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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ NEIVA TERESINHA DREWS JUIZADOS ESPECIAS CRIMINAIS: consequências em casos de descumprimento da transação penal Tijucas 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

NEIVA TERESINHA DREWS

JUIZADOS ESPECIAS CRIMINAIS:

consequências em casos de descumprimento da transação penal

Tijucas

2010

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NEIVA TERESINHA DREWS

JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS:

consequências em casos de descumprimento da transação penal

Monografia apresentada como requisito parcial para a

obtenção do título de Bacharel em Direito, pela

Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências

Sociais e Jurídicas, campus Tijucas.

Orientador: Prof. MSc. Alexandre Botelho

Tijucas

2010

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NEIVA TERESINHA DREWS

JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS:

consequências em casos de descumprimento da transação penal

Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e

aprovada pelo Curso de Direito do Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, campus Tijucas.

Área de Concentração/Linha de Pesquisa: Direito Público/Direito Processual Penal

Tijucas, 9 de dezembro de 2010.

Prof. Msc. Alexandre Botelho

Orientador

Prof. MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas

Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica

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Sem dúvida, dedico esse trabalho a você, Rogério Pereira Leite e a

nossos filhos, Rogério Drews Leite e Felipe Drews Leite.

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Primeiramente, agradeço a Deus, força suprema em minha vida.

A minha família, pela confiança que depositaram em mim e, pela compreensão nas minhas

ausências.

Aos meus pais, pelo presente da vida e, pela estrutura que me embasaram.

A minha irmã Loirí e ao meu cunhado Adilson, pelo incentivo e o auxilio em todas as horas

que precisei.

A minha sogra Adalgisa, pelo incentivo.

Ao professor orientador, Alexandre Botelho, nobre professor, sempre presente e atuante, norte

seguro na orientação deste trabalho.

Aos Professores do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, campus Tijucas, que

muito contribuíram para a minha formação jurídica.

Aos que colaboraram com suas críticas e sugestões para a realização deste trabalho.

Aos colegas de classe, pelos momentos que passamos juntos e pelas experiências trocadas, em

especial à Josiane, pela amizade verdadeira e parceria profícua.

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização desta pesquisa.

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Um dos maiores freios aos delitos não é a crueldade das penas, mas a

infalibilidade delas e, por consequência, a vigilância dos magistrados

e aquela severidade de um juiz inexorável que, para ser uma útil

virtude, deve estar acompanhada de uma branda legislação. A certeza

de um castigo, ainda que moderado, causará sempre uma melhor

impressão que o temor de um outro mais terrível, unido a esperança da

impunidade; porque os males, ainda que mínimos, quando são certos,

amedrontam sempre os ânimos humanos, e a esperança, dádiva

celeste, que frequentemente os substitui, distancia sempre a idéia dos

mais poderosos, maximamente quando a impunidade, que a avareza e

a fraqueza muitas vezes conciliam, aumentam sua força. A própria

atrocidade da pena faz com que se atreva tanto mais evitá-la, quanto

maior é o mal ao qual vai ao encontro; faz com que se comentam mais

delitos, para fugir da pena de um só.

Cesare Beccaria

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca

do mesmo.

Tijucas, 9 de dezembro de 2010.

Neiva Teresinha Drews

Graduanda

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RESUMO

A presente pesquisa possui como objeto as consequências em caso de descumprimento da

transação no âmbito dos juizados especiais criminais, os quais possuem competência para

processar e julgar as infrações de menor potencial ofensivo, ou seja, aquelas para a qual a lei

comina, em abstrato, pena não superior a dois anos. Para alcançar seu desiderato, o primeiro

capítulo da pesquisa consiste em uma pesquisa dos deslocamentos históricos observados na

legislação pátria, no sentido de estabelecer a origem e os princípios norteadores do diploma

jurídico que rege a matéria no Brasil. No segundo capítulo desenvolve-se uma investigação

acerca da transação penal, seus procedimento e constitucionalidade. Por derradeiro, o terceiro

capítulo trata de analisar as consequências do descumprimento da transação penal, com

destaque para a natureza da sentença, assim como para identificar possíveis mecanismos de

ajuste legal em caso de descumprimento da transação penal. A importância da presente

pesquisa reside na necessidade de compreender, e conhecer, as consequências nos casos de

descumprimento das transações penais, eis que, na atualidade, há uma nítida tendência do

crescimento de sua utilização na seara jurídica. A pesquisa permite vislumbrar que, embora a

Lei 9.099/95 tenha apresentado inovações significativas, e aperfeiçoado os aspectos jurídicos,

políticos e sociais que envolvem as infrações de menor potencial ofensivo, ainda persiste a

necessidade de aprimorá-la em alguns de seus aspectos práticos, principalmente no que tange

às consequências do descumprimento da transação penal, pois essa imprevisão acarreta em

impunidade, deturpando a finalidade dos juizados especiais criminais.

Palavras-chave: Juizados especiais criminais; Transação penal; Descumprimento.

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ABSTRACT

This research has as its object the consequences in case of failure of the transaction under the

special criminal courts, which have jurisdiction to adjudicate offenses of lower offensive

potential, ie those for which the law imputes in the abstract penalty not exceeding two years.

To reach its goal, the first chapter of the research is a survey of historical shifts observed in

the domestic legislation in order to establish the origin and the guiding principles of the legal

act governing the matter in Brazil. The second chapter develops a criminal investigation of the

transaction, its procedure and constitutionality. For the last, the third chapter analyzes the

consequences of noncompliance with the criminal transaction, highlighting the nature of the

sentence, as well as to identify possible mechanisms for setting legal case of breach of the

criminal transaction. The importance of this research is the need to understand and know, the

consequences in cases of noncompliance with the criminal transactions, and behold, today,

there is a clear tendency of growth of its use in legal harvest. The research provides a glimpse

that although the Law 9.099/95 has made significant innovations, and improved the legal,

political and social changes that involve violations of lower offensive potential, there remains

the need to improve it in some of its practical aspects, especially in regard to the

consequences of noncompliance with the criminal transaction, as this unpredictability leads to

impunity, misrepresenting the purpose of the special criminal courts.

Keywords: Special criminal courts; Criminal transaction; Noncompliance

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Lista com as abreviaturas, siglas e símbolos utilizados ao longo do relatório

monográfico:

art. ou art. Artigo ou artigo

Cf. Conforme

CP Código Penal

CPP Código de Processo Penal

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

FONAJE Fórum Nacional dos Juizados Especiais

LEP Lei de Execuções Penais

n. Número

p. página ou páginas

p. ex. por exemplo

Trad. Tradução

v. Ver

§ ou §§ parágrafo ou parágrafos

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LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS

Lista de categorias1 que a autora considera estratégicas à compreensão do seu trabalho,

com seus respectivos conceitos operacionais2:

Acordo

Ajuste, convenção, ou contrato, instituído entre duas ou mais pessoas, que se acertam em

estabelecê-lo. Condições ajustadas entre duas ou mais pessoas no intuito de fazer cessar uma

pendência ou uma demanda. O instrumento em que se firma essa convenção. Entendimento

entre patrão e empregado para o desempenho das funções deste ou quando a indenização

oriunda de reclamação trabalhista. Ou entre outras pessoas, para a realização de um serviço,

prática de um ato ou abstenção de ato. Combinação. Contrato3.

Autor do fato

É a pessoa a quem se imputa a prática da infração penal de menor potencial ofensivo4.

Autoridade policial

Pessoa que ocupa cargo e exerce funções policiais, tais sejam as de delegados, inspetores

etc.5.

Composição

Em sentido geral, possui a acepção de construção, constituição, ou toda ação de compor,

constituir ou organizar uma coisa. Em acepção mais estrita, é sinônimo de acordo ou

transação havida entre as partes litigantes, em virtude de que põe fim a demanda6.

Infração de menor potencial ofensivo

Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo os crimes que tenham como pena

máxima prevista em lei dois anos, cumulada ou não com multa e as contravenções penais7.

1Denomina-se “categoria” a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia. Cf.

PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito. 8. ed.

Florianópolis: OAB Editora, 2003, p. 31. 2Denomina-se “Conceito Operacional” a definição ou sentindo estabelecido para uma palavra ou expressão, com

o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas ao longo do trabalho. Cf. PASOLD,

Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito, p. 43. 3SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 25. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 56.

4SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 177.

5MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudências legislação. 5. ed. rev. e

ampl. São Paulo: Atlas, 2002, p.88. 6SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 322.

7 PRADO, Suzane Maria Carvalho. Concurso de infrações de menor potencial ofensivo entre si e a permanência

do feito no juizado especial criminal, p. 42. In: REVISTA IOB DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL

PENAL (org.). Porto Alegre: Síntese, v. 10, n. 56, jun./jul., 2009.

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Ofendido

Designa a pessoa que recebeu a ofensa ou a lesão. É a vítima ou prejudicado. É também o

injuriado, pois que a ofensa tanto consiste em um dano material, econômico, como moral8.

Termo circunstanciado

É a formalização da ocorrência policial, referente à prática de uma infração de menor

potencial ofensivo, em uma peça escrita, contendo dados detalhados, tais como data e hora do

fato, data e hora da comunicação, local e natureza da ocorrência, nome e qualificação do

condutor, com resumo de suas declarações, nome e qualificação de outra(s) testemunha(s),

com resumo das declarações, nome e qualificação do autor do fato, com resumo de suas

declarações, se ele quiser prestá-las, indicação dos eventuais exames periciais requisitados,

bem como de juntada de uniforme sobre a vida pregressa do autor9.

Transação penal

A transação envolve um acordo entre órgão acusatório, na hipótese enunciada no art. 76 da

Lei 9.099/95, e o autor do fato, visando à imposição de pena de multa ou restritiva de direito,

imediatamente, sem a necessidade do devido processo legal, evitando-se, pois, a discussão

acerca da culpa e os males trazidos, por conseqüência, pelo litígio na esfera criminal10

.

8SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico, p. 976.

9NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. 4. ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2009, p. 787. 10

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas, p. 795.

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SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................... 5

ABSTRACT .............................................................................................................................. 6

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................................. 7

LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS .............................. 8

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12

2 JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS .............................................................................. 15 2.1 HISTÓRICO DOS JUIZADOS ESPECIAIS ..................................................................... 15 2.1.1 Surgimento da Lei n. 9.099/95 ........................................................................................ 23 2.2 DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ESTADUAIS .............................................. 29

2.2.1 Princípios ......................................................................................................................... 30 2.2.1.1 Princípio da oralidade ................................................................................................... 31 2.2.1.2 Princípio da informalidade ........................................................................................... 31

2.2.1.3 Princípio da economia processual ................................................................................ 32 2.2.1.4 Princípio da celeridade ................................................................................................. 32

2.2.2 Da Competência .............................................................................................................. 32 2.2.2.1 Competência em razão da matéria ................................................................................ 33

2.2.2.2 Competência territorial ................................................................................................. 35 2.2.2.3 Juizados especiais criminais e leis especiais ................................................................ 35

2.2.2.4 Crimes conexos ............................................................................................................ 38 2.2.3 Da Composição ............................................................................................................... 40 2.2.4 Da Organização e Procedimentos .................................................................................... 41

3 TRANSAÇÃO PENAL ....................................................................................................... 45 3.1 NOÇÕES GERAIS SOBRE A TRANSAÇÃO PENAL .................................................... 45 3.1.1 Características da transação penal ................................................................................... 49 3.1.2 Requisitos para receber o benefício ................................................................................. 50 3.1.3 Benefícios da transação penal.......................................................................................... 53 3.2 PROCEDIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL ............................................................... 54

3.2.1 Termo circunstanciado .................................................................................................... 54 3.2.2 Audiência preliminar ....................................................................................................... 56

3.2.3 Transação penal: faculdade ou obrigação do Ministério Público .................................... 57 3.2.4 Transação penal, ação penal privada, ação penal pública incondicionada e ação penal

pública condicionada ................................................................................................................ 59 3.3 CONSTITUCIONALIDADE DA TRANSAÇÃO PENAL ............................................... 62 3.3.1 Princípio do devido processo legal e da obrigatoriedade ................................................ 63

3.3.2 Princípio da ampla defesa ................................................................................................ 64 3.3.3 Princípio do contraditório ................................................................................................ 64

4 DESCUMPRIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL ........................................................ 66 4.1 ESPÉCIES DE PENALIDADES APLICÁVEIS NA TRANSAÇÃO PENAL ................. 66 4.1.1 Penas restritivas de direitos ............................................................................................. 67 4.1.1.1 Das penas alternativas pecuniárias ............................................................................... 69 4.1.1.1.1 Prestação pecuniária: ................................................................................................. 69

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4.1.1.1.2 Prestação inominada: ................................................................................................. 69 4.1.1.2 Perda de bens e valores ................................................................................................. 70

4.1.1.3 Prestação de serviço à comunidade .............................................................................. 70 4.1.1.4 Interdição temporária de direitos .................................................................................. 71 4.1.1.5 Limitação de final de semana ....................................................................................... 72 4.2 NATUREZA JURÍDICA DA SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA NA TRANSAÇÃO

PENAL ..................................................................................................................................... 73

4.2.1 Sentença declaratória ....................................................................................................... 74 4.2.2 Sentença constitutiva ....................................................................................................... 75 4.2.3 Sentença condenatória ..................................................................................................... 75 4.3 AS CONSEQUÊNCIAS DO DESCUMPRIMENTO DAS PENAS RESTRITIVAS DE

DIREITO .................................................................................................................................. 76

4.3.1 Conversão da pena restritiva de direitos e em pena privativa de liberdade ..................... 77 4.3.2 Oferecimento da denúncia ............................................................................................... 78

4.3.3 Execução da pena restritiva de direito ............................................................................. 80

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 83

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 89

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objeto11

o estudo das consequências para o autor do fato

nos casos de descumprimento da transação penal acordada nos juizados especiais criminais.

A importância deste tema reside no fato de que ainda não há previsão legal para os

casos de descumprimento e a jurisprudência não assentou entendimento sobre as

consequências deste inadimplemento, transparecendo a um só tempo, sentimento de

impunidade e de insegurança jurídica.

Ressalte-se que, além de ser requisito imprescindível à conclusão do curso de Direito

na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, o presente relatório monográfico também vem

colaborar para o conhecimento de um tema que, apesar de não poder ser tratado como

novidade no campo jurídico, na dimensão social-prática ainda pode ser tratado como elemento

novo e repleto de nuances a serem destacadas pelos intérpretes jurídicos.

O presente tema, na atualidade, encontra-se sob um prisma de forte divergência tanto

na doutrina quanto na jurisprudência, havendo entendimentos e decisões amplamente

divergentes entre si, demandando seu estudo e aprofundamento.

A escolha do tema é fruto do interesse pessoal da pesquisadora em razão de sua

atuação como conciliadora no juizado especial criminal na comarca de Porto Belo, Santa

Catarina, assim como para instigar novas contribuições para estes direitos na compreensão

dos fenômenos jurídicos-políticos, especialmente no âmbito de atuação do Direito Processual

Penal.

Em vista do parâmetro delineado, constitui-se como objetivo geral deste trabalho

verificar quais são as consequências práticas e jurídicas nos casos de descumprimento da

transação penal no juizado especial criminal.

11

Nesta Introdução cumpre-se o previsto em PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e

ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 170-181.

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13

O objetivo institucional da presente Monografia é a obtenção do título de Bacharel em

Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, campus

de Tijucas.

Como objetivos específicos, pretende-se identificar se em razão da inexistência de

previsão legal há a ocorrência de impunidade para quem pratica infrações penais de menor

potencial ofensivo quando, após ser beneficiado com a transação penal, deixa, sem nenhuma

justificativa plausível, de cumprir o acordo.

A análise do objeto do presente estudo incidirá sobre as diretrizes teóricas propostas

por Pedro Manuel de Abreu, na obra Acesso à justiça e juizados especiais, e Fernando da

Costa Tourinho, na obra Comentários a lei dos juizados especiais criminais. Este será, pois, o

marco teórico que norteará a reflexão a ser realizada sobre o tema escolhido.

Não é o propósito deste trabalho fazer um levantamento da jurisprudência nacional,

nem verificar a existência de projetos de lei no Congresso Nacional a respeito do tema. Por

certo não se estabelecerá um ponto final em referida discussão. Pretende-se, tão-somente,

aclarar o pensamento existente sobre o tema, circunscrevendo-o ao descumprimento da

transação penal no âmbito dos juizados especiais criminais.

Para o desenvolvimento da presente pesquisa foram formulados os seguintes

questionamentos:

a) Quais as consequências do descumprimento da transação penal?

b) Existe norma jurídica regulamentando o descumprimento das transações penais?

Já as hipóteses consideradas foram as seguintes:

a) Execução da pena, conversão em pena privativa de liberdade ou oferecimento de denúncia;

b) Existe norma, ou não, regulamentando adequadamente a matéria,

Finalmente, buscou-se nortear as hipóteses formuladas com as seguintes variáveis:

a) Elaboração de norma específica pelo Congresso Nacional;

b) Estabelecimento de jurisprudência pelos Tribunais pátrios.

O relatório final da pesquisa foi estruturado em três capítulos, podendo-se, inclusive,

delineá-los como três molduras distintas, mas conexas: a primeira, atinente ao surgimentos

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14

dos juizados especiais; a segunda, a respeito da transação penal; e, por derradeiro, as

consequências do descumprimento da transação penal.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que, na fase de investigação foi utilizado

o método indutivo, e, o relatório dos resultados expresso na presente monografia é composto

na base lógica dedutiva12

, já que se parte de uma formulação geral do problema, buscando-se

posições científicas que os sustentem ou neguem, para que, ao final, seja apontada a

prevalência, ou não, das hipóteses elencadas.

Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as técnicas do referente, da categoria,

do conceito operacional e da pesquisa bibliográfica13

.

Os acordos semânticos que procuram resguardar a linha lógica do relatório da pesquisa

e respectivas categorias, por opção metodológica, estão apresentados na Lista de Categorias e

seus Conceitos Operacionais, muito embora algumas delas tenham seus conceitos mais

aprofundados no corpo da pesquisa.

A estrutura metodológica e as técnicas aplicadas nesta monografia estão em

conformidade com o padrão normativo da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)

e com as regras apresentadas no Caderno de Ensino: formação continuada, Ano 2, número 4;

assim como nas obras de Cesar Luiz Pasold, Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas

úteis ao pesquisador do Direito e Valdir Francisco Colzani, Guia para redação do trabalho

científico.

A presente monografia se encerra com as Considerações Finais, nas quais são

apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos

estudos e das reflexões sobre as consequências do descumprimento da transação penal.

Com este itinerário, espera-se alcançar o intuito que ensejou a preferência por este

estudo: saber as consequências nos casos de inadimplência do acordo na transação penal.

12

Sobre os “Métodos” e “Técnicas” nas diversas fases da pesquisa científica, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática

da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 99-125. 13

Quanto às “Técnicas” mencionadas, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e

ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 61-71, 31- 41, 45- 58, e 99-125, nesta ordem.

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2 JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

Neste primeiro capítulo da pesquisa pretende-se apresentar ao leitor uma visão

abrangente dos juizados especiais, com destaque para sua origem, particularidades e

princípios aplicáveis no âmbito de sua competência.

Os juizados especiais criminais, providos por juízes togados, ou togados e leigos,

encontram fundamento na própria Constituição da República Federativa do Brasil,

promulgada em 5 de outubro de 198814

que, em seu artigo 98, I, atribuiu-lhes competência

para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial

ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas

em leis, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.

Tais juizados especiais são disciplinados, principalmente, em duas leis federais

distintas: a Lei n. 9.099/95, que dispõe sobre os juizados especiais cíveis e criminais e a Lei n.

10.259/01, que dispõe sobre a instituição dos juizados especiais cíveis e criminais no âmbito

da justiça federal. Também pode ser atribuída a condição de juizado especial aos juizados de

violência doméstica e familiar contra a mulher, previstos na Lei n. 11.340/06.

O escopo primeiro deste trabalho restringe-se a analisar as consequências nos casos de

descumprimento da transação penal estabelecida pelos juizados especiais criminais estaduais,

regrados pela Lei n. 9.099/95. Tendo-se em conta tal restrição, apresentam-se, na sequência,

algumas considerações sobre os deslocamentos históricos dos juizados especiais, notadamente

em relação ao seu surgimento e criação no Brasil.

2.1 HISTÓRICO DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Muito embora de regramento relativamente recente no ordenamento jurídico pátrio, os

juizados especiais assentam suas origens na época do Império Romano, com o imperador

Augusto, sobrinho-neto de Julio César, segundo os dizeres de Fernando da Costa Tourinho

Neto:

14

Doravante utilizar-se-á a sigla CRFB/88 para designar a Constituição da República Federativa do Brasil,

promulgada em 5/10/1988, atualizada até a Emenda Constitucional de n. 66, de 13/7/2010.

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16

OTAVIO CÉSAR AUGUSTO, um dos maiores imperadores de Roma,

criou, conta-nos SETÔNIO, uma quarta decúria de juízes, “recrutada entre

os cidadãos de censo inferior, à qual chamou Decúria dos Duzentos,

encarregada de julgar os processos de pouca importância. Escolheu juízes

com idade a partir dos trinta anos, isto é, cinco a menos do que a idade até

então requerida. Como, porém, a maior parte recusasse estas funções

jurídicas, concedeu, mas contra a vontade, um ano de férias, rotativamente, a

cada decúria, e o direito de suspender a execução dos processos, como de

costume, nos meses de novembro e dezembro”15

.

Verifica-se, assim, que desde as épocas mais remotas já se vislumbrava a necessidade

de um tratamento especial para as infrações menores, bem como, desde então, já se observa

alguma discriminação com este tipo de infração e, principalmente, de juizado. Como se pôde

ver, na época do Império Romano a maioria dos juízes se recusava a tratar das infrações de

pouca monta. Notar-se-á também que essa discriminação também ocorreu no Brasil quando

surgiu o juizado especial de pequenas causas.

O direito estatal brasileiro contempla uma ordem jurídica herdada do século XVIII,

extremamente ritualizada e dogmática. Por consequência, é ele mais identificado com a

estrutura do poder e com o interesse de classes dominantes do que com as práticas sociais

comunitárias. A partir dessa realidade, as instruções normativas oficiais mostram-se estáticas

e excludentes na sua operacionalização, deixando de oferecer solução eficaz aos conflitos que

se lhes apresentam16

.

Todavia, mesmo não sendo considerado um instituto interessante para reparar danos, o

juizado especial sempre carregou a intenção de oportunizar a pacificação dos conflitos,

conforme dispôs, a Constituição Imperial de 1824, que em seu artigo 161 asseverava: “Sem se

fazer constar que se tem intentado o meio de reconciliação não se começará processo algum”.

Por conseguinte, buscando sempre em primeiro lugar a reconciliação, verificar-se-á que o

juizado especial criminal parte do mesmo pressuposto.

No Brasil começou-se a discutir com maior profundidade sobre juizados especiais na

década de 1980, com o juizado especial de pequenas causas, regulado pela Lei Federal n.

15

TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis

e criminais: comentários à lei 9.099-95. 4. ed. reform., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p.

370. 16

HERMANN, Leda Maria. Violência doméstica e os juizados especiais criminais. 2. ed. São Paulo: Servanda,

2004, p. 167.

