inúmeras

possibilidades de atuação e demanda por novos conhecimentos dentro de uma

organização. Este trabalho objetiva ampliar as ferramentas do profissional psicólogo

que deseja se inserir no mercado de trabalho, abrindo portas para profissionais de

diferentes abordagens e conhecimentos.

Sabe-se que as organizações são compostas por grupos de pessoas,

possibilitando a aplicação do método e técnicas do Psicodrama – abordagem com

foco em grupos. A intenção do trabalho com o grupo é seu desenvolvimento, seja

por meio de investigação de suas interações, bem como futuras intervenções; assim,

estudos sobre a equipe – que está intimamente ligada à organização – levam ao

desenvolvimento da própria organização.

O Psicodrama se adapta ao contexto no qual é trabalhado, não requerendo

da organização a disponibilização de instrumentos exceto o grupo e um espaço

físico para sua aplicação, que pode ser o mesmo ambiente que este trabalha. Por

ser uma abordagem psicológica, abrange os seres humanos no seu comportamento

natural, não exigindo mudanças destes para se “encaixar” nas propostas do trabalho

do Psicodrama.

O objetivo geral desta monografia foi analisar como ocorre o processo de

trabalho de uma equipe, sob a perspectiva psicodramática, em uma organização do

município de Itajaí. Para isso, descreveu-se como são definidas as tarefas a serem

executadas; investigou-se como é o relacionamento entre os membros; analisou-se

características da comunicação e identificou-se as etapas do processo de trabalho.

Ao final deste trabalho, esperava-se caracterizar, segundo a literatura disponível, se

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os participantes desta pesquisa trabalham em uma perspectiva de grupo ou equipe.

A partir dos dados coletados, e de acordo com a intenção inicial da monografia,

buscou-se subsídios para uma breve análise do grupo ou da equipe, baseadas na

teoria do Psicodrama.

Esta monografia apresenta em seu primeiro capítulo a introdução, que relata

brevemente o desenvolvimento do trabalho no mundo, a gênese da Psicologia

Organizacional, conceitos de grupos e equipes e do Psicodrama, assim como a

relevância desta monografia para profissionais da área e seus objetivos, tanto geral

quanto específicos. O capítulo embasamento teórico detalha os conhecimentos

produzidos referentes a grupos e equipes de trabalho, seus estágios de

desenvolvimento, tipos de equipes e estrutura, bem como conceitos do Psicodrama.

Na metodologia constam o tipo de pesquisa, os participantes, a coleta e a análise de

dados e os procedimentos éticos adotados na pesquisa com seres humanos. Em

seguida, há a apresentação e discussão dos resultados de acordo com categorias e

subcategorias, em paralelo ao embasamento teórico utilizado; e no quinto capítulo

descrevem-se as considerações finais do autor. Podem ainda ser encontrados ao

final do documento suas referências bibliográficas, apêndices e anexos.

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2. EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1. Grupos e equipes de trabalho

Zimerman (1997, p. 75) descreve sobre a classificação geral dos grupos,

mencionando que “... a essência dos fenômenos grupais é a mesma em qualquer

tipo de grupo, e o que determina óbvias diferenças entre os distintos grupos é a

finalidade para a qual eles foram criados e compostos.”. Sendo assim, afirma que a

finalidade do grupo determinará as pessoas que farão parte deste, a natureza do

enquadre1 e os procedimentos técnicos utilizados (ZIMERMAN, 1997).

O mesmo autor menciona a diversidade de aplicações das dinâmicas

grupais e das diferentes combinações de seus recursos técnicos e táticos, e que

estes fatores podem gerar uma confusão entre distintos conceitos. Assim, enfatiza a

necessidade de classificação das diferentes finalidades dos grupos, sugerindo, com

base em conhecimentos próprios, dois grandes ramos: os grupos operativos e os

grupos psicoterápicos.

Com base nesta classificação, analisa-se os grupos operativos, que de

acordo com Zimerman (1997) “... muitos preferem considerá-los como sendo,

genericamente, um continente de todos os demais grupos” e explica “A

conceituação, a divulgação e a aplicação dos grupos operativos devem muito ao

psicanalista argentino Pichon Rivière, que, desde 1945, introduziu-os e os

sistematizou.” (p. 76). Destes, menciona os grupos institucionais, que acontecem

nos meios empresariais, local onde geralmente são montados serviços dirigidos por

psicólogos organizacionais com a finalidade de aumentar o rendimento da

organização, investindo em seu pessoal (ZIMERMAN, 1997). Acrescentando ao

discurso de Zimerman, pode-se afirmar que nas organizações “... os grupos existem

e constituem a matéria-prima do seu desenvolvimento.” (ALBUQUERQUE;

PUENTE-PALACIOS, 2004, p. 359).

Grupos também podem ser definidos como formais ou informais. Macêdo et

al. (2006), referindo-se ao grupo informal, colocam que este “... resulta da própria

natureza gregária do ser humano, diante de fenômeno ou situação imprevista” (p.

125). Reis et al. (2005, p. 21) afirmam que estes tipos de grupo “... decorrem de

1 Enquadre (setting), conforme citação do autor “O enquadre é conceituado como a soma de todos os

procedimentos que organizam, normatizam e possibilitam o funcionamento grupal.” (ZIMERMAN, 1997, p. 35).

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alianças, de acordos táticos ou explicitados e de motivações individuais, que levam

as pessoas a assumirem compromissos nem sempre previstos pela organização”. Já

na perspectiva de Robbins (2005) este não é estruturado ou definido pela

organização, sendo um agrupamento natural de pessoas no ambiente de trabalho,

voltado à necessidade de contato social. Schermerhorn Jr., Hunt e Osborn (1999)

pontuam que estes grupos não são oficiais, originando-se de maneira espontânea e

por vontades pessoais de seus integrantes.

Sobre o grupo formal, Reis et al. (2005) colocam que “... são aqueles

definidos na estrutura organizacional, com tarefas e missões a eles atribuídas em

decorrência dos objetivos, metas e missão da organização.” (p. 21), sendo seus

comportamentos “... definidos por seus respectivos papéis (...) decorrentes das suas

atribuições como membros do grupo.” (p. 21). Para Robbins (2005) o grupo formal é

aquele cuja estrutura é estipulada pela organização, com atribuições de trabalho que

especificam as tarefas a serem desempenhadas e com o comportamento dos seus

integrantes voltados às metas organizacionais. E para Schermerhorn Jr., Hunt e

Osborn (1999) este tipo de grupo é criado oficialmente pela organização para a

execução específica de uma determinada tarefa, tendo um “chefe” que fica

responsável pelas realizações do grupo em geral.

Os grupos formais ainda se dividem em dois tipos: os grupos de trabalho

permanente e grupos de trabalho temporário. O primeiro, para Schermerhorn Jr.,

Hunt e Osborn (1999) pode aparecer no organograma de uma empresa como

departamentos, divisões ou equipes; e para Macêdo et al. (2006, p. 125) são

compostos “... para cumprir atividades regulares da organização ou objetivos de

longo prazo”. O grupo de trabalho temporário, para Schermerhorn Jr., Hunt e Osborn

(1999) é focado no desenvolvimento de uma tarefa específica, sendo tipicamente

dissolvido após o cumprimento da tarefa; e para Macêdo et al. (2006) este é “...

constituído para cumprir um objetivo ou tarefa específicos, num prazo determinado”.

Mas para Robbins (2005), os grupos formais se dividem em: grupo de comando,

determinados pelo organograma da organização; e grupos de tarefa, formados por

pessoas para executar uma tarefa específica, geralmente ultrapassando as relações

de comando.

Seguindo o desenvolvimento dos grupos e baseando-se nos termos “grupo

institucional” (ZIMERMAN, 1997) ou grupos formais (grupos de trabalho), origina-se

o conceito de “equipe de trabalho”, um grupo com suas características próprias.

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Porém faz-se necessário distinguir ambos os conceitos, sendo que toda equipe é um

grupo, mas nem todo grupo se caracteriza como equipe (SPECTOR, 2003).

Os grupos de trabalho são definidos como um conjunto de duas ou mais

pessoas, que interagem entre si e dividem tarefas visando alcançar objetivos em

comum (ALBUQUERQUE; PUENTE-PALACIOS, 2004, GOULART, 2002; MACÊDO

et al., 2006; REIS et al., 2005; ROBBINS, 2005; SCHERMERHORN JR; HUNT;

OSBORN, 1999; SPECTOR, 2003).

Dentro das organizações, é comum a reunião de pessoas em grupos para a

execução de determinadas atividades (MACÊDO et al., 2006). Estes comumente

recebem a denominação de equipes, porém, como trazem Reis et al. (2005) “Os

termos grupo e equipe são muitas vezes usados como sinônimos e certas

características que alguns autores atribuem aos grupos, outros atribuem às equipes”

e “... muitos empregam o termo equipe de forma corriqueira e inapropriada,

designando como equipes conjuntos de pessoas que, na verdade, se caracterizam

como grupos” (p. 66).

Durante a existência de um grupo, este sofre a influência do ambiente

externo, de seus próprios integrantes e de si mesmo, sendo estes fatores o motivo

pelo qual alguns grupos se transformam em equipes e outros não. De acordo com

Macêdo et al. (2006, p. 125) “Essas três influências (...) se combinam para dar ao

grupo um padrão de comportamento orientado para dois objetivos: a execução da

tarefa e a sua continuidade como tal.”, e quando estes objetivos estão equilibrados,

o grupo começa a demonstrar a capacidade de trabalhar como equipe (MACÊDO et

al., 2006).

González, Silva e Cornejo (1996 apud ALBUQUERQUE; PUENTE-

PALACIOS, 2004) esclarecem de acordo com suas perspectivas ambos os

conceitos:

“... os grupos se caracterizam por: a) ter um líder claramente designado por um elemento externo perante o qual responde pelo grupo; b) trabalhar em prol do objetivo da organização; c) enfatizar, em aspectos individuais para o desempenho, definição de responsabilidades e estabelecimento de recompensas; d) ter a sua efetividade evidenciada a partir da influência que exercem sobre outros membros ou grupos da organização. Já as equipes se caracterizam por: a) compartilhar as responsabilidades que não recaem apenas sobre o líder; b) trabalhar em prol de um projeto específico e próprio; c) enfatizar no esforço conjunto tanto para o desempenho como para recompensas e responsabilidades; d) ter a sua efetividade evidenciada a partir dos produtos da equipe.” (p. 370).

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Comentam que grupos e equipes são duas unidades de desempenho

diferentes, mas que tais denominações são freqüentemente utilizadas sem que se

saibam as peculiaridades de cada, gerando divergências. Baseados em autores

como Greenberg e Baron (1995) e González e colaboradores (1996), apresentam o

quadro a seguir:

Grupos Equipes

• Esforço individual

• Responsabilidade por resultados

individuais

• Objetivo de trabalho Individual

• Unidades de trabalho

dependentes

• Esforço coletivo

• Responsabilidade compartilhada

pelos resultados globais

• Objetivo de trabalho

compartilhado

• Unidade de trabalho semi-

autônomas ou autônomas

Quadro 1: Características diferenciais de grupos e equipes de trabalho.

Fonte: (ALBUQUERQUE; PUENTE-PALACIOS, 2004, p. 371).

Sobre as especificidades de cada conceito, Reis et al. (2005) colocam que

uma das características diferenciadoras entre ambos é a interdependência entre os

membros, exemplificando que no grupo, o desenvolvimento da tarefa depende

unicamente da pessoa que a está fazendo, enquanto na equipe, mesmo havendo

distribuição de tarefas (sendo cada indivíduo parcialmente responsável pelo todo),

quando um dos integrantes por algum motivo não cumpre seu papel, outro assume

seu lugar. E os autores ainda discursam sobre outra diferença; a relação com a

organização. Nos grupos, os objetivos de uma tarefa são definidos pela própria

organização, enquanto as equipes visam estes por si próprias. Associa-se esta

iniciativa com a possibilidade dos integrantes da equipe de participarem nas

decisões referentes às próprias tarefas (REIS et al., 2005).

Ainda assim, Souza et al. (2005) mencionam que as diferenças individuais

entre os membros da equipe podem levar a divergências, porém, para os autores

“... a comunicação é o fator responsável pelo desenvolvimento e a manutenção da equipe, e somente por meio dela as diferenças individuais passarão de obstáculos a fatores de crescimento e de comprometimento.” (p. 115).

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Enfatizam a importância do comprometimento dos sujeitos da equipe,

característica essencial para um desempenho efetivo, mas que requer diálogo,

especialmente quando há conflitos a serem resolvidos; e que também reflete uma “...

cultura organizacional que prima pela qualidade de vida no trabalho, por políticas

favoráveis à valorização das pessoas (...), participação, transparência,

aprendizagem, inovação, recompensas e reconhecimento.” (p. 115) e comentam:

“Para uma equipe, a administração das diferenças individuais, por meio de uma comunicação eficaz, é capaz de promover o efetivo desenvolvimento de seus membros, fundamental ao necessário comprometimento com a organização. O desempenho será tão melhor quanto maior for a coesão de seus membros.” (p. 117).

West, Borril e Unsworth (1998 apud SPECTOR, 2003) afirmam que uma

equipe de trabalho possui três características que a identificam, e as enumeram

como “1. as ações dos indivíduos devem ser interdependentes e coordenadas; 2.

cada membro deve ter um papel específico determinado; 3. deve haver tarefas com

o mesmo objetivo.” (p. 311). Para Robbins (2005) os grupos de trabalho interagem

com a finalidade de se ajudarem em sua área de desempenho, mas não tem tempo,

necessidade ou disponibilidade para engajarem-se em um projeto conjunto, sendo o

resultado final do seu trabalho o somatório de esforços individuais. As equipes de

trabalho já demonstram “... uma sinergia positiva por meio do esforço coordenado.” e

o resultado de seu trabalho mais do que apenas a soma das contribuições

individuais. A figura a seguir apresenta estas diferenças:

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Figura 1: Comparação entre Grupos de trabalho e Equipes de trabalho.

Fonte: (ROBBINS, 2005, p. 213).

2.1.1. Tipos de equipes de trabalho nas organizações

Albuquerque e Puente-Palacios (2004) apresentam características para

diferentes tipos de equipes, que podem ser o tempo de duração, dentre as quais

estão às equipes permanentes, voltadas para a execução de uma tarefa e, assim

que esta é concluída, se desfazem; e temporárias, em que a execução da tarefa se

perpetua por diferentes motivos. Há também a missão, que inclui as equipes de

trabalho, que executam tarefas cujo objetivo é permitir a efetividade organizacional;

e de desenvolvimento, que incrementam processos organizacionais. O elemento

priorizado refere-se aos grupos força-tarefa, cuja prioridade é a execução de uma

tarefa antes mesmo da sobrevivência da equipe; as equipes propriamente ditas, que

enfatizam nos relacionamentos interpessoais de seus membros, necessário a

execução da tarefa; e tripulação, que prioriza inicialmente seus objetivos e tem em

segundo plano a tecnologia que utiliza.

Robbins (2005) afirma que as equipes de trabalho são capazes de realizar

múltiplas tarefas, da prestação de serviços à tomada de decisões. Neste contexto,

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apresenta quatro tipos mais comuns de equipes: equipes de solução de problemas,

autogerenciadas, multifuncionais e virtuais. Nas equipes de solução de problemas,

os integrantes geralmente discutem formas de melhorar aspectos de seu trabalho,

porém limitados a autoridade para a aplicação de suas sugestões; as equipes de

trabalho autogerenciadas operam de maneira interdependente e podem assumir as

responsabilidades de seus supervisores como “... o planejamento e o cronograma de

trabalho, a delegação de tarefas aos membros, o controle coletivo sobre o ritmo do

trabalho, a tomada de decisões operacionais e a implementação de ações para

solucionar os problemas” (p. 214).

Já as equipes multifuncionais são formadas de funcionários do mesmo nível

hierárquico, porém de diferentes setores, tendo como exemplo as equipes de força-

tarefa e os comitês, objetivando o cumprimento de uma tarefa; e as equipes virtuais,

que podem fazer tudo que as outras fazem, mas que possuem as seguintes

diferenças “(1) ausência de gestos não verbais ou paraverbais; (2) contexto social

limitado; e (3) capacidade de superar limitações de tempo e espaço.”,

compreendendo gestos paraverbais como “(movimentos dos olhos, expressão facial,

movimentação das mãos e outras linguagens corporais)” (ROBBINS, 2005, p. 215).

