universidade do extremo sul catarinense − unesc unidade...

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE − UNESC UNIDADE ACADÊMICA DE HUMANIDADES, CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS MESTRADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS JAQUELINE CRISTIANE PANDINI A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CASO DA UNIDADE DE ENSINO LÍGIA CHAVES CABRAL NO MUNICÍPIO DE LAURO MÜLLER/SC Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Ambientais. Orientador: Prof. Dr. Nilzo Ivo Ladwig Coorientadora: Prof.ª Dra. Viviane Kraieski Assunção CRICIÚMA 2016

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE UNESC

UNIDADE ACADMICA DE HUMANIDADES, CINCIAS E

EDUCAO

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS

AMBIENTAIS

MESTRADO EM CINCIAS AMBIENTAIS

JAQUELINE CRISTIANE PANDINI

A PRTICA DA EDUCAO AMBIENTAL: CASO DA

UNIDADE DE ENSINO LGIA CHAVES CABRAL NO

MUNICPIO DE LAURO MLLER/SC

Dissertao apresentada ao

Programa de Ps-Graduao em

Cincias Ambientais da

Universidade do Extremo Sul

Catarinense UNESC, como

requisito parcial para obteno do

ttulo de Mestre em Cincias

Ambientais.

Orientador: Prof. Dr. Nilzo Ivo

Ladwig

Coorientadora: Prof. Dra. Viviane

Kraieski Assuno

CRICIMA

2016

JAQUELINE CRISTIANE PANDINI

A PRTICA DA EDUCAO AMBIENTAL: CASO DA

UNIDADE DE ENSINO LGIA CHAVES CABRAL NO

MUNICPIO DE LAURO MLLER/SC

Esta dissertao foi julgada e aprovada para obteno do Grau de Mestre

em Cincias Ambientais no Programa de Ps-Graduao em Cincias

Ambientais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, com Linha de

Pesquisa em Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento.

Cricima, 28 de outubro de 2016.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Nilzo Ivo Ladwig - Doutor - (UNESC) - Orientador

Prof. Ftima Elizabeti Marcomin - Doutora - (UNISUL)

Prof. Geraldo Milioli - Doutor - (UNESC)

Dedico este trabalho s duas

mulheres que compreenderam

meus esforos durante toda a

trajetria: Juclia de Oliveira

Pandini (me) e Maria Laura

Filastro (filha).

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeo a Deus, aquele que construiu este

universo maravilhoso e muito me orienta na sua energia suprema.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Nilzo Ivo Ladwig, e minha

coorientadora, Prof. Dra. Viviane Kraieski Assuno, pelas ideias e

sugestes, pelo estmulo e pela pacincia no decorrer do curso e da

realizao desta pesquisa.

Aos professores e funcionrios do Programa de Ps-Graduao

em Cincias Ambientais da Universidade do Extremo Sul Catarinense

(UNESC), que cumpriram com profissionalismo e competncia suas

funes, ensinando e atendendo com muito respeito e cordialidade todos

os alunos do programa.

UNESC, por possibilitar a realizao desse Mestrado.

Secretaria de Educao do municpio de Lauro Mller, pelas

orientaes e documentos cedidos para a realizao desta pesquisa.

A todos os funcionrios da Escola Municipal Lgia Chaves

Cabral, especialmente direo, que permitiu a realizao da pesquisa,

aos professores e aos alunos do 6 ano do ensino fundamental, anos

finais, pois contriburam diretamente para a pesquisa.

Aos meus familiares, que compreenderam de forma calorosa e

afetuosa minha ausncia nos momentos em que estava em funo do

curso, em especial ao meu irmo Jeison Cleiton Pandini, que

compartilhou comigo todas as minhas aflies ao longo da pesquisa,

contribuindo com sugestes.

A todos que, de alguma forma, contriburam para a realizao

desta pesquisa.

Educao no transforma o

mundo.

Educao muda pessoas.

Pessoas transformam o mundo.

(Paulo Freire)

RESUMO

O futuro de nosso planeta depende de nossas aes, as quais perpassam

pela tica, pela sensibilizao e, por fim, pela conscincia. Nesse

sentido, discutir conceitos como conscientizao ou sensibilizao para

que sejam internalizados e disseminados por meio da Educao

Ambiental (EA), com aes pedaggicas inovadoras, poder construir

uma sociedade que valorize e respeite o meio ambiente em que se vive.

A Educao Ambiental se refere a processos por meio dos quais as

pessoas ou a sociedade desenvolvem valores sociais, conhecimentos e

atitudes. Deve ser contnua, praticada por todas as disciplinas, por todos

os professores e por toda a comunidade escolar. Desse modo, esperam-

se mudanas de comportamento ocorridas por meio de prticas sociais

ambientalmente responsveis, destinadas discusso sobre o meio

ambiente, as quais so importantes para a qualidade de vida. A pesquisa

se caracteriza como um estudo de caso e teve como objetivos investigar

a incluso de aes de Educao Ambiental desenvolvidas no 6 ano do

ensino fundamental, anos finais, da unidade de ensino Lgia Chaves

Cabral, situada no municpio de Lauro Mller, SC, e analisar o livro

didtico utilizado por aquela turma, o qual foi distribudo pela Secretaria

Municipal de Educao. Para atingir os objetivos, foram utilizadas as

seguintes metodologias: entrevistas escritas, grupo focal com as

professoras e anlise de contedo do livro didtico. Os resultados

mostraram que os educadores no demonstram em sua prtica

pedaggica o significado da EA, seus princpios e sua importncia para

a formao socioambiental. O material didtico analisado apresentou

nmeros significativos em relao quantidade de ocorrncias de

contedo de EA. Com a pesquisa, pde-se constatar a necessidade de

cursos de aperfeioamento para os profissionais da educao e

investimentos em projetos, alm de aperfeioamento do potencial do

material didtico utilizado, os quais so elementos importantes para a

construo de uma EA de qualidade.

Palavras-chave: Ensino. Pedagogia. Didtica. Educao Ambiental.

ABSTRACT

The future of our planet depends on our actions that pass through ethics,

by sensitization and ultimately the awareness. In this sense, discussing

concepts such as: awareness or sensitization to be internalized and

disseminated through Environmental Education with innovative

pedagogical actions, will can build a society that values and respects the

environment in which he lives. The environmental education refers to

processes where people or society develops social values, knowledge

and attitudes. It must be continuous, practiced by all disciplines,

teachers and the entire school community, where it is expected

behavioral changes through environmentally responsible social

practices, it intend to the discussion of the environmental to quality of

life. The research is a case study, whose objectives were to investigate

the inclusion of Environmental Education (EA) actions developed in the

teaching unit: Lgia Chaves Cabral, in the 6th year of primary education,

in the city of Lauro Mller/SC, and analyze the schoolbook distributed

by the Education Department. To reach the objectives, several

methodologies were carried out: written interviews, focus group with

the teachers and with the schoolbook was used the analysis of content.

The results showed that educators do not demonstrate in their

pedagogical practice the meaning of environmental education, its

principles and its importance for the environment social formation. The

analyzed didactic material showed significant numbers in relation

quantity of occurrences of environmental education content. With the

research it can be noticed the need for improvement courses for

education professionals and investments in projects, beside to the

potential of the didatic material used, important elements for the

construction of a quality environmental education.

Keywords: Education. Pedagogy. Didactics. Environmental Education.

LISTA DE ILUSTRAES

Figura 1 - Localizao do municpio de Lauro Mller ......................... 52 Figura 2 Fachada e ptio da Escola Municipal Lgia Chaves Cabral . 56 Figura 3 Gincana: Dia das Crianas 2014 ....................................... 67 Figura 4 Atividades isoladas usando material reciclvel.................... 68

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1 - Presena e presena potencial de contedo de EA nos textos

complementares do material didtico .................................................... 77 Grfico 2 Representao da presena e da presena potencial de

Educao Ambiental nos exerccios do material didtico ..................... 78

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Histrico de nomenclaturas da unidade escolar ................. 55 Quadro 2 Perfil dos pesquisados ........................................................ 61

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Tabulao de dados EA no material didtico ................... 74

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CMMAD Comisso Mundial para o Meio Ambiente e

Desenvolvimento

COMDEMA Conselho Municipal de Defesa do Meio

Ambiente

DEA/MMA Diretoria de Educao Ambiental do

Ministrio do Meio Ambiente

EA Educao Ambiental

EVA Etil Vinil Acetato

GERED Gerncia Regional de Educao

LD Livro Didtico

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao

Nacional

LDs Livros Didticos

ONGs Organizaes No Governamentais

ONU Organizao das Naes Unidas

PCN Parmetros Curriculares Nacionais

PIB Produto Interno Bruto

PPP Projeto Poltico Pedaggico

ProFEA Programa Nacional de Formao de

Educadoras(es) Ambientais

PROHEP Projeto Horta Escolar Palhoa

UNESCO Organizao das Naes Unidas para a

Educao, a Cincia e a Cultura

SUMRIO

1 INTRODUO ................................................................................ 27 1.1 OBJETIVOS ................................................................................... 31 1.1.1 Objetivo geral ............................................................................. 31 1.1.2 Objetivos especficos .................................................................. 31 2 REFERENCIAL TERICO ........................................................... 33 2.1 A PERCEPO DA CRISE AMBIENTAL .................................. 33 2.2 HISTRICO DO SURGIMENTO DA EDUCAO AMBIENTAL

............................................................................................................... 35 2.2.1 A educao ambiental e a legislao brasileira ........................ 38 2.3 PRINCPIOS DA EDUCAO AMBIENTAL ............................. 45 2.4 EDUCAO AMBIENTAL: ALGUMAS ABORDAGENS E

REFLEXES ........................................................................................ 47 2.5 O LIVRO DIDTICO COMO UM DOS VECULOS DE

PROMOO DA EA ........................................................................... 48 3 METODOLOGIA ............................................................................ 51 3.1 CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO ........................... 51 3.1.1 Apresentao histrica e socioeconmica do municpio de

Lauro Mller ....................................................................................... 51 3.1.2 A educao no municpio de Lauro Mller .............................. 54 3.1.3 Caracterizao da unidade escolar pesquisada ....................... 54 3.2 PERCUSO DA PESQUISA ............................................................ 56 4 ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS ......................... 61 4.1 PERFIL DOS PROFESSORES PESQUISADOS ........................... 61 4.2 AES PEDAGGICAS VOLTADAS EDUCAO

AMBIENTAL ....................................................................................... 62 4.3 O MATERIAL DIDTICO E A PRESENA DA EDUCAO

AMBIENTAL ....................................................................................... 72 4.4 EDUCAO AMBIENTAL: CONHECIMENTO, PRESENA E

AES .................................................................................................. 79 5 CONSIDERAES FINAIS .......................................................... 83 REFERNCIAS .................................................................................. 85 APNDICES ........................................................................................ 93 APNDICE A - QUESTIONRIO SOBRE A EDUCAO

AMBIENTAL NO ENSINO REGULAR .......................................... 94 APNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA ............................... 95 APNDICE C - ANLISE DO LIVRO DIDTICO EM

RELAO EDUCAO AMBIENTAL ..................................... 96

27

1 INTRODUO

A humanidade vivencia vrios problemas, que esto presentes no

cotidiano e decorrem, principalmente, da ao antrpica, os quais podem

ser classificados como sendo de nvel econmico, social e ambiental.

