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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR Curso de Engenharia Ambiental QUALIDADE DE ÁGUA SUBTERRÂNEA EM REGIÃO DE ATIVIDADE AGRO-PECUÁRIA INTENSIVA: Caso de Chapecó. Ac: Flávia Badalotti Scaravelli Orientador: Sérgio Freitas Borges, MSc Itajaí, dezembro/2012

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U N I V E R S I D AD E D O V AL E D O I T AJ AÍ CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

DA TERRA E DO MAR Curso de Engenharia Ambiental

QUALIDADE DE ÁGUA SUBTERRÂNEA EM REGIÃO DE ATIVIDADE

AGRO-PECUÁRIA INTENSIVA: Caso de Chapecó.

Ac: Flávia Badalotti Scaravelli

Orientador: Sérgio Freitas Borges, MSc

Itajaí, dezembro/2012

ii

U N I V E R S I D AD E D O V AL E D O I T AJ AÍ CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

DA TERRA E DO MAR Curso de Engenharia Ambiental

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

QUALIDADE DE ÁGUA SUBTERRÂNEA EM REGIÃO DE ATIVIDADE

AGRO-PECUÁRIA INTENSIVA: Caso de Chapecó.

Flávia Badalotti Scaravelli

Monografia apresentada à banca examinadora do Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Ambiental como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Ambiental.

Itajaí, dezembro/2012

iii

iv

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todas as pessoas que

estão comigo todos os dias me apoiando e dando

estrutura para que esse seja um sonho possível.

Minha mãe Amália, Minha irmã Cintia

Meu namorado Guilherme e Meu pai Clóvis.

"Seja a mudança que você deseja ver no mundo."

Mahatma Gandhi

v

AGRADECIMENTOS

Gostaria de demonstrar minha gratidão a todas as pessoas envolvidas direta e

indiretamente no desenvolvimento deste trabalho, em especial:

Primeiramente agradeço a Deus, por me dar a graça da vida com saúde e proteção.

Ao professor Sérgio Freitas Borges que me acompanhou desde a ideia de projeto até sua

concretização, muito obrigada pela paciência, ajuda e incentivo.

A coordenadora Janete Feijó por sempre estar a postos diante de nossas necessidades,

obrigada pelo convívio, apoio, compreensão e amizade.

A coordenadora Kátia Kuroshima, por ceder a oportunidade de utilizar da estrutura do

laboratório de oceanografia química para realizar a analise laboratorial das amostrar e me

acompanhar no desenvolvimento do trabalho com sugestões sempre construtivas.

A prof. Cristina Horita, por estar sempre a postos diante das dúvidas referentes ao trabalho

e demais assuntos pertinentes

Aos demais professores do curso, que me acompanharam durante a graduação e foram tão

importantes na minha formação como um profissional pronto para enfrentar o mercado.

A Karol Fracalossi, monitora do laboratório de oceanografia química, que me auxiliou nos

procedimentos de analise dos parâmetros de forma muito regrada e atenciosa. Karol, sem

você eu não teria conseguido. Obrigada!

O Sr. Mariano Smaniotto, meu tio, que me apoiou desde que demonstrei interesse em

realizar o trabalho nesta area de atuação e ofereceu apoio tecnico-cientifico para a

realização do trabalho, inclusive por disponibilizar a equipe técnica de auxilio durante as

coletas de amostras.

A minha mãe, Amália, que sempre me apoiou e prestou estrutura para que tudo se tornasse

possível.

A minha irmã Cintia, pelo companheirismo e palavras de incentivo.

Aos amigos pela ajuda, força e incentivo no dia a dia.

vi

RESUMO

Analisar e monitorar a qualidade de água subterrânea é essencial, pois o aquífero é um

grande reservatório de água deve ser protegido pois além do impacto direto ao recurso

natural a água subterrânea quando contaminada é muito difícil de ser recuperada, pois os

processos são muito dispendiosos. Em locais onde existem atividades agropecuárias

intensivas a atenção deve ser redobrada, pois o aporte de nutrientes no solo é maior e a

possibilidade de contaminação também aumenta. Chapecó (SC) é uma cidade que se

destaca no cenário agro-econômico por ter a atividade desenvolvida em larga escala na

região rural. Este trabalho tem por objetivo analisar a qualidade da água subterrânea na

zona rural do município, em lugares onde existem atividades agropecuárias como a

suinocultura, avicultura e agricultura. Foram coletadas 20 amostras na zona rural do

município, de forma randômica, desde que se encontrassem próximas a atividades

agropecuárias. Os parâmetros analisados foram o Nitrato, Nitrito, Amônio, Fosfato,

Condutividade e pH. Dentre os resultados, nenhum dos parâmetros esteve em

desconformidade com a legislação, porém a presença constante de nitrato (valor máximo

encontrado, 4,8293 mg /l contra que o máximo permitido por lei é 10mg/l) evidencia que a

água está recebendo um aporte de nutrientes, principalmente os nitrogenados. Esta

situação se confirma quando é realizada a comparação com os resultados obtidos por

Nicolai, 2000 onde 75% das amostras analisadas possuíam concentração abaixo de 1 mg/l

de NO3, contra os valores atuais onde 55% resultaram valores maiores que 3 mg/l de NO3.

Essa situação demonstra que a concentração de nitrato era inferior a dos dias de hoje.

Palavras-chave: poluição manancial subterrâneo, suinocultura, compostos nitrogenados,

contaminação de água subterrânea, diagnóstico ambiental.

vii

ABSTRACT

Analyze and monitor the quality of groundwater is essential because the aquifer is a large

water reservoir must be protected because in addition to the direct impact of natural resource

when contaminated groundwater is very difficult to be recovered, because the processes are

very expensive. In places where agricultural activities are intensive attention must be

redoubled, because the supply of nutrients in the soil is greater and the possibility of

contamination increases. Chapecó (SC) is a city that stands out in the agro-economic activity

by having developed largely in the countryside. This study aims to analyze the quality of

groundwater in the rural area, in places where there are agricultural activities such as swine,

poultry and agriculture. 20 samples were collected in the rural area, randomly, since they met

near agricultural activities. The parameters analyzed were nitrate, nitrite, ammonium,

phosphate, pH and conductivity. Among the results, none of the parameters was in violation

of the law, but the constant presence of nitrate (maximum value found, 4.8293 mg / l against

the legal maximum is 10mg / l) shows that the water is getting a supply of nutrients,

especially nitrogen. This is confirmed when the comparison is performed with the results

obtained by Nicolai, 2000 where 75% of the samples had concentrations below 1 mg / l NO3,

against the current values where 55% resulted in values greater than 3 mg / l NO3. This

demonstrates that the nitrate concentration was lower than today's.

Keywords: source pollution underground, swine, nitrogen compounds, contamination of

underground water, environmental diagnosis.

viii

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ..................................................................................................................... iv

AGRADECIMENTOs ............................................................................................................. v

Resumo ................................................................................................................................ vi

Abstract ................................................................................................................................ vii

Sumário ............................................................................................................................... viii

Lista de Figuras .................................................................................................................... xi

Lista de Tabelas .................................................................................................................. xiii

Lista de Abreviaturas ........................................................................................................... xiv

1 Introdução ....................................................................................................................... 1

2 Objetivos......................................................................................................................... 3

2.1 Geral........................................................................................................................ 3

2.2 Específicos .............................................................................................................. 3

3 Fundamentação Teórica ................................................................................................. 4

3.1 Caracterização da Área de estudo ........................................................................... 4

3.1.1 Localização ...................................................................................................... 4

3.1.2 Climatologia ...................................................................................................... 4

3.1.3 Precipitação ...................................................................................................... 5

3.1.4 Temperatura ..................................................................................................... 5

3.1.5 Evapotranspiração ............................................................................................ 6

3.1.6 Ciclo Hidrológico ............................................................................................... 6

3.1.7 Pedologia ......................................................................................................... 8

3.1.8 Geologia e Geomorfologia .............................................................................. 12

ix

3.1.9 Hidrogeologia ................................................................................................. 14

3.1.10 Hidrografia ...................................................................................................... 15

3.2 Atividades agropecuárias– suinocultura ................................................................. 16

3.2.1 A Agricultura em Chapecó e em Santa Catarina ............................................. 18

3.3 Ciclos Biogeoquímicos – Nitrogênio e Fósforo ....................................................... 19

3.3.1 Nitrogênio ....................................................................................................... 19

3.3.2 Fósforo ........................................................................................................... 20

3.4 Parâmetros químicos analisados e doenças associadas à sua ingestão ............... 21

3.4.1 pH e Condutividade elétrica ............................................................................ 21

3.4.2 Nitrato ............................................................................................................. 22

3.4.3 Nitrito .............................................................................................................. 24

3.4.4 Amônio ........................................................................................................... 24

3.4.5 Fosfato ........................................................................................................... 25

3.5 Legislação ............................................................................................................. 25

4 Metodologia .................................................................................................................. 27

4.1 Metodologia de Campo .......................................................................................... 27

4.2 Análise das possibilidades de contaminação e vulnerabilidade do aquífero........... 31

4.3 Análises Laboratoriais ........................................................................................... 33

4.3.1 Procedimento de Análise ................................................................................ 33

4.3.2 Procedimento de cálculo ................................................................................ 35

5 Resultados e Discussão ............................................................................................... 35

5.1 Vulnerabilidade do aquífero ................................................................................... 35

5.2 Parâmetros Físico-químicos analisados ................................................................ 36

x

5.2.1 Nitrato ............................................................................................................. 40

5.2.2 Nitrito .............................................................................................................. 44

5.2.3 Nitrogênio Amoniacal Total ............................................................................. 47

5.2.4 Fosfato ........................................................................................................... 50

5.3 Comparação com outros autores: .......................................................................... 52

6 Considerações Finais ................................................................................................... 54

7 Referências .................................................................................................................... 1

xi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Localização do município de Chapecó a nível estadual e federal. Fonte: Autora. .... 4

Figura 2 Temperaturas observadas durante 25 anos. Fonte: PROESC, 2002. ...................... 5

Figura 3 Evapotranspiração mensal média de Chapecó. Fonte de dados: PROESC, 2002. .. 6

Figura 4. Representação gráfica do balanço hídrico do Município de Chapecó. Fonte:

PROESC (2002). ................................................................................................................... 8

Figura 5 Pedologia do Município de Chapecó. Fonte: EMBRAPA, 1993. ............................. 11

Figura 6 Mapa geológico da área de Estudo. ....................................................................... 13

Figura 7. Mapa de Santa Catarina com vista superior e perfil lateral dos aquíferos. Fonte:

Zanatta & Coitinho, 2002. .................................................................................................... 14

Figura 8 Qualidade das águas superficiais de Santa Catarina. Fonte: PROESC, 2002 apud

SANTA CATARINA. ............................................................................................................. 16

Figura 9. Procedimento de coleta de água e estruturas componentes do poço tubular. Fonte:

Leão Poços .......................................................................................................................... 28

Figura 10 Localização dos pontos na área de coleta e no município. Fonte: Autora. ........... 30

Figura 11. Fluxograma para estudo de vulnerabilidade a partir do método GOD. Fonte:

Foster & Hirata, 1993. .......................................................................................................... 32

Figura 12. Quadro de resultados da aplicação do índice GOD e seus respectivos Graus de

Vulnerabilidade. Fonte: Foster & Hirata, 1993...................................................................... 33

Figura 13 Altitude de cada ponto. Fonte: Autora. ................................................................. 37

Figura 14 Intervalos e porcentagem de ocorrência de condutividade(µS/cm). Fonte: Autora.

