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UNIVERSIDADE DO PORTO FACULDADE DE DESPORTO “Aprender a ser Professor: pequenos passos para um longo percursoRELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONAL Relatório de Estágio Profissional apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto com vista à obtenção do 2º ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário (Decreto- lei nº 74/2006 de 24 de Março e o Decreto- lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro). Orientadora: Mestre Patrícia Maria da Silva Gomes Eduarda Manuela Pacheco Leal Porto, julho de 2015

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UNIVERSIDADE DO PORTO

FACULDADE DE DESPORTO

“Aprender a ser Professor: pequenos passos para um longo percurso”

RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONAL

Relatório de Estágio Profissional

apresentado à Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto com vista à obtenção

do 2º ciclo de Estudos conducente ao grau

de Mestre em Ensino de Educação Física

nos Ensinos Básico e Secundário (Decreto-

lei nº 74/2006 de 24 de Março e o Decreto-

lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro).

Orientadora: Mestre Patrícia Maria da Silva Gomes

Eduarda Manuela Pacheco Leal

Porto, julho de 2015

II

Ficha de Catalogação

Leal, E. (2015). “Aprender a ser Professor: pequenos passos para um longo

caminho”: Relatório de Estágio Profissional. Porto: E. Leal. Relatório de Estágio

Profissionalizante para a obtenção do grau de Mestre em Ensino da Educação

Física nos Ensinos Básico e Secundário, apresentado à Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, EDUCAÇÃO FÍSICA, SER

PROFESSOR, REVISÃO SISTEMÁTICA, INDISCIPLINA.

III

Dedicatória

Dedico este documento a quem partiu cedo de mais, mas que tenho a certeza

que sempre guiou e iluminou o meu caminho…

À minha avó.

IV

V

Agradecimentos

Aos meus pais por todo o carinho e apoio.

Aos meus irmãos, Eduardo e Miguel, pelos momentos, conversas e

confidências que partilhamos.

Aos meus colegas de estágio, Mariana e André, pelo companheirismo, pelo

conhecimento e pelos momentos únicos que me proporcionaram.

Às minhas amigas para a vida, Cheila, Tânia, Joana e Rita, por me terem feito

crescer, pelo carinho, pelas palavras e por apesar de tudo estarem sempre

presentes.

À minha Carlinha, por se ter tornado um pilar na minha vida, por não me deixar

mudar o rumo e pelo sorriso que sempre me encheu o coração.

À minha eterna colega de curso, Diana, por me acompanhar desde o início, por

me dar força e pela amizade que construímos.

À professora orientadora e professora cooperante, pelo respeito e carinho

demonstrados, pela partilha de conhecimento e as palavras de incentivo que

me levaram a ser uma melhor pessoa e uma melhor profissional.

VII

Índice Geral

Resumo ....................................................................................................................... XI

Abstract ..................................................................................................................... XIII

Lista Abreviaturas ...................................................................................................... XV

1. Introdução ................................................................................................................. 3

2. Enquadramento Pessoal ........................................................................................... 3

2.1. Reflexão autobiográfica ..................................................................................... 9

2.2. O Estágio Profissional e a sua importância na formação de professores ......... 10

2.3. Expetativas e impacto com o contexto de estágio ........................................... 13

3. Enquadramento da prática profissional ................................................................... 17

3.1. Enquadramento legal e institucional do Estágio Profissional ........................... 19

3.2. Enquadramento funcional do Estágio Profissional ........................................... 20

3.2.1. O papel da Escola ...................................................................................... 20

3.2.2. Local de Estágio – a minha primeira escola ............................................... 21

3.2.3. A minha turma de 9º ano............................................................................ 24

3.2.3.1. Afetividade vs. Autoridade: Que implicações? .................................... 25

4. Realização da Prática Profissional .......................................................................... 30

4.1. Planeamento e conceção de ensino ................................................................ 31

4.1.1. Análise dos Programas (2º e 3º ciclo do ensino básico) ............................. 31

4.1.2. Atender às condições de ensino no momento de planear .......................... 33

4.1.3. Planeamento do processo de ensino-aprendizagem .................................. 35

4.1.3.1. Plano anual......................................................................................... 35

4.1.3.2. Unidade didática ................................................................................. 37

4.1.3.3. Plano de aula ...................................................................................... 39

4.2. Realização ...................................................................................................... 40

4.2.1. Clima de aprendizagem ............................................................................. 41

4.2.2. Gestão da aula........................................................................................... 42

4.2.3. Disciplina ................................................................................................... 44

4.2.4. Instrução – uma ferramenta chave no processo de ensino-aprendizagem . 46

4.3. Avaliação ......................................................................................................... 48

4.3.1. Tipos de avaliação ..................................................................................... 49

4.3.2. O primeiro momento - Avaliação Diagnóstica............................................. 50

VIII

4.3.3. O segundo momento - Avaliação Formativa .............................................. 52

4.3.4. O terceiro momento - Avaliação Sumativa ................................................. 53

4.4. Participação na escola e relação com a comunidade ...................................... 56

4.4.1. Direção de turma ....................................................................................... 56

4.4.2. O papel das reuniões para uma boa organização escolar .......................... 59

4.4.3. Participação e dinamização de atividades.................................................. 61

4.4.4. Desporto Escolar ....................................................................................... 64

4.4.5. Balanço Final ............................................................................................. 66

5. Desenvolvimento Profissional ................................................................................. 69

5.1. Construir e (re)construir a minha identidade profissional ................................. 71

5.2. O professor de Educação Física...................................................................... 74

5.3. Estudo de Revisão Sistemática: A indisciplina de Educação Física ................. 76

5.3.1. Introdução .................................................................................................. 76

5.3.2. Enquadramento da Temática ..................................................................... 77

5.3.3. Objetivos .................................................................................................... 81

5.3.3.1. Objetivo Geral ..................................................................................... 81

5.3.3.2. Objetivos Específicos ......................................................................... 81

5.3.4. Metodologia ............................................................................................... 81

5.4. Resultados ...................................................................................................... 84

5.5. Discussão dos Resultados .............................................................................. 88

5.6. Conclusão ....................................................................................................... 92

5.7. Referências Bibliográficas ............................................................................... 93

6. Conclusões e Perspetivas Futuras .......................................................................... 97

7. Referências Bibliográficas ..................................................................................... 101

IX

Índice de Quadros

Quadro 1 - Categorias e Subcategorias de tipologias de comportamentos

indisciplinares .......................................................................................... 78

Quadro 1 - Ficha de pesquisa acerca da indisciplina ............................................... 82

Quadro 2 - Critérios de refinamento da pesquisa .....................................................83

Quadro 4 - Sinopse de estudos relativos ao tema de indisciplina .............................84

XI

Resumo

O estágio profissional tem como principal objetivo a integração do professor

estagiário na vida profissional, através da prática de ensino supervisionada na

escola. O presente relatório de estágio relata as experiências vivenciadas no

estágio profissional após um ano letivo. Este decorreu numa escola do

concelho do Porto, com a colaboração de três professores estagiários, uma

professora cooperante da escola e uma professora orientadora da faculdade.

Neste contexto, a professora estagiária ficou responsável pelo processo de

ensino-aprendizagem de uma turma residente e uma turma partilhada. Além

disso, a professora estagiária assumiu uma participação ativa na escola e nas

relações com a comunidade. O presente documento organiza-se em seis

capítulos: a Introdução apresenta a pertinência da elaboração do relatório de

estágio, aludindo a um breve enquadramento do estágio profissional; a

Enquadramento Pessoal exibe uma reflexão autobiográfica e as expetativas

iniciais no confronto com o contexto de estágio, sendo levantadas algumas

questões acerca da formação de professores e do papel do estágio profissional

na formação do professor estagiário; o Enquadramento da Prática Profissional

reporta-se à caraterização do contexto do estágio profissional, tendo em conta

algumas referências de natureza legal, institucional e funcional; a Realização

da Prática Profissional apresenta as vivências mais significativas do estágio, ao

mesmo tempo que reflete acerca da sua importância, integrando o

planeamento e conceção do ensino, a realização e avaliação do processo de

ensino e a área da Participação na Escola e Relação com a Comunidade; o

Desenvolvimento Profissional faz uma síntese dos mecanismos promotores do

meu desenvolvimento profissional e da minha identidade profissional, sendo

incluído um estudo de revisão sistemática acerca da indisciplina na Educação

Física; por último, a Conclusão e Perspetivas para o Futuro apresenta uma

síntese sobre as principais aprendizagens e mudanças, bem como as minhas

expetativas em relação ao futuro.

PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, EDUCAÇÃO FISICA, SER

PROFESSOR, REVISÃO SISTEMÁTICA, INDISCIPLINA.

XIII

Abstract

The professional practicum aims to integrate the pre-service teacher in

professional life, through teaching supervised practice in school. The present

report relates the professional practicum’ experiences, after a school year. This

took place in school of the region Porto, with the collaboration of three pre-

service teachers, one cooperative teacher and one faculty supervisor teacher.

In this context, the pre-service teacher was responsible for the teaching-

learning process of a resident class and shared class. Additionally, the pre-

service teacher had an active participation in school and community relations.

This document is organized into six chapters: the Introduction, presents the

relevance this report, referring to a brief framework of the professional

practicum; the Framework Personal displays an autobiographical reflection and

initial expectations in relative with the practicum context, with certain questions

about the teacher training and the role this practicum in training; the Framework

of Professional Practice refers to the characterization of the practicum context,

given some references of legal, institutional and functional nature; the

Realization of Professional Practice presents the most significant experiences

of the practicum, while reflecting about its importance, integrating the planning

and of teaching, realization and evaluation of the teaching process and the area

of participation in school and relations the community; the Professional

Development provides an overview of the mechanisms promoted my

professional development and professional identity, including one systematic

review about indiscipline in Physical Education; finally, the Conclusion and

Perspectives for the Future presents an overview of the main lessons learned

and changes, as well as my expectations for the future.

KEYWORDS: PROFESSIONAL PRACTICUM, PHYSICAL EDUCATION, TO

BE A TEACHER, SYSTEMATIC REVIEW, INDISCIPLINE.

XV

Lista Abreviaturas

AFP – Associação de Futebol do Porto

DB – Diário de Bordo

DT – Diretor de Turma

EEFEBS – Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário

EF – Educação Física

EP – Estágio Profissional

ERMC – Educação Moral Religiosa e Católica

FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

IBMC – Instituto de Biologia Molecular e Celular

IP – Identidade Profissional

IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude

MEC – Modelo de Estrutura do Conhecimento

NEE – Necessidades Educativas Especiais

PAA – Plano Anual de Atividades

PC – Professora Cooperante

PE – Professor Estagiário

PES - Prática de Ensino Supervisionada

PFI – Projeto de Formação Individual

PP – Prática Pedagógica

PO – Professora Orientadora

RE – Relatório de Estágio

REP – Reunião Extra Pedagógica

UC – Unidade Curricular

UD – Unidade Didática

1. Introdução

3

1. Introdução

O presente Relatório de Estágio (RE) foi elaborado no âmbito da

unidade curricular (UC) de Estágio Profissional (EP), do 2º ciclo de estudos,

conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos

Básico e Secundário (EEFEBS), da Faculdade de Desporto da Universidade do

Porto (FADEUP). Este centra-se numa análise reflexiva do percurso efetuado,

ao longo do EP, salientando as dificuldades, momentos marcantes e as

principais aprendizagens pessoais e profissionais.

O EP é um processo supervisionado que visa a formação e preparação

do estudante para a sua integração na vida profissional, sendo desenvolvido

em contexto real. Com efeito, o meu EP decorreu numa escola situada no

Porto, na qual integrei um núcleo de estágio constituído por três professores

estagiários (PE), uma professora cooperante (PC) da escola e uma professora

orientadora (PO) da FADEUP. Nesta experiência, espera-se que os futuros

docentes desenvolvam competências profissionais que promovam um

desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder aos desafios e exigências

da profissãoi.

Para mim, o EP representou um misto de significados, porquanto

caracterizava o fim de um ciclo de estudos, mas também o início de uma nova

experiência profissional, bem como a passagem do estatuto de estudante a

professor. Todo este percurso árduo, foi marcado por pequenas e grandes

batalhas, por vitórias e algumas derrotas, por inúmeros desafios e dificuldades,

mas várias superações que refletiram toda a aprendizagem adquirida. Na

verdade, foi nesta vivência que tive oportunidade de aplicar, testar e aprender a

reajustar conhecimentos, reconstruindo e construindo muitos mais, tanto

através da prática, como da partilha, da reflexão e investigação na ação e do

estudo autónomo.

Assim, a realização deste RE reflete parte do meu desenvolvimento

profissional e pessoal, assumindo um caráter reflexivo sobre as atividades

desenvolvidas, ao longo de todo ano letivo. Este desenvolvimento profissional

teve início com a elaboração do projeto de formação individual (PFI), que

funcionou como ponto de partida para a identificação dos meus problemas,

4

dificuldades e limitações, bem como para a definição de estratégias que me

ajudaram a superá-las, ao longo de todo o EP. De facto, o PFI foi um trabalho

de caráter individual, que me permitiu refletir acerca das minhas perceções,

enquanto PE, concretamente, em relação aos meus conhecimentos,

capacidades, atitudes e valores, quando confrontados com os desafios e

objetivos do EP.

Com a elaboração do RE pretendo, agora, narrar na primeira pessoa as

metas alcançadas e o modo como foram alcançadas, dando enfâse às

dificuldades sentidas, aos problemas encontrados e às soluções

experienciadas no contexto onde estava inserida. Pois, importa perceber que,

no processo de ensino-aprendizagem não existem receitas capazes de

solucionar todos os problemas de igual modo.

Assim, o presente documento está organizado em seis capítulos:

Introdução, Enquadramento Pessoal, Enquadramento da Prática Profissional,

Realização da Prática Profissional, Desenvolvimento Profissional e Conclusão

e Perspetivas para o Futuro. A Introdução, apresenta a pertinência da

elaboração do RE, aludindo a um breve enquadramento do EP. O

Enquadramento Pessoal, exibe uma reflexão autobiográfica e as expetativas

iniciais no confronto com o contexto de estágio, sendo levantadas algumas

questões acerca da formação de professores e do papel do EP na formação do

PE. O Enquadramento da Prática Profissional reporta-se à caraterização do

contexto de EP, tendo em conta algumas referências de natureza legal,

institucional e funcional. A Realização da Prática Profissional retrata as

primeiras áreas de desempenho do professor, nomeadamente, o planeamento

e conceção do ensino, a realização e a avaliação do processo de ensino, na

Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem, e ainda, a Participação

na Escola e Relação com a Comunidade. Este capítulo apresenta as vivências

mais significativas do EP, ao mesmo tempo que reflete acerca da sua

importância para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. O

Desenvolvimento Profissional faz uma síntese dos mecanismos promotores do

meu desenvolvimento profissional e da construção da minha identidade

profissional, dando enfâse à importância da formação contínua dos

professores. Aqui, está incluído um estudo de revisão sistemática acerca da

indisciplina na Educação Física (EF), cujo objetivo foi Identificar e analisar

5

como tem sido tratado o tema de indisciplina, em alguns estudos recentemente

publicados, procurando assim, encontrar algumas respostas que vão ao

encontro da minha prática pedagógica (PP). Por último, a Conclusão e

Perspetivas para o Futuro, apresenta uma síntese sobre as principais

aprendizagens e mudanças nas minhas conceções, bem como as minhas

expetativas em relação ao futuro.

2. Enquadramento

Pessoal

9

2.1. Reflexão autobiográfica

Ao refletir sobre o meu percurso, começo por me apresentar como uma

grande amante de desporto, da sua cultura e de todo o seu envolvimento. Por

um lado, pela diversidade de modalidades e habilidades motoras que o

caraterizam, pelos participantes individuais ou coletivos (equipas), e pela

competição e intencionalidade. Por outro lado, pelo espetáculo, pelas emoções,

pelos valores, pela socializaçãoii e tudo o que gira em torno dele. Segundo

Bento (2006, p.60) “o desporto é um lugar pedagógico por excelência e uma

fonte inesgotável de humildade e de moralização do nosso percurso e da nossa

passagem”.

Na verdade, desde cedo que vejo o desporto como o meu melhor refúgio

e uma forma de estar na vida com muita satisfação. Aliás, algumas das boas

lembranças da minha infância, refletem precisamente os momentos de prazer

partilhados com a minha família, durante os longos passeio de bicicleta,

brincadeiras e jogos com bola que realizava com os meus irmãos.

Mais tarde, foram as aulas de EF, durante o segundo ciclo do ensino

básico, que despertaram ainda mais o meu interesse pelo desporto e foi, então,

que senti a necessidade de competir e de representar um clube. Nessa fase,

decidi abraçar um novo projeto na minha vida e tornei-me atleta federada na

modalidade de futebol, durante cinco anos. Deste modo, alcancei inúmeros

objetivos e sucessos desportivos, mas também muitos sucessos pessoais, em

parte resultantes da socialização proporcionada pelo desporto. Afinal, o

desporto não envolve apenas jogo e regras, mas também uma elevada

interação social entre os agentes participantes e a aquisição de valores (e.g.

respeito, cooperação, companherismo) fundamentais para a sua prática e

transversais ao dia a dia da sociedade.

Já no final do ensino secundário e com muitas incertezas relativamente

ao meu futuro académico, surgiu a oportunidade de seguir por outra vertente

desportiva, a arbitragem na modalidade de futebol. Esta ligação, ao futebol há

cerca de dez anos, faz com que esta seja uma das minhas modalidades

prediletas. Todo o conjunto destas experiências e o facto de ter vivenciado os

dois lados da moeda, como atleta e árbitra, fizeram-me crescer enquanto

desportista. Hoje, compreendo as dificuldades e os manifestos de ambas as

10

partes, durante as competições, e levo essa aprendizagem para a minha vida,

ao tentar colocar-me sempre no papel da outra pessoa, evitando julgamentos

ou avaliações injustas. Com esta aprendizagem, tornei-me numa pessoa mais

ponderada e capaz de lidar com as particularidade de cada pessoa. No meu

entendimento, esta é uma caraterística importante quando se assume o papel

de professor, pois enquanto professores devemos conhecer bem os nossos

alunos e agir em conformidade com as suas caraterísticas e particularidades,

adequando o processo de ensino e mantendo uma boa relação professor-

aluno.

Assim, partindo desta forma de estar e de ser, que o desporto me

proporcionou, confesso que foi relativamente fácil escolher um rumo

profissional. Primeiro, optei pela candidatura e entrada numa das faculdades de

excelência do país (FADEUP), em Ciências do desporto, e, mais tarde, pelo

acesso ao mestrado de ensino na mesma instituição, que me permitiu seguir

uma das minhas áreas de interesse no desporto, o ensino da Educação Física.

Esta vontade de ensinar, notei desde cedo enquanto brincava ou jogava com

outras pessoas, pois sentia sempre a necessidade de lhes explicar como

puderiam realizar certas ações para obterem sucesso. Por vezes, mesmo sem

saber bem como transmitir o que pretendia, insistia em ensinar os meus

colegas nas brincadeiras. Ensinar o outro parecia-me completamente natural e

algo inerente à minha maneira de ser. Hoje, através do EP, pretendo continuar

a ensinar e corrigir os meus alunos, tal como acontecia naquela época, para

que com a minha ajuda alcançem níveis elevados de desempenho.

2.2. O Estágio Profissional e a sua importância na formação de

professores

O início do EP fez-me perceber que o meu percurso como estudante

estava a terminar e que, agora, deveria encarar as novas funções e tarefas

com outra seriedade e responsabilidade. Com a vivência do EP, pude testar se

as minhas escolhas académicas e profissionais foram de encontro ao que

perspetivava e se seriam realmente o melhor caminho para mim. Assim,

importa perceber como esta vivência foi encarada por mim.

11

Se por um lado, encarava o estágio como uma etapa formativa bastante

enriquecedora, principalmente, pelas aprendizagem que me proporcionaria. Por

outro lado, encarava-o como uma responsabilidade acrescida, com receio de

errar e com a consciência de que ensinar poderia acarretar um peso enorme,

porque instruímos e educamos pessoas que constituem a nossa sociedade.

Em termos institucionais, o EP corresponde a uma UC do segundo ciclo

de estudos, conducente ao grau de Mestre em EEFEBS, da FADEUP. Esta UC

“visa a integração no exercício da vida profissional de forma progressiva e

orientada, através da prática de ensino supervisionada (PES) em contexto real,

desenvolvendo competências profissionais que permitam aos futuros docentes

adquirirem um desempenho crítico e reflexivo que seja capaz de responder aos

desafios e exigências da profissão.”iii. Por esta razão, o estágio pode ser

considerado como uma oportunidade para adquirir aprendizagens sobre a

profissão de docente. Importa referir que esta é uma expêriencia de ensino em

contexto real, conhecida na literatura como uma das componentes mais

importantes no processo de formação inicial de professores (Chepyator-

Thomson e Liu, 2003; Hill e Brodin, 2004; O´Sulivan, 2003; Tang, 2004). Com

efeito, a prática de ensino oferece aos futuros professores a oportunidade de

imergirem na cultura escolar nas suas mais diversas componentes, desde as

suas normas e valores, aos seus hábitos, costumes e práticas, que

comprometem o sentir, o pensar e o agir daquela comunidade específica

(Batista & Queirós, 2013).

Para mim, este ano de estágio não foi apenas mais uma UC imposta

pelo plano de estudos, mas sim o finalizar de cinco anos de estudo, de

dedicação e inúmeras aprendizagens. Esta experiência seria marcada pela

tomada de consciência de mudança e de transformação do papel de aluno para

o papel de professor e essa responsabilidade assustava. Isto, porque o

professor não assume apenas a responsabilidade de ensinar, mas o papel de

ensinar bem e de educar. Ensinar pode ser descrito como uma atividade que

promove a aprendizagem e que respeita a integridade intelectual de cada aluno

e a sua capacidade para julgar de forma autónoma (Scheffler, 1993). A ação e

o efeito de ensinar, implica instruir, doutrinar e amestrar com regras, tendo em

conta um conjunto de conhecimentos específicos, de princípios e valores

implícitos ao processo de ensinar. Já educar, “pressupõe o processo de

12

desenvolvimento integral do homem, isto é, de sua capacidade física,

intelectual e moral, visando não só à formação de habilidades, mas também do

caráter e da personalidade social e, ainda, sua melhor integração individual e

social, sejam crianças, jovens ou adultos.” Aranha (1996, p.51).

