dissertação final jaqueline pdf
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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UnC
PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL
JAQUELINE FATIMA PREVIATTI VEIGA
O CENÁRIO DAS VIOLÊNCIAS CONTRA AS MULHERES EM MUNI CÍPIOS DA
REGIÃO DO PLANALTO NORTE CATARINENSE
CANOINHAS
2013
JAQUELINE FATIMA PREVIATTI VEIGA
O CENÁRIO DAS VIOLÊNCIAS CONTRA AS MULHERES EM MUNI CÍPIOS DA
REGIÃO DO PLANALTO NORTE CATARINENSE
Dissertação apresentada como registro para obtenção do titulo para o Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional (PMDR), da Universidade do Contestado (UnC), sob a orientação da Profª. Drª. Maria Luiza Milani.
CANOINHAS
2013
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter me norteado para este mestrado. Por
conta dele eu encontrei pessoas e instituições que me fizeram crescer muito
intelectualmente.
Agradeço aos meus pais Itelva Izidora Previatti e Carlos Adir Previatti, por
terem me dado às bases para me tornar uma adulta com princípios éticos,
mostrando a importância do trabalho e das atitudes corretas.
Ao meu esposo Paulo Veiga pelo apoio necessário durante o curso, sempre
com palavras e atitudes de incentivo incondicional.
As minhas queridas sobrinhas Pamela Vanessa Sauer, Bianca Previatti e
Milena Fruchting quais me auxiliaram na coleta de dados.
A professora Drª. Maria Luiza Milani, por sua disponibilidade, compreensão e
sabedoria. Você sabe orientar muito usando poucas palavras e denota uma ampla
bagagem de conhecimento.
Aos responsáveis pelas Delegacias de Polícia, por terem aberto a porta,
disponibilizando integralmente os dados que solicitei. Também a toda a equipe da
Delegacia, que me recebeu de braços abertos, atendendo prontamente às minhas
solicitações.
A boa vontade de todos (as) os (as) profissionais da instituição Pronto
Atendimento que compreenderam me apoiaram nos momento em que tive que me
ausentar. Principalmente a colega Elenir Cardoso que ao assumir varias
responsabilidades durante a minha ausência, facilitou enormemente a realização
desta pesquisa.
“Hoje eu recebi flores. Não era o meu aniversário ou algum dia especial. Na noite passada tivemos a nossa primeira discussão. E ele disse coisas cruéis que realmente me magoaram. Eu sei que ele se arrependeu e que não queria fazer isso. Porque ele me mandou flores hoje. Hoje eu recebi flores. Não era nosso aniversário de casamento ou algum dia especial. Na noite passada, ele me jogou na parede e começou a me sufocar. Tudo parecia um pesadelo. Eu não podia acreditar que aquilo era real. Eu acordei nessa manhã com dores e toda arranhada. Eu sei que ele deve estar arrependido. Porque ele me mandou flores hoje. Hoje eu recebi flores. Não era o dia das mães ou algum dia especial. Na noite passada ele me bateu de novo. E foi muito pior do que todas as outras vezes. Se eu o deixar, o que farei? Como posso cuidar dos meus filhos? Como vou ter dinheiro? Tenho medo dele e tenho receio de deixá-lo. Mas eu sei que ele deve estar arrependido. Porque ele me mandou flores hoje. Hoje eu recebi flores. Hoje foi um dia muito especial. Foi o dia do meu funeral. Na noite passada ele finalmente me matou. Ele me bateu até eu morrer. Se eu somente tivesse tido a coragem suficiente e a força para deixá-lo... Eu não teria recebido flores… Hoje.”
Autora: Kelly Paulette
RESUMO
A dissertação tem como tema: O Cenário das Violências Contra as Mulheres em Municípios da Região do Planalto Norte Catarinense. Para o desenvolvimento do estudo classificamos a pesquisa em exploratória e descritiva. Os municípios pesquisados foram; Mafra, São Bento do Sul, Rio Negrinho, Campo Alegre, Itaiópolis, Papanduva e Monte Castelo. O objetivo geral foi estudar o cenário das violências que as mulheres dos municípios que compõem o Planalto Norte Catarinense, foram expostas no período de 2009 a 2012 e das Políticas Públicas que tratam desta questão. Para concretizarmos o conhecimento do território estudado pesquisamos 3.769 boletins de ocorrências, em cinco Delegacias de Policia Civil e duas Delegacias de Proteção a Criança, Adolescente, Mulher e Idoso. Quanto ao resultado da pesquisa de campo, observamos que em municípios estruturados na rede de atenção ao atendimento às mulheres os números de denúncias aumentaram. Naqueles que a rede permanece desordenada ou em construção as denúncias diminuíram. Quanto aos dados socioeconômicos, as mulheres encontram-se em condições de vulnerabilidade social. Observamos que os espaços em que a violência esta presente mantem-se o privado, dito como familiar. A violência doméstica permanece evidente no espaço estudado, a forma de violência prevalente é a moral seguida pela psicológica tendo como agressor, homens que em algum momento efetivaram laços familiares. Fica evidente após análise dos dados, que as políticas públicas para o enfrentamento da violência contra as mulheres buscam a erradicação desta, evoluíram orientando articulação entre os espaços de atenção as mulheres vitimas de violência. Porém, não estão efetivamente sendo implantadas pelas mais variadas questões, desinteresse, desconhecimento e da vontade política para efetivá-las.
Palavras Chaves : Mulheres, Violência contra a Mulher, Políticas Públicas.
Linha de pesquisa: Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional.
ABSTRACT
The dissertation has as theme: The Scenery of Violence Against Women in Cities of the Northern Plateau Region of Santa Catarina. To the development of the study we classified the research in exploratory and descriptive. The municipalities were surveyed; Mafra, São Bento do Sul, Rio Negrinho, Campo Alegre, Itaiópolis, Papanduva and Monte Castelo. The general objective was the study of the scenery of the violence that the women of the towns that compose 25th SDR, were exposed in the period from 2009 to 2012 and of the Public Politics that are about this subject. To concretize the knowledge of the studied territory we researched 3.769 bulletins of occurrences, in five Police Stations from Civil Police and two Police Stations of Protection the Child, Adolescent, Woman and Senior. With relationship to the result of the field research, we observed that in municipal districts structured in the net of attention to the attendance to the women the numbers of accusations increased. In those that the net stays disordered or in construction the accusations decreased. With relationship to the socioeconomic datas, the women meet in conditions of social vulnerability. We observed that the spaces in that the violence this present stays the private, said as family. With predominance of some neighborhoods which it deserves more studies. The domestic violence stays evident in the studied space, the form of violence prevalent is the morals proceeded by the psychological tends as aggressor, men that in some moment accomplished family ties. It is evident after analysis of the data, that the public politics for the coping of the violence against the women look for the eradication of this, they developed guiding articulation among the spaces of attention the women you slay of violence. Even so, they are not indeed being implanted by the most varied subjects, indifference, and ignorance and of the will politics for effective them.
Keywords : Women, Violence Against Women, Public Policies.
Research Line : Public Policy and Regional Development.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Municípios estudados no Planalto Norte Catarinense. ............................. 61
Quadro 1 – Perfil socioeconômico das denunciantes no Planalto Norte Catarinense
(2009 a 2012). ........................................................................................................... 63
Quadro 2 – Fatores que contribuíram para a violência contra a mulher coletados por
meio dos BOs nos municípios, Mafra, São Bento do Sul, Rio Negrinho, Campo
Alegre, Itaiópolis, Papanduva e Monte Castelo (2009 a 2012).................................. 89
Figura 4 – Organização da rede nos Municípios no recorte do Planalto Norte
Catarinense. .............................................................................................................. 93
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Tipos de agressões mais comuns no Brasil ............................................ 30
Tabela 2 – Mulheres agredidas por motivo declarado no Brasil. ............................... 31
Tabela 6 – Faixa etária prevalente das denunciantes no Planalto Norte Catarinense
(2009 a 2012). ........................................................................................................... 62
Tabela 8 – Distribuição das ocorrências por bairros em Mafra entre 2009 a 2012. .. 76
Tabela 9 – Distribuição das ocorrências por bairros em São Bento do Sul entre 2009
a 2012. ...................................................................................................................... 76
Tabela 10 – Distribuição das ocorrências por bairros em Rio Negrinho entre 2009 a
2012. ......................................................................................................................... 76
Tabela 11 – Distribuição das ocorrências por bairros em Campo Alegre entre 2009 a
2012. ......................................................................................................................... 76
Tabela 12 – Distribuição das ocorrências por bairros em Itaiópolis entre 2009 a 2012.
.................................................................................................................................. 76
Tabela 13 – Distribuição das ocorrências por bairros em Papanduva entre 2009 a
2012. ......................................................................................................................... 77
Tabela 14 – Distribuição das ocorrências por bairros em Monte Castelo entre 2009 a
2012. ......................................................................................................................... 77
Tabela 15 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Mafra no
período de 2009 a 2012. ........................................................................................... 78
Tabela 16 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – São Bento
do Sul no período de 2009 a 2012. ........................................................................... 78
Tabela 17 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Rio Negrinho
no período de 2009 a 2012. ...................................................................................... 79
Tabela 18 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Campo
Alegre no período de 2009 a 2012. ........................................................................... 79
Tabela 19 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Itaiópolis no
período de 2009 a 2012. ........................................................................................... 80
Tabela 20 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Papanduva
no período de 2009 a 2012. ...................................................................................... 80
Tabela 21 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Monte
Castelo no período de 2009 a 2012. ......................................................................... 80
Tabela 22 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e
agressor – Mafra (2009 a 2012). ............................................................................... 83
Tabela 23 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e
agressor – São Bento do Sul (2009 a 2012). . .......................................................... 83
Tabela 24 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e
agressor – Rio Negrinho (2009 a 2012). ................................................................... 83
Tabela 25 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e
agressor – Campo Alegre no período de 2009 a 2012. ............................................. 84
Tabela 26 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e
agressor – Itaiópolis no período de 2009 a 2012. ..................................................... 84
Tabela 27 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e
agressor Papanduva no período de 2009 a 2012. ................................................... 84
Tabela 28 – Prevalência das violências físicas por área do corpo afetada - Mafra
(2009 a 2012). ........................................................................................................... 85
Tabela 29 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – São
Bento do Sul (2009 a 2012)....................................................................................... 86
Tabela 30 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Rio
Negrinho (2009 a 2012). ........................................................................................... 86
Tabela 31 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Campo
Alegre (2009 a 2012). ................................................................................................ 86
Tabela 32 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Itaiópolis
(2009 a 2012). ........................................................................................................... 86
Tabela 33 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada –
Papanduva (2009 a 2012). ........................................................................................ 86
Tabela 34 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Monte
Castelo (2009 a 2012). .............................................................................................. 87
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 2 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em MAFRA por ano. ..... 67
Gráfico 3 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em SÃO BENTO DO SUL
por ano. ..................................................................................................................... 67
Gráfico 4 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em RIO NEGRINHO por
ano. ........................................................................................................................... 68
Gráfico 5 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em CAMPO ALEGRE por
ano. ........................................................................................................................... 69
Gráfico 6 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em ITAIÓPOLIS por ano.
.................................................................................................................................. 69
Gráfico 7 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em PAPANDUVA por ano.
.................................................................................................................................. 70
Gráfico 8 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em Monte Castelo por
ano. ........................................................................................................................... 70
LISTA DE ABREVIATURAS
BO – Boletins de Ocorrência
DEAM – Delegacias Especializadas no Atendimento a Mulher
DP – Delegacia de Polícia
DPCAMI- Delegacias de Proteção a Crianças, Adolescentes, Mulher e Idoso
MS – Ministério da Saúde
OMS – Organização Mundial da Saúde
ONU – Organização das Nações Unidas
WHO – World Health Organization
CFB – Constituição Federal Brasileira
SUS – Sistema Único de Saúde
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social
CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social
SPM – Secretaria de Políticas para as Mulheres
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................. ........................................................ 19
2.1 CARACTERÍSTICAS DA (AS) VIOLÊNCIA(S): DEFINIÇÕES E A QUESTÃO DE
GÊNERO ................................................................................................................... 19
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................... 53
3.1 DEFINIÇÕES GERAIS DOS PROCEDIMENTOS DE PESQUISA ..................... 53
3.2 ESPAÇOS DE DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ....................................... 54
3.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ..................................................... 58
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS .............. ................................... 61
4.1 BREVE CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO ESTUDADO ............................ 61
4.2 PERFIL DA POPULAÇÃO ESTUDADA NO ESPAÇO DO PLANALTO NORTE
CATARINENSE ......................................................................................................... 62
4.3 BOLETINS DE OCORRÊNCIAS REGISTRADOS NAS DPs E DPCAMI NO
PLANALTO NORTE CATARINENSE ........................................................................ 65
4.4 TERRITORIALIZAÇÃO DOS ATOS VIOLENTOS CONTRA O GÊNERO
FEMININO NO PLANALTO NORTE CATARINENSE (2009 a 2012) ........................ 75
4.5 CENÁRIOS DA VIOLÊNCIA CONTRA O GÊNERO FEMININO NO ESPAÇO
ESTUDADO .............................................................................................................. 77
4.6 FATORES QUE CONTRIBUIRAM PARA OS ATOS VIOLENTOS CONTRA O
GÊNERO FEMININO ................................................................................................ 88
4.7 ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO AS MULHERES NOS
MUNICÍPIOS QUE COMPÕE O PLANALTO NORTE CATARINENSE .................... 90
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................ ....................................................... 95
REFERENCIAS ....................................................................................................... 100
APÊNDICES ........................................................................................................... 105
APENDICE A – Questionário .................................................................................. 106
APENDICE B – Carta de Apresentação .................................................................. 109
ANEXOS ................................................................................................................. 111
ANEXO A – Boletim de ocorrência .......................................................................... 112
12
1 INTRODUÇÃO
O tema deste estudo refere-se ao fenômeno da violência de gênero praticada
contra as mulheres, mulheres residentes no território do Planalto Norte Catarinense.
O objeto de estudo emergiu da vivência profissional da pesquisadora na unidade de
pronto atendimento de Mafra, no qual atua como enfermeira, local este, em que as
mulheres vítimas de atos violentos são encaminhadas para atendimento de
emergência. Em determinados atendimentos estas mulheres vítimas de violência
não sobreviveram, devido à agressão sofrida. Quando sobrevivem não encontram
uma sequência para o atendimento que as possa apoiá-las. Para tanto, diante da
lacuna percebida pela pesquisadora quanto aos atendimentos às mulheres vítimas
da violência, gerou inquietudes estimulando para o desenvolvimento deste estudo
para que se produzisse produzir viés de analises e discussão da problemática no
território estudado.
Para o desenvolvimento do tema, utilizamo-nos como base referência as
políticas públicas para enfrentamento da violência contra as mulheres, quais
apresentam em seu conteúdo, conceitos, diretrizes definidas, normas e estratégias
para as ações, objetivando fortalecer e estruturar a atenção às mulheres, garantindo
o direito a saúde, igualdade a vida, expressos na Constituição Federativa do Brasil
de 1988.
Segundo a Organización Panamericana de La Salud (2002), o termo violência
tem origem da palavra latina vis, significando força. Tomado como referência o
constrangimento, a dominação por meio da força física sobre o outro, a violência é
tema amplo, discutido nas sociedades, porém é norteado por fenômenos complexos
de difícil conceituação teórica, cuja definição não tem exatidão cientifica. A violência
sofre influencias culturais e modificações diante do desenvolvimento dos valores
sociais e das normas convencionais de relação entre as sociedades.
Dessa forma, percebemos que o fenômeno da violência sofre mutações na
história da humanidade, influenciada pela história e espaços geográficos, norteados
por circunstâncias das realidades diferenciadas. Existiam violências toleradas e as
condenadas nas sociedades, pois, desde os primórdios da existência humana a
violência é uma manifestação humana. Porém, a violência adquiriu nas sociedades
diferentes formas, cada vez mais complexas e organizadas. Para Minayo (2006), a
violência decorre de ações realizadas por indivíduos, classe, nações ou omissões
13
dessas mesmas instâncias, que destes atos geram danos físicos, emocionais,
morais a si e outros, enraizados nas estruturas sociais e políticas bem como na
consciência dos indivíduos.
A violência apresenta-se de forma complexa e multifacetada, corroborando
para a identificação da violência de gênero. Segundo Morgado (2008), violência de
gênero não é um fenômeno recente. Está presente em todas as classes sociais e
sociedade, se compõe de conjunto de relações sociais, tomados de complexa
compreensão. Desta forma, diante da violência de gênero podemos inferir que se
trada de um fenômeno de natureza social, produto de um conjunto de determinantes
que derivam da convivência dos grupos e na estruturação das sociedades.
Diante das formas de violências instituídas nas sociedades, devemos analisar
estudos aprofundados sobre as variadas definições da violência de gênero visando
de conceitualizar tal fenômeno. Segundo Alberdi et al. (2002), para que possamos
entender a denominação de violência de gênero, devemos levar em conta a
condição de homens e mulheres na sociedade e o caráter social dos traços
atribuídos para ambos. Observa-se que na construção cultural, os traços do feminino
e do masculino, são constituídos como produto da sociedade e não da evolução
biológica da humanidade.
Como descreve Nogueira (2001), diferentemente do que pressupõe o
essencialismo, as diferenças entre homens e mulheres não são devidas à
naturalização de atributos de um e de outro, mas sim às relações sociais
estabelecidas durante a construção social. A violência de gênero no contexto social
é um fenômeno, resultante do comportamento humano no convívio social. Vista
como multicausal a violência é reflexo das condições sociais e culturais, gerando
recortes populacionais em situação de vulnerabilidade e desigualdade.
Na constituição do modelo familiar tradicional as mulheres assumiram papéis
diferenciados dos homens. Então as condições de gênero atribuídas ao diferentes
sexos, legitimaram a dominação do homem sobra à mulher, mantendo-as diferentes
socialmente. Desta forma, as violências às quais as mulheres vêm sendo
submetidas durante a história da sociedade, estão as mais variadas formas, estão
as intrafamiliares. Segundo o documento de Nacional de Políticas Públicas para as
Mulheres (2011), quanto às denominações violência doméstica e violência familiar, a
Lei Maria da Penha, no seu Art. 5º, descreve a violência conjugal como aquela que
se dá em qualquer relação íntima de afeto, no qual agressor permanece convivendo
14
ou conviveu com a ofendida, independendo de coabitação. A lei define como
violência contra a mulher, qualquer ato de violência de gênero que resulte em
qualquer ação física, sexual ou psicológica, incluindo a ameaça.
As questões de violência que envolvem as mulheres, passam a serem
discutidas no âmbito governamental. Porém medidas para proteger as mulheres e
coibir a violência são garantidas por meio das políticas públicas. Os espaços devem
ser organizados para o acolhimento das mulheres vitimizada por atos perversos e
complexos de violência. O Estado passa a intervir nas situações provocadoras de
violência, aplicando medidas de proteção às mulheres vítimas da violência. Como
descreve Foucault (1978), diante de uma nova administração, organiza-se uma nova
rede de conhecimento das populações, os quais demonstram à realidade da
sociedade e desta forma as prioridades políticas ganham novos rumos.
Durante a construção da política pública de proteção as mulheres no Brasil,
vários dispositivos foram implantados para estabelecer o respeito aos sujeitos de
direito, como cidadão de pertencerem a uma nação. Desta forma as leis são
submetidas a fatos, e nem sempre se considera o direito a vida dos membros de
uma comunidade política, ficando obscura a individualidade dos grupos sociais.
Segundo Arendt (1993), o sujeito político foi identificado com o domínio das
necessidades vitais o corpo deixa de ser alguém com individualidades para ser
transformado em elemento na mecânica geral dos seres vivos que passa a dar
suporte aos processos biológicos.
Para tanto, as discussões e mobilizações políticas foram para a mudança
deste paradigma histórico, para que a mulher assumisse seu papel de componente
de uma sociedade transformadora. Segundo Furegato (2006), a mobilização da
sociedade e dos governantes é evidente a partir do século XX, quando várias
conferências internacionais foram realizadas, resultante dos direitos humanos
mínimos para todos os seres humanos, os quais tiveram impacto sobre a
problemática da violência de gênero contra a mulher.
Diversas foram às mobilizações e discussões para dar conta da problemática
da violência contra as mulheres no Brasil e mundialmente. Segundo Schraiber et al.
(2003), as conferências realizadas no século XX, quais discutem os direitos
humanos para os habitantes do mundo, contribuíram para a detecção e investigação
da violência de gênero contra a mulher percebida em ordem temporal pelos
seguintes documentos: Carta das Nações Unidas (1945); Convenção contra o
15
genocídio (1948), Pacto internacional dos direitos civis e políticos (1966), Pacto
internacional dos direitos econômicos, sociais e culturais (1966), Convenção sobre a
eliminação de todas as formas de discriminação racial (1965), Convenção para a
eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher (1979), Convenção
contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes
(1984), Convenção sobre os direitos da criança (1989) e, Convenção interamericana
para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher em Convenção de Belém
do Pará em 1994. A partir da legislação nacional vigente a Constituição Federal do
Brasil (1988) e, acordos internacionais, estas discussões emergiram delas, leis que
garantissem na atualidade os direitos das mulheres a uma vida sem violência.
No Brasil, o marco para enfrentamento da problemática relacionada à
violência contra a mulher, ganha visibilidade no final dos anos 1970, quando foram
instituídos os grupos de SOS Mulheres. Nestes grupos haviam representantes dos
variados grupos feministas, aliados a grupos políticos e distintas correntes
ideológicas. No Brasil em 1985, foram criadas as Delegacias Especiais de
Atendimentos às Mulheres (DEAMs), por meio do Decreto número 2170 de
24/10/85, resultante de pressões exercidas pelos movimentos sociais. Para Bandeira
(2002), as delegacias se constituíram nas primeiras respostas institucionais
colocadas à disposição das mulheres no enfretamento da problemática da violência
exercida contra elas. Esta política foi criada com o objetivo de atender a uma
clientela específica: as mulheres em situação de violência, especialmente a violência
doméstica.
As discussões sobre a elaboração de políticas públicas para proteção das
mulheres vítimas de violência permanecem constantes no Brasil. Na perspectiva de
se estabelecer mecanismos para mapear e identificar os atos violentos aos quais as
mulheres estão expostas, para a integração das diferentes áreas da sociedade, em
24 de novembro de 2003, foi promulgada a Lei 10.778, torna-se obrigatório à
notificação dos casos de violência contra a mulher, dá responsabilidade aos serviços
de saúde, em notificar casos suspeitos ou confirmados de violência de qualquer
natureza contra a mulher. No ano de 2006, entra em vigor a Lei Maria a Penha (Lei
nº 11.340/2006). Marco importante para a sociedade brasileira dispor de
mecanismos punitivos aos agressores, denotando enfim, a gravidade dos atos de
violência ao qual a mulher é vitimizada.
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Para a consolidação das estratégias de enfrentamento das violências contra
as mulheres, as políticas públicas de prevenção e combate as formas de violências
a este grupo populacional, encontram-se em fase consolidação no Brasil. A
mobilização da sociedade para trabalhar ações efetivas no enfrentamento a
violência contra a mulher é evidente. Diante dos desafios para consolidar as políticas
públicas de enfrentamento as violências contra as mulheres nos municípios que
compõem o Planalto Norte Catarinense, o mapeamento do cenário da violência
atenta para o reconhecimento da situação dos atos violentos aos quais as mulheres
estão expostas nesse território.
O que fazemos acerca dos atos violentos é que denotam a forma como a
sociedade visualiza a violência, nas mais variadas condições. Na
contemporaneidade a mulher que é submetida aos atos violentos, percorrer a rede
para acolhimento e atenção, que objetiva também tratar também do agressor, com
base nas políticas publicas de prevenção e combate às violências. Porém, esta
sequência nem sempre está constituída é operante. Perante as formas de relação
social que julgamos ocorrem sob as influências de inúmeras crenças, que levam as
mulheres agredidas a vivenciarem o desamparo solitariamente. Mediante este
panorama questiona-se: qual o cenário das violências que as mulheres dos
municípios que compõem o Planalto Norte Catarinense, foram expostas no período
de 2009 a 2012?
Desta forma, o desenvolvimento deste estudo tem como questões
norteadoras; Como se caracteriza a violência contra o gênero feminino no cenário
atual dos direitos? Quais são as principais políticas públicas emergidas após a
Constituição Federal Brasileira de 1988, direcionadas ao escopo da violência contra
as mulheres? Quais as formas de violências preponderantes contra as mulheres nos
registros dos Boletins de Ocorrências das Delegacias Civis e Especializadas dos
municípios do Planalto Norte Catarinense no período de 2009 a 2012? Estão sendo
aplicadas as políticas públicas especificas para o enfrentamento da violência contra
o gênero feminino, no território estudado?
