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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO INELEGIBILIDADE NO DIREITO ELEITORAL BRASILEIRO: UM ESTUDO DOUTRINÁRIO FÁBIO LUIS DE SOUZA MADEIRA Itajaí/SC , 11 de novembro de 2007.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPSCURSO DE DIREITO

INELEGIBILIDADE NO DIREITO ELEITORAL BRASILEIRO: UMESTUDO DOUTRINÁRIO

FÁBIO LUIS DE SOUZA MADEIRA

Itajaí/SC , 11 de novembro de 2007.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPSCURSO DE DIREITO

INELEGIBILIDADE NO DIREITO ELEITORAL BRASILEIRO: UMESTUDO DOUTRINÁRIO

FÁBIO LUIS DE SOUZA MADEIRA

Monografia submetida à Universidadedo Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau deBacharel em Direito.

Orientador: Professor Msc. Jefferson Custódio Prospero

[Local] , [Data]

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AGRADECIMENTO

Agradeço aos meus familiares, amigos e colegas.

Aos familiares por questões óbvias efundamentais que os tornam as pessoas maisimportantes da minha vida, destacando-se meupai, Herton, por ter tornado este sonho umarealidade e querer mais que qualquer pessoa queesta etapa seja superada. À minha mãe, Márcia,por estar sempre ao meu lado e querer minhafelicidade incondicionalmente. Aos meus avósCelso, Élio (in memoriam), Wilma e Ivone pormuitas vezes tomarem o papel de seus filhos eme quererem tão bem como se deles fosse. Àminha irmã Camilla, por sua amizade e amor. Aosamigos pela ajuda e força nos momentos difíceis,em especial à Manuela, pessoa com quem dividominhas alegrias e tristezas por saber ser elaalguém extremamente sensível e de umafranqueza incrível.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí 17 de dezembro de 2007.

Fábio Luis de Souza MadeiraGraduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Fábio Luís de Souza Madeira, sob

o título Inelegibilidade no Direito Eleitoral Brasileiro: um Estudo Doutrinário foi

submetida em 28 de novembro de 2007 à banca examinadora composta pelos

seguintes professores: Jefferson Custódio Próspero (Presidente), Emerson

Granado (Examinador), Júlio Cruz (Examinador) e aprovada com a nota 9,0

(nove).

Itajaí, 17 de dezembro de 2007.

Msc. Jefferson Custódio PrósperoOrientador e Presidente da Banca

Antonio Augusto LapaCoordenação da Monografia

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Código Eleitoral

Sistema de normas destinadas a assegurar a organização e o exercício de

direitos políticos precipuamente os de votar e ser votado.

Constituição Federal

Lei fundamental da organização de uma nação soberana, consistente num

conjunto sistemático de normas que determinem a sua forma de governo, institui

os poderes públicos, regula suas funções, assegura as garantias e a

independência dos cidadãos em geral e estabelece os direitos e deveres

essenciais e recíprocos entre eles e o Estado.

Direito Eleitoral

Ramo do Direito Público que, alia as normas do processo eleitoral, do exercício

da capacidade eleitoral ativa, o direito de votar, da capacidade eleitoral passiva, o

direito de ser votado, bem como as normas que descrevem os atos ilícitos, como

tais tipificados na legislação vigente, e regula o processo eleitoral e seu

julgamento.

Eleições

Como o verbo eleger, o substantivo eleição provém do verbo latino “eligere”, que

significa escolher. Nas formas e sistemas democráticos de governo, eleição é o

modo pelo qual se escolhem os legisladores e os chefes do Poder Executivo.

Justiça Eleitoral

Órgão composto pelo Tribunal Superior Eleitoral, pelos Tribunais Regionais

Eleitorais, juízes eleitorais e juntas eleitorais. Especializada em tratar assuntos

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ligados ao alistamento e processo eleitoral, eleições, apuração de votos, registro

de candidatura, expedição de diplomas aos eleitos, julgamento de crimes

eleitorais.

Inelegibilidade

É a ausência de aptidão para postular mandato eletivo. Decorre de falta de

qualquer uma das condições de elegibilidade relacionadas no texto constitucional.

A inelegibilidade é o estado jurídico negativo de quem não possui elegibilidade,

seja porque nunca a teve seja porque a perdeu.

Inelegibilidade Inata

É a inelegibilidade comum a todos os brasileiros que não tenham registro de

candidatura por não terem preenchido qualquer das condições de elegibilidade,

próprias ou impróprias, ou mesmo que não preencham algum pressuposto de

admissibilidade do processo de pedido de registro de candidatura.

Inelegibilidade Cominada

É a inelegibilidade decorrente de algum fato ilícito, aplicada como sanção que

obsta o nacional de concorrer validamente a um mandato eletivo, que apenas

pode ser prevista por lei complementar, na forma do § 9° do art.14 da CF/88.

Suspensão dos Direitos Políticos

É a perda do direito de votar ou ser votado, isto é, a perda da capacidade eleitoral

ativa ou passiva, respectivamente.

Direitos Políticos

O pleno exercício dos direitos políticos é condição essencial para a configuração

da elegibilidade. A plenitude dos direitos políticos se expressa pela aptidão para

votar e ser votado.

Nacionalidade

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É o vínculo que une uma pessoa a um Estado, que o identifica como membro

daquela entidade, que o capacita a exigir sua proteção e, do mesmo modo, o

sujeita ao cumprimento de deveres conforme pode impô-los o Estado.

Alistamento Eleitoral

É a inscrição do nacional no quadro de eleitores da Justiça Eleitoral, fazendo

nascer assim o direito de votar.

Domicílio Eleitoral

O domicílio eleitoral é o lugar da residência ou moradia onde o cidadão formaliza

seu alistamento.

Filiação Partidária

Vínculo que liga um cidadão a um partido político para que este possa gozar de

sua capacidade eleitoral passiva.

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SUMÁRIO

RESUMO .............................................................................................................VIIIINTRODUÇÃO....................................................................................... 1CAPÍTULO 1...........................................................................................................4ELEIÇÕES..............................................................................................................41.1 LEIS ELEITORAIS DE DIVERSAS ÉPOCAS ..................................................41.2 PERÍODO COLONIAL......................................................................................51.3 PERÍODO IMPERIAL .......................................................................................71.4 PERÍODO REPUBLICANO ............................................................................101.5 CONSTITUIÇÕES FEDERAIS .......................................................................131.5.1 CONSTITUIÇÃO DE 1824 .................................................................................141.5.2 CONSTITUIÇÃO DE 1891 .................................................................................151.5.3 CONSTITUIÇÃO DE 1934 .................................................................................181.5.4 CONSTITUIÇÃO DE 1937 .................................................................................201.5.5 CONSTITUIÇÃO DE 1946 .................................................................................221.5.6 CONSTITUIÇÃO DE 1967 E 1969......................................................................241.5.7 CONSTITUIÇÃO DE 1988 .................................................................................261.6 LEGISLAÇÃO ELEITORAL ...........................................................................261.6.1 CÓDIGO ELEITORAL DE 1932 ..........................................................................271.6.2 CÓDIGO ELEITORAL DE 1935 ..........................................................................281.6.3 CÓDIGO ELEITORAL DE 1950 ..........................................................................281.6.4 CÓDIGO ELEITORAL DE 1965 ..........................................................................29CAPÍTULO 2.........................................................................................................31ELEGIBILIDADE ..................................................................................................312.1 CONCEITO.....................................................................................................312.2 CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE................................................................332.2.1 NACIONALIDADE BRASILEIRA ..........................................................................342.2.2 O PLENO EXERCÍCIO DOS DIREITOS POLÍTICOS ................................................392.2.2.1 Perda dos direitos políticos por cancelamento da naturalização.......402.2.2.2 Suspensão dos direitos políticos por incapacidade civil absoluta ....412.2.2.3 Suspensão dos direitos políticos em virtude de condenação criminal..............................................................................................................................412.2.2.4 Suspensão dos direitos políticos, por recusa em cumprir obrigação atodos imposta, ou prestação alternativa ..........................................................442.2.2.5 Suspensão dos direitos políticos por improbidade administrativa....44

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2.2.3 O ALISTAMENTO ELEITORAL ...........................................................................462.2.4 DOMICÍLIO ELEITORAL.....................................................................................472.2.5 FILIAÇÃO PARTIDÁRIA.....................................................................................492.2.6 IDADE MÍNIMA PARA CANDIDATURA...................................................................50CAPÍTULO 3.........................................................................................................53INELEGIBILIDADE...............................................................................................533.1 CONCEITO.....................................................................................................533.2 INELEGIBILIDADE INATA.............................................................................543.3 INELEGIBILIDADE COMINADA ....................................................................553.3.1 INELEGIBILIDADE COMINADA SIMPLES ................................................553.3.2 INELEGIBILIDADE COMINADA POTENCIADA ........................................563.4 CAUSAS CONSTITUCIONAIS DE INELEGIBILIDADES ..............................573.4.1 OS INALISTÁVEIS: ESTRANGEIROS, CONSCRITOS E MENORES DE 16 ANOS DE IDADE..............................................................................................................................583.4.2 OS ANALFABETOS..........................................................................................603.4.3 A REELEIÇÃO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, DOS GOVERNADORES E DOSPREFEITOS EM APENAS UM MANDATO SUCESSIVO ......................................................613.4.4 A DESINCOMPATIBILIZAÇÃO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, DOSGOVERNADORES E DOS PREFEITOS NO CASO DE CONCORREREM A OUTROS CARGOS ...643.4.5 A INELEGIBILIDADE DO CÔNJUGE E DOS PARENTES DO PRESIDENTE DAREPÚBLICA, DOS GOVERNADORES E DOS PREFEITOS ................................................643.4.6 A PERDA DO MANDATO PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA EM CASO DECONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DE CRIME DE RESPONSABILIDADE E A INABILITAÇÃO PARA OEXERCÍCIO DE QUALQUER FUNÇÃO PÚBLICA PELO PRESIDENTE, VICE-PRESIDENTE EPELOS MINISTROS DE ESTADO CONDENADOS POR CRIMES DE RESPONSABILIDADE .......663.4.7 OS MEMBROS DO PODER JUDICIÁRIO E DO MINISTÉRIO PÚBLICO .......................693.5 CAUSAS INFRACONSTITUCIONAIS DE INELEGIBILIDADE......................703.5.1 A INELEGIBILIDADE DOS PARLAMENTARES QUE TENHAM PERDIDO O MANDATO PORINFRINGÊNCIA AOS INCISOS I E II DO ARTIGO 55 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL...............713.5.2 A INELEGIBILIDADE DOS CHEFES DE PODER EXECUTIVO DOS ESTADOS, DISTRITOFEDERAL E MUNICÍPIOS, QUE TENHAM CASSADOS OS SEUS MANDATOS PORINFRINGÊNCIA A NORMAS DAS RESPECTIVAS CONSTITUIÇÕES OU LEIS ORGÂNICAS.......733.5.3 Abuso do Poder Econômico ou Político e o Procedimento Judicial para suaApuração................................................................................................................753.5.4 CONDENAÇÃO POR CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR, A FÉ PÚBLICA, AADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, O PATRIMÔNIO PÚBLICO, O MERCADO FINANCEIRO, PELOTRÁFICO DE ENTORPECENTES E POR CRIMES ELEITORAIS..........................................833.5.5 OS DECLARADOS INDIGNOS DO OFICIALATO.....................................................853.5.6 REJEIÇÃO DAS CONTAS DOS ADMINISTRADORES PÚBLICOS ................................863.5.7 CONDENAÇÃO DO AGENTE PÚBLICO QUE FOI BENEFICIADO OU QUE BENEFICIOUTERCEIROS POR ABUSO DE PODER ECONÔMICO OU POLÍTICO ......................................883.5.8 A INELEGIBILIDADE DOS EX-ADMINISTRADORES DE ESTABELECIMENTOS DECRÉDITO, FINANCIAMENTO OU SEGURO, OBJETO DE LIQUIDAÇÃO ENQUANTO NÃO FOREMEXONERADOS DE QUALQUER RESPONSABILIDADE.......................................................90CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................92REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS..............................................................98REFERÊNCIAS DAS LEIS CITADAS................................................................100

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RESUMO

O trabalho contido nesta monografia de conclusão de curso traz em seu conteúdo

o estudo científico sobre o instituto da Inelegibilidade constante no Direito Eleitoral

Brasileiro. Os objetos investigatórios, em termos específicos, são os seguintes: a)

investigar e descrever o sistema eleitoral brasileiro desde os primórdios,

demonstrando sua evolução histórica e seu marco inicial; b) analisar todas as

condições de elegibilidade previstas pela Constituição Federal de 1988,

explicando cada uma delas; c) pesquisar e demonstrar cada causa de

inelegibilidade prevista em nossa legislação seja constitucional ou

infraconstitucional. Esta pesquisa é composta de três capítulos, buscando

demonstrar com eficácia a questão histórico-evolutiva, as condições de

elegibilidade e as causas de inelegibilidade propriamente ditas. Para a realização

da pesquisa foi utilizado o método indutivo e a área de concentração situando-se

no campo do Direito Público.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto o estudo doutrinário

acerca da Inelegibilidade e, como objetivo institucional, produzir uma Monografia

para obtenção do grau de Bacharel pela Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI.

Como objetivo geral, realizar uma pesquisa bibliográfica

genérica a respeito das causas de Inelegibilidade e, como objetivo específico,

averiguar a suficiência das normas competentes.

O tema é relevante, pois trata sobre todas as causas de

inelegibilidade do nosso ordenamento jurídico, haja vista os problemas políticos

existentes em nosso país nos dias atuais.

Com este trabalho pretende-se destacar a importância

deste instituto a fim de que toda a sociedade, ao entregar o seu voto, tenha em

mente quais os motivos que poderão destituir de suas funções aquele que fora

eleito, compreendendo o texto legal para possibilitar a indagação sobre

determinados atos praticados e suas conseqüências.

Para encetar a investigação adotou-se o método indutivo,

operacionalizando com as técnicas do referente, da categoria, dos conceitos

operacionais e da pesquisa de fontes documentais.

Para relatar os resultados da pesquisa, empregou-se o

método indutivo em conjunto com a metodologia da NBR/ABNT.

Para desenvolver os trabalhos, foi adotado o seguinte

problema de pesquisa:

a) A legislação eleitoral Constitucional e Infraconstitucional

é suficiente e atualizada para coibir os desvios de finalidade praticados pelos

candidatos a cargos públicos e aos eleitos para esses cargos, tornando-os

assim inelegíveis ?

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As hipóteses são as seguintes:

a) A inelegibilidade está presente em todas as

constituições que foram editadas no Brasil.

b) Os critérios de elegibilidade são absolutos, sendo

certo que todo cidadão é inelegível até que preencha os requisitos de

elegibilidade.

c) As causas de inelegibilidade constitucionais e infra-

constitucionais são suficientes para garantir ao cidadão que o candidato a cargo

eletivo preenche os requisitos mínimos necessários para ser votado e que, em

caso de afronta a esses requisitos, os mecanismos legais para sua destituição

estão presentes na lei e podem ser invocados.

Para a realização do trabalho monográfico, duas obras

foram especialmente utilizadas como base: Elegibilidade e Inelegibilidades de

autoria de Pedro Roberto Decomain e Teoria da Inelegibilidade e o Direito

Processual Eleitoral, de autoria de Adriano Soares da Costa.

O trabalho foi dividido em três capítulos:

O primeiro apresenta ao leitor os fatos e acontecimentos

relevantes do Direito Eleitoral Brasileiro, desde o período Colonial até os dias

atuais, bem como identifica as principais disposições legais acerca do Direito

Eleitoral como um todo.

Apresenta ainda as Constituições Federais e os Códigos

Eleitorais de cada momento.

O segundo capítulo aborda as condições de elegibilidade

previstas na Constituição Federal de 1988, explicando cada uma delas.

Esta explicação, das condições de elegibilidade, se faz

necessária para um melhor entendimento de como se pode ascender ao poder

em nosso país.

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O terceiro e último capítulo trata das causas de

inelegibilidade propriamente ditas, com base na norma Constitucional e na Lei

Complementar nº. 64/90.

Nas considerações finais apresentam-se sínteses de cada

capítulo e se demonstra se as hipóteses básicas da pesquisa foram ou não

confirmadas.

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CAPÍTULO 1

ELEIÇÕES

1.1 LEIS ELEITORAIS DE DIVERSAS ÉPOCAS

Ao longo da história do Direito Eleitoral brasileiro muitas

mudanças aconteceram, desde o seu nascimento até os dias atuais.

Diversos doutrinadores e pesquisadores buscaram traçar

os mais importantes acontecimentos e inovações em nossa legislação eleitoral,

demonstrando o conteúdo e a influência de cada momento histórico.

Neste sentido destaca-se Aroldo Mota, que classificou em

cinco fases históricas o elenco de leis que deram origem ao texto eleitoral: fase

1 – período do Império; fase 2 – vivida na 1ª República (1889-1930). A fase 3 –

ocorreu na 2ª República (1930-1945); a fase 4 – por ocasião da 3ª República

(1945-1964) e a última, ou seja, a fase 5 – que ocorreu na 4ª República, de

1964 até nossos dias. (Mota citado por JORGE, 2004, p. 35)

Outro pesquisador da matéria foi Pinto Ferreira, que

também definiu os momentos históricos do direito eleitoral brasileiro, dividindo-

os em 4 fases: quando do Império, da primeira República, após 1930 (época

revolucionária) e a última composta pelas leis mais recentes editadas. (Ferreira

citado por JORGE, 2004, p. 35)

Ainda sobre a divisão histórica do nosso direito eleitoral, o

atual Conselheiro e Ex-Presidente do Tribunal de Contas do Estado de São

Paulo, Dr. Antônio Roque Citadini, concluiu seus estudos apontando três fases

ao escrever: (Citadini citado por JORGE, 2004, p. 35)

Pode-se dividir a legislação eleitoral em três fases distintas: aprimeira inclui todo o período do Império até a Proclamação da

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República; a segunda, o período compreendido pela RepúblicaVelha, que vai de sua instalação em 1889 até a Revolução de1930; e a terceira, o período inaugurado com a Revolução de1930 até os dias atuais.

Já Hilda Soares Braga, dividiu esse mesmo estudo nos

seguintes períodos: Colônia; Império (1822-1889); República Velha (1889-1930);

Revolução de 1930; Estado Novo (1937-1945); Redemocratização (1945-1964);

Regime Militar (1964-1985) e Nova República.(Braga citada por JORGE, 2004,

p. 36)

Passa-se agora aos apontamentos relevantes de cada fase

histórica, partindo do período colonial, passando pelo Império e República até os

dias atuais.

1.2 PERÍODO COLONIAL

Desta fase tem-se poucas informações doutrinárias acerca

do ordenamento eleitoral.

O que se sabe é que não havia um sistema eleitoral

próprio, sendo apenas observadas as Ordenações do Reino.

O jurista Manoel Rodrigues Ferreira foi autor de artigos

sobre a evolução de nosso sistema eleitoral, mostrando que, basicamente, no

Brasil – Colônia vigoraram as Ordenações do Reino, completadas em 1603, ao

escrever: (Ferreira citado por JORGE, 2004, p. 36)

Começaremos, pois, nosso próximo artigo dessa série, com aexposição da legislação eleitoral contida nas Ordenações deReino, e que presidiram as eleições dos Conselhos Municipaisdo Brasil, desde o primeiro século do descobrimento até o anode 1828.

Completando o autor:

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Terminamos, pois, a exposição do processo eleitoral do título67, do livro 1º, das Ordenações do Reino, e que presidiu aseleições das Câmaras Municipais do Brasil (e também dePortugal), durante os séculos quinhetista, seiscentista esetecentista, até o ano de 1928. (Ferreira citado por JORGE,2004, p. 36)

As leis (Ordenações) foram utilizadas quando das

primeiras eleições gerais realizadas no país, culminando com a escolha de

deputados brasileiros para as Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da

nação portuguesa (Decreto de 7 de março de 1821), após forte pressão popular

exigindo a efetiva participação de representantes brasileiros nas decisões da

corte. (JORGE, 2004, p. 37)

Outros provimentos reais vigoraram nessa época, embora

tenha sido o ordenamento principal, mormente para disciplinar as eleições da

fase colonial, sendo o Alvará de 12 de novembro de 1611 uma das mais

importantes leis sobre matéria eleitoral, após as Ordenações do Reino de 1603,

pois procuravam justamente preencher certas lacunas das referidas

Ordenações. (Ferreira citado por JORGE, 2004, p. 36)

Ainda, segundo Manoel Rodrigues Ferreira, houve outras

leis que procuravam suprir aquilo que não tinha previsão nas Ordenações, “No

Brasil, até 1822, foi grande o número de Alvarás, Cartas Régias, Provisões, e

outras, que alteravam, substancialmente, a execução do Código Eleitoral das

Ordenações, em determinadas capitânias, cidades e vilas”. (Ferreira citado por

JORGE, 2004, p. 36)

A primeira lei eleitoral brasileira foi publicada em 19 de

junho de 1822 e a mesma regulamentava a instituição da Assembléia Geral

Constituinte e Legislativa. (JORGE, 2004, p. 37)

Após a Proclamação da Independência a Assembléia

Geral Constituinte e Legislativa elaborou a Constituição do Império, outorgada

em 1824. (TRE-SC, 2001, p. 11)

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O período colonial ficou marcado por diversas

manifestações eleitorais que ocorreram por iniciativa do reino português, que

era na época quem colonizava o Brasil. (RIBEIRO, 2000, p. 31)

Dentre essas manifestações destaca-se a busca pelo

reconhecimento do poder dos donatários para fundarem vilas e promoverem

eleições dos seus conselhos. (RIBEIRO, 2000, p. 31)

Neste contexto, tem-se conhecimento da fundação da Vila

de São Vicente em 1531. (RIBEIRO, 2000, p. 31)

Sabe-se que a primeira eleição realizada no Brasil

aconteceu em 1532 e tinha como objetivo eleger o Conselho Municipal da Vila

de São Vicente. (RIBEIRO, 2000, p. 32)

A seguir, tratar-se-á dos acontecimentos eleitorais durante

o período Imperial.

1.3 PERÍODO IMPERIAL

Como conseqüência da independência, o Brasil, a partir

de 1822, deu início à confecção de sua própria legislação eleitoral.

Sete foram as principais edições eleitorais pós-

independência, que são: (JORGE, 2004, p. 37)

1) Decreto de 26 de março de 1824. Foi o primeiro e tinhacomo objetivos: eleições das Assembléias paroquiais; nomeação dos eleitoresparoquiais; apuração; colégios eleitorais; eleição para o Senado, Câmara eConselhos Provinciais; eleição indireta;

2) Decreto nº. 157, de 04 de março de 1842. Aboliu o votopor procuração, no qual era possível um eleitor mandar por outro a sua cédula.