............................................................................................................................................ 38

Figura 15 Intervalos e porcentagem de ocorrência do pH. Fonte: Autora. ............................ 39

Figura 16 Intervalos e porcentagem de ocorrência de Nitrato. Fonte: Autora. ...................... 40

Figura 17 Culturas fixadoras de nitrogênio no solo localizadas no ponto 15 (feijão) e 7

(milho). ................................................................................................................................ 42

xii

Figura 18 Isolinhas de contaminação NO3 ........................................................................... 43

Figura 19 Intervalos e porcentagem de ocorrência de Nitrito. Fonte: Autora. ....................... 44

Figura 20 Isolinhas de contaminação de NO2. ..................................................................... 46

Figura 21 Intervalos e porcentagem de ocorrência de N Amoniacal. Fonte: Autora. ............ 47

Figura 22 Isolinhas de contaminação de N amoniacal. ........................................................ 49

Figura 23 Intervalos e porcentagem de ocorrência de Fosfato. Fonte: Autora. .................... 50

Figura 24 Isolinhas de Contaminação de PO4. .................................................................... 51

xiii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Balanço Hídrico de Chapecó. Fonte: PROESC (2002). ........................................... 7

Tabela 2. Principais componentes dos dejetos de suínos, fezes e urina, expresso por 1000

Kg de peso vivo. Fonte: PERDOMO, 2001. ......................................................................... 18

Tabela 3 Limites para Nitrogênio Amoniacal Total – Classe 1. Fonte: Resolução Conama

357. ..................................................................................................................................... 26

Tabela 4. Relação de Pontos ............................................................................................... 29

Tabela 5 Resultados das Análises Laboratoriais. Fonte: Autora. ......................................... 36

Tabela 6 Comparação de Nitrato com Nicolai, 2000 ........................................................... 52

xiv

LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

CASAN - Companhia Catarinense de Águas e Saneamento

CRM - Companhia Riograndense de Mineração

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EPA - United States Environmental Protection Agency

pH - Potencial Hidrogeniônico

PROESC - Projeto Oeste de Santa Catarina

USGS – United States Geological Survey (Vistoria Geológica dos Estados Unidos, tradução)

1

1 INTRODUÇÃO

A região oeste do Estado de Santa Catarina desenvolve atividades agro-industriais

desde a década de 40, quando chegaram os primeiros colonizadores imigrantes. Aos

poucos foi ganhando espaço no cenário catarinense, tornando-se a principal atividade

econômica da região e a base da economia da cidade de Chapecó e de outros municípios

da região (CIASC, 2002).

Em toda região oeste de Santa Catarina, a água subterrânea passou a ser uma

alternativa de utilização, assim que começaram a surgir as primeiras evidencias de que os

mananciais superficiais já estavam contaminados, em decorrência do crescimento das

atividades agropecuárias, aumento da população e dos efluentes domésticos que são

produzidos diariamente. Os frigoríficos que consomem grandes quantidades de água, são

abastecidos por águas superficiais e subterrâneas para garantir seu suprimento diário

(PROESC, 2002).

Estima-se que no Brasil 51% da distribuição de água potável para a população seja de

origem subterrânea e existem cerca de 200.000 poços tubulares profundos e milhões de

poços escavados. Este grande consumo ocorre porque se acredita que a água subterrânea

não é diretamente afetada pela poluição como os recursos hídricos superficiais (FOSTER &

HIRATA, 1993).

Em Santa Catarina, na região oeste, a existência de poucos dados sobre o manancial

subterrâneo implica no desconhecimento do poder público e da população sobre a situação

em que se encontra este recurso hídrico. A dificuldade do poder público em fiscalizar as

atividades potencialmente poluidoras acaba expondo o manancial a um risco maior de

contaminação.

Dentre as vantagens do uso das águas subterrâneas comparadas ao uso das águas

superficiais está a sua qualidade, pois a água subterrânea não necessita de processos de

tratamento complexos e a economia oferecida por aderir a esse tipo de abastecimento, pois

evita a construção de grandes obras como barragens para captação, adutoras ou estação

de tratamento. Ainda destaca-se que o tempo de construção do sistema superficial que

chega a durar anos, dependendo de sua dimensão, é bem superior a da perfuração e

instalação de um poço tubular profundo que dura em média 3 meses para a finalização do

sistema e início de abastecimento. (ZANATTA & COITINHO, 2002).

O conhecimento da vazão de abastecimento e uso das águas subterrâneas na cidade,

também é muito importante para o dimensionamento da rede de esgotos, pois o uso

2

clandestino de água subterrânea, sobrecarrega o sistema podendo causar inúmeros

problemas antes mesmo que o efluente domiciliar chegue a Estação de Tratamento.

Outro ponto importante do uso do manancial subterrâneo é o suprimento de áreas

distantes dos centros urbanos, pois uma extração pontual é uma boa solução para a

economia na distribuição de água a longas distâncias.

Em Santa Catarina, os usos predominantes da água subterrânea são principalmente

para o abastecimento urbano, a fim de evitar o uso de águas superficiais que por estarem

mais vulneráveis, possuem maior risco de estar comprometidas pela poluição. Também é

utilizada para abastecimento rural, industrial e turismo e lazer com as águas termais que

emergem com temperatura maior que 30ºC e são utilizadas para fins terapêuticos

(ZANATTA & COITINHO, 2002).

A poluição do manancial subterrâneo pode acontecer de diversas formas, tais como

vazamentos de açudes de armazenamento de produtos químicos, tanques de

armazenamento subterrâneo, infiltração de fertilizantes agrícolas, produtos químicos de

combate a pragas, encanamentos utilizados para injetar resíduos tóxicos no subsolo,

derramamento de petróleo, aterros sanitários, poços construídos inadequadamente, fossas

sépticas, cemitérios, saneamento “in situ” (MILLER, 2007).

Existem poucos estudos sobre o comportamento do transporte dos contaminantes nos

aquíferos e assim torna-se difícil predizer quais serão os efeitos, porém sabe-se que os

fluxos são lentos, e assim a contaminação também se torna lenta. Por este motivo as

autoridades administradoras dos recursos hídricos despreocupam-se sobre a contaminação

dos recursos hídricos subterrâneos (FOSTER & HIRATA, 1993).

A contaminação das águas subterrâneas deve ser evitada não só pelo impacto direto ao

recurso, mas também pelos custos excessivos e pela dificuldade da recuperação e

tratamento da qualidade destas águas. Segundo Rebouças et Al (1999) quando uma obra

de captação de água subterrânea é construída sem atender aos requisitos técnicos e

cuidados mínimos para a proteção do recurso hídrico, este local poderá se transformar em

um foco de contaminação.

No município de Chapecó e região, estão instalados aproximadamente 2726 poços

tubulares. A cidade sofre grandes períodos de estiagem anualmente, reduzindo

drasticamente a vazão dos rios e afetando a qualidade e a quantidade de água distribuída

pelo órgão responsável (CASAN), assim o racionamento é inevitável durante estes períodos,

3

por isso é que alguns usuários optam por perfurar um poço em seus domicílios para que o

suprimento de água seja contínuo (PROESC, 2002).

2 OBJETIVOS

2.1 GERAL

Caracterizar a qualidade atual das águas subterrâneas na zona rural do município de

Chapecó.

2.2 ESPECÍFICOS

a) Analisar parâmetros químicos e ver a conformidade com a legislação vigente;

b) Comparar os resultados obtidos;

c) Encontrar a vulnerabilidade do aquífero e do solo da área de estudo e comparar com

os resultados;

d) Diagnosticar as possíveis fontes de contaminação caso for constatada;

e) Analisar distribuição espacial dos teores de cada parâmetro analisado.

4

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

3.1.1 Localização

O município de Chapecó está localizado na região sul do Brasil, na micro região Oeste

do estado de Santa Catarina entre as coordenadas 27°05’47” de latitude sul e 52° 37’ 06” de

longitude oeste. A Figura 1 representa a localização do município a nível estadual e federal. A

altitude média do município é de 674 metros acima do nível médio do mar, e possui área de

624,3 km² sendo que 81,9% do total são áreas rurais (Prefeitura Municipal, 2012).

Figura 1 Localização do município de Chapecó a nível estadual e federal. Fonte: Autora.

3.1.2 Climatologia

O clima predominante na região a qual o município pertence, segundo a classificação

de Wladimir Köppen, é o Cfa que é denominado Clima Subtropical, mesotérmico úmido com

verões quentes (PEEL; FINLAYSON; FINLAYSON, 2007).

5

3.1.3 Precipitação

A precipitação média anual é de 2.610,8 mm e média mensal de 217,5 mm. A região

oeste de Santa Catarina possui grande variação de altitude, podendo ocorrer elevações que

variam entre 200 e 1400 metros, esse relevo cria condições para ocorrerem chuvas

orográficas e convectivas regionais influenciando na distribuição local das chuvas

(PROESC, 2012).

3.1.4 Temperatura

Durante 25 anos de observação na estação meteorológica do município de Chapecó, a

maior média de temperaturas máximas foi de 28,9 °C e ocorreu no mês de janeiro, a menor

média de temperaturas mínimas foi de 10,4 °C. A amplitude da temperatura média mensal

está entre 14°C e 23,2° C, comparado a outros locais, trata-se de uma grande variação de

temperatura mensal e isso está relacionado a questões de hipsometria (altitude) e

continentalidade que varia com a latitude e longitude. A Erro! Fonte de referência não

encontrada. apresenta as médias de temperatura mensal, máxima e mínima (PROESC,

2002).

Figura 2 Temperaturas observadas durante 25 anos. Fonte: PROESC, 2002.

6

3.1.5 Evapotranspiração

A evapotranspiração é o processo em que a água que está na terra aquece com o calor

do sol e entra no estado de vapor direcionando-se à atmosfera. Ocorre evaporação nas

águas dos rios, lagos, oceano e umidade do solo, transpiração das plantas e animais e da

sublimação das geleiras.

Segundo o estudo elaborado pelo PROESC (2002) a média anual de Evapotranspiração

da estação climatológica de Chapecó é 871 milímetros. A média máxima ocorreu no mês de

janeiro com o valor de 121 milímetros e a mínima em Junho com o valor de 33 milímetros de

evapotranspiração. A Erro! Fonte de referência não encontrada. representa o gráfico das

evapotranspirações médias mensais no município de Chapecó.

Figura 3 Evapotranspiração mensal média de Chapecó. Fonte de dados: PROESC, 2002.

3.1.6 Ciclo Hidrológico

Trata-se do conjunto de processos os quais a água passa entre a atmosfera e a

superfície terrestre, formando um ciclo fechado, ocorrendo a variação de estados físicos

da água onde a principal energia responsável pelos processos é a solar.

7

É pelo ciclo hidrológico que são explicados fenômenos de evaporação (E),

precipitação (P), escoamento superficial (R), escoamento subterrâneo,

evapotranspiração (ETo) e a infiltração (i). A infiltração é a parte do ciclo hidrológico

responsável pelo abastecimento de água dos mananciais subterrâneos. Nesta fase as

águas subterrâneas estão sujeitas a serem contaminadas, pois caso ocorra a disposição

de algum produto poluente, ou contaminante no solo, que seja solúvel, este poderá ser

carreado junto com a água que se infiltra em direção aos mananciais subterrâneos ou

em direção aos corpos hídricos superficiais, expondo-as a probabilidade de serem

poluídos e nos dois casos, expondo as águas subterrâneas ao risco de contaminação.

(USGS, 2012).

3.1.6.1 Balanço Hidrológico de Chapecó

O Balanço hidrológico ilustrado a seguir (

Tabela 1) foi feito utilizando-se as médias mensais de cada evento climático, expressa,

portanto, a variação sazonal das condições do ciclo hidrológico ao longo de um ano

podendo indicar as deficiências ou excedentes hídricos. Estes valores são de cunho

climático e auxiliam no planejamento das atividades agrícolas, no que se refere às

quantidades médias de água disponível em cada fase do ciclo.

Tabela 1 Balanço Hídrico de Chapecó. Fonte: PROESC (2002).

Mês T i Corr E ETO P ARM ALT ER EXC DEF

°C mm mm mm mm mm mm mm mm mm mm

Jan 23,2 10,2 35,05 3,45 121 194 100 0 121 73 0

Fev 22,7 9,9 30,43 3,3 100 199 100 0 100 99 0

Mar 21,6 9,2 31,68 2,99 95 132 100 0 95 37 0

Abr 18,7 7,4 28,55 2,25 64 156 100 0 64 92 0

Mai 15,9 5,8 27,97 1,63 46 181 100 0 46 135 0

Jun 14,0 4,8 26,17 1,27 33 173 100 0 33 140 0

Jul 14,4 5 27,42 1,34 37 155 100 0 37 118 0

Ago 15,9 5,8 28,77 1,63 47 155 100 0 47 108 0

Set 16,8 6,3 28,72 1,82 54 168 100 0 54 114 0

Out 19,3 7,7 32,71 2,39 78 210 100 0 78 132 0

Nov 22,6 8,8 33,43 2,39 80 171 100 0 80 91 0

Dez 22,6 9,8 35,5 3,27 116 168 100 0 116 52 0

Ano 19,0 90,7 871 2062 1200 0 871 1191 0

Nota: t= temperatura; i=infiltração; E= evapotranspiração; E= Evaporação; ETo= evapotranspiração ;P= precipitação; ARM= capacidade de armazenamento; ER= evaporação real; Exc= excedente hidráulico; Def = Déficit hidráulico

`

8

O Balanço Hídrico acima (

Tabela 1) demonstra que no local não ocorre déficit hídrico (maior quantidade de

evaporação do que precipitação), e que a média de excedente hídrico anual é de 1191

milímetros. O estudo de balanço hidrológico nos permite também determinar qual a

quantidade de água que é infiltrada no solo e alimenta o aquífero, e de acordo com a

Tabela 1, a média da infiltração é de 90,7 milímetros/ano.