Outros autores como Macêdo et al. (2006) trazem diferentes conceitos de

tipos de equipes:

Equipes funcionais: possuem integrantes de uma mesma unidade

organizacional e conhecimentos similares, o que pode facilitar a cooperação, mas

que em contrapartida limita ganhos em produtividade.

Equipes por fluxo de trabalho ou células: integram as tarefas pertencentes

ao mesmo processo de trabalho, aumentando a produtividade e qualidade do

serviço ou produto.

Equipes multifuncionais: também conhecidas como equipes de projetos, por

agregar especialistas de áreas diferentes para a execução de uma tarefa específica.

Equipes temporárias: formadas por pessoas que podem trabalhar com uma

área em comum, e constituídas com um propósito que, depois de completado, leva a

desintegração desta força-tarefa.

Equipes autogerenciadas: autônomas o suficiente para tomar decisões que

melhorem resultados, como contratações e utilização de recursos.

Equipes em rede ou virtuais: que utilizam recursos de tecnologia da

informação para promover o encontro entre seus participantes.

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Equipes de riscos: agregam pessoas de talentos especiais, com grande

autonomia para tomarem decisões referentes a objetivos e orçamentos, cuja

finalidade se concentra na promoção do espírito empreendedor.

Equipes verdadeiras: que são citadas pelos autores nas palavras de

Katzenbach (2000), e implicam na mudança do estilo de liderança da equipe à

medida que os resultados alcançados aumentam.

Entretanto, Albuquerque e Puente-Palacios (2004) mencionam que existe

uma dificuldade em se apresentar uma classificação única sobre os diferentes tipos

de equipes de trabalho. Para os autores, isto é “... decorrente da diversidade de

propostas que podem ser encontradas na literatura da área” fato que associam à “...

utilização da denominação equipes para unidades de desempenho cujas

características nem sempre respondem às de uma equipe.” (p. 371).

2.2. Etapas de desenvolvimento das equipes de trabalho

As equipes de trabalho geralmente passam por fases de desenvolvimento

durante sua existência, as quais, como ressalvam Albuquerque e Puente-Palacios

(2004) “... não são uma peculiaridade das equipes de trabalho. São fases do

desenvolvimento na vida dos grupos, e, como as equipes constituem um tipo

específico de grupo, passam também por elas.” (p. 372) e apresentam a seguinte

estrutura:

Formação: este estágio inicia-se com os primeiros contatos de seus

integrantes referentes à realização das tarefas a que se propõem, envolvendo o

“contato inicial” e o “descobrimento do outro”. Também são detalhados os objetivos,

as regras comportamentais e de desempenho, envoltos em incertezas até que os

membros se reconheçam como parte do grupo.

Conflito: que representa um período de definição das atividades, de

negociações de regras que abrangem o grupo, e o possível surgimento de estilos de

liderança no grupo.

Normatização: após definidas as atividades, negociados regras do grupo e a

resolução de demais conflitos, na normatização os integrantes apresentam mais

coesão, comunicação, tolerância a divergências, relacionamento mais próximo e

maior concordância quanto a metas e objetivos traçados. Também ocorre o

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estabelecimento de papéis, tarefas, responsabilidades individuais, e normas e

procedimentos voltados à tarefa a ser desenvolvida.

Desempenho: representa a fase da produtividade, quando se pode averiguar

o desempenho máximo do grupo na realização das atividades e tarefas para as

quais se reuniu.

Desintegração: este estágio está presente apenas nos grupos temporários,

sendo uma das características das equipes de trabalho a capacidade de sobreviver

à desintegração – que pode representar fracasso ou ineficácia da mesma – pela

manutenção de recursos tecnológicos ou humanos, para a continuidade das

atividades a qual são destinadas.

Figura 2: Estágios de desenvolvimento das equipes de trabalho.

Fonte: (ALBUEQUERQUE; PUENTE-PALACIOS, 2004, p. 374).

Os autores concluem que estes estágios do desenvolvimento das equipes

de trabalho não se apresentam no cotidiano de maneira tão didática, comentando

que “... essas fases aparentemente diferenciáveis se organizam na forma de um

processo dinâmico que passa por ajustes permanentes durante o tempo de

existência da equipe.” (p. 373).

Robbins (2005) propõe etapas similares, em seu modelo de cinco estágios

de desenvolvimento do grupo, que são: formação, tormenta, normalização,

desempenho e interrupção. A formação é caracterizada por momentos de

“reconhecimento” do contexto e de incertezas quanto às estruturas do grupo, e se

encerra quando seus integrantes passam a se reconhecerem como membros do

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grupo, seguindo então para a tormenta – estágio permeado de conflitos, quando os

participantes “... demonstram alguma resistência aos limites impostos à sua

individualidade” (p. 187). Superado este, passa ao de normalização, que reflete o

início da coesão do grupo, o surgimento de relações mais próximas entre seus

integrantes e a definição dos comportamentos que serão aceitos por seus membros,

passando para o estágio de desempenho, momento em que a estrutura do grupo

volta-se à realização da tarefa.

O autor acima coloca que o estágio de desempenho é o último para grupos

de trabalho permanentes. Para grupos temporários, como forças-tarefa ou equipes,

ainda existe o estágio de interrupção, que retrata o momento em que “... o grupo se

prepara para a sua dissolução” (ROBBINS, 2005, p. 188). Para este modelo de cinco

estágios, o autor apresenta o quadro a seguir:

Pré-

estágio I

Estágio I

Formação

Estágio II

Tormenta

Estágio III

Normalização

Estágio IV

Desempenho

Estágio V

Interrupção

Estágios de desenvolvimento do grupo

Figura 3: Estágios de desenvolvimento do grupo.

Fonte: (ROBBINS, 2005, p. 187).

Outro modelo de ciclos do desenvolvimento dos grupos é pontuado por

Schermerhorn Jr., Hunt e Osborn (1999), que o apresentam na seguinte

configuração: formação, tumulto, normação, desempenho e dissolução. A formação

caracteriza-se pelo momento de investigação de quem fará parte do grupo, das

regras que permearão uma tarefa e dos comportamentos aceitáveis pelos seus

integrantes. O estágio de tumulto, também chamado de atrito ou distúrbio,

demonstra discussões e até mesmo hostilidade, que vão se modificando na medida

em que o grupo foca sua atenção em fatores que influenciam no alcance de suas

metas, sendo também o momento em que os integrantes fazem esforços para entrar

em consenso sobre suas ações.

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O estágio de normação ou integração inicial propicia o primeiro olhar sobre a

coesão do grupo e o sentimento de harmonia entre seus integrantes, reforçando a

idéia de permanecerem juntos, desvalorizando atitudes individualistas e evitando a

desintegração. Os autores comentam que “Esse estágio pode facilmente passar

despercebido por alguns membros, que o consideram uma fase ultima de

amadurecimento.” (p. 135). A fase a seguir, de desempenho ou integração total “... é

o surgimento do grupo maduro, organizado e que funciona bem.” (p. 135). É quando

o grupo se torna capaz de desempenhar tarefas complexas e preocupa-se com sua

existência, comprometido com seu progresso e manutenção. O último estágio, de

dissolução, é reservado aos grupos temporários, como forças-tarefas e comitês, mas

não implicam que este grupo não possa se reunir novamente, sendo que “A boa

vontade dos membros, de debandar quando o serviço estiver pronto e de trabalhar

juntos novamente em futuros projetos, é um teste importante do sucesso do grupo

no longo prazo.” (p. 135).

Reis et al. (2005) apresentam o quadro a seguir, que demonstra diferentes

perspectivas de autores sobre os estágios de desenvolvimento dos grupos:

Fase Caracterização/Autor

1. Inicial de aproximação e formação Inclusão (Schutz, 1994)

Formação (Robbins, 2002)

Encontro inicial (Lundgren, 1985)

2. Ajustes, conflitos, mapeamento

das posições e definição dos

papéis

Controle (Schutz, 1994)

Tormenta (Robbins, 2002)

Confrontação do coordenador

(Lundgren, 1985)

3. Estabilização, plenitude,

confiança

Abertura (Schutz, 1994)

Normalização e desempenho (Robbins,

2002)

Solidariedade grupal e intercâmbio de

feedback (Lundgren, 1985)

4. Dissolução, fechamento Terminação (Schutz, 1994)

Interrupção (Robbins, 2002)

Quadro 2: Fases de um grupo conforme vários autores

Fonte: (REIS et al. 2005, p. 26).

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2.3. Estrutura das equipes de trabalho

Reis et al. (2005) comentam que o funcionamento dos grupos também é

influenciado por fatores “... como a noção de limite ou enquadramento, usado por

Pichón-Rivière, (conforme Berstein, 1986)” (p. 24) e de tempo, espaço, tarefas e

papéis. Spector (2003), por exemplo, afirma ser importante para o entendimento de

equipes a compreensão dos conceitos de papel, que “... subentende que nem todas

as pessoas em um grupo ou equipe têm a mesma função ou propósito” (p. 311); de

normas, que “... são regras de comportamento informais aceitas pelos membros de

um grupo de trabalho.” (p. 312), e de coesão do grupo, que “... é a soma de forças

que atrai os membros do grupo e o mantém unido” (p. 313).

Duas necessidades essenciais ao alcance do alto desempenho pelos grupos

são destacadas por pesquisas na área da psicologia social, que são: a necessidade

de tarefa e a necessidade de manutenção. Mesmo que o grupo tenha um líder

definido, o comprometimento com o alcance destas metas é compartilhado, sendo a

denominação deste fator liderança distribuída. Outro fator refere-se aos papéis e

dinâmica dos papéis, sendo papel um termo comumente usado para descrever “...

um conjunto de expectativas associadas a um cargo ou serviço.” (p. 153). Já as

normas do grupo demonstram comportamentos esperados, que refletem idéias e

crenças elaboradas pelo grupo; e a coesão do grupo demonstra “... o grau segundo

o qual os membros são atraídos e motivados para permanecer como parte de um

grupo.” (p. 155), fator que influencia na energia desprendida para atividades em

grupo, ausências e rotatividade (SCHERMERHORN JR.; HUNT; OSBORN, 1999).

Reis et al. (2005) destacam que para a equipe alcançar os resultados

esperados pela organização, é necessário a presença de certas características

individuais em seus integrantes, como a capacidade de trabalhar em equipe, de

adaptação e de formulação de respostas adequadas; e também características de

contexto, como:

“A clareza dos objetivos, a comunicação aberta e o comportamento transparente, a busca de metas significativas, a informação clara e a exigência no cumprimento dos padrões acertados, o direcionamento dos esforços de todos para os objetivos, a confiança recíproca e a cooperação mútua, o compartilhamento de oportunidades e responsabilidades, a posse de conhecimento, a disposição para estabelecer alianças, o respeito às pessoas e a interação sinérgica” (p. 69).

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Além de condições individuais e de contexto, uma equipe está sujeita a

variáveis estruturais. O tamanho da equipe, por exemplo, deve ser suficiente para o

alcance dos objetivos, sem prejudicar a comunicação e a tomada de decisão da

mesma. A organização “... diz respeito às relações de dependência necessárias para

a realização das tarefas e a sua distribuição entre os integrantes da equipe” (REIS et

al., p. 70). O fator interações entre os integrantes pontua os processos de

comunicação da equipe. A coesão grupal expressa o estímulo que mantém os

membros na equipe, reforçando sua existência. As competências, reunidas em

conjunto, devem propiciar a equipe o cumprimento de seus objetivos e da

organização; e a estrutura da tarefa relaciona-se “... à forma como as tarefas

guardam relação com a missão e os objetivos da organização, como são elencadas

e distribuídas entre os participantes, e com que clareza isso é feito” (p. 70).

Albuquerque e Puente-Palacios (2004) apresentam elementos que afetam a

estrutura das equipes de trabalho, como normas, papéis e prestígio ou status:

Normas: são criadas pelos membros do grupo, independentes das regras da

organização, que expressam os tipos de comportamentos que são adequados e

quais ações são aceitáveis. As normas freqüentemente são pontuadas pelos

integrantes mesmo não estando escritas formalmente e norteiam o trabalho da

equipe ao desempenho da tarefa e cumprimento de seus objetivos.

Papéis: podem ser definidos pelos membros do grupo ou pela organização,

e determinam um conjunto de tarefas e comportamentos esperados pelo indivíduo

desempenhando um papel. Nota-se que “As cobranças, em termos de

comportamentos e resultados, não estão baseadas na pessoa que desempenha o

papel, mas no papel em si.” (p. 374).

Prestígio ou status: que podem ser compreendidos como o reconhecimento

social que os outros têm da equipe ou de um membro pertencente a esta, e que

pode influenciar na forma de trabalho da equipe. Apesar da organização não poder

impor este fator, a mesma pode ressaltar determinados comportamentos a serem

reconhecidos, cabendo a equipe concordar, ou não, se o aspecto é relevante a sua

maneira de funcionar. O prestígio ou status de um determinado funcionário pode

trazer tanto vantagens quanto desvantagens à organização, de acordo com a

influência deste perante os outros membros. Porém, como as equipes são formadas

de pessoas com conhecimentos e capacidades complementares, “... o prestígio não

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é característico de apenas um único membro. É dividido entre aqueles que

compõem a equipe.” (p. 375).

Para Robbins (2005) a estrutura dos grupos torna possível a compreensão e

previsão de seus comportamentos, constituída pelos papéis, normas, status,

tamanho do grupo e grau de coesão. Os papéis são compreendidos como “... um

conjunto de padrões comportamentais esperados, atribuídos a alguém que ocupa

uma determinada posição em uma unidade social.” (p. 189), considerando que se

desempenham diversos papéis simultaneamente. O autor menciona subcategorias

como a identidade do papel, a percepção do papel, as expectativas do papel e o

conflito de papéis.

Já as normas representam um conjunto de comportamentos aceitáveis pelos

membros do grupo, implicando expectativas de desempenho individuais em

determinadas circunstâncias; e suas subcategorias: classes comuns de normas,

conformidade e desvios de comportamentos no ambiente de trabalho. Quanto ao

status, afirma que é “... uma posição social definida ou atribuída pelas pessoas a um

grupo ou a membros de um grupo” (p. 195), podendo derivar do poder de um

indivíduo sobre os outros, a capacidade de contribuição de um membro para as

metas do grupo ou de suas características individuais; abrangendo os itens: status e

normas, status e interação grupal, equidade do status e status e cultura.

Outro fator ressaltado é o tamanho do grupo, que afeta seu desempenho,

mas que precisa ser avaliado através de variáveis diferentes. Por exemplo, um grupo

pequeno age mais rápido na realização de tarefas, porém um grupo maior terá mais

subsídios para a resolução de um problema. Um fator levantado é a tendência de

pessoas se esforçarem menos quando trabalhando em grupo, o que vai de encontro

com a percepção de que o trabalho em grupo é mais produtivo que o individual. E

coesão do grupo, que é “... o grau em que os membros são atraídos entre si e

motivados a permanecer como grupo.” (p. 198), identificada por diferentes fatores

que motivam os membros a permanecerem como grupo e que está relacionada à

sua produtividade, e as normas que este estabelece de desempenho.

Por fim, Robbins (2005) comenta que grande parte de executivos busca a

melhora do desempenho de suas organizações, que pode ser alcançado através da

sinergia positiva das equipes de trabalho, afirmando que “... o uso extensivo das

equipes gera o potencial para uma organização aumentar seus resultados sem a

necessidade de aumentar os investimentos.” (p. 213) ressaltando que somente a

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nomenclatura “equipe” não melhora o desempenho de um grupo. Leite et al. (2005)

exemplificam um modelo de organização estruturada em equipes:

De Para • Alta especialização de cargos e

fragmentação • Unidades de trabalho por tarefas • Foco no trabalho segmentado • Centrada em controles • Não faz parte das minhas

atribuições • Estável e previsível

• Processos voltados para as equipes

• Atividades de ponta que agregam valor

• Alinhamento interfuncional • Tomada de decisão e

gerenciamento próprios • Como podemos fazer isso? • Dinâmica e intuitiva

Quadro 3: Hierarquia Tradicional versus Estrutura em Equipes Fonte: (LEITE et al., 2005, p. 125).