3) Lei nº. 387, de 19 de agosto de 1846. Primeira leioriunda de processo legislativo regular, votada pelo Legislativo.

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Antes dessa Lei nº. 387, só decretos e atos foram editados

à margem, portanto, da Assembléia Geral do Império, composta pela Câmara

dos Deputados e Câmara dos Senadores ou Senado (CL, art. 14). Acabou com

a qualificação pelas mesas receptoras, prática que vinha se mantendo ainda por

influência das Ordenações, organizando Juntas de Qualificação. (JORGE, 2004,

p. 37)

4) Decreto nº. 842, de 19 de setembro de 1855. Chamadode “Lei dos Círculos”, por instituir eleições em distritos ou “círculos” eleitorais.Enumerou algumas incompatibilidades eleitorais. Derrogou a Lei nº. 387, de19.08.1846.

Moreira, acerca da Lei dos Círculos, transcreve:

Em 19 de setembro de 1855, o Imperador assinou Decreto denova Lei Eleitoral. Esta Lei possuía apenas 20 artigos, mas faziamodificações profundas na lei eleitoral vigente, dentre elasdestacava-se o seu parágrafo terceiro, o qual determinava queas províncias seriam divididas em tantos distritos eleitoraisquantos fossem os seus deputados, de modo que houvesseapenas um deputado por distrito. Essa lei ficou conhecida comoLei dos Círculos.

5) Decreto nº. 1082, de 18 de agosto de 1860. Derrogou aLei nº. 387/46 e o Decreto nº. 842/55. Aumentou o número de deputados pordistrito que, ao invés de um, conforme o Decreto nº. 842/55 passou a ser três.

6) Decreto nº. 2675, de 20 de outubro de 1875. Foichamado de “Lei do Terço”, já que os eleitores votavam em dois terços doselegíveis.

Sobre a Lei do Terço, explica Pinto Ferreira que “Este

Decreto proporcionou a representação das minorias”. (Ferreira citado por

JORGE, 2004, p. 38)

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Além disso, introduziu o título eleitoral e proporcionou à

Justiça conhecer questões relativas à primeira e segunda fases do processo

eleitoral. (Ferreira citado por JORGE, 2004, p. 38)

7) Lei nº. 3029, de 09 de janeiro de 1881. Ficou conhecidacomo “Lei Saraiva”. Sua redação foi feita por Rui Barbosa, mas o projeto, quereformava profundamente a lei vigente, foi de iniciativa do Conselheiro Saraiva.

A Lei Saraiva é tida como a mais importante lei criada

durante o período Imperial. (FERREIRA, 1991, p. 8)

A referida lei, ou Lei do Censo como também era

conhecida, além de determinar o voto direto em todo o Reino previa a realização

de um censo em todo o território a fim de ser efetuado o alistamento de todos os

eleitores. (idem, p. 8)

Além de dispor sobre as eleições para Deputados e

Senadores, a Lei Saraiva previa eleição para os cargos de Vereadores, Juízes

de Paz e Procuradores Gerais, bem como permitia aos candidatos a indicação

de fiscais juntos às Assembléias Eleitorais. (JORGE, 2004, p. 38)

Ainda, sobre os aspectos inovadores desta lei, vale

ressaltar a impossibilidade de ser incluído no alistamento eleitoral o cidadão que

não tivesse requerido por escrito e fizesse prova de sua renda anual líquida, a

qual não poderia ser inferior a duzentos mil réis. (JORGE, 2004, p. 38)

Outro aspecto relevante é a questão das condições de

elegibilidade, pois a lei determinava que o cidadão que quisesse concorrer a

algum cargo deveria reunir as qualidades de eleitor e não ter sido jamais

pronunciado em processo criminal. (JORGE, 2004, p. 38)

A definição do candidato vencedor se dava por maioria

absoluta e caso não houvesse vencedor em primeiro turno, aconteceria, 20 dias

após o resultado, o segundo turno, do qual participavam os dois candidatos que

obtiveram mais votos. (JORGE, 2004, p. 38)

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Previa, ainda, a Lei Saraiva, punição variando de multa até

prisão aos candidatos que cometessem algum crime de natureza eleitoral.

Por fim, outra determinação da lei era a proibição expressa

aos Senadores, Deputados e Membros das Assembléias de aceitarem

comissões ou empregos do Governo ou das províncias, bem como efetuar

qualquer tipo de transação com o Estado durante o mandato e até seis meses

após o término do mesmo.

1.4 PERÍODO REPUBLICANO

Alguns doutrinadores que buscaram estudar a evolução

das leis eleitorais fizeram uma divisão histórica deste período, definindo sua

primeira parte com a Proclamação, de 1889 até 1930, e a segunda fase a partir

da Revolução até os dias atuais. (JORGE, 2004, p. 38)

A diferença entre esses dois períodos é que na 1ª

República notava-se que a legislação eleitoral continuava esparsa, sofrendo

influência pelas práticas que vigoraram no Império, e a 2ª República foi a fase

que instituiu as grandes codificações eleitorais, fenômeno legislativo que não

ocorreu antes da Revolução de 1930. (JORGE, 2004, p. 38-39)

Ainda, vale ressaltar que, durante a 1ª República, houve a

influência da Constituição de 1891, sendo a única deste período, ao contrário do

que aconteceu durante a 2ª República, que sofreu influência de três

Constituições diferentes. (JORGE, 2004, p. 39)

Este período (1ª República) ficou marcado pelo fim do voto

censitário, possibilitando a todos os alfabetizados o direito de voto, desde que

preenchido o requisito da idade, bem como pela definição de quem poderia ser

eleitor e pela enorme problemática construída através da competência

legislativa eleitoral, já que neste período os Estados tiveram a possibilidade de

legislar sobre a matéria, cabendo à União regular as eleições federais, além, é

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claro, da separação entre o Estado e a Igreja, determinada pela Constituição de

1891. (idem, p. 39)

Durante o período Republicano tiveram destaque as

seguintes determinações legais: (JORGE, 2004, p. 39-40)

1) Decreto nº. 5, de 19 de novembro de 1889, outorgandoo direito de voto apenas aos cidadãos alfabetizados;

2) Decreto nº. 663, de 14 de agosto de 1890, dispondosobre a fiscalização dos trabalhos eleitorais;

3) Lei nº. 35, de 26 de janeiro de 1892. Esta lei foi aprimeira do período Republicano sobre matéria eleitoral, determinando oprocesso direto das eleições federais;

4) Lei nº. 1269, de 15 de novembro de 1904. Esta Lei ficouconhecida como “Lei Rosa e Silva”, nome do autor do substitutivo do projeto noCongresso Nacional.

Acerca desta Lei, destaca Pinto Ferreira: (FERREIRA,

1991, p. 10)

(...) foi a lei eleitoral mais importante da Velha República. Elateve origem em 1902 com um projeto apresentado pelodeputado Anísio de Abreu, encaminhado ao Senado, ondesofreu uma grande reforma por parte do senador Rosa e Silva,passando a ser conhecida por Lei Rosa e Silva.

Ainda, acerca da Lei Rosa e Silva, Pinto Ferreira

(FERREIRA, 1991, p. 10) diz que “Esta lei foi um autêntico código eleitoral, com

152 artigos e 16 capítulos, (...)”.

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5) Decreto nº. 2419, de 11 de julho de 1911. Estabeleciaas causas de Inelegibilidades, matéria hoje prevista na Lei Complementar nº. 64,de 18 de maio 1990.

6) Lei nº. 3129, de 02 de agosto de 1916. Regulamentou oprocesso eleitoral e dispôs sobre o alistamento eleitoral. Passou o controle deexecução das leis eleitorais para o Poder Judiciário.

7) Decreto nº. 4226, de 20 de dezembro de 1920. Instituiuo alistamento permanente e regulamentou a exclusão eleitoral.

Acerca das Constituições que vigoraram durante o período

Republicano, temos na Constituição de 1891, que foi a primeira do período, os

seguintes destaques, narrados por Paula Filho (2001, p. 27):

Estabelecia o sufrágio para todos os maiores de 21 anos, excetopara as mulheres, mendigos, os analfabetos, as praças de pré eos religiosos sujeitos a voto de obediência, regra ou estatuto queimportasse a renúncia da liberdade individual. Embora tivesseabolido o voto censitário, só pequena parte da população tinhacapacidade eleitoral, porquanto a massa era formada por ex-escravos, geralmente analfabetos, e mulheres, todos sem direitoa voto. Estabelecia, ainda, que a cada uma das câmaraslegislativas competia verificar e reconhecer o poder de seusmembros, medida que mantinha o país no sistema de controledo processo eleitoral, denominado Político ou de Verificação dosPoderes.

Após esta Constituição, outro fato relevante para o direito

eleitoral do país aconteceu durante a Revolução de 1930, período no qual se

buscou moralizar o sistema eleitoral.

Para Boris Fausto, neste período “(...) começa o Brasil a

percorrer a trilha da maioridade política”. (FAUSTO, 1995, p. 113)

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Em meio a todo esse contexto, em 24 de fevereiro de 1932

tem origem o Código Eleitoral Brasileiro, que entre outras determinações

instituiu a Justiça Eleitoral em nosso ordenamento jurídico.

Paula Filho (1998, p. 23) acerca do Código Eleitoral de

1932 diz que o mesmo veio para unificar a legislação eleitoral no país, que, até

então, era peculiar a cada Estado-Membro, além é claro de criar a Justiça

Eleitoral.

Depois disto teve a Constituição de 1934, que além de

manter a Justiça Eleitoral, atribuiu-lhe competência exclusiva do processo das

eleições ao judiciário, bem como autoridade para autuar as transgressões

eleitorais. (CANDIDO, 2001, p. 22)

No entanto, a Justiça Eleitoral não teve vida longa, sendo

extinta por determinação da Constituição de 1937, caracterizando segundo

doutrinadores e pesquisadores, como o grande anacronismo da época.

(CANDIDO, 2001, p. 22)

Nove anos mais tarde, com o amparo da Constituição de

1946, tem-se o ressurgimento da Justiça Eleitoral, agora composta pelo Tribunal

Superior Eleitoral, Tribunal Regional Eleitoral, Juntas Eleitorais e Juízes

Eleitorais. (CANDIDO, 2001, p. 22)

A Constituição de 1967, inclusive suas diversas emendas

constitucionais, e a de 1988, mantiveram a estrutura básica da Justiça Eleitoral,

reintroduzida pela Constituição de 1946, com alguma diferença na composição

dos Tribunais e nas suas competências. (FILHO, 1998, p. 26)

1.5 CONSTITUIÇÕES FEDERAIS

O Direito Eleitoral, em toda sua trajetória, teve a

Constituição Federal como seu guia principal, sempre indicando o caminho a ser

seguido.

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Mesmo tendo as diversas Constituições Federais contextos

completamente diferentes, até os dias atuais elas sempre dispuseram sobre

matéria eleitoral, fortalecendo, assim, a Lei maior do ordenamento jurídico

brasileiro como a fonte mais fértil sobre esta matéria.

Entendida a importância de cada Constituição Federal

acerca do Direito Eleitoral e das eleições, que foram respaldadas pelas

Constituições, serão aqui abordadas as Constituições e suas principais

características e acontecimentos.

1.5.1 Constituição de 1824

Desta Constituição extraem-se dois grandes

acontecimentos, protagonizados por D. Pedro I.

O primeiro deles é a Proclamação da Independência do

Brasil, acontecida no dia 7 de setembro de 1822.

O segundo, foi a outorga ao povo brasileiro da primeira

Constituição Política do Brasil jurada em 25 de março de 1824.

Ainda com relação a este segundo fato, deve-se destacar a

divisão dos poderes políticos, nela reconhecida como o Poder Moderador, o

Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judicial. (MOREIRA, 2002, p.

13)

Dentre esses poderes acima citados, deve-se mencionar o

Poder Moderador, que era função exclusiva do Imperador, o qual deveria zelar

pela manutenção da Independência e o equilíbrio e harmonia entre os demais

poderes políticos. (MOREIRA, 2002, p. 13)

O Poder Legislativo, por sua vez, era composto pela

Câmara de Deputados e pela Câmara de Senadores tinha a função de

confecção das normas que regeriam os cidadãos e cada legislatura durava

quatro anos.

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15

Em relação à Constituição de 1824, deve-se ressaltar que

a mesma representou um grande avanço sobre o conceito das Câmaras

Municipais do período colonial, pois, segundo a nova Constituição, todas as

cidades e vilas já existentes, bem como as que fossem criadas futuramente,

deveriam possuir uma Câmara, as quais seriam compostas por Vereadores

regularmente eleitos, competindo-lhes, sobretudo, a captação, manutenção e

aplicação de suas rendas e do governo municipal. (MOREIRA, 2002, p. 14)

Por outro lado, as Câmaras Municipais não mais teriam

jurisdição contenciosa. Limitar-se-iam à sessões administrativas, revogando na

prática as Ordenações do Reino, que até então regiam o seu funcionamento.

(MOREIRA, 2002, p. 14)

As principais características desta Constituição, sob o

ponto de vista político, além dos quatro poderes existentes, eram que a mesma

definia quem era cidadão brasileiro ou não; as eleições eram censitárias,

abertas e indiretas e havia a submissão da Igreja ao Estado, inclusive com o

direito do Imperador de conceder cargos eclesiásticos na Igreja Católica.

(MOREIRA, 2002, p. 14)

Dispõe em seus artigos 90 a 97 sobre eleições indiretas

para Deputados e Senadores para Assembléia Geral e Conselhos Gerais das

Províncias; sobre quem podia ou não votar nas Assembléias Paroquiais e sobre

quem era elegível, legando à lei regulamentar a missão de marcar o modo

prático das eleições e o número de Deputados relativamente à população do

Império. (CANDIDO, 2001, p. 21)

1.5.2 Constituição de 1891

A elaboração desta Constituição, que foi a primeira do

período Republicano, iniciou-se em 1890.

Após um ano de negociações e discussões, a sua

promulgação ocorreu em 24 de fevereiro de 1891.

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Sobre a fase acima, ensina Ricardo Moreira: (MOREIRA,

2001, p. 20)

É importante ressaltar, que a primeira Constituição da Repúblicado Brasil foi decretada e promulgada no dia 24 de fevereiro de1891, contudo, o Congresso convocado com as prerrogativas deconstituinte foi instalado em 15 de novembro de 1890,recebendo do governo provisório o anteprojeto da novaConstituição pronto. Aos constituintes caberia apenas revisá-lo eadequá-lo às necessidades da população, todavia a estrutura doanteprojeto foi preservada em sua essência e até em grandeparte de sua redação.

Visando fundamentar juridicamente o novo regime, a

primeira Constituição republicana do país foi redigida à semelhança dos

princípios fundamentais da carta norte-americana, muito embora grande parte

dos princípios liberais democráticos deste diploma foi suprimida. (MOREIRA,

2002, p. 20)

Isto ocorreu porque houve grande pressão das oligarquias

latifundiárias, as quais influenciaram na redação do texto. Vários membros

destas oligarquias queriam que o poder fosse mais centralizado, tornando, desta

forma, mais fácil à manipulação deste. (MOREIRA, 2002, p. 20)

A Constituição de 1891 é a mais concisa de todas as

Constituições Brasileiras, possuindo apenas noventa e um artigos, além de oito

artigos que tratavam das disposições transitórias. Foi dividida em cinco títulos,

sendo eles: Da Organização Federal; Dos Estados; Do Município; Dos Cidadãos

Brasileiros e Disposições Gerais. (MOREIRA, 2002, p. 20)

Uma das principais novidades da Constituição de 1891 foi

a instituição do Congresso Nacional, que seria responsável por exercer o Poder

Legislativo.

Finalmente a Constituição de 1891 dispunha que o Poder

Legislativo seria exercido pelo Congresso Nacional, na forma bicameral,

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dividindo-se em Câmara dos Deputados e Senado Federal. (MOREIRA, 2002, p.

20)

Neste ponto, cabe mencionar que as eleições para

Deputados e Senadores seriam simultâneas em todo o território nacional e cada

legislatura duraria três anos. Com relação à Câmara dos Deputados a mesma

seria composta por representantes eleitos nos Estados e no Distrito Federal,

mediante sufrágio direto para um mandato de três anos. (MOREIRA, 2002, p.

21)

No tocante ao número de cadeiras a serem preenchidas,

aconteceria na proporção de um Deputado para cada setenta mil habitantes. O

número mínimo de Deputados por Estado seria quatro. Com relação ao Senado,

este seria composto por cidadãos brasileiros maiores de trinta e cinco anos de

idade no gozo de seus direitos civis e políticos, sendo que cada Estado e o

Distrito Federal elegeriam três senadores cada, para um mandato de nove anos,

com a renovação de um terço do Senado trienalmente. (MOREIRA, 2002, p. 21)

Outra inovação foi que as Províncias tornaram-se Estados,

e estes eram uma unidade da Federação que tinha maior autonomia. Como

conseqüência, os Estados começaram a redigir suas próprias Constituições,

sempre inferiores hierarquicamente à Constituição Federal. (MOREIRA, 2002, p.

21)

Os antes Presidentes das Províncias passaram a ser os

Presidentes dos Estados e eram eleitos pelo voto direto, da mesma forma que o

Presidente da República. Aproveitando sobre o Presidente da República, vale

ressaltar que a eleição que conhecemos hoje não é tão diferente daquela época,

pois, para ser elegível, o cidadão deveria ser brasileiro nato; estar no gozo dos

seus direitos civis e políticos e ter mais de trinta e cinco anos de idade, e ainda

deveria obter a maioria absoluta dos votos. (MOREIRA, 2002, p. 21)

Caso não houvesse um candidato vitorioso o Congresso

Nacional, em sessão conjunta, elegeria em segundo turno, por maioria dos

votos dos presentes (maioria simples) e em sessão única, um dos dois

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candidatos que tivessem alcançado a maioria dos votos na eleição direta.

(MOREIRA, 2002, p. 21)

Competia ainda, privativamente ao Congresso Nacional,

regular o processo eleitoral para os cargos federais em todo o país. (MOREIRA,

2002, p. 21)

Quanto aos eleitores, estavam aptos a votar todos os

cidadãos brasileiros maiores de 21 anos já alistados (Lei Saraiva ou Lei do

Censo, 1881), e os que se alistarem na forma da lei vigente. (MOREIRA, 2002,

p. 21)

Além de eleições por sufrágio direto da nação e maioria

absoluta de votos para Presidente e Vice-Presidente da República, esta primeira

Constituição Republicana previu também inelegibilidades para os cargos de

Presidente e Vice-Presidente da República, deixando para lei ordinária regular o

processo de eleição e de apuração. (CANDIDO, 2001, p. 21)

1.5.3 Constituição de 1934

A Constituição de 1934, promulgada em 16 de julho pela

Assembléia Nacional Constituinte, foi redigida “para organizar um regime

democrático, que assegure à Nação a unidade, a liberdade, a justiça e o bem-

estar econômico”, segundo o preâmbulo.

Esta Constituição foi a que teve menor vigência dentre

todas as Constituições brasileiras, tendo apenas três anos de duração.

Oficialmente a duração desta Constituição foi de um ano somente, pois foi

suspensa pela Lei de Segurança Nacional. Considerada progressista para a

época, a Constituição de 1934 previu muitas das maiores conquistas do Direito

Eleitoral Brasileiro. (MOREIRA, 2002, p. 22)

Dentre essas conquistas destacam-se a instituição do voto

secreto; o voto obrigatório para os maiores de 18 anos; o voto feminino, que já

havia sido instituído pelo Código Eleitoral de 1932; estabeleceu também a

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criação da Justiça Eleitoral, confirmando assim o Código Eleitoral de 1932 e

suas disposições. (MOREIRA, 2002, p. 22)

Vale ressaltar também que a nova Constituição manteve o

Brasil como República Federativa sob o regime representativo em sua forma de

governo. (MOREIRA, 2002, p. 23)

Quanto à Câmara dos Deputados, esta seria composta

mediante o sistema proporcional dos votos universal, direto e igualitário, além

dos representantes eleitos pelas organizações profissionais. (MOREIRA, 2002,

p. 23)

Os deputados seriam eleitos proporcionalmente ao número

de habitantes de cada Estado e do Distrito Federal. Nesse ponto é importante

frisar, que o número de habitantes não poderia exceder a proporção de um

representante para cada 150 mil habitantes, até o limite de vinte representantes,

e que os eleitos das organizações profissionais poderiam atingir a um quinto da

representação popular. Ainda com relação aos representantes das organizações

populares, cabe mencionar que eles eram eleitos por sufrágio indireto nas

associações profissionais. (MOREIRA, 2002, p. 23)

Já o Senado era composto por dois representantes de

cada Estado, eleitos dentre os brasileiros natos, maiores de trinta e cinco anos

para um mandato de oito anos. (MOREIRA, 2002, p. 23)

Destaca-se aí, que pela primeira vez a Constituição do

país, recepcionou a Justiça Eleitoral como instituição, a qual seria composta por

um Tribunal Superior de Justiça Eleitoral na Capital da República e um Tribunal

Regional na capital de cada Estado. Cabe ressaltar, que o art. 83 da referida

Constituição estabelecia que competia privativamente à Justiça Eleitoral a

elaboração do processo eleitoral federal, estadual e municipal. (MOREIRA,

2002, p. 23)

Os artigos elencados no Título III, Capítulo I, da

Constituição de 1934, foram de grande avanço na sistemática eleitoral brasileira,

pois tratavam dos direitos políticos dos brasileiros. Esse fato pode ser verificado,

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especialmente no art. 108 o qual assegurava às mulheres o direito constitucional

ao voto, declarando serem eleitores os brasileiros de um ou de outro sexo e os

maiores de dezoito anos, desde que devidamente alistados. (MOREIRA, 2002,

p. 23)

A questão eleitoral, no entanto, ficou prejudicada, pois a

eleição para presidente, bem como para os demais cargos eletivos no País não

se realizaram, com exceção da eleição indireta para a Assembléia Constituinte.

(MOREIRA, 2002, p. 23)

Esta Constituição teve o grande mérito de criar, no seio da

Constituição, porquanto já havia sido criada pelo Código Eleitoral (Decreto nº

21.076 de 24.02.32) a Justiça Eleitoral como órgão do Poder Judiciário (Art. 63,

alínea d – atribuiu jurisdição eleitoral plena aos juízes vitalícios na forma da lei –

Art. 87, § 7º). (MOREIRA, 2002, p. 23)

Acerca das funções exercidas pela Justiça Eleitoral e sua

competência, ensina Joel J. Candido que: (CANDIDO, 2001, p. 22)

Estabelecia a competência privativa da Justiça Eleitoral para oprocesso das eleições federais, estaduais e municipais, inclusivea dos representantes das profissões (Art 83, caput),competência essa que ia desde organizar a divisão eleitoral dopaís até o poder de decretar a perda do mandato legislativo,passando pela competência para processar e julgar os delitoseleitorais e os comuns que lhe fossem conexos.

