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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Programa de Pós-Graduação em Administração Curso de Mestrado Acadêmico em Administração WALDIR GOEDE O EFEITO DA PROPRIEDADE E DO COMPROMETIMENTO NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA EMPRESA FAMILIAR: Um olhar sob o aspecto da velocidade, do escopo e do ritmo BIGUAÇU 2015

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Programa de Pós-Graduação em Administração

Curso de Mestrado Acadêmico em Administração

WALDIR GOEDE

O EFEITO DA PROPRIEDADE E DO COMPROMETIMENTO NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA EMPRESA FAMILIAR:

Um olhar sob o aspecto da velocidade, do escopo e do ritmo

BIGUAÇU 2015

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WALDIR GOEDE

O EFEITO DA PROPRIEDADE E DO COMPROMETIMENTO NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA EMPRESA FAMILIAR:

Um olhar sob o aspecto da velocidade, do escopo e do ritmo

Dissertação submetida à banca examinadora como requisito final para a obtenção do título de Mestre em Administração, do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu Mestrado em Administração, da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Profa. Dra. Dinorá Eliete Floriani

BIGUAÇU 2015

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Dedico este trabalho a minha esposa, Dirce, que

sempre me apoiou e foi meu alicerce nessa

trajetória e na realização deste sonho, pelo

incentivo, paciência e compreensão.

Aos meus filhos, Ricardo e Rafael, às noras, Jaqueline Barbosa, Ariane Hahn Biazus, e a minha neta, Isabela Barbosa Goede, pelo apoio e incentivo recebido durante este caminho trilhado.

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AGRADECIMENTOS

Preliminarmente, quero agradecer a Deus pelo dom da vida, por me amparar

nos momentos difíceis, dar-me força para superar as dificuldades, mostrar os

caminhos nas horas incertas, me suprir em todas as minhas necessidades e pelos

bons momentos de reflexão.

Agradeço à minha orientadora, professora Dra. Dinorá Eliete Floriani, pelas

horas que dedicou a esta dissertação, pelo incentivo, paciência em alguns

momentos, pela confiança depositada em meu trabalho e, principalmente, por ter

exigido sempre novos aperfeiçoamentos e novas pesquisas quando necessários.

Sem a sua ajuda, este trabalho não teria sucesso.

À minha mãe, Toni (in memoriam), e ao meu pai, Walter Frederico Carlos

Goede (in memoriam), pela vida, pois, sem eles, eu não estaria aqui; pelo seu

exemplo de vida, determinação, perseverança e humildade que a mim transmitiram.

Às minhas irmãs, Ivone e Iraci, e seus familiares, grato pelo apoio recebido.

À minha esposa, Dirce, sempre otimista e sorridente, pelo apoio, pela

motivação recebida para a realização deste sonho, que agora se vislumbra em

realidade. Ao meu filho, Ricardo; à nora, Jaqueline Barbosa; e neta, Isabela Barbosa

Goede; e ao meu filho, Rafael; à nora, Ariane Hahn Biazus, pelo incentivo, apoio e

com quem pude dividir os anseios e as dúvidas desta trajetória, torcendo pela minha

vitória!

Aos pais da Dirce, Ingeburg (in memoriam) e Eugênio Volkmann, e a sua

irmã, Darci; ao irmão, Ivo, e a todos os seus familiares, pelo apoio recebido e por

alegrarem a minha vida e sempre estarem presentes nas horas oportunas.

Aos professores do Mestrado, pela contribuição incessantemente na

construção do conhecimento e dos saberes e a todos os colegas de curso por

compartilharem suas experiências e vivências e a todas as pessoas que, mesmo

não citadas aqui, estiveram ao meu lado, mesmo que de longe, pois sabem que

foram parte deste trabalho.

E, por fim, a todos os entrevistados nas sete empresas familiares e inclusive

aos colegas da Alemanha, eu os agradeço por terem generosamente dispendido

tempo e oferecido informações valiosas para esta dissertação.

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Uma mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho natural.

Albert Einstein

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RESUMO

O estudo tem como objetivo contribuir para a literatura sobre o processo de internacionalização de empresas familiares, analisando o efeito da propriedade e do comprometimento da família no processo de internacionalização em três perspectivas: velocidade, escopo e ritmo. A pesquisa qualitativa apoia-se na técnica do estudo multicaso em sete empresas, baseado em entrevistas em profundidade, Storytelling e triangulação de dados. O uso da técnica de relato de histórias foi utilizado com os fundadores das empresas e serviu como um veículo para relatar o início da empresa e do processo de internacionalização e sobre ambiente complexo da empresa familiar. Os demais dados primários foram coletados por meio de entrevistas pessoais semiestruturadas com o presidente do conselho de administração, diretor internacional e gerente de exportação; e os dados secundários foram provenientes de base documental e científica, no site da empresa, no relatório anual, em balanços das empresas, em livros, artigos e teses. Verifica-se, analisando as empresas pesquisadas, que a propriedade e o comprometimento da família influenciam o processo de internacionalização. Na maioria das empresas os achados corroboram os aspectos preconizados pela Escola Nórdica de Uppsala, cujo processo de internacionalização ocorre de forma gradual, em estágios, por meio da aprendizagem incremental no mercado externo. Porém, identificou-se que a velocidade da internacionalização em três empresas foi baixa, em duas foi média e em duas foi alta. O escopo alternou entre estreito e médio em relação às diferenças do grau de crescimento do número de países e subsidiárias em que atuam. Já o ritmo de expansão em seis empresas foi irregular e em apenas uma empresa foi regular durante os períodos observados. Apesar de haver alguns estudos sobre este tema, a pesquisa atual ainda é incipiente e vários achados são contraditórios, isto é, pode haver velocidade baixa versus alta; escopo estreito versus alto e ritmo regular versus irregular, influenciando o processo internacional e os seus efeitos precisos ainda não estão bem claros. Percebe-se, porém, nesse estudo, que a propriedade e o comprometimento da família tiveram uma influência no processo pela pró-atividade de seus fundadores, influenciados pela sua origem europeia e, para chegar aonde chegaram, transformaram riscos, vislumbrando oportunidades para capitalizarem conhecimentos e habilidades, melhorando gradativamente o seu comportamento de longo prazo. Palavras-Chave: empresa familiar; internacionalização; velocidade, escopo, ritmo; comprometimento familiar; negócios internacionais.

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ABSTRACT

This study aims to contribute to the literature on the internationalization process of family businesses, analyzing the effect of the family’s ownership and commitment from three perspectives: pace, scope and rhythm. This qualitative research relies on a multicase study technique, applying in-depth interviews, storytelling and data triangulation in seven firms. The storytelling technique was used with the company’s founders, and served as a vehicle for reporting how the company began, its process of internationalization, and the other aspects complex environment of the family business. Other primary data was collected through semi-structured personal interviews with the presidents of the companies’ boards of directors, international directors, and export managers. Secondary data came from documentary and scientific databases, such as the companies’ websites, annual reports, corporate balance sheets, books, articles and thesis. Analyzing the companies studied, it was observed that the ownership and commitment of the family influence the internationalization process. In most of the companies, the findings support the recommendation of the Nordic School of Uppsala, whereby the process of internationalization occurs gradually, in stages, through incremental learning in foreign markets. However we identified that the pace of internationalization was low in three of the companies, average in two, and high in another two. In terms of the growth in the number of countries operated in and the number of subsidiaries, the scope ranged from narrow to medium. The pace of expansion was irregular in six companies, and regular in just one company during the periods observed. Although there are some studies on this theme, this study is still incipient, and some of its findings are contradictory i.e. there may be low versus high pace; narrow versus high scope, and regular versus irregular rhythm, influencing the international process, and its precise effects are not yet clear. However we identified in this study that the ownership and commitment of the family has an influence on the internationalization process due to the proactiveness of the founders, influenced by their European roots and where they want to get to. These companies assumed risks, seized opportunities to generate knowledge and skills, gradually improving their behavior sin the long term. Keywords: family business; internationalization; pace, scope, rhythm; family commitment; international business.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Problematização da Pesquisa ............................................................... 22

Figura 02: Estrutura do Trabalho ............................................................................. 27

Figura 03: Teorias de Internacionalização .............................................................. 36

Figura 04: Padrões de expansão rítmica irregular e irregular (número total de

subsidiárias externas e número de expansões por ano) .......................................... 47

Figura 05: Internacionalização de empresa familiar ................................................ 64

Figura 06: Estrutura Societária da WEG ............................................................... 133

Figura 07: Velocidade das EFs pesquisadas ........................................................ 145

Figura 08: Ritmo de expansão internacional regular ou irregular .......................... 147

Figura 09: Abertura de fábricas/filiais da WEG (2000-2011) ................................. 147

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Definições de EF na literatura .............................................................. 32

Quadro 02: Evolução do conceito de internacionalização de acordo com autores

nacionais e internacionais ........................................................................................ 34

Quadro 03: Teorias Comportamentais (Autor(es), Teoria e as Características) ...... 38

Quadro 04: Conceito de velocidade, escopo e ritmo, autor, medida e o resultado

esperado .................................................................................................................. 48

Quadro 05: Fatores chaves no processo de internacionalização de EF ................. 50

Quadro 06: Construto Propriedade Familiar e Indicativo ......................................... 53

Quadro 07: Construto Comprometimento Familiar e os Indicativos ........................ 55

Quadro 08: Principais resultados das publicações e autores .................................. 56

Quadro 09: Relação das pessoas entrevistadas, cargo e tempo de entrevista nas

EFs ........................................................................................................................... 71

Quadro 10: Definição Conceitual e Operacional das Características Analisadas ... 74

Quadro 11: Propriedade e comprometimento familiar da Baumgarten ................... 81

Quadro 12: Membros e Histórico Familiar Hering ................................................... 90

Quadro 13: Indicadores da Propriedade e Comprometimento familiar .................... 90

Quadro 14: Membros e Histórico Familiar da Karsten ........................................... 100

Quadro 15: Propriedade e Comprometimento familiar da Karsten ........................ 101

Quadro 16: Membros e histórico familiar da Marisol ............................................. 109

Quadro 17: Indicadores da propriedade e comprometimento familiar da Marisol . 109

Quadro 18: Propriedade e comprometimento familiar da Rohden ........................ 114

Quadro 19: Membros familiares da Rudnick ......................................................... 122

Quadro 20: Propriedade e comprometimento familiar da Rudnick ........................ 123

Quadro 21: Internacionalização em termos de velocidade, dispersão e ritmo da

WEG ....................................................................................................................... 131

Quadro 22: Membros e histórico familiar da WEG ................................................ 134

Quadro 23: Indicadores da propriedade e comprometimento familiar da WEG .... 135

Quadro 24: Perfil das Empresas Familiares .......................................................... 137

Quadro 25: Início da internacionalização das EFs ................................................ 138

Quadro 26: Internacionalização das EFs e % do faturamento (década mais

representativa e em 2014) e as estratégias utilizadas ........................................... 140

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Quadro 27: A velocidade, o escopo geográfico e o ritmo de internacionalização . 143

Quadro 28: Variáveis da Propriedade familiar nas EFs ......................................... 148

Quadro 29: Variáveis do Comprometimento familiar nas EF................................. 151

Quadro 30: Redes das EFs ................................................................................... 153

Quadro 31: Resultados observados das variáveis ............................................... 156

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Empresas selecionadas intencionalmente para o Estudo Multicaso nas

EFs ........................................................................................................................... 66

Tabela 02: Coeficiente de Exportação (%) desde 1973 até 1981 (período Julho-

Junho) ...................................................................................................................... 95

Tabela 03: Faturamento de Exportação (FOB US$) e % de participação (1981 até

1989) ........................................................................................................................ 95

Tabela 04: Exportações da Karsten, 1999-2000 (US$ mil FOB) e % do faturamento

................................................................................................................................. 97

Tabela 05: 3ª Fase da Internacionalização da WEG (1991-1999), País/ Subsidiárias

............................................................................................................................... 128

Tabela 06: Implantação de fábricas no exterior (2000-2010) ................................ 129

Tabela 07: WEG no mundo (países/unidades em 2015) ....................................... 130

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABB

ABIT

BAUMGARTENINT

BAUMGARTENMKT

BAUMGARTENPRES

BCG

BNDES

C.V.

CD

CEO

DNA

DOI

EF

EFs

EUA

FDC

FIESC

FOB

FSC

GE

GEEF

HERINGADM

HERINGEUR

HERINGEXP

HERINGINT

IDE

IEC

IEMI

IFERA

ISE

-

-

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-

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-

-

-

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-

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-

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Asea Brown Boveri

Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção

Diretor Executivo Empresa Baumgarten

Diretora de Vendas e Marketing Empresa Baumgarten

Presidente Executivo Empresa Baumgarten

The Boston Consulting Group

Banco Nacional do Desenvolvimento

Capital Variável

Centro de Distribuição

Chief Executive Officer

Deoxyribonucleic Acid

Degree Of Internationalization

Empresa Familiar

Empresas Familiares

Estados Unidos da América

Fundação Dom Cabral

Federação das Indústrias de Santa Catarina

Free On Board

Forest Stewardship Council

General Electric

European Group of Owner Managed and Family

Enterprises

Diretor Administrativo Empresa Hering

Gerente Europa Empresa Hering

Gerente de Exportação Empresa Hering

HERINGINT - Diretor Internacional Empresa Hering

Investimento Direto Estrangeiro

International Electric Commission

Instituto de Estudos e Marketing Industrial

International Family Enterprise Research Academy

Índice de Sustentabilidade Empresarial

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KARSTENDIR

KARSTENEXP

KARSTENINT

KARSTENPRES

KARSTENVICE

KMU

MARISOLFUND

MARISOLPRES

MDIC

MERCOSUL

NAFTA

OLI

OMC

P&D

PIB

PMES

PwC

ROHDENCOM

ROHDENEXP

ROHDENPRES

RUDNICKEXP

RUDNICKMEM

RUDNICKPRES

RUDNICKTRA

RUK

S&R

S.A.

SC

SEBRAE

SINTEX

UE

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

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-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

Diretor Comercial Empresa Karsten

Gerente Exportação Empresa Karsten

Diretor Europeu Empresa Karsten

Presidente do Conselho Empresa Karsten

Vice-presidente do Conselho Empresa Karsten

Austrian Institute for SME Research

Fundador da Empresa Marisol

Presidente Executivo Empresa Marisol

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

Exterior

Mercado Comum do Sul

North American Free Trade Agreement

Teoria do Paradigma Eclético

Organização Mundial do Comércio

Pesquisa e Desenvolvimento

Produto Interno Bruto

Pequenas e Médias Empresas

Pricewaterhouse Coopers

Gerente Comercial Empresa Rohden

Trader Exportação Empresa Rohden

Diretor Presidente Empresa Rohden

Gerente de Exportação Empresa Rudnick

Membro do Conselho Empresa Rudnick

Presidente do Conselho

Trader Exportação Empresa Rudnick

Rohden UK

Süllwold & Resch GMBH

Sociedade Anônima

Santa Catarina

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas

Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do

Vestuário de Blumenau

União Europeia

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UNCTAD

USD

WEGFUND

WEGINT

WEGMKT

WEGPRES

-

-

-

-

United Nation Conference on Trade and Development

United States Dollar

Fundador da WEG

Diretor Internacional Empresa WEG

Chefe Marketing Internacional Empresa WEG

Presidente do Conselho da WEG

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SUMÁRIO

Resumo .................................................................................................................. vii

Abstract .................................................................................................................. viii

Lista de Figuras ...................................................................................................... ix

Lista de Quadros ..................................................................................................... x

Lista de Tabelas .................................................................................................... xii

Lista de Abreviaturas e Siglas ............................................................................. xiii

Sumário ................................................................................................................. xvi

1 Introdução ............................................................................................................ 18

1.1 Contextualização do Tema ................................................................................. 18

1.2 Problema de Pesquisa ....................................................................................... 22

1.3 Objetivos da Pesquisa ........................................................................................ 24

1.4 Justificativa da Escolha do Tema ....................................................................... 25

1.5 Contribuições do Estudo .................................................................................... 26

1.6 Estrutura do Trabalho ......................................................................................... 27

2 Referencial Teórico ............................................................................................. 29

2.1 Empresa Familiar (EF) ....................................................................................... 29

2.2 Internacionalização de Empresas ...................................................................... 33

2.3 Internacionalização de Empresas Familiares ..................................................... 48

3 Procedimentos Metodológicos .......................................................................... 61

3.1 Objetivos e Questões de Pesquisa .................................................................... 61

3.2 Método do Estudo de Caso ................................................................................ 62

3.3 Definição Conceitual e Operacional dos Termos ............................................... 72

4 Apresentação dos Casos ................................................................................... 75

4.1 Histórico da Empresa Familiar Baumgarten Ltda ............................................... 75

4.2 Histórico da Empresa Familiar Hering ............................................................... 81

4.3 Histórico da Empresa Familiar Karsten S.A. ...................................................... 91

4.4 Histórico da Empresa Familiar Marisol ............................................................. 101

4.5 Histórico da Empresa Familiar Rohden Ltda .................................................... 110

4.6 Histórico da Empresa Familiar Móveis Rudnick S.A. ....................................... 115

4.7 Histórico da Empresa Familiar WEG S.A. ....................................................... 123

5 Análise dos Casos ........................................................................................... 136

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5.1 Explicações Alternativas da Análise dos Resultados ...................................... 155

6 Considerações Finas ........................................................................................ 163

6.1 Limitações do Estudo ....................................................................................... 166

6.2 Sugestões para Futuras Pesquisas .................................................................. 167

Referências .......................................................................................................... 169

Apêndices ............................................................................................................. 181

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1 INTRODUÇÃO

O primeiro capítulo é composto pela contextualização, o problema de

pesquisa, os objetivos da pesquisa (geral e específicos), a justificativa da escolha do

tema, as contribuições do estudo e a estrutura geral da pesquisa.

Em seguida, no segundo capítulo, fundamenta-se o referencial teórico dos

principais conceitos relacionados ao tema da pesquisa, ou seja, a EF, a

Internacionalização de empresas, as principais teorias econômicas e

comportamentais da internacionalização, os Modos de Entrada no Exterior e a

internacionalização em termos de velocidade, o escopo e o ritmo. Ainda no mesmo

capítulo, segue-se com a propriedade, o comprometimento familiar na

internacionalização, os fatores críticos na internacionalização de empresas

familiares e a internacionalização de EFs brasileiras.

Já no terceiro capítulo, discorre-se sobre o delineamento da pesquisa, o

método do estudo de caso, a coleta de dados, o universo e a relevância, o protocolo

de coleta de dados, o pré-teste do instrumento de coleta de dados, os

procedimentos de coleta de dados, a validade e a confiabilidade, as limitações do

estudo e a definição conceitual e operacional dos termos.

No quarto capítulo, é apresentado detalhadamente o caso das sete EFs

pesquisadas com o histórico da empresa familiar, o processo de internacionalização

e a família na internacionalização da empresa.

No quinto capítulo são apresentadas as análises de dados das EFs,

comparando as empresas entre si e tecendo os resultados da pesquisa,

apresentando os resultados objetivados nesta dissertação.

No final, no sexto capítulo, as considerações finais são discutidas.

1.1 Contextualização do Tema

Após a segunda década do século XX, a economia mundial passa a ser

caracterizada pela maior abertura comercial entre os países. Neste contexto

emerge, também, a formação de blocos econômicos como o caso da União

Europeia e do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), entre outros. Esses

fenômenos sinalizam às empresas uma atuação sintonizada com os acontecimentos

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globais e, como consequência, suas operações tendem a transpor fronteiras. Assim,

para aumentar sua participação internacional, muitas organizações foram levadas a

fazer adaptações em sua estrutura interna e, à medida que o processo de

internacionalização evolui, normalmente também aumenta o seu comprometimento

com a alocação de recursos para operações externas. Devido a isto, teorias têm

sido formuladas para estudar a internacionalização das organizações durante o

último século.

O atual panorama do comércio exterior brasileiro indica a inserção

progressiva do País no comércio internacional, pelo fato de as exportações terem

registrado no ano de 2014 vendas na ordem de US$ 225,1 bilhões; importações na

ordem de US$ 229,0 bilhões, representando um total na corrente de comércio de

US$ 454,1 bilhões. Há registro de aproximadamente 19 mil empresas exportadoras

no Brasil, que participam com 10,8% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro via

exportações (MDIC, 2014).

Dados da Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) revelam que

em 2013 o Estado de Santa Catarina foi o 10º maior exportador do Brasil com um

volume de Fob US$ 8.688.838.911 (participação de 3,59%) e com importações no

valor de Fob US$ 14.779.078.899 representado um déficit da ordem Fob US$

6.090.239.988. Santa Catarina é o 2º maior polo têxtil e do vestuário do Brasil e nele

está estabelecida a maior empresa brasileira fabricante de camisetas de malha e a

segunda maior do mundo, destacando-se também na produção de artigos de

vestuário, móveis, motores elétricos, carnes, entre outros. O Vale do Itajaí (SC)

possui 9.264 indústrias no setor têxtil e vestuário, com 172,8 mil trabalhadores e

representa 21,4% do valor da transformação industrial de Santa Catarina e possuía

1512 empresas exportadoras em 2013 (FIESC, 2013).

A pesquisa divulgada pela revista Exame, na sua edição “Melhores e Maiores

de 2014”, apontou a Hering na terceira colocação estadual e na 14ª posição do

ranking nacional, e a WEG ficou com a quarta posição estadual e a 20ª posição

nacional.

Com este intuito, pesquisadores procuram entender os modos de expansão,

os desafios enfrentados, bem como as estratégias usadas pelas empresas

brasileiras para se manterem competitivas globalmente.

Em uma perspectiva crítica, Rocha (2003) ressalta que muitas empresas

brasileiras não se internacionalizaram em virtude de alguns fatores, como: o aspecto

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geográfico, o ambiental, o motivacional e, por fim, o cultural. Mas, por outro lado,

Fleury e Fleury (2012) afirmam que, somente a partir do século XX, houve a

evolução da internacionalização das empresas brasileiras que estavam inseridas em

um ambiente cujas incertezas e cuja descontinuidade reinavam.

Na visão de Welch e Luostarinen (1988) e Calof e Beamish (1995), a

internacionalização de empresas pode ser descrita como sendo um processo de

envolvimento crescente em que uma empresa aumenta o seu nível de participação

no mercado externo ao longo do tempo, bem como um processo de adaptação das

operações de uma empresa aos ambientes internacionais. Corroborando esta linha

de pensamento, Oesterle et al. (2013) a definem como sendo a quantidade de

atividades transfronteiriças que uma empresa expressa e resulta no seu grau de

internacionalização.

As empresas familiares têm um papel importante no crescimento econômico

mundial. Aproximadamente 85%de todas as empresas da União Europeia e dos

EUA são de propriedade familiar (GOMEZ- MEJIA et al. 2001;IFERA, 2003). Nos

países em desenvolvimento a propriedade familiar apresenta uma proporção ainda

maior (KONTINEN; OJALA, 2012). Sua importância é relevante ao proporcionar

crescimento econômico e representam mais de 70% dos empregos na Europa, as

quais são cruciais para o futuro da economia da União Europeia, porque fornecem

uma fonte contínua de energia empreendedora (GEEF, 2003a).

O processo de internacionalização é complexo para uma empresa,

representando operações em outros países, o qual envolve aprendizagem contínua

em vários estágios e a empresa vai gradualmente se comprometendo com mais

recursos à medida que adquire conhecimento experiencial (JOHANSON; VAHLNE,

1977).

Este processo de internacionalização será analisado sob o enfoque de três

perspectivas, ou seja, a velocidade (pace), o escopo geográfico (scope) e o ritmo

(rythm) de expansão externa (LIN, 2012; JONES; COVIELLO, 2005; VERMEULEN;

BARKEMA, 2002).

Vermeulen e Barkema (2002) foram os primeiros a definirem e usarem três

perspectivas de análise, a velocidade, o escopo geográfico e o ritmo de

internacionalização, visão também compartilhada por Lin (2012). A velocidade indica

quantas expansões estrangeiras uma empresa se compromete em um determinado

período de tempo e o escopo se refere ao número de países em que uma empresa

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estabeleceu subsidiárias durante a sua expansão internacional e é usado para medir

o âmbito geográfico. Já o ritmo se refere aos intervalos entre o estabelecimento de

subsidiárias estrangeiras em um período, como uma subsidiária por ano,

considerada um ritmo regular ou um padrão diferente; já quando os anos de rápida

expansão são alternados com longos períodos de inatividade, é definida como

irregular.

Há diferentes abordagens e critérios de autores que discorrem sobre a

conceituação das EFs, bem como sobre a propriedade e o comprometimento

familiar. Não há consenso sobre uma definição ou uma teoria sobre a EF.

Abdellatif et al. (2010) também apontam a falta de consenso referente a uma

definição de EFs; porém, em termos gerais, é uma empresa cuja posse ou gestão

pertence a uma família nuclear, visão compartilhada por Chua et al. (1999). Já

Handler (1989) define EF como sendo uma organização cujos membros da família

influenciam na maioria das decisões operacionais e nos planos para sucessão,

enquanto Astrachan et al. (2002) definem a EF por meio de um contínuo

envolvimento da família. Nesta dissertação, foi adotada a definição conceitual de EF

àquela cuja família é detentora da maioria do capital e, portanto, define sua gestão

(GALLO; SVEEN, 1991).

A presença da família na gestão pode ter influência positiva e/ou negativa no

processo internacional. Gallo e Estapè (1992) constataram que as EFs são mais

lentas e menos propensas para internacionalizar-se do que as empresas não

familiares, visão compartilhada por Okoroafo (1999). Fernández e Nieto (2005)

afirmam que a presença de famílias no controle das empresas, de certa forma, inibe

o processo de internacionalização, enquanto Zahra (2003, 2005) afirma que o

envolvimento da família está positivamente relacionado à promulgação da EF em

alianças internacionais e dos mercados estrangeiros e que a propriedade e o

envolvimento familiar apoiam a internacionalização, porque os membros da família

agem como bons administradores de seus recursos existentes. Chu (2011)

confirmou que a propriedade e o envolvimento da família estão associados ao

desempenho positivo, enquanto Chrisman et al. (2010) e Zellweger et al. (2010)

afirmam que o comprometimento de uma família expressa a visão de negócios como

característica chave que define a EF.

Baseada neste status atual sobre as EF surge o problema e as perguntas de

pesquisa.

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22

1.2 Problema de Pesquisa

A partir da contextualização apresentada, esta dissertação visa analisar a

internacionalização de EFs em Santa Catarina e as suas estratégias. Neste

processo, como a propriedade e o comprometimento das EFs afetam o processo de

internacionalização dos negócios, considera-se que os aspectos da velocidade, do

escopo e do ritmo são uma questão norteadora que orienta a investigação.

O referencial teórico apresenta o escopo da pesquisa.

CARACTERÍSTICAS/ EFEITO

PERGUNTA DE PESQUISA

Figura 01: Problematização da Pesquisa

Fonte: O autor.

EMPRESAS FAMILIARES

NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO

PROPRIEDADE

FAMILIAR

COMPROMETIMENTO

FAMILIAR

FAMIL PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO

UM OLHAR SOB O ASPECTO:

COMO A PROPRIEDADE E O COMPROMETIMENTO FAMILIAR

AFETAM OPROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO?

DA VELOCIDADE DO ESCOPO DO RITMO

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Neste trabalho, alguns pressupostos também serão analisados, para ver se

há influência no processo de internacionalização, como:

Qual o impacto no processo de internacionalização das EFs em termos de:

velocidade, escopo e ritmo?

Qual o impacto de ter pessoas da família atuando diretamente ou indiretamente

no processo e na internacionalização?

Quais os mecanismos pelo qual a propriedade e o comprometimento familiar

afetam o processo de internacionalização?

Os autores Fernández e Nieto (2006) descobriram que o controle familiar

afeta positivamente as atividades de internacionalização, mas outros encontraram

relações negativas. Em um estudo em empresas espanholas, o envolvimento da

família na gestão foi negativamente associado à intensidade de exportação

(FERNANDEZ; NIETO, 2006), e nas empresas italianas, o envolvimento da família

na gestão foi negativamente associado à propensão à exportação (CERRATO;

PIVA, 2012).

No entanto, a prova é contraditória relativa à relação entre o envolvimento da

família na gestão e as estratégias de internacionalização de uma empresa. Segundo

um estudo realizado por Zahra (2003) com os fabricantes norte-americanos, o

envolvimento da família na gestão foi positivamente relacionado com a probabilidade

de internacionalização. A autora também descobriu que a propriedade da família

influencia positivamente as vendas internacionais em escala e escopo. Se

considerarem a internacionalização essencial para o desenvolvimento de negócios

de longo prazo, a família iria querer prosseguir a estratégia apesar dos riscos e dos

danos para os retornos de curto prazo (ZAHRA, 2003). Claver et al. (2008, 2009)

afirmam que outro fator da influência familiar é a orientação de longo prazo, que

supostamente tem um efeito positivo sobre a internacionalização.

Já os achados de Calabrò et al. (2012) indicam que a internacionalização das

EFs é impulsionada por conselheiros externos e gerações de entrada, mas é

retardada pela relutância dos diretores da família para se comprometer com o

estabelecimento de parcerias e a aprendizagem necessária sobre mercados

estrangeiros, porém a presença da família tem influência positiva na

internacionalização (PUKALL; CALABRÒ, 2013).

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Lin (2012) examinou a relação entre as EFs e o processo de

internacionalização, investigando como a propriedade afeta a velocidade, o escopo

geográfico e o ritmo de internacionalização e nos seus achados encontrou que as

empresas optaram por: 1) uma velocidade alta, 2) um escopo estreito, e 3) um ritmo

irregular de internacionalização, quando as empresas eram de alto nível de

propriedade familiar. Estes resultados destacam que a propriedade da família tem

influências significativas em processos de internacionalização de uma empresa.

Kontinen e Ojala (2010; 2010b) encontraram que as EFs tendem a se

internacionalizar mais lentamente que as empresas não familiares; já Lin (2012)

sustenta o contrário.

Visto os resultados já alcançados e as especificidades das EFs decidiu-se

estudar, por meio de estudos de caso e contribuir com perspectivas empírico-

teóricas para estes resultados opostos centrados na propriedade e no

comprometimento com o processo de internacionalização das EF em termos de

velocidade, escopo e ritmo.

1.3 Objetivos da Pesquisa

O objetivo desta dissertação é agregar conhecimento sobre o processo de

internacionalização que indique uma trajetória para as empresas familiares na sua

expansão internacional. Isto será feito por meio de um estudo multicaso de

abordagem qualitativa sobre as principais características das EFs em Santa Catarina

e os fatores que afetam o processo de internacionalização.

Nesse sentido, elaboram-se os seguintes objetivos (geral e específicos), os

quais orientam a presente pesquisa.

1.3.1 Objetivo Geral

Analisar como a propriedade e o comprometimento familiar afetam o processo

de internacionalização das empresas familiares em termos de velocidade, escopo e

ritmo.

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1.3.2 Objetivos Específicos

As estratégias utilizadas para o alcance do objetivo geral deste trabalho são

as descritas conforme segue:

Apresentar a internacionalização das Empresas Familiares de Santa Catarina.

Verificar a velocidade, o escopo e o ritmo do processo de internacionalização

das EFs.

Identificar o efeito da propriedade e do comprometimento da família na

internacionalização das empresas investigadas.

Analisar as características das EFs que influenciam o processo de

internacionalização em termos da velocidade, do escopo e do ritmo.

1.4 Justificativa da Escolha do Tema

Estudos atestam a importância das EFs no cenário internacional e têm

proporcionado uma crescente conscientização sobre o tema e levado ao aumento de

pesquisa e à compreensão dessas empresas. Apesar disso, a internacionalização

das EFs ainda é uma área de pesquisa pouco desenvolvida (CHUA et al., 2003).

Kontinen e Ojala (2010, p. 103) apontam que “[...] o que emerge da revisão da

literatura, muito pouco é sabido sobre o processo de internacionalização das EFs e

que grande quantidade de verificação qualitativa e quantitativa é necessária sobre

esse fenômeno”. Esses autores afirmam que as EFs se internacionalizam de acordo

com o modelo de UPSALLA, de forma sequencial e normalmente a

internacionalização inicia nos países geográfica e culturalmente próximos. Ainda

ressaltam os autores sobre a necessidade de respostas a questões do tipo “como” e

“por que” nos estudos de caso, enquanto Lin (2012) afirma que a pesquisa sobre as

EFs tem largamente ignorado a questão fundamental do “como se expandir

globalmente”.

As EFs representam em sua maioria as principais economias do mundo

(GOMEZ-MEJIA et al. 2001) e nos últimos anos esses objetos de estudo se

tornaram mais relevantes para as pesquisas de caráter acadêmico, tendo ocorrido

uma chamada para mais pesquisas sobre a internacionalização das EFs (BUENO et.

al., 2007; GRAVES; THOMAS, 2008; SCIASCIA et al., 2010).

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A maior parte da literatura sobre internacionalização não é focada em EF,

excluindo assim a influência de características específicas das EFs, tais como:

propriedade da família, envolvimento da família, sucessão, cultura familiar e

membros da família, conhecimento e experiência (OKOROAFO, 1999; GALLO;

SVEEN, 1991; CASILLAS; ACEDO, 2005).

Dada a escassez de estudos empíricos que identificam fatores específicos

que contribuem para a expansão internacional e nacional das EFs, o presente

trabalho visa contribuir com esta lacuna existente na literatura em relação à

discussão teórico-empírica, enfatizando aspectos da propriedade e do

comprometimento familiar no processo, sob o enfoque de velocidade, escopo

geográfico e ritmo de internacionalização.

Como no Brasil e no exterior poucos estudos específicos focam no assunto

utilizando simultaneamente a variável propriedade e comprometimento, esse tema

despertou o interesse e a motivação do pesquisador e, para preencher essa lacuna,

por intermédio de um estudo multicaso qualitativo, com entrevistas em profundidade,

foram pesquisadas sete EFs para analisar o entendimento do como e do porquê a

propriedade e o comprometimento influenciam o processo de internacionalização em

termos de velocidade, escopo e ritmo.

1.5 Contribuições do Estudo

O campo de pesquisas sobre EFs assume um caráter potencial, constituindo-

se como alternativa acadêmica relevante para a produção de pesquisas e para o

desenvolvimento de teorias dentro da área dos Estudos Organizacionais e da

Administração no Brasil.

Os estudos empíricos estão concentrados em avaliar e abordar o fenômeno

da internacionalização das EFs com base nas experiências dos países

desenvolvidos, porém faltam estudos destas empresas em países emergentes. Não

há consenso sobre uma definição exata da EF, assim sendo um campo emergente

de estudo (KONTINEN; OJALA, 2010).

A relevância do estudo, do ponto de vista prático, deve-se ao fato de os

resultados desta pesquisa servirem como uma oportunidade de reflexão aos

empresários familiares sobre o negócio e a própria família envolvida no negócio,

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como um instrumento útil para a tomada de decisão e também para os profissionais

que atuam na área de negócios internacionais.

Foram escolhidas intencionalmente EFs de Santa Catarina pela relevância no

cenário nacional e internacional e, devido à imigração europeia, por apresentarem

características que podem diferir das características pesquisadas em países

desenvolvidos e emergentes frente à internacionalização.

Assim, este estudo qualitativo poderá oferecer a esses profissionais

informações úteis, as quais possam melhorar suas atividades empresariais, sendo

que os resultados encontrados nas EFs em Santa Catarina poderão identificar

padrões que possam ser reproduzidos e aplicados como fator motivador nas EFs em

outras Regiões/Estados e até no exterior.

A relevância teórica do estudo prendeu-se à escassez de estudos sobre as

EFs no Brasil sob o aspecto da velocidade, do escopo e do ritmo de

internacionalização, bem como fornecer uma visão mais clara de como e por que a

propriedade e o comprometimento familiar influenciam o processo de

internacionalização da EF.

1.6 Estrutura do Trabalho

As etapas da pesquisa foram delineadas em seis capítulos, conforme o

esquema a seguir:

Figura 02: Estrutura do Trabalho

Fonte: O autor.

(1)

Contexto, problema, objetivos,

justificativa,

contribuições.

(2)

Conceito de EF, teorias de internacionalização, velocidade, dispersão, ritmo; propriedade e comprometimento

familiar.

Conceito de EF, teorias

de internacionalização,

velocidade, dispersão,

ritmo; propriedade e

comprometimento

familiar.

(3)

Método, coleta e seleção de dados,

protocolo, pré-teste, definição conceitual e

operacional das variáveis.

(4)

Estudo multicaso das sete empresas,

histórico, processo int. e

família.

(5)

Análise dos dados e

resultados das sete empresas.

(6)

Considerações

finais.

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O primeiro capítulo é composto pela contextualização, pelo problema de

pesquisa, pelos objetivos da pesquisa (geral e específicos), pela justificativa da

escolha do tema, pelas contribuições do estudo e pela estrutura geral da pesquisa.

Já no segundo capítulo, fundamenta-se o referencial teórico dos principais conceitos

relacionados ao tema da pesquisa, ou seja, a EF, a internacionalização de

empresas, as principais teorias econômicas e comportamentais da

internacionalização, os Modos de Entrada no Exterior e a internacionalização em

termos de velocidade, escopo e ritmo, seguindo-se com a propriedade, o

comprometimento familiar na internacionalização, os fatores críticos na

internacionalização de empresas familiares e a internacionalização de EFs

brasileiras.

No terceiro capítulo, discorre-se sobre o delineamento da pesquisa, o método

do estudo de caso, a coleta de dados, o universo e a relevância, o protocolo de

coleta de dados, o pré-teste do instrumento de coleta de dados, os procedimentos

de coleta de dados, a validade e a confiabilidade, as limitações do estudo e a

definição conceitual e operacional dos termos. Já no quarto capítulo é apresentado

detalhadamente o caso das sete EFs pesquisadas, com o histórico da empresa

familiar, o processo de internacionalização e a família na internacionalização da

empresa.

No quinto capítulo, são apresentadas as análises de dados das EFs,

comparando as empresas entre si e tecendo os resultados da pesquisa,

apresentando os resultados objetivados nesta dissertação. No sexto capítulo, as

considerações finais são discutidas.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo tem como objetivo apresentar a teoria que versa sobre a

empresa familiar, a internacionalização de empresas nos aspectos das teorias

comportamentais e econômicas, as estratégias de internacionalização, a

internacionalização em termos de velocidade, escopo e ritmo e, por fim, a

internacionalização de empresas familiares.

2.1 Empresa Familiar (EF)

As pesquisas sobre as EFs estão avançando, ganhando impulso e

apresentando um notável crescimento em termos de produção científica

(KONTINEN; OJALA, 2010; SHARMA et al. 2012).

Dados estatísticos revelam que um número expressivo de organizações é

controlado por núcleos familiares, o que reforça a importância desses

empreendimentos para a movimentação da economia (BUENO et al., 2007).

Identificou-se que existem no Brasil de 6 a 8 milhões de empresas, das quais

90% dos negócios são originados de EFs, seja de grande, médio ou pequeno porte,

as quais empregam mais de 60% de toda a força de trabalho brasileira e são

responsáveis pela sustentação da economia e da dinamicidade de mercado (IFERA,

2003).

Na pesquisa publicada pela International Family Enterprise Research

Academy, as EFs lideram a economia do mercado ocidental em 45 países. Elas são

a grande maioria dos negócios na Europa, com mais de 60%; nos Estados Unidos,

contam com 95% do mercado; na América Latina (Argentina, Chile e Uruguai), com

pouco mais de 65%; e no Brasil, em aproximadamente 90% (KMU FORSCHUNG

AUSTRIA, 2008).

Apesar da sua importância empírica, não há um consenso para a

conceituação da EF. Depois de ter analisado mais de 90 definições em todos os 33

países europeus, a Comissão Europeia (2009) propõe a seguinte definição: A

empresa, de qualquer tamanho, é uma EF se: 1) a maioria dos direitos de tomada de

decisões se encontra na posse da pessoa(s) física(s) que estabeleceu(ram) a

empresa, ou em posse da pessoa(s) física(s) que tenha(m) adquirido do capital

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social da empresa; ou na posse de seus cônjuges, pais, filhos ou herdeiros diretos

dos filhos; 2) a maioria dos direitos de decisão da família é direta ou indireta; 3) pelo

menos um representante da família ou parente está formalmente envolvido na

governança da empresa; 4) se a pessoa que estabeleceu ou adquiriu a empresa

(capital social) ou as suas famílias ou descendentes possuem pelo menos 25% dos

direitos de tomada de decisão mandatários pela sua quota do capital social (MANDL,

2008; GEEF, 2003b).

Esta definição é recomendada para ser usada pelos Estados-Membros da UE

e representa um grande avanço para o desenvolvimento de uma "Teoria da

Empresa Familiar", tendo dado um primeiro passo em direção a uma definição

consensual (KMU FORSCHUNG AUSTRIA, 2008).

O trabalho seminal de Robert G. Donnelley, intitulado “The Family Business”,

publicado na Harvard Business Review em 1964, foi o primeiro que emergiu na

comunidade acadêmica no Brasil, e apresenta uma visão de EF a partir da

abordagem conceitual da sucessão, mas que não desconsidera o papel

desempenhado pela dinâmica da interação entre família e empresa.

No Brasil, os primeiros estudos sobre EF se destacam com o pioneirismo de

Lodi (1998), que afirma que a EF é aquela que nasce, geralmente, com a segunda

geração de dirigentes, e cuja sucessão está ligada ao fator hereditário e aos valores

institucionais da organização; mas na visão de Bernhoeft (1991), uma empresa é

considerada familiar quando mantém membros da família na administração dos

negócios.

Gallo e Sveen (1991) classificam uma empresa como EF, quando a família é

detentora da maioria do capital e, portanto, define sua gestão; enquanto que

Gonçalves (2000) contribui afirmando que uma empresa é familiar se existir três

situações: a) se a totalidade ou a maioria das ações ou quotas da empresa é de

propriedade de uma família (controle econômico); b) se a família é detentora da

gestão da organização, a família é quem define os objetivos, as diretrizes e as

políticas da empresa; c) se a família administra o empreendimento, por meio de um

ou mais de seus membros na diretoria/alto escalão da empresa.

Corroborando esta visão, Handler (1989) define EF como sendo uma

organização cujos membros da família influenciam na maioria das decisões

operacionais e nos planos para sucessão, ou seja, há um envolvimento familiar nos

negócios.

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Outra definição comumente adotada é a de Gersick et al. (1997), para a qual

um empreendimento é considerado de caráter familiar quando existe uma conjunção

entre propriedade e gestão da empresa nas mãos da família. Um modelo de três

círculos foi desenvolvido, sendo amplamente aceito pelos teóricos da área, para os

quais são considerados três subsistemas: famíly, ownership e management, que se

sobrepõem e geram posições com perspectivas diferentes.

Litz (1995) sugere que as empresas podem ser definidas como EF quando a

propriedade e a gestão estão concentrados dentro de uma unidade familiar, visão

compartilhada por Chua et al. (1999), para os autores Astrachan et al. (2002), a EF é

definida por meio de um contínuo envolvimento da família.

A maioria das interpretações destacou a propriedade, o envolvimento da

família, o controle da família e a intenção de transferir o negócio para as gerações

futuras como componentes-chave do que poderia ser classificado como sendo de

fato uma EF, sendo consistente com o modelo dos três círculos (GERSICK et al.

1997), implicando que a definição tenha que refletir estes componentes (CHRISMAN

et al., 2005).

Internacionalmente aceito também é o conceito de EF que agregue três

grandes vertentes: a) propriedade - controle dos negócios nas mãos de uma família

que detém ou controla a maioria do capital; b) gestão da empresa - gerenciamento

por ela influenciado, cujos lugares de topo da empresa são ocupados pelos

membros da família; e c) processo sucessório - segunda geração assume os lugares

dos parentes e, assim, sucessivamente (LEONE, 2005).

Embora os estudiosos estejam fazendo um esforço para desenvolver uma

definição que seja aceita sobre a EF (LITZ, 1995), na realidade ainda é um campo

emergente de estudo (KONTINEN; OJALA, 2012) apesar das inúmeras tentativas

feitas para articular definições conceituais e operacionais de uma EF.

Na literatura há diversos conceitos que envolvem a EF. No Quadro 1,

apresentam-se definições de EF citadas por alguns autores.

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Quadro 01: Definições de EF na literatura.

AUTOR(ES) DEFINIÇÔES DE EMPRESAS FAMILIARES NA

LITERATURA (AUTORES NACIONAIS E INTERNACIONAIS)

Critério de análise do Autor

Astrachan et al. (2002)

A empresa familiar é definida por meio de propriedade e envolvimento da gestão, sucessão e da cultura empresarial familiar, ou seja, por meio de um contínuo envolvimento da família.

Ownership Controle e envolvimento Familiar; Sucessão

Chrisman et al.(2005)

A propriedade, o envolvimento da família e o controle da família e a intenção de transferir o negócio para as gerações futuras são as componentes-chave do que poderia ser classificado como empresas familiares.

Ownership Controle Familiar Sucessão

Dyer (1983)

apud Déry et al.

(1993)

A empresa familiar é uma organização cujas decisões com relação à propriedade e/ou ao gerenciamento são influenciadas pela ligação com uma família ou mais famílias.