Alm disso, tambm existem muitos desafios para solucion-los. A

busca pelo desenvolvimento cientfico, tecnolgico e, sobretudo,

econmico foi e ainda sinnimo da degradao ambiental, identificada

em diferentes ambientes, em diferentes partes de nosso planeta

(MORIN; KERN, 1995).

Segundo Boff (2009), os indicadores so alarmantes: 2030-2034

o prazo limite para o comeo dos problemas de ordem ambiental

atingir a Terra. Isso deixa transparecer a necessidade real de mudana,

de transformao das aes realizadas sobre o meio ambiente, que os

seres humanos esto percebendo, pois tais problemas, na verdade, j

comearam a aparecer, em decorrncia dos modos de produo e de

consumo das sociedades contemporneas (MEADOWS, 1973).

Os problemas ambientais se tornaram mais intensos quando a

humanidade, visando alcanar seus objetivos, passou a extrair da

natureza recursos naturais necessrios ao chamado desenvolvimento

econmico. O homem olha para o meio ambiente e enxerga seus

interesses, visto que no se considera parte integrante desse meio. Para

ele, a natureza um cofre repleto de riquezas que devem ser

preservadas para futuras exploraes (AVELINE, 1999).

Esse consumo desenfreado que o mundo vem praticando parte da

ideia de necessidade. Hoje, o que se tem como essencial vida

imposto, colocado, sem que a maioria das pessoas se d conta, por

meio da moda, das propagandas, das promoes ou dos credirios

facilitados. Assim, envolvida por essas condies, a humanidade

levada prtica do consumo exagerado, ou seja, ao consumismo. Nesse

contexto, as necessidades se revelam, atualmente, como no to reais,

mas as indstrias as criam, produzem e querem vend-las cada vez mais.

o ambiente capitalista impondo suas regras. Os seres humanos esto

sustentando um modelo econmico que insere necessidades, cujo

consumo desmedido vem causando inmeros transtornos de ordem

ambiental (CORTEZ; ORTIGOZA, 2007).

Um dos maiores problemas em relao a essa temtica est na

dissociao que se faz em relao ao meio ambiente, pois o ser humano

separa a natureza da sociedade, como se esta no fosse natural, no fosse

parte integrante do meio, mas sim algo superior e isolado do mundo.

Dessa maneira, a humanidade tem explorado os recursos naturais de

28

forma acelerada para manter o padro de consumo atual, considerando a

natureza uma fonte inesgotvel de recursos (AVELINE, 1999).

Os problemas ambientais tm consequncias sociais, visto a

existncia de uma relao estreita entre a natureza e a humanidade.

Alm disso, tm ligao com a esfera econmica, pois a busca pelo

desenvolvimento cientfico e tecnolgico e pelo crescimento econmico

valoriza o capital. Assim, percebe-se uma inverso de valores e que a

situao se torna cada vez mais insustentvel (CAPRA, 2002).

O futuro de nosso planeta depende de nossas aes, que

perpassam pela tica e pela sensibilizao da importncia de um

ambiente equilibrado. A mudana tem que partir das pessoas de dentro

para fora. O ser humano tem que se perceber como parte deste ambiente,

tem que construir um olhar diferente sobre a natureza, reconstruindo

seus valores (MORIN, 2002). Segundo a Comisso Mundial sobre o

Meio Ambiente e Desenvolvimento (1988), o desenvolvimento

sustentvel seria o caminho mais adequado para provocar mudanas

situao ambiental atual. Por outro lado, h tambm autores que

discutem o conceito de sustentabilidade. Conforme destaca Capra

(1996), a sustentabilidade realmente fundamental, mas o grande

desafio est em tornar as sociedades sustentveis, satisfazer

necessidades e aspiraes, sem minimizar as oportunidades das

prximas geraes. Morin e Kern (1995) destaca que a crise de

percepo. De acordo com este autor, o homem , ao mesmo tempo, um

ser biolgico e social e precisa se compreender como integrante de um

sistema complexo.

Para o enfrentamento da crise ambiental posta no mundo atual,

faz-se necessria a prtica da Educao Ambiental (EA), que nasceu do

anseio por um mundo melhor, visando a uma sociedade que, por meio

de atitudes individuais e coletivas, sanasse os problemas atuais. A Lei

Federal n 9.795, de 27 de abril de 1999, em seu artigo 1, destaca:

Entende-se por educao ambiental os processos

por meio dos quais o indivduo e a coletividade

constroem valores sociais, conhecimentos,

habilidades, atitudes e competncias voltadas para

a conversao do meio ambiente, bem de uso

comum do povo, essencial sadia qualidade de

vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

Quando ressaltamos a importncia da EA, estamos nos referindo

a mudanas de comportamento, as quais ocorrem por meio da utilizao

29

de prticas educativas e sociais, que englobam tanto a educao

institucional quanto a informal. No entanto, pensando na instituio

escola, devemos ter em mente que a EA no um tipo especial de

educao, mas sim um processo contnuo, que deve ser abordado por

todas as disciplinas, por todos os professores e por toda a comunidade

escolar. Sendo assim, esperam-se mudanas de comportamento,

ocorridas por meio de prticas sociais ambientalmente responsveis, que

se amparam na compreenso das relaes existentes entre a natureza e

os seres humanos (BRASIL, 1999).

Em nvel mundial, a EA surgiu na Conferncia das Naes

Unidas, realizada em Estocolmo, no ano de 1972, quando se tratou sobre

o meio ambiente e mencionou-se a necessidade de inclui-la em todos os

nveis de ensino. Em 1975, em Belgrado, capital da Srvia, foi

promovido o Seminrio Internacional sobre a Educao Ambiental, no

qual foram definidas as suas metas e os seus objetivos, concluindo-se

que, alm de ser interdisciplinar, a EA tambm deveria ser contnua. As

reunies no pararam, por isso, em 1976, em Chosica, no Peru, e em

Bogot, na Colmbia, a EA, em relao Amrica Latina, foi mais uma

vez discutida. Em 1977, a Organizao das Naes Unidas (ONU), por

meio da Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a

Cultura (UNESCO), organizou a I Conferncia Intergovernamental, em

Tbilisi, Gergia, que se tornou um referencial para a EA, pois os

conceitos, as diretrizes e os procedimentos necessrios para a sua prtica

foram traados de forma sistemtica, com uma abrangncia mundial

(LIMA, 1984).

O Relatrio Brundtland motivou a Rio-92 (Conferncia das

Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento), realizada

no Rio de Janeiro, que contou com a participao de 180 chefes de

Estado (GRN, 1996). A conferncia discutiu a necessidade do

desenvolvimento sustentvel e reforou a importncia da EA para a

mudana (REIGOTA, 1996). Desse evento resultaram documentos

importantes, como a Carta da Terra e a Agenda 21 (BARBIERI,

2003; LOURES, 2009). J a segunda Conferncia das Naes Unidas

sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, tambm conhecida como

Rio+20, registrou um saldo negativo, pois no produziu um avano

considervel em relao a Rio-92, no que diz respeito sustentabilidade

(GUIMARES; FONTOURA, 2012).

A EA pode reverter o colapso para o qual a humanidade est se

encaminhando, mas, para que isso ocorra, necessrio o engajamento de

diversos atores sociais no processo, sendo um deles a educao formal.

30

por meio da escola que a EA pode ser disseminada, colocada em

prtica e absorvida (GUIMARES, 2000).

A EA est garantida na educao formal, por meio da Lei, nos

nveis federal, estadual e municipal, sendo destacada a sua importncia e

que a mesma deve ser praticada por todas as disciplinas e nas diferentes

modalidades de ensino. Dessa forma, fundamental que as escolas

incluam a EA como tema transversal, j que a Lei Federal no 9.795/99,

em seu artigo 10, inciso I, salienta que a EA no pode ser uma

disciplina especfica, mas sim um tema que deve permear toda a prtica

educativa. Ela deve ser contemplada nos mais diversos componentes

curriculares, uma vez que elemento imprescindvel para a

transformao da conscincia ambiental. Outro detalhe, e no menos

importante, o comprometimento do Estado com a formao dos

profissionais em educao, no que diz respeito EA, promovendo a

atualizao dos professores (BRASIL, 1999).

A Lei Estadual n 13.558, de 17 de novembro de 2005, que

regulamenta a EA, vem reforar a Lei Federal no 9.795/99, ressaltando

as obrigaes em nvel estadual. Seu diferencial est no artigo 2,

pargrafo nico, que trata sobre a responsabilidade ambiental, afirmando

no ser esta voltada apenas ao poder pblico ou escola, como tambm

famlia, comunidade e aos movimentos sociais, para que possam

contribuir na formao da cidadania. A lei bem clara, especialmente

quando ressalta a capacitao, salientando que dever estadual garantir

cursos de aperfeioamento ao campo docente e administrativo e

comunidade (SANTA CATARINA, 2005).

Existe tambm a Lei Municipal n 1.507/2008, que garante a EA

por meio da rede municipal de ensino, em todas as reas do

conhecimento e durante o ano letivo, cumprindo o currculo escolar

(LAURO MLLER, 2008).

Para o desenvolvimento da EA, tambm essencial que os

professores deixem de lado atitudes tradicionais e passem a exercer uma

prtica mais dinmica, que promova a interdisciplinaridade e que

instigue os educandos a terem uma viso crtica sobre os problemas de

ordem socioambiental. A abordagem de Paulo Freire pode ser um bom

caminho para a efetivao da EA, pois, como ele mesmo destacou

(1996), a prtica pedaggica sempre parte da realidade dos educandos,

ou seja, o conhecimento produzido a partir da anlise e da

interpretao da realidade vivenciada.

