Ética e psicologia forense
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1-Introdução
Na estação “cabalista” Parque do Metro de Lisboa, existe uma frase, atribuída a Giles
Deleuze: “ A Ética é estar à altura do que nos acontece”. Esta afirmação, na sua simplicidade
e latitude, consegue sintetizar, em nosso entender, todo o complexo jogo do indivíduo no
mundo. A disposição para a acção (intencionalidade), é o garante da transcendência dos seres
humanos, no intuito de se alcançar o livre arbítrio (que não existe na sua totalidade). Para
estar à altura dos acontecimentos, devemos estar conscientes de todas as possibilidades a
enfrentar, para que com isso, uma acção em potência se desenvolva, no sentido da melhor
resolução do fenómeno.
Por outro lado, ao vivermos em comunhão com todos os outros seres vivos do planeta,
e dado a tendência caótica do livre arbítrio, o ser humano deve-se munir de códigos, para que
os seus actos não provoquem a diminuição do livre arbítrio do “outro”.
Assim, a frase de Giles Deleuze tem um sentido lato e abstracto característico dos
pensadores/filósofos que, sendo muito importante, carece de pragmatismo, que nos ajude a
resolver os problemas que, nós humanos, encontramos dia-a-dia. Isto é, conhecer e
compreender os princípios abstractos subjacentes aos nossos actos é essencial, no entanto,
quando nos encontramos perante uma situação real muitas vezes, necessitamos de orientações,
mais específicas, para resolver os dilemas.
Deste modo, com este trabalho, pretendemos elucidar quais as teorias e princípios
básicos que devem reger a prática ética do psicólogo, assim como discriminar quais as áreas
mais propicias ao surgimento, em contextos forenses, de conflitos éticos e, finalmente, sugerir
um orientação para os resolver de forma pragmática e assertiva.
2-Breve Contextualização da Filosofia Moral
O conceito de Moralidade, em filosofia, pode-se confundir com o termo Ética mas não
pode ser confundido com a noção de “morais sociais”, que são um conjunto de atitudes
morais que podem ser sujeitas a variação regional ou cultural.
Os valores morais, ao serem considerados razões para a acção, são entendidos como
supremos, (ao contrário dos princípios éticos) anulando, desta forma, outras problemáticas
como as legais ou políticas. Assim os valores morais são “Universalizáveis”.
A Ética, por outro lado, é a exploração de valores e princípios, e a forma como eles se
relacionam com as acções em situações diversas - é a ciência da moral. A Ética Médica é um
ramo da Ética que aplica, de forma sistemática, a teoria da moral aos problemas morais,
específicos da praxis médica.
O conflito ético acontece quando, para resolver a mesma situação os indivíduos têm
valores ou princípios que se chocam relativamente à acção a tomar. De facto os conflitos
fazem parte da ética visto que a própria concepção de valor pode diferir, por exemplo: um
médico pode desejar aliviar o sofrimento de um paciente (um objectivo principal da
medicina), mas este pode recusar o tratamento devido à sua religião. O peso relativo de
diferentes valores e os meios para os alcançar podem dar origem, também, a conflitos, por
exemplo: para os estóicos o valor supremo para atingir a felicidade enquanto que para os
epicuristas o prazer era essencial para esse mesmo objectivo, ambos da mesma época e
civilização, grecia helenista.
A Moralidade, nas teorias clássicas, define-se pela consequência de uma acção,
existindo a distinção entre a utilidade de actos individuais e a utilidade ou valor das práticas.
Actualmente, as duas principais teorias que comportam o raciocínio ético são o Utilitarismo e
a Deontologia.
O Utilitarismo advoga, que as acções se devem dirigir para a produção do maior bem-
estar e para o maior número de pessoas possível, sendo desta forma mais clássico.
Por outro lado, a Deontologia preocupa-se essencialmente com os princípios, em
detrimento, das consequências das acções. Os Deontologistas recorrem aos deveres e
obrigações que surgem das relações particulares. Kant o “pai” da deontologia propunha que as
decisões éticas devem ser universais, isto é, ao agirmos de uma forma num caso particular,
dever-se-ia agir similarmente, em todos os casos futuros.
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Deste modo, verifica-se um antagonismo entre estes dois paradigmas, visto que, no
primeiro, o importante é saber se acção provocará um beneficio à maioria da sociedade
enquanto o segundo se preocupa com deveres gerais para situações particulares, por exemplo:
deve-se gastar recursos financeiros na melhoria do acesso aos cuidados médicos, da minoria
populacional prisional (premissa deontológica) ou direccionar esses recursos para a população
idosa (premissa utilitária)?
Para entender a ética no campo da saúde temos que nos reportar à tradição hipocrática
visto que são os princípios éticos “chave” da medicina Ocidental. O corpus Hipocrático data
por volta IV século a.C. e o juramento de Hipócrates inicia uma longa tradição da ética
médica, tendo o médico como principal princípio, o de não fazer nenhum dano ou mal.
Contudo, este juramento, não faz nenhuma menção à autonomia dos pacientes.
