jaqueline da silva albino - ufsc

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Jaqueline da Silva Albino Tese submetida ao Programa de Pós- Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina para obtenção do Grau de Doutor em Direito. Orientador: Luiz Otávio Pimentel Co-orientador: Araken Alves de Lima Florianópolis/SC 2016

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Jaqueline da Silva Albino

Tese submetida ao Programa de Pós-

Graduação em Direito da Universidade

Federal de Santa Catarina para obtenção do

Grau de Doutor em Direito.

Orientador: Luiz Otávio Pimentel

Co-orientador: Araken Alves de Lima

Florianópolis/SC

2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO CIÊNCIAS JURÍDICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO Campus Universitário – Trindade Caixa Postal 476

CEP: 88040-900 - Florianópolis - SC - Brasil

Fone: (48) 3721-9287 | Fax: (48) 3721-9733

http://www.ppgd.ufsc.br/ E-mail: [email protected]

Marco jurídico-institucional para gestão de transferência de

tecnologia para os núcleos de inovação tecnológica: estudo de caso

da universidade do Estado de Santa Catarina e Universidade do

Estado de Mato Grosso

JAQUELINE DA SILVA ALBINO

Esta tese foi julgada e aprovada em sua forma definitiva pelo Orientador

e demais membros da Banca Examinadora, composta pelos seguintes

membros:

Prof. Dr. Luiz Otávio Pimentel

UFSC – Orientador

Prof. Dr. Araken Alves de Lima

INPI – Co-orientador

Prof. Dr. Cláudio Eduardo Régis de Figueiredo e Silva

ESMESC – Membro

Profa. Dra. Ana Paula Martins Amaral

UFMS – Membro

Profa. Dra. Liliana Locatelli URI – Membro

Prof. Dr. Edgard Costa Oliveira UnB – Membro

Prof. Dr. Orides Mezzaroba

UFSC-Membro

Prof. Arno Dal Ri Jr., PhD

Coordenador do PPGD

Florianópolis, 29 de fevereiro de 2016.

Dedico esta tese às pessoas mais

importantes para mim, minha querida

mãe Rosires da Silva Albino e meu pai

Mário Albino pessoas responsáveis

pela minha trajetória de vida a quem

devo meu caráter e oportunidade de

sonhar voos altos. Ao meu irmão

Gustavo Tiago da Silva Albino e

cunhada Fabiana Cristina Baioni

Albino que na minha ausência

supriram os cuidados com meus pais.

Ao mesmo tempo, estendo esta

dedicatória aos meus amigos e colegas

Cristiani Fontanela, Maria Isabel

Araújo Silva dos Santos, Suelen Carls,

Valter Moura do Carmo e Fabíola

Wüst Zibetti que nesta jornada me

auxiliaram a permanecer forte e

determinada para conclusão deste

trabalho. Da mesma forma, dedico à

Sandra Nascimento da Nóbrega e

Zamira Xhaferri que no período de

pesquisa na Holanda contribuíram

para potencializar minha resiliência às

diferenças e adaptação em Maastricht.

Esta dedicatória se estende também ao

querido professor e orientador Dr.

Luiz Otávio Pimentel, quem acreditou

e confiou em minha capacidade como

pesquisadora e que transmitiu seus

ensinamentos e caminhos sobre a vida

e o Direito de Propriedade Intelectual.

AGRADECIMENTOS

O principal agradecimento à Deus que nos momentos mais

difíceis e solitários pude contar com sua mão invisível e todo amor para

que eu pudesse avançar e alcançar o término desta caminhada.

Agradeço especialmente à Universidade do Estado de Mato

Grosso, instituição que tenho orgulho em pertencer ao quadro de

servidores que possibilitou minha ausência de minhas atividades

jurídicas para que eu pudesse dedicar ao sonhado objetivo de concluir

um doutorado. À Universidade Federal de Santa Catarina, pelo

Programa de Pós-graduação em Direito (PPGD), através da

Coordenação e Secretaria do Curso possibilitaram gratuitamente

desenvolver este trabalho. Em especial, agradeço a servidora Maria

Aparecida de Oliveira, que incansavelmente demonstrou sua atenção e

carinho com os professores e pós-graduandos; também ao servidor

Fabiano Dauwe que ofereceu sua paciência e solicitude nos trabalhos do

PPGD. À Universidade de Maastricht que propiciou uma experiência

riquíssima de realizar pesquisa e apreender com o renomado Professor

Anselm Kamperman Sanders (A.W.J.). Ao Doutor Araken Alves de

Lima pela co-orientação nos momentos finais da realização desta tese.

Ao professor Doutor Everton das Neves Gonçalves, que sempre

esteve aberto para as dúvidas e discussões sobre o tema desta tese; aos

Professores Doutores Luis Carlos Cancellier de Olivo, Orides

Mezzaroba, Rogério Silva Portanova, Antônio Carlos Wolkmer, João

dos Passos Martins Neto, José Isaac Pilati e aos demais professores do

programa que contribuíram com seus ensinamentos para o

amadurecimento deste trabalho de conclusão. Aos professores Doutores

João Artur de Souza e Gertrudes Aparecida Dandolini pelas discussões e

sugestões metodológicas no desenvolvimento desta tese.

Aos Doutores Cláudio Eduardo Regis de Figueiredo e Silva,

Liliana Locatelli e Edgard Costa Oliveira que através de sugestões e

críticas deram robustez à finalização desta tese.

À amiga e professora Tânia Paula da Silva que abriu horizontes

com sua experiência e permitiu uma visão positiva para realização e

continuidade no exercício de reflexão acadêmica.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) pela bolsa de estudos de Doutorado Sanduíche que

proporcionou uma experiência ímpar em minha carreira acadêmica.

A todos os amigos, amigas e familiares que contribuíram direta

ou indiretamente, muito obrigada.

“Tudo o que fizerem, seja em palavra seja em

ação, façam-no em nome do Senhor Jesus,

dando por meio dele graças a Deus Pai”.

Colossenses 3:17

RESUMO

A partir da vigência da Lei de Inovação (Lei nº 10.973/2004)

abriu-se oportunidade para o setor acadêmico e privado estabelecerem

relações e fomentar a inovação no país. Contudo, muitas críticas são

dirigidas ao marco legal brasileiro, que mesmo visando a melhor

interação dos atores de inovação (governo, academia e empresas), os

avanços não ocorreram na velocidade esperada. E alterações na

legislação nacional foram requeridas e recentemente realizadas. Porém,

esta pesquisa através de análises de casos reais, vislumbrou demonstrar

que apenas a mudança da lei geral não é suficiente, pois isto deve ser

implementado e acolhido dentro das instituições, principalmente, das

universidades. Assim, dedicou-se a observar o modelo jurídico-

institucional de gestão de transferência de tecnologia e conhecimento

nas universidades públicas estaduais e atuação dos núcleos de inovação,

o que possibilitou identificar as dificuldades intrínsecas de sua política

de inovação. Objetivamente, o estudo concentrou-se na compreensão do

ambiente produtivo de inovação que estejam presentes as universidades

e as empresas, bem como, compreender a dinâmica da inovação e dos

mecanismos que estimulam a geração e comercialização de tecnologia,

sendo essa uma negociação vantajosa para as duas partes. O estudo teve

a preponderância da pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental,

pois se baseou em normas e regulamentos internos de determinadas

organizações. A pesquisa ainda trouxe um viés qualitativo com estudo

de caso, em particular, os casos da Universidade do Estado de Mato

Grosso e Universidade do Estado de Santa Catarina. O desenvolvimento

das atividades serviu para consolidar os fundamentos teóricos através de

busca de casos e boas práticas e pela realização da revisão bibliográfica

e análise de documentos eleitos pela ordem de importância de

estruturação de cada instituição objeto de pesquisa e, para o

desenvolvimento regional e local. A partir da análise realizada

constatou-se que as universidades têm questões muito similares e

mesmo estando em Estados da federação diversos, ambas pontuaram a

importância de reforçar a autonomia na gestão da transferência de

conhecimento e tecnologia, principalmente, quanto à questão

orçamentária e políticas institucionais. Além de ser confirmado por

dados publicados por organizações reconhecidas na matéria

(FORMICT), constatou-se que as dificuldades em realizar a

transferência de conhecimento e tecnologia está muito conectada com o

modelo jurídico-institucional e políticas adotadas dentro da instituição

que propriamente falhas na Lei de Inovação. Compreendeu-se que os

estatutos jurídicos da administração pública representam a parte central

do modelo institucional, bem como dos instrumentos de controle e

orientação como os conselhos e instâncias decisórias. Todavia, com as

alterações trazidas pela Lei nº 13.243/2016, pode-se afirmar que as

Instituições de Ciência e Tecnologia poderão eleger, a priori, dois

modelos jurídico-institucionais, o que para este estudo convencionou-se

denominar de "modelo autônomo" e "modelo independente" (ou

interdependente), que este último compreendido na atual previsão de

constituição de NIT com personalidade jurídica própria, novidade que

traz a visão empreendedora de países desenvolvidos, que estão na

vanguarda do processo de inovação.

Palavras-chave: Inovação. Transferência de tecnologia. Núcleo

de Inovação Tecnológica. Parcerias. Modelo jurídico-institucional.

universidade.

ABSTRACT

After the effective implementation of the Innovation Law (Law

No. 10.973/2004) opened up the opportunity for academic and private

sector establish relations and foster innovation in the country. However,

many criticisms are directed at the Brazilian legal framework, that even

with a view to better interaction between innovation actors (government,

academia and business), progress has not occurred at the expected rate.

And changes in national legislation were required and recently held.

However, this research through real case analysis, glimpsed demonstrate

that only the change of the general law is not enough, as this should be

implemented and accepted among the institutions, especially the

universities. Thus, this research devoted to observe the legal-

institutional model of technology transfer and knowledge management

in public state universities and activities of innovation centers, allowing

to identify the intrinsic difficulties of its innovation policy. Objectively,

the study focused on understanding the productive innovation

environment that are present universities and companies, as well as

understand the dynamics of innovation and mechanisms stimulating the

generation and commercialization of technology is a win-win

negotiation for both parties. The study was the preponderance of

literature and documentary research; it was based on internal rules and

regulations of certain organizations. And yet, research has brought a

qualitative bias with case study in particular cases at the State University

of Mato Grosso and Universidade do Estado de Santa Catarina. The

development of activities served to consolidate the theoretical

foundations through search cases and best practices and for conducting

the literature review and analysis of documents chosen in the order of

importance of structuring each object of research institution, and for

regional and local development. From the analysis it was found that

universities have very similar issues and despite being in different states

of the federation, both scored the importance of strengthening the

autonomy in managing the transfer of knowledge and technology,

especially as the budget issue and institutional policies. Besides being

confirmed data published by recognized organizations in the field

(FORMICT), it was found that the difficulties in carrying out the

transfer of knowledge and technology is very connected with the legal

and institutional model and policies adopted within the institution itself

than actually failures in Innovation Law. It understood that the legal

status of public administration represent the central part of the

institutional framework, as well as control tools and guidance as the

advice and decision-makers. However, with the changes introduced by

Law No. 13.243/2016, it can be said that the institutions of science and

technology may elect, in principle, two legal and institutional models,

which for this study conventionally be called the "autonomous model"

and "independent model" (or interdependent), the latter understood in

the current NIT constitution forecast with its own legal personality,

novelty that brings the entrepreneurial and private vision of developed

countries, which are at the forefront of the innovation process.

Keywords: innovation. technology transfer. Technological

Transfer Offices. Partnerships. legal and institutional framework.

university.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ambiente de inovação – Pimentel....................................... 44

Figura 2 – Triplice Hélice......................................................................59

Figura 3 – Tríplice Hélice – Livro ....................................................... 60

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. – Artigo

AGU – Advocacia Geral da União

CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica

Cap. – Capítulo

CC – Código Civil (Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002)

C&T – Ciência e tecnologia

CT&I – Ciência, tecnologia e inovação

Dec. – Decreto

Dec.-Lei – Decreto-Lei

Dec. Leg. – Decreto Legislativo

EUA – Estados Unidos da América

FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FHC – Fernando Henrique Cardoso

FMI – Fundo Monetário Internacional

FORMICT- Formulário de Informações sobre a Política de Propriedade

Intelectual das Instituições Científicas e Tecnológicas, do Ministério da

Ciência, Tecnologia e Inovação da Secretaria de Desenvolvimento

Tecnológico e Inovação

FORTEC – Fórum Nacional dos Gestores de Inovação e Transferência

de Tecnologia

GATT – Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (General

Agreement on Tariffs and Trade)

ICT – Instituição de Ciência e Tecnologia

INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial

ISI - Política de Industrialização por Substituição de Importações

LC – Lei Complementar

LP – Lei de Patentes (Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996)

MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

MERCOSUL – Mercado Comum do Sul

NIT – Núcleo de Inovação Tecnológica

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Econômico

OEA – Organização dos Estados Americanos

OMC – Organização Mundial do Comércio

ONU – Organização das Nações Unidas

OP – Organização de Pesquisa

PA – Procedimento Administrativo

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PADCT (I,II e III) - Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico

e Tecnológico

PEC – Proposta de Emenda à Constituição

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

P,D&I – Pesquisa, desenvolvimento e inovação

PI – Propriedade intelectual

PIB – Produto interno bruto

PNB – Produto nacional bruto

PITCE - Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior

PNCTI - Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação

PPP – Parceira público-privada

RDC – Regime Diferenciado de Contratação

SNCTI – Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação

TIC – Tecnologia da informação e da comunicação

TT – Transferência Tecnologia

UE – União Europeia

U-E- Universidade e empresa

UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

UNEMAT – Universidade do Estado de Mato Grosso

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 23

1 A INOVAÇÃO: CONCEITOS, SISTEMAS E MODELOS 37

1.1 Os conceitos sobre inovação 37

1.2 Ambiente de Inovação 42

1.3 Modelos de inovação (linear ao interativo) 44

1.4 Sistemas de Inovação: conceito e papel dos atores 52

1.4.1 A Teoria da Tríplice Hélice 57

1.5 A inovação e o processo de transferência de

tecnologia 62

1.5.1 O pensamento utilitarista e sua relação com a

pesquisa 63

1.5.2 A importância do modelo jurídico-institucional

para realizar inovação 70

1.6 Um olhar mais abrangente: modelos de transferência

de tecnologia de instituições ensino em Israel e Países Baixos 74

1.6.1 Modelo de Transferência de Tecnologia na

Holanda 76

1.6.2 Modelo de Transferência de Tecnologia em Israel

83

2 POLÍTICAS E MARCO LEGAL BRASILEIRO PARA

INOVAÇÃO 103

2.1 A política de inovação no Brasil e seu impacto nas

relações entre universidade pública e empresas 103

2.1.1 O que é Política de Inovação? 105

2.1.2 O diagnóstico brasileiro sobre as dificuldades ou

insuficiência na transposição do grande conhecimento

científico e tecnológico no país: Brazilian Paradox 109

2.2 Sistema Nacional de Inovação 110

2.2.1 Diferença sobre pesquisa básica e aplicada: vale a

pena insistir na dicotomia? 113

2.2.2 A evolução da ciência e pesquisa no Brasil 116

2.3 A lei brasileira de inovação e influências da lei

francesa e norte americana 121

2.3.1 Bayh-Dole Act 121

2.3.2 A Lei de Inovação Francesa de 1999 (Loi sur

l’innovation et La recherche) 127

2.4 Lei de Inovação no Brasil: Para que uma lei de

inovação? 131

2.4.1 Pontos controvertidos: aplicação da Lei de

Licitação em razão da generalidade da Lei de Licitação 135

2.4.2 Dificuldades na contratação: ausência de

regulamentação para os contratos de ICT 139

2.4.3 É possível pensar num Regime Diferenciado de

Contratação (RDC) para Inovação? 144

2.5 O que pode mudar com o novo marco legal proposto:

comentários ao Código de Ciência e Tecnologia 148

2.5.1 Objetivo do Código Nacional de Ciência,

Tecnologia e Inovação 150

3 A RELAÇÃO UNIVERSIDADE E EMPRESA E

GESTÃO DA TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO E

TECNOLOGIA 161

3.1 Aspectos que influenciam a relação entre universidade

e empresa no ambiente de inovação brasileiro 161

3.2 Políticas científicas do governo brasileiro 162

3.3 O processo de industrialização brasileiro 164

3.4 A Relação Universidade e Empresa: os dois lados da

moeda 167

3.4.1 A Velha dicotomia entre público e privado: a

influência nas relações entre as instituições públicas e

privadas 167

3.4.2 O setor empresarial e industrial brasileiro: A

industrialização tardia e o atraso tecnológico e seus efeitos

173

3.4.3 As Instituições de Ciência e Tecnologia-ICTs e seu

papel na relação Universidade e Empresa 178

3.5 A gestão da transferência de tecnologia e

conhecimento nas universidades 196

3.5.1 A transferência de tecnologia realizada pelas ICTs

197

3.5.2 O papel dos Núcléos de Inovação Tecnológica no

Brasil 198

3.5.3 O Modelo jurídico-institucional atual da gestão de

transferência de tecnologia 210

4 ESTUDO DE CASO: UNIVERSIDADES DOS

ESTADOS DE MATO GROSSO E SANTA CATARINA 219

4.1 Procedimentos metodológicos de pesquisa 219

4.1.1 Métodos de Pesquisa e do Estudo de Caso 220

4.1.2 Escolha da Técnica e Instrumento de Coleta 222

4.1.3 Seleção dos casos 223

4.2 As universidades estaduais e seu contexto 225

4.2.1 Universidade estudada: UNEMAT 228

4.2.2 Universidade estudada: UDESC 232

4.3 Análises dos casos estudados 238

4.3.1 Da análise e interpretação dos dados coletados 238

4.3.2 Quadros comparativos: análise das entrevistas 241

4.4 Modelo jurídico-institucional: mudanças e

alternativas 248

4.4.1 Questões relevantes sobre o modelo jurídico-

institucional 250

4.4.2 Orçamento 253

4.4.3 Da natureza jurídica e modelo institucional 262

CONCLUSÃO 275

REFERÊNCIAS 285

APÊNDICES 305

APÊNDICE A: Roteiro pesquisa empírica 305

APÊNDICE B: Roteiro de entrevistas 307

ANEXOS 314

ANEXO A: Lei nº13.243, de janeiro de 2016 314

ANEXO B: Resolução nº 090/20014 CONSUNI-UDESC 340

ANEXO C: Resolução 080/2008 CONEPE-UNEMAT 349

23

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, muitos países buscaram seus lugares na

corrida da tecnologia e estes consideraram usar o termo "inovação"

como ferramenta de auxílio nesta corrida. Inovação encontra-se entre

dois aspectos de orientação, portanto, um voltado para o avanço

tecnológico e outro para o mercado consumidor, sendo este último de

maior interesse do setor privado e indiretamente ao governo. Neste

contexto, foram feitos esforços para ampliar o diálogo entre as entidades

promotoras de inovação (setor público e privado), incluindo questões

legais e de investimento do poder público. Assim, a relação entre

indústrias, empresas, universidades e institutos de pesquisa reafirmou-se

neste cenário com objetivo de desenvolver novas tecnologias. É

primordial a capacidade de adotar e criar novas tecnologias, afetando

vários aspectos, desde o custo de produção de bens de capital até a renda

per capita.

A inovação tecnológica tem função estratégica no

desenvolvimento, porque aperfeiçoa a utilização de matérias-primas,

agrega valor aos produtos e serviços, é um diferencial na concorrência,

e, da mesma forma permite encontrar soluções a problemas práticos da

sociedade. A importância da utilização da inovação como ferramenta

para o crescimento econômico e o desenvolvimento pode ser

demonstrada por edições de Manuais da Organização para a Cooperação

e Desenvolvimento Econômico (OCDE), como o Manual de Frascati

(primeira edição em 1963) e o Manual de Oslo (primeira edição em

1995). A organização apresenta regularmente um documento que define

quatro tipos de inovação, a saber: inovação de produto (um bem ou

serviço que é novo ou significativamente melhorado); inovação de

processo (novo ou significativamente melhorado de produção ou

método de entrega, incluindo mudanças significativas em técnicas,

equipamentos e ou software); inovação de marketing (um novo método

organizacional envolvendo mudanças significativas na concepção do

produto ou embalagem, colocação de produtos, promoção de produtos

ou preços); e inovação organizacional (um novo método organizacional

nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas

relações externas).

Ao se considerar que a inovação na sua execução necessita da

atuação de agentes para seu desenvolvimento, emerge a visão sistêmica

na organização e compreensão da inovação. O conceito de Sistema

24

Nacional de Inovação surgiu em 1980, quando pesquisadores como

Freeman, Lundvall e Nelson defenderam a vigência desta forma

sistêmica, em que foi indicado que o sistema de investigação composto

por setores (governo, universidade e indústria) e seu ambiente têm a

inovação como principal objetivo. Reconhecendo que o termo ganhou

destaque na década de 1980, contudo, é possível perceber que este

conceito já estava sendo aplicado muito antes pela Organização para a

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e outros autores,

pois desde 1960 já se utilizava a abordagem do sistema para estudar

decisões e escolhas sobre ciência tecnologia e inovação. Quando se

pensa em sistema de inovação, o termo "sistema" indica um conjunto de

elementos que se interagem e se complementam, de forma ordenada,

possibilitando a melhor atuação de cada um destes elementos. Portanto,

envolve atores, formas de interação, políticas e marco normativo

(legislações e regras). Neste ponto de vista, o sistema tem intensificado

a integração das indústrias, empresas, universidades e governo ao longo

dos anos.

O Brasil, para apoiar a inovação tecnológica criou um sistema de

instrumentos legais e mecanismos (políticas) para colocar em prática a

previsão constitucional presente nos seus artigos 218 e 219. Assim,

surgiu a Lei de Inovação, no âmbito federal, a Lei 10.973/2004, a qual

trouxe o escopo de ampliar e tornar eficiente a transferência do

conhecimento existente no ambiente acadêmico para o setor produtivo,

visando estimular a cultura de inovação, bem como, fomentar o

desenvolvimento industrial brasileiro. Replicou-se esta visão em alguns

estados brasileiros que, a partir de 2004, organizaram seu sistema de

inovação regional, a exemplo de Mato Grosso, com a Lei Complementar

nº 297/2008 e Santa Catarina com a Lei nº 14.328/2008, sendo pioneiros

nesta iniciativa.

Ressalta-se que mesmo após a publicação das leis federal e

estaduais no país, suscitam-se, ainda, discussões quanto à aplicação das

normas. Os receios do setor privado em estabelecer parcerias com as

instituições de ensino público, a ausência de investimento robusto em

pesquisas e estrutura, a morosidade nos procedimentos institucionais, as

condições restritas da Lei de Licitação (Lei Federal nº 8.666/93) para

comprar produtos, materiais e equipamentos, adicionados à grande

extensão geográfica do país, são alguns dos entraves neste contido

desenvolvimento no campo da inovação nacional. Assim, a falta de

informação, ou mesmo o receio de se envolver com a burocracia pública

25

são fatores determinantes para o desestímulo do setor privado em

realizar parcerias com o setor público.

Por certo a lei é uma realidade formal, que se transformará em

uma realidade concreta com o decorrer do tempo, possibilitando gerar

inovação nas empresas, porém, é necessária a harmonização de ações e

adequações quanto aos procedimentos e a desburocratização,

principalmente, nas instituições de ensino e pesquisa públicas.

Comprendendo estes fatores e dificuldades de interação entre os

setores, o estudo concentra-se na compreensão do ambiente produtivo de

inovação no qual estão presentes as universidades e as empresas, na

dinâmica da inovação e dos mecanismos que estimulam a geração e

comercialização de tecnologia, como políticas e normas. Da mesma

forma, quanto à gestão de transferência de tecnologia encontrada,

particularmente, na estrutura universitária, visando uma negociação

vantajosa para ambas às partes. Acredita-se que o estudo, após

realização de um diagnóstico do sistema de inovação e políticas no país,

e a participação de seus atores, sejam eles, instituições de ensino e

pesquisa, setor privado e governo, e a dinâmica quanto à transferência

de tecnologia, focará em uma análise mais crítica institucionalmente,

com exemplos de outras nações. Isso contribuirá para que os ambientes

de ensino e pesquisa sejam propícios para a aplicação do marco jurídico

de inovação no país, e a a sociedade terá o benefício com o

desenvolvimento tecnológico.

Para este estudo, definiram-se três áreas de conhecimento que

integram as ciências sociais aplicadas, conforme critério Conselho

Nacional de Pesquisa e Pós-graduação (CNPQ), sendo estas: Direito,

Administração (gestão) e Economia, ressaltando que o objeto de estudo

envolve conhecimentos interdisciplinares.

Reconhece-se que no ambiente de inovação destacam-se dois

setores que necessitam se comunicar, o setor público e o privado. Para o

primeiro setor, estão compreendidos tanto o governo com suas políticas

e diretrizes de inovação e financiamentos, quanto para a participação de

instituição de ciência e tecnologia pública que figuram neste ambiente.

Já o setor privado é representado pelas indústrias e empresas que

diretamente atuam no mercado e disponibilizam produtos e serviços.

Ressalta-se que existem papéis distintos e relevantes desempenhados

pelas organizações no processo de inovação, que são: academia,

governo e empresas/indústrias, nominados pelo modelo da Tríplice

Hélice. Estes atores relacionam-se (com parcerias, prestação de

serviços), transferem-se (conhecimento, informação, dinheiro,

26

tecnologia) e dinamizam a inovação. Por conseguinte, cada qual exerce

um papel, assim: as universidades e os governos exercerm a função de

suporte estrutural, científico e financeiro, auxiliando o setor privado a

exercer seu papel no desenvolvimento de novas ideias, ações e produtos.

Tradicionalmente, cada ator participa com sua ação sendo que a

produção e comercialização é papel do setor privado; o governo é o

responsável por implementar políticas e legislação; e as universidades

ou institutos de pesquisa são fontes de conhecimento e tecnologia.

A própria Lei de Inovação (Lei Federal nº 10.973/2004) indica

como uma forma de fomentar o sistema de inovação, a interação

universidades e empresas. Porém, esta comunicação ainda encontra

ruídos, principalmente, quanto à diferença da dinamicidade de soluções

de problemas aos dois setores. Da mesma forma, há dificuldades em

razão dos interesses diversos que uma universidade pública e uma

empresa têm quanto à cooperação e compartilhamento de

conhecimentos e resultados de pesquisas. No âmbito estadual,

vislumbra-se também um cenário de inovação, evidentemente em menor

grau, que se vincula mais diretamente às diretrizes e políticas estaduais e

neste ponto as universidades públicas estaduais estarão em evidência

juntamente com o setor produtivo local para fomentar a inovação.

As parcerias são indicadas como um instrumento facilitador de

inovação na legislação nacional e estadual sendo, muitas vezes,

obstaculizadas pela diferença de objetivos entre os parceiros

(instituições e empresas), entre a compreensão sobre os conceitos

pesquisa básica e aplicada e, a tímida política de investimento no setor.

Portanto, mesmo com o incentivo legal para realizar parcerias, em quase

todos os estados da federação, quase se tratar de parcerias com

instituições públicas e o setor privado, há um receio de utilizar, por

exemplo, os artigos de dispensa de licitação que estão previstos na

legislação pátria, definir a titularidade da propriedade intelectual gerada,

dificultando e desestimulando a cooperação. E pode-se considerar que

não tem havido uma efetiva implementação da legislação pátria citada.

Confiando no papel importante que as instituições de pesquisa

exercem, particularmente, que as universidades públicas estaduais

exercem no Brasil, como o faz a Universidade de Campinas

(UNICAMP) e a Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, parte-

se da compreensão que é possível analisar o papel de uma instituição

estadual no Sistema Regional de Inovação e repensar um modelo

jurídico-institucional mais compatível para desenvolver a inovação, o

que norteou este estudo. As variáveis estudadas foram: modelo jurídico-

27

institucional de gestão de transferência de tecnologia e conhecimento e

da organização das universidades públicas, atuação dos núcleos de

inovação, papel da universidade pública no sistema nacional e regional

de inovação, diretrizes políticas para efetivação do marco normativo de

inovação.

A pesquisa buscou refletir o questionamento a seguir:

Os modelos jurídico-institucionais de gestão de transferência de

tecnologia e conhecimento aplicados nas instituições públicas de ensino,

Unemat e Udesc, têm influência na dinâmica da relação universidade e

empresa?

Portanto, para responder esta indagação, a pesquisa concentrou-se

na análise e proposição de um modelo jurídico-institucional de gestão de

transferência de tecnologia em universidade pública estadual, a partir da

consolidação do marco normativo nacional (Lei de Inovação em 2004 e

seus desdobramentos). Para entender as políticas de inovação no país, e

a sua aplicação em âmbito estadual, foi utilizada a pesquisa empírica nas

universidades estaduais de Mato Grosso e Santa Catarina, e quanto à

atividade de transferência de conhecimento e tecnologia e sua relação

com o setor privado.

A pesquisa foi realizada com objetivo principal em refletir e

analisar o modelo jurídico-institucional de gestão de transferência de

conhecimento e tecnologia adotada pelas universidades públicas

estaduais e verificar formas para dinamizar a inovação baseadas no

marco jurídico brasileiro. Tendo em vista que, a observação dos textos e

práticas de ações sobre o tema, mesmo com legislações incentivadoras à

inovação, as instituições brasileiras de ensino e pesquisa e,

consequentemente, as estaduais, encontram limites e dificuldades no

processo de contratação, titularidade da propriedade intelectual,

principalmente quando realizam parcerias com o setor privado.

Inicialmente, observou-se o contexto nacional, em seguida,

verificou-se nas instituições de ensino e pesquisa estudadas suas

dificuldades. Assim, foram propostos caminhos jurídico-institucionais

para que haja auxílio às universidades públicas estaduais no

desenvolvimento de seu papel participativo na geração de novos

produtos, processos inovativos.

A pesquisa foi desenvolvida nos seguintes objetivos específicos,

quanto ao cumprimento do objetivo geral, quais sejam:

a) identificar os conceitos, políticas que influenciam a inovação e

a relação entre a universidade e a empresa em uma visão geral,

inclusive, comparando os modelos e boas práticas de gestão de

28

compartilhamento de conhecimentos e tecnologia adotados por

universidades estrangeiras;

b) analisar o marco normativo brasileiro direcionado à inovação e

apontar evoluções legislativas importantes;

c) apontar as lacunas existentes entre a interação Universidade e

Empresa e verificar quais os pontos de convergência para

incentivar as parcerias e desenvolver uma melhor política de

inovação;

d) identificar o modelo jurídico-institucional atual adotado pelas

universidades públicas no país, suas vantagens e desvantagens e

apresentar propostas a este modelo para uma melhor gestão da

transferência de tecnologia e conhecimento nas universidades

públicas estaduais.

No método de abordagem foram formuladas hipóteses, pois a

pesquisa iniciou-se pela percepção de uma lacuna de abordagem sobre o

tema, da mesma forma, utilizou-se do processo dedutivo, tendo em vista

que existem situações gerais que foram observados nos casos

escolhidos, nas instituições escolhidas, verificando-se a ocorrência de

fenômenos abrangidos pela hipótese. Quanto ao método de

procedimento, foi em grande parte monográfico, pois abordou um

estudo sobre um tema específico de suficiente valor representativo e que

obedeceu a uma metodologia. E ainda, o método comparativo que

verificou e explicou fatos segundo suas semelhanças e suas diferenças.

O tipo de pesquisa adotada segundo seus objetivos foi

exploratório, portanto, considerou os variados aspectos relativos ao fato

estudado, envolvendo um levantamento bibliográfico, entrevistas com

pessoas experientes e análise de exemplos que facilitaram a

compreensão do problema pesquisado.

No que se refere ao delineamento da pesquisa (design), levou-se

em consideração o ambiente de pesquisa, a abordagem teórica e as

técnicas de coleta e análise de dados, o estudo teve a preponderância da

pesquisa bibliográfica e, situações pontuais, a pesquisa documental,

pois, teve como fonte normas e regulamentos internos de determinadas

organizações. E ainda, o estudo de caso que visou concentrar esforços

em estudar instituições públicas como objeto para que permita seu

amplo e detalhado conhecimento e que é utilizado para contribuir ao

conhecimento dos fenômenos individuais, grupais, organizacionais,

sociais, políticos e relacionados. Assim, no tocante aos procedimentos

técnicos e desenho da pesquisa, sendo uma pesquisa bibliográfica, a

partir da escolha do tema foi realizado um levantamento bibliográfico

29

preliminar que baseou a formulação do problema e possibilitou a

elaboração do plano provisório do assunto escolhido e definição das

fontes para pesquisa. Após identificação das fontes e leitura do material

escolhido, teve uma organização lógica da pesquisa e a redação do texto

final.

O levantamento bibliográfico incluiu fontes bibliográficas nas

três áreas de conhecimento identificando as palavras-chave seguintes:

gestão da inovação e/ou tecnologia, transferência de tecnologia

relacionados à universidade e empresa, bem como, universidade pública

e/ou estadual, universidade multicampi e modelos institucionais.

O desenvolvimento das atividades serviu para consolidar os

fundamentos teóricos através de busca de casos e boas práticas e pela

realização da revisão bibliográfica e análise de documentos eleitos pela

ordem de importância de estruturação de cada instituição objeto de

pesquisa e, para o desenvolvimento regional e local.

A análise qualitativa trouxe em particular, os casos da

Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e da Universidade

do Estado de Santa Catarina (UDESC), perpassando pelo referencial

teórico sobre sistema de inovação, relação universidade e empresa,

papel da universidade e modelos institucionais adotados em outros

países. Sabe-se que o Estado de Mato Grosso é conhecido pela sua

vocação agrícola e extrativista, sendo consagrado como grande

exportador de soja e carne bovina. O Estado de Santa Catarina tem uma

economia diversificada e bem distribuída em diferentes regiões dentro

do Estado e desenvolvem diferentes atividades desde agroindústria,

turismo, empresas de eletrodomésticos, indústria metal mecânica,

extrativismo, pecuária e também mais recentemente empresas de

tecnologia de informação. Estas universidades estão inseridas em

estados da federação, que apesar de estarem em regiões diferentes e a

economia com características próprias, foram pioneiros na publicação de

uma lei estadual para a inovação.

Assim, realizou-se a análise qualitativa através de entrevistas

semiestruturadas visando constatar as dificuldades ou vantagens

apresentadas pelo modelo jurídico-institucional atual adotado. As

entrevistas visaram obter informações sobre situações específicas das

instituições, bem como, escolheram-se os entrevistados em razão do seu

grau de envolvimento direto em cooperação ou negociação na relação

universidade-empresa. As entrevistas foram realizadas através de visitas

aos agentes de Núcleo de Inovação de cada universidade pública

estadual, através de um roteiro em que foram elaboradas perguntas

30

abertas e não estruturadas. A seleção das instituições ocorreu devido ao

tema de estudo, problema de pesquisa e os objetivos, bem como, sua

natureza jurídica e inserção geográfica. O que possibilitou uma

abordagem pontual sobre os pontos relevantes nestas parcerias, estrutura

universitária e veio corroborar a proposta de mudanças legislativas e

estruturais do modelo analisado.

A pesquisa adotou o método de estudo de caso, especificamente

quanto às instituições científicas estaduais (Universidades do Estado de

Mato Grosso e do Estado de Santa Catarina). Desta forma, realizou um

estudo de caso institucional comparado. Os critérios de escolha das

instituições permearam em razão destas serem universidades públicas

estaduais multicampi, já que existem poucos estudos direcionados para

estas instituições estaduais; pelo fato de terem institucionalizado, seu

Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), porque, é a partir deste órgão

que as universidades passaram a aprimorar e realizar gestão de

transferência de tecnologia e administrar os projetos e contratos que

envolvam inovação; também por terem adotado regras mínimas sobre a

transferência de conhecimento e tecnologia e políticas institucionais que

podem demonstrar os reais reflexos do direcionamento da legislação e

política nacional sobre inovação, e, comprovar se a realidade está se

refletindo nos documentos institucionais, bem como, por que tiveram ou

têm contato com o setor privado após a Lei de Inovação. Adicionando-

se a estes critérios, o interesse desta pesquisadora em razão de

experiências quanto às atividades e funcionamento de uma universidade

pública estadual, somadas às facilidades de acesso a documentos e

disponibilidade dos profissionais em participar dos estudos, os quais

também foram fatores que complementaram a escolha das instituições.

Uma cultura de inovação é fundamental na construção do

conhecimento e a inovação tecnológica passa a ser uma mola propulsora

nas políticas de desenvolvimento regional e nacional. Deve-se também

enfatizar que existem papéis distintos e relevantes que são

desempenhados pelos atores responsáveis em fomentar a inovação.

Estes atores são nominados pelo modelo Tríplice Hélice, quais sejam a

academia, governo e empresas (e indústrias) que interagindo

possibilitam a dinâmica da inovação. Assim, cada qual exerce um papel,

as universidades e governo servem como suporte estrutural, científico e

financeiro, para que o setor privado possa também exercer seu papel no

desenvolvimento de novas ideias e ações.

A visão tradicional indica que a produção e a comercialização

estão dedicadas à indústria; o governo deve ser o responsável em

31

implementar políticas e marco normativo; e as universidades ou

institutos de pesquisa como fonte de conhecimento e tecnologia. Os

sistemas nacionais de inovação devem orientar o relacionamento entre

os atores, incluindo legislações, políticas específicas, fundos de

investimentos para melhorar o desempenho da produção tecnológica e

distribuição das tecnologias. E o governo brasileiro, seguindo, de certo

modo, uma visão internacional tem construído um sistema de inovação

com políticas de incentivo a pesquisa, desenvolvimento e inovação

(P,D&I) e legislações para introduzir esta cultura inovadora.

Porém, este papel inovador das universidades, principalmente, as

públicas brasileiras, apesar de muitos esforços realizados, têm

encontrado dificuldades em alcançar os níveis desejáveis para inovação,

quando comparadas às instituições em outros países também

emergentes, como os asiáticos. Não surpreende que após o período de

quase uma década da promulgação da Lei de Inovação (Lei

10.973/2004), o país voltou a discutir um novo marco jurídico para

inovação, comumente denominado Código da Inovação, que culminou

na aprovação de alterações emo seu texto em 2016 (Lei 13.243/2016),

que busca efetivar os objetivos e políticas inovadoras e empreendedoras

do conjuto de normas criado anteriormente.

Neste contexto, a pesquisa desenvolvida tem sua relevância, uma

vez que nestes mais de 10 anos de existência da legislação citada, não se

verificam os resultados esperados e voltou-se a discutir a possibilidade

de promulgação da citada legislação. Contudo, mesmo entendendo

necessários os ajustes legais, deve-se ter em conta as especificidades,

fatos concretos e dificuldades das instituições que estão além do marco

legal, como questões internas na forma de decidir e prioridades

institucionais, uma política em prol da inovação, procedimentos entre

outros. Estas questões são muitas vezes desconsideradas, em textos

científicos e os casos estudados ofereceram uma percepção da sua

importância privilegiada.

A relevância desta investigação também decorre da escassa

bibliografia existente sobre a absorção da legislação de inovação

internamente nas instituições, pois, a literatura apesar de tratar da

aplicação da lei, o faz de forma muito genérica. Existe uma posição

dominante nos estudos e relatórios sobre a gestão de inovação e

implementação da lei, reafirmando que a lei é falha, porém, pouco se

discute a forma que esta legislação foi recepcionada institucionalmente,

esquecendo-se das estruturas, políticas institucionais que se somam aos

elementos que influenciem qualquer relação entre a universidade e

32

comunidade externa. Logo, esta pesquisa é relevante porque representa

uma abordagem mais específica sobre a discussão.

No que concerne ao ineditismo, este se apresenta em razão de

existirem poucas discussões sobre o universo das universidades

estaduais fora da região Sudeste e Sul, quiçá multicampi, a carência de

estudos sobre esta universidade multifacetada, por si só justificaria

estudos na área, reconhecendo que a maiorias das universidades

estaduais assumiu uma constituição multicampi e estão presentes em

todas as regiões do país, e em 16 Estados da Federação. E atualmente,

representam mais de 35 universidades estaduais (em geral) pelos dados

da Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e

Municipais (ABRUEM). As universidades estaduais são integrantes do

Sistema de Ensino Superior no país, porém, seu financiamento está

atrelado aos repasses do Estado diretamente, ou indiretamente através da

Secretaria de Estado em que a instituição está vinculada. O fomento

federal baseia-se em aderência de programas do Governo Federal,

esporadicamente. Ressalta-se que entre as peculiaridades das

universidades estaduais está o seu modelo de constituição e natureza

jurídica. A maioria está constituída como fundação e outras como

autarquia estadual, com regime especial e com dotação orçamentária

própria, mantidas pelo Estado ou por repasses da Secretaria de Estado de

Educação ou de Ciência e Tecnologia que estão vinculadas, e as

decisões de suas políticas dependem também do Conselho Estadual

(Educação ou Ciência e Tecnologia). Verifica-se que os estudos sobre as

universidades públicas estaduais, mesmo que em âmbito geral são

escassos, muito menos sobre sua gestão em transferência e tecnologia,

que neste ponto se concentram nas universidades federais e do sudeste

do país. Particularmente, o Estado de São Paulo possui um conjunto de

universidades estaduais internacionalmente reconhecidas, sendo

referência, tanto pela qualidade de ensino, quanto pelo volume de

atividades de pesquisas e consequentemente, transferência de resultados,

como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual

Paulista (UNESP) e Universidade de Campinas (UNICAMP). Já o

Estado do Paraná retém o maior número de instituições estaduais

distribuídas nas diversas localidades do estado, apesar de serem

destaques nacionais, estas não são foco desta pesquisa.

No mesmo sentido, realizou-se a pesquisa de maneira singular, já

que não reafirma estudos das regiões e padrões de instituições do Sul e

Sudeste, evitando a repetição de discussões apresentadas na literatura

sobre a temática. Objetivou-se visualizar universidades com um

33

reconhecimento nacional sim, porém, com um compromisso atrelado ao

desenvolvimento regional e que diferentemente não estão em fases tão

avançadas como as estaduais paulistas, o que possibilita uma

identificação das dificuldades e barreiras de forma efetiva, o que permite

uma visão mais realista das muitas universidades brasileiras, o que

contriubui, também, para ampliar a bibliografia que ainda é escassa

sobre os casos de universidades estaduais em fase de implementação da

gestão de transferência de tecnologia. A não trivialidade da mesma

forma é demonstrada quando se refere aos modelos internacionais de

transferência de tecnologia, trazendo países que geralmente não são

evidenciados nas pesquisas sobre o tema, a saber: Israel e os Países

Baixos, que em contraste com o Brasil, possuem uma extensão

territorial ínfima, porém, mantém resultados consideráveis

internacionalmente.

Portanto, as relações entre universidade e empresa, a gestão

estratégica do conhecimento são tópicos fundamentais na melhoria da

competitividade e índices regionais mediante a captação, interiorização

e propagação do conhecimento adquirido na universidade ou instituto de

pesquisa. E verificando que o modelo brasileiro de universidades

voltado preferencialmente para formação de profissionais a mercado de

trabalho já não subsiste sozinho, as instituições devem assumir um papel

mais dinâmico para desenvolverem, com evidência, pesquisas aplicadas,

convergindo, também interesses do setor privado e promoção da

inovação. Contudo, percebe-se que o país mesmo com marco legal e

políticas para inovação constituídos, a interação entre universidades

públicas e empresas precisa de ajustes. O sistema universitário deve ser

repensado e reestruturado, de modo que se compreende que a

comunidade acadêmica no seu papel propulsor de gerar novos

conhecimentos científicos e tecnológicos para inovação, deve repensar a

sua agenda de pesquisa, comunicando-se mais com a sociedade.

Dentro desta premissa, há relevância, ineditismo e singularidade

do estudo sobre a interação entre estes atores na transferência e

caracterização dos conhecimentos e tecnologias, tendo como principal

objeto investigado a universidade pública estadual, analisando modelos

jurídico-institucionais para que estas universidades possam desenvolver

melhor este papel no cenário regional de inovação.

A tese apresentada tem correspondência à área de concentração:

Direito, Política e Sociedade; e congrega com as ideias da Linha de

Pesquisa: Direito da Sociedade da Informação e Propriedade Intelectual

do Programa de Pós-graduação em Direito (PPGD/UFSC). Admite-se

34

que o conhecimento tem transformado radicalmente nossa sociedade,

compreende-se que a utilização responsável deste, conjuntamente com a

tecnologia, desempenha um papel preponderante e decisivo para o

desenvolvimento regional. Deve-se reconhecer que a informação traz

um novo modelo, uma nova ordem social que rompe com o antigo, pois,

tem como característica primordial a circulação e modificação de ideias

de uma forma totalmente disruptiva. É neste ponto em que a dinâmica

das relações universidade-empresa, público-privado emergem como

uma solução determinante para desenvolver inovação. Reafirma-se que

a inovação passou a ser um elemento importante para nações que

pretendem continuar em patamares elevados de produtividade e

competitividade, sendo um tema de interesse da sociedade, com

finalidades práticas para as soluções dos problemas sociais. Em mesmo

sentido, este estudo relaciona-se com o grupo de Pesquisa em

Propriedade Intelectual, Transferência de Tecnologia e Inovação da da

Universidade Federal de Santa Catarina.

A pesquisa, de igual modo, pode ser caracterizada como um

estudo interdisciplinar, em razão da necessidade da análise conjunta de

mais de uma disciplina do conhecimento, para se estudar a inovação,

seus sistemas e modos, a legislação e a gestão de transferência de

conhecimento e tecnologia nas universidades, envolvendo, portanto,

áreas da Administração, Direito, Economia, como também, Psicologia e

Sociologia.

A pesquisa está adstrita temporalmente nos anos seguintes à

promulgação da Lei de Inovação (2004), conquanto, foram necessárias

retomadas históricas para contextualizar situações e comportamentos

institucionais. Dadas às características próprias e o delineamento

proposto, a pesquisa foi focada nas universidades públicas estaduais, e

evidenciando sua inserção regional, particularmente, quando mantém

parcerias com o setor privado visando a inovação. Apesar de possuir um

panorama geral e contextualização, a atuação dos Núcleos de Inovação

foi também foco do estudo empírico e, geograficamente, limitou-se a

casos de universidades estaduais dos Estados de Mato Grosso e Santa

Catarina, em que encontrou pertinência para explorar empiricamente a

temática. Todavia, salienta-se que a pesquisa não aspirou ter respostas

conclusivas para o questionamento que foi delineado, porém, trouxe à

tona a discussão sobre o modelo jurídico-adotado pelas instituições de

ensino, as políticas e a adoção das normas de inovação internamente,

com reflexão crítica e visão menos paradigmática sobre a gestão de

transferência de conhecimento e tecnologia.

35

Estruturou-se a presente tese em quatro capítulos, partindo-se de

uma visão geral nos capítulos iniciais e findando com especificidades

dos casos estudados.

O primeiro capítulo traz os conceitos basilares sobre inovação e

as discussões sobre seus sistemas e modelos clássicos, bem como, a

correlação com a transferência de conhecimento e tecnologia. Também

trata sobre a importância da apropriação do conhecimento pelas

universidades, trazendo exemplos de outros países.

O segundo capítulo aborda sobre a política brasileira de inovação

e o marco legal da inovação no país, abrodando das leis que inspiraram a

lei brasileira de inovação e a aplicação desta nos contratos de parceria

que a universidade possa realizar. E, amplia a discussão para as políticas

de inovação adotadas no Brasil para possibilitar a compreensão do

quadro legal e a estrutura industrial. No mesmo sentido, observa as

críticas sobre a Lei nº 8.666/93 e sua influência nas relações entre

Universidade e Empresa e a visualização do Regime Diferenciado de

Contratação. Em destaque, ao final do capítulo, apontam-se as

novidades trazidas pela proposta de reformulação da lei e seus possíveis

impactos.

Já o capítulo terceiro emerge a discussão sobre a relação

Universidade e Empresa avaliando os dois lados da moeda, portanto,

compreendendo a industrialização tardia e a evolução do ensino e

pesquisa no país, bem como, os ruídos de comunicação que dificultam

esta interação U-E. E adentra na estrutura universitária, em geral,

reconhecendo que a gestão da inovação realizada pelos Núcleos de

Inovação ainda necessita de adaptação ou de melhor implementação da

Lei de Inovação no enquadramento interno legal.

O capítulo quarto aborda sobre as duas instituições eleitas para a

pesquisa empírica e os seus resultados organizados em três vertentes:

Ambiente Produtivo de Inovação (verificando a sustentabilidade e

confiança), a Relação Universidade e Empresa (dificuldades e

benefícios da relação), e as Políticas e Marcos Legais (interna e

externamente) e a atuação dos NIT. E aborda sobre o modelo jurídico

adotado nas universidades públicas estaduais e sua influência na gestão

de transferência de tecnologia e conhecimento, apresentando alternativas

e sugestões sobre sua organização em razão do advento do novo marco

legal de inovação em 2016, que oportunizou a constituição dos núcleos

de inovação sob uma personalidade própria, que esta autora compreende

em dois modelos jurídico-institucionais o "modelo autônomo" e

"modelo independente" (ou interdependente).

36

37

1 A INOVAÇÃO: CONCEITOS, SISTEMAS E MODELOS

Porque as coisas invisíveis, desde a criação do

mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua

divindade, se entendem, e claramente se vêem

pelas coisas que estão criadas, para que eles

fiquem inescusáveis [...]. (Romanos 1:20).

1.1 Os conceitos sobre inovação

A inovação é conhecida como a melhoria e/ou desenvolvimento

de novos produtos, processos e serviços, agregando valor e interesses

comerciais. É difícil imaginar, hoje em dia, que as pessoas não viajem

de avião ou não usem a rede internacional de computadores (internet),

essas ideias inovadoras mudaram a estrutura social, relações entre as

pessoas e economia.

Se você afirmasse a qualquer pessoa na década de 1950 que o

sítio eletrônico (site) é o melhor lugar para comprar uma televisão ou

roupas, esta não saberia dimensionar sobre o que você estaria falando. A

rede internacional de computadores permite que pessoas realizem suas

compras a partir de sua casa e também pagá-las com as facilidades do

mundo virtual. Desta maneira, a invenção do produto como computador,

um processo como a internet influenciam os serviços como compras on-line, transformando uma ideia inovadora em negócio.

Como apontado por Smits et al. (2010), a inovação é o

desenvolvimento e a adoção de novas e melhores maneiras de lidar com

as necessidades sociais e econômicas, a inovação tem um papel muito

importante em combinar as necessidades. Inovação também reúne em

seu significado termos como acessibilidade e disponibilidade. Um

produto pode ser inventado, porém, se apenas seu inventor, ou um

número escasso de pessoas podem usá-lo, não tendo um impacto notável

na sociedade, deixa de ser inovador. Ao mesmo tempo, produto

inovador, modelo ou serviço não precisa ser algo sem precedentes, como

é a ideia da invenção, pode ser uma melhoria ou uma maneira de

incorporar algumas facilidades em uma ideia já existente e torná-la

diferente, mais útil, trazendo impacto na sociedade. Por exemplo, o

modelo "Henry Ford T" foi uma inovação, porque propiciou produzir

um automóvel mais acessível e que pode ser amplamente

comercializado, nas dimensões da época. Certamente, Ford não inventou

o automóvel, já que este é associado ao inventor alemão Karl Benz, que

em 1886, depositou o pedido da patente Benz Patent Motorwagen; ou

ainda pelo francês Nicolas-Joseph Cugnot, que em 1771 concluiu a

38

construção de um automóvel movido a vapor. Apesar desta invenção,

idealizada pelos europeus, o novo processo de Ford mudou a indústria

automobilística para produção em massa, em 1908, o que permitiu que

as pessoas pudessem adquirir e utilizar a grande invenção dos citados

europeus.

Esta diferença é fundamental nos negócios, assim, a inovação

consiste na aplicação prática das invenções no mercado. O iPod, é outro

exemplo, uma vez que é um produto memorável para a empresa da

Apple Inc., não porque foi uma invenção de dispositivo de música

portátil (ou MP3), pois, isto já existia, a inovação trazida por este

produto foi no desenho e na facilidade de usá-lo. O iPod é, na verdade,

um tipo de MP3 player, porém tem um conjunto distinto de recursos e

design adequados os quais, através do software iTunes da Apple, é

possível transferir e armazenar um arquivo de música para os

dispositivos de músicas, ou ainda, transferir vídeos, fotos e jogos. Após

esta nova visão do uso do dispositivo, em 2001, sem dúvida, a indústria

da música não poderia ficar no mesmo formato, demonstrando, portanto,

seu impacto na sociedade e no mercado. Assim, o iPod é uma grande

inovação.

Independentemente disso, Joseph Alois Schumpeter foi

considerado o primeiro economista a incluir a inovação em suas análises

quando trouxe sua teoria do desenvolvimento, em 1911. Schumpeter

destacou o importante papel do empreendedor inovador no processo de

desenvolvimento. A inovação foi definida como um fator de "mutação"

constante e chamou-o como uma "destruição criativa", em que os

inovadores oferecem novas combinações de ideias desconexas,

domínios de conhecimento, tecnologias ou mercados. Para Schumpeter

(1982), o capitalismo traduz-se num método de transformação

econômica, sendo que, o que o impulsiona e o mantém em movimento

são os novos bens de consumo, novos métodos de produção ou

transporte, novos mercados e as novas formas de organização industrial.

Aponta que: As inovações no sistema econômico não

aparecem, via de regra, de tal maneira que

primeiramente as novas necessidades surgem

espontaneamente nos consumidores e então o

aparato produtivo se modifica sob sua pressão.

Não negamos a presença desse nexo. Entretanto, é

o produtor que, via de regra, a iniciar a mudança

econômica, e os consumidores são educados por

ele, se necessário; são, por assim dizer, ensinados

39

a querer coisas novas, ou coisas que diferem em

um aspecto ou outro daquelas que tinham o hábito

de usar (SCHUMPETER 1982, p. 48).

Schumpeter (1982, p.90-91), afirma ainda que o processo de

"destruição criativa" é básico para se entender o capitalismo, uma vez

que é dele que se constitui o capitalismo e a ele deve se adaptar toda a

empresa capitalista para sobreviver, em destaque: A inovação é arriscada, impossível para a maioria

dos produtores. Mas se alguém estabelece um

negócio relacionado com essa fonte de

fornecimento, e tudo vai bem, então pode produzir

uma unidade de produto de modo mais barato, ao

passo que de início os preços vigentes continuam

substancialmente a existir. Então tem um lucro.

Dessa maneira, a inovação é criativa quando traz novas

indústrias, mais emprego, em contraste como a competição e é essencial

para os negócios, também é destrutivo para aqueles que não podem

resistir às novas ideias ou processo e sobreviver frente a um competidor,

uma empresa inovadora. Ainda argumenta que a liderança econômica

(ou inovação que se traduz em liderança) deve ser distinguida da

invenção, já prenunciando o conceito de inovação com a visão de

mercado: Enquanto não forem levadas à pratica, as

invenções são econonomicamente irrelevantes. E

levar a efeito qualquer melhoramento é uma tarefa

inteiramente diferente da sua invenção, e uma

tarefa, ademais, que requer tipos de aptidão

inteiramente diferentes. Embora os empresários

possam naturalmente ser inventores exatamente

como podem ser capitalistas, não são inventores

pela natureza de sua função, mas por coincidência

e vice-versa (SCHUMPETER, 1982, p.62).

Neste prisma, a inovação é resultado de uma aplicação comercial

e econômica de uma invenção, possibilitando o acesso desta novidade a

uma gama de pessoas interessadas em adquirir o produto, processo ou

serviço inovador.

Mas, antes de qualquer discussão, vamos compreender qual o

significado da palavra inovação para este estudo?

A inovação está entre dois aspectos orientadores: o avanço

tecnológico e o mercado consumidor. Neste contexto, esforços foram

realizados para ampliar a interação entre os agentes de inovação,

40

incluindo questões legais e de investimento do poder público. Deve-se

também enfatizar que existem papeis distintos e relevantes que são

desempenhados pelos atores responsáveis por fomentar a inovação.

Portanto, estes atores, representados pela academia, governo e empresas

e indústrias, nominados pelo modelo da Tríplice Hélice, que se

relacionam e dinamizam a inovação. Com tal característica, cada qual

exerce um papel: as universidades e os governos servem como suporte

estrutural, científico e financeiro, para que o setor privado possa também

exercer seu papel no desenvolvimento de novas ideias e ações. E a visão

tradicional indica que a produção e comercialização é papel da indústria;

o governo é o responsável por implementar políticas e legislação; e as

universidades ou institutos de pesquisa como fonte de conhecimento e

tecnologia. Então, toda esta complexidade relacional de forma macro

tem uma forma sistêmica de interagir, que se destacará em momento

oportuno.

Vale ressaltar que a tecnologia é um ativo intangível, um bem

imaterial que também pode ser protegido. E sua origem etimológica vem

do grego "tekhne" que significa "técnica, arte, ofício" e o sufixo "logia"

que significa "estudo". A tecnologia se constitui em um conjunto dos

instrumentos, métodos e técnicas que geram um produto aproveitando-

se do conhecimento científico, com uma aplicação nas soluções de

questões e problemas que a humanidade necessita. E este conhecimento

científico e tecnológico tem uma forma de proteção e valoração

econômica que gera um produto. Desse modo, podendo ser mensurável

economicamente, podem ser transferidos estes direitos gerados pelo

intelecto, seja através de métodos, técnicas ou instrumentos. A

transferência de tecnologia pressupõe um ato de negócio, o qual aquele

que detém um produto, uma tecnologia, poderá comercializá-la a outros

com aproveitamento e utilização desta. Apenas para finalizar esta

discussão rápida sobre o tema, vale dizer que a fórmula de participação

nos resultados, assegurada no acordo, deve levar em conta a proporção e

a equivalência. Por um lado o montante do valor agregado do

conhecimento já existente no início da parceria e o alcançado no final

dela, e por outro, os recursos humanos, financeiros e materiais alocados

pelas partes contratantes ou convenentes.

À vista disso, compreende-se que dependendo do modelo de

inovação adotado é possível compreender a classificação ou posição no

ranking dos países ou regiões que se destacam nesta matéria. Por

exemplo, os países asiáticos, na década de 1990, tiveram a capacidade

de adaptar suas indústrias às novas tecnologias, em comparação com os

41

países latino-americanos. É o caso da Coreia do Sul que apresentou

diferentes mecanismos de integração entre institutos públicos de

pesquisa e as empresas privadas. Neste caso, o governo utilizou uma

política para fomentar a inovação tecnológica aproximando estes atores

desde meados da década 1980 e com estes arranjos consistentes

conseguiu ganhos de produtividade muito superiores que o Brasil

(DUBEUX, 2010, p.23).

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Econômico (OCDE), com patrocínio da Eurostat (Comissão Europeia),

trouxe na terceira edição do Manual de Oslo, em 2005, a dimensão dos

tipos de inovação, auxiliando na compreensão do termo (OCDE, 2005,

p. 23-24). Este manual teve como objetivo propor diretrizes para coleta

e interpretação de dados sobre inovação tecnológica e o texto trouxe

orientação e uniformização dos conceitos, metodologias, e organizou

estatisticamente indicadores da pesquisa, nos diferentes países.

Referindo-se a terceira edição do Manual de Oslo, a inovação foi

definida como uma "implementação de um produto novo ou significante

melhora do bem ou serviço, ou processo", seja um novo "método de marketing", ou um novo "método organizacional" nas práticas de

negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas.

Neste aspecto, o principal requisito é que o produto (bem ou serviço),

processo, marketing, devem apresentar uma melhora significativa ou

mesmo algo novo (OCDE, 2005, p. 24).

Para Chesbrough, inovação significa a invenção implementada e

levada ao mercado (CHESBROUGH, 2003, ix). Por isso, invenção é a

criação de novos produtos, processos e modelos, e pode ser considerada

parte da inovação. Porém, a inovação é medida pelo impacto que

provoca na sociedade.

Pimentel (2005, p. 11) aduz que a inovação tecnológica tem

função estratégica no desenvolvimento, porque aperfeiçoa a utilização

de matérias-primas, agrega valor aos produtos e serviços, é um

diferencial na concorrência, em razão que se permite encontrar soluções

a problemas práticos da sociedade.

Este estudo coaduna com estes autores, e compreende que a

inovação deve trazer consigo a dimensão de acessibilidade e

disponibilidade para a sociedade. Reforça-se, portanto, que um produto

que é inventado, mas se apenas pode ser usado pelo seu inventor ou

pouquíssimas pessoas, não tendo um impacto na sociedade, é apenas

uma ideia é inventiva, porém, não é inovadora.

42

1.2 Ambiente de Inovação

A Lei de Inovação e seu decreto regulamentador (Dec. nº

5.563/2005) reafirmam o incentivo à inovação e à pesquisa científica e

tecnológica no ambiente produtivo ou social nos textos referentes à

matéria sobre o ambiente de inovação.

Apesar do termo ser mencionado diversas vezes, não é

encontrado no texto legal sua definição. Certamente, em razão de sua

complexidade, o legislador preferiu ater-se aos conceitos que necessitam

uma limitação conceitual, como exemplo, sobre o que vem a ser uma

Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT), o que vem a ser

um NIT (Núcleo de Inovação Tecnológica) ou o que é parque

tecnológico (na redação proposta da Lei de Inovação). Assim, no Projeto

de Lei (PL 77/215) não há uma definição sobre o que venha ser o

ambiente de inovação, contudo, está evidente a preocupação do

legislador em construir, fomentar um ambiente produtivo e social, ou

um ambiente de inovação. De acordo com as alterações constantes na

proposta estão, exemplificadamente, a alteração do Artigo 1º da Lei nº

10.973/2004,1 ressaltando o "ambiente produtivo", sendo que um dos

princípios da Lei é o incentivo à constituição de ambientes favoráveis à

inovação e às atividades de transferência de tecnologia (parágrafo único,

VIII), ou ainda no Artigo 3º, parágrafo único,2 indicando que os entes da

1 Art. 1º Esta Lei estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa

científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação

tecnológica, ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento

do sistema produtivo nacional e regional do País, nos termos dos arts. 23,

24, 167, 200, 213, 218, 219 e 219-A da Constituição Federal.

Parágrafo único. As medidas às quais se refere o caput deverão

observar os seguintes princípios:

I- [...]

VIII – incentivo à constituição de ambientes favoráveis à inovação

e às atividades de transferência de tecnologia;

IX- [...]

2 Art. 3º A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as

respectivas agências de fomento poderão estimular e apoiar a constituição

de alianças estratégicas e o desenvolvimento de projetos de cooperação

envolvendo empresas, ICTs e entidades privadas sem fins lucrativos

voltados para atividades de pesquisa e desenvolvimento, que objetivem a

43

Federação poderão estimular e apoiar a constituição de alianças

estratégicas e o desenvolvimento de projetos de cooperação envolvendo

empresas, ICT e entidades privadas sem fins lucrativos voltados para

atividades de pesquisa e desenvolvimento, e este apoio poderá

contemplar, dentre outros, as ações de empreendedorismo tecnológico e

de criação de ambientes de inovação.

Este ambiente de inovação deve ser analisado nas dimensões

internas e externas. De acordo com Machado et al (2012), para o estudo

sobre o ambiente de inovação necessária é a inclusão de uma análise de

comportamentos coletivos organizacionais. Dessa maneira, propuseram

uma adaptação do modelo de ambiente de inovação de Van de Ven et al

(2000) com base na cultura organizacional. Portanto, o ambiente

propício para inovação envolve não apenas processo, como também

deve incluir pessoas que interagem com as áreas desenvolvedoras de

inovação como na de Pesquisa e Desenvolvimento, verificando o antes e

depois da geração de ideias (MACHADO et al, 2012, p. 716).

Destaca-se que no tocante à organização e sistematização a

pesquisa vai analisar o ambiente de inovação (Figura 1) abaixo

delineado por Pimentel, em especial em relação às universidades e

empresas, nas fases de pesquisa e desenvolvimento (execução de

projeto/contrato), transferência de conhecimento e resultado de pesquisa

(PIMENTEL, 2010).

geração de produtos, processos e serviços inovadores e a transferência e a

difusão de tecnologia.

Parágrafo único. O apoio previsto no caput poderá contemplar as

redes e os projetos internacionais de pesquisa tecnológica, as ações de

empreendedorismo tecnológico e de criação de ambientes de inovação,

inclusive incubadoras e parques tecnológicos, e a formação e a

capacitação de recursos humanos qualificados.” (NR)

44

Figura 1 – Ambiente de Inovação

Fonte: Pimentel (2010).

Assim, o ambiente de inovação congrega vários aspectos, sejam

eles internos ou externos à instituição em que ações conjuntas e

coordenadas possam propiciar o desenvolvimento dos novos processos,

produtos ou serviços. Conforme observação acima, o ambiente de

inovação é tão importante quanto o processo de inovação. O primeiro

evidencia-se por congregar estrutura, cultura organizacional (liderança,

interação dos profissionais), influências externas (como políticas,

investimentos) que ao agregar estes elementos preparam um "terreno

fértil" para desenvolver a inovação. No caso do processo de inovação

existem teorias que explicam as etapas em que ocorre a inovação, como

se inicia e quais as suas etapas para chegar à solução do problema

proposto ou demanda requerida.

1.3 Modelos de inovação (linear ao interativo)

Para explicar o processo de inovação, os autores em destaque

abaixo buscaram evidenciar através de modelos e quadros

demonstrativos e neste tópico, apresentam-se os modelos clássicos

discutidos nos textos acadêmicos que representam também a evolução

do pensamento quanto à inovação. Neste estudo, tem maior relevância o

modelo sistêmico que é o que enfatiza melhor o envolvimento e a

valorização das instituições de ensino, porém, é interessante comentar as

visões dos outros modelos. Deve-se também compreender que existem

papéis distintos e relevantes que são desempenhados pelos atores

responsáveis por fomentarem a inovação. Portanto, os fatores como

mercados, pesquisa científica, ou os agentes (academia, governo e

45

empresas/indústrias), nos diversos modelos, ora podem estar como

ponto central do modelo, ora são coadjuvantes.

Destaca-se também, o estudo de Rothwell (1994, p. 07,08) que

realiza várias análises sobre o modelo linear indicando que este tipo tem

cinco gerações, que se dividem em períodos históricos, cada uma

aprimorando a outra. Toma como "primeira geração" (1950 a meados de

1960) o modelo de Vannevar Bush,3 em que a ciência básica é a

propulsora do processo e, com o seu desenvolvimento, chega-se a

pesquisa aplicada e isto é que gera a tecnologia. Constata-se que neste

modelo linear, portanto, saindo de um ponto para outro, não há qualquer

preocupação com o que o mercado necessita ou deseja, por isso é

chamada de technology push (empurra-se a tecnologia), quanto mais

pesquisa e desenvolvimento (mais investimentos), maior sucesso em

novos produtos.

Já a "segunda geração" (meados 1960 e início de 1970) tem uma

preocupação com o mercado, porque admite que este é o impulsionador

do processo inovativo, assim, denominado Market Pull. A partir da

necessidade do mercado, os novos produtos são introduzidos

basicamente nas tecnologias existentes ou direciona a pesquisa e o

desenvolvimento para solucionar o problema proposto pelo mercado e

desenvolver o produto.

A "terceira geração", início dos anos 1970 e meados de 1980, foi

o período de uma alta inflação e saturação da demanda (stagflation) e

desemprego estrutural crescente. Portanto, nesta geração as empresas

foram forçadas a adotar estratégias de consolidação e racionalização,

com a crescente ênfase em benefícios de escala e de experiência. Desta

3 Vannevar Bush, um engenheiro, inventor e político, que foi uma figura

decisiva no desenvolvimento do complexo militar-industrial norte-

americano. É tido como um incentivador das inovações tecnológicas e do

financiamento do Estado. Escreveu um relatório respondendo

questionamentos feitos pelo então presidente dos Estados Unidos,

Rooselvet (1944), concernentes ao futuro da ciência no pós-guerra.

Posteriormente, apresentou suas ideias através de um artigo intitulado

Ciência - a fronteira sem fim (Science - The Endless Frontier). Bush

defendia uma política que apoiasse continuadamente a pesquisa científica

e a educação, com financiamentos governamentais através de

organizações sem fins lucrativos, incentivando projetos científicos.

Também é conhecido como precursor da bomba atômica.

46

forma, o processo de inovação bem-sucedido teve por base um portfólio

de amplo e sistemático estudo que abarcam muitos setores e países

(ROTHWELL, 1994, p. 07), necessitando este modelo combinado

(coupling, model of innovation).

Já na "quarta geração", as empresas estavam inicialmente

concentrando-se em determinados negócios e tecnologias, no início dos

anos 1980 e começo dos anos 1990. O foco estava na estratégia de

manufatura que gerou um crescimento rápido em número de alianças

estratégicas entre empresas. Neste prisma, devido à necessidade do

encurtamento dos ciclos de vida do produto, levou-se às estratégias

baseadas em tempo e a integração e desenvolvimento paralelo, portanto,

o modelo integrado (integrated model). Ganzer, Craco, Camargo, Olea e

Dorion (2013, p. 5) afirmam que o processo de inovação nesta fase

ocorre em um sistema integrado de trabalho, com integração de P&D,

produção em uma colaboração horizontal, uma relação de joint-venture

entre empresas e fornecedores. Teve como base as empresas japonesas

que aplicaram a integração e o desenvolvimento paralelo, uma interação

com o cliente para identificar novas oportunidades de negócios.

A "quinta geração", identificada a partir dos anos 1990, é

essencialmente um desenvolvimento da anterior, em que a tecnologia

advinda da mudança tecnológica está mudando em si (um processo de

trabalho em rede). Portanto, o networking model é caracterizado por

uma intensa interação vertical dentro da empresa, uma interação

horizontal externa (com pesquisa colaborativa, desenvolvimentos e

risco, alianças estratégicas para o P&D de base), desenvolvimento de

processos integrados e paralelos e o uso de sofisticadas ferramentas

eletrônicas (GANZER et al., 2013, p. 6).

Apesar desta quinta geração buscar uma conjugação dos

elementos, ainda teve uma visão horizontal, indicando que se deve

respeitar uma linha de acontecimentos, estando muito próxima da

linearidade. E sofre também as mesmas críticas apontadas ao modelo

linear, que acusam não incluir os efeitos de um feedback, de uma

retroalimentação, durante o processo que se desenvolve a inovação,

desprezando a experimentação e o caráter interativo inerente; bem

como, considera o processo de inovação como uma consequência da

ciência, ignorando que o conhecimento tecnológico precede o

conhecimento científico em alguns casos (GANZER et al., 2013, p. 11).

Quanto a esta última observação, pode-se verificar que esta conclusão

não é nova, já no período da Idade Moderna houve uma ênfase na visão

utilitária, concentrando-se no uso das técnicas com aplicação prática.

47

Calderan e Oliveira (2013, p. 8-11) destacam que existem três

principais modelos conceituais de inovação, quais sejam: Modelo

Linear, Modelo Elo da Cadeia e o Modelo Sistêmico. Quanto ao

primeiro, relembram que foi configurado com o Relatório de Vannevar

Bush, em 1945 (Science: The Endless Frontier) que concebeu o

processo de inovação como uma ordem sequencial de eventos, partindo

de uma pesquisa científica básica, que vai avançando com níveis mais

aplicados de pesquisa e, finaliza com sua aplicação e desenvolvimento,

podendo gerar produtos para o mercado. Vale ressaltar que a visão sobre

ciência e sua relação com novas tecnologias foi intensificada após a II

Guerra Mundial, em que muitos experimentos e diferentes tecnologias

testadas serviram para convencer governos a direcionar e influenciar a

ciência em seus territórios. Portanto, esta lógica linear para explicar a

inovação ficou conhecida como transferência de tecnologia. E conforme

dito no item anterior, através deste modelo, muitos países tiveram a

compreensão que apenas os investimentos em P&D seriam suficientes

para acelerarem o processo inovativo. Por certo, este é um importante

elemento, porém, não único, como se verá.

O segundo modelo clássico é o modelo interativo ou chain-linked

model (Elo de cadeia), defendido por Kline e Rosenberg (1986). Estes

autores contestaram frontalmente o modelo linear afirmando que este

modelo distorce a realidade da inovação em várias formas, uma vez que,

compreenderam que: "a inovação não é nem suave, nem linear,

tampouco frequentemente bem-comportada; pelo contrário, ela é

complexa, variada e difícil de medir [...]." 4 (KLINE; ROSENBERG,

1986, p. 185). Em resumo, demonstraram que a inovação (ou

tecnologia) não ocorre apenas a partir da pesquisa científica e sim da

interação entre diversos agentes econômicos e sociais através de uma

diversidade de informações e conhecimentos. E ainda, apontaram um

dos maiores problemas no modelo linear que é a ausência de caminhos

de feedback, da retroalimentação dos eventos durante o

desenvolvimento do processo. Reconheceram que os feedbacks são

inerentes ao desenvolvimento do processo de inovação, seja sobre a

opiniões dos números de vendas ou dos usuários individuais, todas as

formas de feedback, retorno de resposta positiva ou negativa do

4 Texto original: We have already seen that innovation is neither smooth nor

linear, nor often well-behaved. Rather, it iscomplex, variegated, and hard

to measure.

48

consumidor neste exemplo, são essenciais para a avaliação do

desempenho e formulação das etapas seguintes e alcance da posição de

competitividade. E mais, constataram que valorizar apenas os

investimentos de P&D não resultaria satisfatoriamente ao

desenvolvimento tecnológico esperado, devendo observar e impulsionar

as interações entre ciência, tecnologia e o processo de inovação em

todos os estágios. Por isso, o modelo proposto por eles tem como

impulsionador o mercado, a ideia do uso potencial de mercado, o que

está traduzido em um desenho que prevê o ciclo de feedback que

eventualmente se conecta novamente com as necessidades dos usuários,

ao contrário do modelo prévio que indica a pesquisa como parte central.

Portanto, o processo de inovação envolve interações no núcleo das

empresas, entre as empresas individualmente e também com as

instituições de ciência e tecnologia operando em uma cadeia

(CALDERAN; OLIVEIRA, 2013, p. 9).

Dessa forma, cada qual exerce um papel: as universidades e os

governos servem como suporte estrutural, científico e financeiro, para

que o setor privado possa também exercer seu papel no

desenvolvimento de novas ideias e ações. De fato, tradicionalmente tem-

se atribuído à produção e comercialização como papel da indústria e

empresas; o governo sendo o responsável em implementar políticas e o

quadro normativo (legislações); e as universidades ou institutos de

pesquisa como fontes de conhecimento e tecnologia. Neste prisma, se

introduz o modelo interativo (sistêmico), com vários atores atuando

conjuntamente para um fim que é a inovação.

Quando se pensa em Sistema de Inovação, o termo sistema indica

um conjunto de elementos que se interagem e se complementam, de

forma ordenada, possibilitando uma melhor atuação de cada um destes

elementos. Portanto, envolve atores, formas de interação, políticas e

marco normativo (legislações e regras). A ideia de pensar

sistematicamente a relação de políticas voltadas para desenvolvimento

(regional, nacional), e posteriormente, pesquisa e inovação é

indubitavelmente atribuída a Friedrich List, que escreveu o clássico

"Sistema Nacional de Economia Política", em 1841. De acordo com

Freeman (1995, p. 2) as análises de List são aplicáveis ainda nos dias

atuais. List foi um economista alemão que enfatizou a importância de ter

instituições de educação e formação, ciência e de acumulação de

conhecimento. Usou como exemplo, a própria Alemanha que era uma

49

nação considerada atrasada quando comparada com a Inglaterra naquele

período (Século XIX) e que utilizou a engenharia reversa5 como aliada

para seu desenvolvimento. Ele explica que a preocupação principal de

List estava em reconhecer o atraso da Alemanha em relação à Inglaterra

quanto à questão tecnológica, in verbis: […] ele defendia não só a protecção de indústrias

nascentes, mas uma ampla gama de políticas

destinadas a acelerar, ou tornar possível,

industrialização e crescimento econômico. A

maioria dessas políticas estava preocupada com a

aprendizagem sobre novas tecnologias e como

aplicá-las, (FREEMAN, 1995, p. 1)6

Também enfatizou que List acreditava no papel que o Estado

deveria assumir em longo prazo, com políticas para a indústria e

economia. Ele defendeu que o Estado deveria tomar decisões,

desenvolver e investir em tecnologia, bem como, no desenvolvimento

técnico nacional por esforços próprios, defendendo inclusive a

engenharia reversa. É o que se percebe no discurso de List: Um erro fundamental da Escola é a sua relação ao

sistema de protecção como uma concepção falsa

de políticos especulativos. História atesta que esta

política de protecção tem a sua origem, quer na

luta natural das pessoas para a prosperidade,

independência e poder; na guerra, ou nas medidas

5

Engenharia reversa é o termo utilizado quando empresas/indústrias

visando um mercado competitivo examinam um produto pronto,

desmontando-o peça por peça, para descobrir como foi construído, com

intenção de reproduzi-lo da melhor maneira possível, evitando o

pagamento de propriedade industrial (patente), por exemplo, da

tecnologia empregada no produto. O que atualmente é visto

negativamente, porém, muitos países utilizaram para alavancar suas

indústrias, a exemplo do Japão, República da Coreia. 6 Texto original: […] he advocated not only protection of infant industries

but a broad range of policies designed to accelerate, or to make possible,

industrialisation and economic growth. Most of these policies were

concerned with learning about new technology and applying it.

50

hostis de poderosas nações industriais (LIST,

1856, p. 268). 7

Acrescenta-se a possibilidade de incentivar a formação de

especialistas, proporcionando aos profissionais aprenderem novas

técnicas no exterior. O próprio List teve uma experiência nos Estados

Unidos da América, que o marcou de forma definitiva, especialmente a

partir do Relatório de Manufaturas (Report on Manufactures) de

Alexander Hamilton (1791).8 Através da análise deste relatório, ele

reconheceu que o país norte-americano tinha uma forma generalizada

para promover a educação, diferentemente da Alemanha, que adotava

uma forma mais concentrada em treinamento industrial; e concluiu que

os Estados Unidos eram um bom exemplo, porque foram bem-sucedidos

em ultrapassar a Grã-Bretanha na segunda metade do Século XIX

(FREEMAN, 1995, p. 3). Em suas palavras: A existência da indústria transformadora nos

Estados Atlântico mudou completamente a face

das coisas, e produz os seguintes resultados:

população, capital, habilidade artística, recursos

intelectuais, de fluxo em abundância a partir de

vários países europeus; como matéria-prima vem

do oeste, a demanda para os produtos fabricados

desses Estados, aumenta, a população, o número

ea importância das suas cidades, com sua riqueza,

7Texto original: A fundamental error of the School is its regarding the

protective system as a spurious conception of speculative politicians.

History attests that this policy of protecntion had its origin either in the

natural struggle of people towards prosperity, independence and power; in

war, or in the hotile measures of powerful manufacturing nations. 8 O relatório defendia a tese que para garantir a independência americana,

os Estados Unidos precisariam ter uma boa política de incentivo ao

crescimento da produção e garantir o seu futuro como uma característica

permanente do sistema econômico da nação, inclusive com prémios e

subsídios à indústria, regulamentação do comércio com tarifas moderadas

que não desencorajassem as importações, e outros incentivos do governo.

Destaca-se que as ideias de Hamilton serviram de base para a Escola

Americana de Economia.

51

aumenta em proporção ao progresso da cultura

nas solidões Ocidentais. 9 (LIST, 1856, p. 176)

Portanto, assegurava que uma infraestrutura nacional deve ser

construída; bem ainda, que uma instituição forte para promover a

acumulação de "capital mental" (mass of intelectual and corporeal power of the nation)

10 que é necessária para acelerar o desenvolvimento

econômico, que foi posteriormente denominado catching-up (LIST,

1856, p. 309). Chang (2003, p. 15; 38 e ss.) reforça a visão de List que

nações como a Grã-Betanha apesar de se nominarem liberais e

incentivavam a livre concorrência, na verdade percebendo que sua

indústria nacional nascente não lograria sucesso frente a outras nações,

adotaram restrições, incentivos e privilégios. De mesmo modo, Chang

pontua que ao examinar as experiências de países como Grã-Betanha,

Estados Unidos, Alemanha, França, Suécia, Bélgica, Holanda, Suíca,

Japão, Coreia e Taiwan, demonstrou que a maioria deles aplicou

políticas quase opostas das que recomendam para os países em

desenvolvimento atualmente, sabendo que as estratégias de catch up que

adotaram no passado, quando estavam em patamares de

desenvolvimento, podem afetar as relações internacionais e o mercado

mundial. Em outras palavras, o conceito de catching-up, explicitado por

Abramovitz (1986), indica que é possível que um país tecnologicamente

atrasado possa crescer a taxas maiores que os países com tecnologia

avançada, tornando-se um technology follower (seguidor tecnológico),

aproveitando conhecimentos já desenvolvidos pelos que estão na

fronteira tecnológica (leaders).

9 Texto original: The existence of manufacturing industry in the Atlantic

States changes enterely the face of things, and produces the following

results: population, capital, artistic skill, intelectual resources, flow in

abundance from the various European countries; as the raw material comes

from the West, the demand for the manufactured products of those States,

increases, the population, the number and importance of their cities, with

their wealth, augments in proportion to the progress of culture in the

Western solitudes.

10

List enumera, em seus estudos, que existem três tipos de capital: o natural

(recursos minerais, por exemplo), intelectual ou mental (com pessoas

habilitadas, ciência e tecnologia, educação) e, material (que seria mais

voltado ao setor produtivo), para o desenvolvimento de uma nação estes três

elementos devem estar presentes.

52

Neste ponto, dependendo do Sistema de Inovação adotado por um

país e a interação de seus atores, é possível compreender a classificação

desta nação ou sua posição entre países ou região que se destacam nesta

matéria. Por exemplo, os países asiáticos na década de 1990 tiveram a

capacidade de adaptarem suas indústrias às novas tecnologias em

comparação com os países latino-americanos. Como no caso da Coréia

do Sul que apresentou diferentes mecanismos de integração entre

institutos públicos de pesquisa e as empresas privadas, em que o

governo utilizou uma política para fomentar a inovação tecnológica,

aproximando estes atores desde meados da década 1980 e com estes

arranjos consistentes conseguiu ganhos de produtividade muito

superiores que o Brasil (DUBEUX, 2010, p. 23). O que se verifica na

América Latina que ainda está em desvantagem com baixos índices de

crescimento e interação, conforme relatório sobre Economia na América

Latina sobre Educação, Capacidades e Inovação, publicado pela

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE) em 2015.11

Abaixo, preferiu tratar separadamente sobre o modelo sistêmico

de inovação, em razão de sua relevância para a discussão neste estudo e

a compreensão melhor do conceito, que em seguida é elucidado pela

Tríplice Hélice.

1.4 Sistemas de Inovação: conceito e papel dos atores

Reconhecer a concepção interativa de inovação, certamente foi

um passo para o modelo sistêmico que basicamente trouxe a abordagem

e o foco não apenas às empresas e mercado, ou ainda na pesquisa,

reconheceu na verdade, um sistema e interação de agentes. Cassiolato e

Lastres (2005) ao abordarem sobre uma coevolução do processo e da

formulação de políticas para inovação, afirmam que a inovação não

pode ser vista como um ato isolado por parte de uma empresa ou

organização individualmente, mas como um processo sistêmico e

interativo e também na possibilidade de reformulação das políticas

voltadas à inovação com base nestas concepções (p. 35). Portanto,

11

Latin American Economic Outlook 2015- Education, Skills and

Innovation for Development (OECD, 2015) relatório está disponível on-

line no endereço eletrônico: <http://www.keepeek.com/Digital-Asset-

Management/oecd/development/latin-american-economic-outlook-

2015_leo-2015-en#page28>. Acesso em: 02 jun. 2015.

53

afastando-se da visão linear, apresentando-se como um processo

cumulativo, específico da localidade e conformado institucionalmente.

Calderan e Oliveira (2013) destacam que o modelo sistêmico

mais conhecido é o denominado Sistema Nacional de Inovação (SNI),

que tem sua abordagem institucionalista que acomoda arranjos

cooperativos como de universidades e empresas, considerando-os como

arranjos geradores e difusores de inovação (p. 10). Salienta-se que o

termo Sistema Nacional de Inovação surgiu na década de 1980 e 1990,

sendo creditado em ordem cronológica a Freeman (1987), Lundvall

(1992) e Nelson (1993), entre outros. Todavia, Freeman em seu texto "O

Sistema Nacional de Inovação em perspectiva histórica" admitiu que foi

Lundvall a primeira pessoa a usar a expressão; ao passo que Lundvall

também reconheceu que a visão sistêmica veio de Friedrich List, que foi

o precursor do conceito. Não é surpresa que estes nomes apareçam em

destaque no histórico de mudança de paradigma sobre a inovação, pois,

de acordo com Cassiolato e Lastres (2005, p. 35) esta revisão do

conceito ocorreu em razão de dois principais programas de pesquisa,

quais sejam: o Projeto Scientific Activity Predictor from Patterns of Heuristic Origins (SAPPHO)

12 e a Yale Innovation Survey. O primeiro,

coordenado por Christopher Freeman, através do departamento Science

and Technology Policy Research (SPRU), fundado pelo mesmo

cientista, em 1966, na Universidade de Sussex, Reino Unido. Este

projeto teve como foco a comparação entre 50 inovações que tinham

obtido sucesso com outras que não lograram êxito, no estudo

enfatizaram a importância do ambiente nacional e apontaram como

pontos de sucesso a comunicação da empresa, mesmo com seu

laboratório de P&D, com fontes externas, e ainda, as tentativas

explícitas de compreender as necessidades dos usuários, geralmente

obtidas por processos cooperativos e interativos (CASSIOLATO;

LASTRES, 2005, p. 35). Os resultados do estudo inglês influenciaram a

formulação da proposta de modelo interativo de Rothwell.

O segundo (Yale Survey) estudo foi realizado nos Estados Unidos

da América, em que foram analisadas as estratégias de grandes empresas

no país (entre os anos de 1983 e 1984) para o desenvolvimento de novos

produtos e processos, sendo que um resultado importante sobre a

12

O projeto SAPPHO é Scientific Activity Predictor from Patterns of

Heuristic Origins, que teve o envolvimento dos estudiosos como Freeman,

Rothwell, Horlsey, Jervis, Robertson, Townsend, e iniciou em 1972.