Dispôs também sobre o alistamento, direitos políticos e

inelegibilidades – Art. 108 a 112, assim como sobre as eleições para Presidente

da República – Art. 52. (CANDIDO, 2001, p. 22)

1.5.4 Constituição de 1937

Em 10 de novembro de 1937 foi outorgada ao povo

brasileiro a sua quarta Constituição. Porém, diferentemente da Constituição de

1824, a forma de governo não era uma monarquia, mas sim, um regime

ditatorial. Sobre este regime, dizia-se que a sua principal finalidade era a de

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preservar a ordem política e social do país, além de realizar uma grande obra

administrativa. (MOREIRA, 2002, p. 24)

Entretanto, a Constituição de 1937, considerada por muitos

como uma Constituição fascista, serviu apenas para manter no poder o

Presidente Getúlio Vargas. (MOREIRA, 2002, p. 24)

Corroborando tais assertivas, tem-se a entrevista de

Francisco Campos dada ao jornal Correio da Manhã do Rio de Janeiro,

publicada em 03 de março de 1945, o qual dizia: (Francisco citado por

MOREIRA, 2002, p. 24)

Mas a Constituição de 1937 não é fascista, nem é fascista aditadura cujos fundamentos são falsamente imputados àConstituição. O nosso regime tem sido uma ditadura puramentepessoal, sem o dinamismo característico das ditaduras fascistas,ou uma ditadura nos moldes clássicos das ditaduras sul-americanas.

É notável que a Constituição de 1937, que teve redação do

então Ministro da Justiça, Francisco Campos, buscava atender a interesses de

grupos políticos que tinham como objetivo a implantação de um governo forte

que trouxesse benefícios e vantagens a alguns dominantes. (MOREIRA, 2002,

p. 24)

A maior característica desta Constituição era a questão da

enorme concentração de poder nas mãos do Presidente Getúlio Vargas,

possibilitando assim, por exemplo, a livre nomeação de autoridades estaduais.

(MOREIRA, 2002, p. 24)

Dentre as principais medidas adotadas pela Constituição

de 1937, destacam-se a concentração dos poderes Executivo e Legislativo nas

mãos do Presidente da República; o estabelecimento de eleições indiretas para

Presidente da República, que teria ainda mandato de 6 anos; o fim do

federalismos e liberalismo; estabelecia a pena de morte; retirava do trabalhador

o direito de greve. (MOREIRA, 2002, p. 25)

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Acerca deste regime ditatorial instituído por Getúlio Vargas,

discorre Ricardo Moreira (2002, p. 25):

(...) entende-se por ditador ou regime ditatorial, a pessoa oucorpo de pessoas a quem, politicamente, nada existe superiorem um Estado determinado. Foi, portanto, pelo fato de teremanado de uma pessoa no exercício do poder constituinte enão em virtude de qualquer característica formal ou material quea lei tenha lhe conferido, que a Constituição de 1937 foi adotadacomo lei fundamental do nosso País.

A fim de esclarecer melhor a afirmação, colaciona-se o

texto a seguir (MOREIRA, 2002, p. 25):

Exagerando em seu discricionarismo, Getúlio Vargas, por onzevezes, por meio de “Leis Constitucionais”, alterou o texto daCarta de 1937, entendendo, assim, reter o Poder Constituinteoriginário, cada reforma correspondendo, para seus críticos, auma nova outorga, a um golpe de estado complementar.

Esta Constituição do Estado Novo em seus artigos de 117

a 121 extinguiu a Justiça Eleitoral, dispondo, todavia, sobre eleitores, direitos

políticos e inelegibilidades. (CANDIDO, 2001, p. 22)

A Justiça Eleitoral foi “recriada” pelo Decreto Lei nº 7.586,

de 28.05.45, dispondo que seria órgão autônomo do Poder Judiciário.

1.5.5 Constituição de 1946

Em 1945, com o final da 2ª Grande Guerra Mundial, o

Brasil se viu na contramão da história, pois, lutando ao lado do 5º Exército

Americano na Itália, os Oficiais do Exército Brasileiro se deram conta da

anomalia de lutar pela democracia no exterior enquanto persistia uma ditadura

em seu próprio país, colocando-se do ponto de vista ideológico, ao lado dos

vencidos. (MOREIRA, 2002, p. 25)

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Desta maneira, a Assembléia Constituinte promulgou a

Constituição dos Estados Unidos do Brasil e o ato das Disposições

Constitucionais Transitórias no dia 18 de setembro de 1946. Esta Constituição,

ao contrário da Constituição de 1937, consagrou novamente a liberdade

expressa na Constituição de 1934. (MOREIRA, 2002, p. 25)

Tão bem redigida quanto a Constituição de 1891, a

Constituição de 1946 possuía 218 artigos, além dos Atos das Disposições

Transitórias, com mais 36 artigos. (MOREIRA, 2002, p. 25)

Em linhas gerais a Constituição assemelhava-se à Carta

Magna de 1891. Porém, sem a rigidez presidencialista, sendo observado os

dispositivos que permitiam o comparecimento espontâneo dos Ministros a

plenário, as comissões de inquérito parlamentar por iniciativa de 1/5 dos

membros de cada Câmara e a possibilidade de o congressista ser Ministro de

Estado sem perder o mandato. Contudo, em contrapartida a Constituição de

1946, no art. 48, § 2º, estatuiu que perderia o mandato, por 2/3 dos votos de

seus pares, o deputado ou o senador cujo procedimento fosse incompatível com

o decoro parlamentar, coisa que até então era inconcebível nas Constituições

do Brasil e de outros Estados soberanos. (MOREIRA, 2002, p. 25)

O que mais contribuiu na elaboração da carta política, no

entanto, foi a coincidência de dois fatores políticos: a) a limitação dos atos do

Presidente em reação contra os exageros do presidencialismo da República

Velha e, b) uma reação contra as tendências ditatoriais, que modelaram a Carta

de 1937. (MOREIRA, 2002, p. 25)

Quanto às eleições, ou ao sistema de voto, mantiveram-se

o espírito do Código Eleitoral de 1932, acrescentando, porém, uma alteração

que iria ser passageira: a representação proporcional, adicionada à

representação política, conforme preconizava o art. 134 da Constituição.

(MOREIRA, 2002, p. 26)

No dia 25 de agosto de 1961, o então Presidente da

República, Jânio Quadros, encaminhou ao Congresso Nacional sua renúncia e

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no dia 02 de setembro de 1961 o Congresso Nacional, através das mesas da

Câmara dos Deputados e do Senado Federal, promulgaram a emenda

constitucional nº. 4. Esta emenda ficou conhecida como “Ato Adicional”, que

instituía o sistema parlamentar de governo na tentativa de uma solução

apaziguadora entre os militares e os congressistas, pois os primeiros não

queriam que o vice-presidente João Goulart assumisse a Presidência da

República. (MOREIRA, 2002, p. 26)

Contudo, em janeiro de 1963, através de um plebiscito, o

povo pediu o retorno de regime presidencialista, sendo o mesmo efetivado

através da emenda constitucional nº. 6, datada de 23 de fevereiro de 1963.

(MOREIRA, 2002, p. 26)

A presente Constituição, em seus artigos 108 à 121,

manteve a Justiça Eleitoral, dispondo sobre sua competência, assim como sobre

o alistamento, inelegibilidades e direitos políticos (art. 131 a 140). Atribuiu à

União a competência privativa para legislar sobre Direito Eleitoral. (CANDIDO,

2001, p. 22)

1.5.6 Constituição de 1967 e 1969

A Constituição de 1967, que em 1969 recebeu nova

redação por uma emenda decretada pelos “Ministros militares no exercício da

Presidência da República”, é para muitos estudiosos e doutrinadores uma nova

Constituição de caráter outorgado, ainda que a nova redação tenha sido uma

emenda à Constituição de 1967. (MOREIRA, 2002, p. 27)

Desta forma, reconhecendo a emenda de 1969 como uma

nova Constituição, ensina Ricardo Moreira (2002, p. 27):

Situar as Constituições brasileiras de 1967 e 1969 dentro docontexto que integravam o mecanismo do sistema políticodaquela época é uma tarefa um tanto quanto difícil, já que elaspossuíram dois focos bem caracterizados do poder: o primeiroera que no plano federal, era a União quem centralizava osistema e representava a totalidade do poder do Estado

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brasileiro; e o segundo era que na organização dos poderesfederais era o Executivo quem concentrava o poder e exercia oefetivo comando político, bem como, possuía um amplo poderde decisão.

Continua seu raciocínio afirmando que:

Estas Constituições depois de afirmarem que a forma de Estadoseria a federação, estabeleceram que o sistema político seria odemocrático e a forma de governo republicana, no entanto, nãoesclareceram se a república seria presidencialista ouparlamentarista. (idem, p. 27)

As principais características da Constituição de 1967 e sua

emenda de 1969 foram a concentração no Poder Executivo da maior parte do

poder de decisão; confere somente ao Executivo o poder de legislar em matéria

de segurança e orçamento; estabelece eleições indiretas para presidente, com

mandato de cinco anos; militariza a Presidência da República, dando às forças

armadas uma força gigantesca; restringe o federalismo; estabelece a pena de

morte para crimes de segurança nacional; restringe ao trabalhador o direito à

greve e abre espaço para a decretação posterior de leis de censura e

banimento.

Os mecanismos constitucionais destinados à ação política

do Estado foram amplamente utilizados para o funcionamento do regime político

instituído. Contudo, este regime caracteriza-se pela centralização política da

União no sistema federal e do Poder Executivo dentro do governo da União,

onde o Poder Executivo era escolhido em um processo eleitoral indireto pelo

Congresso Nacional e pelos representantes dos Legislativos estaduais.

(MOREIRA, 2002, p. 27)

Pelos arts. 123 a 132, foi mantida a Justiça Eleitoral como

órgão do Poder Judiciário, dispondo, outrossim, o texto, sobre os direitos

políticos (arts. 142 a 148) e sobre os Partidos Políticos (art. 149). (CANDIDO,

2001, p. 23)

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Da mesma forma, a Constituição de 1969 regulou a Justiça

Eleitoral dentro dos órgãos do Poder Judiciário, assim como dispôs sobre os

direitos políticos e Partidos Políticos (arts. 130 a 140 e 147 a 152). (CANDIDO,

2001, p. 23)

1.5.7 Constituição de 1988

A atual Constituição regulou os direitos políticos em seus

artigos 14 e 16 e dispôs sobre os Partidos Políticos no artigo 17, mantendo a

Justiça Eleitoral dentro do Poder Judiciário, como um de seus órgãos (arts. 92,

V e 118 a 121). (CANDIDO, 2001, p. 23)

Regulou amplamente a eleição para Presidente e Vice-

Presidente da República, indicando as substituições e seu processo, nos casos

de impedimento e vacância. O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

contém vários artigos referentes ao Direito Eleitoral, mormento sobre plebiscito,

mandatos e eleições (arts. 2º, 4º, 5º, etc.) (CANDIDO, 2001, p. 23)

1.6 LEGISLAÇÃO ELEITORAL

A maioria dos autores que se dedicou ao estudo da

evolução das leis eleitorais e suas repercussões divide o período em duas

etapas: da Proclamação, em 1889, até 1930, com a Revolução, e desta até

nossos dias. A razão maior dessa divisão é histórica, mais do que didática.

(CANDIDO, 2001, p. 26)

Na 1ª República, a legislação continuou esparsa,

sensivelmente influenciada pelas práticas que vigoraram no Império. Na

verdade, embora tivessem ocorrido nessa época algumas tranformações sociais

dignas de nota, como a libertação dos escravos, não mudou muito nossa

realidade social, o que mudou foi o Estado e sua organização política.

(CANDIDO, 2001, p. 26)

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Acabou o voto censitário, passando todos os alfabetizados

a ter direito a ele, preenchido o requisito da idade. Definiu-se quem podia ser

eleitor. Houve confusão de sistemas eleitorais nas esferas estaduais, já que os

Estados puderam legislar sobre a matéria cabendo à União regular as eleições

federais, entre outras pequenas novidades e características. (CANDIDO, 2001,

p. 26)

A partir da Revolução de 1930, o Brasil ingressou na época

das codificações eleitorais, instrumentos legais que, junto com as Constituições

que se seguiram, continham o regramento fundamental que passou a ser

aplicado em nosso sistema eleitoral, em todas as suas fases e momento de

alistamento à diplomação, passando pelas inelegibilidades e pelos Partidos

Políticos. (CANDIDO, 2001, p. 28)

Ao total, foram redigidos quatro códigos em matéria

eleitoral, sendo eles os códigos de 1932; 1935; 1950 e 1965.

Passa-se adiante, neste estudo, a discorrer sobre cada um

desses códigos, apontando suas peculiaridades.

1.6.1 Código Eleitoral de 1932

No Código Eleitoral de 1932 foi criada a Justiça Eleitoral; o

voto feminino; a representação proporcional; o voto secreto em cabina

indevassável; o sufrágio era universal e direto; a eleição era direta e em dois

turnos; o domicílio eleitoral era de livre escolha do eleitor; delegou-se à lei

especial os casos de inelegibilidades; todas as eleições eram regulamentadas

pelo Código; o eleitor era parte legítima para a ação penal; a competência para

processar e julgar os crimes eleitorais era do Tribunal Regional e aos Juízes

incumbia apenas a preparação dos processos ou a instrução, desde que

expressamente para tal designados; o prazo prescricional de qualquer crime

eleitoral era de 10 anos. (CANDIDO, 2001, p. 35)

O Ministério Público, inclusive o Ministério Público

Estadual, sem capítulo próprio no Código, tinha nele aparecimento apenas

episódico. (CANDIDO, 2001, p. 35)

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1.6.2 Código Eleitoral de 1935

No Código Eleitoral de 1935 continuaram reguladas todas

as eleições federais, estaduais e municipais; as mulheres só eram obrigadas a

se alistar se exercessem função pública remunerada (CF, 1934, art. 109); o voto

era secreto e havia sistema de representação proporcional para os parlamentos;

dispôs sobre as Juntas Especiais para apuração somente das eleições

municipais, como órgão da justiça Eleitoral. (CANDIDO, 2001, p. 35)

Também os juízes adquiriram parcial competência

decisória em matéria criminal eleitoral; dispôs, em longo capítulo próprio (arts.

49 a 57), pela primeira vez, sobre o Ministério Público, proibindo ao Procurador-

Geral atividades político-partidárias e, inclusive, regulando a ampla participação

do Ministério Público dos Estados em todas as fases do processo eleitoral.

(CANDIDO, 2001, p. 35)

Reduziu sensivelmente a prescrição por crime eleitoral

para 5 anos (casos com pena privativa de liberdade) e para 2 anos (demais

casos), aceitando as hipóstes de sua suspensão e interrupção previstas na lei

penal comum; restringiu a regra do domicílio eleitoral, obrigando-o a coincidir

com o domicílio civil; elencou, longamente, as inelegibilidades, delegando à

Constituição e às leis estaduais o direito de aumentar esse elenco. (CANDIDO,

2001, p. 35)

1.6.3 Código Eleitoral de 1950

No Código Eleitoral de 1950, editado sob a vigência da

Constituição Federal de 1946, o sufrágio e o voto eram, como hoje, universais e

diretos, obrigatórios e secretos; havia o sistema proporcional e majoritário.

(CANDIDO, 2001, p. 35)

As Juntas Especiais passaram a ser Juntas Eleitorais, com

competência para apurar as eleições realizadas nas zonas eleitorais sob sua

jurisdição. (CANDIDO, 2001, p. 35)

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O eleitor tinha que requerer o alistamento, não se

procedendo mais de ofício; dedicou, pela primeira vez, capítulo próprio para a

propaganda partidária, restringindo ou garantindo seu exercício; deu aos juízes

eleitorais competência plena em matéria criminal eleitoral, ressalvando apenas a

competência originária dos tribunais; extinguiu o capítulo próprio do Ministério

Público e dele só dispôs de modo ocasional e assistemático; autorizou a

aplicação subdisiária ou supletiva do Código de Processo Penal, mas silenciou

em relação ao Código Penal. (CANDIDO, 2001, p. 35 e 36)

1.6.4 Código Eleitoral de 1965

Instituído pela Lei 4.737 em 15 de julho de 1965 e fruto do

regime militar e considerado por alguns como “entulho” da ditadura, é o quarto

código eleitoral brasileiro.

É o Código vigente e cabe ressaltar que, neste período da

2ª República, afora os Códigos Eleitorais, inúmeras outras leis, leis

complementares e até emendas constitucionais, editadas, tomando relevo e

vigorando paralelamente a eles, ou alterando seus dispositivos. (CANDIDO,

2001, P. 36)

Mencionam-se apenas algumas: (JORGE, 2004, p. 43)

1) Lei nº. 6.996, de 7.6.82. Dispõe sobre o processamentoeletrônico de dados nos serviços eleitorais. Prevê crime eleitoral.2) Lei nº. 7.021, de 6.9.82. Estabelece o modelo de cédula oficialúnica a ser usada nas eleições de 15 de novembro de 1982.Estabelece crime eleitoral. 3) Emenda Constitucional nº. 25, de15.5.85. Altera artigos da Constituição Federal de 1969.Estabelece eleição direta para Presidente e Vice-Presidente daRepública e restabelece o voto do analfabeto como facultativo.4) Lei Complementar nº. 64, de 18.5.90. Revogou a LeiComplementar nº. 5/70. Estabelece, de acordo com o art. 14, §9º, da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos decessação e prevê crime eleitoral. Alterada pela LeiComplementar nº. 81, de 13.4.94 (DOU de 14.4.94) 5) LeiComplementar nº. 86, de 14.5.96. Acrescenta dispositivo ao

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Código Eleitoral, a fim de permitir a ação rescisória em casos deinelegibilidades.

Em 1932, logo após a Revolução de 1930, se editou o

primeiro Código Eleitoral. O segundo foi publicado menos de um ano após a

promulgação da Constituição de 1934. À Constituição de 1946, sucedeu o

Código Eleitoral de 1950, e, menos de dois anos após a Revolução de 1964, se

editou o Código Eleitoral vigente. (CANDIDO, 2001, p. 37)

Assim, historicamente, nossos códigos nasceram, ou após

os movimentos militares de expressão, ou após a promulgação de constituições,

o que, de certo modo, tem sua razão de ser, e se justifica, além de ser de fácil

compreensão. (idem, p. 37)

Após toda esta explanação acerca do histórico do Direito

Eleitoral Brasileiro, estudaremos agora o instituto da Elegibilidade.

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CAPÍTULO 2

ELEGIBILIDADE

2.1 CONCEITO

Acerca desse assunto, alguns doutrinadores destinaram

seus estudos e pesquisas, dentre eles Djalma Pinto, Alexandre de Moraes,

Adriano Soares da Costa e Pedro Roberto Decomain.

Para Djalma Pinto, o instituto da Elegibilidade é a “aptidão

do eleitor para participar de disputa pelo poder político, submetendo seu nome ao

corpo eleitoral para recebimento dos votos através dos quais se indica alguém

para o exercício do mandato”, isto é, a elegibilidade é quem define qual cidadão

poderá ou não entrar na disputa pelo poder político e esta possibilidade se dará

se atendidas as exigências legais, assunto que veremos adiante. (PINTO, 2006,

p. 151)

Alexandre de Moraes define a elegibilidade da seguinte

maneira: “Elegibilidade é a capacidade eleitoral passiva consistente na

possibilidade de o cidadão pleitear determinados mandatos políticos, mediante

eleição popular, desde que preenchidos certos requisitos”. (MORAES, 2003, p.

237)

Assim, a elegibilidade nada mais é que o preenchimento de

alguns requisitos que a legislação impõe ao cidadão que tem por objetivo

ascender a um mandato político, possibilitando-lhe concorrer em eleição popular.

Pinto Ferreira (1989, p. 306) define elegibilidade como sendo

“(...)a capacidade eleitoral passiva, o poder de ser votado”.

Pedro Roberto Decomain escreve o seguinte acerca do

assunto (DECOMAIN, 2004, p. 9-11):

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Existem certas circunstâncias, cuja presença é exigida pelaConstituição Federal ou por outras leis, para que alguém possaser candidato. (...). Resumindo, elegível é aquele que preenche osrequisitos previstos pela Constituição e pela legislaçãoinfraconstitucional (esta está autorizada, às vezes, pela própriaConstituição, a complementar requisitos para ser eleito, o queocorre com o prazos de domicílio eleitoral e filiação partidária), e,ao mesmo tempo, não tem presente em relação a si um fato que aprópria Constituição, ou a lei complementar (somente ela podeprever outras causas de inelegibilidade, além das constantes dopróprio texto constitucional), estabelece como impedimento àcandidatura, ou causa de inelegibilidade.

Desta forma conceitua a elegibilidade também como sendo a

possibilidade de o cidadão ser eleito, via eleição popular, depois de preenchidos

os requisitos existentes na Constituição Federal e nas leis infraconstitucionais.

Outro que dispôs seu entendimento acerca da elegibilidade

é Adriano Soares da Costa, ao dizer o seguinte (COSTA, 1998, p. 57): “Enquanto

o cidadão não preenche todas as condições de elegibilidade, não possui ainda o

direito de ser votado”.

E mais, disse ainda acerca da ausência de elegibilidade:

Sendo assim, não havendo o fato jurídico que origine este direitopúblico subjetivo – pois só de fatos jurídicos dimanam efeitosjurídicos -, há ausência, para todos, da capacidade passivaeleitoral, é dizer, da possibilidade de candidatar-se o nacional aum cargo político eletivo. (idem, p. 57)

Deste modo, a inelegibilidade deve ser entendida como a

possibilidade de o cidadão concorrer a algum cargo político, através de eleição

popular e após preencher todos os requisitos exigidos na legislação vigente.

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2.2 CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE

As condições de elegibilidade estão enumeradas no § 3º, do

artigo 14, da Constituição Federal, sendo a presença delas necessárias para que

o cidadão possa torna-se titular de mandato eletivo.

O referido artigo traz o seguinte:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universale pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nostermos da lei, mediante:

§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: I – anacionalidade brasileira; II – o pleno exercício dos direitospolíticos; III – o alistamento eleitoral; IV – o domicílio eleitoral nacircunscrição; V – a filiação partidária; VI – a idade mínima de: a)trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente daRepública e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anospara Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito,Vice-Prefeito e Juiz de Paz; d) dezoito anos para Vereador.