Gerenciamento influenciado pela família Propriedade familiar

Gallo e Sveen (1991)

Um negócio em que uma família tem a maioria das ações e controle operacional.

Gerenciamento pela família e a sua Propriedade

GEEF (2003)

Empresa familiar deve atender aos seguintes critérios: 1) a maioria da propriedade (direta ou indiretamente) está nas mãos de uma pessoa e/ou da família natural; e 2) pelo menos um representante da família ou parentes estão envolvidos na gestão ou na administração da empresa.

Ownership Gestão da família Envolvimento

Gersick et al.

(1997)

Mais que o nome da família sobre a porta ou o número de parentes na alta direção, é a propriedade de uma família que define a empresa familiar.

Propriedade Familiar

Handler (1989)

Uma organização cuja maioria das decisões operacionais e planos para a sucessão da liderança é influenciada por membros de uma família trabalhando no gerenciamento ou na diretoria.

Influência da família na direção da empresa familiar Propriedade Familiar

Tagiuri e Davis (1996)

São organizações em que dois ou mais membros da família estendida (extended family members) influenciam a direção dos negócios, por meio do exercício de laços de parentesco, papéis de gerenciamento ou direito de propriedade.

Influência da família na direção da empresa familiar Propriedade Familiar

Fonte: Adaptado de Chua, Chrisman e Sharma, 1999.

Portanto, um dos grandes desafios do pesquisador é a opção por uma

definição de EF, uma vez que diferentes conceitos como ponto de partida para a

pesquisa podem oferecer diferentes resultados, a partir, inclusive, da seleção da

amostra de empresas (LEONE, 2005).

Abdellatif et al. (2010) também apontam a falta de consenso sobre uma

definição de EFs. Os autores concluem em seu artigo afirmando que, apesar da

divergência sobre vários pontos, há convergência, na literatura, em termos gerais de

que uma EF é uma empresa cuja posse ou gestão pertence a uma família nuclear.

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Nesta dissertação, a definição conceitual de EF será aquela cuja família é

detentora da maioria do capital e, portanto, define sua gestão (GALLO; SVEEN,

1991).

2.2 Internacionalização de Empresas

A internacionalização de empresas é um fenômeno dinâmico, sendo um

processo de envolvimento crescente, em que uma empresa aumenta o seu nível de

participação no mercado externo ao longo do tempo (WELCH; LUOSTARINEN,

1988). Para Calof e Beamish (1995), é um processo de adaptação das operações de

uma empresa aos ambientes internacionais.

O processo de internacionalização é considerado a operação mais complexa

que uma empresa familiar pode enfrentar e necessária para manter-se competitiva e

sobreviver no mercado cada vez mais globalmente competitivo (KONTINEN; OJALA,

2010; LIN, 2012; ETEMAD, 2013).

Para Root (1994), a internacionalização engloba diferentes modos de atuação

no exterior, como exportação, licenciamento, joint-ventures, aquisições e

Investimento Direto Estrangeiro (IDE); assim o montante do negócio que está em

mercados externos é mensurado pelo grau de internacionalização, ou Degree of

Internationalization (OESTERLE et al., 2013).

Apesar de os estudos, sobre a internacionalização, estarem bastante

‘adiantados’ nos países desenvolvidos, nos países emergentes o movimento da

internacionalização ocorreu de forma tardia (late movers), além de ser imaturo e

tímido (FLEURY; FLEURY, 2007; BORINI; URBAN; FLEURY; ROSAS, 2007).

Entretanto a internacionalização das firmas brasileiras, mesmo que tardiamente

(FLORIANI; FLEURY, 2012), ganhou força a partir dos anos de 1990, quando houve

a abertura comercial do país, a modernização da economia, a conquista da

estabilidade econômica e houve também a necessidade de as empresas nacionais

serem mais competitivas para encararem a concorrência internacional.

A internacionalização é a consequência de uma série de decisões

incrementais e somatórias. É um processo pelo qual as empresas gradualmente

aumentam seu envolvimento em negócios internacionais. A empresa vai

desenvolver posições em redes (networks) no exterior e as decisões de

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internacionalização serão determinadas direta ou indiretamente pelas relações no

interior das redes de negócios (JOHANSON; VAHLNE, 2009).

No que tange aos fatores da motivação para a internacionalização, Dunning

(2001) separa esses fatores em quatro grupos: a) resource seeking: a

internacionalização seria motivada pela busca de vantagem e acesso a recursos

escassos e/ou mais baratos, como matéria-prima, mão de obra e tecnologia; b)

market seeking: a internacionalização seria motivada pela busca de novos

mercados; c) efficiency seeking: a internacionalização seria motivada pela

racionalização da produção e da logística, e aproveitamento de economias de escala

e escopo; d) asset/capability seeking: a internacionalização seria motivada por

questões estratégicas de longo prazo, como formação de parcerias, acesso a ativos

tangíveis e intangíveis que possibilitariam o alcance a novos recursos e mercados

no decorrer do tempo.

Na literatura sobre a internacionalização, são encontrados diversos conceitos

que variam em função do foco que lhes é atribuído e de suas concepções. O Quadro

2apresenta a evolução dos conceitos de internacionalização, ao longo do tempo, de

alguns autores nacionais e internacionais.

Quadro 02: Evolução do conceito de internacionalização de acordo com autores nacionais e internacionais

AUTORES/ANO

CONCEITO DE INTERNACIONALIZAÇÃO

Johanson e Wiedesheim-Paul (1975),

Johanson e Vahlne (1977, 2003, 2009)

A internacionalização é a consequência de uma série de decisões incrementais e somatórias. Processo pelo qual as empresas gradualmente aumentam seu envolvimento em negócios internacionais. A empresa vai desenvolver posições em redes (networks) no exterior e as decisões do processo de internacionalização serão determinadas direta ou indiretamente pelas relações no interior das redes de negócios.

Welch e Luostarinen (1988)

Processo de envolvimento crescente em operações internacionais, no sentido do contexto doméstico para mercados estrangeiros e vice-versa.

Cavusgil e Kirpalani (1993), Sullivan (1994) e Reuber e Fischer (1997)

Referem-se à internacionalização como "grau de internacionalização” (Degree Of Internationalization - DOI).

Knight e Liesch (2002) Internacionalização ocorre quando a empresa expande sua venda, produção ou outras atividades de negócio nos mercados internacionais.

Jones e Coviello (2005) A internacionalização é um processo e, portanto, por definição, o comportamento de internacionalização ocorre ao longo do tempo, manifestando-se numa sequência em que os eventos ocorrem.

Fleury e Fleury (2011) Internacionalização é o fenômeno relacionado aos agentes, aos atores sociais que participam do processo de globalização.

Oesterle, Richta e Fisch (2013)

A internacionalização de uma empresa, ou melhor, a sua diversificação internacional, é a extensão do seu negócio além das fronteiras.

Fonte: Adaptado de Souza e Fenili (2012).

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35

Para subsidiar este processo complexo da internacionalização, torna-se

necessário conhecer as teorias de internacionalização.

2.2.1 Teorias de Internacionalização

As teorias tradicionais foram desenvolvidas sobre a internacionalização e são

divergentes em seus argumentos e perspectivas de análise. Na literatura são

classificadas em dois eixos de pesquisa, uma de viés econômico e outra

comportamental.

Na esfera internacional, pode-se dizer que teorias foram construídas

baseadas em critérios comportamentais e outras, em critérios econômicos. Não há

intenção de descrever em profundidade cada uma delas, mas apresentar a

fundamentação que possibilite examinar o processo decisório para

internacionalização das EF brasileiras.

Levando-se em consideração esse fato, este estudo assume como norteador

teórico as mais citadas, a saber: Escola de Uppsala, Teoria dos Custos de

Transação, Teoria do Paradigma Eclético (OLI), Ciclo de Vida do Produto, Teoria da

Internalização, Poder de Mercado, Networks e Empreendedorismo Internacional.

A Figura 3 (a seguir) traz as principais teorias consideradas nesse estudo. Em

seguida, são apresentadas as principais teorias baseadas na consideração de

aspectos comportamentais para a análise de processos de internacionalização.

Nessa categoria, destacam-se a teoria desenvolvida pela Escola Nórdica (Modelo de

Uppsala), a teoria das Networks, a teoria definida como “Born Global” e o

Empreendedorismo Internacional.

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36

Figura 03: Teorias de Internacionalização

Fonte: o Autor

É importante destacar que, de acordo com as abordagens econômicas, uma

empresa irá considerar fatores economicamente relevantes para decidir qual

caminho seguir em um processo de internacionalização. Estas abordagens divergem

em diversos aspectos, sejam eles relacionados ao poder do produto perante os

mercados globais; a adaptação empresarial como forma de inserção em um novo

mercado internacional; ou até mesmo à absorção de processos produtivos à

estrutura da empresa como forma de gerar vantagem competitiva.

As principais abordagens a serem destacadas são: a Teoria de Poder de

Mercado, de Hymer; a Teoria de Ciclo de Vida do Produto, de Vernon; a Teoria dos

Custos de Transação; a Teoria da Internalização, de Buckley e Casson; e o

Paradigma Eclético, de Dunning.

O propósito principal da Teoria de Hymer (1960/1976) é explicar como as

grandes empresas se internacionalizam por meio de uma visão financeira. Neste

processo de internacionalização, elas aumentam o seu poder econômico a partir da

obtenção de lucros gerados nos investimentos diretos, efetuados em outras

empresas no exterior.

Na Teoria de Ciclo de Vida do Produto (VERNON, 1966), as empresas, após

atingirem um estágio de maturidade de seus produtos nos mercados internos em

que atuam, buscam produzir em mercados ainda em estágio de desenvolvimento,

onde haja um custo menor de produção, para obterem um maior ganho financeiro.

Para o autor, há três estágios neste processo, ou seja, desde o ciclo de vida os

TEORIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO

TEORIA DE VIÉS ECONÔMICO TEORIA DE VIÉS

COMPORTAMENTAL

PODER DE MERCADO

CICLO DE VIDA DO PRODUTO

CUSTOS DE TRANSAÇÃO

INTERNALIZAÇÃO

PARADIGMA ECLÉTICO (OLI)

UPPSALA

NETWORKS

EMPREENDEDORISMO

INTERNACIONAL

BORN GLOBAL

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produtos e as tecnologias passam pela introdução e pelo crescimento, atingindo a

sua maturidade.

Um dos pilares da abordagem econômica ao entendimento da

internacionalização da firma é a Teoria de Custos de Transação (WILLIAMSON,

1975). Os principais fundamentos desta teoria estão na lógica da eficiência, na qual

a firma escolhe realizar internamente ou externamente as suas atividades que puder

executar de forma mais eficiente. Quando uma empresa decide expandir-se por

meio da exportação, ela enfrenta custos, sejam associados à busca de informação

ou ao cumprimento de contratos. Estes são os denominados custos de transação,

associados com o comércio de produtos e serviços, necessários para a superação

das imperfeições de mercados. Quanto maior for o custo na busca de informação,

menores os problemas decorrentes do fechamento de um contrato e vice-versa.

A teoria de custos de transação influenciou também as teorias de viés

econômicas à internacionalização da firma, ou seja, a Teoria da Internalização e o

Paradigma Eclético da Produção Internacional, que foram desenvolvidas na década

de 1970 na Universidade de Reading, na Inglaterra.

A decisão da empresa em incrementar suas formas de internacionalização

passa pelo trade-off dos custos de transação e internacionalização. Na proposta da

Teoria da Internalização de Buckley e Casson (1976), as empresas se internalizam

em mercados externos no momento em que os custos de transação estão em um

nível inferior aos custos internos desses mercados. Caso essa variável não seja

exequível, a opção utilizada pelas empresas é a formação de alianças estratégicas

para dividir os mercados.

Ainda na visão dos autores, as empresas entram nos mercados externos

dependendo do seu potencial, iniciando normalmente este processo com

exportações, após com o licenciamento e, posteriormente, com o investimento

externo direto.

Dunning (1988) propõe que o processo de internacionalização produtiva está

vinculado ao aproveitamento pela empresa das vantagens relativas à propriedade

(ownership), à localização (location) e à internalização (internalization). Desenvolvido

na década de 1970, tentando integrar outras teorias existentes, essa tentativa de

explicação foi denominada “paradigma eclético”, representado pela sigla OLI,

decorrente das iniciais das três vantagens citadas.

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O paradigma OLI estabelece que a firma, quando decide iniciar uma produção

internacional, deve possuir alguma vantagem diferencial sobre seus competidores. A

vantagem de propriedade (O) está em deter ativos específicos ou ativos

complementares que propiciam vantagem competitiva, tais como a diversificação

dos produtos, a tecnologia superior protegida ou não por patentes, a economia de

escala, etc. A de localização (L) é propiciada pela localização da planta, como

menores custos de transportes, mão de obra barata, recursos naturais, etc. Já com a

internalização (I), a vantagem está na possibilidade de minimização de custos de

transação (DUNNING, 1988).

Já na perspectiva das teorias comportamentais, há a relação com o

comportamento na tomada de decisões, das redes utilizadas e, ainda, do próprio

gestor no processo de internacionalização.

As principais abordagens de viés econômico são o Modelo da Escola de

Uppsala, a Teoria das Redes (networks) e o Empreendedorismo Internacional, como

pode ser verificado no Quadro 3.

Quadro 03: Teorias Comportamentais (Autor(es), Teoria e as Características)

AUTOR (ANO) TEORIA CARACTERÍSTICAS

Johanson e Wiedersheim-Paul (1975) e Johanson e

Vahlne (1977, 1990)

Escola de Uppsala

O modelo tem um caráter dinâmico, pois o aprendizado gradual permite a entrada em novos mercados, em um processo sequencial e contínuo de internacionalização. O ponto focal é a distância psíquica e o comprometimento gradual com mercados por meio de estágios sequenciais.

Johanson e

Vahlne (1990, 2003, 2009)

Networks

A inserção em networks permite às empresas acessar mais rapidamente os novos mercados, aprender sobre suas condições de negócios e sobre os processos de internacionalização mais profundamente e se adaptar mais facilmente a contextos institucionais diversos aos de seus países de origem.

McDougall (1989); Oviatt e

McDougall (1994) e Johanson e Vahlne (2003)

Empreendedorismo Internacional

A visão do empreendedorismo internacional visa explicar a expansão internacional de novas empresas ou start-ups por meio da análise de como os empreendedores reconhecem e exploram oportunidades.

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

A mais citada entre as teorias comportamentais da internacionalização da

firma é a que teve origem na Escola de Uppsala, na Suécia, onde foram

desenvolvidos estudos que dão suporte a estas teorias no decorrer da década de

1970. Esta teoria tornou-se referência na literatura de gestão internacional, pelo fato

de tratar de duas proposições fundamentais no processo de internacionalização. Os

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teóricos de Uppsala voltaram seu estudo, portanto, não para os motivos que levam

as empresas a irem para o exterior, mas sim para o processo de internacionalização

em si. Portanto esta teoria será a principal abordagem neste trabalho, a qual é

inclusive referenciada na maioria dos trabalhos sobre a internacionalização das EFs.

Na visão do Modelo de Uppsala (JOHANSON; WIEDERSHEIM-PAUL, 1975;

JOHANSON; VAHLNE, 1977), a firma internacionalizada é aquela que tem

processos baseados em um modelo dinâmico de aprendizagem com um crescente

comprometimento da empresa com o mercado externo, tendo por base o

aprendizado obtido por meio da experiência e do conhecimento e apresentando uma

complexa e difusa estrutura em termos de recursos, competências e influências.

Dessa maneira, a internacionalização não advém da alocação ótima de recursos,

mas sim de um processo incremental de tomada de decisão e aquisição de

conhecimento experiencial.

Johanson e Vahlne (1977) reconhecem a internacionalização da empresa

como um processo complexo, que consiste em várias fases distintas, cada uma com

as suas próprias características. Os pressupostos iniciais são de que uma empresa

procura rentabilidade em longo prazo e um perfil de baixo risco. Essas premissas

levam à conclusão de que o desempenho das operações atuais e o

comprometimento de mercado irão influenciar os recursos e as decisões relativas ao

compromisso de mercado.

No Modelo de Uppsala, a internacionalização é considerada como um

processo de ajustes incrementais, chamada de Establishment Chain ou uma

sequência de estágios. Essa sequência de estágios indica o nível de

comprometimento crescente com o mercado, ou seja, o incremento de operações

realizadas em função da acumulação experiencial (JOHANSON; VAHLNE, 1977).

O comprometimento de mercado aumenta quando uma empresa aloca mais

recursos para gerenciar e suportar operações no exterior. O grau de

comprometimento representa a dificuldade de encontrar usos alternativos para

esses recursos (JOHANSON; VAHLNE, 1990).

A distância física é definida por Johanson e Vahlne (1977) como fatores que

influenciam no fluxo de informações entre as empresas e seus mercados, como

práticas de negócios, a cultura, a diferença entre línguas entre outros.

A empresa passa da exploração de mercados fisicamente próximos para o

aumento do seu comprometimento com outros mercados internacionais de forma

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gradual, por etapas, por meio de uma série de estágios evolutivos, formando

relacionamentos cujo retorno se dará na forma de conhecimento do mercado e

implicará empenho maior de recursos a cada etapa vencida.

Há importantes limitações do Modelo de Uppsala: o processo é linear,

esquemático, determinista e não tem volta, não considerando a possibilidade dos

desinvestimentos. Não considera aspectos como a possibilidade de “queimar

etapas”, típica de empresas de países em desenvolvimento e também de empresas

de tecnologia, assim como omite o ambiente de negócios (BORINI et al., 2006). Há,

inclusive, a teoria das empresas “born globals”, introduzida por Knight e Cavusgil

(1996), que dá conta de um grande número de empresas cuja velocidade ou padrão

de internacionalização desafiam as predições de Uppsala.

Para Fleury e Fleury (2007), o Modelo de Uppsala leva a algumas reflexões. A

primeira diz respeito às noções de evolução e aprendizagem inerente ao processo

de internacionalização gradativa, iniciada com a exportação. Isso ocorre na medida

em que os gestores obtêm informações sobre um novo mercado e, a partir, daí

preparam-se psicologicamente para explorar mercados mais distantes. A segunda

reflexão refere-se à importância de fatores culturais no processo de

internacionalização e ao conhecimento como recursos que influenciam processo de

tomada de decisão.

Johanson e Vahlne (1977) constataram que era necessário remodelar o

Modelo de Uppsala de 1977 e revisitaram-no em 2009, com as contribuições mais

recentes das teorias de redes de relacionamento ao processo de internacionalização

de empresas.

Para Johanson e Mattson (1988), a rede desenvolve-se por meio das relações

que a empresa tem com os seus fornecedores, clientes, distribuidores,

consumidores, concorrentes e governo, sendo que o número e as forças das

relações entre os atores aumentam.

O processo de conhecimento empírico, que leva ao comprometimento da

empresa com um novo mercado em um país estrangeiro, acontece dentro de uma

rede de relacionamento da empresa no qual as empresas estão adquirindo novos

conhecimentos e entrando em vários países ao mesmo tempo por meio de suas

redes, reduzindo deste modo a distância psíquica entre os dois países, reduzindo-se

os riscos de entrar às cegas para operar naquele país e facilitando o acesso dessas

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empresas a informações privilegiadas sobre novos mercados estrangeiros

(JOHANSON; VAHLNE, 1997, 2003).

Na versão revisitada da Escola de Uppsala (JOHANSON; VAHLNE, 2009), a

raiz da incerteza se deslocou para o conceito de redes, em vez das fronteiras

nacionais e, desta forma, as empresas iriam ao mercado externo não para abrir um

mercado, mas focados para acompanhar suas conexões, como, por exemplo, seus

parceiros, clientes tradicionais ou mesmo concorrentes. As redes devem servir para

promover o aprendizado conjunto e duradouro, apresentado em três formas: a)

relacionamento entre fornecedor e cliente; b) relação de parceria entre estes; e c)

atividades junto a outras empresas em outro relacionamento (JOHANSON;

VAHLNE, 2009).

Ainda na abordagem das redes, considera-se que os mercados são, na

verdade, redes de empresas em que, no contexto da internacionalização, a empresa

deixa de ser apenas uma questão de produção no exterior e passa a ser percebida

mais como fator de relacionamentos potenciais além-fronteiras (CARNEIRO; DIB,

2007; GUEDES, 2007).

O foco das empresas, na atualidade, é identificar oportunidades e se inserir

em uma rede de contatos que viabilize seu acesso aos locais que oferecem essas

oportunidades. As empresas se preocupam mais em alcançar as oportunidades, por

meio das redes, do que em superar eventuais barreiras, como as condições

institucionais dos países estrangeiros (JOHANSON; VAHLNE, 2009).

Assim, o conceito original de liability of foreigness, ou o problema de ser

estrangeiro, foi substituído pela liability of outsidership, ou a questão de se estar fora

de uma rede relevante. No contexto da análise de subsidiárias, a rede de

relacionamento pode ser externa, que diz respeito ao relacionamento da subsidiária

com fornecedores e outros parceiros; ou interna, entre as subsidiárias da mesma

empresa (BORINI; FLEURY, 2010).

A teoria do Empreendedorismo Internacional (OVIATT; MCDOUGALL, 1994)

estabelece que os empreendimentos com sustentabilidade internacional geram valor

em diversos países a partir de determinados ativos, fundamentalmente, o

conhecimento. Já de acordo com o Modelo de Uppsala, a evolução internacional

ocorre de maneira gradual, tendo como base a Teoria de Redes (Networks) como

fator chave de união do processo de internacionalização (JOHANSON; VAHLNE,

2011).

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A adoção de uma nova mentalidade orientada para uma atuação em nível

global vislumbra o novo cenário de oportunidades nos mercados internacionais que

passam a ser importantes fatores na internacionalização das empresas e estas

estratégias, ou modos de entrada, serão apresentadas a seguir.

2.2.2 Modos de Entrada no Exterior

Os estudos sobre estratégias de entrada no processo de internacionalização

sugerem quais são as estratégias que conduzem a um maior envolvimento e

comprometimento das empresas com mercados internacionais. Na visão de Root

(1994), o modo de entrada para um mercado externo possibilita a transferência de

recursos da organização para o exterior e, segundo os autores Bartlett e Ghoshal

(1992), deve levar em consideração as variáveis que influenciam esse projeto,

envolvendo menor ou maior risco.

Na visão da Escola de Uppsala, o modo de entrada em um país externo é

fruto do conhecimento adquirido e da aprendizagem experiencial das empresas no

exterior. Após a tomada da decisão de se internacionalizar, a empresa inicia as suas

atividades optando por estratégias de entrada desde o menor grau e evolui, na

medida em que adquire experiência, para avançar os estágios até chegar à etapa

final com maior comprometimento de recursos, entrando em mercados de maior

distância psíquica e podendo inclusive chegar até o investimento externo direto

(JOHANSON; VAHLNE, 1977, 1990, 2009, JOHANSON; WIEDERSHEIN, 1975).

De acordo com Johanson e Vahlne (1977), a empresa estabelece diferentes

etapas do processo de internacionalização e a empresa aumenta o seu

comprometimento com o mercado. Há quatro estágios de envolvimento

internacional: (I) sem atividades de exportação regulares; (II) exportação via agentes

no exterior; (III) estabelecimento de uma subsidiária de vendas no exterior; e (IV)

produção fabricada no exterior.

A configuração da rede da qual a empresa faz parte também influencia na

escolha do modo de entrada em um mercado estrangeiro e pode causar mudanças

no contexto de relacionamentos da empresa (JOHANSON; VAHLNE, 2009).

Os autores Hitt et al. (2001), seguindo a Escola Uppsala, também apresentam

como tipos de entradas no mercado internacional os modos de: a) exportação; b)

licenciamentos; c) alianças estratégicas; d) aquisição; e) investimentos greenfield

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(direto). Eles dividem as estratégias de internacionalização em dois níveis: a)

estratégias competitivas na esfera de cada negócio em que a empresa está

envolvida; b) estratégias corporativas no âmbito das decisões que dizem respeito à

alocação de recursos entre vários negócios.

Floriani e Fleury (2012) observam que nos estágios mais avançados de

internacionalização as empresas buscam vantagens competitivas por estarem mais

próximas de seus clientes e ainda diversificarem seus mercados de atuação.

Os autores Hemais e Hilal (2002) têm criticado o modelo de

internacionalização de Uppsala, fundamentados no fato de que muitos entrantes têm

eliminado algumas etapas do processo sequencial previsto pela Escola, como, por

exemplo, as Born Global, que pulam etapas e se internacionalizam rapidamente.

Segundo Root (1994), a estratégia de entrada ou modo de entrada em um

mercado internacional são arranjos institucionais que possibilitam a entrada para a

internacionalização da organização e para a condução de transações internacionais.

Esses arranjos representam a efetividade na internacionalização, que torna possível

a entrada dos produtos, tecnologias, habilidade humana, entre outros recursos de

uma empresa nos mercados internacionais. Estas estratégias se referem a metas,

recursos e políticas que irão direcionar os negócios internacionais por um

determinado período, para que a empresa possa atingir crescimento sustentável no

exterior (ROOT, 1994).

Os modos de entrada podem ser classificados em três categorias, de baixa,

média e alta complexidade, as quais refletiriam o grau de comprometimento, de

aversão ao risco e de disponibilidade de recursos de uma organização, assim

descritas por Root (1994):

Modos de exportação: exportação indireta e direta;

Modos contratuais: licenciamento; franquia; contratos de licenciamento;

subcontratação da produção; acordos técnicos; acordos de distribuição,

contratos de serviços, de gerenciamento, de produção, entre outros;

Modos de entrada de investimentos: novos empreendimentos, escritório de

vendas, centro de distribuição, alianças estratégicas ou joint ventures, fusão,

aquisição e Greenfield.

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No modelo descrito por Root (1994), a exportação indireta é provavelmente a

mais simples forma de entrada em mercados estrangeiros, realizada por meio de

trading companies e comercial exportadora/importadora, cujo fabricante não

necessita dominar as normas do comércio internacional. Porém, na exportação

direta, o fabricante é o responsável e precisa ter conhecimentos específicos

relacionados aos negócios internacionais.

Quanto ao modo contratual abordado por Root (1994), refere-se a diversos

tipos de acordos entre o importador e o exportador, como, por exemplo, o de

licenciamento ou franquias, em que cada uma das partes tem um conhecimento

específico e se compromete a transferi-lo à outra parte, mediante uma retribuição

acordada, que nesta ocasião seria o pagamento de royalties.

No modo de entrada de investimentos de Root (1994), a empresa pode optar

pela abertura de um escritório de vendas próprio no exterior, havendo a necessidade

de contratação de funcionários e de conhecer o ambiente e a legislação local.

Quanto ao centro de distribuição próprio, o investimento no exterior é ainda maior,

devido à atuação no transporte e ao controle de estoque, além de conhecimentos

específicos sobre a legislação vigente no país e os procedimentos burocráticos

envolvidos no processo. Nas alianças estratégicas e joint-ventures há o

compartilhamento de recursos e conhecimento entre as empresas, o que possibilita

a superação de barreiras culturas, tarifárias e não tarifárias. Já no modo de fusão, as

empresas do mesmo setor se juntam e cooperam uma com a outra, porém, a

adaptação das pessoas a outras culturas pode ser um entrave neste processo. Na

aquisição, a agilidade da entrada no mercado estrangeiro ocorre pela possibilidade

de compra, representa um investimento financeiro de maior porte e, na Greenfield, a

empresa começa do zero no exterior; depende da construção do ambiente físico, do

conhecimento da legislação, da burocracia e da cultura; necessita fazer altos

investimentos em P&D pela necessidade de produzir o produto localmente ou

adequá-lo ao mercado local (ROOT, 1994).

2.2.3 Internacionalização em Termos de Velocidade, Escopo e Ritmo

O processo de internacionalização é considerado complexo e também uma

estratégia importante que uma empresa pode empreender para ser competitiva.

Vermeulen e Barkema (2002) identificaram que diferentes velocidades e ritmos da

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expansão externa de uma empresa resultam em diferentes níveis de desempenho.

Os estudos introduzem três dimensões do processo internacional: 1) a velocidade do

processo de internacionalização, 2) o seu escopo geográfico da internacionalização

e 3) o ritmo, referindo-se à regularidade ou à irregularidade do padrão de expansão

para o exterior. Embora a pesquisa destes autores não trate de EFs, ela foi incluída

neste trabalho porque foram os primeiros a usarem estas três categorias e definirem

o significado de velocidade, escopo e ritmo de internacionalização.

Segundo Vermeulen e Barkema (2002), a velocidade de internacionalização é

uma medida e um indicativo de tempo e refere-se à rapidez com que as empresas

espalham suas atividades internacionais entre os diferentes mercados dos países.

Velocidade indica quantas expansões estrangeiras uma empresa realizou em um

determinado período de tempo. Para medir a velocidade, o autor calculou o número

de países estrangeiros, dividido pelo número de anos da expansão internacional da

empresa, apresentando os seguintes resultados: expansão externa lenta (velocidade

<= 2), expansão média (velocidade=2 a 5) e maior que >5= alta velocidade de

expansão. Um número alto (média) por ano indica um processo acelerado de

expansão internacional.

Ainda referente à velocidade de entrada nos mercados internacionais,

segundo Jones e Coviello, (2005), Zahra e George (2002) é definida com o aumento,

ao longo do tempo, do número, da variedade e da distância entre os países em que

a empresa está ativamente atuando. Já para Lin (2012), como sendo o número

médio de subsidiárias externas por ano.

Em segundo lugar, segundo Vermeulen e Barkema (2002), escopo geográfico

se refere ao número de países nos quais uma empresa estabeleceu subsidiárias

durante a sua expansão internacional e é usada para medir o âmbito geográfico do

processo de expansão.

Já para Hurmerinta-Peltomäki (2003) e Jones e Coviello (2005), é o processo

de expansão geográfica de uma empresa e geralmente o indicativo de: 1) número de

países nos quais a empresa opera ou com que o país negocia ou investe; ou 2) grau

de concentração espacial das atividades da empresa; porém Zahra e George (2002)

definem o escopo, como sendo a abrangência ou a extensão de locais nos quais a

empresa desenvolve a sua atividade, cobrindo os mercados e/ou países nos quais

vende ou fabrica seus produtos e serviços. Corroborando, escopo é o número de

países estrangeiros nos quais a empresa opera (LIN, 2012; KUIVALAINEN et al.,

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2012), bem como a intensidade ou o nível de envolvimento da internacionalização

(NALDI; NORDQVIST, 2008).

Para medir o escopo, calculou-se pela soma total do número de países

estrangeiros das EFs pesquisadas na sua fase mais internacionalizada (279 países),

dividido pelas 7 EFs, apresentando os seguintes resultados: média= 40 países e a

média da média=20 países, sintetizando, se o escopo for <20 países= Estreito, de

20 a 40 países= Médio e > 40 países= Amplo.

Em terceiro lugar, o ritmo é definido como a regularidade do processo ou o

ritmo em que novas subsidiárias são estabelecidas. O ritmo é uma dimensão dos

processos de internacionalização originalmente desenvolvidos por Vermeulen e

Barkema (2002) e refere-se aos intervalos entre o estabelecimento de subsidiárias

estrangeiras. Os autores sugerem que as empresas sigam mais processos rítmicos

de internacionalização, tendendo a estabelecer unidades em mercados estrangeiros

a um ritmo mais regular, como uma subsidiária por ano. Mais programas de

expansão rítmica evitam a sobrecarga de recursos gerenciais, criando espaço para

uma melhor absorção de novos conhecimentos dos mercados estrangeiros.

Ainda quanto ao ritmo de expansão, a Figura 4mostra uma empresa “A,”

quando estabelece a sua subsidiária no exterior em um padrão regular rítmico, ou

seja, expandir uma filial todos os anos (os dois gráficos do lado esquerdo). Por outro

lado, outra empresa, “B”, que no final do período tem um número igual de

subsidiárias, pode expandir seguindo um padrão muito diferente, em que os anos de

rápida expansão são alternados com longos períodos de inatividade (os dois

gráficos do lado direito). Os padrões da empresa “A” são definidos como ideal, a

expansão rítmica; o da empresa “B” é definido como padrões de expansão irregular

(VERMEULEN; BARKEMA, 2002).

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Empresa “A” x Empresa “B”

Figura 04: Padrões de expansão rítmica irregular e irregular (número total de subsidiárias externas e número de expansões por ano)

Fonte: Vermeulen e Barkema (2002).

Vermeulen e Barkema (2002) sugerem que as empresas seguem mais

processos rítmicos de internacionalização tendem a estabelecer unidades em

mercados estrangeiros a um ritmo mais regular, como uma subsidiária por ano. Mais

programas de expansão rítmica evitam à sobrecarga de recursos gerenciais, criando

espaço para uma melhor absorção de novos conhecimentos dos mercados

estrangeiros.

Os resultados de Lin (2012) indicam que as empresas taiwanesas optaram

por um ritmo 1) velocidade alta, 2) um escopo estreito e 3) um ritmo irregular de

internacionalização, quando eram de alto nível de propriedade familiar. Estes

resultados destacam que a propriedade da família tem influências significativas em

processos de internacionalização de uma empresa.

O Quadro 4contém o conceito de velocidade, escopo e ritmo de

internacionalização, autor, medida e resultados esperados como parâmetro neste

trabalho.

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Quadro 04: Conceito de velocidade, escopo e ritmo, autor, medida e o resultado esperado.

INTERNACIONALIZAÇÃO CONCEITO AUTOR(ES) MEDIDA RESULTADO ESPERADO

Velocidade

O aumento, ao longo do tempo, do número e da variedade entre os países onde a empresa está ativamente atuando.

Vermeulen e Barkema, 2002; Abdellaif et al. 2010; Kontinen e Ojala, 2010; Lin, 2012.

Nº de expansões internacionais dentro de um determinado período de tempo;

Se < 2 = baixa;

de 2 a 5 =média

Se > de 5 = alta.

Escopo

Processo de expansão da extensão geográfica de uma empresa no exterior.

Vermeulen e Barkema, 2002; Naldi e Nordquist, 2008; Kontinen e Ojala, 2010, Kuivalainen et al., 2012; Lin, 2012.

Nº de países nos quais a empresa opera no exterior;

Nº de subsidiárias no exterior.

Se <20= Estreito

De 20 a 40= Médio

Se > 40= Amplo

Ritmo

Os intervalos entre o estabelecimento de subsidiárias estrangeiras; a regularidade do processo, como as operações são estabelecidas no exterior em um período de tempo, ou a irregularidade do padrão de expansão no exterior em um período de tempo.

Vermeulen e Barkema, 2002; Lin, 2012.

Regularidade: Nº regular de subsidiárias, fábricas no exterior em um período de 10 anos;

Irregularidade: Nº irregular de subsidiárias, fábricas para o exterior em 10 anos.

Regular: em 10 anos, no mínimo de 1 filial por ano;

Irregular:em 10 anos, o mínimo de 1 filial não constante.

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa)

Por fim, vale ressaltar que este trabalho tem o propósito de descrever o

processo de internacionalização em termos de velocidade, escopo e ritmo nas

empresas familiares e contribuir com insights teórico-empíricos acerca deste

processo dinâmico e importante no cenário brasileiro e internacional.

2.3 Internacionalização de Empresas Familiares

As EFs são a forma predominante de empresa no mundo. As empresas que

possuem o controle familiar constituem uma forma organizacional peculiar e este

caráter especial tem consequências positivas e negativas (GERSICK et al., 1997).

A atenção crescente de estudiosos sobre a internacionalização das EFs

também coloca ênfase na complexidade e importância que a abertura para os

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mercados internacionais possa constituir para este tipo de organização e tem havido

uma chamada para mais pesquisas sobre esta questão (GRAVES; THOMAS, 2008;

SCIASCIA et al., 2010).

Algumas pesquisas e principalmente evidências narrativas sugerem que as

EFs são relativamente lentas para a internacionalização (FERNANDEZ; NIETO,

2006; GRAVES; THOMAS, 2006; OKOROAFO, 1999; SEGARO, 2010), porém a

evidência empírica mostra que estas são encontradas com sucesso no mercado

competitivo internacional (ZAHRA, 2003). A internacionalização de EF é um

processo de aprendizado incremental e dinâmico, no qual conhecimento experiencial

é uma variável importante (CASILLAS et al., 2010), porém a participação da família

influencia diretamente o processo de internacionalização (CASILLAS; ACEDO,

2005).

No entanto, na visão de Fernández e Nieto (2005), a presença de famílias no

controle das empresas, de certa forma, inibe o processo de internacionalização.

Gallo e Sveen (1991) argumentam que famílias controladoras de uma

companhia podem ser relutantes quanto à internacionalização, dada a dificuldade de

adaptação do modelo de negócios local para uma nova cultura ou região.

Bhaumik, Driffield e Pal (2010) complementam que, em uma empresa

tipicamente familiar, na qual os diretores e os gerentes também são membros da

família, dificilmente as habilidades e as competências requeridas para a expansão

internacional são encontradas na direção. Portanto, a internacionalização neste caso

requer uma razoável transferência de poder de decisão para profissionais do

mercado, os quais não possuem vínculo familiar, fato este não desejável em um

ambiente institucional em que os direitos de propriedade são fracos e no qual os

contratos informais prevalecem.

Zahra (2003, 2005) estudou a interação de envolvimento da família e da

internacionalização das empresas industriais dos Estados Unidos. Ela concluiu que

o envolvimento da família está positivamente relacionado com a constituição de EF

em alianças internacionais e dos mercados estrangeiros. Também constatou que a

propriedade e o envolvimento familiar apoiam a internacionalização porque os

membros da família agem como bons administradores de seus recursos existentes

(ZAHRA, 2003; 2005).

Gallo e Pont (1993) desenvolveram um estudo na Espanha para investigar

fatores chaves no processo de internacionalização de EF, divididos em fatores

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estratégicos, características da família e atitudes da alta administração, como pode

ser verificado no Quadro 5.

Quadro 05: Fatores chaves no processo de internacionalização de EF FATORES CHAVES NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS FAMILIARES

FATORES VARIÁVEIS RÍGIDAS VARIÁVEIS ELÁSTICAS

Fatores

Estratégicos

Maior oportunidade de crescimento do mercado interno; Produtos e serviços orientados para o cliente doméstico; Nível inadequado de tecnologia para mercados externos; Falta de recursos financeiros; Resistência da comunidade para a internacionalização do negócio.

Risco financeiro reduzido se operar somente em um país.

Características

da família

Falta de membros da família preparados para a internacionalização; Falta de gestores não membros da família preparados para a internacionalização; Resistência da equipe gerencial para a internacionalização. Família com pequena experiência e cultura internacional.

Criação de oportunidades de emprego por outros membros da família por meio da internacionalização. Preparação internacional para membros jovens da família; Membros da família residindo em outros países.

Atitudes da Alta

Administração

Relutância para fazer alianças; Falta de suporte do board de diretores para a internacionalização. Conflito de poder interno; Principais proprietários contra a internacionalização.

Concentração nas mãos de um indivíduo interessado na internacionalização Visão de longo prazo; Rapidez no processo decisório; Membros da família interessados na internacionalização; Possibilidades de alianças com outros negócios da família.

Fonte: Gallo e Pont (1993).

Evidências recentes sugerem três caminhos principais para a

internacionalização das EFs: 1) o nível de comprometimento com a

internacionalização, 2) os recursos financeiros disponíveis, e 3) a capacidade de

realizar e usar esses recursos financeiros para desenvolver as capacidades

necessárias (GRAVES; THOMAS, 2008).

A seguir, a internacionalização da EF é apresentada, analisando a influência

da propriedade familiar e do comprometimento familiar no processo de

internacionalização.

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2.3.1 A Propriedade Familiar na Internacionalização

A propriedade é a chave fundamental para a vida de negócios da empresa e

permite fazer uma distinção clara entre EF e empresas não familiares. O

envolvimento da família na propriedade, na gestão e na governança pode resultar no

desenvolvimento de recursos únicos para a EF (HABBERSHON; WILLIAMS, 1999).

A grande maioria dos estudos utiliza um percentual mínimo de propriedade

em combinação com a exigência de pelo menos um membro da família estar em

uma posição de gestão na empresa como das características definidoras de uma

empresa familiar (GRAVES; THOMAS, 2006; CLAVER; RIENDA; QUER, 2008;

ABDELLATIF; AMANN; JAUSSAUD, 2010).

No entanto, a propriedade da EF tem um significado especial porque envolve

um forte apelo "pessoal". Os proprietários familiares estão conscientes de que a

propriedade não engloba apenas o capital social e cultural, mas também as

pessoas, os produtos, as responsabilidades de compromisso pessoal com a

empresa, bem como para a comunidade, etc. A propriedade de uma EF é uma

propriedade construída e desenvolvida pela família ao longo de várias gerações

(MANDL, 2008).

Gallo e Estapè (1992) constataram que as EFs são mais lentas e menos

propensas para internacionalizar-se do que as empresas não familiares. Suas

descobertas, com base em dados levantados nas empresas espanholas, foram

confirmadas por Okoroafo (1999) nos Estados Unidos. A falta de recursos foi

encontrada como razão por que as EFs tendem a internacionalizar mais tarde e mais

lentamente do que as empresas não familiares (GALLO; GARCIA-PONT, 1996).

Zahra (2003) identificou uma relação positiva entre o envolvimento da gestão

da família e a internacionalização, bem como um efeito de interação da propriedade

familiar e do envolvimento familiar influenciando a internacionalização. A autora foi

quem primeiramente distinguiu entre a propriedade familiar do envolvimento familiar,

sendo seus resultados contrastantes com a literatura tradicional. Pela amostragem

de 409 empresas industriais com sede nos Estados Unidos, a autora descobriu que

a propriedade influencia positivamente as vendas internacionais em escala e

escopo.

Os proprietários das EFs poderão decidir convidar acionistas estrangeiros,

fazer uma joint venture e promover o aumento de conhecimentos e capacidades

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sobre mercados internacionais, apoiando assim as complexas estratégias de

internacionalização (LIN, 2012).

Diversos autores consideram que a presença de um acionista estrangeiro

pode ser uma importante fonte de conhecimento dos mercados estrangeiros,

experiência internacional e contatos comerciais e afetar positivamente a

internacionalização (FERNANDEZ; NIETO, 2006; CERRATO; PIVA, 2012).

Lin (2012) analisou os efeitos da propriedade familiar no que diz respeito aos

processos de internacionalização de empresas em: velocidade de

internacionalização, escopo geográfico e ritmo da internacionalização. Esta pesquisa

foi realizada em Taiwan, usando dados longitudinais (2000-2008) das 665 empresas

de capital aberto. Encontrou que as empresas familiares apresentaram; 1)

velocidade alta, 2) escopo estreito, e 3) ritmo irregular de internacionalização. Estes

resultados destacam que a propriedade da família tem influências significativas em

processos de internacionalização de uma empresa.

A literatura e os achados de Lin (2012) sugerem que nas empresas pode-se

optar por um escopo estreito ou um ritmo irregular de internacionalização como uma

forma de manter a riqueza da família no longo prazo. A propriedade familiar tem uma

relação positiva com a velocidade de internacionalização das multinacionais,

enquanto tem um efeito negativo sobre o escopo e o ritmo de internacionalização.

Complementando os resultados de Lin (2012), Calabrò e Mussolino (2011)

afirmam que, quando uma família tem a intenção de alargar o escopo da

internacionalização, ela deve primeiramente formar redes de relacionamentos com

empresas estrangeiras que possuem capacidades internacionais, as quais podem

ajudar a comprometer recursos financeiros suficientes para programar uma

estratégia de internacionalização.

Chu (2011), em estudo realizado na Tailândia com 786 pequenas, médias e

grandes empresas no período de 2002 a 2007, confirmou que a propriedade e o

envolvimento da família estão associados ao desempenho positivo. A associação

positiva é forte quando membros da família estão na condição de CEOs, gerentes,

presidentes ou diretores das empresas; no entanto, a associação torna-se fraca

quando membros da família não estão envolvidos na gestão da empresa ou

controle, contrastando trabalhos realizados anteriormente, como os de Gallo e

Estapè (1992) e Orokoafo (1999).

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Ainda mais recente, há a contribuição dos autores Sciascia et al. (2012) sobre

os resultados contrastantes da propriedade familiar. Os autores encontraram uma

relação curvilínea em forma de “U” invertido entre a relação de propriedade da

família e a intensidade internacional. A pesquisa indica que o envolvimento da

família e a propriedade familiar são importantes para a internacionalização das EFs,

porém seus efeitos precisos ainda não estão bem claros (KONTINEN; OJALA, 2010;

SCIASCIA et al., 2012a, 2012b).

A definição conceitual adotada nesta dissertação para a propriedade familiar é

quando a família é a proprietária, possuindo a maioria das ações (GERSICK et al.,

1997).

Quadro 06: Construto Propriedade Familiar e Indicativo

CONSTRUTO DEFINIÇÃO

CONCEITUAL AUTOR(ES) INDICATIVO

PROPRIEDADE FAMILIAR

Quando a família é a proprietária possuindo a maioria das ações.

Gersick et al., 1997; Casillas e Acedo, 2005; Fernández e Nieto, 2005.

% de ações em poder da família proprietária.

Fonte: O Autor (baseado nos dados da pesquisa)

2.3.2 O Comprometimento Familiar na Internacionalização

Ao medir o comprometimento familiar, Gallo et al. (2001) definiram-no como o

grau de devoção e lealdade dos membros da família para a sobrevivência e o

desenvolvimento da EF.