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17

7.244 de 198417

. Visto com ressalvas quando da sua criação e ainda que alguma

discriminação existisse, observar-se-á que com o passar dos tempos estas desapareceram,

devido à efetividade dos juizados especiais.

Quando do surgimento no Brasil, assim como na época do Império Romano, cerca de

2.000 anos após, os juizados de pequenas causas também sofreram resistência dos operadores

do direito, notadamente dos magistrados, como se fosse um instituto que apenas lhes traria

mais trabalho, e ainda sem remuneração, conforme explana Paulo Lúcio Nogueira:

Foi a Lei Federal n. 7.244, de 7 de novembro de 1984, que criou o Juizado

Especial de Pequenas Causas na esfera civil, implantando em diversas

comarcas apesar da resistência dos juízes e de advogados.

A alguns juízes não se mostrava simpático porque a novidade só lhes

acarretava mais trabalho, fora do horário de expediente normal e sem

nenhuma remuneração extra; a outros porque não acreditavam na própria

eficácia do juizado, que iria se preocupar com conflitos insignificantes à

sociedade e que não teriam qualquer repercussão18

.

Para Pedro Manoel Abreu, a criação dos juizados de pequenas causas, representou a

recuperação histórica de experiências consolidadas no período colonial e republicano,

inseridas em um contexto mais amplo da formação do Estado brasileiro e da cultura jurídica,

política, social e econômica e no universo do movimento mundial por uma justiça

democrática, mais acessível às camadas populares19

.

Entendimento semelhante, de que os juizados especiais expressam avanços

democráticos e progressistas da sociedade brasileira, foi exposto por Geraldo Prado:

As inovações incorporadas ao cenário do processo penal brasileiro, por meio

da Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, como diz GERALDO PRADO,

“procuram acompanhar os grandes movimentos ideológicos, políticos e

culturais que têm motivado os ramos mais progressistas da criminologia, no

chamado mundo moderno”20

.

17

GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarense;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados especiais criminais: comentários à lei 9.099, de 26.09.1995. 5. ed. rev., e ampl.

São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 36. 18

NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Juizados especiais cíveis e criminais. São Paulo: Saraiva, 1996, p.1. 19

ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais: o desafio histórico da consolidação de uma

justiça cidadã no Brasil. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004, p. 173. 20

PRADO, Geraldo. Sistema acusatório: a conformidade constitucional das leis processuais e penais. Rio de

Janeiro: Lúmen Júris, 1999, p. 186 apud TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JUNIOR, Joel

Dias. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à lei 9.099-95, p. 376.

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18

Percebe-se que a introdução de um instituto para tratar dos crimes menores era não só

uma oportunidade de promover uma justiça democrática, mas uma necessidade, e quando

surgiu, embora com ressalvas por parte de alguns operadores do direito, conforme visto, não

demorou muito para ser elogiado e, por muitos, utilizado para a resolução de conflitos.

Com a promulgação da CRFB/88, os juizados especiais consolidam sua indiscutível

importância e caráter democrático. Finalmente, através do artigo 98 da CRFB/88, o juizado

especial criminal obteve a devida previsão constitucional:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:

I – juizados especiais, providos de juízes togados, ou togados e leigos,

competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis

de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo,

mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses

previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes

de primeiro grau.

Orientados pela previsão constitucional e antecipando-se à regulamentação federal,

alguns Estados criaram leis que estabeleceram os juizados especiais. Joel Dias Figueira Junior

e Mauricio Antonio Ribeiro Lopes citam alguns dos Estados que criaram os juizados especiais

e suas respectivas leis:

Alguns Estados da Federação, em cumprimento ao estatuído no citado art. 98

da CF, instituíram os Juizados Especiais na forma da legislação específica,

com procedimentos e características próprias (p. ex., em Santa Catarina, v. a

Lei nº 8.151-90, posteriormente revogada pela Lei Complementar nº 77-93 e

Lei nº 1.141-93, que dispõe sobre os Juizados Especiais de Causas Cíveis e

as Turmas de Recursos, criam os Juizados de Pequenas Causas e cargos de

Juiz Especial; em Mato Grosso do Sul, v. Lei nº 1.071-90, que criou os

Juizados Especiais Cíveis e Criminais, e no Rio Grande do Sul, a Lei n.

9.442-91 e Lei 9.446-9121

.

Entretanto, como alguns dos Estados estabeleceram a competência dos juizados

especiais inclusive no âmbito criminal, previamente à regulamentação federal, houve

manifestações de inconstitucionalidade, reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal, como

esclarece Allan Helber de Oliveira, Marcelo Dias Vilela Gonçalves, André Estefam e Edilson

Mougenot: “O STF, quando instado a se pronunciar a respeito de tais leis estaduais, as

21

FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. Comentários à lei dos juizados

especiais cíveis e criminais: lei 9.099, de 26 de setembro de 1995. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p.

27-28.

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19

considerou inconstitucionais[...]”22

. Sobre o assunto disserta, também, Tourinho Filho:

“Evidente que leis estaduais não podiam, como não podem, definir essas infrações, manifesta

a inconstitucionalidade”23

.

Observa-se que no âmbito criminal, mesmo sob o risco da inconstitucionalidade, o

Estado do Mato Grosso do Sul foi pioneiro, ao disciplinar os Juizados Especiais menos de

dois anos após a promulgação da CFRB/1988, através da Lei n. 1.071, de 11 de julho de 1990,

bem como definir o que seriam crimes de menor potencial ofensivo, conforme nos esclarece

Fernando da Costa Tourinho Filho:

Em 1989, o Estado do Mato Grosso do sul passou a empreender estudos a

respeito dos Juizados Especiais Criminais, e, finalmente, em 1990, pela

primeira vez no Brasil surgiu uma lei disciplinando o tema. [...] Seu art. 69

dizia serem de menor potencial ofensivo os crimes dolosos punidos com

reclusão até um ano, ou detenção até dois anos, os crimes culposos e as

contravenções24

.

Posteriormente foi a vez do Estado da Paraíba “[...] com a Lei n. 5.466-91, cujo art. 59

definia as infrações de menor potencial ofensivo, adotando o mesmo critério do legislador

mato grossense”25

.

As leis estaduais, ainda que passíveis de serem inconstitucionais, ficaram em vigor até

o surgimento da Lei Federal. “Somente após quase sete anos de vigência do atual texto

constitucional, o Presidente da República sancionou a Lei n. 9.099, de 26 de setembro de

1995, instituindo os juizados especiais criminais”26

.

A destacar neste afã de buscar dar celeridade e atenção necessárias as infrações de

menor potencial ofensivo, o pioneirismo do Tribunal de Justiça de Santa Catarina que

instalou, no início de 1991, a Primeira Turma de Recursos da Capital, estabelecendo uma

política de juizados especiais, uma das grandes novidades da CRFB/1988. Tal pioneirismo

22

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André; BONFIM, Edilson

Mougenot. Juizados especiais cíveis e criminais: (leis 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, 12-7-2001). São Paulo:

Saraiva, 2006, p.109. 23

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais. 5. ed. rev. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 7. 24

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 7. 25

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 7. 26

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André; BONFIM, Edilson

Mougenot. Juizados especiais cíveis e criminais: (leis 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, 12-7-2001), p. 109.

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20

deve-se muito a Pedro Manoel de Abreu, fundador de um programa de humanização da

Justiça no Estado de Santa Catarina, as chamadas Casas de Cidadania27

.

A magistratura estadual catarinense defrontava-se, assim, com uma proposta

renovadora de justiça. Esse novo modelo de jurisdição enunciava uma alternativa de justiça

popular, democrática, participativa, dando tratamento judicial adequado para as pequenas

causas, privilegiando a solução dos conflitos através da conciliação e da arbitragem, sem

prejuízo do sistema tradicional de prestação jurisdicional28

.

Na solução dos conflitos e na administração da justiça, emergiam novos sujeitos

processuais, como o juiz leigo, o conciliador, o árbitro, a possibilitar maior intercâmbio

social, alcançando as bases populares, normalmente sem acesso ao modelo de justiça

tradicional, ou seja, aos procedimentos existentes à época29

.

Nos últimos anos do século XX e nestes primeiros do novo milênio, foram

implementados no Brasil muitos programas de humanização do direito, da magistratura, do

Ministério Público, das forças policiais. Uma sede de revisar crenças mortas, ou que se

sentiam em crise terminal, uma sensação de inumanidade ou barbárie que deve ser superada

parece ser o motor propulsor desses programas30

.

Desta maneira se deu início a um novo modelo de justiça, com enfoque naqueles que

de certa forma se sentiam excluídos, não tinham fácil acesso aos seus direitos, fosse por

motivos financeiros ou por serem leigos quanto ao assunto.

Segundo Candido Rangel Dinamarco, alguns dos objetivos dos juizados especiais de

pequenas causas estava em adotar uma nova filosofia e estratégia no tratamento dos conflitos

de interesses, a fim de canalizar para o Judiciário, que é o locus próprio de todos os conflitos,

mesmo os de pequena expressão, evitando-se assim a “litigiosidade contida”, com a

reeducação do povo para a defesa de seus direitos, induzindo-os ao cumprimento espontâneo

27

ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais: o desafio histórico da consolidação de uma

justiça cidadã no Brasil, p. 26. 28

ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais: o desafio histórico da consolidação de uma

justiça cidadã no Brasil, p. 26. 29

ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais: o desafio histórico da consolidação de uma

justiça cidadã no Brasil, p. 26. 30

WARAT, Luis Alberto. Prefácio. In: ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais: o desafio

histórico da consolidação de uma justiça cidadã no Brasil. 2. ed., rev. e atual. Florianópolis: Fundação Boiteux,

2004, p. 25.

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21

das normas jurídicas, devolvendo-se à ordem jurídica a vitalidade necessária e fazendo o

Judiciário ocupar todo o espaço político institucional que lhe cabe31

.

Candido Rangel Dinamarco, também ressalta a necessidade de repensar e reativar as

múltiplas alternativas para a solução dos conflitos de interesses; como a conciliação, sendo

redimensionada, com a instituição da figura do conciliador, que não será unicamente um

multiplicador da capacidade de trabalho do juiz, mas principalmente um auxiliar da justiça

qualificado, que se especializará e esmerar-se-á na arte de pacificar os contendores e

procurará, com paciência, tempo e habilidade, solucionar amigavelmente os conflitos de

interesses32

.

A Lei n. 9.099/95 deu particular relevância à conciliação das partes, a respeito da qual

era silente a antiga lei do juizados das pequenas causas, então, a nova lei dos juizados criou a

figura do conciliador, como auxiliar da justiça, contribuindo, assim, para emprestar maior

celeridade na resolução das controvérsias. A partir da nova lei, em vez de as pretensões

materiais das partes desaguarem necessariamente no processo, e consequentemente, na

sentença. Passaram a desaguar em um dos equivalentes jurisdicionais, que é a conciliação,

permitindo que as próprias partes, por meio da transação, ponham termo aos seus conflitos33

.

Outro objetivo, ainda de acordo com Candido Rangel Dinamarco, era de reformular o

serviço da assistência judiciária, redefinindo-o a partir da perspectiva do consumidor do

serviço público, que necessita não somente de assistência processual ou pré-processual, mas

também orientação e informação em todos os problemas jurídicos, bem como estabelecer o

equilíbrio necessário entre a simplicidade, informalidade e celeridade, valores estes que foram

resguardados nos processos das pequenas causas34

.

Por último, o juizado de pequenas causas conduzia os profissionais do direito a uma

postura mental mais aberta, rompendo desta forma com o imobilismo e o conservadorismo

inconsequentes, promovendo uma atitude receptiva às inovações que façam do processo um

31

DINAMARCO, Candido Rangel. Manual de pequenas causas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1986 apud

ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais: o desafio histórico da consolidação de uma

justiça cidadã no Brasil, p. 187. 32

DINAMARCO, Candido Rangel. Manual de pequenas causas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1986 apud

ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais: o desafio histórico da consolidação de uma

justiça cidadã no Brasil, p. 187. 33

ALVIN, J. E. Carreira. Juizados especiais estaduais: lei 9.099, de 26.09.1995. 4. ed. Curitiba: Juruá, p. 15. 34

DINAMARCO, Candido Rangel. Manual de pequenas causas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1986 apud

ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais: o desafio histórico da consolidação de uma

justiça cidadã no Brasil, p. 188.

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22

instrumento de efetiva realização do direito material e mais aderente à realidade social a que

serve35

.

É importante destacar que a ampliação do acesso à Justiça no Brasil não se deu apenas

por meio de uma revolução processual, mas também por inovações importantes na estrutura

judiciária, em sintonia as tendências advindas de vários países36

.

No Brasil, a experiência dos juizados de pequenas causas, e mais recentemente dos

juizados especiais, com propostas de tutela diferenciada e modelos de justiça mais

simplificadas à população em geral, de forma a ser mais participativa, democrática, e como

expressão de justiça coexistencial, pondo em relevo a conciliação e engajando juízes leigos,

árbitros e conciliadores, tem servido de contraponto em relação à justiça tradicional,

contenciosa, de natureza estritamente jurisdicional, sabidamente saturada, onerosa e tardia37

.

Conforme explana Julio Fabbrine Mirabete, existia a necessidade mais do que visível

de uma reforma das leis processuais brasileiras, estabelecidas em um Código de Processo

Penal em vigor há mais de 50 anos, legislação que se tornou disfuncional e ultrapassada,

especialmente no que tange ao inadiável estabelecimento de ritos sumaríssimos para a

apuração de contravenções e de crimes de menor gravidade, submetidos a um processo

arcaico, formalista e burocratizante, que tem passado para os operadores do direito um

descrédito sobre a administração penal38

.

Afirma, ainda, Julio Fabbrini Mirabete, que eram severas as críticas contra a lentidão

do Judiciário e a impunidade de infratores que obtinham a extinção da punibilidade devido a

lentidão dos processos e informa que foi através da CRFB/88, que se começou a falar em

juizados especiais criminais, ou seja, justiça criminal consensual, embora somente a partir da

criação da Lei n. 9.099/95, que se concretizou essa concepção de índole consensual39

.

Para Fernando da Costa Tourinho Neto e Joel Dias Figueira Júnior,

35

DINAMARCO, Candido Rangel. Manual de pequenas causas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1986 apud

ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais: o desafio histórico da consolidação de uma

justiça cidadã no Brasil, p. 188. 36

AVELAR, Lúcia; CINTRA, Antônio Octávio. Sistema político brasileiro: uma introdução. 2. ed. rev. e ampl.

São Paulo:Unesp, 2007, p. 106. 37

ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais, p.52. 38

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudências legislação, p. 23. 39

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudências legislação, p. 24.

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23

Essa nova forma de prestar jurisdição significa, antes de tudo, um avanço

legislativo de origem eminentemente constitucional, que vem a dar guarida

aos antigos anseios de todos os cidadãos, especialmente aos da população

menos abastada, de uma justiça apta a proporcionar uma prestação de tutela

simples, rápida, econômica e segura [...]”40

.

Dessa forma buscou-se solucionar questões sociais relacionadas ao Judiciário,

corroborando para a criação de uma sociedade moderna, nas questões como o acesso à justiça

e a democracia. Também houve, na esfera criminal, uma desburocratização do Judiciário, de

forma com que os pequenos crimes fossem resolvidos com mais agilidade, desafogando as

varas criminais que estavam abarrotadas deles41

.

Os juizados especiais criminais trouxeram para o ordenamento jurídico, uma

verdadeira mudança no direito processual penal, de forma a conduzir o sistema à

modernidade, com um processo célere e, ainda, conduzindo as partes do processo a

socializarem-se, uma vez que o maior objetivo é a conciliação, ou ainda, a extinção da

punibilidade do autor do fato, mediante a transação penal, que será tratada no segundo

capítulo, sendo que as consequências de seu descumprimento é a principal abordagem deste

trabalho, a tratar-se no último capítulo.

A par dessa modernidade trazida ao sistema jurídico, os juizados especiais criminais

objetivam ainda, segundo Norberto Avena, a reparação dos danos civis causados com a

infração penal e a substituição da pena privativa de liberdade por outra que não tenha essa

natureza42

.

A Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que “dispõe sobre os juizados Especiais

Cíveis e Criminais é dá outras providências” é o ápice desse desenvolvimento carreado ao

Judiciário no tocante às infrações de menor potencial ofensivo, razão pela qual gozará de

tratamento especial, na sequência da pesquisa.

2.1.1 Surgimento da Lei n. 9.099/95

Segundo Julio Fabbrini Mirabete, a Lei n. 9.099/95 teve início através de um

anteprojeto apresentado ao deputado Michel Temer, que o transformou no projeto de lei n.

1.480/89. À época, foram apresentados ao todo seis projetos, os de números 1.129, 1.480,

40

TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais cíveis e

criminais:comentários à lei 9.099/1995, p. 40. 41

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudências legislação, p. 24. 42

AVENA, Norberto. Processo penal: esquematizado. 2 ed. São Paulo: Método, 2009, p. 668.

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1.708, 2.959, 3.698, 3.883 e 3.698, mas foram aprovados somente os de números 1.480, do

deputado Michel Temer, na esfera criminal e 3.698/89, do deputado Nelson Jobin, que tratava

da esfera cível43

.

A Comissão de Constituição e Justiça na época selecionou, entre todos os projetos

apresentados, o projeto Michel Temer, no âmbito penal, e o projeto Nelson Jobim, na esfera

cível, determinando a unificação de ambos em um substitutivo, sendo aprovado pela Câmara

dos Deputados e encaminhado ao Senado. Voltando à Câmara dos Deputados, manteve-se o

por ela aprovado e assim se editou a Lei n. 9.099/9544

.

Oriundos de autores distintos, os projetos selecionados apresentavam contribuições de

juristas com notórios conhecimentos nos assuntos tratados, o que tornou bastante fácil o

trabalho do relator na unificação dos mesmos em um único diploma, conforme nos esclarece

Fernando da Costa Tourinho Filho:

Mesmo antes de ser implantados os Juizados Especiais Criminais nos

Estados do Mato Grosso do Sul e da Paraíba, membros da Magistratura, do

Ministério Público e juristas outros, a título de cooperação, empenhavam-se

na elaboração de um projeto a ser estudado pelo Congresso. Em 1989, o

Deputado Federal Michel Temer, de São Paulo, acolhendo um estudo da

Professora Ada Peligrini Grinover e membros do Ministério Público e da

Magistratura, sob o feitio de projeto, apresentou à Câmara dos Deputados,

onde recebeu o número 1.480-89. Foi seu Relator o Deputado Federal

Ibrahim Abi-Ackel, da bancada mineira. Coincidentemente, fora ele,

também, sorteado como Relator de um projeto da lavra do então Deputado

Nelson Jobim a respeito dos Juizados Especiais Cíveis. Praticamente sem

qualquer alteração, sugeriu o eminente Relator que os dois projetos se

fundissem, de molde a constituir um só diploma. Ao final, após marchas e

contramarchas, em 26-9-1995, aquele projeto se converteu na Lei n. 9.099,

tendo sido estabelecida a vacatio legis de sessenta dias45

.

Percebe-se que foram vários os operadores do direito que se envolveram na busca de

elaborar uma lei que regulasse o que estava previsto do art. 98, I, da CRFB/88. Entretanto,

mesmo com a necessidade de dar o tratamento adequado aos crimes de menor potencial

ofensivo, bem como contornar toda a morosidade da justiça, e ainda a necessidade de reverter

o descrédito da sociedade em relação ao Judiciário, os legisladores pátrios, demoraram quase

sete anos para regulamentar, através da Lei n. 9.099/95, os juizados especiais

constitucionalmente previstos.

43

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudência legislação, p. 25. 44

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 1. 45

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 8.

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Os juizados especiais criminais abordam as infrações de menor potencial ofensivo.

Estas, inicialmente, limitavam-se às contravenções penais e aos crimes cuja pena máxima não

ultrapassasse um ano. Onze anos após sua edição, a Lei n. 9.099/95 foi alterada, ampliando-se

o limite da pena máxima para dois anos, conforme explanação de Vitor Eduardo Rios

Gonçalves:

Esse dispositivo teve sua redação alterada pela Lei n. 11.313/06, de modo

que, atualmente, consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, no

âmbito estadual, todas as contravenções penais e os crimes cuja pena

máxima não exceda dois anos (com ou sem previsão de multa cumulativa).

Essa nova redação, além de aumentar a pena máxima para dois anos – na

redação primitiva o montante máximo era um ano -, passou, também, a

admitir o julgamento no Juizado Especial Criminal de delitos para os quais

existisse previsão legal de rito especial, como por exemplo, os crimes contra

a honra46

.

Essa alteração do conceito de infração de menor potencial ofensivo aconteceu devido

ao surgimento do juizado especial na esfera federal47

, conforme verificar-se-á, com brevidade,

a seguir.

A CRFB/88 quando de sua promulgação era omissa quanto ao juizado especial no

âmbito Federal. Desta forma havia um impedimento na aplicação da Lei n. 9.099/95 às causas

de competência federal. Não havia possibilidade constitucional no sentido de simplesmente

inserir um dispositivo na Lei n. 9.099/95. A saída foi a reforma constitucional, que se deu

através da promulgação da Emenda Constitucional n. 22, de 18 de março de 1999, que

modificou o teor do artigo 98 da CRFB/88, estabelecendo a possibilidade de legislação

ordinária dispor sobre a criação dos juizados especiais na Justiça Federal48

. Sobre o assunto

leciona Alexandre de Moraes:

Embora tal dispositivo constitucional tenha sido regulamentado em 1995, no

que diz respeito à sua aplicação pela Justiça Estadual, bem como, no âmbito

46

GONÇALVES, Vitor Eduardo Rios. Juizados especiais criminais: doutrina e jurisprudências atualizadas. 3.

ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 3. 47

MALULY, Jorge Assaf; DEMERCIAN, Pedro Henrique. A lei dos juizados especiais criminais no âmbito da

justiça federal e o conceito de infração penal de menor potencial ofensivo, p. 21. In: ESCOLA SUPERIOR DO

MINISTÉRIO PÚBLICO DE SÃO PAULO. Caderno jurídico. Ano 2, out/02, n. 5. 48

SILVA, Edgard Moreira da. Juizado especial criminal, p. 7. In: ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO

PÚBLICO DE SÃO PAULO (org.). Caderno jurídico. São Paulo, n. 5, ano 2, out. 2002.

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da Justiça Federal, em 2001, certo é que somente em 2006 o conceito trazido

pela lei infraconstitucional foi uniformizado49

.

Fundada na reforma constitucional de 1999, a Lei n. 10.259, de 12 de julho de 2001,

instituiu os juizados especiais federais criminais. Entretanto, a nova lei conceituou de maneira

diferente as infrações de menor potencial ofensivo, derrogado, em parte, o artigo 61 da Lei n.

9.099/95, remanescendo, apenas, a parte do texto que trata das contravenções penais, vez que

estas estão excluídas da competência Federal, como se pode verificar na CRFB/88:

Art. 109. Aos Juízes federais compete processar e julgar:

[...]

IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de

bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou

empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência

da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral.

A discórdia marcante entre os dois diplomas sobre a conceituação de infrações penais

de menor potencial ofensivo residia na pena máxima que os limitava. Sobre o assunto

observa-se o comentário de Jorge Assaf Maluly e Pedro Henrique Demercian:

A Lei nº 9.099/95, art. 61, atendendo o comando constitucional do art. 98,

caput, considerou infrações penais de menor potencial ofensivo as

contravenções penais e os crimes que a lei comine pena máxima não

superior a um ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento

especial.

