universidade do estado da bahia (uneb ......ciências humanas – campus iv, pelo auxílio e...

166
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB) DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS (DCH) CAMPUS IV PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE (PPED) MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE (MPED) ABINALIO UBIRATAN DA CRUZ SUBRINHO EM TOUCHES E EM CLIQUES: A FORMAÇÃO LEITORA POR INTERMÉDIO DAS REDES SOCIAIS DA INTERNET JACOBINA BA 2019

Upload: others

Post on 06-Aug-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB)

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS (DCH) CAMPUS IV

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE

(PPED)

MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE (MPED)

ABINALIO UBIRATAN DA CRUZ SUBRINHO

EM TOUCHES E EM CLIQUES: A FORMAÇÃO LEITORA POR INTERMÉDIO DAS

REDES SOCIAIS DA INTERNET

JACOBINA – BA

2019

Page 2: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

ABINALIO UBIRATAN DA CRUZ SUBRINHO

EM TOUCHES E EM CLIQUES: A FORMAÇÃO LEITORA POR INTERMÉDIO DAS

REDES SOCIAIS DA INTERNET

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação e Diversidade, Linha de

Pesquisa: Formação, Linguagens e Identidades da

Universidade do Estado da Bahia, Departamento de

Ciências Humanas, Campus IV, Jacobina-BA, como

requisito parcial para obtenção do título de Mestre

em Educação e Diversidade.

Orientadora: Profa. Dra. Denise Dias de Carvalho

Sousa

JACOBINA – BA

2019

Page 3: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

Ficha Catalográfica Elaborada pelo Bibliotecário:

João Paulo Santos de Sousa CRB-5/1463

Subrinho, Abinalio Ubiratan Da Cruz.

S941t Em Touches e em Cliques: a formação leitora por

intermédio das redes sociais da internet / Abinalio Ubiratan Da

Cruz Subrinho.

Jacobina - BA

177 f.

Dissertação (conclusão do curso de pós-graduação Strictu

Senso / Programa de pós-graduação em educação e diversidade

da Universidade do Estado da Bahia, MPED. Departamento de

ciências humanas – Campus IV). Universidade do Estado da

Bahia, 2019. .

1111111 Orientadora: Prof. Drª. Denise Dias de Carvalho Sousa

1. Formação Leitora. 2. Redes Sociais. 3. Cibercultura. 4.

Comportamentos de Leitura. I. Abinalio Ubiratan Da Cruz

Subrinho . II. Denise Dias de Carvalho Sousa. III. Universidade

do Estado da Bahia. Departamento de Ciências Humanas/Campus

IV.

CDD – 303.483

Page 4: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia
Page 5: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia
Page 6: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

Aos professores, leitores por natureza, simbiose

reiterada pelo exercício da profissão; aos

estudantes leitores, de códigos e de sonhos; às

vizinhas e aos árbitros, leitores de gestos; às

ciganas, aos interpretes e demais leitores de

mãos; aos maestros e outros leitores de sons; aos

booktubers, digital influencers, desenvolvedores

de softwares, programadores e aos Youtubers; aos

leitores de jornais dos bancos das praças e aos

leitores de e-jornais dos bancos das praças; aos

familiares e amigos leitores; aos que leem por

amor e aos que leem pela dor; à TODOS os

leitores de TODOS os textos.

Page 7: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

AGRADECIMENTOS

Gratidão à Deus força motriz, sustentáculo e consolo em todos os momentos;

À Oxalá, o grande Obatalá, iluminador da mente e dos caminhos;

Agradeço a mim, assim mesmo (outo)agradecimento – por ressignificar, lapidar todos

os nãos, por entender que percalços sempre irão existir e que, como traduz Antônio Machado,

o caminho se faz ao caminhar;

Aos meus queridos familiares por todo amor, afetividade, cuidado e, maiormente, pela

compreensão;

À minha maravilhosa Orientadora, Dra. Denise Dias de Carvalho Sousa pela extrema

paciência, dedicação, seriedade e exemplo de ética, de profissionalismo, de pesquisadora e de

educadora implicada na transformação de realidades por meio do processo de ensino e

aprendizagens na Educação Básica e no Ensino Superior;

Às professoras Dras. Rita de Cássia Brêda Mascarenhas Lima e Úrsula Cunha

Anecleto pelo aceite do convite e pela rica contribuição prestada a esse construto.

Aos sujeitos colaboradores dessa pesquisa: diretores, coordenadora, professoras e

professores, auxiliares administrativos e alunos do Colégio Estadual de Serrolândia (CES);

À minha especialíssima professora Dra. Elizabeth Gonzaga Lima pelas oportunidades

e pelo auxílio no entendimento da importância da formação continuada;

Aos meus amigos que, assim como os caracteres (com espaço) desse trabalho, são

milhares, não podendo citar todos, pois isso implicaria na construção de uma outra

dissertação, mas em função do auxílio (específico) neste processo não posso deixar de

nominar; Everton Figueiredo, Inaira Nunes, Jamanda Silva, Juliana Mota, Simone Cruz,

Klaus Araújo, Mariana Mesquista, Nilcélio Sacramento, Ranieri Rios, Soraia Oliveira,

Thássia de Sá.

Aos meus colegas mpedianos, em especial aos fofíssimos da turma 2017.2 – Campus

IV, companheiros de travessias que me adotaram e semelhante a irmãos mais velhos cuidaram

de mim, em nome de Allisson Esdras, Amanda Oliveira, Indaiara Célia, João Paulo, Jonas

Martins, Ronaldo Alves, Soraia Regina e Wermerson Meira agradeço a todos.

A todos os meus professores – da pré-escola a pós-graduação.

A Prefeitura Municipal de Serrolândia (PMS); a todos os seus agentes, em específico

aos membros das comunidades escolares, sobretudo, para as queridas e queridos do Grupo

Escolar Eunice Maria Barbosa dos Reis.

Aos colegas professores, diretores, técnicos, auxiliares administrativos e alunos dos

Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias – Campus XVI e Departamento de

Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem

querenças.

A Universidade do Estado da Bahia (UNEB), minha casa triplamente.

Page 8: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

Eis que o semeador saiu a semear...

“Diziam os argonautas que navegar é preciso,

mas que viver não é preciso”.

(PESSOA, 2015, p. 160 grifo nosso)

Page 9: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

RESUMO

A pesquisa Em Touches e em cliques: A Formação Leitora por meio das Redes Sociais da

Internet se ocupa dos recentes estudos das práticas de leitura que ocorrem nos meios virtuais

das redes sociais e, em função dessas, da insurgência de novos perfis leitores e de novos

comportamentos de leitura. As avaliações da aprendizagem, tanto as internas quanto as

externas, desvelam que a formação do leitor proficiente ainda não ocorre muito a contento,

evidenciando números significativos de educandos que ainda necessitam aperfeiçoar suas

práticas de leitura. Logo, objetiva-se com este estudo analisar como as redes sociais da

internet (Facebook, Instagram e Twitter) podem colaborar na formação leitora dos educandos.

Para tanto, a investigação filiou-se a uma abordagem de cunho qualitativo, pois buscou

descrever e refletir acerca de um dado fenômeno, considerando a diversidade do objeto

pesquisado e a subjetividade dos colaboradores da pesquisa, adotando como método a

pesquisa-ação, delineada a partir dos estudos de Thiollent (1998, 2011), Barbier (2007) e

Gatti (2005), com base em dimensões formativas, constituidas por dispositivos de construção

de dados: o grupo de discussão e a aplicação de questionários. Detém por lócus o Colégio

Estadual de Serrolândia (CES), em Serrolândia – BA, e por colaboradores alunos do 3° Ano

do Ensino Médio e professores de Língua Portuguesa. A pesquisa estabelece como

pressupostos teóricos os estudos relacionados à cibercultura, internet e mídias digitais

presentes em Santaella (2007, 2010, 2011), Castells (1999), Prensk (2006) Lévy (1993, 1996,

1999), amparando-se também nas concepções de leitor e leitura discutidas por Horellou-

Lafarge e Segré (2010), Abreu (2006, 2010) e Chartier (1998, 2002), assim como nas

pesquisas sobre a formação e mediação de leitura em ambientes virtuais realizadas por Miller

(2012), Coscarelli (2016, 2017), Rojo (2012) e Leffa (2016). Desse modo, esta investigação

buscou corroborar com os estudos de formação leitora por meio das redes sociais,

estabelecendo, de modo colaborativo, propositivas para o enfrentamento de dada

problemática.

Palavras-chave: Formação Leitora; Redes Sociais; Cibercultura; Comportamentos de

Leitura.

Page 10: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

ABSTRATC

The research Em Touches e em cliques: A Formação Leitora por meio das Redes Sociais da

Internet handles the recent studies of reading habits in the virtual environment of social media

and related to this, the insurgency of new readers profiles and new reading performance. The

learning evaluation, both internal and external, reveals that the proficient reader education still

occurs with satisfaction, pointing out significant numbers of learners who still need to

improve their reading practices. This study aims to analyze how social media (Facebook,

Instagram, and Twitter) can collaborate in the reading formation of the learners. For this

purpose, the investigation joined a qualitative approach, because it sought to describe and

reflect on a particular phenomenon, considering the diversity of the researched object and the

subjectivity of the research collaborators, adopting as a method the action research, outlined

from the studies of Michel Thiollent (1998, 2011), René Barbier (2007) and Bernadete Gatti

(2005) based on formative dimensions, formed by data construction devices: the discussion

group and the questionnaires application. It holds by locus the Colégio Estadual de

Serrolândia (CES), in Serrolândia – BA and the students of the 3rd year of high school and

Portuguese teachers as collaborators. The theoretical assumption of this research is composed

by the studies related to cyberculture, the internet and the digital media present in Lúcia

Santaella (2007, 2010, 2011), Manoel Castells (1999), Marc Prensk (2006) and Pierre Lévy

(1993, 1996, 1999), also based on the reader and reading concepts discussed by Chantal

Horellou-Lafarge and Monique Segré (2010), Márcia Abreu (2006, 2010) and e Roger

Chartier (1998, 2002), as well as researches on training and reading mediation in virtual

environments by Carolyn Miller (2012), Carla Coscarelli (2016, 2017), Roxane Rojo (2012)

and Vilson Leffa (2016). In this way, this investigation aims to support the studies of reading

formation by means of social media, establishing, in a collaborative way, proposals for coping

with a given problem.

Keywords: Reading formation; Social media; Cyberculture; Reading performance.

Page 11: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA Avaliação Nacional da Alfabetização;

ANEB Avaliação Nacional da Educação Básica;

ARPANET Advanced Research Projects Agency (Agência de Projetos de Pesquisa

Avançada de Defesa);

BNCC Base Nacional Comum Curricular;

CAPS Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior;

CES Colégio Estadual de Serrolândia;

CNE Conselho Nacional de Educação;

DCN Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica;

EJA Educação de Jovens e Adultos;

EM Ensino Médio;

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio;

FACE Facebook;

FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

GIF Graphics Interchange Format

HTML HyperText Markup Language (Linguagem de Marcação de Hipertexto);

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;

ICQ I Seek You (Eu procuro você);

IG Instagram;

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira;

MCTIC Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações;

MEC Ministério da Educação;

MSN Menssenger The Microsoft Network;

MTC Ministério da Ciência e Tecnologia;

NSFNET National Science Foundation Network;

PBLE Programa Banda Larga nas Escolas;

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais;

Page 12: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

Pnad Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua;

PNBE Programa Nacional Biblioteca na Escola;

PNLD Programa Nacional do Livro Didático;

PNLL Plano Nacional do Livro e Leitura;

PPP Projeto Político Pedagógico;

ProInfo Programa Nacional de Tecnologia Educacional;

SMS Short Menssage Service;

TAR Teoria Ator e Rede;

UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização

das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura);

USA United States of América (Estados Unidos da América);

WWW World Wide Web.

Page 13: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Print Ler é

Viver.......................................................................................................75

Figura 02 Print Lítera

Brasil.....................................................................................................76

Figura 03 Print Quebrando o

Tabu............................................................................................83

Figura 04 Print Sociologia

Líquida...........................................................................................84

Page 14: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 Acesso em

horas...................................................................................................106

Gráfico 02 Suporte mais

utilizado..........................................................................................108

Gráfico 03 Redes com perfil

ativo...........................................................................................109

Gráfico 04 Gêneros textuais

lidos...........................................................................................117

Gráfico 05 Atividades frequentemente desenvolvidas...........................................................118

Gráfico 06 Conteúdos mais publicados e/ou

compartilhados.................................................119

Gráfico 07 Gêneros

emergentes..............................................................................................121

Page 15: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Revisão Sistemática – Busca I...............................................................................31

Quadro 02 Revisão Sistemática – Busca II..............................................................................34

Quadro 03 Predileção pelo

acesso..........................................................................................110

Quadro 04 Leitura nas

Redes..................................................................................................114

Page 16: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

SUMÁRIO

1 VAMOS TROCAR LIKES? ............................................................................................................ 19

2 CIBERESPAÇOS DE LEITURA: UM GIGA DE PROBLEMA, UM TERA DE SOLUÇÕES?

............................................................................................................................................................... 27

2.1 PROBLEMÁTICA ...................................................................................................................... 28

2.2 CIBERCAMINHOS: UMA BREVE REVISÃO SISTEMÁTICA ............................................. 34

2.3 DE LEITOR PARA LEITOR: QUERO LER E NADA MAIS .................................................. 40

3 A VIRTUALIZAÇÃO DO TEXTO E A FORMAÇÃO DO LEITOR EM TEMPOS DE

HIPERLEITURAS VIRTUAIS ......................................................................................................... 42

3.1 DA ARGILA ÀS TELAS: EVOLUÇÃO DOS SUPORTES DE LEITURA E A MUDANÇA

NOS MODOS DE LER .................................................................................................................... 43

3.2 A LEITURA E O LEITOR: UM ENCONTRO DE TEXTOS, COMPORTAMENTOS,

GESTOS E PRÁTICAS .................................................................................................................... 48

3.3 O ENSINO DA LEITURA E A FORMAÇÃO DO CIBERLEITOR ......................................... 53

4 CONEXÃO E INTERATIVIDADE EM REDE: REDES SOCIAIS DA INTERNET E

FORMAÇÃO DE COLETIVOS INTELIGENTES ........................................................................ 62

Page 17: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

4.1 O ADVENTO DA INTERNET E O ESTABELECIMENTO DE NOVOS PARADIGMAS

COMUNICACIONAIS E INFORMACIONAIS .............................................................................. 63

4.2 ATUALIZAÇÕES E INCORPORAÇÃO DE INTERFACES: O SURGIMENTO DAS

COMUNIDADES VIRTUAIS NA INTERNET .............................................................................. 66

4.3 REPROGRAMAÇÕES SOFRIDAS PELA WEB E COLETIVOS INTELIGENTES: AS

REDES SOCIAIS DA INTERNET, OS TEXTOS E OS NOVOS MODOS DE LER .................... 69

4.3.1 Facebook: Leituras Curtidas e Compartilhadas ............................................................. 77

4.3.2 Instagram: Fluxos de Leituras Verbovisuais .................................................................. 83

4.3.3 Twitter: Adaptação, Concisão da Linguagem e Simultaneidade em Rede ................... 89

5 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA ..................................................................... 93

5.1 ABORDAGEM QUALITATIVA E O MÉTODO PESQUISA-AÇÃO EM INVESTIGAÇÕES

NO CAMPO DA EDUCAÇÃO ........................................................................................................ 94

5.2 O LÓCUS: COLÉGIO ESTADUAL DE SERROLÂNDIA (CES) ............................................ 96

5.3 COLABO(LE)DORES DA PESQUISA: NATIVOS E IMIGRANTES DIGITAIS ................ 100

5.4 TRAJETOS E NARRATIVAS: PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE INFORMAÇÕES

(MÓVEIS) ....................................................................................................................................... 100

5.4.1 A Observação Participante (OP)..................................................................................... 102

5.4.2 Grupo de Discussão (GD) e Questionários ..................................................................... 105

5.5 PROCEDIMENTOS DE TRIANGULAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ............................. 107

6 ALUNOS LEITORES NA ERA DIGITAL: CELULARES, PROFESSORES, OS TEXTOS E

AS APRENDIZAGENS .................................................................................................................... 109

6.1 OS DISPOSITIVOS MÓVEIS, AS TECNOLOGIAS DIGITAIS E AS REDES SOCIAIS EM

SALA DE AULA ............................................................................................................................ 110

6.2 OS GÊNEROS DISCURSIVOS, PRÁTICAS E COMPARTAMENTOS DE LEITURA NAS

REDES E EM REDE ...................................................................................................................... 117

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ..................................................................................................... 133

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 136

APÊNDICES ...................................................................................................................................... 142

APÊNDICE A – REOTEIRO DE OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE ............................................. 142

APÊNDICE B – REOTEIRO DO GRUPO DE DISCUSSÃO .......................................................... 143

APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO .................................................................................................. 144

APÊNDICE D – AUTORIZAÇÃO DA COPARTICIPANTE .......................................................... 149

APÊNDICE E – CONCESSÃO ......................................................................................................... 150

APÊNDICE F – FOLHA DE ROSTO ............................................................................................... 151

APÊNDICE G – AUTORIZAÇÃO DA PROPONENTE ................................................................. 153

APÊNDICE H – CONFIDENCIALIDADE .................................................................................... 154

APÊNDICE I – COMPROMISSO DO PESQUISADOR ................................................................ 155

APÊNDICE J – CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................................................. 156

Page 18: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

APÊNDICE K – ASSENTIMENTO DO MENOR .......................................................................... 159

APÊNDICE L PROJETO DE FORMAÇÃO PROPOSTO ...................... Erro! Indicador não definido.

ANEXOS ............................................................................................................................................ 161

Page 19: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

19

1 VAMOS TROCAR LIKES?

Num contexto contemporâneo, quando se ampliam os efeitos da cultura da

convergência, discutida aqui a partir dos estudos de Henry Jenkins (2006), nos quais o

pesquisador expõe que há uma maior e ascendente correlação entre as mídias, assim como

uma ampliação nas conexões entre os canais construtores e os emissores de conteúdos com o

público receptor, Jenkins (2006), então, define o fenômeno da convergência enquanto um

processo mercadológico, social, cultural e tecnológico, pois o mesmo favoreceu um diálogo

entre os canais tradicionais de mídias e os novos meios de conceber, propagar, consumir

informações e produtos, estando esses novos veículos em emergência, consequentemente, em

maior evidência.

Desse modo, Jenkins (2006) desvela que os indivíduos se encontram cada vez mais

conectados aos dispositivos e ambientes transmídias como, por exemplo, aos espaços virtuais

das redes sociais da internet, especialmente aqueles mais jovens, os quais buscam, dentre

outras atividades, o entretenimento, o acesso à informação e à interatividade, ações que

acabam por possibilitar a esses sujeitos o agrupamento em coletivos inteligentes. A partir de

prerrogativas semelhantes a essas é que se torna perceptível o quanto as tecnologias virtuais

digitais se fazem presentes no cotidiano dos indivíduos, influenciando em suas atitudes,

hábitos e comportamentos.

Destarte, pelas influências e imbricamento das vivências sociais extraclasse nos

contextos escolares se torna evidente o quanto essa conectividade virtual se traduz numa

realidade constatável diariamente nas salas de aula brasileiras das redes públicas e privadas de

ensino. Os alunos se tornaram altamente tecnológicos, realizando desde comandos técnicos,

considerados mais simples, a exemplo da emissão e recepção de mensagens de textos, até o

desenvolvimento de funções avaliadas como de alta complexidade, a programação de sítios

repletos de interfaces. Essas ações, oriundas da conectividade são um fator preponderante que

influem e/ou interferem diretamente no fluxo das rotinas escolares. Os educandos estão

diuturnamente conectados com os seus smartphones acessando aos jogos, sites de músicas,

vídeos e, especialmente, sua expressiva maioria, navegando nas redes sociais da internet,

muitas dessas redes que já conseguem congregar jogos, música, vídeos, conversação,

múltiplas semioses num mesmo ambiente.

Notadamente, as redes sociais da internet provocaram o ruído entre as distâncias

geográficas, etárias, ideológicas, também em dados momentos no acesso à informação e à

Page 20: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

20

formação, possibilitando que os sujeitos se conectem agrupando-se em coletivos inteligentes,

dialogando e produzindo conhecimentos de modo veloz e dinâmico. Essas redes também se

firmaram como ambiências propícias às aprendizagens significativas as quais, segundo o

teórico David Ausubel (2003), ocorrem quando uma dada informação é acomodada pelo

indivíduo se correlacionando aos seus conhecimentos prévios e contextuais. Nesses termos, os

espaços das redes sociais fomentam o conhecimento, pois nestes ambientes os internautas se

unem em nós [grupos], e são expostos a uma série de possibilidades de acesso à informação e

a consequente geração de saberes, a começar pela leitura dos múltiplos códigos e da interação

dos internautas com a rede.

Exemplificando: os dispositivos de redes em seus mecanismos de funcionamento

contam com a dinâmica da retroalimentação, a partir da qual um determinado conteúdo

disposto sofre intervenções; curtidas, comentários, compartilhamentos, dentre outras ações,

obedecendo assim a lógica do estímulo e resposta. Esses processos exigem dos internautas

maiores habilidades cognitivas para interpretação das textualidades e semioses, uma vez que

nesses ambientes há uma junção de diversos tipos de códigos textuais: símbolos, textos

escritos em diversos idiomas, elementos oriundos da cultura audiovisual, dentre outras

formatações e gêneros que insurgem em meio às demandas requeridas por esses espaços.

Assim, o sujeito detém a possibilidade de estabelecer maior interatividade, necessitando

ampliar o repertório cultural e a capacidade crítica e reflexiva, uma vez que está exposto a

uma grande quantidade de textos, com os mais diversos conteúdos, o que acaba por seduzir e

aguçar os sentidos leitores.

Contudo, embora seja um espaço emergente de múltiplas escritas e consequentemente

de variadas leituras existem estudiosos que se opõem ao reconhecimento das redes sociais da

internet enquanto um bom meio para realização de leituras reflexivas, como é o caso do

escritor Nicholas Carr (2011), em seu livro A geração superficial, que tensiona, dentre outras

questões, problemáticas referentes à leitura e à memória. Carr (2011) sustenta que o grande

fluxo de informações que o indivíduo pode acessar de uma só vez nesses espaços compromete

a capacidade da memória, diminuindo o potencial reflexivo de uma leitura realizada na

internet. O autor também rechaça a concepção dos novos suportes tecnológicos e dispositivos

digitais para a realização de leituras chegando a afirmar que, “Um e-book não é um livro, da

mesma forma que um jornal on-line não é um jornal.” (CARR, 2011, p. 146).

Contrapondo aos pensamentos de Carr (2011), tem se percebido nas redes exitosas

experiências relacionadas à criação e à recepção reflexiva de textos, a exemplo da escrita de

Page 21: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

21

Fanfictions/fanfics1. Basta realizar uma verificação simples num site de busca para constatar a

infinidade de narrativas desse tipo, com as mais diversas temáticas. Também, destacam-se os

movimentos de produção e de leitura de textos que ocorrem na rede social Twitter a

Twitteratura, a qual consiste na criação ou adaptação de contos, utilizando a quantidade

máxima de 140 caracteres por obra. Havendo até registros de instituições de ensino2 que

provocam os seus educandos a criarem, propondo concursos de minicontos.

Por conseguinte, ainda num último exemplo, a rede social Skoob3, fulgurando como

ambiente criado para socialização de leituras, onde um internauta pode expor suas obras de

preferência, produzir resumos, análises e comentários acerca dessas obras, tornando as

reflexões disponíveis ao acesso dos demais navegadores. Tais registros permitem afirmar a

possibilidade da realização de leituras direcionadas, contextualizadas, comprometidas com a

desenvolvimento da criticidade dos leitores, para tanto a mediação torna-se fator

determinante. Logo, partindo desses pressupostos, pode-se afirmar que os professores têm nas

redes sociais um importante dispositivo metodológico, que poderá auxiliar no repensar dos

comportamentos leitores, bem como no uso das suas interfaces para a mediação das práticas

leitoras.

No entanto, ao propor estratégias de leitura as quais serão utilizadas pelo leitor nas

redes sociais da internet (com base na mediação leitora), esbarra-se numa série de questões,

que se somatizam numa problemática: o fato de se estar lidando com alunos próximos da

adjetivação, atribuída por Marc Prensky (2001), de nativos digitais, ao passo que a maioria

dos docentes estão mais afilados ao perfil dos imigrantes digitais, fator que corrobora para a

existência de um ruído entre os alunos imersos no ambiente virtual e parte dos professores que

ainda se encontram imersos no universo analógico.

Algumas causas podem ser elencadas para o não domínio do docente sobre esses

meios e dispositivos, dentre os quais se destaca o próprio percurso formativo de formação

inicial [ a graduação] e continuada [a pós-graduação] (ressalvados os cursos específicos de

educação e tecnologias, os quais ainda são limítrofes) que não prevê em sua matriz curricular

componentes específicos dessa área ou, quando dispõem, os componentes detêm baixa carga

horária destinada para atividades de apropriação do uso desses suportes; também o próprio

1 (Re)criação de narrativas ficcionais construídas por fãs de personalidades, web séries, filmes, novelas, obras

literárias, dentre outros objetos, que se apropriam dessas histórias e as recriam de acordo com a sua criatividade.

Gênero muito popular em sites e blogs teens. 2Disponível em: http://obviousmag.org/archives/2009/01/1_micro_concurso_de_microcontos_do_obvious.html

acesso: 07 de jul. 2018. Disponível em: https://twitter.com/culturarj/status/671394910784868352 Acesso em: 07

jul. 2018 3Disponível em: https://www.skoob.com.br. Acesso em: 06 jun. 2018.

Page 22: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

22

caráter camaleônico desses artefatos, metamorfoseando quase diariamente, requerendo

constantes atualizações. E, o mais grave de todos os motivos, que se dá muito em detrimento

dos fatores supracitados: discrepâncias de objetivos no diálogo entre gestão, docentes e

alunos, o que culmina no afastamento desses dispositivos dos ambientes da sala de aula,

incidindo num preconceito construído de que as redes sociais não são espaços de fomento ao

saber.

Sublinha-se ainda o fato de boa parte das instituições escolares públicas brasileiras

disporem de pouca estrutura teológica. Embora o Ministério da Educação (MEC) e o

Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) venham

desenvolvendo ações integradas para reverter essa situação, podendo citar o Programa

Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo4) e o Programa Banda Larga nas Escolas

(PBLE)5, as escolas continuam apresentando debilidade no quese refere aos suportes e

aparatos tecnológicos: quantidade insuficiente de computadores para acesso dos alunos;

ausência de manutenção nos recursos tecnológicos, o que favorece uma obsolescência mais

rápida; não acesso à internet ou baixa conectividade; inexistência de funcionários para

operacionalizar os recursos, dentre outras questões que dificultam a implicação desses

artefatos em sala de aula.

Desse modo, é necessário tensionar questionamentos, realizar investigações que

respondam ou viabilizem possibilidades de respostas para uma melhor compreensão de como

esse abismo existente entre alunos, professores, ambientes virtuais das redes sociais e

conhecimento podem ser atenuados. Diretivamente, entender quais contribuições essas redes

podem favorecer para a insurgência de um novo perfil de leitores e, consequente,

comportamento de leitura, de como o professor pode fazer usufruto delas enquanto artefato

didático para mediação e como as leituras realizadas nas redes sociais da internet podem

inserir os educandos no universo da leitura e/ou suplementar as suas práticas leitoras.

Assim, a presente investigação teve por objetivo central analisar como as redes sociais

da internet (Facebook, Instagram e Twitter) podem colaborar na formação leitora dos

educandos. Com o desdobramento da pesquisa, pretendeu-se ainda: examinar os

comportamentos leitores, nas redes sociais dos alunos do 3° Ano do Ensino Médio do Colégio

Estadual de Serrolândia (CES); cartografar quais as principais redes utilizadas pelos alunos e

os gêneros discurssivos mais lidos por eles nesses espaços; perceber quais as contribuições da

mediação docente para a proficiência leitora dos educandos, com base em discursivos

4 Esse Programa leva às escolas computadores, recursos digitais e conteúdos educacionais.

5 Tem como objetivo conectar todas as escolas públicas urbanas à internet.

Page 23: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

23

presentes nas redes. A partir de então, a pesquisa busca corroborar para a formação leitora,

com base no acesso às redes sociais da internet, desenvolvendo ações, como a construção

colaborativa de um produto, material didático formativo.

É de compreensão geral que o déficit na formação leitora dos indivíduos acarreta

consequências sérias aos seus desenvolvimentos cognitivo e intelectual, ocasionando em

muitas situações o abandono dos estudos, pois muitos não conseguem se perceber como um

sujeito do saber, o que, por consequência, dificulta a sua vivência plena em sociedade. Desse

modo, na tentativa de atenuar o distanciamento entre os alunos e a prática das múltiplas

leituras, de aperfeiçoar as práticas metodológicas docentes de modo a explorar o ambiente

virtual das redes sociais como espaço pedagógico, sobretudo, de estimular e preparar os

alunos para lidarem com os hipertextos dispostos nas mídias, é que fora proposta a

investigação Em Touches e em cliques: a formação leitora por intermédio das redes sociais

da internet.

Nesses termos, a construção da presente pesquisa se deu por intermédio de uma

abordagem qualitativa, pois se pretendeu investigar motivações e efeitos de um dado

fenômeno social, centrando-se nas relações estabelecidas entre os colaboradores da pesquisa e

o objeto pesquisado, bem como a maneira que esse objeto poderá ser utilizado como recurso

didático de mediação leitora.

Pelo maior estreitamento com os objetivos propostos pelo estudo, bem como pelo

entendimento de que “o problema nasce, num contexto preciso, de um grupo em crise”

(BARBIER, 2004, p. 54), sendo então cabível a esse problema um estudo detalhado com

itinerário claro e formativo é que, nesta pesquisa, será adotado por método a pesquisa-ação. A

pesquisa-ação, filiada aos paradigmas críticos, questionou os métodos e dispositivos

arraigados às investigações de cunho positivista, humanizando e horizontalizando a relação

entre pesquisador, objeto e colaboradores. A pesquisa-ação preza por uma maior implicação

ao objeto, bem como requer uma intervenção nos moldes reflexão-ação-reflexão. Para o

pesquisador e metodólogo Michel Thiollent (2011, p. 14), uma das principais características

da pesquisa-ação é o fato de fulgurar como,

Um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita

associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os

pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão

envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

Desse modo, os dispositivos utilizados na construção de dados estão filiados ao escopo

da Pesquisa-ação, sendo selecionados neste estudo a observação participante, o grupo de

Page 24: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

24

discussão e o questionário. Cabe salientar que esta investigação também está atravessada pela

dimensão formativa, primordial no âmbito da educação. Assim como, por se tratar de uma

pesquisa circunscrita num Mestrado Profissional que, posterior ao processo de investigação,

requer a construção de um produto interventivo fruto das reflexões, as quais devem colaborar

para sanar a problemática diagnosticada, optou-se pela elaboração de um material didático,

construído de modo colaborativo, contendo estudos, reflexões e sequências didáticas para

melhor implicação das redes sociais da internet aos processos de formação e suplementação

da formação leitora.

Para uma maior compreensão do objeto, das suas implicações ao contexto social

contemporâneo e também dos procedimentos adotados para investigação, o texto se subdivide

da seguinte forma:

O primeiro capítulo – Ciberespaços de Leitura: um giga de problema, um tera de

Soluções?, detém por objetivo informar ao leitor sobre as condições sociais, pedagógicas,

científicas e afetivas pelas quais o trabalho foi proposto e está estruturado em três

subcapítulos: 1.1 Problemática, 1.2 Cibercaminhos: uma breve Revisão Sistemática e 1.3 De

Leitor para Leitor: quero Ler e nada mais. No primeiro dos textos é tecida uma narrativa que

situa, contextualizadamente, os ledores acerca objeto de pesquisa. Neste construto,

desencadeiam-se tensionamentos teóricos-metodológicos sobre o problema gerador e as

questão(ões) norteadora(s) do estudo. Para tanto, vale-se de dados oriundos de investigações

recentes, como os divulgados pelo Pisa(2018), Ministério da Educação e pela pesquisa

Retratos da Leitura no Brasil (2016), no tocante as prática de leitura; leitura em ambientes

virtuais e orientações de órgãos oficiais sobre os usos dos ambientes virtuais no processo de

aprendizagens. Já no subcapítulo Cibercaminhos, constrói-se uma breve revisão sistemática a

partir de busca efetivada no banco de teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior (CAPES), evidenciando alguns trabalhos que dispõe de áreas, eixos, córpus

semelhantes aos aqui propostos e que, de algum modo, colaboram para o respostamento à

problemática dada. Finalizando o primeiro capítulo, parte-se ao subjetivo e são evidenciadas

inquietações e implicações do pesquisador para o pensar do presente estudo.

O capítulo segundo – A Virtualização do Texto e a Formação do Leitor em tempos de

Hiperleituras Virtuais, caracteriza-se pela discussão das categorias teóricas relacionadas às

práticas de leitura, categorias que dão ancoragem aos diálogos e análises tecidas neste

construto. No primeiro subcapítulo há uma acentuada cartografia sobre a evolução nos

suportes de escrita e consequente superfícies de leitura, da argila às projeções em telas,

explicitando como as concepções e comportamentos de leitura foram se forjando a partir de

Page 25: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

25

cada novo aparato de amparo a leitura. O segundo subcapítulo é construído sob a luz da

Sociologia da Leitura e se debruça sobre os conceitos de leitura e sobre o delineamento de

alguns perfis ledores; registros de quando o leitor ainda estava à margem do processo de

atribuição de sentidos até os estudos contemporâneos em que esses sujeitos ocuparam a

centralidade no processo de produção e análise de textos. Concluindo o capítulo, o último

texto explicita dados e índices referentes aos cenários de leitura no Brasil, com maior ênfase

aos que se relacionam ao contexto da educação básica. Também propõe reflexões acerca do

ensino da leitura e da formação leitora.

No terceiro capítulo – Conexão e Interatividade em rede: as Redes Sociais da Internet

e a Formação de Coletivos Inteligentes, para redimensionar o leitor, conduzindo-o à

ambiência desse cibermundo, à princípio, é delineado o percurso historiográfico trilhado pela

internet desde as suas origens com tensionamentos e prerrogativas bélicas, até as mais

distintas funcionalidades atribuídas a ela na contemporaneidade. Por conseguinte, são

trabalhados conceitos como os de rede, sociedade em rede (com ênfase para o ciberconvívio),

comunidades virtuais e coletivos inteligentes. O capítulo é finalizado com o desenvolvimento

de subcapítulo no qual é construído um diálogo sobre as cadeias evolutivas da internet, a

saber: a WEB 1.0, 2.0, 3.0 e sobre o consequente aprimoramento das redes sociais. Na

oportunidade, são descritas, com maior precisão, as três redes foco deste estudo: Facebook,

Instagram e Twitter, evidenciando suas origens, funcionamento, conectividade e

interferências no mundo sólido, real e, sobretudo, a influência dessas redes nos processos de

formação leitora na contemporaneidade.

O quarto capítulo – Aspectos Metodológicos da Pesquisa, explicita, com maior

detalhamento, quais os trajetos percorridos pela pesquisa; com ênfase para natureza,

abordagem, método e instrumento de construção de dados nela utilizados, descrevendo o

passo a passo e justificando o uso de cada um desses elementos. No capítulo, ainda há uma

descrição do lócus que foi construída a partir das observações realizadas, dos documentos

institucionais oficiais disponibilizados e das colocações de alguns colaboradores; há também

uma ligeira apresentação do perfil (da coletividade) dos sujeitos colaboradores da

investigação. O Capítulo é encerrado com o texto que relata qual a dinâmica estabelecida para

descrição e análise dos dados obtidos com a aplicação de cada um dos instrumentos, também

com as informações acerca da construção do produto resultante da realização da pesquisa.

O último capítulo, Alunos Leitores na era Digital: os Celulares, os Professores, os

Textos e as Aprendizagens, está subdividido em dois subcapítulos, nos quais: o primeiro

dialoga sobre aspectos relacionados aos variados usos de aparatos oriundos das TDICS;

Page 26: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

26

dentro e fora da sala de aula, quanto o segundo se atem às práticas de leitura no âmbito

escolar e, também, no extraclasse. Logo, este capítulo se propõe a dialogar sobre os objetivos

e alguns resultados obtidos com a investigação, assim como a responder as questões

norteadoras, também suscitando outros questionamentos. No texto, são caracterizados alguns

comportamentos de leitura dos educandos (observados ou desvelados por eles nas

provocações contidas no questionário ou grupo de discussão), retomando alguns conceitos

teóricos metodológicos já problematizados. E, construindo um diálogo conclusivo, são

trazidas Algumas Considerações.

Page 27: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

27

2 CIBERESPAÇOS DE LEITURA: UM GIGA DE PROBLEMA, UM TERA DE

SOLUÇÕES?

A atividade humana aumenta numa progressão pasmosa. Já

os homens de hoje são forçados a pensar e a executar em

um minuto o que seus avós pensavam e executavam em

uma hora. A vida moderna é feita de relâmpagos no cérebro

e de rufos de febre no sangue. O livro está morrendo,

justamente porque já pouca gente pode consagrar um dia

todo, ou ainda uma hora toda, à leitura de cem páginas

impr

essas

sobr

e o

mes

mo

assu

nto.

(Ola

vo

Bilac, Revista

Kosmos, n. 1,

jan. 1904)

Page 28: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

28

2.1 PROBLEMÁTICA

Durante anos, a concepção de leitura se traduziu por decodificação do signo escrito e

posteriormente, de decodificação e inferenciação sobre esses signos – uma concepção muito

restritiva à palavra escrita. Contudo, no decorrer do tempo, o sentido de leitura tornou-se

muito mais amplo. Ler é compreender os mais diversos sons, imagens, cenas, dentre outras

formas de comunicação, enunciação e de linguagens. Em função disso, desde os primeiros

anos escolares até as últimas instâncias dos cursos de formação profissional continuada

objetivam a formação de um sujeito leitor crítico, comprometido com a sua realidade social.

No entanto, apesar dos esforços hercúleos, ainda são alarmantes os índices que demonstram o

abismo entre os sujeitos e as palavras, como se pode inferir a partir da análise dos dados

dispostos na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua),

divulgada em dezembro de 2017 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),

os quais evidenciam a existência de 11,8 milhões6 de analfabetos no Brasil, estando a metade

desses na região Nordeste.

Por consequência disso, inúmeras são as leis de fomento e programas que incentivam

as instituições de ensino a fazerem adesão e desenvolverem ações que objetivem o

aperfeiçoamento das práticas de leitura dos educandos, bem como procedimentos que

promovam a democratização do livro e demais suportes de leitura. Alguns exemplos dessas

propostas de incentivo à leitura no âmbito nacional se dão por intermédio do Plano Nacional

do Livro e Leitura (PNLL), do Instituto Pró-Livro, também por meio de políticas públicas

6 Disponível em: https://www.valor.com.br/brasil/5234641/ibge-brasil-tem-118-milhoes-de-analfabetos-metade-

esta-no-nordeste . Acesso em: 03 jul. 2018.

Page 29: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

29

culturais que criam bibliotecas, alimentam os seus acervos e formam agentes de leitura,

sobretudo da leitura literária. E, mais especificamente no contexto educacional, as unidades de

ensino que contam com o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) e o Programa

Nacional do Livro Didático (PNLD). Ambos distribuem livros didáticos e paradidáticos para

formação, deleite de alunos e professores. Para além dos subsídios externos, as escolas

contam com seus regimentos internos, Projeto Político-Pedagógico (PPP) e demais projetos

estruturantes que trazem como temática a formação de leitores das múltiplas textualidades.

Apesar das micro e macro políticas de fomento às práticas de leitura, e de essa ser uma

discussão em constante centralidade nas pautas das agendas escolares, bem como a

contemporânea ampliação dos espaços, meios de prática e de socialização da leitura, como as

bibliotecas, salas de leituras públicas, a formação de agentes para estimular esse

comportamento, os índices de proficiência leitora no Brasil são baixos e alarmantemente

correspondendo a de sujeitos analfabetos e dos que necessitam ampliar a alfabetização.

No âmbito escolar, instituições e instrumentos de avaliações externas como as

Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), a Provinha Brasil, a Avaliação Nacional da

Educação Básica (ANEB), as Olímpiadas de Língua Portuguesa, a Prova Brasil, avaliações

essas que, a partir do ano de 2019 sofrerão reestruturação7, passarão ser denominadas de

Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), e aplicadas nos anos finais de todos os

ciclos educacionais (Pré-escola, 2º, 5º, 9ºanos e 3ª Série do EM), ampliando os conteúdos

programáticos, mais especificamente para o Ensino Médio, o Exame Nacional do Ensino

Médio (ENEM), no âmbito internacional, o Programme for International Student

Assessment (PISA), com seus resultados, desvelam em números a fragilidade do processo de

formação leitora dos alunos da educação básica.

As avaliações externas oficiais e demais instrumentos que aferem as condições

escolares e as habilidades cognitivas só convertem em estatística as prerrogativas constatadas

diariamente pelos docentes em sala de aula: os déficits na formação dos educandos, sobretudo

aqueles relacionados à formação e proficiência leitora. Num ligeiro exemplo, sublinha-se o

que a pesquisadora Gil (2008) evidencia nos relatos dos docentes mediadores de

conhecimentos relativos à grande área das ciências matemáticas, cujos alunos ao se depararem

com a sequência de instrução para montar um cálculo se saem melhor com os números

armados do que quando essas grandezas estão engendradas em problemáticas contextuais.