Marpica e Logarezzi (2010) trazem diversos estudiosos

Carvalho (2004); Guimares (2004); Loureiro, (2006); Sorrentino et al.

(2005); Tozoni-Reis (2004) para sustentar que o livro didtico um

31

dos veculos importantes para auxiliar a insero da EA no ambiente

escolar. No entanto, esse veculo no deve ser o nico instrumento, visto

que ele a porta de entrada para o conhecimento, ou seja, o professor

tambm responsvel por indicar os caminhos a serem seguidos para

que se alcance esse objetivo (MARPICA; LOGAREZZI, 2010).

O estudo proposto visa investigar aes de EA realizadas no 6

ano do ensino fundamental, anos finais, da Escola Municipal Lgia

Chaves Cabral, que faz parte da rede municipal de ensino do municpio

de Lauro Mller, SC.

A escolha da escola e da turma se deu, primeiramente, por se

tratar do local de atuao da pesquisadora. Foi selecionada apenas essa

turma pelo fato de um dos objetivos da pesquisa ter sido trabalhar com

todas as disciplinas ministradas, atendendo ao cumprimento da

interdisciplinaridade exigida pela EA, que consta nas leis federal,

estadual e municipal, e por ela ser a nica a utilizar o material didtico,

ou seja, a apostila oferecida pelo governo municipal de Lauro Mller no

ano de 2014, quando esta pesquisa teve incio. As demais turmas,

naquele ano, utilizavam o livro didtico oferecido pelo governo federal,

sendo que a substituio dos livros didticos pela apostila adotada pelo

municpio aconteceu de forma gradativa nos anos seguintes.

A preocupao do presente estudo est relacionada insero da

EA na referida unidade escolar, com foco no material didtico e na sua

utilizao pelos professores. Buscou-se investigar se as prticas

pedaggicas se pautavam nas legislaes vigentes e se contemplavam a

interdisciplinaridade.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo geral

Analisar a incluso e as aes de Educao Ambiental

desenvolvidas no 6 ano do ensino fundamental, anos finais, da unidade

de ensino Lgia Chaves Cabral, situada no municpio de Lauro Mller,

SC.

1.1.2 Objetivos especficos

Identificar a insero da EA realizada pelos professores da escola,

por meio de suas aes pedaggicas;

32

Analisar o material didtico distribudo pela prefeitura municipal,

no que diz respeito ao contedo que versa sobre a EA no 6 ano dos

anos finais do ensino fundamental;

Propor aes pedaggicas de EA dentro do ensino regular formal,

visando atender interdisciplinaridade que ela necessita.

33

2 REFERENCIAL TERICO

2.1 A PERCEPO DA CRISE AMBIENTAL

Muitos autores, como Boff, Leff, Capra e Morin, apontam seus

discursos quanto crise planetria para os problemas ambientais,

especialmente para as suas consequncias, as quais afetam a

humanidade. Morin e Kern (1995) destaca que a crise planetria

vivenciada atualmente pela humanidade resultado das inmeras aes

provocadas pelos seres humanos ao longo da histria. Assim, a crise

instalada se reflete sobre os mais diversos ngulos e pode destacar a

economia, o social e o ambiental.

Um dos conceitos mais importantes em funo da crise o mito

do desenvolvimento, como destaca Morin e Kern (1995), no qual tudo

poderia ser sacrificado para o alcance desse objetivo, aumentando as

desigualdades sociais. No entanto, o autor salienta que o sistema

capitalista, em especial o acmulo de riquezas econmicas, a

explicao para a agonia planetria, pois a natureza se tornou uma

mercadoria.

Reigota (1996) discute que a produo do sistema capitalista

sustentada pelo consumo excessivo de artigos, muitas vezes

desnecessrio para a qualidade de vida das pessoas, o qual motivado

por diversos fatores, como a propaganda, fazendo com que ele seja

importante para que se mantenha a integridade do sujeito.

A degradao ambiental causa inmeros problemas, como a

gerao de resduos que precisam ser tratados adequadamente, pois

podero causar inmeros problemas de ordem ambiental, como a

poluio das guas, do solo e do ar , cujas consequncias refletem

diretamente na sociedade. Outra questo forte o aquecimento global,

que mais uma das ameaas aos seres humanos, tendo em vista que essa

mudana climtica provocar vrios desastres, como, por exemplo, a

inundao das costas martimas onde vivem 60% da populao mundial,

o que causaria a gerao de milhes de emigrados e de vtimas (BOFF,

2009).

O equilbrio ambiental um desafio para a humanidade, pois

dados mostram que o planeta est em crise. Outro exemplo se refere

gua potvel, que um recurso considerado escasso, uma vez que h

apenas 0,7% de gua doce acessvel no mundo. Como consequncia,

espera-se o desencadeamento de guerras para que se garanta o acesso a

esse bem comum. Nesse sentido, importante destacar a participao

34

dos brasileiros nesse processo, pois 12% de toda a gua potvel do

planeta esto em territrio nacional (BOFF, 2009).

De acordo com Boff (2002), o planeta Terra vem enfrentando

vrios problemas de ordem ambiental. Consequentemente, o homem

tambm passa por esses problemas, visto que parte integrante desse

sistema complexo. Todavia, os prprios seres humanos, ao longo de

vrias geraes, prepararam o princpio da autodestruio, por meio da

explorao desenfreada dos recursos naturais, da degradao ambiental

sem limites e da ganncia desmedida.

Para Leff (2010), boa parte da humanidade parece no perceber

as atuais condies do planeta ou as possveis mudanas do futuro,

aparentando estar estagnada diante das situaes ambientais de seu

cotidiano, pois pratica aes que acabam por contribuir com a crise

ambiental.

Para Capra (1996), necessria uma real mudana de percepo,

de paradigma, destacando-se que muitas verdades consideradas

absolutas podero ser desconstrudas. Somente dessa maneira que se

construir uma nova realidade, alm de novas formas de pensar.

O novo paradigma, para este autor (1996), pode ser denominado

viso holstica, ou, ainda, ecolgica, em que h o reconhecimento do

mundo como um todo interligado, onde todos os indivduos e a

sociedade esto encaixados aos processos da natureza. Essa prtica

denominada ecologia profunda. importante destacar que existe a

ecologia rasa, ou seja, antropocntrica, na qual o homem est acima ou

fora da natureza.

Para Boff (2002), a crise tambm pode se revelar como um ponto

positivo, no sentido de provocar o incio da mudana. O autor destaca

que a origem da palavra crise tem ligao com a purificao, com a

limpeza e o desembaraar das coisas. Portanto, quando o ambienta se

torna invivel, a transformao poder iniciar ou o fim de um sistema se

aproximar, ou seja, a crise tanto pode ser o ponto final quanto o ponto

de partida.

O exerccio da EA reivindica e prepara as pessoas para que

exijam justia social, exercitem a cidadania at mesmo em nvel

planetrio , desenvolvam a autogesto e pratiquem a tica. Reigota

(1996) defende que a EA no pode resolver sozinha os problemas

planetrios, mas pode interferir no processo quando estimula os

indivduos a serem conscientes de seus direitos e, sobretudo, de seus

deveres cada ser fazendo a sua parte e se unindo para resolver os

problemas planetrios.

35

2.2 HISTRICO DO SURGIMENTO DA EDUCAO AMBIENTAL

O ano de 1962 foi importante para EA, pois foi quando a autora

Rachel Carson escreveu o livro Primavera Silenciosa e fomentou as

discusses sobre os problemas ambientais, como a perda da qualidade

de vida e a queda da qualidade ambiental (SILVA; PESSOA, 2009).

No ano de 1965, educadores se reuniram na Conferncia de

Keele, realizada na Gr-Bretanha, e concordaram que as questes

ambientais deveriam ser abordadas pelo setor educacional, no sendo

uma soluo imediatista, mas sim permanente (DIAS, 1991).

Em 1969, na Gr-Bretanha, foi fundada a Sociedade de EA para

tratar do tema ecologia, da qual participaram artistas, polticos e a

imprensa. No ano seguinte, essa mesma Sociedade lanou o livro Um

lugar para viver (A place to live), que era um manual para professores e incorporava a dimenso ambiental em vrias atividades curriculares.

Esse livro se tornou muito importante para a realizao da EA. Nesse

mesmo ano, foi fundada a Associao Gacha de Proteo ao Ambiente

Natural, que desenvolvia movimentos ambientalistas antes mesmo do

nascimento das leis nacionais em relao a esse assunto (DIAS, 1991).

Outro fator histrico importante para a construo da EA ocorreu

em 1968, em Roma, na Itlia, com uma reunio de cientistas dos pases

mais desenvolvidos da poca, a qual ficou conhecida como Clube de

Roma. A reunio visava discutir as propores que o consumo vinha

ganhando, a explorao das reservas naturais no renovveis, bem como

sobre o crescimento da populao mundial, pois esses fatores, em

relao ao futuro do planeta Terra, j preocupavam (REIGOTA, 1996).

Posteriormente, houve a Primeira Conferncia Mundial de Meio

Ambiente Humano, em 1972, em Estocolmo, na Sucia, que foi

organizada pela ONU (Organizao das Naes Unidas). O principal

tema foi a poluio oriunda das indstrias. Tal conferncia sugeriu como

uma das solues dos problemas ambientais a educao, ou seja,

proporcionar cidados crticos perante os problemas encontrados, bem

como refletir possveis solues. Nesse sentido, nasceram os princpios

que iriam compor a EA, sendo trabalhados pela UNESCO (Organizao

das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura) (REIGOTA

1996).

De acordo com Dias (1991), durante a Conferncia de Estocolmo,

o Brasil lanou uma poltica ambiental externa que foi de encontro a

tudo que foi discutido; alm disso, os governantes afirmaram no se

importar em pagar o preo da degradao ambiental, desde que o PIB

(Produto Interno Bruto) fosse aumentado. A poltica brasileira era

36

contrria s ideias circulantes no mundo. Com isso, o Pas herdou

Cubato, os rios Guaba e Tiet, o Projeto Carajs, entre outros

problemas que ainda est tentando reparar.

