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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA KARYNA DE MORAIS VIEIRA A LINGUAGEM MUSICAL NO DESENVOLVIMENTO DOS BEBÊS São José 2012

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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

KARYNA DE MORAIS VIEIRA

A LINGUAGEM MUSICAL NO

DESENVOLVIMENTO DOS BEBÊS

São José

2012

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

KARYNA DE MORAIS VIEIRA

A LINGUAGEM MUSICAL NO

DESENVOLVIMENTO DOS BEBÊS

Trabalho elaborado para a disciplina de Conclusão de Curso (TCCII) do Curso de Pedagogia, como requisito parcial para curso de graduação em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José- USJ. Orientadora: Profa. Ma. Arlete de Costa Pereira

São José

2012

KARYNA DE MORAIS VIEIRA

A LINGUAGEM MUSICAL NO

DESENVOLVIMENTO DOS BEBÊS

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para obtenção do grau de licenciada em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ avaliado pela seguinte banca examinadora:

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________ Profª. Ma. Arlete de Costa Pereira

Orientadora- USJ

_________________________________________________________ Profª. Dra. Jilvania Lima dos Santos Bazzo

Examinadora – FAED/UDESC

_________________________________________________________ Profª. Ma. Alexsandra Munich

Examinadora - USJ

São José, 28 de novembro de 2012.

Dedico este trabalho a todos que

fizeram parte da minha jornada acadêmica.

AGRADECIMENTOS

Meu primeiro agradecimento vai para meus pais e meus irmãos. Que sempre me

apoiam e me apoiaram em todos os momentos, em todos os meus sonhos. É

com eles que divido as minhas alegrias e realizações.

Agradeço a Centro Educacional Cora Coralina, que me possibilitou realizar as

observações, parte fundamental na minha pesquisa.

Agradeço também a professora e a auxiliar da turma.

Às crianças que me receberam tão bem.

A minha orientadora Arlete.

E as professoras que gentilmente aceitaram participar da banca examinadora.

Agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído do lugar. As facilidades nos impedem de caminhar.

Chico Xavier

RESUMO

Como requisito do curso de pedagogia da USJ, este Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresenta os resultados da pesquisa que teve como objetivo, perceber de que forma a linguagem musical, visto que esta é um meio de comunicação e expressão como as outras linguagens, contribui para o desenvolvimento dos bebês e em que aspecto isso ocorre. Além disso, o trabalho buscou saber de que forma a música se fazia presente no cotidiano da instituição, bem como conhecer a intencionalidade no seu uso durante as atividades pedagógicas. Para isso, foram realizadas observações participantes em uma turma de crianças entre um e dois anos de idade, de um colégio da rede privada localizado em São José. Durante esse processo, foi necessário realizar uma entrevista com a professora da turma, buscando conhecer o que ela compreendia acerca do tema, bem como saber com que intenção a mesma utilizava a música durante as atividades com as crianças. Após a realização das observações e análises dos resultados encontrados, o que podemos perceber é que no cotidiano da educação infantil, a música, quando suporte para atividade pedagógica planejada, tem um papel de destaque auxiliando no desenvolvimento das crianças. A professora da turma em questão tem conhecimento acerca disto, mesmo não tendo uma formação específica. O que nos faz compreender que a música não é algo que deve ser visto com estranheza e complexidade, pois está inserida desde muito cedo em nossas vidas. Necessitamos apenas pesquisar para compreender como devemos utilizá-la. A música ainda tem um papel artístico e socializador, onde se pode perceber que esta quando executada contagia com seus diversos ritmos, amplia a linguagem oral e enriquece o imaginário. Contempla diversos gêneros sem deixar de ser a mais bela forma de expressão e criatividade existente. Só a música tem o poder e encantar, emocionar e envolver as pessoas. Palavras-Chave: Música. Linguagem. Bebês. Desenvolvimento. Educação Infantil.

LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 – Aramado.......................................................................................31

Fotografia 2 – Encaixe de formas geométricas...................................................31

Fotografia 3 – Encaixe de letras e números........................................................31

Fotografia 4 – Telaio............................................................................................31

Fotografia 5 – Parque da frente...........................................................................32

Fotografia 6 – Parque de trás..............................................................................32

Fotografia 7 – Pia para escovação......................................................................33

Fotografia 8 – Mesas do refeitório.......................................................................33

Fotografia 9 – “♫A dona alanha subiu pela palede”............................................44

Fotografia 10 – A lagartixa...................................................................................46

Fotografia 11 – “♫Fui morar numa casinha...”.....................................................47

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

USJ – Universidade Municipal de São José

C.E – Centro Educacional

D.O. U – Diário Oficial da União

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível superior

NUPEIN – Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação na Pequena Infância

ABEM – Associação Brasileira de Ensino Musical

RCNEI – Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil

S.N.T – Sem notas tipográficas

SUMÁRIO

1INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 10

1.1 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 12

1.1.1 Objetivos ......................................................................................................... 13

1.1.2 Problema da pesquisa ................................................................................... 14

2 CAMINHOS METODOLÓGICOS .......................................................................... 16 3 CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO ................................................................ 18 4 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 22 4.1 CONCEPÇÃO DE CRIANÇA E INFÂNCIA ........................................................ 22 4.1.1 A educação infantil brasileira ........................................................................ 23 4.2 A HISTÓRIA DA MÚSICA ................................................................................... 25 4.2.1 Constituição da música ................................................................................. 27 4.3 A CONSTRUÇÃO DA LINGUAGEM ................................................................... 28 4.3.1 As multiplas linguagens ................................................................................ 29 4.3.2 Linguagem musical ........................................................................................ 29 4.4 MÚSICA E EDUCAÇÃO ...................................................................................... 31 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS DA PESQUISA /COM ARTICULAÇÃO TEÓRICA ....................................................................................... 34 5.1 SOBRE A ROTINADO CENTRO EDUCACIONAL .............................................. 34 5.1.1 Música e rotina ............................................................................................... 34 5.1.2 Música clássica .............................................................................................. 37 5.2 MÚSICAS MIDIÁTICAS ....................................................................................... 41 5.3 MÚSICAS INFANTIS ........................................................................................... 43 5.4 CANTIGAS DE RODA ......................................................................................... 48 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 50

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 52

ANEXOS ................................................................................................................... 57

APÊNDICE ................................................................................................................ 58

12

1 INTRODUÇÃO

A música é uma forma de arte que está presente desde os primórdios da vida

humana. Por meio de uma combinação de sons e silêncios expressamos

sentimentos e ideias.

Nossa relação com a música surge quando ainda somos bebê, uma das

primeiras fontes de música são as mães, cantando principalmente música de ninar.

Conforme crescemos, nosso contato com a música aumenta, temos a possibilidade

de nos envolver com diversas fontes de música.

Nas instituições de Educação Infantil, a música também faz parte das rotinas,

e é considerada umas das formas de linguagens a ser trabalhada com as crianças,

desde bebês.

O referido trabalho teve por finalidade pesquisar sobre as possíveis

contribuições da linguagem musical no desenvolvimento dos bebês durante os

primeiros anos de vida, no cotidiano da educação infantil.

Para isto, realizei dez dias de observações participantes no C.E Cora Coralina,

unidade privada de educação infantil da rede de São José, em uma turma com

crianças de 1 ano e meio a 2 anos e meio, onde pude registrar (escrita, filmagem,

fotografia) os momentos em que a música se fez presente.

1.1 JUSTIFICATIVA

São alguns, os motivos por eu ter escolhido a temática música para meu trabalho

de conclusão de curso.

Primeiramente pela minha experiência pessoal e relação com a música.

Sempre gostei muito de música, de cantar. Quando era criança não tinha nenhum

critério de seleção, ouvia o que tocava na mídia e as músicas que meus pais

gostavam. Com o passar dos anos e o maior acesso com as tecnologias como

computadores, leitores de MP3 e também a internet passei a conhecer e a

selecionar as músicas. O leque de gêneros musicais aumentou drasticamente, e

passei a gostar de músicas que nunca imaginei que existissem.

Outro ponto que influenciou na escolha do tema partiu da experiência como

13

auxiliar de sala, em uma turma de bebês entre um e dois anos, de uma instituição de

educação infantil da rede privada, em São José.

Durante a rotina com essa turma de bebês, percebi o interesse por parte dos

pequenos, pelas músicas e cantigas durante as atividades, hora do sono e

recreação. Foi possível perceber um maior interesse, por parte das crianças, pelas

atividades e brincadeiras que envolviam músicas, que despertavam a sua

curiosidade e onde quase sempre, se mantinham atentas às novas propostas.

Em muitos momentos, os bebês também dançavam ao som de uma música

mais agitada, que estivesse sendo cantada ou reproduzida em um aparelho de som.

Durante a hora do sono, músicas instrumentais e mais suaves, eram reproduzidas

para acalmar os bebês, ajudando-os a pegar no sono.

Era comum ouvir as crianças cantando versos das músicas que costumavam

ouvir durante as atividades e brincadeiras. As músicas dos CDs da Xuxa e dos

palhaços Patati e Patatá, estavam entre as suas preferidas.

Não eram somente as músicas infantis mais conhecidas durante as rotinas,

que as crianças cantavam. Elas também gostavam de cantar músicas dos cantores

que estavam na mídia, nas rádios e na TV, e que elas ouviam em casa com suas

famílias, como: Luan Santana, Justin Bieber, Ivete Sangalo, Alexandre Pires, entre

outros. Essas músicas não eram estimuladas entre as crianças, mas a professora da

turma não proibia as crianças de cantarem se quisessem.

A frequência dessas observações na turma dos bebês despertou o desejo de

pesquisar para conhecer mais sobre o assunto, buscando saber se e no que a

música auxilia no desenvolvimento dos bebês.