Garcia (1999) defende que nos primeiros anos de atividade profissional

o jovem professor, geralmente, enfrenta o “choque da realidade”, que se

carateriza por um período de transição entre o ser estudante e o ser professor.

Aqui os professores estagiários vivem uma experiência única de formação e

acompanhamento, marcado pela dualidade de papéis, pois são

simultaneamente professores e alunos, sendo por vezes difícil de conciliar

ambos os papéis conjuntamente. Além disso, este momento assume particular

interesse na formação dos professores por ser uma etapa de convergência, de

confrontação entre os saberes teóricos da formação inicial e os saberes

práticos da experiência profissional e da realidade social do ensino (Piéron,

1996). De facto, foi desta forma que encarei esta grande mudança no meu

processo formativo, assumindo o EP como uma oportunidade de aplicar todas

as minhas aprendizagem e organizar o meu conhecimento, construindo e

reconstruindo novos saberes. Todo este processo de transição exigiu de mim

uma introspeção e breve reflexão, com o objetivo de rever papéis e

responsabilidades.

Na verdade, o EP é considerado um momento onde se figuram inumeras

dúvidas e pressões, mas ao mesmo tempo é um contexto de imensas

aprendizagens que contribuem para a construção da nossa identidade

profissional. Importa referir que, quando se fala deste conceito, entende-se a

identidade como um processo contínuo e dinâmico de construção, que implica

a criação de sentidos e a (re)interpretação dos próprios valores e experiências

(Giddens, 1994). A identidade profissional resulta na ligação do ser humano e

uma atividade. Esta ligação acontece quando a pessoa contacta com a

profissão, aferindo desta forma uma identidade ligada à sua profissão, nesta

caso concreto à profissão docente.

Hoje, reconheço que o EP, me permitiu conhecer e identificar enquanto

profissional, proporcionando-me vários momentos de aprendizagem e uma

(re)construção constante da minha identidade profissional. Todo este processo

13

de descoberta começou com as expetativas criadas e pelo confronto das

mesmas com o contexto de estágio.

2.3. Expetativas e impacto com o contexto de estágio

Com o início de um novo ano letivo, foram formuladas novas expetativas

e traçados novos objetivos. Para este longo caminho, estava consciente de

algumas dificuldades que puderiam surgir, sobretudo, dificuldades resultantes

do desconforto da presença em público e da menor capacidade de

comunicação com os outros, neste caso com os alunos. Na verdade, sentia

uma constante necessidade de passar a máxima informação possível aos

alunos, com receio que algo importante escapasse. Esta atitude dificultava, por

vezes, o entendimento e assimiliação do conhecimento por parte dos alunos e

também o controlo da turma, que era bastante barulhenta. Aqui, foi importante

perceber que a forma como o professor comunica com os alunos pode

influenciar a sua relação com a turma. Por esta razão, foi necessário repensar

algumas estratégias para organizar melhor os momentos de instrução e

melhorar a capacidade de comunicar, tanto no sentido de criar condições

favoráveis à comunicação, como de selecionar e organizar a informação

transmitida. O estilo interativo do professor, o discurso que usa e a forma como

articula e estrutura o diálogo marcam grande parte da PP e influenciam

grandemente os resultados da aprendizagem, sendo a comunicação verbal de

bastante importância, independentemente da estratégia de ensino adotada

(Loureiro, 2000).

No início, idealizei que seria um ano cheio de trabalho, mas também de

satisfação pela concretização de todos os objetivos inumerados para este o

EP. Este foi realmente um ano de muito trabaho, no entanto alguns objetivos

não foram claramente atingidos. A minha principal motivação era a

oportunidade de poder ensinar aos mais novos o que tinha assimilado ao longo

do meu percurso académico e pessoal. Mas a minha motivação nem sempre

foi suficiente para motivar todos os alunos, pois independentemente da

estratégia que usasse, alguns não conseguiam vislumbrar o lado bom da EF e

envolver-se nas atividades propostas nas aulas. Na realidade, foi complicado

14

em alguns momentos saber adequar as decisões às situações particulares que

ocorreram nas aulas, bem como reagir de forma assertiva ao comportamento

dos alunos e, sobretudo, conseguir motivar os alunos para a disciplina. Mesmo

assim, tive sempre a certeza de que a minha aprendizagem seria crescente

durante este ano, tal como foi.

Através das experiências que vivenciei no EP, aprendi novos

conhecimentos sobre o que é ser professor, mas também aprendi muito

através dos agentes de formação e socialização que me acompanharam e com

quem ainda pretendo continuar a aprender. Considero que, apesar de algumas

dificuldades, estive à altura do desafio. Através deste percurso, foi possível não

só compreender todo o processo que envolve ser professor, principalmente, na

relação com os alunos e com a comunidade escolar, como também conhecer e

compreender o funcionamento da escola enquanto instituição.

Sabia de antemão que ser professor envolveria muito trabalho, mas não

imaginava que assumir este papel pudesse ser tão recompensador a nível

emocional e esgotante a nível físico e intelectual.

Após o impacto inicial na escola, como professora, a minha visão acerca

daquilo que representa esta instituição não se alterou de forma significativa. No

entanto, percebi que a escola não é apenas um local de aprendizagens, é

também um local de convívio e socialização, tornando-se para alguns agentes

da comunidade uma segunda casa. Pois, de facto, é aqui que os alunos

passam a maior parte do tempo e onde, muitas vezes, choram, desabafam,

riem, experienciam pela primeira vez, criam novas amizades e novos laços e

começam a traçar novos objetivos para as suas vidas. Nesta segunda casa,

para a maioria dos alunos, o professor assume um papel importantíssimo,

porque além de ensinar, guia os alunos nas suas escolhas, orientando-os para

aquilo em que acreditam ser o melhor para cada um deles. Por esta razão, dou

enfâse tanto ao professor, enquanto profissional, como ao professor, enquanto

pessoa emotiva, compreensível, prestável, incentivadora e capaz de auxiliar os

alunos, criando uma relação de proximidade, se não com todos, pelo menos

com uma grande parte dos seus discentes.

Relativamente ao meu núcleo de estágio, esperava que fosse um grupo

unido, disposto a ajudar-se mutuamente como colegas e a partilhar os

sucessos e também insucessos, somados e solucionados em conjunto. Neste

15

aspeto, as coisas não poderiam ter sido melhores. Para além de unidos, fomos

um grupo forte, sempre disposto a ajudar, sempre com uma palavra amiga ou

com alguma solução para os problemas uns dos outros. Todos os momentos

em conjunto eram aproveitavados para refletir, mesmo os mais informais, com

o intuito de melhorarmos e de possuirmos um melhor entendimento sobre o

que se passava em nosso redor. Aprendi muito com cada um dos meus

colegas e eles comigo, pois cada um de nós tinha um conhecimento único e

estavamos disponíveis a partilhá-lo com os restantes elementos. Cada um de

nós tinha experiências profissionais distintas e em modalidades também

distintas, bem como interesses e pensamentos particulares, mas todos tinham

o mesmo objetivo – sermos melhores profissionais.

Centrando-me agora na minha turma, atendendo à minha experiência

profissional como árbitra, que me ensina frequentemente a lidar com pessoas

bastante diferentes em termos de personalidade, confesso que, inicialmente

elevei as minhas expetativas. Esperava ter uma certa facilidade em criar

afinidade com os alunos e, desta forma, manter uma boa relação com todos

eles. Apesar de conseguir criar esta relação com a turma, nem sempre foi uma

relação pacifica, uma vez que alguns dos alunos que encontrei ultrapassaram o

que tinha expetado (negativamente), mostrando-se muito agitados, barulhentos

e inquisitivos. Este foi um desafio maior do que estava à espera e os alunos

obrigaram-me a procurar soluções diversificadas e a renovar constantemente

as estratégias que implementava nas aulas. De facto, demorou algum tempo

até descobrir um modelo adequado às caraterísticas da turma, que favorecesse

a interação entre o professor e os alunos. Neste âmbito, Rosado e Ferreira

(2009, p. 185), referem que “A promoção de ambientes positivos de

aprendizagem envolve uma abordagem integrada das variáveis intervenientes

nos contextos dinâmicos do ensino e da aprendizagem, os objetivos, crenças,

motivações, emoções e comportamentos dos professores em interação com as

mesmas variáveis dos alunos”.

No entanto, alguns alunos conseguiram corresponder à imagem que

criara sobre eles, revelando-se alunos aplicados, interessados, bem-educados

e que sabiam exatamente o que queriam das suas vidas, mesmo sendo tão

jovens.

16

Quanto ao grupo de EF, tal como estava à espera, foram também um

suporte importante para a minha aprendizagem. Desde cedo, mostraram ser

pessoas disponíveis, que podiamos procurar para expor os nossos problemas

e compartilhar conhecimentos sobre o meio em que trabalhavamos. O mesmo

aconteceu com a PC e a PO da faculdade.

Com o concluir do EP, reconheço que o balanço final é positivo. Sinto

que toda a comunidade escolar me acolheu e, por isso, a integração foi

imediata. Não percebi qualquer tipo de obstáculos na integração e relação com

a comunidade escolar, ou qualquer tipo de distinção por ser PE e isso fez-me a

sentir bem na escola. Aliás, eu é que sempre senti a necessidade de respeitar

os outros professores e uma enorme dificuldade em tratá-los por colegas,

embora assumíssemos as mesmas funções dentro da escola.

Considero que, ser professora é muito gratificante e compensador,

principalmente, quando vemos que os nossos esforços se traduzem na

aprendizagem dos alunos.

3. Enquadramento da prática

profissional

19

3.1. Enquadramento legal e institucional do Estágio Profissional

Como referido anteriormente, é no 2º Ciclo de Estudos conducente ao

grau de Mestre em EEFEBS, da FADEUP, que a UC de EP está inserida. Esta

é uma UC sob a forma de PES, que integra também a construção de um RE. A

sua estrutura e funcionamento consideram os princípios decorrentes das

orientações legais, nomeadamente, as constantes do Decreto-lei nº 74/2006 de

24 de março e o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de fevereiro, sendo regida pelo

Regulamento Geral dos Segundos Ciclos da Universidade do Porto, pelo

Regulamento Geral dos Segundos Ciclos da FADEUP e pelo Regulamento do

Curso de Mestrado em Ensino de Educação Físicaii.

O EP permite o desenvolvimento de competências profissionais, que se

associam a um ensino da EF e Desporto de qualidade e se reportam ao Perfil

Geral de Desempenho do Educador e do Professor (Decreto-lei nº 240/2001 de

17 de agosto)ii. Estas competências organizam-se em áreas de desempenho:

organização e gestão do ensino e da aprendizagem, participação na escola e

relação com a comunidade e desenvolvimento profissional. A primeira área

engloba a conceção, o planeamento, a realização e a avaliação do ensino; a

segunda e terceira áreas englobam todas as atividades não letivas, tendo em

vista a integração na comunidade escolar e um melhor conhecimento das

condições locais da relação educativa e a exploração da ligação entre a escola

e o meio; a quarta área engloba atividades e vivências importantes na

construção e desenvolvimento da competência profissional, promovendo o

sentido de pertença e identidade profissionais, a colaboração e a abertura à

inovação i.

A orientação da PES é realizada por um docente da FADEUP

(orientador), nomeado pelo órgão competente, e por um PC da escola. O

orientador tem a função de supervisionar a prática educativa dos professores

estagiários em todas as áreas de desempenho; observar as aulas previstas;

reunir com os professores cooperantes e núcleos de estágios, bem como

individualmente com cada PE; e, juntamente com o PC, avaliar, aprovar o

desempenho na PES e propor a classificação do PE. Cabe ao PC orientar os

PE cooperativamente com o orientador da FADEUP; promover a sua

integração na comunidade escolar; supervisionar a atividade letiva dos PE nas

20

turmas, às quais estão adstritos, e em todas as atividades programadas;

realizar sessões semanais de cariz didático-pedagógico e, tal como o agente

anterior, avaliar individualmente os estudantes PEi.

É da responsabilidade da regência do curso distribuir os PE pelos

Núcleos de Estágio das escolas cooperantes e atribuir aos núcleos os

orientadores da FADEUP i.

3.2. Enquadramento funcional do Estágio Profissional

3.2.1. O papel da Escola

A escola, enquanto instituição, é concebida para o ensino dirigido aos

alunos e funciona como uma organização social que controla o funcionamento

da sociedade e, por conseguinte, dos indivíduosiv. Ou seja, é nela que decorre

o processo de formação integral dos alunos.

Na minha opinião, a escola é um espaço que deve garantir a educação

para todos e deve assegurar a formação pessoal, intelectual, cultural, social e

física de todas as crianças e jovens da nossa sociedade. A escola deve acatar

as dificuldades de cada um, para que todos possam usufruir de aprendizagens

plenas e enriquecedoras, sendo as potencialidades de cada um exploradas ao

máximo, sem qualquer descriminação. Assim, a escola é uma instituição

responsável pela formação de valores morais que tornam um indivíduo membro

da sociedade, permitindo viver em comunidade com os outros.

As escolas devem, portanto, ser entendidas como oportunidades, onde

os jovens podem aceder a uma base cultural comum, capaz de combinar de

forma eficiente as dimensões cognitivas, expressivas e valorativas do

desenvolvimento humano, para que saibam viver juntos com os demais

humanos e em equilíbrio com a natureza (Azevedo, 2006).

A escola deve respeitar as particularidades e especificidade dos alunos

e auxiliar todo o trabalho pedagógico desenvolvido pela comunidade escolar,

de modo a garantir o pleno desenvolvimento do aluno. Pois, através de um

olhar sobre a escola é possível observar que estas são pautadas pela

diversidade e heterogeneidade cultural, racial e social. Atualmente, frente a

21

uma escola de massas, a sociedade e o Estado exigem que a escola seja

inclusiva (Cunha, 2008).

Esta conceção da escola exige também uma nova conceção de

professor. Assim, a um professor letrado, bem formado, bondoso, acrescentou-

se o professor seletivo (distinguir os mais aptos, ajudar os menos aptos)

(Cunha, 2008). Nas palavras de Ruivo (1997), o professor não pode apenas ser

encarado como um especialista nas matérias que ensina, mas um técnico

altamente qualificado nas diversas áreas do saber.

3.2.2. Local de Estágio – a minha primeira escola

No ano letivo 2004/05, a escola onde realizei o EP passou a ser a sede

do Agrupamento e mudou a sua designação para escola secundária com 2º e

3º ciclo. Para além da escola designada como sede do agrupamento, este

agrupamento é constituído por uma escola básica do 1º ciclo.

Inicialmente designada como escola Técnica Elementar, esta foi criada

em 1949, surgindo como uma escola anexa a outra, com o objetivo de ministrar

o ensino do ciclo preparatório do ensino técnico a uma população escolar

exclusivamente feminina.

Entre 1949 e 1959 a escola funcionou em dois locais diferentes,

adquirindo a sua autonomia no ano letivo de 1959/60, quando ocupou as atuais

instalações na Rua Primeiro de Janeiro. Em 1966, foi convertida numa escola

industrial continuando, no entanto, a obedecer a um projeto de difusão do

ensino técnico com o curso de formação feminina. Três anos mais tarde, em

1969, para além do regime industrial já existente, a escola passou a possuir um

regime comercial, com a criação do curso geral de comércio. Com os

acontecimentos decorrentes da revolução dos cravos em abril de 1974,

surgiram novas perspetivas ao sistema educativo com a supressão das duas

vias escolares, encaradas como sinónimo de um desigual prestígio e de

discriminação social.

Atualmente, a escola situa-se numa zona central do Porto, a Boavista. A

sua área envolvente encontra-se rodeada de infraestruturas de renome como a

Associação de Futebol do Porto (AFP), Associação de Andebol do Porto, o

Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), o Bessa Hotel e o

22

Estádio do Bessa Século XXI, usado também para a lecionar aulas de EF.

Desta forma, esta revela ser uma zona com uma grande afluência

populacional.

A população que frequenta esta escola secundária com 2º e 3º ciclo é

bastante diversificada, sendo preenchida com cerca de 1100 alunos do 5º ao

12º ano de escolaridade. É uma escola caraterizada por uma elevada

heterogeneidade, acolhendo pessoas de diversas classes sociais, alunos

institucionalizados, alunos com necessidades educativas especiais (NEE) e

alunos com diferentes nacionalidades, para quem existe uma disciplina

específica denominada de Língua Portuguesa não materna. Os alunos provêm

das mais variadas zonas do Porto, desde as mais centrais até as zonas

periféricas da cidade.

Normalmente o contato dos pais é feito única e exclusivamente com o

diretor de turma (DT), mas a escola possui uma particularidade na sua cultura

organizacional que quebra a “norma” e permite o contato com todos os

professores, através do evento denominado “Pais na Escola”. Trata-se de uma

reunião que ocorre nos dois primeiros períodos e dá aos pais ou encarregados

de educação a possibilidade de, num horário definido, falarem com todos os

professores da turma do seu educando. Uma outra particularidade é a

participação da comunidade escolar na organização de um evento: “Clara

Solidária”, que apresenta um cariz social, cujo objetivo primordial é a recolha

de bens materiais e alimentares para entregar a instituições de solidariedade.

Ainda dentro da “Clara Solidária”, surge outra ação também de cariz social, a

“Rota dos Povos”. Este consiste na angariação de material escolar e didático

para entregar em zonas desfavorecidas de África.

Os professores desta escola são caraterizados pela sua preocupação

com os alunos e pela constante procura de métodos para o desenvolvimento

académico, profissional e humano dos seus discentes, através da formação

específica e contínua. O pessoal não docente, que está distribuído por várias

funções na escola, tais como Assistentes Operacionais, são agentes vistos

como um grupo de pessoas que demonstram grande motivação e uma

participação ativa no papel da escola, sempre dispostos a ajudar e a auxiliar

quem a eles recorrer.

23

Relativamente às instalações da escola, foram construídas para que

fosse possível o acesso a todos os locais sem sair de um espaço coberto, por

isso, todos os pisos estão ligados uns aos outros, permitindo um acesso mais

cómodo e mais rápido entre os vários pontos da escola. Na zona de acesso

principal, encontra-se a Secretaria, a Biblioteca, a Sala de Pais e Encarregados

de Educação, gabinetes dedicados à Direção e o Ginásio. No piso superior,

encontra-se a Sala de Professores, Sala de Diretores de Turma, Gabinetes de

atendimento aos pais e salas de alguns grupos de departamentos disciplinares.

No piso inferior, existe o auditório, a reprografia/papelaria, a cantina/bufete, o

parque de estacionamento e balneários para as aulas de EF lecionadas no

exterior, onde está localizada a pista e o campo exterior. Entre o piso inferior e

o superior existem dois corredores por onde estão distribuídas varias salas

equipadas com retroprojetores e/ou quadros interativos. Existem também

algumas salas específicas, tal como a sala de expressões dramáticas,

Educação Visual, Educação Musical, sala de Tecnologias da Informação e

Comunicação, sala de estudo e os Laboratórios dedicados essencialmente às

disciplinas de Biologia e Físico-Química.

Quanto às instalações específicas para a disciplina de EF, estas

reportam-se ao ginásio, ao campo de jogos exterior, à pista de atletismo com

50 metros e os balneários. Estes espaços apresentam algumas condicionantes

que, por vezes, causam constrangimentos no planeamento e realização das

aulas. O ginásio tem dimensões de um campo de voleibol exceto na altura, que

é inferior. Este é revestido por vidro num dos lados e por espaldares colocados

na outra parede. Por esta razão, quando usamos este espaço, temos de ter em

atenção as portas de vidro e não podemos colocar os alunos a rematar ou a

servir nessa direção. Também precisamos de ter em atenção aos alunos que

frequentemente se penduram nos espaldares. O campo de jogos exterior não é

totalmente coberto e em dias de chuva o pavimento fica molhado nas

extremidades, limitando a sua utilização, uma vez que a humidade do piso fica

acentuada. Neste caso, por vezes, somos obrigados a partilhar o local com a

turma que esta na pista, diminuindo ainda mais o espaço disponível. Aqui,

somos obrigados a condicionar a PP, incidindo mais em exercícios analíticos

ou jogos reduzidos. A pista de atletismo tem apenas dois corredores e como

solução para o espaço reduzido utilizamos o espaço destinado para o recreio.

24

Assim, na pista só podemos ter dois alunos a realizar a tarefa proposta. Por

exemplo, quando é corrida de velocidade, dois alunos realizam e o resto da

turma fica parada a observar ou a realizar outro exercício, obrigando o

professor a repartir-se por diferentes tarefas. Durante as aulas de 100 minutos,

os alunos que se encontram na hora de intervalo, usam outra parte do recreio

ao lado da pista. Durante esses minutos de intervalo, os professores colocam

uma fita para dividir o espaço, mas o barulho que se faz sentir continua

perturbar a aula. Em algumas situações os alunos que saem das salas de aula

para o recreio acabam por interferir nas aulas de EF.

Para além destas instalações a escola conseguiu, através de um

protocolo com o Boavista Futebol Clube, ter à sua disposição, um campo

relvado sintético e dois pavilhões de ginástica no estádio do Bessa. O material

desportivo que existe é, na sua maioria, em variedade e número suficiente.

3.2.3. A minha turma de 9º ano

Embora o núcleo de estágio tivesse ficado responsável pelo processo de

ensino de uma turma do 2º ciclo (6º ano), sendo esta uma turma partilhada,

cada PE assumiu uma turma do 3ºciclo de ensino, concedida pela PC (turma

residente). A turma pela qual fui responsável faz parte de uma das seis turmas

do 9º ano de escolaridade. Esta é uma turma constituída por 28 alunos, 15 do

sexo masculino e 13 do sexo feminino. Na turma existe apenas um aluno

repetente do 9ºano.

Os alunos possuem uma média de idades de 13,8, encontrando-se entre

os 13 e os 15 anos, por isso, revelam ser um grupo com diferentes níveis de

maturidade e desenvolvimento motor.