2.4. Psicodrama

2.4.1. Histórico e Influências

Para se conhecer o Psicodrama é importante falar sobre seu criador, Jacob

Levy Moreno. De origem judaica (sefardim), Moreno nasceu em Bucareste,

Romênia, no dia 6 de maio de 1889. (FONSECA, 2008; GONÇALVES, WOLFF,

ALMEIDA, 1988). Mudou-se para Viena aos 5 anos, época marcada na literatura por

sua brincadeira de “ser Deus”, que seria o berço de sua concepção de “...

espontaneidade como centelhas divinas em cada um de nós.” (GONÇALVES,

WOLF, ALMEIDA, 1988, p. 11) e a “... primeira sessão de psicodrama ‘privado’

dirigida por Moreno, segundo ele próprio.” (FONSECA, 2008, p. 17).

É importante mencionar a influência religiosa do hassidismo nas obras de

Moreno, de sua juventude até sua mudança para os Estados Unidos. Esta seita

religiosa derivada da cabala traz em seus escritos a necessidade de uma relação

mais “vertical” com Deus. Menciona que tudo teria centelhas divinas, que se

liberadas, levariam ao encontro com Deus. (FONSECA, 2008). Por volta de 1907 a

1910, Moreno e alguns amigos fundaram a “Religião do Encontro”, quando andavam

pelas ruas conversando com pessoas que passavam e “... expressando sua rebeldia

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diante dos costumes estabelecidos, usavam barbas e viviam pelas ruas à maneira

dos mais pobres” (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988, p. 12).

Em 1912, na Faculdade de Medicina, Moreno foi interno da Clínica de

Psiquiatria de Viena sob a supervisão do professor Otto Pötzl, época também em

que conheceu Freud, em um curso de verão ministrado na mesma faculdade. Entre

seus trabalhos mais conhecidos em Viena, estão os jogos de improviso com

crianças nas praças da cidade, favorecendo a espontaneidade; um trabalho com

prostitutas, utilizando-se de técnicas grupais; e suas observações feitas em um

campo de refugiados tiroleses, onde estudou as interações psicológicas e grupais

dos refugiados (FONSECA, 2008; GONÇALVES, WOLF, ALMEIDA, 1988).

Por volta de 1920, Moreno tinha seu interesse maior voltado para o teatro,

onde, nas próprias palavras o autor, segundo Gonçalves, Wolff e Almeida (1988, p.

12), existiam “... possibilidades ilimitadas para a investigação da espontaneidade no

plano experimental”. Em 1921, então, funda o Teatro Vienense da Espontaneidade,

e “Descobre a ação terapêutica da dramatização com o célebre ‘caso Bárbara’.”

(FONSECA, 2008, p. 18), ou “... caso Bárbara-Jorge” (GONÇALVES, WOLF,

ALMEIDA, 1988, p. 15) que marcou a transformação do teatro da espontaneidade no

“teatro terapêutico” e mais tarde, no Psicodrama (FONSECA, 2008).

Em primeiro de abril de 1921 acontece a primeira sessão oficial de

Psicodrama, para o público do pós-guerra vienense, que teve como tema “... a busca

de uma nova ordem de coisas” (GONÇALVES, WOLF, ALMEIDA, 1988, p. 13), na

qual Moreno convidava alguém do público a subir no palco e se sentar em uma

poltrona vermelha, onde atuaria como rei. O público atuava como júri, e no final da

apresentação ninguém foi aceito como rei. (FONSECA, 2008; GONÇALVES, WOLF,

ALMEIDA, 1988). Segundo Gonçalves, Wolff e Almeida (1988, p. 13) “O próprio

Moreno vê no período em que se dedicou ao teatro uma transição de sua fase

religiosa para a científica.”.

Em meados da década de 20, Moreno muda-se para Nova York, período em

que suas idéias de psicoterapia de grupo ganham força e onde se apresenta pela

primeira vez fora da Europa. O ano de 1931 é marcado como o início da

Psicoterapia de Grupo, data em que Moreno publica a revista Impromput sobre o

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tema, sendo esta a primeira do gênero. Faz um trabalho em uma escola de

reeducação em Nova York, voltando sua atenção para a mensuração dos

relacionamentos interpessoais, fundamentando então as bases da sociometria.

(FONSECA, 2008; GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988).

Gonçalves, Wolf e Almeida (1988, p. 17) comentam que “Moreno considera

o advento da Psicoterapia de Grupo, do Psicodrama e da Sociometria como a

terceira revolução psiquiátrica”, sendo a primeira o tratamento humanizado de

Philipe Pinel no ano de 1772, e a segunda o surgimento da Psicanálise de Sigmund

Freud. E de acordo com Fonseca (2008, p. 32) mencionando as palavras de Moreno:

“... a primeira revolução psiquiátrica teve como epicentro o hospital. A segunda foi na psique, e a terceira centrada na comunidade e no mundo. O conceito preponderante da primeira era a liberdade e a emancipação, o da segunda, o inconsciente, e o da terceira, a espontaneidade-criatividade”.

Em 1936 Moreno constrói o primeiro Teatro de Psicodrama, doado por uma

amiga e admiradora, em Beacon House. Este local funcionou até 1982 como um

centro de formação de profissionais, onde também aconteciam encontros semanais

de psicodrama público. Em seus últimos anos de vida, Moreno dedicou-se a dialogar

com profissionais de outras linhas terapêuticas, explanando os conceitos de sua

proposta (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988, p. 17).

Faleceu aos 85 anos de idade, no dia 14 de maio de 1974, em Beacon,

Nova York. Moreno, como afirma Fonseca (2008, p. 44) “... foi buscar os

fundamentos de sua teoria e técnica em muitas fontes, inclusive no teatro, na

filosofia e na religião.”. Em seu epitáfio encontram-se as palavras “Aqui jaz aquele

que abriu as portas da Psiquiatria à alegria”. (GONÇALVES, WOLF, ALMEIDA,

1988, p. 17).

2.4.2. Espontaneidade, Criatividade e Conserva Cultural

Na perspectiva de Moreno, autor do Psicodrama, afirma-se que o homem

possui recursos inatos para seu desenvolvimento, desacompanhados de tendências

destrutivas, que são denominados espontaneidade, criatividade e sensibilidade.

Porém, estes recursos podem ser perturbados à medida que o homem se

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desenvolve, por ambientes ou sistemas sociais constrangedores, restando como

possibilidade ao homem para a recuperação destes fatores vitais, a renovação de

seus relacionamentos afetivos e da ação transformadora deste sobre o meio em que

vive (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988).

Moreno menciona, por exemplo, não acreditar que o próprio nascimento do

homem fosse um evento traumático, uma situação em que o sujeito não pode reagir

de forma adequada. Pressupôs, então, que o ser humano participava do seu próprio

parto ativamente, denominando assim, a capacidade de responder adequadamente

a qualquer situação, de espontaneidade (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988).

Nas palavras do próprio autor, o “estado” de espontaneidade:

“... não é algo permanente, algo estabelecido e rígido como são as palavras escritas ou as melodias; é, contudo, fluente, de uma fluência rítmica com altos e baixos, que cresce e desaparece gradualmente como atos da vida e, no entanto, é diferente da vida.” (MORENO, 1997, p. 86).

Marineau (1992) cita em seu glossário sobre o que seria a espontaneidade:

“... capacidade do indivíduo de dar uma resposta adequada a situações novas ou

uma nova resposta a uma situação antiga.” (p. 167), e complementa “Moreno atrela

a capacidade de a pessoa ser criativa à capacidade de manter ou adquirir um estado

de espontaneidade.” (p. 167).

Em referência a ação criativa, transformadora, Moreno propõe uma

“Revolução Criadora” para a recuperação da espontaneidade e da criatividade

através de atitudes diferentes daquelas estereotipadas pela sociedade

(GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988). Em seu discurso sobre esta “Revolução

Criadora”, o autor fala de uma “guerra” contra a automatização do ser humano,

representada também pela conserva cultural, na qual propõe uma “estratégia de

luta”:

“Essa estratégia é a prática do ato criador, o homem como um instrumento de criação que muda continuamente os seus produtos. A espontaneidade, enquanto método de transição, é tão antiga, evidentemente, quanto a própria humanidade.” (MORENO, 1997, p. 96).

Para Gonçalves, Wolff e Almeida (1988, p. 47) “A espontaneidade é a

capacidade de agir de modo ‘adequado’ diante de situações novas, criando uma

resposta inédita ou renovadora ou, ainda, transformadora de situações

preestabelecidas.” e “Quando recupera sua liberdade ou luta por ela, o homem

reafirma sua essência, o que é próprio de sua natureza, ou seja, a espontaneidade.”

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(p. 47). A espontaneidade é o fator que permite o potencial criativo a renovar-se e

expressar-se, sendo este fator inseparável da criatividade (GONÇALVES, WOLFF,

ALMEIDA, 1988).

Toda criação, ato criador ou criatividade, é passível de se transformar em

conserva cultural. Objetos, formas de agir, obras de arte, costumes, que se

mantenham iguais em uma determinada cultura fazem parte do conceito de

conserva cultural. Se o ser humano apenas “conservasse” estes produtos de sua

criatividade, ele perderia sua espontaneidade. Assim, determina Moreno, que as

conservas culturais sejam somente o ponto de partida para o ato criador

(GONÇALVES, WOLF, ALMEIDA, 1988).

As conservas culturais foram se aperfeiçoando através dos estágios do

desenvolvimento do ser humano, servindo em um momento histórico para a

propagação de nossa herança cultural e nos protegendo de situações ameaçadoras.

Porém, quanto mais atenção era voltada a este processo, mais o ser humano

distanciava-se da necessidade de inspiração momentânea (MORENO, 1997). De

acordo com Marineau (1992, p. 166) conserva cultural significa “... produto acabado

de um esforço criativo. Por exemplo: um livro, uma peça de teatro, uma sinfonia.” e

menciona “Moreno dedicou grande esforço em livrar-se das conservas culturais (...)

e esperava substituí-las por novas e espontâneas formas de comportamento.”.

2.4.3. Matriz de Identidade

Os autores Gonçalves, Wolff e Almeida (1988) colocam que, na visão do

Psicodrama, o homem nasce em um espaço físico, sob a guarda de seu cuidador,

seja este pai, mãe, ou qualquer outro ser responsável por ele; e em um espaço

virtual, que dispõe em parte condições para o seu desenvolvimento, caracterizado

pela estrutura física, as condições psicológicas, sociais e econômicas do seu

nascimento. Neste contexto, ainda criança, o homem se desenvolve sob a

expectativa de outras pessoas do “papel” que irá desempenhar, e começa aos

poucos, a “identificar-se” em relação aos demais. Pontuam ainda que “O lugar

preexistente, modificado pelo nascimento do sujeito, é o ponto de partida para o seu

processo de definição como indivíduo; é a Matriz de Identidade.” (p. 59).

Assim, pode-se afirmar que a Matriz de Identidade, em seu sentido geral, é o

locus nascendi (lugar de nascimento) ou como Moreno (1997) cita “A matriz de

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identidade é a placenta social da criança” (p. 114) onde a criança nasce e passa a

relacionar-se com o meio. O autor ainda diferencia identidade de identificação,

sendo que a segunda supõe haver o “eu” estruturado, em busca de se identificar

com o “outro” na relação, requerendo da criança a capacidade de se diferenciar de

outros seres humanos (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988).

Os autores acima comentam que “Ao nascer, a criança entra num mundo

denominado Primeiro Universo, que está dividido em dois tempos com

características próprias” (p. 60), que são: 1) tempo do Primeiro Universo ou Período

de Identidade Total: quando a criança situa-se no tempo presente, não diferenciando

pessoas de objetos nem fantasia de realidade; e 2) tempo do Primeiro Universo ou

Período de Identidade Total Diferenciada ou de Realidade Total: quando começa a

diferenciar a realidade da fantasia e as pessoas de objetos, e começam a surgir

traços de tele-sensibilidade (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988). Na

concepção de Moreno (1997, p. 112) “Essa coexistência, co-ação, e co-experiência

que, na fase primária, exemplificam a relação do bebê com as pessoas e coisas à

sua volta, são características da matriz de identidade.”.

Logo surge o Segundo Universo, e comentam Gonçalves, Wolff e Almeida

(1988) que Moreno chamou o início desta etapa de “a brecha”, quando “... a

personalidade passa a estar normalmente dividida. Formam-se dois conjuntos de

processos de aquecimento preparatório – um de atos de realidade, outro de atos de

fantasia – e começam se organizando” (MORENO, 1997, p. 123). E Moreno (1997)

acrescenta que “Da brecha entre a realidade e a fantasia surgem dois novos

conjuntos de papéis” os quais mencionam Gonçalves, Wolff e Almeida (1988) são os

papéis psicossociais (referentes ao mundo social) e papéis psicodramáticos

(referentes ao mundo da fantasia).

As etapas da Matriz de Identidade são divididas por Moreno (1997) assim:

“A primeira fase consiste em que a outra pessoa é, formalmente, uma parte da criança, isto é, a completa e espontânea identidade. A segunda fase consiste em que a criança concentra a sua atenção na outra e estranha parte dela. A terceira fase consiste em separar a outra parte da continuidade da experiência e deixar de fora todas as demais partes, incluindo ela mesma. A quarta fase consiste em que a criança situa-se ativamente na outra parte e representa o papel desta. A quinta fase consiste em que a criança representa o papel da outra parte, a respeito de uma outra pessoa, a qual, por sua vez, representa o seu papel. Com esta fase, completa-se o ato de inversão de identidade.”. (p. 112)

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Porém, Moreno fala destas fases da Matriz de Identidade em três etapas,

que seriam:

Fase do Duplo: fase da indiferenciação, quando a criança necessita sempre

de alguém que cuide dela e que faça as por ela (pode-se falar aqui de ego –

auxiliar);

Fase do Espelho: momento em que a criança concentra sua atenção no

outro, esquecendo de si, ou concentra-se em si se esquece do outro;

Fase de Inversão: quando há primeiramente a “tomada de papel” do outro,

para logo em seguida haver a inversão coexistente dos papéis (GONÇALVES;

WOLFF; ALMEIDA, 1988).

2.4.4. Teoria dos Papéis

O autor teve inspiração para sua teoria dos papéis em sua experiência

teatral mais do que com a sociologia contemporânea, sendo comum associar a

criação do conceito de “papel” à influência do sociólogo norte americano G. H. Mead

(GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988; MORENO, 1997). Porém, Moreno (1997)

aponta que a influência do autor na construção do termo psiquiátrico de papel é um

“mito”, e que “A formulação e desenvolvimento desse conceito e das técnicas de

desempenho de papéis é do exclusivo domínio dos especialistas em psicodrama.”

(p. 24).

O termo papel é epistemologicamente descrito por Moreno (1997, p. 27) e

mencionado por Gonçalves, Wolff e Almeida (1988, p. 65):

“O termo inglês role (= papel), originário de uma antiga palavra francesa e que penetrou no francês e inglês medievais, deriva do latim rotula. Na Grécia e também na Roma Antiga, as diversas partes da representação teatral eram escritas em “rolos” e lidas pelos pontos aos atores que procuravam decorar seus respectivos “papéis”; essa fixação da palavra role parece ter se perdido nos períodos mais incultos dos séculos iniciais e intermediários da Idade Média. Só nos séculos XVI e XVIII, com o surgimento do teatro moderno, é que as partes dos personagens teatrais foram lidas em “rolos” ou fascículos de papel. Desta maneira, cada parte cênica passou a ser designada como um papel ou role.”.

Este conceito é abordado pela teoria psicodramática referindo-se ao homem

em todos os momentos de sua existência, considerando sua experiência individual e

perante a sociedade (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988).