54

pesquisa foi à constatação que a frequência e intensidade das relações de

cooperação que dependeram de políticas públicas, que se direcionavam

para o desenvolvimento científico e tecnológico (KLEVORICK et al.,

1993; CALDERAN; OLIVEIRA, 2005).

Christopher Freeman foi um economista que dirigiu a unidade de

ciência de política de pesquisa (SPRU), da Universidade de Sussex, no

Reino Unido (1966 -1981) e foi o autor do Manual de Frascati,

estatística publicada pela OCDE sobre Pesquisa e Desenvolvimento

(P&D). Suas ideias sobre o Sistema de Inovação foram estabelecidas no

livro "Technology Policy and Economic Performance", em 1987,

inaugurando a terminologia ao analisar o sistema japonês.13

Bengt-Åke Lundvall14

foi um dos diretores-adjunto no Diretório

da Ciência, Tecnologia e Indústria da OCDE (DSTI) e publicou um

livro sobre o assunto com um título "National Innovation Systems"

(Sistemas Nacionais de Inovação), em 1992. De forma mais precisa,

Lundvall definiu Sistema Nacional, como uma constituição de

elementos e relações que interagem na produção, difusão e uso do novo

e economicamente útil, bem como, do conhecimento. Para ele, esta

visão em sistema serviu como uma ferramenta para analisar o

desenvolvimento e o crescimento econômico dos países analisados

(LUNDVALL, 2007, p. 99-100).

Seguindo as ideias desses estudiosos citados, Richard R.

Nelson,15

economista americano, conhecido como teórico da inovação,

escreveu com Sidney G. Winter o texto "An Evolutionary Theory of Economic Change" (Uma teoria Evolucionária da Mudança Econômica)

(1982), combinando ideias de Schumpeter e as teorias comportamentais

de Herbert Simon e outros, explicando o conhecimento organizacional

das empresas. Porém, seu livro digno de nota é o "National Innovation

Systems: A Comparative Study" (Sistema Nacional de Inovação: Um

Estudo Comparado) que foi publicado em 1993, apresentando um

primeiro estudo comparativo em sistema de inovação em diferentes

países. Outro autor à época foi Nathan Rosenberg, que em seus estudos,

13

Disponível em: <http://www.innoresource.org/5-2-christopher-

freeman/>. Accesso em: 13 jan. 2014. 14

Disponível em: <http://www.innoresource.org/5-8-bengt-ake-

lundvall/>. Accesso em: 13 jan. 2014. 15

Disponível em: <http://www.innoresource.org/5-1-richard-r-nelson/>.

Acesso em: 13 jan. 2014.

55

argumentou sobre uma relação interativa entre o conhecimento

científico e tecnológico no processo de inovação e trouxe as diferenças

entre as tecnologias nas características da interface ciência-tecnologia.16

Por outro lado, Benoît Godin, em seu trabalho em 2007 sobre

uma perspectiva histórica do Sistema Nacional de Inovação, solicita a

atenção de um "pedaço esquecido da história", em que denunciou que a

abordagem sistêmica deve ser creditada à OCDE a partir dos anos 1960.

Godin destaca que o conceito pode vir como uma explicação sobre as

disparidades no desempenho tecnológico e econômico entre os países,

especialmente europeus, norte-americanos e sistema japonês, analisando

a forma como a instituição executa e se relaciona com o outro, em que

foram realizadas análises pela organização (GODIN, 2007, p. 05-07).

Em síntese, Godin afirma que os estudiosos nos anos 1980 não

iniciaram a abordagem sobre os sistemas, apenas deram um rótulo para

destacar questões de desempenho econômico e tecnológico. Na verdade,

afirma que estes buscaram trazer a discussão para a agenda política e

intelectual, e, destaca que o termo foi previamente empregado em

documentos da OCDE. O que não deixa ser algo a se observar já que

estes proeminentes teóricos em algum momento contribuíram direta ou

indiretamente para os relatórios e manuais da organização.

De outro lado, apesar do termo Sistema Nacional de Inovação ser

comum, a prática em cada país pode mostrar sua diversidade. Por ser um

resultado da interação entre os agentes, sua configuração mostrará

diferenças na maneira como estes atores estão estruturados e o nível de

seu envolvimento. Por exemplo, na década de 1960, os europeus

estavam preocupados com seu atraso em seu potencial tecnológico

comparado com os Estados Unidos, e indicavam como consequência do

parco investimento em P&D. Também foram realizados estudos sobre

as universidades, estrutura de ensino entre outros. A OCDE foi à

organização que defendeu (e defende) em seus manuais e relatórios

questões que envolvem (cronologicamente) temas como: pesquisa

fundamental das universidades, com comentários sobre suas diferenças

internacionais (1968); lacunas na tecnologia com comparações entre

países em educação, P&D, inovação tecnológica, intercâmbios

internacionais (1970); alocação de recursos para P&D, com uma

16

Disponível em: <http://www.innoresource.org/5-3-nathan-rosenberg/>.

Accesso em: 13 jan. 2014.

56

abordagem sistemática (1974); indústria e universidade: novas formas

de cooperação e comunicação (1984) entre outros estudos.

Ademais, ainda na década de 1990, outros teóricos buscaram a

abordagem voltada para a economia regional, em destaque está Cooke

(1992), que escreveu sobre "Regional Innovation Systems: competitive regulation in the new Europe" (Sistemas Regionais de Inovação:

regulação competitiva na Nova Europa), que veio disseminar a ideia de

Sistema Regional de Inovação. Posteriormente, Asheim e Isaksen

(2002) trouxeram esta mesma visão, sendo que estes focaram suas

análises em regiões, devido ao destaque de mudanças e

desenvolvimento industrial em determinada área geográfica. Em outras

palavras, estes perceberam que o desenvolvimento industrial de

determinada região tinha uma relação com as políticas regionais de

inovação, o que diferenciava aquele espaço geográfico de outras área do

globo. Já Doloreux e Parto (2003, p. 3) atribuíram o conceito de

Sistemas Regionais de Inovação como um conjunto de interações de

interesses privados e públicos, instituições formais e outras organizações

que funcionam de acordo com arranjos organizacionais e institucionais e

relações propícias para a geração, uso e disseminação de conhecimento.

Gertler e Wolfe (2003, p. 4) também enfatizaram que nesta visão

regional, os atores produzem efeitos penetrantes e sistêmicos que

incentivam as empresas na região para desenvolver formas específicas

de capital, que é derivado de relações sociais, normas, valores e

interação dentro da comunidade, a fim de reforçar capacidade regional

de inovação e competitividade.

Deveras, constata-se que a visão sistêmica tem uma

fundamentação teórica e a inserção dos atores (governo, empresa e

universidades) que influencia nos resultados. A visão sistêmica tem sido

muito bem aceita para explicar e analisar as diferenças ou similaridades

entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Por certo, os

sistemas nacionais, ou regionais, ou locais de inovação, devem orientar

a forma da relacão entre os atores, incluindo legislações, políticas

específicas, fundos de investimentos, para melhorar o desempenho da

produção tecnológica e distribuição das tecnologias. O governo

brasileiro seguindo, de certo modo, esta visão internacional, tem tentado

construir um sistema de inovação com políticas de incentivo a pesquisa,

desenvolvimento e inovação (P,D&I), inclusive, utilizando legislações

para introduzir esta cultura inovadora. Compreende-se que as

legislações compõem este sistema e influenciam nas atividades destes

atores, seja regional ou nacionalmente. As legislações sobre inovação

57

estão interligadas sistemicamente e buscam incentivar a aproximação do

poder público ao setor privado com intuito de desenvolver e inovar

melhor. No âmbito nacional, a Lei nº 10.973/2004 (Lei de Inovação),

Lei nº 11.196/2005 (conhecida como Lei do Bem) e Decreto nº

5.563/2005 buscam flexibilizar ou desburocratizar as formas de

conjugar estes interesses dos setores (público e privado), porém, mesmo

após 10 anos de existência, ainda encontram entraves para sua aplicação.

Contudo, percebe-se que no país mesmo com marco legal e

políticas para inovação, a interação entre universidades públicas e

empresas ainda está em fase de construção. E o sistema universitário

deve ser repensado e reestruturado de acordo com o que foi defendido

por Buarque (2014), o qual acredita que a universidade deve ser

repensada por estar em uma "encruzilhada", entre ficar com as ideias

dos séculos anteriores na formação e ensino, ou avançar reavaliando seu

papel na sociedade. Do mesmo modo, Arbix e Consoni acreditam que a

comunidade acadêmica no seu papel propulsor de gerar novos

conhecimentos científicos e tecnológicos para inovação deve repensar a

sua agenda de pesquisa e comunicar-se mais com a sociedade (ARBIX;

CONSONI, 2011, p. 220-221). Neste contexto, não é absurdo pensar em

um novo modelo ou uma melhor estrutura a ser adotada pelas

universidades públicas brasileiras. De outra forma, entende-se que o

conceito de inovação aqui empregado, não limita a responsabilidade

para as instituições de ensino, que devem desenvolver e disseminar o

processo inovativo. Dessa maneira, um modelo que elucida a

participação destes atores e esta interação é o modelo da Tríplice Hélice.

1.4.1 A Teoria da Tríplice Hélice

Os teóricos da Tríplice Hélice, Henry Etzkowitz e Loet

Leydesdorff, contextualizam que a partir do final da Guerra Fria, o

aumento da competição econômica internacional, somados a uma

emergência de novos modelos de conhecimento baseados em

desenvolvimento econômico, confrontou o papel da universidade

refutando o status de "torre de marfim".17

Consoante o que já foi

percebido por Nelson (1993), muitos programas de cunho internacional

17

Ivory tower (torre de marfim) - Termo utilizado na academia para designar

um lugar ou ambiente em que as pessoas encontram-se felizes sem ter

contato com outras pessoas e isolam-se em suas ideias e teorias.

58

ou multinacional (Nações Unidas, OCDE, World Bank e União

Europeia) foram baseados em desenvolvimento econômico que

dependeram da relação entre academia, indústria e governo, o que exigiu

um novo modo de produção alicerçado no novo modelo de tríade

(ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 1995, p. 2, 3). Em suas análises,

estes compreenderam que um novo "contrato social"18

entre a

universidade e a sociedade, numa visão mais ampliada, estava sendo

negociada em termos específicos, uma vez que, o contrato anterior

estava baseado no modelo linear de inovação, prevendo apenas uma

contribuição em longo prazo da academia para a economia. Porém, os

dois planos de contratos são possíveis, seja a curto ou longo prazo,

principalmente, quando envolvem áreas como a biotecnologia e ciência

da computação. E reforçaram a afirmação de que modelos lineares como

o demand pull e technology push já estão superados, sendo a Tríplice

Hélice uma componente chave para estratégias nacionais e

multinacionais para o final do Século 20, lembrando que a teoria se

propagou no final dos anos 1990 (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF,

1995, p. 2). Aqui vale citar a observação destes estudiosos na mesma

obra que ressaltam um comentário de um antigo diretor de Pesquisa e

Desenvolvimento da empresa química Helken USA, nos Estados Unidos

que afirmou que: "a Transferência de Tecnologia está morta! O velho

modelo dos anos 1950 não funciona mais [...]" 19

– fazendo referência ao

modelo linear de Vannevar Bush, e indicando que não há mais tanto

tempo para esperar que somente os investimentos em P&D vão originar

algo brilhante, isto só ocorreria se não houvesse a competitividade, em

outras palavras. Então, fala-se mais em transferência de conhecimento

do que a transferência de tecnologia, já que ambas ocorrem atualmente,

porém, a sinergia na primeira é mais visível para todas as instituições de

ensino e pesquisa.

Este estudo prefere focar nas instituições de pesquisa e

universidades avaliando seu papel e algumas vantagens e desvantagens

18

Fazem alusão ao Contrato Social de Rousseau que de forma resumida

acreditou que para criar uma sociedade esta deveria ser através de um

acordo entre indivíduos, sendo que o governo é instituído pelo povo, o

soberano é o próprio povo que decide sobre como deve ser a governança e

não se submetem a um governo imposto, superior. 19

Technology transfer is dead...The old 1950 model doesn't work anymore

[...].

59

de sua participação no processo de inovação. Dentre os modelos

reconhecidos por diversos autores, a Tríplice Hélice é o que melhor

valoriza a participação das universidades. Etzkowitz e Leydesdorff

indicaram nesta teoria que a universidade pode desempenhar um papel

reforçado na inovação e cada vez mais nas sociedades do conhecimento,

contrapõem-se, assim, à tradição schumpeteriana, que associa a

inovação às empresas. Percebe-se que os autores conferem lugar de

destaque às universidades e também colocam o governo como ator

relevante em seu modelo. Esta teoria tem a adesão de inúmeros outros

estudiosos, porque se diferencia de outras abordagens por não ser linear

ou interativa. Os autores admitem que seu modelo seja analítico e, que

este contribui para a descrição da variedade de arranjos institucionais e

modelos de políticas, de uma forma dinâmica. Todavia, explicam que

este modelo também é diferente do modelo analítico proposto por

Nelson e Lundvall (tratado pelo Sistema Nacional de Inovação), visto

que estes consideram que a empresa tem o papel de liderança, da mesma

forma, distingue-se do Triângulo de Sábato que privilegia o Estado.

Portanto, diferentemente, a Tríplice Hélice foca na sobreposição de

comunicações e expectativas que reformulam os arranjos institucionais

entre universidades, indústrias e agências governamentais

(ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000, p. 109-112). O modelo é

representado por uma espiral com três hélices (Figura 2) que se

entrelaçam por meio de múltiplas interações entre as três esferas por elas

representadas, quais sejam: a universidade, a indústria e o governo. A

figura é a imagem de capa do livro destes autores, representando esta

tríade de forma elíptica.

Figura 2 – Tríplice Hélice

Fonte: ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000.

60

Figura 3 –Tríplice Hélice

Fonte: ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000.

Portanto, através destas hélices, configura-se a dinâmica da

inovação, com as redes de comunicações e de expectativas que estariam

permanentemente remodelando os arranjos institucionais entre

universidades, indústrias e o governo, através de suas agências. Em

razão de estas relações estarem representadas numa espiral e seus

agentes representados em hélices, os arranjos não são estáveis, sendo

que cada hélice, ao se relacionar com qualquer das outras duas, produz

novas relações, redes e organizações entre elas. Cada hélice também

estaria em transformação contínua e suas reconstruções, seriam

consideradas um nível de contínuas inovações sob a pressão das

mudanças do ambiente. As fontes de inovação na configuração da

Tríplice Hélice não são sincronizadas inicialmente, não obedecem a uma

ordem predeterminada, mas geram quebra-cabeças para seus

participantes, analistas e formuladores de políticas resolverem. Desse

jeito, redes trilaterais e organizações híbridas seriam criadas para

solucionar problemas sociais e econômicos com os agentes das

diferentes esferas interagindo e definindo novos projetos.

De acordo com Etzkowitz e Leydesdorff, atualmente, a maioria

dos países estaria buscando conformar esse tipo de arranjo institucional,

tentando fortalecer um ambiente inovador, com iniciativas trilaterais

para o desenvolvimento econômico baseado no conhecimento e alianças

estratégicas entre empresas, grandes ou pequenas (operando em

diferentes áreas e diferentes níveis de tecnologia), laboratórios

governamentais e grupos de pesquisa acadêmicos. Esses arranjos seriam

encorajados, porém, não controlados, pelos governos, que proveriam,

eventualmente, assistência financeira direta ou indireta, através de novas

61

"regras do jogo", ou por políticas ou leis (como a Bayh Dole, no caso

americano). Completam dizendo que a inovação pode surgir na solução

do quebra-cabeça, que tipicamente leva o governo a mudar a forma de

vislumbrar soluções de uma vertente dupla (como demanda e

fornecimento produção e distribuição) para uma tripla que é a Tríplice

Hélice (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000, p. 115).

No tocante às universidades, afirmam que estas continuarão a

serem as instituições principais no setor de conhecimento, ao longo do

que elas permaneçam na sua missão educacional original. Da mesma

maneira, reforçam que a grande e exclusiva vantagem da universidade é

combinar continuidade com mudança, memória organizacional e

pesquisa com novas pessoas e novas ideias, através da passagem de

gerações de estudantes. Enfatizam que a universidade tem sido

transformada de uma instituição de ensino para aquela que combina

ensino com pesquisa, uma revolução que ainda está ocorrendo em todo

o mundo.

Verifica-se que apesar destes modelos que explicam o processo

de inovação e auxiliam o governo a orientar suas políticas e ações para

dinamizar este processo, ainda existem barreiras. No Brasil, na opinião

desta pesquisadora, a teoria da tríplice hélice pode explicar as

dificuldades no avanço nesse processo por algumas peculiaridades das

universidades brasileiras, seja quanto a sua estrutura organizacional,

natureza jurídica ou forma de gestão, principalmente às públicas,

indicando que uma das hélices necessita de definição ou adequação de

seu papel. Diante deste contexto, esforços têm sido realizados para

ampliar o diálogo entre os agentes de inovação, incluindo questões

legais e de investimento do poder público brasileiro. A aproximação

entre as universidades (privadas ou públicas) e empresas privadas

também é uma das modalidades do modelo de inovação aberta (open innovation), cunhado por Henry Chesbrough, que permite uma nova

configuração dos processos de inovação das empresas, abrindo a

pesquisa para outros agentes. Cheesbrough destacou também que até

empresas reconhecidas pelo seu caráter inventivo adotou o novo modelo

com sucesso como a Procter & Gamble, que abriu suas pesquisas para

outros desenvolverem (CHEESBROUGH, 2003, p. 24). Isso já era

realizado pelas universidades e institutos dos países desenvolvidos, que

possuíam políticas específicas e legislações que formalizavam a relação

com empresas.

Pensando na evolução da ciência e tecnologia no Brasil, também

é a partir da década de 1990 que aqui surgiram as novas leis que

62

regulamentam a propriedade intelectual. Introduziu nas instituições de

ensino e pesquisa a necessidade em discutir o tema e formular ações e

internalizar o processo inovativo. Estas legislações, sem dúvida, foram

inspiradas pelo Bayh-Dole Act, dos Estados Unidos e na Lei Francesa de

Inovação, sobre a qual se comentará no capítulo II, o que auxilia na

compreensão do marco legal brasileiro.

É possível concluir que, provavelmente, este mesmo período da

política de inovação norte-americana inspirou os estudiosos como

Etzkowitz e Leydesdorff a formular o modelo da Hélice Tripla (ou

Tríplice Hélice) em 1995-1996, ao mesmo tempo em que levou a

interpretação da relação moderna e interativa. Os autores definiram a

Triple Helix como um modelo analítico que contribui para a descrição

da variedade de arranjos institucionais e modelos de políticas e trouxe a

explicação dessa dinâmica, conforme já descrito.

1.5 A inovação e o processo de transferência de tecnologia

Nos itens anteriores, esboçou-se sobre o significado do termo

inovação e seus modelos. Contudo, dentro do processo de inovação,

existe a transmissão de tecnologia e conhecimento, que inicialmente foi

cunhado pelo modelo linear. Porém, este conceito é ainda utilizado

quando existe o repasse ou transmissão de um bem intangível, protegido

ou não pelos Direitos de Propriedade Intelectual (DPI) e seus

respectivos pedidos de proteção, por meio do licenciamento ou cessão

de direitos. Isso possibilita, também, a transferência de know-how,

serviços técnicos e científicos, serviços de capacitação, serviços de

informação e qualquer meio de transferência do conhecimento ou

qualquer outra forma de utilização do conhecimento. Nas discussões

travadas neste estudo, a transferência de tecnologia ou conhecimento

será focada na relação entre a universidade e as empresas, evidenciando

o papel das universidades na transmissão de conhecimento e tecnologia.

Neste contexto, propiciar uma cultura de inovação é fundamental

na construção do conhecimento, sendo que a inovação tecnológica tem

sido um elemento propulsor nas políticas de desenvolvimento regional e

nacional. Desta forma, constata-se que a relação entre instituições de

ensino e o setor privado deve alcançar maior destaque nos países da

América Latina, com a aproximação da pesquisa científica com a

realidade e necessidade da sociedade, em que o setor privado está

inserido.

Realmente, conforme apresentado pelo relatório sobre a América

Latina, o "capital de inovação" está concentrado, a exemplo no Brasil

63

está nas universidades brasileiras, principalmente, nas universidades

públicas que ao longo da história qualificaram seu quadro e mantiveram

professores e servidores em razão de uma política institucional de

admissão e permanência estáveis. Portanto, algumas destas instituições

são os alvos desta pesquisa quando se trata do desenvolvimento de

inovação e transferência de conhecimento e tecnologia. Afinal,

compreendendo que mesmo com a abertura ou tentativa de

flexibilização pela Lei de Inovação (Lei nº 10.973/2004), ainda são

notórios os ruídos na comunicação entre o setor privado e as

universidades, principalmente as públicas, porque não se conseguiu

instituir esta relação com o setor privado de forma eficaz e que alcance a

disseminação da tecnologia e inovação esperada.

1.5.1 O pensamento utilitarista e sua relação com a pesquisa

No livro "O quadrante de Pasteur: a ciência básica e a inovação

tecnológica", Stokes (2005) sintetiza que a pesquisa básica funda-se no

termo "entendimento" e é aplicada no termo "uso", "utilização".

Identifica a pesquisa básica como aquela que procura ampliar a

compreensão dos fenômenos de um campo das ciências, conhecimento

explicativo geral, e tem como qualidade específica seu ímpeto em

direção ao mais amplo entendimento dos fenômenos de determinado

campo. Entretanto, a pesquisa aplicada, volta-se para alguma

necessidade ou aplicação por parte de um indivíduo, de um grupo ou da

sociedade, ou seja, tenha uma utilidade prática, direcionada (STOKES,

2005, p. 21-23).

Vislumbrando a história, Stokes (2005) justifica a visão

separatista entre ciência pura e aplicada desde os tempos da antiguidade

clássica. Reconhece que foram os gregos os inventores da investigação

científica, pois, conseguiram cortar os laços entre a investigação

filosófica e as atividades práticas. Desta forma, foi uma característica do

pensamento científico grego, o interesse primordial era pelo

conhecimento e entendimento, raramente a utilidade pública, o que

auxiliou no abismo entre a investigação e a utilidade. E esta visão ecoou

no período medieval e influenciou sobremaneira as primeiras

universidades, porque quando a ciência grega foi traduzida para o latim,

depois de ter passado pelo árabe, se constituiu a base sobre a qual se

erigiu a ciência europeia. Os "tesouros intelectuais" do mundo clássico

serviram como estímulo inicial à criação das novas universidades em

Oxford, Paris, Bolonha e Pádua, em que oportunizaram em seus

currículos espaços para a "nova ciência" (STOKES, 2005, p. 53-57).

64

Por outro lado, Mathias (1972) acredita que a ligação entre

ciência e indústria tem relação com o que ocorreu no Século XVII e

XVIII, em que o estado ativamente pressionou os cientistas para um

esforço utilitário. Com percepção histórica, ressalta que, o que toca ao

desenvolvimento institucional da ciência e o padrão de desenvolvimento

nem sempre acompanha ou encaixa-se, sequencialmente, na inovação e

desenvolvimento na indústria. Evidencia que mesmo com a fundação da

Sociedade Real20

e a Sociedade Lunar,21

que são sempre cotadas como

evidência do desenvolvimento e o nexo entre a ciência e indústria,

devem ser estas observadas mais atentamente. A própria Royal Society

teve seu declínio na primeira metade do Século XVIII, e em parte do

Século XIX e, uma considerável fragilidade em comparação a Academia

Francesa.22

Igualmente, a Sociedade Lunar entrou em um estado de

20

The Royal Society of London for the Improvement of Natural Knowledge

(A Sociedade Real de Londres para o Melhoramento do Conhecimento

Natural) foi fundada em 1660, que teve seu intuito de ser a promotora do

conhecimento científico e continua a existir nos dias de hoje. Mais sobre a

sociedade pode ser encontrado no sítio eletrônico:

<https://royalsociety.org/~/media/Royal_Society_Content/about-

us/history/Charter1_English.pdf>. Acesso em: 20 maio 2015. 21

The Lunar Society – Sociedade Lunar ou Círculo Lunar, denominado por

Joseph Priestley, era uma associação um club de intelectuais que se

encontravam ao menos uma vez por mês no domingo ou segunda-feira mais

próxima da lua cheia, o que os auxiliava a retornar para suas casas com uma

certa segurança e luminosidade natural, o período de reuniões mais

marcantes foram entre os anos de 1765 e 1813, em Birmingham, Inglaterra.

Seus mais ilustres membros foram James Watt, Erasmus Darwin, Josiah

Wedgewood, Joseph Priestley, contudo, sempre contavam com visitas de

outros ilustres como Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, Sir Richard

Arkwright, Thomas Bedoes, Anna Seward, John Smeaton, etc

Disponível em: <http://www.historic-uk.com/CultureUK/The-Lunar-

Society>. Acesso em: 20 maio 2015 e Disponível em:

<http://www.bbc.co.uk/programmes/p00548z8>. Acesso em: 20 maio 2015. 22

Academia Francesa (Académie Française) foi criada pelo decreto do

cardeal Richelieu, em 1635, e sua composição abriga 40 membros

denominados imortais, lembrando as Academias de Letras Brasileira e

estaduais. Sua função principal é normatizar e aperfeiçoar a língua francesa

e formalmente é a responsável pela regulamentação da gramática, ortografia

e literatura francesa.

65

colapso depois do Século XIX. Portanto, entende-se que o

desenvolvimento da tradição baconiana23

de ciência experimental, a

tradição de pesquisa baseada em experimentação sistemática, como a

química no final do Século XVIII, teve mais proximidade com o

processo de inovação que os avanços em cosmologia, mecânica ou física

no Século XVII. Reafirma que nestas relações, a ciência provavelmente

aprendeu da tecnologia, assim como a tecnologia aprendeu da ciência,

uma vez que, até o Século XIX, muitos cientistas estavam mais

preocupados em tentar responder questões sugeridas para técnicas

industriais, que propriamente trazer novos conceitos. Concluiu que tanto

ciência e tecnologia demonstraram que a sociedade filosófica e

científica da época tinha um sentimento questionador, curioso, de

experimentar e querer melhorar (MATHIAS, 1972, p. 78-80).

Vale ressaltar que as Artes e Ciências (Artes Liberais24

) eram

vistas apenas como pré-requisito para se especializar em outras

carreiras, não estando no mesmo nível "superior" das faculdades de

Teologia e Direito, por exemplo. Esta emancipação pode ser

evidenciada através da propagação dos princípios humbolditiano25

(a

partir de 1800) que trouxe a visão da "proteção da liberdade acadêmica"

que pode ser definida em dois subprincípios: liberdade de aprender,

exercer e escolher qualquer currículo (Lernfreiheit) e a liberdade para

ensinar (Lehrfreiheit), também conhecido como o direito à livre

investigação. A adoção destes princípios permitiu que professores

23

Ideias de Francis Bacon que foi o mais influente defensor da visão

utilitarista de sua época e defendia que o propósito das ciências era o

domínio da natureza, pois, somente pode ser subjugada por meio de

submissão a ela, e é reconhecido por promover o método experimental e

empírico. 24

Nos ensinamentos de Charle e Verner (1996, p. 32): “[...] Delas vem

inicialmente a ideia de que existiam disciplinas propedêuticas, preparatórias

para os estudos propriamente superiores. Elas eram reagrupadas sob a

denominação de ‘Artes Liberais’. Distinguiam-se as três artes do trivium,

artes das palavras e dos signos (Gramática, Retórica, Dialética) e as quatro

artes do quadrivium, artes das coisas e dos números (Aritmética, Música,

Astronomia, Geometria) e adquiriu-se, então o hábito de falar da ‘Faculdade

de Artes’, faculdade preparatória e generalizante”. 25

Humboldt foi uma figura essencial para o período de fundação da

Universidade de Berlim e difusão das “novas ideias sobre universidade” e

trouxe alguns princípios importantes para desenvolver a pesquisa e ensino.

66

tivessem uma liberdade de investigação sobre suas linhas de pesquisa e

ensino, portanto, enfatizando a importância da ciência e pesquisa na

academia. Principalmente, a liberdade de escolha de currículo

influenciou o sistema norte-americano que diversificou não apenas na

opção curricular pelo aluno, como também, na popularização do ensino

superior.

Em contrapartida, no período da Idade Moderna, houve uma

ênfase na visão utilitária. Mathias (1972) destacou que a ligação entre

ciência e indústria tem relação com o que ocorreu no Século XVII e

XVIII, em que o Estado ativamente pressionou os cientistas para

realizarem um esforço utilitário. Cita como exemplos, os avanços em

balísticas e navegação, sendo que esta última contou com a melhoria da

cartografia, instrumentos científicos, astronomia, tabelas matemáticas

etc. Neste prisma, a indústria e habilidades científicas provaram ser úteis

em guerra e receberam atenção especial. De forma mais abrangente,

rivalidades nacionais tornaram-se importantes no Século XVII por

estimular invenções em muitas indústrias, as quais houveram mais

progresso tecnológico – indústrias de exportação, refinamento de açúcar,

destilarias, vidros, seda, tabaco impressão de livros, indústria de papel,

entre outros. Destarte, com a proteção do Estado houve uma valorização

das artes e das ciências (astronomia, biologia, botânica, química,

clássicos, geologia, história, matemática, filologia, filosofia, física e

ciência política), o que levantou ao status acadêmico da tradicional

(humanista) faculdade de Artes Liberais para o mesmo nível da

Teologia, Direito e Medicina, considerando-a como pesquisa pura

(FALLON, 1980, p. 28-30, 34; SCOTT, 2006, p. 20). Por isto, a

filosofia moral estava sendo substituída pela ciência, assim como o

ensino, pela pesquisa, em sua ordem de importância (KLERR, 2005, p.

15).

Indica também que a transação filosófica no Século XVII

exemplifica o conceito comum do período, assim sendo, os

experimentos e relatórios intentaram ter uma aplicação prática para

agricultura como para a indústria e tinha tanto espaço ou mais espaço

que muitas outras pesquisas e práticas. Afirma que isto certamente foi o

breeding ground (terreno fértil) para a inovação. A partir deste período,

as inovações se espalharam, ou parece que se espalharam, no solo fértil

do discurso científico e social, do nexus entre o homem da ciência e da

indústria. Neste florescimento, a matemática, por exemplo, teve um

papel maior como base inovativa tanto para a navegação, técnicas de

67

pesquisa na terra, quanto para a contabilidade para negócios, desenhos

arquitetônicos entre outros (MATHIAS, 1972, p. 61-63).

Realmente, a partir do Século XVII, houve uma grande

"revolução" nos conceitos e formas sobre a ciência, o que é considerado

pelos historiadores como a Revolução Científica, com o surgimento das

ciências modernas. A ideia de revolução se deu em razão de alguns

estudiosos contestarem teorias aristotélicas, como Simon Stevin nos

seus livros "Princípios da estática" e "Princípios da hidrostática" e

Francis Bacon com sua obra Novum Organum. De igual modo, Nicolau

Copérnico contrapôs-se ao modelo de Ptolomeu, ao apresentar sua teoria

heliocêntrica. Porém, foi revolucionário o período não apenas por

confrontar estudos anteriores, mas também, por apresentar avanços, na

física, química, botânica, anatomia, zoologia microbiologia, fisiologia, a

própria matemática e astronomia. Assim, grandes nomes como Galileu

Galilei, René Descartes, Isaac Newton, Leonardo da Vinci, Jerome

Bock, Otto Brunfels, Simon Stevin, Giordano Bruno, Johanes Kepler,

Daniel Fahrenheit, Anders Celsius, Robert Hooke, Robert Boyle,

Francis Bacon, Christian Huygens, Evangelista Torricelli, Blaise Pascal,

entre outros, endossaram a lista dos "filósofos naturais" como eles

mesmos se intitulavam por realizarem estudos sobre a natureza.

O aumento do interesse dos cientistas europeus pelas atividades

práticas caminhou lado a lado com seu experimentalismo. Na verdade,

os avanços científicos do Século XVII devem-se em parte à sua

disposição em aplicar à ciência as técnicas que haviam tomado

emprestado dos ofícios e das profissões. Como exemplo, aqueles

intelectuais acabaram emprestando seus talentos para melhorar

tecnologias, como o fez Tartaglia e Galileu, para os equipamentos

militares, Stevin para a engenharia hidráulica, Leibniz e Huygen para o

maquinário de potência, e, ainda o grupo de intelectuais (Galileu,

Torricelli, Descartes, Huygens e Newton) para o melhoramento do

telescópio (STOKES, 2005, p. 59-60).

Todavia, Francis Bacon é destacado como o mais influente

defensor da visão utilitarista26

de sua época, pois, para Bacon, o

propósito das ciências era o domínio da natureza, e seus procedimentos

investigativos promoveram o método experimental e empírico. Este

26

O termo utilitarismo foi utilizado pela primeira vez por Jeremy Bentham

e adotado na filosofia por John Stuart Mill, em sua obra Utilitarismo, de

1861.

68

ideal utilitarista propagou-se por gerações, principalmente, nos

enciclopedistas franceses do Século XVIII, e se firmou como uma parte

importante do pensamento ocidental sobre a ciência que conhecemos e

classificamos hoje. Afinal, para eles o estudo da natureza não tinha a

conotação de ciência como é agora. Outra influência destacada por

Stokes (2005) foi à criação da Royal Society, que acredita ter sido

inspirada pela ideia do Instituto de Pesquisa (Casa de Salomão) da obra

de Bacon, "Nova Atlântida" (STOKES, 2005, p. 61). A forte inclinação

dos experimentos e a utilidade do que está sendo pesquisado, testado,

também pontuada por Mathias (1972), pode ser vista no próprio texto do

estatuto da referida Sociedade de Intelectuais Ingleses (1662), em que

houve uma afirmação clara sobre o trabalho dos cientistas focarem em

tecnologia. Verifica-se que este período é anterior a Bentham que

certamente foi o maior entusiasta e disseminador do princípio

utilitarista, ou filosofia utilitarista, que inspirou outros no Século XVIII

e Século XIX.

Convém transcrever um excerto do estatuto da Royal Society para

compreender melhor o que foi mencionado: "O negócio da Royal

Society é: melhorar o conhecimento das coisas naturais, e todas as artes

úteis, Produção, Práticas, Mecânico, Motores e Invenções pela

experiência.", (MATHIAS, 1972, p. 61).27

Mathias apresentou ainda a

relevância do utilitarismo nas melhorias na agricultura no Século XX e

sua relação forte com a ciência, sendo que estas melhorias foram

prioridade naquele período. Indubitavelmente, teve apelo maior às

classes altas e médias da sociedade inglesa, já que estes grupos sociais

tinham mais interesse sobre o desenvolvimento do solo e da terra. As

melhorias na agricultura ocorreram tal como estão os estudos de Francis

Bacon (Sylva Sylvarum, or a Natural History, In Ten Centuries-1670)

que trouxe uma análise comparada de diferentes modos de fertilização;

ou de Boyle (1671) que instou fazendeiros a realizarem experimentos

químicos para melhoria no milho, árvores e gramas (MATHIAS, 1972,

p. 74-75).

Com essa percepção histórica, verifica-se que no tocante ao

desenvolvimento institucional da ciência, o padrão de desenvolvimento

nem sempre acompanha ou encaixa-se, sequencialmente, na inovação e

27

Texto original: The business of the Royal Society is: to improve the

knowledge of natural things, and all useful arts, Manufactures, Mechanic

Practices, Engynes and Inventions by experiment.

69

desenvolvimento na indústria. Ressalta-se que mesmo com a fundação

da Sociedade Real e a Sociedade Lunar, que são sempre cotadas como

evidência do desenvolvimento e nexo entre a ciência e indústria, deve-se

observar que a própria Real Society teve seu declínio na primeira metade

do Século XVIII, e em parte do Século XIX e, uma considerável

debilidade em comparação a Academia Francesa.28

Da mesma forma, a

Sociedade Lunar entrou em um estado de colapso depois do Século

XIX.

O que pode ser reafirmado por Stokes (2005) quando trata da

relação entre ciência e tecnologia e critica as errôneas suposições que se

formaram nos anos mais recentes. Para ele, a primeira premissa

equivocada é que toda ou quase toda inovação tecnológica tem suas

raízes na ciência e; a segunda, é que os fluxos de ciência e tecnologia se

dão sempre num mesmo e único sentido, partindo da descoberta

científica para a inovação tecnológica. Explica que a primeira é errônea

porque se verifica que nos séculos anteriores ao Século XXI, a ideia de

que tecnologia teria como base a ciência seria falsa, de modo que,

durante a maior parte da história da humanidade, as atividades práticas

têm sido aperfeiçoadas por "melhoradores" de tecnologia, os quais

conheciam pouco da ciência. Afirma ainda, que nos dias atuais, grande

parte de inovação tecnológica tem sido produzida sem o estímulo de

avanços da ciência, como ocorreu no Japão que teve um grande avanço

tecnológico no setor automobilístico, porém, não se baseou em novas

aplicações das ciências e sim em melhorias e mudanças em seus

processos de criação e produção. Quanto à segunda, observa que os

desenvolvimentos tecnológicos tornaram-se uma fonte muito mais

importante de fenômenos para os quais a ciência precisou buscar

explicações; assim, os estudiosos muitas vezes buscavam explicar uma

máquina já existente e o porquê de sua funcionalidade, mais que o

inverso. E conclui que cada vez mais a ciência tornou-se derivada da

tecnologia. Em adição, acredita que a influência da tecnologia sobre os

rumos da ciência básica é visível nas inovações tecnológicas envolvendo

28

Academia Francesa (Académie Française) foi criada pelo decreto do

cardeal Richelieu, em 1635 e sua composição abriga 40 membros

denominados imortais, lembrando as Academias de Letras Brasileira e

estaduais. Sua função principal é normatizar e aperfeiçoar a língua francesa

e formalmente é a responsável pela regulamentação da gramática, ortografia

e literatura francesa.

70

processos tanto quanto no caso dos produtos (STOKES, 2005, p. 41;

44).

1.5.2 A importância do modelo jurídico-institucional para

realizar inovação

Com a inicial abordagem sobre Sistemas de Inovação e Modelos

de Inovação, tem-se auxílio na compreensão do universo que este estudo

se concentra, que é a atividade de transferência de tecnologia e

conhecimento nas instituições de ensino, através de seus órgãos

gestores. A partir dos anos 1980, as discussões sobre inovação e suas

interações se intensificaram, e também foi nesta década que as

universidades e institutos de pesquisas norte-americanos puderam se

beneficiar e obter lucros com suas pesquisas e tecnologias desenvolvidas

e financiadas com fundos federais, com a promulgação da Bayh-Dole

Act. Assim, as universidades passaram a ter um papel fundamental na

comercialização de suas descobertas inclusive influenciando no

crescimento econômico de sua região e país trazendo novas ideias e

invenções ao mercado licenciando, transferindo estes direitos às

empresas (constituídas ou novas) e consequentemente ao mercado. A

transmissão destes direitos, ideias, invenções é denominada na literatura

de Transferência de Tecnologia (TT) e esta atividade é organizada e

gerenciada por instituições que facilitam a comercialização e interação

com a comunidade externa, os denominados Escritórios de

Transferência de Tecnologia, Núcleo de Inovação Tecnológica (termo

adotado pela Lei de Inovação Brasileira) que são os Technology

Transfer Offices (TTO).

Contudo, Bradley, Hayter e Link (2013, p. 03-18) apontam que

grande parte da literatura concentra-se em representar o processo

transferência de tecnologia em um modelo tradicional conhecido como

modelo linear. O modelo tradicional do processo de transferência de

tecnologia simplifica-se apresentado o fluxo de conhecimento linear,

retomando o modelo linear de Bush. Portanto, o "Modelo Tradicional de

Transferência de Tecnologia" é caracterizado por linearidade e

formalidade. Este modelo funda-se na ideia de que o processo se inicia

com uma descoberta pelos cientistas da universidade e, segue um

caminho linear apresentando esta nova descoberta ao Escritório de

Transferência de Tecnologia (TTO), que decidirá sobre seu

patenteamento ou não, e posteriormente a invenção ou ideia protegida,

poderá ser comercializada através de licenciamento para uma empresa

71

existente ou futuras empresas (spin off ou star up

29) que serão

estabelecidas para desenvolveram a invenção.

Na visão dos autores, este modelo tem suas impropriedades e

limitações (p. 35-45) que são apontadas como inocorrências e

inadequações. As inocorrências são apontadas em relação às

discrepâncias entre as postulações acadêmicas e como a transferência de

tecnologia é praticada nas universidades na realidade. Acreditar que a

estrita observância da linearidade e que a transferência de tecnologia

deve ser desenvolvida nesta sequência de mão única é subestimar a

complexidade do processo de TT, já que muitas vezes este processo

precisa ser reorganizado para seu melhor desenvolvimento. Portanto, a

simplificação do processo de TT, e assunção de que esta fórmula deve

servir para todos os casos, realmente é muito simplista.

Outro ponto de crítica é a ênfase exagerada no patenteamento

como uma fonte primária da transferência de tecnologia, esquecendo-se

que existem outros mecanismos que levam à comercialização e

rentabilidade, como as Marcas e Direitos do Autor. Quanto às

inadequações, destacam que o modelo tradicional despreza os

mecanismos informais e mais flexíveis de transferência de tecnologia

(conhecimento), que são as consultorias e as pesquisa colaborativas, e

ainda, as interações entre os membros das faculdades e a indústria,

publicações conjuntas e até mesmo as transferências de conhecimento

informais, principalmente, quando existe uma relação mais longa entre

estes pesquisadores e a empresa. Inclusive alertam que muitas vezes

quando os cientistas percebem que existe ou existirá uma

"inflexibilidade", barreiras na relação com a empresa interessada, como

também desvantagens com o envolvimento do Escritório de

Transferência de Tecnologia e os canais oficiais, o inventor poderá

preferir "burlar a divulgação" de sua invenção ao Escritório e adotar um

29

A similaridade entre as duas formas está em que ambas são novos

empreendimentos comerciais com interesse em desenvolver algo novo,

contudo, a spin off tem a característica de ser gerada dentro de uma outra

organização existente, portanto, nasce necessariamente (ou dentro) de uma

organização quer seja uma empresa ou uma universidade; já as start up são

novas empresas, geralmente na área de tecnologia, que tenham como

objetivo principal desenvolver e comercializar uma ideia nova, não

nascendo de uma organização anterior, apesar de poder basear-se em ideias

de universidades e ter estudantes e profissionais que desenvolveram a ideia.

72

mecanismo de transferência informal (p. 48). E de igual modo, destacam

a importância do sistema de recompensas da instituição, uma vez que

este acaba traduzindo as prioridades da mesma. Neste prisma, se a

instituição incentiva mais o cientista a publicar ou direcionar-se a

assuntos estritamente acadêmicos, evidente que a transferência de

tecnologia não é uma prioridade. Todavia, se houver um incentivo ao

empreendedorismo e comercialização dos ativos intangíveis, bem como,

aproximação com o setor privado, incluindo formas de premiações e

classificações internamente, é possível vislumbrar uma atividade mais

contundente de TT.

Quanto maior a valorização e recompensa ao inventor (ou grupo

de inventores), mais interesse estes terão em se envolverem no processo

formal de transferência de tecnologia. O modelo tradicional também

deixa de observar a cultura da instituição. Assim, a trajetória da carreira

acadêmica tradicional incentiva e premia a produção de novos

conhecimentos científicos, com publicações, participação em eventos,

influenciando os cientistas universitários estarem menos propensos a

comercializar os seus conhecimentos. Outra questão que influencia é a

desconexão entre as subculturas de cientistas universitários e os

administradores da universidade. Na opinião desta autora, por mais

inovativo que estes cientistas sejam e se dediquem para ideias

inovadoras, se a administração da instituição não se organizar política e

normativamente, investir e estruturar a universidade para que tenham

uma visão mais empreendedora, evidente que a transferência de

tecnologia não terá resultados animadores.

Neste ponto sobre a cultura institucional e a forma de organizar a

gestão e comercialização destes conhecimentos e tecnologias, é possível

reconhecer o modelo jurídico-institucional adotado, e se este apoia ou

não a internalização da inovação na universidade. De acordo com

estudos realizados pelo Centro de Gestão de Estudos Estratégicos

(CGEE, 2010, p. 20), sobre organizações de pesquisas, define-se "o

modelo jurídico-institucional como o conjunto de regras, leis e macro

diretrizes que delimitam o espaço e as direções nas quais uma

organização pode mover-se no cumprimento de sua missão". Portanto,

os estatutos jurídicos da organização, sua estrutura e política constituem

parte central do modelo institucional, bem como, os instrumentos de

controle e orientação (conselhos e outras instâncias) que influenciam na

atuação da instituição, o que de certa forma enunciam sua cultura,

missão ou visão. Neste horizonte, é importante analisar este modelo

jurídico-institucional destas entidades de pesquisa, inclusive

73

comparando com modelos de outras instituições estrangeiras. Destaca-se

que esta preocupação chega com certa urgência ao Brasil, visto que,

países como Dinamarca, França, Alemanha, Hungria, Itália, Noruega,

Portugal, Suíça e Reino Unido, também passaram por reestruturações

em seus modelos (ASTRÖM et al., 2008). A exemplo da Suécia que

compreende os institutos de pesquisas do país (IRECO30

) não tem

modelo de inovação formalizada. No entanto, o processo de

reestruturação que se submeteu o Grupo é permeado com uma nova

visão da inovação do processo. Desta forma o modelo tradicional

"linear" da inovação é substituído por um modelo que reconhece que as

inovações são desenvolvidas em interação entre universidades, institutos

de investigação e as empresas e que pesquisa básica, orientada para uma

missão de P&D, desenvolvimento e inovação são processos que estão

interligados e sobrepostos (ASTRÖM et al., 2008, p. 80). Os Estados

Unidos, em sua vanguarda na inovação, reconheceu que mecanismos

jurídicos-institucionais são instrumentos cruciais para incentivar a

produção e disseminar o conhecimento e transferência de tecnologias

comercializáveis, estabelecendo parcerias entre laboratórios federais,

indústrias e universidades, principalmente, com a adoção da Bayh-Dole

Act, legislação que permitiu às universidades a terem a titularidade dos

Direitos de Propriedade Intelectual quando financiadas pelo Governo

Federal e consequentemente, um aumento nos investimentos privados

(MATTOS; ABDAL, 2010, p. 15-16).

Importante estudo sobre a definição do papel das instituições de

pesquisa e das universidades no Sistema Nacional de Inovação

Brasileiro traz à tona a definição sobre o que deve ou não ser publicado

quanto aos resultados das atividades de pesquisa, a relação entre modelo

jurídico das instituições e seu desempenho, entre outras questões que

mereceram atenção (CGEE, 2010, p. 16). No Brasil, na contramão

destes esforços, perpetuam-se problemas de burocratização do setor

público, morosidade e burocracias dificultando a dinâmica das ações. E

a universidade pública brasileira juntamente com instituições públicas

30

IRECO Holdin AB, que atualmente se denomina RIS (Research Institutes

of Sweden - Institutos de Pesquisa da Suécia), é uma sociedade anônima

sueca que atua como empresa do governo sueco de exploração para a

propriedade estatal dos vários institutos de pesquisa no país, constituída sob

a forma de uma sociedade de responsabilidade limitada em que o Estado

sueco não é o único proprietário.

74

de pesquisa apresentam modelos jurídico-institucionais que podem

delimitar sua atuação e retardar o desenvolvimento do processo de

transferência de tecnologia.

1.6 Um olhar mais abrangente: modelos de transferência de

tecnologia de instituições ensino em Israel e Países Baixos

Destaca-se que qualquer sistema tem seus elementos de interação.

Lundvall sublinha que o sistema não é somente a soma das partes, é

,também, as inter-relações e interações entre os elementos, que são tão

importantes para os processos e os resultado. Portanto, espera-se que

cada sistema possa desenvolver a sua própria e única dinâmica

(LUNDVAL, 2007).

O conceito de Sistema de Inovação geralmente envolve o Sistema

de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) que é desenvolvido nas

universidades e institutos de pesquisa, bem como, nas indústrias. Isso

também é destacado na legislação sobre Propriedade Intelectual,

principalmente, as patentes, as formas de transferência de tecnologia e,

políticas governamentais que visam estimular a inovação. Por isso,

aproxima-se do conceito de "sistema" envolvendo governo,

universidades, institutos de pesquisa e indústrias, sendo estes os atores

principais.

Dedicou-se neste estudo a conhecer o papel da universidade e sua

participação neste Sistema de Inovação. O viés desta pesquisa

concentrou-se no Brasil, todavia, principalmente, neste tópico, convém

tratar, mesmo que de forma breve, sobre outros exemplos internacionais.

Os países escolhidos foram os Países Baixos e Israel. A escolha destes

países tem suas razões peculiares, que apresentam evolução da

inovação, com destaque na organização da educação superior e

científica, com modelos de sucesso diferenciados, bem como, por razões

mais particulares, de forma que, quanto aos Países Baixos, o interesse

partiu da oportunidade desta pesquisadora realizar um Doutorado

Sanduíche na Universidade de Maastricht, através de um programa que

envolveu as universidades (Universidade de Santa Catarina-UFSC e

Universidade de Maastricht) através das agências de pesquisas brasileira

e holandesa (CAPES e a NUFFIC) que originou um artigo publicado.

Quanto a Israel, este país foi objeto de estudo durante a pós-graduação,

que motivou uma pesquisa mais detalhada e um artigo que destacou a

75

referência deste país quanto à forma de transferir tecnologia e sua

inserção internacional, mesmo sendo tão pequeno.

Apesar de Sistema Nacional de Inovação ser um termo comum, a

prática em cada país pode mostrar a diversidade de sua composição,

porque o Sistema de Inovação é o resultado da interação entre os atores

(universidade, governo e inicitaiva privada) e que faz diferença na forma

como esses atores estão estruturados e ao nível do desenvolvimento do

país, logo, é interessante um olhar mais abrangente neste texto. A

passagem, o mover da inovação tecnológica de uma instituição que

desenvolve Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para outra instituição

receptora é o que se conceitua a Transferência de Tecnologia (TT). Para

Rogers, Takegani e Yin (2001), a transferência de tecnologia é a

aplicação de informação (que eles denominam como inovação

tecnológica) dando-lhe utilidade; e o processo de Transferência de

Tecnologia geralmente envolve o movimento de uma inovação

tecnológica de uma instituição de P&D para uma organização receptora,

como uma empresa, para que esta comercialize o produto desenvolvido

para o mercado (ROGERS; TAKEGAMI; YIN, 2001, p. 254). Este

processo de transmitir ou compartilhar uma tecnologia tem ocorrido

com frequência entre as instuições de ensino e pesquisa e o setor

privado, sendo organizado através dos Escritórios de Transferência de

Tecnologia destas organizações os denominados TTO (Technology

Transfer Offices). Países desenvolvidos como Estados Unidos,

continente europeu e também os países emergentes como os asiáticos

reconheceram que a maioria do conhecimento tecnológico é produzida

dentro da universidade (ou institutos de pesquisas). É nestes lugares que

estão as fontes de geração de novos conceitos e tecnologias, o que não

ocorre com as empresas nas quais seus investimentos em Pesquisa e

Desenvolvimento é sempre limitado ou muito direcionado,

principalmente, nas médias e pequenas empresas. Assim, pensando

numa interação entre estas organizações (universidade e empresa)

através de políticas, legislações e estruturas, bem como, incentivos

fiscais ou fomento, o governo incentiva esta relação Universidade-

Empresa para que haja uma transferência de conhecimento e tecnologia.

O que possibilita que o setor privado possa avançar tecnologicamente e

ao mesmo tempo as instituições de ensino possam ver suas pesquisas

tornarem-se produtos e ter uma utilidade mais concreta, com um retorno

financeiro a ser investido na própria universidade, desta forma, todos

ganhando. A forma e organização em que estas transferências são

realizadas são aqui denominamos de Modelo de Transferência de

76

Tecnologia ou Modelo de Gestão de Transferência de Tecnologia, sendo

que estes modelos são diferenciando quanto à missão da universidade,

função da pesquisa, conceito de tecnologia e o processo de transferência

de tecnologia adotado.

Entendendo a importância de um Sistema Nacional de Inovação,

é interessante verificar a posição dos Países Baixos em comparação aos

outros países, inclusive o Brasil. Conquanto, apesar do Brasil e Holanda

possuírem suas diferenças em território, posição geográfica, população e

cultura; existem similaridades como a vocação ao agronegócio, um

desempenho satisfatório em termos de inovação e, particularmente,

ambos gozam da dificuldade de traduzir os resultados das instituições de

ensino e pesquisa como ideias comercialmente viáveis. Além disso,

outra similaridade existe em razão do direcionamento em metas de curto

prazo para a produtividade, portanto, a ênfase na inovação incremental31

é maior que na inovação radical. Então, o texto aborda panorâmicamente

a estrutura dos Países Baixos.

Da mesma forma, discorre sobre Israel que como a Holanda

possui um território pequeno, ainda conta com escassos recursos

energéticos, hídricos e em solo. Não obstante, o Estado de Israel tem se

destacado no cenário internacional pelo alto nível de qualificação de

recursos humanos e posiciona-se entre as grandes potências mundiais

quando se trata de inovação tecnológica.

1.6.1 Modelo de Transferência de Tecnologia na Holanda

Este tópico visa proporcionar um panorama conciso sobre o

Sistema Nacional de Inovação Tecnológica dos Países Baixos, com

destaque para as instituições de ensino e pesquisa. Evidentemente, não

esgotando toda a temática, entretanto, possibilitando uma visão

perfunctória da política adotada.

O País é uma monarquia parlamentarista, sendo o Conselho de

Ministros que nomeia o Primeiro-Ministro para governar o Reino e este

conselho conta com um ministro plenipotenciário de Aruba, um ministro

plenipotenciário de Curaçao, e um ministro plenipotenciário de Sint

Maarten. Lembrando que a (s) Holanda(s) é (são) na verdade regiões

31

Representam pequenos avanços no produto ou em linhas de produto, não

significando grandes mudanças na forma, porém, significativos benefícios

ao consumidor.

77

(províncias) dos Países Baixos, existindo a Holanda do Norte, que tem

como capital a cidade de Haarlem, sendo Amsterdam a cidade principal;

e a Holanda do Sul que tem Haia como capital. O país tem ainda mais

10 províncias denominadas: Drenthe, Flevoland, Friesland, Gelderland,

Groningen, Limburg, Noord-Brabant, Overijssel, Utrecht e Zeeland.

Apenas para elucidar, Maastricht, onde esta pesquisadora realizou parte

de seus estudos, está no extremo sul do país, localizada na região de

Limburg, sendo sua capital.

Apesar de ser um país com pequenas proporções territoriais,

possui um desenvolvimento tecnológico expressivo dentro da

comunidade europeia e internacional. Tem destaque para o agronegócio

e indústria química e está entre as grandes potências mundiais quando se

trata de inovação tecnológica.

1.6.1.1 As universidades e institutos holandeses

O Sistema de Ensino Superior Holandês é dividido em dois tipos

principais de instituições: as universidades e o HBO-setoriais (HBO-

Hoger Beroepsonderwijs), chamado de sistema binário. Sua função é

formulada na Lei Nacional de Ensino Superior e Investigação de 1993.

A Holanda tem 13 universidades e uma universidade com ensino à

distância (Universidade Aberta) – dados coletados no ano de 2013. A

primeira universidade foi criada em 1575, em Leiden, Universiteit

Leiden. Entre as 13 universidades, três são direcionadas para programas

tecnológicos e de engenharia, uma voltada para a agricultura e nove são

as universidades que se dedicam a uma gama generalizada de áreas.

A maior parte da pesquisa básica é desenvolvida nessas

instituições. Ao contrário, os 42 Hogescholen (universidades de ciências

aplicadas) referem-se, principalmente, a programas de educação

orientados vocacionalmente e ajustados às profissões específicas e nos

quais a pesquisa aplicada é cada vez mais engajada. Estas entidades de

ensino não podem conceder doutorado. As universidades são

representadas pela VSNU (Associação das Universidades dos Países

Baixos), e os Hogescholen defendem seus interesses comuns através do

Conselho da HBO (HBO Raad), em que são discutidos os programas e

políticas para as respectivas instituições.

1.6.1.2 Do modelo de Transferência de Tecnologia nas

universidades e institutos Quanto ao modelo de transferência de tecnologia entre as

instituições holandesas, geralmente, cada instituição tem um roteiro e

regulamento designado sobre a comercialização do conhecimento e

78

resultados gerados. Estas regulamentações internas basicamente seguem

o determinado na legislação holandesa de patentes (PATENT ACT,

1995); e de direitos autorais contendo regulação para Direitos do Autor

(COPYRIGHTS ACT, 1912) e suas alterações: como em relação à

reprodução e gravação de imagens ou de som para uso pessoal

modificada em 1990, ou a proteção de programas de computador em

1994. Existe também uma legislação sobre sementes e variedades de

plantas, comercialização e propagação material e concessão de direitos

do criador (SEEDS AND PLANTING MATERIALS ACT, 2005), entre

outras normas esparsas.

Nos regulamentos de cada universidade estão definidas as

relações das instituições e seus trabalhadores, bem como, relação com

terceiros e suas licenças. Dessarte, conforme os atos citados, no caso de

patente, os direitos conexos revertem-se para o empregador, na medida

em que a natureza das invenções esteja relacionada ao desenvolvimento

de suas atividades (pesquisador/inventor), conforme os artigos 12.1 e

12.3, bem como, de atividades de estágio (Artigo 12.2).32

E em relação à

legislação de direitos autorais, o empregador (universidade e instituto) é

visto como o criador do trabalho, conforme o Artigo 7º.

Para exemplificar e compreender como funciona a relação entre a

universidade e terceiros interessados (organização ou empresas) destaca-

se algumas peculiaridades de duas universidades: a Universidade de

Maastricht (University Maastricht-UM) conjuntamente com sua unidade

dedicada à saúde (University Hospital Maastricht-AZM); e a

Universidade de Amsterdam (VU) e do Centro de Medicina da referida

universidade (VUmc). Ambas possuem um Escritório de Transferência

de Tecnologia (TTO) que cuidam da comercialização dos

conhecimentos, pesquisas realizadas na entidade, bem ainda, com a

chamada política de "valorização" do profissional, oferencendo cursos,

palestras e apoio aos processos e atividades dos seus trabalhadores e

pesquisadores. No caso da Universidade de Amsterdam (Vrije Universiteit Amsterdam-VU) a atuação do escritório está na tecnologia

de informação, energia e ambiente, ciências da vida, promoção à saúde e

de cuidados de gestão de saúde; e em Maastricht está mais voltado para

empreendedorismo (Maastricht Centre for Entrepreneurship-MC4E) e

32

As informações estão disponível em:

<http://english.rvo.nl/sites/default/files/2013/12/ROW95_ENG_niet_officie

le_vertaling_0.pdf.> Acesso em: 05 mar. 2013.

79

saúde (BioMedbooster). Os centros médicos das citadas universidades

são renomados e buscam adaptar o papel da universidade com a

sociedade, principalmente, quanto aos cuidados de saúde, conforme

citado, trazendo inovação para o mercado e promovendo o

conhecimento e a transferência de tecnologia.

Estes escritórios funcionam como um empreendedor institucional

e gerenciam o portfólio de Propriedade Intelectual das respectivas

instituições, entretanto, não funcionam como empresas separadas ou

órgãos totalmente independentes. Estes TTO também orientam os

pedidos de patentes e oferece aconselhamento e apoio no processo de

comercialização (em cooperação com o inventor e departamento

envolvido). Os profissionais do escritório também prestam

aconselhamento jurídico sobre a troca de informações confidenciais

materiais ou contratos de pesquisa, bem como, ajudam no processo de

patenteamento e licenciamento. Ademais, os escritórios de tranferência

de tecnologia auxiliam no desenvolvimento de estratégias de negócios,

análises de mercado, planos de negócios, formação de novas empresas, e

ter acesso a instrumentos financeiros particularmente voltados para a

valorização do conhecimento e desenvolvimento de produtos. Da

mesma forma, poderão coordenar os contratos para colaborações

universidade-indústria. Os escritórios ainda oferecem capacitação aos

cientistas com cursos e treinamentos, e com o desenvolvimento de

planos de negócios e aplicações de subsídios. Como também fornecem

acesso a empréstimos para a realização de estudos de viabilidade de

oportunidades de negócios, particulamente no caso da Universidade de

Amsterdam.

De acordo com a Lei de Patentes holandesa, qualquer invenção

feita pelo trabalhador de uma instituição universitária ou investigação, é

legalmente de propriedade da instituição. Assim, todas as patentes

devem ser apresentadas em nome das respectivas instituições. Mas, no

caso da Universidade de Maastricht há flexibilidade nas invenções

relacionadas à saúde, conforme seu regulamento (Artigo 3º), em que é

possivel que a UM deixe os direitos de propriedade decorrentes da

aplicação, invenção, de trabalho ou de banco de dados desenvolvido,

matérias sobre saúde, medicina e ciêncas da vida, para compor de forma

conjunta com a Faculdade de Saúde, Medicina e Ciências da Vida.

80

No caso da UV, todas as patentes devem ter o pedido em nome da

universidade (Vereniging VU Windesheim33

), a menos que medidas

legais no exterior tornem isso impossível, a patente deverá ser

transferida para a Vereniging (Associação) o mais rápido possível após

o depósito, convergindo também à gestão da carteira de patentes.

Entretanto, observa-se nos regulamentos destas instituições que

existem formas de flexibilização, com previsão de casos excepcionais, e

acabam não necessitando seguir à risca o regulamento, podendo

negociar com terceiros, evidentemente, após justificativas e

recomendações das respectivas faculdades, e passar para decisão de

diretoria respectiva, como no caso do Artigo 11 da UM.

No que concerne à divisão dos Royalties, de acordo com as

legislações apontadas, a propriedade intelectual pertence à universidade.

No entanto, o inventor pode receber valores, como uma parte do lucro

líquido, quando uma tecnologia por ele criada entra no mercado com

sucesso e ganha receita. Este lucro líquido é dividido entre a

universidade (orçamento central), faculdade/divisão/instituto e o próprio

inventor ou inventores, sendo de um terço para cada um (33%).

Interessante mencionar que a VU tem um fundo para patentes,

utilizado para financiar atividades relacionadas com patente, incluindo

os custos de aplicação. Por isso, é o TTO que administra os fundos

atribuídos e decide se deve prosseguir ou não com uma patente após

análise. Cada universidade tem seu modelo contratual e seria

interessante discutir estas modalidades de forma mais detalhada em

outra oportunidade, tendo em vista que este texto se dedica a uma visão

geral sobre a Transferência de Tecnologia.

1.6.1.3 A posição inovadora dos Países Baixos

Estudos são realizados para mensurar e classificar países

desenvolvidos e em desenvolvimento, inclusive quanto ao seu caráter

33

Associação das Universidades de Amsterdam. Até o final de 2011, a

universidade era parte da pessoa jurídica e da cúpula administrativa

'Windesheim University Association, que além da VU também contava com

o Centro Médico da Universidade VU, a Universidade Windesheim Cristã.

E desde 01 de janeiro de 2012 foi dividido e foram estabelecidas as

fundações para as instituições VU e VUmc (Fundação- Medical Center) e a

instituição Windesheim (Fundação Faculdade Cristã Windesheim).

81

inovativo. Destaca-se neste tópico o relatório de competitividade global

promovido pelo Fórum Econômico Mundial 2013/2014 que apresentou

a Holanda na 8ª posição, à frente do Japão e Reino Unido, 9 e 10,

respectivamente.34

De forma diferenciada da abordagem da OCDE em

relação ao relatório apresentado, os Países Baixos apresentaram uma

melhoria em sua qualificação comparável ao ano de 2008. Na verdade,

para o ranking do Fórum Econômico Mundial, o país perdeu três

posições desde o último ranking e o motivo atribuído refere-se aos

dados do mercado financeiro enfraquecido e, em particular, o aumento

com preocupações sobre a estabilidade dos bancos. Em média, o país

tem um desempenho satisfatório e considerado uma economia altamente

produtiva.

Empresas holandesas foram consideradas pelo relatório como

altamente sofisticadas e inovadoras, ficando em quarto lugar, foi

também apontado que o país tem aproveitamento de novas tecnologias

para melhorias de produtividade, classificado em oitavo. Isto é atribuído

ao sistema educacional excelente (4º classificado para a saúde e

educação primária e 6º para a Educação Superior e formação).

Apresentou um eficiente mercado de bens em 8º posição, sendo que são

altamente favoráveis à atividade empresarial. E, embora o país tenha

registrado déficits fiscais nos últimos anos (4,15 % do PIB em 2012), o

seu ambiente macroeconômico é mais forte que a de uma série de outras

economias avançadas. Por último, mas não menos importante, a

qualidade de sua infraestrutura está entre os melhores do mundo,

refletindo excelentes instalações para transporte marítimo, aéreo e

ferroviário, que são classificadas 1º, 4º e 11º, respectivamente.

De forma um pouco mais crítica, Rob de Graat, Patrick van der

Duin e Ton Langeler (2010) realizaram o estudo empírico realizado por

um grupo de pesquisadores, apresentaram um cenário menos entusiasta

sobre o sistema de inovação holandês desenvolvido. No estudo,

entrevistaram profissionais das áreas da educação, empresas e governo e

34

O relatório contribui para a compreensão dos principais fatores que

determinam o crescimento econômico, ajuda a explicar por que alguns

países são mais bem sucedidos que outros na elevação dos níveis de renda e

das oportunidades de suas respectivas populações, e oferece aos políticos e

líderes empresariais uma importante ferramenta para a formulação de

melhores políticas econômicas e reformas institucionais.

82

identificaram sete razões como limitativas da melhoria na capacidade de

inovação da economia do país. Entre as falhas pontuadas destacam-se

três: a) as dificuldades de empresas holandesas para absorver

conhecimento acadêmico - a razão indicada que as universidades não

são capazes de traduzir seus resultados em ideias de negócio, e,

empresas não são capazes de ver as instituições como realmente capazes

de agirem de forma empreendedora; b) pouco uso das Tecnologias de

Informação e Comunicação (TIC), no entanto, apesar de existir uma

estrutura grande de TIC, ainda é muito lenta a implementação destas

tecnologias em novos produtos, serviços e melhoria de processos, até

mesmo o processo de inovação em si; c) a falta de pessoal qualificado

destacando que o financiamento governamental ainda é insuficiente para

o sistema educacional, especialmente na área técnica.

É relevante a tendência que o país vem adotando na agricultura e

indústria de alimentos, investimentos são feitos para florescer as start-

ups e pequenas e médias empresas. Da mesma forma, denota-se a

importância de um fundo para universidades como a Erasmus,35

Groningen e Radboud (HAN), que treinam os alunos para estabelecerem

seu próprio negócio e auxiliam os pesquisadores a traduzirem os seus

conhecimentos para produtos, como também, formas de atraírem

trabalhadores para o mercado holandês. Verifica-se o comprometimento

do governo em concentrar capacitação-graduação e ciência para ter

profissionais mais qualificados para as indústrias e permitir ações mais

interativas entre ciência e setor privado. Por exemplo, a possibilidade de

mudar regime de educação para uma visão mais empresarial,

incentivando a colaboração com setores-chave.

Não obstante, no período desta pesquisa (2013), a Holanda teve

um índice de Pesquisa e Inovação abaixo da média da Organização para

a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e caiu

substancialmente desde o início de 1990, comparando com o que foi

demonstrado pelo relatório sob a perspectiva de Ciência, Tecnologia e

Indústria em 2008. Um dos fatores apontados no relatório foi a estrutura

da economia centrada no setor de serviços, tendo um pequeno setor de

35

Erasmus Universiteit Rotterdam é uma universidade sediada na cidade de

Roterdã que recebeu este nome em 1973, sendo reconhecida pela sua

dedicação na área de Economia, sob a influência da Escola de Comércio dos

Países Baixos (1913), fundada pela iniciativa privada e apoio da

comunidade de negócios da cidade.

83

alta tecnologia e elevada concentração de P&D em um número limitado

de empresas multinacionais (Philips, Unilever, Shell, Akzo/Nobel, DSM

e outras), algumas das quais estão em setores de baixa e média

tecnologia, conforme o relatório OCDE de 2008.36

A falta de sucesso em transformar o conhecimento em um

desempenho econômico mais forte foi uma das "fraquezas" destacadas

no referido documento. Apesar da força tradicional do país ser serviços

relacionados ao comércio e distribuição, medidas de inovação e

crescimento da produtividade nos serviços mostram-se tímidas no

desempenho comparativamente a outros países da OCDE, e que pode

ser uma preocupação para o crescimento de longo prazo e futura posição

competitiva. Comenta-se que, neste aspecto, a Holanda congrega as

mesmas dificuldades dos países em desenvolvimento como o Brasil.

1.6.2 Modelo de Transferência de Tecnologia em Israel

Apesar de ser um país com pequenas proporções territoriais e

com escassos recursos energéticos, hídricos e solo, o Estado de Israel

tem se destacado no cenário internacional pelo alto nível de qualificação

de recursos humanos e se colocado entre as grandes potências mundiais

quando se trata de inovação tecnológica.

O País ficou conhecido como a nação de startups, após a

publicação do livro propaganda Start-up Nation, (2009), que teve como

autores o jornalista israelense Saul Singer e o pesquisador Dan Senor.

Se Israel depositasse suas expectativas nos recursos naturais disponíveis

para desenvolvimento de agricultura, potencial energético, indústrias em

geral, à primeira vista, não se poderia esperar tanto sucesso desta nação

em comparação ao Brasil, uma vez que, em extensão territorial, Israel

representa o estado de Sergipe com pouco mais de vinte e dois mil

quilômetros quadrados. Mesmo com estes fatores de desvantagens,

Israel registrou no ano de 2011 uma taxa de crescimento do PIB de

4,9%, percentual, acima de outras economias desenvolvidas. E, mais

importante é que Israel foi considerada a nação que esteve em primeiro

lugar no mundo, em 2010, quanto à proporção de investimento nacional

36

Relatório sobre Inovação em empresas e os resultados de uma análise

comparativa da inovação em pesquisa de micro dados.

84

em P&D, 4,40% do PIB (excluindo a defesa), conforme dados da

OCDE.37

Mesmo com a população que não ultrapassa oito milhões de

habitantes, conta com a concentração de cientistas renomados com 10

prêmios nobel em diversas áreas. Em contrapartida, O Brasil pode

somente citar um caso de um brasileiro (britânico) que ganhou um

prêmio nobel, o zoólogo Peter Medawar, que ganhou o prêmio Nobel de

Medicina de 1960 e mesmo tendo nascido no Brasil, preferiu a

nacionalidade inglesa. Verifica-se que a extensão territorial e quantidade

e habitantes não geraram vantagens nesta comparação com o Brasil.

1.6.2.1 Entidades geradoras de conhecimento – universidades e

institutos de pesquisas As universidades israelenses possuem autonomia administrativa e

pedagógica e seu orçamento é formado por fundos públicos, que

representam 70%,e, pelas mensalidades pagas pelos estudantes (em

torno de 20%) e o restante é proveniente de várias fontes particulares.

As atividades de pesquisa científica são desenvolvidas pelas

universidades e institutos que são agentes importantes para os avanços

tecnológicos de Israel. Porém, a forma de organização da transferência

de tecnologia difere um pouco do modelo brasileiro, pois, a pesquisa e

desenvolvimento são realizados pelas universidades e institutos de

pesquisas, mas, a comercialização do produto de P&D é realizada por

uma empresa privada, uma organização que administra a propriedade

industrial.

Primeiramente, convém destacar o Instituto Weizmann de

Ciência, que foi uma das primeiras instituições a adotar esta sistemática,

criando uma organização, denominada YEDA, em 1959, para

administrar a comercialização e marketing da pesquisa realizada. O

sucesso adquirido levou as universidades israelenses a replicá-lo,

gerando um ciclo de inovação, em que conjuga a visão empresarial na

Propriedade Industrial, possibilitando um retorno, um investimento na

pesquisa para o desenvolvimento de novas ideias e produtos, deixando

os pesquisadores desenvolverem seu papel de forma mais aplicada. Esta

visão empresarial também pode ser observada na criação de parques

industriais com base na pesquisa científica, em indústrias paralelas para

37

Disponível em: <http://www.oecd.org/israel/sti-outlook-2012-israel.pdf>.

Acesso em: 20 mar. 2013.

85

a comercialização de produtos específicos, baseados em suas pesquisas,

possibilitando associações com parceiros comerciais locais e

estrangeiros e também assessorias técnicas.

A interdisciplinaridade está presente nas pesquisas israelenses

como no estabelecimento de institutos de análise e teste, em vários

campos científicos e tecnológicos vitais à indústria do País como nas

áreas de construção, transporte, educação, agricultura, aproveitamento

de águas, aeronáutica, dado que estes são os pontos fundamentais da

pesquisa aplicada. Esta parceria (universidade e setor privado) é de

fundamental importância no Sistema de Inovação israelita, visto que

indica a visão governamental deixando claro que o desenvolvimento da

inovação não está voltado apenas para a ciência em si, mas também,

para a produção e comercialização dos resultados e de reinvestimento

dos valores arrecadados em royalties, através de premiações à

instituição inovadora e seus profissionais, bem como, em incentivos em

relação aos impostos.

Essencialmente, Israel está usando a pesquisa como a plataforma

indicadora de crescimento de sua economia. Esta ambição certamente

não é exclusividade de Israel, mas a combinação de circunstâncias e

atitudes possibilitou maior sucesso em termos de crescimento

econômico se comparado com outros países. De acordo com estimativas

da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE), Israel investe mais de seu PIB em pesquisa e desenvolvimento

que qualquer outro país membro.38

E mesmo com a crise financeira

global, houve apenas uma pequena desaceleração de seu crescimento em

2010. A organização internacional, em suas estatísticas, observou que

Israel, não só tem um nível médio-superior da participação em registro

de patentes triádicas,39

como também o registro de marcas está acima da

média, liderando também o ranking da OCDE de empreendimento de

capital de risco.

38

Idem. 39

Definido pela OCDE, a Família de Patente Triádica é o conjunto de

pedidos de patentes apresentado junto ao Escritório Europeu de Patentes,

(EPO, na sigla em inglês) e ao Escritório de Patentes Japonês (JPO, na sigla

em inglês), e concedido pelo Escritório Norte-Americano de Patentes

(USPTO, na sigla em inglês), que compartilha um ou mais pedidos de

prioridades, protegendo o mesmo conjunto de invenções.

86

Considerando que a academia tem seu papel de destaque no

Sistema de Inovação de Israel, convém destacar algumas universidades e

institutos de pesquisas que possuem renome internacional. Neste rol

sobrepõem-se algumas universidades: Universidade Hebraica de

Jerusalém; Universidade de Tel Aviv; Universidade de Haifa;

Universidade Ben-Gurion do Negev; Universidade Bar-Ilan e

Universidade Aberta de Israel. Entre os Institutos estão o Instituto

Weizmann da Ciência e o Instituto Technion.

No caso da Universidade Hebraica de Jerusalém, esta teve sua

fundação em 1925, e é composta por faculdades que abarcam

praticamente todas as áreas do conhecimento, como História da Arte até

Zoologia, e ainda abriga a Biblioteca Nacional de Israel. Desde a sua

criação, os cientistas da Universidade Hebraica estão envolvidos em

todas as fases do desenvolvimento nacional e seu Departamento de

Estudos Judaicos é um dos mais completos do mundo. E para o

marketing e comercialização de toda sua Propriedade Intelectual, esta

universidade conta com o apoio da Yissum Techology Transfer, que é a

empresa de comercialiçao dos resultados de pesquisa.

A Universidade de Tel Aviv (TAU), com fundação em 1956, é

resultado da incorporação de outras instituições: Faculdade de Direito,

Economia de Tel Aviv, do Instituto de Ciências Naturais e um Instituto

de Estudos Judaicos. Situa-se na região mais populosa do país e, na

atualidade, é a maior universidade de Israel, oferecendo uma ampla

gama de disciplinas e dando ênfase especial à pesquisa pura e aplicada.

A universidade possui institutos especializados nos campos dos estudos

estratégicos, administração de sistemas de saúde, previsão tecnológica e

estudos energéticos. O braço comercial de sua PI é a RAMOT.

Já a Universidade de Haifa (1963) é considerada o centro de

ensino superior da região norte do País, com estudos interdisciplinares.

A universidade tem um Departamento para o Estudo sobre Kibutz40

e

40

Kibutz, no plural, kibutzim, significa a coletividade comunitária israelita,

concentrada no campo, que tiveram função essencial na criação do Estado

de Israel. Estas comunidades combinavam o socialismo e o sionismo

(trabalhista), em que pela necessidade de vida comunal e inspirados por

ideologia socialista, seus membros desenvolveram uma forma de vida em

comunidade. Atualmente, são vistos como empresas, pois, apesar de

viverem em uma comunidade, contratam trabalhadores que não fazem parte

do sistema e recebem salários, evidenciando sua vertente capitalista.

87

um centro dedicado à melhoria da compreensão e cooperação entre

judeus e árabes em Israel. Uma curiosidade é que na Universidade de

Haifa tem um projeto arquitetônico assinado pelo brasileiro Oscar

Niemeyer, que não chegou a ser totalmente concluído. O que foi

concretizado do projeto do arquiteto brasileiro, basicamente, foi o

edifício principal, que é uma extensa placa horizontal, e o edifício-torre

da administração da Universidade, a Torre Eshkol,41

que seguiram o

traço original, ressaltando que um de seus edifícios foi o mais alto da

cidade de Haifa até 2002. Da mesma forma, esta universidade conta com

o apoio da CARMEL Haifa University Economic Corp. Ltd. para

desenvolver a transferência de tecnologia.

A Universidade Ben-Gurion do Neguev foi fundada em 1967, em

Beer Sheva, visando possibilitar a formação da população da região

meridional de Israel e estimular o desenvolvimento social e científico da

região deserta do país. Esta universidade tem como foco de pesquisa as

zonas áridas e sua Faculdade de Medicina foi a pioneira nacional na

prática da medicina comunitária. Tem um campus universitário situado

no Kibutz Sde Boker que abriga um centro de pesquisa para o estudo dos

aspectos históricos e políticos da vida e época de Ben-Gurion, o

primeiro Primeiro-Ministro (chefe de governo) de Israel e que também

foi o líder do movimento do sionismo socialista no País. Para esta

universidade, a transferência de tecnologia é realizada através da BGN

Technology Transfer Company of Ben-Gurion University.

A Universidade Bar Ilan, fundada em 1955, em Ramat Gan, adota

uma abordagem integrativa especial, que combina programas sobre a

tradição judaica com a educação liberal, numa vasta gama de

disciplinas, especialmente Ciências Sociais. Interagindo o tradicional e o

moderno, nos Institutos de Pesquisa de Física, Química, Matemática,

Economia, Estudos Estratégicos, Psicologia Evolutiva, Musicologia,

Bíblia, Talmude, Legislação Judaica e outros. Para desenvolver a

comercialização da PI, a universidade de Bar Ilan tem o apoio da Bar-Ilan Research & Development Ltd., da Bar Ilan University.

41

HOLMER, Renato. Oscar Niemeyer e a Universidade de Haifa.

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Outubro/2011. Disponível em:

<http://www.ufrgs.br/propar/publicacoes/ARQtextos/PDFs_revista_10-

11/8_FIORE.pdf>. Acesso em: out.. 2012.

88

Da mesma forma, que em muitos países como o Brasil e a

Holanda, existe a Universidade Aberta em Israel, criada em 1974. Tem

uma influência notória do modelo inglês, oferecendo diferentes

oportunidades não tradicionais de graduação superior em nível de

bacharelado, utilizando-se de métodos flexíveis que se baseiam,

principalmente, no estudo individual independente, através de livros de

texto e guias, complementados por exercícios estruturados, tutoria e

exames finais.42

Quanto aos institutos, destacam-se ao menos dois dos mais

conhecidos, como o Instituto Weizmann de Ciências e o Instituto

Technion. O primeiro foi criado em 1934, com a denominação de

Instituto Sieff, e a partir de 1949, recebeu o nome do Dr. Chaim

Weizmann, que foi o primeiro Presidente de Israel e um químico

renomado. Atualmente, é um reconhecido centro de pós-graduação e

pesquisas em Física, Química, Matemática e Ciências Biológicas. Seus

pesquisadores dedicam-se a projetos para acelerar o desenvolvimento

industrial e à criação de iniciativas científicas. A empresa Yeda é o

braço na comercialização da PI do instituto e sua atuação será abordada

mais adiante.

O Technion é o Instituto Tecnológico de Israel, que no ano de

2012, comemorou 100 anos de existência, ao considerar a sua pedra

fundamental no ano 1912. É tido como um dos maiores centros

acadêmicos do mundo, que formou uma grande parte dos engenheiros,

arquitetos e planejadores urbanos desta nação. Este instituto funciona

como centro de pesquisa pura e aplicada nos campos da Ciência e

Engenharia, contribuindo para o desenvolvimento industrial israelita. A

transferência de tecnologia deste instituto é realizada pela T³-Technion

Technology Transfer. Abaixo, se verificará como é vista esta estrutura

universitária se comunicando com o setor privado.

1.6.2.2 A pesquisa antes da fundação do Estado de Israel

Para o Estado de Israel, a inovação é vista como atividades de

pesquisa, desenvolvimento e de demonstração, que apresentam novos

produtos ou processos a serem comercializados no mercado global.

42

Ministério das Relações Exteriores de Israel. Fatos sobre Israel.

Impressora do Governo de Israel. Jerusalém, 2010. (p. 96). Disponível em:

<www.mfa.gov.il>. Acesso em: out. 2012.

89

Israel é apontado no cenário internacional pelo vultoso percentual de

recursos investidos anualmente em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D)

em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) no mundo, cerca de 1,5

bilhões da moeda local, aproximadamente quatrocentos milhões de

dólares distribuídos em centenas de instituições e companhias.43

Este

investimento demonstra o nível competitivo que o país obtém no

contexto global, e isto ocorre em razão de uma política definida em

atividades em áreas específicas. Israel é altamente competitivo nas áreas

de Agricultura, Medicina, Química, Computação, Engenharia e Ciências

Naturais. Instituições como o Instituto Weizmann de Ciência e o

Technion têm em seus currículos profissionais que ganharam prêmio

Nobel, como o de Química em 2009, com a cientista Ada Yonath

(Diretora do Centro de Estrutura Biomolecular Helen y Milton A.

Kimmelman) do Instituto Weizmann e Daniel Shechtman, na mesma

área em 2011, pela Technion, que foi o responsável pela descoberta dos

quasicristais,44

estruturas da matéria antes consideradas impossíveis.

Exemplo de ação inovadora reconhecida internacionalmente foi a

pesquisa da Universidade Hebraica, Faculdade de Agricultura, Alimento

e Ciência de Qualidade Ambiental, que produziu o tomate cereja,

cultivado em estufa desenvolvida para ter maior vida útil, rendimento e

qualidade, revolucionou a indústria de produtos frescos do mercado. A

variedade denominada "Daniela" é considerada uma das cultivares de

variedades estufa líderes no mundo, com grande produção,

principalmente, na Europa.

Neste contexto, compreende-se com a história de P&D israelita,

que a infraestrutura científica e tecnológica do país já estava alicerçada

antes de 1948, ocorreu antes mesmo da criação do Estado, como no caso

da pesquisa agrícola, que remonta ao fim do Século XIX. Como

exemplo, tem-se a criação de instituições pioneiras na pesquisa agrícola

como a Escola Mikve Israel, em 1870 e, o estabelecimento da Estação

43

Ministry of Industry, Trade and Labor. R&D Incentives Programs. 2012.

Disponível em: <www.moital.gov.il/madan.htm.>. Acesso: out. 2012. 44

Os quasicristais são estruturas ordenadas da matéria, mas que não são

periódicas. Também chamados sólidos quase-periódicos, são maus

condutores de eletricidade e extremamente duros e resistentes à deformação,

por isso podem ser usados como materiais protetores antiaderentes.

Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/israelense-ganha-

nobel-de-quimica-por-quasicristais#quase-cristais> Acesso em: out. 2012.

90

Agrícola, em Tel Aviv em 1921, que posteriormente passou a designar a

Organização de Pesquisa Agrícola (ARO), e atualmente é a principal

instituição de pesquisa e desenvolvimento agrícola do país.

Da mesma forma, no que toca às universidades com maior

importância para o país na atualidade, estas foram criadas anteriormente

a 1948, como a Universidade Hebraica, fundada em 1925 que é uma das

pioneiras no desenvolvimento da ciência e tecnologia básicas e o

Instituto de Tecnologia Technion-Israel, fundado em Haifa em 1924.

Este último, que em 2012 comemorou 100 anos de existência, ao longo

do tempo foi se organizando como Centro de pesquisa Avançado, sendo

que a partir de 1950, expandiu-se desde a Faculdade de Engenharia para

desenvolver pesquisas na área de Microeletrônica.

O Instituto Weizmann de Ciência foi inicialmente o Centro de

Pesquisa Daniel Sieff, fundado em 1934 e apenas em 1949, passou a ter

a denominação atual. Outra instituição importante é o Instituto de

Microbiologia e dos Departamentos de Bioquímica, Bacteriologia e

Higiene da Universidade Hebraica de Jerusalém que foi criado em

meados da década de 1920. Eles constituíram a base do Centro Médico

Hadassa, a mais expressiva instituição de pesquisa médica de Israel.45

O

que evidencia que o país tem um histórico importante e uma estrutura

organizada para desenvolver suas tecnologias, sendo a pesquisa uma

peça-chave para o sucesso científico de Israel.

1.6.2.3 A transferência de tecnologia das universidades e

institutos israelenses: relacionamento UNIVERSIDADE –

EMPRESA

As instituições de pesquisa além de suas funções voltadas para

investigação poderão manter relações com a iniciativa privada. Portanto,

poderão comercializar sua Propriedade Intelectual, realizar parcerias e

assessorar empresas, com seleção e acompanhamento de projetos,

poderão também, disponibilizar o acesso a laboratórios e equipamentos

e realizar consultorias.

Como exposto anteriormente, a transferência de tecnologia entre

as universidades e o setor privado é efetivada pelas empresas e

45

Ministério das Relações Exteriores de Israel. Fatos sobre Israel.