E por fim pela importância dada para a música no âmbito educacional, visto

que o ensino desta se tornou obrigatório (Lei 11769 publicada no Diário Oficial da

União - D.O.U, no dia 19 de agosto de 2008) em todas as escolas públicas e

privadas do país. As escolas terão que acrescentar em suas grades curriculares o

ensino musical dentro de três anos. A lei não possui muitas especificações nem

explica como esta deve ser, acredito que este será um caminho longo, até que a

música se constitua realmente nos curriculos.

1.1.1 Objetivos

A pesquisa teve como objetivo geral analisar as contribuições da linguagem

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musical no desenvolvimento emocional, motor, psicológico e social de bebês entre

um e dois anos de idade, observando o modo como eles interagem com a música,

buscando perceber os possíveis benefícios que a música pode acrescentar durante

as brincadeiras, atividades dirigidas e demais horas recreativas dessas crianças.

Dentre os objetivos específicos buscou-se analisar:

Observar se e como a música influencia as crianças durante as

brincadeiras e atividades

Conhecer em que momentos a música se faz mais presente no

cotidiano da educação infantil

Identificar em que campos (áreas) a musicalidade auxilia mais o

desenvolvimento dos bebês e de como isso ocorre

Perceber a mediação das professoras durante as atividades e

brincadeiras que trazem a música

Descobrir como as professoras e auxiliares lidam com as músicas da

moda que as crianças cantam na instituição.

1.1.2 Problema de pesquisa

A música é uma forma de arte que está presente desde os primórdios da vida

humana. Por meio de uma combinação de sons e silêncios expressamos

sentimentos e ideias.

Santos [s.n.t.] nos aponta que o envolvimento com o âmbito sonoro se inicia

antes do nascimento, pois na fase intrauterina, os fetos já convivem com um

ambiente de sons provocados pelo corpo da mãe, como o sangue fluindo nas veias,

respiração e movimentação do aparelho digestivo. A voz materna constitui também

parte desse ambiente sonoro, sendo referência afetiva para os bebês.

A música está muito presente no cotidiano das pessoas, principalmente nos

últimos anos em que a tecnologia nos aparelhos reprodutores de música sofreu um

grande avanço. Hoje temos aparelhos de som potentes, leitores de MP3, celulares

com rádio e capacidade muito grande de armazenamento de arquivos. Não é difícil

de encontrar pessoas nos carros, ônibus, trem, etc.; ouvindo música no caminho

para o trabalho, escola e até mesmo enquanto realizam alguma tarefa. Com os

bebês, não seria diferente. No cotidiano da educação infantil, as crianças estão

acostumadas a ter a música como auxiliadora das brincadeiras e atividades, como

também na hora do sono. Isso não se restringe a rotina das instituições, mas

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também abrange a vida em casa com a família.

Minha intenção foi pesquisar a relação da música no desenvolvimento infantil

no âmbito educacional, por meio das rotinas das creches, sem deixar de contemplar

as reflexões psicológicas do desenvolvimento intelectual das crianças. Buscando

saber se e no que a música auxilia ou interfere no desenvolvimento dos bebês e de

que forma que esta é utilizada. Assim como pesquisar se as professoras planejam e

elas têm conhecimentos sobre a dimensão da música, da importância, se a prática

possibilita a música enquanto expressão, sensibilidade, arte, ou se limita e reduz

didatizando a música como suporte para ensinar algo às crianças.

Diante do exposto, trago as seguintes questões utilizadas para nortear a

pesquisa:

A linguagem musical contribui para o desenvolvimento dos bebês nos

aspectos físico, social, emocional, afetivo?

De que forma a música aparece no cotidiano da educação infantil, ou nos

planejamentos?

A música é considerada elemento importante de ser planejado? Existe uma

intencionalidade pedagógica? Faz parte do currículo? Está presente

diariamente? Qual o lugar que ocupa?

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2 CAMINHOS METODOLÓGICOS

A primeira etapa do trabalho consistiu em fazer um exaustivo levantamento

bibliográfico a fim de conhecer melhor o que já fora escrito anteriormente acerca

dessa temática.

Primeiramente fiz uma busca pelas obras disponíveis na biblioteca do USJ, lá

encontrei as seguintes obras que estão presentes neste trabalho: Manual de

Educação Infantil de 0 a 3 anos (BONDIOLI; MANTOVANI, 1998); A construção do

pensamento e da linguagem (2009) e A formação social da mente (2007) ambos de

Vigotsky. Em seguida, pesquisei no site de Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível superior (CAPES) e o Centro de Ciências da Educação, onde

busquei no Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação na Pequena Infância

(NUPEIN). No site do NUPEIN não encontrei nenhum trabalho que se relacionava

com o tema da minha pesquisa, já no site da CAPES tive um retorno maior dos

resultados de pesquisa, cerca de seis trabalhos relacionados com música. Esses

trabalhos encontrados no site da CAPES são relativamente recentes, o mais antigo

teve publicação em 2003 e o mais novo teve publicação em 2010. Cinco destes

trabalhos são de mestrado e um de doutorado. Embora todos estejam relacionados

com música e educação apenas dois desses seis trabalhos se assemelharam mais

com meus objetivos, são estes: A presença da música na educação infantil: entre o

discurso oficial e a prática de Alicia Maria Almeida Loureiro, Tese de Doutorado de

2010 e A Abordagem PONTES na musicalização para crianças entre 0 e 2 anos de

idade de Angelita Maria Vander Brook publicado em 2009.

Além disso, fiz uma busca pelos sites da internet, onde encontrei vários

trabalhos de conclusão e artigos como: o trabalho de pós-graduação de Kelly Stifft.

A construção do conhecimento musical no bebê (2008) e Música na Educação

Infantil de Welington Tavares dos Santos.

Descobri ainda a revista Associação Brasileira de Ensino Musical - ABEM - e

tive acesso aos artigos publicados, disponíveis no site da associação.

Esse levantamento foi necessário para o melhor desenvolver o tema da

pesquisa e definir os objetivos da mesma, levantei então, referências acerca da

música, e suas formas de expressão, e de como e se ela pode auxiliar no

desenvolvimento das crianças da educação infantil.

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A referida pesquisa se constitui de abordagem qualitativa, neste tipo de

pesquisa busca-se observar alguns aspectos de determinada cultura, de um grupo

social. Há a necessidade de permanência junto desse grupo para fazer as

observações, para que haja interação com as situações estudadas. O principal

instrumento de coleta e análise de dados é o próprio investigador.

Assim minha pesquisa teve como objetivo observações participativas

buscando compreender as interações das crianças com a música, a fim de perceber

se contribui ou não para seu desenvolvimento. Para isso, permaneci em campo

durante dez dias, usando como instrumentos de pesquisa os registros escritos, fotos

e filmagens, sendo o mais fiel possível ao captar as falar e ao registrar as

observações.

Nessa fase, a observação se faz muito importante, é necessário ter um olhar

sensível buscando ampliar o campo de visão, é preciso ver além dos gestos, das

poucas palavras e do silêncio das crianças buscando descobrir os seus significados.

Suas expressões pedem compreensão, pois é a forma que as crianças têm de se

comunicar com o mundo.

Outra questão importante seria a fidelidade com que esses registros são

feitos e o cuidado e atenção antes destes serem utilizados e reproduzidos.

As anotações precisam ser cuidadosamente lidas e organizadas, os registros precisam ser transcritos e as transcrições precisam ser lidas e destacadas; as fotografias e os slides devem ser selecionados (em parte) e colocados em sequências flexíveis; as fitas de vídeo precisam ser revistas para escolher os excertos que serão exibidos. (GANDINI, 2002, p. 153).

Após esses registros organizados, é fundamental fazer a leitura de livros,

artigos, revistas e encontrar o referencial teórico adequado, para que se possa

“encaixar” e validar tudo que é abordado no trabalho.

18

3 CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO

A pesquisa foi realizada em uma instituição de educação infantil da rede

privada de São José. Localizada no bairro do Kobrasol em Santa Catarina, o C.E

Cora Coralina foi fundado em 2002, primeiramente com educação infantil e em 2005

com a educação fundamental. Grande parte dos alunos é proveniente das

redondezas da escola.

O nome da escola foi escolhido para homenagear a poetisa goiana Cora

Coralina (1889 – 1985) que valorizou a cultura e a sabedoria, seu exemplo de

superação que inspira e a busca pelo saber.

A escola utiliza o método Montessoriano de ensino, método este idealizado

pela italiana Maria Montessori (1870- 1952). A metodologia aponta que a educação

começa pela criança e não pelo professor. O ambiente é preparado pelo professor

para estimular a curiosidade e a aprendizagem, os alunos têm a liberdade para

investigar assim tornam-se estudantes ativos. Todos os materiais ficam a disposição

das crianças, em prateleiras e em “cantinhos” (como o canto da leitura) e estes são

adequados a cada fase de desenvolvimento infantil. Após o uso dos materiais as

crianças são responsáveis pela limpeza e organização do ambiente. É disposto

apenas um exemplar de cada material, assim no momento que uma criança estiver

utilizando, outra criança que estiver interessada deverá esperar até que o colega

termine, exercitando assim, segundo Montessori a paciência e a disciplina,

eliminando ainda a competição entre os pares.

É no momento do trabalho pessoal em que as crianças pegam seus tapetes,

que também estão dispostos na sala, escolhem seu material nas prateleiras, e se

sentam para “trabalhar” – na escola usa-se essa expressão para designar a

atividade que a criança exerce com o material- dentre esses materiais estão: blocos

lógicos, telaio, aramado, quebra-cabeça, jogos de encaixe caixa de cores, entre

outros.