Assim, a Constituição Federal limita quem pode e quem não

pode candidatar-se para algum cargo eletivo.

Vale ressaltar que a Constituição também faz menção aos

inalistáveis e aos analfabetos, considerando-os inelegíveis no parágrafo 4º do

mesmo artigo.

Alguns doutrinadores, como por exemplo, Adriano Soares da

Costa, por entender que as condições de elegibilidade não estão previstas

somente na Constituição Federal, fazem uma divisão destas condições de

elegibilidades, denominando as previstas pela Constituição Federal de condições

de elegibilidade próprias e aquelas que estão previstas em lei infra-constitucional

são denominadas de condições de elegibilidade impróprias. (COSTA, 1998, p. 59)

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Adiante, falar-se-á acerca de cada uma das condições

estabelecidas pela nossa Constituição Federal, bem como das condições

estabelecidas por lei ordinária.

2.2.1 Nacionalidade Brasileira

A nacionalidade brasileira é a primeira das condições de

elegibilidade enumerada pela Constituição Federal, estabelecendo assim que

“para que alguém possa ser candidato, é preciso que seja detentor da

nacionalidade brasileira”. (DECOMAIN, 2004, p. 12)

Sabemos que a aquisição da nacionalidade brasileira pode

ser de forma originária ou adquirida e a Constituição Federal, em seus artigos 12

ao 14, regula esta questão e seus reflexos, os quais versam:

Art. 12. São brasileiros:

I – natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, aindaque de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviçode seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro oumãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço daRepública Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro, depai brasileiro ou mãe brasileira, desde que estes venham a residirna República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo,pela nacionalidade brasileira;

II – naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram anacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países delíngua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto eidoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade,residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinzeanos ininterruptos e sem condenação criminal, desde querequeiram a nacionalidade brasileira.

O art. 12 da Constituição Federal define quem pode ser

considerado brasileiro para todos os fins legais, quer de direito interno, quer de

direito internacional. Neste particular, atende ao princípio da atribuição estatal da

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nacionalidade, segundo o qual os estados podem dizer quais são os seus

nacionais. Só eles o podem fazer e não podem dizer que os seus nacionais não o

são de outros estados. (COSTA, 1998, p. 61)

Desta forma, distingue os brasileiros em natos e

naturalizados. São brasileiros natos os nascidos em território brasileiro, desde que

não sejam filho de estrangeiros a serviço de seu país; os nascidos no estrangeiro,

de pais brasileiros, desde que qualquer deles esteja a serviço do Brasil; e os

nascidos no estrangeiro, de pai ou de mãe brasileiros, desde que venham a

residir no Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira (art.

12, inc. I, alíneas a, b, e c). (COSTA, 1998, p. 61)

Os brasileiros naturalizados são aqueles que adquirem a

nacionalidade brasileira na forma da lei, exigindo aos originários de países de

língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;

e os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes no Brasil há mais de 15

anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeira a nacionalidade.

(COSTA, 1998, p. 62)

A Constituição, ainda sobre a nacionalidade, em seu § 1º, do

artigo 12, versa sobre a condição do Português não naturalizado residente no

Brasil, o qual é transcrito:

Art. 12: “Omissis”

§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, sehouver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos osdireitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nestaConstituição.

Assim, conclui-se que apenas os portugueses não

naturalizados e residentes no Brasil terão capacidade ativa e passiva, desde que

haja reciprocidade em favor de brasileiros que residam em Portugal, pois por

ausência de nacionalidade brasileira inexiste o direito de votar e ser votado.

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A convenção sobre igualdade de direitos e deveres entre

brasileiros e portugueses, foi aprovada pelo Decreto Legislativo nº. 70.391, de 12

de abril de 1972. Para gozo de direitos políticos por portugueses, no Brasil, e

brasileiros, em Portugal, exigem-se residência permanente de cinco anos e

requerimento à autoridade competente. (PINTO, 2006, p. 152)

Continuando a exposição das exigências e regulamentações

acerca da nacionalidade brasileira dispostas pela Constituição Federal, tem-se o §

2º, do artigo 12, que diz a lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros

natos e naturalizados, salvo nos casos em que a Constituição fizer previsão.

Sendo assim, não há possibilidade de existir tratamento

desigual entre brasileiros natos e naturalizados, salvo disposição em contrário da

Constituição Federal. Acerca desta disposição ensina Adriano Soares da Costa

(COSTA, 1998, p. 62):

Entre os brasileiros natos e naturalizados não poderá a leiestabelecer distinção, senão nos casos admitidos pelaConstituição Federal (§ 2º do art. 12). Destarte, no que se refereao direito de ser votado (elegibilidade), a Constituição foi liberal,outorgando-o aos naturalizados, obviamente com limites para oscargos eletivos elencados pelo § 3º do mesmo artigo: Presidente eVice-Presidente da República; Presidente da Câmara dosDeputados e Presidente do Senado Federal.

Da situação dos portugueses no Brasil, apresenta-se um

tratamento distinto dos demais estrangeiros:

Neste particular, A CF/88 trouxe norma que anteriormente nãohavia em nosso sistema jurídico: outorgaram-se aos portuguesescom residência permanente no Brasil, em havendo reciprocidadeem favor de brasileiros, direitos inerentes ao brasileiro, salvo noscasos previstos na Constituição. Tal regra não dá aos portuguesesa nacionalidade brasileira, mas concede direitos à nacionalidadeportuguesa equiparados aos concedidos aos brasileiros. Noutrogiro, a Constituição anexou efeitos próprios da nacionalidadebrasileira à nacionalidade portuguesa. (idem, p. 62)

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Evoluindo o estudo acerca da nacionalidade, mais

precisamente sobre os cargos que são privativos de brasileiros natos, temos a

seguinte disposição constitucional:

Art. 12. (...)

§ 3º - São privativos de brasileiros natos os cargos: I – dePresidente e Vice-Presidente da República; II – de Presidente daCâmara de Deputados; III – de Presidente do Senado Federal; IV– de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V – da carreiradiplomática; VI – de oficial das Forças Armadas.

Pedro Roberto Decomain interpreta o dispositivo

constitucional (DECOMAIN, 2004, p. 13):

Desse parágrafo se conclui que qualquer cargo eletivo è acessívela quaisquer brasileiros, sejam eles natos, sejam ele naturalizados,com exceção dos cargos de Presidente e Vice-Presidente daRepública. Desse modo, mesmo os brasileiros naturalizadospodem ser candidatos aos cargos de Governador e Vice-Governador dos Estados e do Distrito Federal, Senador, DeputadoFederal, Deputado Estadual, Prefeito e Vice-Prefeito Municipal eVereador. Mas os Presidentes tanto da Câmara dos Deputadosquanto do Senado Federal, estes devem ser brasileiros natos,assim como o próprio Presidente e o Vice-Presidente daRepública. A exigência se justifica até porque podem vir a serchamados a exercer a Presidência, em caso de vacância ouimpedimento do Presidente e do Vice-Presidente. Do mesmomodo, podendo o Presidente do Supremo Tribunal Federal vir aser chamado a suceder ou a substituir o Presidente da República,em casos de ausência ou impedimento do Vice-Presidente e dosPresidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal,justifica-se a exigência de que somente brasileiros natos possamocupar os cargos de Ministro daquele Tribunal.

Como a nacionalidade define se o indivíduo poderá ou não

concorrer para algum cargo eletivo, ressalvados os cargos do § 3º do art. 12, nos

vemos obrigados a estudar a questão da perda da nacionalidade, pelo simples

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fato que a ausência de nacionalidade tem como conseqüência a inexistência de

uma das condições de elegibilidade.

Sendo a nacionalidade uma das condições de elegibilidade,

a sua perda implica ausência de uma destas condições. A perda da nacionalidade

é prevista no § 4º do art. 12 da Constituição Federal de 1988, sendo efeito de dois

fatos: a) o cancelamento da naturalização, por decisão judicial, em virtude de

atividade nociva ao interesse nacional; e b) a aquisição, pelo brasileiro, de outra

nacionalidade. (COSTA, 1998, p. 63)

A naturalização de estrangeiros pode ser cancelada por

sentença, quando estiverem eles incursos em prática de atividade nociva ao

interesse nacional, como a prática de terrorismo, exempli gratia. Importante, para

o Direito Eleitoral, é a fixação do momento puctual em que se dá a perda da

nacionalidade, e as implicações para o exercício do cargo para o qual o

naturalizado foi eleito. Ora, pela dicção constitucional, a perda da nacionalidade

ocorre pelo ato de cancelamento da naturalização, mercê de sentença judicial.

Destarte, a sentença possui eficácia desconstitutiva da naturalização mais

eficácia mandamental do cancelamento do ato de naturalização. (COSTA, 1998,

p. 63)

Acerca da aquisição, pelo brasileiro, de outra nacionalidade,

explica Adriano Soares da Costa (1998, p. 65)

O brasileiro que adquire outra nacionalidade perde anacionalidade brasileira. É perda pela mudança de nacionalidade,não por abdicação pura da nacionalidade original. Se o Estadoadmite que o nacional, por sua vontade, perca a nacionalidade,sem necessidade de adquirir outra, possibilita a apatria. Daí porque tem o Direito Internacional Público caminhado no sentido dedesaconselhar a perda – abdicação da nacionalidade, limitando araras espécies o direito de auto-expatriação.

Dessa forma, o brasileiro nato perde a nacionalidade

brasileira quando voluntariamente opta por outra nacionalidade, naturalizando-se

nacional de outro país. Salvo se ocorrer a situação da alínea b, do inciso II, desse

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parágrafo, ou seja, se lhe for exigida a naturalização, para que possa permanecer

residindo no país estrangeiro, ou lá possa exercer direitos civis. Nesse caso,

embora se naturalize, não perde a nacionalidade brasileira. (DECOMAIN, 2004, p.

14)

2.2.2 O Pleno Exercício dos Direitos Políticos

Os direitos políticos são basicamente o direito de votar e de

ser votado, isto é, o direito de ter o indivíduo a capacidade eleitoral ativa e a

capacidade eleitoral passiva, respectivamente.

Djalma Pinto, sobre esta condição de elegibilidade ensina

(PINTO, 2006, p. 153):

O pleno exercício dos direitos políticos é condição essencial paraa configuração da elegibilidade. A plenitude dos direitos políticosse expressa pela aptidão para votar e ser votado. Sem encontrar-se apto a seu exercício, não é possível ao indivíduo nem sealistar, nem tampouco se filiar a partido, requisitos imprescindíveisà configuração da elegibilidade.

Os direitos políticos são o que possibilitam o acesso a

cargos e funções públicas; a participação na escolha dos ocupantes dos cargos

eletivos; a possibilidade de ser parte legítima (ad causam) para o exercício de

determinadas ações cívicas (ação popular) e outras situações.

Para Adriano Soares da Costa, “(...) quem perde ou tem

suspenso os direitos políticos, perde ou tem suspensa a própria cidadania, o

próprio status civitatis. (COSTA, 1998, p. 66)

A Constituição Federal versa que os direitos políticos não

serão cassados. No entanto, enumera os casos em que poderão deixar de existir.

O art. 15 da Constituição Federal, todavia, a par de proibir a

cassação de direitos políticos, afirma a sua perda ou suspensão nos casos de

cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado (inciso I),

incapacidade civil absoluta (inciso II), condenação criminal transitada em julgado,

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enquanto durarem seus efeitos (inciso III), recusa de cumprir obrigação a todos

imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII (inciso IV), e

improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º (inciso V). (DECOMAIN,

2004, p. 14)

Passa-se agora a estudar cada caso de perda dos direitos

políticos.

2.2.2.1 Perda dos direitos políticos por cancelamento da naturalização

A primeira das hipóteses em que poderá o cidadão nacional

perder seus direitos políticos é quando este deixar de ser nacional, quando o

indivíduo perder sua nacionalidade brasileira.

A Constituição Federal vigente prescreve, como hipótese de

perda dos direitos políticos, a perda definitiva da nacionalidade por brasileiro

naturalizado. Assim, o brasileiro naturalizado que tiver cancelada a sua

naturalização perde a nacionalidade (perda-sanção) e os direitos políticos. Há o

processo; há a ampla defesa; há a sentença desconstitutiva; e há a poda

definitiva da nacionalidade, como pena, pela prática de atividade nociva à pátria

adotada. (COSTA, 1998, p. 66)

A perda voluntária da nacionalidade (perda-mudança) é

outro motivo de perda dos direitos políticos, até que o brasileiro de origem

readquira a nacionalidade brasileira, agora pela naturalização. (COSTA, 1998, p.

67)

O cancelamento da naturalização gera a perda da própria

nacionalidade brasileira, que através dela havia sido adquirida. Como a

nacionalidade é pressuposto para que se tenha direitos políticos, a conseqüência

não poderia ser outra: perdida a nacionalidade, perdidos serão também tais

direitos. Trata-se de causa de perda dos direitos políticos, e não apenas de sua

suspensão. Mas a perda apenas ocorrerá com o trânsito em julgado da decisão

judicial que houver cancelado a naturalização, com base no art. 12, § 4º, I, da

própria Constituição. (DECOMAIN, 2004, p. 14)

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Portanto, o cancelamento da naturalização, que implica na

perda da nacionalidade brasileira, tem como conseqüência óbvia a perda dos

direitos políticos, já que a nacionalidade é pressuposto essencial para o gozo dos

direitos políticos.

2.2.2.2 Suspensão dos direitos políticos por incapacidade civil absoluta

A incapacidade civil pode ser relativa ou absoluta e a

diferença mora na possibilidade de os atos civis serem praticados pessoalmente

ou não pelas pessoas enumeradas no Código Civil, em seus artigos 3º e 4º.

A incapacidade civil absoluta é circunstância que impede, de

todo, o exercício de direitos da vida civil por parte de determinadas pessoas. Não

que não possam ser titulares de tais direitos. Podem. Mas não podem exercer por

si mesmas os poderes resultantes de tais direitos. Exercê-los-ão através de

pessoas a quem a própria lei confere sua representação. (DECOMAIN, 2004, p.

15)

O Código Civil assim define quem são os absolutamente

incapazes:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente osatos da vida civil: I – os menores de dezesseis anos; II - os que,por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessáriodiscernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo porcausa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

A superveniência de incapacidade absoluta é causa não de

perda, mas de suspensão dos direitos políticos. O motivo da incapacidade pode

desaparecer e com isso o exercício dos direitos políticos será plenamente

restabelecido. Esse exercício somente não poderá ocorrer enquanto a capacidade

persistir. (DECOMAIN, 2004, p. 15)

2.2.2.3 Suspensão dos direitos políticos em virtude de condenação criminal

A sentença penal procedente, além de suas eficácias

naturais, possui outros efeitos, colados pelo ordenamento jurídico. São efeitos

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exclusos ao fato jurídico da sentença, independentemente do querer da Justiça

Pública, bastando para sua expansão a prolação da decisão judicial de

procedência (dita condenatória).

Não é conteúdo do decisum: é efeito exterior,

independentemente de dicção judicial. Se necessidade houver de pronunciamento

do julgador, tem-se de analisar se tal pronunciamento é dependente da res

deducta. Se for dependente, de efeito excluso não se trata, mas de efeito próprio

da sentença, dependente de pronunciamento judicial. (COSTA, 1998, p. 76)

Observa-se aqui, que a sentença condenatória criminal,

além de aplicar a respectiva sanção ao agente criminoso pelo fato que cometeu,

secundariamente aplica outra punição, que como bem explica Adriano Soares da

Costa, pode ser tanto na esfera pública ou privada.

Neste caso, o cidadão que cometer ato ilícito e tiver pela

Justiça Criminal a prolação de sentença que lhe imponha uma sanção, esta

também trará conseqüências na esfera pública, já que haverá a perda dos direitos

políticos do condenado.

A suspensão dos direitos políticos é efeito anexo da

sentença penal procedente, transitada em julgado. À suspensão dos direitos

políticos basta o trânsito em julgado da sentença penal procedente,

independentemente do seu conteúdo. Toma-se o ato da sentença definitiva de

procedência como ato material, avolitivo, na sua pura facticidade (ato-fato

jurídico), dimanando dele, como fato humano – desimportante o elemento vontade

-, o efeito da suspensão dos direitos políticos. A vontade do decisum é posta entre

parêntese, tomando-se a sentença procedente em si mesma, mais o trânsito em

julgado, como produtores de tais efeitos. (COSTA, 1998, p. 78)

Portanto, não importa o crime que fora cometido e a pena

que foi imposta ao agente. O simples fato de ter o cidadão contra si sentença

condenatória transitada em julgado, os direitos políticos deste estarão suspensos

até quando durarem os efeitos da mesma.

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Pedro Roberto Decomain (2004, p.16) ensina acerca da

suspensão dos direitos políticos como conseqüência do trânsito em julgado de

sentença condenatória criminal:

Se o cidadão está com seus direitos políticos suspensos por forçade condenação criminal transitada em julgado, evidentemente quenão pode ser candidato. Assim, a regra constitucional em algunsaspectos é bem mais abrangente do que a regra de inelegibilidadeconsignada na letra e, o inciso I, do art. 1º da Lei Complementarnº. 64, de 18 de maio de 1990, conhecida como “Lei dasInelegibilidades”, de acordo com o qual é inelegível para qualquercargo o que for condenado criminalmente, com sentençatransitada em julgado, pela prática de crimes contra a economiapopular, a fé pública, a administração pública, o patrimôniopúblico, o mercado financeiro, por tráfico de entorpecentes ou porcrimes eleitorais, até três anos após o cumprimento da pena.

Por conseguinte, não há perda dos direitos políticos pelo

crime que fora cometido, e sim por qualquer crime que tenha motivado a sentença

condenatória.

Abordando o tema, Fávila Ribeiro (1991, p.265) observou

que:

Pelos termos do inciso em pendência, todo aquele que suportarcondenação criminal, seja ela qual for não importa a natureza dapena imposta, terá, por conseqüência, a suspensão de seusdireitos políticos, enquanto durarem os seus efeitos. Para tanto,não é mister se refira a condenação à pena privativa de liberdade,no lapso de tempo em que permanecer a privação imposta. Nemse reconhece a necessidade de que a sentença, já com trânsitoem julgado, faça explicitação da suspensão como elementoacessório.

No mesmo sentido, inclina-se Manoel Gonçalves Ferreira

Filho, ao asseverar que “(...) não distingue a Constituição entre as penas ao impor

a suspensão dos direitos políticos enquanto perdurarem os seus efeitos.” (FILHO,

1990, p. 134)

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2.2.2.4 Suspensão dos direitos políticos, por recusa em cumprir obrigação a

todos imposta, ou prestação alternativa

A recusa em cumprir dever que seja legalmente imposto a

todos, ou em realizar prestação alternativa legalmente autorizada, também

representa causa de suspensão (e não de perda) dos direitos políticos. Dentre

esses deveres, desponta o do serviço militar obrigatório. É imposto em tempo de

paz a todos os homens, ressalvada dispensa na forma da lei. Em tempo de

guerra, pode ser imposto também às mulheres. (DECOMAIN, 2004, p. 18)

Os que sem justificativa se recusarem a tal serviço, terão

suspensos seus direitos políticos até que cumpram seu dever. (DECOMAIN,

2004, p. 18)

Portanto, todas aquelas obrigações cívicas, quando não

realizadas, suspendem os direitos políticos do cidadão.

A obrigatoriedade dos homens em se apresentar ao serviço

militar assim que cheguem aos dezoito anos é o melhor exemplo dessa

suspensão dos direitos políticos, pois quando não o fazem, a Justiça Eleitoral, ao

solicitar a apresentação dos documentos que revelam se a obrigação foi cumprida

ou não, certamente irá declarar a suspensão dos direitos políticos.

2.2.2.5 Suspensão dos direitos políticos por improbidade administrativa

A improbidade administrativa, em um termo mais coloquial,

seria a tão falada corrupção na esfera pública.

Somente podem ser praticados atos de improbidade

administrativa por pessoas que estejam investidas em cargo público, isto é, por

pessoas que sejam agentes públicos da administração direta ou indireta. Os

terceiros que não têm função pública alguma, podem também praticar atos de

improbidade administrativa, bastando que induzam ou concorram para a prática

de improbidade por agente público ou do ato ilícito tirem proveito.

A Lei nº. 8.429, de 2 de junho de 1992, relaciona e pune, na

órbita cível, a prática de atos de improbidade administrativa por agentes públicos.

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Dentre as punições que elenca, inclui sempre a suspensão dos direitos políticos

dos responsáveis por tais atos, suspensão essa que varia conforme natureza do

ato e cuja duração, dentro dos limites mínimo e máximo estabelecidos na própria

lei para cada categoria de ato de improbidade, será fixada pelo juiz, na sentença.

(DECOMAIN, 2004, p. 19)

Portanto, o agente público que cometer atos relacionados

nos artigos 9, 10 e 11 da Lei nº. 8.429, responderá civilmente perante a Justiça e,

após a sentença, terá seus direitos políticos suspensos.

Vale ressaltar aqui a diferença dessa sentença nos casos de

improbidade para aquela da sentença criminal estudada há pouco. A sentença, no

caso de improbidade, terá sempre na cominação da pena a suspensão dos

direitos políticos, expressando-a claramente em seu corpo.

Adriano Soares da Costa, a esse respeito, disse: (COSTA,

1998, p. 85)

Diferentemente do que ocorre com a hipótese de suspensão dosdireitos políticos em razão de condenação criminal transitada emjulgado, a improbidade administrativa, declarada em sentençajudicial, não gera a suspensão dos direitos políticos como efeitoanexo, automático. Necessário que a decisão qualificadora dedeterminado ato administrativo como ímprobo expressamentedisponha sobre a suspensão dos direitos políticos do agentepúblico que o praticou. Deveras, o art. 3º, § 4º da CF/88condicionou a suspensão dos direitos políticos por atos deimprobidade à forma e gradação previstas em lei”: Art. 37.omissis: §4º Os atos de improbidade administrativa importarão asuspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, aindisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma egradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Portanto, após sentença que declare a suspensão dos

direitos políticos em decorrência de ato de improbidade administrativa, o agente

ímprobo, sem o gozo do pleno exercício dos direitos políticos, perde umas das

condições de elegibilidade, tornando-se, assim, impossibilitado de concorrer a

qualquer cargo eletivo.

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2.2.3 O Alistamento Eleitoral

Foram estudadas já duas condições de elegibilidade, a

saber, a nacionalidade brasileira e o pleno exercício dos direitos políticos.

O alistamento eleitoral é mais uma exigência legal para que

o cidadão possa concorrer a um cargo eletivo, tornando-se assim um candidato

às eleições.

Este instituto nada mais é que inscrição do nacional no

quadro de eleitores da Justiça Eleitoral, fazendo nascer, assim, o direito de votar.