As doenças são um levantamento imprescindível para evitar sermos

apanhados desprevenidos e colocarmos em risco os alunos, por esta razão

procuramos atender também a esta componente nas fichas de caraterização

dos alunos. A grande maioria da turma não apresenta problemas específicos

que impeçam a realização das aulas de EF, encontrando-se dentro dos

parâmetros normais. No entanto, importa salientar que, existem três alunos

com diagnóstico particular, que apesar de não impedirem a realização das

25

aulas, podem impedir a realização de alguns exercícios. Dois alunos

apresentam um quisto sinovial e um deles padece também de problemas na

coluna, já outro aluno apresenta problemas nos joelhos.

Dos 28 alunos existentes nesta turma, apenas 16 (57,14%) praticam

atualmente alguma modalidade desportiva, enquanto 12 (48,85%) assumem

não praticar qualquer tipo de modalidade. Destes 12 alunos, 8 afirmam que

praticaram uma modalidade no ano anterior, revelando também a intenção de

voltarem a praticar algum desporto. A percentagem de 57,14% alunos ativos da

turma mencionou uma enorme variedade de modalidades praticadas: três

alunos no Futebol e no Voleibol; dois alunos na Natação, Equitação e Ténis; e

um aluno no Andebol, Surf, Hóquei e Rugby. Estes dados permitem constatar

que grande parte da turma apresenta uma frequência de treino semana

superior aos restantes alunos, uma vez que fazem parte de equipas federadas.

Este tipo de informação pode ser vantajosa durante a preparação da PP, uma

vez que me permite definir objetivos mais ambiciosos para os alunos

praticantes das respetivas modalidades e usufruir da sua colaboração para o

apoio necessário aos colegas menos capazes, ao longo do processo de

ensino-aprendizagem.

O primeiro contato com a turma permitiu-me concluir que esta era uma

turma barulhenta, desconcentrada e pouco cooperante com as ordens do

professor. Ao longo das aulas foram necessárias várias chamadas de atenção

e inúmeras repreensões, que exigiu, da minha parte, por vezes, a adoção de

uma postura autoritária, algo que não se assemelha em nada às minhas

caraterísticas, uma vez que sou uma pessoa extremamente afetiva.

Este primeiro confronto suscitou uma reflexão crítica do papel do

professor como autoridade, em que a afetividade também deve marcar

presença.

3.2.3.1. Afetividade vs. Autoridade: Que implicações?

Sempre pensei que a facilidade que tinha em criar afinidade com os

alunos fosse uma das minhas pontencialidades. No entanto, com o decorrer do

estágio, questionei-me: “Será que, o facto de, me mostrar demasiado próxima

dos alunos, criando desde logo laços de afinidade, dificulta o reconhecimento

26

da minha autoridade?” Na minha opinião, talvez o que eu considerava ser um

ponto forte, se tornará imediatamente num dos pontos fracos.

Hargreaves (cit. por Fernandes, 2001) refere que, o comportamento dos

alunos na aula é o resultado de interpretações que o professor faz do seu papel

e do seu estilo de ensinar, prevendo que os alunos se adaptem ao professor

em grau muito maior do que este se adapta aos alunos. Partindo desta ideia,

seria verdade que se mais professores optassem por se ajustar às

caraterísticas das suas turmas, criando uma boa relação com os alunos, estes

respeitariam mais o professor, não só por serem uma autoridade, mas por

sentirem que os professores também os respeitam e se preocupam com eles,

sendo compreensível, assertivo e justo. Assim, a autoridade do professor seria

reconhecida pela relação criada com os alunos, que lhe permitiria um melhor

controlo da turma, sem que deixasse de ser afetivo.

Sanches (2001) refere que, a autoridade que o professor detinha, por ser

sinónimo de conhecimento, deu lugar a uma autoridade que se conquista no

dia-a-dia. Antigamente, a base da relação pedagógica residia na autoridade do

professor, o que era visto de forma natural pelos alunos e aceite por todos, pois

o professor era o detentor do conhecimento e do saber. Nos dias de hoje, este

reconhecimento nem sempre é visto dessa forma. Tanto pela habitual falta de

valores na maioria dos jovens, como pelo fácil acesso ao conhecimento

disponibilizado na internet, desprezando, por vezes, o papel do professor. Por

este motivo, considero que seja necessário valorizar o processo de

aprendizagem, ou seja, a forma como o conhecimento é transmitido e adquirido

pelos alunos, sendo o professor o detentor de competências necessárias para

essa função.

No meu entendimento, importa que o professor consiga criar no aluno a

vontade de aprender, para que ele próprio anseie as suas conquistas, com o

auxílio do professor. Desta forma, o discente estará mais recetivo para as aulas

e para aprendizagem.

O professor não pode ver o educando como mais um no seu caminho, a

quem deve transmitir os seus conhecimentos, mas sim como uma pessoa

próxima de si, alguém que lhe é entregue e que se entrega a ele, e se confia

plenamente (Patrício, 1993).

27

Nesta relação professor-aluno, importa perceber que "Segura de si, a

autoridade não necessita de, a cada instante, fazer o discurso sobre sua

existência, sobre si mesma" (Freire, 1998, p.91). Ou seja, o professor não

precisa de ser uma pessoa que impõe autoridade, porque na verdade a sua

autoridade deve ser conquistada. Para conquistá-la o professor pode recorrer à

afetividade, mas num nível moderado, pois caso o professor seja demasiado

afetivo este pode perder o respeito dos alunos e, consequentemente, perder o

controlo da turma. Esta conquista é feita através do respeito mútuo e da

negociação. Considero que, na minha turma, a afetividade teve alguns

resultados positivos, mas também negativos. Dependendo dos alunos, nem

sempre foi fácil criar esta ligação e fazer com que fosse entendida como algo

que tem limites. Em alguns casos, os alunos com quem estabeleci uma relação

mais afetiva, foram também os que se tornaram mais participativos e

empenhados na prática. No entanto, existiam ainda outros alunos que

aproveitavam esta relação para se desviarem dos objetivos da aula (e.g. parar

de correr; fazer comentários inoportunos).

Um professor que promova um ambiente de aceitação, compreensão e

preocupação com os problemas dos alunos vai potenciar um clima de adesão

por parte deles (Rosado & Ferreira, 2009). No entanto, dentro desta relação de

afetividade e compreensão é importante criar objetivos e estratégias para que o

processo funcione. Pois, a afetividade pode influenciar a motivação e

envolvimento dos alunos, nas relações com os grupos, na coesão e na gestão

de conflitos, mas não soluciona os problemas de autoridade de um professor,

quando eles existem. Assim, é essencial que o aluno perceba que um

professor afetuoso não é um professor que permite fazer tudo o que ele quer.

Ao longo da minha PP foi importante perceber que a implementação de

regras ajuda os alunos a perceber quais os limites. Além disso, percebi que é

necessário mediar os níveis de afetividade junto dos alunos conforme as suas

caraterísticas e os momentos de aula.

4. Realização da Prática

Profissional

31

4.1. Planeamento e conceção de ensino

Conforme refere Zahorik (cit. por Januário, 1996), na educação nenhuma

ideia é tão claramente aceite como a do planeamento específico tornar o

ensino-aprendizagem mais válido e produtivo. Mas, para que esse

planeamento seja bem concretizado e obtenha resultados na prática é

necessário ter em contas algumas condicionantes, nomeadamente, a análise

dos programas e das condições de ensino. Por esta razão, seguidamente, faço

uma breve análise aos programas de EF dos anos de ensino das turmas pela

qual o núcleo de estágio ficou responsável, bem como as condições de ensino

da escola.

4.1.1. Análise dos Programas (2º e 3º ciclo do ensino básico)

Os programas de EF fazem parte de uma lista de documentos

obrigatórios de analisar antes do início de um ano letivo. Pois, segundo a

apresentação dos programas disciplinaresv, estes constituem-se como

documentos curriculares de referência para o desenvolvimento do ensino,

apresentando, de forma detalhada, as finalidades de cada disciplina, os

objetivos cognitivos a atingir, os conteúdos a adquirir e as capacidades gerais a

desenvolver. Os programas da disciplina de EF, “(…) foram concebidos como

um instrumento necessário para que a EF das crianças e jovens ganhe o

reconhecimento que carece, deixando de ser vista, por um lado, como mera

catarse emocional, através do exercício físico vigoroso, ou, por outro lado,

como animação/orientação de (alguns) jovens «naturalmente dotados» para se

tornarem artistas da performance desportiva.” (Ministério da Educação, 2011,

p.4). Estes são documentos elaborados pelo Ministério da Educação para cada

nível de ensino (1º, 2º, 3º Ciclo, Ensino Secundário/ Cursos Profissionais).

Estes documentos permitem estabelecer uma ligação entre a ação do

professor e a prática, apresentando indicadores, para o processo de

aprendizagem, como os objetivos gerais e específicos de cada modalidade e

normas de referência (critérios). No entanto, devemos entender que o

programa de EF representa o nível macro do planeamento de ensino da EF em

32

Portugal. Isto porque, existe “a necessidade de se criar, em todas as escolas,

as condições materiais e pedagógicas para que cada aluno possa usufruir dos

benefícios de educação física (…)” (Ministério da Educação, p.4). Logo, exige a

cada escola e professor ajustar os conteúdos e objetivos definidos neste

documento às suas condições e caraterísticas dos seus alunos.

Com o início do estágio, uma das primeiras tarefas a realizar foi

justamente a leitura e análise dos programas de EF, concretamente do 2º e 3º

ciclo de ensino, correspondentes às turmas do núcleo de estágio. Analisei,

especificamente, os conteúdos, objetivos e critérios de sucesso para o 9ºano,

bem como as principais orientações do documento sobre a carga horária e a

extensão da disciplina. Atualmente, a carga horária da EF no 3º Ciclo está

incluída no grupo das Expressões e Tecnologias, com um total de 300 minutos

de carga horária semanal nos 7º e 8º anos e 250 minutos no 9º ano. Estes

minutos são distribuídos, segundo cada escola, pela disciplina de EF,

Tecnologias de Informação e Comunicação, Educação Visual e pela oferta

complementar da escola. Assim, atendendo a esta alteração, a carga semanal

das turmas do 9º ano sofreu um aumento de 15 minutos passando para 150

minutos semanais, distribuídos por 50 + 100 minutos, na escola onde realizei o

EP.

A extensão da disciplina apresenta as matérias de ensino, através de um

conjunto de áreas. Para a área de Atividades Físicas deverão ser selecionadas

matérias de 5 ou 6 categorias. Da categoria A (futebol, voleibol, basquetebol,

andebol) são obrigatoriamente consideradas 2 matérias. No caso de se

considerarem apenas 5 categorias, para além das 2 matérias da categoria A

devem escolher-se mais 2 matérias da categoria B (ginástica de solo, ginástica

de aparelhos e ginástica acrobática). Cada uma destas matérias de ensino tem

um nível correspondente (introdutório, elementar e avançado) para cada ciclo

de ensino. O 9º ano de escolaridade, é um ano dedicado à revisão das

matérias, tendo como principal objetivo o aperfeiçoamento e/ou recuperação

dos alunos, atendendo à realização equilibrada e completa do conjunto de

competências previstas para o 3.º ciclo do ensino básico (Bento, 1987).

Assim, depois de uma análise cuidada, o grupo de EF selecionou as

seguintes modalidades para o 9º ano de escolaridade: futebol, andebol,

basquetebol, voleibol, ginástica acrobática, ginástica rítmica desportiva,

33

ginástica de aparelhos e atletismo. Penso que esta foi uma escolha adequada

tendo em conta as condições (materiais e espaciais) de ensino da escola, mas,

na verdade, nem sempre foi possível atingir os objetivos propostos para cada

modalidade. O roulement da escola condicionou inúmeras vezes o número de

aulas de cada modalidade, condicionando também a seleção dos conteúdos a

ensinar. Por vezes, em virtude do pouco tempo disponível, em determinado

espaço, tornou-se impossível lecionar todos os conteúdos. Além disso,

atendendo às caraterísticas da turma, os objetivos delineados pelo programa

tiveram de sofrer bastantes reajustes para que fossem exequíveis. Penso que,

tal acontece com regularidade nas escolas, porque nos programas de EF são

considerados níveis de ensino (introdutório, elementar e avançado) para cada

ano, acreditando que os objetivos propostos foram sempre alcançados ao

longo dos anos. Mas na realidade, os alunos iniciam as unidades didáticas

(UD) quase sempre no mesmo nível de aprendizagem. Além disso, o ritmo de

aprendizagem dos alunos é, frequentemente, distinto, sendo necessário

atender à diferenciação pedagógica.

4.1.2. Atender às condições de ensino no momento de planear

Segundo Januário (1996, p. 114), “os contextos educativos nos quais

ocorrem as tarefas de aprendizagem, representam um fator largamente

condicionador da natureza do comportamento do professor e dos alunos e,

consequentemente, dos efeitos desse processo.”

O espaço de aula tem sido uma das principais condicionantes

relativamente às condições de ensino. Relativamente aos espaços de aula

exteriores, estes têm sido os locais que têm apresentado as piores condições

de ensino. Em primeiro lugar, pelo facto de ser um local exterior, pois é um

local diretamente exposto às condições climatéricas e ao recreio dos alunos.

Neste tipo de situações, os alunos acabam por demonstrar sempre alguma

impaciência e desconcentração na aula, sendo habitual ouvir comentários tais

como “professora está frio” ou “professora está muito sol/calor”, durante as

aulas lecionadas. É importante que durante o planeamento anual este tipo de

condições sejam tidas em conta, evitando assim, lecionar modalidades que

34

possam acarretar algum perigo, como por exemplo, a corrida de velocidade em

dias de chuva.

Outro problema frequente é a desconcentração dos alunos. Este tipo de

situações é geral em qualquer local de aula, mas mais recorrente no espaço

exterior, onde existem imensas fontes de distração. Segundo Rosado e

Mesquita (2009), uma estratégia simples para a otimização das condições de

ensino, levando um aluno a concentrar a sua atenção nos estímulos mais

importantes, é remover as distrações do ambiente. No caso de não ser possível

remover, há sempre a hipótese de contorná-las através de escolhas

inteligentes, sobretudo, na organização e tipos de exercícios realizados. Em

primeiro lugar, escolher os exercícios tendo em conta as necessidades e

capacidades da turma, não dando espaço a situações de desmotivação pelo

exercício ser demasiado fácil ou demasiado difícil. Em segundo lugar, estudar e

analisar a melhor forma de instruir e organizar a turma, tendo em conta o

espaço de aula. Em locais exteriores é muito importante minimizar ao máximo

os fatores externos de distração dos alunos, tal como a permanência de

pessoas externas à aula perto do local onde se encontra a turma. Neste tipo de

situações, sempre que possível, devemos privilegiar a organização da turma de

modo a ficar de costas para possíveis distrações, quer durante a exercitação,

quer durante a instrução.

A diminuição de todos estes fatores pode aumentar o tempo de

aprendizagem dos alunos uma vez que evita as habituais chamadas de

atenção do professor. Pois, importa perceber que “(…) o tempo de

aprendizagem dos alunos depende muito das características de instrução do

professor e da qualidade e adequação das tarefas proporcionadas” (Januário,

1996, p. 125).

As condições de ensino de um local aberto e exposto à comunidade

educativa são bem diferentes quando comparadas com recintos fechados

como os ginásios ou pavilhões. Nesta escola, quando lecionava aulas no

ginásio, facilmente percebia as diferenças, sobretudo, ao nível do

comportamento da turma. Pois por ser um local fechado, o ginásio permite ao

professor um controlo mais eficaz da turma e de toda a prática, otimizando

desta forma, o ensino e a aprendizagem dos seus discentes.

35

4.1.3. Planeamento do processo de ensino-aprendizagem

4.1.3.1. Plano anual

O planeamento anual constitui um documento que procura situar e

concretizar o programa de ensino no local, tendo em conta as pessoas

envolvidas. Este deve conter os objetivos para cada ano mas sem pormenores

de atuação ao longo do mesmo (Bento, 1987), visto que esses pormenores

serão depois definidos num planeamento a nível micro (unidade didática).

O planeamento anual é o primeiro documento realizado para o

planeamento do processo de ensino-aprendizagem. Este inclui a estruturação

do ensino, ao longo do ano, e contém informações gerais acerca do mesmo,

nomeadamente, informação sobre o número de aulas, o roulement dos

espaços desportivos, os conteúdos a lecionar e sua distribuição, eventos

significativos e a justificação para as decisões tomadas. Ou seja, este nível de

planeamento é realizado sobre o ponto de vista dos objetivos propostos,

recursos materiais e temporais e os conteúdos destinados a cada ano de

escolaridade. O planeamento anual elaborado para a minha turma foi

organizado, tendo em conta os três períodos letivos, as modalidades

selecionadas para lecionar, bem como as datas e espaços ocupados pela

turma em cada momento do ano (roulement). Este trabalho foi assim realizado

em concordância com as palavras de Bento (1987), que inclui no plano anual,

os objetivos do ano, o volume de horas, as matérias a abordar e em que

período o fazer, bem como as datas relevantes.

A tomada de decisão cingiu-se, inicialmente, à escolha da matéria de

ensino que pretendia lecionar em cada período. Assim, para a minha turma

defini que, no primeiro período, lecionaria as modalidades de Andebol,

Atletismo (Corrida e Velocidade), Ginástica Rítmica – Cordas e Voleibol; no

segundo período Atletismo (Lançamento do Peso e Corrida de Barreiras),

Basquetebol, Ginástica Acrobática e Ginástica Rítmica – Cordas; e no terceiro

período Atletismo (Triplo Salto), Futebol e Minitrampolim.

A organização e distribuição das modalidades pelos períodos teve como

critério, o equilíbrio entre modalidades coletivas e individuais, o que nem

sempre foi possível: “Apesar de ser mais coerente lecionar um conteúdo

36

coletivo intervalado com um conteúdo individual, a distribuição dos espaços

assim não o permitiu. Desta forma, durante o tempo em que o Ginásio e o

Exterior se intercalam, a abordagem ao Andebol e ao Voleibol também se irão

intercalar” (Justificação do plano anual, setembro de 2014). Assim, os espaços

disponíveis (roulement) tiveram também influência nesta distribuição: “A

escolha dos conteúdos recaiu, essencialmente, sobre o espaço disponível.

Tendo em conta a especificidade do Voleibol e visto que temos um total de 14

aulas no Ginásio decidi abordar o voleibol durante este (segundo) período.”

(Justificação do plano anual, setembro de 2014).

Relativamente ao número de aulas por modalidade, esta foi uma decisão

que exigiu uma reflexão crítica quanto à natureza de cada modalidade:

“Considerando que as modalidades coletivas são mais complexas,

comparativamente às modalidades individuais, uma vez que envolvem

questões táticas e objetivos que requerem a participação de outros sujeitos,

decidi dedicar um maior número de aulas a estas modalidades.” (Justificação

do plano anual, setembro de 2014).

Fazendo agora uma retrospetiva, reconheço que a dificuldade mais

iminente nesta planificação foi a adequação da planificação das modalidades

ao roulement dos espaços. Isto, porque, o número de aulas disponível para um

determinado espaço desportivo não estava em concordância com o número de

aulas que previa ser necessário para lecionar uma modalidade, obrigando-me,

por vezes, a repartir a UD por dois momentos distintos do ano letivo. Por

exemplo, na modalidade de ginástica acrobática tive a necessidade de dividir

conteúdos por dois períodos letivos e na modalidade de corrida de barreiras fui

obrigada a lecionar duas aulas no campo, uma vez que não tinha um número

de aulas que me permitisse lecionar toda a matéria na pista. Um outro

problema que originou a imensas alterações, no plano, desde o início do ano,

foram as greves da função pública que coincidiram por duas vezes em aulas de

100 minutos.

O planeamento foi claramente um documento condutor para os restantes

níveis de planeamento, tal como a UD e o plano de aula. Embora elaborado

antes do início das aulas letivas, com muito cuidado, em virtude de

acontecimentos externos como greves, sessões de enriquecimento curricular

destinadas aos alunos e condições climatéricas, este documento foi sofrendo

37

ajustes ao longo de cada período letivo. Por esta razão, também reconheço

que o ensino é criado duas vezes, primeiro na conceção e depois na realidade

(Bento, 2003), uma vez que perante a situação real, este planeamento está

sujeito a alterações.

4.1.3.2. Unidade didática

Após a elaboração do planeamento anual, foi necessário passar para

uma fase mais pormenorizada do planeamento, ou seja, elaborar as UDs. A

elaboração das UDs tiveram por base o Modelo de Estrutura de

Conhecimentos (MEC), proposto por Vickers (1990). Este modelo permite

organizar de forma coerente a matéria de ensino, uma vez que a ação de

qualquer professor de EF, independentemente, da modalidade lecionada, deve

ser não só refletida mas também orientada. O MEC divide-se em três grandes

fases: fase de análise, fase das decisões e fase de aplicação. Relativamente à

fase de análise, desenvolvi um organograma da estrutura de conhecimentos da

modalidade com o objetivo de sintetizar os pontos-chave da matéria. Ainda

nesta fase, procedi ao estudo das variáveis do contexto que interferiam direta e

indiretamente no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, recolhi

informação da turma que me permitiu, posteriormente, tornar a UD adequada

às caraterísticas dos alunos. Seguiu-se a fase das decisões, em que foi

necessário determinar a extensão e a sequência da matéria (conteúdos a

lecionar e seu encadeamento). Nesta fase, defini os objetivos e criei

progressões de ensino em conformidade com as capacidades da turma.

Também, aqui, atendi ao planeamento do processo de avaliação, tendo em

conta os objetivos definidos anteriormente. Quanto à fase de aplicação, esta

corresponde à planificação e reflexão das aulas, bem como a todos os

registos/documentos utilizados ao longo do processo.

Durante a elaboração das UDs, procurei criar documentos completos e

de fácil consulta, contendo apenas a informação essencial à lecionação da

matéria. Apesar desta tarefa exigir algumas horas de trabalho, as UDs

acabaram por ser uma forma de relembrar e tornar presente os aspetos

importantes de cada matéria de ensino, bem como traçar um caminho ajustado

38

e possível para o processo de enino e aprendizagem. Para mim, professora

estagiária, a revisão e estudo dos conteúdos para a elaboração deste

documento fez com que me sentisse mais segurança nas aulas,

principalmente, nos momentos de instrução. A construção das UDs obrigou-

me a tomar um conjunto de decisões fundamentadas e, sendo inexperiente, a

tomada de decisões acabou por ser um dos aspetos em que senti mais

dificuldade.

