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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ MARCELO BUBLITZ BIER A (IM)POSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS São José 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

MARCELO BUBLITZ BIER

A (IM)POSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

São José2009

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MARCELO BUBLITZ BIER

A (IM)POSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial a obtenção do grau em Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. MSc. Carlos Alberto Luz

Gonçalves

São José2009

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MARCELO BUBLITZ BIER

A (IM)POSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e

aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração:

Local, dia de mês de ano.

Prof. MSc. Carlos Alberto Luz GonçalvesUNIVALI – Campus de

Orientador

Prof. MSc. NomeInstituiçãoMembro

Prof. MSc. NomeInstituiçãoMembro

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Dedico este trabalho a minha família e amigos.

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AGRADECIMENTOS

Pelo aprendizado e pela realização deste trabalho, meu “muito obrigado”:

- ao Prof. Orientador, Carlos Alberto Luz Gonçalves, pela dedicação e

empenho para a construção de todas as etapas desta pesquisa;

- aos professores do curso de direito da UNIVALI pela inestimável

contribuição para a minha formação acadêmica;

- a toda minha família que me apoiou desde o início, principalmente meus

pais e irmãos;

- aos meus colegas de trabalho, especialmente a Regina Maria Anis Assad,

ao Rafael José Cardoso Gil e ao Des. Robson Luz Varella, os quais auxiliaram na

elaboração desta pesquisa;

- aos meus amigos.

- por fim e não menos importante, a Deus.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

São José, 28 outubro de 2009.

Marcelo Bublitz Bier

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo verificar a possibilidade de compensação dos

honorários advocatícios advindos da sucumbência processual de uma das partes.

Estabelece o Código de Processo Civil, em seu artigo 21, que os honorários

decorrentes da perda processual, quando houver sucumbência recíproca, deve ser

distribuídos proporcionalmente e compensados. Todavia, com o Estatuto da

Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil, de 1994, fixa que tanto a verba

contratual como a de decorrente do processo pertence ao advogado, dando-lhe

direito autônomo para executar a parte que lhe couber. Posteriormente a Súmula

306 do Superior Tribunal de Justiça corroborou a compensação dos honorários,

ressalvando o direito do patrono em executar a verba. Diante da visível divergência

jurisprudencial e doutrinária sobre o assunto, funda-se o presente estudo a fim de

verificar a possibilidade ou não da compensação dos honorários advocatícios. Neste

trabalho far-se-á uma incursão quanto aos honorários advocatícios, no seu histórico,

na sua formação e a sua atual concepção, assim como, estudar-se-ão as legislações

que tratam sobre tal remuneração, o instituto da compensação, a existência de

conflito aparente de normas e, por fim, uma análise jurisprudencial sobre o tema.

Palavras-chave: Honorários Advocatícios – Sucumbência Recíproca –

Compensação – Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil –

Código de Processo Civil.

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RÉSUMÉ

Ce travail vise à vérifier la possibilité de compensation pour les frais d'avocat

résultant de la défaite partie procédurale. Établit le Code de procédure civile en

redevances L'article 21, résultant de la procédure de perte, quand il est réciproque

s'effondrer devrait être réparti et l'offset. Toutefois, les lois et l'Ordre des Avocats du

Brésil, de 1994, définit à la fois le montant du contrat à la suite du processus

appartient à l'avocat, en lui donnant le droit autonome pour exécuter la partie qui

vous convient. Plus tard Abrègement 306 Cour supérieure de justice confirme les

frais de compensation, la sauvegarde du droit du patron d'exécuter le budget.

Compte tenu de la divergence apparente la jurisprudence et la doctrine sur le sujet,

est basée sur cette étude pour vérifier si oui ou non la compensation des frais

d'avocat. Loin de ce travail sera d'un raid sur les frais d'avocat de son histoire, dans

leur formation et la conception des tâches, ainsi que l'étude seront les lois qui traitent

de ce paiement, l'Office de la compensation, l'existence de apparente de conflit de

normes et, enfin, une analyse de la jurisprudence sur le sujet.

Mots-clés: honoraires d'avocats - succomber réciproques - Rémunération - Statut de

droit et de l'Ordre des Avocats du Brésil - Code de procédure civile.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................11

1 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS: HISTÓRICO, CLASSIFICAÇÃO E ASPECTOS RELEVANTES......................................................................................13

1.1 BREVE DIGRESSÃO HISTÓRICA ................................................................................ 13

1.1.1 Direito Romano ............................................................................................................... 13

1.2.2 Concepção Atual ............................................................................................................ 16

1.2 CLASSIFICAÇÃO ............................................................................................................. 17

1.2.1 Contratuais ou Convencionados ............................................................................... 18

1.2.2 Por Arbitramento ............................................................................................................ 19

1.2.3 Sucumbenciais................................................................................................................ 20

1.3 HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA ............................................................................. 20

1.3.1 Conceito de Sucumbência ........................................................................................... 21

1.3.2 Sucumbência Recíproca .............................................................................................. 22

1.3.3 Direito Abstrato............................................................................................................... 23

1.3.4 Caráter Alimentar ........................................................................................................... 25

1.3.4.1 Alínea ‘c’, do §3º, do artigo 20, do Código de Processo Civil ....................... 27

1.3.5 Assistência Judiciária Gratuita e Justiça Gratuita ................................................ 29

2 PREVISÕES LEGAIS.........................................................................................31

2.1 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.................................................................................... 31

2.1.1 Redação Anterior do Código....................................................................................... 31

2.1.2 Legislação Atual ............................................................................................................. 33

2.1.3 Súmula 306 do Superior Tribunal de Justiça.......................................................... 37

2.1.3.1 Origem da Súmula ............................................................................................... 38

2.1.3.2 Matéria Não Unânime ......................................................................................... 38

2.1.3.3 Inexistência de Efeito Vinculante....................................................................... 40

2.2 ESTATUTO DA ADVOCACIA E A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL ...... 41

2.2.1 Direito Autônomo dos Advogados ............................................................................ 44

3 O INSTITUTO DA COMPENSAÇÃO, O CONFLITO APARENTE DE NORMAS E A ANÁLISE JURISPRUDENCIAL.........................................................................47

3.1 INSTITUTO DA COMPENSAÇÃO (DIREITO OBRIGACIONAL).............................. 47

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3.1.1 Conceito............................................................................................................................ 48

3.1.2 Requisitos Necessários................................................................................................ 49

3.1.3 Efeitos ............................................................................................................................... 50

3.2 CONFLITO APARENTE DE NORMAS ......................................................................... 51

3.2.1 Critério da Hierarquia .................................................................................................... 54

3.2.2 Critério Temporal............................................................................................................ 54

3.2.3 Critério da Especialidade ............................................................................................. 55

3.3 ARGUMENTOS AUTORIZADORES DA COMPENSAÇÃO ...................................... 56

3.3.1 Supremo Tribunal Federal ........................................................................................... 57

3.3.2 Superior Tribunal de Justiça ....................................................................................... 58

3.3.3 Tribunal de Justiça de Santa Catarina...................................................................... 58

3.4 ARGUMENTOS RESTRITIVOS À COMPENSAÇÃO................................................. 60

3.4.1 Supremo Tribunal Federal ........................................................................................... 60

3.4.2 Superior Tribunal de Justiça ....................................................................................... 61

3.4.3 Tribunal de Justiça de Santa Catarina...................................................................... 62

CONCLUSÃO ...........................................................................................................66

REFERÊNCIAS.........................................................................................................68

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INTRODUÇÃO

Este estudo consiste em um trabalho acadêmico envolvendo uma pesquisa

bibliográfica e jurisprudencial sobre a remuneração do advogado e tem como

objetivo principal verificar a possibilidade de compensação da verba advocatícia de

sucumbência.

Observa-se que os honorários advocatícios tratam-se de um tema polêmico

no que concerne a compensação dos honorários, eis que questiona-se a titularidade

da verba, havendo dúvida se ela é da parte processual ou do advogado. A polêmica

surgiu diante da vigência do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do

Brasil, em que afirma serem os honorários advocatícios, seja ele contratual ou

processual, pertencentes ao advogado, inviabilizando, neste norte, a aplicação do

instituto da compensação, haja vista inexistir a simultaneidade de créditos.

A literatura acerca do debate demonstra-se inquieta, eis que é possível

encontrar quem é favorável à compensação, assim como, quem é contra ela. Neste

mesmo passo, a jurisprudência, na função de interpretador legislativo, também

diverge na aplicação do instituto.

O presente estudo pretende contribuir, em primeiro lugar, para discussão

sobre a vigência e a eficácia da Súmula 306 do STJ, se a sua determinação não

ofende a legislação do advogado, ao passo que possibilita a compensação. Em

segundo lugar, o estudo desta temática, se torna pertinente pela necessidade de

contribuir para o aprofundamento da discussão criada em torno desta prática

compensatória, pois quase inexiste trabalho acadêmico neste cerne.

A relevância do estudo consubstancia se a compensação da verba

advocatícia possui todos os requisitos necessários para se viabilizar.

Assim sendo, sistematiza-se as seguintes questões que nortearam a

investigação: é possível a compensação da verba advocatícia? A quem pertence os

honorários sucumbenciais?

Para atender os objetivos do presente trabalho, adotou-se o método

dedutivo, pois partiu-se do estudo dos honorários advocatícios, chegando a um de

seus pontos específicos, a possibilidade de sua compensação.

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Diante disso, e com vista à construção, o caminho percorrido constitui-se de

dois momentos primordiais: a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental. Vale

ressaltar que estes momentos não ocorreram de forma linear, dada a necessidade

de articulação entre eles durante o desenvolvimento do trabalho.

A pesquisa bibliográfica buscou detalhar as análises e estudos sobre o tema,

ocorrendo uma incursão nas doutrinas pertinentes ao tema nos acervos das

bibliotecas do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, do Gabinete do Juiz de Direito

de Segundo Grau Robson Luz Varella e da Universidade do Vale do Itajaí, além dos

acervos de propriedade do professor orientador, Carlos Alberto Luz Gonçalves.

No que diz respeito à pesquisa documental, ela foi escolhida por

proporcionar economia de tempo e dinheiro, uma vez que permite ao investigador

consagrar o essencial de sua energia à análise propriamente dita. Seus fatores

limitantes referem-se às dificuldades de acesso aos documentos e à inexistência de

registros. O que não aconteceu no caso desta pesquisa, pois houve uma facilidade

de acesso aos documentos necessários para obter as informações basicamente

através dos sítios dos Tribunais Estaduais e Federais, bem como os Tribunais

Superiores, os quais propiciam ferramentas para o ingresso nos julgados de cada

Corte.

Assim sendo, este estudo tem a seguinte estrutura de apresentação: o

primeiro capítulo discorre sobre a verba advocatícia, apresentando as suas

peculiaridades, percorrendo sua evolução histórica, e suas características que

decorrem das legislações pátrias; o segundo capítulo tem como objetivo estudar o

que dispõe as legislações sobre os honorários advocatícios, enfocando-se no

Código de Processo Civil e o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do

Brasil; por último, o capítulo elabora-se uma incursão no instituto da compensação,

assim como, a verificação do conflito de normas e realiza-se uma análise

jurisprudencial sobre o tema abordado. Por fim, tecemos as considerações finais

seguidas do referencial bibliográfico.

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1 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS: HISTÓRICO, CLASSIFICAÇÃO E

ASPECTOS RELEVANTES

Iniciar-se-á o trabalho trazendo um breve histórico da origem dos

honorários, passando-se pela sua evolução e, ao final, classificando-os

conforme os seus tipos.

Este capítulo dará ênfase aos honorários sucumbenciais, aqueles

fixados pelo magistrado na sentença, porquanto neles estão concentrados o

entrave que será estudado nesta pesquisa.

A digressão histórica circundará o Direito Romano, haja vista possuir

maior semelhança ao direito brasileiro contemporâneo, assim como, ter sido

nele relatado a primeira aparição do advogado remunerado.

A classificação reunirá as principais ponderações feitas pelos autores

do tema, diferenciando os honorários convencionados, os fixados por

arbitramento e os de sucumbência, dando maior enfoque a este último.

Serão abordados conjuntamente aspectos relevantes ao tema, tais

como a assistência judiciária gratuita, a justiça gratuita e, ainda, o caráter

alimentar da verba advocatícia.

1.1 BREVE DIGRESSÃO HISTÓRICA

A evolução histórica a respeito dos honorários abrangerá a construção

realizada no direito romano, eis que utilizado para construção do direito

brasileiro, e ao final, a concepção que o ordenamento pátrio atribui a esta

verba.

1.1.1 Direito Romano

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Ao demonstrar a evolução histórica dos honorários advocatícios,

Yussef Said Cahali (1997, p. 23-24) traz à baila que, durante a Roma antiga:

A profissão de advogado resultou da dissolução do patronato, da vulgarização das fórmulas e do desenvolvimento da ciência do direito; dentre os homens freqüentando o tribunal, a partir dessa época, uns fizeram da atividade forense meio de exercício oratório e meio de obter posição, degrau para subir às magistraturas; outros a abraçaram como profissão; os primeiros patrocinaram, às vezes, gratuitamente, por ambição; os segundo receberam remuneração do próprio trabalho, sacrificando muitas vezes a honestidade ao desejo de fazer fortuna rápida.

Complementado, Fernando Jacques Onófrio (1998, p. 25) menciona

que:

No organismo judiciário romano, a advocacia objetivava antes de tudo o gáudio espiritual, as honrarias e, até mesmo, o reconhecimento de dotes artísticos. Então, desde os primórdios, nossa profissão foi formada de pessoas de alta categoria social, com suporte financeiro suficiente para trocar a remuneração pelas honrarias.

Bruno Vasconcelos Carrilho Lopes (2008, p. 26-27) esclarece que nos

primórdios do direito romano, por ser o processo simplificado, decorrente de

vários aspectos, as suas custas eram também baixas, possuindo como

reflexo a ausência de previsão ou regra de sua distribuição entre os litigantes.

Contudo, já era claro que o “perdedor” do processo era incumbido com

conseqüências patrimoniais por consectário da sucumbência.

Continuando, o autor faz nota que, na fase das legis actiones, a parte

vencida no processo era penalizada, e por se tratar de uma punição e não de

uma indenização, a pecúnia era destinada à Justiça, inexistindo qualquer

atribuição ao vencedor.

Já ao tratar do período formular, salienta que houve uma mudança com

a sanção imposta, passando a abranger não somente as despesas

decorrentes da derrota, mas também, da apuração do dolo na situação

concreta. Releva que a razão da evolução deu-se pela necessidade de

reparar o custo que a parte vencedora teve para participar do processo.

Por sua vez, Cahali (1997, p. 24-25), ao discorrer sobre as épocas,

descreve que a figura do sucumbente construiu-se gradativamente. Surgindo,

em primeiro momento, o legis actiones, onde cada litigante depositava uma

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quantia relativa ao processo e, ao seu final, o sucumbente não poderia reaver

esse montante, em decorrência de valer-se falsamente do seu direito ou,

ainda, por ter negado o conhecimento do direito de outrem.

Outro expediente destacado por Yussef é a actio dupli1, onde haveria

“uma ação direta pelo dobro do valor do objeto da condenação, contra o

vencido que injustamente resistisse à demanda” (Honorários Advocatícios, p.

25).

O mencionado doutrinador, ao referir-se ao período formulário,

salienta:

Caráter diverso e diversa função tiveram as múltiplas penas contra o sucumbente, no período formulário: a sponsio e a restipulatio, garantias recíprocas do autor e do réu, asseguravam o pagamento de certa soma pelo sucumbente, imposição determinada pela summa sacramenti, sujeitando-se o vencido ao seu pagamento pelo só fato da sucumbência, nec requiritur, an scierit, non recte se agere.Assim, no processo romano, da ação da lei ao período formular, a condenação do sucumbente terá conservado essencialmente a natureza da pena; natureza igualmente mantida no iudicium calumniae.

De forma complementar, Onófrio (1998, p. 17) pondera, também, que

neste período havia duas espécies de representantes, o primeiro, o cognitor,

que era constituído na presença do adversário através de uma fórmula

sacramental, e, o segundo, o procurador, considerado como um administrador

geral, o qual não possuía uma fórmula sacramental, mas sim um mandato.