19

01- Aramado 02- Encaixe de formas geométricas

03- Encaixe de letras e números 04- Telaio

No trecho a seguir, vemos a importância dada por Montessori para esses

materiais:

O material sensorial pode ser considerado desse ponto de vista como‘uma abstração materializada’... Quando a criança se encontra diante do material, ela responde com um trabalho concentrado, sério, que parece extrair o melhor de sua consciência. Parece realmente que as crianças estão atingindo a maior conquista de que seus espíritos são capazes: o material abre à inteligência vias que, nessa idade, seriam inacessíveis sem ele. (MONTESSORI, 1969, p. 197-198 apud RÖHRS, 2010, p. 23).

No método montessoriano não se faz separação da educação infantil, as

crianças de até três anos podem de desenvolver normalmente em turmas mistas, o

que ocorre muitas escolas que adotam esse método é a separação por faixa de

desenvolvimento.

20

Nenhum coração sofre com o bem de outrem, mas o triunfo de um, fonte de encantamento e de alegria para os outros, cria frequentemente imitadores. Todos têm um ar feliz e satisfeito de fazer “o que podem”, sem que o que os outros fazem suscite uma vontade ou uma terrível emulação. O pequeno de três anos trabalha pacificamente ao lado de um menino de seis; o pequeno está tranquilo e não inveja a estatura do mais velho. Todos crescem na paz. (MONTESSORI, 1969, p. 33 apud RÖHRS, 2010, p. 21).

O papel do professor montessoriano é de um observador da aprendizagem e

do comportamento dos alunos. As observações o ajudam a intervir em novas

atividades e novos desafios, respeitando o ritmo e a forma de aprender de cada

criança.

A escola tem uma boa estrutura física, possui dois parques para as crianças

brincarem. Um localiza-se na parte de frente da escola, e é menos do que o outro,

possui um trenzinho de madeira. O outro parque se localiza no meio da instituição,

visto que há uma estrutura na parte da frente do terreno, um espaço no meio onde

se fez o parque e uma estrutura na parte de trás do terreno. Este parque é muito

maior que o primeiro, e quantidade de brinquedos também é maior, possui carrinhos

para as crianças andarem, balanços, bonecas, bolas, caixa com legos. É nesse

parque que também se localiza o refeitório, este tem área coberta e possui mesas e

cadeiras para as crianças fazerem as refeições. Neste ambiente há também pias

para as crianças fazerem a higiene bucal e torneiras com água filtrada.

05 - Parque da frente 06 - Parque de trás

21

07 – Pia para escovação 08 – Mesas do refeitório

Além dos dois parques e refeitório a escola possui: seis salas, dois banheiros,

cozinha e secretaria. Como são atendidas crianças a partir de três meses as salas

que possuem crianças até dois anos possuem trocador e banheira com torneira de

água quente, as demais crianças usam o banheiro para suprir suas necessidades,

este é todo adaptado para eles.

As observações duraram do período de dez dias, e foram feitas em duas

semanas, no período da manhã. Cada observação teve em média a duração de três

horas.

22

4 REVISÃO DA LITERATURA 4.1 CONCEPÇÃO DE CRIANÇA E INFÂNCIA

A concepção que temos hoje de criança e infância ocorre por conta das

diversas mudanças que a educação infantil passou durante os últimos anos. Essas

mudanças ocorreram por causa das novas exigências socioeconômicas. A criança

que antes não tinha nenhum papel, nem no âmbito familiar nem no social, agora é

considerada um sujeito com direitos garantidos por lei, tornando-se um investimento

para o futuro.

Ariès (1978) nos aponta que durante o período da idade média (que durou do

século V ao XV) não se tinha clareza no que se referia ao período da infância.

Muitos baseavam pela questão física, determinando a infância desde o período do

nascimento dos dentes até cerca de sete anos de idade. As crianças eram inseridas

no mundo adulto assim que percebiam que ela poderia realizar alguma tarefa, já que

eram vistas como adultos em miniatura. Não havia ainda nenhuma preocupação

com sua formação e eram expostas a diversos tipos de experiência.

Por volta do século XVII a sociedade não dava a devida importância no que

se referia aos cuidados com as crianças. Nessa época as más condições sanitárias

eram parte do cotidiano, por conta disso muitas crianças morriam. Tinha-se a ideia

de que a criança era um ser do qual não deviam se apegar, a perda era algo natural.

Devido às altas taxas de mortalidade, ocorria um tipo de substituição das crianças,

fazendo com que os níveis de natalidade aumentassem.

Com o surgimento da sociedade burguesa a criança passa a ser vista como

um ser que precisa de cuidados e educação, com necessidade ainda de ser

preparada para a vida. É a partir dessa época que se começa uma ideia de

separação de criança e adulto. O ensino das crianças que eram antes feitos na

convivência das crianças com os adultos em tarefas cotidianas, passou a se dar na

escola.

Segundo Kramer (2003), aparece ainda nessa época, dois modos de ver a

criança. De um lado era vista como um ser inocente que precisa de cuidados, de

outro lado como um ser fruto do pecado. Sobre isso, Kramer aponta:

23

Nesse momento, o sentimento de infância corresponde a duas atitudes contraditórias: uma considera a criança ingênua, inocente e graciosa e é traduzida pela paparicação dos adultos, e a outra surge simultaneamente à primeira, mas se contrapõe a ela, tornando a criança um ser imperfeito e incompleto, que necessita da “moralização” e da educação feita pelo adulto. (KRAMER, 2003, p.18).

Com a preocupação relacionada a formação moral da criança, a igreja

encarregou-se de direcionar a aprendizagem. Sendo a criança fruto do pecado, esta

devia ser encaminhada para o bem. Esse pensamento do século XVII inspirou a

educação do século XX.

Ocorreram profundas modificações no que se refere à educação, pois esta

teve que atender novas demandas, conforme estas iam surgindo pela valorização da

criança.

4.1.1 A educação infantil brasileira

É no período republicano que encontramos referências à criação de creches

no Brasil, antes disso até a metade do século XIX não havia atendimento às

crianças. A primeira creche é inaugurada em 1889, no final do século o Brasil ficou

marcado pelas ideias republicanas, pelos movimentos abolicionistas e por um tipo de

sociedade agrária.

A Casa dos Expostos atendia as crianças sem família. A instituição recebeu

este nome devido ao dispositivo na qual as crianças eram deixadas pelas famílias.

Tratava-se de um dispositivo de forma cilíndrica onde a superfície lateral era aberta

em um dos lados e girava em torno de um eixo vertical.

Começaram a ser implantadas instituições de educação assistencialista

infantil por volta das duas primeiras décadas do século XX. Muitas dessas creches

foram criadas nas proximidades das indústrias, com intuito de liberar a mão de obra

feminina, pois muitas mães não tinham onde deixar seus filhos. Com a

regulamentação do trabalho feminino em 1932, tornam-se obrigatório as creches em

estabelecimentos de trabalho.

Em 1940 surge o Departamento Nacional da Criança, tendo como objetivo de

ordenar as atividades relacionadas à maternidade, infância e adolescência,

administrados pelo Ministério da Saúde. (KULHMANN Jr, 1998).

Com a lei ordinária Nº 5692, de 11 de agosto de 1971, fortaleceu-se uma

nova concepção de infância, as diretrizes dessa lei fixaram as bases para o ensino

24

do primeiro e do segundo grau. Os sistemas deveriam garantir que as crianças com

até sete anos fossem convidadas a frequentar escolas maternais, jardins de infância

e instituições equivalentes a cada nível de desenvolvimento.

Em 1988 a Constituição Federal do Brasil promulgou na “Constituição Cidadã”

em que a educação se torna direitos de todos e dever do Estado, deixando de ser

apenas assistencialista. Surgiu ainda o Estatuto da criança e do adolescente (ECA)

– garantindo proteção integral de crianças e adolescente – e a nova LDB (Lei de

Diretrizes e Bases) incorporando a educação infantil como primeiro nível da

educação básica.

O Referencial Curricular Nacional da educação infantil (RCNEI) foi criado para

nortear o trabalho com as crianças de 0 a 6 anos de idade, buscando melhorar a

estruturação da educação infantil. O documento afirma que devem ser oferecidas às

crianças: o respeito à dignidade, direito às brincadeiras, o acesso aos bens

socioculturais e a socialização das crianças por meio de sua participação e inserção

das práticas sociais. Entre as brincadeiras sugeridas: rodas de histórias e de

conversas; ateliês ou oficinas de desenho e pintura, modelagem e música; cuidados

com o corpo; atividades diversificadas em ambientes organizados por temas ou

materiais à escolha das crianças, incluindo momentos em que possam ficar

sozinhas, se assim desejarem. Divide ainda os conteúdos a serem trabalhados em

eixos:

Eixo Movimento: O movimento é um fator importante de alta descoberta, por

meio dele, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos,

ampliando as possibilidades do uso significativo dos gestos e postura

corporal.

Eixo Música: É uma das formas mais importantes de expressão humana,

desenvolve o equilíbrio, autoestima e autoconhecimento. Além de ser um

poderoso meio de integração social.

Eixo Artes visuais: Assim como a música, as artes visuais são linguagens e,

portanto, uma das formas importantes de expressão e comunicação humana.

Eixo Linguagem oral e escrita: É necessário que haja diferentes tipos de

interação para se trabalhar a linguagem oral, e contatos com textos diversos

para desenvolver a capacidade de escrever com autonomia.

25

Eixo da Natureza e Sociedade: É importante que a criança possa perceber

seu corpo como um todo integrado que envolve sensações, emoções,

sentimentos e pensamentos.

Eixo Matemática: As noções matemáticas abordadas na educação infantil

correspondem a uma variedade de brincadeiras e jogos, principalmente

aqueles classificados de construção e de regras.