A escolha das melhores estratégias a utilizar nas aulas foi sempre

decidida após uma reflexão, em que tentava encontrar uma justificação para as

ações ocorridas, tendo em conta a minha experiência, o meu conhecimento e,

por vezes, o conhecimento científico encontrado nos livros. Quando iniciamos o

planeamento da UD temos de pensar, por exemplo, qual a ordem dos

conteúdos, se faz sentido introduzir junto com outro conteúdo ou de forma

isolada, ou qual o tempo destinado à sua exercitação. Para um professor

inexperiente e com dificuldades em percecionar as capacidades da turma,

estas decisões são difíceis de concretizar. Com o tempo, foi-se tornando mais

fácil responder a esta dúvidas, uma vez que, começamos a conhecer melhor a

turma e a melhorar a nossa capacidade de refletir, tanto antes da ação, como

na própria ação, realizando os ajustes necessários. Por norma, estes reajustes

resultam das respostas da turma e do tempo disponível de aula. Quando

percebia que a turma não alcançaria o nível necessário para introduzir um novo

conteúdo, reajustava a UD e dedicava mais tempo de exercitação aos

conteúdos que os alunos apresentavam mais dificuldades. Por outro lado,

quando percebia que um conteúdo era claramente dominado pela turma,

acabava por progredir mais rapidamente para outros conteúdos de

aprendizagem. Algumas decisões revelaram ser as mais acertadas, outras não,

mas o mais importante é conseguirmos identificar e perceber o que falhou para

depois poder aprender e corrigir os erros.

Considero, por isso, que este tipo de planeamento acaba por ser um

pouco imprevisível, dadas as inúmeras condicionantes que podem afetar este

processo, sendo importante, durante o planeamento das aulas, verificar se os

objetivos vão ou não ao encontro das necessidades da turma.

39

4.1.3.3. Plano de aula

O passo seguinte foi a elaboração do plano de aula, que permite colocar

em prática aquilo que é predefinido durante o planeamento da UD. Bento

(2003) afirma que, cada aula fornece um contributo totalmente específico, que

apenas a ela pertencente, para a solução das tarefas de uma UD, do programa

anual e do programa de toda a escolaridade.

Assim, na realização do plano de aula, o professor deve atender a um

conjunto de decisões fundamentadas, tais como, decisões sobre o objetivo

geral e objetivos parciais ou intermédios, sobre a escolha e ordenamento da

matéria, sobre os pontos fulcrais da aula, sobre as principais tarefas didáticas,

sobre a direção principal das ideias e procedimentos metodológicos (Bento,

2003).

O modelo de plano de aula que utilizei assemelha-se ao proposto por

Bento (2003), que está dividido em três partes: parte inicial, fundamental e final,

incluindo as seguintes categorias: objetivo geral e objetivos específicos,

informações sobre o tempo de aula, o dia e a turma, material necessário,

função didática, descrição e organização do exercício e palavras-chave.

Depois de definidos os objetivos, durante a construção do plano de aula,

a minha principal preocupação era a seleção dos exercícios e a organização da

aula. Este último aspeto foi essencial para o bom funcionamento das aulas. Por

exemplo, inicialmente, durante as aulas lecionadas no ginásio, a minha

proposta para o aquecimento, era sempre corrida continua à volta do espaço.

Contudo, depois de refletir sobre o assunto e de observar que durante a corrida

a maioria dos alunos conversava ou deslocavam-se a passo, decidi começar a

realizar um aquecimento por vagas, que me permitisse controlar de forma mais

ativa a prática de todos os alunos: “A minha turma tem manifestado uma

enorme instabilidade ao longo das aulas. Há momentos em que estão serenos

e motivados e outros em que estão completamente desconcentrados e

aproveitam a mínima oportunidade para começarem a conversar. O

planeamento das aulas teve em conta este tipo de situações, de forma a

minimizá-las, por isso decidi utilizar exercícios por vagas, em que um grupo de

40

alunos realiza e o outro fica em espera, tem sido uma boa aposta.” (DB1,

semana 24).

Após selecionar os exercícios, que melhor davam resposta aos

objetivos e às caraterísticas da turma, foi importante pensar como iria

apresentar as tarefas à turma, ou seja, o modo como organizaria os alunos

pelo espaço ou como iria distribuir o material e as estratégias utilizadas para

intervir. Inicialmente, tinha muitas dificuldades em comunicar com a turma, uma

vez que não conseguia adequar o tom de voz. Por esta razão, para efetuar

cada transição de exercícios precisava de reunir a turma. Mas, ao longo do ano

fui conseguindo melhorar neste aspeto o que me permitiu instruir sem reunir

sempre os alunos, tornando as transições mais rápidas. Outro aspeto que

consegui melhorar foi na organização do espaço, conseguindo preparar os

exercícios de forma a manter a mesma organização do material e dos alunos.

A elaboração do plano de aula foi acompanhada por uma constante

reflexão. A cada aula, a reflexão realizada foi imprescindível para detetar os

erros com o intuito de tornar o plano cada vez mais ajustado à realidade e

ainda rentabilizar o tempo de aprendizagem. As alterações realizadas ao longo

do ano tinham, sobretudo, a intenção de minimizar os comportamentos de

indisciplina e de aumentar o tempo de empenhamento motor, para que, deste

modo, os objetivos de aprendizagem pudessem ser alcançados.

Desta forma, podemos entender que, “o dia-a-dia confirma sempre que o

resultado de uma aula depende preponderantemente da qualidade da sua

preparação. Esta não pode ser subestimada, nem pelo professor inexperiente

nem pelo experiente. Uma planificação superficial do ensino leva a que,

frequentemente, as decisões pedagógicas sejam tomadas espontaneamente”

e, por isso, “não raramente, revelam-se decisões falsas, comprometendo a

realização dos objectivos do ensino” (Bento, 2003, p. 106).

4.2. Realização

A promoção das aprendizagens dos alunos exige uma abordagem do

ensino integrado, considerando a complexidade das variáveis intervenientes

1 Diário de Bordo.

41

nos contextos dinâmicos onde ocorrem, bem como o recurso ao paradigma

ecológicovi, para garantir uma compreensão mais contextualizada das variáveis

que a determinam e, fundamentalmente, das suas inter-relações (Rosado &

Ferreira, 2009)

A criação de uma harmonia entre todas as variáveis intervenientes no

processo de ensino leva à promoção de um ambiente propício ao processo de

ensino-aprendizagem. Neste sentido, é importante perceber quais são essas

variáveis e de que forma elas interferem no clima de aprendizagem.

4.2.1. Clima de aprendizagem

Segundo McCaughtry, Tisschler e Flory (cit. por Rosado & Ferreira,

2009), o ambiente de aprendizagem resulta de um encontro entre dois vetores,

um vetor primário e um vetor secundário, sendo o primeiro a agenda dos

professores e o segundo a agenda dos alunos. A agenda dos alunos envolve

diferentes propósitos, tais como o divertimento, a socialização, a aprovação, a

minimização do esforço, o aborrecimento e o afastamento de problemas

(Carlson & Hastie, 1997). Entende-se aqui, por agenda o propósito dos

intervenientes relativamente à disciplina de EF. Dentro da sala de aula

confluem diferentes personalidades, estilos de vida, motivações e capacidades

muito díspares. Por esse motivo, nem sempre é fácil criar e manter interações

positivas entre todos os presentes, nomeadamente, entre o professor e os

alunos, caso os intervenientes não promovam um clima de aceitação das

diferenças e de respeito mútuo. O que acontece, muitas vezes, nas aulas, em

virtude da existência de duas agendas diferentes, é que os alunos tentam

alterar as tarefas propostas pelo professor de modo a adaptá-las às suas

agendas pessoais. Nesta situação, é fulcral que o professor seja capaz de

realizar uma negociação entre a sua proposta e as intenções dos alunos, para

que ambos cumpram com os objetivos. Esta negociação deve ser feita, tendo

em conta as necessidades do professor e dos alunos baseada também numa

gestão de todas as variáveis da aula.

Durante a minha PP, foi necessário, várias vezes, recorrer, a uma

negociação com os alunos para que fosse possível cumprir a minha agenda

42

sem descurar as agendas pessoais de cada aluno. A constante tentativa dos

alunos adulterarem as tarefas, satisfazendo as suas agendas, foi minimizada

através de um processo de ajustamento dos objetivos e prepósitos das tarefas.

Infelizmente, dada a diversidade de agendas existentes, nem sempre foi

possível acertar esta negociação.

Esta negociação ocorria, principalmente, na fase do aquecimento das

aulas. Por exemplo, sempre que pretendia que os alunos realizassem trabalho

de corrida contínua, programava um tempo mínimo e informava-os que se

corressem sem paragens, o tempo de corrida seria o tempo mínimo

programado. Caso contrário, o tempo de corrida aumentava. Dado que a

grande maioria não gostava de correr, esta estratégia acabou por funcionar

muito bem, uma vez que todos os alunos se empenhavam. Deste modo,

através da negociação, o ambiente de aprendizagem foi notoriamente mais

pacífico e controlado, visto que as agendas de ambos os intervenientes eram

respeitadas. Consequentemente, esta situação permitiu um melhor

aproveitamento do tempo de aula.

4.2.2. Gestão da aula

Entende-se por gestão o “conjunto de comportamentos que regulam o

comportamento dos jovens, do tempo, das tarefas a realizar, dos espaços e

materiais” (Sarmento, Leça-Veiga, Rosado, Rodrigues & Ferreira, 1993, p. 5). A

junção de todas estas variáveis é talvez uma das tarefas mais difíceis a que um

professor se propõe, mas também uma das mais importantes. Para um

professor que se encontra em início de atividade, nem sempre é fácil

congratular todos estes fatores numa só aula, sendo esta uma aprendizagem

que se vai adquirindo à medida que os problemas vão surgindo e exigindo

soluções.

Relativamente à gestão do tempo, Pierron (cit. por Sarmento et al. 1993)

afirma que, os ganhos de aprendizagem estão intimamente dependentes do

tempo passado em cada tarefa e a quantidade máxima de tempo de atividade

motora passada em atividades específicas contribui para os ganhos de

aprendizagem. Por esse motivo, é importante que se consiga aproveitar de

43

forma racional o tempo disponível para a prática, retirando dele o máximo

benefício. Para que este tempo disponível seja rentabilizado, é necessário

adotar algumas estratégias e, preparar atempadamente a gestão da aula

através do planeamento. Antecipar os problemas antes de eles acontecerem é

uma excelente forma de controlar e evitar algumas situações que originam

perdas de tempo. No entanto, quando estamos na prática, torna-se mais

complicado passar a teoria para a ação, acabando algumas coisas por serem

esquecidas ou descuradas.

Um cuidado importante para a gestão do tempo, centra-se na escolha e

organização dos exercícios, que o tempo entre as suas transições seja o

mínimo possível. Também a organização antecipada dos alunos (e.g. grupos

ou equipas), pode contribuir para transições mais rápidas.

Relativamente à gestão dos espaços e materiais, considero que tive

alguma facilidade em controlar estas variáveis. A boa gestão deveu-se,

sobretudo, a algumas estratégias utilizadas. Assim, dependendo do espaço de

aula, tinha sempre como principal preocupação a ocupação racional do espaço

para que toda a turma ou o máximo número de alunos estivesse em atividade.

Por exemplo, quando trabalhava no espaço exterior, distribuía os grupos para

que pudessem utilizar todas as balizas ou todos os cestos de basquetebol

disponíveis. Quanto aos materiais, o segredo passou por utilizar apenas o que

era extremamente necessário para o bom funcionamento da aula. As bolas

utilizadas para a realização do exercício eram entregues só quando fosse dado

início à tarefa e utilizava apenas o número de bolas necessário para que o

exercício tivesse continuidade.

Adicionalmente, quando a gestão da aula não era tão eficaz, os alunos

tinham oportunidade para adquirir maior número de comportamentos fora da

tarefa. Por esta razão, esta gestão da aula foi também uma preocupação

constante ao longo do EP, pois as estratégias implementadas neste sentido

tinham reflexos diretos na disciplina dos alunos. “(…) É também importante que

os alunos se mantenham concentrados naquilo que estão a fazer, o que não

acontece muitas vezes, levando a comportamentos fora da tarefa e a erros

constantes.” (DB, semana 9).

44

4.2.3. Disciplina

Segundo Sampaio (1996) a disciplina é um conjunto de comportamentos

que se podem considerar aceitáveis, sob o ponto de vista pedagógico e social,

para determinadas pessoas e em determinado contexto. Quando este conjunto

de comportamentos ultrapassa a barreira do espectável para a escola ou para

o professor, estamos perante comportamentos de indisciplina. Um bom clima

de aprendizagem depende, substancialmente, dos comportamentos que os

alunos apresentam, sendo que os comportamentos de indisciplina promovem

muitas vezes, ambientes incompatíveis com bons índices de aprendizagem.

Fontana (1994) refere que as causas de problemas de indisciplina, na sala de

aula, relacionam-se com o papel do professor, enumerando alguns fatores: os

comportamentos do professor, quer durante a atividade na sala de aula quer no

exterior, que revelam ou não empenho e motivação para o ensino; as atitudes,

tanto em termos físicos como morais que podem ser alvo de críticas e

desrespeito; a planificação e posterior apresentação dos conteúdos e

atividades, ora pela capacidade de prevenir a ocorrência de certos

comportamentos inapropriados, ora pela capacidade de envolver e motivar os

alunos (tal implica a capacidade para organizar o tempo, o espaço e a relação

educativa); a capacidade de estabelecer relações interpessoais com os seus

alunos, conhecendo-os quer em termos de personalidade, quer em termos de

competências; e as expetativas e atitudes face aos alunos, aos seus

comportamentos na sala de aula e seus desempenhos académicos.

Desde o início do ano que percebi que a minha turma seria uma turma

complicada e com problemas de indisciplina. Inicialmente, considerava que o

problema era somente dos meus alunos e que eu, enquanto professora, não

poderia tomar medidas para atenuar a situação, acabando por me preocupar

pouco com os comportamentos desviantes e mais na lecionação da matéria.

Com o tempo, percebi que, devido à presença destes comportamentos de

indisciplina, não existiam condições para ensinar. Logo, entendi portanto, que

este era um problema que precisava de ser solucionado, até mesmo para que

pudesse controlar a turma e só depois investir na qualidade do processo de

ensino-aprendizagem.

45

Inicialmente, este problema tinha origem na fraca organização dos

alunos, no nível de desafio das tarefas, no tempo de espera entre exercícios e

na minha posição na aula. Desta forma, foi importante refletir sobre o

comportamento dos meus alunos e a assumir um atitude preventiva, pensando

mais na organização e implementação de estratégias que permitissem

controlar esses comportamentos: “na organização dos exercícios, tinha o

cuidado de ser eu a escolher os grupos e a forma como se organizavam

durante a exercitação. Depois passei para a escolha dos exercícios,

selecionando aqueles em que os tempos mortos eram mínimos e onde existia a

menor probabilidade dos alunos manifestarem comportamentos fora da tarefa.

De seguida, decidi alterar o meu comportamento e tornar-me uma pessoa mais

rígida e menos afetuosa como era até ao momento. Em alguns momentos,

tentei entrar por uma vertente psicológica fazendo-os ver o seu

comportamento, obrigando-os a refletir e dando-lhes a oportunidade de fazer

as coisas diferentes de forma autónoma e não porque eu impunha algo.

Finalmente, implementei as “questões-aulas” com o intuito de obrigar os alunos

a estarem mais atentos e concentrados nas aulas para que, posteriormente,

respondessem acertadamente à pergunta colocada no final de cada aula.”

(Reflexão final do 2º período). A atitude preventiva do professor é uma mais-

valia para evitar comportamentos de indisciplina. Até porque, é mais fácil

preveni-los do que controlá-los e puni-los. Nas minhas aulas tinha sempre um

especial cuidado com a divisão dos grupos, separando alunos conflituosos;

com a seleção e organização de exercícios no sentido de manter ativo o

interesse dos alunos, de evitar extensas paragens na transição e tempos de

espera durante os exercícios; e com a distribuição de material (e.g. bolas),

evitando que os alunos dispersassem pelo espaço. Desta forma, percebi que é

importante que o professor desenvolva um comportamento proactivo, levando

os alunos a atingirem o que se pretende, enquanto tenta antecipar possíveis

situações.

Algumas destas estratégias tiveram efeitos a curto prazo, outras não

surtiram qualquer efeito, uma vez que não se encaixaram no perfil da turma, ou

as condições da aula ou espaço não permitiam que as estratégias tivessem

sucesso, tal como aconteceu com as “questões aulas”. O facto de as aulas

serem lecionadas em locais que não uma sala de aula, tornou a aplicação da

46

“questão aula” pouco viável, uma vez que o espaço não apresentava as

mínimas condições para que as questões fossem respondidas de forma

controlada.

A aplicação de regras desde a primeira aula, foi também um fator

importante para evitar comportamentos fora da tarefa. Pois, a ausente

explicação de algumas regras de conduta pode ter consequências de

desajustamento, uma vez que os indivíduos ficam sem saber corretamente que

comportamento se espera deles. (Sarmento et al., 1993).

Paralelamente, procurei atender à melhoria do controlo ativo da turma.

Para o efeito, procurei manter sempre o contacto visual com a turma,

circulando pelo espaço de aula para que os alunos notassem a minha presença

e supervisão. Esta última estratégia foi se mantendo ao longo de todo o ano,

demonstrando ser a mais eficaz. No entanto, era muito difícil estar sempre

próxima de todos os alunos ou manter o contato visual com todos, quando

intervinha junto de algum aluno ou grupo.

Posteriormente, percebi ainda que, o modo como instruía e comunicava

com os alunos também influenciava as suas respostas comportamentais na

aula. Segundo Sampaio (1996), o tipo de comunicação utilizado nos primeiros

dias de aula é fundamental para a criação de um clima favorável à

aprendizagem. Na verdade, esta foi também uma dimensão da intervenção

pedagógica, que precisei de superar algumas dificuldades.

4.2.4. Instrução – uma ferramenta chave no processo de ensino-

aprendizagem

“A capacidade de comunicar constitui um dos fatores determinantes da

eficácia pedagógica no contexto do ensino das atividades físicas e desportivas”

(Rosado & Mesquita, 2009, p. 69). Ao longo do estágio, fui percebendo que a

forma como eu comunicava, transmitia muito de mim e do que sou enquanto

professora. Apesar de ter o conhecimento sobre a matéria, a forma como

instruía esse conhecimento aos alunos não me permitia captar a atenção da

turma. Através do meu discurso não conseguia envolver os alunos e, por isso,

notava que perdia a atenção de todos rapidamente. Aliás, acabava por adotar

mais a função de monitora do que de professora, debitando a informação, em

47

vez equacionar o discurso com os objetivos da aula. O que acontecia inúmeras

vezes, durante a minha instrução, eram as chamadas de atenção aos alunos

por estarem a olhar para o lado ou a conversar com outro colega, revelando

pouco interesse em ouvir. Por esta razão, penso que a forma como

comunicamos pode gerar uma série de comportamentos que podem ou não ser

promotores de um bom ambiente de aprendizagem.

Frente a este problema, senti necessidade de alterar a minha atitude e

capacidade de comunicar, com o intuito de envolver os alunos no momento de

apresentação das tarefas e captar as suas atenções para a aula. Numa

primeira fase, foi necessário programar os momentos de instrução

detalhadamente, para que a informação fosse mais organizada, clara e

objetiva, consultando para o efeito documentos previamente preparados como

os objetivos da aula (e.g. plano de aula e UD). De facto, “Documentos desta

natureza podem clarificar os processos de organização e da transmissão da

informação deixando assim mais tempo disponível para a atividade; evitam

também longas dissertações consumindo tempo e gerando aborrecimento,

comportamentos de desatenção e indisciplina, confundindo muitas vezes o

fundamental com o acessório” (Sarmento et al., 1993, p. 3). Além disso, “Os

cuidados pedagógicos no que respeita à transmissão da informação devem

centrar-se nos princípios gerais da comunicação, ou seja, devem apresentar

cuidados de acessibilidade, exatidão e brevidade” (Sarmento et al., 1993, p. 3).

Aqui, é também importante ter algum cuidado no que diz respeito à

paralinguagem, tal como o volume da voz, a ressonância, a articulação e a

entoação. Isto, porque as condições de ensino era também um fator que me

criava constrangimentos e muitas vezes obrigava a aumentar o tom de voz

para que todos os alunos me conseguissem ouvir: “Esta situação criou-me

imensas dificuldades na comunicação com os meus alunos uma vez que se

fazia sentir muito barulho decorrente da ocupação das duas turmas no mesmo

espaço. Para minimizar esta situação tentei aumentar o meu tom de voz,

quando esta solução não surtia efeito deslocava-me até ao grupo ou à pessoa

em causa para expressar a informação que pretendia” (DB, semana 8).

Atendendo aos diferentes momentos de instrução: antes da prática

(preleções, apresentação de tarefas, explicações e demonstrações); durante a

prática (feedback) e após a prática (análise da prática desenvolvida)

48

(Siedentop, 1991), reconheço que as minhas principais dificuldades eram mais

evidentes durante a apresentação das tarefas. Nestes momentos, tinha o

cuidado de juntar todos os alunos, formando um semicírculo, e depois realizar

uma breve instrução focada nos aspetos essenciais da aula, adotando formas

de comunicação que garantissem a atenção e a compreensão da

informação/matéria transmitida. Aqui, era extremamente importante esperar

pelo silêncio dos alunos e atender a uma linguagem corporal capaz de captar

as suas atenções.

Já durante a prática, o uso de feedback foi também fundamental não só

para que os alunos sentissem a minha presença e fossem disciplinados, mas

também e, principalmente, para que pudessem ter consciência dos seus

resultados e corrigi-los. Nestes momentos, era mais fácil fazer com que os

alunos me ouvissem e correspondessem com as indicações. Com a utilização

de feedback positivos, informativos, corretivos ou motivacionais, direcionados

ao aluno ou ao grupo, conseguia envolve-los no próprio processo de ensino-

aprendizagem. Assim, a emissão de feedback, para além de otimizar a prática,

permitiu também um controlo ativo sobre a turma e sobre a atividade.

Relativamente à instrução após a prática, tal como afirma Siedentop

(1991), aproveitava estes momentos para rever os pontos de maior importância

da aula, trabalhados durante a prática, e reformular os aspetos essenciais.