Por outro lado, com a observância do art. 98, parágrafo único, da CF, a Lei

nº 10.259, de 12/07/2001, instituiu os juizados especiais cíveis e criminais no

âmbito da Justiça Federal, e, nesse diploma, conceituou as infrações de

menor potencial ofensivo, com diferentes critérios, isto é: os crimes que a lei

comine pena máxima não superior a dois, ou multa (art. 2º, parágrafo

único)50

.

Diante desse novo conceito para infrações de menor potencial ofensivo criou-se uma

discussão sobre o assunto, havendo um notável paradoxo sobre o tema, conforme se observa

no comentário de Carlos Eduardo Paciello e Leonardo Rosek Pereira:

Com o advento da Lei n. 10.259/01, que dispõe sobre a instituição dos

Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal, não

tardaram a surgir opiniões no sentido de que o artigo 61 da Lei n. 9.099/95

49

MORAES, Alexandre de. Os 20 anos da Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Atlas,

2009, p. 172. 50

MALULY, Jorge Assaf; DEMERCIAN, Pedro Henrique. A lei dos juizados especiais criminais no âmbito da

justiça federal e o conceito de infração penal de menor potencial ofensivo, p. 21. In: ESCOLA SUPERIOR DO

MINISTÉRIO PÚBLICO DE SÃO PAULO. Caderno jurídico. Ano 2, out/02, n. 5.

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estivesse revogado.

Segundo este entendimento, em resumo, a expressão “para efeitos desta lei”,

inserta no texto do parágrafo único do artigo 2º, da Lei nº10.259/01, que

restringe a aplicação do novo conceito de crimes de menor potencial

ofensivo à Justiça Federal é inconstitucional por ferir o princípio da

isonomia. Assim, reconhecendo-se a inconstitucionalidade desta expressão, a

nova lei teria revogado o artigo 61 da Lei n. 9.099/95.

De fato, o tratamento díspar dado pelo artigo 2º, parágrafo único, da Lei n.

10.259/01 fere o princípio constitucional da isonomia, consagrado pelo

caput, do artigo 5º, da Carta Magna, pois apesar das peculiaridades inerentes

à Justiça Federal, estas são insuficientes para justificar tal situação.

[...] a vontade do legislador não é a ampliação do conceito dos crimes de

menor potencial ofensivo ao âmbito da Justiça Estadual, muito menos a

revogação do artigo 61, da Lei nº 9.099/95, mas sim a aplicação restrita da

nova regra aos crimes de competência da Justiça Federal51

.

Conforme se observa, o conceito de infração de menor potencial ofensivo na esfera

federal gerou um conflito, inclusive de constitucionalidade, e segundo o autor citado, quando

o legislador alterou o conceito na Justiça Federal, não foi com a intenção de ampliar o rol na

Justiça Estadual, nem mesmo revogar o artigo 61 da Lei n. 9.099/1995, e sim se restringindo

apenas à Justiça Federal.

Por outro lado havia entendimentos contrários, com defensores da revogação tácita do

artigo 61 da Lei n. 9.099/95. O embate entre as diferentes opiniões foi finalizado com a

promulgação da Lei n. 11.313/06 que pacificou a definição de crimes de menor potencial

ofensivo, como se pode observar da explanação de Norberto Avena:

Os Juizados Especiais Criminais estão regulados, em nível de Justiça

Estadual, pela Lei 9.099/1995, destinados à conciliação, julgamento e

execução das infrações de menor potencial ofensivo (art. 60), como tais

consideradas, de acordo com o art. 61, alterado pela Lei 11.313, de

28.06.2006, “as contravenções e os crimes a que a lei comine pena máxima

não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa”.

Essa maior amplitude do que sejam as infrações de menor potencial ofensivo

visou, primeiramente, à simetria entre os procedimentos dos Juizados

Especiais Criminais no âmbito das Justiças Estadual e Federal, pois nesta

última, por força da Lei 10.259/2001, já se consideravam como de menor

potencial os crimes a que a lei cominasse pena máxima não superior a dois

anos. Evidentemente, considerando infundada essa divergência de definições

estabelecida por diplomas distintos (Lei 9.099/1995 e 10.259/2001),

consolidara-se não apenas na doutrina, mas também na jurisprudência, o

entendimento de que o conceito de infração de menor potencial ofensivo

introduzido pela Lei 10.259/2001 deveria ser aplicado, também, aos Juizados

Especiais Criminais na esfera estadual, entendendo-se, destarte, tacitamente

revogado o art. 61 da Lei 9.099/1995. De qualquer sorte, agora, a inovação

51

PACIELLO, Carlos Eduardo; PEREIRA, Leonardo Resek. Da inconstitucionalidade do artigo 2º, parágrafo

único, da lei 10.259/01, p. 33-34. In: ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE SÃO PAULO

(org.). Caderno jurídico. São Paulo, n. 5, ano 2, out. 2002.

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legislativa introduzida pela Lei 11.313/2006, pôs-se fim, de uma vez por

todas, a qualquer polêmica em torno do assunto: são de menor potencial

ofensivo os crimes cuja pena máxima não ultrapasse dois anos,

desimportando se venha esta cumulada ou não com multa52

.

O juizado especial federal, todavia, não julga contravenções penais porque o artigo

109, IV, da CRFB/88 excluiu a possibilidade de a Justiça Federal julgar esta espécie de

infração penal que, assim, são todas julgadas pela Justiça Estadual.

A Lei n. 11.313, de 28 de junho de 2006, pacificou o critério de pena máxima de dois

anos ao estabelecer a seguinte redação para o artigo 61 da Lei n. 9.099/95: “Consideram-se

infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os

crimes que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com multa”.

Hoje o assunto encontra-se consolidado, conforme se pode observar da explanação

feita por Fernando da Costa Tourinho Filho: “A partir da entrada em vigor da Lei n.

11.313/2006, todas as infrações cuja pena não ultrapasse dois anos passaram para o âmbito do

juizado especial criminal, pouco importando se sujeitas ou não a procedimento especial”53

.

Na mesma senda, disserta Damásio de Jesus:

Infrações penais de menor potencial ofensivo são:

a) as contravenções; b) os crimes que a lei comine pena máxima abstrata

não superior a dois anos, ou multa, cumulada ou não, de acordo com o

parágrafo único da disposição, com redação da Lei n. 11.313, de 28 de junho

de 200654

.

A Lei n. 11.313, de 28 de junho de 2006, alterou os arts. 60 e 61 da Lei n. 9.099/95 e o

art. 2º da Lei n. 10.259/2001, resolvendo a divergência que havia entre os dois diplomas

quanto à definição de infração de menor potencial ofensivo55

.

Apesar das críticas havidas, especialmente em seu período inicial de vigência, como

aqui visto, a Lei n. 9.099-95 trouxe questões positivas à sociedade, colaborando efetivamente

para a formação de uma sociedade mais pacífica, de forma a não deixar os pequenos

problemas se tornarem amplos, com grande repercussão na justiça comum.

52

AVENA, Norberto. Processo penal: esquematizado, p. 666. 53

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 28. 54

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais. São Paulo: Saraiva, 2009, p.13. 55

BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 230.

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Conforme se pode verificar no entendimento de Alexandre de Moraes, “Embora

inúmeras críticas tenham sido feitas à chamada “justiça consensual”, é ela realidade

incontestável, não apenas em razão da sua informalidade e celeridade, mas também por sua

amplitude” 56

.

Ainda que a lei dos juizados especiais seja adequada e represente um avanço,

dificuldades ainda persistem e, através deste trabalho, procurar-se-á indicar possíveis soluções

para um dos problemas elencados por estudiosos em direito no juizado especial criminal: o

que acontece nos casos de descumprimento do benefício transação penal, quais as

consequências para quem se compromete com este acordo e não cumpre. Antes, porém, para

um melhor entendimento deste instituto, tecem-se alguns comentários sobre as disposições

gerais dos juizados especiais criminais estaduais, como: competência, atos, procedimentos e

fases, que serão explanadas a seguir.

2.2 DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ESTADUAIS

Os juizados especiais criminais estaduais estão regulados pela Lei n. 9.099/95, que

após sua promulgação, concedeu o prazo de seis meses para que cada Estado criasse lei

regulamentando-os. Este mesmo prazo de seis meses foi concedido aos Estados que já

possuíam lei, se adequassem a nova lei, ou seja, à Lei n. 9.099/95.

A norma federal estabeleceu que aos Estados cabe dispor sobre a organização,

composição e competência dos seus sistemas de juizados especiais. Sobre o assunto, disserta

Ada Pelegrini Grinover, Antônio Magalhães Gomes Filho, Antônio Scarense Fernandes e

Luiz Flávio Gomes:

Devem ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos

Estados. A lei estadual, conforme o art. 93, deverá dispor sobre o sistema

desses juizados, especificando sua organização, composição e competência,

que, contudo, não poderá ser ampliada para infrações que não forem de

menor potencial ofensivo, definidas no art. 61.57

.

O art. 93 da Lei n. 9.099/95 dispõe que “Lei Estadual disporá sobre o Sistema de

Juizados Especiais Cíveis e Criminais, sua organização, composição e competência”. Ada

56

MORAES, Alexandre de. Os 20 anos da Constituição da República Federativa do Brasil, p. 172. 57

GRINOVER, Ada Pelligrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarance;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados especiais criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995, p. 64.

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Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães Filho, Antonio Scarance Fernandes e Luiz Flávio

Gomes, esclarecem sobre o significado do vocábulo sistema:

Devem compor um sistema, o que significa que estarão sob a égide de um

Conselho Supervisor, que irá predeterminar ou sugerir suas metas, seu

funcionamento, sua organização etc. Antes de tudo, portanto, é imperiosa a

criação do Sistema, com organização, composição e competência definidas

em lei estadual.

A existência de uma norma federal dispondo sobre os juizados especiais, Lei n.

9.099/95, não amenizou a obrigatoriedade da existência de leis estaduais para tratar da

matéria, ao contrário, segundo a opinião abalizada de Julio Fabbrini Mirabete:

Promulgada e em vigor a Lei 9.099/1995, cabe a União e aos Estados

criarem, por lei, os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no Distrito Federal

e Territórios e nos Estados, respectivamente. Não só o art. 98, I, da

Constituição Federal, mas também os arts. 1º, 93 e 95 da Lei nº 9.099 impõe-

se que os Juizados Cíveis e Criminais sejam criados por lei local.

Expressamente, o art. 93 dispõe que lei estadual “disporá sobre o Sistema de

Juizados Especiais Cíveis e Criminais, sua organização, composição e

competência”. Dependem de lei as matérias relativas a organização

judiciária (alteração, composição dos juizados etc.), de procedimento (envio

das partes a juízo, existência ou não de plantões etc.) e competência

(territorial, para a execução das penas etc.). Aliás, determina a lei que o

Juizado Especial Criminal deve ser provido por Juízes togados ou togados e

leigos, e o provimento, por exigir um cargo de juiz togado, depende de lei.

Os conciliadores, tidos como auxiliares da justiça, também devem ser

recrutados da forma da lei local (art. 73, parágrafo único)58

.

Mais uma vez se reafirma a obrigatoriedade da lei local dispor sobre composição,

procedimento e competência dos juizados especiais criminais estaduais, tópicos que serão

tratados adante, ainda neste capítulo. Antes, porém, serão tecidas algumas considerações

acerca dos princípios que regem estes juizados.

2.2.1 Princípios

O processo no juizado especial criminal, conforme dispõe o artigo 62 da Lei n.

9.099/95, “orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e

celeridade [...]”, percebe-se que a partir destes critérios estará se tratando de algo especial

dentro da estrutura processual judiciária pátria.

58

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudência legislação, p. 30.

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A ideia de princípio, segundo Luís-Diez Picazo, deriva da linguagem da geometria,

onde designa as verdades primeiras. Acrescenta que, exatamente por isso são “princípios”, ou

seja, porque estão ao princípio, sendo as premissas de todo um sistema que desenvolve59

.

Na explanação de Damásio de Jesus, “Para uma Lei que busca estabelecer linhas

gerais de processo no âmbito da competência legislativa concorrente, estes princípios já são

suficientes para delinear a forma e os objetivos do procedimento especial”60

.

Verificar-se-á, a partir de agora, concisamente, cada um dos princípios elencados no

artigo 62 da Lei n. 9.099/1995.

2.2.1.1 Princípio da oralidade

Absolutamente mnemônico, este princípio informa que o processo no juizado especial

criminal será regido, prioritariamente, pela oralidade, conforme nos esclarece Vitor Eduardo

Rios Gonçalves: “[...] impõe-se que os atos realizados no juizado, preferencialmente, devem

ser realizados na forma oral, constando no termo apenas um breve resumo das manifestações

e decisões”61

. Desta forma, deve-se constar a termo apenas o essencial para o tratamento da

causa.

2.2.1.2 Princípio da informalidade

Conforme expõe Julio Fabbrini Mirabete, este princípio revela a desnecessidade da

adoção no processo de formas sacramentais, do rigorismo formal do processo. Embora os atos

processuais devam realizar-se conforme a lei, em obediência ao princípio do devido processo

legal, deve-se combater o excesso de formalismo, restringindo-se ao mínimo possível a

prática de atos solenes, estéreis e sem sentido. O processo deve ser realizado com o objetivo

maior da realização da justiça em detrimento do formalismo, substituído-o pela finalidade do

processo62

.

59

PICAZO, Luís-Diez apud BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 15. ed. São Paulo:

Malheiros, 2004, p. 255-256. 60

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, p. 5. 61

GONÇALVES, Vitor Eduardo Rios. Juizados especiais criminais: doutrina e jurisprudência atualizada, p. 6. 62

MIRABETE Julio Fabrini. Juizados especiais criminais: comentário jurisprudência legislação, p. 35.

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2.2.1.3 Princípio da economia processual

Para Ada Peligrini Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho, Antonio Scarense

Fernandes e Luiz Flávio Gomes, o princípio da economia processual está presente em todo o

juizado especial criminal, desde a fase preliminar até o encerramento da causa. Nesta senda,

evita-se o inquérito, busca-se que o autor do fato e a vítima sejam desde logo encaminhados

ao juizado especial criminal e pretende-se que, através de acordos civis ou penais, não seja

formado o processo. Para a acusação, prescinde-se do exame de corpo de delito. As

intimações devem ser feitas desde logo e o procedimento sumaríssimo resume-se a uma só

audiência”63

.

Conforme visto acima, unifica-se o maior número de atos processuais na mesma

audiência, o que certamente traz economia aos cofres do poder judiciário, bem como às

partes.

2.2.1.4 Princípio da celeridade

Por fim, o princípio da celeridade processual que, em essência, “busca reduzir o tempo

entre a prática da infração penal e a decisão judicial, para dar uma resposta mais rápida à

sociedade”64

.

Este conjunto de princípios tem a função precípua de orientar o processo no juizado

especial criminal. Com relação à competência, composição e organização, que deverão ser

especificadas pela lei estadual, comentar-se-á a seguir.

2.2.2 Da Competência

Como poder soberano do Estado, a jurisdição é una. Dentre as várias funções estatais,

encontra-se a de aplicar o direito ao caso concreto para as soluções dos litígios. Segundo

Fernando Capez, é evidente, porém que um juiz apenas não tem condições físicas e materiais

de julgar todas as causas, diante do que a lei distribui a jurisdição por vários órgãos do Poder

Judiciário. Dessa forma, cada órgão jurisdicional somente poderá aplicar o direito dentro dos

63

GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scaranse;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados especiais criminais: comentários à lei 9.099, de 26.9.1995, p. 75-76. 64

GONÇALVES, Vitor Eduardo Rios. Juizados especiais criminais: doutrina e jurisprudência atualizadas. p. 6.

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limites de que lhe foram conferidos nessa distribuição. A competência é, assim, a medida e o

limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão judicial poderá dizer o direito65

.

2.2.2.1 Competência em razão da matéria

A competência dos juizados especiais criminais, em razão da matéria, está prevista nos

artigos 60 e 61 da Lei n. 9.099/95. O primeiro dispõe que os juizados especiais criminais,

terão competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações de menor

potencial ofensivo.

Já o segundo trata de conceituar infrações penais de menor potencial ofensivo que,

como visto, compõem-se das contravenções penais e dos crimes que a lei comine pena

máxima abstrata não superior a dois anos, ou multa, cumulada ou não.

Sobre os critérios da competência, Damásio de Jesus leciona que:

A competência dos Juizados Especiais Criminais não é privativa e exclusiva.

Eles “podem” julgar as infrações referidas no art. 61. Tanto que, no caso de

complexidade do fato, convém ao Ministério Público requerer a remessa da

autuação sumária ao Juízo Comum (arts. 66, parágrafo único, e 77, § 2º).

Autor do fato e ofendido não têm direito a escolher o Juízo: os

procedimentos de competência do Juizado Especial Criminal, desde que

criado e atuante, não podem ser propostos no Juízo Comum66

.

No entanto, existindo o juizado especial criminal, todos os crimes que a ele se atêm,

devem neste instituto serem propostos, salvo, em casos complexos, que o representante do

Ministério Público poderá requerer a remessa para a justiça comum. Dito isto, passar-se a

dissertar sobre competência em razão da matéria.

Sobre o tema, tece oportuna dissertação Julio Fabbrine Mirabete:

Estabelece, portanto, a competência em razão da natureza do delito, no caso

as infrações de menor potencial ofensivo, cujo conceito legal está

concretizado no art. 61. Assim, ao Juizado Especial Criminal compete a

homologação da composição (arts. 73 e 74), o julgamento da transação (art.

76) e do processo sumaríssimo (art. 77) e a execução das penas de multa

aplicadas na transação e no julgamento (arts. 84 e 85), excluído, em

princípio, o procedimento executivo das demais sanções (art. 86)67

.

65

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 201-202. 66

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, p. 15. 67

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudência legislação, p. 39.

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Diante da explanação dada por Julio Fabbrini Mirabete, faz-se a seguinte observação,

tratando-se de matéria, caso não seja respeitada esta competência, estar-se-á diante de uma

nulidade absoluta. Nesse passo, Julio Fabbrini Mirabete observa argutamente, “Como tal

competência é conferida em razão da matéria, é ela absoluta, de modo que não é possível

sejam julgados no Juizado Especial Criminal outras infrações, sob pena de declaração de

nulidade absoluta”68

.

A propósito, oportunas as palavras de Damásio de Jesus69

, de que o dispositivo é

composto por duas partes distintas. Na primeira, fixa competência para a União e os Estados

criarem os juizados especiais, com finalidade de se promover a conciliação, o julgamento e a

execução de causas cíveis e criminais de menor complexidade ou gravidade.

Assim, a União pode criar juizados especiais cíveis e criminais no Distrito Federal e

Territórios, provendo-os com juízes togados, ou togados e leigos, enquanto os Estados

poderão fazer o mesmo dentro de suas unidades, por meio de lei estadual.

Instituídos os juizados na forma acima prevista, a União, os Estados, e agora também

o Distrito Federal, atuam com competência concorrente para regulamentar o funcionamento e

o procedimento de cada juizado local.

Afirma-se que a Lei n. 9.099/95 apenas veicula regras gerais sobre o procedimento, e

deixa para cada Estado, assim como para o Distrito Federal, a liberdade para atuação

suplementar de acordo com as características locais. A segunda parte autoriza a lei a prever

hipóteses de transação e de julgamento de recurso por grupos de juízes de primeiro grau70

.

A Lei em questão só poderia ser especial, pois a CRFB não fala em competência

concorrente71

. E como já visto anteriormente, se tratando de Direito Penal, a competência para

legislar é privativa da união. Após a explanação sobre a competência em razão da matéria,

consecutivamente, passar-se-á a tratar sobre a competência territorial.

68

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudência legislação, p. 39. 69

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais anotada, p. 2-3. 70

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais anotada, p. 2-3. 71

Na competência concorrente, é próprio da União definir as regras gerais sobre determinadas matérias, cabendo

aos estados e ao Distrito Federal suplementar essa normatização. Nessa tarefa estados e Distrito Federal podem

legislar privativamente. Cf. MARTINS, Yves Gandra da Silva. Conheça a constituição. Barueri: Manole, 2007,

p. 108.

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2.2.2.2 Competência territorial

Este tópico versará a respeito do local em que foi cometida a infração, conforme se

observa o artigo 63 da Lei n. 9.099/95, “A competência do Juizado será determinada pelo

lugar em que foi praticada a infração penal”.

A respeito deste assunto, evocar-se-á o entendimento de Victor Eduardo Rios

Gonçalves, “[...] a competência para as infrações de menor potencial ofensivo será fixada pelo

local em que for praticada a infração penal, ou seja, pelo local da ação ou omissão, ainda que

seja outro o local do resultado”72

.

Compactuam com tal entendimento Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães

Gomes Filho, Antonio Scaranse Fernandes e Luiz Flávio Gomes, “A competência de foro será

estabelecida pelo lugar onde for praticada a infração penal, ou seja, onde esgotados todos os

meios ao alcance do autor do fato, independentemente do lugar em que venha ocorrer o

resultado”73

.

Porquanto, nota-se que para definir a competência territorial do juizado especial

criminal considera-se o local em que for praticada a infração, independente do local que se

consuma o resultado.

Na sequência será visto, com brevidade, alguns crimes de leis especiais que autuados

junto aos juizados especiais criminais.

2.2.2.3 Juizados especiais criminais e leis especiais

As leis especiais a que se refere este estudo são as dos crimes que possuem lei própria,

como, por exemplo, as que tratam do meio ambiente, do idoso, da violência doméstica, entre

outras.

Segundo Alan Helber de Oliveira, Marcelo Dias Gonçalves Vilela, André Estefam e

Edilson Mougenot, quando surgiu a lei dos juizados especiais, questionou-se a

constitucionalidade da aplicação das leis especiais no âmbito da Lei n. 9.099/95, entretanto

predominou o entendimento de que cabe a lei ordinária definir o âmbito de consenso da

72

GONÇALVES, Vitor Eduardo Rios. Juizados especiais criminais: doutrina e jurisprudência atualizadas, p.

11-12. 73

GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scaranse;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados Especiais Criminais: comentários à lei 9.099, de 26.9.1995, p. 81.

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justiça penal, não tendo sido esta tarefa esgotada pela Lei n. 9.099/95 (ou pela Lei n.

10.259/2001)74

.

Porquanto, o que é vedado à lei ordinária é definir crimes graves como infrações de

menor potencial ofensivo, por ofensa ao princípio constitucional da proporcionalidade75

,

discussão que cessou com a introdução da Lei n. 10.259/01, exceto quanto ao crime disposto

no artigo 306 da Lei n. 9.503/97, pois embora punido com três anos de reclusão no patamar

máximo, admite-se a incidência da transação penal (fato que será visto logo adiante)76

.

A partir de agora serão abordadas as seguintes leis especiais: do estatuto do idoso, do

trânsito, do meio ambiente, e da violência doméstica, será visto de uma forma sucinta, porém

com a possibilidade de um bom entendimento.

Começar-se-á com a Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997, que estabelece em seu

artigo 291, §1º, que se aplicam aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos

artigos 74, 76 e 88 da Lei n. 9.099/95.