Posteriormente, surgiu o defensor, que era nada mais do que um procurador

sem mandato, nomeado quando o réu o pleiteava.

Ainda, de acordo com o autor:

O povo romano tinha vocação para o Direito, e a cultura dessa ciência desenvolveu-se de forma extraordinária, legando-nos as figuras consulares dos jurisconsultos, que são motivos de orgulho para a classe dos advogados. Segundo leciona Acuña, “foi em Roma que a advocacia apareceu, pela primeira vez, como profissão verdadeira.”

Fazendo digressão da evolução da advocacia na época romana, o

advogado Onófrio (1998, p. 17-18) relata:

O comparecimento das próprias partes em juízo para defesa de seus direitos somente seria possível em regime jurídico primitivo, no alvorecer da civilização, quando o Direito regia relações extremamente simples, estando ao alcance de qualquer pessoa.À medida que as relações foram tornando-se mais complexas e o processo desprendendo-se da simplicidade inicial, o debate judicial

1 Ação dúplice (tradução livre)

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passou a exigir maiores conhecimentos sobrepostos à capacidade intelectual vulgar.Tais circunstâncias abriram as primeiras brechas nos princípios que impediam a representação em juízo e, pouco a pouco, os procuradores passaram a ser admitidos. Em princípio, pela forma de verdadeira sucessão na relação processual, procurador in rem suam.Com a evolução da sociedade e das próprias instituições jurídicas, os conhecimentos passaram a ser mais especializados. Dessa forma, o desejo de Benthan, segundo leciona Castellana, de que “Se as leis fossem bastante claras, as próprias partes bem poderiam defender seus direitos em juízo” passou a ser irrealizável.

Completa, ainda, que a Ordem dos Advogados é quase tão antiga

quanto à própria profissão. Salienta que somente no Império de Cláudio (41-

51 d.C.), os causídicos foram considerados como profissionais, integrando

uma corporação, chamada na época de collegia2 ou corpora advocatorum3,

bem como, possuíam uma lista de seus associados, intitulada de matriculae4.

Nesta ordem, constituíram seus interesses coletivos e criaram uma disciplina

a ser observada pelos advogados.

1.2.2 Concepção Atual

Paulo Luiz Netto Lôbo (2009, p. 138) destaca que os honorários

atualmente só preservam esta nomenclatura por homenagem a longa

tradição, relembrando que o pagamento atual pelos serviços advocatícios em

nada tem de semelhante com o sentido da palavra utilizado na época romana.

Antigamente, o verbete transparecia um compromisso social do profissional e

não uma forma de lhe remunerar.

Para Fernando Jacques Onófrio (1998, p. 26), “o tempo pouco alterou

a forma vocabular de honorarium5, mas não lhe conservou o primitivo

significado.” (Manual de Honorários Advocatícios, 1998, p. 26). O autor cita

duas definições as quais remetem os honorários a “prêmios” pagos como

forma de remunerar quem lhe prestou serviços. Posteriormente complementa:

2 Colégio, Academia, Ordem (tradução livre)

3 Corporação de advogados (tradução livre)

4 Matrícula, inscrição (tradução livre)

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Nas duas definições consta a palavra “prêmio”, que merece nossa respeitosa crítica em função de os honorários decorrerem de contrato de prestação de serviços, que é oneroso, não constituindo, de forma alguma, prêmio, como querem as definições. O prêmio tem caráter meramente casual, ao contrário dos honorários, que são conseqüentes do contrato, onde ficam estabelecidos direito e obrigações recíprocas, que têm como uma de suas características básicas a onerosidade.

Atualmente, tem-se que os honorários, ao advento do EAOAB, fazem

parte da remuneração do causídico, é o que se extrai dos ensinamentos de

Pontes de Miranda (2001, p. 391):

Os honorários dos advogados foram a remuneração deles quando se teve de obviar à proibição de pagar serviços feitos pelos advogados, quando, diante da necessidade deles, pois não bastaria às partes o agir e o defender-se, se teve de riscar a vedação de pagar e a restituição do quádruplo do que o advogado recebera.

1.2 CLASSIFICAÇÃO

Neste sub-capítulo trabalhar-se-á a classificação dos honorários

advocatícios, utilizando-se dos principais doutrinadores sobre o tema.

O Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n.

8.906 de 4 de julho de 1994), em seu artigo 22, estabelece três tipos de

honorários advocatícios. Senão vejamos:

Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência.

Assim como descreve Mamede (2003, p. 277-278):

De qualquer sorte, nesses contratos de prestação autônoma de serviços, os trabalhos de advocacia são remunerados através de honorários advocatícios, elevados, pelo artigo 22 do EAOAB, à condição de direito dos profissionais, sejam eles convencionados com a parte, arbitrados pelo Judiciário, ou honorários de sucumbência.

E segundo orienta Bruno Vasconcelos Carrilho Lopes (2008, p. 8):

São honorários os “vencimentos devidos a profissionais liberais (médicos, advogados etc.) em troca de seus serviços”. Honorários Advocatícios são, portanto, os vencimentos devidos ao advogado em decorrência dos serviços prestados ao seu cliente.

5 Honorários (tradução livre)

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Inicialmente, far-se-á uma distinção singela sobre cada tipo, e,

posteriormente, um estudo mais aprofundado nos honorários decorrentes da

sucumbência.

1.2.1 Contratuais ou Convencionados

Carlos Roberto Faleiros Diniz (2006, p. 51-52) entende que os

honorários contratuais são àqueles livremente pactuados entre as partes,

porém eles devem respeitar as regras ou tabelas previstas no Código de Ética

e Disciplina, do EAOAB, levando em conta a natureza da lide. Esta tabela,

afirma o autor, tem valores mínimos a serem observados pelo patrono, sob

pena de cobrar um valor muito ínfimo ao trabalho prestado e podendo até ser

responsabilizado por um processo disciplinar da categoria.

O EAOAB (arts. 22 ao 26) e o CED (arts. 35 ao 43), prevêem preceitos

a serem seguidas na hora da contratação.

Destaca-se do texto de Diniz:

Recomenda-se contratar por escrito os honorários (art. 41 do CED), os valores, forma e condições de pagamento, bem como a responsabilidade do cliente pelo pagamento de custas, e todos os encargos judiciais e extrajudiciais e despesas com locomoção e outros.

Netto Lôbo (2009, p. 143-144) dita que faz parte da obrigação do

advogado contratar a sua remuneração na forma escrita, reduzindo, desta

forma, o risco e desgaste com o seu cliente, evitando a má repercussão da

profissão. Expõe, também, que em virtude do Código de Ética e Disciplina, o

valor contratado deve estar expressamente no pacto, tornando-se

inquestionável e até permitindo a execução judicial do contrato, em caso de

situação gravosa.

O autor escreve parâmetros a serem seguidos para a contratação, tais

como a fixação do valor fixo na moeda do país, a utilização de um

determinado indexador de atualização monetária e qual a porcentagem de

incidência sobre o valor da causa.

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Por outro lado, o doutrinador não exclui a possibilidade da convenção

dos honorários de forma verbal, desde que presente testemunhas, como dita

a lei.

Para Gladston Mamede (2003, p. 279):

Os honorários convencionados são aqueles que o advogado acerta com seu cliente para remunerar a prestação autônoma de serviços judiciais ou extrajudiciais. Seu valor é livremente acertado pelas partes, devendo ser fixado com moderação, atendendo, segundo o artigo 36 do Código de Ética, [...].

1.2.2 Por Arbitramento

Reza Paulo Luiz Netto Lôbo (2002, p. 144) que quando não foram

previamente convencionados os honorários e houver uma prestação de

serviço pelo profissional, a remuneração será fixada por arbitramento judicial.

Esclarece que o arbitramento não é atribuído de forma discricionária pelo

magistrado, devendo ele seguir parâmetros legais para a sua fixação.

Assim como nos contratados, o autor aduz que o arbitramento deve

obedecer à tabela do Conselho Seccional da OAB. Lôbo (2009, p. 144)

destaca dois critérios que devem ser levados em conta pelo togado, mas

esclarece que não são os únicos, veja-se:

I – A compatibilidade com o trabalho realizado, dentro ou fora do processo judicial, incluindo: o tempo, a proficiência, a quantidade e qualidade das peças produzidas, a média da remuneração praticada pelos profissionais em casos semelhantes, a participação de mais de um profissional, as despesas e deslocamentos realizados pelo advogado.II – O valor econômico da questão, relativo ao qual se estipule uma percentagem, segundo a média praticada no meio profissional.

Gisela Gondin Ramos (2009, p. 314 e 315) ressalta que o magistrado

deve sujeitar-se ao estabelecido no §3º do art. 20 do Código de Processo

Civil, dando ênfase principalmente ao “grau de zelo profissional, lugar da

prestação dos serviços, natureza e importância da causa, trabalho realizado

pelo profissional, e o tempo exigido para o seu serviço.” (in Estatuto da

Advocacia – Comentários e Jurisprudência Selecionada, p. 314)

A doutrinadora faz menção no seu estudo a um julgado do Tribunal de

Alçada de São Paulo, o Agravo de Instrumento nº 590, que realiza

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comentários aos critérios para fixação dos honorários por arbitramento.

Transcreve-se abaixo parte do decisório:

(...) da consideração que se há de prestar ao legítimo exercício da advocacia e o indispensável concurso que presta o advogado à realização da justiça.

1.2.3 Sucumbenciais

Os honorários de sucumbência, de acordo com Ramos (2009, p. 314),

são àqueles decorrentes do sucesso da parte na demanda por conta dos

trabalhos prestados pelo seu procurador. Estes devem obedecer aos critérios

estabelecidos na Lei Processual Civil. São consectários da ação, fixados na

sentença.

Nesse mesmo contexto, Yussef Said Cahali (1997, p. 104) declara que

a condenação em honorários não é uma faculdade do juiz e sim um dever,

efeito da norma jurídica cogente.

Adiam-se maiores comentários para o próximo item que tratará mais

especificamente esta espécie de remuneração.

1.3 HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA

Com previsão no Código de Processo Civil, o artigo 206 estabelece

que o vencido deverá arcar com as custas do processo e os honorários ao

advogado da parte adversa.

Para uma melhor compreensão do tema ora abordado, dividir-se-á o

estudo em partes, a fim de uma abordagem mais específica e clara.

6 Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria.

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1.3.1 Conceito de Sucumbência

Daniel Francisco Mitidiero (2004, 202) dita que:

O fato objetivo que dá ensanchas ao dever de prestar à parte contrária os valores referentes às despesas processuais é a sucumbência. Esta ocorre quando a parte não logra êxito em conseguir o que veio buscar em juízo, integral ou parcialmente, quer por motivos de mérito, quer por motivos estranhos ao objeto litigoso.

Em sua doutrina, Onófrio (1998, p. 75) traz que o princípio da

sucumbência tem caráter punitivo, responsabilizando o litigante ao ônus de

derrota na lide, além da condenação decorrente do processo.

Explica Yussef (1997, p. 36-37):

Assim, sucumbente, na linguagem comum, é propriamente aquele que se sujeita a uma força que age sobre ele. O significado processual não é substancialmente diverso deste: sucumbente é o vencido na luta judicial (qui victus est judicio superatus). [...] Pode, assim, sucumbir não só o contumaz, como, também, aquele que, comparecendo a juízo, em lugar de contestar, se entrega (reconhece o pedido), como se costuma dizer. E mesmo o reconhecimento da demanda adversária não exime da sucumbência, se não é efeito e tempestivo, como aquele que faz a lide tornar-se inútil, pois, neste caso, remanesce qualquer relação de causalidade entre o demandado e a lide, a determinar a sucumbência como fundamento da condenação nas despesas.

Por sucumbência, entende Jônatas Luiz Moreira de Paula (2003, p.

161) como o “desacolhimento da pretensão formulada pela parte. Essa

congruência, que ocorre entre a pretensão formulada e a decisão judicial,

gera a derrota, a sucumbência”.

Pinto Ferreira (1995, p. 86-87) doutrina sobre o tema:

A condenação nas despesas judiciais resulta pura e simplesmente da derrota na lide. É o princípio da sucumbência ou do sucumbimento. O direito romano já tinha chegado a tal orientação, segundo o qual a derrota ou perda da questão traz como conseqüência a obrigação do reembolso das despesas judiciais feitas pelo vencido. [...] É regra victus victori, mediante a qual o vencido deve pagar tanto as custas em favor do vencedor como também as despesas judiciais. [...].

Elucida o mesmo autor ao afirmar que o princípio é consequência da

responsabilidade objetiva, devendo arcar com as custas e honorários

advocatícios aquele que perde, ou seja, de forma mais simples, quem perde,

paga.

Para Carnelutti (2000, p. 401), em se tratando de processo

contencioso, o sucumbente é aquele o qual não tem razão na lide, devendo,

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inclusive, se abster dela. Nomeia essa figura na demanda cognitiva como

“parte vencida”.

Em outras palavras, “a condenação em honorários tem por base

apenas a sucumbência: o vencido paga-os, porque lhe foi adverso o resultado

do processo.” (Marques, José Frederico. Manual de Direito Processual Civil,

9ª ed. Campinas – SP: Millennium Editora Ltda., 2003, p. 564)

Encerrando a matéria, Henrique Antonio Esteves Margy (1999, p. 18)

diz:

A sucumbência é a consequência da derrota, uma vez que a utilização do processo por aquele a quem o judiciário reconheceu ter o melhor direito, não pode lhe resultar em prejuízo, sendo lógico que na medida do possível seja reembolsado pelo perdedor dos gastos que teve.

1.3.2 Sucumbência Recíproca

Quando a lide tiver mais de um pleito, pode ocorrer a chamada

sucumbência recíproca, onde a parte tem ao mesmo tempo parte de seus

pedidos procedentes e outra, improcedentes. Há, na verdade, um acolhimento

parcial da ação.

Sob coordenação de Antonio Carlos Marcato, o Código de Processo

Civil Interpretado (2008, p. 80) leciona que quando a sucumbência ocorre

parcialmente, as despesas processuais e os honorários advocatícios, devem

respeitar a distribuição de sucesso da parte na lide, devendo suportar cada

litigante no quinhão que decaiu.

Explicita Bruno Vasconcelos Carrilho Lopes (2008, p. 78-79):

Quando existir no processo um cúmulo de pedidos ou o bem da vida pretendido for passível de quantificação, com a possibilidade de ser concedido em quantidade menor do que a pedida, poderá haver sucumbência recíproca, situação na qual a causa do processo deve ser atribuída a ambas as partes.

Em outras palavras, esclarece Pinto Ferreira (1995, p. 89) ao dizer que

“pode acontecer que cada litigante sucumba apenas em parte. A orientação

seguida pelo Código é que cada um pague na mesma razão no que foi

vencido.” (in Código de Processo Civil Comentado, 1º Volume, 1995, p. 89).

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Em alguns casos, como prevê a legislação de rito civil, o decaimento

pode ser mínimo, incumbindo ao vencido o pagamento do ônus. Doutrina o

mesmo autor:

De outro lado a lei também dispensa excepcionalmente do pagamento a quem decai da parte mínima, pois se torna irrisório e incompatível com a importância do processo o pagamento de uma parte infinitesimal. Neste caso, o litigante que perdeu quase tudo, arcará por inteiro com as despesas da sucumbência.

Para Humberto Theodoro Júnior (2009, p. 42), a sucumbência

recíproca sucede-se quando a parte autora tem sucesso parcial em sua

demanda. Neste caso, tanto o autor como o réu saem vencidos e vencedores

ao mesmo tempo.