É importante que os membros da família estejam comprometidos desde os

primeiros estágios com a continuidade dos negócios em longo prazo e com

responsabilidade social. Isto significa dizer, em primeiro lugar, que o empenho

demonstrado pelos membros da família deve ser mais profundo do que apenas um

comprometimento financeiro (GALLO et al.,2001) e o comprometimento de uma

família expressa a visão de negócios como característica chave que define a EF

(CHRISMAN et al., 2010).

Na literatura existente, o que faz uma EF ser diferente de uma empresa não

familiar é o envolvimento da família na propriedade e na gestão da empresa

(HANDLER, 1989) e os autores Chua et al. (1999) argumentam que o que faz uma

EF ser única é o padrão em que a propriedade, a governança, a gestão e a

sucessão influenciam substancialmente as metas da empresa, as suas estratégias,

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a sua estrutura e a forma em que cada padrão é formulado, concebido e

implementado.

Uma das características importantes relacionada com os negócios familiares

é a forte inter-relação entre a família e os negócios e onde a família está

formalmente na gestão da empresa ou informalmente, por meio de aconselhamento

e consultoria influenciando o negócio (MANDL, 2008).

No artigo publicado na International Business Review, dos autores Calabrò et

al. (2012), os resultados sugerem que o envolvimento da família faz a diferença

quando se trata de decisões de internacionalização. Este resultado está em linha

com estudos anteriores, sugerindo a importância desta variável ao investigar os

processos de internacionalização das empresas familiares (ZAHRA, 2003).

Ainda nesse contexto, segundo Zahra (2003), ter uma empresa familiar

oferece certas vantagens, como a orientação de longo prazo, a flexibilidade, a

tomada de decisão rápida e uma cultura familiar que proporciona uma sensação de

orgulho e compromisso com a empresa.

Claver, Rienda e Quer (2009) mostraram que, na visão de longo prazo, a

presença de gestores não familiares na EF é positivamente relacionada com os

modos de entrada com maior comprometimento internacional, apesar de problemas

de autofinanciamento poder limitar tal comprometimento. Outro fator importante da

influência familiar é a orientação de longo prazo da EF, que supostamente tem um

efeito positivo sobre a internacionalização (CLAVER et al., 2008, 2009), como o

crescimento sustentável por meio das fronteiras, ajudando a fortalecer o negócio no

longo prazo.

No estudo realizado pelo Austrian Institute for SME Research (2008), as

principais características das EFs apontadas por este estudo na UE, por um lado,

têm mostrado alguns aspectos que podem ser considerados específicos para as

EFs, como a influência da família na propriedade e no controle de

gestão/estratégica. Outras características utilizadas para diferenciar EF de empresas

não familiares são a participação ativa de membros da família em atividades diárias

da empresa, contribuição da empresa para a geração de renda familiar, e

abordagens intergeracionais. Muitas das definições propostas sobre a EF (incluindo

a da UE) são de natureza operacional, usando os critérios do envolvimento da

família na empresa como, por exemplo, a propriedade, a gestão, a sucessão

geracional (KMU FORSCHUNG AUSTRIA, 2008).

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A definição conceitual adotada nesta dissertação para o comprometimento

familiar é quando a família está ativa e comprometida na empresa, no conselho, no

dia a dia da gestão (ASTRACHAN et al., 2002; CHUA et al., 1999).

Quadro 07: Construto Comprometimento Familiar e os Indicativos

CONSTRUTO DEFINIÇÃO

CONCEITUAL AUTOR(ES) INDICATIVO

COMPROMETIMENTO

FAMILAIR

Quando a família está

ativa e comprometida

na empresa, no

conselho, no dia a dia

da gestão.

Chua et al., 1999;

Astrachan et al., 2002;

Casillas e Acedo,

2005;

Chrisman et al. 2005; George, Wiklund e Zahra, 2005.

Nº de membros da família ativos na gestão;

Nº de membros da família no Conselho de Administração;

Nº de gerações atuais na empresa;

Holding.

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

Outros fatores foram encontrados na literatura que podem influenciar o

processo de internacionalização das EFs e são destacados no Quadro 8como

fatores que restringem as EFs, conforme destacado em uma ampla revisão de

literatura sobre a pesquisa realizada acerca da internacionalização de EF

(KONTINEN; OJALA, 2010). Os estudos anteriores, em grande parte, estavam

voltados para o processo de internacionalização, focando os fatores que facilitam ou

inibem este processo e as questões gerenciais e estratégicas em torno da adoção

de tal estratégia.

No resumo preparado por Kontinen e Ojala (2010), os autores demonstram

que há fatores positivos e negativos influenciando o processo de internacionalização

de EF. Os principais resultados das pesquisas realizadas pelos autores nesta área

focando pela primeira vez as dimensões da velocidade, do escopo e do ritmo de

internacionalização estão no Quadro 8.

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Quadro 08: Principais resultados das publicações e autores AUTOR (ES)

(ANO) PRINCIPAIS RESULTADOS (FINDINGS)

Gallo and Sveen (1991)

Os fatores que restringem a EF a se internacionalizar são, principalmente, organizacionais; incluem relutância em aceitar especialistas externos, dificuldades na contratação de novos gerentes com responsabilidade internacional, medo de perder o controle e sistemas de informação e controle pouco desenvolvidos.

Gallo and Pont (1996)

Fatores que restringem a EF a se internacionalizar incluem: orientação do produto para o mercado interno, falta de recursos financeiros ou familiares preparados para a internacionalização, resistência da gestão para a internacionalização, uma relutância em formar alianças, disputas de poder intra-firmas. Os facilitadores são: a possibilidade de oportunidades de trabalho para outros membros da família por meio da internacionalização, membros da família que residem em vários países, uma orientação em longo prazo, velocidade na tomada de decisões, e possibilidade de alianças com outras empresas.

Okoroafo (1999)

EF monitora o ambiente internacional irregularmente, não integrando desenvolvimentos globais em suas decisões domésticas. Se uma empresa familiar não se envolve em negócios internacionais na primeira ou na segunda geração, é improvável que o faça na terceira geração.

Casillas e Acedo (2005)

Quanto maior for percepção de riscos, menor nível de internacionalização da empresa. Quanto mais antiga for empresa familiar, maior será o seu tamanho e o seu nível de internacionalização.

Fernandez e Nieto (2006)

A chegada das novas gerações tem uma influência positiva sobre a internacionalização das empresas familiares; EFs são menos propensas a se internacionalizar do que empresas não familiares.

George et al. (2005)

A propriedade e a posse institucional aumentam a escala de internacionalização, o que indica a importância do papel desses investidores apostar neste tipo de empresa. Por outro lado, CEO e a gestão gerencial aumentam a aversão ao risco empresarial, e também o alcance e a escala de internacionalização.

Graves and Thomas (2008)

A maioria das PMEs familiares se internacionaliza de acordo com o modelo de Uppsala, mas algumas se internacionalizam rapidamente, consideradas como renascidas globais, por exemplo, no contexto da sucessão. Os três principais determinantes para a internacionalização das EFs foram o nível de comprometimento para a internacionalização, os recursos financeiros disponíveis, bem como a capacidade de comprometer e usar esses recursos financeiros para desenvolver as capacidades exigidas.

Wen-Ting Lin (2012)

Usando dados longitudinais (2000-2008) das 665 empresas de capital aberto, em Taiwan, optaram por: 1) velocidade alta, 2) escopo estreito e 3) ritmo irregular de internacionalização quando eram de alto nível de propriedade familiar. Estes resultados destacam que a propriedade da família tem influências significativas em processos de internacionalização de uma empresa.

Sciascia et al. (2012)

Os autores encontraram uma relação curvilínea em forma de “U” invertido entre a relação de propriedade da família e a intensidade internacional. A existente pesquisa sobre internacionalização indica que o envolvimento da família e a propriedade familiar são importantes para a internacionalização das EFs, porém os seus efeitos precisos ainda não estão bem claros.

Calabrò et al. (2012)

O envolvimento da família está associado a uma maior percepção de risco das atividades de internacionalização e faz a diferença quando se trata de decisões de internacionalização. Os membros da família darão mais apoio e compartilham os principais riscos relacionados à decisão de internacionalizar por meio de atividades de exportação. Nenhuma relação direta é observada entre o senso de família e seu nível de internacionalização.

Fonte: Kontinen e Ojala (2010).

Para Kontinen e Ojala (2010), o principal resultado que emerge da revisão de

literatura são os fatores positivos que influenciam a internacionalização, como a

visão de longo prazo e a velocidade na tomada de decisões pelos investimentos da

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família nesse processo, as quais são características das empresas familiares, bem

como o senso de família (familiness) e o conjunto de recursos próprios atribuíveis à

presença da família na gestão da empresa (HABBERSHON; WILLIAMS, 1999).

A literatura existente carece de um quadro integrador que visa incorporar

características fundamentais distintivas que marcam processos de

internacionalização de EFs (KONTINEN; OJALA, 2010).

Diante do exposto na literatura e com base nos achados dos autores citados

nesta pesquisa, duas suposições são elencadas para posteriormente comparar com

os resultados esperados.

Qual impacto esperado da propriedade e do comprometimento da família na

gestão da empresa sobre a velocidade, o escopo e o ritmo do processo de

internacionalização?

Desta forma, espera-se que:

1ª suposição: > aversão ao risco, > influência de membros familiares, > Nº

ações torna as decisões mais lentas, maior conservadorismo da família (manter

a riqueza no longo prazo) e tem um efeito negativo sobre o nº de entrada nos

países, ou seja, a velocidade variando entre lenta e estreita, o escopo entre

estreito e médio e o ritmo irregular de internacionalização.

2ª suposição: < aversão ao risco, < influência de membros familiares, < Nº

ações torna as decisões mais rápidas, menor conservadorismo da família e tem

um efeito positivo sobre o nº de entrada nos países, ou seja, a velocidade

variando entre estreita e alta, o escopo entre médio e alto da amplitude

geográfica e o ritmo regular de internacionalização.

Na literatura, os resultados de Lin (2012) indicam que as empresas, quando

eram de propriedade familiar, se internacionalizaram com um ritmo irregular, uma

velocidade alta e um escopo estreito. Os achados do autor sugerem que, nas

empresas, pode-se optar por um escopo estreito ou um ritmo irregular de

internacionalização como uma forma de manter a riqueza da família no longo prazo.

A propriedade familiar tem uma relação positiva com a velocidade de

internacionalização, enquanto tem um efeito negativo sobre o escopo e o ritmo de

internacionalização e, na visão de Zahra (2003; 2005), a propriedade familiar

influencia positivamente as vendas internacionais em escala e escopo.

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Chu (2011) confirmou que a propriedade e o envolvimento da família estão

associados ao desempenho positivo, quando membros da família estão na condição

de CEOs, gerentes, presidentes ou diretores das empresas; Zahra (2003) e Claver

et al. (2008; 2009) compartilham, como vantagem de ser uma EF, a orientação de

longo prazo, a flexibilidade e a tomada de decisão rápida.

Para Kontinen e Ojala (2010), o principal resultado que emerge da revisão de

literatura são os fatores positivos que influenciam a internacionalização, como a

visão de longo prazo e a velocidade na tomada de decisões pelos investimentos da

família nesse processo, as quais são características das EFs, bem como o senso de

família (familiness) e o conjunto de recursos próprios atribuíveis à presença da

família na gestão da empresa (HABBERSHON; WILLIAMS, 1999).

Assim, espera-se neste trabalho, que a influência familiar sobre o processo de

internacionalização seja maior quando o número de membros da família na

gestão/conselho seja maior, bem como um maior número de ações em poder da

família. Isto pode significar maior aversão ao risco, tornar a decisão mais

lenta/conservadora e manter uma velocidade lenta, escopo lento e um ritmo irregular

no processo internacional.

Da mesma forma, espera-se que, se a influência familiar for menor, devido a

um menor número de membros familiares e menor número de ações em poder da

família proprietária, que o risco seja menor e as decisões sejam mais rápidas,

mantendo uma velocidade mais constante, ou seja, alta, escopo médio e ritmo

regular de internacionalização.

2.3.3 Internacionalização de EFs Brasileiras

No Brasil, os primeiros estudos sobre EF apareceram no início da década de

1990, destacando-se o pioneirismo de João Bosco Lodi, a partir de trabalhos de

consultoria empresariais que focavam os problemas de sucessão. Fleury e Fleury

(2012), afirmam que somente a partir do século XX, houve a evolução da

internacionalização de empresas brasileiras que estavam inseridas em um contexto

onde as incertezas e a descontinuidade reinavam. O interesse de pesquisadores

brasileiros pela discussão teórica sobre EF somente iniciaram no final da década de

1990 (GRZYBOVSKI, 2007).

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A pesquisada International Family Enterprise Research Academy revelou que

as EFs no Brasil correspondem a mais de 90%da quantidade de empresas privadas,

respondendo por 65% do produto nacional bruto (PIB) e representam mais de 60%

dos empregos das empresas privadas (IFERA, 2003).

Leone (2005) cita algumas características da empresa familiar brasileira, em

função das suas especificidades: a) são mais centralizadas, com estruturas

organizacionais simples, sendo necessárias poucas unidades ou funções

administrativas; b) possuem um menor controle sobre seu ambiente externo, por isso

são muito dependentes dos recursos que lhes são disponíveis; c) o papel do

dirigente é baseado na propriedade, sendo que algumas vezes ocorre uma mistura

do patrimônio social e o do dirigente, trazendo risco aos capitais dos próprios

administradores; d) possuem um nível de maturidade organizacional muito baixo, em

que os processos de planejamento e controle são pouco formalizados e

quantificados.

A edição da PricewaterhouseCoopers (PwC, 2013) sobre a pesquisa referente

à EF ouviu quase 2 mil organizações de todo o mundo, tanto de países

desenvolvidos como de mercados emergentes. No Brasil, a média atual de vendas

para o exterior era de 9% (no mundo, são 25%), mas a pesquisa mostra que a

expectativa é de que esse percentual subisse para 15% nos cinco anos seguintes.

Quando questionados sobre os desafios que enfrentam para se tornar uma empresa

internacional, os entrevistados brasileiros citaram: concorrência (35%); questões

ligadas a pessoal (32%); cultura de negócios no exterior (23%); impacto da

internet/tecnologia (18%); contenção de custos (17%); flutuações da taxa de câmbio

(17%); situação econômica nos outros mercados (15%); regulamentações locais

(14%) e questões de logística (10%). Parcerias e alianças são uma forma poderosa

de obter conhecimentos de empresas maiores. Isso pode ser feito por meio de

acordos comerciais formais ou mesmo via redes de relacionamento

(PRICEWATERHOUSECOOPERS, 2013).

A maioria dos estudos sobre internacionalização de empresas baseia-se em

países desenvolvidos, cujo ambiente institucional é diferente da realidade das

economias emergentes, como é o caso do Brasil (RAMAMURTI, 2009b).

Considerar o cenário geopolítico atual é imprescindível para a análise das

empresas de países emergentes – como o caso do Brasil - frente à

internacionalização, pois as empresas estão em um contexto específico que difere

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60

bastante do contexto histórico, competitivo e institucional das firmas tradicionais.

Dados da United Nation Conference on Trade and Development (UNCTAD) indicam

o aumento de investimentos estrangeiros diretos em economias emergentes no

cenário global.

De acordo com Ramamurti e Singh (2009), diferenças de contexto têm as

seguintes dimensões: nível de desenvolvimento do país, fraqueza institucional,

industrialização tardia e rápido crescimento do mercado.

Os países emergentes não têm características homogêneas e, por isso, nem

sempre as teorias sobre internacionalização vão conseguir explicar o que acontece

nas empresas destes países, uma vez que a teoria da Escola de Uppsala foi

construída com a experiência de internacionalização de empresas de países

desenvolvidos, principalmente da América do Norte e Europa (BARTLETT;

GHOSHAL, 2000).

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo tem como objetivo apresentar os objetivos e as questões de

pesquisa, o método usado do estudo de caso, a coleta de dados, as etapas dos

estudos, o protocolo e os procedimentos na coleta de dados, a validade e a

confiabilidade e, por fim, a definição conceitual e operacional dos termos utilizados

nesta dissertação.

3.1 Objetivos e Questões de Pesquisa

A pesquisa busca um aprofundamento da temática acerca da

internacionalização em EFs catarinenses, especificamente quanto à influência e ao

envolvimento da propriedade e do comprometimento familiar no processo de

internacionalização.

Esta dissertação tem o objetivo, como já colocado no capítulo de introdução,

analisar o efeito da propriedade e do comprometimento no processo de

internacionalização da empresa familiar em termos de velocidade, escopo e ritmo.

Esta questão da pesquisa central se desdobra em três questões de pesquisa

orientadora do estudo, já apresentadas na introdução e retomadas a seguir:

Apresentar a internacionalização das Empresas Familiares de Santa Catarina.

Verificar a velocidade, o escopo e o ritmo do processo de internacionalização

das EFs.

Identificar o efeito da propriedade e do comprometimento da família na

internacionalização das empresas investigadas.

Analisar as características das EFs que influenciam o processo de

internacionalização em termos da velocidade, do escopo e do ritmo.

Além dos objetivos específicos, foram elencados alguns pressupostos que

visam verificar:

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Qual o impacto no processo de internacionalização das EFs em termos de:

velocidade, escopo e ritmo?

Qual o impacto de ter pessoas da família atuando diretamente ou indiretamente

no processo e na internacionalização?

Quais os mecanismos pelo qual a propriedade e o comprometimento familiar

afetam o processo de internacionalização?

3.2 Método do Estudo de Caso

Para viabilizar o atendimento dos objetivos propostos, os procedimentos de

investigação implicam a elaboração de um estudo multicaso, com abordagem

qualitativa, de caráter exploratório e descritivo, nos aspectos do levantamento de

casos e a relação com os aspectos teóricos pouco explorados e, além disso, a

storytelling, que é uma forma de coleta de dados além da triangulação.

Em função da questão de pesquisa se dirigir ao “como” (como a propriedade

e o comprometimento familiar afetam o processo de internacionalização das

empresas familiares em termos de velocidade, dispersão e ritmo), o método indicado

para esta pesquisa é o do estudo de caso, uma estratégia de investigação que se

centra na compreensão da dinâmica dentro de configurações únicas (EISENHARDT,

1989; YIN, 2010).

Este estudo se propõe a analisar um número maior de casos, o que permite

uma análise mais aprofundada e a comparação entre um número maior de

ocorrências voltadas à realidade do universo pesquisado.

Esta pesquisa é considerada qualitativa apesar de ter um objetivo

interpretativista (GODOI; BANDEIRA-DE-MELLO; SILVA, 2006), os dados são

apresentados de forma positivista (EISENHARDT, 1989), permitindo ao pesquisador

ter uma visão do fenômeno complexo em seu contexto real e dar ênfase aos

processos e aos significados (GODOI; BANDEIRA-DE-MELLO; SILVA, 2006;

CRESWELL, 2010).

Para Davel e Colbari (2003), a pesquisa qualitativa consiste no método mais

apropriado para apreender a dinamicidade das EFs, devido ao seu caráter circular e

reflexivo. Os autores consideram que a estratégia de estudo caso, quando aplicada

ao estudo de organizações familiares, permite avaliar uma situação que abrange

família e empresa em seu contexto original das organizações familiares e analisar

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como essa interação acontece e como evolui ao longo do tempo. Para compreender

isso, torna necessário considerar as diferenças de versões da realidade, as

representações, a explicação das causas, dos processos e das dinâmicas internas

das EFs. Desta forma, a profundidade das análises passa a ser mais importante do

que a simples multiplicação quantitativa de casos (DAVEL; COLBARI, 2003).

A pesquisa descritiva é um tipo de pesquisa conclusiva que tem como objetivo

a descrição de algo, descobrir e observar fenômenos, procurando descrevê-los,

classificá-los e interpretá-los (MALHOTRA, 2001). Por outro lado, esta pesquisa

também é exploratória, pois visa proporcionar maior familiaridade com o problema,

tornando-o explícito ou construindo hipóteses sobre ele (YIN, 2010).

O estudo de caso também é utilizado quando se pretende estudar um

fenômeno contemporâneo inserido em algum contexto da vida real; e é preferido

quando o foco da pesquisa está relacionado a questões de “como” ou “por que”,

implicando a explicabilidade e não apenas a descrição de fatos (YIN, 2010). Essas

situações estão de acordo com este estudo e, portanto, um estudo de caso foi a

escolha deste trabalho.

As evidências de um estudo multicaso podem ser consideradas como mais

convincente por possibilitar o estabelecimento de comparações entre os casos

analisados e a obtenção de resultados mais robustos (YIN, 2005; GODOY, 2006).

A flexibilidade no planejamento do estudo de caso e a possibilidade de

aprofundar o fenômeno estudado fazem deste método uma técnica adequada para a

condução deste estudo (YIN, 2005; GODOI; BALSINI, 2010).

Nesta dissertação, também foi utilizada a estratégia de storytelling como

procedimento para identificar as experiências vivenciadas pelo fundador, cujo tempo

do ambiente é o tempo passado. São narrativas essenciais na vida organizacional

que a abordagem do storytelling retrata (WEICK, 1973). É importante ressaltar que,

na abordagem do storytelling, é valorizado todo o processo de memória

organizacional traduzido nas histórias contadas, principalmente com o fundador ou o

percursor do processo de internacionalização nas empresas familiares estudadas, e

estas narrativas criam a experiência que levam a estratégia ser compreendida no

nível individual (ADAMSON et al., 2006).

O storytelling emerge como uma ferramenta organizacional capaz de

estimular toda a organização, revelar seus valores, crenças e atitudes, agir como um

catalisador para compreender a organização como um sistema de atividades em que

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a realidade emerge da interpretação e da atualização constantes da experiência

passada (WEICK, 1973).

A estratégia de storytelling também foi utilizada para captar episódios

específicos que passam a analisar a influência da família nas características

analisadas no processo de internacionalização em termos de velocidade, escopo e

ritmo (Figura 5).

PROPRIEDADE FAMILIAR

COMPROMETIMENTO FAMILIAR

Figura 05: Internacionalização de empresa familiar

Fonte: Do autor

Assim, realizou-se um estudo de caso múltiplo, com abordagem qualitativa,

de caráter exploratório e descritivo, cujo critério de coleta de dados se deu pela

triangulação de dados, auxiliado pela estratégia de storytelling, para identificar o

comprometimento e a propriedade no processo de internacionalização das EFs

catarinenses em termos de velocidade, escopo e ritmo.

3.2.1 Coleta de Dados

Na visão do autor Triviños (1987), a entrevista semiestruturada parte de

certos questionamentos básicos, apoiados em teorias, os quais oferecem amplo

EPISÓDIOS

ESPECÍFICOS

INTERNACIONALIZAÇÃODA EMPRESA FAMILIAR

INTERNACIONALIZAÇÃO DA EMPRESA FAMILIAR

VELOCIDADE, ESCOPO E RITMO

VELOCIDADE, ESCOPO E RITMO

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campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo, à medida que

se recebem as respostas do informante.

O uso de múltiplas fontes para esta dissertação foi utilizado com o objetivo de

dar uma visão adequada sobre o processo de internacionalização das empresas

familiares em questão cuja visão é confirmada por Yin (2003), pois o uso de fontes

múltiplas aumenta a eficácia do processo de estudo (validade de construto). Vale

ressaltar que a utilização de várias fontes de dados, a triangulação, faz com que a

pesquisa se apresente mais consistente, ampliando sua validade e confiabilidade.

Neste trabalho, o estudo de caso foi realizado com a triangulação de dados.

Esta triangulação foi realizada com entrevistas em profundidade (PATTON, 2001),

documentação e storytelling, visando a uma melhor compreensão e interpretação

dos fenômenos estudados nesta pesquisa.

Para a coleta de dados, o pesquisador buscou informações sobre as

empresas exportadoras na base de dados da FIESC (2013), e do Instituto de

Estudos e Marketing Industrial (IEMI, 2013) e identificaram-se as empresas listadas,

selecionando em seguida, as EFs de maior destaque no Estado foram identificadas.

Como unidade de análise do estudo, optou-se por uma escolha intencional,

sendo selecionadas as 20 maiores EFs exportadoras de Santa Catarina e dentre

estas, 7 EFs que aceitaram participar das entrevistas pessoais.

Neste contexto, dentre os critérios (amostragem técnica), foram identificadas

as 7 EFs, de modo que atendesse aos objetivos dessa pesquisa, ou seja, as EFs

que estavam internacionalizadas e que são de propriedade familiar. Não se delimitou

a região, o setor ou o segmento de atuação para evitar um viés de pesquisa e para

contribuir com uma análise de diferentes segmentos nas EFs que se

internacionalizaram em diferentes contextos e épocas.

As sete EFs selecionadas foram: as centenárias, Hering (Têxtil/Vestuário) e

Karsten (Têxtil cama-mesa-banho) de Blumenau-SC; a Marisol (Têxtil/Vestuário e

Moda) e a WEG (Metal/Mecânico), de Jaraguá do Sul-SC; a Rohden, em Salete-SC

(Portas de madeira); a Rudnick, em São Bento do Sul-SC (Móveis); e a Baumgarten

(Gráfica) de Blumenau-SC (Tabela 1).

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Tabela 01: Empresas selecionadas intencionalmente para o Estudo Multicaso nas EFs

EMPRESA E WEBSITE

RAMO DE

ATIVIDADE

FUNDAÇÃO GERAÇÃO FATURAMENTO em milhões de

R$ (2014) FAMÍLIA

www.baumgarten.co

m.br

Gráfica 1881 5ª Xx BAUMGARTEN

www.hering.com.br

Têxtil, Vestuário

1880 4ª e 5ª R$ 2.011,0

milhões HERING

www.karsten.com.br

Têxtil, cama-mesa-banho

1882 3ª e 4ª R$ 396,7 milhões KARSTEN

www.marisol.com.br

Têxtil, Vestuário

1964 1ª e 2ª

R$ 621 milhões DONINI

www.rohden.com.br

Madeireiro

(Portas) 1938 2ª R$ 90 milhões ROHDEN

www.rudnick.com.br

Moveleiro

(Móveis) 1938 2ª e 3ª R$ 142 milhões RUDNICK

www.weg.net/br

Metal/ Mecânico

(motor elétrico)

1961 1ª e 2ª R$ 7.840,8

milhões

WEG = WERNER RICARDO VOIGT EGGON JOÃO DA SILVA, GERALDO WERNINGHAUS

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

Algumas empresas que estavam selecionadas foram descartadas e não

foram entrevistadas pelo pesquisador em função de alguns contrapontos. A

Dudalina, que era de propriedade familiar, mas em 2014 foi adquirida por um grupo

americano e, portanto, não atendia mais aos objetivos da pesquisa; e as demais

empresas ou não se manifestaram ou não autorizaram as entrevistas.

Buscou-se concentrar em casos ricos em informações, para poder contribuir

para a compreensão mais profunda dos objetivos desta pesquisa (MERRIAM, 1998).

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3.2.2 Etapas do Estudo

As etapas do estudo com base na coleta de dados primários e secundários

foram realizadas, conforme segue:

a) elaboração da estrutura conceitual teórica: A primeira fase da pesquisa consistiu

em coletar e sistematizar informações sobre o tema da pesquisa para a

fundamentação teórica a cada uma das questões da pesquisa.

b) elaboração do protocolo das entrevistas: Com base no referencial teórico e nas

questões levantadas por outros trabalhos, já apresentados no item 2 desta

dissertação, foi elaborado o protocolo de entrevistas para os estudos de caso

c) foram coletados os dados em duas fontes: As entrevistas pessoais, em

profundidade, com os principais responsáveis da área internacional, Diretores

Presidentes do Conselho, Diretores Internacionais, Gerentes de exportação, além da

análise de dados secundários (documentos, artigos e teses já publicadas, website

da empresa, livros, relatórios das empresas, notícias sobre a empresa publicadas

em revistas e jornais).

d) Storytelling: foi utilizada com os fundadores vivos a técnica de História de vida. O

objetivo foi o de identificar pela história a concepção da internacionalização não

somente como processo, mas também como característica da visão empresarial.

e) Transcrição das entrevistas.

f) A análise dos resultados do estudo e comparação dos casos foi realizada pelo

pesquisador em conjunto com a orientadora.

g) Redação do relatório final.

3.2.3 Protocolo de Coleta de Dados

O protocolo dos estudos de caso é um roteiro elaborado para a realização das

entrevistas, que foram realizadas com questões semiestruturadas e serve como um

orientador das informações que serão coletadas na entrevista.

De acordo com Martins e Theóphilo (2009), o protocolo dos estudos de caso é

um “instrumento orientador e regulador da condução da estratégia de pesquisa”.

Trata-se de um conjunto de questões que refletem a investigação real e funcionam

com um check-list para que o investigador se atenha e se lembre das perguntas de

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pesquisa no levantamento das informações que precisam ser coletadas, bem como

as razões para coletá-las (MARTINS; THEÓPHILO, 2009).

Após a elaboração do protocolo, realizou-se o pré-teste, do roteiro com

professores do mestrado/doutorado na Univali. Logo, após identificar que o

direcionamento do protocolo estava adequado aos objetivos desta pesquisa,

realizou-se a primeira entrevista na empresa Karsten. Como o acesso era bastante

aberto nesta empresa, decidiu-se iniciar por esta para poder retornar se fosse

necessário, ou seja, para validar e ou corrigir as perguntas propostas na entrevista.

Na visão de Martins e Theóphilo (2009), a importância de fazer um pré-teste é

possibilitar a identificação de possíveis falhas, inconsistências, complexidade nas

questões formuladas, ambiguidades, perguntas embaraçosas, linguagem

inacessível, entre outras. Este é o momento reservado para o aprimoramento,

podendo inclusive ser aplicado mais de uma vez para obter mais a confiabilidade e a

validade do instrumento.

O Apêndice A apresenta o protocolo de coleta de dados. Este relaciona os

objetivos específicos com as questões de pesquisa que foram analisados. Como

enfatiza Yin (2010), as questões nessa fase da pesquisa são colocadas para nortear

o investigador. A tipologia de empresas familiares resulta de várias dimensões de

desenvolvimento específicas de uma empresa familiar. Para atender os objetivos, foi

elaborado o Apêndice A com os objetivos geral e específicos, os conceitos teóricos e

seus autores. As questões da pesquisa para cada construto que nortearam este

trabalho foram elaboradas com base nas teorias apresentadas e os seus resultados

serão apresentados posteriormente.

3.2.4Procedimentos de Coleta de Dados

Conforme já descrito anteriormente, as sete EFs em Santa Catarina foram

selecionadas intencionalmente com base nos dados pesquisados na FIESC e no

IEMI.

Em seguida foi feito o contato via telefone e por e-mail com todas as

empresas citadas na Tabela 1. Este contato teve o objetivo de, primeiramente,

checar as informações obtidas e verificar se a EF se enquadra no perfil da pesquisa,

descobrir quais são os atuais gestores do processo internacional, quem são os

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fundadores e, em seguida, checar a disponibilidade e o interesse em participar do

estudo e conceder a entrevista pessoal na empresa.

Conforme já comentado, nem todas as empresas contatadas aceitaram ou

tiveram disponibilidade em atender a solicitação, mas o retorno foi bastante positivo.

Entrevistas são uma das mais importantes fontes de evidência em estudos de

caso, e cada tipo de entrevista tem objetivos diferentes. De acordo com Yin (2003),

as entrevistas permitem obter avaliações pessoais sobre alguns acontecimentos e

podem também corroborar dados obtidos de outras fontes de pesquisa.

Embora as entrevistas sejam mais custosas em termos de tempo do

pesquisador e do entrevistado do que a aplicação de questionários, tem-se a

oportunidade única de o pesquisador estar inserido no contexto daquela empresa e

descobrir insights que possam ajudar a validação ou não das questões da pesquisa.

Os dados empíricos foram obtidos nas entrevistas junto às EFs investigadas.

As entrevistas foram realizadas nas EFs no período compreendido entre Outubro e

Dezembro do ano de 2014 e entre Janeiro e Abril do ano de 2015 devido à agenda

dos entrevistados estar bastante comprometida com viagens, reuniões, feiras, entre

outras. Como técnica, foram usadas entrevistas em profundidade, orientadas por

meio de um roteiro com questões semiestruturadas. Esta técnica metodológica

permite reunir um conjunto de evidências que possibilitam compreender o significado

que os entrevistados atribuem a questões e situações em contextos que não foram

estruturados anteriormente a partir de suposições do pesquisador (ROESCH, 2005).

A coleta de dados foi realizada em duas etapas. A primeira etapa foi a coleta

de dados secundários. Estes dados foram coletados pela análise de material

institucional, revistas, livros, balanços, relatórios anuais, artigos científicos e teses,

bem como diversas matérias publicadas nos meios de comunicação. As informações

coletadas foram todas transcritas e analisadas e somente se utilizou daquelas que

tivessem relação com o fenômeno estudado.

Na segunda etapa, foram coletados os dados primários por intermédio de um

roteiro com as perguntas de pesquisa, via elaboração de um Check-list com

questões semiestruturadas. As entrevistas pessoais nas EFs foram realizadas com:

a) executivos ligados à internacionalização da família ou não; b) uma pessoa da

família; e c) a pessoa que iniciou o processo de internacionalização, conforme

apresentado a seguir no Quadro 9.

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Pode ocorrer que a entrevista pessoal em uma determinada empresa tenha

sido feita apenas com um membro familiar, que ao mesmo tempo iniciou o processo

de internacionalização e que também poderá ser, ao mesmo tempo, o proprietário

da empresa, porém se buscaram nesses casos entrevistar outras pessoas ligadas

ao processo de internacionalização. Todas as entrevistas foram realizadas

separadamente e no total foram entrevistadas 25 pessoas, com registro gravado de

20h05min.

Na análise dos casos foram identificadas as semelhanças e as diferenças

existentes entre os casos estudados e as teorias apresentadas na revisão de

literatura. Procedeu-se à apreciação das informações relevantes coletadas nos

dados secundários e, principalmente, das obtidas nas entrevistas, à luz das teorias

de internacionalização. A lógica empregada nessa análise foi permeada pela

pergunta central de pesquisa e suas derivadas.

Em seguida, buscou-se a pessoa de contato para agendar as entrevistas em

diferentes setores de cada EFs e após ter obtido o contato da pessoa que seria

entrevistada, foi elaborada uma carta de apresentação e o agendamento das visitas

nas empresas selecionadas. O modelo da carta de apresentação se encontra no

Apêndice B.

A coleta de dados primários foi realizada por meio de entrevistas pessoais (a

maioria delas com a participação da professora orientadora), pois na entrevista gera

uma maior dedicação por parte do entrevistado. O Quadro 9 apresenta a relação dos

entrevistados nas EFs, o cargo ocupado e o tempo total de cada entrevista.

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Quadro 09: Relação das pessoas entrevistadas, cargo e tempo de entrevista nas EFs.

EMPRESA

NOMES DOS ENTREVISTADOS

CARGO OCUPADO ABREVIATURA DO

CARGO

TEMPO TOTAL (aprox.)

ENTREVISTAS

BAUMGARTEN

Ronaldo Baumgarten Fernando Gabel Christiane Iser Nebelung

Presidente Executivo Diretor Executivo Diretora de Vendas e Marketing

BAUMGARTENPRES BAUMGARTENINT BAUMGARTENMKT

01:30m

HERING

Carlos T. D´Amaral Ulrich Kuhn David Bilsland Germano Gehrke

Diretor Administrativo Diretor Internacional Gerente de Exportação Gerente Europa

HERINGADM HERINGINT HERINGEXP HERINGEUR

03:10m

KARSTEN

João Karsten Neto Carlos Odebrecht Alwin Rauh Neto José De Pin Wilhelm Schwarzien

Presidente Conselho Vice-presidente Cons. Diretor Comercial Gerente Exportação Diretor Europeu

KARSTENPRES KARSTENVICE KARSTENDIR KARSTENEXP KARSTENINT

04:45m

MARISOL Giuliano Donini Pedro Donini

Presidente Executivo Fundador da empresa

MARISOLPRES MARISOLFUND

02:00m

ROHDEN Lino Rohden Flavio K. Rohden Lenuir Kniss

Diretor Presidente Gerente Comercial Trader Exportação

ROHDENPRES ROHDENCOM ROHDENEXP

01:40m

RUDNICK

Ingomar Rudnick Mário Nenevê Roni Jochem Aroldo P. Jeller Jr.

Presidente Conselho Membro do Conselho Gerente de Exportação Trader Exportação

RUDNICKPRES RUDNICKMEM RUDNICKEXP RUDNICKTRA

03:50m

WEG

Werner R. Voigt Décio da silva Luis G. Iensen Mauro Tusset

Fundador da Weg Presidente Conselho Diretor Internacional Chefe Marketing Int.

WEGFUND WEGPRES WEGINT WEGMKT

04:30m

Total: 25 pessoas 20h05min

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

3.2.5 Validade e Confiabilidade

O principal objetivo de estudo de caso qualitativo, segundo Creswell (2010), é

delinear uma interpretação única de eventos empíricos. Deste modo, os métodos de

validação para estudos qualitativos têm o objetivo de prover interpretações honestas

e informação autêntica.

As entrevistas semiestruturadas foram todas gravadas com o consentimento

dos entrevistados, o que facilitou a transcrição dos dados e a veracidade dos fatos e

permitiu que algumas imprecisões nas anotações, feitas durante as entrevistas,

fossem eliminadas ou corrigidas (GODOI; MATTOS, 2006).

Quando o entrevistado julgou necessário, foram realizadas alterações e

novamente levadas até o entrevistado (por e-mail), para que não houvesse dúvidas

ou incertezas sobre o conteúdo do discurso colhido e registrado e também para

validação da fidedignidade das fontes e a memória dos entrevistados. Este processo

é caracterizado como critério de “validação comunicativa” em pesquisa qualitativa

(BAUER; GASKELL, 2002).

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3.3 Definição Conceitual e Operacional dos Termos

A seguir, o Quadro 10 demonstra a definição conceitual e operacional do

Processo de Internacionalização em termos de velocidade, escopo e ritmo, a

propriedade e o comprometimento familiar e as suas respectivas definições

conceitual e operacional, os autores, bem como a escala de medidas para cada

variável analisada, embasados nas teorias de internacionalização, que nortearam

este trabalho de Dissertação. No Apêndice C, está o resumo de todas as variáveis

das sete empresas familiares analisadas.

A internacionalização das sete EFs ocorreu em diferentes décadas, cada qual

utilizando diferentes estratégias. Foi considerada na análise de cada EF a fase mais

internacionalizada, pois cada EF teve um período diferente de acesso ao mercado

externo. Assim, para tal análise considerou-se a década de maior desempenho em

termos da porcentagem de participação da exportação no faturamento.

Para medir a velocidade de internacionalização, foi dividido o número de

países estrangeiros de exportação pelo número de anos da expansão internacional

de cada EF. O período analisado variou entre 2 a 10 anos. A EF Baumgarten se

internacionalizou nos últimos 2 anos (2012-2014), sendo considerada esta a fase

mais internacionalizada e nas demais seis EFs foi considerado o período de 10

anos, isto é, a década de maior desempenho em termos da porcentagem de

participação da exportação no faturamento. Com base na análise feita pelos autores

Vermeulen e Barkema (2002) e Lin (2012), se v < 2 = lenta; de v=2 a 5= média e se

v > 5 alta velocidade de expansão internacional (Quadro 10).

Quanto ao escopo geográfico, foi analisado sob a fase mais

internacionalizada de cada EF, ou seja, o âmbito geográfico em termos do número

de países estrangeiros em que as EFs operam (LIN, 2012; KUIVALAINEN et al.,

2012).

Para medir o escopo, calculou-se pela soma total do número de países

estrangeiros de exportação das EFs pesquisadas na sua fase mais

internacionalizada (= total de 279 países), dividido pelas 7 EFs, apresentando os

seguintes resultados: média= 40 países e a média da média=20 países,

sintetizando, se o escopo for <20 países= Estreito, de 20 a 40 países= Médio e >

40 países= Amplo. Está adaptada dos estudos de Lin (2012) - (Quadro 10).

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Quanto ao ritmo de expansão internacional, é considerada uma expansão

rítmica regular quando há a abertura de uma filial no exterior a cada ano; e uma

expansão rítmica é irregular quando a abertura de filiais no exterior não foi

uniformemente distribuída (VERMEULEN; BARKEMA, 2002). Os autores sugerem

que as empresas sigam mais processos rítmicos de internacionalização, tendendo a

estabelecer unidades em mercados estrangeiros, como uma subsidiária por ano e

analisaram um período de 10 anos, por exemplo (Quadro 10).

Os procedimentos acima descritos foram utilizados para facilitar a

identificação dos objetivos da presente pesquisa, tornado a análise do estudo de

caso positivista.

Pukall e Calabrò (2013) fizeram uma revisão sistemática e crítica examinando

72 artigos publicados (1980-2012) sobre a Internacionalização das EFs. Em geral,

parece haver uma gap entre estudos empíricos quantitativos que utilizam medidas

comparativamente sofisticadas para a avaliação do envolvimento da família, e

estudos de caso qualitativos. Ambos os tipos de análise trazem informações

valiosas, mas especialmente para os estudos quantitativos falta alguma sofisticação

relativa a medidas de envolvimento da família, tornando difícil deduzir os efeitos

relacionados à influência da família sobre a internacionalização da empresa.

A seguir o Quadro 10 com a apresentação dos conceitos e a escala de

medida.

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Quadro 10: Definição Conceitual e Operacional das Características Analisadas PROCESSO DE

INTERNACIONALIZAÇÃO DEFINIÇÃO CONCEITUAL AUTOR(ES)

DEFINIÇÃO OPERACIONAL

(INDICADORES) ESCALA DE MEDIDA

INTERNACIONALIZAÇÃO

O grau de internacionalização é a extensão na qual uma empresa tem negócios fora de seu país de origem.

Welch e Luostarinen, 1988; Calof e Beamish, 1995.

Profundidade de expansão (vendas externas na receita total, % de participação na exportação);

Abrangência externa (Nº de países).

% do faturamento no mercado externo.

VELOCIDADE DE INTERNACIONALIZAÇÃO

O tempo e a rapidez com que as empresas espalham suas atividades internacionais entre os diferentes mercados dos países.

Vermeulen e Barkema, 2002, Abdellaif et al.2010; Kontinen e Ojala, 2010; Lin, 2012.

Nº de expansões internacionais de exportação que a empresa realiza dentro de um determinado período de tempo (2 a 10 anos);

Divisão do número de países estrangeiros de exportação pelo número de anos da expansão internacional de cada EF.

Se < 2,0= lenta; de =2 a 5= média e > 5 alta.

ESCOPO DE INTERNACIONALIZAÇÃO

O grau de expansão da extensão geográfica de uma empresa no exterior.

Vermeulen e Barkema, 2002; Naldi e Nordquist, 2008; Kontinen e Ojala, 2010, Kuivalainen et al., 2012; Lin, 2012.

Nº de países para os quais a empresa exporta;

Nº de países em que a empresa tem subsidiárias de vendas.

Se <20= estreito; De 20 a 40= médio Se > 40= amplo

RITMO DE INTERNACIONALIZAÇÃO

O grau de regularidade do processo, como as operações são estabelecidas no exterior em um período de tempo, ou a irregularidade do padrão de expansão no exterior em um período de tempo.

Vermeulen e Barkema, 2002; Lin, 2012.

Nº de subsidiárias / fabricas no exterior em um período de tempo (10 anos);

Regularidade ou irregularidade ao padrão da expansão para o exterior.

Regular: em 10 anos: mínimo de uma filial externa por ano;

Irregular: em 10 anos, padrão acima não uniforme.

PROPRIEDADE FAMILIAR

Quando a família é a proprietária, possuindo a maioria das ações.

Gersick et al., 1997; Casillas

e Acedo, 2005; Fernández e Nieto, 2005;

% de ações em poder da família

proprietária. % ações

COMPROMETIMENTO FAMILIAR

Quando a família está ativa e comprometida na empresa, no conselho, no dia a dia da gestão.

Chua et al., 1999; Astrachan et al., 2002; Casillas e Acedo, 2005; Chrisman et. al. 2005; George, Wiklund e Zahra, 2005.

Nº de membros da família ativos na gestão;

Nº de membros da família no Conselho de Administração;

Nº de gerações da família atuais na empresa.

Nº de membros na empresa e no Conselho de Administração;

Nº de gerações; Holding (sim ou não).

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

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75

4 APRESENTAÇÃO DOS CASOS

Neste capítulo, serão descritas as sete empresas pesquisadas, a

Baumgarten, a Hering, a Karsten, a Marisol, a Rohden, a Rudnick e a WEG. Serão

apresentados o histórico familiar; o processo de internacionalização em termos de

velocidade, escopo e ritmo; a família e a internacionalização destas empresas.

Com relação à apresentação dos dados, buscou-se seguir as recomendações

de Eisenhardt e Graebner (2007). Segundo estes autores, em casos múltiplos ou

alinhados, o objetivo de narrar uma história rica e convincente, sem tornar o caso

excessivamente longo, é um desafio. A melhor maneira de lidar com o “desafio” é

apresentar os dados de forma sucinta, mas de diferentes formas.

4.1 Histórico da Empresa Familiar Baumgarten Ltda

“Precisa estar onde o nosso cliente está e ele não está mais no Brasil, isto é um fato”.