Deste modo, os princípios evoluíram e foram adicionados os seguintes: 1- O da
Beneficência (aplica-se a indivíduos e também a estruturas institucionais, e reporta-se ao
modo como eles beneficiam sociedade em geral); 2- o da Não-Maleficência (a exigência para
não fazer nenhum dano); 3- o da Autonomia (assunção que os pacientes são competentes, para
determinar o seu próprio curso de acção ou tratamento) e; 4- o da Justiça (conceito muito
abrangente que pode incluir igualdade no acesso ao tratamento médico mas também o da
igualdade dos direitos dos pacientes).
Destes princípios pode-se constatar, mais uma vez, a dualidade e conflito entre a
Deontologia (3 e 4) e o Utilitarismo (1 e 2), acrescentando-se o mesmo conflito entre o
modelo de autonomia (os dois últimos) e o modelo paternalista (os dois primeiros).
Da relação de médico-paciente, foram surgindo os conflitos acima referidos, visto que,
a tradição hipocrática propunha que o médico tinha “o poder paternal” em decidir o que era
melhor para um paciente ( ex.: internamento de um paciente que não quer ser tratado). Com a
crescente percepção de que o paciente tem o direito de livre escolha (justiça), sendo
competente para determinar a sua acção (autonomia), a profissão médica (e as outras
profissões de saúde, incluindo a psicologia), têm vindo a aplicar o modelo de autonomia na
relação com o paciente (ex.: os cirurgiões já não podem decidir sobre o destino de órgãos,
sem o consentimento do paciente).
Assim, para aplicar qualquer um destes quatro princípios, é sempre necessário
encontrar um ponto de equilíbrio entre os dois modelos, sendo que, por exemplo, ao aplicar o
princípio de beneficência, deve-se respeitar a autonomia do paciente e verificar o que é
realmente mais importante para o receptor da acção (paciente) e não para o agente (técnico de
saúde).
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Até aos meados do século XX, a grande maioria dos problemas éticos que surgiam à
biomedicina, eram resolvidos por uma deontologia profissional e na ética de inspiração
hipocrática. Contudo, após o surgimento de três factores históricos [alguns abusos na
experimentação humana; o surgimento das novas tecnologias e, a percepção da insuficiência
dos referenciais éticos tradicionais], surge a Bioética (Archer et al, 1996).
A bioética surgiu assim há cerca de um quarto de século, como um conjunto de
preocupações éticas levantadas por cientistas da área da biológia. Decorrente dos problemas
morais levantados pelo uso das novas tecnologias médicas, a bioética estendeu, também, a sua
preocupação à interdependência dos seres vivos a longo prazo, assim como, da sobrevivência
do homem no nosso planeta. Por isso passou a caracterizar-se por “uma dimensão social, pela
sua natureza transdisicplinar e pluralista, pela abertura à participação do público e pelo
assessoramento de políticas nacionais, num esforço de harmonização internacional” (Archer
et al., 1996).
Para codificar e internacionalizar uma série de princípios éticos, foram elaborados
códigos éticos. As Declarações de Genebra, de Helsínquia, de Siena e, de Madrid, são as mais
importantes e, todos elas se referem aos quatro princípios supracitados (Simon et Wettsein,
1997)
Para além destes códigos internacionais, a maioria das associações profissionais
elaboraram códigos éticos [ex: código ético da American Psychological Association (1991)].
Existem comissões de ética cuja função principal é educar os seus associados sobre os
códigos éticos e proteger o público de práticas pouco éticas. São asseguradas, regularmente,
reuniões da comissão, para processar reclamações formais dirigidas por clientes contra os
associados. Quando uma reclamação é feita, a comissão produz uma investigação e delibera
sobre o caso. Uma decisão pode incluir uma sanção que, normalmente, varia entre uma
reprimenda, suspensão, ou expulsão da ordem profissional.
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3-A Psicologia Forense
A psicologia diz-se forense devido à sua relação com a justiça e, se pretendemos
definir esta subespecialidde da psicologia diremos que é a interface entre a Psicologia e a
Justiça. A psicologia forense produz e aplica o conhecimento do comportamento humano nos
sistemas judiciais civis e criminais (Hess, A; Weiner, B., 1999). A palavra “forense”, provém
do latim forensis, que significa “no fórum”, onde os tribunais da Roma Antiga ocorriam.
Os psicólogos forenses podem prestar serviços quer de natureza clínica, quer forense,
em processos distintos. Precisam, contudo, como veremos mais adiante, de confrontar as
questões clínicas, éticas e legais envolvidas nesta combinação de papéis, bem como de os
clarificar.
A prática de um psicólogo forense pode incluir: avaliação psicológica e depoimento
pericial sobre aspectos criminais forenses (ex.: violência doméstica, abuso sexual); avaliação
e depoimento sobre questões civis (ex.: custódia de menores, discriminação no local de
trabalho); tratamento especializado de indivíduos envolvidos em questões legais; contacto
com legisladores a propósito de questões políticas que tenham implicações na praxis forense;
análise de questões relacionadas com negligência profissional; responsabilidade civil e tutela;
consulta, avaliação e tratamento de indivíduos com alto risco de comportamentos agressivos
na comunidade, local de trabalho e/ou settings de tratamento; pesquisa e colaboração em
questões de impacto psicológico (ex.: testemunho de crianças); ensino, preparação e
supervisão de estudantes de psicologia ou psicólogos (adaptado de American Board of
Forensic Psychology, 2003).