Nos comentários ao Código de Processo Civil de João Roberto

Parizatto (2008, p. 115) tem-se que:

A sentença poderá reconhecer a sucumbência recíproca, quando cada um dos litigantes for em parte vencedor e vencido, quando não se justificaria a imposição das despesas e honorários a só uma das partes. Assim, de forma justa, as despesas do processo, englobando-se as custas e os honorários advocatícios, serão distribuídos entre eles.`

1.3.3 Direito Abstrato

Ao tecer comentários sobre os princípios do direito processual civil,

Bruno Vasconcelos (2008, p. 40) refere-se da seguinte forma sobre o princípio

da causalidade:

Em que pese a menção na lei à sucumbência, foi demonstrado que essa referência é feita por comodidade, portanto não há óbice a que, se a causa do processo for atribuída integralmente ao vencedor, ele seja condenado a pagar honorários ao advogado do vencido. Se o processo não deve causar dano a quem esteja disposto a satisfazer espontaneamente a pretensão trazida a juízo, não há sentido em tratar a sucumbência como um limite à aplicação do princípio da causalidade. Ademais, no plano técnico, a sucumbência é um fato, não um princípio, e como fato não pode excepciona-lo.

Cahali (1997, p. 60) arremata:

Finalmente, seja em função do princípio da causalidade, seja em razão da regra da sucumbência, a pretensa ausência de culpa do sucumbente causador da instauração do processo não interfere, de qualquer modo, na sua responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios devidos à parte contrária.

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Em outro norte, José Frederico Marques (2003, p. 565) considera que

a obrigação que a parte tem em arcar com as custas processuais é a mesma

da de suportar os honorários advocatícios.

Exprime Carrilho Lopes (2008, p. 23) que:

Por mais que seja incerto o recebimento de honorários advocatícios em um processo, dada a impossibilidade de saber, de antemão, a quem será atribuída a causa do processo, deve ser considerado que o advogado atua em vários processos com a esperança de receber honorários em ao menos parte deles e, assim, retirar seu sustento.

Assim, a existência de um processo judicial contencioso importa na

responsabilização de uma das partes ou, em alguns casos, a ambas, pelas

custas processuais e honorários advocatícios, isto tudo, porque os honorários

fazem parte dos elementos do custo do processo, melhor explica o

doutrinador recém citado:

No sentido estrito, o custo do processo divide-se em duas categorias, as despesas processuais e os honorários advocatícios, distinção que é clara no art. 20 do Código de Processo Civil. Desaponta nesse contexto a primeira faceta dos honorários advocatícios. Trata-se de um elemento do custo do processo.

Desta feita, perceptível da doutrina de Luiz Fux (2008, p. 472-474) que

existe um direito subjetivo do advogado em receber honorários de

sucumbência, que somente se tornará concreto quando do proferimento da

sentença, seja ela de procedência, improcedência, desistência de uma das

partes ou reconhecimento do direito da parte ex adversa (art. 26 do CPC), ou

até a de homologação de acordo, caso as partes não tenham decidido na

transação.

Sobre o tema, retira-se dos ensinamentos de Humberto Theodoro

Júnior (2009, p. 32):

A condenação ao pagamento das despesas e honorários é efeito obrigatório da sucumbência, de sorte que nem mesmo ao juiz é permitido omitir-se frente a sua incidência. A sucumbência pressupõe a existência de ação judicial principal, ou ações secundárias. É estritamente necessário que haja demanda submetida à juízo.

Por fim, Carrilho Lopes (2008, p. 125), escorado em Giuseppe

Chiovenda, reconhece que o direito dos honorários de sucumbência cristaliza-

se com comando judicial o qual condena a parte vencida ao pagamento dos

ônus sucumbenciais (custas processuais e honorários advocatícios). Acusa

que o direito não surge de pronto com a decisão, mas já se forma pela

situação jurídica em questão, o que se caracteriza pela presença de

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elementos necessários para a condenação aos honorários. Conforme o

doutrinador, o direito somente se emerge com o dever do julgador de

manifestar-se na sentença sobre a verba sucumbencial. Por fim, conclui:

Como já ressaltado, ao julgar o magistrado nada mais faz do que reconhecer um direito preexistente ao processo. No que se refere aos honorários, em razão de duas peculiaridades o direito apenas nasce no momento em que a sentença é proferida. Os honorários servem à remuneração de um trabalho, e, portanto, apenas quando ele estiver terminado é possível apurar o seu valor. Trata-se de fato constitutivo do direito que se forma e amadurece no curso do processo.

Coaduna Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery (2007, p.

223):

O destinatário da norma é o juiz, de sorte que deve condenar o vencido ex officio, independentemente de pedido da parte ou interessado. A condenação nas verbas da sucumbência decorre do fato objetivo da derrota no processo.

Matéria inclusive sumulada pelo Supremo Tribunal Federal:

É indispensável pedido expresso para condenação do réu em honorários, com fundamento nos arts. 63 e 64 do Código de Processo Civil.

1.3.4 Caráter Alimentar

Em seu artigo, Welington Luzia Teixeira (2008, p. 131) ressalta que os

dois primeiros tipos de honorários (convencionais e fixados por arbitramento)

já vêm sendo considerados pelo judiciário como de caráter alimentar do

advogado, tendo inclusive, preferência de pagamento. Esclarece ainda que a

terceira espécie não compartilha do mesmo entendimento, por considerar que

a sua fixação é imprevisível, ficando condicionada ao sucesso da parte na

demanda. Justifica esse posicionamento uma vez que se os honorários não

são certos, o advogado não pode depender deles.

O autor fundamenta seu estudo em uma decisão proferida pelo

Supremo Tribunal Federal (Recurso Extraordinário n. 470.4077, cuja relatoria

7 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 470.407, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Brasília, DF, 09 de maio de 2006, Primeira Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 13.10.2006. p. 51.

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é do Ministro Marco Aurélio), que, em 2006, reconheceu pela impossibilidade

de compensação dos honorários sucumbenciais. Cola-se um trecho do

acórdão:

Ora, salários e vencimentos dizem respeito a relações jurídicas específicas e ao lado destas tem-se a revelada pelo vínculo liberal. Os profissionais liberais não recebem salários, vencimentos, mas honorários, e a finalidade destes não é outra senão prover a subsistência própria e das respectivas famílias. [...] Repito mais uma vez que os honorários advocatícios consubstanciam, para os profissionais liberais do direito, prestação alimentícia.

Ao tratar dos honorários de sucumbência do advogado empregado,

Lôbo (2009, p. 134) afirma:

[...] restou prevalecente na lei, de que honorários constituem exclusivamente remuneração de trabalho do advogado, seja qual for a sua origem. O fato de serem pagos pela parte contrária, no âmbito da condenação, não altera essa natureza.

Posteriormente complementa:

A legislação anterior estabelecia que os honorários fixados na condenação contra a parte vencida ou sucumbente, na ação, pertenciam à parte vencedora. O estatuto inverteu radicalmente a titularidade desses específicos honorários, a saber, da parte vencedora para seu advogado. Com efeito, mudou o fundamento e a natureza dessa condenação, deixando de ser indenização das despesas despendidas pela parte vencedora para consistir em parte da remuneração de seu advogado, cujo ônus é imputado à parte vencida.

Carlos Diniz (2006, p. 56), pondera que os honorários, não importando

o seu tipo, são utilizados para o sustento do profissional, de sua família, para

a manutenção de seu escritório ou, ainda, utilizados em curso de atualização

ou materiais para melhor atender os anseios de seus clientes, possuindo,

destarte, caráter alimentar. Corrobora que a existência dos honorários (seja

ele contratual ou de sucumbência) servem para remunerar os serviços

prestados pelo advogado, o qual faz uso daquele para o seu sustento.

Além do mais, destaca Onófrio (1998, p. 107):

[...], embora não seja recomendável, poderá o advogado trabalhar apenas pelo valor obtido na sucumbência, contratando, formalmente, essa possibilidade. Neste caso, os honorários serão do advogado. Outra possibilidade viável é a de fixar-se a verba honorária em percentuais mais reduzidos, contratando com o cliente uma participação percentual nos honorários de sucumbência.Nos dois casos, contratação integral da sucumbência ou participação percentual na mesma, inexiste qualquer restrição de ordem legal, sendo possível contratar qualquer uma das possibilidades. [...]

Compartilha do mesmo entendimento Gladston Mamede (2003, p.

282), ao afirmar que “pode ocorrer de o advogado aceitar prestar os serviços

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advocatícios sendo remunerado apenas pelos honorários de sucumbência

arbitrados, numa eventual vitória.” (in A Advocacia e a Ordem dos Advogados

do Brasil, 2003, p. 282).

A esse respeito, Lôbo (2009, p. 147-149) argumenta que os honorários,

por ser resultado do trabalho do advogado, constituem-se em um crédito

privilegiado, assim como os créditos trabalhistas de qualquer assalariado.

Sustenta ainda, que ele faz parte do patrimônio civil do causídico, havendo a

sua transmissão aos sucessores caso ocorra o seu óbito.

Sob outro enfoque, sustenta Vicente Greco Filho (2008, p. 119-120):

Os honorários de advogado têm natureza indenizatória e são aditados à condenação ou, não havendo condenação, constituem condenação própria e autônoma. O seu valor, fixado pelo juiz, é absolutamente independente do eventual contrato de honorários que o advogado tenha com o seu cliente. Nos termos da Lei n. 8.906, de 4-7-1994, que dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, art. 23, os honorários incluídos na condenação pertencem ao advogado: [...] Esse dispositivo espancou polêmica que existia anteriormente na doutrina e jurisprudência quanto a pertencerem os honorários da condenação à parte ou ao profissional. A partir da lei, não há dúvida quanto a ter o advogado direito autônomo, podendo executá-lo nos próprios autos da ação principal, se o desejar.

Alínea ‘c’, do §3º, do artigo 20, do Código de Processo Civil

Estabelece a legislação processual civil, parâmetros para a fixação da

verba destinada ao advogado. Senão vejamos:

Art. 20. (omissis8)§3º. Os honorários serão fixados entre o mínimo de 10% (dez por cento) e o máximo de 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, atendidos:o grau de zelo do profissional;o lugar da prestação de serviço;a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

Tecendo anotações sobre o referido artigo, Mitidiero (2004, p. 206),

menciona que:

8 Omisso, não mencionado (tradução livre)

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No concernente à qualidade do serviço prestado pelo causídico, o magistrado deve aquilatá-la considerando o grau de zelo profissional, o lugar da prestação do serviço e a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço (art. 20, §3º, alíneas “a”, “b” e “c”, CPC). O zelo profissional, aqui, revela-se no esforço intelectual do advogado, traduzido no requinte e perfeição do trabalho realizado pró-parte. O local da prestação do serviço deve ser considerado: pense-se no esforço físico desenvolvido pelo patrono que se encontra estabelecido fora da comarca ou circunscrição judiciária onde têm de ser realizados os atos processuais. Quanto ao item encerrado na alínea “c” do §3º, art. 20, CPC, Celso Agrícola Barbi entendia ser o mais importante dos três arrolados no precitado parágrafo; preleciona Barbi: “na sua apuração, o juiz deve analisar as dificuldades nas questões de fato e de direito que a causa apresentar, o volume da atividade probatória realizada pelo advogado”. O “tempo exigido para o seu serviço”, expresso na alínea “c”, deve ser entendido como o tempo que despendeu o advogado para suas manifestações durante o processo, e não o tempo que durou a relação jurídica processual, como advertia Pontes de Miranda.

Denota-se das normas que as diretrizes a serem observadas pelo

magistrado refere-se tão somente ao trabalho do advogado, é o que ensina

Bruno Vasconcelos (2008, p. 131):

É certo que, na sentença, o juiz arbitra os honorários em consideração apenas aos serviços já prestados pelo advogado. [...] Se os honorários arbitrados pelo juiz até a sentença são adequados para remunerar o advogado até aquele momento, no julgamento de cada um dos recursos subseqüentes deverá haver uma gradual majoração do valor dos honorários, em consideração ao trabalho ulterior realizado pelo advogado.

Do Código de Processo Civil Interpretado (2008, p. 75), de

coordenadoria de Antonio Carlos Marcato, retira-se que a fixação dos

honorários deve ser feita, considerando a retribuição econômica que deve ter

o procurador da parte vencedora, nas formas prevista no §3º do artigo em

questão.

Pontes de Miranda (2001, p. 395) considera que para a fixação da

remuneração deve o julgador avaliar o que ocorreu na lide por parte do

advogado, a modalidade do zelo exercido (se faltou, se foi pouco ou se foi

muito), assim como, se o lugar de atuação é de difícil ou fácil alcance para o

patrono, a natureza e a importância da causa em que patrocina, o tempo

despedido para realização do trabalho e, ainda, a qualidade do próprio

trabalho produzido. Tais critérios servem tanto para o arbitramento nos casos

de sentença condenatória (§3º do art. 20 do CPC), quanto para os que

inexistem uma condenação de pronto (§4º do dispositivo recém mencionado).

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Já para Celso Agrícola Barbi (2008, p. 141-142):

Na sua apuração, o juiz deve analisar as dificuldades nas questões de fato e de direito que a causa apresentar, o volume da atividade probatória desenvolvida pelo advogado.Para uma apreciação mais precisa do valor dos honorários, o juiz deverá considerar também os recursos já interpostos, ou que poderão vir a ser apresentados. Como se sabe, quando a questão implicar interpretação de norma constitucional, há possibilidade do uso de recurso extraordinário, além de eventuais embargos no Supremo Tribunal Federal.Por isto, esse tipo de questão, que se afigura menos trabalhosa na primeira instância, resultará, freqüentemente, em maior atividade do advogado nas instâncias superiores. Não é justo que os honorários sejam iguais nas causas que normalmente terminam na justiça estadual e nas que devem ir à Suprema Corte. Portanto, para justa aplicação dos princípios que inspiram a lei nesse assunto, deve ser dada especial atenção às particularidade que influem na fixação dos honorários de advogado.

Assim, vidente que para se estabelecer a verba honorária o magistrado

deve apenas ater-se a postura e o trabalho do advogado.

1.3.5 Assistência Judiciária Gratuita e Justiça Gratuita

Com fundamento no princípio da isonomia e do acesso à Justiça, foi

editada a Lei 1.060/50, a qual prevê e estabelece as hipóteses da assistência

judiciária gratuita e justiça gratuita.

Dos “Comentários ao Código de Processo Civil” de Pontes de Miranda

(2001, p. 382), colhe-se:

Assistência judiciária e benefício da justiça gratuita não são a mesma coisa. O benefício da justiça gratuita é direito à dispensa provisória de despesas, exercível em relação jurídica processual, perante o juiz que promete a prestação jurisdicional. É instituto de direito pré-processual. A assistência judiciária é a organização estatal, ou paraestatal, que tem por fim, ao lado da dispensa provisória da despesas, a indicação de advogado. É instituto de direito administrativo. Para o deferimento ou indeferimento do benefício da justiça gratuita é competente o juiz da própria causa. Para a assistência judiciária, a lei de organização judiciária é que determina qual o juiz competente.

Em qualquer um dos dois benefícios os advogados das partes recebem

remuneração. A justiça gratuita não isenta a parte dos honorários

sucumbenciais, assim mesmo sendo vencedor o beneficiário, o seu patrono

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recebe honorários pela parte adversa, no sentido oposto, quem detêm o

beneplácito também deve arcar com a referida verba. Diferentemente da

assistência judiciária, onde quem remunera o patrono da parte que possui

essa benesse é o Estado.

Sobre o tema, complementa Onófrio (1998, p. 91):

No caso do benefício assistencial onde não estão organizadas as Defensorias Públicas, o próprio Estado deve suprir a verba honorária. Caso contrário, obtendo o cliente vantagens econômicas, ele mesmo suporta os honorários do seu advogado ou imputam-se os ônus sucumbenciais à parte perdedora se esta for capaz de suporta-los.

Tangente à Justiça Gratuita, há muito tempo a jurisprudência já vem se

pronunciando que o benefício não exclui a responsabilização pelo ônus de

sucumbência, é o que se retira do precedente do Superior Tribunal de Justiça:

A parte beneficiária da Justiça gratuita sujeita-se ao princípio da sucumbência, não se furtando ao pagamento dos consectários dela decorrentes. A condenação respectiva deve constar da sentença, ficando, contudo, sobrestada até e se, dentro de cinco anos, a parte vencedora comprovar não mais subsistir o estado de miserabilidade da parte vencida. (Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial n. 8.751/SP, 4ª Turma, rel. Min. Sálvio Figueiredo, julg. 17/12/1991)

Atualmente, a Superior Corte continua com o mesmo posicionamento,

evidente nos seguintes julgados: Embargos de Declaração em Recurso

Especial n. 361.415/RS, rel. Min. Luis Felipe Salomão; Recurso Especial n.