Diante destas questões definiu-se como objetivo geral: estudar o cenário das
violências sobre as mulheres residentes nos municípios do Planalto Norte
Catarinense no período de 2009 a 2012.
São objetivos específicos:
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- Estudar o conjunto de políticas públicas sociais desde a Constituição Federal
Brasileira de 1988 que enfocam a mulher e a violência sobre o gênero;
Identificar as formas de violências preponderantes contra as mulheres nos
registros dos Boletins de Ocorrências das Delegacias Civis e Especializadas dos
municípios do Planalto Norte Catarinense desde 2009 a 2012;
- Analisar a organização dos espaços de atenção a as mulheres vitima de
violências e em situação de vulnerabilidade nos municípios do Planalto Norte
Catarinense, perante os dados de campo e as políticas públicas destinadas
ao problema da violência do gênero.
Como justificativa da realização da pesquisa, constatamos a distâncias
existentes entre as políticas públicas para o enfrentamento a violência contra as
mulheres propostas e as vigentes, nos espaços de atenção as vítimas de violências.
É notório que as políticas públicas para a promoção, proteção e empoderamento da
mulher em situação de vulnerabilidade ou vitima da violência doméstica e também
de outras formas de violência evoluíram em muitos aspectos. Mas é inegável
também que a implementação destas políticas ainda padece com muitos problemas,
dentre eles os agentes deste processo não estão preparados para implanta-las,
devido esta desestruturação as políticas de enfrentamento a violência contra as
mulheres tornam-se ineficientes e fragmentadas. Tudo isso se torna ainda mais
preocupante quando levamos em consideração as formas brutais de violência quais
as mulheres vêm sendo expostas na atualidade, dentre estas agressões físicas que
marcam seu corpo e até levam a morte, as violências psicologias marcam a sua vida
cotidiana e afetam as relações sociais.
Acresce-se esta problemática as dificuldades econômicas e sociais as quais
as mulheres estão inseridas, que estão intrinsecamente ligadas às regiões menos
desenvolvidas no país. Este panorama as políticas públicas sociais formuladas,
porém, não implantadas em sua totalidade, denotam a situação de abandono em
que as mulheres, vítimas das mais variadas formas de violência, encontram-se ainda
no século XI, diante destas discussões da sociedade civil para proteger as mulheres,
a violência continua em evidência.
Contudo, o impulso maior para a elaboração deste estudo é a fragilidade do
processo de implantação do Pacto de enfrentamento a violência contra mulher, bem
como o desconhecimento das características e das formas de violência às quais as
mulheres do Planalto Norte Catarinense estão sendo submetidas. Pela vivência da
18
pesquisadora no cotidiano da assistência a saúde, os profissionais desconhecem a
rede de atenção a estas mulheres. Sendo assim, a relevância desse tema somada a
preocupação e comprometimento profissional, com a melhoria da assistência
integral a mulher, considerando as suas especificidades locais e a rede de atenção.
Como podemos ver, o estudo diz respeito não somente à uma área
especifica, mas sim abrange várias áreas que trabalham com a mulher vítima de
violência, como saúde, educação, assistência social e segurança. Portanto, este
estudo justifica-se pela necessidade de evidenciarmos o cenário da violência para
ampliarmos o conhecimento dos profissionais que acolhem estas mulheres. Para se
ampliar a rede de atenção à mulher entre outros aspectos relacionados com o bem
estar da população feminina.
Na primeira parte desta dissertação é apresentado o referencial teórico o qual
trata das violências no contesto geral, discutidas na sequência as violências de
gênero, as políticas públicas e seus desdobramentos. A segunda parte é composta
pela metodologia e discussão dos dados coletados e confrontados com o referencial
teórico. Na terceira parte da dissertação são apresentadas as considerações finais.
Esta dissertação é elaborada conforme a normalização da UnC.
19
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 CARACTERÍSTICAS DA (AS) VIOLÊNCIA(S): DEFINIÇÕES E A QUESTÃO DE
GÊNERO
A violência de forma globalizada está presente em nosso cotidiano,
considerada uma situação social, que tem se mostrado frequente na
contemporaneidade. Desta forma, manifesta-se atualmente nas escolas, no trânsito,
nas ruas, contra a criança, contra a mulher e também idoso. É evidenciada nos mais
variados espaços, tanto público quanto privado afetando os grupos sociais. Para
Nascimento (2007), a violência ameaça a vida, altera a saúde, produz enfermidade
podendo levar a morte, ou como possibilidade próxima. Nas sociedades a violência
apresenta-se de forma banal e corriqueira na rotina diária da população brasileira,
configurando-se como um problema de saúde pública. O tema requer discussão
ampla, pois, nesse contexto estão todas as formas de violências que envolvem as
sociedades.
Diante deste, devemos também suas considerar representação no Brasil
pelas causas externas, as quais compreendem os acidentes e as violências. Estas
consideradas como a segunda causa de morte, descritas pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) (2002), que aponta em estudos a notável tendência ao crescimento
dos índices das violências por causas externas. Contudo, os aspectos da violência
necessitam de conhecimentos básicos sobre sua magnitude, suas características e
impactos causados a população afetada. Na grande maioria, os dados
epidemiológicos não contemplam informações que levam a compreensão adequada
das violências, sendo necessário dados variados para mapear seus impactos. As
causas externas de morbimortalidade compreendem as lesões decorrentes de
acidentes e de violências como agressões, homicídios, suicídios, abuso físico,
sexuais e psicológicos, condições que implicam em desafio para as sociedades e
seus governantes, devido ao impacto nos anos vividos da população.
Nas populações as manifestações e distribuições das violências apresentam-
se de forma diferenciadas, segundo dados consolidados pela Organização Mundial
da Saúde (2000), as principais manifestações da violência podem ser ilustradas
pelos homicídios e suicídios.
20
No cenário das violências a magnitude desse agravo é percebida
mundialmente. Segundo World Health Organization (WHO) (2010), as causas
externas são responsáveis por mais de 5 milhões de mortes em todo o mundo,
representando cerca de 9% da mortalidade mundial. Porém, a representação das
violências não afeta as populações de forma uniformizada. Em determinados grupos
populacionais mais vulneráveis as mortes por causas externas estão mais
presentes, sofrendo um impacto maior nos anos perdidos de vida. Como descreve
Dahlberg et al. (2006), as taxas de mortalidade por homicídio entre os homens são
três vezes mais altas do que entre as mulheres, com incidência mundial nos homens
de 15 a 29 anos, seguidos de perto por homens de 30 a 44 anos.
Em todo o mundo, os suicídios são responsáveis pelos anos perdidos de vida
cerca de 820 mil pessoas em 2000. Mais de 60% de todos os suicídios ocorreram
entre homens, e mais da metade na faixa etária de 15 a 44 anos. Tanto para
homens quanto para mulheres, as taxas de suicídio aumentam com a idade e são as
mais altas entre os indivíduos com 60 anos. Segundo dados informados e copilados
pelo no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), em 2009 foram notificadas
1.103.088 mortes, das quais 12,5% foram decorrentes de causas externas,
denotando a terceira causa de morte no Brasil. Contudo a distribuição não se
apresenta uniforme nas regiões brasileira, no Norte, Nordeste e Centro Oeste
apresentam-se como a segunda causa, quarta, na Região Sudeste, e a terceira, na
Região Sul.
A violência de forma abrangente sofre influências de amplos fatores, deste os
o fator de vulnerabilidade, que para muitos autores torna-se apropriados para
descrever a situação das sociedades ditas pobres, ou em desenvolvimento, esta
afirmação se dá, devido à capacidade de apreensão da dinâmica dos fenômenos
que o conceito abstrai das relações sociais.
Segundo Castel (1997), define a vulnerabilidade social como uma zona
intermediária instável que conjuga a precariedade do trabalho e a fragilidade dos
suportes de proximidade.
Quando a economia permanece estável as relações permanecem sólidas,
porém, bastam oscilações neste campo, dilatando assim, a zona de vulnerabilidade.
Os estudos que tomam como base a vulnerabilidade social, principalmente os que
se debruçam sobre a realidade dos países menos desenvolvidos, associam a zona
21
de instabilidade frente à precariedade do trabalho, à pobreza e à falta de proteção
social.
Desta forma, a vulnerabilidade social no mundo da violência do gênero
feminino, é ressaltada pelo amplo conceito que a vulnerabilidade proporciona para
entendimento dos eventos que vulnerabilizam as pessoas. A vulnerabilidade não é
definida somente por determinantes de natureza econômica, são considerados
também fatores como; a fragilização dos vínculos afetivos, as discriminações sociais
e seu vinculo com a violência, relações territoriais e políticas dentre outros.
Situações estas que afetam as pessoas. Segundo Oliveira (1995) as situações de
vulnerabilidade podem ser geradas pela sociedade e podem ser originárias das
formas como as pessoas lidam com as perdas, os conflitos, a morte, a separação, as
rupturas.
As dimensões da vulnerabilidade social, que incidem sobre a violência do
gênero feminino, são expressas por Katzman (2001, p.173):
As situações de vulnerabilidade social devem ser analisadas a partir da existência ou não, por parte dos indivíduos ou das famílias, de ativos disponíveis e capazes de enfrentar determinadas situações de risco. Logo, a vulnerabilidade de um indivíduo, família ou grupos sociais refere-se à maior ou menor capacidade de controlar as forças que afetam seu bem estar, ou seja, a posse ou controle de ativos que constituem os recursos requeridos para o aproveitamento das oportunidades propiciadas pelo Estado, mercado ou sociedade. Estes ativos estariam assim ordenados: (i) físicos, que envolveriam todos os meios essenciais para a busca de bem estar. Estes poderiam ainda ser divididos em capital físico propriamente dito (terra, animais, máquinas, moradia, bens duráveis relevantes para a reprodução social); ou capital financeiro, cujas características seriam a alta liquidez e multifuncionalidade, envolvendo poupança e crédito, além de formas de seguro e proteção; humanos, que incluiriam o trabalho como ativo principal e o valor agregado ao mesmo pelos investimentos em saúde e educação, os quais implicariam em maior ou menor capacidade física para o trabalho, qualificação etc; sociais, que incluiriam as redes de reciprocidade, confiança, contatos e acesso à informação. Assim, a condição de vulnerabilidade deveria considerar a situação das pessoas a partir dos seguintes elementos: a inserção e estabilidade no mercado de trabalho; a debilidade de suas relações sociais e, por fim, o grau de regularidade e de qualidade de acesso aos serviços públicos ou outras formas de proteção social.
Entretanto, como já foi explicito anteriormente vulnerabilidade não é o mesmo
que pobreza. Em alguns casos a vulnerabilidade está inclusa na pobreza, o grupo
social vulnerabilizado transcende as condições de empobrecido. Conforme tal
definição, determinados grupos estão expostos a maior ou menor perigo social, que
neste caso, se expressam e se encontram nas dimensões das mulheres, assim
22
como na sociedade e em situações de violencia do gênero. A vulnerabilização
quando associada às condições expressas das posições que as mulheres ocupam
na sociedade atualmente, instituem-se de forma a expressar às especificidades do
seu contexto cotidiano. No caso, as relações baseadas nas desigualdades do
gênero, nas dificuldades enfrentas pelas mulheres pela subordinação econômica ao
marido, na chefia familiar, no trabalho, na vida pessoal, na vida sexual e reprodutiva
da familia ou na politica.
Tendo em vista, os atores envolvidos, e as condições de vulnerabilidade
social, indicadores denotam os riscos da vulnerabilidade para violência intrafamiliar.
Segundo Sagot (2006), a violência que ocorre no contexto familiar, ou seja, a
violência intrafamiliar, representa um problema de grandes dimensões, produto de
uma organização social estruturada com base na desigualdade de gênero e idade.
Afetam especialmente mulheres, meninos e meninas. Na maioria dos casos, essa
exercida por homens contra as mulheres, sejam elas crianças ou adultas, mas numa
relação de poder entre o mais forte e o mais fraco. Desta forma, a identificação de
diferentes situações de vulnerabilidade social, devem levar em conta os indivíduos,
famílias e comunidades. Assim, a vulnerabilidade social decorre de fenômenos
diversos, com causas e consequências distintas dos riscos sociais que atingem os
vários segmentos populacionais, no caso as condições que predispõem as mulheres
a estarem vulneráveis ás violências. Como afirma Strey (2001, p. 48):
A violência contra a mulher é também chamada de violência de gênero e embora possa incidir sobre homens é entendida quase como sinônimo de violência contra a mulher, seja ela doméstica ou familiar. As mulheres são maciçamente as maiores vítimas da violência de gênero, sendo que esta não conhece fronteiras, nem de classe, nem de nível de industrialização de uma região ou país, nem do tipo de cultura ou grupo étnico, constituindo-se ‘no mais democrático de todos os fenômenos sociais’.
Dessa forma, para podermos entender como a vulnerabilidade social incide
sobre a violência contra as mulheres, torna-se pertinente elencar os principais
indicadores que denotam vulnerabilidade social das famílias. Nesse contexto, é
necessário observar a constituição familiar, dinâmica das relações familiares,
estrutura econômica, nível de escolarização, aspectos de saúde da família,
caracterização do domicílio, antecedentes criminais de algum membro do grupo
familiar, existência de violência familiar, mendicância, prostituição entre outros que
corroboram para a perpetuação das barbáries infringidas as mulheres. Contudo,
23
ressaltamos que o olhar feminino diferencia-se do masculino na configuração das
relações sociais, construídas numa aprendizagem elaborada ao longo da história da
humanidade. Estas relações são advindas do interior dos grupos, mediadas por
conflitos sociais, identificando relações desiguais de poder no espaço das relações
familiares. Nesta perspectiva, evidencia-se a dificuldade dos grupos sociais em
desenvolver habilidades para trabalhar com tais contextos sociais na dinâmica das
relações humanas. Dantas et al. (2005), descreve que devido a uma ordem social de
tradição patriarcal por muito tempo se consentiu um certo padrão de violência contra
as mulheres, designando ao homem o papel ativo na relação social e sexual entre
os sexos. Ao mesmo tempo se restringiu à mulher e a ela, coube a passividade e
reprodução, construções sociais que ancoraram condições de representação destas
mulheres no convívio social.
Ao focarmos a interface das desigualdades sociais que afetam as relações de
gênero, corroborando para a violência, depara-mo-nos com amplas implicações
relacionadas ao fenômeno. Devemos considerar neste contexto, que a maioria da
vitimas permanecem coagidas a manterem relacionamentos baseados na
dependência financeira, social e emocional. Isto favorece para eventos cíclicos
mantenedores de violência. Segundo Zuma (2005), a violência pode ser dividida em
três categorias: violência autoinfligida, violência interpessoal e violência coletiva.
Cada uma delas contem subtipos. A violência que ocorre nas relações familiares é
um subtipo da violência interpessoal e, por sua vez, é dividida em violência entre
parceiros íntimos, condição esta denominada de violência doméstica.
Para tanto, no âmbito da denominação da violência do gênero feminino, há
cerca de três décadas, vem sendo estudada a violência intrafamiliar, no Brasil, qual
é descrita como forma de violência cometida pela família ou responsável. Tanto pela
magnitude, como pelas repercussões do problema, há uma alta prevalência de
violência contra mulheres, na violência intrafamiliar com consequências para a
saúde, conforme a literatura. Heise (1994), aponta índices que variam de 25 a 30%
de mulheres acima de 15 anos que na vida adulta experimentaram pelo menos um
episódio de violência física, em países como os Estados Unidos ou Canadá, até
índices de 75%, como na índia. Também conforme a literatura tal violência mostra-
se sobretudo como evento das relações de gênero. Assim, complexo fenômeno
presente na violência social, é norteado por fatores que corroboram para seu
crescimento e, alguns grupos ditos vulneráveis, como as mulheres são acometidas
24
de forma brutal pela violência. Esta situação, expressa nos índices de violência
pelos quais, as sociedades tornam-se vulneráveis na atualidade, contribuindo para
elevar os índices de violência contra a mulher nas sociedades em desenvolvimento.
Diante da forte presença da violência, toda a forma de violência deve ser
estudada, em suas inúmeras manifestações e as populações afetadas. Segundo a
Organização Mundial da Saúde, a violência é entendida na sua forma mais ampla
como; ameaça, pela utilização intencional da força física e/ou da força psíquica, que
pode ser usada contra si mesmo, contra outros ou contra um grupo ou uma
comunidade; que ameaça ou coloca fortemente em risco de um traumatismo, ou de
prejuízo para as suas funções psicológicas.
Segundo Monteiro (2004), a violência nega valores considerados universais,
tais como liberdade, igualdade e a própria vida, reduzindo o exercício da cidadania
de quem a ela é submetida e, principalmente, o gozo da liberdade. A violência é
também uma ameaça permanente à vida dos seres humanos, por constituir-se em
constante alusão à morte, pela magnitude dos atos, pela crueldade do agressor e
pela passividade e silêncio do agredido.
Para efetivação deste estudo discutiremos as questões de violência que
afetam o gênero feminino. Assim, o entendimento quanto a gênero se faz pertinente.
Segundo Farah (2002), o termo gênero foi incorporado pelo feminismo, devido à
produção científica que começava a descrever as situações que as mulheres
vivenciaram durante a evolução das sociedades. Desde então gênero recebe várias
interpelações influenciadas pela corrente feminista. Carvalho (1998) enfatiza que a
definição de gênero, segue a proposta da corrente feminista da diferença,
referenciada como qualquer diferença entre homens e mulheres. Estas são
aceitáveis somente diante das questões biológicas sexuais e não as diferenças
impostas pela sociedade, as quais durante sua conformação contribuíram para
enfatizar diferenças entre ambos os sexos, de ordem cultural.
Desta forma, as questões das diferenças entre homens e mulheres
estabelecem relações entre os polos masculino e feminino, produção versus
reprodução. Nas reflexões de Farah (2002), para o feminismo da diferença, as
condições do gênero concentram-se na esfera pública, devido à origem histórica da
subordinação da mulher na sociedade. Também se destacam as questões de
caráter histórico das diferenças de gênero advindo da própria construção social da
percepção da diferença sexual. As diferenças permeiam, os atributos e os papéis de
25
gênero favorecem o homem em detrenimento da mulher, legitimando as relações de
poder entre ambos os sexos.
Devemos levar em consideração ao discutirmos gênero, as referências ao
conceito difundido pelas ciências sociais, para explicar a evolução histórica das
identidades, masculina e feminina. Segundo Salzsman (1992), os discursos
justificam a hierarquização dos homens no termo masculino e das mulheres no
termo feminino qualificação essa, adotado nas sociedades, cada qual conforme a
sua cultura, resultando nas diferenças sociais. São sistemas de crenças que
especificam as características de cada sexo e, a partir destas, determinam os
direitos, os espaços, as atividades e as condutas próprias de cada. Tais
considerações, que envolvem gênero enfatizam as relações sociais entre os sexos,
efetivando das desigualdades entre homens e mulheres.
Para tanto, o conceito de gênero é amplo e interfere no cotidiano feminino.
Suas nuances advém das relações entre homens e mulheres. A discussão desta
questão é norteado por peculiaridades, resultante das relações históricas sociais,
sobre qual a sociedade atua e corrobora para sua conceituação, conforme a
ideologia daquela sociedade. Para Saffiotti:
O gênero está longe de ser um conceito neutro. Pelo contrário, ele ‘carrega uma dose apreciável de ideologia’, justamente a ideologia patriarcal, que cobre uma estrutura de poder desigual entre mulher e homens. Porque o conceito de gênero, na sua visão, não atacaria o coração da engrenagem de exploração-dominação, alimentando-a (SAFFIOTI, 2004, p. 136).
Neste sentido, a representação do gênero feminino denota uma categoria
social, que historicamente vem tomando interpretação do caráter relacional do
gênero com a sociedade. Então, as discussões sobre gênero perpetuadas
atualmente, são resultantes das mobilizações dos grupos socias, incentivadas
também pela violência contra o gênero feminino. Esta advém das relações humanas
e suas incursões na conformação política e histórica das sociedades. É favorecida,
devido à cultuação dos traços atribuídos a homens e mulheres, que são percebidos
como produto da sociedade e suas influências culturais. Para Blay (2003), a
violência de gênero é um problema mundial e antigo, a violação dos corpos
femininos são fatos que vem acontecendo ao longo da história das relações entre as
mulheres e a sociedade.
26
As menções à violência de gênero vêem sendo percebidas diariamente nos
noticiários, perpassando as reflexões das sociedades para determinar os fatores
condicionantes desta situação. Saffioti (2004), realiza sobreposições ao tema,
conceitua as especificidades de cada fenômeno para designar a violência.
Caracteriza a violência e os contextos em que ocorrem, principalmente, as formas de
violência contra o gênero feminino.
No que tange ao significado da violência e todas as consequências que surgem da ocorrência deste fenômeno, na sociedade patriarcal em que vivemos, existe uma forte banalização da violência de forma que há uma tolerância e até certo incentivo da sociedade para que os homens possam exercer sua virilidade baseada na força/dominação com fulcro na organização social de gênero. Dessa forma, é ‘normal e natural que os homens maltratem suas mulheres, assim como que pais e mães maltratem seus filhos, ratificando, deste modo, a pedagogia da violência’ (SAFFIOTTI, 2004, p. 74).
A violência de gênero constituiu-se em negação dos direitos humanos, na
qual a mulher tornou-se vitima. Assim, violência contra a mulher recebe
denominação atualizada de violência de gênero, que contempla as diferentes formas
de agressões que as mulheres vivenciam na vida social e privada. Segundo a
Organização das Nações Unidas (ONU) (2006), a violência contra a mulher é
descrita como qualquer ato que tem por base o gênero, e que resulta ou pode
resultar em dano ou sofrimento de natureza física, psicológica ou sexual, inclusive
ameaças, coerção ou privação da liberdade, quer se produzam na vida pública ou
privada.
Portanto, como se percebe, a violência contra a mulher tem conformação
direta com as relações entre o direito e a cultura da inferioridade da mulher diante do
homem. Baseado nos modelos familiares vigentes durante a evolução da sociedade,
o modelo composto por pai, mãe e filhos com ligações consanguíneas, forma
tradicional de constituição das famílias, notadamente vigente por varias décadas na
sociedade brasileira, foi superado. Observa-se a reorganização do núcleo familiar,
construído por grau de parentesco ou afeto, assim, violência contra a mulher,
família, gênero e cultura são coisas indissociáveis.
A violência contra as mulheres assume diferença das outras formas de
violência, pois, a mesma é repressora e nem sempre se dá de forma evidente, e
frequentemente está no cotidiano das mulheres. Embutida e disfarçada pelo
pensamento dominante de que a mulher é propriedade do homem, a realidade da
27
violência contra as mulheres é produto de uma cultura dominantemente masculina.
As formas variadas de violências a que este grupo está exposto, tem sofrido
modificações durante a evolução das sociedades, principalmente em
desenvolvimento, como a brasileira.
Quanto às formas de violência contra a mulher a Organização Panamericana
de Saúde (2007), descreve que a violência doméstica e familiar contra a mulher, é
um fenômeno que atinge inúmeras mulheres em todo o planeta. Destaca que é um
problema social que acontece em todo mundo, em todos os níveis sociais, sendo na
maioria dos casos práticado com certa frequência por homens conhecidos da vítima,
pelas mais variadas formas e intensidades, ocorrendo desde a violência psicológica,
sexual até a física, que em alguns casos leva a mulher à morte.
A violência doméstica é a forma mais ampla de violência, abrangendo
pessoas que vivem sob o mesmo teto, mas não necessariamente vinculadas pelo
parentesco. A Lei 11.340/2006, denominada como Maria da Penha, define a
violência familiar e doméstica em seu art. 5º, configurando como qualquer ação ou
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial. Que é registrada no âmbito da unidade
doméstica, no âmbito da família.
Desta forma, vários fatores permeiam a violência doméstica, dentre este a
condição de subordinação e maus tratos intrafamiliar, levam as situações de
violência que afeta um grupo expressivo de mulheres. A sociedade indiretamente
também se omite diante desta situação, contribuindo para que a mulheres
permaneçam escondidas, vivenciando a violência no âmbito das relações familiares.
Deixam espaços para que o homem por meio da força domine a mulher. Esta
situação acontece nos espaços privados, condicionante para denominação de
violência domestica.