Em suma, a partir do momento em que a informação é mais concisa,

mais clara e objetiva, o nível de envolvimento dos alunos com as tarefas

aumenta. O controlo disciplinar é facilitado e, por conseguinte, são criadas

melhores condições de aprendizagem.

4.3. Avaliação

A avaliação deve ser vista como um meio de análise, que deverá ser

usado na reconstrução de um processo, capaz de guiar o professor na procura

de novos procedimentos e organização do seu trabalho. Neste sentido, a

avaliação da eficácia do processo curricular e de ensino, acaba por ser uma

das funções do professor na escola (Rink, 1993).

49

A avaliação na EF imerge da necessidade de verificar o nível dos alunos

antes, durante e após a PP, no que concerne às categorias transdisciplinares

(fisiologia do treino e condição física, cultura desportiva, habilidades motoras e

conceitos psicossociais). Na verdade, dependendo do objetivo que se pretende

com a avaliação, esta pode ocorrer em diferentes momentos. Assim, antes do

processo de ensino-aprendizagem a avaliação serve para orientar, durante o

processo serve para regular e no final serve para fazer um balanço (Ketele, cit.

por Gonçalves, F., Albuquerque, A. & Aranha, À., 2010).

A avaliação pode envolver diversas finalidades, tais como: classificar os

alunos e verificar a sua evolução; diagnosticar falhas e promover a reflexão

sobre os seus próprios erros; fornecer feedback ao professor sobre a forma

como ensina; e pode funcionar como estratégia de motivação e forma de

enriquecimento e orientação do ensino (Gonçalves et al., 2010).

Independentemente do tipo de avaliação ou do momento em que ela

ocorre, este deve ser um processo transparente “Os objetivos, as

aprendizagens a desenvolver e todos os processos de avaliação devem ser

claramente expressos e devem estar disponíveis para que os alunos tenham

acesso. Os parâmetros e critérios de avaliação devem constituir um elemento

fundamental de orientação dos alunos. Ou seja, qualquer apreciação que se

faça do trabalho dos alunos deve ter em conta os respetivos critérios, devendo

os alunos ser capazes de perceber, sem problemas, a sua situação face as

aprendizagens que em de adquirir ou desenvolver.” (Gonçalves et al., 2010, p.

17).

Depois de perceber o que é a avaliação, é importante perceber a forma

como este processo se desenvolve. Este assunto será debatido nos pontos

seguintes, referindo primeiramente quais são os tipos de avaliação existentes

e, posteriormente, quais os momentos de avaliação.

4.3.1. Tipos de avaliação

A avaliação pode ser distinguida em três tipos: avaliação criterial,

normativa ou mista (Gonçalves et al., 2010). Para o meu EP considerei apenas

o primeiro tipo de avaliação.

50

A avaliação criterial é uma avaliação com referência a um ou mais

critérios. Como refere Gonçalves et al. (2010, p. 41), “Este tipo de avaliação

faz-se em função das ações de cada aluno, considerado individualmente e não

em comparação com os outros.” Habitualmente, este tipo de avaliação é

utilizado em testes e provas, em que o professor define quais os critérios de

avaliação e as respostas comportamentais a esses critérios, comparando,

posteriormente, o conteúdo das respostas com esses mesmos critérios

(Gonçalves et al., 2010). Segundo Vickers (1990) na avaliação criterial são

definidos os níveis de realização desejáveis, de acordo com padrões baseados

na natureza inerente da tarefa e na integração das condições locais ou da

classe.

A avaliação com referência a uma norma é a que descreve a execução

do aluno em termos de posição em relação ao grupo, comparando os seus

desempenhos com o grupo (Pacheco,1994). Aranha (2004) refere que, este

tipo de avaliação resulta da comparação das prestações dos alunos entre si.

Na minha opinião, a avaliação com referência ao critério, acaba por ser

uma forma justa de avaliação, pois cada aluno depende de si próprio e das

suas capacidades para atingir os critérios definidos, não sendo constantemente

confrontado com termos de comparação em relação ao grupo, tal como

acontece na avaliação normativa. Por esse motivo, utilizei a avaliação criterial

durante os momentos de avaliação que serão enunciados nos seguintes

pontos.

4.3.2. O primeiro momento - Avaliação Diagnóstica

Com o intuito de perceber qual o ponto de partida, ou seja, o nível inicial

da turma, foi realizada a avaliação diagnóstica (AD). Segundo Gonçalves et al.

(2010, p. 47), “a avaliação diagnóstica, como o próprio nome indica, não é

formular um juízo mas recolher informação para estabelecer prioridades e

ajustar a atividade dos alunos ao sentido do seu desenvolvimento”. Ou seja, a

AD tem como principal objetivo determinar o nível inicial de desempenho motor

dos alunos, para depois planear e ajustar os conteúdos a lecionar em cada

modalidade de ensino.

51

Partindo desta ideia, inicialmente, não me parecia correto corrigir os

alunos durante a AD, mas logo percebi que, a correção não me impedia de

situar os alunos em termos de desempenho. E, sendo esta também uma aula

de aprendizagem, a correção seria fundamental para que os erros não fossem

automatizados: “Tratando-se de uma avaliação deste tipo onde se pretende

conhecer as dificuldades dos alunos no início do processo educativo, não fazia

muito sentido, a meu ver, corrigi-los enquanto realizava a avaliação. Contudo,

após vivenciar o que ia acontecendo no decorrer da aula, (…) percebi que é

importante manter uma constante intervenção lançando feedback e corrigindo

os erros observados. Desta forma, a turma toma consciência mais cedo do erro

o que permite corrigi-lo de forma prematura, evitando assim a sua repetição às

restantes aulas” (DB, Semana 5).

Aqui, os instrumentos utilizados foram as listas de verificação. As

grelhas da AD continham os conteúdos a observar e os respetivos critérios.

Desta forma, era efetuado um registo de ações ou comportamentos do aluno

aquando da observação efetuada durante a AD.

No entanto, para além das habilidades motoras, penso que é

fundamental avaliar os alunos nas restantes dimensões de aprendizagem que,

por vezes, apesar de não serem avaliadas (cultura desportiva e conceitos

psicossociais) formalmente aos olhos dos alunos, são informações importantes

para ajustar todos os conteúdos necessários ao desenvolvimento integral dos

alunos. Para percecionar o conhecimento dos alunos, ou seja, a cultura

desportiva, fui utilizando o questionamento, principalmente, durante o início das

aulas. Relativamente aos conceitos psicossociais, estes eram observados

durante as aulas e, posteriormente, realizado um pequeno registo nos diários

de bordo.

A AD foi realizada nas modalidades coletivas de voleibol, andebol,

futebol, basquetebol e na modalidade de Atletismo – corrida de barreiras e

velocidade. Para as restantes modalidades lecionadas como o triplo salto, a

ginástica rítmica desportiva – corda, a ginástica acrobática e de aparelhos

(minitrampolim), a AD foi efetuada com recurso a alguns registos informais nas

reflexões das aulas. Pois, uma vez que estas modalidades nunca foram

lecionadas em anos anteriores e os alunos não tinham qualquer vivência, o

processo de ensino partiu do nível mais básico.

52

Após a realização da AD procedi a uma observação e reflexão dos

resultados. Nas modalidades coletivas de futebol, voleibol e andebol verifiquei

que a turma se encontrava em diferentes níveis de aprendizagem. Desta forma,

surgiu a necessidade atender à diferenciação pedagógica na turma. Assim,

procedi à divisão da turma por níveis e grupos de trabalho diferentes,

projetando objetivos de aprendizagem que fossem ao encontro das

caraterísticas de cada nível.

4.3.3. O segundo momento - Avaliação Formativa

Com a introdução de novos conteúdos, ao longo das aulas, é importante

verificar se as metodologias e estratégias adotadas estão a surtir efeito na

aprendizagem dos alunos. Desta forma, através da avaliação formativa (AF) o

professor consegue percecionar os efeitos do processo de ensino-

aprendizagem no desempenho dos seus alunos. No meu caso, utilizei os

registos e anotações das aulas como forma de realizar a AF.

Este tipo de avaliação foi indispensável, pois permitiu a deteção de

lacunas na execução motora de alguns alunos e permitiu orientar

individualmente cada um, consoante as suas necessidades particulares,

favorecendo o desenvolvimento das suas aptidões, interesses e atitudes.

A AF foi também efetuada para a dimensão psicossocial, através da

análise dos comportamentos e atitudes dos alunos e depois registada nos

diários de bordo.

Este tipo de avaliação revelou ser fundamental para uma melhor

preparação da organização das aulas, uma vez que permitia uma reflexão

sobre as aprendizagens e comportamentos dos alunos, facilitando,

posteriormente, as escolhas das atividades das aulas seguintes. Desta forma,

foi possível melhorar o processo de aprendizagem através de opções mais

adequadas aos objetivos da aprendizagem e de melhorar as escolhas que

envolveram a própria organização da aula, conduzindo a um melhor clima de

aprendizagem.

53

4.3.4. O terceiro momento - Avaliação Sumativa

Com o final de cada modalidade lecionada, surge a necessidade de

verificar o ponto de chegada dos alunos, comparativamente ao seu nível de

aprendizagem inicial. Ou seja, importa verificar se existiu evolução desde o

início da UD até ao seu final. Pois, como refere Ribeiro e Ribeiro (1990, p.359),

“A avaliação sumativa procede a um balanço de resultados no final de um

segmento de ensino-aprendizagem, acrescentando novos dados aos

recolhidos e contribuindo para uma apreciação mais equilibrada do trabalho

realizado”.

Este momento de avaliação correspondeu a uma fase de averiguações,

tendo como principal objetivo o balanço final de um ciclo de aprendizagem de

uma matéria de ensino. Esta fase correspondeu ao balanço sobre as

habilidades adquiridas pelos alunos e à sua classificação no final, conseguindo

assim determinar se os objetivos inicialmente propostos foram, ou não,

cumpridos.

Aliado aos diários de bordo e à AF, a avaliação sumativa (AS) acabou

por ser também um ponto de partida para uma reflexão sobre as opções que

tomei, desde o meu desempenho como professora, às estratégias adotadas e à

forma como a matéria foi lecionada. Este processo reflexivo permitiu-me,

sobretudo, retirar ilações para que os erros do presente não se expressassem

no futuro. Como refere Bento (2003, p. 175), “Sem um trabalho de reflexão

suficientemente aprofundado não é possível a avaliação dos alunos e da

atividade pedagógica do professor. E sem um controlo permanente da

qualidade do ensino nenhum professor consegue garantir a eficácia e a

melhoria da sua prática pessoal”.

A AS foi implementada no final de todas as modalidades lecionadas.

Para o efeito, utilizei como instrumento, a lista de verificação e recorri à

observação direta e a meios audiovisuais, para que além da observação na

aula, pudesse mais tarde confirmar e voltar a analisar, se necessário, um ou

mais alunos. O registo nas listas de verificação era realizado após a

observação dos alunos. Sempre que a resposta comportamental do aluno ia ao

encontro do critério definido, registaria na lista como “executa”, caso a resposta

54

fosse contrária colocaria “não executa”. Por exemplo, no futebol, uma das

habilidades avaliadas foi a progressão no campo, atacando diretamente o

adversário ou a baliza (penetração), este tinha um impacto de 20% na nota

final da modalidade. Caso o aluno cumprisse com esse objetivo ser-lhe-ia

atribuída a percentagem correspondente. Os conteúdos presentes no

instrumento de avaliação foram divididos quantitativamente em concordância

com a importância que lhes foi atribuída durante as aulas, ou seja, os

conteúdos mais exercitados foram também os mais relevantes para o processo

de avaliação.

Os conteúdos e critérios aqui definidos eram semelhantes aos da

avaliação diagnóstica, diferenciando apenas quando existiam casos de alunos

dispensados ou situações de diferenciação pedagógica. Uma vez que, o ensino

era diferenciado, também a avaliação deveria de patentear essas diferenças.

Relativamente aos alunos dispensados, estes eram avaliados através de

relatórios de aula, da cooperação e participação na aula (e.g. arbitro) e através

do teste escrito.

Por norma, os alunos encaravam o momento de avaliação com alguma

seriedade e responsabilidade. Considero que, este momento tem especial

importância para o aluno e para o professor, uma vez que é o momento

(formal) em que os alunos colhem os resultados do seu empenho e onde o

professor verifica o resultado do seu ensino.

Em termos gerais, tanto na AD como na AS, fui sentido algumas

dificuldades no registo e análise do desempenho dos alunos. A complexidade

de observar, qualificar e registar em tempo real, foram sem dúvida um

obstáculo enquanto avaliava: “Durante a fase final da aula foi realizado jogo,

mais uma vez a dificuldade em observar ações ofensivas, como o passe corta

por exemplo, foi evidente.” (DB, Semana 9). Estas dificuldades foram sentidas,

essencialmente, durante as primeiras avaliações, em que demorava muito

tempo para registar, uma vez que tinha necessidade de observar inúmeras

vezes cada aluno até me certificar que cumpria com os objetivos propostos.

Com o passar do tempo, o processo foi-se tornando mais fácil, ou seja,

conseguia observar mais rapidamente e centrar-me apenas nos critérios a

serem avaliados. Para isso, além da experiência que fui acumulando, foi

importante definir criteriosamente aquilo que ia ser avaliado e ter presente

55

esses mesmos critérios, evitando inúmeras perdas de tempo ao rever

constantemente a grelha de verificação.

Segundo Gonçalves et al. (2010, p. 69), “Antes da classificação ser feita,

deve determinar-se o método a utilizar, atribuindo percentagens e ponderações

a cada parâmetro de avaliação. Esta ponderação deve ser feita de acordo com

a dificuldade da tarefa e a classificação não deve resultar de um único

momento de avaliação, mas sim de vários, tentando ser o mais fiável possível”.

Com efeito, os alunos eram avaliados numa escala de 1 a 5, conforme os

conteúdos definidos, para o domínio psicomotor e cognitivo. Cada nível era

representado por uma percentagem, que era obtida conforme os alunos fossem

cumprindo com os critérios definidos. O primeiro nível da escala, o nível 1,

correspondia a uma percentagem entre os 0% e 19%; o nível 2, entre os 20% e

49%; o nível 3, percentagens de 50% a 69%; o nível 4, entre os 70% a 89%; e,

finalmente, o nível 5, percentagens entre os 90% e os 100%.

Relativamente ao domínio cognitivo, foi avaliada a literacia dos alunos

(25% da nota final), nomeadamente nas regras básicas, história, objetivo e

principais ações técnicas e táticas das modalidades. Para este domínio recorri

ao teste teórico, realizado uma vez por período.

Quanto ao domínio psicomotor (75% da nota final) foram avaliados os

conteúdos específicos das modalidades (habilidades motoras). Como referido

anteriormente, o tipo de avaliação utilizada foi a criterial.

No que ao domínio psicossocial diz respeito, foi avaliada a assiduidade,

pontualidade, empenho, comportamento, respeito e cooperação, que teve

apenas uma apreciação qualitativa, influenciado positiva ou negativamente as

classificações entre dois patamares. Ou seja, sempre que existia uma dúvida

relativamente ao nível a atribuir, a avaliação deste domínio determinava a

classificação final. Aqui, os instrumentos de avaliação utilizados foram a grelha

de presenças e as reflexões das aulas, em que eram registados os

comportamentos dos alunos que se distinguiam positiva ou negativamente.

Desta forma, a grelha de presenças permitia-me averigua a assiduidade e

pontualidade dos alunos, enquanto que as reflexões das aulas, permitiam-me

registar o empenho do aluno, o respeito pelos colegas ou a cooperação.

Para Lemos (1998), há que analisar e pensar todos os resultados

obtidos na avaliação e conjuga-los num só resultado. Desta forma, a

56

classificação final da disciplina inclui a soma das classificações de todas as

modalidades, a classificação do teste teórico e a apreciação qualitativa do

domínio psicossocial.

4.4. Participação na escola e relação com a comunidade

A participação na escola e relação com a comunidade tem como objetivo

“contribuir para a promoção do sucesso educativo, no reforço do papel do

professor de Educação Física na escola e na comunidade local, bem como da

disciplina de Educação Física, através de uma intervenção contextualizada,

cooperativa, responsável e inovadora”i. Simultaneamente, visa a integração do

PE na comunidade escolar através da participação em atividades não letivas,

“contribuindo para um conhecimento do meio regional e local para um melhor

conhecimento das condições locais da relação educativa e a exploração da

ligação entre a escola e o meio”i.

Atendendo a estes objetivos, procurei participar e colaborar na

dinamização de algumas atividades ao longo do ano, entre elas acompanhar e

perceber as funções do DT, acompanhar e participar em reuniões extra

pedagógicas (REP), reuniões do departamento de expressões e do grupo de

EF, entender a participação no desporto escolar, bem como participar e

dinamizar atividades (Clara Solidária, Rota dos Povos, teatro, visitas de estudo

à FADEUP e ao Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), encontro de

estudantes de Educação Moral Religiosa e Católica (EMRC) e torneio de

futebol).

4.4.1. Direção de turma

O cargo de DT representa o nível intermédio de intervenção no âmbito

da gestão escolar. A escola, na sua organização interna, possui vários níveis

de intervenção no âmbito da gestão: intervenção ao nível macro (os

responsáveis da gestão e direção da escola), intervenção ao nível meso

(responsável do subdepartamento de EF, coordenador de departamento

57

curricular e DT), e a intervenção ao nível micro (o professor dentro da sala de

aula) (Silva, 2007).

Centrando-me no papel do DT, este é reconhecido por ser “o professor

que acompanha, apoia e coordena os processos de aprendizagem, de

orientação, de maturação dos alunos e de orientação e de comunicação entre

os docentes, alunos, Pais/encarregados de educação e restantes agentes da

ação educativa” (Silva, 2007, p. 45). Ao DT cabe a gestão de uma turma, que

implica várias tarefas desempenhadas pelo mesmo, nomeadamente, o controlo

das faltas dos alunos, a notificação dos alunos para as datas de avaliações

(testes escritos/práticos e exames nacionais), a comunicação entre professores

e pais e vice-versa, que permite a passagem de informações sobre o aluno

(processos disciplinares, repreensões ou outras instruções), a resolução de

conflitos entre alunos e a transmissão de informações que sejam do seu

interesse académico (e.g. atividades da escola, visitas de estudo).

O meu acompanhamento a este agente educativo ocorreu com uma

turma do 9º ano de escolaridade da PC. Apesar de este cargo representar uma

realidade presente no papel dos professores na escola, este nunca foi alvo de

uma formação específica por parte da faculdade. Por este motivo, foi

importante contar com o apoio da PC, que sempre partilhou comigo o seu

conhecimento e as suas responsabilidades enquanto DT. Desta forma, foi mais

fácil compreender as tarefas inerentes ao cargo e desempenhar algumas das

suas funções. Apesar de não ter uma participação prática muito ativa no papel

do DT, sempre estive a par de todas as situações que envolviam a sua direção.

A principal tarefa que desempenhei foi o controlo das faltas e a transmissão de

informação pertinente aos alunos. Todas as restantes atividades que envolviam

o DT foram conferenciadas pela PC, em que eram expostos problemas e

possíveis soluções (e.g. resolver o problema de desaparecimento de valores de

um aluno; interagir com um pai que insistia em comparar a atitude do seu

educando com a de outros alunos).

Uma das principais aprendizagens que adquiri centrou-se no modo como

proceder na interação com os encarregados de educação, pois foram inúmeras

as situações em que foi necessário interagir com as pessoas responsáveis

pelos nossos alunos. Em alguns casos, foi nítido o desleixo que alguns pais

apresentavam quanto à educação que deveriam prestar aos seus filhos,

58

delegando, muitas das vezes, essa responsabilidade somente ao professor.

Noutros casos, os pais defendiam os seus filhos, comparando-os

insistentemente com outros alunos, revelando não compreender a gravidade da

situação e preocupando-se apenas em defender os seus filhos em vez de

retaliar o seu comportamento/atitude: “O contato com os pais deve ser

cauteloso. É importante saber exatamente o que dizer e usar as palavras

certas para que não sejamos mal interpretados. É essencial termos os pais do

nosso lado, fazendo-os ver o que está certo ou errado com os seus filhos. O

nosso principal objetivo é incluir os pais no processo de aprendizagem,

contribuído para o sucesso escolar dos nossos alunos” (DB – semana 9). É

muito importante saber empregar corretamente as palavras neste tipo de

situações. Quando se conversa com os encarregados de educação ou pais de

um aluno, a forma como nos expressamos e como transmitimos a informação

pode significar a diferença entre um problema resolvido ou o início de um novo

problema. Este tipo de problema era sempre debatido com os professores da

turma aquando das REP, dando a conhecer os alunos, o seu aproveitamento

escolar e algumas situações ocorridas dentro e fora da sala de aula: “Ao final

da manhã, fui com o meu colega de estágio à REP do 6º ano onde foram

abordados alguns assuntos importantes, nomeadamente, o comportamento de

alguns alunos bem como o seu empenho nas disciplinas” (DB – semana 2).

Relativamente às REP, este tipo de reunião tinha como objetivo, para

além da passagem de informações, a resolução de problemas com a ajuda dos

elementos do conselho de turma. “No que respeita ao diretor de turma, o seu

papel como gestor curricular, será, desta forma, facilitado, através da execução

das tarefas e de trabalho em equipa, por todos os elementos do Conselho de

Turma, na medida em que todos os docentes estarão predispostos a adotar

metodologias motivadoras do ensino-aprendizagem e flexionar o currículo de

acordo com as reais necessidades da turma em geral e do aluno em particular”

(Correia, 2007, pp. 36-37).

Para além das REP, o DT é também responsável por dirigir a reunião do

conselho de turma e a reunião com os encarregados de educação. A primeira

reunião ocorre antes do final de cada período, com todos os professores da

turma e tem como principal intuito a discussão das classificações.

Relativamente à reunião com os encarregados de educação, esta ocorre no

59

final de cada período, revelando ser “um momento importante uma vez que é a

altura em que se faz o resumo de todo o primeiro período e uma introdução

daquilo que será o segundo. Nesta reunião os pais podem esclarecer todas as

dúvidas e emitirem as suas opiniões sobre a escola, os professores, as aulas e

outros assuntos pertinentes como as avaliações e os apoios aos alunos.” (DB –

semana 17).