Figura 4. Representação gráfica do balanço hídrico do Município de Chapecó. Fonte: PROESC (2002).

A Figura 4 acima permite observar melhor o equilíbrio entre a precipitação e a

evapotranspiração que ocorre no município de Chapecó. O excedente hídrico ocorre entre

os meses de abril e novembro causado pelas baixas temperaturas que dificultam a

evaporação das águas superficiais, do solo e dos seres vivos.

3.1.7 Pedologia

A classificação dos solos de Chapecó é baseada no estudo realizado pela Embrapa

(1993), onde os solos presentes no município são:

3.1.7.1 Latossolo Roxo Álico - LRa1

Tratam-se de solos profundos, com boa drenagem e com excelentes condições de

aeração, permeabilidade e retenção de água em estado natural. Como ocorrem em relevo

suave ondulado, são totalmente mecanizáveis e necessitam apenas de práticas para o

controle da erosão. Seus principais problemas estão relacionados com o aspecto da

9

fertilidade, sendo aconselhável o emprego de calagens visando à neutralização dos altos

teores de alumínio trocável, além de adubações de correção e manutenção, principalmente

à base de fósforo. Estão sendo intensamente cultivados, especialmente com soja, trigo,

milho, feijão e mandioca (EMBRAPA, 1993).

Um solo que apresenta como característica a boa drenagem significa que a água

passa por ele com facilidade, assim, este solo pode ser uma porta de entrada aos aquíferos

para a carga de contaminantes que são dispostos no solo. De acordo com o mapa

apresentado a seguir (Figura 5) nota-se que área de estudo é contemplada quase em sua

totalidade por esse tipo de solo.

3.1.7.2 Latossolo Bruno/Vermelho-Escuro Álico - LBEa1

Trata-se do solo que cobre maior parte do município de Chapecó, é um solo rico em

Alumínio e possui textura muito argilosa. Ocorrendo naturalmente em locais com floresta

subtropical perenifólia e em relevo suave ondulado. São solos que têm boas condições

físicas e um relevo favorável à mecanização. Possuem elevada capacidade de retenção de

água e boa permeabilidade, apresentando baixa fertilidade natural em decorrência dos

teores de alumínio que não se torna prejudicial para a agricultura pois podem ser corrigidos.

Dispõe de grande potencial produtivo, pois costumam ser ricos em matéria orgânica

(EMBRAPA, 1993).

3.1.7.3 Associação Terra Roxa Estruturada - TRe1, TRe2 e TRe3

Este tipo de solo possui textura argilosa ou muito argilosa, ocorre em locais com

relevo suavemente ondulado ou ondulado. Os locais que possuem esse solo tem a

característica de estar localizados em florestas tropicais ou subtropicais perenifólias (estágio

intermitente). Ainda, destaca-se a característica de apresentar alta fertilidade natural e

susceptibilidade média a erosão. Deve-se tomar cuidados quanto a sua compactação pois

possui características argilosas e também tomar medidas de controle da erosão.

(EMBRAPA, 1993)

3.1.7.4 Associação Cambissolo Eutrófico - Ce6

Possui textura argilosa e ocorre em locais com relevo fortemente ondulado ou

montanhoso, decorrente do substrato efusivas da Formação Serra Geral. Apresenta fase

pedregosa e está presente em florestas tropical/subtropical perenifólia Possui todos os seus

componentes com alta fertilidade natural, porém apresenta alta susceptibilidade a erosão e

a presença de fragmentos de rocha. Apresenta-se impróprio para se desenvolver atividades

10

de agricultura tecnificada e muito utilizado num sistema de manejo primitivo com

pequenas lavouras de milho, feijão, batata e mandioca (EMBRAPA, 1993).

11

Figura 5 Pedologia do Município de Chapecó. Fonte: EMBRAPA, 1993.

12

3.1.8 Geologia e Geomorfologia

De acordo com o estudo realizado pela Embrapa (1993), a Formação Serra Geral ocupa

pouco mais de 50% da área do território do estado de Santa Catarina (19.496 Km²) e

encontra-se recoberta por rochas desta unidade, constituída por uma seqüência vulcânica,

compreendendo desde rochas de composição básica até rochas com elevado teor de sílica

e baixos teores de ferro e magnésio. A seqüência básica ocupa a maior parte do planalto

catarinense, sendo constituída predominantemente por basaltos e andesitos. Rochas

vulcânicas intermediárias e de caráter ácido são de ocorrência secundária.

A Formação Serra Geral está numa zona intermediária (entre as sequências de

derramamentos vulcânicos ácidos e básicos), na qual o município de Chapecó está inserido,

a coloração das rochas está entre os tons cinza-castanhos, textura porfirítica, com a

presença de fenocristais de plagioclásio e piroxênio. São classificados como traquiandesitos

porfiríticos. (CRM, 1987).

A região de estudo está localizada na Bacia Sedimentar do Paraná que possui rochas

vulcânicas constituídas dominantemente por derrames basálticos, intercalando na porção

médio superior da coluna manifestações ácidas subordinadas (riolitos e riodacitos), em pelo

menos dois níveis distintos. São encontrados ainda manifestações hipabissais na forma de

diques e soleiras intrudidas nas rochas do embasamento cristalino e nos sedimentos

gonduânicos subjacentes. Denominada como unidade ácida porfirítica tipo Chapecó, registra

espessura média da ordem de 50 metros, possui rochas de composição riodacítica que

aparecem nos locais de maior elevação topográfica, exibem regularidade geométrica ao

longo de grande extensão areal. A área assenta-se sobre um nível de erosão bem

caracterizado que, com frequência, está associado a sedimentos arenosos (PROESC,

2002).

Conforme Figura 6 observa-se as convenções geológicas que ocorrem no local de estudo:

Basalto Campos Novos, Dacito Machadinho e Basalto Alto Uruguai.

13

Figura 6 Mapa geológico da área de Estudo.

14

3.1.9 Hidrogeologia

A caracterização do perfil do solo é de grande importância, pois o solo atenua grande

parte dos contaminantes antes que eles atinjam os aqüíferos. Porém, deve-se considerar

ainda que, mesmo com o processo de filtração do solo, alguns contaminantes conseguem

atingir as águas subterrâneas, e isto depende muito das características hidrogeológicas do

local (FOSTER & HIRATA, 1993).

O Aquífero Serra Geral utilizado para abastecimento das mais diversas atividades na

região de estudo, está inserido na formação homônima, é do tipo fraturado e, são nestas

estruturas geológicas que ocorre a circulação da água subterrânea, inclusive os possíveis

poluentes que possam existir. A formação Serra Geral está posicionada sobre o aquífero

Guarani como mostra a Figura 7, abaixo.

Figura 7. Mapa de Santa Catarina com vista superior e perfil lateral dos aquíferos. Fonte: Zanatta & Coitinho, 2002.

Como apresenta Zanatta & Coitinho (2002), a Formação Serra Geral é representada

por basaltos e andesitos de formação vulcânica seqüencial. Está dividido em zonas por

causa de seus derrames sucessivos. Vale ressalvar que as rochas presentes na região não

possuem caráter liberador de nitrogênio, pois sua composição química não possui as

características geológicas necessárias para que ocorra esse processo.

15

A região de Chapecó se encontra numa zona de rochas vulcânicas de composição

intermediárias. O aquífero é constituído por camadas de rochas vulcânicas fraturadas, por

onde ocorre a circulação da água subterrânea. Os poços perfurados nesta região podem ter

vazões de até 100m³/h e normalmente são perfurados com, no máximo, 200 metros de

profundidade (ZANATTA & COITINHO, 2002). Ainda pode-se destacar que a densidade de

fraturas no município de Chapecó é intermediária, variando entre 0,6 e 1 km fraturado por

km² de área estudada, este parâmetro varia entre 0 e 1,8 km/km² (PROESC, 2002).

3.1.10 Hidrografia

A rede hidrográfica de Santa Catarina possui dois sistemas de drenagens independentes

cujo divisor de águas encontra-se próximo ao limite leste da Serra Geral. A vertente interior

faz parte da Bacia Hidrográfica Paraná-Uruguai com escoamento para oeste e a vertente

atlântica com escoamento para diversas bacias hidrográficas em direção ao leste.

O município de Chapecó, segundo a classificação realizada pela Secretaria de

Desenvolvimento Sustentável de Santa Catarina, está inserido na região hidrográfica 2

(RH2) que cobre o meio oeste do estado, integra a bacia do Uruguai, possui área de 49.573

km² e tem como principais cursos d’água os Rios Chapecó e Irani (XAVIER JUNIOR et al,

2006).

Ainda de acordo com o autor acima, as demandas de água da RH2 são 25.117.061m³

anuais destinados ao abastecimento urbano e rural, 1.239.198 m³ anuais destinados a

irrigação (1,5% da demanda estadual para essa atividade econômica), 31.766.402 m³

anuais destinados a indústria (38,36% da demanda estadual para esse setor) e 24.685.056

m³ anuais destinados a dessedentação de animais (29,81% da demanda estadual para essa

finalidade).

Conforme a Figura 8, a seguir, pode-se perceber que as águas das regiões Extremo

Oeste e Meio Oeste de Santa Catarina estão em estágio avançado de poluição proveniente

das atividades realizadas pelas agroindústrias. Vale lembrar que o município em estudo está

localizado nesta região tornando a situação mais preocupante no que se refere a qualidade

do manancial subterrâneo local.

16

Figura 8 Qualidade das águas superficiais de Santa Catarina. Fonte: PROESC, 2002 apud SANTA CATARINA.

3.2 ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS– SUINOCULTURA

A suinocultura, tanto intensiva quanto extensiva, é uma atividade com grande potencial

poluidor, podendo comprometer a qualidade do solo, ar e água devido a alta concentração

de nutrientes presentes em seus efluentes (PERDOMO; LIMA; NONES, 2001).

Na suinocultura, os dejetos (englobam a água desperdiçada em bebedouros e a água de

lavagem das instalações) geram grandes volumes de águas residuárias, as quais são

fontes potenciais de poluição ambiental. A forma mais antiga de disposição e depuração de

esgotos e de dejetos de animais é a disposição no solo. Esta forma de disposição tem por

objetivo a redução dos custos de tratamento, o reaproveitamento dos nutrientes e o

melhoramento das condições físicas e químicas do solo. O nitrogênio é um dos principais

nutrientes presentes nos dejetos de suínos, sendo facilmente perdido por volatilização,

lixiviação ou por desnitrificação (BARROS, 2011).

A autora acima, ainda destaca que embora sejam constatadas vantagens do uso de

dejetos de suínos como fertilizante do solo, pouco se sabe sobre a mineralização do

nitrogênio orgânico presente nestes dejetos, ou seja, sobre o processo de transformação do

nitrogênio orgânico, não assimilável pelas plantas, para a forma mineral, assimilável, não

estando ainda disponíveis trabalhos que apresentem modelos visando quantificar a taxa de

mineralização de nitrogênio orgânico em solos tratados com água residuária da suinocultura.

17

Portanto, não sabe-se qual a porcentagem exata de Nitrogenio que é aproveitada pelas

plantas e qual a quantidade que é desperdiçada, tornando-se um contaminante livre no meio

ambiente.

O material produzido por sistemas de criação de suínos é rico em nitrogênio, fósforo e

potássio. Porém só o nitrogênio oferece maior risco de contaminação da água subterrânea

quando lixiviado, pois o restante impacta de forma grave as águas superficiais com o risco

de ocasionar a eutrofização dos corpos d'água superficiais. A utilização do dejeto de suínos

como fertilizante orgânico pode ocasionar a contaminação das águas subterrâneas quando

disposto em quantidades maiores do que a capacidade de absorção destes nutrientes pelo

solo e plantas. Quando dissolvidos na água do deflúvio, estes nutrientes em excesso no solo

podem se infiltrar até atingirem as águas subterrâneas (MERTEN; MINELLA, 2002).