Em 1975, houve uma reunio em Belgrado, na Iugoslvia, com

profissionais da educao professores de biologia, de geografia e de

histria , que definiu os objetivos e as diretrizes da EA, por meio da

criao do documento Carta de Belgrado (REIGOTA, 1996). O

documento definiu seis objetivos para a EA: a tomada de conscincia

que parte da sensibilizao e do entendimento do meio ambiente e dos

problemas ambientais; os conhecimentos que ressaltam a necessidade do

entendimento da totalidade dos problemas ambientais; as atitudes que

destacam o estmulo dos valores sociais e um profundo interesse pela

proteo e melhoria do meio ambiente; as aptides que surgem por meio

do desenvolvimento de aes que resolvam os problemas ambientais; a

capacidade de avaliao que est diretamente ligada avaliao das

medidas e dos programas de educao ambiental e, por fim, a

participao que consiste em desenvolver o sentido de responsabilidade,

pois h uma necessidade urgente de prestar ateno aos problemas

ambientais (CARTA DE BELGRADO, 1975).

A Carta de Belgrado tambm apresenta as diretrizes para a EA,

destacando: 1) considerar o ambiente em sua totalidade, o meio natural

e o meio produzido pelo ser humano; 2) ser contnua, permanente,

dentro e fora da escola; 3) praticar de uma forma interdisciplinar; 4)

estimular a preveno e a soluo dos problemas relacionados ao meio

ambiente; 5) avaliar as questes ambientais por meio da escala mundial

e local; 6) passar a ser desenvolvida por meio das condies ambientais

atuais e futuras; 7) analisar todo o desenvolvimento e crescimento

sobre o enfoque ambiental; e 8) promover o valor e a necessidade da

cooperao para a soluo de problemas (CARTA DE BELGRADO,

1975).

O ano de 1977 foi um marco muito importante para a EA, pois

houve a Conferncia Intergovernamental sobre a EA, em Tbilisi, na

Gergia, que reiterou os princpios de Estocolmo e tambm reforou e

recomendou a importncia estratgica da EA (DIAS, 1991; GRN,

1996), estabelecendo os seguintes princpios:

a) considerar o meio ambiente em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos naturais e criados pelo

homem (tecnolgico e social, econmico, poltico,

histrico-cultural, moral e esttico);

37

b) constituir um processo contnuo e permanente, comeando pelo pr-escolar e continuando atravs

de todas as fases do ensino formal e no formal;

c) aplicar um enfoque interdisciplinar, aproveitando o contedo especfico de cada

disciplina, de modo que se adquira uma

perspectiva global e equilibrada;

d) examinar as principais questes ambientais, dos pontos de vista local, regional, nacional e

internacional, de modo que os educandos se

identifiquem com as condies ambientais de

outras regies geogrficas;

e) concentrar-se nas situaes ambientais atuais, tendo em conta tambm a perspectiva histrica;

f) insistir no valor e na necessidade da cooperao local, nacional e internacional para

prevenir e resolver os problemas ambientais;

g) considerar, de maneira explcita, os aspectos ambientais nos planos de desenvolvimento e de

crescimento;

h) ajudar a descobrir os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais;

i) destacar a complexidade dos problemas ambientais e, em consequncia, a necessidade de

desenvolver o senso crtico e as habilidades

necessrias para resolver os problemas;

j) utilizar diversos ambientes educativos e uma ampla gama de mtodos para comunicar e adquirir

conhecimentos sobre o meio ambiente,

acentuando devidamente as atividades prticas e

as experincias pessoais. (DIAS,1998, p. 66).

Dez anos depois da Conferncia de Tbilisi, ocorreu a segunda

conferncia, em Moscou, na Rssia, mas vrios estudiosos ressaltaram

que essa reunio foi um fracasso, pois falar de EA em um pas que

38

estava produzindo armas, principalmente nucleares, era intil

(REIGOTA, 1996).

Em 1983, a ONU criou a Comisso Mundial para o Meio

Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), que foi presidida pela Sra.

Gro Harlem Brundtland. Seu objetivo era pesquisar os problemas

ambientais sob uma viso global.

Em 1989, foi lanado um relatrio com os dados investigados,

chamado Nosso Futuro Comum ou Relatrio Brundtland, que destaca a necessidade da sustentabilidade e a situao da nova ordem

mundial, sendo importante para compreender a existente coliso entre a

conservao dos recursos naturais e o crescimento econmico (GRN,

1996).

Em 1992, aconteceu a Rio-92 (Conferncia das Naes Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), que tambm ficou conhecida

como Cpula da Terra, ocorrendo no Rio de Janeiro. Essa conferncia

contou com a participao de 180 chefes de Estado (GRN, 1996) e

destacou a necessidade do desenvolvimento sustentvel, bem como

reforou a EA como um dos possveis caminhos mudana (REIGOTA,

1996). Desse evento resultaram documentos importantes, como a Carta

da Terra e a Agenda 21, que so veculos importantes para a

efetivao de um futuro sustentvel e promissor para a humanidade e

para o planeta (BARBIERI, 2003; LOURES, 2009).

A segunda Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente

e Desenvolvimento, Rio+20, registrou um saldo negativo, pois no

produziu avano considervel em relao a Rio-92, no sentido de agir,

ou seja, de colocar as estratgias em prtica. Faltou pr em execuo o

verbo atuar, e o mundo precisa de atitudes em relao sustentabilidade

(GUIMARES; FONTOURA, 2012).

2.2.1 A educao ambiental e a legislao brasileira

A preocupao em relao ao meio ambiente no recente no

Brasil. No perodo colonial, ocorreram diversas atividades exploratrias,

como as relacionadas ao pau-brasil, s lavouras de cana-de-acar, ao

desenvolvimento da pecuria, extrao de pedras preciosas, inclusive

do ouro. A sociedade da poca percebeu que o Brasil j enfrentava

problemas de ordem ambiental, estando entre eles o desmatamento e o

esgotamento do solo (ANDRADE, 2001).

Durante o Imprio, a preocupao com o meio ambiente

continuou e foram criadas leis especficas, como a Carta de Lei de 15 de

outubro de 1827, para combater a explorao do pau-brasil, visto que na

39

poca j era uma rvore em extino. Sendo assim, uma lei foi

importante para a ento degradao da poca (MARCONDES, 2005).

A atual legislao brasileira em relao EA como uma

consequncia indireta das conferncias mundiais, em especial da

Conferncia de Tbilisi (1977). Surgiu em 1999, portanto, vinte e dois

anos depois. Nesse sentido, entende-se que as solues esperadas ou

idealizadas pelas conferncias ou pela sociedade no ocorrem de

imediato. Na verdade, a criao da legislao foi, de certa forma,

empurrada pelos movimentos mundiais em funo da degradao

existente. No entanto, as questes que impediram ou retardaram o

desenvolvimento da EA no Brasil vo muito alm do que as tendncias

mundiais, havendo uma relao direta com a poltica e com o momento

histrico vivido no Pas, chamado Ditadura Militar (DIAS, 1991).

O perodo da ditadura influenciou diretamente sobre a EA,

mascarando, inicialmente, seus princpios, transformando-a em apenas

uma disciplina de ecologia. O desenvolvimento da EA no era

interessante ao regime militar, pois levaria a populao a reconhecer os

problemas ambientais. Posteriormente, criaria um senso crtico para

poder resolv-los. Estimular a populao no era o objetivo dos

militares, as pessoas poderiam se revoltar em relao situao poltica

exposta da poca. Sendo assim, as aulas de ecologia que iriam tratar da

flora e da fauna no levariam as pessoas a refletir (DIAS, 1991).

Em 1981, mesmo em plena Ditadura Militar, houve a criao da

Lei n 6.938, que dispunha sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente,

mas que no reservava um captulo, nem sequer uma linha referente

EA. Na realidade, a educao como um todo nunca foi um processo

essencial no Pas, como destaca Dias:

Na verdade, educao nunca foi prioridade em

nenhum dos nossos Brasis. A nica poltica

educacional definida para o nosso povo, at ento,

havia sido a de tornar a educao inoperante,

produtora de cidados passivos, omissos,

covardes, incompetentes, aptridas, e destitudos

das habilidades de organizao comunitria,

mergulhados num conformismo suicida e

anestesiados por samba, futebol e malandragem

(DIAS, 1991, p. 9).

Aps a ditadura, as universidades federais assumiram o discurso

ainda confuso da EA, por meio da prtica essencialmente da ecologia.

Assim, foram criados cursos de especializao, o que reafirma uma

40

prtica equivocada, muito aqum da idealizada em Tbilisi. Os primeiros

quinze anos de EA no Brasil foram um verdadeiro desastre (DIAS,

1991).

Somente no ano de 1999 que surge uma legislao especfica

sobre a EA. A atual Legislao Federal, Lei n 9.795, de 27 de abril de

1999, que estabelece a Poltica Nacional de Educao Ambiental,

destaca, em seu Art. 1, que a EA um processo que constri os valores

sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas

para a conservao do meio ambiente, e esse um bem comum que se

torna essencial para uma vida sadia, de qualidade, visando

sustentabilidade (BRASIL, 1999).

A Legislao Federal, em seu Art. 2, discute que a EA pode ser

desenvolvida por meio da educao no formal, com destaque para os

meios de comunicao e o setor privado. Mas ela tambm pode ocorrer

pela educao formal, que compreende as escolas em seus diferentes

nveis de ensino. Essa afirmao se estende para as legislaes estadual

e municipal (BRASIL, 1999; SANTA CATARINA, 2005; LAURO

MLLER, 2008).

Em seu Art. 4, a Legislao Federal ressalta que a EA deve

apresentar os seguintes princpios (BRASIL, 1999, p. 1):

I o enfoque humanista, holstico, democrtico e

participativo;

II a concepo do meio ambiente em sua

totalidade, considerando a interdependncia entre

o meio natural, o socioeconmico e o cultural, sob

o enfoque da sustentabilidade;

III o pluralismo de ideias e concepes

pedaggicas, na perspectiva da inter, multi e

transdisciplinaridade;

IV a vinculao entre a tica, a educao, o

trabalho e as prticas sociais;

V a garantia de continuidade e a permanncia do

processo educativo;

VI a permanente avaliao crtica do processo

educativo;

VII a abordagem articulada das questes

ambientais locais, regionais, nacionais e globais;

41

VIII- o reconhecimento e o respeito pluralidade

e diversidade individual e cultural.