No início do ano, comecei por cumprir esta tarefa (acompanhar a DT)

sem possuir qualquer tipo de conhecimento sobre como a cumprir. Na verdade,

a vivência prática das exigências do cargo foi imprescindível para a

compreensão das funções de DT. Desde conversas com os encarregados de

educação, organização e direção de REP, registo de faltas e ocorrências,

preparação de visitas de estudo e acompanhamento do percurso escolar dos

alunos, foram longas as exigências e situações em que a prática me mostrou

um papel diferente daquele que eu idealizava. O papel do DT revelou ser um

ponto de ligação importante na união da escola e da família em prol do sucesso

escolar dos discentes. Sem este acompanhamento, quase especializado do

DT, muitos alunos descuidariam o seu propósito na escola, desperdiçando a

oportunidade de desenvolver o seu potencial. Considero que, consegui

arrecadar um conhecimento que me permitirá no futuro desempenhar as

funções que um DT deve desempenhar.

4.4.2. O papel das reuniões para uma boa organização escolar

As reuniões revelaram ser uma ótima ferramenta de trabalho na escola.

Estas servem, sobretudo, para informar, analisar e resolver problemas, discutir

e conciliar pontos de vista, obter feedback e tomar decisões.

Ao longo do ano, foram inúmeras as reuniões em que estive presente,

alternando entre a turma do 6º ano e as turmas do 9º ano. Intercalado com as

REP, que referi anteriormente, em que o DT tinha um papel essencial, ocorriam

as reuniões de coordenação curricular. Uma vez por mês, este tipo de reunião

substituía a REP e juntava os professores de EF com o intuito de averiguar se

os objetivos propostos para a disciplina estavam a ser cumpridos e para

partilhar alguns métodos de trabalho. “Na parte final da manhã, estivemos

60

presentes numa reunião com mais dois professores de Educação Física, (…)

com o objetivo de partilharmos algumas informações e formas de

organização/distribuição dos conteúdos a abordar durante o primeiro período”

(DB – semana 3).

Com uma comunidade tão grande de trabalho, foi essencial dividi-la em

pequenos grupos para que cada grupo trabalhasse sob determinadas

diretrizes. Na escola onde realizei o estágio a comunidade docente era dividida

por departamentos que depois seriam subdivididos por grupos disciplinares.

Desta forma, o departamento de expressões e tecnologias englobava os

professores de EF, educação visual e tecnológica, educação tecnológica,

educação especial e artes visuais, representando, por isso, cinco grupos

disciplinares diferentes.

Cada departamento tinha a sua própria reunião, em que depois de

transmitida a informação de interesse comum, eram enunciadas as ordens de

trabalho de cada grupo disciplinar. Este tipo de organização facilitou imenso o

trabalho dos professores, bem como o cumprimento das ordens de trabalho. A

cada reunião presenciada, fosse ela de departamento ou de grupos disciplinar,

foi notório que apesar das discordâncias existentes, todos os intermediários

respeitavam as opiniões dos outros, promovendo uma relação cordial entre

todos.

Durante as reuniões de grupo disciplinar de EF, o professor responsável

seguia a ordem de trabalhos enunciada pelo responsável do departamento de

expressões e tecnologia. Já na parte final, os professores aproveitavam para

expor os seus problemas e debater possíveis soluções com o grupo: “O grupo

concordou em elaborar um documento, pedindo a presença de um funcionário

durante as aulas de Educação Física no exterior e na pista, auxiliando o

professor no controlo dos alunos presentes no espaço de recreio,

essencialmente, no horário do intervalo” (DB – semana 17).

A minha participação em cada uma destas reuniões teve um contexto

diferente, uma vez que não participei ativamente em todas. As reuniões

serviram, sobretudo, como momentos de reflexão sobre a realidade que vivia,

cada uma com a sua importância e a sua especificidade, mas todas

contribuíram para o meu crescimento e desenvolvimento profissional.

61

Em suma, considero que as reuniões permitem que a escola mantenha

um padrão de exigência e de compromisso com toda a comunidade escolar,

mostrando ser uma escola organizada, capaz de distribuir e delegar funções a

quem nela trabalha. Esta organização é, sobretudo, visível dentro da escola,

onde cada pessoa apresenta um papel ativo, promovendo assim, um bom

funcionamento da instituição.

4.4.3. Participação e dinamização de atividades

O Plano Anual de Atividades (PAA) apresenta um conjunto de atividades

que propõem objetivos concretos sobre uma matéria de ensino ou tema de

interesse de serviço público, obtendo o devido reconhecimento por parte da

comunidade escolar. As visitas de estudo são parte integrante destas

atividades, mostrando ser uma forma mais lúdica e diferente de aprendizagem.

A ida ao teatro Sá da Bandeira, para assistir à peça “Auto da Barca do Inferno”,

foi uma das participações que fiz ao longo do ano, acompanhando as turmas

do 9º ano, do núcleo de estágio: “Foi um momento de convívio com os alunos

onde foi possível ter uma relação para além do professor-aluno que existe

dentro da escola. Momentos como estes servem sobretudo para que o

professor possa perceber um pouco mais como funciona a sua turma e até

mesmo a juventude de hoje, podendo desta forma conciliar esta informação

com a organização e programação das suas aulas” (Reflexão – ida ao teatro,

19 de Março 2015).

A visita de estudo à FADEUP com a minha turma de 9º foi mais um

momento marcante. Para além deste acompanhamento, também tive a

oportunidade de auxiliar na organização da visita de estudo, nomeadamente,

acertando com a faculdade alguns pormenores importantes, tal como, a hora e

atividades a desenvolver. Esta visita teve um sentido especial para mim, uma

vez que os alunos iriam conhecer a casa que me acolheu durante 5 anos e que

me conduziu até eles. Este foi um momento importante, pois ao caminhar pelos

corredores com os alunos, percebi que a minha viagem académica está

prestes a acabar e que naquele momento não era apenas aluna da FADEUP,

62

como em tantos outros dias, mas sim uma professora que representava uma

escola e era responsável por um grupo de alunos.

Quanto à turma do 6º ano, tive a oportunidade de os acompanhar em

dois momentos distintos, um deles na visita de estudo ao IBMC, no Porto, e

outro, numa ida ao parque da Pasteleira, onde foi realizado o XIII encontro dos

alunos de EMRC, da diocese do Porto. Estas foram duas atividades

completamente diferentes, uma com um caráter formal, ligado diretamente à

disciplina de Ciências Naturais, e outra, com um caráter lúdico, onde o convívio

e a interação com outras pessoas foi o principal objetivo.

Durante as atividades, foi visível a diferença em acompanhar turmas

com faixas etárias distintas. A turma do 6º ano foi sempre capaz de perceber a

importância destas atividades e vivências para o seu crescimento, enquanto

que a turma do 9º ano, acabava por relativizar este tipo de situações,

menosprezando a aprendizagem que se pretendia com estas visitas. Por esse

motivo, considero que seja importante debater se realmente vale ou não a pena

realizar estas atividades para todas as turmas, ou se, tendo em conta as

caraterísticas de cada uma, não seria mais pertinente trocar estas visitas por

outras atividades que fossem ao encontro das necessidades dos alunos.

Relativamente à dinamização de atividades, o projeto “Clara Solidária”

foi uma das quais estive envolvida. Esta atividade ocorreu duas vezes durante

o ano letivo, uma no mês de dezembro e outra no mês de maio, cujo objetivo

era a recolha de alimentos para populações desfavorecidas na zona do Porto.

“Foi a primeira vez que participei num atividade de solidariedade, onde para

além de contribuir com alimentos como tantas outras pessoas, também estive

presente na parte burocrática e organizacional do projeto. Na verdade, realizar

um projeto destes, seja em que local for, é sempre sinónimo de muito trabalho

e dedicação. Momentos como este servem para refletirmos sobre aquilo que,

de facto, significa a palavra “Solidariedade”. Considero que esta seja uma

palavra que está ao alcance de todos nós, e se cada um contribuir, com a mais

pequena coisas que seja, tenho a certeza que irá ajudar outras pessoas. Afinal

o que pode significar pouco para nós pode também significar muito para os

outros” (Reflexão – Clara Solidária, 5 de dezembro de 2014). Ainda dentro

desta vertente solidária, ajudei a dinamizar o projeto “Rota dos Povos”, que

teve como objetivo a angariação de material escolar para as crianças

63

desfavorecidas e residentes no continente africano. A dinamização destas

atividades acrescenta valor ao papel do professor, para além do valor

associado ao papel que desempenha na sala de aula. Aqui, ele tem o poder da

palavra que pode fazer a diferença para muitas pessoas. A divulgação destes

projetos de solidariedade foi um dos pontos altos do meu crescimento pessoal.

Afinal, a escola não desenvolve apenas o conhecimento, ela promove também

diversos valores.

O torneio de futebol foi o maior evento que eu e os meus colegas de

núcleo de estágio dinamizamos. Este teve como objetivo proporcionar aos

alunos da escola um maior contato com a realidade desportiva e com a

envolvência num espetáculo de futebol, com carater competitivo. Este consistia

na realização de jogos de futebol 5x5 para as turmas do 5º, 6º,7º e 8º anos e

futebol 7x7 para as turmas do 9º,10º,11º e 12º anos.

Aqui estiveram envolvidas mais de 80 turmas e cerca de 400 alunos de

ambos os géneros. O nosso núcleo ficou responsável por todos os capítulos de

desenvolvimento deste torneio, desde a divulgação até a sua concretização.

Este foi um evento incrível que decorreu, ao mesmo tempo, em dois locais

diferentes (escola e complexo desportivo do Bessa). Os locais dos jogos foram

geridos tendo em conta a situação de jogo e o ano de escolaridade. Só era

permitida a ida para o Bessa a partir do 9ºano, uma vez que durante o ano

estas turmas tinham aulas nesse espaço. Por esse motivo, as turmas do 5º, 6º,

7º e 8º realizaram os jogos na escola, enquanto as restantes jogaram no

complexo desportivo do Bessa.

Para que a concretização deste torneio fosse possível contamos com a

ajuda dos professores de EF da escola, que com a sua experiência acabaram

por se tornar peças essenciais para o desenrolar de todo o torneio. Estes

desempenharam todo o tipo de papéis, desde árbitro, a juízes de mesa,

mantendo o torneio em total funcionamento e permitindo que tudo o que estava

proposto, fosse efetivamente realizado dentro do tempo previsto. Apesar de ser

a nossa primeira experiência neste tipo de atividades, considero que

realizamos um ótimo trabalho. O torneio foi pensado ao pormenor, o que

facilitou depois o trabalho realizado durante o dia do evento. A distribuição das

águas e das bolachas foi pensada para que fossem entregues no início de

cada jogo aos alunos que estavam no banco de suplentes, desta forma, estes

64

ficariam responsáveis por distribuir aos restantes colegas. O uso de coletes

para os voluntários, foi pensado para que estes fossem facilmente identificados

por qualquer participante. A vedação do terreno do jogo com fita sinalizadora,

permitiu o desenrolar do jogo sem qualquer perturbação por parte daqueles

que se encontravam a ver o jogo. E a chamada dos jogadores ocorria durante a

realização do jogo anterior para que não ocorressem atrasados.

A nossa maior dificuldade foi encontrar voluntários que nos auxiliassem

no dia do evento. Pois, trabalhar com inúmeros alunos, ao mesmo tempo,

acaba por ser complicado quando não temos recursos humanos suficientes.

Neste contexto, penso que deveríamos ter encontrado estratégias que

levassem os alunos a participar mais. Por exemplo, impondo a regra da

inscrição de um ou dois voluntários por cada equipa.

Considero que, este tipo de atividades exige de nós uma visão diferente

daquelas que temos aquando do planeamento das aulas. Planear, organizar e

dinamizar atividades desta amplitude requer muito cuidado e dedicação para

que tudo decorra na perfeição. Este foi também momento de grande

aprendizagem, pois envolveu novas situações que, de outra forma, não seriam

vivenciadas. Como profissionais, estas atividades acrescentam valor,

experiência e conhecimento, tornando-nos pessoas capazes de enfrentar

novos e mais desafios no futuro.

4.4.4. Desporto Escolar

Segundo o programa do Desporto Escolar (DE), este tem como principal

missão proporcionar aos alunos o acesso à prática desportiva regular e de

qualidade, contribuindo para a promoção do sucesso escolar dos alunos, dos

estilos de vida saudáveis, de valores e princípios associados a uma cidadania

ativa. A atividade desportiva desenvolvida ao nível do DE permite aos alunos,

que não têm possibilidade de praticar desporto federado, vivenciar momentos

de prática desportiva regular e competitiva na própria escola e durante o seu

tempo extracurricular. Este tipo de atividade desportiva desperta

potencialidades físicas e psicológicas, que contribuem para o desenvolvimento

global dos jovens. Estes contextos são espaços seguros e privilegiados para

65

fomentar hábitos de vida saudáveis, competências sociais e valores morais,

que para além de estarem associados a valores desportivos, estão também

associados a valores sociais (e.g. responsabilidade, respeito e solidariedade).

O DE não tem grande expressão na escola onde realizei o EP.

Inicialmente, estava previsto a colaboração do núcleo de estágio no projeto de

Tag Rugby, mas este acabou por não acontecer. Das várias modalidades e

atividades oferecidas pelo DE, este ano letivo, a escola apenas promoveu o

corta-mato. Nesta atividade, realizada a nível local, a nossa função foi auxiliar a

professora responsável pela organização, no dia da atividade: “ (…) ao

contrário do que costuma acontecer em anos anteriores, (a professora

responsável) não teve o apoio dos professores estagiários durante a

organização. Mesmo após diversas ofertas de ajuda da nossa parte e de outros

professores, a professora em causa organizou todo o corta-mato sozinha”

(Reflexão - corta-mato, 16 de Dezembro de 2014). Penso que organizar uma

atividade deste tipo sozinha é tarefa quase impossível e isso reviu-se no dia da

atividade, em que muitos aspetos foram descurados: “Toda a acreditação foi

realizada ainda longe do início da prova (…). Facilitaria ter a organização no

espaço onde se dava a partida (…)”; “No final da corrida ocorreram algumas

complicações quando se processava a recolha dos dorsais e dos respetivos

nomes com a sua classificação”; “Outra situação que falhou foi a hidratação e o

lanche para as crianças” (Reflexão - corta-mato, 16 de Dezembro de 2014).

Já no corta-mato a nível regional, tínhamos como principal função

acompanhar um grupo específico de alunos e ficar responsável pela sua

supervisão. Nesta atividade, voltamos a encontrar alguns problemas,

nomeadamente ao nível da deslocação, hidratação e nutrição dos alunos. O

orçamento da escola não permitiu o aluguer de um autocarro que transportasse

os cerca de 30 alunos que participaram na atividade, obrigando-os a viajar em

transportes públicos e a realizar deslocações a pé até ao local da prova. Assim,

não tendo um autocarro, os alunos ficaram sem um local seguro e coberto

onde pudessem esperar pela hora da sua prova. A chuva e o frio que se fez

sentir não ajudou em nada para o bom desenrolar da atividade, fazendo com

que alguns dos alunos inscritos não comparecessem à atividade. Apesar das

contrariedades apresentadas, os alunos conseguiram arrecadar 3 medalhas,

deixando todos os presentes satisfeitos.

66

Após esta realidade vivenciada, fiquei dececionada por perceber que o

DE não tem grande expressão na escola, pelo menos nesta, que conheci como

professora. Considero que, o DE é uma atividade extremamente enriquecedora

para todos os participantes, sejam eles alunos, professores ou organizadores.

A relação que se estabelece com as pessoas, o convívio direto com o desporto

e com a competição saudável, são um fator importante para o desenvolvimento

completo de qualquer ser humano. Na verdade, esperava que existisse uma

maior adesão ao DE e que este não fosse apenas representado pelo corta-

mato. Considero que, se surgisse a oportunidade de implementar outras

modalidades ou atividades na escola, de certeza que esta seria sinónimo de

grande adesão, o que dignificaria o bom nome da instituição.

Em suma, encaro esta minha participação no DE como algo que

contribuiu para a minha formação, mas não na escala em que previa. A

participação nestas atividades e, até mesmo a sua dinamização na escola,

promovem a relação com a comunidade escolar o que é muito importante para

quem ainda está a iniciar o seu percurso profissional na escola. Neste caso,

sinto que o DE poderia ter-me proporcionado ainda mais momentos de

aprendizagem, e contribuído mais o meu desenvolvimento profissional.

4.4.5. Balanço Final

A organização e participação em atividades não-letivas permitiram o

contato com alunos num contexto diferente da aula de EF. Assim, para além

dos alunos que fazem parte das turmas do núcleo de estágio, tive oportunidade

de me relacionar com outros alunos, conhecendo outras personalidades, outras

perspetivas, culturas e estilos de vida. Esta experiência, permitiu também o

contato com pessoas que, de outra forma, talvez não conhecesse (professores,

funcionários) e que facilitaram bastante a minha integração na comunidade

escolar. Esta integração foi também marcada por momentos de novas e mais

aprendizagens, através da partilha de histórias, de conhecimentos e de

experiências.

Neste contexto, aprendi a lidar com diferentes pessoas e situações, a

superar contrariedades e a solucionar problemas. Cada pessoa ou cada

67

situação fora, únicas e só com a experiência adquirida foi possível superar

algumas situações controversas. A vivência com outras pessoas fora do nosso

“ciclo de vida”, fazem-nos ver as diferentes experiências através de uma outra

perspetiva, permitindo-nos evoluir enquanto profissionais e pessoas.

O tempo despendido para a escola foi sempre muito importante para

este crescimento. A cada dia acontecia algo novo, em cada dia experienciava

uma nova conversa e a cada dia adquiria uma nova aprendizagem. A

participação em reuniões de conselho de turma, departamento e de grupo

foram também uma forma de integração na comunidade escolar e uma forma

de compreender a dinâmica e o funcionamento da escola, para além da

lecionação das aulas.

Para que estas aprendizagens fossem possíveis foi fundamental sair da

zona de conforto e relacionar-me com outras pessoas. O conhecimento está

para além daquilo que vemos num dado momento, porque ele está em diversos

locais e na interação com diferentes pessoas. Por esse motivo, é importante

que os professores estagiários passem por um processo de aprendizagem na

escola, que inevitavelmente envolve a participação ativa na comunidade

escolar, aumentando o seu conhecimento e visando a sua integração.

5. Desenvolvimento

Profissional

71

5.1. Construir e (re)construir a minha identidade profissional

O início do processo de desenvolvimento profissional começa mesmo

antes da entrada para a escola, no entanto, é a partir desta formação inicial

que o estudante adquire conhecimentos específicos da profissão e começa a

construir as suas representações sobre o que é ser professor. Ao longo da

vida, o professor constrói-se e identifica-se com aquela que considera ser a sua

futura profissão. Segundo Resende, Carvalho, Silva, Albuquerque, Lima e

Castro (2014), este processo começa a desenvolver-se antes da formação

inicial, prossegue na formação inicial e percorre toda a carreira docente.

Conjuntamente com esta evolução é desenvolvida e construída uma identidade

profissional (IP).

Relativamente às identidades profissionais, Dubar (2005) refere que

estas são identidades “especializadas” que dizem respeito a atividades,

também elas especializadas, ou seja, respeitantes a mundos institucionais

específicos ligados a saberes especializados e a papéis mais ou menos ligados

com a divisão social do trabalho. Neste caso específico, falamos de IP do

docente, nomeadamente, do docente de EF. Pimenta e Anastasiou (2002)

afirmam que, a construção da identidade docente baseia-se nos valores de

cada indivíduo, no modo como cada um constrói as suas histórias, no modo

como cada um se situa no mundo enquanto professor, nas suas

representações, nos seus saberes, nas suas angústias e anseios.

Giddens (cit. por Batista, 2014) menciona que a IP está

indissoluvelmente ligada à prática profissional, à aprendizagem contínua e ao

desenvolvimento profissional. Podemos, assim, considerar que a IP é

construída ao longo da vida num percurso contínuo. A cada experiência vivida,

as nossas conceções podem ser alteradas e, com elas, também a nossa IP. O

EP foi o melhor exemplo desta situação. Com o decorrer do estágio, a prática

profissional e toda a vivência na escola proporcionam-nos vivências que

alteram a nossa IP. Todos os dias aprendemos a lidar com novas situações,

tendo em conta os nossos ideais e as nossas conceções acerca do nosso

papel como professores, que podem sofrer alterações.

72

O EP foi sem dúvida uma experiência enriquecedora que me permitiu

observar e refletir, não só sobre as minhas atitudes e a minha identidade, mas

também sobre o comportamento de outros professores face à sua profissão.

Através das observações das aulas dos meus colegas estagiários, da PC e de

outros professores de EF, foi possível constatar que cada um de nós possui

diferentes visões sobre a nossa profissão. As observações levaram, sobretudo,

a uma reflexão sobre os comportamentos e as ações de cada professor face a

uma determinada situação. Durante as observações, procurava discutir e

refletir sobre o que eu faria em relação a cada situação que surgia, o que seria

mais correto fazer ou dizer e se seguiria os passos do professor observado ou

optaria por outras soluções. Cheguei à conclusão que, independentemente do

que possa pensar como sendo certo, cada um de nós possui a sua própria IP,

as suas próprias experiências, conceções e valores, por isso, para cada

situação podem existir variadas respostas. Cabe a cada um de nós, enquanto

profissional, agir em conformidade com os nossos ideais e os nossos valores

profissionais, tendo sempre em vista a formação e educação dos nossos

alunos e a melhoria das nossas escolas.

À medida que fui conquistando mais experiências e conhecimentos, ao

longo do EP, cresci como pessoa e como profissional. O conhecimento

profissional que adquiri foi, também ele, um sinónimo do meu desenvolvimento

profissional. Este tipo de conhecimento pode ser definido como um conjunto de

informações, aptidões e valores que os professores possuem, em

consequência da sua participação em processos de formação (inicial e em

exercício) e da análise da sua experiência prática, uma e outras manifestadas

no seu confronto com as exigências da complexidade, incerteza, singularidade

e conflito de valores próprios da sua atividade profissional, situações estas que

representam, por sua vez, oportunidades de novos conhecimentos e de

crescimento profissional (Montero, 2005). Por este motivo, considero que a

minha IP está também ligada ao conhecimento profissional que fui adquirindo

através da formação inicial e durante o primeiro ano de mestrado, mas

principalmente, através da experiência prática que vivi durante o EP.