A Lei n. 9503/97, Código de Trânsito Brasileiro, foi o primeiro diploma legal,

posterior a Lei n. 9.099/95, a dispor sobre a aplicação dos institutos da justiça consensual, ou

seja, juizados especiais criminais. Determinou expressamente, no caput do artigo 291, a

aplicação, no que couber, à legislação dos juizados especiais criminais77

.

Assim dispõe o Código de Trânsito Brasileiro:

Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículo automotores, previstos

neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de

Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a

Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.

§ 1º Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto

nos arts. 74, 76 e 88 da Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que

couber.

74

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André; BONFIM, Edilson

Mougenot. Juizados especiais cíveis e criminais: (leis 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, 12-7-2001), p. 121. 75

O critério hermenêutico mais utilizado para resolver eventuais conflitos ou tensões entre princípios

constitucionais igualmente relevantes baseia-se na chamada ponderação de bens, presente até mesmo nas opções

mais corriqueiras da vida cotidiana. O exame normalmente realizado em tais situações destina-se a permitir a

aplicação, no caso concreto, da proteção mais adequada possível a um dos direitos em risco, e da maneira menos

gravosa ao(s) outro(s). Fala-se, então, em proporcionalidade. (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de

processo penal. 7 ed. rev. atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p. 324. 76

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André; BONFIM, Edilson

Mougenot. Juizados especiais cíveis e criminais: (leis 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, 12-7-2001), p. 121. 77

GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do

Advogado, 2002, p. 27.

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37

Da análise do dispositivo mencionado decorre que, para o crime de lesão corporal

culposa, são cabíveis a composição civil, a transação penal, a suspensão condicional do

processo e a representação78

.

Já a lei que trata dos crimes ambientais, Lei n. 9.605/98, condicionou a aplicação

imediata das medidas alternativas à pena privativa de liberdade, restrição de direitos ou multa,

essas penas serão tratadas no último capítulo deste trabalho, ainda condicionou a prévia

composição do dano ambiental, composição civil, sempre que possível nos termos do artigo

2779

.

Agora será explanado, sobre a Lei n. 10.741/03, que trata sobre o Estatuto do Idoso, de

acordo com o artigo 94 da Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003, os crimes previsto no

Estatuto do Idoso, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse quatro anos,

também serão submetidos ao procedimento previsto na Lei n. 9.099/95. Sobre o artigo citado,

Damásio de Jesus expõe o seguinte comentário:

O art. 94 somente pretendeu à ação penal por crimes contra o idoso, com

sanção abstrata máxima não superior a quatro anos, procedimento da Lei nº

9.099/95, conferindo maior rapidez ao processo. Não seria razoável que,

impondo um tratamento penal mais rigoroso aos autores de crimes contra o

idoso, contraditoriamente viesse permitir a transação penal, instituto de

despenalização (art. 76 dos Juizados Especiais Criminais). A ampliação do

limite máximo viria a permitir a concessão da roupagem de infrações de

menor afetação jurídica a delitos de gravidade, como aborto consentido,

furto e receptação simples, rapto, abandono material, contrabando etc.

O art. 61 da Lei nº 9.099/95contém a conceituação de crimes de menor

potencial ofensivo para efeito da competência dos Juizados Especiais

Criminais. O art. 94 do Estatuto do Idoso disciplina a espécie de

procedimento aplicável ao processo, não cuidando de infrações de menor

potencial ofensivo. Temos, pois, disposições sobre temas diversos, cada uma

impondo regras sobre institutos diferentes, sendo incabível a invocação do

princípio da proporcionalidade80

.

De acordo com artigo 94 da Lei n. 10.741/03, os crimes previstos no Estatuto do

Idoso, cuja pena máxima não ultrapasse quatro anos, serão submetidos ao procedimento

previsto na Lei n. 9.099/95, não sendo possível a aplicação da transação penal para estes

78

MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio. Legislação penal especial, p. 224. 79

GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95, p. 28. 80

JESUS, Damásio de. Juizados especiais criminais, ampliação do rol dos crimes de menor potencial ofensivo e

estatuto do idoso, p. 34. In REVISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO DE JANEIRO (org.). Rio de

Janeiro: Ministério Público do Rio de Janeiro, v. 1, n.31, mar. 2009.

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38

crimes81

. Isto é, aplicam-se tão-somente as disposições acerca do procedimento sumaríssimo,

que terá toda a agilidade do juizado especial no andamento do processo82

.

Por fim, a lei que dispõe sobre a vedação aos casos de agressão à mulher em violência

doméstica e familiar. Embora existam crimes que cominem penas menores que dois anos, não

se aplica a Lei n. 9.099/95. Veja-se o artigo 41 da Lei n. 11.340/06 “Aos crimes praticados

com violência doméstica e familiar contra a mulher, independente da pena prevista, não se

aplica a Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995”. A inaplicabilidade do instituto dos juizados

especiais criminais ocorre em virtude de a Lei n. 11.340/06 desconsiderar a agressão à

mulher, no lar ou na família, como infração de menor potencial ofensivo83

.

A partir de agora será tratado a respeito da conectividade dos crimes que não se

enquadram na esfera do juizado especial criminal, mas que têm ligação aos pertencentes a este

instituto.

2.2.2.4 Crimes conexos

Entende-se por conexão o vínculo que se estabelece entre duas ou mais infrações

penais, acarretando a necessidade de efetuar a reunião de processos para julgamento

conjunto84

.

As infrações de menor potencial ofensivo que forem praticadas em concurso com

crimes que não são da competência dos juizados especiais criminais, não poderão seguir no

juizado, ficando a competência para o juízo do crime mais grave. Conforme o entendimento

de Alexandre de Moraes e Gianpaolo Poggio Smanio:

Note-se que a competência do Juizado especial Criminal é relativa, ou

seja, ele está sujeito às regras de prorrogação de competência previstas

no Código de Processo Penal.

Nos casos de conexão e continência (arts. 76 e 77 do CPP),

envolvendo infração de menor potencial ofensivo e crime que refoge à

81

BONFIM, Edilson Mougentot. Curso de processo penal, p. 561. 82

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André; BONFIM, Edilson

Mougenot. Juizados especiais cíveis e criminais: (leis 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, 12-7-2001), p. 122. 83

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. 4. ed. atual. e ampl. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2009, p. 780. 84

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André; BONFIM, Edilson

Mougenot. Juizados especiais cíveis e criminais: (leis 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, 12-7-2001), p. 136.

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39

jurisdição do Juizado Especial Criminal, este delito atrai aquela,

prevalecendo a competência do juízo de atração85

.

O artigo 60 da Lei n. 9.099/95, com a nova alteração que lhe foi dada pela Lei n.

11.313/06, estabeleceu expressamente que devem ser respeitadas as regras de conexão e

continência86

.

Acrescentou-se o novo parágrafo único, no artigo 60 da Lei n. 9.099/95: “Na reunião

de processos, perante o juízo comum ou o tribunal de júri, decorrentes da aplicação das regras

de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos

danos civis”.

Portanto, quando houver conexão ou continência entre uma infração de menor

potencial ofensivo de competência do juizado especial criminal e uma infração penal de

competência de juízo comum ou tribunal do júri, deverá haver a unidade de processo perante,

conforme o caso, o juízo comum ou o tribunal do júri, que são os juízos de atração, seguindo

assim, de modo geral, o disposto no artigo 78 do Código de Processo Penal87

.

Se for o caso de concurso entre infrações de menor potencial ofensivo entre si, aquele

que comete vários crimes punidos com pena máxima de dois anos, em concurso material, não

pode seguir no juizado especial criminal para empreender inúmeras transações, uma para cada

delito. Seria a consagração de falta de lógica, pois caso condenado, utilizada, por exemplo, a

somatória da pena mínima, ele pode atingir montantes elevados, que obriguem inclusive o

magistrado a impor regime fechado, e não há essa possibilidade para infrações de menor

potencial ofensivo88

.

Segundo Allan Helber de Oliveira, Marcelo Dias Gonçalves Vilela e André Estefam, é

possível, ainda, que sejam praticadas duas infrações de menor potencial ofensivo, sendo uma

delas de competência da Justiça Estadual e outra da Federal89

.

Nessa situação, deve-se aplicar a Súmula 122 do STJ, que dispõe o seguinte:

“Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de

85

MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio. Legislação penal especial. 9. ed. São Paulo: Atlas, p.

269. 86

FEITOZA, Denilson. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis. 6. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2009, p.

574. 87

FEITOZA, Denilson. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis, p. 574. 88

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas, p. 780. 89

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André. Juizados especiais

cíveis e criminais: (lei 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, de 12-7-2001), p. 136-137.

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40

competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de

Processo Penal”.

Desta forma, verifica-se que nos casos em que ocorrer conexão de crimes da esfera

estadual e federal, a competência para processar e julgar, será da Justiça Federal. Realizada a

explanação a respeito dos crimes conexos, passar-se-á a tratar da composição dos juizados

especiais criminais.

2.2.3 Da Composição

Os juizados especiais estaduais criminais serão compostos por juízes togados ou juízes

togados e juízes leigos. Mister se faz tecer alguns comentários acerca da doutrina, através de

Julio Fabbrini Mirabete:

Em consonância com o art. 98, I, da CF, dispõe a lei que os Juizados

Especiais serão providos por juízes togados ou togados e leigos. Permite-se,

portanto, ao legislador estadual que componha os Juizados Especiais

Criminais apenas com juízes togados, pertencentes ao quadro da

Magistratura, ou com estes e juízes leigos. Entretanto, por força da lei

federal os leigos serão apenas conciliadores que, auxiliares da Justiça,

estarão sempre sob orientação do juiz (art. 73, caput, e parágrafo único), na

forma que dispuser a lei que os criar90

.

No juizado especial, além do juiz togado, há possibilidade de auxiliares, como juízes

leigos e conciliadores, porém, estes, apenas para a conciliação e sempre sob a orientação de

juízes togados91

. Compactuam com o mesmo entendimento, Fernando da Costa Torinho Neto

e Joel Dias Figueira Junior:

A Constituição Federal, no art. 98, I, possibilitou à União e os Estados a

criação de Juizados Especiais providos por juízes togados, ou togados e

leigos.

Pode, assim o Juizado Criminal – e não só o Cível, como entendem alguns

autores – ter uma composição mista, juízes togados e leigos. O constituinte

não fez distinção. Nunca só leigos, mas só togados, sim92

.

Observa-se que a participação de juízes leigos e conciliadores é uma opção que se

aplica tanto aos juizados especiais criminais quanto aos cíveis, dependendo da organização

90

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudência legislação, p. 40. 91

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André. Juizados especiais

cíveis e criminais: (lei 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, de 12-7-2001), 2006, p. 144. 92

TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis

e criminais: comentários à lei 9.099/95, p. 377.

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41

que cada Estado der ao seu juizado93

. Por ser uma opção, tais juizados poderão prescindir dos

juízes leigos, mas nunca dos togados. Na mesma senda, explana Victor Eduardo Rios

Gonçalves:

A composição dos Juizados Especiais decorre de legislação estadual, que,

nos termos do art. 95 da Lei n. 9.099/95, tinha seis meses para ser

promulgada a contar de sua entrada em vigor. Tal lei estadual pode

estabelecer que o juizado seja composto apenas por juízes togados,

integrantes da magistratura, ou por estes e por juízes leigos, que atuarão sob

orientação dos primeiros, na função de conciliadores, precipuamente na

tentativa de composição de danos civis (art. 74). A toda a evidência os

conciliadores não podem colher prova, homologar acordos civis ou penais,

tampouco sentenciar. São, portanto meros auxiliares da justiça, conforme

dispõe o art. 73, que estabelece que “a conciliação será conduzida pelo juiz

ou conciliador sob sua orientação”94

.

A Lei n. 9.099/95, embora não faça referência ao conciliador no artigo 60,

expressamente o admite no artigo 7395

. Diante do estudo realizado, observa-se o entendimento

de que os juizados especiais criminais são compostos sempre por juízes togados ou togados e

leigos96

. Visto as pessoas que compõem os juizados especiais criminais, na sequência iniciar-

se-á uma breve análise sobre o rito e o princípio da ampla defesa neste instituto.

2.2.4 Da Organização e Procedimentos

Os juizados especiais estaduais criminais serão regidos pelo procedimento

sumaríssimo, o qual oferece mais agilidade no andamento dos processos de pouca monta, “na

seção III, do Capítulo III, da Lei 9.099/95 introduz e disciplina o procedimento sumaríssimo

das infrações de menor potencial ofensivo, definidas no seu art. 61, em atendimento ao

comando constitucional (art. 98, I, CRFB/88)”97

.

Sobre a permissão contida no artigo 98, I, da CRFB/88, explana Alexandre de Moraes:

O constituinte excepcionou o chamado princípio da obrigatoriedade na

propositura da ação penal, ao dispor, neste art. 98, inciso I, sobre a criação

dos Juizados Especiais, competentes para as infrações penais de menor

potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo,

93

GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95, p. 29. 94

GONÇALVES, Vitor Eduardo Rios. Juizados especiais criminais: doutrina e jurisprudência atualizadas, p. 2. 95

GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95, p. 29. 96

BONFIM, Edilson Mougentot. Curso de processo penal, p. 561. 97

GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scaranse;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados Especiais Criminais: comentários à lei 9.099, de 26.9.1995, p. 159.

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permitidos a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de

primeiro grau98

.

Verifica-se uma exceção entabulada pelos legisladores no que tange à legalidade do

processo, sobre o princípio da obrigatoriedade. Voltar-se-á a este assunto no segundo capítulo

deste trabalho, quando será explanado o tema Transação Penal.

Em continuidade ao assunto procedimentos, segundo Damásio de Jesus, a

informalidade e a oralidade visam assegurar a necessária agilidade do processo, já que o

procedimento escrito, exigido desde o início da persecução penal (art. 9º do CPP), revelou-se,

ao menos no que toca às infrações de pouca monta, fonte inesgotável da prescrição punitiva,

com altos custos sociais99

.

Na Lei n. 9.099/95, embora se estabeleça um rito sumaríssimo e informal, a ampla

defesa não foi relegada a segundo plano, procurando-se conciliá-la com a necessidade de

maior eficiência na prestação jurisdicional.

Quanto à citação, ressalta-se que no juizado especial criminal não se admite citação

editalícia. Quando o citando não for encontrado, as peças serão encaminhadas ao juízo

comum e nesse ocorrerá o processamento e julgamento do acusado100

. Sobre o assunto

discorre Julio Fabbrini Mirabete:

Não há possibilidade de instaurar-se o procedimento sumaríssimo quando o

autor do fato não puder ser citado pessoalmente (art. 66, parágrafo único).

No Juizado Especial Criminal, somente se admite a citação pessoal do

acusado, realizada no próprio Juizado, quando possível, ou por mandado

(art. 66 caput). Inadmissível, pois, a citação por edital ou que se faça o

chamamento a juízo por outras formas, possibilidades limitadas aos Juizados

Especiais Cíveis (art. 18). Não sendo possível a citação do imputado

pessoalmente, seja qual for a hipótese, ainda que tenham sido realizadas

audiências de tentativa de conciliação ou transação, a solução é a remessa

dos autos ao Juízo comum101

.

Também se observa as palavras de Damásio de Jesus:

[...] exige-se a obrigatoriedade da citação pessoal, sob pena de remessa dos

autos ao procedimento comum (art. 66 parágrafo único). Justifica-se a regra,

pois seria difícil conceber o exercício pleno da defesa técnica e da

98

MORAES, Alexandre de. Os 20 anos da Constituição da República Federativa do Brasil, p.171. 99

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, p. 5. 100

GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95, p. 78. 101

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários, jurisprudência e legislação, p. 59.

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autodefesa no processo sumaríssimo em que o réu fosse revel. Evita-se com

isso a arguição de inconstitucionalidade por ofensa à ampla defesa. Aliás o

Superior Tribunal Federal, na Súmula 523, há muito tempo consagrou o

entendimento de que a ausência de defesa, no processo penal, é causa

geradora de nulidade absoluta. Nos termos da lei não aceita a proposta,

inicia-se o procedimento sumaríssimo e oral102

.

O procedimento sumaríssimo tem início na audiência preliminar, com o oferecimento

da denúncia ou queixa oral, que será reduzida a termo, entregando-se cópia ao acusado, que

com ela ficará citado e imediatamente cientificado da audiência de instrução e julgamento,

bem como também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e

seus advogados. Se o acusado não estiver presente será citado na forma dos artigos 66 e 68 da

Lei n. 9.099/95103

.

Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder a acusação, antes

da denúncia ou queixa ser recebida. Com isso, a Lei n. 9.099/95, mais uma vez atenta para o

princípio da ampla defesa, compensando-se a sumariedade do rito com a antecipação da

defesa técnica. O acusado tem a possibilidade de obstar o recebimento da inicial acusatória,

combatendo-a antes deste momento. Recebida a peça de acusação, o réu será interrogado após

o encerramento da instrução104

.

Trata-se de elogiável inovação, que ressalta o caráter de meio de defesa do

interrogatório. Desse modo, a ampla defesa é totalmente resguardada, assegurando-se o pleno

exercício da defesa técnica, que atua antes mesmo do recebimento da denúncia; do direito

constitucional de presença do acusado aos atos instrutórios em face da obrigatoriedade de sua

citação pessoal; e diante do exercício da autodefesa (interrogatório), somente depois de

conhecida toda a prova do processo105

.

Porquanto pode-se afirmar, com segurança, que aos autores de infrações de menor

potencial ofensivo estão assegurados todos os meios necessários para o exercício do princípio

de ampla defesa, pois deverão ser citados pessoalmente e poderão apresentar contestação

antes mesmo de serem denunciados.

Encerra-se, deste modo, a primeira parte do trabalho, que tratou de uma maneira

bastante ampla dos juizados especiais criminais, e de um modo mais focado, sobre o juizado

102

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, p. 5. 103

BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal, p. 570. 104

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, p. 5. 105

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, p. 5.

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especial criminal estadual. Na sequência deste trabalho far-se-á um breve estudo sobre a

transação penal no âmbito dos juizados especiais criminais estaduais.

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3 TRANSAÇÃO PENAL

Este capítulo apresenta aspectos gerais sobre a transação penal, instituto utilizado no

juizado especial criminal pelo órgão ministerial, que propõe um acordo ao autor do fato, como

benefício, desde que preenchidos determinados requisitos, com escopo de evitar a instauração

do processo.

Segundo Francesco Carnelutti, “a transação é um ato complexo, uma espécie do

gênero autocomposição, efetuada pelas partes”106

. Neste trabalho adota-se como conceito de

transação penal, o elaborado por Guilherme de Souza Nucci:

A transação envolve um acordo entre órgão acusatório, na hipótese

enunciada no art. 76 da Lei 9.099/95, e o autor do fato, visando à imposição

de pena de multa ou restritiva de direito, imediatamente, sem a necessidade

do devido processo legal, evitando-se, pois, a discussão acerca da culpa e os

males trazidos, por conseqüência, pelo litígio na esfera criminal107

.

A transação penal é uma alternativa prevista na Lei n. 9.099/95. Nos casos de ação

penal pública incondicionada, nos casos de ação penal pública condicionada à representação

em que não haja composição dos danos e a vítima ofereça a representação dentro do prazo

decadencial, passa o Ministério Público a efetivamente atuar, fazendo análise ao caso108

.

3.1 NOÇÕES GERAIS SOBRE A TRANSAÇÃO PENAL

O atual sistema processual penal brasileiro entrou em vigor através do Decreto Lei

3.689, de 3 de outubro de 1941. Todavia, a dinâmica social acarretou radicais mudanças nos

costumes e nas práticas delitivas, obrigando os juristas a repensarem o sistema penal, ou seja,

106

CARNELUTTI, Francesco. Instituciones de derecho procesal civil. Cidade do México: Pedagógica

Iberoamericana, 1997, p. 24 apud GIACOMOLLI, Nereu. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95, p. 118. 107

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentada, p. 795. 108

HERMANN, leda Maria. Violência doméstica e os juizados especiais criminais: a dor que a lei esqueceu.

São Paulo: Servanda, 2004, p. 92.

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discutirem sobre a efetividade do processo como instrumento adequado à tutela de todos os

direitos109

.

Assim, através de meios ágeis e aptos a atingirem suas finalidades, buscou-se a

aplicação da lei ao autor do fato infringente da norma penal, com vistas à reabilitação do

infrator, sem a estigmatização decorrente de uma sentença condenatória110

.

Segundo Fernando da Costa Tourinho Filho:

De há muito, Juízes, Promotores e Advogados lutam por uma reforma em

nosso sistema processual penal, principalmente no que se respeita às

infrações de menor potencial ofensivo, cujo número estonteante vinha

emperrando a máquina judiciária, sem qualquer resultado prático111

.

No mesmo sentido, Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho,

Antonio Scarence Fernandes e Luiz Flávio Gomes, afirmam que há muito tempo o jurista

brasileiro preocupa-se com um processo penal de melhor qualidade, pois a ideia de que o

Estado possa e deva prosseguir penalmente toda e qualquer infração, sem admitir-se, em

hipótese alguma, certa dose de disponibilidade da ação penal pública, havia mostrado, com

evidência, sua falácia e hipocrisia112

.

Paralelamente, os juristas brasileiros percebiam que a solução das controvérsias penais

em certas infrações, principalmente de pouca monta, poderia ser atingida pelo método

consensual, ao mesmo tempo, a experiência processual apontou, em outros países, para

modelos de justiça consensual e despenalizadora113

.

Os juristas brasileiros ficaram entusiasmados com as novidades introduzidas nos

ordenamentos europeus (a Lei n. 689/81, da Itália, que se converteu no artigo 444 do atual

Códice de Procedura Penale, e o Código de Processo Português), também com os excelentes

resultados que o juizado especial de pequenas causas vinha apresentando no cível desde

1984114

.

109

GUIMARÃES, Isaac Sabbá. Temas de direito penal e processual penal. Curitiba: Juruá, 2002, p. 192. 110

GUIMARÃES, Isaac Sabbá. Temas de direito penal e processual penal, p. 192. 111

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal comentado. 13. ed. São Paulo: Saraiva,

2010, p. 256-257. 112

GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarence;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados especiais criminais: comentários à lei 9.099/95, p. 35. 113

GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarence;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados especiais criminais: comentários à lei 9.099/95, p. 35. 114

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal comentado, p. 257.

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47

Há época destacava-se a Lei italiana 689, de 14 de novembro de 1981, intitulada

“Modificações ao Código de sistema penal. Descriminalização”, a qual permitiu que o juiz, a

pedido do acusado e após manifestação favorável do Ministério Público, aplicasse sanção,

com subsequente extinção da punibilidade, com o registro da pena exclusivamente para efeito

de impedir um segundo benefício115

.

As medidas da Europa, que de certa forma constituíam alternativas e faziam sucesso,

eram a transação do direito holandês, que era possível até mesmo entre a polícia e o autor do

fato, aceitando este uma pena mitigada, sem o desenvolvimento do processo, a transação

italiana, o arquivamento do direito polonês (e também do alemão), a cargo do Ministério

Público, a suspensão provisória do processo e o procedimento sumaríssimo, estes dois últimos

institutos, de Portugal116

.

