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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – BIGUAÇU CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA FLÁVIA CAROLINA DE FÁVERE PSICOLOGIA JURÍDICA: CONTRIBUIÇÕES E CONHECIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS IMPORTANTES NA ATIVIDADE PROFISSIONAL DE UM JUIZ BIGUAÇU 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – BIGUAÇU

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

FLÁVIA CAROLINA DE FÁVERE

PSICOLOGIA JURÍDICA: CONTRIBUIÇÕES E CONHECIMENTOS

TEÓRICO-METODOLÓGICOS IMPORTANTES NA ATIVIDADE

PROFISSIONAL DE UM JUIZ

BIGUAÇU 2006

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FLÁVIA CAROLINA DE FÁVERE

PSICOLOGIA JURÍDICA: CONTRIBUIÇÕES E CONHECIMENTOS

TEÓRICO-METODOLÓGICOS IMPORTANTES NA ATIVIDADE

PROFISSIONAL DE UM JUIZ

Monografia apresentada como requisito para obtenção do título de Bacharel em Psicologia

na Universidade do Vale do Itajaí – Centro de Educação UNIVALI - Biguaçu. Orientador: Prof. Ms. Henry Darío Cunha Ramírez

BIGUAÇU 2006

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IDENTIFICAÇÃO ÁREA DE PESQUISA: Psicologia Jurídica

TEMA: Psicologia Jurídica

TÍTULO DA PESQUISA: Psicologia Jurídica: as contribuições e conhecimentos teórico-

metodológicos da Ciência Psicológica importantes na atividade profissional de um juiz

ALUNA Nome: Flávia Carolina de Fávere

Código de Matrícula: 05.1.4962

Centrode Educação da UNIVALI - Biguaçu Curso: Psicologia Semestre: 2006/1

ORIENTADOR Nome: Henry Dário Cunha Ramírez

Categoria Profissional: Psicólogo clínico e Professor

Titulação: Mestre

Curso: Psicologia

Centro: Biguaçu

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FLÁVIA CAROLINA DE FÁVERE

PSICOLOGIA JURÍDICA: CONTRIBUIÇÕES E CONHECIMENTOS

TEÓRICO-METODOLÓGICOS IMPORTANTES NA ATIVIDADE

PROFISSIONAL DE UM JUIZ

Este trabalho de Conclusão de Curso foi considerado aprovado, atendendo os requisitos parciais para obter o título de Bacharel em Psicologia na Universidade do Vale do Itajaí – Centro de Educação UNIVALI – Biguaçu.

Biguaçu, julho 2006

Banca Examinadora Prof.

Ms. Henry Darío Cunha Ramírez

Profa

Ms. Mirella Alves de Brito

Prof.

Ms. Leandro Castro Oltramari

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Dedico esta monografia aos meus pais,

que estão sempre ao meu lado, ajudando

quando necessário e ao meu namorado

pelo carinho e apoio.

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AGRADECIMENTOS Em especial, ao meu orientador Henry Darío Ramirez Cunha, pela paciência, orientações e

incentivos no decorrer deste trabalho.

Aos meus pais Leonir e Valfredo, por fazerem parte da minha vida nos momentos agradáveis

e difíceis. Pelas oportunidades, dedicação e carinho.

Ao meu namorado Guilherme, pela compreensão, apoio e carinho.

A banca examinadora, Mirella e Leandro, por ter aceitado o convite de participar da minha

defesa e pelas contribuições.

A Universidade do Vale do Itajaí por oferecer a oportunidade de realizar esta monografia.

Enfim, a todas as pessoas que contribuíram de alguma maneira para a realização deste

trabalho, a minha lembrança e o meu obrigada.

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RESUMO

FÁVERE, Flávia Carolina de. Psicologia jurídica: as contribuições e conhecimentos

teórico-metodológicos da Ciência Psicológica importantes na atividade profissional de

um juiz. 2006, 63f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia).

Universidade do Vale do Itajaí. Biguaçu, 2005.

Reconhecer as contribuições do psicólogo no campo da justiça e os conhecimentos dessa ciência, poderia favorecer a uma prestação jurisdicional que atenda as reais necessidades de uma sociedade, bem como, proporcionar um bem-estar psicológico aos jurisdicionados. Nesse sentido, com a finalidade investigar as contribuições e conhecimentos da Psicologia importantes na atividade de um juiz, entrevistaram-se duas psicólogas e quatro juízes. Verificou-se que os quatro juízes demonstraram considerar as contribuições dos psicológos importantes nas suas atuações. No entanto, apenas um juiz utiliza desse tipo de serviço freqüentemente. Sendo assim, se consideram relevante o trabalho do psicólogo, por que não solicitam? Isso, talvez, esteja associado com a inexistência do cargo de psicólogo no primeiro grau de jurisdição de Santa Catarina, pois quando esses juízes tiveram disponível o trabalho voluntário de psicólogos ou quando puderam usufruir do trabalho de psicólogos que atuam em programas sociais, esses serviços eram mais constantes. Em relação aos conhecimentos psicológicos, tanto as psicólogas quanto os juízes salientaram a importância desses na atividade profissional de um juiz. Porém, não conseguiram fornecer informações significativas acerca de quais conhecimentos seriam esses. Espera-se, assim, com essa pesquisa demonstrar a relevância da Ciência Psicológica no campo da justiça, na atividade profissional de um juiz. Palavras-chaves: Psicologia, Direito, conhecimentos psicológicos, contribuições psicológicas.

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO......................................................................................................... 8

2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................ 10

2.1 Antecedentes históricos: Psicologia Jurídica no Brasil e no mundo........................ 10

2.2 Definições acerca do objeto da Psicologia Jurídica................................................. 13

2.3 Atuação profissional do psicólogo jurídico no Brasil.............................................. 15

2.4 Um breve relato sobre as contribuições e conhecimentos teórico-metodológicos da

Ciência Psicológica importantes na atividade profissional de um juiz.................... 22

3.METODOLOGIA..................................................................................................... 26

3.1 Tipo de pesquisa....................................................................................................... 26

3.2 Sujeitos da pesquisa.................................................................................................. 26

3.2 Instrumento............................................................................................................... 27

3.3 Procedimentos.......................................................................................................... 28

3.4 Análise dos dados..................................................................................................... 28

4.RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................... 30

5. CONCLUSÃO........................................................................................................... 51

6. REFERÊNCIAS....................................................................................................... 53

7. ANEXOS................................................................................................................... 56

7.1 ANEXO 1................................................................................................................. 57

7.2 ANEXO 2.................................................................................................................. 59

7.3 ANEXO 3.................................................................................................................. 61

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1. INTRODUÇÃO

A atividade exercida pelo juiz apresenta objetivos jurídicos, sociais e políticos. No

plano jurídico, tem a finalidade de manter a eficácia do direito no caso concreto, mediante

lesão ou ameaça a direito; quer dizer, visa a resolução de conflitos jurídicos. No plano social,

corresponde a pacificação social com justiça e a educação para o exercício dos direitos e

obrigações. E em nível político, inclui a afirmação do poder do Estado (de sua capacidade de

decidir imperativamente), a garantia de participação democrática e controle desse poder pela

sociedade (concretização do valor liberdade) – DINAMARCO APUD RODRIGUES, no

prelo.

No que diz respeito ao primeiro objetivo, o objetivo jurídico, inúmeros juristas já

demonstraram que o conhecimento técnico-jurídico não é suficiente para garantir a eficácia do

direito no caso concreto, mediante violação. È preciso considerar os aspectos psicossocias

relacionados à situação conflitiva. É através desse conhecimento da realidade, da

compreensão acerca dos fenômenos psicossociais que determinam o comportamento humano,

que será possível encontrar uma melhor solução com base na legislação.

A própria Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro (LICC), em seu art. 5o,

confirma essa hipótese, ao descrever o critério de interpretação e aplicação da legislação

brasileira: “na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às

exigências do bem comum”.

Se conhecer a realidade na qual se pretende solucionar é imprescindível na atividade

de um juiz, logo, torna-se importante adquirir outros saberes que estudam e intervêm sobre

essa realidade: Filosofia, Sociologia, Antropologia, Medicina, Psicologia.

A Ciência Psicológica, em especial, tem contribuído com os seus conhecimentos sobre

o comportamento humano e com os seus serviços junto aos operadores do Direito desde o

século XVIII. No início, ela se fundamentava exclusivamente nas avaliações psicológicas,

chamadas de perícia psicológica. Essas perícias aconteciam, principalmente, no campo do

Direito Penal.

Atualmente, observa-se uma atuação mais intervencionista além daquela

diagnóstica, voltada também para a mediação e atendimentos psicológicos. Há quem afirme,

ainda, a possibilidade do psicólogo jurídico atuar não apenas em nível de execução, mas de

planejamento como orientar a administração de estabelecimentos carcerários na definição de

políticas penais. Concomitantemente a ampliação de novas formas de atuação, houve também

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a propagação do trabalho do psicólogo e do conhecimento psicológico para outras áreas do

Direito além do Direito Penal, tais como: Direito de Família, Direito da Infância e Juventude,

Direito do Trabalho e Direito Civil.

Com o propósito de estudar a relação entre a Ciência Psicológica e a Ciência

Jurídica, esta pesquisa fundamenta-se na investigação sobre as contribuições e conhecimentos

teórico-metodológicos da Psicologia importantes na atividade profissional de um juiz.

A fim de responder o problema de pesquisa, procurou-se, primeiramente, identificar

na literatura científica as contribuições da Psicologia Jurídica a um operador do Direito. Essa

revisão bibliográfica foi organizada em quatro tópicos, a saber: Antecedentes históricos:

Psicologia jurídica no Brasil e no mundo; Definições acerca do objeto da Psicologia Jurídica;

Atuação profissional do psicólogo jurídico no Brasil; e Um breve relato sobre as contribuições

e conhecimentos teórico-metodológicos da Ciência Psicológica importantes na atividade

profissional de um juiz.

Em seguida, entrevistaram-se quatro juízes de direito que atuam ou atuaram nas áreas

de Direito de Família, Direito da Infância e Juventude, Direito do Trabalho e Direito Penal e

duas psicólogas que realizam ou realizaram serviços psicológicos aos juízes. Buscou-se

investigar, mais especificamente, nessa etapa: com que freqüência e em que circunstâncias os

juízes solicitam os serviços psicológicos; com que freqüência e em que circunstâncias são

realizadas trabalhos psicológicos a um juiz pelos psicólogos jurídicos; e quais são os subsídios

psicológicos que contribuem no exercício das funções de um juiz.

Com esses dados coletados foram elaboradas categorias, expostas na forma de oito

tabelas e foi feita a interpretação desses dados à luz do aporte teórico, visando responder o

problema de pesquisa e destacar a importância da Psicologia no campo jurídico.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Antecedentes históricos: Psicologia Jurídica no Brasil e no mundo

Refletir a respeito das contribuições da Ciência Psicológica ao campo do Direito

significa necessariamente remeter a história. O estudo da história sobre o intercâmbio entre

essas duas áreas de conhecimento permite perceber quais foram os avanços obtidos e

fornecem “pontos de partida”, nortes para que se pense sobre as novas possibilidades de

intercruzamento. Essa articulação que se tenta criar entre a Psicologia e o Direito é chamada

de Psicologia Jurídica, Psicologia Judiciária, Psicologia Forense.

Para Ribeiro (1997 apud ASSIS, 1999), o termo “Psicologia Jurídica” indica

qualquer espécie de trabalho psicológico desenvolvido junto à Ciência do Direito, enquanto a

expressão “Psicologia Judiciária” ou “Psicologia Forense” se aplica à função judicante, está

ligada com a função de julgar do magistrado. Por outro lado, há quem entenda que a

Psicologia Jurídica e Forense são expressões sinônimas, sendo que a primeira terminologia é

mais usada no Brasil e a segunda na Argentina. Diferenciam-se da Psicologia Judiciária,

especialmente, pelo contexto de trabalho. Na Psicologia Judiciária, o local de atuação do

psicólogo se restringe a instituição jurídica, juízo e tribunal, na Psicologia Jurídica ou

Forense, ela abrange qualquer espaço no qual possa ser desenvolvido um trabalho psicológico

junto à Ciência do Direito. Na verdade, a ausência de uma terminologia específica que

expresse esse intercâmbio representa a dificuldade atual em delimitar quais são as

possibilidades e limites desse intercruzamento.