Em 1999, o Conselho Nacional de Educação (CNE) institui as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), documento que

estabelecera novas exigências para as instituições de educação infantil, apontando

diretrizes. Entre elas, vale destacar: os princípios éticos, políticos e estéticos que

devem fundamentar as proposta pedagógicas em Educação Infantil; a adoção de

metodologia e planejamento participativo e afirmam a autonomia das escolas na

definição da abordagem curricular a ser adotada. A Resolução nº 5, de 17 de

dezembro de 2009, Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação

Infantil.

Por fim em 2010 o MEC –Ministério da Educação - organizou um documento

em que reapresenta a Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Nesse

documento apresentam alguns eixos do currículo que devem garantir experiências:

entre elas está a musical. Como podemos ver no trecho retirado do documento:

“Favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo

domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica,

dramática e musical” (BRASIL, 2010 p. 25).

4.2 HISTÓRIA DA MÚSICA

A história mitológic, conta que a música surgiu após a vitória dos deuses do

Olimpo sobre os seis filhos de Urano, os Titãs (Oceano, Ceos, Crio, Hiperião, Jápeto

e Crono). Após essa “batalha” solicitaram a Zeus que se criassem divindades hábeis

de cantar as vitórias dos Olímpicos. Para isto, Zeus partilhou por nove noites seu

leito com Mnemosina, conhecida como deusa da memória, como resultado

nasceram nove musas. Dentre elas estavam Euterpe (a música) e Aede (o canto).

As nove musas gostavam de frequentar o monte Parnaso, onde faziam parte do

cortejo do deus da Música, Apolo.

26

A mitologia grega também tem outros deuses que estão ligados à história da

música como: Museo que era um musicista que quando tocava podia curar doenças;

Orfeu que era cantor, músico e poeta e ainda filho da musa Calíope (musa da poesia

lírica e considerada a mais alta dignidade das nove musas); de Anfião, filho de Zeus,

que após ganhar uma lira de Hermes, passou a dedicar-se inteiramente à música.

Do âmbito não mitológico, Frederico (1999) diz que a música se originou

ainda nos primórdios do homem, de maneira sensorial e vocal. No trecho a seguir

esclarece um pouco como se deu esse processo:

O sensório é a parte do cérebro considerada o centro comum de todas as sensações. Quando o sentimos e a emoção mexem com o sistema muscular, ele, estimulado pelo prazer ou pela alegria, produz uma contração do peito, da laringe e das cordas vocais. A voz acaba sendo um gesto, e a arte musical veio das exclamações que o homem primitivo usou como sinais. (FREDERICO, 1999. p.07)

A partir dos gritos-símbolos (denominado pelo autor), o homem conseguiu

alcançar uma melodia. Do momento em perde o contado diário com os animais, ele

passa a ver as diferenças entre os sons, descobrindo, portanto as notas musicais.

Mas sua capacidade intelectual se limitou apenas ao conhecimento das notas, não

fez música.

Os utensílios e os instrumentos musicais dos primitivos tiveram como princípio

o próprio corpo humano. Com os sons reproduzidos pelo corpo, como a garganta e

boca passam a produzir melodia. Mais tarde se tornaram capazes de fabricar

instrumentos propriamente ditos como flautas e tambores.

Muito do que se sabe sobre as músicas dos períodos primitivos e da

antiguidade (civilizações como: gregas, romanas e egípcias), é fragmentado e

precário, pois só se tornaram conhecidos por meio de pinturas ou esculturas,

referências literárias e algumas teorias musicais.

Fonterrada (2005) aponta que a música é considerada importante e influencia

em aspectos psicológicos do homem desde a organização social e política da Grécia

Antiga, onde se acreditava que “a música influía no humor e no espírito dos

cidadãos e, por isso, não podia ser deixada exclusivamente por conta dos artistas

executantes” (p.18). Além disso, em seu sistema de educação era exigido que a

música fizesse parte desde a educação da infância e deveria ser supervisionada

pelo Estado.

27

[...] era grande o valor atribuído à música, pois acreditava-se que ela colaborava na formação do caráter e da cidadania. As canções não podiam ofender o espírito da comunidade, mas deviam exaltar a terra natal. Os cantos conferiam aos jovens o senso de ordem, dignidade, obediência às leis, além da capacidade para tomar decisões. (FONTERRADA, 2005 p.18)

Considerava-se ainda a música “superior” em relação às outras artes, pois ela

contemplaria uma educação harmoniosa.

Na Idade Média a música era voltada para a religiosidade, limitava-se

somente a um tipo, o canto gregoriano que era encontrado nos mosteiros e

cerimônias religiosas. O principal propósito da música era louvar a Deus, as crianças

que tinham boa voz eram levadas para cantar em conventos e igrejas.

Até o século XV ou XVI, a atividade musical era exclusivamente utilitária; tinha função ritual (em todos os povos de todo o mundo), tinha função de comunicação (os trovadores, os rapsodos que levavam notícias, etc), cotidiano (ninar, lavar roupa, etc), lazer (canções e dança música ambiente nas cortes, acompanhando poemas e peças teatrais) e outras atividades sócio-artísticos (educação, medicina, militar, moda, etc, propaganda-comercial, políticas, etc, hinos de todos tipos, etc). (ADORNO, 1974, p.1)

Com a criação da primeira imprensa musical por volta do ano de 1501, as

obras musicais circulam por toda a Europa e inspiram novos músicos.

4.2.1 Constituição da música

A música é feita de sons, e podemos descrevê-la baseado em quatro

parâmetros:

Altura: é a frequência de um som, é o que faz diferenciar um som de um

ruído.

Ritmo: distribuição dos sons e silêncios no tempo da música.

Intensidade: força de um som em comparação a outros.

Timbre: que é a qualidade dos sons, podemos diferenciar a altura tocada em

instrumentos diferentes.

Além desses parâmetros, a música possui outros aspectos que a constitui

como: melodia, harmonia, contraponto e tonalidade.

Segundo publicação na Folha de S. Paulo (1998), a melodia se refere a uma

sequência de alturas com ritmo definido e sentido de conjunto. A harmonia seria a

combinação inteligível de várias alturas ao mesmo tempo, cada combinação forma

28

um acorde. O contraponto é a capacidade de sobrepor mais de duas melodias, as

composições vocais também seguem esse principio. Já a tonalidade seria uma

forma de organização interna de cada som, baseando-se em um tipo de hierarquia.

4.3 A CONSTRUÇÃO DA LINGUAGEM

Piaget (1987) caracteriza a inteligência como o resultado de um contínuo

processo, que se inicia no período de reflexo. Esse período de refere à fase em que

o bebê inicia a vida extrauterina com comportamento de reflexos dentre eles:

medula, bulbo, sistema nervoso central etc. Quando o bebê nasce, em suas

primeiras semanas de vida esses reflexos se caracterizam como: sucção, preensão

ou reações posturais.

De acordo com o autor, passado esse primeiro estágio de exercícios

reflexivos, surgem as primeiras adaptações adquiridas, que seriam hábitos ou

reflexos condicionados e a reação circular primária, que integra os reflexos nas

atividades corticais.

Mais além surge a acomodação adquirida, o ato de chupar o polegar, o bebê

demonstra coordenação entre mão e boca, ele retém algo exterior e transforma-se

em função das experiências.

Vigotsky (2009) aponta que o desenvolvimento da fala da criança é

estabelecido desde muito cedo, e, como exemplo, cita o balbucio. Mas o

desenvolvimento da fala não tem nada em comum com o desenvolvimento do

pensamento. O autor ainda define que a primeira forma de pensamento é social. E

que “[...] na medida em que se envolve, ela vai se subordinando às leis da

experiência e da lógica pura.” (p.11). E sugere que a função da linguagem é

comunicativa, como podemos ver no seguinte trecho:

A linguagem é, antes de tudo, um meio de comunicação social, de enunciação e compreensão. Também na análise, que se descompunha em elementos, essa função da linguagem se dissociava da sua função intelectual, e se atribuíam ambas as funções à linguagem como se fossem paralelas e independentes uma da outra. (VIGOTSKI, 2009, p.11).

Stern (apud VIGOTSKI, 2009) distingue três raízes da linguagem: a tendência

expressiva, a tendência social e a intencional. As duas primeiras raízes são

29

inerentes a embriões de linguagem entre os animais. Mas, o terceiro momento é um

traço específico da linguagem humana.

4.3.1 As Múltiplas linguagens

Segundo Chalhub (2003) a linguagem contempla aspectos muito mais amplos

que somente o verbo. Não se restringe a linguagem apenas aquela que é falada.

O corpo fala, a fotografia flagra, a arquitetura recorta espaços, a pintura imprime, o teatro encena o verbal, o visual, o sonoro, a poesia — forma especialmente inédita de linguagem — surpreende, a música irradia sons, a escultura tateia, o cinema movimenta etc. (CHALHUB. 2003 p.6)

Desde o nascimento os seres humanos tem a necessidade de se expressar e

de se comunicar com o mundo. Podemos observar esse fato por meio dos bebês,

que se expressam e se comunicam através de olhares, gestos, do toque e do choro.

Por isso, desde cedo, as crianças aprendem - por meio das interações que

estabelecem com as pessoas de seu convívio, tanto adultos quanto outras crianças -

diferentes tipos de linguagens. É por meio de diferentes linguagens que se

organizam diferentes sistemas de comunicação e representação.

Na vivência das crianças, tanto escolar quanto familiar, podemos encontrar

esses diferentes tipos de linguagem: gestos – no caso refere-se à linguagem

corporal-, desenho, literatura, jogos e brincadeiras, imagens, silêncio, música, poesia

e também a escrita e a oralidade.