O Código de Processo Penal português, de 17 de fevereiro de 1987, permite que o

Ministério Público requeira ao Tribunal a aplicação de pena de multa ou pena alternativa,

funcionando ao mesmo tempo como representante da vítima para formular o pedido de

indenização civil. Aceita a proposta, a homologação judicial equivale a uma condenação117

.

Verificar-se-á, no decorrer deste trabalho, que na transação penal aplicada no Brasil,

existem semelhanças com os modelos italiano, português e, também, com o modelo do direito

norte americano plea bargaining.

A seguir será feita uma breve explanação sobre os institutos internacionais citados, a

iniciar-se pelo plea bargaining apresentado sob o conceito referendado por Grasiela Becker:

Consiste numa transação que abrevia o processo, eliminando a colheita de

prova, suprimindo a fase de debates entre as partes. O agente do ato ilícito

admite sua culpabilidade, há uma qualificação jurídica do ilícito, em troca de

benefícios legais. Os objetivos do instituto são os de garantir a elucidação de

crimes, de assegurar uma rápida punição aos autores dos delitos, e diminuir a

carga de trabalho no judiciário.

Assim, definida a prática de uma infração penal, abre-se a oportunidade ao

autor do fato para que se pronuncie a respeito de sua culpabilidade. Se se

declarar culpado, isto é, confessar voluntariamente o delito, opera-se a plea,

e o juiz limita-se apenas a homologar os resultados do acordo estabelecido

115

GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarence;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados especiais criminais: comentários à lei 9.099/95, p. 37. 116

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentário à lei dos juizados especiais criminais, p.3. 117

GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarence;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados especiais criminais: comentários à lei 9.099/95, p. 37.

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48

entre a acusação e a defesa, sem a necessidade do prosseguimento processo

penal clássico118

.

O Código de Processo português prevê que a transação penal aplica-se para crimes

com pena de prisão de até seis meses, mediante condições impostas pelo órgão ministerial e

atendimento de condições objetivas, conforme se verifica da lição exposta por Grasiela

Becker:

Os crimes punidos com pena de prisão não superior a seis meses ou com

multa, poderão ter aplicadas somente a pena de multa, ou medida de

segurança não detentiva, nos casos em que o Ministério Público entender

que estão previstos os pressupostos objetivos que autorizam tal benefício.

Diante disso, será fixada data para audiência na qual o autor do fato poderá

aceitar as condições impostas pelo órgão ministerial, ocasionado a extinção

do processo, ou, no caso de discordância, o prosseguir com o feito119

.

O modelo italiano é, significativamente, mais complexo, pois permite a transação para

penas de até três anos (a pena prevista, diminuída de até um terço, não pode superar dois

anos) e pode ser acordada ainda na fase de investigação, interrompendo-a, como durante o

processo, até a fase final de apresentação dos debates, conforme verifica-se da explanação de

Nereu José Giacomolli:

[...] o patteggiamento italiano é filho da plea bargaining.

Conseqüentemente, a transação criminal brasileira, ao receber a influência

do sistema italiano, por via indireta, foi influenciada pela plea bargaining.

No entanto, devem ser observadas as devidas diferenças, tanto no que diz

respeito aos limites do acordo, como em relação à atividade dos operadores

jurídicos, e das conseqüências advindas da negociação.

A possibilidade do acordo, no processo penal italiano, já era ampliado com a

Lei 689/81, tendo sido acolhido e ampliado no atual Código de Processo

Penal (art. 444). As partes, mediante consenso, podem pedir ao juiz a

aplicação de uma pena substitutiva, ou a pena que esteja prevista no tipo

penal que, diminuída até um terço, não supere a dois anos, isolada ou

cumulada a de multa. Isso pode ocorrer até a fase final da apresentação dos

debates (art. 446), aplicazione di pena su richiesta ou patteggiamento. O

pedido pode evitar tanto a continuação da investigação (art. 447), como a

fase final dos debates, e um eventual recurso, pois, havendo consenso, a

sentença não comporta apelação. Ainda pode não gerar efeitos de natureza

civil ou administrativa, deixando de produzir os efeitos criminais depois de

cinco anos da data da prática do delito, ou de dois anos quando se tratar de

118

BECKER, Grasiela. Transação penal: aspectos destacados da intervenção do Ministério Público. In:

GUIMARÃES, Isaac Sabbá (org.). Temas de direito penal e processual penal, p. 196-197. 119

BECKER, Grasiela. Transação penal: aspectos destacados da intervenção do Ministério Público. In:

GUIMARÃES, Isaac Sabbá (org.). Temas de direito penal e processual penal, p. 196-197.

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contravenção penal, ainda que se equipare a uma sentença condenatória (art.

445)120

.

Apresentadas estas breves considerações sobre transação penal, notadamente sobre a

sua origem no direito pátrio e quais modelos alienígenas mais a influenciaram, verificar-se-á,

na sequência, suas características principais.

3.1.1 Características da transação penal

A transação penal é um novo instrumento da política criminal de que dispõe o

Ministério Público para, entendendo conveniente ou oportuna a resolução rápida do litígio

penal, propor ao autor da infração de menor potencial ofensivo a aplicação, sem denúncia e

instrução de processo, de pena não privativa de liberdade121

.

Entretanto, a conveniência do Ministério Público não é absoluta. Nos termos do artigo

76 da Lei n. 9.099/95, adotou-se o princípio da discricionariedade regulada. O Ministério

Público somente poderá dispor da ação penal nas hipóteses previstas legalmente, desde que

exista a concordância do autor da infração e a homologação judicial122

.

Neste diapasão, é o entendimento de Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães

Gomes Filho, Antonio Scarense Fernandes e Luiz Flávio Gomes:

O Ministério Público, nos termos do art. 76, continua vinculado ao princípio

da legalidade processual (obrigatoriedade, “deve agir”), mas sua “proposta”,

presentes os requisitos legais, somente pode versar sobre uma pena

alternativa (restritiva ou de multa), nunca sobre uma privativa de liberdade.

Como se percebe, ele dispõe sobre a sanção penal original, mas não pode

deixar de agir dentro dos parâmetros alternativos. A isso dá-se o nome de

princípio da discricionariedade regulada ou regrada (ou, ainda, oportunidade

regrada). Não é adequada a locução legalidade mitigada123

.

Desta forma, embora seja o Ministério Público quem detém o direito de propor a

transação penal, nota-se que aquele possui algumas limitações e não fica inteiramente para si

a faculdade de agir. “De ver-se, no entanto, que não há absoluta discricionariedade por parte

do Ministério Público em formular ou não a proposta, pois sua decisão deve ser balizada pela

120

GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95, p. 113-114. 121

MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio. Legislação penal especial, p. 282. 122

MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio. Legislação penal especial, p. 282. 123

PELLEGRINI, Ada Grinover; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarense;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados especiais criminais: comentários à lei 9.099, de 26.09.1995, p. 48.

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50

presença dos requisitos legais. Se preenchidos, formula, caso contrário, oferece a

denúncia”124

. Requisitos estes que serão analisados a seguir.

Apesar de ser considerado um instrumento à disposição do Ministério Público, este

está obrigado a propor a transação penal quando presentes os requisitos necessários para

receber o benefício da transação penal previstos no artigo 76, da Lei n. 9.099/95, que serão

alvo do tópico seguinte.

3.1.2 Requisitos para receber o benefício

Para efetivamente haver o acordo entre o Ministério Público e o autor do fato é

necessário, que o beneficiado preencha alguns requisitos, os quais estão previstos nos incisos

ulteriores do artigo 76, § 2º, da Lei n. 9.099/95, ainda, perceber-se-á que em alguns casos

dependerá de representação do ofendido.

Nesse norte, colecionam-se as palavras de Beatriz Abraão de Oliveira:

A lei prevê no art. 76 a possibilidade de se concretizar a denominada

“transação”.

Não sendo caso de arquivamento, o representante do Ministério Público

pode propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa no

caso de ação penal pública incondicionada, tenha sido ou não efetuada a

composição dos danos sofridos pelo ofendido. É também possível na ação

penal pública condicionada, quando não efetuada a composição dos danos

sofridos pela vítima. [...] O Ministério Público deve propor a transação,

estando presentes os requisitos que a autorizam [...]125

:

Os requisitos que deverão ser observados, para poder ser beneficiado com a transação

penal, estão elencados no artigo 76, da Lei n. 9.099/95:

Art. 76 [...]

§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

I – ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena

privativa de liberdade, por sentença definitiva;

II – ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de 5 (cinco) anos,

pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;

III – não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do

agente, bem como os motivos e circunstâncias, ser necessária e suficiente a

adoção da medida.

124

ROCHA, Fernando A. N. Galvão da. Direito Penal: curso completo. 2. ed. rev. atual. e ampl. Belo Horizonte:

Del Rey, 2007, p.632-633. 125

OLIVEIRA, Beatriz Abraão de. Juizados especiais criminais: teoria e prática. Rio de Janeiro: Renovar, 2001,

p. 24.

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Com a verificação de todos os itens acima mencionados, deverá o representante do

Ministério Público, propor a transação penal, especificando a pena alternativa a ser aceita pelo

autor do fato, com a concordância de seu defensor126

. “Deve prevalecer a vontade do autor do

fato (entendimento dominante na doutrina). Afinal, se o autor do fato pode o mais, que é

desconstituir seu advogado, deve poder o menos, que é ter a última palavra na transação

penal”127

.

No mesmo sentido, segundo Miguel Reale Junior, “há até mesmo juízes, e é esta a

orientação fixada por associação de magistrados, que consideram que, se o advogado for

contrário a transação, mas o réu for a favor, prevalece a opinião deste último [...]”128

.

Sob o entendimento de Fernando da Costa Tourinho Filho, a proposta não poderá ser

formulada se estiver presente uma daquelas situações previstas nos itens I, II e III do § 2º do

artigo sob comento. Assim, não faz jus ao benefício aquele que já foi condenado, por sentença

definitiva e pela prática de crime à pena privativa de liberdade129

.

Ou seja, o reincidente não pode beneficiar-se da transação penal. Entretanto a lei não

exige a reincidência, nos termos dos artigos 63 e 64 do Código Penal, bastando apenas a

condenação anterior a pena privativa de liberdade, com sentença definitiva, qualquer que seja

o lapso temporal, para impedimento da proposta de aplicação de pena alternativa pelo

Ministério Público130

.

Convém, sucintamente, exemplificar a terminologia sentença definitiva empregada

pelo Código de Processo Penal, “sentença definitiva” no sentido de sentença de mérito (arts.

82, 593, I, e 800, I). A expressão, contudo, aqui no texto, está na acepção de “sentença

transitada em julgado”131

. Sobre sentença de mérito será explanado no último capítulo,

quando for tratado sobre a natureza jurídica da sentença, motivo pelo qual deixa-se de

adentrar no momento neste assunto.

126

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André. Juizados especiais

cíveis e criminais: (lei 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, de 12-7-2001), 2006, p. 163. 127

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André. Juizados especiais

cíveis e criminais: (lei 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, de 12-7-2001), 2006, p. 163. 128

REALE JUNIOR, Miguel. Pena sem processo, juizados especiais criminais – juizados especiais criminais:

interpretação e crítica. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 28 apud TOURINHO NETO, Fernando da Costa.

Juizados especiais cíveis e criminais: comentários à lei 9.099/95, p. 511. 129

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 116. 130

MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio. Legislação penal especial, p. 284. 131

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 116-117.

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52

Segundo Fernando da Costa Tourinho Filho, ninguém pode ser condenado a uma pena

privativa de liberdade senão mercê de uma sentença. Logo, se o legislador impede a proposta

da transação penal ao condenado pela prática de crime à pena privativa de liberdade, por

sentença definitiva, é sinal de que se refere a uma decisão condenatória com trânsito em

julgado, tanto mais quanto o dispositivo fala em condenado e, no ordenamento jurídico

brasileiro, denomina-se condenado o réu cuja a sentença tenha passado em julgado132

.

A condenação por uma contravenção, ou a uma pena não privativa de liberdade por

outro crime, não impede a aplicação da transação penal, da mesma forma não perderá o

benefício aquele que tiver uma sentença condenatória que não transitou em julgado, mesmo

que o crime tiver pena privativa de liberdade133

.

Tivesse o legislador o propósito de vedar a transação àquele que fosse condenado pela

prática de crime à pena privativa de liberdade, pouco importando se a decisão condenatória

transitou ou não em julgado, não empregaria o termo “condenado”. Desta forma teve a

manifesta intenção de não obstaculizar o benefício se o autor do fato, embora condenado à

pena privativa de liberdade, não o foi definitivamente134

.

O outro requisito é no que diz respeito ao autor do fato já ter sido beneficiado

anteriormente, no prazo de cinco anos. A Lei 9.099/95, quer beneficiar o autor de fatos

enquadráveis nas infrações penais de menor potencial ofensivo, mas não incentivar sua

impunidade, por isso, o beneficiado com a transação penal não poderá gozar de novo

benefício pelo prazo de cinco anos135

.

O último requisito faz menção às condições pessoais do autor do fato e outras

circunstâncias que podem ser empecilho à proposta de transação penal, como os antecedentes

criminais, a má conduta social e uma personalidade agressiva reveladas pelo autor do fato. A

motivação e demais circunstâncias em que foi praticada a infração de menor potencial

ofensivo também podem indicar que a aplicação de pena restritiva de direito ou multa sejam

insuficientes para reprimir o delito ou preveni-lo136

.

132

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 116-117. 133

GIACOMOLLI, José Nereu. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95, p. 124. 134

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 116. 135

PELLEGRINI, Ada Grinover; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarense;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados especiais criminais: comentários à lei 9.099, de 26.09.1995, p. 161-162. 136

MIRABETE, Julio Fabrine. Juizados especiais criminais: comentários, jurisprudência e legislação, p. 143-

144.

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O requisito em comento, deve ser encarado com muito equilíbrio e bom senso, tanto

pelo Ministério Público e ofendido, como pelo juiz, em face de seu cunho genérico e por

demais vago, pois não é fácil, em um exame superficial que o termo circunstanciado sugere,

verificar os elementos subjetivos indicados, uma vez que, para afirmar que o autor do fato irá

voltar a delinquir, exigiria estudo técnico especializado, normalmente ausentes em tais

circunstâncias137

.

Desta feita, somente o conhecimento de que o autor do fato praticou uma série de

infrações poderá levar o juiz ou o promotor a prever que ele voltará a delinquir. Pois a

expressão: “ele apresenta personalidade voltada para o crime”, sem quaisquer antecedentes, é

oca, vazia, sem nenhum conteúdo, fere a lei, é jargão empregado até para a negativa do

sursis138

. No entanto, caso seja verificado circunstâncias que traduzam de modo seguro e

expoente tratar-se uma personalidade desajustada, a medida não deve ser proposta139

.

Salienta-se que as três causas impeditivas examinadas não devem necessariamente

concorrer conjuntamente. Bastará a configuração de qualquer uma delas para impedir a

proposta de transação e sua homologação140

.

As infrações de menor potencial ofensivo devem ser tratadas com profunda

benignidade, tal como dispõe a Lei n. 9.099/95, devendo ser considerada como medida justa e

conveniente para a pequena criminalidade141

.

Explanado sobre os requisitos para a concessão da transação penal, na sequência, será

abordado sobre os benefícios que este instituto apresenta ao autor do fato.

3.1.3 Benefícios da transação penal

Em troca da aceitação da transação penal, o autor do fato terá direito a alguns

benefícios, vantagens, como evitar todo o trâmite de um processo. Ademais, com a transação

137

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 118. 138

Suspensão condicional do processo: trata-se de um instituto de política criminal, benéfico ao acusado,

proporcionado a suspensão do curso do processo, após o recebimento da denúncia, desde que o crime imputado

ao réu não tenha pena mínima superior a um ano, mediante o cumprimento de determinadas condições legais,

com fito de atingir a extinção da punibilidade, sem necessidade do julgamento do mérito propriamente dito. É

denominado também sursis processual. (NUCCI, Guilherme de Souza. Leis processuais penais comentadas, p.

819. 139

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 119. 140

PELLEGRINI, Ada Grinover; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarense;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados especiais criminais: comentários à lei 9.099, de 26.09.1995, p. 163. 141

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 119.

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penal, o autor do fato não ficará com antecedentes criminais, conforme explana Beatriz

Abraão de Oliveira:

Se o autor do fato aceita a proposta do Ministério Público, com a transação,

pode ser aplicada de imediato pena restritiva de direitos ou multa, sendo

especificadas na proposta. É vantajosa tal aceitação, pois a aplicação de tais

penas não importa em reincidência, sendo registradas apenas para impedir

novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos e não constará de

certidão de antecedentes criminais, salvo para tal fim, não tendo também

efeitos civis142

.

A transação não é benéfica apenas para o autor do fato. Para o Judiciário ela também

traz vantagens, pois, sendo positivo o acordo, restará finalizado o processo e, certamente, as

despesas serão reduzidas. O autor do fato fica livre do transtorno de responder a um processo

criminal, sem saber se efetivamente vai ou não ser condenado, sem considerar que se vir a ser

condenado haverá o registro da condenação em sua ficha de antecedentes criminais.

Explanado os comentários sobre os benefícios da transação penal, passar-se-á para um

estudo sobre como se dá o procedimento da transação penal, oferecimento, aceitação e

natureza jurídica da sentença.

3.2 PROCEDIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL

A partir da prática de infração de menor potencial ofensivo, será lavrado um termo

circunstanciado, o qual será remetido ao juízo para proceder a audiência preliminar, momento

que poderá ser elaborada a proposta da transação penal, desta feita, adentrar-se-á no assunto

para um melhor entendimento.

3.2.1 Termo circunstanciado

O termo circunstanciado é um instrumento simplificado à disposição da autoridade

policial e que substitui o inquérito policial. Deve ser sucinto e conter poucas peças, garantindo

o princípio da oralidade143

.

Tratando-se de infrações penais de menor potencial ofensivo, no procedimento da Lei

n. 9.099/1995, não chega a se instaurar o inquérito policial, pois a autoridade policial que

tomar conhecimento lavrará o termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao

142

OLIVEIRA, Beatriz Abraão de. Juizados especiais criminais: teoria e prática, p. 24. 143

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, p. 29.

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juizado especial criminal, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições

dos exames periciais necessários144

.

Qualquer autoridade policial poderá ter conhecimento do fato que poderia configurar

infração penal. As autoridades policiais são as que exercem a polícia judiciária, que tem por

finalidade a apuração das infrações penais e de sua autoria145

.

No tocante às infrações de menor potencial ofensivo, qualquer agente público que se

encontre investido de função policial pode lavrar o termo circunstanciado ao tomar

conhecimento do fato que, em tese, possa configurar infração penal146

.

Nada impede que a autoridade policial seja militar. O tema é controvertido, uma vez

que existem três posições sobre o assunto, a primeira que qualquer agente policial ou policial

de rua é autoridade policial. A segunda, apenas o delegado de polícia é autoridade policial e a

terceira, que a expressão “autoridade policial” compreende todas as autoridades reconhecidas

por lei147

.

Nessa senda, oportunas as palavras de Nereu José Giacomolli:

[...] o termo circunstanciado poderá ser elaborado e encaminhado a juízo por

qualquer autoridade policial; poderá ser lavrado na própria secretaria do

juizado especial criminal, não havendo óbice que o próprio Ministério

Público tome essas providências. Na lavratura do termo circunstanciado na

secretaria do juizado ou pelo Ministério Público, o juiz responsável pelo

juizado especial criminal, ou Ministério Público poderão requisitar a

realização de exames periciais necessários148

.

Coerente com os princípios de informalidade, economia processual e celeridade que

informam os juizados especiais criminais, prevê o artigo 69, da Lei n. 9.099/95, nas causas de

sua competência, como regra se substitua a lavratura do auto de prisão em flagrante e o

inquérito policial pela providência inicial de lavratura de termo circunstanciado a respeito da

ocorrência, a cargo da autoridade policial149

.

Com vistas a dar maior celeridade a procedimento investigatório, o legislador

dispensou a instauração de inquérito policial para apurar as infrações de menor potencial

144

FEITOZA, Denilson. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis. Rio de Janeiro: Impetus, p. 199. 145

OLIVEIRA, Beatriz Abraão de. Juizados especiais criminais: teoria e prática, p. 34. 146

OLIVEIRA, Beatriz Abraão de. Juizados especiais criminais: teoria e prática, p. 34. 147

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, p. 31-32. 148

GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95, p. 90-91. 149

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários, jurisprudência e legislação, p. 87.

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ofensivo, instituído em seu lugar, o termo circunstanciado, sendo que possui a mesma

finalidade do inquérito policial, porém aquele realizado de maneira menos formal e sem

necessidade de colheita minuciosa de provas150

.

Conforme visto, após a lavratura do termo circunstanciado pela autoridade policial,

será este encaminhado ao juízo, juntamente com as partes, ofendido e autor do fato, para a

audiência preliminar, assunto tratado no passo seguinte.

3.2.2 Audiência preliminar

Pelo sistema da Lei n. 9.099/95, a fase preliminar não integra o procedimento

sumaríssimo, que só teria lugar nos casos em que não foram possíveis a composição civil ou a

transação penal151

.

O rito sumaríssimo pode ser dividido em duas fases: audiência preliminar e audiência

de instrução e julgamento. Na audiência preliminar, o primeiro ato a ser realizado é a

composição dos danos de natureza civil152

.

A audiência preliminar, que se destina à tentativa de conciliação civil e penal,

compõe-se de três fases: a) composição dos danos civis; b) transação penal; c) oferecimento

oral da denúncia153

.

Na audiência preliminar, inicialmente será explicado às partes a respeito da

composição de danos e também sobre a aceitação da proposta de transação penal.

A autoridade policial que tiver conhecimento de uma infração penal lavrará

o termo circunstanciado, encaminhando-o à secretaria do Juizado,

juntamente com o autor do fato e a vítima. A partir daí será designada uma

audiência preliminar, ocasião em que o juiz esclarecerá aos interessados

sobre a composição do dano e da aceitação de medida não privativa de

liberdade154

.

Caso o encaminhamento imediato das partes não seja possível, diante de

impedimentos, como horário de funcionamento do juizado especial criminal, impossibilidade

150

GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Juizados especiais criminais: doutrina e jurisprudências atualizadas, p.

21-22. 151

BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal, p. 564. 152

GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95, p. 94. 153

MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio. Legislação penal especial, p. 278. 154

BECKER, Grasiela. Transação penal: aspectos destacados da intervenção do Ministério Público, In:

GUIMARÃES, Isaac Sabbá (org.). Temas de direito penal e processual penal, p. 197-198.

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57

de locomoção da vítima, inexistência de transporte etc., deverá a autoridade policial, quando

possível, marcar dia para o comparecimento das partes, em data agendada com o juiz,

previamente ou na ocasião do fato, por qualquer meio idôneo de comunicação. Nesse caso

deve tomar compromisso de comparecimento do autor do fato, sob pena de lavratura, quando

for o caso, de auto prisão em flagrante155

.

Caso uma das partes não compareça à audiência preliminar, será designada nova data e

deve-se intimá-la, por correspondência com aviso de recebimento pessoal. Nos casos de

pessoa jurídica ou firma individual, a correspondência será entregue ao responsável legal, ou

na ausência deste, ao encarregado da recepção e, sendo necessário, via oficial de justiça156

.