É na passagem da Idade Média para a Modernidade, provavelmente, que aparecem

as primeiras obras, demonstrando a possibilidade de interconexão entre esses dois saberes,

mais exatamente entre a Psicologia e o Direito Penal. Em 1792, Hausen publica A

necessidade de conhecimento psicológico para julgar os delitos, com base nas reclamações

dos próprios juristas a respeito da necessidade do conhecimento psicológico para realizarem

as suas atividades periciais. Schauman escreveu nesse mesmo ano A idéia da Psicologia

Criminal. Em 1799, Much publica Influência da psicologia criminal sobre um sistema de

direito penal. No ano de 1835, publica-se a obra intitulada o Manual sistemático de

psicologia judicial, no qual ressalta-se a importância da Antropologia e Psicologia como

disciplinas auxiliares da correta atividade judicial (SANTOS FILHO et al, 2003).

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Na vertente psicanalítica também sobressai uma série de trabalhos, evidenciando a

relação entre Psicanálise e o Direito Penal. A psicanalista Melanie Klein, por exemplo,

apresentou, em 1934, um simpósio sobre o crime, durante uma reunião da Seção Médica da

Sociedade Psicológica Britânica; as idéias relatadas por essa autora nesse simpósio, no

entanto, só foram publicadas em 1981, com o título Sobre a Criminalidade. O próprio

Winnicott, um outro consagrado psicanalista, publicou em 1987 um artigo denominado A

natureza e a origem da tendência anti-social (SANTOS FILHO et al, 2003). Há ainda, um

outro marco teórico O Manual da Psicologia Jurídica (1945), de Mira Y Lopes, que teve

grande repercussão no ensino e na prática profissional do psicólogo até recentemente

(ALTOÉ, 2005).

Não é difícil compreender a razão, ou melhor, as condições sócio-históricas que

contribuíram nesse intercâmbio. A modernidade é marcada pelo individualismo que preconiza

o homem como um ser livre, cidadão, portador de razão. Com esse referencial, passou-se a

definir o crime como decorrência do livre arbítrio do sujeito (Direito Clássico), justificando,

num primeiro momento, a imputação da responsabilidade a quem simplesmente cometesse

um delito. Em seguida, com o questionamento sobre a autonomia do indivíduo, de sua

capacidade de se autogovernar e determinar a sua vontade (Direito Positivo), passou-se a

solicitar conhecimentos advindos de outras áreas, o que favoreceu a “psicologização do

processo jurídico” (JACÓ-VILELA, 1999) - “[...] e toca no sistema de ordenação do mundo

do indivíduo moderno que busca cada vez mais dentro de si as certezas e os significados de

sua vida, sendo que, para tanto, muitos buscam os profissionais psicólogos” (SANTOS

FILHO, 2003, p. 1956).

No campo prático, a primeira manifestação entre Psicologia e Direito ocorreu no

final do século XIX, através da apuração das verdades nos processos penais pela validação do

testemunho – Psicologia do Testemunho. Se antes a verdade dos relatos do testemunho era

verificada por métodos coercitivos, a partir de então, com a introdução dos conhecimentos

psicológicos nos processos judiciários, passam a ser utilizados métodos de exploração

psicológica, exames psicológicos (BERNARDI, 1999).

O aparecimento dessa prática voltada para a avaliação da fidedignidade de relatos de

testemunhos, na verdade, está ligada com o desenvolvimento da Psicologia Experimental e

com a difusão de pressupostos positivistas (BRITO, 2005).

Estudos sobre memória, percepção e sensação realizados nos primeiros laboratórios

de Psicologia Experimental, foram fundamentais para o surgimento e consolidação da prática

relativa ao exame dos testemunhos. A “crença” em pressupostos positivistas como a

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objetividade e a neutralidade, igualmente, culminaram na consagração de métodos de exame e

instrumentos de medidas - técnicas vistas como neutras, objetivas e de caráter universal.

Imaginava-se, nessa época, que a incorporação do método quantitativo e das concepções

empregadas pelas Ciências Naturais, propiciariam as Ciências Humanas e Sociais a sua

legitimação enquanto ciência (BRITO, 2005).

É nesse tipo de prática, eminentemente pericial, que a Ciência Psicológica inicia a

sua aproximação com a Ciência Jurídica. E, foi através dessa atividade psicodiagnóstica,

sobretudo, que a Psicologia conseguiu de fato se propagar para outras áreas do Direito, além

da Penal: Família, Infância e Juventude, Civil e Trabalho.

Na realidade, no contexto brasileiro, o trabalho do psicólogo no âmbito da justiça

constitui-se sobremaneira pela perícia até a década de 80 (ALTOÉ, 2005). As mudanças na

prática profissional, as novas formas de atuação no final do século XX, em parte, pode ser

apontada pelas transformações das instituições políticas e das legislações do país.

Com a abertura política, após longo período de regime militar, e a promulgação da

nova Constituição brasileira em 1988, intensificou-se no país uma discussão importante sobre

a cidadania e os direitos humanos, “trazendo” conseqüências, inclusive, para as diversas

ciências e até para a Psicologia. No que concerne a essa forma de conhecer, a ciência, essa

nova ordem nacional possibilitou a construção de um cenário propício para o implemento e

difusão de um novo modelo de investigação e intervenção, mais filosófico, político e

questionador.

Concomitantemente, surgiram dentro desse panorama novas legislações

infraconstitucionais, dentre elas o Estatuto da Criança e do Adolescente, promulgado em

1990; esse Estatuto veio a substituir o Código de Menores (1927-1990). Se, por um lado, o

Código de Menores se restringia a regular situações de crianças e adolescentes em risco ou em

condições irregulares, o Estatuto se dispõe a tratar dos direitos e deveres de todas as crianças e

adolescentes brasileiros, considerando-os sujeitos de direitos e deveres. Passa-se a privilegiar,

com a nova lei, a responsabilidade do Estado, da sociedade, dos estabelecimentos de

atendimento e dos pais para com essa população em nível de promoção e prevenção de saúde

(ALTOÉ, 2005).

No que diz respeito ao trabalho do psicólogo jurídico, essas alterações legais

contribuíram significativamente para o questionamento de uma prática relacionada à

elaboração do laudo, parecer, relatório. Começa-se a pensar acerca de novos modos de

inserção no interior da Justiça da Infância e Juventude e no Poder Judiciário como um todo.

Passa-se a dar ênfase a um trabalho voltado a “[...] informar, apoiar, acompanhar e dar

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orientação pertinente a cada caso atendido nos diversos âmbitos do sistema judiciário”

(ALTOÉ, 2005, p. 7).

Com efeito, o ensino universitário tentou se ajustar a essa nova cultura em

formação. Na Universidade do Rio de Janeiro (UERJ) em 1980 havia sido criado uma área de

concentração, inserida no curso de especialização em psicologia clínica, chamada

“Psicodiagnóstico para Fins Jurídicos” (BRITO, 1999 apud ALTOÉ, 2005). Seis anos mais

tarde, formou-se o curso de especialização em psicologia jurídica, ficando ligada ao

departamento de psicologia social e não mais ao departamento de clínica. “Esta mudança

favoreceu uma ênfase muito menor às preocupações da clínica (ao psicodiagnóstico, em

particular), voltando-se para questões pertinentes à psicologia social” (ALTOÉ, 2005, p. 5).

Esse “salto qualitativo” de um mero avaliador de fenômenos psicológicos em

contextos jurídicos para uma prática mais voltada a intervenção propriamente dita, tem, em

certa medida, propiciado de modo gradativo a criação do cargo de psicólogo jurídico junto ao

Poder Judiciário em distintas localidades do Brasil. O psicólogo, assim, passa a ser visto como

um funcionário concursado, exercendo funções distintas daquelas exercidas quando atuava

exclusivamente como perito autônomo. Logo, essa ampliação nos modos de atuação tem

favorecido não só para o surgimento de novas possibilidades de trabalho, como também

expressa claramente o reconhecimento desse profissional e a sua legitimação nesse contexto.

2.2. Definições acerca do objeto da Psicologia Jurídica

Na Idade Média, a forma predominante de conhecer o mundo era a religião. O

homem era definido pelas posições relativas que ocupava no seio social (nobre, servo, pai,

filho, artesão...) – JACÓ-VILELA, 1999. Com o advento da Modernidade, no final do século

XVIII, a ciência passa a ocupar o lugar da religião preferencialmente, cria-se um novo modelo

de vida social, uma nova concepção de homem.

A Revolução Francesa de 1789 representa um dos símbolos que evidencia essa nova

organização social, o período moderno. Se antes, na França, certos segmentos da sociedade

(nobreza e clero) detinham determinados benefícios, com a tomada do poder político pela

classe burguesa, surge a chamada “sociedade de indivíduos iguais”, todos passam a ser

destinatários da mesma regra - igualdade jurídica. Gradativamente se incorpora a idéia de que

o ser humano é um sujeito dotado de razão, livre e igual aos demais de sua espécie.

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No entanto, o discurso moderno pautado no princípio de isonomia “sociedade de

indivíduos iguais”, não esconde as diferenças existentes entre os homens. De acordo com

Jacó-Vilela (1999), essas diferenças, inicialmente, foram explicadas pelo Romantismo alemão

pela noção de interioridade e num segundo momento, pelas ciências.

Com efeito, foi no contexto moderno que emergiu uma nova forma de conhecer, a

ciência, a Psicologia, a Psicologia Jurídica – “as luzes que descobriram as liberdades

inventaram também as disciplinas” (FOUCAULT, 1997, p. 195). Dessa forma, falar em

ciência implica necessariamente definir o seu objeto de estudo e de intervenção, seus

objetivos, seus métodos.

Para que uma ciência seja denominada como tal, há que se determinar seu objeto e seus métodos. Do objeto de estudo derivam os objetivos de tal ciência e estes podem ser definidos a partir da natureza do fenômeno ou processo que se pretende estudar/pesquisar/produzir conhecimento. Pode-se, enfim, verificar a expressão do objeto de estudo de uma ciência em sua dimensão objetiva quando se definem os objetivos desta ciência. Os métodos utilizados no estudo do objeto e que visam alcançar a dimensão objetiva da ciência são as teorias ou sistemas teóricos conceituais que explicam o fenômeno ou processo investigado (CUNHA et al, 2005a, p.1).

Logo, o que se pretende chamar a atenção é sobre a importância de se definir o

objeto da Psicologia Jurídica, os seus objetivos, os seus aportes teóricos de maneira a orientar

a sua prática, a sua inserção em contextos jurídicos e ainda, legitimá-la.

Uma tentativa de delimitação do objeto foi indicada por Cunha et al (2005a, p.1)

como sendo “[...] fenômenos psicológicos em contextos jurídicos, estes, por sua vez,

caracterizados pelas relações com a lei, o direito e a moral (ética)”. Em contrapartida, esses

mesmos autores afirmam que, do ponto de vista da epistemologia, a idéia de objeto de estudo

ou a possibilidade da Psicologia Jurídica apresentar-se como uma especialidade em Psicologia

é algo até então confuso. Isso porque, especialmente no Brasil, existe uma confluência de

psicologias que trabalham com os fenômenos dessa ordem no ambiente jurídico; por isso,

ressaltam a exigência de “[...] destacar os fenômenos psicológicos neste contexto, pois se se

tem as dimensões do fenômeno, organiza-se a interpretação da realidade a partir das

diferentes abordagens que já existem” (CUNHA et al, 2005a, p.1). E acrescentam:

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há que identificar, então, quais as variações teóricas e metodológicas de interpretação do que, se quer ou se tem identificado como objeto de estudo da Psicologia Jurídica. Lembrando que, (...), será difícil especificar um método que dê conta dos fenômenos encontrados neste contexto, da mesma forma que parece pretensiosa a idéia de unidade metodológica e teórica em uma ciência. Assim, a diferença de métodos pode levar a uma confusão em relação ao que se define como objeto de estudo de uma ciência (CUNHA et al, 2005a, p.1).

Quanto à finalidade dessa especialidade em Psicologia, Cunha et al (2005a)

explicita que se o objeto deve ser concebido de acordo com todas as suas dimensões e nos

contextos onde se expressa, a resolução do conflito, portanto, seria um dos objetivos

almejados pela Psicologia Jurídica. Em outras palavras, se o conflito tende a ser caracterizado

como típico de relações jurídicas, a intervenção nesses contextos aparece pela resolução

desses e a Psicologia, mais especificamente, a Psicologia Jurídica se introduz nesse meio,

objetivando, em última instância, alcançar esse fim.