4.3.2 Linguagem Musical

Bréscia (2003) define a música como uma linguagem universal, que participou

da história da humanidade desde as primeiras civilizações nas mais diversas

situações.

A música está presente em nosso cotidiano, desde pequenos nos

relacionamos com esse tipo de linguagem. Ela é capaz de representar em formas

sonoras diversas sensações, sentimentos e pensamentos. Faz-se por meio da

organização e relação expressiva entre som e silêncio.

A música está presente em diversas situações da vida humana. Existe música para adormecer, música para dançar, para chorar os mortos, para conclamar o povo a lutar, o que remonta à sua função

30

ritualística. [...] Nesses contextos, as crianças entram em contato com a cultura musical desde muito cedo. (BRASIL, 1998, p. 45).

A linguagem musical antecede a fala, pois não é difícil encontrar os pais e

mães que embalam seus bebês ao som de músicas de ninar. A musicalização

começa, portanto, sendo estimulada por meio de canções e conversas com a

criança.

Campbell e Dickson (apud CORREIA, 2010) caracterizam a música como

uma das formas artísticas que mais tempo tem na existência humana. É a arte que

já nasce com o homem e utiliza-se da voz e do corpo como elementos naturais para

a autoexpressão. Portanto, o ser humano se torna sensível à música, podendo

qualquer um desenvolver esses dotes em si mesmos e em seus semelhantes.

O desenvolvimento musical é sugerido por Gembris (apud STIFFT, 2008,

p.33), como um processo que envolve diferentes áreas, como a corporal-sensorial, a

mental-emocional e a cultural-social. Compreende esse desenvolvimento em um

âmbito de capacidades, interesses que se modificam conforme a idade do indivíduo.

“Segundo essa definição, o desenvolvimento musical dos bebês será constatado a

partir da observação de mudanças nas capacidades, nos interesses e nos

posicionamentos musicais em função do tempo.” (STIFFT, 2008 p.34).

Kelly Stifft (2008) nos aponta em seu trabalho a descrição de Barceló (2003)

da gênese da música, dividindo-a em uma fase pré-musical e uma fase musical. A

primeira fase, a pré-musical envolve os primeiros 12 meses de vida e é subdividida

em quatro etapas.

A primeira etapa seria a dos reflexos e quase esquemas, o bebê utiliza como

meios de expressão a voz e os movimentos ocorrem também o exercício do

aparelho fonador, havendo pequenas diferenciações no choro.

Nas primeiras adaptações do mundo sonoro, que é a segunda etapa, a

criança descobre que pode produzir os sons e coordena suas ações em busca da

fonte sonora.

É na terceira etapa que o bebê aumenta sua competência dos sons por meio

da exploração dos recursos vocais, utilizando esses recursos em suas relações

sociais.

Na quarta etapa a criança já possui uma ampla capacidade para trabalhar

com objetos tonais, a manutenção das mesmas e a repetição silábica constituem

31

ações vocais, representando um nível novo de integração do gesto vocal.

Beyer (1994) também identificou gradativa diferenciação no desenvolvimento da música e da fala, sendo a entonação o ponto de partida entre ambas. Portanto a criança pode iniciar seu desenvolvimento verbal através do canto ou da fala. Se partir do canto, ela provavelmente falará bem mais tarde e utilizará como recurso da linguagem o contorno frasal, em vez da combinação de fonemas. Se partir da fala, utilizará principalmente fonemas e palavras isoladas para comunicar-se. (apud STIFFT, 2008, p.40).

Na fase musical, que tem como duração por volta de um ano, se divide em

duas etapas: a primeira seria a de descoberta musical e a segunda seria a que a

criança passa a entender e pratica a música com critérios de diferenciação. Por meio

da música a criança transmite sentimentos e afetos, surgem as primeiras estruturas

musicais, além disso, tomam conhecimento de outras realidades sonoras, não

somente o canto, como instrumentos musicais e objetos sonoros.

4.4 MÚSICA E EDUCAÇÃO

A música faz parte da educação há muito tempo, desde a Grécia antiga, era

considerada fundamental na formação dos cidadãos, era tradada com a mesma

importância que a matemática e a filosofia.

[...] a música era a expressão de um homem livre, fonte de sabedoria e consequentemente indispensável para a educação. Educar para os gregos era mais que a simples transmissão de conhecimentos, pois o objetivo maior era a formação do caráter da pessoa. (SANTOS,

[s.n.t.]).

Segundo os autores Campbell e Dickson (apud CORREIA, 2010, p. 137) a

linguagem musical pode ser introduzida em quaisquer ambientes de educação. Pois,

a música oferece receptividade aos estudantes, ao entrar no ambiente de ensino,

possui efeitos calmantes, alivia os ânimos renova as energias e diminui as tensões

geradas pelas atividades escolares, especialmente das atividades avaliativas.

A música pode e deve ser utilizada em vários momentos do processo de ensino aprendizagem, sendo um instrumento imprescindível na busca do conhecimento, sendo organizado sempre de maneira lúdica, criativa, emotiva e cognitiva. (CORREIA, 2010, p. 139).

32

Atividades que envolvem a musicalidade (ouvir música, cantar, brincar de

roda etc.) despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela mesma, além de

atenderem a necessidades de expressão que passam pela a esfera afetiva, estética

e cognitiva.

De acordo com o Referencial Curricular (BRASIL, 1998, p. 48) “Aprender

música significa integrar experiências que envolvem a vivência, a percepção e a

reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais elaborados.” Mais a frente, o

documento ainda destaca:

Deve ser considerado o aspecto da integração do trabalho musical às outras áreas, já que, por um lado, a música mantém contato estreito e direto com as demais linguagens expressivas (movimento, expressão cênica, artes visuais etc.), e, por outro, torna possível a realização de projetos integrados. (BRASIL, 1998, p. 49).

A autora Kátia Maheirie (2003, p. 148), qualifica a música como uma forma

de comunicação, de linguagem, pois por meio do significado que ela carrega e da

relação com o contexto social no qual está inserida, ela possibilita aos sujeitos

a construção de múltiplos sentidos singulares e coletivos. Além disso, a música é

algo natural que desperta afetividade e as mais variadas emoções.

Os ritmos, a harmonia dos períodos ou dos refrões me trazem lágrimas aos olhos, as formas mais elementares de periodicidade me comovem. Noto que esse desenvolvimento regular deve ser essencialmente temporal, pois a simetria espacial me deixa indiferente [...]. Por isso, a música é a forma mais comovente, para mim, e a mais diretamente acessível da beleza [...]. E que essa ocorrência seja bela, isto é, que tenha a necessidade esplêndida e amarga de uma tragédia, de uma melodia, de um ritmo, de todas essas formas temporais que avançam majestosamente, através de harmonias regulares, para um fim que levam nos seus flancos. (SARTRE, 1983, p. 343 apud MAHEIRIE, 2003, p.149).

A autora ainda nos mostra que o "sentido da música é sempre permeado pela

afetividade" e que primeiramente "[...] percebemos sua sonoridade, depois

degradamos um saber anterior que tenha uma relação com os elementos percebidos

deste som para, em seguida, transformarmos este saber e constituirmos um sentido

àquela música." (2003, p.150).

Além de envolver o emocional e o afetivo a linguagem musical é um meio

para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima, do

33

autoconhecimento e interação social.

O mundo da criança é, sob diversos pontos de vista (cognitivo, perceptivo, afetivo, etc), uma realidade fragmentada, dominada pelo “aqui e agora”, sem sólidos nexos temporais e limitada a poucos e desligados cenários espaciais. A qualidade da experiência da criança caracteriza-se, portanto, por intensidade e por fragilidade. (BONDIOLI, 1998, p. 34).

A música nessa perspectiva está supostamente ligada nesses fragmentos,

quando a criança se movimenta, toca, explora entra em relação com o mundo por

meio de objetos. Atividades estas que são, muitas vezes, limitadas pelas restrições

adultas. Isso ocorre no âmbito da creche, nesta as crianças constroem significados

usando como referência os adultos, os espaços e objetos.

34

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS DA PESQUISA /COM

ARTICULAÇÃO TEÓRICA

5.1 SOBRE A ROTINA DO CENTRO EDUCACIONAL

O Centro Educacional pesquisado abre às 7 horas da manhã, algumas

crianças chegam logo cedo, mas a maioria chega por volta das 9 horas da manhã,

horário este que são dadas as primeiras atividades do dia. Antes disso as crianças

participam de um momento de recreação, no qual são realizadas diversas

atividades: o trabalho com os materiais, brincadeiras no parque, contação de

histórias, músicas e também DVD. Não é sempre que as crianças assistem DVDs,

somente quando é solicitado por elas, ou se alguma criança leva para a instituição

algum filme infantil.

Durante a pesquisa, observei os DVDs disponíveis e entre eles encontrei:

Bebê Mais, Toquinho no mundo da criança, Baby Einstein, A galinha pintadinha (os

três volumes), O urso na casa azul, Timothy Vai à Escola, alguns DVDs de histórias

infantis diversas, DVD do Patati Patatá e alguns volumes de Xuxa só Para

Baixinhos.

Às 9 horas as crianças se dirigem para as mesas do refeitório, para realizar as

atividades, se o dia está chuvoso elas permanecem em sala, já que lá também

possuem mesas se organizarem. As atividades duram até às 11 horas, horário do

almoço. Após o almoço as crianças têm o horário de descanso.

5.1.1 Música e rotina

O ambiente de educação infantil pesquisado é repleto de repertórios musicais,

o saber musical está integrado na rotina das crianças.

Após essa “recreação”, mencionada anteriormente, quando todas as crianças

já chegaram, começam as atividades. Para ir ao parque, as crianças cantam uma

música:

35

Pro parquinho, pro parquinho

Agora eu vou, agora eu vou

Bem devagarzinho

Bem devagarzinho eu já vou...