Desse modo, infere-se que é algo relacionado às capacidades interpretativas e contextuais.

7 Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/11907/avaliacao-nacional-de-alfabetizacao-e-prova-brasil-

sofrem-alteracoes-em-2019 Acesso em: 06 jul. 2018.

Page 30: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

30

Assim como essas indagações, recorrentemente também se escutam em Atividades

Complementares (AC)8 e encontros pedagógicos formativos explanações do tipo - “os alunos

não leem” - “os discentes não querem ler”. Constatações um tanto quanto equivocadas, pois

são muito generalizantes, não explicitam de qual tipo de leitura se fala, inferindo-se que seja a

decodificação do signo escrito, outra frágil afirmação, se levado em consideração o atual

contexto da expansão do consumo e acesso das textualidades líquidas, dispostas nos

ambientes virtuais digitais dos sítios, moodles e redes sociais, tais como as leituras dos

memes, GIFS, hipertextos, ciberadaptações literárias, dentre outros.

Recentes investigações evidenciam que nunca na história da humanidade houve tanto

acesso à formação e informação quanto na contemporaneidade, especialmente por parte dos

sujeitos em idade escolar. Uma comprovação para essa máxima encontra-se na 4ª edição da

pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, investigação idealizada pelo Instituto Pró-Livro, por

meio da aferição realizada pelo Ibope no ano de 2015, com 5.012 respondentes, a qual

evidenciou que as leituras no meio digital estão em ascensão. A pesquisa explicita que “56%

dos entrevistados leu no smartphone e 49% nos computadores, assim como 88% baixaram

livros de modo gratuito” (FAILLA, 2016, p. 262 - 263). O fluxo das textualidades dispostas

em rede é intenso e vultuoso. Contudo, cabe salientar que nem sempre essa leitura é realizada

de modo contextual, reflexiva e direcionada. Em grande parte dessas leituras não são

estabelecidos filtros, logo se faz necessário que profissionais, como os docentes, se utilizem

dessas prerrogativas disparadoras, bem como desses multimeios como matéria e espaço para

auxílio na formação e suplementação das práticas de leitura.

Desse modo, cabe aos profissionais (principalmente os professores) que trabalham

orientando e auxiliando na formação dos sujeitos, que se apropriem dos conteúdos dispostos

nesses ambientes, bem como dos funcionamentos e funcionalidades desses espaços para então

implicá-los ao processo de ensino e de aprendizagens. É evidente que o cotidiano e a práxis

docentes já estão envoltos de diversas problemáticas que incidem na demanda por formação.

Contudo, num contexto digital, de ciber e transmídias de alunos nativos digitas, o professor

desponta como um importante ator no processo de filtragem das informações que circulam

nesses meios e na geração de saberes. Acerca desse delineamento, a pesquisadora Kenski

(2012, p. 99, grifos da autora) elucida que,

8 Se constitui como um espaço/tempo de formação nos quais o/a professor/a pode planejar, construir objetos

avaliativos, planos de aula, projetos didáticos de modo individual ou coletivo. As ACs estão previstas na divisão

das cargas horárias docentes, e, comumente, ocorrem semanalmente ou no máximo quinzenalmente.

Page 31: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

31

No universo de informações apresentadas pelos medias e equipamentos eletrônicos de

última geração, o papel do professor é recuperar a origem da memória e do saber, de

estabelecer uma certa ordem e direcionada para as práticas, os conhecimentos, as

vivências e posicionamentos apreendidos nos mais variados ambientes e

equipamentos: dos livros aos computadores redes e ambientes virtuais.

Não restam dúvidas de que implicar esses dispositivos técnicos digitais, mais

restritamente o uso das redes sociais atreladas ao processo de formação leitora, exige o

tensionar de discussões mais abrangentes, pois nestes meios líquidos, língua, linguagem,

emissão e recepção assumem desenhos específicos à ambiência das redes, estabelecendo um

dinamismo próprio. Em outros termos, em função da produção de conteúdos e de

retroalimentação dessas mídias, as palavras são afetadas por aglutinações, derivações,

supressões de sílabas, nasalização de sons, acréscimo de letras, bem como são constantes o

surgimento de neologismos, dentre outros fenômenos que ainda não acham amparo descritivo

na norma culta.

Logo, o suscitar dessas discussões necessita ser algo urgente e contínuo,

principalmente no contexto escolar onde se registra um número significativo (e em

ascendência) de alunos que destinam um grande percentual de horas diárias para acessar os

ambientes digitais virtuais, especialmente o das redes sociais da internet, lendo, produzindo e

partilhando conteúdos distintos em diversas formatações de arquivos, em áudio, ícones

imagéticos, gráficos, dentre outros. Nesses termos, tem-se nessas mídias sociais digitais um

importante instrumento para mediação de conteúdos, haja vista que o aluno acessa e, para a

maioria deles, é um ambiente prazeroso de se estar.

Mediante a esse cenário, seria ingênuo presumir que o fomento às leituras realizadas

nas redes tão somente daria conta de sanar os déficits registrados na formação do leitor ou que

esse espaço de concepção da prática leitora se sobreporá aos estabelecidos em suportes físicos

de leitura, como os livros, revistas e demais materiais impressos. Contudo, o evidenciável é

que, a partir da exploração dos espaços das redes como artefato didático, os professores

poderão dispor de uma estratégia de sedução, aliando esse recurso à sua prática, bem como

poderão aproximar-se do que é estabelecido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Brasileira (LDB), Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a Base Nacional Comum

Curricular (BNCC), para mediar e gerar aprendizagens contextualizadas às vivências do

discente que na contemporaneidade ocorrem cada vez mais e em maior frequência imersas ao

contexto digital/virtual.

Outra implicação dessas mídias ao processo de ensino diz respeito à possibilidade que

o docente detém de extrair, explorar fatos e temáticas virais das redes. Acredita-se que utilizar

Page 32: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

32

essas matérias para debates, tendo nesses objetos o ponto de partida para construção de

textualidades escritas e orais, experimentando a construção criativa e/ou colaborativa por

meio dos mecanismos dispostos nas redes como as funções curtir, comentar e compartilhar,

sejam realizadas inferências sobre um dado texto hospedado nas mídias, de modo que os

alunos percorram de maneira autônoma os hiperlinks e hipertextos digitais. O professor pode

ainda utilizar-se de gêneros como os memes, mashups, conteúdos de blogs, dentre outros para

realização das múltiplas leituras, ressignificando o espaço das redes, convertendo-o num

ambiente propício à construção de saberes, possibilitando que os alunos se sintam mais

seduzidos pelas aulas que ocorrem nos espaços físicos.

Destarte, a formação do leitor crítico é uma das principais funções que escolas e

demais instituições de ensino devem ocupar-se e desenvolver em seus educandos. É por meio

do contínuo aperfeiçoamento dessa capacidade que os sujeitos poderão lograr êxito no

desencadeamento das demais aprendizagens, de acordo aos níveis e anos de ensino, para o

alcance dos objetivos, metas estabelecidas para o seu percurso na educação básica e na vida.

A formação deste leitor responsivo aos textos, por inúmeras razões, em muitos contextos

escolares ainda não é algo que ocorra a contento, muito em função da adoção de métodos

inadequados no ensino e das concepções equivocadas de leitura; distanciadas do contexto dos

leitores.

Por essas razões, para a não consolidação de um ruído no percurso formativo dos

educandos se faz necessário que os docentes estejam atentos à primazia da leitura

compreendendo o seu perpassar pelas mais diversas experiências dos leitores, não se

restringindo à decodificação do signo escrito. Isto está mais próximo da conceituação

apresentada pela pesquisadora Rojo (2012) para multiletramentos9: contato com os mais

diversos tipos e gêneros discursivos, que estão dispostos nos mais variados suportes e mídias

que traduzem a multiplicidade cultural, assim como as funções sociais desses objetos.

Destarte, sabe-se que o percurso de condução dos educandos até que esses atinjam os

graus interpretativos satisfatórios, nos quais agucem o seu potencial crítico, não é um

processo simples, pois, neste caminho, inúmeras são as intemperes e os abismos. Contudo,

como já elucidava o estudioso brasileiro Freire (1989), faz-se necessário desenvolver a priori

o gosto pela leitura, para depois a prática da leitura significativa em si, prática reflexiva e

contextual.

9 Os estudos acerca desta categoria serão discutidos no capítulo 3.

Page 33: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

33

Os estudos contemporâneos que têm na centralidade o lugar do leitor e

comportamentos leitores evidenciam que esses ledores conquistaram maiores espaços e

atingiram uma autonomia maior frente ao processo de construção e análise dos textos. Essa

façanha muito se relaciona às teorias advindas da estética da recepção com os estudos de

Jauss (1994) e Iser (1996), também dos estudos da sociologia da leitura, que desencadearam o

uso de outras lentes para perceber a emancipação do leitor, mediante às amarras construídas

historicamente.

Na atualidade, muitos dos estudos que investigam a prática de leitura se debruçam

sobre os comportamentos assumidos pelos leitores nos ambientes virtuais digitais, espaços

possibilitadores de um maior acesso aos textos, escrita e leituras colaborativas, destacando-se

as pesquisas oriundas do campo da sociologia da leitura, teoria fundamental a este estudo.

Assim, as pesquisas que focalizam nos novos ambientes virtuais digitais, presentes em

diversas plataformas e suportes cujos espaços estão alocados como ambiência propícia para o

desenvolvimento das habilidades leitoras e, consequentemente, sobre o perfil leitor que

insurge a partir da interação com esses multimeios.

Corroborando com a discussão, Chartier (2002) elucida a relevância do suporte de

leitura para a caracterização do leitor e consequentes estratégias formativas a serem

desenvolvidas. Ao se debruçar sobre as evoluções e atualizações dos suportes de escrita e de

leitura, Chartier (1998, p. 97) ressalta que: “A revolução do nosso presente é mais importante

do que a de Gutenberg. Ela não somente modifica a técnica de reprodução do texto, mas

também as estruturas e as próprias formas do suporte que o comunica aos seus leitores”.

Nessa mesma perspectiva, o autor salienta que vivemos na terceira evolução do livro, a

primeira: a passagem do rolo ao códice; a imprensa de Gutenberg a segunda, e o surgimento

da leitura eletrônica como a terceira e atual. Logo, é necessário investigar os efeitos

produzidos nos leitores por estes suportes, atentando para as contribuições deste novo perfil

leitor para atualização das práticas de leitura, sobretudo as implicações à sua firmação.

Em diálogo com o que é defendido por Chartier (2002), a pesquisadora Santaella

(2011) desenvolve estudos semióticos correlacionados às linguagens contemporâneas

emergentes a partir da convergência entre as mídias digitais e, nesse contexto, a insurgência

de um novo perfil leitor, o leitor Imersivo, hiperleitor, leitor ubíquo ou leitor virtual que,

conforme o nome sugere, são aqueles sujeitos que concebem as suas práticas nos ambientes

multimodais, hipermidiáticos, on-line, trafegando “nas potencialmente infinitas infovias do

ciberespaço” (SANTAELLA, 2011, p. 11), pelos links e conexões hipertextuais virtualizadas.

Esse perfil do leitor é definível como o mais adequado para se balizar a leitura nos ambientes

Page 34: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

34

on-line, dispondo de características mais ativas, agindo assim como um navegador velejando

pelos vários códigos dispostos na rede, tecendo conjunturas entre os inter e hipertextos

integrantes desse mar de infinidades de realizações de leituras.

Quanto à leitura, o filósofo da cibercultura Pierre Lévy (2011) defende que esta

consiste na atualização do texto, em outros termos, significá-lo: “pode-se dizer que um ato de

leitura é uma atualização das significações de um texto [...]” (LÉVY, 2011, p. 41). Esse autor

investiga a constituição do novo perfil leitor, o leitor navegador, aquele que povoa o

ciberespaço, ao qual atribui o novo arquétipo leitor, o leitor em tela, como um sujeito cuja

primazia é uma leitura investigativa, o qual se depara com inúmeras ferramentas de busca, de

interação e de interferência no objeto lido. Assim, diante dessas questões suscitadas por Lévy

(2011), torna-se evidente que muitos dos estudos e das teorias desenvolvidas a respeito do

leitor, além de investigar o modo pelo qual concebe e recepcionam a leitura buscam também

estabelecer métodos para auxiliar na condução dos indivíduos a uma formação leitora

proficiente, o que se buscou e se busca na contemporaneidade, constituindo a criticidade,

reflexibilidade e responsividade acerca do texto lido.

2.2 CIBERCAMINHOS: UMA BREVE REVISÃO SISTEMÁTICA

Com o intuito de ampliar os horizontes da pesquisa, foi realizada uma investigação no

banco de teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),

no período de 20 de outubro a 22 de dezembro de 2017, com o objetivo identificar trabalhos

cuja temática pudesse corroborar com as discussões e perspectivas da investigação. Nesta

ótica, adotou-se por método a revisão sistemática, levantamento, descrição e análise de dados,

estabelecendo por recorte temporal trabalhos hospedados na plataforma, no período

compreendido de janeiro de 2003 a dezembro de 2016, período no qual as redes sociais da

internet 2.0, objeto desta pesquisa, foram disponibilizadas para o acesso de modo gratuito. Os

descritores utilizados foram: Redes sociais da internet; formação leitora; comportamentos

leitores; práticas de leitura e mídias; prática de leitura e hipermídias; leitura e redes sociais;

leitura e redes sociais da internet e formação leitora e redes sociais da internet.

Quadro 01: Revisão Sistemática – Busca I

TERMOS

PESQUISADOS

NÚMEROS

DE

RESPOSTAS

(TOTAL)

NÚMEROS DE

RESPOSTAS –

FILTRO ÁREA DE

CONHECIMENTO

EDUCAÇÃO

NÚMEROS DE

RESPOSTAS –

MAIOR ÁREA DE

CONCENTRAÇÃO

DETRABALHOS

Page 35: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

35

POR DESCRITOR

REDES SOCIAIS DA

INTERNET 63 09

Comunicação (27)

FORMAÇÃO

LEITORA 135 49

Linguística, Letras e

Artes (75)

COMPORTAMENTOS

LEITORES 07 02

Linguística, Letras e

Artes (03)

PRÁTICAS DE

LEITURA E MÍDIAS 32 11

Letras (12)

LEITURA E

HIPERMÍDIAS 07 04

Educação (04)

LEITURA E REDES

SOCIAIS 229 34

Linguística, Letras e

Artes (63)

LEITURA E REDES

SOCIAIS DA

INTERNET

05 00

Comunicação (02)

FORMAÇÃO

LEITORA E REDES

SOCIAIS DA

INTERNET

00 00

(00)

Fonte: Quadro elaborado pelo autor, 2017.

Ao lançar mão do descritor Redes sociais da internet, central para a investigação,

constatou-se a predominância de trabalhos relacionados à grande área da comunicação,

estando entre as temáticas mais recorrentes o uso dessas redes aplicadas às atividades de

marketing nos multimeios. Também a análise do discurso em pronunciamentos verbais e

visuais em postes políticos partidários. Encontrados ainda trabalhos de cunho sociológico que

explanam e discutem a postura de personalidade ou grupos sociais nessas redes e, no tangente

à educação, verificam-se propostas as quais realizam problematizações dos processos

fonéticos, fonológicos e lexicais de sincope, apocope e neologismo em língua portuguesa;

também sobre aplicativos e gameficação aplicado ao ensino.

Numa investigação incipiente do termo Formação leitora, sem a aplicação do filtro “ ”

(aspas), os resultados mostraram-se altamente diversos, apontando para as múltiplas relações

entre leitura e as diversas ciências: exatas, biológicas, da vida, sociológicas, dentre outras.

Contudo, ao inserir o filtro aspas ao termo buscado, os resultados apresentaram-se em número

e áreas de concentração mais reduzidas e específicas, o que não eliminou as diversas vertentes

e temáticas, sendo as mais recorrentes respostas objetos relacionado a formação do leitor

literário em diversos anos, eixos e modalidades de ensino, também formação leitora dos

alunos, implicações na formação leitora dos professores, assim como trabalhos acerca da

alfabetização, letramento e recepção leitora.

Page 36: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

36

Incorporando à investigação o descritor comportamentos leitores, que fulgura como

uma nova perspectiva para estudo e análise das práticas de leitura constatou-se a incipiência

da temática abordada em teses e dissertações, haja vista a quantidade de resultados

encontrados, num total de sete. As temáticas dos trabalhos enveredam por caminhos diversos,

contudo, todos se interligam à construção, recepção e análise da leitura literária.

Na primeira tentativa de tornar o estudo mais direcionada ao objeto da pesquisa,

mesclando os elementos basilares da investigação foram propostas as buscas das palavras-

chave práticas de leitura e mídias, intercruzadas pelo descritor AND, pesquisadas nesses

termos “PRÁTICAS DE LEITURA“AND”MÍDIAS”. Nos resultados obtidos com a busca

desse descritor foram encontrados, prioritariamente, trabalhos pertencentes às grandes áreas

de Letras, Letras e Artes, Linguística e Educação.

Nos resultados foram encontrados trabalhos que discutem posicionamento do leitor

frente aos diversos gêneros do discurso existentes e em constante circulação nos veículos

midiáticos, sendo mais recorrentes estudos relacionados ao Cinema e à TV como espaço para

averiguação dessas práticas de leitura; trabalhos oriundos da literatura comparada, que

realizam análises de uma determinada obra em diferentes suportes; em maior evidência a

verificação entre romances e adaptações fílmicas. Um fato que cabe adendo nesta busca são

algumas subáreas emergentes na pesquisa das duas grandes áreas dispostas nos descritores

supracitados, o cunhar de termos, os neologismos e a reapropriação de termos, tais como

literatura gamer, narrativas transmédias, hiperficção dentre outras.

Tornando mais cirúrgica a procura, fora lançado à resposta os descritores leitura e

hipermídias, em termos de busca “LEITURA“AND”HIPERMÍDIAS”, direcionando os

sentidos de mídias para os aparatos e ambientes midiáticos on-line virtualizados, constata-se

ainda um número limítrofe de pesquisas dispostas neste repositório. E, recorrendo ao

resultado da busca anterior, percebe-se que as pesquisas que se relacionam à área de leitura e

dispositivos tecnológicos ainda estão mais próximas às análises, práticas e recepção de textos

na TV, cinema, games e na blogosfera.

Aproximando-se das nomenclaturas utilizadas como categorias teóricas desta

pesquisa, foram utilizados os descritores leitura e redes sociais, dispostos

“LEITURA“AND”REDES SOCIAIS” para apuramento. A revelia do que se esperava, foram

os termos de buscas que apresentaram maior quantidade de respostas. Ao realizar a leitura dos

títulos das dez primeiras páginas, tornou-se evidente os motivos dos amplos, numerosos e

diversos resultados. Ocorre que o conceito de rede social é anterior ao advento da internet,

desse modo, foram encontrados resultados em teses e dissertações os quais abordam o

Page 37: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

37

conceito de rede aplicada às diversas áreas de conhecimento, tal qual da afetividade,

religiosidade, temáticas que se correlacionam com o desenvolvimento e análise de práticas

sociais. Contudo, cabe salientar que, doravante, também se apresentam alguns resultados,

incipientes, acerca da análise sociológica do comportamento dos sujeitos nas redes sociais da

internet. No tangente à educação, são encontradas pesquisas sobre a sociologia da leitura, as

aprendizagens múltiplas e colaborativas e o processo de construção de conhecimento em rede.

Desse modo, para melhor apurar os resultados, acrescentou-se mais um termo à

consulta, convertendo-se então em leitura e redes sociais da internet, em termos de busca

“LEITURA“AND”REDES SOCIAIS DA INTERNET”. Com o acréscimo desses descritores,

chegou-se a cinco resultados, os quais serão analisados com maior riqueza de detalhes.

Salienta-se aqui que, como última busca dispôs-se ainda dos descritores formação leitora e

redes sociais da internet, em termos de busca “FORMAÇÃO LEITORA“AND”REDES

SOCIAIS DA INTERNET”. Contudo, constatou-se que ainda não existem trabalhos

interligados e dispostos na plataforma se buscado esses termos com esses filtros.

Quadro 2: Revisão Sistemática – Busca II

TÍTULO AUTOR - TIPO DE

TRABALHO ANO

Álbuns virtuais: o facebook e a

construção memorável nas redes sociais.

SILVA, Fabiola de

Mesquita Costa.

Dissertação 2012

Os jovens flâneurs.com: A construção e

liquidez da identidade no espaço das

redes sociais na internet.

VIEIRA, Manuela do

Coral.

Tese

2013

Uso de rede social do facebook em sala

de aula: mais interação e aprendizado

sobre poemas concretistas.

GUERRA, Zailton

Pinheiro.

Dissertação

2015

Semiótica sincrética dos jingles: uma

análise dos jingles nas mídias

audiovisuais.

SBABO, Alexandre

Provin.

Dissertação

2015

Com ou sem vandalismo? Black bloc,

acontecimento e disputa de sentido.

SILVA, Raquel

Dornelas da Costa.

Dissertação

2015

Fonte: Quadro elaborado pelo autor, 2017.

Ao verificar o último termo de busca a apresentar resultados,

“LEITURA“AND”REDES SOCIAIS DA INTERNET”, percebe-se a existência de cinco

trabalhos os quais dialogam de algum modo com as perspectivas previstas para

Page 38: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

38

fundamentação e execução da pesquisa Em Touches e em cliques. De modo singular, as

pesquisas refletem como a liquidez dos espaços virtuais das redes sociais da internet vem

intervindo nos comportamentos sociais em diversos aspectos.

O primeiro trabalho, Álbuns virtuais: o facebook e a construção memorável nas redes

sociais, dissertação apresentada ao Mestrado em Comunicação e Linguagens da Universidade

Tuiuti do Paraná no ano de 2012, pela pesquisadora Fabiola de Mesquita Costa Silva, é um

texto que não se encontra disponibilizado na íntegra na plataforma sobre a prerrogativa de ser

anterior à existência do repositório; logo, foi necessário recorrer ao site de buscas Google para

encontrá-lo. A pesquisa supracitada trata-se uma análise dos álbuns de fotografias dispostos

na rede social Facebook, numa perspectiva de como as redes estabeleceram uma nova

dinâmica para leitura e interpretação dessas imagens, de modo a possibilitar novos formatos

para construção das memórias. Em suma, o trabalho evidencia como os álbuns, sobretudo os

familiares, deixaram de ser algo restrito ao domínio das famílias ao contexto doméstico,

estabelecendo então um contato com o público mais amplo, que não se relaciona diretamente

com os objetos fotográficos.

O segundo trabalho é uma dissertação do Programa de Doutorado em Antropologia da

Universidade Federal do Pará (UFPA) defendida no ano de 2013, depositada no banco de

teses e dissertações por essa mesma instituição. O título do trabalho é Os jovens flâneurs.com:

a construção e a liquidez da identidade no espaço das redes sociais da internet, da

pesquisadora Manuela Coral Vieira. Esta pesquisa realiza um estudo de caso, a partir de

observações e realização de entrevista semiestruturada em espaços on-line (Facebook) e off-

line, com 11 jovens, com idade entre 17 e 31 anos, da região metropolitana de Belém, com

perfil ativo na rede social Facebook. A investigação analisa o comportamento desses jovens,

sobretudo na interação com o outro, evidenciando como as redes sociais corroboraram para

legitimar ou deslegitimar determinadas concepções de gênero e performances.

O terceiro trabalho também realiza um estudo de caso acerca das concepções dos

indivíduos sobre as práticas dos black blocs, num recorte evidenciado pelos atos e protestos

ocorridos em junho de 2013, jornadas de junho de 2013, analisando as matérias, textos

escritos, áudios e vídeos veiculados em blogs e em redes sociais da internet, bem como de

alguns fragmentos de uma entrevista concedida por um indivíduo participante dessas

atividades e autodeclarado um black bloc. A análise enverada por dois caminhos de

discussões: a primeira é a leitura realizada por pessoas contrárias a esses atos, as quais

consideram um ato de vandalismo e a segunda versa sobre os sujeitos que observam numa

perspectiva contrária a essa, os quais acham uma performance válida, uma legítima forma de

Page 39: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

39

protestar, na maioria das vezes, justificando seu ponto de vista na massa de corrupção que se

instaurara no Brasil. O trabalho foi depositado pela Universidade Federal de Belo Horizonte

(UFBH) e trata-se de dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Comunicação Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, da UFMG.

A quarta pesquisa trata-se da dissertação de Alexandre Provin Sbabo, intitulada

Semiótica sincrética dos jingles: uma análise dos jingles nas mídias audiovisuais, entregue e

depositada na/para Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 2015, no

Programa de Mestrado em Comunicação e Semiótica. A pesquisa analisa as intencionalidades

midiáticas e comerciais de um dado jingle, utilizando como dispositivo de análise a semiótica.

A última pesquisa, a que mais se aproxima da investigação Em Touches e em cliques,

é a dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Letras –

PROFLETRAS, do Campus Avançado Professora Maria Elisa de Albuquerque Maia, da

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UFRN), intitulada Uso de rede social do

facebook em sala de aula: mais interação e aprendizado sobre poemas concretistas,

defendida em 2015. A investigação realizada pelo professor e pesquisador Zailton Pinheiro

Guerra adota como metodologia uma abordagem qualitativa, do tipo pesquisa-ação

participante, dispondo de diversos materiais interventivos, planos de aula e sequência didática

para trabalhar com o letramento digital a partir do uso de poemas concretistas dispostos no

Facebook.

Mediante a investigação realizada no banco de teses e dissertações da CAPES, ficou

premente a necessidade da realização deste estudo, visto que boa parte das pesquisas utilizam

como metodologia o estudo de caso e a pesquisa bibliográfica. Em outros termos, são

incipientes ainda, sobretudo na área de Educação, investigações que prezem pela formação

leitora nas redes sociais da internet, a partir de uma pesquisa-ação. Julga-se inovador,

também, o fato de ser esta uma investigação proposta num Mestrado Profissional, haja vista

que as pesquisas já realizadas partem de mestrados acadêmicos os quais contribuem com as

análises reflexivas, mas não necessariamente com a construção de um produto que corrobore

para a atenuação da problemática evidenciada. Intervenção essa que, na pesquisa Em touches,

e em cliques, prevê a construção colaborativa de material, suporte didático para apropriação

da comunidade escolar sobre o uso de estratégias de leitura nas redes sociais da internet, na

perspectiva da formação leitora, com base na mediação docente. Também, são poucos os

estudos que detenham abordagens relacionadas às múltiplas textualidades e às principais redes

sociais da web 2.0, especificamente.

Page 40: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

40

2.3 DE LEITOR PARA LEITOR: QUERO LER E NADA MAIS

Desde a minha10

terna infância, convivia em contextos que me possibilitaram nutrir as

práticas de leitura. Em minha casa, por exemplo, os meus país liam diariamente, meu pai aos

finais de tarde sentava-se em sua poltrona e pegava o seu periódico diário, comumente o

Jornal A Tarde, trazido da capital baiana à nossa cidade do interior por meio do ônibus

intermunicipal, além da realização de leitura de revistas que, dentre outras informações,

explicitava o contexto sociopolítico nacional e do mundo, como a das revistas Veja, IstoÉ e

Época. Já a minha mãe, centrava-se sobre leituras mais direcionadas, correlacionadas à sua

formação, livros de manipulação medicamentosa, práticas de saúde, livros descritivos acerca

dos comportamentos dos pacientes; contudo, o que mais chamava a minha atenção em seu

comportamento leitor dizia respeito à leitura dos mapas dos sistemas do corpo humano e os

grandes atlas que representavam em imagens os microrganismos. Meu irmão preferia textos

referentes ao universo dos cães e cavalos, minha irmã se debruçava sobre revistas teens e de

celebridades.

Tínhamos estímulos diários à leitura e interpretação de textualidades; ouvíamos

músicas bem reflexivas, que nos remetiam a outras cultura e épocas, Altemar Dutra, Benito de

Paula, Ângela Maria, Agnaldo Timóteo, Erasmo Carlos, dentre outros. Vivíamos numa

chácara no centro da cidade, o que possibilitava um contato maior com a natureza, leitura ao

ar livre, acompanhamento da execução de plantio e colheita e acesso a uma cultura urbana em

ascensão. Todavia, um dos nossos maiores fomentos, sem dúvidas, eram as histórias que nos

eram narradas pela nossa colaboradora, Neide Alves, amada por todos nós, uma segunda mãe

para mim e meus irmãos.

Recordo-me que, num determinado período, assim que meu pai se aposentou, dois

amigos dele, Sr. Antônio e Sr. Durval Cruz (hoje, ambos falecidos), constantemente

frequentavam a nossa casa para ler e discutir diversos assuntos, como política, futebol, a

criação de animais de pequeno porte e o plantio de hortaliças; religião, com ênfase no

espiritismo, muito sobre as influências dos dois senhores, haja vista que meu pai se

10 Neste momento peço licença ao leitor para destoar do restante do texto e construir uma narrativa em primeira

pessoa. Julgo necessário e mais fidedigno adotar essa pessoa do discurso haja vista que se trata da elucidação da

minha implicação com o objeto pesquisado.

Page 41: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

41

autodeclarava agnóstico. Num desses encontros, o Sr. Antônio chegou em nossa casa com um

embrulho diferente e me chamou, entregando-me o volume. Pediu para que eu abrisse e, ao

abrir, havia diversos exemplares de revistas em quadrinhos; dentre os títulos estavam as da

Turma da Mônica e do Menino Maluquinho (as quais guardo os exemplares até hoje). Assim,

após esse ato, passei a participar vez ou outra das reuniões, deitado ao chão, com minhas

revistinhas.

A partir de então, comecei a adentrar cada vez mais ao universo da leitura, a princípio

em casa, com as influências aqui já minimamente explicitadas, também no âmbito escolar,

com a decodificação dos signos, em uma prática formatada pela gramática educacional.

Saliento que outro momento importante para o meu entrelaçamento e afeto com a leitura foi a

participação no projeto Tacho de Arde, desenvolvido pelo Artefato grupo de Arte e Educação

da cidade de Serrolândia. Nas oficinas e minicurso, líamos sobre autores, narrativas de

resistência, poemas e outros gêneros; contudo, o que mais me chamava a atenção era o

contato com os gêneros tidos como margem, a exemplo do cordel, o rap, os causos e algumas

outras literaturas de margem. Com minha ligação ao projeto, passei a desenvolver um gosto

pelas literaturas, iniciando com a leitura de peças teatrais infantis e juvenis, até a imersão no

mundo dos romances.

Desse modo, infância, adolescência e juventude estiveram marcadas pelas leituras.

Leituras que me conduziram à escolha acadêmica e, por consequência, também na profissão.

O curso de Letras Língua Portuguesa e Literaturas me possibilitou entender mais acerca das

teorias do texto, das intencionalidades dos autores, das lacunas de sentido, bem como da

recepção desses textos por parte dos leitores, assim como a profissão docente me fez perceber

o entendimento dos sujeitos sobre os textos e o seu imbricamento aos sentidos desses objetos.

Numa das primeiras Formações de Professores que participei, estudando as filiações

pedagógicas, mais especificamente o construtivismo, fui apresentado ao especialista Paulo

Freire. Um dos seus pensamentos me marcou e marca-me diariamente no âmbito profissional,

quando diz, dentre outras coisas, que antes de ler a palavra o sujeito já realiza uma leitura

prévia do mundo [palavra-mundo], leitura essa que incide diretamente no seu percurso

formativo, sendo necessário o estímulo a diversos meios, suportes e contextos de leitura.

Nesses termos, passei a acreditar na existência de um leitor crítico no interior de cada

indivíduo, necessitando apenas de um direcionamento, de um auxílio em seu percurso

formativo. Assim, nas vivências do cotidiano escolar, comecei a refletir a respeito de orações

e construções discursivas que legitimavam alguns objetos de leitura e gêneros em detrimento

de outros, bem como afirmavam a condição de que o aluno não quer ler. Movido por essa

Page 42: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

42

premissa paradoxal, haja vista que o que o indivíduo mais faz em seu cotidiano é ler: imagens,

cenários, sons, códigos e símbolos, talvez o que lhe falte sejam as estratégias de leitura, com

base na mediação docente que leve em consideração, principalmente, história de leitura desses

estudantes.

Uma vez que que já sabia que as práticas de leitura e a formação desse ledor seria um

dos eixos para formar meu objeto de pesquisa, passo a pensar na condição do leitor num

contexto contemporâneo, marcado pelas relações interpostas nos ambientes virtuais digitais,

na qual a maioria dos alunos está imersa produzindo e recepcionando textos.

Nesses termos, me inquieto, sobretudo, com a contraposição, os alunos não querem

ler. Teleguiado por essa inquietação, iniciei algumas investigações acerca desse “novo perfil

leitor”, bem como do seu comportamento leitor mediante a ambiência nessas mídias, surgindo

assim a necessidade de uma investigação maior. Nesse sentido, conhecendo a realidade do

Colégio Estadual de Serrolândia (CES), instituição de ensino que oferta o Ensino Médio na

modalidade regular, espaço em que me formei, bem como atuei como docente, ministrando

minicursos e oficinas para os discentes, percebi a necessidade da comunidade em discutir,

refletir e propor ações, a fim de implicar os ambientes virtuais das redes sociais à formação

leitora dos educandos.

3 A VIRTUALIZAÇÃO DO TEXTO E A FORMAÇÃO DO LEITOR EM TEMPOS

DE HIPERLEITURAS VIRTUAIS

(...) Haverá um último livro sobre a morte do livro?

Leremos palavras no ar

Ou na tela de um objeto invicível?

O verbo folhear será esquecido?

A frase: Vou abrir um livro

Será um insulto? Uma profanação?

Um sacrilégio supremo?

Em cada página impressa

O livro desafia o tempo.

(HATOUM, Milton. O Estado de S. Paulo, 3ª de abr. 2010, caderno 2. Grifo nosso)

Page 43: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

43

3.1 DA ARGILA ÀS TELAS: EVOLUÇÃO DOS SUPORTES DE LEITURA E A

MUDANÇA NOS MODOS DE LER

Sobre a

relação demarcada

entre a base e a

leitura Chartier

(1998) evidencia

que o suporte

condiciona

incisivamente a

maneira de ler,

pensamento este

também enfatizado nos estudos das pesquisadoras Horellou-Lafarge e Segré (2010), as quais

suplementam a discussão evidenciando que a contínua evolução dos suportes trouxe uma

emancipação para o leitor, uma vez que este não mais depende (exclusivamente) das leituras

Page 44: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

44

realizadas por terceiros. Prática recorrente, por exemplo, num período em que os primeiros

suportes eram peças restritivas ao governo e a igreja.

Essas superfícies que acolhem os ícones escritos estão circunscritas em duas grandes

mudanças paradigmáticas: a primeira é pontual, estática e se refere ao período no qual os

gregos deixaram de observar o livro enquanto objeto de função unilateral, “fixação e

preservação do texto.” (HORELLOU-LAFARGE; SEGRÉ, 2010, p. 22), para também o

concebes na qualidade de esteio para leitura, já a segunda mudança é contínua, móvel e está

relacionada às estruturas físicas desses dispositivos. Essa evolução, da qual as pesquisadoras

remontam está interligada as técnicas de concepção, montagem dos livros, nas quais se poderá

evidenciar que “A leitura só pôde desenvolver-se com o progresso das técnicas de fabricação

dos suportes de escrita”. (HORELLOU-LAFARGE; SEGRÉ, 2010, p. 25). Desse modo,

paulatinamente, os livros tornam-se um importante objeto de mediação da leitura, também um

meio eficaz de consolidar, organizar o conhecimento, se tornando patrimônio cultural.

Linearmente é encontrado nas milenares rochas o primeiro espaço destinado aos

registros de ícones que posteriormente seriam, de algum modo, decodificados pelos demais

indivíduos pré-históricos. No entanto, os estudos historiográficos do texto reconhecem como

marco inicial na cadeia evolutiva dos suportes a escrita na argila. Neste material “A escrita era

traçada com ajuda de um prego sobre a argila fresca”. (Ibid., p. 26). Quando já estava repleta

de hieróglifos era por algum tempo exposto ao sol, posteriormente o construto era arquivado.

Decorridos alguns séculos o papiro, “suporte principal da escrita egípcia, permitia, com a

ajuda de um caniço e de tinta, um traçado de sinais linear, mais simples e geométricos”.

(HORELLOU-LAFARGE; SEGRÉ, 2010, p. 25), emerge enquanto um meio mais moderno,

de melhor manuseio e armazenamento se comparado ao seu antecessor. Cabe salientar que

ambas as estruturas tanto a argila quanto o papiro [ainda em formato de rolo], eram pesados,

volumosos, de difícil conservação e de uso restrito dos poderosos da época.

Na cronologia das superfícies de escrita, ao códice é atribuído a façanha de promover a

primeira grande revolução na forma técnica de concepção dos livros. Isto posto, foi

considerado o primeiro suporte a se aproximar do atual formato do livro impresso, o códice

propôs significativas mudanças que transcenderam as estruturas físicas da base afetando

também os processos de leitura e de escrita. Composto por pergaminhos fabricados em peles

curtidas de animais, comumente de bezerros, detinham suas folhas unidas por meio de

costura, experimento inovador que provocou a obsolescência do rolo enquanto meio para

agrupamento de escritos.

Page 45: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

45

Assim, o advento do códice favoreceu dentre outras coisas: a inserção de ilustrações e

o desenvolvimento de belas capas, a mobilidade na produção e organização das obras, o

barateamento destas, uma vez que, por se tratar de volume com páginas dispostas de forma

aberta, poderiam ser explorados frente e verso. Essa nova disposição das páginas concedeu

aos escritores mais autonomia, ao passo que podiam ler e escrever de modo simultâneo, o que

no decorrer do tempo, favoreceu a escrita solitária, sem a obrigatoriedade da presença dos

escribas. No tocante à leitura, Chartier (1998) defende que o códice possibilitou o surgimento

da leitura silenciosa.

Nesses termos, os estudos de Chartier (1998) evidenciam que o processo de evolução

do livro chega ao ápice com os métodos de reprodução advindos da invenção de Johann

Gutenberg, a prensa tipográfica. Com a prensa, a reprodução de livros tornou-se um processo

mais fácil e rápido. Em razão disso, houve uma ampla propagação do acesso à informação e a

consequente transmissão de conhecimentos. A própria tipografia se incumbiu de promover

alterações nas estruturas e disposições didáticas do texto, novas maneiras de estabelecer

paginação e métodos para organizar matérias, bem como expôs os textos a uma padronização,

uma vez que não haveria mais distinções entre as edições elaboradas por diferentes copistas.

Dialogando com esse pensamento, Horellou-Lafarge e Segré (2010, p. 25) destacam que o

invento de Gutemberg, “iria transformar a relação com a leitura, pois iria permitir produzir em

maior quantidade, e a menor custo, obras de manuseio mais fácil [...] Depois a imprensa

ganhou autonomia e alçou voo, possibilitando a multiplicação dos livros [...].”

No entanto, é necessário salientar que, anterior à criação de Gutenberg, tanto a

imprensa quanto os tipos móveis de textos já existiam - o que o inventor favoreceu foi a

ampliação da rota de circulação do livro. Para Chartier (1998), a segunda grande evolução da

escrita e da leitura consiste justamente na mudança ocasionada do códice à imprensa. Não há

dúvida de que no período pós-Gutenberg o livro é reconhecido como bem cultural e a ele é

atribuída à competência de transmitir valores e conhecimentos individuais e coletivos aos

sujeitos.

Os estudos de Chartier (1998; 2002) apontam que as civilizações humanas para além

de acompanharem a contínua evolução das superfícies de escrita e de leitura, também

puderam testemunhar três grandes revoluções que ocorreram concomitantemente a esse

processo. Para Chartier (1998), nesses três marcos evolutivos das práticas de escrita e os

comportamentos de leitura foram consubstancialmente afetados. Assim, segundo o

pesquisador: a primeira é estabelecida com advento do códice, posteriormente com a chegada

Page 46: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

46

da imprensa e, de modo mais recente, a partir da insurgência dos livros eletrônicos nas suas

mais diversas configurações.

O livro eletrônico entra em cena nas últimas décadas do século XX, período no qual a

informática e a cultura cibernética [cibercultura11

] despontam como um importante vetor de

transformação nos comportamentos sociais. A princípio, esse formato de livro obteve por

suporte os computadores pessoais (de mesa), para acessa-lo existiam dois caminhos: no

primeiro os sujeitos poderiam conectar-se à internet e realizar a leitura on-line, optando ou

não por fazer o download do construto (de modo gratuito ou pago) o segundo por meio de

textualidades arquivadas em disquetes, CDs, e demais objetos de armazenamentos que

funcionavam conectados ao computador.

Passadas algumas décadas, já nos primeiros anos do século XXI, a informática e os

computadores seriam afetados pela cultura da mobilidade, fator que corroborará ainda mais

para popularização da leitura nessas superfícies uma vez que o uso desses aparatos não se

restringirá aos ambientes domésticos ou do trabalho, antes estarão presentes: nos

deslocamentos em transportes coletivos, praças públicas, escolas, demais ambientes e

instituições. O uso de dispositivos como os notebooks ou de objetos em formatos ainda

menores como os netbooks, microcomputadores de mão, smartphones, tablets ascende tão

significativamente, que em abril de 2018 o jornal Estadão, do Estado de São Paulo, divulga

dados de uma pesquisa12

realizada pela Fundação Getúlio Vargas na qual é constato existir no

Brasil mais de um smartphone ativo por habitante, assim como, aproximadamente mais 306

milhões dispositivos portáteis em uso.