Como descreve Nascimento (2002, p. 02):
As causas da violência doméstica contra a mulher estão relacionadas com as desigualdades entre homens e mulheres e com a hierarquia de gênero, onde o masculino domina o feminino o isolamento doméstico leva as mulheres ao desconhecimento de seus direitos, e isso se soma à violência social e a perda de valores éticos, como o respeito e a solidariedade. A violência praticada pelos homens contra as mulheres demonstra a intenção explícita de submeter à mulher às suas vontades, pois, a violência representa um abuso físico, psicológico e sexual, deixando marcas no corpo e na vida das mulheres. A violência física toma forma quando o homem esbofeteia, belisca, morde, dá socos e pontapés, espanca, maltrata,
28
esfaqueia, alveja a tiros e até mesmo mata a mulher (NASCIMENTO, 2002, p. 02).
No Brasil a violência contra a mulher também contempla as relações entre
os sexos, o poder arraigado à cultura da violência sobre as mulheres. A violência
doméstica contra as mulheres vem se alastrando nas diferentes classes da
sociedade, realidade esta que não está expressa somente às mulheres que vivem
em situação de pobreza, evidência constante no cotidiano. A violência perpassa
ideologias, classes sociais, raças e etnias. Culturalmente esta situação afeta as
mulheres impedindo o seu desenvolvimento humano e restringindo sua participação
na sociedade.
A cultuação das relações familiares nas quais a sociedade descreve a
mulher que convive com o seu agressor, como sendo conivente com determinada
situação infracional s sobre seu corpo, porque gosta de apanhar. Este é um fato
culturalmente explicável, pois, em determinados momento históricos da humanidade
as mulheres receberam papéis distintos, diferenciando-as dos homens, trazendo
representações a estes sujeitos sociais e seus respectivos direitos. Estes adicionam
as mulheres toda uma carga de culpabilização pela violência, socialmente
disseminada. Se o homem cometeu tantos crimes durante a construção da
humanidade assim, o fez pelo bem da sociedade.
A Fundação Perseu Abramo1 (2001), com base numa amostra de 2.504
entrevistadas, estima que a cada 15 segundos uma mulher sofra agressão e que
mais de dois milhões de mulheres sejam espancadas anualmente no país, sendo
que uma em cada cinco brasileiras declarou já ter sofrido algum tipo de violência por
parte do público masculino. Em mais da metade (53%) dos casos a violência foi
praticada pelo marido ou companheiro da vítima e em 70% incluiu além do esposo e
namorados outros homens com quem a mulher já havia mantido relações de afeto.
A violência contra as mulheres passa identificada na legislação e
posteriormente julgada, assim, a violência contra a mulher prevista na Lei
11.340/2006, estabelece as formas de violência doméstica contra a mulher como
física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Segundo Krantz et al (2005), a
violência física caracteriza-se pelos atos infligidos intencionalmente, como chutes,
mordidas, bofetadas, espancamentos, ou até mesmo estrangulamentos. Lesões que
1 Instituto de Pesquisa Fundação Perseu Abramo (FPA). Fundado em 1996, pelo Partido dos
Trabalhadores. Desenvolve projetos de caráter político cultural.
29
podem ser dissimulada como acidentes corriqueiros causando ocasionalmente
lesões graves levando ao óbito.
A violência psicológica segundo a Lei Mara da Penha (2006), caracterizada
por condutas aplicadas com o objetivo de desconstruir a identidade da vitima,
atribulando a saúde. O ato de violência neste caso é expresso na utilização da
manipulação e formas de ameaças. Quanto o entendimento de violência sexual, esta
descrito na literatura ação que ocorre o controle e a subordinação da sexualidade da
mulher. Estatisticamente esta forma de violência é descrita como a mais comum e
mulheres do mundo inteiro sofrem por conta deste ato, que na maioria das vezes é
perpetrada pelo próprio parceiro intimo, não descaracterizando a participação por
outros agressores. Esta modalidade de violência não é contida na legislação, sendo
incorporada nesse conceito de violência desde a Convenção Interamericana para
Prevenir e Punir e Erradicar a violência Doméstica, tal violência não necessita estar
comprovada mediante laudos, ficando a critério do Juiz o entendimento do contexto
e posterior julgamento.
Outra forma de violência é a sexual descrita no artigo 7º inciso III da Lei
11.140/2006, como constrangimento como propósito de limitar a autodeterminação
sexual e reprodutiva da vitima, inclusive a obrigá-la à prostituição, impedindo a
mulher de usar métodos anticoncepcionais, tanto pode ocorrer mediante violência
física como por meio de grave ameaça (violência psicológica). Segundo Rotania et
al. (2003), a violência sexual de forma ampla, classifica-se por atos variados desde
estupro até mesmo atentado violento ao pudor.
Assim a ocorrência da violência sexual, fica caracterizada como qualquer
conduta que constranja a mulher a presenciar, manter ou participar de relação
sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade; que a
impeça de usar qualquer método contraceptivo; que a force ao matrimonio, à
gravidez, ao aborto ou à prostituição mediante coação, chantagem, suborno ou
manipulação ou ainda; que a limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos.
O avanço em considerar a ocorrência de violência sexual no âmbito
intrafamiliar foi alvo de resistência entre os legisladores, está conquista na legislação
pretende estimular a autonomia da mulher em relação ao seu corpo. Esta foi inserida
30
na legislação considerando também que esta forma de violência não acontece de
forma isolada e consuma com outros tipos de violência.
Seguindo a descrição das formas de violência podemos referenciar a
violência patrimonial, no artigo 7º inciso IV da Lei Maria da Penha, classificada como
qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de
seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e
direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades.
A última forma prevista pelo legislador artigo 7º inciso V da Lei Maria da
Penha, porém não menos relevante, a violência moral é entendida como qualquer
conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. A calúnia, segundo Greco
(2010), é o mais grave de todos os crimes contra a honra previstos pelo vigente
Código Penal Brasileiro (1940), ocorrendo com o ato de imputar falsamente a
alguém fato definido como crime. Por outro lado, a difamação se caracteriza com a
imputação de fato ofensiva à reputação de outrem. Já a injúria se dá com ofensa da
dignidade ou decoro da vítima. Então se entende como crime; a calúnia, a
difamação ou injuria e normalmente acontece concomitante à violência psicológica.
As demonstrações destas formas de violência estão descritas em pesquisa
realizada pelo instituto Avon/Ipsos (2011), que descrevem os tipos de agressão mais
comuns no Brasil. À mulher esta exposta a vários tipos de violência, além da
violência física e podemos observar a psicológica em evidência. Diante da realidade
brasileira retratada, observa-se a evidência dos tipos prevalentes das agressões
sofridas pelas mulheres. No quadro abaixo segue as formas mais evidentes de
agressões.
Tabela 1 – Tipos de agressões mais comuns no Brasil VIOLÊNCIA FÍSICA 80%
Agressão física/soco/chute/porrada do companheiro / marido / parente 77%
Agressão que pode até causar a morte da esposa / matar 3% VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA 62%
Agressões verbais/xingamento/gritos do companheiro/marido/parente 41%
Humilhar a companheira/esposa/ Falta de respeito do companheiro/marido 11%
Agressão psicológica/atingir a autoestima da companheira/esposa 5%
Ciúmes/desconfiança exagerada do companheiro/esposo 4%
Companheiro ameaçar a companheira se o deixar/denunciar 3%
Companheiro prender a esposa em casa/proibir de sair de casa/tirar a liberdade 3%
Ameaçar a companheira com arma/de morte 2%
31
Abuso de autoridade/tratar a esposa como escrava 2%
VIOLÊNCIA MORAL 6%
Constranger/xingar a companheira em público 4%
Difamar/caluniar a esposa/companheira/mulher 2%
VIOLENCIA SEXUAL 6%
A mulher ser obrigada a fazer sexo/estuprada 6%
Fonte: Pesquisa Instituto Avon/Ipsos Percepções sobre a Violência Doméstica Contra a Mulher no Brasil (2011).
Quanto a percepção ou entendimento das mulheres em relação a atos
violentos, a pesquisa da Avon/Ipsos (2011), com o tema a Percepções sobre a
Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil, em que 1,8 mil pessoas de cinco
regiões brasileiras foram entrevistadas, mostram que 27% das mulheres
entrevistadas declaram ter sofrido agressões graves. Como segue no quadro abaixo,
os motivos pelos quais a violência contra o gênero foi gerada, são derivados dos
relacionamentos humanos, denotando a idéia do poder mantenedor do homem
sobre a mulher e, também fatores que se enquadram nas questões de
vulnerabilidade social.
Tabela 2 – Mulheres agredidas por motivo declarado no Brasil.
Motivos % Ciúmes 48
Bebidas/Alcoolismo 43
Falta de Respeito 25
Desconfiança 20
Traição 20
Desentendimento 19 Problemas econômicos/financeiros 18
Desequilíbrio Emocional 18
Fonte: Pesquisa Instituto Avon/Ipsos Percepções sobre a Violência Doméstica Contra a Mulher no Brasil (2011).
Outro ponto interessante da pesquisa sobre a percepção sobre a Violência
Contra a Mulher no Brasil (2011), está na identificação dos diversos tipos de
violência as quais a mulher está exposta. A mais evidente é a violência física em
80% dos casos. Não obstante, está à violência psicológica em 79% dos casos,
anteriormente não tematizada, denotando a capacidade dos sujeitos em identificar e
expressar situações que os colocam em situação de vulnerabilidade. Richardson et
al, (2002), pontua que a violência emocional refere-se a eventos psicológicos
agressivos contínuos na vida da mulher. Geralmente são abusos que propiciam a
32
depreciação da autoestima e bem estar da vítima, afetando sua vida e seus
relacionamentos sociais. Qualquer situação de controle sobre a mulher que a
coloque emocionalmente vulnerável ao cônjuge, caracteriza-se como violência
emocional.
Para tanto, estas formas de violência repercutem em termos de condição de
saúde das mulheres. Para Filho (1999), nos últimos anos a violência passou a ser
considerada como um problema de saúde pública. O interesse da área da saúde
deve-se, sobretudo, aos efeitos nas condições gerais de saúde e bem estar
populacional. Porém, Schraiber et al (1999), afirmam ainda haver dificuldades para
se reconhecer a real magnitude do fenômeno. Segundo as autoras, os entraves
devem-se em função da carência de políticas públicas de intervenção, práticas
sociais eficazes e estudos que enfoquem a complexidade das interações do
fenômeno buscando seus determinantes e suas consequências. Minayo et al.
(1999), pontua que no Brasil, o tema insere-se como parte da agenda da saúde
pública principalmente a partir da década de 1980, tendendo a se consolidar no final
dos anos 1990.
Portanto, a subnotificação das violências contra as mulheres nos serviços de
saúde, geram dados imprecisos quanto à magnitude da problemática da violência.
Pois, há evidências na associação dos problemas de saúde e violência contra a
mulher, quando os dados não são coletados e copilados de forma fidedigna geram
estimativas imprecisas das complicações físicas e psicológicas, diante da
importância da problemática para a saúde pública.
Para conceitualizarmos o panorama e as complexidades da evolução da
violência contra as mulheres e suas nuances que evolvem a complexa relação do
gênero feminino, tomamos como base estudo realizado pelo Instituto Sangari2
(2012), a qual aponta para novas preocupações. Os dados apontam para as taxas
dos homicídios femininos, quais permanecem em evidência entre os anos de 1980 a
2010, período estudado naquela pesquisa. Denotando a importância dos estudos
relacionados às violências sofridas pelas mulheres para saúde pública. Dados estes,
que contribuem para elaboração e aplicação de políticas públicas efetivas e
direcionadas para o atendimento das mulheres vitimas de violências.
2 Instituto Sangari de pesquisa, fundado em 2003 pela empresa Sangari Brasil. Integra o grupo
internacional, presente em 17 países e desenvolve soluções para Ensino em Ciências.
33
Pela análise dos dados que compõem o gráfico 1, pesquisa realizada pelo
Instituto Sangari (2012), fica evidente o crescente aumento no período de 1980 a
1995. Neste período se percebe a duplicação dos homicídios femininos de 2,3 para
4,6 homicídios para cada 100 mil mulheres. As taxas permanecem estáveis até
2006, apresentando tendência de queda, em torno de 4,2 homicídios para cada 100
mil mulheres. Leve decréscimo no primeiro período de vigência efetiva da lei Maria
da Penha, possibilitando leve decréscimo nas as taxas em 2007, e posterior
aumento no ano de 2010.
Gráfico 1 : Taxas de homicídios femininos no Brasil entre 1980/2010
Fonte: Mapa da Violência/MJ/Instituto Sangari 2012.
O cenário nacional descreve um pouco da situação da violência a qual as
mulheres brasileiras estão expostas. Porém, o território estudado está localizado
espaçialmente no Estado de Santa Catarina. Este é um pequeno recorte do espaço
geográfico pertencente às vite e sete unidades federativas do Brasil.
Assim, apresentamos a situação de Santa Catarina em relação à violência
contra as mulheres em breve apanhado. A conformação favorável do espaço social,
econômico e geografico de Santa Catarina, não confere situação favoravel a
violência no gênero feminino.
Estatisticamente o Estado de Santa Catarina ocupa a 23a colocação em
relação aos Estados brasileiros, em relação a violência que acomentem as mulhres
nos Estado. O estudo foi realizado pelo Instituto Sangari (2012), o qual apresenta
34
taxas de 3,6 homicídios femininos, baseado nos indicadores de 2010. Considerando
que a média de homicídios femininos no Brasil está em torno de 4,92%, Santa
Catarina encontra-se no grupo dos Estados que apresentam taxas de acréscimo em
28,57%, nos homicídios femininos. Dados comparados de 2008 com 2010 mostram
que em 2 anos, houve um aumento da taxa de homicídios femininos em mais de
10%. Condição está que contribui para a permanência do Estado em posição não
confortável diante dos Estados brasileiros. Segundo Sagot et al (2000), os
homicídios decorrentes de conflitos de gênero feminino têm sido denominados
femicídios, termo de cunho político e legal para se referir a esse tipo de morte.
Para Carcedo et al (2000), o termo femicídio foi usado pela primeira vez em
tribunal de direitos humanos, para caracterizar qualquer manifestação ou exercício
de relações desiguais de poder entre homens e mulheres que culmina com a morte
de uma ou várias mulheres pela própria condição de ser mulher. Esse tipo de crime
pode ocorrer em diversas situações, incluindo mortes perpetradas por parceiro
íntimo com ou sem violência sexual, crimes seriais, violência sexual seguida de
morte, femicídios associados ou relacionados à morte ou extermínio de outra
pessoa.
Neste contexto a pobreza das famílias, a disparidade de idade entre os
cônjuges e a situação marital não formalizada, são exemplos de condições
favoráveis para violência. Segundo Dantas (2004), em vários países, um terço das
mulheres tentava obter a separação ao serem assassinadas, especialmente nos três
meses que antecederam o crime, e possuíam histórias repetidas de violência e
agressões. As condições para os eventos de femicídios têm forte ligação com as
situações de desigualdade e discriminação de gênero.
O padrão do femicídio que se repete na maioria dos países indica que as
mulheres possuem risco muito maior que os homens de serem mortas pelo parceiro
íntimo e que esse risco aumenta quando existem desavenças entre o casal. Para
tanto, podemos observar pelos dados à condição da violência. Nestes casos os
homicídios femininos em Santa Catarina em relação aos Estados brasileiro, podem
ser visualizados na tabela 3, a qual descreve a situação de Santa Catarina em
relação aos femicídios (tomado como femicídio os homicídios relacionados aos
conflitos de gênero feminino) no Estado.
35
Tabela 3: Homicídios femininos por unidade federativa do Brasil 2008/2010 UF TAXA % POSIÇÃO
Espírito Santo 9,4 10
Alagoas 8,3 20
Paraná 6,3 30
Paraíba 6,0 40
Mato Grosso do Sul 6,0 50
Pará 6,0 60
Distrito Federal 5,8 70
Bahia 5,6 80
Mato Grosso 5,5 90
Pernambuco 5,4 100
Tocantins 5,1 110
Goiás 5,1 12
Roraima 5,0 130
Rondônia 4,6 140
Amapá 4,6 150
Acre 4,7 160
Sergipe 4,2 170
Rio Grande do Sul 4,1 180
Minas Gerais 3,9 190
Rio Grande do Norte 3,8 200
Ceara 3,7 210
Amazonas 3,7 220
Santa Catarina 3 3,6 230
Maranhão 3,4 240
Rio de janeiro 3,2 250
São Paulo 3,1 260
Piauí 2,6 270
Fonte: Mapa da Violência/MJ/Instituto Sangari (2012).
A situação que coloca Santa Catarina em 23º em relação aos outros Estados,
esta atribuída ao aumento no número de homicídios femininos no Estado. Condição
3 A tabela acima permite verificar a grande heterogeneidade existente entre os estados do país.
Relacionados às suas taxas de homicídio feminino por 100 mil mulheres por UF.
36
atrelada aos dados da tabela 4, que demonstra o acréscimo nos números dos
homicídios de mulheres no Estado, estes dados foram obtidos por meio da pesquisa
realizada pelo Instituto Sangari (2012), demonstra que entre 2008 a 2010 aumento
neste período nos índices de 2,8% para 3,6% nas taxas de homicídios de mulheres
no Estado.
Tabela 4: Evolução dos homicídios femininos por Estado entre 2008/2010 UF 2008 2010 %
Acre 4,1 4,7 4,63%
Alagoas 5,2 8,3 59,62%
Amapá 4,3 4,8 11,63%
Amazonas 3,8 3,7 -2,63%
Bahia l 4,2 5,6 33,33%
Ceará 2,7 3,7 37,74%
Distrito Federal 5,4 5,8 7,41%
Espírito Santo 10,9 9,4 -13,76%
Goiás 5,5 5,1 -7,27%
Mato Grosso do Sul 5 6 20,00%
Maranhão 2,6 3,4 30,77%
Mato Grosso 5,8 5,5 - 5,17%
Minas Gerais 3,7 3,9 5,41%
Pará 4,5 6 33,33%
Paraíba 4,4 6 36,36%
Paraná 5,7 6,3 10,53%
Pernambuco 6,6 5,4 -18,18%
Piauí 2,5 2,6 4,00%
Rio de Janeiro 4,5 3,2 -28,89%
Rio Grande do Norte 3,8 3,8 0,0%
Rio Grande do Sul 3,9 4,1 5,13%
Rondônia 5,3 4,8 -9,43%
Roraima 7,7 5 -35,06%
Santa Catarina 2,8 3,6 28,57%
São Paulo 3,2 3,1 -3,13%
Sergipe 3,4 4,2 23,53%
37
Tocantins 3,3 5,1 54,55%
Médias entre os anos 2008/20 10 4,62 4,92 10,82%
Fonte: Mapa da Violência/MJ/Instituto Sangari (2012).
2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS
A sociedade é formada por um conjunto de indivíduos que contribuem para
modificação das condições sociais individuais e coletivas, dotados de recursos e
poder diferenciado. Dentre as diferentes comunidades a principal característica das
sociedades é a diferenciação social, pois, cada membro possui atributos
diferenciados, também possuem valores diferenciados e, desempenham papeis
diferentes no decorrer de sua existência.
Segundo Rua (1998), a sociedade é diferenciada por interesses, estes devido
a sua valoração podem resultar em necessidades materiais ou em ideais. Podem
confirmar-se de forma objetiva e subjetivas e destes resultar em ações conjuntas
para o bem comum. As diferenças fazem com que a vida em sociedade seja
complexa e ao mesmo tempo potencialmente, formada por inúmeras modalidades
de cooperação e potenciais conflitos. Desta forma a cooperação é norteada pela
capacidade de gerar ações conjuntas em beneficio de um grupo, contrapondo o
conflito que, também pode ser considerado como modalidade de interação social e,
envolve indivíduos e grupos organizando-se de forma coletiva.
Porém pode-se dizer que o conflito é próprio da vida coletiva, para que a
sociedade possa viver harmonicamente, esse conflito deve ter limites administráveis,
evitando-se assim o confronto. Para tanto, é necessário estabelecer consensos em
relação às regras e aos limites do bem-estar coletivo. Os consensos não ocorrem de
forma natural, nem são automáticos e sim precisam ser construídos. Para que
possamos administrar o conflito e os consensos serem estabelecidos pode-se
elaborar e aplicar as políticas públicas, como estratégia organizadora. Segundo Rua
(1998), a política pública corresponde à força do Estado para materializar o direito.
Como a força pode gerar situações em que a população venha a reagir e a coerção
pode ser desgastante para um grupo social a política pública seria a modalidade
adequada para organizar os grupos sociais. Então as sociedades recorrem às
possibilidades para construir consensos e controlar conflitos, na qual a política
38
pública é uma das estratégias. Schmitter (1984), define de forma simples, que a
política pública, refere-se, a resolução pacífica dos conflitos em sociedade.
Devido o conceito do autor acima citado ser amplo é possível delimitar e
estabelecer segundo Rua (1998), que a política pública consiste em procedimentos
formais e informais que expressarem relações de poder e que se destinam à
resolução pacífica dos conflitos quanto a bens públicos. Desta forma devido o uso
diversificado do temo políticas públicas, o primeiro desafio que se apresenta para
estudo é a de esclarecer o conceito de políticas públicas, baseado na perspectiva da
ciência política. No sentido mais amplo, a população fora do meio acadêmico, refere-
se à política pública pensando no momento eleitoral, expressando a disputa entre
candidatos a um cargo público, fazendo promessas em termos de promoção do bem
estar da população, levando os indivíduos a creditarem nas promessas de melhora
política das condições sociais para sua região.
O marco político para a melhoria, qualificação e participação pública social no
processo de organização das políticas públicas foi a partir do processo de
democratização, iniciou-se uma movimentação social para estabelecer eficácia e
efetividade das ações governamentais, com a descentralização e a participação do
cidadão na formulação e implantação das políticas públicas.
Desta forma, a descentralização como um modelo e foco governamental,
incorpora a metodologia de redistribuição de poder, favorecendo a democratização
das relações entre o Estado e a sociedade, articula novos modelos decisórios,
destes originando os conselhos para controle e novos padrões de acesso a
sociedade civil na conformação das políticas públicas.
Segundo Farah (2001), está associada a essa nova construção a inclusão dos
atores sociais no processo de elaboração e execução de políticas públicas voltadas
para o interesse da sociedade e dos grupos da sociedade civil organizada. Somando
capacidades que ultrapassam a ação isolada do Estado, para resolução dos
conflitos de interesse público, envolvendo a sociedade civil e os cidadãos articulados
politicamente para a formulação de políticas pública.
Como descrito na Constituição Federal Brasileira (1988), o modelo de gestão
atual do Estado a sociedade civil organizada tem fundamental participação, na
construção das políticas públicas e, os grupos beneficiados atingem visibilidade
expressiva, chamando a atenção ao leque de atores envolvidos na atuação social,
no desenvolvimento e no controle social das políticas públicas. Embora todo o
39
processo necessite de vários atores para que a política pública venha a contemplar
as necessidades do maior grupo populacional, o processo envolve atores racionais e
nem sempre o exercício da racionalidade, mediada por interesses e preferenciais
individuais, conduz as resultados desejados pela coletividade.
Desta forma, as sociedades são compostas por várias experiências culturais.
Destas advém a capacidade de desenvolvimento desses grupos. Para tal, a
constituição da democracia forma-se pela pluralidade de respostas que a sociedade
exige de seus governos para resolver seus gargalos. A vida democrática expressa o
encontro de varias problemáticas que a realidade denota. O Estado pode agir dando
espaço a respostas efetivas a problemática social, concretizando atos como a
realização de políticas públicas, centradas nas pessoas, entendendo essa como
protagonista e sujeito de direito do seu próprio desenvolvimento.
Para Samaya (2006), a política pública que tem a centralidade da pessoa em
toda a sua integralidade, como ponto de partida fundamental visará compartilhar
com a pessoa atendida as suas necessidades e o sentido da vida. Isso requer o
encontro e o diálogo com as pessoas atendidas e, conhecimento detalhado da sua
condição de vida, valores e cultura. Contudo, para a implementação das políticas
públicas centradas nas pessoas e que venham a combater a violência inferida a um
grupo especifico no caso, as mulheres, implica a coexistência de diferentes atores e
práticas sociais em contextos institucionais muito variados.