Antes de o nacional vislumbrar a possibilidade de

candidatar-se a qualquer cargo eletivo, ele deve também ser eleitor. E esta

condição é adquirida através do alistamento.

Adriano Soares da Costa, acerca do assunto, ensina:

(COSTA, 1998, p. 91)

O alistamento, portanto, é o ato jurídico pelo qual nascem, para osnacionais, os direitos políticos, entre eles, o direito públicosubjetivo de votar. Antes da imissão do nacional no corpo deeleitores inexistem direitos políticos, não havendo cidadania. Acidadania, como já referido, é o direito de sufrágio e seuscorolários, como a legitimidade ad causam ativa para propor AçãoPopular.

Pedro Roberto Decomain, também acerca do assunto,inclina-se: (DECOMAIN, 2004, p. 19)

O alistamento eleitoral é o ato pelo qual a pessoa, maior dedezesseis anos, requer sua inclusão no rol dos eleitores de umadeterminada circunscrição. Diz o art. 42 do Código Eleitoral que oalistamento eleitoral se faz mediante a qualificação e inscrição doeleitor. O parágrafo único daquele artigo prossegue determinandoque a inscrição eleitoral seja feita no lugar de residência oumoradia do requerente e, tendo ele mais de um, em qualquer

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deles. Esse local, onde o cidadão tiver providenciado seualistamento eleitoral, será seu domicílio eleitoral.

Continuando acerca da importância do alistamento eleitoral:

(DECOMAIN, 2004, p. 19)

Sem que a pessoa tenha providenciado seu alistamento eleitoral,não pode ser candidato. Além disso, de acordo com o inciso IV, do§ 3º, do art. 14 da Constituição Federal, a lei poderá estabelecer(e a Lei nº. 9.504/97, que regula as eleições, o faz) um mínimo detempo de domicílio eleitoral na circunscrição pela qual o cidadãopretenda candidatar-se, para que esta candidatura seja possível.Disso cuida o art. 9º da referida Lei. O § 2º, do art. 14, daConstituição Federal, estabelece quem são as pessoas que nãose podem alistar eleitoras.

Deste modo, vimos a importância do alistamento eleitoral

como condição de elegibilidade, pois é ele quem possibilita também ao candidato

a concorrer um cargo eletivo.

Além disso, o alistamento eleitoral determina o domicílio

eleitoral do cidadão, que é importante para se conhecer os cargos que poderão

ser vislumbrados pelo mesmo e também qual a circunscrição ele irá representar,

forçando assim a manutenção da identidade entre eleitor e candidato, ou

principalmente, eleitor e eleito.

2.2.4 Domicílio Eleitoral

Como já vimos quando falamos das condições de

elegibilidade, a própria Constituição Federal determina que, para que o cidadão

possa candidatar-se em eleições, terá ele que ter domicílio na circunscrição para

a qual desejar concorrer a algum cargo.

No entanto, a própria Constituição Federal diz que para o

preenchimento dos requisitos de todas as condições de elegibilidade deverá ser

seguido o que versar a lei, permitindo, assim, que a lei infra-constitucional regule

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como se dará o cumprimento de cada uma das condições. (DECOMAIN, 2004, p.

21)

A Lei 9.504, de 30 de setembro de 1997, é uma dessas leis

que têm o aval da Constituição para regular como serão procedidos ou limitados

determinados atos a fim do cumprimento de cada uma das condições de

elegibilidade.

Em seu artigo 9º, a referida Lei determina que o candidato

que quiser concorrer a um determinado cargo eletivo terá que ter domicílio na

circunscrição por no mínimo um ano.

Entende-se por domicílio eleitoral, segundo disposição do

Código Eleitoral, em seu artigo 42, parágrafo único, como sendo o lugar da

residência ou moradia do requerente, e no caso de ter ele mais de uma,

considerar-se-á qualquer delas.

Djalma Pinto, acerca do domicílio eleitoral escreveu que “O

domicílio eleitoral, por sua vez, é o lugar da residência ou moradia onde o cidadão

formaliza seu alistamento.” (PINTO, 2006, p. 156)

Sobre o mesmo assunto entende Adriano Soares da Costa:

(COSTA, 1998, p. 97)

Residência ou moradia, para o Direito Eleitoral, é o local onde sevive habitualmente, mesmo que apenas para trabalhar, sem fixarlugar de morar. Se há local de ocupação habitual, de trabalhofreqüente, há residência para efeito de domicílio eleitoral. Sepossui vínculo patrimonial com a localidade, também. Ainda que lánão viva, possui interesses, de modo que se admite suadomiciliação para fins eleitorais.

Portanto, diferentemente do que preceitua o Código Civil,

domicílio para o Direito Eleitoral é o lugar onde o candidato vive e desempenha

suas funções, não importando se este local não seja também o de sua moradia.

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2.2.5 Filiação Partidária

Para que um cidadão, que tem por objetivo candidatar-se

para qualquer cargo eletivo, se faz necessária a prévia filiação partidária segundo

as normas eleitorais vigentes.

Não há possibilidade de alguém concorrer em eleições sem

estar filiado a algum partido político há pelo menos um ano antes da eleição.

O sistema eleitoral brasileiro não admite candidaturas

avulsas. Qualquer cidadão que pretenda candidatar-se a mandato eletivo deve

pertencer a um partido político e ser por ele escolhido como seu candidato.

(DECOMAIN, 2004, p. 22)

Adriano Soares da Costa, acerca da filiação partidária,

ensina: (COSTA, 1998, p. 100)

A filiação partidária é um pressuposto constitucional relevante,pois indica a impossibilidade de existirem candidaturas avulsas,independentes dos partidos políticos. O mandato eletivo, comoexercício da representação indireta dos eleitores na administraçãolato sensu da coisa pública, deve ser outorgado a nacionaisvinculados às agremiações políticas, as quais são associações decidadãos, no gozo de seus direitos políticos, unidos por umaideologia e por uma disposição legítima de alcançarem o poder.

A filiação partidária, por seu turno, expressa o vínculo do

cidadão com o respectivo partido político. No Brasil, não há candidatura sem

partido. (PINTO, 2006, p. 153)

O simples cumprimento desta condição não quer dizer que o

candidato está possibilitado a concorrer nas eleições. Deve-se ainda, atender

mais uma exigência da norma eleitoral, a saber, o prazo mínimo de filiação.

Este prazo, previsto na Lei nº. 9.096, de 19 de setembro de

1995 (Lei dos Partidos Políticos), em seu artigo 18, é de no mínimo um ano antes

da eleição a qual deseja concorrer o candidato.

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Deve a filiação estar ultimada, pelo menos, um ano antes do

pleito no partido pelo qual disputará o cidadão a eleição. (PINTO, 2006, p. 153)

2.2.6 Idade mínima para candidatura

A última condição de elegibilidade é a idade mínima que

deve ter o candidato para poder participar das eleições ao cargo eletivo.

A Constituição Federal, em seu artigo 14, § 3º, inciso VI

dispõe sobre a idade mínima que o candidato deve ter para candidatar-se, a

saber:

§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: VI – a idademínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos paraGovernador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; c)vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ouDistrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; d) dezoito anos paraVereador.

Esta condição não traz muitas discussões acerca das idades

mínimas exigidas para a candidatura aos cargos eletivos, pois a Constituição é

muito clara a respeito. No entanto, o problema está no momento em que a idade

mínima deverá ser exigida.

A discussão doutrinária que ocorre é se a idade mínima,

fixada pela Constituição, deverá estar completa no momento do registro da

candidatura ou no momento da eleição.

Pedro Henrique Távora Niess (NIESS, 1994, p. 33), acerca

desta discussão, posiciona-se:

Todas essas condições deverão evidenciar-se por ocasião doregistro do candidato, mas terão de ser consideradas em relaçãoà data da eleição, quando possível, porque são condições deelegibilidade, não de registro. Assim, poderá candidatar-se aqueleque completar a idade mínima para o cargo pretendido até o diado pleito eleitoral.

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Portanto, para Niess, o candidato pode registrar-se sem que

tenha preenchido esta condição. No entanto, deverá ele ter a idade mínima

exigida até o dia que acontecer a eleição.

Entendendo de maneira díspar, Adriano Soares da Costa

ensina: (COSTA, 1998, p. 107)

Elegibilidade é o direito de ser votado e, também, de expor semembaraços o seu nome em campanha eleitoral. Como direitosubjetivo público, nasce do ato jurídico do registro de candidatura,que é o ato através do qual, cumpridas as condições exigíveis,exsurge para alguém status de candidato. Elegível é o candidato,após a obtenção do registro. As chamadas condições deelegibilidade, já o dissemos e agora redizemos, são,tecnicamente, condições de registrabilidade. Apenas pode-seregistrar quem as cumpre quando do pedido de registro, inclusivequanto à idade mínima exigível.

Ainda sobre a idade mínima exigível e a possibilidade de se

candidatar:

Do registro nasce a elegibilidade, que é o direito de candidatar-se,de concorrer a cargo eletivo fazendo campanha. O exercício daelegibilidade não se dá apenas no dia da eleição, mas durantetoda a campanha eleitoral, quando o candidato tenta granjearvotos. Elegível não é apenas quem pode ser votado no dia daeleição; elegível é quem pode pôr seu nome no prélio eleitoral,fazendo campanha, promovendo propaganda a praticando para osquais está habilitado. (COSTA, 1998, p. 108)

Parece-nos mais correto e técnico o posicionamento que

entende que a idade mínima exigida deverá ser comprovada no momento do

registro da candidatura, já que, sem este requisito, o cidadão não pode ter o

status de elegível.

Como condição de elegibilidade e registrabilidade, a idade

mínima deve estar completa no momento do pedido de registro, pois caso

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contrário estaria sendo registrado e tornando-se elegível o cidadão que não

cumpriu com as condições de elegibilidade previstas na Constituição Federal.

Agora, após tomarmos conhecimento das condições que

possibilitam ao nacional concorrer em eleições, passamos a estudar as causas de

Inelegibilidades.

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CAPÍTULO 3

INELEGIBILIDADE

3.1 CONCEITO

A inelegibilidade é a ausência da elegibilidade,

impossibilitando o cidadão de tornar-se candidato a qualquer cargo eletivo.

O cidadão que não preencher todos os requisitos que a lei

prevê não tem acesso à capacidade eleitoral passiva, isto é, não tem o direito de

ser candidato e ser votado pelo povo.

Para Djalma Pinto, inelegibilidade “(...) é a ausência de

aptidão para postular mandato eletivo”. (2006, p. 157)

O não cumprimento de quaisquer das hipóteses de

condições de elegibilidade ou a ocorrência de uma das situações da Lei

Complementar nº. 64/90, tornam o cidadão inelegível.

A inelegibilidade é o estado jurídico de ausência ou perda de

elegibilidade. Sendo a elegibilidade o direito subjetivo público de ser votado, a

inelegibilidade é o estado jurídico negativo de quem não possui tal direito

subjetivo – seja porque nunca o teve, seja por o perdeu. (COSTA, 1998, p. 145)

Portanto, a inelegibilidade é a impossibilidade jurídica de o

candidato pleitear cargos públicos eletivos, seja porque ele não preencheu os

requisitos fundamentais para ter condição de elegibilidade, isto é, tornar-se

elegível, ou então por ter o cidadão descumprido alguma disposição normativa e

ter incorrido em alguma hipótese que afasta o direito de manter-se no poder.

Acerca da inelegibilidade e suas hipóteses, Adriano Soares

da Costa, ensina (COSTA, 1998, p. 147):

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Entrementes, é curial advertirmos que existem inelegibilidadescriadas como sanção a fatos ilícitos eleitorais, assim comoexistem inelegibilidades hipotisadas como salvaguarda dosprincípios do equânime tratamento aos candidatos e damoralidade administrativa.

Inclina-se acerca do mesmo instituto Alexandre de Moraes

(MORAES, 2003, p. 239):

A inelegibilidade quando trata as suas possibilidades deocorrência cria duas espécies, a inelegibilidade inata e ainelegibilidade cominada, sendo esta dividida em simples epotenciada.

Adiante será visto cada uma separadamente.

3.2 INELEGIBILIDADE INATA

A inelegibilidade inata remete-nos novamente às condições

de elegibilidade, já que para o nacional ser declarado inelegível tem ele que não

atender as exigências constitucionais de elegibilidade.

As condições de elegibilidade, se cumpridas, ensejam no

registro do candidato e, consequentemente, na aquisição do direito de ser votado

em eleições.

Sem o registro, ou seja, sem o preenchimento das

exigências de elegibilidade, o nacional não poderá concorrer a qualquer cargo

eletivo, tornando-se assim inelegível inatamente. (COSTA, 1998, p, 151)

Portanto, a inelegibilidade inata é a ausência de elegibilidade

por parte do cidadão, pois ele não preencheu todos os requisitos para se tornar

elegível.

No mesmo sentido, a inelegibilidade inata é aquela comum a

todos os nacionais que não tenham registro de candidatura, isto é, aqueles que,

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por não atenderem os dispositivos legais acerca da condição de elegibilidade,

estão impedidos de registrar sua candidatura e assim ter a possibilidade de

concorrer nas eleições.

3.3 INELEGIBILIDADE COMINADA

A inelegibilidade cominada é aquela decorrente da aplicação

de sanção pela prática de ato ilícito, impossibilitando o candidato de participar das

eleições e obstruir os efeitos de eventual vitória do mesmo. (COSTA, 1998, p.

152)

Esta espécie de inelegibilidade é a punição aplicada ao

candidato ou eleito que tenha cometido qualquer ilícito eleitoral, impossibilitando o

mesmo de assumir o poder ou, caso já esteja exercendo sua função, forçando-o a

deixá-lo. Há aqui uma divisão quanto às conseqüências que o ato ilícito pode

trazer, verificando que a sanção imposta pode pôr fim à possibilidade de o

cidadão participar da eleição atual ou de eleição futura.

Esta teoria, de autoria de Adriano Soares da Costa (Teoria

da Inelegibilidade), faz esta distinção, apontando duas espécies da inelegibilidade

cominada, sendo elas a inelegibilidade cominada simples e a inelegibilidade

cominada potenciada, que vemos a seguir.

3.3.1 INELEGIBILIDADE COMINADA SIMPLES

O direito objetivo pode imputar a sanção de inelegibilidade

de quatro maneiras: a) prescrevendo a cominação de inelegibilidade apenas para

a eleição na qual o nacional está interessado em concorrer; b) prescrevendo a

cominação de inelegibilidade por um trato de tempo determinado, abrangendo as

eleições que ocorram dentro desse período; c) coalescendo as duas técnicas,

com a prescrição da inelegibilidade para a eleição na qual o ato ilícito visava

influir, acrescida da inelegibilidade para eleições futuras que se realizem dentro

de um determinado período prefixado; e d) aplicando sucessivamente duas

espécies de inelegibilidades prolongadas no tempo. (COSTA, 1998, p. 153)

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A inelegibilidade cominada simples é a sanção de perda da

elegibilidade para “essa eleição”, vale dizer, para a eleição na qual foi declarada

prática do ato reprochado como injurídico. Sua decretação tem por escopo

mondar o ius honorum do candidato, impedindo a sua candidatura, ou a sua

diplomação, ou o exercício do seu mandato eletivo obtido por meio ilícito.

(COSTA, 1998, p. 154)

Portanto, a inelegibilidade cominada simples surge para

punir o infrator eleitoral, importando a sua impossibilidade de ascender ou manter-

se em cargo eletivo na época da infração.

A sanção tem seus efeitos legais apenas para a eleição em

que ocorreu o ato ilícito, afastando a possibilidade de haver conseqüências em

eleições futuras.

3.3.2 INELEGIBILIDADE COMINADA POTENCIADA

Diferentemente da inelegibilidade cominada simples, que

tem como objetivo punir aquele que comete ato ilícito eleitoral, a inelegibilidade

cominada potenciada visa punir o nacional que cometa ato ilícito eleitoral ou não,

prevendo punição também para atos de outra natureza.

Quando se estudam as espécies de potenciação da

inelegibilidade cominada, deve-se partir do dado já estabelecido de ser ela uma

sanção com efeito eleitoral, nada obstante não seja necessariamente aplicada a

atos ilícitos eleitorais. (COSTA, 1998, p. 154)

Portanto, pode o nacional cometer ato tipificado como ilícito

no campo penal, como por exemplo, o peculato, e ter como conseqüência alguma

restrição eleitoral em futuras eleições.

O ato ilícito, nesta espécie, não precisa ser exclusivamente

eleitoral para que o nacional tenha suas pretensões políticas extintas ou a

manutenção do cargo eletivo.

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A inelegibilidade cominada potenciada prevê obstáculos

para o nacional que quiser concorrer a cargo eletivo em eleição futura a que ele

cometeu o ato ilícito, pois esta espécie impossibilita o deferimento do pedido de

registro de candidatura para este nacional.

3.4 CAUSAS CONSTITUCIONAIS DE INELEGIBILIDADE

A Constituição Federal prevê alguns casos de inelegibilidade

em seu texto, sendo eles os inalistáveis e os analfabetos; bem como a questão da

reeleição do Presidente da República, dos Governadores e dos Prefeitos apenas

para um mandato sucessivo; a necessidade de desincompatibilização do

Presidente, dos Governadores e dos Prefeitos, se pretenderem candidatar-se a

outros cargos; o cônjuge e os parentes de titulares de mandatos eletivos; a perda

do mandato pelo Presidente da República que fora condenado pela prática de

crime de responsabilidade e a inabilitação para o exercício de qualquer função

pública pelo Presidente, pelo Vice-Presidente e pelos Ministros de Estado

condenados pelo mesmo crime; e também a situação dos membros do Poder

Judiciário e do Ministério Público.

Os inalistáveis são os estrangeiros, os conscritos e os

menores de 16 anos de idade e assim são definidos por não preencherem os

requisitos de elegibilidade previstos no mesmo texto constitucional.

Além desses, os analfabetos também vêm definidos como

inelegíveis e, portanto, não vislumbram a possibilidade de concorrer em eleições.

Há ainda, constitucionalmente, a previsão de inelegibilidade

em caso de crime praticado por titular do mandato eletivo, a impossibilidade de o

cônjuge ou parente de titular de mandato concorrer em eleições e também a

questão da desincompatibilização.

Analisar-se-ão todas essas questões separadamente para o

melhor entendimento.

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3.4.1 Os inalistáveis: estrangeiros, conscritos e menores de 16 anos deidade

A Constituição Federal determina algumas inelegibilidades

em seu artigo 14, § 4º, ao afirmar que são inelegíveis os inalistáveis e os

analfabetos.

Os inalistáveis são aqueles definidos pelo § 2º do mesmo

artigo, sendo eles os estrangeiros, por não gozarem dos direitos políticos que

gozam os nacionais; durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos

e também os menores de 16 anos de idade.

Inalistáveis são aqueles que não podem alistar-se eleitores,

na forma do art. 42 do Código Eleitoral. (DECOMAIN, 2004, p. 53)

Entenda-se aqui que os inalistáveis são inelegíveis, pois

como já vimos, o alistamento é uma condição de elegibilidade do artigo 14, § 3º,

da Constituição Federal.

Já o serviço militar obrigatório, que é regulado pela Lei nº.

4.375, de 17 de agosto de 1964, regulamentada através do Decreto nº. 57.654, de

20 de janeiro de 1966, também enseja em uma causa constitucional de

inelegibilidade, impossibilitando assim o nacional de alistar-se caso ainda não o

tenha feito.

Agora, se o nacional se alistou entre 16 e 18 anos

(facultativo), e foi convocado para o serviço militar obrigatório, ele torna-se da

mesma maneira inelegível, pois o fato de estar prestando o serviço militar é uma

causa de inelegibilidade.

Outro que não pode se alistar é o menor de 16 anos de

idade, pois a Constituição nada fala sobre a possibilidade do mesmo em alistar-

se. No entanto, o texto constitucional é claro ao dizer que somente os maiores de

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16 anos e os menores de 18 anos têm a faculdade de alistar-se antes da

obrigatoriedade de assim fazer após completos os 18 anos de idade.

Resumindo, como a Constituição não prevê a possibilidade

de alistamento aos menores de 16 anos de idade, pelo contrário, apenas faz

menção à possibilidade de alistamento facultativo aos maiores de 16 anos e

menores de 18 anos, entende-se que são absolutamente inelegíveis os menores

de 16 anos de idade.

Pedro Roberto Decomain, acerca da inelegibilidade dos

menores de 16 anos, explica (DECOMAIN, 2004, p. 53):

A Constituição Federal diz que o alistamento eleitoral e o voto sãofacultativos aos maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.Para os maiores de dezoito anos, são obrigatórios (CF, art. 14, §1º, I e II, c). Inexistindo referência aos menores de dezesseisanos, implícito resulta que para eles o alistamento eleitoral sequeré facultativo. Noutras palavras, é proibido. Os menores dedezesseis anos não podem alistar-se eleitores, e,consequentemente, também não podem votar. Sendo-lhe interditoo alistamento eleitoral, conclui-se que não preenchem essacondição constitucional de elegibilidade o que os torna inelegíveis.

Assim, os menores de 16 anos de idade não podem, em

hipótese alguma, praticar o alistamento eleitoral.

Além do conscrito, que é o recruta ou alistado (ou ainda os

que são convocados fora do período militar obrigatório) no Exército, na Marinha,

ou na Aeronáutica durante o período de prestação do serviço militar, e do menor

de 16 anos de idade, temos os estrangeiros como inalistáveis, segundo nossa

Constituição Federal.

Por uma questão óbvia, os estrangeiros estão assim

definidos por não gozarem dos direitos políticos da mesma forma que os

nacionais.

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Viu-se, anteriormente, que o pleno gozo dos direitos políticos

é uma das condições de elegibilidade previstas na Constituição Federal. Ao ser

analisada a situação do estrangeiro quanto à possibilidade de tornar-se elegível,

entendemos ser tecnicamente impossível, pois somente há pleno gozo dos

direitos políticos em nacionais que não tenham declarados suspensos ou extintos

seus direitos políticos.

Além do fato de os estrangeiros não gozarem dos direitos

políticos de forma plena, como o nacionais, eles ainda são definidos como

inalistáveis e, consequentemente, inelegíveis, porque a ausência da

nacionalidade brasileira enseja na inexistência do direito de votar e ser votado.

Pedro Roberto Decomain assim define os estrangeiros

(DECOMAIN, 2004, p 54), “No que pertine aos estrangeiros, serão como tais

considerados todos aqueles que não possuírem nacionalidade brasileira, nos termos do

art. 12 da Constituição”.

Portanto, aquelas pessoas que não têm a nacionalidade

brasileira, para o direito eleitoral são definidas como inalistáveis e inelegíveis.

