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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA BRUNA STEFFANI VARGAS AFETIVIDADE DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE FIBROSE CÍSTICA QUE REALIZA TRATAMENTO NO HOSPITAL INFANTIL JOANA DE GUSMÃO EM FLORIANÓPOLIS - SC BIGUAÇU 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

BRUNA STEFFANI VARGAS

AFETIVIDADE DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE FIBROSE CÍSTICA

QUE REALIZA TRATAMENTO NO HOSPITAL INFANTIL JOANA DE

GUSMÃO EM FLORIANÓPOLIS - SC

BIGUAÇU

2008

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BRUNA STEFFANI VARGAS

AFETIVIDADE DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE FIBROSE CÍSTICA

QUE REALIZA TRATAMENTO NO HOSPITAL INFANTIL JOANA DE

GUSMÃO EM FLORIANÓPOLIS - SC

Monografia apresentada para a realização do

Trabalho de Conclusão de Curso no Curso de

Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí.

BIGUAÇU

2008

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IDENTIFICAÇÃO

ÁREA DE PESQUISA

Psicologia da Saúde / Psicologia Hospitalar / Psicologia do Desenvolvimento.

TEMA

Fibrose Cística.

TÍTULO DO PROJETO

Afetividade de uma criança portadora de fibrose cística que realiza tratamento no Hospital

Infantil Joana de Gusmão em Florianópolis - SC

ACADÊMICA

Nome: Bruna Steffani Vargas

Código de Matrícula: 051.48.73

Centro de Educação da UNIVALI – Biguaçu Curso de Psicologia 7°semestre

ORIENTADORA

Nome: Luciana Martins Saraiva

Categoria Profissional: Psicóloga

Titulação: Doutora

Curso: Psicologia

Centro: CE Biguaçu

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BRUNA STEFFANI VARGAS

AFETIVIDADE DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE FIBROSE

CÍSTICA QUE REALIZA TRATAMENTO NO HOSPITAL INFANTIL

JOANA DE GUSMÃO EM FLORIANÓPOLIS - SC

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi considerado aprovado, atendendo os requisitos

parciais para obter o grau de Bacharel em Psicologia na Universidade do Vale do Itajaí no

Curso de Psicologia.

Biguaçu, 2008

Banca Examinadora

Prof.________________________________________ Doutora. Luciana Martins Saraiva – Orientadora

Prof.________________________________________

Mestre. Henry Dario Cunha - Membro

Prof._____________________________________ Mestre. Paulo César Nascimento – Membro.

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"O maior inimigo da verdade não é a mentira e sim a convicção." – Nietzsche

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RESUMO

Crianças portadoras de fibrose cística (FC) podem vivenciar sentimentos como

rejeição, estresse e isolamento decorrentes dos seus sintomas, dos efeitos colaterais do

tratamento e também em razão de suas constantes hospitalizações. A relação dessas

crianças com a escola, com os amigos e familiares pode ser prejudicada não pela

doença em si, mas pela falta de enfrentamento positivo a ela. Utilizou-se o método

qualitativo e, na análise dos dados, um estudo de caso e uma Entrevista Lúdica, para

compreender os aspectos afetivos do paciente analisado, sendo o sujeito da pesquisa

uma criança portadora de FC em idade escolar, sem problemas graves de cognição,

tendo compatibilidade entre idade mental e cronológica. O resultado da pesquisa

apresentou como aspectos emocionais da criança: medo, angústia e temor.

Palavras-Chave: Fibrose Cística, psicologia, Entrevista Lúdica, estudo de caso.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 10

2.1 CONCEITO E TRATAMENTO.............................................................................. 10 2.2 IMPACTO DO DIAGNÓSTICO ............................................................................. 12 2.3 A FAMÍLIA DO PORTADOR DE FIBROSE CÍSTICA........................................ 13 2.4 ASPECTOS AFETIVOS DA CRIANÇA DOENTE ............................................... 15 2.5 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM CRIANÇAS................................................... 16

3 METODOLOGIA...................................................................................................... 19

3.1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE ................................................... 20 3.2 ENTREVISTA COM A MÃE.................................................................................. 20 3.2.1 ANÁLISE DOS DADOS – ENTREVISTA COM A MÃE................................. 22 3.3 ENTREVISTA LÚDICA COM A CRIANÇA ........................................................ 28 3.3.1 ANÁLISE DA ENTREVISTA LÚDICA COM A CRIANÇA ............................ 31

3.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO .......................................................... 35

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 37

4.1 PRINCIPAIS RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES............................................. 37 4.2 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHO FUTURO ........................................... 38

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 39

APÊNDICES ................................................................................................................. 43

APÊNDICE (A).............................................................................................................. 44 APÊNDICE(B) ............................................................................................................... 45 APÊNDICE(C) ............................................................................................................... 46

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1 INTRODUÇÃO

Crianças portadoras de fibrose cística (FC) podem vivenciar sentimentos como

rejeição, estresse e isolamento decorrentes dos seus sintomas, dos efeitos colaterais do

tratamento e também em razão de suas constantes hospitalizações. A relação dessas

crianças com a escola, com os amigos e familiares pode ser prejudicada não pela

doença em si, mas pela falta de enfrentamento positivo a ela.

Pesquisas sobre doenças orgânicas crônicas devem se basear na psicologia do

desenvolvimento e enfocar a natureza dos problemas específicos da faixa etária, devem

examinar as mudanças no desenvolvimento e mudanças funcionais que podem

influenciar na melhora da doença. Quando o enfermo é uma criança, o significado da

doença dependerá do que lhe foi dito, do que ela já vivenciou, bem como de sua

maturidade psicológica. A doença é um acontecimento que altera as condições

psicológicas e sociais da criança, fazendo assim com que se desenvolvam sentimentos

de medo e angústia vindos da dor e das constantes hospitalizações, podendo afetá-la

irremediavelmente, prejudicando seu desenvolvimento, sua escolarização e seus

relacionamentos. Crianças portadoras de FC são diferentes fisicamente de crianças e

adolescentes saudáveis da mesma faixa etária. As doenças orgânicas crônicas têm

implicações nos estágios de desenvolvimento do paciente e têm o potencial de prevenir

ou aumentar as dificuldades na passagem de um estágio para o outro. A extensão destas

implicações dependerá da severidade, da história, do prognóstico, do grau de limitação

associado e da visibilidade da doença.

Desta forma, um estudo que se proponha a estudar o comportamento de crianças

portadoras de fibrose cística apresenta benefícios, tanto sob o ponto de vista clínico

como social, uma vez que os impactos negativos nos aspectos afetivos do sujeito

influenciam na vida psicossocial, tanto da criança portadora da doença como de seus

familiares.

A relevância científica deste trabalho está na compreensão dos aspectos

relacionados ao tratamento de 01 (uma) criança portadora de fibrose cística que realiza

tratamento no Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), instituição esta que, desde

2002, em parceria com o Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí

(UNIVALI) de Biguaçu, vem desenvolvendo estudos científicos sobre a Fibrose Cística.

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Os resultados desta pesquisa permitiram tecer reflexões sobre a o impacto da

fibrose cística sobre os aspectos emocionais na criança portadora desta doença crônica

contribuindo para minimizar as dificuldades nesse processo.

Este trabalho apresenta como problema de pesquisa, a questão sobre qual o

estado afetivo de 01 (uma) criança, portadora de fibrose cística que faz tratamento no

Ambulatório do Hospital Infantil Joana de Gusmão em Florianópolis. Teve como

objetivo geral compreender o estado afetivo de 01 (uma) criança portadora de fibrose

cística que faz tratamento no Hospital Infantil Joana de Gusmão em Florianópolis

através da entrevista lúdica. Os objetivos específicos foram: Descrever como uma

criança portadora de FC enfrenta o tratamento da sua doença e investigar a influência da

FC nas vivências sociais (escola, família, amigos) de 01 (uma) criança portadora de FC

que realiza tratamento no HIJG em Florianópolis.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este capítulo apresenta revisão bibliográfica sobre o conceito e problemática da

fibrose cística, o tratamento, o impacto do diagnóstico no paciente e em sua família, o

tratamento psicológico da criança portadora da doença, além do conceito de infância e

informações sobre a hora do jogo.

2.1 CONCEITO E TRATAMENTO

A fibrose cística (FC), que é também conhecida como mucoviscidose, é uma

doença genética autossômica recessiva, sistêmica, crônica, progressiva e não

contagiosa, que se manifesta em ambos os sexos e é mais comum na raça branca

(ACAM, 2007).

Na maior parte das vezes, o diagnóstico é realizado na infância. O médico

percebe que a criança apresenta doença respiratória persistente e/ou insuficiência do

pâncreas, bem como, através da existência da doença na história familiar. Existem testes

especializados para chegar ao diagnóstico, são eles: teste do suor (altos níveis de sal no

suor), exame de fezes e radiografia do tórax (FURTADO e LIMA, 2003).

A FC causa alterações nas secreções de algumas glândulas do organismo,

fazendo com que as secreções fiquem espessas e viscosas. Existe uma deformidade na

produção das secreções o que faz com que o bom funcionamento dos órgãos afetados

(pulmão, pâncreas e intestino) seja prejudicado (ACAM, 2007).