Assim, vários teóricos definem políticas públicas entre eles Mead (1995) que
define a política pública como campo no estudo da política que analisa o governo à
luz de grandes questões públicas. Para Lynn (1980), as políticas públicas é um
conjunto de ações do governo que irão produzir efeitos específicos. Dye (1984),
define a política pública como o que o governo escolhe fazer ou não fazer. As
definições de políticas públicas nos guiam para a observação de que elas surgem
das necessidades dos grupos sociais, porém a decisão de como serão implantada é
do governo e redefinidas pelo controle social.
A política pública e política social representam atuações do poder político
visando o bem estar da população. Behring et al (2008), evidenciam que a origem
das políticas públicas sociais está ligada à ascensão dos movimentos sociais e ao
capitalismo monopolista. Salientam esses autores, que em função da ideologia
neoliberal, estas políticas públicas são focalizadas, fragmentadas, centralizadas e
40
privatizadas, cabendo ao Estado a responder apenas parte das demandas postas a
ele, como forma de amenizar as tensões sociais.
Diante do processo de formulação das políticas sociais, o fortalecimento dos
grupos ditos vulneráveis torna-se evidente. Devido à evolução das medidas
protetivas e por meio de políticas públicas sociais empregadas no cenário brasileiro,
o combate à violência contra mulher. vincula-se aos direitos humanos que permeiam
as formulações das políticas públicas sociais, situação fundamental para a
existência pacifica entre todos os povos. Quanto os direitos humanos, Santos (2006,
p. 17) descreve que:
No século XX os direitos humanos emergiram, como uma necessidade humana fundamental, depois da segunda guerra mundial, no âmbito das relações internacionais entre os países. Naquele momento histórico da Guerra Fria, os direitos humanos assumiram seu caráter de universalidade com força normativa por meio da adoção e Proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, pelas Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948. Esta magna declaração é hoje reconhecida pela comunidade internacional e esta pautada na dignidade e na igualdade de todos os seres humanos.
A adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a que foi
complementada em 1966 pelo Pacto dos Direitos Civis e Políticos, pelo Pacto dos
Direitos Econômicos e Sociais, marcaram as coquistas no enfrentamento das
diferenças sociais, qual compreende como direitos humanos; os direitos civis,
políticos, os direitos econômicos, sociais e culturais, e também os direitos dos povos,
Servem de modelo ético e normativo para a convivência humana, que direciona leis
a serem implementadas posteriormente.
Porém, apenas em 1988, os princípios da Declaração dos Direitos Humanos
(1948) foram incorporados e assumidos na Constituição. Após este importante
processo de organização para a proteção dos direitos humanos, os governos
adotaram novas práticas para dar conta das questões humanas. No Brasil, está
Declaração refletiu na formulação dos Direito da Nação Brasileira, previstas na
Constituição Brasileira Federal de 1988, esta garante os direitos fundamentais nas
organizações sociais.
Deste modo, com a promulgação da Constituição Federal Brasileira (1988),
fica expresso e assegurado a todos os cidadãos o direito à vida, à liberdade, à
igualdade, dentre outro direito humanos fundamentais. Diante dos direitos
fundamentais para assegurar a vida do cidadão brasileiro, estes garantidos pela
41
Constituição Federal Brasileira, se faz a construção da cidadania e a
operacionalização efetiva dos direitos humanos, quais são possíveis somente,
quando passam pela existência de um Estado de direito, acompanhados de uma
cultura política moderna capaz de valorizar as sociedades civis organizadas.
Para tal, a transformação social está vinculada à construção e efetivação dos
diretos humanos e da cidadania, os sujeitos coletivos são seus protagonistas. No
contexto da evolução humana social e de direito, destacamos as conquistas sociais
das mulheres, fortalecidas à partir da Constituição Brasileira Federal (1988). As
mulheres construíram e fortaleceram seus direitos, garantidos por leis e com estas
foram percebidas como sujeito social transformador de sua história.
Segundo Gregori (2006), no Brasil, estes esforços iniciaram desde o período
da abertura democrática nos anos 1980. Os movimentos feministas assumiram o
protagonismo para as mudanças que repercutiram de forma significativa nas lutas
contra a violência de gênero, alcançados pelas esferas governamentais, as
legislações, as representação de governos e a sociedade civil.
Anteriormente à CFB (1988), a mobilização das mulheres já era evidente,
discutindo questões relacionadas ao direito ao voto e a educação. Segundo Santos
(2006), em meados de 1850, as organizações discutem e reivindicam o direito ao
voto e a educação para as mulheres. Nos anos 1930, as mulheres passam a ter
acesso a direitos humanos como, direito a voto e a ser votada, acesso a educação
em nível médio e superior. Na Constituição Federal de 1934, o movimento feminista
conseguiu a isonomia entre os sexos. Neste período surgem os direitos trabalhistas
femininos. Nos anos 1950 as mulheres lutam e conquistam os direitos civis, no
Código Civil Brasileiro de 1940.
No que tange aos direitos referentes à proteção social das mulheres, Laqueur
(2001), descreve que a Organização das Nações Unidas (ONU), iniciou seus
esforços contra a violência do gênero feminino, na década de 1950, estabelecendo a
Comissão de Status da Mulher que formulou entre os anos de 1949 e 1962, tratados
que afirmam expressamente os direitos iguais entre homens e mulheres, contidos e
na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.
Em 1979, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotaram a Convenção
para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW),
conhecida como a Lei Internacional dos Direitos da Mulher. Essa Convenção visou à
42
promoção dos direitos da mulher na busca da igualdade de gênero, bem como, a
repressão de quaisquer discriminações.
Para tanto, com a promulgação da Constituição Federal do Brasil de 5 de
outubro de 1988, que se deu por conta da mobilização do movimento feminista e
demais setores organizados das sociedades civis. Essa CFB foi uma conquista no
que tange aos direitos humanos das mulheres no Brasil. Declara que todos os
direitos e liberdades humanos devem ser aplicados igualmente a homens e
mulheres, sem distinção de qualquer natureza.
Para tanto, após a Constituição Federal Brasileira (1988), houve importante
evolução nas políticas públicas socias, a criação de políticas públicas para as
mulheres, traduzindo a mudança das condições de vida das mulheres. As políticas
públicas que sejam de promoção da igualdade e justiça social, implicou na
elaboração de inovações institucionais brasileiras na área de atenção a mulher, com
importante repercussão tanto no meio nacional como internacional.
A partir da CFB de 1988, a violência doméstica é reconhecida no seu Capitulo
VII, artigo 226, o Estado assegurará à assistência a família e de cada um dos que a
integram, elaborando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas
relações. Assim, a elaboração de políticas públicas para mulheres quais visavam à
redução, a proteção e empoderamento das mulheres, o Estado inícia o processo de
responsabilização no tratamento das questões que envolvem a violência de gênero.
Elaborando e implantando políticas públicas para o enfrentamento a violência contra
a mulher, como estratégias na luta contra a violência, buscando atender as
mulheres em suas mais diferentes necessidades como; a inserção ao mercado de
trabalho, resgate da autoestima, nas questões sociais.
No Brasil, é importante se destacar os compromissos no âmbito internacional
dos temas de eliminação das discriminações de gênero, tornou-se papel do Estado
fazê-los instrumentos de garantia da condição de cidadania das mulheres. As
políticas públicas para as mulheres tornaram-se evidentes com a reafirmação desse
conceitos, ações e recursos em que todos os ministérios e seus setores que
apontassem soluções para a problemática da violência contra a mulher. pela tabela
5, demonstramos os documentos que culminam em políticas públicas voltada as
mulheres, elaboradas e implementadas na sociedade para a melhorar a qualidade
de vida e estímulo a cidadania das mulheres após a Constituição Federal Brasileira
de 1988.
43
Tabelas 5 – Documento e Políticas Públicas para as mulheres após a Constituição Federal Brasileira (1988).
Políticas Ano Lei nº. 8.009, de 20 de março de 1990 . Estabelece que o imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.
1990
Lei nº. 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social e assegura entre outros direitos às beneficiárias da, o pagamento do salário-maternidade.
1991
Lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991. Regulamenta os planos de benefícios da Previdência Social das mulheres, como a aposentadoria diferenciada e o salário-maternidade.
1991
Lei nº. 8.408, de 13 de fevereiro de 1992. Estabelece o prazo para a separação judicial e determina que a mulher, ao separar-se, volte a usar o nome de solteira, a menos que a alteração do nome acarrete sérios prejuízos. Dá nova redação aos dispositivos da Lei nº. 6.515, de 26.12.1977.
1992
Lei nº. 8.560, de 29 de dezembro de 1992 . Regulamenta a investigação de paternidade e a forma de reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento; de filhos com registro de nascimento apenas pela mãe e sobre a ação de investigação de paternidade, nesses casos.
1992
Comissão de Direitos Humanos 1992
Lei nº. 8.629, de 25 de fevereiro de 1993 . Dispõe sobre a regulamentação de dispositivos da Reforma Agrária e no Art. 19 assegura que o título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente de estado civil, com preferência aos chefes de família numerosa.
1993
Lei nº. 9.100, de 02 de outubro de 1995 . Estabelece normas para a realização das eleições municipais de 03.10.1996, e dá outras providências. No parágrafo 3º do Art. 11 estabelece a cota mínima de 20% das vagas de cada partido ou coligação para a candidatura de mulheres.
1995
Lei nº. 9.046, de 18 de maio de 1995 . Acrescenta parágrafos ao Art. 83 da Lei nº 7.210, de 11.07.84 (Lei de Execução Penal). Determina que os estabelecimentos penais destinados a mulheres sejam dotados de berçários, onde as condenadas possam amamentar seus filhos.
1995
Lei nº. 9.029, de 13 de abril de 1995 . Proíbe a exigência de atestados de gravidez e esterilização, e outras práticas discriminatórias, para efeitos de admissão ou de permanência da Relação Jurídica de Trabalho. A proibição inclui exigência de teste, exame, perícia, laudo, atestado, declaração ou qualquer outro procedimento relativo à esterilização ou estado de gravidez; indução ou instigação à esterilização, controle de maternidade etc. e determina penas para tais casos.
1995
Secretaria Nacional de Direitos Humanos no Ministério da Justiça 1996
Programa Nacional dos Direitos Humanos 1996
Delegacia de Proteção á Mulher 1996
Lei nº. 9.278, de 10 de maio de 1996 . Regulamenta o parágrafo 3º do Art. 226 da Constituição Federal, que considera como entidade familiar a união estável. Vetados os artigos 3º, 4º e 6º, que possibilitariam aos cônjuges registrarem contrato, regulamentando seus direitos e deveres.
1996
Estratégias de Igualdade 1997
Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres 1997
Lei nº. 9.799, de 26 de maio de 1999 . Insere na Consolidação das Leis do Trabalho regras sobre o acesso da mulher ao mercado de trabalho.
1999
Lei nº. 9.797, de 06 de maio de 1999 . Dispõe sobre a obrigatoriedade da cirurgia plástica reparadora da mama pela rede de unidades integrantes do Sistema Único de Saúde - SUS nos casos de mutilação decorrentes de tratamento de câncer.
1999
Lei nº. 9.601, de 21 de janeiro de 1998 . Estabelece no contrato temporário a fixação do prazo mínimo como três meses e estabelece que ele é prorrogável por dois anos.
1999
44
Esse prazo mínimo e, além do mais a existência de um banco de horas contratuais, na maioria das vezes inviabiliza duas das “garantias” previstas neste mesmo instrumento: o gozo da licença gestante e a estabilidade provisória da gestante. Emenda Constitucional nº. 29. Disposições Transitórias, para assegurar os recursos mínimos para o financiamento das ações e serviços públicos de saúde, beneficiando o atendimento à mulher.
2000
Lei nº. 10.048, de 08 de novembro de 2000 . Garante tratamento especial aos portadores de deficiências, aos idosos, às gestantes, às lactantes e às pessoas portadoras de crianças de colo em repartições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos logradouros e banheiros públicos e transportes coletivos, estabelecendo penalidades aos infratores.
2000
Direitos Humanos e Violência Intrafamiliar 2001
Lei nº. 10.244, de 28 de junho de 2001 . Revoga o Art. 376 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº. 5.452, de 1º de maio de 1943 e passa a permitir a realização de horas-extras por mulheres.
2001
Lei nº. 10.224, de 15 de maio de 2001 . O Decreto-Lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal, passa a vigorar acrescido do Art. 216- A (“Assédio Sexual”) no qual é estabelecida a pena de detenção de 1 a 2 anos para quem constranger outra pessoa com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou com ascendência inerente ao exercício de emprego, cargo ou função.
2001
Lei nº. 10.223, de 15 de maio de 2001 . Altera a Lei nº. 9.656, de 3 de junho de 1998, para dispor sobre a obrigatoriedade de cirurgia plástica reparadora de mama por planos e seguros privados de assistência à saúde nos casos de mutilação decorrente de tratamento de câncer.
2001
Programa de Prevenção, Assistência e Combate a violência contra a mulher. 2003
Decreto Legislativo nº. 270, de 14 de novembro de 2 002. Aprova o texto da Convenção Internacional nº. 171, da Organização Internacional do Trabalho, relativa ao trabalho noturno.
2002
Decreto nº. 4.228, de 13 de maio de 2002 . Institui, no âmbito da Administração Pública Federal, o Programa Nacional de Ações Afirmativas.
2002
Decreto nº. 4.316, de 30 de julho de 2002 . Aprova o texto do Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher.
2002
Lei nº. 10.516, de 11 de julho de 2002 . Institui a carteira nacional de saúde da mulher no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS.
2002
Lei nº. 10.455, de 13 de maio de 2002 . Modifica o parágrafo único do Art. 69 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Exigindo fiança e impondo prisão em flagrante do agressor nos casos de violência doméstica.
2002
Lei nº. 10.421, de 15 de abril de 2002. Estende à mãe adotiva o direito à licença maternidade e ao salário-maternidade, alterando a Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº. 5.452, de 1º de maio de 1943, e a Lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991.
2002
Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 . Institui o Código Civil e dispõe sobre diversos interesses da mulher.
2002
Projeto Segurança Pública 2003 Decreto nº. 4.625, de 21 de março de 2003 . Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, órgão integrante da Presidência da República, e dá outras providências.
2003
Decreto nº . 4.773, de 07 de julho de 2003 . Dispõe sobre a composição, estruturação, competências e funcionamento do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - CNDM, e dá outras providências.
2003
Emenda Constitucional nº. 41, de 19 de dezembro de 2003. Dispõe sobre diversos temas da Reforma da Previdência de interesse para a Mulher.
2003
Lei nº. 10.778, de 24 de novembro de 2003 . Estabelece a notificação compulsória, no território nacional, do caso de violência contra a mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados.
2003
Lei nº. 10.745, de 09 de outubro de 2003 . Institui o ano de 2004 como o “Ano da Mulher” e determina que o Poder Público promoverá a divulgação e a comemoração
2003
45
deste Ano mediante programas e atividades, com envolvimento da sociedade civil, visando estabelecer condições de igualdade e justiça na inserção da mulher na sociedade. Lei nº. 10.741, de 01 de outubro de 2003 . Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e apresenta uma série de assuntos que interessam à mulher idosa.
2003
Lei nº. 10.714, de 13 de agosto de 2003 . Autoriza o poder executivo a colocar à disposição, em nível nacional, número telefônico destinado a atender denúncias de violência contra a mulher.
2003
Lei nº. 10.710, de 05 de agosto de 2003 . Altera a Lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991, para restabelecer o pagamento, pela empresa, do salário maternidade devido às seguradas empregada e trabalhadora avulsa gestante.
2003
Lei nº. 10.683, de 28 de maio de 2003 . Dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, dentre outros da Secretaria Especial de Política para as Mulheres e do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.
2003
Lei nº. 10.678, de 23 d e maio de 2003 . Cria como órgão de assessoramento imediato ao Presidente da República, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
2003
Lei nº 10.778 Implanta a Notificação Compulsória das Violências Contra as Mulheres. 2003
Lei n º. 10.886, de 17 de junho de 2004 . Acrescenta parágrafos ao Art. 129 do Decreto-Lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal, criando o tipo especial denominado “Violência Doméstica”.
2004
Plano Nacional de Políticas para as Mulheres 2004
Lei nº 11.340 Maria da Penha 2006
Pacto nacional pelo enfrentamento á violência contra mulher segundo recomendações do ministério da saúde.
2006
Política Nacional de Enfrentamento a Violência Contra a Mulher. 2011
Pacto Nacional de Enfrentamento a Violência contra a Mulher. 2011
Fonte: Veiga (2012/2013).
A tabela acima demonstra a complexidade do processo de construção de
políticas públicas que direcionadas as necessidades das mulheres para a vida em
sociedade. Por meio destas leis e das políticas públicas observamos a evolução na
construção de uma sociedade capaz de entender o papel da mulher na construção
de um país. Na sequência enfatizamos as políticas públicas brasileiras que tratam
do enfretamento à violência contra mulher e quais nortearam este estudo. As
políticas públicas de proteção e segurança são essenciais para o enfrentamento à
violência contra a mulher. Sobre estas se pode destacar a criação das Delegacias
Especializadas como marco na visibilidade da violência contra a mulher. Em 1985,
foi institucionalizado O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), que
originalmente foi vinculado ao Ministério da Justiça e nesse mesmo ano ocorreu a
criação das Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAMs).
Segundo Bandeira e Suárez (2002), a institucionalização das delegacias foi
longa e difícil, consolidando-se somente com a Constituição de 1988. Assim, a
criação da DEAM foi fruto das reivindicações feministas concretizados pelos acordos
internacionais firmados na Convenção de Belém do Pará. Deste modo, com a
46
promulgação da referida constituição assegurou-se a todas as cidadãs o direito à
vida, à liberdade, à igualdade, dentre outro direito humanos fundamentais nos
artigos da Declaração do Direitos Humanos de 1948.
As Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher são instrumentos
vinculados às secretarias estaduais de Segurança Pública, às quais integram a
Política Nacional de Prevenção, Enfrentamento e Erradicação da Violência contra a
Mulher. São consideradas respostas que representam Estado brasileiro à violência
contra as mulheres e, nesse contexto, as ações são efetivadas no âmbito das
delegacias tratando das violências no cenário local.
As delegacias especializadas no atendimento à mulher vítima de violência
constituem-se na parte mais importante política pública de gênero implantada no
Brasil na área da Segurança Pública. São fundamentais para efetivação da Política
Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (2011), consideradas as
portas de entrada das mulheres vitimas de violência, assumem o papel de
repressores da violência contra as mulheres. Estas delegacias contribuíram para
que a violência contra a mulher saísse da invisibilidade e da aceitação socias para
se tornar um crime. Efetivam as solicitações dos movimentos sociais (feministas),
para que os crimes contra as mulheres fossem julgados e punidos conforme os
demais crimes previstos pelas legislações.
A mulher vitima de violência, tem como porta de entrada as delegacias
especializadas ao atendimento a mulher, para que possam registrar os boletins de
ocorrência. Esta é a denominação do registro das violências. Nas delegacias que se
registram tais crimes em boletim de ocorrência, a autoridade policial é responsável
por determinar a realização do exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal
(IML) para comprovar a ocorrência e o tipo de lesões sofridas de qualquer natureza,
identificando e dando encaminhamento às formas de violências quais as mulheres
registram.
Para que as formas de violências registradas pelas DEAMs possam ser
julgadas, a Lei Maria da Penha (11.340/2006) modificou o cenário dos
encaminhamentos das violências contra as mulheres. Essa nova lei, cuja sanção
constitui-se em uma vitória histórica na luta do movimento feminista, não só
estabelece uma legislação especifica de proteção aos direitos da mulher, como
altera o processo judicial e o Código Penal de 1940, agrava em muito o caráter da
punição por ofensas na violência contra a mulher. A Lei 11.340/2006 emerge da
47
necessidade e da fragilidade da lei anterior vigente, conhecida como Lei 9.099/1995,
que estabelecia como pena para a punição dos crimes cometidos contra a mulher o
pagamento de cestas básicas, multa ou prestação de serviço comunitário mantendo
a sensação de impunidade diante das violências qual acometiam as mulheres.
A prática de violência domestica e familiar era somente punível por meio dos
dispositivos previstos na Lei 9.099/1995 e passíveis de aplicação de penas nela
previstas quase impuníveis. Os crimes de lesão corporal e ameaças, violências mais
constantes no âmbito da violência doméstica e familiar, era conceituado como crime
de menor relevância. Quando a mulher não desistia da representação, o julgamento
do criem se dava por penas alternativas. Em 2002, a Lei 10.455 acrescenta ao
parágrafo único do art. 69 da Lei 9.099/1995, a previsão de uma medida cautelar de
natureza penal, prevendo o afastamento do agressor do lar por ter cometido
violência doméstica, qual era julgado pelo Juizado de causas especial criminal. Em
2004, a Lei nº 10.886, criou no art. 129 do Código Penal de 1940, um subtipo de
lesão corporal leve, decorrente de violência doméstica, aumentando a pena de três
meses, para seis meses.
Assim, em 22 de dezembro de 2006, a Lei nº 11.340, passou a vigorar,
considerada pela a sociedade brasileira, uma resposta mediante a situação de
impunidade, aos crimes sofridos pelas mulheres. A redação dessa lei de punição
como crime para a violência doméstica, a Lei Maria da Penha trata da violência
doméstica familiar de gênero com mais rigor. O objetivo da lei é tratar de forma
diferenciada a violência doméstica contendo-a, por meio de penas mais severas e
tratamento punitivo ao agressor. Segundo Souza (2007), esta lei desdobra-se em
dois aspectos, objetivo e subjetivos: 1) quanto ao aspecto objetivo coíbe e previne a
violência doméstica e familiar contra a mulher, direcionando ao combate dos fatos
ocorrido no ambiente doméstico, familiar e intrafamiliar, 2) quanto aos subjetivos, a
preocupação é a proteção da mulher contra os atos violentos praticados por homens
e mulheres.
Um ponto importante a destacar é que a Lei Maria da Penha define
legalmente e amplia os conceitos de violência doméstica e contra a mulher;
reconhecendo a necessidade de medidas de prevenção à violência, executadas de
maneira integral, vinculadas aos sistemas de saúde pública e educação. Apresenta
as atribuições das autoridades ao Ministério Público no processo criminal de
violência contra a mulher. Assim, as definições de violência contra a mulher são
48
contempladas pela lei que reorganiza o processo de punição. Segundo o artigo 7º,
da Lei nº 11.340/2006, são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher,
entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularizarão, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
Cabe salientar que as delegacias e a Lei Maria da Penha, fazem parte do
sistema de segurança pública, os quais assumem atribuições de agentes punitivos
das violencia contra mulher, articulados com a Política Nacional de Enfrentamento a
Violência contra a mulher e, também ao Pacto Nacional de enfrentamento da
violência contra a mulher (2011). Este último documento apresenta aos brasileiros
diante da preocupação da sociedade e dos goevernantes em validar a equidade
social e, garantir a igualdade de gênero. O conteúdo expresso no texto do Pacto,
denota um conjunto de compromissos sanitários, explicitos em objetivos, resultantes
de um processo de inúmeras pesquisas sobre a situação de saúde da mulher no
Brasil. Conta também com prioriedades definidas pelos governos em nível Federal,
Estadual e Municipal
Cabe salientar que quando os governos estabelem ações definidas em forma
de pacto, discute-se conteudos obrigatórios, ações obrigatórias que em outros
momentos as politicas públicas não deram conta de implementar por razões
multiplas. Desta forma, após a pactuação torna-se prioritária as ações no campo
49
pactuado e, deveram que ser executada com foco em resultados e, com a
explicitação dos compromissos com previsão em orçamentos financeiro para o
obtenção desses resultados.
O Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra a Mulher de 2011,
parte do entendimento de que a violência constitui-se em um fenômeno de caráter
multidimensional, que requer a implementação de políticas públicas amplas e
articuladas nas mais diferentes esferas da vida social, como na educação, no mundo
do trabalho, na saúde, na segurança pública, na assistência social, na justiça, na
assistência social. Esta conjunção de esforços deve resultar em ações que,
simultaneamente, desconstruam as desigualdades e combatam as discriminações
de gênero.
Desta forma, o Pacto Nacional de Enfrentamento a Violência contra a mulher,
em seu conteúdo estabelece a organização e as metas específicas para seu
desenvolvimento. Agrega as ações para proteção e, empoderamento da mulher no
meio social ao qual hábita. Contempla, em seu conteúdo, objetivos para o
enfrentamento a todas as formas de violência contra mulher na garantia dos seus
direitos. Segundo o Pacto Nacional de enfrentamento a violência contra a mulher de
2011, devido o conceito de enfrentamento utilizado pela Política Nacional de
Enfrentamento a Violência contra a Mulher, visa à implementação de políticas
amplas e articuladas, que venham dar conta da complexidade da violência de
gênero em todas as dimensões.