Partindo desses princpios, identifica-se que a EA vai muito alm

de uma simples aula de ecologia ou de aes espordicas ao longo do

ano letivo. Ela promove o respeito diversidade cultural, que se baseia

na realidade vivenciada (BRASIL, 1999).

O Art. 8 da Legislao Federal demonstra grande importncia,

pois incentiva o estudo, a pesquisa, a experimentao e a produo de

material educativo que estejam relacionados EA. Outro vis do Art. 8

a capacitao de docentes por meio da difuso de conhecimentos,

tecnologias e informaes, preparando os educadores para que consigam

disseminar a EA de uma forma coletiva, ou seja, transdisciplinar

(BRASIL, 1999).

O seu Art. 10 se refere ao fato de a EA ser contnua e praticada

de forma interdisciplinar, ou seja, no pode haver uma disciplina

especfica dentro da educao formal. Esse um fator com o qual as

legislaes concordam, seja em nvel federal, estadual ou municipal

(BRASIL, 1999; SANTA CATARINA, 2005; LAURO MLLER,

2008).

A legislao do Estado de Santa Catarina (Lei n 13.558, de 17

de novembro de 2005), que dispe sobre a Poltica Estadual de

Educao Ambiental, apresenta-se em consonncia com a Legislao

Federal. Seu Art. 1 acrescenta e entende que a EA possui uma

dimenso ambiental, uma tica ambiental e uma problemtica ambiental.

A dimenso ambiental visa desenvolver a EA dentro de um contexto

social, por meio de um conjunto de contedos e mtodos. A tica

ambiental consiste em um ramo da filosofia, discutindo os valores

ambientais cultivados pela sociedade, por meio das correntes de

pensamento ambiental e dos pressupostos e fundamentos das polticas e

instrumentos de gesto ambiental. A problemtica ambiental

compreende as situaes de risco ou dano social e ambiental e os

atingidos no expressam nenhuma reao, mesmo que percebida a

situao (SANTA CATARINA, 2005).

A Legislao Estadual, em seu Art. 4, tambm segue e destaca

os mesmos princpios bsicos da Educao Ambiental. Seu Art. 8

apresenta a difuso do conhecimento por meio de diversos instrumentos,

mas no menciona como far a capacitao de docentes (SANTA

CATARINA, 2005).

42

A Legislao Municipal de Lauro Mller, que aborda sobre a EA,

a Lei n 1.507/2008, a qual dispe sobre a Poltica de Proteo,

Conservao e Recuperao do Meio Ambiente e a Criao do Fundo

Municipal de Meio Ambiente, bem como reserva um resumido captulo

com trs artigos dedicados EA. No Art. 61, a EA considerada uma

ferramenta essencial para que se alcancem os objetivos de preservao e

conservao ambiental almejados na lei. J no Art. 62, o municpio deve

promover condies para que se garanta a criao de programas de EA,

assegurando o carter interinstitucional das aes que sero

desenvolvidas. O Art. 63 explica como ser promovida a EA tanto na

educao formal quanto na educao no formal (LAURO MLLER,

2008).

O Art. 63 seria o mais importante, no entanto dedica apenas o

primeiro pargrafo educao formal, ressaltando que a rede municipal

de ensino promover a EA por meio de todas as reas do conhecimento,

no decorrer do processo educativo, em consonncia com o currculo e

com os programas criados pela Secretaria Municipal da Educao, que

estar de comum acordo com o rgo responsvel pelo meio ambiente, o

Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente COMDEMA

(LAURO MLLER, 2008).

Com base na Legislao Federal (Lei n 9.795), a Diretoria de

Educao Ambiental do Ministrio do Meio Ambiente (DEA/MMA)

desenvolve o ProFEA (Programa Nacional de Formao de

Educadoras(es) Ambientais), que tem como objetivos (BRASIL, 2006,

p. 6):

a) Contribuir para uma dinmica nacional contnua de Formao de Educadoras(es)

Ambientais, a partir de diferentes contextos;

b) Apoiar e estimular processos educativos que apontem para a transformao tica e poltica em

direo construo da sustentabilidade

socioambiental;

c) Fortalecer as instituies e seus sujeitos sociais para atuarem de forma autnoma, crtica e

inovadora em processos formativos, ampliando o

envolvimento da sociedade em aes

socioambientais de carter pedaggico;

43

d) Contribuir na estruturao de um Observatrio em rede das Polticas Pblicas de formao de

Educadoras(es) Ambientais, atravs da articulao

permanente dos Coletivos Educadores.

O programa tem o dever de orientar as aes da sociedade, e

tambm do governo, para que surja uma dinmica integrada, em nvel

nacional, dos processos de EA. Outro ponto importante tentar

qualificar as polticas pblicas federais de EA para que estas exijam

menos intervenes diretas e mais apoio s aes desenvolvidas

regionalmente, a fim de que se tenha uma dinmica nacional contnua e

sustentvel de processos de formao de educadoras(es) ambientais a

partir de diferentes contextos (BRASIL, 2006).

De acordo com o ProFEA (BRASIL, 2006), o professor de EA

deve apresentar autonomia e desenvolver a alteridade, a complexidade, a

democracia, a identidade, a incluso social, a justia ambiental, a

participao e o controle social, o pertencimento, a sociobiodiversidade,

o saber ambiental, a sustentabilidade, a emancipao, a solidariedade e a

potncia de ao (BRASIL, 2006).

Para que o professor possa estar preparado para desenvolver a

EA, o ProFEA (2006) apresenta seis possibilidades de capacitao entre

as modalidades presencial e a distncia. A primeira delas o

planejamento e a avaliao da interveno educacional, por meio dos

quais os professores planejam e avaliam suas aes educacionais

(BRASIL, 2006).

A segunda possibilidade so os cursos/momentos de formao,

por meio dos quais os profissionais da educao tm contato com

contedos e instrumentos de interesse para sua formao, fomentado

suas aes pedaggicas. Outra capacitao a tutoria em grupo, na qual

os profissionais devem relatar suas experincias, partilhar suas dvidas e

descobertas e reorientar suas prticas pedaggicas (BRASIL, 2006).

Registro e Aprendizagem Dirigida uma capacitao que deve

ser feita em grupo, sendo um desdobramento da tutoria. A partir das

questes surgidas no momento presencial da tutoria, o grupo ser

orientado ao estudo e ao registro coletivo, s leituras, aos debates sobre

vdeos, ao acompanhamento e apoio mtuo na interveno e no aprofundamento em temas especficos.

A ltima capacitao sugerida pelo ProFEA a interveno

pedaggica, por meio da qual cada professor dever iniciar um processo

de interveno educacional orientada. Essa capacitao composta por

pesquisa-ao, diagnstico e planejamento participativo, formao de

44

educadores ambientais populares, projetos comunitrios, planos de

aprendizagem coletiva, formao de comunidades interpretativas, entre

outros (BRASIL, 2006).

Vrios autores criticam os cursos de qualificao em EA para

docentes. Guimares (2003) afirma que esses cursos querem

proporcionar multiplicadores, ou seja, os professores se preparam para

repassar as informaes e tcnicas metodolgicas que aprenderam a

outros profissionais. Para Sorrentino (2001), os cursos podem

proporcionar aos seus participantes alguns conceitos e tcnicas, e os

professores at podem incorpor-los na sua prtica, mas isso no vai

promover qualquer mudana expressiva no ambiente escolar com

relao EA. Para Medina (2001), o ponto mais forte em relao aos

cursos oferecidos aos professores sua falta de continuidade e

acompanhamento.

Para contrapor os autores citados anteriormente, Guerra e

Guimares (2007) afirmam que os cursos de aperfeioamento devem ser

oferecidos pelo poder pblico, a Secretaria de Educao, por meio de

pessoas qualificadas para tal funo. Os autores consideram que um dos

maiores problemas a formao indireta dos professores, por meio de

iniciativas externas, como ONGs (Organizaes No Governamentais),

empresas ou editoras.

Em 15 de junho de 2012, surgiu a Resoluo n 2 (baseada na Lei

Federal n 9.795/99), que estabelece as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educao Ambiental. Nela constam orientaes

efetivas prtica da EA nas escolas, destacando em seu Art. 5 que EA

no uma atividade neutra, porque envolve valores, interesses, vises

de mundo. Sendo assim, deve se desenvolver pela prtica educativa.

Seu Art. 8 chama a ateno, pois, inicialmente, prope que a EA

deva ser desenvolvida de forma interdisciplinar. No entanto, o pargrafo

nico, seguinte, apresenta a EA como disciplina especfica apenas em

cursos de graduao e de ps-graduao.

No Art. 13, os objetivos da EA sofrem alteraes em relao aos

objetivos apresentados na Lei Federal n 9.795/99, com os pargrafos V

e IX, visando estimular a cooperao entre as regies do Pas para

promover uma sociedade ambientalmente justa, bem como conhecer e

compartilhar os conhecimentos dos diversos grupos sociais nacionais.

Seu Art. 18 tem fundamental importncia, pois atribui aos

conselhos de educao, sejam eles federal, estadual ou municipal, a

responsabilidade de estabelecer normas complementares que tornem

efetiva a EA.

45

2.3 PRINCPIOS DA EDUCAO AMBIENTAL

A Conferncia de Tbilisi estabeleceu princpios que, segundo

Leff (2001), aportam para a necessidade de duas principais

transformaes: a proposta de uma nova tica e de uma nova concepo

de mundo, ou seja, outra forma de construir o conhecimento.

A proposta de uma nova tica tambm idealizada por Boff

(1999) e ressalta em seu discurso que a humanidade deve repensar suas

atitudes, controlar os seus atos e refazer os seus hbitos. A mudana no

estilo de vida deve emergir do cerne do ser humano, de seu interior mais

profundo. Da nova tica nascer uma nova tica, um novo olhar sobre o

mundo em que se vive.

A tica de extrema importncia e merece uma reflexo, no

mundo atual, uma vez que em alguns casos os seres humanos visam

buscar vantagens sem lev-la em considerao. O homem, muitas vezes

egosta, no se importa com os outros; assim, sustenta ideias como o

antropocentrismo e o etnocentrismo , faz planos, pensa apenas nele

mesmo e no no coletivo (REIGOTA, 1996).