No percurso as próprias crianças cantam sem o acompanhamento das

professoras e se dirigem para as mesas. Algumas vão diretamente e sentam, outras

ficam mais dispersas e “passeiam” pelo parque. Para chamar a atenção dessas

crianças que se dispersam, as professoras cantam outra música:

Bonitinho, bonitinho

Vou sentar

Para trabalhar, para trabalhar 1, 2, 3...

Após todos estarem sentados cantam as músicas de acolhida e a

chamadinha.

Bom dia, amiguinhos como vai?

Faremos o possível para sermos bons amigos

Bom dia, amiguinhos como vai?

Legal!

A anteninha vai subindo, subindo, subindo

A anteninha vem pra cá

A anteninha vai pra lá

A anteninha parou

Vamos fechar nossos olhinhos para conversar com Deus

Querido Deus, obrigada pelo papai

Obrigada pela mamãe, obrigada pelos nossos amiguinhos

Obrigada Deus pela minha VIDA!

36

Cantemos felizes a canção do dia

Hoje é (ex: quarta-feira)! Dia de alegria

Ado, ado, ado, muito obrigado

Quanta alegria neste belo dia

Viva o dia!

Hoje é quarta feira, dia 22 de outubro de 2012!

Quem veio à aula hoje foi a Larissa

Que prazer em tê-la aqui ó Larissa...

Beijo pra La, muah!

Esse último trecho é cantado para cada criança, mudando apenas o nome de

cada um.

Após essa chamadinha1 é o momento que as crianças solicitam às músicas

que querem ouvir.

Utilizam ainda de músicas para guardar os materiais e para organização dos

ambientes:

Cata aqui, cata ali

Vamos ajudar

Nossa sala/parque deve ser um belo lugar

Ela é a Mônica, ele é o Cebolinha.

Eles querem a sala bem arrumadinha.

Na hora do sono, as crianças ouvem músicas clássicas para auxiliar no

relaxamento. Esse CD que elas ouvem foi gravado por uma professora, ela fez uma

seleção de algumas músicas próprias para esse momento.

Durante esse período de observação, podemos ver como a música auxilia no

desenvolvimento das atividades.

A importância das rotinas na educação infantil provém da possibilidade de construir uma visão própria como concretização

1No Centro Educacional referido, esse momento é tratado de chamadinha, pois é com a utilização da música, nomeando cada criança, que o grupo identifica quem está presente ou não.

37

paradigmática de uma concepção de educação e de cuidado. [...] elas sintetizam o projeto pedagógico das instituições e apresentam a proposta de ação educativa dos profissionais. (BARBOSA, 2006, p. 35).

Na instituição de educação, uma rotina diária se torna imprescindível, pois

possibilita o melhor aproveitamento do horário durante as atividades pedagógicas,

bem como, permite às crianças terem noção do que acontecerá durante o dia,

dando-lhes mais segurança.

Nesse sentido um dos questionamentos feitos à professora da turma na

entrevista realizada para a pesquisa, foi sobre qual lugar que a música possui na

rotina escolar. Segundo a professora

O ritmo e as letras alegres e contagiantes atraem as crianças, faz com que elas queiram participar do que esta sendo proposto. Na rotina ela auxilia durante as atividades e também nos momentos de diversão no parque ou no lanche. Além de auxiliar as crianças no entendimento daquele momento do dia, como a chamadinha. É um momento importante onde a criança percebe os nomes dos seus colegas. (ENTREVISTA, 29/10/2012).

Foi questionado ainda como a música era planejada para as atividades da

turma, como resposta se obteve que a música é vista como um recurso importante

que de maneira lúdica incentiva as crianças a participarem das atividades e

brincadeiras propostas, fazendo toda a diferença na hora de aplicá-las.

5.1.2 Música clássica.

No período de observação pude constatar a relação que as crianças têm com

a música “clássica” ou erudita. Esta por vez é utilizada apenas no momento em que

as crianças fazem o horário do sono.

Na seleção musical feita por uma das professoras, encontramos alguns títulos

do CD Mozart for babies (1999) como: Piano Sonata No. 11 in a Major, Concerto for

Keyboard & Orchestra No. 27 in B Flat- II. Larghetto e Concerto for Keyboard &

Orchestra No. 20 in D Minor- II. Andantino. Algumas músicas também do CD Happy

babies series: Ave Maria – Schubert e The swan - Saint-Saen.

Acerca disso trago alguns aspectos importantes a serem vistos.

38

Nogueira2 (2012) diz que a música erudita, muitas vezes chamada de música

clássica, é vista como boa música, música séria.

A música erudita pode referir-se a composições em que se exige, tanto dos

compositores tanto quanto dos ouvintes um tipo de erudição, normalmente adquirida

por meio da leitura. Erudito tem como antônimo a palavra popular, e se analisarmos

de maneira etimológica, tem como significado “rude” ou não “cultivado”. Por outro

lado, a palavra clássica remete a ideias e obras de âmbito paradigmático, aquelas

que servem de modelos para outras.

Um fato a ser pontuado sobre a chamada música erudita é que esta foi

financiada, ao longo dos séculos, por determinados grupos sociais. Que tornaram

esse gênero musical pouco acessível para um conjunto significativo da população.

Mas hoje em dia com os avanços tecnológicos da informação temos acesso a quase

tudo, com rapidez. Embora ainda tenhamos muitas desigualdades tanto econômicas

quanto educacionais.

Fabio Zanon (2012), em debate sobre a música erudita3, utilizando o termo

clássico, considera esse gênero musical um patrimônio, como qualquer acervo de

arte considerado patrimônio da humanidade. Afirma ainda que devemos nos apossar

do que nos pertence, ensinando para as pessoas aquilo que foi feito para elas e

pertence a elas.

No que se refere ao âmbito educacional, o autor diz que devemos evitar criar

uma hierarquização musical, por muitos ainda existe a relação de musica superior e

inferior, mas propor que haja uma sincronicidade.

Um dos problemas ao se inserir a música clássica nas escolas se refere ao

preconceito e a falta de conhecimento sobre ela. Zanon (2012) defende que

podemos trabalhar com CDs e DVDs, adotando e distribuindo para os pais se

familiarizarem.

Fundamentada nas leituras e reflexões tecidas até o momento, defendo que

todos os profissionais da educação infantil devem trabalhar com diversos gêneros

musicais, partindo da premissa de que não existe música superior. Realmente o que

ocorre é um preconceito por parte das pessoas, e para reforçar esse argumento,

2 Marcos Pupo Nogueira, texto: Porque estudar música “Erudita”, parte do livro intitulado “A música

na escola” do Ministério da Cultura (2012). Disponível em: http://www.amusicanaescola.com.br/o-projeto.html 3 Roda de debates do livro do Ministério da Cultura (2012) “A música na escola”.

39

trago aqui minha experiência pessoal. Como já mencionei anteriormente no trabalho,

quando criança não tinha nenhum critério de seleção musical, ouvia o que tinha a

disposição, no caso as músicas apresentadas pela mídia e as músicas que eram

ouvidas pelos meus pais, não eram apresentados diferentes gêneros musicais nem

artistas. Passei a maior parte da minha vida ouvindo as mesmas coisas. Com o

passar dos anos e com os avanços tecnológicos passei a descobrir o prazer de ouvir

músicas diferentes, como a ópera e as músicas clássicas.

Quando questionada por amigos sobre qual tipo de música que gostava, a

reação era a mesma diante da minha resposta: “Mas música clássica é música de

gente velha”. Realmente nunca me importei com isso, apenas pensava: “Eles não

sabem o que estão perdendo”. Talvez se essas pessoas que conheci tivessem o

contato com repertórios diferenciados de música na infância não teriam essa reação,

esse (pré)conceito formado de que determinado gênero é “propriedade” de certo

grupo de pessoas.

É por isso que defendo a ideia de apresentarmos diversos gêneros musicais

às crianças. Não impor nada a ninguém, mas deixar que cada um experimente um

pouco de cada cultura, para que possam, com o passar dos anos, saber selecionar o

que querem ouvir, sem ter que passar por preconceito musical. Como afirma Ostetto

(2004, p.7), “respeitar o gosto do outro é uma aprendizagem necessária e difícil”.

Nesse sentido gostaria de destacar uma situação que presenciei em uma das

observações (21/08/2012), esta que só me ajudou a reforçar essa ideia. Na

observação, logo no início da manhã, as crianças estavam assistindo um DVD da

Xuxa (Xuxa só para baixinhos 2) porque o menino Marcos queria ouvir uma música

que há nesse DVD. A música “A bonequinha”.

Eu tenho uma bonequinha assim

Ela veio de Paris pra mim

Ela tem um lindo chapéu

E também um amor de véu

Eu boto ela em pé não cai

Ela diz mamãe, papai.

Mas um dia sem razão

Escorregou e caiu no chão

40

Quebrou o rostinho dela e também o dedinho do pé

Eu levei ela no doutor, que sabia curar sem dor

A bonequinha chorou, chorou.

E eu também chorei, chorei.

Só depois que ela sarou eu brinquei, brinquei, brinquei.

Depois de pouco tempo ele se desinteressou pela música. Então eu

perguntei:

- Você não vai mais ver o DVD? Não gosta da Bonequinha de Paris?

E ele me respondeu:

- Ah não, num quelo.

- Qual você quer então? - Perguntei.

- A du Fré Jáco. (Canção em Francês Frére Jacques)

Frère Jacques

Frère Jacques

Dormez-vous?

Dormez-vous?

Sonnez les matines,

Sonnez les matines.

Ding, dang, dong.

Ding, dang, dong

Então, comecei a cantar:

- Frère Jacques, Frère Jacques...