Essa dificuldade em estabelecer quais são as possibilidades e limites da Psicologia

Jurídica, aliás, também está expressa na própria confusão terminológica: Psicologia Jurídica,

Forense, Judiciária etc, semelhante ao que ocorreu em outras especialidades em Psicologia

(clínica, organizacional, etc) e típicas de um conhecimento que pretende encontrar a sua

identidade (CUNHA et al, 2005b).

Observa-se, assim, algumas tentativas em conceituar o seu objeto de estudo e

desdobramentos – objetivos e métodos – como condição fundamental para se pensar e fazer

ciência, caso contrário, deve-se designá-la de outro modo que não essa forma de conhecer

renomada na modernidade, isto é, de ciência .

2.3. Atuação profissional do psicólogo jurídico no Brasil

A atuação profissional do psicólogo junto à justiça brasileira inicia na década de 80,

num cenário marcado pela saturação do mercado, sobretudo, na área clínica e pela

conseqüente busca por novos espaços de atuação profissional (COSTA e CRUZ, 2005).

Os levantamentos sobre a profissão de psicólogo no Brasil realizados no ano de

1988, 1994 e em 2001 pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) colaboram com essa idéia.

A profissão de psicólogo no Brasil, afirmam os dados da pesquisa, era formada por uma

população feminina, jovem, mal remunerada e atuante principalmente na área clínica, mais

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exatamente em consultórios – na verdade, até 1980 existiam somente três grandes áreas na

Psicologia: educação, trabalho e clínica, com a prevalência da última. Nesse sentido, esses

levantamentos indicam não apenas as características particulares de uma profissão

recentemente regulamentada (sua regulamentação ocorreu em 1962), mas a necessidade de

abertura de novos campos de atuação; aparecem as seguintes áreas: psicologia da saúde, do

trânsito, do esporte, ambiental e, ainda, jurídica (COSTA e CRUZ, 2005).

De acordo com a classificação Brasileira de Ocupações - CBO – (2002) o psicólogo

jurídico atua no âmbito da justiça para:

a) colaborar no planejamento e execução de políticas de cidadania, direitos humanos

e prevenção da violência, centrando sua atuação na orientação do dado psicológico repassado

não só para os juristas como também aos indivíduos que carecem de tal intervenção;

b) possibilitar a avaliação das características de personalidade e fornecer subsídios

ao processo judicial, além de contribuir para a formulação, revisão e interpretação das leis:

avalia as condições intelectuais e emocionais de crianças, adolescentes e adultos em conexão

com processos jurídicos, seja por deficiência mental e insanidade, testamentos contestados,

aceitação em lares adotivos, posse e guarda de crianças, aplicando métodos e técnicas

psicológicas e/ou de psicometria, para determinar a responsabilidade legal por atos

criminosos;

c) atuar como perito judicial nas Varas Cíveis, Criminais, Justiça do Trabalho, da

Família, da Infância e do Adolescente, elaborando laudos, pareceres e perícias, para serem

anexados aos processos, a fim de realizar atendimento e orientação a crianças, adolescentes,

detentos e seus familiares;

d) orientar a administração e os colegiados do sistema penitenciário sob o ponto de

vista psicológico, usando métodos e técnicas adequados, para estabelecer tarefas educativas e

profissionais que os internos possam exercer nos estabelecimentos penais;

e) realizar atendimento psicológico a indivíduos que buscam a Vara de Família,

fazendo diagnósticos e usando terapêuticas próprias, para organizar e resolver questões

levantadas; participa de audiência, prestando informações, para esclarecer aspectos técnicos

em psicologia a leigos ou leitores do trabalho pericial psicológico;

f) atuar em pesquisas e programas sócio-educativos e de prevenção à violência,

construindo ou adaptando instrumentos de investigação psicológica, para atender às

necessidades de crianças e adolescentes em situação de risco, abandonados ou infratores;

elabora petições sempre que solicitar alguma providência ou haja necessidade de comunicar-

se com o juiz durante a execução de perícias, para serem juntadas aos processos; realiza

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avaliação das características de personalidade, através de triagem psicológica, avaliação de

periculosidade e outros exames psicológicos no sistema penitenciário, para os casos de

pedidos de benefícios, tais como mudança de regime, livramento condicional e/ou outros

semelhantes;

g) assessorar a administração penal na formulação de políticas penais e no

treinamento de pessoal para aplicá-las;

h) realizar pesquisa visando à construção e ampliação do conhecimento psicológico

aplicado ao campo do direito;

i) realizar orientação psicológica a casais em vias de separação e auxiliar nas

audiências de conciliação;

j) realizar atendimento a crianças envolvidas em situações que chegam às

instituições de direito, visando à preservação de sua saúde mental;

l) auxiliar juizados na avaliação e assistência psicológica de crianças e seus

familiares, bem como assessorá-los no encaminhamento a terapias psicológicas quando

necessário;

m) prestar atendimento e orientação a detentos e seus familiares visando à

preservação da saúde;

n) fazer acompanhamento de detento em liberdade condicional, na internação em

hospital penitenciário, bem como atuar no apoio psicológico à sua família;

o) desenvolver estudos e pesquisas na área criminal, constituindo ou adaptando os

instrumentos de investigação psicológica.

Assim, com base na CBO (2002), um dos papéis que o psicólogo pode exercer junto

à justiça, é o de perito. Sua função está associada ao assessoramento de magistrados em suas

tarefas de julgamento. Para Grisso (1986 apud ROVINSKI, 2000), o assessoramento prestado

pela figura do perito (seja psicólogo ou não) a esse operador do Direito se refere a questões

ligadas a capacidades individuais físicas, mentais e/ou sociais, relacionadas à vida passada,

presente ou futura do sujeito, o periciado.

Nesse sentido, o perito, com formação em Psicologia, elabora laudos, utilizando

como recursos de investigação as entrevistas, os testes psicométricos, as técnicas projetivas,

os protocolos (dados de arquivo) e informações de familiares e terceiros – nota-se que as

fontes não devem se restringir ao periciado, mas a todas as fontes consideradas relevantes. No

momento atual, a perícia psicológica na área forense acontece na Varas Cíveis, Criminais,

Justiça do Trabalho, da Família e da Infância e da Juventude (ROVINSKI, 2000).

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O trabalho do psicólogo na área penal/criminal, por exemplo, pode suceder em 2

momentos do andamento processual: num período anterior à definição da sentença, quando se

verificará a responsabilidade penal (imputabilidade) do acusado, ou depois de deferida a

sentença, durante a fase de execução da pena, através do exame criminológico (ROVINSKI,

2000).

No primeiro caso, antes da definição da sentença, o exame psicológico visa

determinar se o sujeito que supostamente cometeu o ato criminoso é imputável ou

inimputável1. A imputabilidade se refere à capacidade do sujeito que infringiu a lei

reconhecer o caráter injusto e ilícito de sua ação no momento do delito e de dirigi-la conforme

esse entendimento2. Caso fique comprovado esse fato, a imputabilidade, ele será

responsabilizado com uma sanção penal, a pena. No entanto, se caracterizar o inverso, a

inimputabilidade, receberá uma medida de segurança, ou melhor, permanecerá internado num

manicômio judiciário por tempo indeterminado até que seja verificada a cessação de sua

“periculosidade” por uma perícia médica (ROVINSKI, 2000).

Na segunda possibilidade de perícia psicológica, realiza-se o exame criminológico

com a finalidade de uma adequada classificação, com vistas à individualização da execução

da pena ou quando o sujeito já está cumprindo a pena e pretende-se lhe conceder

determinados benefícios, como o livramento condicional, a progressão de regime prisional

etc3. Assim, enquanto no primeiro busca-se por meio do exame criminológico uma descrição

da personalidade do preso, no segundo, analisa-se a resposta do condenado à “terapêutica

penal”, a probabilidade de reincidência (ROVINSKI, 2000).

No que tange o trabalho do psicólogo na área do Direito de Família, a perícia está

associada, preferencialmente, a questões familiares de maus-tratos, guarda de filhos,

destituição do poder familiar e interdições (ROVINSKI, 2000).

Recorre-se a perícia psicológica no Direito de Família, quando é preciso avaliar as

competências específicas. Procura-se avaliar a competência parental quanto à relação com a

criança e não a uma característica pessoal individual. No exame da retirada ou manutenção do

poder familiar, verifica-se a competência do genitor de poder garantir o bem-estar de seus

filhos (ver Estatuto da Criança e Adolescente, Lei n. 8069), o grau de incongruência entre as 1 Na verdade, o exame para verificação de responsabilidade penal é feito preferencialmente por peritos médicos, psiquiatras, exercendo o psicólogo uma posição auxiliar. 2 O próprio Código penal de 1984 aborda no art. 26 quem é o sujeito caracterizado como imputável: “é isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com este entendimento”. 3 Na realidade, em virtude da escassez de recursos humanos e materiais, o exame criminológico tem se restringido àqueles realizados para a concessão de benefícios.

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habilidades parentais e as necessidades da criança. A avaliação psicológica referente à disputa

de guarda dos filhos e determinação de visitas consiste em comparar as qualidades dos pais

com as necessidades e interesses das crianças; não pressupõe, portanto, a confirmação de uma

incompetência ou incapacidade por parte de um dos genitores para que o outro seja o guardião

da criança (GRISSO, 1986 apud ROVINSKI, 2000).

Na área cível, a perícia psicológica constitui-se pela avaliação de danos psíquicos

para uma possível compensação4. Para Castex (1997 apud ROVINSKI, 2000), a noção de

dano psíquico envolve uma lesão, parcial ou global, no funcionamento psicológico da pessoa,

de modo a provocar uma deterioração, disfunção, distúrbio ou transtorno que, afetando esferas

afetiva e/ou intelectiva, limita sua capacidade de gozo individual, familiar, laboral social e/ou

recreativo. Por outro lado, o dano moral diz respeito ao sofrimento, a uma perturbação

psicofísica, que “coloca” o sujeito entre a enfermidade e o pleno gozo de saúde (ROVINSKI,

2000). Assim, ambos interferem na saúde do periciado, embora o dano psíquico tende a se

aproximar mais de um quadro patológico; por isso, há quem afirme que o primeiro se

restringe à perícia psicoforense e a segunda aos agentes jurídicos (CASTEX, 1997 apud

ROVINSKI, 2000).

Convém acrescentar que a valorização desse serviço psicológico, a perícia

psicológica, até os dias atuais, vem sendo acompanhada por uma certa crença em torno da

Ciência Psicológica. Espera-se que ela forneça respostas até então inacessíveis aos operadores

do Direito, visando a busca pela verdade.

É sabido, ademais, que a atividade do psicólogo no campo da justiça não se limita à

avaliação psicológica, ao diagnóstico. Foi na área de Direito de Família e Direito da Infância e

Juventude a partir da década de 90, no Brasil, que o profissional de psicologia foi

“assumindo” uma postura mais intervencionista através dos atendimentos psicológicos breves,

de orientação ou encaminhamentos. Esses acompanhamentos psicológicos embora não

aconteçam sob modalidade psicoterapêutica, possibilitam a amenização de conflitos

intrapsíquicos ou inter-relacionais e a atenuação do sofrimento psicológico (ASSIS, 1999).

Com adolescentes que haviam cometido atos infracionais e estavam envolvidos com

drogas, por exemplo, o atendimento psicológico pode se configurar pela criação de um espaço

grupal de reflexão (BELÉM e TEIXEIRA, 1999). No grupo de adolescentes usuários de

drogas, desse modo, busca-se: “[...] oferecer um espaço de informação e reflexão a respeito do 4 Utiliza-se o termo compensação a indenização referente ao dano moral e psíquico, em decorrência da dificuldade de se valorar na forma de pecúnia as perdas ligadas ao afeto, à moral ou à imagem pessoal. Em contraste, usa-se a expressão ressarcimento ao dano patrimonial em função desse poder ser mensurado matematicamente com maior precisão.

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uso/abuso de substâncias químicas, favorecendo o conhecimento das possíveis causas e

conseqüências deste uso/abuso e as implicações sociais e jurídicas decorrentes”

(ZANDONADI, 1997 apud BELÉM e TEIXEIRA, 1999, p. 67).