Áreas que possuem essa atividade agropecuária concentrada devem tomar cuidado com

a saturação do meio ambiente decorrente do excesso de disposição de dejetos tornando

inviável economicamente o tratamento dos recursos naturais, a exemplo da Europa que já

sofre para manter seus rebanhos. O ideal para a suinocultura é adequar as propriedades

dos efluentes e dejetos com as estabelecidas na legislação ambiental, porém as ações

necessárias para reduzir seu poder poluente requerem grandes investimentos, tornando

inviável economicamente para o produtor, e sem garantias de que chegará às

concentrações limite exigidas na legislação (PERDOMO; LIMA; NONES, 2001).

Ainda segundo os autores acima, o volume de fezes e urina produzidos diariamente por

um suíno varia de 4,5% a 8,5% de seu peso corporal, ou seja, em média são produzidos 8,6

litros de dejetos líquidos (considerando juntamente com os dejetos, o manejo, tipo de

bebedouro, sistema de higienização do chiqueiro) e 5,8 kg de esterco e urina. Para controlar

a poluição decorrente da atividade, devem-se reduzir os desperdícios de água na criação,

formular a dieta dos animais para adequar suas emissões, construir sistemas de tratamento

para os dejetos e efluentes ou utilizá-los como fertilizantes provendo de um plano de manejo

para controle da adubação

A Tabela 2 a seguir, demonstra os principais componentes presentes nos dejetos da

suinocultura e estão expressos em Kg por tonelada de peso vivo.

18

Tabela 2. Principais componentes dos dejetos de suínos, fezes e urina, expresso por

1000 Kg de peso vivo. Fonte: PERDOMO, 2001.

Parâmetro Unidade Valor

Volume Urina Kg 39

Volume Fezes Kg 45

DBO5 Kg 3,1

Ph - 7,5

Nitrogênio Total Kg 0,52

Nitrogênio

Amoniacal

Kg 0,29

Fósforo Total Kg 0,18

Potássio Total Kg 0,29

3.2.1 A Agricultura em Chapecó e em Santa Catarina

Santa Catarina é responsável pela maior porcentagem de produção suína do país,

25,7%, representando ¼ de toda a produção nacional. No ano de 2007 foram produzidas

8,67 milhões de cabeças no estado. Já na produção de aves, fica em segundo lugar no

patamar nacional com 26,76% da produção, e no ano de 2007 produziu 42,5 milhões de

cabeças de frango (SANTA CATARINA, 2003).

No ano de 2007 em Chapecó, o efetivo em rebanho foi de 51.560 bovinos, 250.000

galinhas, 4415550 galos, frangos e pintos, e 115100 suínos. Destaca-se em primeiro lugar,

como setor de atividade econômica tradicional da cidade, o abate e fabricação de produtos a

base de carne, com um valor fiscal de R$ 415.167.976,00 entre 32 empresas, gerando

19

12.968 empregos diretos na cidade. Dentre os produtos exportados pelo estado 26,1%

são carnes de aves e suínos, com um valor de grande relevância para a economia

catarinense (SEBRAE, 2007).

A suinocultura do estado de Santa Catarina concentra-se na região oeste nas

cidades de Concórdia, Joaçaba, Chapecó e São Miguel do Oeste. Juntas produzem em

torno de 83% dos suínos abatidos no estado. Vale destacar ainda as regiões Sul, com

aproximadamente 10% dos abates, e Vale do Itajaí, com 4%. Para a agricultura, a maior

produção de feijão do estado está em Chapecó, que representa 23,6% do total produzido

(BORCHARDT, 2004).

3.3 CICLOS BIOGEOQUÍMICOS – NITROGÊNIO E FÓSFORO

3.3.1 Nitrogênio

Segundo Pinto-Coelho (2000) a atmosfera é o principal reservatório de nitrogênio

que é denominado abiótico e por sua vez não pode ser absorvido diretamente pelas plantas.

Para ser assimilado como nutriente do ciclo trófico das plantas deve estar na forma de íons

nitrato ou de íons amônio, representando o reservatório biótico de Nitrogênio. Então o

elemento retorna ao ambiente via excreção de ureia, amônia ou ácido úrico ou via

decomposição bacteriana e fúngica. O nitrogênio gasoso pode ser fixado por bactérias,

cianobactérias ou fungos que podem viver livremente ou estar associados a raízes de

plantas, geralmente as leguminosas. Assim, o Nitrogênio presente no ar torna-se disponível

para consumo das plantas. Segundo Gonçalves & Barbosa (1988) as espécies que se

associam com bactérias fixadoras de nitrogênio são a soja, feijão, alfafa, araucária, algumas

gramíneas e milho onde são encontradas no córtex (caule).

Martins (2003) define os processos que ocorrem no ciclo do Nitrogênio estão

descritos a seguir:

a) O processo que retira nitrogênio da atmosfera e transforma em outros

compostos nitrogenados é denominado fixação de nitrogênio. As bactérias

são responsáveis por transformar o nitrogênio gasoso (N2) em amônia ou

íons amônio são fixadoras biológicas de nitrogênio por meio da redução

catalisada enzimática.

b) A fixação atmosférica de nitrogênio é decorrente dos processos

desencadeados pela presença de descargas elétricas de relâmpagos e

20

também existe a fixação industrial de nitrogênio decorrente das

atividades antrópicas.

c) O processo de nitrificação é a oxidação do amônio para nitritos e do nitrito

para nitratos que é feita pelas bactérias e representada nas reações

químicas a seguir:

2 NH4+ +3O2 ->2 NO2 - +2 H2O + 4 H+

2 NO2- + O2 -> 2 NO3-

d) Já o processo de desnitrificação feito também por bactérias específicas é

o que devolve à atmosfera o nitrogênio orgânico que antes estava

presente como nitrato, nitrito e amônia, sob forma de nitrogênio inorgânico

(N2), fechando então, o ciclo do nitrogênio.

As bactérias envolvidas no processo de nitrificação podem ser divididas de acordo

com sua função: de oxidar o amônio para nitrito (Nitrosomonas, Nitrosospira,

Nitrosococcus, Nitrosvibrio, Nitrosolobus) ou nitrito para nitrato (Nitrobacter, Nitrococcus,

Nitrospina, Nitrospira). Os processos necessitam de oxigênio (aeração) e alcalinidade

suficiente para neutralizar os íons de hidrogênio produzidos na oxidação o pH ideal deve

estar entre 7,5 e 8,5 e ao atingir 6, torna-se um ambiente ácido e cessa o processo das

bactérias (PAUL e CLARK, 1996 apud NICOLAI, 2000).

3.3.2 Fósforo

O fósforo está disponível em abundância em todo o planeta e está contido nas

rochas de origens ígneas, sedimentares ou biogenéticas. Trata-se de um mineral não

metálico e desempenha grandes funções vitais na fauna e flora e é reativo com diversos

compostos importantes. Está presente na terra de uma forma limitada, e portanto, não

possui reposição (SOUZA, 2001).

Os depósitos de fósforo podem ser rochosos, cinzas vulcânicas, depósitos de guano

e de animais fossilizados. Estes sofrem os processos de erosão, meteorização e filtração

liberando fosfatos para o ecossistema. Grande parte dos fosfatos liberados é perdida

quando são carreados e chegam às profundezas do mar. Parte da devolução de fósforo do

mar para o continente é feita pelos depósitos de Guano, que ao se alimentar dos peixes que

21

vivem no mar absorvem o fósforo e o excreta nestes depósitos, porém não ocorre na

mesma velocidade como antigamente (ODUM, 1988).

O autor acima ainda destaca que, o fósforo presente nas rochas é degradado e

liberado em forma de fosfato (apenas nas rochas que o possuem em sua composição),

tornando o nutriente disponível para absorção das plantas e repassando-o para os demais

níveis do ciclo trófico. O fósforo retorna ao solo quando a matéria morta de animais e

vegetais é decomposta por microorganismos.

Os processos antrópicos podem desregular a distribuição normal de fósforo presente

nos depósitos já mencionados, pois ao retirá-lo da natureza (rochas) com fins industriais,

podem ser liberados para locais cuja sua presença é prejudicial para o ecossistema, como

por exemplo, a água da chuva carreá-lo até as águas superficiais (processo de lixiviação),

onde a alta concentração de fósforo aumenta a atividade primária, reduzindo o oxigênio,

causando eutrofização daquele corpo hídrico. Ou ainda podem infiltrar no solo poluindo as

águas subterrâneas colocando em risco a saúde coletiva.

3.4 PARÂMETROS QUÍMICOS ANALISADOS E DOENÇAS ASSOCIADAS À SUA

INGESTÃO

3.4.1 pH e Condutividade elétrica

O pH trata-se do logaritmo negativo da atividade do íon Hidrogênio, varia com a

natureza e quantidade dos gases e sais dissolvidos na água, a geologia do solo pelo qual

essa água passa e o tipo de poluição que está sujeito. O pH das águas naturais à 25ºC varia

de 4 a 9 (CELLIGOI, 1999).

A APHA (2005) define a condutividade elétrica como a expressão numérica da

habilidade de uma solução aquosa de transportar corrente elétrica. Esse fenômeno depende

dos fatores: presença de íons e suas concentrações, mobilidade, valência, temperatura.

Soluções que possuem componentes inorgânicos geralmente possuem boa condutividade.

22

Segundo Celligoi (1999) a condutividade elétrica da água potável está presente entre 50 a

1.500 mmhos/cm (mS/cm), já na água poluída é > 10.000 mmhos/cm (mS/cm).

3.4.2 Nitrato

O íon Nitrato é uma molécula que possui um nitrogênio e 3 oxigênios representada

pela sigla NO3-, trata-se do último estágio de oxidação do nitrogênio e por este motivo

torna-se um composto estável e persistente no ambiente. Quando formado no solo pelas

bactérias nitrificantes, pode ser desnitrificado ou absorvido por micro organismos, sofrer

químio desnitrificação, lixiviado até as águas subterrâneas, transportado por escoamento

superficial ou acumular-se no próprio local. (PAUL e CLARK, 1996 apud NICOLAI, 2000).

Nas áreas rurais ocorrem dois inconvenientes preocupantes, a adição de dejetos em

excesso no solo e a aplicação em épocas que os cultivos não estão em desenvolvimento,

ocorrendo nas duas situações um excedente de carga de nitrato no solo, e esta porção é

que oferece os riscos de contaminação dos recursos hídricos com a lixiviação destes

contaminantes em excesso no solo.

Foster & Hirata (1993) enfatiza que dentre os contaminantes inorgânicos no solo o

nitrato é o mais preocupante quanto à poluição da água subterrânea, pois possui grande

mobilidade no solo, é estável em sistemas aeróbicos e oferece riscos a saúde humana.

A concentração natural de Nitrato em águas subterrâneas é no máximo 3mg/l,

quando o valor excede este limite indica que as águas estão sendo contaminadas por fontes

de nitrato. As fontes potenciais deste nitrato são esgotos domésticos, indústrias e

agropecuária. (BOUCHARD, 1992).

Perdomo (2001) menciona que os teores de Nitrato detectados nas águas subterrâneas

que estão sob disposição constante de dejetos de suínos são em média 10 vezes maiores

que os locais onde não há essa atividade. As formas de contaminação da água subterrânea

são: por percolação dos nutrientes através do solo ou em locais onde há a existência de

poços mal construídos, que permitem a passagem dos nutrientes em suas paredes.

Bitton (1984) aponta que uma das doenças causadas pela ingestão de água com

concentrações de nitrato é a metahemoglobinemia infantil, esta que, depende da conversão

bacteriana de nitrato para nitrito antes ou depois da ingestão e ocorre quase exclusivamente

em crianças com menos de 3 meses. Nos Estados Unidos, a maioria dos casos ocorreu na

23

situação em que a água continha mais de 22 miligramas de nitrato por litro de água,

porém já ocorreram casos com concentração abaixo de 10 miligramas de nitrato por litro,

que é o limite estabelecido pela EPA1.