Os suportes tecnológicos digitais e a acultura da mobilidade favorecem de tal modo a

leitura nesses dispositivos que chegaram a propiciar desde o surgimento de redes e clubes de

leitores on-line, como é o caso do Skoob, até experimentos como o Kindle; aparato específico

para leitura de livros digitais criado pela empresa Amazon, no qual os internautas podem

realizar compras, downloads, pesquisas em livros digitais, jornais, revistas e outras mídias

digitais. Desse modo, cabe salientar que os suportes eletrônicos virtuais possibilitam a

existência de diversas ambiências para a realização da prática de leitura, podendo as

enquadrar em dois grupos: o primeiro deles é composto por aqueles que não necessariamente

foram criados para ser um mediador de leituras direcionadas, como é o caso dos celulares,

mas que incorporaram essa função no decorrer das suas atualizações, já o segundo é formado

11

Uma discussão mais adensada sobre a categoria será realizada no próximo capítulo. 12

Disponível em: https://link.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-ja-tem-mais-de-um-smartphone-ativo-por-

habitante-diz-estudo-da-fgv,70002275238 Acesso em: 02 jan. 2019.

Page 47: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

47

por artefatos que, prioritariamente, exercem a função de suportes de leitura apresentando

características específicas para auxílio nesta prática como, por exemplo, iluminação adequada,

ajuste no tamanho das letras, planos de fundos mais apropriados, dentre outras qualificações.

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (FAILLA, 2016), realizada pelo Instituto

Pró-Livro no ano de 2015, evidenciou a ascensão desses dispositivos enquanto suporte para o

desenvolvimento de práticas de leitura. Os colaboradores da pesquisa apontam fatores como o

menor custo e a aquisição de forma mais rápida se comparado ao mesmo material adquirido

em suporte impresso, também a quantidade de bons materiais que podem ser adquiridos de

modo gratuito.

Nesse contexto, nos estudos de Lévy (2011), o autor discute algumas especificidades

inerentes aos textos dispostos nos ambientes virtuais digitais, assim como cartografa esse

perfil de leitor oriundo desses espaços. Para o pesquisador, essas textualidades são

desterritorializadas, o que requer do leitor uma maior habilidade cognitiva para realizar

conjecturas. Lévy (2011), apresenta a hipertextualidade digital e a possibilidade de editar

(alterar) o texto enquanto algumas das principais características dos textos nesses espaços, o

que segundo ele, “multiplica as ocasiões de produção de sentidos e permite enriquecer

consideravelmente a leitura”. (LÉVY, 2011, p. 43). Para além disso, o estudioso irá evidenciar

a escrita e a leitura colaborativa enquanto prerrogativas para uma maior autonomia do ledor e

consequente aperfeiçoamento nas habilidades leitoras frente aos textos on-lines. Nessa mesma

linha de pensamento, Horellou-Lafarge e Segré abordam outra benesse dessa nova

configuração de livro texto “O livro eletrônico guardará na memória não somente a obra

original, mas também as anotações do leitor”. (HORELLOU-LAFARGE; SEGRÉ 2010, p.

32).

Dessa forma, ao pensar em algumas dessas questões as quais envolvem o livro na

contemporaneidade, Chartier tensiona: “Será o texto eletrônico um novo livro de areia cujo

número de páginas era infinito, que não se podia ler? Ou propõe ele já uma nova e promissora

definição de livro capaz de favorecer e enriquecer o diálogo que cada texto estabelece com o

seu leitor?”. (CHARTIER, 2002, p. 31). Os questionamentos apontados pelo autor são objetos

de investigação de diversos pesquisadores, pois a relação que é estabelecida entre esse novo

suporte e o texto escrito proporciona novas possibilidades de leituras para os leitores.

Portanto, com o constante desenvolvimento de softwares para serem instalados em

computadores e microcomputadores que viabilizassem a criação e uso de programas para

editoração e reprodução de textos, a leitura realizada nesses suportes torna-se cada vez mais

distante da que é exercida sobre o papel. Sobre essa distinção, Chartier ressalta:

Page 48: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

48

“É preciso considerar que a tela não é uma página, mas sim, um espaço de três dimensões,

que possui profundidade e que nele os textos brotam sucessivamente do fundo da tela para

alcançar a superfície iluminada.”. (CHARTIER, 2002, p. 31). Para além da profundidade,

outras diferenças podem ser traçadas ao estudar os dois suportes.

3.2 A LEITURA E O LEITOR: UM ENCONTRO DE TEXTOS, COMPORTAMENTOS,

GESTOS E PRÁTICAS

Os suportes de escrita e de leitura passaram, secularmente, por contínuos processos de

ampliação e de aperfeiçoamento possibilitando que os sujeitos pudessem registrar nessas

superfícies os mais distintos códigos comunicacionais. Assim como ocorreu com estes

esteios, os comportamentos, gestos e modos de ler também foram distendidos, de maneira

que, na atual contemporaneidade, as primárias concepções e definições de leitura,

inextricavelmente interligadas as noções gutemberguianas de decodificação parecem,

maiormente, superadas.

Com a expansão do ato de ler as pessoas foram alcançadas pelo entendimento de que a

leitura além de não estar, exclusivamente, associada à decifração do código escrito – lê-se

uma receita, um bilhete, uma notícia, tal qual se leem as cenas, os gestos, os grunhidos, os

sinais sonoros, luminosos dentre outros, também puderam compreender que não se trata de

uma prática esporádica, descolada das ações pragmáticas, antes está atravessada a todo

percurso trilhado pelos indivíduos. Outro importante avanço nos diálogos e estudos acerca do

exercício da leitura é o fato de existir uma latente conscientização sobre as consequências da

contínua prática de leituras crítica e reflexivas sobre a vida dos sujeitos, assim como dos

efeitos decorrentes da ausência deste acesso.

Costumeiramente as diversas áreas do conhecimento e das ciências tais como a

educação, a informática, a literatura, a psicologia, a semiótica, a sociologia, dentre outras, de

modo individual ou simbiótico, constroem conceitos auxiliadores no entendimento do que é

leitura, de qual a melhor maneira para mediá-la. Porém, os estudiosos, pesquisadores e

teóricos do campo da leitura, dado o seu alto grau de complexidade, não são unânimes em

construir definições uniformes, unilaterais. Prova desta miscelânea pode ser verificada em

estudos desenvolvidos por: Abreu (1999), Cosson (2009, 2014), e por Leffa (1996), que ao

abordar alguns aspectos desenvolvidos no processo de leitura dialoga, “Ler, para alguns

autores, é extrair o significado do texto. Para outros é atribuir um significado”. (LEFFA,

Page 49: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

49

1996, p. 9), acrescenta-se ainda que para tantos outros, ler seria realizar as duas ações

concomitantemente. Não obstante, em toda literatura produzida, assim mesmo, de modo

generalizado, há demarcações, irrefutáveis, da colaboração desta prática para os

desenvolvimentos individuais e grupais.

Os benefícios que as variadas práticas de leituras exercem sobre os indivíduos são

inúmeros. Para confirmação de tal prerrogativa basta realizar uma rápida investigação

questionando aos leitores quais as habilidades de curto e longo prazo adquiridas com a adoção

deste hábito. Muitos destacarão os aspectos técnicos, cognitivos, de memorização, dentre

outros de suma importância. Porém, conforme observa Coscarelli (2016), é necessário se ater

a um dos subsídios basilares, o que evidentemente não anula todos as outros, mas o fato é que

a leitura deve ser percebida “[...] sem simplificações, considerando não só as habilidades

cognitivas – tais como inferir, antecipar, comparar, verificar, analisar –, mas, sobretudo,

levando em consideração seus propósitos e sua diversidade enquanto prática social”

(COSCARELLI, 2016, p. 27). Essa propositiva construída por Coscarelli (2016), da leitura

enquanto objeto de socialização e de transformação de realidades, encontra destaque também

nos estudos de Cândido (2004) e Freire (1992a).

Nesse sentido, em sua vasta obra, Paulo Freire dialoga sobre os conceitos e as funções

que o exercício de ler desencadeia. Freire (1992a) elucida que tanto os objetos de leitura

quanto a prática leitora, distintos, mas indissociáveis, devem ser compreendidos em camadas:

a princípio o indivíduo, valendo-se de todos os sentidos, necessita ler o seu entorno [a palavra

mundo] e essa ação precisa ser valorada; posteriormente este deve ser conduzido a prática da

codificação, decodificação e atualização do signo escrito, para que por fim possa implicar

essas experiências no processo de emancipação individual e de transformação da realidade

coletiva, nessa perspectiva a leitura, como define Freire (1992a, 1992b), deve ser, antes de

tudo, libertária. Nutrindo um pensamento similar Antônio Candido (2004) irá defender o

direito à leitura literária respaldado nos diversos argumentos, dentre os quais: o fato da leitura

fulgurar enquanto um elemento humanizador e civilizatório tão importante e eficaz quanto o

direito à moradia, a alimentação dentre outras garantias fundamentais ao desenvolvimento

pleno do cidadão. O que Freire (1992a) e Candido (2004) ratificam em seus estudos é que a

leitura fornece densidade para os leitores, os impulsionam a ressignificarem-se.

Para que ocorra essa metamorfose a partir do processo das leituras, são necessárias que

algumas condições sejam asseguradas aos ledores, tais como a instrumentalização da prática

leitora, o acesso/aquisição aos variados objetos de leitura, possibilitar espaço/tempo para que

essas práticas ocorram, assim como aproximar-se dos textos os quais esses sujeitos estão

Page 50: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

50

imersos, dentre outras. Entretanto, uma vez asseguradas essas condições, existem aspectos

que estão estritamente interligados aos indivíduos, podendo sublinhar a inclinação e os

propósitos de leitura.

Ao deslocar o foco do diálogo para os estudos do leitor é necessário perceber como, no

decorrer do tempo, esses sujeitos foram agregando habilidades, alterando o seu

comportamento de maneira a entrar em sincronia com os entendimentos e práticas de leitura

de determinado período sócio-histórico, em outros termos alcançado as habilidades de leitura

que foram interpostas em seu contemporâneo.

Para uma melhor ilustração das questões supracitadas, recorre-se aos estudos de

Santaella (2004, 2010, 2014), nos quais a pesquisadora constrói, de modo progressivo, uma

vasta cartografia elencando os tipos, características e habilidades de leituras dos ledores em

períodos diversos. A autora dialoga sobre cinco perfis cognitivos distintos de leitores, alguns

já consolidados e outros em estado de emergência, sendo eles, em ordem cronológica de

ascendência: o leitor contemplativo ou meditativo, o leitor movente ou fragmentado, o leitor

imersivo ou virtual, o leitor ubíquo e o leitor prossumidor. Cabe salientar que a existência de

um não exclui a dos outros, assim como algumas características serão similares. A grande

questão demarcada por Santaella (2014) é que em determinados ciclos de formação individual

e de desenvolvimento social, as habilidades de leitura de um desses perfis leitores estarão em

maior evidência e serão evocadas com maior constância do que a dos outros. Contudo, na

maioria das vezes, eles se entrecruzam numa relação de interdependência.

O primeiro perfil de leitor delineado por Santaella (2004) é o leitor contemplativo ou

meditativo o qual, segundo o mapeamento realizado pela autora, surge no início do século

XII, num contexto em que há uma incipiente dissolução do monopólio livresco detido pelos

mosteiros e demais estabelecimentos eclesiásticos, também registradas as “modificações

intelectuais e sociais provocadas especialmente pela fundação de universidades e pelo

desenvolvimento da instrução entre leigos” (SANTAELLA, 2004, p. 20). Fatores

preponderantes, pois com a ascendente estágio de erudição da população os indivíduos

comuns passaram a não depender, exclusivamente, da leitura realizada em voz alta pelos

clérigos e outros representantes das igrejas, os sujeitos (mesmo que uma parcela restrita da

sociedade) iniciaram um contato mais intimista com a leitura, ação essa que será

potencializada com o advento das bibliotecas públicas, sobretudo em universidades, as quais

orientavam a prática de leitura silenciosa em suas dependências, também pela produção dos

tipos móveis e pela tímida democratização do acesso aos objetos de leitura.

Page 51: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

51

Desse modo, Santaella (2004) dialoga que o leitor meditativo assumiu um

comportamento intimista, doméstico, solitário com a leitura eliminando a necessidade de

testemunhas entre o ledor e o livro. Logo, o ledor passou a realizar leituras mais ágeis e

reflexões mais complexas, nas palavras da autora, “esse tipo de leitura nasce da relação íntima

entre leitor e o livro, leitura e manuseio, da intimidade, em retiro voluntário, num espaço

retirado e privado, pois o espaço da leitura deve ser separado dos lugares de um divertimento

mais mundano” (SANTAELLA, 2004, p. 23).

O segundo perfil de ledor discutido por Santaella (2004) é o do leitor movente ou

fragmentado o qual, como o próprio nome alude, está interligado ao processo de atribuição de

sentidos sobre os códigos escritos e imagéticos, estáticos e em movimento (tanto o texto

quanto o leitor), são os sujeitos que constroem o processo de inferenciação sobre os “jornais,

revistas, panfletos, vitrinas, letreiros e esquinas das cidades” (SANTAELLA, 2004, p. 28). A

insurgência do leitor fragmentado está relacionada a formação das grandes cidades, sobretudo

das transformações ocorridas nos centros urbanos, ao tráfego de pessoas, a expansão do

capital, bem como ao desenvolvimento tecnológico; invenção dos telégrafos, telefone,

televisores, dos jornais impressos e, por consequência, das peças publicitárias. Nas palavras

da pesquisadora, o leitor movente é “aquele que nasce com o advento do jornal e das

multidões nos centros urbanos habitados de signos. É o leitor que foi se ajustando a novos

ritmos de atenção, ritmos que passam com igual velocidade de um estado fixo para um

móvel” (SANTAELLA, 2004, p. 29).

Outros aspectos que devem ser destacados sobre os comportamentos de leitura do

leitor fragmentado é a sua relação com a memória e com a intimidade. A leitura, até então de

cunho intimista, converte-se cada vez mais em atos realizados em público, em meio as

multidões: a leitura de cartazes e de fotografias por parte dos transeuntes nas ruas ou da

leitura de jornais que são praticadas nos trens, bondes, ônibus e a ascendente leitura de

imagens, estáticas e em movimentos, hábito acentuado com o advento da televisão e dos

cinemas. Salienta-se então que o leitor movente é um ledor de “formas, volumes, massas,

interações de forças, movimentos; leitor de direções, traços, cores; leitor de luzes que

acendem e apagam; leitor cujo organismo mudou de marcha, sincronizando-se a aceleração do

mundo” (SANTAELLA, 2004, p. 30).

O terceiro dos arquétipos aparece em detrimento do advento da informática e da

democratização do acesso à internet, mais especificamente a partir do desenvolvimento de

mecanismos de upload e download de textos, assim como da criação de interfaces que

possibilitaram a comunicação por meio das variadas linguagens. Os contextos de leitura onde

Page 52: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

52

se encontra esse ledor são os espaços virtuais dos sites, chats, redes sociais, ambientes que se

popularizaram com a chamada Era Digital, e que se fazem candentes com a instauração da

cibercultura. Logo, o leitor virtual é o leitor das telas, navegantes entre os fluxos

informacionais fulgurando como “um leitor em estado de prontidão, conectando-se entre nós e

nexos, num roteiro multilinear, multissequencial e labiríntico que ele próprio ajudou a

construir ao interagir com os nós entre as palavras, imagens, documentação, música, vídeo

etc” (SANTAELLA, 2004, p. 33).

O leitor imersivo, evidente que em outra conjuntura, mescla características dos dois

arquétipos leitores anteriores [o meditativo e o movente], pois o seu exercício de leitura

ocorre tanto de modo solitário, o leitor e a máquina quanto de forma pluralizada, ao passo que

se conecta aos tantos outros leitores por intermédios dos recursos disponibilizados nos meios

digitais. Outra importante característica desse leitor consta nos estudos de Chartier (2002),

Levy (1999, 2011) e Santaella (2004, 2014), nos quais os pesquisadores salientam que os

ledores das telas empenham maiores esforços cognitivos ao lerem. Tal propositiva está

ancorado no fato de que esses sujeitos acessam, de modo concomitante, uma grande

diversidade de gêneros textuais, objetos que mesclarem elementos gráficos, imagéticos e

visuais, requerendo assim a ativação de sentidos distintos implicados numa mesma ação, sem

contar com a evidente e inevitável habilidade com a operacionalização técnica dos

computadores ou outros suportes de leitura. Desse modo, é possível chegar ao entendimento

que o leitor virtual assume um comportamento mais ativo frente a análise e responsividade

mediante ao texto.

O quarto perfil cognitivo de leitor representado por Santaella (2014) está premente na

cena contemporânea, desponta na última década com a difusão das tecnologias nômades,

comumente inclinado a leitura em aparelhos como; notebooks, tablets, smartphones e gadgets

de modo geral e tem nesse cenário a significação para o seu nome – leitor ubíquo, “O uso do

adjetivo “ubíquo” tornou-se corrente no campo da computação para se referir

a um tipo de computação que se localiza entre a computação pervasiva e a computação

móvel”. (SATAELLA, 2014, p. 28). Desse modo, o leitor ubíquo herda todas as

características do leitor virtual, contudo algumas delas são hiperdesenvolvidas em função da

evolução das interfaces dos sites que, quase diariamente, incorporam novas funcionalidades e,

sobretudo, pela possibilidade de conectar-se ao mundo virtual a qualquer momento, não sendo

restrito o acesso aos ambientes domésticos, de trabalho e de estudos, com a mobilidade os

sujeitos passaram a utilizar as ruas, as academias, os transportes para realizar múltiplas

leituras on-line.

Page 53: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

53

A era da mobilidade ou da ubiquidade como alguns preferem demarcar possibilitou

aos indivíduos que pudessem compilar diversos objetos de leitura num mesmo suporte de

fácil armazenamento e transportação. O leitor ubíquo dispõe de páginas de livros literários,

jornais, filmes, músicas, chats, instrumentos de pesquisas, álbuns e editores de fotografias,

ativados por alguns cliques, em qualquer lugar, basta estar com seu celular, por exemplo. Essa

nova conjuntura de aglutinação de muitas funções e acesso, favoreceu a aparição do último

arquétipo leitor; o leitor prossumidor. Sobre esse, Santaella (2014) dialoga que dada a

emergência da sua entrada em cena, os estudos ainda são incipientes, mas já se sabe que trata-

se de um perfil leitor que que produz ao passo que consome conteúdos.

Os distintos perfis leitores pactuam e partilham leituras a depender do objeto em que o

sujeito se debruça, na leitura solitária de um romance, impresso no formato livro, se evocam

habilidades inerentes a um desses arquétipos ao ler esse mesmo romance num outro suporte,

plasmado nas telas do cinema, por exemplo, é exigido dos indivíduos que assumam

comportamentos mais próximos de um outro, assim como ao ler uma matéria num jornal

impresso ou num informativo digital, diferentes leitores serão ativados para inferir, se

informar e produzir conhecimento. Desse modo, torna-se evidente que os contextos sociais,

os suportes, os ambientes de leitura influem diretamente na formação cognitiva de um

arquétipo individual e coletivo de leitor, sendo de suma importância que os leitores,

formadores de leitores e produtores de objetos de leitura se atentem a essas prerrogativas,

sobretudo, num período em que se ampliam, de modo intenso, os textos, gêneros, suportes e

demandas de habilidades e competências interpretativas.

3.3 O ENSINO DA LEITURA E A FORMAÇÃO DO CIBERLEITOR

À escola, instituição complexa e diversa, é atribuída a função de colaborar com o

desenvolvimento das múltiplas habilidades nos sujeitos. Ensinamentos gerais estão

interligados aos conceitos de culturas, de tradições e de memórias que acompanham o

indivíduo durante toda sua trajetória escolar desde a educação infantil até o ensino médio,

última etapa da educação básica, também os conteúdos programáticos mais específicos de

uma determinada área do conhecimento direcionados as aprendizagens naquela ou noutra

modalidade ou ciclo de ensino que corroborarão para formação do cidadão. Formar para o

exercício da cidadania está então posto com objetivo precípuo das escolas nas quais para além

de mediar conhecimentos estéticos, técnicos e científicos, necessitam colaborar com a

Page 54: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

54

ampliação da criticidade dos educandos, competência esta que se desenvolve a partir das

práticas de leitura, as quais são intrínsecas a todas as matérias e atividades desenvolvidas no

cotidiano escolar.

As práticas de leituras em ambientes de ensino, evidentemente, não nos moldes como

se concebe na atualidade; estão presentes nos encadeamentos de mediação de conhecimentos

desde a educação doméstica proporcionada pelos nobres aos seus filhos, perpassando pelos

primeiros espaços institucionalizados de ensino, em sua maioria correlacionados a entidades

religiosas, nas quais aos homens eram apresentadas leituras concernentes a estudos científicos

objetivando sua formação profissional, também a superior, para as mulheres conteúdos

instrucionais voltadas as boas maneiras e a manutenção do lar, à ambos os públicos leituras

religiosas e das belas artes. Cabe salientar que nesses períodos o acesso ao ambiente escolar

era altamente restrito, assim como é importante sublinhar que muitos dos métodos adotados

para o incentivo e prática da leitura nesses períodos têm o seu uso desaconselhado pelos

especialistas na contemporaneidade, como pode ser constatado nas observações tecidas pelo

pesquisador Silva (1988), o qual expõe a ineficácia de atividades de leitura cuja centralidade

seja dizer ou reconstituir as intencionalidades do autor ou utilizados enquanto pretexto para

aprender a gramática normativa.

Realizando um salto na historiografia da escolarização da leitura é possível demarcar

por diversos motivos o século XX como período profícuo para a disseminação dessas práticas

em ambientes escolares. É nesse espaço-tempo que as escolas se tornam, gradativamente,

mais acessíveis aos indivíduos das camadas populares, fator preponderante na medida em que

a escola é ainda o principal lugar de socialização da leitura, também corrobora com esse

marco a insurgência de teorias e pesquisas que conferiram mais autonomia ao leitor frente ao

processo de leitura e análises de textos, bem como pela inserção desses estudos no cotidiano

escolar.

Destarte, para melhor compreensão das mudanças estruturais ocorridas no ensino da

leitura no século XX, toma-se como parâmetro o processo de alfabetização. Até a primeira

metade do século supracitado o sujeito era tido por alfabetizado e consequentemente por leitor

ao conseguir identificar as letras do alfabeto, assinar o seu nome e realizar a leitura de

algumas pequenas palavras, porém essa prática de leitura não estava imbuída de criticidade,

não corroborava para a transformação de realidades e para participação do indivíduo na

sociedade letrada.

Desse modo, conforme observa a estudiosa Magda Soares (1998), em decorrência das

novas demandas sociais, das complexas relações com o universo industrial do trabalho, que

Page 55: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

55

requereram novas habilidades de leitura tornando a concepção de leitor, até então vigentes,

insuficiente. Nesses termos, em 1978, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a

Ciência e a Cultura (UNESCO) redefine o conceito de alfabetização, ampliando-o, de modo

que essa prática de leitura e escrita esteja voltada aos diversos eventos sociais, colaborando

com a inserção do indivíduo na cultura letrada de um grupo. Acerca dessas mudanças,

ocorridas com o advento das novas demandas direcionadas ao ensino da leitura, as

pesquisadoras Horellou-Lafarge e Segré (2010, p. 75) discutem: “Durante a segunda metade

do século XX, a capacidade de ler torna-se uma necessidade social consistente, daí por diante,

em aprender o significado do texto escrito”.

A constatação da premente necessidade de um ensino da leitura e formação leitora

mais engajada colaborou para atualização dos métodos utilizados na mediação, assim como

possibilitou que novos estudos e meios fossem adotados em sala de aula; como é o caso do

letramento, que embora detenha concepções distintas, está imbricado ao processo de

alfabetização. O letramento, segundo os estudos de Kleiman (1995) e Magda Soares (2000),

se configura como algo amplo e complexo estando associado à aquisição da tecnologia escrita

e consequentemente das habilidades leitoras a partir dos diversos usos sociais das linguagens.

Dessa forma, os educandos não devem apenas aprender a decodificar os signos e escritos,

antes implicá-los da melhor maneira em seu cotidiano, podendo então ampliar suas

experiências em relação às práticas sociais. Assim, é possível se afirmar que o letramento

parte de vetores culturais múltiplos, móveis e fluidos, sendo então evidenciada a existência de

letramentos ocorrência que deve ser cautelosamente observada pela escola no tangente a

formação de leitores proficientes.

Dessa maneira, as práticas de leitura devem estar na centralidade do trabalho docente,

bem como dos objetivos das escolas verificando, cuidadosamente, a gradativa evolução dos

educandos nesse processo levando em consideração a multiplicidade de objetos de leitura e

modos de ler, nesse sentido “A escola ajudará a criança a tornar-se um leitor de todos os

textos”. (HORELLOU-LAFARGE; SEGRÉ, 2010, p. 82). Para que isso ocorra é necessário o

abandono da equivocada concepção de que a mediação leitora e a formação do leitor compete

apenas aos professores e componentes curriculares relacionados a língua portuguesa ou que a

leitura necessariamente deve estar interligada a uma atividade didática de escrita ou a um

ensino hierarquizado da língua e da leitura. A respeito dessa construção das práticas de leitura

na escola Horellou-Lafarge e Segré (2010, p. 83) discutem, “A instituição escolar é o lugar

onde a leitura é prescrita e necessária para todas as matérias ensinadas, e onde a leitura-lazer é

Page 56: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

56

de igual modo incentivada. Na escola, ler é considerado um dever e também concebido com

uma distração útil”.

De modo mais específico, o ensino da leitura no Brasil ganhou novos contornos nas

últimas décadas. No final do século XX com a promulgação da versão mais recente da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9.394/1996 (atualizada em 2017), a qual dentre os

objetivos designados ao ensino fundamental, também ratificado nas normativas do ensino

médio, determina “I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios

básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo” (BRASIL, 2017, p. 19), reiterando

o dever legal das escolas com a formação leitora plena dos educandos. Também é no final do

século XX, mais precisamente entre 1997 e 1999, que surgem os Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCN), a princípio destinados ao ensino fundamental e posteriormente construído

os do ensino médio.

Os PCN são orientações gerais voltadas à construção dos currículos e, por

conseguinte, transvessalizam as práticas docentes. Embora não seja uma lei ou imprimam

obrigatoriedade os PCN sugestionam uma série de conteúdos e normatizações essenciais ao

ensino básico em cada um dos componentes curriculares subsidiando assim aos professores,

coordenadores e diretores na elaboração dos seus currículos, Projetos Políticos Pedagógicos

(PPP) e na gestão do conhecimento.

Concernente ao ensino da leitura, os PCN para o ensino fundamental enfatizam, dentre

outras questões, as abordagens que prezam pelo uso dos gêneros textuais enquanto objetos de

mediação para leitura, “Nessa condição, o professor deve preocupar-se com a diversidade das

práticas de recepção dos textos: não se lê uma notícia da mesma forma que se consulta um

dicionário; não se lê um romance da mesma forma que se estuda”. (BRASIL, 1997, p. 70).

Cabe salientar que os PCN destinados a demais eixos e etapas de ensino também enfatizam a

formação de um leitor crítico por intermédio do trabalho com os gêneros textuais e do

discurso.

Já na primeira década do século XXI, o ensino da leitura encontra amparo em mais

dois documentos: as Orientações Gerais para o Ensino Médio (OCN), uma espécie de

sequência das normativas trazidas pelos PCN, assim como a atualização das Diretrizes

Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN). As DCN são normas obrigatórias que

também orientam o planejamento dos currículos das escolas e dos sistemas de educação,

contudo são mais amplas e detalhadas se comparadas aos PCN, pois estruturam com maior

especificidade as discussões que devem ser objeto das etapas e modalidades de ensino. Na

última versão do documento as práticas de leitura são norteadas de diferentes modos: estando

Page 57: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

57

relacionadas a ludicidade (BRASIL, 2013, p. 99), as múltiplas linguagens, veículos e suportes

(BRASIL, 2013, p. 121), assim como demarcada na pluralidade e na interligação com todos

os campos do conhecimento, “valorização da leitura e da produção escrita em todos os

campos do saber” (BRASIL, 2013, p. 178). Além dos documentos supracitados, o construto

que norteia as práticas educacionais e a elaboração dos currículos na atual contemporaneidade

é a Base Nacional Comum Curricular13

(BNCC).

A elaboração de uma base que determinasse os conteúdos mínimos a serem aprendidos

e lecionados em todo território brasileiro já estava prevista pelas Constituição Federal e LDB,

porém é só a partir do ano de 2013 que se iniciam as discussões, delineando quais conteúdos,

competências e habilidades seriam primordiais ao desenvolvimento dos educandos em cada

uma das etapas de ensino. Nesse sentido, a BNCC fora construída processualmente, contando

com o auxílio de professores e demais membros da comunidade escolar, com o Conselho

Nacional de Educação (CNE), sociedade civil organizada e o poder público, os quais puderam

realizar as suas contribuições por intermédio de e-mails, comentários em fóruns e redes

sociais na internet, assim como de modo presencial nas conferências realizadas pelo

CNE/MEC para elucidação e escuta da população.

A BNCC passou por duas etapas de homologação: a primeira em 2017 reconhecendo

as orientações para educação infantil, ensino fundamental e em 2018 as diretrizes norteadoras

das aprendizagens no ensino médio, sendo determinado em lei que todas as instituições de

ensino façam adesão das normativas até o ano de 2020. A Base estabelece dez competências

gerais que deverão ser exploradas em todo percurso da educação básica promovendo uma

atualização de conteúdos programáticos e nos modos de media-los a partir dessas referências

basilares. Na BNCC, o ensino dos múltiplos modos de ler e o desenvolvimento de um

referencial crítico nos educandos para lidarem com as demandas contemporâneas ganham

destaque, estando na centralidade das discussões o ensino a partir das habilidades que

possibilitem aos sujeitos comunicar-se plenamente, construir sentidos de modo autônomo,

inserir-se na cultura digital lendo e produzindo inferências, dentre outras questões. Sublinha-

se aqui a recorrente aproximação do ensino da leitura ao contexto digital virtual, ambiente que

se tornou um território propício para o desenvolvimento de diversas aprendizagens e

socializações de saberes.

13

Do período de elaboração até as homologações diversos embates foram travados nos campos político,

ideológico e epistemológico, havendo choques de opinião e conflitos de interesse. Contudo, o presente estudo se

atém, exclusivamente, a problematizar algumas das orientações que estão dispostas no documento para o ensino

da leitura.

Page 58: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

58

As orientações para a mediação leitora por intermédio das tecnologias não é algo

inerente da BNCC, os PCN e as DCN já direcionavam às práticas docentes o uso de

dispositivos e conteúdos em TVs, vídeos, projetores, computadores aplicados aos processos

de ensino e aprendizagens. Contudo, o que a base faz é, de certo modo, inovador, pois para

além de se aproximar das demandas contemporâneas de um ensino contextualizado,

reconhece os novos ambientes e suportes digitais como instrumentos de aprendizagens

significativas, cujas escritas e leituras requerem uma dinâmica própria, como pode ser

percebido nas instruções destinadas ao desenvolvimento de algumas das habilidades:

“(EM13LGG703) Utilizar diferentes linguagens, mídias e ferramentas digitais em processos

de produção coletiva, colaborativa e projetos autorais em ambientes digitais”. (BRASIL,

2018, p. 497), assim como “(EM13LGG701) Explorar tecnologias digitais da informação e

comunicação (TDIC), compreendendo seus princípios e funcionalidades, e utilizá-las de modo

ético, criativo, responsável e adequado a práticas de linguagem em diferentes contextos”.

(BRASIL, 2018, p. 497).

Destarte, embora existam uma infinidade de importantes documentos, orientações e

pesquisas que arregimentem e dão suporte ao ensino da leitura, um ator ainda é preponderante

para lograr êxito na formação de leitores proficientes: o professor. Referente a isso, a

estudiosa Lajolo (1986) constata que para a maioria dos educandos o professor é primeiro

indivíduo a apresentá-los aos artefatos textuais e a fomentar o gosto pela leitura. Por essa

razão, a autora discute os cuidados que devem ser adotados por esse profissional ao

proporcionar a aproximação dos alunos com a leitura da palavra escrita, assim como

evidencia a necessidade de o professor ser um bom leitor, gostar de ler, antes mesmo de

exercer a função de mediador [de ensinar a leitura], pois, caso contrário, “ à semelhança do

que ocorre com ele, são igualmente grandes os riscos de que o texto não apresente significado

nenhum para os alunos, mesmo que eles respondam satisfatoriamente a todas as questões

propostas”. (LAJOLO, 1986, p. 53).

Nesses termos, o docente deve ser um incentivador das boas práticas de leituras dentro

e fora do contexto escolar, proporcionando em suas aulas momentos e ambientes que

favoreçam o contato dos alunos com as mais diversas obras, gêneros e linguagens. É

necessário também que o professor estabeleça estratégias formativas direcionando,

inicialmente, os alunos a leituras mais adequadas a sua faixa-etária, etapa de ensino e

habilidades cognitivas, até que estes adquiram maior autonomia e, gradativamente, possam

ampliar seu repertório cultural [por meio das leituras], tornando-se leitores críticos de todos os

tipos de textos. Ainda assim, apesar da maioria dos professores assumirem o compromisso

Page 59: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

59

com o desenvolvimento da criticidade dos educandos a partir do ensino da leitura; nos

ambientes escolares o processo de mediação ainda encontra alguns entraves, os quais

interferem diretamente na constituição plena do leitor.

Um desses obstáculos é de ordem material, relaciona-se aos suportes tradicionais de

leitura (impressos). Os livros didáticos, por exemplo, apontados por Rojo e Batista (2003)

como principais recursos utilizados nas salas de aula, direcionam em suas estruturas

organizacionais uma discussão limítrofe e por vezes equivocadas à formação do leitor. Alguns

desses dispositivos já contemplam significativamente a multiplicidade dos gêneros discursivo

contudo a maioria ainda se limita aos gêneros breves: cartas, poemas, crônicas, charges,

dentre outros que, mesmo se tratando de textos cujas estruturas são reduzidas, em alguns

contextos a obra ainda não é disposta em sua totalidade, apresentam-se em fragmentos; não

raro estarem mais associados ao ensino da gramática normativa do que a fruição estética e ao

ensino da leitura. Logo, até por uma questão estrutural do livro didático, gêneros como

novelas, artigos científicos ou romances são abordados de modo superficial, aparecendo em

resenhas, comentários ou seções de indicação, comumente no final das unidades

programáticas estabelecidas pelos livros.

É necessário então ter a compreensão de que os livros didáticos não devem ser

tomados como o único recurso a ser utilizado em sala de aula, antes necessitam instigar o

acesso a materiais diversos, todavia nem sempre esses outros artefatos são disponibilizados a

contento na escola, como é o caso dos livros paradidáticos. Se atentando ao exemplo dos

romances, leituras tão caras ao ensino de uma leitura crítica-reflexiva, ao passo que “Da

leitura dos romances o leitor retira conhecimentos, ensinamentos na maneira de conduzir a

vida, de compreender sentimentos, alegrias, de enfrentar conflitos” (HORELLOU-

LAFARGE; SEGRÉ 2010, p. 116), pode se observar que na maioria das escolas públicas a

política de construção, reposição e renovação de acervos desses títulos é muito limitada, as

instituições não dispõem de recursos financeiros para realizar a aquisição desses materiais em

quantidades satisfatórias e os programas públicos de distribuição, como o Programa Nacional

de Biblioteca na Escola (PNBE14

), para além de não possuir uma política de periodicidade,

disponibilizam poucos exemplares, costumeiramente não se atentam para a aquisição de obras

14

Desde 2014 o PNBE deixou de disponibilizar obras para as instituições escolares e, em 2016 foi extinto, tendo

as suas funções incorporadas ao Programa Nacional do Material Didático, reformulação do PNLD, que até a

presente data, encontra-se sem funcionamento. Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2017/09/1922899-governo-temer-abandona-programa-de-envio-de-

livros-literarios-a-escolas.shtml Acesso em: 10 jan. 2019. Disponível em:

https://g1.globo.com/educacao/noticia/governo-federal-seguira-sem-entregar-novos-livros-de-literatura-para-

bibliotecas-escolares-em-2018.ghtml acesso em: 10 de jan. 2019.

Page 60: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

60

contemporâneas, sagas que se popularizam entre o público tens, como Harry Potter, Percy

Jackson, assim como construtos que abordem, de modo mais latente, por meio da ficção,

questões como a homofobia, o racismo, as violências, dentre outros.

Não é recente o distanciamento entre as obras selecionadas e/ou disponíveis nas

escolas, das leituras que se popularizam entre os discentes, sobretudo os jovens, público o

qual, segundo Horellou-Lafarge e Segré (2010), dispõe de um gosto mais eclético, variando

entre textos do século XIX e, na maioria das vezes, leituras contemporâneas, best-sellers, ou

sagas cujo “herói é um adolescente”. (HORELLOU-LAFARGE; SEGRÉ, 2010, p. 87). Não

se quer confrontar as potencialidades dos construtos de distintos períodos sócio-histórico ou

estabelecer uma discussão de cânones versus títulos em ascensão, antes o objetivo da

problematização é ponderar sobre a observação de diversos especialistas. O aluno necessita

escolher o que ler, formar um repertório próprio, ampliando-o discursivo-culturalmente para

que, gradativamente, seja apresentado a outras leituras. Essas e outras barreiras que são

interpostas aos educandos no acesso aos livros [romances] tornam mais difícil o ensino da

leitura e consequentemente a formação de leitores críticos.

Na contemporaneidade é possível perceber a construção de outro hiato entre as

escolas e seus leitores em formação; as leituras que ocorrem em ambientes digitais virtuais

percebidas com maior premência nas redes sociais da internet. Os alunos, nativos digitais,

como adjetiva Prensky (2001), se apropriaram desses espaços, destinando horas ao acesso

(muitas das vezes estando mais tempo navegando, que seguindo o fluxo das rotinas escolares),

realizando as mais diversas atividades que os ambientes lhe proporcionam, dentre elas a

leitura, estando aí uma deixa [necessidade] para que os professores também se ocupem dessas

superfícies para mediar conhecimentos. Esses novos modos de escrever e recepcionar os

textos, como observam os pesquisadores Chartier (2002) e Lévy (2011), estão interligados aos

processos de informatização e virtualização que acomete a sociedade na atualidade, os quais

tendem a seguir influenciando nos hábitos e comportamentos dos indivíduos.

A essa questão as instituições de ensino e seus docentes necessitam se atentar, haja

vista que o contato com o digital é cada vez mais integrado às vivências diárias dos sujeitos,

requerendo letramentos específicos para saber realizar leituras críticas nesses ambientes, tal

como inserir-se plenamente em tal contexto, gozando dos benefícios que esses meios

possibilitam. Pois, mesmo que se evidencie um quantitativo de leitores navegadores e objetos

textuais dispostos na internet, não significa dizer que estas leituras estão sendo realizadas de

modo proficiente, que os sujeitos estejam sabendo lidar com os dilúvios informacionais, de

Page 61: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

61

modo a estabelecer critérios de seleção para se ater aos arquivos que corroborarão para a sua

formação.

Na busca de atenuar o hiato existente – entre leitores, textos virtualizados e escolas –,

alguns professores, mesmo que de modo incipiente, têm recorrido às práticas de

multiletramento e de letramento digital. Baseando-se nos estudos de Rojo (2012), é possível

compreender o multiletramento como meio de construção e de análise de textos, esteado nas

multiplicidades culturais das populações e nas multiplicidades semióticas. Em outros termos,

textos que partem de diferentes contextos referenciais e que se valem, de modo concomitante,

de variadas linguagens: mangás, propagandas, anúncios, hipertextos, dentre outros, logo,

convivendo nos mesmos espaços imagens estáticas e em movimentos, linguagem verbo-

visual, sonoridade e animações variadas. Imbricamentos que se tornam cada vez mais

prementes, em função dos novos suportes e recursos para a disposição de textualidades

digitais on-line.

Outro meio que se tem buscado para dirimir a distância entre as textualidades virtuais

é o letramento digital. O letramento digital é o desenvolvimento de estratégias formativas nos

sujeitos leitores para produção, recepção, interação e implicação funcional dos códigos e das

linguagens dispostas nas ambiências digitais. Desse modo, é em função de as textualidades

digitais serem uma constante nos contextos educacionais na contemporaneidade e do

registrado aumento do número de usuários que acessam, produzem e são afetados por essas

linguagens, que os professores necessitam buscar meios, de modo sistematizado, para

aproximá-las do processo de ensino e aprendizagens.

Page 62: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

62

4 CONEXÃO E INTERATIVIDADE EM REDE: REDES SOCIAIS DA INTERNET E

FORMAÇÃO DE COLETIVOS INTELIGENTES

“O livro foi sempre considerado o baluarte em que

poderiam confiar os pessimistas da cultura de massa no

momento em que tivessem de salvar do incêndio a cultura

autêntica. Todavia, agora, e cada vez mais, esses

pessimistas têm razões de sobra para se desesperar. O livro,

ao qual tinham acesso apenas as minorias privilegiadas,

passa a figurar no cardápio da classe média e do

proletariado. Os últimos anos marcaram o aparecimento em

grande estilo dos livros de bolso, ostensivamente

concorrendo com jornais e revistas nas bancas e na disputa

das horas de ócio dos leitores. As edições de livros de bolso

se multiplicaram. O livro, antes privilégio da gente de

espírito e sensibilidade, de repente é elevado à categoria de

produto de consumo para a massa, tratado no mesmo nível

do sabão de coco e do sabonete. O livro penetra na

drugstore e a cultura é equiparada a um comprimido que se

compra para dor de cabeça. A cultura veiculada pelo livro

adquire então o aspecto vulgar que faz a ira dos inimigos da

cultura de massa: o de tratar com simplicidade coisas por

natureza complicadas”. (Charles R. Wright)

Page 63: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

63

4.1 O ADVENTO DA INTERNET E O ESTABELECIMENTO DE NOVOS

PARADIGMAS COMUNICACIONAIS E INFORMACIONAIS

Numa breve análise histórica da incorporação de artefatos para comunicação,

informação e para mediação de conhecimentos, é possível perceber suas origens nas

manifestações ainda ágrafas com as pinturas rupestres e demais sistemas de símbolos pré-

históricos os quais ilustravam, dentre outros fatos os períodos das colheitas, os registros de

caça, a relação do ser humano com predadores e tantas outras simbologias retransmitidas de

geração em geração. Já na história

recente, essa mediação

comunicacional perpassa pelos

registros em cartas, rádios, pelos

diversos tipos de telégrafos,

telefones, telefax, celulares dos

mais rudimentares aos mais

modernos, contemporâneos,

abertos a diversas atualizações e ao

acumulo de funções. Não

esquecendo, também, dos meios de

comunicação de massa e outros

mecanismos que incorporaram a

Page 64: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

64

faceta da promoção da comunicabilidade e do acesso à informação no decorrer da sua vida

útil, a exemplo dos cinemas.