Logo, a intervenção, baseada na elaboração e ressignificação da relação do

adolescente com drogas, decorre de uma perspectiva de cuidados com a saúde. Ultrapassa-se a

perspectiva de “correção” de comportamentos, visando concretizar o próprio sentido que o

Estatuto da Criança e do Adolescente prevê enquanto garantia de direitos fundamentais, tais

como o direito à saúde (BELÉM e TEIXEIRA, 1999).

Concomitantemente com o grupo de adolescentes, é possível realizar grupos com

pais cujos filhos cometeram atos infracionais. Nesse ambiente procura-se proporcionar uma

reflexão coletiva sobre as informações que estão recebendo (os direitos e deveres de seus

filhos, os caminhos que irão percorrer no Judiciário etc.) e sobre as suas próprias vivências

enquanto pais de jovens que infringiram a lei (BELÉM e TEIXEIRA, 1999).

Admite-se, ainda, a possibilidade de construção de um grupo de orientação para pais

guardiães e casais adotantes, coordenados por um psicólogo. Pretende-se, nesse caso, fornecer

apoio a essas pessoas no momento anterior da habilitação (dúvidas sobre a elegibilidade etc.)

e num momento posterior a essa etapa, com a criança já sob responsabilidade do guardião ou

do casal adotante (PIRES, 1997 apud BELÉM e TEIXEIRA, 1999). É um espaço, portanto,

no qual se aborda aspectos legais, noções de desenvolvimento infanto-juvenil e as próprias

motivações, fantasias e responsabilidades sobre o ato de adotar ou ser guardião (BELÉM e

TEIXEIRA, 1999).

A mediação, por sua vez, é uma outra maneira de intervenção psicológica no

ambiente jurídico. Trata-se de um processo extrajudicial no qual uma terceira pessoa

imparcial, o mediador, tende a facilitar a comunicação entre as partes, de modo a ajudá-las na

resolução de seus conflitos (CUNHA e MELLO, 2005).

Um mediador não pode pretender modificar a conduta de seus clientes, mas ‘apenas procurará fazer com que obtenham um nível equilibrado de informações para tomar decisões’, dado que ‘o objetivo não é somente solucionar o conflito, mas ajudar as partes a percebê-lo de forma diferente’ (BREITMAN e PORTO, 2001 apud CUNHA e MELLO, 2005, p.163).

E Vezzulla (2001 apud CUNHA e MELLO, 2005, p. 163-164) acrescenta:

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[...] a necessidade de se obter uma visão integrada no processo de mediação, onde os envolvidos nesse processo aceitam como um fato que cada um tem uma visão diferente dos acontecimentos e da realidade e por meio do trabalho de escutar-se entre si, conseguem criar uma nova visão [...].

É um método de resolução de conflitos alternativo e complementar a Justiça formal,

logo, não é um substituto à via judicial. Para Dantas (2003 apud CUNHA e MELLO, 2005), a

mediação é um processo que favorece uma solução mais fácil, rápida e menos onerosa. Isso

acontece porque além de reduzir os litígios nos fóruns judiciais, contribui para que a relação

entre as partes em litígio seja, de certa forma, preservada, promovendo uma qualidade na

relação entre os litigantes. É importante um trabalho diferenciado como a mediação,

sobretudo no caso de conflitos familiares, na medida que trabalham com interações sociais

que, muitas vezes, necessitam de uma certa continuidade (CUNHA e MELLO, 2005). É o

caso, por exemplo, da questão da guarda e de visita na qual os pareceres psicológicos

descrevem a dinâmica familiar das partes e evidenciam a responsabilidade de ambos na

manutenção do litígio; finaliza-se o parecer técnico com a decisão construída pela família, ao

invés de laudos que sugerem aquele que está mais habilitado em ser o guardião, proposto

unilateralmente por um profissional, o psicólogo (RIBEIRO, 1999).

A mediação, enquanto prática profissional relativa à justiça, é realizada

preferencialmente por advogados e assistentes sociais, além dos psicólogos. CUNHA e

MELLO (2005) apontam alguns elementos que tornam um profissional formado em

Psicologia competente para dirimir conflitos:

A mediação familiar executada por profissionais psicólogos poderá ter uma escuta diferenciada por incluir elementos que outros profissionais não consideram, como ser, aspectos emocionais ou aqueles que transcendem o discurso objetivo e podem ser compreendidos como a manifestação da subjetividade e da presença de conteúdos inconscientes (p. 160).

As controvérsias encaminhadas para esse tipo de intervenção, aliás, costumam

suceder no curso de um processo pela solicitação direta de um juiz, por vontade das partes ou

inclusive, a pedido do representante do Ministério Público. É possível, no entanto, que a

busca por esse processo alternativo e completar a Justiça formal ocorra antes do ingresso em

juízo, em virtude da conscientização do mediandos acerca de seus conflitos e da oportunidade

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de solucioná-los de uma maneira mais amistosa (DANTAS, 2003 apud CUNHA e MELLO,

2005).

Com essa breve exposição de algumas possibilidades de atuação do psicólogo no

Judiciário, percebe-se que a sua intervenção consiste na orientação do fenômeno psicológico

transmitido a juristas, subsidiando as suas decisões e aos sujeitos que carecem de uma

compreensão de seu sofrimento psíquico. Sua atuação, portanto, contribui tanto para

agilização processual quanto para o entendimento de singularidades com base nos

atendimentos prestados; ou ainda, a atividade do psicólogo se “aproxima” do campo jurídico,

ganha relevância, na medida que se consolida como uma prática que visa a prevenção da

violência e a execução de políticas de cidadania e de direitos humanos (ASSIS, 1999).

2.4. Um breve relato sobre as contribuições e conhecimentos teórico-metodológicos da

Ciência Psicológica importantes na atividade profissional de um juiz

Em princípio, uma sociedade almeja que um juiz, durante o seu exercício

profissional, produza justiça ao garantir os direitos de todos os cidadãos. A valorização do

Poder Judiciário e desse agente público, o juiz, está associada, dessa forma, com a capacidade

de resolver rapidamente e com equidade os conflitos de direito, contribuindo para a

implantação e preservação de um Estado Democrático de Direito (DALLARI, 1997).

Contudo, especialmente no Brasil, o Judiciário tem se apresentado perante a

sociedade como uma instituição lenta, formalista, elitista e distante da realidade, o que limita

significativamente o seu papel de garantidor de direitos e distribuidor da justiça.

Essa imagem negativa, em grande parte, se deve a uma preocupação excessiva com

a legalidade em detrimento da justiça. Trata-se de uma herança do positivismo jurídico

desenvolvido no século XIX que, por sua vez, incorporou um preceito de Platão,

desenvolvido posteriormente por Aristóteles: ‘um governo de leis é melhor do que um

governo de homens’ (DALLARI, 1997, p.81).

Concomitantemente, colaborando com essa idéia, existe a frase célebre de

Montesquieu: ‘Os juízes não devem ser mais do que a boca que pronuncia as palavras da lei,

seres inanimados que não podem moderar nem a força nem a rigor da lei’ (DALLARI, 1997,

p. 89).

Na América Latina, o legalismo formal adquiriu relevância, sobretudo, pela

influência das obras de Hans Kelsen, jurista de origem austríaca considerado por alguns como

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o pai do Direito. Esse autor criou uma “teoria pura do direito” ou teoria normativa que

desconsiderou os fundamentos filosóficos e sociais e concebeu o direito como uma simples

forma que aceita qualquer conteúdo. O direito, assim, se restringia simplesmente ao conjunto

de regras postas pelo Estado, independente de seu conteúdo (DALLARI, 1997).

É sabido, no entanto, que essa restrição do direito à lei, a construção de decisões

judiciais pautadas exclusivamente pelo critério de interpretação literal da lei, não tem sido

suficiente para garantir resoluções democráticas no qual vigore a ética e a justiça. Ademais,

tem favorecido para que muitos juizes não assumam a responsabilidade pelos efeitos políticos

e sociais que muitas vezes decorrem de suas decisões (DALLARI, 1997).

O excesso de apego à legalidade formal pretende, consciente ou inconscientemente, que as pessoas sirvam à lei, invertendo a proposição razoável e lógica, segundo a qual as leis são instrumentos da humanidade e como tais devem basear-se na realidade social e serem conformes a esta (DALLARI, 1997, p.83-84).

Na própria Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro (LICC), em seu art. 5o, é

descrito o critério de interpretação e aplicação da legislação brasileira: “na aplicação da lei, o

juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. Logo, para

Dallari: “[...] o juiz não só pode, mas na realidade deve procurar alternativas de aplicação que,

preservando a essência das normas legais, estejam mais próximas da concepção de justiça

vigente no local e no momento de aplicação” (1997, p.97).

Em outras palavras, a atuação desse agente público deve ser orientada para proteger

e beneficiar a pessoa humana, para assegurar a justiça nas relações entre as pessoas e os

grupos sociais (DALLARI, 1997).

Nesse sentido, é necessário que o magistrado desenvolva determinadas habilidades e

atitudes e adquira, ao longo de sua formação profissional, uma série de conhecimentos que

extrapolem aqueles técnico-jurídicos, de maneira a implementar um sistema judiciário

eficiente e democrático, voltado às necessidades da sociedade.

Pressupõe-se, assim, que tenha condições para:

[...] avaliar com independência, equilíbrio, objetividade e atenção aos aspectos humanos e sociais, as circunstâncias de um processo judicial, tratando com igual respeito a todos os interessados e procurando, com firmeza e serenidade, a realização da justiça ( DALLARI, 1997, p. 26).

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A consciência sobre a importância da presença do direito e da justiça no

desenvolvimento da pessoa humana e nas relações sociais implica, igualmente, a aquisição de

noções básicas de disciplinas relacionadas com os comportamentos humanos, como a

antropologia, a sociologia e, inclusive, a psicologia (DALLARI, 1997).

O desenvolvimento de uma certa sensibilidade e a obtenção de conhecimentos

provenientes de outras áreas na avaliação dos comportamentos humanos torna-se

significativa, em virtude de que independente do conflito jurídico, os aspectos psicossociais

estarão presentes, por isso a necessidade do profissional saber reconhecê-los na busca pela

efetivação da justiça (DALLARI, 1997).

Contudo, embora seja expressivo o número de publicações científicas que revelam a

importância dos conhecimentos psicológicos e de outros saberes na formação do magistrado,

não são mencionados na literatura quais seriam esses conhecimentos teórico-metodológicos e,

como e onde desenvolvê-los – deve-se ministrar, por exemplo, matérias de Psicologia nas

faculdades de Direito? Ou cabe as escolas da magistratura o ensino específico de disciplinas

psicológicas ligadas com a atividade do juiz?

Saber aplicar o conhecimento dessas disciplinas na análise das situações-problemas

que aparecem no Judiciário para serem solucionadas, permite a esse agente público não só

solucionar o caso concreto de maneira a promover a justiça, mas também reconhecer que,

muitas vezes, precisará recorrer a contribuições de um profissional com um outro tipo de

formação.

Esse reconhecimento significa perceber quando e em que circunstâncias a

colaboração de um outro profissional, dentre eles, a do psicólogo jurídico, é imprescindível.

Isso porque nem sempre um jurista, em especial o magistrado, consegue “dar conta” sozinho

da resolução de uma dada conflitiva, de uma demanda judicial, em decorrência de suas

próprias limitações enquanto profissional. Além disso, sabe-se que a multidisciplinaridade ou

interdisciplinaridade tende a favorecer um trabalho mais assertivo, que esteja mais de acordo

com as reais necessidades da sociedade atual.

Sobre as contribuições por parte de um psicólogo jurídico a um juiz, essas podem

ser desde a elaboração de um laudo, parecer ou relatório (daí a relevância de um juiz saber

distinguir cada um desses instrumentos e identificar quando e em que situações eles podes ser

utilizados e, por conseguinte, serem solicitados) até os trabalhos desenvolvidos com grupos de

reflexão e a mediação. Segundo Assis (1999), é da competência dessa categoria profissional,

estabelecer medidas comprometidas com o bem-estar psicológico dos envolvidos em autos

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processuais, seja pela determinação de acompanhamento psicológico ou encaminhamentos,

como procedimentos intrínsecos às decisões judiciais.

Assim, o que se pretende chamar a atenção é a importância de “aproximar” a lei da

realidade social na construção de decisões mais democráticas, éticas e justas. E demonstrar,

igualmente, “[...] uma possibilidade diferente de realizar a Justiça, abandonando uma visão

linear para uma compreensão sistêmica e circular dos fatos jurídicos (RIBEIRO, 1999, p.