Impressora do Governo de Israel. Jerusalém, 2010. Disponível em:

<www.mfa.gov.il>. Acesso em:out. 2012.

91

organizações que administram a Propriedade Intelectual da academia.

As pesquisas realizadas em universidades israelenses e institutos de

pesquisa são compartilhados com o setor privado por meio destas

unidades de transferência de tecnologia. As empresas de Transferência

de Tecnologia (TT) geralmente têm um acordo de exclusividade com

suas instituições apoiadas (universidades e institutos) para comercializar

a propriedade intelectual e gerar renda para subsidiar mais investigação

e educação. Portanto, a propriedade do bem imaterial é da empresa de

transferência que, com o recebimento dos royalties, repassa o valor

devido à universidade ou instituto, como também ao pesquisador e ao

laboratório, conforme regulamento de relacionamento existente entre as

partes.

A maioria das empresas de transferência de tecnologia está filiada

à Organização de Transferência de Tecnologia de Israel (ITTN).46

A

ITTN serve como a organização guarda-chuva para as empresas de

transferência de tecnologia. É uma organização privada sem fins

lucrativos e que congrega as 12 maiores empresas de TT de Israel. A

primeira instituição a ter uma unidade de TT foi o Instituto de Ciência

Weizmann, através da YEDA, o Yeda Research and Development

Company Ltd., que desde 1950, desenvolvem esta relação e

comercialização da propriedade industrial. Seguidamente, outras

instituições implantaram sua respectiva empresa de TT já assinaladas.

Para exemplificar e compreender como funciona a relação entre a

universidade e a empresa promotora de transferência de tecnologia e

destaca-se, em homenagem ao pioneirismo, o caso da YEDA x

INSTITUTO WEIZMANN. A empresa Yeda tem um acordo de

exclusividade com o Instituto Weizmann para comercializar sua

Propriedade Intelectual e gerar renda para apoiar mais investigação e

educação. Através desta organização são geradas rendas a partir de taxas

de licença e royalties. A Yeda Research and Development CO. Limited é

o braço comercial do Instituto Weizmann de Ciência (WIS), sendo que

sua principal função é a promoção da transferência para o mercado

global dos resultados das investigações e tecnologias inovadoras

desenvolvidas por cientistas do instituto.

Além do acordo entre o instituto e a YEDA, são realizados

acordos tripartites entre estas duas primeiras partes e os inventores

46

Organização de Transferência de Tecnologia. Disponível em:

<http://www.ittn.org.il/about.php?cat=18&in=0>. Acesso em: out. 2012.

92

(equipe que realizou a pesquisa). Estes acordos são regidos pela própria

legislação nacional, como também por um regulamento ou normatização

interna que se denomina Regras de Propriedade Intelectual e Conflito de

Interesses do Instituto. Ao verificar as informações disponibilizadas na

página do Instituto, visualizaram-se instrumentos importantes para a

empresa realizar suas atividades. O acordo de equipe é um acordo

tripartite envolvendo a Yeda, o Instituto Weismann e os cientistas

envolvidos na pesquisa e tem como escopo fornecer a Yeda instruções

relativas à atribuição de cada cientistas, bem como, sua participação e

seus rendimentos dentro da equipe. Este acordo é de suma importância,

já que define a participação e percentual de rendimentos para cada um

da equipe, o que auxilia a Yeda a realizar suas atividades, evitando

discussões sobre a problemática, quando comercializarem com empresas

que se interessam pelas invenções.

No caso de patentes, existe um acordo específico que define

regras, responsabilidades de cada parte e suas limitações. Esta repartição

dos lucros entre os cientistas são propostos pelo investigador-chefe, com

base na contribuição direta que cada cientista participa ou irá participar

ativamente, da pesquisa e outras atividades que são objeto do contrato.

Estes acordos têm como regra a exclusividade, podendo destacar outras

regras como a confidencialidade, o acesso às informações pela Yeda, a

titularidade da PI, o status dos cientistas entre outros. Neste aspecto, nos

acordos há previsão sobre o acesso às informações pela Yeda aos

procedimentos e documentos da pesquisa todas as vezes que for

solicitado, isto significa que todos os documentos, incluindo os

instrumentos de transporte, transferência, cessão, os cientistas devem

prestar assistência que eficazmente possibilite a transferência, cessão,

coleta ou ainda o que for necessário para auxiliar e permitir a defesa de

quaisquer litígios e processos relativos à invenção ou resultados

posteriores. Todos os custos e despesas incorridos na tomada de

qualquer uma das ações ditas acima serão suportados pela Yeda. A

confidencialidade sobre a invenção é questão cláusula que está presente

nos acordos. Os pesquisadores se comprometem a manter sigilo e não

divulgar a invenção ou invenções ou qualquer parte do processo, ou

qualquer informação relativa, exceto quando permitida pela Yeda.

Evidentemente, a obrigação de confidencialidade não se aplica a parte

da invenção que é considerada domínio público, nem se aplica a

publicações científicas, ou conteúdo do que foi aprovado pela Yeda.

Quanto aos pesquisadores envolvidos nas pesquisas e invenções,

estes são considerados como empregados ou inventores, por força de lei

93

israelense (Lei de Patentes) e das Regras de Propriedade Intelectual e

Conflito de Interesses. Portanto, os inventores são considerados

empregados do instituto, inclusive quaisquer pessoas que mesmo não

sendo funcionários da instituição, mas, que utilizam suas instalações,

incluindo estudantes e pós-doutores, cientistas e todos aqueles que

realizam qualquer tarefa ou participam de qualquer pesquisa nos

laboratórios ou outras instalações, são equiparados como inventor pela

Lei de Patentes, podendo participar dos ganhos com a invenção.

A titularidade da PI é estritamente da YEDA. Ela é a responsável

pelo registro de patente e tem o direito, a seu critério, de registrar em seu

nome, pedidos de patentes e outras aplicações para direitos de

Propriedade Intelectual em matéria de invenção.

Outra empresa de TT que também se deve descatar é a Yissum Technology Transfer, que é a apoiadora da Universidade Hebraica de

Jerusalém. Sua atividade consiste em identificar os projetos com

potencial econômico, não interferindo na liberdade acadêmica, bem

como, proteger as invenções através de registros de patentes ou outros

meios, identificando parcerias comerciais e estratégicas. Objetiva

também a gestão de acordos para que a tecnologia não seja

desperdiçada, gerenciando fundos para a continuidade da pesquisa e seu

desenvolvimento através de recebimento de royalties. Apesar de ser uma

empresa separada da universidade, a Yissum é composta por pessoas da

universidade, sendo esta a sua acionária majoritária.

Convém citar a visão da Diretora do Departamento de

Propriedade Intelectual, Reneé Ben-Israel,47

que explica que o termo

Yissum, significa "aplicação" em hebraico. Esta empresa foi criada com

a ideia de ser uma organização claramente distinta da universidade, com

um enfoque definido no desenvolvimento da pesquisa científica, ou

melhor, para a criação de fundos para a pesquisa através de atividades

comerciais. A diretoria afirma que os resultados passíveis de

comercialização merecem um tratamento distinto e profissional,

devendo ser tratados como ativos da instituição. Pontua também, que

quando há receita, o inventor poderá receber 40% pessoalmente e mais

47

BEN-ISRAEL, Reneé. Transferência de Tecnologia Universitária:

Yissum, um modelo interessante. Revista Conhecimento e Inovação.

jan/fev/mar/2009. Disponível em:

http://www.conhecimentoeinovacao.com.br/materia.php?id=209>.Acesso

em: out. 2012.

94

20% como incentivo para continuar a desenvolver a pesquisa em seu

próprio laboratório, sendo que os outros 40% são divididos entre a

Yissum e a universidade.

Demonstra-se que a Yissum entende que a transferência de

tecnologia na maioria das vezes é realizada pela forma clássica de

licenciamento, no qual a universidade entra como provedora do

conhecimento, ofertando uma licença para desenvolver, produzir, vender

ou distribuir esse direito, comunicando-se com a indústria para juntas

encontrarem uma solução para um problema, um produto, um processo,

um melhoramento técnico, que possa ser aplicado como vantagem dos

seus competidores. Mas, não descarta outras formas de interação com o

setor privado.

Denota-se que observando comentários em outras empresas de

TT, como em qualquer situação de transferência de tecnologia, ainda

apresentam problemas de comunicação, principalmente, com relação

entre empresários, cientistas e a própria empresa, quanto à expectativa

de aplicação da invenção no mercado, a cobrança por resultado dos

investidores e a visão de superioridade dos cientistas. Mas, com esta

abordagem simples sobre as empresas de TT israelenses, pode-se pensar

no formato brasileiro que muitas vezes encontra obstáculos na

burocracia, principalmente, das universidades públicas que são em sua

maioria as que possuem um grupo de pesquisa e profissionais com alta

capacitação.

Ainda sobre esta relação entre universidades e empresas,

pontuam-se algumas ações que as empresas exercem frente à P&D,

como: analisar novas invenções e conceitos desenvolvidos, verificando a

possibilidade de produção e comercialização; conceder licença com

royalties para a prática da tecnologia licenciada e/ou resultados da

pesquisa patrocinada; incorporar empresas spin-off48

baseada na PI da

universidade; participar do/no conselho de administração de empresas

afiliadas; negociar e aprovar aspectos da PI e de negócios de acordos

com a indústria; financiar pesquisas; garantir que tecnologias cheguem

ao mercado em tempo hábil para o benefício do público.

48

O termo de origem inglesa é utilizado para descrever atividades

empresariais novas que surge a partir de um grupo de pesquisa de uma

empresa, universidade ou centro de pesquisa público ou privado, com o

intuito de explorar um produto ou serviço novos, geralmente nas áreas de

tecnologia e iniciam-se nas incubadoras.

95

1.6.2.4 O Marco Legal para o Sistema de Inovação Tecnológica

de Israel

A implementação da Lei de Incentivo à Pesquisa e

Desenvolvimento Industrial, a Lei nº 5.744/198449

está sob a

responsabilidade do Ministério da Indústria, Comércio e Trabalho e do

Ministério das Finanças. Esta lei instituiu a Administração de Pesquisa e

Desenvolvimento Industrial, através da Comissão ou Comitê de

Pesquisa e do Escritório do Cientista-Chefe (OCS). De acordo com o

item 6 da lei, para gerenciar a P&D industrial, existe uma Chefia de

Administração que é exercida pelo Escritório do Cientista-chefe do

Ministério da Indústria e Comércio e pelo Comitê de Pesquisa. Este

comitê é composto por 9 membros, previstos no item 9, distribuídos

entre o próprio Chefe de Administração do OCS e mais um indicado e

paritariamente, por dois representantes do Ministério da Indústria e

Comércio, dois representantes do Ministério da Fazenda nomeado pelo

Ministro das Finanças, sendo funcionários de seu ministério; dois

representantes do público, entre os industriais, que serão nomeados

pelos ministros, um deles, na medida do possível, que tenha uma

educação ou capacitação no campo das ciências naturais e tecnologia;

um representante do público, não sendo funcionário público, precisa ter

experiência de pelo menos 10 anos em negócios ou gestão industrial.

Dentre os objetivos da lei estão: a criação de locais de trabalho na

indústria e absorção de recursos humanos, científico e tecnológico; o

aumento do benefício econômico resultante da pesquisa e

desenvolvimento; o desenvolvimento da ciência aplicada para a

indústria, através da utilização e expansão da infraestrutura tecnológica

e científica, e os recursos humanos existentes no Estado; bem como, a

melhoria da balança comercial do Estado através da fabricação e

exportação de produtos desenvolvidos, por meio do incentivo à pesquisa

e desenvolvimento industrial. Para efeitos da Lei de Incentivo à

Inovação, a Pesquisa e Desenvolvimento e Inovação significam

atividades de P&D e de demonstração destinadas ao desenvolvimento de

novos produtos ou processos a serem comercializados no mercado

global.

49

Sobre a lei verificar sítio eletrônico do Ministério a Indústria Comércio e

Trabalho: <http://www.moital.gov.il/NR/exeres/9F263279-B1F7-4E42-

828A-4B84160F7684.htm>. Acesso em: jan. 2016.

96

Importante destacar que a legislação israelense, no seu bojo,

adotou as seguintes definições para seu sistema de inovação, o que

auxilia na compreensão e visão sobre o assunto. Considera "produto"

qualquer bem corpóreo ou know-how, incluindo o processo de produção

e um programa de computador, e, "produto novo" uma criação com uso

ou produção comercial possível através da descoberta de qualquer know-

how, processos ou métodos que anteriormente não eram conhecidos ou

geralmente não estavam disponíveis. A "pesquisa" significa qualquer

investigação planejada, a fim de descobrir qualquer novo conhecimento

na expectativa de que ele seja útil no desenvolvimento de um novo

produto ou processo novo ou substancialmente, na melhoria de um

produto ou processo. Já "desenvolvimento" é compreendido como a

aplicação dos resultados de qualquer pesquisa ou qualquer outro know-how, que visa à fabricação de um novo produto ou o desenvolvimento

de um novo processo ou uma melhoria substancial em um produto ou

processo, incluindo: a consolidação ou o exame das características de

um plano, a elaboração de programas e projetos, a construção de um

protótipo e da operação de um modelo experimental ou uma instalação

semi-industrial; e ainda a considerada "melhoria substancial de um

produto existente" ou uma melhoria substancial em um processo

existente quando inclui o desenvolvimento de um produto

complementar ou processo.

Uma abordagem interessante desta legislação (Lei nº 5.744/1984)

pode ser verirficada quando trata do conceito de "transferência de

conhecimento", previsto na Seção 18, do Capítulo IV da lei. Neste item,

está determinado que toda a pesquisa financiada necessariamente é

proveniente de plano aprovado, conforme regras de editais específicos e

exige que todo o know-how resultante da pesquisa e desenvolvimento e

quaisquer direitos, inclusive aqueles que não tenham sido utilizados na

produção, não serão transferidos para outros fora de Israel. Todavia, há a

possibilidade de transferência quando o Comitê de Pesquisa, em casos

especiais, aprovar pedido para transferir para o exterior o conhecimento

resultante de P&D de acordo com um plano aprovado. Estas exceções

estão dispostas na Seção 19B da lei, estando previsto que após a

aprovação pelo Comitê, o conhecimento poderá ser transferido, sob as

formas previstas na legislação, inclusive quanto à forma de pagamento,

e conforme a exigência do mesmo. Exemplifica-se nos casos em que a

intenção é apenas vender o know-how, o destinatário deve pagar em

dinheiro. O valor do pagamento deverá ser igual à relação entre as

subvenções globais recebidas pelo destinatário (para quem foi

97

homologado o plano) para os investimentos (agregados) financeiros

investidos na execução do plano aprovado, multiplicado pelo preço de

venda do know-how, desde que tal não seja menor que o agregado de

tais concessões, acrescido de juros. Caso a intenção seja transferir o

know-how e se o beneficiário da aprovação deixou de ser uma empresa

constituída em Israel, o destinatário da aprovação (plano aprovado)

também pagará o valor em dinheiro, de acordo com o percentual

previsto pela lei. De outro lado, se for uma transferência de

conhecimento para o exterior sob a forma de troca de know-how

substituto para o destinatário do plano em Israel, poderá, neste caso,

ocorrer inclusive sem cobrança de royalties.

Outra previsão que merece atenção nesta legislação é a

possibilidade de aplicar penalidades, em razão de seu descumprimento.

Desse modo, aquele que, sem a autorização do Comitê de Investigação

ou em violação das condições de autorização, por ação ou omissão,

transferir ou que tornar possível a transferência fora de Israel de

conhecimento desenvolvido como parte de um plano aprovado, ou em

consequência de seus direitos de execução, ou de propriedade intelectual

decorrentes do know-how que tem sido desenvolvido na forma indicada,

será passível de pena de três anos de prisão (item 47A). Vislumbra-se

importância e seriedade sobre o tema.

O Estado de Israel não deixou dúvidas quanto à distribuição de

royalties no tocante a esta legislação de incentivo de P&D Industrial e,

em 1996, editou o Regulamento nº 5.756/1996,50

que dispõe sobre o

produto resultante da pesquisa fabricado no país e sobre a produção no

exterior com diferenças no percentual de royalties. De acordo com o

regulamento, na produção nacional, o titular da certificação (plano

autorizado) deve pagar royalties ao Tesouro do Estado a taxas variáveis,

calculadas como porcentagens do preço de venda que variam de 3%

(primeiros três anos), 4% no quarto ao sexto ano e, 5% a partir do

sétimo ano. Se for produção no exterior (Seção 4 do regulamento),

50

Sobre o Regulamento verificar o sítio eletrônico do Ministério das

Finanças de Israel. Disponível em:

<http://www.financeisrael.mof.gov.il/FinanceIsrael/Docs/En/legislation/Ind

ustryAndComrc/5756-1996

Encouragement_of_Industrial_Research_and%20Development_Regulations

_(Rate_of_Royalties_and_Rules_for_their_Payment).pdf>.Acesso em: jan.

2016.

98

conforme a autorização do Comitê de Pesquisa, dependendo da extensão

do volume de produção que é realizada fora de Israel, o limite máximo

dos royalties passaria a ser de 120% - quando até 50% da atividade de

produção for realizada no exterior; de 150% - quando 50% da atividade

ou mais da produção é realizada no exterior; de 300% - quando 90% da

atividade ou mais da produção é realizada no exterior. Nesta visão,

evidencia-se o incentivo para produção em empresas de Israel, por

residentes no País. Porém, é possível ocorrer parte da execução fora de

Israel ou por não residentes, o que deverá ser avaliado pelo Comitê de

Pesquisa, modificando os valores de subvenções. É notória a vontade de

incentivar a produção nacional em razão das pesquisas realizadas nos

planos aprovados.

Israel também definiu legalmente quanto ao registro e obtenção

de patentes, através da Lei nº 5.727/1967.51

Por esta lei, será

considerada "invenção" o que tiver novidade, utilidade e originalidade,

suscetível de aplicação na indústria ou na agricultura, seja processo ou

produto que constitui um ato inventivo. Considera ainda novidade

universal qualquer publicação (escrita ou oral ou por demonstração) ou

exploração de uma invenção em qualquer lugar do mundo antes do

depósito, impedindo o registro da patente, nestes casos. O prazo de

proteção é de 20 anos, a partir da data do pedido, sendo que o país deve

ser membro da Convenção de Paris. O processo de registro de patente

deve ser relativo a apenas uma invenção, sendo o requerente o titular da

invenção ou seu preposto, o requerimento deverá ser endereçado ao

Escritório de Patentes e a avaliação poderá ocorrer até 3 anos da data do

depósito. O processamento é um pouco parecido com o brasileiro, pois,

logo após investigação e aprovação será emitido um comunicado de

aceitação, publicado na Revista de Patentes e a seguir a publicação,

abre-se período de 3 meses para impugnação. Caso não haja

impugnação, será concedida a patente.

A temática da Propriedade Intelectual em Israel está basicamente

distribuída em diversas legislações, naquelas acima citadas e que aqui

apenas indica-se como forma de informação: Direitos Autorais

(Copyright Act de 2007); Marcas (Trade Marks Ordinance –Lei

51

Sobre a Lei de Patentes verificar sítio eletrônico da Organização Mundial

da Propriedade Intelectual. Disponível em:

<http://www.wipo.int/wipolex/en/text.jsp?file_id=341499>. Acesso em:

jan. 2016.

99

5.732/1972); Circuitos Integrados (Lei 5.760/1999); Cultivares (Plant

Breeders Rights Law – Lei 5.733/1973) e Denominações de Origem e

Indicações Geográficas Lei nº 5.725/1965.

De forma suscinta, verificaram-se quais os objetivos e

direcionamentos das legislações israelitas e até aqui, se objetivou a

discussão quanto à aplicação da inovação na indústria em razão do foco

da lei de incentivo estar voltada para pesquisa e desenvolvimento

industrial, conforme termo utilizado pela legislação. Contudo, não se

pode desprezar o papel importante que a academia tem neste processo

inovativo em Israel.

1.6.2.5 A Posição Inovadora de Israel

Outro ponto relevante sobre Israel, sob o ponto de vista desta

autora, é que a temática de Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento

(P&D) estão vinculadas ao Ministério da Indústria, Comércio e do

Trabalho, reconhecido pela sigla MOITAL. O controle e organização da

política de P&D é realizado pelo Escritório do Cientista-Chefe (OCS).

Através deste escritório, o MOITAL executa a política governamental

de suporte à P&D industrial, por força da Lei de Incentivo à Pesquisa &

Desenvolvimento Industrial, nº 5.744/198452

(Lei da P&D), com

participação financeira em projetos aprovados, designando um

orçamento anual (em média de US$ 450 milhões) e na sua estrutura

funcional, conta com a rede de especialistas e um Comitê de Pesquisa.

As principais funções do Escritório de Cientista-Chefe (OCS)53

são: supervisionar todo o apoio em P&D na indústria israelense

patrocinado pelo Governo; operar, através de fundos destinados à P&D;

fomentar anualmente uma gama de produtos nacionais e programas

internacionais, acordos e colaborações. Os programas desenvolvidos e

apoiados em P&D podem ser para incubadoras, empresas start-up ou

através de pequisa industrial autônoma das empresas. Uma das formas

de atividades de supervisão e arrecadação pode ser verificada no

percentual de receita exigidos de projetos que recebem o suporte

52

Idem. 53

Sobre as atividades do Escritório de Cientista-Chefe verificar o sítio

eletrônico do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Indústria de Isreal

(MATIMOP). Disponível em: <http://www.matimop.org.il/ocs.html>

Acesso em: jan. 2016.

100

financeiro, um retorno de 3-5% dos royalties (previstos na Lei

5.744/84), e ainda em auditorias a cada 6 meses, que verifica o

cumprimento das condições para um possível suporte futuro. O apoio é

direcionado para o desenvolvimento de novos produtos com base em

tecnologias novas e inovadoras de todo o setor como um todo, bem

como, as novas empresas e nos setores de alta tecnologia e tradicional.

Este apoio também se estende a um amplo número de empreendimentos

de cooperação com entidades comerciais estrangeiras.

No campo internacional, a OCS tem se consolidado com a

cooperação industrial em P&D com entidades estrangeiras, tanto em

nível governamental e empresarial. Esta cooperação pode ser expressa

por meio de parcerias com empresas e fundações de apoio com os

Estados Unidos, Canadá, Coréia do Sul e Cingapura; cooperação com

empresas multi-nacionais, como a Deutsche Telekom, a IBM, a

Microsoft, Merck e, participação ativa nos principais programas com a

União Europeia, como EUREKA e 7.54

Outro ator que promove a inovação no sistema israelense é o

Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Indústria Israelense, nomeado

como MATIMOP, que funciona como um braço do Escritório de

Cientista-Chefe. É a agência nacional encarregadada promoção da P&D

industrial, cooperação e inovação, que atua em nome do Escritório do

Cientista-Chefe e consequentemente, do Ministério da Indústria,

Comércio e Trabalho de Israel. A função do centro é promover o

desenvolvimento de tecnologias industriais avançadas e para isto,

mantém um banco de dados atualizado de perfis de empresas industriais

israelenses que buscam a cooperação e apoio, principalmente

internacional. É nesta esfera internacional que o MATIMOP promove e

auxilia a participação de empresas israelenses em programas

internacionais de cooperação bilateral ou multilateral para P&D

industrial com entidades estrangeiras, tanto governamentais como

empresariais.

Neste prisma, pode-se dividir a política de P&D em Nacional e

Internacional. A Política Nacional de P&D tem efoque na pesquisa e

desenvolvimento industrial, com uma visão mais competitiva, nas

incubadoras de tecnologicas e no apoio aos programas específicos. A

54

Ministry of Industry, Trade and Labor. Disponível em:

<http://www.moital.gov.il/NR/exeres/A1541A69-E947-4FAF-8577-

76864F59CD1F.htm>. Acesso em: out. 2012.

101

Política Internacional concentra-se nos fundos binacionais, programas

com a União Europeia e outros países, e ainda, acordos paralelos com

países como o Brasil, conforme dados na página eletrônica do

Ministério responsável. A FAPESP, por exemplo, tem um Acordo de

Cooperação Técnica e Científica com este órgão (MATIMOP), assinado

em novembro de 2012, que objetiva promover, facilitar as atividades

bilaterais de P&D e inovação e, em particular, projetos conjuntos de

P&D e inovação, entre as Entidades do Estado de São Paulo, República

Federativa do Brasil e do Estado de Israel.55

Todavia, mesmo com tantos pontos positivos da política adotada

em Israel evidencia-se um investimento focado em pesquisas aplicadas

(indústria) e as pesquisas básicas não recebem o mesmo volume de

financiamentos e incentivos como as primeiras. O próprio Ministro de

Ciência e Tecnologia israelita, Daniel Hershkowitz, admitiu em

entrevista ao Jornal Unesp (dezembro de 2012), que há uma lacuna entre

a pesquisa básica e industrial e que sua missão inclui a busca do "elo

perdido" entre as duas formas de pesquisa. Outra vertente propagandista

do país é a existência de muitas multinacionais no seu território, em

razão do alto nível dos profissionais nas áreas tecnológicas, o que é uma

realidade. Porém, verifica-se que na verdade estas multinacionais

compram muitas empresas nacionais que se destacaram por suas

inovações causando certa dependência do capital e não fortalecendo a

indústria nacional ou as pequenas empresas. Há críticas de que o país

parece estar mesmo voltado para acolher estes estrangeiros, uma vez

que, adotam uma postura de sell out (vender tudo), sendo que muitas das

startups servindo de empresas-isca para o peixe grande que são as

multinacionais. Apesar de Israel ser comparada com o Vale do Silício

(São Francisco nos Estados Unidos), tendo uma concentração

significativa de empresas novas de tecnologia, essa ousadia inerente aos

nativos, bem como sua rápida resposta às inovações requeridas pela

indústria mundial, pode não trazer tanto benefício para o setor

empresarial nacional. Outro ponto considerado como vantagem para o

espírito inovador do país é a animosidade com os vizinhos. Para alguns,

pode ser uma desvantagem, dado que o imediatismo para solucionar as

55

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. (Convênios e

Acordos de Cooperação). Disponível em: <http://www.fapesp.br/7336>.

Acesso em: out. 2012.

102

questões latentes dificultam o exercício de pensar e traçar muitos planos

estratégicos a longo prazo.

Neste último tópico do capítulo, verificou-se que as instituições

de ensino possuem um papel relevante para o desenvolvimento da

Política de Inovação e a Propriedade Intelectual de um país e deve ser

tema recorrente nas políticas de todos os países. Conquanto, é inegável

que a inciativa privada pode ser uma grande parceira no Sistema de

Inovação, quando a Pesquisa e Desenvolvimento estiverem voltados

para uma aplicação industrial. Todavia, impossível ignorar a postura do

governo que, verificando suas deficências, busca apoiar a P&D, o que

em muito incentiva e facilita as empresas a investirem em inovação,

sendo evidente que isto foi assumido pelo Governo de Israel. Porém, a

lacuna entre os institutos de pesquisa/universidades e empresas é um dos

grandes desafios a ser enfrentado, tanto pelos holandeses e israelenses,

como pelos brasileiros.

103

2 POLÍTICAS E MARCO LEGAL BRASILEIRO PARA

INOVAÇÃO É preciso reconhecer que C&T e inovação têm

necessidades específicas, diferentes daqueles

lidam com a construção de escolas, rodovias, etc.

Com os atuais marcos legais, os pesquisadores

brasileiros realizam pesquisas limitadas pela

burocracia, diferentemente dos nossos

competidores coreanos e chineses, que como os

europeus e norte-americanos, avançaram na

questão dos marcos legais para C&T e inovação.

Evaldo Ferreira Vilela (2011, p.298)

2.1 A política de inovação no Brasil e seu impacto nas relações

entre universidade pública e empresas

O conhecimento tem transformado radicalmente a sociedade, na

qual a utilização responsável deste, conjuntamente com a tecnologia,

desempenham um papel preponderante e decisivo para o

desenvolvimento local, regional e global. É neste ponto em que a

dinâmica das relações Universidade-Empresa (U-E), Público-Privado

(PP), está emergindo como uma das soluções determinantes para

fomentar a inovação. Dessa maneira, com o conhecimento científico e a

técnica é possível trazer tecnologia, novos processos que influenciem

inclusive no comportamento social, econômico de uma localidade. A

capacidade inovativa tem sido o balizador entre os países quando se

verificam os relatórios e diretrizes da Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE). Há muito tempo, a organização

tem defendido a inovação como um de seus indicadores de crescimento

econômico em seus países membros, o que ficou explícito no Manual de

Oslo.56

Anteriormente, os estudos enfatizavam a importância dos

investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de cada país,

demonstrando que quanto maior os investimentos, melhor a capacidade

inovativa da nação. Contudo, nos últimos anos, a OCDE tem entendido

56

O Manual de Oslo é a principal fonte internacional de diretrizes para

coleta e uso de dados sobre atividades inovadoras da indústria e tem como

objetivo orientar e padronizar conceitos, metodologias e construção de

estatísticas e indicadores de pesquisa de P&D de países industrializados.

Suas edições são publicadas pela OCDE.

104

a inovação não apenas como um fator de crescimento econômico, como

também um indicador de solução de problemas e determinante para o

futuro da economia dos países membro (OCDE, 2010).

No que toca à região da América Latina, um recente estudo

demonstra que a região apresenta uma baixa capacidade de inovar e

disseminar ideais e ações. O estudo econômico sobre a região quanto à

educação, competências e inovação para o desenvolvimento, o Latin

American Economic Outlook 2015- Education, Skills and Innovation for

Development (OCDE, 2015),57

indica que os países da região que

apresentaram maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em

2014 foram: Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, Panamá, Peru

(4%) e República Dominicana (7%); enquanto que o México e o Brasil,

mesmo sendo considerados as maiores economias da região, cresceram

respectivamente 2,5% e 1%. E este baixo crescimento é relacionado

pelas mudanças nos preços das commodities58

e questões internas de

gestão econômica. A análise também aponta que a educação,

competência e inovação são fatores-chaves para atingir um crescimento

mais dinâmico e inclusivo. Afirma também que melhorias na qualidade

de educação e competências e "estoque", conjuntamente com um

contexto macroeconômico estável e um ambiente amigável de inovação,

determinam a capacidade dos países em dirigir seus modelos de

crescimento em direção a atividades de maior valor agregado. Ainda

pontua que apesar dos investimentos em P&D terem crescido nos

últimos anos, o estoque de "capital de inovação" – que significa um

indicador de competência adicional, medindo a capacidade de inovar e

disseminar inovação – é significativamente baixo na América Latina, em

torno de 13% do PIB, quando comparado com outros países da

organização que apresentam 30% do PIB (p. 28). Por isso, nos países

latinos, este capital de inovação está concentrado no "estoque" da

educação terciária, enquanto que nos outros países, consiste nos gastos

de P&D.

57

O relatório está disponível on-line no endereço eletrônico:

<http://www.keepeek.com/Digital-Asset-

Management/oecd/development/latin-american-economic-outlook-

2015_leo-2015-en#page28>. Acesso em: 02 jun. 2015. 58

Plural da palavra inglesa commodity que significa mercadorias,

geralmente utilizadas para produtos primários como minérios e agrícolas.

105

O relatório ressalta que é importante fortalecer laços entre as

instituições de educação superior e o setor privado na área da ciência e

tecnologia para melhor, orientar e promover atividades de pesquisa e

desenvolvimento na região. Reafirma-se que é primordial fortalecer o

desenvolvimento em governança para as instituições de ciência e

tecnologia, de modo que um eficiente quadro institucional pode ser

desenvolvido para disseminar tecnologia e inovação.

Deste modo, diante deste quadro apresentado da região,

compreender o aspecto histórico de políticas e estruturação no país e a

importância dos modelos de inovação auxiliará no delinear do texto a

seguir.

2.1.1 O que é Política de Inovação? Política de Inovação pode ser vista como ações, decisões que

buscam a interface entre a investigação, o desenvolvimento tecnológico

e industrial propiciando um ambiente de inovação. Destarte, o Estado,

entendendo a necessidade de direcionar e apoiar o papel dos agentes de

inovação, entidades que atuam na dinâmica inovativa, define uma

política para a sociedade agregando ações, medidas de incentivo e

fomento, infraestrutura, capacitação, investigação, visa minimizar

possíveis falhas no processo de inovação e assegura uma perspectiva

comum dos atores envolvidos. Neste ponto, retoma-se aqui a ideia de

List59

, que de certa maneira, defendeu a interferência do Estado para

dinamizar o desenvolvimento nacional em razão de acreditar que as

decisões do Estado, como o investimento em tecnologia e a formação de

especialistas, auxiliaria no desenvolvimento da nação.

Smits et al. (2010, p. 10-12) afirmam que a política pode ser

definida como uma "clara e intencional ação seguida por um ator ou um

conjunto de atores para lidar com um assunto"; sendo as políticas

públicas "aquelas políticas que são desenvolvidas pelos órgaõs

governamentais e seus servidores." Cada país tem suas políticas que

dependem da sua realidade e planejamento estratégico. Contudo, deve-

se admitir a visão da OCDE, que tem uma perspectiva mais ampliada,

visto que, inclui políticas direcionadas para indústrias inovadoras e

crescimento econômico, políticas de inovação em um sentido mais

amplo, o que visa também, melhoraria na qualidade de vida. Dessa

forma, enuncia-se que a teoria sobre inovação e Sistemas de Inovação,

59

Sobre Friedrich List e a visão sistêmica verificar capítulo I.

106

difundida nos anos de 1990 e 2000, começou a ser aplicada pelos países

desenvolvidos, a exemplo do Reino Unido que em 2007, criou um

departamento para Inovação, Universidades e Competências. Isso

trouxe em conjunto, políticas em matéria de competências, educação

superior e inovação pela primeira vez, objetivando a integração.

Da mesma forma, em 2006, o Governo da Alemanha anunciou

uma estratégia global de alta tecnologia que buscou uma política

destinada à inovação de forma holística, com medidas que definiram

área de compentências do Ministério da Educação Pesquisa e do

Ministério de Economia e Tecnologia, bem como, para fomentar os

contratos públicos para a inovação melhor regime de Propriedade

Intelectual, programação temática, modelos de parceria pública-privada,

capital de risco, spin-off,60

financiamento em educação e organização de

clusters.61

Outros países, como Holanda e os Escandinavos, também

adotaram iniciativas políticas relevantes (SMITS; KUHLMANN;

SHAPIRA, 2010, p. 11-12).

Mais recentemente, autores reconhecidos como Edquist (2014),

Smits, Shapira e Kuhlmann (2010) têm falado da "política holística de

inovação". Para Edquist, é necessária política de inovação que integre

todos os diferentes fatores que influenciam inovação, dentro de um

contexto em que é importante influenciar o modo de funcionamento do

sistema de inovação que ele denomina, abordagem holística da política

de inovação. Enuncia: "A política de inovação global é definida como

uma política que integra todas as ações públicas que influenciam ou

podem influenciar os processos de inovação [...] de forma coordenada."

62 (EDQUIST, 2014. p.04). Estariam, portanto, as atividades como:

60

O termo Spin-off, significa que algo surgiu de uma derivação de outro

conceito ou ideia anterior, que já tinha sido desenvolvido ou pesquisado.

Atualmente, utiliza-se para designar um termo em inglês que significa um

desdobramento, de uma tecnologia que se derivou de outra, ou ainda

empresas que surgem para se dedicarem a desenvolver uma tecnologia,

desenvolvida por outra empresa, por exemplo. 61

Cluster para o sentido da indústria e inovação pressupõe um

conglomerado de empresas que se tornam mais eficientes em razão da

constante interação por possuírem características semelhantes e coabitarem

no mesmo local. 62

Texto original: A holistic innovation policy is defined as a policy that

integrates all public actions that influence or may influence innovation

processes [...] in a coordinated manner.

107

forrnecimento de insumos de conhecimento para o processo de

inovação; prestação de resultados de P&D e criação de novos

conhecimentos, principalmente em engenharia, medicina e ciências

naturais; a criação e mudanças das organizações necessárias para o

desenvolvimento de novo campos de inovação; networking por meio de

mercados e outros mecanismos, incluindo a aprendizagem interativa

entre diferentes organizações (potencialmente) envolvidas nos processos

de inovação; criar e mudar as instituições-por exemplo, as leis de

patentes, leis fiscais, meio ambiente e normas de segurança, de P&D de

investimento rotinas, normas culturais, etc., que influenciam a inovar

organizações e processos de inovação, fornecendo incentivos para e

remoção de obstáculos à inovação; serviços de apoio para empresas

inovadoras; as actividades de incubação como o fornecimento de acesso

a instalações e apoio administrativo para inovar esforços entre outros.

(p. 04). Todavia, para que isto ocorra, necessita-se de decisões

importantes, inclusive, na correlação com outras políticas que podem em

algum momento ser preteridas pela política de inovação. Acreditam,

Smits et al. (2010, p. 04), que esta forma holística de política de

inovação foi em certa medida adotada pela OCDE, que preferiu uma

definição mais ampla e direcionou as recomendações de seus membros.

Por conseguinte, acredita-se que o "todo é melhor que a soma das

partes", ou seja, os indivíduos, as instituições e a ideologia, tudo

importa, mesmo que haja desacordos.

Neste mesmo sentido, aponta Evaldo Vilela (2011) que:

O conhecimento tornou-se assim imprescindível.

Porém, não é suficiente, é preciso tê-lo em

quantidade e saber aplicá-lo com agilidade, o que

obriga governantes de países ou regiões a

organizarem políticas públicas e sistemas de

inovação, com a implantação de mecanismos de

incentivo à geração e adoção de inovações. (p.

294).

Sublinha Boekholt (2010, p. 345), que o conceito de Sistemas de

Inovação levou algumas décadas para ser aceito na prática de políticas,

108

sendo adotado inicialmente pela Suécia (VINNOVA)

63 e Holanda. Em

sua opinião, esta reflexão sobre o conceito de sistemas de inovação

sendo manifestados em instrumentos políticos tinha intenção de reparar

os furos, ou problemas, entre dois ou mais agentes do sistema, através

de instrumentos que facilitariam a relação entre indústria e ciência

(pesquisa), por exemplo. Verifica-se a seguir que no Brasil não foi

diferente, porque apesar de possuir uma pesquisa científica consolidada,

esta não se traduziu (ou traduz-se) efetivamente em inovação, isto posto

importante o direcionamento através de políticas que expressam o

caminho que estes agentes devem se organizar no Sistema de Inovação.

Historicamente, as infraestruturas e redes de sistemas de

pesquisas e inovação institucionais não surgiram de forma espontânea e

sem controle, pois, nos últimos 150 anos, esta área da sociedade foi

moldada por intervenções políticas. Nos países industrializados, os

sistemas de inovação que foram desenvolvidos ao longo do Século 20,

em coevolução com suas políticas nacionais, assumiram uma

característica específica para cada país. E é este entrelaçamento com o

sistema politíco que representa o denominado Sistema Nacional de

Inovação, que Smits, Kuhlmann e Shapira indicam como uma

abordagem holística (2010, p. 3-4).

KOELLER (2009, p. 119-120) testifica que o Brasil definiu suas

diretrizes de inovação dos anos de 1999 a 2002, baseadas no que

ocorreu na União Europeia, a partir de 1995. Existem inclusive

semelhanças na nomenclatura de ações e documentos, como o "Livro

Verde" e Brazilian Paradox. O "Livro Verde", publicado em 2001 e

organizado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, buscou o

planejamento da Ciência, Tecnologia e Inovação no país, trazendo os

desafios para a sociedade brasileira. Procurou identificar o papel do

conhecimento e da inovação na aceleração do desenvolvimento social e

econômico do país. Ele foi dividido em seis capítulos e tratou de um

panorama geral da base científica e tecnológica brasileira: sua dimensão

e distribuição, seu processo de construção e evolução, assim como, do

padrão de gastos e investimentos realizados na montagem do sistema;

seguiu em temas como avanço do conhecimento, qualidade de vida,

desenvolvimento econômico, desafios estratégicos. Da mesma forma,

63

É conhecida como a agência sueca de inovação, criada em 2001 e está

subordinada ao Ministério da Empresa, Energia e Comunicação (Ministryof

Enterprise, Energy and Communications).

109

como fora definido na Europa, que ao desenvolver estudos e debates

sobre o tema, resultou num diagnóstico (European Paradox) que

apontou dificuldades ou insuficiência na transposição do grande

conhecimento científico e tecnológico existente em produtos ou

serviços, sendo que a versão brasileira foi intitulada Brazilian Paradox.

Chegaram a uma conclusão similar de que existia uma fraca inovação no

setor produtivo.

Boekholt (2010, p. 340) aduz que para reparar esta situação na

Europa, a primeira política adotada foi estimular a transferência de

tecnologia, visto que, era evidente que os institutos de pesquisa pública

não tinham incentivos suficientes para comercializar seus trabalhos,

enquanto o setor de negócios não estava suficientemente consciente

sobre o que as universidades e institutos poderiam oferecer. Diante

disto, estas instituições foram encorajadas e apoiadas a estabelecer um

liaisons offices (escritório de relação/ligação), que foram os TTO na

primeira geração. Porém, a crítica que se faz é que estes escritórios

acabavam apenas tentando "vender" as boas ideias e expertise que já

tinham, praticando ainda a visão linear acima citada, eram pouco

proativos em buscar as necessidades reais do setor privado, ou qual o

tipo de conhecimento que o setor produtivo necessitava. Boekholt

(2010, p. 341) também tece crítica ao que ocorreu nos Estados Unidos,

que mesmo na vanguarda, na transferência de tecnologia com a adoção

da Bayh-Dole Act, em 1980, que encorajou o crescimento dos escritórios

de transferência, inclusive em suas estruturas, e ainda com a criação dos

parques científicos, a sua primeira geração não obteve muito sucesso.

Apesar de estarem nas proximidades das universidades, com criação de

incubadoras e parques de alta tecnologia, proliferando as spin-off, ainda

eram baseadas no modelo linear, o que quer dizer que, em sua maioria,

apenas desenvolviam projetos que tinham pouco inclinação para

incentivar jovens empreendedores e direcioná-los para um modelo de

negócio viável.

2.1.2 O diagnóstico brasileiro sobre as dificuldades ou

insuficiência na transposição do grande conhecimento

científico e tecnológico no país: Brazilian Paradox

O Brazilian Paradox teve uma conclusão bastante próxima dos

europeus: que o conhecimento aqui gerado também não produzia avanço

tecnológico, tampouco inovação no setor produtivo. A partir da segunda

edição da Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia e Inovação, em

110

setembro de 2001, após as discussões e resultados apresentados, surge o

"Livro Branco", para o decênio de 2002-2012. Este livro intencionou

uma ampla reforma no Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e

Inovação, que foi estruturado em quatro seções centrais. Quanto aos

riscos e oportunidades associados às transformações econômicas e

tecnológicas, foram examinados os principais desafios para a

consolidação de um Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e

Inovação, criando condições de um desenvolvimento sustentável. Pode-

se destacar algumas ações do livro como a reestruturação de fundos

setoriais e crédito da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), a

definição de um novo papel para o Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), incorporação da

Agência Espacial Brasileira (AEB) e da Comissão Nacionalde Energia

Nuclear (CNEN) ao Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação

(MCTI), a criação do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE)

para assessorar as políticas de C&T, por meio de estudos prospectivos e

a definição de grandes gargalos e oportunidades de investimento, entre

outros.

Constata-se que este período acima citado foi um grande marco

para a discussão de políticas e diretrizes para a Ciência, Tecnologia e

Inovação.

O período anterior contava com a Política Industrial, Tecnológica

e de Comércio Exterior e do Programa de Apoio ao Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (PADCT I, II e III) que previam,

respectivamente, incentivos fiscais e concessão de crédito de agências

federais de desenvolvimento tecnológico, adoção de políticas voltadas

para a criação de um ambiente apropriado à inovação tecnológica, como

também, desenvolver atividades de promoção de pesquisa científica e

inovação tecnológica de forma eficiente. Apesar disso, última edição

não foi propriamente implantada, em razão de ausência de uma política

consistente de investimento, mesmo porque, os anos de 1995 a 1998

foram marcados pela instabilidade econômica. Já o período posterior aos

livros (verde e branco) teve outro fôlego com a Política Industrial,

Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) que visava o estímulo e a

promoção da inovação nas empresas, como um de seus pilares e

juntamente com a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação

(PNCTI) promoveram a inovação e o diálogo interministeriais sobre a

temática. De outra ponta, os anos 2004 e 2005 foram marcados pela lei e

regulamento sobre a inovação.

2.2 Sistema Nacional de Inovação

111

As políticas públicas e o sistema nacional de inovação devem

orientar o relacionamento entre os atores, incluindo legislações, políticas

específicas, fundos de investimentos para melhorar o desempenho da

produção tecnológica e distribuição das tecnologias. O governo

brasileiro seguindo, de certo modo, uma visão internacional, tem tentado

construir um sistema de inovação com políticas de incentivo a pesquisa,

desenvolvimento e inovação (P,D&I) e legislações para introduzir esta

cultura inovadora. Apesar de entender que existe uma interação, um

sistema com seus atores de fato, como o país tem uma visão positivista e

legalista, tramitou uma Proposta de Emenda Constitucional

(PEC/290/13) e que foi aprovado o texto pela Emenda Constitucional nº

85/2015, que pretende conferir status de política de Estado à Ciência,

Tecnologia e Inovação. O texto, além de obrigar os estados e os

municípios e a União a fomentarem o desenvolvimento científico em

diversas formas, inclusive estabelecendo que os entes federados devam

concorrer para criar legislação sobre o tema, também os compelem a

empenharem recursos financeiros para esta área. Entre outras questões,

que este marco legal trouxe, destaca-se a organização de um Sistema

Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, com a colaboração entre

prefeituras, governos de estado e executivo federal, institucionalizando

este modelo, in verbis:

Art. 219-B. O Sistema Nacional de Ciência,

Tecnologia e Inovação (SNCTI) será organizado

em regime de colaboração entre entes, tanto

públicos quanto privados, com vistas a promover

o desenvolvimento científico e tecnológico e a

inovação. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1998).

Neste ponto, constata-se qual a postura da política de Estado e

que admite a visão sistêmica como principal para inovação e

desenvolvimento científico e tecnológico. Como foi mencionado

alhures, o termo "sistema" indica um conjunto de elementos que se

interagem e se complementam, de forma ordenada, possibilitando uma

melhor atuação de cada um destes elementos. Portanto, envolve atores,

formas de interação, políticas e marco normativo (legislações e regras).

List (1856) acreditava que o Estado deveria tomar decisões, desenvolver

e investir em tecnologia e no desenvolvimento técnico nacional por

esforços próprios, defendendo inclusive a engenharia reversa, bem

como, realizar incentivos a especialistas, proporcionando aos

profissionais a aprenderem novas técnicas no exterior.

112

Keith E. Maskus (2012, p. 82) informa que a história demonstra

que muitos países conseguiram subir na "escada mundial" e outros não.

Contudo, afirma que não existe uma política simples para seguir porque

quanto mais uma economia se movimenta para a fronteira global, mais

esta depende muito de fatores e circunstâncias específicas, como o

capital, a acumulação de habilidades, imitação ou aquisição de

tecnologia global, inovação doméstica, entre outros.

Fazendo um panorama de alguns países, reforçando o exemplo da

Coreia do Sul, assevera que no caso deste país, que é um exemplo de

"seguidor tecnológico, se transformou em uma economia inovativa e de

alta tecnologia". Todavia, indica que seu sucesso aumentou os custos do

trabalho e forçaram a produzir para a escala global, fazendo a creative

imitation (imitação criativa), parafraseando a creative innovation

(inovação criativa) de Schumpeter. Acrescenta-se a isto à "frouxa"

legislação sobre propriedade industrial que de certa forma encorajava as

empresas locais a copiarem e adaptarem as tecnologias mais simples.

Diferentemente, Israel construiu um extenso conjunto de leis com

antecedência, já em 1924, quando ainda estava sobre o mandato

britânico e foi implementado o regime de patentes. E alguns estudiosos

como Meir Pugatch, Morris Teubal, e Odeda Zlotnick (2009, p. 09)

acreditam que isto contribuiu para o país se destacar no cenário mundial

principalmente, porque este regime de proteção ofereceu tanto para

pequenas como para grandes empresas. A segurança para atrair

investimentos externos, e ainda, posto que os direitos de propriedade

intelectual, em certa medida, apoiaram negociações de alianças

estratégicas, atraíram capital de risco e arranjos de licenças cruzadas

com multinacionais, trazendo assim, tecnologias que poderiam ser

melhoradas in loco.

No caso do Brasil, afirma que apesar de existirem surtos

ocasionais de desenvolvimento tecnológico e bolsões de excelência, o

desempenho industrial brasileiro ficou muito atrás dos asiáticos e na

verdade, não teve um período sustentado de catching up. Mesmo

considerando a preocupação com a propriedade intelectual (PI), de

modo que, desde 1920, o país tem acolhido normas de PI no seu sistema

legal, porém, assinala que este sistema tratou estes direitos de forma

subservientes à política industrial e de saúde pública. Esclarece que ao

invés de um forte regime de patentes, houve uma política permissiva,

com esperança de encorajar o crescimento de empresas nacionais

competitivas, as quais puderam usar livremente as tecnologias

disponíveis. Isto contribuiu para uma política global de estimular a

113

industrialização por substituição de importações por trás de barreiras

comerciais, sendo o final disto nos anos 1980 como uma resposta para a

estagnação econômica.

Maskus, ao comparar o Brasil com a China, afirma que existe

uma diferença significante entre as empresas chinesas de médio e grande

porte que desenvolveram suas capacidades internas de pesquisa e

desenvolvimento, enquanto que a indústria brasileira não o fez durante o

período de importação-substituição (MASKUS, 2012, p. 82-91).

Compreende-se que as legislações compõem este sistema e

influenciam nas atividades dos atores, seja regional ou nacionalmente.

As legislações sobre inovação estão interligadas sistemicamente e da

mesma forma, buscam incentivar a aproximação do poder público ao

setor privado. No Brasil, a Lei nº 10.973/2004 (Lei de Inovação), Lei nº

11.196/2005 (Lei do Bem) e Decreto nº 5.563/2005, no âmbito nacional

buscam flexibilizar ou desburocratizar as formas de conjugar estes

interesses do setor público e privado. Diante deste contexto, esforços

têm sido realizados para ampliar o diálogo entre os agentes de inovação,

incluindo questões legais e de investimento do poder público. Desta

forma, pensando nos papéis destes atores, neste item verifica-se que o

Governo, sendo uma das hélices, tem realizado sua parte através de

políticas e legislações. A seguir se discutirá sobre a inovação e o

processo de transferência de tecnologia.

2.2.1 Diferença sobre pesquisa básica e aplicada: vale a pena

insistir na dicotomia?

O desenvolvimento da inovação e investimentos passa pela

classificação de pesquisa ou formas de direcionar a pesquisa científica.

Isto tem sua relevância em assuntos de inovação e desenvolvimento

econômico. Verifica-se que a própria OCDE, organização que trata de

desenvolvimento econômico internacionalmente, preocupou-se em

diferenciar estas formas no famoso Manual de Frascati.64

A OCDE já há

64

O Manual de Frascatti é um documento que trata da metodologia para

coleta de estatística sobre pesquisa e desenvolvimento, sendo o primeiro

produzido em 1963. O Manual foi elaborado e publicado pela Organização

para a Cooperação e Desenvolvimento Ecônomico, sendo sua primeira

edição baseada na versão elaborada por Christopher Freeman, publicada em

2002. O nome faz homenagem a uma reunião de especialistas da

organização com o grupo NESTI (Peritos Nacionais em Ciência e

114

muito tempo vem avaliando seus membros através de investimentos em

Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Esta organização internacional

conceitua a pesquisa em duas vertentes: básica e aplicada. É pesquisa

básica quando se dedicar a trabalhos experimentais ou teóricos

desenvolvidos, principalmente, com a finalidade de adquirir novos

conhecimentos sobre os fundamentos de fenômenos e fatos observáveis,

sem considerar uma aplicação ou uso particular. Já a pesquisa aplicada

consiste igualmente em trabalhos originais empreendidos com o

objetivo de adquirir novos conhecimentos, com um propósito mais

específico e aplicação (MANUAL FRASCATI, 2013, p. 38).

Martin (2010, p. 28) assevera que a primeira direciona-se ao

conhecimento produzido para "seu próprio interesse/vontade", porém, a

segunda, a pesquisa aplicada, está direcionada para conhecimento

produzido com uma aplicação específica em mente.

Neste tópico, destaca-se o estudo realizado por Donald Stokes

que sugere cautela nesta visão bipartida de pesquisa, uma vez que

acredita que não condiz com a realidade e pode, muitas vezes, justificar

erroneamente a alocação de recursos para uma ou outra forma de

pesquisa, ou deixar dúvidas entre qual categoria ela se encaixa. Em

resumo, se o gestor tiver sempre que realizar esta diferenciação e

classificação acabará privilegiando uma ou outra forma. Um exemplo

citado por Greenhalgh e Rogers (2010, p. 95), descreve a opinião de

Roger Kornberg, um dos cientistas médicos e professor da Universidade

de Stanford reconhecido pela Academia Nacional de Inventores norte-

americana, que em seus discursos demonstra sua oposição à

supervalorização da pesquisa aplicada, pois, argumenta que "os grandes

novos tratamentos médicos surgem das descobertas básicas por

pesquisas que não foram diretamente voltadas para produtos

comerciais." (GREENHALGH; ROGERS, 2010, p. 95). Portanto, é

importante não marginalizar uma privilegiando a outra.

Para Stokes, a pesquisa básica procura ampliar o campo de

entendimento fundamental, mas, a pesquisa aplicada volta-se para uma

necessidade ou aplicação para um indivíduo, grupo ou sociedade

(STOKES, 2005, p. 24). Da mesma forma, Machlup (1972) já apontava

indicadores de Tecnologia) na Villa Falconieri, em Frascati, Itália. As

definições contidas no manual e seus princípios utilizados servem como

guia para muitos países e no Brasil, por exemplo, como base para Lei do

Bem, Lei da Informática, dentre outras.

115

esta diferença, afirmando que a pesquisa básica cria conhecimento

básico, em que o conhecimento prático, aplicável pode existir, mas que

por si só é muito geral, muito ampla ou profunda. Para ter aplicações

diretas, busca-se leis gerais, sem ter em conta o uso prático; de outro

modo, a pesquisa aplicada cria conhecimento diretamente aplicável, o

pesquisador olha para os resultados que prometem ser de uso final na

prática (MACHLUP, 1972, p.146, 147).

Stokes ainda reforça que a posição defensora da investigação

pura, básica é reverberação do relatório de Vannevar Bush, citado

anteriormente. O relatório trouxe, portanto, uma forte recomendação

para o país (Estados Unidos) estabelecer seu investimento em pesquisa

científica, no pós-guerra, sendo que a ciência básica e sua relação com a

inovação tecnológica tornou-se o alicerce da política científica nacional

para as décadas posteriores. Para Bush, aqueles que investissem em

ciência básica obteriam seu retorno em tecnologia à medida que os

avanços da ciência fossem convertidos em inovações tecnológicas pelos

processos de transferência (STOKES, 2005, p. 17).

As ideias de Bush (1949) sobre a ciência básica se resumiam em

duas premissas: [...] a pesquisa básica é realizada sem se pensar

em fins práticos – assim, a característica

definidora da pesquisa básica reside na sua

contribuição ao conhecimento em geral e ao

entendimento da natureza e de suas leis; e que, a

pesquisa básica é precursora do progresso

tecnológico – pois, cria que com a separação da

consideração prematura de sua utilidade, provará

ser uma remota geradora de progresso

tecnológico, à medida que a pesquisa aplicada e o

desenvolvimento forem convertendo as

descobertas da ciência básica em inovações

tecnológicas. (STOKES, 2005, p. 17,18).

Neste mesmo sentindo, Derek Bok (2003, p. 60) aponta que o

relatório de Vannevar Bush continha a afirmação que novos produtos e

medicamentos para tratamentos dependeriam de um vigoroso programa

de pesquisa básica e somente as universidades poderiam provê-la. E foi

assim que o governo americano investiu bilhões em laboratórios,

criando a mais forte capacidade de pesquisa básica do mundo. Contudo,

existem aqueles que defendem a vocação prática da pesquisa,

116

demonstrando que muitas vezes o interesse em pesquisar deriva das

questões práticas, voltando os olhares para a teoria utilitarista.

2.2.2 A evolução da ciência e pesquisa no Brasil Merece destaque a compreensão da evolução sobre a atividade

científica no país. Entendendo como se orientou a ciência e pesquisa

brasileira será possível detectar, ao longo deste estudo, quais foram os

pontos determinantes, seja para a discussão sobre a relação entre

academia e setor privado, tipo de pesquisas que tiveram maior destaque

(básica ou aplicada), dificuldades das instituições de pesquisa em se

"adequarem" à exigência para se continuarem competitivas em razão de

sua estrutura entre outros aspectos.

Schwartzman (2001, p. 81-82) afirma que até o princípio da

instauração da República a atividade científica no Brasil era muito

precária, isto ocorreu em razão das iniciativas instáveis e dos impulsos

do Imperador, bem como, pelas limitações das escolas profissionais

burocratizadas, sem autonomia e com objetivos puramente utilitários da

época. Mesmo com as escolas superiores, como a Escola Politécnica do

Rio de Janeiro, mais voltada para engenharia civil ou, a Escola de

Minas, direcionada para mineração (Minas Gerais), representavam

claramente o tipo de intelectual de elite que se destacava da sabedoria

convencional dos sacerdotes e advogados, em nome da ciência moderna

da época.

Portanto, ainda no Século XIX e início do Século XX, os

cientistas brasileiros trabalhavam com as linhas já validadas na Europa,

não trazendo algo que impactasse e ultrapassasse a fronteira do

conhecimento. Silvia Velho aponta que a Revolução de 1930 foi um

marco importante para o país, uma vez que, nesta década, houve a

Reforma Francisco Campos (1931), a criação da Universidade de São

Paulo (USP) (1934), a tentativa da UDF (1935).65

Quanto à USP,

65

A UDF foi criada no Rio de Janeiro (antiga capital do país) por iniciativa

do reconhecido educador e escritor Anísio Spínola Teixeira, em 1935, que

trouxe para a realidade as aspirações da Associação Brasileira de Educação

e Academia Brasileira de Ciência (ABE e ABC), defendidas no Manifesto

dos Pioneiros da Educação Nova (1932). Todavia, pelo regime político da

época, o “sonho” de uma universidade moderna foi fatalmente atingido pela

conjuntura do regime político da época. E Anísio Teixeira e outros

117

relembra que esta instituição foi criada com intuito de apresentar um

modelo de universidade a qual a pesquisa estaria identificada como

ciência e não exclusivamente com a tecnologia, buscando firmar linhas

de pesquisas, inclusive com a contratação de professores estrangeiros

(VELHO, 1996, p. 37). Somam-se a estes acontecimentos, mais tarde, a

criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)

(1948), da instituição da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior (CAPES) e Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq) ,na década de 1950, e da Universidade

de Brasília (Unb), em 1961.

No entanto, quando se trata da relação entre ciência e sistema

produtivo, nos anos 1950 e 1960, mesmo com a criação destas

instituições públicas, estes conceitos estiveram dissociados. Esta

disjunção permaneceu por décadas, a exemplo das pesquisas de pós-

graduação financiadas pelo Estado, que visavam linhas de pesquisa mais

básicas, em detrimento até de uma boa pesquisa "dita aplicada", uma

vez que esta era considerada, muitas vezes, de segunda categoria,

porque não contribuía para o avanço do conhecimento. Isto é refletido

nos próprios critérios de escolha para concessão de bolsas de estudos

das entidades de fomento (VELHO, 1996, p. 47, 48).

Em busca de alterar o quadro de baixa demanda de pesquisa

aplicada, o país decide ser o demandante de pesquisa, com a criação de

empresas estatais em áreas prioritárias como petroquímica, de

comunicações e aérea, o que possibilitou algumas universidades se

aproximarem e participarem com projetos de pesquisa nas áreas de seus

interesses. Com destaque às instituições de fomento de pesquisa que

atuaram no cenário da modernização e evolução do ensino superior no

país. Primeiramente, a Sociedade Brasileira para o Progresso da

Ciência-SBPC (1948), em que a sua institucionalização teve como

objetivo incentivar a ciência para promover o desenvolvimento social e

econômico. Igualmente, a Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior que atualmente é denominada Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), foi

idealizadores sofreram restrições e mesmo com tentativas de manterem a

nova universidade com professores estrangeiros, esta subsistiu por apenas

04 anos e seus cursos foram transferidos para a Universidade do Brasil, pelo

Decreto nº 1.063/39.

118

instituída pelo Decreto nº 29.741/51, como o próprio nome sugere, com

intuito de: "assegurar a existência de pessoal especializado em

quantidade e qualidade suficientes para atender às necessidades dos

empreendimentos públicos e privados que visam ao desenvolvimento do

país". E teve também Anísio Teixeira, um dos importantes nomes que

figurou na instituição como Secretário-geral da Comissão (1952-1964) e

incentivou a vinda de professores visitantes estrangeiros, atividades de

intercâmbio e cooperação entre instituições, bem como, a concessão de

bolsas de estudos.66

Já o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) foi

criado pela Lei nº 1.310, de 15 de janeiro de 1951, com finalidades de

promover e estimular o desenvolvimento da investigação científica e

tecnológica, mediante a concessão de recursos para pesquisa, formação

de pesquisadores e técnicos, cooperação com as universidades

brasileiras e intercâmbio com instituições estrangeiras.67

Relembra Ana Waleska P. C. Mendonça (2000) que a partir dos

anos 1920 até 1945, constituiu-se em um momento complexo marcado

pela crise do sistema oligárquico tradicional, que resultou na

transferência do foco de poder dos governos estaduais para o âmbito

nacional e igualmente caracterizado pela maior atuação das massas

urbanas que se diferenciam de forma acelerada como resultado do

processo de industrialização e urbanização. Isto ocasionado pela própria

dinâmica da economia exportadora e do processo de burocratização,

com ampliação das funções do Estado e da principiante industrialização

brasileira (MENDONÇA, 2000, p. 137).

Neste contexto, as leis implementadas por Gustavo Capanema,

Ministro da Educação entre os anos de 1934 a 1945, trouxe inovações

no ensino secundário e profissional no país e surgem os ensinos

profissionalizantes com a criação do Sistema Nacional de Aprendizagem

(SENAI) pelo Decreto-Lei nº 4.048/1942, e, o Sistema o Serviço

Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) pelo Decreto-Lei nº

8.622/1946. Estas medidas expressam a política governamental da

época. Não seria diferente, porque, já nos anos 1930, conforme Silvia

Velho, o processo de urbanização e de industrialização se iniciou e

acabou modificando a composição de classes sociais brasileiras, o que

66

Dados encontrados no sítio eletrônico da CAPES. Disponível em:

<http://www.capes.gov.br/historia-e-missao>. Acesso em: 03 abr. 2015. 67

Dados encontrados no sítio eletrônico do CNPq. Disponível em:

<http://cnpq.br/a-criacao>. Acesso em: 03 abr. 2015.

119

refletiu no modelo educacional. As instituições educacionais de primeiro

e segundo graus serviram como instrumento do Estado para controle das

classes desfavorecidas (trabalhadores). Contudo, também se ressalta que

a década de 1980 foi marcada pelo deslocamento dos recursos públicos

destinados à pesquisa e desenvolvimento das instituições de ensino

superior para os centros de pesquisas do governo e as empresas estatais

(VELHO, 1996, p. 36, 50).

Pode-se ainda afirmar que mesmo na década de 1970, já se tem

indícios deste deslocamento, a exemplo, a Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que foi criada em 1972. Logo no

final do ano de 1973, assumiu a herança do Departamento Nacional de

Pesquisa e Experimentação (DNPEA) com seus institutos e estações

experimentais, quando passou a administrar todo o sistema de pesquisa

agropecuária no âmbito federal. Já em 1974, a empresa pública criou

seus primeiros centros nacionais por produtos como a de Trigo (em

Passo Fundo, RS), Arroz e Feijão (em Goiânia, GO), Gado de Corte (em

Campo Grande, MS) e Seringueira (em Manaus, AM).68

Outro evento significativo para a política de inovação no país foi

à constituição, em 1985, do Ministério de Ciência e Tecnologia, que nos

dias de hoje leva em sua nomenclatura o termo inovação (MCTI). Suas

principais ações para a ciência centram-se na promoção da inovação

tecnológica nas empresas, pesquisa, desenvolvimento e inovação em

áreas estratégicas e científicas, até mesmo na inovação tecnológica para

o desenvolvimento social. As linhas prioritárias do ministério

atualmente são traduzidas em programas de P&D em biotecnologia e

nanotecnologia, agronegócio, Amazônia, áreas semiáridas, a

biodiversidade e os recursos naturais, energia, hidrogênio e energias

renováveis e de petróleo, gás e carvão. Há também programas para as

áreas nucleares e espaciais, meteorologia e mudanças climáticas, defesa

e segurança nacional. É importante ressaltar que o sistema brasileiro de

inovação tem entidades de financiamento como o Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de

Estudos e Projetos (FINEP) que auxiliam na realização de programas

em empresas e indústrias (BNDES) e as universidades com projetos

(Finep) através de seleção pública. Incluem-se na estrutura de ciência e

68

Informações obtidas no sítio eletrônico da empresa pública. Disponível

em: <http://hotsites.sct.embrapa.br/pme/historia-da-embrapa>. Acesso em:

13 abr. 2015.

120

tecnologia universidades e instituições públicas e privadas de P&D,

empresas que introduzem inovações no mercado e o governo que

contribui com suas agências, políticas e leis que regulam as relações de

inovação no país. Neste ponto, a despeito do governo militar ter sido

extremamente repressivo e controlador quanto ao ensino e evolução da

ciência, constata-se algumas medidas e contribuições relevantes para os

dias atuais, considerando o período entre 1964 a 1985.

Por outro lado, na década de 1980, percebeu-se que enquanto o

Brasil restringia-se a garantir minimamente a sobrevivência do seu

sistema de P&D, os países desenvolvidos viviam um momento de

reestruturação e de mudança na base técnico-produtiva, trazendo um

novo paradigma tecnológico com inovações tecnológicas de base

microeletrônica e da informática que sem dúvida alterou todo o modelo

de produção global existente. Percebe-se ainda que em relação aos

investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o setor privado foi pouco

incentivado a investir, seja porque houve um processo acentuado de

importação de tecnologias subsidiadas, seja porque, no final dos anos

1970 e início dos anos 1980, através de iniciativas protecionistas e

subsídios para exportação, o governo incutiu certo conforto à indústria

nacional, o que se comentará abaixo.

Pensando na evolução da ciência e tecnologia no país, também é

a partir da década de 1990 que surgiram às novas leis que regulamentam

a propriedade intelectual (Lei 9.279/96-direitos e obrigações de

propriedade industrial; Lei 9.609/98 – programas de computador)

consequência do Acordo TRIPIS,69

assinado em 1994. Introduziu nas

instituições de ensino e pesquisa a necessidade em discutir o tema e

formular ações e internalizar o processo inovativo.

Todavia, mesmo com todos estes trilhos traçados na política

brasileira e nas universidades, verifica-se que não basta ter o suporte

legal, de modo que, ainda persistem barreiras para a inovação, existindo

maior dificuldade na aplicação da norma. Percebe-se que no país,

mesmo com marco legal e políticas para inovação, a interação entre

universidades públicas e empresas, o sistema universitário deve ser

69

TRIPS significa Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade

Intelectual Relacionados ao Comércio. Este, firmado em 1994 estabeleceu

os atuais padrões de proteção de propriedade intelectual no mundo e é

obrigatório para todos os países membros da Organização Mundial do

Comércio (OMC).

121

repensado e reestruturado, e que a comunidade acadêmica no seu papel

propulsor de gerar novos conhecimentos científicos e tecnológicos para

inovação, deve repensar a sua agenda de pesquisa e comunicar-se mais

com a sociedade (ARBIX; CONSONI, 2011, p. 220, 221).

Destarte, não é nenhuma surpresa ver que as políticas de

inovação apenas obtiveram mais vigor e se articularam a partir de 2003

com a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE).

Embora a parceria seja uma das formas de implantar o processo de

inovação entre universidade e empresa, principalmente nas públicas,

sempre se evidencia uma desconfiança do setor privado quanto à

burocracia das instituições públicas e até mesmo conflitos internos

(institucionais) sobre os valores e os benefícios advindos destas

parcerias. Este estudo pretende realizar uma abordagem diferente,

focada não apenas nas dificuldades que a universidade pública tem para

interagir com o setor privado, mas, uma busca por um pensamento mais

abrangente, talvez altruísta, de como o modelo jurídico, mais que o

administrativo das instituições de ensino e pesquisa, deve ser discutido e

repensando. Neste contexto, não é absurdo pensar em um novo modelo

ou uma melhor estrutura a ser adotada pelas universidades públicas

brasileiras, conforme discussão que se seguirá neste estudo.

2.3 A lei brasileira de inovação e influências da lei francesa e

norte americana Em acordo com o que foi dito no capítulo anterior, o ambiente de

inovação necessita de atores, políticas que geralmente são concretizadas

em legislações. Isto ocorreu com a maioria dos países que desejaram

entrar na corrida da inovação, partiram ou desenvolveram um marco

regulatório que traduziu sua política e visão, o que não foi diferente com

o Brasil, apesar de ter sido tardia. Evidentemente, existiram legislações

esparsas que de alguma forma influenciaram no processo de

industrialização e desenvolvimento econômico do país, inclusive a Lei

de Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/96). Porém, em destaque neste

capítulo, estará a Lei de Inovação, Lei nº 10.973/2004. Vale observar

que os legisladores brasileiros buscaram inspiração em outros

ordenamentos jurídicos, que se abordará a seguir.

2.3.1 Bayh-Dole Act

A conhecida legislação americana que influenciou a transferência

de tecnologia de modo global foi a Bayh-Dole Act. Principalmente,

122

nesta seara de relação universidade-empresa, patenteamento e

licenciamento dos direitos de propriedade intelectual, o ano de 1980 é

reconhecido internacionalmente como um marco na política de

transferência de tecnologia nos Estados Unidos da América com a

promulgação da lei Bayh-Dole ou Bayh-Dole Act. Para melhor entender como esta legislação surgiu, vale comentar

as palavras do próprio Senador Birch Bayh, um dos seus idealizadores,

que após 25 anos da edição da lei, no ano de 2006, discursou para

executivos em Nova Iorque, intitulando seu discurso com a frase "Bayh-

Dole: Não volte o relógio".70

No seu discurso mostrou os bastidores da

criação da lei e apresentou algumas defesas quanto às críticas que a

legislação obteve durante este período. Em suas palavras iniciais, o

antigo Senador Bayh disse que, nos dias atuais, os experts em

transferência de tecnologia aparentemente não entendem os fatores

intrínsecos e qual o sistema em que as empresas norte-americanas estão

baseadas. Destaca que a Bayh-Dole não ocorreu de repente e sim contou

com ações daqueles que tinham um conhecimento sobre pesquisa na

universidade, lei de patentes e motivadores econômicos básicos.

O cenário econômico em que se encontravam os Estados Unidos

no início dos anos 1970 representava uma perda da vantagem

tecnológica e os números mostravam que nos anos de 1993 a 1998, a

quantidade de patentes concedidas para não nacional tinha crescido em

35%; além disso, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento nos

10 anos anteriores tinham ficado "adormecidos". Outro aspecto

importante citado pelo parlamentar foi que as pequenas empresas

haviam demonstrado um impressionante recorde em inovação

tecnológica e recebiam uma pequena porcentagem do governo federal,

enquanto que o número de invenções patenteáveis oriundas de pesquisas

apoiadas pelo governo federal teve um acentuado declínio. Diante deste

quadro, o país estava perdendo sua liderança tecnológica. Dentro deste

70

Discurso do antigo senador Birch Bayh para a Licensing Executives

Society, intitulado “Bayh-Dole: Don’t turn back the clock”, no encontro

anual em Nova Iorque, em 12 de setembro de 2006. Birch Bayh atualmente

é sócio de uma firma de advocacia em Washington D.C., denominada

Venable LLP. Disponível em:

<https://www.venable.com/files/Publication/d2a75f28-abdd-4c68-80bd-

6f1e3f02950c/Presentation/PublicationAttachment/e38935e1-1e1d-4486-

9142-51befe3f0147/1621.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2015.

123

contexto, o então Senador Birch Bayh recebeu uma ligação telefônica de

Ralph Davis, chefe do Escritório de Transferência de Tecnologia da

Universidade de Purdue, em 1978, iniciando a ideia e discussão sobre a

legislação. Afirmou que Davis argumentou que a política governamental

que proibia as universidades de serem proprietárias das patentes de

pesquisas financiadas pelo governo federal e que também obstava o

licenciamento para empresas, "matava" os incentivos necessários às

empresas inovadoras desenvolverem completamente estas novas ideias.

Após refletir sobre os argumentos de Davis, o senador solicitou a sua

equipe que pesquisasse sobre a questão e estes descobriram que apesar

do governo federal ser proprietário de 28.000 patentes, à época, não

licenciava nem 4% para as indústrias e, conclui que o restante estava

"juntando poeira" no Escritório norte-americano de Patentes e Marcas

(USPTO), em suas palavras. A partir destes dados, resolveu marcar uma

reunião com o próprio Davis, e outros envolvidos, como Howard

Bremer (diretor da Universidade de Wisconsin Alumnae- Fundação de

Pesquisa) e Norman Latker (que foi membro do Conselho de Patentes

no Departamento de Saúde, Educação e Bem-estar do país), e após

pensarem conjuntamente sobre o problema, redigiram uma primeira

versão da legislação, tendo em vista as legislações encontradas no

campus e as habilidades empreendedoras das pequenas empresas. Em

seguida, o senador Bayh convidou o senador Bob Dole para apoiar a

proposta e, conjuntamente, ambos apresentaram a proposta,

concordando que o país não poderia suportar mais este desperdício de

bilhões de dólares em pesquisa universitária e pequenas empresas sem o

retorno financeiro devido.

Todavia, declarou que no próprio Senado a proposta encontrou

muita resistência, especialmente do Senador Russel Long71

que

acreditava que a proposta ofendia os pagadores de impostos e condenou

a ideia como o "pior projeto de lei" que já havia visto. Para Birch Bayh,

o Senador Long não havia compreendido que estas patentes eram

embrionárias e precisavam de maiores investimentos para se

desenvolver e transformar-se em produto ou sistema aplicado para

benefício da população.

71

Deve-se observar que o senador Long no ano de 1971 defendeu propostas

de manutenção da propriedade de invenções para o governo em questão da

NASA e saúde pública.

124

Pontuou que os objetivos da proposta eram simples e diretos:

universidades e pequenas empresas reteriam a propriedade das ideias

que eles desenvolvessem através de fundos governamentais e ainda,

poderiam licenciar cada ideia patenteada para indústria em geral, para

comercialização e, receberiam royalties por isso, bem como, os

inventores teriam direito de receber uma parte dos royalties se eles

assistissem no desenvolvimento da patente para o mercado. Ao rebater

as críticas feitas à lei, o Senador Bayh disse que insistir na ideia de que

os pagadores de impostos, os que pagam a pesquisa (através do governo

federal), e que seus resultados deveriam estar disponíveis para todos,

significava um retrocesso. Salientou que seguir este curso de ação

voltaria o "relógio da história", remetendo-se ao título do discurso.

Em síntese, ele aduziu que a lei fez duas grandes mudanças de

uma só vez, primeiro, transferiu propriedade de uma invenção ou

descoberta das agências do governo que tinham ajudado a pagar por

estas pesquisas, para a instituição acadêmica que tinha realizado a

pesquisa, na prática; segundo, garantiu que os pesquisadores tivessem

uma parte nesta ação. Somando-se a isto, lembrou que o sistema de

patente norte-americano e a Bayh-Dole ofereceram incentivos e

recompensas pelo sucesso de tomada de risco e que todos deveriam estar

orgulhosos e defender a iniciativa (BIRCH BAYH, 2006).

Uma interessante crítica apresentada por David C. Mowery e

Bhaven N. Sampat sobre a adoção da Bayh-Dole como modelo pelos

países, é que eles acreditam que existe um "endeusamento" sobre a lei, o

chamaram de "emulação", denunciando o que a OCDE tem feito com

seus membros enaltecendo a adoção de legislações similares nos seus

territórios. Entendem que cada país tem uma estrutura diferente em seus

sistemas de educação superior e que isto não pode ser desprezado.

Portanto, reforçam a ideia de Ortega y Gasset (2004), que em sua obra,

La misión de la Universidad, refutavam a "imitação", pois acreditavam

que cada nação tem suas particularidades, principalmente, na educação

superior, conforme se verá no tópico seguinte. Mowery e Sampat

explicam que os Estados Unidos, na adoção da lei tinha um sistema não

usual de infraestrutura de educação superior que misturou autonomia

financeira, financiamentos públicos de Estado e fontes locais com apoio

federal de pesquisa, o que incentivou as universidades a focarem seus

esforços em atividades de pesquisa com economia local e benefícios

sociais. Portanto, ao invés de concentrarem em pesquisas de princípios

científicos fundamentais, muitas das universidades durante o final do

Século 19 e no Século 20 buscaram entender e resolver problemas de

125

agricultura, saúde pública e indústria (MOWERY; SAMPAT, 2005, p.

124).

A crítica maior foi direcionada na reflexão da real importância de

a lei ser a propulsora da transferência de tecnologia no país, já que

muitos autores afirmam que foi a partir da Bahy-Dole que passou a se

pensar em transferência de tecnologia e licenciamento. Citando, por

exemplo, a Associação de Universidades Americanas, que apresentam

números de crescimento de universidades que estão engajadas em

transferência de tecnologia, sendo mais de 200 e, que adicionam mais de

21 bilhões a cada ano para a economia (MOWERY; SAMPAT, 2005, p.

122, 125). Contrariamente, eles apresentam o argumento de que mesmo

antes de 1980 já existiam atividades patentárias nas universidades, com

base em colaboração em pesquisa entre universidade e pesquisadores

industriais que mediram muitos canais de tecnologia e troca de

conhecimento, incluindo publicação, treinamento industrial de

pesquisadores, consultoria de professores e outras atividades

(MOWERY; SAMPAT, 2005, p. 118). Acreditam que foi a década de

1970 o divisor de águas, tanto quanto, ou maior que dos anos 1980,

quando se trata de crescimento de patenteamento ou licenciamento

universitário. Inferem que foi neste período que as universidades

expandiram sua política de patenteamento, especialmente, em áreas

como a biomédica, e assumiram um papel de destaque em

gerenciamento de suas patentes e licenças. E mais, apontam que o

número de universidade que estabeleceram escritório de transferência de

tecnologia ou de contratação de escritórios começou a crescer nos anos

finais da década de 1960, portanto, antes da promulgação da Bayh-Dole.

Desta forma, corroboram seu argumento entendendo que a lei de 1980

foi mais um efeito do que causa para o crescimento de gerenciamento de

patentes e licenças, quando se verificam os acontecimentos dos anos

1960 e 1970. Na verdade, para a sua aprovação houve uma campanha,

lobbying, das universidades de pesquisa para que ela ocorresse

(MOWERY; SAMPAT, 2005, p. 119). O que não deixa de ser uma

verdade, como foi relatado pelo próprio senador Birch Bayh acima, uma

vez que houve uma provocação de pessoas diretamente ligadas com a

transferência de tecnologia universitária, denotando uma inquietude

anterior a 1980.

De outro lado, também criticam esta ênfase no patenteamento ou

licenciamento, enfatizando que um pensamento tacanho, focado no

licenciamento como o principal ou único canal para transferência de

tecnologia, pode ter um efeito inibidor na operação de outros canais

126

importantes, que são canais através dos quais as universidades

contribuem para inovação e crescimento econômico (MOWERY;

SAMPAT, 2005, p. 124).

Da mesma forma, convém citar opiniões de outros estudiosos que

discutem sobre a inovação e a transferência de tecnologia como Michael

A. Gollin e Keith E. Maskus. Gollin, no livro Driving Innovation:

Intelectual Property Strategies for a Dynamic World (Promover a

Inovação: Estratégia de Propriedade Intelectual para um Mundo

Dinâmico), em 2008. Buscaram, em poucas palavras, explicar o objetivo

da legislação. Informa que antes da lei, os investimentos e liderança em

pesquisa estavam em declínio e o governo possuía todas as patentes

derivadas de fundos federais para pesquisas, porém, uma minúscula

porcentagem destas patentes era utilizada, não era sequer licenciada,

muito menos comercializada. O marco da lei foi estabelecer modelo de

parcerias que se configuraram com envolvimento de instituições de

pesquisa sem fins lucrativos, pesquisadores, corporações que poderiam

investir seu capital necessário para desenvolverem invenções em

produtos e levá-las para o mercado. Reforça que o objetivo da Bayh-Dole centrava-se na oportunidade para que as universidades, que

recebiam fundos federais, fossem capacitadas a buscar a proteção de

patentes em resultados de invenções e encorajá-las a licenciar aquelas

patentes para as empresas desenvolvê-las, com os inventores retendo

uma parte dos royalties (GOLLIN, 2008, p. 33, 34).72

Keith Maskus, o reconhecido economista que é consultor do

Banco Mundial e da OMPI (Organização Mundial de Propriedade

Intelectual), em seu ponto de vista, acredita que a lei encorajou

universidades a registrarem suas patentes e que seu principal objetivo

era esclarecer a possibilidade das universidades serem proprietárias e

poderem licenciar patentes, mesmo com exclusividade. Grande

quantidade das ciências das universidades atuais estão no que se

denomina "Quadrante de Pasteur", definido por Stokes, que significa

implantação de métodos de pesquisa básica para resolver problemas que

envolvem a ciência difícil, mas que tenham uma utilidade comercial

(MASKUS, 2012, p. 298, 299). Afirma que, mesmo com as críticas,

inclusive citando Mowery e Sampat, defende que a partir deste período

os pesquisadores universitários têm amplas perspectivas de carreira para

72

Vale lembrar que Gollin é sócio do antigo Senador Bich Bayh na Firma

de Advogados Venable LLP.

127

se envolverem na investigação e divulgar os seus resultados através de

publicações. Ainda justifica que para a inovação e a comercialização,

entretanto, as universidades norte-americanas agora registram muito

mais patentes que no passado. Informa também que, no ano de 1965,

apenas 96 patentes foram concedidas para 28 universidades, todavia, em

meados de 2006, isto cresceu para 3.384 concessões e para mais de 150

universidades (MASKUS, 2012, p. 301).

Apesar dos elogios e críticas, notavelmente, a Lei Bayh-Dole

(1980) nos Estados Unidos foi uma ferramenta de extrema importância

para alavancar a gestão de propriedade intelectual nas universidades e

melhorar a sua política de transferência de tecnologia, que inspirou

outros países. A lei introduzida pelos senadores Birch Bayh e Robert

Joseph Dole certamente proporcionou para as instituições, os institutos

de pesquisa e pesquisadores individuais que mantivessem a propriedade

das invenções com possibilidade de patentear as novas invenções que

surgiram com os investimentos públicos, e isto foi um inescusável

avanço. Acerta Mowery e Sampat (2005) ao enfatizar que a lei em si não

fez milagres e que houve um processo histórico dos anos anteriores,

pode-se aqui dizer que não somente os anos 1960 e 1970, mas, antes

disto nos períodos de guerras que já foram citados anteriormente,

também contribuíram. Porém, inegável que a partir deste evento de

1980, houve facilitação na negociação para as universidades e

instituições de pesquisa e que abriu um novo capítulo para os acordos

entre academia e indústria.

Nos dizeres de Greenhalgh e Rogers (2010), esta legislação foi

um incentivo memorável para as universidades promoverem suas

inovações, também para encorajar as empresas a investirem em novas

áreas do conhecimento. Além disso, a motivação para a legislação era

acelerar tecnologia do laboratório para o mercado e permitir que as

universidades pudessem direcionar recursos para o processo de patentes

de arquivamento e tecnologias de licenciamento por escritórios especiais

chamados Gabinetes de Transferência de Tecnologia (TTO)

(GREENHALGH; ROGERS, 2010, p. 96, 97), o que se corrobora nesta

pesquisa.

2.3.2 A Lei de Inovação Francesa de 1999 (Loi sur l’innovation et

La recherche)

Alguns autores como Dennis Barbosa, Isak Kruglianskas, José

Matias-Pereira, Mario Sérgio Salemo, Laura Ibiapina Parente entre

128

outros salientam que a lei de inovação brasileira de 2004 teve uma forte

influência da lei de inovação francesa.

A Lei de Inovação Francesa foi publicada em julho de 1999,

denominada Lei da Inovação e Pesquisa (Loi sur l’innovation et La

recherche, nº 99-587). Vale destacar que esta legislação surgiu como

resposta às mudanças necessárias do modelo tradicional correspondente

à organização industrial e sistema de pesquisa francês, bem como, a

estruturação da inovação a partir do pós-guerra. Relembram Salemo e

Parente (2010, p. 127) que o país tinha uma organização político-

administrativa fortemente centralizada, com produção industrial

concentrada em grandes empresas de setores tradicionais e o

investimento estatal se dirigia a programas especiais, com

fortalecimento (historicamente) de empresas dos setores como

aeronáutica (Dassault, Airbus) automobilística (Renault, Peugeot),

telecomunicação (Telecom) e alimentação (Danone),

exemplificativamente. Da mesma forma, o apoio público à pesquisa

dava maior atenção às Grands Écoles,73

que se diferenciam das

universidades de modo geral, pela sua especialidade. E,

consequentemente, alijou as universidades a um papel pouco

significativo quanto as suas pesquisas e o relacionamento com as

empresas, de modo que, dedicavam-se preponderantemente à pesquisa

básica. Igualmente, os anos 1990 demonstraram o colapso deste modelo

com a internacionalização da economia e com a consolidação da União

Europeia (Tratado da União Europeia ou Tratado de Maastricht, em de

1993; Tratado de Amesterdã, em 1999) evidenciou a fragilidade do país

quanto a setores emergentes como tecnologia da informação,

biotecnologia, energias limpas, entre outros (SALEMO et al, 2010). Este

sistema foi bastante questionado em 1998 e houve um Congresso de

Inovação, considerado o evento propulsor da nova lei de inovação

francesa. Particularmente, a lei francesa está dividida em quatro eixos

temáticos, quais sejam: a mobilidade dos pesquisadores para a

indústria/empresas; a cooperação entre estabelecimentos de pesquisa do

73

São escolas de nível superior que se dedicam a determinada temática e

são altamente qualificadas e selecionam seus alunos através de seleções

concorridas que geralmente garantem seus altos postos, tendo em vista a

formação do alto nível. Exemplos destas escolas superiores são: a Escola de

Minas (Ècole dês Mines), Escola Nacional de Administração (École

Nationale d’Administration), Escola Politécnica (École Polytechnique).