Havendo danos indenizáveis e em se tratando de infração que se processa mediante

ação penal condicionada a representação ou por ação privada, a composição é civil, sendo

antecedente obrigatório dos demais atos processuais, mormente da transação penal, tendo em

vista seus efeitos de natureza criminal157

.

Durante a audiência preliminar, busca-se dar cumprimento aos dois objetivos

fundamentais da Lei n. 9.099/95, quais sejam, a reparação dos danos causados pelo delito, por

meio da composição civil entre o autor do fato e vítima, e a aplicação de pena alternativa, por

intermédio da transação penal158

.

Para efeitos de esclarecimentos, adentrar-se-á a partir de agora, com brevidade, nas

situações que permitirão a proposta do representante do Ministério Público ao autor do fato.

3.2.3 Transação penal: faculdade ou obrigação do Ministério Público

O artigo 76, da Lei n. 9.099/95, representa uma importante mitigação ao princípio da

obrigatoriedade da ação penal pública, porquanto permite ao representante do Ministério

Público que, caso chegue a um acordo com o autor do fato, abra mão do ajuizamento da ação

penal159

.

155

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudências legislação, p. 93. 156

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, p. 44. 157

GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95, p. 94. 158

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André. Juizados especiais

cíveis e criminais: (lei 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, de 12-7-2001), 2006, p. 143. 159

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André. Juizados especiais

cíveis e criminais: (lei 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, de 12-7-2001), 2006, p. 164.

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58

Segundo Nereu José Giacomolli, “o recebimento de uma sanção alternativa, já na

audiência preliminar, sem a adesão de um processo criminal, não é faculdade do Ministério

Público, mas direito público subjetivo do acusado”160

.

Embora a Lei se refira apenas ao Ministério Público como proponente da imediata

aplicação de pena não privativa da liberdade, nada impede que a apresentação da proposta

seja de iniciativa do próprio autuado, assistido por seu advogado. Esse entendimento não é

apenas sufragado pelo princípio constitucional da isonomia, como ainda se coaduna com a

técnica processual adotada pelo legislador, no tocante à informalidade da audiência de

conciliação. Não importa de quem é a iniciativa da proposta, o que interessa é que seja

discutida entre os protagonistas da audiência de conciliação, sob a orientação do juiz161

.

Assim, o próprio envolvido poderá postular a medida, ou ainda o magistrado poderá

propô-la, desde que haja inércia ou recusa imotivada pelo representante do Ministério

Público, pois ao magistrado cabe garantir os direitos fundamentais no Estado Democrático de

Direito e ao Ministério Público, caso atue, deve agir como interessado na solução integradora

do direito162

.

Salienta-se que não há absoluta discricionariedade por parte do Ministério Público em

formular ou não a proposta, pois sua decisão deve ser balizada pela presença de requisitos

legais, os quais, se preenchidos, formula a proposta, caso contrário, oferece a denúncia163

.

Por outro lado, no entendimento de Guilherme Souza Nucci:

O critério da obrigatoriedade da ação penal pública, apenas mitigado pela

possibilidade de oferta de transação penal, não se pode obrigar o Ministério

Público a fazer a proposta. Aliás, como não se pode obrigar a instituição a

propor ação penal. Logo, parece-nos totalmente inadequado que o juiz se

substitua ao membro do Ministério Público, quando este se recusar a

oferecer a proposta, fazendo-o em seu lugar e homologando o que ele

mesmo, magistrado, propôs ao autor do fato. Atua o juiz como mediador,

afinal, nem mesmo o processo existe ainda. A atuação judicial de ofício,

nesse cenário, avilta o princípio constitucional de que a iniciativa da ação

penal pública é exclusiva do Ministério Público. Caso o promotor (ou

procurador da República) se recuse, injustificadamente, a fazer a proposta,

cabe a aplicação, por analogia, do art, 28 do CPP.

160

GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95, p. 129. 161

PELLEGRINI, Ada Grinover; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarense;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados especiais criminais: comentários à lei 9.099, de 26.09.1995, p. 152. 162

GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95, p. 129. 163

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André. Juizados especiais

cíveis e criminais: (lei 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, de 12-7-2001), 2006, p. 164.

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59

Discorda desta posição Fernando da Costa Tourinho Filho que entende, estando

presentes os requisitos estabelecidos por lei para receber o benefício, e se houver inércia do

Ministério Público, deve o juiz aplicar a transação penal:

[...] uma vez que o instituto da transação surgiu, única e precisamente, para o

benefício daqueles que cometem infrações mirins, não faz sentido, a nosso

ver, repetimos, estarem presentes todos os requisitos exigidos por lei para ser

aplicada a pena alternativa, e o Juiz nada poder fazer ante a recusa,

injustificada, do titular da ação penal, permanecendo ali na sala das

audiências como um convidado de pedra164

.

Nestas circunstâncias, o juiz não só pode, como deve, indagar o autor do fato se aceita

a transação, ou seja, a multa ou a medida restritiva de direito165

.

Adotou-se o princípio da “oportunidade regrada”, o Ministério Público aprecia a

conveniência de não ser proposta a ação penal, oferecendo ao autor do fato o imediato

encerramento do procedimento pela aceitação de pena menos severa, não sendo este mister

absoluto, pois não será desta forma para todas as infrações penais, devendo-se obedecer as

algumas regras legais166

, conforme verificar-se-á a seguir, ao tratar-se dos tipos de ação penal

aos quais cabe a transação penal.

3.2.4 Transação penal na ação penal pública incondicionada, ação penal pública

condicionada e ação penal privada,.

A lei não faz nenhuma distinção entre infrações que se apuram mediante ação penal

pública incondicionada e as que são submetidas à ação pública condicionada à representação

da vítima167

.

Na hipótese de ação penal pública incondicionada, ou havendo

representação, não sendo o caso de arquivamento, proporá o Ministério

Público a transação, ou seja, a aplicação de pronto, de pena restritiva de

direitos ou multa, que especificará na proposta168

.

164

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 107. 165

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 108. 166

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, p. 60. 167

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudências legislação, p. 93. 168

TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à lei

9.099/95, p. 529-530.

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60

Na ação penal incondicionada, a transação penal independe de conciliação civil,

podendo ser efetuada mesmo que não tenha havido acordo civil entre o autor do fato e a

vítima169

.

Já nos casos em que versar sobre ação penal pública condicionada, somente haverá a

possibilidade da transação penal, se inexistir acordo entre a vítima e o autor do fato e a vítima

ou seu representante legal oferecer a representação170

.

A Lei n. 9.099/95 só cuida da proposta de aplicação da pena com relação à ação penal

pública, condicionada ou não. Exclui-se das primeiras linhas do artigo 76 a previsão de

transação penal proposta pelo titular da queixa-crime171

. Discorre sobre o assunto Fernando da

Costa Tourinho Filho:

Se estiverem presentes os requisitos exigidos em lei para que se proceda à

“transação”, nada obsta possa o ofendido formulá-la. Nesse sentido, a 11ª

conclusão da Comissão Nacional da Escola Superior da Magistratura: “O

disposto no art. 76 abrange os casos de ação penal privada”. É verdade que a

lei só faz referência ao Ministério Público. Parece-nos, contudo, induvidoso

possa o ofendido, nesses delitos, formulá-la. Não tem sentido vedar-se-lhe

esse direito. Do contrário, haveria uma discriminação odiosa, e, além do

mais, ferir-se-ia o princípio da isonomia. Se na ação pública o autor do fato

faz jus ao benefício, porque não em se tratando de ação privada? Se o

ofendido, titular da ação como substituto processual, dispõe os poderes para

promover, ou não, a ação penal, e uma vez intentada, dela desistir, seja pelo

perdão, seja pela perempção, mais ainda os terá para formular a proposta,

pois poderá pretender, em vez do processo, uma simples multa ou pena

restritiva de direito. Quem pode mais, pode o menos172

.

Ainda sobre a ação privada o mesmo autor prossegue nessa linha:

Não se pode olvidar que em se tratando de crime de ação privada a

conciliação no que respeita à satisfação dos danos, devidamente

homologada, implica na renúncia tácita quanto ao exercício do direito de

queixa, a teor do parágrafo único do art. 74, contrariando, nessa hipótese o

que dispõe o parágrafo único do art. 104 do CP. O mesmo ocorrerá se se

cuidar de infração subordinada à ação pública condicionada à representação.

Logo o ofendido, na ação privada, e o Promotor, na ação pública

169

MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio. Legislação penal especial, p. 284. 170

MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio. Legislação penal especial, p. 284. 171

PELLEGRINI, Ada Grinover; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarense;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados especiais criminais: comentários à lei 9.099, de 26.09.1995, p. 149. 172

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 109.

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61

condicionada, somente poderão formular proposta quanto à sanção penal se a

“conciliação patrimonial” não chegar a bom êxito173

.

Por outro lado, embora o entendimento de proposta de transação penal em ação

privada, há entendimento contrário, como observa Julio Fabbrini Mirabete:

Não prevê a lei a possibilidade de transação na ação penal de iniciativa

privada. Isto porque, na espécie, o ofendido não representante do titular do

jus puniendi, mas somente do jus persequendi in juditio. Não se entendeu

possível que propusesse, assim, a aplicação de pena na hipótese de infração

penal de menor potencial ofensivo, permitindo a vítima transacionar sobre

uma sanção penal. Ademais, numa visão tradicional, o interesse da vítima é

de ver reparados os danos causados pelo crime, o que lhe é possibilitado no

instituto da composição, ou com a execução da sentença condenatória penal.

Na ação penal de iniciativa privada, prevalecem os princípios da

oportunidade e disponibilidade e, no caso afeto aos Juizados, a composição

pelos danos sofridos pela vítima, tornando desnecessária e desaconselhável a

previsão de oferecimento de proposta para a transação. Essa foi a conclusão

no I Congresso Brasileiro de Direito Processual e Juizados Especiais, em

resposta a Tese 7. Há, porém, opinião majoritária em contrário, inclusive no

Superior Tribunal de Justiça, defendendo a possibilidade de transação na

ação penal privada, inclusive as submetidas a rito especial174

.

O interesse do ofendido é a reparação dos danos, que pode ser feita pela composição

dos danos civis ou pela execução da sentença penal condenatória transitada em julgado175

.

O FONAJE firmou entendimento sobre a controvérsia durante o VII Encontro de

Coordenadores de Juizados Especiais, elaborando o enunciado 26 que assevera: “Cabe

transação e suspensão condicional do processo também na ação penal privada”176

.

O Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, entende que a Lei n. 9.099/95, desde que

obedecidos os requisitos autorizadores, permite a transação penal inclusive nas ações penais

de iniciativa exclusivamente privada, chega a entender até que o Ministério Público poderia

propô-la, pois, na ação penal de iniciativa privada, desde que não haja formal oposição do

querelante, o Ministério Público poderá, validamente, formular a proposta de transação penal,

que uma vez aceita pelo querelado e homologada pelo juiz, é definitiva e irretratável177

.

173

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 109. 174

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudências legislação, p. 137-

138. 175

FEITOZA, Denilson. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis, p. 581. 176

FONAJE. Enunciado n. 26. Disponível em: <http://www.fonaje.org.br/2006/>. Acesso em: 04 nov. 2010. 177

FEITOZA, Denilson. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis, p. 581-582.

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Na audiência preliminar, obtendo o juiz ou o conciliador o devido êxito quanto à

satisfação dos danos, urge reduzir o acordo a escrito, cabendo ao juiz homologá-lo178

.

Verifica-se que o intuito maior na audiência preliminar é a pacificação do conflito, na

condução da autocomposição em matéria civil ou penal, o que constitui a grande novidade

introduzida no sistema penal brasileiro, com respaldo da CRFB/88179

.

Visto como se dá o procedimento da transação penal em ação pública e ação privada,

passa-se a adentrar em um assunto que muito se discute em relação à transação penal: sua

(in)constitucionalidade, assunto que será explanado de forma concisa a seguir.

3.3 CONSTITUCIONALIDADE DA TRANSAÇÃO PENAL

A CRFB/88 autorizou expressamente no seu artigo 98, I, a conciliação em se tratando

de infrações penais de menor potencial ofensivo. O legislador ordinário atento a esse

comando regulamentou a matéria no artigo 76 da Lei n. 9.099/1995, por meio do instituto da

transação penal180

.

Um dos problemas deste novo diploma refere-se à constitucionalidade da transação

penal. A maioria dos juristas entende ser constitucional a medida, baseados no artigo 98,

inciso I, da CRFB/88181

.

Para Julio Fabbrini Mirabete, a possibilidade prevista na Lei n. 9.099/95, de aplicação

imediata de pena não privativa de liberdade, na denominada transação penal, não pode ser

considerada inconstitucional, ainda que fuja dos padrões clássicos do processo penal, pois a

própria CRFB/88 admite a transação penal nos juizados especiais criminais182

.

No mesmo sentido explana Fernando da Costa Tourinho Filho, para quem a transação

penal prevista no juizado especial criminal obedece, sem dúvida, os princípios do devido

processo legal, do juízo natural, do contraditório, da presunção de inocência e da

independência do juiz183

. Em seguida será realizada uma breve explanação sobre os princípios

178

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos juizados especiais criminais, p. 96. 179

OLIVEIRA, Beatriz Abraão de. Juizados especiais criminais: teoria e prática, p. 38. 180

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André; BONFIM, Edilson

Mougenot. Juizados especiais cíveis e criminais: (leis 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, 12-7-2001, p. 109. 181

OLIVEIRA, Beatriz Abraão de. Juizados especiais criminais: teoria e prática, p. 42. 182

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudências legislação, p. 154. 183

TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais cíveis e

criminais: comentários à lei 9.099-95, p. 515.

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da ampla defesa, da obrigatoriedade, do devido processo legal, do contraditório e do juiz

natural.

3.3.1 Princípio do devido processo legal e da obrigatoriedade

O devido processo legal é expressão que deriva do inglês due process of law,

constituindo, basicamente, a garantia de que o conteúdo da jurisdicionalidade é a legalidade,

ou seja, o rigor de obediência ao previamente estabelecido na lei184

.

Esse princípio está consagrado na CRFB/88, em seu artigo 5º, LIV e LV, que

estabelecem que ninguém será privado da liberdade ou seus bens sem que haja um processo

prévio, no qual estão assegurados o contraditório e a ampla defesa185

.

Conforme Fernando da Costa Tourinho Filho, a lei dos juizados especiais criminais, ao

admitir a transação penal, abranda o princípio da obrigatoriedade da ação penal. Pelo

princípio da obrigatoriedade ou da legalidade, se estiver demonstrada a tipicidade, a

materialidade do crime e se houver indícios suficientes de autoria, salvo se ocorrer causa

excludente de ilicitude, de extinção de punibilidade, ou quando presente o princípio da

insignificância. O Ministério Público está obrigado a oferecer a denúncia, pois os delitos não

podem ficar impunes186

.

Ao propor a transação penal, o Ministério Público está se afastando do princípio da

obrigatoriedade, com permissão dada pelo legislador. Pelo princípio da oportunidade, na ação

penal pública, o Ministério Público apresenta a denúncia se entender necessário dar início a

ação penal. Fica ao seu livre alvedrio agir ou não. Conforme explanado no item 3.2.3, a lei

dos juizados especiais criminais admitiu o princípio da oportunidade, mas uma oportunidade

regrada, porque a lei que diz quando será possível a transação penal e de que modo deve ser

feita187

.

O instituto da transação penal contém todos os elementos necessários à caracterização

da ação penal pública: sua origem é constitucional, assim como é a ação penal pública; sua

legitimidade para propositura é privativa do Ministério Público, tal qual é na ação penal

184

BONFIM, Edilson Mougentot. Curso de processo penal, p. 39. 185

AVENA, Norberto. Processo penal: esquematizado, p. 11. 186

TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis

e criminais: comentários à lei 9.099-95, p. 514. 187

TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis

e criminais: comentários à lei 9.099-95, p. 515.

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pública; ambas são formas de exercício jus puniendi do Estado. O autor do fato tem

asseguradas todas as garantias do devido processo legal, na forma em que a lei ordinária

estabelece188

.

3.3.2 Princípio da ampla defesa

O direito de defesa é o princípio basilar do processo penal democrático, do qual se

extraem uma série de outras garantias, como a do contraditório e o devido processo

constitucional. A aceitação de uma medida alternativa à sanção criminal, ou o cumprimento

de determinadas condições, de forma antecipada, somente encontra supedâneo e justificativa

no exercício do direito de defesa189

.

Ao autor do fato é garantida, nas infrações de menor potencial ofensivo, a

possibilidade de aceitar uma sanção criminal diferenciada, menos gravosa do que a comum.

Não se trata de uma imposição, mas de uma alternativa posta à disposição da defesa. No

momento em que o autor do fato aceita a medida, restritiva de direitos ou multa, o faz no

exercício de seu direito de defesa, constitucionalmente assegurado190

.

3.3.3 Princípio do contraditório

O princípio do contraditório significa que cada ato praticado durante o processo seja

resultante da participação ativa das partes. Este princípio não requer meramente que cada ato

seja comunicado e cientificado às partes. Relevante é que o juiz, antes de proferir cada

decisão, ouça as partes, dando-lhes igual oportunidade para que se manifestem e, se quiserem,

apresentem argumentos e contra-argumentos191

.

Segundo Damásio de Jesus, o instituto transação penal inclui-se no espaço de

consenso, de modo que os princípios do estado de inocência, do contraditório, da busca da

verdade real e da ampla defesa, não devem ser considerados absolutos e sim relativos, abrindo

espaço para adoção de medidas que, em determinado momento, são importantes ao legislador

188

ZANATTA, Airton. A transação penal e o poder discricionário do ministério público. Porto Alegre:

Fabris, 2001, p. 47 apud TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados

especiais estaduais cíveis e criminais: comentários à lei 9.099-95, p. 515. 189

GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95, p. 48. 190

GIACOMOLLI, Nereu José. Juizados especiais criminais: lei 9.099/95, p. 48. 191

BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal, p. 41-42.

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na solução de problemas, como da criminalidade, economia processual, custo do delito,

superlotação carcerária, etc.192

.

A aceitação pelo autor do fato de uma pena menos severa, encerrando-se o episódio,

encontra fundamento na expressão da autonomia de sua vontade e como livre manifestação de

defesa. O autor do fato, voluntariamente, abre mão de suas garantias constitucionais193

.

Desta forma, encerra-se a segunda parte deste trabalho que tratou da transação penal,

desde o surgimento da infração de menor potencial ofensivo, com o registro do termo

circunstanciado até a sua proposta na audiência preliminar. Tratou-se, ainda, dos tipos de ação

penal em que cabe o benefício e sobre sua constitucionalidade. No próximo capítulo será

tratado sobre o descumprimento deste benefício e suas consequências.

192

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, p. 60. 193

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, p. 60.

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4 DESCUMPRIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL

Conforme visto no capítulo anterior, a transação penal é um instituto decorrente do

princípio da oportunidade da propositura da ação penal, que confere ao seu titular, o

Ministério Público, a faculdade de dispor da ação penal, desde que preenchido os requisitos

legais, isto é, não promovê-la, sob certas condições194

.

Essas condições consistem na proposta de aplicação imediata de pena restritiva de

direito ou multa e na aceitação do autor do fato e seu defensor195

. A transação implica,

sempre, na imposição de pena restritiva de direito ou multa. O objetivo principal deste

trabalho é identificar quais serão as consequências caso sejam descumpridas as condições

acordadas, ou seja, as penas alternativas que foram impostas a autor do fato e que este aceitou,

com o intuito de livrar-se do processo criminal, mas não cumpriu.

4.1 ESPÉCIES DE PENALIDADES APLICÁVEIS NA TRANSAÇÃO PENAL

O juizado especial criminal alterou profundamente a parte processual penal e irradiou

reflexos no campo penal e, especificamente, na pena, dentro da transação penal. Ao lado da

pena de multa, da reparação da vítima, surgiu a imposição de doar “cestas básicas”. A pena

pecuniária, como pena alternativa, vem sendo utilizada com sucesso, já que a sua execução

dá-se no próprio juizado196

.

Com o surgimento da Lei n. 9.099/95, as penas alternativas ganharam mais espaço, já

que essa lei só trata de crimes de menor potencial ofensivo. A par da celeridade da realização

da justiça e da efetiva execução da pena alternativa, surgiu um meio eficaz em busca da

reabilitação social197

. A seguir será explanado sobre as penas restritivas de direito.

194

MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio. Legislação penal especial, p. 282. 195

FEITOZA, Denilson. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis, p. 581. 196

SZNICK, Valdir. Penas alternativas: perdas de bens, prestação de serviços, fim de semana, interdição de

direitos. São Paulo: Leud, 1999, p.54. 197

SZNICK, Valdir. Penas alternativas: perdas de bens, prestação de serviços, fim de semana, interdição de

direitos, p.54.

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67

4.1.1 Penas restritivas de direitos

Com o advento da Lei n. 9.714/98 foi ampliado o rol das penas restritivas de direito

elencadas pelo artigo 43, do Código Penal. Duas novas penas foram adicionadas e outra

recebeu um acréscimo198

. As penas restritivas de direitos são espécies de penas alternativas.

Estão previstas no artigo 43 do Código Penal, sendo elas a prestação pecuniária, perda de bens

e valores, prestação de serviço à comunidade ou entidades públicas, interdição temporária de

direitos e limitação de fim de semana199

.

Sobre a Lei n. 9.714/98, discorre Fernando Capez:

Antes do seu advento, havia, além da multa, outras cinco penas alternativas,

todas elas restritivas de direitos: prestação de serviços à comunidade,

limitação de final de semana, proibição do exercício de cargo ou função,

proibição do exercício de profissão e suspensão da habilitação para dirigir

veículo. Com a nova legislação, foram criadas outras quatro: prestação

pecuniária em favor da vítima, perda de bens e valores, proibição de

freqüentar determinados lugares e prestação pecuniária inominada.200

.

Fernando Capez comenta que os objetivos da lei supra citada são dar cumprimento ao

disposto no artigo 5º, XLVI, da CRFB, que prevê a pena de prestação social alternativa, e

atingir as seguintes metas:

a) diminuir a superlotação dos presídios e reduzir os custos do sistema

penitenciário;

b) favorecer a ressocialização do autor do fato, evitando o deletério ambiente

do cárcere e a estigmatização dele decorrente;

c) reduzir a reincidência, uma vez que a pena privativa de liberdade, dentre

todas, é a que detém o maior índice de reincidência;

d) preservar os interesses da vítima201

.

As penas restritivas de direitos, não se confundem com as antigas penas acessórias,

consagradas na legislação anterior à Lei n. 9.714/98, pois são autônomas, e não acessórias,

sendo, de conseguinte, inadmissível sua cumulação com pena restritiva de liberdade. São de

fato substitutivas destas últimas, de modo que sua aplicação exige, em uma etapa preliminar, a

198

GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2009, p. 532. 199

JESUS, Damásio Evangelista de. Penas alternativas: anotações à lei n. 9.714, de 25 de novembro de 1998. 2.

ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 55. 200

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (arts. 1º a 120). 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p.

392. 201

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (arts. 1º a 120, 393.

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fixação pelo juiz do quantum correspondente à privação da liberdade, para depois proceder a

sua conversão em pena restritiva de direitos, quando isso for possível202

.

Nos juizados especiais criminais, porém, as penas restritivas de direitos têm natureza

alternativa e não substitutiva, o que significa que são aplicadas independentemente da fixação

da pena de prisão203

.