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Destacam-se dois sentidos de papel que são utilizados pelo Psicodrama:

unidades de representação teatral e de ação; e funções sociais (GONÇALVES,

WOLFF, ALMEIDA, 1988). Ambos os termos podem ser interpretados no discurso de

Moreno, sendo o primeiro, a definição de papel como pessoa imaginária, que pode

ter existido ou não, fruto da criação de um dramaturgo, podendo este ser um modelo

de comportamento ou de caráter a ser assumido por um ator (MORENO, 1997). O

segundo termo retrata a realidade social, podendo ser representado por uma

profissão (MORENO, 1997), ou classe social, atitudes e ações, papéis afetivos,

familiares, ou em determinadas instituições; porém, tais categorias não poderiam

esgotar a abrangência do termo “papel” (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988).

Ainda assim, Moreno (1997 apud GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988)

especifica papel “... como a menor unidade de conduta observável” (p. 67), e que

este é a forma do indivíduo de reagir à determinada situação, onde se encontram

outras pessoas e objetos (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988). Bustos (1990,

p. 97) retrata “... o papel como a primeira unidade ordenadora e estruturante.”.

Moreno (apud BUSTOS, 1990, p. 97; GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988, p.

68) explica:

“Primeiro é o grupo, o grupo implica interação e toda interação se exerce através de um papel. Há tantos papéis quanto ações possíveis. Cada papel é a fusão de elementos individuais e coletivos (...) A parte tangível do que é conhecido como eu são os papéis com os quais opera.”.

Tais papéis surgem a partir da Matriz de Identidade, e para Moreno esta é a

base psicológica para o desempenho dos papéis, bem como o local de origem do

ego. Ressalta que papel e personalidade são diferentes, sendo este último

constituído pelos fatores genéticos, espontaneidade, tele e ambiente – fatores estes

também presentes desde o início da matriz de identidade. A importância que o autor

atribui ao estudo do desempenho dos papéis desde as fases pré-verbais,

demonstra-se nas principais fases da matriz: 1) Matriz de Identidade Total

Indiferenciada (fase do duplo); 2) Matriz de Identidade Total Diferenciada (fase do

espelho); e 3) Fase da Brecha entre Fantasia e Realidade (fase de inversão de

papéis) (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988).

Descrevem-se três categorias para diferentes tipos de papéis, a saber:

psicossomáticos, psicossociais e psicodramáticos. O papel psicossomático refere-se

ao papel da criança que não define uma relação pessoal propriamente dita,

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considerando que a criança ainda não reconhece o outro nesta relação

(GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988). Assim, se considerarmos o papel de

“mãe” que esboça determinados comportamentos perto deste indivíduo no papel de

“filho”, pode-se afirmar que “... o papel de filho tem em si mesmo a função de

internalizar as regras, convertendo-se em estruturantes do que podemos chamar de

eu.” (BUSTOS, 1990, p. 99), concluindo que “... os primeiros papéis a surgir no

desenvolvimento são os psicossomáticos, fundados nas regiões do corpo que

correspondem às funções vitais básicas” (SIQUEIRA, s/d, p. 7).

Alcançando a fase de diferenciação da realidade e da fantasia na matriz de

identidade do sujeito, entram em cena os papéis psicossociais e psicodramáticos,

sendo o primeiro relativo à função da realidade, relacionado às interações sociais; e

o segundo da fantasia, mais individual e subjetivo, porém, ambos complementares

(GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988). Os papéis psicodramáticos representam

uma personificação, real ou irreal, de coisas imaginadas, já os papéis sociais, de

acordo com Bustos (1990) são “... os que respondem a generalizações

convencionais de acordo com determinantes culturais.” e exemplifica “O papel de

bombeiro se refere à execução da ação de apagar incêndios, e tem características

pautáveis como um traje vermelho, o chapéu dourado, a mangueira na mão.” (p.

100).

Gradativamente e de acordo com as experiências do sujeito, torna-se

possível acrescentar diferentes formas de interação dos papéis: role-taking, que

significa na tomada do papel, ou na imitação por parte do sujeito de um papel

desempenhado por outra pessoa; role-playing, que é jogar o papel, explorando suas

peculiaridades; e role-creating, desempenho do papel, espontânea e criativamente

(GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988). E também se deve citar que “O conceito

de papel envolve um contrapapel que se denomina papel complementar, ao papel

mãe corresponde o complementar filho, ao de avô, neto...” (BUSTOS, 1990, p. 101),

sendo que estes constituem a identidade do indivíduo, contribuindo para a

construção de outros papéis complementares aos seus através da inter-relação e da

interação social (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988).

2.4.5. Tele-transferência

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Inicialmente faz-se necessário mencionar os comentários do autor Perazzo

(1994) de que o conceito tele já fora interpretado erroneamente em diferentes

contextos, e exemplifica alguns maus usos do termo, associando estes a alguns

eventos, como a falta de literatura sobre o tema. Explica que “Encontraremos com

facilidade tele conceituada como fator, como ramo, até como ramo da própria tele,

como relação, como efeito, como capacidade (...) como sensibilidade” e menciona

que estas definições podem ser encontradas como “... tele, fator tele, ramo tele, tele-

relação, efeito tele, capacidade télica” (PERAZZO, 1994, p. 33).

Moreno conceitua o Tele como representante da capacidade inata da

criança de perceber (não somente por meios fisiológicos) objetos e pessoas, como

diferentes de si (da criança), sem a distorção dos aspectos essenciais de cada um

destes (objetos e pessoas) (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988). Refere-se à

percepção clara e objetiva do que se passa entre as pessoas, simultaneamente,

podendo esta relação ser observada por um terceiro e capaz de superar a distância

entre os sujeitos (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988).

Porém, Tele é diferente de empatia – que se refere ao fenômeno da

percepção do outro (pessoa ou objeto), mas não mutuamente, e sim individualmente

(GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988). Moreno, nas palavras dos autores acima,

menciona que “... o fenômeno Tele é a empatia ocorrendo em duas direções” (p. 49).

Assim, tele implica relação, podendo esta ser “... factual ou simbólica, entendendo-

se por simbólica a relação com pessoas reais ou imaginárias, que têm sua presença

representada.” (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988, p. 49). O autor do

Psicodrama ressalva que a tele é um fator universal, operando em situações normais

e anormais (MORENO, 1997).

Perazzo (1994) após uma revisão dos comentários de diversos autores

sobre tele apresenta “... algumas constantes que nos permitem um fio de

compreensão para o que Moreno nos quis transmitir” (p. 39) e apresenta:

“– tele é um fenômeno de interação, sendo viabilizado entre seres em relação, salvo tele para objetos, para animais e para objetos imaginários; – o conceito de tele inclui percepção, porém não se limita a ela; – tele inclui transferência e empatia; – tele supõe mutualidade e complementaridade; – tele implica em coesão, globalidade vivencial e polimorfismo de desempenho de papéis; – tele está intimamente ligada a posição sociométrica; – tele não exclui a noção de vínculo intrapsíquico, a de parcialidade na comunicação e expressão e a da sua existência sem reciprocidade.” (p. 39).

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Contudo nem sempre é possível a relação télica. Há momentos em que o

processo de comunicação entre os sujeitos não fica claro, sofre distorções, ou é

possível que eventos da vida do sujeito interfiram na interpretação da mensagem

que lhe está sendo enviada (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988). Esta falha na

tele-relação chama-se transferência, que para Moreno, segundo Gonçalves, Wolff e

Almeida (1988, p. 50) “... equivalia ao embotamento ou à ausência do fator Tele.”.

A transferência pode causar uma série de desavenças nas relações

interpessoais de uma pessoa. Exemplificando, imagina-se uma relação entre o

sujeito “A” e “B”, na qual “A” tem uma percepção de “B” que corresponde à realidade;

neste caso afirma-se que “A” utilizou sua tele-sensibilidade. Porém “B” não esta

experimentando esta relação télica pois esta fazendo transferências sobre “A”

(GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988), ou seja, sua percepção refere-se a algo

que não é real. Moreno (1997) afirma “A transferência é um processo estritamente

subjetivo (...), enquanto que o processo tele é um sistema objetivo de relações

interpessoais.” (p. 288).

Menciona-se ainda Martín (1996) que sintetiza algumas afirmativas sobre

tele, das quais se apresentarão apenas algumas:

“a) a transferência se refere ao passado e projeta no presente imagens que se formaram na infância. O fator tele se origina no presente, no aqui e agora, no momento em que duas pessoas se encontram; (...) e) a transferência é causa de enfermidade, tanto no indivíduo quanto no grupo, porém o fator tele é um elemento são e terapêutico; (...) g) a transferência, aplicada aos grupos, é um fator desintegrante; a relação-tele é um fator de nexo ou de união” (p. 197).

2.4.6. Teoria da ação

Santos (1990) aponta que já na criação do nome da abordagem –

Psicodrama – Moreno dá indicativos de seu objeto de pesquisa “... o drama da

psychê que protagoniza” (p. 136), elucidando que drama, em grego, significa a ação

tanto no passado quanto no presente (cuja ambigüidade ocorre devido ao contexto

histórico pré-socrático da qual se originou). O próprio Moreno (1997) comenta que

“O psicodrama pode ser definido, pois, como a ciência que explora a ‘verdade’ por

métodos dramáticos.” (p. 61) e explica que “protagonista” era o título dado ao ator

principal das tragédias gregas. Ao conceito de drama, complementa Santos (1990)

que “... explicita uma ação específica que nasce no universo trágico (...) Concepção

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esta que é vivida no conflito constante entre o destino divino e o desejo humano de

auto-determinação.” (p. 136).

Gonçalves, Wolff e Almeida (1988) relatam que o principal pressuposto de

Moreno sobre a ação é a ação espontânea, aquela que é fiel aos anseios pessoais

do homem e que renovam os seus fatores espontaneidade e tele. Porém, não há

definição exata de ação para Moreno, que objetivou em suas investigações o sentido

da ação e seu valor terapêutico. Os autores colocam que “A realização da

verdadeira ação espontânea equivale à criação e ao desempenho de papéis que

correspondem a modelos próprios de existência.” e que “... a convalidação

existencial moreniana refere-se à escolha radical de um papel transformador para si

mesmo, ou à ação desencadeada a partir desse papel.” (p. 75).

Em relação à convalidação existencial, comentam os autores sobre o

seinismo, filosofia a qual Moreno é considerado criador, que deriva do verbo alemão

“ser”, e que tinha como fundamento central a idéia de que o homem precisava agir

de modo coerente com seu ser, a fim de convalidá-lo, ou seja, comportar-se de

acordo com seus valores pessoais. Pontuam que “Toda ação é interação por meio

de papéis.” (p. 76), e no tempo de preparação para a ação, há o desencadeamento

dos fatores tele e espontaneidade, a ativação da sensibilidade e uma série de outros

fatores necessários a ação efetiva; a ação espontânea requer do individuo a

compreensão de si mesmo e do outro (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988).

Ainda apresentam-se três fatores que estão na gênese do homem, das

idéias e dos objetos, ligados a todos os tipos de ação: locus, local onde acontece

determinado evento; matrix, núcleo do processo; e status nascendi, a preparação à

ação. Estes fatores, aplicados aos relacionamentos entre sujeitos, tomam a

nomenclatura de zona, foco e aquecimento, respectivamente. Sobre estes três

processos afirma Moreno “Cada processo de aquecimento tem um foco. Tende a

estar localizado numa zona” (MORENO, 1997, p. 108).

A ação no Psicodrama se dá por meio da dramatização, que “É o caminho

através do qual o indivíduo pode entrar em contato com conflitos, que até então

permaneciam em estado inconsciente.” (GONÇALVES, WOLFF, ALMEIDA, 1988, p.

78), sendo que pode propiciar uma oportunidade ao protagonista de entrar em

contato com papéis que desempenha e que não são saudáveis ou outros que

deveria desempenhar, mas não o faz. Moreno sugere a utilização do corpo para a

dramatização, o que leva a “indicadores”, como a postura, jeito de andar e outras

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atitudes, que podem ser explorados para “... o aquecimento para o desempenho

espontâneo e criativo de papéis na dramatização.” (p. 78).

A partir destes conceitos, se ingressa nas etapas de uma sessão

psicodramática, que englobam além da ação, o aquecimento (inespecífico e

específico), a emergência do protagonista, a dramatização (e papéis não vividos), a

passagem ao ato ou acting – out e a catarse de integração (GONÇALVES, WOLFF,

ALMEIDA, 1988), processos que exemplificam um encontro terapêutico e que não

serão abordados nesta monografia.

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3. METODOLOGIA

3.1. Tipo de pesquisa

O método escolhido para o desenvolvimento desta monografia foi a pesquisa

qualitativa, dado suas características de análise de fenômeno. Assim, devemos

esclarecer, como cita Martins e Bicudo (2005) o significado de “... fato e fenômeno,

uma vez que a pesquisa quantitativa trabalha com fatos e a qualitativa, com

fenômenos” (p. 21).

Os autores especificam os conceitos, sendo fato, de acordo com o

Positivismo Lógico “... tudo aquilo que pode se tornar objetivo e rigorosamente

estudado enquanto objeto da Ciência (...) precisa ser provado através do sentido de

certeza e de observação sistemática que asseguram a objetividade” (MARTINS;

BICUDO, 2005, p. 21) e fenômeno, epistemologicamente analisado “... significa tudo

aquilo que se mostra, que se manifesta (...) porém, pode mostrar-se a si mesma de

várias formas, dependendo, em cada caso, do acesso que se tem a ela” (p. 22).

Ainda sobre fenômeno “... a idéia de fenômeno assume o sentido de

entidade que se mostra em um local situado; e isto é que é o locus de um objeto

com respeito aos eventos” (p. 22), neste caso o locus foi o ambiente de trabalho da

equipe, e os fenômenos estudados foram o relacionamento interpessoal, a

comunicação, a definição das tarefas e o processo de trabalho.

O tipo de pesquisa foi o exploratório, que segundo Gil (2002) propicia ao

pesquisador maior relação com o problema de pesquisa, auxiliando-o na construção

de hipóteses. Como objetivo geral, traz o “... aprimoramento de idéias ou a

descoberta de intuições.” (p. 41) e seu planejamento possibilita considerações sobre

diversos fatores do objeto de estudo. Este tipo de pesquisa frequentemente inclui

levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes na área ou tema

pesquisado e na análise de exemplos, e geralmente apresenta-se como pesquisa

bibliográfica ou estudo de caso.

3.2. Participantes da pesquisa

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A população da pesquisa constituiu-se de nove pessoas, que trabalham no

mesmo ambiente físico, na instituição onde foi realizada esta monografia. Foi

observada a população integralmente, porém, apenas seis sujeitos foram

entrevistados, devido à saturação dos dados. O número de participantes justificou-se

pela praticidade na observação do local de trabalho, bem como o deslocamento dos

sujeitos para a entrevista, sem a preocupação em prejudicar o andamento de seus

trabalhos, o que facilitou o processo tanto para o acadêmico quanto para o grupo.

Ressalta-se que para atender os objetivos do trabalho foi imprescindível a

escolha de um grupo de funcionários que estivessem localizados num mesmo

espaço físico, requisito atendido pelo setor estudado.

3.3. Coleta de dados

Um dos procedimentos para coleta de dados foi a Observação Natural, de

acordo com Morris e Maisto (2004). Este método se dá no ambiente cotidiano do

fenômeno observado, possibilitando ao psicólogo uma maior compreensão do seu

objeto de estudo. Segundo Danna e Matos (2006, p. 13) “O psicólogo organizacional

recorre à observação para identificar as necessidades de treinamento, a dinâmica

dos grupos de trabalho” e para “... avaliar a eficácia das técnicas e procedimentos

empregados”.

Foram utilizadas técnicas e ferramentas próprias da observação para o

desenvolvimento deste trabalho. Uma destas ferramentas é explicada pelos autores

acima “A folha onde o observador registrará os dados a serem coletados é

denominada de protocolo de observação. (...) contém uma série de informações

relevantes para a análise do comportamento” (p. 45) e pode ser encontrado na

sessão de apêndices (Apêndice A).

Quanto à técnica de registro, foi a observação direta com registro

categorizado. Esta técnica focaliza as ações e o comportamento do sujeito em

determinado espaço de tempo, e categoriza as informações a serem observadas de

acordo com os conhecimentos e a literatura utilizada pelo pesquisador (DANNA,

MATOS, 2006).