A prática da psicologia forense tem como principais objectivos, alcançar a maior
individualização possível, exigível num sistema penal moderno, no momento da sua aplicação
a uma pessoa concreta, para se personalizar, ao máximo, a resposta jurídica. Neste contexto
interessa uma profunda compreensão da personalidade do sujeito e não apenas a sua vida
mental. As consequências jurídicas a extrair dessa compreensão implicam a congregação de
diversos saberes, possibilitando um pluralismo de explicações que concorram para o mesmo
objectivo – a adequada administração da Justiça. Daí as perícias interdisciplinares, com
intervenção do psiquiatra, do criminólogo e do psicólogo – artigos 152º, nº2 e 159º, nº3 do
Código Penal Português (Albergaria, P.S., 2001).
Apesar destas definições sobre a psicologia forense, existe uma a falta, na prática, de
consensos sobre o papel do psicólogo forense, originando certa confusão no meio científico.
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Em todo o mundo existem vários modelos de formação de profissionais desta
subespecialidade da psicologia, que vão desde a psicologia clínica com especificidade forense
até à psicologia da justiça.
A formação para a psicologia da justiça é diferente da formação para a psicologia
forense, visto que a primeira faz a interface entre lei e psicologia, enquanto que a segunda "é
um ramo da psicologia clínica que trata de casos clínicos relacionados com processos
criminais e civis" (Tomkins et Ogloff, 1990).
Na actualidade não existe um modelo, bem estruturado e aceite na generalidade, de
formação do psicologo forense. Contudo, tem-se “formado um consenso que o futuro da
psicologia forense, depende da sua capacidade em aplicar o modelo científico, a questões
psicológicas, relacionadas com a justiça” ( Tomkins et Ogloff, 1990).
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4-A Ética na Psicologia Forense
Os dilemas éticos são particularmente comuns, quando um psicólogo trabalha em
contextos forenses. O setting terapêutico, nestes contextos, difere dos outros settings
psicológicos. Provavelmente, a maior diferença relaciona-se com a natureza adversa da
actividade legal e, as pressões sobre o psicólogo, para este agir como um advogado
(especialmente na avaliação). Os pacientes em contexto forense, participam muita das vezes,
sem motivação para a avaliação e tratamento psicológico, e estão sempre preocupados acerca
do tipo de serviço que vão receber, se a informação vai ser arquivada e se algum relatório vai
ser lido por mais alguém.
Também podem existir diferenças, entre a instituição empregadora e o psicólogo, em
relação à forma de aplicar princípios como o de consentimento e confidencialidade, e
também, relativamente, à atitude do psicólogo para com o paciente.
Assim, o contexto forense dita que os assuntos éticos devem ser cuidadosamente
analisados pelos profissionais forenses. Acrescentando-se, que o trabalho de um profissional
forense, tem grandes probabilidades de ter escrutínio público e judicial
Por outro lado, dada a confusão, relativamente ao papel do psicólogo forense, referido
no capítulo anterior, e a interdisciplinariedade, deste ramo da psicologia, questiona-se sobre
quais os princípios éticos se devem guiar, os profissionais desta disciplina, e quais as teorias
éticas devem subjazer estes princípios.
O paradigma, mais comum, para aplicar a ética na prática dos profissionais de saúde, é
aquele que se baseia em quatro princípios, como anteriormente foi referido (cf. cap. 2).
Todavia mesmo após uma reflexão superficial, percebe-se que a aplicação destes princípios,
dependem do papel do técnico de saúde em determinada situação. Por exemplo, e como
veremos mais à frente, um psicólogo forense, quando faz uma perícia psicológica, não age
com beneficência, pois não serve os melhores interesses do avaliado (actua sob o melhor
interesse da Justiça). O resultado da avaliação, também, pode ter consequências negativas
para o avaliado ( este pode ser preso devido a essa avaliação), não sendo, assim, aplicado o
princípio da não-malificiência.
Neste contexto, quando o “avaliador forense” (psicólogo ou psiquiatra), está ao
serviço do sistema judicial, em vez do paciente /cliente, a teoria ética deve-se basear na busca
da justiça e não em princípios terapêuticos (Simon et Wettstein, 1997), devendo, contudo,
guiar-se por princípios morais aceites pela sociedade. Quando ao serviço dos interesses da
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justiça, o psicólogo deverá aderir ao princípio moral geral de dizer a verdade (tanto no caso
subjectivo da honestidade, como no caso objectivo, referindo as limitações da precisão do
testemunho). Outro princípio geral será o de respeitar as pessoas, o que inclui que o avaliador
informe ao avaliado a ausência, entre eles, da relação psicólogo-paciente e de tratamento e, os
limites da confidencialidade dos dados recolhidos.