169).

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3. METODOLOGIA

3.1. Tipo de pesquisa

A presente pesquisa sobre as “contribuições e conhecimentos teórico-metodológicos

da Ciência Psicológica importantes na atividade profissional de um juiz” é de cunho

qualitativo. A opção pelo método qualitativo fundamenta-se na busca por uma compreensão

mais profunda sobre o fenômeno que se pretende pesquisar – “[...] os métodos qualitativos

enfatizam as especificidades de um fenômeno em termos de suas origens e de sua razão de

ser” (HAGUETTE, 1999, p. 63).

3.2. Sujeitos da pesquisa

Participaram como sujeito da pesquisa seis pessoas, quatro juízes e duas psicólogas.

A opção em selecionar seis profissionais se deve ao espaço de tempo relativamente curto para

a elaboração da pesquisa e por considerar esse número adequado para o alcance dos objetivos. Com relação aos juízes, foram entrevistados aqueles que atuaram ou atuam nas seguintes

áreas de Direito: Família, Infância e Juventude, do Trabalho e Criminal. Em outras palavras,

foram entrevistados um juiz de Família, um juiz da Infância e Juventude, um juiz do Trabalho

e um juiz Criminal, sendo que esse último é o único que não trabalha mais nessa área, a

criminal, e sim em outra área do Direito. Sobre os psicólogos, entrevistaram-se aqueles que

realizam ou realizaram serviços psicológicos aos juízes, seja diretamente ou não.

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Tabela 3.2

Caracterização dos Sujeitos

Características dos sujeitos

Juiz de Família

Juiz do Trabalho

Juiz da Infância e Juventude

Juiz Criminal

P1

P2

Sexo

Formação

Cargo atual

Tempo na função de

juiz ou psicólogo

Masc.

Mest./ Esp.

Juiz/ Prof.

17 anos

Masc.

Mest.

Juiz

15 anos

Masc.

Mest./ Esp.

Juiz/ Prof.

14 anos

Fem.

Esp.

Juiz

17 anos

Fem.

Mest.

Psicóloga

20 anos

Fem.

Esp.

Psicóloga

20 anos

3.3. Instrumento

O instrumento de coleta dos dados que foi utilizado na referida pesquisa é a

entrevista semi-estruturada (ver anexo 1, relativo ao roteiro de entrevista que será aplicado

com os juízes e o anexo 2, roteiro de entrevista que será aplicado com os psicólogos

jurídicos). A escolha por essa técnica consiste na possibilidade de elucidar o objeto de estudo

seguindo um roteiro, o que favoreceu uma certa comparação do material coletado entre os

entrevistados, ao mesmo tempo em que permitiu a eles, entrevistados, uma certa liberdade de

manifestação sobre o assunto abordado, contribuindo para uma investigação mais profunda do

fenômeno.

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3.4. Procedimentos

Primeiramente, foram selecionados seis profissionais, dois psicólogos e quatro

juízes. A seleção dos psicólogos baseou-se na indicação do professor de Psicologia da

Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Henry Dário Cunha Ramírez, que também é o

orientador desta monografia. A seleção dos juízes, por outro lado, baseou-se na indicação por

professores de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que lecionam as

disciplinas de Direito de Família, Infância e Juventude, Trabalho e Criminologia. Priorizou-se

entrevistar aqueles que residem em Florianópolis, em virtude do curto espaço de tempo, os

psicólogos que trabalharam ou trabalham com juízes e ainda, os juízes que atuaram ou atuam

nas áreas da Família, Infância e Adolescência, Criminal e Trabalho. Foram entregues aos

sujeitos da pesquisa, no dia da entrevista, um termo de consentimento a fim de garantir a

manutenção do anonimato, a utilização de um gravador para o registro fiel dos dados e lhes

foi prometido que seria entregue os dados da pesquisa no término dessa. As entrevistas

iniciaram no mês de abril/2006, dando ensejo à fase de coleta de dados.

3.5. Análise dos dados

Após a coleta dos dados por meio da entrevista semi-estruturada e a releitura do

material bibliográfico, realizou-se a análise dos dados, entendida, segundo Gomes (1994),

como a etapa de descrição e interpretação dos dados. Minayo (1992 apud GOMES, 1994)

apresenta quais são as três finalidades presentes nessa fase:

[...] estabelecer uma compreensão dos dados coletados, confirmar ou não os pressupostos da pesquisa e/ou responder às questões formuladas, e ampliar o conhecimento sobre o assunto pesquisado, articulando-o ao contexto cultural da qual faz parte. Essas finalidades são complementares, em termos de pesquisa social (p. 69).

A análise dos dados, na verdade, constituiu-se pela análise de conteúdo. Assim, os

conteúdos obtidos com a entrevista foram “trabalhados” através da elaboração de categorias.

Para Gomes (1994) a categoria se refere a uma expressão, conceito que visa abranger

elementos ou características comuns ou que se relacionam entre si. Essas categorias serão

escolhidas a posteriori, após a concretização das entrevistas.

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De acordo com Selltiz et al (1965 apud GOMES, 1994) existem três princípios que

regem o estabelecimento de categorias: o conjunto de categorias deve ser estabelecido com

base num único princípio de classificação, quer dizer, no uso de um mesmo critério para o

estabelecimento das categorias; um conjunto de categorias deve ser exaustivo, permitindo a

inclusão de qualquer resposta numa das categorias do conjunto; e as categorias devem ser

mutuamente exclusivas, ou melhor, uma resposta não pode ser incluída em mais de duas

categorias.

E, por último, com a elaboração das categorias já concluída, foi feita a interpretação

desses dados à luz do aporte teórico, visando responder às questões da pesquisa com base em

seus objetivos.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Estão dispostos em oito tabelas, os resultados obtidos através das entrevistas com

juízes e psicólogos e, em seguida, realizou-se a discussão relativa a cada uma delas. As duas

primeiras tabelas se referem a relevância da contribuição do psicólogo jurídico a um juiz, as

quatro seguintes, as modalidades de atuação do psicólogo jurídico e as duas últimas, a

importância do conhecimento psicológico na formação de um juiz.

A relevância da contribuição do psicólogo jurídico a um juiz

Escolheu-se uma única categoria nas tabelas 4.1 e 4.2 - relevância do serviço do

psicólogo jurídico – em função de que as duas psicólogas e os quatro juízes demonstraram nas

entrevistas a importância da atividade psicológica no campo da justiça em pelo menos alguma

modalidade de atuação do psicólogo jurídico.

Tabela 4.1

Distribuição da quantidade de psicólogos que consideram relevante a contribuição do

psicólogo no campo da justiça

Categoria

Unidade de contexto elementar

Frequência

Relevância do serviço do psicólogo jurídico

“O psicólogo pode contribuir, assessorando o magistrado em todas as questões relacionadas à Psicologia” – P1.

“O psicólogo esclarece situações de inter-relações

familiares, suas dinâmicas como também as características de personalidade do indivíduo analisado. Estes dados

fornecerão sempre algum subsídio a mais que se somarão a totalidade dos fatos contidos nos autos do processo,

ampliando a visão do magistrado” – P2.

2

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A tabela 4.1 assinala que as duas psicólogas consideram a atuação do psicólogo

relevante no campo da justiça e que essa contribuição ajudaria no trabalho de um magistrado.

Isso pode ser evidenciado quando afirmam sobre a importância da perícia psicológica.

A Psicóloga 2 (P2), ademais, indica que esses esclarecimentos alcançados com a

perícia são referentes a situações intrafamiliares, as suas dinâmicas e as características de

personalidade do sujeito analisado. Expõe que esses dados favorecem para a ampliação da

visão do juiz.

Diante desses dados, percebe-se que a atuação dessas duas psicólogas se refere

exclusivamente a perícia psicológica, o que vai ao encontro da literatura científica que destaca

essa modalidade como a principal no âmbito jurídico. Todavia, isso pode indicar também que

o trabalho do psicólogo ainda se encontra muito limitado a essa atividade e que é preciso

demonstrar novas possibilidades de atuação que legitimem a sua profissão nesse campo.

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Tabela 4.2

Distribuição da quantidade de juízes que consideram o serviço do psicólogo jurídico

relevante nas suas atuações profissionais

Categoria Unidade de contexto elementar Frequência

Relevância do serviço do psicólogo jurídico

“Já, na qualidade de juiz de família [...] o conhecimento de Psicologia [...] acaba proporcionando resultado de muito

valia para o juiz definir, sobretudo, as questões atinentes à guarda de filhos menores” - juiz de Família.

“[...] diante da complexidade das demandas e da

intensidade dos conflitos familiares, o Estado deveria ter pelo menos junto a juízes de Família, a juízes da Infância e Juventude e a juízes Criminais [...] esse tipo de apoio que se mostra fundamental não só para solucionar os

processos, mas também para evitar a reincidência” - juiz de Família.

“não, nunca tive oportunidade de utilizar esse tipo de serviço. Não conhecia essa especialidade” - juiz do

Trabalho. “[...] na audiência, numa tentativa de conciliação, você percebe que às vezes o que está atrapalhando não é a

questão do valor, são esses resquícios psicológicos e o psicólogo está tecnicamente aparelhado para identificar

qual o resquício psicológico que está dificultando a solução [...]. Um juiz que é leigo em Psicologia fica se perguntando se houve dano moral, o laudo psicológico

seria mais um elemento [...]” - juiz do Trabalho.

“O tempo todo. Só dou um passo, aplicando e desaplicando uma medida, ouvindo os especialistas da

área [...]” - juiz da Infância e Juventude. “[...] eu atuei com psicólogos na Vara de família [...], envolvendo guarda e visita. Na Vara da Infância e Juventude, trabalhando com adolescentes infratores, com crianças vítimas de agressão, crianças para a adoção [...]” - juíza Criminal. “Eu acho que na Vara Criminal, ele ajudaria bastante [...]” - juíza Criminal.

4

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A tabela 4.2 demonstra que todos os juízes consideram relevante o trabalho do

psicólogo no campo da justiça, mais exatamente, na área de Direito de Família, Direito da

Infância e Juventude, Direito do Trabalho e Direito Penal.

O juiz de Família, por exemplo, menciona que esse trabalho ajudaria, sobretudo, na

solução dos conflitos jurídicos e evitaria a reincidência. Assinala, ainda, outras áreas do

Direito que poderiam usufruir da intervenção psicológica: Direito da Infância e Juventude e

Direito Penal.

O juiz da Infância e Juventude, por sua vez, afirma que as medidas de proteção e

sócio-educativas decididas por ele e que são aplicadas com as crianças e adolescentes, estão

diretamente vinculadas com o assessoramento psicológico.

E os juízes do Trabalho e Criminal, embora não utilizem essa contribuição em suas

respectivas áreas de trabalho, Direito do Trabalho e Direito Penal, identificam a sua

importância, seja relatando as circunstâncias em que esse trabalho poderia ser realizado (juiz

do Trabalho) ou simplesmente indicando expressamente isso “[...] na Vara Criminal ajudaria

bastante” (juíza Criminal).

O juiz do Trabalho supõe que o psicólogo poderia trabalhar como mediador em

questões que envolvem dano material, verbas trabalhistas, valores e que apresentam

resquícios psicológicos que dificultem a solução. Uma outra possibilidade seria através da

perícia psicológica, avaliando se houve (ou não) dano moral ou dano psíquico e as suas

extensões.

Além disso, a juíza Criminal indica que na área de Família e Infância e Juventude,

áreas na quais atuou anteriormente, é possível e já utilizou o serviço psicológico em questões

relativas a guarda e visita (Direito de Família) e em situações que envolveram adolescentes

que cometeram atos infracionais, crianças vítimas de violência e crianças para a adoção

(Dreito da Infância e Juventude). Contudo, ela não especificou qual era a modalidade de

atuação do psicólogo referente a esses conflitos jurídicos (perícia, atendimento psicológico,

mediação).

Fica evidenciado com esses dados a possibilidade de trabalho e a importância do

profissional de Psicologia no campo da justiça. No entanto, “chama” atenção ao fato de

apenas dois juízes solicitarem esse tipo de serviço atualmente, o juiz da Infância e Juventude e

o juiz da Família. E, desses dois, somente o primeiro, o da Infância e Juventude, utiliza

freqüentemente. Nesse sentido, se consideram relevantes às contribuições do psicólogo nas

suas atuações profissionais, por que não solicitam?