Hoje, e depois de toda esta experiência, considero que a minha IP

esteve em constante mudança. Enquanto estudante, vivenciei um dos lados do

processo de ensino desenvolvendo uma conceção e crenças acerca da

73

profissão de docente, com basa nas minhas vivências. No EP, numa outra

posição (professora), precisei de me moldar ao local e ao contexto onde estava

inserida. Desta forma, tive de reajustar alguns conceitos e ideais que detinha

sobre a profissão. Por exemplo, inicialmente, alterei a minha conceção

relativamente à relação com os alunos. Sempre idealizei que uma relação de

proximidade com o professor promoveria um bom ambiente de trabalho, no

entanto, ao longo do EP fui percebendo que nem sempre esta situação se

verifica. Por esse motivo, os momentos de maior afetividade acabaram por dar-

se fora do contexto da sala de aula. Posteriormente, percebi o quanto exigente

era a profissão docente. De facto lidar com tantos alunos ao mesmo tempo não

era tão simples quanto idealizava.

A visão que tenho hoje é que, cursos que não possuam um confronto e a

vivência com o contexto real de ensino e não solicite uma reflexão constante

entre e teoria e a prática são, efetivamente, cursos mais pobres. Encaro, por

isso, o EP como uma mais-valia e uma forma essencial de promover o

desenvolvimento profissional dos candidatos a professores. No entanto,

consciente de que o nosso desenvolvimento profissional não acaba juntamento

com o EP, sendo um processo contínuo e inacabado. Afinal, como diz o ditado

popular, “o saber não ocupa lugar”, e o professor, cada vez mais, deve procurar

investir continuamente na sua formação seja através de palestras, seminários

ou outro tipo de formações complementares, que elevem as suas capacidades

e que o tornem uma pessoa mais competente profissionalmente.

Neste sentido, sempre que me foi possível, participei nos seminários

promovidos pela FADEUP que abarcaram temas atuais e me conduziram ao

desenvolvimento de entendimentos diferentes em relação às respetivas

temáticas (e.g. abordagem de conteúdos nas aulas de EF). Além disso,

participei também num debate organizado pela Associação de Profissionais de

EF do Porto intitulado como “Noites Quentes - Para onde vai a Educação

Física?”, em que foi debatida a importância da EF. Nesta sessão, confirmei a

ideia de que não se está a dar a devida importância à disciplina, atestando-se

que a mudança necessária parte, impreterivelmente, dos docentes da

disciplina. Finalmente, já a pensar no meu futuro profissional, realizei um pré-

curso de personal trainer, que alargou o meu conhecimento e a também a

minha área de atuação enquanto profissional. Apesar deste curso não se

74

relacionar diretamente com a docência, pode efetivamente apresentar alguns

contributos para a área, nomeadamente, na prescrição de exercícios para

alunos com algumas condicionantes físicas. Através deste tipo de cursos e

formações, é possível alargar conhecimentos, que nos permitem adaptar

alguns exercícios às necessidades dos nossos alunos.

Em suma, “tornar-se professor envolve, na sua essência, a

(trans)formação da identidade do professor” (Batista, 2014, p. 15), sendo esta

uma construção que ocorre desde a formação inicial, continuando ao longo de

todo o nosso percurso profissional, para que possamos atingir, o exponencial

do nosso desenvolvimento.

“Aprender è a única coisa de que a mente nunca se cansa,

nunca tem medo e nunca se arrepende”

Leonardo da Vinci

5.2. O professor de Educação Física

No meu entendimento, para muitas pessoas, a nossa profissão ainda é

ser “Professor de Ginástica”, porque na verdade não sabem o que significa ser

professor de EF, nem qual o seu papel e funções junto dos seus educandos.

Considero, portanto, que existe ainda uma grande necessidade de mudar,

sobretudo, o entendimento que as pessoas têm sobre a nossa profissão.

Lembro-me que numa das minhas primeiras aulas questionar os alunos

sobre o papel da EF e o que aconteceria se ao longo do seu percurso escolar

esta disciplina não existisse. A resposta foi bastante óbvia para alguns –

“seriamos todos obesos”. Ou seja, embora os alunos compreendam que é

importante manter a EF na escola, as razões que apontam não correspondem

verdadeiramente ao objetivo da EF e às nossas funções como professores de

EF. De facto, os profissionais de EF são muitas vezes sinónimos de soluções

para questões estéticas ou de saúde, mas na verdade a nossa função como

professores abrange muito mais do que aquilo que é concebido pelas pessoas.

De acordo com Machado (1995), durante o desempenho da sua função, o

75

professor pode moldar o caráter dos jovens, deixando marcas nos seus alunos.

Desta forma, é reconhecido no professor, para além da capacidade de ensinar

conhecimentos específicos, a capacidade de transmitir, mesmo que

inconscientemente, formas de pensar, valores, normas e padrões de

comportamento para se viver em sociedade. Assim, através da sua matéria de

ensino – o desporto - o professor de EF pode promover o desenvolvimento

integral dos alunos, transformando não só o aluno estudante mas também o

aluno pessoa. Graça (2004) refere que, o professor deve conhecer a sua

matéria e agir como um especialista da área e introduzir os alunos no modo de

pensar e de agir próprios dessa área.

Para além da função de ensinar, que acarreta o domínio dos conteúdos

da disciplina e metodologias de ensino, o professor assume outras funções

importantes na escola na formação dos alunos. Cunha (2008, p. 64) refere que,

“As funções do professor são cada vez mais multifacetadas e complexas, uma

vez que não se limitam apenas aos conhecimentos específicos de uma

determinada área do saber, nem ao conjunto de técnicas e estratégias

pedagógicas mais adequadas à transmissão desses conhecimentos, sendo-

lhes exigidas outras atuações, nomeadamente, na promoção do

desenvolvimento pessoal dos seus alunos, proporcionando-lhe oportunidades

de desenvolvimento de pensamento crítico, reflexivo, autónomo, em diálogo

com o envolvimento social e profissional”. Assim, considero que aliado ao

conhecimento específico da matéria, o professor deve perceber o contexto em

que esta inserido e ajustar a sua ação à realidade da escola e dos alunos.

Aquilo que os alunos, ou outras pessoas, pensam sobre o que é ser

professor de EF, é realmente uma imagem muito redutora daquilo que é o

nosso trabalho. As experiências que temos enquanto alunos, transmitem-nos

uma ideia diferente e, por vezes, irreal, quanto ao papel do professor.

Atualmente, e após a minha vivência no EP, considero que o meu

entendimento sobre o que é ser professor era bastante limitado, decorrente das

curtas experiências que tive como aluna. De certa forma, encarava o professor

apenas como um agente educativo responsável pela transmissão de

conhecimentos aos alunos e do seu sucesso. Hoje, posso afirmar que a minha

conceção mudou e que consigo ver a minha profissão de forma mais

abrangente. Para além da transmissão de conhecimentos, enquanto

76

professores, somos também, capazes de moldar o comportamento dos alunos,

dentro e fora da escola, através da transmissão de valores sociais. Para além

da sua função dentro da sala de aula, o professor acarreta ainda outras

responsabilidades que vão desde a planificação à avaliação, não só de todo o

processo de ensino-aprendizagem como também das atividades

extracurriculares realizadas na escola.

Considero que não existe uma definição precisa sobre o papel ou a

função do professor de EF, mas é consensual entre vários autores que esta é

uma profissão em constante desenvolvimento e dependente do contexto em

que se desenvolve. Na verdade, o professor acaba, muitas vezes, por ser

aquilo que o momento ou o contexto precisa que ele seja.

5.3. Estudo de Revisão Sistemática: A indisciplina de Educação Física

5.3.1. Introdução

O EP funciona como uma espécie de teste para o qual nos temos vindo

a preparar, principalmente, no que diz respeito à PP. Este teste a que somos

sujeitos é o momento em que podemos aplicar todos os conhecimentos

adquiridos até ao momento, especialmente, ao longo da licenciatura e do

mestrado. Neste contexto, apresentamo-nos sozinhos frente a uma turma e

não em grupo, como nas Didáticas Específicas do 1º ano do Mestrado em

EEFEBS, surgindo assim, novos desafios. Na minha opinião, nem sempre as

unidades curriculares anteriores ao EP nos conseguem preparar para algumas

das exigências, que apenas o contexto real de ensino nos coloca. Pois, estas

aprendizagens são adquiridas através da prática real de ensino, regular e

contínua. No meu caso, essas exigências centraram-se, principalmente, na

indisciplina dos alunos e no controlo da turma. E, através do EP, percebi que

mesmo quando um professor possuiu o máximo de conhecimentos acerca da

matéria, se não consegue controlar a turma, o processo de ensino-

aprendizagem pode ficar comprometido. Quando me refiro ao controlo da

turma, falo de um conjunto de medidas que os professores devem tomar,

visando a criação de um ambiente propício à aprendizagem dos alunos. Com

77

efeito, as atividades que visam exercer alguma espécie de influência sobre o

comportamento dos alunos denomina-se de controlo disciplinar. Estas

procuram ajustar o comportamento dos alunos ao que é, para o professor e

escola, considerado como padrão de comportamento aceitável (Rodrigues, cit.

por Sampaio, 1996).

Assim, atendendo que esta dimensão da intervenção pedagógica foi

uma das dificuldades encontradas ao longo do processo de ensino-

aprendizagem da minha turma, o presente estudo incidirá nos comportamentos

de indisciplina dos alunos nas aulas de EF. Este tem como principal objetivo

identificar e analisar como tem sido tratado o tema de indisciplina em alguns

estudos recentemente publicados, procurando assim, encontrar algumas

respostas que vão ao encontro da minha PP. Através de uma revisão

sistemática, pretendo analisar os principais resultados dos estudos

encontrados e, partindo destes dados, mais tarde, definir estratégias que me

ajudem a manter a disciplina dos meus alunos, ao longo da PP. No entanto,

primeiro importa perceber o que é a indisciplina e, por isso, seguidamente,

apresento um breve enquadramento acerca desta temática.

5.3.2. Enquadramento da Temática

A indisciplina é, muitas vezes, associada a termos como a violência, a

agressividade e o conflito. Dada a grande diversidade de comportamentos

subjacentes a este tema é importante definir conceitos para que os mesmos

não se confundam.

Relativamente a este tema, Amado (2002, p. 43) define a indisciplina

como “um fenómeno relacional e interativo que se caracteriza no

incumprimento das regras que presidem, orientam e estabelecem as condições

das tarefas na aula, e, ainda, no desrespeito de normas e valores que

fundamentam o são convívio entre pares e a relação com o professor,

enquanto pessoa e autoridade”. Este entendimento foi também debatido por

Cloes et al. (1998), que através de um estudo com 222 professores,

caraterizaram a indisciplina como sendo o desrespeito às regras de conduta, a

recusa em participar nas aulas, a perturbação das aulas, os conflitos com os

78

colegas, as grosserias e desrespeito aos colegas e professores, a violência

física, o conflito relacional com o professor, a recusa da autoridade e a

degradação do material didático.

Romi e Freund (1999) referem que, os comportamentos perturbadores

são, quase sempre, consequência de uma serie de condições e fatores

desfavoráveis que atuam sobre o pensamento dos alunos, prejudicando o

desenvolvimento normal da escola.

Segundo Amado e Freire (2002), na escola são percetíveis três níveis de

indisciplina, o desvio às regras de trabalho na aula, a perturbação das relações

entre pares e os problemas da relação professor-aluno.

Relativamente ao desvio às regras de trabalho na sala de aula, Amado e

Freire (2002) estabelecem tipologias de comportamentos decorrentes da

função e da finalidade dos atos cometidos, classificando-os de acordo com as

seguintes categorias e subcategorias (Quadro 1).

Quadro 1 - Categorias e Subcategorias de tipologias de comportamentos indisciplinares

Categorias Subcategorias

Desvios às regras da

comunicação verbal

Comportamentos de proposição (quando tencionam mudar a

situação da aula, tornando-a mais favorável ao que desejam),

de evitamento (quando pretendem subtrair-se à tarefa), de

obstrução (quando impedem o professor de lecionar a matéria) e

de imposição (quando querem impor outro ritmo à aula).

Desvios às regras da

comunicação não-verbal

Riso e o sorriso, o olhar, os gestos e movimentos, as posturas

incorretas, o aspeto exterior e a apresentação.

Movimentos

perturbadores

Deslocações não autorizadas e brincadeiras.

Desvios ao cumprimento

da tarefa

Atividades fora da tarefa (prevista pelo professor), falta de

material, falta de pontualidade e falta de assiduidade.

No que concerne à perturbação das relações entre pares, é de realçar

os chamados jogos rudes e violentos que, por vezes, mesmo sendo

brincadeiras (e.g. simulação de lutas) podem dar azo ao surgimento de uma

situação de agressor e vítima (Amado & Freire, 2002). Outro fenómeno é o

79

bullying, ou os maus-tratos entre iguais (termos usados pelos autores), em que

o agressor gera uma vítima, causando intencionalmente e de forma contínua

sofrimento no colega, atingindo-o física ou verbalmente, mesmo que

indiretamente, excluindo-o e espalhando rumores pejorativos a seu respeito.

Os problemas da relação professor-aluno, assinalados por Amado e

Freire (2002), referem-se a um número limitado de alunos. Neste ponto, os

autores incluem todos os comportamentos que, para além de colocarem em

causa as condições de trabalho e as regras que as definem, colocam em causa

a dignidade do professor como profissional e como pessoa. Segundo Amado e

Freire (2009), os fatores de risco da problemática relacional podem ser de uma

variada ordem: individuais, familiares, sociais e pedagógicos.

O primeiro grupo de fatores podem, segundo os autores, afetar a relação

na escola pelas caraterísticas do próprio aluno, podendo revelar distúrbios de

comportamento, desinteresse, autoconceito negativo, dificuldades de

aprendizagem e, consequente, insucesso escolar, ou ainda ter um projeto de

vida onde a escolarização assume pouco espaço. O segundo grupo de fatores

descritos prendem-se com as vivências familiares, com a atmosfera familiar e o

estilo parental que marcam as interações na família. O ambiente familiar é o

vetor de socialização primária da criança e possibilita o surgimento de

problemas comportamentais e cognitivos quando há disfuncionamento familiar

(Marujo, cit. por Amado & Freire, 2009). O terceiro tipo de fatores apresentados

por Amado e Freire (2009), dizem respeito aos alunos considerados vítimas de

problemas sociais, por pertenceram a famílias onde se vivem situações sociais

e económicas difíceis. O quarto fator apontado demonstra que o ambiente da

sala de aula é preenchido por atividades cuja execução depende de

interpretações subjetivas, tanto por parte do professor como dos vários alunos,

mediante as vivências, crenças e expetativas de cada um (Amado & Freire,

2009).

Também Alves (2002) ressalta que o aluno não pode ser o único

culpado pelo acontecimento da indisciplina, pois as questões sociais referentes

à família, à instituição escolar, à política, à religiosidade ou a qualquer outro

âmbito social também são fatores que contribuem para a ocorrência da mesma.

Alves (2002) considera que, se as propostas curriculares estabelecidas, a

metodologia utilizada e a postura adotada pelo professor forem inadequadas ao

80

contexto em que se insere, a possibilidade de surgir o comportamento

indisciplinado será maior. Os problemas de indisciplina na escola são comuns

em todas as áreas e disciplinas que constituem o currículo de escolar (Ishee,

2004), chegando a produzir graves consequências no processo de ensino-

aprendizagem do aluno, limitando ainda o seu tempo de aprendizagem

(Fernández- Balboa, 1991). Neste campo, Siedentop (1983) diz-nos que, a

disciplina é menos problemática quando as atividades são bem escolhidas e

pensadas.

Dentro da mesma linha de pensamentos, autores como, Emmer (1980),

Sanford e Evertson (1981) referem que, os professores mais eficazes no

controlo e organização das suas aulas, são também os mais claros na

explicitação da informação/instrução, esclarecendo imediatamente quais as

atitudes que devem estar presentes dentro da sala de aula. De facto, o estilo

interativo do professor, o discurso que usa e a forma como articula e estrutura

o diálogo marcam grande parte da PP e influenciam claramente os resultados

da aprendizagem, assumindo a comunicação verbal bastante importância,

independentemente da estratégia de ensino adotada (Loureiro, 2000).

Na realidade, apesar de todos os professores experimentarem o desafio

de controlar os comportamentos inadequados dos alunos, os professores de

EF enfrentam, muitas vezes, desafios ainda maiores, dado o número elevado

de alunos em cada turma e a integração de alunos em “situação de risco” ou

com deficiências (Lavay et al. 2007; Loovis 2005; Sherrill 2004). Também os

espaços onde são lecionadas as aulas são de certa forma favoráveis a este

tipo de comportamentos inadequados, uma vez que são maioritariamente

espaços abertos e sujeitos a condicionantes externas.

Por esta razão, durante as aulas de EF são inúmeros os

comportamentos desviantes existentes. De facto, num estudo realizado por

Oliveira e Graça (2013), sobre os procedimentos dos professores relativamente

aos comportamentos de indisciplina dos alunos na aula de EF, no conjunto de

96 aulas observadas registaram-se 9747 comportamentos de indisciplina dos

alunos, o que corresponde, em média, a uma taxa acima de dois

comportamentos de indisciplina por cada minuto de aula. Estes dados

permitem constatar que os comportamentos de indisciplina têm grande

afluência nas aulas de EF.

81

Centrando-me nos professores de EF, novos na profissão, estes têm

muitas vezes dificuldades em projetar um ambiente que melhore a

aprendizagem dos alunos e promova a autorregulação e a cooperação com os

outros, contribuindo positivamente para a comunidade escolar (Lavay, French

& Henderson, 2006). Esta situação parece acontecer, porque nas faculdades,

normalmente, são desenvolvidos conhecimentos e habilidades baseadas em

princípios científicos e nem sempre os estudantes desenvolvem a capacidade

de gerenciar os comportamentos dos alunos problemáticos, que só a prática

lhes ensina (Charles & Senter 2005; Haydn 2007; Lavay, French & Henderson,

2007; Rink, 2009; Siedentop & Tannehill, 2000; Vogler & Bishop, 1990; Ward &

Barrett, 2002).

5.3.3. Objetivos

5.3.3.1. Objetivo Geral

Identificar e analisar como tem sido tratado o tema de indisciplina, em

alguns estudos recentemente publicados, procurando assim, encontrar

algumas respostas que vão ao encontro da minha prática pedagógica.

5.3.3.2. Objetivos Específicos

Identificar as principais causas que estão na origem de

comportamentos de indisciplina dos alunos na escola e em sala

de aula;

Compreender a influência do professor no controlo dos

comportamentos de indisciplina dos alunos nas aulas de EF;

Definir estratégias que me ajudem a manter a disciplina dos meus

alunos, ao longo da PP.

5.3.4. Metodologia

Uma revisão sistemática da literatura é um meio de identificar, avaliar e

interpretar a pesquisa relevante disponível de uma questão de pesquisa, tópico

de uma área ou fenómeno (Batista & Cunha, 2013). Assim, o presente estudo

82

procurou, através dos contributos dos estudos individuais, fornecer uma breve

visão da investigação acerca da indisciplina no âmbito da EF.

O primeiro passo efetuado foi a elaboração de uma ficha de pesquisa,

tendo como referência KOFINAS e SAUR-AMARAL2, cujo propósito foi

sistematizar os critérios de pesquisa da revisão sistemática a efetuar, a

equação e o âmbito da pesquisa, bem como definir os critérios de inclusão e

exclusão no decorrer da pesquisa (Quadro 2).

Quadro 2 - Ficha de pesquisa acerca da indisciplina

Conteúdo Explicação

Objetivo da pesquisa Identificar a tipologia de estudos empíricos realizados sobre a

indisciplina e os elementos associados à sua caraterização e

melhoria nas aulas de Educação Física.

Equação de pesquisa “Physical Education” AND “discipline” – EBSCO

“Educação Física” e “Indisciplina” – B-on

Âmbito da pesquisa A pesquisa será realizada na base de dados Education Source,

ERIC, SporDiscus with full text e Teacher Reference Center,

através da EBSCO, bem como na B-on, focada nos artigos

publicados nos últimos 10 anos (de 2005 a 2015), no campo de

procura Título.

Critérios de inclusão Somente serão considerados artigos empíricos publicados em

jornais com peer review (periódicos científicos), pelo facto

destes serem fontes de informação científica reconhecidas pela

comunidade académica.

Somente serão consideradas publicações em jornais ou revistas

no âmbito da Educação Física.

Critérios de exclusão Artigos sem “abstract” e sem texto integral.

Artigos publicados em livros, conferências, etc.

Artigos não relacionados com o tema em causa e de revisão de

literatura.

Artigos escritos em outra língua que não português, inglês e

espanhol.

Critérios de qualidade e

validade metodológica

A presente ficha de pesquisa será utilizada independentemente

por duas investigadoras. Caso estas cheguem a resultados

diferentes, os mesmos deverão ser identificados e explicados.

Os critérios de inclusão e exclusão serão aplicados com rigor.

Todos os passos da pesquisa serão registados e a aplicação

dos critérios justificada.

A ficha de pesquisa foi aplicada de forma independente por duas

investigadoras. Os estudos foram recolhidos de cinco bases de dados

eletrónicas. Para a base de dados da EBSCO (SPORTDiscus with full text,

2 Kofinas A, Saur-Amaral I. 25 years of knowledge creation processes in pharmaceutical contemporary

trends. Comport Organ Gest. 2008; 14:257-80.

83

ERIC, Education Source e Teacher Reference Center) foi utilizada a seguinte

equação de pesquisa, “Physical Education” AND “discipline”, no campo “Título”.

Quanto à base de dados da B-on foi utilizada a equação, “Educação Física” e

“Indisciplina”. A aplicação das equações predefinidas conduziu à identificação

de 32 referências para a primeira base de dados e de 12 referências para a

segunda base. Após o refinamento (Quadro 3), os resultados ficaram reduzidos

a 9 e 3 referências, respetivamente.

Quadro 3 - Critérios de refinamento da pesquisa

Limitadores

Texto completo

Data de publicação: 2005/01/01-2015/12/31 Tipos de fonte

Periódicos científicos Assunto: termos do Thesaurus

Physical education

Physical education teachers

Teachers

Physical education – study and teaching

Physical education teachers – training of Assunto

Research

Teaching methods

Training of

Attitudes

Secondary education

Elementary schools

Publicação

Physical education & sport pedagogy

Journal of teaching in physical education

Após leitura do texto integral, os artigos foram submetidos a critérios de

inclusão e de exclusão, excluindo-se 5 artigos, um por não possuir abstract e

os restantes por não estarem relacionados com o tema em causa. Foram ainda

eliminados dois artigos duplicados, resultantes das duas bases de dados.