No entanto, os psicólogos (e psiquiatras) forenses devem seguir regras e princípios
específicos, e não somente, princípios morais gerais. Neste sentido Simon et Wettstein (1997),
adaptaram um guia ético, usado na prática da psiquiatria, à psiquiatria forense que, em nosso
entender, resume de forma muito satisfatória, a forma de agir de um avaliador (seja psiquiatra,
seja psicólogo forense) em todas as situações de avaliação, para que não seja cometido
nenhum comportamento pouco ético: 1) manter a objectividade e neutralidade; 2) respeitar a
autonomia do examinando; 3) proteger a confidencialidade da avaliação forense; 4) obter
consentimento informado para a avaliação forense, excepto se essa avaliação é obrigatória por
lei; 5) interagir verbalmente com o examinando; 6) assegurar que não existe uma relação
pessoal prévia, presente, nem futura com o examinando; 7) não ter contacto sexual com o
examinando; 8) preservar o anonimato relativo do examinador; 9) estabelecer um política de
pagamento, clara e não-contingente, com o litigado; 10) garantir um setting satisfatório para a
avaliação; e 11) definir o tempo da avaliação.
Existem, também, alguns guias éticos, relativos aos contextos forenses, publicados por
associações profissionais. O melhor exemplo, encontrado na nossa pesquisa, é o Speciality
Guidelines for Forensic Psychologists (Committee on Ethical Guidelenes for Forensic
Psychologists, 1991), que amplia, mas não contradiz o código ético dos psicólogos
americanos, publicado pela American Psychological Association (1991). Este guia oferece um
“modelo para uma prática profissional desejável pelos psicólogos” (idem, 1991) e é muito
detalhado, no que diz respeito às obrigações e princípios pelos quais o psicólogo forense se
deve reger. Os temas principais aí tratados são: 1) responsabilidade; 2) competência; 3) o tipo
de relação; 4) confidencialidade e privilégios; 5) métodos e procedimentos; e, 6)
comunicações públicas e profissionais.
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4.1-Psicoterapeuta versus Avaliador
Um dos debates éticos mais importantes, em psicologia forenses, reporta-se ao papel
que os psicólogos devem adoptar ao trabalhar com os pacientes/clientes, se terapêutico ou
avaliativo. A maioria dos estudiosos, da actualidade, defendem uma clara separação entre o
papel do avaliador e o papel do terapêuta (Day et Whetham, 2000).
Greenberg e Shuman (1997) defendem que os avaliadores forenses, isto é, os que
fazem relatórios psicológicos para os tribunais, diferem dos que fazem terapia a pacientes
ligados ao sistema judicial, em de dez pontos essenciais. Destes, os mais importantes serão
que, os avaliadores trabalham para o advogado (ou tribunal) e não para o cliente, e a
confidencialidade opera-se entre o advogado (ou tribunal) e psicólogo e não entre o
paciente/cliente e psicólogo. Por outro lado, as características da relação também diferem –
enquanto que os terapeutas devem ter uma atitude de apoio, empatia e, de aceitação da pessoa,
o avaliador deve ser neutro, imparcial e objectivo.
Em suma, enquanto que, o papel do terapeuta, visa o desenvolvimento de uma relação
de ajuda, a qual é raramente contenciosa, o papel do avaliador forense tem como objectivo
fornecer uma opinião crítica e imparcial, ao tribunal. Por outras palavras, pode-se afirmar que
o psicoterapeuta procura a história narrativa do paciente enquanto que o avaliador forense
procura a história verídica do litigante (Strasburger et al, 1997).
Um tema de confusão, relacionado com a problemática exposta neste capítulo, é a
distinção entre testemunha especializada (ou perito) e testemunha factual. Uma testemunha
factual fornece dados de observações directas que fez e, não dá opiniões especializadas ou
emite conclusões a partir de relatórios. Assim um terapeuta, que faça um testemunho factual,
reporta-se às observações feitas, durante a terapia, e às conclusões imediatas (tais como
diagnóstico e prognóstico) a partir dessas observações. Um perito (que pode ser um avaliador
forense) é pago para fornecer uma avaliação para ajudar o processo legal, podendo dar
opiniões acerca de questões legais (normalmente participam em julgamentos).
Existem, por vezes ocasiões onde o psicólogo se encontra na eminência de
desempenhar estes dois papeis para um mesmo indivíduo (terapeuta/avaliador forense). Por
exemplo só existe um técnico numa instituição que possa executar estes trabalhos. Todavia o
técnico que decidir esta via “embarca em águas especialmente traiçoeiras” (idem, 1997).