Segundo Furtado e Lima (2003):

A fibrose cística é uma doença genética caracterizada pelo aumento na produção de muco que, depositado em alguns órgãos, causa: doença pulmonar obstrutiva crônica, insuficiência pancreática e nível elevado de eletrólitos no suor.

O muco acaba obstruindo vários caminhos que existem no corpo humano,

impedindo ou atrapalhando a passagem de substancias que são importantes no

crescimento e no funcionamento de algumas partes de nosso organismo. Ele prejudica

o sistema digestivo já que o aumento na viscosidade do muco pode levar à obstrução

dos canais do pâncreas, dificultando a absorção dos nutrientes pelo intestino. No trato

respiratório, esse muco espesso pode se acumular nas vias aéreas, dificultando a

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passagem do ar e levando à retenção de bactérias. A conseqüência desse processo é

uma tosse natural, que visa remover o muco do caminho por onde o ar deve passar. Essa

tentativa de remover o muco acaba provocando uma tosse muito forte. Caso o muco

esteja contaminado por bactérias, torna-se muito mais pegajoso e espesso, havendo a

necessidade do uso de remédios específicos para desprendê-lo dos pulmões. A FC

também costuma provocar quadros clínicos de diarréia crônica, desnutrição, má

absorção dos nutrientes, gordura nas fezes e dificuldade de ganhar peso (ACAM, 2007).

Dentre as conseqüências da FC pode-se dizer que a insuficiência pancreática e a

deterioração progressiva da função pulmonar são as mais graves (BREDEMEIER e

GOMES, 2007).

Os sintomas respiratórios mais freqüentes são: tosse, expectoração excessiva de

muco, respiração difícil e chiado no peito (FURTADO e LIMA, 2003).

A FC apresenta sintomas variados e é de progressão variada. O tratamento é

complexo, consome tempo e tem que ser realizado diariamente. Com os avanços

ocorridos nas ultimas décadas, no tratamento da FC, houve um aumento da sobrevida

dos pacientes até a idade adulta, gerando também maiores esforços para propiciar o

melhor bem estar possível ao paciente (BREDEMEIER e GOMES, 2007).

Para alcançar uma sobrevida, o diagnóstico da FC deve ser o mais precoce

possível e o tratamento deve ser conduzido por profissionais capacitados (REIS e

ROZOV, 1995).

O diagnóstico e tratamento da doença têm como objetivo principal melhorar a

qualidade de vida destes pacientes, dar suporte médico e promover a educação dos

pacientes e suas famílias (REIS e DAMASCENO, 1998).

O tratamento é voltado para solucionar os sintomas causados pela doença, nele

são utilizadas enzimas pancreáticas e modificação da dieta para auxiliar a digestão dos

alimentos. São utilizados antibióticos para as infecções respiratórias; broncodilatadores

para diminuir a falta de ar e mucolitos que auxiliam na retirada do muco excessivo para

fora dos pulmões. A fisioterapia respiratória e a drenagem postural também são

importantes, pois facilitam a saída do excesso de muco das vias respiratórias

(BENTLEY, 1999).

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2.2 IMPACTO DO DIAGNÓSTICO

Um diagnóstico de FC, geralmente ocasiona muita insegurança e ansiedade por

parte dos pais e familiares. O sofrimento maior ocorre a partir do momento em que a

criança começa a apresentar os sintomas e os pais começam a perceber concretamente o

que é a doença. Muitas crianças portadoras de fibrose cística reagem satisfatoriamente

no seu relacionamento com a doença, desenvolvimento físico e emocional. Porém, esta

reação positiva depende muito de como seus pais e familiares lidam emocionalmente

com o diagnóstico e se adaptam ao tratamento. As mães de crianças com FC tendem a

sofrer um grande nível de estresse ao receber o diagnóstico, dificultando assim a

adaptação da criança à sua condição (DUFF, 2001).

O impacto inicial do diagnóstico gera nos pais ansiedade e medo. Muitas vezes

os pais acabam expressando a incredulidade com relação ao diagnóstico. As reações

iniciais apresentadas pela família (choque, incredulidade, confusão, medo, raiva,

conflito, tensão) apresentam duração variável e uma negação prolongada tem reflexo em

toda a família, impedindo uma adaptação bem sucedida (FURTADO e LIMA, 2003).

A aceitação da doença vem com o conhecimento que se obtém a seu respeito, ou

seja, na medida em que o conhecimento aumenta, a aceitação também começa a ser

maior. A segurança em relação ao problema vem quando a família aprende a lidar com a

doença, o que traz resultados visíveis. A existência de uma doença crônica afeta toda a

família e traz consigo ocasiões difíceis, com avanços e retrocessos nas relações entre

seus membros (FURTADO e LIMA, 2003).

Ao abordar uma doença crônica, é inviável considerar somente os aspectos que

influenciam diretamente a pessoa doente. A doença faz parte do contexto familiar e,

assim, modifica as relações de todos os seus membros (OLIVEIRA, 2000).

É uma responsabilidade muito grande ter um filho com FC, pois as

possibilidades de complicações graves causam nos pais tensão e depressão que podem

ser constantes. É importante que haja um suporte adequado entre os membros da

família, não apenas no momento do diagnóstico, mas também posteriormente, quando

este não causa mais medos e ansiedades, evitando conflitos familiares que possam vir a

prejudicar o empenho do filho enfermo em aderir ao tratamento da melhor forma

possível. No entanto, para que isso ocorra é necessário que os pais saibam realmente o

que é a doença, bem como seu tratamento e as conseqüências deste (BENTLEY, 1999).

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Nas mães a dedicação total e constante leva a um sentimento de anulação quanto

aos próprios interesses pessoais. Acabam acontecendo varias separações entre casais

devido às constantes hospitalizações do filho doente que acabam por tornar a vida do

casal complicada. Os outros filhos acabam sendo deixados de lado. As mães tomam os

problemas do filho doente para si como forma de evitar sofrimento da criança

(OLIVEIRA e GOMES, 2000).

Geralmente, as crianças reagem satisfatoriamente em seu relacionamento com a

doença, mas essa relação pode ser influenciada pela forma como a família enfrenta a

situação como, por exemplo, a adesão ao tratamento. Muitas vezes, a criança adere ao

tratamento, mas a família não, contribuindo para o avanço da doença (DUFF, 2001).

2.3 A FAMÍLIA DO PORTADOR DE FIBROSE CÍSTICA

Até pouco tempo, as famílias eram afastadas das crianças, e estas eram

internadas e ficavam em verdadeiras situações de isolamento, pois acreditavam que,

assim, evitava-se a disseminação das infecções. As visitas tinham que ser programadas e

os pais na maioria das vezes não podiam entrar no local onde o filho estava internado.

Com o surgimento da lei nº 8069, em 1990, que regulamenta o Estatuto da Criança e do

Adolescente, as crianças passaram a ter o direito do acompanhamento do pai ou

responsável durante as internações (FURTADO e LIMA, 2003).

Segundo Furtado e Lima (2003):

Os cuidados do paciente com fibrose cística exigem dos pais e, principalmente do responsável pelo cuidado (caso representado geralmente pela mãe), um tempo maior do que aquele dispensado às outras atividades no âmbito familiar. Essa dedicação mostra-se como uma dificuldade pelo fato de a mãe ter, além desses cuidados, outras obrigações.

É a família quem faz a primeira inserção da criança no mundo social objetivo,

oferecendo-lhe o aprendizado de elementos culturais, tais como, linguagem, hábitos,

usos, costumes, valores, normas, padrões comportamentais, e promove a formação das

estruturas básicas da personalidade e da identidade (PIZZIGNACO E LIMA, 2006).

Segundo a página na Internet da ACAM, a FC assim como qualquer outra

enfermidade séria, pode acarretar problemas sociais e emocionais, e estes fatores podem

interferir desfavoravelmente no tratamento. São eles:

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• As crianças têm temor do hospital, medo que sua doença piore ou que

tenham complicações.

• Tendem a ser mais frágeis que crianças que não possuem a doença. Com

isso acabam por não poder acompanhar as atividades com a mesma

intensidade que seus amigos de classe e acabam se sentindo diferentes dos

demais.

• Na adolescência o sujeito tende a querer ser mais independente, podendo

ocasionar uma reação aos cuidados que os pais querem oferecer,

comprometendo o tratamento.

• Adolescentes têm medo do que o futuro lhes reserva.

Atualmente as famílias estão sendo incentivadas a participar no cuidado do

paciente, por ter um papel importante no processo saúde/doença/cuidar. Conhecer a

família, a relação entre seus membros, seu cotidiano e como reestruturam a vida

familiar em relação à condição crônica de seu filho é fundamental. A existência de uma

doença crônica afeta toda a família e pode provocar momentos difíceis entre seus

membros, retira sua privacidade, consome tempo e energia, pode acarretar em

isolamento social e emocional. Porém, a família que tem conhecimento sobre a doença,

o tratamento e os recursos disponíveis pode ter seus níveis de estresse e ansiedade mais

baixos. A FC atinge vários sistemas, por isso ela tem necessidade de um cuidado

complexo e contínuo para uma condição estável do paciente. Para a assistência

desejada, é preciso atenção integral e o conhecimento da doença pelo cuidador. A

família pode ser afetada nesse processo, social, emocional e financeiramente.