O Pacto é a materialização da preocupação dos grupos sociais organizados e
do Governo Federal em organizar essas ações para o enfretamento da situação de
ineficiências das políticas quee atendem às mulheres. Como descreve o Instituto
Sangari, em pesquisa divulgada em 2010, no período de 1997 a 2007, morreram
41.532 mulheres vitima de homicídios (índice 4.2 assassinadas por 100.000 mil
habitantes). Indicador este denota a preocupação da sociedade e, dos governantes,
em organizar as ações para o embate das questões de violência, as quais as
mulheres estão expostas. As propostas contidas no Pacto vêm ao encontro à
necessidade de interrupção na situação de violência, a qual as mulheres estão
expostas.
Segundo a Pacto Nacional de Enfrentamento a Violência contra a Mulher de
2011, as ações voltadas à transversalidade de gênero, a intersetorialidade e a
capilaridade, visam garantir a discussão das questões de violência contra a mulher e
50
de gênero, perpassando as mais diversas políticas públicas sociais setoriais. Na
intersetorialidade, o trabalho envolve, de forma horizontal ministérios, secretarias e
coordenadorias das câmaras técnicas dentre outros. Na dimensão vertical o trabalho
deve envolver diferentes áreas como: a saúde, justiça, educação, trabalho,
segurança pública. Decorrente desta articulação emerge a terceira premissa, à
capilaridade destas ações resultando em programas e políticas, para aplicação em
níveis locais como em municípios.
Para que o enfrentamento a violência contra a mulher o Pacto deve ser
efetivado, e para essa efetivação torna-se necessário a ação conjunta dos diversos
setores envolvidos na atenção à mulher, aplicando-se assim o conceito de
intersetorialidade, o qual nas ações e discussões os setores da saúde, segurança
pública, justiça, educação, assistência social entre outros.
A contextualização de intersetorialidade cristalizou-se na CFB de 1988,
surgindo como um dos pilares doutrinários e organizacionais do Sistema Único de
Saúde (SUS), definidos pelas leis federais 8.080 e 8.142, de 1990. De fato, as
questões de inserção social, atuação intersetorial, contemplação do sujeito ao direito
à saúde estão amplamente interligadas. Constitui-se num dos fatores essenciais ao
pleno exercício dos direitos de cidadania, e reveladora do estágio de evolução
democrática de nossa sociedade.
Para garantir a consolidação das políticas públicas e sua implantação o pacto
prevê quatro áreas estruturantes: a primeira trabalha a implantação da Lei Maria da
Penha, já desenvolvida por meio do setor de segurança pública e justiça, envolve a
área da saúde. A segunda contempla a Proteção dos Direitos Sexuais e
Reprodutivos e Enfrentamento da Feminização da AIDS. A terceira cabe também a
segurança pública e justiça efetivarem o Combate à Exploração Sexual de Meninas
e Adolescentes e ao Tráfico de Mulheres. Para dar conta da quarta área, cabe a
assistência social a, Promoção dos Direitos Humanos das Mulheres em Situação de
Prisão.
Assim seguindo o Pacto de 2011 a rede de atenção às mulheres vitima de
violência devem estar estruturados para trabalhar intersetorialmente, os serviços
com suas funções para que juntos desenvolvam os quatros eixos estruturantes
contemplados no Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra as
Mulheres.
51
No texto do pacto, vemos contemplado as instâncias de gestão, foco e
competências das esferas de governo na coordenação do Pacto. O foco descrito no
pacto contempla às mulheres rurais, negras e indígenas, em função das múltiplas
situações, que as colocam em situação de discriminação e maior vulnerabilidade
social. O Pacto de 2011, prevê para o processo de implantação, a criação ou
fortalecimento de organismos de políticas públicas para as mulheres em nível
estadual e municipal, a elaboração de um Projeto Básico Integral com diagnóstico,
definição de municípios pólos e o planejamento das Ações do Pacto, também a
assinatura do Acordo de Cooperação Federativa. Constituição do Comitê Gestor e
Câmara Técnica Estadual e Municipal de Gestão e Monitoramento do Pacto, para
planejamento, monitoração e execução das ações, previstas pelo Pacto.
Segundo o Pacto (2011), para a aprovação das propostas e projetos no
âmbito da Câmara Técnica Estadual e encaminhamento para a Câmara Técnica
Federal, descrito como, projeto Básico Integral e, último o credenciamento dos
estados e municípios no Portal Nacional de Convênios para envio de projetos.
Também nível dos Governos Municipais, por seus Organismos Municipais de
Políticas para Mulheres, prestar contas as instituições envolvidas na pactuação,
manter a execução dos projetos, participar da Câmara Técnica de Gestão Estadual;
promover a constituição e o fortalecimento da rede de atendimento à mulher em
situação de violência nas vária esferas.
Tal necessidade de articulação é reforçada a partir das diretrizes que
conforme diz Camargo e Aquino (2003), as políticas de proteção e segurança são
essenciais para o enfrentamento à violência, mas é preciso avançar tanto em
políticas de prevenção como na ampliação de políticas que articuladamente para
que trabalhem para uma reversão da dependência financeira, elevação da
autoestima das mulheres, fortalecimento da capacidade de representação e
participação na sociedade, enfim, criem condições favoráveis à autonomia pessoal e
coletiva das mulheres.
Com o objetivo de garantir aplicabilidade das políticas, de forma organizada
para promover às condições de atenção as mulheres, o Pacto de 2011 esta
organizado em cinco eixos; eixo I: Garantia da Aplicabilidade da Lei Maria da Penha:
eixo II: Ampliação e Fortalecimento da Rede de Serviços para Mulheres em Situação
de Violência; eixo III: Garantia da Segurança Cidadã e Acesso à Justiça; eixo IV:
Garantia dos Direitos Sexuais e Reprodutivos, Enfrentamento à Exploração Sexual e
52
ao Tráfico de Mulheres; eixo V: Garantia da Autonomia das Mulheres em Situação
de Violência e Ampliação de seus Direitos.
A estruturação do Pacto de Enfrentamento a Violência contra a Mulher,
apresenta possibilidade de estabelecermos diretrizes seguras para o enfrentamento
das situações de vulnerabilidade e condições de violências, quais as mulheres estão
expostas. Também oferece meios teóricos para a construção de políticas concretas
para atendimento as mulheres em situação de violência de forma tripartite,
trabalhando o fluxo de cuidado nas três esferas, Federal, Estadual e Municipal,
garantido acesso e cuidado integral as usuárias do sistema.
53
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 DEFINIÇÕES GERAIS DOS PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
Tendo em vista o objeto investigado, o estudo foi desenvolvido por meio das
pesquisas classificadas como exploratória e descritiva, as quais estão sustentadas
pela abordagem quanti-qualitativa. Esses tipos de pesquisa (exploratória e
descritiva) foram definidos por ambas se complementarem e por permitirem desvelar
os vários aspectos que configuram o universo pesquisado.
Pela orientação da abordagem quantitativa se processou o levantamento e a
organização dos dados obtidos nos documentos institucionais, que registraram a
situação da violência contra o gênero feminino no recorte territorial estudado. Os
valores quantitativos se referiram à faixa etária e o bairro de ocorrência da violência.
Também, nesta coleta de dados, e, para a mensuração de outros dados sobre o
cenário da violência, tomou-se por base a classificação das formas de violência do
referencial teórico e se procedeu ao apontamento quantitativo de ocorrências dos
seguintes dados: fatos comunicados, responsável pela violência, lesões corporais e
parte física do corpo na qual a mulher foi agredida. Esse levantamento de dados
esteve orientado pelas formas de violência descritas na Lei 11.340/2006, ou Lei
Maria da Penha. Portanto, a abordagem quantitativa foi efetivada para concretizar
parte da pesquisa do tipo exploratória. Essa exploração ocorreu pela pesquisa
documental, que perseguiu o cumprimento do objetivo específico, que visou o
mapeamento das formas de violências preponderantes contra as mulheres nos
registros dos Boletins de Ocorrências das Delegacias Civis e Especializadas dos
municípios do Planalto Norte Catarinense entre 2009 a 2012.
Pela abordagem qualitativa, inicialmente, processou-se o referencial teórico,
pela aplicação da pesquisa de tipo bibliográfica. Na elaboração do referencial
teórico, procedeu-se a descrição dos conhecimentos relativos ao conjunto de
políticas públicas sociais desde a Constituição Federal Brasileira de 1988, que
enfocam a mulher e a violência sobre o gênero e sobre o conjunto de políticas
públicas sociais desde a Constituição Federal Brasileira de 1988 que enfocam a
mulher e a violência sobre o gênero.
Ainda, a abordagem qualitativa é a referência da análise dos dados
quantitativos.
54
A coleta de dados em campo foi auxiliada pela realização da observação
sistemática do ambiente no qual se pesquisou os documentos denominados de BO,
obtidos nas instituições pesquisados. A observação revelou a interação dos sujeitos
envolvidos no processo da violência contra o gênero feminino, pela vivência diária
dos profissionais da segurança pública que realizam os registros dos fatos ocorridos.
A interlocução com esses profissionais, mesmo que sem um roteiro intencional de
coleta de dados, permitiram entendem o cenário das denunciantes, do acolhimento
da denúncia e dos encaminhamentos subsequentes.
Assim, a seguir, descreve-se aspectos específicos dos procedimentos
metodológicos aplicados na elaboração desta dissertação.
3.2 ESPAÇOS DE DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
Para o desenvolvimento da pesquisa foi delimitado o recorte territorial do
Planalto Norte Catarinense, sendo composto por sete municípios, compreendendo:
Mafra, Papanduva, Itaiópolis, Monte Castelo, São Bento do Sul, Rio Negrinho e
Campo Alegre. Neste recorte territorial foram identificadas e delimitadas as
instituições de segurança pública existentes em cada município, nas quais de
procedeu a coleta de dados relativos à violência praticada contra o gênero feminino,
registradas.
As instituições públicas pesquisadas foram as quatro Delegacias Civis de
Policia de Papanduva, Itaiopolis, Rio Negrinho, Campo Alegre. Para atender a
demanda populacional a Comarca de Papanduva atende também o município de
Monte Castelo. Nos município de Mafra e São Bento do Sul, a pesquisa foi realizada
nas duas delegacias especializadas ao atendimento mulheres, crianças e idosos,
denominadas Delegacia de Proteção a Criança, Adolescente, Mulher e Idoso
(DPCAMI), perfazendo um total de seis instituições.
As Delegacias Civis de Polícia integram as estruturas de segurança pública
nacional, com função precípua, conforme a Constituição Federal Brasileira de 1988,
art. 144, inciso 4º a policia civil apura infrações penais, com função administrativa na
preservação da ordem pública a incolumidade dos sujeitos e do patrimônio.
Considera-se então a polícia civil como órgão administrativo para apuração das
infrações penais. Dessa forma, na Delegacia de Polícia são acolhidas e registradas
55
todas as ocorrências dos cidadãos, entre elas as de violências, contra todos e contra
as mulheres.
As Delegacias de Polícia Civil, são órgãos com peculiaridades distintas dos
diversos órgãos públicos, atendem diretamente pessoas, consideradas vitimas ou
não e com os mais variados problemas particulares ou de ordem pública. Imputa-se
a este órgão a responsabilidade principal de aplicar as Leis Penais vigentes. As
Delegacias de Polícia estão organizadas no sentido de atenderem as necessidades
da população relacionadas diretamente às criminalidades, por isso possuem, além
da autoridade policial, os setores de Plantão, Cartorário e de Investigação. O
cidadão para registrar um fato ou crime, procura o Setor de Plantão para informar o
ocorrido, podendo ou não gerar um processo investigatório. Na estrutura da
segurança pública, observam-se várias Delegacias de Polícia que atendem os mais
variados tipos de ocorrências policiais.
A constituição do serviço de segurança pública no quadro de delegacia de
polícia civil encontramos duas forma para caracterizá-las; primeiramente como
delegacias comuns onde todas as denuncias são registradas em um mesmo espaço
e atendidos por uma mesma pessoas, nestas não existe diferenciação para o
acolhimento das denunciantes. Segundo observamos a existência das delegacias
especializadas em delitos específicos, considerados crimes que necessitam de
abordagens diferenciadas, descritas como delegacias especializadas de
atendimento às mulheres (DEAM). No caso de Mafra e São Bento do Sul foram
criadas as Delegacias Especializadas em atendimento a mulher, criança,
adolescente e idoso. As delegacias especializadas nesses atendimentos, priorizam o
registro das ocorrências da comarca que estão inseridas, desenvolvem
procedimentos legais relativos a apuração de atos infracionais, conforme previsto no
Estatuto da Criança e do Adolescente; apuram fatos criminais referentes às
violências contra a mulher (moral, física e sexual).
Comumente essas delegacias são identificadas como Delegacia da Mulher,
mas que atendem os atos infracionais dos adolescentes; atendem crianças e
adolescente que sofreram violência sexual e maus tratos; mulheres vítimas de
violência doméstica e os seus ofensores, conforme prevê a Lei Maria da Penha.
Ainda, apuram os atos infracionais que comprometam a integridade do idoso. Essas
delegacias possuem um contingente de profissionais concursados e qualificados
para a prestação de serviços policiais judiciários. Para atender aos usuários dessas
56
instituições de segurança pública, as delegacias especializadas têm fluxos
organizados e direcionados seguindo a premissa fundamental do registro do fato
ocorrido.
Para tanto, o primeiro contato do usuário com a Delegacia Especializada se
faz por meio do profissional de plantão que identifica a necessidade do reclamante e
presta as informações necessária. Este processo resulta em registros de violência
contra a mulher, infrações cometidas por adolescentes ou situações que expõe a
riscos adolescentes e crianças.
Na sequência ocorre o registro do fato ocorrido, gerando o que se denomina
de Boletins de Ocorrência, que são analisadas pela autoridade policial, a qual
encaminha às providências administrativas adequadas para o caso. Ou instaura
Inquérito Polícial ou instaura o Termo Consubstanciado ou Auto de Prisão em
flagrante.
Para que o estudo desta dissertação pudesse responder aos variados
questionamentos decorrentes do tema e do problema, organizou-se o
desenvolvimento do estudo de campo, pelas etapas a seguir descritas:
A realização da pesquisa de campo, no primeiro momento, apresentou a
proposta da pesquisa; primeiramente por contato telefônico e na sequência pela
realização de visitas para apresentar o documento nominado como carta de
apresentação da pesquisa, diretamente ao responsável pela Delegacia no caso, os
Delegado de Polícia Civil, para que fosse obtido a liberação para início imediato da
pesquisa documental. Essa visita institucional ocorreu no mês de setembro de 2012.
Assim, inicia as pesquisas nos Boletins de Ocorrência (Bos) nas delegacias dos
municípios que compões a 25ª SDR. Concomitante a este processo organizamos
com o responsável a forma de trabalho e definidas as datas, horários e espaços
para o acesso aos Boletins de Ocorrência (BO) registrados no período de 2009 a
2012.
Depois de conseguida liberação para iniciar a pesquisa de campo e da
organização do processo da coleta de dados, na seqüência foi realizado o segundo
momento da pesquisa. A leitura e separação dos documentos impressos
denominados BOs. A seleção dos BOs para a pesquisa se deu pela leitura e
posterior identificação do tipo de ocorrências registradas. Selecionou-se os que
tinham descrito como fato ocorrido a menção de Violência Contra Mulher,
registrados nas Delegacias não Especializadas de Itaiópolis, Papanduva, Rio
57
Negrinho e Campo Alegre e nas Delegacias Especializadas (DPCAMI) de Mafra e
São Bento mesmo que se tenha manuseado todos os documentos relacionados às
ocorrências contra crianças, adolescentes, idosos e mulheres.
Assim, foram separados os BOs cujos registros continham a evidência de
ocorrência de violência contra o gênero feminino, relativos ao período de 2009 a
2012. Ao final, entre os BO com estas indicações nas seis instituições de segurança
pública, obteve-se 3.769 BOs registrados, o que se configurou no universo de
pesquisa.
A localização dos dados em cada documento foi orientada pela definição
constante na Lei Maria da Penha a qual preceitua a violência doméstica, em seu
artigo 5º (Lei 11.340/2006), a qual define-se como: qualquer ação ou omissão
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial, praticada no âmbito doméstico, familiar ou
em qualquer relação intima de afeto, independente de orientação sexual e as
violências de origem física, patrimonial, moral, sexual ou psicológica.
O texto escrito nos BO baseou-se nos depoimentos de mulheres que
registraram ocorrências nas instituições pesquisadas (delegacias civil e ou
especializadas) dos municípios que compõem o Planalto Norte Catarinense. As
ocorrências foram registradas em forma de documento denominado Boletins de
Ocorrência, seguindo uma sequencia administrativa adequada.
A compilação dos dados dos BO foi organizada pela sequência dos tópicos
dos documentos. Todo o trabalho de leitura, seleção, compilação dos dados, foi
realizado no ambiente físico da instituição, tendo em vista o caráter sigiloso do
material, como não foi possível reproduzir o documento foi necessário copiar os
campos para que pudéssemos reproduzir a sua sequência.
Para esta sistematização foi construído um formulário com campos
obedecendo a sequências iguais aos dos boletins de ocorrência (BOs) conforme
anexo A, os quais são utilizados nas delegacias. Destacam-se os itens de interesse
para a pesquisa: fato comunicado, data da ocorrência, local, informante, dados de
identificação da vitima (ocupação, idade, escolaridade e estado civil), histórico do
fato comunicado, local da agressão e tipo de agressão, endereço da ocorrência e
também qual o espaço que ocorreu a agressão.
Com os dados coletados e sistematizados pelo formulário, passou-se ao
próximo passo, o tratamento dos dados coletados qual apresentaram relevância ao
58
estudo. As datas consideradas para distribuição das ocorrências nos anos em
pesquisa (2009 a 2012). A idade das vítimas foi calculada em função dos dados do
campo data de nascimento, ou seja, a idade no dia em que foi registrado o BO.
Foram registrados os dados de identificação que apareciam nos campos
como não informados, porem estes não foram significativos para o estudo. O
histórico do fato comunicado foi utilizado para fornecer parte relevante dos dados,
tais como as informações das violências, cujos resultados estão apresentados em
gráficos e tabelas na sequência deste estudo.
Com relação o objetivo específico que analisou a organização dos espaços de
atenção a as mulheres vitima de violências e em situação de vulnerabilidade nos
municípios do Planalto Norte Catarinense, perante os dados de campo e as políticas
públicas destinadas ao problema da violência do gênero. O procedimento de
sistematização apresentação e análise de dados seguiu o parâmetro de análise de
conteúdo, conforme orientação de Triviños (1987) apud Bardin, definindo o conceito
sobre análise de conteúdo, como sendo um conjunto de análise das comunicações,
utilizando procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo, do
resultado podendo produzir indicadores quantitativos ou não.
3.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Os procedimentos metodológicos de apresentação e análise de dados,
seguiram as orientações de Minayo (2000), a qual descreve que na análise de dados
quantitativos, há que se seguir operações estabelecendo primeiramente as
categorias para análise, codificação das informações, tabulação e distribuição dos
dados em tabelas ou gráficos e, apresentação dos dados em sequência.
Assim, organizaram-se os dados agrupados em:
- Breve caracterização do Planalto Norte Catarinense; discutimos neste grupo
as características individuais de cada município, como número populacional,
características socioeconômicas entre outras. Organizados os municípios
por ordem de coleta de dados;
- Perfil da População estudada no espaço do Planalto Norte Catarinense;
neste item, analisamos os dados socioeconômicos da população estudada.
Apresentando a distribuição das denunciantes por faixa etária prevalente por
município e logo abaixo na tabela o número de mulheres em cada faixa
59
etária por ano (2009 a 2012), ambos dados organizados em uma mesma
tabela. Em outra tabela apresentamos; o estado civil, escolaridade e
profissão, considerando também a sequência dos municípios já citada e os
anos em ordem crescente;
- Boletins de ocorrências registrados nas DPs e DPCAMI no Planalto Norte
Catarinense; este grupo apresenta o número de BOs registrados por anos
nas delegacias, foi organizado em gráficos, seguindo a mesma ordem de
apresentação inicial dos municípios, apresentados nos quatro anos
agrupados em um mesmo gráfico;
- Territorialização dos atos violentos contra o gênero feminino no Planalto
Norte Catarinense; neste grupo discutimos a territorialização dos espaços
que evidenciam as denúncias de violência nos municípios estudados. Para
organizar este utilizamos os seguintes itens descritos nos BOs, via de
ocorrência da violência, seguido pelo endereço e bairro. Nas tabelas
organizamos a sequência dos bairros com maior incidência, seguido pelo
número de casos por município em separado e por anos (2009 a 2012);
- Cenários da violência contra o gênero feminino no espaço Planalto Norte
Catarinense; este grupo foi construído com uma frequência maior de dados
estes discutido na sequência por município. A primeira sequencia de tabelas,
apresenta o fato comunicado, as formas de violências sofridas pelas
mulheres, tabela intitulada distribuição de ocorrências por fato comunicado.
Na sequencia de tabelas apresentamos a distribuição de ocorrências
segundo relação entre a mulher e seu agressor, considerando nesta os
casos de violência doméstica e não domésticas. As tabelas que seguem
discutem, os dados relacionados a prevalência das agressões físicas por
área do corpo afetada. Todos os dados referidos seguem a ordem pré-
estabelecida para apresentação dos municípios e os anos definidos (2009 a
2012);
- Fatores que contribuíram para os atos violentos contra o gênero feminino.
Esta tabela foi elaborada com base nos relatos dos BOs organizados
conforme a repetição. Salientamos que não separamos por município, nem
por ano e sim em uma tabela única os relatos predominantes descritos pelas
denunciantes. A organização da tabela segue grupos como; fatos vinculados
60
a comunidade, no âmbito das relações pessoais, aspectos individuais
relativos ao agressor;
- Organização dos serviços de atenção as mulheres nos municípios do
Planalto Norte Catarinense; estes dados foram organizados em duas figuras
elaboradas pela pesquisadora, apresentando nesta a composição dos
serviços de atenção a mulheres vítima de violência, conforme a estruturação
atual. Os dados foram coletados durante as visitas nas delegacias, por meio
de entrevista sem roteiro escrito ao funcionário presente na intuição no
momento, usando da seguinte abordagem; quando a mulher é vitima de
violência como o município atende e encaminha, quais os serviços que você
tem disponível no município para encaminhar a vitima?
- Políticas públicas sociais para o enfrentamento da violência contra a mulher;
para apresentação deste grupo, organizamos em tabela após revisão
bibliográfica as políticas disponíveis considerando como marco a
Constituição Federal Brasileira de 1988.
Para a análise dos dados seguimos a forma descrita:
Primeiramente organizamos a ordem de apresentação dos municípios
iniciando pelo município de Mafra, devido à pesquisadora residir neste e a coleta de
dados ter iniciado por este, organizamos os outros municípios na sequência de
discussão dos dados conforme ordem de coleta dos dados. Na sequência
realizamos a contagem dos dados por campo, utilizando o impresso construído com
base no BO, tabulamos todos os dados, ano por ano, e em números inteiros por
ordem da frequência de aparecimento dos dados. Após iniciamos a construção das
tabelas e gráficos utilizando o programa Excel, organizado conforme metodologia de
sequência dos dados acima apresentada. Para realizarmos a discussão dos dados e
correlacionarmos com o referencial teórico, seguimos a ordem das categorias
organizadas previamente, analisamos todas as categorias em separado, município
por município.
61
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
O estudo apresentado na seqüência tem por base um território de estudo bem
definido o qual denota a realidade de cidades consideradas interioranas. A violência
contra a mulher é percebida com mais evidencia nas grandes cidades. Pois esta
aliada à violência do cotidiano sendo elemento importante que denota índices
elevados as estatísticas.
4.1 BREVE CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO ESTUDADO
Santa Catarina é um pequeno recorte do espaço geográfico pertencente às
vinte e sete unidades federativas do Brasil. Segundo o IBGE (2011). Santa Catarina
é o Estado do Brasil que ocupa a décima primeira posição em relação aos demais
Estados Brasileiros referente a economia, estatisticamente classificado como um
Estado bastante povoado, é composto por 295 municipios, localiza-se no centro Sul
do país. A dimenssão territorial do Estado abrange área de 95.346.181 Km2.
Figura 1 – Municípios estudados no Planalto Norte Catarinense.
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde <www.saude.gov.br> (2012).