Esta dualidade de funções produzem dilemas éticos que podem ser sumariados desta
forma: 1) o testemunho, em tribunal, de assuntos íntimos surgidos em terapia, podem
provocar dano e mal-estar ao paciente, sendo descurado o princípio de não-maleficiência); 2)
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se o prognóstico for o de necessidade de tratamento de longo termo, o terapeuta pode
beneficiar directamente deste facto, através do pagamento dos serviços prestados ao doente, o
que não é ético para os psicólogos forenses; 3) por servir a dois “senhores” ao mesmo tempo,
paciente/examinando e lei, a aliança terapêutica, entre terapeuta/paciente, pode ficar
comprometida e o relatório forense, realizado pelo avaliador forense, poderá não ser
imparcial; e na mesma linha do raciocínio anterior, 4) a confidencialidade da relação
terapêutica poderá ficar comprometida, pois durante o testemunho especialista, poderão ser
usados factos surgidos durante as consultas, podendo assim, não ser aplicável o princípio de
confidencialidade (ibidem, 1997).
Devido a este facto, o Speciality Guidelines for Forensic Psychologists (Committee on
Ethical Guidelenes for Forensic Psychologists, 1991) refere no artigo IV D1: “os psicólogos
forenses devem evitar oferecer serviços profissionais a pessoas ligadas ao sistema legal, com
quem tenham uma relação pessoal ou profissional, que é inconsistente com a relação anterior
(tradução livre)”. Na prática é sugerido que os terapeutas devem evitar dar opiniões legais e,
os avaliadores forenses que executaram o relatório a determinada pessoa, não se devem
disponibilizar para fazer terapia a essa mesma pessoa.
Neste ponto gostaríamos de reflectir, brevemente, sobre o caso mediático e actual,
conhecido como “o caso da Casa Pia”. Segundo as notícias dos meios de comunicação, o
psicólogo clínico, responsável pelo acompanhamento psicológico, desde há alguns anos, das
alegadas vítimas de abuso sexual, é o mesmo que dá pareceres sobre a fidelidade dos
testemunhos destes ao tribunal (avaliador, portanto). Podemos depreender que o clínico
responsável executa, tanto o papel de terapeuta como avaliador, o que como já foi referido
não é o mais aconselhável em termos éticos e operacionais. Também, como iremos referir
adiante, o avaliador deveria ter formação específica na área forense, o que não parece ser o
caso, sendo descurado o princípio da justiça.
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5-A Clínica e a Ética no Setting Forense
Como foi referido no capítulo anterior, os psicólogos forenses, para agir eticamente,
devem tomar uma posição clara acerca do que papel que querem exercer. Para os avaliadores
forenses, o cliente será o tribunal, para os clínicos-forenses (psicólogos clínicos que praticam
a sua profissão em contextos forenses), existem muitas mais responsabilidades para com o
doente, dentro dos limites que iremos referir neste capítulo. Esta distinção ajuda clarificar a
natureza da relação de clínico-forense/paciente e também ajuda a ultrapassar algumas
questões éticas que poderão afectar o profissionalismo do psicólogo.
Neste capítulo, serão então, analisados os possíveis dilemas éticos que poderão surgir,
aos psicólogos clínicos-forenses, que desempenham funções em prisões ou enfermarias de
segurança. Neste papel os psicólogos forenses reconhecem que a sua principal
responsabilidade é a pessoa com quem eles estão a trabalhar.
Nos settings forenses é comum encontrar uma organização paternalista onde é difícil
para o utente destas instituições desenvolverem autonomia, visto que existe uma tendência
imposição, salvo gratas excepções, serem usados modelos de controle e que vêem os
prisioneiros como recipientes passivos dos serviços. Na maior parte destas instituição, existe
uma expectativa de que toda a informação deve ser fornecida e é dado pouco ênfase ao
consentimento, dos utentes dessas instituições (Day et Whetham, 2000).
Assim ao trabalhar neste tipo de settings são criados, aos psicólogos, dilemas sobre a
responsabilidade – Como se consegue gerir de forma equilibrada, as obrigações de
responsabilidade para com o paciente, a profissão e a organização/sistema judicial?
As leis e os códigos éticos são dois mecanismos principais de responsabilização
profissional e foram desenvolvidos para proteger o indivíduo/cliente. Ambos oferecem
directrizes ao psicólogo para este ter um comportamento ético.
No entanto, as Leis são padrões mínimos de comportamento que a sociedade tolerará,
sendo aplicados pelo Estado, enquanto que, os códigos éticos representam, normalmente, os
padrões ideais fixados pela profissão e, servem para regular, educar, e inspirar os profissionais
(são usualmente, aplicados por associações profissionais, conselhos nacionais ou
governamentais, que regulam as profissões). Devido a estas diferenças, existem situações em
que as opiniões legais, podem não coincidir com os códigos éticos profissionais (Remley,
1993). Deste modo foram formados Comissões Éticas para educar os seus membros e
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protegerem o público de práticas pouco éticas, por parte destes. Estas Comissões têm o poder
de sancionar o profissional.
Os códigos éticos são necessários para assegurar responsabilidade, contudo eles
apresentam numerosas falhas. Corey et al (1998), identificaram vários problemas, no uso
destes códigos, com intuito de uma prática profissional ética e responsável. Por exemplo,
algumas situações não podem ser geridas baseando-se, somente, em códigos éticos; alguns
códigos são vagos, faltando-lhes clareza e precisão, sendo, por isso, de difícil execução.