(FURTADO e LIMA, 2003).

Segundo Pizzignacco e Lima (2006):

A relação desses pacientes com a escola, com o

trabalho, amigos e a família é prejudicada não pela doença em si, mas pela falta de estratégias de enfrentamento positivas. O conhecimento equivocado da Fibrose Cística desencadeia estratégias de enfrentamento não positivas, que fazem com que haja o afastamento dos colegas, aumento dos problemas familiares e dificuldades em freqüentar os ambientes de maior socialização, como a escola e o trabalho.

É fundamental a estabelecer hábitos alimentares saudáveis e disciplinados e a

família tem papel importante em ajudar o paciente nessa tarefa. (ACAM, 2007).

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A relação dos pacientes com a escola, amigos e familiares pode ser prejudicada

não pela doença em si, mas pela falta de enfrentamento positivo a ela. No caso da

criança, o conhecimento equivocado sobre a doença pode desencadear estratégias de

enfrentamento não positivas, e fazer com que esta se afaste de seus colegas, aumente os

problemas familiares e dificuldades em enfrentar locais de maior socialização

(PIZZIGNACO e LIMA, 2006).

2.4 ASPECTOS AFETIVOS DA CRIANÇA DOENTE

Laplanche (1998) define afeto como:

Termo que a psicanálise foi buscar na terminologia psicológica alemã e que exprime qualquer estado afetivo, penoso ou desagradável, vago ou qualificado, quer se apresente sob a forma de uma descarga maciça, quer como tonalidade geral. Segundo Freud, toda pulsão se exprime nos registros, do afeto e da representação. O afeto é a expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações.

Desde muito cedo a criança é capaz de sentir e expressar seu temor à morte, na

maioria das vezes através da linguagem não-verbal. A criança percebe fatos que os

adultos lhe tentam esconder, inclusive em situações de doença. Freqüentemente os

adultos não entendem estes sinais da criança e, ainda, têm dificuldades em aceitar sua

condição (WERLANG, 2000).

As ações de experiência e vivência de crianças e jovens são desvalorizadas se

comparadas com aquelas atribuídas aos adultos. O tratamento concedido à experiência

da infância pela sociedade adulta pode ser caracterizado como paradoxal, já que ao

mesmo tempo em que acaricia os primeiros estágios da infância, renega o tratamento

infantilizado nos estágios posteriores (ALMEIDA, 2006).

A doença crônica expõe a criança e seus familiares a situações estressantes, que

se somam à possibilidade de internação. A criança com doença crônica que necessita de

visitas regulares ao hospital, pode encontrar dificuldades e obstáculos na sua vida social

e familiar. Precisa se adaptar a novos horários, confiar em pessoas desconhecidas,

receber injeções e outros tipos de medicação, permanecer em um quarto, ser privada de

atividades de brincar - situações estas que não faziam parte da vida da criança e que

caracterizam uma hospitalização (MOTTA e ENUMO. 2004).

Toda criança sob estresse físico, psicológico e social é propensa sofrer

distorções perceptivas, intelectuais e emocionais, devido à imaturidade de sua

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capacidade cognitiva e à regressão emocional que apresenta nestas situações (CASSEM,

1985).

A interação entre crianças e adultos se institui de acordo com as condições objetivas

da cultura na qual eles estão inseridos. Assim, mudanças socioculturais tendem a

promover modificações nas formas pelas quais a infância e a adolescência são

percebidas na sociedade (SALLES, 2005).

2.5 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM CRIANÇAS

Os mecanismos analisáveis através do jogo infantil são comparáveis aos

mecanismos observáveis em sonhos. Os brinquedos são vistos como meio para alcançar

o inconsciente infantil. (DUARTE, 1989).

Através do brinquedo a criança, além de realizar seus desejos, domina também a

realidade, devido ao processo de projeção dos perigos internos sobre o mundo externo.

O brinquedo se torna um meio de comunicação, é a ligação entre o mundo externo e

interno, entre a realidade objetiva e a fantasia. Freud estabeleceu marcos referenciais da

técnica do jogo, mostrando que o brincar pode não ser apenas um passatempo para viver

situações prazerosas, mas também uma maneira de elaborar situações traumáticas.

Melanie Klein colocou o brinquedo num lugar de destaque na luta contra a angústia

mobilizada pelas pulsões sexuais. Ao brincar a criança domina realidades dolorosas e

controla seus medos, projetando-os nos brinquedos. Esse mecanismo é possível porque

a criança, desde nova, tem a capacidade de simbolizar. Para Melanie Klein, a

brincadeira é a linguagem típica da criança, pode-se comparar a linguagem lúdica

infantil com as associações livres e os sonhos nos adultos. Sabe-se que a neurose de

transferência desenvolve-se da mesma maneira, não sendo as figuras parentais atuais,

mas as internalizadas, que são projetadas no analista, que tem como principal função

interpretar todo o material associativo que a criança traz (WERLANG In:CUNHA,

2000).

O brincar faz com que seja possível formar uma idéia sobre a organização do ego

da criança, sobre os tipos de mecanismos defensivos e sobre sua flexibilidade

(LEBOVICI e DIATKINE, 1986).

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A brincadeira é o momento em que a criança consegue diluir-se no espaço, no lugar

e no tempo, para dar lugar ao objeto manipulado e aos papéis que representa nas

diversas vezes que brinca (ALMEIDA, 2006).

É importante primeiro entrevistar os pais, para obter o maior número de

informações sobre o problema e sobre a criança. O primeiro contato com a criança, pode

ser feito através da entrevista lúdica que, por ser uma técnica muito rica, permite

analisar e compreender a natureza do pensamento infantil, pois a criança não só

estabelece transferência com o terapeuta, mas também é capaz de estruturar através dos

brinquedos seus conflitos, suas defesas e fantasias de doença e cura, deixando em

evidência o seu funcionamento mental. Para que a entrevista lúdica ocorra, é importante

oferecer à criança a oportunidade de brincar com todo o material lúdico disponível na

sala, esclarecendo sobre o espaço que poderá ser utilizado, sobre o tempo disponível,

sobre o papel dela e do psicólogo e também sobre o motivo desta atividade. As

crianças, em geral, brincam de acordo com suas possibilidades maturativas, emocionais,

cognitivas e de socialização e é pela ação que elas exprimem suas possibilidades,

descobrindo a si mesmas e revelando-as aos outros. O psicólogo deve estimular a

interação, conduzindo a situação para que a criança possa deixar transparecer a

compreensão do momento, respeitando e acolhendo a criança, para que ela se sinta

segura e aceita. O psicólogo é passivo, pois tem a função de observador, porém também

é ativo já que em sua atitude é atenta na compreensão e formulação de hipóteses sobre o

conteúdo que é trazido à tona, assim como na ação de perguntar sobre algum assunto

que necessita ser esclarecido e que foi trazido à brincadeira. Os objetos da caixa devem

representar objetos comuns do mundo real da criança como: lápis, famílias, bonecos,

carros, casas, etc.

É importante que o psicólogo que aplica a hora do jogo tenha conhecimentos de

psicologia evolutiva além de conhecimentos básicos de fisiologia, neurologia e

psicomotricidade que possibilitem a ele identificar as pautas motoras da criança para

adequar em qual etapa evolutiva ela se encontra. Não existe um roteiro padronizado

para a análise deste método avaliativo, porém propõem-se oito indicadores para orientar

a análise: 1) Escolha dos brinquedos: está relacionada com o momento evolutivo e

intelectual da criança. Cada uma das condutas lúdicas deve ser ligada com as fases de

evolução da libido (oral, anal, fálica e genital) para proporcionar maior compreensão

sobre o funcionamento infantil. 2) Modalidade do brinquedo. Entre as modalidades as

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principais são: plasticidade, rigidez, estereotipia e perseveração. 3) Motricidade:

integração do esquema corporal. Possibilita à criança o domínio dos objetos do mundo

externo. 4) Personificação: capacidade que a criança tem de assumir e desempenhar

papéis na brincadeira. 5) Criatividade: manipulação do ambiente do qual resultam novas

idéias, formas e relações. 6) Capacidade simbólica: utilização de vários elementos para

se expressar pelo brinquedo. 7) Tolerância à frustração e 8) Adequação à realidade: as

duas tem a ver com a relação de aceitação ou não das instruções e enquadramentos da

hora do jogo (WERLANG, 2000).

A partir dos conceitos estudados neste capitulo este projeto se propôs estudar o

estado afetivo de 01(uma) criança portadora de FC através de uma avaliação psicológica

que utilizou como instrumento a Entrevista Lúdica e a entrevista com a mãe do

paciente.

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3 METODOLOGIA

Esta pesquisa teve como objetivo avaliar o estado afetivo de 01(uma)criança

portadora de fibrose cística que realiza tratamento no Hospital Infantil Joana de

Gusmão. O sujeito de pesquisa foi uma criança de 12 anos de idade com condições

intelectuais preservadas. A escolha desta criança ocorreu por sugestão da psicóloga do

local. Participou também a mãe na entrevista com o responsável, para que pudesse

informar dados sobre a história de vida da criança.