Muitas variáveis estão envolvidas na doença da metahemoglobinemia, como a que nem

todas as crianças que ingerem altas concentrações de nitrato desenvolvem a doença. A

fonte de ingestão de nitrato não é só a água, pois se o adubo orgânico for disposto em

locais de cultivo de vegetais, estes podem apresentar concentrações de nitrato expondo a

pessoa que consumi-los ao risco de desenvolver a doença. A doença pode ocorrer em

crianças ou adultos quando uma quantidade suficiente de nitrato for ingerida. Na maioria dos

casos, o nitrato quando durante digestão não é transformado em nitrito acaba sendo

excretado sem muitos efeitos adversos (BITTON, 1984).

A taxa de conversão de nitrato para nitrito durante a digestão depende de fatores como o

pH do estomago e a comunidade bacteriana que lá habita. Portanto, na presença de alto pH

as bactérias sobrevivem e é por isso que os bebes tendem a ter maior incidência de

metahemoglobinemia, eles possuem o pH do estomago mais alto, também deve-se alertar

as pessoas que possuem gastrointerite ou outras infecções desenvolvem condições para

sobrevivência dessas bactérias (BOUCHARD, 1992).

Ainda o autor acima comenta que os níveis normais de metahemoglobina no sangue são

1% para adultos, 2% para crianças. Quando chegar a 10% ocorre a cianose, quando em

20% inicia uma desoxigenação cerebral, e quando atingir a 50% pode ocorrer coma ou

morte.

Alguns estudos desenvolvidos com crianças russas comprovaram que o nitrato influencia

diretamente no sistema nervoso central, comparando seus comportamentos após ingerir

água com nitrato e concluindo que seus reflexos motores foram atrasados em relação ao

das crianças que não ingeriram a água (FRASER, 1981).

O nitrato e nitrito não estão classificados como substancias carcinogênicas, porém

existem suspeitas sobre os produtos que são formados quando eles reagem dentro do

organismo com aminas secundarias amidas e carbonatos, produzindo substâncias

potencialmente carcinogênicas. Estudos em laboratório indicam a presença de tumores em

diversos órgãos de animais provindos deste processo (BOUCHARD, 1992).

1 EPA: Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental, trad.) dos Estados

Unidos, desenvolve pesquisas, estudos, monitoramentos e estabelece padrões de qualidade e potabilidade das águas superficiais e subterrâneas.

24

3.4.3 Nitrito

O Nitrito é um íon composto por um nitrogênio e dois oxigênios, representado pela

sigla NO2 e representa o estágio de nitrificação que antecede a formação do nitrato, assim

sendo instável por possuir uma nuvem de elétrons desemparelhados. Sendo instável possui

capacidade de reagir com mais facilidade com outros componentes.

O nitrito, quando ingerido ou produzido na digestão está propício a oxidar o ferro

da hemoglobina para ferro metal e converter a hemoglobina (o pigmento do sangue que

carrega o oxigênio) em metahemoglobina sendo incapaz de carregar o oxigênio no sangue

tendo como efeito fisiológico a sufocação (BITTON, 1984).

3.4.4 Amônio

O amônio é o estágio primário de oxidação do nitrogênio no processo de nitrificação

(é a forma que o nitrogênio se encontra logo após a excreção dos animais), que então é

transformado pelas bactérias e microorganismos presentes no solo para nitrito e do nitrito

para nitrato. Assim, caso seja encontrado em alguma amostra, pode ser indicio de poluição

recente no local ou até infiltração pelas paredes do poço. Indicando que não teve o tempo

de contenção no solo necessário para que sofresse o processo de nitrificação.

A amônia é o terceiro composto nitrogenado mais abundante na atmosfera, trata-se

de um gás proveniente da decomposição da ureia que está presente no excremento dos

animais ou emitida pelo solo, na queima de matéria orgânica e aplicação de fertilizantes.

Sua presença é mais preocupante em locais onde há grande criação de animais,

principalmente em confinamento, pois ali há maior concentração de excremento e, portanto,

aumentam as concentrações de NH3 (amônia) e NH4+ (amônio) (MARTINS, 2003).

Diversas são as estruturas responsáveis pela produção de amônio no organismo

humano, como o sistema nervoso central, intestino, fígado, rim e músculos. Porém sob

condições normais são mantidos sob equilíbrio sendo liberados como uréia ou sob outras

formas de composição. O aumento das concentrações de amônio no organismo prejudica o

Sistema Nervoso Central e influencia na encefalopatia hepática e consequentemente a

amônia pode levar o paciente, a desenvolver um edema cerebral, convulsões ou coma

(PRADO, 2010).

25

3.4.5 Fosfato

A principal fonte de fosfato para as águas de áreas rurais (tanto subterrânea quanto

superficial) é certamente proveniente da agricultura, onde são utilizados fertilizantes para o

desenvolvimento das plantas que contém, entre outros nutrientes químicos para as plantas,

o fosfato. A água da chuva então carreia os resíduos de fosfato para as águas superficiais

junto com o escoamento, ou para os mananciais subterrâneos junto com a infiltração.

A Hiperfosfatemia ocasionada pela alta concentração de fósforo no organismo devido

à ingestão em excesso do componente pode causar doenças renais crônicas, raquitismo

entre outras doenças ósseas devido a hipocalcemia que ocorre quando o fósforo se liga ao

cálcio presente no organismo e precipita, causando uma deficiência de cálcio que é

imprescindível para desenvolvimento e manutenção dos ossos (BASTOS et al. , 2004).

3.5 LEGISLAÇÃO

A resolução do CONAMA nº 396 “dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais

para o enquadramento das águas subterrâneas e dá outras providências” destaca que para

as águas subterrâneas pertencentes a classe I ou II que são destinadas ao consumo

humano sem tratamentos complexos, o limite de concentração de nitrato em águas

subterrâneas é ou 10mg/L e de nitrito o limite é 1mg/L.

Assim como o EPA (United States Environmental Protection Agency) também define os

limites de nitratos de 10mg/L e nitrito 1mg/L e ressalva que o nitrato nas águas é

proveniente dos escoamentos de fertilizantes, vazamentos em fossas sépticas e efluentes.

A Portaria do Ministério da Saúde N.º 518 de 25 de março de 2004 “estabelece os

procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água

para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências”, possui os

mesmos padrões para nitrato e nitrito, e ainda acrescenta que o parâmetro pH da água

potável esteja entre 6 e 9,5.

A mesma portaria ainda recomenda que as metodologias analíticas para determinação

dos parâmetros devem atender às especificações das normas nacionais que disciplinem a

matéria, da edição mais recente da publicação Standard Methods for the Examination of

Water and Wastewater, de autoria das instituições American Public Health Association

26

(APHA), American Water Works Association (AWWA) e Water Environment Federation

(WEF), ou das normas publicadas pela ISO (International Standardization Organization).

Os componentes de fósforo apenas são mencionados e limitados pela resolução do

CONAMA nº 357, que ”Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e dá diretrizes

ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de

lançamento de efluentes, e dá outras providências” ainda aborda o parâmetro como

Fósforos totais com limite de 0,020 mg/L em ambientes lênticos, ou seja, com baixa

velocidade de vazão de escoamento.

A resolução do CONAMA 357 também é a única que limita os compostos amoniacais.

Em águas pertencentes à classe I, esta que pode ser utilizada para o abastecimento urbano

sem tratamentos complexos. O limite para o parâmetro varia com o pH da solução como

demonstra a Tabela 3Erro! Fonte de referência não encontrada., à seguir.

Tabela 3 Limites para Nitrogênio Amoniacal Total – Classe 1. Fonte: Resolução Conama 357.

Nitrogênio Amoniacal Total pH

3,7 mg/L N ≤ 7,5

2,0 mg/L N 7,5 < pH ≤ 8,0

1,0 mg/L N 8,0 < pH ≤ 8,5

0,5 mg/L N pH > 8,5

27

4 METODOLOGIA

Dentre as atividades realizadas neste estudo a metodologia foi dividida em duas partes,

metodologia de campo e análises laboratoriais.

4.1 METODOLOGIA DE CAMPO

As coletas foram feitas em uma única campanha, no dia 21/03/2012 no município de

Chapecó, priorizando as áreas rurais onde ocorrem as atividades agropecuárias, em

destaque a suinocultura.

O procedimento foi acompanhado pela equipe técnica da Empresa Leão Poços

Artesianos, que coletou amostras apenas nos poços que estão sob seu domínio. Para a

retirada da amostra de água foi feita a abertura do cavalete do poço junto à união

galvanizada (demonstrada na Figura 9) em seguida foi ligada a bomba do poço no sistema

manual e deixado bombear a água por 3 minutos, em seguida foi feito a coleta com frasco

esterilizado em polietileno com volume de 1 litro. Todas as amostras foram conservadas em

caixa de isopor com gelo picado para manter as propriedades da água e não ocorrer

alterações nas suas propriedades químicas e consequentemente nos resultados da análise

laboratorial.

Em cada coleta, realizou-se o registro da localização do ponto com auxilio de um

G.P.S Garmin, fornecido pela empresa que auxiliou na coleta, para que posteriormente os

locais fossem inseridos no mapa do município.

Em campo, foram extraídas alíquotas para análise do pH e da condutividade com os

equipamentos de campo, cada análise feita em um recipiente diferente e entre as análises

foi feita a lavagem do equipamento com água destilada. Os equipamentos foram

previamente calibrados no laboratório de Oceanografia Química da Univali.

Para a determinação do pH, foi utilizado o pHmetro digital CORNING OS-15. O

procedimento de calibração de pHmetro e de medição segue a Norma da ABNT NBR

9251:1986 (Água - Determinação do pH - Método eletrométrico). Para a análise da

condutividade foi empregado o condutivímetro digital de bolso QuikcheK modelo 116.

Após este conjunto de processos, as amostras foram congeladas para serem

transportadas até Itajaí, onde foram analisados os outros parâmetros no laboratório de

Oceanografia Química da Univali.

28

Figura 9. Procedimento de coleta de água e estruturas componentes do poço tubular. Fonte: Leão Poços

Após as coletas, foi confeccionada uma tabela (Tabela 4) com indicação do ponto

onde foi coletada a amostra, sua latitude e longitude e o nome da localidade da zona rural a

qual o ponto pertence.

29

Tabela 4. Relação de Pontos

Ponto Latitude Longitude Local

1 27° 0' 8,54" 52° 38' 49,25" Mercado

2 27° 0' 41,84" 52° 41' 24,64" Condomínio

3 27° 0' 1,78" 52° 38' 34,33" Bairro Trevo

4 26° 59' 55,96" 52° 39' 35,27" Colônia Cella 1

5 26° 59' 53,98" 52° 39' 23,36" Colônia Cella 2

6 26° 59' 50,76" 52° 39' 25,41" Colônia Cella 3

7 26° 59' 36,35" 52° 39' 16,70" Colônia Cella 4

8 26° 59' 50,28" 52° 39' 39,74" Colônia Cella 5

9 27° 1' 8,09" 52° 40' 29,20" Colônia Bacia 1

10 27° 0' 27,49" 52° 40' 4,13" Colônia Bacia 2

11 27° 0' 36,81" 52° 41' 1,42" Colônia Bacia 3

12 27° 0' 40,37" 52° 39' 46,77" Colônia Bacia 4

13 27° 0' 5,11" 52° 39' 53,80" Colônia Bacia 5

14 27° 0' 13,30" 52° 39' 25,59" Colônia Cella 6

15 27° 2' 1,28" 52° 40' 45,53" Linha Sarapião 1

16 27° 2' 4,50" 52° 41' 12,00" Linha Sarapião 2

17 27° 2' 37,99" 52° 41' 33,07" Linha Sarapião 3

18 27° 2' 7,63" 52° 39' 44,27" Linha Tormen 1

19 27° 2' 28,95" 52° 39' 39,30" Linha Tormen 2

20 27° 0' 0,59" 52° 38' 47,2" Posto

Dispondo das coordenadas dos locais de coleta (Tabela 4), foi confeccionado um

mapa (Figura 10) utilizando o software Arcgis com adaptação de imagem retirada do Google

Earth, demonstrando a localização dos pontos utilizados na amostragem e também a

localização da área total de coleta (aproximada) no município de Chapecó, SC.

A partir das concentrações obtidas em laboratório, foi utilizado o software arcgis com

a ferramenta Spline e foram confeccionados os mapas de isolinhas de contaminação para

facilitar a visualização da distribuição espacial dos contaminantes.

30

Figura 10 Localização dos pontos na área de coleta e no município. Fonte: Autora.