Na década de 1960, o mundo assiste ao advento do que hoje se reconhece por internet,

o meio de comunicação cibernético sem fios que, em algumas décadas posteriores ao seu

surgimento, provocaria significativas alterações nas relações comerciais, comunicacionais,

culturais, de afetividade e de mercado no âmbito mundial. Em linhas gerais, a internet foi

concebida pelos centros de inteligência militar estadunidenses, mais especificamente pela

Força Aérea, sob pretextos bélicos. O contexto é o da Guerra Fria – os russos saem à frente na

disputa ao lançarem ao espaço exterior à terra, o Sputinik, primeiro satélite artificial na

história da humanidade. Os Estados Unidos, segundo Dmitri Trenin (2006), receosos a esse

feito realizado pela Rússia, somado ao temor de perder espaços de poder, temendo também

um ataque nuclear por parte das forças militares da então União Soviética, respondem,

decidindo intensificar a materialização de um projeto para construção de espaço de

armazenamento de dados e estabelecimento de redes entre setores políticos e militares,

sobretudo entre os membros do Pentágono Americano (Washington), cujas informações e

conectividades estivessem protegidas em caso de ataques bélicos a nação.

Destarte, a internet, doravante Advanced Research Projects Agency NET (ARPANET),

foi um protótipo herdado desse contexto de tensões do entre/pós-guerra, interligada

originalmente aos laboratórios de pesquisa, à serviço restrito de alguns cientistas, estando o

seu acesso condicionado a uma série de requisitos. Com o passar dos anos, estes

pesquisadores passaram a se ocupar de estratégias para modernização desse sistema,

viabilizando a interligação entre mais computadores e centros de informações. No decorrer do

tempo, o engenho fora disponibilizado para institutos de pesquisas das mais diversas áreas de

investigação, também às Universidades. Segundo os estudos de Guimarães (2008), é somente

em 1973 que se estabelece a primeira conexão internacional entre computadores na Arpanet: o

College of London, na Inglaterra, e a Royal Radar Establishment, na Noruega.

Por conseguinte, na década de 1980, diversos países já investiam nesse inovador

recurso cibernético para promoção da modernização das suas estruturas e sistemas internos,

tais como o sistema monetário, político, científico e cultural. Assim, o consumo da conexão

em rede passou a ser visto como uma necessidade para qualquer nação que se quisesse colocar

em estado de emergência para o desenvolvimento. No Brasil, essa inovação chega em meados

de 1988, por intermédio de um programa do então Ministério da Ciência e Tecnologia (MTC),

disponibilizado a princípio para a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

(FAPESP) e para Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ao passo que os anos

Page 65: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

65

advinham, mais cientistas e instituições detinham acesso à rede, logo, o fato de romper com as

barreiras nacionais interconectando espaços e sujeitos numa área física mais ampla

possibilitou que outras perspectivas de alcance fossem pensadas e, consequentemente,

atingidas.

Ademais, em 1990, a própria estrutura da rede passara por alterações significativas. O

Departamento de Defesa dos USA desconfigurou a programação da ARPANET, a qual foi

substituída pela rede da NSF, rebatizada de NSFNET, que se popularizou em todo o mundo

com a denominação Internet. Essa reprogramação foi decisiva para expansão da utilização da

internet e para criação da www – World Wide Web, rede de caráter público em que qualquer

pessoa ou computador, previamente autorizado, poderia acessá-la. A respeito da nova

configuração, a pesquisadora Lúcia Leão dialoga:

A WWW, nascida em 1991, corresponde à parte da Internet construída a

partir de princípios do hipertexto. A Web baseia-se numa interface gráfica e

permite o acesso a dados diversos (textos, músicas, sons, animações, filmes,

etc.) através de um simples ‘clicar’ no mouse. (LEÃO, 2001, p. 23)

A estudiosa observa que a internet se converte numa fusão de hipertextos e

multimídias, em outros termos, da junção de caminhos trafegáveis por diversos meios e

possibilidades de arquivamento, de compartilhamento e de disponibilização de arquivos,

sobretudo, os de textos, sons e imagens.

Para além dessas atualizações, a internet ascende em detrimento das maiores

possibilidades de interação entre os indivíduos e da sua, ainda, tímida, democratização ao

acesso. O fator interação é presente na rede desde sua concepção e disponibilização, uma vez

que os sujeitos ao acessá-la estabeleciam contatos por meio de estímulos e respostas, o e-mail

é um exemplo tácito dessa propositiva. Contudo, a interatividade em rede com a internet

WWW torna-se mais atrativa por dispor de maiores mecanismos para o diálogo entre os

internautas e das novas interfaces que se fazem atualizáveis com maior frequência. No

tangente à democratização do acesso, percebe-se que fatores como: a constante quebra de pré-

requisitos para acessar a rede e o surgimento de diversos programas de fomento e incentivo ao

uso desses meios, bem como a ampliação da área geográfica física e virtual de alcance da

internet (LÉVY, 2011), são cada vez maiores. Também, em consonância com os estudos de

Santaella e Lemos (2010), é perceptível que a internet vem convertendo-se num aparato que

rompe com hierarquias comunicacionais, promovendo a horizontalização do contato no

âmbito virtual, promovendo assim a comunicação num molde de muito para muitos.

Page 66: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

66

Outro fator preponderante para atingir os amplos índices de acesso e aderência à rede é

a modernização dos suportes nos quais a internet está hospedada. Os computadores tornaram-

se mais potentes e velozes, dispondo de maior capacidade para o armazenamento e

combinações, uma vez que os fluxos de conectividade se tornaram mais intensos, os arquivos

mais elaborados e em diferentes formatos dispostos para o compartilhamento. O computador

deixou de ser suporte tecnológico isolado, passando a estabelecer associações com outros

eletrônicos. Se antes eram vistos enquanto superfície de atividades análoga aos depósitos,

uma espécie de fichário digital, no decorrer dos anos, por meio dos diversos softwares, foram

assumindo outras características e funcionalidades, sobretudo a de congregar diversas mídias.

A despeito disso Manovich (2001, p. 80, tradução livre) discute que

No início da década, o computador ainda era amplamente pensado como uma

simulação de uma máquina de escrever, um pincel ou uma régua - em outras palavras,

uma ferramenta utilizada para produzir conteúdo cultural que, uma vez criado, será

guardado e distribuído em suas mídias apropriadas: página impressa, filme, impressão

fotográfica, gravação eletrônica. Ao final da década, como o uso da Internet se tornou

lugar comum, a imagem pública do computador não era mais de ferramenta, mas

também de uma máquina universal de mídia, utilizada não apenas para autorar, mas

também para guardar, distribuir e acessar todo o tipo de mídia.

Esse mesmo fenômeno de atualização na estrutura tecnológica para acomodação da

rede ocorreu também com outros suportes, tais como TVs, videogames, celulares, dentre

outros. A internet, como sinalizou o pesquisador de tecnologia e mídias Lemos (2008), irá

unir todas as coisas. Corroborando com a máxima contemporânea defendida por Lemos

(2008), Ferreira (1994, p. 261) já defendia que "a Internet - maior rede de computadores do

mundo - é frequentemente descrita como a rede das redes, pois abrange todas as espécies de

redes possíveis [...]”. Em ambos os pesquisadores, encontra-se amparo para refletir o

potencial de conectividade da rede, que interliga de modo veloz e dinâmico coisa e pessoas,

influenciando em comportamentos e hábitos sociais existentes, bem como na insurgência de

novas culturas em detrimento das conexões on-line.

4.2 ATUALIZAÇÕES E INCORPORAÇÃO DE INTERFACES: O SURGIMENTO DAS

COMUNIDADES VIRTUAIS NA INTERNET

Para entender a conceituação de comunidades virtuais, seu funcionamento e as

possíveis colaborações para a produção intelectual nos mais diversos campos, faz-se

necessário o entendimento dos sentidos de rede e de coletivos inteligentes. O primeiro dos

termos traz consigo as percepções milenares, polissêmicas e amplas. Grosso modo

Page 67: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

67

depreendida pelo estabelecimento de relação ou contato entre dois ou mais indivíduos,

objetos, instituições, coletivos dentre outros. Já o segundo, traduz-se, ligeiramente, por

agrupamentos de indivíduos em rede os quais produzem os mais diversos tipos de conteúdos,

informações, entretenimento, notícias aprendizagens, mesmo que de modo involuntário, como

observa o pesquisador Bruno Latour (2004), no seu estudo Teoria Ator e Rede (TAR), ao

afirmar a autonomia e a interdependência dos elementos dessa tríade nos processos de

conexão.

Nesse sentido, Santaella e Lemos (2010, p. 9) afirmam que “As redes em si não se

explicam. Elas precisam ser explicadas”. Logo, baseando-se nessa máxima, recorre-se aos

estudos do sociólogo Castells (1999), sumidade nos estudos de rede, política e internet, que

define alguns conceitos de rede no período anterior ao da internet, também redefinindo as

abstrações dessas novas dialéticas estabelecidas a partir dos laços em rede na internet. Para

Castells (1999), a rede é um conjunto de nós interconectados, ligados pelas interconexões de

interesses e valores em comum, que irrompem fronteiras limítrofes espaço-temporal. Salienta

o pesquisador que “as funções e os processos dominantes na era da Informação estão cada vez

mais organizados em torno de redes” (CASTELLS, 1999, p. 497).

Essa organização da qual elucida Castells (1999) está relacionada ao fato de que os

indivíduos conectados à internet passaram a ter mais autonomia frente à rede, onde cada

sujeito ou núcleo desses é constituído como um nó, emissor e receptor simultâneo de

conteúdos. Essa nova reprogramação da internet possibilitou também que os navegadores

pudessem reconhecer e estabelecer conexões instantâneas com maior facilidade se comparada

a conexo estabelecida com outras mídias. Em outros termos, a partir dos mecanismos de

filtragens cujas redes on-line dispõem permitem que o internauta possa encontrar conteúdos,

grupos e outros artefatos de sua aderência em meio à fluidez da rede, formando, assim,

conexões e agrupamento de diversos nós. Logo, mediante a articulação dessa nova conjuntura

que conta com a fluidez nas conexões, se faz necessário atualizações perenes as quais

favoreçam a construção de meios e espaços de interseção para esses sujeitos.

Amparando-se nos estudos de Lévy (2011), pode-se compreender a atualização como

um fenômeno que visa solucionar um dado problema, sendo percebida ainda enquanto

movimento de “criação, invenção de uma forma a partir de uma configuração dinâmica de

forças e de finalidade” (LÉVY, 2011, p. 16). No caso específico das redes no ambiente

virtual, essa atualização está estritamente ligada às demandas contínuas que são interpostas

pelos usuários ávidos por agilidade e eficiência no acesso. Para ilustrar o pensamento do

pesquisador, pode se tomar, por exemplo, os ambientes dentro das redes destinados ao

Page 68: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

68

estabelecimento de diálogos, para interconexões entre os nós. Eles tendem a ser cada vez mais

repletos de interfaces, pois, ao passo que o internauta se conecta com outro ou com algum

arquivo de natureza distinta, áudio, vídeo dentre outros, ele tende a conciliar com outra

atividade exercida de modo concomitante. Assim sendo, esses espaços necessitam adaptar-se

de modo a acomodar esses imbricamentos das funções.

Essa conexão entre os nós e a interligação de interesses, conjuntamente às constantes

atualizações sofridas pela rede, objetivando maior e melhor acomodações das relações

comunicacionais e de acesso, demandou que os usuários desenvolvessem novas competências

e habilidades no uso da internet e no acesso às redes, exigindo assim cognições específicas

para o estabelecimento da conectividade. Nesse sentido, a pulverização das informações e a

fluidez das trocas dialéticas corroboraram para insurgência do que Lévy (1998) toma por

inteligência coletiva. Na abordagem defendida pelo estudioso, a inteligência coletiva

configura-se como “[...] uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente

valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das

competências” (LÉVY, 1998, p. 28). E ainda detém por característica. “O projeto da

inteligência coletiva supõe o abandono da perspectiva do poder. Ele quer abrir o vazio central,

o poço de clareza que permite o jogo com a alteridade, a quimerização e a complexidade

labiríntica” (LÉVY, 1998, p. 211-212).

Essa horizontalização das relações ocorrentes na rede, bem como o abandono da

perspectiva comunicacional UM – TODOS, UM – UM, para TODOS – TODOS, ocasiona a

instituição de comunidades c colaborativas. Os coletivos inteligentes, segundo Lévy (1998),

são agrupamentos permeados por indivíduos imbuídos de, no mínimo, três capitais

simbólicos, a saber: o capital social, que está relacionado aos níveis de interação entre os

indivíduos; o capital cultural, constituído do referencial dotado pelos sujeitos e como esse

socializa essas ideias, e por fim, o capital tecnológico, que são os meios e dispositivos

tecnológicos e informacionais que são utilizados para a propagação dessas perspectivas

socioculturais em rede. A inteligência coletiva valoriza as diversas formas de saber, em que

uma esfera do conhecimento não se sobrepõe a outra, antes, dialogam, pondo os indivíduos

em sinergia, não havendo nesse processo pessoa nula de conhecimentos.

Destarte, nesse contexto de valorização dos capitais, dos indivíduos e grupos, em

detrimento de quaisquer outras características, cujas relações comunicacionais são colocadas

em lugar de prestígio é que surgem as comunidades virtuais. Essas comunidades são

macroestruturas dentro da rede, cujas finalidades são altamente variáveis, apresentando por

vezes morfologias complexas como, por exemplo, comunidades para investimentos e

Page 69: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

69

controles de finanças, até interfaces mais simplificadas (na perspectiva de operacionalização),

como, por exemplo, os sítios e comunidades para relacionamentos virtuais, como as salas de

bate-papo. Nesse sentido, Schlemmer e Carvalho (2005, p. 2) discorrem que:

Comunidades virtuais são redes eletrônicas de comunicação interativa autodefinidas,

organizadas em torno de um interesse ou finalidade compartilhados. Podem abarcar e

integrar diferentes formas de expressão, bem como a diversidade de interesses, valores

e imaginações, inclusive a expressão de conflitos, devido às suas diversificações,

multilmodalidades e versatilidades. O desenvolvimento de comunidades virtuais se

apoia na interconexão e se constitui por meio de contatos e interações de todos os

tipos.

Assim, analisando os estudos de Schelmmer e Carvalho (2005), pode-se inferir que a

existência e o funcionamento das comunidades estão centrados nos indivíduos, mais

especificamente na relação de mutualidade comunicacional existente entre eles. Se percebe

também que, em detrimento da diversidade dos ideais, posturas e aspectos culturais dos

internautas inseridos nesse processo de formação de comunidades on-line, torna os

agrupamentos múltiplos, povoados dos distintos conteúdos, tornando-se cada vez mais difícil

encontrar na rede sujeito que esteja isolado em função da não aderência a um determinado

grupo.

Outro fator observável ao se ater aos estudos dessas comunidades virtuais, formadas

por coletivos inteligentes, é o seu alto potencial de atualização. Assim como as redes tornam-

se mais conectivas e ágeis, as comunidades, o agrupamento dos seus nós também seguem o

fluxo das redes, atualizando-se e incorporando funções e interfaces aos seus espaços virtuais,

de modo que a cada insurgência de uma nova configuração da internet ou do suporte

hospedeiro da plataforma de acesso das comunidades, esse agrupamento incorpora novos

hábitos, aderindo a novos meios de interação, a exemplo do que ocorreu com a mudança na

forma de interação nas comunidades de orientação monomodal para as multimodais.

4.3 REPROGRAMAÇÕES SOFRIDAS PELA WEB E COLETIVOS INTELIGENTES: AS

REDES SOCIAIS DA INTERNET, OS TEXTOS E OS NOVOS MODOS DE LER

“Criar meu web site/ Fazer minha home-page/ Com quantos gigabytes/ Se faz uma

jangada/ Um barco que veleje [...]” (GIL, 2003). Nos versos de Pela Internet, do cantor e

compositor Gilberto Gil, é narrada a saga de um pretenso internauta que, desejoso por

adentrar ao cibermundo, elenca ações necessárias para inserir-se nesse contexto. Ao

aproximar os versos de Gil à realidade cotidiana da internet, desde os seus primórdios à

contemporaneidade, percebe-se que o eu lírico estabelece a criação de um artefato, uma

Page 70: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

70

espécie de passaporte assegurador do seu direito à conexão. Criar um web site ou fazer uma

home-page configura-se então como uma iniciação do sujeito para o tráfego nas infovias.

Nesse sentido, a internet desvela-se cada vez mais fluida, acessível e conectável.

Essa fluidez, que hoje configura-se como uma das qualificações primordiais da

internet, fora construída ao longo dos anos. Pesquisadores do campo da informática, da

comunicação social, da eletrônica e de outras áreas que detém à internet por objeto de estudo

subdividem a sua cadeia evolutiva em três momentos distintos, a saber: a WEB 1.0, a WEB

2.0; essa que desponta, por diversos motivos, enquanto vetor para massificação do uso das

redes sociais, também a WEB 3.0. Investigadores mais vanguardistas já alardeiam a vivência

de uma quarta fase, a da realidade virtual aumentada. Cada uma dessas reprogramações

sofridas pela World Wide Web é imbuída de especificidades e compreendê-las é condição para

entender alguns fenômenos sociais que acometem a sociedade em rede.

Na primeira fase, tem-se a Web 1.0, período incipiente na historiografia da internet,

não havendo datas cronologicamente precisas para pontuar o seu início e término. Entretanto,

os estudos de Ian Graham (2009) e Francisco Rudiger (2011), evidenciam que a iniciação

desse contexto se dá por volta de 1989 e 1992, já com o advento da World Wide Web. Porém,

essas fases são comumente definidas pelas peculiaridades de suas características que se

alinham mais com um período ou outro. Particularidades as quais, no caso da Web 1.0 estão

voltadas a percepção da internet como hospedeira de arquivo, banco de dados, ambiente de

subsídios para pesquisa científica, de pouco potencial interativo entre coletivos, se comparada

às duas atualizações mais contemporâneas. A esse respeito, Santaella e Lemos (2010) definem

o período 1.0 como de significativo avanço para a comunicação e acesso à informação.

Contudo, as pesquisadoras discutem que ainda se trata de ambientes cujas interfaces são mais

simplificadas e de modelo de interação monomodal. Nesses termos, as autoras explanam: “ela

se caracteriza por uma experiência individual de acesso por um dado ponto da rede, e é a

partir desse ponto que a navegação se dá”. (SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 56).

Outra característica bastante peculiar da Web 1.0 é que a mesma criou a ambiência

necessária para a insurgência dos sites, emergindo então com o período de advento e

disseminação das páginas pessoais e sites de acesso à informação. É nesse contexto que

surgem grandes portais de notícias, tais como os sítios Terra, Uol, Bol, para acessar a

reportagens, matérias e demais gêneros pertencentes ao universo jornalístico, também

ocorrendo a virtualização ou cibermigração de noticiários já existentes em outras mídias a

exemplo do jornal Folha e da revista Veja. Muitas emissoras de TV criaram ambientes com

conteúdos relativos à sua programação, informando o leitor-telespectador. Cabe salientar que

Page 71: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

71

as interfaces desses sítios on-line existentes nesse período se diferem um tanto das páginas

contemporâneas. Antes, os sites eram classificados como estáticos, uma vez que as

informações eram pouco atualizáveis, havendo ambientes que passavam semanas para renovar

o conteúdo, o que é impensável na atualidade; também definidos por de baixa interatividade,

os internautas não podiam, como explana Lévy (2011), alongar o texto, estando as

textualidades disponíveis apenas para a leitura, sem possibilidade de alterá-las.

É, também, com o advento da Web 1.0 que insurgem os primeiros desenhos das redes

sociais da internet. Cabe salientar que o conceito de rede social da internet apropria-se dos da

rede sociais na internet, contudo, fulgura como espaços distintos. Para elucidar essas

distinções, recorre-se aos estudos de Recuero (2009), Santaella e Lemos (2010), nos quais

ficam evidenciados que os sentidos de rede na internet são mais amplos e compreendem as

possibilidades de estabelecimento de redes dos mais variados tipos, ao passo que as redes

sociais da internet versam especificamente sobre os espaços de socialização em comunidades

voltadas para interação, entretenimento, indexação de arquivos e para afetividade. Grosso

modo, as redes sociais na internet são estabelecidas em todos os momentos de interatividade

com os dispositivos, indivíduos ou com o espaço virtual, e as redes sociais da internet ou

sítios de redes sociais estão condicionados à criação de um perfil, login e senha para acessar a

uma plataforma específica dentro da rede.

Nesses termos, as redes sociais da internet são espaços específicos dentro da rede para

que indivíduos criem perfis, avatars, a fim de interagirem com os demais membros dessas

comunidades. Os estudiosos de mídias não são unânimes ao eleger qual ou quais as primeiras

redes que desencadearam esse processo. Alguns afirmam que foram o e-mail, chats ou os

blogs; contudo, Santaella e Lemos (2010) definem o e-mail como de “movimento

informacional continua sendo linear, seguindo através de linhas pré-estabelecidas”

(SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 57), afastando assim a ideia de e-mail como uma rede

social. Segundo as autoras, as redes 1.0 podem ser caracterizadas por possibilitar

“coordenação em tempo real entre os usuários” (SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 58), por

exemplo, o que ocorria nas redes ICQ e MSN.

Tanto a rede comunicacional ICQ, sigla que compreende o acrônimo dos termos em

inglês I See You, numa ligeira tradução “Eu procuro você”, quanto o MSN - Messenger, são

atualizações e aprimoramentos das antigas salas de bate-papo, dos chats on-line. Essas redes

preservaram características dos chats, tais como, o seu fim precípuo, o da comunicação por

meio da conversação em janelas (abas) com um internauta ou grupo desses. Porém,

apresentam algumas novidades dentre as quais, a possibilidade de indexação de arquivos pela

Page 72: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

72

conversa e a realização de chamada de áudio e vídeo. Cabe salientar que essas redes foram

entrando em declínio em detrimento do cibernomadismos. A historiografia das redes sociais

da internet desvela que os internautas migram para redes mais modernizadas e em ascensão,

mesmo o ICQ e o MSN atualizando constantemente as suas configurações, ambas, na

contemporaneidade, já não atingem a maioria dos internautas.

Outro fator notabilizado com a formação e com a socialização em redes sociais da

Web 1.0 são: a diversidade de gêneros textuais, os trajetos percorridos pelas textualidades e

por consequência destes, os novos modos de ler. Essas prerrogativas são tão capilarizadas na

contemporaneidade que bifurcam o entendimento dos estudiosos sobre a insurgência das

variadas textualidades nesses meios. Alguns pesquisadores nutrem o entendimento que não

são criados novos gêneros on-line; antes há uma reestruturação de objetos já existente, outras

linhas de investigação apostam no contrário. Estudiosos como Araújo (2016) defendem a

ideia de transmutação dos textos, processo que culmina na reelaboração dos gêneros

existentes situando-os em novos espaços como, por exemplo, o ocorrido com os jornais que se

adaptaram aos recursos disponíveis em outro suporte ou mais especificamente como acontece

com alguns gêneros estruturantes das redes sociais como: bilhete, (auto) biografias, avisos,

peças publicitárias dentre outros que ganham novos contornos nesses multimeios.

É possível observar também, pesquisadores que apresentam abordagens diferentes das

defendidas por Araújo (2016), como pode ser verificado em Chartier (2002), Miller (2012),

Marcuschi (2004) os quais evidenciam que, embora as formatações de alguns dos gêneros

partam de uma estrutura já existente, tantos outros são gestados nas redes, podendo então ser

categorizados enquanto gêneros nativos. Desse modo, a centralidade do debate não deve estar,

necessariamente, nas discussões acerca da origem, antes de como essas textualidades

emergentes demandam a adoção de novos comportamentos e habilidades de leitura, assim

como quais os benefícios dispõem os sujeitos proficientes em leitura de textos virtuais.

Questões essas que se tornam mais prementes com o advento das redes sociais na Web 2.0 e

incipiente popularização das vivências ciberculturais.

Dessa feita, a criação das primeiras redes sociais da internet e a sua disponibilização

para acesso ao público deu um start no desenvolvimento de novas redes. Se nos primeiros

protótipos a uniderirecionalidade e monomodalidade são algumas das peculiaridades, com o

avançar dos anos essas características vão se tornando obsoletas até atingirem o quase desuso.

Dispondo de mais recursos para interação as novas redes passaram a se organizar em sistemas

de comunidades, tornaram-se mais velozes e colaboraram para insurgências de novas práticas

comportamentais no ciberespaço.

Page 73: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

73

Definir o ciberespaço não é tarefa fácil, haja vista que se trata de um fenômeno

relativamente novo, em constante investigação, discutido por diversos pesquisadores e

teóricos filiados às mais variadas linhas de estudos, que nem sempre são consensuais. Assim,

para melhor entendimento, busca-se compreender o ciberespaço a partir dos conceitos

cunhados pelo sociólogo André Lemos (2013), cujos estudos, amparados nas teses de Lévy,

contemplam as cidades, comunicação, relações e culturas sob o signo do ciberespaço,

concebendo em suas investigações que esse espaço é constituído pela troca dialética e pela

interatividade entre homem-máquina, máquina (computador) a qual está num lugar físico que

se pode facilmente localizar. A internet, entretanto, configura-se como a junção de linguagens

on-line, cuja localização no espaço material não se pode precisar. Nesses termos, para Lemos

(2013), o ciberespaço é, grosso modo, o espaço da internet, o virtual, o on-line.

Desta arte, metaforizando o surgimento do ciberespaço e conceituando sua existência,

Lemos (2008) atribui a Gibson, mentor da obra Matrix, a alcunha do termo e uma das

primeiras referências a tratar sobre o assunto. Lemos também adverte para pluralidade

existente nessas novas conexões ao passo que afirma – “A Matrix, como chama Gibson, é a

mãe, o útero da civilização pós-industrial onde os cibernautas vão penetrar. Ela será povoada

pelas mais diversas tribos, onde os cowboys do ciberespaço circulam em busca de

informações” (LEMOS, 2008, p. 127, grifos do autor).

Desse modo, pode-se inferir que a mensuração, a alucinação e a representação caricata

do real no âmbito virtual apresentada por Lemos, “A Matrix de Gibson, como toda a sua obra,

faz uma caricatura do real, do quotidiano” (LEMOS, 2008, p. 127) somadas à multiplicidade

de tribos existentes na internet, bem como das trocas dialéticas realizadas pelos internautas, é

que fazem emergir neste não-lugar o conceito de cibercultura. Por esse ângulo, sobre as

vivências ciberculturais, Lévy (1999, p. 17). explana que, “[...] quanto ao neologismo

‘cibercultura’, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de

atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o

crescimento do ciberespaço” Logo, depreende-se que, para além de estar imbricada ao

ciberespaço, a cibercultura também está pautada no agrupamento, no contexto do consumo da

informação e na assunção de identidades diversas na rede. A cibercultura configura-se como

prática cultural que atravessa toda relação existente na Web.

Nesta ambiência de maior experienciação e exposição das relações na internet,

atrelada aos avanços técnicos e científicos no desenvolvimento de suportes de acesso à

internet, que produzem computadores com processadores e navegadores cada vez mais

velozes e programados para o exercício de multitarefas, que emerge a Web 2.0. O agente de

Page 74: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

74

inovação Tim O’Reilly foi o primeiro a verificar e cunhar o termo Web 2.0. O’Reilly, dentre

outras peculiaridades, observa que essa nova composição da Web, ao contrário do que se tinha

concebido anteriormente com a Web 1.0, deixou de se limitar a construção e armazenamento

de informação no âmbito estático dos computadores. Esses processos de construção,

arquivamento e compartilhamento de conteúdos, deixaram de se limitar aos computadores e

passaram a estar dispostos nas redes, plataformas on-line e comunidades virtuais que, na

maioria das vezes, dispõem de espaços ilimitados de armazenamento de arquivos.

O’Reilly (2005) notabiliza que, com a mudança paradigmática, os internautas

passaram a apresentar um comportamento mais autônomo frente aos ambientes on-line,

selecionando, produzindo (similarmente de modo colaborativo) e divulgando seu próprio

conteúdo - progresso assegurado pela facilitação na interpretação das interfaces, as quais já

não exigem dos sujeitos navegadores amplo conhecimento técnico e de programação.

Outra propositiva construída por O’Reilly (2005) refere-se a uma das mais marcantes

características período; a descentralização do acesso e a produção de conteúdos, uma vez que

as plataformas, em sua maioria de acesso gratuito, possibilitam que os usuários pudessem

selecionar quais conteúdos acessar. Também, tornar-se produtores de arquivos que podem ser

compartilhados com outros sujeitos, desconstruindo, timidamente, um sistema de

hierarquizações na construção e divulgação de conteúdos. Para o pesquisador Alex Primo

(2007, p. 5), esse ocorrente fenômeno a partir da Web 2.0: “[...] tem repercussões sociais

importantes, uma vez que potencializam processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de

produção e circulação de informações, de construção social de conhecimento apoiada pela

informática”. Com essa nova filosofia de acesso, os aplicativos, sites e comunidades

organizam-se em torno da inteligência coletiva.

Assim, o período marcado pelo surgimento e desenvolvimento da Web 2.0 possibilitou

a emergência de redes sociais da internet pautadas na construção colaborativa e nos

agrupamentos em comunidades filiadas ao princípio da formação de coletivos inteligentes.

Santaella e Lemos (2010, p. 58) dialogam que nessa recente reprogramação de rede, essas

podem ser classificadas como redes de “entretenimento, contatos profissionais, marketing

social”, podendo citar as pioneiras; Blog,Fotolog, Linkedin, MySpace, Orkut e as mais

notabilizadas; Facebook, Instagram e Twitter . Cabe salientar que foi com o advento da Web.

2.0 que, para além de estabelecer novos paradigmas para o funcionamento e autogestão das

redes sociais da internet, estabeleceu-se também a insurgência de plataformas e aplicativos de

compartilhamento como as Wikis, plataformas virtuais para construção de textos, por meio da

escrita colaborativa. Um notável exemplo dessa modalidade de escrita é o site Wikpédia, a

Page 75: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

75

enciclopédia livre, em que os internautas podem disponibilizar informações acerca de um

dado período histórico, personalidades, artefatos, dentre outros, e também colaborar

alongando e atualizando textos já disponibilizados na enciclopédia.

Para além das práticas de escrita e de leitura favorecidas pelas Wikis, as redes sociais

da Web 2.0 foram responsáveis por criar, em suas ambiências, espaços propícios para o

exercício da leitura e da escrita (colaborativa ou solitária), a exemplo das comunidades, das

fanpages, dos fóruns e dos grupos, espaços nos quais, além do desenvolvimento das ações

supracitadas o internauta pode ainda opinar ou verificar, por meio dos recursos disponíveis

nesses ambientes, a opinião dos outros sujeitos sobre uma determinada obra. Outras ações de

acesso à leitura possibilitadas com o advento da Web 2.0 são as acomodações de aplicativos;

dicionários, tradutores, ilustradores, tira-dúvidas, dentre outros que potencializam o alcance e

o entendimento dos textos, também a modernização das extensões que permitem a

hospedagem de arquivos cada vez mais híbridos.

Na contemporaneidade, todas essas questões elencadas tornam-se mais prementes,

muito em função das mudanças favorecidas com a atualização da Web 2.0 para Web 3.0, que

não necessariamente cria várias outras redes sociais, mas por conta da mobilidade e dos novos

paradigmas colabora para ascensão do uso das redes, e por consequência a leitura nessas

novas interfaces reprogramadas.

Lemos (2013) defende que a internet irá unir todas as coisas. Sabe-se que o

entendimento dessa colocação é muito cauteloso, haja vista que a máxima é muito ampla e

generalizante. Porém, analisando por outra perspectiva, já é possível observar, no cotidiano,

diversos exemplos do imbricamento entre os comandos humanos e as respostas das máquinas,

sejam câmeras que monitorem, em tempo real, ruas, edifício e demais espaços, carros que

operem de acordo ao comando de voz ou mediante à programação prévia de um trajeto via

internet, um comando de celular para travar a geladeira, acender o forno ou as luzes, sensores

de movimento, dentre outros.

Todos esses e outros exemplos, possivelmente, estarão interligados à ação humana,

toques, emissão de comando de voz, de telepresença, também de uma precedente

programação dos sistemas de uma determinada máquina. Entretanto, são os efeitos da internet

sobre essas ações que possibilitam e potencializam os resultados. Por exemplo, para que um

veículo receba um comando de voz com a finalidade de conduzir o transporte com ou sem seu

motorista a um destino, é necessário que ele esteja conectado à internet, pois é essa que irá

viabilizar ao motorista ou operador, no mínimo, três dispositivos conectados: 1. Sistema de

filtragem de áudio e conversão fonográfica, 2. Dispor de GPS atualizado, conectado com

Page 76: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

76

plataformas de busca que pesquise as vias e endereços e 3. Aplicativo de áudio ou vídeo que

guie o condutor ou operador do veículo. Essa maior modernização e conectividade se deu em

detrimento da formação do atual estágio de internet, a Web.3.0.

A Web 3.0, reconhecida também por Web Semântica ou Internet Inteligente, é a

contemporânea interface da internet, que dentre outras características e metodologias adota os

sistemas de reputação digital; identidade digital e Web em celulares e marketing de influência

social. Essa maior possibilidade de conectividade e desenvolvimento de uma inteligência

semântica na rede está atrelada a no mínimo quatro elementos: os Agentes, as Ontologias, a

Linguagem da Web e os Metadados. Os Agentes, que são softwares que disponibilizam

informações mais atrativas e relevantes para cada usuário. Por exemplo: se um determinado

usuário tem em seu histórico de busca a palavra culinária, muitas das informações e páginas a

ele direcionadas e sugeridas permearão o universo desse referente. Outro fator são as

Ontologias, agrupamento de conceitos que auxiliam na busca de um determinado texto, que

planificam também a nova linguagem da Web, a qual se configura como a junção de

ontologias, mesmo na buscativa por um termo isolado, a devolutiva da pesquisa será

correlacionada a diversas ontologias. E, por fim, o uso de Metadados, princípio que auxilia

tanto o operador quanto a máquina na interpretação dos comandos, produzindo um gráfico de

conhecimentos.

A Web 3.0 possibilita informações mais significativas e contextualizadas. Somado esse

a dois outros fatores, o da sua hospedagem em celulares e outros dispositivos móveis, bem

como ao agrupamento ontológico de conceitos para formação de uma nova linguagem na

Web, surge a diegese das redes sociais 3.0. Assim como as fases anteriores da Web 1.0 e 2.0

dispuseram de redes que se filiassem a suas extensões, não seria diferente com o advento da

Web. 3.0.

As redes que se agrupam em torno desse novo período vivenciado pela internet, o qual

dentre outras façanhas permite a mobilidade entre as distintas redes, possibilitando que os

internautas, por intermédio de um perfil ativo em uma mídia, acessem o conteúdo disposto em

outra, assumem mecanismos de funcionamento engendrados. A esse respeito, as

pesquisadoras Santella e Lemos (2011, p. 59) evidenciam: “O acesso wireless dessa nova

década é nômade e mutante. Também são mutantes as suas vias de acesso: através de

aplicativos é possível se conectar a várias plataformas ao mesmo tempo. Existem tantas vias

de acesso vias de integração entre diversas redes”. As pesquisadoras ainda observam que “O

acesso já não se dá através de pontos fixos no espaço-tempo, pois ele é ubíquo. As formas de

acesso também já não são fixas como a fase anterior, em que cada máquina tem seu servidor

Page 77: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

77

fixo, sua identidade fixa” (SANTELLA; LEMOS, 2011, p. 59), concluindo que nessas novas

ambiências, para além de uma maior fluidez no acesso, há também a interconectividade.

Outra inovação proposta por essas redes é o fato de as mesmas possibilitarem o acesso

a partir de dispositivos móveis, a exemplo do uso nos celulares. Em função dessa mobilidade,

incorporaram diversos mecanismos que viabilizam a interação simultânea em tempo real, por

intermédio de linguagens, áudio e vídeo, estando entre as principais redes que se enquadrem

no perfil 3.0 de rede, as mídias Facebook, Twitter e, a mais recente delas, o Instagram.

Acerca desse último e atual estágio evolutivo das redes sociais, Santaella e Lemos (2010, p.

59) concluem: “O diferencial principal na modalidade de interação das RSIs 3.0 encontra-se

na sua integração com múltiplas redes, plataformas e funcionalidades através do uso de

aplicativos e mídias móveis”.

4.3.1 Facebook: Leituras Curtidas e Compartilhadas

É cada vez mais frequente observar em restaurantes, shoppings centers, praças e

espaços públicos de modo geral, a socialização de momentos nos quais os casais ou grupos de

pessoas que, estando juntos, espaço-temporalmente, mal verbalizam ou se entreolham, antes

estão conectados à internet por meio de dispositivos móveis, celulares, tablets, dentre outros, e

em muito dos casos constata-se que essas pessoas estão navegando nas redes sociais,

sobretudo no Facebook, desenvolvendo outras atividades e estabelecendo diálogo com outras

pessoas. É fato que o acesso às redes sociais da internet alterou o comportamento dos sujeitos

em diversos contextos. Alguns críticos alardeiam que seja um momento de vivências

superficiais, de autopromoção e de abandono de laços sólidos em detrimento da construção de

laços líquidos desatáveis facilmente. Contudo, se parando para realizar uma análise de menor

teor alvissareiro se chegará à constatação que redes como o Facebook vêm desenvolvendo a

função de mediadora em diversos meios; artístico, econômico, educacional, publicitário,

possibilitando ações e protagonismos, para além da mera conversação descompromissada.

Para melhor ilustração desses pressupostos, recorre-se ao exemplo dos constantes atos

políticos, partidários ou não, conclamados no Facebook, como pode ser observado nos casos

da Revolução Jasmim (2010 - 2011) e da Primavera Árabe (2011) de um modo geral, ambas

as manifestações ocorridas no oriente médio e notabilizadas tanto pelo teor das suas

reivindicações quanto pela nova metodologia adotada para: organizar o movimento, articular

a população nas ruas, cobrir e divulgar os atos e seus desdobramentos, e consequentemente

Page 78: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

78

para pressionar os representantes políticos. Os movimentos então, implicam em suas lutas os

instrumentos dispostos no FB como; os fóruns de notícias, os grupos de compartilhamentos,

os recursos de transmissão de imagens em tempo real, para massificar e dar visibilidade às

pautas defendidas/reivindicadas.

No Brasil, numerosos casos também logram êxito ao valerem-se dos mesmos artifícios

utilizados pelos protestantes no norte da África, podendo citar as convocações feitas pelo

Movimento Vem para a Rua, que culminou nas Jornadas de Junho e Julho de 2013, também

nos protestos onde era exigida justiça para os casos do pedreiro Amarildo (2013) e da

vereadora Marielle Franco (2018), ambos assassinados no Rio de Janeiro, para além das

constantes marchas (da liberação do aborto, da legalização da maconha, marcha pra Jesus)

que ganharam espaços para debates e firmamento de posicionamentos nas redes. Assim, o

Facebook acaba servindo como um espaço de engajamento, de encontro de grupos de ideais

semelhantes que se encontram afastados sócio geograficamente, mas que em dados momentos

unificam as suas pautas e conjecturam ações coletivas. A respeito desse movimento de

agregação Paiva (20016) discute que, “Atualmente, a tendência dos usuários da internet é de

se fixar no FB, que se constitui como um estado atrator da comunicação na internet, um

ambiente em que comportamentos semelhantes se repetem” (PAIVA, 2016, p. 66).

Os manifestos supracitados ganharam notoriedade tanto pela quantidade de sujeitos

que fizeram adesão ao movimento quanto pela repercussão midiática dos atos. Evidentemente,

os veículos tradicionais de mídia de massa reproduziram e auxiliaram nos desdobramentos,

contudo o protagonismo fora assumido por canais alternativos alocados no Facebook. Sobre

essa prerrogativa emergem outras questões que necessitam ocupar a centralidade do diálogo,

sendo elas: como os usos das diferentes linguagens em rede influenciam na aproximação ou

distanciamento entre os sujeitos e ideias, também como a construção e a recepção de textos no

FB podem auxiliar no percurso formativo dos internautas, sobretudo, no que tange a formação

leitora, o aguçamento do senso crítico.

Para ter a compreensão do uso do Facebook como ambiente de encontro entre as

textualidades e os leitores, é necessário entender o axioma dessa rede, suas ferramentas e

poder de alcance, de como um fato isolado, em função das várias leituras e múltiplos

compartilhamentos, torna-se visibilizado por indivíduos em diversos espaços do mundo, e

como ocorrem tantos outros fenômenos dispostos nessa rede.