129

setor público e as empresas; questões fiscais e, incentivos às empresas

inovadoras; marco jurídico para empresas inovadoras, principalmente,

estímulo à criação de empresas de pequeno e médio porte de base

tecnológica e propriedade intelectual. Este último eixo, que trata de

empresa de pequeno e médio porte, veio ao encontro à estrutura

produtiva francesa que estava fortemente baseada em empresas estatais

de grande porte que foram privatizadas nos anos 1990.

Priscila Koeller (2009) destaca também que apesar de já existir

uma legislação em 1982 que buscou a aproximação da academia com o

setor produtivo, foi em 1998, com uma análise requisitada pelo governo

francês realizada por Henri Guillaume (1998), a qual ficou demonstrada

que esta legislação não teve resultado positivo, porque, apenas um

número reduzido de pesquisadores efetivamente participou do processo.

Guillaume (1998) em sua análise, ao comentar o Estudo do Ministério

da Economia, Finanças e Indústria (MEFI) do governo francês, apontou

que em 1995, a França teve uma melhora no plano científico muito

maior do que no plano tecnológico. Afirmou que pelos números

apontados no referido estudo, a posição tecnológica do país apresentou

falhas, ou muitas falhas, quando se verificava o número de patentes

frente a outros países europeus. Acrescentou que havia urgência na

implementação de uma visão tecnológica para a inovação, tendo em

vista que o sistema francês baseava-se ainda na pesquisa básica. No

relatório, Guillaume (p. 19) apontou que o modelo adotado fragilizava o

sistema de inovação. Em suas palavras, disse que: "A fraqueza da

investigação tecnológica é uma séria desvantagem para o Sistema

Nacional de Inovação".74

Da mesma forma, que reconhece que a

mobilidade dos investigadores ao negócio legal é quase inexistante,

referindo-se a pífia atuação da lei de 1982 (p. 42). Outro destaque para o

relatório de Guillaume é sua crítica ao modelo linear que as instituições

políticas ainda adotavam, como o Ministério da Educação Nacional do

Ensino Superior e da Pesquisa (MENRT) e do Ministério da Economia e

Finanças (MEFI) que ainda acreditavam que a pesquisa fundamental

deveria ser o pontapé para posteriormente chegar-se à pesquisa aplicada

e depois pensar em produção. Ao contrário, defedeu o processo

inovativo sistêmico, temas já discutidos no capítulo I. Nas palavras de

Guillaume:

74

Lafaiblesse de La recherchetechnologique est un handicap sérieuxpour

Le systèmenational d’innovation.

130

Embora tenha se tornado comum lembre-se que o

processo de inovação tecnológica não identifica

mais com o modelo linear, que vai desde a

pesquisa básica para pesquisa aplicada, em

seguida, o desenvolvimento do produto aplicado.

(1998, p. 153).75

Portanto, o capítulo introdutório sobre os sistemas de inovação e

seus modelos, auxilia na compreensão destas políticas que seguiram

estas teorias. Assim como Guillaume, Patries Boekholt (2010, p. 339)

reconhece que levou mais de duas décadas para que a mensagem

"inovação não é linear", chegasse ao nível da política, porém, ainda

encontra-se o pensamento linear que é fortemente presente em muitas

estratégias e instrumentos de política nacional e regional. Afirma

também que o pipeline model em que o governo investia suas fontes de

financiamento em pesquisa pública e pensava que invenções seriam

"automaticamente" derivadas para as indústrias e posteriormente,

desenvolvidas e comercializadas no futuro, como em desenvolvimento

comercial, portanto, na visão linear demonstrou que esta política não

obteve os resultados esperados, e em diversas vezes, defende a visão

sistêmica. Nas suas conclusões, Boekholt aponta que a necessidade de

uma estratégia para o desenvolvimento do sistema nacional de inovação

no contexto europeu, e no texto citado anteriormente, somando-se com o

número não expressivo de pesquisa tecnológica, eram latentes para o

desenvolvimento do sistema de inovação. Consequentemente, sua

análise foi um sinal para o governo francês em aceitar mudanças para

alcançar o objetivo de melhorar a relação da academia com o setor

privado, principalmente, quanto à revisão da lei.

Neste quadro, observa-se que a legislação brasileira, Lei

10.973/2004 tem como objetivo principal incentivar a comunicação com

o setor público e privado, com tentativa de absorção da pesquisa

acadêmica visando um aproveitamento mais efetivo. A partir desta

legislação, buscou-se intensificar a comunicação da pesquisa pública

com o setor privado, através de incubação de empresas e parcerias.

75

Texto original: Même si c’est devenu une banalité, rappelons que le

processus d’innovation technologique ne s’identifie plus au modèle linéaire,

allant de la recherche fondamentale vers la recherche appliquée puis le

développement dês produits. (1998, p. 153).

131

Evidencia-se aqui a influência da lei francesa na lei de inovação

brasileira, que no seu bojo, teve como tema principal a interação

Universidade-Empresa (U-E). Possivelmente, isto decorreu em razão da

França também ter um sistema de educação superior público e ter

características de um Estado intervencionista e por ser, ao longo do

período, o principal financiador da pesquisa; bem ainda, assemelhando

na criação e fortalecimento de empresas estatais, com destaque nas áreas

de telecomunicações, aeroespacial e de energia. Estas seriam as

similaridades, porém, deve-se considerar que existem muitas diferenças

que levam a crer que a Lei de Inovação atual brasileira merece um

ajuste, não apenas temporal, mas conceitual, como se tem debatido

nestes últimos dois anos. Afinal, o Brasil nas décadas de 1980 e 1990,

optou por uma abertura econômica e pouco incentivo em pesquisa no

setor privado. Em alguns períodos, houve um escasso apoio às agências

de fomento à pesquisa. Deve-se considerar também que as universidades

públicas brasileiras sempre se destacaram na produção de conhecimento

e pesquisas, sejam elas básicas ou aplicadas, diferentes das

universidades francesas, portanto, há necessidade de encontrar um

caminho para que a Lei de Inovação seja um pouco mais efetiva e

menos burocrática.

2.4 Lei de Inovação no Brasil: Para que uma lei de inovação?

O Brasil também percebeu que estava com atraso no

desenvolvimento de tecnologias e apesar do país estar na vanguarda de

exportação de commodities, principalmente, grãos, fazendo frente a

países desenvolvido como os Estados Unidos e países da Europa, ainda

apresenta um atraso tecnológico. Mesmo tendo investido em tecnologia

para o setor agrícola, mais especificamente, em biotecnologia, que tem a

EMBRAPA como pioneira em muitas descobertas científicas, quando a

discussão se aproxima das tecnologias voltadas para indústria e TIC

(Tecnologias de Informação e Comunicação) e patentes de empresas ou

inventores brasileiros, percebe-se que persiste a lacuna (gap)

tecnológica. E da mesma forma como Guillaume e outros estudiosos

utilizam a Propriedade Intelectual como parâmetro, constata-se que as

empresas brasileiras, no que toca às patentes, não possuem uma

expressividade em invenções de alta tecnologia, bem como, protegem

pouco no exterior, demonstrando, dessa maneira, uma defasagem

assustadora.

132

O Brasil está numa posição não muito animadora no Índice

Global de Inovação (Global Innovation Index)76

de 2014, ficando atrás

de países como Panamá (52ª), África do Sul (53ª), Grécia (50ª), Chile

(46ª) e Turquia (54ª), alcançando a 61ª colocação, apesar de ser

reconhecido como um país de renda média, inclusive no BRICS, (12-

13). A análise indica que o desempenho mais forte do Brasil é na

absorção de conhecimento (sub-pilar); a fraqueza ainda permanece nas

instituições, especialmente no ambiente de negócios (sub-pilar) (THE

GLOBAL INNOVATION INDEX, 2014, p. 35, 36).

Deve-se ter em consideração que a pesquisa brasileira de

qualidade está nas universidades públicas, não aqui desprezando as

universidades privadas, que atualmente demonstram uma qualidade

notável e uma celeridade impressionante na execução de parcerias e

desenvoltura para a transferência de tecnologia. Neste contexto, era

inevitável um arcabouço jurídico com objetivo de dinamizar e diminuir

esta defasagem, conjugando os atores que estão envolvidos no processo

de inovação, aqueles já identificados no sistema de inovação e também

pela Tríplice Hélice, como explicitado no capítulo anterior. Desta forma,

veio o marco legal, a Lei nº 1.0973/2004, denominada de Lei de

Inovação,77

juntamente com a Lei 11.196/2005, Lei do Bem.

Certamente, um fator notável na Política Nacional de Inovação

foi à promulgação das leis que buscaram regular e incentivar a inovação

no território brasileiro. No país, a Lei de Inovação (Lei nº 10.973/2004)

e a Lei do Bem (Lei nº 11.196/2005) foram os divisores de águas. A

primeira lei tem como pontos principais: o incentivo de parcerias em

P&D entre universidades ou instituições de pesquisa e empresas; a

regulação da transferência de tecnologia e a criação de incubadoras,

partilhamento de equipamentos, infraestrutura e de pessoal no

desenvolvimento de novas atividades de tecnologia; além disso, o

estabelecimento de subsídios e recursos para essas atividades. A lei foi

organizada em três eixos para a constituição de ambiente propício a

76

Disponível em: <

https://www.globalinnovationindex.org/content.aspx?page=gii-full-report-

2014>. Acesso em: 25 ago. 2015. 77

Esclarece-se que ao tempo da escrita desta tese alterações para esta lei

estava em discussão no Congresso Nacional e que a partir de janeiro de

2016 alguns pontos cruciais já foram adotados, o que se tratou ao final do

capítulo, que anteriormente era uma previsão, agora uma realidade.

133

parcerias estratégicas entre as universidades, institutos tecnológicos e

empresas, visando estimular a participação de Instituições de Ciência e

Tecnologia (ICT) no processo de inovação e, incentivar que a inovação

na empresa ocorra.

A Lei nº 11.196/2005 determina incentivos para apoiar a

transferência de tecnologia, por exemplo: isenções e deduções fiscais

para a compra de máquinas e equipamentos relacionados com as

atividades de inovação e de exportação; deduções relativas aos gastos

com P&D, possibilidade de contratar investigadores e de registro de

patentes ou incentivos fiscais para compensar os custos de registro e

manutenção de marcas e patentes registradas no exterior. No entanto, em

quase uma década de existência a implementação adequada das leis

ainda em discussão.

Neste estudo, merece maior atenção a primeira lei, tendo em vista

que seu foco está na relação universidade-empresa e a segunda está mais

voltada para incentivos fiscais. Deste modo, a Lei de Inovação (e

alterações) tem como ponto central criar um ambiente produtivo

guiando-se por pontos principais, quais sejam: incentivar parcerias em

pesquisa e desenvolvimento (P&D) entre universidades, instituições de

pesquisa e empresas; regular a transferência de tecnologia, com acordos

de parceria, seja para desenvolver tecnologia ou seu licenciamento;

fomentar a criação de incubadoras; flexibilizar a atuação de cientistas e

pessoal técnico nas empresas e indústrias; partilhar equipamentos e

infraestrutura; definir questões de propriedade intelectual dos resultados

de P&D e estabelecer percentuais de divisão de benefícios advindo

destas parcerias e, principalmente, criar os Núcleos de Inovação

Tecnológica (NIT) nas instituições de pesquisa e valorizar o inventor

independente.

Evidencia Denis Barbosa (2006, p. 1, 2) que a lei compreende

grupos de normas, respectivamente: a criação de parcerias estratégicas

entre universidades, institutos tecnológicos e empresas; incentivar a

figura do pesquisador-criador; incentivar a inovação nas empresas;

definir os direitos de apropriação de tecnologias. Também está prevista

a participação remuneratória dos seus pesquisadores quando existir uma

exploração comercial de sua criação pela Instituição de Ciência e

Tecnologia, como forma de instigar a produção acadêmica.

Já no artigo primeiro da lei, observa-se sua finalidade que é

incentivar à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente

produtivo, com fulcro em uma autonomia tecnológica e no

desenvolvimento industrial do país. Esta lei é uma norma em resposta

134

aos artigos 218 e 219 da Constituição Federal de 1988. Portanto, a

legislação teve como alvo criar um melhor ambiente para desenvolver a

inovação, respeitando as regras burocráticas que envolvem as parcerias

público-privada, buscando flexibilizar ao utilizar contratos e convênios

realizados pelas Instituições Científicas e Tecnológicas (ICT).

Neste sentido, as ICT estão claramente definidas no Artigo 2º, da

Lei de Inovação: órgão ou entidade da administração pública direte

ou indireta ou pessoa jurídica de direito privado

sem fins loucrativos legalmente constituída sob as

leis brasileiras, com sede e foro no País, que

inclua em sua missão institucional ou em seu

objetivo social ou estatutário a pesquisa básica ou

aplicada de caráter científico ou tecnológico ou o

desenvolvimento de novos produtos, serviços ou

processos. (Lei nº 10.973/2004, com alterações da

Lei 13.243/216).

Por isso, as universidades e institutos de pesquisa públicos estão

contemplados neste conceito. Foram previstas algumas formas

diferenciadas de parcerias, como: o compartilhamento e a permissão de

uso de infraestrutura, contratos de transferência de tecnologia e

licenciamento, prestação de serviços especializados, acordo para

pesquisa e/ou desenvolvimento de tecnologia, produtos ou processos.

No mesmo sentido, prevê contratos de parceria indicando Contrato de

Cessão, Licenciamento e Transferência de Tecnologia. De forma

panorâmica, pode-se afirmar que a lei buscou minimizar as dificuldades

que as instituições de pesquisas, precipuamente as universidades

públicas, enfrentam quando realizam parcerias com o setor privado,

inclusive excepcionando situações previstas na Lei de Licitações (Lei nº

8.666/93).

O texto legal contemplou uma das formas mais comuns de

relação entre universidade e empresa que é a parceria, o acordo para

pesquisa científica e tecnológica de desenvolvimento de tecnologia,

produtos ou processos, no Artigo 9º e seus parágrafos. Geralmente, as

universidades buscam este tipo de parceria para desenvolverem pesquisa

com auxílio e apoio financeiro das empresas ou instituições públicas.

Nestes tipos de parcerias, a transferência de conhecimento está presente,

pois, haverá certamente troca de knowhow e deve-se ter o cuidado de

estar bem definida a relação, com objetivos concretos evitando que se

transmitam informações em demasia que possam comprometer a

atividade acadêmica e/ou outros projetos, tampouco arriscar em revelar

135

questões sigilosas da empresa. Evidentemente, que mesmo antes da

legislação as empresas já buscavam as universidades para

desenvolverem uma tecnologia ou um produto e em contrapartida, as

universidades recebiam equipamentos e bolsas de estudos para

realizarem projetos de pesquisas, porém, com a legislação esta parceria

tomou uma formalidade e exigências para a segurança entre as partes.

2.4.1 Pontos controvertidos: aplicação da Lei de Licitação em

razão da generalidade da Lei de Licitação

Estudos sobre as parcerias entre universidades e empresas

indicam a burocratização como maior entrave e, ainda o excesso de rigor

formal das ICTs públicas desmotiva a realização de contratos entre estes

atores, principalmente, quando exige a observância da Lei de Licitação.

Por serem entidades que integram a Administração Pública, as

universidades federais, estaduais e municipais estão obrigadas a cumprir

as regras procedimentais de aquisição e contratação previstas pela Lei n.

8.666/93. Neste horizonte, a universidade deve buscar formas de

motivar a prática de inovação no seu interior para alcançar as empresas.

A inovação, além de trazer a realização da função social, traz a

incorporação de novas formações no processo de ensino e pesquisa e

resolução de problemas técnicos conjugando o interesse privado.

Um destaque nacional da promulgação desta legislação para

inovação foi a grande aceitação pelos entes federados que replicaram

seu texto no âmbito estadual. Muitos estados como Mato Grosso, Santa

Catarina, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Amazonas, Mato Grosso do

Sul, entre outros, adotaram, na esfera estadual, estas normas

incentivadoras do processo de inovação. No entanto, mesmo após mais

de uma década de existência e implementação desta lei, seu objetivo de

fortalecer a interação entre instituições de pesquisa tecnológicas e

empresas, com atuação e sinergia entre os atores (governo, academia e

setor produtivo), através de contratos e convênios de pesquisa para criar

produtos e processos, visando um crescimento econômico, ainda está a

desejar. Estas leis estaduais de inovação auxiliam na consolidação do

Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI),

fortalecendo em âmbito regional a interação entre os agentes do sistema

já comentado anteriormente.

Não se pode olvidar que, sem dúvida, a partir da lei de inovação

os acordos entre empresas e universidades foram obrigatoriamente

136

formalizados, com contraprestações claras, ofertando uma segurança

jurídica tanto para a universidade, que não vê seus Direitos de

Propriedade Intelectual negligenciados ou simplesmente subtraídos,

quanto para a empresa, a segurança e formas de exigir o cumprimento

dos compromissos assumidos. Houve uma aproximação entre a

academia e a indústria, não apenas por força da lei, mas, pelas políticas

públicas subsequentes e incentivos fiscais adotados. A criação dos

Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) e a viabilidade de

compartilhamento de instalações e equipamentos auxiliaram no

desenvolvimento das pesquisas e contribuíram para a mudança dos

conceitos nestas entidades, impondo uma cultura de inovação e

transferência de tecnologia quase inexistente em algumas instituições

em todo o país.

A Lei de Inovação também prevê uma contratação mais elástica,

conforme previsão no Artigo 20. Com intuito de flexibilizar e dinamizar

a interação entre as ICT e o setor empresarial, a Lei de Inovação

excepcionou a Lei de Licitação no Artigo 20, in verbis:

Art. 20. Os órgãos e entidades da administração

pública, em matéria de interesse público, poderão

contratar empresa, consórcio de empresas e

entidades nacionais de direito privado sem fins

lucrativos voltadas para atividades de pesquisa, de

reconhecida capacitação tecnológica no setor,

visando à realização de atividades de pesquisa e

desenvolvimento, que envolvam risco

tecnológico, para solução de problema técnico

específico ou obtenção de produto ou processo

inovador.

§ 1o Considerar-se-á desenvolvida na vigência do

contrato a que se refere o caput deste artigo a

criação intelectual pertinente ao seu objeto cuja

proteção seja requerida pela empresa contratada

até 2 (dois) anos após o seu término.

§ 2o Findo o contrato sem alcance integral ou com

alcance parcial do resultado almejado, o órgão ou

entidade contratante, a seu exclusivo critério,

poderá, mediante auditoria técnica e financeira,

prorrogar seu prazo de duração ou elaborar

relatório final dando-o por encerrado.

§ 3o O pagamento decorrente da contratação

prevista no caput deste artigo será efetuado

137

proporcionalmente ao resultado obtido nas

atividades de pesquisa e desenvolvimento

pactuadas. (Lei nº 8666/1993).

Assim, os órgãos e entidades da Administração Pública, em

matéria de interesse público, poderão contratar empresa, consórcio de

empresas e entidades nacionais de direito privado sem fins lucrativos

voltadas para atividade de pesquisa, de reconhecida capacitação

tecnológica no setor, visando à realização de atividades de pesquisa e

desenvolvimento, que envolvam risco tecnológico, para a solução de

problema técnico específico ou obtenção de produto ou processo

inovador. Faz uma alusão aqui à mesma visão da lei francesa, que teve o

intuito de incentivar a interação do profissional universitário com as

empresas, desde que isto não influenciasse ou prejudicasse o

desenvolvimento das pesquisas e projetos da universidade ou instituto

de pesquisa. Entretanto, o ambiente de pesquisa e desenvolvimento

destacado no Artigo 1º da lei, carece de uma urgente mudança de

paradigma institucional e que estas relações cada vez mais sejam

desprovidas de burocracia, com procedimentos mais ágeis e flexíveis.

Cita-se o caso dos processos de aquisição e prestação de contas, ou no

processamento interno das instituições na formulação das parcerias, que

necessitam decisões mais rápidas e eficazes, para que não venham

desestimular a outra parte. A demora ou a dificuldade na decisão

afugenta a iniciativa privada que tem um ritmo muito diferente da

Administração Pública e as universidades estão inseridas neste contexto.

Cita-se também as situações em que as regras de importação de

equipamentos ou sanitárias para material de pesquisa atrasam o

desenvolvimento de pesquisas importantes no país. Não são poucas as

reclamações, como do cientista médico Antônio Carlos de Carvalho, que

teve seus reagentes detidos por três semanas em 2010.78

Conforme

matéria veiculada, em mídia nacional, afirma que para importação de

reagentes, quando corre tudo na normalidade, os pesquisadores devem

esperar entre 1960 a 1990 dias para tê-los em mãos, indicando uma

desnecessária demora. Outra situação similiar foi relatada pelos

professores renomados da UFRJ que em 2004, apesar de terem recebido

78

Notícia. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/851192-

pesquisador-nao-sabe-importar-material-cientifico-diz-governo.shtml>.

Acesso em: 15 ago. 2015.

138

prêmios em pesquisa e doações de equipamentos que se aproximavam

do valor de meio milhão de reais (destinados ao Instituto de Ciências

Biomédicas da UFRJ) esperaram meses para receberem estes

equipamentos para desenvolver pesquisas em muitos laboratórios

daquela instituição.79

Também na opinião da pesquisadora Lygia da

Veiga Pereira, que trabalha com células-tronco, a burocracia é o fator de

atraso das pesquisas que acabam sendo pouco inovadoras e superficiais.

Em suas palavras: "Apesar de dizer que valoriza a atividade de pesquisa,

o governo criou um labirinto legal para importações que não distingue

um pesquisador de um potencial contrabandista."80

O que demonstra um

descompasso entre a Política de Inovação apregoada e a realidade.

A proliferação de incubadoras, startups e criação de parques

científicos e tecnológicos apoiados pelos estados da federação,

indubitavelmente consolida a cultura de inovação e podem ser uma

aposta para dinamizar estes ambientes. Porém, as questões de gestão dos

parques, por exemplo, devem ser observadas com muita atenção, quando

existem órgãos da administração pública envolvidos, para não voltar ao

problema de burocracia. Conquanto, para a inovação estão previstas

situações de dispensa à licitação quando se refere às atividades de

Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) desenvolvidas pelas instituições

de ensino e pesquisa públicas e institutos públicos de pesquisa. Por isso,

em razão da matéria e importância, a licitação que seria exigida, é

dispensada. O Art. 24, da Lei n. 8.666/93, ao estabelecer os casos de

dispensabilidade de licitação, prescreve em seu Inciso XXI, com

alteração dada pela Lei n. 9.648/98, a possível dispensa para "aquisição

de bens destinados exclusivamente à pesquisa científica e tecnológica

com recursos concedidos pela CAPES, FINEP, CNPq ou outras

instituições de fomento a pesquisa credenciadas pelo CNPq para esse

fim específico." (BRASIL, 1998).

Embora o texto legal coloque como hipótese de dispensa,

verifica-se posicionamento doutrinário que o aponta como de

79

Notícias. Disponível em: <http://www.renorbio.org.br/portal/noticias/as-

dificuldades-para-a-importacao-de-material-cientifico-no-brasil-texto-de-

stevens-kastrup-rehen-e-ronaldo-mohana-borges.htm>. Acesso em: 15 ago.

2015. 80

Notícia. Disponível em:

<http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2014/03/25/burocracia-para-

importar-insumos-trava-pesquisa-no-brasil.htm>. Acesso em: 19 set. 2015.

139

inexigibilidade. O caso é muito mais de inexigibilidade, eis que não se

pode cogitar de "competição". Constata-se, então, que o fundamento da

dispensa não reside diretamente na destinação à atividade de pesquisa,

está na natureza dessa atividade. As peculiaridades da atividade de

pesquisa excluem adoção dos critérios usuais de julgamento e seleção de

propostas (JUSTEN FILHO, 2005, p. 261-262). Contudo, não se

pretende aprofundar nesta seara.

2.4.2 Dificuldades na contratação: ausência de regulamentação

para os contratos de ICT

Vislumbra-se o Inciso XXV, do Art. 24 da Lei n.º 8.666/93 que

prevê a possível dispensa de licitação quando na contratação tiver

envolvida instituição científica e tecnológica ou por agência de fomento,

e, quando o objeto do ajuste for à transferência de tecnologia ou o

licenciamento de direito de uso ou de exploração de criação protegida.

Desta forma, está incluída neste conceito a invenção, modelo de

utilidade, desenho industrial, programa de computador ou qualquer

outro desenvolvimento tecnológico, do qual possa resultar o surgimento

de novo produto, processo ou aperfeiçoamento de natureza tecnológica.

Evidente que o legislador entendendo a dificuldade que o gestor

teria nesta área, procurou flexibilizar o processo e adicionou uma

exceção permitindo a dispensa de licitação. Apesar desta previsão que

autoriza esta forma de contratação, a execução ou aplicação destes

artigos encontram algumas barreiras, uma vez que, carece de critérios e

detalhamento sobre como estes contratos deveriam ser disciplinados.

Isto também não foi contemplado no Decreto n.º 5.563/05, que apenas

previu a obrigatoriedade de edital, quando houver a cláusula de

exclusividade. Este hiato disciplinar acaba obrigando o gestor da ICT

pública, na dúvida, a preencher esta lacuna com as regras contratuais da

Lei de Licitação. E isto ocorre em respeito ao princípio da legalidade

que a Administração Pública está vinculada, portanto, o Poder Público

apenas poderá fazê-lo na forma da lei. Neste ponto, convém entender

esta "desvantagem" para as questões de inovação.

A Lei de Licitação foi criada visando regulamentar o Artigo 37,

XXI, da Constituição de 1988 e para evitar superfaturamentos e

favorecimentos, mormente, nas obras públicas. Vale dizer que o sistema

de seleção e contratação era antes regulado pelo Decreto-Lei nº 200/67 e

Decreto-Lei nº 2.300/86 e foi enrijecido pela Lei nº 8.666/1993, após

140

alguns escândalos de corrupção no início dos anos 1990. Apesar do

anseio legítimo de um controle maior e de diminuir a corrupção, não

afastou por completo os casos de favorecimento nas obras e compras da

Administração Pública, como se verifica na atualidade, a exemplo das

obras da Copa do Mundo de 2014 em alguns estados da federação. A

perquirição de julgamento por valores menos custosos e maior vantagem

para o Poder Público acaba sendo frustrada, pois, após estas duas

décadas de existência, ficou demonstrado que a busca pelo melhor preço

não garante um serviço de qualidade ou a conclusão de uma obra, o que

não atende o princípio de eficiência das compras públicas e o bom uso

do dinheiro público.

O objetivo do processo licitatório é dar garantia na contratação

sem conluios, no entanto, a lei parte do pressuposto de que

administradores e empresas não mereçam uma autonomia e confiança na

forma de escolha, na contratação e no uso do dinheiro público. Verifica-

se que mesmo após sua entrada em vigor, os escândalos e conluios não

cessaram e que cada vez se constata uma ineficácia no processo, muitas

vezes, em razão do excesso de formalidade. Aqui a crítica não defende a

ausência total de controle, o controle e fiscalização são necessários,

todavia, no processo licitatório, na lei geral há um temor demasiado com

a forma para evitar favorecimento, principalmente, financeiro dos

agentes envolvidos, o que acaba transformando algo benéfico

(regularidade), em situações de morosidade e ineficiência. O excesso de

cuidado, proteção e privilégios da Administração Pública como parte da

relação, não impede que o mau uso e os acordos paralelos ocorram. E

deve-se ter um olhar mais abrangente para verificar como em outras

nações este processo é realizado, como os escândalos são também

resolvidos, se estes existirem. O que se deve pontuar é que para a

inovação importa o resultado, o objeto, a agilidade na tomada de

decisões, na solução, porque muitas vezes, não há como esperar meses

para manifestar sobre as cláusulas e ou forma de pagamentos, sendo a

eficiência uma preocupação a ser observada pela Administração Pública.

A adoção desta visão de eficiência pode ser vislumbrada na

postura da Administração Pública brasileira no Artigo 37 da

Constituição Federal de 1988 (CF/88), que em seu caput traz a eficiência

como princípio, juntamente com a legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade, a partir da Emenda Constitucional nº 19/1998.

Explicitamente no parágrafo 8º deste artigo, destaca-se a autonomia

141

gerencial, orçamentária e financeira da Administração Pública mediante

a possibilidade de firmarem contrato (com prazos definidos) entre os

administradores e o Poder Público, fixando metas de desempenho do

órgão ou entidade, reforçando a responsabilidade dos dirigentes, através

de Contratos de Gestão. A instituição das Agências Reguladoras (Lei nº

9.986/2000) em mesmo sentido, focaliza na observância da eficiência.

Haja vista que suas atividades se concentram na fiscalização, regulação

e planejamento do serviço público, mesmo realizado pela iniciativa

privada, através de concessões e outros instrumentos. Desse modo, estes

serviços públicos concessionados necessitam de verificação quanto a sua

execução em eficácia e eficiência. Neste prisma, para compreender a

diferença entre os termos, a eficácia está relacionada ao objetivo final,

portanto, eficaz será o serviço que alcançou a meta desejada, tratando da

performance, do desempenho, como por exemplo, cumprimento de

prazos; já a eficiência se vincula à forma (processo) de executar a

atividades (BUGARIN, 2001, p. 41), mas, não pensando na legalidade

estrita (como na Lei de Licitação) e sim em uma forma, procedimento

que se maximize melhores resultados. Hely Lopes Meirelles afirma que

a eficiência é imposta ao agente público para realizar suas atribuições

com presteza, perfeição e rendimento funcional (MEIRELLES, 1989, p.

90). Brugarin (2001, p. 48) relembra que o princípio da eficiência pode

estar ligado ao princípio da economicidade,81

que está evidenciado no

Artigo 70 da CF, possibilitando, portanto, uma melhor aplicação de

recursos públicos.

Apenas para elucidar, nos Estados Unidos da América, quanto se

trata do processo de licitação (bidding process, government acquisition

process, public procurement) e das contratações, as partes envolvidas

são vistas com igualdade, com responsabilidades recíprocas. O que se

prioriza na legislação norte-americana é a competitividade, sendo este o

princípio que garante justa e equitativa contratação e o melhor uso ao

contribuinte. Demonstrando a influência do conceito de eficiência

defendido por Posner que se inclinava para decisões que vislumbrassem

81

Para melhor elucidar, verificar TORRES, Ricardo Lobo. O Tribunal de

Contas e o Controle da Legalidade, Economicidade e Legitimidade, Rio de

Janeiro, Revista do TCE/RJ, n 22, jul/1991, pp. 37/44, e BUGARIN, Paulo

Soares. Reflexões sobre o Principio Constitucional da Economicidade e o

Papel do TCU, Brasília, Revista do TCU, nº78, out./dez. 1998, pp.41/5.

142

a maximização da riqueza e o melhor aproveitamento (POSNER, 2003,

p. 29). Outro fator interessante, destacado pelo jurista Márcio Pestana,82

em comentários a uma revista de notícias, é que os contratos norte-

americanos estão focados no resultado ou conclusão da obra, utilizando,

por exemplo, o performance bond, que é um seguro que garante a

conclusão da obra, o que além de ter o Poder Público interessado na

conclusão, também a seguradora fiscalizaria o andamento e conclusão

do projeto, que deve ser planejado e verificado com maior observação,

já que a garantia passa a ser 100% do contratado. Isto também evitaria

os famigerados aditamentos contratuais e adequações da obra que não

prezam pela eficiência.

Outra questão interessante é o Value Engineering (Engenharia de

Valor) que possibilita a construtora propor uma alteração de projeto que

interesse as partes ou que possa fazê-lo de forma mais barata e que os

ganhos entre a construtora e o contratante sejam compartilhados, o que

estimula a inovação e interesse da empresa em criar e encontrar

alternativas positivas para a questão. Também existe uma espécie de

cota para empresas que tenham seu capital majoritário de grupos de

minorias (indígenas, afrodescendentes, nativos, mulheres etc.) que

deverão ser subcontratadas, visando garantir alguma reserva de mercado

e oferecer maior competitividade a estas pequenas empresas em

comparação com as demais, tendo uma visão mais social no processo.

No Brasil, a Lei 8.666/93 faculta aos órgãos públicos cobrarem,

além de atestados de competência técnica, o percentual de 5% do valor

da obra como forma de garantia do contrato. O pagamento pode ser feito

por meio de uma caução (em dinheiro ou títulos da dívida pública) ou

por meio de um seguro-garantia, mas, é uma escolha da contratada, que

raramente opta pelo seguro. Deve-se destacar que esta escolha pelas

regras licitatórias em geral não é voluntária e é imposta nas contratações

para transferência de tecnologia, ou, de forma indireta, no

desenvolvimento de projetos de pesquisas, como uma segurança para

evitar nulidade. Principalmente, nas instituições federais, as

procuradorias, para evitar questionamentos dos órgãos de controle

externo, exigem que sejam realizados em cumprimento da Lei Geral de

82

Notícia. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/licitacoes-

o-que-eles-tem-que-nos-nao-temos/>. Acesso em: 20 set. 2015.

143

Licitação. Dessa maneira, uma atividade que deveria ser eficiente e

célere, é eivada de formalismo, e, definitivamente, não responde à

postura pró-inovação que se espera. Indubitavelmente, a diferença do

período de promulgação das referidas leis (licitação e inovação) geram

uma visão um pouco antagônica, sendo que a Lei de Inovação prima

pela modernidade e a de Licitação pela formalidade. O resultado desse

paradoxo, além das observações citadas acima, pressupõe insegurança

jurídica, dificuldade por parte das instituições científicas e tecnológicas

em transferir o produto de suas pesquisas inovadoras ao setor produtivo,

bem assim, empecilhos que inibem a participação das empresas.

E estas discussões sobre a desconexão das legislações têm gerado

inclusive nos parlamentares um anseio de mudança legislativa. Existem

várias propostas que tramitam no Congresso Nacional para modificação

do texto atual, inclusive com previsão de inversão das fases de licitação,

como é adotado na modalidade Pregão. Neste último, as propostas são

analisadas primeiramente para depois verificar a documentação,

dinamizando o tempo de análise processual. Muitos são os debates com

interesse em aprimorar ou modernizar as instituições públicas com

meios mais eficazes modificando o modo de aquisição de produtos e

equipamentos, por exemplo, o que evitaria atraso no desenvolvimento

da pesquisa. Nos debates são sugeridas as modalidades e procedimentos

mais modernos como o Pregão Eletrônico e o uso de Certificação

Digital. Uma crítica direta que se realça é do ex-presidente do Conselho

Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap),

Odenildo Sena, que em um debate, em 2008, na Câmara dos Deputados,

reverberou que a Lei de Licitação "trava inteiramente a implementação

da inovação tecnológica". Citou inclusive que a questão da subvenção

econômica (prevista na Lei de Inovação), que permite às empresas

privadas que investe em pesquisa e desenvolvimento receberem recursos

diretamente do poder público (por exemplo, do governo estadual), são

pressionadas pelos órgãos de controle, como os Tribunais de Contas,

para realizarem licitação para adquirir equipamentos ou serviços e,

reafirmou: "isso mata a inovação"83

.

83

Notícia. Disponível em:

<http://www.protec.org.br/noticias/pagina/1384>. Acesso em: 01 ago. 2015.

144

Em razão destas discrepâncias entre os objetivos das leis citadas,

acredita-se que uma forma de minimizar estes confrontos é a adoção de

uma norma específica que regulamente ou excepcione literalmente os

casos que envolvam ICT para a inovação. Consequentemente,

dissipariam as dúvidas que a Regra Geral prevista na Lei 8.666/93 e

também o medo do gestor de ser compelido pelos órgãos de controle por

uma interpretação mais elástica da lei. Foi o que ocorreu com a Copa do

Mundo, que possibilitou um regime especial de contratação com

especificidades que a lei não previa e buscou uma celeridade processual.

Desta forma, pensando em uma forma diferenciada para realizar

contratações e licitação que envolva a Ciência, Tecnologia e Inovação,

dar-se-á um destaque à lei especial criada para os grandes eventos

esportivos, a seguir.

2.4.3 É possível pensar num Regime Diferenciado de Contratação

(RDC) para Inovação?

A proposta de discussão neste tópico é repensar a legislação sobre

licitação e imaginar uma possível adequação à inovação, pensa-se que

este é um caminho importante que o país pode trilhar. É bem verdade

que a discussão aqui será sobre mudanças na legislação, de modo que, já

se percebe esta necessidade como um ponto pacífico na doutrina e

discussões legislativas.

Quanto às alterações refletidas, pode-se pensar, inicialmente, em

uma modificação na própria Lei de Licitação dedicando uma seção

minuciosa, explicando e pormenorizando o processo licitatório e

contratual para incentivar o desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e

Inovação (CT&I), desta forma, estaria claro o regime e forma de

contratar, evitando a generalidade. Ou ainda, pensar na alternativa

encontrada para as obras públicas dos grandes eventos esportivos no

país (Copa do Mundo e Olimpíadas), que optou por um regime

diferenciado e demonstrou que o interesse e a vontade política fazem a

diferença, já que, conseguiu-se estabelecer um regime especial, o

denominado Regime Diferenciado de Contratação Pública (RDC), o que

não impediria de fazê-lo para a temática de inovação. Abaixo, comentar-

se-á sobre esta novidada legislativa.

O Regime Diferenciado de Contratação Públicas foi instituído

pela Lei nº 12.462/2011 com fito a dar maior celeridade e eficiência nas

contratações públicas, em particular às obras de eventos esportivos,

como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos.

145

Este novo regime apresenta-se como uma lei especial à lei geral

de licitação, que apesar de ser facultativo, logo em seu Artigo 1º exclui a

aplicação da Lei 8.666/93, o que difere da Lei do Pregão (Lei nº

12.232/09) que admite aplicação subsidiária da lei geral. De acordo com

Gasparini, o RDC tem como objetivos claros: [...] os objetivos legalmente declarados de ampliar

a eficiência nas contratações públicas e a

competitividade entre os licitantes; promover a

troca de experiências e tecnologias em busca da

melhor relação entre custos e benefícios para o

setor público; e incentivar a inovação tecnologia.

(2012, p. 761)

A aplicação da nova regra licitatória, como dito anteriormente, é

especial e facultativa. E no artigo primeiro, já afasta a aplicação do

regime geral, Artigo 1º: Art. 1

o É instituído o Regime Diferenciado de

Contratações Públicas (RDC), aplicável

exclusivamente às licitações e contratos

necessários à realização:

I - dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016,

constantes da Carteira de Projetos Olímpicos a ser

definida pela Autoridade Pública Olímpica

(APO); e

II - da Copa das Confederações da Federação

Internacional de Futebol Associação - Fifa 2013 e

da Copa do Mundo Fifa 2014, definidos pelo

Grupo Executivo - Gecopa 2014 do Comitê

Gestor instituído para definir, aprovar e

supervisionar as ações previstas no Plano

Estratégico das Ações do Governo Brasileiro para

a realização da Copa do Mundo Fifa 2014 -

CGCOPA 2014, restringindo-se, no caso de obras

públicas, às constantes da matriz de

responsabilidades celebrada entre a União,

Estados, Distrito Federal e Municípios;

III - de obras de infraestrutura e de contratação de

serviços para os aeroportos das capitais dos

Estados da Federação distantes até 350 km

(trezentos e cinquenta quilômetros) das cidades

sedes dos mundiais referidos nos incisos I e II.

IV - das ações integrantes do Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC) (Incluído pela

Lei nº 12.688, de 2012)

146

V - das obras e serviços de engenharia no âmbito

do Sistema Único de Saúde - SUS. (Incluído pela

Lei nº 12.745, de 2012)

VI - das obras e serviços de engenharia para

construção, ampliação e reforma de

estabelecimentos penais e unidades de

atendimento socioeducativo; e (Redação dada pela

Medida Provisória nº 678, de 2015)

VII - ações no âmbito da Segurança Pública.

(Incluído pela Medida Provisória nº 678, de 2015)

§ 1o O RDC tem por objetivos:

I - ampliar a eficiência nas contratações públicas e

a competitividade entre os licitantes;

II - promover a troca de experiências e tecnologias

em busca da melhor relação entre custos e

benefícios para o setor público;

III - incentivar a inovação tecnológica; e

IV - assegurar tratamento isonômico entre os

licitantes e a seleção da proposta mais vantajosa

para a administração pública.

§ 2o A opção pelo RDC deverá constar de forma

expressa do instrumento convocatório e resultará

no afastamento das normas contidas na Lei no

8.666, de 21 de junho de 1993, exceto nos casos

expressamente previstos nesta Lei.

§ 3o Além das hipóteses previstas no caput, o

RDC também é aplicável às licitações e contratos

necessários à realização de obras e serviços de

engenharia no âmbito dos sistemas públicos de

ensino. (Incluído pela Lei nº 12.722, de 2012)

[...]

X – das ações em órgãos e entidades dedicados à

ciência, à tecnologia e à inovação. (incluído pela

Lei nº 13.243/2016) (grifos nossos).

Verifica-se que o legislador foi admitindo a ampliação dos casos,

que inicialmente pensou-se nas estruturas para eventos esportivos, pela

urgência e necessidade de contratação de obras públicas, contudo, estes

casos foram sendo ampliados para as obras do PAC, SUS,

socioeducativo, Segurança Pública e Sistemas Públicos de Ensino. Neste

prisma, as obras de grande vulto e de áreas cruciais de estrutura foram

acrescentadas, transparecendo que este regime poderá ser uma opção

mais interessante para a Administração Pública, conjugando a eficiência,

o aproveitamento dos atos com o máximo de economia.

147

Portanto, além da excepcionalidade de aplicação, existe a adoção

de dois princípios balizadores, a economicidade e a eficiência, que

trazem uma percepção de maior autonomia e uma visão de celeridade no

processo de seleção. Uma vantagem na adoção do novo regime está na

forma licitatória única, com previsão a partir do Artigo 12 da lei,

evitando, assim, a dúvida e discussão sobre qual melhor modalidade de

licitação (se concorrência, tomada de preços ou convite) a ser adotada

no caso concreto. Neste prisma, outra vantagem é que a empresa

vencedora será responsável também pelo projeto básico, portanto, todas

as etapas da obra ou serviço contratado, a contratação integrada,

possibilitando também uma inversão de fases da regra geral em que a

habilitação poderá ser posterior à fase de apresentação e julgamento das

propostas ou que haja habilitação apenas ao licitante vencedor; uma

novidade, apesar de críticas é o sigilo do orçamento estimado, sendo

apenas divulgado no final da licitação (apenas os órgãos de controle

poderiam ter acesso antes); e ainda a previsão de remuneração variável.

Estas diferenças e tentativa de evolução no processo licitatório podem

ser consideradas como problemas e foi objeto de Ações Diretas de

Constitucionalidade (ADI), porém, inegável que houve uma celeridade

no processo com sua adoção.

Neste mesmo sentido, admitindo-se que a adoção de um regime

especial de licitação que tenha trazido um resultado satisfatório, mesmo

com as críticas, não é absurdo pensar numa hipótese para a inovação,84

com exclusão da aplicação da Lei de Licitação. O que felizmente

aconteceu com a publicação da Lei nº 13.243/2016, que trouxe muitas

alterações na Lei de Inovação e no próprio RDC. Destarte, o novo

regime pode modernizar o processo (forma) e focar na eficiência e

resultado para a transferência de conhecimento e tecnologia. Permite ao

gestor pensar na forma mais eficiente de realizar pesquisa, evidenciando

a qualidade e a celeridade no desenvolvimento do projeto, por exemplo,

na simplificação de compra de equipamentos e material de pesquisa

regulada em apenas um instrumento, não de forma esparsa e sem uma

interlocução entre as legislações, bem como, definir a modalidade e

forma de selecionar as propostas, simplificando fases, e ainda, dar mais

autonomia contratual para as agências e núcleos de inovação, entre

84

A inclusão deste texto ocorreu em 12 de janeiro de 2016, o que

possibilitou esta autora a revisar este item e incluir esta nova permissão

legal para a área da Ciência, Tecnologia e Inovação.

148

outras mudanças que poderiam ocorrer para adequar à realidade. Estas

modificações são reconhecidamente necessárias e também permeiam as

discussões sobre o Código Nacional de Ciência e Tecnologia, tema a ser

desenvolvido no próximo tópico, assim, seja qual a escolha do

legislador, toda a mudança será bem vinda.

2.5 O que pode mudar com o novo marco legal proposto:

comentários ao Código de Ciência e Tecnologia

A iniciativa de alteração das legislações sobre a inovação veio em

momento oportuno após mais de uma década de existência da Lei de

Inovação. Nestes anos, percebeu-se que esta lei não alcançou seu

objetivo de promover a inovação a contento. Da mesma forma,

percebeu-se que outras legislações que tinham influência direta nas

relações de transferência de tecnologia ou desenvolvimento de pesquisa

mereciam (e merecem) ser modificadas também.

A competitividade que as empresas almejam, através de inserção

de produtos inovadores, em certa medida não foi efetivada, reafirmando

a deficiência na capacidade científica e tecnológica do país. A forma

como se depreendeu a Política de Inovação brasileira que apostou muito

na legislação e por isto novamente vem uma proposta de alteração

legislativa para adaptar as situações já vividas e lograr o êxito esperado.

Nesta oportunidade, se destacará alguns pontos que esta pesquisadora

entendeu importantes, que o projeto de lei (agora lei em vigor) trouxe

positivamente.

Deve-se evidenciar que ao final das discussões, optou-se, não por

um código propriamente dito, mas por uma legislação totalmente nova

em que reuniu e vislumbrou todas as condições necessárias para

desenvolver o ambiente produtivo de inovação. De forma mais

cautelosa, a nova legislação apresentou-se alterações cruciais em

legislações dispersas que conjugadas, poderão realizar os impactos

desejados. Porém, como a proposta legislativa ficou conhecida como

Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, aqui irá

acompanhar esta tendência para facilitar a referência da proposta

legislativa, e denominar novo marco normativo da inovação.

Antes de adentrarmos sobre as principais mudanças trazidas pela

PL 2.177/2011, convém salientar as mudanças trazidas pela Emenda

Constitucional nº 85, que entrou em vigor em fevereiro de 2015. A

proposta de Emenda Constitucional surgiu, na verdade, a partir das

discussões do projeto de lei para inovação, em que através dos

questionamentos da comunidade acadêmica e necessidade de atualizar o

149

texto constitucional, houve a preocupação com a uniformização do texto

constitucional com outras legislações sobre o tema, que foi o objetivo

principal da emenda. Com esta sintonia entre o texto constitucional e

infraconstitucional, pode-se viabilizar a institucionalização do Sistema

Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) de forma

expressa. Para viabilizar alguns dos resultados esperados, o legislador

optou pela criação de um Projeto de Emenda Constitucional (PEC), que

atualizou alguns artigos da Constituição Federal, prevendo incentivos à

cooperação entre os diversos entes (públicos ou privados), incluindo os

temas de CT&I, no Artigo 24 (CF), que dispõe sobre a competência

concorrente entre a União, Estados e Municípios, evitando assim, que a

legislação seja aplicada e não necessite aguardar os textos e

regulamentos. Isso quer dizer que uma lei federal sobre tais temas não

precisa ser replicada nos Estados para ter validade nas instituições destas

esferas, como ocorreu com a Lei da Inovação, que até hoje, não tem uma

aplicação plena em alguns aspectos, como criação de órgãos e políticas

em alguns estados (pela falta de uma Lei de Inovação local ou pela falta

de sua regulamentação).

Particularmente, a Emenda Cosntitucional nº 85/2015 apresenta

alterações nos artigos 23, 24, 167, 200, 213, 218, 219, bem como,

acrescentou os artigos 219-A e 219-B à Constituição Federal de 1988.

Os destaques da emenda estão na adequação terminológica na

Constituição de 1988, que incluiu os termos tecnologia, pesquisa e

inovação, elevando a importância das discussões para âmbito

constitucional, comprometendo os entes federativos, o que facilita a

abordagem e aplicação da proposta do "Novo Marco de Inovação"

(alteração legal). Outro destaque está na adoção (oficialmente) do

Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI), que deve

ser organizado em regime de colaboração entre entes federativos e suas

normas gerais serão dispostas por uma lei federal. Trouxe também

alterações quanto à competência legislativa, permitindo que os entes

federativos possam legislar concorrentemente sobre Ciência,

Tecnologia, Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. Avançou também

quanto aos recursos e orçamento permitindo o remanejamento ou

transferência de recursos de uma categoria para outra, sem prévia

autorização legislativa, o que demonstrou flexibilidade na administração

de recursos nesta área, através de um ato do Poder Executivo. Por falar

em aporte financeiro, o texto constitucional permitiu também que as

instituições de educação profissional e tecnológica pudessem receber

apoio financeiro compreendendo que estas realizam atividades de

150

estímulo e fomento à inovação, valorizando a extensão tecnológica. A

emenda também estimula a cooperação e execução de projetos entre os

atores do setor (públicos ou privados) para executarem atividades de

pesquisa, capacitação científica e tecnológica e inovação, inclusive

compartilhando recursos humanos especializados e capacidade

instalada, mediante contrapartida financeira ou não. Um ponto

importante é o incentivo aos profissionais da área na sua formação por

meio de atividades de extensão, concedendo aos que dela se ocupem

meios e condições especiais de trabalho. Pontuou sobre a atuação das

instituições públicas de Ciéncia, Tecnologia e Inovação no exterior, bem

como, a formação e o fortalecimento da inovação nas empresas, entes

públicos ou privados e, ainda a criação de parques e pólos tecnológicos;

a criação, absorção, difusão e transferência de tecnologia. Abaixo, ver-

se-á os reflexos destas mudanças constitucionais e pontos principais da

proposta de alteração da lei.

2.5.1 Objetivo do Código Nacional de Ciência, Tecnologia e

Inovação

A proposta de alteração legislativa ou "Código de Inovação" tem

como seu principal objetivo promover e incentivar o ambiente de

inovação e o desenvolvimento da pesquisa e da inovação no país,

trazendo uma regra mais flexível e especializada com alterações

essenciais em legislações que envolvem a temática, principalmente,

quanto à Lei de Inovação.

O texto legal proposto na Câmara dos Deputados tramitou como

Projeto de Lei 2.177/2011 de iniciativa do parlamentar Bruno Araújo,

juntamente com os deputados federais Antônio Ibassahy, Ariosto

Holanda e outros, tendo como relator o Deputado Federal Sibá

Machado. O projeto de lei referido foi aprovado no mês de julho de

2015, sendo encaminhado para apreciação no Senado. O que se deve

salientar na tramitação e aprovação do texto na Câmara foi à abertura e

possibilidade da comunidade acadêmica participar com representantes

nas comissões e discussões diretas com os parlamentares. É o que se

observa nas alterações propostas pelo texto aprovado que está

direcionado para questões contratuais, cooperação, financeira,

importação entre outras, que nestes mais de dez anos, têm recebido

críticas. A seguir, irá se tratar dos pontos relevantes para fomentar o

ambiente de inovação.

A proposta do novo Marco Regulatório Nacional de Ciência,

Tecnologia e Inovação (C, T & I) inicialmente traz, na parte

151

introdutória, alterações no Artigo 1º estabelecendo 14 princípios, como:

a promoção das atividades científicas e tecnológicas como estratégicas

para o desenvolvimento econômico e social; redução das desigualdades

regionais; descentralização das atividades de ciência, tecnologia e

inovação em cada esfera de governo, com desconcentração em cada ente

federado; simplificação de procedimentos para a gestão de projetos de

ciência, tecnologia e inovação e a adoção de controle por resultados em

sua avaliação; utilização do poder de compra do Estado para fomento à

inovação, apoio aos inventores independentes, entre outros.

Basicamente, a proposta tem efeitos nas legislações elencadas no

seu primeiro artigo, modificando os textos ou aplicação, quais sejam: a

Lei da Inovação (10.973/04); o Estatuto do Estrangeiro (6.815/80); Lei

da Contratação Temporária no Serviço Público (8.745/93); Lei das

Relações Entre as Universidades (8.958/94); Plano de Carreiras das

Universidades (12.772/12); Lei de Licitações (8.666/93); Lei do Regime

Diferenciado de Contratações Públicas (12.462/11); Lei sobre

Importações de bens destinados à Pesquisa Científica e Tecnológica

(8.010/90); Lei sobre isenção ou redução de impostos de importação

(8.032/90).

As maiores alterações ocorreram na própria Lei de Inovação,

assim, a alteração do Artigo 2º, da Lei de Inovação, também trouxe

importantes conceitos e modificações em seus incisos, já no Inciso III,

explica que o criador pode ser qualquer pessoa física, não apenas

pesquisador como no texto anterior. No Inciso IV, do mesmo artigo, a

inovação introduz novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo

e social que resultou novos produtos, serviços ou processo e acrescenta

ao conceito a agregação de novas funcionalidades ou características a

produto, serviços ou processo que possam resultar em melhorias na

qualidade e desempenho; no Inciso V, alargou o conceito de ICT, para

órgão ou entidade da administração pública direta e indireta, bem como

à entidade privada sem fins lucrativos, desde que incluam em sua

missão institucional, objetivo social ou estatutário, a pesquisa básica ou

aplicada de caráter científico ou tecnológico, ou o desenvolvimento de

novos produtos, serviços ou processos, vislumbrando neste ponto, a

discussão sobre missão das universidades ou institutos de pesquisa.

Incluiu algumas instituições que não sejam necessariamente

universidades ou institutos de pesquisas, como empresas públicas ou

fundações de pesquisas, por exemplo.

Outra salutar alteração e, particularmente necessária, foi sobre a

definição de Núcleo de Inovaçãoi no Inciso VI. Neste inciso, acredito

152

que houve uma crucial preocupação com a gestão da inovação e

procurou dar uma autonomia e celeridade a estes núcleos, que poderão

ter personalidade jurídica própria. Desta maneira, os NIT poderão ser

uma entidade com independência e autonomia, não necessitando

departamentos, extensões das estruturas já existentes, obrigando-se a

seguir regras restritas da administração pública, porém, poderão ser

pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, o que também é

abordado na modificação do Artigo 16. Contudo, conjugando a alteração

trazida à Lei 8.958/1994, (§ 8º, do Artigo 1°), que trata da relação entre

as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) e as fundações de

apoio, agora se admite que os NIT poderão assumir a forma de fundação

de apoio, o que é intrigante ter uma previsão sobre a estrutura dos NIT

em legislação voltada para fundação de apoio, mas que reforça o

interesse de dar independência aos NIT. Já no Inciso VII (Artigo 2º

alterado da Lei de Inovação), quando define as fundações de apoio,

apenas complementa a finalidade de estimular a inovação de interesse da

ICT e registro e credenciamento nos Ministérios de Educação e da

Ciência, Tecnologia e Inovação, indicando que legislações das esferas

estadual, distrital e municipal deverão ser observadas. No Inciso VIII,

explicita melhor a condição de pesquisador público. O texto do Artigo

2º trouxe também a definição de parque tecnológico, polo tecnológico,

extensão tecnológica, bônus tecnológico, capital intelectual,

acrescentando os incisos X a XIV, termos que eram tão discutidos

doutrinariamente e que deixavam para interpretações por vezes

confusas. Destas definições, coloca-se aqui evidência ao bônus

tecnológico, que é uma subvenção às microempresas e empresas de

pequeno e médio porte, valores que serão destinados ao pagamento do

compartilhamento e uso da infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento

tecnológicos, na contratação de serviços tecnológicos especializados ou

transferência de tecnologia, como atividade complementar.

As alterações do Capítulo II da Lei de inovação, que trata do

estímulo à construção de ambientes especializados e cooperativos de

inovação, introduziram novos artigos, incisos e parágrafos aos artigos

3º, 4º e 5º. Assim, ao Artigo 3º abordou sobre as alianças estratégicas e o

desenvolvimento de projetos de cooperação; quanto ao parágrafo único,

houve a extensão do apoio à formação de ambientes de inovação

(incubadoras e parques tecnológicos) e capacitação de recursos humanos

qualificados. O texto adicionou os artigos 3º B, C e D que de forma

geral, busca promover o ambiente produtivo, com intuito de incentivar o

desenvolvimento tecnológico e aumento da competitividade, bem como

153

a interação entre empresas e ICT, possibilitando aos entes federativos

apoio a criação, implantação destes ambientes, inclusive de parques e

polos tecnológicos e incubadoras de empresas.

Um destaque deve ser feito quanto ao envolvimento da União,

Estados, Distrito Federal, Municípios e suas respectivas agências de

fomento e as ICT. Admite-se que estes possam ceder o uso de imóveis

para empresas ou outras ICT interessadas, ou ainda, através de entidades

com ou sem fins lucrativos. Estas entidades são gestoras de parques e

polos tecnológicos e de incubadoras de empresas, mediante

contrapartida, bem ainda, participam da criação e da governança de

entidades gestoras de parques ou incubadoras (incisos I e II, §2º, Art. 3º-

B). Destaca-se também a previsão de programas específicos para as

microempresas e empresas de pequeno porte (Art. 3º-D). Outro destaque

está no texto do Artigo 4º, com alterações sutis sobre compartilhamento

e permissão de utilização de laboratórios, equipamentos, instrumentos,

materiais e demais instalações que prevê em parágrafo único a

observância de prioridades, critérios e requisitos aprovados e divulgados

pela ICT pública (concedente), verificando a disponibilidade e

assegurarando a igualdade de oportunidade aos interessados.

Atenção especial foi dedicada ao Artigo 5º, que trata da

participação da União e dos entes federados, minoritariamente do capital

social de empresas, por meio de contribuição financeira ou não

financeira economicamente mensurável, com o propósito de desenvolver

produtos ou processos inovadores. O referido artigo passou a ter seis

parágrafos e explicou de forma mais detalhada esta participação, que já

não está limitada à empresa privada de propósito específico, que pode

participar de empresas em geral. Da mesma forma, no parágrafo 1º,

trouxe oportunidade para que a Propriedade Intelectual sobre os

resultados obtidos para que pudessem pertencer à empresa e não mais as

detentoras do capital social. E no §3º, oportuniza a dispensa de

realização de licitação para venda dos ativos desta participação

societária, sendo que os recursos devem ser aplicados em pesquisa e

desenvolvimento ou novas participações societárias.

A partir do Artigo 6º até o Artigo 18, trata-se do estímulo à

participação das ICT no processo de inovação. A proposta traz

inovações relevantes, nas quais se destacam algumas na sequência. O

Artigo 6º trouxe também importantes modificações do texto anterior,

tratando dos contratos de transferência de tecnologia e licenciamento

para outorga de uso ou exploração desenvolvida pelas ICT e por

parcerias. A grande diferença está no § 1º, que exclui a exigência de

154

edital para contratação com cláusula de exclusividade e simplifica para

ser ofertado em forma de extrato em sítio eletrônico oficial da ICT.

Acrescenta no §1º-A, quando houver desenvolvimento conjunto com

empresas, esta poderá ser contratada com cláusula de exclusividade,

dispensando oferta pública, sendo já prevista a forma de remuneração

em convênio ou contrato, que na opinião desta autora, corrigiu uma

questão que parecia óbvia, já que as parceiras teriam o maior interesse

em obter a exclusividade, porém, carecia de uma previsão e permissão

explícita. Outro ponto que se destaca é a inclusão do §6º que obriga os

criadores, outros servidores, empregados ou prestadores de serviços a

repassarem os conhecimentos e informações necessários à efetivação do

contrato celebrado, sob pena de responsabilidade administrativa, civil e

penal, o que coloca em cheque a falta de compromisso de alguns

profissionais que não cumpriam estas obrigações.

O Artigo 8º trata dos serviços técnicos especializados que

dependerá de aprovação pelos dirigentes da instituição, o que obriga os

profissionais a observarem as regras institucionais, antes de desejarem

prestar serviços nesta área. De outro modo, abre a possibilidade do

profissional (pesquisador público), inclusive em regime de dedicação

exclusiva, exercer atividade de pesquisa em outras instituições, tanto em

outras ICT ou empresas, para exercer atividades remuneradas de

pesquisa, desenvolvimento e inovação, como na participação da

execução de projetos aprovados ou custeados com recursos previstos na

legislação, sendo definida sua participação financeira, nos termos do

Artigo 14 e 14-A.

Já o Artigo 9º tem previsão sobre acordos de parceria e acrescenta

no §1º os beneficiários de bolsa de estímulo à inovação, que além de

servidor ou empregado público, podem ser incluídos os alunos de curso

técnico, de graduação ou pós-graduação. Uma grande evolução de

pensamento ocorreu quanto à cessão dos direitos de propriedade

intelectual e a participação nos resultados, que autoriza no §3º,

conquanto, a cessão ao parceiro privado da totalidade dos direitos de

propriedade intelectual mediante compensação financeira ou não

financeira, desde que economicamente mensurável, desembaraçando

claramente as discussões da PI estar adstrita à instituição pública e da

mesma forma, possibilita a negociação, a "venda" dos direitos de

propriedade intelectual (PI), permitindo a opção de cessão, situações que

já ocorrem em universidades de países desenvolvidos. Este é um avanço

significativo na lei, de forma que, muitas vezes atrapalhava a execução

da parceria, já que o parceiro sempre desejava ter a PI, ou outras vezes

155

quando desenvolvido o resultado da pesquisa e protegido, em razão do

impedimento de cessão de direitos a PI poderia ficar anos na prateleira,

como ocorria nos Estados Unidos antes da Bayh-Dole e que foi alvo de

muitas críticas. Todavia, agora poderá ser explorada ou desenvolvida

por terceiros, auxiliando na disseminação de tecnologia e inovação. O

Artigo 9º-A incluiu a possibilidade dos órgãos e entidades dos entes da

federação conceder recursos, pagando diretamente aos pesquisadores,

por meio de outorga, convênio, contrato ou outro instrumento, em razão

do plano de trabalho aprovado. O Artigo 11, apesar de uma pequena

inclusão final, traz outra maleabilidade quanto à cessão dos direitos de

propriedade intelectual, que além ao próprio criador, poderá ser cedida a

terceiro mediante remuneração.

Agora no Artigo 14, §3º há previsão sobre as gratificações

específicas do pesquisador público em regime de Dedicação Exclusiva,

que poderão ser garantidas quando houver o completo afastamento de

uma ICT pública para outra ICT, desde que seja de conveniência da

instituição de origem. Outra inserção relevante é o Artigo 15-A que

determina que a ICT pública institua sua política de inovação, dispondo

sobre organização e a gestão dos processos que orientam a transferência

de tecnologia e a geração de inovações no ambiente produtivo, em

consonância com a política nacional de ciência, tecnologia e inovação,

como com a industrial e tecnológica. Este artigo expressamente obriga a

ICT a pensar suas políticas e planejamentos, tratando da temática,

inclusive com diretrizes e objetivos já definidos no parágrafo único do

respectivo artigo, como por exemplo, a atuação institucional neste

ambiente produtivo, a extensão tecnológica e a prestação de serviços, do

compartilhamento e permissão de uso, gestão da propriedade intelectual

e de transferência de tecnologia, entre outros. A obrigatoriedade de

organizar o fluxo procedimental também demonstra o anseio da

comunidade acadêmica em ter regras claras sobre tramitação e gestão

processual.

Na mesma visão reformadora, o Artigo 16 trouxe mudanças

cruciais para a gestão de política de inovação nas ICT e propriamente

dos NIT. Nele, observa-se a proposta de ampliação de sua competência

reforçando as particularidades da gestão de políticas e acordos de

inovação, promoção e acompanhamento da relação entre U-E, nos

incisos VII ao X. Esta reafirmação também é ecoada no §2º, que

explicitamente prevê a possibilidade de representação institucional, por

delegação, ao gestor do Núcleo de Inovação Tecnológica, no âmbito da

política de inovação, o que certamente dará ao gestor uma maior

156

liberdade de atuação, inclusive, se o NIT tiver uma personalidade

jurídica própria. Quanto a este último ponto, o § 3º deixa evidente o

interesse da comunidade acadêmica em dar maior autonomia ao NIT e

celeridade nas relações com outras instituições, moldando-se aos

modelos de outros países, como de Israel, dando o especial tratamento

jurídico adequado para uma organização que cuide de temas ligados à

dinâmica do desenvolvimento econômico e celeridade nas relações com

o setor privado. Em momento oportuno, foi tratado de modelos de

outros países e demonstrará o quanto isto é salutar nesta relação U-E.

Neste mesmo intuito, o Artigo 18 também reflete solução para

problemas encontrados na execução da atividade de inovação, quando

trata de forma mais direta sobre os recebimentos de receitas e

pagamento de despesas decorrentes dos acordos e contratos, cessão de

PI, bolsas, gratificações, bem como, pagamento de despesas e os

pagamentos devidos aos criadores etc. Principalmente, nesta seara,

muitas instituições não previam em seu orçamento a manutenção dos

pagamentos referentes aos direitos de propriedade intelectual, ou tinham

dificuldades em classificar estas receitas oriundas destes direitos que

algumas vezes eram diluídos na receita geral da instituição. No mesmo

sentido, possibilita à fundação de apoio à captação, gestão e aplicação

das receitas da ICT, por delegação, devendo a aplicação ser exclusiva

para dar suporte à pesquisa, desenvolvimento e inovação.

No que se refere ao estímulo à inovação nas empresas, no Artigo

19 há o acréscimo do §2º que elenca os instrumentos de estímulo à

inovação nas empresas, acrescendo àqueles da redação legal anterior,

tendo além da subvenção econômica, financiamento, participação

societária, o bônus tecnológico, a encomenda tecnológica, uso do poder

de compra do Estado, incentivos fiscais, cessão de bolsas, fundos de

investimentos, fundos de participação e títulos financeiros, incentivados

ou não, previsões de investimentos em P&D.

Buscando estimular a relação com a comunidade externa, o

Artigo 20 incluiu a possibilidade de contratação de outra ICT, entidade

de direito privado sem fins lucrativos ou empresas, com vistas a realizar

atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação, e esta contratação

destas instituições poderá ser concomitante. Previsão importante foi a

adição do Artigo 20-A que se destinou a tratar da possibilidade de

dispensar o procedimento licitatório quando a Administração Pública

contratar serviços ou fornecimento de bens com micro, pequena e média

empresas obedecendo aos requisitos ali determinados.

157

No tocante ao inventor independente, previsto no Capítulo V da

Lei de Inovação, traz uma definição melhor desta ideia adicionando a

inserção no mercado como outra dimensão para avaliação sobre a oferta

do inventor, no caput do Artigo 22. E este estímulo está mais bem

alicerçado no Artigo 22-A, que autoriza os entes da federação, as

agências de fomento e ICTS públicas a apoiarem os inventores que

possuem depósito de patente de sua criação, inclusive, em questões

sobre orientação para a transferência de tecnologia para empresas já

constituídas, assistência para constituição de empresas com intuído te

produzir o objeto da invenção, análise de viabilidade técnica e

econômica do objeto de sua invenção, entre outros.

Quanto às disposições finais da Lei de Inovação, convém pontuar

a inclusão dos incisos V e VI, do Artigo 27, que da mesma forma,

requer simplificação de procedimentos na gestão de projetos de C,T&I e

no controle de resultados, também incluiu a promoção do

desenvolvimento e difusão das tecnologias sociais e fortalecimento da

extensão tecnológica para inclusão produtiva e social. Prezando ainda,

pela celeridade e simplificação, conforme o princípio, já citado no início

destes comentários e o Artigo 27-A agrega os procedimentos de

prestação de contas a seguirem estas formas simplificadas, sugerindo o

envio eletrônico de informações.

Conforme mencionado, a proposta também abarca mudanças em

outras legislações já citadas. Igualmente, depois da Lei de Inovação,

outra lei que necessitava mudanças era a Lei de Licitação, que é muito

criticada e apontada como barreira para desenvolver pesquisa e

contratações neste âmbito. Portanto, a alteração nesta lei trouxe a

definição sobre o que seriam os produtos de pesquisa e

desenvolvimento, acrescentando o Inciso XX, ao Artigo 6º. Esta

definição auxilia no tratamento especial para estes produtos,

principalmente, na forma de aquisição. Tratou também da dispensa de

licitação, Artigo 24, alterando o Inciso XXI que possibilita a aquisição

ou contratação de produto para pesquisa e desenvolvimento, limitados

em 20% do valor de tomada de preços no caso de obras de engenharia.

Outra mudança indicada no §3º, do mesmo Artigo 24, permite a

aplicação de procedimentos especiais previstos em uma regulamentação

específica para obras de engenharia.

Sabe-se que uma inquietação dos profissionais que querem

desenvolver pesquisa e inovação está no procedimento de licitação

como já foi discutido, e conforme sugerido, as alterações previstas pode-

se satisfazer e resolver a inquietação com a possibilidade de aplicar o

158

Regime Diferenciado de Contratações. Com o acréscimo do Inciso VII

ao Artigo 1º, o RDC poderá ser aplicado para "ações em órgãos e

entidades dedicados à ciência, à tecnologia e à inovação",

definitivamente houve um grande avanço.

A alteração à Lei 8.745/1993 amplia a oportunidade de instituição

voltada para pesquisa, desenvolvimento e inovação contratar

temporariamente pesquisador ou técnico, com nível tecnológico ou

intermediário, nacional ou estrangeiro baseado em projeto de pesquisa

com prazo determinado. Esta abertura para contratação visa aumentar as

chances de a universidade poder receber pesquisadores de outras regiões

e países para desenvolverem projetos específicos sem precisar esperar

por concurso público. Isso representa um ganho excepcional para a

pesquisa.

Voltando-se sobre o tema de importação de produtos para

pesquisa, houve uma preocupação em alterar artigos da Lei 8.958/1994,

Lei 8.010/90 e Lei nº 8.032/90. Quanto à primeira, que trata das relações

entre as instituições federais de ensino superior e de pesquisa científica e

tecnológica com as fundações de apoio, esta prevê um tratamento

prioritário e procedimentos simplificados para o processo de importação

e de desembaraço aduaneiro de bens, insumos, reagentes, peças e

componentes para a pesquisa científica e tecnológica ou projetos de

inovação. Quanto as duas últimas legislações, estas tratam, em síntese,

sobre isenção e redução de impostos nas importações, Imposto sobre

Produtos Industrializados e do adicional de frente da marinha mercante

referente às importações de máquinas, equipamentos, aparelhos e

instrumentos, como peças de reposição, acessórios, matérias-primas e

produtos intermediários relacionados à pesquisa científica, tecnológica e

de inovação, a ser realizado pelo CNPq, cientistas, pesquisadores, ICT e

empresas na execução de projetos de P, D&I. Também inclui a garanti

da dispensa de exame de similaridade, emissão de guia de importação e

controles prévios ao despacho aduaneiro.

No que se refere ao Estatuto do Estrangeiro, uma alteração

importante foi a encontrada no Artigo 13 da Lei 6.815/1980, ampliando

o visto temporário para pesquisador sob regime de contrato e de bolsista

vinculado a projeto de pesquisa, desenvolvimento e inovação concedida

por órgão ou agência de fomento.

Para finalizar estes comentários, uma das principais alterações

para modificar a carreira do profissional universitário foi à ampliação

das horas em que o professor/pesquisador pode dedicar ao exercício da

pesquisa e da extensão, que poderá chegar até 416 horas nas instituições

159

federais de ensino superior e, estes professores poderão receber também

bolsa de fundações de apoio credenciadas. Outra importante abertura

para que os pesquisadores possam receber mais incentivos para

realizarem suas pesquisas.

Constata-se com estes comentários que houve uma ampla

discussão e visão do que a comunidade acadêmica e o setor privado

desejavam e não havia sido contemplado ou garantido pela Lei de 2004,

bem como foram vislumbradas outras regras sobre o tema. Com

algumas decisões ousadas sobre a maior liberdade de atuação das

instituições, quanto a personalidade jurídica, cessão de direitos de PI,

participação no capital de empresas, entre outros se busca promover as

parcerias entre as ICT (públicas e privadas) e as empresas e

definitivamente dinamizar o aproveitamento das atividades de pesquisas

a serem aproveitados pela iniciativa privada. Isso certamente auxiliará

no aumento da competitividade frente ao mercado internacional no

desejado desenvolvimento econômico e social do país e na melhoria nos

índices e pontuações em ranqueamentos internacionais, portanto, espera-

se que após a publicação desta lei, que a partir de janeiro de 2016, passe-

se uma década com maior autonomia e que traga melhores resultados

para o país.

160

161

3 A RELAÇÃO UNIVERSIDADE E EMPRESA E GESTÃO DA

TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO E

TECNOLOGIA We may conclude that together both science and

technology give evidence of a society increasingly

curious, increasingly questing, increasingly on the

move, on the make, having a go, increasingly

seeking to experiment, wanting to improve. This

may be the prime significance of the new

popularisers of science and technology […]. Peter

Mathias (1972, p.80)85

3.1 Aspectos que influenciam a relação entre universidade e

empresa no ambiente de inovação brasileiro

Deve-se reconhecer que para desenvolver este ambiente de

inovação, conforme comentado no primeiro capítulo, convém ampliar a

discussão sobre a evolução da ciência e pesquisa no país, a estrutura das

instituições de ensino, bem como, do processo de industrialização

brasileiro que direcionaram o atraso tecnológico no país.

Ora, como se demonstrou em momento anterior a inovação

conjuga a ciência, pesquisa, tecnologia e a indústria para gerar novos

produtos, processos e serviços. E não se deve desprezar a história, pois,

no caso do Brasil, houve uma tardia implantação de universidades no

país e logo se verá que as instituições também demoraram a serem

criadas e consolidadas para o desenvolvimento da ciência. Da mesma

forma, houve industrialização tardia que afetou e influenciou o

desenvolvimento nesta área no país. Destarte, não é nenhuma surpresa

ver que as políticas de inovação apenas obtiveram mais vigor e se

articularam a partir de 2003 com a Política Industrial, Tecnológica e de

Comércio Exterior (PITCE).

Aponta Silvia Velho (1996) que o sistema científico composto

por universidades, institutos de pesquisas e instituições governamentais

de apoio (CNPq e CAPES) e de outro lado, o sistema produtivo,

representado pelas empresas privadas e públicas direcionadas na

85

“Podemos concluir que, tanto a ciência como a tecnologia dão evidência

de uma sociedade cada vez mais curiosa, cada vez mais em busca, cada vez

mais em movimento, em fazer, ir, cada vez mais, tentar, experimentar,

querendo melhorar. Este pode ser o significado principal dos novos

divulgadores da ciência e da tecnologia.”(tradução livre)

162

produção de bens de consumo e serviços, desenvolveram-se de forma

independente, com rara articulação. Conseguintemente esta ausência de

relação entre os setores resultou numa dependência aos países

exportadores de tecnologias, portanto, o processo de industrialização

brasileiro foi baseado em importação de tecnologias (VELHO, 1996, p.

41; 42). Pode-se assim afirmar que houve uma falha grade de

comunicação e planejamento, uma dissociação entre as políticas de

inovação industrial e à política de exportação, sendo necessária a revisão

de regras para incentivar a inovação. O que gerou ao longo das décadas

um baixo investimento em infraestrutura de serviços técnicos e

tecnológicos e não existiram centros de inteligência para atrair novos

projetos de empresas transnacionais, o que transparece na gritante

necessidade de estimular a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no país,

a qual está abaixo da média internacional.

Atualmente, a discussão trata também da desindustrialização no

país, que é consequência dos traços negativos trazidos ao longo do

tempo ante a estrutura econômica brasileira e seus impactos no exterior,

como a inércia da estrutura produtiva, devido à precária inserção nas

novas tecnologias ancoradas na microeletrônica, por exemplo, e na

heterogeneidade na evolução da produtividade e comércio exterior, em

que a produtividade ampara-se em setores produtores de commodities86

, preponderantemente, agroexportador. Isso não supriria a demanda de

consumo de massa que vigora nos dias atuais, já que a maioria desta

demanda estaria sendo abastecida com produtos importados, o que

potencialmente abalaria a sua sustentabilidade (CGEE, 2013, p. 36; 37)

Neste capítulo iremos permear estes dois lados dos setores quanto

ao desenvolvimento e inovação: o público e o privado, representado o

primeiro pelas universidades públicas e o segundo pelas empresas.

3.2 Políticas científicas do governo brasileiro

No caso brasileiro, admite Silvia Velho (1996, p. 43; 44) que as

políticas científicas implementadas a partir da década de 1960,

principalmente, após o golpe militar são paradoxais, uma vez que apesar

ser um momento que restringiu direitos de um lado, de outro,

propiciaram saltos qualitativos para a ciência brasileira. Nestes anos,

86

Relacionadas a mercadorias utilizadas para produtos primários como

minérios e agrícolas.

163

então, se configurou um Sistema Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico, envolvendo a geração de amplo programa de

pós-graduação nas universidades federais, a criação do Fundo Nacional

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e da Financiadora de

Estudos e Projetos (FINEP). O fundo foi criado pelo Decreto-Lei nº

719/1969 para apoiar programas e projetos de desenvolvimento

científico e tecnológico. A FINEP foi criada em 1967, para

institucionalizar o Fundo de Financiamento de Estudos de Projetos e

Programas, criado em 1965, que posteriormente, substituiu e ampliou o

papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES) para gerir o Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico

(FUNTEC), constituído em 1964 com o fim de financiar a implantação

de programas de pós-graduação nas instituições no país87

. Foi também

neste momento que se incentivou a aproximação com o setor privado,

com a preocupação em formar mão de obra qualificada, porque

acreditou-se que através da Ciência e Tecnologia, poderiam alcançar um

desenvolvimento nacional.

Não se pode esquecer que na década de 1990 houve uma intenção

do governo federal em modernizar e tornar o setor produtivo mais

competitivo e essa foi a postura mais nítida do Governo Collor, o

primeiro presidente eleito de forma direta na nova fase democrática que

vivia o país. Velho (1996, p.54; 56) ao comentar a política industrial de

Collor, relembra que a associação entre empresa e universidade foi

colocada como estratégia importante, visando não apenas a

modernização tecnológica do parque industrial brasileiro, como

também, o indicativo de uma maior participação do setor privado em

investimentos em Ciência e Tecnologia, porém, na realidade pouco se

concretizou.

Partindo desta premissa, grande parte da pesquisa brasileira está

nas universidades ou institutos públicos de pesquisa e a Lei de Inovação

tratou de forma particular estas Instituições de Ciência e Tecnologia

(ICTs), conforme antecipadamente comentado. Dedicou uma

preocupação quanto à titularidade de ativos intangíveis e "forçou" uma

formalidade maior na relação entre estas entidades e o setor privado.

Percebeu-se que as instituições de pesquisas apesar de já manterem

87

As informações foram colhidas no sítio eletrônico da FINEP. Disponível

em:<http://www.finep.gov.br/pagina.asp?pag=institucional_empresa>

Acesso em: 04 abr. 2015.

164

relação harmonizada com o setor privado, muitas vezes não se discutia

sobre a garantia a propriedade das tecnologias envolvidas, e em certa

medida, pesquisadores apenas queriam ver equipados seus laboratórios e

obterem a constância de bolsas de seus acadêmicos. Alguns projetos de

pesquisa que criavam conceitos importantes e que poderiam gerar um

benefício econômico maior para a universidade, como patentes,

cultivares, desenhos industriais entre outros, acabavam não entrando na

pauta de negociação e as empresas "herdavam" estes ativos. Com a

legislação específica, este tipo de situação precisou ser estruturado e

formalizado e a criação de um órgão para gerir a transferência de

tecnologia impôs uma observância maior para as relações estre a

universidade e setor privado, que valorizou a apropriação do

conhecimento pela instituição de pesquisa.

3.3 O processo de industrialização brasileiro

Para discorrer sobre o processo de industrialização no país, volta-

se ao período colonial e da dominação portuguesa que não incentivou a

educação superior no território colonial e não permitiu o

desenvolvimento de indústrias, já que a colônia servia de mercado

consumidor da metrópole. Este quadro só veio ter uma mudança quando

a família real se instalou no Brasil, porém, nada expressivo. Conforme

assevera Suzigan (1988, p.01) o Brasil é considerado um latecomer (um

retardatário) no processo de industrialização, como muitos países da

América Latina.

O processo de industrialização brasileira teve seu início, de fato,

na segunda metade do Século XIX. Deve-se observar que existia uma

indústria incipiente, entretanto, a partir deste período é que o setor

industrial recebeu uma atenção do governo federal. O grande impulso

foi com o governo de Getúlio Vargas a partir de 1930, que perdurou até

metade dos anos 1950. Anterior a este período, a base econômica do

país era agro-exportadora de café, o que permitiu acumulação

monetária, porém, com a queda da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, que

também refletiu na economia brasileira, o governo e investidores (até os

próprios cafeicultores) viram a necessidade de diversificar os

investimentos em outros setores da economia no país. O

desenvolvimento de infraestrutura facilitou a instalação de fábricas e o

escoamento de mercadorias, o que atendeu ao crescente mercado

consumidor interno, principalmente, no período das grandes guerras

mundiais, pela escassez e dificuldade na importação.

165

A partir da metade dos anos 1950 até a década de 1970, os

investimentos em infraestrutura continuaram com foco na questão de

rodovias e hidrelétricas. Em razão da necessidade de grandes

investimentos, houve abertura ao capital estrangeiro, o qual permitiu às

empresas multinacionais e montadoras de automóveis se instalarem no

país, como a Vemag (Veículos e Máquinas Agrícolas S.A.), a Ford do

Brasil (que deixou de importar seus produtos e a montar no país),

Volkswagen do Brasil (1953) etc, o que facilitou a instalação de fábricas

e indústrias no ABC paulista (Santo André, São Bernardo, São

Caetano), com aumento de um crescimento urbano nos anos 60. Outro

ponto marcante do período foi à construção de Brasília no governo de

Juscelino Kubitschek (1956-1961).

Certamente, a Segunda Guerra Mundial propiciou este ambiente:

a escassez do petróleo e as dificuldades de importação obrigaram o

governo federal a assumir um papel mais ofensivo, constituindo a

indústria de base e empresas de serviços essenciais como, a Companhia

Siderúrgica Nacional, em 1940/1; a Vale do Rio Doce, em 1942, a

Hidrelétrica do Vale do São Francisco em 1945; a Petrobrás S.A, em

1953; a Embraer, em 1969; a Telebrás S.A, em 1972 entre outras.

A década de 1980 ficou conhecida como "década perdida", com

pouco crescimento mundial, e no país com uma inflação "galopante".

Houve também descentralização do parque industrial, em que as

indústrias buscaram encontrar outros pontos de produção com mão de

obra mais barata e incentivos fiscais, deslocando-se para o interior de

São Paulo e Nordeste. Com a política industrial adotada no país, o

governo garantia uma competitividade que não era real, como fatores

naturais de preço e qualidade, o que levou o empresariado a deixar de

investir em modernização e competitividade, somadas à política de

importação/substituição, mantendo o empresariado brasileiro em uma

letargia comparado às empresas estrangeiras. Mas, este período de

desilusão não ocorreu apenas no Brasil. Chang (2003) indica que o

periodo 1960 a 1980 foi um periodo de políticas "ruins" em grande parte

do globo terrestre que o crescimento desacelerou acentuadamente, sendo

fortemente sentida nos países em desenvolvimento. Concluiu que as

reformas políticas neoliberais se apresentaram incapazes de cumprir a

promessa de crecimento econômico (p. 212).

O comodismo empresarial foi brutalmente abalado nos anos

1990, a exemplo do setor automobilístico, que sentiu um choque através

da abertura do mercado externo, no governo de Fernando Collor, que

apesar de todos seus tropeços, teve clara intenção de modernizar e tornar

166

o setor produtivo mais competitivo. Reconheceu que para desenvolver a

indústria, precisava da aproximação entre o sistema produtivo e o

sistema nacional científico e tecnológico. Para evidenciar sua posição,

Collor expressou algumas palavras que ressoaram nos ouvidos do setor

automobilístico brasileiro, quando chamou os carros brasileiros de

"carroças". Esta abertura ocasionou "um verdadeiro pânico no setor

industrial que se viu repentinamente, sujeito a comparações com a

indústria internacional de bens de consumo", como explica Silvia Velho

(VELHO, 1996, 52; 56). A década de 1990 também foi marcada pela

privatização e continuidade da descentralização industrial. Isto também

evidencia o quadro político internacional dos anos 1990, com término da

Guerra Fria, queda do Muro de Berlim (1989), consolidação da União

Europeia pelo Tratado de Maastricht88

(1992), criação do Mercosul

(1991), entre outros eventos, prenunciaram que o mundo deixava de se

preocupar com questões de ordem político-ideológicas e militares e

vislumbrava então, uma nova ordem econômico-tecnológica que estava

latente.

De outro modo, a partir dos anos 2000, verificou-se um

crescimento mais tímido das indústrias, sendo que o governo federal

continuou incentivando as privatizações, afastando-se cada vez mais da

posição intervencionista, excetuando o caso da indústria de petróleo e

naval.

Em resumo, a insistência no processo de inovação é crucial para o

país, pois com a globalização, a inovação passa ser uma ferramenta

fundamental para garantir a competitividade, bem como, uma posição de

destaque no cenário internacional. Deve-se vislumbrar um futuro

econômico não mais sustentado apenas por commodities, mas também

em tecnologias, como ocorreu nos países asiáticos. Vilela (2011, p.

295) destaca que diferentemente do período dos anos 1970 e 1980, em

que as empresas viveram da adaptação de tecnologias e não buscaram

implantar centros de pesquisa e desenvolvimento, sofrem ainda nos dias

de hoje este impacto, porque, se a cultura de pesquisa tivesse sido

implantada efetivamente no período anterior, isso as auxiliaria no

sucesso comercial e competitivo com os países dos quais importavam,

88

O tratado assinado em 07 de fevereiro de 1992, na cidade holandesa

denominada Maastricht, que representou um marco na união da Europa

fixando a integração econômica e conseqüente unificação política. Assim a

União Europeia substituiu a antiga Comunidade Europeia.