A análise foi realizada através da metodologia de Estudo de Caso, que é uma das

modalidades de pesquisa qualitativa, que segundo Gil (1996) pode abranger vários

procedimentos e os mais comuns são a observação, a análise de documentos, as

entrevistas, relatos e história de vida.

A coleta de dados foi realizada com a criança e sua mãe, em uma sexta-feira. no

período da manhã. A mãe e a criança foram informadas sobre os objetivos do trabalho e

apenas após concordarem é que foram coletados os dados.

Para coletar os dados foi utilizada a Entrevista Lúdica com a criança e a

entrevista semi-estruturada com a mãe. Segundo Safra (1984) é oferecido um

enquadramento composto por um espaço, um tempo e uma relação que a criança

estrutura segundo sua dinâmica interna, articulando com os brinquedos um texto

flexível e que pode ser compreendido. Ao brincar a criança trará à tona seus conflitos,

desejos, experiências e fantasias, que deverão ser analisados.

É importante salientar que, no momento da coleta de dados, a professora

supervisora da pesquisadora esteve presente no local, caso a criança ou o responsável

necessitassem de algum atendimento e/ou encaminhamento. Além desses instrumentos,

participou-se de uma reunião multidisciplinar com a equipe de saúde para obter os

dados sobre a saúde do paciente.

O projeto foi encaminhado para o Comitê de Ética da UNIVALI e do Hospital

Infantil Joana de Gusmão, posteriormente foram feitas as reformulações necessárias e

somente após os pareceres finais foi possível dar início à pesquisa de campo, a qual

correspondia à entrevista com a mãe e à entrevista lúdica.

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3.1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE

Nome: Carlos (nome fictício) Idade: 12 anos Escolaridade: Cursando a 5ª série do ensino fundamental. DATA: 11/04/2008

3.2 ENTREVISTA COM A MÃE

Segundo o relato da mãe, Carlos foi diagnosticado com FC tardiamente em 2004

quando tinha 8 anos de idade. Ele estava muito mal, apresentava muita tosse e diarréia

constante e não ganhava peso. Atualmente está bem e com a doença controlada. Toma

os remédios todos os dias antes das refeições e todas as vitaminas receitadas pelos

médicos. Segue muito bem o tratamento.

Porém, a mãe conta que Carlos não se alimenta na escola. Com a descoberta da

doença do filho, a família, ficou em estado de choque. Acreditavam que Carlos não

voltaria vivo de Florianópolis. Na época a mãe relata que entregou a cartilha que

recebeu da ACAM sobre a FC para Carlos, deixou que ele lesse e depois perguntou se

ele tinha alguma dúvida, mas ele simplesmente não quis tocar no assunto.

Ele se comporta da mesma forma que outra criança da idade dele, porém não

gosta de falar sobre nada que envolva a doença. Na escola não comenta sobre a doença

com os colegas, mesmo quando se ausenta para as internações hospitalares, por

períodos de 15 dias, em Florianópolis. Na escola, é aprovado devido aos atestados e à

compreensão de seus professores, que acabam relevando as notas baixas e as faltas.

Carlos fica ansioso e triste nos dias que antecedem sua vinda a Florianópolis

para as consultas no HIJG. É a mãe que sempre fica com Carlos no hospital, por achar

que o pai não entende nada sobre a doença. Os pais são casados há 13 anos. A mãe tem

três filhos de um primeiro casamento, totalizando quatro com Carlos, filho do segundo

casamento. Dos quatro, apenas Carlos mora com ela, os outros são casados. O marido

tem outro filho, de treze anos, do primeiro casamento, que se relaciona muito bem com

Carlos (estudam e brincam juntos).

A mãe trabalha numa plantação de maçãs e cebolas, porém seu trabalho é

sazonal. O pai trabalha como Pastor em uma igreja evangélica à noite, e durante o dia

fica em casa, sendo o “responsável” pelas crianças. Ao sair para trabalhar, a mãe deixa

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as panelas com a comida no fogão e quando volta para casa, as panelas estão intactas,

ou seja, o pai não consegue fazer Carlos comer adequadamente. Ela não confia no pai

para cuidar das crianças, porém tem que trabalhar fora para ajudar nas despesas da casa,

pois o salário do pai de Carlos depende da doação dos fiéis da igreja e os valores

mudam de acordo com a freqüência destes.

Não sabe se poderá ficar no hospital com Carlos, caso ele seja internado, porque

está trabalhado e a colheita está chegando ao fim. Conversou com o patrão, explicando-

lhe a situação, mas mesmo assim não foi liberada para passar 15 dias em Florianópolis,

por isso pedirá ao médico para que não interne Carlos desta vez.

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3.2.1 ANÁLISE DOS DADOS – ENTREVISTA COM A MÃE

Quando Carlos tinha oito anos de idade foi hospitalizado, segundo a mãe, “por

apresentar vômitos e muita perda de peso”. Ela não conseguiu relatar sobre o momento

do diagnóstico, e sobre quais informações foram repassadas pela equipe para ela e o

filho. Apesar de a mãe comentar que todos estão cientes sobre a doença, quando

questionada não soube explicar o que sabia sobre o assunto e de acordo com os dados

obtidos com a equipe médica o pai tinha ainda menos informações sobre a doença. O

que confirma a fala da mãe, quando diz que não confia no pai para que traga Carlos para

Florianópolis, pois este, “não entende nada sobre FC”. Diz que seu filho sabe tudo

sobre a doença, mas fica a dúvida de como Carlos pôde obter tais informações já que os

pais não conversam com o filho, não entendem a doença para que possam passar as

informações a Carlos, e segundo a mãe, nem o filho e nem os pais, gostam de falar

sobre o assunto. Agindo como se Carlos estivesse saudável, mesmo quando a equipe

médica não concorda com esta afirmação.

A mãe conta que, na época da descoberta, ela e o marido entregaram uma

cartilha que foi oferecida pela ACAM e que deram para que Carlos lesse. Porém, após

entregar o material os pais não conversaram com o filho para explicar suas dúvidas e

verificar se ele havia entendido. Ela ainda comenta que “Carlos não gosta de falar mais

nada sobre a doença desde então”. Aparentemente. há uma falha na comunicação entre

os pais e Carlos no que se refere à doença, a mãe parece despreocupada e acreditar que a

fase ruim já passou.

A comunicação é uma condição fundamental à adesão ao tratamento, porém a

qualidade da comunicação dependerá da qualidade do desenvolvimento psicosocial do

jovem. É importante ressaltar que comunicação não é sinônimo de informação, a

informação requer um contexto em que o sujeito necessita aceitá-la e cumpri-la. A

comunicação, por sua vez, permite ao doente utilizar a sua própria experiência para

fazer julgamentos a respeito da informação, e só então escolher o que faz sentido para

ele, em cada situação. Toda comunicação, portanto, necessita de uma informação, mas

não basta uma informação para haver uma comunicação (OLIVEIRA, 2000).

A FC é uma doença que exige adesão ao tratamento. Quando a família possui

um bom entendimento sobre a doença e possui estratégias eficientes de enfrentamento, a

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probabilidade de adesão ao tratamento aumenta. Estudos indicam que o conhecimento é

um componente importante na administração da doença, mas apenas o conhecimento

não é suficiente para produzir mudanças no comportamento, porém essa é uma etapa

necessária no processo de mudança. (SARAIVA e OLIVEIRA, In NETO

LUDWIG,2008).

Desde o início dos sintomas até a definição do diagnóstico e tratamento, as

crianças e suas famílias vivenciam uma fase de crise, caracterizada como um período de

desestruturação e incertezas, precisando aprender lidar com os sintomas, procedimentos

diagnósticos e terapêuticos, para assim, reorganizarem suas vidas (VIEIRA e LIMA,

2002).

A família tem papel importante no processo saúde/doença/cuidar. A existência

de uma doença crônica afeta toda a família, o cuidado à criança com doença crônica

consome da família tempo e energia, tira sua privacidade, pode provocar isolamento

social e emocional. Porém, se a família tem conhecimento sobre a doença, o tratamento

e os recursos disponíveis, seus níveis de estresse e ansiedade podem diminuir

significativamente (FURTADO e LIMA, 2003).

Pela fala da mãe, não se conseguiu perceber nenhuma mudança de

comportamento para o tratamento do paciente. Ela deixa claro que seu filho não come

direito, que ao chegar em casa ao final do dia as panelas estão exatamente como ela

havia deixado. A mãe comenta que não confia no pai para que venha a Florianópolis

com Carlos porque, segundo ela, “Ele não entende nada sobre FC”. Porém esta mãe,

quando questionada sobre a doença e o tratamento, pouca coisa soube informar. O pai,

que fica em casa com o filho, não tem comprometimento nem com a alimentação, muito

menos com o tratamento (do qual não sabe explicar nada).