Apresentamos na sequência descrição breve dos municípios do Planalto
Norte Catarinense onde foi desenvolvido o estudado. Na composição do recorte de
52.912 hab.
17.928 hab.
20.301 hab.
11.748 hab.
39.846 hab.
74.801hab.
8.346 hab.
62
estudo iniciamos por Mafra, que segundo dados do IBGE (2010), conta com 52.912
habitantes. Suas principais atividades socioeconômicas são a agropecuária e a
indústria. Quanto a distribuição populacional por gênero em Mafra, segundo dados
do IBGE (2010) aponta que, no município o numero de homens é de 26.251 da
população feminina de 26.661seguindo uma tendência nacional. Seguido pelo
município de São Bento do Sul, apresenta uma população segundo IBGE (2010),
estimada em 75.520 habitantes, no município a população residente de homens
representando 36.254 e as mulheres 36.052. Conforme IBGE (2010), a população
geral de Itaiópolis compreende no total de 20.301 sendo masculina 10.409 e
feminina 9.892. No município de Papanduva a população gira em torno de 17.928
segundo IBGE 2010, desta o gênero masculino é de 9.172 e feminino de 8.756.
Enquanto no município de Campo Alegre, dados do IBGE 2010, a população
habitante é de 11. 748 deste o gênero masculino 5.970 e feminino 5.778. Em Monte
Castelo conforme IBGE 2010, a população habitante é de 8.346 habitantes sendo
masculino 4.283 e feminina 4.063.
4.2 PERFIL DA POPULAÇÃO ESTUDADA NO ESPAÇO DO PLANALTO NORTE
CATARINENSE
Na pesquisa de campo se coletaram dados que permitem apresentar o perfil
mínimo das denunciantes. Os dados referentes à faixa etária das mulheres (Tabela
6) foram agrupados em idades definidas as décadas. A partir dos dados observamos
que a concentração de denúncias de violência sofridas pelas mulheres recai sobre a
dos 21 a 30 anos (Tabela 6) nos municípios estudados. Este aspecto é considerado
no estudo realizado pelo Data Senado (2011), (durante o período de 2005 e 2011),
mostra que o grupo mais vulnerável em relação à violência doméstica está
concentrado na faixa etária as mulheres com idade entre 20 e 29 anos. Estes dados
denotam que as ações preventivas em relação à violência contra a mulher devem se
voltar principalmente para atingir mulheres de tais idades.
Tabela 6 – Faixa etária prevalente das denunciantes no Planalto Norte Catarinense (2009 a 2012).
Município Faixa etária 2009
Faixa etária 2010
Faixa etária 2011
Faixa etária 2012
Mafra 31 a 40 anos 21 a 30 anos 21 a 30 anos 21 a 30 anos Nº de mulheres 115 106 126 65 São Bento do Sul 21 a 30 anos 21 a 30 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos Nº de mulheres 55 39 70 79 Rio Negrinho 21 a 30 anos 21 a 30 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos
63
Nº de mulheres 56 55 47 29 Campo Alegre 21 a 30 anos 21 a 30 anos 21 a 30 anos 21 a 30 anos Nº de mulheres 8 12 11 19 Itaiópolis 31 a 40 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos 31 a 40 anos Nº de mulheres 11 15 18 23 Papanduva 31 a 40 anos 21 a 30 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos Nº de mulheres 36 25 43 41 Monte Castelo 21 a 30 anos 31 a 40 anos 31 a 40 anos 21 a 30 anos Nº de mulheres 10 8 29 18 Fonte: Dados da pesquisa (2013). Quadro 1 – Perfil socioeconômico das denunciantes no Planalto Norte Catarinense (2009 a 2012).
Município Ano Estado civil Escolaridade Profissão 2009 Casadas 1º grau incompleto Do Lar
Mafra 2010 Casadas 1º grau incompleto Do Lar 2011 Casadas 1º grau incompleto Do Lar 2012 Casadas 1º grau incompleto Do Lar 2009 União estável 2º grau incompleto Do Lar
São Bento do Sul 2010 Casadas 1º grau incompleto Do Lar 2011 Casadas 2º grau completo Do Lar 2012 Casadas 2º grau completo Do Lar 2009 União estável 1º grau incompleto Do Lar
Rio Negrinho 2010 União estável 2º grau incompleto Do Lar 2011 União estável 2º grau incompleto Do Lar 2012 União estável 2º grau completo Do Lar 2009 União estável 2º grau incompleto Do Lar
Campo Alegre 2010 União estável 2º grau completo Do Lar 2011 Casadas 2º grau completo Do Lar 2012 Casadas 2º grau completo Do Lar 2009 União estável 1º grau incompleto Do Lar
Itaiópolis 2010 Casadas 1º grau completo Do Lar 2011 Casadas 1º grau completo Do Lar 2012 Casadas 2º grau completo Do Lar 2009 União estável 1º grau incompleto Do Lar
Papanduva 2010 União estável 1º grau incompleto Do Lar 2011 Casadas 1º grau incompleto Do Lar 2012 Casadas 1º grau incompleto Do Lar 2009 União estável 1º grau incompleto Do Lar
Monte Castelo 2010 União estável 1º grau incompleto Do Lar 2011 União estável 1º grau incompleto Do Lar 2012 Casadas 1º grau incompleto Do Lar
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Por outro lado, associado à faixa etária, neste breve perfil da população
(mulheres a partir dos 18 até 60 anos), identificou-se dados sobre a ocupação,
escolaridade e estado civil das mulheres denunciantes de violências contra o gênero
feminino. Para a coleta destas informações utilizamos os campos descritos no BOs
que marcavam: ocupação, escolaridade e estado civil. Conforme informação
relatada pela denunciante, (estado civil das denunciantes), podemos observar a
prevalência da união estável em todos os municípios, aspecto que indica a
organização familiar similar ao modelo clássico, constituído de pais, mães e filhos.
64
Conforme Dias (2007), a ocorrência de uniões estáveis pode ser explicada
pelo fato de que a base da maioria dos núcleos familiares do Brasil é formada por
indivíduos que vivem aos pares, mas não registram sua união em cartório civil. Esta
situação é amparada pelas mudanças no Código Civil brasileiro, no qual, segundo
Fujita (2000), a união estável que pode ser conceituada como a união entre pessoas
de sexo diferente, que, sem haverem celebrado casamento civil e/ou religioso, vivem
como se casadas fossem, de forma contínua e duradoura. Esse autor reforça que
neste tipo de união o que importa, para sua caracterização, é a intenção dos
conviventes de, efetivamente, constituírem uma família.
Outro dado do perfil populacional – segmento eleito para este estudo - refere-
se à escolaridade. Ao observarmos o quadro 1 a escolaridade das mulheres que
registraram denúncia de violência contra elas, fica evidente a prevalência de sua
pouca escolaridade. Constata-se que a maioria das mulheres atendidas pelas
delegacias não contemplaram nem o ensino fundamental. Outro aspecto refere-se à
questão cultural sobre a violência que é infiltrada nos segmentos populacionais mais
empobrecidos, fator que manteve um preconceito de classe, ou seja, relação natural
entre violência, pobreza e economia. Tal constatação vai ao encontro do que foi
evidenciado pelo estudo de Campos (2008), pelo qual aponta para as possibilidades
de as mulheres com maior escolaridade, recorrerem a serviços alternativos ou
privados de assistência, sem recorrer às denúncias em delegacias.
Podemos também discutir a questão da educação e o processo da violência
de gênero. Salienta-se que os serviços de ensino no fundamental, médio e superior
podem não estar cumprindo o seu dever na abordagem eficaz das questões de
gênero e igualdade de direitos. Com isto a presença do conhecimento dos direitos,
de igualdade de gênero destas mulheres, as faz mais vulneráveis dependentes dos
sistemas para garantir-lhes.
Desde a Constituição Federal Brasileira de 1988 há ações, programas,
políticas públicas que elegeram a violência contra a mulher como foco central. No
entanto, percebe-se que as barreiras culturais podem ter influenciado na demora em
se perceber que essa situação é “coisa pública”. Com esta conotação o Pacto
Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres definiu, como estratégia
a implementação de políticas públicas amplas e articuladas nas mais diferentes
esferas da vida social, como na educação, no mundo do trabalho, na saúde, na
segurança pública, na assistência social e na justiça, para assumirem
65
prioritariamente e complementarmente esta expressão de questão social sobreposta
aos direitos humanos.
Sob o ponto de vista da profissão que exercem as mulheres vitimas de
violências observamos a concentração de respostas em ocupações relacionadas às
tradicionalmente ditas como femininas. Pelo quadro 1 fica evidente ainda, o caráter
de prestadora de serviços domésticos, ou seja, aquelas atividades exercidas no
âmbito privado do domicilio. Nos BOs a mulher declara-se como tendo a profissão
“do lar”. Desta forma, independentemente do grau de escolaridade fica evidente que
essas mulheres trabalham sem remuneração (denominadas do lar), condição esta
que deixa evidente a dependência financeira da denunciante em relação ao seu
agressor.
4.3 BOLETINS DE OCORRÊNCIAS REGISTRADOS NAS DPs E DPCAMI NO
PLANALTO NORTE CATARINENSE
A violência contra as mulheres faz parte dos demais tipos de infrações
denunciadas, que aos poucos se torna visível perante o complexo mundo das
violências. Nessa violência direcionada a um recorte populacional, é destacada
certas especificidades nas relações de gênero. Está relacionada ao contato intimo e
privado das relações entre homens e mulheres. Quando os episódios de violência
tornam-se públicos estes vêm de várias formas, adquirem visibilidade pelos registros
nas instituições sociais, como nos serviços de saúde, assistência social, sistema
jurídico e pelo sistema de segurança pública.
Para darmos conta de quantificar o número de registros de violências contra
as mulheres, consultamos todos os BOs, das Delegacias Civis de Polícia nos
municípios de Mafra, São Bento do Sul, Rio Negrinho, Campo Alegre, Itaiópolis,
Papanduva e Monte Castelo, as quais são denunciadas os atos de violência contra a
mulher.
Somente em Mafra e São Bento do Sul há delegacias especializadas no
atendimento à mulher. Mafra contou primeiramente com o Centro de Proteção a
Criança, Adolescente, Mulher e Idoso, criado em março de 2008, passando a ser
denominada Delegacia somente em abril de 2009. Em São Bento do Sul já surgiu
denominada Delegacia no ato de sua criação, em 2008. Atualmente ambas
delegacias trabalham como espaços especializados denominados Delegacias de
66
Proteção a Criança, Adolescente, Mulher e idoso (DPCAMI), nas quais foram
coletados os dados deste estudo. Este serviço tornou-se via de fácil acesso e para a
visibilidade da violência de gênero. Conforme Smigay (1986), a criação das
delegacias da mulher, além de aumentarem a visibilidade da violência, aumentam a
abrangência dos fatos e sua conceituação.
A coleta de dados que se deu sobre 3.769 BOs registrados nessas
instituições no território estudado, tem no registro principal (fato denunciado) a
violência contra a mulher de todas as faixas etárias. No entanto, neste estudo
separaram-se os BOs cujo registro de violência abrangia a mulher com mais de 18
anos. Nas delegacias, ao serem elaborados os BOs é realizada uma categorização
por segmento etário, que menciona no fato comunicado, se ele refere-se à criança,
adolescente ou mulher, considerando as definições etárias das legislações (ECA:
até 12 crianças e de 12 a 18 adolescentes) e idosos, aqueles com mais de 60 anos.
Assim, ocorreu a exclusão dos BOs com registros de violência contra as mulheres
com menos de 18 anos, tendo em vista os encaminhamentos distintos que se dá aos
casos de violência contra a criança e adolescentes.
Também, é preciso se recuperar duas definições: violência doméstica e
violência de gênero. Consideramos como violência doméstica, a ocorrência em
qualquer relação intima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com
a ofendida, independentemente de coabitação conforme a Lei nº 11.340 (Lei Maria
da Penha), portanto, consideramos as violências não domésticas, que são as outras
formas de violência contra a mulher.
Assim computamos neste estudo a violência não doméstica, levando em
consideração os registros que tinham como autor das violências o sexo masculino e
os lugares públicos, ou seja, fora do domicílio. Ressaltamos que estes dados não
representam a totalidade da violência contra as mulheres nos municípios estudados.
Também, afirmamos que há violências que não foram registradas nas DPs e
DPCAMI. Reiteramos que se sabe de antemão que o cenário atual da violência
doméstica e de gênero não é completamente denunciado, tendo em vista que nem
todas as mulheres procuram estes serviços para realizarem denúncias, devido a
situações que permeiam a violência, tais como: o medo do agressor, a vergonha, a
dependência do agressor, entre outras justificativas que as impedem de denunciar.
Levantamos nos BOs os dados relacionados à violência esses foram
computamos por ano em separado (2009 a 2012). Em seguida os dados dos
67
municípios selecionados foram apresentados em gráficos para dar conta do cenário
da violência contra a mulher para este estudo. Sobre eles fizemos a respectiva
análise, considerando em especial dois blocos de gráficos, os quais caracterizam
dois cenários da violência contra as mulheres. Há municípios cujos dados mostram
um cenário de significativa ascendência dos números de registros e outro cenário,
certo declínio dos casos registrados, ano por ano. Estes dois aspectos podem levar
a múltiplas explicações no contexto da violência contra o gênero feminino.
Gráfico 2 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em MAFRA por ano.
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Gráfico 3 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em SÃO BENTO DO SUL por ano.
68
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Gráfico 4 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em RIO NEGRINHO por ano.
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
69
Gráfico 5 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em CAMPO ALEGRE por ano.
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Gráfico 6 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em ITAIÓPOLIS por ano.
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
70
Gráfico 7 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em PAPANDUVA por ano.
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Gráfico 8 – Distribuição dos BOs registrados na delegacia em Monte Castelo por ano.
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Constatamos, observando os gráficos 3, 5, 6 e 7 que entre 2009 e 2012, o
aumento nos registros de BOs é significativo em Monte Castelo. Relacionamos a
71
significância no aumento dos números de ocorrências desta natureza registradas
nas delegacias, á condições que favoreceram tal situação. Pode-se relacionar essas
intensificação da problemática da violência contra a mulher por meio de campanhas
para informar a população, veio referenciada nos avanços e na elaboração de
políticas públicas para o enfrentamento da violência e empoderamento da mulher.
A contribuição da sociedade para a modificação das condições sociais e
coletivas na formulação das políticas públicas para a organização do Estado,
objetivam enfrentar e punir os atos violentos, cometidos contra as populações
vulneráveis (crianças, mulheres, idosos). Isso pode ter aumentado a confiabilidade
das mulheres na organização social e desta forma contribuiu para o aumento das
denúncias por parte das vítimas. Segundo Rua (1998), uma política pública consiste
em procedimentos formais e informais que expressão a relação de poder e que se
destinam a resolução pacifica dos conflitos diante de bens públicos. No entanto,
Peters (1984), anos antes já discutia política pública relacionando-a a soma das
atividades governamentais, que agem diretamente ou por meio de delegação, para
influenciar a vida de uma população.
Outra situação que pode ter intensificado o aumento dos registros nos BOs é
o fato de as políticas públicas sociais, terem fortalecido os grupos ditos vulneráveis.
Diante do desenvolvimento das políticas públicas empregadas no cenário brasileiro
para o combate à violência contra a mulher, podemos citar medidas de suma
importância para a sociedade que desde então, retiraram a violência contra a mulher
do cenário privado e a fez “coisa pública”.
Entre os marcos sociais e legais citamos: a promulgação da Lei de
Internacional de Direitos da Mulher (1979), que visou reprimir formas de
discriminação e promover os direitos da mulheres. A implantação do Conselho
Nacional dos Diretos das Mulheres (1985), também foi criada a primeira Delegacia
de Defesa das Mulheres e posteriormente, as Delegacias Especializadas ao
atendimento da Mulher foram implantadas com o objetivo de organizar os espaços
de atenção às vitimas de violência, estabelecendo uma escuta qualificada e maior
agilidade no julgamento dos agressores.
Segundo Soares (1999), muitas eram as expectativas em torno da mais
ampla política pública relacionada à violência contra mulher já criada no país. Para
grupos formados por mulheres, a delegacia significaria que aquela violência invisível
e sem importância social, finalmente se tornaria pública e notória. Diante das
72
mudanças no atendimento às vítimas, as delegacias especializadas tornaram-se a
porta de entrada para registro das ocorrências destas violências. A implantação
deste tipo de estrutura especializada deu-se por meio de esforços entre a Secretaria
Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), e a Secretaria Nacional de
Segurança Pública do Ministério da Justiça (SENASP/MJ).
Estabelece-se de forma organizada, as competências de cada agente público,
norteados pela Medida Provisória nº 103, de 2003 e pelo Decreto nº 2.315, de 4 de
setembro de 1997, e com o objetivo de assegurar aplicação das legislações
anteriores, para a proteção das mulheres vitima de violência ou em situação de
vulnerabilidade.
A Constituição Federal do Brasil (1988), garantiu a igualdade de direitos entre
homens e mulheres. O Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2003), norteou
a elaboração da Política Nacional de Enfrentamento a Violência contra as Mulheres
que subsidiou a Lei 11340/2006, denominada Maria da Penha a qual se evidencia
como uma das maiores conquistas da sociedade brasileira, pois, instituiu medidas
punitivas para os agressores. Em 2006, foi criado o Pacto Nacional pelo
Enfrentamento à Violência Doméstica contra a Mulher, o qual tem como um dos
seus objetivos a implementação da Lei Maria da Penha e a ampliação da rede de
atendimento à mulher.
Diante dessa organização, o contexto histórico das políticas públicas contra a
violência do gênero feminino, tem na Lei 11340/2006 um marco conceitual sem
precedente, para o tratamento dos casos de violência contra as mulheres. Tal lei
surgiu devido à Lei 9.099/1995 ser branda com relação a aplicação das penas para
o agressor, atribuindo a pena com cestas básicas, multa e prestação de serviço
comunitário. A lei em vigência atualmente contempla em seu texto, penalidade para
coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.
Já lei Maria da Penha torna a punição a este crime mais severa,
determinando a prisão em flagrante e a detenção de 3 (três) meses a 3 (três) anos
para o agressor. Diante do novo cenário legal, a Lei Maria da Penha, assegura às
mulheres denunciantes a confiabilidade no sistema judiciário brasileiro,
proporcionando medidas para que o agressor venha a ser punido conforme o crime
cometido. Essa lei pode um ser fator contribuinte para o empoderamento das
mulheres, estimulando as vítimas de agressão a realizarem esses registros e a
buscarem apoio à situação de vítima.
73
No contexto da organização da rede de atenção as mulheres e a violência
que as tornam vítimas, em 1998, o Ministério da Saúde deu prioridade à saúde da
mulher, trabalhando três linhas principais de ação para atender, de forma plena esse
segmento do gênero, contemplando as necessidades de atenção qualificada para as
mulheres brasileiras. Para tanto, a terceira linha de ação refere-se à participação das
políticas públicas de saúde para dar conta da violência contra a mulher, qualificando
o atendimento às vítimas de violência, de forma articulada com outras políticas
públicas como a assistência social, educação, justiça, segurança publica, para as
atenção as mulheres.
A influência da organização da rede de atenção às mulheres por meio do
amparo legal das políticas públicas sociais, pode explicar os dados do gráfico 3, o
qual tem maior aumento de casos registrados nos BOs, que se dá de forma
significativa entre os anos de 2009 a 2012. Tal influência, pode ser observada em
São Bento do Sul, no qual, entre os 7 (setes) municípios pesquisados, é o único com
rede estruturada em conformidade com o disposto nas políticas públicas de amparo
às mulheres vítimas de violências. Alertamos que essa rede de atenção é composta
por: delegacia especializada (DPCAMI), Centros de Referencia da Assistência Social
(CRAS), Centros de Referencia Especializado da Assistência Social (CREAS), Casa
Abrigo, unidades de urgência e emergência, Instituto Médico Legal e Conselho
Municipal da Mulher. Partindo-se do pressuposto de que a mulher tem múltiplas
possibilidades de recorrer aos serviços estruturados para atendê-la de forma
humanizada e acolhedora, com segurança para apoiar e efetuar as denúncias.
No século XXI, a temática violência vem sendo incessantemente debatida, em
decorrência do aumento de sua incidência tanto nos espaços da vida pública como
da vida privada. Uma das manifestações que mais tem preocupado a sociedade
brasileira é a violência inferida contra a mulher. Porém, no contexto estudado
podemos observar outro cenário, o qual demonstra a redução significativa dos
registros nos BOs visualizado pelos gráficos 2, 4 e 8. Isto sugere várias questões.
Primeiramente instiga uma hipótese relacionada a possíveis fragilidades do
sistema de atenção as mulheres vítimas de violência. Faz-se necessário mencionar
tais fragilidades; a rede de atenção à mulher encontra-se fragmenta, a qual deveria
estar articulada entre os serviços previstos pelo MS em 1998, pelo Pacto de
enfrentamento a Violência Contra a Mulher, em 2006. Segundo, a Política Nacional
de Enfrentamento a Violência contra a Mulher (2011), a formação da rede de
74
atendimento refere-se à atuação articulada entre as instituições, os serviços
governamentais, não governamentais e a comunidade. Se a rede estivesse
articulada trabalharia questões relacionadas à ampliação dos serviços com
qualidade, agilidade na identificação e encaminhamento dos casos, efetivando as
ações de prevenção na comunidade. A rede segue uma organização multidiciplinar
entre as esferas da: saúde, educação, justiça e segurança pública, atuando sobre a
complexidade da violência contra as mulheres. O que se pôde observar nos
municípios em que ouve redução nas denúncias, é de que ainda há falta da
organização da rede de atendimento, pois, ainda não se contemplou o que
preconizam as políticas públicas em especial o Pacto.
Também podemos destacar uma indagação quanto à organização dos
horários de atendimento das instituições públicas para acolher as mulheres vítimas
de violência. Todas as delegacias visitadas trabalham de forma padronizada,
atendendo no período da manhã e durante a tarde. Não há atendimento de porta
aberta durante a noite e nos finais de semana. Esta situação pode contribuir para
que a mulher não registre o BO posteriormente a violência sofrida, pois, dependendo
do tempo que ocorreu a violência, cessa o sentimento de dor dando ênfase ao
sentimento de medo e ela pode pensar mais na sua dependência emocional de
mulher vitima de violência para o com seu agressor. Segundo Nascimento (2002), a
subordinação, opressão, discriminação da mulher não é própria do gênero, mas está
relacionada às formas de convívio, na dominação mantida pelas sociedades,
legitimando o controle do homem sobre as mulheres.
Tais situações citadas podem estar também vinculadas com a relação de
dependência financeira destas mulheres para com seus agressores. Foi observado
neste estudo, que a maioria das mulheres denunciantes não exercem trabalho
remunerado, situação mantenedora da sua condição de dependente que pode, de
algum modo, ser relacionado aos atos violentos. Como descreve Velzeboer et al.
(2003), a violência contra as mulheres é influenciada por fatores vinculados à
comunidade tal como a pobreza, baixa posição socioeconômica, desemprego,
associação com companheiros delinqüentes, isolamento da mulher e da família.
Quando destacamos as relações pessoais, podemos observar os conflitos conjugais,
o controle que o parceiro exerce sobre o patrimônio familiar e a não participação da
mulher na tomada de decisão em relação às situações familiares, hegemonia
masculina na gestão familiar.
75
Pode-se discutir o número de BOs em relação ao município pelo número de
mulheres que nela habita. Segundo o IBGE (2010), Mafra possui 52.912 habitantes
e a população feminina gira em torno 26.661. Ao observarmos que a tendência as
denuncias apresentou queda no ultimo ano estudado. Tal tendência pode estar
associada a estrutura deficitária do serviço de atenção as mulheres em situação de
violência, qual se encontra fragmentada, fragiliza o sistema, dificulta a rede de
atenção à mulher trabalhar conectada, contribuindo com a resolutibilidade, o que
reduz a confiança das mulheres no sistema.
Em contrapartida podemos observar que serviços organizados tendem a obter
sucesso e efetividade nas ações como São Bento do Sul, que obteve aumento nos
registros de violências contra as mulheres. Levando em consideração que o
município apresenta uma população, segundo o IBGE (2010), de 75.520 habitantes
e, a população residente de mulheres é 36.052. Referendando a tendência nacional
de pouca diferença para a masculina, podendo ser fator contribuinte para aumento
da violência contra a mulher e aumento das denúncias.