3.4.2 Os Analfabetos

Quanto aos analfabetos, vale novamente dizer, que não

preenchido os requisitos constitucionais de elegibilidade, o analfabetismo incluí-se

nestes o nacional jamais poderá exercer sua capacidade eleitoral passiva e,

consequentemente, será inelegível.

Acerca do analfabetismo, ensina Adriano Soares da Costa

(COSTA, 1998, p. 109):

O § 4º do art. 14 da CF/88 prescrevem serem inelegíveis osinalistáveis e os analfabetos. O alistamento é condição típica deelegibilidade (art. 14, § 3º, inc. III da CF/88), sendo o ato pelo qualo nacional ingressa no corpo de eleitores, e do qual dimana odireito de votar. Sem que estejam preenchidas as condições deelegibilidade, há inelegibilidade inata, consoante preceitua anorma mencionada. Sendo analfabeto o eleitor, ainda que atenda

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a todas as condições de elegibilidade prescritas no § 3º do art. 14,será reputado inelegível inatamente, não podendo se registrarcomo candidato. O analfabetismo, destarte, é um pressupostoineliminável do nascimento da elegibilidade do eleitor, sendoobstativo de qualquer pretensão política sua.

Portanto, assim como os estrangeiros, os conscritos e os

menores de 16 anos, os analfabetos se mostram impossibilitados em ascender a

quaisquer cargos eletivos, visto o não preenchimento aos requisitos fundamentais

de elegibilidade.

3.4.3 A Reeleição do Presidente da República, dos Governadores e dosPrefeitos em apenas um mandato sucessivo

É de conhecimento de grande parte da população que, no

Brasil, o candidato eleito pode somente concorrer a um mandato sucessivo,

sendo denominada esta situação de reeleição.

A reeleição é o direito que a Constituição concede ao

nacional que já está no poder de concorrer novamente, em eleições ao mesmo

cargo, exercendo, assim, suas funções por mais um período.

A reelegibilidade é a elegibilidade para o mesmo cargo, por

um período subseqüente. (COSTA, 1998, p. 124)

A Constituição Federal prevê a reeleição em seu artigo 14, §

5º, com o seguinte texto:

§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e doDistrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido ousubstituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para umúnico período subseqüente.

Há aqui, portanto, mais um caso de inelegibilidade, pois será

declarado inelegível, por exemplo, o Prefeito que, após dois mandatos

sucessivos, quiser concorrer ao terceiro mandato.

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A Constituição Federal é clara ao prever a admissibilidade

de apenas um mandato sucessivo. No entanto, vale ressaltar que o titular do

mandato poderá concorrer a outro cargo após a reeleição no cargo anterior, ou

até mesmo voltar ao cargo em que já fora reeleito em outra oportunidade após ter

sido o mesmo ocupado por outra pessoa.

Ao analisar a questão da reeleição, Pedro Roberto

Decomain ensina (DECOMAIN, 2004, p. 55):

A reeleição é admitida apenas para um mandato sucessivo. Destaforma, ninguém está constitucionalmente autorizado a ser mais deduas vezes sucessivas Presidente da República, Governador deEstado ou do Distrito Federal, ou Prefeito Municipal. Não existe,porém, qualquer vedação para candidaturas alternadas a essescargos. Quem, tendo sido já duas vezes sucessivas Presidente daRepública, desejar candidatar-se novamente, depois de haveroutro o sucedido por um mandato, não está impedido de assimfazer.

Portanto, além de ser possível o acesso ao mesmo cargo,

de forma sucessiva, poderá ainda voltar ao cargo àquele que já o ocupou por

duas oportunidades sucessivas, desde que após sua reeleição outro o tenha

ocupado.

A reeleição tem outro aspecto importante que deve ser

tratado, que é a questão do registro da candidatura.

Mesmo já sendo titular de determinado cargo, deverá o

nacional proceder o registro de sua candidatura para ascender novamente ao

cargo.

Como já visto, o registro de candidatura, se deferido, é que

resulta na inserção do nacional ao prélio eleitoral e somente poderá ser deferido

se houver preenchido todos os requisitos de elegibilidade.

Mesmo que o nacional já esteja desempenhando suas

funções em determinado cargo, deverá proceder com o registro de sua

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candidatura, pois embora esteja em curso seu mandato, poderão algumas

condições de elegibilidade deixar de existirem.

Neste sentido, escreve Adriano Soares da Costa (COSTA,

1998, p. 124):

Se o Presidente da República, exempli gratia, desejar novamenteconcorrer ao principal cargo do Governo Federal, deverá cumpriras condições de elegibilidade para pleitear o registro de suacandidatura: estar filiado a partido político, no prazo legal, sendopor ele indicado em convenção; possuir domicílio eleitoralregularmente constituído, em caso de transferência decircunscrição ou zona eleitoral; e estar em pleno exercício dosdireitos políticos. As outras condições, todas elas, o Presidente daRepública obviamente já as possui, pela simples razão de jápossuí-las ao tempo da primeira eleição para o mesmo cargo.

Continuando ainda sobre a obrigatoriedade do candidato

detentor do cargo proceder com o registro de sua candidatura, diz o mesmo

doutrinador:

Quem tem elegibilidade, tem-na para exercê-la através do prélioeleitoral. Exercido o direito de ser votado, se exaure ele com aeleição vitoriosa ou com o resultado desfavorável. Para que lhefranqueie nova oportunidade de se candidatar, o nacional terá quenovamente registrar sua candidatura, cumprindo as condições deregistrabilidade. Quem não está registrado é inelegível paraconcorrer na eleição; quem foi registrado, mas sobreveio adeclaração ou decretação de sua inelegibilidade, perde aelegibilidade que possuía. (COSTA, 1998, p. 125)

Portanto, a reelegibilidade também necessita de todas

aquelas condições de elegibilidade já vistas, mesmo que o candidato seja o atual

titular do cargo eletivo, devendo ele cumprir com todas essas condições para

assim ter a oportunidade de concorrer novamente ao cargo.

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3.4.4 A Desincompatibilização do Presidente da República, dos

Governadores e dos Prefeitos no caso de concorrerem a outros cargos

Para que os nacionais já eleitos para cargo eletivo possam

concorrer para outros cargos, a Constituição Federal, em seu artigo 14, § 6º,

determina que o Presidente da República, os Governadores de Estado e os

Prefeitos renunciem seus respectivos cargos, sob pena de serem declarados

inelegíveis.

Há ainda no referido artigo determinação para que os

ocupantes dos cargos descritos acima renunciem seus cargos com pelo menos

seis meses de antecedência da eleição que desejarem concorrer.

São inelegíveis para concorrerem a outros cargos, o

Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os

prefeitos que não renunciarem aos respectivos mandatos até seis meses antes do

pleito. (MORAES, 2003, p. 250)

Trata-se de norma disciplinadora da desincompatibilização

dos Chefes do Poder Executivo. Conforme salienta Celso de Mello (Mello citado

por MORAES, 2003, p. 250):

A exigência da desincompatibilização, que se atende peloafastamento do cargo ou função, só existe para aqueles que, porforça de preceito constitucional ou legal, forem consideradosinelegíveis. Inexistindo a inelegibilidade, não há que se cogitar dedesincompatibilização.

Portanto, a desincompatibilização é determinada para

aqueles que são inelegíveis, para aqueles que por algum impedimento não

podem concorrer a outro cargo sem deixar o seu atual.

3.4.5 A inelegibilidade do cônjuge e dos parentes do Presidente daRepública, dos Governadores e dos Prefeitos

A Constituição Federal, em seu artigo 14, § 7º diz o seguinte:

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São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e osparentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou poradoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ouTerritório, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os hajasubstituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se játitular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

Esta norma é clara ao determinar a impossibilidade de

cônjuges e parentes de exercerem funções públicas no mesmo território que o

titular. Certamente, o que se buscou com esta determinação foi dificultar que a

máquina pública fosse utilizada por uma mesma família, eternizando o poder.

Vale ressaltar a diferenciação que a jurisprudência vem

fazendo em relação aos cargos pretendidos pelos cônjuges ou parentes dos

titulares do mandato eletivo. Esta diferenciação ocorre no cargo escolhido pelo

cônjuge ou parente, podendo ser o mesmo do titular ou não.

Segundo vem decidindo a jurisprudência, interpretando esse

§ 7º, do art. 14, da CF, a inelegibilidade nele prevista não desaparece, mesmo

que o titular do cargo (Presidente da República, Governador ou Prefeito) renuncie

a seu mandato pelo menos seis meses antes das eleições, quando se tratar de

candidatura ao mesmo cargo e desde que o titular já tenha sido reeleito, ou seja,

já esteja em seu segundo mandato sucessivo. Essa inelegibilidade não

desaparece, segundo jurisprudência reiterada, mesmo em caso de falecimento do

titular do cargo, mais de seis meses antes da data marcada para as eleições.

(DECOMAIN, 2004, p. 59)

Todavia, tratando-se de candidatura a outro cargo, que não

ao de Chefe do Executivo, é ela admissível, desde que aquele, ou seja, o Chefe

do Executivo renuncie pelo menos seis meses antes da data marcada para as

eleições. (DECOMAIN, 2004, p. 59)

Deste modo, pode se concluir que cônjuge e parentes,

consangüíneos, afins ou por adoção, até o segundo grau, do Presidente da

República, dos Governadores dos Estados e do Distrito Federal e dos Prefeitos

Municipais, são absolutamente inelegíveis para esses cargos se os titulares já

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houverem sido reeleitos, ou seja, se já estiverem em seu segundo mandato

sucessivo; neste caso, sua inelegibilidade persiste mesmo que o titular do cargo

renuncie até seis meses antes da data marcada para as eleições; a

inelegibilidade, porém, limita-se à circunscrição na qual o Chefe do Executivo

exerce o seu mandato; a inelegibilidade não existe, mesmo que o cônjuge ou

parentes do Chefe do Executivo pretendam concorrer ao mesmo cargo por ele

ocupado, se ele estiver ainda em seu primeiro mandato; neste caso, porém, para

que a inelegibilidade realmente fique afastada, há necessidade de que o Chefe do

Executivo renuncie ao seu cargo com antecedência de pelo menos seis meses

em relação à data prevista para a eleição, e também que estes mesmos cônjuges

ou parentes sejam elegíveis para outros cargos da mesma circunscrição, desde

que os titulares desses cargos renunciem pelo menos seis meses antes da data

marcada para as eleições e caso a renúncia não ocorra o cônjuge ou parente

torna-se inelegível para aquela eleição. (DECOMAIN, 2004, p. 59)

A inelegibilidade do cônjuge e parentes por afinidade

também desaparece com o óbito ou com a definitiva dissolução da sociedade

conjugal ou do casamento do Chefe do Executivo. (DECOMAIN, 2004, p. 59)

3.4.6 A perda do mandato pelo Presidente da República em caso decondenação pela prática de crime de responsabilidade e a Inabilitaçãopara o exercício de qualquer função pública pelo Presidente, Vice-Presidente e pelos Ministros de Estado condenados por crimes deresponsabilidade

A Constituição Federal, em seu artigo 85, elenca todas as

hipóteses em que o Presidente cometerá crime de responsabilidade através de

seus atos.

Para tanto, a lei é quem irá definir se os atos praticados

podem ou não figurar como crime e estabelecerá também as normas de processo

e julgamento. A lei que define estas questões é a Lei de nº. 1.079, de 10 de abril

de 1950.

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O art. 86 da Constituição afirma que, nos casos de crimes de

responsabilidade, a Câmara dos Deputados deve primeiramente admitir a

acusação, por maioria de dois terços de seus integrantes, cabendo em seguida ao

Senado o julgamento da mesma acusação. (DECOMAIN, 2004, p. 67)

Portanto, não é a simples acusação que ensejará na perda

do mandato ou na inabilitação do Presidente da República, Vice-Presidente ou

Ministros de Estado, fazendo-se necessária a admissão da acusação pela

Câmara dos Deputados e o julgamento posterior do ato pelo senado Federal.

Como dito, é o Senado Federal o responsável por julgar o

Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade e a

previsão legal desta situação é do artigo 52, inciso I da Constituição Federal.

Há ainda, no parágrafo único deste mesmo artigo, a previsão

de que o presidente do Supremo Tribunal Federal funcionará como presidente do

Senado Federal nesta situação, e que a condenação será imposta por pelo

menos dois terços dos votos da casa e que acarretará somente a perda do cargo

e a inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo de

eventuais outras sanções judiciais cabíveis. (DECOMAIN, 2004, p. 67)

Desta sorte, tem-se que o Presidente da República, o Vice-

Presidente da República, que sejam condenados pelo cometimento de crimes de

responsabilidade, e bem assim os Ministros de Estado que sofram condenação

idêntica por crimes dessa mesma natureza, em conexão com os praticados pelo

Presidente ou Vice-Presidente, ficam inabilitados para o exercício de qualquer

outra função pública pelo prazo de oito anos. (DECOMAIN, 2004, p. 67)

Portanto, esses que tiverem sido condenados por crime de

responsabilidade e forem declarados inabilitados para o exercício de outra função

pública pelo prazo de oito anos, serão durante esse mesmo tempo inelegíveis.

Explicando essa questão da inabilitação pelo prazo de oito

anos em conseqüência de condenação pela prática de crime de responsabilidade,

leciona Pedro Henrique Távora Niess: (NIESS, 1994, p. 58)

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O Presidente e o Vice-Presidente da República, os ministros deEstado, bem como os ministros do Supremo Tribunal Federal, oprocurador-geral da República e o advogado-geral da União,quando condenados pelo Senado, pela prática de crime deresponsabilidade, perdem o cargo e ficam inabilitados para oexercício de função pública por oito anos (CF, art. 52, I e II, eparágrafo único). Durante esse período, por força da inabilitação,são inelegíveis.

Acerca desta causa constitucional de inelegibilidade, o

Deputado Michel Temer despendeu tempo para analisar uma questão em

especial, que é o fato de o titular do mandato que esteja sendo acusado pela

prática do crime de responsabilidade, vir a renunciar seu cargo com o objetivo de

não possibilitar ao Senado Federal a análise do mérito e, consequentemente, fugir

da inabilitação pelo prazo de oito anos.

Segundo ele, não deve ser efetivada a renúncia sem antes

ter havido decisão do Poder Legislativo a respeito da acusação que sofre o titular

do mandato.

Em sua obra Elementos de Direito Constitucional, leciona o

seguinte (TEMER, 1987, p. 186):

Se o Presidente da República renunciar ao seu cargo quandoestiver em curso o processo de responsabilização política, deveráele prosseguir ou perder o seu objeto, devendo ser arquivado? Arenúncia, quando já iniciado o processo de responsabilizaçãopolítica, tornaria inócuo o dispositivo constitucional se fosseobstáculo ao prosseguimento da ação. Basta supor a hipótese deum Chefe de Executivo que, próximo do final de seu mandato,pressentisse a inevitabilidade da condenação. Renunciaria e,meses depois, poderia voltar a exercer função pública (Ministro deEstado, Secretário de Estado, etc.) participando dos negóciospúblicos dos quais o processo de responsabilização visava oafastar. Assim, havendo renúncia, o processo deresponsabilização deve prosseguir para condenar ou absolver,afastando, ou não, sua participação da vida pública pelo prazo decinco anos (hoje oito anos.).

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Portanto, a renúncia que objetiva extinguir o processo de

responsabilização política sem a análise do mérito e, consequentemente,

impossibilita que a sanção tenha seu efeito legal, é nula e sem efeito até que

aconteça o julgamento do referido processo.

3.4.7 Os membros do Poder Judiciário e do Ministério Público

Aos Magistrados fica proibida a atividade político-partidária,

de acordo com o que preceitua o artigo 95, parágrafo único, inciso III da

Constituição Federal.

Segundo a Constituição fica vedada a filiação partidária aos

mesmos. Como ela é umas das condições de elegibilidade, entende-se que, por

estarem impedidos ao cumprimento desta condição, são inelegíveis.

Podem, porém, vir a concorrer a cargos eletivos, desde que

se afastem definitivamente de seus cargos, no mínimo seis meses antes das

eleições. (DECOMAIN, 2004, p. 70)

As regras constitucionais relativas aos juízes são aplicáveis

também aos Ministros do Tribunal de Contas da União e aos Conselheiros dos

Tribunais e Conselhos de Contas dos Estados, Distrito Federal e Municípios por

força, respectivamente, das regras dos arts. 73, § 3º, e 75, também da

Constituição Federal. (idem, p. 70)

Quanto aos membros do Ministério Público também lhes é

vedado o exercício de atividades político-partidárias. Porém, o artigo 1º, II, j, da

LC 64/90, diz que se algum membro do Ministério Público quiser candidatar-se ao

cargo de Presidente ou Vice da República, deverá afastar-se de seu cargo seis

meses antes do pleito. (DECOMAIN, 2004, p. 271)

No entanto, no que diz respeito aos membros do Ministério

Público da União, a Lei Complementar nº 75, de 1993 – Lei Orgânica do Ministério

Público da União, repete a vedação constitucional do exercício de atividades

político-partidárias e, como exceções, consigna a possibilidade da filiação

partidária e a possibilidade do licenciamento para exercer cargo eletivo ou a ele

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concorrer (art. 237, V). Já a Lei nº 8.625/93 – Lei Orgânica Nacional dos

Ministérios Públicos Estaduais, além de reiterar também a vedação do exercício

de atividades político-partidárias, prevê, como exceções, a filiação partidária e

também eventuais outras, consignadas nas Leis Orgânicas dos Ministérios

Públicos de cada Estado (art. 44, V). (DECOMAIN, 2004, p. 27)

3.5 CAUSAS INFRACONSTITUCIONAIS DE INELEGIBILIDADE

Além das causas constitucionais de inelegibilidade que

acabamos de estudar, existem as causas infraconstitucionais de inelegibilidades,

que estão previstas na Lei Complementar nº. 64/90, que é conhecida como a Lei

das Inelegibilidades.

A própria Constituição Federal, em seu artigo 14, § 9º, faz

menção à possibilidade de Lei Complementar assinalar outras situações que

levam o nacional ao status de inelegível.

A única condição constitucional para que esta Lei faça

previsão de outras causas de inelegibilidade é que a mesma tenha por objetivo

proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato

considerando a vida pregressa do candidato e a moralidade e legitimidade das

eleições, principalmente quando houver influência do poder econômico ou o

abuso de quem estiver no poder.

Acerca desta condição constitucional, ensina Pedro Roberto

Decomain (DECOMAIN, 2004, p. 149):

Desejou a Constituição, portanto, que o pleito fosse livre deabusiva influência do poder econômico, político ou administrativo,e também que a probidade e a moralidade para o exercício demandatos eletivos fosse preservadas, evitando-se a candidaturade pessoas cuja vida pública precedente tenha demonstrado quenão reúnem condições para, uma vez guindados ao poder,preservar esses valores basilares do Estado e da convivênciapolítica e social.

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A Lei Complementar 64/90, além de prever os casos de

inelegibilidade fixa os prazos de cessação do mandato daquele que for declarado

inelegível.

Passa-se agora a estudar cada caso de inelegibilidade

previsto nesta Lei.

3.5.1 A inelegibilidade dos parlamentares que tenham perdido o mandatopor infringência aos incisos I e II do artigo 55 da Constituição Federal

A Lei da Inelegibilidade, em seu artigo 1º inciso I, alínea b

considera inelegíveis para qualquer cargo os membros do Congresso Nacional,

das Assembléias Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Municipais

que hajam perdido os respectivos mandatos por infringência do disposto nos

incisos I e II do artigo 55 da Constituição Federal, dos dispositivos equivalentes

sobre perda de mandato das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos

Municípios e do Distrito Federal, para as eleições que se realizarem durante o

período remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos oito anos

subseqüentes ao término da legislatura.

O artigo 55, inciso I da Constituição Federal nos remete ao

artigo anterior, ou seja, ao artigo 54, pois ele fala que perderá o mandato o

Deputado ou Senador que infringir qualquer das proibições estabelecidas no

artigo anterior.

As proibições do artigo 54 da Constituição são as seguintes:

I – desde a expedição do diploma:

a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direitopúblico, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mistaou empresa concessionária de serviço público, salvo quando ocontrato obedecer a cláusulas uniformes; b) aceitar ou exercercargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejamdemissíveis ad nutum, nas entidades constantes da alíneaanterior;

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II – desde a posse:

a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa quegoze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica dedireito público, ou nela exercer função remunerada; b) ocuparcargos ou funções demissíveis ad nutum nas entidades referidasno inciso I, “a”; c) patrocinar causa em que seja interessadaqualquer das entidades a que se refere o inciso I, “a”; d) sertitulares de mais de um cargo ou mandato eletivo.

Portanto, o parlamentar que contrariar as disposições dos

incisos I e II do artigo 54 terá seu mandato cassado.

Já de acordo com o inciso II, do artigo 55, também da

Constituição Federal, perderá seu mandato o Deputado Federal ou Senador cujo

procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar.

A Constituição considera incompatível com o decoro

parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das

prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de

vantagens indevidas.

Quaisquer outras causas que levem o parlamentar a ser

afastado, além das supra-elencadas e dos procedimentos declarados

incompatíveis com o decoro parlamentar, expressos nos regimentos das

respectivas casas legislativas, permitem a sua recandidatura imediata.

(MIRANDA, 2002, p. 33)

Vale lembrar que o parlamentar que tenha seu mandato

cassado por estar enquadrado nesses incisos I e II do artigo 55 da Constituição

não poderá continuar em seu cargo, mesmo que ainda falte certo tempo para

terminar a legislatura e nem poderá ser candidato nos oito anos subseqüentes.

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3.5.2 A inelegibilidade dos chefes de Poder Executivo dos Estados, Distrito

Federal e Municípios, que tenham cassados os seus mandatos porinfringência à normas das respectivas constituições ou Leis Orgânicas

Os chefes do Poder Executivo que tiverem perdido seus

cargos por infringência a algum dispositivo de suas respectivas Constituições, ou

por algum dispositivo constante em Lei Orgânica, também serão inelegíveis,

ficando impossibilitados de se manter no poder e continuar desempenhando suas

funções, bem como participar de eleições no período remanescente e nos três

anos subseqüentes.

Este previsão está na alínea c, do inciso I, do artigo 1º da Lei

das Inelegibilidades.

O dispositivo em apreço busca evitar que os titulares

afastados por infringência à normas vigentes nos dispositivos constitucionais de

suas áreas de jurisdição retornem à vida pública no mandato seguinte e nas

eleições para as demais esferas, que ocorrem nos dois anos subseqüentes, para

que seja possível o processamento das ações decorrentes, interpostas pelo

Ministério Público, sendo possível saber se haverá condenação criminal ou se

serão enquadrados na improbidade administrativa, impedindo que sejam

protegidos por imunidades. Este dispositivo preserva a moralidade pública.