O Facebook foi concebido pelo americano Mark Zuckerberg, a princípio servindo de

espaço para interação entre alunos veteranos e recém-chegados a Universidade de Harvard.

Acerca dessa plataforma, Recuero (2009, p.184) discute que

Page 79: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

79

O foco inicial do Facebook era criar uma rede de contatos em um momento crucial da

vida de um jovem universitário: o momento em que este sai da escola e vai para

universidade, o que, nos Estados Unidos, quase sempre representa mudança de cidade

e um espectro novo de relações sociais. O sistema, no entanto, era focado nas escolas

e colégios e, para entrar nele, era preciso ser membro de algumas das instituições

reconhecidas. Começou apenas disponível para os alunos de Harvard (2004),

posteriormente sendo aberto para escolas secundárias (2005).

Com a percepção da aderência que a rede obteve frente aos estudantes usuários da

mídia em questão, os seus mentores, no ano de 2006, disponibilizam-na para amplo acesso,

deixando de estabelecer pré-requisitos antes exigidos, como, por exemplo, estudar em

Harvard ou escolas secundárias estadunidenses. Após essa iniciativa, dentro de meses, o

Facebook tornou-se a rede mais acessada em diversos países. No entanto, mesmo com a

quebra de pré-requisitos de acesso em 2006, é apenas em 2010 que o Facebook ascendeu

enquanto rede social mais acessada em todo mundo, posto mantido até a presente data.

Muito do sucesso dessa rede se deveu e se deve as suas constantes atualizações e

disponibilização de diversas funções operacionais e espaços de socialização. Em outros

termos, o Face, nome pelo qual popularmente é conhecido, é uma rede que constantemente

inova as interfaces da sua plataforma, possibilitando ao usuário maior entretenimento e

mobilidade dentro da rede. Uma das suas últimas atualizações funcionais possibilitou que os

usuários disponibilizassem fotografias do seu cotidiano, essas que não seriam mais arquivadas

nos álbuns digitas de hospedagem na rede. Antes, com vinte e quatro horas após a data da

postagem, era automaticamente excluída.

Esse bioma digital (PAIVA, 2016) disponibiliza também diversos espaços nos quais

ocorrem diálogos e postagens de arquivos, dentre eles está o feed que é uma espécie de página

principal, lugar comum entre os usuários da rede que estejam adicionados, na condição de

amigos, a um determinado perfil. No feed existe a possibilidade de acompanhar (em tempo

real) as atualizações; postagens de fotografias, notícias, publicidades, vídeos e demais objetos

que os sujeitos disponibilizem. Embora os feeds sejam espaços de tráfego obrigatório dos

sujeitos conectados e nele exerça várias intervenções, as trocas dialéticas de produção e o

compartilhamento de textos torna-se mais evidentes em espaços como os fóruns, as fanpages

e os grupos.

Os grupos são ambientes criados por internauta ou por coletivos destes acerca de uma

determinada temática, podendo ser de acesso privado. Nesses casos, é preciso solicitar

anuência para se tornar membro, ou de status público, bastando o usuário acionar a opção

participar que automaticamente é introjetado na comunidade. Para participar desses espaços

não se faz necessário ter uma ligação direta com os perfis gerenciadores dos mesmos,

Page 80: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

80

ressalvados os casos grupos de família ou de trabalho comumente restritivos, de cunho

íntimo, basta que o usuário tenha aderência, curiosidade pelas discussões suscitadas. Os

grupos, assim como as redes sociais, são “comunidades virtuais, construídas exclusivamente

pela linguagem”. (PAIVA, 2016, p. 65) nas quais são debatidos assuntos variados, aqui

enfatizando os que se direcionam para formação e suplementação das práticas de leituras,

como evidenciado no grupo ilustrado no print.

Figura 01 – Print Ler é Viver

Fonte: Captura

de tela –

Facebook/gruposlereviver, 2019.

O Grupo Ler é viver é uma comunidade fechada, logo, a participação neste e, por

conseguinte, o acesso ao conteúdo estão condicionados à aprovação do administrador e do

moderador, porém os marcadores que estão disponibilizados para todo e qualquer usuário da

Page 81: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

81

rede já desvelam informações e estatísticas relevantes para os pesquisadores e formadores de

leitores, dentre elas: a significativa quantidade de membros até o dia da captura da imagem

(13-06-19) só neste grupo são quase sessenta e dois mil internautas, em tese, dispostos a

debater, construir, indicar, socializar experiências de leitura; também o volume de publicações

semanais e o seu tempo de existência.

Outro espaço que emerge no FB e se notabiliza por congregar usuários dispostos a

estabelecerem interação com e sobre objetos e práticas de leitura são as fanpages. As

fanpages são uma espécie de espaço para agrupamento de indivíduos on-line, cuja estrutura se

assemelha a das comunidades do Orkut, contudo, são mais fluidas e dispõem de maiores

recursos. Nessas páginas, há sempre uma temática centralizadora, cujas discussões e demais

atividades que nela ocorrem estão interligas ao tema fundacional e aos seus subtemas.

Fanpages traduz-se por páginas de fã, semântica que está estritamente interligada as

intencionalidades da sua criação; essas superfícies, a princípio, eram direcionadas a promoção

de celebridades e marcas. Contudo, no decorrer do tempo, as pages foram se convertendo em

meios eficazes para não só publicidade e propaganda, mas para o entretenimento, para debates

políticos e para encontro entre leitores. A respeito dessa última finalidade mensurada, os

estudos de Abinalio Subrinho (2017) demonstram a ascensão na criação de fanpages

direcionadas à leitura, sobretudo, à literária. Algumas práticas de leitura e interatividade com

objetos textuais podem observados no seguinte print:

Figura 02 – Print Lítera Brasil

Fonte: Captura de tela – facebook/literabrasil, 2019.

Page 82: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

82

A publicação fora extraída da fanpage Lítera Brasil, uma página com 613.630 curtidas,

em outros termos acompanhada por essa quantidade de pessoas. A Lítera é composta por

conteúdos que em sua maioria mesclam humor e literatura, o canal dispõe de perfis ativos no

Instagram e no Youtube. Nessa postagem em específico há uma reprodução de um dos

quadrinhos das tirinhas de Quino e, sobre ela, os leitores virtuais irão inferir. Os perfis 01, 04

e 05, valem-se do recurso comentário para ampliar os sentidos do texto. A possibilidade

de comentar sobre uma publicação configura-se como um ato de retextualizar um dado objeto

postado. Com essa ação, pode-se afirmar que ocorre, o que defende Lévy (2011), o

alongamento do texto, a construção de relações hipertextuais em que os indivíduos atualizam

o sentido do material postado, respondendo por positivamente ou negativamente ao conteúdo

disposto. Outro recurso acionado para dar notoriedade ao conteúdo postado é a marcação, a

opção marcar compreende a construção de canal que direciona usuários a postagens, como

está evidenciada na relação entre os perfis 02 e 03.

De modo mais amplo, outras reações que incidem diretamente na projeção dos textos

são as curtidas e os compartilhamentos. O botão curtir é uma forma mais discreta de

interferência e evidencia a compatibilidade, aderência de um internauta com o que fora

postado por outro. Nesses termos, Recuero (2014, p. 119) apresenta:

O botão ‘curtir’ parece ser percebido como uma forma de tomar parte na conversação

sem precisar elaborar uma resposta. Toma-se parte, torna-se visível a participação,

portanto, com um investimento mínimo, pois o ator não necessariamente precisa ler

tudo o que foi dito. É uma forma de participar da conversação sinalizando que a

mensagem foi recebida. Além disso, ao “curtir” algum enunciado, os atores passam a

ter seu nome vinculado a ele e tornam público a toda sua rede social que a mensagem

foi ‘curtida’.

Quanto à função compartilhar, assim como curtir, denota a adesão positiva ou negativa

a um dado conteúdo. Visa também dar maior visibilidade a uma postagem, haja vista que ao

passo em que essa postagem é compartilhada, ela vai ficando disponível nas páginas dos seus

compartilhadores. Também uma teia virtual que deixa a publicação em constante evidência.

Nesses termos, Couto (2014, p. 53) observa que essa função está atrelada aos:

Compartilhar é motivo de prazeres pessoais, alimenta redes de amigos, mas é

principalmente um meio eficiente para mais rapidamente satisfazer curiosidades,

combinar criativamente possibilidades e alternativas, encontrar soluções e abraçar

novos desafios.

Ainda como último exemplo de superfícies que favoreçam as atividades de leitura,

têm-se os fóruns, engenho que pode se fazer presente tanto nas páginas pessoais, quanto nos

Page 83: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

83

espaços coletivos das fanpages e dos grupos. Paiva (2016) compreende que esses meios

possuem uma relação direta com a disponibilização de textos on-line. Nas palavras do autor

“O fórum é usado para postagens de textos, fotos desenhos, vídeos, e a rede oferece diferentes

estratégias de comunicação como a marcação, o compartilhar o curtir e o cutucar” (PAIVA,

2016, p. 66). Desse modo, os exemplos dispostos e tantos outros ambientados no FB,

evidenciam que essa rede se tornou um espaço de encontro entre as diversas tribos, sobretudo

as diversas tribos leitoras, possivelmente de diferentes proficiências, por esse motivo necessita

de constantes estudos para o auxílio na formação de leitores.

4.3.2 Instagram: Fluxos de Leituras Verbovisuais

O Instagram é uma rede social pertencente à amálgama da Web 2.0, contudo, é só com

advento da cultura da mobilidade (Web 3.0) que ela conquista uma maior quantidade de

usuários. Essa rede é considerada como uma das mais recentes, sendo disponibilizada para o

acesso do público em outubro de 2010. A superfície foi desenvolvida pelos engenheiros de

programação Kevin Systrom e Mike Krieger, objetivando popularizar a captura instantânea de

imagens e estimular, por meio dos pronunciamentos visuais, a comunicação na internet. O

Instagram, IG ou Insta, nomes populares da rede, é uma simplificação do protótipo da rede

social Burbn, plataforma também criada pelos profissionais supracitados.

O Burbn era uma rede mais hermética, cujo intuito consistia em possibilitar que os

usuários pudessem dispor de um espaço para comunicação, ambientado numa espécie de

diário de bordo alimentado com informações e arquivos pessoais, tais como: localização

geográfica do indivíduo, quais os planos para o final de semana, fotografias, vídeos, dentre

outros. Dada a complexidade do funcionamento não houve aderência massiva por parte os

internautas o que resultou na reformulação da rede, convertendo o Burbn no fenômeno

Instagram, rede que emerge estruturada na linguagem visual e na perpetuação do agora.

Sobre as urgências demandadas pelos usuários desses novos perfis de rede, de cadastro e

acesso mais simplificado, contudo não menos rico Santaella e Lemos salientam que o axioma

das mídias deve ser “[...] estrutural e está articulado ao redor da mobilidade, dos aplicativos e

das novas formas de linguagem” (SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 61).

Para acessar ao conteúdo do Instagram, assim como nas outras redes, é necessário que

os internautas criem a sua página na plataforma. Uma vez circunscritos, recebem um @

Page 84: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

84

anterior ao nome de usuário, elemento de identificação e agrupamento, para, a partir de então,

retroalimentarem a rede, postando e interagindo com as publicações de outros contatos. Com

relação à formação de elos entre os contatos, é indispensável que o internauta escolha pela

opção seguir. Partindo dessa ação, o usuário poderá ter acesso ao conteúdo postado pelos

perfis dos quais ele é seguidor. Quanto mais ele seguir, mais informações estarão disponíveis

para ele e, consequentemente, também os seus objetos postados estarão visíveis para um

maior número de pessoas, assim tecendo uma rede de contatos. No Instagram, há um

predomínio da linguagem visual e verbovisual, comumente publicadas fotografias e outros

elementos da cultura visual. Cabe salientar que se filiam ao site de rede Instagram aplicativos

para edição e manipulação de fotos, dispositivos em que os sujeitos podem desde aplicar

efeitos relativamente simples como escrever sobre a imagem, até intervenções mais amplas

que incorporam multidirecionalidade, movimento e som à exibição imagem.

Outro fator observável é que o site de rede Instagram estabeleceu uma nova dialética

comunicacional, estruturando a comunicação em rede, predominantemente por meio do uso

de imagens. É evidente que outras redes sociais da miríade das Webs 1.0 e 2.0 já emergiram

como protótipo para esse tipo de estrutura, a exemplo das mídias Fotolog e do Flickr, sites

que, segundo Recuero (2009, p. 180), respectivamente, configuraram-se como estruturados

em objetos fotomontados, sendo que “[...] os fotologs são sistemas de publicação que

possibilitam ao usuário publicar fotografias acompanhadas de pequenos textos e receber

comentários”. Já o Flickr “é um site que permitia, originalmente, apenas a publicação de

fotografias, textos acompanhando-as e comentários, mas que recentemente acrescentou

também a possibilidade de publicação de vídeos” (RECUERO, 2009, p. 180). Contudo,

comparada a essas redes, o Instagram inova ao passo que está inserido numa cultura mobile,

também corroborando para construção de narrativas por meio das imagens e da concepção de

montagens na ambiência de sua plataforma, dispensando programas de edições exteriores.

Desse modo, infere-se que a nova dialética entre as atuais concepções de

computadores, que são concomitantemente multifuncionais e híbridos, telefonam, fotografam,

conectam-se à internet, editam, dentre outras funções, possibilitou a disponibilidade das

fotografias aos consumidores contempladores daquela imagem, muitas vezes no ato da sua

concepção, eliminando os procedimentos anteriores de fazer download desses registros num

computador pessoal, editá-las e posteriormente lançá-las nas mídias. Essa sincronicidade

concepção x disponibilização na maioria das vezes também agrega o fator inferências à

responsividade dos demais internautas sobre o objeto disposto na rede, estando esse processo

interligado à dinâmica da mobilidade e continuidade requerida pela rede em questão. A esse

Page 85: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

85

despeito Santaella observa: “a continuidade do tempo se soma a continuidade do espaço: a

informação é acessível de qualquer lugar” (SANTAELLA, 2010, p. 19).

Sobre a mobilidade e a interferência na produção de fotografias, o pesquisador

Zachary Mccune (2011, p. 23, tradução livre) afirma que,

Se a Kodak trouxe a fotografia para a sociedade em massa, e a Polaroid fechou a

distância entre compor e ver uma imagem, o telefone celular (e, portanto, o Instagram)

evoluiu a fotografia acelerando drasticamente o processo de compartilhamento de

fotografia, usando redes de comunicação global para transcender as distâncias físicas

que as fotos não poderiam cobrir.

Para além desse novo modo de produção e consumo de imagens fotográficas e suas

respectivas manipulações, são inovadoras também as representações que constituem as

narrativas desses objetos visuais na contemporaneidade. Se antes registrar uma fotografia era

algo raro, necessário que houvesse uma justificativa, uma comemoração, data, marco especial,

cujos cenários, disposições das pessoas e objetos fossem previamente pensados e organizados,

na contemporaneidade, o que se observa é uma profusão de imagens em que os indivíduos

fotografam, se autofotografam, assim como produzem capturas de outras pessoas nos mais

adversos momentos. Fazendo um adendo, evidencia-se que esse fenômeno também está

atrelado a uma questão mercadológica e técnica, a acessibilidade ao consumo e porte de

câmeras fotográficas digitais e de aparatos com a função fotografar ativa, bem como ao fato

de esses aparatos não requererem que o indivíduo seja fotógrafo profissional para operá-los,

fazem com que haja uma potencialização desse fenômeno. Todavia, esse elemento inovador

na produção da imagem está mais interligado a questões comportamentais e conjunturais,

como observa o fotógrafo e pesquisador Joan Fontcuberta (2012, p. 32-33),

Definitivamente, as fotos não servem para tanto para armazenar lembranças, nem são

feitas para ser guardadas. Servem como exclamações da vitalidade, como extensões de

certas vivências, que se transmitem, compartilham e desaparecem, mental ou

fisicamente. [...] Transmitir e compartilhar fotos funciona então como novo sistema de

comunicação social, de etiqueta e cortesia. Entre estas normas, a primeira estabelece

que o fluxo de imagens é um identificador de energia vital, o que nos devolve ao

argumento ontológico inicial do ‘fotografo, logo existo’.

Fontcuberta (2012) evidencia um caráter contemporâneo das fotografias que são

dispostas na rede, as suas potencialidades como elementos para a representação dos sujeitos.

Sabe-se que a fotografia, por mais fidedigna ao real, é um elemento de representação, pois o

que se mostra é uma representação do real plasmado numa imagem. Porém, o elemento

representatividade nas fotografias dispostas na rede está atrelado à representação de si perante

os outros, um forjar de sensações e a criação de autoafirmação por meio da autoimagem.

Page 86: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

86

Notórios exemplos dessa prerrogativa podem ser verificados nos IGs; Imagens e história

[@imagens.historia], Fotocracia. [@fotocracia] Quebrando o Tabu, dentre tantos outros. Para

melhor ilustração, de como essa construção de autoimagens recorre-se a um dos posts do

@quebrandootabu:

Figura 03 – Print Quebrando o Tabu

Fonte: Captura de tela – Instagram/@quebrandootabu, 2019.

O Instagram Quebrando o Tabu é acompanhado por no mínimo dois mil internautas e

os conteúdos que nele estão dispostos são construídos pelos administradores da página ou

(re)publicações de outros perfis. As postagens são, maiormente, de teor político-social nas

quais debates engajados acerca de temáticas como: educação pública e gratuita de qualidade,

igualdade entre os gêneros, imigração, LGBTQIfobia, dentre outros são suscitados. Na figura

03, por exemplo, é possível verificar na captura de tela um texto fotográfico no qual uma

mulher mimetiza a posição de uma manequim plus size utilizando a mesma indumentária.

Com esse post é possível inferir que a intencionalidade dos administradores é problematizar

sobre questões como: desconstrução de padrões corporais, corpos gordos, beleza e bem-estar,

dar visibilidade a outros tipos de corpos que, de modo incipiente, vem ganhando notoriedade,

muito em função de publicações semelhantes a essa.

O Instagram, cada vez mais povoado pelas diversas tribos, contribuiu diretamente na

instauração de um novo processo de narrar on-line. As narrativas, predominantemente, em

imagens estáticas ou em movimento, ao contrário do que se tinha até a insurgência do IG,

contemplam signos variados, afastam-se, porém não os abandonando, de alguns temas

centrais entre eles a família, os ambientes de estudo e de trabalho, abre-se agora um

Page 87: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

87

verdadeiro diário visual que plasma, por meio dos variados gêneros, as vivências,

preferências, causas dos sujeitos conectados. Sobre essa nova dinâmica na construção de

fotografias [imagens] Fontcuberta (2012, p. 31) discute:

Hoje, os que fazem mais fotos não são os adultos, mas os jovens e adolescentes. E as

fotos que eles fazem não são concebidas como ‘documentos’, mas como ‘diversão’,

como explosões vitais de autoafirmação; já não celebram a família nem as férias,

mas as salas de festas e os espaços de entretenimento.

Uma dessas múltiplas temáticas contemporaneamente presentes no Instagram é a da

relação entre os sujeitos com as práticas de construção e recepção de textos. Sabe-se que o

exercício da leitura é algo inerente a todos os indivíduos que desejam participar dessa

comunidade, até porque, como evidencia Paiva (2016), essas redes são construídas

majoritariamente por linguagens. Porém, a tematização leitora aqui tensionada, não se refere

apenas a questão estrutural elencada por Paiva (2016), antes direciona-se aos ascendentes

perfis e postagens que se direcionam aos comportamentos de leitura, boas práticas leitoras,

comportamentos leitores, reformulação de gêneros, entre outros. Objetos que são encontrados

em páginas como: Um Cartão [@umcartão] dois milhões de seguidores, Precisava Escrever

[@precisavaescrever] dois milhões e oitocentos seguidores, Textos cruéis demais

[@textoscrueisdemais] um milhão de seguidores e Neologismos [@matheusrocha] seiscentos

e quarenta e oito usuários. Para melhor compreensão do fluxo de leitura, vale-se de um objeto

extraído do perfil Sociologia Líquida:

Figura 04 – Print Sociologia Líquida

Fonte: Captura de tela – Instagram/@sociologialiquida, 2019.

Page 88: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

88

Conforme consta na própria descrição da página Debates complexos em simples

ilustrações, o @sociologialiquida suscita discussões sobre variados temas, principalmente

sobre as liberdades, a inteligência artificial, os relacionamentos afetivos e sobre o uso

exacerbado das TDICS. No post em evidência na figura 04, por exemplo, o perfil propõe uma

reflexão acerca das práticas de leitura na era digital. Na imagem, um banhista se depara com a

superficialidade ao tentar mergulhar em leituras num gadget ao passo que observa a densidade

oceânica contida nas páginas dos livros impressos. Porém, sobre esta imagem, outras análises

podem ser construídas, bastar conjecturar que o próprio perfil Sociologia Líquida (hospedado

numa plataforma digital e popularizada pelo uso dos celulares conectados à Internet) promove

diálogos tão adensados, maturados quanto os contidos em livros. O que parece ser a tônica da

publicação é a crítica as práticas de leitura descompromissadas com o desenvolvimento

intelectual; fofocas sobre a vida das celebridades, também as Fake News, ao passo que esses

ambientes dispõem de ricos materiais para leitura.

O Instagram disponibiliza aos seus usuários instrumentos e ambientes de elaboração,

leitura e veiculação de textualidades semelhantes aos que estão postos no Facebook: espaços

para publicações, recursos para construção de comentários e de compartilhamentos, assim

como reações; amei, gostei, não gostei, triste, dentre outras. Nesses termos, é possível

perceber na postagem que: o perfil 01, constrói um canal para direcionar o conteúdo postado

pelo Sociologia para outro usuário, também que por meio dos comentários os perfis 02 e 03

tecem uma rica análise sobre a relação da juventude com os novos modos de ler, também

sobre a tímida democratização de acesso ao livro, promovida por esses meios, dentre outras

questões.

Para além das fotografias, o Instagram acolhe em sua ambiência outros ícones da

cultura visual, gêneros verbovisuais originados nos meios impressos que, passam pelo

processo de reelaboração, são disponibilizados na rede, como no caso dos cartuns, charges,

tirinhas. Há também os gêneros discursivos (MILLER, 2012), a exemplo dos GIFS e dos

MEMES. GIF (Graphics Interchange Format) é um formato de imagem para produção de

mapas e gráficos. Recentemente, a Web e as redes sociais apropriaram-se desse formato para

dar outras dimensões à imagem. Incorporam-se efeitos luminosos, sonoridade e letreiros, cuja

exibição ininterrupta dura de três a cinco segundos. Também há os MEMES, geralmente

cenas de filmes, novelas, programas da televisão, ou capturas de comentários ou resposta a

determinada situação na rede que, por seu teor satírico, humorístico ou irônico, popularizam-

se por entre a rede.

Page 89: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

89

Com o estabelecimento da edição e vinculação de imagens, o IG tornou os fluxos

comunicacionais mais velozes, embora a interpretação dessas imagens seja algo tão

minucioso quanto as inferências realizadas sobre os códigos da linguagem escrita, no

ambiente das redes cujos internautas estão ávidos por consumir maior número de informações

em menor tempo, sendo assim, por uma questão de efeitos e sentidos, as imagens

desenvolvem um papel crucial. Os internautas podem inferir sobre a imagem, assim como no

Facebook, por meio das opções curtir (amei, representadas pelo símbolo de um coração e

mais comumente utilizada), comentar e compartilhar, funções que aferem a receptividade e

aderência dos demais perfis sobre os objetos postados. Portanto, é necessário reconhecer e

estudar esse fenômeno e as consequências oriundas desse para leitura e produção de

conhecimentos, uma vez que a dinâmica da concepção – edição – disponibilização – recepção,

produzem diversas significâncias e efeitos de sentidos, cujos internautas respondem mais

ativamente a essas textualidades, conforme observa Lévy “Quanto à imagem, perde sua

exterioridade de espetáculo para abrir-se à imersão [...] O desenho, a foto ou o filme ganham

profundidade, acolhem o explorador ativo de um modelo digital” (LÉVY, 1999, p. 152),.

4.3.3 Twitter: Adaptação, Concisão da Linguagem e Simultaneidade em Rede

Estar conectado à Web e às redes sociais na contemporaneidade exige dos internautas

o desenvolvimento de múltiplas habilidades cognitivas. O meio virtual demanda dos seus

navegadores agilidade para ativar e responder aos comandos, conhecimento e domínio das

múltiplas linguagens, concisão na construção de informações, que são vinculadas na rede,

reunindo os principais referentes. Também exigindo a habilidade interativa para estabelecer

entre os indivíduos redes dos mais diversos fins. Um ambiente na rede que congrega boa parte

dessas características é o site de redes sociais Twitter, que surge para suprir uma demanda da

contemporaneidade, comunicação por meio de mensagens sintéticas e de transmissão veloz.

Nesse sentido, Santaella e Lemos (2011, p.61) defendem que, o “Twitter nasce como uma

resposta ao desafio da mobilidade, desenvolvendo funcionalidades aptas a promover

eficientemente a interatividade móvel”.

O Twitter hospeda-se nos ambientes virtuais dos sites de redes sociais e preserva as

características do modelo estrutural dos microblogging. A plataforma fora concebida em 21

de março de 2006 pelos empresários e desenvolvedores de softwares Jack Dorsey, Evan

Page 90: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

90

Williams, Biz Stone e Noah Glass, em São Francisco, nos Estados Unidos. Embora tenha sido

disponibilizado ao público no ano de 2006, conforme observa Recuero (2009), é só no ano de

2009 que o sítio atinge o grande público e começa a atrair cada vez mais usuários adeptos a

essa rede que inova em diversos sentidos. Acerca dessa prerrogativa, Santaella e Lemos

(2010, p. 64) elucidam:

Inicialmente restrita a poucas comunidades, estas geralmente ligadas à tecnologia

digital e à blogosfera internacional, rapidamente a plataforma começou a ser adotada

por celebridades, receber níveis cada vez maiores de atenção por parte dos meios de

comunicação de massa e consequentemente a atrair segmentos sociais mais amplos e

diversificados. [...] Em 2009 a plataforma atingiu o ápice da sua expansão[...].

Nessa perspectiva, pode-se afirmar que o fato de celebridades e grandes marcas terem

ativado perfis no Twitter e utilizá-los como meio de interação corroborou para que outros

usuários despertassem o interesse e fizessem adesão à mídia, fazendo com que a rede

ganhasse notoriedade. Outro fator preponderante para projeção deste ambiente é atribuído às

mídias de massa, que começaram a divulgar conteúdos produzidos e veiculados no Twitter.

Na contemporaneidade, é possível identificar programas televisivos, marcas e artistas que,

para além dos canais de telefones, e-mails e sites, disponham também de canal ativo no

Twitter para dialogarem com os consumidores, fãs e telespectadores criando uma ambiência

mais acessível e dinâmica, favorável para as trocas dialéticas entre atores que se

correlacionam em relações horizontalizadas. Também, comumente, identificáveis programas

televisivos de entrevistas e debates cujo conteúdo da apresentação é pautado nas informações

oriundas do Twitter, construindo assim uma relação intermidiáticas. Pensando o

funcionamento do fluxo comunicacional entre esses atores, Recuero (2009) explicita algumas

questões que elucidam como os usuários da plataforma podem conectar-se e criar uma rede de

contatos e a partir de então estabelecer contatos.

O Twitter é estruturado com seguidores e pessoas a seguir, onde a cada twitter pode se

escolher quem deseja seguir e ser seguido por outros. Há também a possibilidade de

enviar mensagens em modo privado para outros usuários. A janela particular de cada

usuário contém, assim, todas as mensagens públicas emitidas por aqueles indivíduos a

quem ele segue. Mensagens direcionadas também são possíveis, a partir do uso da ‘@’

antes do nome do destinatário. Cada página particular pode ser personalizada pelo

twitter através da construção de um pequeno perfil. (RECUERO, 2009, p. 186)

Desta feita, baseando-se nos estudos de Joel Comm e Ken Burge (2009); Recuero

(2009, 2015); Santaella e Lemos (2010) e Telles (2010), pode-se afirmar, dentre as redes mais

contemporâneas, que o Twitter foi a plataforma que mais propôs inovações para o

estabelecimento da comunicação entre os navegadores, podendo elencar quatro entre as mais

Page 91: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

91

notabilizadas. A princípio, foi a primeira rede a ser configurada para dispositivos móveis, para

uma cultura mobile a ganhar notoriedade; também a primogênita em desenvolver o fluxo da

conectividade, mesmo que os sujeitos estivessem num status off-line. Tal constatação acha

amparo nas pesquisas desenvolvidas por Santaella e Lemos (2010, p. 94-95): “ocorre uma

ruptura com os padrões de interação social e digital anteriores, inaugurado uma espécie de

entrelaçamento informacional onde a continuidade do movimento dos fluxos, juntamente com

as mídias móveis, perfaz uma nova experiência da temporalidade, o always on”.

O segundo elemento inovador trazido por esse site de redes sociais é a atual forma

para agrupamento e estruturação de comunidades, não havendo mais um lugar específico

dentro do Twitter designado para o consumo e troca de informações, como as comunidades do

Orkut ou fanpages no Facebook. No Twitter, essas comunidades passam a existir de um modo

mais fluído a partir do uso das hashtags, representadas pelo símbolo #.

Para melhor entendimento, as hashtags são indexadores de temas, tópicos e/ou

palavras-chave que agregam todos os tweets que as contêm em um mesmo fluxo, em que é

possível observar a formação de uma comunidade ao redor do uso específico da (#) hashtag.

(SANTAELLA; LEMOS, 2010). Exemplificando: suponha-se que um determinado usuário

realizou uma publicação acerca da participação num show da cantora e compositora Elza

Soares e, ao final do escrito acrescentou a hashtag #ElzaSoares, ao clicar nessa tag, esse e

outros indivíduos estarão conectados a todos os conteúdos referentes à intérprete Elza Soares,

que tenham sido indexados com o acréscimo das hashtags, formando assim uma comunidade

num não-lugar ou (des)lugar específico.

A terceira, e talvez a mais expressiva propositiva advinda com o Twitter, está

relacionada ao campo dos signos, e é a concisão da linguagem. Os internautas passaram a

dispor de até apenas cento e quarenta caracteres para a construção dos seus pensamentos

escritos, o que requer do usuário da rede um esforço e maior criatividade para expressar-se

dentro desse espaço limítrofe.

Acerca desse novo meio de conceber a escrita em rede, Santaella e Lemos (2010, p.

61) observam que “A intenção inicial não podia prever como um pequeno avanço na interface

tecnológica iria trazer uma completa mudança da linguagem, mas foi isso que aconteceu”.

Embora as acepções de escrita que ocorrem nas redes sejam narrativas mais breves, até a

chegada do Twitter, rede alguma havia estabelecido um limite máximo para o número de

caracteres utilizados, de forma tão reducionista, a ponto de exigir que “Ao adaptar a interface

aos dispositivos móveis, o espaço limitado de 140 caracteres trouxe consigo uma miríade de

novas demandas comunicacionais[...]”. (SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 61). Cabe salientar

Page 92: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

92

que o fato de condicionar a escrita a cento e quarenta caracteres já existia, como as Short

Menssage Service (SMS), dos celulares, que o Twitter se apropriou por achar que seria melhor

para dinamicidade da escrita e da leitura em rede.

Com o novo requisito para concepção e postagens de objetos escritos no Twitter

[textos em até 140 caracteres], alguns gêneros sofreram um processo de reelaboração, um

notório exemplo dessa prerrogativa pode ser verificado com as adaptações do gênero literário

conto. Os contos, se comparado a outros gêneros do campo literário como o romance e a

novela, já dispõem de estrutura narrativa breve; no Twitter, ele se torna mais limítrofe ainda,

convertendo-se em nano; nanoconto ou microcontos; Escritores como Fabrício Capinejar e

Marcelino Freire, já reconhecidas nas produções em meios impressos, tornam-se mais

populares entre os leitores em função das produções on-line.

Por fim, a última das quatro características vanguardistas operacionalizadas pelo

Twitter é a congregação das mídias. A morfossintaxe do Twitter passou a oportunizar que

conteúdos publicados em outras redes sociais pudessem estar disponíveis para os usuários e

arquivos de conteúdos do Twitter. Exemplifica: caso um determinado usuário tenha perfis

ativos tanto na rede social Twitter quanto no Instagram, ao realizar uma publicação em uma

das suas redes, poderá optar por se o conteúdo também pode se tornar visível na outra

plataforma. Esse feito que corroborou para otimização do tempo e maior propagação de um

dado conteúdo. Logo, essas e outras particularidades do Twitter necessitam ser objeto das

pesquisas que estudam tanto as relações sociais na contemporaneidade, quanto as novas

linguagens e códigos que são legitimados a partir do uso delas.

Desse modo, o leitor de suportes off-line, conforme observa Chartier (1998), está à

margem da escrita, ficando com os espaços desprezados pelos autores, o que se distancia do

que ocorre com o leitor navegador que, por intermédio dos perfis nas redes sociais, é

possibilitado de entrar em contato direto com os autores das obras, sugerindo e escrevendo

junto com ele, também inferindo sobre o texto durante e após a sua concepção.

Page 93: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

93

5 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

Page 94: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

94

5.1 ABORDAGEM QUALITATIVA E O MÉTODO PESQUISA-AÇÃO EM

INVESTIGAÇÕES NO CAMPO DA EDUCAÇÃO

A pesquisadora Minayo (2002) descreve as investigações qualitativas numa

perspectiva agregadora, de maiores dimensões humanizadoras, as quais delimitam um objeto

e objetivo de pesquisa, mas que o observa para além de suas variáveis. Em outros termos,

pode-se inferir que o que a metodóloga transpõe é a existência de abordagens mais amplas,

que tipificam e analisam também os contextos nos quais as problemáticas são concebidas, os

efeitos e consequências que variam dessas epistemologias. As constatações também são

amparadas nos estudos de Gatti e André (2013), quando concluem, dentre outras questões,

que numa pesquisa de cunho qualitativo: “deve se considerar o contexto em que esse fato

ocorria e não sua explicação casual” (GATTI; ANDRÉ, 2013, p. 29), assim como “ o foco das

da investigação deve se centrar na compreensão dos significados atribuídos pelos sujeitos às

suas ações” (GATTI; ANDRÉ, 2013, p. 29).

O despontar das pesquisas qualitativas possibilitou o repensar e uma nova roupagem a

métodos já existentes, assim como viabilizou o surgimento de novos métodos científicos,

como é o caso do adotado na presente investigação, a saber a pesquisa-ação.

De acordo com os estudos de René Barbier (2007), alguns pensadores da pesquisa

atribuem a concepção dessa abordagem ao pesquisador e psicólogo alemão Kurt Lewin, em

decorrência das suas investigações de base sociológica e de caráter interventivo,

desenvolvidas no período do pós-guerra, na década de 1960. Contudo, é em 1986, nos Estados

Unidos, que ela se notabiliza e passa a ser utilizada pelos estudos no campo educacional. A

pesquisa-ação questiona muitos dos paradigmas estabelecidos pelas investigações

circunscritas no crivo do positivismo, bem como viabiliza novas perspectivas para os estudos

da ordem dos estudos sociais. Uma das principais características e paradigma desse método é

elucidado por Michel Thiollent (1998, p. 14) que delineia o que se constitui numa

investigação nesse cunho

Um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita

associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os

pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão

envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

Nesse sentido, corroborando com o pensamento de Thiollent (1998), Barbier (2007)

também compreende que nos estudos circunscritos no método pesquisa-ação, os objetos da

investigação lhes são dados por uma conjuntura específica da coletividade, que deverá se

implicar nos desdobramentos da pesquisa, bem como na buscativa de respostas às

Page 95: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

95

problemáticas suscitadas. Assim, Barbier (2007) evidencia a relação de horizontalidade que

são estabelecidas entre a tríade objetos, participantes e pesquisadores, esse último que deve

adotar uma postura mais dialética e colaborativa “Quando a pesquisa-ação supõe uma

conversão epistemológica, isto é, uma mudança de atitude da postura acadêmica do

pesquisador em ciências humanas”. (BARBIER, 2007, p. 32). Assim, essas abordagens

distanciam-se da neutralidade e da individualidade, pois o questionamento coletivo requer

reflexões responsivas também em coletivo. Nesses termos, Barbier (2007, p. 54) estabelece

que

A pesquisa ação reconhece que o problema nasce, num contexto preciso, de um grupo

em crise. O pesquisador não o provoca, mas constata-o, e seu papel consiste em ajudar

a coletividade a determinar todos os detalhes mais cruciais ligados ao problema, por

uma tomada de consciência dos atores do problema numa ação coletiva.

Por essas razões, pela consonância do objeto e dos objetivos da investigação Em

Touches e em cliques: a formação leitora por intermédio das redes sociais é que se adotou

por método a pesquisa-ação. O objeto fora dado pelas observações realizadas no contexto

escolar, bem como pelas verbalizações e discursos que são interpostos por docentes no

contexto educacional, pelas teorias contemporâneas dos estudos do leitor e de mídias, bem

como dos documentos oficiais orientadores das práticas educativas no Brasil, (PCN),

(BNCC), (LDB). Cabe salientar que, para além do seu caráter interventivo coletivo, o que é

uma das particularidades da pesquisa-ação, o estudo ainda incorporará aos seus métodos a

dimensão formativa. A dimensão formativa não se configura por um método em si, antes está

caracterizada como uma característica das pesquisas contemporâneas em educação e em

outras vertentes dos estudos sociais e culturais que preveem ações interventivas.

Assim, objeto, construção, formação e análises da propositiva da Em Touches e em

Cliques tiveram suas ações desenvolvidas no âmbito do Colégio Estadual de Serrolândia

(CES). O CES é a única instituição do município de Serrolândia – BA a ofertar o Ensino

Médio (EM), na modalidade regular de ensino, bem como a Educação de Jovens e Adultos

(EJA), para aqueles que não concluíram os estudos em idade própria ou que apresentem à luz

da LDB distorção idade/ano. A instituição, posterior ao acordo firmado entre a União, Estado

e Municípios, acerca das ofertas de ensino, estando o Estado responsável pelo EM, teve uma

redução significativa em seu quadro de discentes. Localizado no centro da cidade, o Colégio

funciona os três turnos, atendendo aos alunos dos espaços urbanos e rurais do município

(esses últimos costumeiramente frequentam o turno vespertino, em função da oferta de

transporte público para o deslocamento).

Page 96: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

96

5.2 O LÓCUS15

: COLÉGIO ESTADUAL DE SERROLÂNDIA (CES)

Inicialmente denominado por Ginásio Municipal de Serrolândia (GMS), a instituição

principia suas atividades em 21 de abril de 1964, período no qual ainda não dispunha de sede

própria, valendo-se então de um salão anexo ao prédio da Prefeitura Municipal de Serrolândia

(PMS) para funcionamento dos turnos letivos. A fundação do GMS está estritamente

interligada a emancipação política do município de Serrolândia (1962), pois, tal ato demandou

da gestão pública, dentre outras questões, a criação de espaços públicos educacionais na

localidade favorecendo, desse modo, o acesso à educação para uma população em

ascendência e evitando que alunos já pertencentes aos quadros escolares necessitassem

continuar se deslocando para outras municipalidades, comumente Jacobina –BA ou Miguel

Calmon–BA, para acessarem ao processo formativo escolar primário.

Decorrido alguns anos, entre as décadas de 1970 e 1980, o colégio passa se chamar

Centro Educacional Florivaldo Magalhães Sousa, espaço-tempo no qual as dependências

físicas são ampliadas de modo a acomodar mais alunos. É só em 1990, conforme evidencia a

Portaria nº 926, publicada no Diário Oficial de 03 e 04.03.90, que finalmente passou a se

chamar Colégio Estadual de Serrolândia. O CES atualmente está situado na Praça Doutor

Antônio Carlos Magalhães, N° 170, no Centro da cidade de Serrolândia – BA (CEP-

44.710.000)

O Colégio Estadual de Serrolândia é uma instituição pública que detém por órgão

mantenedor o Governo do Estado da Bahia e, em função das políticas organizacionais

adotadas pelo Estado, recebe assessoria e demais suportes administrativos do Núcleo

Territorial de Educação (NTE) 16, núcleo este que compreende algumas municipalidades do

Território de Identidade Piemonte da Diamantina. A instituição atendendo as normativas

preconizadas pela lei 9.394/96 e pelas resoluções estaduais assume a Gestão Democrática do

Ensino Público enquanto mecanismo de gestão escolar, sistema que prevê, dentre outras

prerrogativas, a eleição dos seus gestores e de órgãos colegiados.

Na década de 1990, a escola é autorizada como instituição de ensino de grande porte,

pois acolhia alunos nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, nas

modalidades regular e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Porém, em fumção de uma

15

Os textos dessa seção foram construídos a partir dos dados contidos em documentos institucionais oficias –

Projeto Político-Pedagógico (PPP), Plano Diretor, Plano de Gestão, Regimento Escolar Unificado, matrizes de

projetos estruturantes da instituição e da rede estadual de ensino, relatórios do Sistema de Gestão Escolar,

disponibilizados e tendo o seu uso anuído pela direção da instituição.

Page 97: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

97

reorganização estrutural promovida pela SEC-BA pautada na Lei 9.349/96, a qual designa que

é de competência dos municípios a oferta do ensino fundamental e o ensino médio de tutela

do estado, a escola vai, paulatinamente, eliminando um ano formativo do seu quadro de oferta

até restarem apenas os três anos correspondentes ao EM. Logo, de acordo com o Sistema de

Gestão Escolar (SGE-BA) e ao QEdu, o CES se tornou um colégio de médio porte.