Pelo fato de que essa doença atine vários sistemas, é necessário um cuidado

complexo e contínuo para a promoção de uma condição estável do paciente. A atenção

em tempo integral faz com que os responsáveis pelo cuidado necessitem conhecer a

doença para possibilitar a assistência desejada, No entanto, apenas o saber clínico é

insuficiente. É importante conhecer como e quanto a família foi afetada em todos os

seus aspectos (sociais, emocionais e financeiros). A família convive, desde a fase

diagnóstica, com alterações em suas rotinas, voltando sua atenção para o filho doente.

Deve haver um plano de cuidados que deve ser flexível, de modo que as atividades

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familiares sejam interrompidas com a menor freqüência possível (FURTADO e LIMA,

2003).

Não é possível perceber um cuidado especial com Carlos, que seria o necessário

a pacientes portadores de doenças crônicas, nem atenção em tempo integral. Também é

imperceptível mudança na rotina da família (excetuando as vindas a Florianópolis, a

cada três meses).

Segundo Furtado e Lima (2003) após receberem a notícia do diagnóstico, os pais

vêem suas vidas envolvidas pela doença e o mesmo ocorre com toda a família e esse

envolvimento reflete uma necessidade especial, alterando o ritmo familiar. Percebe-se

que o cuidado centraliza-se mais na figura materna, pois ela aprende a cuidar e

preocupa-se em executar corretamente este cuidado. Pela convivência diária com a

doença, aumenta seu conhecimento sobre a situação do filho, tendo uma visão mais

apurada com relação aos aspectos clínico e emocional apresentados pela criança, assim

como passa a conhecer suas reações e necessidades.

No que concerne à relação dos pais com seu filho portador de doença crônica é

comum que esses pais apresentem dificuldades em lidar com o filho. Tais complicações

podem ser expressas através de comportamentos de extrema preocupação, de

irresponsividade às reais necessidades da criança, de estilos interativos, ansioso e

defensivo ou, ainda, de negligência, quando os pais procuram evitar o envolvimento

com a criança por medo de que ela possa vir a morrer precocemente (SABBETH, 1984).

A adesão ao tratamento é bastante difícil, exige um longo tempo, uma dieta

balanceada, caracterizada pela ingestão de alimentos saudáveis (SARAIVA e

OLIVEIRA, In NETO LUDWIG ,2008).

Segundo Barbosa in Neto (2008) o estado nutricional do indivíduo portador de

FC influencia no curso da doença e também na qualidade de vida. Uma das maiores

dificuldades no desafio do tratamento é a desnutrição, que pode estar relacionada com a

progressão da doença e ter vários fatores como a deterioração da função pulmonar,

anorexia, vômitos, insuficiência pancreática, complicações biliares e intestinais, que são

responsáveis pelo aumento das necessidades energéticas e que, quando associadas à

ingestão alimentar reduzida, podem levar à perda da massa magra e à depressão da

função imunológica, podendo levar a um balanço energético negativo e desencadear a

desnutrição.

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A doença significa a perda da homeostase, levando o indivíduo a buscar um

novo equilíbrio. O adoecimento gera crises e momentos de desestruturação para o

paciente e também sua família, pois é o primeiro grupo de relações em que o indivíduo

está inserido. Na maioria das vezes, são os familiares as pessoas mais próximas das

vivências do paciente. A família de Carlos sugere não ter energia suficiente para cuidar

dele, não cumprindo um papel fundamental no tratamento de portadores de doenças

crônicas.

Muitas mudanças ocorrem na vida do doente, levando-o a se deparar com

limitações, frustrações e perdas. Estas mudanças serão definidas pelo tipo de doença,

maneira que se manifesta e como segue o seu curso, além do significado que o paciente

e família atribuem ao evento.

Segundo o relato da equipe médica que cuida de Carlos, ele apresenta baixo peso

e desnutrição, informação que confirma que a fala da mãe entrevistada é verdadeira,

Carlos não está se alimentando como deveria. Porém, esta não percebe o quanto esta

alimentação inadequada está afetando o estado de Carlos e poderá afetar ainda mais,

como descreve Barbosa in Neto Ludwig (2008):

O quadro policarencial pode manifestar-se de diferentes formas tais como: a parada de crescimento, emagrecimento acentuado, deficiências nutricionais especificas, puberdade retardada e um acentuado comprometimento da função pulmonar.

A falta de uma alimentação adequada já está afetando Carlos e no futuro poderá

acarretar problemas ainda mais graves, como o comprometimento da função pulmonar.

Segundo Castro e Piccinini (2002):

O papel da família no bem-estar da criança que sofre de doença crônica tem sido estudado por diversos autores (Berenbaum & Hatcher, 1992; Góngora, 1998; Kazak, Reber & Carter, 1988; Krahn, 1993; Silver, Westbrook & Stein, 1998; Walker & Zeman, 1992). A doença crônica pode ser vista como um estressor que afeta o desenvolvimento normal da criança e também atinge as relações sociais dentro do sistema familiar. A rotina da família muda com constantes visitas ao médico, medicações e hospitalizações (Hamlett & cols., 1992) e acaba atingindo todas as pessoas convivendo com a criança (Bradford, 1997; Góngora, 1998).

A família passou por uma fase em que acreditava que Carlos não voltaria vivo

de Florianópolis, porém não demonstra ter reorganizado sua vida em torno do

tratamento dele. Supostamente, deveriam ter alterado sua rotina em torno da doença do

garoto e de seu tratamento, o que não aconteceu. Continuaram agindo como se nada

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houvesse acontecido, de certa forma negando a doença dele e acreditando que está tudo

bem. Mesmo que os exames médicos não estejam confirmando isso atualmente, a mãe

insiste que seu filho está bem e que é uma criança “normal”.

Os problemas vivenciados pelas crianças portadoras de FC nas escolas estão

diretamente relacionados aos efeitos colaterais do tratamento, sintomas da doença e

sentimentos como rejeição, estresse e isolamento por vergonha dos colegas. Durante os

períodos de crise da doença, devido às constantes internações, as crianças e os

adolescentes portadores de FC, faltam à escola e muitas vezes são reprovados em

conseqüência disto, o que desestimula a estudar. A doença é um acontecimento que

altera as condições psicológicas e sociais da criança, desenvolvendo sentimentos de

medo, angústia, oriundos da dor e dos procedimentos da hospitalização, podendo afetá-

la irremediavelmente. (CREPALDI, 1999).

Carlos não come na escola, possivelmente por não se sentir a vontade em ter que

tomar comprimidos na frente de seus colegas de sala. Na entrevista Carlos diz que não

comenta sobre a doença com seus colegas, nem quando se ausenta por vários dias para

realizar o tratamento em Florianópolis. Apesar de Carlos comentar que gosta de estudar,

a mãe diz que Carlos é aprovado na escola pelo fato de apresentar atestados médicos e

também porque seus professores são compreensivos, devido à doença, e acabam

relevando as baixas notas e faltas.

Os problemas vivenciados pelas crianças e adolescentes portadores de FC nas

escolas estão diretamente relacionados aos efeitos colaterais do tratamento, sinais e

sintomas da doença e a sentimentos, como rejeição, estresse e isolamento por vergonha

dos colegas. Durante os períodos de crise da doença, devido às constantes internações,

as crianças e os adolescentes portadores de FC, faltam à escola e muitas vezes são

reprovados em conseqüência das faltas, o que desestimula a estudar (CREPALDI,

1999).

A fala da mãe mostra, também, dificuldade em administrar cuidados,

comprometimento e a preocupação que a família tem com a doença e com o tratamento

do filho. Comenta que o pai é quem fica com Carlos durante o dia, porém deixa claro

que este também não contribui para o tratamento da doença. Carlos acaba ficando

responsável por seu próprio tratamento.

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Questiona-se o nível de compreensão por parte da família, sobre o diagnóstico e

cuidados necessários e a comunicação entre a equipe médica e a família. E como está o

esclarecimento da família sobre a situação de Carlos.

Segundo o site da ACAM (2008) é importante ter “sempre em mente que o

sucesso do tratamento dependerá do envolvimento de todos, principalmente daqueles

familiares mais próximos”. O que podemos perceber que não ocorre nesta família, já

que aparentemente o único envolvido no tratamento é o próprio paciente.

Segundo FURTADO; LIMA (2003):

A existência de uma doença crônica afeta toda a família e gera momentos difíceis com avanços e retrocessos nas relações entre seus membros . O cuidado à criança com doença crônica consome da família energia e tempo e retira sua privacidade; pode também provocar isolamento social e emocional. Em contrapartida, se a família tem conhecimento sobre a doença, o tratamento e os recursos disponíveis, seus níveis de estresse e ansiedade podem diminuir significativamente.

Pela entrevista com a mãe não pode ser percebido que a criança recebe os

cuidados necessários e muito menos que a criança tem todas as informações sobre a

doença, o que diminuiria o nível de ansiedade da família e do paciente. Ele passa o dia

todo com o pai, porém este não se preocupa com a alimentação do filho e não tem

conhecimento sobre o tratamento da doença do mesmo. Em doenças crônicas, os

membros das famílias são considerados uma influência importante no tratamento e

desenvolvimento do doente. A mãe de Carlos afirma que não tem tempo para ficar com

ele, devido ao seu trabalho. Segundo Crepaldi e Cerqueira (2002) os cuidados dos

pacientes portadores de FC exigem dos pais e, principalmente, do responsável pelo

cuidado (caso representado geralmente pela mãe), um tempo maior do que aquele

dispensado às outras atividades no âmbito familiar. Esta dedicação mostra-se como uma

dificuldade pelo fato de a mãe ter, além desses cuidados, outras obrigações.