A educao um instrumento propcio ao surgimento da nova

tica, pois abrange os processos formativos que se desenvolvem no

somente nos estabelecimentos de ensino, mas juntamente com o

convvio familiar e com a sociedade. No que tange educao formal,

responsabilidade da escola promover o conhecimento cientfico, por

meio de um currculo preestabelecido (PCN Parmetros Curriculares

Nacionais) baseado nas experincias cotidianas, destacando o respeito

diversidade cultural e buscando desenvolver um cidado crtico perante

a realidade vivenciada (BRASIL, 1996).

A escola no se faz somente por meio de um currculo base. Os

PCN tambm afirmam a abordagem dos temas transversais, que so

compreendidos pela tica, pela pluralidade cultural, pelo meio ambiente,

pela sade, pela orientao sexual, pelo trabalho e pelo consumo,

perpassando por todas as disciplinas do processo formativo. Nesse

sentido, os temas transversais visam atender necessidade de

compreender a realidade, em diferentes escalas, por meio da

interdisciplinaridade, atendendo a um objetivo maior que promover a

cidadania (BRASIL, 1998).

A EA tambm inspirada no tema transversal meio ambiente,

juntamente com a tica. A legislao brasileira reafirma a necessidade

de que o tema seja abordado de forma interdisciplinar (BRASIL, 1999).

Nesse sentido, importante discutir questes como a diferena entre a

multidisciplinaridade, a pluridisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a

46

transdisciplinaridade para a compreenso das diferentes formas de

abordagem.

A multidisciplinaridade ou pluridisciplinaridade a fragmentao

do conhecimento. Os profissionais se tornam especialistas, donos de

seus saberes, no havendo uma interao, ou seja, cada professor

trabalha isoladamente, no h a luta por um objetivo maior, por um tema

que envolva todas as disciplinas e a comunidade escolar (WEIL;

AMBROSIO; CREMA, 1993).

No que diz respeito interdisciplinaridade, o conhecimento

produzido a partir da interao de duas ou mais disciplinas. Nesse caso,

h uma unio entre disciplinas para a soluo de um problema em

questo. J a transdisciplinaridade vai mais alm: as disciplinas

interagem de uma forma em que no se percebe a fragmentao do

conhecimento, ou seja, o resultado desse processo apresenta a

contribuio dos mais diversos profissionais, mas no se identifica, no

se faz distino entre as disciplinas (FAZENDA, 2008).

A EA necessita do desenvolvimento da interdisciplinaridade ou

da transdisciplinaridade, que deve ser exercida pela prtica pedaggica,

a qual tem o papel de provocar cidadania, universalidade,

sustentabilidade, virtude e transdisciplinaridade, assim gerando cidados

autnomos, crticos e com uma viso holstica, entendendo, valorizando

e transformando o espao planeta Terra (GADOTTI, 2009).

A pedagogia veio ao encontro da EA durante a Rio-92, na qual

surgiram as primeiras ideias e reflexes em torno do termo

ecopedagogia, que no oferece apenas uma viso da realidade, pois sua

pretenso vai muito alm: educar o olhar, ou seja, identificar o problema

e no ficar indiferente; assim, cria novos hbitos (GADOTTI, 2009).

A palavra ecopedagogia muito importante, pois sua

epistemologia nos revela a prtica que pode ser exercida de diversas

maneiras e para diferentes fins. A prtica pedaggica deve estar

associada ao objetivo da EA, visto que a escola deve estar pronta no

apenas para a produo do conhecimento, mas tambm para a vida em

sociedade, a fim de estimular o convvio e, principalmente, o respeito

aos elementos ditos naturais, como homens, animais ou plantas

(GADOTTI, 2009).

A EA articula conhecimentos que levam formao de um

cidado crtico e atuante na sociedade e no ambiente em que est

inserido. Caracteriza-se por incorporar diferentes dimenses educativas,

entre as quais esto a poltica, a cultura, o social e a tica. Assim, est

preocupada com a construo de novos valores e atitudes. Compromete-

se com questes ambientais, ampliando os conhecimentos relativos aos

47

seus problemas e solues, com uma preocupao especial no que se

refere sustentabilidade (GUIMARES, 2000).

2.4 EDUCAO AMBIENTAL: ALGUMAS ABORDAGENS E

REFLEXES

A EA deve ser praticada para a comunidade, incentivando os

educandos a resolverem os problemas inseridos em sua realidade

(REIGOTA, 1996). Deve ser um tema pertinente comunidade escolar.

Assim, despertar o interesse espontneo dos educandos, proporcionar

a efetivao de projetos e os participantes desse processo sentir-se-o

atores de transformao. importante estar atento s caractersticas de

cada escola, de cada turma (ROSA, 2013).

A comunidade escolar tambm dever estar inserida, como

destaca Rosa (2013), aprovando o tema a ser trabalhado por meio da

Educao Ambiental. S assim os projetos elaborados sero

concretizados, pois haver o envolvimento de todos os participantes da

escola.

O entendimento da cultura local essencial para o

desenvolvimento da EA, pois cada cultura apresenta caractersticas

singulares. Como destaca Morin (2002), a cultura formada por um

conjunto de saberes, fazeres, regras, proibies, crenas e valores, que

passam entre as geraes; construda em cada indivduo, mantendo as

caractersticas da sociedade. Assim, no h sociedade sem cultura, mas

cada cultura nica.

Para Rosa (2013), os assuntos a serem trabalhados em projetos de

EA devem surgir naturalmente no decorrer das aulas, em conversas ou

simplesmente da vontade dos educandos. No h necessidade de serem

os assuntos clssicos, como lixo, gua ou desmatamento. Tais questes

podem estar relacionadas a assuntos que afetam suas vidas, tais como

sexualidade, gravidez ou violncia.

A escola o local mais indicado para que se desenvolva a EA,

como ressalta Reigota (1995), desde que se priorize a criatividade. A

cincia tem uma importante contribuio em relao EA, no entanto

essa disciplina no est mais autorizada prtica do que a histria, a

geografia ou o portugus.

De acordo com Rosa (2013), muitas vezes, o que acontece no dia

a dia das escolas a promoo da EA apenas em datas comemorativas

como no Dia da rvore, do Meio Ambiente ou da gua , aes

espordicas, sem continuidade, quase que um dever dos professores

de cincias e de geografia. Muitos professores no se envolvem com a

48

EA por acreditarem que no tm capacidade para desenvolver tal ao,

visto que no tm alguma especializao em funo do tema ambiental.

Para Barcelos (2005), a EA desenvolvida no Brasil uma das

mais criativas e diversificadas do mundo. Isso s possvel quando os

professores se libertam das amarras construdas pelas frmulas e

metodologias tradicionais que envolvem a pesquisa, o ensinar e tambm

o aprender.

O mtodo de ensino de Paulo Freire possui uma abordagem

sociocultural, ou seja, ele alfabetizava os jovens e os adultos a partir da

realidade de cada educando. Essa linha de abordagem se torna muito

importante para a EA, visto que ela tambm parte de assuntos ou temas

conhecidos, de interesse dos educandos (ROSA, 2013). Para Freire

(1996), ensinar no somente transferir conhecimentos, a educao

deve valorizar o dilogo, proporcionar o aprendizado e, principalmente,

a autonomia.

O professor deve estar bem preparado para que possa desenvolver

a interdisciplinaridade e a EA. Para Schumacher (2013), de suma

importncia a implementao da EA nas instituies de ensino superior,

no somente na ps-graduao, mas tambm na graduao, fazendo com

que o corpo docente das escolas possua profissionais preparados para o

exerccio da EA.

Para Morales (2009), o professor deve ser incentivado, por meio

de processos formativos, a proporcionar novos caminhos, a fim de que

se desenvolva o conhecimento que privilegie a totalidade e a

complexidade do mundo real, estimulando a interdisciplinaridade. Desse

modo, no haver mais uma separao entre as cincias naturais e as

cincias sociais.

Cavalcante (2005) afirma que a EA territrio de todos e deve

ser desenvolvida por todas as disciplinas; deve ser trabalhada com

responsabilidade, a partir de uma viso de mundo e de sociedade que

esteja diretamente ligada ao projeto poltico pedaggico que constitui a

escola.

Nesse sentido, a prxis pedaggica interdisciplinar se torna

essencial na educao atual, como ressalta Leff (2009), possibilitando ao

educador, no exerccio de sua funo, buscar a formao em EA, sob um

olhar multicultural, a fim de proporcionar reflexes e aes pautadas em

valores de cidadania para transformar o mundo.

2.5 O LIVRO DIDTICO COMO UM DOS VECULOS DE

PROMOO DA EA

49

Vrios so os instrumentos metodolgicos, na atualidade, que

podem ser adotados pelos professores em suas aulas. No entanto, como

ressalta Sato (1995), o livro didtico (LD) ainda o principal

instrumento de direcionamento de professores e alunos em suas

atividades.

Os livros didticos (LDs) apresentam aspectos tanto favorveis

quanto desfavorveis em relao EA. Como destaca Sato (1995), sua

linguagem, muitas vezes, no acessvel, apresenta-se de forma

acadmica, representando a ideologia da classe dominante e do

desenvolvimento capitalista. Outro aspecto negativo que, geralmente,

enfatizam apenas o cognitivo e descuidam dos aspectos afetivos,

tcnicos e participativos e os exemplos no vivenciam o local. Por outro

lado, existem livros que estimulam a participao poltica dos

educandos nas tomadas de deciso. A autora tambm afirma que no

existe livro bom ou ruim, a importncia do material determinada pelo

professor.

Analisar um livro no tarefa fcil, como ressalta Catharino

(2007), pois a anlise no pode ser apenas do material isoladamente.

Nesse sentido, importante considerar as condies sociais, polticas e

econmicas do local em que est inserido.

Sato (2003) afirma que existem dificuldades para se trabalhar

questes locais nos LDs, pois a maioria delas produzida no eixo Rio-

So Paulo. Alm disso, ressalta que os professores devem pr em prtica

a sua formao, promovendo essa articulao, ou seja, o professor o

mediador do conhecimento, ele quem deve fazer a conexo do global

com o local.

Freitag (1989) argumenta que professores e alunos acabam se

tornando escravos do livro didtico, porque, ao invs de utilizarem esse

recurso como instrumento de contribuio para o desenvolvimento da

autonomia, do senso crtico e contra ideologias, eles acabam tornando-o

roteiro principal, ou exclusivo, do processo de ensino-aprendizagem.