(BAUMGARTENINT)

A história da Baumgarten se confunde com a própria cidade de Blumenau

(SC), fundada por imigrantes alemães em 1850. Em virtude da necessidade de

facilitar a informação e difundir suas ideias, Hermann Baumgarten, brasileiro, filho de

imigrantes alemães, fundou, em 1º de janeiro de 1881, o primeiro jornal de

Blumenau e Vale do Itajaí, o “Blumenauer Zeitung”.

Nessa época, porém, havia dificuldades, relata o Presidente. Durante a

primeira Guerra Mundial, o jornal foi suspenso devido à proibição da língua alemã.

Isto não intimou Hermann Baumgarten e ele verificou que a cidade de Blumenau

precisava de uma gráfica. Esta foi a primeira grande mudança que a Baumgarten

teve, do jornal ela se transformou em uma tipografia, “[...] ela efetivamente se

transformou numa gráfica comercial” (BAUMGARTENPRES).

Depois disso, houve uma evolução frequente. Hermann Baumgarten, por sua

vez, passou a gráfica para o Hermannn Leopold, este passou a gráfica para o Jorge,

este para o Ronaldo Baumgarten (pai do atual Presidente): “E eu sou hoje a 5ª

geração à frente dos negócios da empresa. Dali passou-se muita história, muita

informação” (BAUMGARTENPRES).

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A empresa tem, em 2015, 134 anos de fundação e a sua história confunde-se

muito com arrojo, coragem e bastante espírito empreendedor do fundador.

Percebendo uma grande oportunidade, na década de 1980, já sob o comando

do atual Presidente, este olhou para o futuro e conseguiu enxergar uma grande

oportunidade, focando o mercado cosmético e têxtil. A Baumgarten marca o início na

impressão de rótulos em bobina e etiquetas, especializando-se até os dias atuais na

produção de vários tipos de rótulos especiais para empresas globais.

A expansão da Baumgarten na área internacional ocorreu na década de 2000

(no ano de 2014), pela vocação que a empresa tem na excelência da fabricação de

etiquetas especiais (prime label), e isto fez com que houvesse o reconhecimento por

grandes clientes globais.

A empresa mantém historicamente um parque gráfico moderno, focando

sempre na inovação para atender as diversas necessidades dos clientes. É uma das

poucas gráficas no mundo a dispor de modernos sistemas de impressão, sendo os

principais produtos os autoadesivos (BAUMGARTEN, 2014).

4.1.1 O Processo de Internacionalização da Baumgarten

Na visão do Presidente, o Brasil, na área de etiquetas, não tem uma grande

vocação de exportação e, na realidade, o Brasil importa quase mais de gráficos do

que exporta. “A Indústria editorial que o diga, boa parte dos livros que circulam, são

impressos fora do Brasil, inclusive os que o Governo distribui gratuitamente aos

alunos. Isso sempre é uma reclamação forte das nossas entidades, da nossa área

de gráficos” (BAUMGARTENPRES).

Apesar de a exportação representar aproximadamente 1% do faturamento,

nas décadas de 1980, 1990 e 2000, atendendo esporadicamente clientes da

América Latina, Argentina, Uruguai, Chile, Peru, Bolívia e Venezuela, a Baumgarten

teve que adaptar a empresa familiar aos padrões de multinacionais e isso não foi um

processo fácil.

Na década de 1980 a empresa se especializou em prime label. “Essa

evolução vem até os dias de hoje, onde nós somos considerados um dos principais

fabricantes prime label, da América do Sul quem sabe até da América Latina”

(BAUMGARTENPRES).

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Segundo o Diretor Executivo, em função da busca pela excelência na

fabricação de etiquetas premium, houve o reconhecimento por parte dos grandes

clientes globais, mas, para atendê-los, o lead time não permitia realizar a operação

via exportação do Brasil. Foi esta uma das motivações da internacionalização e a

empresa começou, em julho de 2012, a traçar uma nova estratégia global.

Neste contexto, devido à ameaça de perder grandes clientes, foi elaborada

uma nova estratégia de internacionalização. “A evolução do negócio desses clientes

globais e, também, a relação comercial entre eles, quase que nos obrigou a tomar

essa atitude de nos internacionalizar” (BAUMGARTENPRES).

O processo de expansão internacional demorou mais um ano e meio para ser

concretizado. Era preciso conciliar a cultura da empresa alinhada com a nova

necessidade dos clientes globais “[...] e depois de muita pesquisa para identificar

realmente quais eram as melhores oportunidades, quais seriam os países e quais

clientes seriam atendidos, se tomou uma decisão” (BAUMGARTENINT).

A fase internacional da Baumgarten começa definitivamente no ano de 2014,

quando se tornou uma empresa multinacional, por meio da aquisição de duas

empresas, sendo uma no México e uma na Argentina.

Como parte da estratégia de internacionalização e expansão, em 1º de janeiro

de 2014, a Baumgarten adquire a empresa de Etiquetas Rodak S.A., localizada na

cidade do México, reconhecida no mercado pela alta qualidade de impressão e

velocidade de entrega. Esta planta industrial foi fundada em 1974 e conta com cerca

de 70 funcionários; ela converte rótulos autoadesivos e termo encolhíveis para as

indústrias de bens de consumo, como cosméticos, alimentos, bebidas,

farmacêuticos, entre outros. A Baumgarten incorporou totalmente a Rodak,

passando a se chamar Baumgarten México (BAUMGARTEN, 2014).

Indagado se a decisão de estar no México, que faz parte do North American

Free Trade Agreement (NAFTA), o bloco econômico composto por EUA, México e

Canadá, traria vantagens à empresa, o Presidente afirmou que: “Estamos na porta

dos EUA, atendemos também toda a área do Caribe, e a nossa vocação nas

etiquetas é focada para a indústria de cosméticos, e dentro do nosso planejamento

estratégico, um dos itens era diversificar um pouco mais” (BAUMGARTENPRES). A

indústria de bebidas, na América Central e Caribe, também é forte e a empresa no

México fornece rótulos premium, que exigem da gráfica nível de investimento em

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equipamentos, qualificação de empregados e um resultado competente, afirma o

Presidente.

Ainda em 2014, a Baumgarten continuou sua expansão e, em 26 de fevereiro

de 2014, fez a aquisição de uma das gráficas mais reconhecidas no mercado

argentino e com perfil exportador consolidado, a Autopack S.A., localizada em Pablo

Podesta, a 30 km da capital Buenos Aires. A Autopack S.A. tem 22 anos de atuação

e conta com cerca de 110 funcionários, especializada na conversão de rótulos

autoadesivos para embalagens, etiquetas promocionais e de segurança. Tem

expertise em impressão e fabrica máquinas rotuladoras com tecnologia própria para

aplicação dos rótulos. No mercado de rótulos, a marca “Autopack uma empresa

Baumgarten” permanecerá por um período de transição (BAUMGARTEN, 2014).

A Argentina foi escolhida em função da grande dificuldade de exportar

etiquetas para este país e pela proximidade logística. Outra motivação foi em virtude

da situação política na Argentina: “Os nossos clientes nos sugeriram que a gente

realmente adquirisse uma empresa lá, para estreitar ainda mais os nossos laços”

(BAUMGARTENPRES).

Segundo o Presidente, o intuito é tornar-se um fornecedor global para as

empresas multinacionais e um forte fornecedor para as empresas nacionais. “A

empresa na Argentina tem uma característica forte de exportação, a nossa unidade

exporta para mais de 20 países, eles realmente tem no seu DNA, uma capacidade

muito forte de comércio exterior” (BAUMGARTENPRES).

Sobre o processo internacional, o Presidente comentou:

Então agora estamos aprendendo a exportar. Essa foi a razão para optarmos por esses dois movimentos nesse momento e agora, estamos na fase de maturação desses dois investimentos, dedicando boa parte do nosso tempo para esses dois negócios (BAUMGARTENPRES).

O Diretor Executivo afirma que a Baumgarten é uma das poucas empresas

fabricantes de etiquetas premium, que fornece praticamente a todos os players

globais da indústria de cosméticos, como também para a indústria de bebidas. As

participações em faturamento no ano de 2014 foram aproximadamente: México, com

5%; Argentina, com 13%; e o Brasil, com 82% (BAUMGARTENINT).

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4.1.2 Família e Internacionalização da Baumgarten Ltda

O processo da expansão internacional, iniciado em 2012, demorou mais de

um ano e meio para ser concretizado e o Presidente participou ativamente nesse

processo de internacionalização, segundo o Diretor Executivo. Era preciso conciliar

a cultura da empresa alinhada com a nova necessidade dos clientes globais.

A decisão de internacionalização é um processo complexo, afirma o

executivo:

Tem que cuidar muito, ir para o exterior pode ser perigoso, para não perder o controle da situação na Matriz, traçamos todo um plano de negócios para tomar essa decisão. No nosso caso, uma decisão bastante acertada. O fato é, como eu vou alinhar a minha estratégia com a do cliente? Será que eu alinhei da forma como ele quer? Eu fui rápido? O importante é seguir os clientes, onde eles estiverem (BAUMGARTENINT).

O processo de internacionalização na Baumgarten se iniciou no ano de 2005,

motivados pela análise das estruturas dos seus clientes. Antes da

internacionalização, os clientes tinham diretores de suprimentos para cada país.

Hoje, após muitas modificações, há apenas um Diretor responsável pelas vendas

globais.

Essa pessoa não tem tempo para atender 50 gráficas, então há uma tendência que o cliente busque soluções regionais, não locais. [...] no nosso caso, no México eu já posso resolver para baixo, com toda a certeza, podendo inclusive dar um apoio aos EUA; na visão desse cliente o nosso negócio já fica um pouco mais global. Um passo à frente em relação ao nosso concorrente local. Essa é, em poucas palavras, a tendência da nossa internacionalização. Ou iríamos ou os nossos concorrentes viriam (BAUMGARTENPRES).

A Diretora de Vendas e Marketing também afirma que a empresa decidiu pelo

processo de internacionalização como estratégia para atender os clientes

multinacionais. Muitas são as razões que levam uma empresa, inclusive familiar, a

estar internacionalmente ativa, afirma a Diretora:

A necessidade de manter-se no mercado com produtos de qualidade e tecnologia similares em todos os países em que atuam, a necessidade de reduzir a complexidade no processo de compras dos clientes, visto que as negociações passam a englobar mais de um país, aliado a garantia de agilidade na entrega e no lançamento de produtos em vários países, concomitantemente que permitam ganho de escala nas negociações dentro da rede de suprimentos.

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A tendência atual do mercado no segmento da Indústria Gráfica, para atender

às multinacionais segundo os entrevistados, é estar presente em mais mercados,

pois as decisões de compras são feitas em nível global e do Brasil, não há como

atender logisticamente as demandas diferenciadas de diversos países.

Segundo o Presidente, a Baumgarten, desde a sua fundação, sempre foi um

empresa de capital 100% familiar e figura, em 2015, entre as dez maiores empresas

mundiais na fabricação de rótulos e etiquetas especiais.

Eu tenho a impressão que dessas 10 empresas, 4 empresas são profissionalizadas, listadas em Bolsa e 6 são empresas familiares e o nosso segmento gráfico não foge à regra e o empreendedorismo está totalmente vinculado à administração familiar (BAUMGARTENPRES).

No que tange à relação da família na administração da empresa, o Presidente

afirma:

Nós temos um conselho de família, ele é um conselho abstrato, porque hoje dividimos nossa empresa, eu tenho a confiança plena da minha família, eu toco a empresa, eu sou o presidente da empresa. Abaixo de mim, meu organograma é feito de uma estrutura onde eu tenho um diretor superintendente, e este tem a sua equipe, então eu participo do dia a dia da empresa, mas cada um fazendo, cumprindo exatamente com as suas obrigações (BAUMGARTENPRES).

Questionado sobre a continuidade da expansão internacional, o Presidente

relatou que a Baumgarten está atrás de oportunidades: “Os nossos clientes mandam

sinais, e precisamos interpretar esses sinais e buscar respostas. O fornecedor que

tem a capacidade de entender esses sinais, queira ou não queira, é mais respeitado

nos negócios, e vai sair na frente” (BAUMGARTENPRES).

Na visão da Diretora de Vendas e Marketing, a Baumgarten:

[...] é uma empresa de capital familiar com administração executiva profissionalizada. A estratégia é definida pelos profissionais executivos e deve ser aprovada pela família. Neste sentido, é fundamental o entendimento da família sobre a importância da internacionalização para o crescimento do negócio. Sua influência ocorre no processo de viabilização do projeto através da liberação de recursos para os investimentos necessários (BAUMGARTENMKT).

O Diretor Executivo afirmou que, “[...] em uma empresa familiar, é preciso

conciliar a cultura da empresa, ver as formas de governança e gestão que são

diferentes, mas tem fatores positivos como a agilidade na tomada de decisão”

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(BAUMGARTENINT). Ainda segundo o executivo, é necessário fazer o networking

com empresas globais para atender necessidades globais e, na visão da empresa

L’Oréal, o processo de internacionalização da empresa foi rápido.

Segundo o relato do Diretor Internacional e da Diretora de vendas e

Marketing, o envolvimento do Presidente no processo de internacionalização foi

determinante. Ele está no dia a dia na empresa ativamente e interage com a

Diretoria Executiva, tomando as decisões sobre os investimentos e a aplicação de

recursos para atender aos clientes multinacionais.

Assim, o processo de internacionalização em termos da velocidade foi alta,

devido à aquisição em 2012 de duas unidades no exterior, que exportam para mais

de 30 países; o escopo geográfico foi médio e o ritmo irregular de expansão face à

sua recente entrada no mercado externo.

A empresa também participou de feiras nos últimos anos entre (2010-2014), a

FISPAL, em São Paulo, considerada a maior feira de processos, embalagens e

logística para as indústrias de alimentos e bebidas na América Latina e, agora em

2015, participará na Feira Alimentek, na Argentina.

No Quadro 11, é apresentado o resumo das características de propriedade e

comprometimento familiar da Baumgarten.

Quadro 11: Propriedade e comprometimento familiar da Baumgarten INDICADORES PROPRIEDADE FAMILIAR COMPROMETIMENTO FAMILIAR

Porcentagem de ações em

poder da família

proprietária

100% das ações em poder da

família

X

Nº de membros da família ativos (gestão/conselho)

Conselho “fictício” familiar na

gestão dos negócios. Presidente da Empresa e mais 4

membros familiares.

Geração atual 5ª 5ª e 6ª

Recursos Recursos próprios Recursos próprios

Influência da família no processo Internacional

Desde a fundação em 1881 em poder da família.

Empreendedorismo familiar Sucessão planejada

Visão de longo prazo.

Decisões ágeis, Know how tecnológico, duas aquisições no

exterior (México e Argentina), está entre as 10 maiores gráficas no Brasil, Presente diariamente nas

decisões.

Fonte: O Autor (baseado nos dados da pesquisa)

4.2 Histórico da Empresa Familiar Hering

“A influência da família sempre foi muito positiva também para a internacionalização"

(HERINGADM)

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A história da Cia. Hering, com sede na cidade de Blumenau (SC), começa

quando os irmãos Hermann e Bruno Hering, imigrantes alemães, iniciaram, em

1880,a fábrica denominada de Trikotwaren Fabrik Gebrüder Hering, dando

continuidade a uma longa tradição familiar na confecção em tecido de malha que se

desenvolvia desde a Alemanha.

Na época, era única fábrica de malha no Brasil e o algodão era importado da

Alemanha. Em 1893, com a denominação de Comercial Gebrueder Hering, ocupa

um novo local, com a finalidade de evitar os riscos das frequentes enchentes e para

utilizar a força motriz hidráulica da região para mecanizar os teares com a roda

d’água que construíram e depois substituídos por uma turbina a vapor. Repetia-se

em Blumenau um dos enlaces mais marcantes da Revolução Industrial: a máquina a

vapor e a Indústria Têxtil, chegando ao final de século XIX em franco progresso

(HERING, 2014b).

Segundo o Diretor Administrativo:

[...] a influência que a família sempre teve foi muito forte, principalmente na cultura da empresa, aquilo que veio dos nossos antepassados, do Hermann e do Bruno, e o Bruno era uma pessoa muito diferenciada na sua época, voltado muito ao social, amigo do Fritz Müller, se correspondia com Darwin, e ele cuidava muito do lado ambiental e social. Eles, quando vieram da Alemanha, trouxeram uma biblioteca e deixaram a disposição do pessoal da fábrica e onde tem a casa enxaimel era o refeitório (hoje é o museu). Ele sentava numa banqueta no meio deles e começava a ler livros para os funcionários em voz alta para acostumar à leitura e o lado do empreendedorismo que o Hermann tinha isto veio junto com a cultura, no DNA da Hering (HERINGADM).

Segundo o Diretor Internacional, a partir da década de 1960, a Cia. Hering

inicia suas primeiras operações comerciais no mercado externo, como forma de

manter seu crescimento e obter tecnologia de ponta. Até a década de 1970, Hering

era sinônimo de camisetas, na década de 1990 a famosa marca dos dois peixinhos

simbolizava a maior malharia da América Latina e a segunda maior do mundo.

Em 2014, segundo o Diretor Administrativo, “[...] a empresa possui cinco

marcas em seu portfólio – Hering, Hering Kids, PUC, Dzarm e Hering for you, e

lançam seis coleções anuais, atendendo de norte a sul do país” (HERINGADM).

Estão presentes com lojas Hering Store, no Uruguai, no Paraguai, na Venezuela e

na Bolívia, além de exportar para outros países.

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4.2.1 O Processo de Internacionalização da Hering

A Hering foi uma das pioneiras no setor de vestuário a exportar desde a

década de 1960. As grandes empresas do Vale do Itajaí começaram a exportar na

década de 1960 e 1970 e foi à primeira região brasileira a exportar manufaturados,

segundo o Diretor Internacional.

E a Hering estava inserida nesse processo e isto foi um raciocínio global e como um intercâmbio de ideias, numa cidade pequena, as empresas de cama-mesa-banho começaram a exportar primeiro para a Europa (Artex, Karsten), basicamente para a Alemanha, isto era o primeiro mercado, pelas origens, língua, facilidade de comunicação, enfim e as de vestuário iniciaram pelas dificuldades para a América do Sul, tanto é que a primeira exportação da Hering foi de pijamas para o Paraguai. Era o início na década de 60, foi lento e no início da década de 70 em diante, criou vulto e tamanho e as coisas se tornaram mais profissionais e mais sérias (HERINGINT).

A seguir, a descrição das décadas de 1960 até a década de 2000.

A 1ª década da expansão internacional: (anos 1960)

A Hering foi a primeira empresa têxtil brasileira a vender os seus produtos ao

exterior e tornou-se a maior malharia da América Latina (HERING, 2014b).

Segundo o Diretor Internacional,

[...] a exportação para a Europa é iniciada por um membro não familiar, o inglês, supervisor de Marketing (Morris B.), que contratou uma auxiliar, a Celoni (mais tarde a Gerente de Exportação) e assim se iniciaram as vendas para a Europa na década de 60, para as vendas em Catálogos da Alemanha (HERINGINT).

A 2ª década da expansão internacional: (anos 1970)

A expansão de mercados da Cia. Hering teve início em 1971. Nesse ano, a

empresa abriu um escritório de representações na Itália, pois este foi o mercado de

maior importância na época, representando aproximadamente 90% dos negócios de

exportação da empresa. Em 1973 foi assinado o acordo de joint venture entre a Cia.

Hering e o grupo Omino Di Ferro e Martaz, empresa italiana (Grupo OMINO

HERING), e isto possibilitou o crescimento de vendas no mercado externo e acesso

a novas tecnologias e tendências de moda do mercado europeu (HERING, 2014b).

Em 1974, a empresa estabeleceu um escritório na Alemanha na cidade de

Colônia, a Trimex GmbH, para aumentar as vendas na Europa. “No começo até nós

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tínhamos alguns intermediários, depois montamos um escritório e começamos a

vender direto para esses clientes todos” (HERINGEUR).

A 3ª década da expansão internacional: (anos 1980)

A estrutura da empresa atinge a capacidade máxima, produzindo 1 milhão de

dúzias de camisetas por mês e empregando mais de 20 mil funcionários (HERING,

2014b).

Nos anos 1980 a exportação já estava bem consolidada, comenta o Diretor

Administrativo, a Hering tinha uma divisão geográfica em três grandes mercados, a

Europa, muito forte, (Alemanha, Itália, Inglaterra); América do Norte (EUA e

Canadá); e na América do Sul, mercados de longa data (Bolívia, Paraguai, Uruguai,

Argentina, Venezuela). “Durante este período, a exportação foi um grande foco

macroeconômico da época, diversificar mercados e buscar o equilíbrio financeiro. E

chegamos naquela época ao valor histórico de USD 100 milhões, representava 1/3

do faturamento global da Hering” (HERINGADM).

O mercado norte-americano (EUA) chegou a representar US$ 50 milhões de

faturamento na exportação e, em 1988, foi estabelecida a Hering North América,

com a finalidade de expandir suas vendas nesse mercado e fazer frente à formação

da NAFTA (HERING, 2014b).

A 4ª década da expansão internacional: (anos 1990)

Segundo o Gerente da Europa, uma das medidas para fixar-se no mercado

europeu foi o início da implantação de uma unidade fabril na Espanha em 1992, para

atender de forma rápida e flexível à demanda gerada pela instalação da Euro-Disney

na França.

Em 1993, foi enfatizada a exportação de produtos com a marca Hering para

os países da América Latina, em especial, às franquias para a Argentina, com lojas

licenciadas e exclusivas. Em 1994, foi expandida a presença internacional com

novas franquias no Chile, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Neste ano, também é

iniciado o projeto de franquias, concedendo permissão do uso da marca Hering,

conforme apresenta o Gerente de Exportação.

Em fevereiro de 1995, “[...] a Hering tornou-se a maior licenciada da Disney

no ramo de confecções, através de um contrato de licenciamento para a Europa,

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Oriente Médio e norte da África, além da licença já existente para alguns dos países

da América Latina e Brasil” (HERINGINT).

No relato do Gerente da Europa, em 1995 a Hering abriu um escritório em

Lisboa (Portugal), que durou um ano (1995-96), e depois este foi transferido para

Paris, devido à proximidade do parque Disney na França. Também foi criado em

1995 um depósito na Alemanha para fazer a distribuição na Europa de produtos

licenciados (Disney, Warner, Coca-Cola, entre outras), ou seja, foi construído um

portfólio de produtos em 1996, que permaneceu como pilar principal da operação no

exterior.

Em 1996, houve a criação da Hering Argentina, responsável pela

administração da franquia da marca Hering e distribuição naquele país, além da

ampliação de lojas franqueadas no Paraguai, Bolívia, Uruguai e Venezuela Na

mesma década, em função da concorrência mundial e do custo, foram fechadas as

lojas na Argentina e a Hering North América (HERING, 2014b).

A 5ª década da expansão internacional: (anos 2000)

Conforme o Gerente da Europa:

[...] toda esta operação durou até o ano de 2001, o contrato da Disney terminou e já nos anos de 1999-2000 os preços da Hering não eram mais competitivos, com a entrada da Turquia na Europa e ficou evidente que, para continuar com licenças na Europa, se deveria investir em Sourcing, fora de Blumenau, na China, etc. e seria necessário um financiamento dessas operações que naquele momento não estava disponível. Esta foi a razão para o fechamento do escritório e depósito de promocionais da Alemanha em 2001 (HERINGEUR).

Segundo o Diretor Administrativo:

[...] em 2007 a Hering faturava R$ 350-360 milhões e em 2014, pouco mais de R$ 2 bilhões, então em 7 anos agente deu esta volta grande. Nós selecionamos os canais de distribuição e tiramos as marcas que não traziam rentabilidade, saíram fora inclusive as licenças da Disney e passamos a trabalhar só com as nossas marcas, a Hering, PUC, Dzarm e a Hering Kids e hoje temos mais uma marca nova, a Hering for you e passamos a vender só nossas marcas e em dois canais de distribuição, no Varejo Multimarca e Lojas de franquias/lojas próprias (HERINGADM).

Na visão do Diretor Internacional, a Cia. Hering exportou por mais de 40 anos,

mas não as suas marcas e, em 2014, a empresa vende somente as suas marcas na

América do Sul e possui franquias (Hering Store). São 17 lojas fora do Brasil, no

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Uruguai, Paraguai, Bolívia e na Venezuela. A exportação atual representa

aproximadamente 3%, mas já representou mais de 15-20% e chegou ao auge com

um valor de US$ 100 milhões. Em 2014, exportou para pouco mais de 10 países e

em algumas ocasiões para África do Sul, Japão, entre outros países.

Desta forma, o processo de internacionalização na fase mais relevante foi na

década de 1980, em termos de: velocidade média, escopo médio e ritmo irregular de

expansão.

Em 2014, a Cia. Hering tinha 74 lojas próprias e um total de 700 lojas de

franqueados. A Receita Bruta total de 2014 foi de R$ 2.011.023 milhões, sendo R$

1.975.960 milhões para o Mercado Interno e as vendas para o Mercado Externo

representaram R$ 35.063 milhões (HERING, 2014).

Na publicação recente do Ranking (FDC) de Internacionalização das

Franquias 2014, a Hering figura na 6ª posição (índice 0,013); em franquias

brasileiras por número de países, a empresa está na 3ª posição (4 países); e

também na 4ª posição (índice 0,014) no índice de receitas (FDC, 2014).

4.2.2 Família e Internacionalização da Hering

Na visão do Diretor Internacional, quando questionado se o processo de

internacionalização trouxe benefícios à empresa, ele respondeu:

Sim, mas a Hering se internacionalizou e abriu escritórios no exterior, na Alemanha, virou uma importadora que se beneficiava produtos na Europa, veio um segundo momento com uma fábrica na Espanha (tinha contrato com a Disney) e depois veio a Norte América, que beneficiava produtos importados e isto foi efetivamente uma internacionalização, mas isto tudo acabou e não existe mais. A Hering também tinha Lojas franqueadas na Argentina. A Hering lançou a internacionalização produtiva, bem como das marca na América do Sul (na Argentina chegou a ter 72 Lojas), na América Central e Oriente Médio e um pouco nos EUA. Com as mudanças econômicas todas, nós ficamos concentrados na América Central, na Argentina fechamos todas. Ter unidades produtivas no exterior é um processo de internacionalização (HERINGINT).

A família sempre esteve envolvida no processo internacional desde o início da

década de 1960 até a atual, em 2014 com uma nova estratégia e conceito de

marcas próprias e das lojas franqueadas (Hering Store), segundo o Diretor

Internacional.

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O Diretor Administrativo, ao ser questionado sobre a influência da família no

processo internacional, explicitou que:

A influência da família sempre foi muito positiva também para a internacionalização. Uma coisa positiva foi a transição do Hermann para o Curt Hering (filho mais novo, o único que nasceu no Brasil), todos os outros vieram da Alemanha, todos mais velhos, e a diferença entre o mais velho e o Curt era de uma geração. E o Curt assumiu aqui em Blumenau e era o gerente geral. O Curt só teve 2 filhos, o Ingo e a Isolde. O Ingo foi preparado para assumir a fábrica e a Isolde, como mulher, na época, não trabalhava na empresa. O Ingo teve 3 filhos e fez uma transição muito boa, o filho mais velho não assumiu, foi o do meio e isto é fundamental em uma empresa familiar, porque algumas se perdem na hora das sucessões. Na Hering este processo foi tranquilo, legado dos antepassados, é o DNA da família (HERINGINT).

Na visão do Gerente de Exportação:

[...] a família Hering sempre esteve ativa e os assuntos familiares eram separados de assuntos de empresa. As conquistas seriam com base em méritos e não pela condição familiar. Se os familiares atendiam às expectativas, se era o perfil, eles ficavam, caso contrário eram desligados. Isto já mostra o envolvimento da família neste processo. E sempre quando a família se deparava com um problema internacional, sempre era discutido sob a ótica profissional e não da família. Quem está hoje atuando na empresa são pessoas qualificadas, profissionais, não necessariamente por ser da família, e a empresa está onde está em função desta regra, e não por apadrinhamento. Provavelmente a Hering ainda é a 2ª maior empresa do Vestuário no mundo e no Brasil é a maior nesse segmento (HERINGEXP).

O Gerente da Europa, quando indagado sobre a influência da família no

processo internacional, comentou:

Eu respondia ao Diretor Internacional, que era o Ulrich Kuhn, mas os poucos contatos que tinha com a família, com o Sr. Ivo Hering, era de valorizar este processo internacional e a própria abertura do escritório da Hering em Colônia foi uma iniciativa da família, idem da fábrica na Espanha, o contrato com a Disney foi mais o operacional, não a família, mas ela aceitou e deu suporte a esse processo todo. Quando o tema da internacionalização vinha à tona, a família dava apoio. O Presidente, Sr. Ivo e o Vice-presidente, Sr. Fabio, apoiavam a abertura dos escritórios, da fábrica na Espanha, eu penso que estavam comprometidos (HERINGEUR).

Ainda na avaliação do Diretor Administrativo, pode ser considerada uma

influência positiva também pelo fato das decisões terem sido tomadas de forma

racional pela família, no caso da CEVAL (empresa de processamento de soja e

produção de derivados do grão), que fora vendida a BUNGE na década de 1990, na

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época a empresa era presidida pelo Ivo Hering e a família sempre buscou o

crescimento consistente.

Ainda no relato do Diretor Administrativo sobre o envolvimento da família nos

negócios: “[...] só para dar um exemplo, na década de 90, nós vendemos a CEVAL

[empresa de beneficiamento de soja] para a BUNGE. Com a venda, a família fez um

aporte na Hering de mais de R$ 100 milhões, todos estavam comprometidos com os

negócios aqui” (HERINGADM).

Na visão do Diretor Internacional sobre a influência da família no processo

internacional:

Quando o Brasil começou a exportar manufaturados (década de 60), as empresas no Brasil em sua maioria eram familiares. É muito difícil separar isto, é evidente que, em uma empresa familiar, a decisão é mais fácil, faz e pronto, não dá satisfação para o conselho, para o investidor, mas mesmo assim, há 30-40 anos atrás as coisas eram bem diferentes, ela ajudou (HERINGINT).

A Hering, desde o início, soube aproveitar as redes de relacionamento em

diferentes fases do processo. Antes da viagem de Hermann Hering ao Brasil, em

1850, ele já havia feito contato com o fundador da cidade e tinha planejado tudo

antes de se empreender por aqui. Os contatos com fornecedores da Alemanha,

importando matéria-prima e equipamentos e, posteriormente, iniciando as

exportações na década de 1960, são um marco deste processo (HERING, 2014).

A abertura de subsidiárias na Itália, Alemanha e EUA, bem como uma fábrica

na Espanha, possibilitaram o crescimento de vendas no mercado externo e o acesso

a novas tecnologias e tendências de moda do mercado europeu e americano. Uma

cooperação com licenciadores da Walt Disney, Coca Cola e outras grandes marcas

para a produção e distribuição exclusivas na Europa e em outros mercados foram

um importante pilar do crescimento sustentável (HERING, 2014).

Da mesma forma, a estratégia posterior, a adoção de uma mentalidade de

não ser apenas um exportador de private label, mas de ter as suas próprias marcas

em lojas franqueadas para estar mais perto do cliente, foram bem sucedidas

(HERING, 2014).

A Hering também tem um escritório na China para fazer o sourcing

internacional. A empresa faz os contatos diretamente com os fabricantes na Índia,

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Paquistão, sem intermediários e limitou as importações até o teto de 30% da

produção, segundo o Diretor Administrativo.

Ainda na visão do Diretor Administrativo:

[...] a Hering está estruturada em rede com todos os stakeholders, também nas comunidades onde atuamos, entidades e internacionalmente, o sourcing, na Índia importamos matéria-prima (fios são importados), na China, no Paquistão e no Vietnã importamos produtos acabados. A empresa sempre foi de propriedade familiar. A abertura de capital aconteceu na década de 60 e a família detinha o controle e quando foi feito o IPO, em 2007, grandes fundos adquiriram ações e aí começou a negociação de papéis, e as ações têm uma liquidez muito boa, hoje ela faz parte do índice da Bovespa (HERINGADM).

Em 16 de maio de 2007, a Cia. Hering ingressou no Novo Mercado da

BOVESPA e passou a integrar a carteira do Índice de Ações com Governança

Corporativa Diferenciada (HERING, 2014).

Segundo o Diretor Administrativo:

[...] a família detinha mais de 60%, e agora apenas 30% das ações. Ela ainda é a majoritária, pois nenhuma empresa pode deter mais de 20%, se alguém tiver mais de 20% ele deve oferecer ao mercado (Bovespa). Então a família, como um conjunto, tem 30%, mas individualmente ninguém tem. São acionistas separados, ou holdings de alguns acionistas (HERINGADM).

Desde a década de 2000, a empresa se profissionalizou e, em 2014, a

empresa possui seis membros familiares na empresa. A maioria dos diretores é não

familiar. Da família atuando são: o Sr. Ivo Hering, que é o Presidente do Conselho

(4ª geração); o Sr. Hans Prayon, Presidente do Conselho Consultivo; o Sr. Fabio

Hering, que é o Diretor Presidente (5ª geração); o Sr. Carlos Tavares D´Amaral,

Diretor Administrativo (4ª geração); e o Sr. Claudio Meyer (5ª geração) é o Gestor

Comercial de Franquia (5ª geração) e a Sra. Paula (5ª geração) atua na área de

produtos (HERING, 2014).

No Quadro 12, constam os membros da família no Conselho de

Administração, os membros da família que estão ativos e o histórico familiar da

Hering.

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Quadro 12: Membros e Histórico Familiar Hering Conselho de Administração

Ivo Hering Presidente do Conselho de Administração (4ª

geração).

Fabio Hering Diretor Presidente (5ª geração), 27 anos na

empresa.

Carlos Tavares D´Amaral

Presidente da Fundação Hermann Hering e parte

do conselho consultivo da Cia. Hering (4ª

geração), 35 anos na empresa.

Hans Prayon Presidente do Conselho Consultivo.

Cargo Executivo

Fabio Hering Diretor Presidente Executivo

Claudio Hering Meyer Gestor Comercial Franquia (5ª geração)

Histórico Familiar (gerações na empresa)

Hermann e Bruno Hering Fundadores

Curt Hering (Filho de Hermann Hering) 2ª geração

Max Hering (Filho de Hermann Hering) 2ª geração

Ingo Hering (Filho de Curt Hering) 3ª geração

Ivo Hering (filho de Ingo Hering) 4ª geração

Fabio Hering* (filho de Hans Gehard Hering) 5ª geração (tataraneto de Hermann Hering)

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

Segundo o Diretor Administrativo,

[...] hoje a família não é atuante, dá algumas diretrizes, que é formado por 7 Conselheiros, 2 Conselheiros são da família (Ivo e Fabio Hering) e os outros 5 Conselheiros são independentes, do mercado. Nos próximos 10 anos a Hering vai ter provavelmente um presidente não familiar. A Reunião do Conselho é mensal (HERINGADM).

No Quadro 13, demonstram-se os indicadores da propriedade e

comprometimento familiar no processo internacional da Hering.

Quadro 13: Indicadores da Propriedade e Comprometimento familiar INDICADORES PROPRIEDADE FAMILIAR COMPROMETIMENTO FAMILIAR

Percentagem de ações da família

30% das ações (IPO em 2007)

X

Membros ativos (gestão/conselho)

X

Presidente do Conselho Presidente do Conselho Consultivo

Diretor Presidente Diretor Administrativo

Gestor Comercial Gerencia de Produtos

Holding familiar Sim Sim

Geração atual 4ª e 5ª 4ª e 5ª

Influência da família no processo internacional

Desde a fundação, em 1880,

em poder da família.

Sucessão planejada.

Visão de longo prazo.

Decisões ágeis, Recursos, know how tecnológico, Lojas Hering Store e

franqueadas, Subsidiárias, Fábrica na Europa, Sourcing, Marca.

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

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4.3 Histórico da Empresa Familiar Karsten S.A.

A história da Karsten começa no ano de 1860, quando Johann Karsten,

emigrando de Hohenwestedt, Schleswig Holstein, Alemanha, desembarcou no Rio

de Janeiro. As novas possibilidades que as terras do sul do país ofereciam, aliadas à

necessidade de um clima mais adequado, levaram Johann Karsten a mudar-se para

a região de Blumenau (SC), onde um mero acidente geográfico – uma queda d’água

– situado no Bairro Testo Salto determinaria o lugar em que se iniciaria a história da

empresa.

Esta época é reconhecida como o marco do início da industrialização

catarinense, pois em 1880, é fundada a empresa têxtil Hering; no mesmo ano, a

Tipografia Baumgarten; em 1882, a empresa Karsten; e, em 1884, a empresa

Garcia, todas em Blumenau (SC), entre outras.

Segundo o Diretor Presidente, bisneto do fundador:

[...] o meu bisavô veio da Alemanha para o Brasil em busca de oportunidades. Foi trabalhar numa fazenda de café de D. Pedro II em Petrópolis (RJ), e escutou que em Blumenau estavam distribuindo terras e ele não gostava de escravidão, então esses dois fatores o trouxeram para cá. E em 1882 encontrou um amigo dele, e pensaram em montar uma indústria têxtil e aí, o amigo, sócio dele, foi para Alemanha comprar teares usados e, chegando ao RJ, encontrou outro amigo e esses dois foram para a Alemanha e trouxeram teares usados na época. E meu bisavô não entendia nada de têxtil, ele era colono e estes outros dois sócios entendiam. E passaram alguns anos ele comprou a parte dos sócios, e tocou o negócio (KARSTENPRES).

O início das atividades ocorreu em 1882, quando foi fundada a Tecelagem

Roeder, Karsten & Hadlich, com teares adquiridos na Alemanha e uma pequena

fiação. A fábrica, em 1895, funcionava com seis teares de lançadeira e uma

pequena fiação com 300 fusos.

Mais tarde, em 1916, apenas Johann Karsten continuou com a sociedade.

Após as dificuldades da 1ª Guerra Mundial, os filhos Christian e João Karsten

assumem a gestão da empresa em 1916 (passou a denominar-se Karsten Irmãos) e

iniciam a produção de seu principal produto por décadas, as toalhas de mesa. Em

1933, a empresa passou a denominar-se Companhia Karsten e, em 1941,

Companhia Têxtil Karsten. Após o fim da II Guerra Mundial, há um salto tecnológico,

com aquisição dos primeiros teares importados. Inicia-se a produção de tecidos para

decoração com estamparia manual.

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A Karsten abriu o seu capital em 1971 e, no mesmo ano, se iniciam as

exportações. Nesta década, sob a figura de dois empreendedores, Gunar Karsten

(filho de Walter) e Carlos Odebrecht (filho de Edeltraud, bisneto do fundador), ambos

da 4ª geração e recém-chegados da Europa, onde haviam completados os seus

estudos, influenciaram a grande transformação da empresa, iniciando um novo

processo de desenvolvimento de novos produtos. A família investe em tecnologia de

ponta, importando novas máquinas que marcam o grande diferencial e fazendo a

empresa galgar o mercado externo com produtos inovadores.

Em 1976, começa a produção de felpudos que marca uma era de inovação e

venda para o mercado externo. Na década seguinte, em 1983, a razão social é

alterada para Karsten S.A. e a produção se estende para o segmento cama.

Investimentos constantes em tecnologias de ponta resultam em diversas produções

pioneiras.

A partir da década de 1990, diversas mudanças estratégicas modificam o

perfil da empresa e ela investe na diversificação e na ampliação de

sua capacidade produtiva. Nesta década, mais de 50% da produção está voltada

para exportação e os produtos Karsten são exportados para mais de 40 países,

principalmente para os Estados Unidos e para a Europa (principalmente a

Alemanha), países em que a empresa tem as suas subsidiárias nas cidades de

Nova Iorque e Düsseldorf.

Na década seguinte, com a liberalização do comércio internacional promovido

pela OMC e pelo término das quotas de exportação, eleva-se a concorrência da

Europa e da Ásia, prejudicando a competitividade do Brasil e, em consequência, a

queda dos volumes de exportação ano após ano. Em 2004, mais da metade do

faturamento da empresa ainda vinha do mercado externo. Em 2005, o percentual

caiu para 46%; em 2006, para 38%; e, em 2007, para 5%.

Em 2014, a centenária, Karsten com 132 anos, vendeu para o mercado

externo, em termos do faturamento, aproximadamente 6% e o faturamento total

representou R$ 396,7 milhões.

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4.3.1 O Processo de Internacionalização da Karsten

A família sempre esteve à frente dos negócios e este comprometimento se fez presente, seja acompanhando as visitas internacionais, participando em feiras internacionais, buscando novas tecnologias e parcerias e isto foi um diferencial da empresa para estar no topo e ser reconhecida internacionalmente (KARSTENEXP).

A seguir, o processo internacional será apresentado por décadas, baseado

nas informações coletadas com os cinco entrevistados e com base em dados

secundários.

A Karsten foi uma das primeiras empresas têxteis na região a ingressar no

mercado externo, segundo a Gerente de Exportação:

[...] a primeira exportação ocorreu na década de 70 para a África do sul, devido contatos com uma empresa de Blumenau, a Artex, na época já internacionalizada e já com as redes de contatos estabelecidas. A Karsten foi então visitada pelos importadores africanos, originando a primeira fase da internacionalização (KARSTENEXP).

A Karsten expandiu-se para a África do Sul em 1971, menciona o Gerente de

Exportação, exportando tecidos lisos, cortinados (em metros) com desenhos

exclusivos dos clientes. O modo de entrada foi com exportação direta, com pedidos

da ordem US$ 1 milhão, um valor considerável para a época e, depois, com novos

artigos, como os panos de copa (carro chefe de vendas) e, após, com toalhas de

mesa se iniciaram as vendas para o mercado canadense.

Entre os anos de 1972/1973, o Sr. Gunar Karsten (4ª geração), que retornou

dos seus estudos da Suíça, começou a liderar o setor de exportação, cuidando

pessoalmente do marketing, do desenvolvimento de novos produtos e buscando

novos acordos comerciais. Também retornou da Europa o bisneto do fundador, o Sr.

Carlos Odebrecht (4ª geração), que desenvolveu a área técnica. Houve

investimentos em novas tecnologias, com novos teares da Suíça, máquina de

estamparia da Áustria, os quais revolucionaram o parque fabril da época e houve o

envolvimento de toda a família, já vislumbrando uma oportunidade de longo prazo,

para a expansão internacional e o reconhecimento da qualidade de seus produtos,

complementa o Gerente de Exportação.

Segundo o Diretor Europeu, no início de 1970, as autoridades alemãs

liberalizaram o acordo do comércio e a redução das tarifas também para as

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importações do Brasil. Ainda nesta década, as autoridades brasileiras iniciaram com

a Expo Brasil, em Bruxelas, e com a feira de Importação, “Partners in Progress” em

Berlim, uma exposição e promoção de produtos brasileiros. Nesses eventos, o

agente de compras internacionais da Alemanha e da Áustria, Süllwold & Resch

GMBH (S&R), iniciou os primeiros contatos com empresas brasileiras, como a Artex

(Blumenau-SC) e a Santista (SP), vindo a ser o representante comercial destas

empresas.

E em 1974, quando da primeira viagem do Diretor Europeu (Sr. Schwarzien)

ao Brasil e para Blumenau, foram iniciadas as conversações com a família Karsten e

houve a concretização da parceira S&R. A boa impressão causada pela empresa,

aspectos da criatividade em montar um estúdio de desenho, na produção

autossuficiente e na capacidade de conduzir a conversa em alemão, foram

importantes para formar uma relação de confiança.

Segundo o Diretor Europeu, “[...] a decisão e o envolvimento da família

Karsten para começar o negócio de exportação foi correta e a decisão foi tomada

por todos aqueles responsáveis pela operação” (KARSTENEUR).

Novos produtos tiveram que ser desenvolvidos para o mercado externo, pois

a coleção existente não atendia às exigências, aos tamanhos e aos padrões do

mercado europeu. Inicialmente, desenvolveu-se um produto que até então não havia

aparecido como um produto importado na Alemanha e Áustria, toalhas de mesa

estampadas com motivos natalinos (um grande nicho de mercado).

Ainda em 1974, segundo o Diretor Europeu, uma pequena coleção de toalhas

de mesa foi desenvolvida em tecido rústico e as vendas começaram em janeiro de

1975, na exposição na maior feira mundial de têxteis para o lar, a HEIMTEXTIL em

Frankfurt, na Alemanha. Assim, houve a entrada dos primeiros pedidos da Europa e,

após a feira, os maiores clientes foram visitados para estreitar o relacionamento. Os

negócios evoluíram rapidamente e positivamente com esta linha exclusiva de

produtos com vendas para as empresas de Catálogos (vendas por reembolso

postal), Lojas de Departamentos, entre outros.

Em 1975, as autoridades brasileiras implantaram um programa de subsídio à

exportação. As empresas recebiam créditos de impostos não pagos para incentivar

o comércio exterior e na compra de matéria-prima com suspensão de impostos. Este

incentivo foi de grande valia para as empresas que estavam despontando no

mercado externo.