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3.3 ENTREVISTA LÚDICA COM A CRIANÇA

Convidei Carlos para entrar na sala. Expliquei para ele que iríamos ter alguns minutos

para brincar, que sua mãe esperaria na sala ao lado e que a qualquer momento ele

poderia ir embora se assim fosse sua vontade. Carlos entrou acanhado na sala, com o

olhar ao chão. Na sala havia a caixa de brinquedos que era composta de uma família

(pai, mãe, avô, avó, filho, filha e cachorro), celular, mordedor de bebê, instrumentos

médicos, cubo mágico, arma, animais diversos, boneca e louças. Mostrei então a caixa e

o convidei a brincar. Informei que ele poderia retirar os brinquedos da caixa, se

quisesse. Carlos sentou-se na frente da caixa e ficou paralisado, olhando para baixo e

sem dizer uma palavra sequer. Após cerca de 20 minutos de silêncio, Carlos pegou um

mordedor de bebê colorido em suas mãos. Era o brinquedo que estava mais no topo da

caixa e exatamente na frente de seus olhos. Carlos nem se deu ao trabalho de olhar os

brinquedos ou mexer neles, simplesmente pegou o que estava ao mais fácil alcance.

Olhava e mexia no brinquedo quando então começou a falar.

Legenda:

E/P: entrevistador/pesquisador

C: Carlos

C: - Meu sobrinho tem um igual a este.

E/P: - Com esta idade você já tem sobrinho?

C: - Sim, tenho vários. E eu gosto muito deles.

E/P: - Você se dá bem com seus sobrinhos?

Fez sinal com a cabeça que sim.

E/P: - E com seus irmãos?

C: - Também. Mas me dou melhor com o que mora comigo, nós estudamos juntos

também.

E/P: - E você gosta de estudar?

C: - Sim.

E/P: - E gosta de ir à escola?

C: - Sim, gosto sim. Tenho vários amigos lá.

E/P: - Seus amigos não sentem a sua falta quando você vem para Florianópolis?

C: - Sentem.

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E/P: - E eles sabem que você vem fazer tratamento?

C: - Eu só falo que venho ao médico, por causa do meu pulmão.

E/P: - O que tem seu pulmão Carlos?

C: - Ele é fraco. Tenho que fazer fisioterapia, três vezes na semana.

E/P: - E como é lá?

C: - Tenho que assoprar uma bolinha. E ficar deitado, daí o médico bate nas minhas

costas e o catarro escorre para fora.

E/P: - E como você se sente indo lá?

C: - Eu gosto. Eu respiro melhor depois de ir lá.

E/P: - E tem outras crianças lá?

C: - Não, só adultos. Sou a única criança de lá.

E/P: - Você sabe o que deve fazer no seu tratamento?

C: - Tenho que tomar as enzimas, que vem num comprimido bem grande, vermelho e

branco que não pode ser aberto, senão cai tudo no chão. Eu tenho que tomar essa

sempre antes de comer, à noite tomo vitamina e mais um comprimido branco.

E/P: - Na escola você toma as enzimas também?

C: - Não. Mas lá eu não como nada.

E/P: - Você não come na escola?

C: - Não. A comida lá é muito ruim. Tem sopa, sopa que só tem água, cenoura e arroz

cru. Eu não gosto.

E/P: - E o que você gosta de comer?

C: - Tudo, eu como tudo.

E/P: - E por que você não leva lanche de casa então?

Nessa hora Carlos coloca o mordedor na caixa e pega o cubo mágico que está

exatamente ao lado de onde Carlos colocou o mordedor e diz:

C: - Nossa, este brinquedo é muito difícil!

E neste momento fez um ligeiro contato visual comigo e pegou o brinquedo. Mexeu por

alguns instantes e então começou a falar:

C: - Eu odeio cebolas também. Odeio cebolas. Gosto de tudo, menos de cebolas!

E/P: - Sua mãe trabalha numa plantação de cebolas não é?

C: - Sim, eu já fui lá ver como era, mas agora não vou mais, o patrão dela proibiu

crianças lá dentro.

E/P: - E maçãs Carlos, você gosta?

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C: - De maçã eu gosto!

E/P: - Quando sua mãe trabalha, onde você fica?

C: - Em casa, gravando CD para meu pai.

E/P: - Fica gravando CD?

C: - Sim, CD de música, para a igreja. Ele vende lá depois. Está vendo este

computador? (Carlos aponta para o computador). Eu tenho um igual a este, lá em casa.

É lá onde eu gravo os CD.

E/P: - E você só grava CD no computador, ou faz outras coisas, como jogos?

C: - Só gravo CD, não tem internet e meu pai não deixa instalar jogos, por que estragam

o computador. Daí eu tenho que pagar R$0,50 se quiser jogar no computador do cara lá

da cidade. Lá tem jogos de carros e essas coisas.

Carlos largou o cubo na caixa e ficou mexendo apenas em suas mãos. Olhou para mim

mais uma vez e sorriu. Voltando à velha posição de novo e comentando:

C: - Na minha cidade é tudo velho e feio, não é como aqui.

A mãe de Carlos interrompe a sessão dizendo que precisa levá-lo à fisioterapia. Carlos

se levanta e sai, sem se despedir.

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3.3.1 ANÁLISE DA ENTREVISTA LÚDICA COM A CRIANÇA

Desde o princípio da entrevista, ao entrar na sala, Carlos aparenta estar

assustado, não mantém contato visual e fica com os olhos arregalados na maior parte do

tempo.

É a partir do estudo sobre a representação social que a criança e sua família

possuem sobre a doença crônica e hospitalização, que se percebe que, assim como no

indivíduo adulto, a doença também afeta a criança, interferindo na sua vida,

prejudicando seu desenvolvimento, a escolarização, relacionamento com amigos e

familiares e seu desenvolvimento social. A doença é um acontecimento que altera e

afeta as condições psicológicas e sociais da criança, desenvolvendo sentimentos de

medo, angústia, oriundos da dor e dos procedimentos da hospitalização (CREPALDI,

1995).

Segundo FURTADO e LIMA (2003): O contato inicial com a doença gera nos pais a ansiedade e o medo. Muitas vezes, eles expressam a incredulidade com relação ao diagnóstico, o receio da perda do filho de imediato. Essas fases enfrentadas pela família, descritas como as reações iniciais dos pais (choque incredulidade, confusão, medo, raiva, conflito, tensão).

Esta fase apresenta duração variável e uma negação prolongada, e refletem na

adaptação do paciente e de sua família.

Segundo Motta e Enumo (2004), a criança pode encontrar dificuldades e

obstáculos na sua vida social e familiar, restrição do convívio social, ausências escolares

são freqüentes e há um aumento da angústia e tensão familiares, devido a novas

situações que não faziam parte da vida da criança e que caracterizam uma

hospitalização como a necessidade de se adaptar aos novos horários, confiar em

pessoas até então desconhecidas, receber injeções e outros tipos de medicação, ter que

permanecer em um quarto, ser privado de atividades, etc.

Segundo o site da ACAM (2008):

Se foram internados desde pequenos e com certa freqüência, isto lhes causa medo de ficarem doentes ou de complicações, fazendo-se cada vez mais difícil uma aproximação com os médicos ou mesmo o hospital.

Quando convidado a brincar, Carlos fica estático diante dos brinquedos, não

demonstrando qualquer sinal de curiosidade sobre a caixa lúdica.

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Durante a entrevista, Carlos comenta sobre o tratamento e sobre como seu pulmão é

“fraco”. Diz também que seus colegas não sabem exatamente o que ele tem, e que ele

não gosta de comentar sobre o assunto com eles. Também não come na escola, evitando

assim que seus colegas vejam que ele precisa se medicar antes das refeições.

Segundo Pizzignacco e Lima (2007): Os problemas vivenciados por essas crianças na escola

estão diretamente relacionados aos efeitos colaterais do tratamento, sinais e sintomas da doença, e a sentimentos, como rejeição, estresse e isolamento por vergonha dos colegas. Durante os períodos de crise da doença e devido às constantes internações, as crianças e os adolescentes com FC faltam à escola e muitas vezes são reprovados em conseqüência das faltas, o que os desestimula a estudar.

Carlos está uma série atrasado e a mãe comenta que se não fosse pelos atestados

médicos e compreensão que seus professores têm, devido à doença dele, estaria mais

atrasado na escola do que já está.

A escola é apontada como fonte de discriminação, tendo como influência crucial

no desenvolvimento e socialização das crianças com doença crônica, que são rotuladas

como diferentes precisando, freqüentemente, dar explicações sobre suas ausências.

Neste sentido, a família, escola e hospital devem estabelecer diálogos e das condições

para que a continuidade da escolarização seja preservada (VIEIRA e LIMA, 2002).

Percebeu-se que Carlos sofreu e sofre um grande impacto na convivência com a

doença. Com a rotina, ele vivencia momentos de medo e angústias a cada internação

hospitalar e sente vergonha de seus colegas da escola.