Embora esteja categorizado como Instituição de médio porte, a estrutura física da

escola foi projetada para acomodar, confortavelmente, três vezes mais a quantidade de alunos

que acolhe atualmente. Desse modo, a escola usufrui de amplos espaços para o

desenvolvimento de suas ações didáticas, dentre os quais estão: dez espaçosas e arejadas salas

de aula, uma diretoria, uma secretaria, uma sala dos professores, uma cantina; com espaço

para alocação de refeitório, grandes pátios – aberto e coberto, um laboratório de informática

(em desuso) e uma biblioteca (sem ações). Quanto aos recursos humanos: o CES conta com

uma diretora, uma vice-diretora, uma coordenadora pedagógica (recém-chegada), uma

secretária, três auxiliares de secretaria, oito auxiliares de portaria e dezenove professores;

quantitativo subdividido entre REDA e efetivos, os quais cumprem jornadas de 20 ou 40

horas. Todos os professores dispõem de formação inicial na área em que atuam e a maior

parte deles possuim formação complementar (especialização) tematizada no campo da

formação inicial.

O corpo discente do CES é formado por adolescentes, jovens, adultos e idosos (esse

último quadro aparece em quantidade reduzida) de variadas faixas etárias; comumente alunos

entre 14 e 18 anos estão matriculados nos turnos matutino e vespertino e, a partir dos 18 anos

no turno noturno. Em declínio desde 2014, de acordo com os números do SGE, em 2019 a

escola registra um aumento no quantitativo de alunos matriculados – são 566 distribuídos do

seguinte modo: 164 matutino, 165 vespertino, 237 noturno. Costumeiramente no turno da

manhã estudam os alunos da sede do município (perímetro urbano); esses que geralmente vem

do Colégio Municipal Arionete Guimarães Sousa (COMAGS) e das instituições privadas. No

turno vespertino, em função da maior disponibilização de transporte público, são atendidos os

alunos do espaço rural, majoritariamente advindos dos centros educacionais Bernardina

Ferreira da Silva (povoado do Maracujá) e do Edineide Cordeiro Araújo (Povoado do

Salamim). Já no turno noturno as localidades dos discentes são mistas, cursam tanto o ensino

médio regular, quanto o III Tempo Formativo da EJA; alunos que em sua maioria já estão

engajados no universo do trabalho e/ou que pela distorção idade-ano precisam participar da

proposta pedagógica oportunizada nesta modalidade. Por se tratar da única instituição da

Page 98: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

98

cidade a ofertar o ensino médio o centro recebe alunos de todas as escolas que disponibilizam

formação em anos finais do ensino fundamental, públicas e privadas do município.

Segundo consta no Projeto Político-Pedagógico (PPP), atualizado em 2019, a

instituição estabeleceu por diretrizes estratégicas: (a) elevar níveis de desempenho

dos alunos na construção de valores através da leitura, interpretação e escrita, (b) Garantir

aos alunos o desenvolvimento de habilidades envolvendo leitura, escrita e

interpretação, através de ações alinhadas ao plano estratégico da escola e (c) Educação de

qualidade para todos os alunos. Para tanto recorrerá a promoção da formação continuada (em

exercício) para os professores, dimensionamento das ações pedagógicas para o foco nas

aprendizagens, estabelecimento de parcerias público-privadas, otimização dos recursos e da

gestão de um modo geral, dentre outros.

Em seu Projeto Político-Pedagógico a escola afirma orientar as suas práticas

pedagógicas a partir de uma abordagem sociointeracionista vygotskiana. Nas normativas

escolares as metas de aprendizagens, a mediação docente e as propostas avaliativas devem

estar atravessadas pelos aspectos socioculturais; trajetos de vidas e objetivos de vida dos

discentes. Uma questão que se faz presente nos documentos orientadores – PPP, Plano de

Ação e Regimento, são as metas e expectativas de aprendizagens que se inclinam para

formação de leitores críticos enquanto eixo formativo basilar para o desenvolvimento das

demais habilidades, também as recomendações para a implicação dos resultados das

avaliações externas, Prova Brasil e ENEM, no planejamento e direcionamento das unidades.

A construção do currículo oficial de qualquer instituição educacional é um momento

relevante e minucioso, pois, para além da ação ser conduzida em observância ao que está

normatizado pelas leis, faz-se necessário ainda realizar seleções; priorizar, a partir de

diagnósticos, estatísticas, consistentes ancoragens teóricas que versem sobre as áreas de

conhecimento, também sobre o processo de ensino e aprendizagens, os conteúdos

programáticos, as epistemologias e os saberes, elementos esses que serão crucias no processo

formativo dos discentes e, por conseguinte, no alcance das metas e objetivos estabelecidos

pela escola.

Nessa perspectiva, os documentos institucionais afirmam que a proposta curricular do

CES fora concebida de modo colaborativo e é sempre revisitada [atualizada] quando

necessário. Tal documento é pautado nos apontamentos basilares dos Parâmetros Curriculares

para o Ensino Médio (PCNEM) os quais orientam a educação para vida, nas DCN e nas

matrizes de referência e resultados das avaliações externas. Salienta-se que, atualmente, em

função das adequações requisitadas pela BNCC o currículo escolar do CES passa por ajustes,

Page 99: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

99

dentre os quais estão: ampliação de carga horária letiva geral, aumento ou diminuição de

cargas horárias específicas e construção de itinerários formativos. O Colégio segue também

no aguardo das orientações demandadas pelo Currículo Bahia.

Os conteúdos programáticos estão distribuídos entre as disciplinas da base comum e

do núcleo diversificado, bem como diluído, de forma transdisciplinar, nos projetos temáticos

elaborados e adotados pela escola. O CES até o ano de 2017 foi contemplado com as ações do

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), recebendo alunos da UNEB

– Campus IV para o auxílio no desenvolvimento de atividades pedagógicas. O colégio ainda

dispunha de adesão aos projetos estruturantes do governo do Estado; Artes Visuais Estudantis

(AVE), Festival da Canção Estudantil (FACE), Tempos de Artes Literárias (TAL)

Patrimonial e Artística (EPA), Produção de Vídeos Estudantis (PROVE), também desenvolvia

o café filosófico e o projeto de leitura, contudo atualmente em seu plano de ação a escola

desenvolve o Arraiá do CES e faz adesão ao TAL e aos Jogos Estudantis da Rede Pública

(JERP).

Quanto aos materiais didáticos, a escola disponibiliza para os discentes livros

didáticos, que são repassados ao CES por meio do Programa Nacional do Livro e do Material

Didático (PNLD), ação gerida pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

(FNDE). O CES conta ainda com um acervo de livros paradidáticos, científicos e literários,

para pesquisas, deleite e formação dos alunos e professores, esses livros ficam armazenados

na biblioteca da instituição (comumente fechada).

A escola tem aliado a suas práticas pedagógicas o uso dos recursos tecnológicos na

mediação de conteúdos. O primeiro grande exemplo dessa inclinação é o das TVs Pendrives;

televisores programados para realizar a recepção e a leitura de arquivos em diversos formatos

´por meio da introjeção dos drives. As TVs foram fornecidas pela SEC-BA num projeto que

objetivava a inclusão dos aparatos tecnológicos no cotidiano escolar – no período, as dez salas

de aula do CES estiveram equipadas com esses aparatos. Posteriormente a instituição foi

contemplada com a implementação de um laboratório de informática com trinta e três

computadores conectados à internet, contudo, por conta da obsolescência desses dispositivos,

da falta de suporte técnico e da ausência de funcionários para manutenção, tanto as TVs

quanto o laboratório estão sem funcionar. Buscando dirimir a problemática dois notebooks e

datashows foram disponibilizados para que os professores pudessem dispor de projeção de

imagens, vídeos, mapas, livros e outros objetos em sala de aula. Neste sentido, entre 2016 e

2017 os docentes participaram de uma formação gerida e ministrada pelo NTE 16, para que

pudessem fazer melhor proveito desses recursos em suas práticas.

Page 100: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

100

No ano de 2018, a instituição fez adesão ao programa de Inovação Educação

Conectada, do governo federal, a proposta previu, dentre outras ações, a instalação de internet

sem fio de longo alcance e alta qualidade de navegação que pode ser acessada pelos alunos

por meio dos seu gadgets durante as aulas e nos intervalos. Para além disso, com os recursos

recebidos para adequação da etapa educacional ao Novo Ensino Médio, pretende-se

revitalizar o laboratório de informática e fazer a montagem de uma sala de recursos

audiovisuais, ação prevista para o período de conclusão da reforma (em curso) nas estruturas

físicas da entidade.

No início de 2019, o CES começou um grande processo de reforma em suas estruturas

físicas, a primeira desde a sua criação em 1990; de lá para cá a escola vinha realizando apenas

pequenos reparos e intervenções no pátio externo. A ordem de serviço da obra é resultado de

uma pressão exercida pela comunidade escolar, pela sociedade civil e pelo poder público local

que mobilizados, por meio das redes sociais16

, iniciaram um processo de sensibilização e

cobrança ao governador, secretários e deputados estaduais. Perante ao colégio, essa

restauração irá tornar a escola mais bonita, funcional, inclusiva e moderna.

5.3 COLABO(LE)DORES DA PESQUISA: NATIVOS E IMIGRANTES DIGITAIS

Colaboram com essa pesquisa 42 (quarenta e dois) alunos do terceiro ano do Ensino

Médio, regularmente matriculados no turno matutino e 02 (dois) professores de Língua

Portuguesa graduados e pós-graduados em Letras. A escolha desses sujeitos está pautada em

algumas motivações, dentre as quais estão: (a) fato de os alunos do terceiro ano disporem de

maior tempo de vivência escolar; (b) por se tratar, em tese, do último ano letivo em que

poderão, na condição de discentes da Educação Básica, explorarem questões relacionadas à

leitura em ambiente digitais; (c) Quanto aos professores, naturalmente, embora não sejam os

únicos responsáveis pela formação de leitores críticos, por conta da formação profissional e

da estrutura do componente curricular que ministram, acabam tendo mais aproximação e

repertório acerca dessas questões referentes à produção e à recepção das textualidades.

5.4 TRAJETOS E NARRATIVAS: PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE INFORMAÇÕES

(MÓVEIS)

16

Ver no Instagram perfil @ces_reformaja

Page 101: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

101

Uma vez explicitadas a filiação científica, a abordagem, o método e o lócus, é

necessário explicitar também os meios utilizados para a construção de informações, para as

descrições de aplicações previstas, bem como dos dispositivos de análise. No que tange aos

dispositivos de construção de dados utilizados na pesquisa-ação, Barbier (2007, p. 54)

observa que esses “instrumentos de pesquisa podem ser semelhantes àqueles da pesquisa

clássica: mas, em geral, são mais interativos e implicativos (discussões de grupo, desempenho

de papéis, conversas aprofundadas) ”. Nesses termos, a pesquisa adotou como dispositivos de

construção de informações a observação participante, o grupo de discussão e a aplicação de

questionários. Tanto nas pesquisas de abordagem quantitativas quanto nas de natureza

qualitativa os dispositivos devem ser minuciosamente selecionados, levando em consideração

os fins aos quais as pesquisas objetivam.

O processo de seleção dos instrumentos de construção de dados, bem como a sua

implicação no desenvolvimento da pesquisa, não se configura como tarefa fácil. Conforme

observam Gil (2008) e Minayo (2013), é necessário alinhar os dispositivos aos objetos,

objetivos e aos perfis das comunidades pesquisadas, assim como organizar, estrategicamente,

a sua aplicação e implicação de modo que os resultados transponham, de modo mais

fidedigno possível, os conteúdos desvelados pelos colaboradores durante a elaboração das

respostas aos diversos estímulos. Nessa perspectiva, a construção de dados se deu da seguinte

maneira: primeiro, ocorreram as observações participantes durante as aulas de Língua

Portuguesa, posteriormente a realização do grupo de discussão, por fim, a inda no grupo de

discussão, a aplicação de questionários.

O movimento de construção de dados em qualquer pesquisa, sobretudo nas

investigações que utilizam abordagem qualitativa e cujo lócus seja campo educacional, não se

configura como uma tarefa fácil, antes é necessário que o investigador esteja atento a uma

série de prerrogativas, dentre elas o estabelecimento de uma boa relação com os

colaboradores; formação de elo que inspire confiança e autonomia. Nesse sentido, Neto

(2002) sugere que a entrada do pesquisador no campo da investigação se dê por meio da

aproximação com “as pessoas da área selecionadas para o estudo” (NETO, 2002, p. 54), pois

é por meio desse contato inicial que as primeiras impressões serão demarcadas e as relações

construídas, nas palavras do autor: “É fundamental consolidarmos uma relação de respeito

efetivo pelas pessoas e pelas suas manifestações no interior da comunidade pesquisada”.

(NETO, 2002, p. 55).

Page 102: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

102

A primeira aproximação do pesquisador com a Instituição colaboradora da

investigação ocorreu em 03-12-18, momento no qual a proposta de pesquisa foi apresentada à

direção e aos professores. Durante a explanação, foram evidenciadas questões como: quais os

procedimentos que seriam adotados para alcançar os objetivos estabelecidos pela investigação

[dispositivos para construção de dados], quais ações necessitariam de uma contrapartida da

escola; possibilitar a participação nas aulas e nas Atividades Complementares (AC), permitir

o acesso a documentos institucionais, dentre outras que fossem demandadas no decorrer do

processo. Também foi possível apresentar os recursos utilizados para certificar as dimensões

éticas, bem como a colaboração que os desdobramentos da pesquisa poderiam ocasionar na

formação de discentes e docentes. Após as elucidações, a gestora da unidade anuiu, assinando

os termos de Autorização Institucional e de Concessão. Ficou acordado que o pesquisador

participaria de um momento de diálogo com os professores de língua portuguesa,

oportunidade para adensar as metas, objetivos e desdobramentos da investigação e que as

atividades da pesquisa ganhariam andamento já no início do ano letivo de 2019.

Conforme o acordado, durante a Jornada Pedagógica 2019, ocorreu um encontro entre

o pesquisador e os professores de Língua Portuguesa do CES para que algumas dúvidas

fossem dirimidas. Nesse período, a escola já havia formado as turmas e organizado os

horários com os tempos e turnos, assim como dividido quais componentes seriam ministrados

por cada docente e em qual ano de ensino. As três aulas de língua portuguesa na turma

supracitada estão distribuídas do seguinte modo – as terças-feiras duas aulas (geminadas): das

07:30 às 09:10 e nas quintas-feiras das 10:20 às 11:10. Em função da maior disponibilização

de tempo, foram escolhidas as primeiras aulas da terça para realização dos acompanhamentos.

A professora responsável por mediar língua portuguesa no 3° Ano A, por questões de

preservação de identidade, será aqui chamada de Word. Nesses termos, Word solicitou que o

pesquisador iniciasse a participação em sala a partir da segunda semana de aula, momento em

que ela já teria feito o contato inicial com a turma e explicitado que haveria um colaborador

participando das aulas juntos com os discentes por alguns dias.

5.4.1 A Observação Participante (OP)

O primeiro momento do processo de construção de dados se deu por meio da

realização das observações participantes. Esse instrumento foi escolhido para construção de

Page 103: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

103

informações, dentre outras razões, por favorecer maior aproximação entre o investigador e a

comunidade pesquisada; também por permitir que os roteiros das observações, assim como as

informações dispostas no diário de escrita, pudessem ser (re)avaliadas, logo após cada

observação, de modo a gerar novos dados e categorias até então não demarcadas como objetos

da pesquisa. Sobre essa prerrogativa, o sociólogo Otávio Neto (2002) discute que os meios de

aproximação com o campo e consequente construção de dados, “De preferência, deve ser uma

aproximação gradual, onde cada dia de trabalho seja refletido e avaliado com base nos

objetivos preestabelecidos” (NETO, 2002, p. 54). Outro relevante fator para adoção da

observação participante nesse estudo é a possibilidade de captar emoções, gestos, reações,

opiniões que nem sempre serão reveladas nas respostas orais ou escritas, obtidas na aplicação

de outros dispositivos. Sobre essa característica da observação Neto (2002, p. 60) explana:

A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma variedade

de situações ou fenômenos que não obtidos por meio de perguntas, uma vez

que, observados diretamente na própria realidade, transmitem o que há de

mais imponderável e evasivo na vida real.

A Observação Participante (OP), Instrumento de construção de dados oriundo dos

estudos etnográficos, é essencial para uma aproximação do investigador ao lócus e aos

sujeitos que compõem os cenários da buscativa. Durante muito tempo alguns campos de

pesquisa rechaçaram esse dispositivo por acreditarem que a utilização do mesmo incidiria

num olhar tendencioso, uma vez que com o contato recorrente os investigadores estariam de

algum modo implicados ao objeto, comprometendo assim a lisura nos resultados. Contudo,

pesquisas em educação, por exemplo, reconhecem na OP um importante meio para

compreensão holística do fenômeno estudado. Assim, por meio do uso deste recurso torna-se

possível compreender de modo mais pragmático “as práticas vividas cotidianamente pelo

grupo ou instituição observados” (MINAYO, 2013, p. 71). Nesses termos, ao assumir a

função de observador o pesquisador “fica em relação direta com seus interlocutores no espaço

social da pesquisa, na medida do possível, participando da vida social deles, no seu cenário

cultural, mas com a finalidade de compreender o contexto da pesquisa”. (MINAYO, 2013, p.

70).

Destarte, a implicação desse dispositivo à pesquisa se deu nos moldes estabelecidos

por Gil (2010) e Minayo (2013). As observações participantes foram concebidas e realizadas

a partir de um roteiro previamente construído17

, objetivando para além de estabelecer uma

maior correlação entre pesquisador e campo/sujeitos da pesquisa, mas compreender também

17

Ver em Apêndice A

Page 104: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

104

como os colaboradores percebem, utilizam e implicam os objetos deste estudo [práticas de

leitura e ambientes on-line das redes sociais] em suas vivências dentro e fora do contexto

educacional. Para tanto, foram realizadas 04 (quatro) observações participantes na turma do 3º

ano A – turno matutino – do CES. As duas primeiras ações, cinquenta minutos cada,

focalizaram em aspectos referente às práticas e comportamentos de leitura (de modo geral) em

sala de aula, já as outras duas se ativeram ao uso de aparatos tecnológicos e acesso às redes

sociais da internet para fins didáticos.

As observações ocorreram nos dias 19-03-19 e 02-04-19, no espaço do laboratório de

Informática do CES; ambiente no qual (em detrimento da reforma nas estruturas físicas)

ocorrem as aulas no 3° Ano A – turno matutino. Cabe sublinhar que, conforme recomendam

Minayo (2002) e Neto (2002), logo no contato inicial entre pesquisador e colaboradores

discentes foram explicitadas as motivações, os objetivos, assim como elucidada a não

obrigatoriedade da participação dos membros da comunidade nas etapas da pesquisa. Desse

modo, atentando-se para as orientações tecidas por Neto (2002, p. 55): “Os grupos devem ser

esclarecidos sobre aquilo que pretendemos investigar e as possíveis repercussões favoráveis

advindas do processo investigativo”. Nesse espaço-tempo, também foram apresentados aos

alunos os documentos que asseguram as dimensões éticas, o anonimato e a desistência da

participação em qualquer etapa da pesquisa, sendo eles, o Termo de Consentimento Livre

Esclarecido (TCLE) e o Termo de Assentimento do Menor (TAPE). Todos os alunos

aceitaram participar, anuindo com a exposição e a exploração dos dados construídos.

As observações e Observações Participantes podem apresentar diferentes naturezas.

Neste estudo foi realizada uma Observação Participando Artificial (OPA), a qual, de acordo

com os estudos de Gil (2008), consiste na inserção programada do indivíduo em grupos para

fins investigativos. Ainda sobre as OP, Gil (2008) elucida que é impossível perceber todos os

aspectos de uma determinada comunidade observada; por mais aguçada que seja a percepção

do investigador ou quão eficientes sejam os instrumentos utilizados para os registros e

capturas, dada complexidade da OP, alguns aspectos poderão passar despercebidos. Por essa

razão, buscando direcionar os sentidos durante a observação, adotou-se a modalidade de OP

sistemática ou estruturada, tipo de observação que segundo Gil (2008), Marconi e Lakatos

(2010) consiste na construção prévia de documentos (roteiros) que norteiem quais aspectos

serão observados (de acordo com os objetivos da pesquisa), bem como quais os critérios para

os registros. A adoção dessa modalidade não excluiu a observação e os registros de elementos

não estabelecidos nos roteiros das observações.

Page 105: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

105

Para registrar o material construído (dados e informações) durante as observações, foi

utilizado um diário de observação. Nesse dispositivo, contam as descrições, por escrito, sobre:

os comportamentos dos colaboradores da investigação, o ambiente onde a comunidade

convive, os procedimentos e materiais didáticos/metodológicos adotados em sala de aula, a

transcrição de algumas falas e, sobretudo, a resposta para alguns questionamentos

norteadores, previamente construídos, constantes no roteiro de observação. Cabe salientar que

durante as observações, outros aspectos (não previamente delimitados) se converteram em

objetos para percepção. Neste diário, constam ainda algumas análises, problematizações e

impressões pessoais do pesquisador, elementos os quais se julga pertinente para o processo de

triangulação dos dados e para percepção holística do fenômeno observado.

5.4.2 Grupo de Discussão (GD) e Questionários

Outro recurso utilizado na construção de dados foram os Grupos de Discussão (GD),

os GD consistem num artifício metodológico o qual, segundo a pesquisadora Wivian Weller

(2013), pode ser tomado tanto por objeto de coleta de dados, quanto por método investigativo.

Neste estudo, inclinou-se ao seu uso como técnica coletiva de construção de dados. Para

Weller (2013), os GD ganham notoriedade na década de 1980 com a ascensão de pesquisas

que recorriam a fenomenologia, ao interacionismo simbólico e a etnometodologia como

pressupostos teórico-metodológico, sobretudo estudos envolvendo jovens ou temáticas

próximas da juventude.

Nos GD, o pesquisador assume uma postura mais horizontalizada, tornando-se mais

próximo da comunidade pesquisada, suscitando discussões que evidenciem às vivências

coletivas, pois “O objetivo maior do grupo de discussão é a obtenção de dados que

possibilitem a análise do contexto ou do meio social dos entrevistados, assim como de suas

visões de mundo ou representações coletivas” (WELLER, 2013, p. 56).

Os grupos de discussão possibilitam em sua estrutura a realização de uma entrevista

mais fluída, na qual, segundo Weller (2013), o entrevistador deve: (a) estabelecer um contato

recíproco com os seus entrevistados, proporcionando uma confiança mútua; (b) dirigir às

perguntas, propositivas ao grupo num todo e não apenas a um colaborador; (c) construir

questões vagas e plurais que favoreçam a participação de todos; (d) assentir que a articulação

das falas seja de organização do próprio grupo. Nesse sentido, o GD foi realizado com alunos

Page 106: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

106

do 3° ano A do CES, estando organizado em duas etapas: no primeiro momento, os

participantes do diálogo pensaram, problematizaram sobre três provocativas gerais e em

seguida responderam a um questionário18

cujos itens estabelecem relações diretas com que

fora suscitada na discussão. Cabe salientar que a utilização de questionários não é recorrente

nos GD, contudo, em função de alguns objetivos que este estudo pretendeu alcançar, julgou-

se de fundamental importância a implicação deste recurso na pesquisa e no diálogo com os

demais dispositivos de construção de dados.

Também, embora a aplicação de questionários não seja um dispositivo pertencente à

amálgama do método pesquisa-ação, a justificativa do seu uso parte-se das perspectivas

defendidas por Barbier (2007), cujos métodos podem ser emprestados das pesquisas clássicas,

desde que ressignificados, bem como em Thiollent (2011), que discute o empréstimo de

dispositivos de outros métodos, desde que o objeto exija. O questionário foi construído pelo

pesquisador e aplicado uma vez com os discentes das turmas de 3° ano do EM, na modalidade

regular de ensino, salientando que houve um pré-teste de aplicação do mesmo. Com essa

ação, buscou-se aferir mais diretamente questões como: se os colaboradores da pesquisa

utilizam a internet, mais especificamente as redes sociais, de quais suportes acessam, com

qual frequência, com quais finalidades, dentre outras questões distribuídas entre propositivas

objetivas e discursivas. Cabe salientar que a aplicação do dispositivo discriminado afasta-se

das concepções meramente quantificáveis, antes, buscou-se evidenciar de modo mais diretivo

se e quais materiais esses alunos internautas estão consumindo nas redes.

Desse modo, o Grupo de Discussão e a aplicação dos questionários ocorreram no dia

30-04-19 e, somados os tempos de desenvolvimento de ambas atividades, tiveram a duração

de 03:10 (três horas e dez minutos). Embora a turma contasse com 42 (quarenta e dois) alunos

regularmente matriculados, durante as aulas a frequência diária variava entre 34 (trinta e

quatro) e 37 (trinta e sete) alunos. Na data de desenvolvimento desses instrumentos,

compareceram 28 (vinte e oito) alunos, dos quais apenas 8 (oito) participaram efetivamente

do GD, problematizando, tecendo considerações sobre as propositivas elencadas. Maiormente,

os outros alunos assentiam, ou descordavam das falas produzidas pelos colegas, mas não se

alongavam na justificativa ou nos exemplos de porquê serem favoráveis ou não a

determinados posicionamentos. Por mais que o pesquisador, condutor do GD, tivesse

condições, meios para provocar os demais discentes que não estavam se posicionando, optou-

se por seguir as orientações prestadas por Weller (2013), nas quais a espontaneidade e o

18

Ver nos Apêndices B e C.

Page 107: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

107

voluntarismo dos participantes são condições mister para obtenção de resultados isentos de

induções e de respeito para com os colaboradores.

O GD contou com o tensionamentos de três proposições para diálogo; formuladas a

partir das instruções de Werller e Pfaff (2013, p. 60-61), “questões vagas”, “preenchida de

sentido pelos participantes”, “direcionadas a coletividade e não a um ator específico”,

“possibilitando que os participantes escolhessem os modos e tempos de respostas”. Para cada

proposição, os discentes colaboradores levaram em média um tempo de trinta a quarenta

minutos para “esgotar” a resposta ao item, logo quanto o pesquisador percebia o silêncio por

um período de dois minutos, outra propositiva era elencada para diálogo.

Com a conclusão dos tensionamentos no GD, foi o momento da aplicação dos

questionários. Os 37 alunos presentes em sala de aula no momento da atividade, participaram

como respondentes. Os questionários foram elaborados e gestados de acordo com os estudos

de Gil (2008), contando com questões abertas, dependentes e, predominantemente, fechadas –

totalizando 22 (vinte e dois itens). Como as questões exigiam respostas escritas, particulares e

individuais, cujas linguagem e organização estavam adaptadas para o acesso do público

respondente, os instrumentos foram auto-aplicados; prática que não isentou o pesquisador de

dirimir algumas dúvidas durante o desenvolvimento da ação. Os participantes concluíram a

proposta em tempos diferentes, grosso modo, levaram entre 30:00mins e 01:00h para

responderem.

Cabe salientar que o hiato de tempo existente entre a realização das observações

participantes e do desenvolvimento do grupo de discussão, bem como da aplicação dos

questionários, não foi algo programado, antes, em função das problemáticas dadas pelo campo

de pesquisa. Ocorreu que, por conta da assunção de um cargo na gestão escolar, Word

[professora que acompanhava a turma] necessitou afastar-se da sala de aula na condição de

docente. A escola, por meio do Núcleo XVI, convocou seleção emergencial para

preenchimento do cargo na vacância, que só fora ocupada (dado o arrolamento dos trâmites

legais) três semanas posteriores à convocação. O professor, aqui identificado por Excel,19

tomou ciência dos objetivos e etapas da pesquisa, anuindo com a participação e assinando os

respectivos termos.

5.5 PROCEDIMENTOS DE TRIANGULAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

19

Os nomes fantasia das Professoras colaboradoras foram escolhidos pelo pesquisador.

Page 108: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

108

Os dados construídos no período da investigação foram analisados à luz da análise do

conteúdo (AC), nas perspectivas de Laurence Bardin (2011), que defende o procedimento

interpretativo como sendo inerente aos estudos que adotam por abordagem as pesquisas

qualitativas, caracterizadas pela interpretação de fenômenos sociais. Estando esse

procedimento de análise subdividido em partes, a princípio a Pré-análise dos dados obtidos, a

partir da realização de uma leitura flutuante, da Exploração do material e, por fim, o

Tratamento dos resultados: inferência e interpretação. Nesse sentido, Bardin (2011, p. 47)

explora o dispositivo de análise, entendendo-o por

[...]um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,

indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos

relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Page 109: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

109

6 ALUNOS LEITORES NA ERA DIGITAL: CELULARES, PROFESSORES, OS

TEXTOS E AS APRENDIZAGENS

Nada impede que o poeta se sirva de um computador para

escolher e combinar as palavras que hão de compor os seus

poemas. O computador não suprime o poeta, como não o

suprimem os dicionários de rima nem os tratados de

retórica. O computador não é um fim, mas um meio, um

suporte (mais um, como o são o livro e o vídeo). O poema

do computador é o resultado de um procedimento mecânico

não sem analogia com as operações mentais e verbais que

um cortesão do século 17 precisava realizar para escrever

um soneto, ou as de um japonês do mesmo século para

compor, com um grupo de amigos, esses poemas coletivos

chamados haikai no renga. E que poderiam ser associados a

essa experiência atual de internautas que se utilizam do

computador para compor poemas com outras pessoas. Há

300 anos, renga; hoje, à falta de um nome melhor,

‘ciberpoesia coletiva’ (PAZ, Octavio. 1991, p. 110).

Page 110: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

110

6.1 OS DISPOSITIVOS MÓVEIS,

AS TECNOLOGIAS DIGITAIS E AS

REDES SOCIAIS EM SALA DE

AULA

No início da década de 1990,

os atores do campo educacional

alunos, auxiliares administrativos,

gestores, professores e demais

membros da comunidade escolar

presenciaram a inserção de um

elemento tecnológico que, no

transcorrer do tempo, vira favorecer o

sistema organizacional das escolas e,

sobretudo, colaboraria na pesquisa e

na construção de instrumentos

didáticos/pedagógicos que

auxiliassem aos professores e alunos nos processos de ensino e de aprendizagens, sendo este

Page 111: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

111

elemento os computadores e seus dispositivos de entrada e saída (conexões on-line, fones,

impressoras, microfones, telas e outros) . A princípio, de forma tímida e, muito em função do

seu alto custo, mais comumente encontrado nas escolas das redes privadas, os computadores

passaram a ser uma peça fundamental e cada vez mais recorrente nesses ambientes do saber,

modernizando-se e desafiando aos seus usuários a implicá-lo nas agendas organizacionais e

na promoção da formação cidadã dos sujeitos, preparando-os para uma sociedade que exige

cada vez mais letramentos informacionais.

A esse respeito, outra questão observável é que, se no início da década de 1990 as

instituições assistem à emersão desse suporte, no começo dos anos 2000 elas se deparam com

o processo de popularização e incipiente democratização no acesso aos computadores e, por

conseguinte, a internet (fato que influiu diretamente nos aspectos metodológicos e

pedagógicos da educação básica). As escolas públicas começaram a ser equipadas com

laboratórios de informática, compostos por diversos computadores e aparelhos

complementares como: antenas para conexões com a Web, câmeras fotográficas e

impressoras, dispositivos aliados a formação ao uso dos alunos. Cabe salientar que em

detrimento do barateamento dos custos; do alcance da população a linhas de crédito e

financiamentos; da criação de programas que assegurassem a aquisição ou o uso desses

instrumentos por pessoas em situação de vulnerabilidade social, os computadores e a internet

passaram a ser uma realidade para muitos alunos também no contexto extraclasse [em suas

residências, lan houses, cybercafés e Infocentros].

Desse período, para a atualidade, os números só aumentam e os computadores

continuam se modernizando: reduzindo de tamanho, modificando suas formas, agregando

funções, se conectando mais velozmente a internet e adentrando as escolas pelas mãos dos

alunos. A internet por sua vez, converteu-se num importante ambiente de encontros, de buscas

e de entretenimento para os jovens estudantes. A esse respeito, Kenski (2012), Coscarelli

(2016) e Prensky (2018) discutem que, na atualidade, os alunos já nascem imersos ao

contexto virtual; seja por meio do uso de aparelhos próprios ou emprestados, em redes de

internet residenciais, compartilhadas ou públicas, de um modo ou de outro a cultura digital é

inerente às novas gerações, mesmo que ainda se registre altos índices de desigualdades sociais

no Brasil, pois tem sido cada vez mais raro encontrar discentes que não disponham desses

artefatos ou que não estejam conectados.

Nesse sentido, tanto as observações participantes, quanto as respostas dadas pelos

alunos aos questionários desvelaram que os discentes do Colégio Estadual de Serrolândia são

partícipes dessa realidade. Ao serem indagados nas duas primeiras propositivas do

Page 112: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

112

questionário: na qual a primeira versava sobre o acesso ou não à internet e a segunda,

condicionada à primeira, referia-se à periodicidade do acesso quantificado em dias da semana,

todos os 28 20

respondentes afirmaram que acessam a Web de modo diário. Essas afirmações,

em parte, também puderam ser constatadas por meio das OP, pois recorrentemente os alunos

faziam alusão a conteúdos interligados às vivências on-line, sobretudo, indicando jogos e

vídeos aos demais colegas, também trazendo referências de memes e polêmicas que

repercutiram na Web. Cabe sublinhar que, na maioria das vezes, essas conjecturas não

estabeleciam relações diretas com os conteúdos programáticos das aulas. Quando a

interrogação se referiu à quantidade de horas, os resultados foram variados e surpreendentes,

boa parte dos alunos destinam um terço diário em práticas on-line, conforme pode ser

observado no gráfico abaixo.

Gráfico 01 – Acesso em horas

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, 2019.

Os dados dispostos no gráfico reiteram o que é defendido nos estudos de Prensky

(2018), quando se pode avaliar que as atividades desenvolvidas pelos sujeitos nos ambientes

virtuais vêm, paulatinamente, ora ocupando os espaços de ações que se realizam nos

ambientes físicos, ora dialogando com estas de modo concomitante. Dentre outras razões, este

é um dos motivos pelos quais as escolas e instituições formadoras necessitam inclinar suas

práticas formativas aos espaços, tempos e recursos que estão disponíveis na internet. Nesses

termos, os órgãos consultivos e deliberativos do ensino básico no Brasil orientam, por meio

da BNCC (BRASIL, 2017), que esta realidade seja aproximada do processo de aprendizagens.

Em outros termos, as escolas necessitam inserir e atualizar (quando pertinente) os conteúdos

20

Dos 42 alunos regularmente matriculados na turma, apenas 28 deles compareceram no dia da realização do

Grupo de Discussão e da aplicação dos questionários.

0

2

4

6

8

10

12

14

Menos que uma hora. Entre duas e quatro

horas.

Entre cinco e oito

horas

Mais que oito.

Horas em média destinadas as

atividades on-line

Page 113: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

113

programáticos, os métodos e avaliações para que conduzam os educandos aos letramentos e

por consequência as vivências plenas na atual contemporaneidade [digital].

Outro aspecto desvelado com o desenvolvimento desta pesquisa diz respeito ao uso

dos gadgets e conexão em rede por meio dos celulares, netebooks, tables. A criação e o

consumo desses aparatos fundaram, nas ambiências ciberculturais, a cultura da mobilidade ou

cultura mobile, conforme evidencia Recuero (2009). Esta ‘inovação’ possibilitou que os

indivíduos pudessem deslocar-se (juntamente com seu dispositivo) de um determinado ponto

físico ao outro, permanecendo conectados, pois os computadores de mesa deixaram de ser os

únicos meios para conectar-se à Web, assim como as redes de internet a cabo foram dando vez

às conexões sem fios (Wi-fi). Sobre essa perspectiva, os estudos de Lemos (2013) discutem

que a cultura da mobilidade foi uma grande propulsora da conexão entre as pessoas [on-line]

para a construção de redes sociais, de aplicativos, de espaços de interatividade e

entretenimento, uma vez que as pessoas passaram a conviver em maior tempo com esses

suportes, levando-os para diversos lugares, deslocamentos em transportes públicos,

academias, igrejas, trabalhos, também para escola.

Durante a realização das OP e do GD se tornou perceptível que todos os colaboradores

utilizam celulares durante as aulas (alguns com aparelhos mais modernos, lançamentos dos

últimos anos, outros com objetos de maior tempo de existência), todos com acesso à internet;

tendo por provedor as franquias privadas das redes telefônicas 3G ou 4G, ou, a maioria deles,

ao Wi-fi do CES [aberta aos alunos]. Sobre essa temática, ao serem indagados, por meio do

questionário, sobre quais suportes utilizam, maiormente, para conectarem-se à Web, os

alunos, em sua maioria, afirmaram que os celulares seriam essa superfície de acesso.

Gráfico 02 – Suporte mais utilizado

Page 114: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

114

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, 2019.

O uso orientado desses aparelhos em sala de aula e dos aplicativos que neles estão

contidos podem auxiliar em diversas atividades pedagógicas: pesquisa, tradução [dicionários],

uso de mapas, GPS, complementação de estudos e tira dúvidas com vídeo-aulas, porém,

durante as observações raras foram as vezes que os alunos se inclinaram para implicação dos

gadgets nessas ações. A partir das OP, foi possível constatar que, na maioria das vezes, ao

utilizar os aparelhos celulares em sala de aula, os alunos recorrem à conexão com as redes

sociais da internet. Constatação também reafirmada com as análises dos questionários, quando

os alunos respondem (itens 5 e 821

), consecutivamente, que todos dispõem de perfis ativos nas

redes sociais, e 23 (vinte e três) dos 28 respondente afirmaram que, quando estão conectados

(também em casa), a maior parte do tempo de acesso é destinado ao tráfego por essas

comunidades virtuais. Sobre essa prática, os estudos de Recuero (2009), Couto (2010) e

Miller (2012), constatam que, desde os blogs até as redes mais contemporâneas, como o

Instagram, há uma candente atratividade por parte dos jovens por essas redes.

Sobre essa temática, objetivando melhor se aproximar do foco da investigação e suprir

um hiato deixado pelas observações participantes, haja vista que não dava para constatar,

especificamente, de quais redes os alunos estavam logando, os discentes foram questionados

sobre em quais redes eles detinham perfis ativos. Na construção do item, constavam as redes;

Facebook, Instagram, Tumblr, Twitter e ainda a opção outras, a qual exigia que os discentes

especificassem, sendo que, nesta interpelação, os participantes poderiam assinalar mais de um

ítem. As redes selecionadas a constarem na propositiva foram escolhidas a partir dos estudos

21

Ver perguntas na íntegra no Apêndice C.

0

5

10

15

20

25

30

Computador

Pessoal

Notebook Tablet Aparelho

celular

outros

Suporte mais utilizado para o

acesso a Web

Page 115: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

115

contemporâneo de mídias digitais e comunidades on-line, que as elenca como de maior

popularidade entre os navegadores. Essas redes, consoante as pesquisas de Santaella e Lemos

(2011), apresentam um perfil mais híbrido, mesclam interfaces, funções e linguagens num

mesmo ambiente: contato com fotos, vídeos, jogos, conversação por meio da escrita e

oralidade (por meio da semipresencialidade no encaminhamento de áudios ou exibição em

vídeos). Acerca dessa indagação, os colaboradores afirmaram que:

Gráfico 03 – Redes com perfil ativo

Fonte:

Gráfico elaborado

pelo autor, 2019.

Os dados obtidos com a análise das respostas prestadas pelos jovens evidenciam que

as redes sociais elencadas são conhecidas pelos alunos e que os mesmos possuem conta

nesses dispositivos. Numa avaliação mais detalhada, torna-se notório que as redes sociais

Facebook e Instagram lideram o quantitativo de perfis ativos entre os sujeitos, assim como é

evidente a não aderência à rede social Tumblr e a insurgência do WhatsApp posto como rede

social. A demarcação WhatsApp como rede social destaca que os alunos detêm uma

percepção ampliada sobre o conceito de redes sociais da internet mais próximas das

definições de redes sociais da internet, como diferencia Recuero (2009). A demarcação do

WhatsApp como rede social ainda não é um consenso entre os estudiosos. Ao analisar as suas

características e aspectos: estabelecimento de comunicabilidade, possibilidade de

0

5

10

15

20

25

30

Facebook Instagram Tumblr Twitter Outras.

Especificamente

WhatsApp

Redes Sociais em que possuem

Perfils Ativo

Page 116: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

116

compartilhamento de arquivos, simultaneidade ao desenvolver as ações, entre outras, ela

poderá ser acolhida como rede social. Contudo, argumentos contrários expõem a sua estrutura

simplificada, as poucas interfaces e o baixo nível de interligação com as demais redes,

colocando-o na condição de aplicativo de trocas de mensagens. Dada às suas características e

usos, o estudo dialoga com o WhatsApp na condição de rede.

Para que fosse compreendida a predileção dos colaboradores pelo uso de uma ou de

outra rede, solicitou-se (por meio do questionário) que eles demarcassem, enumerando de 1 a

4, quais os níveis de preferências de acesso. Na propositiva 1, denotaria a primeira rede mais

acessada, na 2, a segunda, e assim sucessivamente. Foram dadas quatro possibilidades; as três

plataformas que ocupam a centralidade deste estudo, mais a opção “outras”, na qual os

respondentes deveriam especificar de qual rede se tratava. O resultado para o tensionado está

registrado no Quadro 3:

Quadro 03 – Predileção de Acesso

Rede Social 1º 2º 3º 4º total

Facebook 1 13 7 3 24

Instagram 18 6 3 1 28

Twitter 0 0 1 2 3

WhatsApp 8 6 6 0 20

YouTube 3 0 0 0 3

Fonte: Quadro elaborado pelo autor, 2019.