977.444/RS, rel. Min. Herman Benjamin; e, Agravo Regimental nos Embargos

de Declaração no Recurso Especial n, 1.031.949/RS, relª. Minª. Nancy

Andrighi.

O que acontece na verdade é a suspensão do direito do advogado em

receber os honorários do beneficiário da Justiça Gratuita, em decorrência de

norma (art. 12 da Lei n. 1.060/50).

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2 PREVISÕES LEGAIS

Este capítulo tem como fundamento estudar as normas que dispõem

sobre a remuneração do advogado, isto é, o Código de Processo Civil,

analisando a sua redação anterior e a atual, bem como, o Estatuto da

Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil.

2.1 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

A legislação instrumental civil que regula sobre os procedimentos das

demandas, dispõe também sobre as despesas que circundam cada processo.

Para a final análise do Código de Processo Civil em vigor, pertinente

faz-se uma passagem à sua previsão anterior, demonstrando as modificações

introduzidas no decorrer do tempo, revelando, assim, a importância dada ao

tema.

2.1.1 Redação Anterior do Código

Cuidava a respeito dos honorários advocatícios os artigos 63, 64 e 205

do Código de Processo Civil de 1939. São as redações dos referidos

dispositivos:

Art. 63. Sem prejuízo do disposto no art. 3º, a parte vencida, que tiver alterado, intencionalmente, a verdade ou se houver conduzido de modo temerário no curso da lide, provocando incidentes manifestamente infundados, será condenada a reembolsar à vencedora as custas do processo e os honorários de advogado.§ 1º Quando, não obstante vencedora, a parte se tiver conduzido de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo, o juiz deverá condená-la a pagar à parte contrária as despesas a que houver dado causa.

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§ 2º Quando a parte, vencedora ou vencida, tiver procedido com dolo, fraude, violência ou simulação, será condenada a pagar o décuplo das custas.§ 3º Si a temeridade ou malícia for imputável ao procurador o juiz levará o caso ao conhecimento do Conselho local da Ordem dos Advogados do Brasil, sem prejuízo do disposto no parágrafo anterior.Art. 64. Quando a ação resultar de dolo ou culpa, contratual ou extracontratual, a sentença que a julgar procedente condenará o réu ao pagamento dos honorários de advogado da parte contrária.Art. 205. No caso de absolvição de instância, o autor será condenado ao pagamento das despesas feitas pelo réu com o preparo da defesa, inclusive honorários de advogado, que o juiz arbitrará.Parágrafo único. Neste caso, ao autor não será lícito renovar a ação sem a prova desse pagamento ou da sua consignação judicial.

Acerca dos preceptivos legais em comento, extrai-se dos

ensinamentos de Carrilho Lopes (2008, p. 44) que essas normas possuíam

um caráter punitivo, transparecendo a subjetividade da responsabilidade por

honorários. Contudo, o autor revela que com a modificação do art. 64 pela Lei

n. 4.632, de 18 de maio de 1965, a qual afastou a exigência de dolo ou culpa,

a responsabilidade passou a ser objetiva.

Explica Mitidiero (2004, p. 203-204):

Antes da codificação de 1939, arcavam com os honorários de seus advogados as partes, respectivamente, sem se perquirir se houve sucesso ou não no desfecho da relação jurídica processual. Com o Código de 1939, art. 64, [...] A culpa, em sentido amplo, era determinante. A Lei n. 4.362/65 deu nova redação art. 64, CPC/39, determinando que a sentença condenaria o vencido a pagar os honorários do advogado do vencedor, estes arbitrados “com moderação e motivadamente” (art. 64, §1º, CPC/39), retirando do campo qualquer relevância ao dolo ou culpa, objetivando o regramento.

Por sua vez, Pontes de Miranda (2001, p. 391) afirma que o texto do

art. 64 foi elaborado conforme posicionado firmado na jurisprudência da

época. Sobre a alteração normativa explicou:

A Lei nº 4.632, de 17 de maio de 1965, retirou as erradas limitações de 1939 e estabeleceu que a sentença final na causa condenaria a parte vencida (note-se bem: a parte vencida) ao pagamento dos honorários do advogado da parte vencedora. Quanto às despesas, já a parte vencedora, qualquer que fosse, tinha direito ao reembolso das despesas do processo (Código de 1939, art. 59).

No mesmo patamar, Ovídio A. Batista da Silva (2000, p. 118) sustenta

que, pela sua primeira redação, o CPC/39 dava ao vencedor o direito de

reaver o monetário utilizado para pagar as despesas do processo. Contudo,

para ser reembolsado da verba advocatícia era necessário que ficasse

provado que a ação resultasse dos casos elencados no art. 63 e/ou 64.

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Ressalta Reis Friede (1996, p. 187) que o CPC/39 previa, em primeiro

momento, que somente a condenação em honorários de sucumbência

atingiria o réu e desde que a ação funda-se em dolo ou culpa do demandado,

fosse ela contratual ou não. Assevera, ainda, que essa injustiça foi corrigida

apenas com a reforma trazida pela Lei 4.632/65, ampliando, dessa forma, a

possibilidade de imposição da verba sucumbencial à parte vencida, sendo ele

demandante ou demandado.

Como doutrina o ilustre Professor Celso Agrícola Barbi (2008, p. 136),

notável é a alteração ocorrida na regulamentação dos honorários

advocatícios. O autor deixa claro que a legislação mais antiga determinava

que cada litigante arcasse com a verba de seu advogado. Coaduna que com

a edição do Código Processual de 1939, o artigo 64 inovou ao dispor que a

parte passiva ao decair na lide responderia, se a demanda fosse decorrente

de dolo ou culpa, pela verba advocatícia formada pela sucumbência.

Auxilia na conclusão da idéia Reis Friede (1996, p. 196):

O avanço foi tímido, e não havia justificativa para que o vencedor, fora dos casos previstos no art. 64, tivesse de arcar com as despesas com seu advogado, porque, com isso, seu direito nunca estaria inteiramente satisfeito: mesmo vencedor, seu patrimônio estava desfalcado da parte gasta com advogado.”

E, posteriormente complementa:

A Lei nº 4.632, de 18 de maio de 1965, modificou o art. 64, acabando com essas desigualdades, que não tinham justificativa em boa doutrina, e uniformizou a questão, determinando que a sentença condenaria o vencido a pagar os honorários do advogado do vencedor. Suprimiu assim a exigência de dolo ou culpa, contratual ou extracontratual. Mandou apenas que a fixação fosse feita com moderação e motivadamente.

Ante o demonstrado, percebe-se que a legislação processual cível

estava em fase de construção quanto aos honorários, exigindo pressupostos

para a perceber a verba utilizada para a contratação de seu advogado. Neste

norte, o Código de 1939 destinava os honorários de sucumbência a parte

processual.

2.1.2 Legislação Atual

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Com poucas alterações do projeto de lei apresentado no Senado no

que concerne as despesas processuais, foi editada e promulgada a Lei nº

5.869, em 11 de janeiro de 1973, o atual Código de Processo Civil, o qual

sofreu algumas alterações por legislações posteriores. É o que narra Reis

Freide (1996, p. 187):

A alteração do caput do art. 20, suprimindo as expressões finais “consoante apreciação eqüitativa” e o acréscimo dos §§3º e 4º, decorreram de emenda (nº 40) do senador Daniel Krieger, aprovada com subemenda tinha a seguinte justificativa: “As emendas apresentadas têm por fim reduzir a apreciação subjetiva do juiz, certo como a lei será tanto mais perfeita quanto menos arbítrio deixar ao magistrado. Por outro lado, os percentuais estabelecidos forma razoavelmente dosados dentro dos critérios tradicionais vigorantes em todo o território nacional, para cobrança de honorários advocatícios.”Informa Alexandre de Paula, no seu Código de Processo Civil Anotado, Editora Revista dos Tribunais, SP, 5ª ed., p. 156, que o “Senado, acolhendo emenda do senador Accioly Filho, adotou para o texto a redação que ele ostenta. Observa o mesmo autor, que apesar desta haver sido rejeitada pela Câmara, curiosamente, quando da redação final publicada no Diário do Congresso Nacional, o texto era o mesmo da emenda aprovada pelo Senado.Finalmente, por força da Lei nº 6.355 de 1976, foi acrescentada a segunda parte do caput. E, já em 5.12.76, foi acrescentado o §5º por via da Lei nº 6.745.

Tem-se ainda que grande parte dos dispositivos os quais cuidavam dos

honorários sofreram alterações pela Lei nº 5.925/73, ou seja, logo após a

edição do Código Instrumental (Lei nº 5.869/73). As normas modificadas por

aquela legislação foram os §§ 1º, 2º, 3º (inclusive suas alíneas) e 4º do art.

20.

Posteriormente, a última transformação ocorreu no §4º do dispositivo

recém citado que pela Lei nº 8.952/94 atingiu a redação atual, incluindo o

cabimento de condenação pelas custas e honorários nas ações executivas,

sendo elas embargadas ou não.

Após todas essas alterações, a legislação em evidência chegou a esta

redação:

Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria.§ 1º O juiz, ao decidir qualquer incidente ou recurso, condenará nas despesas o vencido. § 2º As despesas abrangem não só as custas dos atos do processo, como também a indenização de viagem, diária de testemunha e remuneração do assistente técnico.

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§ 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos: a) o grau de zelo do profissional; b) o lugar de prestação do serviço;c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.§ 4º Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior. § 5º Nas ações de indenização por ato ilícito contra pessoa, o valor da condenação será a soma das prestações vencidas com o capital necessário a produzir a renda correspondente às prestações vincendas (art. 602), podendo estas ser pagas, também mensalmente, na forma do § 2o do referido art. 602, inclusive em consignação na folha de pagamentos do devedor.Art. 21. Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, serão recíproca e proporcionalmente distribuídos e compensados entre eles os honorários e as despesas.Parágrafo único. Se um litigante decair de parte mínima do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e honorários.

Dos comentários de Barbi (2008, p. 137), vislumbra-se evidente o

posicionamento favorável do autor no que atina a adoção do princípio da

sucumbência para impor ao vencido o pagamento dos ônus do processo. O

autor destaca que a emenda legislativa originou-se da irresignação dos

advogados quanto à fixação de parâmetros excessivamente parcos pelos

magistrados para a sua remuneração.

Completando a idéia de Barbi, Reis Friede (1996, p. 196) relata:

A queixa dos advogados tinha procedência, e não se destinava especificamente a defender interesses pessoais seus, e sim os de seus clientes; como o advogado, geralmente, contrata com o seu cliente honorários que vão de 10% a 20%, o profissional recebia do seu constituinte aquilo que foi contratado. Mas este ficava realmente prejudicado quando os honorários fixados na sentença eram inferiores ao que contratara.Desse modo, a finalidade da lei, de dar ao vencedor plena satisfação do seu direito, ficava frustrada pela modicidade da condenação, que não correspondia àquilo que, razoavelmente, contratara com seu advogado.

Leciona Humberto Theodoro Júnior (2009, p. 92-93) que a

sucumbência implica na condenação da parte que teve um resultado negativo

na demanda, o pagamento das custas que o vencedor antecipou e honorários

advocatícios. Entretanto, ressalta, conforme estabelece o § 1º, do art. 20, do

CPC, que em se tratando de incidente ou recurso, o vencido suportará

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somente as despesas processuais, as quais não incluem a verba do

advogado.

O autor faz diferenciação do caput do comentado artigo com o § 1º,

trazendo que a decisão terminativa do processo em primeiro grau, a

sentença, com ou sem resolução da matéria de fundo, deve determinar quem

se obriga pelos ônus sucumbenciais, isto com relação ao caput. Por outro

lado, incidirá na hipótese do § 1º, a decisão interlocutória proferida nos

incidentes ou nos recursos, onde haverá a condenação somente pelas

despesas decorrentes do processamento dos autos.

Sobre a verba advocatícia sucumbencial nas espécies de tutela

jurisdicional, dispõe José Roberto dos Santos Bedaque no Código de

Processo Civil Interpretado (2008, p. 76), de coordenadoria de Antonio Carlos

Marcato:

O § 3º limita-se a estabelecer regras para os honorários a sentença condenatória. Como as tutelas podem ser de outra natureza (declaratórias, constitutivas, executivas e cautelares), necessário regular também essas situações, pois insuficiente o critério adotado para as condenatórias.Daí o § 4º, segundo o qual, se não houver condenação, os honorários serão arbitrados pelo julgador em função das especificidades da situação. É o julgamento por eqüidade, mediante o qual se pretende alcançar a solução mais justa possível para o caso concreto.Não se trata de conferir ao juiz poder discricionário, mas simplesmente de dota-lo de maior liberdade para interpretar os dados relevantes à fixação dos honorários. Aqui, com maior razão, a decisão necessita ser precedida de fundamentação adequada, possibilitando à parte insatisfeita o exame e a impugnação dos argumentos adotados pelo julgador, que não pode prescindir dos elementos concretos referidos pelas alíneas a, b e c do § 3º.

Cândido Rangel Dinamarco (2009, p. 666) após reconhecer que o

Código de Processo Civil atual adota a sucumbência como fator determinante

para obrigar uma das partes à custas do processo, afilia-se ao entendimento

de Carnelutti, Piero Pajardi, Yussef Cahali e Bruno Vasconcelos Carrilho

Lopes, mencionando-os em sua obra, de que esse critério é apenas um

indicador do verdadeiro princípio a ser utilizado, o da causalidade. Identifica

que este preceito aponta para quem deu causa ao processo, devendo este

responder pelas despesas. Afirma que a sucumbência está inserida dentro do

princípio da causalidade.

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Ao tratar do cabimento da verba patronal nas espécies de processo, o

mesmo autor (2009, p. 680) expõe que ela é admitida nas ações de

conhecimento, nas cautelares e executórias, inclusive embargada. Assevera,

ainda, que no procedimento monitório os honorários serão cabíveis no caso

do processo vier a ser embargado e a parte sucumbir ou, independente dos

embargos, o réu desatender o comando judicial.

Por outro lado, tem-se que “não cabe condenação em honorários de

advogado na ação de mandado de segurança” (Súmula 512 do Supremo

Tribunal Federal), posicionamento adotado desde 1969.

Como demonstra Carrilho Lopes (2008, p. 232), no Juizado Especial

Cível, inexiste condenação em ônus sucumbenciais em primeiro grau,

excepcionados apenas os casos de litigância de má-fé (art. 55 da Lei n.

9.099/95). Todavia, ascendendo o processo à Turma de Recursos, o vencido

suportará a condenação de pagamento das custas processuais e os

honorários de advogado.

Não obstante, não resta dúvida quanto ao direito do advogado que

patrocina em seu próprio favor em receber remuneração decorrente do litígio

processual.

Por fim, denota-se da simples leitura dos citados artigos que os

honorários são arbitrados como forma de remuneração do causídico. Tanto

que ao fixar a verba o magistrado deve ater-se ao serviço prestado pelo

advogado junto à causa, em atenção as alíneas ‘a’, ‘b’ e ‘c’ inseridas no § 3º,

do artigo 20, da Código Buzaid. Conclusão que se extrai dos ensinamentos de

Mitidiero (2004, p. 205-207).

2.1.3 Súmula 306 do Superior Tribunal de Justiça

Em julgamento realizado na data de 03/11/2004, a Corte Especial do

Superior Tribunal de Justiça editou súmula com o subseqüente enunciado:

Os honorários advocatícios devem ser compensados quando houver sucumbência recíproca, assegurado o direito autônomo do advogado à execução do saldo sem excluir a legitimidade da própria parte. (Súmula 306 do STJ)

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O preceito possui como referência legislativa os arts. 21 do Código de

Processo Civil de 1973 e o 23 do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos

Advogados do Brasil de 1994, ambas legislações federais.