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Modalidades de atuação do psicólogo jurídico

As três tabelas seguintes explicitam as três modalidades de atuação do psicólogo

jurídico: a perícia (tabela 4.3), o atendimento psicológico (tabela 4.4) e a mediação (tabela

4.5); mais especificamente, as circunstâncias ou conflitos jurídicos nos quais o profissional de

Psicologia poderia “lidar” no campo da justiça em cada uma dessas modalidades de atuação,

segundo a percepção dos quatro juízes.

Todas as três tabelas apresentam as mesmas categorias: uso efetivo e importância

desse serviço. A primeira categoria, uso efetivo, pretende ressaltar os juízes que fazem o uso

real desse serviço, bem como, a sua freqüência e circunstâncias. A segunda, importância desse

serviço, representa aqueles juízes que não solicitam esse trabalho, embora, revelem a sua

importância e indiquem as circunstâncias nas quais essa atuação poderia se efetivar.

Na verdade, em algumas falas dos juízes que utilizam o trabalho do psicólogo,

também se observa que eles significam como importante esse tipo de atuação, entretanto,

preferiu-se permanecer com essas as categorias uso efetivo e importância desse serviço por

considerá-las “estratégicas” no momento da interpretação dos dados.

Na tabela 4.6 também se evidencia as modalidades de atuação exercidas pelo

psicólogo no campo da justiça e as circunstâncias relativas a cada modalidade de atuação,

porém, se referem as atividades praticadas pelas duas psicólogas entrevistas nesse ambiente.

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Tabela 4.3

Distribuição da freqüência e das circunstâncias em que são solicitadas ou poderiam ser

solicitadas as perícias psicológicas pelos juízes nas suas atuações profissionais

Categoria Unidade de contexto elementar Frequência

Uso efetivo

“A perícia [...] ocorre de maneira muito rara [...]. Nós já contamos aqui [...] do trabalho voluntário de psicólogos. Quando esse trabalho esteve disponível [...] o auxílio era mais freqüente. Atualmente, quando nós precisamos, nos

valemos do serviço da UFSC. Não existe o cargo de psicólogo forense no 1o grau de jurisdição que é uma tragédia, razão pela qual o serviço não está disponível

como a gente gostaria. [...] esse serviço se mostra muito importante [...] nas questões atinentes a guarda de filhos

[...]” - juiz de Família. “Já usei em processos de habilitação de pretendentes uma psicóloga voluntária. [...] ela fez uns quatro ou cinco [...]. Todas as fases de acompanhamento de qualquer medida aplicada, são medidas que vão ao trabalho do psicólogo

[...]. [...] e vem os laudos, dizendo a evolução deles [...]” - juiz da Infância e Juventude.

“[...} um adolescente que a medida seja internação [...]. Lá

tem psicólogos que faz esse trabalho e me manda os relatórios, dizendo que ele não precisa ficar mais preso,

ele pode cumprir em meio aberto, liberdade assistida [...]. E o que se tem são psicólogos dos programas que nos

atendem [...]” - juiz da Infância e Juventude. “O tempo todo dependo desses laudos. [...]. Se dali a dois dias, a criança aparece na rua de novo, eu entrego aos pais

e inclusão da mãe num programa de orientação e apoio sócio-familiar, onde têm psicólogos. E depois vem um

estudo ou da assistente social ou do psicólogo, me dizendo que a mãe se conscientizou, motivo pelo qual não há uma necessidade que ela continue fazendo o programa. [...]” -

juiz da Infância e Juventude.

2

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Importância desse serviço

“A área mais óbvia que o psicólogo poderia contribuir é essa do dano moral, do dano psíquico [...]. Falando

especificamente de problemas trabalhistas, o empregado que tem um chefe muito autoritário, agressivo, que cria uma situação de psicoterror. [...]. Acho que o assédio

sexual também tem resquícios psicológicos que o psicólogo poderia analisar melhor, se houve ou não [...]” -

juiz do Trabalho.

“[...] na Vara Criminal, nunca usei [...]. Seria muito interessante a colaboração principalmente na oitiva de

uma vítima em crimes de ordem sexual, na oitiva de um acusado. [...]. Quando a gente ouve um acusado num

crime de violência sexual, a gente vê com o nosso olhar, que não é um olhar experiente como o do psicólogo. [...].

Na inquirição de vítimas também porque às vezes o acusado nega, não há provas materiais do delito, mas a

vítima acusa, às vezes vingança” – juíza Criminal. “Eu acho que na Vara Criminal, ele ajudaria bastante. [...]

porque o psicólogo jurídico faria uma entrevista com o apenado [...]. [...] me traria outros elementos [...]. Os

termos do interrogatório criminal, aquelas perguntas do CPC que ninguém pergunta: tu és casado, és solteiro [...], tu não consegues ter um olhar sobre a pessoa [...]. [...] até

para dosar a pena” - juíza Criminal.

2

A tabela 4.3 apresenta uma das possibilidades de atuação do psicólogo jurídico, a

perícia psicológica. Dos quatro juízes, dois, o juiz de Família e Infância e Juventude,

afirmaram utilizá-la, porém, apenas esse último solicita de maneira freqüente.

Ambos também disseram que já constaram de trabalhos voluntários de psicólogos no

Judiciário Catarinense e que, atualmente, esse trabalho pericial é realizado pelos alunos ou

professores de uma determinada universidade do Curso de Psicologia, no caso do juiz de

Família ou por psicólogos que atuam no sistema executivo, em programas sociais, no caso do

juiz da Infância e Juventude.

Uma das razões apontadas pelo juiz da Família sobre o fato de que a perícia

psicológica é indicada por ele raramente, se deve a não existência do cargo de psicólogo no 1o

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grau de jurisdição do Estado de Santa Catarina, por isso, em situações de extrema relevância

encaminha para um certo órgão da universidade.

Quanto às circunstâncias, o juiz de Família relatou que a perícia psicológica poderia

acontecer na área de Direito de Família, em situações que envolvessem a disputa da guarda de

seus filhos pelos pais.

Já o juiz da Infância e Juventude mencionou que a perícia acontece após a sua

sentença de mérito, a sua decisão judicial, quando a criança ou o adolescente está se

submetendo a determinadas medidas aplicadas por ele (medidas de proteção, tratando-se de

crianças ou medidas de proteção e sócio-educativas, no caso de adolescentes). Nessa fase, a

atuação de outros profissionais, dentre eles o psicólogo, estaria ligada a prestação de

assessoramento ao juiz sobre a situação que se encontra a criança, o adolescente ou os pais

inseridos num programa social.

Entre as inúmeras situações nas quais ocorrem as perícias psicológicas, segundo o juiz

da Infância e Juventude, destaca-se: o adolescente que se encontra numa instituição, em

virtude de ter praticado um ato infracional; a mãe que participa de um programa de orientação

e apoio sócio-familiar, em razão de seu filho ter sido encontrado mais de uma vez na rua. A

avaliação psicológica referente à internação do adolescente consiste em verificar se ele não

precisa mais permanecer nesse local, se ele pode freqüentar um outro programa social,

liberdade assistida ao invés de ficar internado. Com relação à avaliação psicológica da mãe

que participa do programa de orientação e apoio sócio-familiar, procura-se observar se ela se

conscientizou da situação de abandono que se encontrava o seu filho e das suas

responsabilidades no cuidado e proteção de seu filho.

O juiz do Trabalho e a juíza Criminal, em contraposição, nunca utilizaram esse tipo de

serviço psicológico nas suas respectivas áreas de atuação, Direito do Trabalho e Direito Penal,

embora considerem importante essa contribuição e relatem as circunstâncias nas quais isso

seria possível.

O juiz do Trabalho, por exemplo, cita as situações conflitivas que envolvem dano

moral e dano psíquico: assédio moral, assédio sexual e psicoterror (terror psicológico).

Tratam-se de formas de manifestação de violência psicológica no contexto de trabalho e que,

portanto, provocam dano moral ou psíquico. Para a juíza Criminal, o trabalho do psicólogo

enquanto perito poderia se caracterizar em entrevistas com os acusados de terem cometido um

crime, em especial nos crimes de violência sexual (estupro e atentado violento ao pudor), de

modo a obter uma compreensão mais ampla acerca dessa pessoa, do delito, o que auxiliaria na

dosimetria da pena.

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Verifica-se que apesar dos quatro juízes demonstrarem a relevância do trabalho do

psicólogo enquanto perito, apenas um, o juiz da Infância e Juventude, a solicita. No entanto,

essa perícia só é possível de ser realizada freqüentemente porque existem psicólogos que

atuam em programas sociais. Logo, elas só acontecem quando as medidas de proteção ou

medidas sócio-educativas já estão sendo aplicadas.

Outro dado que cabe salientar, é que em algumas áreas do Direito, especialmente na

área de Direito de Família, há outras circunstâncias que também podem ser encaminhadas

para a perícia psicológica, além daquelas mencionadas. Segundo Rovinski (2000), a perícia

está associada a questões familiares de maus-tratos, destituição de pátrio poder, interdição e

guarda de filhos. Já na área penal, ela também pode suceder antes da definição da sentença

para verificar se o sujeito que cometeu o ato criminoso é imputável, semi-imputável ou

inimputável; ou depois de deferida a sentença de mérito, visando numa adequada

classificação, com vistas à individualização da execução da pena ou quando o sujeito já está

cumprindo a pena e pretende-se lhe conceder certos benefícios: progressão de regime

prisional, livramento condicional etc.

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Tabela 4.4

Distribuição da freqüência e das circunstâncias em que são solicitados ou poderiam ser

solicitados atendimentos psicológicos pelos juízes nas suas atuações profissionais

Categoria

Unidade de contexto elementar

Frequência

Uso efetivo

“[...] um adolescente em liberdade assistida. É um programa em que fica em liberdade e de tempos em tempos, ele comparece num local. Nesses locais, a

dinâmica, pelo que eu tenho notícia [...], tem sessões conjuntas em grupo, grupo de reflexão e nesse grupo, ele

vai lidando com as questões a fim de evitar a reincidência, que ele entenda o que ele praticou etc. [...]” - juiz da

Infância e Juventude. “[...] um adolescente que a medida seja internação, ele fica no São Lucas. Lá têm psicólogas [...]. E o que se tem são

psicólogas dos programas que nos atendem, programa sentinela que é aquele que atende crianças vítimas de violência sexual [...]” - juiz da Infância e Juventude.

“[...] se dali a dois dias, a criança aparece na rua de novo, eu entrego aos pais e inclusão da mãe num programa de orientação e apoio sócio-familiar, onde têm psicólogas.

[...]” - juiz da Infância e Juventude.

1

Importância desse serviço

“[...] a gente precisaria de um acompanhamento expressivo nas cadeias públicas [...]” - juíza Criminal.

“Um serviço que é praticado de forma inédita no foro do Estreito, é o acompanhamento dos casais, pós-separação. [...] depois da definição da guarda, esse serviço continua

sendo relevante [...]” - juiz de Família.

2

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A tabela 4.4 mostra a freqüência e as circunstâncias em que são encaminhados ou

poderiam ser encaminhados atendimentos psicológicos pelos juízes. Nota-se que dos quatro

juízes, somente um, o juiz da Infância e Juventude, afirma solicitar esse tipo de serviço. Esses

atendimentos são realizados por psicólogos que atuam em programas sociais, a saber:

liberdade assistida, programa sentinela, programa de orientação e apoio sócio-familiar.

No programa liberdade assistida, por exemplo, desenvolve-se um trabalho com

adolescentes infratores; esses jovens ficam em liberdade, mas devem comparecer num

determinado local em certos momentos para refletirem sobre o ato infracional que cometeram;

almeja-se, principalmente, com esse projeto social, evitar a reincidência. Um outro programa,

o sentinela, atende crianças vítimas de violência sexual e o programa de orientação e apoio

familiar visa atender mães cujos filhos costumam não morar com elas, mas na rua. São nesses

programas que as psicólogas também realizam perícias psicológicas, subsidiando as decisões

judiciais do juiz da Infância e Juventude.

Os outros dois juízes, o de família e a da área criminal, embora, nunca tenham

indicado atendimentos psicológicos aos litigantes e/ou acusados, demonstram reconhecer a

importância e a possibilidade da existência desse trabalho.

Para o juiz de Família, o atendimento poderia ser desenvolvido com casais pós-

separação, que já disputaram a guarda de seus filhos no Judiciário e cujo grau de animosidade

entre eles, pais, esteja dificultando a guarda por um e a visitação pelo outro. Existiriam

sessões periódicas em grupo para que essas pessoas pudessem refletir a respeito desse

assunto, de maneira a facilitar o processo de guarda e visitação.