E ele continuou a cantar, cantou tudo muito enrolado, não há como

transcrever. No final ainda misturou com uma parte da música Dear father, que eles

cantam com o professor de inglês no período da tarde.

41

My dear father

I Love you

I’m so happy

I Love you.

♫ (REGISTRO DE CAMPO 21/08/2012).

Diante desta situação podemos perceber que, desde muito pequenas as

crianças já tem um repertório que permite exercer sua capacidade de escolha.

Sendo estimulada, a criança se torna crítica em relação ao que lhe é apresentado.

5.2 MÚSICAS MIDIÁTICAS.

Em alguns momentos de observação apareceram situações em que as

crianças traziam as músicas da mídia. Percebi que apesar de pequenas, as crianças

são influenciadas por esses aspectos midiáticos. Todos os dias, chegava de manhã

na instituição, ouvindo música com o meu celular. As crianças pareceram

interessadas no meu celular e uma das meninas se aproximou para me

cumprimentar.

- Bom dia! – Falei.

- Oi Canina. – Disse a menina Carla4, abraçando minhas

pernas. Nesse instante ela viu os fones de ouvido e colocou em

sua orelha tentando ouvir algo (a música ainda estava ligada) e

me perguntou:

- Num tem Axim mata papai5?

Fiquei sem reação, na hora senti vontade de rir, mas apenas

respondi:

- Não Carla, não tenho essa música aqui. – Disse fazendo

referência ao celular que eu estava segurando. (REGISTRO

DE CAMPO, 22/08/2012).

Outra situação registrada que remete a influência das mídias foi no refeitório.

4 Todos os nomes das crianças foram modificados. 5 Música “Assim você mata o papai”, do grupo de pagode Sorriso Maroto.

42

Enquanto todas as crianças estavam almoçando, o menino Arthur havia terminado

de comer antes de todos e estava esperando, ainda à mesa, que uma das

professoras o auxiliasse na escovação dos dentes.

A seguir o registro desse momento:

Arthur ficou um tempinho parado olhando para um colega e, de

repente, começou a cantar:

- Xabado na balada... ah danxa... ai sô ti pego... axim cê me

mata... deliça, deliça6. (REGISTRO DE CAMPO, 29/08/2012).

Acerca disto, busquei saber como as professoras encaravam situações como

esta, a resposta obtida foi que as músicas midiáticas não são estimuladas nem

repreendidas, é respeitado o desejo das crianças de cantá-las, mas são incentivadas

apenas músicas direcionadas para a infância.

É certo que as mídias, principalmente a TV, influenciam quase que

diretamente no gosto musical da massa populacional. O que ocorre é certa

homogeneização devido a uma produção em massa de alguns objetos culturais

como: música, roupas, gêneros linguísticos, etc. As mídias têm como principal

objetivo o lucro, para isso tem o intuito de alcançar o maior número de pessoas.

Segundo SUBTIL (2007) outro papel tomado pelas mídias é de socializador-

este antes era tomado pela família e a igreja, onde eram responsáveis pela

apresentação da cultura e dos comportamentos adequados a serem seguidos.

No mundo globalizado, sob a égide do capitalismo radical “[…] onde a cultura dominante é o consumismo, onde o individualismo chegou ao paroxismo do narcisismo social, muito bem expresso nas publicidades de produtos para a beleza e a elegância, que identificam felicidade com mercadoria” (Belloni, 1999, p. 8), está em plena ação uma mundialização da cultura jovem. (SUBTIL, 2007, p.77- Grifo da autora)

O que vemos hoje é uma supervalorização da jovialidade, todos querem ser

belos e seguir as tendências, e o consumo tem lugar de destaque. Isso acontece,

até certo modo, de maneira involuntária, as pessoas estão tão acostumas a

receberem tudo pronto pelas mídias que não exercem seus critérios de seleção.

6 Música “Assim você me mata” interpretada por Michel Teló.

43

Subtil (2007) ainda nos mostra que há por parte de indústria cultural uma

denuncia de que a arte está transformada em mercadoria, visto que está sendo

massificada, racionalizada e produzida em série.

Assim, a mídia, em especial a televisionada, desempenha um importante papel na produção de um repertório semântico fornecendo símbolos, mitos, representações, preenchendo o imaginário de crianças e adultos e também transmitindo a cultura em diferentes dimensões. (SUBTIL, 2007, p.78)

A autora destaca que estudiosos da Escola de Frankfurt criticam a redução da

estética e da arte a apenas ao consumo. Estes afirmam ainda que esta seria uma

estratégia tomada pelos capitalistas para ter controle sobre todos os aspectos da

vida dos trabalhadores.

Eles reforçam uma dominação que começa na fábrica, no escritório, na escola, na família, na universidade […] meu convite é para que a Escola aprenda a decifrar esses meios e a colocá-los a serviço de uma outra educação e de uma outra televisão. É preciso educar os alunos para não aceitarem esta televisão que aí está […] é preciso antes estudar e conhecer os meios de comunicação de massa. (FADUL, 1993, p. 59 apud SUBTIL, 2007 p. 05).

Cabe à família e ao professor conscientizar-se sobre esses aspectos

capitalistas de dominação. Com isto trabalhar com as crianças, diferentes formas de

representação cultural, fazendo com que, desde pequenos, exerçam sua capacidade

de escolha e crítica. É importante não dar “tudo pronto” para as crianças, como a

mídia nos apresenta, pois no futuro são grandes as chances de se tornarem adultos

alienados e influenciáveis. Sem a capacidade de refletir sobre os temas importantes

da sociedade.

5.3 MÚSICAS INFANTIS

Podemos identificar a música infantil como aquela que é escrita

especificamente para a faixa etária correspondente. Nela encontramos elementos do

mundo infantil, em letras simples e com rima, geralmente fáceis de serem lembradas

pelos pequenos. Elas têm o intuito de ser educativas, quanto para entretenimento.

Durante os dez dias de observação, ouvi diversas músicas, algumas nem

44

conhecia. Essas músicas eram cantadas em diversos momentos durante a manhã.

Num certo momento em uma das observações, a menina Paula pedia ao

menino Rafael para que ele a empurrasse no carrinho em que ela estava sentada. O

menino o fez, e enquanto eles passeavam pelo parque, ela cantava:

- A dona alanha subiu pela palede

Chuva forte derrubou....

(REGISTRO DE CAMPO, 21/08/2012)

09- “A dona alanha subiu pela palede” Karyna de Morais Vieira – 21 de agosto de 2012

Em um dos últimos dias de observação todas as crianças estavam brincando

no parque da frente da escola.

Carla e Giorgia estavam no trem cantando, então me aproximei.

- Papu lulu, papu lulu – Cantava Carla batendo palmas.

Parou por um momento e perguntou:

- É fotu?

Nesse momento, se distraiu com a chegada de uma coleguinha, e a

cumprimentou. Depois continuou.

- Boi, boi, boi. Boi da cara peta, pega a Gigi, que tem medo careta...

(REGISTRO DE CAMPO 27/08/2012)

Em outro momento da observação, percebi quando Milena e Joana estavam

brincando com um xilofone de brinquedo. Enquanto cantavam a música ‘Atirei o pau

45

no gato’, as duas tentavam tocar no instrumento o ritmo da música.

Atirei o pau no gato tô tô

Mas o gato tô tô

Não morreu reu reu

Dona Chica cá

Admirou-se se

Do berro, do berro que o gato deu:

Miau!

♫ (REGISTRO DE CAMPO, 21/08/2012).

A música “Atirei o pau no gato” faz parte das cantigas da cultura brasileira e

esteve presente na infância de muitas crianças através dos anos. É interessante

resaltar que a música conta com uma nova estrofe, adicionada nos dias atuais. Essa

nova parte da música trás o respeito com os animais, nesse caso o gato, um tema

atual do nosso cotidiano.

Dessa forma, a perpetuação não representa mero fenômeno de inércia cultural, porque o contexto histórico-social mudou, é verdade, mas preservam-se condições que asseguram vitalidade e influência dinâmica aos elementos folclóricos. É importante ressaltar ainda, que a música folclórica possui normalmente um caráter nacional distinto, reflete não só o temperamento de um povo, mas também as suas condições sociais, a presença de imigrantes e outras influências históricas, que poderão ser transmitidas e apropriadas pelo saber sistematizado, com vistas ao desenvolvimento psicossocial dos sujeitos. (SCHERER, 2010, p. 251).

Essa música é muitas vezes cantada nas instituições de ensino pelas próprias

professoras. Em algumas ocasiões a nova letra substitui a versão original.

No DVD de músicas infantis “Galinha Pintadinha 2”, que compõe o repertório

dos DVDs da instituição, já traz essa nova parte após a original.

A nova letra da música é cantada com a mesma melodia:

Não atirei o pau no gato tô tô

Porque isso

Não se faz

46

O gatinho

É nosso amigo

Não devemos maltratar os animais

Jamais!

Em outra observação, as crianças estavam brincando no parque no momento

em que eu cheguei à escola. Havia chovido na noite anterior e as professoras da

manhã estavam organizando os brinquedos e secando os que estavam molhados

devido à chuva.

- Olha tia, a latixa! – Gritou o menino Breno ao ver uma

lagartixa em um dos carrinhos do parque.

(REGISTRO DE CAMPO 23/08/2012).

10- A lagartixa Karyna de Morais Vieira - 23 de agosto de 2012

Nesse momento todos os que estavam presentes no parque foram ver o que

era, e o que pudemos constatar foi que uma lagartixa se alojou em um dos carrinhos

do parque durante aquela noite.

Mais tarde no mesmo dia, quando todas as crianças estavam sentadas às

mesas para realizar as atividades enquanto a professora cantava algumas músicas.

- Canta a da latixa, igual a du carro! – Pediu Breno.