2.1.3.1 Origem da Súmula

Segundo consta do sítio da Corte Superior, os precedentes que deram

ensejo a edição da súmula foram os seguintes julgados: 1) Embargos de

Declaração no Recurso Especial nº 139.343/RS, da Terceira Turma, de

relatoria do Min. Ari Pargendler, julgado em 11/06/2003; 2) Recurso Especial

nº 290.141/RS, da Terceira Turma, de relatoria do Min. Carlos Menezes de

Direito, julgado em 21/11/2001; 3) Recurso Especial nº 188.648/RS, da

Terceira Turma, de relatoria do Min. Castro Filho, julgado em 28/05/2002; 4)

Recurso Especial nº 155.135/MG, da Terceira Turma, de relatoria do Min.

Nilson Naves, julgado em 13/06/2001; 5) Recurso Especial nº 263.734/PR, da

Quarta Turma, de relatoria do Min. Barros Monteiro, julgado em 21/06/2001;

6) Recurso Especial nº 234.676/RS, da Quarta Turma, de relatoria do Min.

Cesar Asfor Rocha, julgado em 15/02/2000; 7) Recurso Especial nº

164.249/RS, da Quarta Turma, de relatoria do Min. Sálvio de Figueiredo

Teixeira, julgado em 08/06/1998; e, 8) Recurso Especial nº 149.147/RS, da

Quarta Turma de relatoria do Min. Rui Rosado de Aguiar, julgado em

25/03/1998.

As bases decisórias utilizada para a construção da súmula, são

provenientes da Terceira e Quarta Turma julgadoras do Superior Tribunal de

Justiça. Os julgados mencionados entendem que não há conflito entre as

normas, já que a compensação ocorre anteriormente ao direito superveniente

de executar os honorários.

2.1.3.2 Matéria Não Unânime

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Ainda assim, mesmo com a vigência da súmula, os tribunais estaduais

pátrios discordam do entendimento. Citam-se alguns julgados:

APELAÇÃO CÍVEL. VERBAS SUCUMBENCIAIS. HONORÁRIOS E CUSTAS PROCESSUAIS. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. APLICAÇÃO DO ART. 21, CAPUT, DO CPC. DISTRIBUIÇÃO PRO-RATA DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NÃO COMPENSADOS. VERBA PERTENCENTE AO ADVOGADO. PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO. A SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA IMPLICA NA DISTRIBUIÇÃO PRO-RATA DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS POR IMPOSIÇÃO DA REGRA PREVISTA NO ART. 21, CAPUT, DO CPC. OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NÃO SÃO PASSÍVEIS DE COMPENSAÇÃO, POIS ESTA SÓ É POSSÍVEL ENTRE DEVEDOR E CREDOR. A VERBA ADVOCATÍCIA PERTENCE AO ADVOGADO, QUE TEM DIREITO AUTÔNOMO PARA EXECUTAR A SENTENÇA, SEGUNDO A DICCÇÃO DO ART. 23 DA LEI Nº 8.906/94. ESTATUTO DA ADVOCACIA E DO ADVOGADO. QUE ALÉM DE ESPECIAL QUANTO À DEFINIÇÃO DOS HONORÁRIOS, É POSTERIOR AO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. (Tribunal de Justiça do Espírito Santo, Apelação Cível n. 45050002901, Quarta Câmara Cível, rel. Des. Ney Batista Coutinho, julg. 13/01/2009).AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. [...] ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. COMPENSAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. [...] A distribuição dos ônus sucumbenciais - Custas processuais e honorários advocatícios -Deve obedecer, em regra, ao princípio da sucumbência (art. 20, caput, do CPC), segundo o qual tais despesas devem ficar a cargo da parte vencida quanto à respectiva pretensão deduzida em juízo. -Não há que se falar em compensação dos honorários, porquanto o mencionado art. 21 do CPC foi parcialmente revogado pelo art. 23 da Lei nº 8.906/94, o qual prescreve que "os honorários incluídos na condenação por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor". - Considerando-se que a condenação possui baixo valor, os honorários advocatícios devem ser fixados conforme o § 4º do art. 20 do CPC. (Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Apelação Cível n. 1.0024.06.120303-0/0011, de Belo Horizonte, Décima Oitava Câmara Cível, rel. Des. Elpidio Donizetti, julg. 17/03/2009).APELAÇÃO CÍVEL – EMBARGOS À EXECUÇÃO –COMPENSAÇÃO DE HONORÁRIOS – VERBA QUE PERTENCE AO ADVOGADO (ART. 23, CPC) – IMPOSSIBILIDADE [...] Os honorários de sucumbência pertencem aos patronos e não às partes, por isso não devem ser objeto de compensação. [...] (Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul, Apelação Cível n. 2008.004260-0/0000-00, de Chapadão do Sul, Terceira Turma Cível, rel. Des. Oswaldo Rodrigues de Melo, julg. 02/03/2009).Compensação de honorários - Impossibilidade - Recurso parcialmente provido. 1. Tendo a autora decaído de metade dos

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pedidos elaborados na inicial, correta a condenação das partes ao pagamento de 50% das custas processuais e honorários advocatícios. 2. Não cabe a compensação de honorários advocatícios em caso de sucumbência recíproca, ao passo que tais verbas pertencem exclusivamente aos advogados das partes que atuaram no processo. Art. 23 do estatuto do advogado. Manutenção da proporção de condenação da sucumbência - Parcial provimento dos recursos. 1. Em razão do parcial provimento das apelações, a condenação de cada parte à sucumbência deve permanecer na proporção em que fixada pela sentença. (Tribunal de Justiça do Paraná, Apelação Cível n. 0400851-5, de Maringá, Décima Quarta Câmara Cível, rel. Des. Glademir Vidal Antunes Panizzi, julg. 18/02/2009).

Desta forma, observa-se que os magistrados, perante julgamento

colegiado, ainda tomam posicionamento diferente da matéria já sumulada

pelo Tribunal Superior. Nesse passo, funda-se a pertinência do presente

trabalho, a fim de verificar a coerência da súmula editada, a ponto de

demonstrar a possível necessidade de sua revisão ou ainda de sua

revogação.

2.1.3.3 Inexistência de Efeito Vinculante

A Emenda Constitucional de n. 45/2004, possibilitou ao Supremo

Tribunal Federal o poder de editar súmulas com efeito vinculante. Este tipo de

enunciado vincula todos os órgãos do judiciário e da administração pública

direta e indireta. Dedução dos ensinamentos de Wambier (2008, p. 689).

Quanto ao objeto da súmula vinculante, Didier Jr. (2009, p. 399)

estabelece:

Somente se admite a edição de enunciado sumular com eficácia vinculante que tenha por objeto a interpretação ou a verificação da validade ou da eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários, ou entre esses e a administração pública, que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica (art. 103-A, §1º, CF; art. 2º, §1º, Lei n. 11.417/2006). Importante destacar que só se admite a edição de enunciado vinculante sobre matéria constitucional (art. 103-A, caput, CF; art. 2º, caput, Lei n. 11.417/2006).

Assim, como a súmula do STJ em estudo (Súmula 306) não possui

efeito vinculante, seja por causa da competência exclusiva do STF em editá-

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la, ou, ainda, por não transparecer, de plano, matéria constitucional, alguns

julgadores dessa pátria tomam posicionamento diferente do enunciado,

conforme já demonstrado no item anterior.

2.2 ESTATUTO DA ADVOCACIA E A ORDEM DOS ADVOGADOS DO

BRASIL

O Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n.

8.906/94) regula, em seu 6º capítulo, os honorários advocatícios. Dispõe os

artigos pertinentes:

Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência.§ 1º O advogado, quando indicado para patrocinar causa de juridicamente necessitado, no caso de impossibilidade da Defensoria Pública no local da prestação de serviço, tem direito aos honorários fixados pelo juiz, segundo tabela organizada pelo Conselho Seccional da OAB, e pagos pelo Estado.§ 2º Na falta de estipulação ou de acordo, os honorários são fixados por arbitramento judicial, em remuneração compatível com o trabalho e o valor econômico da questão, não podendo ser inferiores aos estabelecidos na tabela organizada pelo Conselho Seccional da OAB.§ 3º Salvo estipulação em contrário, um terço dos honorários é devido no início do serviço, outro terço até a decisão de primeira instância e o restante no final.§ 4º Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de expedir-se o mandado de levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos diretamente, por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os pagou.§ 5º O disposto neste artigo não se aplica quando se tratar de mandato outorgado por advogado para defesa em processo oriundo de ato ou omissão praticada no exercício da profissão.Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor.Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato escrito que os estipular são títulos executivos e constituem crédito privilegiado na falência, concordata, concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial.§ 1º A execução dos honorários pode ser promovida nos mesmos autos da ação em que tenha atuado o advogado, se assim lhe convier.

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§ 2º Na hipótese de falecimento ou incapacidade civil do advogado, os honorários de sucumbência, proporcionais ao trabalho realizado, são recebidos por seus sucessores ou representantes legais.§ 3º É nula qualquer disposição, cláusula, regulamento ou convenção individual ou coletiva que retire do advogado o direito ao recebimento dos honorários de sucumbência.§ 4º O acordo feito pelo cliente do advogado e a parte contrária, salvo aquiescência do profissional, não lhe prejudica os honorários, quer os convencionados, quer os concedidos por sentença.Art. 25 e 25-A. (omissis)Art. 26. O advogado substabelecido, com reserva de poderes, não pode cobrar honorários sem a intervenção daquele que lhe conferiu o substabelecimento.

De seus comentários ao EAOAB, Gondin Ramos (2009, p. 313)

compreende que com o atual Estatuto houve uma inovação quanto ao

conceito de honorários, retirando-se dele a imagem preconceituosa existente,

mesmo tendo sido mantida a nomenclatura da palavra. Baseada no art. 22 do

Estatuto, afirma que se o advogado prestou os serviços contratados, cabe-lhe

a remuneração acordada, e como é direito do causídico, este possui direito

para opor ao cliente o pagamento de sua verba.

Para Paulo Lôbo (2009, p. 141), a única possibilidade de o procurador

não receber remuneração é quando o advogado é constituído para proteger

os interesses de outro membro da mesma classe em processo que tenha

finalidade de verificar ato ou omissão do causídico ocorrido nas funções de

sua atividade. Coaduna com o entendimento Azize Dibo Neto (1994, p. 51):

O advogado, quer como cidadão ou profissional, pode figurar em ambos os pólos da demanda judicial. O novo EAOAB previa a circunstância de constar o mesmo no pólo passivo de processo que procura apurar ato ou omissão praticado no exercício da profissão. Em tal caso, não é de se aplicar o disposto no art. 22, significando dizer que haverá honorários quando o mandato é outorgado por advogado para defesa nessas hipóteses. Em outras palavras: advogado que contrata colega para atuar em processo oriundo de ato ou omissão verificados no exercício de sua profissão, salvo acordo em contrário, não deve honorários.

Em seu artigo, Carlos Roberto Faleiros Diniz (2004, p. 29), esclarece

que até a 1994, tinha-se claro que a condenação em honorário de

sucumbência era uma forma de retribuir a parte vencedora com o

ressarcimento, mesmo que parcial, do valor despendido para a contratação

do advogado. Entretanto, com a entrada em vigor do EAOAB, essa verba

passou a pertencer ao advogado, por força do art. 23, corroborado pelos arts.

40 do CED e 20, § 3º do CPC. Ressaltou, também, que os honorários

contratuais diferem e muito dos sucumbenciais, não podendo haver uma

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confusão entre os dois, afirmando que o recebimento do primeiro não obsta o

direito do advogado em perceber o segundo tipo, sob pena de inexistir

reconhecimento do trabalho realizado pelo patrono no decorrer da causa.

Sob outra óptica, ao contrário do já demonstrado, Luiz Guilherme

Marinoni e Daniel Mitidiero (2008, p. 119), em análise ao artigo 23 do EAOAB,

chegaram à seguinte conclusão:

O art. 23, EOAB, todavia, só incide se o advogado não recebeu qualquer valor a título de honorários advocatícios de seu cliente (ou, então, recebeu apenas parcialmente) ou, ainda, contratou que receberia a verba prevista contratualmente e aquela porventura decorrente da sucumbência da parte contrária. Fora desses casos, cabe ao cliente a verba arbitrada a título de honorários advocatícios.

O § 3º do art. 24 foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal

Federal em decorrência do julgamento da Ação Direta de

Inconstitucionalidade de n. 1.194-4, que assim determinou:

ESTATUTO DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - OAB. ARTIGOS 1º, § 2º; 21, PARÁGRAFO ÚNICO; 22; 23; 24, § 3º; E 78 DA LEI N. 8.906/1994. [...] ART. 24, § 3º: OFENSA À LIBERDADE CONTRATUAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PARCIALMENTE PROCEDENTE. [...] 5. Pela interpretação conforme conferida ao art. 21 e seu parágrafo único, declara-se inconstitucional o § 3º do art. 24 da Lei n. 8.906/1994, segundo o qual “é nula qualquer disposição, cláusula, regulamento ou convenção individual ou coletiva que retire do advogado o direito ao recebimento dos honorários de sucumbência”. 6. Ação direta de inconstitucionalidade conhecida em parte e, nessa parte, julgada parcialmente procedente para dar interpretação conforme ao art. 21 e seu parágrafo único e declarar a inconstitucionalidade do § 3º do art. 24, todos da Lei n. 8.906/1994. (Supremo Tribunal Federal; ADI n. 1.194-4; Tribunal Pleno; rel. Min. Maurício Corrêa; julg. 20/05/2009)

Quanto ao pagamento da verba advocatícia contratual, Lôbo (2009, p.

147) afirma que o EAOAB estabeleceu regra supletiva a ser seguida para a

satisfação da obrigação, dividindo-a em 3 partes: 1/3 na contratação, 1/3 após

a sentença proferida no primeiro grau e o restante (mais 1/3) ao final do

processo. Tal regra é aplicável quando as partes (cliente e advogado)

omitiram-se sobre a forma de pagamento dos honorários. Contudo, nada

impede as partes, em razão da livre autonomia contratual, de prever de forma

diversa.

Daniel Francisco Mitidiero (2004, p. 204), tece os seguintes

comentários quanto ao cabimento da condenação:

Observe-se, de chofre, que o termo “condenação”, empregado no art. 23, está a abarcar tudo que se encontra em qualquer petição, não se referindo, portanto, especificamente à carga eficacial condenatória

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(rectius: executiva obrigação mutilada). O artigo incide em qualquer demanda (“ação” processual), qualquer que seja a carga eficacial preponderante da ação material nela afirmada.

Por outro lado, matéria sumulada e incontroversa é a que “os

honorários advocatícios não podem ser fixados em salários mínimos” (Súmula

201 do Superior Tribunal de Justiça). Ainda assim, segundo o Código de Ética

e Disciplina, os honorários devem ser fixados pelos elementos inseridos em

seu art. 36, conforme orienta a doutrina de Lôbo (2009, p. 139-140).

2.2.1 Direito Autônomo dos Advogados

Importante se faz uma análise especial sobre o que se trata o direito

autônomo do advogado referido no art. 23 do EAOAB.

Azize Dibo Neto (1994, p. 51) sustenta que:

Independentemente da forma pela qual os honorários sejam incluídos na condenação – arbitramento ou sucumbência –pertencem ao advogado, assegurando-se-lhe direito autônomo sobre aquele quantum. Poderá até mesmo executar a sentença nesta parte requerendo a expedição do precatório em seu favor. Encerra-se a discussão, portanto, sobre quem é parte legítima para reivindica-los.

Para o Juiz Federal Anselmo Gonçalves da Silva (2000, p. 194), tem-se

claro que com a vigência do art. 23, o qual dá ao advogado o direito de

execução sobre o honorário de sucumbência, houve a derrogação do art. 20

do CPC, em virtude de o EAOAB repassar a legitimidade ao causídico, de

forma que este passou a ser o legitimado sobre o crédito advindo da

condenação da parte ex adversa, inclusive para eventual irresignação do

valor arbitrado. Segundo o autor:

Isso decorre da constatação de que não se pode admitir a dupla titularidade sobre um crédito que, por força de lei, pertence exclusivamente ao advogado (direito próprio e autônomo), sendo essa razão da ressalva legal de que o mesmo tem direito autônomo –e não concorrente – para executar a sentença nessa parte.