Carlos não comenta sobre a doença com seus colegas, além de evitar se

alimentar na escola. Segundo Oliveira (1995), reprovações escolares, mudanças de

cidade, mudança de escolas para os pacientes portadores de FC, são oportunidades de

negar a doença e burlar o tratamento.

Segundo SARAIVA e OLIVEIRA (2008):

A comunicação adequada altera o contexto da doença, permitindo que uma pessoa debilitada e amedrontada possa compartilhar, transmitir informação e conhecer a opinião dos outros. Ademais, facilita a percepção diferenciada da situação contribuindo para a manutenção do indivíduo.

Carlos se mostra amedrontado com toda a situação, parte por estar em uma

cidade estranha, parte por estar no hospital, mas também pela falta de entendimento de

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sua situação, criando ansiedade, medo e fantasias. Quando frente à caixa lúdica Carlos

fica paralisado.

Melaine Klein apud Aberastury (1982), considera que o brinquedo, além do

papel socializador, ou seja, um canal de fora para dentro, teria uma função quase que

catártica. A criança “coloca para fora”, através do brinquedo, seus sentimentos e

pensamentos. Deste modo, o lúdico é a forma em que a criança se expressa e se apropria

do mundo externo, elaborando o seu cotidiano de forma cognitiva e afetiva. Carlos não

consegue brincar, o que talvez demonstre que não está se apropriando do mundo

externo, que está confuso e sem informações que lhe dêem mais tranqüilidade. Carlos

entende que está doente, pois quando chega à época de vir a Florianópolis fica

apreensivo, depressivo e triste como relata sua mãe.

A doença crônica pode gerar hospitalizações durante o seu curso, seja por crises

ou pelo agravamento progressivo. A hospitalização é percebida como ameaçadora,

além de ser um evento que gera estresse para toda a família (ROMANO, 1999).

Aberastury (1992 p. 17) complementa: Por meio da atividade lúdica, a criança expressa seus

conflitos e, deste modo, podemos reconstruir seu passado, assim como no adulto fazemo-lo através das palavras. Esta é uma forma convincente de que o brinquedo é uma das formas de expressar passados e presentes.

A criança tem no brincar a oportunidade de liberar seus sentimentos

acumulados de tensão, frustração, medo, agressividade, etc. Brincando pode enfrentar

seus medos, reconstruir situações mal resolvidas e aprender a lidar com essa gama de

situações. Carlos fica estático diante dos brinquedos, sem demonstrar qualquer

curiosidade sobre a caixa lúdica ou seu conteúdo, talvez isso reflita seu estado interno.

Estático diante de tantas idas a hospitais, sem saber ao certo o que ele tem (pois estas

informações não ficam claras para ele) e ao mesmo tempo sabendo que está doente.

A família necessita se reorganizar e também se adaptar, pois o paciente pode

precisar de cuidados. Os papéis e funções devem ser repensados e distribuídos de forma

que auxilie o paciente na elaboração de sentimentos confusos e dolorosos ocasionados

pelo processo de adoecer. Esta reorganização não acontece na família de Carlos, o que

está contribuindo ainda mais para a elaboração de sentimentos confusos e dolorosos que

toda doença pode causar.

Segundo Castro e Piccinini (2002):

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As características da própria doença crônica, a idade em que surgiu, o prognóstico e a assistência médica disponível vão interagir com inúmeros fatores subjetivos, comportamentais e sociais relacionados aos genitores e à criança, criando uma dinâmica particular para cada caso investigado. Apesar disto, sabe-se pelas evidências existentes que a presença de uma criança com doença crônica em uma família merece a atenção especial não apenas do ponto de vista médico, mas também na sua dimensão psicológica e social.

A família irá conviver com o paciente e a doença, portanto deve ser considerada

como aliada no acompanhamento do doente crônico, compartilhando perdas, limitações

e cuidados. O trabalho em grupo pode auxiliar o paciente e a família a lidar com a

doença. Para otimizar o tempo e organizar tarefas e temas, o grupo pode contar com a

elaboração de um programa, permitindo a elaboração e discussão dos conteúdos que

surgem a partir disso (ROMANO,1999).

O brinquedo não assusta e inquieta somente a adultos, mas a própria criança com

o que pode fazer “no mundo do faz-de-conta”. A ansiedade está presente nos jogos

infantis e dá um colorido especial ao comportamento infantil. (DUARTE apud:

DUARTE, BORNHOLDT e CASTRO, 1989).

Uma entrevista bem sucedida requer respeito e que este seja sentido e

claramente demonstrado para a criança pelo psicoterapeuta. Para isto se faz necessário

reconhecer que muitas crianças sentirão perplexidade e medo do processo diagnóstico.

A relação com a criança deve iniciar de uma maneira que convide a criança a manejar

estes receios ao invés de esperar que ela passivamente os tolere (COPPOLILLO, 1990).

O brincar, de um modo geral, está presente nas pretensões da criança quando

está hospitalizada. Ela quer brincar e parece não selecionar muito o tipo de brincadeira

que gostaria de fazer. Isto pode acontecer seja por uma privação, em que o acesso ao

brinquedo pode ser mais difícil por restrições socioeconômicas, ou pela privação

comumente imposta no ambiente hospitalar em relação ao brincar. Quando é permitido

escolher, mesmo que no papel, o que gostaria de brincar, parece que há uma

preocupação em não desperdiçar possibilidades (MOTTA e ENUMO, 2004).

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3.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO

A doença crônica apresenta-se como uma situação permanente e limitadora, na

qual é necessário que o paciente se adapte, pois inúmeras perdas são sentidas, além do

luto de seus ideais. O projeto de vida toma um novo rumo e uma nova condição é

assumida: ser doente. Com o adoecimento, há uma ruptura do equilíbrio das esferas

biológica, psíquica e social do indivíduo, afetando suas relações. Além de afetar o

paciente, a doença crônica afeta os grupos sociais, nos quais o indivíduo está inserido. O

primeiro grupo social a sentir as mudanças ocorridas é a família, visto que é o primeiro

grupo de inserção e relacionamento que se institui. Algumas mudanças são esperadas na

família com o crescimento e desenvolvimento de seus membros, o que ocasiona uma

preparação prévia para as mudanças, facilitando a adaptação. Um evento inesperado,

como a doença, pode vir a modificar os padrões de funcionamento da família de forma

repentina. Porém, no caso de Carlos, não se percebe mudanças no funcionamento desta

família. Pelo fato de ser uma doença crônica, é necessário que a família estabeleça uma

nova rotina, uma vez que o membro doente necessita de cuidados especiais.

Segundo Contim (2001), a ajuda psicoterapêutica pode ser necessária tanto ao

paciente como aos familiares principalmente quando, com o adoecimento, a família se

encontra fragilizada e confusa, com dificuldades em se reorganizar, o que

aparentemente está acontecendo com a família de Carlos, que ainda não conseguiu criar

novas rotinas para ajudar na manutenção da doença e os cuidados específicos que ela

acarreta. A assistência psicoterapêutica deve abranger e mobilizar os recursos dos

membros, em todos os momentos da doença crônica: aparecimento, curso e também

possíveis hospitalizações.

Dependendo do estágio de desenvolvimento cognitivo em que a criança se

encontra ela terá um conceito sobre doença e saúde. Essa sua concepção de doença

afetará sua percepção dos sintomas, sua reação emocional frente à doença, sua

experiência de dor e desconforto, sua aceitação de cuidados médicos bem como sua

resposta ao tratamento Crianças hospitalizadas que não compreendem o motivo do

tratamento tendem a perceber o médico e o hospital como algo negativo e assustador.

Os estudos acima sugerem que a forma como a doença é representada pelo

indivíduo influencia seu modo de agir sobre ela. Entretanto, não existem muitos estudos

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que esclareçam sobre como a criança entende, organiza e experiencia a doença. A

criança percebe quando está seriamente doente não somente pelas dores e mal-estar que

sente, mas também pela preocupação e angústia de sua família. Além de ter a percepção

da sua doença, o conhecimento da criança sobre seu corpo é intrínseco ao seu conceito

de doença. Desde muito cedo a criança é capaz de sentir e expressar seu temor à morte,

principalmente através da linguagem não-verbal. A criança percebe, também, fatos que

os adultos lhe tentam esconder, inclusive situações de doença. O que acontece,

freqüentemente, é que os adultos não entendem esses sinais da criança e, ainda, têm

dificuldades em aceitar sua condição (CASTRO e PICCININI. 2002).

A partir da pesquisa realizada compreende-se que o estado afetivo da criança é

de medo, angústia e temor. Carlos está angustiado, a angustia ante um perigo real

segundo Laplanche (1998) É uma angustia perante um perigo exterior que constitui para

o sujeito uma ameaça real. Carlos compreende que está doente e que precisa de

cuidados, porém a dificuldade dos pais em manter esses cuidados está deixando Carlos

ainda mais angustiado, apreensivo e com medo do que estaria se estivesse sendo

orientado e recebendo ajuda de seus pais. Isso nos faz pensar que Carlos possa estar

fantasiando sobre a doença, ficando confuso e apreensivo. Segundo Laplanche (1994)

fantasia é um roteiro imaginário em que o sujeito está presente e que representa de

forma mais ou menos deformada pelos processos defensivos.