No fundo, os códigos éticos são directrizes estáticas e não podem garantir um
comportamento ético. Os psicólogos não ficam preparados para um prática ética,
simplesmente aprendendo os códigos éticos. Tanto os códigos éticos, como os legais,
delineiam áreas extremas de comportamento inaceitável e, reforçam as áreas do
comportamento desejável. No entanto, não conseguem substituir as dificuldades que os
psicólogos sentem perante conflitos éticos, visto que, a situação de cada paciente é única e
necessita de uma resposta diferente.
Deste modo, é necessário identificar as aéreas ou situações, onde existem maiores
probabilidades de surgirem conflitos éticos, e encontrar uma forma de orientação menos
estática do que os códigos éticos, para que, desta forma, o psicólogo tenha uma acção correcta
e, se possa proteger de possíveis problemas legais.
5.1-Principais dilemas éticos na prática clínica
As áreas identificadas por Swenson (1997, in Day et Whetham, 2000), que os
psicólogos, em geral e, os forenses em particular, poderão precisar de mais atenção e
orientação são as seguintes:
Violação dos direitos individuais dos clientes/pacientes (relacionados com
sexo, privacidade, etc.);
Fracasso em proteger os outros do seu cliente/paciente (ex.: falha em
informar as autoridades);
Tratamento incompetente (normalmente alegado em casos de suicídio).
Nos códigos éticos, das sociedades e associações profissionais de psicologia, estas
áreas estão abrangidas pelos seguintes tópicos: Confidencialidade, Dever de informar,
Consentimento e, Competência (Day et Whetham, 2000).
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5.1.1. Confidencialidade
A maioria dos códigos refere a confidencialidade nas relações psicólogo-paciente
(aplicação do princípio da não-maleficência), a menos que haja uma obrigação legal ou social
que tal impeça. Como princípio geral, a confidencialidade não deve ser quebrada sem o
consentimento dos clientes, excepto em circunstâncias nas quais, não o fazer, resultaria um
perigo claro à pessoa ou aos outros (aplicação do princípio da beneficência). A
confidencialidade é um direito essencial, do paciente (Princípio da justiça). Porém, é irreal, o
psicólogo prometer total confidencialidade, particularmente em settings forenses.
As situações que permitem (ou são necessárias) a quebra da confidencialidade são
(Corey et al, 1998):
Quando um cliente constitui um perigo a sí próprio ou aos outros;
Quando um cliente refere uma intenção para cometer um crime;
Quando o psicólogo suspeita de abuso ou negligencia de uma criança, uma
pessoa idosa, um residente de uma instituição ou um deficiente adulto;
Quando um tribunal ordena que o psicólogo possibilite o acesso aos registos.
As informações confidenciais, devem ser divulgadas, sob de certas condições legais;
por exemplo se um cliente indica que terá cometido uma ofensa criminal. Este exemplo
parece não provocar dúvidas, quanto à necessidade de quebra de confidencialidade, contudo,
em muitas situações, existem muitas dificuldades, em discernir e decidir, sobre a quebra ou
manutenção, da confidencialidade. Por exemplo, todas as ameaças verbais, constituem de
facto uma realidade de acção danosa por parte do paciente, para que seja de imediato feito um
relatório e enviar para as autoridades competentes? E se a ameaça não é verbal mas o
psicólogo tem uma palpite forte de que o cliente possa ser homicida ou suicida?
Os códigos éticos oferecem pouca orientação específica, relativamente à decisão a
tomar nestas situações (por exemplo, o que constitui perigo claro, ou uma obrigação social
premente?).
Nós temos uma responsabilidade ética e legal para informar os nossos pacientes, no
começo de qualquer relação profissional, sobre os limites da confidencialidade (aplicação do
princípio da justiça e não-maleficência). Se tal não acontecer é legitimo que os pacientes
assumam que as revelações deles/delas são totalmente confidenciais.
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5.1.2. Dever de informar
Se um psicólogo determina que um paciente constitui um perigo sério de
comportamentos violentos a outros, é obrigado a proteger as possíveis futuras
vítimas(aplicação do princípio da beneficência). O dever de informar e proteger é o desafio
principal para os terapeutas. Geralmente, o dever para informar e proteger é indicado quando
estas três condições estiverem presentes: 1) existência de uma relação especial entre o
paciente e terapeuta; 2) é realizada uma predição razoável de um comportamento prejudicial
(baseada num história de comportamento violento) e; 3) a potencial vítima pode ser
identificada (Day et Whetham, 2000).
Um exemplo de conflito ético, que pode acontecer relativamente à confidencialidade e
dever para informar é na área de tratamento das perturbações sexuais (ex.: pedofilia).
Enquanto estes pacientes são encorajados a revelarem informações detalhadas acerca das
ofensas, como uma parte integrante do seu tratamento, há o risco do psicólogo violar a
privacidade dos ofensores (violando o princípio da não-maleficência), informando às
autoridades acerca do progresso terapêutico (para decisões de liberdade condicional), ou
informando sobre comportamento de risco (Hess et Weiner, 1999). Nestes casos é necessário
que o psicólogo, discuta com o paciente, antes do início da terapia, os limites da
confidencialidade, para que não seja praticado, um comportamento pouco ético (aplicação do
princípio da autonomia, da justiça e não-maleficência) .