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Segundo o Gerente de Exportação:

[...] em 1976 a Karsten inicia a produção de felpudos exclusivamente destinados para a exportação. Novos mercados foram incorporados, Holanda, Suíça, Inglaterra, Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia e vários contatos eram feitos com clientes internacionais que visitavam a Feira Nacional da Indústria Têxtil (FENIT) em São Paulo. Na participação em 1981, em numa feira nos Estados Unidos, a Brasil Export (em NY, Miami, Los Angeles), com o patrocínio do governo brasileiro, expandimos os negócios com vendas de toalhas de praia e de felpudos no valor de US$ 1,8 milhão para um dos maiores clientes americanos, a Kmart (KARSTENEXP).

Para atender toda esta demanda e com as exportações se tornando mais

regulares, a Karsten cria uma nova estrutura administrativa no final da década de

1980, com isso, se implanta um Departamento de Exportação.

Na Tabela 2, são apresentados os dados de 1973 até 1981, com os

coeficientes de exportação e a porcentagem dos volumes que eram destinados ao

mercado externo. Os dados contêm a variação nesta década, início de 1973, até o

pico de 45% em 1979/1980 (julho/junho).

Tabela 02: Coeficiente de Exportação (%) desde 1973 até 1981 (período Julho-Junho) 1973 1974/75 1975/76 197677 1977/78 1978/79 1979/80 1980/81

9,99% 30,9% 37,0% 35,1% 35,4% 39,3% 45,3% 41,8%

Fonte: Elaboração do autor, dados secundários pesquisados (Relatório Anual).

Em 1982, a Karsten completa 100 anos e mantém 1200 colaboradores, com

uma produção mensal de 2 milhões de unidades confeccionadas. Por meio de

intercâmbio constante com os principais ateliês do mundo, detém exclusividade na

licença Walt Disney, ocupando o primeiro lugar nas exportações brasileiras de

produtos têxteis da linha de toalhas de mesa. Atende ao Mercado Comum Europeu,

à Escandinávia, aos Estados Unidos, à Austrália, à Nova Zelândia e à América do

Sul, totalizando 25 países, que consomem 40% da sua produção (KARSTEN, 1982).

Na Tabela 3, são apresentados os dados de 1981 até 1989, com os

coeficientes de exportação. Os dados comprovam em termos de porcentagem. A

variação nesta década foi de 33% em 1982/83 até o pico de 64% em 1988.

Tabela 03: Faturamento de Exportação (FOB US$) e % de participação (1981 até 1989) 1981/82 1982/83 1983/84 1985 1986 1987 1988 1989

40,6%

33,5%

44,9%

36,1%

42,3%

49,5%

64,5%

43,1%

Fonte: Elaboração do autor, dados secundários pesquisados (Relatório Anual).

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A década de 1990 marca o auge das exportações e do processo de

internacionalização. A empresa exportava para mais de 45 países e os volumes de

exportação alcançavam os coeficientes de 50/-60% do faturamento. A Karsten

liderava as exportações brasileiras de toalhas de mesa com 70% e toalhas felpudas

com 23%. Do total exportado em artigos para mesa e banho, 27% são da Karsten. É

também uma das maiores fabricantes de toalhas de mesa de Natal do mundo,

oferecendo uma vasta gama de designs e tamanhos (KARSTEN, 2006).

Inicia-se uma nova fase com a produção de tecidos planos e felpudos

Jacquard de alto valor agregado.

A decisão quanto aos riscos da rápida renovação da produção estava certa e mais, colocou a Karsten na primeira linha dos exportadores mais bem-sucedidos. Com produtos inovadores, melhores preços foram alcançados, que de outra forma não seriam alcançados neste negócio. Os lucros esperados pelo exportador nessas áreas não são fáceis de serem atingidos (KARSTENINT).

Ainda, segundo Schwarzien, a Karsten alcançou na Europa com os desenhos

exclusivos das marcas Walt Disney uma posição especial entre os habituais

fornecedores de importação. O processo complicado com a logística de produção de

toalhas de mesa fez com que os fabricantes com possibilidades técnicas

semelhantes não entrassem na competição. A Karsten foi comparada, por seus

clientes, em produtos e em confiabilidade, com os fabricantes europeus.

Em Dezembro de 1997, após a morte do então Diretor Vice Presidente, Sr.

Gunar Karsten, que esteve à frente dos negócios internacionais, a empresa manteve

o seu ritmo de expansão internacional com o envolvimento e o comprometimento

dos diretores familiares, os Srs. Ralf Karsten (Presidente do Conselho, 3ª geração),

Carlos Odebrecht (Presidente, 4ª geração) e João Karsten Neto (Vice Presidente, 4ª

geração).

Esta década também é marcada com a fase mais internacional. A empresa

fez a abertura de três subsidiárias, a primeira nos Estados Unidos, em Nova Iorque,

em 1996; na Argentina, em Buenos Aires, em 1997; e na Alemanha, em 1998, na

cidade de Düsseldorf, para promover a sua maior presença e o nome da marca

Karsten nos mercados.

Na Europa, a Karsten Europa GmbH realizou a distribuição de diversos

produtos, alguns exclusivos e outros licenciados, além de fazer sourcing de novos

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produtos, participação em feiras internacionais, etc. A Karsten Europa foi gerenciada

no início pelo Sr. Schwarzien (Alemão contratado pela Karsten) até 2002, quando se

aposentou e após, por um gerente expatriado do Brasil.

Na Tabela 4, são apresentados os dados de 1990 até 2000, com os volumes

de exportação em US$, bem como o coeficiente de exportação em %. Os dados

comprovam os altos índices representativos com as exportações, variando de US$

41 milhões em 1990 até o pico de US$ 59 milhões em 1995. O faturamento da

época alcançava recordes históricos.

Tabela 04: Exportações da Karsten, 1999-2000 (US$ mil FOB) e % do faturamento VOLUME DE EXPORTAÇÃO DA KARSTEN (US$ mil FOB) e % do faturamento entre os

anos de 1990-2000

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

41.865 43.096 48.576 58.383 51.523 59.856 55.711 55.260 45.989 43.575 44.559

44,4 64,1 70,4 66,2 57,9 53,8 51,7 55,0 44,4 49,5 48,2

Fonte: Elaboração do autor, dados secundários pesquisados (Relatório Anual).

Assim, o processo de internacionalização de maior relevância foi na década

de 1990 e, em termos da velocidade, foi média; o escopo foi médio e o ritmo

irregular de expansão.

No final da década de 1990, com as mudanças nos mercados de exportação

na Europa e com as novas zonas de livre comércio, os exportadores brasileiros já

não tinham preços competitivos para os importadores europeus pela evolução dos

salários no Brasil e com a nova moeda estabelecida, o Real, e ainda com 14% de

imposto de importação (II) na Europa. Exportadores de Portugal e Turquia eram

fortes concorrentes para as empresas brasileiras. Prazos de entregas mais curtos e

produtos livres de II foram os principais motivos.

As mudanças nos mercados de exportação continuaram. Em 2000, surgiram

novas zonas de livre comércio, novas regras da OMC, bem como o aumento da

concorrência dos asiáticos e, desta forma, os preços não eram mais competitivos,

vindo a Karsten a perder sucessivamente o market share nos dois maiores

mercados, os EUA e a União Europeia.

Fazendo uma retrospectiva das vendas no mercado externo da Karsten,

enquanto a receita de vendas em 2001 ainda foi de US$ 44.734 mil; em 2002 atingiu

os US$ 45.634 mil devido à desvalorização do Real frente ao dólar americano e ao

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incremento no volume físico de produção. Até 2004, mais da metade do faturamento

da empresa ainda vinha do mercado externo. Em 2005, porém, o percentual das

vendas externas caiu para 46%, em 2006 para 38% e em 2007 para 5%.

Atualmente, este percentual está na casa dos 5/-10%, basicamente exportando para

o MERCOSUL, os EUA e a UE.

A Karsten, devido à sua bem-sucedida e exclusiva gama de produtos no

mercado internacional, ainda ficou atuando mais tempo do que outros concorrentes

brasileiros. Em 2006, a Karsten finalizou o seu processo de profissionalização, e os

integrantes da família controladora passam a compor o conselho de administração,

orientando as políticas e as diretrizes gerais da empresa.

4.3.2 Família e Internacionalização da Karsten

Uma das características principais é a cultura familiar da empresa. A Karsten

sempre esteve nas mãos da família, desde a fundação, em 1882, e o envolvimento

nos negócios internacionais, a visão de longo prazo, também foram determinantes

para alcançar o êxito e o reconhecimento no exterior. Na fala do Diretor Comercial:

[...] dois empreendedores da família, os dois diretores da 4ª geração, ambos recém-chegados de seus estudos da Europa, Gunar Karsten (filho de Walter), que tinha uma visão clara do mercado externo e quais os caminhos a seguir, levou a empresa ao grande diferencial ao ponto de ser a maior exportadora brasileira de artigos têxteis para o lar. Já o empreendedor Carlos Odebrecht (bisneto do fundador), que tinha uma visão técnica e gostava muito de inovação, faziam uma boa dupla que funcionou e levou a empresa a um patamar de excelência na década de 90. A Karsten já era uma grande empresa, mas com este volume de 60% na exportação era, talvez, a maior empresa brasileira voltada à exportação na época (KARSTENDIR).

A empresa abriu o seu capital em 1971 e mantém uma política de partilha de

dividendos e, assim, organiza a holding familiar. De acordo com o Presidente:

[...] em Outubro de 2014, houve a venda de 25% do seu capital para o grupo da AMAR, criada pelo ex-sócio da Dudalina, com um investimento de R$ 40 milhões. A família Karsten permanece com 50% do capital, e as demais ações seguem divididas no mercado, uma vez que a empresa está listada na Bovespa (KARSTENPRES).

Em 1998, a empresa passa para as mãos da quarta geração, com os

herdeiros descendentes da família, Carlos Odebrecht (bisneto do fundador) e João

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Karsten Neto (filho de Ralf Karsten, 3ª geração). Os dois diretores ficam no comando

até2005, quando finalizam o processo de profissionalização, e os integrantes da

família controladora passam a compor o conselho de administração, orientando as

políticas e as diretrizes gerais da empresa.

Em 2014, os dois diretores familiares João Karsten Neto, Presidente do

Conselho de Administração e Carlos Odebrecht, Vice-Presidente do Conselho,

ambos da 4ª geração; e Gil Karsten (5ª geração), também membro do Conselho,

atuam no comando da empresa e decidem as operações.

No que se refere à família nos negócios, o Diretor Europeu comentou que:

[...] a empresa sempre foi guiada por membros da família, os membros mais velhos estavam acostumados a passar os recursos e o bastão para as próximas gerações para multiplicá-los. Isso significava evitar riscos elevados e decisões rápidas para a expansão internacional. A meu ver, a decisão da família Karsten para começar o negócio de exportação foi correta e mais, colocou a Karsten na primeira linha dos exportadores mais bem-sucedidos (KARSTENINT).

Comenta o Vice-Presidente que o investimento de uma indústria têxtil é

intensivo em capital e que a família sempre esteve à frente dos negócios, investindo

o seu capital próprio para manter a fábrica com know how tecnológico atualizado e

pessoas qualificadas em todas as áreas. “Hoje é diferente, a empresa que não

conseguir se adaptar ao mercado e não tiver flexibilidade, não sobrevive, é o que a

teoria da evolução de Darwin já dizia” (KARSTENVICE).

Ainda de acordo com o Vice-Presidente, nos EUA (Carolina do Norte/Sul),

todas as indústrias têxteis faliram e, hoje, apenas existem nove global players que

detêm 90% do mercado americano.

A internacionalização da Karsten trouxe uma visão mundial para manter a empresa na vanguarda, porém, hoje, com a falta de visão de longo prazo do governo, câmbio desfavorável, custo Brasil, entre outras e, com a entrada de produtos competitivos da China, Índia, Paquistão, a realidade é outra. Inclusive estes países têm atualmente todas as novas tecnologias, o que dificulta a nossa competição internacional (KARSTENVICE).

Segundo o Diretor Comercial, quando a família é a proprietária, as decisões

se tornam mais rápidas:

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[...] o olho gordo do dono engorda o boi. Os próprios donos que estão à frente dos negócios lutam para manter o capital deles, é o investimento deles, é a história deles, as decisões são tomadas mais rápidas, as dificuldades são enfrentadas de uma maneira mais dura e mais rápida também. Como a Karsten era uma empresa capitalizada e podia investir, ela aproveitou as oportunidades dos negócios, ela podia comprar um equipamento diferente para atender uma necessidade de um cliente, ela o fazia, com o networking a necessidade de um cliente poderia ser estendida a outro cliente, em outro continente, nós chegamos a vender para o Japão, um cliente muito exigente, e nós fazíamos os produtos mais complexos (KARSTENDIR).

O Diretor Europeu, ao comentar sobre o envolvimento da família nos

negócios, frisou:

Uma parte essencial do sucesso na estrutura do comércio internacional foi realizado pela família Karsten, a buscar da cooperação com parceiros na Europa e nos EUA, foi o que culminou em um negócio sustentável, exclusivo e contínuo. A minha opinião é notar que, em todas as conexões internacionais com empresas produtoras, a empresa Karsten tem desempenhado, de longe, um papel positivo, superior. O relacionamento de parceria com os proprietários familiares e os funcionários-chave, a compreensão mútua das necessidades dos outros, finalmente, levou ao um sucesso extraordinário (KARSTENINT).

No Quadro 14, demonstram-se os membros familiares no Conselho de

Administração e o histórico familiar da família Karsten.

Quadro 14: Membros e Histórico Familiar da Karsten Conselho de Administração

João Karsten Neto Presidente do Conselho de Administração

(4ª geração)

Carlos Odebrecht Vice-Presidente do Conselho de

Administração (4ª geração, bisneto do fundador)

Histórico Familiar

Nome Gerações familiares

Johann Karsten Fundador (1839-1918) 1ª geração

João Karsten Filho do fundador (1887-1976) 2ª geração Walter Karsten Filho de João (1917-1989) 3ª geração (neto do fundador) Ralf Karsten Filho de João (1927-2014) 3ª geração (neto do fundador)

Gunar Karsten Filho de Walter (1945-1997) 4ª geração (bisneto do fundador)

Carlos Odebrecht Filho de Edeltraud (filha de João) 4ª geração (bisneto do fundador)

João Karsten Neto Filho de Ralf 4ª geração (bisneto do fundador)

Gil Karsten Filho de Gunar, Membro do

Conselho de Administração 5ª geração

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

Ao longo de todas as gerações, desde a fundação em 1882 até a geração

atual, ano de 2014, no Conselho (4ª geração), a família esteve atuando nos

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negócios. Durante as entrevistas, ficou claro que a visão empreendedora e de longo

prazo em investir no mercado externo está no DNA. Adquirindo novas tecnologias e

fazendo parcerias traria um diferencial de competitividade e um padrão de

desenvolvimento superior, inclusive para o mercado nacional.

No Quadro 15, demonstram-se os indicadores da propriedade e do

comprometimento da família Karsten.

Quadro 15: Propriedade e Comprometimento familiar da Karsten INDICADORES PROPRIEDADE FAMILIAR COMPROMETIMENTO FAMILIAR

Percentagem de ações da família

50% das ações (desde Outubro 2014)

X

Membros ativos (gestão/conselho)

X Presidente do Conselho

Vice-Presidente Conselho Membro no Conselho

Holding familiar Sim Sim

Geração atual 4ª e 5ª 4ª e 5ª

Recursos Sim Sim

Influência da família no processo Internacional

Desde a fundação em 1882 em poder da família. Visão de negócios.

Visão de longo prazo.

Decisões ágeis, recursos, know how tecnológico, vendas em escala e escopo, redes de relacionamento,

subsidiárias.

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

4.4 Histórico da Empresa Familiar Marisol

No momento eu estou coordenando o processo de internacionalização e nós temos uma visão de longo prazo. Conhecemos o nosso maior ativo hoje, a Lilica, e queremos fazer mais negócios em moeda forte (MARISOLPRES).

Em 22 de maio de 1964, nascia em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, uma

pequena confecção de chapéus de praia, com a razão social de Belmiro Lonta & Cia

Ltda, pelas mãos de seu fundador Pedro Donini. Depois, a empresa passou a

industrializar artigos em malha de algodão, definindo o rumo de seu crescimento. A

atual razão social é decorrente da aglutinação das palavras: “mar” e “sol” = Marisol.

O fundador, Pedro Donini, tio do atual Presidente, tinha um espírito

aventureiro. “O sonho era conhecer Porto Alegre, mas para ir até lá precisava me

candidatar a músico do circo que já estava em Jaraguá” (MARISOLFUND).

Em 1968, a empresa se adapta a uma nova realidade, deixando de fabricar

chapéus de praia e incorpora uma Malharia, a Tricotagem e Malharia Jaguará, e

passa a atuar no mercado de vestuário. Segue crescendo nas décadas seguintes

com aquisições e ampliação da produção, focando na produção de commodities.

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Estávamos presentes em todas as principais feiras na Europa, principalmente na Alemanha e na Itália, com isso começamos a fabricar roupas infantis. Comprávamos maquinário importado e exigíamos que a fábrica nos levasse para ver a máquina funcionando, com isso já aprendíamos a ver o que se estava fabricando na Europa. Por que inventar o que já estava inventado [...] (MARISOLFUND).

No final da década de 1970, início dos anos 1980, a Marisol inicia o processo

de exportação: “Eu cuidava da exportação, como dono a gente cuidava de tudo, e no

fundo não cuidava de nada” (MARISOLFUND). A primeira exportação foi para a

Alemanha: “[...] eles nos procuraram, eles tinham agente de compra no Brasil”,

afirmou o fundador.

A criação da Marisol Nordeste, em 1998, marcou o aumento da meta de

exportar para os Estados Unidos e países do MERCOSUL.

A filha mais velha do fundador já estudava design no Brasil e, ao final do

curso de graduação, foi à Itália estudar design de moda para poder auxiliar o pai nas

criações. Ainda em Milão, cria a marca Criativa moda jovem, sendo este o primeiro

sucesso da Marisol.

Na primeira metade da década de 1990, lançam no mercado suas marcas

infantis mais conhecidas: a Lilica Ripilica & Tigor.

Desde 2000, a Marisol começou a desenvolver as suas redes de franquias e,

desde então, passou a ser reconhecida gestora de marcas e canais de distribuição

em vestuário.

Ainda no ano 2000, o fundador, Sr. Pedro Donini, vende parte da empresa

para o seu irmão, o Sr. Vicente Donini, que assume a Presidência do Conselho. Dois

anos depois, em 2002, o fundador vende todas as ações para seu irmão. As filhas

do fundador não tinham interesse em assumir a empresa, enquanto que os filhos do

Sr. Vicente já estavam sendo preparados para trabalhar na empresa.

Em 2005, há um aumento da presença internacional da empresa com a

inauguração da subsidiária na Itália, a Marisol Europa SRL.

Em 2008, Vicente Donini deixa a Diretoria Executiva e passa a ocupar o cargo

de Presidente do Conselho de Administração da Marisol S.A. e seu filho Giuliano

Donini assume o cargo de Diretor-Presidente (MARISOL, 2015).

Em 2014, a Marisol completou 50 anos de fundação e consolida sua posição

de líder nacional no segmento de confecção e de franquias infantis. A Marisol é uma

empresa de capital fechado, empregando mais de 3000 colaboradores em suas

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duas unidades fabris, gerenciando as marcas Marisol, Mineral, Lilica Ripilica & Tigor

T. Tigre, com um faturamento bruto, em 2014, na ordem de R$ 621 milhões

(MARISOL, 2014).

4.4.1 O Processo de Internacionalização da Marisol

Como já mencionado pelo fundador, no final da década de 1970, no início da

década de 1980 iniciam-se as exportações para a Alemanha e depois para o

Paraguai e Argentina. Porém, essas vendas eram esporádicas e pouco expressivas

para a empresa. “Já naquela época a Europa sentia o peso da concorrência

Asiática. A Itália, por exemplo, já iniciava o processo de produção dos produtos

têxteis na Europa” (MARISOLFUND).

A década de 1990 marca o início das operações de internacionalização da

Marisol. Com suas vendas bem estruturadas no mercado interno e por acreditar que

as atividades não deveriam se limitar às fronteiras do país, a empresa decide iniciar

uma nova fase e investir gradualmente rumo aos desafios do mercado externo,

tendo como objetivo tornar-se conhecida e expandir-se inclusive com as suas

marcas, já consagradas no Brasil.

Durante a década de 1990, na gestão do então Presidente Vicente Donini, a

partir de um contato numa feira internacional na Europa, a empresa começou a atuar

no Oriente Médio com distribuidores locais. É um movimento inicial, muito mais

aproveitando uma oportunidade do que um planejamento estruturado.

Na visão do atual Presidente, ao se posicionar sobre o mercado externo,

afirma que:

[...] a conquista do mercado internacional é um somatório de oportunidades e planejamento. Gostamos de falar que éramos muito mais comprados do que vendidos, ou porque nós tínhamos competência, competitividade numa tipologia de produtos específicos, ou porque tínhamos uma capacidade específica naquele momento que alguém queria (MARISOLPRES).

Ao longo deste período, a Marisol estabelece exportações com clientes

europeus, basicamente para a Alemanha, e um cliente no sul da Itália. Segundo o

Presidente, nesta fase são comercializadas as marcas de terceiros (private label),

porque os clientes europeus ainda não conheciam os produtos da Marisol.

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Com a abertura comercial na década de 1990, a Marisol seguiu o caminho de

outras empresas brasileiras e estabeleceu, em 1995, uma subsidiária de vendas na

Argentina, visando à exportação para a América do Sul. Devido à crise na economia

argentina em 2001 e com a diminuição das vendas, a empresa busca outros

mercados para expandir o seu potencial de produção.

Na entrevista com o Presidente, em 1998, após a criação da Marisol

Nordeste, iniciou-se a primeira etapa do processo de internacionalização. Foi a

primeira vocação da empresa e 90% da produção no Nordeste foram destinadas

para a exportação direta de private label para o MERCOSUL e para os EUA.

Foi uma etapa de aprendizado a exportação para o mercado norte-americano:

[...] apesar de ter atingido um volume significativo de vendas neste modo de entrada nos EUA, a empresa teve que enfrentar uma série de dificuldades. Além das questões culturais na maneira de fazer negócios, desde o estabelecimento de rígidos prazos e horários de entrega até a especificação e a aprovação dos altos padrões de qualidade das peças, era um mercado extremamente competitivo e muito visado por todos (MARISOLPRES).

De 1998 a 2000, a unidade no Ceará foi direcionada à exportação e, depois,

por falta de competitividade, foi reestruturada. Manteve-se as exportações para o

Paraguai, Bolívia, Peru e México.

Desde 2000, a empresa começou a investir na aquisição e na gestão de

marcas e nos canais de distribuição, passando para o ramo da moda e do vestuário.

A empresa foi reconhecida com as marcas Marisol, Lilica & Ripilica, Tigor T. Tigre e

Pakalolo, e também com as redes de franquias Lilica & Tigor e Rosa Chá, e da Rede

de Valor One Store.

Continuando a sua expansão, em 2002, a Marisol inicia uma nova estratégia

de entrada nos mercados norte-americano e europeu. Como explica o Presidente,

“[...] queremos introduzir e valorizar as nossas próprias marcas para obter melhores

margens e tornar-nos conhecidos nestes mercados” (MARISOLPRES).

Nesta fase, a empresa prospectou novas oportunidades, principalmente em

feiras internacionais, o que gerou oportunidades de expansão também na América

do Sul, gerando, em 2002, uma média de R$ 3 a R$ 4 milhões em vendas pelo

interesse demonstrado de alguns parceiros com a marca da empresa. “Não que seja

fácil vender para a América do Sul, mas é menos difícil do que em mercados mais

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distantes, como são os mercados norte-americano e europeu, que são distantes

tanto fisicamente, quanto culturalmente” (MARISOLPRES).

Nesta abordagem expansionista mais seletiva e com a estratégia de investir

na construção de suas marcas premium e de luxo, a empresa estabelece, em 2005,

a sua primeira subsidiária na Europa. Relata o Presidente:

[...] que a primeira hipótese foi ir a Portugal (distância cultural, língua, etc.) e a nossa decisão foi ir para Itália, já que a família da Marisol é de origem italiana, e devido à cultura de moda ser muito desenvolvida. Assim montamos em 2005 a Marisol Europe SRL com gente nossa. Contratamos um estúdio de design, para nos assessorar e estruturar os nossos produtos, fizemos uma italianização do nosso produto. A intenção era validar o novo posicionamento e internacionalizar a marca Lilica e Ripilica. Queríamos entrar forte na Europa (MARISOLPRES).

Para a Marisol, está subsidiária representou um projeto ambicioso, pois

vencer na Itália seria um pré-requisito, um qualificador, pois, vencendo neste país,

conhecendo ser o consumidor italiano um consumidor exigente, com um vínculo

forte com a moda, a Marisol teria mais competências para vencer em outros países.

Na visão do Presidente, a empresa tinha que se adaptar à realidade dos italianos,

para se internacionalizar e este esforço todo serviria de base para trazer esta

realidade também para o Brasil, ou seja, uma coleção italiana para o Brasil para ter

ganhado de escala. A Marisol também almejava se internacionalizar e se tornar uma

marca mundial, que agradava mundialmente.

Ainda em 2005 a empresa abre uma subsidiária no México, a Marisol México

S.A. de C.V., considerada uma posição estratégia na exportação, perto dos EUA e

pela facilidade e proximidade cultural com o Brasil. Em pouco espaço de tempo, esta

empresa se tornou o segundo maior fornecedor de roupa infantil no México. Porém,

com a mudança brusca na legislação (OMC), os impostos de importação do Brasil

foram majorados para 35%, o que inviabilizou toda a estrutura montada, obrigando a

reestruturar a operação local. Entretanto, a empresa não desistiu do mercado e

voltou a exportar por meio de distribuidores locais.

Em 2006, foi inaugurada a primeira loja própria da grife Lilica em Milão na Via

Della Spiga, no quadrilátero da moda italiana; em seguida, uma loja franqueada em

Nápoles (Sul da Itália); na Espanha; e em Portugal.

As exportações representam 6% do faturamento anual da empresa, que já é

superior a R$ 350 milhões em 2006 e todas as marcas eram exportadas para 11

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países: na Espanha (250 pontos de venda), em Portugal (180 pontos de venda) e

revendedores na Bolívia, Chile, Colômbia, Espanha, EUA, Guatemala, Itália, Líbano,

Peru, Portugal e Turquia.

Ainda em 2006, a Marisol faz uma parceira nos EUA com a Cotia Trading,

com a marca Rosa Chá, que nessa época já tinha uma significativa presença

internacional no mercado americano (Loja em Miami) na gestão da grife de moda

praia.

Em 2007, com a desvalorização do real em relação ao dólar americano, há

mudança de estratégia da empresa, deixando de exportar o private label e focando

agora somente nas suas marcas próprias e passa a contar com 17 franqueados e,

em 2008, com mais duas franquias na Europa (Portugal e Espanha).

Tendo assumido a Presidência da empresa em 2008, Giuliano chamou à sua

responsabilidade o processo de internacionalização como assunto prioritário e

buscou entender melhor os mercados, ganhar sinergia nas operações e o mais

importante, consolidar as marcas em mercados selecionados para não depender

das flutuações cambiais, comuns na época. Ainda em 2008 inaugura em Nova

Iorque a Maison da Rosa Chá no bairro Soho, ao lado de marcas como Ralph

Lauren e Empório Armani.

A loja própria em Milão (Lilica Ripilica, marca moda infantil feminina) e a loja

em Nova Iorque (Rosa Chá, marca moda praia) marcaram o início de uma nova fase

no processo de internacionalização da Marisol e desempenham um papel

fundamental na promoção da imagem destas marcas e do “Made in Brazil”.

Devido à crise financeira nos EUA em 2008 com o subprime, a empresa

encerrou as atividades naquele país e na Europa e, em especial com a crise na

Itália, a empresa tomou a decisão em 2010 de encerrar as atividades com a loja

própria em Milão. O Presidente afirmou que “[...] nós não desistimos do mercado,

pois a cultura americana tem uma cultura de recuperação muito grande que

impressiona, nós desistimos apenas da marca Rosa Chá” (MARISOLPRES).

A empresa ainda apresentava um grau relativamente baixo de

internacionalização, dado que apenas cerca de 8% do seu faturamento era

proveniente de atividades no exterior, atingindo R$13 milhões em 2009. Desde 2008

a empresa buscou atender a uma maior demanda da nova classe “C” no Brasil, que

estava despontando e, para não perder o Market share no país, foca no mercado

interno.

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Em 2010, após 15 anos do processo de internacionalização, a Marisol

reestrutura a sua subsidiária comercial na Europa, passando a estabelecer uma

parceira com um operador local.

Nesta década, a mais internacionalizada, a Marisol tinha presença em 12

países no exterior (México, Bolívia, Chile, Colômbia, Espanha, EUA, Guatemala,

Itália, Líbano, Peru, Portugal e Turquia), para os quais exportava as suas marcas,

além de atender aos clientes tradicionais na América Latina. No exterior contava

com 19 lojas, sendo duas próprias, Rosa Chá, em Nova Iorque e Lilica, em Milão e

as outras 17 lojas, franquias localizadas em diferentes mercados, como: Itália,

Portugal, Espanha, Líbano, Chile, Colômbia, Peru, Guatemala e Bolívia. O plano de

expansão passava pelas franquias. As vendas de exportação representavam cerca

de 7 a 8% do faturamento total da empresa.

Assim, o processo de internacionalização de maior relevância foi na década

de 2000 e em termos da velocidade foi lenta; o escopo foi estreito e o ritmo irregular

de expansão.

Segundo o Presidente, agora em 2015, a Marisol quer retomar aos mercados

internacionais. Ela não possui fábricas fora do país, mas gerencia a produção na

ÁSIA com um escritório terceirizado em Hong Kong e, em 2015, importa 30% do

negócio.

Nossas três experiências, com estrutura nossa, Itália, EUA, México foram interrompidas, só onde tinha distribuidores, diminuímos os volumes, mas não interrompemos. De 2012 para cá, estamos fazendo diversas movimentações. Contamos nossa história por décadas: década de 60, pequena malharia; década de 70, entramos no vestuário; década de 80, grande malharia; década de 90, expandimos marcas; no início década de 00, entrou canais de distribuição e esta década, reforçando a nossa história de marcas e varejo de distribuição, liderando o segmento de vestuário infantil. Isso não quer dizer que não queremos o segmento adulto, mas queremos ser líder do infantil (MARISOLPRES).

De acordo com o atual presidente:

[...] estou trabalhando em duas frentes de estudo, com um parceiro no Paraguai e o mais importante é a nossa intenção de voltar para os EUA, mas agora com uma marca de confiança. Paraguai está encaminhada e EUA eu vou segurar ainda um tempo para estruturar (MARISOLPRES).

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4.4.2 Família e Internacionalização da Marisol

Desde o início a Marisol soube aproveitar as redes de relacionamento em

diferentes fases do processo de internacionalização. Os contatos em feiras

internacionais possibilitaram oportunidades com futuros distribuidores e

franqueados. A abertura de subsidiárias possibilitou o crescimento de vendas no

mercado externo e o acesso a novas tecnologias e a tendências de moda e design,

know how logístico, parcerias, etc.

A participação em eventos internacionais, como na feira Pit Bimbo na Itália,

na Fashion Week no Rio de Janeiro, desfiles com a marca Rosa Chá em Nova

Iorque e na feira de Miami, na semana de moda linha praia, foram algumas das

estratégias usadas pela Marisol para formar parcerias com clientes, fornecedores,

entre outros. O gerenciamento do escritório terceirizado em Hong Kong também

possibilita para a empresa novas fontes de sourcing e acesso a tendências

internacionais.

A empresa sempre foi de propriedade familiar. O Presidente salienta que:

Meu pai entrou em 1991 (egresso da WEG), a WEG acabou entrando na Sociedade, 50% WEG e 50% Vicente Donini, e início de 1991 até 96-97, o meu tio Pedro Donini tinha 2 filhas, mas não queriam entrar na empresa. A Marisol estava passando por um processo de reengenharia e dificuldades de mercado. Até 2012 fechamos o capital, nesta época, a família tinha 40% de capital total e fomos ao mercado comprar 60% para fechar o capital (temos 67% das ações ordinárias e comandávamos o negócio). Temos outros negócios familiares, uma holding, uma financeira, seguro, imobiliário, etc. Hoje a Marisol tem 100% da Holding GFV Participações Ltda (MARISOLPRES).

O Presidente Giuliano assumiu a Presidência em 2008, e está desde 1999 na

Marisol, é formado em Arquitetura e fez pós-graduação em Design de Moda em

Milão, na Itália. Atuou como analista de mercado e produtos, Diretor da Divisão de

Calçados, Diretor de Marketing. Participou ativamente das principiais mudanças de

diretrizes do grupo, principalmente no que se refere à internacionalização das

marcas e a implantação do processo de tornar a Marisol uma gestora de marcas e

de canais de distribuição no segmento da moda (MARISOL, 2014).

A família está ativa e envolvida na empresa. No Conselho de Administração

está Vicente Donini; o pai de Giuliano, como presidente; e seu filho Giorgio Rodrigo

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Donini, irmão de Giuliano, na Vice-Presidência do Conselho. Na Presidência está

somente Giuliano e não há mais membros da família na gestão.

Segundo o Presidente, “o alinhamento das decisões é mais rápido quando de

governança corporativa da família” (MARISOLPRES).

No Quadro 16, constam os membros da família no Conselho de

Administração e o histórico familiar, ou seja, as gerações atuais da Marisol.

Quadro 16: Membros e histórico familiar da Marisol Conselho de Administração

Vicente Donini Presidente do Conselho de Administração

Giorgio Rodrigo Donini Vice-Presidente do Conselho de Administração

Cargo Executivo

Giuliano Donini Diretor Presidente Executivo

Histórico Familiar (gerações na empresa)

Pedro Donini Fundador (irmão de Vicente)

Vicente Donini Presidente Conselho, 1ª geração, irmão de Pedro

Donini

Giuliano Donini Presidente Executivo, 2ª geração, filho de Vicente

Donini

Giorgio Rodrigo Donini Vice Presidente Conselho, 2ª geração, filho de

Vicente Donini

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

No Quadro 17, demonstram-se indicadores da propriedade e

comprometimento familiar no processo internacional da Marisol.

Quadro 17: Indicadores da propriedade e comprometimento familiar da Marisol INDICADORES PROPRIEDADE FAMILIAR COMPROMETIMENTO FAMILIAR

Percentagem de ações da família

100% familiar X

Membros ativos (gestão/conselho)

X Presidente do Conselho

Vice-Presidente do Conselho Diretor Presidente

Holding familiar Sim Sim

Geração atual 1ª e 2ª 1ª e 2ª

Recursos Recursos próprios Recursos próprios

Influência da família no processo internacional

Desde a fundação em 1964

em poder da família.

Sucessão planejada.

Visão de longo prazo.

Decisões ágeis, recursos, know how tecnológico, lojas One Store e Marisol, Lojas Multimarcas e

Subsidiárias, Outsourcing Aquisição de Marcas.

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

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4.5 Histórico da Empresa Familiar Rohden Ltda

“Começamos exportando portas de mogno em 1985 para a Inglaterra e, em 1987, nós conseguimos entrar no mercado do Pinus e exportar portas de Pinus, porque havia muito mais clientes interessados, por ser um produto mais barato” (RODHENPRES).

A história da Rohden, com sede em Salete (SC), começa em 1938, quando

Samuel Rohden inicia a produção de móveis, portas e janelas em uma pequena

marcenaria, com maquinário importado da Alemanha, movido à água (ROHDEN,

2015).

O Diretor Presidente explicitou a dificuldade enfrentada pela família no início

das atividades:

Meu pai, Samuel Rohden, começou a empresa em 1938, era na verdade uma pequena marcenaria, para a fabricação de móveis e ele fez um curso em Blumenau, aos 17 anos de idade, sem salário, para aprender o ofício de marceneiro, durante um ano e, no final, recebeu um corte de terno. Então ele veio para cá, sem máquinas, começou rudimentar, bastante manual a fazer móveis, cadeiras, mesas, guarda-roupas e este processo foi indo muitos anos, se juntou com seu irmão, Cornélio Rohden, para fazer uma sociedade com 50% das ações, e ampliar um pouco o negócio (ROHDENPRES).

Em 1954, houve a parceria entre Samuel e seu irmão Cornélio, formando o

grupo Rohden, a Fábrica de Esquadrias Rohden Ltda, com 10 funcionários e, na

época, os pioneiros no Brasil a fabricarem carretéis para cabos elétricos. Na mesma

época, a empresa começou a produzir portas e vender em São Paulo, mas não deu

certo e, em seguida, venderam portas para o Rio de Janeiro e isto foi o carro chefe

da empresa por muitos anos (ROHDEN, 2015).

O Presidente relata que, no final dos anos de 1960, sob a razão social

Rohden S.A., iniciou-se a produção de carretéis de madeira para cabos elétricos. O

Brasil estava atravessando uma fase de expansão e as próprias empresas faziam os

carretéis, mas havia necessidade de expandir os negócios. No final dos anos de

1960:

[...] o meu pai o primeiro a produzir este produto e virou o principal negócio, metade da produção, depois menos e nos anos e 1975 a 1985 era praticamente só bobinas de carretéis, mas sempre produzindo também as portas. As janelas já tinham sido abandonadas antes (ROHDENPRES).

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111

Em 1979, a Rohden dividiu-se em duas empresas, e Samuel ficou com a atual

Rohden Artefatos de Madeira Ltda em Salete (SC). A empresa, nessa época,

introduziu a madeira pinus. No relato do Presidente, uma madeira muito fina, difícil

de cerrar na produção e, posteriormente, em 1987, surgiu a oportunidade de fabricar

portas de pinus (ROHDENPRES).

Em 1991, Samuel Rohden (fundador) resolveu dividir as cinco empresas que

tinha e distribuiu cotas para cada um de seus 12 filhos. O atual Presidente ficou com

a empresa em Salete (SC) e foi estruturando a empresa e buscando novos

mercados para as portas de pinus, viajando para os EUA.

Na fase de expansão, segundo relata o Presidente, em 1998 foi construída

uma nova fábrica, visando ao mercado americano e, em janeiro de 1999,a empresa

iniciou a exportação de portas de pinus. Este foi o maior investimento realizado

visando exclusivamente à exportação desta nova unidade industrial.

Em 2005, nasceu a Rohden Vidros, para atender uma demanda internacional

na exportação de portas com diversos acabamentos em vidro (um nicho de

mercado) e também atuando no mercado nacional em diversos segmentos

(ROHDEN, 2014).

Por meio de projetos de replantio de mudas, a Rohden preserva os recursos

naturais de forma econômica e racional e faz a manutenção do ecossistema. A

empresa é conhecida nos mercados mundiais mais exigentes e detém o Certificado

Forest Stewardship Council (FSC) (ROHDEN, 2014).

Em 2015, segundo o Presidente, o grupo possui três empresas: Rohden

Portas e Artefatos de Madeiras, Rohden Vidros e uma Unidade de Portas para o

mercado brasileiro. O grupo Rohden tem 850 funcionários e aproximadamente são

fabricadas 40.000 portas de pinus/mês, com um faturamento na ordem de R$ 90

milhões em 2014.

4.5.1 O Processo de Internacionalização da Rohden

A Rohden iniciou as exportações na década de 1980 e o ano de 1985 marca

o início do processo com portas de mogno para a Inglaterra.

A empresa começou, em 1985, com um distribuidor exclusivo na Inglaterra.

Esse distribuidor era denominado de Rohden UK (RUK), porém era 100% britânica,

mas atualmente a Rohden Vidros é sócia, menciona o Gerente Comercial.

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112

Isto foi o início e, em seguida, fomos produzindo mais portas. Em 1988 fomos aumentando a produção e, em 1989, paramos de produzir portas para o mercado interno. De 1990 para frente trabalhamos somente para a exportação e aumentando gradativamente as exportações para a Europa (ROHDENCOM).

Segundo o relato do Gerente Comercial, o distribuidor na Inglaterra importa

há 30 anos, vende e distribui para as grandes lojas. A Inglaterra dependia da

importação para atender à demanda do mercado interno e isto representou um nicho

de mercado muito grande no período de 1987 até 1997. Durante 10 anos as

exportações da Rohden se concentraram na Inglaterra, representando, em termos

de volume e de produção, 95%; e para os EUA, aproximadamente, 5%. A Rohden

foi a pioneira na exportação de portas de pinus.

Na década de 1990, o Presidente viajou diversas vezes para os EUA para

prospectar novos clientes, visando à expansão da produção internacional de portas

de pinus sem o nó.

Eu comecei e foquei muito nos EUA, eu viajei muito para lá. Nós começamos com portas de pinos com nó, uma porta mais simples, e o mercado norte-americano exigiu uma porta bem melhor, uma porta ‘clear of not’, uma qualidade bem acima da feita para a Inglaterra (RODHENPRES).

Nessa época, são construídas novas unidades de produção destinadas para a

exportação, com 40.000m2 de área construída, com 1000 colaboradores. A empresa

inicia, em 1997, a produção da porta clear of not para os EUA e, devido à

capacidade de produção ser muito grande, as vendas foram expandidas para outros

países.

Na década seguinte, entre 2000 e 2010, a empresa se expandiu e, além dos

EUA, exportou para Canadá, América Central, Caribe e Europa, além da Inglaterra.

Na Europa, os mercados de exportação foram Irlanda, Itália, Alemanha, Espanha e

Polônia, segundo o Gerente Comercial.

Esta fase marcou uma expansão de mercado muito grande, na avaliação do

Gerente Comercial:

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113

[...] com todo tipo de porta, com vidro, clear, porta de armário para Itália, houve muita capacidade produtiva, mas com muitos mercados e itens diferentes na produção (de 5 mil até 10 mil itens) atrapalhava a produtividade (setup). Exportamos também para a Coréia e Japão. Isto foi um dos principais motivos depois da crise de 2007, de fazer as portas só para os EUA e Inglaterra. Para citar um exemplo, durante a crise, a Espanha comprava regularmente de 80-100 contêineres/mês e depois só 2 contêineres/ano (ROHDENCOM).

Desta forma, o processo de internacionalização de maior relevância foi na

década de 2000 e em termos da velocidade foi lenta; o escopo foi estreito e o ritmo

irregular de expansão.

Em função da crise em 2007 do mercado imobiliário americano, os volumes

de exportação caíram drasticamente e a empresa teve que reestruturar toda a

fábrica, que tinha uma capacidade instalada de fabricar 80.000 portas de pinus/mês

(ROHDEN, 2014).

Em 2008, iniciou-se um trabalho com um produto de valor agregado, que é o

Kit porta batente e toda produção é destinada para a Inglaterra, madeira tratada com

pintura, de 2-3 CTN/mês, uma porta com vidro duplo, que atende às exigências do

mercado europeu. “Temos uma tecnologia boa para fabricar esta porta e estamos

tentando vender para EUA também” (ROHDENCOM).

No relato do Presidente, em 2011, com a crise nos EUA e também na Europa,

a empresa enfrentou dificuldades, porém, no início de 2012, com a melhora de

câmbio, a empresa voltou a exportar novamente para os mercados dos EUA e

Inglaterra.

Na verdade, em cada crise a empresa se beneficiou bastante, e teve muita melhoria de processos, novas tecnologias com menos mão de obra, mais controles e, com cada crise, saímos mais fortalecidos, e para sobreviver, temos que melhorar cada vez mais (RODHENPRES).

Em 2012, a exportação da empresa estava concentrada em 55%, para os

EUA; 35%, para a Inglaterra; e 10%, para outros mercados (Caribe, Coréia, Canadá,

Japão) e, em 2014, a produção de exportação representa 500 contêineres/ano e,

para 2015, a projeção é de 580-600 contêineres/ano, 100% destinada à exportação,

segundo a avaliação do Gerente Comercial.

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4.5.2 Família e Internacionalização da Rohden

A família sempre esteve envolvida no processo internacional, desde o início

da década de 1980. Há 30 anos (1985-2015), existe a parceria com o distribuidor na

Inglaterra, a Rohden UK (RUK), que faz a distribuição naquele país. A Rohden

também tem um escritório nos EUA, para atender uma necessidade financeira de

alguns clientes que só pagam internamente.

Neste processo de internacionalização, a Rohden manteve redes de

relacionamento ao longo das décadas com clientes e se expandiu com o distribuidor

exclusivo.

A família continua envolvida nos negócios, nas visitas em feiras, nas viagens

de negócios e na busca de novas tecnologias. Segundo o Gerente Comercial e o

Trader de Exportação, surgiu uma oportunidade de exportação de portas com vidros

para a Inglaterra. “Era uma caraterística deste mercado e a Rohden, para expandir

os seus negócios, começou a importar vidro e em seguida a fabricação própria,

destinada à exportação e assim surgiu a Rohden Vidros” (ROHDENCOM).

A família sempre foi a proprietária. O atual Diretor Presidente é o Sr. Lino

Rohden (2ª geração), o qual detém 100% das ações, não há diretores da família,

porém, em nível de gerência, a família aparece no organograma. O irmão, Sr. Flávio

K. Rohden (2ª geração) é o Gerente Comercial. A Rohden é uma empresa familiar,

mas dos herdeiros da família, somente o filho trabalha na empresa. A empresa está

profissionalizada.

No Quadro 18, demonstram-se os indicadores da propriedade e do

comprometimento familiar no processo internacional da Rohden.