Referindo-se a entrevista, Martins e Bicudo (2005) expressam que há uma

diversidade de considerações necessárias quanto a sua utilização em uma

pesquisa, tal como a maneira de se proceder e a importância atribuída aos dados

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coletados com esta ferramenta. A entrevista possui características peculiares que a

definem como oposta ao método da pesquisa empírica – que investiga os sujeitos

em um ambiente controlado – e é classificada não como um método, mas como um

recurso metodológico.

Os autores acima discursam sobre tais peculiaridades, que são

apresentadas como o uso adequado de entrevistas, a questão da relevância, a

entrevista e as relações interpessoais. Quanto ao uso adequado de entrevistas,

mencionam que este recurso é um complemento à coleta de dados quantitativa,

sendo “... a única possibilidade que se tem de obter dados relevantes sobre o

mundo-vida do respondente.” (p. 54). Sobre a questão da relevância, colocam que

certos fatores, como o despreparo do entrevistador, podem afastar o entrevistado do

estudo, e ressaltam “É importante que o entrevistado se veja como um elemento útil

no estudo, capaz de emitir opiniões sobre a questão que esta sendo investigada.” (p.

55).

Continuando, pontuam que a entrevista pressupõe o elemento da aceitação

e colaboração do participante, que pode ou não levar a sério o estudo, ou a não

aceitar participar por diferentes motivos. Assim, afirmam que “... o entrevistador deve

procurar convencê-los de que seus direitos serão respeitados.” (p. 55), não

desenvolvendo a entrevista em um tom preconceituoso e levando em consideração

o fato de que a entrevista é um acontecimento novo na rotina do entrevistado. E

quanto às relações interpessoais na situação de entrevista, os autores relatam que

“Se o entrevistador for responsivo e receptivo a tudo o que o respondente desejar

dizer, mantendo uma atitude espontânea e natural, a entrevista resultante poderá

ser muito valiosa em termos de informações obtidas.” (p. 56), concluindo que a

entrevista deve ser elaborada livre de valores de juízo, preservando o sigilo sobre as

informações do entrevistado e refutando afirmações como certo ou errado

(MARTINS, BICUDO, 2005).

Para esta monografia foram realizadas cinco observações de

aproximadamente duas horas, durante o mês de outubro de 2009. Ocorreram

também seis entrevistas baseadas em um roteiro semi-estruturado (Apêndice B)

com integrantes do grupo, visando investigar aspectos do processo de trabalho,

relacionamento interpessoal, comunicação e definição das tarefas.

3.3.1. Contato Inicial

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Após receber o projeto aprovado pelo comitê de ética, no qual consta a

autorização para a coleta de dados em uma instituição de ensino do Vale do Itajaí, o

acadêmico entrou em contato com um funcionário de um setor desta instituição, com

intuito de iniciar naquele momento sua coleta. A princípio, este lhe indicou a pessoa

responsável pelo setor, que lhe encaminhou para o responsável por todos os setores

daquele grupo, que por sua vez pediu autorização para outra chefia.

Liberado a realização da coleta, o acadêmico requisitou a supervisora do

local autorizado para conversar com os funcionários sobre a pesquisa, em um

momento que não atrapalhasse o trabalho dos mesmos. Porém, a supervisora

questionou primeiramente a liberação da pesquisa, seus objetivos, seus métodos e

finalidades. O acadêmico respondeu estes questionamentos, especificamente sobre

o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) – que pode ser encontrado

no (Apêndice C).

Assim, o acadêmico deixou uma cópia destes e da pesquisa com um

funcionário do setor, para que este mostrasse a supervisora e compartilhasse com

os colegas. Enfatizou que lhe procurassem se tivessem dúvidas quanto a este

material, identificando na pesquisa os contatos do acadêmico e da pesquisadora;

prosseguindo na semana seguinte à coleta de dados. Porém, entre a segunda e a

terceira observação do grupo, o acadêmico foi informado por um dos funcionários

que estes haviam se reunido, decidindo então retirar suas participações da

pesquisa. Após a devolução dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido

assinados, o acadêmico encerrou sua coleta naquele setor e entrou em contato com

outro, inicialmente marcando um encontro com o responsável para que pudessem

dialogar sobre a proposta da pesquisa.

3.3.2. O segundo grupo

No primeiro contato com este grupo, o acadêmico conversou com um

funcionário do setor, que lhe informou que o local em questão fica sobre

responsabilidade de outra chefia. O funcionário logo se comunicou por telefone com

este responsável, informando-o da pesquisa, o qual liberou a coleta de dados

mediante a apresentação dos documentos deferidos, que foram apresentados no

mesmo dia. Desta forma, iniciaram-se a coleta de dados na última semana de

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outubro de 2009, encerrando-se no início de novembro de 2009. Os dados coletados

com este grupo foram transcritos e analisados.

3.4. Análise dos dados

Os dados obtidos através da observação e das entrevistas foram transcritos

e processados de acordo com a técnica de Análise de Conteúdo, que segundo

Bardin (1979, p. 42 apud MINAYO, 2000, p. 199) é:

“Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens”.

E comenta que este procedimento baseia-se em uma literatura primária para

aprofundar a investigação, relacionando significantes (estruturas semânticas) e

significados (estruturas sociológicas).

Uma das técnicas da Análise de Conteúdo é a Análise Temática, voltada ao

significado de tema, que como comenta Bardin (1979, p. 105 apud MINAYO, 2000,

p. 208) “O tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto

analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura”. O objetivo

do estudo é investigado através de núcleos de sentido, formados pela freqüência e

presença com que se expressa um fenômeno ou fato analisado; dividindo-se

operacionalmente nas etapas de: Pré-Análise, Exploração do Material e Tratamentos

dos Resultados Obtidos e Interpretação.

Pré-Análise: esta consiste na escolha do material a ser analisado,

resgatando as hipóteses e objetivos iniciais para reformulação perante os dados

coletados, norteando a análise para a interpretação final; e conta com as seguintes

tarefas: Leitura Flutuante, que é a leitura exaustiva do material estudado, “...

deixando-se impregnar pelo seu conteúdo” (p. 209), facilitando a compreensão do

mesmo; Constituição do Corpus, que representa a organização dos dados conforme

as normas de validade exaustividade, representatividade, homogeneidade e

pertinência; e a Formulação de Hipóteses e Objetivos, quando surgem as hipóteses

iniciais referente aos dados coletados e a literatura de referência.

Exploração do Material: representa a etapa de codificação dos dados, que,

como relata Minayo (2000, p. 210) “A análise temática tradicional trabalha essa fase

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primeiro com o recorte do texto em unidades de registro (...) Em segundo lugar,

escolhe as regras de contagem (...) Em terceiro lugar, ela realiza a classificação e a

agregação dos dados”.

Tratamento dos Resultados Obtidos e Interpretação: neste momento os

dados coletados são ressaltados através de operações estatísticas simples ou

complexas, quando “A partir daí o analista propõe inferências e realiza

interpretações previstas no seu quadro teórico ou abre outras pistas em torno de

dimensões teóricas sugeridas pela leitura do material.” (p. 210).

As categorias elencadas à priori e as subcategorias definidas com base nas

observações podem ser encontradas no item 4.3., Quadro 5. A perspectiva de

trabalho da população é analisada no item 4.3.1.; e a análise sob perspectiva do

Psicodrama localiza-se no item 4.3.2.

3.5. Aspectos éticos

Por se tratar de uma pesquisa que envolve seres humanos, consideraram-se

alguns fatores, como os interesses individuais do pesquisador e da instituição a qual

a pesquisa está vinculada. Desta forma, foi responsabilidade do pesquisador

considerar os aspectos sociais de sua pesquisa, tendo esta continuidade ou não

(BUCHER-MALUSCHKE, 2006). Também se considerou a origem das discussões e

conclusões a respeito de pesquisas deste gênero – o Código de Nuremberg. Neste

código, o primeiro item refere-se ao consentimento voluntário dos sujeitos humanos,

sendo este absolutamente necessário (SARDENBERG et al., 1999).

Sendo assim, esta pesquisa teve como instrumento essencial o “Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido”, que segundo Godin et al. (2003) “... tem por

objetivo permitir que a pessoa que está sendo convidada a participar de um projeto

de pesquisa compreenda os procedimentos, riscos (...) visando permitir uma decisão

autônoma” (p. 372). O Termo de Compromisso Livre e Esclarecido está de acordo

com o Conselho Nacional de Saúde (C.N.S.) 196/1996 e Conselho Federal de

Psicologia (C.F.P.) 016/2000. Esta monografia foi enviada ao Conselho de Ética em

Pesquisa da UNIVALI, e foi aprovada sob o parecer de número 385/09.

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4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1. Apresentação do local de estudo

Esta monografia foi desenvolvida em uma organização do município de

Itajaí, em sua biblioteca, que conta com vinte e dois funcionários. A atual estrutura

deste departamento conta com cinco setores, sendo estes: administrativo,

atendimento ao cliente, comunicação e programa cultural, assinaturas e

processamento de materiais; sendo que há remanejamento de funcionários do

departamento entre estes setores.

O setor pesquisado foi o de processamento de materiais, responsável pela

aquisição, catalogação, organização e outros processos que envolvem o material de

trabalho da biblioteca, que varia entre livros à multimídia; e onde trabalham oito

funcionários. Porém, no local de estudo (onde fica o setor de processamento de

materiais), trabalham outros três colaboradores, de diferentes setores.

O ambiente físico é uma sala, com duas portas de acesso (A e B), bem

iluminada, pé direito alto (de aproximadamente 5 metros), na qual se encontram

computadores, livros, estantes, telefones, fax, televisão, uma passagem para outra

sala e uma porta que leva a outro cômodo.

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Figura 4: Diagrama do local de estudo.

Fonte: observação.

A ilustração acima representa o local da coleta de dados em escala de um

metro igual a um centímetro, tendo o eixo horizontal aproximadamente 15 metros de

comprimento e o eixo vertical aproximadamente 10 metros de largura. O canto

superior direito refere-se a um cômodo ao qual o acadêmico não teve acesso. A

“entrada A” dá acesso ao departamento a qual pertence, e a “entrada B” leva a um

dos corredores da instituição. Os funcionários executam a maioria de suas tarefas

sobre as mesas. Uma mensuração mais precisa do local foi descartada para não

atrapalhar o trabalho do grupo.

4.2. Caracterização dos participantes

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Foram registradas características como idade, cargo e outros dados dos

sujeitos, pois, segundo Albuquerque e Puente-Palacios (2004), estes contribuem

ricamente com a construção e desenvolvimento do trabalho, e podem ser verificadas

de acordo com o quadro a seguir:

Gênero Idade Cargo

Turno de trabalho na biblioteca Tempo de trabalho

No setor observado

Em outro setor

No setor No cargo

Masculino 28 Auxiliar de biblioteca

- Manhã e noite 5 anos 3 anos

Masculino 45 Auxiliar de biblioteca

Manhã e tarde

- 15 anos 15 anos

Masculino 53 Auxiliar administrativo

- Manhã e tarde 10 anos 1 ano e 3 meses

Feminino 42 Auxiliar de biblioteca

- Manhã, tarde e

eventualmente à noite

4 anos 3 anos

Feminino 36 Bibliotecária Tarde Noite 2 meses 2 meses

Feminino 38 Bibliotecária Manhã - 1 ano 1 ano

Feminino 51 Auxiliar administrativo

Manhã e tarde

- 23 anos 23 anos

Masculino 37 Bibliotecário Manhã e tarde

- 10 anos 10 anos

Feminino - Bibliotecária Manhã e tarde

- - -

Quadro 4: Informações adicionais dos sujeitos da pesquisa.

Fonte: entrevista.

Percebe-se que a idade dos participantes varia entre vinte e oito e cinqüenta

e três anos de idade, ocupantes dos cargos de auxiliar administrativo, auxiliar de

biblioteca e bibliotecário, que trabalham em sua maioria no turno da manhã e da

tarde. Um dos funcionários eventualmente trabalha no período da noite, e dois

trabalham durante a noite em outro setor da biblioteca, e o tempo de trabalho no

setor e no cargo consta de dois meses a vinte e três anos.

Em entrevista com o responsável pela biblioteca, foi informado que o cargo

de auxiliar administrativo não consta mais na folha de pagamento dos funcionários, e

que dos onze funcionários presentes no local de estudo, apenas oito pertenciam ao

mesmo setor, um não participou da coleta de dados e outro estava de férias (não

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foram incluídos no estudo), um é do setor de comunicação, outro do programa

cultural e o terceiro do setor de assinaturas – tendo estes três últimos sido

entrevistados na coleta de dados.

São necessárias algumas considerações iniciais sobre a organização do

local de estudo, como a presença de funcionários de diferentes setores e

funcionários que trabalham meio período no setor de processamento. O quadro a

seguir apresenta os setores e seus funcionários, ressaltando que esta é uma divisão

setorial (organograma) e não física:

Setor de processamento

Manhã Tarde

S2, S6, S7, S8, S9. S2, S5, S7, S8, S9.

Outros setores presentes no ambiente físico

Comunicação Assinatura Programa Cultural

S1 e S4 S3 S4

Quadro 5: Setores do local de estudo.

Fonte: entrevista.

Assim, o setor de processamento de materiais no momento do estudo,

contava com dois auxiliares de biblioteca, dois bibliotecários em turno integral e dois

bibliotecários em meio período.

4.3. Categorias e subcategorias de análise

Os resultados obtidos com a coleta de dados foram transcritos e analisados

segundo os objetivos do trabalho, sendo que as categorias foram elencadas à priori,

e as subcategorias emergiram das entrevistas e observações efetuadas, conforme o

quadro a seguir:

Categorias Subcategorias

Processo de trabalho Tipos de tarefa

Participação no desenvolvimento da tarefa

Tomada de decisão

Definição de tarefas Quem define

Critérios para delegação

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Relacionamento interpessoal Percepção do relacionamento interpessoal

Quando há divergência

Comunicação Percepção da comunicação

Meios de comunicação

Comunicação como meio para o auxílio ao colega

Quadro 6: Categorias e subcategorias.

Fonte: elaboração do autor.

Durante a apresentação das unidades de registro, se fez necessário o grifo

do autor para que não fossem revelados nomes próprios e outras denominações que

pudessem caracterizar a instituição, que se encontram em itálico e sublinhados. e os

itens entre parênteses e sublinhados referem-se a considerações do autor sobre a

unidade de registro, com a finalidade de esclarecer o dado apresentado.

Como regra geral, serão apresentadas as unidades de registro de cada

categoria e subcategoria, seguidas de comentários. A discussão e a fundamentação

teórica encontram-se nos itens 4.3.1., 4.3.2. e 4.3.3.

Em relação à categoria Processo de trabalho, observaram-se as atividades

operacionais, como a manipulação do material de trabalho e de ferramentas básicas

à execução destas, como papéis, canetas, impressoras, fax, computador, telefone,

grampeador e outros. As subcategorias Tipos de tarefa, Participação no

desenvolvimento da tarefa e Tomada de decisão, foram evidenciadas pelas

entrevistas:

Tipos de tarefas

Geralmente tarefas referentes à comunicação (noticias do site, cartaz,

evento). (S1)

Suporte no sistema. Help – desk. (S2)

Serviços burocráticos, referentes às assinaturas das revistas. (S3)

Eu sou responsável pelos serviços relacionados à cultura, então eu planejo e

executo os eventos relacionados (...) dentro da biblioteca, exposição, projeto de

musica, cinema, tudo que for evento relacionado, até de marketing na biblioteca é

minha função e um colega que faz a parte de design gráfico. Mas a minha função é,

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É essas coisas, planejar, produzir e executar (...) faço coisas na secretaria, coisas

burocráticas, neste espaço, correspondências, protocolos, levar e pegar documentos

para outro setor (...) CI (comunicação interna), ofícios, numeração das CI ou ofícios,

às vezes recebo doações (de livros e outros materiais). (S4)

No processamento, avaliação de material doado, processo livros de

negociação e doação. (S5)

Toda catalogação de um serviço, que é sobre minha responsabilidade e

catalogação de DVD. (S6)

Participação no desenvolvimento da tarefa

De manhã total. (S1)

O que eu faço só eu faço (...) É só eu que faço. (S2)

Só eu (e quando questionado sobre outras tarefas) Às vezes tem que ajudar.