5.1.3. Pacientes suicidas
Tendo a obrigação de informar e proteger os outros, também temos a responsabilidade
de proteger o paciente, quando este é um perigo para si próprio(aplicação do princípio da não-
maleficência e justiça). Mas, como referimos anteriormente, não será qualquer expressão
verbal (ideação suicida) que justificará medidas extremas como a hospitalização (princípio da
autonomia). Nestes casos é necessário que o psicólogo conheça os sinais importantes e use um
julgamento profissional, para determinar se existe um risco suficiente para informar as
autoridades.
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5.1.4.Consentimento
O tema do consentimento é uma área que realça os conflitos entre éticas profissionais
e as regras de uma organização/instituição. Este conflito, surge às vezes, quando um
psicólogo se encontra integrado numa equipa interdisciplinar, onde, como indivíduos, têm
pouco poder para alterar a política organizacional. Por exemplo, não é por um doente estar
detido, com medida de segurança, que é obrigado a tratamento psicológico, no entanto a
equipa exige que tal se faça (aplicação do princípio da autonomia e da justiça). Éticamente,
quando isto acontece, o psicólogo têm uma responsabilidade para dar passos razoáveis para
solucionar o conflito, inclusive apelar às comissões éticas.
Evidentemente é necessário, também, verificar qual é a capacidade, de determinado
indivíduo, se auto-determinar, o que levanta uma série de outras questões éticas, que não
serão aprofundadas neste trabalho, pois entendemos que não faz parte do objectivo proposto.
5.1.5. Competência
A psicologia forense é uma área especializada. Os relatórios psicológicos têm
frequentemente um papel importante, podendo determinar o que acontece, a um paciente, no
sistema judicial, quer num julgamento, numa condenação, ou libertação da prisão. Os
psicólogos que trabalham em contextos forenses deveriam ter um grau razoável de
conhecimento do sistema judicial (cf. cap.3).
A competência refere-se à capacidade de determinado profissional desempenhar uma
função, tendo para isso uma formação e treino específico. A maior parte do trabalho dos
psicólogos forenses, relaciona-se a populações específicas (ex.: ofensores sexuais, ofensores
violentos, crime relacionado com abuso de substâncias, etc.), devendo estes profissionais
especializados a manterem-se informados, para não surgirem acções que poderão afectar
muitas pessoas (aplicação do princípio da beneficência, não-maleficência e da justiça) Por
exemplo, é difícil opinar, ao juiz, sobre o tipo de condenação, que um pedófilo deverá ter, sem
se estar informado, na literatura, acerca do risco de re-ofensa.
5.2-A Decisão Ética
Em resposta aos assuntos éticos e morais, que nós somos confrontados na nossa
prática, podemos utilizar uma variedade de níveis de sabedoria ou conhecimento moral.
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Kichener (1996) propôs quatro níveis discretos de raciocínio moral: intuição pessoal,
directrizes éticas desenvolvidas por organizações profissionais, princípios éticos, e teorias
gerais da acção moral. Quando, nem intuição pessoal, nem as directrizes éticas, conseguem
fornecer um solução a nosso assunto ético ou moral, nós precisamos recorrer a princípios mais
abstractos ou teorias. Estes últimos suportam tanto os nossos códigos pessoais como os
profissionais.
Existem quatro princípios fundamentais que formam a base da nossa ética prática (cf.
cap.1), podendo-se acrescentar a Fidelidade ( refere-se à lealdade, confiabilidade e agir em
boa fé ). As teorias gerais de ética (cf. cap.1) podem ser usadas para solucionar problemas
éticos complexos. Porém, mesmo com estes princípios e teorias bem fundamentadas, muitas
das vezes, não é fácil lidar com uma situação, que nos levanta dilemas éticos. Por isso,
achamos útil, usar modelos, que nos ajudem a estruturar o raciocínio moral.
5.3 Modelos de decisão ética
Quando confrontados, com uma situação em que nos é difícil saber qual é a acção
ética mais apropriada, será útil utilizar os modelos de decisão. O formato, em árvore, destes
modelos são úteis, visto que, eles realçam as áreas que se devem considerar, encorajam a
reflexão e consulta, e oferecem um caminho lógico para a decisão.