(MIRANDA, 2002, p. 33)

Portanto, além da Constituição Federal prever causas de

inelegibilidade, as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas do Distrito Federal

e dos Municípios também podem prever situações nas quais seja autorizada a

perda do mandato dos Governadores ou Prefeitos, ou dos respectivos vices, por

violação a normas dessas mesmas Constituições ou Lei Orgânicas. (DECOMAIN,

2004, p. 156)

As sanções, todavia, haverão de ser as mesmas previstas

pela Constituição Federal, para a condenação do Presidente da República, pela

prática de crime de responsabilidade, constante do parágrafo único do art. 52 do

texto constitucional federal. (DECOMAIN, 2004, p. 156)

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É que a própria Constituição da República, em seu art. 25,

caput, assegurando a autonomia dos Estados-membros da Federação, permite-

lhes se organizarem através de suas próprias Constituições e leis. Todavia, limita

esta autonomia, ao dizer que, em assim se organizando, devem observar os

princípios da própria Constituição Federal. Um deles é o da responsabilização do

Chefe do Poder Executivo, pelo cometimento de crimes considerados de

responsabilidade pela legislação própria, com perda do cargo e inabilitação para o

exercício de qualquer outra função pública, por oito anos, como sanções

decorrentes do cometimento de ilícitos dessa ordem. (DECOMAIN, 2004, p. 156)

Portanto, os Estados podem organizar-se segundo suas

Constituições e leis. No entanto, devem observar os princípios constantes na

Constituição Federal.

Há aqui que se falar na questão da perda do mandato pelo

Governador em decorrência de condenação pela prática de crime de

responsabilidade, pois segundo o que expressa a Lei das Inelegibilidades a

sanção seria a inelegibilidade para as eleições que se realizarem no período

remanescente e nos três anos subseqüentes ao término do mandato, no entanto,

esse prazo de inabilitação deveria ser o mesmo fixado quando tal crime for

praticado pelo Presidente da Republica visto que se trata de Chefes do mesmo

poder. (DECOMAIN, 2004, p. 156)

Enquanto esta Lei das Inelegibilidades fixa o prazo de

inabilitação em três anos nesta situação a Lei nº. 1.079, de 10 de abril de 1950

fala em oito anos.

Como a inabilitação é princípio constitucional federal,

aplicável obrigatoriamente também aos Estados, deve-se entender que o prazo

de inabilitação, no caso de condenação do Chefe do Poder Executivo que não o

Presidente da República, será também o de oito anos.

Acerca desta questão diz Pedro Roberto Decomain

(DECOMAIN, 2004, p. 158):

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Desta sorte, em caso de perda de mandato de Governador deEstado, pela prática de crime de responsabilidade, a inabilitaçãopara o exercício de qualquer outro cargo prolonga-se por oitoanos, e não apenas por mais três, após o término do períodonormal do mandato perdido, como prevê o presente dispositivo daLei Complementar 64/90.

Vale ressaltar que esse prazo de inabilitação de oito anos

será contado a partir da data que tiver sido proferida a decisão pelo crime de

responsabilidade.

3.5.3 Abuso do Poder Econômico ou Político e o procedimento judicial para

sua apuração

A questão da inelegibilidade pelo abuso de poder econômico

ou político está prevista no artigo 1º, inciso I, alínea d, da Lei da Inelegibilidade.

Se, durante a campanha eleitoral, ocorrer abuso do poder

econômico, administrativo ou político, qualquer partido político, coligação,

candidato, ou o Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral,

relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de

investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder

econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou

meios de comunicação social, em benefício de candidato ou partido político.

(DECOMAIN, 2004, p. 160)

E mesmo que tais abusos ocorram antes do início da

campanha eleitoral, e da própria escolha dos candidatos em convenção, mas

demonstrando-se que tiveram lugar com o objetivo de beneficiar pessoa cuja

candidatura foi depois apresentada por qualquer partido ou coligação, a

representação em tela terá lugar. A previsão dessa investigação judicial por abuso

do poder econômico ou de autoridade, ou por uso indevido de veículos ou meios

de comunicação social, consta do art. 22 da LC 64/90, cujos incisos disciplinam o

procedimento daquela investigação judicial. (DECOMAIN, 2004, p. 160)

Há que se entender aqui o que seja o abuso de poder

econômico e o abuso de poder político.

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O primeiro, isto é, o abuso de poder econômico, caracteriza-

se pela utilização de bens ou serviços de empresas particulares ou recursos

próprios do candidato, criando assim uma desproporção entre os candidatos.

Se determinado candidato é proprietário de uma grande

empresa e dela faz uso para custear sua campanha, sem realizar a doação de

campanha prevista pela lei nº. 9.504/97, estará abusando economicamente a seu

favor.

Fica proibida esta situação por se entender que os

candidatos que tenham para si apoio de empresas de grande porte e sejam mais

abastados levam vantagem em relação aos outros candidatos, principalmente no

tocante à publicidade eleitoral que acontece no Brasil nas inúmeras vezes em que

o candidato ou partido, com a finalidade de angariar mais votos, presenteiam os

eleitores com bens e serviços.

Este abuso do poder econômico é nítido, principalmente

naqueles casos em que o candidato ou partido político negocia o voto daqueles

eleitores mais humildes em troca de dentadura, alimentos ou qualquer outro

serviço.

Adriano Soares da Costa nos ensina acerca desta questão

(COSTA, 1998, p. 275):

Assim, pode o partido político obter recursos, quer públicos (fundopartidário) quer privados, com a finalidade de divulgar suas idéias,a plataforma política de seus candidatos; porém, não poderão,esses e aqueles, utilizar tais recursos – ou outros, auferidosilegalmente – no sentido de comprar votos, ou adquirir apreferência do eleitorado explorando sua miséria, fome e falta deinstrução. Se isso ocorrer, como distribuição de alimentos,dentaduras, sapatos, telhado, tijolo, e mais o que o engenhohumano possa criar a fim de obter votos, haverá evidente abusode poder econômico, punível com a inelegibilidade dos que opraticarem e de seus beneficiários.

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Agora, diferentemente do abuso do poder econômico que é,

mais uma vez, a utilização do dinheiro de determinado candidato ou de empresa

de grande porte do mesmo, tem-se o abuso do poder político que é a utilização

dos bens e serviços da Administração Pública em favor de algum candidato ou

partido político.

O abuso do poder político consiste no emprego de serviços

ou bens pertencentes à Administração Pública direta ou indireta, ou na realização

de qualquer atividade administrativa, com o objetivo de propiciar a eleição de

determinado candidato. (DECOMAIN, 2004, p. 163)

Para Adriano Soares da Costa abuso de poder político é

(COSTA, 1998, p. 276):

O uso indevido de cargo ou função pública, com a finalidade deobter votos para determinado candidato. Sua gravidade consistena utilização do múnus público para influenciar o eleitorado, comdesvio de finalidade. Necessário que os fatos apontados comoabusivos, entrementes, se encartem nas hipóteses legais deimprobidade administrativa (Lei nº. 8.429/92), de modo que oexercício de atividade pública possa se caracterizar como ilícita doponto de vista eleitoral.

Portanto, o abuso do poder político é a vantagem obtida pelo

candidato da Administração Pública objetivando angariar mais votos nas eleições.

No tocante ao uso indevido de veículos, vale ressaltar que

em relação aos transportes, a Lei nº. 6.091/74 dispõe sobre o fornecimento

gratuito de transporte em dias de eleição aos eleitores, sendo vedado o

fornecimento de transporte feito por candidato ou partido político.

Quanto à utilização dos meios de comunicação, esta deve

ser feita de maneira equânime, de modo a permitir que os partidos políticos e

seus candidatos apresentem seus ideais e suas propostas políticas.

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Em relação ao procedimento judicial adotado para a

apuração do abuso do poder econômico e político, a Lei da Inelegibilidade faz

previsão em seus artigos 19, 20, 21 e 22.

O artigo 19 da referida lei diz o seguinte:

Art. 19: As transgressões pertinentes à origem de valorespecuniários, abuso do poder econômico ou político, em detrimentoda liberdade de voto, serão apuradas mediante investigaçõesjurisdicionais realizadas pelo Corregedor-Geral e CorregedoresRegionais Eleitorais.

Essas investigações jurisdicionais têm por objetivo proteger

a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico

ou do abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta,

indireta e funcional da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Quanto aos legitimados para denunciar os culpados, a Lei

traz a possibilidade do candidato, partido político ou coligação e o Ministério

Público Eleitoral assim procederem.

Como sanção a esta denúncia, se julgada procedente a

representação, o registro do candidato beneficiário será cancelado, e se a

procedência desta mesma representação for proferida após a eleição será

remetida cópia da decisão ao Ministério Público para que interponha o recurso

contra a diplomação (art. 262, inciso I do Código Eleitoral) ou então proponha

ação de impugnação de mandato eletivo.

Ademais disso, o julgamento da procedência de semelhante

representação acarreta a inelegibilidade do candidato não apenas para a eleição

em curso, ou na qual, tenha obtido sucesso, já tenha até mesmo sido diplomado,

mas também para as eleições que se realizarem nos três anos seguintes. Essa,

como se viu a regra do art. 1º, I, d, da LC 64/90. (DECOMAIN, 2004, p. 163)

Como já dito, os legitimados são os candidatos, partidos

políticos ou coligações e o Ministério Público Eleitoral, não cabendo ao eleitor

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fazer tal representação, no entanto, se assim quiser o eleitor ele poderá dirigir-se

à Justiça Eleitoral e também ao Ministério Público Eleitoral para comunicar-lhes

fato que tenha conhecimento que possa caracterizar o abuso, para assim o

Ministério Público Eleitoral, como um dos co-legitimados, possa vir a fazê-lo.

(DECOMAIN, 2004, p. 165)

Quanto à competência para o recebimento desta

representação por abuso do poder econômico ou político, ou utilização indevida

de veículos ou meios de comunicação social durante a campanha eleitoral, a

mesma será do Superior Tribunal de Justiça quando se tratar de campanha

eleitoral presidencial; dos Tribunais Regionais Eleitorais quando se tratar de

eleições para Governador, Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual ou

Deputado Distrital; e da Justiça Eleitoral de Primeira Instância quando se tratar de

eleições municipais.

Acerca do prazo para ajuizamento da representação, o

entendimento é que o mesmo pode acontecer desde o momento em que se tiver

conhecimento da prática do abuso de poder, seja ele econômico ou político.

Sendo assim, poderá ser representado o candidato mesmo

antes do processo eleitoral propriamente dito e, em caso de o candidato já tiver

sido beneficiário de tal abuso, isto é, já tiver vencido nas urnas a representação

obviamente também terá cabimento.

Esta mesma representação, segundo entendimento do TSE

(ementa nº. 375), poderá ser ajuizada até a data da diplomação dos eleitos.

Mas como a sanção aplicável após o reconhecimento do

abuso não é tão somente o cancelamento do registro, ou a cassação do diploma

ou mandato eletivo, mas sim a inabilitação para as eleições que ocorrerem nos

três anos seguintes àquela em que se deu o abuso, seria correto entender-se

possível a representação até o terceiro ano após o conhecimento do abuso.

Acerca desta questão ressalta Pedro Roberto Decomain

(DECOMAIN, 2004, p. 172):

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Razoável concluir que o prazo para ajuizamento da representaçãonão termina na data da diplomação dos candidatos que tiveremobtido êxito na eleição em que se verificar o pretenso abuso.Terminará, isso sim, apenas ao final do terceiro ano subseqüenteàquele na qual a eleição houver ocorrido.

Este entendimento parece ser o mais correto, principalmente

se levarmos em consideração que o abuso tenha sido evidenciado somente após

a diplomação do beneficiário, pois desta maneira seria possível ainda buscar-se o

preceito do parágrafo único, do artigo 19, da Lei 64/90, que diz que a apuração e

punição nos casos de abuso do poder econômico ou político terão o objetivo de

proteger a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder

econômico ou abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração

pública.

O artigo 22 da LC 64/90 demonstra como será o

procedimento dessa representação pela prática de abuso do poder econômico ou

político.

A alínea a do inciso I versa sobre a notificação do

representado para que este tenha ciência do conteúdo da representação que

contra ele existe, e querendo possa fazer sua defesa no prazo de cinco dias.

A alínea b do mesmo inciso versa sobre a faculdade que

terá o Corregedor de suspender o ato que motivou a representação, quando o

fundamento do ato impugnado for relevante e puder resultar a ineficiência da

medida, caso seja julgada procedente.

Já a alínea c determina o indeferimento da inicial quando

não for o caso de representação ou então lhe faltar algum requisito previsto pela

Lei, isto é, quando não restar caracterizada a situação de abuso do poder

econômico ou político, ou então o uso indevido de meio de comunicação.

O inciso II do mesmo artigo possibilita ao interessado

intentar com a representação perante o Tribunal, que resolverá em 24 horas,

quando o Corregedor indeferir ou retardar a representação.

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E se mesmo assim não tiver o interessado suas solicitações

atendidas pelo Tribunal Regional Eleitoral, poderá levar o fato ao conhecimento

do Tribunal Superior Eleitoral para que sejam tomadas as providências

necessárias, segundo o inciso III do artigo 22 da LC 64/90.

Em relação a este retardamento da solução Pedro Roberto

Decomain interpreta (DECOMAIN, 2004, p. 175):

Como se deve interpretar a expressão “retardar-lhe a solução”,contida no art. 22, I, c, da LC 64/90? Que situação é essa, deretardamento da solução da representação pelo Corregedor (ouJuiz Eleitoral)? Considerando a natureza que neste caso assumeessa peculiar “reapresentação” da representação perante oTribunal, e que será exposta mais abaixo, esse retardamento dasolução pode ser interpretado de forma ampla, correspondente,então, a toda e qualquer imotivada decisão na prática de atoinerente à representação, ou mesmo na designação de data paraessa prática.

Portanto, a falta de motivação por parte do Corregedor

concede a possibilidade ao interessado de solicitar a respectiva solução ao

Tribunal.

Logo após temos o inciso IV, que determina a notificação do

representado, bem como a juntada da cópia do ofício nos autos com a prova da

entrega ou da recusa em aceitá-la ou dar recibo.

Diz em seguida o inciso V, do art. 22, que “findo o prazo da

notificação, com ou sem defesa, abrir-se-á prazo de cinco dias para inquirição, em

uma só assentada, de testemunhas arroladas pelo representante e pelo

representado, até o máximo de seis para cada uma, as quais comparecerão

independentemente de intimação”.

Neste momento de inquirição de testemunhas, o Ministério

Público Eleitoral se fará presente, após intimação, e poderá formular perguntas às

testemunhas, inclusive.

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Dando seqüência, o inciso VI do art. 22 diz que nos três dias

subseqüentes à ouvida das testemunhas, o Corregedor (ou o Juiz Eleitoral)

procederá “a todas as diligências que determinar, ex officio ou a requerimento das

partes”. Significa isso que as partes, à vista do que as testemunhas houverem

dito, podem requerer diligências adicionais. (DECOMAIN, 2004, p. 178)

A estas mesmas diligências do inciso anterior, agora no

inciso VII, poderá o Corregedor ouvir terceiros conhecedores dos fatos e

circunstâncias que possam influir na decisão do feito.

O inciso VIII autoriza o Corregedor, ou o Juiz Eleitoral, a

requisitar originais ou cópias de documentos importantes para seu

convencimento.

E o inciso IX diz na seqüência que se o terceiro, detentor do

documento referido no inciso anterior, não o exibir ou não comparecer em juízo,

poderá o Corregedor expedir mandado de prisão contra ele e instaurar processo

por crime de desobediência. (DECOMAIN, 2004, p. 179)

Para Pedro Roberto Decomain a instauração do processo

por crime de desobediência não cabe ao magistrado e, acerca da questão leciona

(DECOMAIN, 2004, p. 179):

A terminologia, no que diz com essa parte final do inciso, não édas melhores. A instauração do processo por crime dedesobediência não cabe ao Magistrado, mas sim ao representantedo Ministério Público Eleitoral que perante ele oficie. Deve a regraser interpretada, então, no sentido de que em havendo recusa naexibição do documento em Juízo, ou no comparecimento a Juízopara esclarecer a seu respeito, poderá o Corregedor ou o JuizEleitoral ordenar a comunicação do fato ao Ministério Público, oumesmo requisitar a instauração de inquérito policial, paraapuração do fato.

Continuando, o inciso X diz que as partes e o Ministério

Público poderão apresentar alegações finais, no prazo de dois dias para ambos,

por memoriais.

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Os incisos seguintes, XI e XII versam sobre o relatório do

Corregedor, sendo que após as alegações finais o mesmo deverá apresentar tal

relatório conclusivo sobre o que tiver apurado.

Este relatório deverá ser assentado em três dias e os autos

da representação encaminhados ao Tribunal competente para julgamento na

primeira sessão subseqüente.

Já no Tribunal, o Procurador-Geral ou Regional Eleitoral terá

vistas dos autos por 48 horas para que se pronuncie sobre as imputações e

conclusões do relatório.

Por fim, os incisos XIV e XV falam sobre a sentença de

procedência a representação, da qual resultará a inelegibilidade do representado

e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, bem como sobre a

inelegibilidade que lhes afetará nas eleições que acontecerem nos três anos

subseqüentes à eleição em que se verificou a prática do abuso, além é claro da

cassação do registro do candidato beneficiado pela interferência do poder

econômico ou político.

Isto feito, o Tribunal determinará a remessa dos autos ao

Ministério Público Eleitoral para instauração do processo disciplinar e, se for o

caso, o processo-crime.

Caso a procedência da representação aconteça somente

após a eleição do candidato beneficiado a cópia de todo o processo será remetido

para o Ministério Público Eleitoral interpor o recurso contra diplomação ou então

propor ação de impugnação de seu mandato eletivo.

3.5.4 Condenação por crimes contra a Economia Popular, a Fé Pública, aAdministração Pública, o Patrimônio Público, o Mercado Financeiro, peloTráfico de Entorpecentes e por Crimes Eleitorais

Para o artigo 1º, I, e , da Lei das Inelegibilidades são

inelegíveis para todos os cargos aqueles que forem condenados por crimes

contra a Economia Popular, a Fé Pública, a Administração Pública, o Patrimônio

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Público, o Mercado Financeiro e pelo Tráfico de Entorpecentes e Crimes

Eleitorais, pelo prazo de três anos após o cumprimento da pena.

Como dito na oportunidade que tratamos da suspensão dos

direitos políticos pela condenação criminal, aqui também há a perda desse direito.

No entanto, a diferença entre as duas situações está no fato de que enquanto em

uma das condições de elegibilidade prevista na Constituição Federal o cidadão

tem suspensos os seus direitos políticos, seja ele o direito de votar ou de ser

votado e, já na causa infraconstitucional tratada pela LC 64/90 o criminoso perde

apenas o direito de ser votado, restando a ele o direito de votar.

Ressalta-se que, enquanto a pena estiver em curso, o

condenado estará com todos os seus direitos políticos suspensos, isto é, sem

direito de votar e receber votos. Agora, após o cumprimento da pena, o cidadão

readquire o direito de votar, mas continuará por mais três anos sem poder

candidatar-se a qualquer cargo eletivo.

Portanto, a regra do artigo 1º, I, e, da LC 64/90 é um

adicional a regra constitucional, pois mesmo após o cumprimento da pena existe

impedimento quanto ao direito de ser votado.

Pedro Roberto Decomain traça um paralelo entre as duas

decisões aqui expostas (DECOMAIN, 2004, p. 185):

Não existe contrariedade entre a norma do art. 1º, I, e, da LC64/90, e a regra constitucional sobre a suspensão de direitospolíticos por força de condenação criminal. Como se viu, ainelegibilidade é um adicional à suspensão constitucionalmenteprevista. Como o § 9º, do art. 14, da Constituição Federal, autorizaa previsão de outras causas de inelegibilidade, além daquelasresultantes do próprio texto constitucional, desde que isso se façapor lei complementar, era perfeitamente possível fixar ainelegibilidade, como a LC 64/90 a fixou para esses casos, semcolisão com a regra de suspensão dos direitos políticos.

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O fundamento desta causa de inelegibilidade está na

incompatibilidade que existe entre o cometimento de crimes graves, como os aqui

elencados, e o exercício das funções públicas.

É inimaginável que alguém que tenha cometido crime contra

o patrimônio público, por exemplo, administre um Município, Estado ou País.

3.5.5 Os Declarados Indignos do Oficialato

O oficialato é o cargo ou dignidade de oficial, seja das forças

armadas, polícia militar ou corpo de bombeiros.

A LC 64/90 em seu artigo 1º, I, f, considera inelegíveis para

todos os cargos aqueles que forem declarados indignos do oficialato, ou com ele

incompatíveis, pelo prazo de quatro anos.

No entanto, esta declaração de indignidade deverá ser feita

pelo Poder Judiciário somente, como bem salienta Hélio Miranda, “A indignidade

para o oficialato deve ocorrer de sentença transitada em julgado, emanada do

órgão castrense do Poder Judiciário, e não das notáveis comissões internas”.

(MIRANDA, 2002, p.35)

Esta inelegibilidade, que perdurará durante quatro anos,

daquele que for declarado indigno, terá início a partir do momento em que a

decisão se tornar irrecorrível.

A competência para apreciar e declarar a indignidade do

oficialato será do Superior Tribunal Militar, em tempo de paz, ou de Tribunal

Especial, em tempo de guerra, segundo determina o artigo 118 do Estatudo dos

Militares.

3.5.6 Rejeição das contas dos administradores públicos

A Lei da Inelegibilidade prevê a inelegibilidade para todos os

cargos para aqueles que tiverem rejeitadas suas contas por órgão incumbido de

apreciá-las.

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É evidente que aquele que não consegue administrar a coisa

pública de modo a equacionar a receita e a despesa, buscando manter ou

melhorar a saúde financeira do órgão ou ente ao qual está ligado, não poderá

continuar na administração pública.

O artigo 1º, I, g, da LC 64/90 assim prevê:

Os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos oufunções públicas rejeitadas por irregularidade insanável e pordecisão irrecorrível do órgão competente, salvo se a questãohouver sido ou estiver sendo submetida à apreciação do PoderJudiciário, para as eleições que se realizarem nos 5 (cinco) anosseguintes, contados a partir da data da decisão.

Deste modo, aquele que tiver as contas de sua

administração rejeitadas, por decisão irrecorrível, será declarado inelegível

durante o período em que as mesmas foram rejeitadas e nos cinco anos

seguintes.

Ressalta-se aqui que a decisão é de natureza administrativa

e é ela quem trará como conseqüência a inelegibilidade.