(S3)

(quando questionado se trabalhava sozinho) Praticamente sim, claro que

tem fulano do outro setor e outras pessoas do grupo que colaboram (...) acaba

chegando em mim, porque daí eu organizo tudo e ai eu passo pra gerência

formalizar, fazer pedido, etc. De arte acaba em mim , documentos e burocracia a

maioria das vezes sou eu (...)Algumas desde o começo eu, principalmente do

serviço, desde o começo até o final, planejar e finalizar o processo, é meu. As outras

tarefas digamos burocráticas, algumas o final é do chefe, assinatura, e-mail oficial

que tem que mandar (explicando que) É, sim, tipo um ofício, eu digito, imprimo,

arrumo o que tem que arrumar e passo pro gerente assinar. Eu protocolo e levo

(para outro setor). (quando questionada se nas tarefas que faz, é somente ela) É sim

(mas se trabalhava com mais alguém, afirmou) Deste grupo sim, só uma pessoa.

(S4)

... é dividido entre cinco pessoas, mas é dividido por tipo de material. (S5)

Na minha parte não tem outras pessoas (...) mas o que eu faço só eu faço

(...) outros serviços cada um pega uma coisa pra fazer, como eu faço meio período,

fico com tal serviço. (S6)

Tomada de decisão

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Bom, eu não posso dizer muito assim porque não sou bibliotecário pra

entender de biblioteconomia, quando tem alguma decisão fazem reuniões para

decidirem entre eles (bibliotecários). (S1)

Não participo dessas reuniões, não tenho domínio (...) O pouco que sei que

é que todos dão sua opinião e tentam fazer o melhor pro grupo (...) há uma

colaboração de todos, mesmo quando há uma divergência. (S2)

... faz aquilo que tem que fazer. (S3)

... o que eu vejo é que eles discutem bastante (...) e acaba no final alguém

com o argumento melhor sobre alguma coisa técnica. (S4)

... na decisão da maioria. (S5)

Se comporta pela decisão da maioria. Chegou um serviço novo, agente mais

ou menos conversa, mas se agente vê que não vamos entrar num consenso, ai vai

pela decisão da maioria, ou decisão da gerência. Se a gerência decidir temos que

acatar, porque nem sempre as coisas vem pra gente definir, as vezes vem pronto.

(S6)

Como evidenciado nas falas acima, as atividades do S1, S3 e S4 não estão

relacionadas ao processamento de material, o que justifica serem os únicos

responsáveis por suas tarefas. Já o S2 atua no setor, mas a especificidade das

atividades pode explicar o motivo de ser o único responsável, sendo que, tanto S1,

S2, S3 e S4 não fazem parte das reuniões dos bibliotecários. Já as atividades do S5

e S6, são identificadas como parte do processamento de materiais, havendo na

tomada de decisão um consenso, sendo que cada um dos bibliotecários cuida de

tarefas diferentes dentro do processamento.

A estrutura de uma organização dificilmente é encontrada empiricamente

referenciada, podendo ser descrita como o processo pelo qual se definem a

autoridade, as atividades e o sistema de comunicação da organização, e representa

uma ligação entre as pessoas e o trabalho que a constituem. A estrutura “Ajuda a

diferenciar as partes de uma organização e, simultaneamente, a manter tais partes

interligadas, criando e reforçando, no interior dos grupos e entre os grupos, relações

de interdependência, de previsibilidade e de hierarquia.” (LOIOLA et al., 2004, p. 92).

Desta forma, percebe-se que a estrutura organizacional influencia no

processo de trabalho, através da divisão do trabalho. Assim, faz-se necessário

compreender o conceito de especialização, que é a forma como são divididas as

partes que compõem a organização, e representa a forma como as tarefas são

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individualizadas. Os quatro setores encontrados no local de estudo podem ser

inicialmente relacionados ao conceito de departamentos funcionais, modelo de

especialização horizontal que responde a necessidades de se agruparem tarefas

similares, onde neste caso “... as atividades seriam agrupadas a partir das funções

que cumprem na realização dos objetivos organizacionais.” (LOIOLA et al., 2004, p.

94).

Na categoria Definição de tarefas foram observadas às subcategorias

Quem define e Critérios para delegação. Inicialmente não fora constatado através

da observação nenhuma interação entre funcionários, tanto internos quanto

externos, ou com chefias, que indicasse a forma de definição de tarefas ao grupo ou

ao individuo, nem quem define ou os critérios para delegação das mesmas. As

entrevistas demonstraram, porém, as seguintes informações:

Quem define:

... a chefe que as encaminha. (S1)

Pré-definidas. (S2)

Atribuições do cargo. (S3)

As do evento porque é oficial, todo mundo sabe que qualquer coisa sobre

isso é comigo, sou a responsável, não tem outra pessoa. As outras tarefas é porque

(...) acabei automaticamente pegando essas funções pra dar um auxilio, muita gente

ficou com tarefas de pessoas que saíram, eu que tava aqui peguei essas tarefas.

(S4)

Necessidade. (S5)

Não tem uma pessoa, comprou um DVD, é da (deste funcionário), já vem

direto pra mim, todo mundo sabe, já ta predefinido. (S6)

Critérios para delegação:

Tarefas imediatas ou com prazo mais próximo (urgência) são as prioridades.

(S1)

Gerente ou pessoas responsáveis pelo setor que pede para fazer a tarefa.

(S2)

Atribuições do cargo. (S3)

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O chefe pediu e eu acatei. (referindo-se as atividades que não são

relacionadas ao evento específico do qual é responsável) (...) A grande maioria sou

eu, às vezes a chefe, entramos num acordo. Marketing, etc. a grande maioria sou

eu, pois só eu que tenho os recursos, eu vou decidindo de acordo com a

possibilidade da minha agenda, horários, recursos, varias questões. (quanto ao

evento do qual é responsável) (S4)

A gerente. (S5)

É porque estamos funcionando com um quadro de pessoal menor, com

menos funcionários (...) nós dividimos os serviços (...) Vem lá de cima da direção.

(S6)

Nesta categoria observa-se que os sujeitos compartilham a percepção de

que suas tarefas são definidas pela organização, seja por atribuição (do cargo) ou

pela chefia, ou até pela necessidade da organização. Há tarefas de outros

funcionários que foram assimiladas, como no caso do S4 e S6, também requerido

pela organização, porém, S4 apresenta maior autonomia, sendo justificável por ser o

único responsável pela atividade que executa.

A estrutura organizacional também influencia no processo de definição de

tarefas, por intermédio do desenho de cargo – que “... é o processo de planejamento

e especificação das tarefas do cargo, bem como os arranjos de trabalho que devem

ser realizados.” (SCHERMERHORN JR, HUNT, OSBORN, 1999, p. 116).

A teoria das características do cargo, desenvolvida por Richard Hackman e

Greg Oldham e mencionada pelos autores acima, identifica no projeto do cargo as

variáveis centrais: variedade de tarefas, que envolve um número de atividades e

habilidades do funcionário; identidade com a tarefa, referente à realização de uma

tarefa que ofereça resultados visíveis ao trabalho como um todo; significado da

tarefa, que demonstra o significado global da tarefa para a organização; autonomia,

que expressa o grau de liberdade para tomada de decisão do funcionário que ocupa

o cargo; e feedback, que consiste na devolução de “... informações claras e diretas

sobre o resultado da execução de seu trabalho.” (p. 119).

A população observada, em relação à teoria das características do cargo,

apresenta pouca variedade de tarefas, sendo as atividades do S4 as que

demonstram oferecer maior número de tarefas. Quanto à identidade com a tarefa e o

significado da tarefa, não fica evidente o grau de importância ou de participação de

cada função no conjunto, podendo-se apenas inferir que as suas atividades

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interferem no funcionamento geral da biblioteca, já que estão ligadas diretamente ao

serviço que oferecem, cabendo apenas salientar que cada funcionário é responsável

por suas tarefas. Porém, no significado da tarefa, S4 destaca-se juntamente com o

S1 por suas tarefas no setor de comunicação (marketing), sendo que “... Um dos

maiores desafios da comunicação moderna é compatibilizar a visibilidade de uma

organização com sua identidade.” (TORQUATO, 2003, p. 241).

Quanto à autonomia, pode-se fazer uma associação ao modelo de gestão

burocrático, onde “... o indivíduo tem um papel estabelecido por outros, a ser

exercido de maneira padronizada, em hora e local determinados por outros”

(MACÊDO et al., 2006, p. 48). Loiola et al. (2004) comentam aspectos da

organização burocrática como a padronização e a formalização dos processos,

presença acentuada de especialização e departamentalização, e excessivo uso de

regras e regulamentos; características presentes na população estudada.

Ainda assim, comenta-se o relato do S4, que demonstra autonomia no

serviço que é de sua responsabilidade. Porém, relata que há momentos em que o

chefe também toma decisões. Cabe ressaltar aqui as teorias sobre delegação de

autoridade, que comentam que, embora a delegação consistisse na “... atribuição

conjunta da tarefa e da autoridade para decidir sobre os aspectos diretamente

envolvidos na sua execução, e que ao indivíduo que as recebia caberia assumir a

responsabilidade a elas inerentes, isso não ocorria na prática.” (REIS et al., p. 87).

Porém, não há dados para se afirmar se há a atribuição conjunta das tarefas neste

caso. E quanto ao feedback, pode-se afirmar que ocorre na troca de informações,

idéias e sugestões entre os funcionários, porém não fora evidenciado uma maior

complexidade deste processo.

Referente à categoria Relacionamento interpessoal observou-se a

interação entre as pessoas que trabalham no local de estudo e destas com

funcionários externos. As subcategorias Percepção do relacionamento

interpessoal e Quando há divergências foram mais bem investigadas nas

entrevistas individuais, que apresentaram:

Percepção do relacionamento interpessoal

Bom. (S1)

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Tecnicamente muito bem preparada (o grupo) (...) Na parte técnica é muito

boa. (S2)

... no trabalho até que vai bem. (S3)

Olha eu não tenho assim, problemas, acho bem tranqüilo, sem grandes

atritos, profissionalmente (...) e eles quando precisam de alguma coisa, dou bastante

sugestões, às vezes tem uma atividade que eu dou idéias, pra mim é bem tranqüilo.

(S4)

... bem, tranqüilo. (S5)

Acho que ela (a relação com os colegas) ta muito legal, acho bom, que

temos um bom relacionamento, de uma forma bem clara, cada um tem sua função

bem definida, seu espaço bem definido, então eu acho que é tranqüilo. (S6)

Quando há divergências

Conversam entre si, comentam entre si, mas não com a pessoa, ai vão

direto na chefia (...) Não é sempre, mas quando acontece não é legal (...) ... deveria

ter mais conversas e reuniões com os colegas (S1)

... quando tem alguma decisão fazem reuniões para decidirem entre eles (os

bibliotecários) (...) Não participo dessas reuniões, não tenho domínio (...) O pouco

que sei que é que todos dão sua opinião e tentam fazer o melhor pro grupo (...) há

uma colaboração de todos, mesmo quando há uma divergência. (S2)

... opinião diverge (...) pode até discordar, mas no final acaba fazendo (uma

tarefa ou atividade). (S3)

... o que eu vejo é que eles discutem bastante (os bibliotecários) (...) e acaba

no final alguém com o argumento melhor sobre alguma coisa técnica (...) mas tem

muita coisa que agente que operacionaliza, eles acabam acatando, há um equilíbrio.

(S4)

... na decisão da maioria. (S5)

Se comporta pela decisão da maioria. (S6)

Todos os sujeitos comentaram sobre este item enfatizando suas relações no

trabalho, referentes às suas atuações como profissionais, classificando-a como boa

e tranqüila. S1, S2, S3 e S4 relatam a existência de reuniões entre os bibliotecários,

a qual se pode subentender que não participam os auxiliares, salvo o comentário do

S4 de que em questões operacionais, há uma interação. Porém deve-se ressaltar

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que S4 pertence a outro setor, e é responsável pelo mesmo. Já S5 e S6 pontuam a

decisão da maioria, evidenciando um consenso em suas ações, referindo-se apenas

aos bibliotecários.

Em se tratando de relacionamento interpessoal, pode-se comentar a

perspectiva linear, na qual se explica o comportamento em uma relação de “causa-

efeito”, assim consecutivamente ordenada. Esta perspectiva não representa uma

visão holística dos relacionamentos, utilizando conceitos das ciências exatas para

estudos mais aprofundados, que também constituem a Psicologia, e pode-se

pontuar que “... todas as realizações obtidas através da visão linear não foram

capazes de solucionar os problemas atuais, justificando outras alternativas que vêm

sendo construídas ao longo do tempo.” (DEL PRETTE, DEL PRETTE, 2001, p. 25).

Assim, uma sugestão alternativa à linear é a perspectiva sistêmica, que

compreende “... uma combinação ordenada de partes que interagem para produzir

um resultado.” (p. 25). Estas partes estão em constante interação não dicotômica,

com certa autonomia, mas exercendo influência recíproca a partes menores e

maiores, que estão situadas em um ambiente. As partes podem ser exemplificadas

por fatores intra-individuais como cognição e emoção, e o ambiente pode ser

associado aos contextos como escola, família, cultura ou o comportamento de outra

pessoa. Assim, determina-se que “Para entender uma parte, por exemplo, a

emoção, é preciso raciocinar de forma ampla e, ainda, incluir outros subsistemas,

por exemplo, a família.” (DEL PRETTE, DEL PRETTE, 2001, p. 28), sendo a relação

entre os subsistemas o fator constituinte da estrutura do sistema humano.

Na perspectiva sistêmica é correto afirmar que cada indivíduo é único,

justificando que, devido à dinâmica de seu sistema, há tantas formas de se perceber

a realidade quanto há pessoas, e que

“Isso implica reconhecer que a realidade pode ser objetiva, mas a percepção dela é sempre subjetiva. O exercício de perceber-se e perceber o outro pode ser aperfeiçoado pelo feedback que os sistemas provêm; entretanto cada indivíduo sempre manterá a sua própria percepção da realidade.” (p. 29).

A população estudada adjetivou a relação interpessoal como boa e tranqüila,

no ambiente de trabalho. Tal afirmativa pode indicar que nas relações entre os

funcionários, na linguagem dos autores acima, os mesmos priorizam os subsistemas

“ambientes de trabalho” e “competências profissionais”, o que oferece um feedback

das suas relações referentes apenas a este contexto. Esta informação pode ser

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associada às categorias definição de tarefas, comunicação e processo de trabalho,

facilitando a compreensão das mesmas.

Alguns sujeitos mencionaram a existência de “reuniões” que são destinadas

apenas aos bibliotecários, que segundo os relatos podem ser associadas às

reuniões de avaliação e controle, cujo propósito é “... aferir resultados, controlar

sistemas e processos e apontar novos caminhos e correções.” (TORQUATO, 2003,

p. 42) sendo esta um canal de comunicação ascendente essencial a tomada de

decisões; ou às reuniões de distribuições de tarefas, voltadas a informações

pontuais sobre as tarefas, processos e serviços a serem executados pelos

funcionários (TORQUATO, 2003). Porém, para o melhor desempenho do grupo,

além de definir conteúdos, é necessário e responsabilidade de todos à criação de

um espaço dentro da reunião para o exercício de processos de comunicação, que

visam o maior comprometimento (MACÊDO et al., 2006) e na melhora do

desempenho das tarefas por todos.

Os autores afirmam que tais processos são divididos em tarefas e

relacionamento. A ênfase em tarefas “... são ações assertivas, visando cumprir

eficientemente os objetivos da reunião” (p. 87) e podem ser representadas: definindo

objetivos, estimulando o início do trabalho; na busca e oferecimento de informações

e opiniões; pelo esclarecimento e elaboração de idéias; mostrando pontos em

comum, ordenando idéias, indicando alternativas; na avaliação e medição do

progresso das discussões; e na obtenção do comprometimento unânime com a

decisão, verificando-se desacordos. Já os processos de relacionamento “... são

ações que visam a manter um relacionamento construtivo entre todos” (p. 88) que

são demonstrados: oferecendo-se oportunidade a todos, eliminando excessos;

ouvindo atentamente; sugerindo regras, mantendo-se padrões; encontrando pontos

em comum, buscando o entendimento geral e desfazendo tensões; encorajando a

participação; dando e recebendo feedback (MACÊDO et al., 2006).