Com relao EA, importante afirmar que os LDs, muitas

vezes, confundem o seu papel, como mencionam Martins e Guimares

(2002), pois se limitam a oferecer informaes sobre o meio ambiente,

dando destaque para o ecologismo, trazendo temas como fauna, flora,

biodiversidade, desmatamento ou lixo. Esses temas so de suma

importncia, no entanto, falta agregar os valores humanos para que se

tenha a mudana desejada: sensibilizao, percepo e realmente uma

mudana de postura perante as questes ambientais.

De modo geral, os LDs apresentam fragmentaes em seus

contedos e tambm na questo da interdisciplinaridade. Como destaca

50

Santom (1998), a possibilidade de um novo material para as escolas, a

fim de complementar as deficincias, seria um desafio para a educao,

para as instituies de pesquisa, para os professores e tambm para o

mundo empresarial.

Para Pereira e Marcomin (2013), os livros didticos tm que ser

usados corretamente; dessa forma, seus contedos devem ser

complementados, o modo de abordagem das questes ambientais

tambm tem que ser ajustado. Nesse sentido, necessrio que os

docentes discutam entre si e com a equipe diretiva da escola para

destacarem as questes ambientais dentre as disciplinas, para que o

conhecimento produzido seja interdisciplinar e coletivo.

A mudana nos LDs no garante que a EA seja incorporada no

contexto da escola. Segundo Guimares (2006), necessria uma

condio sinrgica entre todos, que faz parte do universo escolar e do

que est fora dele, a qual potencializa o conhecimento e desenvolve

atitudes e aes que possam transformar a sociedade atual.

Para Carvalho (2004), a EA s ser crtica e emancipatria por

meio dos LDs quando professores, editores, autores e gestores firmarem

um compromisso com um processo educativo integral e permanente,

que esteja ligado s questes ambientais.

De acordo com Pereira e Marcomin (2013), o compromisso da

construo de uma EA crtica e emancipatria no pode ser depositado

sobre o livro didtico. No entanto, ele um instrumento importante para

promover e concretizar essa misso.

51

3 METODOLOGIA

3.1 CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO

3.1.1 Apresentao histrica e socioeconmica do municpio de

Lauro Mller

O municpio de Lauro Mller localiza-se na regio sul do estado

de Santa Catarina e possui uma populao de 15.073 habitantes, com

uma rea territorial de 270,51 km2. Suas principais atividades

econmicas so a agricultura, a pecuria e a minerao (IBGE, 2015). A

Figura 1 apresenta a insero do municpio de Lauro Mller no estado

de Santa Catarina.

52

Figura 1 - Localizao do municpio de Lauro Mller

Fonte: LabPGT Laboratrio de Planejamento e Gesto Territorial (2016).

53

A histria do municpio de Lauro Mller, de acordo com Sheibe

(1993), Nascimento (2004) e Lopes (2008), est ligada explorao de

carvo na regio sul do Brasil. A descoberta dos primeiros indcios

desse minrio se deu em 1841, por meio dos tropeiros que passavam

pela localidade de Bom Retiro, atual Lauro Mller, levando tropas de

gado e diversos tipos de produtos coloniais do planalto serrano at

Laguna. A descoberta de carvo ocorreu por acaso, pois os tropeiros

fabricavam pequenos foges improvisados com pedaos de rochas e, em

um desses momentos, notaram que algumas dessas rochas entravam em

combusto.

Nascimento (2004) e Lopes (2008) complementam que a notcia

das pedras que ardiam, assim tratadas pelos tropeiros, chegou ao

Imprio por meio do Visconde de Barbacena (Felisberto Caldeira

Brant), que solicitou ao Conselho de Estado, em 1860, a aquisio de

duas lguas quadradas de terras devolutas para a explorao do carvo.

O governo Imperial concedeu ao Visconde a liberao para a explorao

no ano seguinte, mas a explorao do carvo foi sendo prorrogada

devido insuficincia de capital para executar a extrao.

Em 1880, iniciou-se a explorao do carvo no atual bairro Km 1,

onde se instalou a primeira mina de carvo do Brasil. Na poca, o atual

municpio de Lauro Mller, que era distrito do municpio de Orleans,

passou a ser chamado de Estao das Minas. Para a explorao desse

minrio, Visconde de Barbacena contou com investimentos estrangeiros

ingleses, capital privado nacional e apoio do poder pblico, em especial

por parte dos ingleses, que trouxeram duas empresas: uma mineradora

chamada The Tubaro (Brazilian) Coal Company Limited e outra,

para a construo da Estrada de Ferro Teresa Cristina, denominada

Donna Thereza Christina Railway Company Limited. A estrada de

ferro foi inaugurada em 1o de setembro de 1884, com 111 quilmetros

ligando a Estao das Minas aos portos de Laguna e Imbituba, seguindo

as margens do rio Tubaro (NASCIMENTO, 2004).

Estao das Minas passou a ser chamado de Lauro Mller em 25

de setembro de 1905, uma homenagem do engenheiro lvaro

Rodovalho Marcondes dos Reis ao ento Ministro da Indstria, Viao e

Obras Pblicas, Lauro Severiano Mller. Aps vrios trmites, em 20 de

janeiro de 1957, o distrito de Lauro Mller conseguiu a sua

emancipao poltico-administrativa do municpio de Orleans (LOPES,

2008).

O municpio de Lauro Mller se desenvolveu com base na

minerao de carvo, atividade que resiste na atualidade. No entanto,

importante ressaltar que ele tambm desenvolve outras atividades

54

econmicas, como a agricultura com destaque para os cultivos de

cana-de-acar, uva e banana. A pecuria se desenvolve principalmente

com os rebanhos de bovinos, com as aves e com os sunos. Outro setor

da economia que ganha destaque o comrcio e a prestao de servios

(SEBRAE, 2010).

3.1.2 A educao no municpio de Lauro Mller

Em nvel estadual, o municpio de Lauro Mller pertence a 21

GERED (Gerncia Regional de Educao) e conta com trs unidades

escolares, envolvendo 1237 alunos e 86 professores nas modalidades de

ensino fundamental (anos iniciais e anos finais) e mdio (IBGE, 2015).

O ensino da rede municipal encontra-se estruturado com 14

unidades escolares, entre centros de educao infantil, ensino

fundamental anos iniciais e ensino fundamental anos finais. A rede

conta com o total de 1.777 alunos e 139 professores (IBGE, 2015).

O ensino no municpio segue pautado em duas legislaes: a

LDB n 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Base da Educao Nacional) e a

Lei Orgnica Municipal, que prope ensino gratuito e de qualidade a

todos os muncipes (ESCOLA MUNICIPAL LGIA CHAVES

CABRAL, 2015).

A unidade escolar, bem como a rede municipal de ensino, segue a

Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina, cuja organizao

pedaggica est pautada na teoria histrico-cultural e na atividade que

compreende a produo do conhecimento por meio das aes humanas,

sendo essas construtoras do perfil da sociedade (ESCOLA MUNICIPAL

LGIA CHAVES CABRAL, 2015).

importante destacar que o currculo do ensino municipal

apresenta-se fragmentado por disciplinas, sendo o oposto da atual

Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina, que trabalha com a

formao integral e discute a necessidade de superao da fragmentao

da educao por meio das disciplinas, agrupadas por reas de

conhecimento como linguagem (artes, educao fsica, lngua

portuguesa, lngua materna e lngua estrangeira), cincias humanas

(histria, geografia, sociologia, filosofia e ensino religioso) e cincias da

natureza e matemtica (biologia, qumica, fsica e matemtica) (SANTA

CATARINA, 2014).

3.1.3 Caracterizao da unidade escolar pesquisada

55

No municpio de Lauro Mller, a rede municipal de ensino conta

com quatro unidades escolares, que oferecem o ensino fundamental

(anos iniciais e anos finais). Essas unidades de ensino possuem um total

de 967 alunos e 84 professores, sendo que h professores que atuam nas

duas modalidades do fundamental, considerando-se as quatro unidades.

Essas unidades escolares apresentam seis turmas de 6 ano do ensino

fundamental (anos finais), com um total de 139 alunos e 22 professores,

incluindo a pesquisadora e desconsiderando os profissionais de ensino

religioso e educao fsica, pois os mesmos no tm suas disciplinas

includas no material didtico.

A Escola Municipal Lgia Chaves Cabral, objeto deste estudo, foi

fundada em 1955 e, no decorrer dos anos, recebeu vrios nomes, como

demonstra o Quadro 1 (ESCOLA MUNICIPAL LGIA CHAVES

CABRAL, 2015).

Quadro 1 Histrico de nomenclaturas da unidade escolar

Ano Nome

1955 Escola Mista Estadual Rio Cedro

1957 Escola Desdobrada Rio Cedro

1959 Escola Estadual Trisdobrada Rio Cedro

1962 Escola Estadual Rio Cedro

1966 Escola Estadual Reunida Prof. Lgia Chaves Cabral

1986 Escola Bsica Prof. Lgia Chaves Cabral

2000 Escola de Ensino Fundamental Prof. Lgia Chaves Cabral

2011 Escola Municipal Lgia Chaves Cabral Fonte: Escola Municipal Lgia Chaves Cabral (2015).

Nos primeiros onze anos, a unidade escolar recebeu como nome

principal Rio Cedro, devido ao rio que passa na frente da escola e pela

existncia de cedros no seu entorno. Posteriormente, em 1966, o nome

principal da escola passou a ser Lgia Chaves Cabral, uma homenagem

professora de matemtica do municpio de Tubaro, que alm de

lecionar, fundou o primeiro curso de magistrio na regio (ESCOLA

MUNICIPAL LGIA CHAVES CABRAL, 2015).

A escola est localizada no espao rural, no bairro Itanema, no

municpio de Lauro Mller, pertencente ao estado de Santa Catarina. No contexto histrico, pode-se mencionar que a escola surgiu em meio

explorao carbonfera, principal atividade econmica do municpio.

Com o passar do tempo, as famlias buscaram outras atividades, que se

destacam como trabalhadores autnomos, diaristas e agricultores. No

56

contexto social, h uma grande carncia de estruturas ou de projetos que

incentivam o lazer ou os esportes, fazendo com que a comunidade tenha

uma ocupao sadia (ESCOLA MUNICIPAL LGIA CHAVES

CABRAL, 2015).