A professora atendeu seu pedido e cantou a música:

47

Fui morar numa casinha

Infestada de cupim

Saiu de lá

Uma lagartixa

Que olhou pra mim e fez assim

Hum! (nessa hora mostram a língua)

Todas as crianças cantaram a música juntas, acompanhando

com palmas e mostraram a língua ao fim da música.

(REGISTRO DE CAMPO, 23/08/2012).

11- “♫Fui morar numa casinha...” Karyna de Morais Vieira – 23 de agosto de 2012

Nessa outra música tão conhecida no Brasil, percebe-se uma relação de

música e movimentos. As crianças acompanham a música e no fim, mostram a

língua, imitando a atitude da lagartixa na música.

Canções de brincar são geralmente mais rápidas, e apresentam jogos de palavras ou sugestões de movimentos corporais que auxiliam a percepção auditiva e o desenvolvimento da coordenação motora, da sociabilidade, da linguagem e da musicalidade do bebê. (TREHUB, TRAINOR E UNYK, 1993 apud ILARI, 2002, p.84).

Como nos traz Ilari, algumas músicas trazem essas sugestões de movimentos

que auxiliam no desenvolvimento motos das crianças, fazendo da música um meio

48

de aprendizado tanto físico quanto da linguagem.

5.4 CANTIGAS DE RODA

As cantigas de roda fazem parte da cultura do nosso país e está presente em

muitos elementos infantis. Essas cantigas tiveram origem nos países europeus

como: Portugal, França e Espanha. No Brasil, receberam versões ou adaptações,

fazendo delas brasileiras. Nasceu em meios tantos individuais quanto coletivos e

representam o folclore do lugar de origem. São transmitidas oralmente. Há

improvisos e, muitas vezes, elas são recriadas. (MICHAHELLES, 2011).

Podemos dizer que essas cantigas caracterizam-se por canções, cuja autoria

e data são incertos, e que fazem parte da cultura popular. Abrangem todas as

classes sociais e seus versos se estendem pelas décadas, passando de geração em

geração.

As cantigas de roda integram o conjunto das canções anônimas que fazem parte da cultura espontânea, decorrente da experiência de vida de qualquer coletividade humana. Elas dão-se numa sequência natural e harmônica com o desenvolvimento humano. (MICHAHELLES, 2011, p. 6).

Durante as observações podemos ver muitas vezes, a presença dessas

cantigas. Em certa observação, no horário do parque, a menina Giorgia estava

brincando com uma boneca. A menina havia colocado a boneca no balanço e a

estava balançando, neste instante a menina Carla se aproximou e as duas

começaram a conversar.

Abaixo o registro da conversa das duas meninas:

- Vamu dança?

Giorgia deu um sorriso de aprovação. Elas deram as mãos e

Carla começou a cantar:

- Cilanda, cilandinha... vamu cilandá...

Cantou um pouco fora do ritmo, mas elas rodavam conforme a

música.

- Ôta – Falou Giorgia.

Carla parou por uns instantes, pensativa, e então cantou:

- Óda cutia, noite e dia

49

Galu canto, casa caia!

As duas se jogaram no chão e deram gargalhadas.

(REGISTRO DE CAMPO 24/08/2012)

No contexto das cantigas de roda, Michaelles nos traz:

Assim, a música folclórica é aquela que se transmite e se preserva oralmente, expandindo-se por isso com toda a naturalidade, e possuindo uma aceitação coletiva. Ela diferencia-se da música chamada erudita por nela não ser procurado o rebuscamento ou o aperfeiçoamento de forma intencional e, da música chamada popular, por não ser produzida em série ou ter destinação comercial. Em sua simplicidade, a música folclórica torna-se mais autêntica e espontânea, e assume um poder de comunicação e uma ressonância imediata no espírito do povo que a pratica. (LAMAS, 1992, p. 15, 16 apud MICHAHELLES, 2011, p. 7).

As cantigas se diferenciam um pouco da música em si, pois se assemelham

mais a uma brincadeira. Seu ritmo e melodia combinam com os movimentos da

roda, onde sempre há uma pequena interpretação da letra, assim como as músicas:

Roda Cutia e Fui morar numa casinha, onde as crianças cantam, rodam de mãos

dadas e finalizam essa brincadeira com algum elemento significativo da letra dessa

canção. Se abaixar no chão, representando a casa que caiu ou mostrar a língua

como fez a lagartixa.

50

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A música surgiu a partir dos sons emitidos pelo próprio corpo, há

milhares de anos pelos homens primitivos. Com o passar do tempo o homem

aprendeu a criar melodias e instrumentos musicais, com isso a música se tornou

universal.

Até hoje ela está presente em nossas vidas, mas com a rotina frenética das

cidades, muitas vezes não nos damos conta da importância desta para as pessoas.

Podemos considerar músicas sons simples como a respiração, batimentos cardíacos

e os sons da natureza. É uma forma de linguagem, pois por meio dela podemos

expressar sentimentos e ideias, é uma maneira de comunição.

A música é utilizada para diferentes finalidades, no âmbito escolar através

dela podemos perceber as singularidades de cada criança, estimular a socialização,

a afetividade, a coordenação motora e a linguagem. Quando a musica se faz

presente na rotina educacional, percebe-se que as crianças ficam soltas, alegres e

comunicativas, além de favorecer motivação para as atividades que serão propostas,

permite ainda que suas potencialidades e criatividade floresçam.

Como sabemos a partir do ano de 2008 (LEI 11769) o ensino musical passou

a ser obrigatório nas escolas de todo o Brasil, antes disso já tínhamos alguns

documentos que apontavam a música como um dos eixos educacionais, como as

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e o Referencial Curricular

Nacional da Educação Infantil. A lei de 2008 garante o ensino musical, mas não

especifica como esta deve ser feita, o prazo para a integração musical nos currículos

de todo o país era de três anos. Já estamos no fim de 2012 e pelo que é divulgado,

em três anos, foram pouquíssimos os avanços. Este é um ponto que me intriga

bastante: como essas aulas serão ministradas? Será necessária a presença de um

professor especializado para tal fim? Bem, não sei ao certo, pois só iremos saber

quando essa lei for mais aprofundada. Acredito que esta será uma longa

caminhada. Primeiramente devem promover debates sobre o tema, fazer com que

as pessoas tomem conhecimento. A presença de um profissional especializado na

temática é importante, mas o trabalho na escola não deve se restringir apenas a ele.

A formação continuada para os demais profissionais seria uma boa estratégia,

possibilitando um aprendizado interdisciplinar.

51

Outro ponto importante é não deixarmos que a música tome uma forma

hierarquizada. A família juntamente com a escola deve promover o conhecimento de

músicas diversas sem deixar de valorizar a música pertencente a cultura de cada

um, na escola o professor deve ter consciência e planejá-la com intencionalidade.

Já as músicas midiáticas, em algumas vezes podem causar certa

preocupação. Ver crianças tão pequenas sendo “influenciadas” pela indústria

musical, pela cultura da massa; parece que as crianças estão cada vez mais

precoces passando a fase da infância muito rápida e não vivenciando os momentos

que são próprios para elas. Ver que os profissionais não a estimulam é um bom

sinal, pois desta maneira estão valorizando a infância e suas singularidades.

Certas músicas possuem um encanto celestial, provocam as mais diversas

sensações, tem o poder de envolver e transcender. A música é a mais bela forma de

expressão, a mais sublime das artes. Esta jamais deve ser esquecida ou

menosprezada.

52

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57

ANEXOS

ANEXO A - Lei nº 11.769

Lei nº 11.769

(DOU de 19/08/08)

Altera a Lei nº 9.394, de 20/12/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para

dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º O art. 26 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar

acrescido do seguinte § 6º:

"Artigo 26. (...)

(...)

§ 6º A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente

curricular de que trata o §

2º deste artigo." (NR)

Art. 2º (VETADO)

Art. 3º Os sistemas de ensino terão 3 (três) anos letivos para se adaptarem às

exigências estabelecidas nos arts. 1º e 2º desta Lei.

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 18 de agosto de 2008; 187º da Independência e 120º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Fernando Haddad

58

APÊNDICE

APÊNDICE A – Entrevista com a professora da turma pesquisada – 29 de outubro de 2012.

•Como as músicas que a mídia apresenta às crianças são trabalhadas no

cotidiano?

As músicas que as crianças escutam da mídia e trazem a escola, não são

incentivadas pelas professoras, mas não reprimimos o desejo delas de cantar essas

músicas. Incentivamos as músicas infantis apropriadas a idade das crianças.

•De que forma a música é planejada? Há intencionalidade?

A música é planejada como um recurso importante durante as atividades com

a turma, pois além de ser lúdica, ela atrai as crianças e incentiva a participação. As

letras também são um meio de apresentar um conteúdo, como os números. Uma

música sobre número nesse momento faz toda a diferença.

• Qual sua percepção sobre a música e o desenvolvimento das crianças?

Para uma turma dessa idade a música é fundamental para o desenvolvimento

da linguagem e dos movimentos. Muitas crianças ampliam seu vocabulário por meio

das músicas. Também é um recurso afetivo, pois as crianças se relacionam

enquanto brincam e cantam. As músicas educativas trazem elementos do cotidiano

que ensinam coisas importantes, como ser educado ou respeitar as pessoas,

brincando.

• Qual lugar que a música ocupa na rotina da escola?

O ritmo e as letras alegres e contagiantes atraem as crianças, faz com que

elas queiram participar do que esta sendo proposto. Na rotina ela auxilia durante as

atividades e também nos momentos de diversão no parque ou no lanche. Além de

auxiliar as crianças no entendimento daquele momento do dia, como a chamadinha.

É um momento importante onde a criança percebe os nomes dos seus colegas.