A categoria Comunicação foi observada através do diálogo freqüente entre

os funcionários, tanto com os profissionais do local de estudo quanto com

funcionários externos. As subcategorias Percepção da comunicação, Meios de

comunicação e Comunicação como meio para o auxílio ao colega auxiliaram,

por meio das entrevistas, na compreensão deste processo em sua totalidade, como

apresentam os dados:

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Percepção da comunicação

Não há grande burocracia, pode ir direto falar com a pessoa que se precisa.

Isso é bom. (S1)

... antes tinha atrito, mas as pessoas que fizer parte já saíram (...) hoje não

há atritos. (S2)

... é... bom... (S3)

Acredito que sim, nunca tive problemas, de ter falado alguma coisa e alguém

não ter entendido. (S4)

... parece bem falho a comunicação (...) pra mim a comunicação poderia ser

direta (...) o que deve ser comunicado a uma pessoa, deveria ser direto aquela

pessoa. (S5)

Olha, a questão da comunicação na biblioteca sempre foi complicada...

Agora, eu vejo que melhorou bastante (...) porque trabalhamos com muita regra.

(S6)

Meios de comunicação

Oralmente, e-mail e lista de e-mail. (S1)

Oral e e-mail. (S2)

Lista de e-mail e oral. (S3)

E-mail, basicamente. (S4)

Oral e e-mail (...) Se precisar formalizar é por e-mail. (S5)

Geralmente é pessoalmente, mas quando é mais formal, ai é por e-mail, pra

oficializar. (S6)

Comunicação como meio de auxílio ao colega

É bastante incentivado (...) se não souber de uma informação, chama o

colega. (S1)

É melhor esclarecer do que fazer errado. (S2)

Sim é comum (...) Acontece freqüentemente (...) é bom que tenha (...) eles

(os bibliotecários) têm que se comunicar realmente. (S3)

Sim, é freqüente. (S4)

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... é muito comum isso acontecer. (S5)

Muito comum, a catalogação é um serviço muito difícil, não é fácil (...) então

surge muitas duvidas. (S6)

Todos os sujeitos apresentaram a oralidade e o e-mail como seus meios de

comunicação, porém S5 e S6 colocam que há algo falho na comunicação, sendo

que ambos estão a menos de um ano no setor estudado e também são os únicos

que apresentaram o e-mail como método para se oficializar uma decisão. Os outros

funcionários, que trabalham de cinco anos a vinte e três anos no local, não

levantaram nenhum destes dois argumentos. S1, S2, S4 e S5 mencionam que a

comunicação como auxílio ao colega é constante, mas deixam em aberto quem é

auxiliado. Porém, na observação, constatou-se que isto ocorre mais freqüentemente

entre os bibliotecários. S6 afirma que é comum devido à dificuldade da tarefa; e

aparentemente isto não ocorre com S3, talvez pela natureza de seu trabalho ou ao

fato de pertencer a outro setor (com diferentes tarefas).

A comunicação pode ser considerada o canal pelo qual as pessoas se

relacionam; a transferência e a compreensão de uma informação passada de um

sujeito ao outro. Esta informação expressa fatos, pensamentos, valores,

conhecimento (DAVIS, 2004, MACÊDO et al., 2006). O processo de comunicação

envolve alguns elementos, como: emissor, receptor, mensagem e codificação; e está

sempre sujeita a reinterpretação de cada um dos receptores (ALBUQUERQUE;

PUENTE-PALACIOS, 2004).

A amostra entrevistada da população apresentou duas percepções

diferentes do processo de comunicação. S1, S2, S3 e S4 relatam uma condição

satisfatória no ambiente de trabalho, mas S5 e S6 a apresentam como falha e

complicada. Se por um lado S1 coloca que se pode falar direto com uma pessoa, S5

menciona que o envio de uma mensagem poderia ser direto a pessoa que se deve,

indicando que não acontece desta forma. Talvez haja barreiras que interfiram no

processo, como coloca Macêdo et al. (2006). Considerando-se que S5 está a dois

meses no local de trabalho, pode-se considerar as seguintes barreiras: no emissor,

pode existir a suposição de que o receptor (S5) já domina o assunto da mensagem;

ou no emissor e no receptor, pode haver diferenças dos níveis culturais. Tais

suposições, entretanto, não podem ser constatadas.

Uma das subcategorias que emergiram da observação fora a comunicação

como meio de auxílio ao colega, que demonstrou com grande freqüência o

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comportamento de enviar e receber informações pertinentes ao trabalho, por meio

do dialogo, entre os bibliotecários. Pode-se afirmar que a comunicação é essencial a

organização, de tal forma que sem ela seria inviável o desempenho de tarefas

(DAVIS, 2004). Reis et al. (2005) complementam que a comunicação adequada nas

organizações é sinônimo de sucesso, e que “... proporciona significativos ganhos de

produtividade decorrentes da redução de custos operacionais, da eliminação de

funções que não agregam valor e do incremento na rapidez e precisão das

decisões.” (p. 97).

Outro dado levantado é a utilização do e-mail como forma de comunicação.

Em relação a este fator, Macêdo et al. (2006) aponta que, contrário a uma

comunicação interpessoal face a face (que considera a mais completa de todas),

onde se objetiva a troca de informações, o esclarecimento de dúvidas, o ensino de

algo ou a demonstração de apoio e compreensão, e a motivação das pessoas;

através do e-mail é praticamente impossível exprimir tais significados. Na

comunicação interpessoal, a fala, por exemplo, apresenta canais verbais e não-

verbais, sendo que destes “... somente 7% da comunicação interpessoal podem ser

traduzidos por palavras, pois 38% provêm da inflexão da voz, enquanto os restantes

55% resultam da expressão facial e da linguagem corporal.” (p. 82) e complementa

que o canal não verbal dá credibilidade à comunicação, tornando-a mais rica.

Os autores ainda pontuam alguns fatores para se evitar inconvenientes no

uso do e-mail, como: colocar as informações pertinentes no início da mensagem,

pois devido ao acúmulo destas, pode-se passar despercebido por seu conteúdo;

organizar a forma como se destina a mensagem a múltiplos destinatários; evitar

spams e piadas, que pode comprometer a imagem profissional; uso adequado de

correntes, descartando-se aquelas cujo conteúdo é impróprio ao ambiente de

trabalho, a diferenciação de e-mail profissional e particular; o cuidado com a

linguagem escrita; a réplica da mensagem, quando esta lhe é de interesse; e a

consciência de que o e-mail não possui limites claros de privacidade, podendo ser

devassado e até apresentado para terceiros (MACÊDO et al., 2006).

4.3.1. Grupo ou Equipe?

Com o intuito de identificar se as características da população observada

atendem aos critérios de grupo ou equipe, foram reunidos os principais indicadores

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apresentados na literatura sobre ambos os conceitos, que podem ser visualizadas

no quadro:

Indicadores Grupos Equipes

Esforço Individual (1) Coletivo (1), compartilhado

(2), coordenado (3), conjunto

(5)

Responsabilidade Individual (1)(4)(5) Compartilhada (1), individual

e mútua (4)

Objetivo Individual (1), definido pela

organização (2), de

compartilhar informações (4),

em prol da organização (5)

Compartilhado (1), visam por

si próprias (2), de

desempenho coletivo (4), em

prol de si próprias (5)

Autonomia Dependentes (1)(2) Semi-autônomas ou

autônomas (1)

Sinergia Neutra (às vezes negativa),

somatório dos esforços

individuais (4)

Positiva, mais do que apenas

as contribuições individuais

(4)

Habilidades Aleatórias e variadas (4) Complementares (2)(4)

Estabelecimento

de recompensas

Individual (5) Em conjunto (5)

Liderança Ter um líder claramente

designado que responde pelo

grupo (5)

Compartilhar as

responsabilidades que não

recaem apenas sobre o líder

(5)

Efetividade

evidenciada

A partir da influência que

exercem sobre outros

membros ou grupos da

organização (5)

A partir dos produtos da

equipe (5)

Quadro 7: Indicadores de grupos e equipes.

Fonte: (ALBUQUERQUER; PUENTE-PALACIOS, 2004) (1); (REIS et al. 2005) (2); West, Borril e

Unsworth (1998 apud SPECTOR, 2003) (3); (ROBBINS, 2005) (4); González, Silva e Cornejo (1996

apud ALBUQUERQUE; PUENTE-PALACIOS, 2004) (5).

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A partir do quadro acima, elaborou-se outros quadros diferenciados entre

população, bibliotecários e auxiliares de biblioteca, apresentados no (Apêndice D).

A população apresentou características de esforço e responsabilidade

individuais, objetivo individual e definido pela organização, com o compartilhamento

de informações, sendo dependente, e com liderança claramente definida, que

responde pelo grupo (gerente). Os outros indicadores como sinergia, habilidades,

estabelecimento de recompensas e efetividade evidenciada não foram analisados

conclusivamente, por falta de dados. Cabe ressaltar que o indicador autonomia

resgata a percepção da existência de subgrupos na população. Partindo desta

hipótese, faz-se uma análise dos subgrupos identificados.

Bibliotecários

Este subgrupo resulta das percepções e relatos dos sujeitos de momentos

em que os bibliotecários se reúnem para tomar decisões sobre tarefas do setor, sem

a presença dos auxiliares, e também da subcategoria comunicação como meio de

auxílio ao colega, que emergiu da observação deste comportamento, mais tarde

constatada como presente apenas neste subgrupo. Relatam S5 e S6, ambos

bibliotecários, que há consenso na tomada de decisão nestas reuniões, e S6

comenta sobre o comportamento de auxílio ao colega, que acontece devido à

dificuldade das tarefas que desempenham.

Tendo considerado a existência deste subgrupo, pode-se analisar que o

mesmo apresenta algumas características diferentes da população geral, que

seguem: esforço individual, responsabilidade compartilhada, individual e mútua,

objetivo individual, definido pela organização e com o compartilhamento de

informações, sendo autônomas ou semi-autônomas no desempenho de suas

tarefas, com liderança claramente definida e que responde pelo grupo.

Auxiliares de biblioteca

Este subgrupo é constituído pelos funcionários com o cargo de auxiliar de

biblioteca, que se configura de dois auxiliares que fazem parte do setor de

processamento, juntamente com os bibliotecários, e de três auxiliares de setores

diferentes. Deste subgrupo, pode-se observar o esforço e a responsabilidade

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individuais, objetivo individual, definido pela organização, com o compartilhamento

de informações, semi-autônomas ou autônomas (no caso dos setores), porém

dependentes (no caso dos auxiliares do processamento), com liderança claramente

definida, que responde pelo grupo.

Tendo analisado a população como um todo e em subgrupos, se pode

observar que esta apresenta mais características de grupo, assim como o subgrupo

dos auxiliares de biblioteca. O subgrupo dos bibliotecários, entretanto, demonstrou

características de equipe, porém, não é possível afirmar conclusivamente a qual

classificação pertence, tanto os subgrupos quanto a população, devido à falta de

dados referentes às outras categorias mencionadas.

A seguir apresentam-se as classificações possíveis dos tipos de grupos de

trabalho e de equipes de trabalho que a população poderia se assemelhar, caso

todos os indicadores houvessem sido levantados, e uma possível classificação da

população.

Tipos de grupos de trabalho

O quadro a seguir apresenta um resumo dos tipos de grupos de trabalho

estudados no embasamento teórico desta monografia. O grupo de trabalho se divide

em informal e formal. Este último, por sua vez, inclui o grupo permanente ou de

controle, o temporário e o de tarefa.

Grupo Características

Grupo de trabalho

(1)(2)(3)(4)

Representa um conjunto de duas ou mais pessoas, que

interagem entre si e dividem tarefas visando alcançar

objetivos em comum

Informal (1)(2)(3) Surge fundamentado na necessidade de interação social e

em motivações individuais, nem sempre objetivando ações

referentes ao trabalho, não sendo definido ou oficializado

pela organização

Formal (1)(2)(3) É encontrado oficialmente na estrutura organizacional, cuja

finalidade é voltada aos processos da organização

Permanente (1)(3) ou

de comando (2)

É aquele presente no organograma da organização, voltado

às atividades da mesma, podendo ser representado por

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departamentos, divisões e setores

Temporário (1)(3) Voltado ao cumprimento, em um determinado período de

tempo, de uma tarefa especifica, sendo que ao término

desta, se encerra

De tarefa (2) Objetiva a execução de uma tarefa específica, e pode

ultrapassar relações de comando

Quadro 8: Tipos de grupos.

Fonte: (MACÊDO et al. 2006) (1); (ROBBINS, 2005) (2); (SCHERMERHORN JR.; HUNT; OSBORN,

1999) (3); (ALBUQUERQUE; PUENTE-PALACIOS, 2004, GOULART, 2002; REIS et al., 2005;

SPECTOR, 2003) (4).

Das opções acima, pode-se descartar o grupo informal, pois se sabe que a

população se reúne formalmente no local estudado, definido pela organização.

Assim, se associa ao grupo formal, permanente ou de comando (sendo

representado pelo departamento e pelos setores no local de estudo), descartando o

grupo temporário por não se desintegrarem após a execução de uma tarefa, e o

grupo de tarefa, pois se evidenciou que a população não ultrapassa relações de

comando; cabendo também esta hipótese aos subgrupos.

Tipos de equipes de trabalho

Os tipos de equipe podem ser divididos quanto ao tempo de duração,

missão, elemento priorizado e demais.

Equipe Características

Tempo de duração (1)

Permanente (1) Na qual a execução da tarefa se perpetua por diferentes

motivos

Temporária (1)(3) Com foco na execução de uma tarefa, que, assim que

alcançada, leva a desintegração do grupo

Missão (1)

De trabalho (1) Objetivam a efetividade organizacional através da execução

de tarefas

De desenvolvimento

(1)

Que incrementam processos organizacionais

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Elemento priorizado (1)

Força-tarefa (1) Cuja prioridade é a execução da tarefa, antes manutenção

da equipe

Propriamente dita (1) Que enfatizam os relacionamentos interpessoais da equipe,

necessários à execução da tarefa

Tripulação (1) Que priorizam objetivos tendo em segundo plano a

tecnologia que utiliza

Demais

Solução de

problemas (2)

Onde os integrantes geralmente discutem formas de

melhorar aspectos do trabalho

Autogerenciada

(2)(3)

Estas assumem responsabilidades como o planejamento do

cronograma de trabalho, delegação de tarefas e até a

tomada de decisões sobre o trabalho, atuando de maneira

interdependente

Virtual (2) ou em

rede (3)

Utilizam recursos tecnológicos para promoverem seus

encontros, podendo operacionalmente ter a mesma

finalidade que qualquer outra, restrito a ausência de gestos

não verbais e ao contexto social limitado, mas superando a

limitação de espaço e tempo

Multifuncional (2)(3) Constituem-se de especialistas do mesmo nível hierárquico,

mas de diferentes setores, objetivando o cumprimento de

uma tarefa específica, tendo como exemplo os grupos força-

tarefa

Funcional (3) São compostos por integrantes com conhecimentos

similares e de uma mesma unidade organizacional

Fluxo de trabalho ou

célula (3)

Executam tarefas que pertencem a um processo de trabalho

maior

De risco (3) Tem como finalidade a promoção do espírito empreendedor,

e são compostas de pessoas com talentos especiais, com

grande autonomia para tomarem decisões referentes a

objetivos e orçamentos

Verdadeira (3) Implicam na mudança de liderança à medida que seus

resultados aumentam

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Quadro 9: Tipos de equipes.

Fonte: (ALBUQUERQUE; PUENTE-PALACIOS, 2004) (1); (ROBBINS, 2005) (2); (MACÊDO et al.

2006) (3).

Quanto ao tempo de duração, se pode associar às equipes permanentes,

pela qualidade das atividades serem perpetuadas no ambiente de trabalho, e à

missão e ao elemento priorizado, não se tem subsídios para uma maior análise. Já

as demais, se descartam a equipe autogerenciada, a multifuncional, a funcional, a

de risco, a virtual e a verdadeira, pois fora observado na dinâmica da equipe a

ausência das características destas equipes. Já a equipe de fluxo de trabalho ou

célula pode representar a população, que pertence a um departamento maior

(biblioteca).