167

no entanto, apenas viveram da adaptação de tecnologias. Isso as obriga,

agora, a buscarem apoio nas universidades, criando uma expectativa e

cobrança das instituições de ensino e pesquisa para resolver esta falha,

este gap tecnológico.

3.4 A Relação Universidade e Empresa: os dois lados da moeda

Como se demonstrou acima, a inovação conjuga a ciência,

pesquisa, tecnologia e a indústria para gerar novos produtos, processos e

serviços. Evidenciando a teoria da Tríplice Hélice, as pás necessitam

funcionar num mesmo ritmo, o que possibilita uma interação completa.

Quando se trata da relação entre a universidade (aqui a relevância

é a pública) e o setor privado, há sempre um choque de visões e

interesses, porque cada entidade está inserida em um contexto jurídico-

organizacional que exige ações diferenciadas. A instituição pública tem

que realizar suas atividades estritamente na letra da lei e o setor privado

tem maior liberdade de atuação, desde que não transgrida a legislação

vigente. Essa diferente posição é uma das faces da dicotomia entre o

público e o privado.

3.4.1 A Velha dicotomia entre público e privado: a influência nas

relações entre as instituições públicas e privadas

Partindo do pressuposto que a Tríplice Hélice se desenvolve não

apenas pelos sujeitos envolvidos, como também leva em conta a inter-

relação entre estes agentes envolvidos, importante verificar qual a

intensidade e nível da relação dos mesmos e quais as dificuldades para

realizar ou manter estas relações em efetivo funcionamento. Com base

no modelo da Tríplice Hélice, sabe-se que os agentes motores são: o

governo, empresas/setor privado e as instituições de ensino e pesquisa.

Nos temas tratados anteriormente, principalmente no primeiro capítulo,

ficou evidente qual seria a função de cada agente motor, sendo o

governo presente com suas políticas, leis e regulamentos, investimentos;

as empresas com investimentos e principalmente com a visão do

mercado; e as instituições de ensino com conhecimento, novas teorias,

ideias e processos. Aqui se justifica a afirmação de Cristovam Buarque

sobre a universidade: "A universidade não perdeu a tradicional

qualidade de ensino que tinha, mas perdeu sua função ao deixar de

formular perguntas e de apresentar respostas aos problemas novos,

porque deixou de ser vanguarda" (Cristovam Buarque, 2014, p. 93).

168

Reconhece-se que a maiorias das universidades brasileiras que

estão em destaque no cenário nacional quanto à transferência de

conhecimento e tecnologia são públicas, devendo seguir regras

restritivas e quando necessitam se comunicar com o "externo", como o

setor privado, geralmente causa um descompasso de comunicação como

no processo inovativo que precisa de uma dinâmica peculiar.

Compreende-se que se trata de uma questão híbrida que envolve

instituições públicas e privadas com regras, estruturas, visão diferente

que precisam ser conjugadas. A inovação necessita uma flexibilidade,

ações negociais e não há muito espaço para a rigidez que estas

instituições públicas impõem com seu modelo jurídico.

Na verdade, não existe falta de instrumentos legais para fomentar

e facilitar a relação, uma vez que o legislador em 2004 dedicou a Lei nº

10.973/2004 para avançar nesta questão, previu parcerias como um

instrumento legal desta relação, como também, o compartilhamento de

laboratórios entre outras. Acredita-se também que os interesses não são

diversos, como muitos afirmam, ou seja, a instituição de ensino quer

realizar um papel importante na sociedade que está inserida, seja na

formação, no ensino e ou na pesquisa. Apesar de críticas sobre a

pesquisa ser "desinteressada" (desconectada) dos problemas atuais,

muitas universidades já realizam a pesquisa aplicada, mas, a primeira

(pesquisa básica) jamais poderá ser totalmente desprezada pela

academia, uma vez que é igualmente essencial, pois a partir dela, novos

conceitos e teorias surgem. Do mesmo modo, as empresas, apesar de sua

natureza econômica e visão de lucros, são parte desta sociedade e são

convocadas para exercer um papel social em relação aos empregos,

contribuição com a previdência, meio ambiente, responsabilidade social

etc. Assim, a afirmação de que o setor privado deseja somente "usar" os

conhecimentos e investimentos na pesquisa de forma predadora, fica

prejudicada também, embora casos extremos existam. Admite-se que

existe um interesse comum em participar de um desenvolvimento

econômico (incluindo aqui a terceira missão citada por Etzkowitz)

gerando capital intelectual, produtos e serviços para uma sociedade. A

problemática está nas estruturas enrijecidas que dificultam a

comunicação entre os agentes. Aqui se tece uma crítica mais

aproximada das instituições públicas, da forma e rígida que é limitada a

uma caixa de regras com dogmas e que devem ser superadas. Pensando

nesta superação, inicia-se a discussão sobre a dicotomia do público e

privado.

169

Ao retomar as palavras de Norberto Bobbio (1987, p. 16) há a

afirmação que a clássica dicotomia entre o direito público e privado

derivam do Corpus Iuris (Justiniano), 89

com definição de singulorum utilitas (uso privado) e o status rei publicae (status do Estado). Desta

forma, há prévia diferenciação entre o que pertence a um grupo, ou

coletividade, e o que pertence a uma pessoa, individualizada.

Reconhece-se que o termo público tem maior peso na atualidade.

Contudo, nem sempre foi desta forma. O Direito Privado teve

predominância quando o Direito Romano foi recebido e difundido na

parte ocidental através do direito das Pandette, que se voltam mais para

as questões de Direito Privado: família, propriedade, contrato e

testamento. Portanto, o direito positivo e histórico (Corpus Iuris)

transformou-se com o tempo em um direito da razão, o direito

propriamente discutido e evidenciado nos tratados de Hegel (direito

abstrato) e Marx (contrato), por exemplo; bem como, o cuidado que o

Estado ainda tem em questões de desapropriação, privilegiando o direito

de propriedade/privado sobre o público ou em questões contratuais

livres, seja de compra e venda entre os "súditos", desde que não violem

a lei, citando respectivamente Bodin e Hobbes. Mesmo porque, Bobbio

(1987, p.21-24) afirma ainda que o Direito Público, inicialmente, era

encontrado dentro das questões de Estado, do Poder Político, e passou a

ter maior significância após a maior ingerência do Estado na regulação

dos indivíduos. Assenhorou-se do espaço conquistado pela sociedade

civil burguesa, afastando-se da concepção de estado mínimo.

Houve na verdade um sistema de normas (de Direito Público), na

formação do Estado moderno, em que o Direito Romano não conseguiu

resolver questões entre o Estado e a Igreja, reinos e impérios, entre

outros, e precisava-se de "outra forma de direito" menos individualista

(BOBBIO, 1987, p. 21; 25). Rudolf von Jhering (1943, p. 161- 162)

também defendeu a primazia do Direito Privado, já que a concepção de

Estado, como se tem atualmente, denota a concentração de poder, seja

da criação das leis, da organização e da coerção que nasceram com o

89

Justiniano foi um imperador romano que diante da necessidade de

unificar e expansão do império bizantino, resolveu criar uma legislação para

atender os litígios de sua época. E assim, designou grupo de estudiosos para

redigir, compilar e explicar inúmeras normas que indica a ideia de

jurisprudência atualmente, em compilações como o Corpus Iuris Civilis.

170

Estado Moderno. Esta diferenciação na deliberação de questões que

envolviam o Estado e o indivíduo foi "resolvida" com a divisão dos

interesses nas sociedades modernas e que ficou bastante evidenciada no

liberalismo e também na visão do Estado como um ente superior, com

natureza própria e que não se confunde com os indivíduos. Portanto, os

interesses deste ente poderoso (Estado) passaram a serem públicos.

Sendo público o direito que estes interesses estão relacionados, de outro

lado, os interesses individuais foram considerados direito privado.

Ferraz Júnior (2007, p. 138) destaca que esta visão tem origem nas

concepções modernas que contrapõem a sociedade e o indivíduo,

ressaltando que possuem interesses diversos. Para a primeira, os

interesses são comuns e neutros, em que abarcam a coisa pública e

Economia, contrapondo-se ao interesse privado, ao "egoísmo" dos

particulares.

De outro lado, Bobbio (1987, p. 26; 27) aponta que esta

dicotomia por vezes vem sido "ameaçada", nas duas vertentes as quais o

público invade a esfera privada e vice-versa. Um exemplo de

predominância do público sobre o privado está nas questões de

regulação da Economia que é denominado de "publicização do

privado", o contraposto à "privatização do público", em que grupos de

pessoas, como sindicatos (contratos coletivos) e partidos (coalizões de

governo) se utilizam de aparatos públicos para alcançarem interesses

próprios. Veja que a divisão tem um significado valorativo, que são

descritos como contraditórios e entendidos como tal, uma vez que um

ente não pode ser ao mesmo tempo público e privado, e, também que

este ente não poderá estar fora desta classificação e é necessário se

"enquadrar" em um ou outro caso (BOBBIO, 1987, p. 20), portanto, não

se fala de uma situação híbrida.

Gisele Mascarelli Salgado (2014) ressalta que existem dois

critérios para classificar os direitos em público e privado, seja o critério

do interesse e o critério da soberania ou dominação. As teorias se

dividem neste mesmo sentido. A primeira, teoria do interesse, teve

Jhering como fundador, objetivava os interesses privados ou públicos. A

teoria da dominação, que oposta à primeira que tem tem seu foco no

sujeito, o Estado é soberano e deve ditar normas para o bem comum.

Defende também que esta classificação não é derivada da técnica. Na

171

realidade, chama-a de imaginária

90, mas envolve uma questão filosófica

que tem como pano de fundo a construção social e histórica, apontando,

inclusive, que autores modernos como Kelsen, Radbruch, Ross, Reale e

Ferraz Júnior, de algum modo, manifestam sua insatisfação com a

classificação, apesar de a utilizarem em seus estudos.

Por sua vez, quem realmente supera esta discussão e apresenta

uma alternativa diversa é Paulo Dourado Gusmão (1997), que defende

um terceiro tipo de direito que denomina de Direito Misto.

Considerando a visão da teoria dos interesses, Gusmão adverte que não

se pode desprezar a ordem econômica atual e o que a globalização

acarretou ao logo dos anos, em que as fronteiras culturais e econômicas

foram diminuídas. Portanto, as questões sociais e internacionais

necessitam de uma nova visão, de classificação mais atualizada e a

limitação rígida entre o público e o privado deve ser repensada. Como

exemplo, Gusmão cita a descentralização do Direito Civil com seus

estatutos especializados e uma constitucionalização do Direito Privado,

quando se impõe a este, princípios constitucionais reguladores de suas

relações que são de particulares. Acrescenta-se a visualização dos

clássicos direitos que ora necessitam de uma lupa de Direito Privado,

ora de Direito Público, como o Direito de Família, do Trabalho,

Sindical, Econômico, Agrário, Aeronáutico, entre outros. Gusmão

propõe um Direito Misto, pela própria natureza mista (GUSMÃO, 1997,

p. 224). O Direito Misto será identificado tanto pelo critério de tutela de

interesse (público e privado), tanto por aqueles constituídos por normas

e princípios de Direito Público e de Direito Privado, ou ainda, de Direito

Nacional e de Direito Internacional. Para os primeiros (princípios) estão:

o Direito de Família, do Trabalho, o Profissional, o Sindical, o

Econômico e o Agrário. Para o segundo estão: o Direito Marítimo, o

Aeronáutico, o Falimentar e o Direito Nuclear (com abrangência

internacional e público interno). Isso demonstra que a dicotomia não

responde à realidade jurídica aplicada no Brasil. Inclui-se aqui o

denominado Direito Industrial, que na visão de Gusmão, abrange o

Direito de Propriedade Industrial, considerando-o um direito misto, já

que tem normas de Direito Público e Privado que atendem ao interesse

90

Em suas palavras: “A classificação em esferas de direito privado e direto

público pode ser entendida como uma significação imaginária social que

ordena o modo de se entender o Direito, que é uma instituição imaginária

social.”(p.12)

172

da empresa, mas também, o interesse social e público que ao mesmo

tempo possui normas penais que protegem marcas, patentes e punem a

concorrência desleal. Também admite critérios de normas

internacionais, pois, como fonte de direito, além da lei e regulamento,

possuem as convenções internacionais, como a Convenção de Paris e

Berna (GUSMÃO, 1997).

Neste prisma, pode-se incluir as relações e questões atinentes à

inovação, que envolvem acordos com pessoas jurídicas tanto de Direito

Público quanto Privado, com interesses de natureza diferentes, porém,

não exatamente conflitantes, uma vez que conjugam normas das esferas

públicas e privadas, como ocorre com acordos entre universidades

públicas e empresas. Denis Borges Barbosa admite até o Direito da

Inovação, quando apresenta comentários à Lei nº 10.973/2004

(BARBOSA, 2006, p. 01). Ele indica que um dos objetivos da lei, criada

para obedecer à norma constitucional (Art. 218 e 219), é "propiciar a

cooperação entre os atores do processo inovador, reduzindo as barreiras

institucionais que impedem a via de mão dupla entre setor privado e

ICTs".

É neste ponto que este estudo compreende a dificuldade destas

relações, já que esta dicotomia entre público e privado reflete na

natureza jurídica das instituições que se comprometem a inovar. No

entanto, encontram barreiras na sua composição estrutural, mais

propriamente as ICTs públicas, que possuem normas rígidas quanto à

contratação e procedimentos e são confrontadas com a dinâmica da

inovação, que exige maior agilidade e flexibilidade nas relações

sinalagmáticas.

Entretanto, a dificuldade maior não está na identificação se este

ou aquele direito é misto ou não. Apesar de compreender bem a noção

de Gusmão, a dúvida está em como enfrentar estas relações que

envolvem agentes de naturezas jurídicas diferentes em situações híbridas

e alcançar o fim comum que é a inovação. Se partir para o radicalismo,

as ICTs públicas não estariam habilitadas para desenvolverem este papel

e deveriam ser excluídas desta "nova missão", o que seria uma visão

radical, já que as melhores pesquisas e equipes são encontradas nas

universidades públicas. Igualmente, esta decisão seria contrária ao que o

legislador desejou na Lei de Inovação, que direcionou o texto às ICTs

públicas. Prevendo estes descompassos a lei apresentou alternativa,

como a faculdade de celebração de parcerias para realizar pesquisas

conjuntas científicas e tecnológicas, desenvolvimento de tecnologia,

produto ou processo (Art. 9º). Cita-se também, a licença remunerada do

173

pesquisador no Artigo 15, ou ainda, a possibilidade da instituição ceder

seus direitos de propriedade intelectual aos seus pesquisadores a título

não oneroso (Artigo 11). Apesar das ICTs privadas utilizarem esta

mesma norma para orientar suas atividades conjuntas com o setor

privado, inclusive instituindo núcleos/agências de inovação, prevista no

Artigo 16, as instituições privadas possuem liberdade maior em compor

seus contratos e minimizar conflitos. Fica evidente que a grande barreira

não está no interesse destes dois agentes se comunicarem (empresas e

universidades públicas), mas na utilização das ferramentas de

comunicação através de suas estruturas, particularmente das

universidades. É como se as instituições agissem, de forma figurada,

utilizando a tecnologia do rádio amador, com o argumento de que assim

prevê a legislação que limita de certa maneira sua atuação, por mais que

saibam que necessitam realizar uma conversa através de vídeo

conferência, que já está à disposição.

Convém salientar que este estudo não pretende apresentar a

discussão entre público e privado de uma forma profunda e exaustiva,

mesmo porque ela não é nova e necessitaria de uma investigação mais

profunda e direcionada. Todavia, busca-se aqui aproximar esta discussão

para a aplicação neste ponto específico da relação entre universidade-

empresa (U-E), demonstrando que nela também se reflete a

problemática desta divisão cirúrgica e inflexível.

Neste item, abriu-se oportunidade para discutir as diferentes

visões entre as instituições de ensino e pesquisa e as empresas, bem

como, das dificuldades que estes atores (pás) da tríplice hélice

encontram nesta interação.

3.4.2 O setor empresarial e industrial brasileiro: A

industrialização tardia e o atraso tecnológico e seus efeitos

Voltando à cronologia sobre a industrialização no país, sabe-se

que nos primeiros Séculos, o Brasil era colônia portuguesa (1500 a

1822) e não foi permitida a produção no país. A razão era a

obrigatoriedade de a colônia servir de mercado consumidor comprando

produtos manufaturados e trazidos pelos portugueses, no conhecido

Pacto Colonial.

À vista disso, compreende-se que dependendo do modelo de

inovação adotado é possível compreender a classificação ou posição no

ranking dos países ou região que se destacam nesta matéria. Por

exemplo, os países asiáticos, na década de 1990, tiveram a capacidade

174

de adaptar suas indústrias às novas tecnologias em comparação com os

países latino-americanos. Reforça-se aqui a diferença produtiva que

ocorreu na República da Coreia, que já visava o mercado internacional

na sua estruturação e veio se preparando ao longo dos anos para adentrar

na visão global de economia.

Ressalta Dubeux (2010, p. 77) que no Brasil, a industrialização

teve sua aceleração a partir de 1951 quando Vargas retoma o poder. Em

seu estudo comparativo entre o Brasil e Coreia do Sul, Dubeux destaca

que dentre as políticas que contribuíram para este desenvolvimento além

da criação do Banco de Desenvolvimento Econômico (BNDE) em 1952,

a Petrobrás, entre outras instituições, como já citado, foi a Política de

Industrialização por Substituição de Importações (ISI). O que o governo

de Vargas intencionava era acelerar o processo de industrialização

através da substituição do que era importado pela produção interna. A

ISI também foi bem recepcionada pelo governo subsequente de

Kubitschek, entre os anos 1950 e 1960. Através da abertura para o

capital internacional, atraiu as empresas multinacionais que vieram a se

instalar no país. Estas empresas buscaram "nacionalizar" seus produtos,

evitando taxas mais enrijecidas de importação, o que foi visível na

indústria autombilística que não queria perder o mercado consumidor

brasileiro importante. Segundo Ardissone (2014, p. 85- 86), o modelo

de industrialização por substituição de importações perdurou entre 1930

e 1990, de modo que ao longo da história, teria mudado apenas as visões

sobre qual a maneira melhor de alcançar o desenvolvimento. Ressaltou

que desde a Era Vargas (1930-1945), havia um Estado autocrático e

desenvovimentista e que prevaleceu até os anos 1990, pois o Estado

visou cumprir o papel de núcleo organizador da sociedade e de alavanca

para a construção de um capitalismo industrial, nacionalmente

integrado, porém, que dependia do capital externo através desta política

de susbstituição de importações. Sem dúvida, isso auxiliou na

construção de um parque industrial bem diversificado, o que possibilitou

certa autonomia industrial. Foi diferente do que ocorreu com a Coreia do

Sul também neste ponto, porque o modelo sulcoreano de produção para

exportações representaram um papel central, apesar de ter esta política

de substituição também (DUBEUX, 2010, p. 79).

Wilson Suzigan (1986) ao explicar o processo de

desenvolvimento industrial brasileiro apontou que existem quatro

formas distintas de interpretá-lo, quatro teorias. A primeira é a teoria dos

"choques adversos", momentos em que as importações foram

dificultadas, o que obrigou a produção nacional ter um papel mais

175

decisivo, como na Primeira Grande Guerra Mundial. A interpretação

pela segunda teoria que é a visão da industrialização liderada pela

ampliação das exportações, pensamento linear que entende que as

divisas geradas na exportação incentivariam a industrialização. A

terceira teoria é a do "capitalismo tardio", que pressupõe que a

industrialização no país foi consequência do processo de

desenvolvimento do capitalismo. Portanto, a acumulação e o capital

evidenciam que existe desenvolvimento dependente do capital industrial

em relação ao setor exportador, limitado ao capital adquirido pelo setor

exportador dentro da capacidade deste setor em exportar produtos

primários para os países mais desenvolvidos. A visão foi estendida para

a ideia de industrialização tardia. Pode-se verificar que os eventos da

Primeira Guerra Mundial e a Crise Econômica que eclodiu com a queda

da Bolsa de Nova Iorque (a partir de 1929) contribuíram para explicar

esta teoria, uma vez que o setor industrial nacional foi forçado a buscar

alternativas além da produção agrícola exportadora. Enquanto nos

Estados Unidos já vivam as formas de produção propagadas desde o

Século XIX com o Taylorismo de Frederick Winslow Taylor,91

e o

Fordismo.92

de Henry Ford, que foi o fundador da Ford Motor Company

(Detroit), o Brasil ainda buscava se estruturar industrialmente. A última

teoria trata da industrialização promovida por políticas estatais, portanto,

programadas e fomentadas pelo Estado. Isso também pode ser

associado com as políticas adotadas no país a partir de 1930, no

Governo de Vargas, que assumiu a postura intervencionista e

nacionalista, desenvolvendo uma estratégia para consolidar um parque

industrial no Brasil, tendo em vista que a base agro-exportadora foi

posta em cheque com a Grande Depressão Econômica a partir de 1930.

91

O taylorismo defendia que o trabalhador não teria mais a necessidade de

conhecer toda a cadeia de produção, bastando conhecer seu ofício e

procurar um aperfeiçoamento constante apenas desta parte. 92

O Fordismo refere-se aos sistemas de produção em massa e gestão

defendidopelo empresário americano Henry Ford (1863-1947), que traze a

ideia de um modo de produção em massa, com linhas de montagem e semi

automatizado. O que proporcionou o aumento de consumo dos produtos

oriundos deste sistema em razão do custo e da grande escala de produção, a

partir de 1914. Portanto, produção em massa visando um consumo em

massa seguindo as ideias de Taylor, porque aplicou a produção setorizada

em sistema de produção em massa, através de linhas de montagem.

176

Ao verificar o cenário nacionalista da indústria brasileira

(iniciada em 1930), nos anos 1950, Suzigan assevera que esta postura

serviu também para disseminar uma mentalidade protecionista,

prejudicando o desenvolvimento tecnológico que manteve (e ainda

mantém) a indústria do país com baixos níveis de eficiência, que

também é pouco competitiva. Segundo Suzigan (1988, p. 10): De fato, as políticas de industrialização

implementadas desde os anos 50 foram

predominantemente defensivas e se

caracterizaram por um protecionismo exagerado e

permanente. Juntamente com a política cambial,

essas políticas favoreceram taxas de rentabilidade

mais elevadas no mercado interno relativamente à

exportação, criando assim uma tendência à

produção para o mercado interno. O resultado foi

o desenvolvimento de uma indústria com elevado

grau de ineficiência, e por isso mesmo não-

competitiva interna e internacionalmente, e com

pouca ou nenhuma criatividade em termos

tecnológicos. (SUZIGAN, 1988, p. 10)

Para este autor, as causas desta ineficiência e ausência de

competitividade da indústria nacional foram na verdade consequências

da falta de uma estratégia de desenvolvimento científico e tecnológico

como inerentes às politicas de industrialização, a partir de 1950.

Reafirmando, estas políticas pretenderam tão somente à substituição de

importações, "blindando" a economia, reservando o mercado para

produtores internos. Isto significou ausência de absorção e

desenvolvimento de tecnologias, já que, a proteção defendida pela

indústria brasileira trouxe atraso tecnológico em razão da falta de

contato com a produção internacional e o possível confronto

comparativo que as importações causariam com o produto nacional, o

que trouxe o comodismo dos empresários no país. Acrescenta Suzigan

que isto se reflete nas características das indústrias brasileiras que

possuem mercado interno cativo, sendo que a mentalidade protecionista

foi uma barreira para a implantação de um processo amplo de

assimilação, adaptação e desenvolvimento de tecnologia no território

brasileiro.

Volta-se aqui a visão diferenciada da Coreia do Sul, que teve

outra postura e seguiu um modelo diferente. Neste sentido, comparando

o país com os mercados emergentes asiáticos, especialmente a

República da Coreia, verificam-se as desvantagens na escolha deste

177

processo de industrialização importador. Na verdade, as empresas

brasileiras tinham proteção e segurança de seu mercado consumidor

internamente e ainda, como destaca Dubeux (2010, p.83, 85), não

tinham uma visão inovadora. A pesquisa e desenvolvimento também

não tiveram avanços com a instalação das empresas estrangeiras porque

estas se limitaram em "tropicalizar" os produtos: faziam apenas uma

adaptação do que era produzido no exterior, não se interessando em

manter centro de pesquisas, laboratórios ou institutos para desenvolver

novos produtos no país. Portanto, pensando no acrônimo P,D&I

(Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação), a "Pesquisa e

Desenvolvimento" não faziam parte da agenda do empresariado

brasileiro, quanto mais o "I" de inovação. Acrescenta que mesmo com a

utilização da engenharia reversa ou até da cópia dos produtos

estrangeiros por algumas empresas (como de fármacos), isto pouco

contribuiu para a geração de novas tecnologias.

Outro fator que colaborou para este distanciamento entre público

e privado foi que a política de desenvolvimento científico nacional

esteve dissociada do setor industrial. Era mais voltada para o

desenvolvimento científico em si, em resposta de políticas educacionais

e não industriais. E em síntese, nas palavras de Dubeaux: "a prática dos

empresários industriais brasileiros não estava relacionada fortemente à

inovação, mas sim, à adaptação e à cópia" (Dubeux, 2010, p. 85). De

outro lado, o governo sulcoreano apostou numa política para fomentar a

inovação tecnológica aproximando os institutos públicos de pesquisa e

as empresas privadas, além das subvenções de incentivos fiscais e de

créditos direcionados, desde meados da década de 1980. Através destes

arranjos consistentes, bem próximo da teoria da Tríplice Hélice,

conseguiu ganhos de produtividade muito superiores que o Brasil

(DUBEUX, 2010, p. 23).

Freeman (1995), em mesmo sentido, em seu estudo clássico

sobre Sistema de Inovação, indicou que as políticas adotadas pelo

Brasil, em comparação à Coreia do Sul (oficialmente República da

Coreia), nos anos 1980, demonstram as desvantagens brasileiras, com

diferenças importantes, peculiarmente: em percentuais de investimentos

no Sistema de Educação Superior, na Pesquisa e Desenvolvimento

(P&D), nível de pesquisa de empresas em P&D, infraestrutura em

telecomunicações e a difusão de novas tecnologias. Estes fatores podem

demonstrar que no país asiático houve maior interesse nacional em

transformar o país, mesmo que nos anos 1950 a Coreia do Sul também

tivesse um nível de industrialização muito baixo, como o brasileiro.

178

Complementa-se esta visão retomando o estudo de Dubeux (2010, p.21),

que explica que apesar de existirem elementos históricos que

aproximam a Coreia do Sul e o Brasil- como o início do forte processo

de industrialização, urbanização e crescimento econômico nos anos

1950 e 1960, e, a existência regimes militares- houve, contudo, no caso

brasileiro, a predominância da estratégia de substituição de importações,

enquanto que na Coreia do Sul, o foco foi na industrialização orientada

para a exportação.

Ao se pensar na evolução da Ciência e Tecnologia no país, é a

partir da década de 1990 que surgiram as novas leis que regulamentaram

a Propriedade Intelectual. Elas introduziram, nas instituições de ensino e

pesquisa, a necessidade em discutir o tema e formular ações e

internalizar o processo inovativo, o que veio a ser mais contundente

(obrigatório) com a Lei de Inovação, a partir de 2004. O despertar do

empresariado brasileiro ou o desencantamento com o governo federal

ocorreu no governo Collor, como salientou Silvia Velho (VELHO,

1996). Apesar de grandes críticas em seu plano econômico, através de

um amplo programa de desestatização e uma nova Política Industrial e

de Comércio Exterior, e como já mencionado, a associação entre

empresa e universidade, foi colocada como estratégia importante,

visando não apenas a modernização tecnológica do parque industrial

brasileiro, como também, o indicativo de uma maior participação do

setor privado em investimentos em Ciência e Tecnologia, porém, não se

concretizou. O investimento em P&D realmente ocorreu a partir de

2003. A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior

(PITCE) vem sendo destaque nas discussões acadêmicas atuais e

"forçando" as empresas a se relacionarem com as instituições públicas

através de ações de fomento. Todavia, esta relação apresenta algumas

falhas na comunicação e abaixo se verificará como o setor privado

enxerga as instituições de ensino e pesquisa e porque existe resistência

em interagir e vice-versa.

3.4.3 As Instituições de Ciência e Tecnologia-ICTs e seu papel na

relação Universidade e Empresa

179

Para inaugurar este capítulo, foi transcrito um trecho de

Cristovam Buarque, em "universidade na encruzilhada",93

que traz

textos de reflexão sobre a universidade brasileira e seu papel no cenário

nacional. Nas diversas reflexões nesta obra, Buarque defende que as

instituições precisavam tomar decisões e para encontrarem novos rumos

e transformarem-se. Conforme suas palavras é necessário "compreender

as dificuldades e as limitações da universidade, bem como formular uma

nova proposta, novas estruturas e novos métodos de trabalho"

(BUARQUE, 2014, p. 119).

Destarte, pretende-se demonstrar este papel que a universidade

está exercendo, ou sendo forçada a exercer, nos dias atuais, com uma

visão mais econômica e sistêmica, devendo inserir a inovação e

transferência de tecnologia nas pautas de discussões. Da mesma forma,

não se desprezará a visão sociológico-histórica que a questão merece.

Contudo, a universidade pública brasileira, com seu regime de

administração pública e legislações rígidas, tem enfrentado dificuldades

para realizar este novo papel, inclusive, para se "adequar" aos modelos

internacionais e teorias que analisam esta relação U-E, como a Tríplice

Hélice.

Reconhece-se que as universidades são importantes para o

processo inovativo, porém, qual será seu papel? Desde a segunda

revolução acadêmica (WEBSTER; ETZKOWITZ, 1991), a universidade

passou a assumir, além de suas clássicas atividades de ensino e pesquisa,

a função de agente de desenvolvimento econômico, local e regional. Por

isso, a universidade passa a desempenhar um papel mais central na

economia ao combinar ensino e pesquisa com transferência de

conhecimento. Afirmam Calderan e Oliveira (2013, p. 13) que a

universidade deverá buscar uma readaptação urgente dos papeis

desempenhados nos sistemas de ensino, de qualificação para o trabalho,

de produção de ciência e tecnologia, entre outros, sendo a vinculação

com o setor produtivo um dos aspectos mais destacados deste processo.

Da mesma forma, destacam que a universidade deve ser a instituição

núcleo da economia do conhecimento e a cooperação entre o governo,

universidade e empresa, elemento importante para viabilizar o

desenvolvimento científico e tecnológico exigido pela economia

93

Texto apresentado na “Conferência Mundial de Educação Superior +5”

realizada na UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação),

em Paris entre os dias 23 e 25 de junho de 2003.

180

moderna. Todavia, quando se trata de universidade brasileira e pública,

surge uma questão crucial que é o ponto de discussões e acusações das

formalidades que o setor público tem, como a burocracia, a forma de

gerenciar e decidir suas ações, bem como, sobre o pouco envolvimento

nas soluções dos problemas sociais latentes, entre outros. Quanto a este

último ponto, trata-se da discussão tanto sobre a missão da universidade,

que se discutirá abaixo, quanto ao primeiro (burocracia), que já foi

explanado acima.

Salientam Smits et al (2010) que desde as primeiras discussões

sobre o desenvolvimento econômico capitalista orientados para a

inovação quanto à prática de inovação nas empresas e pesquisa e

desenvolvimento, seja público ou privado, tem-se envolvido de forma

entrelaçada com a ordem pública, corroborando a ideia de List (1856) já

comentada. Portanto, nestas relações entre universidade e empresa, a

gestão estratégica do conhecimento é elemento fundamental na melhoria

da competitividade e índices regionais mediante a captação,

interiorização e propagação do conhecimento adquirido na universidade

ou instituto de pesquisa. Infere-se, em vista disso, que o modelo

brasileiro de universidades voltado para formação de profissionais,

visando mercado de trabalho, ou apenas produção de conhecimento

"descomprometida" com as necessidades práticas da sociedade já não

subsiste sozinho, pois, as instituições estão sendo "impelidas" a

assumirem um papel mais dinâmico para desenvolverem pesquisas

aplicadas, além da básica, que é de sua natureza, convergindo também

interesses do setor privado (e sociedade) e promoção da inovação.

É importante uma autoavaliação da academia, como também

ocorreu em outras regiões do globo. As experiências chinesas indicam

que houve uma reforma econômica com investimento significativo em

P&D e reformas nas políticas científicas e educacionais a partir de 1979.

Foi perceptível que a visão de determinar a tecnologia como motor

propulsor do crescimento econômico, a partir de 1988, contou com

reforma educacional que colocou maior ênfase em ciência e tecnologia

como parte dos esforços em pesquisa e desenvolvimento (KIM; MAH,

2009, p. 263). Este direcionamento de atividades de pesquisa e relação

das instituições com a sociedade ocasionou uma modificação na

estrutura legal, organizacional e de governança nas universidades.

De acordo com Arbix e Consoni (2011, p. 220, 221), o sistema

universitário deve ser repensado e reestruturado e a comunidade

acadêmica, no seu papel propulsor de gerar novos conhecimentos

científicos e tecnológicos para inovação, deve repensar a sua agenda de

181

pesquisa e comunicar-se mais com a sociedade. Neste contexto, não é

absurdo pensar em um novo modelo a ser adotado pelas universidades

públicas brasileiras. É neste ponto que este estudo quer trazer uma

contribuição.

3.4.3.1 O papel da universidade no processo de transferência de

tecnologia: repensando o passado e sua missão

Como foi ressaltado acima, as universidades exercem papel de

domínio intelectual em alguns momentos da história e refletiram os

movimentos sociais de sua época, em que as ideias gregas tiveram seus

espaços e havia espaço para a discussão de "artes e filosofia", que

certamente representavam as ideias de religiosos, como John Henry

Newman, João Calvino, John Stuart Mill. Este último, principalmente,

demonstrou sua grande influência no período revolucionário científico,

já que é considerado o propagador da teoria utilitarista de Jeremy

Bentham que inspirou as escolas norte-americanas em seus cursos

voltados para a terra e a agricultura, ou ainda, a utilização de

conhecimento para resolução de problemas na sociedade norte-

americana. Isto posto, é importante entender como estes pensamentos

influenciaram a sociedade naquele período em que foram introduzidas

na academia e refletiram nas políticas empregadas pelos governos.

Derek Bok (2003, p. 11) afirma que nos Estados Unidos, a

contribuição da ciência para a guerra convenceu a liderança política em

Washington em investir pesadamente em pesquisa, ambos em ciência

natural e na área de medicina e saúde, principalmente, com o

desenvolvimento do Instituto Nacional de Saúde. Entre os anos de 1948

a 1968, houve robusto apoio federal para pesquisas científicas básicas,

que chegou a 3 milhões de dólares por ano. Os resultados apareceram

com a bomba de hidrogênio, a descoberta do DNA, lançamento de

satélites no espaço entre outros. A partir dos anos 1970, a ênfase na

pesquisa básica teve diminuição, saiu do campo militar para o

econômico, o qual os Estados Unidos buscaram garantir competitividade

na economia mundial, principalmente, com o Japão e a Europa. Desse

modo, as políticas direcionaram-se para mudanças importantes com o

intuito de estimular o crescimento econômico, como o Bayh-Dole Act

(1980), que oportunizou a apropriação e licenciamento de pesquisa pelas

universidades. Esta legislação possibilitou as instituições de ensino e

pesquisa a se estruturarem com escritórios e agências (de inovação) para

182

buscarem descobertas promissoras comercialmente e patenteando-as

para um futuro licenciamento para as empresas interessadas.

Machlup (1972, p. 148) sublinha que esta separação de campos

de estudo nas universidades é perceptível quando se aceitam linhas de

divisões em dois tipos de pesquisas e dedicação de departamentos, dessa

maneira, os departamentos relacionado com a Física e Química, na

divisão de artes e ciência, são geralmente engajados na pesquisa básica,

enquanto que os departamentos de Elétrica e Engenharia química, nas

escolas de Engenharia, atuam na pesquisa aplicada. Mas, mesmo nestas

análises do pós-guerra, Machlup percebia que esta separação não

poderia ser radical e que a linha divisória entre uma e outra é muito

tênue. Identificou, por exemplo, a dificuldade que os pesquisadores

tinham, já naquele período, em relatar suas pesquisas e justificar os

fundos recebidos e enquadrar suas atividades no projeto proposto para o

tipo de pesquisa que os recursos foram destinados. Ao se dedicarem

"intencionalmente" à pesquisa básica, poderiam resultar em novas

substâncias ou dispositivos. Da mesma forma, ao se dedicarem

"intencionalmente" à pesquisa aplicada, ao final seus resultados,

poderiam trazer um melhor entendimento físico ou orgânico do

fenômeno, observa (MACHLUP, 1972, p. 147). Stokes alerta que esta

visão recortada entre a pesquisa básica (que usou como sinônimo de

pura) e aplicada é uma ideia integrada ao paradigma dominante da

política científica e tecnológica, bem como, nas formas de ver a ciência

dos governos, da comunidade, dos pesquisadores e dos meios de

comunicação, o que ele rebate no seu livro (STOKES, 2005, p. 27).

Outra interessante observação de Machlup está na identificação da parte

dedicada ao desenvolvimento na pesquisa. Na sua concepção, se o

objetivo primário é fazer mais melhorias no produto ou processo, então

o trabalho se enquadra na definição de "pesquisa-desenvolvimento". Ele

chamou a atenção para o conhecimento e desenvolvimento da pesquisa,

indicando que significa um sistemático uso de conhecimento científico

direcionado para a produção, seja de material útil, dispositivos, sistemas,

métodos (ou processos), sistemas exclusivos de desenho e engenharia de

produção, e também de desenho e desenvolvimento de protótipos, que

fazem parte do todo que é fazer pesquisa (MACHLUP, 2005, 1972, p.

149).

Esta observação de Machlup, referente aos 1970, aplica-se às

universidades contemporâneas e a discussão sobre sua missão,

programas de pesquisas, investimentos. Atualmente, é muito visível à

prevalência da pesquisa aplicada nos acordos de parcerias com o setor

183

privado em que as universidades têm buscado estreitar laços com

indústrias e direcionarem suas descobertas para desenvolvimento de

produtos, e raramente, de "conceitos". Porém, existem receios,

questionamentos e contrariedades a esta aproximação. Alguns críticos

até radicalizam ao dizer que a pesquisa universitária está sendo

comercializada e deixando seu papel impulsionador e transformador

para a ciência, porém, deve-se considerar que um equilíbrio pode ser

sugerido e não visões extremistas.

Bok (2003, p. 13-15) afirma que a visão econômica e comercial

que as universidades assumiram e o aumento de possibilidades de fazer

dinheiro estendeu entre as instituições. Os docentes começaram a ganhar

muito com consultorias e treinamentos. Isto ocorreu em várias áreas nas

universidades norte-americanas, seja na biotecnologia que teve um

crescimento extraordinário (um boom) e nas ciências da vida em que os

pesquisadores não só patenteavam como davam consultorias. Os juristas

também começaram a dar consultorias e orientações para seus clientes

de corporações, no que tange aos Direitos de Propriedade Intelectual e

contratos. Outro ponto perceptível foi o crescente investimento das

empresas na academia que gerou novos produtos e melhorou a

tecnologia. Como resultado, as empresas ao aumentarem seu apoio às

universidades e institutos e "aliviaram" o governo de seus investimentos

em pesquisa. Isto não agradou toda comunidade acadêmica norte-

americana, que acusava a universidade de ter se transformado em

"fábricas do conhecimento" e que as ideais acadêmicas estavam voltadas

para busca de dinheiro. Continuou Derek Bok (2003, p.16) destacando

que o receio e argumentos dos contrários a este movimento era que a

orientação comercial nas atividades da universidade poderia encobrir

outros valores intelectuais e que programas universitários seriam

julgados primeiramente pelo dinheiro que eles trariam e não pela sua

qualidade intelectual intrínseca. Realmente, ainda nas palavras de Bok

(p.18), há a explicação de que a "comercialização não é uma palavra

neutra", ao contrário, comercializar significa engajar-se em práticas

amplas, o que certamente faz com que a comercialização seja uma

prática largamente suspeita na academia.

Neste ponto, indaga-se qual seria então o "papel" ou "missão" da

universidade neste contexto de comercialização e interação com o setor

privado?

Da mesma forma que as empresas têm suas características que as

identificam, as universidades também são reconhecidas pelas suas

atividades de ensino, pesquisa e extensão. Também são vistas como

184

transformadoras da sociedade, oferecendo formação de alto nível,

serviços de informação, capacitação, tecnológicos e mais recentemente,

a transferência de tecnologia. Verifica-se que a partir do período pós-

guerra, a pesquisa passou a ter papel principal para a sociedade,

inclusive, auxiliando na resolução dos problemas, em que surgiram

críticas sobre qual a "verdadeira missão" que a universidade deveria

assumir.

Conforme dito anteriormente, a universidade foi criada com a

missão de preparar intelectuais e na formação de profissionais

qualificados para a sociedade. Ortega y Gasset (2004) ao escrever sobre

La Misión de La Universidad, em 1944, foi opositor da visão em que a

pesquisa deve ser exaltada como uma missão da universidade. No caso

de Ortega y Gasset, essa visão, possivelmente, foi influenciada por sua

formação jesuítica e por ter sido professor de Filosofia Moral na

Universidade de Madri durante o período de 1910 a 1936. Ao analisar as

universidades, e principalmente, os diferentes rumos que as

universidades europeias tomaram, em comparação do que ocorria nas

instituições norte-americanas, Ortega y Gasset entendia que observação

do "vizinho" não pode ser utilizada para criticar as próprias instituições

nacionais, mas, que isto pudesse auxiliar para determinar qual o

caminho a ser tomado. Para ele, a imitação não é o caminho, pois, isto

seria fatal. Na imitação, deixar-se-ia de elaborar o problema e

emprestaria a solução de outros, sem considerar que se devem incluir os

limites e defeitos próprios de sua sociedade modelo. Em outras palavras,

trazer modelos de outras nações para a realidade de seu país poderia não

resolver a questão, tendo em vista que cada nação tem sua "real

natureza" (ORTEGA y GASSET, 2004, p. 18). Explica seus

pressupostos criticando a conclusão simplista de que as nações são

grandes porque suas escolas são boas e refuta ao dizer que isto é um

clichê e que é resquício do idealismo do século passado. Demonstra que

a importância que se quer dar à "Escola", à organização de ensino, não

tem ou não pode ter esta força. Acredita que quando a nação é grande,

então grandes serão também suas escolas, portanto, não há grande nação

sem grandes escolas. Por isso, se as pessoas estão mal politicamente,

não podem esperar alguma coisa perfeita no sistema de ensino

(ORTEGA y GASSET, 2004, p. 19). Defende também que a escola,

quando realmente é um órgão funcional da nação, depende muito mais

da atmosfera da cultura nacional em que ela está imersa do que sua

atmosfera pedagógica criada artificialmente nela própria. Na visão deste

autor, ao comparar à universidade medieval, a universidade

185

contemporânea (à sua época) teria desenvolvido a mera semente da

instituição profissional dentro de uma atividade enorme, e ao adicionar a

função de pesquisa, a levou a abandonar quase que inteiramente o

ensino ou transmissão de cultura. Para este estudioso, a função básica da

universidade direciona-se ao imperativo que se ajuste o ensino de

cultura, de sistema de ideias vitais, referenciando o ensino das "culturas

gerais" da universidade medieval (teologia, filosofia, artes etc).

Não é para menos que Scott (2006, p. 3) detecta em Ortega y

Gasset a necessidade de excluir a pesquisa e defende o foco na educação

liberal e profissional como missão. John Scott admite que virtualmente,

todas as políticas de hoje e questões sobre educação superior, desde a

admissão até a tecnologia de armas, derivam da missão institucional.

Nota que as declarações de missão hoje são frequentemente baseadas

numa tríade (do Século XX) de ensino, pesquisa e serviço público (ou

extensão, para alguns). Em síntese, identifica algumas fases desta

missão ao longo da história, sendo elas: missão de ensino, missão de

pesquisa, Estado-nação, missão de nacionalização, missão de

democratização, missão de serviço público e internacionalização.

Convém, portanto, apresentar agora sua visão quanto a estes períodos

históricos para alcançar a visão contemporânea. Nas palavras de Scott

(2006), o que se deve observar nestes mais de 850 anos é que

verdadeiramente a Universidade Europeia enfatizou sua missão de

ensino na fase de pré-estado-nação, e, a antiga Universidade Moderna

Europeia e da América Latina adotaram a missão de nacionalização ou

ainda serviço para o governo do Estado-nação. Em contraste, os colégios

em formação nos Estados Unidos avançaram no ideal de democratização

ou no serviço para o indivíduo do Estado-nação. Simultaneamente, a

geração "humbolditiana"94

promoveu a missão de pesquisa. Quanto à

visão humbolditiana, um dos princípios inovadores foi a proteção da

liberdade acadêmica, que pode ser definida em dois subprincípios:

liberdade de aprender, exercer/escolher qualquer currículo (Lernfreiheit) e a liberdade para ensinar (Lehrfreiheit), também conhecido como o

direito à livre investigação. A adoção destes princípios permitiu que

94

Wilhelm von Humboldt foi uma figura essencial para o período de

fundação da Universidade de Berlim (1810), juntamente com Fichte e

Schleiermacher introduziu ideias e mudanças institucionais, em que ficou

marcado como o modelo alemão, que trouxe uma visão diferente sobre

universidade e formas de aprender e ensinar.

186

professores tivessem liberdade de investigação sobre suas linhas de

pesquisa e ensino, portanto, enfatizando a importância da ciência e

pesquisa, o que introduziu a importância da pesquisa na academia. A

liberdade de escolha de currículo foi a principal influência no sistema

norte-americano, que diversificou não apenas nesta opção curricular

pelo aluno, como também, na popularização do ensino superior.

Já no Século 20, a universidade moderna norte-americana

assumiu a missão de serviço público ou serviço para o público do

Estado-nação. Percebe-se que, com a globalização na sociedade pós-

moderna, a universidade apontou para a direção de uma missão de

internacionalização, em que a instituição passou a oferecer serviços para

uma gama de Estados-nação de todo o mundo, recebendo estudantes

estrangeiros.

Contudo, deve-se frisar que as guerras mundiais influenciaram

também a missão e visão nas universidades. Principalmente, em relação

à Segunda Guerra Mundial, no caso dos Estados Unidos, por exemplo,

as universidades que tinham uma participação indireta no serviço

público passaram a se envolver em pesquisas para o governo e indústria.

Houve, portanto, um investimento do governo federal que se tornou um

padrão dominante para as universidades, sejam elas públicas ou

privadas. Neste cenário bélico, as instituições norte-americanas foram

chamadas pelo governo federal para realizarem pesquisas para a guerra

em razão de sua "missão pública de serviço". Dessa maneira, cientistas

contribuíram com invenções militares como a bomba atômica, radar, e o

napalm,95

. Posteriormente, com o final da guerra, as pesquisas tiveram

outro direcionamento, o que deixou a pesquisa básica e militar para

pesquisa tecnociência civil, nos anos de 1980-1990 (SCOTT, 2006,

p.28).

Há quem afirme que a universidade tem buscado uma terceira

missão em razão da crescente saliência de conhecimento e pesquisa, o

que gera nela, um papel no desenvolvimento econômico. Desde a

Segunda Guerra Mundial, e com mais intensidade na Guerra Fria, como

período de transição que foi, foi conduzida a uma reavaliação da missão

95

O napalm foi um composto químico usado em lança-chamas e bombas

incendiárias pelos Estados Unidos e nações aliadas, era misturado em

substancias inflamáveis auxiliando na transformação destas em gel, como

na gasolina, aumentando sua eficiência e maior alcance. Foi um invento que

teve a participação de um grupo de cientistas da Universidade de Havard.

187

e papel da universidade (ETZKOWITZ & LEYDESDORFF, 2000, p.

110). Diante da expansão universitária e consequentemente, observando

o "sucesso" americano na aproximação com o setor empresarial,

verifica-se que há uma tendência na forma de desenvolver a pesquisa

acadêmica nos dias atuais. Nos Séculos XVIII e XIX, existia uma rara

aproximação e interação das instituições (ensino) com o mundo

empresarial. No caso norte-americano, exceções ocorreram com as

instituições, como do Instituto Tecnológico de Massachusetts (1920-

1930) que conseguiu estabelecer um primeiro departamento de

engenharia eletrônica com recursos de um fundo da empresa General

Electric e depois a AT&T (SCOTT, 2006, p. 27), entre outros exemplos:

A Escócia, com James Watt,96

e a Alemanha (Universidade de Geissen),

que mantinha uma relação com indústrias químicas e de mineração. Já

na Inglaterra, de forma mais particular, existiam as ações e pensamentos

dos membros da Sociedade Lunar, porém, não eram a regra

(GREENHALGH; ROGERS, 2010, p. 93).

Todavia, o que determinava a pesquisa naquele período era a

escolha do tema de pesquisa pelos cientistas e seus departamentos. A

visão sobre ciência e sua relação com novas tecnologias foi intensificada

com o pós II Guerra Mundial, em que muitos experimentos e diferentes

tecnologias testados serviram para convencer governos a direcionar e

96

James Watt era cientista químico, engenheiro, com uma visão para a

exploração comercial e produção em escala industrial. Ele via as

descobertas na área têxtil realizadas por Berthollet (branqueamento por

cloro) e Black (produção alcalina usando sal e limão) como descobertas

importantes para serem exploradas comercialmente. Watt possuía um

considerável conhecimento da química de branqueamento, tingimento, e

produção alcalino, mas nestes domínios seus contributos foram à química

industrial, não com a teoria química. Sua maior contribuição entre suas

pesquisas na área química e seus inventos de engenharia, durante o século

XVIII, foi em favor de uma fusão da engenharia com a ciência experimental

e teórica; em obra de Watt (área química), em suas associações com os

químicos e os filósofos naturais, em seu emprego na Universidade de

Glasgow, e em sua participação nas sociedades científicas britânicas foram

mais marcantes. Pode-se aqui mencionar que esta diferenciação de

interesses e motivações e seus efeitos entre engenheiro e cientistas foram

nítidas neste período através das ações e posicionamento de Watt, sendo um

contributo para um entendimento sobre o desenvolvimento da ciência

moderna (http://www.encyclopedia.com/topic/James_Watt.aspx)

188

influenciar a ciência em seus territórios. Paula Stephan (2007) aponta

que a ciência emergiu da Segunda Guerra Mundial com maior respeito e

seu sucesso demonstrou que poderia encurtar a guerra e reduzir mortes

de tropas aliadas. Houve ainda uma valorização no papel da ciência

como ferramenta para auxiliar o crescimento econômico e o emprego

em tempos de paz. Essa foi uma bandeira defendida por Vannevar Bush

(1945), que apresentou à presidência dos Estados Unidos uma proposta

de ciências mais expansionista, através dos seus escritos: Science: The

Endless Frontier,97

. Ele indicou que a ciência proporciona uma fronteira

sem fim e que deveria ser melhor amparada pelo governo. Resultou,

dentre outras ações governamentais, a fundação da National Science Foundation nos Estados Unidos em 1950 (STEPHAN, 2007, p.38).

Abre-se aqui um parêntese para voltar a comentar sobre a

pesquisa básica/pura e aplicada98

e o sistema linear, já que, a pesquisa

pura foi amplamente sustentada por Bush, através de sua forma de

pensar linear e horizontalmente, quando tratou de desenvolvimento

tecnológico e inovação. Para Bush, aqueles que investissem em ciência

básica obteriam seu retorno em tecnologia à medida que os avanços da

ciência fossem convertidos em inovações tecnológicas pelos processos

de transferência. Portanto, a inovação é concebida através de uma ordem

sequencial de eventos que começa com a pesquisa básica, avança para

níveis aplicados de pesquisa e culmina na aplicação e desenvolvimento

de produtos para o mercado, sendo que esta lógica linear é denominada

de "transferência de tecnologia",99

(CALDERAN & OLIVEIRA, 2013).

Stokes (2005) relembra que esta posição defensora da investigação

pura/básica, que ainda existe, é reverberação do relatório de Vannevar

97

Atrevo-me aqui a fazer correlação deste título com o programa Ciências

sem Fronteiras do Governo Brasileiro, que oferece bolsas de graduação e

pós-graduação visando formação de brasileiros no exterior. E curiosamente,

o programa prevê bolsas para estudantes de graduação e pós-graduação em

áreas das “ciências naturais” e engenharias, deixando à margem as Ciências

Sociais e Humanas, com as mesmas ideias do conceito ciência tratado pelo

Presidente Roosevelt e do relatório de Vannevar Bush. 98

Para Stokes, a pesquisa básica procura ampliar o campo de entendimento

fundamental, porém, a pesquisa aplicada volta-se para uma necessidade ou

aplicação para um indivíduo, grupo ou sociedade (STOKES, 2005, p.24). 99

Verifica-se que atualmente este conceito tem sido empregado de forma

mais ampla significando a transmissão de conhecimento e tecnologia.

189

Bush. O relatório traduziu a forte recomendação para o país (Estados

Unidos) em estabelecer seu investimento em pesquisa científica, no pós-

guerra, sendo que a ciência básica e sua relação com a inovação

tecnológica tornou-se o alicerce da política científica nacional para as

décadas posteriores. Neste mesmo sentindo, Derek Bok relembra que no

relatório de Vannevar Bush continha a afirmação que para ter novos

produtos e medicamentos para tratamentos dependeria (inevitavelmente)

de um vigoroso programa de pesquisa básica, e, somente as

universidades poderiam provê-la. Efetivamente, o governo investiu

bilhões em laboratórios, criando a mais forte capacidade de pesquisa

básica do mundo (BOK, 2003, p. 60). Caraça (2008, p. 2) aponta que o

pioneiro em requerer investimentos em P&D para ter melhor impacto

em crescimento econômico foi J. D. Bernal nos anos 1930 (The Social Function of Science). Ele defendia o aumento do percentual de 0,2%

para 2,0% no Reino Unido para gerar mudanças sensíveis nos resultados

da economia.

Isto remete ao que Etzkowitz e Leydersdorff (2000) chamaram de

"terceira missão da academia", adicionada à pesquisa e ensino.

Explicam que a crescente relevância do conhecimento e pesquisa para o

desenvolvimento tecnológico desencadeou a terceira missão e

direcionou o papel da universidade para o desenvolvimento econômico.

A isto se deve ao que denominam de "Segunda Revolução Acadêmica",

que teve seu início desde a II Guerra Mundial e se intensificou na

Guerra Fria, sendo que esta, durante os anos 1970 a 1980, desencadeou-

se uma reavaliação da missão e papel da universidade na sociedade.

Conforme destaca Calderan e Oliveira (2011), a Primeira Revolução

Acadêmica diz respeito às atividades de pesquisa na academia,

rompendo com o papel exclusivo de ensinar (período de transição do

Século XIX para o Século XX) e coincidiu com o período das

universidades alemãs influenciadas por Humboldt. Já a Segunda

Revolução Acadêmica é determinada pelo forte sinergismo entre a

academia e a indústria, como uma resposta à necessidade do setor

produtivo de gerar P&D de uma forma mais rápida e com qualidade,

através das instituições de pesquisa. Realmente, a partir do Século XVII

houve uma grande "revolução" nos conceitos e formas sobre a ciência, o

que é considerado pelos historiadores como a Revolução Científica,

contemporâneo ao surgimento das ciências modernas. A ideia de

revolução se deu em razão de alguns estudiosos contestarem teorias

aristotélicas, como Simon Stevin nos seus livros "Princípios da Estática" e "Princípios da Hidrostática", Francis Bacon com sua obra "Novum

190

Organum", Nicolau Copérnico ao apresentar sua teoria heliocêntrica

contrapondo-se ao modelo de Ptolomeu, entre outros. Porém, foi

revolucionário o período não apenas por confrontar estudos anteriores,

mas também, por apresentarem avanços na física, química, botânica,

anatomia, zoologia microbiologia, fisiologia, a própria matemática e

astronomia. Desta maneira, grandes nomes como Galileu Galilei, René

Descartes, Isaac Newton, Leonardo da Vinci, Jerome Bock, Otto

Brunfels, Simon Stevin, Giordano Bruno, Johanes Kepler, Daniel

Fahrenheit, Anders Celsius, Robert Hooke, Robert Boyle, Francis

Bacon, Christian Huygens, Evangelista Torricelli, Blaise Pascal e outros

endossaram a lista dos "filósofos naturais" como eles mesmos se

intitulavam por realizarem estudos sobre a natureza.

Para Stokes (2005), o aumento do interesse dos cientistas

europeus pelas atividades práticas caminhou lado a lado com seu

experimentalismo e, que na verdade, os avanços científicos do Século

XVII deveram-se em parte "à sua disposição em aplicar à ciência as

técnicas que haviam tomado emprestado aos ofícios e às profissões".

Tomam-se como exemplos alguns intelectuais que emprestaram seus

talentos para melhorar tecnologias, Tartaglia e Galileu para os

equipamentos militares; Stevin para a engenharia hidráulica; Leibniz e

Huygen para o maquinário de potência; ainda o grupo de intelectuais

(Galileu, Torricelli, Descartes, Huygens e Newton) para o

melhoramento do telescópio (STOKES, 2005, p. 59-60).

Existiram também críticas sobre esta intensa interação entre a

academia e o setor privado. Cunha (1993), em seu texto intitulado

"Universidade e sociedade: uma nova dependência?" indica que esta

nova função atribuída às instituições de ensino superior, que é a

produção de conhecimentos para acelerar o desenvolvimento econômico

e reinserção dos países no mercado mundial, pode gerar a dependência

diante do mercado, não mais como antes, transferindo a antiga

dependência da Igreja ou do Estado.

Estas críticas, conforme já comentado, ocorrem em razão de

muitas universidades dedicarem-se mais às pesquisas "encomendadas",

que visem suprir uma necessidade comercial, geralmente, através de

parcerias com indústrias, e possivelmente, realizando poucas pesquisas

voltadas para princípios científicos, que são consideradas mais

descomprometidas em apresentar resultados ou produtos direcionados

ao mercado. Na realidade, o que ocorre é que a pesquisa básica, com sua

visão mais amplificada e sem uma pretensão definida, pode parecer

desinteressante para as soluções "emergenciais" que a indústria requer,

191

porém, não pode ser desprezada pelo impacto que causa quando

identificada. Contudo, esta tendência comercial dos estudos e pesquisas

vem de outros períodos históricos, como no caso de James Watt (1736-

1819), o estudioso químico (membro da Sociedade Lunar) que é um

evidente exemplo de um cientista que desenvolveu esta precisa ligação

entre conhecimento científico e aplicação comercial nas séries de

experimentos formais para analisar as propriedades do vapor e a

condutividade dos metais sobre a química têxtil, portanto, aliançou a

ciência com a prática (MATHIAS, 1972, p. 72). Bok (2003) aponta que

longe da preocupação que os cientistas das universidades sejam

corrompidos por negócios, alguns observadores acreditam que ativar

colaboração com colegas na indústria é na verdade útil para estimular a

pesquisa básica por ter contato com a realidade. É o que foi defendido

por Hery Etzkowitz e Loet Leydersdorff (1995), que afirmam que os

cientistas não mais acreditam na necessidade de isolamento (Ivory

tower100

) para trabalharem fora da lógica da descoberta científica. Mas,

Caraça et al (2008, p.6) alerta que a interação entre ciência e indústria é

um importante aspecto da "ecologia da inovação", porém, pode ser um

equívoco fazer as universidades e a pesquisa básica subordinadas aos

mercados ou ditames políticos, principalmente quando formuladores de

políticas assumem que a ciência é uma fonte direta ou a maior fonte de

inovação, colocando um fardo pesado na ciência que é apenas parte do

sistema de inovação e não um todo. Coaduna-se deste pensamento, uma

vez que, é neste momento, quando surgem as frustações e quando os

resultados não correspondem às expectativas exageradas, eles (setor

privado ou governo) assumem que o problema é nas universidades e as

acusam de ser a inacessível Torre de Marfim.

Entre as críticas quanto ao alijamento das universidades públicas,

exigência de eficiência e visão capitalista do ensino público, estudiosos,

seja sobre a temática do ensino superior- inclusive com uma visão

menos economicista- reconhecem que uma mudança se impõe em

relação ao papel desempenhado pela universidade no contexto atual, que

se deve concordar. Cita-se aqui Boaventura (2011, p. 41-42) que aponta

100

Ivorytower (torre de marfim) - Termo utilizado na academia para

designar um lugar ou ambiente em que as pessoas encontram-se felizes sem

ter contato com outras pessoas e isolam em suas ideias e teorias.

192

que ao longo do Século XX, o conhecimento universitário foi

predominante como modelo disciplinar e de certa forma,

descontextualizado em relação às necessidades do quotidiano das

sociedades. Por sua vez, eram os pesquisadores quem determinavam os

"problemas sociais" que entendiam importantes e ainda, a relevância,

metodologias e ritmo das pesquisas. Isso transparece na distinção entre

pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico, autonomia do

investigador, que para Boaventura, se traduz até em irresponsabilidade

social. Entretanto, destaca que ao longo dos últimos anos, existiram

alterações que apontam para a emergência de outro modelo. Boaventura

denominou "conhecimento pluriversitário". Neste conhecimento

importa o contexto, a possibilidade de utilização pela sociedade, de

modo que sua aplicação corre "extramuros", buscando resolver

problemas pontuais. Entende-se por fim que este conhecimento

pluriversitário tem sido concretizado nas parcerias universidade-

indústria. Acredita-se que esta mudança traz no mundo uma alteração

também da relação entre a ciência e sociedade, pois esta deixa de ser

"um objeto das interpelações da ciência para ser ela própria sujeita de

interpelações à ciência". Portanto, o conhecimento pluriversitário

desloca o foco da unilateralidade para a interatividade que está

potencializada pela tecnologia de informação e de comunicação. Em

razão disso, ocorre um confronto entre privatistas e publicistas, que

acabam desestabilizando a institucionalidade da universidade, conforme

já foi enfocado neste estudo, o que evidencia a crise institucional, em

razão da autonomia científica e pedagógica da universidade, em termos: Esta contraposição entre uma pressão

hiperprivatista e uma pressão hiperpublicista não

só tem vindo a desestabilizar a institucionalidade

da universidade, como tem criado uma fratura

profunda na identidade social e cultura desta, uma

fratura traduzida em desorientação e estaticismo;

traduzida, sobretudo, num certa paralisia

disfarçada por uma atitude defensiva, resistente à

mudança em nome da autonomia universitária e

da liberdade acadêmica. (BOAVENTURA, 2011,

p. 45)

Evidentemente, Boaventura não defende estas visões extremistas.

Como sociólogo, analisa e apresenta suas observações: entende que por

um lado, houve um ataque ao "projeto nacional" (criação do

conhecimento e formação dos quadros) pela globalização neoliberal,

193

tirando a importância da educação nas políticas econômicas e sociais

(p.47-48), entretanto, reconhece que é necessário "resituar" o papel da

universidade pública na definição e resolução de forma coletiva dos

problemas sociais, que devem ter em conta a contextualização global.

Esta pesquisadora coaduna com este entendimento e com a visão de

Buarque abaixo.

No mesmo passo, Cristovam Buarque (2014) aduz que após

quase mil anos desde sua criação, a universidade se encontra em uma

encruzilhada civilizatória e que "é necessário que se transforme e

reinvente a si própria, para servir a um projeto alternativo de civilização,

[...] tem que entrar em sintonia com esse novo rumo, corrigindo

descompasso gerado pela turbulenta virada de Século". Também indica

que as mudanças precisam ser focadas em pontos determinantes, quais

sejam: o retorno da vanguarda da produção e centro de distribuição do

conhecimento, afirmação e capacidade de assegurar o futuro de seus

discentes, assumir responsabilidade ética com o futuro da humanidade e

reconhecer que não está isolada e pertence a uma rede mundial.

Diante desta multifunção das universidades, Clark Kerr, ao

conceituar a nova fase das instituições americanas, transladou o nome de

universidade para "multiversidade" reforçando o modelo universitário e

multifuncional americano que trouxe a conjunção destas novas ideias,

que consagrou a missão da universidade na tripla missão de ensino,

pesquisa e serviço público. Desta forma, a "multiversidade" é uma

instituição multifuncional: Ela não é uma única comunidade, mas várias – a

comunidade dos alunos da graduação e dos pós-

graduandos; a comunidade dos humanistas, a

comunidade dos cientistas sociais e a comunidade

dos cientistas das exatas; as comunidades das

escolas profissionais; a comunidade de todos os

funcionários não-acadêmicos; a comunidade dos

administradores. Seus limites são imprecisos – ela

alcança até os ex-alunos, legisladores,

agricultores, empresários, os quais se relacionam

com uma ou mais dessas comunidades internas.

[...] Ao mesmo tempo em que promove a

igualdade de oportunidade, ela é uma sociedade

de classes [...]. (KERR, 2005, p. 27; 28)

Ainda na visão de Scott (2006), a universidade pós-moderna tem

como forte inclinação outra missão, a de internacionalização, em que

necessita de um modelo gerencial de excelência para melhor competir

194

no mercado global. Em todo o mundo, vê-se uma ênfase em uma

educação global e a universidade transformou-se em uma corporação

transnacional, servindo não apenas os nacionais, mas muito mais aos

"consumidores" globais.

Ressalta-se ainda que estas reflexões tenham ocorrido também

deste lado do hemisfério, como exemplo, Brisolla et al (1997, p. 203-

204), ao analisarem a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),

concluíram que a universidade teria papel determinante,

"transcendental", nas redes que constituem a base da sociedade do

conhecimento. Reconheceram que predomina uma convicção de que as

instituições de ensino e pesquisa devem e podem desempenhar um papel

importante para diminuir o hiato tecnológico que dificulta o crescimento

econômico, porém, também naquele período, não se sabia ainda as

formas em que se constituirá esta inserção em um Sistema Nacional de

Inovação, que apesar das tentativas governamentais, ainda não se logrou

o resultado esperado.

Cabe então o questionamento: a inovação e a transferência de

tecnologia são as novas missões da universidade?

Sobre este prisma, deve-se refletir e observar com cuidado a

afirmação de que a nova missão da universidade é a inovação. Ora,

como se verá a seguir, a inovação não ocorre da forma linear apontada

por Bush, conjuga ações de vários participantes, sendo a universidade

apenas um destes participantes no processo inovativo. Ainda mais

considerando o conceito econômico de disponibilidade para o mercado

do produto ou processo desenvolvido. Portanto, melhor dizer em

transferência de conhecimento e tecnologia. Quanto a transmitir

conhecimento, esta missão é encontrada desde o início nas instituições

de ensino, contudo, os sujeitos eram estudantes ou profissionais que

recebiam o conhecimento para aplicá-lo em uma função ou profissão.

Conquanto, a transferência de conhecimento ampliou-se para uma

relação de troca também com instituições, através de consultorias e

acordos de parcerias, que acontecem com o setor público e privado. Já a

transferência de tecnologia, que notadamente resulta de pesquisas e

desenvolvimento, é particularmente bem desempenhada pela academia,

já que congrega em seu seio, cientistas e profissionais da mais variada

especialidade em um ambiente favorável. Este papel (pesquisa e

desenvolvimento) tem sido fortemente requerido das instituições de

pesquisa para solucionar o hiato do crescimento econômico acima

comentado. Assim, academia tem sido impulsionada a deixar o laissez faire (deixar passar, deixar fazer por si mesmo) da pesquisa pura para

195

observar os problemas da sociedade (incluindo o setor privado)

ofertando respostas e assumindo um compromisso de uma participação

mais efetiva neste ponto.

Acredita-se que a inovação não pode ser tomada como uma

missão da universidade, se considerarmos o conceito de inovação com

vistas a desenvolver produtos para o mercado, pois isto cabe, no

entendimento desta autora, ao setor privado, que tem maior habilidade

para lidar com o mercado. As instituições de ensino e pesquisa não

devem se preocupar com produção e marketing de produtos para o

mercado, e sim, na promoção de pesquisas, em certos casos, voltadas

para uma função prática, pontual. Evidentemente, não se pode desprezar

por completo a pesquisa básica porque os novos conceitos de ciência e

tecnologia geralmente derivam deste tipo de pesquisa. Porém, o

processo inovativo depende também das instituições de pesquisas que

podem auxiliar com sua natureza própria investigativa e proporcionar

uma visão mais precisa para desenvolvimento de produtos ou processos

que a sociedade necessita.

Contudo, é inegável que se está exigindo das universidades e

institutos de pesquisa uma postura mais proativa e mais arrojada, mais

empreendedora. Burton Clark (2003) em seu livro "Creating

Entrepeneuria Universities" (Criando Universidades Empreendedoras)

trouxe o estudo sobre algumas universidades europeias entre os anos de

1980 a 1995 e identificou que estas mudaram significantemente sua

forma de operar assumindo um papel mais proativo. Concluiu que estas

mudanças foram induzidas por cinco caminhos de transformação, quais

sejam: uma base de captação de recursos diversificada, um núcleo de

direção fortalecido, periferia de desenvolvimento expandida, coração

acadêmico estimulado e cultura de empresarial integrada. Em um livro

mais recente, Burton Clark continua sua análise com universidades. Em

"Sustaining Change in Universisties: Continuities in Case Studies and

Concepts" (2004), o autor prove um olhar para expandir

substancialmente a análise anterior e fornece um novo olhar para o

caráter evolutivo da universidade empreendedora.

Destaca três pontos que influenciam esta mudança: uma interação

de apoio mútuo entre os elementos de transformação; uma recente

prospectiva de impulso duradouro (perpétuo); nos bastidores, uma

vontade institucionalizada, uma vontade coletiva, que estimula e orienta

uma auto-sustentável e auto-seletiva contundência na resposta às

exigências da sociedade. Sumariza afirmando que os casos institucionais

estudados permitem que se identifiquem exemplos instrutivos de

196

universidades de sucesso que se adaptaram a uma vasta gama de

situações e condições culturais em várias sociedades e pode-se

demonstrar através de seu estudo que é possível combinar pesquisa para

uso com pesquisa para compreensão (2005, p.01). Audy (2006) reforça

que com a segunda revolução acadêmica nos textos de Etzkowitz (1998)

originou o conceito de "Universidade Empreendedora" ou

"Universidade Inovadora", sendo este último mais aceito e tratado por

Burton Clark. Para Etzkowitz, a universidade empreendedora foi

definida como uma instituição que tem a capacidade de gerar uma

direção estratégica formulando objetivos academicos claros e capaz de

transformar o conhecimento gerado na universidade em valor

economico e social. Para Clark, como mencionado acima, a

universidade empreendedora é uma instituição ativa que gera mudanças

na sua estrutura e no modo de reagir às demandas, sejam internas ou

externas (AUDY, 2006).

Vale destacar o texto de Kerr que reflete muito sobre como as

universidades na atualidade e detecta suas possíveis crises existenciais e

sintetiza o panorama histórico acima:

Uma universidade, em qualquer lugar do mundo,

tem como objetivo último ser o mais britânica

possível em prol de seus alunos de graduação; o

mais alemã possível em prol de seus pós-

graduandos e equipes de pesquisa e o mais

americana possível em prol da comunidade – e tão

confusa quanto possível, pelo bem da preservação

do incômodo equilíbrio social. (KERR, 2005, p.

27).

Nas palavras da Professora Branca Terra (2001, p. 22-23), no

mesmo prisma, quando se trata da universidade empreendedora, define

que a universidade deve assumir papéis múltiplos reorganizando seus

recursos para concentrar-se em novos problemas [...]. A universidade

empreendedora forma indivíduos empreendedores [...]. Portanto, a

universidade deve ser vista de uma forma mais dinâmica e conectada

com a sociedade e seus problemas.

3.5 A gestão da transferência de tecnologia e conhecimento nas

universidades

Retomando a discussão sobre transferência de tecnologia,

convém esclarecer que não trata da visão linear propriamente dita.

197

Conforme apontado nos capítulos iniciais, a transferência de tecnologia

é uma transmissão de um resultado de pesquisa que seja considerado

tecnologia, para a relação entre universidade e empresa, que pode ser

uma transferência de conhecimento e tecnologia. Quanto a transmitir

conhecimento, esta missão é encontrada desde o início nas instituições

de ensino, contudo, os sujeitos eram estudantes ou profissionais que

recebiam o conhecimento para aplicá-lo em uma função ou profissão.

Conquanto, diria que a transferência de conhecimento ampliou-se para a

relação de troca também com instituições, através de consultorias e

acordos de parcerias, que acontece com o setor público e privado. A

transferência de tecnologia, que resulta de pesquisas e desenvolvimento,

é particularmente bem desempenhada pela academia, pois congrega em

seu seio cientistas e profissionais da mais variada especialidade e com

ambiente favorável. Este papel (pesquisa e desenvolvimento) tem sido

fortemente requerido das instituições de ensino e pesquisa para

solucionar o hiato do crescimento econômico. Destarte, a academia tem

sido impelida a deixar o laissez-faire da pesquisa pura para observar os

problemas da sociedade (incluindo o setor privado) ofertando respostas

e assumindo um compromisso de uma participação mais efetiva neste

ponto.

3.5.1 A transferência de tecnologia realizada pelas ICTs

A Lei de Inovação previu as parcerias U-E como uma alternativa

para suprir uma necessidade tecnológica que as empresas brasileiras

possuem, principalmente, as pequenas e médias, uma vez que estas não

possuem em sua estrutura pesquisa e desenvolvimento, bem como, de

pessoal dedicado a estas atividades que são inerentes à inovação. A

parceria para realizar pesquisa é uma das formas mais comuns e antigas

das universidades se aproximarem com o setor privado e continua sendo

o principal canal. Esta interação sempre surtiu uma vantagem para

sociedade. Muitas vezes, a academia traz novos conceitos e tecnologia

para a indústria, e outras vezes, a indústria traz uma visão mais aplicada

e condições de se desenvolver e testar a tecnologia ou conceito gerado.

Pela legislação, as formas de contratos são: Contrato de Cessão,

Contrato de Licenciamento e Contrato de Transferência de Tecnologia.

O Contrato de Cessão significa a transferência de titularidade do direito

de propriedade intelectual. É o mesmo que dizer que o seu proprietário

"vende" a outrem este direito, não mais exercendo domínio sobre ele. Já

o Contrato de Licenciamento transfere os poderes, os direitos de

198

exploração e uso, porém, não há transmissibilidade de propriedade.

Equipara-se a um "aluguel" do bem, por tempo determinado e com fins

próprios. Este licenciamento poderá ser exclusivo (apenas o licenciado)

ou sem exclusividade, o que significa que o proprietário pode licenciar

para outros, com regras estabelecidas e certamente que não ofendam os

interesses e interesses de seus licenciados, geralmente em áreas e/ou

utilização diversa. O Contrato de Transferência de Tecnologia que trata

de transferir informações que não estão amparadas pelos Direitos de

Propriedade Intelectual e também não trata de Serviços de Assistência

Técnica. Este último tipo contratual é de mais fácil compreensão, já que

significa uma assistência técnica voltada para a área de inovação e

pesquisa científica. Portanto, é possível contratar patente de invenção e

de modelo de utilidade, desenho industrial, registro de topografia de

circuito integrado, programa computador, obra científica, certificado de

cultivar, pedido de patente, ou, aquelas não passíveis de patenteamento,

registro ou certificado, como no caso do segredo industrial, da

informação tecnológica não divulgada.

No entanto, os tipos mais comuns de parcerias entre as

universidades e as empresasa são: desenvolvimento de pesquisas e

licenciamento de tecnologia. Este último é a forma mais direta de

aproveitar o que foi desenvolvido na academia, ou seja, um resultado,

um produto, para ser levado ao mercado, transformando-o em inovação.

Quanto ao primeiro caso, tem-se o Contrato de Pesquisa ou de Pesquisa

e Desenvolvimento, ou também denominado, Acordo de Parceria ou

Cooperação com o fim de realizar atividades em conjunto de pesquisa

científica e tecnológica, e ainda, desenvolvimento de tecnologia,

produto ou processo, unindo interesses e esforços entre as duas

entidades. Mais precisamente, os contratos de transferência de

tecnologia são instrumentos que regularizam a relação entre

Universidade-Empresa (U-E), que envolvam Direitos de Propriedade

Intelectual.

No Brasil, é a partir da Lei de Inovação, em 2004, que estas

parcerias foram incentivadas e para gerir esta relação, determinou que

todas as universidades e institutos possuíssem um Núcleo de Inovação

Tecnológica, sendo o interessante agente intermediador, a seguir.

3.5.2 O papel dos Núcléos de Inovação Tecnológica no Brasil

Com a publicação da Lei da Inovação, foram criados, nas

Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT) do país, os Núcleos de

199

Inovação Tecnológica (NITs). Esta lei foi regulamentada pelo Decreto

nº 5.563, de 11 de outubro de 2005, recentemente foi modificada pela

Lei nº 13.243/2016. Assim, com este marco legal intencionou-se ter

isonomia entre as ICTs para a gestão da transferência de tecnologia,

através desta nova figura, nova estrutura, que são os NITs. O NIT

passou a existir como órgão dentro da instituição responsável pela

gestão dos ativos intelectuais das instituições de pesquisas nas quais

estão inseridos. Convém ressaltar, que em alguns centros de pesquisa e

universidades, a figura do NIT já existia, porém, com outras

denominações, chamados de "agência de inovação", "escritório de

transferência de tecnologia" ou "escritório de propriedade intelectual".

Arbix e Consoni (2011, p. 214-215) resgatam a história e afirmam que

antes mesmo da norma geral obrigatória para criação dos NITs, foram

identificadas algumas iniciativas anteriores. Exemplificando, o caso da

PUC do Rio Grande do Sul ,que desde 1999 contou com a Agência de

Gestão Tecnológica (AGT), que integrou a Rede Inova PUC ,e, logo em

2002, foi instituído o Parque Científico e Tecnológico (TECNOPUC).

Promulgada a lei, foi criado o Escritório de Transferência de Tecnologia

(ETT) como um órgão apoiador da AGT na transferência de tecnologia

e propriedade intelectual. Da mesma forma, em Campinas, a Agência

Inova foi criada em 2003 abarcando não somente a gestão da incubadora

de base tecnológica, como também, no que se refere aos registros e

licenciamentos de patentes na Universidade de Campinas (UNICAMP).

Os NITs foram inspirados nos escritórios de transferência e de

tecnologia dos países mais avançados, os TTOs (Technology Transfer

Offices) reconhecidos nas universidades e centros de pesquisas norte-

americanos e europeus. O intuito foi ter um órgão especializado para

lidar com os ativos intangíveis gerados pelas instituições de pesquisa e

profissionalizar, organizar a transferência de tecnologia. Todavia, apesar

desta "boa intenção", os núcleos de inovação no Brasil também sofreram

(sofrem) os reflexos burocráticos da estrutura pública, já que a sua

maioria foi criada como órgão ou departamento interno das

universidades, faltando-lhe a independência jurídica na sua constituição

e dificultando uma articulação mais efetiva que este tipo de atividade

requer. Deve-se salientar que foi a Lei de Inovação que fez proliferar

estes núcleos e por esta razão, o subtítulo indicando que estes foram

estes "criados por força de lei".

Então, o que seriam os núcleos de inovação?

A própria Lei de Inovação os define, em seu Artigo 2º, inciso VI,

como "um núcleo ou órgão constituído por uma ou mais ICT com a

200

finalidade de gerir sua política de inovação" e na redação atual, como

"estrutura instituída por uma ou mais ICTs, com ou sem personalidade

jurídica própria, que tenha por finalidade a gestão de política

institucional de inovação e por competências mínimas as atribuições". A

própria redação indica que a finalidade principal do núcleo que é "gerir

a política de inovação", pressupondo-se que as ICTs precisaram

(precisam) organizar sua política de inovação. Portanto, a partir de 2004,

aquelas instituições que ainda não tivessem em suas normativas

diretrizes sobre a temática, principalmente, quanto à política de

propriedade intelectual, foram obrigadas a ajustarem seus estatutos ao

Artigo 29, do Decreto 5.563/2005, tendo um prazo de 06 meses, in verbis: "As autarquias e as fundações definidas como ICT deverão

promover o ajuste de seus estatutos aos fins previstos na Lei no 10.973,

de 2004, e neste Decreto, no prazo de seis meses, contado da data da

publicação deste Decreto."

Em tópicos anteriores neste estudo, falou-se do Sistema de

Inovação e teorias que explicam esta relação entre Universidade-

Empresa. É neste ponto que o NIT se torna um agente importante. Estes

núcleos de inovação ou agências de inovação têm um papel fundamental

como intermediador nas relações U-E, buscando dinamizar e equalizar a

linguagem entre os pesquisadores e os empresários, pois, conhecem bem

a instituição e seus processos e, ao mesmo tempo, devem ter uma visão

mais empreendedora para conduzir uma intermediação. A criação destes

núcleos e suas competências encontram dispostas no Artigo 16 da Lei nº

10.973/2004 e no artigo 17 do Decreto 5.563/2005. De forma resumida,

pode-se dizer que o objetivo principal de um NIT é intermediar estas

relações de transferência de tecnologia, através de parcerias, bem como,

buscando apoio financeiro junto aos órgãos governamentais. Pode-se

admitir que a gestão é uma ferramenta organizacional que visa velar

para que ocorra o processo contínuo e permanente desde a criação até a

disponibilização dos resultados para os terceiros interessados.

A estes órgãos a legislação dirigiu competências mínimas de

atuação, tais como: cuidar que esta política institucional seja efetiva

através da proteção das criações; licenciamento e contratos de

transferência de tecnologia; fomentar a gestão da política de inovação,

avaliando e classificando os resultados de projetos de pesquisas e

parcerias, como também, da conveniência das criações e sua proteção

intelectual; avaliar solicitação de inventor independente para adoção de

invenção; acompanhar o processamento dos pedidos e a manutenção dos

títulos de propriedade intelectual da instituição junto ao INPI.

201

Os NITs são encontrados nas universidades (públicas ou

privadas), institutos de pesquisas ou centros tecnológicos e sua estrutura

e missão dependerá da política institucional, não sendo uniforme no

país. Poderá ser encontrado como agência, escritórios, coordenadoria ou

núcleos de inovação e as ações podem variar dependendo da cultura

institucional e temática que a instituição de pesquisa se dedica, bem

como, diferenciando-se nas áreas que já possuem uma aproximação com

as indústrias ou empresas locais. Basicamente, os NITs auxiliam na

elaboração de acordos e contratos que envolvam titularidade de ativo

intelectual e transferência de tecnologia, políticas de confidencialidade,

gestão de relacionamento com os potenciais parceiros auxiliando na

identificação destes. Auxilia o pesquisador, que não tem contato com o

setor privado ou aqueles que já possuam contatos, porém, necessitem de

orientação na consecução das parcerias já iniciadas informalmente,

assessorando os profissionais com técnicas de negociação, que lhe são

próprias, e protegendo os interesses da instituição. Este órgão

intermediador busca captar recursos para realizar projetos institucionais,

através de parcerias, como também, capacitação de profissionais, seja

dentro da instituição ou para o público externo, difundindo o conceito de

inovação e formas de gerenciamento.

Logo após a publicação do marco legal, as instituições que ainda

não tinham esta política definida tiveram que se adequar e buscaram ter

um NIT próprio ou em conjunto com outra instituição, como a própria

legislação permite. Todavia, mesmo com este amparo legal e estrutural,

o desejado ambiente de inovação do Artigo 1º da Lei de Inovação não

está totalmente contemplado. Convém, pontuar estas dificuldades.

3.5.2.1 As dificuldades na Relação Universidade e Empresa (U-E)

A comunicação entre o setor público e privado denotam

problemas que ocorrem em razão dos distintos interesses, características

de cada área e questões ideológicas. Reconhece-se que as empresas e

indústrias estão na atividade empresarial para obtenção de lucro, o que é

inerente ao negócio que realizam e por isto assumem riscos. E estas

instituições privadas oferecem produtos e serviços para o mercado em

geral e devem constantemente buscar melhorias, através de tecnologias,

novos métodos, para manterem-se competitivos e na liderança. Porém,

na contramão da história, viu-se que as empresas brasileiras durante sua

evolução tiveram (ou têm) pouca cultura de inovação e um baixo nível

de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Desta forma,

202

as empresas não tiveram preocupação em instalar centros de pesquisa e

desenvolvimento no território nacional, nem com as grandes, muito

menos com as pequenas e médias empresas. Percebe-se que o setor

privado direciona o conhecimento para o lucro, e preferencialmente,

absorvem recursos humanos com formações técnicas e científicas das

instituições científicas e tecnológicas.

Nesta relação U-E, o setor privado aponta como maior entrave a

burocracia e a morosidade do setor público em tomar decisões, neste

particular, as universidades e institutos públicos. Recordando a visão de

Maximilian Carl E.Weber (WEBER, 1982),101

a burocracia seria um

tipo ideal de organização que funcionaria como um modelo de análise

sociológica e política nas pesquisas e no desenvolvimento da teoria das

organizações e também na formulação da teoria administrativa.

Portanto, não tinha esta visão pejorativa que se vê nos dias atuais porque

visava uma organização sistematizada hierarquicamente, com visível

divisão de responsabilidade em que cada atividade desempenhada e

procedimento adotado contribuísse para o funcionamento do todo. Neste

prisma, para a estrutura burocrática, seria importante ter trabalhadores,

funcionários que ganhassem salário e tivessem jornada de trabalho

estáveis (fixos), sendo escolhido por suas competências técnicas, o que

garantiria uma rapidez e racionalidade na resolução de problemas e no

desenvolvimento do trabalho (WEBER, 1982, p. 229-249). A

"burocracia" na concepção de Weber não deveria ser uma barreira ou

problema, mas, uma forma de organizar o serviço público, por exemplo,

para que este funcionasse como uma engrenagem em que todas as

atividades funcionassem de forma complementar e eficiente.

Particularmente, quanto à transferência de tecnologia, as

empresas e indústrias quando desejam manter parcerias com as ICTs

reclamam da legislação desfavorável ao licenciamento exclusivo da

tecnologia que as ICTs estão adstritas e preferem investimentos em

curto prazo. Isso dificulta esta comunicação, pois, muitas pesquisas

científicas necessitam de um prazo maior para desenvolverem inovações

radicais, rompendo conceitos, e não apenas inovações incrementais,

melhorando o que já existe. E mais, as empresas dificilmente se

101

Max Weber foi um intelectual e jurista alemão, sendo mais reconhecido

na sociologia moderna, porém, suas ideias também encontraram eco na

Economia, a Filosofia, a Ciência Política e Administração, sendo

contemporâneo.