Quadro 18: Propriedade e comprometimento familiar da Rohden INDICADORES PROPRIEDADE FAMILIAR COMPROMETIMENTO FAMILIAR

Percentagem de ações da família

100% das ações

X

Membros ativos (gestão/conselho)

X Presidente

Gerência Comercial Auxiliar Administrativo

Geração atual 2ª 2ª

Recursos próprios Sim Sim

Influência da família no processo internacional

Desde a fundação, em 1938,

em poder da família.

Sucessão planejada

Visão de longo prazo.

Decisões ágeis, Know how

tecnológico, Networking, Feiras e

Viagens Internacionais.

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

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Na visão do Trader de Exportação, há 26 anos na empresa:

[...] o Diretor, estando à frente dos negócios, a influência é positiva, uma atuação dinâmica, audaciosa, se comprometendo com a expansão, criação de novos produtos e de prospecção de novas tecnologias, e sempre planeja novas metas, crescer a cada ano (ROHDENEXP).

4.6 Histórico da Empresa Familiar Móveis Rudnick S.A.

A história da Rudnick inicia em 1938, quando o fundador, Sr. Leopoldo

Edmundo Rudnick, inicia a produção de móveis em um galpão de madeira no interior

na cidade de São Bento do Sul (SC). A partir de 1959, inspirados no talento e no

empreendedorismo do pai, os três filhos de Leopoldo, Alcides, Leomar e Ingomar,

entram na empresa como sócios, assim o empreendimento adquiriu novo impulso e

um ideal em comum une a família, uma fase de expansão e crescimento dos

negócios, culminando com o conglomerado atual (RUDNICK, 2014).

A empresa, Móveis Rudnick S.A., tem 75 anos de mercado, especializada na

produção de variados estilos de móveis, em madeira maciça, como em painéis,

sendo os principais: dormitórios, racks, hometheater, linha de decoração, entre

outros. Atende também o mercado internacional, onde iniciou as suas atividades na

década de 1980, com a produção de mesas de bilhar para a exclusiva empresa

americana “Brunswick Billiards”, líder mundial de bilhar desde 1845.

A Rudnick foi a primeira empresa do polo moveleiro na região a se diferenciar

das outras empresas, importando, em 1974, tecnologias da Alemanha para produzir

móveis em aglomerado.

[...] na verdade, foi uma diferenciação que levou a empresa à sua modernização. Ainda fez investimentos, comprando três empresas que estavam em dificuldades e cada uma era destinada a produzir coisas diferentes e foi neste processo que uma destas empresas, que não tinha um processo definido, e com a vinda da americana Brunswick Billiards, foi destinada a produzir mesa de bilhar (RUDNICKMEM).

Segundo o Presidente do Conselho, a empresa entra em uma nova fase,

inclusive uma mudança cultural, reconhecida no Brasil pela sua marca, mas sem

experiência internacional e com este novo desafio da Brunswick, “[...] eu posso dizer

assim, é o topo, é a melhor marca dos EUA, e lá se sabia disso, uma empresa muito

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tradicional, antiga, e então a gente acabou adaptando a qualidade, e isto, claro,

refletiu em outros produtos” (RUDNICKPRES).

O polo moveleiro de São Bento do Sul sofreu na década de 1980 uma forte

retração de mercado, devido à mudança da madeira maciça para a madeira de

pinus, porém o mercado nacional não aceitou os móveis fabricados com o pinus e as

indústrias se voltaram ao mercado externo. A Rudnick não foi afetada em virtude de

não produzir o pinus e, percebendo uma oportunidade, diversificou a sua linha de

produtos e atendiam todos os lojistas no mercado nacional.

A expansão da Rudnick na área internacional também ocorreu nesta década

de 1980, conforme relatou o Presidente do Conselho, quando surgiu a oportunidade

de iniciar a exportação de mesas de bilhar:

Foi meramente entre um Natal e Ano Novo, normalmente eu não estava na empresa, neste fim de ano eu estava na empresa e começamos a conversar, acabamos achando interessante, a mesa de bilhar era uma coisa nova para nós, uma coisa diferente, tinha a parte da qualidade, o processo era completamente diferente e tal e aí acabamos iniciando as exportações bem lentamente, e acabou crescendo ao longo de muitos anos (RUDNICKPRES).

4.6.1 O Processo de Internacionalização da Rudnick

“Há um certo conservadorismo familiar, esclarece o Gerente de exportação, que vê uma oportunidade da empresa em abrir um Centro de Distribuição no exterior, porém o desafio é grande, mas seria uma forma de crescer rapidamente e mais segura de trabalhar com a linha office furniture e também com private label.” (RUDNICKEXP).

A seguir, apresenta-se a descrição das fases internacionais da década de

1980 até a década atual.

A 1ª fase da expansão internacional (anos 1980):

Conforme já enfatizado, a produção da mesa de bilhar para a Brunswick nos

EUA marca o início das exportações. Como relatou o Presidente do Conselho:

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[...] a Brunswick tinha um escritório em São Paulo, eles são americanos, fabricantes dos motores de popa mercure e têm um setor de mesa de bilhar, que é uma empresa muito antiga nos EUA, e eles procuravam no Brasil empresas que fabricavam mesas de bilhar. E foi em torno de 1984, faz mais ou menos já uns 30 anos, e procuraram e iniciaram o processo com uma empresa em Farroupilha, e depois vieram aqui e nos procuraram. E na realidade, este foi o início, eles tinham um engenheiro no Brasil, que fez esta pesquisa, e acabaram nos procurando (RUDNICKPRES).

Conforme relatou o Gerente de Exportação, “tudo acabou levando seis meses

até sair o primeiro contêiner em 1984, e depois as coisas começaram a ser

desenvolver” (RUDNICKEXP).

A empresa familiar teve que adaptar toda a estrutura para a exigência da

qualidade, que era muito grande, na produção de madeira maciça, para atender

esse cliente:

[...] e fomos assim um dos fornecedores fiéis com eles e eles conosco, e durante este período eles queriam fazer contratos, e acabamos não fazendo contratos, nós chegamos a períodos de US$ 800 mil até o pico de US$ 1 milhão, nesta época, era uma questão de confiança, e ficou ao longo de muito tempo, dá para dizer que ficou praticamente 30 anos em andamento (RUDNICKPRES).

De acordo com os entrevistados, foi um período de muito aprendizado na

exportação e se faziam viagens constantes aos EUA para ver o andamento dos

negócios e das vendas dos distribuidores da Brunswick, porém este período

terminou em 2014. “Eu acho até em termos de relacionamento, pelo que eu

conheço, é um caso raro, ter um cliente assim por tanto tempo, foram 30 anos e o

último embarque ocorreu no ano passado” (RUDNICKEXP).

Praticamente as exportações estavam concentradas para os EUA nesta fase

e, esporadicamente, vendas para Angola, Moçambique, Libéria, Panamá, Porto

Rico, Suécia, Guiné Francesa e também para América do Sul, para a Venezuela,

Uruguai, Paraguai, Bolívia, Argentina e Chile.

A 2ª fase da expansão internacional (anos 1990):

Esta década foi conturbada devido ao Plano Real, o câmbio fez com que

muitas empresas perdessem a competitividade internacional, porém também foi uma

oportunidade, cujas empresas do polo moveleiro da região aproveitaram a

valorização do real em relação ao dólar americano, para modernizar o parque fabril.

A Rudnick diversificou a sua linha de produtos no mercado interno e continuou o

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ritmo de exportação das mesas de bilhar para os EUA. Na época, também se iniciou

a produção de móveis de escritório para a exportação. As vendas continuam

focadas para os EUA e o Canadá.

3ª fase da expansão internacional (anos 2000):

Nesta época, no início da década de 2000, o forte ainda era a mesa de bilhar,

porém a empresa desenvolveu uma linha de mesas de escritório.

[...] e, na verdade, o mesmo montante exportado já existia há mais de 15 anos, quando foi desenvolvida uma linha de escritório, Rudnick office furniture, para o mercado americano, e que foi sendo expandido através de diferentes distribuidores, mas o foco foi para os EUA (RUDNICKEXP).

As vendas geograficamente estavam concentradas nos EUA (90%) naquela

época, e Canadá e Porto Rico. O Gerente de Exportação comentou que, segundo

um levantamento feito entre os anos de 2001-2003, as vendas externas

representaram 60% do faturamento total da empresa. No mesmo período, o maior

cliente continuava sendo a Brunswick, porém a linha de mesas de escritório (office

furniture), vendida para outros distribuidores nos EUA, começava a ter

representatividade.

Assim, o processo de internacionalização de maior relevância foi na década

de 1980 e em termos da velocidade foi lenta; o escopo foi estreito e o ritmo irregular

de expansão.

O câmbio nesta década começou a prejudicar as empresas exportadoras, o

dólar valorizou muito. As exportações diminuíram e a empresa não conseguiu mais

competir em preço. Também entrou uma concorrência muito forte da China, do

Vietnã e da Indonésia. Muitas empresas locais desistiram de exportar e a Rudnick,

que tinha um volume alto na exportação, fez em 2006 um planejamento estratégico,

redirecionando boa parte da produção.

Segundo o Presidente do Conselho, por volta de 2005, os EUA começaram a

abrir o mercado para a importação da China. “Na realidade, a China estava

importando madeira do Brasil e fazia mesa de bilhar com madeira brasileira. E a

madeira brasileira lá na China custava mais barata do que aqui no Brasil”

(RUDNICKPRES).

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Em 2008, os EUA entraram em crise, houve uma queda nas vendas

internacionais, mas a Rudnick, com 70 anos de empreendedorismo, inicia novos

programas na linha de escritório contemporânea.

Segundo o Gerente de Exportação, nos EUA, se falar em Rudnick office

furniture, fabricada com uma lâmina de madeira brasileira (curupixá), o mercado

sabe que se trata da linha contemporânea de escritório, que há 15 anos (desde o

ano de 2000) está sendo vendida no mercado.

Infelizmente os volumes caíram bastante. O que acontece, principalmente, no início, quando se viu essa linha como oportunidade, não existia essa concorrência asiática, então a gente tinha os EUA inteiro (Costa Oeste e Leste) e depois a Ásia começou a entrar, nos EUA como um todo, e só na costa Leste, pelo Atlântico, a gente consegue ser competitivo até hoje (RUDNICKEXP).

Na visão do Gerente de Exportação, em 2014, na exportação, a linha office

furniture praticamente representou 90% das vendas e continuam geograficamente

focadas para os EUA com 54 contêineres anuais. No Canadá também há

distribuidores na linha office furniture e na América Latina, a Bolívia e o Paraguai são

os principais, comprando esporadicamente a linha residencial e de decoração de

alto padrão e salas de jantar. No Uruguai, a empresa está planejando uma parceria

para a distribuição da sua linha de produtos. O volume de vendas no faturamento de

exportação representou, em 2014, aproximadamente 4% de um faturamento total na

ordem de R$ 142 milhões.

Ainda em 2014, um novo ciclo se inicia na exportação. Pela primeira vez a

Rudnick inicia a produção com a madeira de pinus. Segundo o Gerente de

Exportação, a empresa sueca IKEA é a mais nova conquista da Rudnick e, no início

de dezembro de 2014, o primeiro contêiner foi embarcado para os EUA.

Analisando o mercado exportador, o Gerente de Exportação revelou que:

[...] é até engraçado, com uma empresa da Suécia a gente está novamente atendendo os EUA e estamos crescendo e tendo um incremento. Se comparado no mesmo período do início do ano de 2015 com o de 2014, nós já temos um crescimento de 20%, claro que reflete um pouco em função do câmbio, com certeza, mas a expectativa até o final do ano é de um incremento de mais de 100% na exportação em relação ao ano passado (RUDNICKEXP).

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A empresa está fazendo um planejamento estratégico até 2020 com

diferentes linhas de produtos com a madeira de pinus e pretende expandir-se para a

Europa, segundo o Gerente de Exportação.

O mercado agora sabe que a Rudnick é o mais novo fornecedor da IKEA, homologado pela IKEA, então se você consegue fazer pinus com qualidade, você pode fazer para qualquer outro, então isso já é um cartão de visita e a gente acaba recebendo várias cotações e coisas novas, só que no momento eu não posso abraçar o mundo e preciso planejar para depois (RUDNICKEXP).

4.6.2 Família e Internacionalização da Rudnick

Segundo o Presidente do Conselho, o início da internacionalização com o

projeto da Brunswick foi audacioso e desafiador para a empresa familiar:

Era um programa diferente e depois, às vezes, durante o período, você achava ‘será que vai ser bom, ou não vai ser bom’, era um programa difícil, sempre teve discussões, mas a coisa caminhou porque deixava uma margem muito boa, e quando deixa uma margem boa, as coisas são mais fáceis [...] sempre foi muita madeira maciça e naquele tempo não era proibido, era tudo livre, hoje ficou mais difícil, porque o mogno foi proibido o corte (RUDNICKPRES).

Segundo o Presidente, o Membro do Conselho, o Gerente e o Trader de

Exportação, no processo de internacionalização, a Rudnick manteve redes de

relacionamento ao longo das décadas e se expandiu com distribuidores, clientes, em

diversas áreas com fabricantes e fornecedores que serviram para promover o

aprendizado conjunto e duradouro. A empresa participava e ainda participa de feiras

internacionais em Milão, Paris, Alemanha e com estandes próprios nos EUA, bem

como faz visitas constantes a clientes e fornecedores.

A internacionalização com a Brunswick foi um aprendizado muito grande, no

relato do Presidente: “E a cada dois, três meses estava lá nos EUA, visitando eles e

verificando o andamento dos negócios deles e saber como está e como não está”

(RUDNICKCONS).

O Gerente de Exportação comenta que, vínculo com os clientes como no

caso da empresa importadora da mesa de bilhar abre portas. “Isso faz a diferença,

ajuda muito. Eu acabo vendo isso, talvez até por ser uma empresa familiar, eu

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também sou da família, uma pessoa que não vai sair e não vai mudar, e isto também

acaba fortalecendo” (RUDNICKEXP).

Apesar dos volumes de exportação terem diminuído em função da crise dos

EUA desde 2008, na visão do Gerente de Exportação, o nível de vendas continua

com “designs novos, e clientes tradicionais da linha office furniture”, que já importam

os produtos há mais de 10 anos, são parceiros de longa data e a confiança e o

relacionamento conquistados ajudam a manter os negócios. Na Europa, a empresa

está recebendo cotações, avaliando novos projetos com pinus (Alemanha e França),

fazendo protótipos, mas devido à capacidade produtiva, só devem iniciar negócios

em 2016, o que também é interessante em função do tempo necessário para

desenvolver novos projetos de private label.

A família Rudnick sempre estava envolvida nos projetos internacionais e

continua no Conselho de Administração avaliando e participando de todos os

projetos que são definidos pela Diretoria Executiva e aprovados em conjunto na

reunião do Conselho.

Na visão do Membro do Conselho, quanto à influência da família, afirmou:

Eu acho que não, na diretoria executiva não tem ninguém da família, os proprietários se reúnem no conselho e dizem, olha a exportação é muito pouco, a influência é o seguinte: vamos ter que ter 30% de mercado externo e a diretoria executiva terá que fazer estratégia de conseguir isto. A diretoria profissionalizada faz o planejamento estratégico que o conselho aprova. Então existe esta influência. Em 2001 a família saiu da diretoria executiva e hoje os três irmãos estão no Conselho (RUDNICKMEM).

Porém, na visão do Trader de Exportação, a família acaba tendo uma

participação ativa ao longo do processo:

Eu acredito que sim, a exportação representava 60% do faturamento e também o filho do fundador era Trader antes de ser Gerente. Ele foi o responsável por manter o mercado EUA e abrir novos mercados, é bom ter influência da família, para ter uma decisão mais rápida. Eu vejo como um ciclo que vai passando, o início da nossa exportação foi o dono da empresa, a linha de escritório também teve um envolvimento significativo (RUDNICKTRA).

A empresa é 100% familiar, com 100% das ações na família. A empresa não

fez a abertura de capital, ela distribui dividendos, mas não tem uma holding familiar.

São os membros do Conselho que são a família, as reuniões são quinzenais e, em

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uma dessas reuniões, há a participação da Diretoria. O Quadro 19 apresenta os

membros familiares do Conselho, Diretoria, Gerência e Coordenação.

Quadro 19: Membros familiares da Rudnick CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO (Família)

Sr. Ingomar Rudnick Presidente do Conselho, 2ª geração

Sr. Alcides Rudnick Vice Presidente do Conselho, 2ª geração

Sr. Leomar Rudnick Membro do Conselho, 2ª geração

Sr. Fabiano Rudnick Membro, filho do Ingomar, 3ª geração

Sra. Adriane Rudnick Membro, filha do Alcides

Sr. Igor Rudnick Membro, filho do Leomar

DIRETORIA (familiar)

Roger Jochem Diretor de Operações (filho da Romelda Rudnick

Jochem), 3ª geração.

GERENCIA (familiar)

Sr. Roni Jochem Gerente de Projetados e de Exportação, 3ª geração.

Sra. Jaqueline Rudnick Gerente de Recursos Humanos (RH), 3ª geração.

COORDENAÇÃO

Sr. Igor Rudnick Consultor Técnico, 3ª geração.

Sra. Sarita Rudnick Analista de Marketing, 3ª geração.

Sra. Natascha Rudnick Coordenadora de Projetados, 3ª geração.

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

Há certo conservadorismo familiar, esclarece o Gerente de Exportação, que

vê uma oportunidade de a empresa abrir um Centro de Distribuição (CD) no exterior,

mas:

[...] eu tenho consciência de várias empresas que montaram um CD próprio nos EUA, é um desafio grande, vai ter que ter pessoas lá, ter controle, quem vai vender, como vai vender, e tem tudo isso e desde a década de 2000, há 13 anos, quando eu entrei, existia uma vontade de fazer isso, mas de certa parte da empresa, existia um conservadorismo familiar, não abraçar tudo de uma vez só, e eu vejo como uma forma de crescer mais rapidamente, até com outras linhas, e até uma forma mais segura é de trabalhar com private label (RUDNICKEXP).

No Quadro 20, apresenta-se o resumo das características propriedade e

comprometimento familiar da Rudnick.

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123

Quadro 20: Propriedade e comprometimento familiar da Rudnick INDICADORES PROPRIEDADE FAMILIAR COMPROMETIMENTO FAMILIAR

Porcentagem de ações em poder da família

proprietária

100% das ações em poder da família

x

Nº de membros da família ativos

(gestão/conselho) X

12 Familiares: O Presidente e o Vice-Presidente

do Conselho; 4 Membros no Conselho; 1 Diretor; 2 Gerentes e 3

na Coordenação.

Geração atual 2ª e 3ª 2ª e 3ª

Recursos Recursos próprios Recursos próprios

Influência da família no processo internacional

Desde a fundação, em 1938, em poder da família. Sucessão planejada

Visão de longo prazo.

Decisões ágeis, Know how tecnológico, Networking, Feiras Internacionais, Marca própria de

móveis de escritório (office furniture).

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

4.7 Histórico da Empresa Familiar WEG S.A.

“Na década de 70, quando se fazia uma viagem internacional, em função do alto custo da passagem e da estadia, a pessoa ficava aproximadamente 30 dias no exterior e, quando voltava, era de costume fazer uma reunião para a apresentação das novidades trazidas do exterior aos integrantes de diversos níveis na empresa. Eu, o Eggon e o Geraldo, para darmos o exemplo, sentavam na primeira fila para ouvir atentamente tudo o que tinha de novidade” (WEGFUND).

A história da WEG começa em maio de 1961, quando, em uma reunião

sábado à tarde, enquanto o fundador trabalhava na sua oficina em Jaraguá do Sul,

decidiu-se que motor elétrico seria o ideal para ser fabricado em grande escala.

Assim nasceu, no dia 18 de setembro, a Eletromotores Jaraguá, mais tarde

chamada de WEG, tendo o Werner na parte técnica, o Eggon na parte contábil,

bancária e burocrática e o Geraldo na ferramentaria e na produção mecânica.

“Assim começou a funcionar tudo e hoje somos conhecidos no mundo todo”

(WEGFUND) e o nome WEG é a junção das iniciais dos três fundadores

(W=Werner, E=Eggon, G=Geraldo) e em alemão “weg” significa “caminho”.

Em 1960, ‘cinquenta anos em cinco’ foi o lema do presidente Juscelino

Kubitschek, que prometeu dar um impulso desenvolvimentista, implantando novas

políticas de industrialização e substituição de importações. Nesta década, foi

fundada, em 1961, a Eletromotores Jaraguá, que em seguida viria a ganhar uma

nova razão social, a Eletromotores WEG S.A.

O fundador estava sempre, de alguma forma, ligado ao exterior, de onde a

sua família havia imigrado, à Alemanha. Em uma época em que no Brasil havia o

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lema de “olhar para dentro”, a WEG se diferenciava das demais, “olhando para fora”,

ávida por conhecimento, desde tecnologia, concorrência, pessoal, parcerias com

universidades estrangeiras. Na primeira viagem à Alemanha, o fundador salientou

que foi para comprar tecnologia:

[...] e quando nós chegamos à Alemanha, encontramos o escritório especializado, que fornecia os projetos para pequenos fabricantes e nós pedimos para fazer para nós também todas as últimas normas, a última palavra que existia em tecnologia e isto nos deu um grande avanço no Brasil (WEGFUND).

Desde novo, o fundador sempre trabalhou com motor elétrico, 15 anos antes

de começar na WEG, e já sabia quem tinha o melhor motor e quem não tinha

(CHIODINI, 2010). “Assim, sempre procurava fazer o melhor possível, e continua

ainda hoje assim. Hoje eu ainda faço duas visitas diárias na fábrica para falar com

engenheiros e o pessoal da fábrica para estar a par de todas as novidades”

(WEGFUND).

Ainda no relato do fundador sobre a sua história de vida e a relação com a

empresa, explicitou:

Hoje nós temos 2500 engenheiros, e eu sempre digo para eles: se hoje está bom, no ano que vem tem que ser melhor, mas não pensa em aumentar o preço, sempre segurar o preço e manter o preço menor do que a inflação para poder dizer que o preço do motor elétrico de hoje é o mesmo de 10 anos atrás, e isto é possível, mas dá muito trabalho, e assim nós sempre pensamos (WEGFUND).

A empresa foi um dos destaques no relatório do The Boston Consulting Group

(BCG) em 2014, como umas das 13 representantes brasileiras no ranking das 100

empresas mais globalizadas do mundo. A consultoria americana listou as empresas

que, devido ao rápido crescimento anual, estão impulsionando o crescimento global.

A empresa também foi considerada a 15ª maior empresa mundial pela Top

Companies for Leaders (2014), sendo a primeira do ranking a Americana General

Electric e considerada a maior fabricante de motores elétricos na América Latina

(WEG, 2014).

A Receita Operacional Líquida (ROL) consolidada atingiu, em 2014, R$

7.840,8 milhões, com crescimento de 14,8% em relação ao ano de 2013 e, no

mercado externo, a receita operacional líquida apresentou um crescimento de 16,7%

sobre o ano anterior, atingindo R$ 3.964,0 milhões (=US$ 1.684,9 milhões),

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correspondendo a 51% da receita operacional líquida total (WEG RELATÓRIO

ANUAL, 2014).

4.7.1 O Processo de Internacionalização da WEG

No processo de internacionalização, a WEG teve que adaptar a empresa local

e familiar com os padrões de multinacionais e isso não foi um processo fácil: tornar-

se uma grande empresa internacional (FDC, 2014).

Na primeira viagem dos fundadores, em 1968, para a Alemanha, a WEG

entrou numa nova fase de especialização tecnológica e marca o início do seu

processo internacional. Quando a empresa adquiriu o pacote de tecnologia alemã,

passou a dar um salto qualitativo à frente da concorrência. A concorrência continuou

com as normas inglesas (baseadas em polegadas) e hesitou em fazer a conversão

para o sistema métrico, a International Electric Commission (IEC), um atraso que

deixou a concorrência irrevogavelmente para trás da WEG (GHOSHAL et al., 2000).

No relato do fundador, quando a WEG iniciou a produção dos seus motores,

nos primeiros anos na década de 1970:

[...] nos baseamos nos melhores motores europeus e os alemães tinham os melhores motores. E então começamos a fazer isso e o motor ficou com potência melhor, mais leve e blindado. Então isso tudo nos deu uma grande vantagem, nosso motor era mais leve, tinha melhor rendimento e é difícil alguém ter igual a Weg no Brasil, talvez no mundo. Nós produzimos para 100 países os motores elétricos, tudo sistema métrico, só para os americanos, não (WEGFUND).

Ainda na década de 1970, a WEG inicia o processo de internacionalização. O

Presidente do Conselho, durante a entrevista, manifestou-se, dividindo em fases a

internacionalização da empresa.

“Primeiro precisamos dividir o processo de internacionalização da WEG em fases: a primeira fase marca o início com a exportação e a distribuição com representantes; a segunda fase, com a implantação de subsidiárias e filiais; e a terceira fase é a mais internacional, com aquisições e instalação de fábricas” (WEGCONS01).

Já o Diretor Internacional e o Chefe de Marketing explicitaram a

internacionalização por décadas e suas respectivas estratégias em cada fase. A

década de 1970 marca o início das exportações; a década de 1980, a conquista dos

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mercados; a década de 1990, a internacionalização; e a década de 2000, a

globalização.

A 1ª fase da expansão internacional (anos 1970):

Os entrevistados enfatizaram que, nesta fase, a empresa começou a exportar

quantidades mínimas para o mercado da América Latina, onde havia maior

proximidade cultural e de idioma, inicialmente para o Paraguai, Equador, Uruguai e

Guatemala e, em seguida, continuou o processo de exportação na Europa, na

América do Norte e no Canadá.

Em 1970, são assinados os primeiros contratos de representação e

distribuição de seus produtos. Um ponto destacado pelo Presidente do Conselho foi

que:

Ninguém conhecia a WEG ou os seus produtos vindos do Brasil e a empresa era muita pequena, tinha umas 300-400 pessoas e quebra um paradigma quando fez a sua primeira exportação em 1970 e, neste ano, aconteceram duas coisas, o início das exportações e a abertura de capital (WEGCONS01).

O Presidente do Conselho salientou que “o sucesso da WEG no exterior foi

baseado em uma fórmula simples: preço justo para motores e peças de reposição e

qualidade tecnológica, com pós-vendas e assistência técnica qualificada”

(WEGCONS01).

Logo em seguida, na década de 1970, a empresa já exportava para 20 países

em 1973 e para 32 países em 1975. Em 1975, a empresa se transformou na maior

fábrica de motores elétricos da América Latina (PIONEIROS CATARINENSES,

1991). Na visão do Diretor Internacional, “[...] o DNA da WEG continua pelo espírito

e legado empreendedor dos três fundadores” (WEGINT03).

Nesta década, segundo o Presidente do Conselho, o objetivo era fazer com

que o mercado conhecesse a imagem da marca WEG em relação aos seus maiores

concorrentes internacionais, a Siemens (Alemanha), a suíça Asea Brown Boveri

(ABB) e a americana, General Electric (GE).

Em 1976, o continente europeu começou a ser parceiro mais vital da WEG

com a abertura de um escritório na Alemanha. “Começamos com a Alemanha

porque queríamos experimentar vender o nosso produto onde estão os nossos

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maiores concorrentes e porque quem conseguia vender na Alemanha iria vender no

resto do mundo” (WEGCONS01).

Nesta linha de pensamento, o fundador comentou:

Na exportação começamos na Europa com a Alemanha, principalmente, porque compramos a tecnologia deles, importamos equipamentos e até tivemos que mudar o nome, porque já existia uma WEG alemã (Württembergische Elektromotoren GMBH) e hoje essa fábrica é nossa, faz uns três anos que compramos (WEGFUND).

A 2ª fase da expansão internacional (anos 1980):

Nesta fase, a WEG buscou expansão da sua rede de representantes e

distribuidores, além da necessidade de criação de uma rede de assistência técnica

no exterior. A empresa, quando exporta via representantes, não tem acesso às

informações privilegiadas do mercado e fica, de certa forma, refém do

conhecimento. Em função da necessidade de a empresa estar mais presente e mais

perto de seus clientes e entender a cultura de cada país:

[...] começou-se a dividir um país em dois ou três para depois iniciar o processo de abrir as suas próprias filiais comerciais, em vez ter os representantes. Algumas preocupações também foram as certificações de nossos produtos e o conhecimento dos idiomas (WEGCONS01).

Buscando atender a estas necessidades, foi criado o Departamento de

Comércio Exterior e, em 1988, a Trading WEG Exportadora e adotou-se a seguinte

filosofia: “Exportar faz parte do nosso negócio” (WEGINT02).

Em 1989, quando Décio da Silva, filho do fundador, foi eleito Presidente

Executivo, a WEG foi envolvida em uma estratégia internacional agressiva. A

empresa exportava para 41 países e cria uma nova estrutura internacional para

garantir serviços de distribuição e pós-venda em nove países. As exportações

continuavam em ritmo regular e crescente, sendo, em 1989, de US$ 26,8 milhões e,

em 1990, de US$ 28,7 milhões (PIONEIROS CATARINENSES, 1991).

3ª fase da expansão internacional (anos 1990):

Em 1991, com 31 anos de WEG, a exportação atingia o valor de US$ 30,2

milhões. O mercado interno representava 86,8% e o mercado externo, 13,2%. A

produção atingia aproximadamente três milhões de unidades de motores, contando

com 7.163 funcionários (FDC, 2013).

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Os grandes passos para esse crescimento foram a ampliação e modernização do parque fabril, bem como o desenvolvimento de produtos, processos e materiais em seu moderno Centro Tecnológico, para atender às exigências e à realidade de um mercado cada vez mais competitivo (WEGINT02).

Esta fase pode ser considerada como a fase da internacionalização, pois a

empresa ingressa no mercado externo por meio de suas próprias filiais comerciais.

Este processo é iniciado em 1991 e, até 1999, implantaram em 11 países as

subsidiárias próprias, para atender aos mercados com assistência técnica

personalizada e fazer a distribuição de seus produtos (Tabela 5).

Tabela 05: 3ª Fase da Internacionalização da WEG (1991-1999), País/Subsidiárias Ano (3ª fase) – País/Subsidiárias

1991 1992 1994 1995 1997 1998 1999

EUA Bélgica Argentina e Japão

Alemanha Austrália

Inglaterra Espanha, França, Suécia

México

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

Em 1991, a empresa começou a fazer intercâmbios com o Instituto de

Máquinas Elétricas da Universidade de Hannover, que forneceu estágios para os

funcionários da WEG para a transferência de conhecimento, além de trazer

professores para o Brasil e, em 1995, assinou um acordo com a Universidade de

Wuppertal para obter a transferência de tecnologia em conversores.

Tanto o Presidente do Conselho como o Diretor Internacional afirmaram que,

para um melhor conhecimento dos mercados e proximidade dos seus clientes, a

empresa envia brasileiros para trabalharem no exterior, buscando sempre diminuir a

diversidade cultural de seus países-alvo e criar uma mentalidade internacional.

Em 1996, o mercado norte-americano tornou-se uma prioridade para a WEG

e contratou-se um distribuidor na cidade de Rochester, nos Estados Unidos.

A empresa reestruturou sua operação com 5 escritórios, sendo em Rochester, Kansas, Los Angeles, Fort Lauderdale e Atlanta. A sede de Rochester foi mudada para Atlanta, tornando-se o centro logístico e em função de ser o centro dos maiores clientes (WEGCONS01).

Em 1999, a WEG possuía representantes/distribuidores em 50 países,

cobrindo todos os cinco continentes, sendo o quinto maior produtor de motores

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elétricos do mundo e contava com 7.000 funcionários. Neste ano, o mercado

brasileiro de motores elétricos representava 79% e, deste total, 29% da produção

era destinada à exportação. O maior mercado de exportação era a América Central

e do Sul, com 42% de participação; a América do Norte, com 23%; a Europa, com

19%; a África, com 8%; a Austrália, com 6%; e a Ásia, com 2%.

Focando na qualidade e numa constante melhoria da produtividade em um

processo de produção totalmente integrada verticalmente, a WEG se consagrou

para o nível dos agentes globais, como ABB, Siemens, General Electric e Emerson

na produção de fase única (para produtos de linha branca) e trifásica (para a

indústria pesada) de motores elétricos (FDC, 2013).

4ª fase da expansão internacional (anos 2000 e atual):

A partir de 2000, a WEG entra na fase de globalização, a qual está

fundamentada no estabelecimento de fábricas no exterior, sendo que a primeira filial

da empresa é aberta no ano 2000 na Argentina e, no mesmo ano, no México. O

resultado da internacionalização nesta fase representava, para a empresa, um

faturamento de 36% para o mercado externo, venda para mais de 110 países e

distribuidores, agentes em mais de 85 países, nos cinco continentes (Tabela 6).

Tabela 06: Implantação de fábricas no exterior (2000-2010) Países (década 00) Implantação de fábricas no exterior

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Argentina México

Itália Venezuela

Portugal Irlanda

Chile Holanda

China Índia

México Cingapura

México Dubai Rússia México Índia

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

Em 2009, as vendas internacionais da WEG estavam geograficamente

distribuídas para: Europa (32%), EUA (29%), América Central e do Sul (15%), Ásia

(11%), África do Sul (8%) e Austrália (5%).

Assim, o processo de internacionalização de maior relevância foi na década

de 2000 e em termos da velocidade foi alta; o escopo foi amplo e o ritmo regular de

expansão. É a empresa mais internacionalizada entre as pesquisadas.

Em 2014, os mercados de exportação da empresa, de acordo com o

Presidente do Conselho, o Diretor Internacional e o Chefe de Marketing

Internacional, estão assim divididos em: 1/3 para EUA, 1/3 na Europa e 1/3 é o resto

do mundo. Este último refere-se mais à China e à Índia e deve aumentar de

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tamanho neste processo internacional. “O carro-chefe de vendas no exterior é o

motor elétrico e correspondeu, em 2014, aproximadamente a 50% do faturamento”

(WEGINT02).

Atualmente, a WEG está no mundo todo e dados atuais de janeiro de 2015

(Tabela 7) revelam que são 34 parques fabris (dois em construção), espalhados

pelos cinco continentes, em 11 países e possui mais de 30 mil colaboradores (WEG,

2015).

Tabela 07: WEG no mundo (países/unidades em 2015) WEG NO MUNDO – 11 Países (4ª fase) e 34 Unidades em 2015

África do Sul Alemanha Argentina Áustria Brasil Colômbia China Índia EUA México Portugal

3 2 3 1 14 1 3 1 1 4 1

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

Ainda com relação ao mercado internacional e sobre as perspectivas no ano

de 2015, o Presidente Executivo declarou que:

Nos mercados externos deveremos continuar nos beneficiando do crescimento em algumas economias maduras e ampliar nossa presença em todo o mundo. Temos importantes diferenciais competitivos, produtos e serviços de alta qualidade, capacidade de inovação tecnológica e de fornecimento de soluções customizadas. Estas vantagens continuarão nos permitindo crescer de forma robusta (SCHMELZER, 2015).

O Quadro 21 apresenta o resumo da expansão internacional da WEG nas

décadas já apresentadas. A década de 1970 marca o início das exportações; a

década de 1980, a distribuição; a década de 1990, com a implantação de filiais

comerciais e fábricas próprias; e a década de 2000, considerada a fase da

globalização, com diversas unidades fabris ao redor dos cinco continentes.

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Quadro 21: Internacionalização em termos de velocidade, escopo e ritmo da WEG Expansão Internacional na Década 1970

1970: marca o início das exportações:

Paraguai, Equador, Uruguai e Guatemala, Europa, América do

Norte e Canadá.

1973: 20 países 1975: 32 países 1976: escritório na Alemanha; foco no mercado europeu.

Expansão Internacional na Década 1980

1985: parcerias com Centros Tecnológicos

na Europa e EUA. 1970-1980: 41 países.

Estrutura Internacional de

Distribuição e Pós-venda em 9 países.

1988: criação Departamento de

Exportação; 1989: faturamento de

US$ 26,8 milhões.

Expansão Internacional na Década 1990

1991: Holding, faturamento em 31

anos, US$ 30,2 milhões na exportação.

Fase da internacionalização com

implantações de 10 filiais comerciais.

1991: primeira fábrica na Argentina (Joint Venture) e, em seguida, nos EUA; foco no mercado

EUA. Intercâmbio de funcionários,

estágios, universidades, etc.

1999: presente em 50 países, 5 continentes, 29% de exportação, 5º maior produtor mundial; Mindset internacional.

Expansão Internacional na Década 2000 e atual

Fase da globalização com diversas fábricas

no exterior; Mercado Externo: 1/3 é EUA, 1/3 é

Europa e 1/3 é o resto do mundo; mais de 30

mil funcionários.

Exportação para mais de 135 países;

Maior da América Latina na fabricação de motores elétricos;

Segundo BCG, uma das 13 brasileiras no ranking das 100 empresas mais globalizadas do mundo.

Presente em 11 países com 34 unidades fabris: EUA, México,

Colômbia, Argentina, Brasil, Áustria,

Portugal, Alemanha, África do Sul, Índia e

China.

Faturamento total em 2014: Receita

consolidada (ROL); R$ 7.840,8 milhões; Mercado externo:

R$ 3.964,0 milhões, (= US$ 1.684,9 milhões), correspondendo a 51%

da ROL.

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

Após descrever todo o processo de internacionalização em suas fases, a

seguir,comentam-se a família e a internacionalização, ou seja, o efeito da

propriedade e do envolvimento familiar no processo internacional.

4.7.2 Família e Internacionalização da WEG

A família teve dificuldades no início do processo de internacionalização, mas

nenhuma barreira impediu a trajetória almejada pelos seus fundadores.

Hoje a WEG é tratada de primeiro nível, igual à Siemens, um executivo que vai escolher onde trabalhar, a escolha é igual, mas há 10 anos nós éramos o segundo, 20 anos, o terceiro e há 40 anos éramos a última opção da roda. Você só é alguém se mostra quem são os teus clientes e quanto vende no exterior e já somos o maior na América Latina (WEGCONS01).

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Segundo o Presidente do Conselho, o Diretor Internacional e o Chefe de

Marketing Internacional no processo de internacionalização, a WEG manteve redes

de relacionamento ao longo das décadas e se expandiram com representantes,

clientes, distribuidores em diversas áreas com fabricantes e fornecedores europeus,

americanos, asiáticos e sul-americanos; fez a abertura de suas filiais e a instalação

de fábricas que serviram para promover o aprendizado conjunto e duradouro.

Na entrevista o fundador explicitou:

Na Europa tem uma rede mundial de fabricantes de motores elétricos, e quando alguém descobre alguma melhoria, nós somos ligados a eles e no outro dia nos também temos isso aqui. Se alguém descobre que um motor gasta 0,5% mais energia, eles vão comprar do concorrente e por isso o motor elétrico vai ficar para sempre, pelo menos para os próximos 100 anos ainda, é sempre o mesmo motor, só vai melhorando a tecnologia (WEGFUND).

A participação em feiras internacionais também foi uma estratégia usada pela

WEG na internacionalização. “Uma importante feira internacional é a da HANNOVER

MESSE, na Alemanha, é maior do mundo, e eu fui mais de 40 vezes visitar esta feira

para sempre estar atualizado com as novas tecnologias ao redor do mundo”

(WEGFUND).

Desde a fundação, a família WEG sempre foi a proprietária da empresa e um

dos pilares da empresa é o acordo existente entre as famílias, realizado em 1970, no

qual estão todas as regras, a filosofia e os valores da família, o qual tem levado ao

sucesso da empresa. O lema da WEG citado por todos os entrevistados foi: “Não

vamos deixar que a família atrapalhe os negócios”.

A abertura de capital aconteceu em 1970, sendo a controladora da WEG e de

toda família a WPA Participações e Serviços S.A., que possui 50,1% (são os

chairholders). As ações da WEG são negociadas na BM&FBOVESPA e está listada,

desde junho de 2007, no segmento de governança corporativa denominado Novo

Mercado. Em 26 de novembro de 2014, a empresa foi selecionada para integrar o

Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBOVESPA. A empresa é a

única representante do segmento de Máquinas e Equipamentos (WEG, 2014).

A estrutura societária da WEG está representada na Figura 6. Cada família,

Voigt, Silva e Werninghaus, detém 33,3% na estrutura societária e a Holding WPA

Participações e Serviços S.A. detém a maioria das ações, ou seja, 50,1%.

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Figura 06: Estrutura Societária da WEG

Fonte: WEG (2014).

As famílias sempre estiveram ativas no processo e os assuntos familiares

eram separados de assuntos de empresa. As conquistas seriam com base em

méritos e não pela condição familiar, isto é, sempre era discutido sob a ótica

profissional e não da família, demonstrando o envolvimento da família. Na visão do

Diretor Internacional, quem está hoje atuando na empresa são pessoas qualificadas,

profissionais, não necessariamente por ser da família: “E a empresa está onde está

em função desta regra, e não por apadrinhamento” (PRESCONS).

Em 2014, a WEG tinha cinco membros familiares ativos, sendo dois membros

nos cargos executivos e três no Conselho, exceto os fundadores, ocupando cargos

na empresa; e quanto ao histórico familiar (gerações na empresa), são os membros

descritos conforme o Quadro 22. Percebe-se que há altos cargos sendo ocupados

pelos familiares.

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Quadro 22: Membros e histórico familiar da WEG Conselho de Administração

Décio da Silva Presidente do Conselho de Administração

Martin Werninghaus Membro do conselho

Miriam Voigt Membro do conselho

Cargo Executivo

Sérgio Luiz da Silva Schwartz Vice-Presidente Executivo

Eduardo Werninghaus Gerente do Departamento de Energia Eólica

Histórico Familiar

Nome Cargo ocupado Gerações familiares

Werner Ricardo Voigt Fundador 1ª geração

Eggon João da Silva Fundador 1ª geração Geraldo Werninghaus Fundador (falecido em 1999) 1ª geração Décio da Silva Presidente do Conselho 2ª geração, filho do fundador Eggon

Sérgio Luiz da Silva

Schwartz Vice-Presidente Executivo

3ª geração, genro do fundador

Werner

Martin Werninghaus Membro do conselho 3ª geração, filho do fundador Geraldo

Miriam Voigt Membro do conselho 3ª geração, filha do fundador Werner

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

Um segredo da família é a simplicidade como souberam educar muito bem as gerações, porque ninguém nasceu em berço de ouro e não tiveram uma vida fácil, a 3ª geração já teve mais facilidades, mas é gente simples e isto vem da cultura dos fundadores, dos princípios da empresa, a gestão é transparente (WEGMKT03).

A família da WEG continua ativa e o fundador Werner marca presença todos

os dias na empresa, na sede da Holding WPA e faz visita regular na fábrica todos os

dias. O Presidente do Conselho, Décio da Silva (2ª geração), também está ativo e

comprometido no dia a dia.

Em 2015, o atual Presidente Executivo da empresa, Harry Schmelzer Jr., é o

primeiro CEO (Chief Executive Office) Executivo não familiar, pois a empresa está

apenas no seu 3º Presidente (WEG, 2014).

Durante a explanação de diversos projetos internacionais e o vínculo de

responsabilidade com algum familiar, o Presidente do Conselho, ao ser questionado

pela professora Dinorá Floriani, se houve ou há privilégios em familiares assumirem

projetos importantes na empresa, ele respondeu: “A família teve mais prioridades,

foram diversas pessoas da família enviadas ao exterior, ocupar cargos no exterior,

nas fábricas, nos escritórios, receberam projetos relevantes na implantação fora do

Brasil” (WEGPRES). Após refletir, o Presidente do Conselho afirma: “Sabe de uma

coisa, não tinha me dado conta em relação a este fato e houve prioridade aos

familiares na expatriação”.

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Porém, na visão do Diretor Internacional, a família não interfere no dia a dia

do processo de internacionalização.

Com base no statement dos três fundadores, a cultura da empresa está muito clara e eu acompanhei este processo há 34 anos na WEG, chegaram aonde chegaram por competência. Se eu sair hoje ou o se o Presidente sair, tem um colegiado muito bom para assumir. A influência da família é muito pequena. Claro que os Srs. Egon, Werner e Geraldo começaram, mas hoje tem equipes bem consolidadas no Brasil e no exterior (WEGINT03).

Ainda quanto à influência dos familiares no processo internacional, o Diretor

Internacional e o Chefe de Marketing Internacional comentaram que havia bastante

familiares na empresa, da 2ª geração; familiares de nível intermediário, na gerência,

na diretoria, familiares expatriados para o exterior, especialmente na área comercial.

Por outro lado, muitos da família da 2ª geração saíram da empresa por não se

adaptarem. Em 2014, apenas estão ativos: um membro da família de 2ª geração em

nível gerencial e dois na 3ª geração, sendo o Vice-Presidente da 3ª geração.

Há reuniões frequentes com todos os acionistas, os familiares, todas as

gerações, cujo presidente apresenta todos os números das filiais no Brasil e no

mundo, explicando quais são as estratégias (WEG, 2014).

No Quadro 23, o resumo dos construtos propriedade e comprometimento

familiar da WEG. São apresentados os indicadores de cada um dos construtos e os

resultados da pesquisa.