Por sua vez, entende Yussef Said Cahali (1997, p. 804-805):

Mas, estabelecendo a lei, a partir de então, uma comunhão de interesses entre o advogado e o cliente vencedor, a instauração do processo executório em nome apenas deste não constitui nenhuma irregularidade, porquanto o art. 23, ao assegurar o benefício do direito autônomo aos honorários de sucumbência, refere-se à possibilidade de requerer o precatório (ou levantamento) em seu

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nome, não havendo óbice, portanto, a que o patrono promova a execução em nome do cliente pelo todo da condenação.

Gladston Mamede (2003, p. 302-303), declara que por pertencerem ao

advogado os honorários de sucumbência, decorrente de destinação

normativa, a execução da verba pode ocorrer nos mesmos autos em que a

parte adversa foi incumbida ao pagamento. Assevera que o causídico possui

três possibilidades para executar seu crédito, destaca-se:

(1) execução dos mesmos em nome próprio e em autos apartados; (2) execução em nome próprio e nos mesmos autos da ação em que tenha atuado; (3) execução em nome do cliente, junto com o que a esse seja de direito, nos mesmos autos da ação em que tenha atuado.

O autor esclarece que essa última possibilidade de ação é reconhecida

pelos pretórios pátrios, desde que o procurador do exequente seja o titular

dos honorários sucumbenciais. Fundamenta sua doutrina em um julgado do

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, que assim decidiu:

A referida disposição legal, embora confira ao advogado o direito autônomo de executar a sentença condenatória referentemente aos seus honorários advocatícios, não exclui o cliente, de parte da ação judicial que assim constituiu o título, como legitimado para também executar a sentença integralmente, inclusive quanto aos honorários de seu patrono. Observa-se que as expressões: ‘tendo este direito autônomo’ e ‘podendo requerer’, apenas facultam ao advogado a possibilidade do exercício desse seu direito independente, o que não exclui também o direito da parte de executá-la, embora esta não tenha disponibilidade sobre a verba, não podendo a ela renunciar nem fazer qualquer transação com o vencido sem o consentimento prévio do seu patrono. A execução autônoma dos honorários de sucumbência, nos mesmo autos ou em processo distinto, pelo advogado constituído, é caso típico e excepcional em que a lei permite a modificação ou a substituição da figura do credor, embora o título – no caso judicial - não o indique diretamente como tal, mas não exclui a possibilidade de o próprio credor, referido no título, promover a execução.” (Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Apelação Cível n. 237.924-6, rel. Juiz Geraldo Augusto)

Marques (2003, p. 565) estabelece que, não importando a natureza da

sentença, cabe ao advogado os honorários fixados contra a parte vencida.

Inclusive quando houver transação entre as partes após o proferimento da

sentença, o procurador pode cobrar a verba através de procedimento

executivo.

Já para Ovídio Baptista (2000, p. 124):

O art. 23 do Estatuto da Advocacia (Lei 8.906, de 04.07.1994) diz pertencerem ao advogado os honorários incluídos na condenação, tendo ele “direito autônomo” para executar a sentença nesta parte. Deve entender-se que este direito pressupõe que o advogado não

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tenha ainda recebido integralmente seus honorários do cliente, pois, se tal ocorreu, ao cliente cabe a legitimação para postular o reembolso contra o vencido, salvo se o advogado tiver direito aos honorários de sucumbência por haver contratado com o cliente que estes lhe pertencessem, em caso de vitória, cumulativamente com os honorários entre eles ajustados.

Feitas essas considerações, passa-se a uma análise mais perfunctória

ao instituto da compensação que trata o art. 21 do Código de Processo Civil,

bem como, ao possível conflito de normas que foram tratadas nesse capítulo.

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3 O INSTITUTO DA COMPENSAÇÃO, O CONFLITO APARENTE DE

NORMAS E A ANÁLISE JURISPRUDENCIAL

Este capítulo tem como base estudar o instituto da compensação a que

se refere o art. 21 do Código de Processo Civil, assim como, verificar o

possível conflito de normas e analisar as motivações utilizadas pelos

julgadores no que tange a aplicação do instituto com relação aos honorários

advocatícios.

3.1 INSTITUTO DA COMPENSAÇÃO (DIREITO OBRIGACIONAL)

Em seu 4ª volume, ao tratarem da extinção de obrigações, Washington

de Barros Monteiro e Carlos Alberto Dabus Maluf (2009, p. 327), relembram

que a compensação é um modo econômico e célere para extinção de duas

obrigações. Asseveram que com esse método evita-se o risco de insolvência

por parte de um dos credores, já que não há o desembolso de qualquer valor

pelas partes.

Para Gagliano e Pamplona Filho (2009, p. 191-193) existem 3 tipos de

possibilidade de compensação: a legal, a convencional e a judicial. Em

apertada síntese, pode-se retirar dos ensinamentos que a legal é decorrente

de lei, a qual o juiz apenas tem o dever de reconhecê-la quando satisfeitos os

requisitos legais, determinando assim a sua realização. Por sua vez a

convencional, estabelece-se do acordo de vontade das partes que possuem

crédito e débito ao mesmo tempo. Já a judicial, a qual merece maior atenção,

é aquela que acontece quando existe autorização de norma processual e é

determinada pelo juízo, independente de consentimento das partes litigantes.

Cita como um exemplo excelente, a compensação presente no art. 21 do

Código de Processo Civil.

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Sobre a matéria, Paulo Nader (2008, p. 348) afirma que “pode-se dizer

que a compensação é uma aplicação, na esfera psicológica, da lei do menor

esforço, a qual sugere a exclusão das dívidas, em lugar do duplo esforço, de

cada parte, para pagar e receber.” (in Curso de Direito Civil, 2008, p. 348).

Venosa (2007, p. 252) trata a compensação como uma forma indireta

para a extinção das obrigações. Diz, na verdade, ser uma forma diferente de

extinção por pagamento. Afirma que o extermínio da obrigação por

compensação ocorre por via oblíqua, com ela poupa-se a interposição de

duas ações para cobrarem cada parte o seu crédito, propiciando, inclusive, o

adimplemento mais célere.

3.1.1 Conceito

Para melhor compreender a compensação, inicialmente buscar-se-á o

seu conceito nas doutrinas.

Argumenta Orlando Gomes (2007, p. 159):

As pessoas podem ter dívidas recíprocas. O fato não teria maior significado se a lei não determinasse, ou permitisse, o encontro dessas dívidas, com o fim de extingui-las, até a concorrente quantia. A esse modo de extinção dos créditos chama-se compensação.

Silvio de Salvo Venosa (2003, 295) entende que compensar é uma

forma de “contrabalançar, contrapesar, equilibrar” as obrigações presentes.

Estabelece seu significado como sendo “um acerto de débito e crédito entre

duas pessoas que têm, ao mesmo tempo, a condição recíproca de credor e

devedor, uma conta de chegada, em sentido mais vulgar”.

De maneira mais didática, Arnaldo Rizzardo (2009, p. 401-402)

explicita que:

De início, insta saber que há duas pessoas, as quais têm crédito e débitos uma em relação à outra. O binômio credor e devedor inverte-se em devedor e credor. O credor é ao mesmo tempo devedor de seu devedor, e este é credor de seu credor. Há aparente redundância de palavras, mas que, na prática, tal não ocorre, porquanto tem-se um crédito a receber e ao mesmo tempo deve-se uma obrigação. E para evitar que cada pessoa ingresse com a ação de cobrança, ora figurando como autora e ora como ré, permite o direito que tudo se resolva na mesma relação, ou na mesma ação.

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Chega-se a que existem dois créditos e duas obrigações. A compensação extingue os dois crédito e os dois débitos. Define-se a compensação, pois, como o desconto, ou o encontro de contas, que duas pessoas fazem uma em relação à outra, relativamente ao que devem e têm a receber.

Flávio Tartuce (2008, p. 187) entende que a compensação ocorre

“quando duas ou mais pessoas forem ao mesmo tempo credoras e devedoras

umas das outras, extinguindo-se as obrigações até o ponto em que se

encontrarem, onde se equivalerem.” (in Direito Civil: direito das obrigações e

responsabilidade civil, 2008, p. 187).

3.1.2 Requisitos Necessários

A reciprocidade de créditos, a homogeneidade das prestações, a

liquidez, certeza e exigibilidade, são requisitos trazidos por Venosa (2007, p.

254).

Ao analisar o primeiro requisito, Arnaldo Rizzardo (2009, 405) assevera

que deve haver em cada parte da relação a figura do credor e devedor ao

mesmo tempo, ou seja, uma simultaneidade de obrigações, conforme

estabelece o art. 3689 do Código Civil.

A liquidez das dívidas deve ter correlação com o quantum10 devido por

ambas as partes, um valor certo, isto segundo Paulo Nader (2008, p. 356). A

certeza refere-se a existência das dívidas, sem que elas estejam sujeitas a

alguma eventualidade. Por sua vez, a exigibilidade significa que as dívidas

devem estar vencidas, pois somente desta forma é que poderão ser exigíveis.

É o que complementa Gonçalves (2008, p. 330) e Caio Mário da Silva Pereira

(2004, p. 260).

No que tange a homogeneidade das prestações, Pablo Stolze Gagliano

e Rodolfo Pamplona Filho (2009, p. 195) entendem que os débitos devem

possuir a mesma natureza, sejam coisas fungíveis entre si.

9 Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.

10 Quantidade, Montante, Valor. (tradução livre)

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De maneira bem resumida Orlando Gomes (2007, p. 161) explicita:

Compensam-se apenas as dívidas consistente na dação de coisas fungíveis que possam se encontrar, como se verifica, mais freqüentemente, com as dívidas pecuniárias. Em suma, somente as obrigações genéricas admitem a compensação legal. [...] Exige-se, na compensação legal, que as dívidas sejam líquidas, isto é, certas quanto à existência e determinadas quanto ao objeto. [...] Requer a lei, por fim, que as dívidas estejam vencidas. Do contrário, ocorreria injustificável antecipação do pagamento. É preciso que o direito de exigir o pagamento já exista para os interessados na compensação.

Desta feita, a compensação não passa de uma maneira de quitar

débitos sem que haja necessariamente um pagamento.

3.1.3 Efeitos

Concretizado o seu conceito, importante visualizar os seus efeitos, o

que acarreta a utilização do instituto em estudo.

Nader (2008, p. 362) estabelece como efeitos da compensação:

O efeito máximo da compensação é a extinção das obrigações, que se excluem reciprocamente pelo valor da prestação menor. A liberação dos devedores pode ser total ou parcial, segundo a compensação provoque a extinção integral ou não das dívidas. A compensação produz iguais efeitos aos do pagamento.

Aplicando ao estudo, José Roberto dos Santos Bedaque, na obra

Código de Processo Civil Interpretado (2008, p. 80), de coordenação de

Antonio Carlos Marcato, ao analisar o artigo 21 do diploma em comento, tem

a seguinte óptica sobre a compensação:

Prevê ainda o legislador a compensação recíproca entre as despesas e os honorários. Isso significa que, mesmo nas hipóteses de percentual idêntico para cada um dos litigantes, é preciso verificar se houve antecipação de algum gasto para ser compensado no débito final.Assim, se o aturo antecipou 100 relativos aos honorários do perito e ao final restarem 100 de despesas para serem divididos entre as partes, nada mais é devido por ele. Como o total é 200 e considerando que cada um deve arcar com 50% desse valor, o autor já satisfez integralmente a sua obrigação.

Para Dinamarco (2009, p. 669), a compensação dar-se-á através da

subtração aritmética dos créditos da verba advocatícia decorrente da perda

parcial de sua pretensão processual, isto é, diminuir-se-á da parte que obteve

maior sucesso na demanda por aquela que possuiu em menor proporção,

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chegando a um resultado que somente uma das partes terá um saldo a

receber. Na mesma obra (2009, 669-670), o autor comenta:

“Pertencendo os honorários da sucumbência ao advogado e não à própria parte vencedora (EA, art. 23 [...]), seria impossível operar-se uma compensação na hipótese do art. 21 do Código de Processo Civil, porque inexiste um sujeito que seja ao mesmo tempo credor e devedor de um outro mesmo sujeito (CC, art. 368). Mas a jurisprudência admite a compensação, dizendo a Súmula 306 do Superior Tribunal de Justiça que “os honorários advocatícios devem ser compensados quando houver sucumbência recíproca, assegurado o direito autônomo do advogado pelo saldo, sem excluir a legitimidade da própria parte”. Adotada essa linha, ou se entende que na realidade os honorários da sucumbência não pertencem invariavelmente ao advogado, mitigada portanto a regra do art. 23 do Estatuto da Advocacia, ou será essa uma falsa compensação (haverá um superamento das sucumbências, para que, diante do caso concreto, se imponha uma condenação honorária em valor menor que o da sucumbência ou mesmo para não se impor qualquer condenação honorária – Bruno Vasconcelos Carrilho Lopes).

Nessa linha, complementa Ernane Fidélis dos Santos (2007, p. 121):

Se o pedido, no entanto, for atendido a mais ou a menos de cinqüenta por cento e o juiz quiser fazer a fixação de honorários advocatícios em cotas iguais, como comumente ocorre, faz-se a compensação e as despesas se pagam proporcionalmente. O autor pediu cem e ganhou setenta. Pagará ele trinta por cento das despesas e o réu setenta. Fixando-se honorários em dez por cento, o autor receberá sete e o réu três. Compensando-se, o autor recebe quatro. [...]O art. 23 da Lei n. 8.906/94 (Estatuto da OAB) estabelece, agora, que os honorários da condenação, em razão de arbitramento ou sucumbência, pertencem, em princípio, ao advogado e não à parte, conforme se entendia. Não há, contudo, exclusão da possibilidade da compensação, porque os honorários são ônus processuais, estabelecidos de acordo com o resultado do processo, não importa a quem se destinem.

Por derradeiro, chega-se a conclusão que a compensação transparece

em uma medida a qual acarreta na extinção de obrigações recíprocas e

simultâneas para ambas as partes, já que o sujeito que deveria receber o

montante maior, tem solvido parcialmente seu crédito pelo o do seu devedor..

3.2 CONFLITO APARENTE DE NORMAS

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Diante da cristalina divergência dos julgadores no que tange a vigência

conjunta dos art. 23 do EAOAB e do art. 20 do CPC, viável o estudo do

possível conflito entre as normas.

Antes de adentrar ao alvo do trabalho, necessário se faz uma incursão

sobre o conflito de normas.

Fazendo menção a Tércio Sampaio Ferraz Jr., Maria Helena Diniz

(2007, p. 19) afirma que a antinomia jurídica é a oposição entre duas normas

que sejam contraditórias, podendo ser total ou parcial, sejam elaboradas por

autoridades competentes no mesmo âmbito normativo e, ainda, possa dar, a

quem irá utilizá-las, mais de uma alternativa a ser optada, causando, desta

forma, uma dúvida jurídica.

De maneira mais sucinta, a doutrinadora registra para o conflito de

normas deve haver três condições imprescindíveis: “a) incompatibilidade; b)

indecidibilidade; e, c) necessidade de decisão.” (in Conflito de Normas, 2007,

p. 24)

Vera Lúcia de Ávila Lima (2003, p. 51) faz o seguinte resumo no que

tange ao conflito de normas:

A antinomia jurídica ocorre quando existem prescrições legais incompatíveis entre si, como, por exemplo, quando uma norma obriga a uma determinada conduta e outra norma proíbe a mesma conduta. A doutrina distingue as antinomias de primeiro grau, ou meramente aparentes, das antinomias de segundo grau, ou reais. Antinomias aparentes seriam aquelas facilmente solucionadas pelos critérios cronológicos, hierárquico e da especialidade. Antinomias reais seriam aquelas não solucionadas pela aplicação de tais critérios, como ocorre quando dois artigos da mesma lei são incompatíveis entre si. A questão que se procura desvendar é se existem, ou não, critério para solução das antinomias reais.