203

interessam em investir em pesquisas que estejam em estágio inicial, uma

vez que a visão empresarial requer um imediatismo e resultados rápidos.

Inclusive, necessitam justificar para a direção da empresa seus novos

investimentos, dificultando conseguir investimentos mais vultosos para

poucos resultados efetivos. Para a academia, a relação entre

investimento em pesquisa geralmente não se traduz em produto ou

resultados, portanto, não é um contrato que obrigatoriamente deve

produzir resultados satisfatórios, o que não agrada o setor privado. Por

isso, alguns desentendimentos acontecem quanto: à profundidade do

estudo requerido, velocidade de entrega de resultados e publicações dos

resultados, o que por vezes contraria os interesses das partes, inerentes

aos acordos de cooperação e contratos entre universidades e empresas.

As universidades recebem críticas das empresas nas quais firmam

parcerias quando realiza publicações de suas pesquisas através de

artigos científicos, o que por vezes prejudica o sigilo que estas relações

requerem. Algumas empresas entendem que as universidades e

pesquisadores devem fazê-lo, porém, em tempo acertado e não podem

expor de forma aleatória, para não prejudicar os interesses do seu

parceiro, que busca prioridade e inovação para manter a competitividade

em seu ramo. Muitas empresas que possuem uma interação melhor com

as instituições de ensino e pesquisa não defendem a proibição, mas, o

momento adequado, quando estiver protegida a tecnologia, por exemplo.

Estas relações entre universidade e empresa e a gestão estratégica

do conhecimento são elementos fundamentais na melhoria da

competitividade e índices regionais mediante a captação, interiorização

e propagação do conhecimento adquirido na universidade ou instituto de

pesquisa. Compreende-se que o modelo brasileiro de universidade está

mais voltado para formação de profissionais para o mercado de trabalho,

como herança do início da educação superior no país, porém, esta

"missão" já não subsiste sozinha uma vez que as instituições estão sendo

impelidas a assumir um papel mais dinâmico para desenvolverem

pesquisas voltadas para soluções práticas da sociedade.

As universidades e institutos de pesquisas têm suas características

próprias e alguns interesses pré-estabelecidos, como produção

acadêmica e científica, o conhecido tripé (ensino, pesquisa e extensão),

presta serviços (informação, capacitação, tecnológico), formação de

capital intelectual, gerencia conhecimento pelo conhecimento, visa

transformar a sociedade e defende a autonomia e liberdade acadêmica.

Estas atividades são importantes para a pontuação em notas de

rendimento junto aos órgãos avaliadores, como quantidade de docentes

204

com títulos de mestrado e doutorado, programas de pós-graduação,

capacidade de internacionalização, publicações em revistas de renome,

inclusive internacional, número de evasão de discentes etc. São estes

interesses que por vezes conflitam com os interesses do setor privado. A

proteção da propriedade industrial, por exemplo, passou a figurar como

critério de avaliação, pelo número de patentes, marcas, cultivares entre

outros. Portanto, o contato com o setor privado, com instituições com

missões e visões diferentes, por vezes, levantam um embate no

momento da contratação ou realização de acordos. A publicação de

artigos científicos por vezes inviabiliza o patenteamento da invenção ou

modelo de utilidade, o que tem sido muito criticado. Em razão da

complexidade, a "universalidade" e gestão democrática das instituições

de ensino têm em seu interior visão diferentes que não são

compreendidas pelo parceiro externo que muitas vezes ,aponta a

ineficiência na utilização dos recursos de fomento à pesquisa. Dos

valores que são aportados e depositados, não compreendem que a

execução financeira é complexa e existe dificuldade na gestão dos

projetos de pesquisa em parceria com as empresas, possivelmente, pela

ausência de empreendedores tecnológicos ou pessoas que consigam

dialogar de forma mais coerente com o setor privado. A criação dos

Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) surgiram com a intenção de

facilitar esta interlocução, contudo, muitos destes estão em estágio

inicial de operação e ainda não atingiram a maturidade que estas

relações requerem.

Outro ponto interessante nesta relação é a propriedade intelectual

que passou a ser requerida e defendida pelas instituições de ensino. Na

verdade, até a promulgação da Lei da Inovação existiam universidades

que realizavam contratos e parcerias com o setor privado, entretanto,

não havia obrigatoriedade da apropriação destes direitos pela instituição,

cada caso era resolvido conforme a ocasião. Os contratos firmados

poderiam inclusive ter a total apropriabilidade do conhecimento gerado

pela empresa, o que as agradava muito. Era uma parceria em que as

universidades ficavam bastante satisfeitas também em ver seus

laboratórios bem equipados e com muitos estudantes bolsistas e

pesquisadores sendo financiados pelo projeto. Não se discutia sobre a

valoração dos resultados da pesquisa e transferência de tecnologia. Após

a legislação (Lei de Inovação), esta discussão passou a fazer parte da

negociação, reforçando a cláusula de propriedade intelectual e a

apropriabilidade dos resultados nesta interação U-E, que trazia um

205

patamar mais formal destas relações, direcionando o papel da

universidade no processo de inovação.

Da mesma forma, observa-se pelos dados apresentados neste

capítulo, para a academia, passaram a ser mais interessantes os contratos

de maior duração do que apenas atender demandas pontuais das

empresas, o que é positivo, tendo em vista os tipos de pesquisas a serem

desenvolvidas. Em algumas universidades (como a UFSC) por vezes

tem sido acordado que o prêmio a ser pago pela tecnologia ocorra a

partir da comercialização do produto pela empresa, não apenas com o

depósito de patente, diminuindo os conflitos e discordâncias. As

universidades também criticam o setor privado pelo seu imediatismo e

por quererem sempre ter as melhores vantagens do projeto investindo o

mínimo necessário, não respeitando o tempo e a forma de trabalhar dos

seus grupos de pesquisas. Este é um entendimento que o setor privado

necessita entender e ponderar quando for relacionar-se com as

universidades.

Através da história e evolução da universidade, é possível

compreender a "crise de identidade" ou reafirmação que as instituições,

principalmente, públicas, vivenciam, apontada por Buarque (2014) e

Boaventura (2011). Sabe-se que estas instituições tem papel primordial

e deve acompanhar as mudanças na própria sociedade, ora adequando-se

para servir a sociedade, ora as instituições participando ativamente nas

mudanças sociais e políticas. Também se demonstrou que a forma que o

país se estruturou industrialmente afetou diretamente no seu

desenvolvimento econômico e resultou no seu atraso tecnológico.

Preferiu-se aqui demonstrar as visões destes reconhecidos

estudiosos da temática de ensino superior, universidade e

desenvolvimento econômico, que em seus textos, apresentam visões

sociais, econômicas ou econômico-social que evidenciam a mudança no

papel e organização da universidade, principalmente a pública. Ela não

está adstrita aos apoiadores do capitalismo, mercantilização da educação

e se faz necessária. Há uma crise que precisa ser superada de forma

madura pelas instituições, com pensamento não apenas corporativista e

individualista, protecionista, mas, de alguma forma cooperativista (com

a sociedade) e global. Nos últimos anos, as instituições que atuam em

pesquisa têm sido questionadas a assumirem um papel proativo no

desenvolvimento econômico dos seus países, portanto, mais

empreendedoras. Há um estímulo à realização de projetos tecnológicos

com o setor empresarial, que visa favorecer o acesso aos conhecimentos

e habilidades tecnológicas dos parceiros, focando em minimizar os ricos

206

financeiros e permitir o aporte de novos recursos em outras atividades

de pesquisa. É uma forma de acelerar e superar o gap tecnológico que o

país ressente, mas não deve ser vislumbrado como único.

De outro modo, o setor empresarial não pode requerer tudo da

academia e que esta estejam a disposição dos interesses privados, uma

vez que, pelo histórico aqui apresentado este estágio de defasagem

industrial, cabe especialmente ao setor privado buscar e também investir

contundentemente em P&D e arriscar mais na inovação de produtos ou

processos. A indústria também necessita investir para superar o gap

tecnológico, recuperando o "tempo perdido" em sua letargia nos anos

1960 até 1990, em razão da política de substituição e importações. É

uma relação que deve ser sadia e de aprendizado, porém, muitas

empresas querem apenas ter a visão de ganho só para a própria empresa,

o que não é plausível.

Deve-se recordar que já havia uma fragilidade na interação entre

as universidades/institutos de pesquisas e as empresas, principalmente

quanto à cultura destas organizações. As indefinições sobre a

propriedade intelectual quanto à mobilidade de pesquisadores das ICTs

para as empresas, restrições legais e insuficiência de mecanismos de

incentivo e financiamento à pesquisa e desenvolvimento e inovação

também são questões a serem trabalhadas (KOELLER, 2009). Evaldo

Vilela (2011) afirma que a universidade pública e institutos de pesquisa

públicos brasileiros têm relevância no cenário nacional porque

concentram a maioria dos doutores do país, e, são nestas instituições que

se desenvolve, além da pesquisa científica, também a pesquisa básica,

mesmo porque, os centros de P&D no país ainda são muito incipientes.

Desta maneira, convém concentrar as discussões nas relações

entre universidades e empresas, apresentando as evidentes diferenças e

pontos de discordância. A universidade tem sua autonomia econômico-

financeira e como missão o ensino, pesquisa e extensão. Também presta

alguns serviços (informação, capacitação, tecnológicos), ocupa-se de

formar recursos humanos com alta qualidade e fazem transferência de

tecnologia. As empresas têm uma visão de lucro, oferecem produtos e

serviços para o mercado, absorvem recursos humanos, gerenciam

conhecimento para o lucro e também fazem pesquisa e

desenvolvimento, visando tecnologia para competir no mercado.

As críticas cruzadas na relação U-E e a insatisfação nas parcerias

destes dois grupos poderiam ser resumidas desta forma:

207

CRÍTICAS À

UNIVERSIDADE

CRÍTICAS À

EMPRESA

Incentivo maior à

publicação, inviabilizando o

patenteamento;

Poucos profissionais

qualificados para desenvolver a

parceria;

Ausência de empreendedores

tecnológicos, não visando o que a

indústria precisa;

Querem investir o mínimo

possível e pouco incentivo e

investimento em longo prazo;

Certa ineficiência na

utilização dos recursos de fomento

à pesquisa e má gestão de projetos

de pesquisas desenvolvidas em

parceria;

Dificuldades em

estabelecer parcerias em pesquia

conceituais e desejam parcerias

predatórias e desvantajosas para

universidade;

NITs em estágio embrionário

ou ausência de agencias/núcleos

especializados;

Querem parcerias com

licenciamento exclusivo de

tecnologia, prejudicando a

negociação;

Pouco interesse em

dinamizar a relação (burocracia).

Pouco interesse em

disseminar a inovação e

vislumbra apenas lucro.

Pode-se afirmar que com a promulgação da Lei de Inovação, as

parcerias e a relação entre estes dois setores, que já existiam, ficou um

pouco abalada, principalmente, porque a formalidade passou a ser

obrigatória. Passaram a importar nestas relações o instrumento

contratual com cláusulas precisas e com certa especificidade. Os

contratos de transferência de tecnologia são negócios jurídicos intuitu personae, que compreendem certas categorias de contratos típicos e

atípicos, que podem ser celebrados em separado, porém, geralmente são

em conjunto. Assafim (2005, p.102) define-o como "aquele através do

qual uma concedente transmite a um adquirente de direitos patrimoniais

sobre bens imateriais juridicamente protegidos, mediante imposição de

determinados limites ao seu exercício". Podem ser classificados como:

contratos de bens tecnológicos protegidos por direitos de exclusivos,

envolvendo, por exemplo, licenciamento ou transferência de patentes ou

marcas, e, contratos de bens imateriais não protegidos por direitos

exclusivos, como os de franquia know-how e assistência técnica.

Destaca-se que além das cláusulas comuns aos contratos em geral

sobre o objeto, as obrigações recíprocas, prazos, forma de extinção,

penalidades, forma de contraprestação, preço e condições de pagamento,

208

que neste caso é através de royalties, exigem cláusulas que são cruciais a

este tipo de contrato. É a partir da cláusula sobre os Direitos de

Propriedade Intelectual que estes direitos devem ser negociados, quando

já existentes, ou com previsão de direitos que poderão surgir, conforme

estabelecida a parceria, e serão regularizados, inclusive, quanto à

cotitularidade, no caso de geração de novas tecnologias ou

aperfeiçoamentos. O que se deve atentar são para as definições quanto à

manutenção deste direito, como responsabilidade sobre as despesas de

depósito, bem como taxas, anuidades, despesas de acompanhamento

dentre outras, relacionadas às patentes protegidas. Outra cláusula em

destaque é a da confidencialidade, que é crucial, já que através dela,

podem-se prever as obrigações das partes em manterem o sigilo próprio

e dos demais funcionários ou contratados (prestadores de serviços) para

proteger a patente, evitando assim, que terceiros tenham acesso a

documentos que possam prejudicar todo andamento contratual e

beneficiar indevidamente terceiros de má-fé. No que concerce à claúsula

de exclusividade, prevista no Artigo 6º da Lei de Inovação, Pimentel

(2009) afirma que os pedidos de patente originados dos convênios de

pesquisa ou parcerias realizadas entre empresas e universidades, para

aperfeiçoamento ou geração de novas tecnologias, a publicação de edital

é dispensada. Contudo, caso haja contratação contendo cláusula de

exclusividade, e que não se encaixe como dispensa, a oferta pública será

obrigatória (que atualmente deverá ser publicada em sítio eletrônico da

entidade), em consonância com o parágrafo primeiro do artigo 6°, da Lei

de Inovação. Pimentel ainda pontua que os contratos de transferência e

licenciamento de patente, por exemplo, poderão ser celebrados sem

exclusividade com as empresas interessadas, o que possibilita mais de

uma empresa produzir, comercializar, estudar e usar uma patente.

Antes da norma geral, o quadro relacional apresentava-se da

seguinte forma:

Antes da Lei de Inovação

Havia incertezas sobre o papel da universidade no processo de inovação;

As relações mais informais U-E e, pouco incentivada;

Havia ênfase na geração do conhecimento e na publicação de resultados

de pesquisa;

A ausência de preocupação com a proteção do conhecimento e PI;

A inexistência de regulação específica para a transferência de

tecnologia;

As soluções ocorriam conforme situação.

209

Todavia, com a entrada em vigor da lei, a situação modificou-se

para este quadro:

Apó a Lei de Inovação

Valoriza-se o papel das Instituições de Ciência e Tecnologia no

processo de inovação;

Institucionaliza-se e legitimam-se as atividades relacionadas à

inovação e as parcerias entre ICTs e o setor privado;

Estabelece-se a gestão da inovação por meio de núcleos especializados

(NITs);

Maior atenção à proteção da Propriedade Intelectual gerada na

instituição;

Cria necessidade de regulamentação interna sobre a gestão de

propriedade intelectual;

Maior profissionalismo nas soluções e organização dos resultados de

pesquisa e parcerias através de documentos (contratos) com cláusulas

mínimas e procedimentos internos.

Frise-se que de acordo com os dados apresentados pelos

relatórios do FORMICT, principalmente nos anos de 2014/2015, os

NITs, na sua maioria, enfrentam dificuldades orçamentárias e de

recursos humanos. Quanto às dificuldades orçamentárias, alguns núcleos

possuem uma receita mínima garantida para a execução de suas

atividades, entretanto, isto não é comum. Geralmente, necessitam estar

atentos aos editais de entidades de fomento, não existindo uma

independência ou autossuficiência orçamentária. Quanto à segunda, a

partir de 2004 (Lei de Inovação) houve uma excelente oferta de

treinamentos e qualificação, conquanto, ainda há uma escassez de

profissionais, de um lado, por exigir um conhecimento específico, sendo

poucos no mercado, e por outro lado, há uma rotatividade intensa nestes

órgãos, o que não auxilia na perpetuação do conhecimento e

procedimentos. Isto ocorre, inclusive, com os modelos mais atuantes do

país, como relata Glauco Arbix e Flávia Consoni ao comentarem sobre a

Agência Inova da Unicamp, que em 2009, tinham em seu quadro de

profissionais 52 colaboradores, apontando um quadro de fragilidade de

pessoal temporários, notadamente bolsistas, bem ainda, que o

observando o mapeamento das fontes orçamentárias da agência revela

que a sustentabilidade financeira depende, em larga medida, de recursos

externos por agências financiadoras, estando à mercê de objeto e prazo

de execução delimitados (ARBIX; CONSONI, 2011, p.219). Uma das

grandes ênfases de dificuldades encontradas também nos índices do

210

Relatório FORMICT (Formulário de Informações sobre a Política de

Propriedade Intelectual das Instituições Científicas e Tecnológicas, do

Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Secretaria de

Desenvolvimento Tecnológico e Inovação) que aponta que a maioria das

instituições ainda sofre com a escassez de pessoal e muito mais

profissionais especializados.

3.5.3 O Modelo jurídico-institucional atual da gestão de

transferência de tecnologia Para melhor avaliar a situação atual da gestão da inovação nas

universidades ou institutos de pesquisa, observam-se os dados de

relatórios recentes sobre os NITs, dados estes coletados pelo Ministério

da Ciência, Tecnologia e Inovação, através do Formulário para

Informações sobre a Política de Propriedade Intelectual das Instituições

Científicas e Tecnológicas do Brasil (FORMICT). Neste mesmo

sentido, a pesquisa recente da Universidade de Cambridge publicado em

2014 (com apoio da Inova Campinas) aponta que ainda há muito que

evoluir e melhorar.

Para elucidar, a possível reflexão dos próprios NITs inicia-se com

os dados do Formulário para Informações sobre a Política de

Propriedade Intelectual das Instituições Científicas e Tecnológicas do

Brasil (FORMICT), que é disponibilizado pelo MCTI e que tem estreita

relação com o Fórum Nacional dos Gestores de Inovação e

Transferência de Tecnologia (FORTEC). O FORMICT é um formulário

que deverá ser preenchido através do endereço eletrônico,

https://www.mcti.gov.br/formict ,e, apesar de não ser obrigatório seu

preenchimento, é a maneira que os NITs encontram para cumprir os

requisitos do artigo 17 da Lei nº 10.973/2004. As ICTs prestam

informações anuais quanto sua política de propriedade intelectual, as

criações desenvolvidas no âmbito da instituição, as proteções requeridas

e concedidas e aos contratos de licenciamento ou de transferência de

tecnologia firmados ao Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação

(MCTI). Com estes dados, o MCTI elabora um relatório anual, que teve

sua primeira edição em 2006. Nota-se que os resultados não destoam

das opiniões e análises de alguns estudiosos e corroboram as

dificuldades sobre disparidade regional, estrutura, recursos humanos e

financiamento.

Salienta-se que o FORTEC é uma associação civil de direito

privado sem fins lucrativos, de duração indeterminada, como

211

representação dos responsáveis nas universidades e institutos de

pesquisa e instituições gestoras de inovação e pessoas físicas, em prol

do (melhor) gerenciamento das políticas de inovação e das atividades

relacionadas à propriedade intelectual e à transferência de tecnologia,

incluindo-se, neste conceito, os núcleos de inovação tecnológica (NITs),

agências, escritórios e congêneres. O fórum foi criado em 2006, tendo

um encontro anual que traz discussões e reflexões quanto à inovação,

propriedade intelectual e transferência de tecnologia. Com base no seu

estatuto, tem como objetivo disseminar a cultura de inovação,

auxiliando na institucionalização dos NITs, bem como, promover e

difundir as melhores práticas para estes núcleos ou "Instâncias Gestoras

de Inovação" (IGI), e, fomentar e cooperar com a capacitação, formação

e o desenvolvimento dos profissionais envolvidos. Principalmente, neste

último item, a atuação do FORTEC e sua contribuição foram

sobremaneira importantes. Na sua composição estão entidades públicas

ou privadas que mantenham ou tenham interesse em atividades de

pesquisa, desenvolvimento e inovação, como também pessoas físicas

que se dediquem à pesquisa na área.

Atentando para os dados do formulário, em relação aos contratos

de tecnologia, os dados do FORMICT (2014) demonstram que é

inegável a preferência pelos contratos de licenciamento de PI, existindo

poucos compartilhamentos, cessões de direitos ou permissões. Portanto,

das 264 instituições que preencheram o formulário no ano base de 2014,

194 são instituições públicas e 70 como instituições privadas. Sendo que

69,1% correspondem ao nível federal e 27,8% em nível estadual,

enquanto que as instituições em nível municipal, apenas 3,1%. O total

de instituições públicas foi de 73,5%, e o de instituições privadas, 26,5%

(p.10). Justifica-se este estudo e sua pertinência em focar nas

instituições públicas de ensino e pesquisa, uma vez que, conforme se

verá, estatisticamente, são estas instituições que mantêm no seu interior

a grande parte dos NITs no país. Convém destacar quais são os pontos

de conflitos e dificuldades que necessitam serem transpostas,

designadamente quanto aos resultados dos contratos de tecnologia,

questões sobre a proteção.

Compreendendo que a criação dos NITs seria uma ferramenta

para fomentar a inovação e relação com o setor privado, através de

parcerias e compartilhamentos, como já fora reafirmado neste estudo.

Quando se vislumbram os resultados, nota-se que este retorno não está

ocorrendo na velocidade esperada. Em suas respostas, os participantes

informaram que possuem política de inovação já implementada e que há

212

cooperação, através de projetos com terceiros, confidencialidade e

acordos de parcerias, sendo estas às atividades que tiveram maior

incidência nesta política de inovação. Entretanto, quando se verifica

quanto a parceria mais efetiva e simbiótica, os números demonstram que

a maioria (Total de 216, 158 instituições públicas e 58 privadas) não

firmou contratos de transferência de tecnologia. Somente 48 instituições

informaram possuir contratos firmados em 2014 (36 instituições

públicas e 12 privadas), estando às universidades federais com

expressivo número (p.34-35). Uma observação a ser feita é que apesar

dos NITs informarem que a cooperação e acordos de parcerias foram as

atividades que tiveram maior incidência, verifica-se que os contratos de

compartilhamentos e permissões, em que a lei desejou maior interação

entre os atores da inovação (ICTs e empresas), quase não são praticados.

Dos 2.171 Contratos de Tecnologia, 63,6% são contratos de

licenciamento de Direitos de Propriedade intelectual. Ficam 17,5% para

os Acordos de Parceria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação; 8,9%

para os Contratos de Know-How; 4,4% para Acordos de

confidencialidade; 3,4% para o contrato de co-titularidade; 1,2% para

contrato ou convênio de compartilhamento de laboratórios,

equipamentos, instrumentos, materiais e instalações com microempresas

e empresas de pequeno porte em atividades voltadas à inovação

tecnológica, para a consecução de atividades de incubação; 1% para

contrato ou convênio de permissão de utilização de laboratórios,

equipamentos, instrumentos, materiais e instalações por empresas

nacionais e organizações de direito privado sem fins lucrativos, voltadas

para atividades de pesquisa; e 0,4% outros. Outro ponto interessante que

chama atenção é o relato de pouquíssimos casos do art. 10 da lei, que

trata da licença sem remuneração para o pesquisador constituir

empresas, da cessão de direitos sobre a criação para exercer em seu

nome e do afastamento para prestar colaboração à outra ICT. Neste

último, apenas 0,1% é de Contrato de Cessão de Direitos de Propriedade

Intelectual, e deve se considerar que a cotitularidade não é muito

utilizada também. Isto vem se repetindo desde a primeira edição do

relatório, o que se perpetua neste último que foi publicado em 2015 (ano

base 2014). Depreende-se que não existe uma cultura empreendedora

para que estes profissionais decidam desenvolverem suas ideias e

empreendimentos. É o reflexo da forma que a carreira de docente é

estruturada, principalmente, nas instituições públicas em razão da

construção histórica.

213

Outro apontamento curioso extraído da análise do Global

Innovation Index foi que alguns países como Brasil, Chile e Estados

Unidos apresentaram um dado que apesar de suas escolas conseguirem

melhores pontuações na ciência, ainda tendem a possuir níveis mais

baixos de interesse dos alunos em ciência, o que sugere que os modos

predominantes de ensino e aprendizagem podem desenvolver

conhecimento disciplinar à custa de um mais aprofundado pelo tema ou

curiosidade, portanto, não instigativo para a pesquisa (THE GLOBAL

INNOVATION INDEX, 2014, p.79).102

Quanto à proteção dos ativos intangíveis, estando mais presente

nas instituições públicas, foram 66% (128 instituições) das instituições

no país que informaram possuírem pedidos de proteção de propriedade

intelectual requeridos ou concedidos no ano-base de 2014, outros 34%

(66 instituições) informaram que não possuem pedidos; para as privadas

inversamente, a maioria 52,9% (37 instituições) dizem não possuir

pedidos de proteção em 2014, contra 47,1% (33 instituições) que

apresentaram pedidos de proteção de propriedade intelectual (p.23).

Ainda neste item, percebe-se que há tendência para requerimento de

patentes de invenção aos tipos de pedidos de proteção requeridos

(1.284), seguidas do Programa de Computador (444), Registro de Marca

(263), Modelo de Utilidade (58), Desenho Industrial e Proteção de

Cultivar (44, cada) e Direito Autoral (apenas 03), nenhum requerimento

para Circuitos Integrados e Indicação Geográfica (FORMICT, 2014,

p.27).

Não muito distante destas conclusões, o Relatório de Pesquisa

sobre os Escritórios de Transferência de Tecnologia no Brasil, realizado

pela Universidade de Cambridge, publicado em 2014 e patrocinado pelo

Ministério das Relações Exteriores Britânico e Commonwealth, as quais

confirmaram os dados do FORMICT. Para a pesquisa, foram contatados

193 núcleos de inovação que responderam de forma voluntária.

Buscaram cobrir todas as regiões do país, através de e-mails tendo um

prazo de coleta de respostas entre janeiro e fevereiro de 2014

(Cambridge University, 2014, p. 3). Pelas respostas encaminhadas foi

possível mapear mais a região sul, sudeste e nordeste, sendo que a

região norte e centro-oeste foi pouco expressiva. Dos tópicos

102

Para consultar os dados estão disponíveis

em:<https://www.globalinnovationindex.org/content.aspx?page=gii-full-

report-2014>. Acesso em: 25 ago. 2015.

214

abordados, destacam-se: a interpretação da transferência de tecnologia e

comercialização, a integração dos NITs, estrutura dos NITs e

necessidade de mudança na legislação. Sobre transferência de tecnologia

e comercialização, conforme conclusão da pesquisa, não há uma

concordância nacional sobre qual o melhor caminho (p.5). Inicialmente,

parecia que estava focada pesadamente em patenteamento, porém, na

pesquisa não há uma escolha definida entre os entrevistados. Já quanto à

integração dos NITs (p.06), apesar de a legislação obrigar a existência

de Nits nas ICTs, isto não significou homogeneidade, seja na forma de

criação ou estrutura, uma vez que isto depende da escala e foco da

própria instituição. Mais da metade (54%) acredita que tem o apoio

necessário e financiamento, porém, aproximadamente dois terços (63%)

dos entrevistados não acreditavam que a transferência de tecnologia está

estabelecida como parte da estratégia da universidade. Há pouca

concordância, por exemplo, nas regiões sudeste e nordeste que a

constituição de novas empresas é o melhor caminho por outro lado,

metade dos NITs da região Sul concordam que spin-out103

é a melhor

maneira de transferir uma tecnologia. Sobre as patentes, notou-se que

cada região tem um nível muito diferente de apoio para as patentes,

sendo que somente 20% do Nordeste entendem que é crítico para o

desenvolvimento do trabalho, contra 50% no Sudeste e 75% no Sul

(p.11). Quanto à capacitação e habilidades para gerir o processo de

transferência de tecnologia, o Nordeste obteve a mais franzina resposta,

com apenas 20% que acreditam que tenham habilidades comerciais e

legais e ninguém respondeu que teria habilidade técnica necessária,

enquanto o Sudeste é muito mais confiante sobre suas habilidades legais

(60% concordam), entretanto, esta região tem a menor pontuação na

realização de acordos em habilidades comerciais e é a segunda em

competências técnicas, sendo que somente 20% concorda que tenham

competências técnicas necessárias (p.11-12). Sobre financiamentos,

identificou-se que existe uma fraca cultura de investimento de empresas

"anjos", bem como, sobre investimentos de capital de risco no país que

não ficou muito clara. Sobre a legislação voltada para inovação, foi

questionado se as instituições concordam que a lei funciona (bem) e não

precisam de mudanças. As respostas demonstraram que 75% não

103

Um tipo de reestruturação societária que ocorre quando uma corporação

se divide para formar uma nova corporação em que a empresa-mãe pode ter

uma participaçãono capital daempresa recém-formada.

215

concordam com esta afirmação, o que indica que um grande corpo de

profissionais que trabalha com a transferência de tecnologia não acredita

que o atual quadro jurídico está a trabalhar de forma eficaz (p.09). Este

é o ponto relacionado ao quadro jurídico institucional e sua influência na

desenvoltura dos NITs.

Sobre a legislação aplicável e estrutura dos NITs nas

universidades e a influência no seu desempenho, ressalta-se que ainda

não houve estudo direcionado. Contudo, vale-se do estudo apresentado

sobre os "Modelos Institucionais das Organizações de Pesquisa"

publicado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), em

2010, que não destoa da realidade dos NITs. Este estudo identificou 17

tipos de estatutos jurídicos destas organizações e admitiram que as

diferentes formas de organização jurídico-institucional podem interferir

em diferentes maneiras nestas organizações, influenciado o grau de

autonomia, tanto nas questões contratuais, gestão de recursos humanos,

composição de receitas orçamentárias e financeiras, bem como, nos

aspectos políticos-institucionais. A relação deste estudo com as

universidades, que expressamente foram excluídas, é historica,

inclusive, reconhece que muitas destas Organizações de Pesquisa (OPS)

são spin offs das universidades. A classificação apresentada abarca

forrmas jurídicas também adotadas pelas universidades brasileiras,

principalmente, quanto à administração pública indireta (fundações e

autarquias), que, por conseguinte também sofrem as mesmas

adversidades. Dessa forma, os tipos de institutos encontrados nos

grandes grupos estão distribuídos (dentro da estrutura federal) em:

administração pública direta, autarquia/fundação pública/órgãos

autônomos; fundação (estadual) de direito privado; organização social;

empresa pública; sociedade de economia mista (tesouro maior) e

sociedade de economia mista (tesouro menor). Conjugando os dados, os

pesquisadores indicaram duas determinantes importantes que influencia

o desempenho das OPs como: o modelo jurídico-institucional e as

influências polítco-mandatórias, que acabam por definirem o modelo

gerencial. À vista disso, as competências internas e os modelos

gerenciais adotados pelas organizações de pesquisa podem fazer com

que a interferência da estrutura jurídica e a ingerência política avancem

ou recuem sobre a autonomia da entidade, variando o grau de

flexibilidade interna (CGEE, 2010, p. 18- 21, 39).

Corroborando o que já fora mencionado, estes Núcleos de

Inovação Tecnológica foram, em sua maioria, constituídos nas ICTs

pela obrigatoriedade da Lei de Inovação a partir de 2004, impondo-lhes

216

a função de gerir e manter a política institucional de inovação e

principalmente, a transferência de tecnologia e a propriedade intelectual.

Com esta década de experiência, pode-se afirmar que o país está

formulando uma história diferente sobre inovação quando se compara

com as décadas anteriores, ao menos nas ICTs (públicas ou privadas)

em sua organização e formalização de políticas de inovação e

transferência de tecnologia. Todavia, apesar deste decênio, ainda se

percebe dificuldade na efetiva execução e implementação dos artigos da

própria lei, que se verá na análise da pesquisa empírica no último

capítulo. É importante então analisar não somente o que o setor privado

ou a comunidade externa que se relaciona com estes núcleos pensam,

mas também, ouvi-los internamente para entender se existe maturidade e

autoreflexão sobre problemas e soluções. Estas dificuldades ou

debilidades transparecem na coleta de dados citados e estarão presentes

nos casos estudados.

Necessita-se, portanto, sair da postura de inércia e conformismo e

avançar para uma postura mais assertiva quanto à transferência de

tecnologia, não apenas pensando em paliativos e aranjos. Sair da

posição de path losers para path finders, conforme visão de Salles-Filho

e Bonacelli (2007, p. 01; 09). Para estes autores, ao tratarem sobre as

tendências das organizações públicas de pesquisa no caso brasileiro,

existem três diferentes trajetórias que podem ser identificadas conforme

a tendência adotada pelas instituições públicas de pesquisa: os path

finders, que são as instituições que adaptaram seu ambiente original

através da introdução de uma perspectiva de inovação; os path founders,

são aquelas que iniciaram a construção de trajetória totalmente diferente

da que seguiu ao longo de décadas, com uma tentativa clara de buscar

mudanças, e, por último, os path losers (os perdedores), que são

instituições que têm experimentado grandes dificuldades na sustentação

de suas atividades, porém, ainda não tomaram medidas para mudar o

curso e para reponder ao ambiente em mudança. Esta classificação

referente aos caminhos escolhidos foi determinada pelo resultado das

decisões tomadas pelas próprias organizações. São, portanto, o reflexo

das decisões tomadas ante o desafio sobre inovação. Destarte, algumas

decidiram desenvolver e implementar novas capacidades, especialmente

para a gestão das atividades de P&D no contexto dos sistemas de

inovação (path finders). Outras, tomaram a iniciativa de fazer uma

melhor utilização do espaço de manobra que tiveram (path founders);

Ainda há aquelas que não fizeram muito e mantiveram uma atitude

passiva (path losers). Isso, analogicamente, pode-se aplicar às

217

universidades e seus núcleos de inovação, considerando que muitos

NITs já possuem mais de 10 anos de existência. Resulta na necessidade

de aprimoramento desta implementação na política de inovação

institucional. Em razão da estrutura jurídica apresentada pela legislação

de 2004, a forma encontrada para flexibilidar ou desburocratizar as

ações das instituições públicas são os serviços prestados pelas fundações

de apoio à pesquisa que exercem um papel importante na configuração

atual dos NITs. Contudo, a partir de 2016, a alteração da Lei de

Inovação permite que o próprio NIT possa configurar como fundação de

apoio, sendo uma tentativa em dar mais independência ao NIT.

218

219

4 ESTUDO DE CASO: UNIVERSIDADES DOS ESTADOS DE

MATO GROSSO E SANTA CATARINA Pesquisar sobre a universidade é debruçar sobre

a tarefa intrigante de abordar um objeto de longa

trajetória e muitos desafios. Entre eles, o de

procurar compreender fenômenos sociais,

estruturais, tecnológicos, produtivos e

organizacionais que tiveram – e têm – lugar na

história do homem, das sociedades e das suas

instituições. Tratando-se, pois, ela própria, de

uma instituição que estuda instituições,

compreendê-la significa lidar com um objeto que

procura falar sobre e para si mesmo. (FIALHO,

2005, p. 15).

4.1 Procedimentos metodológicos de pesquisa

Ao descrever sobre método, Roberto Jarry Richardson (2015, p.

23), define-o como: “um caminho ou a maneira para chegar a

determinado fim ou objetivo”. O método científico funda-se,

caracteriza-se pela escolha de procedimentos sistemáticos para

investigar ou estudar a natureza, o que origina um pensamento

científico. Richardson (2015, p. 70) ao tratar método científico afirma

também que este: “consiste em delimitar um problema, realizar

observações e interpretá-las com base nas relações encontradas

fundamentando-se, se possível, nas teorias existentes”. Da mesma

forma, Orides Mezzaroba e Cláudia Servilha Monteiro afirmam que o

método é um caminho para alcançar um objetivo, mas, para realizar os

seus objetivos conforme o caminho que se escolheu deverá, na

sequência, definir o(s) procedimento(s) técnico(s), os instrumentos que

serão adotados. E será científico o método, o caminho seguido pelo

cientista na persecução de seus resultados investigativos almejados,

desde que siga etapas para a solução do problema proposto

(MEZZAROBA; MONTEIRO, 2009, p.50, 55- 56).

No método científico é possível separá-lo em duas abordagens, a

qualitativa e a quantitativa. A abordagem qualitativa tem se dedicado à

visão empírica que busca respostas em situações concretas e no

comportamento e vida humana, como nos estudos de caso, histórias de

vida, experiências pessoais e profissionais, rotinas etc. Já a abordagem

quantitativa ocupa-se com os dados que devem ser quantificados,

através da técnica estatística, que possibilita classificação e descrição do

objeto visando sua relação de causalidade nos eventos estudados.

220

4.1.1 Métodos de Pesquisa e do Estudo de Caso

Compreende-se que existe uma dificuldade em verificar todos os

casos e fenômenos que envolvam um problema, o estudo de um caso

determinado ou múltiplos casos pode ser utilizado como um exemplo de

um todo, expressando uma realidade típica que seu estudo possa ser

aplicado em outros casos. Portanto, é possível aplicar um método para

estudos de caso que pode envolver tanto situações de estudo de um

único caso como de múltiplos casos. Para Gil (2010, p. 37) o estudo de

caso é uma modalidade de pesquisa que consiste no estudo profundo e

exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e

detalhado conhecimento. Também destaca que na atualidade, o estudo

de caso é visto como um delineamento mais adequado para realizar uma

investigação de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto

real permitindo que os investigadores foquem um “caso” e retenham

uma perspectiva holística e do mundo real, o que deve ser uma

manifestação concreta da abstração (YIN, 2015, p. 4; 36). Robert Stake

(1994) indica que: “o estudo de caso não é uma escolha metodológica,

mas uma escolha de objeto a ser estudado; nós é que escolhemos estudar

o caso”.104

E afirma que um estudo de caso é ambos, o processo de

aprender sobre o caso e o produto do nosso aprendizado (STAKE, 1994,

p. 236 - 237).

O estudo de caso, para Mezzaroba e Monteiro (2009), é uma

pesquisa monográfica (um assunto) característica da pesquisa qualitativa

que examina uma situação empiricamente verificável e não sobre o tema

geral. Desse modo, o objeto sofre um recorte metodológico radical, de

maneira que o pesquisador assume o compromisso de promover sua

análise, de forma profunda, exaustiva e extensa, portanto, examinando o

objeto sempre levando em consideração os fatores que influenciam

direta ou indiretamente na sua natureza e desenvolvimento. E o que

importa e que o caso deve existir no plano prático, histórico e que possa

ser experimentado pela percepção da realidade (MEZZAROBA et al,

2009, p. 121-123). Assim, deve-se reconhecer que o fator predominante

para a escolha da estratégia de estudo de caso em contraposição ao uso

de experimentos, levantamentos de dados, pesquisa histórica, está na

forma da pergunta de pesquisa, do controle exigido sobre eventos

comportamentais e do foco sobre acontecimentos contemporâneos ou

104

Texto original: Case study is no a methodological choice, but a choice of

object to be studied. We choose to study the case.

221

não. E uma das vantagens é que a coleta de dados é realizada a partir de

múltiplas fontes, tendo como base, documentos ou observações, relatos,

percepções e ainda a própria pesquisa quantitativa. Neste ponto, Yin

(2015, p. 45) esclarece que os estudos de caso não representam

amostras, como o faz o cientista de experimentos, bem como, não

procura casos representativos de uma população para qual deseja

generalizar seus resultados, busca na verdade, a partir de uma questão

particular possibilidade de gerar proposições teóricas a serem aplicadas

a outros casos ou situações, o que denominou de generalização

analítica105

. Desta forma, não preocupa com questões quantitativas

como na generalização estatística que necessita de representatividade.

Nas palavras de Robert Yin: O principal ponto nesta conjuntura é que você

deve tentar mirar em direção à generalização

analítica ao realizar os estudos de caso, evitando

raciocinar em termos confusos como, a

“amostragem de casos” ou o “tamanho pequeno

da amostragem de casos” como se um estudo de

caso único – ou de casos múltiplos – fosse

equivalente aos respondentes em um

levantamento [...]

De forma semelhante, mesmo se referir ao seu

caso como “amostragem intencional” pode gerar

problemas conceituais e terminológicos. Você

pode querer dizer que a proção “intencional” dos

termos reflete sua seleção de um caso que

elucidará as proporções teóricas do seu estudo de

caso. Contudo, o uso da porção de “amostragem”

dos termos ainda tem o risco de erroneamente

levar outras pessoas a pensar que o caso vem de

um universo maior ou de uma população de casos

similares maior, indesejavelmente reacendendo o

espectro da generalização estatística. A postura

mais desejável pode ser evitar remeter a qualquer

105

Para Robert Yin, a generalização analítica tem como base a

corroboração, modificação, rejeição ou, de uma forma, avanço de conceitos

teóricos que foi referido no projeto do estudo de caso, bem ainda, de novos

conceitos que surgiram com a conclusão do seu estudo de caso (2015, p.

44).

222

tipo de amostragem (intencional ou não) (YIN,

2015, p. 45).

De outro modo, para Robert E. Stake (1994, p. 240) vale

questionar o que pode ser aprendido de um caso singular e, na sua visão,

este caso poderá se relacionar com casos semelhantes ou diferentes

através das comparações do leitor. Por isso, acredita que quando a

narrativa do pesquisador proporciona oportunidade de uma experiência

vicária, possibilita leitores a alargarem as suas memórias de

acontecimentos. Então, naturalistas, casos etnográficos, em certa

medida, a experiência atual paralela, alimentando os processos mais

fundamentais da consciência e compreensão,106

é o que chamou de

generalização naturalística107

, pensando em uma reprensentatividade de

uma população estudada.

Este estudo adota também o método de estudo de caso,

especificamente quanto às instituições científicas estaduais, sendo

selecionadas as Universidades do Estado de Mato Grosso e do Estado de

Santa Catarina. Deste modo, é um estudo de caso institucional

comparado, sendo institucional, pois, investiga sobre instituições

(universidades públicas), sendo ela(s) o objeto de estudo, em uma

abordagem no tempo, espaço e nos aspectos relevantes ao caso; e

comparado, por estabeler relações comparativas entre dois ou mais casos

específicos, com a finalidade de verificar as conexões entre eles

(MEZZAROBA et al, 2009, p. 124- 127).

4.1.2 Escolha da Técnica e Instrumento de Coleta

Para Yin (2015, p. 109- 122), a forma de coletar dados poderá ser

realizada por variadas fontes de evidências destacando-se neste estudo a

entrevista, a análise documental e a observação, sendo que estes foram

os instrumentos adotados para esta pesquisa. Para realizar as entrevistas,

106

Texto original: When the researcher’s narrative provides opportunity for

vicarious experience, readers extend their memories of happenings.

Naturalistic, ethnographic case materials, to some extent, parallel actual

experience, feeding into the most fundamental processes of awareness and

understanding. 107

Sobre as posições de Robert Yin e Robert Stake ressalta-se artigo de

Alda Judith Alvez-Mazzotti, Usos e Abusos dos Estudos de Caso, in

Caderno de Pesquisa, v. 36, n. 129, p. 637-651, set./dez.2006.

223

foi preparado um roteiro, constante no apêndice, em que foram

elaboradas perguntas abertas e não estruturadas permitindo ao

entrevistado que tivesse maior liberdade em transmitir a realidade que

percebe a sua volta, o que contribuiu para a investigação. Apesar de

existirem questões previamente definidas, houve a possibilidade de

inclusão de outras questões na condução das respostas ao problema de

pesquisa, tendo como base a literatura abordada no estudo nos capítulos

iniciais. As entrevistas foram realizadas pessoalmente nos meses de

outubro e novembro de 2015 com os agentes que exerciam atividades

junto ao NIT na UNEMAT, a Coordenadoria de Projetos e Inovação e o

Núcleo de Apoio à Inovação Tecnológica e Captação de Recursos

Externos (NITEC) na UDESC. Na UNEMAT foram entrevistas 2

agentes de inovação que exerciam suas atividades no período da

pesquisa (Diretor e Supervisor) do NIT; na UDESC foi entrevistada a

Coodernadora de Projetos e Inovação e os docentes que estiverem à

frente do Núcleo de Apoio à Inovação Tecnológica (Joinville).

A observação realizada nas visitas e contato com os entrevistados

também foi um meio de coleta de dados durante visitas realizadas aos

Núcleos de Inovação. Outro meio foi à análise documental que focalizou

o histórico das universidades, contexto regional e importância de cada

uma, através de livros e revistas, informativos nos sítios eletrônicos e

matérias veiculadas e, principalmente, em documentos internos das

instituições, como regulamentos e normativas políticas.

4.1.3 Seleção dos casos

Yin (2015, p. 36-37) esclarece que o caso a ser estudado pode ser

uma pessoa, um produto ou uma instituição ou um grupo de instituições,

configurando casos múltiplos. Portanto, existe um ou mais casos em que

se poderá identificar o fenômeno a ser estudado, no qual possibilite uma

comparação e de certa forma um grau de generalização e que tenham

relação com a realidade. E estes casos escolhidos deverão preencher

requisitos como viabilidade de estudo (acesso aos dados, tempo

necessário etc), bem como princípios éticos. Acrescenta que é salutar

realizar um estudo de caso de “dois casos”, considerando que as chances

de realizar um bom estudo de caso serão melhores que ser for um caso

único (YIN, 2015, p. 67). Vale ressaltar que esta pesquisa através do

estudo de caso institucional teve como objeto duas instituições de ensino

superior, com o intuito de verificar a oportunidade das instituições

investigadas servirem de “luz empírica” sobre conceitos ou princípios

224

teóricos assumindo a forma de hipóteses e que poderão ser aplicados na

reinterpretação dos resultados de outras instituições, podendo assim,

realizar uma generalização analítica (YIN, 2015, p. 44).

A seleção das instituições que compuseram a o “caso de estudo”

ocorreu em razão do tema de estudo, problema de pesquisa e os

objetivos, bem como, sua natureza jurídica e inserção geográfica.

Assim, os critérios de elegibilidade foram:108

a) Universidade pública estadual, multicampi;

b) Universidade pública estadual que tenham núcleo de inovação

instituído;

c) Universidade pública estadual que tenha normas mínimas

internas sobre os procedimentos e organização da transferência de

conhecimento ou tecnologia;

d) Universidade pública estadual que tenha política de inovação

em implantação ou implantada e exerçam um papel de

desenvolvimento estadual;

e) Universidade pública estadual que tiveram ou tenham um

contato com empresas, principalmente, casos após a Lei de

inovação;

O critério em razão de ser universidade pública estadual

multicampi foi definido em razão de existirem poucos estudos

direcionados para estas instituições estaduais, neste aspecto, destaca-se o

reconhecido estudo de Nadia Hage Fialho (2005), com título

“Universidade Multicampi”, e o estudo realizado pelo Núcleo de

Pesquisa sobre Ensino Superior (NUPES) em 1998,109

pela

Universidade de São Paulo que tratou sobre a formação e atuação destas

Instituições de Ensino Superior (IES). Contudo, pouco se encontra sobre

a aplicação da política de inovação no país e nos Estados, o que

pressupõe um ineditismo, já que a maioria dos estudos volta-se para as

108

As observações e experiências desta autora quanto às atividades e

funcionamento de uma universidade pública estadual, somadas às

facilidades de acesso a documentos e disponibilidade dos profissionais em

participar dos estudos, foram fatores que complementaram a escolha das

instituições como caso. 109

O estudo foi um projeto financiado pela Secretaria de Ensino Superior do

Ministério da Educação e do Desporto. Os dados das universidades referem-

se ao ano de 1995. As informações foram coletadas, pelo NUPES, entre

novembro de 1996 e abril de 1997.

225

universidades federais, ou aquelas que mesmo sendo estadual, já foram

bastante estudadas e já possuem uma política de inovação consolidada,

como a UNICAMP. A institucionalização de um Núcleo de Inovação

Tecnológica (NIT) é relevante em razão de que é através deste órgão

que as universidades passaram a aprimorar e administrar os projetos e

contratos que envolvam inovação e Propriedade Intelectual, sendo

constituído formalmente em consonância com a Lei de Inovação. As

regras mínimas sobre a transferência de conhecimento e tecnologia e

políticas institucionais podem demonstrar os reais reflexos do

direcionamento da legislação e política nacional sobre inovação e

comprovar se a realidade está refletindo os documentos institucionais. O

interesse e foco em manter a relação U-E é crucial, pois configura o

objetivo do trabalho. Dentro dos critérios de ilegibilidade acima

apresentados, as universidades selecionadas foram a Universidade do

Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e a Universidade do Estado de

Santa Catarina (UDESC) que também somam na sua trajetório a missão

desenvolvimentista e inserção regional, contribuindo também a

proximidade da pesquisadora com o objeto de pequisa.

4.2 As universidades estaduais e seu contexto

As universidades estaduais integram o sistema de ensino superior

no país, contudo, seu financiamento está adstrito aos repasses do Estado

onde está inserida e em alguns editais ou ações específicas da União.

Estas universidades encontram-se entre o dilema de serem estaduais no

financiamento, porém, impelidas a ter a mesma qualidade encontrada

nas universidades federais que são financiadas pela União. Nádia Fialho

destaca que a situação das universidades estaduais é no mínimo

paradoxal, já que, tendo ou não o apoio governamental (estadual ou

federal) incidem os mesmos padrões acadêmicos de qualificação

institucional. E ainda, o que realmente existe no país é um sistema

federal e não nacional de educação superior, denotando a valorização às

universidades do sistema federal (FIALHO, 2011, p. 6). Importante

salientar que muitas universidades federais também surgiram de

iniciativas dos Estados e que ao longo de sua atuação foram assumidas

pelo governo federal.

Cumpre comentar que as universidades federais surgiram de duas

formas, seja pelo desmembramento ou agregação de estabelecimentos

públicos (federais, estaduais ou municipais), seja pela inauguração de

novos estabelecimentos. Através das leis que as instituíram, cada

226

universidade federal brasileira, das 37 universidades criadas entre 1920

e 1986, apenas duas se constituíram puramente do início, da “estaca

zero”, nominalmente a Universidade de Brasília e a de Rondônia e,

quatro da transformação de instituições públicas (Federal de Viçosa,

Federal do Acre, Federal do Mato Grosso do Sul, Federal do Rio de

Janeiro), sendo que todas as demais resultaram da transformação de

instituições privadas, ou de um conjunto de estabelecimentos privados e

públicos, em universidade sob a forma de autarquia ou de fundação

pública federal (COSTA, 2014, p. 200). Federalizaram-se, por exemplo,

A Universidade do Rio Grande do Sul (1950), de Minas Gerais (1949),

da Bahia (1950), do Paraná (1951) entre outras (SAVIANI, 2010, p. 6-

7). E àquelas que estavam sob o domínio de governos locais como a

Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a Universidade Federal

do Acre, que foram iniciativas estaduais e se federalizaram em 1960 e

1974, respectivamente. Esta mudança de comando das instituições de

ensino ocorreu no final da década de 40 e durante as seguintes (50, 60 e

70) e foi descrito como fenômeno da “federalização” das

universidades110

. Este foi o processo histórico de expansão de

instituições de ensino superior e significou a avocação pelo governo

federal de algumas universidades locais, estaduais e privadas

(SAVIANI, 2010, p. 6). Patrícia Cláudia da Costa (2014, p. 192) definiu

a federalização como um processo de aglutinação de escolas, faculdades

ou institutos isolados que passam a integrar uma unidade

institucionalizada como universidade, administrada por uma reitoria

comum ou de criação de uma nova instituição, sendo que neste caso

pode ser resultado de aglutinação acrescida de criação de novos cursos e

campi, sob a administração do governo federal. Cunha em sua obra

"Universidade Temporã" (2000, p. 172) afirma que o populismo e o

desenvolvimentismo foram fatores condicionantes da federalização que

era tida como um ideal de garantia da excelência institucional a partir

dos anos de 1950. O processo de federalização foi marcante para a

criação da maioria das universidades federais consolidadas atualmente e

do aumento da oferta do ensino superior gratuito. Deve-se observar que

as universidades estaduais, ou melhor, as instituições de ensino

estaduais surgiram antes mesmo das universidades federais. Aqui se

110

Um estudo mais detalhado poderá ser encontrado na Dissertação de

Mestrado de Isamara Martins Vasconcelos com o título: A federalização do

ensino superior no Brasil, UnB, 2007.

227

buscará fazer uma perfunctória contextualização das universidades

públicas estaduais, uma vez que se verifica que na maioria dos relatos e

estudos sobre universidade no Brasil, trata com maior cuidado das

universidades federais, com discussões específicas de universidades

estaduais que são destaques nacionais como as encontradas em São

Paulo, o que não se deseja repetir neste estudo.

De acordo com as estatísticas do Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), tratadas no censo

publicado em 2015 (referência ao ano de 2013) no universo de

universidades públicas no país, as universidades estaduais são

representadas com 119 unidades (campi), suplantando o número das

universidades federais (106) e municipais (76), estando distribuídas em

todas as regiões do país (INEP, 2015). Destacando-se que os Estados de

Paraná, Bahia, Ceará e São Paulo são os estados que mais concentrar

universidades estaduais: o primeiro tem 7 universidades (UEL, UEM,

UEPG, UNIOESTE, UNICENTRO, UENP e UNESPAR) 111

, o segundo

4 universidades (UEFS, UESB, UNEV E UESC)112

e o terceiro e

quanto com 3 universidades (São Paulo: UNICAMP, USP, UNESP) 113

e

(Ceará: UECE, UVA/CE E URC)114

.

Vale ressaltar que entre as peculiaridades das universidades

estaduais está o seu modelo de constituição e natureza jurídica. Muitas

destas universidades estaduais foram constituídas como fundação ou

autarquia estadual com regime especial e com dotação orçamentária

própria, mantidas pelo Estado ou por repasses da Secretaria de Estado de

Educação ou de Ciência e Tecnologia que estão vinculadas. As decisões

de suas políticas dependem também do Conselho Estadual (Educação ou

Ciência e Tecnologia). Contudo, é possível encontrar universidades com

111

Universidade Estadual de Londrina, Universidade Estadual de Maringá,

Universidade Estadual de Ponta Grossa, Universidade Estadual do Oeste do

Paraná, Universidade Estadual do Centro-Oeste, Universidade Estadual do

Norte do Paraná e Universidade Estadual do Paraná. 112

Universidade Estadual de Feira de Santana, Universidade Estadual do

Sudoeste da Bahia, Universidade do Estado da Bahia e Universidade

Estadual de Santa Cruz. 113

Universidade de Campinas, Universidade de São Paulo e Universidade

Estadual Paulista- Julio de Mesquita Filho. 114

Universidade Estadual do Ceará, Universidade Estadual Vale do Acaraú,

Universidade Regional do Cariri.

228

uma constituição diversa, como é o caso da UNITINS (Universidade de

Tocantis) que mesmo se intitulando universidade estadual, tem

personalidade de direito público privado, o que indica que estas

universidades possuem algumas peculiaridades diferentes das federais

que merecem atenção.

4.2.1 Universidade estudada: UNEMAT

A Unemat foi criada inicialmente como o Instituto de Ensino

Superior de Cáceres (IESC), em 20 de Julho de 1978, como uma

entidade autárquica municipal, mantendo a visão de ter nascido “no

interior para o interior”, já que a Universidade Federal concentrou-se

muitos anos na capital do Estado. Através do Decreto Federal 89.719, de

30 de maio de 1984, foi autorizado o funcionamento dos cursos

ministrados pelo IESC. Em 1985, com a Lei Estadual 4.960, de 19 de

dezembro, o Poder Executivo institui a Fundação Centro Universitário

de Cáceres (FUCUC), entidade fundacional, autônoma, vinculada à

Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Mato Grosso, com

intuito de promover a pesquisa e o estudo dos diferentes ramos do saber

e a divulgação científica, técnica e cultural. Posteriormente, sofreu

alterações nos anos 1989 (Fundação Centro de Ensino Superior) e 1992

(Fundação de Ensino Superior de Mato Grosso - FESMAT). Houve a

expansão da instituição para outras regiões do Estado de Mato Grosso

ocorre na década de1990, quando há a abertura dos núcleos fora de sede

(Cáceres), nos municípios de Sinop (1990); Alta Floresta, Alto

Araguaia, Nova Xavantina, Pontes e Lacerda e Luciara (todos em 1991);

Barra do Bugres e Colíder em (ambos 1994), Tangará da Serra (1995);

Juara (1999). Mas, através da Lei Complementar 30, de 15 de dezembro

de 1993, que foi instituída a Universidade do Estado de Mato Grosso

(Unemat), com natureza jurídica de fundação, o que possibilitou

transformar os núcleos pedagógicos criados em campi universitários.

Recentemente, no ano de 2013, a Unemat pode encampar novos cursos

que eram oferecidos por universidade privada e municipal aumentando

seu número de campi para 13, agregando os cursos de graduação da

Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas de Diamantino (Uned) e da

Uninova (União do Ensino Superior de Nova Mutum), do município de

Nova Mutum.

A universidade tem uma atuação marcante em Mato Grosso, já

que mantém além dos campi citados, 10 Núcleos Pedagógicos e 18

Pólos Educacionais de Ensino a Distância visando atender as demandas

229

específicas do Estado. A universidade tem como trabalho pioneiro a

nível nacional e internacional a Educação Indígena com cursos de

licenciaturas direcionados e diferenciados para mais de 30 etnias.

4.2.1.1 Histórico e estrutura jurídico-institucional

O Estado de Mato Grosso é conhecido pela sua vocação agrícola

e extrativista, sendo consagrado como grande exportador de soja e carne

bovina. Albues e Heinzmann (2012) destacam como atores de inovação

do estado, na área de pesquisa e desenvolvimento: a Universidade

Federal de Mato Grosso (UFMT), Universidade do Estado de Mato

Grosso, Instituto Federal de Mato Grosso, com seus respectivos núcleos

de inovação, bem como, o Centro de Pesquisa Agropecuária de Mato

Grosso (CPA/MT), EMBRAPA AGROPASTORIL; apoio e fomento da

Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e Inovação (SECITECI), a

Agência Regional de Inovação, vinculada ao Instituto Nacional de

Tecnologia (INT), Fundação de Amparo a Pesquisa no estado de Mato

Grosso (FAPEMAT), Fundação MT, SEBRAE/MT, Federação das

Indústrias (FIEMT) e o Núcleo Mato-grossense de Inovação. Desta

forma, parte-se do pressuposto que existe um Sistema Regional de

Inovação, com base na legislação estadual de inovação.

A ciência e tecnologia tiveram sua maior expressão no cenário

estadual a partir de 2001, com a criação da Secretaria de Estado de

Ciência, Tecnologia e Educação Superior – SECITES (atualmente

SECITECI-Secretaria de Estado de Ciência, Tenologia e Inovação),

através da Lei Complementar nº 96 em 12 de dezembro de 2001, com

objetivo de fomentar políticas de desenvolvimento científico e

tecnológico em setores estratégicos para o desenvolvimento sustentável

e duradouro do Estado. A criação da secretaria teve como base o Plano

de Ciência e Tecnologia que continha entre seus objetivos, diretrizes e

estratégias para culminar no delineamento de programas de apoio às

pesquisas em áreas temáticas, capacitação de recursos humanos e

programas de incentivos fiscais visando à criação de fundos para o

desenvolvimento tecnológico e a inovação.

Com o advento da Lei Complementar Estadual nº 297/2008, o

Estado declarou seu compromisso em desenvolver a autonomia

tecnológica, capacitação e o desenvolvimento do Estado em

cumprimento dos artigos 352 e 353 da Constituição Estadual e ainda,

priorizar as regiões menos desenvolvidas na sua extensão territorial. Em

Mato Grosso, o setor industrial tem pouca expressividade quando

230

comparado com o setor agrícola-produtor, contudo, há uma aproximação

destes setores sendo possível trazer inovação na agroindústria. Mas, o

desafio está em alcançar empresas de pequeno e médio porte para

possibilitar o aumento na produção agro-industrial. A vocação principal

da Lei Estadual de Inovação é priorizar as regiões menos desenvolvidas

do Estado, assim as instituições de ensino públicas, Universidade do

Estado de Mato Grosso, Universidade Federal de Mato Grosso e

Instituto Federal de Mato Grosso, através de suas estruturas e oferta de

cursos nas regiões mais longínquas e podem atender às possíveis

parcerias a serem desenvolvidas no campo científico e tecnológico.

Neste contexto, uma cultura de inovação é fundamental na construção

do conhecimento e a inovação tecnológica e que passa ser uma mola

propulsora nas políticas de desenvolvimento. Deve-se também enfatizar

que existem papeis distintos e relevantes que são desempenhados pelos

atores responsáveis por fomentar a inovação. Estes atores, como

academia e governo, têm como escopo servir de suporte estrutural e

financeiro para as empresas que também exercem seu papel no

desenvolvimento de novas ideias e ações que possam contribuir para o

desenvolvimento regional. E neste ponto, a Universidade do Estado de

Mato Grosso como uma universidade que nasceu dos anseios do Estado

em formar seus cidadãos e ainda por sua forma multicampi, (atualmente

13 campi) tem demonstrado uma maior inserção nestas localidades mais

longínquas.

4.2.1.2 Políticas e regras internas para a inovação na UNEMAT

A Política de Inovação da universidade está calcada internamente

na Resolução nº 080/2008(Ad Referendum) do CONEPE. Apesar da

instituição não explicitar a inovação como uma missão da universidade,

na Resolução nº 001/2010 (Estatuto da Instituição), do Conselho

Curador, logo no artigo 2º, que prevê a multidimensionalidade do

conhecimento humano nos campos científico, tecnológico, filosófico,

político, social, ecológico e cultural. E ainda no artigo 3º, XII, visa

promover e fortalecer a ciência, a tecnologia, a cultura, a arte, as

manifestações da cultura corporal e o lazer.

A Resolução nº 080/2008 – Ad Referendum do Conselho de

Ensino e Pesquisa (CONEPE)- é a regulamentação interna sobre os

incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente

produtivo e a proteção da Propriedade Intelectual na instituição (art.11).

A resolução traz regras gerais que representam a Lei de Inovação

231

(2004), todavia, em alguns artigos a resolução apresentou uma

flexibilidade maior, admitindo, por exemplo, que a titularidade do

direito de propriedade intelectual poderá ser de outra instituição ou

empresa após parecer favorável do NIT e aprovação no Conselho de

Ensino e Pesquisa. Existe ainda a tentativa de tramitação de um

Regimento Interno do NIT que dimensiona especificamente as

atividades e ações do núcleo, possibilitando maior autonomia e inserção

nos procedimentos, porém, as dicussões têm se pautado com certa

cautela, o que retarda sua aprovação.

4.2.1.3 Estrutura de gestão para inovação (NIT)

O Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da Universidade do

Estado de Mato Grosso (UNEMAT) teve sua criação no ano de 2008,

através da Resolução 015/2008 - CONSUNI e regulamentado no mesmo

ano pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONEPE), por

meio da Resolução 080/2008 Ad Referendum do CONEPE,

(homologada pela Resolução 098/2008). Sua criação formal ocorreu em

observância à Lei de Inovação de 2004, com o intuito de estabelecer

incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente

produtivo e a proteção da PI na UNEMAT. Sua estrutura está vinculada

à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG). A instituição do

NIT teve (tem) como objetivo a realização da gestão da propriedade

intelectual da UNEMAT e promover o intercâmbio entre a instituição e

os setores produtivos do Estado de Mato Grosso para a transferência de

tecnologia. E ainda como missão, promover o desenvolvimento

científico é tecnológico da UNEMAT e do seu entorno com incentivo à

inovação e a transferência de tecnologia com a integração

Universidade/Empresa/Sociedade. As principais competências do

núcleo estão previstas no artigo 6º da Resolução citada, sendo elas: Art. 6º Compete ao NIT da UNEMAT:

I. Zelar pela manutenção da política institucional

de estímulo à proteção das criações, à inovação,

ao licenciamento e outras formas de transferência

de tecnologia;

II. Avaliar e classificar os resultados decorrentes

de atividades e projetos de pesquisa para o

atendimento das disposições da Lei 10.973/2004;

III. Avaliar solicitação de inventor independente

para adoção de invenção na forma do art. 22 da

Lei 10.973/2004;

232

IV. Opinar pela conveniência e promover a

proteção das criações desenvolvidas no âmbito da

UNEMAT;

V. Opinar quanto à conveniência de divulgação

das criações desenvolvidas no âmbito da

UNEMAT, passíveis de proteção intelectual;

VI. Acompanhar o processamento dos pedidos e a

manutenção dos títulos de propriedade intelectual

da UNEMAT;

VII. Identificar e incentivar, na sociedade, as

oportunidades de realização de projetos de

inovação que poderão ser executados em parceria

com a UNEMAT;

VIII. Opinar quanto à celebração dos contratos e

convênios objeto da Lei 10.973/2004 e que

incluam cláusulas de propriedade intelectual;

IX. Divulgar os resultados obtidos com os

projetos de inovação desenvolvidos no âmbito da

UNEMAT, resguardado o dever de sigilo previsto

em contratos, convênios ou termos firmados pela

UNEMAT ou seus servidores.

X. Emitir parecer, antes da manifestação da

procuradoria jurídica competente, sobre os

contratos previstos no inciso VIII deste artigo,

acordos e termos de sigilo vinculado à pesquisa.

Verifica-se que nas competências definidas a instituição

manifestou interesse em deter um controle sobre as criações intelectuais

pertencentes à universidade, na realização de projetos e contratos, bem

ainda, sobre os direitos de propriedade intelectual. Contudo, uma crítica

deve ser levantada quando estas competências forem mais opinativas do

que vinculadas, não afirmando a autonomia do núcleo que poderia ter

uma postura mais decisiva nos processos de inovação. Acredita-se que

por meio das alterações da própria Lei de Inovação, estas competências

deverão ser reavaliadas.

4.2.2 Universidade estudada: UDESC

O marco de sua criação da Universidade do Estado de Santa

Catarina (UDESC) foi o ano de 1965, através do Decreto Estadual nº

2082/1965. Antes da criação propriamente na roupagem de

universidade, já existiam algumas faculdades, como a Faculdade de

233

Engenharia de Joinville (FEJ), em 1956, através da Lei 1.520 e que já

está em funcionamento desde 1965. A faculdade de Educação (FAED),

pela Lei Estadual nº 3.191/63 (que iniciou as atividades em 1964)

compondo o Instituto Estadual de Educação (artigo 173 e 174), a

Fundação Escola Superior da Administração e Gerência (FESAG),

através da Lei Estadual nº 3.530/64. A Lei Estadual nº 3.191/63, que

dispôs sobre o Sistema Estadual de Ensino do Estado, da mesma forma,

autorizou a criação da Fundação Educacional de Santa Catarina (FESC),

com personalidade jurídica privada, nas Disposições Especiais,

disciplinando sua organização nos artigos 190 a 205. Também a

Faculdade de Educação (FAED) e o Centro de Estudos e Pesquisas

Educacionais (CEPE). O ano de 1965 (maio) foi marcado pela outorga

do Decreto Estadual nº 2.802/1965, que possibilitou a Fundação

Educacional de Santa Catarina a constituição da Universidade para o

Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (UDESC) e definiu sua

estrutura e forma, com a junção da Faculdade de Agronomia e de

Veterinária de Lages e a incorporação das instituições de ensino

superiores já existentes, no caso, as citadas FEJ, FAED e FESAG

(ESAG). Destaca-se que a FESC foi criada como fundação privada

sendo uma entidade autônoma que adquiririu personalidade jurídica a

partir de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do seu ato constitutivo

(art. 2º), como mantenedora da UDESC (art. 3º). Neste mesmo ano, em

novembro, o Decreto Estadual nº 3.354, aprova o primeiro Estatuto da

Universidade. Outro importante marco da universidade foi seu

reconhecimento pelo Ministério da Educação (MEC), através da Portaria

nº 893/1985, com base no Parecer do Conselho Federal de Educação nº

632/85. Este reconhecimento conferiu uma autonomia didático-

científica, saindo da autonomia assistida junto à FESC dos seus

primeiros 20 anos de existência.

Acompanhando a visão política trazida pela Constituição Federal

de 1988, o Estado de Santa Catarina promulga no ano seguinte a

Constituição Estadual que determinou a autonomia da UDESC por meio

da criação da Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina, no

artigo 39 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:

Art.39 - Para garantir a autonomia estabelecida no

art. 169 da Constituição, a Universidade do

Estado de Santa Catarina - UDESC - será

organizada sob a forma de fundação pública

mantida pelo Estado, devendo seus recursos ser

repassados em duodécimos.

234

Parágrafo único. Ato do Chefe do Poder

Executivo, no prazo de trinta dias, de signará

comissão específica destinada a elaborar os atos

constitutivos, através de escritura pública, e a

efetuar levantamento dos bens, direitos e

obrigações que deverão ser incorporados ao

patrimônio da fundação, bem como dos servidores

da Fundação Educacional de Santa Catarina –

FESC -, que serão absorvidos.

Já em outubro de 1990, foi sancionada a Lei Estadual nº 8.092 em

que a “Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa

Catarina” é transformada em “Fundação Universidade do Estado de

Santa Catarina”, mantendo a sigla UDESC, passando a ser uma

fundação pública mantida pelo Estado, conforme disciplinou a

Constituição Estadual e texto acima descrito. Com estas alterações

trazidas pela Constituição e lei stadual houve impacto quanto à adoção

da manutenção da universidade e ainda o regime dos seus servidores.

Quanto à manutenção, extinguiu-se a cobrança de anuidade dos alunos,

passando a ser gratuita e pública; quanto ao regime dos servidores,

deixou de ser regido pelas Leis do Trabalho (CLT) e passou a ser pelo

Regime Estatutário do Estado. E ainda, a partir de 1990 a gestão

administrativa passou a ser escolhida através de eleição, não mais sendo

dividida entre Reitores da UDESC e Superintendente da FESC, sendo o

Reitor eleito pelos votos da comunidade acadêmica.

Ressalta-se que no ano de 2015, a UDESC celebrou seu jubileu

de ouro, marcando a história da Educação Superior do Estado com seus

50 anos. Muitas destas informações também foram coletadas através da

publicação da revista comemorativa (UDESC 50 Anos - Formar para

Transformar) editada e disponibilizada pela própria instituição115

.

4.2.2.1 Histórico e estrutura jurídico-institucional

O Estado de Santa Catarina apesar de ser o menor Estado em

extensão na região sul do país é um dos mais competitivos. Conforme o

Indíce de Desnvolvimento dos Municípios (IFDM) da FIRJAN

115

A revista comemorativa do Jubileu de Ouro está disponível em:

<http://www.udesc.br/agencia/arquivos/13068/files/revistaUdesc50anos_V

ERSAOCORRETA.pdf>

235

publicado em 2015, Santa Catarina ocupou o terceiro lugar no índice

geral, estando atrás apenas do Paraná e São Paulo. Este estudo baseia-se

em estatísticas públicas oficiais, disponibilizadas pelos Ministérios

do Trabalho, Educação e Saúde116

. O Estado também logrou o terceiro

lugar no ranking geral de Competitividade dos Estados Brasileiros, em

2015, conforme dados apresentados pelo Centro de Liderança Pública

em São Paulo que tem como foco a atuação de líderes públicos para

melhorar a competitividade entre os estados. Pelos indicadores avaliados

como sustentabilidade social, ambiental, eficiência da máquina públca,

educação, solidez fiscal, capital humanos, infraestrutura, segurança

pública, inovação, potencial do mercado, Santa Catarina obteve a

pontuação de 77,8, sendo que em sustentabilidade social recebeu a

maior nota 100 (de uma avaliação de 0 a 100) 117

. Ressalta-se que a

economia catarinente é diversificada e bem distribuída em diferentes

regiões dentre do Estado. Esta diversidade também é influenciada pela

geografia e clima em que se desenvolvem diferentes atividades desde

agroindústria, turismo, empresas de eletrodomésticos, indústria metal

mecânica, extrativismo, pecuária e também mais recentemente empresas

de tecnologia de informação. Esta abrangência atrai investidores de

segmentos distintos e permite que a riqueza não fique concentrada em

apenas uma área, e isto requer também uma interlocução com as

instituições de pesquisas, o que as universidades públicas como a

UDESC realiza há anos e a Universidade Federal de Santa Catarina

(UFSC) tem se expandido mais recentemente.

4.2.2.2 Políticas e regras internas para a inovação na UDESC

Entre as regras que se destacam nas normativas da UDESC,

primeiro evidencia-se a Resolução nº 090/2004. Neste momento,

abordam-se apenas disposições que se diferenciam seja numa maior

abrangência, como melhor regulamentação do que foi proposto na Lei

de Inovação. O Primeiro destaque se dá ao artigo 7º que ao tratar sobre

as criações e inovações desenvolvidas pela instituição, buscou esmiuçar

116

O estudo está disponível em :<

http://publicacoes.firjan.org.br/ifdm/2015/>. 117

Estes índices podem ser verificados no sítio eletrônico do Centro de

Liderança Pública, especificamente disponível em:

<http://www.rankingdecompetitividade.org.br/indicador/sustentabilidade-

social/sc>.

236

o conceito de criadores, incluindo pessoas que já não tenham vínculo

com a instituição, possam ter garantidos estes os recebimentos dos

ganhos econômicos, desde que comprove sua participação. Quanto ao

compartilhamento e permissão de uso dos laboratórios, a avaliação e

decisão ficam a cargo do Departamento em que a pesquisa está sendo

desenvolvida, devendo priorizar as microempresas e principalmente em

instrumento jurídico estando definidas as remunerações referentes aos

gastos de manutenção geral, infraestrutura e depreciação do laboratório.

Explica também, no artigo 12, a forma de remunerar os colaboradores

através de uma Bolsa de Estímulo à Inovação, que serão

extraorçamentários. Os valores poderão ser recebidos pelos

colaboradores da UDESC (docentes, técnicos e alunos), sendo que

estarão limitados ao valor bruto do servidor beneficiado, bem ainda, que

estas atividades executadas não poderão ser contadas como cargas-

horárias institucionais não podendo ultrapassar 20 horas. Já no artigo 13,

há previsão de destinar até 10% do valor total os recursos financeiros

para execução do projeto, para cobrir despesas operacionais e

administrativas na execução dos acordos que entre a universidade e

instituições de apoio ou agências de fomento e entidades nacionais de

direito público ou privado. Sobre o licenciamento e transferência de

tecnologia, no artigo 14, a decisão sobre exclusividade ou não,

transferência ou do licenciamento está adstrita à decisão do Reitor. No

que concerne aos ganhos econômicos estão previstos no artigo 17 e tem

sua regulamentação na Instrução Normativa nº 003/2013. Sobre a regra

de inventor independente, além do que foi previsto pela lei, a resolução

em discussão prevê que responsabilidade administrativamente, civil e

penalmente pelos prejuízos que ocorrerem em razão desta sua criação e

da não observância das normas de Propriedade Intelectual.

Outra normativa interna que merece atenção é a Instrução

Normativa nº 003/2013, que regulamenta a distribuição dos ganhos

econômicos resultantes dos Direitos de Propriedade Intelectual,

nomeadamente, patentes de invenção, modelos de utilidade, softwares,

cultivar e desenho industrial. Neste documento, a titularidade dos

Direitos de Propriedade Intelectual é da UDESC, quando desenvolvida

com recursos institucionais, meios, dados, materiais, instalações ou

equipamentos da universidade, conforme art. 2º. Há possibilidade de

compartilhar a propriedade com outras instituições, órgãos de fomento,

e outras entidades que tenham participado da atividade, desde que

previsto em instrumento jurídico próprio, explicitando a cotitularidade,

benefícios e ônus dos custos, conforme o §1º do citado artigo.

237

Também reafirma a gestão das atividades de transferência dos

Direitos de PI no artigo 3º, que abarca a análise do interesse da

instituição no depósito da patente ou pedidos de registro para outras

modalidades de PI, verificando a viabilidade econômica, interesse

social. Caso não haja interesse da instituição esta poderá ceder ao

pesquisador o direito de proteger o resultado em seu nome.

Ao ponto central da normativa, o artigo 4º e seus parágrafos

prevêem que os ganhos econômicos devem ser divididos entre a

instituição (75%), que deste percentual da instituição deverão ser

empregados 35% para o Departamento dos inventores e 40% para o

Fundo de Apoio à inovação da universidade; e os inventores (25%).

Dentro deste ponto, esta norma trouxe uma interessante disposição, em

que as despesas de depósito ou registro do Direito de Propriedade

Intelectual, excetuando o depósito nacional, os encargos periódicos de

manutenção ou encargos administrativos e judiciais deverão ser

deduzidas do valor total dos ganhos econômicos a serem distribuídos,

deixando claro que algumas despesas indicam corresponsabilidades.

4.2.2.3 Estrutura de gestão para inovação

A gestão da inovação na universidade é exercida pela

Coordenadoria de Projetos e Inovação (CIPI) que é um órgão

suplementar vinculado e subordinado à Reitoria, tendo um setor de

projetos e Escritório de Direitos Autorais. Tem como objetivo

coordenar as atividades inerentes às parcerias com instituições públicas

e privadas, inovação, transferência de tecnologia e de propriedade

intelectual, bem ainda, prospectar parcerias nos diversos segmentos com

intuito de viabilizar projetos institucionais. Ainda conta com o Núcleo

de Apoio à Inovação Tecnológica e Captação de Recursos Externos

(NITEC), em Joinville, sendo este um órgão subordinado à Direção

Geral e vinculado à Coordenadoria de Projetos e Inovação (CIPI). Este

núcleo dedica-se a apoiar a Inovação Tecnológica, visando à captação

de recursos externos, coordenando e assessorando as atividades

inerentes à inovação tecnológica, propriedade intelectual, parcerias,

convênios, captação de recursos externos e projetos de interesse da

UDESC- Joinville.

Interessante destacar que o Estado de Santa Catarina foi um dos

pioneiros também na instituição de um Sistema Estadual de Inovação,

através da Lei nº 14.328/2008 e Decreto nº 2.372/2009. A UDESC,

conforme o artigo 4º, V, da Lei de Inovação Estadual (Lei nº 14.328, de

238

15 de janeiro de 2008), integra o Sistema Estadual de Ciência,

Tecnologia e Inovação do Estado.

4.3 Análises dos casos estudados

A coleta de dados documentais e trabalho de campo ocorreu no

segundo semestre do ano de 2015, com foco em estudo de casos

múltiplos. Escolhidas duas universidades estaduais em Estados da

federação diversos, porém, com características próprias (UDESC e

UNEMAT). Conforme explanado, a pesquisa se dedicou a um estudo de

caso institucional comparado (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2009, p.

124-27), em que a análise e interpretação dos dados dos objetos de

estudo serão feitos de forma concomitante e analítica como resultado da

utilização das técnicas de pesquisa empregadas.

Na coleta de dados destacam-se a entrevista sendo elaborado um

roteiro com perguntas abertas e não estruturadas apresentadas no

apêndice. Foram utilizados também, análise documental com consulta à

notícias e instrumentos normativos das universidades e a observação nas

visitas realizadas nas entrevistas.

4.3.1 Da análise e interpretação dos dados coletados

Para a interpretação dos dados colacionados as informações

foram organizadas de forma comparativa indicando-se similaridades,

diferenças e destaques das instituições de ensino e pesquisa. As

universidades apresentam similaridades quanto à motivação de sua

criação, visando desenvolver os respectivos Estados mantenedores e

para alcançarem localidades mais distantes da capital, reafirmando sua

importância regional. Porém, quanto ao Estado de Mato Grosso, a

iniciativa ocorreu no interior do Estado e sua sede administrativa ainda

está organizada no local de origem. Já a universidade catarinense tem

sua estrutura administrativa na capital do Estado.

Quanto à gestão de inovação, a universidade do centro-oeste

apresenta apenas uma unidade do NIT em que se concentram todas as

atividades. No caso da universidade catarinense, existe uma

coordenadoria e um núcleo, que está mais próximo das empresas e

indústrias do norte do Estado. Apesar de ambas estarem inseridas em

Estados que tenham uma vocação agrícola, percebeu-se que a

universidade do sul do país tem uma predominância na área de

239

engenharia, em razão de também agregar uma concentração industrial

no norte do Estado, enquanto que do centro do país a tendência está

voltada para área ambiental e agrícola. Para ambas, a inovação é um

fator estratégico, reconhecendo que houve um avanço com a

implantação do Núcleo de Inovação Tecnológica e que a instituição

deve incentivar projetos que envolvam pesquisas com uma aplicação

mais prática para a sociedade, não se esquecendo de manter a pesquisa

básica, que atualmente é a mais frequente em ambas. A lei de inovação

foi citada como um referencial para estimular o ambiente produtivo de

inovação e que trouxe benefícios. Contudo, muito se tem a fazer com as

normas institucionais para que possibilitem a melhor aplicação e

compreensão da legislação nacional.

No que se refere às parcerias com o setor privado, estas são

consideradas como uma vantagem para as instituições, significando

aporte financeiro, geração de conhecimento, de produtos e processos,

direitos de propriedade industrial, que poderá gerar royalties quando

existir a transferência. Destacaram a troca de conhecimento, como

elemento principal, em que os pesquisadores para desenvolverem novas

tecnologias para o mercado são forçados a buscar por informações do

mercado externo. Esta interação traz um choque de realidade,

confrontando o ensino com a aplicação prática e resolução de problemas

da sociedade. Da mesma forma, os entrevistados compreenderam que é

possível que a demanda da empresa possa dar novos caminhos, novos

direcionamentos para pesquisas que estavam aguardando um foco ou

redirecionamento. Foram apontadas também as desvantagens que

podem ser externas e internas. Internas, quando os pesquisadores não

buscam informações ou não querem relatar suas pesquisas para o Núcleo

de Inovação, realizando inclusive parcerias e compartilhamento de

laboratório à revelia do NIT. Também deixam de observar normas de

proteção e formalidade sobre um possível resultado de pequisa, podendo

prejudicar os interesses institucionais. Apontaram como desvantagem

externa os interesses das empresas que não coadunam com os interesses

da instituição de pesquisa ou que as empresas buscam de forma

“predatória” tirar um proveito das instalações e profissionais da

universidade sem uma contrapartida justa e que isto não interessa em

nada a instituição. Ambas relataram que há momentos que se cria um

impasse e fica impossível um acordo, dificultando a intermediação, em

razão da forma irredutível em que as partes se comportam. Nos dois

casos, se verificou que esta relação U-E é pouco explorada e percebeu-

se que não existe um empenho no que se refere à prospecção tecnológica

240

e uma postura mais pró-ativa na política institucional, pois conforme os

relatos, a inciativa geralmente é mais pessoal (pesquisador com

proprietário ou gerente da empresa), o que transparece que a cultura de

inovação internamente precisa ser totalmente implantada, pois alguns

pesquisadores desconhecem (ou preferem não conhecer) a profundidade

e importância das atividades do NIT. De outro lado, a percepção que se

teve é que este incentivo à busca por demandas não ocorre também por

não haver uma robusta oferta de tecnologias desenvolvidas e de igual

forma, as instituições não parecem estar preparadas para uma quantidade

volumosa de pedidos de parcerias, seja em razão da necessidade de uma

melhor estruturação física e de pessoal do NIT ou de uma definição das

normas procedimentais e decisões.

Os entrevistados (agentes de inovação de cada instituição)

reconhecem que os Direitos de Propriedade Intelectual (PI) podem ser

entendidos como uma forma de garantia e afirmação da instituição, além

de ser uma forma de gerar receita. Na maioria dos casos, a propriedade é

exclusiva das universidades e a cotitularidade é bem aceita. Contudo,

quanto à possibilidade de cessão destes Direitos de Propriedade

Intelectual, numa hipótese de haver previsão legal, os respondentes

acreditam que a priori não se vislumbra esta ação como vantajosa para

universidade. Ainda sobre a PI, uma das instituições admite que exista

uma dificuldade procedimental quanto ao depósito e pagamento de

taxas, na outra instituição, isto foi parcialmente solucionado com a

contratação de uma empresa especializada, que trouxe maior

tranquilidade e segurança no seu processamento. Contudo, se verificou

também, que o quantitativo de ativos intangíveis não é ainda expressivo

e a maioria está em fase de análise no Instituto Nacional de Propriedade

Intelectual (INPI), o que diminui o ritmo da transferência de tecnologia

já que não possuem a titularidade e o bem intangível reconhecidamente

protegido.

Quanto à aplicação e pontos de atrito com a Lei de Licitação,

entre os entrevistados as opiniões se dividiram entre afirmar

contundentemente que dificultam a realização de pesquisas (UDESC),

até na possibilidade de que a lei possa ser utilizada favoravelmente

(UNEMAT). Entretanto, as críticas maiores foram quanto à necessidade

de organizar e melhorar as normas internas, inclusive procedimentais

para uma melhor atuação do NIT, dando-lhe legitimidade para agir

eficaz e eficientemente. As instituições foram uníssonas quanto a

importância de o NIT ser autônomo, apesar de que na instituição da

região Sul, reconhece que a forma de criação e vinculação diretamente

241

com a Reitoria auxilia sobremaneira neste contexto. Todavia, quando

perguntadas sobre uma futura permissão legal do NIT ser constituído de

forma independente e com personalidade jurídica própria, os

respondentes não reagiram positivamente, dividindo-se entre a total

discordância com esta possibilidade e uma opinião não esclarecida sobre

o assunto, acreditando que existam outras formas de garantir esta

autonomia.

E por fim, consentiram que as fundações de apoio pudessem ser

utilizadas como uma forma de flexibilizar algunas atividades no

processo de transferência de conhecimento e tecnologia, principalmente,

quanto aos procedimentos de aquisição de equipamentos, reagentes

entre outros. Contudo, igualmente concordam que a fundação deve estar

engajada em um efetivo apoio à universidade e sua atuação deve estar

bem definida em normas que definem esta relação com a universidade.

Abaixo foi elaborado um quadro que representa de forma

resumida os resultados e conclusões a partir das entrevistas aplicadas e

respostas dos entrevistados. Em razão de o questionário ter sito

realizado com perguntas abertas e semiestruturadas a síntese apresenta

elementos importantes que foram reforçados pelos entrevistados e que

não foi diretamente questionado, porém, e acrescentou dados e opiniões

complementares à pesquisa.