Corey et al (1998), propuseram um modelo, muito prático, que é útil para lidar com
dilemas éticos. Este modelo tem oito fases, começando com uma fase de reconhecimento de
problema, seguido por consulta das leis pertinentes, códigos profissionais e colegas, antes de
esboçar um método de resolução de problemas. É de referir, que o modelo não deve ser
encarado como uma forma linear ou cognitiva, de obter uma solução, relativamente a
problemas éticos, visto que, ele permite tomar decisões complexas, envolvendo sentimentos,
valores, e intuição pessoal:
5.3.1 Identificação do problema
Normalmente os problemas éticos são complexos e as soluções não costumam ser
simples. O sentimento característico quando estamos perante um dilema ético é a sensação de
ambiguidade. Lembrar que o primeiro passo é reconhecer que o dilema existe, e identificar a
sua natureza específica. Em consulta com o paciente é necessário obter a máxima informação
possível em relação ao assunto
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5.3.2. Identificar assuntos potencialmente envolvidos
Tendo recolhido toda a informação necessária, clarificado os assuntos essenciais, e
excluído os irrelevantes, avaliado os direitos, responsabilidades, e bem-estar de todos os
envolvidos pela situação, deve-se considerar os cinco princípios morais e aplicá-los à
situação. Pode ser útil hierarquizar (ex.: do mais prioritário ao menos) estes princípios e
raciocinar de que forma estes, podem suportar a resolução do dilema.
5.3.3. Rever os Códigos Éticos mais Relevantes
Pesquisar se os princípios ou regras da nossa organização profissional oferecem
soluções possíveis. Pesquisar se esses códigos são consistentes com os nossos valores e ética.
Se discordar com esses códigos, perceber se existe uma razão lógica, que suporte essa
posição. Também se pode-se pedir, a opinião dessa organização, sobre alguma situação
específica do código ético.
5.3.4. Conhecer as Leis e Regulamentos
É essencial conhecer as leis que se aplicam aos dilemas éticos. Também é necessário
estar informado das regras e regulamentos do local de trabalho.
5.3.5. Obter conselhos
Neste altura, é normalmente necessário, consultar colegas para obter outras
perspectivas do problema. Não discuta o problema com colegas com uma opinião semelhante
à sua. Se o dilema inclui problemas jurídicos, é necessário pedir conselho legais. Aconselha-
se a registar a natureza dessas consultas, incluindo as sugestões dos que foram consultados.
5.3.6. Considerar os cursos de acção prováveis e possíveis.
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Considerar todas as acções possíveis, mesmo as pouco ortodoxas. Lembrar que uma
alternativa é a ausência de acção. Enquanto se pensa nas diversas possibilidades, discutir estas
opiniões com o paciente e também com outros profissionais.
5.3.7. Enumerar as consequências das várias decisões
Considerar as implicações de cada acção para o paciente, para os outros relacionados
com o paciente, e para nós próprios como terapeutas. É necessário discutir, novamente, com o
paciente acerca das consequências que são mais significativas para este. Usar os cinco
princípios fundamentais como base para avaliar as consequências de cada acção prevista.
5.3.8. Decisão da melhor acção
Para fazer a melhor decisão, considerar a informação recebida das várias fontes. Após
a decisão, deve-se escolher a acção a desenvolver, e avaliar as consequências e perceber se
serão necessárias mais acções. Para a visão mais holística da situação, é necessário envolver,
mais uma vez, o paciente no processo.
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6-Conclusão
Na psicologia forense ainda existem dúvidas acerca do tipo de formação técnica e,
também, acerca do papel que o psicólogo deve desempenhar perante as diversas situações que
se lhe deparam. Porém parece ser óbvio que o clínico que trabalha numa instituição ligada ao
sistema judicial deve evitar a todo custo fazer avaliações dos utentes dessa instituição, para o
tribunal, para que assim não se entre em domínios onde se torna difícil manter um
comportamento ético.
O trabalho em settings forenses levanta muitos conflitos éticos para aqueles que fazem
aconselhamento ou serviços clínicos. A filosofia e a gestão da organização normalmente é
inconsistente com os modelos profissionais, que os psicólogos têm. Deste modo os códigos
éticos são importantes e servem para nos guiarem de forma razoável e aceitável, a prática
ética.
Os códigos identificam áreas tais como confidencialidade, consentimento informado, e
competência, ajudando os profissionais a estarem alerta para conflitos éticos, que poderão
surgir. No entanto, eles dão poucos conselhos específicos, no que se refere a resolver dilemas
éticos.
O problema situa-se na impossibilidade de o comportamento ético ser legislado e não,
na qualidade das directrizes éticas. Para muitas decisões, na prática clínica, os psicólogos
baseiam-se no seu senso de moralidade e dever para agir no interesse do paciente, quando isso
é possível.
Assim numa perspectiva pragmática, um modelo de decisão para temas éticos pode ser
muito útil para resolver conflitos éticos do dia a dia de um psicoterapeuta que actue na área
forense. Primeiro é necessário que o psicoterapeuta identifique com precisão qual é o assunto
ético a resolver, antes de pesquisar as leis e códigos. Depois sugere uma consulta um processo
de resolução de problemas que nos permite aplicar os nossos próprios princípios morais e
identificar as nossas falhas, no que toca a assuntos éticos. Finalmente, é necessário que
estejamos clarificados e confortáveis acerca do nosso trabalho, e assumir a responsabilidade
dos nossos actos.
Se os psicólogos clínicos, que trabalham em contextos forenses, se informarem e
actuarem desta forma, estão no ponto de partida, para estarem à altura dos acontecimentos,
isto é, para praticarem eticamente a psicologia.
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