31

4.2 ANÁLISE DAS POSSIBILIDADES DE CONTAMINAÇÃO E VULNERABILIDADE

DO AQUÍFERO

Foster & Hirata (1993) descrevem a vulnerabilidade de um aquífero sendo representada

por um conjunto de características que determinam sua susceptibilidade de ser afetado por

uma carga de poluente. Ela depende de dois fatores: a inacessibilidade hidráulica na

penetração das substâncias e a capacidade de atenuação que é representada pela retenção

física e química das substâncias nas camadas que ficam no solo. Porém deve-se observar

que o aqüífero que não for vulnerável a contaminação, uma vez contaminado será mais

difícil de ser tratado, o que torna a situação de vulnerabilidade subjetiva.

O método GOD proposto por Foster & Hirata (1993), utilizado para se analisar as

possibilidades de contaminação do aquífero fraturado e do solo sobreposto a ele, consiste

em analisar os seguintes parâmetros:

I. G (Groundwater occurence) que se refere a ocorrência da água Subterrânea (tipo de

aquífero: livre, semi-confinado, confinado ou sem aquífero). Este índice varia de 0 a

1,0.

II. O (Lithology of the Overlying layers) que é a característica global do aquífero quanto

ao grau de consolidação e natureza litológica das camadas superiores (zona não

saturada). Este índice varia de 0,3 a 1,0.

III. D (Depth of Grounwater) que se refere a profundidade da água subterrânea até o

nível freático ou topo do aquífero confinado.

32

Figura 11. Fluxograma para estudo de vulnerabilidade a partir do método GOD. Fonte: Foster & Hirata,

1993.

De acordo com o fluxograma apresentado na Figura 11, a vulnerabilidade do aquífero de

Chapecó segue os valores: G = 0,6 (Não confinado); O= 0,6 (Formação magmática,

metamórficas e vulcânicas mais antigas); e D = 0,4 (a profundidade do aquífero é maior que

50 metros).

A vulnerabilidade é definida pelo produto de três índices que se referem quanto ao modo

de ocorrência da água subterrânea; quanto à litologia do aquífero e quanto à profundidade

da água subterrânea. Todos estes índices variam de 0 a 1 e o produto deles indica um

ambiente cuja vulnerabilidade varia desde negligível ou nenhuma até extremamente

vulnerável (Figura 12).

Portanto, G x O x D = Índice de Vulnerabilidade

33

Índice GOD Grau de Vulnerabilidade

0,7 – 1,0 Extrema

0,5 – 0,7 Alta

0,3 – 0,5 Moderada

0,1 – 0,3 Baixa

0,0 – 1,0 Desprezível

Figura 12. Quadro de resultados da aplicação do índice GOD e seus respectivos Graus de Vulnerabilidade. Fonte:

Foster & Hirata, 1993.

4.3 ANÁLISES LABORATORIAIS

As análises em laboratório iniciaram no dia 11/05/2012, com o processo de

descongelamento das amostras, filtração e separação das alíquotas necessárias para o

procedimentos de análise identificando nos recipientes cada parâmetro e local.

Foram separados 15 ml para análise de Nitrito, Amônio e Fosfato, e 30 ml para

análise de Nitratos, conforme requisitados nas respectivas metodologias. Ainda nos

frascos separados para análise da amônio, foi adicionado fenol para fixar o componente,

lembrando que na situação ideal do procedimento este deveria ter sido adicionado em

campo. Esse procedimento foi adiado, pois requer a filtração prévia da amostra, que não

foi possível realizar em campo e então, foi adiado também o procedimento de fixação do

amônio com fenol nas amostras.

4.3.1 Procedimento de Análise

Todos os parâmetros foram analisados seguindo a metodologia proposta pelo

Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (2005) e a metodologia de

cada parâmetro está resumidamente descrita a seguir:

34

4.3.1.1 Nitrato

O nitrato será reduzido a Nitrito passando por uma coluna de cádmio granulado e sulfato

de cobre, em seguida será utilizado o mesmo método de determinação de Nitrito (que está

descrito a seguir). Assim, dispondo da diferença das concentrações de Nitrito total (incluindo

o Nitrato que foi transformado em Nitrito) e do Nitrito que já estava presente na amostra será

encontrado o valor da concentração de Nitrato.

4.3.1.2 Nitrito

O nitrito é determinado por um método colorimétrico, com a formação de uma coloração

roxa avermelhada quando adicionado à amostra sulfanilamida diazonizada com N-(1-naftil)-

etilenodiamina dihidroclorídrico. Utilizando os reagentes propostos pelo método, pode-se

extrair uma curva de reta de calibração com diferentes concentrações conhecidas do

componente preparadas no laboratório. Assim, adicionando os reagentes as amostras, faz-

se a leitura da absorbância no espectrofotômetro e encontra-se as concentrações reais ao

adicioná-las a curva de reta feita anteriormente.

4.3.1.3 Amônio

O Amônio é determinado a partir de uma técnica colorimétrica onde são preparadas

soluções com concentrações conhecidas e assim adicionados os reagentes (fenol, solução

de nitroprussiato de sódio e solução oxidante). Depois de passar em média 4 horas, até

atingir a colocação violeta faz se a leitura da absorbância das amostras no

espectrofotômetro e extrair a curva da reta de calibração. Assim, fazer o mesmo

procedimento com as amostras e substituir na equação da curva de reta para encontrar as

concentrações.

4.3.1.4 Fosfato

Na determinação do fosfato utiliza-se o método colorimétrico, onde se extrai a curva da

reta de calibração com as absorbâncias resultantes de concentrações conhecidas. Os

reagentes adicionados (molibdato de amônio, ácido sulfúrico e ascórbico, e antimônio de

35

tartarato de potássio) tornam a amostra azul marinho e em seguida realiza-se a leitura da

absorbância no espectrofotômetro.

4.3.2 Procedimento de cálculo

Os cálculos da concentração de cada parâmetro seguiram a metodologia proposta pelo

Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (2005), com o software

Microsoft Excel.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 VULNERABILIDADE DO AQUÍFERO

A vulnerabilidade para o aquífero tem-se: 0,6 x 0,6 x 0,4 = 0,144 Já a análise de

possibilidades de contaminação do aquífero pelas características do solo em questão,

seguindo a metodologia de GOD tem-se G = 1,0 (Desta vez não confinado e não coberto por

se tratar somente do solo); O= 0,4 ( por estar sendo avaliado o solo do local); e D = 0,4 (a

profundidade do aquífero é maior que 50 metros). Resulta no índice 0,1 x 0,1 x 0,4 = 0,16.

A análise da vulnerabilidade do aquífero pelo método GOD resultou como baixa (0,144),

e do solo presente no local também (0,16), isso indica que frente a algum aporte de

contaminante no solo, este dificilmente consegue chegar até as águas subterrâneas, pois o

solo predominante no local é argiloso apresentando a característica de baixa

permeabilidade, na ordem de 10-4m/s que resulta num tempo muito elevado que o líquido

leva para chegar até a rocha e também porque a água está localizada a uma profundidade

alta, além disto, as características geológicas não permitem a transmissividade adequada da

água através das fraturas nas rochas.

Este comportamento já era esperado, pois a Formação Serra Geral forma um aquífero

do tipo fraturado, onde a circulação de água acompanhada de contaminantes pode ocorrer

somente através das fraturas, ou fissuras que estão presentes na rocha.

36

5.2 PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS ANALISADOS

De acordo com a metodologia apresentada para análise dos parâmetros foram obtidos

os seguintes resultados, que estão expressos na Erro! Fonte de referência não

encontrada.:

Tabela 5 Resultados das Análises Laboratoriais. Fonte: Autora.

Ponto Local Altitude Ph C Nitrito N Amoniacal

Fosfato Nitrato

#

m -- µS mg/l mg/l mg/l mg/l

1 Mercado – B. Trevo 700 6,9 190 0,2987 0,002 0,0074 3,4855

2 Cond. Colônia Bacia 664 6,2 140 0,001 0,0006 0,0074 3,7585

3 Bairro Trevo

724 7,5 190 0,0266 0,0009 0,1274 4,1618

4 Colônia Cella1

690 8,8 240 0,0012 0,0004 0,1996 0,7416

5 Colônia Cella2 673 8,9 250 0,0012 0,0215 1,9835 0,0325

6 Colônia Cella3 676 7,6 240 0,0015 0,0005 0,2999 4,3255

7 Colônia Cella4 680 8,7 190 0,0012 0,0035 0,2193 0,0601

8 Colônia Cella5

698 8,5 220 0,0029 0,0004 0,2596 3,9871

9 Colônia Bacia 1 661 8,2 220 0,0017 0,0049 0,0092 0,103

10 Colônia Bacia 2

701 8,7 80 0,0019 0,0006 0,3552 4,8034

11 Colônia Bacia 3 665 8,3 170 0,0015 0,0004 0,0693 1,5179

12 Colônia Bacia 4 665 8 220 0,0023 0,0006 0,0308 0,9954

13 Colônia Bacia 5 674 7,6 190 0,0023 0,0005 0,1236 4,0339

14 Colônia Cella6

677 7,7 150 0,0019 0,0006 0,5174 4,4462

15 Linha Sarapião1

646 6,9 230 0,0036 0,0005 0,2268 2,8399

16 Linha Sarapião2

635 5,8 110 0,0008 0,0006 0,0421 4,8293

17 Linha Sarapião3

627 8,9 190 0,0015 0,0006 0,0421 0,4071

18 Linha Tormen1 713 7,2 220 0,0017 0,0005 0,2015 3,5774

19 Linha Tormen2 710 9,6 110 0,001 0,0004 0,0768 3,9625

20 Posto B. Trevo 709 7,6 350 0,0014 0,0004 0,0683 2,3502

Média 679,4 7,880 195,0 0,018 0,002 0,243 2,721

Desvio Padrão 26,349 0,969 59,956 0,066 0,005 0,431 1,757

Analisando as características climáticas do local de estudo, o mês em que foram

realizadas as coletas é o que possui menor média de precipitação como pode-se perceber

37

no balanço hidrológico apresentado anteriormente. Frente a esta situação os valores de

todas as análises podem ter sido influenciados por esses fatores. Diante da falta de chuva

perde-se o meio de diluir o contaminante para que assim seja levado ao solo e talvez

chegue até o aquífero. Por outro lado, a grande infiltração pode diluir mais os contaminantes

reduzindo as concentrações para um dado volume de amostra.

Frente à baixa incidência de chuva durante a época de amostragem, o consumo de água

dos poços tubulares aumenta e então a quantidade de água retirada do aquífero junto o

contaminante. Com o rebaixamento do nível dinâmico de água no poço, aumenta-se a área

de influencia do poço, reduzindo as chances da água ser contaminada. Assim pode-se

explicar uma leve redução na concentração de contaminantes nesta época.

Figura 13 Altitude de cada ponto. Fonte: Autora.

De acordo com a Figura 13, pode-se perceber que pontos mais altos do estudo

foram o 3, 18, 19, 20 com altitudes acima de 700m. Em contrapartida os mais baixos foram

15, 16 e 17 que pela sua condição de altitude possuem maior probabilidade de serem

contaminados por lixiviação carreada pelo escoamento superficial.

A altitude média dentre os pontos analisados foi de 679,4 m acima do nível do mar e

o desvio padrão resultou em 26,4m, revelando uma variação alta de ponto para ponto e

facilitando o processo de escoamento superficial que carreia os contaminantes dispostos no

solo para as regiões mais baixas. Esse desvio padrão é explicado pelo relevo predominante

no local que é ondulado.

560

580

600

620

640

660

680

700

720

740

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Altitude

38

Dentre os pontos mais altos do trabalho, todos apresentaram concentrações

consideráveis de nitrato (2,35 mg/L a 4,17 mg/L) indo contra a ideia de que existe maior

propensão a contaminação apenas dos mais baixos. Os fatores que podem intervir nessa

situação são a idade do poço e os materiais utilizados na sua construção inclusive no seu

vedamento sanitário, que após um tempo tende a criar rachaduras que podem se tornar foco

de contaminação. Também podem estar localizados em regiões fraturadas e/ou locais com

alta deposição de dejetos.

Os locais mais baixos do estudo, apresentaram valores de nitrato entre 0,4071 mg/L

a 4,8293 mg/L demonstrando que independe da altitude para ser um fator de influência na

contaminação e que existem outros fatores envolvidos nesse processo de contaminação.