Conforme ensina Maria Helena (2007, p. 33-41), em se tratando de

antinomia aparente, isto é, quando os critérios a serem utilizados para

resolvê-la forem de normas pertencentes de ordenamento jurídico, pode-se

utilizar os seguintes critérios para solucionar o conflito: o hierárquico, o

cronológico e o da especialidade. Caso a antinomia não seja solucionável por

esses critérios, ter-se-á a lacuna de colisão, a ser solucionada pelos

princípios gerais do preenchimento de lacunas.

Por sua vez, Noberto Bobbio (1995, p. 203) comenta:

O princípio, sustentando pelo positivismo jurídico, da coerência do ordenamento jurídico, consiste em negar que nele possa haver antinomias, isto é, normas incompatíveis entre si. Tal princípio é

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garantido por uma norma, implícita em todo ordenamento, segundo a qual duas normas incompatíveis (ou antinômicas) não podem ser ambas válidas, mas somente uma delas pode (mas não necessariamente deve) fazer parte do referido ordenamento; ou, dito de outra forma, a compatibilidade de uma norma com seu ordenamento (isto é, com todas as outras normas) é condição necessária para a sua validade.

Desta feita, tem-se de um lado a legislação processual civil que, por

considerar a verba advocatícia pertencer à parte, o que a tempo vem sendo

questionado pela jurisprudência e doutrina, possibilita a compensação dos

honorários quando ocorre a sucumbência recíproca. Em sentido contraposto,

o EAOAB estabelece que a verba advinda da relação processual pertence ao

advogado, alterando a titularidade da verba.

Assim, a princípio, torna-se incompatível a utilização do instituto da

compensação por não mais existir os seus pressupostos autorizadores, em

especial, a figura simultânea de credor/devedor, em razão do art. 23 do

Estatuto da Advocacia.

Aplicando ao caso em estudo, ilustra Anselmo Gonçalves da Silva

(2000, p. 197) que para a compensação faz-se necessário “que duas pessoas

sejam ao mesmo tempo credora e devedora uma da outra (art. 1.009 do CC),

o que não ocorre em relação aos advogados das partes em litígio.” (in A

derrogação dos artigos 20 e 21 do CPC pelo novo Estatuto da OAB,

Cidadania e Justiça, n. 8, 1º semestre de 2000, p. 197).

Destarte, frente à incompatibilidade dos artigos 20 do CPC e 23 do

EAOAB, evidencia-se um conflito aparente de normas. No mesmo norte,

Welington Luzia Teixeira (2008, p. 133) dita que:

Esta hemorragia legislativa não poderia dar em outra coisa, senão em Leis conflitantes e em decisões judiciais contraditórias, ou seja, enquanto o juiz determina a compensação ou o abatimento na verba honorária, visando o recebimento do crédito executado de maneira mais célere, com base em uma Lei (CPC, artigo 21 e parágrafo único do 652-A) esta mesma Lei determina que os honorários de advogado são absolutamente impenhoráveis, por que possuem, evidentemente, caráter alimentar e, sendo assim, refere-se a direito indisponível do advogado. Por ter este caráter, a verba honorária, em nenhuma hipótese, poderá ser compensada ou ser abatida, pelos motivos já expostos e, também, porque a diminuição desta verba não pode servir de atrativo para devedores contumazes quitarem seus débitos, já que a obrigação é de pagá-los no vencimento, sob as penas da Lei e não sob as vantagens da Lei, patrocinada pelo advogado.

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Ante o exposto, evidenciado a antinomia normativa, cabível a utilização

dos critérios trazidos pela doutrina para solucionar o conflito. Destarte, passa-

se a uma verificação mais profunda.

3.2.1 Critério da Hierarquia

O critério de maior importância na solução de antinomias é o da

hierarquia, segundo demonstra a doutrina pátria, já que existe um padrão

hierárquico das leis.

Leciona Maria Helena Diniz (2007, p. 34):

O hierárquico (“lex superior derogat legi inferiori”), baseado na superioridade de uma fonte de produção jurídica sobre a outra. O princípio lex superior quer dizer que em um conflito entre normas de diferentes níveis, a de nível mais alto, qualquer que seja a ordem cronológica, terá preferência em relação à de nível mais baixo. Assim, p. ex., a Constituição prevalece sobre uma lei. Daí falar-se em inconstitucionalidade da lei ou de ilegitimidade de atos normativos diversos da lei, por a contrariarem. Portanto, a ordem hierárquica entre as fontes servirá para solucionar conflitos de normas em diferentes escalões, embora às vezes possa haver incerteza para decidir qual das duas normas antinômicas é a superior.

Coaduna com o ensinamento supra o doutrinador Juarez Freitas (1998,

p. 74), estabelecendo que a legislação superior, se é assim que pode ser

chamada, prepondera sobre a inferior. Frisa ser este critério muito importante

para o fim da antinomia, permitindo solucionar, inclusive, conflitos entre

normas e princípios de diferentes escalões, em razão da hierarquia das fontes

normativas.

Trazendo à baila, tem-se que as duas legislações possuem a mesma

hierarquia, sendo ambas leis federais. Diante disso, denota-se que este

critério isolado não tem o condão de suprimir o conflito.

3.2.2 Critério Temporal

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A par do critério anterior, leva-se muito em conta para resolver o

conflito a época em que a legislação foi elaborada, devendo a lei posterior

derrogar a lei anterior no que forem contrárias, conforme se demonstrará

abaixo.

De maneira bem sucinta Bobbio (1995, p. 204), assinala que o critério

temporal ou cronológico assimila-se com a entrada em vigor da norma,

prevalecendo a lei posterior sobre o preceito pretérito ou precedente.

Em seu artigo, Vera Lúcia (2003, p. 78) inculca que:

Pelo critério cronológico, se existirem duas normas incompatíveis, prevalecerá a mais recente. Este critério se encontra expresso no artigo 2º da Lei de Introdução ao Código Civil, que assim determina: “Não se destinando a vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.”

Baseada no axioma lex posterior derogat legi priori11, Diniz (2007, p.

35-36) cita que se as duas normas forem do mesmo nível ou escalão, a mais

nova sobrepõe a velha. Argumenta que se o preceito vier para modificar ou

regular, de maneira diversa da vigente, seja em toda ela ou parcialmente,

sujeito está a “surgir conflitos entre as novas disposições e as relações

jurídicas já definidas sob a vigência da velha norma revogada.” (in Conflito de

Normas, 2007, p. 36).

Justapondo ao tema, verifica-se que, pelo critério cronológico, o

Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil, sancionado e

publicado em 1997, é posterior ao Código de Processo Civil, o qual tem

vigência desde 1973.

Frise-se que o artigo da legislação instrumental civil não possui

qualquer alteração normativa pretérita a sua promulgação, inalterando o

critério adotado.

3.2.3 Critério da Especialidade

Em se tratando de normas conflitantes, a especialidade trata-se de um

importante critério para colocar um desfecho da oposição recírpoca.

11 Lei posterior derroga lei anterior (tradução livre)

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Juarez Freitas (1998, p. 74-75) traz que:

[...] o critério da lex superior, qual seja, o que manda preponderar, em caso de colisão, a norma hierarquicamente superior, segundo o velho brocardo lex superior derogat inferior, que permite solucionar conflitos entre normas e princípios de diferentes escalões, sendo certo que a antinomia se instaura mesmo quando o comando inferior, em face da hierarquia das fontes, venha haurir o seu fundamento de validade no comando mais alto.

No mesmo passo, Norberto Bobbio (1995, p. 205) considera que a lei

mais específica prevalecerá sobre a que possui um caráter mais genérico ou

geral.

Por derradeiro, aplicando ao caso em estudo, João Paulo de Oliveira

(2001, p. 174) possui a seguinte conclusão:

Considere-se que o Código de Processo Civil é lei de caráter geral, e a Lei 8.906/94 é lei especial. Assim, sendo lei especial, ela revoga o Código de Processo Civil naquilo que a contradiz, pois a coexistência de ambas só será possível quando compatíveis. A Lei 8.906/94 é, também, norma de edição posterior ao estatuto processual, pelo que, no aspecto da titularidade dos honorários advocatícios, está revogado o art. 20 do CPC. Tal pensamento deflui da aplicação do critério cronológico de solução da aparente antinomia – quando duas normas incompatíveis são sucessivas, prepondera a lei posterior sobre a lei anterior (lex posterior derogat priori). Se não há compatibilidade entre a nova disciplina e a precedente, derroga-se a precedente.

Considerando, assim, que o Código de Processo Civil é uma legislação

de caráter geral e o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do

Brasil tem um cunho mais específico, deve esta preponderar sobre aquela.

3.3 ARGUMENTOS AUTORIZADORES DA COMPENSAÇÃO

Por fim, visando formular um posicionamento mais concreto sobre o

assunto, faz-se uma análise dos argumentos trazidos pelos julgados

favoráveis a compensação dos honorários advocatícios.

Estudar-se-ão julgados do Supremo Tribunal Federal, do Superior

Tribunal de Justiça e do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.

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3.3.1 Supremo Tribunal Federal

A Corte Suprema é favorável à compensação, eis que adota um critério

de que a fixação dos honorários ocorre em momento diferente de quando se é

determinada à titularidade, senão vejamos:

RECURSO. Extraordinário. Inadmissibilidade. Sucumbência recíproca. Compensação de honorários advocatícios. Possibilidade. Precedente do STF. Agravo regimental a que se nega provimento. É possível a compensação dos honorários advocatícios quando, em conseqüência de julgamento de recurso, os litigantes são vencedores e vencidos na causa. (Supremo Tribunal Federal, Agravo Regimental no Recurso Extraordinário n. 296.876/RS, Segunda Turma, rel. Min. Cezar Peluso, julg. 22/04/2008).

Do corpo do julgado:

Não há incompatibilidade entre o disposto no art. 21 do Código de Processo Civil e o art. 23 da Lei nº 8.906/94, porque os honorários que pertencem ao advogado são aqueles resultantes da decisão, sentença ou acórdão que os tenha fixado nos termos da lei, de modo que, se esta impõe distribuição e compensação das verbas honorárias entre as partes, ou não haverá honorários suscetíveis de pertencer a advogado, quando for total a compensação, ou os que lhe pertencem são apenas os que sobejem à operância da compensação legal. Noutras palavras, é mister, primeiro, atender à disciplina legal sobre os honorários advocatícios da sucumbência, para, depois, saber se os há, ou não, devidos ao patrono ou patronos da parte vencedora. Está muito claro, no art. 23 da Lei nº 8.906, de 1994, que o direito autônomo do advogado recai apenas sobre os “honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência”, o que significa, com não menor clareza, que é o teor da condenação que decide a respeito da verba, que pode existir ou não.

Foi por essas razões que o recurso da parte que pretendia

impossibilitar a compensação foi denegado. A Segunda Turma do STF se

posiciona de que os honorários de sucumbência possui dois momentos: a) a

sua fixação, e em caso de sucumbência recíproca, ocorre a compensação

das verbas; b) e posteriormente, a declaração da titularidade dos honorários,

ressalvando o direito autônomo do advogado em utilizar os meios cabíveis

para buscar seu crédito.

Coaduna com o entendimento supra:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO. CUSTAS

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E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. COMPENSAÇÃO. 1. Código de Processo Civil, artigo 21. Sucumbência recíproca. Custas processuais e honorários advocatícios. Compensação entre as partes, nos limites da condenação. 2. Honorários advocatícios. Execução autônoma. Estatuto da Advocacia, artigo 23. Impossibilidade decompensação. Alegação improcedente. Os honorários advocatícios decorrentes de decisão transitada em julgado pertencem ao advogado, que poderá executá-los em procedimento autônomo. Hipótese distinta daquela em que, em razão do julgamento do recurso interposto, os litigantes são vencidos e vencedores na causa, fato do qual decorre a responsabilidade recíproca pelas custas e honorários advocatícios, como acessório dos limites da condenação. Incompatibilidade do artigo 21 do Código de Processo Civil com o artigo 23 da Lei 8.906/94. Inexistência. Agravo regimental a que se nega provimento. (Supremo Tribunal Federal, Agravo Regimental no Recurso Extraordinário n. 318.344/DF, Segunda Turma, rel. Min. Maurício Corrêa, julg. 26/02/2002).

3.3.2 Superior Tribunal de Justiça

Em julgado recente do Superior Tribunal de Justiça, a Primeira Turma,

com voto do relator Ministro Luiz Fux, entendeu por ser a compensação dos

honorários válida, uma vez que não há incompatibilidade entre as normas.

Cola-se a ementa da decisão:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. MASSA FALIDA. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. VERBA HONORÁRIA. COMPENSAÇÃO. POSSIBILIDADE. COMPATIBILIDADE ENTRE OS ARTS. 21, CPC, E 23, LEI Nº 8.906/94. ACÓRDÃO RECORRIDO EM CONSONÂNCIA COM O ENTENDIMENTO DO STJ. 1. A compensação de honorários advocatícios em casos de sucumbência recíproca revela-se admissível, inexistindo incompatibilidade entre os arts. 21, caput, CPC, e 23 da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia). 2. Manifesta-se a falta de interesse recursal que pretende fazer ascender à Corte recurso especial cuja pretensão de reforma afronta jurisprudência predominante. 3. Agravo regimental desprovido. (Superior Tribunal de Justiça, Agravo Regimental no Recurso Especial n. 1.102.246/RS, Primeira Turma, rel. Min. Luiz Fux, julg. 18/06/2009).

3.3.3 Tribunal de Justiça de Santa Catarina

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Filiando-se ao entendimento sumular do Superior Tribunal de Justiça,

alguns julgadores do Pretório Catarinense, encampam a possibilidade da

compensação. Eis alguns julgados:

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO - [...] HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS -SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA - REPARTIÇÃO E COMPENSAÇÃO DOS ÔNUS. [...] Ocorrendo a improcedência de parte do pedido exordial, cabe à autora pagar honorários ao advogado do réu. Honorários recíprocos se compensam até o montante comum (CPC, art. 21 e Súmula n. 306 do STJ). (Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Apelação Cível n. 2008.029870-2, de Lages, Quarta Câmara de Direito Público, rel. Des. Jaime Ramos, julg. 13/08/2008).APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C PERDAS E DANOS E DEVOLUÇÃO DE VALORES. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA EVIDENCIADA. DISTRIBUIÇÃO PROPORCIONAL DAS CUSTAS PROCESSUAIS E DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. COMPENSAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DE PARTE DAS CUSTAS EM VIRTUDE DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. "Havendo parcial procedência do pedido, essa particularidade implica em sucumbência recíproca, a qual gera efeitos não só no pagamento das custas processuais como no que se refere à verba honorária" (TJSC, Apelação Cível n. 2008.068551-0, de Criciúma, rel. Des. Eládio Torret Rocha, j. 18-12-08). "Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, serão recíproca e proporcionalmente distribuídos e compensados entre eles os honorários e as despesas" (Súmula 306 do Superior Tribunal de Justiça). (Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Apelação Cível n. 2008.000429-1, de São José, Quarta Câmara de Direito Civil, rel. Des. Victor Ferreira, julg. 08/10/2009).APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. COBRANÇA DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SENTENÇA DA AÇÃO DE CONHECIMENTO DETERMINANDO COMPENSAÇÃO TOTAL DOS HONORÁRIOS EM VIRTUDE DA SUCUMBÊNCIA DE CADA PARTE À METADE DO VALOR FIXADO. POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA SÚMULA 306 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. COMPENSAÇÃO PLENA - INEXISTÊNCIA DE SALDO EM FAVOR DO PROCURADOR. - TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO. IMPOSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO. AFRONTA À COISA JULGADA. AUSÊNCIA DE TÍTULO EXECUTIVO. RECURSO DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. "Os honorários advocatícios devem ser compensados quando houver sucumbência recíproca, assegurado o direito autônomo do advogado à execução do saldo sem excluir a legitimidade da própria parte". (Súmula 306 do STJ) 2. A decisão que determinou a compensação dos honorários foi proferida na ação nº 139/91, tendo transitado em julgado para as partes no dia 08/03/1995 (fls. 22 da ação de execução apensa), tornando-se imutável. Se a apelante não ficou satisfeita com a Sentença que determinou a compensação total dos honorários deveria ter apelado no momento oportuno, em março de 1995, não cabendo, agora, discutir se é devida ou não a compensação dos honorários. 3. Dessome-se desse raciocínio estar o apelante movendo processo de execução sem título executivo que lhe dê

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suporte. (Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Apelação Cível n. 2003.022740-7, de Ponte Serrada, Primeira Câmara de Direito Civil, relª. Desª. Denise Volpato, julg. 13/10/2009).