Quadro 23: Indicadores da propriedade e comprometimento familiar da WEG INDICADORES PROPRIEDADE FAMILIAR COMPROMETIMENTO FAMILIAR

Porcentagem de ações

em poder da família

proprietária

50,1% das ações (WPA);

Desde Junho 2007 no Novo

Mercado (BM&FBOVESPA).

x

Nº de Membros da

família ativos

(gestão/conselho)

X

5 Familiares:

1. Presidente do Conselho 2. Vice-Presidente Executivo 3. Gerencia Departamento Eólico

4. Dois Membros no Conselho

Holding familiar Holding WPA Holding WPA

Geração atual 2ª e 3ª 2ª e 3ª

Recursos Recursos próprios Recursos próprios

Influência da família no

processo internacional

Desde a fundação, em 1961,

em poder da família.

Acordo entre as famílias

Sucessão planejada

Visão de longo prazo.

Decisões ágeis, Know how

tecnológico, subsidiárias, fábricas no

exterior, greenfield,maior na América

Latina, 15º maior mundial.

Networking, Feiras Internacionais.

Fonte: O autor (baseado nos dados da pesquisa).

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136

5 ANÁLISE DOS CASOS

Neste capítulo, buscou-se associar os eventos pesquisados e relatados nas

entrevistas, assim como as percepções dos entrevistados diante do protocolo de

pesquisa. A análise se desdobra em analisar as variáveis da pesquisa, abrangendo

os principais temas tratados na revisão de literatura, com vistas a identificar em que

aspectos os múltiplos casos estudados podem ser explicados a partir das correntes

teóricas previamente examinadas. No apêndice C apresentam-se as variáveis e os

aspectos analisados nesse capítulo: família, internacionalização, estratégias,

velocidade, escopo, ritmo, propriedade e comprometimento familiar, redes e futuro

das EFs.

No Quadro 24 o perfil das EFs, ou seja, o perfil da amostra estudada,

apresentando o ano da fundação, o número de funcionários, o faturamento de 2014

em reais, o percentual de vendas externas, o número de subsidiárias, o ano/década

de internacionalização, o segmento da indústria e os seus produtos.

Praticamente todas as EFs tiveram a sua origem de descendência europeia, o

que parece ter influenciado a internacionalização. Muitos entrevistados relataram de

que maneira começaram a internacionalização, como no caso da Karsten, que

iniciou importando, no início, teares usados da Alemanha e fios de algodão da

Inglaterra e, na década de 1970, importou teares suíços e máquina de estampar da

Áustria. A Hering, cuja tradição têxtil da família já vem desde 1675 nas cidades

alemãs da Saxônia, iniciou a sua internacionalização com importações de matérias-

primas, máquinas/equipamentos da Alemanha e foi a primeira EF brasileira a

exportar, fato que se deu na década de 1960, para a Europa. A Marisol também

importou máquinas da Itália e da Alemanha para iniciar a sua fase internacional na

década de 1970. Nas demais EFs, Baumgarten, Rohden, Rudnick e WEG, todas

importaram tecnologias da Europa para iniciar o seu processo internacional.

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137

Quadro 24: Perfil das Empresas Familiares

EMPRESAS Ano da

Fundação

Ano/ Década de

internacionalização

Número de funcionários

(aprox.)

Faturamento em R$ (2014)

Vendas (%) externas/total faturamento

2014

Número de Subsidiarias

Origem Familiar

Indústria Produtos

BAUMGARTEN 1881 1980 700 xx 18% 02 Alemã Gráfica

autoadesivos, rótulos magazine, termoencolhíveis, termoformados, cartelas blister,

roll labels e tags.

HERING 1880 1960 8.0000 R$ 2.011,0

milhões 1,2%

01 escritório China; 14 lojas

Franquias Alemã

Têxtil, Moda

Vestuário

Moda Vestuário (Hering, Hering

Kids, PUC, Dzarm e Hering

for you).

KARSTEN 1882 1970 1.800 R$ 396,7 milhões

6% 01 loja

Venezuela terceirizada

Alemã

Têxtil, Cama-Mesa-Banho

Roupa de cama, toalhas de mesa,

felpudas, decoração

MARISOL

1964 1970 3.000 R$ 621 milhões

1% 01 escritório Hong Kong

Italiana

Têxtil, Moda

Vestuário Infantil

Moda Infantil Mineral, Lilica

Ripilica e Tigor. T. Tigre).

ROHDEN 1938 1980 850 R$ 90 milhões 100% 01 escritório

EUA Alemã Madeireiro

Portas de pinus (com e sem nó,

com e sem vidro).

RUDNICK 1938 1980 820 R$ 142 milhões

4% xx Alemã Moveleiro Mesas de bilhar,

móveis de escritório.

WEG 1961 1970 30.000 R$ 7.840,8

milhões 51%

34 parques fabris

Alemã Metal/

mecânico Motores elétricos, transformadores.

Fonte: O autor (com base nos dados da pesquisa).

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138

Como pode ser verificado no Quadro 24, a maioria das empresas

pesquisadas é consolidada no mercado, considerando-se como tradicionais. Da

mesma forma, as empresas podem ser consideradas tradicionais pelo tempo que

atuam no mercado internacional. Todas se caracterizam como empresas de grande

porte, pois possuem acima de 500 funcionários (SEBRAE, 2015) e pelo faturamento,

são consideradas da mesma forma média/grande (Rohden e Rudnick) e as demais

grandes empresas (BNDES, 2015) é de mais de R$ 300 milhões (com exceção da

Baumgarten que não informou o faturamento). São empresas de diversos setores da

economia, porém, mais uma vez verifica-se que são setores tradicionais. Com

exceção da Rudnick, todas as demais empresas possuem algum tipo de operação

no exterior além da exportação.

Na primeira análise das EFs, foi verificado quem iniciou a internacionalização.

O Quadro 25 apresenta as 7 EFs com o início da internacionalização.

Quadro 25: Início da internacionalização das EFs

VARIÁVEIS BAUMGARTE

N (1881) HERING (1880)

KARSTEN (1882)

MARISOL (1964)

ROHDEN (1938)

RUDNICK (1938)

WEG (1961)

FAMÍLIA

Início da Internacionalização

133 anos de fundação;

Família proprietária,

Diretor familiar iniciou o

processo.

134 anos de

fundação; Família

proprietária, Membro

não familiar iniciou o

processo.

132 anos de

fundação; Família

proprietária, Membro

não familiar iniciou o

processo.

50 anos de fundação; Família

proprietária, Diretor familiar iniciou o

processo.

75 anos de fundação; Família

proprietária, Diretor familiar iniciou o

processo.

75 anos de fundação; Família

proprietária, Diretor familiar iniciou o

processo.

52 anos de fundação; Família

proprietária, Diretores familiares iniciaram o processo.

Fonte: O autor (com base nos dados da pesquisa).

Na primeira constatação, quando foi realizada a comparação entre as sete

EFs sobre a questão se alguém da família iniciou o processo internacional, cinco

empresas responderam que sim (Baumgarten, Marisol, Rohden, Rudnick e WEG) e

inclusive o processo se deu por intermédio de um Diretor familiar ou, no caso da

WEG, pelos próprios fundadores. Apenas nas duas EFs Hering e Karsten um

membro não familiar iniciou a internacionalização da empresa. Porém, nestas duas

empresas, estes membros foram contratados para prospectar o mercado

internacional, havendo a influência indireta e o envolvimento familiar nos negócios

(ZAHRA, 2003, 2005; CASILLAS; ACEDO, 2005). No caso especial da Karsten,

segundo o relato do Gerente de exportação, ao retornarem de seus estudos na

Europa, dois familiares assumiram o processo internacional e iniciaram a expansão

na Europa.

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139

Fernández e Nieto (2005) afirmam que a presença de famílias no controle das

empresas, de certa forma, inibe o processo de internacionalização, enquanto Gallo e

Sveen (1991) argumentam que famílias controladoras de uma companhia podem ser

relutantes quanto à internacionalização. Porém, como já mencionado na revisão

teórica deste trabalho, os autores Handler (1989); Habbershon e Williams (1999);

Zahra (2003), Casillas e Acedo (2005) e Pukall e Calabrò, (2013) afirmam em seus

estudos que a família tem uma relação positiva com o envolvimento da gestão da

família na empresa, sendo que a participação da família influencia diretamente o

nível do processo de internacionalização. Nas 7 EFs não se constatou, em nenhum

momento das entrevistas, que as famílias inibiram a internacionalização.

Percebe-se no Quadro 26e no histórico já descrito anteriormente que a

internacionalização das sete EFs ocorreu em diferentes décadas, cada qual

utilizando diferentes estratégias e diferentes percentuais de participação da

exportação no faturamento na fase mais internacionalizada e na fase atual, em

2014. Foi considerada na análise de cada EF a fase mais internacionalizada, pois

cada EF teve um período diferente de acesso ao mercado externo. Assim, para tal

análise considerou-se a década de maior desempenho em termos da porcentagem

de participação da exportação no faturamento. Assim, no caso da empresa

Baumgarten, a fase atual (2014) é a mais internacionalizada (18%); na Hering, foi a

década de 1980 (30%); na Karsten, a década de 90 (60%); na Marisol, a década de

90 (10%); na Rohden, a década de 1980/90 (100%); na Rudnick, a década de

1980/90 (100%); e, por fim, na WEG, a década atual (2014) é a mais representativa,

com faturamento de 51% de exportação.

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140

Quadro 26: Internacionalização das EFs e % do faturamento (década mais representativa e em 2014) e as estratégias utilizadas

VARIÁVEIS BAUMGARTEN

(1881) HERING (1880)

KARSTEN (1882)

MARISOL (1964)

ROHDEN (1938)

RUDNICK (1938)

WEG (1961)

INTERNACIO-NALIZAÇÃO

Década de 2000 a fase mais

internacionalizada é a atual) em

2012-2014).

Década 60 marca o início do

processo. Pioneiros no Brasil

no Vestuário.

Década 70 marca o início do

processo; Pioneiros no Brasil na linha mesa

natalinos.

Década de 70 marca o

início do processo,

mas a década de

90 com vestuário

(Marca Lilica e Rosa Chá).

Década de 80 marca o início do processo. Pioneiros

na exporta-ção de portas pinus desde 1985.

Década de 80 marca o

início do processo.

Pioneiros na exportação

de mesas de bilhar desde

1984.

Década de 70 marca o

início do processo; Pioneiros com nova tecnologia

de motores.

Década mais internacionaliza

da na exportação

00 (2014)

80 90 90 80/90 80/90 00

(2014)

% aprox. do faturamento no

exterior

18%

30%

60%

10%

100%

100%

51%

% aprox. do faturamento no

exterior em 2014

18%

1,2 %

6%

1 %

100%

4%

51%

ESTRATÉGIAS

Exportação América Latina; Fornecedor de

prime label para multinacionais;

Aquisição México e

Argentina.

Importação teares

Alemanha; Exportação América Latina e

Alemanha; Fábrica,

Distribuição e

Subsidiária na

Europa; Lojas

próprias e franquias.

Importa-ção de teares Suíços, Exporta-

ção África do Sul e

Alemanha; Subsidiá-

rias: Argentina, Alemanha

e EUA; Distribui-

dor Disney.

Loja Milão e New York; Franquias, Distribuidor

México, Escritório

Hong Kong

Distribuidor exclusivo Inglaterra; pioneiro

na fabricação

portas pinus

Distribuidor exclusivo

EUA, pioneiro na fabricação

mesas bilhar.

Novas tecnologias

da Alemanha; Parcerias

com Universidades, abertura Subsidiárias, aquisições, fusões, joint

venture, fábricas próprias

(greenfield)

País(es) inicio da exportação

Argentina

Paraguai Alemanha

África do Sul e

Alemanha Alemanha Inglaterra EUA

Argentina Alemanha

Fonte: O autor (com base nos dados da pesquisa).

Analisando os dados, percebe-se que a primeira empresa a se

internacionalizar foi a centenária Hering (década 1960), seguida pelas empresas

Karsten e WEG (década 1970); a Marisol, no final da década de 1970, início de 1980

porém seguiu o caminho de outras empresas brasileiras e estabeleceu, em 1995,

uma subsidiária de vendas na Argentina, visando à exportação para a América do

Sul, que atualmente já não existe mais e, por fim, após a década de 1980, as EFs

Baumgarten, Rohden e Rudnick se internacionalizaram.

Segundo o relato dos entrevistados, eram diversos os motivos e as razões

que levaram as EFs a se internacionalizar. O pioneirismo e o empreendedorismo, as

redes de contato com a pátria mãe, entre outras, fizeram com que estas EFs se

internacionalizassem, para competir globalmente e aumentar o seu nível de

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141

participação no mercado externo ao longo do tempo (WELCH; LUOSTARINEN,

1988). Essas empresas estudadas, quando iniciaram o processo internacional, não

vislumbraram retornos imediatos, foi um processo em etapas, iniciando com

exportações esporádicas para países não distantes psiquicamente, para ter acesso

a novas tecnologias, já conhecidas pelos europeus; para não depender somente do

mercado interno; obter conhecimento experiencial, entre outras vantagens

(JOHANSON; WIEDERSHEIM-PAUL, 1975; JOHANSON; VAHLNE, 1977).

A decisão de se internacionalizar esteve ligada à preocupação das EFs em

sustentar, fortalecer e expandir sua entrada nos mercados externos e auferir

experiência gerencial e operacional. Determinantes como aquisições de novas

tecnologias, necessidade de estar mais próximo do cliente, superação de barreiras

protecionistas e antecipação às práticas da concorrência são alguns fatores que

motivaram essa atitude (ARRUDA et al., 1996), bem como sobreviver no mercado

cada vez mais globalmente competitivo (KONTINEN; OJALA, 2010; LIN, 2012;

ETEMAD, 2013).

Os diretores da WEG, por exemplo, viajaram à Alemanha para comprar a

nova tecnologia de motor elétrico, para se diferenciar dos demais fabricantes

brasileiros; a Karsten foi a pioneira na fabricação de toalhas de mesa (natalinas)

para Europa; a Hering já exportava pijamas para o Paraguai na década de 1960 e

também buscou tecnologia na Alemanha; a Rohden foi pioneira na exportação de

portas de pinus para Inglaterra; enquanto a Rudnick foi a pioneira na exportação de

mesas de bilhar para os EUA. Já a Marisol foi adquirir tecnologia na Alemanha e na

Itália e voltou às origens italianas ao abrir a sua primeira loja em Milão.

Enquanto a WEG é a mais internacionalizada globalmente (51%) em termos

do percentual do faturamento, medidos no ano de 2014, nas demais EFs, este

percentual é muito variado. A Hering, em 2014, exportou aproximadamente 1,2%; a

Rudnick, aproximadamente 4%; a Marisol, 1% de exportação; a Karsten, com

exportações para 40 países, tinha o maior índice das têxteis, 60% de exportação,

porém em 2014 exportou aproximadamente 6% do faturamento. A menos

internacionalizada era a Baumgarten, porém esta empresa pode ser considerada a

mais agressiva nos últimos tempos dentre as empresas analisadas, partiu de 1%

para 18% do faturamento com a exportação. Já a com maior faturamento provindo

da exportação, é a Rohden, com 100% de exportação.

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142

As EFS têm características únicas e entre uma delas, a decisão de se

internacionalizar, de acordo com os relatos das empresas entrevistadas, foi a visão

de longo prazo (CLAVER et al. 2008, 2009; ZELLWEGER;EDDLESTON;

KELLERMANNS, 2010),além dos recursos financeiros disponíveis e inovação

(GRAVES; THOMAS, 2008).Este conjunto de recursos próprios atribuíveis à

presença da família na gestão, segundo os autores Habbershon e Williams

(1999),foi chamado de familiness e é uma fonte de vantagem competitiva de longo

prazo (ZELLWEGER;EDDLESTON; KELLERMANNS, 2010). Na literatura, a família

tem o atributo de ser única, pois possui esse senso de família, que a diferencia das

empresas não familiares, na condição que a EF quer perpetuar os seus negócios e

passar o bastão adiante, prosperando.

Na descrição já feita anteriormente de cada EF, pode-se citar o exemplo da

Karsten, que investiu em novas tecnologias de ponta, comprando teares suíços e

uma máquina de estamparia da Áustria para produzir designs diferenciados de

toalhas para exportação na Europa. Assim como a Karsten, as demais EFs tiveram a

visão de longo prazo, cada qual investindo em tecnologias e produtos inovadores

para se diferenciarem no mercado, investindo com os seus recursos próprios. O

retorno do início da internacionalização das EFs não foi de imediato, é um processo

gradual, em etapas e vai aumentando à medida que a empresa adquire experiência

internacional e vai se expandindo em redes de relacionamento (JOHANSON;

VAHLNE, 1977, 2009).

Percebe-se no exemplo da WEG que, já na década de 1970, as três famílias

fizeram um acordo de sucessão para se manterem coesos, todos sabem das regras

bem claras para as próximas gerações e quanto tempo cada diretor pode ficar no

cargo, segundo o relato dos entrevistados, pois há data de entrada e data de saída

para cada membro familiar, o principal objetivo é o de não atrapalhar os negócios

da empresa. O mesmo não aconteceu nas demais empresas analisadas, porém não

é o nosso foco de estudo a sucessão nas EFs.

A seguir, no Quadro 27 é analisado o processo nas sete EFS, segundo a

literatura pesquisada na abordagem de Vermeulen e Barkema (2002) e Lin (2012),

nas três dimensões: a velocidade, o escopo geográfico e o ritmo de

internacionalização.

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143

Quadro 27: A velocidade, o escopo geográfico e o ritmo de internacionalização

VARIÀVEIS BAUMGARTEN

(1881) HERING (1880)

KARSTEN (1882)

MARISOL (1964)

ROHDEN (1938)

RUDNICK (1938)

WEG (1961)

VELOCIDADE Número de Países dividido pelo tempo, em anos, mais

internacionalizado. Se < 2= lenta;

de =2 a 5= média e > 5 alta.

Fase mais internacional: 2012 - 2014

Fase mais internacional: década 80-90

Fase mais internacional: década 90-00

Fase mais internacional: década 00-10

Fase mais internacional:

década 90 a 00

Fase mais internacional: década 84-94

Fase mais internacional: década 04-14

30/2= 15

Alta

30/10= 3

Média

40/10= 4

Média

18/10= 1,8

Lenta

12/10= 1,2

Lenta

14/10= 1,4

Lenta

135/10= 13,5

Alta

ESCOPO GEOGRÁFICO

Fase mais internacionalizada.

Nº de Países de exportação:

Se <20= Estreito De 20 a 40= Médio

> 40= Amplo

Década de 80 a 00: América Latina (10); Década atual, 2014:

(30, sendo via Argentina e México).

Década de 80 a 90: 30 países, sendo os mercados principais,

EUA e Canadá, Europa e América

Latina.

Década de 90 a 00: 40 países, sendo os maiores mercados a Europa e os EUA; maior índice das EFs

têxteis no Brasil.

Década de 00, considerando de 2000 ao ano de

2010, 18 países, os mercados Europeu,

EUA, México, América Latina;

Década de 00 a 10: 12 países, porém mais concentradas para EUA, Canadá, Inglaterra, Alemanha, América Central, etc.

Década de 80 a 90. Nos anos de 84 a

94, para 14 países, porém concentradas para os EUA (90%)

em função dos volumes da mesa de bilhar e móveis de

escritório.

Década de 70, 32 países; década de

80, 41 países; década de 90, 50

países e atualmente (2015): exporta 135

países, com 34 parques fabris em 11

países.

30 30 40 18 12 14 135

Médio Médio Médio Estreito Estreito Estreito Amplo

RITMO Regular=período de 10

anos= 1 filial/ano no exterior;

Irregular= intervalos de 10 anos não uniformes.

Nos últimos 2 anos, 2 aquisições, uma

no México e outra na Argentina.

As 3 Subsidiárias foram em intervalos de 10 anos; 67 lojas

Hering Store na década de 90; em

2014: 17 lojas em 4 países.

As 3 Subsidiárias foram na década de

90;1 Loja terceirizada na

Venezuela.

Década de 90, uma Subsidiária na

Argentina; Década 00: 1 Subsidiárias, 2

lojas próprias, 17 lojas franqueadas

em 9 países.

Década de 80, com um Distribuidor na

Inglaterra até década atual

(Rohden UK) e um Escritório EUA.

Não tem Subsidiárias

próprias, trabalha com distribuidores

exclusivos.

Década de 2000 à 2010: 20 fábricas

implantadas em 11 países no período de

10 anos.

Irregular Irregular Irregular Irregular Irregular Irregular Regular

Fonte: O autor (com base nos dados da pesquisa).

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144

No Quadro 27 foi analisada a fase mais internacionalizada de cada EF, já que

o processo internacional ocorreu em diferentes décadas. O período analisado variou

entre 2 a 10 anos nas EFs, com base na análise feita pelos autores Vermeulen e

Barkema (2002) e Lin (2012). A fase mais internacional da WEG foi considerada o

período de 10 anos (2004 a 2014), com exportações para 135 países. A velocidade

foi identificada pelo número de países, dividido pelo tempo mais internacional

(número de anos) (VERMEULEN; BARKEMA, 2002) e percebe-se que a velocidade

da WEG foi a mais alta em relação às demais empresas, quando considerado o

número de países (135), atingindo o resultado v=13,5 (> 5 alta). A Baumgarten foi

analisada por 2 anos, ou seja, na sua recente fase internacional e mais

representativa, de 2012 até 2014, obtendo o resultado, velocidade v=15 (alta), em

função de em dois anos ter adquirido duas empresas que exportam para mais de 30

países.

Ainda no Quadro 27vê-se que, nas EFs Karsten e Hering, a velocidade foi

média, sendo que na Karsten a fase mais internacional foi considerada no período

de 10 anos (década 90 até 2000), com expansão de 40 países, atingindo o resultado

v=4; na Hering, foi considerado o período de 10 anos (década 1980 até 1990),

expansão para 30 países, atingindo v=3, isto é, velocidade média, resultado

semelhante ao da Karsten.

Já nas EFs Marisol, Rohden e Rudnick, o resultado foi semelhante, isto é, a

velocidade foi lenta (< 2). Seguindo a mesma análise, no caso da Marisol, foi

analisado o período de 2000-2010, expansão para 18 países, atingindo o resultado

v=1,8; na Rohden, período de 2000-2010, expansão para 12 países, atingindo v=1,2

e; por fim, a Rudnick, no período de 1984 a 1994, expansão para 14 países,

atingindo o resultado v=1,4.

Na Figura 7representa-se a velocidade das 7 EFs com destaque para a WEG

que continua crescente em sua expansão. Na coluna apresenta-se o número de

países e na linha, os anos nos quais ocorreram as expansões.

Pode-se perceber na Figura 7que há um momento muito similar na velocidade

entre as empresas estudadas. Entre os anos de 1983 e 2001 há um aumento

conjunto da velocidade da internacionalização. Porém, de 2001 a 2009, com

exceção da WEG, todas as demais empresas diminuíram sua velocidade de

internacionalização, pelos motivos já evidenciados anteriormente. Após 2001, a

atenção se volta à Baumgarten e à WEG, as quais continuaram a sua velocidade de

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145

expansão, sendo que, no caso da Baumgarten, com a aquisição de duas empresas

no exterior e, no caso da WEG, desde o início das operações de exportação na

década de 1970 até a década atual (em 2015), exporta para 135 países,

configurando-se uma velocidade alta.

Figura 07: Velocidade das EFs pesquisadas

Fonte: O autor (elaborado com base nos dados da pesquisa).

Quanto ao escopo geográfico, foi analisada a fase atual (em 2014) de cada

EF pelos dados obtidos durante as entrevistas e nos dados secundários, ou seja, o

âmbito geográfico em termos do número de países estrangeiros em que as EFs

operam e o número de subsidiárias estrangeiras (LIN, 2012; KUIVALAINEN et al.,

2012).

O escopo foi analisado pela soma total dos países de exportação (= 279

países), na fase mais internacionalizada de cada EF, dividido pelas 7 EFs= Média 40

países e a média da média=20 países, sintetizando, se <20 países= Estreito, de 20 a

40 países= Médio e > 40 países= Amplo escopo de internacionalização.

A WEG também é o destaque, com 34 subsidiárias próprias, e com

exportações para 135 países, enquanto a Baumgarten atende 30 países por meio

das duas aquisições; a Hering está presente, com 14 lojas, em 4 países e possui um

escritório na China; e a Rohden possui um escritório nos EUA e um parceiro

WEG

0

20

40

60

80

100

120

140 Baumgarten

Hering

Karsten

Marisol

Rohden

Rudnick

WEG

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146

Distribuidor na Inglaterra. A Marisol possui, em 2014, um escritório em Hong Kong;

enquanto a Karsten e a Rudnick não possuem negócios próprios no exterior nesse

período (2014).

Pode-se identificar que, durante todo o período de internacionalização das

empresas estudadas, a WEG teve um escopo amplo (> 40) em relação às demais

empresas. As EFs Baumgarten, Hering e Karsten tiveram um escopo médio (de 20 a

40) enquanto a Marisol, Rohden e a Rudnick tiveram um escopo estreito (<20) na

fase mais internacionalizada.

Os resultados de Lin (2012) indicaram um escopo estreito, quando as

empresas eram de alto nível de propriedade familiar versus empresas não familiares,

significando que há influência da família na internacionalização. Pode-se perceber

que, no caso da Rudnick, onde 12 membros da família atuam diretamente na

empresa, há um escopo estreito de internacionalização. No caso da WEG, onde a

família está limitada na tomada de decisão diária e na Baumgarten onde há somente

um representante da família, há um escopo geográfico maior. Isso pode representar

a aversão ao risco que a família possui quanto ao processo de internacionalização.

Quanto ao ritmo de expansão internacional, na Figura 8 está representado, na

coluna, o número de expansões por ano; e na linha, os anos em que ocorreu a

abertura das subsidiárias no exterior. Uma expansão rítmica é regular quando há a

abertura de uma filial no exterior a cada ano, em um período de 10 anos, por

exemplo; e uma expansão rítmica é irregular quando a abertura de filiais não foi

uniformemente distribuída (VERMEULEN; BARKEMA, 2002).

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147

Figura 08: Ritmo de expansão internacional regular ou irregular

Fonte: O autor (com base nos dados da pesquisa).

A única empresa que manteve o ritmo de expansão regular foi a WEG, pois

entre 2000 e 2010, em um período de 10 anos expandiu-se para 12 países, com a

abertura de uma nova fábrica/filial no exterior a cada ano (VERMEULEN;

BARKEMA, 2002).

A Figura 9 mostra a linha do tempo com a abertura de fábricas/filiais da WEG

no exterior no período 2000/11. Isso demonstra a regularidade em um período

analisado de 10 anos.

Figura 09: Novas fábricas/filiais da WEG (2000-2011)

Fonte: WEG, 2014.

Baumgarten

Hering Hering Karsten

Marisol

Marisol

Rohden WEG

-0,5

0

0,5

1

1,5

2

2,5

19

70

19

73

19

76

19

79

19

82

19

85

19

88

19

91

19

94

19

96

19

98

20

00

20

01

20

03

20

04

20

06

20

07

20

09

20

10

20

13

Baumgarten

Hering

Karsten

Marisol

Rohden

Rudnick

WEG

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148

As demais empresas não mantiveram um ritmo uniformemente distribuído, em

um período de 10 anos, portanto um ritmo irregular de internacionalização

(VERMEULEN; BARKEMA, 2002). Esse ritmo irregular se deve ao fato de, num

momento econômico desfavorável, como, por exemplo, a abertura das quotas da

OMC, o câmbio valorizado em relação ao dólar americano, entre outras variáveis, se

tornar um projeto não sustentável. No entanto, todas as EFs relataram a

necessidade de experimentar e obter aprendizado na internacionalização como um

benefício para as empresas. Em síntese, mudou o ritmo de internacionalização, mas

não mudou o comprometimento da família na gestão/conselho.

Quanto ao objetivo de analisar o efeito da propriedade familiar no processo de

internacionalização, o Quadro 28 apresenta as variáveis usadas para medi-las, isto

é, a porcentagem (%) de ações em poder da família, o número de famílias nas EFs,

se há acordo de família, recursos próprios, entre outros. Nas empresas Marisol e

WEG, foram entrevistados os fundadores e nas demais EFs os mesmos já são

falecidos.

Quadro 28: Variáveis da Propriedade familiar nas EFs

VARIÀVEIS BAUMGARTEN

(1881) HERING (1880)

KARSTEN (1882)

MARISOL (1964)

ROHDEN (1938)

RUDNICK (1938)

WEG (1961)

PROPRIEDADE

FAMILIAR

100% das ações

1 Família

30% das ações

3 Famílias

50% das ações

3 Famílias

100% das ações

1 Família

100% das ações

1 Família

100% das ações

3 Famílias

50,1% Holding

WPA 3 Famílias

Acordo de família

Conselho familiar

Recursos próprios; Sucessão planejada,

Recursos próprios; Sucessão planejada,

Acordo de família;

Recursos próprios, Sucessão planejada,

Acordo de família;

Recursos próprios, Sucessão planejada,

Acordo de família;

Recursos próprios, Sucessão planejada,

Acordo de família

Conselho familiar

Recursos próprios; Sucessão planejada,

Família Voigt com

33,3%; Silva com 33,3%

e Werninghau

s com 33,3%;

Acordo de família;

Recursos próprios, Sucessão planejada.

Visão de longo prazo

Visão de longo prazo

Visão de longo prazo

Visão de longo prazo

Visão de longo prazo

Visão de longo prazo

Visão de longo prazo

Visão de longo prazo

Fundador(es) Falecido Falecido Falecido Vivo Falecido Falecido Vivo

Fonte: O autor (elaborado com os dados da pesquisa).

Pode-se observar que em quatro EFs (Baumgarten, Marisol, Rohden e

Rudnick), a família detém 100% das ações, enquanto que, na Hering, 30%; na

Karsten, 50%; e na WEG, 50,1% das ações, demonstrando que a família possui a

maioria das ações (GERSICK et al., 1997; CASILLAS; ACEDO, 2005; FERNÁNDEZ;

NIETO, 2005), enquadrando-se, pois, no perfil alvo da pesquisa.

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149

A propriedade da EF tem um significado especial porque envolve um forte

apelo pessoal, é uma propriedade construída e desenvolvida pela família ao longo

de várias gerações (KMU FORSCHUNG AUSTRIA, 2008).

Como todas as EFs pesquisadas continuam sendo administradas e/ou

controladas por gestores familiares, uma determinante observada foi que a

propriedade continua na mão das famílias, ou seja, as EFs detêm a maioria das

ações e, assim, controlam e influenciam as decisões (ASTRACHAN et al., 2002;

CHUA et al., 1999).

Analisando as 7 EFs, quatro delas (Hering, Karsten, Rudnick e WEG)

possuem três famílias na gestão; enquanto Baumgarten, Marisol e Rohden possuem

apenas uma família na gestão. A maioria dos estudos utiliza um percentual mínimo

de propriedade em combinação com a exigência de pelo menos um membro da

família estar em uma posição de gestão na empresa como característica definidora

de uma empresa familiar (GRAVES; THOMAS, 2006; CLAVER; RIENDA; QUER,

2008; ABDELLATIF; AMANN; JAUSSAUD, 2010).

Nas EFs pesquisadas, houve o investimento na internacionalização com

recursos financeiros próprios, seja na aquisição de novas tecnologias, instalação de

lojas, subsidiárias, fábricas, entre outros; e Graves e Thomas (2008) apontam a

capacidade de realizar e usar recursos financeiros próprios como fator positivo na

internacionalização. Segundo Chu (2011), a propriedade e o envolvimento da família

estão associados ao desempenho positivo. A associação positiva é forte quando

membros da família estão na condição de CEOs, gerentes, presidentes ou diretores

das empresas. Em todas as EF pesquisadas a família ainda está em cargos de

gestão ou cargos estratégicos e verificou-se que o desempenho das exportações é

positivo, mesmo que tenham atualmente diminuído em parte das EFs pesquisadas.

Outro fator importante da influência familiar é a orientação de longo prazo da

EF, que supostamente tem um efeito positivo sobre a internacionalização (CLAVER

et al., 2008, 2009), como o crescimento sustentável através das fronteiras

internacionais ajudando a fortalecer os negócios no longo prazo. Nas 7 EFs

analisadas, percebe-se a variável “longo prazo” como norteadora do processo, pois

ninguém quer ser responsável, perante a família, pela quebra ou falência da EF e a

necessidade de perpetuação é um dos itens que faz com que a família gestora se

responsabilize pelos demais membros e consequentemente estão mais presentes

no dia-a-dia da empresa, mesmo estando somente no conselho. Corroborando

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150

Kontinen e Ojala (2010), em uma visão de longo prazo, a velocidade alta na tomada

de decisões pelos investimentos da família influencia a internacionalização. Todas

as EFs almejavam a conquista de novos mercados, clientes, acesso a novas

tecnologias, tendências e naturalmente a entrada de moeda estrangeira para não

depender somente do mercado nacional. O envolvimento da família faz a diferença

quando se trata de decisões de internacionalização (CALABRÒ et al., 2012).

A velocidade na tomada de decisões, quando a família é a proprietária, pode

ocasionar decisões mais lentas e o modo de entrada menor nos mercados

internacionais devido à aversão ao risco. Neste caso, a EF direciona mais as

exportações do que o Investimento Direto Estrangeiro (IED) e quando há um

membro externo não familiar (CEO), a tomada de decisões é mais rápida

(KONTINEN; OJALA, 2010). Claver, Rienda e Quer (2009) mostraram que, na visão

de longo prazo e com a presença de gestores não familiares na EF, é positivo

relacionar os modos de entrada ao maior comprometimento internacional, apesar de

problemas de autofinanciamento poder limitar tal comprometimento.

Considerando as diversas correntes defendidas pelos autores, pôde-se

constatar que, na empresa WEG, isso não aconteceu, embora haja diretores e

gestores não familiares em altos cargos de direção, a família ainda tem uma

influência muito forte na gestão e a empresa continua crescendo e se expandindo

nos cinco continentes. Inclusive, enquanto o presidente do conselho estava na

diretoria executiva e na presidência da empresa, a WEG iniciou o processo de

globalização.

Zahra (2003) identificou uma relação positiva entre o envolvimento da gestão

da família e a internacionalização, bem como um efeito de interação da propriedade

familiar e do envolvimento familiar influenciando a internacionalização. A autora

descobriu que a propriedade influencia positivamente as vendas internacionais em

escala e escopo. Da mesma forma que na empresa WEG, a Baumgarten, com o

presidente familiar, e que suas aquisições internacionais se iniciaram; bem como na

Marisol, apesar de não terem tido o resultado positivo, foram iniciadas por um

membro da família que, inclusive, está retomando o processo de

internacionalização.

Nas demais EFs, as famílias também estão envolvidas e comprometidas na

internacionalização e na gestão, ocupando cargos no Conselho, na direção, entre

outras formas. Percebe-se que nas EFs Baumgarten, Hering, Karsten, Marisol e

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151

WEG, a presença da família teve influência na internacionalização (PUKALL;

CALABRÒ, 2013). Já na Rudnick, em função da elevada presença familiar na gestão

e no conselho, as decisões são mais lentas, havendo certo conservadorismo. A

empresa somente exporta e não tem um centro de distribuição próprio, conforme

relatou o Gerente de Exportação durante a entrevista. O mesmo acontece na

Rohden, onde o diretor familiar decide o processo de internacionalização.

Quanto à sucessão nas empresas, cada qual soube fazer este processo de

forma que o negócio prosperasse e, em muitas empresas, como o caso da Hering,

Karsten, Marisol, Rudnick, a família está no Conselho de Administração e

profissionalizou a gestão. No caso da WEG, percebe-se, porém, que a influência que

a família sempre teve foi muito forte, principalmente na cultura da empresa e,

mesmo a família não estando presente em todos os cargos e níveis da empresa, os

três fundadores da WEG deixaram seu legado bastante presente no dia a dia da

empresa. Segundo o Presidente do Conselho, já está acordado quanto tempo os

diretores podem ficar no cargo e que a empresa precisa renovar, não podendo ter na

EF o princípio de ‘não largar o poder’.

Quanto ao objetivo de analisar o efeito do comprometimento familiar no

processo de internacionalização, o Quadro 29 apresenta as variáveis usadas para

medi-las: número de membros da família ativos na gestão, número de membros da

família no conselho de administração, número de gerações atuais na empresa, se há

uma holding e se há influência familiar.

Quadro 29: Variáveis do Comprometimento familiar nas EF.

VARIÀVEIS BAUMGARTEN

(1881) HERING (1880)

KARSTEN (1882)

MARISOL (1964)

ROHDEN (1938)

RUDNICK (1938)

WEG (1961)

COMPROMETI-

MENTO FAMILIAR

5 Membros familiares

6 Membros familiares

3 Membros familiares

3 Membros familiares

3 Membros familiares

12 Membros familiares

5 Membros familiares

5ª geração 4ª e 5ª

geração 4ª e 5ª

geração 1ª e 2ª

geração 2ª geração

2ª e 3ª geração

1ª e 2ª geração

Influência da família

Influência da família

Influência da família

Influência da família

Influência da família

Influência da família (conserva

dora)

Influência da família

Reuniões Diretoria.

Reuniões Diretoria, Conselho, acionistas;

Holding familiar.

Reuniões Diretoria, Conselho, acionistas,

Holding familiar.

Reuniões Diretoria, Conselho acionistas Holding familiar.

Reuniões Diretoria. 100% de

exportação

Reuniões Diretoria, Conselho acionistas

Reuniões Diretoria, Conselho acionistas,

Holding familiar.

Fonte: O autor (com base nos dados da pesquisa).

Nos planos de internacionalização, todos os entrevistados relataram a

importância da família no processo. Percebe-se que, durante as entrevistas, o fator

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152

“comprometimento/envolvimento familiar” (GRAVES; THOMAS, 2008) sempre foi

destacado como relevante no processo e todos os entrevistados relataram algum

comprometimento familiar. Nenhum entrevistado mencionou que a família não tem

envolvimento e ninguém mencionou, em nenhum momento, que a família tinha uma

influência negativa. Faz-se notar que todas as entrevistas com membros não

familiares foram realizadas separadamente de membros familiares.

Analisando o número de membros familiares ativos na empresa, nos cargos

da alta direção, na gerência ou até mesmo no conselho, porém com forte presença

nas decisões, pode-se sintetizar que, em três empresas (Karsten, Marisol e

Rohden), três membros estão atuantes; na Baumgarten e na WEG, há cinco

membros ativos (inclusive um dos fundadores); na Hering, seis membros ativos (com

destaque para o atual Diretor Executivo, tataraneto do fundador); e com o maior

número de familiares, doze membros, a empresa Rudnick.

Nas entrevistas verificam-se algumas características comuns nas EFs, por

exemplo, que em alguns casos, apesar de a família estar somente ativa no Conselho

de Administração, decide e aprova junto com a diretoria executiva, que não

necessariamente possui membros familiares, a estratégia de internacionalização e a

gestão da empresa (HABBERSHON; WILLIAMS, 1999).

A Marisol, por exemplo, o Presidente do Conselho, o Diretor Executivo e o

Vice-Presidente do Conselho decidem a gestão e inclusive a nova fase de

internacionalização agora em 2015. Na WEG, segundo o Diretor Internacional e o

Chefe de Marketing internacional (membros não familiares), a família não influencia

na gestão no dia a dia, pois, pela primeira vez na história da empresa, o Presidente

Executivo é não familiar. Porém, percebe-se que, mesmo a família não estando

envolvida diariamente nos negócios, ela influencia na gestão, pois as reuniões e as

decisões da WEG, do conselho e da família são realizadas na sede da Holding

WPA, que controla todos os negócios da empresa. Percebe-se, também, pelas

entrevistas com presidente do conselho e com o fundador, que há o conhecimento

de todos os passos que os diretores estão tomando na empresa no que tange ao

processo de internacionalização. O envolvimento da família na propriedade e na

gestão da empresa é o que faz uma EF ser diferente de uma empresa não familiar

(HANDLER,1989).

Na Baumgarten, o dia a dia do membro familiar agiliza a tomada de decisão e

o impulso ao processo de internacionalização. Na Hering, no momento que o atual

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153

tataraneto assumiu a presidência da empresa, houve um aumento no valor das

ações, porém o mercado está preocupado com a sucessão, pois não há, ainda, um

planejamento sucessório claro, nem mesmo a indicação de um membro não familiar

(ITAÚ, 2014).

Percebe-se o envolvimento da família (PUKALL; CALABRÒ, 2013), no caso

da Karsten, a família está no Conselho e os demais cargos são ocupados por CEOs

externos; porém, a família aprova as diretrizes e a gestão; na Rohden, o atual

presidente é o proprietário e define com a gerência as diretrizes e inclusive a

internacionalização; e na Rudnick, com o maior número de membros da família na

gestão, eles estão ativos no dia a dia em diversos cargos, no Conselho, na Diretoria,

na Gerência e na Coordenação, influenciando as diretrizes. A Diretoria executiva é,

na maioria, formada por membros não familiares (CEOs contratados), porém a

família define os rumos da gestão, comprometida e inclusive planejando, em 2015,

aumentar os volumes de exportação para 30% do faturamento e lançar uma nova

linha de móveis para escritório com madeira pinus.

Apesar de redes não ser um dos objetivos da presente pesquisa, verificou-se,

durante as entrevistas que redes ou formas de conexão com o mercado externo

sempre estiveram presentes nas empresas estudadas.

No Quadro 30, apresenta-se a última variante da análise das EFs com relação

a redes (network). As EFs tiveram a sua peculiaridade no sentido de estarem em

rede de diversas formas, com fornecedores, clientes, participando de feiras

internacionais, viagens ao exterior, abrindo franquias, lojas, desenvolvendo marcas,

enfim, um processo para continuá-las com aprendizado e expansão sustentável.

Quadro 30: Redes das EFs

VARIÀVEIS BAUMGARTEN

(1881) HERING (1880)

KARSTEN (1882)

MARISOL (1964)

ROHDEN (1938)

RUDNICK (1938)

WEG (1961)

REDES

(Network)

Feiras, viagens, empresa

global, prime label,

multinacionais Entre as 10

maiores Gráficas no

País.

Franquias, Hering store,

marcas próprias, Escritório

Sourcing na China;

Stakeholders.

Viagens, Desde 1975 participação

na feira Heimtextil na Alemanha;

clientes tradicionais, Aquisição da

Trussardi; Parcerias com Ciba-Geigy.

Viagens, Feiras,

Multimarcas, Lojas próprias (Lilica e Ripilica,

etc), Escritório em Hong

Kong.

Viagens, Feiras,

Distribuidor há 30 anos na Inglaterra;

Escritório nos EUA;

Fornecedores, clientes

tradicionais; nova

tendência fabrica de

vidros.

Feiras, viagens,

Marca própria office furniture, Distribuidores exclusivos, 30

anos de contato com importador Brunswick

(EUA).

Universidades,

Sociedade de rede

mundial de fábricas, Feiras,

fornecedores, viagens,

Subsidiárias, fábricas próprias;

expatriados, governo.

Fonte: O autor (com base nos dados da pesquisa).

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154

Desde o início da internacionalização, todas as sete EFs entrevistadas

relataram sobre a importância das redes de relacionamento. Nos relatos

(storytelling), bem como durante as entrevistas, as EFs revelaram as mais variadas

formas de estar em redes, e as variantes mais citadas foram as viagens

internacionais e a participação em feiras nacionais e internacionais. A estratégia da

Baumgarten foi a aquisição de duas empresas no exterior e continuar participando

da rede de fornecimento às empresas globais.

A Hering, além das lojas Hering Store, que permite estar presente nos

mercados internacionais com as suas marcas e manter o contato direto com os seus

clientes potenciais para atender as necessidades e acompanhar novas tendências

mundiais, mantém o escritório de sourcing na China e permite que a empresa esteja

inserida na maior rede de fornecimento da indústria têxtil mundial, ou seja, as

empresas chinesas. A Karsten mantém clientes tradicionais, o que lhe garante

relacionamentos de longos prazos e novas parceiras como fabricantes

internacionais. Participa também, desde 1975, da feira Heimtex, na Alemanha, para

continuar atualizada em relação às novas tendências e verificar novos players. A

Marisol detém a marca Lilica e Ripilica, um grande sucesso nacional, o que lhe

garante a inserção no mercado infantil, e com o escritório de sourcing em Hong

Kong insere a empresa; da mesma forma que a Hering, que mantém o contato com

os maiores fornecedores de matéria-prima com fornecedores da China, Bangladesh,

Paquistão e Vietnã. A Rohden tem distribuidores exclusivos no exterior desde 1984,

na Inglaterra; o mesmo acontece com Rudnick, que exportou mesas de bilhar por 30

anos para um distribuidor exclusivo nos EUA. Esse contato de longo prazo com

clientes e distribuidores garante à empresa um marketing de confiabilidade e

credibilidade no mercado.

A WEG, por sua vez, desde o início, manteve parcerias com universidades,

faz parte de uma sociedade de rede mundial de fábricas, abriu diversas subsidiárias

e fábricas próprias e está representada nos cinco continentes, sendo a maior

fabricante de motores da América Latina. Percebe-se na WEG que estar em rede é

fator importante para ter acesso a novas tecnologias e para o pioneirismo em

inovação, fator esse importante na competitividade da empresa.

Se uma família tem a intenção de alargar o escopo da internacionalização, ela

deve primeiramente formar redes de relacionamentos com empresas estrangeiras

que possuem capacidades internacionais, as quais possam ajudar a comprometer

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155

recursos financeiros suficientes para programar uma estratégia de

internacionalização (CALABRÒ; MUSSOLINO, 2011).