Como por exemplo, o ponto 17 que é o que possui menor altitude e também possui

concentração de nitrato baixa.

Figura 14 Intervalos e porcentagem de ocorrência de condutividade(µS/cm). Fonte: Autora.

A condutividade elétrica máxima encontrada foi de 350 µS/cm mínima foi de 80

µS/cm, este comportamento é esperado pois em águas doces a condutividade tende a ser

menor pois ela possui baixo teor de sais dissolvidos. Como pode-se visualizar na Figura 14,

50% dos valores encontrados estavam com condutividade entre 100 µS/cm e 200 µS/cm e

45% com valores maiores que 200 µS/cm. A condutividade média das 20 amostras resultou

em 195 µS/cm e o desvio padrão foi de 59,9 µS/cm.

Como menciona Celligoi (1999) a condutividade da água potável está presente entre

50 a 1.500 mmhos/cm ou Siemens, já na água poluída é maior 10.000 mmhos/cm ou

Condutividade 0%

Até 100 5%

Entre 100 e 200 50%

Maior que 200 45%

Condutividade

39

Siemens. Portanto convém enfatizar que todas as amostras se enquadram nestes limites

de potabilidade para águas não poluídas.

Figura 15 Intervalos e porcentagem de ocorrência do pH. Fonte: Autora.

Conforme a Figura 15, a água coletada na zona rural do município demonstrou leve

alcalinidade onde 80% das amostras resultaram com pH acima de 7 e o máximo encontrado

foi de 9,6 no ponto 19. Os locais que apontaram menor pH foram os pontos 16 e 2 com os

valores de 5,8 e 6,2, respectivamente.

O pH varia com o tipo de rocha que ocorre no local, e como na região ocorrem

carbonatos o pH tende a ser alto. Se a água estiver com caráter ácido indica que algum fator

externo está influenciando no seu pH. Conclui-se, a partir daí, que as amostras que

possuem o pH abaixo de 7 (20 % do total) podem estar sofrendo influencias externas

provenientes de infiltrações de substâncias.

Este parâmetro influencia diretamente nos processos de nitrificação pois as bactérias

responsáveis pelo processo necessitam de alcalinidade suficiente para neutralizar os íons

de hidrogênio produzidos na reação de oxidação. O intervalo de pH sendo ideal para o

processo está entre 7,5 e 8,5 e dentro destas condições estão os pontos 3, 6 , 13,14, 18. Os

demais em sua maioria possuem caráter básico, facilitando então o processo de nitrificação

das bactérias para obter maior produção de Nitrito e Nitrato, e menor concentração de

Amônio.

Até 5,99 5%

Entre 6 e 7 15%

Entre 7 e 8 30%

Maior que 8 50%

pH

40

Pode-se observar que os valores de concentração encontrados para nitrato nos

pontos (3,6,13,14,18) que possuem o pH ideal para o processo de nitrificação são 4,1618,

4,3255, 4,0339, 4,4462, 3,5774, que representam os alguns dos valores mais altos de

concentração de nitrato encontrados neste estudo, reafirmando assim a ligação entre o pH

do local com o processo de nitrificação.

5.2.1 Nitrato

Analisando a presença do íon Nitrato (NO3), todas as amostras se enquadram nos

limites estabelecidos pela legislação cujo o máximo permitido é de 10 mg/l , e nas amostras

analisadas a maior concentração encontrada para o parâmetro investigado foi de 4,8293

mg/l no ponto 16. Nos pontos 3, 6, 10, 13 e 14 também foi encontrado valores altos (acima

de 4 mg/l) de Nitrato.

Figura 16 Intervalos e porcentagem de ocorrência de Nitrato. Fonte: Autora.

A concentração média de Nitrato encontrada foi de 2,71 mg/l com desvio padrão de 1,75

mg/l. A média de concentração de nitrato revela indícios de contaminação por compostos

nitrogenados, porém o alto desvio padrão indica que os valores encontrados não possuem

similaridade e que os valores altos ocorrem apenas em locais singulares, estes que devem

ser monitorados pois podem tornar-se foco de contaminação.

O ponto 16 apresentou um comportamento singular por possuir alta concentração de

Nitrato e baixo pH. Nota-se na equação de nitrificação apresentada anteriormente, que o

processo libera íons H+, este que determina o baixo pH do local. Portanto, o baixo pH indica

41

que no local pode ter ocorrido o processo de nitrificação provindo dos adubos orgânicos,

que por fim, transformaram-se em Nitrato.

Como mencionado por Bouchard (1992) a concentração natural de Nitrato em águas

subterrâneas é no máximo 3mg/l, quando o valor excede este limite indica que as águas

estão sendo contaminadas por fontes de nitrato. Neste caso conforme a Figura 16, 11

amostras, ou 55% do total apresentaram valores maiores que 3 mg/L, indicando a presença

da intervenção antrópica com o aporte de compostos nitrogenados.

Partindo da publicação da CETESB (2012) que indica que concentrações de Nitrato

acima de 5.0 mg/L indicam uma alteração do equilíbrio natural e influência antrópica sobre

a qualidade das águas subterrâneas. Verifica-se que todos os pontos do estudo estão

abaixo de 5mg/L, porém alguns estão muito próximos de atingi-lo, exigindo então um

monitoramento desses para investigar as causas e mitigar os impactos antes que tornem-se

um foco de contaminação para o aquífero.

O município é o maior produtor de feijão do estado, representando 23,6% da

produção total, e esta é uma espécie leguminosa que possui associação com bactéria

fixadora de nitrogênio juntamente com a soja, alfafa, araucária e o milho. Talvez esteja aí

uma das causas para o aumento de nitrato nas águas subterrâneas. Como pode-se

observar na Figura 17 a seguir, o ponto 15 e 7 apresentando as plantações de feijão e milho

respectivamente, na propriedade onde os poços de coleta estavam localizados.

42

Figura 17 Culturas fixadoras de nitrogênio no solo localizadas no ponto 15 (feijão) e 7 (milho).

43

5.2.1.1 Isolinhas de Contaminação de Nitrato

Figura 18 Isolinhas de contaminação NO3

44

Como pode-se observar na Figura 18 existe uma região com maior concentração

de pontos que revelaram altos teores de Nitrato (acima de 3,76 mg/l). Esta região trata-se

Colônia Cella, que foi a que demonstrou os maiores valores encontrados neste estudo. Esta

região merece atenção e monitoramento, pois ali pode haver um foco de contaminação para

as águas subterrâneas. Pode-se investigar se trata-se de uma área com maior densidade de

fraturas que facilitam a entrada dos contaminantes, de grande concentração de atividades

agropecuárias, ou ainda investigar a situação dos poços tubulares lá presentes.

Ainda destacam-se outros pontos na Figura 18, onde foram encontradas

concentrações altas, estes que distam entre si, também podem ser um foco de

contaminação provavelmente em decorrência da situação do poço tubular que pode ser

antigo e estar com fissuras nas paredes, ou por ser um local de grande deposição de

dejetos e fertilizantes.

5.2.2 Nitrito

Figura 19 Intervalos e porcentagem de ocorrência de Nitrito. Fonte: Autora.

De acordo com a Figura 19, grande parte das amostras analisadas, 90% possuem baixa

concentração de Nitrito, até 0,01 mg/l. Apesar de apresentar baixos teores de nitrito sua

presença já demonstra indícios de contaminação. A média de concentração de Nitrito

encontrada foi de 0,018 mg/l e o desvio padrão foi de 0,066 mg/l, o alto desvio padrão

(maior que a própria média) indica que as concentrações encontradas não foram constantes

e que houveram locais em singular que apresentaram concentrações bem elevadas em

comparação com os demais (Max. 0,298 mg/l no ponto 1).

Até 0,010 mg/L 90%

Entre 0,011 e 0,100 mg/L

5%

Maior que 0,100 mg/L

5% Nitrito - NO2

45

O nitrito é um íon instável e assim possui capacidade de reagir com mais facilidade

com outros componentes e por ser o estagio intermediário de complexidade e formação

como composto nitrogenado, representa poluição recente e então sua presença indica

infiltração ou fonte poluidora muito próxima ao poço.

Os valores encontrados de nitrito (NO2) encontrados se enquadram nos padrões

exigidos pela legislação onde o limite máximo permitido na água para consumo humano é

de 1 mg/L. O valor máximo encontrado de concentração de nitrito na água subterrânea rural

do município foi de 0,298 mg/L no ponto 1 que é o poço localizado nas proximidades do

mercado. O segundo maior valor foi encontrado no ponto 3 (0,0266 mg/L) que se localiza

próximo ao ponto 1. Os pontos 1 e 3 possuem a característica de estarem numa região com

maior altitude, localizados a 700 e 724 metros acima do nível do mar. As demais

concentrações encontradas foram da ordem de µg/L indicando baixo teor de nitrito nas

águas subterrâneas da região rural do município.

Essa situação pode se explicada devido à possibilidade das condições do ambiente

serem ideais para o desenvolvimento e atividade das bactérias responsáveis pelo processo

de nitrificação no estágio que transforma o nitrito para nitrato, assim explicando o baixo teor

de nitrito e a presença significativa do nitrato.

De acordo com a Figura 20, as isolinhas que representam as maiores concentrações

ficaram apenas em torno de um ponto, que apresentou o maior teor de Nitrito do estudo.

Pode-se investigar o motivo desta grande dissiparidade examinando as condições do

vedamento sanitário do poço do local e das condições do entorno do local que podem afetar

na infiltração de Nitrito.

46

5.2.2.1 Isolinhas de Contaminação de Nitrito

Figura 20 Isolinhas de contaminação de NO2.

47

5.2.3 Nitrogênio Amoniacal Total

De acordo com a Figura 21,Figura 21 abaixo, a maioria das amostras (75%) possui

concentração de Nitrogênio Amoniacal abaixo de 0,001 mg/L, indicando a baixa ocorrência

do parâmetro nas amostras de água subterrânea coletada na região rural do município de

Chapecó. A média de concentração de Nitrogênio Amoniacal encontrada foi de 0,002 mg/l

com desvio padrão de 0,005 mg/l, indicando que houveram locais com picos de

concentração.

Figura 21 Intervalos e porcentagem de ocorrência de N Amoniacal. Fonte: Autora.

Mesmo dependendo do pH o menor limite estabelecido pela legislação ambiental para

os compostos amoniacais é de 0,5 mg/l e o valor máximo encontrado nas amostras

analisadas foi de 0,0215 mg/l, encontrando-se abaixo do limite. Esta concentração foi

encontrada no ponto 5 localizado na Colônia Cella que possui diversos chiqueiros

desativados localizados a aproximadamente 100 metros de distância do poço tubular onde

foi realizada a coleta. Nota-se que o pH deste local é de 8,6 e o limite para este valor de pH

é de 0,5mg/l de Nitrogênio amoniacal. Portanto, nem o valor máximo encontrado de N

amoniacal atingiu o mínimo exigido por lei para águas pertencentes à classe I.

Os compostos amoniacais, amônio e amônia, são componentes instáveis por serem o

estágio primário de complexidade e formação como compostos nitrogenados. Representam

poluição recente e sua presença indica a probabilidade de ocorrência de infiltração ou

contaminação pelo próprio poço mostrando que o contaminante não teve tempo necessário

de contenção no solo para que fosse nitrificado. Como todas as amostras revelaram baixos

Até 0,0010 mg/L 75%

Entre 0,0010 e 0,0100 mg/L

20%

Entre 0,0100 e 0,1 mg/L

5%

Nitrogênio Amoniacal

48

teores de Nitrogênio Amoniacal pode-se dizer que existem indícios de infiltração próxima

ao poço.

Os valores de concentração de amônio podem variar em função da metodologia de

coleta em campo por falta de uso de fixador do N ( fenol) que necessita ser adicionado in

loco.

De acordo com a Figura 22 percebe-se que as maiores concentrações de Nitrogênio

Amoniacal Total encontradas ocorreram em apenas 3 pontos localizados próximos um do

outro. Deve-se estudar a viabilidade de realizar um monitoramento adequado do local para

que ele não se torne um foco de contaminação. Também investigar a causa desta

contaminação localizada que pode ser ocasionada pela grande deposição de dejetos e

fertilizantes no solo da área abrangida pelos pontos, a densidade de fraturas ou a situação

dos poços.

49

5.2.3.1 Isolinhas de contaminação de Nitrogênio Amoniacal Total

Figura 22 Isolinhas de contaminação de N amoniacal.