Já a juíza criminal cita a necessidade do psicólogo intervir no interior do sistema

carcerário. Mas como seriam esses atendimentos? Quais seriam as finalidades desse trabalho?

Embora, ela declare a possibilidade do psicólogo trabalhar nesse ambiente, soube definir um

dos locais de trabalho do psicólogo jurídico, não está evidenciado como poderia de fato

desenvolver um atendimento com base nos ensinamentos da Ciência Psicológica nesse local.

Na literatura científica consta que uma das atribuições do psicólogo jurídico nesses

estabelecimentos penais é orientar a administração, sob o ponto de vista psicológico, na

formulação de políticas penais como na definição de tarefas educativas e profissionais que os

internos, detentos possam exercer nesses espaços. Essa atividade, na verdade, não

corresponde a atendimentos propriamente, na medida que o psicólogo intervém em nível de

planejamento de políticas e não de execução, mas revela uma modalidade de trabalho no

interior desses estabelecimentos.

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O juiz do trabalho, por outro lado, não mencionou se poderia ou não ser efetivado

atendimentos psicológicos em casos ligados a conflitos trabalhistas, por isso, optou-se em não

criar uma nova categoria. A própria literatura, aliás, também não aborda sobre isso, se é viável

essa modalidade de atuação em casos envolvendo problemas trabalhistas.

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Tabela 4.5

Distribuição da freqüência e das circunstâncias em que são indicados ou poderiam ser

indicados serviços de mediação a um psicólogo pelos juízes nas suas atuações

profissionais

Categoria

Unidade de contexto elementar

Frequência

Uso efetivo

“[...] tive a oportunidade de começar esse trabalho lá por

2001 [...]. [...] a gente solicita o serviço de mediação familiar, mesmo depois do processo, quando a gente identifica que o grau de animosidade entre as partes, embora separados, é tal que acaba, prejudicando o

exercício da guarda por um e a visitação por outro [...]. Também é comum [...] quando a gente percebe que nos processos poucas questões acabam impedindo a solução consensual. Quando as audiências são inúmeras, a pauta está cheia [...] também nessas situações com processo em andamento, a gente solicita que as partes se submetam as

sessões de mediação familiar” - juiz de Família.

1

Importância

desse serviço

“Acho que o psicólogo tem bastante condição de atuar

nessa área, a mediação. [...] e os processos trabalhistas que cabem nesse tipo de serviço, eu acho que qualquer

processo. [...] nos processos trabalhistas [...] só se pedem verbas trabalhistas, o objeto que está se discutindo é só

valores, é mais fácil de negociar. [...] agora, uma coisa é o que está se discutindo no processo, outra é o que as partes

levaram da relação hostil. [...] e o psicólogo está tecnicamente aparelhado para identificar qual o resquício

psicológico que está dificultando a solução” - juiz do Trabalho.

“[...] eu acho que o psicólogo atuaria muito bem nos juizados especiais criminais. São crimes de menor

potencial ofensivo, às vezes, eles vêm travestidos de crime uma situação social, uma confusão de vizinhos que liga o

som mais alto para incomodar, xinga a vizinha quando essa passa [...]. [...] o Juizado Especial Criminal sempre

tem uma fase conciliatória antes para ver se as partes tentam resolver ali, para não virar um processo criminal.

Eu acho que essa mediação ali é importante” - juíza Criminal.

“Eu acho que nas Varas da Família o uso é muito grande,

vai desde a separação, as questões de divórcio, as questões de guarda, as interdições [...], o inventário [...]” - juíza

Criminal.

2

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A tabela 4.5 se refere a uma outra modalidade de atuação do psicólogo jurídico, a

mediação. Dos quatro juízes entrevistados, somente o juiz de Família afirma solicitar esse

serviço freqüentemente. A mediação familiar, ressalta o juiz de família, é solicitada em casos

que há a disputa de guarda de filhos pelos pais. Elas podem ocorrer com o processo em

andamento, quando existem poucas questões que dificultam a solução consensual ou quando

as audiências são inúmeras e a pauta está “cheia”, quer dizer, quando a audiência exige um

tempo maior do que aquele planejado, previsto e não há como postergá-la. Uma outra situação

apontada por ele, é após o término do processo, quando se verifica que o grau de animosidade

entre as partes está prejudicando o exercício da guarda e da visitação.

O juiz do Trabalho e a juíza Criminal relataram não usar a mediação, mas consideram

viável a prestação desse serviço pelo psicólogo. O juiz do trabalho, por exemplo, demonstra

que a mediação na área de Direito do Trabalho, poderia suceder em qualquer situação

trabalhista, inclusive, naquelas que implicam em danos materiais, no qual o trabalhador

reivindica verbas trabalhistas, pois imagina que possa haver, muitas vezes, resquícios

psicológicos que dificultam o acordo. Outras circunstâncias trabalhistas que poderiam se

“submeter” a esse tipo de serviço, são os casos que envolvem assédio sexual, assédio moral e

terrorismo psicológico no ambiente de trabalho, já que menciona “qualquer processo

trabalhista”.

A juíza criminal, por sua vez, acredita que a mediação poderia ocorrer na área criminal

em situações de menor complexidade, em situações que são julgados pelos Juizados Especiais

Criminais. Assim, afirma que poderia haver um serviço de mediação como já existe a

conciliação, evitando, muitas vezes, que aquele conflito jurídico se tornasse um processo

criminal. Um dos exemplos destacados por ela é uma confusão de vizinhos, quando um deles

liga o som mais alto para incomodar outro, quando um deles xinga a vizinha quando passa. A

juíza criminal também menciona conflitos familiares que poderiam se beneficiar com a

mediação, a saber: casos que envolvem separação, divórcio, guarda, interdição e inventário.

Em contrapartida, o juiz da Infância e Juventude supõe que esse trabalho em sua área

de trabalho não é viável. Segundo ele, não há um quadro de disputa configurado como na área

de família e trata-se de uma tomada de decisão que não apresenta um caráter consensual, por

isso, diz que nunca solicitou a mediação.

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Tabela 4.6

Distribuição da freqüência e das circunstâncias em que foram realizados serviços de

Psicologia Jurídica a um magistrado

Categoria

Unidade de contexto elementar

Freqüência

Perícia

Psicológica

“[...] uma outra situação foi os pareceres nos processos de habilitação de casais de adoção internacional [...] passam também pela avaliação do psicológo [...]. [...] a realização de perícias psicológicas no T.J. não acontece mais [...]” –

P1.

“[...] na Vara da Infância e Juventude, os processos mais comuns são os processos de abuso sexual e outros tipos de

violência contra criança e adolescente, colocação em família substituta, então guarda, tutela ou adoção, pedido

de abrigo e verificação da situação da criança e do adolescente, ato infracional praticado por crianças e

adolescentes e habilitação do cadastro de pais adotivos. Na Vara da Família, os processos mais freqüentes são o de separação, violência conjugal e pensão, disputa de guarda e regulamentação de visita, suspensão ou destituição do

poder familiar, suprimento de idade e consentimento para o casamento e interdição [...]. [...] processos de acidente

de trânsito. Eu lembro que foram dois, de uma menina que foi vítima de acidente de trânsito e os pais pediram

indenização em função das decorrências psicológicas do acidente, ela teve seqüelas físicas e psicológicas [...] e a

outra situação, um casal de argentinos que visitava o Estado de Santa Catarina. Eles sofreram um acidente e depois, voltando para a Argentina, tiveram que fazer acompanhamento psicológico e o juiz daqui também

solicitou que eu avaliasse a situação, se havia necessidade do acompanhamento [...]. Não são em grande quantidade

[...]” – P1.

2

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‘Trabalhei em delegacias de polícia [...] atendendo

mulheres vítimas de violência doméstica [...] e de crianças que já chegavam por agressão física e agressão sexual. Trabalhei no manicômio judiciário [...] nós fazíamos a avaliação que era pedida pelo juízo daquele detento,

paciente psiquiátrico. [...]. Viemos para cá e começamos a atender as vítimas. [...]. São solicitados por juízes,

Ministério Público e delegacia de polícia, [...] mais a delegacia de polícia [...]. [...] as perícias, na grande

maioria, são na parte sexual, na parte de violência física existe um ou outro caso. [...] nós estamos tratando,

orientando, avaliando porque a gente precisa daqueles dados para colocar no laudo para o juiz, mas nem todos são solicitados por ele. [...]. O tratamento desse paciente

dentro do manicômio [...] quando tempo ele vai ficar lá, se ele teria condições de ir para o presídio em vez de ficar no

hospital, tudo isso eram as avaliações psiquiátricas e as avaliações psicológicas. [...]. Trabalhei como perita do

juízo da 2a Vara de Família da Capital, este serviço teve duração de três anos. Na sua grande maioria, em

circunstâncias de disputa pela guarda e direito à visita dos filhos, nos casos de separação litigiosa. Foram bastantes

trabalhos [...]” – P2.

A tabela 4.6 mostra que todas as duas psicólogas entrevistadas relataram já ter feito

perícias psicológicas solicitadas por juízes, mas apenas a psicóloga 2 (P2) ainda desempenha

essa atividade atualmente.

De acordo com a psicóloga 1 (P1), esses trabalhos voltados a perícia não foram muitos

e estavam ligados a área de Direito de Família, Direito da Infância e Juventude e Direito

Civil. Na área da Infância e Adolescência, as circunstâncias que foram encaminhadas para o

serviço de perícia psicológica foram: situações que envolveram abuso sexual e outros tipos de

violência contra criança e adolescente; colocação em família substituta: guarda, tutela ou

adoção; pedido de abrigo e verificação da situação da criança ou adolescente; ato infracional

praticado por crianças e adolescentes e habilitação do cadastro de pais adotivos. Na área da

Família, as circunstâncias relacionadas com: separação; violência conjugal e pensão; disputa

de guarda e regulamentação da visita; suspensão ou destituição do poder familiar; suprimento

de idade e consentimento para o casamento e interdição. Na área do Civil, na avaliação do

dano psíquico decorrente de acidente de trânsito.

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A psicóloga 2, no momento atual, realiza perícias relacionadas a casos que envolvem

violência sexual (estupro e atentado violento ao pudor) e violência física, essa última situação,

no entanto, é pouco realizada. São solicitadas por Delegacias de Polícia, Ministério Público e

juízes. Ressalta que são as Delegacias de Polícia, principalmente, que indicam esse serviço,

mas quando essas não solicitam, é o Ministério Público que encaminha e se esse não indica, é

o próprio juiz. Nesse sentido, é possível compreender a razão pela qual as perícias

psicológicas costumam, em geral, ser indicadas pela Delegacia de Polícia, visto que é nesse

local onde as vítimas fazem a queixa contra o “agressor” e, independentemente por quem é

indicada a perícia, em última análise, ela constitui um meio probatório que fundamenta a

decisão do juiz, logo, ela é sempre analisada por esse profissional.

A psicóloga 2, ademais, já trabalhou em outros locais, Delegacia de Polícia e

manicômio judiciário, nos quais também exercia atividades de Psicologia Jurídica, perícia

psicológica, embora não declare explicitamente isso. Na Delegacia, afirma, que atendia

mulheres vítimas de violência doméstica e crianças que sofreram violência física ou sexual.

No manicômio judiciário, seu trabalho consistia em realizar avaliações psicológicas de

sujeitos que cometeram algum delito e que se encontravam no manicômio, em razão de sua

falta de capacidade de entender o caráter ilícito do fato que praticou e de determinar-se de

acordo com esse entendimento - inimputabilidade. Avaliavam se essa pessoa apresentava

condições de cumprir a pena privativa de liberdade no sistema carcerário ao invés de

permanecer no manicômio e receber uma medida de segurança, se poderia ser simplesmente

“solto”, dentre outros. Essas avaliações psicológicas eram solicitadas por juízes. A P2 também

mencionou que já atuou como perita autônoma do juízo da 2a Vara de Família da capital

durante três anos, em circunstâncias de disputa de guarda e direito à visita, sobretudo.

Declarou que elaborou muitos laudos psicológicos nessa época, embora não expressou a

quantidade exata.