Pode-se perceber que fica evidente a afirmação dos autores Calabrò e

Mussolino (2011) nos casos analisados. A WEG, por exemplo, sempre esteve

presente em redes internacionais, permitindo não o acesso financeiro, mas o acesso

à tecnologia, sendo esta empresa a mais ampla em termos do escopo geográfico na

internacionalização.

Praticamente uma necessidade atual é que todas as EFs pesquisadas

fizeram, desde o início de sua fundação, e continuam fazendo neste mundo

globalizado a manutenção de redes. Havia necessidade de contatar o velho mundo,

voltar às origens para adquirir matéria-prima, tecnologia, conforme já frisado

anteriormente, e isto pode ter influenciado positivamente a internacionalização.

Como as EFs chegaram até aqui? A pró-atividade dos fundadores foi

determinante na internacionalização, mesmo três delas sendo empresas antigas,

inclusive centenárias. Percebeu-se nas falas dos entrevistados e na storytelling que

os fundadores influenciaram a visão internacional. Zahra (2003) afirma que as EFs

buscam a internacionalização para capitalizarem conhecimentos e habilidades dos

seus proprietários para melhorar o desempenho de longo prazo da empresa.

Outro aspecto é que, na maioria das EFs pesquisadas, as gerações foram

preparadas para posteriormente assumir cargos de liderança, em alguns casos,

inclusive, no exterior, visitando universidades, conhecendo outra cultura,

aprendendo outro idioma, visitando clientes, fornecedores, entre outras. Isso fez com

que a nova geração já olhasse o mercado externo de perto e com isso diminuísse o

“liability of foreigness” (JOHANSON; VAHLNE, 2009) e fosse inserida em redes

relevantes, ou seja, diminuindo também a liability of outsidership (BORINI; FLEURY,

2010).

5.1 Explicações alternativas da análise dos resultados

O Quadro 31 apresenta o resumo das sete EFs pesquisadas, uma análise

transversal do impacto da propriedade e do comprometimento da família com a

empresa sobre cada uma das variáveis deste estudo, a velocidade, o escopo e o

ritmo de internacionalização de cada EF, além dos resultados observados durante

as entrevistas realizadas.

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156

Quadro 31: Resultados observados das variáveis

Empresas Familiares

Velocidade

Escopo Ritmo Nível de

Propriedade familiar

Nível de Comprometi-

mento familiar

MARISOL lenta estreito irregular 100% ações 3 membros

ROHDEN lenta estreito irregular 100% ações 3 membros

RUDNICK lenta estreito irregular 100% ações 12 membros

HERING média médio irregular 30% ações 6 membros

KARSTEN média médio irregular 50% ações 3 membros

BAUMGARTEN alta médio irregular 100% ações 1 membro

WEG alta amplo regular 50,1% ações 5 membros

Fonte: O autor (com base nos dados da pesquisa)

Percebe-se neste quadro resumo semelhanças e diferenças entre as sete

EFs pesquisadas, as quais são analisadas a seguir, porém, os dados não podem ser

generalizados por tratar-se de um processo complexo, que é a internacionalização,

uma vez que cada EF apresenta mecanismos e características próprias. Os

resultados apresentados estão suportados pelas evidências empíricas e, em

particular, explicitados nos trechos das entrevistas já citadas no trabalho.

As empresas Marisol, Rohden e Rudnick são semelhantes quanto ao

processo de internacionalização. A velocidade foi lenta, o escopo estreito e o ritmo

irregular; todas as empresas detêm 100% das ações em poder da família: a Marisol

e a Rohden possuem três membros familiares, enquanto a Rudnick detém doze

membros familiares na gestão/conselho.

Isto pode significar que, nestas EFs, há maior aversão ao risco e um maior

conservadorismo para manter a riqueza no longo prazo em poder da família,

ocasionando uma velocidade de internacionalização mais lenta, um escopo estreito

pelo menor número de países aos quais exportam e um ritmo irregular de expansão

internacional. O ritmo mudou, mas a propriedade e o comprometimento continuam

em poder da família, influenciando o processo internacional.

A seguir, algumas citações obtidas durante as entrevistas na Marisol, Rohden

e Rudnick, sobre a visão de negócios e a família na gestão.

Segundo o Presidente da Marisol, sobre a internacionalização “Nossas três

experiências, com estrutura nossa, Itália, EUA, México foram interrompidas, só onde

tinha distribuidores, diminuímos os volumes, mas não interrompemos e queremos

ser líder do infantil” (MARISOLPRES).

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157

A Marisol não possui fábricas fora do país, mas gerencia a produção na Ásia

com um escritório terceirizado em Hong Kong que, em 2015, importa 30% do

negócio. A empresa quer retomar os mercados internacionais.

Ainda, segundo o Presidente:

[...] estou trabalhando em duas frentes de estudo, com um parceiro no Paraguai e o mais importante é a nossa intenção de voltar para os EUA, mas agora com uma marca de confiança. Paraguai está encaminhada e EUA eu vou segurar ainda um tempo para estruturar (MARISOLPRES).

Também conforme o Presidente, “[...] o alinhamento das decisões é mais

rápido quando de governança corporativa da família” (MARISOLPRES). Isto

demonstra mais uma vez que a propriedade e o comprometimento da família afetam

o processo de internacionalização em termos de velocidade, escopo e ritmo.

No relato do Presidente da Rohden, em 2011, com a crise nos EUA e na

Europa, a empresa enfrentou dificuldades, todavia, no início de 2012, com a melhora

do câmbio, a companhia voltou a exportar novamente para os mercados dos EUA e

da Inglaterra.

Na verdade, em cada crise a empresa se beneficiou bastante, e teve muita melhoria de processos, novas tecnologias com menos mão de obra, mais controles e, com cada crise, saímos mais fortalecidos, e para sobreviver, temos que melhorar cada vez mais (RODHENPRES).

E na visão do Trader de Exportação da Rohden, há 26 anos na empresa:

[...] o Diretor, estando à frente dos negócios, a influência é positiva, uma atuação dinâmica, audaciosa, se comprometendo com a expansão, criação de novos produtos e de prospecção de novas tecnologias, e sempre planeja novas metas, crescer a cada ano (ROHDENEXP).

A família Rudnick sempre se envolveu nos projetos internacionais e continua

no Conselho de Administração, avaliando e participando de todos os processos. Na

perspectiva do Membro do Conselho, quanto à influência da família, afirmou:

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[...] a influência é o seguinte: vamos ter que ter 30% de mercado externo e a diretoria executiva terá que fazer estratégia de conseguir isto. A diretoria profissionalizada faz o planejamento estratégico que o conselho aprova. Então existe esta influência. Em 2001 a família saiu da diretoria executiva e hoje os três irmãos estão no Conselho (RUDNICKMEM).

Em função da elevada presença familiar na gestão e no conselho (12

membros), as decisões são mais lentas, havendo certo conservadorismo, como

esclarece o Gerente de Exportação da Rudnick, que vê uma oportunidade da

empresa abrir um Centro de Distribuição (CD) no exterior, mas:

[...] eu tenho consciência de várias empresas que montaram um CD próprio nos EUA, é um desafio grande, vai ter que ter pessoas lá, ter controle, quem vai vender, como vai vender, e tem tudo isso e desde a década de 2000, há 13 anos, quando eu entrei, existia uma vontade de fazer isso, mas de certa parte da empresa, existia um conservadorismo familiar, não abraçar tudo de uma vez só, e eu vejo como uma forma de crescer mais rapidamente, até com outras linhas, e até uma forma mais segura é de trabalhar com private label (RUDNICKEXP).

Nas empresas centenárias Hering e Karsten, a velocidade foi média, o escopo

médio e o ritmo de internacionalização irregular. As famílias possuem um menor

número de ações, 30% e 50% respectivamente, entretanto, as decisões são

influenciadas pelos membros familiares na gestão e no conselho. A Hering possui 6

membros familiares, enquanto a Karsten apenas 3 membros. Há presença de CEOs

externos em ambas as empresas. Isto pode significar que as decisões são mais

rápidas e há menor aversão ao risco.

No relato do Diretor Internacional, a Hering:

[...] lançou a internacionalização produtiva, bem como da marca na América do Sul (na Argentina chegou a ter 72 Lojas), na América Central e Oriente Médio e um pouco nos EUA. Com as mudanças econômicas todas, nós ficamos concentrados na América Central, na Argentina fechamos todas. Ter unidades produtivas no exterior é um processo de internacionalização (HERINGINT).

O Gerente da Europa, quando indagado sobre a influência da família Hering

no processo internacional, comentou:

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[...] o Sr. Ivo Hering era de valorizar este processo internacional e a própria abertura do escritório da Hering em Colônia foi uma iniciativa da família, idem da fábrica na Espanha, o contrato com a Disney foi mais o operacional, não a família, mas ela aceitou e deu suporte a esse processo todo. Quando o tema da internacionalização vinha à tona, a família dava apoio. O Presidente, Sr. Ivo e o Vice-presidente, Sr. Fabio, apoiavam a abertura dos escritórios, da fábrica na Espanha, eu penso que estavam comprometidos (HERINGEUR).

A centenária empresa Karsten sempre esteve nas mãos da família e, desde o

início, influenciou o processo internacional. Segundo o Gerente de Exportação:

A família sempre esteve à frente dos negócios e este comprometimento se fez presente, seja acompanhando as visitas internacionais, participando em feiras internacionais, buscando novas tecnologias e parcerias e isto foi um diferencial da empresa para estar no topo e ser reconhecida internacionalmente (KARSTENEXP).

No que se refere à família nos negócios, o Diretor Europeu ressaltou que:

[...] a empresa sempre foi guiada por membros da família, os membros mais velhos estavam acostumados a passar os recursos e o bastão para as próximas gerações para multiplicá-los. Isso significava evitar riscos elevados e decisões rápidas para a expansão internacional. A meu ver, a decisão da família Karsten para começar o negócio de exportação foi correta e mais, colocou a Karsten na primeira linha dos exportadores mais bem-sucedidos. A minha opinião é notar que, em todas as conexões internacionais com empresas produtoras, a empresa Karsten tem desempenhado, de longe, um papel positivo, superior. (KARSTENINT).

De acordo com o Vice-Presidente, nos EUA (Carolina do Norte/Sul), todas as

indústrias têxteis faliram e, hoje, existem apenas nove global players que detêm 90%

do mercado americano.

A internacionalização da Karsten trouxe uma visão mundial para manter a empresa na vanguarda, porém, hoje, com a falta de visão de longo prazo do governo, câmbio desfavorável, custo Brasil, entre outras e com a entrada de produtos competitivos da China, Índia, Paquistão, a realidade é outra. Inclusive estes países têm atualmente todas as novas tecnologias, o que dificulta a nossa competição internacional (KARSTENVICE).

Na década de 2000, com a liberalização do comércio internacional promovido

pela OMC e pelo término das quotas de exportação, eleva-se a concorrência da

Europa e da Ásia, prejudicando a competitividade do Brasil. Em consequência, há

queda dos volumes de exportação ano após ano, assim, as duas empresas têxteis

fecharam suas unidades no exterior e diminuíram o ritmo de expansão internacional.

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No caso específico da empresa Baumgarten, há apenas um membro familiar

(Diretor Presidente) na gestão e os demais cargos são ocupados por CEOs

externos. A velocidade foi alta, o escopo médio e o ritmo irregular, tendo-se em vista

que a empresa somente está atuando desde 2012 no mercado externo, com a

aquisição de uma empresa na Argentina e outra no México. A família detém 100%

das ações, e isto pode significar menor aversão ao risco, além da tomada de

decisões mais rápida em conjunto com os CEOs. Na entrevista, o Diretor Executivo

afirmou que “[...] em uma empresa familiar, é preciso conciliar a cultura da empresa,

ver as formas de governança e gestão que são diferentes, mas tem fatores positivos

como a agilidade na tomada de decisão” (BAUMGARTENINT). Ainda segundo o

executivo, na visão da empresa L’Oréal, o processo de internacionalização da

Baumgarten foi rápido.

Pela visão da Diretora de Vendas e Marketing, a Baumgarten:

[...] é uma empresa de capital familiar com administração executiva profissionalizada. A estratégia é definida pelos profissionais executivos e deve ser aprovada pela família. Neste sentido, é fundamental o entendimento da família sobre a importância da internacionalização para o crescimento do negócio. Sua influência ocorre no processo de viabilização do projeto através da liberação de recursos para os investimentos necessários (BAUMGARTENMKT).

Analisando a empresa WEG, não há semelhanças com as demais EFs

pesquisadas. A velocidade foi alta, o escopo amplo, sendo a única empresa com um

ritmo regular de internacionalização que continua avançando, estando hoje presente

nos 5 continentes. É a empresa familiar mais internacionalizada em todos os

aspectos analisados. Possui 50,1% das ações com 5 membros da família atuando

na gestão e no conselho, e está apenas na 1ª e 2ª gerações. Também possui uma

Holding, a WPA, na Matriz em Jaraguá do Sul, que controla todos os negócios no

Brasil e no exterior. Apesar da maioria dos cargos estar ocupada por CEOs não

familiares, a família influencia nas decisões de internacionalização. Na visão do

Diretor Internacional, “[...] o DNA da WEG continua pelo espírito e legado

empreendedor dos três fundadores” (WEGINT).

Em 1989, quando Décio da Silva, filho do fundador, foi eleito Presidente

Executivo, a WEG envolveu-se em uma estratégia internacional agressiva. A

empresa criou nova estrutura internacional para garantir serviços de distribuição e

pós-venda. Houve aumento no número de países de exportação, a abertura de

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escritórios de vendas, estabelecimento de parcerias com fábricas, joint-ventures,

aquisições, fusões e instalações de fábricas próprias em diversos países.

A família da WEG continua ativa e o fundador Werner marca presença todos

os dias na empresa, sede da Holding WPA, visitando regularmente a fábrica. O

Presidente do Conselho, Décio da Silva (2ª geração), também está ativo e

comprometido no dia a dia. As famílias sempre participaram do processo e os

assuntos familiares são separados dos assuntos de empresa. “E a empresa está

onde está em função desta regra, e não por apadrinhamento” (PRESCONS).

Nas sete EFs pesquisadas percebeu-se pelas falas dos entrevistados e na

storytelling que os fundadores influenciaram a visão internacional. Desta forma, a

propriedade e o comprometimento da família na gestão/conselho tiveram um

impacto significativo no processo de internacionalização em termos de velocidade,

escopo e ritmo. Também é notório que o ritmo de internacionalização mudou,

entretanto, o que permaneceu foi o envolvimento da família, cada qual buscando

perpetuar os negócios internacionais.

A seguir, as duas suposições elencadas foram comparadas com os dados

observados na pesquisa.

Na 1ª suposição: > aversão ao risco > influência de membros familiares > Nº

ações - torna as decisões mais lentas, maior conservadorismo da família (manter a

riqueza no longo prazo) e há um efeito negativo sobre o número de entrada nos

países.

Isto não foi definitivamente observado em todas as sete EFs. Nas EFs

Marisol, Rohden e em especial na Rudnick há fortes indícios, em face de: velocidade

lenta, escopo estreito, ritmo irregular, 100% das ações em poder da família e pela

quantidade de membros familiares na gestão, mas ainda impossibilitado de

generalização.

Na 2ª suposição: < aversão ao risco < influência de membros familiares < Nº

ações - torna as decisões mais rápidas, menor conservadorismo da família e há um

efeito positivo sobre o número de entrada nos países.

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Isto também não foi definitivamente observado em todas as sete EFs. Nas

EFs Hering, Karsten e Baumgarten, há indícios, em face de: velocidade média,

escopo médio, ritmo irregular, 30% das ações em poder da família na Hering e 50%

na da Karsten, devido a: velocidade lenta, escopo estreito, ritmo irregular, 100% das

ações em poder da família, mas ainda não pode ser generalizado. Na Hering há 6

membros e na Karsten apenas 3 membros da família na gestão/conselho.

Na EF Baumgarten, a velocidade foi alta, escopo médio e o ritmo irregular, a

família detém 100% das ações, mas apenas um membro da família atua na empresa

e os demais cargos são CEOs externos. Isto pode ser um indício de menor aversão

ao risco e decisões mais rápidas.

Porém, na WEG, os resultados foram divergentes das suposições feitas, em

face de: velocidade alta, escopo amplo e de ser a única empresa com um ritmo

regular de expansão internacional. Nenhuma EF apresentou dados semelhantes,

sendo a empresa mais internacionalizada. Possui 50,1% das ações em poder das

famílias proprietárias e há 5 membros familiares na gestão/conselho. Apesar da

maioria dos cargos estar ocupada por membros não familiares, a família continua

influenciando a internacionalização. A WEG pode ser considerada, neste contexto,

uma empresa multinacional emergente.

Grande parte dos estudos sobre internacionalização de empresas baseia-se

em países desenvolvidos, cujo ambiente institucional é diferente da realidade das

economias emergentes, como é o caso do Brasil. Existem poucas pesquisas

voltadas à validação dos novos modelos teóricos no contexto da América Latina.

Assim, este estudo buscou contribuir com a literatura ao avaliar a aplicabilidade das

tipologias propostas por Ramamurti (2009a) no contexto brasileiro.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAS

Todas as EFs pesquisadas têm, em sua formação familiar, a origem

estrangeira. Verificou-se que, desde o início da formação empresarial, esse fator,

aliado a um perfil empreendedor e sustentável, foi relevante para os primeiros

contatos com o mercado externo na importação /ou na exportação. O preparo das

novas gerações com a experiência em países estrangeiros também parece ter

influenciado a internacionalização.

O objetivo desta pesquisa permitiu estudar a influência entre a propriedade e

o comprometimento familiar no processo de internacionalização das EFs estudadas

e o resultado indica que a família influenciou a internacionalização.

As EFs tiveram, durante seus processos internacionais, pelas experiências

positivas ou negativas, um aprendizado global e agora estão olhando para o

mercado externo como uma nova oportunidade de crescimento, vislumbrando no

seu segmento novas oportunidades de negócios.

A postura das EFs pesquisadas foi proativa no que tange à

internacionalização e, apesar dos erros e dos acertos ou dos momentos econômicos

desfavoráveis, as famílias veem o mercado externo como um grande potencial de

crescimento.

Ao se analisar a linha do tempo já demonstrada nesse trabalho, todas as

empresas começaram ‘do zero’ e conquistaram o mercado internacional. Fatores

externos e internos influenciaram no processo, porém fatores familiares também

foram importantes para o sucesso das empresas. Pode-se citar como fatores: a

origem europeia dos fundadores, a proatividade empresarial, a inserção em redes

estrangeiras, o preparo das futuras gerações e a preocupação com a sucessão;

esses são alguns dos indicadores que permitiram que as empresas reduzissem as

liabilities e se tornassem líderes em seu segmento em algum momento, como a

WEG, em motores; a Marisol, em moda infantil; a Baumgarten, em selos

empresariais; a Hering, em moda do vestuário; a Rohden, em portas de pinus; a

Rudnick, em mesas de bilhar; e a Karsten, em toalhas de mesa natalina.

Percebe-se nas EFs analisadas que o “olho do dono” está presente na gestão

empresarial corroborando os aspectos teóricos e respondendo o objetivo desta

pesquisa:

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Como a propriedade e o comprometimento familiar afetam o processo de

internacionalização das empresas familiares em termos de velocidade, escopo e

ritmo?

Pode-se verificar, ao final deste trabalho que, nos casos analisados, a família

influencia diretamente na internacionalização da empresa. Ao ouvir membros não

familiares, verificou-se que em todas as empresas entrevistadas essa influência

existiu e foi determinante para o processo de internacionalização.

Por outro lado, observou-se também que nas EF sem que o número de

pessoas da família que estão envolvidos na gestão é maior, há da mesma forma

uma aversão ao risco buscando um processo de internacionalização mais

controlado, ou seja, unicamente pela exportação, um escopo geográfico em um

número de países menor, a velocidade de internacionalização mais lenta e um ritmo

de expansão irregular.

Percebe-se também que quando a família é detentora de 100% das ações, há

maior aversão ao risco, o escopo geográfico é menor e a família não quer perder o

controle do negócio, tornando o processo de internacionalização mais lento, porém,

quando a família tem menor número de ações, há menor aversão ao risco e o

processo internacional avança com maior velocidade.

No resultado de Lin (2012), a propriedade familiar tem uma relação positiva

com a velocidade de internacionalização das multinacionais, entretanto a

propriedade familiar tem um efeito negativo no escopo e no ritmo de

internacionalização. No estudo das sete EFs analisadas, percebe-se que a

propriedade e o comprometimento familiar ajudaram e influenciaram na

internacionalização, não sendo um inibidor deste processo, inclusive em termos de

velocidade, escopo e ritmo. Isto está de acordo com os achados de Lin (2012)

quanto à velocidade de expansão, como pôde ser visto nas empresas WEG e

Baumgarten (alta velocidade), na Hering e Karsten (velocidade média) e na Marisol,

Rohden e Rudnick (velocidade lenta).

Porém, em algumas EFs (Baumgarten, Rohden, Rudnick), pôde-se notar uma

tendência de aversão ao risco (KETS DE VRIES, 1993) e, desta forma, as decisões

não foram tão rápidas, o que inibe, de certa forma, o processo de

internacionalização. As empresas podem decidir por um escopo estreito e um ritmo

irregular de expansão, para que a família possa manter a riqueza no longo prazo

(LIN, 2012). Um ritmo irregular de expansão pode ser explicado, por exemplo, na

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década de 1990, quando o mundo se tornou mais globalizado e as fronteiras

nacionais não eram mais consideradas barreiras que, no caso das indústrias

brasileiras, houve a eliminação, por parte da OMC, das quotas e a queda do imposto

de importação, prejudicando principalmente as exportações das EFs têxteis

pesquisadas.

Considerando isso não se pode afirmar que há uma influência positiva da

família no processo de internacionalização em todas as EFs pesquisadas. Pôde-se

perceber durante a entrevista na empresa Rudnick que há doze membros familiares

ativos na empresa e, após um longo período de exportação para um cliente

potencial nos EUA, havia um estudo de viabilidade de fazer uma distribuição própria

neste mercado, mas a decisão deste projeto é mais lenta, há um conservadorismo

familiar, pois envolve investimentos (IDE), pessoas que farão o controle e a

distribuição, entre outros fatores.

Fernandez e Nieto (2006) justificam essa relação negativa entre a

propriedade familiar e a internacionalização, pois as EFs procuram maximizar suas

receitas de alguns mercados externos, em vez de perseguir agressivamente a

internacionalização e isso faz com que as EFs sejam mais conservadores e avessas

ao risco, como é o caso da empresa Rudnick. Isto tem um efeito negativo sobre o

número de entrada nos países externos. Esta tendência é ainda mais enfatizada

com o aumento de familiares na empresa.

A pesquisa sobre a internacionalização aqui apresentada indica que o

envolvimento da família e a propriedade familiar são importantes para a

internacionalização das empresas, porém as causas e os efeitos identificados não

podem ser generalizados para todas as EFs (KONTINEN; OJALA, 2010; SCIASCIA

et al., 2012); porém há um indício que, nas empresas familiares de Santa Catarina,

há fatores em comum e algumas características que influenciaram a

internacionalização, pois de acordo com o perfil das EFs, todas são de origem

europeia; todas começaram do zero; alguém da família iniciou o processo de

internacionalização; três empresas já são centenárias; o preparo das futuras

gerações e a preocupação com a sucessão; inserção em redes estrangeiras e a

família continua ativa na gestão ou no conselho influenciando em maior ou menor

grau o processo internacional.

Em se tratando de EFs, ainda há poucos estudos sobre a velocidade, o

escopo e o ritmo de internacionalização em estudos qualitativos e há ausência de

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medidas sofisticadas para medir a influência da família no processo internacional.

Esse estudo vem contribuir com a teoria no sentido de identificar que fatores e

características familiares influenciam na internacionalização da empresa. Contribui

também, de forma empírica, em demonstrar que a família, sendo a proprietária,

estando no dia a dia comprometida na gestão, influencia a internacionalização.

Esta pesquisa foi relevante para o pesquisador e para a academia, pelo fato

de ter tido a oportunidade, durante um período de seis meses, desde a primeira

entrevista, em Outubro de 2014 e a última, em Abril de 2015, de poder sair a campo

e entrevistar sete empresas familiares, de diferentes segmentos, o que proporcionou

vasto conhecimento e aprendizado sobre o fenômeno das EFs em Santa Catarina,

cada qual na sua forma única, por isso são consideradas heterogêneas, e descrever

o processo internacional em diferentes décadas, relatando a proatividade dos

fundadores, o pioneirismo e o espírito empreendedor, fatores que trouxeram no seu

DNA, na origem europeia, apesar de muitas dificuldades, pois todas elas

‘começaram do zero’, mas conseguiram transformar as dificuldades em

oportunidades, se internacionalizaram e, por meio das novas gerações, dentre elas

três empresas já estão na 5ª geração, portanto o tataraneto do fundador está na

gestão; e continuam gerando empregos e riqueza econômica, apesar da

concorrência internacional. A influência dos fundadores foi determinante nessa

trajetória de sucesso internacional, correr riscos, visão de longo prazo e ter um

espírito ousado para desbravar e construir uma empresa na nova pátria fazia e faz

parte da história dessas EFs estudadas.

6.1 Limitações do Estudo

Como qualquer outro método de pesquisa, o estudo de caso também

apresenta algumas limitações. Uma das limitações, segundo Yin (2003), é o fato de

o estudo de caso fornecer pequena base para generalizações científicas, uma vez

que, por estudar alguns casos, não se constitui uma amostra da população e, por

isso, torna-se sem significado qualquer tentativa de generalização para populações.

Não se podem confundir generalizações estatísticas, que nesse método de pesquisa

não são possíveis, com generalização teórica, esta sim factível, quando se utiliza o

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método de estudo de caso. Como vantagem, o estudo de caso apresenta a grande

profundidade, permitindo explicar o caso em estudo e relacioná-lo com outros.

Devido à análise estar restrita a empresas familiares de Santa Catarina, não

se pode abranger ou dizer que a pesquisa e os seus resultados sejam métricas para

todas as EFs, que são heterogêneas, pois são de segmentos diferentes e estão

localizadas no Brasil, um país emergente. Os resultados podem ser diferentes das

pesquisas nos países desenvolvidos até agora pesquisados, mas servem como

insights e parâmetros para que futuras empresas possam se orientar nos dados e

gerenciar a empresa rumo ao processo internacional. Como a pesquisa é

transversal, ela permite tirar uma fotografia em diferentes momentos nas EFs, mas

não representam todas as características das EFs.

Como verificado nas entrevistas, fatores externos também contribuem ou

impedem o avanço da internacionalização, dependendo da conjuntura econômica,

dos acordos bilaterais, da influência da taxa de câmbio na formação do preço

internacional, das regras da OMC, dentre outras variáveis.

6.2 Sugestões para Futuras Pesquisas

Este estudo qualitativo serviu como contribuição do como e do porquê a

família influencia no processo de internacionalização da empresa, porém um estudo

quantitativo poderia, a partir deste estudo, contribuir no sentido de confirmar os

fatores aqui analisados, ou seja, o quanto a propriedade e o comprometimento

familiar influenciam na internacionalização das empresas e, portanto, ajudar a

preencher a lacuna na pesquisa existente. Além disso, o aspecto de velocidade, do

escopo e do ritmo de internacionalização poderia ser também mais bem identificado.

Em geral, parece haver uma gap entre estudos empíricos quantitativos que

utilizam medidas comparativamente sofisticadas para a avaliação do envolvimento

da família e estudos de caso qualitativos. Ambos os tipos de análise criam

informações valiosas, mas especialmente para os estudos quantitativos falta alguma

sofisticação relativa a medidas de envolvimento da família, tornando difícil deduzir

fortes declarações relacionadas à influência da família sobre a internacionalização

da empresa (PUKALL; CALABRÒ, 2013).

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Porém, a relação direta entre “Empresa Familiar e Internacionalização”,

apesar dos fortes indícios desta pesquisa, ainda não pode ser generalizado. Não

foram realizadas pesquisas em empresas não familiares para ver se a família

influencia ou não o processo internacional.

Sugere-se, portanto, uma pesquisa quantitativa, por meio de uma survey, que

poderia descrever e quantificar a influência da propriedade e do comprometimento

familiar no processo internacional das EFs em termos de velocidade, escopo e ritmo.

Assim sendo, diante dos resultados desta pesquisa, algumas proposições

surgem no sentido de colaborar para novas pesquisas:

P1: Empresas familiares sofrem influência da propriedade da família no processo

de internacionalização;

P2: Empresas familiares sofrem influência no comprometimento da família no

processo de internacionalização;

P3: Quais características das empresas familiares pelas quais a propriedade e o

comprometimento familiar afetam o processo de internacionalização em termos

de velocidade, escopo e ritmo.

A seguir são mencionadas as principais referências bibliográficas desta

pesquisa.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A

CARTA DE APRESENTAÇÃO

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

PPGA – Programa de Pós-Graduação em Administração

Curso de Mestrado em Administração

BIGUAÇU, OUTUBRO DE 2014.

ASSUNTO: PESQUISA DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO, O EFEITO DA PROPRIEDADE E DO

COMPROMETIMENTO NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA EMPRESA FAMILIAR:

UM OLHAR SOB O ASPECTO DA VELOCIDADE, DO ESCOPO E DO RITMO

Prezado Senhor...............................

Sou aluno do curso de Mestrado em Administração de Empresas da UNIVALI e junto com a minha

orientadora, tenho o compromisso de desenvolver um estudo acadêmico que será apresentado para

a obtenção do meu título de Mestre em Administração.

O tema definido para o meu estudo versa sobre a “INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS

FAMILIARES”, cujo principal objetivo é analisar o efeito da family ownership e commitment nestas

empresas sob um olhar da velocidade, escopo e ritmo de internacionalização. O interesse no tema

está fundamentado na relevância das empresas familiares na economia nacional e internacional

associada ao desafio da internacionalização das empresas brasileiras.

O tema desse estudo é inédito na literatura nacional e ainda pouco explorado mundialmente, ainda

que se observe o interesse crescente por pesquisas sobre as Empresas Familiares.

Salientamos a importância que representa sua participação nesta pesquisa e informamos que os

resultados serão encaminhados a sua empresa para o seu conhecimento.

Na certeza de sua participação, antecipamos os nossos agradecimentos.

Atenciosamente

Waldir Goede Prof.ª Dra. Dinorá E. Floriani

E-mail: [email protected] Orientadora, E-mail: [email protected]

Tel (47) 9113-1231 Tel (47) 9101-4527

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APÊNDICE B

FORMULAÇÃO DO PROTOCOLO DE ENTREVISTA

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OBJETIVO: ANALISAR O EFEITO DA PROPRIEDADE E DO COMPROMETIMENTO NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA EMPRESA FAMILIAR: UM OLHAR SOB O ASPECTO DA VELOCIDADE, DO ESCOPO E DO RITMO.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

CONCEITO E AUTOR(ES) QUESTÕES DA PESQUISA

1).

Apre

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naliz

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Em

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am

iliare

s.

A Internacionalização é um processo complexo e envolve um envolvimento crescente em operações internacionais, no sentido do contexto doméstico para mercados estrangeiros e vice-versa, sendo um processo gradual que envolve aprendizagem contínua em vários estágios. Johanson e Wiedesheim-Paul, 1975; Johanson e Vahlne ,1977;2003;2009; Welch e Luostarinen,1988; Calof e Beamish, 1995; Fernandes e Nieto, 2005.

Como ocorreu o início do processo de internacionalização: Quais são os modos de atuação no exterior que a sua empresa

possui e em que ano ocorreu este processo. (Por exemplo): exportação direta, indireta, agentes, representantes, subsidiária de vendas, lojas, produção no exterior, profundidade (vendas externas, participação em %),entre outras.

Foi feito um planejamento estratégico, pesquisa de mercado, quais fontes de informação? E atualmente?

O fundador da empresa foi o responsável pelo processo de internacionalização?

Isso aconteceu em todos os modos de entrada? Quem intermediou o processo de internacionalização? Alguém do Brasil? Alguém da Família? Banco? Parentes no

exterior?, ou...(outro); Morou no exterior; ou seja, foi preparado para assumir o controle da

empresa e cuidar da internacionalização? Mantém contato com clientes, fornecedores (networking)?

2)

Veri

ficar

a v

elo

cid

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o e

scopo e

o

ritm

o

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pro

cesso

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na

lização

.

Velocidade:é definida com o aumento, ao longo do tempo, do número, da variedade e da distância entre os países onde a empresa está ativamente atuando. Vermeulen e Barkema, 2002; Abdellaif et al.2010; Kontinen e Ojala, 2010; Lin, 2012.

O número de expansões estrangeiras com o qual uma firma realiza dentro de um determinado período de tempo. Qual foi a primeira forma de contato com o mercado externo?

Quando foi? Como acorreu? Após a primeira fase (exportação), quanto tempo levou para iniciar

um novo projeto de internacionalização, por exemplo, a contração de um agente ou representante?

E depois em cada etapa que a empresa tiver no exterior.

Escopo:é definido como sendo a abrangência ou a extensão de locais onde a empresa desenvolve a sua atividade cobrindo os mercados e/ou países onde vende ou fabrica seus produtos e serviços; é o número de países estrangeiros onde a empresa opera. Vermeulen e Barkema, 2002; Kontinen e Ojala, 2010; Lin, 2012.

Expansão da extensão geográfica de uma empresa no exterior. Número de países nos quais a empresa opera no exterior ou com

que o país negocia ou investe; O grau de concentração espacial das atividades da empresa; Quais foram os países em cada um dos modos de entrada e/ou nas

décadas.

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Ritmo: Refere-se aos intervalos entre o

estabelecimento de subsidiárias estrangeiras;

a regularidade do processo, como as

operações são estabelecidas no exterior em

um período de tempo, ou a irregularidade do

padrão de expansão no exterior em um

período de tempo.

Vermeulen e Barkema, 2002; Lin, 2012.

Como as operações são estabelecidas no exterior em um período de tempo: regularidade ou irregularidade ao padrão da expansão para o exterior. Número de subsidiárias externas (período de 10 anos); Número de expansões externas (período de 10 anos); Quanto tempo a empresa já ficou sem exportar? Por quê? Houve algum momento de interrupção total de contato com o

mercado externo?

3)

Iden

tificar

o

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fam

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sa.

PROPRIEDADE DA FAMÍLIA A família é a proprietária possuindo a maioria das ações. Gersick et al.1997; Casillas e Acedo,2005; Fernández e Nieto,2005

Porcentagem das ações em poder da família controladora: Desde quando a empresa é a proprietária; Abertura do capital da empresa; Caracterização de novas fontes de recursos; Política de partilha de dividendos; Existência de Holding ou não.

COMPROMETIMENTO DA FAMÍLIA Quando a família está ativa e comprometida na empresa (no conselho, no dia a dia da gestão). Chua et al., 1999; Astrachan et al., 2002;. Casillas e Acedo, 2005; Chrisman et. al., 2005; George, Wiklund e Zahra, 2005.

A família está ativa e comprometida na empresa: Cargos ocupados pela família; e no Conselho de Administração; Quem são os gerentes/CEO (contrataram CEO externos?); Qual é a posição na empresa; Porque está neste cargo; Experiências, Número de gerações na empresa; Número de membros familiares no CEO; Número de reuniões formais da família/ano.

Fonte: O Autor (baseado nos dados da pesquisa)

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APÊNDICE C

RESUMO DAS VARIÁVEIS DAS SETE EMPRESAS ANALISADAS

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VARIÀVEIS BAUMGARTEN (1881)

HERING (1880)

KARSTEN (1882)

MARISOL (1964)

ROHDEN (1938)

RUDNICK (1938)

WEG (1961)

FAMÍLIA

Início da Internacionalização

133 anos de fundação; Família

proprietária, Diretor familiar iniciou o

processo.

134 anos de fundação; Família

proprietária, Membro não familiar iniciou o

processo.

132 anos de fundação; Família

proprietária, Membro não familiar iniciou o

processo.

50 anos de fundação; Família

proprietária, Diretor Familiar iniciou o

processo.

75 anos de fundação; Família

proprietária, Diretor Familiar iniciou o

processo.

75 anos de fundação; Família

proprietária, Diretor Familiar iniciou o

processo.

52 anos de fundação; Família proprietária, Diretores Familiar

iniciaram o processo.

INTERNACIONALIZAÇÃO

Década 00: mais internacionalizada

(2012-2014).

Década 60 marca o início do processo. Pioneiros no Brasil

no Vestuário.

Década 70 marca o início do processo; Pioneiros no Brasil

na linha mesa natalinos.

Década de 70 marca o início do processo. Na década de 90 com Vestuário com a Marca Lilica e Rosa Chá.

Década de 80 marca o início do processo.

Pioneiros na exportação de portas

pinus desde 1985.

Década de 80 marca o início do processo.

Pioneiros na exportação de

mesas de bilhar desde 1984.

Década de 70 marca o início do processo; Pioneiros com nova

tecnologia de motores.

% aprox. do faturamento na exportação

18%

30%

60%

10%

100%

100%

51%

Década mais internacionalizada

00 (2014)

80 90 90 80/90 80/90 00 (2014)

% aprox. do faturamento no exterior em 2014

e as ESTRATÉGIAS

18% 1,2 % 6% 1 % 100% 4% 51%

Exportação América Latina; Fornecedor de prime label para multinacionais; Aquisição México e

Argentina.

Importação teares Alemanha; Exportação América Latina e Alemanha; Fábrica, Distribuição e Subsidiária na Europa para atender Disney, etc. Lojas próprias e franquias, Subsidiária EUA.

Importação de teares Suíços,

Exportação África do Sul e Alemanha;

Subsidiárias: Argentina, Alemanha e EUA; Distribuidor

Disney.

Loja Milão e New York; Franquias,

Distribuidor México, Escritório Hong

Kong

Distribuidor exclusivo Inglaterra;

pioneiro na fabricação portas

pinus

Distribuidor exclusivo EUA,

pioneiro na fabricação mesas

bilhar.

Novas tecnologias da Alemanha;

Parcerias com Universidades, abertura

Subsidiárias, aquisições, fusões, joint

venture, fábricas próprias (greenfield)

País(es) no inicio da Exportação

Argentina

Paraguai Alemanha

África do Sul e Alemanha

Alemanha Inglaterra EUA Argentina Alemanha

VELOCIDADE Número de Países dividido

tempo, em anos, mais internacionalizado. Se < 2,0= lenta; de =2 a 5= média

e > 5 alta.

Fase mais internacional: 2012 - 2014

Fase mais internacional: década 80-90

Fase mais internacional: década 90-00

Fase mais internacional: década 00-10

Fase mais internacional:

década 90 a 00

Fase mais internacional: década 84-94

Fase mais internacional: década

04-14

30/2= 15 Alta

30/10= 3 Média

40/10= 4 Média

18/10= 1,8 Lenta

12/10= 1,2 Lenta

14/10= 1,4 Lenta

135/10= 13,5 Alta

ESCOPO GEOGRÁFICO

Fase mais internacionalizada

Nº de Países exportação:

Década de 80 à 00: América Latina (10); Década atual, 2014:

(30, sendo via Argentina e México).

Década de 80 a 90: 30 países, sendo os mercados principais,

EUA e Canadá, Europa e América

Latina.

Década de 90 à 00: 40 países, sendo os maiores mercados a Europa e os EUA;

maior índice das EFs têxteis no Brasil.

Década de 90, considerando de 95 ao ano de 2010, 18 países, os mercados Europeu, EUA, México, América Latina;

Década de 00 à 10: 12 países, porém

mais concentradas para EUA, Canadá,

Inglaterra, Alemanha, América

Central, etc.

Década de 80 à 90. Nos anos de 84 à

94, para 14 países, porém concentradas para os EUA (90%)

em função dos volumes da mesa de bilhar e móveis de

escritório.

Década de 70, 32 países; Década de 80, 41 países; Década de 90, 50 países e atualmente (2015): exporta 135 países, com 34 parques fabris em 11 países.

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Se <20= Estreito De 20 a 40: Médio

> 40= Amplo

30

30

40

18

12

14

135

Âmbito Geográfico Médio Médio Médio Estreito Estreito Estreito Amplo

RITMO

Regular=período de 10 anos= 1 filial/ano

no exterior; Irregular= intervalos

de 10 anos não uniformes.

Nos últimos 2 anos, 2 aquisições, uma

no México e outra na Argentina.

As 3 Subsidiárias foram em intervalos de 10 anos; 67 lojas

Hering Store na década de 90; em

2014: 17 lojas em 4 países.

As 3 Subsidiárias foram na década de

90.

Década de 90, uma Subsidiária na Argentina; Década 00: 1 Subsidiárias, 2 lojas próprias, 17 lojas franqueadas em 9 países.

Década de 80, com um Distribuidor na Inglaterra até década atual (Rohden UK) e um Escritório EUA.

Não tem Subsidiárias

próprias, trabalha com distribuidores

exclusivos.

Década de 2000 à 2010: 20 fábricas

implantadas em 12 países no período de

10 anos.

Irregular

Irregular Irregular Irregular Irregular Irregular Regular

PROPRIEDADE

FAMILIAR

100% das ações

1 Família

30% das ações (IPO 2007) 3 Famílias

50% das ações (2014)

3 Famílias

100% das ações

1 Família

100% das ações

1 Família

100% das ações

3 Famílias

50,1% Holding WPA 3 Famílias

Acordo de família Conselho familiar

Recursos próprios; Sucessão planejada,

Recursos próprios; Sucessão planejada,

Acordo de família; Recursos próprios,

Sucessão planejada,

Acordo de família; Recursos próprios,

Sucessão planejada,

Acordo de família; Recursos próprios,

Sucessão planejada,

Acordo de família Conselho familiar

Recursos próprios; Sucessão planejada,

Família Voigt com 33,3%; Silva com

33,3% e Werninghaus com 33,3%;

Acordo de família; Recursos próprios,

Sucessão planejada.

Visão de longo prazo Visão de longo prazo Visão de longo prazo Visão de longo prazo Visão de longo prazo Visão de longo prazo Visão de longo prazo Visão de longo prazo

Fundador(es) Falecido Falecido Falecido Vivo Falecido Falecido Vivo

COMPROMETIMENTO FAMILIAR

5 Membros familiares

6 Membros familiares

3 Membros familiares

3 Membros familiares

3 Membros familiares

12 Membros familiares

5 Membros familiares

5ª geração 4ª e 5ª geração 4ª e 5ª geração 1ª e 2ª geração 2ª geração 2ª e 3ª geração 1ª e 2ª geração

Influência da família Influência da família Influência da família Influência da família Influência da família Influência da família (+ conservadora)

Influência da família

Reuniões Diretoria. Reuniões Diretoria, Conselho, acionistas;

Holding familiar.

Reuniões Diretoria, Conselho, acionistas,

Holding familiar.

Reuniões Diretoria, Conselho, acionistas,

Holding familiar.

Reuniões Diretoria. 100% de

exportação;

Reuniões Diretoria, Conselho, acionistas.

Reuniões Diretoria, Conselho, acionistas,

Holding familiar.

REDES DE

RELACIONAMENTO

Feiras, viagens, empresa global,

prime label, multinacionais

Entre as 10 maiores Gráficas no País.

Franquias, Hering store, marcas

próprias, Escritório Sourcing na China;

Stakeholders.

Viagens, desde 1975 participação na

feira Heimtextil na Alemanha; clientes

tradicionais, Aquisição da

Trussardi; Parcerias com Ciba-Geigy, Loja Venezuela

Viagens, Feiras, Multimarcas, Lojas próprias (Lilica e

Ripilica, etc), Escritório em Hong

Kong.

Viagens, Feiras, Distribuidor há 30 anos na Inglaterra; Escritório nos EUA;

Fornecedores, clientes tradicionais;

nova tendência fabrica de vidros.

Feiras, viagens, Marca própria office

furniture, Distribuidores

exclusivos, 30 anos de contato com

importador Brunswick (EUA).

Universidades, Sociedade de rede

mundial de fábricas, Feiras, fornecedores, viagens, Subsidiárias,

fábricas próprias; expatriados.

FUTURO DAS EMPRESAS

Foi o 1º passo as duas aquisições;

novas aquisições em

Lojas Hering Store; marcas próprias;

Líder no segmento

Exportar com marcas próprias,

crescer no mercado

Voltar para New York com a marca

Lilica, Distribuidores

Crescer e diversificar (Portas com vidros); nichos de mercado;

Distribuição nos EUA (marca própria

office furniture);

Mais Aquisições mundiais; ser o número

um do mundo em

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novos mercados; ser fornecedor global.

Moda Vestuário; Sourcing

internacional.

externo com câmbio favorável, Sourcing

internacional. Valorizar marcas

próprias.

exclusivos com suas marcas; ser líder segmento Moda

infantil.

distribuição exclusiva. Crescer

com câmbio favorável.

aumentar o % exportação e

exportar p/ Europa; novo produto

(pinus); 2020 projeto produtos Eco friendly

motores elétricos; meta no ano 2020:

faturamento R$ 20 bilhões.

Fonte: O Autor (com base nos dados da pesquisa) e velocidade, dispersão e ritmo (Adaptado de Vermeulen e Barkema, 2002, Kontinen e Ojala, 2010, Lin, 2012).