Adriano Soares da Costa assim bem explica esta

inelegibilidade (COSTA, 1998, p. 165):

Note-se, pois, que a inelegibilidade é efeito anexado à decisãoirrecorrível de natureza não-judicial, cujo conteúdo rejeita contasprestadas por quem exerceu função pública, contaminadas queestavam por irregularidade insanável. Curial advertir, nesse passo,que é a decisão administrativa (ou legislativa) do órgão docontrole o fato jurídico do qual dimana a inelegibilidade do agentepúblico ímprobo. Tal decisão, para ensejar a anexação desseefeito cominatório, deverá versar sobre a rejeição de contas porexistência de irregularidade insanável, assim compreendidastambém aquelas irregularidades que não tragam prejuízo aoerário, mas que atentem contra a moralidade administrativa, aeconomicidade, a razoabilidade, a publicidade, ou qualquer outrovalor tutelado pelo ordenamento jurídico.

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Com isso, para que o agente público ímprobo seja declarado

inelegível deverá a decisão ser fundamentada com as irregularidades que

caracterizaram sua administração e ainda, que sejam elas insanáveis.

A competência para julgar tais irregularidades nas contas

públicas será do Poder Legislativo, seja no âmbito federal, estadual ou municipal.

Sendo assim, as contas do Presidente da República serão

apreciadas pelo Congresso Nacional. Já o julgamento das contas dos

Governadores dos Estados e do Distrito Federal será feito pelas Assembléias

Legislativas dos Estados e Câmara Legislativa do Distrito Federal,

respectivamente.

Quanto às contas referentes à administração dos Prefeitos,

caberá às Câmaras Municipais de Vereadores o julgamento.

Somente a rejeição das contas dos Chefes dos Poderes

Executivos Federal, Estaduais, Distrital ou Municipais por esses órgãos, é que

acarreta inelegibilidade. (DECOMAIN, 2004, p. 187)

É necessário ter-se isso bem presente, na medida em que,

antes de serem apreciadas pelo Legislativo, as contas do Chefe do Executivo são

analisadas também pelos Tribunais ou Conselhos de Contas dos Estados ou dos

Municípios, aos quais incumbe emitir parecer prévio a seu respeito. Os Tribunais

de Contas, todavia, são órgãos auxiliares do Poder Legislativo (CF, art. 71). Em

se tratando das contas dos Chefes do Poder Executivo, incumbe-lhes oferecer

parecer prévio sobre elas, opinando sobre sua aprovação ou rejeição (CF, art. 71,

I, combinado com o art. 75). A decisão final, todavia, não é do Tribunal ou

Conselho de Contas, mas sim do Poder Legislativo. Daí por que o parecer prévio

do Tribunal ou Conselho, pela rejeição das contas, este ainda não acarreta

inelegibilidade. (DECOMAIN, 2004, p. 188)

No entanto, os Tribunais ou Conselhos possuem o poder de

julgamento de irregularidades nas contas públicas quando se tratar de

administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da

administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e

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mantidas pelo Poder Público Federal, conforme o que preceitua o artigo 71, II da

Constituição Federal.

Como falamos anteriormente, a irregularidade a que se

refere esta alínea g, do inciso I do primeiro artigo da Lei as Inelegibilidades, tem

de ser insanável para que o agente seja declarado inelegível.

Cabe informar que a análise desta insanabilidade pode

caber à Justiça Eleitoral dependendo do caso concreto, como por exemplo, o

pedido de registro de candidatura por alguém que teve suas contas rejeitadas.

Assim, antes de deferir ou não o pedido de registro de

candidatura, o órgão competente da Justiça Eleitoral irá decidir se a irregularidade

nas contas é ou não insanável.

3.5.7 Condenação do agente público que foi beneficiado ou que beneficiouterceiros por abuso de poder econômico ou político

Assim versa a alínea h, do inciso I, do artigo primeiro da Lei

das Inelegibilidades:

Os detentores de cargo na administração pública direta, indiretaou fundacional, que beneficiarem a si ou a terceiros, pelo abusodo poder econômico ou político apurado em processo, comsentença transitada em julgado, para as eleições que serealizarem nos 3 (três) anos seguintes ao término do seu mandatoou do período de sua permanência no cargo.

Nesta causa de inelegibilidade temos de entender que não

se trata de cargo eletivo, mas sim de cargos ocupados por concurso público ou

por provimento em comissão.

Assim, no texto legal, onde se lê “mandato” deve-se

entender estar tratando das funções designadas aos diretores de empresas

estatais que foram eleitos por algum conselho administrativo ou em assembléia.

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Desta forma, a Lei da Inelegibilidade busca pôr fim também

à possibilidade de reeleição para aqueles que estão em cargos de chefia do

Poder Executivo e tenham cometido abuso do poder econômico ou político.

Adriano Soares da Costa assim interpreta esta causa de

inelegibilidade (COSTA, 1998, p. 174):

A disposição se destina especificamente àquelas pessoas queexerçam cargos públicos, entendidos tais os lugares existentes noquadro funcional da Administração, quantitativamente definidos,aos quais se ligam as atribuições determinadas pela lei que oscriou. Dissemos, “lugares”, naturalmente fazendo uma analogiacom o aspecto especial de dados físicos, uma vez que o conceitode cargo é normativo, não existindo no mundo fenomênico oobjeto assim designado, senão enquanto se liga a um plexo deatribuições e deveres, exercidos pelas pessoas nomeadas por atoadministrativo específico. Quando o preceito sob análise fazreferência a “término do mandato”, utiliza tal expressão não nosentido de mandato eletivo, eis que os cargos aos quais o preceitose refere são aqueles do quadro da Administração, ocupados porconcurso ou por provimento em comissão.

Continuando sua linha de raciocínio, completa o doutrinador:

Tal distinção deve ser encarecida, para evitarem-se algumasconfusões desnecessárias, que bem poderiam ser incentivadasem benefício de candidatos à reeleição para cargos de Chefia doPoder Executivo. Os ocupantes de cargos do quadro daAdministração podem se valer de suas atribuições públicas parase beneficiarem ilicitamente, ou a terceiros, abusando do seupoder político ou mesmo econômico. (COSTA, 1998, p. 175)

Outra questão que podemos levantar é que o fato de ter sido

o agente condenado pelo abuso de poder econômico ou político lhe trás como

conseqüência a suspensão dos direitos políticos.

Explica-se: segundo a Lei nº. 8.429/92, que trata dos atos de

improbidade administrativa e suas punições, há a previsão de punição contra a

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prática de tais atos e esta punição reside exatamente na suspensão de seus

direitos políticos.

Ora, como vimos no segundo capítulo, a suspensão dos

direitos políticos impossibilita qualquer pretensão de registro de candidatura,

implicando, assim, na caracterização da inelegibilidade por falta de preenchimento

de requisito constitucional.

3.5.8 A Inelegibilidade dos ex-administradores de estabelecimentos decrédito, financiamento ou seguro, objeto de liquidação enquanto nãoforem exonerados de qualquer responsabilidade

Diz a alínea i, do inciso I, do artigo primeiro da Lei das

Inelegibilidades:

Os que, em estabelecimentos de crédito, financiamento ouseguro, tenham sido ou estejam sendo objeto de processo deliquidação judicial ou extrajudicial, hajam exercido, nos 12 (doze)meses anteriores à respectiva decretação, cargo ou função dedireção, administração ou representação, enquanto não foremexonerados de qualquer responsabilidade.

O que a lei busca nesta situação é deixar aquele que

administrou os referidos estabelecimentos fora de qualquer participação política

enquanto não forem apurados todos os fatos que levaram os mesmos ao estado

de insolvência, até porque pode restar comprovado que o motivo da atual

situação do referido estabelecimento adveio de ato de improbidade administrativa

daquele que o administrou.

Pedro Roberto Decomain assim explica o texto legal

(DECOMAIN, 2004, p. 193):

A justificativa dessa causa de inelegibilidade está na necessidadede verificar primeiro se o administrador, diretor ou representantedo estabelecimento de crédito, financiamento ou seguro, nãoconcorreu deliberada ou culposamente para a respectivainsolvência, motivadora da liquidação judicial ou extrajudicial, para

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só depois disso permitir que possa candidatar-se a mandatoeletivo.

Portanto, o maior objetivo desta causa de inelegibilidade é

assegurar que o ex-administrador do estabelecimento de crédito, financiamento

ou seguro, não venha a eleger-se a cargo eletivo sem antes ter sido apurada sua

participação para a insolvência dos referidos estabelecimentos.

Há certa divergência doutrinária acerca do assunto, visto

que não se podem restringir direitos de alguém que ainda não fora condenado,

devendo vigorar a presunção de inocência.

Hélio Miranda tem o seguinte posicionamento acerca do

assunto (MIRANDA, 2002, p. 36):

Estamos diante de um preceito em parte inconstitucional, uma vezque se estiver liquidado o estabelecimento por processo judicial,com condenação penal de seus administradores, é cabível ainelegibilidade; entretanto, enquanto estiver sendo objeto doprocesso, considerando que no ordenamento jurídico brasileiro apresunção é de inocência, certamente, a impugnação não resistiráa uma argüição incidenter de inconstitucionalidade.

É claro que a presunção de inocência, neste caso, tem de

ser levada em consideração. No entanto, pensamos ser esta determinação legal

acertada, principalmente se considerarmos que o bem da coletividade tem de

estar acima da individualidade.

Ainda que o ex-administrador não seja culpado, e na

verdade não o é antes da decisão final, é de bom senso assegurar que alguém

que esteja tendo seus atos analisados quanto à probidade administrativa não

ascenda ao poder em prol da segurança dos direitos da coletividade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho monográfico teve como objetivo

investigar, à luz das normas constitucionais e infraconstitucionais e da doutrina, o

instituto da inelegibilidade.

O interesse pelo tema surgiu após o conhecimento de

constantes casos de corrupção no país que, em muitos desses casos, a

população não verificou quais foram as conseqüências para os agentes

envolvidos.

É claro que nunca houve a pretensão de buscar discutir

acerca dos casos de corrupção existentes em nosso país, muito menos de criar

uma discussão acadêmica desses fatos. Apenas há, sim, a intenção de melhor

compreender o que pode ou não determinado titular de mandato eletivo realizar

para que não perca seu cargo, e acaso este realizar determinado ato tipificado na

lei como contrário à maneira que deve proceder enquanto gestor público, como

entender o que fora praticado e, quem sabe, cobrar das autoridades competentes.

Como já dito, o presente trabalho foi dividido em três

capítulos, os quais, respectivamente, trataram da história e evolução do Direito

Eleitoral em nosso país; das condições de elegibilidades previstas em nossa

Constituição Federal vigente e o instituto da inelegibilidade propriamente dito.

O primeiro capítulo apresentou os acontecimentos históricos

mais importantes para o Direito Eleitoral Brasileiro, descrevendo-os desde o

período Colonial até os preceitos da Constituição Federal de 1988.

Durante o período Colonial destacou-se o fato de não existir

um sistema eleitoral próprio, observando-se apenas as Ordenações do Reino.

Já no período Imperial observou-se o fim da utilização das

Ordenações do Reino, haja vista a Independência do Brasil e o início do

movimento para instituir seu próprio sistema eleitoral.

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Nesta época tivemos também a determinação do voto direto

e a previsão de um censo em todo o território para que pudesse ser efetuado o

alistamento de todos os eleitores.

Além dessas questões, o período Imperial foi o primeiro a

fazer previsão sobre as condições de elegibilidade já que na época dizia que o

cidadão que quisesse concorrer a algum cargo deveria reunir as qualidades de

eleitor.

Em relação ao Período Republicano, destacou-se a Lei Rosa

e Silva, tendo sido rotulada como um autêntico código eleitoral, inclusive.

Foi também neste período que o Brasil começou a buscar a

moralização do sistema eleitoral, pois foi neste momento que surgiu a maioria das

leis eleitorais, como por exemplo, o Decreto nº. 2.419, de 11 de julho de 1911,

que estabelecia as causas de Inelegibilidades.

Outro fato relevante foi o surgimento da Justiça Eleitoral no

país através do Código Eleitoral Brasileiro de 1932.

Após a apresentação de cada período buscou-se apresentar

também toda a legislação eleitoral, constitucional e infraconstitucional, falando um

pouco das constituições federais e dos códigos eleitorais pretéritos.

Conforme ordenado, o segundo capítulo destinou-se a tratar

da elegibilidade, apresentando seu conceito e as condições constitucionais

exigidas para sua obtenção.

Cada uma das condições de elegibilidade elencadas na

Constituição Federal de 1988 foi devidamente apresentada e comentada, a saber:

a nacionalidade brasileira; o pleno exercício dos direitos políticos; o alistamento

eleitoral; o domicílio eleitoral na circunscrição; a filiação partidária e a idade

mínima exigível para todos os cargos.

O terceiro e último capítulo tratou da inelegibilidade

propriamente dita, apresentando conceito deste instituto, a distinção entre a

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inelegibilidade inata e cominada, bem como as causas constitucionais e

infraconstitucionais de inelegibilidade.

Verificou-se que, além de preocupar-se com as condições

de elegibilidade, o texto constitucional também instituiu ordenações quanto às

causas de inelegibilidade. E mais, fez menção à possibilidade de Lei

Complementar assinalar outras situações que levam o nacional ao status de

inelegível.

Neste sentido, é que se verificou a atuação da Lei

Complementar nº. 64/90, mais conhecida como a “Lei da Inelegibilidade”.

Esta Lei Complementar é que traz o maior número de

situações que poderão tornar o candidato, ou o eleito, inelegível.

A primeira causa de inelegibilidade prevista na referida lei

complementar é questão da perda do mandato dos parlamentares que infringiram

os incisos I e II do artigo da Constituição Federal.

Aqui se verifica a preocupação legislativa em limitar o campo

de atuação dos parlamentares, principalmente no que diz respeito à atividade fora

da função pública em entidades ou empresas que mantenham qualquer tipo de

relação com a administração pública.

O maior objetivo desta primeira causa é o de impedir que os

parlamentares tirem proveito de suas funções e publicidade, impossibilitando

assim o desvio de conduta e finalidade.

A segunda causa de inelegibilidade é a questão de os

chefes do Poder Executivo, seja em âmbito federal, distrital ou municipal, virem a

infringir as normas das respectivas constituições ou Leis Orgânicas.

Neste caso, a maior preocupação do legislador é o de

afastar todas os meios de retorno destes titulares de mandatos eletivos afastados

à vida pública, seja no mandato seguinte ou nas eleições que ocorrerem nos dois

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aos subseqüentes ao afastamento, e ainda, possibilitar que as ações interpostas

pelo Ministério Público sejam processadas.

A terceira causa de inelegibilidade trata da questão do abuso

de Poder Econômico ou Político, e da distinção entre ambos.

Enquanto o abuso de Poder Econômico é a utilização de

dinheiro de determinado candidato ou de empresa de grande porte o abuso de

Poder Político é a utilização de bens ou serviços da administração pública em prol

de algum candidato ou partido político.

A intenção da Lei Complementar nº. 64/90 é diminuir ao

máximo que aconteça uma disputa desproporcional entre os candidatos,

garantindo assim uma eleição justa e equânime.

Outra causa de inelegibilidade é a questão da condenação

por crimes contra a economia popular, a fé pública, a administração pública, o

patrimônio público, o mercado financeiro e também pelo tráfico de entorpecentes

e crimes eleitorais.

O fundamento desta causa de inelegibilidade está na

incompatibilidade que existe entre o cometimento de crimes graves, como os aqui

elencados, e o exercício das funções públicas.

A quinta causa de inelegibilidade tratada pela LC 64/90 é em

relação aos oficiais das forças armadas, polícia militar ou corpo de bombeiros que

forem declarados indignos pelo Poder Judiciário.

A próxima causa de inelegibilidade é imputada aos

administradores públicos que tiverem suas contas rejeitadas pelo órgão

competente para apreciá-las.

A inteligência da lei está principalmente em refutar da vida

pública aqueles que não conseguiram bem equacionar a receita com as

despesas, e que trouxeram prejuízo ao órgão que está à frente o administrador.

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Ressalta-se aqui que a decisão de rejeitar as contas do

administrador é uma decisão administrativa e perdurará durante o período em que

as mesmas foram rejeitadas e nos cinco anos seguinte.

A sétima causa elencada na LC 64/90 diz respeito à

condenação do agente público que foi beneficiado ou que beneficiou terceiros por

abuso de poder econômico ou político.

A diferença desta causa para aquela que também trata da

questão do abuso de poder é que neste caso não o inelegível será quem ocupa

cargo via concurso público ou por provimento em comissão, diferentemente da

terceira causa, que trata de cargo eletivo.

A última causa de inelegibilidade prevista pela Lei das

Inelegibilidades visa afastar qualquer possibilidade de ex-administradores de

estabelecimentos de créditos, financiamento ou seguro, objeto de liquidação

enquanto não forem exonerados de qualquer responsabilidade, virem a se eleger

a cargo público.

Por uma questão óbvia não se pode permitir que tais

pessoas ascendam ao poder enquanto perdurar a discussão sobre eventual

responsabilidade imputada aos mesmos.

Por fim, retoma-se o problema básico da pesquisa: A

legislação eleitoral Constitucional e Infraconstitucional é suficiente e atualizada

para coibir os desvios de finalidade praticados pelos candidatos a cargos públicos

e aos eleitos para esses cargos, tornando-os assim inelegíveis?

Para tanto, foram essas as hipóteses desenvolvidas:

a) A inelegibilidade está presente em todas as

constituições que foram editadas no Brasil.

Resposta: Sim, todas as Constituições Brasileiras fizeram

previsão sobre causas de inelegibilidade, comprovando assim a hipótese.

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b) Os critérios de elegibilidade são absolutos, sendo certo

que todo cidadão é inelegível até que preencha os requisitos de elegibilidade.

Resposta: Sim, a hipótese se comprova, eis que todo

cidadão, conforme visto, é inelegível e, para tornar-se elegível necessita

preencher os requisitos legais necessários para tornar-se candidato.

c ) As causas de inelegibilidade constitucionais e infra-

constitucionais são suficientes para garantir ao cidadão que o candidato a cargo

eletivo preenche os requisitos mínimos necessários para ser votado e que, em

caso de afronta a esses requisitos os mecanismos legais para sua destituição

estão presentes na lei e podem ser invocados.

Resposta: Sendo que ficou comprovado, ao final, a hipótese

de que é sim suficiente e atualizada a legislação eleitoral Constitucional e

Infraconstitucional para coibir os desvios de finalidades praticados pelos

candidatos a cargos públicos e aos eleitos para esses cargos, os quais terão

declaradas suas inelegibilidades.

Ainda sobre o tema pesquisado, restou constatada a

relevância do mesmo, não somente para o pesquisador, mas principalmente para

todos os cidadãos que entregam um de seus maiores bens, que é o voto, em

favor de determinado candidato para que este o represente de maneira digna e

respeitosa.

Fica aqui a motivação para que não somente os acadêmicos

e profissionais do direito busquem conhecer nossa legislação eleitoral, mas que

nossos cidadãos também tenham esta vontade de compreender este ramo do

direito público, pois desta forma certamente nosso país evoluirá substancialmente

no tocante à efetiva participação popular na administração pública, procurando

sempre fazer com que nossos administradores ajam de acordo com as

necessidades da coletividade e em concordância às normas eleitorais e

constitucionais.

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REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

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COSTA, Adriano Soares da. Teoria da Inelegibilidade e o Direito ProcessualEleitoral. Belo Horizonte: Del Rey, 1998.

DECOMAIN, Pedro Roberto. Elegibilidade e Inelegibilidades. 2. ed. São Paulo:

Dialética, 2004.

FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930. Historiografia e História. 15. ed. São

Paulo: Brasiliense, 1995. p. 113.

FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição Brasileira. Vol. 1. São Paulo:

Saraiva, 1989. p. 306.

FERREIRA, Pinto. Código Eleitoral Comentado. 3. ed. São Paulo: Saraiva,

1991.

FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Comentários à Constituição Brasileira de1988. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 1990. p. 134.

JORGE, José Alfredo Luiz. Direito Eleitoral. Campinas: Millenium, 2004.

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MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

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MOREIRA, Ricardo. Sistema Eleitoral Brasileiro: Evolução Histórica. Jus

Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em:

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3468. Acesso em: 03 set. 2007.

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REFERÊNCIAS DAS LEIS CITADAS

BRASIL. Decreto nº. 57.654, de 20 de janeiro de 1966. Regulamenta a lei do

serviço militar (Lei nº. 4.375, de 17 de agosto de 1964), retificada pela Lei nº.

4.754, de 18 de agosto de 1965. Diário Oficial [da] República Federativa doBrasil. Brasília, DF, 31 jan. 1966.

BRASIL. Lei Complementar nº. 64, de 18 de maio de 1990. Estabelece, de acordo

com o art. 14, § 9º, da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de

cessação e determina outras providências. Diário Oficial [da] RepúblicaFederativa do Brasil. Brasília, DF, 25 jan. 1990.

BRASIL. Lei Complementar nº. 75, de 20 de maio de 1993. Dispõe sobre a

organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União. DiárioOficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 25 maio. 1993.

BRASIL. Lei nº. 1.079, de 10 de abril de 1950. Define os crimes de

responsabilidade e regula o respectivo processo de julgamento. Diário Oficial

[da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 12 abr. 1950.

BRASIL. Lei nº. 1.269, de 15 de setembro de 1904. Reforma a legislação eleitoral

e dá outras providências. Falta a data de publicação no DOU.

BRASIL. Lei nº. 4.375, de 17 de agosto de 1964. Lei do serviço militar. Diário

Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 03 set. 1964.

BRASIL. Lei nº. 6.091, de 15 de agosto de 1974. Dispõe sobre o fornecimento

gratuito de transporte, em dias de eleição, a eleitores residentes nas zonas rurais

e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil.

Brasília, DF, 15 ago. de 1974.

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BRASIL. Lei nº. 8.429, de 02 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções

aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício

de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta

ou fundacional e dá outras providências. Diário Oficial [da] RepúblicaFederativa do Brasil. Brasília, DF, 03 jun. 1996.

BRASIL. Lei nº. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. Institui a Lei Orgânica Nacional

do Ministério Público, dispõe sobre Normas Gerais para a Organização do

Ministério Público dos Estados, e dá outras Providências. Diário Oficial [da]República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 15 fev. 1993.

BRASIL. Lei nº. 9.096, de 19 de setembro de 1995. Dispõe sobre partidos

políticos, regulamenta os arts. 17 e 14, § 3º, inciso V, da Constituição Federal.

Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 20 set. 1995.

BRASIL. Lei nº. 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as

eleições. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 01

out. 1997.