Os afetos podem ser produzidos a partir de um estimulo externo ao qual se

atribui um significado com totalidade afetiva: agradável ou desagradável. (BOCK,

1999) Carlos está tendo afetos desagradáveis e desprazerosos. Carlos está sentindo

desprazer, fazendo com que ele sinta receio, medo e pavor diante de toda a situação. O

medo é uma espécie de aviso sobre a possibilidade de alguma ameaça ao organismo. O

medo nos prepara para fugir de um perigo real ou imaginado. Fazendo com que Carlos

fique desperto e mais consciente do ambiente, que são modificações que o preparam

para fugir do perigo. Carlos encontra-se paralisado, o que indica que está diante de

reações marcadas por interferências anteriores. Segundo MARTINS (2004) o medo é

uma forma de lidarmos com o perigo, mas também constitui um sinal primário de

submissão.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este Trabalho de Conclusão de Curso apresentou uma revisão da literatura sobre

FC, crianças em processo de hospitalização e como isto pode influenciar na afetividade

de pessoas portadoras de doenças crônicas.

Nas considerações finais deste trabalho são apresentados os principais

resultados e contribuições bem como, considerando várias questões de pesquisa e

desenvolvimento de futuros trabalhos.

O trabalho teve como problema de pesquisa “Qual o estado afetivo de 01(uma)

criança portadora de fibrose cística que realiza tratamento no Ambulatório do

Hospital Infantil Joana de Gusmão em Florianópolis SC?”. Teve como objetivo

geral “compreender o estado afetivo desta criança através da entrevista lúdica”. E

como objetivos específicos descrever como esta criança enfrenta o tratamento da

sua doença bem como investigar a influência da FC em suas vivências sociais

(escola, família, amigos).

Os objetivos foram cumpridos uma vez que, através deste trabalho pode-se

compreender sobre como a FC pode alterar o estado afetivo da criança e suas

vivências sociais. Os dados da pesquisa foram analisados a partir dos dados coletados

em uma Entrevista Semi-Estruturada com a mãe e também através de uma Entrevista

Lúdica, feita com a criança.

4.1 PRINCIPAIS RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES

O principal objetivo desta pesquisa foi avaliar os aspectos afetivos de uma

criança portadora de FC que realiza tratamento no HIJG. As manifestações do paciente

foram no sentido de através da entrevista lúdica, transmitir um pouco do seu estado

afetivo frente a doença.

Diante da pesquisa realizada pode-se dizer que tanto o objetivo geral como os

objetivos específicos foram alcançados, uma vez que se conseguiu identificar, na

literatura médica, de enfermagem e de psicologia, como é o estado afetivo de um

paciente portador de uma doença crônica. A realização desta investigação proporcionou

refletir sobre como a FC influencia no estado afetivo do paciente. Que se encontra com

muito medo, angustiado e paralisado frente toda a situação.

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4.2 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHO FUTURO

O resultado desta pesquisa permitiu identificar os aspectos emocionais presentes

na criança portadora de fibrose no HIJG-SC. Com este resultado, foi possível

desenvolver reflexões acerca do estado emocional da criança, que demonstrou medo,

angústia e paralisia frente à hospitalização. Sugere-se para trabalhos futuros uma

investigação aprofundada sobre a importância da comunicação entre equipe médica,

pais e criança. E sobre como os profissionais da área da saúde lidam com os aspectos

emocionais da criança doente e de sua família e como entendem as dificuldades das

crianças para que possam encontrar métodos mais específicos para ajudá-las, tanto na

vida pessoal de cada paciente e sua família, como também na adesão ao tratamento.

Além do mais, surge também a necessidade de pesquisas na área dos cuidados que a

família tem com o filho portador de uma doença crônica, e as conseqüências da falta

destes.

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APÊNDICES

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APÊNDICE (A)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - CRIANÇA

Meu nome é Bruna Steffani Vargas e faço parte de um estudo para conhecer como se sentem as crianças que vêm até o hospital, realizar tratamento para a fibrose cística. Gostaria que você me ajudasse a conhecer melhor o que acontece. O resultado deste trabalho ajudará a cuidarmos melhor de outras crianças que estão na mesma situação que você. Você pode escolher se quer ou não me ajudar. Conversei sobre este estudo com seus pais (ou responsável) e sabem que estou pedindo seu acordo. Você pode discutir qualquer coisa sobre isso com seus pais, amigos ou qualquer um que você se sinta à vontade e decidir depois de conversar com eles. Se decidir não participar desta pesquisa, é seu direito e nada mudará no seu tratamento de saúde. Mesmo assim, este serviço de saúde estará disponível para você quando precisar. Se tiver alguma palavra ou coisa que você quer que eu explique melhor porque ficou mais interessado ou preocupado, é só pedir para que eu pare a qualquer momento que eu explicarei. Se você decidir fazer parte da pesquisa, ela será feita quando você vier ao hospital fazer seu tratamento, onde vamos realizar uma atividade em que serão oferecidos alguns brinquedos para você brincar e eu vou observar. Estas atividades serão realizadas em dois dias diferentes e não oferecem nenhum risco de vida, dor ou desconforto, caso aconteça algo estaremos à sua disposição para auxílio e ajuda. Você não precisará faltar à escola e nem vir ao hospital só para isto. Faremos a atividade em dias que você esteja aqui no hospital para consulta médica. Não falaremos para outras pessoas que você está nesta pesquisa e também não compartilharemos informações sobre você com qualquer pessoa que não trabalha na pesquisa. Depois que a pesquisa acabar, os resultados serão ditos a você e a seus pais.

Eu ___________________________________ concordo em participar da pesquisa.

________________________________________

Bruna Steffani Vargas - Acadêmica pesquisadora

__________________________________________

Luciana Martins Saraiva – Pesquisadora orientadora

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APÊNDICE(B)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - RESPONSÁVEL

Meu nome é Bruna Steffani Vargas e estou fazendo este estudo com o título de “Afetividade de crianças portadoras de fibrose cística que realizam tratamento no Hospital Infantil Joana de Gusmão, de Florianópolis”, com a ajuda da professora Doutora Luciana Martins Saraiva. Ambas estamos vinculadas ao Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí / Centro de Educação Biguaçu / SC. Este estudo tem como objetivo identificar o estado afetivo da criança portadora de fibrose cística que faz tratamento no Hospital Infantil Joana de Gusmão - Florianópolis. Os resultados deste trabalho ajudarão a cuidar de outras crianças que também têm esta doença. Não estão previstos riscos, dores ou desconfortos durante a realização da entrevista, mas caso aconteça algum desconforto psicológico, será disponibilizado serviço de apoio para a criança. Eu estarei disponível para qualquer informação ou dúvida que a senhora/senhor, ou a criança tiverem, se for da sua vontade em ajudar. A realização deste estudo conta com algumas etapas, que são: 1) entrevista com a mãe (e/ou responsável) sobre a história de vida da criança; 2) entrevista com a criança, composta por uma Entrevista Lúdica. Nessa entrevista, vamos realizar uma atividade, momento onde serão fornecidos alguns brinquedos para a criança brincar. Esses dois momentos das atividades serão realizados em dois dias diferentes e não será preciso a vinda ao hospital somente para realizar esses procedimentos, sendo que isso pode ser feito nos dias em que a criança tiver consultas médicas no hospital. Vocês podem desistir a qualquer momento, só precisando informar com antecedência. Por ser voluntária e sem interesse financeiro, a senhora/senhor não terão direito a nenhuma remuneração. Os dados referentes à senhora/senhor serão secretos e privados, e o resultado apenas mostrará os possíveis benefícios atingidos pelo estudo. O “Termo de Consentimento Esclarecido” da criança está aqui junto com o seu para que possa ver que ela terá acesso ao documento. Contatos com as pesquisadoras poderão ser feitos no Curso de Psicologia da UNIVALI pelo telefone (048) 32799714.

Eu,__________________________________________, RG_____________, CPF _________________, abaixo assinado, concordo em participar voluntariamente do presente estudo como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento. Local e data:____________________________________________________________ Assinatura do Sujeito ou Responsável:_______________________________________ Telefone para contato: ____________________________________________________

________________________________________

Bruna Steffani Vargas - Acadêmica pesquisadora

______________________________________

Luciana Martins Saraiva – Pesquisadora orientadora

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APÊNDICE(C)

ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA COM O

RESPONSÁVEL PELA CRIANÇA EM TRATAMENTO NO HIJG – FLORIANÓPOLIS

SEXO:

IDADE:

1. Quando foi diagnosticada a doença em seu filho?

2. Como é a doença dele (a)?

3. Qual é o estado atual dele (a)?

4. Quais os cuidados necessários para o tratamento?

5. Ele (a) consegue seguir este tratamento?

6. Qual o impacto da doença na vida familiar?

7. Como os demais membros da família reagem em relação `a doença dele (a)?

8. Como você acha que ele (a) percebe a família?

9. Como ele (a) se comporta na família?

10. Como você acha que ele (a) se sente em relação à doença?