As penas alternativas, que vinham timidamente sendo aplicadas, em decorrência da

reforma do Código Penal ocorrida em 1984, e especialmente após a edição da Lei n. 9.099/95,

vêm cada vez mais sendo utilizadas. Mesmo com a reforma do Código Penal de 1984, havia

nas penas alternativas algumas necessidades que careciam de ajuste, que foi completada pela

Lei n. 7.914/98204

.

Só o fato de afastar o réu das influências negativas da prisão se constitui em grande

vantagem, já que, como meio de repressão e prevenção do crime, a pena privativa de

liberdade não se tem mostrado eficiente e, por outro lado, o sistema prisional tem apresentado

defeitos que impedem a recuperação e ressocialização do condenado, já que a punição não

intimida mais205

Nos juizados especiais criminais, as penalidades estão previstas no caput do artigo 76,

da Lei n. 9.099/95, que dispõe o seguinte texto, “Havendo representação ou tratando-se de

crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério

Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser

especificada na proposta”.

Pena alternativa é aquela que, mesmo punindo, não afasta o indivíduo da sociedade,

não o exclui do convívio social e dos seus familiares, não impede os afazeres normais. A pena

alternativa é medida punitiva imposta ao autor da infração penal no lugar da pena privativa de

liberdade. Penas alternativas são punições de natureza penal. Entre estas encontra-se a multa e

202

PRADO, Luiz Regis. Comentários ao código penal: doutrina, jurisprudência selecionada, conexões lógicas

com vários ramos do direito. 3. ed., reform.. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 193. 203

PRADO, Luiz Regis. Comentários ao código penal: doutrina, jurisprudência selecionada, conexões lógicas

com vários ramos do direito, p. 193. 204

SZNICK, Valdir. Penas alternativas: perdas de bens, prestação de serviços, fim de semana, interdição de

direitos, p. 61. 205

SZNICK, Valdir. Penas alternativas: perdas de bens, prestação de serviços, fim de semana, interdição de

direitos, p. 61.

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prestação de serviços à comunidade206

. A seguir será explanado, sucintamente, sobre

prestação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviço à comunidade, interdição

temporária de direitos e limitação de final de semana.

4.1.1.1 Das penas alternativas pecuniárias

A característica intrinca das penas alternativas pecuniárias é que elas implicam em

uma diminuição do patrimônio do agente ou uma prestação inominada em favor da vítima ou

seus herdeiros207

.

4.1.1.1.1 Prestação pecuniária propriamente dita

A prestação pecuniária prevista no art. 43, I, do Código Penal, consiste no pagamento

em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação

social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo, nem superior a

trezentos e sessenta salários mínimos (art. 45, § 1º)208

.

Consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública

ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz, artigo 45, § 1º do Código

Penal. Sua natureza jurídica é de pena pecuniária, rotulada de restritiva de direito, conforme

artigo 43, I, do Código Penal, tendo natureza reparatória. Podendo, seu pagamento ser a vista

ou parcelado209

.

4.1.1.1.2 Prestação pecuniária inominada

Caso seja aceito o benefício da transação penal na forma de prestação pecuniária,

poderá esta consistir em prestação de outra natureza, como, por exemplo, entrega de cestas

básicas a carentes, em entidades públicas ou privadas210

.

Ressalta-se que não se confunde a pena de prestação pecuniária com a pena de multa

reparatória, uma vez que esta somente é cabível quando houver dano material ao ofendido,

206

SZNICK, Valdir. Penas alternativas: perdas de bens, prestação de serviços, fim de semana, interdição de

direitos, p.54. 207

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral, p. 395. 208

PRADO, Luiz Regis. Comentários ao código penal: doutrina, jurisprudência selecionada, conexões lógicas

com vários ramos do direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 193. 209

JESUS, Damásio Evangelista de. Penas alternativas: anotações à lei n. 9.714, de 25 de novembro de 1998, p.

141. 210

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral, p. 395.

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causado pelo ilícito, enquanto aquela é admissível ainda na ausência de prejuízo individual.

Havendo dano à vítima, a quantia apurada será a ela destinada ou, em sua falta, aos seus

dependentes. Caso contrário, irá para entidade pública ou privada com destinação social, por

decisão do juiz211

.

4.1.1.2 Perda de bens e valores

Preconiza o artigo 45, § 3º, do Código Penal, que a perda de bens e valores

pertencentes aos condenados dar-se-á, ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo

Penitenciário Nacional, e seu valor terá como teto o montante do prejuízo causado ou do

provento obtido pelo agente ou por terceiro, o que for maior, em consequência da prática do

crime212

.

Segundo Rogério Greco, os bens de que trata o parágrafo acima citado, podem ser

bens móveis ou imóveis. Os valores podem ser tanto moeda corrente depositada em conta

bancária, como todos os papeis, que a exemplo das ações, representam importâncias

negociáveis na bolsa de valores213

.

4.1.1.3 Prestação de serviço à comunidade

Nos termos do artigo 46, §§ 1º e 2º, do Código Penal, “a prestação de serviço à

comunidade ou a entidades públicas consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado”,

devendo ser cumprida “em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros

estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais”. As tarefas serão

atribuídas ao condenado conforme suas aptidões, devendo ser cumpridas à razão de uma hora

de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada de trabalho

(artigos 46 §3º, Código Penal e 149, I, Lei de Execuções Penais)214

.

Embora o artigo 46, § 1º, do Código Penal diga que as tarefas terão a duração diária de

uma hora, de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho, entende-se esse tempo

como mínimo exigido, uma vez que se por sua vontade tiver interesse de abreviar a execução

211

MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal: comentários à lei nº 7.210, de 11-7-1984. 11. ed., rev. e atual.

São Paulo: Atlas, 2004, p. 609. 212

PRADO, Luiz Regis. Comentários ao código penal: doutrina, jurisprudência selecionada, conexões lógicas

com vários ramos do direito, p. 193. 213

GRECO, Rogério. Curso de direito penal, p. 532. 214

PRADO, Luiz Regis. Comentários ao código penal: doutrina, jurisprudência selecionada, conexões lógicas

com vários ramos do direito, p. 193.

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de sua pena, assim poderá fazê-lo, tendo em conta que o artigo 46, § 4º, do Código Penal, diz

que se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena

substitutiva em menor tempo (artigo 55), nunca inferior à metade da pena privativa de

liberdade fixada215

.

Segundo Guilherme de Souza Nucci, essa regra que estabelece que o condenado

poderá abreviar a execução, caso haja interesse, não se aplica quando para o artigo 28 da Lei

n. 11.343/06, lei antidrogas, que estabelece que poderá ser aplicada a prestação de serviços à

comunidade pelo prazo máximo de cinco meses:

O condenado cumprirá à razão de uma hora-tarefa por dia de condenação,

num total de sete horas por semana, ajustando-se a maneira de executá-la de

acordo com a conveniência do trabalho regular do condenado (art. 46, § 3º,

CP). Não poderá haver antecipação, afinal, esta somente é permitida quando

a pena atinge patamar superior a um ano (art. 46, § 4º, CP), o que não é o

caso da Lei nº 11.343/2006216

.

A execução terá início a partir da data do primeiro comparecimento (artigo 149, § 2º,

da Lei de Execução Penal). Deve a entidade beneficiada com a prestação de serviços

encaminhar ao juiz da execução relatório circunstanciado das atividades do condenado, bem

como, a qualquer tempo, comunicar sobre a ausência ou falta disciplinar (artigo 150 da Lei de

Execução Penal)217

.

4.1.1.4 Interdição temporária de direitos

Conforme dispõe na legislação penal, as penas de interdição temporárias de direitos

são as seguintes:

Art. 47 As penas de interdição temporária de direitos são:

I - a proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como

de mandato eletivo.

II - a proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam

de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público;

III - a suspensão de autorização ou habilitação para dirigir veículo;

IV - a proibição de freqüentar determinados lugares.

A primeira interdição trata-se de pena específica, uma vez que só pode ser aplicada ao

crime cometido no exercício do cargo ou função, com violação de deveres a este inerentes. A

215

GRECO, Rogério. Curso de direito penal, p. 543. 216

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais comentadas, p. 758. 217

GRECO, Rogério. Curso de direito penal, p. 543.

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72

segunda, também trata de restritiva específica, pois só se aplica aos crimes cometidos no

exercício da profissão ou atividade e se houver violação de deveres a esta relativos. A

interdição temporária de direitos terá a mesma duração da pena privativa de liberdade218

.

Já a terceira interdição é aplicável exclusivamente aos crimes culposos de trânsito. A

providência penal de que seus autores fiquem privados da possibilidade de dirigir veículos

justifica-se, tanto em seu aspecto retributivo, como na prevenção dessa espécie de crimes

(homicídios e lesão corporal culposa)219

.

Sobre a quarta e última interdição, que trata da proibição de frequentar determinados

lugares, disserta Rogério Greco:

A substituição da pena privativa de liberdade pela proibição de freqüentar

determinados lugares vem recebendo severas críticas de nossos

doutrinadores, principalmente pela quase total impossibilidade de

fiscalização do seu cumprimento pelo condenado220

.

A proibição de frequentar determinados lugares é uma condição imposta no contexto

de outras penas, ou benefícios da execução penal, ou leis especiais, como o livramento

condicional (artigo 132, § 2º, c, da Lei de Execução Penal), o regime aberto (artigo 115, da

Lei de Execução Penal, como condição geral), a suspensão condicional do processo (artigo

89, da Lei dos Juizados Especiais Criminais). Ainda assim, é quase impossível sua

fiscalização, podendo-se, apenas eventualmente e de maneira casual, descobrir que o

condenado ou réu vem frequentando lugares proibidos, como botequins ou casas de

prostituição221

.

4.1.1.5 Limitação de final de semana

A limitação de final de semana consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e

domingos por cinco horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado.

218

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral, p. 412-413. 219

MIRABETE, Julio Fabbrini; FABRINI, Renato N. Manual de direito penal: parte geral, arts. 1º a 120. 24.

ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 278. 220

GRECO, Rogério. Curso de direito penal, p. 546. 221

NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 9. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2009, p. 162.

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Neste período poderão ser ministrados, ao condenado, cursos e palestras ou atribuídas

atividades educativas (artigo 48, Código Penal e artigo 152, Lei de Execuções Penais)222

.

Após a explanação sobre as espécies de penas restritivas de direito, passar-se-á a

verificar sobre a natureza jurídica da sentença na transação penal quando da aplicação das

penas restritivas de direito.

4.2 NATUREZA JURÍDICA DA SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA NA TRANSAÇÃO

PENAL

Discute-se qual a natureza da sentença homologatória da transação penal que aplica a

pena restritiva de direitos ou multa. Para autores como Marino Pazzaglini Filho, Alexandre de

Moraes e Gianpaolo Poggio Smanio, constitui sentença condenatória. De outra banda Ada

Pellegrini, Antonio Magalhães Gomes Filho, Antonio Scarence Fernandes e Luiz Flávio

Gomes dizem que se trata de mera sentença homologatória de transação, com eficácia de

título executivo. Já Cesar Roberto Bitencourt entende que se trata de sentença declaratória

constitutiva223

. Complementam, ainda, Fernando da Costa Tourinho Neto e Joel Figueira

Júnior:

Ainda existe quem entende que a transação penal se trata de um acordo cível

com conseqüência de impedir a propositura de ação penal. Sentença

condenatória, dizem outros, não pode ser, uma vez que o juiz não examina o

mérito a causa, ou seja, o agente é ou não culpado (culpa em sentido lato)224

.

A questão que se coloca é se a sentença homologatória da transação penal é

declaratória, constitutiva ou condenatória225

. Independente da posição adotada, uma coisa será

sempre certa: a sentença da transação penal não produz nenhum efeito, senão o de ser

registrada para evitar a concessão de novo benefício por cinco anos226

.

Qual é a natureza da sentença homologatória da transação penal? É condenatória ou

meramente declaratória? Segundo Luís Paulo Sirvinskas:

222

PRADO, Luiz Regis. Comentários ao código penal: doutrina, jurisprudência selecionada, conexões lógicas

com vários ramos do direito, p. 193. 223

TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis

e criminais: comentários à lei 9.099-95, p. 512. 224

TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Juizados especiais estaduais cíveis

e criminais: comentários à lei 9.099-95, p. 512. 225

MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio. Legislação penal especial, p. 291. 226

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André; BONFIM, Edilson

Mougenot. Juizados especiais cíveis e criminais: (leis 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, 12-7-2001, p. 171.

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As conseqüências seriam diversas. Se condenatória os efeitos são os mesmos

de qualquer decisão definitiva. Se declaratória não haverá conseqüência

penal alguma. No primeiro caso, a sentença tem eficácia de título executivo.

No segundo, a decisão não gera efeitos civis e, por via de conseqüência, não

tem força de título executivo.

[...]

Aqueles que entendem que a decisão homologatória é condenatória se

baseiam na denominação “pena” contida no “caput” do art. 76 da Lei nº

9.099/95, porém sem as conseqüências penais de uma decisão propriamente

dita227

.

Para Luís Paulo Sirvinskas, a decisão que homologa a transação penal é meramente

declaratória e não condenatória e não pode ser executada, pois haveria a possibilidade de se

discutir o mérito da medida aplicada228

. Na sequência será tratado concisamente sobre

sentença declaratória, sentença constitutiva e sentença condenatória.

4.2.1 Sentença declaratória

A sentença declaratória restringe-se a declarar o que já existe, torna seguro o que até

então era inseguro, através da coisa julgada sobre o fato existente, tornando-a solução judicial

obrigatória entre as partes229

.

Na mesma senda a segue explanação de Alexandre de Moraes e Gianpaolo Poggio

Smanio:

A sentença declaratória, chamada no direito italiano de sentenza di

accertamento e pelo direito alemão de feststellungsurteil, restringe-se a

declarar o que já existe, torna seguro o que era até então inseguro, através da

coisa julgada sobre fato existente, tornando-a solução judicial obrigatória

entre as partes. Produz efeito ex-tunc, isto é, retroage para alcançar a data do

fato declarado230

.

Na sentença declaratória, não há pedido de condenação, mas sim de declaração sobre

situação jurídica relevante231

.

227

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Conseqüência no descumprimento da transação penal: solução jurídica ou

prática? Revista APMB. Ano I, n.9, ago. 1997, p. 210. 228

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Conseqüência no descumprimento da transação penal: solução jurídica ou

prática? Revista APMB. Ano I, n.9, ago. 1997, p. 208. 229

BECKER BECKER, Grasiela. Transação penal: aspectos destacados da intervenção do Ministério Público In:

GUIMARÃES, Isaac Sabbá (org.). Temas de direito penal e processual penal, p. 196-208. 230

MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio. Legislação penal especial, p. 291. 231

GALVÃO, Fernando. Direito penal: curso completo. 554.

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75

4.2.2 Sentença constitutiva

Por sua vez, a sentença constitutiva, além de declarar certo o que já existia, cria uma

situação jurídica que até então inexistia. Por isso são chamadas rechtsgestaltungsurteile, ou

sentenças formadoras, pelos alemães. Gera efeitos ex tunc e ex nunc, ou seja, retroage para a

data do fato e tem efeito ultrativo, para o futuro, posto acrescentar algo novo ao mundo

jurídico. Seus efeitos são processuais e materiais.

4.2.3 Sentença condenatória

É aquela que dá provimento à pretensão punitiva pública ou privada contida na ação

penal, com a qual o juiz afirma a responsabilidade do imputado e lhe inflige a pena232

.

Afirmam Ada Pellegrini Grinover, Antônio Magalhães Gomes Filho, Antonio

Scarance Fernandes e Luiz Flávio Gomes, que, certamente, a sentença dada na homologação

da transação penal não será absolutória, porquanto aplica-se uma sanção. E muito menos

poderá ser considerada condenatória, uma vez que não houve acusação e a aceitação da

imposição da pena não tem consequências no campo criminal (salvo, como visto, para

impedir novo benefício no prazo de cinco anos)233

.

Em opinião contrária, Alexandre de Moraes e Gianpaolo Poggio Smanio dizem que a

sentença é condenatória e também declaratória por declarar a situação existente, além de ser

constitutiva, criando para o sentenciado uma situação nova, até então inexistente, e impondo-

lhe uma sanção penal, que será posteriormente executada. A execução é a efetivação da

sentença condenatória, sendo então, a natureza jurídica da sentença homologatória da

transação penal condenatória234

.

No mesmo sentido, Julio Fabbrini Mirabete afirma que a sentença homologatória da

transação penal tem caráter condenatório e não é simplesmente homologatória, como muitas

vezes tem-se afirmado. Declara a situação do autor do fato, tornando certo o que era incerto,

232

LEONE, Giovanni. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência. São

Paulo: Manole, 2005, p.745. 233

PELLEGRINI, Ada Grinover; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarense;

GOMES, Luiz Flávio. Juizados especiais criminais: comentários à lei 9.099, de 26.09.1995, p. 167. 234

MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio. Legislação penal especial, p. 291.

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mas cria uma situação jurídica ainda não existente e impõe uma sanção penal ao autor do fato.

É essa imposição que faz a diferença entre a sentença constitutiva e a condenatória235

.

4.3 AS CONSEQUÊNCIAS DO DESCUMPRIMENTO DAS PENAS RESTRITIVAS DE

DIREITO

Quanto às consequências para o autor do fato de eventual descumprimento da

transação penal há, na doutrina, e mesmo na jurisprudência, posições claramente distintas, a

saber: a) conversão da pena restritiva de direitos imposta na transação penal em pena privativa

de liberdade236

; b) o descumprimento da transação implica o prosseguimento do

procedimento, dando-se oportunidade ao Ministério Público para vir a requerer providências

necessárias ou a propositura da ação penal, nesse caso a sentença tem eficácia de coisa

julgada formal, tendo em vista que não há discussão sobre o mérito de ação penal237

e; c) a

sentença homologatória tem a eficácia de coisa julgada material e não pode ser

desconsiderada em caso de descumprimento. Ademais, o próprio art. 66 da Lei n. 9.099/95

afirma que o Ministério Público poderá oferecer a denúncia em caso de não-ocorrência da

transação penal. Assim, somente caberá execução dos termos da transação homologada. Caso

não tenha havido a homologação, é possível o prosseguimento do procedimento238

.

Convém ressaltar, antes da análise mais próxima de cada uma das hipóteses acima,

que a transação penal e a suspensão condicional do processo, embora com objetivos

semelhantes, são aplicadas em situações distintas: a transação penal ocorre antes do

oferecimento da denúncia; a suspensão condicional do processo dá-se após o oferecimento da

denúncia.

Nos casos de descumprimento da suspensão condicional do processo existe a previsão

de que será retomado o processo a partir da proposta. Já nos casos do descumprimento da

transação penal há divergências. Sobre o tema explana Paulo César Busato:

Matéria altamente controvertida, não só pela lacuna legislativa, mas também

pela disparidade das soluções apresentadas pela doutrina e pela

jurisprudência, tem sido a questão relativa à falta de cumprimento das

235

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudências legislação, p. 152. 236

BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal, p. 570. 237

BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal, p. 569. 238

BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal, p. 570.

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condições impostas por ocasião da transação penal, quer seja realizada no

Juizado Especial Criminal, quer seja realizada na Justiça Comum239

.

Segundo Damásio de Jesus, caso o autor do fato descumpra a pena restritiva de

direitos imposta na sentença homologatória, existem quatro posições para a consequência: 1ª)

converte-se em pena privativa de liberdade, pelo tempo da pena originalmente aplicada, nos

termos do artigo 181, § 1º, da lei de execuções penais; 2ª) descumprido o acordo, há dois

caminhos: retomada ou propositura da ação penal que fora evitada pela composição e a

conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade; 3ª) o descumprimento do

acordo conduz a sua execução; 4ª) não pode haver conversão à pena privativa de liberdade

(ausência de previsão legal) nem início ou retomada de da ação penal: não há lei que

permita240

.

Salienta-se que Damásio de Jesus filia-se à orientação da quarta posição. Entende que

a sentença de homologação possui natureza condenatória e gera efeitos de coisa julgada

material e formal, impedindo o oferecimento da denúncia. Se o acordo for descumprido, deve-

se executar a pena alternativa241

.

A seguir tratar-se-á das hipóteses já ventiladas em casos de descumprimento da

transação penal, quais sejam: a) conversão da pena restritiva de direitos em pena privativa de

liberdade; b) dar seguimento a ação penal com oferecimento da denúncia e c) execução da

pena alternativa descumprida.

4.3.1 Conversão da pena restritiva de direitos e em pena privativa de liberdade

A lei dos juizados especiais criminais expressamente previu a conversão da multa, em

face de inadimplemento, conforme se pode observar o disposto no artigo 85, da Lei n.

9.099/95. “Não efetuado o pagamento de multa, será feita a conversão em pena privativa de

liberdade, ou restritivas de direitos, nos termos previstos em lei”.

Contudo, embora não o fizesse de maneira expressa quanto às penas restritivas de

direito, determinou o artigo 86, fosse sua execução processada perante órgão competente, nos

termos da lei, que no caso, trata-se da lei de execução penal. E esta, no artigo 181, cuida da

239

BUSATO, Paulo César. Consequências do descumprimento da transação penal, p. 227 In REVISTA

JURÍDICA DO MINISTÉRIO PÚBLICO CATARINENSE (org.) Caderno Jurídico. Florianópolis, n. 11, ano

2, jan./abr. 2007. 240

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, p. 74-75. 241

JESUS, Damásio de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, p. 75.

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78

conversão das penas restritivas de direito nas hipóteses ali enumeradas, todas elas indicativas

de inadimplemento da pena privativa de liberdade242

.

Há quem defenda a tese de que não tendo o autor do fato cumprido a pena alternativa,

deveria ela ser convertida em prisão, ou restritiva de direitos, mas essa solução não se mostra

escorreita, pois a conversão da multa em prisão é proibida pela Lei n. 9.268/96243

.

Para Maria Fernanda de Toledo R. Podval e Roberto Podval, “o descumprimento de

uma transação penal não pode acarretar uma pena privativa de liberdade, como defendem

inúmeros juristas”244

. Como exemplo cita-se Damásio de Jesus, “Se o réu não cumpre a pena

restritiva de direitos, converte-se em pena privativa de liberdade, pelo tempo da pena

originalmente aplicada, nos termos do art. 181, § 1º, c, da LEP”245

. Nesse mesmo sentido é o

entendimento de César Roberto Bitencourt246

.

Assim, como a pena restritiva de direito, no juizado especial criminal, não é

substitutiva de pena privativa de liberdade (como no regime do Código Penal), haveria certa

dificuldade na conversão, pois, não há pena privativa, e conforme determina o Código Penal,

se proceda à conversão da restritiva pelo tempo da pena aplicada, obviamente haveria

obstáculo à conversão247

.

Desta forma verifica-se a impossibilidade da conversão da pena aplicada na transação

penal em pena privativa de liberdade.