4.3.2 Quadros comparativos: análise das entrevistas

Quadro 01: Ambiente produtivo e social de Inovação:

Questões 01 a 05

Item de análise UNEMAT UDESC

Perfil da universidade

quanto à pesquisa

Predomínio de

pesquisa básica,

porém,

existindo casos

de pesquisa

aplicada;

Predomínio de

pesquisa básica,

porém, existindo

casos de pesquisa

aplicada;

Vantagens do ambiente

produtivo para a

universidade

Aproximação

com o setor

privado através

de parcerias;

Geração de

recursos para

Aproximação com

o setor privado

através de

parcerias;

Geração de

recursos para

242

universidade,

pesquisador e

NIT.

Projetos de

extensão;

universidade,

pesquisador e NIT.

Patentes;

Projetos de

extensão;

Compartilhamento e/ou

permissão de utilização

da estrutura

(laboratórios e

equipamentos)

Ocorrência

esporádica,

preferência para

pesquisas em

conjunto com a

equipe de

pesquisadores;

Ocorrência

esporádica,

preferência para

pesquisas em

conjunto com a

equipe de

pesquisadores.

Prospecção de

oportunidades pela

Universidade

Realização de

eventos com

participação das

empresas;

Projetos de

captação de

talentos de

estudantes

(FIPROATEC)

Realização de

eventos com

participação das

empresas;

Aporte financeiro Orçamento

destinado para

realizar

pagamentos de

taxas do INPI,

despesas com

viagem, para

realização de

eventos.

Não há previsão

de fundo

específico;

Não há

recebimento de

royalties;

Orçamento

executado

conforme

disponibilidade

da administração

central;

Tentativa de

institucionalizar

fundo específico;

Há recebimento

de royalties;

Estrutura do NIT Núcleo de

Inovação

Tecnológica

(NIT) é órgão

Coordenadoria de

Projetos e

Inovação (CIPI) é

órgão vinculado à

243

vinculado à Pró-

Reitoria de

Pesquisa e Pós-

graduação

(PRPPG) –

apenas 01

unidade;

Recursos

Humanos

Reduzido;

Reitoria e o NIT

está em Joinville

– 02 unidades;

Recursos

Humanos

Reduzido;

Fonte: Elaborado pela autora (2015)

Quadro 02: Relação U-E e transferência de tecnologia:

Questões 06 a 14

Item de análise UNEMAT UDESC

Parcerias mais

frequentes

Com ICTs

públicas, órgãos

públicos e

poucas parcerias

com empresas;

Com ICTs

públicas, órgãos

públicos e

parcerias com

empresas com

evidência em

Joinville

(Engenharias);

Inciativa das parcerias A iniciativa

geralmente parte

do pesquisador

que tem

interesse em

desenvolver a

pesquisa e

aplicá-la;

Da empresa

diretamente com

o docente;

Projetos

conjuntos com

órgãos públicos

e associações de

A iniciativa

geralmente parte

do pesquisador

que tem

interesse em

desenvolver a

pesquisa e

aplicá-la;

Da empresa

diretamente com

o docente;

Projetos

conjuntos com

órgãos públicos;

244

produtores,

principalmente,

na área da

agroindústria.

Benefícios das parcerias Aporte

financeiro;

Geração de

conhecimento,

produto,

processo ou

ativos

intangíveis;

Visão

empreendedora

na academia e

adequação da

pesquisa a casos

concretos;

Aporte

financeiro;

Geração de

conhecimento,

produto,

processo ou

ativos

intangíveis;

Visão

empreendedora

na academia e

adequação da

pesquisa a casos

concretos;

Dificuldades nas

parcerias

Demora nos

procedimentos e

tomada de

decisões pela

universidade

(burocracia);

Irredutibilidade

da empresa

quanto a

titularidade dos

resultados da

pesquisa;

Visão

exploratória da

empresa;

Tempo da

universidade é

diferente do

tempo da

empresa;

Demora nos

procedimentos e

tomada de

decisões pela

universidade

(burocracia);

Irredutibilidade

da empresa

quanto a

titularidade dos

resultados da

pesquisa;

Visão

exploratória da

empresa;

Tempo da

universidade é

diferente do

tempo da

empresa;

Áreas de atuação da Fármacos Engenharias;

245

universidade (própolis),

Engenharia,

Ambiental

(tecnologia) e

Social.

Gestão;

Procedimento de

Registro de Propriedade

Intelectual

Custo Elevado;

Depósitos não

concedidos;

Docentes não se

interessam em

divulgar a

pesquisa para

proteção;

É um

procedimento muito

burocrático e

demorado (tempo de

análise - backlog) e

o custo para manter

uma patente não é

muito barata, para

empresa é mais

fácil, mas para

universidades é mais

difícil, pois não quer

ter custos elevados.

Precisa de melhoras.

Titularidade dos direitos

de PI

Pedidos junto

INPI com

titularidade

exclusiva;

A cessão de

direito de PI à

empresa não

seria

interessante para

a universidade;

Pedidos junto

INPI com

titularidade

exclusiva;

A cessão de

direito de PI à

empresa já foi

cogitada em

negociação com

uma empresa,

mas não foi

concretizada;

Concessão de licença

sem remuneração

(artigo 15 da lei de

inovação)

Não ocorreu

nenhum caso;

Não ocorreu

nenhum caso

Fonte: Elaborado pela autora (2015)

246

Quadro 03: Políticas e Marco Legal para a Inovação:

questões 15 a 19

Item de análise UNEMAT UDESC

Lei de licitações e

influência no processo

de inovação

Pode trazer

vantagens se

bem utilizada;

Conflitos

ocorrem quando

das aquisições de

bens para a

pesquisa;

Procedimento

que limita a

atuação;

Conflitos

ocorrem quando

das aquisições de

bens para a

pesquisa, como

compra de

quantidades

menores;

Papel das Fundações de

Apoio

Melhor forma de

acelerar os

procedimentos,

principalmente

de compras;

A relação

necessita de

trâmites e

legislações bem

definidos e que

facilite a atuação

do NIT.

Atualmente está

suspensa a

relação entre

universidade e

fundações de

apoio (Ação do

Ministério

Público no

Estado), porém,

favorável a sua

atuação;

A relação

necessita de

trâmites e

legislações bem

definidos e que

facilite a atuação

do NIT.

Procedimentos e

legislações

internas/fluxo de

processos

UNEMAT

Resolução nº

080/2008 –

Politica de

Inovação e

criação do NIT

Fluxo de

UDESC

Resolução nº

090/2014 –

Política de

Inovação e

criação da

Coordenadoria;

247

processos ainda

necessita melhor

definição;

Fluxo de

processos ainda

necessita de

definição;

.

Gestão, autonomia dos

NITs

Autonomia

limitada em

quanto à

contratação de

pessoal, decisões

sobre políticas

de inovação, em

razão de estar

numa hierarquia

mais distante da

Reitoria;

Local de atuação

depende do

gestor do NIT;

Personalidade

Jurídica própria

do NIT, ainda

não vê

necessidade;

Autonomia

limitada quanto à

contratação de

pessoal, decisões

sobre políticas

de inovação;

Posição não

favorável que o

NIT tenha uma

personalidade

jurídica própria.

Perspectivas

Melhor Estrutura

e especialização

do NIT;

O NIT tenha

conhecimento de

todas as

informações da

instituição sobre

questões de

inovação,

aproximando o

núcleo dos

pesquisadores.

Melhor Estrutura

e especialização

do NIT;

Manuais de

transparência

para desenvolver

ações com as

empresas.

Fonte: Elaborado pela autora (2015)

248

4.4 Modelo jurídico-institucional: mudanças e alternativas

Para este estudo, parte-se do entendimento que os estatutos

jurídicos da organização, sua estrutura e política constituem parte central

do modelo institucional, bem como, os instrumentos de controle e

orientação (conselhos e outras instâncias) que influenciam na atuação da

instituição, o que denota a cultura, missão ou visão da organização.

Evidencia-se que ao iniciar a pesquisa para elaborar a tese, esta

pesquisadora questionava sobre a regra geral da universidade pública no

país, desejando inclusive discutir sobre a dicotomia público-privado,

pensando inclusive numa posição híbrida, unindo às críticas sobre a

burocracia, a estrutura pública que tanto dificulta a interlocução com o

“estranho” mundo exterior da academia. E existem casos híbridos, como

nos casos de universidades que se dizem pública, porém, assumem

personalidade jurídica de direito privado como o caso da universidade

estadual do Tocantins (UNITINS) que é uma fundação pública de

Direito Privado (Lei Estadual nº 874/96), sendo mantida pelo Estado e

por particulares (taxas de matrículas) (SAMPAIO et al, 1998, p.63).

Todavia, esta discussão além de ser “penosa” é bastante controvertida

que sustentaria uma discussão teórica, mas que não era o foco principal

desta pesquisa, que é sobre inovação, transferência de tecnologia e

conhecimento, atuação dos Núcleos de Inovação. Por conseguinte,

aprimorando a discussão esta autora preferiu adentrar no modelo

instituticional dos NITs.

Ao ser introduzida discussão sobre modelo jurídico-institucional,

afirmou-se que é através da característica organizacional de uma

instituição é possível reconhecer qual o modelo jurídico-institucional

adotado. Ressalta-se que nestas instituições de ensino e pesquisa,

existem dois aspectos que colocam determinantes importantes para seu

desenvolvimento quais sejam, o modelo jurídico-institucional e as

influências político-mandatórias. Segundo o estudo apresentado pelo

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE, 2010, p. 16), separa-se

o conceito de modelo jurídico-institucional e modelo gerencial. Explica

que o modelo jurídico-institucional é o conjunto de regras, leis e

macrodiretrizes que delimitam o espaço e as direções nas quais uma

organização pode se mover no cumprimento de sua missão.

Compreendendo, portanto, que os estatutos jurídicos da administração

pública representam a parte central do modelo institucional, bem como,

dos instrumentos de controle e orientação como os conselhos e

instâncias decisórias; do mesmo modo, para a administração privada

estão seus estatutos jurídicos (sobre sua constituição) e conselhos

249

acionários e de direção. Conquanto, o modelo gerencial está relacionado

ao conjunto de definições e características relacionadas à liderança,

governança, processos, pessoas, sistemas informacionais, gestão de

recursos (financeiros, equipamentos, instalações etc.) de uma

organização (CGEE, 2010, p. 20). Reconhece-se que a interferência do

marco legal e político/acionário/mandatório têm variações que se

traduzem em capacidade interna de organização e de adoção de modelos

gerenciais compatíveis com o modelo institucional escolhido. Desta

forma, conclui-se que as diferentes formas de organização jurídico-

institucional podem interferir em diferentes maneiras nas organizações,

influenciando o grau de autonomia para compor receitas orçamentárias e

financeiras, celebrar contratos e no gerenciamento de recursos humanos,

inclusive, nos aspectos político-institucionais (CGE, 2010, p. 40). O

estudo apresentou uma discussão sobre os modelos institucionais de

organizações de pesquisa no Brasil em que foram apontados 17 modelos

jurídicos diferentes com variação de graus de autonomia de gestão,

sendo os que tiveram maior dificuldade em agilizar contratos foram os

de administração pública direta (foco na esfera federal). Em síntese, os

institutos de pesquisas foram divididos em três grandes categorias e

esferas da administração pública (fundações e autarquias), do setor

privado (empresariais) e aqueles sem fins lucrativos. Em certa medida,

as conclusões do estudo podem ser aplicadas às universidades

brasileiras, compreendendo que as mesmas podem estar na esfera

pública com as universidades federais, estaduais e municipais, privada

sem fins lucrativos (as comunitárias) e as instituições que são

constituídas e imbuídas no setor privado, às universidades propriamente

privadas. Esta pesquisa buscou referenciar sobre o modelo jurídico

adotado nas universidades públicas estaduais, que foram seu foco

principal, contudo, isto não impede que as conclusões aqui apresentadas

se apliquem a outras instituições como as federais, através da

interpretação analítica referida por Robert Yin (2015). O que se buscou

foi verificar, na realidade, as hipóteses de barreiras identificáveis e

principalmente a afirmação que a Lei de Inovação necessitava de

adequações, como também na comprovação de que não é somente o

marco legal o ponto problemático que dificulta a inovação. Através da

pesquisa empírica, pode-se entender que nas instituições pertencentes à

administração pública (universidades estaduais) também são refletidas

as dificuldades similares apontadas pelo estudo apresentado pela CGEE

(2010), confirmando a importância do seu modelo jurídico adotado.

250

A nova legislação, que entrou em vigor neste mês de janeiro de

2016, beneficamente, auxiliou nas discussões propostas desta pesquisa e

direcionou sua atualização não apenas com propostas, mas com uma

visão mais realista com base no disposto nas alterações legais da Lei de

Inovação. Tendo em vista que seus pontos principais e inovadores foram

discutidos em capítulo anterior, convém, aqui pensar em pontos

importantes para adoção de um modelo jurídico de inovação, pontos que

são nevrálgicos, ao entendimento desta autora, que diante da alteração

legislativa as instituições têm a oportunidade de avançar. Inicialmente,

esta autora pensou em propor uma legislação, uma minuta para servir de

guia para as instituições públicas de ensino e pesquisa, sobre seu modelo

jurídico, porém, diante da publicação do novo marco legal e alterações

trazidas pela Lei 13.243/2016 e reconhecendo que cada instituição tem

normativas diferenciadas, preferiu-se apontar sugestões sobre os pontos

cruciais que se compreendeu ser relevantes registrar e que as instituições

poderão adotar nas suas legislações específicas. Portanto, com o novo

marco legal, pode-se atualmente afirmar que as ICTs poderão eleger, a

priori, dois modelos jurídico-institucionais, o que para este estudo

convencionou-se denominar de “modelo autônomo” e “modelo

independente” (ou interdependente), sendo o primeiro muito próximo do

que já existe, com uma estrutura dependente da instituição, sem

personalidade jurídica, porém, com uma “autonomia reforçada” pró-

inovação; o segundo comporta a previsão de constituição de NIT com

personalidade jurídica própria. Contudo, antes de adentrar nesta

discussão de modelos e forma de constituição dos NITs, sublinham-se as

questões pontuais que devem ser observadas pelos gestores de inovação,

independentemente do modelo adotado.

4.4.1 Questões relevantes sobre o modelo jurídico-institucional

De acordo com Salles-Filho e Bonacelli (2007, p. 09-10) ao

tratarem dos institutos e centros de pesquisa, trouxe a classificação das

instituições conforme seus “caminhos” eleitos de gerir a inovação.

Conquanto, classificou-os como path finders, path founders, path losers,

indicando que os primeiros são aqueles que conseguiram introduzir

práticas e construir capacidades para estabelecer uma política interna

para gerir a propriedade intelectual, transferência de tecnologia,

contratos de pesquisa, criação e participação em redes, entre outros,

portanto, adaptaram seu ambiente original, introduzindo a perspectiva de

inovação. Em segundo lugar, está aqueles que iniciaram a construção de

uma trajetória totalmente diferente do que seguiram por décadas,

251

buscando este caminho para inovação. Os últimos são os “perdedores”,

aqueles que têm experimentado grandes dificuldades para sustentar as

suas atividades e, no entanto, ainda não tomaram medidas para mudar “o

rumo” em resposta ao ambiente em mudança, em que os orçamentos

estão a diminuir, a pesquisa em ciência, tecnologia e inovação tornou-se

cada vez mais complexos. Por conseguinte, as diferenças entre estas

instituições públicas de pesquisa referem-se ao caminho escolhido em

adotar uma atitude interna de fazer mais ou menos quanto às mudanças

radicais em direção à inovação. Os principais obstáculos mencionados

pelos autores relacionados à profissionalização e valorização da

propriedade intelectual e transferência de tecnologia e são as seguintes:

custos de instalação e manutenção das atividades PI, a falta de recursos,

falta de pessoal capacitado e competências em PI, insuficiente

valorização do profissional no processo de transferência de tecnologia; a

ausência de cultura para endereçar estas questões pelas instituições de

pesquisa; falta de consciência indicando que o problema não consta na

agenda da maioria das instituições; a capacidade de analisar o processo

de geração de inovações desde a ideia inicial; a falta de recursos de

gerenciamento de projeto e falta de empreendedorismo. As barreiras

quanto aos recursos humanos e política de treinamento foram

identificadas como: a dificuldade de contratação de novos pesquisadores

devido ao quadro regulatório brasileiro (estatutário); desequilíbrios entre

equipe titular e pessoal paralelos (como bolsistas); mecanismos de

compensação inadequados; média etária elevada e a falta de estímulo

para melhorar as qualificações acadêmicas; educação e treinamento

fornecido apenas para continuidade da carreira e remuneração, não com

diretrizes estratégicas para a área; falta de perspectivas de suporte (como

promoção orientada para desempenho, recompensas, etc.); perspectivas

insuficientes de promoção (como o sistema de avaliação não reflete o

novo ambiente para promover a inovação); falta de capacidade de gestão

de recursos humanos adequada; desfasamento entre a formação dos

pesquisadores e as novas formas do processo inovativo. E em todos

estes pontos e decisões, a cultura institucional também influencia na sua

autonomia. Neste prisma, Salles-Filho e Bonacelli (2007, p.10)

apontaram três tipos de restrições e fatores: o quadro legal em relação de

domínio público; a influência política das autoridades governamentais

sobre organismos públicos de investigação; a inércia institucional

interna (ou cultura institucional). Há situações que podem ser aplicadas

para as instituições de ensino e pesquisa que tem estrutura e uma cultura

própria.

252

Aqui convém lembrar que neste sentido Bradley, Hayter e Link

(2013, p.03-18) ao tratarem do modelo tradicional (linear), indicaram

que este apresenta inadequação, uma vez que, também deixa de observar

a cultura da instituição que é traduzida nos sistemas de recompensas,

valorização de publicações, participação em eventos, focando mais na

parte estritamente acadêmica e privilegiando as subculturas de cientistas

universitários e os administradores da universidade. Confirma-se que o

modelo-jurídico trata não apenas de questões normativas institucionais,

mas de forma mais abrangente (holística) importando a questão

gerencial e legal. É o que se vislumbra nas ICTs em que as mudanças

devem abarcar várias questões estruturais e política.

4.4.1.1 A estrutura do NIT

A primeira questão deve ser observada pelos dos gestores de

inovação, para um modelo mais adequado sem dúvida é a estrutura

física dos NIT. Evidente que sem um espaço físico com equipamentos

necessários, com mínimo de uma estrutura predial, salas para reuniões,

meios divulgação e locomoção não é possível acreditar que será

realizada uma gestão da inovação de forma eficiente. Deve-se pensar o

NIT como uma agência promotora dos ativos realizados na

universidade, portanto, bens valiosos que possam gerar receitas, com

caráter mais profissional e gerencial. Nas universidades pesquisadas,

verificou-se que a instituição catarinense tem uma vantagem, de maneira

que, há uma subdivisão de atuação com a Coordenadoria (Florianópolis)

e a unidade em localidade diversa (Joinville), ampliando sua atuação,

contudo, com espaços reduzidos, problema comum o que é um

problema estrutural de muitas universidades públicas brasileiras. Em

contrapartida, a universidade mato-grossense, apenas contava com uma

sala para exercer suas atividades.

Da mesma forma, é necessária a estruturação de recursos

humanos especializados que nos estudos apontados acima uma

reinvindicação constante dos agentes dos NITs. Principalmente, quanto

à política de “atração e fixação” de profissionais altamente preparados

para lidar com as questões que envolvam as atividades de inovação,

como os contratos, prospecção tecnológica entre outros, que fortalecem

o órgão gerando uma confiabilidade e uma autonomia na execução.

Quanto mais profissionais com conhecimentos específicos envolvidos

nas atividades de inovação, sejam eles, especialistas em gestão,

marketing, assessoria jurídica e inclusive os próprios cientistas das

diversas áreas da universidade, mais eficaz será o NIT para apresentar

253

resultados. Há que se sublinhar que neste ponto, a partir de 2004, com a

Lei de Inovação, ocorreram ofertas de treinamentos e qualificação,

conquanto, ainda há uma escassez de profissionais, de um lado, porque

estas atividades exigem conhecimento específico, sendo poucos no

mercado, e por outro lado, por haver rotatividade intensa nestes órgãos,

o que não auxilia na perpetuação dos conhecimentos e procedimentos, o

que pode ser observado nos dados do FORMICT (2015).118

Pensando

na estrutura mais adequada de NIT, verificou-se que a quantidade de

colaboradores junto aos núcleos das universidades estudadas ainda

precisa ser aumentada, como por exemplo, a UNEMAT tinha na sua

composição apenas dois servidores efetivos, o diretor (gestor geral) e

servidor (assessor), e os outros colaboradores diretamente envolvidos

eram alunos bolsistas, existindo participação esporádicas de outros

pesquisadores. Verifica-se o como um exemplo brasileiro de estrutura

mínima a Universidade de Campinas (UNICAMP), que já tem história

sobre sua agência de inovação, sendo esta criada antes mesmo da Lei de

Inovação de 2004, em 2013. A UNICAMP apresentou ao FORTEC, em

2012, a composição de 33 contratados, sendo cinco estatutários e 28

contratados pelas regras da CLT, e ainda sete bolsistas e três

estagiários119

, distribuídos nas áreas de Gerência, Parcerias,

Comunicação, Tecnologia de Informação, Propriedade Intelectual,

Convênios/Contratos, compostos com analistas, pareceristas,

coordenadores e bolsistas. Já em seu relatório de 2015 (referência

2014)120

, demonstrou que sua agência de inovação tinha na sua

composição 34 contratados e 11 temporários (bolsistas, CLT e

estagiários). Isso corrobora que os núcleos necessitam de uma estrutura

mais profissionalizada e flexível para um bom funcionamento.

4.4.2 Orçamento

118

Sobre o relatório do FORMICT foi discutido no capítulo III. 119

Informação pode ser consultada no sítio eletrônico:<

http://sites.unicentro.br/wp/9fortec/files/2015/06/Milton-Mori-

Ag%C3%AAncia-de-Inova%C3%A7%C3%A3o-Inova-Unicamp.pdf >

Acesso em: jan. 2016

120

Informação pode ser consultada no sítio eletrônico:

<http://www.inova.unicamp.br/sites/default/files/images/Inova_relativ_201

5_final_digital.pdf> Acessom em: jan. 2016.

254

Outra questão em destaque que deve ser considerada para

qualquer dos modelos é a orçamentária que recebe muitas reivindicações

dos gestores quanto aos investimentos que devem ser significativos,

principalmente nos primeiros anos de implantação do NIT. Dificuldades

orçamentárias são comuns nos NITs das universidades, como também

apontado pelos casos estudados e também indicadas pela doutrina.

Alguns núcleos possuem uma receita mínima garantida para a execução

de suas atividades, todavia, isto não é comum, e para complementarem,

necessitam estar atentos aos editais de entidades de fomento, não

existindo uma independência ou autossuficiência orçamentária. Sobre

financiamentos nos casos descritos, identificou-se que existe uma fraca

cultura de investimento de empresas “anjos”, bem como, de iniciativa da

instituição em procurar por estes investidores, o que é inibido pela

organização orçamentária e distributiva atinente às instituições públicas.

E isto influencia nas atividades dos NITs como na contratação de

profissionais por período menores e pontais, no pagamento de despesas

frequentes como taxas do INPI, requerimentos e manutenção das

proteções dos Direitos de Propriedade Industrial, seja as patentes,

cultivares ou marcas, para a capacitação dos profissionais, viagens para

divulgar trabalhos (principalmente quando a instituição é multicampi) e

eventos. É importante que a instituição garanta um valor orçamentário

significativo para que as atividades fluam no ritmo desejado. Sobre o

tema, alguns autores destacaram que as principais limitações impostas

aos institutos públicos de pesquisa em razão da legislação que rege a

administração pública direta estão relacionadas com a gestão

orçamentária e financeira e de recursos humanos. Particularmente

quanto à captação de recursos, que se tornou necessário em razão das

restrições orçamentárias do Tesouro paras as instituições públicas

federais, os institutos utilizam dos serviços das fundações de apoio ou

outras estruturas jurídicas que são intermediadoras de contratos

possibilitando mais agilidade. Sobre a gestão de recursos humanos, as

maiores dificuldades estão na contratação que apresenta uma baixa

flexibilidade, de modo que, em sua maioria, deve ser realizada através

de concurso público, que requer um rigor e procedimento específico. Em

pesquisa realizada em 63 NITs, através de survey, relata por Bortolini et

al (2014) que a maioria dos NITs no país tem orçamento anual médio

que gira em torno de 20 e 50 mil reais, enquanto apenas 23% dos NITs

respondentes afirmaram possuir R$ 50 mil ou mais disponíveis durante

o ano, sendo que estes valores não são suficientes para realizar as

atividades mínimas para seu funcionamento. A pesquisa da

255

Universidade de Cambridge (p.17) também alertou para a concordância

dos entrevistados que acusaram a falta de apoio, especialmente, em

termos de financiamento, sendo que 40% dos envolvidos informou que

o apoio é não adequado para o seu trabalho. Isso demonstra que o nível

de insatisfação com o financiamento para os NITs é similar em todas as

regiões, mas que o nível de incorporação é mais fraco no Nordeste.

Uma solução para esta questão é garantir orçamento mais robusto

para estas unidades voltadas para o gerenciamento da inovação,

demonstrando, desta forma, o real interesse institucional em se tornar

mais pró-ativo para a inovação. Mais especificamente, para garantir

recursos direcionados à área de inovação poderia se adotar uma rubrica

orçamentária para estas questões. Desse modo, no orçamento

institucional, admite-se um percentual destinado para aquelas atividades

designando sua fonte.

Outra forma de fomentar e recompensar a atividade inovadora

seria a criação de fundo específico para inovação. Um fundo é

estabelecido para financiar projetos que atuem na garantia da promoção,

proteção e defesa de direitos ou ações sociais e de desenvolvimento,

sendo que os recursos devem ser aplicados para os fins que ele foi

criado. Dessa forma, os fundos públicos são mecanismos de

descentralização do orçamento das entidades públicas que explicitam na

peça orçamentária a destinação específica de recursos públicos para um

determinado fim. Neste prisma, o fundo vem proporcionar um suporte

financeiro à realização de ações e políticas definidas pelo ente criador

(como programas), que visa à promoção e viabiliza a captação, o repasse

e a aplicação de recursos necessários à sua implementação. E é através

da sua lei de criação do fundo que serão estabelecidas suas normas,

procedimentos e condições operacionais e sua aplicação. As receitas

poderão ser compostas por recursos (públicos ou privados), portanto,

por dotações orçamentárias exclusivas do ente da federação que o

institui, definida anualmente nas peças orçamentárias; ou por dotações

orçamentárias dos recursos repassados ao Ente federado que esteja

vinculado aos objetivos do fundo por convênios, parcerias, consórcios,

programas de cooperação que o ente federativo celebre com outros

entes, instituições públicas ou privadas, nacionais ou até mesmo

estrangeiras; por transferências e aplicação dos recursos, contribuições,

auxílios e doações de pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou

estrangeiras, legados e heranças jacentes; por aporte de capital por meio

da realização de operações de crédito em instituições financeiras

oficiais, quando previamente autorizadas por lei específica; ainda, por

256

rendas provenientes da aplicação de seus recursos no mercado

financeiro. Esta variedade de captação de recursos pode proporcionar os

meios necessários para o financiamento dos empreendimentos

econômicos destinados à inovação e deve ter contabilidade própria, em

que serão registrados e publicados todos os atos e fatos que decorrerem,

permitindo a apuração de resultados separados que são auditáveis. Estas

receitas deverão ser depositadas em conta especial em instituição

financeira oficial, sendo que os recursos financeiros não utilizados

poderão ser transferidos para o exercício seguinte, a crédito deste. Os

fundos especiais ou público tem previsão na Lei nº 4.320/1964 e sua

forma de criação está descrita no artigo 71: "Art. 71. Constitui fundo

especial o produto de receitas especificadas que por lei se vinculam à

realização de determinados objetivos ou serviços, facultada a adoção de

normas peculiares de aplicação."

Conforme os comentários à Lei nº 4.320/1964, Flávio Cruz et al

(2006, p.113-115) explicam que um fundo é um tipo de gestão

administrativa e financeira de recursos ou conjunto de recursos

vinculados ou alocados a uma área de responsabilidade, para

cumprimento de objetivos específicos, mediante a execução de

programas com ele relacionados. Porém, existem fundos que na verdade

comportam-se como um órgão da administração pública indireta e

assumem personalidade jurídica própria, que não é o caso que se

mencionou acima. Estes tipos de fundos, apesar de serem permitidos por

lei, não configuram a definição legal do Artigo 71 da Lei 4.320/64,

como o caso do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

(FNDE), que apesar de levar o nome de fundo, é na verdade uma

autarquia pública federal vinculada ao Ministério da Educação,

devidamente criada por lei. A forma de captação de recursos pelo fundo

é uma vantagem para a instituição pública que em razão das regras que

está obrigada a seguir, tem dificuldades de evitar, mesmo com os

contratos de transferência de tecnologia e rendas advindas de royalties,

que estes valores não sejam direcionados para outras áreas, pois, deve

obdecer as regras de conta única da instituição, prejudicando o incentivo

à inovação e seu reinvestimento. Através da captação direcionada,

permitiria pessoas interessadas em apoiar “a causa” através de doações,

como no caso de egressos da universidade, doações testamentárias e

investidores âncoras, sem o receio de investimento divergente do

doador, como ocorre em países mais desenvolvidos. Acredita-se que a

Lei nº 13.243/2016, vislumbrou estas questões em certa medida, uma

vez que o Artigo 18 também reflete solução para problemas encontrados

257

na execução da atividade de inovação, quando trata de forma mais direta

sobre os recebimentos de receitas e pagamento de despesas decorrentes

dos acordos e contratos, cessão de PI, bolsas, gratificações, bem como,

pagamento de despesas e os pagamentos devidos aos criadores. De igual

modo, permite que a fundação de apoio possa captar, gerir e aplicar as

receitas da ICT, por delegação, devendo a aplicação ser exclusiva para

dar suporte à pesquisa, desenvolvimento e inovação.

4.4.2.1 Nível de comprometimento institucional com a inovação e

fluxos de processos Importante questão implícita ao modelo mais dinâmico voltado

para inovação é a forma de tomada de decisões e fluxo de processo

adotado pela instituição. A gestão da transferência de conhecimento e

tecnologia das instituições públicas brasileiras tem sido influenciada (ou

dificultada) pelas formalidades procedimentais e a tomada de decisão,

que devem percorrer nas variadas instâncias ou campi. Sabe-se que o

setor público prefere a formalidade que a informalidade na realização de

suas atividades, todo contrato, parceria ou solicitação necessita ter um

trâmite mínimo para ser realizado ou respondido. É a conhecida

burocracia! Destaca-se uma "reclamação" dos gestores entrevistados que

diz respeito aos processos que envolvem inovação que não são claros e

existem situações que escapam ao conhecimento do NIT, seja em razão

do desinteresse do pesquisador em relatar para o núcleo ou por falta de

esclarecimento sobre assuntos que realmente devam ter a intermediação

do NIT. As parcerias, para serem institucionalizadas se organizam

através de projetos de pesquisas, consultorias ou contratos e cada um

destes instrumentos necessita nascer (ser requerido) em um setor,

geralmente, nos departamentos ou faculdades e apenas chegam ao NIT

em etapa avançada. Dificilmente se inicia o procedimento nos núcleos,

já que, as relações iniciam-se na relação do pesquisador com as

empresas interessadas. Estes trâmites podem durar até 06 meses, pois,

sempre haverá uma assinatura a ser colhida, uma decisão colegiada a ser

manifestada e isto demanda tempo. Dependendo da complexidade da

questão envolvida e principalmente, se existe uma subdivisão de campi

em localidades diversas da administração central, este tempo é muito

maior. Uma boa prática é a definida pela UNICAMP que para dirimir

estas barreiras, foi adotado um procedimento mais célere de uma câmara

de decisão, em que os membros se reunirão somente após a análise do

processo, sendo que cada membro recebe o conteúdo necessário para

emitir sua decisão em prazo comum e que foi distribuído de forma

258

concomitante, não necessitando aguardar um encaminhamento

sequencial que é inerente do fluxo processual da administração pública,

pondendo na reunião defirem o assunto e colherem os pareceres

necessários.

Na mesma visão reformadora, o Artigo 16, que foi alterado em

2016, trouxe mudanças cruciais para a gestão de política de inovação

nas ICTs e propriamente dos NITs. Neste artigo, houve a proposta de

ampliação da competência dos NITs quanto gestão de políticas e

acordos de inovação, promoção e acompanhamento da relação entre U-

E, nos incisos VII ao X. Da mesma forma, o §2º, do mesmo artigo

explicitamente prevê a possibilidade de representação institucional, por

delegação, ao gestor do Núcleo de Inovação Tecnológica, no âmbito da

política de inovação, portanto, dando poderes ao gestor do NIT de

representar a instituição, inclusive, assinar pelo Reitor quando o assunto

tratar de inovação.

4.4.2.2 Sistema de valorização do pesquisador – sistema de

recompensas Na pesquisa empírica realizada, houve a confirmação das

situações apresentadas nos dados do FORMICT e dos estudos

relacionados (CGEE, 2010; SALLES-FILHO et al, 2007; BRADLEY,

HAYTER, LINK, 2013) quanto à relação entre a Universidade-

Empresa, que na maioria das vezes é iniciada pela aproximação do

pesquisador com a iniciativa privada, em que já existe uma relação de

confiança. Já existem casos em que a iniciativa privada ou outra

entidade interessada pode aproximar-se da instituição de ensino e

pesquisa através de informações disponibilizadas pela própria instituição

ou pelo portofólio de serviços, porém, muitas vezes, é a partir do

pesquisador, que já tendo uma aproximação com empresas relacionadas

com sua pesquisa, por exemplo, quando já trabalhou na iniciativa

privada, ou tenha estudantes em atividade na empresa, tenha colegas de

profissão que atuam no setor empresarial, entre outras situações. Isto

deve ser valorizado pela universidade. Em momento anterior, foi

explanado que mesmo nos Estados Unidos, referência em inovação e

transferência de tecnologia, confirma-se que é nos departamentos e

grupos de pesquisas que as relações com o setor privado é mais estreita.

Bradley, Hayter e Link (2013, p. 48) frisam que para a instituição

alcançar bons níveis de inovação e comprometimento dos

pesquisadores, é importante ter um sistema de recompensas, que

desestimula suas equipes de pesquisa a negociar diretamente com o

259

setor externo, sem qualquer controle institucional. Havendo incentivo ao

empreendedorismo e comercialização dos ativos intangíveis, através de

premiações e classificações dentro da política da instituição, será

possível encontrar pesquisadores motivados a compartilhar suas

descobertas e realizar parcerias com a intermediação dos NITs. Por

consequência, quanto maior a valorização e recompensa ao inventor (ou

grupo de inventores), mais interesse estes terão em se envolverem no

processo formal de transferência de tecnologia.

Atualmente no Brasil, a forma mais comum de se “premiar” o

pesquisador é através de bolsas ou certificação, quando for um

voluntário. Esta situação decorre da própria estrutura jurídica que

dificulta à administração pública realizar pagamentos extras aos seus

efetivos ou voluntários, e por outro lado, as bolsas são preferidas pelos

pesquisadores porque não têm incidência do Imposto de Renda e, para a

instituição, esta remuneração acaba não sendo incorporada ou

confundida com salário. Também é comum existir premiações

pecuniárias de teses e dissertações, portanto, falar em prêmios

pecuniários não é algo novo. Contudo, é necessário a instituição ter

criatividade e permitir casos de premiação como formas de estruturação

dos laboratórios, viagens para congresso de toda equipe, pagamento de

uma publicação internacional (após proteção dos Direitos de PI), até

mesmo valores pecuniários diferentes de bolsas, mesmo com incidência

de imposto, para incentivar o ambiente de inovação. Entretanto,

necessita-se de uma institucionalização. Estas recompensas devem fazer

parte da política institucional com regras claras de concorrência para não

dar margem a privilégios sem critérios, o que poderia acarretar uma

reação adversa ao objetivo do incentivo.

Barros e Lazzarini (2012, p.14), do Instituto Insper de Educação,

apresentaram um estudo sobre o sistema de recompensas ou premiações

em algumas empresas no país, focando no sistema de premiação

individualizado e sua influência no comportamento inovativo da

organização. Apesar de ser um estudo voltado para iniciativa privada,

acredita-se ser possível sua aplicação também na administração pública,

aproveitando-se os resultados apresentados. Destacam os autores duas

modalidades de mecanismos de incentivos: o pagamento e a promoção

pelo desempenho. Das 370 empresas pesquisadas, constataram que os

mecanismos de gratificação tem uma influência positiva para promover

a inovação e basicamente nos efeitos distintos de valorização, através de

pagamentos ou de promoção referente ao desempenho, que pode

impactar a capacidade das empresas de transformar ideias em fontes

260

reais de receita. Descobriram que o efeito de desempenho com base na

promoção é altamente significativo. Além disso, os resultados sugerem

que este mecanismo deve ter níveis moderados, pois, uma utilização

acima destes níveis não tem resultados diferentes desta margem e não

aumenta proporcionalmente a capacidade de inovação. Destarte, o

estudo mostrou que para além de considerar as recomendações usuais

(por exemplo, os investimentos em P&D, a proteção dos direitos de

propriedade, capacitação), as empresas interessadas em estimular a

inovação também devem prestar atenção para as práticas

organizacionais que podem desencadear esforços para gerar novas

ideias. Os resultados também indicaram que a adoção do mecanismo de

desempenho através de promoção poderá gerar índices interessantes e

aumentar a produtividade, sendo uma interessante aplicação também nas

instituições pública no que couber. Em mesmo sentido, Clancy e

Moschini (2013, p. 20-28) ao discutirem sobre mecanismos que possam

assegurar a inovação, apontam três, quais sejam: patentes, pesquisa

contratada e premiação. Afirmam que basear a inovação nos dois

primeiros é problemático, uma vez que as patentes impõem um

monopólio e a pesquisa contratada deve superar o risco moral e

problemas atrelados a ela. Pontuam como uma alternativa que pode

potencialmente superar estas limitações dos primeiros, o “prêmio de

inovação”, ou seja, uma recompensa. Se o prêmio for adequado, pode

gerar investimento suficiente e esforços para trazer uma inovação

desejada. E contrapondo o monopólio garantido pela patente, afirmam

que após a compensação ao inventor, a inovação, inclusive, pode ser

colocada em domínio público, se a instituição preferir. Apesar destes

estudos citados não estarem relacionados à instituição de ensino, seus

resultados devem ser considerados com atenção pelos gestores, com a

devida adequação, pois este mecanismo demonstrou ser importante

ferramenta para fomentar a inovação. Destaca-se que o Artigo 9º da Lei

de Inovação, com nova redação, tem previsão sobre acordos de parceria

e acrescenta, no §1º, que os beneficiários de bolsa de estímulo à

inovação podem ser incluídos os alunos de curso técnico, de graduação

ou pós-graduação, trazendo um estímulo para as equipes. O Artigo 14-

A, com as alterações de 2016, trouxe uma resposta aos anseios de

pesquisadores que tinham interesse em atuar na iniciativa privada, mas a

legislação não era clara quanto a recebimentos de valores extras em

razão de sua participação em projetos ou programas. Este artigo agora

permite que profissional (pesquisador público), mesmo em regime de

dedicação exclusiva, possa exercer atividade de pesquisa em outras

261

instituições, tanto em outras ICTs ou empresas, atividades remuneradas

de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Estas modificações legais, por

certo, devem aumentar os índices de contratações e relação com as

empresas através de forma institucionalizada. Esta autora aposta que

aumentarão as relações com o setor privado, já que os pesquisadores “de

carreira” em sua maioria estão em Regime de Dedicação Exclusiva, o

que limitava sua atuação e remuneração em outras organizações, de

forma regulamentar.

4.4.2.3 Relação com o inventor independente

A transferência de conhecimento e tecnologia nas discussões

apresentadas nesta pesquisa tem por base àquelas em que a ICT

transfere seus conhecimentos e ativos através de instrumentos próprios,

possibilitando que as empresas desenvolvam e comercializem o

resultado advindo de pesquisa própria ou parceria. Contudo, esta

transferência pode ocorrer entre um terceiro para a universidade,

situação menos comum, porém, não deve ser negligenciada. Este

terceiro, pessoa física, é denominado pela legislação de “inventor

independente”, que mesmo sem a estrutura institucional própria

(universidade, empresas, institutos) conseguem desenvolver descobertas

que necessitem de proteção e orientação para serem desenvolvidas. A

nova legislação (Lei 13.243/2016) em seu Artigo 1º, inciso XIV, aponta

como princípio o apoio, incentivo e integração dos inventores

independentes às atividades das ICTs e ao sistema produtivo. No Brasil,

os casos de inventores independentes não é algo raro, nas patentes

concedidas pelo INPI é possível observar que existe um número

considerável de invenções registradas por inventores independentes.

Porém, para estes chegarem ao patamar de ter a proteção de sua

invenção garantida, necessitam ultrapassar os desafios sobre os custos

elevados para uma patente (ou outra forma de proteção) até a

comercialização de ativo intangível. Sabe-se que a concessão da patente

pelo INPI tem tempo de espera considerável. É nesse ponto que a

universidade poderá ajudar recebendo a invenção, por exemplo,

proporcionando oportunidade para esta pessoa física possa proteger sua

invenção ou descoberta e futuramente negociar esta ideia, ou deixar que

a universidade faça isto por ele. Para esta relação, também é necessário

um instrumento jurídico que garanta ao inventor independente que sua

invenção possa ser desenvolvida, não lhe sendo usurpada e, também que

a instituição possa receber valores advindos desta comercialização

posterior com o setor privado. Algumas universidades quando recebem

262

pedidos de apoio e investimento em invenções externas da instituição

não sabem como agir e acabam afastando esta possibilidade. Este figura

de inventor independente é relevante já que até mesmo a legislação

sugere formas de atuação e apoio a estes inventores que em alguns

Estados da federação são custeados através de órgãos de fomento que

prevêem apoio financeiro para a proteção dos direitos, exigindo como

contrapartida o comprometimento de partilhar os ganhos econômicos

auferidos com a exploração da criação protegida, o que também pode ser

realizado por instituições de ensino e pesqusia. Algumas ICTs como as

federais do Rio de Janeiro, Paraná, Espírito Santo, Uberlândia já

possuem procedimentos específicos para atender ao inventor

independente, o que pode ser replicado em outras instituições.

4.4.3 Da natureza jurídica e modelo institucional

Considerando que os comentários anteriores que trataram do

modelo gerencial e jurídico, resta-se saber quais as possibilidades de

constituição deste modelo, principalmente, com a publicação do novo

marco legal de inovação. E nesta pesquisa, convencionou-se que, de

forma geral, podem ser considerados dois modelos, o autônomo e o

independente.

4.4.3.1 Autonomia do NIT

Constatou-se nas pesquisa citadas e nos estudos de caso que a

autonomia nos “TTOs” brasileiros é sempre reivindicada. Por isso, seus

agentes e servidores envolvidos nas ações dos NITs requerem maior

visibilidade dos núcleos que vai desde a estruturação e qualificação de

servidores e estagiários, oportunidade de discussão com as instâncias

superiores, agilidade nos processos internos, na visão pró-inovação dos

conselhos, até no investimento no setor, entre outras reivindicações. Nas

duas universidades pesquisadas, percebeu-se que a constituição e

vinculação dos NITS influenciam no desenvolvimento de suas

atividades. É na verdade uma antiga discussão desde a imposição legal

em 2004, que incomodava gestores para definirem como seriam criados

os núcleos e em qual formato institucional. As instituições criaram seus

NITs como núcleos, escritórios, departamento ou agências de inovação,

e estes em sua maioria, estão vinculados diretamente à Reitoria, Vice-

Reitoria, ou Pró-Reitoria. Nos casos estudados, observou-se que a

vinculação direta com a Reitoria é mais interessante para o núcleo, pois,

263

as decisões e ações já estão conectadas com o dirigente máximo da

instituição, o que auxilia numa solução mais imediata121

, como ocorre

com a UDESC. Diferentemente na UNEMAT, o NIT está vinculado à

Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação, da mesma forma que o

Departamento de Inovação Tecnológica (DIT) da UFSC está ligado à

Pró-Reitoria de Pesquisa. Esta formatação para a universidade mato-

grossense tem demonstrado ser importante, porém, algumas vezes

prejudicada quanto às decisões urgentes e de comprometimento

institucional. Porquanto, a autonomia também está refletida nas decisões

sobre a temática da inovação dentro da instituição. Conforme relato de

entrevistado da universidade do Centro-Oeste, ficou demonstrado que

por vezes as propostas apresentadas para uma mudança ou agilidade de

suas atividades não foram atendidas, não foram discutidas pelos

conselhos, adiando-se sua implantação. A política institucional e o apoio

institucional das instâncias superiores, defendem a visão pró-inovação

tem reflexo imediato na comunidade acadêmica e auxilia na

compreensão desta visão empreededora. Um exemplo desta visão pró-

inovação institucionalizada está na Universidade Federal do Amazonas

que instituiu a Pró-Reitoria de Inovação Tecnológica (PROTEC),

composta pela Diretora do Departamento de Gestão da Inovação,

Propriedade Intelectual e Transferência Tecnológica (DePI), Direção de

Departamento de Gestão do Patrimônio Genético e Conhecimentos

Tradicionais (DCT) e Coordenação Operacional do Observatório

Estadual de Economia Criativa (OBEC-AM), denotando a importância

que a inovação tem para a universidade. Esta Pró-Reitoria tem como

missão a gestão de instrumentos da Política Institucional de Inovação

Tecnológica da universidade, visando fomentar, apoiar, promover e

acompanhar as ações que tenham por finalidade a inovação tecnológica,

a proteção e valorização dos saberes dos povos tradicionais. Ainda é

responsável pelas pesquisas que envolvem o uso das tecnologias sociais,

com interesse em transferir e comercializar os ativos intelectuais

produzidos para o setor produtivo, fornecendo subsídios qualificados

para o desenvolvimento social, cultural e tecnológico da região122

. Fica

121

Situação similar da que ocorre na UNICAMP que adotou esta visão e a

Agência INOVA está diretamente ligada ao Gabinete do Reitor (artigo 1º da

Resolução GR-051/2003, de 23/07/2003). 122

Informações obtidas no sítio eletrônico da Universidade Federal do

Amazonas (UFAM). Disponível em: <

264

evidente que a instituição assumiu uma posição pró-ativa para inovação,

elevando seu comprometimento em instância superior da universidade.

Pontua-se que as regras reformadoras de janeiro de 2016

trouxeram no Artigo 16 mudanças importantes para a gestão de

inovação nas ICTs. Houve a proposta de ampliação da competência do

NIT, que valorizou a promoção e acompanhamento da relação entre U-

E, nos incisos VII ao X. Da mesma forma, no §2º do mesmo artigo

explicitamente prevê a possibilidade de representação institucional, por

delegação, ao gestor do Núcleo de Inovação Tecnológica, já citado.

Atende a reivindicações da comunidade acadêmica em certa medida,

reafirmando o modelo autônomo.

4.4.3.2 Independência do NIT

Ao longo do período de estudos e pesquisas no doutorado,

compreendo as teorias aprendidas e informações colhidas, o que

incomodava mais esta pesquisadora era a comparação com os núcleos de

inovação no Brasil e com os países mais desenvolvidos, como Estados

Unidos da América, países Europeus, e até aqueles emergentes como a

Coreia do Sul. Esta pesquisa também não deixou de fazê-lo nos

capítulos iniciais. Contudo, a inquietação veio em razão de que não

poderia comparar estruturas organizacionais tão distantes por causa de

as organizações dos países desenvolvidos não estão na mesma condição,

neste caso, que não têm a mesma estrutura jurídica. Os escritórios de

inovação de outros países têm uma conformação diversa da brasileira e

são bastante independentes, ao contrário das nacionais, que em sua

maioria, tem vinculação com a instituição de ensino e pesquisa e

consequentemente, dependentes e suas características devem

acompanhar a rigidez do órgão público que o instituiu. Esta formatação

jurídico-institucional dificulta a atuação mais ostensiva dos NITs nas

universidades e institutos públicos que deveriam ter uma ação mais

empreendedora, voltada para questões contratuais e comerciais,

funcionando como uma agência. Nos casos de universidades e modelos

de transferência de tecnologia já discutidos, viu-se que tanto nos Países

Baixos como em Israel existe uma independência dos escritórios de

inovação, ou melhor, uma interdependência entre a instituição de ensino

e pesquisa e a agência de inovação. Os Escritórios de Transferência de

http://www.ufam.edu.br/index.php/pro-reitorias/pro-reitoria-de-inovacao-

tecnologica-protec> Acesso em janeiro de 2016.

265

Tecnologia (NITs) funcionam como agências de inovação propriamente

dita, como uma empresa que auxilia a instituição a organizar,

administrar, comercialização e fazer o marketing da pesquisa realizada

no seu interior, conjugando a visão empresarial. Envolve assim temas

como a propriedade intelectual, os contratos de transferência de

tecnologia, captação de recursos e parceiros, trazendo um retorno

através de investimentos na ICT, pelos valores contratados,

possibilitando que seus investigadores e inventores possam ter mais

segurança e se dediquem ao ensino e pesquisa. Israel é um exemplo

claro de que os escritórios de transferência de tecnologia são empresas

constituídas com a finalidade de promover a transferência destes ativos e

conhecimentos da universidade para os mercados. Por vezes, apesar de

serem empresas “divorciadas” da universidade, são compostas por

pessoas da universidade nos seus conselhos e a ICT pode figurar como

sua acionária majoritária. Para que isto ocorra, estas empresas mantêm

uma relação de exclusividade com um instituto ou universidade com

intuito de comercializar a PI e possibilitar a geração de renda a partir

dos contratos celebrados e recebimento de royalties. Como descrevem

em seus sítios eletrônicos oficiais, estas agências são braços comerciais

das instituições de pesquisa e organizam esta matéria para a ICT. Para

realizarem estas negociações com desenvoltura, a titularidade da PI é

estritamente da agência, que se responsabililza pelo registro de patente e

tem o direito, a seu critério, de registrar em seu nome, pedidos de

patentes e outras aplicações para Direitos de Propriedade Intelectual em

matéria de invenção. É a empresa que decide qual invento é relevante e

se deve investir naquela ideia. A decisão é realizada de forma colegiada

em que estão envolvidos membros da academia e especialistas da

agência. Desta forma, quem contrata diretamente com a empresa

interessada é a agência de inovação, porém, existem outros instrumentos

que garantem a execução deste contrato e devem fazer parte de acordo

de exclusividade, bem como, os acordos tripartites entre estas duas

primeiras partes e os inventores (equipe que realizou a pesquisa). Estes

acordos são regidos pela própria legislação nacional, como também por

um regulamento ou normatização interna que se dedica a resolver

conflitos, denominando-se "Regras de Propriedade Intelectual e Conflito

de Interesses" da ICT123

.

123

O assunto foi apresentado de forma mais detalhada no primeiro capítulo.

266

Outro exemplo é o das universidades holandesas, em que se

destacam estes escritórios de transferência de tecnologia que funcionam

como um empreendedor institucional e gerenciam o portfólio de

propriedade intelectual das ICTs. Contudo, diferentemente das

israelenses, não funcionam como empresas separadas ou órgãos

totalmente independentes, mas não estão envoltos de uma estrutura

administrativa como ocorre no Brasil, sendo privados. Estes escritórios

também orientam os pedidos de patentes e oferecem consultorias e apoio

no processo de comercialização (em cooperação com o inventor e

departamento envolvido). Da mesma forma, auxiliam no

desenvolvimento de estratégias de negócios, análises de mercado,

planos de negócios, formação de novas empresas, coordenação dos

contratos para colaborações universidade-indústria. Quando se percebe

que uma área é bastante desenovlvida e necessita de uma agilidade e

independência, como na área de Saúde ou Engenharia, tem sido comum

a universidade ter uma Holding (empresa mãe)124

em que a instituição

participa como majoritária, para desenvolver a inovação em áreas

específicas.

E é neste aspecto, o novo (ou novíssimo) marco legal para

inovação no país trouxe o grande avanço, a possibilidade do NIT ter

personalidade jurídica própria. De pronto, no Artigo primeiro da Lei nº

13.243/2016, inciso, IV, define Núcleo de Inovação Tecnológica como:

"estrutura instítuida por uma ou mais ICTs, com ou sem personalidade

jurídica própria, que tenha por finalidade a gestão de política

institucional de inovação". Neste inciso, acredita-se que houve uma

crucial preocupação com a gestão da inovação e procurou-se dar

independência e celeridade a estes núcleos, que passam a ter opção de

ter personalidade jurídica própria ou não. Desta maneira, os NITs

poderão ser organização com independência não figurando mais como

departamentos, extensões das estruturas já existentes, que os obrigam a

seguir regras restritas da administração pública. Esta abertura legal na

forma de constituição dos NITs foi uma posição salutar do legislador em

acatar esta reivindicação da academia de maneira que modifica o

modelo jurídico-institucional dos Núcleos de Inovação Tecnológica,

possibilitando uma nova configuração. Esta decisão veio ao encontro do

que esta autora acredita e que apresentaria como proposta, como modelo

jurídico institucional quando se iniciou esta pesquisa, que felizmente

124

Tema comentado no capítulo I.

267

tornou-se uma possibilidade real. Esta independência não signfica total

inobservância das regras atinentes à utilização do dinheiro público,

assim, pode-se também dizer que seria um modelo interdependente, em

que existe um interesse recíproco entre o NIT e a universidade e regras

de relacionamento, encontradas nas normativas internas de ambas as

instituições para que a relação flua com transparência, como atualmente

é previsto com as fundações de apoio.

Mas, talvez fique a dúvida sobre qual forma poderão assumir

como pessoa jurídica de direito privado e o Artigo 16 trouxe algumas

indicações. Sendo também alterado pela Lei 13.423/2016, indica que

poderá ser uma pessoa jurídica sem fins lucrativos. O Código Civil (Lei

nº 10.406/2002) prevê estas pessoas no artigo 44, sendo estas pessoas

jurídicas de direito privado: Art. 44 - São pessoas jurídicas de direito privado:

(Art. 16 CC Lei 3.071/16)

I - as associações;

II - as sociedades;

III - as fundações.

IV - as organizações religiosas; (Acrescentado

pelo art. 02, da Lei 10.825/03)

V - os partidos políticos. (Acrescentado pelo art.

02, da Lei 10.825/03)

§ 1º. São livres a criação, a organização, a

estruturação interna e o funcionamento das

organizações religiosas, sendo vedado ao poder

público negar-lhes reconhecimento ou registro dos

atos constitutivos e necessários ao seu

funcionamento. (Nova redação dada pelo art. 02,

da Lei 10.825/03)

§ 2º. As disposições concernentes às associações

aplicam-se subsidiariamente às sociedades que

são objeto do Livro II da Parte Especial deste

Código. (Acrescentado pelo art. 02, da Lei

10.825/03)

§ 3º. Os partidos políticos serão organizados e

funcionarão conforme o disposto em lei

específica. (Acrescentado pelo art. 02, da Lei

10.825/03)

Destarte, os NITs poderão ser de direito privado, conforme

Artigo 16 citado, e também serem sem fins lucrativos, configurando as

possíveis alternativas como: associação, fundação ou sociedades civis,

adequando seu objeto. Evidentemente, não se aplica à visão comercial

268

comentada anteriormente, o que é mais aceitável no cenário brasileiro

que ainda tem resistência a esta posição. Contudo, neste ponto,

vislumbra-se maior liberdade de contratar e executar as atividades de

inovação e possibilita uma personalidade jurídica própria,

principalmente, em razão de contratação de pessoal, compra de

materiais, recebimento de valores externos etc. Deve-se ressaltar que

combinando a alteração trazida no Artigo 16, a alteração também na Lei

8.958/1994 (§ 8º, do Artigo 1°), que trata da relação entre as Instituições

Federais de Ensino Superior (IFES) e as fundações de apoio, admite-se

que os NITs poderão assumir a forma de fundação de apoio. O que é

intrigante ter uma previsão sobre a estrutura dos NITs em legislação

voltada para fundação de apoio, mas que reforça o interesse em ofertar

independência aos NITs, in verbis: Art. 1

o As Instituições Federais de Ensino

Superior - IFES e as demais Instituições

Científicas e Tecnológicas - ICTs, de que trata

a Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004,

poderão celebrar convênios e contratos, nos

termos do inciso XIII do caput do art. 24 da Lei

no 8.666, de 21 de junho de 1993, por prazo

determinado, com fundações instituídas com a

finalidade de apoiar projetos de ensino, pesquisa,

extensão, desenvolvimento institucional,

científico e tecnológico e estímulo à inovação,

inclusive na gestão administrativa e financeira

necessária à execução desses projetos.

(...)

§ 8º O Núcleo de Inovação Tecnológica

constituído no âmbito de ICT poderá assumir a

forma de fundação de apoio de que trata esta Lei.”

Resta compreender o que seria uma fundação de apoio. A

fundação definida como patrimônio personalizado para consecução de

fim social (Art. 62 do Código Civil). Neste sentido, esta instituição é

criada para um determinado fim (social, médica e hospitalar, educação,

ensino, pesquisa, atividades culturais) com um patrimônio próprio que

se desprende da figura do instituidor e deve ser sem fins lucrativos. Caso

o patrimônio destinado advenha de particulares, como doação,

testamento ou investidores esta será “inteiramente” privada, com

personalidade jurídica de direito privado. Desse modo, o seu instituidor

o fará por escritura pública (inter vivos) ou testamento (causa mortis)

com dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se

269

destina, inclusive podendo declarar a forma de administração. Para sua

viabilidade, o fundador deve também dotar a entidade de bens, moveis

ou imóveis, legalmente disponíveis, suficientes para propiciar o

funcionamento da fundação, conforme discriminado no instrumento de

sua criação que é o Estatuto. Neste instrumento estará definida a sua

denominação, fins e sede, bem como, o patrimônio e rendimentos e os

órgãos de sua administração, como o Conselho Curador e Diretoria

Executiva, bem ainda, condições de extinção e destino de seu

patrimônio, seu exercício financeiro e condições de reforma do estatuto.

Deve-se salientar que sua fiscalização é feita pelo Ministério Público

(Curador) que inclusive analisa e aprova ou não a criação de uma

fundação, bem ainda, opina sobre modificações estatutárias, sem

prejuízo de serem também fiscalizadas pelos controles institucionais

internos. Demonstra que as fundações possam garantir uma segurança

no seu funcionamento. De forma resumida, após a designação dos bens

patrimoniais, elaboração do estatuto aprovado pelo Ministério Público,

com a lavratura de escritura de constituição da fundação, esta adquire

personalidade jurídica após ter inscrição no Cartório de Registro Civil.

Porém, apesar do Decreto nº 200/67 (com as alterações trazidas

pela Lei nº 7.596/87), no Art. 5º, IV, indicar que a fundação pública

poderá ser entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado,

sem fins lucrativos, quando há dinheiro público (parcial ou total)

destinado para sua criação, o entendimento dos juristas é que a fundação

será pública também, em razão das características do seu instituidor e

deverá ser autorizada sua criação por lei. Isto deve ser observado pelos

dirigentes das universidades e interessados em constituir um NITs nesta

modalidade, para garantir ao NIT a personalidade jurídica de direito

privado. A fundação poderá ser inicialmente constituída com patrimônio

de investidores ou até mesmo de pesquisadores, oriundos de bens

particulares, para que se desvincule totalmente, não retomando as

mesmas dificuldades de procedimentos do setor público. Através desta

nova estrutura, os NITs poderão assumir esta posição de fundação

comprindo uma dupla função de modo que permitem a captação e/ou o

remanejamento dos recursos extraorçamentários nas universidades, que

não dispõem de flexibilidade orçamentária e permitem se “esquivarem”

da estrita legalidade que é imposta às instituições públicas no processo

de compra de materiais e de equipamentos, permitindo, inclusive,

contratações de profissionais de forma temporária, por terem orçamento

desvinculado do público, mas não deixando de observar algumas regras

que ainda se impõe quando da utilização do dinheiro público. É comum

270

ver a intermediação das fundações na administração dos recursos

obtidos pelos cursos de Extensão e/ou de Pós-Graduação lato sensu

(Especialização), como também os resultantes de consultorias, prestação

de serviços e outras relações entre a instituição de pesquisa e o setor

privado.

Verifica-se que a Lei de Inovação de 2004 teve como ponto de

partida a situação das ICTs públicas, portanto, visando adequar suas

estruturas de caráter público nas suas relações com o setor privado.

Mesmo com a criação dos Núcleos de Inovação Tecnológica, os

entraves continuaram e neste ponto deve-se ter em vista que o NIT,

como gestor da inovação da instituição, sem uma independencia, uma

personalidade jurídica própria, acaba negociando com o setor privado e

impondo a estes os ditames da relação pública, não considerando o

dinamismo que a situação requer. Algumas ICTs preferiram se "apoiar"

em outras instituições para gerenciar estes contratos e as receitas

oriundas desta relação, portanto, as fundações de apoio e vale aqui

compreender como esta relação é estabelecida. Para esta relação, seja na

esfera federal, como estadual ou municipal foram criadas leis que a

regulam. A mais conhecida é a federal, Lei nº 8.958/94, que trata da

relação entre as instituições federais de ensino e sua respectiva fundação

de apoio (FAP) e regulamentada pelo Decreto nº 7.423/2010. A

legislação citada permite que as IFES (Instituições Federais de Ensino

Superior) celebrem contratos (artigo 24, XIII, Lei 86666/93) e

convênios com estas fundações para que estas apoiem "projetos de

ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento institucional, científico e

tecnológico e estímulo à inovação, inclusive na gestão administrativa e

financeira necessária à execução desses projetos". Neste último ponto,

gestão administrativa e financeira é a grande oportunidade que as ICTs

evidenciam para dar maior celeridade aos seus projetos e contratos que

envolvam a inovação. A fundação de apoio serve como intermediário da

relação da ICT com empresas e busca tornar mais ágil a relação U-E, em

projetos (pesquisas) ou na própria contratação, de modo que gerencia de

forma mais imparcial nas negociações, evidentemente cobrando pelos

serviços. Por sua constituição legal, as fundações são de direito privado,

porém, sem fins lucrativos, conforme artigo 62 do Código Civil: Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor

fará, por escritura pública ou testamento, dotação

especial de bens livres, especificando o fim a que

se destina, e declarando, se quiser, a maneira de

administrá-la.

271

Parágrafo único. A fundação somente poderá

constituir-se para fins religiosos, morais, culturais

ou de assistência. (CÓDIGO CIVIL, Lei nº

10.406/2002)

Para maior controle destas pessoas jurídicas de direito privado,

que cuidam de interesse público, estas estão sujeitas à fiscalização do

Ministério Público, conforme previsão no Código Civil e do Código de

Processo Civil, e também trabalhista, devendo inclusive realizar um

prévio registro e credenciamento nos Ministérios da Educação e do

Ministério da Ciência e Tecnologia, dando-lhes legitimidade para atuar

no suporte administrativo e finalístico aos projetos das ICTs. Sendo um

mecanismo conhecido pela ICTs e que pode ser aproveitado para a

relação com o NIT, especificando seu objeto para a transferência de

tecnologia e conhecimento.

Distanciando-se ainda das mudanças legais, na visão desta autora,

outras formas a serem pensadas de constituição jurídica dos NITs seria a

empresa pública, como organização social, associação. A primeira traria

uma visão mais comercial e possibilitaria uma inserção mais negocial

dos NITs. Um bom exemplo de uma instituição de excelência na área da

agricultura e com patentes registradas inclusive no exterior é a Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que é uma empresa

pública pioneira em muitas descobertas científicas relacionadas ao

feijão, arroz, trigo, gado de corte entre outros. Todavia, uma empresa

pública terá sempre nuances do setor público, sendo a hipótese prevista

no novo marco legal mais independente.

Outra forma que a administração pública tem utilizado para

relacionar com o setor privado é através das Organizações Sociais,

também criadas sem fins lucrativos. Logo, o Poder Público transfere a

produção dos serviços competitivos ou não-exclusivos do Estado,

estabelecendo-se um sistema de parceria entre o Estado e a sociedade.

Visando alcançar maior eficiência, o Estado deixa de executar ou prestar

os serviços diretamente, porém, permanece sua função de fiscalizar e

controlar a execução dos serviços, através de um contrato, denominado

contrato de gestão. É através deste contrato que a organização social

firma um compromisso institucional com a administração pública para

realizar atividades de interesse social não-exclusivas, conforme definido

na Lei nº 9.637, de 1998. Esta nomenclatura, contrato de gestão,

significa que através deste instrumento o Estado poderá supervisionar e

272

acompanhar, avaliar as políticas públicas em que são definidas ações,

metas e prazos, formas de repasse de recursos, bem como, indicadores

exigindo um resultado mais eficaz. É, portanto, um modelo de gestão

que visa melhorar a eficiência e qualidade na prestação de serviços,

sendo que estas organizações que já possuem experiência prévia sobre o

serviço a ser prestado, como na área da saúde, cultura, educação ou

esportes possam realiza-lo com presteza. Um exemplo de aplicação

desta figura na área de inovação é na gestão de parques tecnológicos, no

caso da Agência de Desenvolvimento e Inovação de Sorocaba (INOVA

Sorocaba) que é uma Organização Social (OS) responsável pela gestão

de Ciência, Tecnologia e Inovação, além de ser responsável pelo

programa de incubação de empresas de base tecnológica no Parque

Tecnológico de Sorocaba; ou ainda o Parque Tecnológico de São José

dos Campos (PqTec – SJC) que tem como gestora uma associação

(Associação Parque Tecnológico de São José dos Campos-APTSJC),

entidade privada sem fins lucrativos, qualificada pelo poder público

municipal como Organização Social, que foi com quem esta associação

firmou contrato de gestão. O Centro de Gestão de Estudos Estratégicos-

CGEE, sediado em Brasília, é outro exemplo de OS, criado com

objetivo de promover e realizar estudos e pesquisas prospectivas de alto

nível nas áreas de educação, ciência, tecnologia e inovação e suas

relações com setores produtores de bens e serviços.

De outro lado, conforme já mencionado, a proposta de mudança

no marco regulatório para a inovação já vislumbrou a possibilidade do

NIT inclusive assumir uma personalidade jurídica muito próxima da

fundação de apoio, possibilitando maior independência e autonomia

destes gestores de inovação. O que poderá gerar algumas dúvidas e

desconfianças da academia, porém, busca introduzir práticas que já

ocorrem em outros países, como Holanda e Israel, que apresentam

resultados positivos. Por conseguinte, os modelos adotados por

instituições de pesquisa brasileira, que foi estruturada a partir da Lei de

Inovação em 2004, em que houve a obrigatoriedade de criação de NITs

e uma maior preocupação em proteger os resultados de pesquisas e

tecnologias desenvolvidas, evidenciou que o Brasil tem dificuldades em

alavancar este modelo, em razão deste estar adstrito às normas da

administração pública. Inúmeras vezes é acusada de carregar a herança

da morosidade e burocracia, o que ainda acompanha as relações entre

universidade e empresa no âmbito nacional. Necessita-se, portanto, sair

da postura de inércia e conformismo e avançar para uma postura mais

assertiva quanto à transferência de tecnologia, não apenas pensando em

273

paliativos e arranjos, sair da posição de path losers para path finders,

conforme visão de Salles-Filho e Bonacelli (200, p.01-09). A adoção do

modelo mais independente poderá ser aprovada ou não pelo decurso do

tempo e das experiências vividas pelas instituições que o adotarem.

Como demonstrado nos casos estudados, este modelo sofre resistências

quanto sua implantação. Seria ideal ter universidades também menos

burocráticas e NITs mais independentes como no caso israelense ou

ainda a possibilidade das universidades serem acionistas majoritárias

formando holdings, mas, para estes modelos, a mudança teria que

acontecer na estrutura da universidade, o que não se vislumbra em curto

prazo. As opções das alterações trazidas pela Lei 13.243/2016

possibilitam mudanças importantes e servem como uma transição, quem

sabe, para um futuro mais independente.

274

275

CONCLUSÃO

A apresentação deste estudo buscou trazer uma visão geral sobre

a temática que envolve a inovação, passando por questões que estão

inseridas no país e na relação U-E, que partem para situações

particulares que foram descritas na parte empírica da pesquisa.

Reconhece-se que a parte conclusiva não é exaustiva, como não

pretendeu ser a pesquisa, porém, após o que fora apresentado

coordenadamente, é possível realizar um julgamento acerca do valor das

ideias reunidas com o escopo já demonstrado. Na realidade, a conclusão

foi delineada ao longo da escrita da tese, respeitando o processo de

argumentação e que geraram sugestões inseridas nos capítulos.

Verificou-se que no primeiro capítulo, buscou um panorama geral

sobre a inovação trazendo seus conceitos e teorias mais referenciadas

nos textos científicos e reconhecidas internacionalmente. Desse modo,

tratou-se sobre o conceito de termo inovação, ambiente, sistemas e

modelos, como também, sobre o modelo jurídico-institucional. Ficou

evidenciado que a inovação é compreendida entre dois aspectos

orientadores, quais sejam o avanço tecnológico e o mercado

consumidor. Para o bom funcionamento desta engrenagem, a pesquisa

adotou a teoria e visão da Tríplice Hélice que admite ao menos três

agentes de inovação, que desenvolvem papeis distintos e relevantes para

a fomentarem. Portanto, as universidades e os governos servem como de

suporte estrutural, científico e financeiro, para que o setor privado possa

também exercer seu papel no desenvolvimento de novas ideias e ações.

Todavia, percebeu-se com as leituras e entrevistas que no Brasil, mesmo

com marco legal e adoção de políticas para inovação, esta engrenagem,

esta relação ainda carece de alguns ajustes. E esta pesquisa de forma

intencional preferiu estudar mais pontualmente o papel das

universidades, por razões pessoais, profissionais, já que a pesquisadora

desenvolve suas atividades profissionais de advocacia junto a uma

universidade estadual. E ainda compreendeu que algumas perguntas

práticas não poderiam ser respondidas pela pura interpretação legal.

Como defendido por Cristóvão Buarque (2014), acredita-se que a

universidade deve ser redefinida e que realmente precisa tomar uma

decisão crucial nesta "encruzilhada", inclusive decidindo quanto a

reavaliar suas ações e visão, repensar seu papel na sociedade.

Deve-se ressaltar que no início da pesquisa, as impressões e

hipóteses estavam direcionadas para a estrutura geral da universidade

pública no país e unia-se às críticas sobre a burocracia e quanto à

276

estrutura pública que tanto dificulta a interlocução com o "estranho"

mundo exterior da academia. Dentro da instituição, tudo deve funcionar

diferente do que ocorre externamente e o tempo é realmente relativo.

Esta visão procurou respostas numa possível mudança de paradigma e

modelos híbridos de universidades porque quando se fala em inovação,

os melhores exemplos são de outros países, particulamente, Estados

Unidos e Europa. Entretanto, a percebe-se que comparação acaba sendo

inócua no seu nascedouro, já que existe uma grande diferença quanto ao

modelo jurídico-institucional que estas universidades estrangeiras

adotam. Esta formatação pública e estatal, conforme comentado e a

dicotomia entre o público e privado, deixam as universidades brasileiras

em desvantagem. Como falar em inovação se muitas universidades

públicas no país têm dificuldades em organizar a execução financeira de

recursos externos ou ainda cumprir a finalidade dos recursos destinados

que ficam "perdidos" na conta única do governo estadual

(principalmente do Mato Grosso) e dificultam a execução orçamentária

de um projeto de pesquisa que tenha uma parceria entre universidade e

empresa. No entanto, com a evolução da pesquisa, reconheceu-se que a

discussão sobre os modelos de universidades por si só justificariam uma

tese de doutorado, porém, o foco da pesquisa estava na gestão da

inovação ou transferência de tecnologia e conhecimento. Assim, a

discussão foi canalizada para os Núcleos de Inovação Tecnológica e sua

atuação nas relações entre universidade e empresas, discutindo em

concreto suas vantagens e desvantagens. Aqui sim caberia uma

discussão sobre a autonomia e estrutura jurídica de criação dos NITs,

sua formatação institucional, o que o legislador brasileiro já estava

discutindo conforme as considerações da proposta de alteração de lei.

Após, concentrou-se na discussão quanto ao marco legal e

política de inovação no país, direcionando o enfoque para a Lei de

Inovação, pois, a discussão principal fixou-se nas Instituições de Ciência

e Tecnologia e sua importância neste Sistema de Inovação. Tratou-se da

Política de Inovação Brasileira que demonstra como o país se organizou,

quais as decisões que buscou para o desenvolvimento tecnológico e

industrial propiciando um ambiente de inovação. Isso inclui a adoção de

análises similares dos países europeus: o Brazilian Paradox obteve

conclusões sobre a dificuldade de que o conhecimento gerado não

produzia avanço tecnológico, tampouco inovação no setor produtivo e

com os diagnósticos, o governo pode direcionar suas políticas. Abordou-

se também sobre as legislações estrangeiras que inspiraram a lei

brasileira, compreendendo um misto de ideias europeias e

277

norteamericanas, bem como, um possível conflito ou dependência de

outras legislações para que seus objetivos fossem alcançados e que as

parcerias formalizadas pelos contratos e cooperações não sejam

obstados. Mas, o destaque neste capítulo está nas mudanças legais já

realizadas, como a Emenda Constitucional nº 85/2015, das alterações

trazidas pela Lei nº 13.243/2016. Esta lei entrou em vigor em janeiro de

2016 e apresentou mudanças legislativas em normas que incidem sobre

a inovação no país. Para esta nova legislação, felizmente, houve ampla

discussão com a comunidade acadêmica e o setor privado, o que poderá

ser uma resposta mais realista das necessidades reais destes segmentos,

pois, bravamente, trazem à baila soluções que inovam e rompem com

um paradigma na universidade, como a possibilidade de estruturar os

NITs com personalidade jurídica própria e de direito privado e de poder

remunerar melhor o pesquisador. Com estas alterações, busca-se

promover as parcerias entre as ICTs (públicas e privadas) e as empresas

e definitivamente dinamizar o aproveitamento das atividades de

pesquisas serem aproveitados pela iniciativa privada. Certamente

auxiliará no aumento da competitividade frente ao mercado

internacional, no desenvolvimento econômico e social.

A seguir adentrou-se na discussão relação U-E e nas atividades

dos NITs. Inicialmente, foi apresentado o contexto em que as indústrias

e universidades brasileiras foram criadas, reafirmando as diferenças de

visão e interesses entre estas partes, sendo relacionado com seus

históricos. O processo de industrialização brasileiro, que faziam apenas

uma adaptação do que era produzido no exterior, não se interessando em

manter centro de pesquisas, laboratórios ou institutos para desenvolver

novos produtos no país, o que explica o porquê de a pesquisa e o

desenvolvimento serem colocados em segundo plano para o setor

privado. Da mesma forma, o modelo brasileiro de universidades esteve

em grande parte da história se dedicando para formação de profissionais,

visando mercado de trabalho, ou apenas produção de conhecimento

"descomprometida" com as necessidades práticas da sociedade,

"pesquisar por pesquisar". Esta postura institucional, no entendimento

desta pesquisadora tem sido confrontada e as instituições estão sendo

"impelidas" a assumirem um papel mais dinâmico para desenvolverem

pesquisas aplicadas, além da básica, que é de sua natureza, convergindo

também interesses do setor privado (e sociedade) para a promoção da

inovação. Isto é salutar, quando existe uma estruturação de políticas e

incentivos apropriados, para gerar uma cultura de inovação nas

instituições de ensino e pesquisa. Conquanto, das discussões

278

apresentadas no capítulo II, o que deve ser considerando como crítico

são a visão e missão que a universidade quer desenvolver para o futuro.

Esta autora acredita que não há mais espaço para acusações sobre a

comercialização e privatização das ICTs, a universidade precisa evoluir

e discutir ou inserir a questão da inovação nas suas políticas e decisões.

Não se pode ignorar que estudiosos como Boaventura Sousa Santos e

Cristóvam Buarque, que conhecem profundamente a temática

universitária, estão buscando alertar as instituições para uma discussão

madura, reconhecendo que uma mudança é necessária. Coaduna-se,

portanto, com as observações do sociólogo Boaventura, que reconhece

que é necessário resituar o papel da universidade pública na definição e

resolução de forma coletiva dos problemas sociais, que deve ter em

conta a contextualização global; bem como, do educador, engenheiro

mecânico, economista e político. Buarque afirma que a universidade

encontra-se em uma encruzilhada civilizatória. Sobre os NITs, falou-se

da sua constituição em torno do país que se tonificou com a

promulgação da Lei de Inovação e também sobre sua vocação na

intermediação dos assuntos de transferência de conhecimento e

tecnologia, bem ainda, de proteção dos direitos de propriedade

intelectual. Não obstante, com toda esta vontade em instituir uma

cultura nacional de inovação, verificou-se que alguns pontos da Lei de

Inovação necessitam de mecanismos para implantação.

Os comentários sobre a proposta de alteração legal demonstrou

que era importante redefinir a história e caminho a ser traçado sobre a

inovação no país. Percebeu-se que houve ampla discussão com a

comunidade acadêmica e o setor privado contemplando e garantindo

situações que não puderam ser previstas na Lei de Inovação de 2004. A

proposta também abarca outras legislações, reafirmando o entendimento

de que as normas também necessitam trabalhar sistematicamente.

Espera-se que as alterações promovam as parcerias entre as ICTs

(públicas e privadas) e as empresas e definitivamente possa dinamizar o

aproveitamento das atividades de pesquisas serem aproveitados pela

iniciativa privada. Certamente auxiliará no aumento da competitividade

frente ao mercado internacional, visando o desenvolvimento econômico

e social, melhoria nos índices e pontuações em rankings internacionais,

podendo a nova legislação fazer história com maior autonomia e com

melhores resultados para o país.

Através do estudo dos casos propostos, a percepção inicial desta

pesquisadora foi confirmada, pois compreendendo que a inovação é

explicada sistematicamente, não se pode esperar resultados apenas de

279

uma legislação, precisa-se de uma adequação da organização para sua

implementação. Observando as instituições estudadas Universidade do

Estado de Santa Catarina (UDESC) e Univeridade do Estado do Mato

Grosso (UNEMAT) é possível concluir que as instituições tiveram ou

têm dificuldades em realizar suas atividades em razão de lacunas

normativas internas que ainda não traduzem a visão de inovação, bem

como seus procedimentos e órgãos não se comunicam devidamente. O

que significa que não é apenas a questão da lei de inovação nacional em

si que dificulta a realizar inovação e sim como a legislação é

internalizada institucionalmente no seu modelo jurídico, político e

gerencial. Quanto à autonomia e independência financeira e gerencial

nas universidades estudadas, foram uníssonas quanto à sua importância.

Mas, quando se trouxe a baila situações que possam romper com o

padrão nacional instituído, houve parcimônia, principalmente quando

foram perguntados sobre a possibilidade de personalidade jurídica do

NIT ou em relação à cessão dos direitos de PI. Demonstra que apesar de

desejarem desenvolver suas atividades com maior relevância e

vislumbrarem casos dos países desenvolvidos, as mudanças estruturais

ainda causam estranheza.

Foram apresentados os históricos das instituições de ensino e

pesquisa pública estadual e através das técnicas de observação e de

entrevistas, pode-se perceber a realidade das universidades e a forma de

gestão da inovação e perceber as dificuldades que além de serem legais,

também são estruturais. Portanto, utilizou-se a observação como meio

de coleta de dados durante visitas realizadas aos Núcleos de Inovação e

análise documental, que focalizou o histórico das universidades,

contexto regional, através de livros e revistas, informativos nos sítios

eletrônicos e matérias veiculadas e, principalmente, em normativas

internas das instituições e suas políticas.

Da análise realizada, destacam-se o resultado advindo das

entrevistas e visitas à Coordenadoria de Projetos e Inovação (CIPI) e

Núcleo de Apoio à Inovação Tecnológica e Captação de Recursos

Externos (NITEC) da UDESC e NIT (Núcleo de Inovação) da

UNEMAT. O roteiro com perguntas abertas e não estruturadas, auxiliou

na percepção da realidade de cada instituição e seu estágio de evolução

quanto à getão da inovação. Para a interpretação dos dados colacionados

as informações foram organizadas de forma comparativa indicando-se

similaridades, diferenças e destaques das instituições de ensino e

pesquisa. De igual modo foi utilizada a análise documental com consulta

280

a notícias e instrumentos normativos das universidades e a observação

nas visitas realizadas nas entrevistas.

A pesquisa constatou que para ambas insitiuições, a inovação é

um fator estratégico, reconhecendo que houve um avanço com a

implantação do Núcleo de Inovação Tecnológica e que a instituição

deve incentivar projetos que envolvam pesquisas com uma aplicação

mais prática para a sociedade, não se esquecendo de manter a pesquisa

básica, que atualmente é a mais frequente em ambas. A lei de inovação

foi citada como um referencial para estimular o ambiente produtivo de

inovação e que trouxe benefícios. No tocante às parcerias com o setor

privado, estas foram consideradas como vantajosas para as instituições,

significando aporte financeiro, geração de conhecimento, de produtos e

processos, direitos de propriedade industrial, que poderá gerar royalties

quando existir a transferência. A troca de conhecimento foi relatada

como elemento principal, em que os pesquisadores para desenvolverem

novas tecnologias para o mercado são forçados a buscar por informações

do mercado externo. Ficou evidenciado que esta interação traz um

choque de realidade, confrontando o ensino com a aplicação prática e

resolução de problemas da sociedade, que é uma crítica ao meio

acadêmico.

Verificou-se também, que o quantitativo de ativos intangíveis não

tem expressividade nas instituições e a maioria está em fase de análise

no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), o que

demonstra que o ritmo da transferência de tecnologia é ainda tímido, já

que não possuem a titularidade e o bem intangível reconhecidamente

protegido. Esta autora constatou que a autonomia do NIT é uma visão

uníssonaentre as instituições, apesar de que na instituição da região Sul,

reconhece que a forma de criação e vinculação diretamente com a

Reitoria auxilia sobremaneira neste contexto. Contudo, igualmente

concordam que a fundação que se destinam a dar apoio institucional nas

parcerias que a universidade firma, necessita de um verdadeiro

engajamento e sua atuação deve estar bem definida em normas que

definem a relação entre a universidade e a própria fundação.

Notou-se que as universidades têm questões muito similares,

mesmo estando em Estados da federação bem diferentes e com

economia diversificada. Ambas apontaram a importância de terem sua

autonomia melhor definida, principalmente, quanto à questão

orçamentária e políticas institucionais mais pró-ativas. Outra questão

confirmada pela pesquisa foi que várias vezes as entidades tiveram

dificuldades em relacionar com empresas porque os interesses são

281

diversos, o tempo e prazos praticados na universidade desestimulam o

setor privado, da mesma forma, em razão das empresas buscarem

parcerias desvantajosas à universidade, visando apenas tirar um proveito

das instalações e profissionais da instituição sem ofertar uma

contrapartida justa. O estudo de caso institucional teve como objeto as

instituições citadas, UDESC e UNEMAT, visando serem confirmadas

ou confrontadas as hipóteses iniciais da pesquisa nas situações concretas

das universidades estaduais. Possibilitou-se a utilização da generalização

empírica defendida por Robert Yin, servindo como "luz empírica" sobre

os conceitos ou princípios teóricos que poderão ser aplicados na

reinterpretação dos resultados de outras instituições.

Esta pesquisa buscou referenciar sobre o modelo jurídico adotado

nas universidades públicas estaduais citadas (UDESC e UNEMAT) e

sua influência na gestão de transferência de tecnologia e conhecimento,

já que a natureza jurídica institucional pertencente à administração

pública indireta atingia diretamente nas ações dos NITs. O advento do

novo marco legal oportunizou a constituição dos núcleos de inovação

sob uma personalidade própria, assim esta pesquisadora compreende

que na atualidade basicamente existem dois modelos jurídico-

institucionais que os NITs podem assumir o "modelo autônomo" e

"modelo independente" (ou interdependente). Frisa-se que os dois

modelos são importantes para a atuação dos NITs, desde que garantidas

a liberdade de decisão e gerenciamento, inclusive, para assumir

obrigações em nome da instituição, no caso do NIT ainda estar na

estrutura da universidade.

Esta autora acredita que o primeiro modelo (autônomo) está

muito próximo do que já existe, com uma estrutura dependente da

instituição, sem personalidade jurídica, porém, com uma "autonomia

reforçada" pró-inovação. O segundo modelo (independente) trata da

previsão atual advinda das alterações de 2016 que possibilitou a

constituição dos NITs com personalidade jurídica própria, o que

particularmente esta pesquisadora acredita ser uma opção mais vantajosa

para as instituições e mais interessante e apropriada para o avanço na

gestão da inovação internamente. Estas alterações foram importantes e

afetam a estrutura jurídico-institucional. E é neste aspecto, que as

alterações trazidas pela Lei nº 13.243/2016, ao definir Núcleo de

Inovação Tecnológica como: "estrutura instítuida por uma ou mais

ICTs, com ou sem personalidade jurídica própria, que tenha por

finalidade a gestão de política institucional de inovação", houve uma

crucial preocupação com a gestão da inovação. Denota-se que houve

282

intresse do legislador em dar independência e celeridade a estes núcleos,

que passam a ter opção de ter personalidade jurídica própria ou não.

Desta maneira, os NITs poderão ser organização com independência não

figurando mais como departamentos, extensões das estruturas já

existentes, que os obrigam a seguir regras restritas da administração

pública, sendo assim, independentes. Todavia, esta independência não

signfica total inobservância das regras atinentes à utilização do dinheiro

público, significa, sobretudo um modelo interdependente, em que existe

um interesse recíproco entre o NIT e a universidade com regras claras de

relacionamento, encontradas nas normativas internas de ambas as

instituições para que a relação flua com transparência, como atualmente

é previsto com as fundações de apoio que está como uma formatação

sugerida pela alteração legal.

Na discussão também foram apresentadas sugestões sobre

questões orçamentárias, estruturais (física e pessoal), nível de

comprometimento do sistema de valorização dos profissionais (técnicos

e pesquisadores) e relação com o inventor independente, que poderão

ser aplicadas em ambos os modelos, o que pode fomentar uma melhora

na gestão da inovação em cada instituição.