4.4 TERRITORIALIZAÇÃO DOS ATOS VIOLENTOS CONTRA O GÊNERO (2009 a
2012)
Para darmos visibilidade a territorialização (recorte de pesquisa no Planalto
Norte Catarinense) dos atos violentos inferidos sobre as mulheres, discutimos na
sequência outro dado importante, que indica os bairros nos quais há maior
ocorrência das violências contra a mulher. Para a coleta destes dados, utilizamos
dos BOs, o espaço que descreve o local de ocorrência do fato, dado este registrado
pelas denunciantes. Na sequência organizamos os dados em tabelas, distribuídas
por ano.
Neste sentido, a importância de descrevermos esta informação, nos dá
subsídios para que possamos apontar os locais nos quais deve-se intensificar as
ações educativas e informativas para a população. Contudo, fazer-se entender as
diferenças sutis entre estes locais torna-se tarefa difícil, pois, não nos detemos a
todas as características especificas destes espaços territoriais. Mas a importância
deste aspecto dessa pesquisa, nos municípios, pode indicar que as gestões
municipais poderão trabalhar efetivamente, para reduzir o número de ocorrências
registradas, com aumento das denúncias. Diante deste mesmo cenário podemos
76
constatar que a violência denunciada contra a mulher, caracteriza mais a esfera
privada, o local mais frequente da violência familiar. Do total de 3.769 BOs
consultados, 2.182 continham no registro o espaço privado como o lugar qual
ocorreu o ato violento. Nos outros 1.585 BOs continham no registro do espaço
público como o lugar do ato violento.
Tabela 8 – Distribuição das ocorrências por bairros em Mafra entre 2009 a 2012. Ano 2009 Ano 2010 Ano 211 Ano 2012
Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Vila Ivete 78 Vila Ivete 69 Vila Ivete 74 Vila Ivete 54 Centro 39 Centro 58 Centro 66 Centro 39 Interior 29 Interior 54 Interior 59 Interior 37 Outros 143 Outros 209 Outros 195 Outros 86 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 9 – Distribuição das ocorrências por bairros em São Bento do Sul entre 2009 a 2012. Ano 2009 Ano 20 10 Ano 211 Ano 2012
Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Colonial 42 Brasília 35 Serra Alta 61 Cruzeiro 87 Cruzeiro 20 Colonial 28 Oxford 42 Centenário 63 Brasília 17 Serra Alta 19 Cruzeiro 39 25 de julho 52 Outros 60 Outros 35 Outros 73 Outros 247 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 10 – Distribuição das ocorrências por bairros em Rio Negrinho entre 2009 a 2012. Ano 2009 Ano 2010 Ano 211 Ano 2012
Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº
Cruzeiro 39 Industrial
Norte 29 Vila Nova 31 Vila Nova 23
Vista Alegre 27 Vila Nova 22 Cruzeiro 29 Industrial
Sul 21
Vila Nova 21 Vista Alegre 19 Industrial
Norte 21
Industrial Norte
19
Outros 77 Outros 41 Outros 57 Outros 42 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 11 – Distribuição das ocorrências por bairros em Campo Alegre entre 2009 a 2012. Ano 2009 Ano 2010 Ano 211 Ano 2012
Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Centro 11 Centro 12 Centro 16 São Miguel 12 São Miguel 9 São Miguel 9 Cascatas 10 Centro 11
Cascatas 8 Cascatas 6 Bateias de
Baixo 7 Cascatas 9
Outros 7 Outros 15 Outros 13 Outros 16 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 12 – Distribuição das ocorrências por bairros em Itaiópolis entre 2009 a 2012. Ano 2009 Ano 2010 Ano 211 Ano 2012
Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Centro 12 Paraguaçu 7 COHAB 16 COHAB 11 Moema 10 Centro 5 Paraguaçu 7 Rio Vermelho 8 Rio das Antas 3 COHAB 5 Centro 4 Centro 3
77
Outros 36 Outros 48 Outros 51 Outros 64 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 13 – Distribuição das ocorrências por bairros em Papanduva entre 2009 a 2012. Ano 2009 Ano 2010 Ano 211 Ano 2012
Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Centro 18 Centro 12 Rural 23 Centro 25 São Cristovão 12 São Cristovão 11 São Cristovão 20 São Cristovão 22 Passo Ruim 11 COHAB 9 Centro 16 COHAB 16 Outros 68 Outros 31 Outros 68 Outros 76 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 14 – Distribuição das ocorrências por bairros em Monte Castelo entre 2009 a 2012. Ano 2009 Ano 2010 Ano 211 Ano 2012
Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Bairro Nº Centro 7 Centro 7 Centro 15 Centro 17 Rio das Antas 5 Rural 6 Rural 12 Rio das Antas 12 Olaria 4 Rio das Antas 6 COAHB 10 COAHB 9 Outros 3 Outros 2 Outros 18 Outros 12 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Porém, ao se adentrar aos territórios locais dos municípios pesquisados,
identificamos a dispersão das denúncias em diferentes microáreas municipais.
também há certa concentração das quantidades nos mesmos locais em que ocorreu
a violência, ano a ano. A violência é concentrada, o que facilitaria intervenção sobre
ela.
Outro dado refere-se à incidência dos atos violentos tanto no espaço urbano
como rural, questão que indica outra alteração na assunção da problemática seja
pelas vítimas ou seus familiares, que apóiam a denúncia.
Mas de modo geral, esses dados evidenciaram que há territorialmente locais
mais violentos em todos os municípios.
Outra questão que se evidencia refere-se a Mafra. Neste município o território
da violência concentra-se em um único bairro. Há que se destacar ainda que essa
afirmação toma como base o cenário da violência identificado pelos Bos,
pesquisados neste estudo sobre as mulheres vítimas, com idade superior a 18 anos,
sobre qual fizeram queixa registrada em BO na DPCAMI de Mafra.
4.5 CENÁRIOS DA VIOLÊNCIA CONTRA O GÊNERO FEMININO NO ESPAÇO
ESTUDADO
78
Apresentamos dados do estudo que desvelam o cenário da violência contra o
gênero feminino no recorte territorial. O grupo de dados a seguir apresentados foi
identificado nos BOs registrados nas delegacias, especificamente no espaço do
formulário que descrevia o fato comunicado, os participantes do episódio e o relato
do ato de violência.
Os dados desses campos dos BOs nos deram subsídios para organizarmos,
em tabelas, um cenário da violência contra a mulher. Para a organização e
apresentação das tabelas usamos como sustentação teórica a Lei 11.340/2006 (Lei
Maria da Penha), a qual tipifica e define violência doméstica e, estabelece suas
formas como: violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Também
agrupamos os dados conforme a abrangência das formas de violências descritas na
lei acima mencionada.
O primeiro conjunto de dados refere-se as formas de violências sofridas pelas
mulheres que as levou até as delegacias e a pronunciarem suas denúncias.
Tabela 15 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Mafra no período de 2009 a 2012.
Fato Comunicado Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência Física 4 131 128 119 87 Soco 43 36 54 24 Empurrão 22 24 4 22 Tapa 20 18 38 13 Puxão de Cabelo 19 17 2 11 Asfixia - 14 1 5 Chute 18 11 36 5 Aranhão 9 8 1 7 Violência Psicológica 99 218 199 124 Ameaça 99 218 199 124 Violência Moral 126 207 180 97 Injuria 65 171 102 69 Difamação 61 36 78 28 Violência Patrimonial 38 19 62 37 Dano 38 19 62 37 Violência Sexual 4 8 15 6 Relação Forçada 1 6 4 - Assedio 3 2 11 6 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 16 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – São Bento do Sul no período de 2009 a 2012.
Fato Comunicado Nº casos
2009 Nº casos
2010 Nº casos
2011 Nº casos
2012 Violência Física 27 30 39 108 Soco 11 12 14 39
4 São usadas as referências nos BOs em função de não descaracterizar e manter a fidelidade. Usado
o termo violência física conforme os BOs, conforme a classificação da Lei Maria da Penha Lei 11340/2006. Salientando que toda agressão pode gerar ferimento ou lesão.
79
Empurrão 4 6 7 27 Tapa 4 4 5 23 Puxão de Cabelo 3 4 - 9 Asfixia - - 1 4 Chute 3 - 6 3 Aranhão 2 4 6 3 Violência Psi cológica 75 96 144 283 Ameaça 75 96 144 124 Violência Moral 31 24 95 244 Injuria 16 12 52 170 Difamação 15 12 43 74 Violência Patrimonial 12 13 24 23 Dano 12 13 24 23 Violência Sexual 4 7 19 27 Relação Forçada 1 4 2 4 Assedio 3 3 17 23 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 17 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Rio Negrinho no período de 2009 a 2012.
Fato Comunicado
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência Física 56 34 57 22 Soco 18 10 19 9 Empurrão 11 7 15 6 Tapa 11 7 13 3 Puxão de Cabelo 5 - 4 1 Asfixia 1 2 2 1 Chute 8 5 2 1 Aranhão 2 3 2 1 Violência Psicológica 101 71 89 76 Ameaça 101 56 76 60 Ameaça de Morte - 15 13 16 Violência Moral 55 27 33 23 Injuria 35 17 19 13 Difamação 20 10 14 10 Violência Patrimonial 4 10 9 9 Dano 4 10 9 9 Violência Sexual 2 5 4 4 Relação Forçada - 1 - 1 Assedio 2 4 4 3 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 18 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Campo Alegre no período de 2009 a 2012.
Fato Comunicado Nº casos
2009 Nº casos
2010 Nº casos
2011 Nº casos
2012 Violência Física 23 23 18 25 Soco 6 5 5 7 Empurrão 4 5 3 5 Tapa 4 5 3 5 Puxão de Cabelo 3 4 3 4 Asfixia - - - - Chute 3 4 3 4 Aranhão 2 4 1 - Violência Psicológica 13 11 9 11 Ameaça 12 11 8 9 Ameaça de Morte 1 - 1 2 Violência Moral 21 31 17 20
80
Difamação 9 14 8 12 Injuria 7 10 6 5 Calunia 5 7 3 3 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 19 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Itaiópolis no período de 2009 a 2012. Fato Comunicado
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência Física 26 22 21 32 Soco 11 9 10 13 Empurrão 5 5 3 6 Tapa 4 4 3 6 Puxão de Cabelo 3 2 2 4 Asfixia - - - - Chute 3 2 2 3 Aranhão - - 1 - Violência Psicológica 15 19 17 20 Ameaça 14 19 17 20 Ameaça de Morte 1 - - - Violência Moral 20 24 41 34 Difamação 9 15 18 17 Injuria 6 6 16 13 Calunia 5 3 7 4 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 20 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Papanduva no período de 2009 a 2012.
Fato Comunicado
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência Física 26 18 28 23 Soco 11 4 8 10 Empurrão 5 4 8 7 Tapa 4 2 8 5 Puxão de Cabelo 4 2 4 - Asfixia - 2 - - Chute 2 2 - 1 Aranhão - 2 - - Violência Psicológica 73 40 101 83 Ameaça 73 40 101 83 Violência Moral 27 18 62 34 Injuria 22 12 39 28 Difamação 3 3 12 11 Calunia 2 3 11 4 Violência Patrimon ial - - 2 2 Tentativa de Homicídio - - 2 2 Violência Sexual - - 1 1 Estupro - - 1 1 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 21 – Distribuição das ocorrências segundo o fato comunicado – Monte Castelo no período de 2009 a 2012.
Fato Comunicado
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência Física 10 8 21 16 Soco 2 4 7 3 Empurrão 2 1 5 3 Tapa 2 1 5 3
81
Puxão de Cabelo - 1 4 3 Asfixia - - - - Chute 2 1 - 2 Aranhão 2 - - 2 Violência Psicológica 12 18 43 41 Ameaça 12 18 43 41 Violência Moral 17 17 34 42 Injuria 10 11 27 32 Difamação 5 6 7 7 Calunia 2 - - 3 Violência Patrimonial - - - 1 Tentativa de Homicídio - - - 1 Violência Sexual - - - 4 Estupro - - - 2 Tentativa de Estupro - - - 1 Assedio Sexual - - - 1 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Com base nos dados acima descritos realizamos a análise seguindo a ordem
das tabelas. Discutimos primeiramente as formas de violências. Na maioria dos
casos, as formas de violência previstas no art. 7º da Lei Maria da Penha, não se
apresentam de forma isolada, mas em associação. Assim, é comum que a mulher
sofra, ao mesmo tempo, violência física, psicológica, moral, patrimonial e sexual.
Dessa forma, para dar maior visibilidade ao cenário da violência, foram
contabilizadas separadamente, mesmo que uma mesma mulher tenha sido vitima de
múltiplas formas de violências, todas registradas em uma mesma ocorrência em um
mesmo BO dessa vítima.
Podemos observar, quando discutimos as formas de violência, que a violência
moral e psicologia aparecem com certa regularidade em alta incidência. Estas
formas de violência predominam em todos os municípios estudados. Este estudo
demonstra que na violência moral, a atitude mais expressiva é a injúria, seguida pela
difamação e calúnia. Nesta forma de violência o Art. 7º da Lei Maria da Penha, prevê
em linhas gerais, que se considera essas atitudes violentas crime proferido contra a
honra da mulher (calúnia, injúria ou difamação).
Esta forma de violência pode causar prejuízo para a mulher, podendo resultar
em dano de natureza física e para sua estima, que pode gerar doenças orgânicas,
negar valores considerados universais, limitar a liberdade e a igualdade. A violência
moral pode progredir para outras formas de violência. Para Monteiro et al. (2007), a
violência é uma escala perigosa que tende a crescer, geralmente inícia com
agressões verbais, passando para as físicas, psicológicas e sexuais, podendo
culminar em homicídio.
82
Assim, a violência que aparece predominante na seqüência da classificação
das violências indicadas nesse estudo, é violência psicológica, registrada pelo termo
ameaça. A violência psicológica é aquela faz com que a mulher se perceba em
situação de inferioridade. Gradualmente vai colocando a mulher em situação de
invisibilidade, desqualificando os seus sentimentos, suas conquistas deixando-a
impotente perante seu agressor. Ademais, o ponto forte desta forma de violência são
os danos invisíveis causados à mulher vítima. Consideramos que esta forma de
violência é mais difícil à sua recuperação (da mulher), requerendo apoio técnico e
profissional.
A denúncia a estas formas de violência, antes tida como inofensiva e
naturalizada nas relações sociais e humanas, pode ter sido estimulada pelo amparo
legal da Lei Maria da Penha, que define e subsidia o julgamento da violência moral e
psicológica. Indicação evidenciada pelo número de denúncias realizadas nos anos
estudados, percebida pelo possível reconhecimento das mulheres sobre o que é
violência e quando esta se percebe sendo agredida.
No entendimento de Cunha et al. (2007), “[...] a agressão emocional em
determinadas situação torna-se tão mais grave quanto a física, diminuindo e
inferiorizando o outro [...]”. para dar conta das manifestações da natureza da
violência psicológica, a Secretaria de Vigilância em Saúde (2005), pontua exemplos
rotineiros na violência contra a mulher, quando esta é impedida de trabalhar, sofre
manipulação financeira, não recebe apoio para a educação dos filhos, como também
enfrenta ameaças constantes ou espancamento ou morte.
Observamos, pela análise dos dados coletados, a presença da violência física
que pode estar relacionada com o crescimento gradativo das formas de violência.
Inicialmente a violência é verbal evoluindo para agressão física. São expressivas as
denúncias registradas por agressão física indicadas, por meio: de tapas, socos,
empurrões, pontapés cometidas por homem, e com vinculo familiar.
Ao refletir-se sobre a violência física a qual as mulheres do espaço estudado,
estão expostas podemos considerar as condições sociais e históricas
predominantes, a violência como um fenômeno social. Porém, a violência física, por
sua vez, desperta sentimentos de raiva e impotência nas mulheres, perpetuando o
ciclo das violências. Além das marcas deixadas no corpo da mulher a violência física
provoca outras formas de violências que não são percebidas no momento da
agressão e sim tendem a apresentar-se posteriormente, manisfestando-se em
83
doenças orgânicas e emocionais; sentimento de culpa, baixa estima, estado de
depressão, mantendo a mulher isolada e desestimulada a lutar para livrar-se das
manifestações de violência física.
A justificativa para tanto reside do fato de este crime apresenta nuances
diferenciadas inerentes à sua prática, devendo ser estudado e analisado de maneira
específica e em separado.
Tabela 22 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e agressor – Mafra (2009 a 2012).
Classificação da violência e responsável pela violência
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência Doméstica 210 289 308 181 Marido 36 127 145 111 Ex-marido 24 115 118 49 Ex-namorado 18 21 19 10 Namorado 17 13 15 7 Filho 14 13 11 4 Violência não doméstica 79 101 86 33 Vizinho 25 19 11 7 Colega 17 14 6 5 Outros 37 68 69 21 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 23 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e agressor – São Bento do Sul (2009 a 2012). .
Classificação da violência e responsável pela violência
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência Doméstica 96 85 166 347 Marido 47 32 78 152 Ex-marido 29 23 49 139 Ex-namorado 11 15 21 27 Namorado 8 4 11 10 Filhos 1 11 7 19 Violência não doméstica 43 32 49 102 Vizinho 6 4 13 15 Colega 6 3 12 15 Outros 31 25 24 87 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 24 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e agressor – Rio Negrinho (2009 a 2012).
Classificação da violência e responsável pela violência
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência Doméstica 102 69 86 66 Marido 46 39 54 37 Ex-marido 33 16 19 15 Ex-namorado 13 9 11 8 Namorado 5 2 - 3 Filhos 5 3 2 3 Violência não doméstica 62 42 52 39 Vizinho 12 10 10 9 Colega 5 5 3 7 Outros 45 27 39 23 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
84
Tabela 25 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e agressor – Campo Alegre no período de 2009 a 2012.
Classificação da violência e responsável pela violência
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência Doméstica 15 15 17 19 Ex-marido 9 8 7 11 Marido 3 4 6 4 Filhos 3 3 4 4 Violência não doméstica 31 27 18 29 Vizinho 6 5 6 6 Outros 25 22 12 23 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 26 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e agressor – Itaiópolis no período de 2009 a 2012.
Classificação da violência e responsável pela violência
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência Doméstica 23 25 43 52 Ex-marido 11 14 21 33 Marido 7 8 11 12 Filhos 5 3 11 7 Violência não doméstica 38 40 35 34 Vizinho 10 11 12 10 Outros 28 29 23 24 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 27 – Distribuição das ocorrências segundo a relação entre a mulher e agressor Papanduva no período de 2009 a 2012.
Classificação da violência e responsável pela violência
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência Doméstica 82 38 96 92 Marido 48 23 59 47 Ex - marido 30 14 24 40 Namorado 4 - 10 5 Filhos - 1 3 7 Violência não doméstica 27 25 31 40 Vizinho 14 8 9 15 Outros 13 17 22 25 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Ao discutirmos estes dados podemos observar a constante presença da
violência doméstica nos municípios estudados. A Lei Maria da Penha tipifica e define
a violência doméstica e familiar em seu Art. 5º configurando-a como qualquer ação
ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual, psicológico e dano moral ou patrimonial. Também se refere ao vinculo que o
agressor tem com a vítima, seguindo como em qualquer relação intima de afeto, na
qual o agressor conviva ou tenha convivido com a vítima, independente de
coabitação. Tal Lei deixa clara a proteção da mulher diante da violência doméstica.
Observa-se pelas tabelas anteriores, que a grande maioria dos homens
autores das agressões denunciadas vive, ou já viveu, uma relação conjugal, nem
85
sempre legalizada com a vítima. Situação esta observada pelos dados da tabela 2,
quando as mulheres indicam a união estável para caracterizar seu relacionamento.
Os autores das violências geralmente são os maridos, ex-maridos e namorados.
Mas uma situação preocupante é a indicação da agressão realizada pelos filhos. Isto
mostra que mesmo as relações de consanguinidade com a vítima, não impedem as
práticas de violência geracional.
Diante do contexto da violência doméstica do século XI, essa se dá pelas
várias formas de relação afetiva das mulheres com seus agressores. Segundo
Saffioti (1997), a violência cometida no âmbito familiar, recobre o universo das
pessoas relacionadas por laços consanguíneos ou afins. Atualmente, essa relação
permanece presente, abrangendo pessoas que vivem ou viveram sob o mesmo teto.
É forte a presença da violência doméstica contra a mulher, está situação se mantém
hoje devido a cultura das sociedades relacionando a naturalidade da violência que
acontece intrafamiliar.
Esta forma de violência (doméstica), deixa marcas profundas na vida dessas
mulheres, embora a grande maioria dos atos violentos não estejam estampados no
corpo das mulheres vítimas, mas provocam traumas profundos. A violência
doméstica expressa a magnitude das relações de poder ainda existentes na
sociedade, que sempre naturalizou a violência intrafamiliar.
A violência doméstica incide diretamente sobre a vida da mulher. Uma prova
desta afirmação refere-se ao histórico da criação da Lei Maria da Penha (2006),
devido à fragilidade do serviço de segurança pública para adentrar o intimo familiar e
julgar a violência doméstica como crime. Portanto, a criação de um dispositivo
jurídico para coibir exclusivamente a violência doméstica evidencia a gravidade da
questão.
Discutimos a seguir o terceiro conjunto de dados que caracterizam os atos
violentos contra as mulheres no espaço estudado. Estes dados foram coletados nos
BOs no espaço em que a mulher relata como aconteceu a violência física e suas
outras formas. Estes dados contemplam a realidade da violência física contra a
mulher, pelas marcas deixadas no corpo da vítima, para que ela perceba a relação
de poder que o agressor tem sobre o seu corpo, mantendo o ciclo da violência.
Tabela 28 – Prevalência das violências físicas por área do corpo afetada - Mafra (2009 a 2012). Área do corpo afetada pela
Violência física Nº casos
2009 Nº casos
2010 Nº casos
2011 Nº casos
2012
86
Violência física 131 128 119 87 Face 49 57 32 29 Membros Superiores 37 41 27 26 Cabeça 36 31 23 21 Pescoço 24 27 21 19 Tronco 15 27 21 17 Membros Inferiores 15 19 19 8 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 29 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – São Bento do Sul (2009 a 2012).
Área do corpo afetada pela Violência física
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência física 27 30 39 108 Cabeça 19 15 21 56 Face 15 11 17 39 Tronco 13 7 13 27 Outras Áreas 8 10 10 19 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 30 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Rio Negrinho (2009 a 2012).
Área do corpo afetada pela Violência física
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência física 56 34 57 22 Face 22 29 27 19 Cabeça 19 17 21 17 Tronco 10 17 15 13 Outras Áreas 9 12 10 11 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 31 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Campo Alegre (2009 a 2012).
Área do corpo afetada pela Violência física
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência física 23 23 18 25 Face 9 12 11 15 Cabeça 7 9 7 9 Tronco 7 7 7 8 Outras Áreas 9 11 9 11 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 32 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Itaiópolis (2009 a 2012). Área do corpo afetada pela
Violência física Nº casos
2009 Nº casos
2010 Nº casos
2011 Nº casos
2012 Violência física 26 22 21 32 Face 13 11 15 19 Cabeça 9 10 9 13 Tronco 9 7 7 9 Outras Áreas 9 10 11 13 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 33 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Papanduva (2009 a 2012).
Área do corpo afetada pela Violência física
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
87
Violência física 26 18 28 23 Cabeça 15 16 15 14 Face 12 8 7 8 Pescoço 7 4 4 - Outras Áreas 4 5 4 6 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Tabela 34 – Prevalência das agressões físicas por área do corpo afetada – Monte Castelo (2009 a 2012).
Área do corpo afetada pela Violência física
Nº casos 2009
Nº casos 2010
Nº casos 2011
Nº casos 2012
Violência física 10 8 21 16 Cabeça 8 7 8 12 Face 6 3 5 7 Pescoço 5 3 5 4 Outras Áreas 4 3 9 4 Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Na sequência da análise das tabelas, podemos observar que os locais
preferenciais afetados pelas agressões contra as mulheres são a face e a cabeça.
Várias indagações permanecem quando discutimos estes dados: o porquê de
agredir a mulher na face? Uma hipótese que poderia explicar essa situação pode
estar relacionada às marcas que se tornam marcas das relações de poder e das
relações afetivas. As marcas desta forma de violência são lembradas com maior
facilidade, pois, as lesões demoram em cicatrizar e toda vez que a mulher olhar-se
no espelho lembrar-se-á das agressões, mantendo a violência psicológica presente.
Para destacar tal fato, a literatura indica a dificuldade de estabelecer a relação
existente entre a violência doméstica à mulher e os traumatismos de face e cabeça.