Com a análise dos dados dispostos no Quadro 3, algumas questões se tornam

evidentes, como, por exemplo, a predileção pela rede Instagram; a baixa aderência ao Twitter

e a mensuração de uma rede até então não citada, o YouTube. Ao estabelecer uma comparação

entre o presente Quadro e o gráfico de número três, é perceptível ainda que: o Instagram é

tanto a rede na qual os sujeitos dispõem de perfil quanto a que mais nutrem tempo de acesso;

já o Facebook, em ambas propositivas, desponta em segundo plano de acesso, e que o IG e o

Face são as redes mais acessadas pelos colaboradores da investigação.

Com a triangulação dos dados, a saber: parte das questões propostas no questionário e

dos materiais registrados no diário de escrita, foi possível inferir que todos os alunos

colaboradores desta investigação dispõem de acesso ao ambiente virtual e este lhe é familiar.

Fica notabilizado também que os gadgets (maiormente os aparelhos celulares) adentraram às

salas de aula e possibilitam que os alunos estivessem conectados a diversos contextos on-line,

potenciais para aprendizagem, de modo concomitante à presença dos discentes nos espaços

Page 117: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

117

físicos das instituições escolares. Constrói-se ainda o entendimento de que as redes sociais

Facebook, Instagram e, em menor escala o Twitter, assim como outras redes desveladas (YT

e WhatsApp) fazem parte das vivências desses nativos digitais (PRENSKY, 2018). Desse

modo, os espaços e aplicativos digitais contidos nas redes sociais necessitam de uma maior

atenção por parte da comunidade escolar, haja vista que, comprovadamente, os alunos

dedicam cada vez mais tempo ao convívio neles. Os professores, coordenadores pedagógicos

e demais agentes mediadores e auxiliadores na mediação de conteúdos formativos devem

apropriar-se desses recursos e desenvolverem estratégias para que os alunos possam, dentro e

fora da escola, conectarem-se a diversos canais de conhecimentos os quais corroborem para

sua formação.

6.2 OS GÊNEROS DISCURSIVOS, PRÁTICAS E COMPARTAMENTOS DE LEITURA

NAS REDES E EM REDE

A formação leitora é um dos objetivos precípuos dos quais as escolas devem se ocupar

(COSCARELLI, 2016). Por essa razão, os métodos e instrumentos utilizados no ensino da

leitura necessitam de uma constante atualização, pois de tempos em tempos emergem novos

gêneros, suportes e intencionalidades de leitura. Para ilustrar essa premissa, pode-se recorrer

aos exemplos desvelados no século passado, no qual até a década de 1970 as leituras ocorriam

predominantemente em suportes impresso e a partir da década de 1990 novas superfícies para

hospedagem on-line de textos começaram a despontar, exigindo assim, consequentemente,

novas habilidades para se atingir níveis interpretativos satisfatórios. É evidente que antigas

práticas de leituras e performances mais contemporâneas dialogam. O advento de uma não

necessariamente exclui a outra. Conforme observa Santaella (2004, 2010, 2014), a ascensão

do leitor ubíquo do século XXI não extirpou o leitor meditativo do século XIX, porém, é

evidente que na cena contemporânea se registra mais leitores que façam à assunção de um

perfil ubíquo em detrimento do contemplativo e o objeto dessa afirmação pode ser constatada

diariamente nas salas de aula. E o desenvolvimento das OP e do GD desvelam isto.

Destarte, no dia em que ocorreu a primeira Observação Participante, os alunos

estavam realizando atividades em grupos; seminários temáticos acerca das escolas literárias

brasileiras e, por consequência, sobre as obras exponenciais em cada um dos períodos

historiográficos retratados. Ao retomar os seminários, haja vista que os mesmos haviam

Page 118: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

118

iniciado na semana anterior [ a observação], a professora [Word] avaliou as equipes, tecendo

comentários acerca das exposições orais, dos slides e demais recursos utilizados pelos

discentes. Parabenizou-os pela qualidade dos trabalhos e associou o êxito da proposta ao

empenho dos alunos, somado ao eficiente método por ela selecionado. Segundo Word, ela

optou por adotar nesta atividade um método oriundo das metodologias ativas, no qual, antes

de mediar os conteúdos programáticos em sala de aula, possibilita aos alunos que construam

(sob orientações) uma espécie de dossiê acerca do tema sorteado e o apresentem em forma de

seminário. Posterior ao processo de pesquisa, ela iria ministrar as aulas a partir dos dados,

informações e reflexões trazidas pelos alunos, para além do livro didático.

Três equipes se apresentaram no dia 19-03-2019. O primeiro grupo sorteou a temática

– O modernismo no Brasil e a obra literária Macunaíma, de Mário de Andrade. Neste

seminário, chamou atenção o fato de os alunos utilizarem os aparelhos celulares como suporte

para arquivar os textos norteadores do seminário, assim como os recursos utilizados para

apropriação do conteúdo do romance. Alguns relataram que fizeram a leitura da obra em PDF,

pois não encontraram o livro impresso na biblioteca da instituição, outros afirmaram que

leram o resumo e um dos componentes assistiu ao filme disposto no YouTube. Com o relato

do componente que fez a leitura do romance em formato PDF (digital), ficou evidenciado que

a leitura on-line foi uma possibilidade emergida da ausência da obra física.

Nos outros dois grupos, foram apresentadas as temáticas: Poesia no Modernismo e a

obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Em menores proporções, os componentes dessas

duas equipes também recorriam ao celular. A equipe da Poesia exibiu um vídeo extraído do

YT, ambos os grupos apresentaram com auxílio de projeções em slides.

Embora as observações participantes e as repostas apresentadas no grupo de discussão

e na aplicação de questionários tenham desvelado que os alunos recorriam, de forma ainda

incipiente, aos dispositivos digitais e aos ambientes virtuais para construção de atividades

educacionais, percebeu-se que essas ações ocorrem de modo não sistematizados. Em sua

maioria, o uso desses objetos estava condicionado a uma espécie de ‘plano B’; “ não

encontrei o livro na biblioteca, fui ver na internet”, “não estava compreendendo o livro direito

e fui pesquisar alguns resumos”, assim como ocorriam sem a instrução dos docentes, em

outros termos, nos momentos observados e nas situações relatadas, maiormente, os

professores não protagonizaram ações em que esses o uso desses recursos fossem

estimulados, instruídos.

Tem-se nesse dado uma questão muito relevante, o lugar do docente-orientador no

desempenhar dessas ações. É importante perceber que os alunos já estão imersos nesses

Page 119: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

119

ambientes e em sua maioria já dispõem de autonomia na construção de pesquisas e

comunicação em rede, contudo, essas ações necessitam ser enriquecidas por meio das

orientações e supervisões docentes. Tomando por exemplo o fato de se recorrer aos resumos

para construção de entendimento de uma determinada temática é questionável; em qual site?

As informações, fontes, abordagens são confiáveis? A leitura de resumos dá conta de uma

percepção holística de um dado fenômeno. Essas questões, assim como nos meios físicos,

devem ser apontadas e direcionadas pelos professores, para que sejam tirados os melhores

proveitos para formação desses estudantes.

Mediante a este aceno dos alunos ao uso dos ambientes virtuais implicado aos

processos de pesquisa, leitura e análise de texto, fora construída a segunda parte do

questionário e as provocações tensionadas no Grupo de Discussão. Nesses termos, ao serem

questionados sobre alguns aspectos das práticas de leitura nas redes sociais, os colaboradores

informam que:

Quadro 0422

– Leitura nas Redes

Fonte: Quadro elaborado pelo autor, 2019.

No Quadro 4, construído com as repostas das questões dadas aos três itens

consecutivos, os quais apresentaram caráter objetivo e dicotómico [sim ou não], ficam

evidenciadas algumas relevantes informações, a exemplo da concepção de leitura nutrida

pelos respondentes. No questionamento de número 11, embora a maioria dos colaboradores

tenham demarcado que utilizam as redes sociais para leitura, nitidamente evidenciando

conceber as práticas de leitura em sentido e ato amplo, 6 dos 28 respondentes afirmam o

contrário. Esse dado conduz à compreensão de que a leitura para esses alunos ainda segue

associada aos códigos registrados nos materiais físicos (impresso), sendo uma percepção

equivocada, haja vista que, conforme observam Coscarelli (2016) e Rojo (2012), as redes são

construídas, predominantemente, por meio das linguagens e o seu uso está condicionado à

atualização [leitura] dos signos que as compõem, logo é impossível que um sujeito adentre a

essas redes e não realize ao menos um tipo de leitura.

22

Os números 11, 12 e 13, referem-se a numeração das questões dispostas no Questionário; ver Apêndice C.

APONTAMENTOS SIM NÃO

11. Você utiliza as redes sociais para o exercício da leitura 22 6

12. Ao navegar pelos perfis, grupos ou feeds costuma abrir os

hiperlinks que indicam a leitura dos mais variados gêneros textuais 13 12

13. Já iniciou uma leitura por ter visto algum fragmento disposto na

rede, ou pelo fato de algum amigo on-line compartilhar/ lhe indicar 26 2

Page 120: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

120

Nesse sentido, uma possível justificativa para a construção desse entendimento é a

ausência de discussões deste cunho no âmbito das salas de aulas e maiores problematizações

na composição dos materiais didáticos, assim como em função de uma problemática estrutural

mais ampla; conforme observa Otacílio Ribeiro (2017, p. 85), ao se debruçar sobre os

letramentos na contemporaneidade, “A leitura é um bem cultural que possibilita interação

com esta realidade. Contudo os seres humanos não foram alfabetizados formalmente para um

tipo de leitura de imagens audiovisuais, marca da tecnologia atual”.

Cabe salientar que os instrumentos de pesquisa utilizados no estudo não indicaram

definições ou conceitos sobre os objetos neles contidos, pois em todos os contextos e

dispositivos ficou a cargo dos alunos inferirem os significando, de acordo com as noções que

já estavam imbuídas em seu repertório cultural. Desse modo, o fato de os discentes estarem

imersos nas vivências ciberculturais, predominantemente conectados às redes sociais; lendo,

produzindo textos, consumindo, não significa dizer que sua totalidade tenha consciência

crítica das ações e da consequência destas em seu processo de formação. Como se

notabilizou, para parte dos alunos, a definição de leitura ainda se associa exclusivamente aos

comportamentos assumidos até a década de 1970 do século passado. Para ratificar essa

perspectiva ainda existente, recorre-se à fala de uma das participantes do grupo de discussão,

a qual, mesmo com o celular na mão, ao ser provocada na propositiva: “Vocês poderiam falar

um pouco sobre a leitura? Vocês se consideram leitores?, responde:

[...]23

A leitura é uma coisa que muda a vida das pessoas, podemos nos tornar pessoas

melhor, conseguir bons empregos e não ser enganados pelos outros, não acreditar em

tudo que vemos na televisão, nos jornais, porque cada um vai apresentar a sua versão

e a gente precisa saber qual é a correta, até pra gente não errar. (+) ((demonstrando

imprecisão)) eh eu acho que posso dizer que sou leitora... leio o livro da escola, (+)

horóscopos nas revistas, os cadernos dos colegas, pesquisa que os professores passa

e:: às vezes pego alguns livros na biblioteca, mais é difícil de abrir, a gente tem que ir

lá pedir. ... de vez em quando em compro uns que vendem na Avon. (@rubyrose) 24

Na fala da colaboradora, fica evidenciada a associação da condição de leitora ao

exercício de leitura nos objetos impressos e embora ela faça mensuração da necessidade de

uma percepção crítica mediante as programações e informações veiculadas na TV, na

conclusão do pensamento desenvolvido em sequência, ela exclui essa ação da sua constituição

23

As transcrições dos áudios decorrentes do Grupo de Discussão foram construídas a partir das orientações

dispostas em Marcuschi (1986), priorizando as colocações que versaram sobre: (a) a formação leitora, (b) objetos

de leitura on-line, (c) gêneros emergentes on-line. MARCUSCHI, L.A. Análise da conversação. São Paulo:

Ática, 1986. 24

Os nomes pelos quais serão identificados os colaboradores foram escolhidos por eles, após elucidação do

caráter ético e sigiloso da investigação, nesses termos no questionário, havia um espaço destinado para

construção dessa identificação.

Page 121: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

121

como sujeito leitor, postura essa que precisa ser revista, pois como evidencia a pesquisadora

Valéria Zacharias (2016, p. 21):

O aparecimento de formas de comunicação como as redes sociais (a exemplo do

WhatsApp e do Facebook) implica transformações no processo de criação e de

recepção dos textos, uma vez que exploram aspectos como a multimodalidade, a

hipertextualidade e a interatividade. Estas formas de interação demandam habilidades

de leitura e de produção específicas e, consequentemente, exigem uma formação mais

específica dos integrantes.

Outras construções ainda não maturadas por parte dos alunos é o entendimento das

definições dadas para hiperlinks, bem como para gêneros discursivos. Na questão de número

12, por exemplo, quase a metade dos respondentes registraram que não abrem hiperlinks, o

que, assim como na questão anterior, seria inconcebível, uma vez que, como demonstram os

estudos de Lévy (2011) e os de Recuero (2009), os hiperlinks são inerentes à rede,

construtores de caminhos e condutores de navegações, assim como os gêneros textuais;

reelaborados ou emergentes, são a base das redes, (COSCARELLI, 2016; 2017). Nesse

sentido, Zacharias (2016) afirma em seus estudos que as novas práticas direcionadas a

formação de leitores no âmbito escolar necessitam trazer para centralidade, dentre outras,

esses dois itens; os links e os gêneros pois: “Diante da tela, o usuário/leitor precisa

compreender a função dos links, identificar ícones e signos próprios do gênero (como curtir e

comentar no Facebook, selecionar emoticons no WhatsApp, inserir imagens, enviar fotos,

publicar comentários”. (ZACHARIAS, 2016, p. 21 grifos da autora).

Nas respostas dadas ao item de número 13, os alunos (mesmo parte daqueles que já

haviam sinalizado que não utilizam as redes para o exercício da leitura), afirmaram que, em

função da indicação de um amigo ou por se depararem com fragmento textual disponível nas

mídias, sentem-se motivados e iniciam leituras. Essas respostas afirmam as potencialidades de

uma educação conectada e da formação leitora em rede. Por essa razão, é necessário que os

alunos sejam instruídos a estabelecerem filtros para conseguirem selecionar os objetos de

leitura, bem como alertados da sua potencial colaboração na formação de outros sujeitos por

meio da indicação de leituras e outras ações. Sobre a questão dos compartilhamentos de

textualidades em rede, Zacharias (2016, p. 23) preconiza que “Os textos são compartilhados

simultaneamente e permitem a relação e participação do usuário leitor com o meio, com seus

pares e com os emissores das mensagens”.

Com as confirmações prestadas pelos colaboradores acerca do acesso à internet, do

uso das TDIC (dentro e fora da sala de aula), da conexão com as redes sociais, bem como da

Page 122: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

122

leitura nesses ambiente, buscou-se compreender de quais objetos esse sujeitos realizam a

leitura e como a escola pode aliar esses ambientes e exercícios leitores desenvolvidos nesse

contexto à formação e à suplementação das práticas de leitura dos educandos. Conforme

observa Zacharias (2016), as escolas necessitam se atentar às demandas dos letramentos

contemporâneos. Nas palavras da autora, “Não parece ser suficiente desenvolver uma

pedagogia restrita ao letramento das mídias impressas” (ZACHARIAS, 2016, p. 17). Logo, ao

serem questionados sobre “ De quais gênero textuais você já realizou a leitura nas redes?”, os

alunos responderam:

Gráfico 04 – Gêneros Textuais Lidos

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, 2019.

Na questão, foram apresentadas 11 possibilidades de respostas: charge/cartuns, contos,

crônicas, poesias, letras de música, notícias, relatos, romance, tirinhas, outros gêneros (o

colaborador precisava demarcar qual) e também a opção nenhuma das alternativas. Nesse

item, os alunos poderiam dar mais de uma resposta. Com a análise dos dados algumas

questões se tornam perceptíveis como, por exemplo, o fato de as notícias e as letras de

músicas serem os gêneros que os discentes mais apontam como objetos já lidos em rede,

assim como o fato de um dos alunos já classificar o meme como gênero discursivo, objeto

esse que, segundo os estudos de Coscarelli (2016), poderia ser encaixado na categoria de

gênero digital, ou ainda, de acordo com Miller (2012), um gênero reelaborado. Outro

0

5

10

15

20

25

Gêneros textuais que já realizou

leitura nas redes

Page 123: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

123

indicador observável é que os gêneros oriundos do campo literário, por esta amostragem, não

imprimem popularidade com os leitores na rede.

Essa relação dos respondentes com os textos verbo-visuais mostrou-se próxima

também em outros momentos, a exemplo de quando indagados (em questionário) sobre: “ 9.

De modo geral, quais destas atividades você realiza com uma certa periodicidade ao acessar

as redes:” e “ 10. Nas suas redes, quais os tipos de conteúdo você mais publica e/ou

compartilha:” Seguem as respostas, de modo consecutivo, dispostas em gráficos:

Gráfico 05 – Atividade frequentemente desenvolvida nas redes.

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, 2019.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Conversar com

amigos, interagir em

grupos e

comunidades de

discussões

específicas.

Consumir leitura dos

mais variados

gêneros

textuais(notícias,

receitas, piadas

dentre outros)

Acompanhar a rotina

de um artista ou

personalidade

famosa.

Assistir aos vídeos,

contemplar imagens,

curtir e compartilhar

de modo geral.

Outras. Especifique:

Games e Aprender

Inglês

Atividades que realiza com uma certa periodicidade

ao acessar as redes.

Page 124: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

124

Gráfico 06 – Conteúdos mais publicados/ compartilhados.

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, 2019.

Com a análise dos dados contidos no Gráfico de número 05, fica perceptível,

novamente, a restrita semântica atribuída à leitura e a sua prática, quando os respondentes

dissociam ‘acompanhar a rotina de um artista’(o que se torna mais comum a cada dia, diga-se

de passagem) ou ‘estabelecer diálogos com os colegas’ de um recorrente e potencial exercício

de leitura, pois, de qual maneira se segue um artista que não por meio do contato com os

vídeos, pôsteres, publicidades, notícias, fotografias ou como estabelecer contato com os

colegas se não por meio dos chats, comentários, vídeos e alguns outros gêneros emergentes.

Outro apontamento demarcado pelos alunos também requer atenção; o uso das redes

para o aprendizado da língua inglesa. Com essa afirmativa é possível inferir que já existe uma

noção, em uma pequena parte dos alunos, o entendimento de que as redes sociais são espaços

propícios para aquisição de conhecimentos. Quanto aos dados dispostos no Gráfico 06,

avalia-se a postagem e compartilhamento de textos elaborados por terceiros do que pelos

próprios detentores das redes sociais, daí se é possível questionar se nessas publicações ou

compartilhamentos não seguem pequenas reflexões elaboradas por esses alunos.

Em ambos os gráficos [05 e 06], as respostas dos alunos reiteram a ascensão nos

compartilhamentos, nas leituras, nas produções e publicações dos gêneros verbo-visuais. O

consumo desses tipos de gêneros sempre esteve na base das redes sociais e, segundo Santaella

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Imagens: GIFS,

memes, charges,dentre outros.

Textos escritos:

elaborados poroutros usuários da

rede.

Nenhuma das

alternativas

Arquivos de áudio

e vídeo.

Outras Textos escritos

(reflexões,posicionamentos,

dentre outros):

construídos porvocê.

Conteúdo que mais publica e/ou

compartilha

Page 125: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

125

(2014), no processo de constituição do leitor movente/fragmentado com a significação dos

contextos e cenários das cidades, até a emergências dos contemporâneos leitores

prossumidores, a leitura de imagem assume um lugar de destaque, em algumas redes, como

no caso do Instagram, que é predominante. No decorrer do tempo, as fotografias,

fotomontagens, vídeos, tirinhas, charges e outros foram se fundindo e possibilitando a

construção de novos gêneros ou gêneros transmutados. Os estudiosos ainda não constroem

consenso nessa questão, para alguns se trata de gêneros digitais (COSCARELLI, 2016), para

outros, gêneros emergentes (MACUSCHI, 2000). Há ainda quem os tratem como um objeto

fruto da adaptação de um gênero já existente nos meios físicos e disponibilizados nas

ambiências digitais (MILLER, 2012).

O fato é que gêneros híbridos como as GIFS, as fanartes, os memes e tantos outros

estão cada vez mais situados nos trajetos de leitura dos hiperleitores. Por essa razão, o MEC

(BRASIL, 2017) orienta que os professores aproximem os métodos e estratégias do ensino da

leitura desses gêneros. Sobre a construção e demanda de leitura desses novos gêneros

Zacharias (2016, p. 16) discute:

Uma consequência dessas mudanças se faz notar nas práticas de leitura, com a

emergência de textos híbridos, que associam sons, ícones, imagens estáticas e em

movimento, leiautes multissemióticos, alterando os gestos dos leitores, o

processamento da informação e a construção de significados.

Reiterando essa perspectiva das leituras verbo-visuais nas redes, recorre-se a outro

fragmento transcrito do grupo de discussão:

É eu gosto ((falando com agilidade)) ‘eu gosto’! A professora de redação já falou que

a gente também ler imagens “e é verdade”. ... Eu fico mais no Instagram e lá eu sigo

uns perfis que mostram curiosidades, animais diferentes em fotos, também páginas de

meme que pra mim é mais engraçado do que os vídeos. ... (( perguntando aos demais

participantes)) Vocês seguem o perfil NOSTALGIA MUSIC?. (@lionelmessi)

Uma vez registrada a mensuração, por parte de alguns alunos, sobre gêneros

emergentes, buscou-se interpelar quais desses eles conheciam, já ouviram falar e, numa outra

abordagem, sobre os quais já realizaram a leitura. Trazer essas questões para a centralidade

dos estudos da formação leitora e para as salas de aula deve ser uma prioridade dos

professores, pois as demandas de construção e interpretação dos gêneros híbridos estão cada

vez mais postas nos meios e espaços de interação e comunicação social. Sobre essa questão, a

pesquisadora Zacharias (2016, p. 22) discute que “Cada vez mais novas linguagens se

agregam nos textos verbais como, por exemplo, as animações os efeitos sonoros, as imagens,

Page 126: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

126

as cores, os formatos das letras permitindo possíveis e diferentes interpretações das

mensagens que exploram a multimodalidade”. Nesses termos, seguem no Gráfico 07 os

resultados da primeira, a saber: “ Observando a diversidade dos gêneros textuais que circulam

nas redes sociais, em seus acessos, com quais desses já se deparou: ”.

Gráfico 07 – Gêneros Emergentes (ouvir falar)

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, 2019.

Dos cinco gêneros elencados, em maiores ou menores dimensões, todos são

conhecidos. Se destacam os Nanocontos e Webnovelas como sendo os que menos os

respondentes já ouviram falar. Uma possível justificativa para este dado é o fato de esses dois

webgêneros serem mais comumente encontrados no Twitter, rede que entre os participantes da

pesquisa não apresenta aderência significativa. Outro fator observável é o amplo

conhecimento dos alunos acerca dos memes; imagens disponíveis em todas as redes sociais da

internet e que a cada dia se populariza mais, alcançando novos leitores por meio das novas

mídias digitais, também em veículos de mídias tradicionais, como é o caso da TV. Esses

novos gêneros são muito fluídos e redimensionáveis, transitam e se adaptam a novas

plataformas de modo veloz. Sobre essa característica, Zacharias (2016, p. 24) afirma que: “Se

os gêneros impressos mudam lentamente, os novos meios de comunicação favorecem rápida

evoluções aos discursos digitais”.

Nas análises das respostas provenientes do item de número 19 do questionário, no qual

era indagado quais dos gêneros emergentes os alunos realizavam a leitura, cabe sublinhar que

nessa questão foram disponibilizados os mesmos gêneros contidos na questão de número 18 e

evidenciado no gráfico de número 08. Ficou perceptível que, basicamente, os objetos que os

respondentes afirmam já terem realizado a leitura, aparecem nas mesmas proporções sobre os

0

5

10

15

20

25

30

Fanfic Fanarte Nanoconto Memes WebnovelasOutro gênero

emergente.

Nenhuma

das

alternativas.

Observando a diversidade dos gêneros textuais que

circulam nas redes sociais, em seus acessos, com

quais desses já se deparou

Page 127: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

127

quais eles afirmaram já ter ouvido falar. Em outros termos; todos leem memes e poucos leem

Minicontos ou Webnovelas. Ainda sobre a leitura dos gêneros emergentes, uma das

colaboradoras do grupo de discussão, antes mesmo de entrar em contato com o questionário,

onde havia mensuração aos gêneros Fanfics e Fanarte, faz as seguintes colocações:

[... ]Não, tem as fanartes também ((altiva)), é tipo aquelas coisas de mixagem que a

gente faz no Corel, só que em vários programas diferentes, está entendendo?

((indagando outro participante))... deixa eu ver ((pensativa)) (+) é tipo arte

minimalista POW, essas coisas, a adaptação das fotos dos famosos e das histórias, só

que só em imagem. ... E as fanfics é tipo isso, só que em texto, contando uma história

que já existe, mas com um final diferente ((entusiasmada)) vocês precisam ver, tem

umas de Neymar e Bruna Marquezine, é engraçado demais véi ((risos)) EU

ADOOOOOOORO ((risos)). (@santos)

Outro exercício de leitura que se desvelou recorrente entre os educandos, sobretudo

entre os participantes do gênero masculino, foi a prática da leitura em jogos. As três redes

sociais discutidas neste estudo possibilitam que sites e aplicativos gerenciadores de games se

hospedem em suas plataformas para que assim o usuário não precise baixar [fazer download]

dos games; os internautas podem logar em suas contas das redes e iniciarem os jogos. Essa

constatação pode ser obtida no desenvolvimento dos três instrumentos utilizados; grupo de

discussão, observação participante e questionário. Já na última observação participante, por

exemplo, a professora estava retomando alguns conceitos apresentados pelos alunos durante

os seminários, e um dos alunos estava desde o início da aula jogando no celular; a professora

então reclamou, questionou a atenção dada à aula. Decorrido alguns minutos, a professora

indagou a turma sobre um determinado texto, e esse mesmo aluno (que continuava jogando)

respondeu a proposição, a docente reconheceu a compatibilidade da resposta.

O exemplo do aluno que estava, concomitantemente, dispensando atenção sobre a aula

e o game, aponta para um dos comportamentos leitores na contemporaneidade - sujeitos que

recorrem aos múltiplos letramentos na realização, concomitante, de leituras e na ação de

construir respostas a diferentes estímulos, em dois (ou mais) âmbitos e propostas diferentes;

físico [sólido/real] e líquido, on-line. Sobre essa questão, Zacharias (2016, p. 20) afirma que,

“Ultimamente a participação na cultura letrada passou a ser mediada por vários dispositivos e

por outras maneiras de ler que desafiam as concepções de leitura mais tradicionais.”

Comprovada a implicação das redes sociais em alguns processos de leitura, assim como do

alinhamento aos gêneros emergentes, transmutados nesses espaços, onde a maioria segue

desconhecidos, os instrumentos da pesquisa se inclinaram a questionamentos que

Page 128: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

128

evidenciassem como as redes sociais poderiam ser inseridas nos contextos educacionais para

as aprendizagens significativas, e o que eles achariam dessas ações.

Ao serem questionados (em item aberto) sobre o estímulo e/ou uso desses espaços por

parte da escola ou de algum professor, os alunos responderam massivamente que não,

entretanto, 7 (sete) dos 28 (vinte e oito) respondentes fizeram a mensuração de que o

professor de língua inglesa implicava esse recurso em suas práticas de ensino:

Sim, o professor de Inglês estimula o uso do “Duolingo”. (Rubertu).

Sim, nas aula de inglês, o uso do tradutor e jogos que ajudam a aprender e lembrar da

palavras. (Raiane).

Sim. Pesquisando palavras em inglês no Facebook e traduzindo (Silva).

Quanto à possibilidade de implicar o uso das redes sociais na mediação do ensino,

sobretudo nas práticas de formação leitora, os alunos, unanimemente, responderam desejarem

e serem favoráveis, em respostas que, dentre outros aspectos, diziam:

Sim, fazendo um grupo de alunos onde podemos ler livros pelo celular e depois

interagir com os alunos (Silva)

Sim, é totalmente importante, as aulas não ficam tão paradas e eu acredito que a gente

se motiva mais, quando o professor pedi para pesquisar algo ou ver algum vídeo.

(Fernandes)

Sim, mas com a observação do professor (Santos)

Sim, montando grupos, tipo rodas de leituras, para repassar os textos, discutir e faz

redações, cartas etc. (@nakara)

Sim, pois lá já tem muitos textos que já conhecemos, e os assuntos que nós mais

gostamos, assim é mais fácil de aprimorar a leitura. (Ray)

Sim, mostrando formas de leitura como, por exemplo, os livros virtuais, incentivando

os alunos a utilizar esses meios em casa também.(@allstar)

Respostas semelhantes também foram registradas no desenvolvimento do Grupo de

Discussão.

@marthabrasil: ...Eu acho que sim, sabe por que? Eu acho interessante muita coisa,

muitos temas, muita coisa que eu tenho interesse de ler, eu até salvo nos favoritos

para ver depois, mas... ((manuseando o telefone)), esses dias eu fui ver, é tanta

imagem, link postagem que daria pra gente trazer os assuntos que tem mais a ver com

a gente (+) minhas amigas mesmo não se interessam. (grifos nossos)

[

@rubyrose: TOMA VERGONHA @marthabrasil, e o tanto de coisa que a gente te

manda. Nós fizemos um grupo no Instagram professor, pra estudar pro ENEM, a gente

Page 129: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

129

segue um monte de perfil, e fica mandando os assuntos e vídeos lá, A GENTE

MANDA AS COISAS PRA VOCÊ SIM ((olhando e rindo para colega))

[

@ marthabrasil Eu não estou dizendo assim, (+) estou falando tipo coisas da escola,

((apontando para colega)) o tanto de coisa que a gente falou ontem, eu entendi mais

daquele assunto lá do que na semana passada. (grifos nossos)

@nãobinário: ... É o mais correto na realidade, como @ariesemtouro já falou. Nós já

lemos muita coisa lá, só que a maioria nas vezes são assuntos difíceis, que a gente não

conhece tão bem, mas poderia se aprofundar mais. (+) ... Foi como eu até coloquei

naquele papelzinho, que lá tem um monte de história em quatrinhos, frases, poemas

que a gente ler (+)... às vezes é difícil ter livros (+) eu sempre pegava aqui na

biblioteca do colégio, mas agora é uma complicação, a biblioteca vive fechada, e a de

lá de baixo é mu::::ito distante da escola e de minha casa. Aí eu leio lá, eu mais tenho

contato com a leitura lá e com os livros do colégio, mas mais lá. (grifos nossos)

Nesses termos, faz-se necessário que a escola se atente para essas demandas. Embora

poucos alunos tenham apontado em suas respostas o desenvolvimento de práticas que

envolvam as tecnologias em sala de aula, como fica perceptível ao só exemplificarem

expondo as aprendizagens on-line que são estimuladas em língua inglesa; e não fica

perceptível por qual motivo apenas alguns registraram essa afirmativa, se não se recordaram

ou não participaram dessas referidas aulas, se frequentaram as aulas não desenvolveram as

atividades mensuradas pelos colegas, o fato é; os alunos, maiormente, compreendem que

atrelar os ambientes digitais aos processos de ensino e aprendizagens é possível e se configura

enquanto algo mais prazeroso, envolvente, conforme desvela a fala do respondente Fernandes,

“ (...)as aulas não ficam tão paradas e eu acredito que a gente se motiva mais, quando o

professor pedi para pesquisar algo ou ver algum vídeo”. Outro aspecto observado é a

compreensão de que o professor é um importante ator no desenvolvimento dessas ações,

quando o colaborador Santos afirma que é possível valer-se dos ambientes digitais, “mas com

a observação do professor”.

Especificamente sobre a formação leitora, os alunos apontam as redes sociais como

um profícuo ambiente para auxiliar no desenvolvimento das habilidades de leitura. Quando o

respondente @nakara sugere que se montem “grupos, tipo rodas de leituras, para repassar os

textos, discutir e faz redações, cartas etc”, ele apresenta uma possibilidade de criação de

espaços formativo na e em rede, ação que culmina na extensão da sala de aula e na ampliação

nos tempos de aprendizagens, além de sugestionar (indiretamente) o uso das metodologias

ativas. Essas estratégias certamente colaborariam para dirimir outro dado descoberto com a

investigação. Dezenove dos 28 respondentes do questionário afirmaram, na questão de

número 15, apresentar dificuldades com a interpretação de textos dispostos nas redes, fato que

Page 130: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

130

abre precedentes para não inclusão digital plena, assim como para o crescimento na

propagação de Fake News.

Outra implicação que pode ser atribuída às redes sociais ao implicá-las no processo de

formação leitora é o seu uso para disseminação dos livros; e-books, e-livros, livros digitais e

digitalizados. Essa ação, conforme elocubra Pereira (2017), é necessária, pois o poder público

nem sempre disponibiliza novos volumes ou novas obras para as escolas. As quantidades de

livros paradidáticos dispostos nas alas de leitura das escolas nem sempre são suficientes, ou

adequados para os níveis de formação dos sujeitos, assim como alguns títulos dispostos

acabam por não chamarem a atenção, aguçarem a curiosidade dos leitores. Nesse sentido,

colaboradora @allstar diz que é possível formar leitores nas redes, “mostrando formas de

leitura como, por exemplo, os livros virtuais, incentivando os alunos a utilizar esses meios em

casa também. ” O que, para além de dirimir as problemáticas apontadas por Pereira (2017),

auxiliaria na apresentação de novos textos e obras a baixo ou nenhum custo financeiro,

apresentando aos alunos novas possibilidades de leitura, uma vez que 19 dos 28 respondentes

do questionário, na questão de número 20, afirmaram não ler livros em PDF, ou em demais

formatos digitais.

No diálogo que ocorre entre os colaboradores @marthabrasil e @rubyrose, evidencia-

se que os alunos já estão buscando outras funcionalidades para a rede, estudo complementar,

por exemplo. Nesses termos, os alunos afirmam estar implicando as redes para auxiliá-los nos

estudo pré-vestibular. Enquanto o @nãobinário tece uma consideração, elucidando a maior

atratividade e interatividade que poderia haver entre objetos de leitura, leitores e processos de

leituras, haja vista que esses ambientes lhes são familiares [inerentes]. Partindo da minuciosa

análise dos dados obtidos, a saber: diário de observação, grupo de discussão e questionários, é

possível sugestionar que os professores possam dispor das redes sociais para a formação e

suplementação das práticas de leitura, por meio de ações como:

a) Criação de grupos no FB ou IG, nos quais poderão antecipar conteúdos para que os

alunos realizem a leitura prévia, assim como disponibilizar os mais diversos objetos de

leitura e implicá-los em sala de aula, tensionando debates, estendendo os espaços

formativos;

b) Constantemente indicar grupos/páginas/perfis que tenham temáticas relacionadas as

vivências e demandas sociais;

Page 131: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

131

c) Possibilitar que os alunos possam colher informações nas redes sociais acerca de um

determinado conteúdo programático que será trabalhado em sala de aula;

d) Favorecer o trabalho com gêneros textuais/do discurso, informativo/jornalístico

trabalhando com as Fake News, distribuindo diferente notícias, entre verdadeiras e

falsas, solicitando que os alunos verifiquem as fontes, o teor do conteúdo e

comprovem a veracidade ou não;

e) Trabalhar com os gêneros oriundos dos meios impressos, em suas formas originárias,

buscando sempre exemplares que sofreram a reelaboração para serem disponibilizados

nas redes sociais como, por exemplo, as novelas e Webnovelas;

f) Estimular a produção de vídeos e textos escritos, poemas, contos, resumos críticos de

romances, que posteriormente serão postados nas redes sociais de cada sujeito, ou num

perfil criado para a turma ou para instituição e retroalimentado pelos alunos;

g) Promover reflexões críticas a partir do uso dos memes, selecionando-os e

posteriormente disponibilizando-os em uma página para que os alunos possam, por

meio dos comentários, construir interpretações;

h) Instruir que alunos leiam os memes, fanartes e fanfics de obras literárias e,

posteriormente, suas obras geradoras, para que compreendam os novos efeitos

estético, intencionalidades, estrutura, humor e/ou crítica, dentre outros aspectos.

Realizar também o processo em ordem inversa;

5.3 O PRODUTO: FORMAÇÃO EM EXERCÍCIO

A dimensão formativa da pesquisa ocorrerá nos dois anos de desdobramentos da

pesquisa, após o período da investigação. Serão destinados 4 (quatro) encontros formativos,

na formatação de oficinas25

para elaboração de material didático que objetive a introjeção ou

suplementação das práticas de leitura e da formação leitora dos discentes, bem como

25

Ver Apêndice L.

Page 132: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

132

viabilizando o que é posto por René Barbier (2007, p. 55): “Na pesquisa-ação os dados são

retransmitidos â coletividade, a fim de conhecer sua percepção da realidade e orientá-la de

modo a permitir uma avaliação mais apropriada dos problemas detectados” e de Michel

Thiollent (2011), ao defender a reflexão coletiva, e a construção científica a partir dos debates

e investigações oriundas da pesquisa-ação. O movimento formativo adotará a seguinte

metodologia: uma dada temática será discutida e, posteriormente, pensando como as redes

sociais da internet poderão colaborar para maior eficiência na mediação do dado conteúdo; em

seguida, serão produzidas sequências didáticas, levadas para aplicação em sala e, no encontro

seguinte, debater os pontos positivos e negativos, para que sejam realizados possíveis ajustes.

Com o findar dos encontros, esses exercícios serão agrupados e formarão um cibermaterial

didático pedagógico.

Page 133: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

133

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Compreendemos que a não implicação das Tecnologias Digitais da Informação e

Comunicação (TDIC) no âmbito escolar esteja distante de ser a principal ou a mais

contundente das problemáticas enfrentada pelas escolas. Num rápido levantamento, podemos

elencar déficits das mais distintas naturezas que assolam a educação, sobretudo a pública,

desde os séculos passados, arrastando-se até os dias de hoje. Também, as demandas

emergidas na atual contemporaneidade, tais como: os baixos níveis de alfabetismo, a evasão

escolar, a precária formação docente, o pouco estímulo à formação em exercício e continuada,

a ausência de estruturas e recursos adequados na promoção de aulas mais dinâmicas e

consonantes com as demandas formativas do presente momento histórico.

Contudo, mesmo não sendo a mais urgente das questões, o não alinhamento das TDIC

aos contextos educacionais incide para o agravamento das dificuldades supracitadas e de

tantas outras, por exemplo, a não formação plena de leitores críticos. Em outros termos, em

tempos de relações, comércio, afetos, informações e conhecimentos virtualizados, a ausência

do letramento digital desses alunos corrobora para o aumento dos números de indivíduos na

condição de info-excluídos, conceito que Pereira (2017) vai definir como sujeitos que

dispõem do acesso, na maioria dos casos até portam aparatos tecnológicos, entretanto não

sabem utiliza-los a contento; para transformar realidades individuais e coletivas.

O digital alcançou as salas de aulas e os dados construídos durante a investigação nos

evidenciou isso. Todos os alunos colaboradores deste estudo dispõem de ao menos um

aparato tecnológico que lhes possibilitam a conexão com a internet (seja numa rede privada,

doméstica ou pública, como a disponibilizada para o acesso na escola). Com isso, tentam se

inserir e fazer usufruto dos ambientes virtuais, predominantemente das redes sociais da

internet, conforme desvelaram as suas respostas, tanto as dadas diretamente aos estímulos da

pesquisa quanto às obtidas por meio da percepção dos comportamentos inerentes, assumidos

involuntariamente. Os discentes estabeleceram a sua aderência ao ambiente, a satisfação e o

gosto de estar presente nele (no qual alguns colaboradores chegam a passar um terço do seu

dia, muitos de modo contínuo). Alunos internautas que já estão se valendo desses recursos

Page 134: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

134

para, timidamente, implicá-los ao seu favor, como ocorre com os sujeitos que pesquisam,

constroem grupos, partilham saberes e preparam-se para o vestibular.

Mediante o exposto, como não pensarmos na implicação desses ambientes aos

processos de ensino e de aprendizagens? Ou concebermos as redes como uma possibilidade

para a ampliação dos espaços das salas de aulas físicas? Como não ocasionarmos para esses

alunos o letramento que os permitam trafegar proficuamente por essas infovias? Ou aliarmos a

relação de fascínio que é nutrida pela interatividade em rede por parte dos alunos, para seduzi-

los ao aos conhecimentos formadores e transformadores? Tentar, aos poucos, ir mudando

algumas práticas escolares, construindo, experienciando novos métodos que favoreçam a

dialética ensino e aprendizagens. Sobre isso, Pereira (2017) observa que cada nova demanda e

gesto social exigem de nós, educadores, novos meios de se instrumentalizar os processos de

mediação. Tensionadas essas séries de questões, problematizamos ainda; por que as redes

sociais seguem carregadas de estigmas quando coadunadas ao ensino? Por que ainda são

incipientes as práticas que implicam essas novas mídias ao ensino? Será apenas uma questão

estrutura? De vontade política?

Pensamos primeiro na condição do professor em meio a esse contexto e cabe sublinhar

que os mesmos necessitam ser vistos com parcimônia, pois é indispensável levar em

consideração que a maioria das formações participadas por esses imigrantes digitais

(PRENSKY, 2001) não os preparou para lidarem com a veloz e atual mudança paradigmática.