Reconhece-se que estas discussões apresentadas na pesquisa não

são estanques e virão com maior intensidade com o decurso do tempo e

aplicação das novas regras trazidas pela Lei nº 12.243/2016. Esta

pesquisa concentrou-se no modelo jurídico-institucional, organização

política e orçamentária que podem determinar o desenvolvimento mais

célere da transferência de tecnologia e conhecimento. As mudanças

trazidas pela Lei nº 13.243/2016 e as constações apresentadas neste

estudo proporcionam vários outros voltados para o que estas mudanças

influenciarão as relações entre as ICTs e o setor privado ou público.

Como este estudo, ateve-se mais sobre os Sistemas de Inovação e o

modelo jurídico frente às relações entre Universidade-Empresa. Ainda

restam espaços para discutir, por exemplo, quanto à alteração do artigo

6º, § 1º-A, que possibilita simplificação da forma (extrato em sítio

eletrônico oficial da ICT) e a dispensa de oferta pública por edital para

contratação com cláusula de exclusividade para empresas que

desenvolveram projetos conjuntos com a ICT, desde que já prevista a

forma de remuneração em convênio ou contrato. Na opinião desta

pesquisadora, a mudança legislativa corrigiu uma questão óbvia, já que

as parceiras (empresas) teriam o maior interesse em obter a

exclusividade, porém, carecia de uma previsão e permissão explícita.

Também a oportunidade para apresentar estudos sobre o artigo 8º

283

alterado da Lei de Inovação que trouxe maior atenção quanto aos

serviços técnicos especializados prestados pelos profissionais das ICTs,

o que indica que isto depende de aprovação pelos dirigentes da

instituição, disciplinando os profissionais a observarem as regras

institucionais, antes de desejarem prestar serviços nesta área. Outra

modificação importante que poderá aumentar interesse de profissionais

acadêmicos em participar ativamente da política institucional de

inovação é a previsão do artigo 14-A da Lei de Inovação com a readação

atualizada, pois admite a possibilidade do profissional (pesquisador

público), inclusive em regime de dedicação exclusiva, exercer atividade

de pesquisa em outras instituições, tanto em outras ICTs ou empresas,

para exercer atividades remuneradas de pesquisa, desenvolvimento e

inovação. Estas situações devem aumentar os índices de contratações e

relação com as empresas. Esta autora acredita que será relevante a

análise sobre a relação U-E quando se observar casos de cessão de

Direitos de Propriedade Intelectual e participação nos resultados

autorizados pelo §3º, do artigo 9º (alterado) da Lei de Inovação, que

permite a cessão ao parceiro privado da totalidade dos direitos de

propriedade intelectual mediante compensação financeira ou não

financeira, desde que economicamente mensurável, desembaraçando

claramente as impasses sobre a PI ser obrigatoriamente da instituição

pública. Talvez aqui, a desatenção dos administrativistas quanto ao

patrimônio público intangível, conforme alerta Silva (2015, p.81, 86)

que a previsão tenha ocorrido sem muitas discussões. Contudo, em

razão desta falta de princípios e regras definidas ao caso, esta previsão

poderá facilitar as negociações com o setor privado, o que será traduzido

em números no futuro nos dados do FORMICT, uma vez que, da mesma

forma, possibilita a negociação, a "venda" dos Direitos de Propriedade

Intelectual (PI), que permite a opção de cessão, vislumbrando situações

que já ocorrem em universidades de países desenvolvidos.

Para este estudo, em particular, houve a necessidade de se

direcionar o modelo jurídico-institucional das instituições de ensino e

pesquisa públicas brasileiras para galgarem os números desejáveis de

produção e eficiência, seja no ensino propriamente dito e na pesquisa.

Esta pesquisa defende a autonomia e também acredita que o novo

modelo independente possa dar grandes resultados se for bem

empregado e se os paradigmas foram gradualmente desafiados para uma

solução pró-inovação, aproximando-se dos modelos apresentados,

holandês e israelense. A relação U-E é essencial pelas vantagens já

apontadas nesta pesquisa, porém, exige flexibilidade compatível com a

284

velocidade que estar na vanguarda da história. A questão que se deve

compreender é que para a academia não há mais espaço para

pensamentos e posições retrógradas, a inovação é uma realidade.

Certamente, não se concebe uma situação sem qualquer controle ou que

venha afetar (modificar) a missão da universidade, que desde sua

fundação, vem disseminando conhecimento. Porém, deve-se estar mais

atento sobre as mudanças que já existem e observar exemplos claros nos

países desenvolvidos em que a reorganização ou realinhamento

institucional foi fundamental para a subsistência das instituições de

ensino e pesquisa, sendo a inovação uma das formas de ampliar a

comunicação com a sociedade em que está inserida. Indubitavelmente,

não há uma receita pronta para se copiar, conforme Ortega y Gasset

afirma, a imitação deve ser evitada porque cada nação tem suas

particularidades, principalmente, na educação superior, entretanto, a

intransigência também não resolverá a questão.

285

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305

APÊNDICES

APÊNDICE A: Roteiro pesquisa empírica

Indicadores

verificáveis

Objetivos Meios de

verificação

Ambiente de

inovação

(sustentabilidade,

confiança)

Compreender

conceito de

inovação,

sistemas e

ambiente de

desenvolvimento;

Inovação como

missão e

estratégia de

competitividade;

Literatura;

Regulamentação

interna das

instituições;

Relação

Universidade-

Empresa

(TT e NIT)

Processo de

transferência de

tecnologia;

Tipos de acordos

e contratos de TT;

Identificar os

problemas e

vantagens da

relação U-E;

Aimportância da

Propriedade

Intelectual nos

acordos e

contratos;

Literatura;

Levantamento:

Questionário e

entrevistas

realizadas em Santa

Catarina (Joinville e

Florianópolis) e

Mato Grosso (Barra

do Bugres);

Documentos

seminários e

discussões

apresentando

dificuldades;

Relatórios com

estatísticas:

FORMICT,

Cambridge;

Políticas e Marco

Legal Verificar

políticas de

inovação e

Documentos sobre

políticas (relatórios e

estudos);

306

trajetória;

Verificar o

marco legal de

inovação no

país;

Verificar

proposta do

Código de

C,T&I.

Regulamentação que

eles adotam;

Entrevistas; Dados

no sítio eletrônico

das instituições;

Literatura

(internacional e

nacional)

307

APÊNDICE B: Roteiro de entrevistas

Identificação do entrevistado(a):

1) Qual sua relação com o NIT da universidade?

2) Há quanto tempo trabalha com a temática de inovação?

Ambiente produtivo e social de Inovação: 1) De acordo com o perfil de sua instituição qual destas opções,

em sua opinião, melhor a descreve?

a) Universidade desenvolve mais pesquisa básica;

b) Universidade desenvolve mais pesquisa aplicada;

c) Ambas, igualmente.

2) Considerando que a Lei da Inovação instituiu normas que

dispõem sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e

tecnológica no ambiente produtivo. Em sua opinião, a atividade

da universidade direcionada para desenvolver um ambiente de

inovação tem oferecido vantagens para a instituição?

( )Sim ( ) Não

Aponte algumas vantagens –Vantagens do ambiente produtivo

( )A aproximação com o setor privado, através de

parcerias,possibilita a transferência de conhecimento e

tecnologia;

( ) A possibilidade de realizar mais pesquisas direcionadas para

soluções práticas;

( ) O reconhecimento da Universidade em âmbito nacional e/ou

internacional;

( ) O aumento de captação de recursos financeiros através de

editais de entidades de fomento para inovação;

( ) O aumento na captação de recursos financeiros oriundos do

setor privado;

( ) A proteção aos direitos de propriedade intelectual

possibilitando a transferência de tecnologia e recebimento de

benefícios econômicos através dos royalties;

( )Outro(s):

____________________________________________________

_______________________________________________.

308

3) Caso tenha ocorrido compartilhamento e/ou permissão para

utilização da estrutura da universidade (laboratórios,

equipamentos), em sua opinião, esta interação tem trazido

vantagens para o desenvolvimento de um ambiente de inovação e

social? Por quê?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

________________________________________________.

4) Em sua opinião, a instituição em que trabalha tem identificado

oportunidades para o desenvolvimento tecnológico através de

análise e monitoramento de tendências para inovação com

pesquisa e/ou tecnologia?

( ) Sim ( ) Não

Se você respondeu sim, como descreveria esta ação? Através de:

(por favor, marque mais de uma opção, se necessário)

( ) Participação em conferências, feiras, congressos e seminários;

( ) Realização de eventos abertos para que as empresas conheçam

a universidade e possam contatar seus estudantes e pesquisadores

nas áreas de interesses;

( ) Realização de eventos em que possam identificar talentos

entre seus estudantes e pesquisadores;

( ) Verificação de demandas nas empresas ou associações

comerciais;

( ) Verificação de demandas junto ao poder público (Municípios,

Estados, Empresas públicas, Fundações etc)

( ) Verificação de interesses de investidores;

( ) Análises de especialistas sobre as tendências de mercado;

( ) Apresentação de Portfólio de tecnologias da universidade para

interessados;

( ) Outro(s)

____________________________________________________

__________________________________________________.

309

5) Você entende ser importante que a universidade tenha

uma reserva financeira ou fundo específico para apoiar e

desenvolver Inovação (produtos, processos e serviços no

ambiente produtivo)? Por quê?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

__________________________________________

Relação U-E/Transferência de Tecnologia

6) A Lei de Inovação prevê a possibilidade das ICTs realizarem

parcerias com outras entidades públicas ou privadas, no caso da

instituição que você trabalha qual o tipo de parceria mais

freqüente? (por favor, marque mais de uma opção, se necessário)

( ) Com universidades e/ou institutos de pesquisasnacionais

públicas;

( ) Com universidades e/ou institutos de pesquisas nacionais

privadas;

( ) Com universidades e/ou institutos de pesquisas

internacionais;

( ) Com empresas de pequeno e médio porte nacionais;

( ) Com grandes empresas nacionais;

( ) Com empresas multinacionais;

( ) Com o setor público (que não sejam as instituição de pesquisa

e ensino)

( ) Com Parques Tecnológicos ouPólos Tecnológicos;

( ) Outros:

____________________________________________________

___________________________________

7) Estas parcerias na maioria das vezes são iniciadas por:

a) Iniciativa da instituição, pelo órgão gestor de inovação;

b) Iniciativa do terceiro interessado com demandas próprias;

c) Iniciativa dos pesquisadores da Universidade;

d) Outra:___________________________________________

8) Em sua opinião estas parcerias apresentam benefícios para a

instituição de ensino em que trabalha porque? Porque

proporciona: (por favor, marque mais de uma opção, se

necessário)

310

( ) Maior aporte de recursos financeiros para a pesquisa;

( ) Aprendizagem compartilhada e troca de experiências;

( ) Dinamismo nas pesquisas e seu tempo de desenvolvimento;

( ) Desenvolvimento de tecnologias e conhecimentos complexos;

( ) Incorporação de tecnologias e conhecimentos complexos na

instituição;

( ) Incorporação da visão de mercado e empreendedorismo na

instituição;

( ) Outros:

____________________________________________________

__________________________________________________.

9) Em sua opinião estas parcerias apresentam dificuldades

para a instituição de ensino em que trabalha porque proporciona:

(por favor, marque mais de uma opção, se necessário)

( ) Interesses divergentes entre a instituição e o parceiro;

( ) Imposição das condições do parceiro nas pesquisas da

instituição;

( ) Baixa credibilidade na transferência de informações;

( ) Dificuldades de comunicação;

( ) Baixo índice de comprometimento das setores internos da

instituição;

( ) Baixo índice de comprometimento das setores internos do

parceiro;

( ) Ineficiência e imobilismo das partes;

( ) Outros:

____________________________________________________

________

10) Quais são as áreas e/ou tecnologias que sua instituição

geralmente desenvolve: (por favor, marque mais de uma opção se

for o caso):

( ) Ciências das vida

( )Dispositivos Médicos;

( )Tratamentos ou procedimentos médicos;

( ) Farmacêuticos;

( ) Tecnologias da Informação e Mídia;

( )Materiais;

( ) Engenharia (automação, controle de processos entre outros);

( ) Ambiental;

311

( )Energia;

( ) Social;

( )Outros _____________

11) Quanto ao registro de Propriedade Industrial (patente de

invenção, patente de modelo de utilidade, desenho industrial,

cultivar), a instituição em que trabalha tem conseguido realizar

este procedimento com facilidade ou ainda encontra dificuldades?

Quais? (Por favor, se houver dificuldades aponte ao menos três).

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

12) Você entende que é importante que a universidade mantenha

titularidade exclusiva da patente, marca, desenho industrial,

cultivar, ou acredita que estes direitos devem ser cedidos aos

parceiros de pesquisa e desenvolvimento? Por quê?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

13) Você entende que se a universidade em que trabalha pudesse

ceder/transferir (totalmente) seus direitos de propriedade

intelectual aos parceiros de pesquisas ou terceiros interessados,

isto dinamizaria a interação com o setor privado? Por quê?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

14) A instituição já concedeu licença sem remuneração para

professor(a) ou pesquisador(a) público para este constituir

312

empresa com finalidade de desenvolver atividade empresarial

relativa à inovação (artigo 15 da Lei de Inovação)?

a) Sim. Número de pesquisadores: __________

b) Não. Nenhum caso.

c) Não. Porém, existem casos em tramitação;

Políticas e Marco Legal para Inovação: 15) Como você vê a aplicação da Lei de Licitações (Lei 8.666/93)

para os casos de transferência de tecnologiaem sua instituição. É

um facilitador ou um entrave? Por quê?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

16) Você entende que a intermediação realizada por uma

Fundação de Apoio na administração ou gerenciamento dos

acordos e contratos de transferência de tecnologia e

conhecimento é importante para a interação com o setor privado?

Por quê?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

17) Existe um procedimento próprio(regimento, resolução,

regulamento) para tramitação de processos administrativos (fluxo

de processos) referentes às atividades de transferência de

tecnologia, seja nos contratos ou convênios? Você entende que

este fluxo de processos é importante?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

313

18) Em sua opinião, você acredita que o órgão gestor de inovação

(NIT) de sua instituição tem autonomia e independência para

realizar suas atividades? Você gostaria de compartilhar alguma

sugestão ou modelo para fortalecer esta atividade?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

19) Existe alguma sugestão que gostaria de apontar para melhorar

a interação entre a universidade e as empresas ou outras

instituições?

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

____________________________________________________

314

ANEXOS

ANEXO A: Lei nº13.243, de janeiro de 2016

Presidência da República

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 13.243, DE 11 DE JANEIRO DE 2016.

Mensagem de veto

Dispõe sobre estímulos ao desenvolvimento científico, à

pesquisa, à capacitação científica e tecnológica e à inovação e altera a

Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004, a Lei no 6.815, de 19 de

agosto de 1980, a Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, a Lei no

12.462, de 4 de agosto de 2011, a Lei no 8.745, de 9 de dezembro de

1993, a Lei no 8.958, de 20 de dezembro de 1994, a Lei no 8.010, de 29

de março de 1990, a Lei no 8.032, de 12 de abril de 1990, e a Lei no

12.772, de 28 de dezembro de 2012, nos termos da Emenda

Constitucional no 85, de 26 de fevereiro de 2015.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso

Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Esta Lei dispõe sobre estímulos ao desenvolvimento

científico, à pesquisa, à capacitação científica e tecnológica e à inovação

e altera a Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004, a Lei no 6.815, de

19 de agosto de 1980, a Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, a Lei no

12.462, de 4 de agosto de 2011, a Lei no 8.745, de 9 de dezembro de

1993, a Lei no 8.958, de 20 de dezembro de 1994, a Lei no 8.010, de 29

de março de 1990, a Lei no 8.032, de 12 de abril de 1990, e a Lei no

12.772, de 28 de dezembro de 2012, nos termos da Emenda

Constitucional no 85, de 26 de fevereiro de 2015.

Art. 2o A Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004, passa a

vigorar com as seguintes alterações:

315

“Art. 1o Esta Lei estabelece medidas de incentivo à

inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo,

com vistas à capacitação tecnológica, ao alcance da autonomia

tecnológica e ao desenvolvimento do sistema produtivo nacional e

regional do País, nos termos dos arts. 23, 24, 167, 200, 213, 218, 219 e

219-A da Constituição Federal.

Parágrafo único. As medidas às quais se refere o caput

deverão observar os seguintes princípios:

I - promoção das atividades científicas e tecnológicas como

estratégicas para o desenvolvimento econômico e social;

II - promoção e continuidade dos processos de

desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação, assegurados os

recursos humanos, econômicos e financeiros para tal finalidade;

III - redução das desigualdades regionais;

IV - descentralização das atividades de ciência, tecnologia e

inovação em cada esfera de governo, com desconcentração em cada ente

federado;

V - promoção da cooperação e interação entre os entes

públicos, entre os setores público e privado e entre empresas;

VI - estímulo à atividade de inovação nas Instituições

Científica, Tecnológica e de Inovação (ICTs) e nas empresas, inclusive

para a atração, a constituição e a instalação de centros de pesquisa,

desenvolvimento e inovação e de parques e polos tecnológicos no País;

VII - promoção da competitividade empresarial nos

mercados nacional e internacional;

VIII - incentivo à constituição de ambientes favoráveis à

inovação e às atividades de transferência de tecnologia;

IX - promoção e continuidade dos processos de formação e

capacitação científica e tecnológica;

316

X - fortalecimento das capacidades operacional, científica,

tecnológica e administrativa das ICTs;

XI - atratividade dos instrumentos de fomento e de crédito,

bem como sua permanente atualização e aperfeiçoamento;

XII - simplificação de procedimentos para gestão de projetos

de ciência, tecnologia e inovação e adoção de controle por resultados em

sua avaliação;

XIII - utilização do poder de compra do Estado para fomento

à inovação;

XIV - apoio, incentivo e integração dos inventores

independentes às atividades das ICTs e ao sistema produtivo.” (NR)

“Art. 2o ..................................................................

.......................................................................................

III - criador: pessoa física que seja inventora, obtentora ou

autora de criação;

III-A - incubadora de empresas: organização ou estrutura

que objetiva estimular ou prestar apoio logístico, gerencial e tecnológico

ao empreendedorismo inovador e intensivo em conhecimento, com o

objetivo de facilitar a criação e o desenvolvimento de empresas que

tenham como diferencial a realização de atividades voltadas à inovação;

IV - inovação: introdução de novidade ou aperfeiçoamento

no ambiente produtivo e social que resulte em novos produtos, serviços

ou processos ou que compreenda a agregação de novas funcionalidades

ou características a produto, serviço ou processo já existente que possa

resultar em melhorias e em efetivo ganho de qualidade ou desempenho;

V - Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT):

órgão ou entidade da administração pública direta ou indireta ou pessoa

jurídica de direito privado sem fins lucrativos legalmente constituída sob

as leis brasileiras, com sede e foro no País, que inclua em sua missão

institucional ou em seu objetivo social ou estatutário a pesquisa básica

317

ou aplicada de caráter científico ou tecnológico ou o desenvolvimento

de novos produtos, serviços ou processos;

VI - Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT): estrutura

instituída por uma ou mais ICTs, com ou sem personalidade jurídica

própria, que tenha por finalidade a gestão de política institucional de

inovação e por competências mínimas as atribuições previstas nesta Lei;

VII - fundação de apoio: fundação criada com a finalidade

de dar apoio a projetos de pesquisa, ensino e extensão, projetos de

desenvolvimento institucional, científico, tecnológico e projetos de

estímulo à inovação de interesse das ICTs, registrada e credenciada no

Ministério da Educação e no Ministério da Ciência, Tecnologia e

Inovação, nos termos da Lei no 8.958, de 20 de dezembro de 1994, e das

demais legislações pertinentes nas esferas estadual, distrital e municipal;

VIII - pesquisador público: ocupante de cargo público

efetivo, civil ou militar, ou detentor de função ou emprego público que

realize, como atribuição funcional, atividade de pesquisa,

desenvolvimento e inovação;

...................................................................................

X - parque tecnológico: complexo planejado de

desenvolvimento empresarial e tecnológico, promotor da cultura de

inovação, da competitividade industrial, da capacitação empresarial e da

promoção de sinergias em atividades de pesquisa científica, de

desenvolvimento tecnológico e de inovação, entre empresas e uma ou

mais ICTs, com ou sem vínculo entre si;

XI - polo tecnológico: ambiente industrial e tecnológico

caracterizado pela presença dominante de micro, pequenas e médias

empresas com áreas correlatas de atuação em determinado espaço

geográfico, com vínculos operacionais com ICT, recursos humanos,

laboratórios e equipamentos organizados e com predisposição ao

intercâmbio entre os entes envolvidos para consolidação, marketing e

comercialização de novas tecnologias;

318

XII - extensão tecnológica: atividade que auxilia no

desenvolvimento, no aperfeiçoamento e na difusão de soluções

tecnológicas e na sua disponibilização à sociedade e ao mercado;

XIII - bônus tecnológico: subvenção a microempresas e a

empresas de pequeno e médio porte, com base em dotações

orçamentárias de órgãos e entidades da administração pública, destinada

ao pagamento de compartilhamento e uso de infraestrutura de pesquisa e

desenvolvimento tecnológicos, de contratação de serviços tecnológicos

especializados, ou transferência de tecnologia, quando esta for

meramente complementar àqueles serviços, nos termos de regulamento;

XIV - capital intelectual: conhecimento acumulado pelo

pessoal da organização, passível de aplicação em projetos de pesquisa,

desenvolvimento e inovação.” (NR)

“Art. 3o A União, os Estados, o Distrito Federal, os

Municípios e as respectivas agências de fomento poderão estimular e

apoiar a constituição de alianças estratégicas e o desenvolvimento de

projetos de cooperação envolvendo empresas, ICTs e entidades privadas

sem fins lucrativos voltados para atividades de pesquisa e

desenvolvimento, que objetivem a geração de produtos, processos e

serviços inovadores e a transferência e a difusão de tecnologia.

Parágrafo único. O apoio previsto no caput poderá

contemplar as redes e os projetos internacionais de pesquisa tecnológica,

as ações de empreendedorismo tecnológico e de criação de ambientes de

inovação, inclusive incubadoras e parques tecnológicos, e a formação e

a capacitação de recursos humanos qualificados.” (NR)

“Art. 3o-B. A União, os Estados, o Distrito Federal, os

Municípios, as respectivas agências de fomento e as ICTs poderão

apoiar a criação, a implantação e a consolidação de ambientes

promotores da inovação, incluídos parques e polos tecnológicos e

incubadoras de empresas, como forma de incentivar o desenvolvimento

tecnológico, o aumento da competitividade e a interação entre as

empresas e as ICTs.

§ 1o As incubadoras de empresas, os parques e polos

tecnológicos e os demais ambientes promotores da inovação

319

estabelecerão suas regras para fomento, concepção e desenvolvimento

de projetos em parceria e para seleção de empresas para ingresso nesses

ambientes.

§ 2o Para os fins previstos no caput, a União, os Estados, o

Distrito Federal, os Municípios, as respectivas agências de fomento e as

ICTs públicas poderão:

I - ceder o uso de imóveis para a instalação e a consolidação

de ambientes promotores da inovação, diretamente às empresas e às

ICTs interessadas ou por meio de entidade com ou sem fins lucrativos

que tenha por missão institucional a gestão de parques e polos

tecnológicos e de incubadora de empresas, mediante contrapartida

obrigatória, financeira ou não financeira, na forma de regulamento;

II - participar da criação e da governança das entidades

gestoras de parques tecnológicos ou de incubadoras de empresas, desde

que adotem mecanismos que assegurem a segregação das funções de

financiamento e de execução.”

“Art. 3o-C. A União, os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios estimularão a atração de centros de pesquisa e

desenvolvimento de empresas estrangeiras, promovendo sua interação

com ICTs e empresas brasileiras e oferecendo-lhes o acesso aos

instrumentos de fomento, visando ao adensamento do processo de

inovação no País.”

“Art. 3o-D. A União, os Estados, o Distrito Federal, os

Municípios e as respectivas agências de fomento manterão programas

específicos para as microempresas e para as empresas de pequeno porte,

observando-se o disposto na Lei Complementar no 123, de 14 de

dezembro de 2006.”

“Art. 4o A ICT pública poderá, mediante contrapartida

financeira ou não financeira e por prazo determinado, nos termos de

contrato ou convênio:

I - compartilhar seus laboratórios, equipamentos,

instrumentos, materiais e demais instalações com ICT ou empresas em

320

ações voltadas à inovação tecnológica para consecução das atividades de

incubação, sem prejuízo de sua atividade finalística;

II - permitir a utilização de seus laboratórios, equipamentos,

instrumentos, materiais e demais instalações existentes em suas próprias

dependências por ICT, empresas ou pessoas físicas voltadas a atividades

de pesquisa, desenvolvimento e inovação, desde que tal permissão não

interfira diretamente em sua atividade-fim nem com ela conflite;

III - permitir o uso de seu capital intelectual em projetos de

pesquisa, desenvolvimento e inovação.

Parágrafo único. O compartilhamento e a permissão de que

tratam os incisos I e II do caput obedecerão às prioridades, aos critérios

e aos requisitos aprovados e divulgados pela ICT pública, observadas as

respectivas disponibilidades e assegurada a igualdade de oportunidades

a empresas e demais organizações interessadas.” (NR)

“Art. 5o São a União e os demais entes federativos e suas

entidades autorizados, nos termos de regulamento, a participar

minoritariamente do capital social de empresas, com o propósito de

desenvolver produtos ou processos inovadores que estejam de acordo

com as diretrizes e prioridades definidas nas políticas de ciência,

tecnologia, inovação e de desenvolvimento industrial de cada esfera de

governo.

§ 1o A propriedade intelectual sobre os resultados obtidos

pertencerá à empresa, na forma da legislação vigente e de seus atos

constitutivos.

§ 2o O poder público poderá condicionar a participação

societária via aporte de capital à previsão de licenciamento da

propriedade intelectual para atender ao interesse público.

§ 3o A alienação dos ativos da participação societária

referida no caput dispensa realização de licitação, conforme legislação

vigente.

321

§ 4o Os recursos recebidos em decorrência da alienação da

participação societária referida no caput deverão ser aplicados em

pesquisa e desenvolvimento ou em novas participações societárias.

§ 5o Nas empresas a que se refere o caput, o estatuto ou

contrato social poderá conferir às ações ou quotas detidas pela União ou

por suas entidades poderes especiais, inclusive de veto às deliberações

dos demais sócios nas matérias que especificar.

§ 6o A participação minoritária de que trata o caput dar-se-á

por meio de contribuição financeira ou não financeira, desde que

economicamente mensurável, e poderá ser aceita como forma de

remuneração pela transferência de tecnologia e pelo licenciamento para

outorga de direito de uso ou de exploração de criação de titularidade da

União e de suas entidades.” (NR)

“Art. 6o É facultado à ICT pública celebrar contrato de

transferência de tecnologia e de licenciamento para outorga de direito de

uso ou de exploração de criação por ela desenvolvida isoladamente ou

por meio de parceria.

§ 1o A contratação com cláusula de exclusividade, para os

fins de que trata o caput, deve ser precedida da publicação de extrato da

oferta tecnológica em sítio eletrônico oficial da ICT, na forma

estabelecida em sua política de inovação.

§ 1o-A. Nos casos de desenvolvimento conjunto com

empresa, essa poderá ser contratada com cláusula de exclusividade,

dispensada a oferta pública, devendo ser estabelecida em convênio ou

contrato a forma de remuneração.

...................................................................................

§ 6o Celebrado o contrato de que trata o caput, dirigentes,

criadores ou quaisquer outros servidores, empregados ou prestadores de

serviços são obrigados a repassar os conhecimentos e informações

necessários à sua efetivação, sob pena de responsabilização

administrativa, civil e penal, respeitado o disposto no art. 12.

§ 7o A remuneração de ICT privada pela transferência de

tecnologia e pelo licenciamento para uso ou exploração de criação de

322

que trata o § 6o do art. 5o, bem como a oriunda de pesquisa,

desenvolvimento e inovação, não representa impeditivo para sua

classificação como entidade sem fins lucrativos.” (NR)

“Art. 8o É facultado à ICT prestar a instituições públicas ou

privadas serviços técnicos especializados compatíveis com os objetivos

desta Lei, nas atividades voltadas à inovação e à pesquisa científica e

tecnológica no ambiente produtivo, visando, entre outros objetivos, à

maior competitividade das empresas.

§ 1o A prestação de serviços prevista no caput dependerá de

aprovação pelo representante legal máximo da instituição, facultada a

delegação a mais de uma autoridade, e vedada a subdelegação.

.............................................................................” (NR)

“Art. 9o É facultado à ICT celebrar acordos de parceria com

instituições públicas e privadas para realização de atividades conjuntas

de pesquisa científica e tecnológica e de desenvolvimento de tecnologia,

produto, serviço ou processo.

§ 1o O servidor, o militar, o empregado da ICT pública e o

aluno de curso técnico, de graduação ou de pós-graduação envolvidos na

execução das atividades previstas no caput poderão receber bolsa de

estímulo à inovação diretamente da ICT a que estejam vinculados, de

fundação de apoio ou de agência de fomento.

§ 2o As partes deverão prever, em instrumento jurídico

específico, a titularidade da propriedade intelectual e a participação nos

resultados da exploração das criações resultantes da parceria,

assegurando aos signatários o direito à exploração, ao licenciamento e à

transferência de tecnologia, observado o disposto nos §§ 4o a 7o do art.

6o.

§ 3o A propriedade intelectual e a participação nos

resultados referidas no § 2o serão asseguradas às partes contratantes, nos

termos do contrato, podendo a ICT ceder ao parceiro privado a

totalidade dos direitos de propriedade intelectual mediante compensação

financeira ou não financeira, desde que economicamente mensurável.

323

§ 4o A bolsa concedida nos termos deste artigo caracteriza-

se como doação, não configura vínculo empregatício, não caracteriza

contraprestação de serviços nem vantagem para o doador, para efeitos

do disposto no art. 26 da Lei no 9.250, de 26 de dezembro de 1995, e

não integra a base de cálculo da contribuição previdenciária, aplicando-

se o disposto neste parágrafo a fato pretérito, como previsto no inciso I

do art. 106 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966.

§ 5o (VETADO).” (NR)

“Art. 9o-A. Os órgãos e entidades da União, dos Estados,

do Distrito Federal e dos Municípios são autorizados a conceder

recursos para a execução de projetos de pesquisa, desenvolvimento e

inovação às ICTs ou diretamente aos pesquisadores a elas vinculados,

por termo de outorga, convênio, contrato ou instrumento jurídico

assemelhado.

§ 1o A concessão de apoio financeiro depende de aprovação

de plano de trabalho.

§ 2o A celebração e a prestação de contas dos instrumentos

aos quais se refere o caput serão feitas de forma simplificada e

compatível com as características das atividades de ciência, tecnologia e

inovação, nos termos de regulamento.

§ 3o A vigência dos instrumentos jurídicos aos quais se

refere o caput deverá ser suficiente à plena realização do objeto,

admitida a prorrogação, desde que justificada tecnicamente e refletida

em ajuste do plano de trabalho.

§ 4o Do valor total aprovado e liberado para os projetos

referidos no caput, poderá ocorrer transposição, remanejamento ou

transferência de recursos de categoria de programação para outra, de

acordo com regulamento.

§ 5o A transferência de recursos da União para ICT estadual,

distrital ou municipal em projetos de ciência, tecnologia e inovação não

poderá sofrer restrições por conta de inadimplência de quaisquer outros

órgãos ou instâncias que não a própria ICT.”

324

“Art. 10. (VETADO).” (NR)

“Art. 11. Nos casos e condições definidos em normas da

ICT e nos termos da legislação pertinente, a ICT poderá ceder seus

direitos sobre a criação, mediante manifestação expressa e motivada e a

título não oneroso, ao criador, para que os exerça em seu próprio nome e

sob sua inteira responsabilidade, ou a terceiro, mediante remuneração.

.............................................................................” (NR)

“Art. 13. ................................................................

.....................................................................................

§ 2o Entende-se por ganho econômico toda forma de royalty

ou de remuneração ou quaisquer benefícios financeiros resultantes da

exploração direta ou por terceiros da criação protegida, devendo ser

deduzidos:

I - na exploração direta e por terceiros, as despesas, os

encargos e as obrigações legais decorrentes da proteção da propriedade

intelectual;

II - na exploração direta, os custos de produção da ICT.

.....................................................................................

§ 4o A participação referida no caput deste artigo deverá

ocorrer em prazo não superior a 1 (um) ano após a realização da receita

que lhe servir de base, contado a partir da regulamentação pela

autoridade interna competente.” (NR)

“Art. 14. .................................................................

.......................................................................................

§ 3o As gratificações específicas do pesquisador público em

regime de dedicação exclusiva, inclusive aquele enquadrado em plano

de carreiras e cargos de magistério, serão garantidas, na forma do § 2o

deste artigo, quando houver o completo afastamento de ICT pública para

outra ICT, desde que seja de conveniência da ICT de origem.

.............................................................................” (NR)

325

“Art. 14-A. O pesquisador público em regime de dedicação

exclusiva, inclusive aquele enquadrado em plano de carreiras e cargos

de magistério, poderá exercer atividade remunerada de pesquisa,

desenvolvimento e inovação em ICT ou em empresa e participar da

execução de projeto aprovado ou custeado com recursos previstos nesta

Lei, desde que observada a conveniência do órgão de origem e

assegurada a continuidade de suas atividades de ensino ou pesquisa

nesse órgão, a depender de sua respectiva natureza.”

“Art. 15-A. A ICT de direito público deverá instituir sua

política de inovação, dispondo sobre a organização e a gestão dos

processos que orientam a transferência de tecnologia e a geração de

inovação no ambiente produtivo, em consonância com as prioridades da

política nacional de ciência, tecnologia e inovação e com a política

industrial e tecnológica nacional.

Parágrafo único. A política a que se refere o caput deverá

estabelecer diretrizes e objetivos:

I - estratégicos de atuação institucional no ambiente

produtivo local, regional ou nacional;

II - de empreendedorismo, de gestão de incubadoras e de

participação no capital social de empresas;

III - para extensão tecnológica e prestação de serviços

técnicos;

IV - para compartilhamento e permissão de uso por terceiros

de seus laboratórios, equipamentos, recursos humanos e capital

intelectual;

V - de gestão da propriedade intelectual e de transferência de

tecnologia;

VI - para institucionalização e gestão do Núcleo de Inovação

Tecnológica;

326

VII - para orientação das ações institucionais de capacitação

de recursos humanos em empreendedorismo, gestão da inovação,

transferência de tecnologia e propriedade intelectual;

VIII - para estabelecimento de parcerias para

desenvolvimento de tecnologias com inventores independentes,

empresas e outras entidades.”

“Art. 16. Para apoiar a gestão de sua política de inovação, a

ICT pública deverá dispor de Núcleo de Inovação Tecnológica, próprio

ou em associação com outras ICTs.

§ 1o São competências do Núcleo de Inovação Tecnológica

a que se refere o caput, entre outras:

......................................................................................

VII - desenvolver estudos de prospecção tecnológica e de

inteligência competitiva no campo da propriedade intelectual, de forma

a orientar as ações de inovação da ICT;

VIII - desenvolver estudos e estratégias para a transferência

de inovação gerada pela ICT;

IX - promover e acompanhar o relacionamento da ICT com

empresas, em especial para as atividades previstas nos arts. 6o a 9o;

X - negociar e gerir os acordos de transferência de

tecnologia oriunda da ICT.

§ 2o A representação da ICT pública, no âmbito de sua

política de inovação, poderá ser delegada ao gestor do Núcleo de

Inovação Tecnológica.

§ 3o O Núcleo de Inovação Tecnológica poderá ser

constituído com personalidade jurídica própria, como entidade privada

sem fins lucrativos.

§ 4o Caso o Núcleo de Inovação Tecnológica seja

constituído com personalidade jurídica própria, a ICT deverá estabelecer

as diretrizes de gestão e as formas de repasse de recursos.

327

§ 5o Na hipótese do § 3o, a ICT pública é autorizada a

estabelecer parceria com entidades privadas sem fins lucrativos já

existentes, para a finalidade prevista no caput.” (NR)

“Art. 17. A ICT pública deverá, na forma de regulamento,

prestar informações ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

I - (Revogado);

II - (Revogado);

III - (Revogado);

IV - (Revogado).

Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput à ICT

privada beneficiada pelo poder público, na forma desta Lei.” (NR)

“Art. 18. A ICT pública, na elaboração e na execução de

seu orçamento, adotará as medidas cabíveis para a administração e a

gestão de sua política de inovação para permitir o recebimento de

receitas e o pagamento de despesas decorrentes da aplicação do disposto

nos arts. 4o a 9o, 11 e 13, o pagamento das despesas para a proteção da

propriedade intelectual e o pagamento devido aos criadores e aos

eventuais colaboradores.

Parágrafo único. A captação, a gestão e a aplicação das

receitas próprias da ICT pública, de que tratam os arts. 4o a 8o, 11 e 13,

poderão ser delegadas a fundação de apoio, quando previsto em contrato

ou convênio, devendo ser aplicadas exclusivamente em objetivos

institucionais de pesquisa, desenvolvimento e inovação, incluindo a

carteira de projetos institucionais e a gestão da política de inovação.”

(NR)

“Art. 19. A União, os Estados, o Distrito Federal, os

Municípios, as ICTs e suas agências de fomento promoverão e

incentivarão a pesquisa e o desenvolvimento de produtos, serviços e

processos inovadores em empresas brasileiras e em entidades brasileiras

de direito privado sem fins lucrativos, mediante a concessão de recursos

328

financeiros, humanos, materiais ou de infraestrutura a serem ajustados

em instrumentos específicos e destinados a apoiar atividades de

pesquisa, desenvolvimento e inovação, para atender às prioridades das

políticas industrial e tecnológica nacional.

.......................................................................................

§ 2o-A. São instrumentos de estímulo à inovação nas

empresas, quando aplicáveis, entre outros:

I - subvenção econômica;

II - financiamento;

III - participação societária;

IV - bônus tecnológico;

V - encomenda tecnológica;

VI - incentivos fiscais;

VII - concessão de bolsas;

VIII - uso do poder de compra do Estado;

IX - fundos de investimentos;

X - fundos de participação;

XI - títulos financeiros, incentivados ou não;

XII - previsão de investimento em pesquisa e

desenvolvimento em contratos de concessão de serviços públicos ou em

regulações setoriais.

.....................................................................................

§ 6o As iniciativas de que trata este artigo poderão ser

estendidas a ações visando a:

329

I - apoio financeiro, econômico e fiscal direto a empresas

para as atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica;

II - constituição de parcerias estratégicas e desenvolvimento

de projetos de cooperação entre ICT e empresas e entre empresas, em

atividades de pesquisa e desenvolvimento, que tenham por objetivo a

geração de produtos, serviços e processos inovadores;

III - criação, implantação e consolidação de incubadoras de

empresas, de parques e polos tecnológicos e de demais ambientes

promotores da inovação;

IV - implantação de redes cooperativas para inovação

tecnológica;

V - adoção de mecanismos para atração, criação e

consolidação de centros de pesquisa e desenvolvimento de empresas

brasileiras e estrangeiras;

VI - utilização do mercado de capitais e de crédito em ações

de inovação;

VII - cooperação internacional para inovação e para

transferência de tecnologia;

VIII - internacionalização de empresas brasileiras por meio

de inovação tecnológica;

IX - indução de inovação por meio de compras públicas;

X - utilização de compensação comercial, industrial e

tecnológica em contratações públicas;

XI - previsão de cláusulas de investimento em pesquisa e

desenvolvimento em concessões públicas e em regimes especiais de

incentivos econômicos;

XII - implantação de solução de inovação para apoio e

incentivo a atividades tecnológicas ou de inovação em microempresas e

em empresas de pequeno porte.

330

§ 7o A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios

poderão utilizar mais de um instrumento de estímulo à inovação a fim

de conferir efetividade aos programas de inovação em empresas.

§ 8o Os recursos destinados à subvenção econômica serão

aplicados no financiamento de atividades de pesquisa, desenvolvimento

tecnológico e inovação em empresas, admitida sua destinação para

despesas de capital e correntes, desde que voltadas preponderantemente

à atividade financiada.” (NR)

“Art. 20. Os órgãos e entidades da administração pública,

em matéria de interesse público, poderão contratar diretamente ICT,

entidades de direito privado sem fins lucrativos ou empresas,

isoladamente ou em consórcios, voltadas para atividades de pesquisa e

de reconhecida capacitação tecnológica no setor, visando à realização de

atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação que envolvam risco

tecnológico, para solução de problema técnico específico ou obtenção de

produto, serviço ou processo inovador.

.....................................................................................

§ 3o O pagamento decorrente da contratação prevista no

caput será efetuado proporcionalmente aos trabalhos executados no

projeto, consoante o cronograma físico-financeiro aprovado, com a

possibilidade de adoção de remunerações adicionais associadas ao

alcance de metas de desempenho no projeto.

§ 4o O fornecimento, em escala ou não, do produto ou

processo inovador resultante das atividades de pesquisa,

desenvolvimento e inovação encomendadas na forma do caput poderá

ser contratado mediante dispensa de licitação, inclusive com o próprio

desenvolvedor da encomenda, observado o disposto em regulamento

específico.

§ 5o Para os fins do caput e do § 4o, a administração pública

poderá, mediante justificativa expressa, contratar concomitantemente

mais de uma ICT, entidade de direito privado sem fins lucrativos ou

empresa com o objetivo de:

I - desenvolver alternativas para solução de problema

técnico específico ou obtenção de produto ou processo inovador; ou

331

II - executar partes de um mesmo objeto.” (NR)

“Art. 20-A. (VETADO):

I - (VETADO);

II - (VETADO).

§ 1o (VETADO).

§ 2o Aplicam-se ao procedimento de contratação as regras

próprias do ente ou entidade da administração pública contratante.

§ 3o Outras hipóteses de contratação de prestação de

serviços ou fornecimento de bens elaborados com aplicação sistemática

de conhecimentos científicos e tecnológicos poderão ser previstas em

regulamento.

§ 4o Nas contratações de que trata este artigo, deverá ser

observado o disposto no inciso IV do art. 27.”

“Art. 21-A. A União, os Estados, o Distrito Federal, os

Municípios, os órgãos e as agências de fomento, as ICTs públicas e as

fundações de apoio concederão bolsas de estímulo à inovação no

ambiente produtivo, destinadas à formação e à capacitação de recursos

humanos e à agregação de especialistas, em ICTs e em empresas, que

contribuam para a execução de projetos de pesquisa, desenvolvimento

tecnológico e inovação e para as atividades de extensão tecnológica, de

proteção da propriedade intelectual e de transferência de tecnologia.

Parágrafo único. (VETADO).”

“Art. 22. Ao inventor independente que comprove depósito

de pedido de patente é facultado solicitar a adoção de sua criação por

ICT pública, que decidirá quanto à conveniência e à oportunidade da

solicitação e à elaboração de projeto voltado à avaliação da criação para

futuro desenvolvimento, incubação, utilização, industrialização e

inserção no mercado.

......................................................................................

332

§ 3o O inventor independente, mediante instrumento jurídico

específico, deverá comprometer-se a compartilhar os eventuais ganhos

econômicos auferidos com a exploração da invenção protegida adotada

por ICT pública.” (NR)

“Art. 22-A. A União, os Estados, o Distrito Federal, os

Municípios, as agências de fomento e as ICTs públicas poderão apoiar o

inventor independente que comprovar o depósito de patente de sua

criação, entre outras formas, por meio de:

I - análise da viabilidade técnica e econômica do objeto de

sua invenção;

II - assistência para transformação da invenção em produto

ou processo com os mecanismos financeiros e creditícios dispostos na

legislação;

III - assistência para constituição de empresa que produza o

bem objeto da invenção;

IV - orientação para transferência de tecnologia para

empresas já constituídas.”

“Art. 26-A. As medidas de incentivo previstas nesta Lei, no

que for cabível, aplicam-se às ICTs públicas que também exerçam

atividades de produção e oferta de bens e serviços.”

“Art. 26-B. (VETADO).”

“Art. 27. ..............................................................

.....................................................................................

III - assegurar tratamento diferenciado, favorecido e

simplificado às microempresas e às empresas de pequeno porte;

.....................................................................................

V - promover a simplificação dos procedimentos para gestão

dos projetos de ciência, tecnologia e inovação e do controle por

resultados em sua avaliação;

333

VI - promover o desenvolvimento e a difusão de tecnologias

sociais e o fortalecimento da extensão tecnológica para a inclusão

produtiva e social.” (NR)

“Art. 27-A. Os procedimentos de prestação de contas dos

recursos repassados com base nesta Lei deverão seguir formas

simplificadas e uniformizadas e, de forma a garantir a governança e a

transparência das informações, ser realizados anualmente,

preferencialmente, mediante envio eletrônico de informações, nos

termos de regulamento.”

Art. 3o O art. 13 da Lei no 6.815, de 19 de agosto de 1980, passa

a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 13. ....................................................................

..........................................................................................

V - na condição de cientista, pesquisador, professor, técnico

ou profissional de outra categoria, sob regime de contrato ou a serviço

do governo brasileiro;

.............................................................................................

VIII - na condição de beneficiário de bolsa vinculada a

projeto de pesquisa, desenvolvimento e inovação concedida por órgão

ou agência de fomento.” (NR)

Art. 4o A Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, passa a vigorar

com as seguintes alterações:

“Art. 6o. .......................................................................

............................................................................................

XX - produtos para pesquisa e desenvolvimento - bens,

insumos, serviços e obras necessários para atividade de pesquisa

científica e tecnológica, desenvolvimento de tecnologia ou inovação

tecnológica, discriminados em projeto de pesquisa aprovado pela

instituição contratante.” (NR)

“Art. 24. ......................................................................

334

............................................................................................

XXI - para a aquisição ou contratação de produto para

pesquisa e desenvolvimento, limitada, no caso de obras e serviços de

engenharia, a 20% (vinte por cento) do valor de que trata a alínea “b” do

inciso I do caput do art. 23;

.............................................................................................

§ 3o A hipótese de dispensa prevista no inciso XXI do caput,

quando aplicada a obras e serviços de engenharia, seguirá

procedimentos especiais instituídos em regulamentação específica.

§ 4o Não se aplica a vedação prevista no inciso I do caput do

art. 9o à hipótese prevista no inciso XXI do caput.” (NR)

“Art. 32. ......................................................................

............................................................................................

§ 7o A documentação de que tratam os arts. 28 a 31 e este

artigo poderá ser dispensada, nos termos de regulamento, no todo ou em

parte, para a contratação de produto para pesquisa e desenvolvimento,

desde que para pronta entrega ou até o valor previsto na alínea “a” do

inciso II do caput do art. 23.” (NR)

Art. 5o O art. 1o da Lei no 12.462, de 4 de agosto de 2011, passa

a vigorar acrescido do seguinte inciso X:

“Art. 1o .......................................................................

...........................................................................................

X - das ações em órgãos e entidades dedicados à ciência, à

tecnologia e à inovação.

...................................................................................” (NR)

Art. 6o O inciso VIII do art. 2o da Lei no 8.745, de 9 de

dezembro de 1993, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 2o ........................................................................

............................................................................................

335

VIII - admissão de pesquisador, de técnico com formação

em área tecnológica de nível intermediário ou de tecnólogo, nacionais

ou estrangeiros, para projeto de pesquisa com prazo determinado, em

instituição destinada à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação;

...................................................................................” (NR)

Art. 7o A Lei no 8.958, de 20 de dezembro de 1994, passa a

vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 1o .......................................................................

............................................................................................

§ 6o Os parques e polos tecnológicos, as incubadoras de

empresas, as associações e as empresas criados com a participação de

ICT pública poderão utilizar fundação de apoio a ela vinculada ou com a

qual tenham acordo.

§ 7o Os recursos e direitos provenientes dos projetos de que

trata o caput e das atividades e dos projetos de que tratam os arts. 3o a

9o, 11 e 13 da Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004, poderão ser

repassados pelos contratantes diretamente para as fundações de apoio.

§ 8o O Núcleo de Inovação Tecnológica constituído no

âmbito de ICT poderá assumir a forma de fundação de apoio de que

trata esta Lei.” (NR)

“Art. 3o Na execução de convênios, contratos, acordos e

demais ajustes abrangidos por esta Lei que envolvam recursos

provenientes do poder público, as fundações de apoio adotarão

regulamento específico de aquisições e contratações de obras e serviços,

a ser editado por meio de ato do Poder Executivo de cada nível de

governo.

............................................................................................

§ 3o Aplicam-se às contratações que não envolvam a

aplicação de recursos públicos as regras instituídas pela instância

superior da fundação de apoio, disponíveis em seu sítio eletrônico,

respeitados os princípios mencionados no art. 2o desta Lei.” (NR)

“Art. 4o ......................................................................

336

...........................................................................................

§ 8o (VETADO).” (NR)

Art. 8o O § 2o do art. 1o da Lei no 8.010, de 29 de março de

1990, passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 1o ........................................................................

...........................................................................................

§ 2o O disposto neste artigo aplica-se somente às

importações realizadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq), por cientistas, por pesquisadores e por

Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT) ativos no

fomento, na coordenação ou na execução de programas de pesquisa

científica e tecnológica, de inovação ou de ensino e devidamente

credenciados pelo CNPq.” (NR)

Art. 9o Os arts. 1o e 2o da Lei no 8.032, de 12 de abril de 1990,

passam a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 1o .........................................................................

Parágrafo único. As ressalvas estabelecidas no caput deste

artigo aplicam-se às importações realizadas nas situações relacionadas

no inciso I do art. 2o.” (NR)

“Art. 2o .........................................................................

I - .................................................................................

.............................................................................................

e) por Instituições Científica, Tecnológica e de Inovação

(ICTs), definidas pela Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004;

.............................................................................................

g) por empresas, na execução de projetos de pesquisa,

desenvolvimento e inovação, cujos critérios e habilitação serão

estabelecidos pelo poder público, na forma de regulamento;

.............................................................................................

337

§ 1o As isenções referidas neste artigo serão concedidas com

observância da legislação respectiva.

§ 2o (VETADO).” (NR)

Art. 10. A Lei no 12.772, de 28 de dezembro de 2012, passa a

vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 20. ........................................................................

..............................................................................................

§ 4o ...............................................................................

..............................................................................................

II - ocupar cargo de dirigente máximo de fundação de apoio

de que trata a Lei no 8.958, de 20 de dezembro de 1994, mediante

deliberação do Conselho Superior da IFE.” (NR)

“Art. 20-A. Sem prejuízo da isenção ou imunidade previstas

na legislação vigente, as fundações de apoio às Instituições de Ensino

Superior e as Instituições Científica, Tecnológica e de Inovação (ICTs)

poderão remunerar o seu dirigente máximo que:

I - seja não estatutário e tenha vínculo empregatício com a

instituição;

II - seja estatutário, desde que receba remuneração inferior,

em seu valor bruto, a 70% (setenta por cento) do limite estabelecido

para a remuneração de servidores do Poder Executivo federal.”

“Art. 21. .....................................................................

...........................................................................................

III - bolsa de ensino, pesquisa, extensão ou estímulo à

inovação paga por agência oficial de fomento, por fundação de apoio

devidamente credenciada por IFE ou por organismo internacional

amparado por ato, tratado ou convenção internacional;

.............................................................................................

§ 4o As atividades de que tratam os incisos XI e XII do

caput não excederão, computadas isoladamente ou em conjunto, a 8

338

(oito) horas semanais ou a 416 (quatrocentas e dezesseis) horas anuais.”

(NR)

Art. 11. Os processos de importação e de desembaraço aduaneiro

de bens, insumos, reagentes, peças e componentes a serem utilizados em

pesquisa científica e tecnológica ou em projetos de inovação terão

tratamento prioritário e observarão procedimentos simplificados, nos

termos de regulamento, e o disposto no art. 1o da Lei no 8.010, de 29 de

março de 1990, e nas alíneas “e” a “g” do inciso I do art. 2o da Lei no

8.032, de 12 de abril de 1990.

Art. 12. Em atendimento ao disposto no § 5o do art. 167 da

Constituição Federal, as ICTs e os pesquisadores poderão transpor,

remanejar ou transferir recursos de categoria de programação para outra

com o objetivo de viabilizar resultados de projetos que envolvam

atividades de ciência, tecnologia e inovação, mediante regras definidas

em regulamento.

Art. 13. Nos termos previamente estabelecidos em instrumento

de concessão de financiamentos e outros estímulos à pesquisa, ao

desenvolvimento e à inovação, os bens gerados ou adquiridos no âmbito

de projetos de estímulo à ciência, à tecnologia e à inovação serão

incorporados, desde sua aquisição, ao patrimônio da entidade recebedora

dos recursos.

§ 1o Na hipótese de instrumento celebrado com pessoa física, os

bens serão incorporados ao patrimônio da ICT à qual o pesquisador

beneficiado estiver vinculado.

§ 2o Quando adquiridos com a participação de fundação de

apoio, a titularidade sobre os bens observará o disposto em contrato ou

convênio entre a ICT e a fundação de apoio.

Art. 14. Ao servidor, ao empregado público e ao militar serão

garantidos, durante o afastamento de sua entidade de origem e no

interesse da administração, para o exercício de atividades de ciência,

tecnologia e inovação, os mesmos direitos a vantagens e benefícios,

pertinentes a seu cargo e carreira, como se em efetivo exercício em

atividade de sua respectiva entidade estivesse.

339

Art. 15. Em consonância com o disposto no § 7o do art. 218 da

Constituição Federal, o poder público manterá mecanismos de fomento,

apoio e gestão adequados à internacionalização das ICTs públicas, que

poderão exercer fora do território nacional atividades relacionadas com

ciência, tecnologia e inovação, respeitados os estatutos sociais, ou

norma regimental equivalente, das instituições.

§ 1o Observado o disposto no inciso I do art. 49 da Constituição

Federal, é facultado à ICT pública desempenhar suas atividades

mediante convênios ou contratos com entidades públicas ou privadas,

estrangeiras ou internacionais.

§ 2o Os mecanismos de que trata o caput deverão compreender,

entre outros objetivos, na forma de regulamento:

I - o desenvolvimento da cooperação internacional no âmbito das

ICTs, inclusive no exterior;

II - a execução de atividades de ICTs nacionais no exterior;

III - a alocação de recursos humanos no exterior.

Art. 16. (VETADO).

Art. 17. Revogam-se os incisos I, II, III e IV do art. 17 da Lei no

10.973, de 2 de dezembro de 2004.

Art. 18. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 11 de janeiro de 2016; 195o da Independência e 128o da

República.

DILMA ROUSSEFF

Nelson Barbosa

Aloizio Mercadante

Valdir Moysés Simão

Armando Monteiro

Celso Pansera

*Este texto não substitui o publicado no DOU de 12.1.2016

340

ANEXO B: Resolução nº 090/20014 CONSUNI-UDESC

RESOLUÇÃO Nº 090/2014

Cria e normatiza o Programa Institucional de Inovação e o

Programa de Bolsas para Inovação da Fundação

Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC.

O Presidente do Conselho Universitário - CONSUNI da

Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC, no uso

de suas atribuições, considerando a deliberação do

Plenário relativa ao Processo nº 1460/2014, tomada em sessão de

16 de outubro de 2014,

R E S O L V E:

CAPÍTULO I

Conceituação

Art. 1º - Inovação é a introdução de novidade ou aperfeiçoamento

no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos,

processos ou serviços.

Art. 2º - O Programa Institucional de Inovação estabelece a

política de estímulo às interações no âmbito da UDESC com os diversos

segmentos produtivos, em consonância à Lei de Inovação e da

Propriedade Intelectual.

Art. 3º - O Programa de Bolsas para Inovação oferece suporte aos

membros da comunidade universitária, docentes, técnicos e discentes,

envolvidos com atividades de inovação, em cooperação técnico-

financeira com agência(s) de fomento(s) e/ou entidade(s) produtiva(s)

externa(s), públicas ou privadas.

341

Art. 4º - No que concerne à Lei de Inovação, lei nº 10.973, de 2

de dezembro de 2004, a UDESC, entidade da administração pública

com missão institucional, dentre outras, de executar atividades de

pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico,

caracteriza-se como Instituição Científica e Tecnológica - ICT.

Art. 5º - Para efeitos específicos desta Resolução, entende-se por:

I. Propriedade intelectual: é a soma dos direitos relativos às obras

literárias, artísticas e científicas, às interpretações dos artistas intérpretes

e às execuções dos artistas executantes, aos fonogramas e às emissões de

radiodifusão, às invenções em todos os domínios da atividade humana,

às descobertas científicas, aos desenhos e modelos industriais, às marcas

industriais, comerciais e de serviço, bem como às firmas comerciais e

denominações comerciais, à proteção contra a concorrência desleal e

todos os outros direitos inerentes à atividade intelectual nos domínios

industrial, científico, literário e artístico;

II. Criação: invenção, modelo de utilidade, desenho industrial,

programa de computador, topografia de circuito integrado, nova cultivar

ou cultivar essencialmente derivada e qualquer outro desenvolvimento

tecnológico que acarrete ou possa acarretar o surgimento de novo

produto, processo ou aperfeiçoamento incremental, obtida por um ou

mais criadores;

III. Patente: é um título de propriedade temporária sobre uma

invenção ou modelo de utilidade, outorgado pelo Estado aos inventores

ou autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos

sobre a criação. Em contrapartida, o inventor se obriga a revelar

detalhadamente todo o conteúdo técnico da matéria protegida pela

patente;

IV. Colaboradores: servidores docentes, técnicos universitários,

alunos de cursos de graduação ou de pós-graduação, estagiários,

professor visitante, pesquisador visitante e residentes da Área de Saúde.

CAPÍTULO II

Dos Objetivos

Art. 6º - São objetivos:

342

a) Atender as necessidades de terceiros (entidades

públicas e privadas) e as vocações cientifica, tecnológica, cultural e

artística em consonância com as necessidades dos processos de ensino,

pesquisa e extensão;

b) Apoiar a participação dos docentes, discentes e técnicos

universitários na realização de interações acadêmicas que contribuam

para o fortalecimento da cultura e economia Catarinense.

CAPÍTULO III

Das Criações e Inovações Desenvolvidas na Udesc

Art. 7º - Qualquer criação ou inovação, nos termos definidos nos

incisos II e IV do art. 2º do Decreto Presidencial 5.563/2005, e dos

incisos I, II e VII do art. 2º da Lei Catarinense de Inovação n.

14.328/2008 que tenham resultado de atividades realizadas com a

utilização das instalações da UDESC ou com o emprego de seus

recursos, meios, dados, informações, conhecimentos e equipamentos

poderão ser objeto de proteção dos direitos de propriedade intelectual, a

critério da UDESC, respeitado o disposto nesta Resolução.

§ 1º A UDESC figurará sempre como titular exclusiva ou

cotitular sobre criação ou inovação obtida nos termos do caput.

§ 2º Os colaboradores da UDESC responsáveis ou

corresponsáveis pela geração da criação ou inovação, figurarão como

criadores, conforme definido no inciso VIII do art. 2º da Lei

14.328/2008, mesmo que não tenham mais vínculo com a UDESC na

época em que ocorra a proteção, transferência ou licenciamento dos

respectivos direitos.

§ 3º Toda pessoa física que não se enquadre na condição de

colaborador da UDESC, que efetivamente contribuir na geração de

criação ou inovação, poderá ser reconhecido como criador pela UDESC,

garantindo o recebimento dos ganhos econômicos previstos no inciso I,

art. 17, da presente Resolução, desde que seja apresentado documento

comprobatório que demonstre a sua participação para a obtenção da

criação, a exemplo de, mas não se restringindo a, convênio de pesquisa,

termos de outorga, publicações científicas, credenciamento na pós-

343

graduação como orientador ou coorientador externo, convênio de

cotutela, dentre outros.

CAPÍTULO IV

Da Gestão da Inovação Tecnológica da Udesc

Art. 8º - A gestão das atividades de inovação e de propriedade

intelectual da UDESC será exercida por seu Núcleo de Inovação

Tecnológica - NIT, Coordenadoria Projetos e Inovação

– CIPI, órgão suplementar superior vinculado à Reitoria,

conforme seu regimento interno, atendidas as disposições da Lei

10.973/04 e art. 17 do Decreto 5.563/2005, cominadas com a Lei nº

14.328/08 e esta Resolução.

CAPÍTULO V

Do Compartilhamento e Permissão de Uso da Infraestrutura da

Udesc

Art. 9º - A UDESC poderá, a seu critério, mediante remuneração

e por prazo determinado, nos termos do instrumento jurídico próprio

compartilhar seus laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais e

demais instalações com instituições públicas ou privadas para ações

relacionadas a esta resolução, sem prejuízo de sua atividade fim e dando

preferência a microempresas, empresas de pequeno porte, empresas

nacionais e organizações de direito privado sem fins lucrativos, nesta

ordem.

Parágrafo único - O Departamento, irá realizar a avaliação e

decidirá sobre a aprovação da demanda dos interessados na permissão e

compartilhamento, devendo tal decisão obedecer às disposições dessa

Resolução e prever, no mínimo, os seguintes aspectos:

a) previsão de remuneração para o Centro/ Departamento/

Órgão que sedia o laboratório e para a UDESC, com o intuito de cobrir

os gastos de manutenção geral, infra-estrutura compartilhada e de

depreciação dos equipamentos envolvidos;

344

b) que as empresas e organizações interessadas deverão

responsabilizar-se pelas obrigações trabalhistas e seguro contra

acidentes de seus colaboradores e pessoal que porventura vier a

participar da execução do projeto, bem como de seguro de

responsabilidade civil geral com patrimônio do Laboratório/UDESC;

c) a existência de instrumento jurídico a ser celebrado,

para avaliar se os direitos de propriedade intelectual da UDESC estão

sendo resguardados.

Art. 10 - Caso seja obtida qualquer criação ou inovação pela

empresa ou organização que compartilhar ou usar os laboratórios da

UDESC, a propriedade sobre a criação ou inovação obtida deverá ser

tratada em instrumento jurídico próprio.

Art. 11 - As partes deverão prever, em contrato, a titularidade da

propriedade intelectual e a participação nos resultados da exploração das

criações resultantes da parceria, assegurando aos signatários o direito à

transferência de tecnologia e ao licenciamento, observado o disposto nos

parágrafos 4º e 5º do art. 6º da Lei 10.973/2004.

CAPÍTULO VI

Da Remuneração dos Partícipes

Art. 12 – Fica criada a modalidade de Bolsas de Estímulo a

Inovação, pelas quais os Colaboradores da UDESC (docentes, técnicos e

alunos), envolvidos nas pesquisas, recebam bolsa, observados aos

seguintes critérios:

I - Os recursos para pagamento destas bolsas deverão

obrigatoriamente ser extra orçamentários, oriundos de fontes externas à

Universidade definidos e estabelecidos mediante instrumento contratual

próprio, com objetivo específico e valores, periodicidade, duração e

beneficiários previamente identificados no Plano de Trabalho da

Pesquisa;

345

II - As atividades executadas com percepção de bolsas não

implicarão em cargas-horárias institucionais e não poderão ultrapassar

20 horas semanais;

III - Os valores das Bolsas de Estímulo à Inovação ficam

limitados ao valor do vencimento bruto do servidor beneficiado.

Art. 13 - Os acordos firmados entre a UDESC, as instituições de

apoio, agências de fomento e as entidades nacionais de direito público

ou privado, com ou sem fins lucrativos, voltadas para as atividades de

pesquisa e inovação, deverão prever a destinação de até 10% (dez por

cento) do valor total dos recursos financeiros destinados à execução do

projeto, para cobertura de despesas operacionais e administrativas

incorridas na execução destes acordos.

§ 1º Poderão ser lançados à conta de despesa administrativa

gastos indivisíveis, usuais e necessários à consecução do objetivo do

acordo, convênio ou contrato, obedecendo sempre o limite definido no

caput.

§ 2º Os acordos a serem firmados deverão passar por prévia

análise da PROPLAN – Pró-Reitoria de Planejamento, quanto ao

equilíbrio das contrapartidas de recursos entre as partes.

§ 3º Os acordos deverão contar com um Gestor Administrativo,

técnico universitário, a fim de operacionalizar os trâmites

administrativos.

CAPÍTULO VII

Do Licenciamento e Transferência de Tecnologia

Art. 14 - É facultado à UDESC celebrar instrumentos jurídicos de

transferência de tecnologia e de licenciamento para outorga de direito de

uso ou de exploração de criação por ela desenvolvida, protegida ou não,

em que seja titular ou cotitular, a título exclusivo e não exclusivo.

§ 1º A decisão sobre a exclusividade ou não da transferência ou

do licenciamento cabe ao Reitor.

346

§ 2º A contratação com cláusula de exclusividade, para os fins de

que trata o caput deste artigo, deve ser precedida da publicação de edital,

que obedecerá ao disposto no parágrafo 3º, do art. 6º da Lei 10.973/04 e

no art. 7º do Decreto 5.563/05 e do § 1º do art. 8 da Lei 14.328/08.

§ 3º Ainda que não seja concedida exclusividade ao receptor de

tecnologia ou ao licenciado, os contratos previstos no caput deste artigo

deverão ser precedidos da publicação de edital.

§ 4º A empresa que tenha firmado com a UDESC contrato de

transferência de tecnologia ou de licenciamento deverá informar na

divulgação da inovação que a respectiva criação foi desenvolvida pela

UDESC - Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina.

CAPÍTULO VIII

Da Possibilidade de Cessão da Tecnologia ao Criador

Art. 15 - A UDESC poderá ceder seus direitos sobre a criação

ao(s) criador(es), a título não oneroso, para que este(s) exerça(m) em seu

próprio nome e sob sua inteira responsabilidade, nos termos da

legislação pertinente e a partir de solicitação ao Reitor.

§ 1º Havendo mais de um criador, a cessão apenas poderá ocorrer

caso seja aprovada formalmente por todos os criadores.

§ 2º Realizadas as etapas previstas no presente artigo, e aprovada

a cessão, os termos da cessão serão estabelecidos em instrumento

jurídico próprio a ser firmado entre a UDESC e o(s) respectivo(s)

criador/criadores.

CAPÍTULO IX

Da Desistência sobre a Criação

Art. 16 - Conforme artigo 11 da Lei 10.973/04 e por iniciativa da

CIPI, a UDESC poderá desistir de manter a proteção de criação de sua

propriedade em âmbito nacional ou internacional.

347

Parágrafo Único - Sendo aprovada a desistência em todas as

instâncias, a UDESC poderá, a seu critério, verificar se o(s) criador(es)

tem interesse em manter a proteção da criação em seu próprio nome e

sob sua inteira responsabilidade, nos termos da legislação pertinente.

Havendo interesse, será elaborado instrumento jurídico próprio entre a

UDESC e o criador(es) interessado(s) para tratar das condições de

cessão da criação, o que ocorrerá de forma não onerosa.

CAPÍTULO X

Da Destinação dos Ganhos Econômicos

Art. 17 - Os ganhos econômicos resultantes da exploração de

resultado de criação intelectual, protegida por direitos de propriedade

intelectual, dos Pesquisadores da UDESC, no exercício do cargo, serão

distribuídos entre:

I - a UDESC; e

II - o(s) inventor(es).

§ 1º As parcelas serão, respectivamente: 75% (setenta e cinco por

cento) para a UDESC e 25% (vinte e cinco por cento) para o(s)

inventor(es).

§ 2º Os ganhos econômicos previstos neste artigo não se

incorporam, a qualquer título, aos vencimentos do(s) inventor(es) e será

definida em documento próprio a ser celebrado na época da

comercialização.

§ 3º A UDESC reservará, a título de incentivo, 35% (trinta e

cinco por cento) da parte que lhe é cabível, sendo 10% (dez por cento)

ao(s) Departamento(s) e 25% (vinte e cinco por cento) ao(s) Centro(s)

em que estiver(em) lotado(s) o(s) inventor(es).

§ 4º O restante do valor dos ganhos econômicos será destinado

exclusivamente ao apoio à inovação da UDESC, com a criação no

sistema de gerenciamento dos recursos orçamentários e financeiros de

um centro de custo específico para a gestão desses recursos.

348

CAPÍTULO XI

Do Atendimento ao Inventor Independente

Art. 18 - O inventor independente, assim considerado a pessoa

física não ocupante de cargo efetivo, cargo militar ou emprego público

que seja inventor, obtentor ou autor de criação, que comprove depósito

de pedido de patente, ou pedido de registro de criação de sua autoria,

poderá solicitar a adoção de sua criação pela UDESC, observado o

disposto no art. 19 da Lei 14.328/08.

CAPÍTULO XII

Da Responsabilidade Do Inventor

Art. 19 - Fica estabelecido que o inventor responderá

administrativa, civil e penalmente pelos prejuízos decorrentes da

inobservância das normas que regulam a Propriedade Intelectual e o

disposto nesta Resolução.

CAPÍTULO XIII

Disposições Finais

Art. 20 - Esta Resolução entrará em vigor na data de sua

publicação, revogam-se as disposições em contrário.

Florianópolis, 16 de outubro de 2014.

Antônio Heronaldo de Sousa

Presidente CONSUNI

349

ANEXO C: Resolução 080/2008 CONEPE-UNEMAT

ESTADO DE MATO GROSSO SECRETARIA DE ESTADO DE

CIÊNCIA E TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE

MATO GROSSO

REITORIA

RESOLUÇÃO Nº 080/2008 – AD REFERENDUM DO CONEPE

Dispõe sobre os incentivos

à inovação e à pesquisa

científica e tecnológica no

ambiente produtivo e a

proteção da Propriedade

Intelectual na Universidade do

Estado de Mato Grosso.

O Reitor da Universidade do Estado de Mato Grosso –

UNEMAT, no uso de suas atribuições legais que lhe confere o art. 29,

IX do Estatuto da UNEMAT, e considerando a necessidade da

UNEMAT incrementar o desenvolvimento da Política Científica no

Estado de Mato Grosso, por meio do estabelecimento de normas que

regulem a propriedade intelectual e a transferência de tecnologia

ancorada na política nacional de Inovação Tecnológica que possam

trazer benefícios para a sociedade matogrossense, Processo nº 018/2008,

Parecer nº 042/2008-PRRPG e o Ofício nº 277/2008-

PRPPG,

RESOLVE AD REFERENDUM DO CONEPE:

Art. 1º Dispor sobre os incentivos à inovação e à pesquisa

científica e tecnológica no ambiente produtivo e a proteção da

Propriedade Intelectual na Universidade do Estado de Mato Grosso,

como segue:

CAPÍTULO I

DO OBJETO

350

Art. 2º A Propriedade Intelectual na Universidade do Estado de

Mato Grosso será uma ferramenta necessária para a gestão dos direitos

sobre as criações intelectuais, para as medidas de incentivo à inovação,

assim como à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo

na perspectiva de proporcionar uma maior inserção do Estado de Mato

Grosso no cenário nacional de desenvolvimento científico e tecnológico.

CAPÍTULO II

DAS DEFINIÇÕES

Art. 3º Considera-se para entendimento de propriedade intelectual

os conceitos:

I. Inovação – a introdução de novidade ou aperfeiçoamento no

ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos

ou serviços, podendo ser radicais ou incrementais.

Parágrafo Único Quanto aos seus aspectos podem ser

classificadas como:

a) Inovação de produto – introdução de um novo produto

ou mudança qualitativa em produto existente;

b) Inovação de processo – implantação/adoção de

métodos de produção ou comercialização de novos ou

significativamente aprimorados;

c) Inovação de mercado – abertura de um novo mercado;

d) Inovação organizacional – melhorias significativas no

desempenho da instituição;

II. Propriedade Intelectual: É o conjunto de instrumentos

jurídicos que servem para proteger os direitos que qualquer cidadão,

empresa ou instituição que resultem da sua inteligência ou criatividade,

contra o uso não autorizado de terceiros. A Propriedade Intelectual é um

ativo intangível, portanto não possui existência física sendo baseado em

conhecimento.

III. Criação: descoberta, invenção, aperfeiçoamento,

modelo de utilidade, desenho industrial, programa de computador, novas

variedades vegetais e qualquer outra forma de criação que possa ser

protegida;

351

IV. Criador: pesquisador que seja inventor, obtentor ou autor de

criação intelectual;

V. Participação: a parte do servidor da UNEMAT criador e

demais criadores, se for o caso, nos ganhos econômicos decorrentes da

exploração econômica de criação intelectual;

VI. Ganho econômico: royalties, remunerações e quaisquer

benefícios financeiros resultantes, seja de exploração direta da criação

protegida, seja de licenças para exploração de terceiros;

VII. Núcleo de Inovação Tecnológica: órgão suplementar da

UNEMAT com a finalidade de gerir a política de inovação;

VIII. Inventor ou autor independente: pessoa física, não

servidores da UNEMAT, que seja inventor, obtentor ou autor de criação

intelectual;

IX. Contrato: é todo e qualquer ajuste celebrado entre a

UNEMAT e órgãos ou entidades da Administração Pública,

particulares, fundações, em que haja um acordo de vontades para a

formação de vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas de dar,

fazer ou não fazer alguma coisa;

X. Convênio: é o acordo que tem por partes órgãos, entidades da

Administração e organizações particulares; os objetivos são recíprocos e

a cooperação mútua; os interesses das partes são convergentes.

Art. 4º A criação intelectual na UNEMAT surge da pesquisa e/ou

desenvolvimento decorrentes da atuação de recursos humanos; da

aplicação de dotação orçamentária, com ou sem a utilização de dados,

informações ou conhecimentos, de meios ou de equipamentos,

independentemente da natureza do vínculo existente entre a UNEMAT e

o autor de criação intelectual.

§1º Podem realizar criação intelectual no âmbito da UNEMAT:

I. Servidores docentes e Profissionais Técnicos da Educação

Superior que possuam vínculo permanente ou eventual com a

UNEMAT, no exercício de suas funções ou em atividades de pesquisa;

II. Discentes e estagiários que realizem atividades

curriculares de cursos de graduação ou de programas de pós-graduação

na UNEMAT, ou que participem de projeto que decorra de acordo,

contrato ou convênio;

III. Outras pessoas físicas não contempladas nos incisos

anteriores, como professores visitantes, discentes participantes de

352

programas de intercâmbio, pesquisadores que participam de projeto que

decorra de contrato ou convênio com a UNEMAT.

§2º Não será considerada criação intelectual realizada no âmbito

da UNEMAT quando for utilizado o espaço do Campus por terceiros,

como fundações de apoio ou incubadoras, mediante convênio ou

comodato autorizado na forma do Estatuto da UNEMAT.

§3º Não se inclui na exceção do parágrafo anterior a criação

intelectual que resultar da participação de servidores e discentes no

exercício de suas atividades profissionais, ou curriculares, ou projetos

institucionais com participação da UNEMAT.

CAPÍTULO III

DO ÓRGÃO DE ADMINISTRAÇÃO

Art. 5º Fica criado o Núcleo de Inovação Tecnológica - NIT da

UNEMAT vinculado a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação -

PRPPG, para a gestão de ações decorrentes desta Resolução.

§1º O Diretor será designado pelo Reitor a contar da publicação

desta Resolução, que encaminhará a Reitoria uma minuta de Regimento

que contemple estrutura e procedimentos administrativos, a ser aprovada

pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão.

§2º A Diretoria do Núcleo de Inovação Tecnológica,

motivadamente, poderá designar consultores ad hoc para manifestar

sobre os projetos, propriedade intelectual, transferência de tecnologia e

incentivo à inovação da UNEMAT.

CAPÍTULO IV

DA COMPETÊNCIA, RESPONSABILIDADE E DO SIGILO

Art. 6º Compete ao NIT da UNEMAT:

I. Zelar pela manutenção da política institucional de estímulo à

proteção das criações, à inovação, ao licenciamento e outras formas de

transferência de tecnologia;

353

II. Avaliar e classificar os resultados decorrentes de

atividades e projetos de pesquisa para o atendimento das disposições da

Lei 10.973/2004;

III. Avaliar solicitação de inventor independente para

adoção de invenção na forma do art. 22 da Lei 10.973/2004;

IV. Opinar pela conveniência e promover a proteção das criações

desenvolvidas no âmbito da UNEMAT;

V. Opinar quanto à conveniência de divulgação das criações

desenvolvidas no âmbito da UNEMAT, passíveis de proteção

intelectual;

VI. Acompanhar o processamento dos pedidos e a manutenção

dos títulos de propriedade intelectual da UNEMAT;

VII. Identificar e incentivar, na sociedade, as oportunidades de

realização de projetos de inovação que poderão ser executados em

parceria com a UNEMAT;

VIII. Opinar quanto à celebração dos contratos e convênios

objeto da Lei 10.973/2004 e que incluam cláusulas de propriedade

intelectual;

IX. Divulgar os resultados obtidos com os projetos de inovação

desenvolvidos no âmbito da UNEMAT, resguardado o dever de sigilo

previsto em contratos, convênios ou termos firmados pela UNEMAT ou

seus servidores.

X. Emitir parecer, antes da manifestação da procuradoria jurídica

competente, sobre os contratos previstos no inciso VIII deste artigo,

acordos e termos de sigilo vinculado à pesquisa;

Art. 7º Todas as pessoas referidas no §1º do artigo 4º deverão

apresentar à UNEMAT, por meio do NIT, suas criações, obrigando-se a

manter segredo sobre as mesmas e a apoiar as ações, visando à proteção

jurídica e à exploração econômica pertinentes.

§1º A obrigação de manter segredo, de que trata este artigo,

estende-se a todo o pessoal envolvido no processo de criação intelectual

ou grupo que dela tiver conhecimento, até decorridos 90 (noventa) dias

da comunicação ao NIT, prazo para que este providencie o depósito de

pedido de título de propriedade intelectual, assegurando a proteção

jurídica.

§2º O NIT, mediante ofício motivado, poderá recomendar a

prorrogação deste prazo, especialmente durante o período de 18

354

(dezoito) meses de pedido de patente nacional, ou quando se tratar de

segredo industrial ou do cumprimento de cláusula de contrato ou

convênio firmado pela UNEMAT.

Art. 8º Nos casos de criação intelectual resultante de projeto ou

atividade financiada ou realizada em conjunto com outras instituições,

entidades de apoio ou empresas, nacionais ou estrangeiras, será

celebrado contrato regulando os direitos de propriedade intelectual,

participação e as condições de exploração da criação.

Art. 9º O envio de amostra, material, conhecimentos, informações

ou dados relacionados à criação intelectual da UNEMAT para outras

instituições ou empresas, nacionais ou estrangeiras, só poderá ser

efetuado após contrato ou convênio, elaborado com a participação do

NIT, prevendo expressamente os direitos de propriedade intelectual,

como titularidade, segredo, publicação e participação na exploração

econômica respectiva.

Art. 10 O direito de propriedade intelectual poderá ser exercido

em conjunto com outras instituições ou empresas, nacionais ou

estrangeiras, devendo ser fixado expressamente o percentual e as

obrigações das partes no instrumento do contrato celebrado entre as

mesmas.

§1º A participação nos resultados, será assegurada na proporção

equivalente ao montante do valor agregado do conhecimento já existente

no início da parceria e dos recursos humanos, financeiros e materiais

alocados pelas partes.

§2º A titularidade do direito de propriedade intelectual poderá ser

de outra instituição ou empresa, nacional ou estrangeira, se houver

parecer favorável do NIT e aprovação do CONEPE, após assegurada

para a UNEMAT a participação nos resultados da exploração das

criações intelectuais conforme parágrafo anterior.

§3º A relação da UNEMAT com instituições estrangeiras, para o

desenvolvimento ou transferência de tecnologia, deverá seguir normas

aplicáveis à espécie.

355

Art. 11 A criação intelectual realizada parcialmente fora da

UNEMAT por pessoas mencionadas no artigo 4º, §1º, mas que tenha

utilizado recursos e instalações da UNEMAT pertencerá às instituições

envolvidas na atividade de criador.

§1º A UNEMAT e as instituições envolvidas celebrarão contrato

regulando os direitos de propriedade intelectual, participação e as

condições de exploração da criação, observando o artigo 10 desta

Resolução.

§2º Enquadram-se nas situações previstas no caput deste artigo,

os servidores afastados para formação ou aperfeiçoamento.

CAPÍTULO V

DOS PEDIDOS DE PROTEÇÃO JURÍDICA

Art. 12 O NIT incumbir-se-á do requerimento e acompanhamento

dos pedidos de proteção de criação intelectual da UNEMAT junto aos

órgãos encarregados de patente, registro e certificado de propriedade

intelectual no País e no exterior.

Parágrafo Único A UNEMAT poderá contratar entidade de apoio,

escritório ou agente especializado em trâmites de registro, patente ou

certificado de propriedade intelectual, sempre que as exigências ou

especificidades da criação intelectual e da respectiva proteção assim o

determinarem.

Art. 13 No pedido de proteção jurídica de criação intelectual

figurará, como depositante ou requerente, a UNEMAT e, como criador,

o autor ou autores da criação intelectual.

§1º O líder do grupo, quando houver, indicará os pesquisadores

envolvidos efetivamente na criação intelectual, como co-criadores, e o

percentual de contribuição de cada um, a fim de ser apurado o direito de

que trata o art. 15 desta Resolução.

§2º Nos casos autorizados nesta Resolução, a UNEMAT será co-

titular ou não figurará como depositante ou requerente de pedido de

privilégio ou de proteção de criação intelectual.

356

Art. 14 Caberá à UNEMAT, diretamente ou através de entidade

de apoio, também ao criador e, se for o caso, conjuntamente ou não, a

outras instituições de que tratam os artigos 10 e 11, a responsabilidade

pelas despesas decorrentes do processo dos pedidos de proteção jurídica

da criação intelectual, dos encargos periódicos de manutenção da

proteção da propriedade intelectual e quaisquer encargos administrativos

ou judiciais, observadas as obrigações previstas no contrato ou convênio

firmado entre as partes.

Parágrafo Único A UNEMAT, diretamente ou por entidade de

apoio, poderá custear as despesas a que se refere o caput deste artigo,

que seriam da responsabilidade do criador, ressarcindo-se

posteriormente da parte que lhe couber nos ganhos econômicos, a serem

compartilhados nos termos do art. 15, desta Resolução.

CAPÍTULO VI

DA EXPLORAÇÃO ECONÔMICA

Art. 15 A análise do interesse da UNEMAT no pedido de

proteção da criação intelectual deverá levar em conta a viabilidade de

exploração comercial do produto ou processo desenvolvido pelo criador,

através de parecer do NIT.

§1º A decisão sobre a extensão da proteção da criação intelectual

para outros países será tomada após parecer do NIT e aprovação do

CONEPE.

§2º Quando o resultado do estudo da viabilidade econômica

recomendar a não proteção jurídica da criação intelectual, a UNEMAT

renunciará ao direito de requerer respectiva proteção, mediante parecer

aprovado pelo CONEPE, cedendo gratuitamente ao criador o direito de

fazê-lo em seu nome, sendo vedada a indicação do nome da UNEMAT

neste caso.

§3º O exercício do direito de que trata o parágrafo anterior, não

poderá conflitar com as normas que regulamentam as atividades de

docentes em regime de dedicação exclusiva e as referentes às atividades

de consultoria.

357

Art. 16 Os ganhos econômicos resultantes da exploração da

criação intelectual protegida por direitos de propriedade intelectual,

consubstanciados nos rendimentos líquidos efetivamente auferidos pela

UNEMAT, serão divididos em parcelas iguais entre:

I. A UNEMAT para o cumprimento das finalidades constantes no

artigo 6º, do custeio das despesas de que trata o artigo 14, cujo

excedente deverá servir ao estímulo às atividades de pesquisa na

UNEMAT.

II. A unidade ou unidades acadêmicas onde foram

realizadas as atividades das quais resultou a criação intelectual

protegida, respeitada a obrigatoriedade da sua aplicação em atividades

de pesquisa e a prioridade à área de ensino onde se originou a referida

criação intelectual.

III. O autor ou autores da criação intelectual protegida,

indicados no §1º do artigo 4º desta Resolução.

§1º As parcelas referidas no inciso I e II poderão ser objeto de

execução administrativa e financeira por entidade de apoio contratada

para gerir a transferência de tecnologia.

§2º A parcela a que se refere o inciso III deste artigo será

repassada ao criador, a título de participação, obedecida a periodicidade

da percepção dos ganhos econômicos por parte da UNEMAT, em prazo

não superior a 01 (um) ano após a realização da receita que lhe servir de

base, durante toda vigência da proteção intelectual, descontadas

proporcionalmente as despesas referidas no parágrafo único do artigo

14.

§3º A participação a que se refere o parágrafo anterior, não se

incorporará, a qualquer título, aos vencimentos do servidor.

§4º Se a autoria da criação intelectual for compartilhada, a parte

que couber a cada autor será dividida, conforme disposto no §1º do

artigo 13 desta Resolução, sendo que as participações estão sujeitas à

incidência dos tributos e contribuições aplicáveis à espécie.

Art. 17 Quando a execução financeira e assessoria para

transferência de tecnologia não for realizada por entidade de apoio

deverá a Pró-Reitoria de Gestão Financeira adotar as medidas previstas

na Lei 10.973/2004, artigo 18, regulamentada pelo Decreto 5.563, artigo

19, e os procedimentos cabíveis, no orçamento da UNEMAT, para

358

permitir a distribuição das parcelas dos ganhos econômicos referidas no

artigo 16 desta Resolução.

CAPÍTULO VII

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 18 Será obrigatória a menção expressa do nome da

UNEMAT em todo trabalho realizado com o envolvimento parcial ou

total de bens, como dados, meios, informações e equipamentos, serviços

ou pessoal da instituição, sob pena do infrator perder os direitos

referentes à participação fixada na forma desta Resolução, em favor da

Instituição.

Art. 19 Os resultados de pesquisas protegidos por direitos de

propriedade intelectual previstos nesta Resolução, ressalvada a cláusula

de segredo, serão associados às ações de formação de recursos humanos.

Art. 20 Compete a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação

estabelecer os procedimentos para atender o previsto na Lei

10.973/2004, artigos 14 e 15, regulamentados pelo Decreto 5.563/2005,

artigos 15 e 16.

Art. 21 Os casos omissos ou excepcionais serão dirimidos pelo

Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão - CONEPE.

Art. 22 Esta Resolução entra em vigor na data de sua

publicação.

Art. 23 Revogam-se as disposições em contrário.

Sala da Reitoria da Universidade do Estado de Mato Grosso, em

Cáceres/MT, 23 de outubro de 2008.

Prof. Ms. Taisir Mahmudo Karim

REITOR DA UNEMAT