Tal dificuldade pode ser justificada pela frequente omissão da mulher quanto a um
motivo dos ferimentos a ela acometidos. Dificilmente a mulher agredida em casa
relata com exatidão de detalhes a causa que proporcionou as lesões em sua face
quando procura ajuda em serviços de saúde.
Poderíamos inferir que as marcas, de modo subjetivo deixadas pelo agressor
no corpo da mulher vítima de violência física, refletem a magnitude das ditas
relações de poder. Consideramos que são corpos violados pela violência do seu
parceiro, e em muitos casos as cicatrizes permaneceram para toda a vida da mulher,
provocando vergonha e trazendo a tona lembranças dos momentos de medo e dor.
A condição de mulheres marcadas pela agressão expõe seus relacionamentos
familiares tumultuados, frágeis e com alto caráter repressivo. As mulheres
encontram dificuldades para expor e receber o acolhimento de suas queixas, até
porque quando são submetidas a exames de corpo delito para comprovar a
88
ocorrência destas agressões, há uma sequencia de sofrimento a qual ela se
expõem.
4.6 FATORES QUE CONTRIBUIRAM PARA OS ATOS VIOLENTOS CONTRA O
GÊNERO FEMININO
Na sequencia discutiremos dados sobre os fatores que contribuem para a
manutenção da violência. Estes dados foram extraídos do BOs, no campo relato das
denunciantes. É evidente que neste conjunto de dados, a violência contra a mulher
pode ser entendida pelos fatores contribuintes para a sua manifestação e
perpetuação. É sabido que a violência contra a mulher é permeada por fatores
multicausais.
Devemos considerar a relevância social desse quadro, considerando as
vulnerabilidades sociais da população. Tais vulnerabilidades estão relacionadas às
condições econômicas, trabalho, renda e, relações sociais e familiares entre as
pessoas. A forma como a sociedade é estruturada e organizada, com relações
desiguais de poder entre homens e mulheres, significa a continuidade e sustentação
da violência contra a mulher. A construção de papéis diferenciados é baseada em
normas sociais e valores morais arraigados ao longo do tempo, que atribuem à
mulher uma posição de inferioridade perante o homem, que se utiliza da violência
como recurso maior para fazer valer sua supremacia.
Os fatores vinculados à comunidade incluem pobreza, posição
socioeconômica, desemprego, associação com companheiros delinqüentes, que
levam ao isolamento da mulher e da família. Por isso é uma das atribuições da
política pública de assistência social o resgate dos vínculos familiares e sociais de
todos os integrantes das comunidades, em especial dos recortes mais
vulnerabilizados.
Como relações pessoais se consideram os conflitos conjugais, o controle do
patrimônio e a tomada de decisões da família pelo parceiro. Os aspectos relativos ao
agressor individual incluem: são homens, fazem uso de drogas licitas ou ilícitas, e
condição socioeconômica.
Observamos a presença destes fatores nos relados das denunciantes nos
municípios estudados, os quais dão aporte para a efetivação de ações previstas
pelas políticas públicas que devem se voltar para a educação, a organização
89
familiar; a formalização dos trabalhadores assalariados; fortalecimento das
estruturas familiares, tratamento da dependência química; questões citadas nos
relatos das denunciantes. Se há a organização da rede de atenção às vítimas das
violências, haverá intervenção no perpetuado ciclo da violência contra a mulher e na
violência doméstica.
Também, há que se indicar aos profissionais envolvidos a importância da
atenção no acolhimento desta vítima, encaminhando-as para uma sequencia correta
de atendimento conforme preconiza o Pacto de Enfrentamento a violência contra a
mulher e as demais políticas públicas relativas à temática.
Quadro 2 – Fatores que contribuíram para a violência contra a mulher coletados por meio dos BOs nos municípios, Mafra, São Bento do Sul, Rio Negrinho, Campo Alegre, Itaiópolis, Papanduva e Monte Castelo (2009 a 2012).
FATOS RELATADOS
Fatores Vinculados a Comunidade. Relação de dominação do parceiro por ser detentor da renda familiar.
Situação de pobreza da família, sobrevivência por meio de bolsa família.
Situação econômica familiar desfavorável. Situação de desemprego do companheiro.
Associação do esposo com companheiros delinquentes. Interferindo na relação.
Isolamento da mulher e da família.
Relação de poder do companheiro sobre a família.
No âmbito das relações pessoais.
Conflitos conjugais como: separação, união estável, transição conflituosa do processo de divorcio, relação de poder sobre o corpo da parceira,
O controle do patrimônio familiar.
Relacionamento familiar conflituoso, envolvendo o casal e os filhos.
Relacionamento extraconjugal por parte do parceiro.
Relacionamentos longos com mais de 20 anos desfeitos por interferência de álcool, drogas e relacionamentos extrafamiliares.
Os aspectos relativos ao agressor individual Ser homem.
Presenciar violência conjugal durante a sua infância, pai ausente ou que o rejeita, sofrer abusos durante a infância e consumo de álcool e drogas.
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
90
4.7 ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO AS MULHERES NOS
MUNICÍPIOS QUE COMPÕE O PLANALTO NORTE CATARINENSE
A violência praticada contra as mulheres é multifacetada, necessitando da
organização dos espaços/serviços para o enfrentamento da violência contra as
mulheres. A Política Nacional de Enfrentamento a Violência contra as Mulheres
(2011), adota o conceito de “enfrentamento” a violência contra a mulher, como a
implementação de políticas articuladas para dar conta das complexas relações que
permeiam a violência contra a mulher. Para que a política de atenção à mulher seja
operacionalizada de forma articulada e de forma organizada está requer a
participação dos serviços envolvidos na rede, estimulando a organização dos
setores prioritários como; saúde, educação, segurança pública, justiça e assistência
social. Portanto, a conceituação de enfrentamento no contexto do combate a
violência contra a mulher vai muito além do combate e sim trabalha as dimensões da
prevenção, assistência e garantia dos direitos.
Seguindo a orientação da Política Nacional de Enfrentamento a Violência
contra a (2011) e também do Pacto de Enfrentamento a Violência contra a Mulher
(2011), que no momento, são duas políticas públicas com expressão e nortes
definidos para adoção de estratégias no combate a violência, discutiremos na
seqüência do texto a organização dos serviços de atenção à violência contra a
mulher nos municípios estudados. Desta forma, é imperativo que os municípios
adotem medidas multissetoriais atuando de forma conjunta, seja na prevenção,
repressão, assistência e garantia de direitos, envolvendo as áreas prioritárias para
organização dos serviços de assistência às mulheres vitimas ou em situação de
vulnerabilidade diante da violência de gênero.
Considerando que os governos de forma tripartite e a sociedade civil possuem
atribuições para o enfrentamento à violência contra a mulher e, observado a
construção histórica brasileira que a estruturação e o trabalho dos serviços de
atenção às mulheres se deram e continuam de forma isolada, o conceito de rede
surge como estratégia para recompor esta desarticulação e incentiva as medidas
para o enfrentamento a violência contra a mulher por meio de ações coordenadas.
Para dar conta da problemática da violência contra a mulher, conforme as políticas
que nos orientam teoricamente, a definição de Rede de Atendimento se aplica na
91
medida em que são criadas as interfaces entre as ações desenvolvidas pelos
diversos setores voltados para os direitos das Mulheres.
Segundo a Política Nacional de Enfrentamento a Violência contra a Mulher
(2011) e o Pacto Nacional de Enfrentamento a Violência contra a Mulher (2011), a
necessidade de criação de uma Rede de Atendimento leva em conta o caminho que
a mulher percorre após ser vitima de violência, na tentativa de encontrar respostas
das instituições públicas e sociais frente à violência vivenciada. Esse caminho é
composto por várias portas de entrada, que devem atuar de forma articulada no
sentido de prestarem uma assistência qualificada, integral à mulher que sofreu
violência. No âmbito do Estado, a Rede de Atendimento à Mulher em situação de
Violência está dividida em 4 (quatro) principais setores/áreas:
- Saúde;
- Segurança Pública;
- Justiça;
- Assistência Social.
Os serviços são apresentados em dua categorias de serviços que se
caracterizam como as principais portas de entradas, procuradas pelas mulheres
vítimas de violência ou em situação de vulnerabilidade:
A Primeira categoria é dos serviços não especializados;
- Hospitais Gerais;
- Serviços de Atenção Básica;
- Programas de Saúde da Família – PSF;
- Delegacias Comuns;
- Policia Militar;
- Policia Federal;
- Centros de Referência de Assistência Social CRAS;
- Ministério Público;
- Defensoria Pública.
A segunda categoria é composta pelos serviços especializados de
atendimento as mulheres, aqueles que atendem exclusivamente as mulheres em
situação de violência:
- Centros de Referência de Atendimento à Mulher;
- Núcleos de Atendimento à Mulher em situação de Violência;
92
- Centros Integrados da Mulher;
- Casas Abrigo;
- Casas de Acolhimento Provisório (Casas de Passagem);
- Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM);
- Núcleos especializados de atendimento às mulheres nas delegacias
comuns; Núcleos da Mulher nas Defensorias Públicas;
- Promotorias Especializadas;
- Juizados Especiais de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher;
- Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180;
- Ouvidoria da Mulher;
- Serviços de saúde voltados para o atendimento aos casos de violência
sexual e doméstica;
- Serviços de Atendimento em Fronteiras Secas (Núcleos da Mulher na Casa
do Migrante).
Para que pudéssemos descrever a composição atual da rede de serviços
para atenção às mulheres vítimas de violência nos municípios, elaboramos uma
figura para lustrar os serviços disponíveis nos municípios de Mafra, São Bento do
Sul, Rio Negrinho, Campo Alegre, Itaiópolis, Papanduva e Monte Castelo. A figura
descrita foi organizada com dados coletados durante a pesquisa de campo e, visitas
às delegacias de polícia. Solicitamos as informações para funcionário (policial),
presente na delegacia no momento da coleta de dados e desta forma podemos
descrever a organização dos serviços.
93
Figura 4 – Organização da rede nos Municípios no recorte do Planalto Norte Catarinense.
Fonte: Dados da pesquisa,(2013).
Na figura 4, podemos observar que a constituição da rede de cuidados no
enfrentamento a violência contra as mulheres, apresentam-se constituídas por
serviços classificados como não especializados, somente dos municípios Mafra e
São Bento do Sul contam com serviço especializado, especificamente as delegacias
SÃO BENTO DO SUL DPCAMI CRAS Policia Militar CREAS Pronto Atendimento Ministério Público Assistência Social Hospital Geral Maternidade Polícia Federal Conselho da Mulher Casa Abrigo
MAFRA DPCAMI CRAS Policia Militar CREAS Pronto Atendimento Ministério Público Assistência Social Hospital Geral Maternidade Polícia Federal
ITAIÓPOLIS Delegacia de Policia Civil CRAS Policia Militar Pronto Atendimento Ministério Público Assistência Social Hospital Geral Maternidade
PAPANDUVA Delegacia de Policia Civil CRAS Policia Militar Pronto Atendimento Ministério Público Assistência Social Hospital Geral Maternidade
MONTE CASTELO Delegacia de Policia Civil CRAS Policia Militar Ministério Público Assistência Social Hospital Geral
CAMPO ALEGRE Delegacia de Policia civil CRAS Policia Militar Ministério Público Assistência Social Hospital Geral Maternidade
RIO NEGRINHO Delegacia de Policia Civil CRAS Policia Militar CREAS Pronto Atendimento Ministério Público Assistência Social Hospital Geral Maternidade Polícia Federal Conselho da Mulher Casa Abrigo
94
especializadas de policia civil. Embora os órgãos da Rede de Atendimento às
mulheres em situação de violência, estejam estruturados com poucos componentes
especializados, as mulheres procuram estes serviços para efetuarem as denúncias
de violência sofridas. Porém, o que não evidenciamos é a articulação entre estes
serviços. A fragilidade no encaminhamentos e nos fluxos, assistência prestada a
estas mulheres vitimas de violência, ainda é realizada de forma fragmentada,
fazendo com que as mulheres percorram o mesmo circulo várias vezes.
Desta forma, seria necessária a mobilização da sociedade civil organizada
para sensibilizar os gestores locais para a implantação de serviços ditos
especializados, atendendo as mulheres vitimas de violência, identificando os nós
críticos da rede já existente, e os problemas relacionados à efetivação frente aos
serviços públicos prestados.
95
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta dissertação apresenta o resultado do estudo sobre o cenário da violência
contra a mulher aplicada no território de abrangência do Planalto Norte Catarinense.
Também demonstra uma trajetória da formação no conhecimento que percorremos
na qual realizamos descobertas jamais imaginadas. Viajamos por um mundo cheio
de descobertas que provocou o anseio de entender os pormenores deste cenário.
O estudo colaborou para a nossa construção do entendimento das
circunstancias que permeiam a vida das mulheres vitimas de violência. Também
aguçou nossa curiosidade para entender futuramente o porquê da permanência do
ciclo social da violência, apesar de tantos meios ou estratégias para contê-lo.
Ao concluirmos as etapas anteriores do estudo desta dissertação,
apresentam-se as conclusões finais, para tal, retomamos a questão que norteou
todo o estudo: qual o cenário das violências que as mulheres dos municípios que
compõem o Planalto Norte Catarinense, foram expostas no período de 2009 a 2012
e das Políticas Públicas que tratam desta questão. Do objeto em questão derivam
outras questões que estão interligadas e ajudaram no desenvolvimento do trabalho.
A resposta a essa questão emergiu ao longo da coleta de dados seguidos de
reflexões e análises. As violências vivenciadas por estas mulheres no cenário
estudado assumem múltiplas matizes, observamos que a permanência dessas
mulheres no contexto da violência é frequentemente agravada, pelas formas de
violência inferidas contra o seu reduto (corpo), ou seja, sofrendo agressões físicas,
moral ou psicologia, que no estudo apareceram com menos evidencia. Porém, essas
deixam marcas em consequência da violação dos seus direitos humanos, marcado
por suas condições de exclusão social.
A violência está presente nas relações interpessoais, afetando diretamente as
condições de vida das mulheres. O ciclo da violência doméstica perfaz toda a rotina
de vida diária destas mulheres, uma vez iniciada a ruptura torna-se processo difícil,
devido à dinâmica familiar e nem sempre o apoio e a segurança necessária estão
prontas para atender esse segmento.
Essa condição de sofrimento para as mulheres vitimas de violência, é
antecipada por uma rotina marcada por desentendimentos, relações conturbadas
por ciúmes, agressões constantes praticadas por agressor após ter ingerido álcool
ou drogas. Também pela característica do perfil agressivo do seu companheiro ou
96
agressor, a situação da mulher vítima de violência, permanece em uma constante
alternância de cenas de violência e visitas às instituições especializadas ou com
atribuições para atendê-las. A condição da violência contra as mulheres está
interligada com as questões de vulnerabilidade social. Nos municípios estudados
pelo perfil das mulheres e pelos fatores que favorecem a violência fica evidente que
elas pertencem a um recorte população de clara presença da vulnerabilidade.
A vulnerabilidade pode estar relacionada com a capacidade das famílias ou
dos grupos sociais enfrentarem as condições adversas. Vulnerabilidade não é
somente questão de pobreza e sim a vulnerabilidade pode estar inclusa na pobreza.
Assim, determinados grupos estão expostos a maior ou menor risco social
(vulneráveis). No território estudado as questões de vulnerabilidade social estão
presentes na dinâmica das relações familiares, nível de escolarização, subordinação
financeira da mulher em relação ao seu companheiro, aspecto de saúde na família
(uso de drogas e comportamento agressivo) e espaço domiciliar. Ficou evidente que
neste espaço territorial pesquisado, a vulnerabilidade social incide sobre a violência
contra as mulheres.
Como mecanismo de proteção à mulher, o marco legal que demarca essa
ênfase no tratamento da questão é a Lei Maria da Penha. Antes desta lei não existia
lei especifica. Com a lei a intolerância sobre a violência contra as mulheres passou a
ser requisito principal das políticas públicas. Com a lei se passou a tipificar essa
violência tida até certo ponto como cultural, como crime. Definem-se penas e
aumentando a pena para a prisão do agressor. Esta lei define mecanismos para
coibir a desistência da vitima após o registro da ocorrência, que pode ser acionada
quando a violência doméstica, punindo com rigor o agressor.
Devemos destacar que a lei não contempla de modo efetivo as violências
necessitam de mais articulação entre as políticas públicas voltadas a prevenção e
erradicação da violência contra a mulher.
Outro ponto a ser mencionado é a rede de serviços para a atenção das
mulheres que foram vitimas e denunciam a violência nos municípios. Com base no
aporte teórico que as políticas públicas podemos avaliar, que após
aproximadamente 25 anos de estruturação na linha de atenção as mulheres vítimas
de violência, encontramos várias legislações e estratégias organizadas. Mas que na
prática ainda são incipientes.
97
Também há recursos financeiros federais disponíveis para o tratamento da
violência contra as mulheres. Questionamos-nos o porquê destes mecanismos não
estarem sendo implantados na região estudada.
Salientamos que o município no qual a rede encontra-se mais estruturada
alcançou índices maiores no crescimento das denúncias. Esta situação nos dá duas
possibilidades de explicação: há mais violências neste município ou a rede está
assegurando maior confiabilidade para as denúncias!
Ainda, pode estar havendo subnotificação nos outros municípios, pois,
quando a mulher é estimulada pelos mecanismos a falar sobre a violência que
sofreu e não tem apoio da rede, ela fica fragilizada e intimidada para efetuar a
denúncia.
Diante do cenário pesquisado, os dados nos levam a apontar para uma
imprescindível reflexão sobre o termo desenvolvimento. Na discussão do contexto
da violência contra as mulheres apontaríamos que a redução dos índices que
revelam essa problemática, o desenvolvimento não contempla o humano, social,
local, regional. Há questões do cumprimento das políticas públicas que estão
negligenciados e interferem no processo do desenvolvimento, pois consomem
recursos, não dão suporte a inclusão social e perpetuam problemáticas.
Entendemos que o desenvolvimento humano se dá por meio do caminhar
contínuo, não determinado por processos biológicos e genéticos, mas pelo
desenvolvimento socioeconômico. Este é mais amplo e é determinado pela cultura,
relações sociais, pelo acesso a todos os bens socialmente construído, na qual todos
são igual perante a lei e perante os direitos.
Por outro lado, o desenvolvimento social vai ao encontro do paradoxo que
define a nova face da sociedade atual. Esta é permeada pelas diferenças conforme
a localização ou delimitação geográfica e cultural, as quais influenciam as políticas
públicas, as condições socioeconômicas, na qual os sujeitos coabitam um espaço
interinfluenciado.
A soma dos desenvolvimentos acontecem num local, por isso o cenário
territorial se apresenta como desafio frente às disparidades e desigualdades sociais.
Temas como políticas públicas locais, sustentabilidade e responsabilidade social,
estão cada vez mais difundidas nos debates, em práticas que objetivam a
sustentabilidade perante ações efetivas e políticas públicas.
98
Diante do crítico cenário da violência contra as mulheres e do
desenvolvimento necessário, é imperioso que os aspectos primordiais para que as
iniciativas e políticas realizadas contribuam realmente na diminuição das
disparidades locais. É a própria consciência dos fatores que resultaram em tais
situações de não desenvolvimento. Isso implica na conscientização, na elaboração e
aplicação de processos políticos para reduzirmos os fatores que contribuem para
que não alcancemos desenvolvimento local esperado, quando a violência retira dos
sujeitos de uma sociedade a livre circulação e o senso de pertencimento, acuados
pelo medo.
Este estudo nos mostra apontamentos que não foram elucidados durante o
desenvolvimento do estudo, mas que são conclusões decorrentes dele. Diante dos
propósitos do estudo concluído, pontuamos questões que não contemplavam no
objeto de estudo, porem nos provoca a discutir as seguintes questões no espaço
estudado (Planalto Norte Catarinense):
- Devemos instigar a discussão do tema com os gestores locais e de
instituições privadas ou públicas que fazem parte da rede de serviços de
atenção às mulheres vítimas de violência. Entre elas a saúde, educação,
segurança publica, justiça e ação social, discutindo o cenário da violência
nos seus espaços de abrangência. Articular a rede para que a mesma seja
efetiva no atendimento às mulheres.
- Há que se discutir com os técnicos que compõe a rede de cuidados, no
enfrentamento a violência contra a mulher, estimulando a discussão da
efetividade dos serviços e também o conhecimento das políticas públicas
que estão à disposição para o enfrentamento a violência contra a mulher.
- Há que se discutir a estruturação da rede de serviços voltada para atenção
da mulher vitima de violência, com base nas políticas públicas disponíveis
para o enfrentamento da violência.
- Estudar as vulnerabilidades sociais existentes nos bairros com maior
incidência de violência contra a mulher no recorte do Planalto Norte
Catarinense.
Desse modo, podemos também sugerir estratégias para empoderar as
mulheres, tanto as que vivem em situação de violência como também as
profissionais que prestam assistência. Assim, podemos sugerir como estratégia para
o enfrentamento a violência contra as mulheres no espaço estudado, a elaboração
99
de cartilha educativa para trabalharmos oficinas para as mulheres, com temas
relacionados à violência contra a mulher, despertando no grupo a origem da
violência contra as mulheres, as nuances que a permeiam e formas para o
enfrentamento. Utilizando como método a educação e o conhecimento para
ultrapassarmos tais desafios. Qual só será possível com o engajamento e
comprometimento de todos os atores envolvidos na efetivação do trabalho,
especialmente, a participação popular, que nesse ponto, é vista como pertinente
para garantir a integralidade do corpo feminino.
Referente ao aprendizado, podemos citar que somos profissionais em
constante transformação, em muitos momentos o meio nos torna o que somos o
comodismo, a preguiça intelectual faz com que nos tornemos autômatos,
representando o que a sociedade nos solicita. Este estudo fez com que a
pesquisadora repensasse o trabalho, atitudes diante do atendimento as mulheres,
em seu espaço de trabalho. Contribuiu para a orientação diferenciada e
encaminhamento das mulheres que necessitam de apoio independente de ser
identificada alguma forma de violência. Também despertou a vontade de trabalhar
as questões de violência contra a mulher no município de Mafra.
Pontuação final, devemos observar que não basta existirem políticas públicas
sociais estruturadas se não estiverem amparadas pela responsabilidade política dos
gestores públicos e privados e dos profissionais em implementá-las.
100
REFERENCIAS
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105
APÊNDICES
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APENDICE A – Questionário
DADOS PESQUISA VIOLENCIA CONTRA A MULHER ANO: MUNICÍPIO:
Bairros Número de registros
ESPAÇOS DE OCORRENCIA DAS VIOLENCIAS Espaço Número de registros Privado Público
FATO COMUNICADO
FAIXA ETÁRIA Idade (anos) Número de registros 15 a 20 31 a 30 31 a 40 41 a 50 51 a 60 Acima de 61
ESTADO CIVIL Casada Solteira Separada União estável Amaziada Viúva Não Informado
ESCOLARIDADE Tipo Número de registros Primeiro grau incompleto Primeiro graus completo Segundo grau incompleto Segundo graus completo Ensino superior incompleto Ensino superior completo
PROFISSÃO Descrição da Profissão Número de registros
TIPO DE AGRESSÃO
Descrição da Profissão Número de registros
MATERIAL UTILIZADO NA AGRESSÃO Descrição Número de registros
AGRESSOR Responsável pela agressão Número de registros Esposo Ex-marido Vizinho Enteado Filho Namorado Colega Irmão Padrasto Outros
ÁREA DO CORPO AFETADA Área Número de registros Face Cabeça MMSS MMII Tronco Pescoço
ESTADO DO AGRESSOR Tipo Número de registros Agressor em uso de álcool Agressor em uso de droga Agressor com perfil agressivo Agressor com transtornos mentais
OUTROS REGISTROS
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APENDICE B – Carta de Apresentação
110
111
ANEXOS
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ANEXO A – Boletim de ocorrência
Boletim de Ocorrência
REGISTRO: ORIGEM: COMUNICAÇÃO:
FATO
Data: Hora:
Local do fato: (via pública / via privada)
Fato Comunicado
Participantes
Comunicante
Nome: Data de Nascimento: Idade: Cidade de Nascimento:
Mãe: Pai:
Sexo: Estado Civil: Nacionalidade: Grau de Instrução:
Profissão: Local de T rabalho:
CPF:
Carteira de Identidade: UF: Emissão:
Carteira de Habilitação:
Validade: Categoria:
Endereço Residencial:
Telefone Comercial:
RELATO
ASSINATURAS