4.3.2. Perspectiva psicodramática sob as categorias e subcategorias

É importante ressaltar que na perspectiva do Psicodrama, o grupo implica

relação por meio de papéis e toda a ação é interação através de papéis. Assim,

inicia-se do conceito de papel uma breve análise do processo de trabalho do grupo

estudado, pela associação dos conceitos do Psicodrama e às considerações das

categorias e subcategorias descritas e analisadas nesta monografia.

O conceito de papel expressa a maneira como uma pessoa reage a uma

situação especifica, onde se encontram outras pessoas e objetos, sendo a função

social um dos sentidos de papel existentes, que pode ser representado por uma

profissão. No caso da população estudada, a situação relaciona-se ao contexto de

trabalho onde há funcionários (pessoas) e material de trabalho (objetos); e as

profissões encontradas são representadas pelos cargos de auxiliar de biblioteca e

bibliotecário. Analisando o exemplo de Bustos (1990) do papel de bombeiro, a qual

está associada à ação de apagar incêndios e à cena de estar com a mangueira na

mão, se pode associar o papel de bibliotecário à ação de catalogação e à cena de

estar com um livro na mão. Tal associação também pode ser feita com o cargo de

auxiliar de biblioteca, com as suas devidas especificidades.

Sobre os papéis de auxiliar de biblioteca e de bibliotecário, pode-se

interpretá-los por um único papel, o de “empregados”, sendo as ações, ou funções,

desempenhadas através do papel, próprias de cada colaborador. Assim, pode-se

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afirmar que ao papel de empregado há o contrapapel de empregador, neste caso a

instituição ou pessoa responsável pelo “emprego” destes funcionários; ou o papel de

“subordinados”, representando que respondem a alguém dentro da instituição, que

seria o “chefe” (contrapapel de subordinado). Cabe aqui ressaltar que estes papéis

são passíveis de observação, o que salienta a afirmativa de que papéis são as

menores unidades de conduta observáveis.

Nas considerações sobre as categorias e subcategorias, na variável central

autonomia da teoria das características do cargo, se constatou uma semelhança da

população com o modelo de gestão burocrático, no qual uma pessoa tem seu papel

definido por outros, a ser exercido de forma padronizada. Esta padronização vai ao

encontro do conceito de conserva cultural, que representaria uma maneira de agir

sempre igual dentro do cargo. O desempenho “imutável” das tarefas deste cargo

poderia propiciar a perda da espontaneidade e do potencial criativo do colaborador.

O próprio conceito de “cargo” representa uma conserva cultural, ou seja, um produto

de um esforço criativo, mas atualmente padronizado, cristalizado.

S4, que foi o caso ressaltado na análise da variável central autonomia, relata

que é responsável pela delegação de certas tarefas que executa. Tal afirmativa

possibilita a interpretação de que este sujeito tem liberdade para jogar e

desempenhar seu papel, explorando suas peculiaridades, de maneira criativa e

espontânea. Ainda, S4 e S6 mencionam que algumas de suas atividades são

resultantes de um processo de redução de pessoal na organização. À ação de

realizar as tarefas que antes pertenciam a outras pessoas se pode associar ao role-

taking – tomada de um papel desempenhado por outra pessoa. Ainda se pode

questionar se estes funcionários apenas imitam o papel que antes era de outro, ou

se tem liberdade para explorar no papel (role-playing) ou autonomia para criarem

diferentes ações dentro destes papéis (role-creating).

Retomando o exemplo inicial, onde se fala da “ação” de cada profissional,

menciona-se a teoria da ação, quando, no momento precedente a ação, há o

desencadeamento dos fatores espontaneidade e tele. No relato da percepção do

relacionamento interpessoal, caracterizou-se o relacionamento como “bom e

tranqüilo”, o que pode ser interpretado como a capacidade dos integrantes de darem

respostas adequadas a diferentes situações (espontaneidade) e a percepção clara

do que se passa entre eles (tele) no ambiente de trabalho. Ainda, se poderia supor

que desempenham e exploram as singularidades de seus papéis espontânea e

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criativamente (role-playing e role-creating), e que há a ação espontânea (teoria da

ação) por parte dos integrantes, que implicaria na renovação dos fatores

espontaneidade e tele – e justificaria a constância do clima “bom e tranqüilo” no

ambiente de trabalho.

Porém, quando analisados as unidades de registro sobre a percepção da

comunicação, evidenciaram-se duas opiniões: a comunicação funcional e a

comunicação falha. Neste item, levantou-se a hipótese de que alguma barreira

estivesse interferindo na comunicação do grupo, o que se pode associar ao conceito

de transferência, que remete a falhas neste processo, passiveis de serem causadas

por distorções ou más interpretações do conteúdo da mensagem. Cabe aqui

ressaltar barreira abrange as instâncias do emissor, receptor e do ambiente

(MACÊDO et al., 2006); e transferência diz respeito à percepção do receptor do

conteúdo da mensagem.

Há ainda outras percepções que podem ser comentadas em relação à

população estudada e os conceitos teóricos do Psicodrama. As subcategorias

comunicação como meio de auxílio ao colega e meios de comunicação levantam a

importância da comunicação no ambiente de trabalho, ao que se pode associar a

importância da tele nas relações. No primeiro caso, uma relação télica com o colega

auxilia no desempenho dos papéis, e no segundo, mesmo que o e-mail seja uma

forma impessoal de comunicação, o conceito de tele abrange as relações à

distância; podendo também analisar a tele no processo de feedback e nas reuniões

que o grupo realiza. Ou, ao analisar o resultado divergente entre a análise das

subcategorias percepção do relacionamento interpessoal e percepção da

comunicação, se poderia propor, através da dramatização, uma oportunidade dos

colaboradores de explorarem os papéis que desempenham, a fim de compreender a

falha no processo de comunicação. Neste caso, a dramatização seria uma

ferramenta utilizada por um profissional qualificado, atuando no contexto de trabalho.

Por fim, pode-se perceber que os conceitos do Psicodrama permeiam o

processo de trabalho do grupo, seja no desempenho das atividades de um cargo

sob a ótica da teoria dos papéis, nos processos de comunicação relacionando-os

aos conceitos de tele-transfêrencia, ou no relacionamento interpessoal, no qual se

supôs a evidência de espontaneidade, tele, de ação espontânea e das diferentes

formas de interação de papéis. Porém, esta separação apresenta-se apenas

didaticamente, pois ao homem moreniano que protagoniza, estão associados todos

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os conceitos apresentados nesta monografia, em todos os mementos de sua

existência.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta monografia apresentou brevemente o desenvolvimento do trabalho na

atualidade, acompanhando mudanças como o surgimento do Capitalismo e da

Psicologia Organizacional, a percepção da sinergia como uma força nas

organizações, os conceitos de grupos e equipes e o Psicodrama. Teve como

objetivo analisar como ocorre o processo de trabalho de uma equipe, sob a

perspectiva psicodramática, em uma instituição do Vale do Itajaí. Para tal, fez-se

necessário a diferenciação entre os conceitos de grupo e equipe, sendo freqüente a

atribuição de características de um conceito ao outro, e vice versa. Porém,

constatou-se que equipe é um tipo de grupo, mas nem todo grupo é uma equipe.

Cabe ressaltar que esta monografia foi realizada em um semestre, sendo que as

disciplinas que a constituem no currículo da universidade abrangem dois semestres.

Este fato, por exemplo, inviabilizou a definição prévia de uma população que

trabalhasse na perspectiva de equipe.

Nas categorias elencadas, emergiram subcategorias que complementaram a

análise do objetivo geral. Percebeu-se a semelhança da população com modelos de

gestão burocráticos, onde as organizações definem as tarefas, os métodos e os

objetivos do grupo de trabalho, tendo apenas um sujeito apresentado maior

autonomia. O relacionamento entre os membros, percebido como satisfatório –

apenas no ambiente profissional – facilita a compreensão das outras categorias e

dados, como a tendência da população em se dividir em subgrupos, diferenciados

por cargos. Apresentaram-se duas opiniões divergentes sobre a comunicação, uma

satisfatória e a outra falha (possivelmente resultado de alguma distorção no

processo), sendo a oralidade e o e-mail os canais utilizados para comunicarem-se.

Esperava-se que ao final desta monografia fosse possível identificar se a

população estudada trabalha na perspectiva de grupo ou equipe. Para tal, foi

elaborado um quadro de indicadores, baseados na literatura. Porém, não foi possível

afirmar objetivamente devido à falta de dados; novamente, não se investigou todos

os indicadores que poderiam prover esta resposta em função do tempo. Por ter

ficado em aberto este questionamento, cogitou-se a semelhança da população aos

tipos de grupo (grupo formal, permanente ou de comando); e aos diferentes tipos de

equipes (equipes permanentes e de fluxo de trabalho ou célula).

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Quanto à perspectiva psicodramática, foi possível associar os conceitos da

abordagem a diferentes situações do ambiente de trabalho. Por exemplo, o conceito

de papel aos cargos, de tele-transferência ao processo de comunicação, ou a matriz

de identidade como indicativo do momento do colaborador no contexto de trabalho;

todos estes momentos permeados pela espontaneidade, criatividade, tele-

transferência, ação e diferentes formas de interação entre os papéis. Foi

apresentada também a possibilidade da dramatização como ferramenta, a ser

utilizada por um profissional que atue no contexto organizacional – área na qual se

percebeu ser possível a investigação do ser humano através da perspectiva

psicodramática.

Recomenda-se que em outras pesquisas deste fenômeno sejam

investigados os indicadores evidenciados sobre grupos e equipes, a fim de cumprir

com a expectativa de caracterização da população, possibilitando maior precisão na

análise dos dados; a investigação de diferentes grupos, para a comparação e o

enriquecimento dos dados em relação à análise com base na literatura sobre grupos

e equipes e no Psicodrama; e um estudo voltado à possibilidade de utilização dos

constructos da abordagem psicodramática como forma de intervenção no contexto

organizacional. Por fim, sugere-se um olhar sobre os estágios de desenvolvimento

das equipes e suas estruturas.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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7. APÊNDICES

APÊNDICE A

PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO

1) Data da observação:_________________________________________

2) Horário da observação – Início:______________ Fim:_______________

3) Diagrama da situação:

4) Relato do ambiente físico:

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5) Descrição da equipe observada:

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6) Relato do ambiente social:

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7) Registro propriamente dito:

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*Este documento foi feito baseado no modelo apresentado em DANNA, M. F.; MATOS, M. A.

Aprendendo a observar. São Paulo: EDICON, 2006. Página 46/47.

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APÊNDICE B

Identificando Processo de Trabalho

1) Processo de trabalho

- Como se dão as etapas do trabalho da equipe?

- Como é organizada a execução de uma tarefa a ser realizada?

2) Definição das tarefas da equipe

- Como são delegadas as tarefas da equipe?

- Quem geralmente define o papel de cada um na execução da tarefa?

- Que tipos de tarefas são designados a sua equipe?

3) Relacionamento interpessoal

- Como é seu relacionamento com os outros membros da equipe?

- Como são trabalhadas possíveis divergências de opiniões?

4) Comunicação

- Como é o processo de comunicação entre os membros da equipe?

- Como são passadas as informações necessárias para a realização de uma tarefa?

- Quem trás as informações devidas para a equipe?

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APÊNDICE C

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está convidado (a) para participar, como voluntário (a), em uma pesquisa.

Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer

parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas

é sua e a outra é do pesquisador responsável.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:

Título da pesquisa: Equipes de trabalho: uma perspectiva psicodramática.

Pesquisador: Elizabeth Navas Sanches, Dra.

Telefone para contato: 47 3341-7932

Acadêmico: Maurício Castro da Silva Arus

Telefone para contato: 47 3367-9036

Esta pesquisa constitui um trabalho de conclusão de curso de Psicologia da

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, intitulado: Equipes de trabalho: uma

perspectiva psicodramática. A referida pesquisa tem por objetivo geral analisar o

processo de trabalho de uma equipe na perspectiva psicodramática em uma

organização no município de Itajaí.

O pesquisador fará até cinco observações com duração de até duas horas, da

equipe de trabalho, e fará entrevistas, gravadas, com um roteiro semi-estruturado,

com objetivo de reconhecer as características do processo de trabalho e elaborar

uma proposta de intervenção. Os dados obtidos serão analisados pela técnica de

análise de conteúdo.

A participação não oferece riscos e contribui para aproximação do acadêmico ao

mercado de trabalho, bem como na preparação dos acadêmicos para a inserção no

mesmo. Após o término da pesquisa, será realizada a devolutiva. Cabe ressaltar

ainda que seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, sendo garantido seu

anonimato. Os resultados desta pesquisa serão utilizados somente para fins

acadêmicos. Em caso de dúvidas, o sujeito poderá entrar em contato com a

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pesquisadora, a fim de obter as explicações devidas. O sujeito poderá, ainda, retirar

o consentimento a qualquer momento, sem conseqüências negativas para o mesmo.

- Nome do Pesquisador: Elizabeth Navas Sanches, Dra.

- Assinatura do Pesquisador: ____________________

CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO E OU RESPONSÁVEL

Eu, _____________________________________________________________,

RG, _________________, fui devidamente informado e esclarecido sobre a

pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, e as condições decorrentes de minha

participação. Foi me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer

momento, sem que isto acarrete qualquer penalidade.

Local e data: __________________________________________________

Nome: _____________________________________________________

Assinatura do Sujeito ou Responsável: _______________________________

Telefone para contato: ____________________________________________

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APÊNDICE D

Indicadores de grupos e equipes

População Características Grupos Equipes

Esforço Individual Coletivo, compartilhado, coordenado

Responsabilidade Individual Compartilhada, individual e mútua

Objetivo Individual, definido pela organização, de compartilhar informações

Compartilhado, visam por si próprias, de desempenho coletivo

Autonomia Dependentes Semi-autônomas ou autônomas

Sinergia Neutra (às vezes negativa), Somatório dos esforços individuais

Positiva, Mais do que apenas as contribuições individuais

Habilidades Aleatórias e variadas Complementares

Estabelecimento de recompensas

Individual Em conjunto

Liderança Ter um líder claramente designado que responde pelo grupo

Compartilhar as responsabilidades que não recaem apenas sobre o líder

Efetividade evidenciada A partir da influência que exercem sobre outros membros ou grupos da organização

A partir dos produtos da equipe

Bibliotecários Características Grupos Equipes

Esforço Individual Coletivo, compartilhado, coordenado

Responsabilidade Individual Compartilhada, individual e mútua

Objetivo Individual, definido pela organização, de compartilhar informações

Compartilhado, visam por si próprias, de desempenho coletivo

Autonomia Dependentes Semi-autônomas ou autônomas

Sinergia Neutra (às vezes negativa), Somatório dos esforços individuais

Positiva, Mais do que apenas as contribuições individuais

Habilidades Aleatórias e variadas Complementares

Estabelecimento de recompensas

Individual Em conjunto

Liderança Ter um líder claramente designado que responde pelo grupo

Compartilhar as responsabilidades que não recaem apenas sobre o líder

Efetividade evidenciada A partir da influência que exercem sobre outros membros ou grupos da organização

A partir dos produtos da equipe

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Auxiliares Características Grupos Equipes

Esforço Individual Coletivo, compartilhado, coordenado

Responsabilidade Individual Compartilhada, individual e mútua

Objetivo Individual, definido pela organização, de compartilhar informações

Compartilhado, visam por si próprias, de desempenho coletivo

Autonomia Dependentes Semi-autônomas ou autônomas

Sinergia Neutra (às vezes negativa), Somatório dos esforços individuais

Positiva, Mais do que apenas as contribuições individuais

Habilidades Aleatórias e variadas Complementares

Estabelecimento de recompensas

Individual Em conjunto

Liderança Ter um líder claramente designado que responde pelo grupo

Compartilhar as responsabilidades que não recaem apenas sobre o líder

Efetividade evidenciada A partir da influência que exercem sobre outros membros ou grupos da organização

A partir dos produtos da equipe