Muitos dos professores não dispõem de domínio sobre esses meios, não conhecem as páginas

(o que também é um processo de pesquisa). Tantos nem possuem perfis ativos nas redes, e

quando os têm desconhecem vários dos recursos. Logo, é preciso que se pense,

cuidadosamente, na formação continuada e em exercício para os professores que já estão nas

escolas e na formação inicial dos que já estão se graduando. Nas demandas contemporâneas,

não cabe uma formação em tecnologia que se proponha, apenas, a instrumentalizar os

sujeitos, nas ações de: ligar, desligar data shows, construir projeções de imagens, produzir

textos ou mediar em ambientes virtuais. Esse tipo capacitação é muito superficial e limitadora,

antes é cabível pensar os aspectos semânticos: como o Youtube pode ser um instrumento nas

práticas de ensino de gêneros verbo-visuais; como utilizar as charges, memes, fake news para

desenvolver o pensamento crítico; de qual modo o recurso localizador do Instagram pode

auxiliar na leitura de mídias dentre tantas outras possibilidades. Nesse sentido, para além

desses espaços formais de instrução, as trocas entre alunos e professores podem favorecer o

respostamento a essas propositivas, assim como viabilizá-las na prática.

Page 135: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

135

No tocante ao alunado, é preciso que o faça compreender que as redes sociais estão

para além da conversação despretensiosa, assim como nos meios físicos se deve respeitar os

espaços e opiniões divergentes das, até então, detidas por eles. Preparar o aluno para

estabelecer filtros, acessar páginas, vídeos, textos, cujos conteúdos colaborem com a sua

formação, compartilhar saberes entre os seus pares on-line, dirimindo os hiatos entre os

modelos e repetições pedagógicas e de escola do século XIX. Continuar estimulando a

participação dos ambientes de letramentos digitais para que eles saibam lidar com os excessos

de informações; compreendendo o jogo logaritmo publicitário, sabendo confrontar a

veracidade das notícias dispostas nas redes, para não crer e propagar fakenews, muitas das

vezes maculando a imagem de pessoas e instituições. Também para que saibam ler os

aplicativos e ferramentas de pesquisa, assim como sejam estimuladas as leituras de obras

clássicas da literatura e emergentes da literatura (em seus formatos convencionas e nos novos

[fanfics, fanartes...].

Com este estudo nos propomos a dialogar sobre algumas possibilidades de encontro

entre alunos, professores e redes sociais da internet, atravessados pelo ensino da leitura. Com

todos os instrumentos, dados e problematizações lançadas, não pretendemos esgotar, nem

longinquamente, a temática, pois, essa, assim como o rio de Heráclito, faz-se nova

diariamente, como novos ambientes, programas, interfaces e funções. Dessa maneira,

exigindo dos gestores, professores e coordenadores pedagógicos que pensem a formação do

leitor crítico e a suplementação das práticas de leitura, a partir dos insurgentes

comportamentos, perfis e objetos de leitura. Cabe salientar que compreendemos que a questão

não é o duelo entre suportes de leitura contemporâneo versus os tradicionais ou os textos

estáticos versus os multimodais, até porque, como evidenciado neste construto, o que

colaborará para a melhoria na formação dos leitores (além dos bons objetos) serão as

estratégias, empenhos; não adianta ter um texto contemporâneo, multisemiótico, cuja leitura

seja orientada apenas aos aspectos escritos, provocando a nulidade na leitura dos sons,

imagens, movimentos, cores, fontes.

Contudo, não podemos nos furtar de perceber a amálgama de novos gêneros e

funcionalidades que emergem, quase que diariamente, nas mídias digitais, os quais caem na

graça do crescente público adepto à cibercultura. Logo, somos da ideia de que o professor

pode se aproximar desses meios e objetos para favorecer a contínua formação de leitores

críticos, pois “Ser letrado hoje não é garantia de que seremos letrados amanhã, uma vez que

as novas tecnologias se renovam continuamente, exigindo dos leitores e produtores de textos

experiências em várias mídias” (ZACHARIAS, 2016, p. 17). Desse modo, a investigação Em

Page 136: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

136

Touches e em cliques: A Formação Leitora por meio das Redes Sociais da Internet, buscou se

ocupar das práticas de leitura que ocorrem em contato com o digital, com o acionar de

algumas ações a partir dos toques dos dedos.

REFERÊNCIAS

ABREU, Márcia. Leitura, história e história da leitura. Campinas: Mercado Aberto/ALB:

SP:FAPESP,1999.

AUSUBEL, David Paul. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva

cognitiva. Trad. Lígia Teopisto. Lisboa: Editora Plátano, 2003.

BARBIER, René. A pesquisa-ação. Trad. Lucie Didio. Brasília: Liber Livro, 2007.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

BARROS, Costa Barros; NETO, João leite Ferreira. Adolescência e MSN: o arranjo

tecnológico da subjetividade. Pesquisas e Práticas Psicossociais, São João del-Rei, v.5, n.1,

p. 30 – 38, 2010.

BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional (LDB). Brasília: MEC, 1996.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Língua

Portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC, 1997.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base nacional comum

curricular. Brasília: MEC, 2017.

CANDIDO, Antônio. O direito à literatura. In: Vários escritos. 4. ed. São Paulo/Rio de

Janeiro: Duas Cidades/Ouro sobre Azul, 2004, p. 169-191.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Trad. Roneide Venancio Majer. São Paulo: Paz

e Terra, 1999.

CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança. Movimentos sociais na era da

Internet. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

CARR, Nicholas. A geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos

cérebros. Trad. Mônica Gagliotti Fortunato Friaça. Rio de Janeiro: Agir, 2011.

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. Trad. Reginaldo Carmello

Corrêa de Moraes. São Paulo: Editora UNESP, 1998.

CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. Trad. Fluvia Moretto. São Paulo: UNESP, 2002.

COMM, Joel; BURGE, Ken. O poder do Twitter. São Paulo: Gente, 2009.

Page 137: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

137

COSCARELLI, Carla Viana; RIBEIRO, Ana Elisa. Letramento digital aspectos sociais e

possibilidades pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

COSCARELLI, Carla Viana. Tecnologias para aprender. São Paulo: Parábola, 2016.

COSSON, Rildo. Letramento Literário – teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2009.

COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento literário. São Paulo: Contexto, 2014.

COUTO, Edvaldo Souza; ROCHA, Telma Brito (org.). A vida no Orkut: narrativas e

aprendizagens nas redes sociais. Salvador: Edufba, 2010.

COUTO, Edvaldo Souza. Pedagogias das conexões: compartilhar conhecimentos e construir

subjetividades nas redes sociais digitais. In: PORTO, Cristiane; SANTOS, Edmea. Facebook

e educação: publicar, curtir, compartilhar. Campina Grande: EDUEPB, 2014, p. 47-65.

FAILLA, Zoara. Retratos da leitura no Brasil 4. Rio de Janeiro: Sextante, 2016.

FERREIRA, Sueli. Mara Soares Pinto. Introdução as Redes Eletrônicas de Comunicação.

Ciência e Informática. Brasília, v.23, nº. 2, maio/ago, 1994. p. 258-263.

FONTCUBERTA, Joan. A câmera de pandora: a fotografi@ depois da fotografia. São

Paulo: Gustavo Gili Br, 2012.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo:

Cortez: Autores Associados, 1992a.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio

de Janeiro: Paz e Terra, 1992b.

GATTI, Bernadete; ANDRÉ, Marli. A relevância dos métodos de pesquisa qualitativa em

educação do Brasil. In:WELLER, Wivian; PFAFF, Nicolle (org.). Metodologias da pesquisa

qualitativa em educação – teoria e prática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2010.

GIL, Henn Kátia. Reflexões sobre as dificuldades dos alunos na aprendizagem de álgebra.

2008. 120f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e

Matemática) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.

GRAHAM, Ian. Comunicação: ideias que mudaram o mundo. São Paulo: Ciranda Cultural

Editora, 2009.

GUERRA, Zailton Pinheiro. Uso de rede social do facebook em sala de aula: mais interação

e aprendizado sobre poemas concretistas.2015. 165f. Dissertação (Mestrado Profissional em

Page 138: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

138

Letras) – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Pau dos Ferros, 2015.

GUIMARÃES, Angelo de Moura. Internet. In: CAMPELLO, Bernadete Santos; CALDEIRA,

Paulo da Terra. (org.). Introdução às fontes de informação. Belo Horizonte: Autêntica

Editora. 2008. p.159-178.

HORELLOU-LAFARGE, Chantal; SEGRÉ, Monique. Sociologia da leitura.Trad. Mauro

Gama. São Paulo: Ateliê Editorial, 2010.

ISER, Wolfang. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. Trad. Johannes Kretschmer

São Paulo: Ed. 34, 1996.

JAUSS, Hans Robert. O prazer estético e as Experiências Fundamentais da Poiesis, Aesthesis

e Katharsis. In: LIMA, Luis (org.). A literatura e o leitor - textos de estética da recepção.

Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Trad.

Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994.

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Trad. Susana Alexandria. São Paulo: Aleph,

2006.

KENSKI, Vani Moreira. O papel do professor na sociedade digital. In: CASTRO, Amélia

Domingues; CARVALHO, Anna Pessoa (org.) Ensinar a ensinar: didática para a escola

fundamental e média. São Paulo: Cengage Learning, 2012.

KLEIMAN, Ângela (org.) Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a

prática social da escrita. Campinas, Mercado das Letras, 1995.

LAJOLO, Marisa. O texto não é pretexto. In: ZILBERMAN, Regina (org.). Leitura em crise

na escola: as alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986, p. 51-62.

LATOUR, Bruno. Politics of nature: How tobring the sciences into democracy. Cambridge,

Mass: Harvard University. Press, 2004.

LEÃO, Lucia. O labirinto da hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço. São

Paulo: Iluminuras: FAPESP, 2001.

LEFFA, Vilson. Aspectos da leitura – uma perspectiva psicolinguística. Porto Alegre: Sagra

C.D Luzzatto Editores, 1996.

LEFFA, Vilson. Redes sociais e o ensino de línguas. São Paulo: Parábola, 2016.

LEMOS, André. A comunicação das coisas: teoria ator-rede e cibercultura. São Paulo:

Annablume, 2013.

LEMOS, André. As estruturas antropológicas do ciberespaço. In: Cibercultura: tecnologia e

vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2008.

LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Edições

Page 139: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

139

Loyola, 1998.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed.34, 1999.

LÉVY, Pierre. O que é o virtual? Trad. Paulo Neves São Paulo: Ed. 34, 2011.

MANOVICH, Lev. The language of new media. Trad. Massachusetts: MIT Press, 2001.

MCCUNE, Zachary. Consumer Production in Social Media Networks: A Case Study of

the “Instagram” iPhone App. Disponível em: http://thames2thayer.com/blog/wp-

content/uploads/2011/06/McCune_Instagram_Dissertation_Draft.pdf. Acesso em: 20 abr.

2018.

MILLER, Carolyn R. Gênero textual, agência e tecnologia. Trad. Judith Hoffnagel. São

Paulo: Parábola, 2012.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa sócia: teoria, método e criatividade.

Petrópolis: Vozes, 2002.

NETO, Otávio Cruz. O trabalho de campo como descoberta e criação. In: MINAYO, Maria

Cecília de Souza. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Editora Vozes,

2002.

NICOLAU, Marcos. A busca por uma web semântica cognitiva. Revista Temática,

Campina Grande Ano VII, n. 07 . Disponível em:

http://www.insite.pro.br/2011/Julho/web_semantica_nicolau.pdf . Acesso em: 26 jun. 2017.

O'REILLY, Tim. What is web 2.0 - Design Patterns and Business Models for the Next

Generation of Software. O'Reilly Publishing, 2005. (on-line)

PAIVA, Vera Lúcia Menezes. Facebook: um estado atrator na internet. In: LEFFA, Vilson.

Redes sociais e o ensino de línguas. São Paulo: Parábola, 2016.

PEREIRA, João Thomaz. Educação e sociedade da informação. In: COSCARELLI, Carla

Viana; RIBEIRO, Ana Elisa. Letramento digital aspectos sociais e possibilidades

pedagógicas. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2017.

PRENSKY, Marc. 2001. Nativos digitais e imigrantes digitais. Disponível em:

www.marcprensky.com.Acesso em: 03 fev. 2018.

PRIMO, Alex. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição.

Porto Alegre: Sulina, 2007.

RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.

RECUERO, Raquel. Curtir, compartilhar, comentar: trabalho de face, conversação e redes

sociais no Facebook. Verso e Reverso, vol. XXVIII, n. 68, maio-agosto 2014, p. 114-124.

RIBEIRO, Otacílio José. Educação e novas tecnologias: um olhar para além da técnica In:

COSCARELLI, Carla Viana; RIBEIRO, Ana Elisa. Letramento digital aspectos sociais e

possibilidades pedagógicas. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2017.

Page 140: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

140

ROJO, Roxane. Helena Rodrigues; BATISTA, Antônio Augusto Gomes (org.). Livro

didático de língua portuguesa, letramento e cultura da escrita. Campinas, SP: Mercado de

Letras, 2003.

ROJO, Roxane; MOURA, Eduardo (org.) Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola

Editorial, 2012.

RUDIGER, Francisco. As teorias da cibercultura: perspectivas, questões e autores. Porto

Alegre: Sulina, 2011.

SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São

Paulo: Paulus, 2004.

SANTAELLA, Lucia. A ecologia pluralista da comunicação: conectividade, mobilidade,

ubiquidade. São Paulo: Paulus, 2010.

SANTAELLA, Lucia; LEMOS, Renata. Redes sociais digitais: a cognição conectiva do

twitter. São Paulo: Paulus, 2010.

SANTAELLA, Lucia. A aprendizagem ubíqua substitui a educação formal? Revista de

Computação e Tecnologia da PUC-SP — Departamento de Computação/FCET/PUC-SP,

São Paulo, v.3, n.1, p.17-22, 2011.

SANTAELLA, Lucia. O leitor ubíquo e suas consequências para a educação. In: Patricia

Lupuion Torres (org.). Complexidade: redes de conexões na produção do conhecimento.

1ed.Curitiba: Kairós Edições, 2014, v. 1, p. 27-44.

SBABO, Alexandre Provin. Semiótica sincrética dos jingles: uma análise dos jingles nas

mídias audiovisuais. 2015. 164f. Dissertação (Mestrado em comunicação e semiótica) –

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2015.

SCHLEMMER, Eliane; CARVALHO, José Oscar Fontanini de. Gestão de um consórcio

nacional para educação a distância organizado na forma de comunidade virtual de

aprendizagem: a estratégia da CVA-RICESU.Disponível em:

http://www.ricesu.com.br/colabora/n10/artigos/n_10/pdf/id_01.pdf Acesso em: 20 out. 2015.

SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura na escola e na biblioteca. Campinas, SP: Papirus,

1986.

SILVA, Ezequiel Theodoro da. Elementos de pedagogia da leitura. São Paulo: Martins

Fontes, 1988.

SILVA, Fabiola de Mesquita Costa. Álbuns virtuais: o facebook e a construção memorável

nas redes sociais. 2012. 110f. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Linguagens) –

Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2012.

SILVA, Raquel Dornelas da Costa. Com ou sem vandalismo? Black bloc, acontecimento e

disputa de sentido. 2015. 156.f Dissertação. (Mestrado em comunicação social) –

Universidade Federal de Belo Horizonte, Belo Horizonte, 2015.

Page 141: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

141

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

SUBRINHO, Abinalio Ubiratan; LIMA, Elizabeth Gonzaga. A literatura além do livro e a

recepção literária nas fanpages no facebook. In: Congresso Nacional da Educação, 4, 2017

João Pessoa. Anais... João Pessoa: CONEDU, 2017.

TELLES, André. A revolução das mídias sociais: cases, conceitos, dicas e ferramentas. São

Paulo- SP: Editora M. Books do Brasil editora Ltda. 2010.

THIOLLENT, Michel. Notas para o debate sobre pesquisa-ação. In. BRANDÃO, C.R. (org.).

Repensando a pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 1987.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2011.

TRENIN, D. Should we fear Russia? Cambridge, UK; Malden, MA, USA, Polity Press,

2016.

VIEIRA, Manuela do Coral. Os jovens flâneurs.com: a construção e liquidez da identidade

no espaço das redes sociais na internet. 2013. 219f. Tese (Programa de Pós-graduação em

Antropologia) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2013.

WELLER, Wivian. Grupos de discussão: aportes teóricos e metodológicos. In:WELLER,

Wivian; PFAFF, Nicolle (org.). Metodologias da pesquisa qualitativa em educação –

teoria e prática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

ZACHARIAS, Valéria Ribeiro de Castro. Letramento digital: desafios e possibilidades para o

ensino. In: COSCARELLI, Carla Viana. Tecnologias para aprender. São Paulo: Parábola,

2016.

Page 142: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

142

APÊNDICES

APÊNDICE A – REOTEIRO DE OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB)

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS (DCH) CAMPUS IV

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE (PPED)

MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE (MPED)

PESQUISADOR: ABINALIO UBIRATAN DA CRUZ SUBRINHO

ORIENTADORA: PROFA. DRA. DENISE DIAS DE CARVALHO SOUSA

ROTEIRO DA OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE (OP)

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Professor (a) do 3° Ano do Ensino Médio: ____________________________________

Nome da Escola: ________________________________________________________

Alunos presentes: _______ Turno:__________ Data da observação:________________

2. ASPECTOS A SEREM OBSERVADOS:

1- MEDIAÇÃO LEITORA, COMPORTAMENTOS LEITORES E REDES SOCIAIS

a) Como está organizada a metodologia da aula?

b) Durante o desenvolvimento das aulas foram construídos momentos pedagógicos que

contemplassem a prática da leitura crítica reflexiva; individual ou coletivamente?

c) Quais recursos a escola e o (a) professor(a) dispõem para fomentar a leitura em sala

de aula? Há um estímulo ao desenvolvimento deste exercício também no âmbito

extraclasse?

d) Dá para inferir quais os conceitos de leitura que são produzidos pelos sujeitos

observados?

e) Quais comportamentos de leitura são comumente identificados?

f) Os discentes relatam ou expressam opiniões acerca das práticas de leitura?

g) A sala de aula é equipada tecnologicamente (Tecnologias Digitais)? A Escola

incentiva o uso desses recursos?

Page 143: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

143

h) Os alunos portam dispositivos tecnológicos digitais móveis? Caso sim,

para qual finalidade, costumeiramente, é aliado ao seu uso?

i) Em algum momento os gadgets são implicados no processo de leitura em sala

de aula? A relatas dessa prática extraclasse?

APÊNDICE B – REOTEIRO DO GRUPO DE DISCUSSÃO

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB)

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS (DCH) CAMPUS IV

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE (PPED)

MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE (MPED)

PESQUISADOR: ABINALIO UBIRATAN DA CRUZ SUBRINHO

ORIENTADORA: PROFA. DRA. DENISE DIAS DE CARVALHO SOUSA

ROTEIRO DO GRUPO DE DISCUSSÃO (GD)

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Professor (a) do 3° Ano do Ensino Médio: ____________________________________

Nome da Escola: ________________________________________________________

Espeço de realização do GD: _______________________________________________

Alunos presentes: ________ Turno:__________ Data da atividade:________________

PROPOSITIVAS

I. Vocês poderiam falar um pouco sobre a leitura? Vocês se consideram leitores?

II. Como vocês se sentiriam se algumas atividades (tarefas) pudessem ser desenvolvidas

no âmbito das redes sociais ou a partir de objeto contidos nelas. Na percepção de

vocês isso é possível?

III. No entendimento de vocês é possível aprimorar os níveis (habilidades) de leitura a

partir do uso das redes sociais ou vocês pensam que esses ambientes produzem o

efeito contrário? Em qualquer um dos casos; afirmativo ou negativo, como vocês

acham isso poderia ocorrer?

Page 144: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

144

APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB)

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS (DCH) CAMPUS IV

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE (PPED)

MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE (MPED)

PESQUISADOR: ABINALIO UBIRATAN DA CRUZ SUBRINHO

ORIENTADORA: PROFA. DRA. DENISE DIAS DE CARVALHO SOUSA

QUESTIONÁRIO

EM TOUCHES E EM CLIQUES: A FORMAÇÃO LEITORA POR INTERMÉDIO DAS

REDES SOCIAIS DA INTERNET

IDENTIFICAÇÃO

I. NOME (Caso queira se identificar):_____________________________________________

___________________________________________________________________________

II. NOME [FAKE] PELO QUAL QUER SER REPRESENTADO NA PESQUISA:

___________________________________________________________________________

III. GÊNERO [ ] FEMININO [ ] MASCULINO [ ] NÃO BINÁRIO

IV. IDADE:____________________

I. COMPUTADORES – INTERNET E REDES SOCIAS

1. Você acessa a internet? a. [ ] NÃO b. [ ] SIM

Page 145: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

145

2. Caso a resposta da pergunta anterior tenha sido SIM, indique com qual frequência você

acessa semanalmente:

a. [ ] Um dia.

b. [ ] Entre dois a três dias.

c. [ ] Entre quatro a seis dias.

d. [ ] Diariamente.

3. Diariamente, quantas horas em média você destina para realização das mais variadas

atividades on-line.

a. [ ] Menos que uma hora.

b. [ ] Entre duas e quatro horas.

c. [ ] Entre cinco e oito horas.

d. [ ] Mais que oito.

4. Na maioria das vezes, de qual aparato você mais acessa a internet?

a. [ ] Computador pessoal.

b. [ ] Notebook.

c. [ ] Tablet.

d. [ ] Aparelho celular.

e. [ ] Outros. Especifique:_______________________________

5. QUANTO AS REDES SOCIAIS DE INTERNET, você possui algum perfil ativo:

a. [ ] NÃO b. [ ] SIM.

6. [NESTA PROPOSITIVA PODE SER MARCADO MAIS DE UM ÍTEM] Das redes

sociais abaixo, em quais você possui perfil ativo:

a. [ ] Facebook

b. [ ] Instagram

c. [ ] Tumblr

d. [ ] Twitter

e. [ ] Outras. Especifique:_____________________________________

7. Numa escala de 1 a 4 (1, 2, 3 e 4) [1 denota a rede mais acessada, 2 a segunda rede mais

acessada e assim sucessivamente] quais as redes você utiliza com maior frequência?

a. [ ] Facebook

b. [ ] Instagram

Page 146: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

146

c. [ ] Twitter

d. [ ] Outras. Especifique:_______________________________________

8. Quando você está navegando na internet, a maior parte do tempo você destina ao acesso

nas redes sociais? a. [ ] NÃO b. [ ] SIM

II. REDES SOCIAIS E PRÁTICAS DE LEITURA

9. De modo geral, quais destas atividades você realiza com uma certa periodicidade ao acessar

as redes:

a. [ ] Conversar com amigos, interagir em grupos e comunidades de discussões

específicas.

b. [ ] Consumir leitura dos mais variados gêneros textuais(notícias, receitas, piadas dentre

outros)

c. [ ] Acompanhar a rotina de um artista ou personalidade famosa.

d. [ ] Assistir aos vídeos, contemplar imagens, curtir e compartilhar de modo geral.

e. [ ] Outras. Especifique:_______________________________________

10. Nas suas redes, quais os tipos de conteúdo você mais publica e/ou compartilha:

a. [ ] Textos escritos (reflexões, posicionamentos, dentre outros): construídos por você.

b. [ ] Textos escritos: elaborados por outros usuários da rede.

c. [ ] Imagens: GIFS, memes, charges, dentre outros.

d. [ ] Arquivos de áudio e vídeo.

e. [ ] Outras. Especifique:_______________________________________

f. [ ] Nenhuma das alternativas.

11. Você utiliza as redes sociais para o exercício da leitura? a. [ ] NÃO b. [ ] SIM

12. Ao navegar pelos perfis, grupos ou feeds (acompanhando as atualizações), você costuma

abrir os hiperlinks que indicam a leitura dos mais variados gêneros textuais(notícias, receitas,

piadas dentre outros)? a. [ ] NÃO b. [ ] SIM

13. Você já iniciou uma leitura por ter visto algum fragmento disposto na rede, ou pelo fato de

algum amigo online compartilhar/ lhe indicar? a. [ ] NÃO b. [ ] SIM

14. [NESTA PROPOSITIVA PODE SER MARCADO MAIS DE UM ÍTEM] De quais

gênero textuais você já realizou a leitura nas redes:

Page 147: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

147

a. [ ] Charges/cartuns

b. [ ] Contos

c. [ ] Crônicas

d. [ ] Poesias

e. [ ] Letras de músicas

f. [ ] Notícias

g. [ ] Relatos

h. [ ] Romance

i. [ ] Tirinhas

j. [ ]Outro gênero. Especifique:__________________________

k. [ ] Nenhuma das alternativas.

15. Você já sentiu dificuldades para interpretar algum texto disponível nas redes sociais?

a. [ ] NÃO b. [ ] SIM

16. QUANTO A LEITURA DE NOTÍCIAS: Você já ouviu falar/conhece o que são as

Fakenews?

a. [ ] NÃO b. [ ] SIM

17. Por uma questão de equívocos na compreensão, você já compartilhou alguma fakenews?

a. [ ] NÃO b. [ ] SIM

III. REDES SOCIAS – GÊNEROS EMERGENTES E A ESCOLA

18. [NESTA PROPOSITIVA PODE SER MARCADO MAIS DE UM ÍTEM]. Observando a

diversidade dos gêneros textuais que circulam nas redes sociais, em seus acessos, com quais

desses já se deparou:

a. [ ] Fanfic

b. [ ] Fanarte

c. [ ] Nanoconto

d. [ ] Memes

e. [ ] Webnovelas

f. [ ] Outro gênero emergente. Especifique:__________________________

g.[ ] Nenhuma das alternativas.

19. [NESTA PROPOSITIVA PODE SER MARCADO MAIS DE UM ÍTEM] E de quais

gêneros emergentes já realizou a leitura.

a. [ ] Fanfic

b. [ ] Fanarte

Page 148: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

148

c. [ ] Nanoconto

d. [ ] Memes

e. [ ] Webnovelas

f. [ ] Outro gênero emergente. Especifique:__________________________

g.[ ] Nenhuma das alternativas.

20. Você costuma ler livros virtuais? a. [ ] NÃO b. [ ] SIM

21. Há algum projeto escolar, aula ou professor que estimule o uso desses instrumentos para

fins educacionais, em sala de aula? Se sim, quais?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

22. Na sua opinião é possível realizar atividades de leitura em sala de aula com auxílio dos

artifícios que as redes sociais disponibilizam? Sim ou não, e de que modo?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Page 149: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

149

APÊNDICE D – AUTORIZAÇÃO DA COPARTICIPANTE

Page 150: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

150

APÊNDICE E – CONCESSÃO

Page 151: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

151

APÊNDICE F – FOLHA DE ROSTO

Page 152: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

152

Page 153: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

153

APÊNDICE G – AUTORIZAÇÃO DA PROPONENTE

Universidade do Estado da Bahia Comitê de Ética em Pesquisa - CEP

TERMO DE AUTORIZAÇÃO INSTITUCIONAL DA PROPONENTE

Autorizo o (a) pesquisador (a) Abinalio Ubiratan da Cruz Subrinho a desenvolver

nesta instituição o projeto de pesquisa intitulado EM TOUCHES E EM CLIQUES: A

FORMAÇÃO LEITORA POR INTERMÉDIO DAS REDES SOCIAIS DA INTERNET,, o

qual será executado em consonância com as normativas que regulamentam a

atividade de pesquisa envolvendo seres humanos.

Declaro estar ciente que a instituição proponente é responsável pela atividade de

pesquisa proposta e que será executada pelos seus pesquisadores/as, além de

dispormos da infraestrutura necessária para garantir o resguardo e bem estar dos

participantes da pesquisa.

Jacobina, ......de.....................de 20.....

........................................................................

Assinatura e carimbo do

responsável institucional

Page 154: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

154

APÊNDICE H – CONFIDENCIALIDADE

Universidade do Estado da Bahia Comitê de Ética em Pesquisa - CEP

TERMO DE CONFIDENCIALIDADE

Assumimos o compromisso de preservar a privacidade e a identidade

dos participantes da pesquisa intitulada EM TOUCHES E EM CLIQUES: A

FORMAÇÃO LEITORA POR INTERMÉDIO DAS REDES SOCIAIS DA INTERNET

cujos dados serão coletados através de aplicação de Questionários e Grupo

de Discussão, no Colégio Estadual de Serrolândia (CES) – Bahia, com a

utilização dos dados única e exclusivamente para execução do presente

projeto.

Os resultados serão divulgados de forma anônima, assim como os

termos de consentimento livre e esclarecido guardados na Biblioteca do

Campus IV-Estação, da Universidade do Estado da Bahia pelo período de 05

(cinco) anos sob a responsabilidade do Pesquisador/a Abinalio Ubiratan da

Cruz Subrinho. Após este período, os dados serão destruídos.

Jacobina, ......de.....................de 20.....

Nome do Membro da Equipe Executora Assinatura

Abinalio Ubiratan da Cruz Subrinho

Dra. Denise Dias de Carvalho Sousa

Page 155: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

155

APÊNDICE I – COMPROMISSO DO PESQUISADOR

Universidade do Estado da Bahia Comitê de Ética em Pesquisa - CEP

TERMO DE COMPROMISSO DO PESQUISADOR

Declaro estar ciente das normativas que regulamentam a atividade de

pesquisa envolvendo seres humanos e que o projeto intitulado EM TOUCHES E EM

CLIQUES: A FORMAÇÃO LEITORA POR INTERMÉDIO DAS REDES SOCIAIS DA INTERNET

sob minha responsabilidade será desenvolvido em conformidade com a

Resolução CNS 466/12, respeitando os princípios da autonomia, da beneficência, da

não maleficência, da justiça e da equidade.

Assumo o compromisso de apresentar os relatórios e/ou esclarecimentos

que forem solicitados pelo CEPMCO: Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade Climério de

Oliveira - UFBA; de tornar os resultados desta pesquisa públicos independente do

desfecho (positivo ou negativo); de Comunicar ao CEPMCOM qualquer alteração no

projeto de pesquisa, via Plataforma Brasil.

Jacobina, ......de.....................de 2019

.............................................................

Prof. Dra. Denise Dias de Carvalho Sousa

.............................................................

Abinalio Ubiratan da Cruz Subrinho

Page 156: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

156

APÊNDICE J – CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCH IV – JACOBINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE -PPED

MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE - MPED

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

I – DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Nome do Participante: __________________________________________________________

Documento de Identidade nº: ___________________________ Sexo: F ( ) M ( )

Data de Nascimento: ______/______/______

Nome do responsável legal (quando aplicável): ______________________________________

Documento de Identidade nº: ________________________

Endereço: _____________________________________________Complemento: __________

Bairro:________________________Cidade: __________________CEP: _________________

Telefone: ( ) _______________ / ( ) _______________

II - DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA:

1. TÍTULO DO PROTOCOLO DE PESQUISA: EM TOUCHES E EM CLIQUES: A

FORMAÇÃO LEITORA POR INTERMÉDIO DAS REDES SOCIAIS DA INTERNET.

2. PESQUISADOR (A) RESPONSÁVEL: ABINALIO UBIRATAN DA CRUZ SUBRINHO

3. CARGO/FUNÇÃO: ALUNO DO MESTRADO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE, DO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE – PPED DA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

III - EXPLICAÇÕES DO PESQUISADOR AO PARTICIPANTE SOBRE A PESQUISA:

O (a) senhor (a) está sendo convidado (a) para participar da pesquisa: EM TOUCHES E EM

CLIQUES: A FORMAÇÃO LEITORA POR INTERMÉDIO DAS REDES SOCIAIS DA

INTERNET, de responsabilidade do pesquisador Abinalio Ubiratan da Cruz Subrinho, mestrando

do Programa de Pós-Graduação em Educação e Diversidade – PPED da Universidade do Estado

da Bahia, Departamento de Ciências Humanas – CAMPUS IV, que tem como objetivo analisar como

as redes sociais da internet (Facebook, Instagram e Twitter) podem colaborar na formação leitora dos

educandos.

Pesquisa submetida ao Comitê de ética em pesquisa com seres Humanos da Universidade do estado da Bahia,

aprovado sob número de parecer: _____________________ em ________________, consulta disponível no

link: http://aplicacao.saude.gov.br/plataformabrasil

Page 157: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

157

Com o desdobramento da pesquisa pretende-se ainda: examinar os comportamentos leitores dos

alunos do 3° ano do ensino médio do Colégio Estadual de Serrolândia (CES) nas redes sociais;

cartografar quais as principais redes utilizadas pelos alunos; também os gêneros textuais mais lidos

por eles nesses espaços e perceber quais as contribuições da mediação docente para a proficiência

leitora dos educandos, com base em gêneros textuais/ do discurso presentes nas redes. A pesquisa

ocorrerá no Colégio Estadual de Serrolândia, e terá como participantes alunos matriculados no 3°

Ano do Ensino Médio (modalidade regular de ensino). Ao participar como voluntário nesta pesquisa,

você também tem direito aos benefícios resultantes do estudo, e até o fim do trabalho, você é

chamado de participante de pesquisa.

IV - ESPECIFICAÇÃO DOS RISCOS, PREJUÍZOS, DESCONFORTO, LESÕES QUE

PODEM SER PROVOCADOS PELA PESQUISA:

A pesquisa prevê possíveis riscos aos seus participantes, uma vez que colherá falas, opiniões por

meios dos grupos de discussão, assim como das respostas dos questionários, o que, mesmo

preservando as identidades, poderá causar algum tipo de constrangimento. E mesmo considerando

que não há confidencialidade total em torno das suas narrativas, vamos manter o sigilo de suas

identidades, substituindo os seus nomes por fictícios quando da elaboração dos resultados e

publicização, conforme orientação da Resolução 196/96 Conselho Nacional de Saúde.

V - ESCLARECIMENTO SOBRE PARTICIPAÇÃO NA PESQUISA

Caso o Senhor (a) aceite, serão adotados como procedimentos para construção dos dados a o

Grupo de discussão e a aplicação de questionário, utilizados pelo mestrando Abinalio

Ubiratan da Cruz Subrinho, do Programa de Pós-Graduação em Educação e

Diversidade - PPED.

Sua participação é voluntária e não haverá nenhum gasto ou remuneração resultante dela.

Garantimos que sua identidade será tratada com sigilo e, portanto, o Sr (a) não será

identificado.

Caso queira o (a) senhor (a) poderá, a qualquer momento, desistir de participar e retirar sua

autorização. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com a pesquisadora ou

com a instituição.

Quaisquer dúvidas que o (a) senhor (a) apresentar serão esclarecidas pela pesquisadora e caso

o (a) senhor (a) queira, poderá entrar em contato também com o Comitê de ética da

Universidade do Estado da Bahia.

O (a) senhor (a) receberá uma cópia deste termo onde consta o contato dos pesquisadores,

que poderão tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a qualquer

momento.

VI. INFORMAÇÕES DE NOMES, ENDEREÇOS E TELEFONES DOS RESPONSÁVEIS

PELO ACOMPANHAMENTO DA PESQUISA, PARA CONTATO EM CASO DE DÚVIDAS

PESQUISADOR (A) RESPONSÁVEL: ABINALIO UBIRATAN DA CRUZ SUBRINHO

Endereço: VIVALDINO PEREIDA SILVA, 10, CENTRO, SERROLÂNDIA-BA 44.710-000. E-

mail: [email protected] Pesquisa submetida ao Comitê de ética em pesquisa com seres Humanos da Universidade do estado da Bahia,

aprovado sob número de parecer: _____________________ em ________________, consulta disponível no

link: http://aplicacao.saude.gov.br/plataformabrasil

Page 158: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

158

Comitê de Ética em Pesquisa- CEPMCO: Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade

Climério de Oliveira - UFBA, Rua do Limoeiro, 137 - Nazaré, Salvador - BA, CEP 40055-

150 - Telefone: (71) 3283-9275

Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP SEPN 510 NORTE, BLOCO A 1º

SUBSOLO, Edifício Ex-INAN - Unidade II - Ministério da Saúde CEP: 70750-521 - Brasília-DF.

V. CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO

Declaro que, após ter sido devidamente esclarecido pelo pesquisador Abinalio Ubiratan da Cruz

Subrinho, sobre os objetivos benefícios da pesquisa e riscos de minha participação na pesquisa EM

TOUCHES E EM CLIQUES: A FORMAÇÃO LEITORA POR INTERMÉDIO DAS REDES

SOCIAIS DA INTERNET, e ter entendido o que me foi explicado, concordo em participar sob livre

e espontânea vontade, como voluntário consinto que os resultados obtidos sejam apresentados e

publicados em eventos e artigos científicos desde que a minha identificação não seja realizada e

assinarei este documento em duas vias sendo uma destinada ao pesquisador e outra a via que a mim

será entregue.

Serrolândia, ______ de _________________ de _________.

_____________________________________

Assinatura do participante da pesquisa

_____________________________ ___________________________________

Abinalio Ubiratan da Cruz Subrinho Dra. Denise Dias de Carvalho Sousa

(orientando) (orientadora)

Pesquisa submetida ao Comitê de ética em pesquisa com seres Humanos da Universidade do estado da Bahia,

aprovado sob número de parecer: _____________________ em ________________, consulta disponível no

link: http://aplicacao.saude.gov.br/plataformabrasil

Page 159: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

159

APÊNDICE K – ASSENTIMENTO DO MENOR

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA HUMANAS – CAMPUS IV - JACOBINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE

MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE (MPED)

TERMO DE ASSENTIMENTO DO MENOR

ESTA PESQUISA SEGUIRÁ OS CRITÉRIOS DA ÉTICA EM PESQUISA COM SERES

HUMANOS CONFORME RESOLUÇÃO N 466/12 OU 510/16 DO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE.

Você está sendo convidado para participar da pesquisa EM TOUCHES E EM CLIQUES: A

FORMAÇÃO LEITORA POR INTERMÉDIO DAS REDES SOCIAIS DA INTERNET, que

tem como objetivo analisar como as redes sociais da internet (Facebook, Instagram e Twitter)

podem colaborar na formação leitora dos estudantes. A pesquisa ocorrerá no Colégio Estadual

de Serrolândia, e terá como participantes alunos matriculados no 3° Ano do Ensino Médio

(modalidade regular de ensino).

Você não precisa participar da pesquisa se não quiser, é um direito seu e você não terá

nenhum problema se não aceitar ou desistir. Caso aceite, você responderá a um questionário

no ambiente escolar, bem como participará de um grupo de discussão e será observado em

alguns momentos durante as aulas. É possível que se sinta constrangido, caso você queira

poderá desistir e o pesquisador ira respeitar sua vontade. Mas há coisas boas que podem

acontecer com a realização deste projeto, pois sua realização poderá vir a ajudar a identificar

novas práticas de leitura, assim como auxiliar o desenvolvimento de ambientes e ações de

leitura nas redes sociais.

Ninguém saberá que você está participando da pesquisa, não falaremos a outras

pessoas, nem daremos a estranhos as informações que você nos der. Os resultados da pesquisa

vão ser publicados, mas sem identificar as crianças que participaram da pesquisa. Quando

terminarmos a pesquisa os resultados serão publicados em jornais e revistas científicas e você

também terá acesso a eles. Você ainda poderá nos procurar para retirar dúvidas pelo telefone:

(74) 981383518

PESQUISADOR (A) RESPONSÁVEL: ABINALIO UBIRATAN DA CRUZ SUBRINHO

Endereço: VIVALDINO PEREIDA SILVA, 10, CENTRO, SERROLÂNDIA-BA 44.710-000. E-

mail: [email protected]

Pesquisa submetida ao Comitê de ética em pesquisa com seres Humanos da Universidade do estado da

Bahia, aprovado sob número de parecer: ___________ em _______________, consulta

disponível no link: http://aplicacao.saude.gov.br/plataformabrasil

Page 160: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

160

Comitê de Ética em Pesquisa- CEPMCO: Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade

Climério de Oliveira - UFBA, Rua do Limoeiro, 137 - Nazaré, Salvador - BA, CEP 40055-

150 - Telefone: (71) 3283-9275

Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP SEPN 510 NORTE, BLOCO A 1º

SUBSOLO, Edifício Ex-INAN - Unidade II - Ministério da Saúde CEP: 70750-521 - Brasília-DF.

Eu _____________________________________________________________________

aceito participar da pesquisa EM TOUCHES E EM CLIQUES: A FORMAÇÃO LEITORA

POR INTERMÉDIO DAS REDES SOCIAIS DA INTERNET, Entendi os objetivos e as

coisas ruins e as coisas boas que podem acontecer. Entendi que posso dizer “sim” e participar,

mas que, a qualquer momento, posso dizer “não” e desistir. Os pesquisadores tiraram minhas

dúvidas e recebi uma cópia deste termo de assentimento, li e concordo em participar da

pesquisa.

Serrolândia, ______ de _________________ de 2019.

________________________________________ ____________________________

Assinatura do participante da pesquisa Dra. Denise Dias de Carvalho Sousa

(Orientadora)

________________________________________

Abinalio Ubiratan da Cruz Subrinho

(orientando)

Pesquisa submetida ao Comitê de ética em pesquisa com seres Humanos da Universidade do estado da

Bahia, aprovado sob número de parecer: ___________ em _______________, consulta

disponível no link: http://aplicacao.saude.gov.br/plataformabrasil

Page 161: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

161

ANEXOS

Page 162: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

162

Page 163: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

163

Page 164: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

164

Page 165: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

165

Page 166: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB ......Ciências Humanas – Campus IV, pelo auxílio e compreensão constante, também pelas bem querenças. A Universidade do Estado da Bahia

166