50

5.2.4 Fosfato

Como pode-se observar a partir da Figura 23, 55% das amostras analisadas

apresentaram valores de fosfato maiores que 0,1 mg/l demonstrando que o fósforo

proveniente das práticas agropecuárias pode estar atingindo as águas subterrâneas.

Figura 23 Intervalos e porcentagem de ocorrência de Fosfato. Fonte: Autora.

Os teores de fosfato (PO4) resultantes das análises são na maioria da ordem de

0,200 mg/L, com valor máximo de 1,983 no ponto 5 que possui a descrição de estar próximo

a chiqueiros desativados (100m) e lagos. Este ponto também tinha a característica de estar

localizado num nível mais baixo que os terrenos adjacentes. Então pode se explicar os

maiores níveis de fosfato e amônio por estar sendo influenciado diretamente pelo acúmulo

de água nos açudes, próximos, existentes na área. A média de concentração de fosfato

encontrada foi de 0,243 mg/l, apresentando um desvio padrão de 0,431, superior a média, o

que indica que houveram locais com altos índices de concentração.

Quando não é constituinte das rochas do local, a principal fonte de fosfato para as

águas de áreas rurais (tanto subterrânea quanto superficial) é certamente proveniente da

agricultura, onde são utilizados fertilizantes para o desenvolvimento das plantas que contém

entre outros nutrientes químicos para as plantas, o fosfato. A água da chuva então carreia

os resíduos de fosfato para as águas superficiais junto com o escoamento, ou para os

mananciais subterrâneos através da infiltração no solo.

Observando a Figura 24 percebe-se que a contaminação por fosfato também

apresentou-se de forma local (em torno dos pontos 5,6,14) e que a maior parte da área total

do estudo apresentou concentrações baixas (área verde escuro).

Até 0,01 mg/L 15%

Entre 0,01 e 0,1 mg/L 30%

Maior que 0,1 mg/L 55%

Fosfato - PO4

51

5.2.4.1 Isolinhas de contaminação de Fosfato

Figura 24 Isolinhas de Contaminação de PO4.

52

5.3 COMPARAÇÃO COM OUTROS AUTORES:

No ano 2000, Gilberto Nicolai desenvolveu um trabalho de análise de presença de

nitrato na água subterrânea no município de Chapecó. Neste estudo foi feita uma

amostragem de 100 poços no período de 15/02/2000 a 05/03/2000 e destes 44 estavam

localizados na zona rural. Como suas coletas foram realizadas na mesma época que as

deste estudo, pode-se comparar os resultados e desconsiderar fenômenos climáticos como

a precipitação que varia sazonalmente e, caso contrário, poderia influenciar nos resultados

das concentrações. Por estarem localizados próximos a pontos comerciais conhecidos, foi

possível realizar a comparação dos pontos 1 e 20, detalhada a seguir, na Tabela 6:

Tabela 6 Comparação de Nitrato com Nicolai, 2000

Ponto/Autor Autora, 2012 Nicolai, 2001

1 3,4855 5,458

20 2,3502 4,137

mg/L NO3 mg/L NO3

Os pontos em comum com o trabalho realizado por Nicolai em 2000 foram o 1 e o 20,

localizados próximos ao mercado e ao posto de gasolina, respectivamente . Os valores de

nitrato encontrados pelo autor anteriormente citado foram de 5,458 e 4,137 mg/L, já os

encontrados pela autora deste estudo foram de 3,053 e 2,348 mg/L. Um dos motivos desta

redução pode ser que no decorrer destes 12 anos foi implantado no município a rede de

coleta e o sistema de tratamento de esgoto sanitários. Antes disso o tratamento era

realizado nas unidades domiciliares por fossas sépticas e o esgoto era infiltrado no solo. Os

dois pontos localizam-se em uma região de transição entre a zona rural e urbana, e por isso

pode ter sido influenciados por estas novas estruturas do município.

Sob uma perspectiva geral do autor acima, para a área rural percebe-se que apesar de

ter certos pontos com altas concentrações de nitrato, naquela época existiam muitos pontos

com concentrações abaixo de 1mg/L (75%). Na situação atual pode-se perceber o contrário,

apesar de não ter encontrado nesse estudo algum local com valor acima dos padrões

exigidos pela legislação, a maioria dos pontos (55%) apresenta algum teor de nitrato

considerável, acima de 3 mg/L, comprovando o aumento da contaminação das águas

53

subterrâneas na zona rural do município de Chapecó. A região mais crítica encontrada

pelo autor também foi a Colônia Cella, onde foram amostrados 6 pontos que apresentaram

os maiores valores de concentração de Nitrato.

Fabio Carasek em 2011 realizou em Chapecó sua monografia, onde foram coletadas

100 amostras de água subterrânea no período de dezembro de 2010 a junho de 2011 em

poços tubulares, destes, 50 estavam localizados na zona rural. Dentre as localidades em

comum com este trabalho foram a Linha Tormen, Sarapião, Colônia Cella e Colônia Bacia.

Dentre os resultados a Colônia Cella apresentou os maiores teores de nitrato. Numa análise

geral para a Zona Rural do município, foram encontrados 3 locais com teor de amônio acima

do permitido pela legislação, 5 locais com concentração de nitrato acima de 5 mg/L (abaixo

do limite que é 10 mg/L porém já apresenta forte intervenção antrópica) e nenhuma amostra

apresentou concentração de nitrito com representatibilidade próxima ao estabelecido por

legislação.

54

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo caracterizar a qualidade da água subterrânea na

zona rural do município de Chapecó realizando a coleta de 20 amostras em locais que

sofrem forte influência agropecuária, diagnosticar as possíveis fontes de contaminação e

comparar os resultados com outros autores.

O aquífero do local de estudo apresenta baixa vulnerabilidade de contaminação como

demonstrado no resultado da aplicação do método GOD, que envolve as variáveis:

profundidade, formação litológica e tipo de aquífero. Outra característica do local é que o

município possui uma densidade média de concentração de fraturas, auxiliando a infiltração

de contaminantes para o interior do aquífero.

A partir dos resultados do Nitrato foi possível concluir que o manancial subterrâneo está

recebendo continuamente o aporte de compostos nitrogenados provenientes de dejetos de

suínos, aves e bovinos, esgoto humano e fertilizantes agrícolas. Percebe-se que 70% das

amostras apresentaram teores de Nitrato acima de 1 mg/L. Porém, nenhum dos valores de

concentração encontrados passaram dos limites exigidos por lei. O que pode ser uma

situação favorável, caso essas fontes poluidoras sejam controladas, as condições das águas

subterrâneas permanecerão dentro dos limites da legislação ambiental.

Foi encontrada uma comprovação da afirmação realizada por Nicolai (2001) apud

Paul e Clark (1996) que afirmou que o pH ideal para oxidação do Nitrato (processo de

nitrificação) é entre 7,5 e 8,5, pois as amostras que possuíam seu valor de pH enquadrado

nestes limites (3,6,13,14,18) são as que representam a maioria dos valores mais altos de

concentração de nitrato.

Em comparação com os autores Nicolai, 2000 e Carasek, 2011, conclui-se que a

localidade em comum aos três estudos que está em pior estado, de acordo com os

resultados encontrados para o Nitrato, é a Colônia Cella onde existem diversas atividades

agropecuárias como agricultura, suinocultura, pecuária e avicultura. Pode-se sugerir um

monitoramento no local, para diagnosticar as fontes de poluição e assim ser possível

promover uma ação de prevenção ou remediação que possibilite reduzir a poluição por

nitrato nas águas subterrâneas.

Os valores encontrados para Nitrito também não ultrapassaram os limites estabelecidos

pela legislação ambiental e pela portaria do Ministério da Saúde. O valor de concentração

mais alto encontrado foi de 0,2987mg/l sendo que o máximo permitido em águas para

consumo humano é de 1mg/l. Sua presença na água subterrânea indica que existe alguma

55

fonte de poluição recente e próxima ao poço, mostrando que o local está recebendo

contaminantes e deve ser investigada a sua origem. O nitrito merece grande atenção quanto

ao seu monitoramento, pois quando ingerido em concentração acima do permitido por lei é

tóxico e pode causar sufocação até a morte.

O amônio que foi abordado como Nitrogênio Amoniacal Total, também não ultrapassou

os limites da legislação ambiental, mesmo que enquadrado na Classe 1 das águas que é a

que possui maiores restrições quanto a qualidade e possui fins de abastecimento publico

sem precisar de tratamentos complexos. A presença de baixos teores indicam a presença

de indícios de contaminação por infiltração próxima ao poço e que as condições físicas,

químicas e biológicas do solo do local contribuem para o processo de nitrificação.

Observando a distribuição espacial dos contaminantes encontrados, apenas o Nitrato

apresentou-se bem distribuído na área de estudo, com diversos pontos apresentando

concentrações acima de 3 mg/L. Este comportamento já era esperado, pois o nitrato é um

contaminante persistente no meio ambiente e, portanto, quando disposto é difícil de ser

retirado tanto pelos processos naturais quanto pelos processos de tratamento. Também

porque o nitrato é o produto final dos compostos amoniacais e nitrito. Os demais parâmetros

apresentaram contaminação pontual apontando a necessidade de investigação das causas

para evitar que se tornem um foco de contaminação.

Pode-se concluir que todos os compostos nitrogenados encontrados na água

subterrânea da região rural do município de Chapecó são provenientes das práticas

agropecuárias e saneamento rural, já que as rochas não possuem compostos minerais de

produtor de nitrogênio.

O fosfato encontrado nas águas subterrâneas da região de estudo também mostrou-se

presente, com concentrações mais evidentes que a dos compostos nitrogenados, chegando

até 1,983 mg/l no ponto de coleta 5, este ponto que possui também o maior valor de

compostos amoniacais. Esse composto é provavelmente proveniente das práticas

agropecuárias e dos fertilizantes utilizados na agricultura, visto que as rochas presentes no

local não possuem compostos de fósforo em sua composição. De acordo com suas

características, esse ponto possui proximidade com chiqueiros desativados e lagos, e pode

estar sofrendo influencia dos mesmos.

Por fim, frente ao alto aporte de contaminantes no solo, proveniente do uso de dejetos

animais como adubo orgânico na agricultura e a precário saneamento rural, a água

subterrânea do local de estudo não apresenta um estado crítico de poluição, apenas

indícios. Os fatores que influenciam no baixo grau de contaminação das águas subterrâneas

56

são: a baixa vulnerabilidade do aquífero e do solo demonstradas neste estudo. Também

ocorrem a lixiviação superficial dos contaminantes para os recursos hídricos e, o

aproveitamento deles pelas plantas como nutrientes.

Após os resultados encontrados no trabalho pode-se sugerir algumas alternativas para

mitigar os impactos das atividades agropecuárias:

Primeiramente, é muito pertinente a elaboração de um estudo mais amplo da água

subterrânea em todo o município, para verificar com exatidão a presença de

componentes prejudiciais à saúde coletiva ou ao meio ambiente e realizar um

monitoramento constante para acompanhar a evolução do grau de poluição dos

pontos críticos para efetuar um trabalho de prevenção e/ou remediação.

Propor tratamento para os dejetos de suínos com tanques de fermentação para

evitar lixiviação para os recursos hídricos subterrâneos e superficiais, e assim utilizá-

los só quando e quanto necessário na agricultura.

Por meio de projetos de aumento de rendimento, propor redução de desperdícios de

água usada para limpeza e nos bebedouros, dos chiqueiros e aviários.

Para os novos chiqueiros e aviários realizar estudos de impacto e viabilidade de

construção, utilizando todas as estruturas e tecnologias necessárias para mitigar os

danos ao meio ambiente tanto em sua fase de construção quando em operação

Incentivar o Poder Público a orientar os agricultores no plantio de leguminosas entre

outras espécies, da não necessidade de aporte tão alto de compostos nitrogenados

orgânicos, pois estas fixam o nitrogênio do ar no solo suprindo sua necessidade do

componente. Também informar a quantidade necessária de cada fertilizante e

nutriente para o desenvolvimento adequado das plantas e evitar o excesso de

adubação orgânica, pois essa atitude não contribuirá na melhoria da produção

agrícola.

Para as pessoas que se abastecem com água subterrânea recomenda-se utilizar

filtro com carvão ativado pois este absorve compostos nitrogenados e metais

pesados assegurando a qualidade da água para consumo.

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