Não divergem desses julgados os Desembargadores Sérgio Roberto

Baasch Luz, Cid Goulart, Rodrigo Antônio da Cunha, Ricardo Fontes e outros.

Ante todos os retro fundamentos, tem-se que os Togados dos

Tribunais Superiores e do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, entendem

que os artigos 21 do CPC e 23 do EAOAB podem vigorar conjuntamente, sem

que um importe confusão ao outro, haja vista que a compensação dos

honorários não afeta no direito autônomo do advogado de executar a sua

parte. Fundamentam que a titularidade dos honorários só cabe ao advogado

depois de efetuada a compensação.

3.4 ARGUMENTOS RESTRITIVOS À COMPENSAÇÃO

Da mesma forma, cabível torna-se o exame pormenorizado dos

fundamentos utilizados para vetar a compensação da verba advocatícia

sucumbencial.

3.4.1 Supremo Tribunal Federal

Em posicionamento recente, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o

Recurso Extraordinário de n. 470.407, entendeu que os honorários de

sucumbência possuem caráter alimentar, tendo prioridade no pagamento.

Colhe-se excerto do precedente:

CRÉDITO DE NATUREZA ALIMENTÍCIA – ART. 100 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. A definição contida no § 1º-A do artigo 100 da Constituição Federal, de crédito de natureza alimentícia, não é exaustiva.HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – NATUREZA – EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA. Conforme o disposto nos artigos 22 e 23 da Lei nº 8.906/94, os honorários advocatícios incluídos na condenação pertencem ao advogado, consubstanciando prestação alimentícia cuja satisfação restrita aos créditos de natureza alimentícia, ficando

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afastado o parcelamento previsto no artigo 78 do Ato das Disposições 30, de 2000. Precedentes: Recurso Extraordinário nº 146.318-0/SP, Segunda Turma, relator ministro Carlos Velloso, com acórdão publicado no Diário da Justiça de 4 de abril de 1997, e Recurso Extraordinário 170.220-6/SP, Segunda Turma, por mim relatado, com acórdão publicado no Diário da Justiça de 7 de agosto de 1998. (Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordinário n. 470.407/DF, Primeira Turma, rel. Min. Marco Aurélio, julg. 09/05/2006)

Ao considerar que os honorários sucumbenciais pertencem ao

advogado, dando-lhe titularidade, importa, por consectário, que a verba não

mais pertence a parte, conforme dita a legislação processual civil. Diante

desse quadro, inviável se torna a compensação da mesma verba.

3.4.2 Superior Tribunal de Justiça

Em se tratando do Superior Tribunal, as turmas curvaram-se ao

posicionamento sumular, não havendo mais ocorrência de votos divergentes.

Contudo, viável se torna a verificação dos fundamentos que ensejaram a

divergência ocorrida antes da edição da súmula.

Neste norte, percebe-se através do julgado do Recurso Especial de n.

167.498, que a Primeira Turma, acordou, de forma unânime, para a

impossibilidade de compensação dos honorários por considerar que o

Estatuto da OAB deu ao advogado a titularidade dos honorários

sucumbenciais. Da redação da emenda:

PROCESSUAL CIVIL. SUCUMBÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. COMPENSAÇÃO. LEI 8.906/94 (ART. 23 E § 1º). LEI 6.830/80 (ARTS. 2º, § 2º E 8º). CTN, ARTIGO 23. CPC, ARTIGOS 20 E SEGUINTES. 1. Os honorários profissionais pertencem ao Advogado e constituindo direito autônomo não podem ser apropriados à compensação com crédito ou valor reconhecidoem favor da parte que o constituiu para representá-la judicialmente (art. 23 e § 1º, Lei 8.906/94). No CPC permanecem as normas gerais de regência (arts. 20 e segts.). 2. Precedentes jurisprudenciais. 3. Recurso em provimento. (Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial n. 167.498/SP, Primeira Turma, rel. Min. Milton Luiz Pereira, julg. 06/12/2001).

Nas motivações de decidir o relator expôs os seguintes argumentos, os

quais ainda são pertinente, eis que não ocorreu qualquer alteração normativa:

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Destacada a controvérsia, denota-se que se resume na possibilidade, ou não, de pretendida "compensação". Como pretendido, o v. Acórdão afastou-a (fls. 86 a 88).Nesse contexto, ao fim e cabo, a cogitada compensação teria como base os honorários advocatícios. Aí a trava àquela pretensão. Deveras, no ponto, bem observou o julgado: "... não há identidade de credores e devedores necessária à extinção das obrigações respectivas, em face do que dispõe o art. 23 da Lei n° 8.906/94, que atribui os honorários advocatícios incluídos na condenação aos advogados e não às partes. " (fls. 87 e 88). Ora, assim sendo, e assim é, a Recorrente não pode utilizar o valor de honorários que não lhe pertencem para a multicitada compensação.De efeito, a Lei 8.906/94 (Estatuto dos Advogados), sem dúvidas, legitimou o Advogado como o destinatário dos honorários profissionais, expressamente estadeando que lhe pertencem (art. 23 e § 1o, Lei ref. ). No Código de Processo Civil permanecem as normas gerais de regência (arts. 20 e segts., CPC). É a prevalecente compreensão pretoriana;

É nesse passo, citando precedentes da mesma Corte, que o Ministro

Relator vota pela impossibilidade de compensação, o que foi acompanhado

pelos demais Ministros participantes do julgamento, José Delgado, Francisco

Falcão, Garcia Vieira e Humberto Gomes de Barros.

3.4.3 Tribunal de Justiça de Santa Catarina

Do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, tem-se que

alguns julgadores, na vigência da Súmula 306 do STJ, votam pela

impossibilidade da compensação da verba advocatícia, senão vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ADIMPLEMENTO CONTRATUAL. [...] COMPENSAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. IMPOSSIBILIDADE. VERBA PERTENCENTE AO CAUSÍDICO. NEGATIVA DE VIGÊNCIA DA SÚMULA 306 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. [...] (Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Apelação Cível n. 2008.002278-7/0000.00, de Ibirama, Quarta Câmara de Direito Comercial, rel. Des. José Carlos Carstens Köhler, julg. 22/07/2008).

Do corpo do referido julgamento:

A parte Ré sustentou, ainda, a compensação dos honorários advocatícios, haja vista a ocorrência de sucumbência recíproca.No entanto, fica obstada a compensação da verba honorária, haja vista ser o estipêndio pertencente exclusivamente aos Procuradores e não às Partes - art. 23 da Lei 8.906/94.Esposando o mesmo entendimento, colhe-se precedente deste Pretório: "Vencidos e vencedores em partes, os litigantes

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responderão recíproca e proporcionalmente pelo pagamento das custas processuais e verba honorária, vedada a compensação sob pena de violação ao art. 23 do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil." (Apelação Cível n. 2002.027647-8, Rel. Desa. Rejane Andersen, j. 22-11-07).Sendo assim, embora não se desconheça a existência de Súmula do Superior Tribunal de Justiça (verbete n. 306) em sentido contrário, nega-se aplicação a ela e não se realiza a compensação dos honorários, pelos motivos já esmiuçados em epígrafe.Logo, afasta-se a compensação almejada.

No mesmo norte, posiciona-se o Desembargador Sérgio Izidoro Heil:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA DE ADIMPLEMENTO CONTRATUAL. [...] IMPOSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Apelação Cível n. 2008.000531-0/0000.00, de Laguna, Segunda Câmara de Direito Comercial, rel. Des. Sérgio Izidoro Heil, julg. 25/08/2008).

Adota tal posicionamento por esses motivos:

Por fim, requer a apelante a compensação dos honorários advocatícios, nos termos da Súmula n. 306 do Superior Tribunal de Justiça.Não cabe provimento ao pleito. Isto porque a compensação de tal verba não é mais admitida, consoante o art. 23 da Lei n. 8.906/94 (Estatuto da OAB), o qual conferiu ao advogado o direito autônomo de perceber os honorários de sucumbência e revogou as disposições contidas no art. 21 do Código de Processo Civil.A respeito do tema, já se pronunciou este egrégio Tribunal de Justiça:SUCUMBÊNCIA. TRANSMUDAÇÃO. LITIGANTES RECIPROCAMENTE VENCEDOR E VENCIDO. INCIDÊNCIA DO ART. 21 DO CÓDIGO BUZAID. IMPOSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUBSUNÇÃO DO ART. 23 DA LEI N. 8.906/94 (AC n. 2005.024086-7, da Capital/Estreito, rel. Des. José Carlos Carstens Köhler, julg. 03/06/2008).Por conseqüência, a compensação dos honorários deve ser vedada.

Nessa senda, o Juiz de Direito de Segunda Grau Robson Luz Varella,

explica as suas motivações:

APELAÇÃO CÍVEL – REVISÃO CONTRATUAL C/C CONSIGNAÇÃO INCIDENTAL – CRÉDITO IMOBILIÁRIO. [...] COMPENSAÇÃO – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – NATUREZA AUTÔNOMA – CARÁTER ALIMENTAR – IMPOSSIBILIDADE –EXEGESE DO ART. 23 DA LEI N. 8.906/94.A verba honorária possui natureza autônoma e caráter alimentar, pertencendo ao patrono do vencedor da demanda.[...]Compensação dos honorários advocatíciosA despeito do consignado pelo Magistrado em sua sentença, no sentido de viabilizar a compensação dos honorários, tem-se que, inobstante o conteúdo previsto na súmula 306 do Superior Tribunal de Justiça, prevalece o disposto no art. 23 da Lei n. 8.906/94 que

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garante ao advogado direito autônomo em relação à sua remuneração, in verbis:Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor.Da leitura do preceptivo legal supra transcrito, infere-se que a verba em questão pertence ao advogado que atuou na causa e não à parte.No mais, o instituto da compensação é forma de extinção de obrigações, tendo como pressuposto a existência de duas prestações de sorte que as partes envolvidas sejam, mutuamente, credora e devedora uma da outra.Ora, diante da autonomia dos honorários advocatícios, que, repita-se, não são devidos à parte, não se vislumbra a reciprocidade da relação credor/devedor, de forma a justificar a compensação das verbas.Desta e. Câmara, colhe-se os seguintes julgados:APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE CRÉDITO RURAL - COMPENSAÇÃO - AFASTAMENTO -RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.Em razão do caráter alimentar conferido aos honorários advocatícios, decorrente da interpretação do art. 23 da Lei n. 8.906/94, impossível autorizar a compensação embasada na Súmula 306 do Superior Tribunal de Justiça. (Apelação Cível n. 2004.021348-4/000000, de Concórdia, Segunda Câmara de Direito Comercial, rel. Des Wilson Augusto do Nascimento, julg. 27/10/2008).AÇÃO DECLARATÓRIA DE ANULAÇÃO DE PROTESTO. PROTESTO DE DUPLICATAS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. READEQUAÇÃO. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. EXEGESE ARTIGO 21 CAPUT. VEDADA A COMPENSAÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível n. 2008.005391-9, de Joinville, Segunda Câmara de Direito Comercial, rel. Des. Jorge Schaefer Martins, julg. 22/09/2008).Além disso, afora a natureza autônoma dos honorários, possuem estes eminente caráter alimentar, sendo imprescindíveis à subsistência do profissional. Deve, ademais, prevalecer o disposto no artigo 23 do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil em detrimento do estatuído no caput do artigo 21 do Código de Processo Civil, à luz do princípio da especialidade.Por essas razões, vedada a compensação dos honorários. (Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Apelação Cível n. 2006.028899-4/0000.00, da Capital, Segunda Câmara de Direito Comercial, rel. Des. Robson Luz Varella, julg. 14/07/2009).

Acompanham ainda este posicionamento os Desembargadores José

Carstens Köhler, João Henrique Blasi, Jorge Luiz de Borba, Lédio Rosa de

Andrade, Jorge Schaefer Martins, entre outros.

Diante do exposto, percebe-se que os julgadores do Tribunal de

Justiça de Santa Catarina expõem suas motivações considerando que o art.

20 do CPC é incompatível com o art. 23 do EAOAB, ocorrendo a revogação

no que tange a compensação daquele artigo, em razão da especialidade e

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temporalidade da última norma. Estabelecem, também, como base em seus

votos, que os honorários de sucumbência por pertencerem exclusivamente ao

advogado, impossível se torna a sua compensação, eis que a figura do

devedor/credor não são ao mesmo tempo iguais, tornando ausente um dos

requisitos necessário para a utilização do instituto da compensação.

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CONCLUSÃO

Ante todo o exposto, pode-se concluir que os honorários, como descrito no

primeiro capítulo, fazem parte da remuneração do advogado, eis que a legislação

pátria atribui ao advogado a verba sucumbencial. Chega-se a esse ponto por

considerar que o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil, no

artigo 23, declara pertencerem ao advogado os honorários decorrentes do processo.

Outro fator que leva a este norte são os parâmetros estabelecidos no Código de

Processo Civil, no § 3º do artigo 20, os quais servem de base para o magistrado

arbitrar os honorários sucumbenciais, sempre tendo como fundamento basilar

características do procurador da parte vencida (o serviço prestado pelo procurador, a

importância da causa, o seu grau de zelo e o local onde a assistência jurídica foi

prestada).

Desta feita, considerando que os honorários processuais fazem parte da

remuneração do advogado e a eles pertencem, deve ser ela dotada de caráter

alimentar, o que impossibilita qualquer ato restritivo ao seu salário, inclusive a

compensação.

Ademais, a simples incerteza da percepção da verba sucumbencial pelo

procurador, não tem o condão de afastar o seu caráter alimentar, até porque uma

vez instalado o litígio, inegável que se terá um vencedor e, por consectário, a

condenação da parte vencida ao pagamento dos honorários advocatícios. Ad

argumentadum tantum12, considerar isto, é negar ao trabalhador autônomo ou até o

de um perito, a natureza de seus honorários.

Assim, reputar a titularidade da verba de sucumbência ao advogado, torna-

se outro motivo para impossibilitar a aplicação do instituto da compensação, pois

para a extinção das obrigações faz-se necessário a simultaneidade de créditos, o

que não se vislumbra neste particular, já que a figura do credor e devedor são

diferentes, posto que as partes processuais não detêm a titularidade dos honorários.

Antigamente, antes da vigência do Estatuto da Advocacia de 1994, era possível a

compensação já que os referidos honorários advocatícios serviam para retribuir o

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gasto que o litigante precisou despender para a contratação de seu causídico.

Entretanto, após a entrada em vigor do aludido estatuto, a verba passou a integrar o

patrimônio do advogado, transparecendo seu caráter alimentar.

Diante deste quadro, apesar do Superior Tribunal de Justiça deste País ter

sumulado a matéria, a sua aplicação não ocorre de forma unânime, permanecendo

ainda divergência sobre a aplicação do instituto, tanto que tribunais estaduais e

federais pátrios, como demonstrado ao longo do trabalho, são desfavoráveis à

compensação.

O presente trabalho sugere, com uma visão que se pode dizer superficial, a

colocação da eficácia e da vigência da súmula em pauta, a fim de verificar se ela

merece ser reformada ou até revogada.

Por outro lado, considerando o conflito aparente das normas em estudo

(arts. 21 do CPC e 23 do EAOAB), adotando os critérios da temporalidade e

especialidade, a norma do EAOAB derroga a do CPC, ocorrendo nesta forma a

cessação da antinomia.

E são com esses embasamentos que a presente pesquisa conclui pela

impossibilidade de compensação dos honorários advocatícios de sucumbência.

12 Só para argumentar. (tradução livre).

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