Desta forma, o estudo de revisão sistemática incide sobre um total de 5 artigos.

Para a análise da informação utilizaram-se procedimentos de análise de

conteúdo, tendo as categorias sido estabelecidas a priori: a) título do estudo; b)

país, ano publicação e autor; c) objetivo do estudo e participantes; d)

instrumentos; e, por fim, e) principais resultados.

84

5.4. Resultados

Seguidamente é apresentado o quadro 4 com a sinopse de estudos relativos ao tema de indisciplina, tendo em conta as 5

categorias de análise: a) título do estudo; b) pais, ano publicação e autor; c) objetivo do estudo e participantes envolvidos; d)

instrumentos utilizados para a sua construção; e por fim, e) principais resultados obtidos.

Quadro 4 - Sinopse de estudos relativos ao tema de indisciplina

Título País/Autor/Ano Objetivo de Estudo/ Participantes Instrumento Principais resultados

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2005

Identificar, em alunos espanhóis da

disciplina de EF, possíveis relações

entre as suas orientações, o clima

motivacional, a auto-percepção física

e disciplinar, o sexo do professor e a

satisfação na prática de EF e desporto

fora do horário escolar.

565 alunos, com idades entre 12 e 16.

- Questionário

(Perception of

Success

Questionnaire;

Perception of

Motivational

Climate in Sport

Questionnaire-2);

- Inventário

(Disciplined-

Undisciplined

Behaviour

Inventory).

Os alunos que têm uma professora revelaram

um maior clima motivacional nas aulas,

disciplina e atratividade pelo seu corpo, melhor

competência desportiva e condição física e mais

autoconfiança, comparativamente aos alunos

que têm um professor.

Os alunos que sentem maior satisfação nas

aulas de EF revelaram maior clima motivacional,

mais orientação para a tarefa, disciplina e

atratividade pelo seu corpo, melhor competência

desportiva e condição física e mais

autoconfiança, comparativamente a alunos

menos satisfeitos.

Alunos que praticam desporto fora da escola

revelaram maior orientação para a tarefa e

atratividade pelo seu corpo, melhor competência

desportiva e condição física e mais

autoconfiança, comparativamente aos não

praticantes.

85

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Gim

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alin

do

2007

Comparar as diferenças entre os

diferentes grupos (sexo do aluno, tipo

de escola, interesse em Educação

Física e atividade desportiva fora do

horário escolar), com base no

comportamento do aluno

disciplinado/indisciplinado nas aulas

de Educação Física.

456 alunos com idade entre 14 e 16

anos, dos 3º e 4º anos do ESO

(ensino secundário obrigatório) da

Região de Múrcia (Espanha).

- Questionário RDS

(Reasons for

discipline Scale);

- Questionário

SSDS (Strategies

to Sustain

Discipline Scale).

Os estudantes do sexo feminino mostraram mais

razões para serem autodisciplinados do que os

estudantes do sexo masculino (não sentem tanta

necessidade de competir para serem bem

sucedidas nas aulas de EF, interessando-se por

atividades que envolvam a cooperação).

Alunos que gostam de EF e praticam desporto

fora da escola têm mais razões para serem

autodeterminados disciplinarmente (indivíduos

intrinsecamente motivados participam em

atividades para seu próprio bem, sendo

caracterizado por um bem-estar psicológico, que

irá levá-lo a experimentar sentimentos de prazer

e satisfação e, consequentemente, a fazer

desporto fora do horário escolar, interiorizando

as regras estabelecidas).

Relativamente ao tipo de escola foi observado

que os alunos de escolas particulares são mais

intrinsecamente motivados para serem

disciplinados do que alunos de escolas públicas

(apresentam mais razões para a

responsabilidade, motivação, interesse e

respeito pelos seus colegas).

86

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Espanha

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Guitérr

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Esth

er

López

2011

Conhecer as relações entre a

perceção dos alunos acerca das

estratégias implementadas pelos

professores, para manter a disciplina,

e as suas razões para serem

indisciplinados; Perceber qual das

variáveis oferecem maior capacidade

percetiva do comportamento dos

alunos nas aulas de Educação Física.

2189 alunos de 43 escolas diferentes

de ensino secundário e Bacharelato,

com idades entre os 13 e os 17 anos.

- Questionário

SSDS (Strategies

to Sustain

Discipline Scale);

- Inventário de

Condutas de

disciplina-

indisciplina em

Educação Física

(ICDIEF).

Os melhores preditores de disciplina são as

razões intrínsecas3 dos alunos e dos

professores, bem como o cuidado e a

responsabilidade dos alunos em serem

disciplinados; Por outro lado, os mais

importantes preditores de indisciplina são a

indiferença do professor e a falta de razões para

os estudantes serem disciplinados.

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2011

Testar um modelo motivacional,

analisando a relação entre a

motivação situacional e disposicional e

o autorretrato dos alunos sobre a

disciplina/indisciplina.

565 alunos do 2º ano do ensino

secundário, com idades entre 14 e 15.

- Questionários

(Perception of

Success

Questionnaire;

Perception of

Motivational

Climate in Sport

Questionnaire-2);

-Inventário de

comportamentos

(Disciplined-

Undisciplined

Behavior Inventory)

O clima motivacional percebido e a disposição

motivacional de um sujeito são variáveis que

podem ser tomadas em consideração para

prever a disciplina autorretratada pelos alunos.

Os rapazes apresentavam um retrato de

indisciplina superior às raparigas, uma vez que

apresentam objetivos diferentes em relação à

EF.

Quando o professor consegue criar um bom

clima motivacional e os alunos se envolvem nos

objetivos da tarefa a disciplina aumenta.

3 Razões intrínsecas: razões que levam as pessoas a realizar a atividade porque sentem prazer (Deci & Ryan, 1985).

87

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Gré

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Panagio

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Ioannou

2011

Comparar as diferenças entre os

diferentes grupos (sexo do aluno,

interesse em Educação Física e

atividade desportiva fora do horário

escolar), com base no comportamento

do aluno disciplinado/ indisciplinado

nas aulas de EF.

565 alunos do ensino secundário, com

idades entre os 15 e 16 anos.

- Questionário RDS

(Reasons for

discipline Scale);

- Questionário

SSDS (Strategies

to Sustain

Discipline Scale).

Os alunos de sexo feminino foram mais

disciplinados, comparativamente aos estudantes

de sexo oposto, entendendo melhor as razões

intrínsecas dos seus professores para manter a

disciplina. Nos alunos de sexo masculino foram

registadas razões de indiferença ou introjeção

dos seus professores.

Os estudantes que gostam de Educação Física

e praticam desporto tendem a ser mais

disciplinados e a compreenderem as razões

intrínsecas dos seus professores para a manter

a disciplina.

88

5.5. Discussão dos Resultados

Para apresentação e discussão dos resultados utilizou-se a síntese

narrativa, que se traduz num processo de compilação, sumarização e

explanação descritiva das principais caraterísticas dos estudos em forma de

narrativa (Batista & Cunha, 2013).

Assim, no que concerne à data de publicações dos artigos, nota-se que

o estudo da disciplina/indisciplina dos alunos nas aulas de EF, embora

escasso, é ainda uma contínua preocupação da investigação. Pois, como se

pode verificar pelas datas dos estudos, nesta breve pesquisa, foram

encontradas 3 investigações no ano 2011, uma no ano 2007 e outra no ano

2005. Já ao nível do local de realização das pesquisas, apenas foram

identificados dois países, Espanha e Grécia.

Relativamente aos instrumentos de investigação, os questionários são

os mais utilizados, seguidos dos inventários, não se verificando variabilidade

no tipo de questionário aplicado. Estes dados remetem para uma clara

predominância de estudos de natureza quantitativa.

Quanto ao grupo de participantes, foi possível perceber que todos os

estudos se centram nos alunos de ensino secundário, englobando alunos do

sexo feminino e masculino, com idades entre os 12 e os 17 anos. Aqui,

através da diferenciação entre sexos, alguns estudos (Murcia et al., 2007;

Bakirtzoglou & Ioannou, 2011; Murcia et al., 2011), evidenciam um

desequilíbrio entre o comportamento dos dois géneros, sendo os alunos de

sexo feminino quem revelam melhores níveis de disciplina. Na origem destas

diferenças, os autores referem que as mulheres não sentem tanta

necessidade de competir para serem bem-sucedidas nas aulas de EF,

interessando-se mais por atividades que envolvam a cooperação, que de

algum modo, influencia o aparecimento de comportamentos disciplinados.

Dando, agora, ênfase aos objetivos de estudo e principais resultados

verifica-se que no estudo de Murcia (2005), o foco foi identificar, em alunos

espanhóis da disciplina de EF, possíveis relações entre as suas orientações, o

clima motivacional, a auto-percepção física e disciplinar, o sexo do professor e

a satisfação na prática de EF, bem como no desporto fora do horário escolar.

O autor destacou que os alunos que têm uma professora, habitualmente,

89

revelam um maior clima motivacional nas aulas, mais disciplina e atratividade

pelo seu corpo, melhor competência desportiva e condição física e ainda mais

autoconfiança, comparativamente aos alunos que têm um professor. Estes

dados foram também evidentes quando os alunos sentiam maior satisfação

nas aulas de EF ou praticavam desporto fora do âmbito da escola,

comparativamente a alunos menos satisfeitos com a EF ou não praticantes,

respetivamente. Também os estudos de Murcia et al. (2007) e Bakirtzoglou e

Ioannou (2011), cujo objetivo era comparar as diferenças entre diferentes

grupos de participantes (sexo do aluno, tipo de escola, interesse em EF e

atividade desportiva fora do horário escolar), com base no comportamento do

aluno disciplinado/indisciplinado nas aulas de EF, evidenciaram diferenças

significativas entre os alunos que demostram interesse e gosto pela prática de

EF ou praticam desporto fora do contexto escolar. De facto, estes alunos

mostraram-se mais disciplinados e revelaram compreender melhor as razões

intrínsecas dos seus professores para a manter a disciplina.

Por sua vez, procurando ir além da simples comparação dos

comportamento de disciplina/indisciplina entre alunos de caraterísticas

distintas, Sanmartín e López (2011) preocuparam-se em conhecer as relações

entre a perceção dos alunos acerca das estratégias implementadas pelos

professores, para manter a disciplina, e as suas razões para serem

indisciplinados, procurando, simultaneamente, perceber qual das variáveis em

estudo oferecia maior capacidade percetiva do comportamento dos alunos nas

aulas de EF. Aqui, Sanmartín e López (2011) perceberam que os melhores

preditores de disciplina são as razões intrínsecas dos alunos e dos

professores, bem como o cuidado e a responsabilidade dos discentes em

serem disciplinados. Por outro lado, os autores reconheceram que os mais

importantes preditores de indisciplina são a indiferença do professor e a falta

de razões para os alunos serem disciplinados. Desta forma, podemos

considerar que a atitude do professor pode influenciar o comportamento do seu

aluno, corroborando com as ideias de Alves (2002), quando afirma que, se as

propostas curriculares estabelecidas, a metodologia utilizada e a postura

adotada pelo professor não forem adequadas ao contexto em que se insere,

existirá uma maior probabilidade de ocorrem comportamentos de indisciplina.

O facto de um professor ser assertivo e não tolerar comportamentos

90

indisciplinados, principalmente, numa fase inicial, para assegurar o controlo

disciplinar da turma, fazem dele um professor preocupado com o clima de aula

e, consequentemente, com o processo de ensino-aprendizagem. Assim, os

resultados deste processo parecem ser claramente influenciados pelo estilo

interativo do professor, uma vez que a sua postura e atitude preventiva, o seu

discurso e a forma como articula e estrutura o diálogo marcam grande parte da

prática pedagógica (Loureiro, 2000).

Neste contexto, também Murcia et al. (2011) conseguiu mostrar um

efeito direto entre climas motivacionais e os comportamentos de disciplina dos

alunos. Ou seja, o clima motivacional percebido e a disposição motivacional de

um sujeito são variáveis que podem ser tomadas em consideração para prever

a disciplina dos alunos. Podemos, assim, entender que quando o professor

consegue criar um bom clima motivacional e os alunos se envolvem nos

objetivos da tarefa o comportamento disciplinar aumenta. Com efeito, mais uma

vez, importa considerar que o professor tem uma forte influência no

comportamento disciplinar dos alunos. Pois, o facto da instrução do professor

ser clara, objetiva e com significado para o aluno, do clima da aula ser positivo

e as atividades serem adequadas aos alunos e aos seus interesses, faz com

que estes se envolvam no próprio processo de aprendizagem e, portanto,

sejam mais disciplinados.

Atendendo ao tipo de escola, se pública ou particular, o estudo de

Murcia et al. (2007) revelam que os alunos de escolas particulares são mais

intrinsecamente motivados para serem disciplinados do que alunos de escolas

públicas. Os alunos de escolas particulares percebem que seus professores

estão intrinsecamente motivados para manter a ordem e disciplina nas suas

aulas, preocupando-se com o comportamento dos seus alunos, uma vez que

se sentem responsáveis por essa condição. Pelo contrário, os alunos das

escolas públicas entendem que seus professores não se preocupam com a

componente disciplinar nas aulas, manifestando comportamentos disciplinados

motivados apenas por razões relacionadas com sentimentos de culpa e para

evitar eventuais represálias de fontes externas.

Neste trabalho ficou claro que, o professor tem um papel decisivo na

construção do clima de aula favorável ao comportamento disciplinar dos

alunos. De facto, também Kovar, Ermler, e Mehrhof (1992) relatam que os

91

professores e os alunos conseguem maiores benefícios, criando um ambiente

em que a maior parte do tempo de aula é dedicada ao ensino e aprendizagem

e não ao controlo disciplinar. Por esse motivo, é importante que os professores

não foquem o seu trabalho apenas no controlo disciplinar, mas que pensem em

estratégias que possam evitar um possível descontrolo disciplinar dos alunos.

A escolha dos exercícios, a sua duração, os seus objetivos e a divisão dos

grupos de trabalho são alguns dos pontos-chave que o professor deve ter em

conta durante o planeamento das aulas.

Assim, as minhas estratégias passaram por assumir uma atitude

preventiva, cuja preocupação se centrou na seleção e organização dos

exercícios, na organização dos grupos de trabalho e na minha atitude

interventiva.

Relativamente aos exercícios, sabendo que a turma tem alguns alunos

com tendência a comportamentos de indisciplina, procurei desde logo,

selecionar exercícios que para além de serem ajustados aos objetivos de

aprendizagem e desafiantes para os alunos, proporcionariam um tempo de

empenhamento motor elevado e sem inúmeras paragens. Deste modo,

procurei evitar a ocorrência de momentos favoráveis ao aparecimento de

comportamentos desviantes por parte dos alunos. Além disso, conseguir

manter a turma constantemente motivada para a realização das tarefas era

fundamental. Pois, tal como evidenciado pelo estudo de Murcia et al. (2011),

quando os alunos estão motivados para a prática, tendem a apresentar menos

comportamentos de indisciplina.

No que concerne à divisão dos grupos, preocupei-me em atender a três

variáveis: o sexo; o gosto pela EF e a prática de desporto fora do contexto

escolar, uma vez que, pelos dados evidenciados nos estudos (Murcia, 2005;

Murcia et al., 2007; Murcia et al., 2011), estas apresentaram uma relação direta

com os comportamentos de indisciplina. Partindo destas informações, optei por

utilizar uma divisão heterogenia na constituição de grupos de trabalho durante

as aulas como estratégia para precaver comportamentos indisciplinados. Ou

seja, procurei construir grupos em que privilegiava o maior número de alunos

do sexo feminino, alunos que gostavam de EF e alunos que praticavam

desporto fora do contexto escolar. Adicionalmente, optei por alterar alguns dos

meus comportamentos como professora, nomeadamente, não ignorar

92

situações de indisciplina, insistindo no respeito mútuo dentro da sala de aula e

demonstrando a minha preocupação e indignação com os seus

comportamentos. Paralelamente, procurei investir na preparação da minha

instrução, ao selecionar a informação que transmitia, e torná-la mais concisa e

clara, de modo a captar a atenção dos alunos, motivando-os e envolvendo-os

na tarefa.

5.6. Conclusão

A indisciplina foi e continuará a ser um dos grandes problemas dos

professores na escola, tendo em conta as caraterísticas e motivações dos

alunos, o contexto da escola e das aulas, o desempenho do professor, entre

outros possíveis preditores de indisciplina. Como podemos verificar as causas

destes comportamentos indisciplinares podem variar e, por isso, importa que o

professor preste atenção ao conjunto de preditores de indisciplina, antecipando

os problemas que possam emergir, ao longo das aulas de EF.

A presente revisão sistemática evidenciou, nitidamente, que alunos que

gostam de EF, praticam desporto fora do contexto escolar, são de escolas

particulares e do sexo feminino, tendem a ser mais disciplinados,

comparativamente aos alunos que não gostam de EF, não praticam desporto,

são de escolas públicas e do sexo masculino. Além disso, mostrou que o clima

de ensino-aprendizagem e o tipo (feminino ou masculino) de professor,

motivação e postura podem influenciar os comportamentos dos alunos.

Relativamente à influência do professor no controlo dos comportamentos

de indisciplina dos alunos, Sanmartín e López (2011) reconheceram que os

melhores preditores de disciplina são as razões intrínsecas dos alunos e dos

professores, bem como o cuidado e a responsabilidade dos discentes em

serem disciplinados. Por outro lado, os autores reconheceram que os mais

importantes preditores de indisciplina são a indiferença do professor e a falta

de razões para os alunos serem disciplinados. Partindo desta informação, é

importante reconhecer que o professor apresenta um papel importante no

controlo disciplinar da turma. Por esse motivo, é crucial que este adote

93

medidas que visem contrariar os preditores de indisciplina e reforce os

comportamentos preditores de disciplina.

Com o concluir do estudo, considero que a indisciplina é um tema muito

abrangente e que envolve muitas variáveis que podem predizer as suas

causas. Este foi claramente, um tema que me acompanhou, desde o início do

ano, e que marcou o meu percurso enquanto professora, sendo um dos

problemas mais difíceis de ultrapassar. Assim, o presente estudo revelou ser

fundamental para conseguisse perceber algumas das causas de indisciplina na

EF, conseguindo, posteriormente, contrariar esta tendência da minha turma

através da definição de estratégias.

5.7. Referências Bibliográficas

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6. Conclusões e

Perspetivas Futuras

97

6. Conclusões e Perspetivas Futuras

A realização do EP superou as minhas expetativas pela positiva, mas

confesso que também pela negativa. Pela positiva, principalmente, porque me

permitiu identificar com a profissão e conhecer o verdadeiro papel do professor

de EF. Na verdade, no início do ano, revia-me mais como estudante do que

como professora e essa noção fez com que sentisse bastantes dificuldades na

PP. Com o passar do tempo, fui-me sentindo mais à vontade com o papel que

desempenhava, aprendendo a reconhecer o meu valor enquanto professora.

Aliás, o facto de ser reconhecida por toda a comunidade escolar como

professora permitiu-me sentir que o meu trabalho era valorizado. Mas foi o

reconhecido conquistado junto dos meus alunos que mais marcou este meu

percurso formativo. Lembro-me das primeiras vezes em que os meus alunos

me chamaram “professora” e do orgulho que sentia nesses instantes. Também

os momentos de proximidade com os alunos, as conversas de incentivo, as

vitórias que iam sendo conquistadas por eles e os seus agradecimentos, foram

momentos que me mostraram o quão compensador é “ser professor” e foram

momentos que deixarão para sempre saudade. Já pela negativa,

principalmente, por me senti entristecida frente à atitude de alguns alunos em

relação à EF e à escola. Primeiro, porque são cada vez menos os alunos que

dão importância à nossa disciplina e, segundo, porque enquanto aluna nunca

tinha percebido a imensidão de maus comportamentos e de indisciplina por

parte dos alunos na escola. Na verdade, penso que a maioria da juventude

encontra-se cada vez mais pobre em valores e, simultaneamente, sem

objetivos em relação à escola.

Relativamente à minha atuação como docente, considero que teve um

balanço positivo, apesar do início controverso, com alguns altos e baixos.

Reconheço que nem sempre foi fácil desempenhar o papel de professor, no

entanto, nunca desisti e sempre procurei respostas e soluções para os meus

problemas. Neste conjunto de contrariedade, o meu maior desafio foi, de facto,

o controlo da turma. Efetivamente, desde o início do ano que a turma se

mostrou indisciplinada, obrigando-me a muita reflexão, muita análise das aulas

com os meus colegas de estágio e PC, muito estudo e muita pesquisa para

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encontrar estratégias que me ajudassem a superar estes problemas de

indisciplina. Inclusive, parte dessas estratégias acabaram por surgir do estudo

de investigação que realizei. Atualmente, terminando o EP, reconheço que este

problema não ficou totalmente resolvido, mas considero que as estratégias

implementadas apresentaram bons resultados e uma mudança significativa no

comportamento geral da turma. Mas, se me fosse dada uma nova

oportunidade, com as capacidades, competências e conhecimentos que

consegui adquirir, provavelmente iria repensar algumas decisões, sobretudo,

relativas ao controlo da turma e à imposição de regras desde o início do ano.

Em termos de aprendizagens, a maioria resultou da capacidade de

adaptar o conhecimento adquirido na formação, em anos anteriores, ao

contexto real da minha turma e escola. Estas centraram-se, principalmente, na

elaboração de UDs e planos de aula, seleção e ajuste dos exercícios, emissão

de feedback e definição de estratégias pedagógicas, principalmente,

estratégias preventivas.

Relativamente às minhas perspetivas futuras, atendendo ao contexto

atual do mercado de trabalho no ensino, estas não são muito animadoras. No

entanto, considero que o conhecimento adquirido e a experiência vivida serão

ferramentas muito úteis para trabalhar em qualquer outra área desportiva, pois

considero que estes são conhecimentos transversais a muitas áreas de

intervenção. Deste modo, voarei mais baixo, mas não deixarei de voar até

chegar onde sempre quis estar, na escola.

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