4.3.2 Dar seguimento a ação penal com o oferecimento da denúncia

Para aos que se filiam a esta hipótese, a alternativa para se evitar a impunidade deve

ser a volta dos autos ao Ministério Público, quando do não cumprimento da transação penal,

para que o representante do Ministério Público possa denunciar o acusado, mas desta feita

sem os benefícios da Lei n. 9.099/95. Com isso, jamais se teria uma pena privativa de

242

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal comentado, p. 264. 243

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André; BONFIM, Edilson

Mougenot. Juizados especiais cíveis e criminais: (leis 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, 12-7-2001, p. 170. 244

SILVA JÚNIOR, José; PODVAL, Maria Fernanda de Toledo R.; PODVAL, Roberto; STOCO Rui. Código

de processo penal e sua interpretação jurisprudencial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 490. 245

JESUS, Damásio Evangelista de. Lei dos juizados especiais criminais. São Paulo: Saraiva, p. 86. 246

BITENCOURT, César Roberto. Juizados penais especiais e alternativas a penas de prisão. Porto Alegre:

Livraria do Advogado, p. 111 apud SILVA JÚNIOR, José; PODVAL, Maria Fernanda de Toledo R.; PODVAL,

Roberto; STOCO Rui. Código de processo penal e sua interpretação jurisprudencial. 2. ed. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2004, p. 490. 247

BUSATO, Paulo César. Revista do Ministério Público, p. 227.

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79

liberdade sem o devido processo legal248

. Sobre o assunto discorre Maria Fernanda de Toledo

R. Podval e Roberto Podval:

A alternativa para evitar a impunidade deve ser os autos ao Ministério

Público, quando do não cumprimento da transação, para que o representante

do Parquet possa denunciar o acusado, mas, desta feita, sem os benefícios da

Lei. Com isso jamais teríamos uma pena de privação de liberdade sem o

devido processo legal. Como tal medida não foi prevista em lei (não obstante

os esforços do Ministério Público para tornar possível a aplicação desse

entendimento), fica essa sugestão como de lege ferenda249

.

Nesse sentido também é o entendimento do Supremo Tribunal Federal, em decisão

majoritária do pleno, em novembro de 2009, conforme acórdão observa-se no anexo 1 deste

trabalho.

Assim, o oferecimento da denúncia acontecerá apenas em duas hipóteses, consoante o

artigo 77, da Lei n. 9.099/95, quais sejam: quando não houver aplicação da pena diante da

ausência do autor do fato e; quando não ocorrer a transação penal prevista no artigo 76 do

mesmo diploma legal. Logo, havendo transação homologada, o juiz não pode estabelecer

outros critérios para o oferecimento da denúncia250

.

No entanto, nos casos de descumprimento da transação penal, o Supremo Tribunal

Federal entende que de deve dar seguimento à persecução penal, no que foi seguido pela

turma de uniformização nacional do juizados especiais federais251

.

Já o Superior Tribunal de Justiça defende que não é possível deflagrar persecutio

penal em caso de descumprimento do acordo. Nesta hipótese, resolve-se pela inscrição da

pena pecuniária não paga em dívida ativa da União, nos termos do artigo 85 da Lei n.

9.286/96252

. Entendimento que será tratado na sequência.

248

FRANCO, Alberto Silva; STOCO, Rui. Código de processo penal e sua interpretação jurisprudencial. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 490. 249

FRANCO, Alberto Silva; STOCO, Rui. Código de processo penal e sua interpretação jurisprudencial. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 490. 250

BECKER BECKER, Grasiela. Transação penal: aspectos destacados da intervenção do Ministério Público In:

GUIMARÃES, Isaac Sabbá (org.). Temas de direito penal e processual penal, p. 216. 251

MICHELOTI, Marcelo Adriano. Conseqüências do descumprimento da obrigação ambiental prévia à

transação penal, p. 233. In: REVISTA IOB DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL (org.). Porto

Alegre: Síntese, v. 10, n. 57, ago./set., 2009 252

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Brasil. Habeas Corpus n. 97642/ES. Relatora Ministra Maria Thereza

de Assis Moura, Órgão Julgador Sexta Turma. Data do Julgamento 08/08/2010, data da publicação 23/08/2010.

Disponívelem:<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=null&processo=+97642&b

=ACOR>. Acesso em: 05 nov. 2010.

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4.3.3 Execução da pena alternativa descumprida

Para aqueles que compreendem ser a sentença que homologa a transação penal

condenatória porque declara a situação do autor do fato, torna certo o que era incerto e impõe

uma pena, e mesmo aqueles que aduzem ser tão somente homologatória, entendem que dela

deriva um título executivo penal, que poderá ser posteriormente executado diante do

descumprimento injustificado da sanção pelo autor do fato, inviabilizando nova discussão

acerca dos fatos em ação penal253

.

Segundo Alan Helber de Oliveira, Marcelo Dias Gonçalves Vilela, André Estefam e

Edilson Mougenot Bonfim, prevalece o entendimento de que, no caso de o autor do fato

descumprir acordo em que houve a imposição de pena de multa, resta somente executá-lo254

.

Nessa senda disserta Julio Fabbrini Mirabete:

Transitada em julgado a decisão homologatória da transação, deve ser

executada a pena acordada. Tratando-se de pena de multa, a execução está a

cargo do Juizado Especial Criminal (art. 84). Nos demais casos, será ela

processada perante o órgão competente, nos termos da lei de organização

judiciária.

Na hipótese de descumprimento da pena, deve-se obedecer os ditames da

legais. Quanto à multa, não sendo mais possível sua conversão em pena

privativa de liberdade, revogado que está implicitamente o art. 85 da Lei nº

9.099/95, nem em pena restritiva de direito, por falta de previsão legal, deve-

se promover a execução nos termos do art. 51 do Código Penal, e dos arts. 6

ss. da Lei nº 6.830/80, que trata da execução da dívida ativa da Fazenda

Pública. Quanto à pena restritiva de direitos, no caso de descumprimento,

deve ser ela convertida em pena privativa de liberdade, de acordo com o

previsto no art. 181, caput e parágrafos, d Lei de Execução Penal, nos termos

do art. 86 da Lei nº 9.099/95. Não se pode admitir que se ofereça a denúncia

para a instauração da ação penal, desconstituindo-se a decisão homologatória

transitado em julgado255

.

No entendimento do Supremo Tribunal Federal quando o autor do fato descumprir a

transação penal deve o feito retornar ao Ministério Público para oferecimento da denúncia.

Com essa alternativa, tem-se na prática as famosas sentenças de extinção da

punibilidade pela prescrição, uma vez que se depara a lentidão do judiciário com as infrações

cuja a pena máxima não ultrapassa dois anos, a partir de maio de 2010, com a entrada em

253

BECKER BECKER, Grasiela. Transação penal: aspectos destacados da intervenção do Ministério Público In:

GUIMARÃES, Isaac Sabbá (org.). Temas de direito penal e processual penal, p. 216. 254

OLIVEIRA, Allan Helber de; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves; ESTEFAM, André; BONFIM, Edilson

Mougenot. Juizados especiais cíveis e criminais: (leis 9.099, de 26-9-1995, e 10.259, 12-7-2001, p. 170. 255

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados especiais criminais: comentários jurisprudência legislação, p. 164.

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vigor da Lei n. 12.234, de 5 de maio de 2010, que estabeleceu como prazo mínimo de

prescrição de três anos para as pena inferior a um ano, certamente haverá significativa

redução de sentenças de extinção de punibilidade por prescrição, em razão do tempo adicional

concedida ao judiciário para que cumpra o seu desiderato.

Por outro lado, verifica-se posicionamento totalmente contrário no Superior Tribunal

de Justiça, que defende que o descumprimento da transação penal, em razão dos efeitos da

coisa julgada material e formal do acordo, não permite o oferecimento da denúncia (vide

anexo 2):

[...] a jurisprudência desta Corte de Justiça firmou entendimento no sentido

de que a sentença homologatória da transação penal possui eficácia de coisa

julgada material e formal, o que a torna definitiva, motivo pelo qual não é

possível a posterior instauração da referida ação penal em desfavor do

paciente [...]256

.

As controvérsias observadas entre os tribunais podem encontrar sua solução no

Enunciado 79 do FONAJE, que abarca as diferentes interpretações verificadas:

Enunciado 79 (Substitui o Enunciado 14) - É incabível o oferecimento de

denúncia após sentença homologatória de transação penal em que não haja

cláusula resolutiva expressa, podendo constar da proposta que a sua

homologação fica condicionada ao prévio cumprimento do avençado. O

descumprimento, no caso de não homologação, poderá ensejar o

prosseguimento do feito (Aprovado no XIX Encontro – Aracaju/SE)257

.

Com esse enunciado, verifica-se que tanto o entendimento do Superior Tribunal de

Justiça, quanto o do Supremo Tribunal Federal encontram amparo.

A primeira parte do enunciado apresenta o entendimento do Superior Tribunal de

Justiça, enquanto que a parte final dispõe o entendimento do Supremo Tribunal Federal. A

distinção entre ambos dá-se pela existência ou não de cláusula resolutiva, ressalvando o

cuidado que deve ter o Ministério Público quando da elaboração da proposta do acordo.

A ausência de uma legislação que indique expressamente qual é o procedimento a ser

adotado quando do descumprimento de uma transação penal, sem dúvida é uma lacuna

256

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Brasil. Habeas Corpus n. 91054/RJ. Relator Ministro Jorge Mussi,

Órgão Julgador Quinta Turma. Data do Julgamento 15/12/2009, data da publicação 19/04/2010. Disponível em:

<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=null&livre=91054&b=ACOR>. Acesso

em: 05 nov. 2010. 257

FONAJE. Enunciado n. 26. Disponível em: <http://www.fonaje.org.br/2006/>. Acesso em: 04 nov. 2010.

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legislativa e, urge, pois que sejam tomadas medidas de mobilização junto ao Poder

Legislativo para que esta lacuna seja preenchida.

Pela prática vivenciada pela autora, como conciliadora no juizado especial criminal da

Comarca de Porto Belo/SC, denota-se que, embora existam disparidades apresentadas pela

doutrina e jurisprudência, tais setores do saber jurídico não narram o que realmente acontece

na prática. Quando os autos retornam para o Ministério Público com a finalidade de oferecer a

denúncia, a regra é a ocorrência da impunidade, a qual se dá através da prescrição. Quando

executado o acordo, o que raramente se observa, o autor do fato, normalmente, não possui

recursos para adimplir a obrigação assumida, mais uma vez conduzindo à impunidade.

A outra consequência analisada no presente estudo, ou seja, a conversão da pena

restritiva em privativa de liberdade está fora de cogitação, eis que lhe falta fundamentação

legal para sua aplicação, assim como, aprsentar desconformidade com o texto constitucional,

conforme verificado no decorrer do estudo.

Por conseguinte, o que acontece na maioria das vezes, é o arquivamento do feito,

diante do tempo transcorrido, visto que as infrações de menor potencial ofensivo mais

corriqueiras prescreviam em dois anos. Contudo, com o advento da Lei n. 12.234/2010, a qual

dispõe que os crimes cuja pena inferior a um ano prescreve em três anos, podem até tomar

rumo diverso da prescrição.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os juizados especiais criminais, providos por juízes togados, ou togados e leigos,

encontram fundamento na própria Constituição da República Federativa do Brasil,

promulgada em 05 de outubro de 1988 que, em seu artigo 98, I, atribuiu-lhes competência

para a conciliação, julgamento e execução das infrações penais de menor potencial ofensivo,

mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a

transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.

Tais juizados especiais são disciplinados, principalmente, em duas leis federais

distintas: a Lei n. 9.099/95, que dispõe sobre os juizados especiais cíveis e criminais e a Lei n.

10.259/01, que dispõe sobre a instituição dos juizados especiais cíveis e criminais no âmbito

da justiça federal. Também pode ser atribuída a condição de juizado especial aos juizados de

violência doméstica e familiar contra a mulher, previstos na Lei n. 11.340/06.

O escopo primeiro deste trabalho restringe-se a analisar as consequências nos casos de

descumprimento da transação penal estabelecida pelos juizados especiais criminais estaduais,

regrados pela Lei n. 9.099/95. Tendo-se em conta tal restrição, apresentam-se, na sequência,

algumas considerações sobre os resultados obtidos a partir da pesquisa encetada.

Na primeira parte da pesquisa, verificou-se que, no Brasil começou-se a discutir com

maior profundidade sobre juizados especiais na década de 1980, com o juizado especial de

pequenas causas, regulado pela Lei Federal n. 7.244, de 1984. Visto com ressalvas quando da

sua criação, viu-se que, com o passar dos tempos estas desapareceram, devido à efetividade

dos juizados especiais.

A criação dos juizados de pequenas causas, representou a recuperação histórica de

experiências consolidadas no período colonial e republicano, inseridas em um contexto mais

amplo da formação do Estado brasileiro e da cultura jurídica, política, social e econômica e no

universo do movimento mundial por uma justiça democrática, mais acessível às camadas

populares.

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Com a promulgação da CRFB/88, os juizados especiais consolidam sua indiscutível

importância e caráter democrático.

Existia a necessidade mais do que visível de uma reforma das leis processuais

brasileiras, estabelecidas em um Código de Processo Penal em vigor há mais de 50 anos,

legislação que se tornou disfuncional e ultrapassada, especialmente no que tange ao inadiável

estabelecimento de ritos sumaríssimos para a apuração de contravenções e de crimes de

menor gravidade, submetidos a um processo arcaico, formalista e burocratizante, que tem

passado para os operadores do direito um descrédito sobre a administração penal.

Dessa forma, buscou-se solucionar questões sociais relacionadas ao Judiciário,

corroborando para a criação de uma sociedade moderna, nas questões como o acesso à justiça

e a democracia. Também houve, na esfera criminal, uma desburocratização do Judiciário, de

forma com que os pequenos crimes fossem resolvidos com mais agilidade, desafogando as

varas criminais que estavam abarrotadas deles.

Os juizados especiais criminais trouxeram para o ordenamento jurídico, uma

verdadeira mudança no direito processual penal, de forma a conduzir o sistema à

modernidade, com um processo célere e, ainda, conduzindo as partes do processo a

socializarem-se, uma vez que o maior objetivo é a conciliação, ou ainda, a extinção da

punibilidade do autor do fato, mediante a transação penal.

O processo no juizado especial criminal, conforme dispõe o artigo 62 da Lei n.

9.099/95, orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e

celeridade. Sendo que a competência dos juizados especiais criminais, em razão da matéria,

está prevista nos artigos 60 e 61 da Lei n. 9.099/95. O primeiro dispõe que os juizados

especiais criminais, terão competência para a conciliação, o julgamento e a execução das

infrações de menor potencial ofensivo.

Já a competência territorial será estabelecida pelo lugar onde for praticada a infração

penal, ou seja, onde esgotados todos os meios ao alcance do autor do fato, independentemente

do lugar em que venha ocorrer o resultado.

Quando surgiu a lei dos juizados especiais, questionou-se a constitucionalidade da

aplicação das leis especiais no âmbito da Lei n. 9.099/95, entretanto predominou o

entendimento de que cabe a lei ordinária definir o âmbito de consenso da justiça penal, não

tendo sido esta tarefa esgotada pela Lei n. 9.099/95 (ou pela Lei n. 10.259/2001).

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No que tange a conexão, as infrações de menor potencial ofensivo que forem

praticadas em concurso com crimes que não são da competência dos juizados especiais

criminais, não poderão seguir no juizado, ficando a competência para o juízo do crime mais

grave.

A composição dos juizados especiais estaduais criminais serão por juízes togados ou

juízes togados e juízes leigos e ser]ao regidos pelo procedimento sumaríssimo, o qual oferece

mais agilidade no andamento dos processos de pouca monta.

O procedimento sumaríssimo tem início na audiência preliminar, com o oferecimento

da denúncia ou queixa oral, que será reduzida a termo, entregando-se cópia ao acusado, que

com ela ficará citado e imediatamente cientificado da audiência de instrução e julgamento,

bem como também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e

seus advogados. Se o acusado não estiver presente, será citado na forma dos artigos 66 e 68 da

Lei n. 9.099/95.

Em um primeiro momento, na audiência preliminar, será feita, ao autor do fato, a

proposta da transação penal, no caso de preenchidos os requisitos legais. A transação penal, é

uma alternativa prevista na Lei n. 9.099/95. Nos casos de ação penal pública incondicionada,

nos casos de ação penal pública condicionada à representação em que não haja composição

dos danos e a vítima ofereça a representação dentro do prazo decadencial, passa o Ministério

Público a efetivamente atuar, fazendo análise ao caso.

Através da transação penal buscou-se de meios ágeis e aptos a atingirem suas

finalidades, a aplicação da lei ao autor do fato infringente da norma penal, com vistas à

reabilitação do infrator, sem a estigmatização decorrente de uma sentença condenatória.

Os juristas brasileiros percebiam que a solução das controvérsias penais em certas

infrações, principalmente de pouca monta, poderia ser atingida pelo método consensual, ao

mesmo tempo, a experiência processual apontou em outros países para modelos de justiça

consensual e despenalizadora, também com excelentes resultados.

A transação penal é um novo instrumento da política criminal de que dispõe o

Ministério Público para, entendendo conveniente ou oportuna a resolução rápida do litígio

penal, propor ao autor da infração de menor potencial ofensivo a aplicação, sem denúncia e

instrução de processo, de pena não privativa de liberdade.

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Entretanto, a conveniência do Ministério Público não é absoluta. Nos termos do artigo

76 da Lei n. 9.099/95, adotou-se o princípio da discricionariedade regulada. O Ministério

Público somente poderá dispor da ação penal nas hipóteses previstas legalmente, desde que

exista a concordância do autor da infração e a homologação judicial.

Desta forma, verificou-se que, embora seja o Ministério Público quem detém o direito

de propor a transação penal, nota-se que aquele possui algumas limitações e não fica

inteiramente para si a faculdade de agir. De ver-se, no entanto, que não há absoluta

discricionariedade por parte do Ministério Público em formular ou não a proposta, pois sua

decisão deve ser balizada pela presença dos requisitos legais.

Para efetivamente haver o acordo entre o Ministério Público e o autor do fato é

necessário, que o beneficiado preencha alguns requisitos, os quais estão previstos nos incisos

ulteriores do artigo 76, § 2º, da Lei n. 9.099/95, ainda, perceber-se-á que em alguns casos

dependerá de representação do ofendido.

Em troca da aceitação da transação penal, o autor do fato terá direito a alguns

benefícios, vantagens, como evitar todo o trâmite de um processo. Ademais, com a transação

penal, o autor do fato não ficará com antecedentes criminais.

Um dos problemas deste novo diploma refere-se à constitucionalidade da transação

penal. A maioria dos juristas entende ser constitucional a medida, baseados no artigo 98,

inciso I, da CRFB/88.

Verificou-se que o instituto da transação penal contém todos os elementos necessários

à caracterização da ação penal pública: sua origem é constitucional, assim como é a ação

penal pública; sua legitimidade para propositura é privativa do Ministério Público, tal qual é

na ação penal pública; ambas são formas de exercício jus puniendi do Estado, tendo o autor

do fato asseguradas todas as garantias do devido processo legal na forma em que a lei

ordinária estabelece.

As condições, que são propostas na transação penal, consistem na proposta de

aplicação imediata de pena restritiva de direito ou multa e na aceitação do autor do fato e seu

defensor. No entanto, as condições são compostas por pena restritiva de direito ou multa, e o

objetivo deste trabalho é identificar quais serão as consequências caso sejam descumpridas as

condições acordadas, ou seja, as penas restritivas de direitos que foram impostas a autor do

fato, e por ele havendo a aceitação com o intuito de livrar-se do processo criminal.

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O juizado especial criminal alterou profundamente a parte processual penal e irradiou

reflexos no campo penal e especificamente, na pena, dentro da transação penal, assim como

na suspensão do processo. Ao lado da pena de multa, da reparação da vítima, surgiu a

imposição de doar “cestas básicas”. A pena pecuniária, como pena alternativa, vem sendo

utilizada com sucesso, já que a sua execução dá-se no próprio juizado.

Com o advento da Lei n. 9.714/98, foi ampliado o rol das penas restritivas de direito

elencadas pelo artigo 43, do Código Penal, duas foram adicionadas e outra recebeu um

acréscimo. As penas restritivas de direitos são espécies de penas alternativas, estão previstas

no artigo 43 do Código Penal, sendo elas a prestação pecuniária, perda de bens e valores,

prestação de serviço à comunidade ou entidades públicas, interdição temporária de direitos e

limitação de fim de semana.

Discute-se qual a natureza da sentença homologatória da transação penal que aplica a

pena restritiva de direitos ou multa. Para uns autores como Marino Pazzaglini Filho,

Alexandre de Moraes, Gianpaolo Poggio Smanio e Vaggione, constitui sentença condenatória.

De outra banda Ada Pellegrini, Antonio Magalhães Gomes Filho, Antonio Scarence

Fernandes e Luiz Flávio Gomes dizem que se trata de mera sentença homologatória de

transação, com eficácia de título executivo. Já Cesar Roberto Bitencourt entende que trata de

sentença declaratória constitutiva.

Notou-se que a natureza jurídica da transação penal fará toda a diferença nos casos do

descumprimento do acordo. Pois conforme verificado no decorrer deste estudo, existe

divergências doutrinárias e jurisprudenciais no que tange ao descumprimento da transação

penal.

Dentre as consequências encontradas no decorrer deste estudo estão a execução da

pena alternativa, a conversão da pena restritiva em pena privativa de liberdade ou o

oferecimento da denúncia.

Quanto ao eventual descumprimento da transação penal há várias posições, uma no

caso de descumprimento da transação implica o prosseguimento do procedimento, dando-se

oportunidade ao Ministério Público para vir a requerer providências necessárias ou a

propositura da ação penal, nesse caso a sentença tem eficácia de coisa julgada formal, tendo

em vista que não há discussão sobre o mérito de ação penal.

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Outra hipótese, a sentença homologatória tem a eficácia de coisa julgada material e

não pode ser desconsiderada em caso de descumprimento. Ademais, o próprio art. 66 da Lei

n. 9.099/95 afirma que o Ministério Público poderá oferecer a denúncia em caso de não-

ocorrência da transação penal. Assim, somente caberá execução dos termos da transação

homologada. Caso não tenha havido a homologação, é possível o prosseguimento do

procedimento. Já a outra hipótese está na conversão da pena restritiva de direitos imposta na

transação penal em pena privativa de liberdade.

Salienta-se que a transação penal, bem como a suspensão condicional do processo,

embora com objetivos semelhantes, são aplicadas em situações distintas, sendo a transação

penal antes do oferecimento da denúncia e a suspensão condicional do processo após o

oferecimento da denúncia.

Nos casos de descumprimento da suspensão condicional do processo existe previsão

de que será retomado o processo a partir da proposta, já nos casos do descumprimento da

transação penal há divergências

A partir do problema elaborado para esta pesquisa e diante das hipóteses listadas, com

base no que foi pesquisado e apresentado, verificou-se que existe uma lacuna na legislação,

confirmando-se desta forma a primeira hipótese.

A segunda hipótese também restou ratificada em seu aspecto negativo, pois foi

possível identificar a inexistência de norma jurídica que regulamente a situação nos casos de

descumprimento da transação penal no âmbito dos juizados especiais criminais.

Por fim, considera-se que o objetivo deste trabalho restou atingido, entretanto, não se

pode dar a tarefa por encerrada, uma ínfima contribuição ao mundo jurídico foi lançada, com

o escopo de provocar novas pesquisas, bem como lançar aos legisladores um problema que

merece ser melhor estudado, possibilidade que a autora não descarta em momento futuro.

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