Apesar de ambas as psicólogas apenas desempenharem atividades caracterizadas como

perícia psicológica, percebe-se os diferentes locais em que é possível ser efetivado esse

serviço: no próprio Poder Judiciário, na Delegacia de Polícia, no manicômio judiciário. Além

disso, principalmente a P1, indica uma série de circunstâncias ligadas às áreas de Direito de

Família, Direito da Infância e Juventude e Direito Civil que podem abranger as perícias

psicológicas, ampliando o rol de situações mencionadas pelos juízes e pela literatura.

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A importância do conhecimento psicológico na formação do juiz

As duas tabelas seguintes mostram a importância do conhecimento psicológico na

formação do juiz. A tabela 4.7 evidencia a percepção dos juízes sobre esse assunto e a tabela

4.8, a percepção dos psicólogos.

Tabela 4.7

Distribuição da freqüência de juízes que consideram o conhecimento psicológico

importante nas suas formações profissionais

Categoria

Unidade de contexto elementar

Frequência

Conhecimentos

psicológicos

“[...] e eu acho que para essas questões específicas – família, infância e juventude e crime – se tivessem noções básicas de psicologia, ajudaria no exercício da jurisdição”

- juiz da Família.

“[...] conhecimento psicológico para o juiz na hora de julgar, conseguir presumir se isso deve produzir um dano

moral” - juiz do Trabalho.

“[...] o que ajudaria muito, seria na identificação dos problemas [...]. [...] identificar determinadas situações que

só o psicólogo teria condições, nesse ponto o trabalho seria fundamental e proveitoso” - juiz da Infância e

Juventude.

“[...] eu acho que um viés psicológico que o juiz tenha, só venha a somar com o

conhecimento jurídico, só o texto da lei não basta. A gente viria o condenado, o indiciado de uma forma mais

completa, ele mais como homem [...]” - juíza Criminal.

4

A tabela 4.7 demonstra que os conhecimentos da Ciência Psicológica são percebidos

como importantes pelos juízes entrevistados na prática de suas funções. O juiz de Família,

inclusive, aponta as três áreas do Direito que poderiam se beneficiar desse tipo de

conhecimento, favorecendo na função jurisdicional realizada pelo juiz, a saber: Família,

Infância e Juventude e Criminal. O juiz do Trabalho revela que em sua área, Direito do

Trabalho, seria importante o conhecimento da Psicologia na avaliação se uma determinada

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situação produz dano moral. Para o juiz da Infância e Juventude, na identificação de

problemas, na identificação de variáveis de uma situação conflitiva que somente o psicólogo

teria condições de compreender em razão de sua formação, de seus conhecimentos. E a juíza

Criminal afirma que o conhecimento advindo dessa ciência possibilitaria o juiz perceber o

condenado e o indiciado de um determinado crime de forma mais integrada, completa, de

forma mais humana.

Verifica-se com esses dados que todos juízes mencionam, de alguma maneira, o

motivo pelo qual a Psicologia poderia contribuir nas suas formações, seja indicando as áreas

do Direito que esse conhecimento seria relevante, as situações conflitivas (conflitos jurídicos

que envolvem dano moral), ou ainda, pela possibilidade de permitir compreender um conflito

jurídico ou o homem de um modo mais abrangente, a partir de um outro ponto de vista.

Entretanto, não revelam que tipos de conhecimentos psicológicos seriam fundamentais nas

suas formações profissionais, o que de fato também não é evidenciado na literatura científica.

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Tabela 4.8

Distribuição da freqüência de psicólogos que consideram o conhecimento psicológico

importante na atividade de um juiz

Categoria

Unidade de contexto elementar

Freqüência

Conhecimentos

Psicológicos

“Penso que é fundamental que um juiz conheça aspectos básicos acerca de fenômenos e processos psicológicos, uma vez que mobilizam questões geradoras de conflitos

jurídicos e podem ser desencadeadas por esses conflitos” – P1.

“Noções de Psicologia geral, Psicologia Social e

Psicologia da comunicação que permitam identificar a necessidade de intervenção psicológica” – P1.

“Acho importante na formação do juiz o conhecimento da Ciência Psicológica [...]” – P2.

“Psicologia Jurídica” – P2.

2

A tabela 4.8 explicita que as duas psicólogas consideram importante na formação de

um juiz o conhecimento psicológico. De acordo com a fala da P1, a justificativa dessa

importância decorre do fato de fenômenos e processos psicológicos desencadearem conflitos

jurídicos e, em contrapartida, de conflitos jurídicos gerarem fenômenos e processos

psicológicos.

Quando indagadas sobre quais seriam esses conhecimentos da Psicologia, a P1

afirmou: Psicologia geral, Psicologia social e Psicologia da comunicação e a P2, Psicologia

jurídica. Apesar de identificarem disciplinas da Ciência Psicológica, as respostas evidenciam

uma idéia vaga, imprecisa, já que permanece a dúvida sobre que aspectos, assuntos dessas

matérias são significativos na prática das funções de um juiz.

Mesmo assim, a P1 assinalou um direcionamento na delimitação acerca desses

conhecimentos psicológicos “[...] que permitiam identificar a necessidade da intervenção

psicológica”. Talvez, seja possível descobrir esses conteúdos, delimitando, primeiramente,

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que aspectos são importantes no exercício jurisdicional para num segundo momento, perceber

o que a Psicologia pode contribuir.

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5. CONCLUSÃO

O estudo evidencia a importância do conhecimento psicológico na formação

profissional de um juiz e do trabalho do psicólogo no campo da justiça. Quanto às contribuições dos psicólogos, os quatro juízes, por exemplo, demonstraram,

em certa medida, conhecer as diferentes possibilidades de atuação do psicólogo jurídico

(perícia, atendimento psicológico e mediação) em suas respectivas áreas de atuação e,

inclusive, souberam indicar algumas circunstâncias nas quais o psicólogo poderia atuar no

âmbito jurídico. No entanto, “chama” atenção ao fato de apenas um, o juiz da Infância e

Juventude, solicitar o serviço psicológico freqüentemente. Sendo assim, se consideram

relevante o trabalho do psicólogo, por que não solicitam?

Uma possível resposta para a não solicitação de serviços psicológicos, conforme já

indicada anteriormente pelo juiz de Família, pode estar associada com a inexistência do cargo

de psicólogo no primeiro grau de jurisdição do Estado de Santa Catarina. Isso porque quando

esses juízes têm disponível o trabalho voluntário de psicólogos ou quando podem solicitar o

trabalho de psicólogos que atuam em programas sociais, esses trabalhos são mais constantes.

Ainda em relação aos juízes, verifica-se que há uma tendência desses profissionais em

perceber o trabalho do psicólogo jurídico unicamente como um mero auxiliar ao bom

exercício da justiça. Contudo, pesquisas mais recentes já revelam que essa atuação não se

restringe a orientação do dado psicológico ao juiz, mas, sobretudo, pela promoção do bem-

estar psicológico aos litigantes e/ou acusados.

Sobre as duas psicólogas entrevistadas, constatou-se que elas estão atuando ou

atuaram exclusivamente com psicodiagnóstico, perícia psicológica, no âmbito jurídico. Esse

dado pode indicar, possivelmente, que o trabalho do psicólogo jurídico ainda se encontra

muito restrito nessa modalidade. Seria preciso realizar novas pesquisas que comprovassem

essa hipótese e as razões disso.

Em relação aos conhecimentos psicológicos importantes na formação de um juiz, tanto

as psicólogas quanto os juízes salientaram que os conhecimentos advindos da Psicologia

poderiam contribuir na atividade jurisdicional do juiz. No entanto, não conseguiram fornecer

informações significativas acerca de quais conhecimentos seriam esses.

Diante disso, considera-se relevante novos estudos referentes a esse problema de

pesquisa, na medida que esse trabalho se restringiu as três possibilidades principais de atuação

do psicólogo no campo da justiça e não foi possível delimitar os conhecimentos psicológicos.

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Poderia haver pesquisas, indicando novas modalidades de trabalho que evidenciem uma

intervenção psicológica num nível de coordenação e planejamento além das modalidades

voltadas em nível de execução. Pesquisas que aprofundassem essas três modalidades

caracterizadas nessa pesquisa, mostrando outras circunstâncias, por exemplo. Ou ainda,

pesquisas relacionadas à delimitação de aspectos fundamentais para uma atividade

jurisdicional efetiva e adequada para num segundo momento, identificar no que os

conhecimentos teórico-metodológicos da Psicologia poderiam contribuir na formação do juiz.

Nesse sentido, a importância dessa pesquisa está em mostrar a relação existente entre a

Psicologia e o Direito, mais especificamente, a contribuição da Ciência Psicológica, seja com

os seus conhecimentos ou com os seus serviços, na atividade profissional de um juiz de

direito. Constatou-se, ademais, que muito mais do que propiciar a efetividade da atividade do

juiz, a Psicologia também pode proporcionar bem-estar psicológico aos jurisdicionados e a

materialização do acesso à justiça.

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ANEXOS

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ANEXO 1

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu...................................................................................................................................

...........fui informado(a) que está sendo realizada na UNIVALI uma pesquisa intitulada

“Psicologia Jurídica: contribuições e conhecimentos teórico-metodológicos importantes

na atividade profissional de um juiz” pela acadêmica Flávia Carolina de Fávere do 7º

período do Curso de Psicologia da UNIVALI – Centro de Educação Biguaçu, sob orientação

da professor Henry Darío Cunha Ramiréz.

O objetivo desta pesquisa, como o próprio título já sugere, é identificar quais são as

contribuições e conhecimentos teórico-metodológicos da Ciência Psicológica importantes na

atividade de um juiz. A fim de atingir tal objetivo, a acadêmica realizará entrevistas com

juízes e psicólogos jurídicos em exercício. Caso eu aceite participar, serei entrevistado (a)

individualmente e poderei obter os resultados, de maneira a contribuir para a minha atuação

profissional. A entrevista poderá ser gravada desde que eu concorde. Nesta entrevista serão

abordados assuntos sobre os subsídios e serviços psicológicos que contribuem na prática das

funções de um juiz.

Na divulgação dos resultados da pesquisa meu nome será omitido, não sendo

possível à identificação da autoria do depoimento. A divulgação dos resultados visará

somente ampliar os conhecimentos a respeito deste tema. Não há riscos previsíveis para os

sujeitos da pesquisa.

Estou ciente de que esta pesquisa não terá intuito financeiro, portanto nem o

pesquisador nem o pesquisando receberão remuneração para a realização da mesma.

Caso eu não concorde em participar, terei liberdade para informar em qualquer

momento da pesquisa, da maneira que achar conveniente, a minha desistência.

Após ter lido o presente termo e recebido verbalmente às informações acima, eu

decidi participar da pesquisa em questão, de forma livre e esclarecida, restringindo meu

consentimento em duas vias de igual teor, das quais uma fica em posse da pesquisadora e

outra minha.

Data:..............................................................................................................................................

Assinatura (de acordo):

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ANEXO 2

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Roteiro da entrevista semi-estruturada que será aplicado com um juiz

1. Dados pessoais

1.1. formação

1.2. atuação profissional

1.3. tempo de experiência no cargo atual

2. Na sua atuação profissional, você já utilizou o serviço de um psicólogo jurídico?

2.1.Você costuma usufruir do assessoramento psicológico com que freqüência? Em que

circunstâncias?

2.2. Você costuma solicitar atendimentos psicológicos, seja de acompanhamento ou

encaminhamento com que freqüência? Em que circunstâncias?

2.3. Com que freqüência você costuma indicar os serviços de mediação a um psicólogo? Em

que situações?

2.4. Na sua opinião, qual a contribuição do psicólogo jurídico no seu trabalho?

3. Na sua opinião, é importante na formação de um juiz o conhecimento psicológico?

3.1. Que tipo de conhecimentos teórico-metodológicos advindos da Psicologia?

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ANEXO 3

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Roteiro da entrevista semi-estruturada que será aplicado com um psicólogo jurídico 1. Dados pessoais

1.1. formação

1.2. atuação profissional

1.3. tempo de experiência no cargo atual

2. Na sua atuação profissional, você já prestou algum tipo de serviço psicológico a um

magistrado?

2.1. Quais?

2.2. Com que freqüência você costuma prestá-los?

2.3. Em que circunstâncias?

2.4. Na sua opinião, qual a contribuição do psicólogo jurídico no trabalho de um magistrado?

3. Na sua opinião, é importante na formação de um juiz o conhecimento psicológico?

3.1.Que tipo de conhecimentos teórico-metodológicos advindos da Psicologia?

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