Atualmente, a unidade escolar oferece o ensino fundamental

(anos iniciais e anos finais), de 1 ao 9 ano, alm de manter a direo

do Pr-Escolar Reino Infantil. O ensino fundamental conta com um total

de 145 alunos entre os perodos matutino e vespertino. Para atender a

esse total de alunos do ensino fundamental na unidade escolar, h um

quadro de 17 professores (ESCOLA MUNICIPAL LGIA CHAVES

CABRAL, 2015).

A Figura 2 A e B ressalta a fachada e o ptio da escola com o

intuito de mostrar um pouco da estrutura fsica e do contexto social que

est inserido o objeto de estudo.

Figura 2 Fachada e ptio da Escola Municipal Lgia Chaves Cabral

Fonte: acervo da autora (2016).

3.2 PERCUSO DA PESQUISA

A pesquisa baseada em um estudo de caso. O mtodo consiste

em investigar um caso, proporcionando uma viso holstica do mundo

real, sendo utilizado para entender fenmenos sociais complexos (YIN,

2015). No atendimento dos objetivos da dissertao, procurou-se

descrever os pressupostos metodolgicos para cada um dos objetivos

especficos, conforme o texto que segue.

57

Para ser atendido o primeiro objetivo especfico, que foi

identificar a insero da EA realizada pelos professores da escola por

meio de suas aes pedaggicas, foi aplicada uma pesquisa

exploratria1

, por meio de dois instrumentos. O primeiro foi um

questionrio com perguntas abertas, fechadas e dependentes2, conforme

consta no apndice A, que foi aplicado a cada professor das disciplinas

que compem os LDs do 6 ano do ensino fundamental dos anos finais,

considerado importante para conhecer o perfil do grupo de docente da

unidade escolar. O segundo instrumento foi um roteiro de entrevista

focalizada3 ou grupo focal, conforme apndice B. Desse modo, todos os

professores, reunidos, discutiram a importncia da EA, da

interdisciplinaridade, alm de socializarem suas experincias, as suas

aes ou anseios em relao EA. O professor de geografia contribuiu

com a pesquisa de maneira diferenciada, por meio da observao

participante natural4, visto que o profissional em questo tambm a

pesquisadora.

Do grupo de professores que atuam no 6 ano do ensino

fundamental (anos finais) participaram do grupo focal apenas quatro,

contemplando as disciplinas de artes, cincias, histria, lngua

portuguesa, lngua inglesa e matemtica. Nesse caso, cabe destacar que

h professores que lecionam mais do que uma disciplina. No

participaram do grupo focal os professores de educao fsica e de

ensino religioso, pois suas disciplinas no se encontram nos LDs, visto

que um dos focos da pesquisa compreender a insero da EA tambm

1

Para Gil (1999), a principal finalidade dessa modalidade de pesquisa

desenvolver, esclarecer e modificar ideias, conceitos, em que se formulam

problemas para pesquisas futuras.

2 Segundo Gil (1999), o questionrio pode ter vrias questes abertas, nas quais

a pessoa vai escrever as respostas; fechadas, nas quais o pesquisado tem um

conjunto de alternativas, a fim de escolher as respostas que se encaixam em sua 2 Segundo Gil (1999), o questionrio pode ter vrias questes abertas, nas quais

a pessoa vai escrever as respostas; fechadas, nas quais o pesquisado tem um

conjunto de alternativas, a fim de escolher as respostas que se encaixam em sua

situao; e as questes dependentes, em que uma questo depende da outra

conforme a resposta do pesquisado, ele poder ou no responder a questo

seguinte. 3 Conforme Gil (1999), a entrevista focalizada escolhe um tema bem especfico,

sobre o qual o entrevistado ou o grupo entrevistado pode falar livremente, mas o

entrevistador deve persistir no foco de interesse temtico. 4 De acordo com Gil (1999), a observao participante natural ocorre quando o

observador faz parte do grupo investigado, apresentando o conhecimento a

partir da vivncia com o grupo.

58

por meio dos livros didticos. Sendo assim, decidiu-se no envolver na

pesquisa essas disciplinas.

No anseio de atender ao segundo objetivo especfico, que

compreendia a anlise dos LDs distribudos pela prefeitura no que diz

respeito ao contedo que versa sobre a EA no 6 ano do ensino

fundamental dos anos finais, contou-se com as tcnicas de anlise de

contedo de Bardin (2004 p. 33), as quais (...) aparecem como um

conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes, que utiliza

procedimentos sistemticos e objetivos de descrio do contedo das

mensagens.

Para a aplicao da anlise de contedo, adaptou-se a

metodologia de Bardin (2004) e foi necessrio o desenvolvimento das

seguintes etapas: a pr-anlise5, a explorao do material

6, o tratamento

dos resultados e a interpretao7.

Durante a pr-anlise, a pesquisadora, para o presente estudo,

optou pelos LDs base do 6 ano, distribudos pela rede municipal de

ensino. Pde-se constatar que as unidades que compem o material

didtico se encontram divididas em trs setores: texto, textos

complementares e exerccios.

No perodo de explorao do material, a pesquisadora analisou

todo o contedo das unidades que compem o livro didtico, nos quatro

bimestres, de todas as disciplinas que fazem parte do 6 ano do ensino

fundamental dos anos finais. A anlise dessas disciplinas foi deciso

dentro da pesquisa em considerao legislao vigente, que institui a

obrigatoriedade da EA em todos os nveis de ensino formal e orienta que

5 Segundo Bardin (2004), o perodo de pr-anlise se constitui na fase de

organizao do plano de anlise, em que se escolhem os documentos,

formulam-se as hipteses e os objetivos. Para a escolha dos documentos a serem

analisados necessria uma leitura prvia para poder conhecer o assunto e a

estrutura do texto que ter uma ligao com as hipteses e, principalmente, com

o objetivo. Logicamente que o objetivo estar ligado anlise do material,

enquanto as hipteses estaro relacionadas Educao Ambiental. 6 Conforme Bardin (2004), o perodo de explorao do material se destaca pela

codificao dos dados encontrados no material analisado, por meio de uma

leitura criteriosa, mas que envolve os saberes sobre o enfoque do tema

pesquisado. 7 Para Bardin (2004), o perodo de tratamento dos resultados e da interpretao

ocorrer mediante a obteno dos dados, que sero tabulados e analisados

qualitativamente para a melhor compreenso dos elementos obtidos com a

pesquisa.

59

todas as disciplinas atendam a essa educao e, posteriormente, suas

prticas devam ser interdisciplinares.

Foi usada como instrumento de explorao do material a anlise

de contedo, conforme o Apndice C, que apresenta quatro elementos

de mapeamento. O primeiro elemento se constitui na presena (*), que

indica que o material em questo apresenta de forma clara a EA; o

segundo elemento a presena potencial (+), o contedo abordado no

material permite a insero da EA por meio da mediao do professor; o

terceiro elemento a ausncia (-), no havendo indcios de EA no trecho

analisado; e o quarto elemento so as palavras-temas que a pesquisadora

retirou de cada parte analisada do material no mximo cinco palavras

ou expresses relacionadas EA.

No perodo de tratamento dos resultados e da interpretao, foram

analisados os dados obtidos com a tabela do Apndice C, por meio da

tabulao, para identificar a frequncia da EA no material didtico

utilizado pela rede municipal de ensino do municpio de Lauro Mller.

Para atender ao ltimo objetivo especfico, que consistiu em

propor aes pedaggicas de EA dentro do ensino regular formal

municipal, visando atender interdisciplinaridade que ela necessita,

foram retomadas as metodologias do grupo focal e da observao

participante natural, pois as duas proporcionaram aos professores e

pesquisadora a indicao de sugestes de projetos interdisciplinares, que

envolveram a comunidade escolar em consonncia com o material

didtico.

Para a compreenso do resultado final, foi utilizada a

triangulao8, por meio da qual se props a discusso e a juno dos

resultados obtidos com os professores, com a anlise do material

didtico e com as sugestes de aes pedaggicas, as quais esto

pautadas no referencial terico admitido.

8 Segundo Andr (1893), a triangulao consiste na combinao de mltiplas

fontes de dados, de vrios mtodos de coleta e de diferentes perspectivas de

investigao. Comparar e chegar convergncia das informaes fornecidas por

diferentes informantes, diferentes mtodos e diferentes investigadores uma

forma de verificar a propriedade do esquema de classificao dos dados.

60

61

4 ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS

4.1 PERFIL DOS PROFESSORES PESQUISADOS

O Quadro 2 resume o perfil dos professores que participaram da

pesquisa. Entre os dados coletados, todos os participantes so do sexo

feminino e possuem idades diferenciadas. Em relao ao nvel de

escolaridade, todas as pesquisadas possuem um curso de graduao

concludo e voltado para rea de educao. Dessas professoras

pesquisadas, trs possuem ps-graduao lato sensu e uma est com o

curso em andamento.

Quadro 2 Perfil dos pesquisados

Variveis Professor A Professor

B Professor C Professor D

Idade 33 23 32 25

Sexo Feminino Feminino Feminino Feminino

Graduao Artes visuais Histria Letras Matemtica

Situao Concluda Concluda Concluda Concluda

Ps

Graduao Educao Nenhuma Educao Educao

Situao Andamento No possui Concluda Concluda

Anos de

docncia 14 3 14 5

Disciplinas Artes

Cincias,

histria e

ensino

religioso

Lngua

inglesa e

portuguesa

Matemtica

Rede de

atuao Municipal

Municipal

Municipal

Municipal e

estadual

Nveis de

ensino em

que atua

Educao

infantil,

ensino

fundamental

anos iniciais

e anos finais

Ensino

fundamental

anos finais

Ensino

fundamental

anos iniciais

e anos finais

Ensino

fundamental

anos finais

Fonte: elaborado pela autora (2016).

O tempo de trabalho no magistrio indica que 50% das

pesquisadas possuem mais de 10 anos de experincia no ensino e o

restante menos de cinco anos.

62

As pesquisadas desenvolvem a docncia em diferentes nveis de

ensino: educao infantil, ensino fundamental anos iniciais e anos finais.

Cabe destacar, tambm, a atuao dessas professoras, que esto

inseridas na sua rea de formao, mas eventualmente assumem

disciplinas de outras reas para compor a carga horria.

O quadro de atuao das professoras atinge os diferentes nveis

de ensino, sendo um ponto positivo EA, pois as legislaes federal,

estadual e municipal discutem que a EA pode ser desenvolvida por meio

da e